DISCUSSÃO CONCEITUAL DE ESTIGMA ALUDINDO O
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DISCUSSÃO CONCEITUAL DE ESTIGMA ALUDINDO O
DISCUSSÃO CONCEITUAL DE ESTIGMA ALUDINDO O CONCEITO FUNDADOR DE GOFFMAN E DE AUTORES QUE PAUTARAM SUAS IDEIAS A PARTIR DELE. SIQUEIRA, R. C. de CARDOSO JR. H. R. Departamento de História Universidade Estadual Paulista – Unesp - Faculdade de Ciência e Letras de Assis Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP RESUMO Goffman (1975) foi o pioneiro em pensar o conceito de estigma numa perspectiva social. Para Goffman, a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias. A relação social cotidiana em ambientes já estabelecidos propicia um relacionamento entre pessoas previstas e esperadas a tal lugar, sem atenção ou reflexão particular umas com as outras. As pessoas normais preveem as categorias e os atributos de um estranho que se aproxima através de seus primeiros aspectos. O processo de estigmatização não ocorre devido à existência do atributo em si, mas, pela relação incongruente entre os atributos e os estereótipos que os normais criam para um determinado tipo de pessoa. Todos aqueles atributos não proporcionais com o estereótipo que os normais criam para um determinado tipo de indivíduo caracterizam o processo de estigmatização por gerar identidades deterioradas. A partir desta ideia central do conceito de estigma proposto por Goffman, objetiva-se estudar o conceito de estigma para Goffman, e os conceitos de estigma para alguns entre tantos autores que desenvolveram suas idéias a partir dele – para esta pesquisa foram escolhidos: Ainlay, Coleman & Becker (1986); Link & Phelan (2001); Stafford & Scott (1986); Becker & Arnold (1986); Martin (1986); Jones, Farina, Hastorf et al (1984); e Crocker & Major (1989). Cada um deles traz uma problemática e complexidade a mais na conceituação de estigma tendo como quadro teórico, o referencial goffmaniano. Assim, em específico, pretende-se relacionar Goffman e os autores que pensam o conceito de estigma sob a visão de que estigma é um processo estabelecido pelo social; relacionar Goffman e os autores que pensam o conceito de estigma evidenciando o relacionamento entre estigmatizados e estigma; e identificar quais pensadores podem ser elos para um estudo foucaultiano sobre estigma. Este último objetivo consiste devido o interesse em um estudo a posteriori sobre a contribuição de Foucault na discussão de estigmas. Julga-se que o tema proposto, discussão conceitual de estigma, é um tema pouco explorado no Brasil. Estigma é bastante trabalhado aqui quando se diz respeito a prática de estigmatização, mas não o conceito em si. Com a elaboração dessa pesquisa, pretende-se refletir os efeitos do estigma para a subjetivação do sujeito e o papel da sociedade para tal processo. Por ser uma pesquisa teórica, a metodologia consiste na leitura e discussão das questões referentes ao tema proposto. PALAVRAS CHAVES Goffman – Estigma - Conceito - Foucault ABSTRACT Goffman (1975) was the pioneer in thinking the stigma concept in a social perspective. For Goffman, the society establishes the means of classifying the people and the total of attributes considered as common and natural for the members of each one of those categories. The daily social relationship in atmospheres already established propitiates a relationship among foreseen people and expected the such place, without attention or private reflection with some to the other ones. The normal people foresee the categories and a stranger's attributes that they approach through their first aspects. The stigmatization process doesn't happen due to the existence of the attribute in itself, but, for the incongruous relationship among the attributes and the stereotypes that the normal ones create for a certain person type. All those attributes don't provide with the stereotype that the normal ones create for a certain individual type characterize the stigmatization process for generating deteriorated identities. Starting from this central idea of the stigma concept proposed by Goffman, it is aimed to study the stigma concept for Goffman, and the stigma concepts for some among so many authors that developed their ideas starting from him. The authors are: Ainlay, Coleman & Becker (1986); Link & Phelan (2001); Stafford & Scott (1986); Becker & Arnold (1986); Martin (1986); Jones, Farina, Hastorf et al (1984); e Crocker & Major (1989). Each one of them brings more problems and complexity in the stigma conception tends Goffman as theoretical picture. Like this, in specific, it intends to relate Goffman and the authors who think the stigma concept under the vision that stigma is an established process for the social; to relate Goffman and the authors who think the stigma concept evidencing the relationship among having stigmatized and stigma; and to identify which thinkers can be links for a study foucaultiano on stigma. This last one objective consists due the interest in a study a posteriori about the contribution of Foucault in the discussion of stigma. We believe that the proposed theme, conceptual discussion of stigma, is a theme with little exploration in Brazil. Stigma is quite worked here when respect the stigmatization practice is said, but not the concept in itself. With the elaboration of that research, it intends to reflect the effects of the stigma for the subject's subjectivities