Avaliação das habilidades cognitivas em um contexto sócio
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Avaliação das habilidades cognitivas em um contexto sócio
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (QUÍMICA LICENCIATURA) Avaliação de habilidades cognitivas em um contexto sócio-científico AUTORA: Damaris Guimarães ORIENTADORA: Paula Cristina Cardoso Mendonça Ouro Preto, 12 de novembro de 2012 TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (QUÍMICA LICENCIATURA) Avaliação de habilidades cognitivas em um contexto sóciocientífico Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado como requisito parcial à conclusão da disciplina Estágio Supervisionado IV do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto. AUTORA: Damaris Guimarães ORIENTADORA: Paula Cristina Cardoso Mendonça Ouro Preto, 12 de novembro de 2012 ii G963a Guimarães, Damaris Avaliação das habilidades cognitivas em um contexto sócio-científico [manuscrito] /Damaris Guimarães. – 2012. ix,113 f.: il.: color., grafs.,tabs. Orientadora: Profa.Paula Cristina Cardoso Mendonça Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Departamento de Química. Fonte de catalogação: [email protected] iii “A autossatisfação é inimiga do estudo. Se quisermos realmente aprender alguma coisa, devemos começar por libertarmo-nos disso. Em relação a nós próprios, devemos ser „insaciáveis na aprendizagem‟ e, com relação aos outros, „insaciáveis no ensino‟”. Mao Tse-Tung iv Agradecimentos Diante de tanto esforço, de tantas madrugadas, feriados e finais de semana dedicados a esse curso, finalmente o tenho como mais uma etapa vencida. Como não foi fácil, eu agradeço primeiramente a Deus por me guiar e por jamais me desemparar em minhas provações diárias. Principalmente, nesses momentos, em que tive de ser firme para abrir mão de muitas coisas, para vencer meu cansaço e me concentrar nos meus objetivos. Agradeço à minha família e a Paulo Henrique por todo o incentivo. Somente eles sabem o quanto não foi fácil conciliar uma segunda graduação com mestrado e depois doutorado. Se não fosse o apoio dessas pessoas, dificilmente eu teria terminado esse curso. À Prof. DSc. Paula Mendonça pela oportunidade e confiança em desenvolvermos juntas esse trabalho. Da minha parte, posso dizer que foi uma parceria de muito crescimento e aprendizado. Ao Prof. DSc. Versiane Albis Leão pelo apoio. Às colegas Stephannie Ibraim e Neucilene Fernandes pela colaboração na elaboração do instrumento de coleta de dados e pelas discussões em grupo de alguns referenciais teóricos. Aos colegas da disciplina de Estágio Supervisionado IV (QUI393) pelo auxílio na validação do instrumento de coleta de dados. Ao MSc. Heberton Luís Correia da Silva pela disposição em participar da banca avaliadora e pelas considerações críticas feitas a esse trabalho. Enfim, agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a finalização dessa etapa. v Resumo No presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), foram investigadas, dentro de um contexto sócio-científico, as habilidades cognitivas dos alunos do ensino médio (idades entre 14 e 18 anos) de um colégio particular da região de Ouro Preto-MG. Esses alunos participaram, no segundo semestre de 2011, de um projeto com enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), cujo tema era voltado para a relação entre a mineração e a qualidade das águas. Dentro desse contexto, após o desenvolvimento do projeto, foi apresentado um estudo de caso aos alunos, o qual continha uma questão problema, cuja solução requeria uma tomada de decisão que envolvia a escolha entre quatro opções para o consumo de uma água livre de arsênio, a qual deveria ser justificada em função dos fatores saúde, custo-benefício e eficiência. Ao final dessa atividade, os alunos ainda tinham de responder se os dados fornecidos na mesma haviam sido suficientes para se chegar à tomada de decisão que era requerida. A análise das respostas apresentadas pelos alunos em seus materiais escritos foi feita buscando avaliar (i) o posicionamento crítico dos mesmos diante do problema apontado no estudo de caso e no projeto CTS (feito através classificação das escolhas e justificativas em categorias segundo sua coerência e pertinência), (ii) as habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos ao resolver o estudo de caso (pela taxonomia de Bloom) e (iii) o nível dos argumentos emitidos pelos alunos que conseguiram argumentar (pela ferramenta analítica de Toulmin). A partir desse estudo, observou-se que, de maneira geral, na escola estudada, a maioria dos alunos inicia o ensino médio com apenas as habilidades do domínio cognitivo de ordem média desenvolvidas e, portanto, apresentam sérias dificuldades em assumir um posicionamento crítico e em argumentar (Alunos do 1º ano: maioria classificada nos níveis 3 e 4 da taxonomia de Bloom; de 39 possibilidades de argumentos válidos „PAV‟, foram observados apenas 2 de Nível 1). Porém, foi visto que tais dificuldades vão sendo superadas no decorrer do curso e gradativamente sua capacidade de posicionamento crítico e de argumentação vão aumentando (Alunos do 2º ano: são classificados desde o nível 1 até o Nível 5 da taxonomia de Bloom; de 30 PAV, foram observados 5 de Nível 1. Alunos do 3º ano: maioria classificada nos níveis de 4 a 6 da taxonomia de Bloom; de 33 PAV, foram observados 18 de Nível 1 e 3 de Nível 2). Em nenhuma das turmas foram observados argumentos de Nível 3 e 4. Embora tenha sido observado esse avanço no desenvolvimento das habilidades entre as turmas estudadas, foi visto que dentre as grandes dificuldades apresentadas por esses alunos, destacaram-se as de expressão escrita e de leitura crítica. vi Índice 1 - Contextualização e objetivos do estudo................................................................................... 1 2 - Fundamentos teóricos ............................................................................................................ 3 2.1 - O ensino de ciências com enfoque em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) ....................... 3 2.2 - Metodologia de estudo de casos no Ensino de Ciências ............................................................ 6 2.3 - Habilidades do domínio cognitivo ............................................................................................. 9 2.3.1 - Argumentação dentro de um contexto sócio-científico e o Ensino de Ciências .............. 15 3 - Questões de pesquisa ............................................................................................................ 18 4 - Aspectos metodológicos ........................................................................................................ 18 4.1 - Coleta de dados ........................................................................................................................ 18 4.2 - Análise de dados: .................................................................................................................... 20 4.2.1 – Categorização das justificativas ................................................................................. 21 4.2.2 – Classificação das habilidades expressas pelos alunos ................................................ 23 4.2.3 – Classificação dos argumentos .................................................................................... 26 5 - Apresentação e discussão dos resultados .............................................................................. 31 5.1 – Categorização das justificativas .............................................................................................. 31 5.1.1 - Análise do estudo de caso dos alunos do 1º ano. ........................................................ 31 5.1.2 - Análise a do estudo de caso dos alunos do 2º ano. ..................................................... 36 5.1.3 - Análise do estudo de caso dos alunos do 3º ano. ........................................................ 39 5.2 – Análise das habilidades expressas pelos alunos ...................................................................... 42 5.2.1 – Análise das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos do 1º ano ..... 42 5.2.2 – Análise das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos do 2º ano ..... 43 5.2.3 – Análise das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos do 3º ano ..... 45 5.2.4 – Análise geral das três turmas – habilidades expressas pelos alunos .......................... 46 5.3 – Classificação dos argumentos ................................................................................................. 48 5.3.1 – Classificação dos argumentos dos alunos do 1º ano .................................................. 48 5.3.2 – Classificação dos argumentos dos alunos do 2º ano .................................................. 51 5.3.3 – Classificação dos argumentos dos alunos do 3º ano .................................................. 52 6 - Conclusões ........................................................................................................................... 56 7 – Reflexões finais .................................................................................................................... 58 8 - Referências Bibliográficas .................................................................................................... 59 Bibliografia .......................................................................................................................... 64 9 - Apêndice .............................................................................................................................. 64 vii 9.1 – Projeto CTS “Mineração e a qualidade das águas” ................................................................. 64 9.2 - Instrumento de coleta de dados .............................................................................................. 104 9.3 - Termo de consentimento às filmagens e à cópia dos materiais escritos pelos alunos ........... 111 9.3.1 - Direcionado aos alunos maiores de idade ................................................................... 111 9.3.2 - Direcionado aos pais ................................................................................................... 112 viii Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 1 - Contextualização e objetivos do estudo O tema do presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi idealizado durante as atividades da disciplina de Estágio Supervisionado II (QUI391) (1o semestre de 2011), na qual foi proposto aos licenciandos trabalhar com a elaboração de um projeto temático interdisciplinar que fosse voltado para a perspectiva Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Depois de finalizado, esse projeto foi desenvolvido, no 2o semestre de 2011, com alunos do ensino médio de escolas da região de Ouro Preto, como parte das atividades da disciplina de Estágio Supervisionado III (QUI392). Essa proposta de organização das disciplinas QUI391 e QUI392 tinha como intuito propiciar aos licenciandos a experiência de atuar dentro das premissas atuais de ensino, as quais se encontram muito bem explicitadas nos documentos oficiais, como a Lei de Diretrizes e Bases – LDB (BRASIL, 1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1999) e os Conteúdos Básicos Comuns – CBC (MINAS GERAIS, 2006). Nesses, é bastante reforçado o dever da educação básica de formar cidadãos capazes de atuar criticamente na sociedade em que vivem, promovendo, assim, mudanças no seu meio. Assim, foi elaborado o Projeto “CTS: Mineração e a Qualidade das Águas”, o qual partia de um problema real enfrentado por moradores da região de sua aplicação e propunha atividades que buscavam promover nos alunos um melhor entendimento dos impactos positivos e negativos da mineração na qualidade das águas. Para isso, o Projeto CTS trabalhava (i) alguns conteúdos químicos necessários à melhor compreensão dos fenômenos químicos e dos impactos ambientais abordados e (ii) o desenvolvimento do senso crítico dos alunos de forma a torná-los aptos a associar ciência, tecnologia e sociedade, para, assim, aplicar os conhecimentos construídos através dessas atividades no meio em que vivem (ver Apêndice 9.1). Essa proposta de ensino me chamou a atenção, pois sempre vi a escola como uma importante aliada no processo de formação do cidadão e, consequentemente, da sociedade, tal como apontado por importantes sociólogos da educação (BORDIEU, 1964; WEBER, 2002) e estudiosos da área de Ensino de Ciências (por exemplo, SANTOS e SCHNETZLER (2010)). Através dela, vejo que o aluno tem a oportunidade de complementar a educação recebida em seu meio de origem para, assim, se capacitar melhor para desempenhar seu papel enquanto cidadão, ou seja, cumprindo adequadamente seus deveres e fazendo valer os seus direitos. 1 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Como a proposta CTS caminha nesse sentido de proporcionar uma formação mais ampla ao indivíduo, pensei em aproveitar a aplicação do Projeto CTS, para aprofundar meus estudos na área e, assim, conhecer melhor como se daria o papel do Ensino de Química dentro dessa perspectiva, assim como, quais seriam suas contribuições para o aprendizado efetivo do aluno. Como essa seria uma proposta muito ampla, decidi investigar as habilidades do domínio cognitivo, seguindo a organização proposta na taxonomia Bloom (1956), focando nas habilidades argumentativas dos alunos dentro do contexto sócio-científico abordado pelo Projeto CTS. A pesquisa ora realizada pode ser considerada de grande relevância, pois se preocupa em investigar aspectos considerados como importantes pelos documentos oficiais, tais como as habilidades que contribuem para a formação de cidadãos capazes de atuar criticamente na sociedade em que vivem. Além disso, apesar de já haver uma ampla literatura que relata estudos desenvolvidos dentro da perspectiva CTS, observa-se que muito pouco desses trabalhos têm chegado aos materiais didáticos e aos cursos de ciências ou de formação de professores de ciências (SANTOS e SCHNETZLER, 2010). Focando no estudo do desenvolvimento de habilidades argumentativas, no contexto brasileiro, observa-se que esse quadro também é sério, pois, embora essas habilidades também sejam de extrema importância no processo de construção dos conhecimentos dos alunos e para a sua formação como cidadãos, ainda são poucos os estudos que as investigam dentro de qualquer contexto e, menos ainda, que relatem sua inserção e exploração dentro de sala de aula (SÁ e QUEIROZ, 2011). Por outro lado, há que se destacar que, nos últimos anos, tem ocorrido uma preocupação intensa dos pesquisadores em compreender melhor os aspectos relacionados às habilidades, em especial as argumentativas (o que pode ser comprovado pela última edição do Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, ENPEC 2011). Como consequência desse atual quadro de ensino e de pesquisa, tem-se que (i) são poucos os materiais didáticos que dão a devida ênfase à perspectiva CTS ou que ao menos sugerem o desenvolvimento de habilidades argumentativas (NEWTON et al., 1999) e (ii) são poucos os professores que apresentam formação adequada que os habilite a trabalhar dentro de tal perspectiva com foco nas habilidades citadas (SILVA, 2011). Devido a esses fatores, o ensino de ciências com abordagem CTS vem alcançando a cada ano uma repercussão maior em vários os países (SANTOS e SCHNETZLER, 2010). 2 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Em virtude de todo o exposto, o presente TCC apresenta como objetivo investigar o grau de desenvolvimento das habilidades do domínio cognitivo (focando nas habilidades argumentativas) de estudantes do ensino médio (idades entre 14 e 18 anos) de um colégio particular da região de Ouro Preto/MG, dentro do contexto sócio-científico relacionado à questão do impacto da mineração na qualidade das águas de Ouro Preto e Mariana. 2 - Fundamentos teóricos 2.1 - O ensino de ciências com enfoque em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) O movimento CTS surgiu por volta da década de 50, quando houve uma forte tomada de consciência sobre os impactos ambientais decorrentes das tecnologias desenvolvidas e empregadas na segunda guerra mundial, que levou a população a questionar a qualidade de vida da sociedade industrializada e a relação dessa com os avanços científicos e tecnológicos (WAKS, 1990). Assim, devido à necessidade de formar o cidadão crítico diante desse contexto, de lá para cá, vários estudos vêm sendo desenvolvidos com intuito de usar a escola como uma aliada nesse processo, inovando o ensino convencional de ciências, através de propostas curriculares com enfoque CTS (SANTOS e MORTIMER, 2002). Nessa perspectiva de ensino de ciências, conforme HOFSTEIN et al. (1988) (p.358) sugerem: “CTS significa o ensino de ciência no contexto autêntico do seu meio tecnológico e social. Os estudantes tendem a integrar a sua compreensão pessoal do mundo natural (conteúdo da ciência) com o mundo construído pelo homem (tecnologia) e o seu mundo social do dia-a-dia (sociedade)”. Na Figura 1, as inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade são representadas pelas setas pontilhadas e a inter-relação entre esses três itens e o aluno, representada pelas setas contínuas. 