Soldagem
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Soldagem
Publicação institucional da ESAB Brasil Abril / 2005 1904 - 2004 ESAB 100 anos Um século de desenvolvimento em soldagem e corte. • Rua Zezé Camargos, 117 • Cidade Indústria • Cep. 32210-080 • Contagem / MG ÍNDICE Autobiografia de Oscar Kjellberg 5 • O inventor do eletrodo revestido descreve seu trabalho e sua vida. Oscar Kjellberg – inventor e visionário 8 • Quem foi Oscar Kjellberg? O que o motivou? Descobrindo novas fronteiras 16 • Um século de expansão global • A ESAB, que começou bem pequena em 1904, é agora uma empresa internacional. • Leia tudo sobre a expansão da ESAB durante um século de soldagem. Uma tarefa diferente 26 • Esta história nos leva de volta a 1914, quando Ragnar Asander viajou de trenó para a Rússia para consertar uma serraria usando o mais novo método de soldagem de Oscar Kjellberg. Uma história da Soldagem 30 • Este artigo ressalta a história da soldagem a arco que começou no final do século XIX. Da vareta de solda ao sucesso - Revelando a história do eletrodo revestido 34 • O sucesso do eletrodo revestido durante o século XX. Soldagem de navios, uma questão de classificação 39 • As regras unificadas das Sociedades Classificadoras são uma valiosa ferramenta na construção de navios. Avanços na tecnologia de soldagem ilustrados em selos postais 42 • Dr. Sejima analisa a história da soldagem através de uma seleção de imagens tiradas de sua coleção de selos. Aços inoxidáveis - passado, presente e futuro 45 • Este artigo resume sucintamente a história do desenvolvimento do aço inoxidável e analisa algumas tendências futuras. O futuro da soldagem e da junta 52 • Desde a invenção do eletrodo revestido, há 100 anos, vários outros processos de soldagem foram inventados. O que o futuro nos reserva? A história da soldagem em alumínio • Para apreciar a história da soldagem em alumínio, é importante conhecer a história do material em si. 59 E D I TO R I A L Este número especial da Revista Solução é uma tradução da Revista Svetsaren, comemorativa do centenário da ESAB, ocorrido em 12 de setembro de 2004. Para nós, da ESAB Brasil, é uma oportunidade de reafirmarmos nosso compromisso de trazer para nossos clientes e para a comunidade da soldagem a melhor tecnologia em processos, métodos e produtos para soldagem e corte, princípios que estiveram sempre presentes na nossa Empresa, nesses cem anos de existência. 2005 trás para nós outro motivo de puro orgulho, com as comemorações, em setembro, do cinqüentenário da instalação da nossa Fábrica de Eletrodos de Contagem (MG), que marcou o início de uma relação de parceria e compromisso com o desenvolvimento do Brasil, que perdura até hoje. Naquele longínquo 1955, quando a família Pareto se associou à ESAB Suécia para criar aquela que viria a ser a maior empresa de soldagem e corte da américa Latina, um sentimento se incorporou ao espírito da nossa Empresa e se mantém até hoje: acreditar no Brasil, na capacidade dos brasileiros e na superação permanente de desafios para crescer e se fortificar. Iniciamos este novo período da nossa história com espírito renovado de nossos fundadores. Estamos investindo em novos mercados, novas tecnologias, novos produtos, ampliando nossa capacidade de produção. Temos uma longa história a nos suportar. Temos um longo futuro ainda por construir. Nossos agradecimentos a todos os colaboradores que, nesses 50 anos, ajudaram a formar a ESAB de hoje. No dia 12 de setembro de 2004, comemoramos 100 anos de ESAB. O mundo está agora muito diferente daquele que Oscar Kjellberg, fundador da ESAB, conheceu no princípio do século passado. Naquela época, a fabricação pesada em aço estava centrada na Europa e Estados Unidos, enquanto que hoje a geografia de produção é literalmente global, com novas economias na Ásia e mercados emergentes definindo o ritmo na construção de navios e de outras indústrias de consumo intensivo de aço. Ao longo dos períodos subseqüentes, muitos materiais e processos surgiram criando oportunidades de expansão e desenvolvimento. O sucesso de nossa indústria, e da forma como a servimos melhor, sempre dependeu da troca ativa de idéias, técnicas e experiências entre clientes, fornecedores, institutos de soldagem e nossos próprios engenheiros. Por quase setenta anos Svetsaren tem sido uma peça chave na motivação desse intercâmbio. O meu obrigado especial a Bertil Pekkari, coordenador aposentado da Svetsaren, que, juntamente com o editor Ben Altemühi e outros membros da equipe editorial, compilaram esta edição especial centenária e deram continuidade a uma longa tradição como guardiões desta extraordinária revista informativa. Jon Templeman Diretor-Presidente ESAB Holdings Limited Edição Especial - Tradução da Revista Svetsaren, editada pela ESAB da Suécia, em comemoração aos 100 anos da Empresa. Publicação institucional da ESAB Brasil Rua Zezé Camargos, 117 – Cidade Industrial Cep. 32210-080 – Contagem – MG [email protected] - www.esab.com.br Diretor Presidente – Dante de Matos Diretor de Vendas – Newton de Andrade e Silva Diretor Industrial – Luís Cláudio Assis de Mattos Diretor Financeiro – Ernesto Eduardo Aciar Gerente de Marketing – Antonio Plais Produção: Prefácio Comunicação – 31-3372-4027 4 Autobiografia de Oscar Kjellberg Viaje de volta a março de 1918 e leia como o inventor do eletrodo revestido descreve sua vida e seu trabalho. N asci na paróquia de Arvika, em 21 de setembro de 1870, e fui o mais velho de cinco irmãos. Minha mãe se chamava Karolina e meu pai Johannes Kjellberg, um trabalhador ferroviário empregado por uma empresa britânica. Meu pai foi assassinado em Heatings, nos EUA. Saí da escola em 1886, quando então comecei a pagar pela minha educação. Torneime um aprendiz na Oficina Mecânica de Kristinehamn e trabalhei em diferentes departamentos até a primavera de 1890, quando fui para o mar para obter qualificações práticas de trabalho com maquinário e para ganhar dinheiro para custear meus estudos superiores. Ao longo dos anos que se seguiram, trabalhei em vários navios a vapor, dentre eles dois anos no Guernsey af Tönsberg, na época o maior navio dos países nórdicos. Em 1894 e 1895, trabalhei na Oficina Mecânica de Kockum, em Malmö. Na primavera de 1896 me formei como segundo oficial de máquinas pela Escola Naval de Malmö. Trabalhei como responsável pela sala de máquinas em navios suecos, rus- sos e noruegueses, em diversas águas. Em 1898, me qualifiquei como chefe de máquinas pela Escola Naval de Malmö e imediatamente aceitei um emprego de chefe de máquinas na Hallands Angbats Aktiebolag. Durante vários períodos de licença para estudo, trabalhei como aprendiz na Fretzner em Laura Hytte e na Ottenser Eisenwerk, as maiores e mais modernas oficinas de caldeiras a vapor da Europa, naquela época. Em 1902, me formei como Engenheiro Naval pela Escola Técnica de Bremen. Este título me qualificava para trabalhar como engenheiroresponsável nos maiores navios de passageiros da Alemanha. Em 1903, passei em um exame especial de Eletroengenharia na Escola Naval de Göteborg. Desde que iniciei minha carreira técnica, me senti insatisfeito com os métodos de reparo e de remendos usados nos navios, em suas caldeiras a vapor e nos componentes de máquinas em geral. Nos idos de 1900, comecei a investigar como qualquer um destes itens de equipamento tinha sido reparado usando soldagem. Carregar grandes componentes de máquina para dentro de um alto-forno estava fora de questão, e era então necessário considerar o uso de eletricidade como o meio de aquecimento que poderia, na prática, ser “levado” para a peça de trabalho em um arame de cobre. No entanto, primeiramente era necessário estudar o que tinha sido feito nesta área. Descobri que pessoas de diversos países já haviam pesquisado sobre esse assunto seriamente e, em 1864, uma patente relativa ao uso de eletricidade tinha sido registrada. Ao final da década de 1880, a literatura da época mencionava com muito entusiasmo a soldagem elétrica. No entanto, os métodos não obtiveram sucesso por várias razões que os pesquisadores da época ignoravam. A soldagem elétrica foi um fracasso total. Desta forma, o terreno era ainda virgem mas, como problemas existem para serem superados, decidi investigar por que os engenheiros daquela época 5 não tinham analisado o assunto por completo. Estudos aprofundados sobre o que eles haviam feito provaram que esse era o problema. Obtive sucesso ao enxergar os erros dos meus predecessores e aprender com eles. Perseverei em meus experimentos e estes produziram resultados favoráveis, endossando, assim, minha convicção de que uma solução poderia ser encontrada. No princípio de 1904, meus experimentos tinham avançado a tal ponto que o primeiro trabalho prático poderia ter início. O trabalho envolvia soldar os cilindros e as mangas do aparelho de ancoragem do canhoneiro H.M. Svensksund, que tinha congelado e quebrado. Este canhoneiro funciona até hoje sem problemas. Em meados de 1904, fundei a empresa Elektriska Svetsnings Aktiebolaget, da qual sou o presidente desde então, para aproveitar o sucesso obtido no campo da soldagem elétrica. Nos anos de 1904, 1905 e 1907, as primeiras patentes foram registradas e obtidas. Dentre elas, a de 1907 estabelecia os fundamentos para uma era totalmente nova na soldagem elétrica, visto que essa invenção tornou possível eliminar o oxigênio do ar ao redor da peça de trabalho exposta ao calor da soldagem. A presença do oxigênio tinha um efeito maléfico e variava significativamente as propriedades mecânicas e químicas da junta de solda. 6 A soldagem na parte inferior do objeto também se tornou possível. Para alcançar isso, o efeito da gravidade no ferro fundido tinha que ser eliminado. Tal resultado foi alcançado manuseando as forças de adesão e coesão para produzir o que poderia ser descrito como uma ‘força ou movimento capilar conjugado’ que atuava no material metálico fundido e que tinha que ser transferido do eletrodo de trabalho para a peça. Como essa força é maior que a gravidade, o ferro fundido do eletrodo de trabalho gravita para cima em direção à peça. Outras patentes foram obtidas para melhorias nesse método. Os anos que se passaram não foram exatamente um mar de rosas, devido à desconfiança total que havia frente à soldagem elétrica na época em que meu método foi desenvolvido. Dar à soldagem elétrica uma reputação mundial foi uma tarefa extremamente difícil, principalmente na Suécia. Os resultados foram tão positivos que esse método de soldagem é, ainda hoje, o mais utilizado e tem sido patenteado e introduzido em todos os países industrializados. No momento, pelo menos 3.000 hp (horse-power) estão certamente sendo utilizados para desempenhar esse trabalho na Suécia e, em nível mundial, dezenas de milhares de horse-power estão sendo utilizados para o mesmo objetivo. Obter reconhecimento no meu próprio país não tem sido fácil. A imprensa especializada não compreendeu nada, e os técnicos mais experientes, além do falso descrédito, tiveram a coragem de apoiar e estimular a exploração desleal e o roubo de bens técnicos que pertenciam a mim e à minha empresa. A mesma coisa também aconteceu fora da Suécia, apesar do fato ser menos surpreendente. Apesar disso, a imprensa internacional, os consultores de destaque e princi- palmente os técnicos estrangeiros têm valorizado mais o trabalho que vem sendo feito aqui do que os próprios suecos. Por exemplo, a revista francesa L’Usine, acostumada a falar apenas da indústria de engenharia mecânica francesa, escreveu o seguinte no dia 7 de janeiro de 1917: “Para resolver os problemas colocados pela soldagem elétrica usando um eletrodo de metal como uma vareta de solda, foi necessário encontrar uma forma de forçar o arco em uma determinada direção e então trazer o metal de soldagem para o ponto preciso necessário, a fim de criar uma junta de solda uniforme, e fazer isso usando um arco suficientemente fraco para evitar danos à peça de trabalho.” “Esse problema foi solucionado pelo engenheiro O. Kjellberg, de Göteborg, Suécia, de uma forma tão elegante e direta que quiseram até ‘a priori’ negar-lhe o valor de sua invenção. Entretanto, o fato de essa solução ter sido finalmente encontrada após 25 anos de tentativas infrutíferas e de ter tido sucesso ao criar um método de soldagem elétrica industrialmente aplicável, o que pode ser facilmente comparado com a soldagem a maçarico, é um sinal claro de que trata-se realmente de uma invenção. Essa invenção é de um valor ainda maior, pois não exige o uso de diversos equipamentos elétricos e mecânicos frágeis. Na verdade, ela envolve o uso de equipamentos conhecidos, o que permite resultados benéficos imediatos.” Algumas pessoas pensam que esse trabalho me enriqueceu e me proporcionou uma boa vida, mas não foi bem assim. No entanto, até hoje tem sido minha fonte de renda e aqueles que vêm me apoiando lealmente e promovendo meu trabalho não estão decepcionados. Estou satisfeito, abraçando a teoria básica de que as pessoas persistentes triunfarão, enquanto que as preguiçosas e que vivem injustamente do suor dos outros serão um dia os perdedores. As gerações futuras decidirão se os meus esforços foram importantes e se os resultados foram para o bem geral. Partille, 28 de março de 1918. 7 Oscar Kjellberg Inventor e Visionário Por: Bo Sörensson, ex-funcionário da ESAB AB, Gothenburg. O s primeiros anos da ESAB estão for temente ligados a seu fundador, Oscar Kjellberg. As invenções e a for mação da Elektriska Svetsnings Aktiebolaget (ESAB), estabelecendo a marca do grupo no mundo inteiro, resumem a vida profissional deste homem extraordinário. Desde 1904, vários autores já escreveram sobre a história da ESAB. Porém, Kjellberg, o homem, sempre foi ofuscado por suas conquistas. Então, quem foi ele? E o que o motivou? 8 Oscar Kjellberg nasceu em uma época de progresso tecnológico sem precedentes. A segunda metade do século XIX viu uma ampla inovação em todo campo científico e técnico desde a medicina até a produção, estabelecendo os fundamentos do mundo que conhecemos hoje. Em toda a Europa e América do Norte, revoluções industriais transformaram economias nacionais totalmente agrícolas para industrializadas, auxiliadas pelo desenvolvimento do transporte mecanizado. Uma nova raça de engenheiro-empreendedor, exemplificada por Robert Stephenson, Isambard Kingdom Brunei, Thomas Edson, Karl Benz, Samuel Colt e os Irmãos Wright, surgiu paralelamente. A Suécia também acolheu pioneiros industriais que exibiram a habilidade de inovar e depois montar empresas que sobreviveram e prosperaram. Assim como Oscar Kjellberg, nascido em 1870, na pequena vila de Mötterud, Gustaf de Laval (inventor da primeira turbina a vapor usável), Gustaf Dalén (inventor do equipamento de farol e diretor presidente da AGA) e C.E. Johansson (as primeiras cunhas) pertencem a este clube de pioneiros. Oscar foi o primogênito de Johannes e Karolina Kjellberg, que juntos tiveram cinco filhos. Johannes, seu pai, trabalhador ferroviário, emigrou para o Canadá no início da década de 1880, na esperança de achar trabalho para sustentar a família. Infelizmente, pouco tempo depois de sua chegada, morreu no local de trabalho, sob circunstâncias até hoje obscuras. Oscar Kjellberg tinha 12 anos e esta foi com certeza uma época muito complicada para toda a família. Apesar das dificuldades, ele conseguiu continuar seus estudos e, aos 16 anos, matriculou-se como aprendiz na Kristinehamns Mekaniska Verkstad. Dizem que ele era um aluno muito esforçado e quieto e que não se contentava com as aulas que recebia durante o dia. Para tanto, pegava emprestado na biblioteca livros especializados em engenharia mecânica e os estudava durante boa parte de suas noites. Há um relato de sua época em Kristinehamn. Certa noite, Kjellberg estava sentado no banco do porto quando então começou uma conversa com um homem idoso. Este senhor era Axel Broström, que já havia começado a construir um império de navios, o futuro Grupo Broström. Dizem que Axel Broström comentou que alguém deveria inventar um processo onde as placas que formam o casco do barco pudessem ser soldadas ao invés de rebitadas. Kjellberg, na época com 17 anos, supostamente respondeu: “Pois não, isto não deve ser impossível!” Em 1888, Oscar Kjellberg se candidatou para trabalhar para Axel Broström e foi imediatamente empregado como aprendiz de sala de máquinas, talvez pela lembrança da passagem no porto. Ele trabalhou por quatro anos em diversos navios da frota da Broström, além de estudar à noite. Aos 22 ele foi para o mar para trabalhar como engenheiro de montagem na Kockums Mekaniska Verkstad, em Malmö, enquanto continuava seus estudos. Quatro anos depois, finalizou seus exames e estava habili- tado a assumir a posição de responsável pela sala de máquinas. Trabalhou em vários navios nos dois anos subseqüentes, enquanto continuava com o lado teórico de seus estudos e, em 1898, passou no exame para engenheiro chefe. Kjellberg teve a oportunidade de trabalhar e continuar se especializando na Alemanha. Aos 32 anos, passou no exame para engenheiro naval. No ano seguinte, acrescentou a engenharia elétrica à sua lista de qualificações. Em 1903, Oscar Kjellberg já possuía uma educação teórica invejável, boas qualificações e 15 anos de experiência, principalmente em navios a vapor. Ele então teve a oportunidade de trabalhar como responsável téc- nico em um dos maiores navios da época, uma opção nada difícil. Mas não para Oscar Kjellberg, no entanto. Todo aquele conhecimento adquirido enquanto trabalhava para seu próprio sustento, toda aquela experiência que tinha acumulado, parece ter sido um preparo para alcançar o sonho vislumbrado naquela noite em Kristinehamn e na rápida conversa no porto. “Pois não, isto não deve ser impossível!” O inventor Ao invés de investir na carreira como técnico responsável geral em um dos maiores navios a vapor do mundo, Oscar Kjellberg alugou uma pequena oficina A pequena oficina em Henriksberg, em Gothenburg, onde Oscar Kjellberg conduziu seus primeiros experimentos 9 Um exemplo da escrita perfeita de Oscar Kjellberg próxima ao cais de Masthuggskajen, em Gothenburg, onde começou seus experimentos com soldagem. Ele tinha conhecimento das tentativas anteriores com a soldagem elétrica, e encontrou artesãos que sabiam soldar usando os métodos de então. O importante foi que ele estava totalmente a par das duas grandes falhas nos processos de soldagem existentes. Em primeiro lugar, a junta soldada não tinha a mesma qualidade que o metal base. Pelo contrário, ela costumava ser mais frágil e porosa. Em segundo lugar, nem todas as posições de soldagem podiam ser manuseadas com sucesso; a soldagem acima da cabeça, por exemplo, era pratica- 10 mente impossível. Para que a soldagem se tornasse o método universal de reparo que ele aspirava, ele precisaria resolver estes dois graves problemas. Um de seus pontos fortes foi sua própria experiência prática como engenheiro chefe em um navio a vapor. As caldeiras do navio eram rebitadas e, sem exceção, começavam a vazar depois de algum tempo. Este era um problema sério, pois a pressão não podia ser contida, o que resultava em redução da potência do motor. Desta forma, vazamentos tinham que ser selados o quanto antes. Uma prática comum era forçar um prego com formato de cunha, seguido de linho e bainha, para dentro da junta de vazamento. Esta tarefa era muito difícil, realizada sob as piores condições imagináveis. A caldeira tinha que ser resfriada para que os trabalhadores pudessem suportar o trabalho nela. Além disso, os vazamentos ocorriam também na parte de baixo da caldeira, tornando o acesso ainda mais difícil. Como um engenheiro de navio, Oscar Kjellberg tinha experiência de reparo destes tipos de vazamento e estava motivado a desenvolver um método melhor e mais permanente de reparo. O princípio de soldagem elétrica era bem conhecido e explicado em mais de 300 patentes. Contudo, a metodologia existente não era capaz de oferecer uma solução viável para reparo das caldeiras. A vantagem de Kjellberg foi sua concepção de que a solução, apesar de tudo, se encontrava dentro do escopo da soldagem elétrica. Bastava que o método e o equipamento fossem aprimorados. Trabalhando em sua oficina experimental, ele assumiu a tarefa de desenvolver uma solução completa, contendo tanto o método quanto o equipamento que seria necessário. O próprio Oscar Kjellberg verbalizou a questão em um texto póstumo: “A soldagem elétrica surgiu numa época de total miséria. Não era um caminho que já havia sido desbravado. Contudo, as dificuldades existem para serem superadas e eu decidi investigar por que os engenheiros da década de 1880 tinham deixado o assunto pendente. Após estudos detalhados do que eles haviam feito e alcançado, tornou-se então evidente que esta era realmente a questão. Eu consegui ver os erros dos meus predecessores e aprendi com eles.” Quando temos conhecimento disto, não é surpresa que a soldagem como um método ou um processo tenha interessado Kjellberg. Sua primeira patente, datada de 14 de julho de 1905, é conseqüentemente uma descrição de processo. Ele foi capaz de obter a patente baseado no processo bem documentado existente, pelo qual um arco elétrico entre um eletrodo de ferro e o material base faz o metal esquentar até liquidificar. Entretanto, ele acrescentou duas modificações importantes: Primeiro, apenas uma pequena porção da peça poderia ser soldada, ou seja, somente o suficiente para que aparecesse uma fusão clara. Segundo, o eletrodo é retirado, e a solda, ainda quente, é compactada com um martelo. Em uma descrição de trabalho, que Oscar Kjellberg escreveu na mesma época que ele recebeu sua primeira patente, há instruções detalhadas de como conseguir segurar o eletrodo na mão esquerda e o martelo com a mão direita. Este manual de instruções entitulado “Método de trabalho para solda- gem elétrica, contendo material e manuseio”, datado de 1º de outubro de 1904, está preservado no original. O manual, escrito à mão, de 8 páginas, não contém nenhum erro de ortografia nem tampouco uma correção, típico de sua abordagem metódica e de sua atenção para detalhes. Neste momento, é importante mencionar que em 1904, Oscar Kjellberg já tinha desenvolvido a base teórica para o que veio a ser sua contribuição mais importante para a soldagem elétrica – o eletrodo revestido. Na ata de uma reunião de diretoria que aconteceu no mesmo ano está escrito que ele tinha guardado um relatório confidencial em um cofre de banco. Agora sabemos que neste relatório sigiloso há um relato dos primeiros experimentos com eletrodos revestidos. Gothenburg, uma grande cidade costeira, sabia que Kjellberg estava prestes a revolucionar a soldagem. Apesar de haver entre as pessoas certa desconfiança em relação à eficácia da soldagem como um método de reparo, Oscar Kjellberg logo teve a oportunidade de demonstrar a evolução de seus métodos. No começo de 1904, ele reparou algumas peças de um navio de guerra sueco que haviam congelado