De que forma os investigadores de tecnologia e comunicação
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De que forma os investigadores de tecnologia e comunicação
De que forma os investigadores de tecnologia e comunicação estudam a internet? Por Joseph B Walther, Geri Gay, e Jeffrey T. Hancock1 Tratando-se de uma análise parcial sobre comunicação e tecnologia, este trabalho retoma o artigo de Newhagen and Rafaeli´s (1996) no Journal of Communication onde se questiona a razão pela qual os investigadores da comunicação devem estudar a Internet. As direcções da pesquisa, as conclusões e as teorias são analisadas com base em cinco importantes qualidades da Internet identificadas por Newhagen and Rafaeli: multimédia, hypertexto, comutação de pacotes, sincronismo e interactividade. O artigo termina com uma avaliação do desenvolvimento teórico da comunicação e da pesquisa tecnológica, desafios que enfrenta o crescimento teórico, e com uma resposta à questão sobre o que esta pesquisa nos poderia ensinar. Em 1996, uma edição especial conjunta desta revista e o do Journal of ComputerMediated Communication começava por colocar a questão de por que é que os investigadores da comunicação deveriam estudar a Internet (Newhagen & Rafael, 1996). Sem fornecer uma resposta explícita para a pergunta, os autores centraram-se em cinco "qualidades definidoras” da Internet que, sugeriam eles, poderiam ser as mais importantes para estudar. Estas qualidades incluíam a multimédia, a hypertextualidade, a comutação de pacotes, o sincronismo e a interactividade. Muito mudou em menos de uma década no que diz respeito à Internet. Algumas destas cinco qualidades tornaram-se objecto de pesquisa, outras não. A World Wide Web, relativamente nova em 1996, tinha, efectivamente, potencial para novas formas de multimédia, e com o aparecimento de uma maior largura de banda, redes sem fio, e-mail melhorado, telemóveis com capacidade para tirar fotografias, computadores que cabem na palma da mão que exibem filmes e, também, a Web, a multimediatização explodiu. No entanto, apesar das câmaras de vídeo para computadores pessoais poderem ser adquiridas, muitas vezes, por menos de $10 US, a maioria das pessoas depende do correio electrónico e da conversação baseada no texto para as suas conversas na Internet. A ausência de vários códigos de comunicação, como, por exemplo, da presença física, nas mensagens de texto electrónicas, e os efeitos dessa ausência numa variedade de resultados persistem como os principais problemas que acompanham o crescimento da utilização e da investigação da Internet. A interactividade, em sentido lato, está viva e bem de saúde na Internet e é uma dinâmica que exige a atenção teórica e prática dos investigadores da comunicação. No entanto, enquanto conceito, a interactividade tem sido pouco teorizada e, como variável, pouco operacionalizada. Estas questões remetem para os campos da comunicação interpessoal e não verbal, para ideias como a proximidade imediata e as deixas, comunicação em grupo para temas como a apropriação, e as tradições dos mass media como os efeitos do canal e utilizações e gratificações. Acrescentemos à mistura a comunicação visual e, de disciplinas relacionadas, a usabilidade e o design de interfaces, e o estudo da comunicação na Internet é, simultaneamente, familiar e estranho. Tudo é novidade e nada é novo. A altura para um artigo que passasse em revista a área da comunicação e da tecnologia podia servir para focar vários assuntos, a Internet e outras coisas. No entanto, a Internet tem tido um grande impacto em quase todas as tecnologias da comunicação que possamos imaginar, e o reapreciar das questões e respostas apresentadas por Newhagen e Rafaeli fornece um ponto de partida útil para rever alguma da investigação recente na área da comunicação e da tecnologia. De facto, em grande parte devido à Internet, pode dizer-se que o campo da tecnologia da comunicação é tão grande e amplo como o da comunicação uma vez que a tecnologia da 1 Joseph B. O Wallher (PhD, lJniversity de Arizona) é professor de comunicação, Geri Gay (PhD, da Universidade de Cornell) é professor, e Jeffrey T. O Hancock (PhD, da Universidade de Dalhousie) é professor assistente, todos na Universidade de Cornell. A correspondência pode ser dirigida para o primeiro autor em 303 Kennedy Hal1, Departamento de Comunicação, Ithtaca, NY 14853 1 /25 comunicação tocou realmente em fenómenos de cada uma das subsecções ou divisões das associações profissionais da. Dito isto, qualquer tentativa de um artigo que trace uma visão global deste campo não lhe poderá fazer justiça, embora algumas monografias recentes mais aprofundadas tenham sido excelentes (p. ex., Lievrouw et al., 2001; Lievrouw & Livingstone, 2002). Este artigo retomará as ideias apresentadas por Rafaeli e Newhagen para verificar que desenvolvimentos ocorreram, principalmente na investigação mas também com a Internet, para fazer o balanço dos nossos níveis de compreensão, o cumprimento das promessas