3 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães CIÊNCIA MEIO NATURAL ALUNO MEIO ARTIFICIAL MEIO SOCIAL TECNOLOGIA SOCIEDADE Figura 1. Relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade e o aluno (HOFSTEIN et al., 1988, p. 358). Conforme pode ser visto na Figura 1, a perspectiva de ensino CTS consiste no ensino de conceitos científicos em um contexto autêntico, no qual é fornecido aos alunos meios que os permitam integrar esses conhecimentos à tecnologia e às suas experiências cotidianas. Assim, conteúdos científicos e tecnológicos são estudados juntamente com a discussão de seus aspectos históricos, éticos, políticos, econômicos e ambientais de forma adequada ao contexto do(s) aluno(s) em questão. Segundo PINHEIRO et al. (2007), a perspectiva CTS exerce uma importância fundamental no contexto de ensino médio, uma vez que favorece ao educando uma concepção ampla e social do campo científico e tecnológico, permitindo-o estabelecer novas relações intersubjetivas para a construção do conhecimento científico. Nesse processo, o aluno deixa de ser um mero receptor de informações e torna-se agente produtor de seus conhecimentos, os quais são reelaborados e ampliados, criando, assim, possibilidades de ação no meio em que vive (SANTOS e SCHNETZLER, 1996). Por ser uma perspectiva de ensino de grande relevância, sua abordagem vem ganhando destaque a cada ano que passa, já que é (i) crescente o número de pesquisas realizadas na área (VIEIRA et al., 2008); (ii) suas características são cada vez mais requeridas como indicativos de referência para análise de materiais didáticos, conforme pode ser visto na última edição do Programa Nacional do Livro Didático (BRASIL, 2011); além de (iii) ser cada vez mais comtemplada em cursos de formação de professores (MARCONDES et al., 2009). Apesar desse grande avanço na área de pesquisa e aplicação da perspectiva CTS no ensino de 4 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Ciências, a mesma ainda é empregada de forma pouco reflexiva nas salas de aula, onde normalmente se observa a abordagem de um falso CTS. Nesse, é comum observar o uso de materiais didáticos inadequados e a atuação de professores despreparados, os quais não conseguem explorar as informações pertinentes à ciência e à tecnologia dando-as as devidas dimensões sociais. Nesse processo, as relações entre os termos ciência, tecnologia e sociedade não são evidenciadas, comprometendo, assim, a formação de cidadãos críticos que sejam capazes de atuar ativamente no processo democrático de tomada de decisões na sociedade na sociedade em que vivem (SANTOS e MORTIMER, 2002). Dentre as práticas que caracterizam o falso CTS estão o ensino com ênfase na memorização de conhecimentos meramente declarativos, o uso de pseudocontextualizações (por exemplo, citar fórmulas de substâncias químicas utilizadas no cotidiano como mera curiosidade, uso de textos explorando apenas conhecimentos declarativos sem estabelecer conexões mais amplas etc.), a realização de aulas práticas puramente ilustrativas ou verificacionais etc.. MARTINS et al. (2004) observa que, das várias propostas de ensino que revelam a necessidade de educar para a formação do cidadão e para sua tomada de decisões na sociedade, a maioria aponta para a: (i) educação CTS centrada na promoção de capacidades de pensamento e de valores; (ii) aproximação da educação CTS com a investigação e as práticas; (iii) educação pela ciência reconfigurada numa formação para a cidadania; (iv) investigação didática como alicerce para práticas didático-pedagógicas e (v) promoção da cultura científica. Nesse contexto, SANTOS e SCHNETZLER (2010) sintetizam as seguintes estratégias comumente encontradas na literatura para a abordagem CTS em sala de aula: Visitas a indústrias e museus; Uso de filmes, jogos, recursos de informática etc.; Análise de informações veiculadas na mídia; Realização de estudos de caso, envolvendo problemas típicos da sociedade etc.. Das estratégias supracitadas, a seguir, é dada ênfase à metodologia de estudos de casos, pois é a utilizada no presente trabalho para criar um contexto sócio-científico, no qual habilidades foram estudadas. 5 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 2.2 – Metodologia de estudo de casos no Ensino de Ciências A realização de estudos de casos como ferramenta pedagógica é uma prática que foi iniciada no final dos anos 60 na escola de medicina da Universidade de McMaster (Ontário, Canadá), como parte de um método conhecido como “Aprendizagem Baseada em Problemas – ABP” (Problem Based Learning - PBL). Essa metodologia foi desenvolvida com o intuito de propiciar aos alunos, no decorrer do seu curso de graduação, o contato com problemas reais inerentes a sua formação, focando no desenvolvimento de habilidades voltadas para o poder de tomada de decisão, fazendo-os levar em consideração as possíveis soluções para um problema e a consequência de suas ações (SÁ et al., 2007; SILVA et al., 2011). O método de ABP logo se difundiu por vários países e por outros cursos de graduação e pósgraduação e começou a ser abordado no ensino de ciências quando J. Contant, educador em ciências da Universidade de Havard, organizou uma disciplina baseada em estudos de casos. A partir de então, é crescente o seu emprego por professores de química, física e biologia (SÁ et al., 2007). Segundo Sá e Queiroz (2009), nos últimos anos, no contexto do ensino de química, o método de estudo de caso tem sido aplicado com os seguintes propósitos: (i) Introduzir conteúdos específicos; (ii) Estimular a capacidade de tomada de decisão; (iii) Demonstrar a aplicação de conceitos na prática; (iv) Desenvolver a habilidade em resolver problemas; (v) Desenvolver a habilidade de comunicação oral e escrita; (vi) Desenvolver a habilidade de trabalho em grupo e (vii) Desenvolver o pensamento crítico. Os trabalhos que apresentam essa abordagem encontram-se subdivididos nas áreas de química geral, bioquímica, físico-química, química analítica e outras. Especificamente no Brasil, segundo SILVA et al. (2011), o método de estudo de casos foi introduzido no ensino de química a partir dos trabalhos de pesquisas desenvolvidos no Grupo de Pesquisa em Ensino de Química do Instituto de Química de São Carlos (GPECSC), os quais elaboram casos abordando questões sócio-científicas e científicas. Dos trabalhos já desenvolvidos no contexto nacional, observa-se que a grande maioria foi destinada ao ensino superior e poucos foram desenvolvidos na educação básica. De uma maneira geral, para que estratégias de ensino baseadas no método de estudo de caso possam ser utilizadas obtendo o êxito de se trabalhar dentro das propostas contemporâneas de ensino (OSBORNE, 2007) e atendendo as premissas estabelecidas pelos órgãos oficiais 6 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães brasileiros (BRASIL, 1996; 1999; 2001), faz-se necessária a tomada de alguns cuidados importantes. Para SÁ e QUEIROZ (2009), durante o processo que precede a elaboração ou adoção de algum caso pronto, deve-se seguir algumas etapas importantes: 1. Escolher o assunto principal a ser destacado no caso: Esse deve ser relevante dentro do contexto da disciplina que está sendo ministrada e, de preferência, também deve estar relacionado a questões atuais e/ou controversas. Isso se faz importante, pois atrai a atenção dos alunos e desperta neles o interesse pelo caso. 2. Elaborar uma lista com todos os conceitos, habilidades e atitudes que se pretende abordar através da aplicação do caso: Isso se faz necessário para que durante a aplicação do caso, sejam inseridas, em momentos oportunos, questões e situações que possam conduzir ao desenvolvimento de tais aspectos. 3. Elaborar uma lista dos possíveis personagens do caso: Esses deverão apresentar características pertinentes à situação central abordada no caso. 4. Elaborar uma série de questões para a discussão em sala de aula: Essas serão fundamentais para que os alunos reconheçam os aspectos importantes do caso estudado, facilitando, assim, seu processo de solução. Em seguida, no momento de elaborar ou escolher um caso para ser trabalhado em sala de aula, SÁ e QUEIROZ (2009) como base em SÁ e QUEIROZ (2009) apud HERREID (1998), destaca-se as seguintes características que são desejáveis para um bom caso: Utilidade pedagógica: deve ser útil dentro dos objetivos educacionais estabelecidos para a atividade de estudo de caso. Relevância ao leitor: deve envolver situações que provavelmente o leitor possa enfrentar e que esse seja capaz de compreendê-las e de resolvê-las. Questão interessante: deve descrever, na forma de drama ou de suspense, uma situação que pareça ou que de fato seja real, na qual haja uma questão para ser resolvida. Ser atualizado: deve tratar de questões atuais, que levem o aluno a perceber que o problema é importante. 7 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Ser sintético: deve introduzir um fato sem ser muito longo. Isso se faz importante para que sua leitura e estudo não se tornem tediosos. Ser conflitante: deve conter uma situação fundamentada em algo controverso, que cause conflito de opiniões. Ser empático: deve causar empatia ao leitor de forma que esse se veja como um possível integrante do caso e se sintam, assim, mais estimulado a resolvê-lo. Deve forçar uma decisão: deve apresentar urgência e seriedade na resolução de sua questão problema. Deve narrar uma história: o caso deve apresentar um desfecho para a história no seu final. Ter generalizações: deve ter aplicabilidade geral e não ser específico para uma curiosidade apenas. Incluir citações: importante para facilitar o entendimento da situação apresentada no caso e para criar empatia no leitor pelo mesmo. Caso o professor opte por ele mesmo elaborar seu caso, esse pode adotar como fonte de inspiração fatos veiculados na mídia em geral, por exemplo, em notícias de jornais ou revistas, em artigos científicos, em filmes comerciais etc. (SÁ e QUEIROZ, 2009). Outra ideia seria partir de situações reais enfrentadas na sociedade em que o professor e os alunos estejam inseridos, as quais sejam capazes de promover importantes discussões a seu respeito. Vale destacar que, em todos esses casos, discussões de cunho meramente científico ou sóciocientífico podem ser seguramente desenvolvidas. Tendo definido qual será o bom caso a ser trabalhado, com base em SÁ e QUEIROZ (2009) apud HERREID (1998), alguns formatos estratégicos que podem ser utilizados na sua aplicação no ensino de ciências: Expositivo: O estudo de caso é completamente narrado pelo professor aos alunos de maneira muito elaborada e com objetivos específicos. Discursivo: O caso é apresentado pelo professor aos alunos como um dilema, sobre o qual toda a turma é questionada a respeito de suas perspectivas e sugestões para a resolução do caso. 8 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Atividades em pequenos grupos: O caso a ser estudado é passado a pequenos grupos, cujos componentes, em colaboração mútua, devem analisar e discutir suas informações e, com base nisso, devem propor e executar os meios para a resolução do problema central abordado no caso. Tarefa individual: Nesse formato, o aluno recebe o caso do professor e individualmente o estuda. Cabe ressaltar que, em todos esses formatos citados, pode ser feito o estudo de um ou mais casos e que a escolha de qual será a melhor estratégia para o desenvolvimento da atividade proposta deve ser feita levando em consideração os objetivos definidos previamente para serem alcançados com a mesma. Nesse sentido, focando nas questões sócio-científicas, contexto em que o presente trabalho foi desenvolvido, deve-se destacar a modalidade de aplicação em pequenos grupos, uma vez que, nesse formato, um maior número de alunos tem a oportunidade participar ativamente da atividade, quando comparado aos formatos expositivo e discursivo. Também nesse formato, além do desenvolvimento da habilidade de tomada de decisão, os alunos podem desenvolver, por exemplo, as habilidades de trabalho em grupo, as quais compreendem a capacidade de argumentação, de apresentação oral e escrita de ideias etc.. Analisando o contexto da coleta de dados da pesquisa aqui desenvolvida, observa-se que seria inviável o estudo de caso por meio expositivo ou discursivo, devido ao interesse em acessar um maior número de alunos possível. Portanto, a partir da coleta de dados por meio de questionário, a realização em grupo se mostrou mais satisfatória que a individual. 2.3 – Habilidades do domínio cognitivo Dentro da perspectiva de formar os alunos para o exercício da cidadania, um aspecto de grande relevância, muito preconizado nos PCN (BRASIL, 1999; 2001), é o desenvolvimento de habilidades que tornem o aluno letrado cientificamente e apto a cumprir seu papel na sociedade de forma consciente e crítica (COSTA, 2008). Nesse sentido, a seguir é apresentada de forma sucinta uma importante ferramenta relacionada às habilidades passíveis de serem desenvolvidas no ambiente escolar e que são promotoras dos atuais propósitos de ensino, a Taxonomia de Bloom. 9 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Essa ferramenta foi desenvolvida por uma comissão multidisciplinar de pesquisadores de várias universidades dos Estados Unidos (B. Bloom, M. D. Englehart, E. J. Furst, W. H. Hill e D. Krathwohl), no final dos anos 40 e início dos anos 50, a qual foi publicada em 1956, na obra Taxonomy qf Educational Objectives (BLOOM et al., 1956). Nesse trabalho, a taxonomia de Bloom foi apresentada como uma forma de classificação dos níveis de aprendizagem referentes ao domínio cognitivo, o qual se refere ao conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades intelectuais. Alguns anos depois, em 1972, essa taxonomia foi complementada, passando a abranger o nível de aprendizado referente ao domínio psicomotor, o qual envolve as habilidades motoras em termos de velocidade, precisão, distância, procedimentos ou técnicas de execução (SIMPSON, 1972). E, em 1973, lhe foi acrescentado o nível de aprendizagem do domínio afetivo, o qual compreende as habilidades requeridas para se lidar com problemas de cunho emocional, como: sentimentos, valores, entusiasmo, motivação e atitudes (KRATHWOHL et al., 1973). Segundo CONKLIN (2005), sua criação representou uma das mais significantes contribuições à área acadêmica, pois, antes dos anos 50, um dos grandes problemas na literatura educacional era a falta de consenso com relação a determinadas palavras usualmente relacionadas à definição dos objetivos instrucionais. Por exemplo, o verbo „conhecer‟ era utilizado com os sentidos de ter consciência, saber da existência ou para expressar domínio de um determinado assunto. Além disso, a Taxonomia de Bloom e sua classificação hierárquica dos objetivos de aprendizagem foi de fundamental importância para educadores que, conscientemente, procuravam meios de estimular, nos seus discentes, raciocínio e abstrações de alto nível (higher order thinking), sem distanciar-se dos conteúdos curriculares (conceituais) a serem ensinados de acordo com o currículo. Apesar dos três domínios da taxonomia de Bloom terem sido amplamente discutidos e divulgados, em momentos diferentes e por pesquisadores distintos, o domínio cognitivo é o mais conhecido e utilizado, visto que seus pressupostos teóricos têm sido aplicados em planejamentos educacionais, para definirem objetivos, estratégias e sistemas de avaliação (FERRAZ e BELHOT, 2010). Como as habilidades argumentativas, objeto de estudo do presente trabalho, encontram-se compreendidas no domínio cognitivo, a seguir mais detalhes do mesmo são apresentadas. 10 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães O domínio cognitivo envolve a aquisição de um novo conhecimento e o desenvolvimento de habilidades intelectuais relacionadas ao saber utilizar (ou saber fazer) integrando o conhecimento prévio e o aprendido na resolução de uma tarefa. Nesse domínio, os objetivos foram agrupados em seis categorias hierarquizadas em função de sua complexidade e dependência, do mais simples ao mais complexo, do concreto ao abstrato. Isso significa que, para que um aluno avance o seu nível de aprendizagem para uma categoria de ordem superior a que ele se encontra, é preciso que, na sua atual categoria, o mesmo obtenha um desempenho adequado e suficiente para ascender ao nível superior. Além disso, todos os conhecimentos e habilidades construídos nesse processo de avanço cognitivo são cumulativos, logo, as capacidades adquiridas nos níveis anteriores são requeridas nos níveis superiores (KRATHWOHL, 2002; FERRAZ e BELHOT, 2010). Tais características e as categorias desse domínio encontram-se esquematizadas na Figura 2, a qual apresenta a classificação inicial, proposta por BLOOM et al. (1956), para o domínio cognitivo. Nessa figura, no nível de aprendizagem em que as habilidades argumentativas se expressam, foi destacado o produto desse tipo de habilidade, ou seja, o argumento. 11 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Figura 2. Organização hierárquica das categorias do domínio cognitivo, proposta por BLOOM et al. (1956) (grifo nosso). Embora a criação da taxonomia tenha sido de grande relevância para o processo educativo, com o passar do tempo, algumas modificações se fizeram necessárias para acompanhar a evolução do sistema educacional promovida pelas novas publicações e pelas tecnologias que lhe foram incorporadas. Dessa forma, diante da necessidade de reavaliação e releitura dos pressupostos teóricos que sustentaram a pesquisa original, um novo grupo foi formado (de forma semelhante ao de Bloom em 1948, a partir de um convite da Associação de Psicologia Americana) para avaliar a necessidade de adaptações na taxonomia original (FERRAZ e BELHOT, 2010). A forma revisada da taxonomia de Bloom foi publicada em 2001, na obra “A Taxonomy for Learning, Teaching, and Assessing: A Revision of Bloom's Taxonomy of Educational Objetives” (ANDERSON et al., 2001). 