and the paper of the society for such a process. For being a theoretical research, the methodology consists of the reading and discussion of the subjects regarding. KEY-WORDS Goffman – Stigma – Concept - Foucault INTRODUÇÃO Estigma é um termo presente na sociedade desde a Grécia Antiga, porém, é a partir da década de 60 do século XX, com Goffman, que lhe foi atribuído conceitos que tomam a sociedade como participante do seu processo de formação. Estigmas: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (1975), de Goffman, é o fundamento e o estímulo de diversos outros trabalhos na intenção de conceituar e pensar estigmas. Pesquisas, desde a publicação de Goffman, têm sido produzidas em grande profusão, conduzindo elaborações, refinamentos conceituais e repetidas demonstrações do impacto negativo do estigma sobre a vida de pessoas estigmatizadas (LINK & PHELAN, 2001, p.365). Pautando-se na sociologia, na psicologia social e em estudos clínicos, Goffman estudou uma gama de situações que envolvem estigma, ou seja, circunstâncias onde os indivíduos não se introduzem na plena aceitação social (AINLAY, COLEMAN & BECKER, 1986). Tendo em vista a delimitação do objeto, esta pesquisa baseia-se em dois aspectos que surgem como focos em meio à variedade dos estudos sobre o estigma, são eles: o estabelecimento do estigma pela sociedade e o relacionamento de quem é estigmatizado com o estigma. Por isso, foram escolhidos os seguintes autores que desenvolveram suas pesquisas a partir de Goffman: Ainlay, Coleman & Becker (1986); Link & Phelan (2001); Becker & Arnold (1986); Stafford & Scott (1986); Martin (1986), Jones, Farina, Hastorf et al (1984); e Crocker & Major (1989). Diante deste cenário, o objetivo geral da pesquisa consiste em estudar o conceito de estigma para Goffman, o pioneiro ao pensar estigma numa perspectiva social, e os conceitos de estigma para alguns entre tantos autores que desenvolveram suas ideias a partir dele. Diante deste objetivo geral, pretende-se, primeiramente, relacionar Goffman e os autores que pensam o conceito de estigma sob a visão de que estigma é um processo estabelecido pelo meio social; segundo, relacionar Goffman e os autores que pensam o conceito de estigma, evidenciando as situações de relacionamento entre estigmatizados e estigma; e terceiro, identificar quais pensadores podem ser elos para um estudo foucaultiano sobre estigma. Pode-se perceber pelos estudos de estigmatização que, ser estigmatizado sempre tem consequências não benéficas para a vida do indivíduo. Sua identidade real sofre deteriorizações por não se incluir no que a sociedade institui como normal e natural. Deste contexto pode-se pensar em dois fatos que torna importante a realização desta pesquisa: refletir os efeitos do estigma para a subjetivação do sujeito e o papel da sociedade para tal processo. E ainda, julga-se que o tema, discussão conceitual de estigma, é ainda pouco explorado no Brasil. A presente pesquisa encontra-se em andamento, sendo que, os resultados aqui apresentados compõem a metade da pesquisa realizada. A relação de Goffman com Foucault ainda é ínfima e hipotética, pois, as leituras ainda estão em desenvolvimento. METODOLOGIA A metodologia consiste na leitura e discussão das questões referentes ao tema proposto, assim como, reuniões entre bolsista e orientador para discussão dos temas estudados. RESULTADOS Em Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (1975), Goffman (1975) apresenta um estudo sobre estigmas focalizando a interação como responsável pela construção social dos significados. O trabalho de Goffman quanto ao conceito de estigma é permeado pela ideia de presença física entre estigmatizados e normais - termo exposto por Goffman para definir aqueles que não sofrem o processo de estigmatização. Assim, todos os conceitos apresentados abaixo remetem à ideia da presença corporal entre tais grupos. Para Goffman, a sociedade institui como as pessoas devem ser, e ainda torna esse dever como normal e natural perante todos que a compõem. “A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias” (GOFFMAN, 1975, p.12). A relação social cotidiana em ambientes já estabelecidos propicia um relacionamento entre pessoas previstas e esperadas a tal lugar, sem atenção ou reflexão particular umas com as outras. Assim, as pessoas normais preveem as categorias e os atributos de um estranho que se aproxima, através de seus primeiros aspectos. Essas pré-concepções, elaboradas pelos normais, são transformadas em “expectativas normativas, em exigências apresentadas de modo rigoroso” (GOFFMAN, 1975, p.12). No entanto, os normais, cotidianamente, ignoram essas préconcepções até o surgimento de uma questão que seja efetiva para a realização de suas exigências. É neste momento que os normais podem perceber que fazem afirmações daquilo que o outro deveria ser. Enquanto o estranho está à nossa frente, podem surgir evidências de que ele tem um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser incluído, sendo, até, de uma espécie menos desejável [...]