"Colaboração" tribuna Portuguesa
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"Colaboração" tribuna Portuguesa
24 1 de Março de 2006 COLABORAÇÃO Tribuna Portuguesa Crónicas Ímpares O povo seguia-lhe os passos fosse ele onde fosse. No tempo em que andar de automóvel ainda era coisa de pouca gente, ir de táxi saía muito caro e já se tinham acabado as carroças, ia-se a pé para São Carlos, São Mateus, Cantinho, enfim, tudo onde fosse possível encher o peito de coragem para ver um terceirense cantar as famosas rancheras mexicanas. Estamos a falar de uma altura em que na Recreio dos Artistas, Fanfarra e Teatro Angrense, se disputavam os filmes de Pedro Infanta, como “La Novia”, os de Gianni Morandi”, como “Non So Degno di Te”, ou de Rita Pavonni, “La Zanzara” e ainda, entre muitos outros, a super estrela espanhola Raphael, com filmes como “Quando Tu Não Ao Sabor do Vento N ão cheguei atrasado para o evento mas cheguei muito mais tarde do que eu pensava. Nunca esperei gastar 5 horas da minha casa a Gustine. Penso que foi esta a única coisa que não saiu como eu gostaria, no dia da festa do lançamento do livro do Daniel Arruda. Como disse a nossa amiga carioca Elen de Moraes: valeu! Valeu, sim, todo o esforço despendido. Estamos todos de parabéns. É sempre difícil mencionar nomes porque poderá algum ficar no esquecimento, mas não posso deixar de citar o Sr. Luís Nunes, Sr. Joe Silveira (a quem chamam Preto carinhosamente), a direcção do Gustine Pentecosts Society, na pessoa do seu presidente o Sr. Joe Alves. Quero deixar registado o meu muito obrigado por terem cedido o salão e tudo o mais que fizeram. Como expressar nossa gratidão à Sra. Maria Alice que ofereceu o jantar abaixo do preço de custo e que além de não ter cobrado um centavo pelo seu trabalho, ainda pagou do seu bolso uma boa quantia para que a despesa fosse minimizada? A Sra. Barcelos e seu marido Joe que ofereceram os arranjos para Estás”. Nesse tempo ir ao cinema era um culto, um hábito, uma necessidade. Também as famosas noites denominadas de Fados e Guitarradas, não o eram menos e destacava-se na altura um tenor de grande categoria que se não foi mais longe isso deveu-se apenas a ele próprio nem se aperceber do seu valor. Manuel Marques, de seu nome, infelizmente já falecido, cantava quase sempre em espanhol e se não faltasse o trompete, bem podíamos dizer ao ouvi-lo que estávamos bem no centro da famosa cidade fronteiriça de Tijuana, no intervalo entre uma cerveza e uma corrida de toiros de morte, ali mesmo às portas da América onde se ferram os toiros com cactos para o animal não sofrer… e se considera o boxe como um desporto de alto nível. Bem, mas o Manuel Marques, quando subia ao palco, fosse em que terreiro fosse, chamava sempre multidões ávidas de o escutar a cada “sonido”, mais os seus sempre brilhantes falsetes, e chegava mesmo a atirar-se à “Campanera” de Joselito, e… deixem lá que não se dava mal. Era um grande artista. Mais um grande em terra pequena. Ainda me lembro das noites na mercearia do senhor Frazão, na Rua do Rego: quem lá passava ouvia a sua voz a trianar sem cansaços: “Ayer nel rancho grande havia una rancherita… que alegre me decia…” Deus o tenha no Seu coro. a sala e para as mesas os nossos sinceros agradecimentos. Sei que a maioria ficou no anonimato e embora eu não consiga fazer, com meus braços, uma circunferência com perímetro de abraçar a todos, minha alma, ainda que repartida e meu coração remendado, expressam a todos o meu muito obrigado por tudo o que fizeram pelo Daniel e pela ajuda dada. A minha amiga Maria das Dores Beirão foi, indubitavelmente, uma mestra, tanto no programa que elaborou como nos seus improvisos. Os acordes da viola da terra muito bem dedilhada pelo seu marido que, juntos aos sons dos demais instrumentos muito bem tocados pelos outros executantes, encheram de emoção não só a sala como as almas dos presentes. A Jesualda, embora constipada, muito abrilhantou a noite com a sua inconfundível voz. Mas para mim o ponto culminante, além das palavras proferidas pelos filhos do Daniel, foi a subida do João Pinheiro ao palco. Devido à trágica morte do seu filho, ele, como se compreende, não estava em disposição de cantar. Eu disse-lhe: caro Amigo, se há vida para além da morte e se o seu filho está a vêlo neste instante, eu tenho a certeza que ele ficará contente de saber que o pai subiu ao palco nem