dessas teses, e como é que as novas ideias e tendências de investigação estão a moldar as futuras investigações na área. Multimédia A multimédia tem vários significados. Num primeiro nível, a Web foi originalmente notável pela sua capacidade de mostrar gráficos juntamente com texto, reproduzir som e vídeo incorporados num documento ou ligados através de ligações na Internet. Num segundo nível, a multimédia e a Internet estão relacionadas com a convergência dos media – isto é, a capacidade das redes de computadores e de dispositivos transmitirem e exibirem sinais de televisão, filmes, música e outros formatos de som e, devido à digitalização destes sinais, facilitar o seu armazenamento e modificação. Num um terceiro nível, a multimédia refere-se aos esforços e resistência, para integrar nos sistemas de comunicação de longa distância ou baseados em texto uma maior capacidade para transmitir os elementos físicos da linguagem humana, isto é, a voz e as mensagens corporais para além do texto. Estas três dimensões têm sido alvo, cada uma delas, de considerável investigação. O documento moderno é, frequentemente, um documento multimédia. Numerosos estudos, muitas vezes relacionados com processos educativos, têm defendido as vantagens da informação visual nos media instrucionais. Os efeitos das imagens são geralmente superiores ao texto sem imagens nas mensagens instrucionais que envolvam elementos que possuem aspectos visuais (Quealy & Langan-Fox, 1998). Para além disso, para certos tipos de aquisição de saber, tanto materiais áudio com imagens como áudio-video (movimento) aumentam mais a recuperação de informação do que o uso de texto com imagens. A Multimédia pode ajudar os utilizadores a aprender tarefas físicas mais eficientemente, dependendo de os media mostrarem a visão da perspectiva do actor ou do observador (Krull, 2001). A difusão de tutoriais multimédia e outras técnicas de instrução baseadas no computador através da Web é, actualmente, um lugar comum no ensino a distância, em complementos de cursos e uma tendência geral no apoio técnico. Uma outra questão na multimédia pode ser organizada sob o conceito, presença ou presença social. De facto, "presença social" foi o primeiro termo usado por Short, Williams, e Christie (1976) na sua teoria da teleconferência com o mesmo nome. A aplicação desta teoria à CMC originou uma tensão contínua e não resolvida entre teóricos que sustentam a necessidade da totalidade da largura de banda (isto é, todas as deixas não-verbais) para que ocorra uma comunicação eficiente e teóricos que têm em consideração os compromissos possíveis ou benefícios extras que uma comunicação “mais magra” proporciona. Embora debates mais completos sobre as deixas, largura de banda e seus efeitos na comunicação estejam disponíveis noutros lugares (por exemplo, Walther e Parks, 2002), alguns dos aspectos importantes deste debate devem ser analisados. Fazendo eco da caracterização que Culnan e Markus (1987) fizeram de algumas posições como abordagens “sem-deixas” aos efeitos das reduções das deixas no processo de comunicação, posições recentes têm defendido de uma forma bastante semelhante que há algumas funções da comunicação que, em princípio, não podem ser conseguidas sem a copresença física e os sinais de comunicação que acompanham a proximidade. Por exemplo, Nardi e Whittaker (2002) defenderam que a interacção FaF é um requisito para que os parceiros da 2 /25 comunicação (no seu contexto, colegas de trabalho) se possam relacionar e trabalhar de uma forma eficiente. Alguns dos processos fundamentais que são impedidos pela CMC, defenderam eles, incluem a capacidade de monitorizar mutuamente a atenção e disponibilidade e a possibilidade de formar um laço interpessoal. As posições mais aceites que estas opiniões reflectem incluem a teoria da presença social (Short, Wiliams, & Christie, 1976), uma teoria de telecomunicações importada para CMC por Hiltz, Johnson, e Agle (1978) e Rice e Case (1983), entre outros; a hipótese da “falta de deixas do contexto social” de Sproull, Kiesler, e colegas (see for review Sproull & Kiesler, 1993); e a teoria da riqueza de informação/riqueza meios dos media por Daft, Lengel, Trevino, e colegas (Daft & Lengel, 1986; Daft, Lengel & Trevino, 1987). Cada uma destas teorias apresentava como conceito principal uma ideia relacionada com um sistema de deixas ou largura de banda - o número de sistemas de deixas incluindo a linguagem e as deixas não verbais – como uma propriedade causal. À medida que a largura de banda se torna menor, é defendido que aspectos da comunicação começam a divergir. Estas alterações podem incluir menor consciência dos outros, menos comportamentos normativos e o correspondente declínio do civismo, da coordenação, da empatia e da simpatia. Em caso de riqueza dos media, dizia-se que o grau da largura de banda era um bom contraponto para os equívocos ou incertezas nas mensagens de forma que a eficiência e a eficácia eram possíveis em diferentes níveis. Esta era uma teoria