. Assim deixamos de considerá-la criatura comum e total, reduzindo-a a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande [...] (GOFFMAN, 1975, p.12). Goffman (1975) acredita que a pessoa estigmatizada possui duas identidades: a real e a virtual, caracterizando, assim, o processo de estigmatização descrito acima. A identidade real é o conjunto de categorias e atributos que uma pessoa prova ter; e a identidade virtual é o conjunto de categorias e atributos que as pessoas têm para com o estranho que aparece a sua volta, portanto, são exigências e imputações de caráter, feitas pelos normais, quanto ao que estranho deveria ser. Deste modo, uma dada característica pode ser um estigma, “especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande e possui uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real” (GOFFMAN, 1975, p.12). O processo de estigmatização não ocorre devido à existência do atributo em si, mas, pela relação incongruente entre os atributos e os estereótipos que os normais criam para um determinado tipo de pessoa. Todos aqueles atributos não proporcionais com o estereótipo que os normais criam para um determinado tipo de indivíduo caracterizam o processo de estigmatização. Assim, Goffman (1975, p. 13) afirma que “o termo estigma, portanto, será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo” numa linguagem de relações e, não de atributos em si. Ora, alguém ter um determinado atributo não o caracteriza com um estigma, pois, o estigma se dá intrinsecamente pela relação entre alguém que possui atributos distintos de uma dada categoria da qual ele se aproxima e pessoas que não possuem tais atributos. De acordo com os estudos de Melo (2000), estigmas, para Goffman, representam algo mau dentro da sociedade que deve ser evitado, em síntese, são identidades deterioradas por uma ação social. O processo de estigmatização pode variar de acordo com a evidência e a exposição das características do indivíduo. Goffman (1975) caracteriza dois tipos de grupos de indivíduos de acordo com seu estereótipo: o desacreditado e o desacreditável. O desacreditado possui características distintas em relação aos normais, sendo estas conhecidas e perceptíveis. O desacreditável possui características distintas das dos normais, mas nem sempre conhecidas e percebidas por eles. Essas duas perspectivas podem caminhar juntas na relação estigmatizados e normais. Goffman (1975) afirma que os normais constroem uma teoria do estigma. Eles constroem uma ideologia para explicar a inferioridade das pessoas com um estigma e para ter controle do perigo que ela representa, acreditando que alguém com um estigma não é verdadeiramente humano. Para Melo (2000, p.2), o “social anula a individualidade e determina o modelo que interessa para manter o padrão de poder e anula todos os que rompem ou tentam romper com o modelo social”. Os estigmatizados possuem uma marca, significando então que, sua identidade social é deteriorada para conviver com os outros. Para Goffman, “normais e estigmatizados são perspectivas que são geradas em situações sociais durante os contatos mistos, em virtude de normas não cumpridas que provavelmente atuam sobre o encontro” (1975, p.148). As teses e hipóteses de Goffman (1975) se pautam no objetivo de estudar os estigmas a partir dos momentos em que os estigmatizados e os normais estão em presença física um do outro, como já explicitado anteriormente. Diante dessas afirmações, pretende-se pensar nas relações entre estigmatizados e estigma. Segundo Goffman, há diversas formas da pessoa estigmatizada se relacionar com a situação que lhe envolve. Algumas pessoas estigmatizadas carregam o estigma e não aparentam impressionadas ou arrependidas com a circunstância. Isso acontece devido a negação em viver de acordo com o que lhes foram exigidas, fazendo com que se sintam normais e as pessoas normais, estranhas. Outra situação é quando o indivíduo estigmatizado percebe que um de seus atributos é impuro e, por isso, pode-se imaginar como um não portador dele. Quando essa pessoa se aproxima de normais pode ocorrer auto-ódio e auto-depreciação. Outra circunstância é do estigmatizado ter que lidar com pessoas que não conseguem lhe proporcionar respeito e consideração, e em resposta a este fato, ele tenta corrigir, de forma dedicada, a base de seu defeito – quando a correção tem êxito, há transformação do ego, deixando a pessoa com uma predisposição a vitimização. Já outras pessoas reagem com um grande esforço pessoal para dominar áreas e atividades que são consideradas fechadas e limitadas a pessoas com suas características, devido a motivos físicos e circunstanciais. Algumas pessoas já se utilizam de seu estigma para ganhos secundários, principalmente aquelas com atributo diferencial vergonhoso. Elas podem tentar romper com a realidade e tentar empregar uma interpretação não convencional à sua identidade social (GOFFMAN, 1975). Melo (2000), em seus estudos sobre estigmas, pautando-se no referencial teórico de Goffman, expõe que o social é responsável por determinar os atributos e por marcar os juízos de valores éticos e morais aos sujeitos, os quais não correspondem às qualidades determinadas para cada categoria. O social rotula, cataloga e estigmatiza os sujeitos, classificando-os como sujeitos ou grupos de baixa potencialidade humana, destrutivos e prejudiciais à convivência humana. A identidade social de um indivíduo enquanto estigmatizada pode destruir seus atributos e suas qualidades de sua identidade real. No ensaio intitulado Stigma Reconsidered (1986), Ainlay, Coleman e Becker apresentam uma proposta de definição de estigma pautando se, primordialmente, nas ideias de Goffman. O trabalho destes autores objetiva expor os paradoxos, as ambiguidades, as