12 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães É importante ressaltar que essa necessidade de adaptação não implica em dizer que o uso da taxonomia de Bloom seja algo ultrapassado, mas sim que, independente da época, essa deve ser adaptada dentro da base de evolução do conhecimento da sociedade, considerando sempre os aspectos geográficos e culturais relacionados ao contexto em a mesma será utilizada. Além disso, pensando-se em uma situação de pesquisa, a mesma poderá ser modificada em função dos objetivos do trabalho desenvolvido. Cientes dessa importância, Anderson et al., analisando a taxonomia original, perceberam que geralmente os objetivos de ensino, expressos em cada uma das categorias hierarquizadas, declaram o que é esperado que os discentes aprendam, entretanto, não deixam o que, de fato, os alunos deverão ser capazes de realizar com os conhecimentos e habilidades adquiridos. Nessa análise, os pesquisadores observaram que objetivos são descritos utilizando verbos de ação e substantivos que descrevem os processos cognitivos esperados para cada categoria, mas não esclarecem como será verificado se realmente lembraram e aplicaram esse novo conhecimento. Ao analisar essa relação direta entre verbo e substantivo, Anderson et al. chegaram à conclusão de que verbos e substantivos deveriam ser organizados de maneira separada, na qual, os substantivos formariam a base para a dimensão do conhecimento (o que saber, em que profundidade) e os verbos formariam a base para a dimensão relacionada aos processos cognitivos (como). Com essa alteração, a taxonomia de Bloom ganhou um aspecto bidimensional, cujas principais características encontram-se esquematizadas na Figura 3. Figura 3: Processo cognitivo na taxonomia de Bloom revisada (adaptada de KRATHWOHL, 2002). 13 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Conforme pode ser visto na Figura 3, como na taxonomia original, a categoria conhecimento está diretamente relacionada ao conteúdo. Entretanto, essa dimensão passou a conter quatro subcategorias (declarativo, conceitual, procedimental e metacognitivo), ao invés das três expressas na taxonomia original. Na taxonomia atual, as subcategorias do conhecimento foram reorganizadas para usar uma terminologia mais clara e na qual fosse possível reconhecer as diferenças psicocognitivas que seriam desenvolvidas (FERRAZ e BELHOT, 2010). Segundo KRATHWOHL (2002), as subcategorias atuais que definem a dimensão do conhecimento são: Declarativo: Conhecimento mínimo de princípios, fatos, leis etc. que o estudante deve dominar para ser capaz de resolver problemas. Conceitual: Inter-relações estabelecidas pelo estudante entre os elementos básicos de seu conhecimento e os elementos de um contexto mais elaborado que o mesmo seja capaz de estabelecer. Procedimental: Conhecimento de como realizar algo, utilizando habilidades, métodos, critérios, algoritmos e técnicas. Metacognitivo: Reconhecimento da cognição em geral e consciência da amplitude e profundidade do próprio conhecimento adquirido sobre determinado conteúdo. Quanto à dimensão do processo cognitivo, na atual Taxonomia de Bloom, as categorias para o domínio cognitivo e sua organização hierárquica foram mantidas. Entretanto, ao separar conceitualmente o conhecimento desse processo, ocorreram as seguintes mudanças (KRATHWOHL, 2002): Os verbos representantes da categoria „Conhecimento‟ foram mantidos, mas esta foi renomeada para „Lembrar‟; a categoria „Compreensão‟ foi renomeada para „Entender‟; e „Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação‟, foram alteradas para as formas verbais no infinitivo „Aplicar, Analisar, Sintetizar e Criar‟. Essas mudanças foram feitas para que a ação requerida para aquele nível de aprendizagem ficasse mais explícita e, portanto, mais condizentes com o que se espera de resultado a determinado estímulo de instrução; As categorias avaliação e síntese (avaliar e criar) foram trocadas de lugar, uma vez que é mais provável esperar que o aluno primeiro avalie e depois crie algo; 14 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Os verbos utilizados nas subcategorias existentes para definir as ações de como alcançar os respectivos objetivos educacionais, os quais, inicialmente, eram expressos na forma infinitiva, foram alterados para verbos no gerúndio. Por exemplo, na taxonomia original, a categoria aplicação era representada pelos verbos no infinitivo usar, computar, resolver etc. (ver mais na Figura 2). Atualmente, essa categoria é chamada de „aplicar‟ e é representada pelos verbos no gerúndio „executando‟, „implementando‟ etc.. Apesar de a nova taxonomia manter o perfil hierárquico da original, de acordo com FERRAZ e BELHOT (2010), ela é mais flexível que a anterior, pois com a atual é possível considerar a possibilidade de interpolação das categorias do processo cognitivo quando necessário. Isso ocorre, pois determinados conteúdos podem ser mais facilmente assimilados a partir do estímulo pertencente a uma categoria mais complexa. Por exemplo, pode ser mais fácil entender um determinado assunto após aplicá-lo e só, então, ser capaz de explicá-lo. 2.3.1 - Argumentação dentro de um contexto sócio-científico e o Ensino de Ciências Dentre as habilidades que favorecem o letramento científico dos alunos e sua formação para o exercício da cidadania de forma crítica e consciente, SANTOS e SCHNETZLER (2010) destacam as argumentativas, as quais estão diretamente relacionadas à capacidade de raciocínio e de tomada de decisões (JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, 2010). Isso porque, tais habilidades envolvem ações que são requeridas em muitas situações cotidianas, nas quais o seu uso é fundamental. As habilidades argumentativas são aquelas observadas quando o indivíduo se depara com algum problema ou questão debatível, controverso, que, para solucioná-lo, deve ser capaz de (i) buscar, identificar e coletar os dados necessários para resolvê-lo e (ii) elaborar explicações para o mesmo, as quais sejam baseadas em evidências coerentes e sustentadas por conhecimentos prévios (JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al., 2009; JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, 2010). Alguns psicólogos (por exemplo, ver em BILLING, 1987) afirmam que as habilidades argumentativas são inerentes ao indivíduo, sendo desenvolvidas naturalmente em seu cotidiano, desde crianças, quando têm que discutir sobre pontos de vista. Por outro lado, há alguns autores que afirmam que apesar de as pessoas naturalmente desenvolveram raciocínio 15 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães argumentativos em sua vida (ao ponderar os prós e contras de perspectivas alternativas), é necessário que no contexto escolar, estas sejam melhor desenvolvidas e/ou aprimoradas (KUHN, 1993). Isto se torna particularmente crítico no contexto do Ensino de Ciências, no qual as justificativas dependem de um corpo de conhecimentos e dados específicos. Portanto, na literatura de Ensino de Ciências, parece ser consensual o fato de que as pessoas se tornam bons argumentadores quando têm oportunidades para desenvolver ou sofisticar as habilidades, isto é, quando o contexto requer o uso (KUHN, 1991; JIMÉNEZ-ALEIXADRE, 2010). Trabalhando em concordância de que o desenvolvimento das habilidades argumentativas deve ser promovido por atividades realizadas no ambiente escolar, voltando especificamente para o contexto sócio-científico, a literatura indica que a abordagem de habilidades argumentativas pode ser feita explorando algum fato real ou semiautêntico que seja próximo da realidade dos indivíduos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. O uso desses fatos pode ser feito como estudos de casos, os quais, segundo SÁ e QUEIROZ (2009), dentre várias outras características, devem ser úteis para os conteúdos que estão sendo trabalhados em sala de aula, devem criar empatia com os personagens centrais, devem ser relevantes, interessantes, atuais, curtos, instigantes, genéricos etc. e, ao final devem conduzir os alunos a uma tomada de decisão. Dessa forma, os alunos se envolvem com a situação problema em estudo e, nesse processo, eles são conduzidos a atuar na sua solução, desenvolvendo habilidades, sistematizando e construindo conceitos científicos que lhes poderão ser úteis em situações de sua vida cotidiana. Dentro desse contexto, faz-se necessário ressaltar que Toulmin (1958) define argumento como sendo uma afirmativa acompanhada de sua justificativa e propõe um esquema que apresenta os elementos constituintes de um argumento e suas relações (Figura 4). então Dados Conclusão uma vez que a menos que Garantia Qualificador modal Refutação por causa de Apoio Figura 4. Componentes do argumento e suas relações segundo Toulmin (1958, p. 148). 16 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Segundo esse esquema, apresentado na Figura 4, um argumento é constituído por seis componentes: Dados: evidências que suportam uma afirmativa. Conclusão: afirmativa cujo mérito deverá ser estabelecido. Garantia: afirmativa que justifica as conexões entre dados e conclusão. Apoio: afirmativa que justifica a garantia, dando-lhe maior poder explanatório. Qualificador modal: elemento que qualifica a conclusão em função da ponderação entre os elementos justificatórios e de refutação. Refutação: especifica em que condições a garantia não é válida para dar suporte à conclusão. Toulmin salienta a existência de termos campo-dependentes e campo-independentes do argumento. Os últimos estão evidenciados na Figura 4. Esses elementos, ou, pelo menos, os três primeiros, devem ser buscados em todos os contextos, sendo importantes para caracterizar um argumento sólido. O termo campo-dependente se relaciona à diferença de aceitabilidade dos elementos dispostos na Figura 4 em diferentes contextos. Por exemplo, uma garantia pode ser considerada uma justificativa satisfatória num contexto, mas insatisfatória em outro. Aqui trouxemos a caracterização de argumento proposta por Toulmin, por julgarmos sua relevância para entender o que consiste um argumento e seus principais elementos, em concordância com os trabalhos da área de Ensino de Ciências (por exemplo, NEWTON et al., 1999; JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al., 2000; SÁ e QUEIROZ, 2007; CARMO e CARVALHO, 2012 e outros), que têm amplamente adotado esse padrão como proposta para análise de argumentos no âmbito do contexto da sala de aula de Ciências. Além disso, utilizaremos o padrão adaptado para analisar os argumentos considerados válidos no contexto estudado (partindo de um estudo de caso). 17 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 3 – Questões de pesquisa Como exposto anteriormente, esse trabalho tem como objetivo geral avaliar as habilidades cognitivas de estudantes de Química do ensino médio a partir da análise de suas respostas escritas a um problema envolvendo questões do âmbito sócio-científico. De forma, específica, esse trabalho buscou investigar as seguintes questões de pesquisa: (1) Os estudantes de Química do ensino médio que foram submetidos ao projeto CTS “Mineração e a Qualidade das Águas” conseguiram se posicionar criticamente sobre o problema apresentado no estudo de caso? Por quê? (2) Qual(is) a(s) a(s) habilidade(s) apresentada(s) pelos estudantes ao analisarem o estudo de caso? (3) Qual o nível dos argumentos válidos demonstrados pelos estudantes na tomada de decisão? 4 – Aspectos metodológicos 4.1 - Coleta de dados A coleta de dados (novembro de 2011) foi realizada com os estudantes do ensino médio (idades entre 14 e 18 anos) de um colégio particular da região de Ouro Preto, os quais haviam participado da aplicação do Projeto CTS “Mineração e a qualidade das águas”, cerca de um mês antes. Para isso, construiu-se, com base na metodologia de estudo de casos proposto por SÁ e QUEIROZ (2009), um instrumento de coleta de dados (Apêndice 9.2), cujo foco era similar ao contexto do projeto CTS, ou seja, abordava a questão do impacto da mineração na qualidade das águas. Esse instrumento de coleta de dados continha um caso em que uma situação fictícia, porém passível de ocorrer com qualquer um dos alunos da escola, era apresentada. Esse caso partia de uma situação problema em que uma pessoa muito querida, moradora de uma cidade rica em processos mineradores, se ausenta da escola onde trabalhava para se tratar de um câncer de pele, tipicamente provocado pelo acúmulo de arsênio ao longo de anos devido à ingestão 18 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães de água ou alimentos contaminados por esse metal. Dentro desse contexto, foi solicitado aos alunos que escolhessem, a partir de quatro diferentes alternativas, a melhor forma de consumir água isenta de metais pesados, como o arsênio. Essa escolha deveria ser justificada em função dos fatores saúde, custo-benefício e eficiência, com base em informações fornecidas na própria atividade. Além disso, com o propósito de avaliar como os estudantes lidam com evidências na tomada de decisão, ao final do instrumento de coleta de dados, eles foram solicitados a avaliar quais dados fornecidos na atividade eles julgaram importantes no processo de tomada de decisão requerido e se eles sentiram falta de alguma informação que, na opinião deles, teria sido relevante para que fizessem uma escolha mais bem fundamentada. Para resolver o estudo de caso proposto, os alunos foram orientados a fazê-lo em duplas para que a discussão e a tomada de decisão requerida fossem favorecidas. Entretanto, lhes foi pedido que cada um expressasse sua opinião no próprio material, para que a análise das habilidades argumentativas dos estudantes fosse específica para cada aluno, pois poderiam ocorrer divergências nas escolhas e na forma de justifica-las. Esse instrumento de coleta de dados foi validado durante sua elaboração pelos seus autores (a autora e a orientadora do presente trabalho juntamente com duas colaboradoras, alunas de Química Licenciatura que também desenvolveram seus TCCs na mesma época desse). Após essa etapa, seu processo de validação foi concluído aplicando esse instrumento aos alunos do 8° período de Química Licenciatura, aos quais foi solicitado que resolvessem a atividade proposta seguindo as mesmas instruções que seriam dadas aos alunos do ensino médio com a única diferença de os graduandos deveriam fazê-lo de forma individual. Tal procedimento se fez necessário para se obter maior confiança de que (i) o instrumento de coleta de dados estava adequado aos objetivos da pesquisa, ou seja, se ele era adequado para medir as habilidades cognitivas dos alunos, em especial, as argumentativas, e (ii) as questões eram claras o suficiente para isso. Para atender esse propósito, escolheu-se os alunos da Química Licenciatura (i) por eles terem participado de toda a elaboração e desenvolvimento do projeto CTS “Mineração e a qualidade das águas” e, portanto, estarem mais próximos do contexto sócio-científico que foi proposto aos alunos do ensino médio e (ii) pelo conhecimento dos mesmos acerca dos referenciais teóricos envolvidos na presente pesquisa. Validado o instrumento de coleta de dados, o mesmo foi encaminhado para sua aplicação. Como na escola onde a coleta de dados foi feita todo o material produzido pelo aluno deve 19 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães ficar com ele, todos os instrumentos de coleta de dados preenchidos por eles foram xerocados e devolvidos. O termo de concessão à cópia desses materiais, bem como à filmagem feita em uma das turmas encontra-se no item 9.3. 4.2 - Análise de dados: Com relação à primeira questão de pesquisa (se os alunos conseguem tomar uma posição adequada com base nos dados disponíveis e na situação-problema), a análise dos dados foi feita inicialmente classificando em categorias as respostas dadas pelos alunos na resolução do estudo de caso. A seguir, no item 4.2.1, são dados mais detalhes sobre a classificação proposta. Baseando-se em todo o referencial exposto no item 2, o presente trabalho foi norteado pelo interesse de se avaliar as habilidades do domínio cognitivo manifestadas pelos alunos e o nível dos argumentos apresentados pelos mesmos quando esses estão inseridos em um contexto sócio-científico. Dentro dessa proposta, ao investigar esse tipo de habilidade, dois perfis teóricos de alunos poderiam ser observados: (i) aqueles que apresentam tais habilidades já desenvolvidas e que, portanto, conseguem argumentar, independente do nível dos argumentos expressos e (ii) aqueles que ainda não conseguem emitir argumentos válidos, ou seja, em situações em que a argumentação lhes é requerida, os mesmos apresentam frases nas quais não se observa a presença dos componentes essenciais de um argumento (organizados na Figura 3) ou se observa de forma não coerente. No primeiro caso, como esses alunos já são capazes de argumentar, é interessante conhecer o nível dos argumentos expressos por eles. Nesse processo, a ferramenta analítica de Toulmin é de grande valia, pois permite que o nível dos argumentos emitidos pelos alunos seja avaliado. No item 4.2.2, são apresentados maiores detalhes sobre as modificações feitas no padrão de Toulmin para a análise realizada neste trabalho. A partir da utilização do padrão modificado, buscamos resposta para a terceira questão de pesquisa do trabalho. Por outro lado, no caso daqueles alunos que ainda não conseguem argumentar, torna-se relevante conhecer quais são as habilidades que esses ainda precisam desenvolver para que consigam fazê-lo. Para se adquirir tais informações, destaca-se a taxonomia proposta por BLOOM (1956), a qual foi esquematizada nas Figuras 2 e 3, pois essa apresenta de forma clara e bastante lógica quais são as habilidades que precisam ser previamente desenvolvidas 20 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães para que os alunos sejam capazes de argumentar. Nesse sentido, a segunda questão de pesquisa será investigada tomando por base esse instrumento. Julgamos que essa sistematização seja de grande importância, pois permite conhecer quais são as habilidades que um aluno precisa desenvolver para que o futuro aprimoramento das habilidades argumentativas seja favorecido. Resumindo, ao utilizar todos os dados fornecidos pelo instrumento de coleta de dados, foram classificadas as habilidades expressas pelos alunos segundo os níveis propostos na taxonomia de Bloom e, para aqueles que apresentaram as habilidades argumentativas desenvolvidas, seus argumentos foram analisados e classificados com o auxílio da ferramenta analítica de Toulmin. A seguir, detalhes sobre a análise dos dados são apresentados separadamente. 