que seja para dizer uma só cantiga. Naquele momento ele olhou para mim e eu pude ver que sua alma chorava e tive a certeza que a vontade dele subir àquele palco e dizer uma cantiga ao Daniel, era mais forte do que a sua dor. Não me surpreendeu a sua presença e sim uma sala cheia, que se levantou e aplaudiu a quadra desse cantador de alma a sangrar, a prestar homenagem a um colega seu. Obrigado João Ao Daniel só digo que tudo o que fiz foi com prazer e com boa vontade. Fi-lo por um emigrante como eu. Fi-lo pelo amor e saudade das majestosas vagas do nosso açórico mar. Em Busca de Um Sonho é uma avenida que liga a Califórnia aos Açores, especialmente à tua linda e heróica Terceira. Tu construíste essa avenida e cada letra é um quilómetro de betão, cada poema é um pilar dessa ponte onde todo leitor, ao ler o teu livro, faz a viagem de ida e volta aos Açores, sem sair da Califórnia... que se doou à causa, viabilizando-a; que empenhou, por vezes, a própria saúde para realizá-la; que esforços não mediu para deslocar-se de um lado para o outro, indo ao encontro de quem solicitasse sua presença; que priorizou a realização do sonho do Daniel em detrimento dos seus afazeres e com o mesmo desvelo que fazia reuniões para falar sobre o projeto, atendia aos inúmeros telefonemas e emails de pessoas que desejavam saber mais sobre o mesmo, sempre com muito prazer, amor e entusiasmo pelo que se propusera fazer. Refiro-me ao poeta José M. Raposo, a quem rendo minhas homenagens, presto meus agradecimentos e parabenizo pelo cumpri- mento da palavra empenhada. Incessantemente trabalhou e dedicou-se ao extremo, exigindo perfeição em tudo, como se fosse lançar seu próprio livro. Confesso que, às vezes, não conseguia acompanhar o ritmo do seu trabalho, tal a ebulição dos seus atos e movimentos: suas incontáveis idas à gráfica para sanar dúvidas sobre o livro, as inúmeras leituras do mesmo à procura de erros (que se tornaram nossa obsessão) e as sadias discussões comigo e Daniel, quando tentava explicar seu ponto de vista e nos convencia, porque na maioria das vezes tinha razão. Se antes do livro eu tinha admiração pelo trabalho do poeta, hoje tenho respeito pelo homem responsável e amigo que passei a conhecer, porque José longe de ser, apenas, um leão que ruge em defesa das suas idéias e dos menos favorecidos, é também um cordeiro, pelo coração sensível que possui. A comunidade portuguesa da Califórnia está de parabéns por contar com a colaboração valiosa de tão importante membro. Embora seus amigos mais chegados digam, em tom de brincadeira, que ele ferve em água gelada, costuma responder com ótimo humor, que ferve sem água mesmo, mas sempre por uma boa causa. Obrigada José M. Raposo por não teres desistido em nenhum momento, mesmo quando as vicissitudes te impeliam a diferentes caminhos e aqui confesso meu reconhecimento pelo teu valoroso trabalho à frente do livro, sem o qual “Em busca de um sonho” continuaria sendo apenas um sonho e nada mais! Missão Cumprida! Sabor Tropical O sonho do Daniel Arruda se fez realidade e seu livro foi lançado numa festa belíssima em Gustine, que proporcionou a quem esteve presente prestigiando o poeta, momentos únicos de intensas emoções. E eu que jamais ousei sonhar, um dia, conhecer a Califórnia, tive o imenso prazer de participar do acontecimento! O empenho de José M. Raposo e dos seus amigos, Dr. Décio de Oliveira, Sr. José Ávila, o próprio Daniel Arruda e a carta expressiva que o Exmo. Sr. Dr. António Alves de Carvalho, Cônsul Geral de Portugal em San Francisco escreveu ao Cônsul Americano no Rio de Janeiro, tornaram possível o meu visto de entrada na América, em tempo hábil. A todos meus sinceros agradeci- mentos e em especial ao Sr. Cônsul que recebeu-me com cordialidade e simpatia, mostrando que além de ser um político que muito bem desempenha o seu cargo nestas paragens, está aqui, indubitavelmente, para servir a comunidade e trabalhar em prol dela, prestigiando sobremodo o nome de Portugal. Muito se tem falado sobre o livro e as pessoas que dele participaram, sem as quais teria sido impossível tamanho empreendimento. Entretanto, há alguém que preferiu ficar à sombra, sem alardear seu trabalho, tirando de si o crédito do sucesso e distribuindo-o com quem estava ao seu redor, mas que nos bastidores foi incansável desde os primeiros momentos;
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