variações e as polaridades que envolvem o estigma, através da tese de que os atributos particulares que desqualificam as pessoas variam de acordo com os períodos históricos e a cultura, propiciando-as uma não aceitação social plena (AINLAY, COLEMAN & BECKER, 1986). Os atributos de uma pessoa estigmatizada não são inerentes a ela, o estigma, portanto, não é uma propriedade individual. As pessoas são estigmatizadas somente num contexto, o qual envolve a cultura; os acontecimentos históricos, políticos e econômicos e uma dada situação social. Para os autores em destaque, estigma reflete a sociedade em si e é constituído por ela e pela época (AINLAY, COLEMAN & BECKER, 1986). As tendências morais e intelectuais da época e a estrutura cultural são elementos importantes quando se pensa onde e quem determina o que é estigma. Em comparação, para Goffman (1975), os normais e os estigmatizados não são pessoas em si, mas perspectivas constituídas principalmente pela discrepância entre as identidades real e virtual. O contexto histórico pode provocar mudanças no curso de estigma, propiciando alterações em suas descrições, nas categorias que o envolve e no processo de estigmatização e suas consequências. Pode-se dizer, também, que a prática, a compreensão e a percepção de estigma são variáveis de acordo com a historicidade. Alguns estigmas perpetuam durante as épocas, porém, muitos são findáveis e característicos de um dado contexto histórico, social e cultural (AINLAY, COLEMAN & BECKER, 1986). A percepção de estigma modifica-se também entre os contextos sociais, sendo sutilmente diferente diante de cada um. “Cada sociedade cria hierarquias de atributos agradáveis e desagradáveis e um conjunto de regras para gerenciá-los” (AINLAY, COLEMAN & BECKER, 1986, p.4, tradução nossa). Dadas tais afirmativas anteriores, Ainlay, Coleman & Becker (1986) classificam estigma sendo ambíguo e efêmero. As pessoas que compõem a sociedade são responsáveis pela perpetuação de estigma. Como membros da sociedade, os indivíduos perpetuam as suas concepções de estigma e a forma de responder a ele. Isso se dá pelo passar das gerações, através da aprendizagem social e da socialização. Assim, Ainlay, Coleman & Becker (1986, p.4). concluem esta relação afirmando que as “concepções de estigma caminham juntamente com a evolução da sociedade”.Vale ressaltar também que, estigma pode estar presente na vida das pessoas durante todo seu ciclo, portanto, ele pode criar “descontinuidades para as pessoas ao longo de suas vidas” (AINLAY, COLEMAN & BECKER, 1986, p. 7, tradução nossa). As relações sociais entre pessoas não estigmatizadas e pessoas estigmatizadas seguem o fluxo das primeiras. Estas relações não são igualitárias devido ao sistema de percepções das pessoas não estigmatizadas e pelo seu conjunto de categorias - as quais não as permitem prever uma pessoa estigmatizada em uma categoria comparada com a sua. Destarte, uma pessoa dentro de uma categoria da qual ela não é esperada pode ser tolerada, mas não aceita totalmente. Ainlay, Coleman & Becker (1986) apresentam alguns impactos que o estigma pode gerar para o indivíduo que o vivencia. Para eles, estigma pode criar indivíduos dependentes e fazer com que estas pessoas tornem-se comprometidas com essa dependência, apesar de desejar ser independente. O estigma pode fazer com que as pessoas, uma vez poderosas, fiquem em uma posição de menor poder. E ainda, eles afirmam que o estigma faz as pessoas com menos poder, sentirem um senso de superioridade ou poder sobre os outros que são mais estigmatizados do que elas. E ainda, pode haver paradoxos nas consequências do estigma para quem o vivencia, ora ser desumano, como demonstrado acima, e ora inspirador, como nos movimentos sociais. Em síntese, a tese de Ainlay, Coleman & Becker (1986) tomam o conceito de estigma exposto por Goffman como fonte teórica primária. Para Goffman (1986), a sociedade é responsável por estabelecer os meios de categorizar as pessoas e os atributos tidos como naturais para os membros de cada uma dessas categorias. O estigma é estabelecido a partir desta lógica social, onde pessoas não previstas a estas categorias são tidas como estranhas, e a elas são dadas identidades virtuais. Ainlay, Coleman & Becker (1986) pautam-se nestas questões acrescentando a tese que, este social englobado pela cultura, modifica-se com o tempo e o lugar e, portanto, os estigmas modificam-se paralelamente com ele. Becker & Arnold (1986) em Stigma as a social and cultural construct argumentam, desde o principio de seu ensaio, que a o modelo de análise de estigma deve se dá através do social, do cultural e do histórico. Estes três elementos são suportes necessários para a compreensão do indivíduo. Referindo-se a Goffman, percebe-se uma íntima relação entre suas ideias e as de Becker & Arnold (1986) quanto à definição de estigma atrelada à construção social. Os atributos culturais determinam a estrutura da sociedade (normas, valores, crenças religiosas, etc.); a natureza da organização social e sua estruturação política e econômica. Neste contexto, Becker & Arnold (1986) lançam a ideia de poder. Para eles, a estrutura social e o sistema de crenças de uma dada sociedade costumam definir quem terá o poder e qual a sua natureza. Eles afirmam que em toda sociedade algumas pessoas têm mais poder do que as outras. Becker & Arnold (1986) definem poder como prestígio, riqueza