4.2.1 – Categorização das justificativas Com o propósito de avaliar se os alunos conseguiram se posicionar criticamente sobre o problema apresentado no estudo de caso, foram criadas categorias para classificar as respostas dadas por eles em cada um dos fatores requeridos para explicar o porquê da escolha feita ser a mais adequada para atender à questão problema foco da atividade (consumo de água contendo teores de metais pesados, em especial o arsênio, acima dos limites recomendados pelos órgãos de saúde). A seguir, são apresentadas as categorias utilizadas1: Coerente: O aluno faz uma escolha coerente (opta pela água mineral, a única opção capaz de resolver o problema) e a justifica de maneira adequada, fazendo referência ao problema central do estudo de caso, o qual deveria ser resolvido ou minimizado pelo uso da opção escolhida. Incoerente: Nessa categoria, se enquadram os seguintes perfis de respostas: 1. O aluno faz uma escolha coerente (opta pela água mineral), mas a justifica de forma inadequada , ou seja, sem relacionar sua escolha à questão problema do estudo de caso, relacionada à presença de metais pesados na água de consumo da cidade. 1 Essas categorias foram criadas para enquadrar as respostas dos alunos que compreenderam o que era para ser feito na atividade, ou seja, escolher uma opção e justifica-la segundo os fatores solicitados. 21 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 2. O aluno faz uma escolha incoerente (escolhe as opções n° 1, 3 e 4, vide apêndice 9.2) e a justifica de maneira inadequada. Para facilitar a classificação das respostas dos alunos, foram criadas as seguintes justificativas pertinentes para serem utilizadas como padrão de comparação: Fator saúde: O consumo de água mineral é o mais adequado, do ponto de vista da saúde, pois, pela análise do rótulo fornecido no estudo de caso, observa-se que essa não contém metais pesados, principalmente o arsênio (o grande problema da água de “Esperança”). Além disso, ela garante a ausência de outros agentes maléficos à saúde, como por exemplo, coliformes fecais. Fator custo-benefício: Com o uso da água mineral, a ingestão de metais pesados seria fortemente reduzida (não seria completamente reduzido, pois o indivíduo pode ingerir metais pesados em outras fontes de alimentação) e o respectivo custo não seria muito alto, uma vez que, conforme demonstrado a seguir, esse caberia no orçamento médio das famílias de “Esperança”. - Consumo médio de um galão por pessoa por mês - Preço médio do galão: R$8,00 - Custo médio mensal para uma família de 4 pessoas: 4 x R$8,00 = R$32,00 Logo, o consumo de água mineral representa uma opção de baixo custo relativo (em relação às opções 3 e 4) e garante a baixa ingestão de metais pesados, o que as outras opções não garantem. Fator eficiência: O consumo de água mineral é o mais adequado, pois, das opções disponíveis, a única capaz de minimizar o consumo de metais pesados pela população da cidade de “Esperança”. As demais opções não são eficientes, pois não apresentam recursos capazes de garantir que os metais pesados presentes na água serão de fato removidos. Com base na metodologia apresentada, foi feita a categorização das justificativas, a qual foi validada depois de estabelecido um consenso entre os árbitros que as analisaram. 22 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 4.2.2 – Classificação das habilidades expressas pelos alunos Conforme apresentado na parte introdutória do item 4.2, diante da possibilidade de se deparar com alunos aptos ou não a argumentar, no presente trabalho, optou-se por analisar as habilidades apresentadas pelos alunos na resolução do estudo de caso, para, em seguida, classificar o nível dos argumentos emitidos por aqueles alunos que demonstraram ter a habilidade argumentativa bem desenvolvida. Para isso, analisou-se o material escrito respondido por cada aluno durante a resolução do estudo de caso, registrando inicialmente as principais características de suas respostas. Em seguida, essas características foram confrontadas com a taxonomia de Bloom atualizada (Figura 3), o que foi feito sem levar em consideração a dimensão do conhecimento dos alunos, visto que o propósito do presente estudo era o de simplesmente detectar as habilidades expressas pelos alunos investigados dentro do contexto abordado no estudo de caso. Portanto, no presente trabalho, os níveis do conhecimento (declarativo, conceitual, procedimental e metacognitivo) não foram investigados. Assim, as respostas dos alunos foram classificadas nos níveis de 1 a 6 seguindo os critérios abaixo, os quais são análogos às categorias da taxonomia de Bloom atualizada na qual são considerados a dimensão do processo cognitivo: Nível 1 - Lembrar: Nesse nível, foi esperado que todos os estudantes estivessem, visto que os conhecimentos mínimos para o desenvolvimento da atividade lhes foram fornecidos durante a realização do projeto CTS e os dados específicos necessários à resolução do estudo de caso estavam dispostos no instrumento de coleta de dados. Nível 2 - Entender: Alunos que fizeram o que era pedido na questão (escolher uma opção e mantê-la para os três fatores), independente de escolher a opção mais adequada à resolução do estudo de caso (opção 2, ver item 9.2). Nível 3 - Aplicar: Alunos que justificaram sua escolha sem apresentar relações entre seus conhecimentos prévios, os dados fornecidos no instrumento de coleta de dados e a conclusão obtida. Isto é, eles aplicaram alguns desses elementos, porém sem articulá-los em sua justificativa. Nível 4 - Analisar: Alunos que justificaram sua escolha relacionando coerentemente seus conhecimentos prévios, os dados fornecidos no estudo de caso e a conclusão proposta. 23 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Nível 5 - Sintetizar: Alunos que conseguiram emitir justificativas classificadas como coerentes, ou seja, que relacionavam a escolha feita ao problema central do estudo de caso (consumo de água isenta de arsênio). Logo, foram enquadrados nesse grupo os alunos que emitiram argumentos válidos nesse processo (definidos no item 4.2.3). Nível 6 - Criar: Alunos que elaboraram um julgamento pertinente na questão apresentada no final do instrumento de coleta de dados, na qual esses deveriam avaliar se os dados fornecidos nesse instrumento foram suficientes para a resolução do estudo de caso. Como o instrumento de coleta de dados não fornecia meios de se investigar individualmente as habilidades apresentadas em cada nível, assim como de avaliar com mais detalhes a linha de raciocínio utilizada pelo aluno, esses tiveram de ser classificados em dois níveis subsequentes. As classificações possíveis de serem feitas encontram-se apresentadas a seguir juntamente com um exemplo de uma resposta que a caracteriza, retirado dos questionários dos alunos da licenciatura. Nesses exemplos, foi utilizado o código LX, no qual, L indica que a resposta é de um licenciando e X representa o número utilizado para diferenciá-los. Níveis 1 e 2: Alunos que não conseguiram fazer a atividade, ou seja, que não conseguiram fazer o que era pedido em seu enunciado (talvez por dificuldade de interpretação). Ex.: O aluno L8, em vez de escolher uma das opções dadas (tal como foi solicitado na atividade), escolheu uma opção para cada fator (2 para o fator saúde, 3 para o fator custo-benefício e 4 para o fator eficiência) e, ainda, ao final, na questão 1 do instrumento de coleta de dados (apêndice 9.2), fez um julgamento totalmente fora do escopo que lhe foi solicitado2. Níveis 2 e 3: Alunos que conseguiram interpretar o enunciado da questão, mas resolveram a atividade de maneira incoerente. Ex.: O aluno L10 conseguiu interpretar o enunciado da questão e, portanto, fez sua escolha por uma das opções dadas, mas a justificou de maneira incoerente. Esse aluno optou pela opção 3, que não conseguia resolver o problema central do estudo de caso. A seguir, é apresentada sua justificativa dada para o fator eficiência: 2 Não foi possível exemplificar essa possibilidade de classificação, visto que, nesse caso, para ficar claro, todas as respostas do aluno L8, por exemplo, deveriam ser apresentadas (escolha feita, justificativas e julgamento requerido na última questão). Porém, isso viabilizaria a identificação do aluno, o que não seria ético com a pesquisa. Além disso, a descrição da resposta dada acima ilustra, de forma geral, o conteúdo das ideias do licenciando. 24 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “É mais eficaz que as outras opções, pelo fato de que com este haverá um novo tratamento, além do que já existe.” Níveis 3 e 4: Apenas os alunos que resolveram a atividade com coerência, mas que não emitiram argumentos válidos. Ex.: O aluno L1 compreendeu bem o que era para ser feito na atividade, optou pela única opção capaz de resolver problema central do estudo de caso (opção 2, água mineral), mas não a justificou de maneira coerente associando a escolha feita a questão-problema que deveria ser resolvida. A seguir, é dada uma de suas justificativas, a qual foi dada ao fator saúde: “Como as técnicas de tratamento da água não são eficientes, essa fonte é a mais pura entre as demais, o que, a princípio, não causa nenhum dano à saúde.” Níveis 4 e 5: Alunos que conseguiram emitir argumentos válidos, mas não fizeram um julgamento pertinente na última questão do instrumento de coleta de dados. Ex.: O aluno L4 fez escolha pela opção 2 e a justificou coerentemente segundo todos os fatores requisitados. A seguir, é apresentada uma de suas justificativas, a qual foi dada ao fator saúde: “A água em galões irá vir de uma fonte que não está contaminada com as mesmas espécies que a água da cidade, o que já contribuiria para minimizar o consumo de arsênio.” Níveis 5 e 6: Alunos que apresentaram argumentos válidos e fizeram um julgamento pertinente quando solicitados na última questão do instrumento de coleta de dados. Ex.: O aluno L2 realizou a atividade de forma coerente e com êxito, ou seja, optou pela opção 2 e a justificou de forma coerente. Além disso, julgou os dados de maneira pertinente, conforme pode ser visto em seu julgamento: 25 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “Sim, as opções continham os dados da eficiência, além de conter outras informações relevantes e relativas à qualidade das águas.” Em caso de dúvidas, durante o processo de classificação, a resposta do aluno era reanalisada voltando em seu instrumento de coleta de dados e confrontando-o diretamente com os critérios de classificação descritos anteriormente. Ao final desse processo, foi feito um consenso entre dois árbitros que fizeram essa classificação de forma a garantir maior confiabilidade aos resultados apresentados. 4.2.3 – Classificação dos argumentos Assim como definido na introdução do item 4.2, os alunos que apresentassem a habilidade argumentativa desenvolvida teriam os níveis de seus argumentos analisados pela ferramenta analítica de TOULMIN (1958), apresentada no item 2.3.1, a qual foi adaptada ao presente estudo, segundo as categorias apresentadas a seguir. Optamos pela utilização do padrão de Toulmin devido seu largo uso evidenciando na literatura da área de Ensino de Ciências (JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al., 2000; SÁ e QUEIROZ, 2007; SÁ e QUEIROZ, 2009; CARMO e CARVALHO, 2012 e outros) para análise dos componentes do argumento do ponto de vista estrutural. Apenas os argumentos presentes nas justificativas enquadradas nas categorias “coerente” foram analisados, pois que são aquelas que englobam os alunos que, conforme definidas no item 4.2.1, apresentaram justificativas coerentes/pertinentes à escolha que fizeram. Somente esses argumentos foram considerados válidos, por causa do contexto em que os mesmos foram emitidos, ou seja, como parte da resolução de um estudo de caso o qual compreendia uma questão problema que deveria ser resolvida coerentemente. Logo, as respostas que não apresentavam uma justificativa pertinente à escolha feita não foram consideradas na etapa de classificação dos argumentos, por serem consideradas incompletas dentro do contexto em que foram geradas. Assim, os argumentos válidos foram classificados em quatro níveis diferentes, os quais se distinguem em função dos elementos que apresentam. Eles foram diferenciados usando negrito para a conclusão, traço simples para os dados, traço duplo para a justificativa 26 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães (garantia e apoio), itálico para o qualificador e CAIXA ALTA para refutação. Em parênteses serão apresentados os dados fornecidos no argumento quando esses forem apresentados mais de uma vez. A seguir, são apresentados os níveis adotados para a classificação dos argumentos com os respectivos exemplos teóricos esperados para cada um deles: Nível 1: Na Figura 5, são apresentados os componentes do argumento e suas relações que definem e classificam os argumentos válidos apresentados pelos alunos como de Nível 1. Nessa figura, os Dados representam as informações fornecidas no instrumento de coleta de dados para auxiliar os alunos na resolução do estudo de caso, fornecendo-os subsídios para suportarem suas afirmações. A Justificativa representa a referência que o aluno faz ao problema central do estudo de caso, ou seja, a busca de um meio de consumo de água que seja isento de metais pesados, em especial, o arsênio, a qual é feita baseando-se na escolha feita entre as alternativas dadas na atividade. E a Conclusão é o componente do argumento no qual o aluno deixa clara qual foi sua escolha, cujo mérito foi estabelecido na justificativa dada. Dados + Justificativa Conclusão Figura 5: Componentes do argumento e suas relações estabelecidas como de Nível 1 na análise e classificação feita no presente trabalho. Exemplos teóricos usados como referência de análise para os argumentos de Nível 1: Fator saúde: O consumo de água mineral é o mais indicado, pois, de acordo com o rótulo desse produto, a mesma é isenta de metais pesados, um dos principais responsáveis pelos problemas de saúde apresentados pela população de “Esperança”. Fator custo-benefício: A água mineral é a opção mais conveniente, pois, para uma família de 4 pessoas (D1), cada uma consumindo um galão por mês (D2) com preço unitário igual a R$8,00 (D3), o gasto mensal seria de R$32,00 (está dentro do orçamento familiar médio da cidade) e teria o problema de ingestão de arsênio significantemente minimizado. 