mais empenhada em prescrever usos ideais e selecção óptima dos media do que em incidir sobre a dinâmica do grupo ou o comportamento interpessoal. Um pouco mais moderadas as posições contemporâneas estão também a surgir. Uma destas posições defende que existem determinadas funções e benefícios da interacção FaF que ainda não são substituíveis por sistemas mediados - que as deixas e processos, muitos dos quais ocorrem inconscientemente na comunicação FaF, ainda não estão ainda suficientemente compreendidos para serem substituídos por sinais mecânicos ou rotinas que lhes permitam funcionar sem proximidade (Olson & Olson, 2002). A diferença nestas duas posições é importante. A primeira é um argumento absoluto. Esta posição teórica sustenta que as funções comunicativas estão indissoluvelmente ligadas a certos sinais de comunicação e que, quando esses sinais estão ausentes, as funções não são claras. A segunda visão é mais relativa, oferecendo a possibilidade de que as funções poderem, potencialmente, ser coreografadas como o intercâmbio de certos sinais, e que os sinais podem ser reconhecidos e, potencialmente, comparados. Para além disso, a primeira posição sugere que o estudo de tecnologia de colaboração remota concentra-se em quando se deve ou não utilizá-la e que a pesquisa pode mostrar a evolução das consequências das boas e das más escolhas. A segunda posição implica um maior estudo de comunicação FaF como um processo complexo mas que pode ser conhecido, cujos resultados se tornam pistas para desenvolvimentos adicionais na interacção Homem-Máquina (HCI), o campo de estudo dedicado ao desenvolvimento de interfaces e sinais, não apenas entre actores e dispositivos, mas também entre actores através de dispositivos. Por exemplo, como podemos indicar que a disponibilidade já é claramente visível no sistema peer-to-peer do Instant Messenger, o qual mostra aos “amigos” de um utilizador quando este está ligado ao seu computador (embora não de forma fiável), ou através de “away messages” que indicam inacessibilidade (ou desatenção). Os problemas e soluções de interacção Homem-Robot, pela qual poderemos vir a comunicar com dispositivos semi-autónomos, e eles connosco, exigirão maior compreensão das interacções naturais e de como sintetizá-las (por exemplo, Cappella & Pelachaud, 2002). Poucos teóricos definiram os sinais transmitidos através da CMC de uma forma funcional. Numa das excepções, Tanis (2003; Tanis & Postmes, 2003) sugeriu que os media variam na sua capacidade de transmitir sinais para identidade e sinais para significado. Este esquema bi-variável oferece uma útil distinção a partir da qual podemos começar a perguntar de quais os sinais que as pessoas necessitam e o que os sistemas de sinais oferecem para que as pessoas interajam efectivamente utilizando os media online. Embora este seja um começo útil, a elaboração deste esquema por parte de Tanis equiparou informação fotográfica acerca dos participantes com sinais para identidade e informação textual com sinais para significado. Esta 3 /25 dicotomia, infelizmente, é algo ilusória. Por exemplo, encontramos contrastes interessantes na pesquisa entre o que as pessoas dizem precisar para detectar a identidade – na realidade, frequentemente visual – e os sinais de que elas realmente utilizam para indicar ou inferir a identidade entre parceiros online, os quais são, em muitos casos, textuais (por exemplo, Flanagin, Tiyaamornwong, O’Connor, & Seibol, 2002; Herring & Martinson, 2004; Thomson, Murachver, & Green, 2001). Pelo contrario, muito do trabalho clássico sobre CMC privilegia não a linguagem, mas os sinais visuais como a melhor forma para eliminar a ambiguidade de mensagens complexas (por exemplo, a teoria da riqueza dos media de Daft & Lengel, 1986; Daft et al., 1987). No entanto, a consideração dos aspectos funcionais específicos dos sinais de comunicação e a sua alteração através dos media, é um passo importante a merecer mais estudo. A inclusão de outros sinais funcionais poderá ajudar a direccionar a nossa investigação. A especificação de funções detectoras de atenção e sinais sugeridos por Nardi e Whittaker (2002) são pontos que o desenvolvimento da CMC/HCI deveria explorar. Funções relacionais e sinais na CMC (por exemplo, Walther, Loh, & Granka, 2005) também oferecem mais opções que levam a uma pesquisa potencialmente funcional e bem definida que, em última análise, promete ser mais útil do que uma bifurcação indiferenciada de sinais como sendo só textuais ou físicos, ou ligando sistemas de sinais específicos a uma ou outra função. Contudo, outra pesquisa aponta para vantagens nítidas na comunicação devido à ausência de sinais multimédia na conversação. Embora a teorização inicial da CMC tenha tido a esperança de que a substituição da linguagem multimodal e sinais físicos nas conversas de grupo com mediação, a CMC baseada em texto pudesse reduzir distracções e conflitos, a pesquisa subsequente sobre CMC de grupo revelou efeitos praticamente opostos e antagónicos (vide