e habilidade de manter o controle social sobre alguém. E é esse sistema que engloba o processo que envolve a sociedade e o estigma, pois, a sociedade, nesta compreensão, tem o poder de impor suas normais, valores e crenças sobre as pessoas com menos poder. Toda sociedade possui normas e valores que determinam os atributos e comportamentos aceitáveis para seus membros. “Cada sociedade tem mecanismos de controle social para garantir que a maioria de seus membros conforme-se com essas normas. As pessoas que não se conformam com essas regras ou quebram os tabus sociais são excluídas socialmente” (BECKER & ARNOLD, 1986, p. 40, tradução nossa). Dentro dessa concepção Becker & Arnold (1986) pensam o conceito de estigma. Para eles, os membros da sociedade têm crenças comuns sobre o significado cultural de um atributo e do estigma ligado a ele. Essas crenças sobre estigma ditam a natureza de estigma. As pessoas tomam atitudes específicas sobre um dado estigma e sobre as respostas de pessoas estigmatizadas, afetando, portanto, a forma pela qual um indivíduo estigmatizado é integrado num grupo social ou excluído. A experiência de estigma para um indivíduo constitui-se de atitudes sociais que são sutis e difundidas amplamente. Estigma para Becker & Arnold (1986) é a condição de não possuir atributos considerados importantes por um grupo social. Os indivíduos estigmatizados tornam-se rapidamente cientes da forma que os outros os veem. Assim, aquele que é estigmatizado pode sofrer um complexo processo de normatização, o qual se dá pela forma que o indivíduo estigmatizado se adapta a sociedade, a fim de reduzir sua diferença das normas culturais. Este processo de normatizar os estigmatizados em relação às normas culturais, afeta o conceito de si da pessoa. Para Becker & Arnold (1986), assim como para Ainlay, Coleman & Becker (1986 (2001), o conceito de estigma é variante em cada sociedade. Esse pensamento é conveniente para diferenciar as normas culturais, os valores e as estruturas. Um sistema de crenças culturais é guiado por um modelo de cultura que os indivíduos carregam, porém, como indivíduos, as pessoas não são conscientes deste processo (BECKER & ARNOLD, 1986). “Nós, às vezes, paramos de nos perguntar o motivo que pensamos e nos comportamos de tal forma, nós fazemos isso porque a cultura é um extenso processo inconsciente” (BECKER & ARNOLD, 1986, p. 40, tradução nossa). Deste modo, Becker & Arnold (1986) concluem que estigma é constituído nesse processo cultural e é reflexo da cultura. Alguns comportamentos ou atributos podem ser universais quando se relacionam ao estigma, assim como outros podem ser específicos de uma cultura. Um atributo ou comportamento serão vistos em seu contexto cultural de acordo com o significado que a cultura lhes proporcionará. A cultura modifica-se juntamente com a sociedade, portanto, a percepção cultural altera-se de acordo com as mudanças sociais e históricas (BECKER & ARNOLD, 1989). Em conclusão, estigma, para Becker & Arnold (1986), é completamente relacionado ao social, ao cultural e ao histórico. Estes três elementos refletem a experiência individual de estigma. Estigma é uma construção e se dá numa relação entre indivíduos, num contexto sociocultural e histórico, e forma a natureza de algumas relações. “Para compreender a natureza de estigma nós devemos nos focar na cultura, na estrutura social e no período histórico no qual onde há o estigma” (BECKER & ARNOLD, 1986, p. 55, tradução nossa). Pode-se observar uma estreita relação da conceituação de estigma proposta por Becker & Arnold com Ainlay, Coleman & Becker (1986) quando tratam o estigma como uma construção histórica, social e cultural, considerando que estes três elementos modificam-se e, a noção de estigma caminha nesse processo. As ideias de tais autores parecem completar uma à outra, o que as diferenciam é o foco de seus estudos. Os primeiros priorizam pensar a cultura como fator essencial na construção de estigma, já os últimos enfatizam as modificações dos atributos que desqualificam as pessoas no decorrer do tempo, de cada sociedade e cultura. Becker & Arnold (1986) apresentam também a ideia de poder relacionada à construção de estigma, principalmente ao poder que a sociedade exerce sobre as pessoas. Link & Phelan (2001), autores que serão trabalhados a seguir, tomam o poder como fator central na constituição dos elementos formadores de estigma e dá maior complexidade ao tema poder e estigma. Goffman é ponto teórico norteador dos estudos de Becker & Arnold (1986), tal afirmação pode-se dá pelas diversas ideias convergentes entre eles pautadas em citações de Goffman, principalmente no que tange o social como responsável pela origem, existência e prática de estigma. Link & Phelan (2001), no artigo Conceptualizing Stigma, focalizam seu trabalho numa nova proposta em conceituar estigma. Os autores tomam as obras de Goffman como princípio de sua discussão conceitual e retornam a ele dando prioridade na relação entre estereótipo e atributo como fontes que propiciam o estigma. Porém, Link & Phelan (2001) ao retomarem Goffman, objetivam “ampliar esta relação proposta por este sociólogo, a fim de capturar um maior conjunto de significados para o tema estigma” (LINK & PHELAN, 2001, p.365, tradução nossa). Para Casaes (2007), “Link & Phelan (2001, p. 15) elaboram uma definição mais complexa para o conceito estigma”. Link & Phelan (2001, p. 377) afirmam que “estigma existe quando elementos de rotulação, estereotipização, separação, perda de status e discriminação ocorrem simultaneamente em uma situação de poder que permite tais componentes acontecerem”. Desta forma, observa-se, claramente, que tais autores tomam o pensamento de Goffman como base e o ampliam com a ideia de poder e com a proposta de mais elementos na relação que estabelece o estigma. Faz-se importante discutir sumariamente cada um dos vários elementos colocados por Link & Phelan (2001) que compõem o conceito e a prática de estigma e são envoltos pelo poder, tais como: rotulação, estereotipização, separação, perda de status e discriminação. A maioria das diferenças entre as pessoas são ignoradas em seu cotidiano e socialmente irrelevantes. Porém, o social faz com que algumas diferenças sejam relevantes. Isso se dá pela sociedade criar grupos (categorias) e atributos considerados evidentes, os quais sofrem modificações de acordo com o tempo e o lugar. Com base nesses pressupostos dados por Link & Phelan (2001), tomamos o conceito de rotulação a partir da compreensão de Casaes (2007, p.15, grifo do autor): “o termo “rotulação” foi escolhido para enfatizar o processo social de eleger uma determinada característica e aplicá-la a alguém. Não significa, necessariamente, que este indivíduo a possua”. E a partir dos rótulos empregados às pessoas estigmatizadas que os estereótipos são criados, gerando, assim, o processo de estereotipização. De acordo com Link & Phelan (2001, p. 369, tradução nossa) “o rótulo liga uma pessoa a um conjunto de características desagradáveis que formam o estereótipo”. Os rótulos sociais propiciam a existência e uma separação delimitada de dois grupos: nós e eles (LINK & PHELAN, 2001). “O “nós” é caracterizado por todos os valores que constituem a visão de um ser humano “normal” apregoada pela ideologia dominante da sociedade” (CASAES, 2007, p.16, grifo do autor). O “eles” é caracterizado pelas pessoas que são diferentes do “nós”, e, portanto, são as rotuladas negativamente . Goffman denominou tais grupos de “normais” e “estigmatizados”. “As pessoas são estigmatizadas quando são rotuladas e ligadas a características indesejáveis, dando-lhes uma experiência de perda de status e discriminação” (LINK & PHELAN, 2001, p. 371). As consequências negativas de ser rotulado e estereotipado propiciam uma colocação mais baixa na hierarquia social na qual o indivíduo vive, o que pode gerar efeitos indesejáveis em suas oportunidades. A perda de status em si torna-se a base da discriminação, considerando que, a perda de status está diretamente ligada à rotulação e à estereotipização. Por definição, discriminação, portanto, é um comportamento manifestado em consequência da ligação entre perda de status, rotulação, estereotipização e separação. Para Link & Phelan (2001), poder tem importância relevante no estabelecimento de estigma, numa relação onde este é dependente daquele. “Estigma é totalmente dependente do poder social, econômico e político – estes elementos tomam o poder para estigmatizar” (LINK & PHELAN, 2001, p.375, tradução nossa). Porém, o papel crucial do poder no estabelecimento de estigma geralmente não é notado, pois, em muitas circunstancias esses diferentes poderes são tomados por concessão como se não fossem problemáticos. Estigma é totalmente dependente do poder econômico, social e político. As condições necessárias para gerar estigma podem-se pautar nos processos cognitivos, mas, as condições suficientes são os processos sociais (CASAES, 2007). Os processos sociais ligados ao poder consentem soberania para alguns grupos, o que gera consequências para outros (LINK & PHELAN, 2001). Destarte, poder é o ponto essencial que permite a um determinado grupo estigmatizar outros, gerando todos os elementos que constituem o estigma, como apresentados acima. Concluindo, Link & Phelan (2001) apresentam uma nova proposta de conceito de estigma partindo e pautando-se em Goffman e em diversos outros pensadores – incluindo Ainlay, Coleman & Becker - da área da sociologia e da psicologia social, principalmente. É notória a base de Goffman em sua elaboração do conceito de estigma, principalmente no que tange a relação de atributos incongruentes com o estereótipo que os normais criam para um tipo de indivíduo. Porém, Link & Phelan (2001) acreditam que este conceito possa não atingir alguns aspectos que se referem à estigmatização, daí sua proposta, acrescentando os elementos de rotulação, perda de status e discriminação, além, da ideia de poder como propiciador do processo. Link & Phelan (2001) também se aproximam da ideia central do conceito de estigma para Ainlay, Coleman & Becker (1986) ao considerarem que o processo de estigma está ligado diretamente às instituições e às redes que compõem o social, considerando que são mutáveis, de acordo com o tempo e o lugar, e, portanto, o estigma segue este curso. Em Estigma, deviance and social control: some conceptual issues, Stafford & Scott (1986) apresentam o conceito de estigma como sinônimo de desvio e sua prática como realização de controle social. “Consideramos que a noção de estigma é sinônimo de desvio (no sentido de violação de norma) e envolve controle social” (STAFFORD & SCOTT, 1986, p. 77-78, tradução nossa). Stafford & Scott (1986) se pautam em Goffman para estruturar sua elaboração do conceito de