27 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Fator eficiência: Das opções disponíveis para a resolução do problema de ingestão de metais pesados pelos moradores de “Esperança”, a água mineral é a mais coerente, pois, segundo seu rótulo, a mesma é isenta de metais pesados, o problema principal da água de “Esperança”. Nível 2: A seguir, na Figura 6, são apresentados os componentes do argumento e suas relações que definem e classificam os argumentos válidos apresentados pelos alunos como de Nível 2. Nesse nível, além dos elementos Dados, Justificativa e Conclusão, definidos na apresentação do Nível 1 de argumentos, há também elemento Qualificador, o qual poderia ser utilizado pelo aluno para acrescentar valor a sua conclusão. Dados + Justificativa Conclusão Qualificador Figura 6: Componentes do argumento e suas relações estabelecidas como de Nível 2 na análise e classificação feita no presente trabalho. Exemplos teóricos usados como referência de análise para os argumentos de Nível 2: Fator saúde: O consumo de água mineral é o mais indicado, pois, de acordo com o rótulo desse produto, a mesma é isenta de metais pesados, um dos principais responsáveis pelos problemas de saúde apresentados pela população de “Esperança”. Além disso, a mesma é isenta de outros agentes maléficos à saúde humana, como por exemplo, coliformes fecais, o que as outras opções não garantem por completo. Fator custo-benefício: Apesar de o filtro de barro ser a opção mais barata, o mesmo não é capaz de remover os metais pesados presentes na água consumida pela população de “Esperança”. Logo, água mineral é a opção mais conveniente, pois, para uma família de 4 pessoas (D1), cada uma consumindo um galão por mês (D2) com preço unitário igual a R$8,00 (D3), o gasto mensal seria de R$32,00 (está dentro 28 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães do orçamento familiar médio da cidade) e teria o problema de ingestão de arsênio significantemente minimizado. Fator eficiência: Das opções disponíveis para a resolução do problema de ingestão de metais pesados pelos moradores de “Esperança”, a água mineral é a mais coerente, pois, segundo seu rótulo, a mesma é isenta de metais pesados, o problema principal da água de “Esperança”. Além disso, apresenta uma fácil manutenção e é a única capaz de minimizar o problema. Nível 3: Na Figura 7, são apresentados os componentes do argumento e suas relações que definem e classificam os argumentos válidos apresentados pelos alunos como de Nível 3. Nesse nível, além dos elementos Dados, Justificativa e Conclusão, definidos na apresentação do nível 1 de argumentos, há também o elemento Refutação, o qual é apresentado pelo aluno para deixar clara uma situação em que sua conclusão não possui sua validade. Dados + Justificativa Conclusão Refutação Figura 7: Componentes do argumento e suas relações estabelecidas como de Nível 3 na análise e classificação feita no presente trabalho. Exemplos teóricos usados como referência de análise para os argumentos de Nível 3: Fator saúde: O consumo de água mineral é o mais indicado, pois, de acordo com o rótulo desse produto, a mesma é isenta de metais pesados, um dos principais responsáveis pelos problemas de saúde apresentados pela população de “Esperança”. Além disso, a mesma é isenta de outros agentes maléficos à saúde humana, como por exemplo, coliformes fecais. ENTRETANTO, faz-se necessária a devida higienização do suporte e do galão PARA NÃO TER PROBLEMAS COM OUTROS TIPOS CONTAMINAÇÃO E CONSEQUENTEMENTE OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE. 29 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Fator custo-benefício: A água mineral é a opção mais conveniente, pois, para uma família de 4 pessoas (D1), cada uma consumindo um galão por mês (D2) com preço unitário igual a R$8,00 (D3), o gasto mensal seria de R$32,00 (está dentro do orçamento familiar médio da cidade) e teria o problema de ingestão de arsênio significantemente minimizado, CASO ESSA ÁGUA FOSSE UTILIZADA PARA BEBER E COZINHAR. Fator eficiência: Das opções disponíveis para a resolução do problema de ingestão de metais pesados pelos moradores de “Esperança”, a água mineral é a mais coerente, pois, segundo seu rótulo, a mesma é isenta de metais pesados, o problema principal da água de “Esperança”. VALE RESSALTAR QUE O USO DE ÁGUA MINERAL SÓ É EFICIENTE SE A TROCA E A HIGIENIZAÇÃO DOS GALÕES FOREM FEITAS DE MANEIRA CORRETA. Nível 4: Na Figura 8, são apresentados os componentes do argumento e suas relações que definem e classificam os argumentos válidos apresentados pelos alunos como de Nível 4, o qual é composto por todos os elementos definidos na descrição dos níveis anteriores (Dados, Justificativa, Conclusão, Qualificador e Refutação). Dados + Justificativa Conclusão Qualificador Refutação Figura 8: Componentes do argumento e suas relações estabelecidas como de Nível 4 na análise e classificação feita no presente trabalho. Exemplos teóricos usados como referência de análise para os argumentos de Nível 4: Fator saúde: O consumo de água mineral é o mais indicado, pois, de acordo com o rótulo desse produto, a mesma é isenta de metais pesados, um dos principais responsáveis pelos problemas de saúde apresentados pela população de “Esperança”. Além disso, a mesma é isenta de outros agentes maléficos à saúde humana, como por exemplo, coliformes fecais e glúten, o que as outras opções não garantem por completo. 30 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães ENTRETANTO, FAZ-SE NECESSÁRIA A DEVIDA HIGIENIZAÇÃO DO SUPORTE E DO GALÃO PARA NÃO TER PROBLEMAS COM OUTROS TIPOS CONTAMINAÇÃO E CONSEQUENTEMENTE OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE. Fator custo-benefício: Apesar de o filtro de barro ser a opção mais barata, o mesmo não é capaz de remover os metais pesados presentes na água consumida pela população de “Esperança”. Logo, água mineral é a opção mais conveniente, pois, para uma família de 4 pessoas (D1), cada uma consumindo um galão por mês (D2) com preço unitário igual a R$8,00 (D3), o gasto mensal seria de R$32,00 (está dentro do orçamento familiar médio da cidade) e teria o problema de ingestão de arsênio significantemente minimizado, CASO ESSA ÁGUA FOSSE UTILIZADA PARA BEBER E COZINHAR. Fator eficiência: Das opções disponíveis para a resolução do problema de ingestão de metais pesados pelos moradores de “Esperança”, a água mineral é a mais coerente, pois, segundo seu rótulo, a mesma é isenta de metais pesados, o problema principal da água de “Esperança”. Além disso, essa opção é de fácil manutenção, o que nem todas as outras opções são e é a única capaz de minimizar o problema. VALE RESSALTAR QUE O USO DE AGUÁ MINERAL SÓ É EFICIENTE SE A TROCA E A HIGIENIZAÇÃO DOS GALÕES FOREM FEITAS DE MANEIRA CORRETA. 5 - Apresentação e discussão dos resultados 5.1 – Categorização das justificativas 5.1.1 - Análise do estudo de caso dos alunos do 1º ano. No Quadro 1, são apresentados os resultados obtidos com a análise da resolução do estudo de caso feito pelos 13 alunos do 1º ano (idades entre 14 e 15 anos), os quais formaram 5 duplas e 1 trio para desenvolver a atividade. Nesse quadro, os alunos foram codificados como An, sendo A o código escolhido para representar o aluno e n o número escolhido para identificalos e diferencia-los. Já as categorias em que suas justificativas foram enquadradas são representadas nesse quadro pelos códigos C e Ix, os quais significam, respectivamente, 31 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “Coerente” e “Incoerente”, sendo x o perfil de incoerência da justificativa (categorias definidas no item 4.2.1). Quadro 1: Análise da opção escolhida pelos alunos do 1º ano e a categorização de suas justificativas. Categorização por fator Aluno Opção A1 A2 Fator saúde Fator custobenefício Fator eficiência 2 C C I1 2 I1 I1 I1 Não atendeu ao que foi pedido na questão A3 X A4 X A5 2 I1 I1 I1 A6 2 I1 I1 I1 A7 4 I2 I2 I2 A8 4 I2 I2 I2 A9 2 I1 I1 I1 A10 2 I1 I1 I1 A11 2 I1 I1 I1 A12 2 I1 I1 I1 A13 2 I1 I1 I1 Conforme pode ser visto no Quadro 1, dos treze alunos que resolveram o estudo de caso (apêndice 9.2), dois (A3 e A4) não fizeram o que era pedido na atividade, ou seja, escolher uma entre as quatro opções dadas e justifica-la separadamente segundo os fatores saúde, custo-benefício e eficiência. Analisando o questionário desses dois alunos, foi visto que ambos fizeram escolhas diferentes para cada fator solicitado para nortear a elaboração de suas justificativas (escolheram a opção 4 para o fator saúde, a opção 3 para o fator custo-benefício e a opção 2 para o fator eficiência). Provavelmente, esse fato pode ter ocorrido por esses alunos não terem conseguido interpretar o enunciado da atividade ou mesmo pela falta de atenção dos mesmos. No Quadro 1, também se observa que nove alunos (69,2%) escolheram a opção fornecida no instrumento de coleta de dados, que era capaz de resolver o problema central abordado no estudo de caso (opção 2, uso de água mineral). Isso indica que, de um modo geral, os alunos 32 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães do 1º ano não tiveram muita dificuldade em localizar a questão-problema envolvida no caso estudado e em associá-la aos seus conhecimentos prévios. Entretanto, ao analisar e classificar suas justificativas, o que se observa é que apenas um aluno (A1) conseguiu justificar sua escolha de forma pertinente, o que foi feito apenas para dois fatores, saúde e custo-benefício, sendo, portanto, classificado como coerente. Esses dados indicam que os alunos do 1º ano, em geral, apresentam sérias dificuldades para expressar suas ideias. A maioria deles pode até ter usado critérios lógicos para escolher a opção que melhor atendia à questão problema envolvida no estudo de caso, porém, ao expressar de forma escrita o raciocínio utilizado, eles não o fizeram de maneira explícita e coerente. Provavelmente, a dificuldade detectada nessa atividade seja um reflexo da falta de hábitos de escrita e de leitura crítica dos alunos estudados, o que é comum, segundo a literatura da área, por exemplo, OLIVERAS e SANMARTI (2009); BERLAND e REISER (2009), BERLAND e REISER (2010). Esses artigos mostram que os estudantes não se preocupam em evidenciar claramente suas linhas de raciocínio ao professor, pois no ensino tradicional, eles estão preocupados apenas em dar a resposta certa e não em explicitar como chegaram a tal conclusão, ou seja, no ensino tradicional não há demanda retórica para argumentar. A seguir, encontram-se listadas as duas justificativas pertinentes observadas entre os alunos do 1º ano: “A água mineral é de uso instantâneo, ou seja, já vem com o tratamento necessário, livre de metais, bactérias como coliformes fecais etc.” (A1, 1º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) “É um instrumento que não traria grandes gastos, uma pessoa em média consome 20L ao mês; o galão convencional vendido em supermercados etc. contém 20L e tem o custo de R$8,00. Como exemplo, uma família de quatro pessoas gastaria em média R$32,00. No entanto, não pesaria no bolso e seria em meio altamente confiável.” (A1, 1º ano – justificativa dada ao Fator Custo-Benefício, grifo nosso) 33 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Essas justificativas foram julgadas como pertinentes pelo fato de, nelas, o aluno ter relacionado a escolha feita ao problema principal da cidade fictícia apresentada no caso estudado, ou seja, a presença de metais pesados na água de abastecimento da cidade, em concentrações acima dos limites recomendados pelos órgãos de saúde. Conforme pode ser visto nas justificativas listadas, mesmo o único aluno do 1º ano que foi capaz de expressar uma justificativa válida para a escolha feita, é possível detectar problemas em sua capacidade de expressão. Na sua justificativa dada para o fator custo-benefício, é possível observar que o mesmo apresenta uma ideia coerente, mas usa os conectores de maneira errada em sua resposta. No lugar de usar uma conjunção conclusiva, o aluno utilizou uma conjunção adversativa (destacada na transcrição de sua justificativa). A seguir, são apresentados alguns exemplos das justificativas dadas pelos alunos que escolheram a opção 2, mas a justificaram de forma impertinente (perfil 1 de incoerência, definido no item 4.2.1): “Pelo rótulo, pode-se acompanhar os valores necessários para qualidade como características físico-químicas e composição química. Além de ter a garantia de que vem de uma fonte natural. Purificadores podem apresentar defeitos e contaminar a água.” (A9, 1º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) “Custa em média R$8,00 o galão com 20L.” (A5 e A6, 1º ano – justificativa dada ao Fator custo-benefício) “A água mineral é mais eficiente, porque é uma água que já vem tratada e economicamente é muito mais barata do que se fosse usar um filtro.” (A2, 1º ano – justificativa dada ao Fator Eficiência) Por sua vez, os alunos que optaram pela opção 4 (A7 e A8), apresentaram justificativas com características típicas do perfil 2 de incoerência, ou seja, eles escolheram uma opção que não resolvia o problema central do estudo de caso e a justificou de maneira impertinente. A 34 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães seguir, são apresentadas as justificativas dadas pelos alunos A7 e A8, as quais tinham esse perfil. Conforme pode ser visto nesses exemplos, os alunos justificaram suas escolhas através de uma mera repetição os dados fornecidos na atividade. “Elimina coliformes totais, bactérias fecais e patogênicas que podem estar presentes na água. Filtra impurezas sólidas, adsorve o cloro, remove turbidez e substâncias químicas. Retira sabores e odores desagradáveis.” (A7 e A8, 1º ano – justificativa dada ao fator saúde) “Custa cerca de R$2100,00.” (A7 e A8, 1º ano – justificativa dada ao fator custo-benefício) “Retira todas as impurezas que a água pode conter.” (A7 e A8, 1º ano – justificativa dada ao fator eficiência) Baseando-se nos dados obtidos com a análise dos resultados dos alunos do 1º ano, pode-se afirmar que, em geral, eles não apresentaram grandes dificuldades em apontar a opção 2 como a mais viável para a solução da questão problema envolvida no estudo de caso. Isso é um ponto positivo, no que diz respeito à formação desses alunos, pois, como o caso analisado envolvia um problema que pode ser vivenciado por todos os alunos da escola investigada, devido a sua localização à região dos inconfidentes, pode-se afirmar que, eles se sairiam bem, caso tivessem de enfrentar algo parecido. Por outro lado, a dificuldade de expressão escrita e de leitura crítica, apresentada por eles, é algo sério e que precisa ser revisto, uma vez que essa habilidade é de extrema importância tanto para sua formação como um cidadão letrado cientificamente, quanto para seus estudos futuros. Informações semelhantes a essas também foram observadas por JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al., (2000); OLIVERAS e SANMARTI (2009) e por DUSCHL e ELLENBOGEN (2009). 35 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 5.1.2 - Análise a do estudo de caso dos alunos do 2º ano. No Quadro 2, são apresentados os resultados obtidos com a análise da resolução do estudo de caso feito pelos 10 alunos do 2º ano (idades entre 16 e 17 anos), os quais formaram 5 duplas para fazer a atividade. Nesse quadro, os alunos e as categorias são identificados por códigos semelhantes aos utilizados no Quadro 1. Quadro 2: Análise da opção escolhida pelos alunos do 2º ano e categorização de suas justificativas. Categorização por fator Aluno Opção Fator saúde Fator custobenefício Fator eficiência Não atendeu ao que foi pedido na questão A14 X A15 X A16 3 I2 I2 I2 A17 3 I2 I2 I2 A18 X A19 X A20 2 C C C A21 2 C C C A22 X A23 X Analisando o Quadro 2, observa-se que dos dez alunos do 2º ano que resolveram o estudo de caso, seis (60,0%) não compreenderam o que era para ter sido feito na atividade. Para esses alunos, em vez de escolher uma das quatro opções oferecidas no instrumento de coleta de dados (apêndice 9.2) e justifica-la em função dos três fatores solicitados, eles escolheram uma opção para cada um dos fatores e, assim, as justificaram. Apesar de ser um índice muito alto de alunos que interpretaram mal o enunciado da atividade, não se pode afirmar que isso reflete sua dificuldade total em resolver situações problemáticas. O aluno A14 é um exemplo disso, pois, apesar de ter resolvido o estudo de caso de uma maneira diferente da requerida na atividade, assim como pode ser visto em uma de suas justificativas (apresentada a seguir), o aluno demonstra ter localizado o problema central do estudo de caso: 36 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “A escolha adequada para o fator saúde seria a opção 4, pois ele filtra melhor, elimina os coliformes, remove os metais pesados e garante a qualidade da água.” (A14, 2º ano – justificativa dada ao Fator Saúde, grifo nosso) Conforme pode ser visto no apêndice 9.2, nos dados fornecidos referentes à opção 4, não havia qualquer informação sobre esse aparelho que indicava sua eficiência na remoção de metais pesados. Logo, a menção feita pelo aluno A14 à remoção desses elementos veio de sua interpretação dos dados e associação à questão problema envolvida no estudo de caso, mesmo que errônea, visto que pelos dados fornecidos no instrumento de coleta de dados referentes à opção 4, não era possível afirmar que esse aparelho era de fato eficiente na remoção de metais pesados presentes em água. Um fator que pode ter levado esse aluno a interpretar mal os dados e, portanto, chegar a tais conclusões e, ainda, ter sido a causa para alguns alunos não terem conseguido interpretar bem o que era pedido na atividade, pode estar relacionado à falta de hábito de realizar leituras críticas. Sem esse procedimento, fica inviabilizado o processo de tomada de decisões coerentes (OLIVERAS e SANMARTI, 2009), uma vez que a localização da questão problema a ser resolvida fica comprometida, assim como, a interpretação dos dados e a associação dos mesmos a tal questão. A partir da análise dos materiais escritos dos demais alunos que não fizeram o que foi pedido na atividade, algo interessante foi observado. A dupla de alunos A22 e A23 utilizou pontos de vista ingênuos para justificar suas escolhas. Por exemplo, afirmaram que a opção 4 era a melhor em função do fator eficiência pelo fato dessa opção ser a que envolve mais tecnologia. Ou então, que a opção 1 (filtro de cerâmica) era a melhor com relação ao fator saúde e custobenefício, pois, além de ser mais barata, era um instrumento cuja manutenção seria feita em casa mesmo, sendo, por isso, algo mais confiável, já que caberia aos próprios usuários tomar o devido cuidado com a limpeza dos filtros. A seguir, foram listadas duas justificativas produzidas pelos alunos A22 e A23: “O purificador de água Summer Line, pois ele parece ter mais vantagens do que os outros.” 37 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães (A22 e A23, 2º ano – justificativa dada ao Fator Eficiência) “Filtro de cerâmica São João, porque é um processo que podemos realizar em casa e é mais confiável, pois, em casa, tomamos o cuidado necessário que devemos ter.” (A22 e A23, 2º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) Dentre quatro alunos que conseguiram resolver o estudo de caso seguindo as instruções dadas na atividade, observa-se apenas que dois tiveram suas justificativas classificadas como “Coerente”. A seguir, são apresentadas algumas dessas justificativas classificadas como pertinentes dadas pelos alunos A20 e A21. “A água mineral é uma água que já virá tratada e apropriada para o consumo, estando livre da contaminação que atinge a cidade. O consumo desta água vai beneficiar a saúde de todos.” (A21, 2º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) “Em uma família de 5 pessoas, o custo será 40$ mensal. Em uma família menor como a minha, o custo será 16$ mensal. Concluindo, o custo será barato e benéfico.” (A20, 2º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) “A água mineral vai suprir a necessidade da população da cidade até que as reformas sejam feitas, já que vai propiciar melhoras na saúde do todos, sendo a água livre de metais pesados e prejudiciais à saúde, de custo baixo e muito eficiente.” (A20 e A21, 2º ano – justificativa dada ao Fator Eficiência). 