para revisão, Walther, 1996a). Duas linhas de pesquisa mostraram que a ausência de sinais pode, em alguns casos, forjar identificações de grupo mais fortes do que a discussão FaF e, em outros casos, libertar os utilizadores dos normais e, por vezes, eliminadores efeitos da interacção FaF devido aos sinais físicos que a FaF transmite. O modelo de identificação social da desindividualização (modelo SIDE; Spears & Lea, 1992, 1994) enfatiza o papel dos sinais para a identidade social sob as condições de anonimato visual, comuns a todos os tipos de comunicação através da Internet. O SIDE, em particular, vai beber às teorias de identidade social e auto-categorização (por exemplo, Turner, Hogg, Oakes, Reicher, & Wetherell, 1987) para conceptualizar os indivíduos como tendo múltiplas camadas de personalidade que podem ser acedidas dependendo da identidade social que estiver proeminente. Quando as identidades pessoais proeminentes, a autocategorização corresponde à identidade única, individual da pessoa e leva a comportamentos que expressam as crenças, normas e padrões associados à nossa identidade pessoal. Quando as identidades sociais se salientam, a auto-categorização corresponde a grupos de valores dos quais o indivíduo é um membro e leva a comportamentos que expressam as normas do grupo com o qual o indivíduo se identifica. Este processo de identificação é assumido pelo SIDE como sendo afectado de modo assinalável pelo anonimato visual que a CMC concede. A comunicação através da Internet que não possui sinais multimédia e que deixa os seus participantes visualmente anónimos tende a criar sinais bastante mais salientes para a identidade devido à ausência de outros sinais de identidade. Como tal, as pessoas com identidades sociais proeminentes, na ausência de sinais multimédia, podem forjar laços mais fortes com grupos do que quando tais sinais (por exemplo, uma fotografia) estão disponíveis (Spears & Lea, 1992). De facto, um número de estudos mostrou que sob condições de anonimato visual, as pessoas tendem a agir de acordo com as normas estabelecidas pelo grupo (Lea & Spears, 1991; Postmes, Spears, & Lea, 1998; Postmes, Spears, Sakhel, & de Groot, 1998; Spears & Lea, 1992). Alem disso, uma identidade social proeminente ampliada por condições online invisíveis estimula uma maior difamação de membros de fora do grupo igualmente invisíveis. Quando fotografias ou videoconferência são adicionados à CMC estes efeitos diminuem. Isto é, quando os sinais individualizadores da aparência física pessoal lembram os utilizadores que há indivíduos e não apenas membros do 4 /25 grupo online, estes indivíduos são avaliados de forma independente e com menos parcialidade (Lea & Spears, 1995; Lea, Spears, & de Groot, 2001). A perspectiva hiperpessoal na CMC (Walther, 1996a) examinou igualmente o potencial que os comunicadores em linha têm para exceder, nos estados relacionais e na resposta colectiva, o que ocorre em contextos FaF paralelos. O modelo hiperpessoal descreve quatro factores – emissores, receptores, o canal e o retorno (feedback) - que podem interagir com as oportunidades ou características da comunicação em linha e que se supõe estarem na base dos processos relacionais exagerados frequentemente observados online, tais como níveis acrescidos de afinidade e de intimidade. No contexto da multimédia, a redução de indicadores visuais desempenha um papel importante em cada um destes quatro factores. Em primeiro lugar, quando não há qualquer informação visual disponível, os emissores podem gerir as impressõe através da auto-apresentação selectiva, destacando características pessoais positivas (por exemplo, domínio de um grande vocabulário), e ao mesmo tempo evitando aquelas menos desejáveis (por exemplo, uma grande cintura). Do mesmo modo, os canais de comunicação meramente textuais permitem aos emissores um maior controlo sobre a construção da mensagem, ao garantirem mais tempo para elaboração e capacidade de edição das mensagens. Na comunicação não-multimédia, os receptores ficam também mais propensos para se deixarem aliciar pelos atributos idealizados dos seus parceiros online, especialmente quando os emissores se apresentam de forma selectiva, e a semelhança ou complementaridade descrita na teoria de SIDE estimula a sobreavaliação do atributo atracção. Por último, a ausência de multimediação pode promover uma resposta circular entre emissores e receptores. Em particular, as percepções idealizadas do receptor acerca do emissor podem, por sua vez, levar o emissor a comportar-se de modo consistente com esta visão idealizada, um processo classificado como confirmação comportamental (Snyder, Tanke & Berscheid, 1977), que conduz então a mais visões idealizadas do emissor, e assim por diante. Conjuntamente considerados, estes factores sugerem que, quando os sinais multimédia não estão disponíveis, os processos relacionais entre os participantes deverão ser realçados ou exagerados. Em defesa destes prognósticos, Hancock e Dunham (2001a) descobriram que