e quebrado. O resultado foi tão bom que tanto as companhias navais quanto as industriais se interessaram. Isto provavelmente ajudou a financiar o desenvolvimento continuado da soldagem através da formação de uma empresa. Sua missão era “usinar e soldar metais e gerenciar um negócio que promova estas atividades”. Um professor da Chalmers University of Technology e um engenheiro chefe da Lindhomens Mekaniska Verkstad, em Gothenburg, faziam parte da diretoria da empresa. Oscar Kjellberg foi indicado como o diretor presidente da empresa. A reunião de abertura da empresa foi no dia 12 de setembro de 1904. O nome da nova empresa era Elektriska Svetsnings Aktiebologet. Entretanto, foi abreviado para ESAB desde o início. Como estava evidente no nome da empresa e também em seus artigos de associação, o conceito do negócio foi o método de soldagem; o equipamento necessário era de importância secundária. Durante os primeiros momentos da empresa, a execução de diferentes tarefas de soldagem foi seu produto e sua fonte de renda mais importante. Resolver problemas de reparo práticos foi então a base do princípio da ESAB. Kjellberg, além de diretor Anúncio oferecendo serviços de soldagem em Newcastle e Glasgow, na Inglaterra, para companhias de navegação suecas. Note o primeiro logotipo da ESAB 11 Oficina da ESAB em Mariehom, em torno de 1920 (vista do porto). Aqui, as primeiras produções de eletrodos e fontes de energia foram realizadas. da empresa e de atuar ativamente em todas as áreas da mesma, continuou a desenvolver o processo de soldagem. Sua segunda patente surgiu em 1906 e descreve um “aparelho de mudança elétrica”. Sua função era limitar a saída de energia de um gerador de corrente constante. Contudo, o grande avanço veio com a invenção que foi patenteada em 29 de junho de 1907. A patente é chamada “Procedimentos para soldagem elétrica incluindo o eletrodo apropriado para este objetivo.” Sua propriedade revolucionária foi que Kjellberg revestiu o eletrodo de soldagem com material não-condutor, o que ofereceu muitas vantagens. Primeiro, o reves- 12 timento gerava um gás de proteção (CO2) quando derretia. Este gás impedia a formação de óxidos de ferro na poça de fusão e possibilitava soldar peças mais compridas (até o comprimento de um eletrodo inteiro), sem precisar interromper a soldagem. A soldagem podia ser, conseqüentemente, mais contínua. Além disto, a patente descrevia como construir uma solda com várias camadas. A segunda vantagem está associada com a busca por uma solução aos problemas relacionados com posições de difícil soldagem, principalmente soldagem acima da cabeça. Quando Oscar Kjellberg formulou uma “receita” para o revestimento que fundia na mesma proporção que a vareta metálica de solda, ele descobriu que uma cratera se formava na ponta do eletrodo de solda. Esta cratera direcionava o fluxo do metal fundido e, após muitos experimentos com composições diferentes de revestimento, ele conseguiu encontrar uma que permitia soldagem acima da cabeça. A genialidade da patente é que ela se omite de descrever a composição do revestimento, e a patente se tornou a patente principal do eletrodo revestido. Temos que ser gratos ao fato de Oscar Kjellberg ter tido experiência prática em reparo de vazamento em caldeiras, e de os vazamentos aparecerem na parte de baixo. Do contrário, talvez ele tivesse se contentado apenas com a primeira patente. Dominar posições de soldagem difíceis foi o desafio que levou a esta terceira patente, que é a base para toda a soldagem moderna com eletrodos revestidos. O gerente da empresa Oscar Kjellberg foi descrito primeiramente como um pesquisador e inventor talentoso. Desde 1907 até sua morte, houve, no entanto, outro lado de seu caráter que assumiu um papel também importante. É possível que seus companheiros de diretoria tenham entendido como as invenções de Kjellberg poderiam ser exploradas, mas sem dúvida, o próprio Kjellberg contribuiu muito ativamente para este trabalho. As primeiras atividades se concentraram em Gothenburg, onde a ESAB oferecia instalações de reparo em uma barcaça dentro do porto. Durante esta época, ele participava de todos os tipos de trabalho. Entretanto, o treinamento de soldadores era uma tarefa que ele se predispôs a liderar. Sem soldadores qualificados, a soldagem não seria capaz de ganhar terreno frente aos outros métodos de reparo. Kjellberg pretendia que a ESAB instalasse oficinas em grandes portos no mundo inteiro. Contudo, ele logo percebeu que a empresa necessitava de recursos financeiros para uma expansão tão ambiciosa. Então a ESAB ofereceu a licença de uso do método Kjellberg para empresas suecas e estrangeiras. A princípio, a investida foi dura; a ESAB teve que aceitar inúmeros acordos pouco lucrativos e, em alguns casos, uma empresa ganhava direito de exclusividade de uso da patente Kjellberg dentro de um país inteiro. Porém, em 1911 a companhia já tinha capital suficiente para instalar sua primeira subsidiária estrangeira com fundos próprios. A ESAB já havia tido alguns licenciados na Ingla- terra, o país costeiro mais industrializado da época, e levou um ano para que a subsidiária Anglo-Swedish Electric Welding Co., como era chamada- pudesse ser formada. Com sede em Londres, ela oferecia serviços práticos de soldagem, como sua empresa-mãe. Na verdade, a subsidiária britânica foi também a última a parar suas atividades. Dois anos depois, uma segunda subsidiária estrangeira foi estabelecida na Bélgica. Na mesma época, um contrato muito amplo foi assinado com a Mitsubishi Zosen Kaisha, no Japão. Pensava-se que o método Kjellberg ganharia rápida aceitação nos meios de engenharia. Mas não foi bem assim. Oscar Kjellberg teve que dedicar muito do seu tempo para convencer as pessoas da soldagem MMA (soldagem manual a arco), tanto na Suécia quanto no estrangeiro. Ele era um apresentador habilidoso e estava sempre bem preparado. O ponto forte de seu argumento era o custo benefício para os clientes de soldagem, comparados com os outros métodos de reparo. Ele conseguia apresentar exemplos onde reparos com soldagem tinham sido desempenhados a um custo de apenas 2% do custo de reparo de outra maneira ou para substituir por algo novo. Provar a qualidade e a durabilidade de reparos soldados era também importante. Ele acompanhava todos os serviços realizados pela empresa por vários anos após seu término e podia mostrar uma taxa de reclamação muito pequena para os padrões da época, de mais ou menos 0.5 a 1.0%. Oscar Kjellberg transformou-se assim em um profissional incansável no desenvolvimento do processo de soldagem elétrica a arco, aprimorando continuamente a capacidade dos equipamentos, consumíveis e técnicas, buscando sempre convencer as pessoas através da demonstração de resultados reais. Ele lidou com contratempos aumentando a sua carga de trabalho já muito grande. Participou no trabalho prático em Gothenburg e nas subsidiárias e representantes. Ele era, sem dúvida, o maior especialista em soldagem da época. As empresas e colegas o procuravam quando precisavam de orientação sobre como resolver trabalhos, principalmente os difíceis. Dizem também que ele tinha uma memória incrível. Tudo, desde contratos até descrições de método de soldagem, estava registrado na sua memória palavra por palavra, e ele nunca precisava olhar suas anotações. Além de ser um inventor, 13 inovador, industrial e um homem de marketing, Kjellberg era também financeiramente astuto. Se a tarefa mais importante da ESAB era desempenhar trabalho de soldagem, sua segunda tarefa mais importante era de se manter independente de bancos e outras instituições financeiras. Ele queria que sua empresa fosse o mais auto-suficiente possível em termos financeiros. Isto provaria ser um princípio muito bom durante e depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Durante a guerra, as coisas se encaminharam bem para a empresa, e quando os anos difíceis do pósguerra chegaram, a ESAB conseguiu sobreviver com o dinheiro que havia economizado. Durante e logo depois da guerra, uma aceitação mais ampla do processo levou as empresas a darem início ao uso de soldagem, não apenas para trabalho de reparo mas também para trabalho de construção. Isto abriu novos horizontes para a ESAB. Entretanto, as sociedades de classificação inicialmente não aceitaram a soldagem como um substituto para rebitagem na construção de novos navios. Durante e depois da Primeira Guerra Mundial, porém, houve uma considerável demanda para substituir e reparar a frota naval militar e mercantil. Aqui o argumento econô- 14 mico era forte visto que a soldagem, ao invés de rebitagem, poderia reduzir o peso das placas de metal em até 10%. A Lloyds Register em Londres foi a primeira empresa de classificação a investigar as possibilidades de navios totalmente ou parcialmente soldados. Experiências foram realizadas nas instalações da ESAB em Londres, com resultados altamente positivos. Conseqüentemente, em 1920, a Lloyds aprovou a soldagem completa como um método de produção para todos os tipos de navios. Os proprietários de navios continuaram céticos. Então Oscar Kjellberg encomendou a construção de uma pequena oficina flutuante. O ESAB IV foi lançado em 29 de dezembro de 1920 e se tornou o primeiro navio totalmente soldado do mundo a ser classificado pela Lloyds, contribuindo assim para eliminar o preconceito dos proprietários de navios e estaleiros em relação aos navios soldados. O ESAB IV ainda existe até hoje e faz parte do Museu Marítimo de Gothenburg. O próximo desafio da ESAB foi na verdade duplo: estabelecer uma subsidiária na Alemanha e ainda começar a fabricar fontes de energia para soldagem. Em 1921, a empresa alemã foi formada e, depois de um lento início, tornouse a maior subsidiária do grupo. A fábrica de Fintswalde foi equipada para fabricar conversores rotativos, que começaram a ser vendidos na Suécia em 1923. Era típico de Oscar Kjellberg que ele escolhesse começar fabricando as fontes de energia ao invés de investir em uma empresa de equipamento elétrico já estabelecida. Foi a demanda por características funcionais muito especiais que determinou a decisão de começar a fabricar conversores rotativos dentro da ESAB, visto que os compromissos que um fornecedor externo poderia exigir eram inimagináveis. Gradualmente, a produção de Finsterwalde passou a conter inúmeras máquinas diferentes de soldagem e motores elétricos e muito mais. No seu pico, em 1939, cinco mil funcionários mantinham-se ocupados, sendo mil e quinhentos com equipamentos de soldagem. As atas das reuniões de diretoria e de outros registros dos primeiros 25 anos de Elektriska Svetsnings Aktiebolaget revelam que Oscar Kjellberg não deixou nada que dizia respeito a sua empresa fora de seu controle pessoal. Os registros às vezes dizem “que o diretor Kjellberg informou a diretoria que ele tinha...”. Em outras palavras, a ques- tão já havia sido resolvida. Poderia ser uma questão de acordos concernentes ao direito de uso da patente da empresa, grandes ou pequenas compras, ou a instalação de subsidiárias no exterior. Assim como muitos industriais bem sucedidos, Kjellberg provavelmente via a empresa e a si mesmo como algo indivisível. Dizem que ele não tinha outros interesses a não ser a empresa e seu desenvolvimento. Ele era o diretor presidente e o diretor técnico ao mesmo tempo. Ele administrava contatos no exterior, estava envolvido com treinamento de soldadores e era um palestrante incansável em tudo relacionado a soldagem. Dentro de seu campo, ele era ‘a fonte de todo conhecimento’. Na época de sua morte, aos 61 anos, Oscar Kjellberg tinha recebido vários prêmios em reconhecimento aos seus esforços, inclusive a medalha de ouro da Royal Swedish Academy of Engineering Sciences (Academia de Ciências da Suécia). Ignorando a orientação médica para reduzir a carga de trabalho, a dedicação à empresa comprometeu sua saúde. Ele trabalhou até o final de seus dias e morreu em 5 de julho de 1931, sentado na sua mesa, deixando a esposa e quatro filhos de luto. Seu filho mais novo, Björn seguiria os passos do pai. Em 1931, Kjellberg havia conquistado, na sua visão, aquilo que o tinha motivado todos estes anos. A soldagem elétrica a arco era um método amplamente reconhecido, não somente para trabalhos de reparo, mas também para construção e produção. A ESAB era uma empresa bem estabelecida, respeitada, com subsídios e investimentos estrangeiros. Apesar disso, em 1931 a ESAB se viu frente a novos desafios. O conceito original do negócio, qual seja, de realizar soldagem para outras empresas, já não era mais sustentável e o mundo estava em recessão. Foi uma época de mudanças requerendo novas idéias e um novo conjunto de objetivos de negócio. Se Oscar Kjellberg estivesse vivo ele teria, sem dúvida, respondido a esta questão com o mesmo otimismo, entusiasmo e tenacidade que o levou a responder a Axel Broström aquela noite, em Kristinehamn, 40 anos antes: “Pois não, isto não deve ser impossível!” Agora, cabia aos seus sucessores demonstrar que aquilo era verdade. As informações contidas neste artigo foram reunidas por Bo Sörensson de várias fontes, inclusive das seguintes obras: • Gösta Ferneborg: Oscar Kjellberg • Bertil Lundberg: Maskinhistorik • Publicação comemorativa: Elektriska SvetsningsAktiebolaget 1904-1929 • Sixten Wilberg: En vandring genom aren, ESAB 50 anos. • E também através de artigos e outros materiais históricos que foram reunidos por Eva Persson, responsável pelo arquivo histórico da ESAB, em Gothenburg. Sobre o autor Bo Sörensson foi contratado como Gerente de Produto para fontes de energia com soldagem manual em 1972. Participou do projeto da ESAB americana em 1975. Após um curto período em outra empresa, Bo retornou em 1986 para liderar um gigantesco programa de treinamento de vendedores da ESAB. Desde 1993, ele vem focalizando em tecnologia da informação e, entre 1997 e 2002, foi responsável pelas operações de TI da ESAB na Europa. Aposentou-se pela ESAB e agora trabalha como consultor no campo de Tecnologia da Informação. O ESAB IV no Porto de Gothemburg, Suécia. Data desconhecida 15 Descobrindo novas fronteiras Um Século de Expansão Global Este artigo se baseia em pesquisa histórica realizada por Bo Sörensson, ex-ESAB Gothenburg, juntamente com contribuições valiosas de Klaus Blome, ESAB Alemanha e Jerry Utrachi, ESAB USA. E lektriska Svetsnings Aktiebolaget (ESAB), estabelecida em 1904, é agora uma companhia multinacional com vendas e/ou produção em 35 países. No princípio, a primeira diretoria percebeu que as invenções de Oscar Kjellberg tinham um grande potencial fora da Suécia. Neste pequeno resumo registramos o desenvolvimento da ESAB em outros mares, rumo à posição de maior fornecedor de produtos de soldagem e corte do mundo. 1904 – 1931 Os primeiros anos A ata da primeira reunião de diretoria da Elektriska Svetsnings Aktiebolaget, ocorrida em 12 de setembro de 1904, inclui uma referência ao “método de Mr. Kjellberg para soldagem de metais.” Isso antecedeu a primeira patente de Oscar Kjellberg, e a técnica era conhecida como “método de soldagem secreto”. Mesmo naquela época, contudo, a ESAB decidiu vender licenças para outras empresas visando lhes permitir o uso do 16 método Kjellberg, como um meio de gerar receita para uma empresa ainda nova e inexperiente. Em 20 de novembro de 1904, a ata faz referência às negociações com uma companhia de engenharia sueca para a venda de uma licença por SEK$ 10.000 para o uso do método em sua totalidade. Ao final do ano de 1904, um consórcio na Cristiania (hoje Oslo) havia se interessado em aprender a soldar de acordo com o método Kjellberg e comprar todos os equipamentos necessários. A mesma ata diz que os irmãos Nobel da Rússia tinham expressado interesse semelhante. Com o dinheiro dessas primeiras licenças, Oscar Kjellberg pôde continuar seus experimentos. No início, somente empresas individuais podiam adquiri-las, mas em pouco tempo, foram vendidas para todo um país. Os países escandinavos deram início, começando pela Noruega, em 1905. Pelos idos de 1908, a ata da diretoria registra negociações conduzidas por um representante com um futuro licenciado no Japão, e um acordo assinado com um representante nos Estados Unidos. Uma empresa estabelecida em Nova York requisitou que este representante americano, em nome da empresa, adquirisse a Electric Welding Co. por aproximadamente SEK$ 500. É possível que a Electric Welding tenha sido a primeira subsidiária internacional da ESAB, mas o que se seguiu com essa empresa é desconhecido. Na verdade, somente muitos anos depois a ESAB atingiu um grande sucesso nos Estados Unidos. Durante a década de 1900, a Grã-Bretanha foi a líder industrial na Europa. A gerência da ESAB tinha muito interesse em se estabelecer lá e, em meados de 1909, os planos se concretizaram, com a inauguração da British Electric Welding Co.. No entanto, com o intuito de reduzir custo, uma agência chamada Kjellberg Syndicate foi estabelecida. Tudo indica que essa empresa não prosperou e, em 1912, a ESAB fundou a Anglo-Swedish Electric Welding Company Ltd. em Lon- dres. Em março de 1914, foi montada uma subsidiária localizada na Antuérpia (Bélgica). O incentivo para essas primeiras subsidiárias na Inglaterra e Bélgica provavelmente veio do plano de negócios da ESAB, que previa o estabelecimento de oficinas para oferecer serviços de soldagem. Durante os primeiros anos, a maioria dos clientes era da indústria naval e dizem que o sonho de Oscar Kjellberg era fundar uma filial da ESAB em cada porto, na forma de uma oficina de soldagem. Londres e Antuérpia eram na época dois dos maiores portos marítimos de mercadorias do mundo e, dessa forma, foram localizações óbvias para uma empresa nova e ambiciosa. À medida que o negócio foi se expandindo, foi crescendo também a necessidade de mais equipamentos para atender a demanda das subsidiárias e licenciados da ESAB. Em 1920, foram encerradas as negociações com a Asea, relativas à produção de dínamos, conversores e Antônio Palis Figura 1: Estabelecida em 1914, a Companhia de Soldagem Elétrica BelgoSuéca na Antuérpia foi uma das primeiras subsidiárias estrangeiras. Ela realizava trabalhos de reparo de navios no porto. transformadores projetados para soldagem. A diretoria da ESAB decidiu, então, desenvolver sua própria capacidade produtiva. No dia 12 de novembro de 1921, a Kjellberg Elektroden GmbH, com matriz em Berlim, foi instalada. No início de 1922, um terreno foi comprado em Finsterwalde para a produção de maquinário e equipamentos. Surgiu assim a Kjellberg Elektromaschinen GmbH, com o objetivo de gerenciar essas operações de produção. Isso garantiria os requisitos da ESAB para conversores, transformadores e outros equipamentos de soldagem. Quando Oscar Kjellberg morreu, no dia 5 de julho de 1931, a ESAB contava com subsidiárias na Finlândia, Polônia, Alemanha, Holanda, Bélgica, França e Inglaterra, além de licenciados em muitos outros países. A empresa estava no auge como fornecedora de serviços de soldagem para reparos e produção. Mas ainda era pequena a contribuição da venda de consumíveis e máquinas de soldagem para a receita total da ESAB. A sucessão Walter Edström, sucessor de Oscar Kjellberg, liderou a ESAB por vinte e cinco anos. Apesar do seu pouco conhecimento de soldagem e do mercado neste campo, tinha uma ampla experiência com vendas e condições comerciais e de produção em ou- tros países. Isto compensou em muito sua falta de sabedoria técnica. Contudo, com o passar do tempo, se tornou uma autoridade em soldagem. O nome Walter Edström será associado com a racionalização metódica da produção de eletrodos e a substituição dos eletrodos revestidos por eletrodos extrudados. Mas seu maior feito é a transformação da ESAB em uma companhia conhecida mundialmente até hoje. Em 1956, Walter foi sucedido por Göran Edström, que ficou no cargo de Diretor Geral da ESAB até 1970, quando foi sucedido por Ake Ahlström. Durante esse período, a ESAB reforçou sua posição de líder eu- ropéia na área de soldagem, e investimentos substanciais foram feitos nas fábricas de consumíveis. 1931 – 1945 Empresas de vendas de eletrodos e máquinas Walter Edström reconheceu que o futuro da ESAB se encontrava na venda de consumíveis, máquinas e outros equipamentos de soldagem. De certa forma, a empresa teve que se esforçar para ser competitiva, visto que já nesta época havia muitos concorrentes ativos no mercado, que vendiam mais produtos do que serviços. As operações de engenharia da ESAB na Europa 17 nunca foram totalmente propriedade da ESAB, já que parceiros locais sempre estiveram envolvidos. Seguindo a sugestão de Edström, a ESAB começou a aumentar sua participação nessas empresas estrangeiras, principalmente Inglaterra, Bélgica e Alemanha. Novas subsidiárias foram instaladas com foco exclusivo na venda de produtos. Em outros mercados, como a Espanha, vendedores foram contratados e novas empresas orientadas para vendas foram criadas. Em 1932, a L’ElectroSoudure Autogène Belge S.A. foi instalada na Bélgica; este nome foi bem apropriado visto que poderia ser abreviado para ESAB S.A. Na Inglaterra, a Welding Supplies Ltd. foi fundada em Londres em 1933 e se tornou a base das operações da ESAB, envolvendo a produção e venda de produtos de soldagem no Reino Unido. Hoje, é conhecida como ESAB UK. Os contratos assinados com a Burneister & Wain, na Dinamarca e a Elektrisk Sveisning, na Noruega, cediam direitos exclusivos de soldar usando o método Kjellberg e de produzir eletrodos de acordo com a fórmula da ESAB. Ao final de 1932, Walter Edström iniciou negociações em Copenhagen e Oslo para recuperar os direitos de vender eletrodos e máquinas de soldagem. A intenção era instalar subsidiárias com capital da ESAB na Dinamarca e Noruega. Concluídas as negociações, uma empresa de vendas dinamarquesa foi aberta em Figura 2: Walter Edström foi o Presidente do Conselho de Administração da ESAB de 1931 até 1956. Ele mudou a filosofia de negócio da ESAB de uma empresa de reparo para uma produtora de consumíveis e equipamentos de soldagem, e expandiu suas sedes internacionais. Foi sucedido por Göran Edström. 1933, seguida da norueguesa, em 1938. Seguiu-se uma rápida expansão em novos mercados. Na Tchecoslováquia, uma subsidiária da Kjellberg Elektroden und Machinen, de Finsterwalde, foi instalada e envolvia tanto produção como vendas. No fim de 1932, a ESAB Ibérica foi fundada em Madrid para fabricar eletrodos. Essas empresas contavam Ponte ferroviária sobre o rio Esla, na Espanha. Reforço de aço para o maior arco de concreto do mundo na época. A ESAB Ibérica participou com produtos e tecnologia. Svetsaren, Março de 1941, página 679. 