38 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Quanto aos alunos cujas justificativas foram categorizadas como “Incoerentes”, foi visto que esses optaram pela opção 3, que não resolvia a questão problema do estudo de caso, e a justificaram por meio de uma interpretação errônea dos dados referentes ao filtro escolhido. Por isso, suas justificativas foram classificadas como “Incoerentes” do tipo 2. A seguir, é apresentado um exemplo das justificativas que apresentaram esse perfil: “O purificador (By Hebe) é mais eficaz no purificação do arsênio e metais pesados, que são grandes problemas na qualidade da água. O arsênio pode causar diversas doenças dermatológicas. Por isso, o purificador é mais eficaz.” (A17, 2º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) De maneira geral, com base nos dados obtidos para os alunos do 2º ano, pode-se concluir que o desempenho desses alunos foi relativamente melhor, se comparado aos dos alunos do 1º ano. Embora mais da metade dos alunos do 2º ano (60%) não tenham entendido o que estava sendo proposto na atividade, dos quatro alunos que a compreenderam, dois (A22 e A23) foram capazes de fazer a tomada de decisão escolhendo a opção 2. Nessa turma, dentre as trinta possibilidades de respostas coerentes (três para cada um dos dez alunos), foram observadas seis respostas coerentes, enquanto que no 1º ano, das trinta e nove possibilidades de respostas coerentes, foram observadas apenas duas. Esses dados indicam a ocorrência de um avanço no desempenho dos alunos do 1º para o 2º ano, o qual pode estar relacionado ao nível de escolaridade desses alunos. 5.1.3 - Análise do estudo de caso dos alunos do 3º ano. Os resultados obtidos a partir da análise do estudo de caso dos alunos do 3º ano (idades entre 17 e 18 anos), os quais formaram 5 duplas e dois alunos trabalharam de forma individual, encontram-se apresentados no Quadro 3. Nesse, os alunos e as categorias são identificados por códigos semelhantes aos utilizados nos Quadros 1 e 2. 39 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Quadro 3: Análise da opção escolhida pelos alunos do 3º ano e categorização de suas justificativas. Categorização por fator Aluno Opção A22 Fator saúde Fator custobenefício Fator eficiência 2 I1 C I1 A23 2 I1 C I1 A24 2 I1 C I1 A25 2 I1 C I1 A26 2 I1 C C A27 2 I1 I1 C A28 2 I1 I1 C A29 2 C C C A30 2 C C C A31 2 C C C A32 2 C C C A33 Não atendeu ao que foi pedido na questão X Conforme pode ser visto no Quadro 3, o desempenho dos alunos do 3° ano foi relativamente bom, se comparado ao dos alunos do 1º e 2º anos. Praticamente todos os alunos (11 de 12) interpretaram bem a proposta da atividade e, ainda, fizeram a tomada de decisão coerentemente, escolhendo a opção 2. Ao avaliar as justificativas desses onze alunos, observa-se que, de um modo geral, eles tiveram facilidade em justificar a escolha feita, sendo o fator custo-benefício o que eles encontraram maior facilidade para julgar. A seguir, são apresentadas três justificativas classificadas como coerente para cada um dos fatores requeridos. “A utilização da água mineral é conveniente, pois a água não possui metais pesados, necessário para uma água de boa qualidade, sendo assim, referente à saúde” (A28, 3º ano – justificativa dada ao Fator Saúde). 40 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “Custo médio de um galão contendo 20L de água mineral: 8,0 reais, vendido em pontos comerciais da cidade (supermercados, mercearias). Ex.: 1 pessoa por mês bebe 20L em média no custo de R$8,00. Então, uma família de 5 pessoas beberia 100L em média no custo de R$40,00.” (A26, 3º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) “Dentre todas as opções citadas, a água mineral é o único meio de se adquirir uma água livre de metais pesados e demais impurezas sólidas.” (A31 e A32, 3º ano – justificativa dada ao Fator Eficiência) O melhor desempenho na resolução do estudo de caso apresentado pelos alunos do 3º ano (em localizar facilmente sua questão problema e justifica-la sem muita dificuldade), provavelmente, é devido ao fato de: Estarem em um estágio mais avançado de estudo, em relação aos alunos do 1º e do 2º ano. Consequentemente, possuírem mais conhecimentos e apresentarem um melhor desenvolvimento das habilidades cognitivas (vide 5.2.3). Possuírem maior interesse a respeito do assunto principal abordado no estudo de caso (consumo de metais pesados presentes na água de abastecimento humano da cidade fictícia de “Esperança”). O desenvolvimento do projeto CTS na turma pode ter influenciado em uma maior aquisição de conhecimentos prévios acerca do assunto principal abordado no estudo de caso ou mesmo no interesse dos alunos pelo tema. Aspecto observado durante o desenvolvimento do projeto CTS pela autora do presente trabalho, a qual era estagiária nessa turma. Afirmativas similares não podem ser feitas para as demais turmas, em virtude de não termos acompanhando as mesmas durante a aplicação do projeto. As aulas do projeto CTS na turma do 3º ano foram devidamente registradas em vídeo e os materiais dos estudantes foram xerocados, mas não foi possível realizar análise para o TCC de forma a traçar considerações mais amplas a respeito de tal afirmativa. Em contrapartida, a análise dos dados aqui realizada, nos faz pensar que de fato o projeto pode ter influenciado na análise do estudo de caso dos estudantes do 3º ano. 41 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 5.2 – Análise das habilidades expressas pelos alunos 5.2.1 – Análise das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos do 1º ano Os dados obtidos com a análise das habilidades expressas pelos alunos do 1º ano durante a resolução do estudo de caso encontram-se apresentados na Figura 9. Frequência de respostas (número de alunos) 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 Nível das habilidades Figura 9: Distribuição da frequência de respostas dos alunos do 1º ano em função dos níveis de habilidades do domínio cognitivo, propostos na taxonomia de Bloom, feita seguindo a definição apresentada nas páginas 23, 24, 25 e 26. Ao analisar as justificativas dos alunos do 1º ano, observou-se que, dos seis níveis possíveis de um aluno atingir na taxonomia de Bloom, apenas um atingiu o nível 5 (de argumentação, foco do presente trabalho). Os demais apresentaram um desempenho médio, que sugere que os mesmos tenham as habilidades básicas à argumentação desenvolvidas apenas até os níveis 3 e 4, nos quais foram classificados os alunos que conseguiram resolver a atividade com coerência (optaram pela opção 2), mas que não emitiram argumentos válidos em suas justificativas. Com base nisso, em geral, os alunos do 1º ano apresentam conhecimentos que os permitem realizar a atividade proposta, compreendendo o problema central, retomando seus 42 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães conhecimentos prévios e associando-os aos dados fornecidos para cada opção, de forma a selecionar os mais relevantes para tomarem a decisão de escolha entre as opções fornecidas. Porém, ao justificar a escolha feita, eles não conseguiram emitir uma justificativa que fosse pertinente ao problema central do estudo, o que os classificou nos níveis 3 e 4. Esses dados sugerem que, de um modo geral, os alunos do 1º ano da escola estudada se encontram com apenas as habilidades de ordem média do domínio cognitivo desenvolvidas, assim como poderiam ser chamadas as habilidades de nível 3 e 4. Logo, para que esses alunos consigam desenvolver as habilidades de ordem superior, as quais fazem parte das premissas dos PCN, é preciso que mais atividades que incentivem os alunos a terem de analisar dados e sintetizá-los para se chegar a uma conclusão crítica sobre o tema abordado na atividade sejam desenvolvidas nessa turma. Isto se justifica, segundo a literatura da área, pelo fato de as habilidades serem desenvolvidas e/ou sofisticadas, quando os alunos são convidados a participar de atividades que as requeiram, isto é, a prática é necessária para o aprimoramento (JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, 2010). Considerando que na turma ainda há alunos com apenas as habilidades de ordem inferior desenvolvidas, classificados nos níveis 1 e 2, é importante destacar a ênfase que deve ser dada pelo professor no desenvolvimento dessas atividades a fim de garantir, por parte dos alunos, uma boa compreensão do que é proposto nas mesmas e de auxilia-los no processo de retomada de seus conhecimentos declarativos e conceituais. Segundo SANTOS e SCHNETZLER (2010) e SÁ e QUEIROZ (2009) a estratégia de estudo de casos é uma importante aliada nesse processo de desenvolvimento de habilidades que favorecem não somente ao letramento científico quanto à formação de cidadãos críticos, tão preconizada nos documentos oficiais (BRASIL, 1996; 1999; 2001). 5.2.2 – Análise das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos do 2º ano Na Figura 10, encontra-se a distribuição da frequência de respostas dos alunos do 2º ano em função dos níveis de habilidades do domínio cognitivo, propostos na taxonomia de Bloom. 43 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Frequência de respostas (número de alunos) 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 Nível de habilidades de Bloom Figura 10: Distribuição da frequência de respostas dos alunos do 2º ano em função dos níveis de habilidades do domínio cognitivo, propostos na taxonomia de Bloom, feita seguindo a definição apresentada nas páginas 23, 24, 25 e 26. Conforme pode ser visto na Figura 10, a turma do 2º ano apresenta um perfil bastante heterogêneo, pois nela se encontram alunos com habilidades desde as de ordem inferior até as de ordem superior desenvolvidas. Comparando essa turma com a do 1º ano, observa-se que há um avanço no perfil de desenvolvimento das habilidades do domínio cognitivo dos alunos. Embora isso seja um aspecto positivo para o sistema de ensino que é desenvolvido nessa escola, observa-se no 2º ano que ainda há uma quantidade considerável de alunos que ainda se encontram com apenas as habilidades de ordem inferior desenvolvidas. Em outras palavras, enquanto alguns alunos apresentam dificuldades de interpretação de enunciados e dados, outros já conseguem interpretá-los, analisa-los, tomar uma decisão e ainda assumir um posicionamento crítico acerca do que foi feito na atividade. No sentido de promover o desenvolvimento das habilidades do domínio cognitivo dos alunos do 2º ano que se encontram em atraso com relação aos demais alunos da turma, é importante ressaltar o cuidado que os professores devem tomar ao elaborar as atividades que serão aplicadas em sala de aula. Essas devem ser elaboradas buscando auxiliar os alunos na retomada de seus conhecimentos, na interpretação e na análise dos dados, de forma a torna-los aptos a realizar tal procedimento por si próprios. Porém, essa não pode deixar de atender aos alunos que já se encontram em um nível mais avançado de desenvolvimento das habilidades 44 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães do domínio cognitivo. Logo, elas precisam conter questões que favoreçam esses alunos a praticarem suas habilidades no sentido de aprimorá-las. Tais práticas são fundamentais, pois o desenvolvimento de habilidades de ordem superior favorece o entendimento do aluno do que é ciência, sobre o fazer ciência e quanto ao aprendizado da ciência (HENAO e STIPCICH, 2008), além de favorecer a formação de cidadãos críticos (SANTOS e SCHNETZLER, 2010; SÁ e QUEIROZ, 2009), algo bastante enfatizado nas premissas atuais de ensino (BRASIL, 1996; 1999; 2001). 5.2.3 – Análise das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos do 3º ano Na Figura 11 é apresentada a distribuição da frequência de respostas dos alunos do 3º ano em função dos níveis de habilidades do domínio cognitivo, propostos na taxonomia de Bloom. 12 Frequência de respostas (número de alunos) 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 Nível de habilidades de Bloom Figura 11: Distribuição da frequência de respostas dos alunos do 3º ano em função dos níveis de habilidades propostos na taxonomia de Bloom, feita seguindo a definição apresentada nas páginas 23, 24, 25 e 26. Conforme pode ser visto na Figura 11, a maioria dos alunos do 3º ano apresenta as habilidades de ordem superior bem desenvolvidas, o que permite afirmar que os mesmos 45 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães apresentam as habilidades de lembrar, entender e aplicar bem desenvolvidas e que as de analisar, sintetizar e criar encontram-se em desenvolvimento. Comparando-se os dados obtidos para as três séries do ensino médio, observa-se que a turma de 3º ano foi a que apresentou o melhor desempenho. Para essa turma, destaca-se que devem ser utilizadas atividades que auxilie os alunos a desenvolver e a aprimorar suas habilidades de analisar, sintetizar e criar. 5.2.4 – Análise geral das três turmas – habilidades expressas pelos alunos Com intuito de visualizar melhor o avanço no desenvolvimento das habilidades apresentadas pelos alunos investigados no presente trabalho, foi construído um gráfico com a sobreposição das curvas de tendência referentes aos dados do 1º, 2º e 3º anos, o qual se encontra apresentado na Figura 12. 12 Frequência de respostas (número de alunos) 10 8 o 3 ano 6 4 o 2 ano 2 o 1 ano 0 1 2 3 4 5 6 Nível de habilidades de Bloom Figura 12: Superposição das curvas de tendências referentes aos dados do 1º, 2º e 3º anos. Assim como foi sugerido na análise individual de cada turma, observa-se na Figura 12 que de fato há uma evolução entre os três anos do ensino médio investigados. Nessa figura, a curva de tendência referente ao 1º ano apresenta um pico localizado no centro do gráfico, indicando uma alta frequência de alunos com apenas habilidades de ordem média desenvolvidas, 46 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães enquanto que a do 2º ano encontra-se mais distribuída ao longo do gráfico (observa-se alunos em praticamente todos os níveis de habilidades) e a do terceiro, apresenta um pico localizado mais a direita do gráfico, indicando uma alta frequência de alunos com habilidades de ordem superior desenvolvidas. Os possíveis fatores para essa evolução observada entre as três turmas pode ser devido: Sistema de ensino adotado no colégio em que a pesquisa foi desenvolvida: Esse pode ter propiciado aos alunos meios de se desenvolver habilidades de ordem superior. Entretanto, provavelmente, trata-se de um processo longo, pois, nessa escola, são gastos três anos para os alunos desenvolvê-las. Professores bem preparados para a prática docente: Com base no trabalho de ZOHAR (2004), provavelmente, o mérito desse avanço observado dos alunos do 1º para o 2º e para o 3º ano tenha sido influenciado pela formação dos professores dessas turmas. Aumento no nível de escolaridade: Assim como observado por KUHN (1991), o nível de escolaridade dos alunos pode influenciar, por exemplo, na sua argumentação (habilidade de ordem superior). Em seus estudos, a autora observou que sujeitos com graduação argumentam melhor que aqueles com educação básica. Aumento da maturidade dos alunos ao longo do ensino médio devido ao estímulo dado e/ou à necessidade de se prestar exames como Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou vestibular. Infelizmente, em nenhum desses casos foram coletados dados suficientes para se fazer afirmativas contundentes e mais aprofundadas. Em outras palavras, tratam-se de hipóteses geradas pelas pesquisadoras, fundamentadas na análise dos dados e na literatura. Ressalta-se também que tais constatações a respeito das evoluções foram baseadas apenas em um único instrumento – o questionário envolvendo o estudo de caso. Assim, julgamos que fomos coerentes com os princípios da pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. 47 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 5.3 – Classificação dos argumentos 5.3.1 – Classificação dos argumentos dos alunos do 1º ano Conforme definido no item 4.2.3, os alunos que emitissem justificativas pertinentes teriam seus argumentos analisados segundo a ferramenta analítica de Toulmin adaptada para o contexto do presente trabalho. Como os dados foram coletados a partir da resolução de um estudo de caso, apenas foram consideradas como argumentos válidos as respostas dadas pelos alunos que optaram pela opção 2 e que a justificaram fazendo alguma referência ao problema central abordado no estudo de caso, ou seja, o consumo de água contaminada por metais pesados. É importante ressaltar que os argumentos aqui classificados como de Nível 1 (compostos por dados, justificativa e conclusão) se diferem dos que são frequentemente encontrados na literatura com essa nomenclatura (compostos apenas por dados e conclusão). Tais considerações estão de acordo com JIMÉNEZ-ALEIXANDRE e BUSTAMENTE (2003) e BRITO e SÁ (2010), os quais afirmam que, além da utilização adequada de elementos como dados, conclusões e conhecimentos básicos, a presença do elemento justificativa em um contexto de resolução de estudo de casos resulta em uma argumentação de boa qualidade. No Quadro 4, encontram-se os dados obtidos com a análise dos argumentos válidos emitidos pelos alunos do 1º ano. 48 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Quadro 4: Nível dos argumentos válidos observados entre as justificativas dadas pelos alunos do 1º ano. Aluno Nível do argumento Fator saúde Fator custo-benefício Fator eficiência A1 1 1 - A2 - - - A3 - - - A4 - - - A5 - - - A6 - - - A7 - - - A8 - - - A9 - - - A10 - - - A11 - - - A12 - - - A13 - - - Conforme pode ser visto no Quadro 4, das 39 justificativas analisadas (três de cada um dos 39 alunos), apenas duas (5,1%) representavam argumentos válidos, os quais foram emitidos por um único aluno e foram classificados como de Nível 1. Isso permite concluir que (i) foram poucos os argumentos válidos apresentados pelos alunos do 1º ano e (ii) o nível de qualidade dos elementos dos argumentos foi baixo. A seguir, são apresentados alguns fatores que podem estar relacionados a esse desempenho dos alunos do 1º ano: Dificuldade de expressão escrita: Conforme discutido no item 5.1.1, provavelmente a falta de hábitos de escrita pode ter comprometido a qualidade dos argumentos dos alunos. Ao resolver o estudo de caso, eles podem até ter desenvolvido um processo de argumentação individual que os permitissem justificar suas respostas de maneira mais completa, porém, por falta de hábitos e de demanda das atividades realizadas na escola, a redação de suas justificativas pode não ter saído condizente com toda a linha de raciocínio desenvolvida por eles. Informações semelhantes foram obtidas por JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al. (2000), DUSCHL e ELLENBOGEN (2009), BERLAND e REISER (2009) e BERLAND e REISER (2010). 