as primeiras impressões entre díades online desconhecidas entre si a executar uma tarefa colaborativa eram mais extremas, embora menos detalhadas em termos do número de atributos que os participantes escolheram para classificar as suas impressões sobre os parceiros, por oposição a quando estava presente informação visual em díades FaF. Num estudo sobre o desenvolvimento de relações com e sem informação visual acerca dos participantes, Walther, Slovacek, e Tidwell (2001) descobriram que fornecer imagens a grupos de trabalho transatlânticos de longa duração reduziu os seus níveis de afeição e de atracção social, em relação a grupos de longa duração que trabalharam virtualmente juntos durante um semestre, mas que nunca conheceram a aparência uns dos outros. Adicionalmente, os utilizadores que permaneceram invisíveis receberam classificações mais elevadas em termos de atracção física quanto maior era o tempo de conhecimento dos seus parceiros e quanto mais desenvolviam esforços de auto-apresentação, apesar de não trocarem informações directas sobre as suas aparências físicas. Esta descoberta contra-intuitiva é consistente com o modelo hiperpessoal. A pesquisa que explora o apoio social online – os locais de encontro proporcionados pela Internet nos quais os utilizadores oferecem apoio para problemas psicológicos, médicos, de relações sociais e outros - permite uma maior percepção da teoria de SIDE e das dinâmicas hiperpessoais que podem ser facilmente identificadas. Estes locais de encontro online alojam desde uma mão cheia até centenas de indivíduos em grupos específicos acessíveis através da Internet, onde as mensagens são, tipicamente, trocadas de forma assíncrona, usando mensagens de texto. O comportamento de muitos destes grupos é fantástico na intimidade e na inconfidência. Pode-se ver um efeito de “sinal na porta” (Wallace, 1999), que nos diz que os utilizadores que entrem nestes espaços de conversação assíncrona (por exemplo, alt.support.cancer na Usenet News) pouco mais sabendo acerca uns dos outros do que a sua preocupação comum, enquanto paciente, familiar ou sobrevivente da causa comum da 5 /25 discussão. As dinâmicas do SIDE parecem muito claras aqui, uma vez o contexto social está imediatamente bem definido e as regras destes grupos se tornam claras, quer através da imersão, da leitura das perguntas frequentes (FAQs), ou da observação (ou da experimentação) da censura às violações das regras (McLaughlin, Osborn & Smith, 1995). As dinâmicas hiperpessoais podem ser detectadas na relativamente maior intimidade e confiança que parece existir em alguns destes grupos em relação aos recursos humanos FaF que uma pessoa pode exibir offline (Turner, Grube & Myers, 2001). Além disso, a investigação feita por Walther e Boyd (2002), descobriu que as características hiperpessoais da gestão da interacção está entre as atracções destes fóruns invisíveis, a par do anonimato, acesso, perícia e gestão do estigma. Apesar da ausência de sinais de multimédia na Internet poder realçar algumas propriedades comunicacionais e relacionais, há, não obstante, uma forte tendência para usar a Internet para voz e imagem através da videoconferência. A eficácia da videoconferência, pelo menos em contextos orientados para a tarefa, deparou, durante algum tempo, com resultados muito heterogéneos (por exemplo, Chapanis, Ochsman, Parrish, & Weeks, 1972). Quando a videoconferência é focalizada nos participantes e nos seus rostos em vez dos materiais ou objectos da tarefa, ela parece não oferecer qualquer vantagem. No entanto, para as conversas que envolvem a colaboração em tarefas físicas, os vídeos sobre objectos em vez de sobre pessoas têm um impacto muito mais demonstrável. Clark e os seus colegas (Clark, 1996; Clark & Brennan, 1991; Clark & Wilkes-Gibbes, 1986) desenvolveram um modelo teórico no qual a comunicação bem sucedida depende do consenso, que se refere a crenças, pressuposições e saber que são mutuamente partilhados por um falante e por um ouvinte. O consenso é conquistado quando os participantes coordenam as suas actividades de forma a alcançarem o mútuo pressuposto de que cada enunciado foi suficientemente compreendido por todos para os fins actuais (Clark & Clark; Wilkes-Gibbes, 1986). A informação visual pode facilitar a compreensão, ao fornecer indicações sobre o estado actual da actividade e conhecimento de cada participante. Em especial, a informação visualmente partilhada fornece indicadores atempados e precisos sobre se o ouvinte compreendeu ou não o emissor. O “instrutor” pode dizer, a partir da visualização da forma como os instruendos manipulam os objectos, se a sua última instrução foi compreendida ou não. Se a informação visual não tivesse sido partilhada, o instrutor teria que confiar no retorno (feedback) falado (ou escrito) do instruendo sobre as suas acções, o que é mais difícil e menos atempado. As imagens partilhadas sobre um objecto permitem igualmente ao emissor e ao ouvinte confiar mais nas abreviações linguísticas tais