18 com parte do capital da ESAB, uma vez que Walter Edström e membros da equipe de gerência local podiam comprar títulos das novas companhias. As subsidiárias alemãs tinham uma situação única, visto que elas eram autorizadas a vender também fora da Alemanha. A Tchecoslováquia foi mencionada, mas a Itália também fazia parte do distrito das empresas alemãs. Em 1934, Walter Edström identificou a importância do mercado italiano e em 1935 uma unidade foi instalada naquele País. Assim, os primeiros oito anos sob a liderança de Walter Edström foram caracterizados pelo rápido estabelecimento de subsidiárias com parte do capital da ESAB por toda a Europa e pela criação de pontos estratégicos para a venda de consumíveis e máquinas. Apesar dos eletrodos serem inicialmente importados da Suécia e as máquinas da Alemanha, a empresa logo reconheceu que a produção local de eletrodos seria a melhor forma de capturar uma parcela significativa do mercado e assegurar lucratividade. Mais tarde, fábricas de eletrodos foram construídas em quase todos os países onde a ESAB tinha uma subsidiária de vendas. Parte dos lucros podiam ser transferidos para a Suécia, visto que as empresas produtoras compravam licença para a transferência da tecnologia envolvida na exportação de fórmulas suecas e tecnologia de produção. Durante esse período, o grupo ESAB aumentou consideravelmente sua receita (de SEK$ 912.000 em 1931 para SEK$4.554.000 em 1939). Em alguns anos, as subsidiárias da Alema- nha declararam um lucro tão alto que as autoridades alemãs confiscaram grandes quantias de dinheiro como “lucro suplementar”. Os anos de guerra Para a ESAB, assim como para a maioria das empresas, a Segunda Guerra Mundial foi um período muito difícil. A escassez de matéria-prima impossibilitou manter a produção e, nos países ocupados, as entregas de consumíveis e equipamentos da ESAB para tropas alemãs eram vistas com desaprovação. Conseqüentemente, o volume de operações na Holanda e Bélgica foi reduzido ao mínimo. Somente clientes estabelecidos e leais podiam esperar entregas, quando alguma coisa era de fato produzida. As empresas norueguesas e dinamarquesas foram extremamente abaladas. Na Noruega, as forças invasoras executaram um membro da gerência da ESAB, enquanto a fábrica em Copenhagen foi sabotada em duas ocasiões, sofrendo ataques à bomba. Por muito tempo, a gerência da ESAB em Gothenburg não contactou as subsidiárias na Europa e, às vezes, o único sinal de vida eram curtos recados dizendo que os funcionários estavam vivos. Apesar de tudo, no meio da guerra (1943), a ESAB instalou uma subsidiária na Finlândia, que produzia seus próprios eletrodos. Na Alemanha, a produção era inteiramente direcionada para a guerra. Uma empresa, a Fimag, foi instalada para fabricar os produtos que as autoridades alemãs determinassem. Durante um pequeno período após o início da guerra, a ESAB conseguiu obter entregas de Finsterwalde, mas tudo indicava que a longo prazo isso não seria possível. Consequentemente, a produção de conversores de soldagem teve início na fábrica de Marieholm, em Gothenburg, mas as instalações não eram apropriadas. Finalmente, a ESAB encontrou o que estava procurando em Laxå – instalações que poderiam ser adaptadas, e a Assembléia Municipal estava muito interessada em apoiar os planos de negócio da ESAB. Assim, a fabricação de máquinas, que anteriormente vinham de Finsterwalde, começou em 1942. Figura 4: A fábrica de eletrodos Kjellberg em Finsterwalde, em torno de 1940. Após a guerra, ela foi confiscada pelo governo alemão. 19 Figura 5: Fábrica de eletrodos no Brasil. 1945 – 1980 consolidação e estabelecimento fora da Europa Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, em 1945, a infra-estrutura da Europa teve que ser reconstruída. Havia grande demanda para os produtos e serviços da ESAB, mas, inicialmente, a empresa teve que se concentrar em reconstruir, reequipar e substituir suas instalações. Após a divisão da Alemanha, Finsterwalde estava localizada na parte oriental, e as autoridades de lá desapropriaram as propriedades privadas. Assim, uma nova subsidiária alemã-ocidental foi criada em 22 de julho de 1949. A princípio, um espaço foi alugado em Düsseldorf mas em 1959, a empresa mudou para sua lo- 20 calização atual em Solinger, que se expandiu em 1971. Para melhor servir aos clientes alemães com demanda para automação pesada, a ESAB GmbH se fundiu com a companhia Tehac, em Bockum, que possuía o conhecimento em soldagem automatizada e posicionadores. Em 1982, a Arcos GmbH se uniu à ESAB na Alemanha, acrescentando uma segunda marca de consumíveis e de equipamentos. Em 1991, a ESAB viria a abrir um Centro de Tecnologia de 1.000 m 2 para soldagem mecanizada em Solingen. A Welding Supplies, em Londres, se expandiu rapidamente e logo necessitou de instalações maiores, o que foi encontrado em Gilligham, em Kent. Antes da Segunda Guerra Mundial, a ESAB não tinha nenhuma representação na França, mas em 1950 ela finalmente montou uma subsidiária francesa. Desde então, a ESAB passou a ter representantes em todos os países europeus com seus próprios pontos de vendas e, em muitos casos, com produção própria de eletrodos. Após a guerra, através de suas subsidiárias na Espanha e seu distribuidor em Portugal, a ESAB fez valiosos contatos na América do Sul. No Brasil, tais relações levaram ao estabelecimento de uma unidade em parceria com a família Pareto, em 1953. Essa companhia rapidamente se tornou a líder no setor. Em outros países sul-americanos, tais como Argentina e México, a venda dos produtos da ESAB foi organizada através de representantes. As atividades na América do Norte inicialmente não foram tão bem-sucedidas. Em 1940, a ESAB Welding Cor- poration tinha sua sede nos Estados Unidos, mas foi liquidada em 1962. No Canadá, a companhia conhecida como ESAB Arc Rods foi fundada em 1958, em Montreal, mas também fechou após um curto período de tempo. Mais tarde (1969), um acordo foi assinado com a Liquid Carbonic Corporation, em Toronto, envolvendo a produção de eletrodos da ESAB no Canadá. Mas somente em 1972, a ESAB fez outra tentativa de instalar seu próprio ponto de vendas nos Estados Unidos. No princípio da década de 1970, a ESAB voltou sua atenção para o sul e para o leste. Acordos de joint-ventures envolvendo produção de eletrodos baseado em transferência de tecnologia foram assinados, e a ESAB instalou pontos de vendas e estabeleceu uma posição forte para futuros avanços em mercados que estavam em expansão. Em 1972 e 1973, a ESAB se estabeleceu na África do Sul, Iraque, Angola, Argélia e Turquia. No ano seguinte, foi a vez de Singapura, além da empresa de comércio Ekman e de um ponto de vendas no Irã. A ESAB chegou à Austrália em 1975, estabelecendo uma unidade comercial em Sidney. No mesmo ano, mais uma fábrica foi instalada na Itália, em parceria com a companhia italiana Falck. Na Europa Oriental, foi praticamente impossível estabelecer subsidiárias para produção e vendas. Entretanto, a ESAB assinou acordos com fabricantes locais, que permitiram que a tecnologia de produção da ESAB e suas fórmulas fossem introduzidas, apesar de tudo. Um negócio fechado em 1975 com a Csepel-Werke, na Hungria, resultou na produção de eletrodos usando os equipamentos e as fórmulas da ESAB, representando o primeiro passo em direção ao seu estabelecimento naquele País Não somente soldagem, mas também corte Ao longo de sua história, a ESAB sempre perseguiu uma política de parceria com seus clientes, visando ajudá-los a resolver seus problemas com ótimo custo e benefícios de desempenho. Soldagem não é um processo isolado, mas parte de um fluxo de produção onde o preparo para corte e junta é tão importante quanto a solda. Vendedores, especialistas e pessoal de desenvolvimento freqüentemente encontraram problemas onde a solução era uma combinação de tecnologia de soldagem e corte. Com o passar do tempo, tornou-se evidente que a empresa precisava de um envolvimento formal com tecnologia de corte. Em 1938, a ESAB se tornou parceira na KjellbergEberle, em Frankfurt, que desenvolvia e produzia equipamentos de oxicorte. Durante a Segunda Guerra Mundial, a produção foi temporariamente transferida para Laxå. Em 1962, a empresa estava muito grande para suas instalações e uma nova fábrica foi fundada em Rodheim. Em 1975, era chegada a hora de mais uma mudança, desta vez para Karben, perto de Frankfurt, onde a operação se encontra até hoje. A gama de máquinas de corte agora também inclui equipamentos de plasma, a laser e de corte com jato d’água, bem como oxicorte. 1980 – 1992 um período de expansão A ESAB viveu três importantes períodos de expansão durante seus cem anos de história. No entanto, a fase que atraiu maior atenção foi durante a liderança de Bengt Eskilson. É digno de figurar como exemplo em livros acadêmicos como uma companhia com uma estratégia de aquisição ativa, em uma indústria cheia de problemas, pode se tornar dominante neste setor. Bengt Eskilson assumiu como Diretor Geral em 1980. A situação anterior à sua gestão está bem documentada. A ESAB e seus concorrentes tinham acumulado muitos recursos de produção na Europa. Contudo, a crise econômica da década de 1970 e o declínio dos estaleiros europeus, tradicionalmente um dos maiores clientes da ESAB, tornou difícil as vendas. A gerência da ESAB pensou que isto seria uma crise econômica passageira e decidiu manter a produção e aumentar os estoques. No entanto, em 1978, tornou-se claro que o declínio não estava relacionado com fatores econômicos, mas estruturais. A indústria de soldagem tinha um excedente muito grande na produção em geral e, principalmente, de eletrodos. Além disso, a produção de consumíveis não fazia parte da atividade principal de muitos concorrentes da ESAB. Em uma tentativa de manter os volumes de venda, teve início uma guerra de preços e a lucratividade foi arrasada. Para a ESAB, a situação se tornou ainda mais crítica, visto que soldagem era sua única fonte de receita. Em 1980, a companhia estava vivendo uma séria crise financeira. Em um momento de inspiração, ao invés de reduzir as operações para escapar do problema, os donos da companhia decidiram focar na expansão. Uma nova equipe de gerenciamento em Gothenburg, liderada por Bengt Eskilson, analisou as circunstâncias Figura 6: Congresso do Instituto Internacional de Soldagem (IIW) em Oxford, 1951. Walter Edström participou intensamente na fundação do IIW e tornou-se o Presidente em 1960. Hoje, Bertil Pekkari segue seus passos como Presidente da IIW. 21 da ESAB e de seus concorrentes e embarcou em uma rodada de aquisições na Europa. O grupo ESAB elaborou um documento com políticas onde se dizia preparada para “contribuir ativamente com a reconstrução de toda a indústria” e a recuperar os concorrentes em crise por um custo menor para eles do que se tivessem escolhido se reestruturar ou fechar por conta própria. Esta foi uma estratégia habilidosa, que teve como alvo concorrentes como GKN, Phillips e BOC. As operações de soldagem destas empresas correspondiam a uma pequena parte em relação a todo o negócio e por isso de pequeno interesse. Entre 1981 e 1991, a ESAB adquiriu 26 companhias na Europa e nos Estados Unidos e se desfez de cinco. Fechou várias de suas fábricas de produção, além de outras que havia adquirido, em países como Suécia, Reino Unido, Dinamarca, Noruega, Finlândia, França e Holanda. Isso resolveu o problema de superprodução. Ao mesmo tempo, ao assumir as marcas e os canais de distribuição, conseguiu aumentar sua participação no mercado. Bengt Eskilson e o Diretor de Vendas Bo Sandquist tinham aprendido como maximizar o benefício de marcas múltiplas na Electrolux, e a ESAB estava finalmente representada na maioria dos mercados por pelo menos duas marcas diferentes. No Reino Unido, por exemplo, a 22 empresa adquiriu a marca Murex da BOC, a qual reteve e desenvolveu, mas simultaneamente amalgamou várias outras marcas sob a identidade unificada da ESAB. Apesar de nem todos os investimentos deste período terem trazido lucro, a empresa conseguiu de certa forma aprender com a experiência; por vários anos a ESAB foi dona de uma empresa especializada em soldagem a laser alemã. Como Diretor Técnico da ESAB, Bertil Pekkari ressalta, “A negociação não nos deixou ricos, mas nos deu uma experiência grande em um setor de soldagem novo e interessante. Temos conseguido utilizar este conhecimento em muitas outras áreas”. Felizmente para a ESAB, seu programa de racionalização foi apoiado por uma economia crescente. As vendas aumentaram de SEK$1.6 bilhões em 1980 para SEK$6.7 bilhões em 1990, à medida em que a empresa retornava à lucratividade. Isso, sem dúvida, encantou os acionistas da ESAB, sendo o maior deles a empresa Incentive, controlada pelo grupo sueco Wallenberg. O maior mercado de soldagem do mundo – EUA Ao longo da década de 1970, a ESAB foi líder no fornecimento de consumíveis e equipamentos de soldagem na Europa. Na América do Figura 7: Bengt Eskilson, Presidente do Conselho de Administração da ESAB em 1980 e arquiteto da política de aquisição que converteu a ESAB na companhia líder no mercado de soldagem. Sul, a empresa era representada pela ESAB do Brasil e havia distribuidores bem sucedidos em muitos outros países. Contudo, ela não tinha nenhuma presença corporativa nos Estados Unidos além de uma joint-venture entre a empresa alemã de máquinas de corte da ESAB (KjellbergEberie) e a empresa americana Health Engineering, com sede em Fort Collins, Colorado, da qual a ESAB tinha adquirido uma grande participação em 1976. Nos Estados Unidos, as vendas eram basicamente administradas por distribuidores e empresas como Lincoln, Hobart e Miller, tinham redes de distribuição bem estabelecidas. As empresas de soldagem que quisessem se estabelecer nos Estados Unidos tinham que obter acesso ao mercado através da rede de distribuidores. Uma forma de fazer isso era adquirindo companhias estabelecidas, juntamente com seus canais de distribuição. A ESAB escolheu uma solução mais ampla. Em 1972, ela abriu um escritório de vendas em Detroit em parceria com a Sandvik. Sua missão era comercializar peças para os equipamentos de automação pesados que tinham sido vendidos para os estaleiros americanos, e introduzir a tecnologia européia de equipamentos semi-automáticos nos EUA. Nesta época havia uma escassez de certos tipos de eletrodos, e a ESAB americana cresceu muito com a importação de eletrodos das fábricas européias. Em 1974, o Diretor de Vendas da ESAB nos EUA, Lars Magnusson, contactou uma empresa americana chamada Chemetron, que estava interessada em vender parte de suas operações de soldagem. A idéia era assumir também a rede de distribuição da Chemetron. Lars Magnusson fechou o negócio no mesmo ano. Entretanto, os distribuidores da Chemetron estavam céticos tanto em relação às máquinas de soldagem importadas da Suécia quanto aos produtos herdados da Chemetron. Em 1978, a ESAB fechou a antiga fábrica da Chemetron em Charlottesville e retornou à operação de máquina de corte em Fort Collins, Colorado. Quando a gerência da empresa em Gothenburg analisou as razões do fracasso, eles reconheceram que era impossível ter sucesso nos EUA sem o suporte dos distribuidores. Além do mais, o mercado conservador de soldagem dos EUA não estava muito impressionado com a alta tecnologia européia no que diz respeito às fontes inversoras de energia. A empresa percebeu que ela só teria chance de ganhar a confiança dos clientes e dos distribuidores se adquirisse uma parcela do mercado existente. Em 1984 a gerência da ESAB encontrou uma oportunidade de estabelecer uma posição estratégica nos Estados Unidos. A Airco tinha um perfil semelhante ao da ESAB, mas há algum tempo vinha lutando contra a queda da sua participação no mercado e da lucratividade. Em 1984 ela foi encampada pela ESAB e então as operações de soldagem se concentraram em Chicago. Apesar da Airco ter trazido um grande mercado e uma ampla experiência relativa aos produtos, o sucesso no mercado americano não aconteceu para a ESAB. Desta vez, contudo, Lars Westerberg, Gerente Geral da ESAB responsável pelas operações americanas, percebeu que, pelo fato da Airco ser pequena demais para competir, os problemas da ESAB poderiam ser resolvidos encontrando outras companhias que complementassem aquelas que a ESAB já tinha. Uma destas empresas foi a L-Tec, anteriormente conhecida como Linde, que tinha sido parte da Union Carbide. A ESAB começou a “cortejar” a L-Tec em 1987, mas a gerência desta empresa demorou dois anos para concordar que a ESAB assumisse o controle. Passado este tempo, no entanto, a ESAB já havia desenvolvido uma estratégia mais agressiva para o mercado americano. Foi decidido que uma união entre a L-Tec e a Airco seria insuficiente para tornar a ESAB uma força importante no mercado norte-americano. A L-Tec tinha boas máquinas, mas deixava muito a desejar em relação aos consumíveis. Felizmente outras empresas estavam disponíveis para aquisição nos EUA. A Alloy Rods era uma companhia com excelente reputação, que estava oferecendo exatamente os produtos que a LTec não dispunha. Então a ESAB comprou tanto a L-Tec quanto a Alloy Rods. A aquisição simultânea dessa empresas foi um sucesso inesperado. Concorrentes surpresos tiveram que aceitar que a ESAB tinha chegado ao mercado americano e estava lá para ficar. A ESAB tornou-se a segunda maior fornecedora de sistemas de soldagem dos EUA da noite para o dia. Em 1998 adquiriu também a AlcoTec, adicionando produtos para soldagem em alumínio e mais um degrau no conhecimento de processo. O importante é que a nova estratégia da ESAB para a América do Norte funcionou. A ESAB manteve a força no mercado e é agora um fornecedor que atende tanto clientes diretos quanto distribuidores. Sua operação nos Estados Unidos está distribuída entre os centros de Florence, Hannover, Traverse City e Ashtabula, e todas as marcas adquiridas estão unidas sob o nome da ESAB. 1990 – 1995 Expansão para o leste Após o colapso do império soviético, em 1991, as regras que impediam a ESAB de instalar sua produção em países como Hungria, República Checa e Polônia foram eliminadas e o investimento estrangeiro passou a ser bem-vindo. Bengt Eskilson e Lars Westerberg apresentaram para a diretoria da ESAB um plano de aquisição das maiores instalações de produção da Polônia, Hungria e República Checa. Diante da relutância da diretoria, Eskilson explicou que o plano visava a auto-preservação da ESAB. O custo de produção de consumíveis de soldagem nos países do antigo Bloco Oriental era muito mais baixo do que na Europa Ocidental, e uma exportação desregulamentada na Polônia, Hungria e República Checa poderia colocar em risco a lucratividade dos consumíveis na Europa Ocidental. A diretoria aceitou o plano e a ESAB começou uma nova rodada de aquisições. O benefício de se ter fornecido equipamentos de produção e fórmulas para licenciados no antigo Bloco Oriental também se tornou evidente. Quando a ESAB veio para a fábrica de Csepel em Mor na Hungria, foi como estar voltando para casa. Com o constante apoio de Lars Westerberg, que se tornou Diretor Geral em 1991, a equipe de gerência da área de consumíveis, sob o controle de Anders Backman e Torsten Körsell, conseguiu driblar seus concorrentes adquirindo rapidamente mais capacidade de produção. A ESAB simultaneamente conquistou uma grande parte do mercado doméstico e dos canais de distribuição. Torsten Körsell assegurou que a qualidade dos produtos era compatível com os produzidos na Europa Ocidental. Conseqüentemente, clientes na França, Espanha e Alemanha logo passaram a ser abastecidos pela Hungria e República Checa, permitindo o término da produção local. Este processo foi meticulosamente planejado, e a ESAB pôde assim assegurar que a qualidade e o serviço não mudariam. 23 1994 – 2004 Consolidação Uma nova fase na história da ESAB começou em 1994, quando ela foi adquirida pelo grupo industrial britânico Charter Plc. As aquisições estratégicas continuaram, mas esse momento marcou também o início de um período de consolidação de mercado. Um maior crescimento do negócio pôde ser observado nos locais onde a ESAB tinha construído uma presença forte. A fase “de expansão para o leste” continuou com a compra da Ozas, fabricante de equipamentos líder no mercado da Polônia, com sede em Opole. Logo depois a ESAB adquiriu a totalidade da Electrody Baildon, fabricante de consumíveis polo- nês, com a qual já tinha negócios e, também, a Fersab, fabricante de fluxos aglomerados. Com isso, a Polônia se transformou em um dos mercados europeus mais importantes para a ESAB. Ao mesmo tempo, a empresa estabeleceu um ponto de vendas em Moscou, seguido da primeira unidade de produção de eletrodos da Rússia, uma joint-venture com sede em St. Petersburg. Na América do Sul, a Conarco tornou-se parte da família ESAB, elevando significantemente a posição do grupo na Argentina. Um marco muito importante aconteceu em 1998, quando a AlcoTec, líder mundial em arames de alumínio, com sede em Traverse City, EUA foi adquirida. Estande da ESAB na Feira Industrial de Essen, Alemanha, em 1954 24 Paralelamente a essas atividades, a ESAB continuou a expandir suas operações pelo Oriente Médio, com sede em Dubai e, claro, por toda a Ásia, e em especial na China, atualmente o mercado de soldagem em maior desenvolvimento no mundo. E assim a ESAB continua na rota estabelecida por seus fundadores há cem anos. Onde há necessidade de tecnologia de soldagem, a ESAB está presente, enquanto o avanço da Internet propicia acesso à informação detalhada cada vez mais rapidamente. Devemos reconhecer que o sucesso da ESAB se deve também a todos os funcionários, que viajaram pelo mundo para espalhar informações e oferecer assistência prática no uso da tecnologia, dos produtos e serviços da empresa nos novos mercados. Graças a esses homens e mulheres, a ESAB é capaz de, em 2004, se entitular líder mundial em soldagem. Este artigo foi escrito com a assistência de Bengt Eskilson, Lars Westerberg, Anders Backman, Anders Andersson, Curt Karisson, Klaus Blome, Jerry Uttrachi e Bertil Pekkari. Entretanto, a contribuição mais importante foi oferecida por Eva Persson, responsável pelo arquivo histórico da ESAB. Sem Eva, esse resumo não poderia nunca ter sido escrito. Gostaria de estender o meu agradecimento a todos envolvidos neste trabalho. 