49 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Falta de habilidades básicas à argumentação: De acordo com a taxonomia de Bloom (ANDERSON et al., 2001), pode-se afirmar que, provavelmente, alguns alunos não foram capazes de emitir argumentos válidos por apresentar apenas habilidades de ordem média desenvolvidas (vide item 5.2.1). Logo, eles realmente não argumentariam de forma coerente, visto que essa habilidade é classificada como de ordem superior. Dificuldade inerente da atividade por exigir argumentos de Nível 1 com maior grau de complexidade que o adotado nos trabalhos frequentemente reportados na literatura que utilizam o padrão de Toulmin: O fato de os argumentos de Nível 1, adotados no presente trabalho, serem compostos por um elemento a mais que os tradicionalmente empregados em trabalhos da área pode ter resultado em uma frequência menor de argumentos de alta qualidade. A seguir são apresentados os dois argumentos válidos apresentados pelo aluno A1 do 1º ano, os quais se encontram formatados conforme definido no item 4.2.3 (negrito para conclusão, traço simples para os dados e traço duplo para a justificativa, os demais itens – qualificador e refutação – não se encontram nos exemplos abaixo, pois esses não compõem os argumentos de Nível 1). “A água mineral é de uso instantâneo, ou seja, já vem com o tratamento necessário, livre de metais, bactérias como coliformes fecais etc.” (A1, 1º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) “É um instrumento que não traria grandes gastos, uma pessoa em média consome 20L ao mês; o galão convencional vendido em supermercados etc. contém 20L e tem o custo de R$8,00. Como exemplo, uma família de quatro pessoas gastaria em média R$32,00. No entanto, não pesaria no bolso e seria em meio altamente confiável.” (A1, 1º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) 50 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 5.3.2 – Classificação dos argumentos dos alunos do 2º ano A análise dos argumentos válidos observados entre as justificativas dos alunos do 2º ano encontra-se listada no Quadro 5. Quadro 5: Nível dos argumentos válidos observados entre as justificativas dadas pelos alunos do 2º ano. Aluno Nível do argumento* Fator saúde Fator custo-benefício Fator eficiência A14 - - - A15 - - - A16 - - - A17 - - - A18 - - - A19 - - - A20 - 1 1 A21 1 1 1 A22 - - - A23 - - - Quanto aos alunos do 2º ano, observa-se que esses apresentaram um desempenho melhor que alunos do 1º ano. Conforme pode ser visto no Quadro 5, das trinta justificativas analisadas, foram observados cinco argumentos válidos (16,7%), enquanto que, dentre as 39 justificativas do 1º ano, apenas duas (5,1%) continham argumentos válidos (Quadro 4). Embora tenha sido observado esse avanço, o qual vem sendo apontado em todas as análises feitas no presente trabalho, observa-se que, mesmo com o aumento de argumentos válidos para a turma do 2º ano, esses ainda foram classificados como de Nível 1. Isso reflete e reforça a necessidade de se explorar mais a argumentação em ambientes escolares, assim como já apontado por muitos pesquisadores da área (por exemplo, JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, 2005). A seguir são apresentados alguns exemplos de argumentos válidos observados na turma do 2º ano. 51 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “A água mineral é uma água que já virá tratada e apropriada para o consumo, estando livre da contaminação que atinge a cidade. O consumo desta água vai beneficiar a saúde de todos.” (A21, 2º ano – justificativa dada ao Fator Saúde) “A opção, além de beneficiar a saúde, possui baixo custo, pois cada galão já vem sob medida para uma pessoa e, numa família de 5 pessoas, por exemplo, o custo será de R$40,00 mensais.” (A21, 2º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) “A água mineral vai suprir a necessidade da população da cidade até que as reformas sejam feitas, já que vai propiciar melhoras na saúde do todos, sendo a água livre de metais pesados e prejudiciais à saúde, de custo baixo e muito eficiente.” (A20 e A21, 2º ano – justificativa dada ao Fator Eficiência) Conforme pode ser visto nos exemplos de argumentos válidos dos alunos do 2º ano, em nenhum deles é possível observar os elementos qualificador e refutação. Os alunos A20 e A21 até conseguiram expressar bem a justificativa para a escolha feita (água mineral), porém sem usar tais elementos, os quais poderiam conferir à conclusão maior qualidade. 5.3.3 – Classificação dos argumentos dos alunos do 3º ano No quadro 6, encontra-se a análise dos argumentos válidos observados entre as justificativas dos alunos do 3º ano. 52 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Quadro 6: Nível dos argumentos válidos observados entre as justificativas dadas pelos alunos do 3º ano. Aluno Nível do argumento* Fator saúde Fator custo-benefício Fator eficiência A24 - 1 - A25 - 1 - A26 - 1 - A27 - 1 - A28 1 2 1 A29 - - 1 A30 - - 1 A31 2 1 1 A32 2 1 1 A33 1 1 1 A34 1 1 1 * A35 *Os dados do aluno A35 não foram avaliados, pois o mesmo não deixou registrado por escrito suas justificativas para a escolha feita. Analisando os dados apresentados no Quadro 6, observa-se que os alunos do 3º ano foram melhores na atividade que os alunos do 1º e do 2º anos, o que reforça os indicativos de avanço no desenvolvimento de habilidades cognitivas dos alunos da escola investigada, ao longo do ensino médio. Conforme pode ser visto no Quadro 6, das trinta e três justificativas analisadas (três de cada um dos onze alunos que deixaram suas justificativas registradas por escrito), foi observado que 63,6% dessas apresentavam argumentos válidos, dentre os quais foram observados três de Nível 2. A seguir, são apresentados alguns exemplos de argumentos válidos emitidos pelos alunos do 3º ano que foram classificados como de Nível 1. Esses argumentos foram emitidos por aqueles alunos que resolveram o estudo de caso de forma coerente (optaram pela água mineral e a justificaram de maneira pertinente). 53 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães “Em relação à saúde dos indivíduos, a utilização da água mineral é indiscutivelmente mais eficaz, pois: esta água é a única, dentre as opções, isenta de metais pesados além de todas as demais atribuições para uma água de boa qualidade.” (A31 e A32, 3º ano – justificativa dada para o Fator Saúde) “Custo benefício de um galão contendo 20L de água mineral: 8,0 reais e é fácil de ser encontrado. Então, em uma família de 4 pessoas o gasto seria de 384 reais por ano, sendo assim acessível ao “bolso” do consumidor.” (A24, 3º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) “Custo médio de um galão contendo 20L de água mineral: 8,0 reais, podendo ser vendidos em pontos comerciais da cidade como mercearias e supermercados. Ou seja, o custo entre todos será menor, não utilizando da energia para utilização”. (A27, 3º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) “O único meio que possibilita um melhor custo e eficiência, dentre a sua qualidade da água, por ser o único que não possui metais apresentados na água, sendo suficiente na qualidade é a sua utilização, além disso por obter substâncias necessárias e eficazes.” (A28, 3o ano – justificativa dada ao Fator Eficiência) Conforme pode ser visto nos exemplos citados de argumentos de Nível 1, em nenhum desses casos são observados o elemento qualificador ou refutação. Nesses, observa-se que o aluno A28 até tenta acrescentar um qualificador a sua resposta (“além disso, por obter substâncias necessárias e eficazes”), mas esse fica sem sentido na frase. A seguir, são apresentados os argumentos de Nível 2 que foram observados entre as justificativas dos alunos do 3º ano. Esses argumentos foram emitidos por aqueles alunos que resolveram o estudo de caso de forma coerente (optaram pela água mineral e a justificaram de 54 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães maneira pertinente), nos quais foi observada a presença do elemento qualificador no argumento. “Levando em conta o custo-benefício citado nas opções anteriores, a água mineral é indiscutível a melhor opção a ser adquirida, sendo assim, podemos considerar que somente a família irar pagar R$32,00 por mês, enquanto as outras opções irá gastar mais e não terá a mesma eficiência e a qualidade da água, por não retirarem metais pesados.” (A28, 3o ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) “É indiscutível o quão vantajoso é adquirir galões de água mineral, pois, considerando uma família de 4 pessoas, o custo mensal será de apenas 32 reais, enquanto o benefício desejado fora alcançado.” (A31 e A32, 3º ano – justificativa dada ao Fator Custo-benefício) Conforme a análise dos dados, foram poucas as ocorrências de argumentos de maior nível de qualidade (no caso, Nível 2). Provavelmente, isso tenha ocorrido pelo fato de, para receberem essa classificação, tais argumentos devem conter dados, justificativa, conclusão e qualificador, o que requer do aluno maior sofisticação da habilidade argumentativa que o requerido para o Nível 1. Essas informações são reforçadas pelo fato de argumentos de Nível 3 e 4 não terem sido observados em nenhuma das turmas analisadas. Observações semelhantes foram feitas por pesquisadores da área ao adotarem metodologias de pesquisa similares a do presente trabalho, dentre esses se destaca JIMÉNEZALEIXANDRE et al. (2000), JIMÉNEZ-ALEIXANDRE (2005) e DUSCHL e ELLEBOGEN (2009). 55 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 6 - Conclusões Na realização da presente pesquisa, o uso da metodologia de estudo de caso para investigar as habilidades do domínio cognitivo de alunos do ensino médio, se mostrou eficiente na coleta de dados, pois permitiu que tais habilidades fossem investigadas, em especial as argumentativas. A partir desse estudo, observou-se que, de maneira geral, na escola estudada, a maioria dos alunos inicia o ensino médio com apenas as habilidades do domínio cognitivo de ordem média desenvolvidas e, portanto, com sérias dificuldades em argumentar, mas que vão desenvolvendo-as no decorrer do curso. Isso ficou evidenciado ao estudar o posicionamento crítico dos alunos diante do problema central abordado no estudo de caso (consumo de água contaminada por metais pesados pela população de uma cidade rica em processos de mineração), o qual era relacionado ao tema do projeto CTS “Mineração e a Qualidade das Águas”. Nessa atividade, foi visto que os alunos, ao se depararem com um problema que não era novo para eles e com a necessidade de propor uma solução para o mesmo, se mostraram aptos a encara-lo, caso esse fosse real, porém foram detectadas algumas dificuldades que podem ter interferido no seu posicionamento crítico: ou seja, (i) localizar o problema central do estudo de caso, (ii) interpretar o enunciado da atividade proposta, (iii) retomar seus conhecimentos, (iv) interpretar os dados fornecidos e associá-los à questão problema do estudo de caso e aos seus conhecimentos, (v) tomar a decisão e justifica-la expressando-se de forma clara e (vi) fazer um julgamento sobre a suficiência dos dados, o que reflete em fazer um julgamento do processo ou de parte dele. Associando as características das respostas dos alunos à taxonomia de Bloom, foi possível perceber que quanto mais recorrentes são as essas dificuldades listadas acima (principalmente as primeiras), mais baixo é o nível das habilidades do domínio cognitivo expressas pelos alunos. Como os alunos do 1º ano foram os que apresentaram um pior desempenho, seguidos pelos alunos do 2º e do 3º, pode-se afirmar que, visando ao desenvolvimento dessas habilidades pelos alunos, deve-se sujeita-los à resolução de atividades que reforcem neles o hábito de realizar leituras críticas e de se expressarem de forma escrita mais claramente. Provavelmente, isso favoreceria sua capacidade de interpretação e de posicionamento crítico diante de fatos, ideias e problemas, além de melhorar sua capacidade de expressão escrita e, consequentemente, a qualidade dos argumentos emitidos e dos julgamentos realizados, os quais foram relativamente baixos. 56 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Focando na análise dos argumentos válidos, foi visto que os alunos investigados apresentam dificuldade de argumentação, uma vez que foram poucos os argumentos observados, os quais foram classificados como de Nível 1 e 2, sendo observado nenhum de Nível 3 e 4. Embora seja comum na literatura encontrar relatos de resultados semelhantes aos observados na presente pesquisa, não se pode descartar o fato de o mais alto grau de dificuldade envolvido nos argumentos de Nível 1, adotado no presente trabalho, ter influenciado no baixo número de argumentos válidos emitidos pelos alunos estudados. Além desse fator e das dificuldades já descritas, apresentadas pelos alunos durante a resolução do estudo de caso, com base na taxonomia de Bloom, pode-se afirmar que esse baixo nível de argumentação detectado se deve ao fato de esses alunos não possuírem as habilidades básicas à tal processo, já que tais habilidades são de ordem superior. Nesse caso, no sentido de desenvolvê-las, são válidas as considerações feitas anteriormente, às quais se acrescenta apenas a utilidade da taxonomia de Bloom para avaliar se as habilidades do domínio cognitivo estão sendo de fato desenvolvidas com as atividades que forem propostas. E, no caso, dessas estarem sendo desenvolvidas, destaca-se a importância e a validade da ferramenta analítica de Toulmin para julgar o nível dos argumentos emitidos por esses alunos. Em geral, como os resultados obtidos estão de acordo com as predições da taxonomia de Bloom, pode-se afirmar que o emprego de instrumentos semelhantes ao adotado no presente trabalho pode favorecer a percepção se seus objetivos de ensino estão sendo alcançados. Baseando nos resultados obtidos, é válido destacar que, embora os alunos da escola investigada cheguem ao ensino médio, em geral, com apenas as habilidades de ordem média desenvolvidas, pode-se afirmar que a escola envolvida no presente estudo vem atendendo aos propósitos atuais de ensino, uma vez que a maioria de seus alunos que está terminando essa fase de estudo com as habilidades de ordem superior desenvolvidas. Isso apresenta indício de que a mesma vem atendendo às premissas atuais de ensino, as quais tem preconizado o desenvolvimento de habilidades que tornem o aluno letrado cientificamente e apto ao exercício crítico da cidadania. Quanto à presente pesquisa, em geral, é importante ressaltar sua relevância para o contexto escolar, uma vez que instrumentos baseados em metodologias semelhantes, quando aplicados em contextos autênticos ou semi-autênticos (como foi o caso), são importantes ferramentas para propiciar aos alunos uma formação mais ampla lhes seja útil tanto para seus estudos futuros quanto para o exercício da cidadania. Nessa perspectiva, há ainda que se ressaltar a 57 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães importância de o professor desenvolver essas habilidades do domínio cognitivo e de se capacitar para trabalhar com o desenvolvimento das mesmas dentro do contexto escolar, uma vez que, apenas aplicar instrumentos como o que foi utilizado no presente trabalho, pode não ser suficiente para o desenvolvimento das habilidades dos alunos e, consequentemente, para a formação mais ampla do mesmo. 