como os pronomes deícticos (o) e a deíxis espacial (ali), para as declarações referenciais. Desta perspectiva, a imagem de vídeo focalizada na face de cada comunicador não fornece informação útil para uma comunicação compreensiva, se comparada com a que fornece informação visual sobre o espaço de trabalho. A investigação recente, realizada por Kraut, Fussell, e pelos seus colegas (Fussell, Kraut, & Siegel, 2000; Gergle, Kraut, & Fussell, 2004; Kraut, Fussell, & Siegel, 2003), examinou a informação visual partilhada, centrando-se no espaço de trabalho e nos objectos, em vez da face. Os resultados destes estudos sugerem que a informação visual sobre objectos melhora o processo de compreensão. Em particular, os participantes executam melhor a colocação de peças de puzzles, a reparação de bicicletas e outras tarefas visualmente orientadas, mais rapidamente e com maior precisão quando há informação visual partilhada disponível sobre o espaço de trabalho do que quando não há (Gergle et al., 2004). 6 /25 Hipertextualidade Com algumas excepções, a hipertextualidade não se tornou um foco de pesquisa em comunicação humana e tecnologia tão grande como outros assuntos. Na composição e retórica, o assunto tem sido mais elogiado. Por exemplo, Bolter (1991) previu que a interligação da informação através do hipertexto teria um efeito dramático sobre as estruturas cognitivas das pessoas e o processamento interpretativo da informação. Aspectos específicos das estruturas cognitivas, atenção e aprendizagem sugerem expectativas mais sistemáticas e razoáveis para este potencial (ver, para revisão, Eveland & Dunwoody, 2001). Estudos de comunicação técnica têm-se centrado na nova capacidade de conduzir os utilizadores à ajuda contexto-sensível, e os manuais de utilizador estão a aparecer normalmente em CD-ROMs ou através da Web na forma de hipertexto. A interligação da informação tem tido um impacto dramático nas actividades frequentemente menos consideradas como comunicação, não obstante envolverem processamento de informação, tal como o comércio electrónico, de formas previstas por Malone, Yates e Benjamin (1987). Malone e outros previram que o efeito das tecnologias da informação em rede nas organizações e da comunicação inter-organizacional conduziria a diversos resultados. Em primeiro lugar, as grandes organizações com várias divisões poderiam enfrentar a desintegração vertical uma vez que o custo de coordenação com a exteriorização (subcontratação externa) seria reduzido à medida que os sistemas de informação se tornassem omnipresentes. Em segundo lugar, isto dever-se-ia, em parte, à maior capacidade de intervir em "pontos de contratação" através da procura de capacidades de produção e preços entre uma variedade de potenciais fornecedores e contratando apenas a quantidade limitada de mercadorias que uma empresa possa necessitar a curto prazo, de uma forma oportuna e temporariamente. Isto é mais produtivo do que as alternativas de contratos a longo prazo ou do que a integração de funções de aprovisionamento na própria organização. Isto também conduziria, em terceiro lugar, ao aparecimento de "intermediários electrónicos", que ficariam com uma parte das transacções através do fornecimento de informações electrónicas aos potenciais compradores e vendedores, numa interface comum. Quer estas dinâmicas previstas tenham transformado ou não organizações, é notável ver como a Internet levou este efeito até ao consumidor. Ferramentas de intermediação ao nível do consumidor tornaram-se comuns, desde serviços que facilitam as vendas das passagens aéreas entre múltiplas linhas aéreas, àqueles que apresentam preços comparativos dos mesmos livros, vídeos ou material electrónico utilizando sistemas de intermediação e recomendação, que listam os preços e ligações a vendedores com hiperligações para exibições. Dentro de contextos mais familiares, algum trabalho tem sido feito aos níveis da hipertextualidade e do agrupamento (chunking) e scrolling da informação num contexto de informação politica. Sundar, Kalyanaraman e Brown (2003) usaram a ideia da interactividade para analisar a paginação da Web e os seus efeitos nas percepções de candidatos políticos. Diferentes versões de sítios (sites) da Web convidaram alternadamente utilizadores a navegar ao longo de um sítio para encontrar toda a informação publicada, ou usaram um grau moderado de ligações e agrupamento de informação (chunking) – isto é, uma página inicial incluía ligações a subsecções de tópicos onde informação adicional era mostrada – a fim de encontrar informações adicionais. Finalmente, alguns sítios requeriam um elevado nível de ligações e agrupamento de informação, através das quais os utilizadores escolhiam as ligações da página inicial e as ligações de segundo nível, dentro das subsecções, para verem a informação publicada três níveis abaixo. Efeitos curvilíneos do grau de agrupamento de informação (chunking) foram produzidos nas percepções do próprio candidato - o seu carácter, competência, e simpatia – de tal forma que os maiores resultados foram obtidos com um nível moderado de ligações. Embora a ligação à interactividade, como discutiremos mais adiante, possa ser ténue a partir de algumas perspectivas, é importante assinalar que diferenças só na interface do hipertexto, não o conteúdo 7 /25 do sítio Web, conduziu a diferenças nas percepções que ultrapassou a opinião do sítio Web e projectou para a opinião do próprio candidato. Interactividade A ideia de interactividade não é novidade para a nova tecnologia. Noções mais simples das coisas que são interactivas verso não interactivas vêm já dos debates sobre a eficácia da televisão em relação à aprendizagem na sala de aula. A interactividade nos novos media tem sido referida, não de forma muito radical, como o grau em que fonte e o receptor constituem papéis intermutáveis, exibindo influência recíproca (Pavlick, 1996; Stromer - Galley & Foot, 2002). O termo também é usado em sentido lato, e de uma forma algo inconsistente, quando se comparam os novos meios de comunicação com os antigos, como o e-mail com o presencial (como se a interactividade consistisse numa ininterruptibilidade mútua). É interessante considerar que a qualidade interactiva das comunicações via Internet implicitamente implica comparações entre diferentes tipos de estudiosos da comunicação com diferentes tipos de formação, embora eles possam não ter consciência dessas tendências. Por exemplo, a interactividade, ou a interacção rápida entre um emissor e um receptor, é uma dinâmica muito recente na perspectiva de uma comunicação de massas sobre a transmissão de informação. Ela difere radicalmente de outros meios de comunicação electrónicos na capacidade de influenciar rapidamente a apresentação do conteúdo e do retorno (feedback) às fontes. Para um receptor seleccionar as partes, ou a ordem de apresentação do conteúdo dentro do pacote de uma mensagem clicando em hiperligações, como no estudo de Sundar et al. [temos de decidir se traduzimos et al.] (2003), referido anteriormente, é substancialmente diferente da televisão, do cinema, ou da rádio nos quais o conteúdo é invariavelmente apresentado de uma forma linear e ordenado exclusivamente pelo emissor. Assim, a comunicação via Internet é mais interactiva do que as formas tradicionais para os observadores dos meios de comunicação de massa. Por outro lado, entre os investigadores da comunicação interpessoal da comunicação presencial, a interactividade é um estado nativo. “Interacções” e “duplas-interacções” também têm uma história nas díades, pequeno-grupo, e na investigação da comunicação organizacional (por exemplo, Rogers & Farace, 1975; Weick, 1979), onde a interactividade implica a relação funcional de uma elocução para outra. A mediação, um estado estranho nesta perspectiva, traz consigo atrasos. Assim, enviar e receber mensagens por correio electrónico, por exemplo, constituem processos substancialmente diferentes daqueles que são o ponto de partida destes investigadores, já para não falar da natureza relativamente estática e de tipo difusão das páginas Web. Mesmo as conversas do Instant Messenger que se desenvolvem em tempo real não atingem a interrupção mútua e a troca de canal (backchanneling) entre emissores/receptores do modo não mediado. Neste sentido a Internet oferece menos interactividade que o padrão tradicional para os observadores da comunicação presencial. Assim, entre os investigadores de comunicação de massas e os investigadores da comunicação presencial, claramente unidos pelo interesse na Internet, as pessoas podem acabar por entrar em conflito sobre a interactividade da Internet, usando o mesmo termo mas referindo-se a qualidades diferentes baseadas em preconceitos implícitos com os quais compreendem a comunicação tradicional. Uma das mais estimulantes definições conceptuais da interactividade que promete unir os diferentes pontos de partida, apareceu numa obra que tenta fazer a ponte entre as perpectivas de uma comunicação massificada e interpessoal (Hawkins, Wiemann, & Pingree, 1988): trabalho de Rafaeli (1998) sobre o assunto. A conceptualização de Rafaeli não foi radical na sua atenção para com as inter-relações entre os fluxos de mensagens. Pelo contrário, ele foi único na atenção dada nas trocas cumulativas que davam significado apesar das diferenças nos media que transportavam essas mensagens. No esquema de Rafaeli, um acto é uma elocução ou mensagem 8 /25 emitida pelo actor A. A resposta de A à mensagem do actor B é necessária mas insuficiente para termos interactividade; é reactivo mas não interactivo. Uma terceira, ou mensagem subsequente tem de ser dada de modo a que esta faça alusão (explícita ou implicitamente) a mensagens anteriores, sendo apenas interpretável e significativa por causa dessa referência. Assim, a troca de mensagens no exemplo em baixo não conseguiria a interactividade pois não apresenta três mensagens. A: Como estás? B: Bem Também não se faz esta troca no exemplo que se segue porque a terceira mensagem