25 Uma Tarefa Diferente Por: Nils Asander Elektra II N ils Asander, um instrutor da ESAB que se aposentou em 1982, nos leva de volta a 1914. Seu pai, Ragnar Asander, viajou de trenó para a Rússia, sob condições primitivas, para reparar uma serraria, usando o novo método de soldagem de Oscar Kjellberg. Precisa-se de foguista A “Elektriska Svetsnings Aktiebolaget i Stockholm” (ESABIS) foi montada du- 26 rante a década de 1900 como uma licenciada da patente do método de soldagem de Oscar Kjellberg, usando eletrodos de fino revestimento. Mais tarde a empresa abriu uma filial em Sundsvall constituída pelo Elektra II, um barco-oficina que carregava equipamentos, inclusive um gerador de soldagem de corrente constante. Este barco oferecia a mobilidade necessária para desempenhar trabalho de soldagem nas serrarias, fábricas e barcos de mercadorias na área de Sundsvall. Em 1909, precisavam de um foguista no barco e Ragnar Asander, na época com apenas 18 anos, foi indicado para o serviço. Ele nasceu em 1891, no ano em que o russo Nicolai Slavjanov (1854-1897) obteve a patente da soldagem a arco usando eletrodos sem revestimento. Treinamento de soldagem oferecido Logo depois de começar a trabalhar na empresa, o escritório de Sundsvall tinha recebido tantos pedidos de informação sobre trabalho de soldagem que decidiram recrutar outro soldador. Ofereceram a Ragnar a oportunidade de fazer o treinamento, visto que ele tinha o perfil para a tarefa pois era habilidoso com as mãos e um carpinteiro qualificado. Ele também era contra bebida alcoólica; isso tornava o treinamento em soldagem mais simples, uma vez que Oscar Kjellberg não permitia que as pessoas bebessem cerveja em conjunção com a soldagem! Ragnar foi admitido e mandado para a matriz em Stockholm. Uma vez encerrado o treinamento, ele retornou para Sundsvall e executou inúmeros trabalhos de soldagem no sul de Norrland, mas nenhum semelhante ao realizado na Rússia, em 1914. Uma tarefa diferente No princípio do século XX havia sido montado um consórcio de serrarias anglo-suecas com escritório em Sundsvall, sob a gerência de um advogado chamado Berggren. Construíram uma grande serraria em um local chamado Kovda, na costa sudoeste da Península de Kola, logo acima do Círculo Ártico. Era um enorme moinho, com seis suportes de serra. Entretanto, no final do ano de 1913, um destes suportes quebrou. Como a empresa tinha surgido em Sundsvall, sua gerência conhecia a ESABIS e sua capacidade de desempenhar reparos soldados. Contactaram a empresa e perguntaram se poderiam enviar alguém para Kovda para soldar o suporte de serra, e Ragnar foi indicado para o trabalho. Jornada rumo ao Mar Branco Considerando os padrões de hoje, essa foi uma jornada épica, realizada no meio do inverno. No dia 16 de janeiro de 1914, Ragnar começou sua jornada de trem para Karungi. Ele então pegou um trenó para Tornea, seguido de outro trem para Uleaborg. Quando alcançou Haparanda, descobriu que havia se esquecido de levar o passaporte, e foi obrigado a passar vários dias na hospedaria até que seu passaporte chegasse pelo correio. De Uleaborg, sua jornada continuou passando pela estação da fronteira em Kusamo, cruzando o norte da Finlândia, usando trenós de várias hospedarias. Entrou na Rússia pela cidade de Nassajärvi. O avanço era lento – a uma velocidade de 10 km por hora – e havia de 30 a 40 km entre as hospedarias onde os cavalos eram substituídos, às vezes após uma longa espera. A jornada ressaltou as diferenças culturais da época. Enquanto na Finlândia ele dormia em camas, na Rússia ele era obrigado a dormir no chão sobre tapetes de pele. Refeições eram ‘difíceis’ na Rússia, pois todos comiam com os dedos dentro de uma mesma tigela. Ele não gostava disso e várias vezes ia para o trenó para comer um pedaço do bacon americano, que havia comprado na Finlândia, com um pedaço de pão. Era também uma jornada de risco. Para viajar de trenó puxado por cavalo, o viajante precisava de um revólver para se proteger dos lobos. Ragnar tinha o que chamavam de revólver de tambor, mas felizmente ele não precisou usá-lo. A jornada toda levou 8 dias. Para a consternação de todos, o prédio da serraria pegou fogo no dia anterior à sua chegada. A foto da página seguinte mostra os seis suportes de serra, com uma seta indicando o suporte quebrado. Porém, o prédio foi rapidamente consertado e enquanto isso, Ragnar reparou o suporte de serra. Os procedimentos de soldagem Assim como a maior parte da tecnologia do princípio do século XX, de acordo com os padrões de hoje havia um importante componente manual na prática de soldagem elétrica dos primeiros tempos. Mais ainda, os perigos inerentes ao trabalho com ele- Regulagem da corrente de soldagem através de banheiras de água. 27 O prédio da serraria. A seta indica o suporte quebrado. tricidade de alta corrente explica a insistência de Oscar Kjellberg pela sobriedade entre seus técnicos de soldagem. Consumíveis previamente preparados e equipamento de suprimento de energia portátil eram inimagináveis. Em vez disso, a bagagem de Ragnar incluía montes de alma de 28 eletrodos e sacolas de revestimento em pó. Sua primeira tarefa envolvia misturar o pó até a consistência certa para permitir que a alma do eletrodo fosse mergulhada para fazer os eletrodos. Para soldagem horizontal, ele mergulhava o arame uma vez e para soldagem vertical e acima da cabeça, duas vezes. Ele então prendia os arames a um varal dentro da oficina e os deixava secar. O próximo passo era a corrente de soldagem. Felizmente, a serraria tinha um gerador de corrente constante de 220V alimentado por uma turbina a vapor, que produzia eletricidade para o moinho. Os cabos de soldagem ti- veram que ser conectados diretamente a este gerador, mas aí foi necessário regular a corrente aos valores apropriados. Para fazer isso, Ragnar utilizou banheiras de água, como podem ser vistas no diagrama da página 27. A banheira A foi usada para ajustes grosseiros, enquanto ajustes precisos fo- ram feitos usando a banheira B. Um amperímetro foi conectado por cima das placas na banheira B e um assistente ajustava a distância entre as placas até que o amperímetro mostrasse um valor pré-determinado para o diâmetro do eletrodo em questão. Os ajustes grosseiros eram feitos jogando-se sal dentro da banheira A, se uma corrente maior fosse necessária. Para reduzir a corrente, tirava-se a água e colocava-se água fresca dentro da banheira. A banheira C oferecia a carga de resistência para assegurar que a carga no gerador se mantivesse uniforme, quando nenhuma soldagem estava em processo. O contato (K) tinha sido trazido de Sundsvall, junto com o porta eletrodo (H). Quando o preparo de junta e o realinhamento do suporte ficaram prontos, o trabalho de soldagem pôde começar. Como ninguém era capaz de analisar o aço do suporte, Ragnar decidiu pré-aquecer a área de junta. Ele o fez usando dois grandes maçaricos segurados por trabalhadores russos. Por causa da alta tensão, era necessário que eles estivessem sempre com as mãos e os pés secos. Naquela época, a soldagem era feita com a mão esquerda para poder manejar o martelo de soldagem rapidamente. A ponta do martelo era alinhada com o cabo para permitir que ele entrasse na junta V e esticasse a solda, processo este que era realizado em pequenas etapas. Através de um intérprete, Ragnar avisou que os espectadores não olhassem para o arco, porém, depois do primeiro dia de soldagem, muitas pessoas visitaram o médico da vila, que não compreendeu o que tinha acontecido com as pessoas que chegavam com olhos vermelhos e quase cegas. Depois ele suspeitou que poderia ter relação com a soldagem e foi visitar Ragnar. O médico então ficou sabendo do “clarão da soldagem” e dos danos que poderia causar à visão. Quando o suporte foi consertado com sucesso, o gerente do moinho descobriu outras tantas tarefas e pediu que Ragnar soldasse e reparasse um pouco de corrosão no fundo da caldeira. Ele cuidadosamente removeu toda a crosta da caldeira até que o metal pudesse ser novamente visto. Depois disto, pediram que ele soldasse engrenagens no fundo da caldeira de dois barcos de reboque. Tudo está bem quando termina bem A jornada de volta para casa foi semelhante à jornada de ida, e Ragnar chegou em Sundsvall no dia 16 de fevereiro, um mês depois de sua saída. Em outubro de 1917, a Revolução Russa teve início, e a serraria foi tomada pelos comunistas. Na mesma semana, Ragnar teve um filho que, aos 15 anos, começou a aprender com seu pai os fundamentos da soldagem. Eu fui soldador o resto da minha vida. Após 50 anos no negócio, eu me aposentei em 1982 como chefe da região oriental da ESAB sueca. Adaptado de um relato original de Nil Asander, publicado pela primeira vez em maio de 2001, na revista Svetsaren. 29 Uma história da Soldagem Por: Klas Weman, ESAB Welding Equipment AB, Laxa, Suécia. E ste artigo examina a história da soldagem a arco, que começou no final do século XIX. A ESAB sempre foi associada com o desenvolvimento da soldagem desde o seu início, quando Oscar Kjellberg formou a empresa para explorar sua invenção do eletrodo revestido. Antes da década de 1880, a soldagem era realizada apenas na forja do ferreiro. Desde então a marcha da industrialização e duas guerras mundiais influenciaram o rápido desenvolvimento da soldagem moderna. Os métodos de soldagem básicos – soldagem por resistência, soldagem a gás e soldagem a arco – foram todos inventados antes da Primeira Guerra Mundial. Porém, durante o início do século XX, a soldagem e corte a gás foram dominantes para a fabricação e trabalhos de reparo. Somente alguns anos depois, a soldagem elétrica ganhou semelhante aceitação. Soldagem por resistência O primeiro exemplo de soldagem por resistência data de 1856, quando James Joule, o homem por trás do princípio de aquecimento de Joule, conseguiu fundir e soldar um monte de arames de cobre através de aquecimento por resistência elétrica. 30 As primeiras máquinas de soldagem por resistência foram usadas para soldagem de topo. Elihu Thomson, dos EUA, criou o primeiro transformador de soldagem em 1886 e patenteou o processo no ano seguinte. Seu transformador produzia uma potência útil de 2000A a uma tensão no vazio de 2V. Thomson desenvolveu, mais tarde, máquinas para soldagem a pontos, soldagem de costura, soldagem por projeção, soldagem de topo pela ação de faíscas. A soldagem a pontos tornou-se posteriormente o método mais comum da soldagem por resistência e é, hoje, extensivamente usada na indústria automotiva e em muitas outras aplicações de chapas de metal. Os primeiros robôs para soldagem por resistência foram entregues pela Unimation para a General Motors em 1964. Soldagem a gás A soldagem a gás com uma chama oxicombustível foi desenvolvida na França no final do século XIX. A primeira tocha apropriada para soldagem foi feita por Edmund Fouche e Charles Picard, em torno de 1900. A chama provou ser extremamente quente – acima de 3100ºC – e a tocha tornouse então a ferramenta mais Figura 1: Transformador de soldagem por resistência criado por Thomson. importante para a soldagem e corte de aço. O gás acetileno já tinha sido descoberto há muito tempo quando Edmund Davy descobriu, na Inglaterra, que um gás inflamável era produzido quando carbureto era decomposto na água. O gás, quando queimado, provou ser excelente para iluminação, e este logo tornou-se o principal uso do acetileno. Porém, muitas explosões ocorriam quando o gás era transportado e usado. Descobriu-se que a acetona poderia dissolver grandes quantidades de acetileno, principalmente se a pressão fosse aumentada. Em 1896, Le Chatelier desenvolveu uma maneira segura de armazenar acetileno usando acetona e uma pedra porosa dentro dos cilindros. Muitos outros países fizeram uso desta invenção francesa para armazenar aceti- leno, mas ainda assim algumas explosões ocorriam durante o transporte. O sueco Gustaf Dahlén da AGA mudou a composição do teor poroso e conseguiu fazê-lo 100% seguro. Soldagem a arco Em 1810, Sir Humphrey Davy criou um arco elétrico estável entre dois terminais – o fundamento para o que se tornou conhecido como soldagem a arco. Na Primeira Feira Mundial de Eletricidade, em Paris, em 1881, o russo Nikolai Bernardos apresentou o método para soldagem a arco, no qual ele gerou um arco entre um eletrodo de carvão e a peça de trabalho (Figura 2). Uma vareta ou um arame de metal de adição poderiam ser alimentados para dentro do arco ou na poça de fusão. Ele era, naquela época, um aluno do laboratório francês de Cabot e, juntamente com seu amigo Stanislaw Olszewski, conseguiu uma patente em vários países, de 1885-1887. A patente mostrava um porta eletrodo antigo, veja figura 2. A soldagem a arco de carvão ganhou popularidade ao final do século XIX e nos primeiros anos do século XX. Um conterrâneo de Bernardos, Nicolai Slavianoff, desenvolveu ainda mais o método e, em 1890, ganhou uma patente para o uso de uma vareta de metal como eletrodo, ao invés de carvão. O eletrodo derretia e assim funcionava tanto como fonte de calor quanto metal de adição. Entretanto, a solda não era protegida do ambiente e, em decorrência disso, surgiram problemas de qualidade. O sueco Oscar Kjellberg, ao usar o método para o reparo de caldeiras a vapor em navios, observou que o metal de solda estava cheio de poros e pequenas aberturas que im- possibilitavam conseguir uma solda estanque. Com o objetivo de melhorar o método, ele inventou o eletrodo revestido, cuja patente veio no dia 29 de junho de 1907 (patente sueca de número 27152). A melhoria de qualidade significou um marco na soldagem elétrica, visto que agora ela também poderia ser usada para aplicações industriais. A ESAB tinha sido fundada em 12 de setembro de 1904, como uma empresa de reparo de navios. Mais tarde, na década de 30, novos métodos foram desenvolvidos. Até então, toda a soldagem a arco era realizada manualmente. Foram feitas tentativas para automatizar o processo com um arame contínuo. A invenção mais bem sucedida foi a soldagem a arco submerso (SAW) onde o arco é “submerso” em uma cobertura de fluxo fusível granular. A soldagem a arco em um ambiente de gás protetor foi patenteada em 1890, por Figura 3: Uma ilustração da patente sueca de Oscar Kjellberg (1907), mostrando o uso de um eletrodo revestido. Figura 2: Método de Bernardos para soldagem com eletrodo de carvão. C.L.Coffin. Durante a Segunda Guerra Mundial, porém, a indústria de aviação precisou de um método para soldar magnésio e alumínio. Em 1940, nos EUA, teve início uma intensa experimentação para proteger o arco através de gases inertes. Através de um eletrodo de tungstênio, o arco poderia ser mantido sem derreter o eletrodo, o que possibilitou a soldagem com ou sem material de adição. O método é agora chamado de soldagem TIG (Gás Tungstênio Inerte) Alguns anos mais tarde, o processo de soldagem TIG foi aprimorado, usando-se um arame de metal consumível como eletrodo. Inicialmente, os gases protetores foram os gases inertes hélio ou árgon. Lyubavskii e Novoshilov tentaram, com sucesso, usar o CO2 (gás ativo) por sua facilidade de obtenção (soldagem MAG). Através do método de “transferência globular”, eles reduziram alguns problemas causados pela intensa geração de respingos. Nesta época, a maioria dos processos de soldagem modernos já tinham sido inventados. Estes métodos foram seguidos mais tarde, por outros métodos, tais como soldagem a laser e soldagem por fricção, ambos desenvolvidos pelo Instituto de Soldagem (TWI) na Inglaterra (Tabela 1). Fontes de energia Uma das razões pelas quais a soldagem elétrica não foi introduzida antes do final do século XIX pode ser a falta de fontes de energia apropriadas. No final do século XVIII, os italianos Volta e Galvani conseguiram produzir corrente elétrica com elementos galvânicos. Um avanço importante ocorreu em 1831, com a criação dos princípios de Michael Faraday para o transformador e gerador. Os primeiros experimentos de soldagem foram realizados com vários tipos de soluções para o fornecimento de corrente de soldagem. • Sir Humphrey Davy usou uma bateria como fonte de energia para os primeiros experimentos com arco elétrico, em 1801. • Bernardos usou um motor a vapor de 22 hp para alimentar um gerador de corrente constante (DC) e 150 baterias para produzir a eletricidade 31 Processo de soldagem Abrev. Soldagem por resistência Inventor Ano Instituto País Elihu Thomson 1886-1900 Thomson Electric Welding EUA Soldagem oxicombustível OAW Edmund Fouche, Charles Picard 1900 Soldagem aluminotermia TW Goldschmidt 1900 Goldschmidt AG Alemanha Soldagem a arco manual MMA, SMAW Oscar Kjellberg 1907 ESAB Suécia Soldagem por eletroescória ESW N. Bernardos 1908 Rússia R.K. Hopkins 1940 EUA Soldagem plasma Soldagem TIG Soldagem a arco com arame tubular PAW TIG, GTAW FCAW Schonner, R.M. Gage MIG, GMAW 1950 Paton Welding Institute UkrSSR 1909 Basf Alemanha 1953 EUA C.L. Coffin, 1920 EUA H.M. Hobart e P.K. Devers 1941 EUA Stoody 1926 Soldagem de pinos (Stud Welding) Soldagem MIG H.M. Hobart e P.K. Devers New York Navy Yard 1930 Airco & Battelle 1948 Memorial Institute EUA National Cube Co. EUA SAW Robinoff 1930 Soldagem MAG MAG, GMAW Lyubavskii e Novoshilov 1953 Peter Houldcroft 1966 Soldagem a laser LBW Martin Adams 1970 Soldagem por fricção FSW Wayne Thomas e outros 1991 para sua soldagem a arco. O peso total somente das baterias era de 2.400Kg. • Thomson usou um transformador quando desenvolveu máquinas para soldagem por resistência. • Oscar Kjellberg usou tensão de 110V de corrente constante e reduziu a corrente para um nível apropriado deixando a corrente passar através de um barril cheio de água salgada. A AEG, na Alemanha, produziu um gerador de soldagem em 1905. Ele era alimentado por um motor assíncrono trifásico e tinha características adequadas para soldagem. Pesava 1000 Kg e produzia 250 A. A corrente constante (DC) foi normal para soldagem a arco até a década de 32 1920. O avanço dos eletrodos revestidos possibilitou usar corrente alternada (AC), e o transformador de soldagem tornou-se logo popular, pois era mais barato e consumia menos energia. No final da década de 1950, começaram a ser produzidos os retificadores estáticos de soldagem. Inicialmente, foram usados os retificadores de selênio, substituídos logo depois pelos retificadores de silício. Mais tarde, os retificadores tiristorizados possibilitaram controlar a corrente de soldagem eletronicamente. Hoje, estes são usados com frequência, principalmente para fontes de energia de soldagem maiores. O maior avanço nas fontes de energia foi a fonte inversora de soldagem. O primeiro EUA 1930 Soldagem a arco submerso Corte laser França EUA USSR BWRA (TWI) Inglaterra Inglaterra TWI protótipo deste método foi construído na ESAB em 1970, mas somente em 1977 passou a ser usado industrialmente. Em 1984, a ESAB introduziu a fonte inversora “Caddy” de 140 A, pesando apenas 8 Kg. Processos de soldagem avançados Quando a soldagem plasma foi introduzida, ela provou ser uma fonte de energia muito mais concentrada e quente, possibilitando aumentar a velocidade de soldagem e diminuir o aporte de calor. Vantagens semelhantes foram detectadas quando a soldagem a laser e eletrônica foram introduzidas, na década de 1960. A quali- Inglaterra dade e as tolerâncias poderiam melhorar além do que tinha sido anteriormente possível. Novos materiais e combinações de metais dissimilares poderiam ser soldados. O feixe super estreito demandou o uso de equipamentos mecanizados. Robôs têm sido usados para soldagem por resistência desde 1964. Os robôs de soldagem a arco apareceram por volta de 10 anos mais tarde. Os robôs elétricos puderam então ser projetados com a devida precisão para satisfazer as demandas da soldagem MIG. Originalmente, os robôs foram programados com os mesmos dados de soldagem usados pelos soldadores manuais. Muitas tentativas foram realizadas para aumentar a produtividade do processo MIG. O canadense John Church usou altas velocidades de avanço de arame e um gás protetor com 4 componentes. Com processos semelhantes, tornou-se possível dobrar a velocidade de avanço, ainda usando equipamento de soldagem normal. O método de usar dois arames na mesma poça de fusão – soldagem tandem ou bifásica – tem demonstrado ser ainda mais produtivo. O método mais recente de alta produtividade é a soldagem híbrida, onde dois processos diferentes são combinados. O mais promissor talvez seja a soldagem híbrida laserMIG, onde altíssima velocidade e alta penetração são alcançados. A soldagem mecanizada permitiu novos aplicativos. A soldagem com junta estreita economizou tempo e consumíveis e reduziu a distorção na soldagem de seções pesadas. Inicialmente, usou-se apenas o processo MIG, mas depois a soldagem a arco submerso e a soldagem TIG também foram usados. Por volta de 1980, a ESAB entregou equipamentos pesados para soldagem a arco submerso e soldagem com junta estreita para a Volgadonsk, na antiga União Soviética. A soldagem por fricção foi patenteada em 1992 pela TWI. O método funciona muito bem para alumínio, o qual pode ser unido sem ser derretido e produz uma junta de altíssima qualidade. O processo não usa consumíveis, tem um consumo mínimo de energia e baixo impacto ambiental. É tão simples e eficaz que deve ser considerado uma das inovações mais formidáveis na área de soldagem do século XX. Tendências futuras Algumas tendências gerais na soldagem são muito óbvias: a busca constante por uma maior produtividade, mais automação e por processos de soldagem mais eficazes. Equipamentos com peso reduzido são produzidos através de novos designs e do uso mais intenso de ligas de alumínio e aço mais resistentes. Uma visita às feiras de soldagem mostra claramente que o desenvolvimento de componentes eletrônicos, tecnologia de computadores e comunicação digital influencia o desenvolvimento dos equipamentos de soldagem. Novos processos tais como o híbrido laser/MIG e a soldagem por fricção foram introduzidos, mas os métodos TIG, MIG e a arco submerso continuarão, sem dúvida, a dominar. Sobre o Autor: Klas Weman, MSc, tem uma larga experiência no desenvolvimento de equipamentos de arco, fontes de energia e processos de soldagem na ESAB Welding Equipment AB, em Laxa, Suécia. Anteriormente, foi professor adjunto no Departamento de Tecnologia de Soldagem no Royal Institute of Tecnology, em Estocolmo. E-mail: [email protected] Referências: • Bergsmannaföreningen. Wermländska Bergsmannaföreningen. Annaler 1887. • Cary, Howard B. Modern Welding Technology, 4ª Edição, 1998. Prentice Hall. O livro pode ser encomendado no Departamento de Materiais de Treinamento, Hobart Institute of Welding Technology, 400 Trade Square East, Troy, OH 45373. http://www.welding.com/history_of_welding.shtml#1 • Jefferson’s Welding Encyclopedia, 18ª Edição. Sociedade Americana de Soldagem. • Katz, Eugeni (2003), Elihu Thomson, 3 de fevereiro de 2004. http://www.geocities.com/bioelectrochemistry/thomson.html • Kolbe, Ben. Welding. http://www.e-scoot.com/2001/kol/Welding.htm • Jalapa Gas and Chemical Corp. 7223 Decker Drive. Baytown, Texas 77520. http://www.chemtane2.com/environmental/cva_env_impact.html • Sapp, Mark.(2003). 