7 – Reflexões finais A elaboração de um TCC abordando o tema de habilidades dentro de um contexto sóciocientífico foi de grande importância para minha formação profissional, pois tive a oportunidade de conhecer melhor algumas importantes linhas de pesquisa que me serão fundamentais tanto no exercício da docência quanto na realização de pesquisas futuras. Dentre as áreas que tive de aprofundar meus conhecimentos para produzir esse TCC, destaca-se a perspectiva de ensino CTS, pois, além dessa já me chamar a atenção desde antes de iniciar minha pesquisa, com as leituras pude perceber o quão ampla, abrangente e importante a mesma pode ser para o contexto escolar. Em tal perspectiva de ensino, é possível trabalhar uma grande variedade de conceitos científicos, cuja abordagem, conforme a metodologia adotada, pode ser adaptada para alunos de vários contextos sociais, culturais e econômicos, sendo, por isso, uma potencial promotora dos atuais objetivos de ensino. Nessa perspectiva, ter conhecido mais sobre a metodologia de estudo de casos foi muito interessante, pois, embora essa não seja muito aplicada a alunos do ensino médio, com a realização do presente trabalho pude perceber que a mesma pode surtir bons resultados se utilizada no ensino médio para abordar conceitos científicos e para trabalhar o desenvolvimento de habilidades. Dentro desse contexto, é válido ressaltar o quanto pode ser útil o uso da taxonomia de Bloom para a elaboração de propostas de ensino que sejam coerentes com os conhecimentos e as habilidades desenvolvidas pelos alunos, bem como para avaliar se os objetivos previamente definidos para a mesma estão sendo atingidos. Por fim, focando no estudo das habilidades argumentativas, foi bom ter a oportunidade de trabalhar com a ferramenta analítica de Toulmin, pois pude perceber o quão a mesma é válida tanto na análise da qualidade de argumentos, quanto na avaliação das habilidades argumentativas de um indivíduo. Observa-se que quanto mais elementos coerentes e bem 58 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães correlacionados um indivíduo é capaz de apresentar no seu argumento, melhor desenvolvida encontra-se sua habilidade em argumentar. Acredito que ter me aprofundado no estudo das habilidades cognitivas me tornou mais apta e segura a levar para a sala de aula, quando oportuno, as ideias, as metodologias e as ferramentas que conheci e utilizei na elaboração do presente trabalho. Além disso, sinto-me mais bem preparada para o desenvolvimento de pesquisas futuras nessa área. 8 - Referências Bibliográficas ANDERSON, L. W. ; KRATHWOHL, D. R.; AIRASIAN, P. W.; CRUIKSHANK, K. A.; MAYER R. E.; PINTRICH, P. R.; RATHS, J.; WITTROCK, M. C. A taxonomy for learning, teaching and assessing: a revison of Bloom‟s Taxonomy of Educational Objectives. Nova York: Addison Wesley Longman, 2001. 336 p. BERLAND, L. K.; REISER, B. J. Making Sense of Argumentation and Explanation. Science Education, v. 93, n°1, p. 26-55, 2009. BERLAND, L. K.; REISER, B. J. Classroom Communities' Adaptations of the Practice of Scientific Argumentation. Science Education, v. 95 n°2, p. 191-216, 2010. BILLING, M. 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Nesse último caso, isso pode vir a ser necessário, pois não houve qualquer acordo com as empresas para a utilização de seus nomes, imagens etc.. 104 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Símbolo do Colégio Identificação do colégio Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Exatas e Biológicas Projeto CTS: Mineração e a Qualidade das Águas Aluno:______________________________________ Turma:_________________ Data:_______________ Integrantes do grupo:_____________________________________________________________________ Atividade Avaliativa: Faça o estudo de caso abaixo, lendo o texto com atenção e resolvendo as questões propostas. Texto: “Há cerca de um mês, uma escola da cidade de Esperança, localizada no interior de Minas Gerais em uma área com atividade mineradora, divulgou a seguinte nota: Prezados professores, alunos e amigos, é com grande pesar que comunicamos que a professora Maria das Graças se ausentou da escola por tempo indeterminado por motivo de tratamento de um câncer de pele recentemente diagnosticado. A ela que atua em nossa instituição há mais de 30 anos zelando pela qualidade dos nossos serviços e, principalmente, colaborando com a formação de inúmeros jovens e adultos, nós desejamos muita fé e coragem para vencer essa batalha e retornar às suas atividades o quanto antes. A direção. Toda a comunidade escolar, ao tomar conhecimento do estado de saúde da professora, ficou muito comovida, uma vez que se tratava de uma pessoa muito querida, por ser sempre amiga de todos, e muito admirada, por ser uma profissional exemplar. Marcos, um garoto de 16 anos que foi seu aluno desde o préprimário, ao saber da notícia, contou logo para seu pai, Dr. João, que era médico, o que a professora estava passando. Conversando, João disse ao filho que dentre as possíveis origens para essa doença estava a possibilidade da água que ela consumiu durante toda a sua vida estar contaminada por diversos metais pesados, inclusive com arsênio. Além disso, ele relatou que era frequente os hospitais da região receberem pacientes com problemas dermatológicos, os quais eram normalmente associados a esse tipo de metal pesado. Curioso, na tentativa de esclarecer essa possiblidade, Dr. João procurou Carlos, o responsável técnico da estação de tratamento de água da cidade de Esperança, o qual afirmou que as técnicas de tratamento utilizadas naquela estação não eram eficientes para remover metais pesados da água. Quando Carlos soube que o motivo da preocupação de João era o fato dessa contaminação poder estar trazendo problemas de saúde a vários moradores da região, enviou uma amostra da água tratada em Esperança para ser analisada em um laboratório da capital. Quinze dias depois veio o laudo técnico que comprovava a contaminação da água por arsênio em níveis muito acima dos recomendados pelos órgãos de saúde. Diante dessa constatação, Marcos informou seus amigos de classe e lhes solicitou ajuda para ver o que poderia ser feito para resolver essa situação nos meios em que vivem, ou seja, em casa, na escola e no comércio, já que se eles continuassem a consumir águas com essas caraterísticas, futuramente eles poderiam vir a passar por problemas semelhantes ao da professora Maria das Graças.” 105 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Vocês são os colegas de classe de Marcos que ficaram sensibilizados com a situação da querida professora Maria das Graças e com o fato da água da cidade estar contaminada por arsênio. Logo, vocês terão de ajudá-lo a encontrar uma solução para o problema de consumo dessa água na cidade de Esperança. Informações úteis: Uma solução eficiente para o problema de contaminação da água por metais pesados, inclusive o arsênio, seria reformar a Estação de Tratamento de Água da cidade, implementando unidades que promoveriam a adsorção dos metais pesados presentes na água, além de reformar a tubulação da cidade para distribuir igualmente essa água tratada a toda população (zona rural e urbana). Como isso custaria para a prefeitura valores muito acima da sua arrecadação anual de impostos, seria inviável promover essa reforma em menos de quatro anos. Porém, a população não pode ficar ingerindo uma água com tais características, pois as consequências para a saúde dessas pessoas já vêm sendo observadas ao longo dos anos. Portanto, dentre as opções abaixo, escolha aquela que represente uma solução simples, eficiente e econômica para contornar/minimizar o problema de ingestão de água contaminada até que a prefeitura possa realizar a obra e a população passe a usufruir de uma água mais adequada para o consumo. Para isso, considere as informações abaixo, levando em consideração os fatores saúde, custo-benefício e eficiência: INFORMAÇÕES GERAIS: Em média, o consumo mensal de água para beber de um ser humano (desconsiderando a idade) é de 20 litros. A renda média das famílias da cidade de Esperança é de aproximadamente R$2000,00, sendo pelo menos R$1700,00 comprometidos com as despesas fixas da família (telefone, luz, supermercado...). Raio atômico do arsênio: 0,000000119µm. Obs.: 1µm = 10-6 m OPÇÃO 1: Filtro de cerâmica da marca São João, de 6 litros (figura 1): Custa aproximadamente R$120,00, em um site de compras na internet. É indicado para a remoção de material particulado com dimensões maiores que 1µm. Sua manutenção requer apenas a lavagem das velas, o que pode ser facilmente feito em casa. Figura 1: Filtro Tradicional de Água São João. 106 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães OPÇÃO 2: Água Mineral (Figura 2): Custo médio de um galão contendo 20L de água mineral: R$8,00, vendido em pontos comerciais da cidade (supermercados, mercearias...). A manutenção envolve apenas a substituição dos galões vazios e a devida higienização do mesmo. Figura 2: Rótulo de água mineral da marca “Igarapé”. OPÇÃO 3: Purificador de água “By Hebe - SNTA” da marca Europa (Figura 3): Figura 3: Purificador de água “By Hebe”, da marca Europa, com filtro de Tecnologia SNTA. Custa cerca de R$300,00 diretamente com o produtor. É indicado para filtrar e purificar a água previamente tratada, por estação de tratamento de água (ETA). Utiliza a tecnologia SNTA (Sistema Natural de Tratamento de Água), composto por elementos naturais, como dolomita, quartzo, carvão ativado impregnado com prata. Retém as impurezas sólidas maiores que 0,5µm, adsorve o cloro, remove substâncias químicas, turbidez e retira odores e sabores desagradáveis causados pelo cloro. Sua manutenção requer a retrolavagem do filtro a cada 7 dias de uso e a troca do refil (unidade filtrante) a cada 3000 litros de água filtrada. O preço de cada refil é de, aproximadamente, R$70,00. 107 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães OPÇÃO 4: Purificador de água “Summer line UVLS+HF”, da marca Europa (Figura 4), Figura 4: Purificador de água “Summer line UVLS+HF”, da marca Europa, com filtro de tecnologia UVLS+HF. Custa cerca de R$2100,00. Seu uso é indicado em águas que passam previamente pelo tratamento convencional em uma ETA. Utiliza a tecnologia UVLS+HF (UVLS System + Hollow Fiber), a qual consiste em uma combinação de um sistema de luz ultravioleta (para desinfecção) com um aglomerado de fibras ocas (para filtração de partículas com dimensões superiores a 0,3µm). Elimina coliformes totais, fecais e bactérias patogênicas como o Vibrio cholerae, que possam estar presentes na água. Filtra impurezas sólidas, adsorve o cloro, remove turbidez e substâncias químicas. Retira sabores e odores desagradáveis causados pelo cloro. Sua manutenção demanda a retrolavagem do filtro a cada 7 dias de uso, a troca das câmaras de purificação a cada 6000 litros de água filtrada e troca da lâmpada ultravioleta a cada 7200 horas de uso (custo médio de manutenção R$200,00). 108 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Atenção: Elabore sua resposta com a maior riqueza de detalhes possível. Escolha: Fator Saúde: Fator Custo-benefício: Justificativa para a escolha: Fator Eficiência: 109 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Responda as questões abaixo: 1. Os dados fornecidos na atividade anterior foram suficientes para você fazer sua escolha entre as opções apresentadas? Se não foram, quais outras informações você julga que deveriam lhe ter sido fornecidas para facilitar a sua decisão? Justifique sua resposta. 2. As discussões realizadas durante a aplicação do “Projeto CTS: Mineração e a Qualidade das Águas” favoreceram sua análise e tomada de decisão do estudo de caso proposto? Em caso positivo, cite quais foram as discussões que mais lhe auxiliaram e indique o porquê delas terem sido importantes. 110 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães 9.3 - Termo de consentimento às filmagens e à cópia dos materiais escritos pelos alunos A seguir, são apresentados os termos de consentimento às filmagens e à cópia dos materiais escritos que foram assinados pelos alunos maiores de idade que participaram da pesquisa e pelos pais dos alunos menores de idade que participaram da pesquisa. Da mesma forma como feito com o instrumento de coleta de dados, por questões éticas, foram descaracterizadas todas as informações que permitiam a identificação do colégio onde foi feita a coleta de dados para a presente pesquisa. 9.3.1 - Direcionado aos alunos maiores de idade Termo de consentimento livre e esclarecido direcionado aos alunos Prezado aluno do (Identificação do colégio) visando a avaliar o desenvolvimento de habilidades argumentativas em um contexto sóciocientífico, a aluna de Licenciatura em Química Damaris Guimarães juntamente com as estagiárias Neucilene Carneiro Fernandes e Adriana de Oliveira Gomes sob orientação de Paula Cristina Cardoso Mendonça realizarão a filmagem da aplicação do projeto CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade): “Mineração e qualidade das águas” para fins de um Trabalho de Conclusão de Curso. Esse projeto tem como objetivo investigar o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades relacionados à mineração e a qualidade das águas da região. Para o desenvolvimento da pesquisa serão realizadas aplicações de questionários, filmagem de todas as aulas durante a aplicação do projeto e cópia do material escrito pelos alunos pela aluna de Licenciatura em Química Damaris Guimarães e pela bolsista Pró-Ativa Renata Aparecida. O material obtido terá função exclusivamente pedagógica, com finalidade de auxiliar na pesquisa, complementando as fontes de dados. Nesse sentido, necessitamos de sua autorização para que as aulas sejam filmadas e o material escrito seja copiado. Caso você, por algum motivo, não queira participar da pesquisa, seus dados não serão analisados. Visando a atender aos princípios de ética da universidade, solicitamos que você preencha e devolva uma das cópias desse termo de consentimento assinada. Informamos, também, que você poderá retirar esse consentimento a qualquer momento e que não terá prejuízo algum por isso. Caso ainda exista alguma dúvida a respeito dessa pesquisa, por favor, entre em contato conosco pelo telefone (31)3559-1226 ou no endereço: Sala 5, ICEB bloco 3, Departamento de química, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG. Desde já, agradecemos sua colaboração para a realização dessa pesquisa. 111 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Atenciosamente, Responsável pela pesquisa: Paula Cristina Cardoso Mendonça Corresponsável pela pesquisa: Damaris Guimarães AUTORIZAÇÃO Declaro que estou suficientemente esclarecido(a) sobre a realização do projeto CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade): “Mineração e qualidade das águas”. Concordo com a filmagem das atividades de aplicação do projeto e com a cópia do material escrito apenas para fins pedagógicos relativos à pesquisa. Estou plenamente esclarecido que minha identidade não será revelada e que os dados serão utilizados única e exclusivamente para os fins explicitados. Nome do(a) aluno(a): ________________________________________________________________ Assinatura: _________________________________________________________________________ C.I.: _______________________________________________________________________________ 9.3.2 - Direcionado aos pais Termo de consentimento livre e esclarecido direcionado aos responsáveis pelos alunos Prezado aluno do (Identificação do colégio), visando a avaliar o desenvolvimento de habilidades argumentativas em um contexto sóciocientífico, a aluna de Licenciatura em Química Damaris Guimarães juntamente com as estagiárias Neucilene Carneiro Fernandes e Adriana de Oliveira Gomes sob orientação de Paula Cristina Cardoso Mendonça realizarão a filmagem da aplicação do projeto CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade): “Mineração e qualidade das águas” para fins de um Trabalho de Conclusão de Curso. Esse projeto tem como objetivo investigar o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades relacionados à mineração e a qualidade das águas da região. Para o desenvolvimento da pesquisa serão realizadas aplicações de questionários, filmagem de todas as aulas durante a aplicação do projeto e cópia do material escrito pelos alunos pela aluna de Licenciatura em Química Damaris Guimarães e pela bolsista Pró-Ativa Renata Aparecida. O material obtido terá função exclusivamente pedagógica, com finalidade de auxiliar na pesquisa, complementando as fontes de dados. 112 Trabalho de Conclusão de Curso – Damaris Guimarães Nesse sentido, necessitamos de sua autorização para que as aulas sejam filmadas e o material escrito seja copiado. Caso, por algum motivo, seu filho (a) não queira participar da pesquisa, os dados dele não serão analisados. Visando a atender aos princípios de ética da universidade, solicitamos que você preencha e devolva uma das cópias desse termo de consentimento assinada. Informamos, também, que você poderá retirar esse consentimento a qualquer momento e que seu filho não terá prejuízo algum por isso. Caso ainda exista alguma dúvida a respeito dessa pesquisa, por favor, entre em contato conosco pelo telefone (31)3559-1226 ou no endereço: Sala 5, ICEB bloco 3, Departamento de química, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG. Desde já, agradecemos sua colaboração para a realização dessa pesquisa. Atenciosamente, __________________________________________________________________________________ Responsável pela pesquisa: Paula Cristina Cardoso Mendonça Corresponsável pela pesquisa: Damaris Guimarães AUTORIZAÇÃO Declaro que estou suficientemente esclarecido(a) sobre a realização do projeto CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade): “Mineração e qualidade das águas”. Concordo com a filmagem das atividades de aplicação do projeto e com a cópia do material escrito apenas para fins pedagógicos relativos à pesquisa. Estou plenamente esclarecido que a identidade do meu filho(a) não será revelada e que os dados serão utilizados única e exclusivamente para os fins explicitados. Nome do(a) aluno(a): ________________________________________________________________ Nome do(a) responsável: _____________________________________________________________ Assinatura do(a) responsável: __________________________________________________________ C.I.: _______________________________________________________________________________ 113