estigma, especificamente ao concordar com ele que, estigma é a presença de uma diferença indesejável e é dividido em três tipos, de acordo com as situações que lhe envolve: deformidades físicas; culpas de caráter individual; e estigmas tribais de raça, nação e religião. Para Stafford & Scott (1986), estigma é um fenômeno relativo, pois, o que é estigma em uma unidade social pode não ser em outra; o que evidencia uma relação com a conceituação de estigma de acordo com Ainlay, Coleman e Becker (1986). Porém, a variação de estigma que estes autores trabalham é no âmbito de época e tipos de sociedade, e para Stafford & Scott (1986) é no âmbito de tipos de unidades da sociedade, por exemplo, família, nação. Enfim, “estigma é uma característica de um indivíduo que é contrária a certa norma de uma unidade social. Tal característica pode envolver o que as pessoas fazem (ou devem fazer), no que elas acreditam ou o que elas são física ou socialmente” (STAFFORD & SCOTT, 1986, p. 80, tradução nossa). O termo chave do conceito de estigma para Stafford & Scott é norma. “Norma é o compartilhar de crenças de como as pessoas devem se comportar de certo modo em uma dada circunstância” (STAFFORD & SCOTT, 1986, p. 81, tradução nossa). Norma é a palavra que pode mostrar a relativa e a coletiva natureza de estigma, diferentemente dos termos regra e modelo, os quais são sinônimos de norma, pois, ambos demonstram somente a natureza relativa de estigma, uma vez que, não podem ser formulados ou impostos por um indivíduo (STAFFORD & SCOTT, 1986). O diferencial dos estudos de Stafford & Scott (1986) é a ampliação do conceito de norma, não o conotando somente como comportamento, mas o envolvendo com mais características, como: raça, gênero, estado físico. Esse conceito mais complexo de norma parece se aproximar do que Goffman chamou de identidade normal. “Há um quadro de pessoa ideal, crenças do que o indivíduo deveria ser. [...] As pessoas que não se enquadram nos perfis ideais tendem a ser desvalorizadas” (STAFFORD & SCOTT, 1986, p. 81, tradução nossa ). Desvio ou violação de normas, de acordo com Stafford & Scott (1986), foram termos diversas vezes ligados à falta de responsabilidade. Porém, os autores aqui trabalhados não concordam com esta ideia, afirmando que é preferível tratar a ligação entre violação de normas e responsabilidade, sendo a responsabilidade um atributo contingente, considerando que, muitos indivíduos não têm responsabilidade por serem estigmatizados. Stafford & Scott (1986) alegam, citando Sagarin (1979), que, assim como a responsabilidade, a permanência de uma violação de normas deveria ser tratada também como um atributo contingente, pois, algumas violações são efêmeras e não duráveis, já outras são permanentes. Portanto, o atributo é variável de acordo com as violações das normas. “Controle social envolve reações para o estigma (ou para o desvio), as quais podem ocorrer por diversas razões, uma das consequências importante é a restrição ou terminação das relações sociais” (STAFFORD & SCOTT, 1986, p. 87, tradução nossa). As reações ao estigma variam de acordo com cada unidade social e pelo tempo. As pessoas estigmatizadas são desvalorizadas porque não se constituem pessoas ideais dentro das normas sociais, e assim, tornam-se objetos do controle social, o qual propicia uma limitação em suas relações sociais. Stafford & Scott (1986) acreditam que há como ocorrer o processo de destigmatização através da revisão do sistema normativo, pois, o estigma pode ser mudado por não ser necessariamente comportamento ou tipos de pessoas. Stafford & Scott (1986) expõem o conceito de estigma dando-lhe mais complexidade em relação ao proposto por Goffman e por outros autores de sua época, relacionando-o com controle social, normas e desvios. Goffman trabalhou com a ideia de normalidade e desvio, mas, Stafford & Scott elaboraram conceitos para este termo, envolvendo-os com a ideia de controle social, tornando mais complexo a compreensão do conceito de estigma. Algumas teses de Ainlay, Coleman & Becker também permeiam os estudos destes autores, como já citado anteriormente. Stigma: social learning perspective (1986) é um ensaio de Martin cujo foco é a proposta e a discussão de que estigma é criado, preservado e perpetuado através da aprendizagem oriunda da sociedade. O objetivo de seu estudo é analisar a natureza entre aprendizagem social e estigma e como a natureza desta relação muda no decorrer da vida. Eu [Martin], especificamente, focalizo as características e os fatores associados à aprendizagem social de estigma; à aprendizagem social no decorrer da vida; à relação de aprendizagem social para o desenvolvimento de crenças; à atitude; aos valores; e à maneira que as pessoas avaliam os outros (MARTIN, 1986, p. 146). A base teórica de Martin (1986) de compreensão de estigma se pauta no conceito proposto por Goffman. “As pessoas categorizam as outras e o tipo de atributo que elas possuem através de rotinas de inter-relações sociais em determinados ambientes. Essas rotinas nos propiciam averiguar, rapidamente, a “identidade social” das pessoas que encontramos” (GOFFMAN, 1963 apud MARTIN, 1986, grifo do autor). Neste contexto de categorização, algumas pessoas possuem atributos que as fazem ser diferentes em determinados lugares, havendo, como afirma Martin (1986), uma situação desagradável. Uma pessoa estigmatizada é atribuída de descréditos e