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Entretanto, em 1885, o russo Bernados usou eletrodo de carvão para gerar um arco elétrico e alimentou uma vareta metálica dento da poça de fusão para fazer um depósito de solda. A soldagem ao arco nasceu, porém a vida curta do eletrodo, a baixa qualidade de solda devido à oxidação e absorção de nitrogênio e o risco de endurecimento através da excessiva 34 absorção de carbono pela solda limitaram sua utilidade. Mais ou menos cinco anos depois, Slavianoff usou uma vareta de metal sem revestimento para combinar a geração do arco com o metal de adição. Mas fracassou em resolver o problema fundamental do oxigênio e nitrogênio entrando na poça de solda e, dessa forma, a qualidade do metal de solda continuou baixa. O grande avanço veio com a invenção de eletrodos revestidos de Kjellberg. Essa descoberta também resolveu o problema da soldagem acima da cabeça, possibilitando soldar em espaços confinados onde a peça de trabalho não poderia ser transportada ou movida, como por exemplo na caldeira a vapor de um navio. Assim como toda nova tecnologia, cuidado e compreensão foram necessários. Então Kjellberg escreveu o seguinte: “O trabalho tem que ser conduzido com o maior cuidado possível e o trabalhador não pode, sob nenhuma circunstância, consumir bebida alcoólica antes ou durante o trabalho. Meia lata de cerveja é capaz de tornar o trabalhador inapto a realizar um bom trabalho; a radiação de luz, juntamente com uma pequena quantidade de bebida alcoólica, pode ter um efeito muito paralisante no trabalhador.” Assim como muitas tecno- De 1910 a 1920, os eletrodos por imersão começaram a ser usados na Europa através de contratos de licença com a ESAB. Apesar de considerados com “revestimento grosso”, eles tinham uma camada bastante porosa que produzia muita escória. A técnica de soldagem com esses eletrodos requeria ambas as mãos: a mão esquerda controlava o eletrodo e a mão direita segurava o martelo para forjar a solda. Oscar Kjellber escreveu que uma solda boa é caracterizada por seu padrão regular de escama de peixe, derivado ao martelamento! Enquanto isso, na Inglaterra outro método de revestimento de vareta de arame foi inventado, enrolando fios de asbesto ao redor da alma. A vantagem sobre os eletrodos por imersão era que a poça de solda era visível para o soldador, e os eletrodos eram mais concêntricos. Pressionando uma pasta entre os fios de asbesto aprimorouse ainda mais o eletrodo “bobinado”, e esta é a origem do eletrodo extrudado. Durante o mesmo período, nos Estados Unidos, R.S.Smith introduziu um eletrodo revestido de papel que oferecia uma proteção gasosa para a poça de solda e reduzia os níveis de nitrogênio. A Lincoln Electric aprimorou esse revestimento de papel ainda mais, e o eletrodo com revestimento celulósico extrudado foi criado. Tanto este tipo quanto o eletrodo bobinado tinham fino revestimento com pouca escória e permitiam ao soldador ver a poça de solda. Os eletrodos de revestimento fino tornaram-se populares na Inglaterra e nos Estados Unidos, enquanto que no resto da Europa o revestimento mineral era o mais preferido. Traços dessas preferências ainda são vistos hoje. Para superar os inconvenientes do revestimento grosso do eletrodo por imersão, inúmeras fórmulas de imersão foram pesquisadas. Era importante descobrir uma mistura que oferecesse uma quantidade equivalente de escória em relação ao revestimento. Mais tarde isto resultou no revestimento refinado ou oxidante. A composição de metal de solda que se segue foi obtida por Oscar Kjellberg, em 1909. Ela não é tão impressionante quando comparada com os padrões de hoje, mas esse metal de solda produziu juntas que cumpriram o objetivo na- foram logo identificados como sendo prejudiciais às propriedades do metal de solda. Testes realizados no início da década de 30 revelaram os seguintes níveis no metal de solda produzidos por arame sem revestimento, eletrodos com revestimento fino e eletrodos com revestimento grosso, Elis Helin foi premiado com a medalha de ouro Kjellberg, pela Academia de Ciência Sueca por sua contribuição importante à ciência da metalurgia de soldagem. 1940 – 1949 Durante os anos de guerra, Arame sem revestimeno Revestimento fino Revestimento grosso Oxigênio 1600 ppm 1000 ppm 700 ppm Nitrogênio 1300 ppm 1000 ppm 300-400 ppm respectivamente: 1930 – 1939 Na década de 1930, a extrusão começou a substituir a imersão como um processo de produção, apesar de os eletrodos por imersão terem permanecido em uso por algum tempo. A mudança de tecnologia raras vezes ocorre da noite para o dia. Avanços no revestimento significaram a introdução do revestimento oxidante balanceado. Os metais são adicionados ao revestimento para compensar o burn-off. Dentro da gama da ESAB encontra-se o OK 48, um eletrodo extrudado bobinado da Inglaterra; OK 40, de revestimento fino, OK 42P com revestimento oxidante e OK 52P extrudado, como indica a letra “P”. Além disto, o OK 52P era um eletrodo com revestimento grosso do tipo moderno, ou seja, deixando um bo- %C %Si %Mn %P %S 0.06 0.06 0.1 0.05 0.03 quela época. O oxigênio e o nitrogênio lidade. O revestimento era neutro, visto que não alterou a análise da alma comparado com os outros tipos de revestimento. Esse período também viu a introdução de dois eletrodos inoxidáveis; OK R3 e OK R7, assim como dois do tipo revestimento duro. Em 1939, o OK 47 foi introduzido, tendo o cado de escória, e era categorizado como um eletrodo de qua- mesmo tipo de revestimento do OK 52P mas com menor resistência de metal de solda. O OK 47 foi produzido tanto como eletrodo por imersão como eletrodo extrudado (OK 47P). Vários destes eletrodos foram, na época, aprovados pelo Lloyds Register, Bureau Veritas e Norske Veritas. No lado metalúrgico da soldagem, o fenômeno “olhos-depeixe” foi estudado. Na ESAB, Elis Helin conduziu uma série de investigações com o intuito de entender o efeito. Ele concluiu que o hidrogênio causa os olhos-de-peixe, mas que ele tinha influência somente no teste do metal de solda, e somente a cargas acima do ponto de escoamento. Ele também observou que, o tratamento térmico a 125-375ºC por 48 horas, podia eliminar os olhosde-peixe. As observações estavam corretas, apesar de hoje nem todo mundo concordar com estas conclusões. Contudo, ele ressaltou o problema do hidrogênio e o trabalho neste campo tem sido constante desde então. Em 1941, com a escassez de matériasprimas, a ESAB introduziu o OK 44P, um eletrodo celulósico. Esse tipo de eletrodo foi amplamente usado na Inglaterra e nos EUA, mas requeria uma técnica diferente de soldagem e nunca deslanchou nos países escandinávios, sendo uma região básica por tradição. A década de 40, contudo, testemunhou uns avanços interessantes e, em 1946, o OK Rapid foi introduzido. Era um eletrodo de profunda penetração, que foi criado para soldagem de juntas em L com uma tensão de arco de 60V (!) e requerendo fontes de energia para trabalho pesado. O OK 90P, um eletrodo Cr-Mo de alta resistência, foi lançado em 1943 e usado pela SAAB para soldar o trem de pouso de inúmeras aeronaves. A soldabilidade do eletrodo é sempre uma consideração importante para engenheiros de desenvolvimento, e as palavras de Elis Helin (1942) ainda são válidas até hoje: “As melhores características de soldagem irão produzir metal 35 de solda somente regular, enquanto um metal de solda superior irá sacrificar as características de soldagem.” Tendo dito isso, a ESAB introduziu o OK 50P, o primeiro eletrodo do tipo ácido, com o intuito de mesclar as propriedades mecânicas do OK 48P básico com a boa soldabilidade do 47P. Em 1945, um importante avanço foi realizado por P.C. van der Willigen, funcionário da Phillips na Holanda. Ele adicionou grandes quantidades de ferro macio em pó nos eletrodos rutílicos e ácidos para aumentar produtividade. Surgiu, então, o eletrodo de alta recuperação. A automação de soldagem como conhecemos hoje não estava disponível na década de 40, apesar de esforços terem sido feitos na época para mecanizar a soldagem de eletrodo revestido. Na ESAB da Dinamarca, K.K. Hansen desenvolveu um sistema mecânico para eletrodos, que oferecia soldagem contínua. À medida que o primeiro eletrodo derretia até o final da ponta, ele acendia o segundo eletrodo da fila atrás do primeiro, alguma distância abaixo da junta a ser soldada. Neste momento, o soldador tirava o porta eletrodo do primeiro eletrodo e recarregava-o atrás do segundo eletrodo, agora soldando. O eletrodo recarregado então acendia; o soldador mudava de novo e assim por diante. Os eletrodos tinham 600mm de comprimento e até 16mm de diâmetro. Hoje, a soldagem de gravidade está ainda em uso, com um esquema menos complicado, mas ainda 36 usando grandes diâmetros e eletrodos de 600mm ou 700mm de comprimento. Inovações na fábrica da ESAB na Alemanha em Finsterwalde geraram um eletrodo com duas almas dentro do mesmo revestimento. O eletrodo tinha uma alta velocidade de soldagem mas, por razões óbvias, era complicado demais para produzir. Hoje, temos o mesmo conceito do MAG-duplo. Durante este período, não havia nenhum requisito de resistência ao choque definido nas especificações para aços comuns de contrução – e nem tampouco para metais de solda. Já haviam sido reportadas trincas repentinas ao soldar a temperaturas abaixo de zero e as causas, micro-estruturas susceptíveis e tensão de 3 eixos, eram bem conhecidas. Ainda assim, alguns anos se passaram até que requisitos de tenacidade se tornassem obrigatórios. 1950 – 1959 Esta década viu a introdução do eletrodo OK Femax I e, mais tarde, o eletrodo OK Femax II, com 200% e 150% de recuperação, respectivamente. A crescente indústria naval tornou-se um importante usuário destes produtos, principalmente nos países nórdicos, com um pouco de relutância em outros lugares. Tal relutância não tinha nada a ver com a integridade da junta de solda, mas sim com exigências de salário dos soldadores, que tinham que trabalhar a altas velocidades de soldagem. Estação de energia nuclear Calder Hall na Inglaterra. Eletrodos OK Unitrode da ESAB usados para soldagem de permutadores de calor. O eletrodo OK 48P, agora bem estabelecido para uso com DC+, foi seguido pelo OK 48PV, para soldagem AC. O OK 48PV era empacotado em papel cartão, com uma embalagem de plástico para maior proteção contra umidade. Um artigo sobre o OK 48PV mostrou que a proteção contra umidade dos eletrodos básicos era importante, e que a embalagem de plástico não visava proteger os assentos das bicicletas dos soldadores da chuva. Em 1957, o eletrodo OK Unitrode (OK 48P produzido pela ESAB na Inglaterra), foi usado para a soldagem de permutadores de calor para a estação de energia nuclear em Calder Hall. A ESAB, nesta época, tinha uma gama de mais ou menos 13 eletrodos de aço inoxidável, entre rutílicos e básicos. Em 1956, foi introduzido o eletrodo inoxidável OK R303. Ele tinha uma alma de aço comum com toda a liga no revestimento, um eletrodo “sintético”. O preço do R303 era de 5 centavos de Euro por peça, comparado a 4 centavos de Euro por peça para o tipo comum. Com uma capacidade de transportar corrente mais alta, o R303 aumentou a velocidade de soldagem e reduziu o custo da solda de 30-50%. Em 1952, a ESAB introduziu o eletrodo OK Spiral, um eletrodo contínuo revestido. O formato era uma alma sólida com uma pasta de revestimento flexível e uma malha trançada de fios de aço sobre o revestimento. O eletrodo era enrolado em carretéis de 25 Kg e os fios de aço bobinados em cruz serviam de pontos de contato para a absorção de corrente. A variação de diâmetro era de 5 a 7 mm e a pasta de revestimento básica. Muito cuidado era necessário na produção de OK Spiral para assegurar que a pasta não cobrisse os fios de aço bobinados, isolando, assim, os pontos de contato. Uma análise dos diferentes tipos de eletrodos e revestimentos introduzidos durante este século mostra que o revestimento do tipo fino quase não existe mais; do tipo ácido, que teve seu pico na década de 40, está agora em declínio, enquanto o revestimento do tipo básico está em uso crescente. Em relação à padronização e controle de qualidade, em 1953, o IIW (Instituto Internacional de Soldagem) lançou o Atlas Radiográfico, no qual os defeitos de soldagem tais como porosidade, inclusão de escória e falta de fusão são classificados e graduados. 1960 – 1969 Em 1961, a ESAB mudou as designações dos seus eletrodos para o atual sistema de 4 dígitos. Por exemplo, o OK 48P tornou-se OK 48.00 e OK Femax II tornou-se OK 39.50. Isso não significa que a composição do OK 48.00 não tenha melhorado. Em 1941, a fórmula para o OK 48P tinha seis ingredientes de revestimento. O ciclo de produção tinha muitos passos, desde misturar pequenos mixes molhados, mantendo a temperatura em torno de 17ºC, até a secagem ao ar livre e em fornos. O tempo total era de mais ou menos 3 dias, sendo que a maior parte do tempo era dedicada à secagem ao ar livre para evitar trincas. Para esse eletrodo básico, era usada uma temperatura de forno de 80-90ºC, mas instruções diziam que se a secagem ao ar livre demorasse muito, talvez fosse necessária uma temperatura de forno de 250º C por algumas horas. O eletrodo dava soldas visualmente livres de porosidade, mas isso foi antes que os rigorosos requisitos radiográficos mudassem a visão a respeito dos níveis de porosidade. Por comparação, o OK 48.00, mais recente, contém mais de 20 componentes, e é secado a temperaturas muito maiores do que o 48P, enquanto o tempo de produção é uma fração. Os soldadores de hoje estão satisfeitos com as características de soldagem, assim como os inspetores e entidades certificadoras, que definem requisitos muito rigorosos em relação à qualidade do metal de solda e às propriedades mecânicas. O desenvolvimento de eletrodos de alta recuperação continuaram, e a ESAB introduziu o OK 33.60 e o OK 33.80, no início da década de 60. Neste período, a maioria dos eletrodos de alta recuperação eram ácidos ou rutílicos. Uma importante inovação por van der Willigen, em 1957, foi o eletrodo básico-zircone de alta recuperação. Seus baixos níveis de hidrogênio e propriedades mecânicas melhoradas ampliaram o uso dos tipos de alta recuperação. O conceito de alta recuperação foi também aplicado aos eletrodos de aço inoxidável e, em 1968, a ESAB introduziu o OK 61.41 e o OK 63.41, que utilizavam novos revestimentos rutílicos. A estatística de 1966 indica que 80 a 90% da soldagem da maioria dos países europeus era feita manualmente com eletrodos revestidos, apesar de arames sólidos e arames tubulares estarem crescendo em popularidade. Nos Estados Uni- dos, arames tubulares já tinham atingido um uso muito maior. Após 1970 O período pioneiro dos eletrodos revestidos foi nas primeiras décadas após a invenção de Oscar Kjellberg e a patente de 1907. Os conceitos gerais e os princípios de composição de revestimento foram investigados e documentados, apesar de nem todo fenômeno mecânico e metalúrgico ser totalmente compreendido. Apesar dos conhecimentos, instrumentos e métodos de hoje serem muito mais sofisticados do que antigamente, muitas áreas tais como propriedade de metal de solda e a interação entre os metais de solda e as juntas soldadas ainda requerem uma pesquisa avançada. Um exemplo é a soldagem de aços de alta resistência e a determinação das propriedades mecânicas do metal de solda. Hoje, a porcentagem de metal de solda depositado através de eletrodos revestidos baixou para mais ou menos 15% do total, enquanto os arames sólidos e tubulares dominam. Isso não significa que o trabalho de desenvolvimento com os eletrodos tenha parado. Os eletrodos ainda são um método conveniente de produção de metais de solda experimental, visto que as composições químicas podem variar infinitamente, oferecendo a base para conceitos de liga para outros processos. Mais importante do que isso é o nível de qualidade e sofisticação que o constante trabalho de desenvolvimento de produto gera. Exemplos disso são os baixos níveis de hidrogênio, a baixa absorção de umidade e a tenacidade que pode ser atingida, sem se esquecer das grandes melhorias na soldabilidade ou “atrativo do soldador”. Oscar Kjellberg estaria provavelmente muito feliz com os eletrodos de hoje e talvez diria: “Isto é o que eu esperava de uma invenção tão importante!” Sobre o Autor: Johan Alvander, M.Sc. (engenheiro de materiais) iniciou seu trabalho na ESAB em 1982, após formar-se pela The Royal Institute of Technology, em Estocolmo. Hoje é diretor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Área de Consumíveis. É também o novo coordenador de edição da Svetsaren. Eletrodo revestido contínuo – OK Spiral. 37 38 Soldagem de Navios, uma Questão de Classificação Navio-tanque de metano “Jules Verne”. Ateliers et Chantiers de la Seine – Maritine, França. Um exemplo da soldagem a arco manual aplicado em construção naval. Svetsaren 4/1964 Por: Olle Thomsson “ As Normas das Sociedades Classificadoras para as aplicações de soldagem na construção naval formuladas e revisadas, de tempos em tempos, à luz da experiência obtida, têm se provado úteis para os arquitetos e construtores navais. Essas normas são suficientemente rígidas para assegurar a margem de segurança necessária, e ainda tão flexíveis que permitem o progresso que deve ser realizado na tecnologia de soldagem.” Lloyds Register Staff Association, Transações 1934-35. De navios rebitados para navios totalmente soldados O aço começou a substituir a madeira como material de construção naval durante o século XIX. Em 1850, cerca de 90% da frota mundial era feita de madeira. A introdução do aço levou muito tempo e a confiança no novo material foi, inicialmente, baixa. Um uso mais intenso do aço veio com um design composto (aço/madeira), que possibilitou construir navios maiores com área de carga maior. Os primeiros navios de aço foram construídos com pla- cas forjadas com juntas rebitadas, importante método de construção que permaneceu por um longo período. Aproximadamente no início do século XX, a soldagem começou a ser considerada como uma alternativa possível à rebitagem – mas somente 50 ou 60 anos depois a rebitagem foi completamente substituída. Uma frase dita em 1960, dizia: “Rebitagem é geralmente considerada como um passo retrógrado pelos construtores navais. É usada apenas quando encomendada pelos armadores.” Dentre as tantas razões para este longo período de transição estão: os armadores eram tradi- cionalmente conservadores; a rebitagem funcionava satisfatoriamente; os aços soldáveis tinham que ser desenvolvidos; e o processo de produção de juntas apropriadas para soldagem estava indefinido. Um exame do uso de soldagem no processo de construção confirma isso. Os primeiros navios soldados parecem, em muitos aspectos, ter sido baseados em design rebitados, simplesmente substituindo rebites por solda. Isto freqüentemente levava a trincas na estrutura e, dessa forma, a necessidade de reparos desencorajava o uso de soldagem no processo de construção. 39 Gradualmente, a soldagem corretamente realizada mostrou-se superior à rebitagem – a questão chave era o “corretamente realizada”. O problema era determinar se a solda era adequada para o objetivo. Isso tinha que ser resolvido antes da adoção geral da soldagem elétrica na construção naval, visto que ela é extremamente crítica em áreas na estrutura do navio tais como convés de serviço, quilha e casco. Havia, entretanto, oportunidade para usar soldagem em áreas tais como construção de tanques de água portáteis, clarabóias e ventiladores, e para prender ilhoses, arruelas de aço, etc. Os projetistas e estaleiros viram as muitas vantagens da soldagem e os benefícios em termos do volume de aço e da produtividade. Os armadores pressionaram as Sociedades Classificadoras para aceitar a soldagem como uma alternativa à rebitagem, e os primeiros testes para aprovação de classificação ocorreram no princípio do século XX. A soldagem começou a ser usada, com sucesso, em reparos de navios, o que estimulou o desenvolvimento e uso da técnica. O primeiro navio totalmente soldado no Reino Unido, o Fullager, foi terminado em 1920 e velejou por 17 anos, afundando em 1937 depois de uma colisão. O ESAB IV foi também concluído em 1920 e foi o primeiro navio sueco totalmente soldado. Por algum tempo uma solução comum foi o navio parcialmente soldado, onde era usada a combinação de chapas soldadas e rebitadas. A figura 1 mos- 40 tra a seção mestra de um navio como este, construído em um estaleiro sueco. A Segunda Guerra Mundial marcou um período de avanço significativo rumo à construção geral de navios totalmente soldados. Porém, havia ainda contratempos e algumas Sociedades Classificadoras mantiveram requisitos para cascos rebitados até 1950. As primeiras normas formais de classificação vieram em 1920, quando a Lloyds Register lançou normas provisórias para soldagem. Os navios construídos segundo essas normas tiveram uma adição à notação de classe: Experimental. Em 1932, as normas revisadas incluíam requisitos para testes de resistência, os quais formam a base para as normas de hoje. O conceito de Norma Um fundamento básico para uma Sociedade Classificadora, ao se escrever uma norma, é assegurar que se pode alcançar a confiabilidade no processo de construção. Deve-se levar em consideração as boas e más experiências e o progresso da tecnologia. É necessário alcançar um equilíbrio e não ser excessivamente restrito, visto que isto poderia atrasar o desenvolvimento tecnológico. Isso pode parecer óbvio, mas foi vital durante a transição da construção naval rebitada para navios totalmente soldados. O objetivo maior das normas sempre foi assegurar jun- tas soldadas confiáveis. Muito simples na teoria mas, na prática, há muitos parâmetros que têm que ser atendidos. As normas refletem isto definindo requisitos não somente para a soldagem do metal em si, mas também para o desenho da junta, seqüência da soldagem, condições ambientais e capacitação do soldador. As normas, então, englobam muitos fatores de controle de qualidade: • Procedimentos de qualificação para material de soldagem • Procedimento de qualificação para soldadores • Procedimentos de qualificação para fabricante de material de soldagem • Design de soldagem • Qualificação de procedimento de soldagem • Inspeção e teste não-destrutivo de soldas As normas são escritas de tal maneira que dão responsabilidade ao inspetor responsável pela supervisão da operação de soldagem e são necessárias para cobrir as condições ambientais e comerciais nos estaleiros no mundo inteiro. Alguns estaleiros são muito avançados no uso de equipamento de soldagem, investindo considerável capital para alcançar eficiência de alta produção. Outros estaleiros ainda dependem de mãode-obra de baixo custo. As normas têm que ser generalizadas o suficiente para acomodar ambos conceitos e ainda oferecer um resultado satisfatório. Desde a época em que a rebitagem caiu em desuso e a sol- Figura 1: Seção mestra do projeto parcialmente soldado. O convés e o anteparo longitudinal são soldados. O casco lateral e do fundo são rebitados. Nervuras soldadas. (Fonte: Yrkeslaera for Skibsbyggere, Oslo, 1943) dagem tornou-se o principal método de construção, importantes mudanças aconteceram, tanto no desenvolvimento de técnicas de soldagem quanto no design de navios. Por exemplo, a introdução de aços de alta resitência, aços de baixa temperatura, uso de ligas de alumínio, aço inoxidável e aço duplex. Os estaleiros também contribuíram com técnicas de soldagem aprimoradas. O alcatrate arredondado foi uma invenção sueca para melhorar a transição do costado lateral para o convés. O estaleiro Kockums realizou muitos testes para a soldagem de grupos de estrutura primária para reduzir a quantidade de soldagem sem perda da resistência. As Sociedades Classificadoras assistiam e analisavam os resultados antes da aprovação. Tais avanços continuam. As Sociedades Classificadoras monitoram constantemente as normas para assegurar que novos avanços possam ser introduzidos sem o comprometimento da segurança. Elas fazem isso de maneiras diferentes, especialmente em relação ao estabelecimento dos critérios de aceitação. Isso causa problemas para os fabricantes de materiais de soldagem e as Normas Unificadas da Associação Internacional das Sociedades Classificadoras poderiam provavelmente resolver tais problemas. A resistência da junta soldada A principal regra para controle de qualidade no processo de soldagem é que a junta soldada deve ser, no mínimo, tão resistente quanto os materiais que serão soldados. A vantagem deste conceito é que o projeto pode ser desenvolvido sob a suposição de que a junta soldada terá no mínimo a mesma resistência. A junta tem que ser, contudo, corretamente projetada. Os estaleiros apresentam desenhos de soldagem para aprovação da Sociedade Classificadora, indicando claramente os detalhes das juntas soldadas das principais partes estruturais, incluindo tipo e tamanho de soldas. As normas para estes parâmetros cobrem seqüência de soldagem, habilidade do soldador e ensaios não-destrutivos. Figura 2: Exemplo de posicionamento para teste destrutivo de uma solda de topo (Fonte: Lloyds Register de navegação, Divisão da Marinha) O desafio da classificação foi, e ainda é, criar um conjunto de testes que verifique a resistência e a confiabilidade da junta soldada. As normas são, portanto, muito específicas em relação aos testes, que não são restritos à tensão de resistência. A resistência na zona afetada termicamente, a dureza e o comportamento sob dobramento têm que ser considerados. A figura 2 mostra um exemplo de um corpo de prova produzido para qualificar a resistência da soldagem de uma solda de topo. Para cada parte do teste, critérios de aceitação são bem definidos. Com os critérios atendidos, o material de solda (eletrodo, arame, etc) é aprovado e pode ser usado para construção naval. A figura 3 mostra um exemplo de etiqueta de produto da ESAB que mostra esta aprovação. Quando um inspetor – no mundo inteiro – tem que aprovar um procedimento de soldagem, a primeira coisa que ele procura são evidências de que o eletrodo/material de soldagem proposto é aprovado e apropriado para o procedimento de soldagem em questão. Os testes são fundamentais Figura 3: Etiqueta de identificação de um produto ESAB mostrando detalhes de aprovação da Sociedade Classificadora para a aprovação do material de solda. O procedimento para teste pode, às vezes, parecer um pouco trabalhoso e moroso, mas ele não atrasa o desenvolvimento da tecnologia de soldagem. O progresso nos métodos de produção também continua. Durante a década de 1990, o uso de soldagem a laser foi introduzido na construção naval: a velocidade de soldagem pôde ser aumentada, e o aporte de calor reduzido, quando comparado com a soldagem a arco. Com a redução de aporte de calor reduziu-se também a distorção do painel e, conseqüentemente, o preço e a dificuldade de soldagem. Há uma exigência de que a distorção dos painéis seja mínima nos cascos de navios de passageiros por razões estéticas. Em março de 1997, a Lloyds Register lançou as Diretrizes para aprovação de soldagem CO2-laser, que permitia o uso de soldagem a laser para juntas de topo comum e juntas T na construção naval. As diretrizes estabelecem os parâmetros principais da norma, tais como procedimentos de soldagem, características do material base, consumíveis de soldagem, testes e controle de qua- lidade. Desde então, a construção naval tem visto outros avanços na soldagem híbrida a laser. A aprovação geral da técnica ainda não foi dada mas alguns estaleiros foram autorizados a usar esta técnica em aplicações específicas. Novas técnicas de soldagem certamente continuarão a ser desenvolvidas. Porém, o conceito de norma permanecerá, e o papel das Sociedades Classificadoras, que é regulamentar o equilíbrio entre a confiabilidade funcional e os avanços na tecnologia de soldagem, não mudará. Sobre o Autor: Olle Thomsson formou-se na Universidade de Tecnologia de Chalmers, em 1964, e adquiriu a Teknologie Licenciat, em 1967. Começou a trabalhar na matriz da Lloyds Register em 1970, após alguns anos no escritório de desenho em Götaverken Arendal. Em 1977, ele se tornou o chefe do escritório de aprovação da Lloyds Plan, em Copenhagen. Em 1985, retornou à Suécia como Gerente Nacional da LR Suécia. Desde 1999, é membro da Academia Sueca de Engenharia. 41 Avanços na Tecnologia de Soldagem selo postal Criações, por Michelangelo, está incluída aqui (Figura 1). Centenário da soldagem Figura 1: Criações, por Michelangelo Por: Dr. Itsuhiko Sejima, In Tech Information s.c. Ltd., Tóquio, Japão. D r. Sejima analisa a história da soldagem através de uma seleção de imagens tiradas de sua coleção de selos. Introdução O mundo da coleção de selos, onde um pedaço de papel de menos de 3 centímetros quadrados pode custar até 100 milhões de Yen, tem uma longa história. É um hobby de grande interesse popular e gosto apurado, e dizem que é o hobby dos reis. Desde que os selos postais começaram a ser usados, 42 em 1840, milhares de imagens diferentes têm sido lançadas por todo o mundo; porém, aquelas relacionadas com soldagem são muito raras, nem mesmo chegando a 250 tipos diferentes. Apesar de poucos, numericamente falando, eles foram lançados em 84 países, o que indica que a soldagem continua a ser uma tecnologia indispensável para a indústria. Criação “O paraíso desceu até nós dentro de quatro paredes, paredes estas que têm seus lados mais baixos soldados aos quatro cantos da terra além do mar, uma a uma”. Esta é uma frase que fala da visão de um padre egípcio sobre a Criação, citada em um livro chamado ‘Mankind and the Universe’ (A Humanidade e o Universo), de J.L. Davis. Esta suposição, feita há 2.600 anos atrás, é agora reconhecida como incorreta; entretanto, o termo soldagem é usado para a importante ligação entre o céu e a terra. Parece ter sido a primeira vez na história que o homem usou o conceito de soldagem, e é interessante notar que ela está conectada com a criação do céu e da terra. Por isso o A junção de metais pelo forjamento, ou soldagem por forjamento, tem 3.000 anos de história, enquanto a brasagem foi realizada na Antiga Roma. Porém, a origem de todas as tecnologias modernas (Figura 2) se deu com a invenção da soldagem por eletrodo a carbono por N.N. Benardos (Rússia, 1881). Logo depois, a soldagem por resistência foi inventada por Elihu Thomson (EUA, 1885), seguido da soldagem por arco voltáico por N.G. Slavianov (Rússia, 1890). Essas invenções foram o prelúdio da época da solda altamente desenvolvida de hoje. Benardos pode até mesmo ser considerado o pai da indústria moderna de soldagem. Um selo comemorativo foi lançado em 1981 em homenagem aos 100 anos de sua invenção (Figura 3), mostrando o retrato de Benardos junto com um porta eletrodo, e um símbolo de soldagem por eletrodo a carbono. Porém, o porta eletrodo que ele de fato usava foi descrito em muitos artigos e, certamente, não tinha um anel ambulância, aviador, marinheiro, serviço feminino, artilharia, soldador, corpo de tanque e corpo de sinalização. O fato de ter uma cena de soldagem no selo enfatiza sua importância. O selo foi lançado em afrikaan e inglês. Figura 2: Crescimento do processo de soldagem desde seu princípio (C. Jackson, Welding Journal, Vol. 42, 1963, P. 216) com pinos. A origem deste desenho é desconhecida. O primeiro selo de soldagem do mundo O uso de selos teve início em 1840, mas somente 100 anos depois o primeiro selo sobre a soldagem foi lançado. Selos que ilustravam forjamento e ferreiros já tinham aparecido antes, mas um selo com um soldador a arco, lançado na África do Sul, parece ter sido o primeiro a simbolizar a soldagem moderna (Figura 4). Ele fez parte de uma série de selos comemorativos lançados para saudar os esforços de guerra, entre 1941 e 1943, que traziam as seguintes ilustrações: infantaria, enfermeira e Soldagem a arco e seus aplicativos Desde que a soldagem a arco tornou-se um processo comum, as ilustrações de soldagem têm sido freqüentemente usadas. Vários aplicativos de soldagem a arco manual são mostrados nas figuras 5 à 16. Figura 6: Guiné (1973) Figura 5: Japão (1949) Figura 7: Rússia (1981) Figura 8: Noruega (1985) Figura 9: Romênia (1973) Figura 10: Cuba (1980) Figura 11: Noruega (1993) Robôs de soldagem Os robôs de soldagem se tornaram inicialmente populares para soldagem por pontos na indústria automotiva, mas agora são aplicados em todos os campos da indústria. Robôs industriais estão presentes em muitos selos postais. Uma coleção relacionada à soldagem robótica é mostrada nas figuras 17 a 19. O selo alemão (DDR, Fig. 17) foi um de um par em comemoração aos 30 anos de fundação da Messe der Meister Figura 13: Botsuana (1990) Figura 12: Síria (1979) Figura 15: Polônia (1956) Figura 14: Romênia (1982) Figura 3: Rússia (1949) Figura 4: África do Sul (1941-43) Figura 16: Vietnã (1983) 43 von Morgen (MMM). O robô de soldagem aparece como uma epítome do desenvolvimento da engenharia. A Suécia lançou uma série de selos mostrando produtos inventados naquele país. A figura 18 mostra um robô de soldagem, que é visto como um avanço tipicamente sueco. O selo malasiano (fig. 19) faz parte de uma homenagem aos 25 anos da Organização da Produtividade Asiática e Ano da Produtividade. Este selo ilustra a soldagem robótica em uma linha de produção automotiva. Cuba em 1985, quando as relações com a USSR ainda eram estreitas. Processos de alta densidade de energia Gostaria de oferecer um agradecimento especial para Mr. Bertil Pekkari por sua cooperação e amizade ao longo de todos estes anos de soldagem e por ter me dado esta oportunidade de contribuir, com este artigo, para os comemorativos de centenário da ESAB. [1] F. Eder. The AWS Welding Journal, Junho de 1932, página 1. Soldagem no espaço Com a queda da União Soviética, o relacionamento entre os EUA e a Rússia se fortaleceu a tal ponto que ambas as nações trabalham juntas em programas espaciais. Em 1984, a USSR lançou um selo mostrando a soldagem no espaço (fig. 20). Este selo foi lançado em comemoração aos 25 anos do Paton Institute of Electric Welding. A foto de seu fundador, Prof. E.O. Paton, aparece no canto esquerdo superior. A ilustração mostra um soldador em uma sala espacial com um revólver, que parece com uma pinça de soldar com feixe eletrônico portátil. A figura 21 é uma gravura imaginária da soldagem em vôo livre no espaço pelos cosmonautas russos, lançado em 44 Soldagem com feixe a laser Vários selos foram lançados para ilustrar aplicações a laser tais como corte, juntas e tratamento de superfície, mas, infelizmente, nenhum com soldagem a laser apareceu. Dr. Charles Towne (fig. 22) e Dr. Arthur Shalow (fig. 23) são os inventores da tecnologia a laser, pela qual receberam um Prêmio Nobel. Agradecimento Sobre o Autor: Dr. Itsuhico Sejima completou seu Mestrado em Soldagem pela Universidade de Osaka em 1950. A maior parte de sua carreira foi na Hitachi, onde teve várias posições de gerência em engenharia e soldagem. Em 1970, completou seu Doutorado pela Universidade de Nagoya. Tornou-se Diretor Executivo da JEMA em 1982 e, em 1990, tornouse Diretor Executivo da In Tech Information s.c. Ltd. Figura 17: Alemanha (DDR) (1987) Figura 18: Suécia (1984) Figura 19: Malásia (1986) Figura 20: Rússia (1984) Figura 22: Gana (1999) Figura 21: Cuba (1985) Figura 24: Taiwan (1988) Figura 23: Malagásia (1990) Aços Inoxidáveis Passado, Presente e Futuro Por: Leif Karlsson ESAB AB, Gothenburg A grande e crescente família de aços inoxidáveis pode oferecer uma combinação única de resistência à corrosão e propriedades como alta resistência, tenacidade a baixas temperaturas, resistência a trincas e maleabilidade. Apesar de menor em quantidade comparado com os aços comuns, eles representam um grupo de aços cada vez maior e economicamente importante, onde novos aplicativos são descobertos a cada dia. Este ar tigo resume suscintamente a história do desenvolvimento do aço inoxidável e analisa alguns aspectos de soldabilidade. Alguns exemplos da longa história da ESAB na soldagem de aços inoxidáveis são mostrados e algumas tendências futuras analisadas. Introdução O ferro é um dos metais mais importantes e comuns na crosta terrestre. Ele forma a base dos grupos mais usados de materiais metálicos, ferros e aços. O sucesso destes metais deve-se ao fato de eles poderem ser produzidos de forma barata em grandes quantidades e oferecerem MTon uma extensiva gama de propriedades mecânicas – desde níveis de resistência moderados com excelente ductibilidade e tenacidade até altíssima resistência com ductibilidade adequada. Infelizmente, os aços comuns e de baixa liga são susceptíveis à corrosão e requerem revestimentos de proteção para reduzir a taxa de degradação. Em muitas situações a proteção galvânica ou a pintura de uma superfície é impraticável. Nos Estados Unidos, no ano de 2000, foi estimado que a corrosão custava à indústria e às agências do governo $276 bilhões por ano [1]. Os benefícios dos aços inoxidáveis de liga de cromo resistentes à corrosão podem, assim, ser facilmente reconhecidos. A grande maioria do aço utilizado no mundo é aço carbono e aço de liga, com os aços inoxidáveis mais caros representando um pequeno mas importante nicho. De todos os aços produzidos, aproximadamente 2% são aços inoxidáveis. Entretanto, como ilustrado na Figura 1, tem havido um crescimento constante anual de aproxi- 25 20 15 10 5 0 1970 1980 1990 2000 Figura 1: Produção mundial de aços inoxidáveis. (http://www.jernkontoret.se) madamente 5-8% destes aços [2]. Com a crescente consciência das questões ambientais, da necessidade de materiais facilmente recicláveis e dos custos de ciclo de vida, é de se esperar um crescimento constante no uso dos aços inoxidáveis. “Inoxidabilidade” Inoxidável foi um termo criado, no princípio do desenvolvimento destes aços, para produtos de talheres. Foi adotado como um nome genérico e, agora, cobre uma grande variedade de tipos de aços e graduações para aplicações resistentes à corrosão ou oxidação. O teor mínimo de cromo nos aços inoxidáveis comuns é 10.5% [3]. Outros elementos de liga, principalmente o níquel, o molibdênio e o nitrogênio são adicionados para modificar sua estrutura e melhorar suas propriedades, tais como a resistência à deformação, robustez e tenacidade criogênica. Os aços inoxidáveis resistem à corrosão devido à presença de uma fina camada de óxido “passivo” rico em cromo, formada naturalmente na superfície. Apesar de ser extremamente fina – 1-5 nanômetros (ex. 1-5 x 10-9m) e invisível, este filme protetor adere firmemente e é qui- 45 micamente estável sob condições que oferecem oxigênio suficiente para a superfície. Além disto, este filme de óxido protetor é auto-regenerador quando oxigênio suficiente está disponível. Portanto, mesmo quando o aço é arranhado ou cortado, o oxigênio do ambiente imediatamente combina com o cromo para regenerar a camada protetora [4-5]. Como um exemplo, ao longo de alguns anos, uma faca de aço inoxidável pode literalmente ser desgastada pelo uso diário e pelo fato de ser amolada inúmeras vezes – porém, ela continua inoxidável. Entretanto, os aços inoxidáveis não podem ser considerados “indestrutíveis”. O estado passivo pode ser quebrado sob certas condições e, como resultado, gerar a corrosão. É por isto que é muito importante selecionar cuidadosamente a graduação apropriada para uma aplicação específica. Os efeitos da soldagem e manuseio em relação à resistência à corrosão também têm que ser considerados. História A história dos aços inoxidáveis é tão antiga quanto a história do eletrodo revestido, inventado pelo fundador da ESAB durante a primeira década do último século. 46 O aço inoxidável foi descoberto independentemente em torno de 1913, por pesquisadores na Inglaterra e Alemanha. O primeiro aço inoxidável de verdade foi fundido no dia 13 de agosto de 1913, em Sheffield, uma iniciativa de Harry Brearley. O primeiro aço inoxidável foi martensítico, com 0.24% de carbono e 12.8% de cromo. Um ano depois da descoberta de Brearley, Strauss & Maurer, na Alemanha, desenvolveram as primeiras composições austeníticas, enquanto faziam experimentações com adições de níquel. Quase simultaneamente, Dansitzen, que já havia estudado ligas similares às que Brearley estava investigando, porém com menor teor de carbono, descobriu nos Estados Unidos os aços inoxidáveis ferríticos. Essas invenções, que ocorreram pouco antes da Primeira Guerra Mundial, levaram ao desenvolvimento dos grupos de aço inoxidável martensítico, ferrítico e austenítico. Os primeiros aços inoxidáveis duplex foram produzidos na Suécia, em torno de 1930, para aplicações na indústria de papel. Porém, a produção comercial de graduações de inoxidável de endurecimento por precipitação somente começou após a Segunda Guerra Mundial. Novas graduações com uma proporção melhor de peso x resis- tência foram então necessárias para jatos, que levou ao desenvolvimento das graduações de endurecimento por precipitação tais como 17:4 PH [6-7]. A metalurgia básica dos sistemas de ferro/cromo e ferro/cromo/níquel foi compreendida por volta de 1940 e, já na década de 50, os aços inoxidáveis tornaram-se padronizados com especificações que pouco mudaram desde então. À medida que estas graduações foram aceitas, o foco mudou para a busca de métodos de produção de massa mais baratos e a popularização do uso do aço inoxidável. O próximo passo no seu desenvolvimento tornou-se possível com o avanço do processo de descarbonização por argônio-oxigênio (AOD) no final da década de 60. Essa técnica possibilitou produzir aços muito mais limpos, com um baixíssimo nível de carbono e teor de nitrogênio bem controlado. A introdução do lingotamento contínuo na produção de aço inoxidável, na década de 70, contribuiu para baixar os custos de produção e aumentar a qualidade. A partir da década de 70, a adição de nitrogênio e diminuição do teor de carbono possibilitaram desenvolver os aços inoxidáveis duplex em materiais adequados para soldagem. Pudemos ver o surgimento dos “super” aços inoxidá- veis nas últimas duas décadas. As graduações superferríticas, com baixíssimos níveis intersticiais e alto teor de cromo e molibdênio, têm uma resistência à corrosão superior, comparado com as graduações ferríticas padrão. Entretanto, apesar desses aços terem encontrado algumas aplicações, seu sucesso tem sido pequeno. Os aços superausteníticos altamente ligados e os aços inoxidáveis superduplex, com excelente resistência à corrosão e melhor fabricabilidade e soldabilidade do que os aços ferríticos, encontraram maior utilização e são hoje importantes ligas. O aço supermartensítico é a contribuição mais recente à família de aços inoxidáveis [8]. Esses aços são extremamente baixos em carbono (normalmente <0.010%) e oferecem uma combinação de alta resistência, adequada resistência à corrosão e soldabilidade, a um preço competitivo. Apesar do seu uso, como é comum na introdução de novas graduações de aço inoxidável, ter enfrentado dificuldades devido a alguns problemas de corrosão inesperados, esse material é muito interessante e esperase que encontre um uso crescente no futuro. Soldagem O desenvolvimento de Figura 2: Corrosão intergranular na zona afetada termicamente de um aço de 18% Cr e 8% Ni com 0.10% C como testado em 1944 [10]. veis já na década de 60 (Fig. 3). Os arames tubulares tornaram-se, nas últimas décadas, um grupo importante de consumíveis, oferecendo vantagens na produtividade e na formulação da liga, mais fácil do que nos arames sólidos. Mecanização novos aços inevitavelmente traz novos problemas na produção e junção. Isto é especialmente verdade para soldagem onde as propriedades desejadas de material, cuidadosamente produzidas pelo fundidor, podem ser radicalmente mudadas através de um processo que localmente funde e relingota parte da peça. Há certamente uma demanda contínua por uma maior produtividade na soldagem, mantendo as propriedades do material base. A história da soldagem do aço inoxidável em escala industrial foi, até a década de 50, mais ou menos a mesma da soldagem a arco manual (MMA). Os eletrodos revestidos de aço inoxidável foram uma inclusão antiga na gama de consumíveis da ESAB. A primeira edição da Svetsaren, em 1936 [9], registrou um aplicativo usando ESAB OK R3 (18%Cr, 10.5%Ni e 1.5 %M0). Muitos dos tipos de consumível inoxidável martensítico, ferrítico, austenítico e ferrítico-austenítico hoje utilizados foram desenvolvidos há mais de cinco décadas. Um problema comum com aços e metais de solda naquela época era o alto teor de carbono, que introduzia o risco de corrosão intergranular devido à precipitação de carburetos de cromo nos limites de grão. [10] (Fig.2). Com a introdução das graduações com menor teor de carbono, este problema é muito raro hoje em dia. O risco de formar fases intermetálicas nos metais de solda foi também muito pesquisado logo no princípio [11,12]. Porém, com o surgimento de graduações de ligas mais altas, isso é algo que ainda tem que ser considerado ao se projetar consumíveis e selecionar parâmetros de soldagem. A soldagem a arco manual foi o processo de soldagem dominante na década de 80 e é ainda significativo para soldagem de aços inoxidáveis [13]. Os arames sólidos para soldagem semi-automática foram introduzidos na gama de consumíveis da ESAB na década de 50, e as fitas, arames e fluxos de arco submerso estavam disponí- Apesar de muitas técnicas novas de soldagem em estado sólido e por fusão terem sido introduzidas e estarem sendo utilizadas em aplicações específicas, nenhuma ainda foi capaz de substituir a soldagem convencional por fusão em grande escala. Entretanto, a mecanização e os robôs mudaram a abordagem da soldagem com maior produtividade e qualidade. Um exemplo é a soldagem de turbinas Francis para projetos hidrelétricos. Um rotor de turbina de 67 toneladas produzida em 1957, em aço de 13% Cr, foi montada usando consumíveis OK R6 da ESAB (17.5%Cr, 11.5%Ni, 2.5Mo). A superfície da junta foi amanteigada usando um pré-aquecimento de 250ºC, imediatamente seguido de um tratamento térmico pós-solda de 680ºC. O rotor foi então montado (Fig.4), depois da preparação da superfície das juntas, e a soldagem final foi realizada à temperatura ambiente, com 4-5 soldadores trabalhando simultaneamente, em lados opostos, para minimizar o risco de deformação. Um tratamento térmico pós-soldagem a 680ºC para alívio de tensões assegurou ótima resistência à corrosão. Um projeto mais recente, ilustrando a tendência em direção à mecanização, é a soldagem dos rotores de turbina Francis para o maior projeto hidrelétrico do mundo - a represa Three Gorges na Figura 3: Dois exemplos de soldas de arco submerso em aço inoxidável austenítico 18% Cr e 8% Ni de 8 e 25 mm, de um estudo da década de 60 [14]. 