não é considerada uma pessoa comum, em casos extremos, é vista como estragada, diminuída, completamente má, perigosa ou fraca (MARTIN, 1986). Em concordância com Goffman, estigma para Martin (1986) constitui-se por marcas desacreditáveis que um indivíduo possui, as quais são estabelecidas por outras pessoas em presença física entre eles num contexto social. A interação social é o processo onde se dá a aprendizagem social de estigma. Portanto, as expectativas e os comportamentos que resultam em estigma são aprendidos, o que torna o controle e a perpetuação de estigma um processo tão complexo. A percepção de si é desenvolvida através de interpretações individuais do sistema de crenças culturais e valores. “O processo de socialização que a sociedade emprega para exercer controle na vida de seus membros é extraordinário” (BECKER, 1973 apud MARTIN, 1986). Aprender é um processo social que adéqua informações pessoais através de motivação própria do indivíduo ou de outro, intuição, proposta e dedicação consciente ou subconsciente. A aprendizagem, que resulta em relativas mudanças permanentes no comportamento, se dá por três estágios: aquisição, transmutação, evolução/aplicação. Aquisição ocorre quando o indivíduo adquiri informação de um meio imediato. A transmutação acontece quando o indivíduo internaliza novas informações e guiadas por valores e auto percepção são ligadas à aquisição. E a evolução/aplicação se dá quando o indivíduo considera novas informações, testando-as e usando-as como recursos (MARTIN, 1986). Em síntese, estes são os três processos pelos quais ocorre a aprendizagem social. A aprendizagem social constitui-se no meio social, portanto, na vida real – na família, nos grupos, na escola, no lazer, no emprego etc – modificando-se e expandindo-se ao longo da vida das pessoas. Seu objetivo consiste na adaptação pessoal e social do indivíduo. A aprendizagem social tende a contribuir para a formação da visão do indivíduo diante da realidade social ao formar valores e determinar a extensão de encontros entre as pessoas. Para Martin (1986), a realidade social influencia a aprendizagem social e “a aprendizagem social molda a percepção da realidade social do indivíduo” (MARTIN, 1986, p.148, tradução nossa). A vida, portanto, está permeado pela aprendizagem social. Aprendizagem social é um mecanismo para fazer o indivíduo aprender um comportamento normativo convencional esperado dele (MARTIN, 1986). Ela é um instrumento na aquisição, modificação, generalização e extinção de comportamento social. Diante disso, Martin (1986, p. 149, tradução nossa) argumenta que a aprendizagem social é um “poderoso mecanismo de aquisição e manutenção de comportamentos que propiciam a estigmatização de pessoas”. Portanto, aprendizagem social é “também um mecanismo através do qual as pessoas aprendem e esperam certos comportamentos de pessoas estigmatizadas” (MARTIN, 1986, p.149). Martin (1986) torna mais complexa a ideia de conceituação de estigma para Goffman ao acrescentar a proposta de aprendizagem social no processo de estigmatização. Há ambientes e categorias prontos e elaborados pela sociedade nos quais há pessoas esperadas. São colocados (pelas pessoas previstas), à pessoa que não se enquadra nos critérios estabelecidos, atributos que não fazem parte de sua real identidade – a esse processo Goffman caracteriza como estigma (GOFFMAN, 1975). Para Martin (1986), estigma é produto da aprendizagem social, pois, a pessoa é estigmatizada por não estar inserida naquilo que é esperado pela sociedade. Através da sociedade – das instituições e grupos que a compõe –, ao nascer a criança inicia um processo de aprendizagem de crenças e valores que a forma como indivíduo e determina seus comportamentos, incluindo suas interpretações. Essa aprendizagem é modificada ao longo da vida (MARTIN, 1986). Ao longo da realização desta pesquisa, pôde-se notar a complexidade do termo estigma a partir da tese inicial de conceituação elaborada por Goffman. Goffman foi o fundador do conceito de estigma dentro de uma perspectiva social de compreensão. No entanto, Goffman não esgotou este tema, ao contrário, ele abriu caminhos para inúmeros pensadores de diversas áreas científicas a interessar por este estudo. Cada autor selecionado para compor esta pesquisa tem Goffman como referencial teórico e traz questões que problematizam o conceito de estigma. Daí o interesse de nosso trabalho, trazer os conceitos de estigma e a posteriori estabelecer relações com o pensamento de Foucault, tendo em vista que a estigmatização é tão vívida na sociedade e nos processos de subjetivação. Em hipótese, algumas abordagens do pensamento foucaultiano podem ser elos com o pensamento de Goffman e seus sucessores, tais como, ideias de: anormalidade; subjetivação; normalização, poder, discurso e o social como constituinte desses processos citados. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AINLAY, S.C.; BECKER, G.; COLMAN, L. M. A. Stigma reconsidered. In.: The Dilemma of Difference. New York: Plenum, 1986. p.1-3. CARDOSO JR, H. R. Foucault em vôo rasante. In: CARVALHO, A. B. de; LIMA DA SILVA, W. C. (Orgs.). Sociologia e Educação: leituras e interpretações. São Paulo: Avercamp, 2006. CROCKER, J. & MAJOR, B. Social stigma and self-esteem: the self-protective properties of stigma. New York, v.96, n4, 1989, p.608-630. 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