47 Figura 4: Montagem de um rotor de turbina Francis de 67 toneladas em 1957. Soldagem ao arco manual com eletrodo ESAB OK R6 sendo usado para amanteigamento das faces da junta e montagem final [15]. China [16]. Ao todo, 26 turbinas Francis, de 10m de diâmetro e com um peso de 450 toneladas, serão instaladas. Os rotores são forjados em aço inoxidável martensítico 410 NiMo (13% Cr, 4%Ni, 0.5% Mo). A soldagem a arco submerso (SAW) com dois arames (arco-duplo) foi considerada o melhor método de junção das hélices à coroa e borda do rotor. A seleção foi baseada tanto no critério produtividade quanto na qualidade do metal de solda, e incluiu o desenvolvimento do OK Flux 10.63 a ser usado em combinação com o 48 arame de enchimento OK Autrod 16.79 correspondente. A espessura da hélice varia ao longo dos 4 metros de comprimento de junta, mas é basicamente entre 70 e 220mm. Com uma corrente de soldagem típica de 700-800A e uma velocidade de soldagem de 70 cm/min, em torno de 200-300 cordões de solda tiveram que ser depositados com aportes de calor de mais ou menos 2 KJ/mm para cada junta. Uma performance e confiabilidade consistentes foram, portanto, tão importantes quanto as taxas de deposição durante a soldagem. O cabeçote de soldagem teve que seguir precisamente as juntas de 4 metros de comprimento com geometria tridimensional complicada. Manipuladores de soldagem de alta precisão controlados numericamente foram, então, necessários para obter todos os benefícios de um processo de soldagem totalmente mecanizado e atingir a produtividade necessária (Fig. 5). Processos de soldagem do futuro A pesar de técnicas como soldagem a laser e por feixes de elétrons es- tarem disponíveis e serem utilizadas há algum tempo, elas nunca conseguiram desafiar os processos de soldagem por fusão convencionais em larga escala. Fatores econômicos, assim como requisitos de montagem da junta, entre outros, têm limitado seu uso. A introdução da soldagem por fricção teve um rápido impacto na soldagem de ligas de alumínio. Tentativas bem sucedidas de soldagem de aços inoxidáveis foram registradas [17], mas a vida da ferramenta e a velocidade de soldagem são ainda grandes obstáculos para um uso mais difundido. No momento, a soldagem híbrida a laser [18], recentemente introduzida, parece ser a técnica mais provável de ser usada em grande escala. A técnica híbrida reúne as melhores características da soldagem a laser, tais como boa penetração, com a habilidade de soldar raízes afastadas da soldagem MIG. Estas características, quando reunidas, produzem soldas de alta qualidade com alta produtividade, enquanto mantêm a opção de adicionar um arame consumível, possibilitando compensar a falta de material e, quando necessário, modificar a composição do metal de solda. A figura 6 mostra um exemplo de soldagem de aço inoxidável Figura 5: Soldagem a arco submerso mecanizada dos rotores de turbinas Francis para o projeto hidrelétrico chinês Three Gorges (Três Gargantas)[16]. Figura 6: Soldagem híbrida a laser de aço inoxidável duplex 22% Cr de 11mm. Um primeiro passe híbrido a laser foi combinado com um segundo passe MIG para otimizar as propriedades da solda e perfil do cordão. Usou-se a adição de um arame de enchimento padrão de 22%Cr, 9%Ni, 3%Mo (OK Autrod 16.68 Ø1.0 mm) para assegurar suficiente formação de metal de solda austenítica. duplex de 11 mm com uma combinação de um passe híbrido-laser e um segundo passe de MIG. Excelentes propriedades mecânicas foram atingidas, mantendo um equilíbrio de fase apropriado no metal de solda e na zona afetada termicamente. Desenvolvimento de consumíveis de soldagem Apesar de os fabricantes de consumíveis seguirem o caminho dos produtores de aço ao formular novas ligas, há importantes melhorias no projeto de consumíveis, tanto em termos de soldabilidade quanto no controle de elementos residuais. A soldabilidade sempre foi, e sempre será, um aspecto importante no desenvolvimento dos aços inoxidáveis. A gama de aplicações em potencial para uma nova graduação de aço é definitivamente menor se a soldagem for um problema, ou se consumíveis de soldagem apropriados não estiverem disponíveis. A ESAB sempre acompanhou de perto o desenvolvimento do aço. Os consumíveis para aços inoxidáveis duplex fazem parte da gama de produtos da ESAB há muitas décadas, e um esforço considerável foi feito visando melhorar os consumíveis com o avanço do uso do aço duplex na década de 1970 e 1980 [19]. Um exemplo recente do empenho em estar na linha de frente no desenvolvimento de consumíveis para aços inoxidáveis é a introdução de arames tubulares sem escória (Fig. 7), de composição correspondente aos aços supermartensíticos (OK Tubrod 15.53 & 15.55) [22,21]. Uma tendência na produção de aços inoxidáveis duplex e austeníticos (a “supertendência”), por mais de 20 anos, tem sido a introdução de graduações com teores mais elevados de liga para atender à demanda por maior resistência à corrosão em aplicações especiais. Geralmente os teores de Cr e Mo são elevados para melhorar a resistência à corrosão embora, recentemente, o N e até certo ponto o W, terem se tornado importantes elementos de liga. Do ponto de vista de consumíveis, isso ressalta dois “antigos problemas”: porosidade/perda de nitrogênio e precipitação de fases intermetálicas. Um desafio para o futuro é encontrar combinações confiáveis de consumíveis e processos de soldagem para ligas, altamente ligadas com nitrogênio, que produzam soldas sem porosidade e com resistência à corrosão e propriedades mecânicas correspondentes. O efeito adverso da segregação sobre a resistência à corrosão durante a solidificação dos metais de solda de aço inoxidável é bem conhecido, sendo a utilização de altos teores de elementos de liga, uma prática bem conhecida para contrapor este fenômeno. Entretanto, à medida que o teor de liga aumenta, a precipitação de fases prejudiciais torna-se inevitável, e são empregados consumíveis mais estáveis estruturalmente à base de níquel. Atualmente, é difícil igualar a resistência à corrosão das graduações austeníticas mais altamente ligadas, mesmo com consumíveis à base de níquel. Um avanço interessante no desenvolvimento de novas ligas é o uso de fer- 49 ramentas modernas de modelagem para descobrir novas maneiras de lidar com o que parece ser o problema fundamental. Por exemplo, cálculos e experimentos termodinâmicos mostram que um teor maior de liga pode ser tolerado no metal de solda à base de níquel se uma combinação de W e Mo for usada, ao invés dos dois elementos separadamente [22]. A explicação está ilustrada na figura 8 mostrando que enquanto o Mo é enriquecido nas regiões interdêndricas, ocorre um empobrecimento correspondente do W, resultando em uma distribuição mais uniforme de elementos de liga, melhor resistência à corrosão localizada e menos risco de precipitação. O futuro inoxidável O futuro dos aços inoxidáveis certamente parece brilhante, iluminado e sem manchas. Com a necessidade de redução de custos de manutenção a longo prazo, o aumento da consciência ambiental e a preocupação com os custos de ciclo de vida, o mercado para o aço inoxidável está cada vez melhor. Contudo, o custo, comparado com materiais alternativos, certamente continuará a ser um fator importante na busca de novos mercados em regiões em expansão. É difícil identificar o produto principal no desenvolvimento do aço inoxidável, visto que o grupo é muito diversificado e as aplicações vão desde talheres até componentes importantes no processo industrial. Esperase que as graduações padrão de hoje continuem praticamente as mesmas, mas com produções a custos menores. A introdução e o crescente uso das graduações mais baratas e mais finas, tais como graduações ferríticas-martensíticas 1113Cr e duplex fina, contribuirão para baixar o preço e também para descobrir novas aplicações onde o aço comum é usado. Há também um contínuo desenvolvimento em graduações especializadas, altamente ligadas, para ambientes muito corrosivos e altas temperaturas. O nitrogênio está ganhando em popularidade, sendo talvez o menos caro de todos os elementos de liga e, pro- vavelmente, será introduzido em uma escala maior, em graduações padrão, numa tentativa de melhorar as propriedades e diminuir os custos de liga. Em resumo, espera-se que o uso de aços inoxidáveis continue a crescer significativamente. As graduações existentes continuarão sendo a base da indústria, e as versões atualizadas e as novas ligas também serão encontradas. Os processos de soldagem, existentes e novos, estão em constante desenvolvimento, e a expectativa é de que especialmente a soldagem híbrida-laser ganhe popularidade num futuro próximo. Contudo, é provável que os aços inoxidáveis continuem a ser soldados, em grande parte, usando processos a arco já conhecidos. Concentração Interdêntricas Dêntricas Interdêntricas Figura 7: Micro-estrutura típica de um metal depositado de todas as soldas com o arame tubular super martensítico OK Tubrod 15.55 (< 0.1 % C, 12% Cr, 6.5 % Ni, 2.5% Mo). 50 Figura 8: Perfis de concentração para W e Mo nos cristais em um metal de solda à base de níquel. O Mo é enriquecido nas regiões interdendríticas enquanto o W é diminuído, resultando em uma distribuição mais uniforme de elementos de liga e, assim, na melhor resistência à corrosão (o espaçamento dendrítico é de aproximadamente 10µm) Famílias de Aços Inoxidáveis Referência Bibliográfica É muito bom que a resistência à corrosão possa ser alcançada em um sistema à base de ferro simplesmente adicionando cromo, visto que através do ajuste adequado de outros elementos de liga, tais como o níquel e o carbono, uma grande gama de micro-estruturas pode ser desenvolvida. Portanto, os aços inoxidáveis podem oferecer uma gama fantástica de propriedades mecânicas e resistência à corrosão, e são produzidos em muitas composições. Por exemplo, há mais de 150 graduações de aço inoxidável soldável na última edição do EN 10088-1(3). As cinco maiores famílias de aços inoxidáveis são: • O aço inoxidável ferrítico tem propriedades similares ao aço comum, mas com uma resistência à corrosão melhor, devido à adição de normalmente 11-17% de cromo. • As composições martensíticas podem ser endurecidas por têmpera e revenimento como os aços carbono comuns. Eles têm uma resistência à corrosão moderada e contêm, normalmente, 11-13% de cromo com um teor de carbono mais alto do que as composições ferríticas. • Os aços inoxidáveis endurecidos por precipitação podem ser enrijecidos através de tratamento térmico. Tanto estruturas austeníticas como martensíticas podem ser produzidas. • Os aços inoxidáveis duplex (austeníticos-ferríticos) têm uma estrutura misturada de austenita e ferrita, daí o termo duplex. As graduações modernas são ligas com uma combinação de níquel e nitrogênio para produzir uma configuração da estrutura parcialmente austenítica e melhorar a resistência à corrosão. Estes aços oferecem uma combinação atraente de tenacidade e resistência à corrosão. • Os aços inoxidáveis austeníticos têm um teor de níquel de no mínimo 7%, o que faz o aço ser austenítico, e oferece ductibilidade, uma grande escala de temperatura de serviço, propriedades não-magnéticas e boa soldabilidade. Este é o grupo de aços inoxidáveis mais amplamente usado e indicado para inúmeras aplicações. As graduações super-austeníticas ou super-duplex aumentaram a resistência à corrosão localizada e intersticial comparado com os tipos duplex e autenísticos comuns, devido ao aumento de cromo, molibdênio e nitrogênio. Sobre o Autor: Dr. Leif Karisson juntou-se ao Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da ESAB em 1986, após fazer um Ph.D. em materiais na Chalmers University of Tecnology. Atualmente ocupa o cargo de Gerente de Projetos de Pesquisa na ESAB AB na Suécia, dando ênfase a projetos que lidam com ligas resistentes à corrosão e aços de alta resistência. 51 O Futuro da Soldagem e da Junção Por: Bertil Pekkari, ESAB AB Suécia D esde a invenção do eletrodo revestido há 100 anos, vários outros processos de soldagem foram inventados, por exemplo, soldagem a arco submerso, soldagem TIG, soldagem MIG/MAG, corte plasma e soldagem a arco com arame tubular. O que o futuro nos reserva? Os processos de junta mecânica ou adesivos estruturais serão uma ameaça para os processos tradicionais? Padrão de consumo para metais e metal de solda A soldagem hoje está intimamente ligada ao consumo de metais. O aço domina e continuará dominando por muito A China é, com certeza, a maior consumidora de aço, com 27% da produção mundial. Com mais de um bilhão de habitantes e consumo cada vez maior de produtos tais como carros, o aumento de consumo de aço continuará, como se pode ver na Figura 2. O consumo de aço na China é também influenciado por uma indústria naval crescente. O governo chinês está comprometido em se tornar o líder mundial na construção naval, ultrapassando o líder atual, Coréia do Sul. A obra do maior estaleiro naval do mundo já começou e está sendo construído ao longo de 8Km de costa na Ilha de Changxiang, em Shangai. Está programado para operar totalmente em 2005 e ajudará a China State Shipbuilding Corp a se tornar o maior 900 Rest of the world 800 700 PR China 600 Central & East Europe 500 Developing Asia 400 Latin America 300 Japan 200 USA 100 West Europe 0 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 Figura 1: Consumo de Aço Mundial 1976 – 2005 tempo. O consumo global cresceu 1.4% ao ano durante os últimos dez anos (Fig. 1)[1]. Com o alto crescimento de consumo na China durante os últimos cinco anos (26% em 2003), espera-se que o consumo global do aço bruto exceda um bilhão de toneladas. 52 construtor naval do mundo. Este estaleiro terá uma capacidade anual de 8 MTPB para construção de super petroleiros, navios para transporte de gás e navios de cruzeiro. O consumo de aço inoxidável no mundo tem um crescimento constante de 5.5%/ano Figura 2: Mudança no consumo de aço em %, 2003 comparado a 2002 (Fig. 3). Caiu abaixo de 20 milhões de toneladas, três anos atrás, mas excedeu este nível em 2003, alcançando 21.5 milhões de toneladas. A China contribuiu para essa situação com seu crescimento de 54.2% em 2003. Isso requer o uso de processos de soldagem de alta qualidade, como a soldagem plasma e TIG. Espera-se que o mesmo aconteça com a soldagem a laser. A mudança no consumo de alumínio (Fig. 4) foi muito mais baixa do que o esperado (2.8%/ano) para o período de 1990-2003. Esta cifra mudará quando o alumínio for mais comumente usado em carros e em outras partes da indústria de transporte. O número de veículos com carroceria de alumínio está crescendo e entre as empresas que oferecem tais carros para reduzir o impacto ambiental e melhorar a segurança do passageiro estão: Audi, Jaguar, Honda, Toyota, Ferrari, Mercedes-Benz e GM. Todas as estruturas podem ser projetadas para absorver a mesma energia que o aço com apenas 55% do peso. Os conceitos de design em alumínio estão constantemente mudando para reduzir o custo de fabricação das carrocerias feitas com este material. Um antigo diretor da Audi afirmou que a carroceria de alumínio era em torno de 500 Euros mais cara que a de aço. A tecnologia de fabricação de carrocerias de alumínio ainda precisa ser melhorada, como por exemplo a junção mecânica por climpagem e processos de rebitagem auto-perfurantes. A soldagem híbrida laser/MIG é outro processo de junção que resulta em menor distorção por calor e uma carroceria mais forte. Ainda levará muito tempo até que o alumínio ultrapasse o uso do aço. Em 2003, em torno de 26.4 milhões de toneladas • Aço inoxidável • Alumínio • Cobre • Produção industrial de OECD • Aço carbono Figura 3: Aço Inoxidável – a indústria de metal que mais cresce. Índice 1980=100 30 20 25 15 20 10 15 5 10 0 5 -5 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 Taxa de crescimento total mundial Taxa de crescimento do mundo ociden- Consumo mundial tal -10 Figura 4: Consumo de alumínio primário 1990 – 2003 Figura 5: Metal de solda depositado 1976 – 2002 Aerospaço 3.0% Automotiva 17.5% Fornecedores automotivos 11.2% Construção 20.0% Indústria de beneficiamento 8.6% Indústria naval 8.2% Indústria geral 31.4% Figura 6: Distribuição do mercado de soldagem da Europa Ocidental por setor de indústria de alumínio foram produzidas, sendo metade usada em produtos industriais e bens de capital. A fabricação em aço atingiu 855.0 milhões de toneladas. Para combater o aumento no uso do alumínio, a indústria do aço introduziu aços avançados de alta resistência (AHSS) na carroceria e em outras partes dos automóveis. Esse material foi desenvolvido em um projeto, conhecido como Ulsab, financiado por 33 companhias de aço. A Porsche Engineering produziu o projeto conceitual, economizando até 200 Kg no peso. Todas as mudanças de padrão de consumo de metais influenciam, obviamente, o tipo e a quantidade de consumíveis de soldagem depositados. Além disto, a conversão dos eletrodos revestidos para arames sólidos e tubulares continua, como indica a Fig. 5. A soldagem manual a arco está reduzindo em torno de 5-8% ao ano na Europa, enquanto que o consumo está nivelando nos EUA a 11% do metal de solda depositado e, no Japão, a 15%. A parcela de soldagem a arco manual é de 17% na Europa. Havia a expectativa de que o consumo de arames tubulares na Europa chegaria aos níveis dos EUA e Japão com a troca de ambos eletrodos revestidos e arames sólidos. Porém, agora está claro que isto não se materializará. Uma razão para isto pode ser que a diferença de preço entre os arames sólidos e tubulares é maior na Europa do que no Japão e nos EUA. Soldando em setores diferentes da indústria A Figura 6 mostra que o setor automotivo representa quase um terço do mercado de soldagem na Europa Oriental. Esta cifra, aparentemente alta, é influenciada pelos equipamentos de soldagem por resistência, a laser e robóticos, já que quase 60% destes produtos são demandados pelo setor automotivo. A produção em massa de carros demanda processos de união muito robustos e alta relação custo/benefício para chapas de aço e de alumínio. A construção de equipamentos de geração de energia necessita de processos e materiais de soldagem que atendam padrões da mais alta qualidade. Tais aplicativos são encontrados na geração de energia proveniente da água, vento, gás, nuclear, biomassa e óleo. Na construção naval, a soldagem a arco é o processo mais comum e vem constantemente sendo aprimorado para atender a produtividade e os objetivos de qualidade. A soldagem mecanizada é um meio de atingir isso, além de promover melhorias no ambiente de trabalho para os soldadores e operadores. Em 2004, mais de 90% de todos os navios estavam sendo produzidos na Ásia. A China tem planos muito ambiciosos para aumentar sua capacidade de produção, o que certamente levará a Ásia a dominar completamente a construção naval. A necessidade de eletricidade e energia está au- 53 mentando continuamente no mundo (Figura 7). A busca por novas fontes de geração de energia vem se desenvolvendo rapidamente. A energia eólica foi, inicialmente, considerada mais cara do que outras fontes de energia, mas, como se pode ver nas Figuras 8 e 9, isto já não é mais verdade. Os custos externos, contudo, não são considerados no cálculo de custos de investimento e de produção. A Comunidade Européia conclui: “O custo de produção de eletricidade a carvão ou a óleo dobraria, e do gás aumentaria 30%, se os custos externos, tais como danos ao meio ambiente e à saúde, fossem considerados”. Não importa quais fontes são usadas, a soldagem sempre encontra muitos desafios. É óbvio que, com o crescente consumo de metais e com a necessidade cada vez maior de transporte e energia, serão necessárias mais uniões e soldagem. Além do mais, empresas e países tentarão defender a sua competitividade na fabricação a todo custo. O que acontecerá com a união e a soldagem nos próximos anos? Espera-se que vários processos surjam. Soldagem MIG/MAG Tandem Este processo oferece uma produtividade muito maior (50300%) e uma penetração mais profunda. Usuários devem ter instruções simples para ajuste dos diversos parâmetros de soldagem, principalmente quando as correntes de soldagem são pulsadas e com mudança de fase. Na Suécia, foi avaliada a 54 influência das diferentes configurações de tocha de soldagem (Fig. 10). Com uma distância maior entre os eletrodos, alcança-se um processo mais aprimorado. Há menos distúrbios de arco, menos ou nenhum respingo e torna-se mais fácil conseguir um processo estável. É necessário um grande bocal de gás para alta proteção gasosa (40-50 l/min). Este processo é aplicável para soldagem tanto em chapa de aço quanto em placa de alumínio. A indústria automotiva está avaliando o processo tandem para juntas sobrepostas com velocidades de percurso de 5-7 m/min enquanto, na construção, menos passes de solda são necessários com este processo. Atualmente, há em torno de mil instalações funcionando no mundo– menos de dez operando na Suécia. Figura 7: Consumo global de energia Brazagem a laser e a arco A soldagem de aço revestido de zinco sem respingo, poros nem bolhas, é difícil. Melhores resultados de soldagem foram alcançados com arames tubulares de metal, arames tubulares com fluxo e brazagem a arco. Para revestimentos mais espessos de zinco (20 mm), são recomendados arames tubulares com fluxo, mas há ainda um pouco de respingo. A brazagem a arco oferece resultados muito melhores (Fig. 11). Quase nenhum respingo ou porosidade interna ocorre; alguns poucos poros internos podem ser observados no raio-x e a habilidade de soldar bordos afastados é tam- Figura 8 e Figura 9: Custos de investimento e produção de várias fontes de energia 20 20 20 16 20 20 10 10 5 Figura 10: Configurações de tocha de soldagem MIG/MAG Tandem 20 bém boa. Aberturas de junta de até 1mm podem ser manuseadas com arco pulsado. A mistura de gás de proteção tem também impacto no resultado. Juntas de igual resistência foram alcançadas com amostras soldadas e brazadas. Encontrar os parâmetros corretos de pulso é crucial e um desafio. Vários fabricantes de automóveis já usam brazagem a arco, enquanto outros brazam com laser de CO2 ou Nd:YAG. Uma das principais aplicações para brazagem a laser é juntar o teto às curvas da carroceria. Alguns fabricantes usam esta técnica para juntas visíveis externamente, e em locais onde corrosão intersticial é um problema (Fig. 12). A brazagem a laser oferece uma grande janela de processamento para a operação, razão para o interesse da indústria automotiva por este processo. Técnica de arame sinérgico na soldagem a arco submerso (SCMTM) Os objetivos de sustentabilidade ambiental estão reSoldagem (7µm) sultando em um crescente número de instalações de estações de energia eólica, que apresentam um alto nível de metal de solda: na média 700 kg para torres terrestres; e 1500 kg para torres marítimas. O processo de soldagem a arco submerso é usado, quando possível, a fim de conseguir uma alta taxa de deposição. As soldas têm que ser feitas na posição descendente com um passe de raiz interno e com passes de enchimento externos, para os quais dois eletrodos, DC e AC, são usados. A Figura 13 mostra preparos típicos de junta para espessura de material entre 8-50mm. Os dados de soldagem estão listados na Tabela 1. Agora é possível utilizar a soldagem a arco submerso com uma técnica de arame frio sinérgico (SCW), como se pode ver na Figura 14 [2]. Neste processo, alimentase o arame frio, em sinergia com o arame a arco, dentro da poça de solda, oferecendo um importante aumento na produtividade (Tabela 2). Soldagem (20µm) Brazagem (20µm) Lado frontal Figura 12: Mostrando uma junta brazada no novo Audi Figura 13: Preparos de juntas típicas Run No. Wire ømm Weld current A V Speed cm/min. 1 4 600 24 50 2 4 600 25 50 3 4 600 26 50 5-12 4 600 27 50 13-19 4 600 30 50 20 4 600 26 50 21-23 4 600 30 50 Tabela 1. Parâmetros SAW Lado traseiro Figura 11: Comparação entre juntas sobrepostas brazadas MIG/MAG e soldadas MAG. Quase nenhum dano do revestimeno de zinco do lado de fora da junta pode ser notado. Figura 14: Soldagem a arco submerso com técnica de arame frio sinérgico (SCWTM) 55 Arc wire Cold wire Productivity SCWTM increase (ø mm) (ø mm) (kg/hour) in productivity 4.0 - 8.9 - 4.0 2.5 12.4 +39% 4.0 3.0 13.9 +56% 4.0 4.0 17.8 +100% Table 2. Parâmetros SCW Exemplo de aumento na produtividade com adições de arame frio para parâmetros de soldagem típicos a uma corrente de 700 A. O processo de arame frio sinérgico oferece uma taxa de deposição mais alta, menor aporte de calor e melhores propriedades de metal de solda. cinco centímetros de espessura, seriam armazenados em um depósito profundo, no leito rochoso da Suécia. Dentro, há uma camada de ferro fundido para oferecer resistência mecânica. O tambor tem aproximadamente cinco metros de comprimento e um diâmetro de mais ou menos 1 metro. Um tambor cheio de combustível usado pesa em torno de 27 toneladas. Testes completos de soldagem por feixes de elétrons foram realizados em 19981999, quando uma instalação foi construída na TWI para testar a soldagem por fricção de tambores simulados. Um dispositivo segura e roda o tambor durante a soldagem, a uma velocidade que chega a 150 mm por minuto. A tampa, com um espessura de 50mm, é pressionada para baixo através de quatro cilindros hidráulicos. O processo de soldagem por fricção funciona bem e a SKB já encomendou uma instalação para uma avaliação completa da aplicação em escala industrial. Novas variações de soldagem por fricção Figura 15: Novas variantes FSW Soldagem por fricção (FSW) Ao contrário da energia eólica limpa, a energia nuclear produz um lixo perigoso que tem 56 que ser eliminado com segurança. Na Suécia, a Companhia de Gerenciamento de Lixo e Energia Nuclear (SKB) está avaliando os processos de soldagem por feixes de elétrons e por fricção para encapsulação do lixo em tambores de cobre duráveis. Tais tambores, com Atividades de Pesquisa & Desenvolvimento por todo o mundo estão avaliando a soldagem por fricção e, na TWI, onde este processo foi inventado, novas variações (Figura 15) estão sendo estudadas: • Re-Stir™ – Soldagem por Fricção Reversa com reciprocidade angular [3], onde a reversão é feita a cada revolução, e com rotação reversa, onde a reversão é feita após uma ou mais revoluções. Este processo é considerado apropriado para aplicações de soldagem de topo, soldagem sobreposta e soldagem por pontos. A principal razão para isto é que o processo gera essencialmente soldas simétricas e, assim, tem o potencial de superar alguns dos problemas associados com a assimetria inerente na soldagem por fricção convencional. • Skew-Stir™ [5] que difere do método de soldagem por fricção convencional na medida em que o eixo da ferramenta recebe uma pequena inclinação em relação ao eixo da ferramenta. O processo SkewStir™ oferece soldas mais largas para juntas em T e sobrepostas. • Com-Stir™ [4] que envolve a aplicação de um movimento de rotação em combinação com um movimento orbital. O processo oferece soldas mais largas e mais apropriadas para junção de materiais dissimilares. Além disto, a soldagem de diferentes ligas de magnésio tem tido sucesso, mas as tolerâncias dos parâmetros de processo necessários para assegurar uma solda de boa qualidade parecem ser mais restritas do que aquelas vistas na soldagem por fricção de ligas de alumínio. Resultados promissores de soldagem para aço têm sido alcançados com ferramentas resistentes ao calor, mas a uma velocidade de percurso bem mais lenta do que com soldagem a arco. Soldagem a laser A soldagem a laser pode ser uma alternativa quando a sustentabilidade for uma consideração, visto que laser de CO2 e laser de YAG têm um eficiência elétrica de 10-15%, e 12%, respectivamente. A Figura 16 mostra que a quantidade total de energia necessária por metro de solda é baixa comparada à soldagem a arco. Um gráfico semelhante (Fig. 17) para junção de alumínio com t = 4mm e penetração completa mostra que a soldagem por fricção é um processo muito frio, o que explica a baixa distorção que este processo causa. Assim como com a soldagem por fricção, muita pesquisa e desenvolvimento estão sendo realizados na soldagem a laser, principalmente no processo híbrido MIG/laser. Instalações impressionantes estão sendo montadas nos seguintes locais: • Estaleiro Meyer na Alemanha, produzindo painéis de navio com reforços 20 vezes 20m em tamanho. Em torno de 50% das costuras de soldagem são feitas com o processo híbrido MIG/laser. Mais ou menos 850 km já foram soldados até agora. • Audi e GM para carrocerias de carro de alumínio. O processo híbrido com lasers de YAG está atraindo grande interesse dos fabricantes de automóveis, visto que os robôs com fibra ótica para o fornecimento de energia a laser oferecem alta flexibilidade. No Japão resultados interessantes foram alcançados com MIG pulsado AC e soldagem a laser de diodo de carrocerias de alumínio para automóveis (Fig. 18) [7]. Esta configuração oferece uma maior tolerância à abertura da junta, desvios da tocha, e um bom controle da penetração e estabilidade do cordão. É um método com alta produtividade e com resultado consistente e de alta qualidade. Além destes três tipos de laser - CO2, YAG e diodo direto – um novo tipo de laser, o de fibra, está atraindo muito interesse. Até onde eu sei, nenhum laser de diodo direto ou de fibra estão operando em produção regular, mas várias instalações estão sendo testadas e avaliadas. As principais razões para escolher o processo híbrido são: • Produtividade – maior velocidade de soldagem. • Processo mais tolerante – permite uma fenda maior do que com soldagem somente a laser. • Distorção de calor mais baixa e, portanto, muito menos trabalho depois da soldagem, principalmente em estaleiros. • Carrocerias mais fortes devido à junta contínua, comparada com a soldagem por pontos, resultando em um automóvel mais seguro. Adesivo estrutural O adesivo estrutural como processo está ainda em fase de desenvolvimento, requerendo uma investigação mais profunda e buscando eliminar as preocupações com o ambiente de trabalho. As propriedades a Figura 16: Energia necessária (KJ/m) para soldagem de aço carbono (t = 4mm) com penetração completa Figura 17: Consumo de energia para alumínio com t = 4mm Abertura Cordão Corte 0.0mm 0.5mm 1.0mm Placa superior Placa inferior Arame Velocidade de avanço do arame Corrente de soldagem Tensão de arco Proporção EN (Norma Européia) Potência de saída do laser A5052, 1.2mm A5053, 1.5mm A5356, 1.2mm 13m/min 135A 16.9V 30% 2.5 Kw Figura 18: Soldagem híbrida de arco MIG pulsado AC e feixe a laser de YAG a uma velocidade de 4m/min. 57 longo prazo das juntas adesivas têm que ser melhor conhecidas, e métodos de testes de juntas coladas têm que ser desenvolvidos. Quando os métodos de teste não-destrutivos estiverem sendo usados, o processo de adesivo estrutural crescerá. A colagem com solda é, contudo, um processo em uso há muitos anos em aplicativos aeroespaciais. Técnicas diferentes de junção estão ilustradas na Figura 19. Em muitos casos, colagem é confundida com selagem. As estimativas indicam que 90% do mercado usa a selagem. O mercado de união de metais cresceu principalmente na indústria automotiva. Estima-se que o mercado total de $20 bilhões irá crescer não mais que 4% anualmente. Em resumo: • O aço continuará sendo o material dominante com um crescimento de 1.4% ao ano. • A China é, com certeza, a maior consumidora de aço (27%) com um alto crescimento anual de mais de 25%. • O aço inoxidável é o que mais cresce – 5.5% /ano. • O consumo de alumínio está mais baixo do que o esperado – 2.8 %/ano. • A conversão de eletrodos revestidos para arames sólidos e tubulares ficará nivelada; porém, uma mudança maior dos arames sólidos para os tubulares deverá ocorrer. • O consumo de alumínio deve aumentar rapidamente a partir do momento que o alumínio for mais usado em automóveis. • A preocupação ambiental demanda desenvolvimento dos 58 processos de união. • As questões de segurança demandam maiores avanços nos processos de soldagem. • Dentre os novos processos de junção encontram-se: - laser híbrido - soldagem por fricção - brazagem a arco e a laser • Os adesivos estruturais crescerão, mas muito pouco. O conhecimento limitado de design, o tempo de vida da junta e as preocupações com o ambiente de trabalho são os maiores obstáculos para um rápido crescimento. • A junção mecânica, tais como climpagem e rebitagem autoperfurante continuarão a crescer. • As principais forças motoras nos processos de junção são: - construção naval e civil - fabricação de automóveis - sustentabilidade • As atividades de junção acompanharão, geograficamente, as mudanças nos padrões de consumo. Isto significa que veremos uma evolução ao invés de uma revolução no campo da junção. No momento, não há nenhum sinal de quaisquer novas técnicas a serem introduzidas num futuro próximo. Contudo, mudanças inesperadas ainda podem ocorrer, e a ESAB está muito bem equipada para atender este desafio tecnológico e esta oportunidade de mercado. 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Bertil continuará como presidente do Instituto Internacional de Soldagem (IIW) e presidirá a Comissão Suéca de Soldagem e o Instituto Internacional de Soldagem em Cambridge, Inglaterra. Fará palestras em conferências internacionais, para as quais geralmente é convidado como o palestrante principal. Além disso, continuará a oferecer seus serviços como consultor de gestão. A História da Por: Tony Anderson, Alcotec Wire Corporation, EUA P ara apreciar a história da soldagem em alumínio é importante conhecer a trajetória do próprio material. Hoje as pessoas usam alumínio todos os dias e raramente analisam o produto de forma mais profunda. Somente nos EUA, quase 100 bilhões de latas Soldagem em Alumínio de bebidas fabricadas com este material são usadas por ano. Mais de 60% destas latas são recicladas e transformadas em novos itens de alumínio. Dentro de um único setor da indústria, o automobilístico, têm sido registrados importantes avanços no uso do alumínio, como ma- terial de preferência. O carro moderno médio tem mais alumínio do que jamais visto anteriormente. Radiadores, blocos de motores, caixas de marcha, rodas, painéis de carroceria, párachoques, berços do motor, eixos de direção e quadros de suspensão vêm sendo fabricados em alumínio. Além dos carros, nossas residências e prédios comerciais têm usado mais alumínio, como por exemplo, nas molduras de janelas, calhas, fiação elétrica, telhas. Móveis também são feitos de ligas desse material. Para apreciar o alumínio no mundo de hoje, é 59 importante lembrar que foi um motor feito com este material que permitiu que os Irmãos Wright realizassem o primeiro vôo em Kitty Hawk, Carolina do Norte, no dia 17 de dezembro de 1903. E, o que é provavelmente mais relevante, se o alumínio não estivesse disponível para o desenvolvimento da indústria de aeronaves, os aviões, como conhecemos hoje, não existiriam. A proporção extremamente alta de força/peso do alumínio é a mesma razão pela qual os grandes aviões conseguem voar com motores relativamente tão pequenos. Os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de alumínio, apesar de este material ser encontrado em abundância em muitas outras partes do mundo. Embalagens e recipientes são o maior mercado de alumínio; transporte (automóveis, caminhões, aviões, trens) é o segundo, seguido da construção. Hoje, o produto está em todos os lugares, desde utensílios de cozinha até placas sinalizadoras de auto-estradas, sendo o mesmo tão comum e importante que dá até para imaginar que ele está ao nosso redor há muito tempo. Na verdade, o processo de conversão do minério de alumínio em metal, conhecido e usado no dia-a-dia como alumí- 60 nio, é relativamente recente. Sua produção industrial começou somente no final do século XIX, o que torna este material um dos últimos a chegar, dentre os metais comuns. Uma história por trás do metal O alumínio é um dos 92 elementos metálicos que existem desde que a Terra foi formada. Compõe quase 8% da crosta terrestre, perdendo apenas para o oxigênio (47%) e o silício (27%). Apesar da abundância, somente depois de 2000 anos de Idade do Ferro é que ele foi liberado do seu estado mineral. Depois de incontáveis milênios, através de ação física e química, as antigas rochas de alumínio-silício foram trituradas em partículas extremamente finas. Estas partículas formaram argilas das quais a cerâmica primitiva foi feita. Em um amplo cinturão ao redor da Terra, chuvas fortes e altas temperaturas cozinharam e socaram argilas e outros compostos para formar grandes depósitos de mineral de alumínio. Esse mineral foi descoberto pela primeira vez em Les Baux, França, onde tornou-se conhecido como ‘bauxita’. Quando o mineral foi refinado, ele formou óxido de alumínio, também conhecido como ‘alumina’. Por milhares de anos, as pessoas tentaram, sem sucesso, desenvolver algo semelhante ao que agora conhecemos como alumínio metálico. A razão básica para um desenvolvimento tão demorado deste metal foi a dificuldade de extraí-lo do seu mineral. Ele combina fortemente com o oxigênio em um composto que, diferente do ferro, não pode ser reduzido em uma reação com carbono. Entre 1808 e 1812, o inglês Sir Humphrey Davy foi o primeiro a concentrar o que ele suspeitava ser um novo metal misturado com ferro em suas jazidas naturais. Davy nomeou o novo elemento de “alumínio”, derivado do alum, seu sal de bisulfato, que já era conhecido pelos egípcios da antigüidade por seu uso na tintura. Hans Christian Orsted obteve seu primeiro sucesso em fazer alumínio em um laboratório na Dinamarca, em 1825; Friedrich Wohier fez o mesmo na Alemanha um pouco mais tarde. Finalmente, em 1854, o francês Henri-Etienne Sainte-Clair Deville (que nomeou o mineral de “bauxita”), descobriu uma forma de produzir alumínio através de um processo químico. Apesar de várias fábricas terem sido montadas para fazer o novo metal, ele era tão caro que as amostras foram expostas ao público ao lado das jóias da coroa da França na Exposição de Paris, em 1855. Somente depois de 30 anos o processo de fabricação do alumínio tornouse econômico. Em 1886, por coincidência, dois homens (um na França e outro nos Estados Unidos), simultaneamente descobriram o processo eletrolítico para produção de alumínio, que é usado até hoje. Charles Martin Hall era um aluno da Oberlin College (Ohio) quando se interessou em produzir alumínio de forma barata. Ele continuou a usar o laboratório da faculdade depois de formado em 1885 e descobriu o seu método oito meses depois. Ele tinha finalmente descoberto um processo eletrolítico funcional que formava alumínio fundido quando alumina purificada era dissolvida em um sal fundido, chamado criolite, e eletrolisado com corrente constante. Quando Hall foi patentear seu processo, ele descobriu uma patente francesa para, essencialmente, o mesmo processo, desenvolvido por Paul L. T. Heroult. Este processo é agora conhecido como o processo Hall-Heroult. Após várias tentativas mal-sucedidas de conquistar financiadores que promovessem a descoberta, Charles Martin Hall obteve o apoio de Alfred E. Hunt e de alguns de seus amigos. Juntos, eles formaram a Pittsburg Reduction Company (mais tarde chamada Aluminium Company of America, Alcoa). Compreendendo o potencial do alumínio, Hall fundou uma indústria nos Estados Unidos que contribuiu para o desenvolvimento de muitas outras, principalmente a de fabricação de aeronaves e automóveis. A produção industrial de alumínio começou em torno de 1888, nos Estados Unidos e Europa – nos Estados Unidos, em Pittsburg, Pensilvânia, usando o processo de Hall e na Suíça em Neuhausen, usando o processo de Heroult. Em 1914, o processo de HallHeroult tinha reduzido o custo do alumínio drasticamente. O alumínio, antes um metal precioso usado para jóias finas, está agora se tornando um material acessível que pode ser usado para muitas aplicações. Conseqüentemente, a produção de alumínio aumentou bastante. Em 1918, já havia alcançado o nível de 180.000 toneladas, e vem mantendo o crescimento desde então. A produção e o consumo de alumínio cresceram, em média, mais de 8% por ano em meados de 1970. O consumo total de alumínio no mundo ocidental al- cançou 2 milhões de toneladas em 1952, e 20 milhões de toneladas em 1989. O alumínio tinha sido reconhecido como o material do futuro. Avanços na soldagem em alumínio Depois da descoberta inicial de um método apropriado para produzir alumínio a baixo custo, o próximo passo foi modificar e melhorar o material base. O alumínio puro tem algumas características muito importantes, por exemplo, sua resistência à corrosão e condutividade elétrica. Entretanto, o alumínio puro, por causa da sua resistência relativamente baixa, não foi o material mais apropriado para fabricação de estruturas soldadas. Logo descobriram que ao adicionar pequenas quantidades de elementos de liga ao alumínio puro, mudanças importantes poderiam ocorrer com as propriedades do material. Uma das primeiras ligas de alumínio a ser produzidas foi a liga alumínio-cobre. Em torno de 1910, o fenômeno de endurecimento por precipitação nesta família de ligas foi descoberto. Muitas destas ligas de endurecimento por precipitação viriam gerar interesse imediato dentro da crescente indústria de aviação. Depois das ligas de alumínio-cobre, muitas outras foram desenvolvidas. Descobriram que adicionando elementos como cobre (Cu), manganês (Mn), magnésio (Mg), silício (Si) e zinco (Zn), e combinações destes elementos, várias características físicas e mecânicas do alumínio puro poderiam ser amplamente modificadas. Muitas destas novas ligas correspondiam à resistência do aço carbono de boa qualidade – a um terço do peso. O desenvolvimento de muitas ligas novas de alumínio, que eram apropriadas para aplicações estruturais, imediatamente levantou questões sobre os métodos adequados de junção. É importante ter um material base adequado, mas sem um método prático e confiável de junção de tal material, torna-se impraticável usá-lo como um material de fabricação. O desenvolvimento de procedimentos de soldagem para ligas de alumínio foi um pouco diferente daquele do aço carbono. Por causa das muitas variações de ligas com base de alumínio, e dos diferentes efeitos que cada elemento de liga tem na soldabilidade dos materiais de base, foi necessário desenvolver muitas ligas de enchimento para acomodar estas variáveis. Por exemplo, algumas ligas de base de alumínio eram de uma química espe- cífica, tendo sido projetadas desta forma para características físicas e mecânicas desejáveis, e não eram a mais apropriada para uma boa soldabilidade. Estas combinações de liga base não conduziam à características de solidificação mais desejável, e geralmente tornavam as ligas base especialmente propensas à trinca de solidificação. Os vários graus de sensibilidade à trinca de solidificação para cada uma das ligas precisavam ser estabelecidos a fim de oferecer um guia para o desenvolvimento de procedimentos de soldagem apropriado, que produziria soldas sem trinca de forma consistente. Esse trabalho de desenvolvimento de soldagem foi um projeto importante. Grande parte dele foi desempenhado pelos fabricantes de material à base de alumínio, visto que era certamente vantajoso para eles mostrar que o alumínio poderia ser soldado de forma confiável. Esse trabalho contou também com alguns dos primeiros fabricantes de produtos de alumínio, que reconheceram o potencial deste novo material e estavam ansiosos por usá-lo dentro de suas fábricas. Dois dos pioneiros no desenvolvimento de soldagem nos EUA foram a Alcoa (A 61 Corporação de Alumínio da América) e a Kaiser Aluminum e Chemical Corporation, com suas publicações; Welding Alcoa Aluminum teve sua primeira publicação em 1954 (veja fig. 1) e a Welding Kaiser Aluminum em 1967 (veja fig. 2). Para se tornar competitivo no mundo industrial moderno, um metal estrutural tem que ser rapidamente soldável. As primeiras técnicas de soldagem apropriadas para o alumínio incluíam soldagem a gás e soldagem por resistência. A soldagem a arco de alumínio foi principalmente restrita ao processo de soldagem a arco com eletrodo revestido (SMAW), às vezes chamado de processo de soldagem a arco manual (MMA). Este processo de soldagem usa um eletrodo de soldagem revestido com fundente. Logo, descobriu-se que este não era o método mais apropriado para o alumínio. Um dos principais problemas foi a corrosão causada pela retenção de fluxo, principalmente nas soldas de cordão onde o fluxo costuma ser retido e promover corrosão atrás da solda. O grande avanço do alumínio como material estrutural ocorreu com a introdução, na década de 1940, dos processos de Figura 1: Welding ALCOA Aluminum teve sua primeira publicação em 1954 62 soldagem a gás inerte, por exemplo, GMAW, também conhecido como MIG, e GTAW, também conhecido como TIG. Com isso, tornou-se possível fazer soldas de alta qualidade, com alta resistência, a altas velocidades e em todas as posições, sem fluxos corrosivos. Hoje, o alumínio e suas ligas são rapidamente soldáveis com o uso de uma variedade de métodos e processos, sendo que duas das mais recentes técnicas são soldagem com feixe de laser e soldagem por fricção. Porém, os processos GTAW/TIG e GMAW/MIG ainda são os mais populares. Sobre o autor: Tony Anderson é Diretor Técnico da AlcoTec Wire Corporation (EUA), Presidente do Comitê Técnico de soldagem da Associação Americana de Alumínio, Presidente do Subcomitê D10.7 da Sociedade de Soldagem Americana para soldagem a arco de tubulação de liga de alumínio, Presidente do Subcomitê D8.14 da AWS para soldagem automotiva e de caminhões leves em alumínio, Presidente do Subcomitê D3.7 da AWS para soldagem de casco de alumínio e VicePresidente do Subcomitê D1.2 da AWS para Código de Soldagem Estrutural para Alumínio. Figura 2: Welding Kaiser Aluminum teve sua primeira publicação em 1967