relacionase com a segunda mas não necessariamente com a primeira: A: Como estás? B: Bem e tu? C: Bem. Contudo a troca seguinte ajusta-se ao critério das três ou mais mensagens e a natureza do referencial da terceira distancia-a da antecedente. A: Como estás? B: Não muito mal. E tu? C: Bem. Apesar de ser algo trivial, este exemplo desmentir a irredutível complexidade das interacções e intercâmbios alargados estabelece as bases para a conceptualização das comunicações em série interligadas e cumulativas, em oposição aos pares acção-reacção. O aspecto mais promissor da estrutura conceptual de Rafaeli, é ser totalmente independente do medium. Isto é, não só é possível dentro desta conceptualização existir comunicação face-to-face não interactiva (como se verifica no segundo diálogo acima exemplificado). Também é possível atingirmos a interactividade sem sincronia ou copresença; pode-se imaginar que o e-mail é capaz de transmitir o terceiro diálogo. Esta construção, ofereceu, então, a possibilidade de examinar a forma como os média são utilizados e a capacidade de novas formas tecnológicas permitirem características naturais e tradicionais da comunicação, centrando-se na interacção e troca de mensagens, em lugar das características mais superficiais dos próprios media, desde que possam ou não afectar a tendência para se verificar a interactividade. A vantagem desta definição e a sua independência relativamente aos media tem tido ecos. Com efeito. num bom contra-argumento para a então amplamente aceite e raramente contestada teoria da riqueza dos media (Daft & Lengel,1985), Lee (1994) argumentou vigorosamente no MIS Quarterly que não são necessários enormes recursos em meios de comunicação para em princípio serem conseguidos níveis com elevada riqueza expressiva. Embora Lee tenha esboçado uma abordagem hermenêutica pouco fundamentada na defesa do seu ponto de vista, os seus argumentos e exemplos foram muito semelhantes ao quadro conceptual estabelecido por Rafaeli: uma acumulação de mensagens, independentemente do seu desfasamento temporal, se se referirem umas às outras, pode transmitir ideias complexas e 9 /25 gradações interpessoais. A questão para Lee, tal como para Rafaeli, foi ver para lá de uma mensagem descontextualizada e observar o seu valor significativo, revelado quando inserida numa sequência. Tendo em conta as potencialidades desta perspectiva, pode ser estranho que relativamente pouca investigação tenha sido feita utilizando este conceito nos anos que se seguiram à sua apresentação. Contudo, a falta de atenção dada a esta concepção pode ter algo a ver com a sua falta de conexão a antecedentes teóricos ou resultados. Embora Rafaeli (1988, ver Rafaeli & Sudweeks,1998, p.176) tenha postulado que a interactividade pode estar associada “a níveis de aceitação e satisfação... qualidade de desempenho, motivação, sentido de humor, cognição, aprendizagem, abertura de espírito, franqueza e sociabilidade”, não ofereceu uma explicação teórica para esta ligação, nem indicou qual a direcção a seguir para a relação da interactividade com outros modelos conceptuais. Visto que a insuficiente especificação teórica muitas vezes, para o melhor e para o pior, não frusta a investigação, quase nenhuma investigação foi feita, com a excepção de alguns trabalhos. Um estudo realizado de Rafaeli e Sudweeks (1998) analisou postagens de 32 grupos online (da Bitnet Compuserve e da Usenet News) e foram analisados as “linhas de discussão” (threads) (série de entradas relacionados por tópicos com mensagens de resposta enviadas como resposta à original ou a outras subsequentes). Eles descobriram que os níveis de interactividade variaram de 0% a 40%. A maioria das mensagens (52,5%) referia-se a uma imediatamente anterior mas não a várias anteriores. O subconjunto de mensagens interactivas, continha relativamente em maior frequência, formulação de opiniões ou concordância com as anteriores. O estudo não ofereceu nenhuma conclusão quanto à relação dos níveis de interactividade com outras características da comunicação (e tal não foi possível dada a natureza observacional e não invasiva do estudo). Com efeito os investigadores indicaram que "estamos ainda longe de uma teoria da interactividade... Os resultados aqui apresentados não corroboram a definição de interactividade proposta ou o seu papel dentro de um grupo de CMC, nomeadamente, que a interactividade conduz a um comprometimento (p.187). O conceito da interactividade foi incluído num modelo recente de nível superior da comunicação humana, que inclui mas não se limita à CMC, num quadro que pode ser usado para classificar e potencialmente analisar qualquer episódio de comunicação. Burgoon et al. (2000), incluiu neste modelo a) interactividade, ou contingência, que inclui o grau em que o significado das mensagens do participante depende das anteriores do coparticipante; b) participação, implicando uma atitude activa, em vez de um comportamento passivo ou na sombra; c) mediação, versus interacção face-a-face; d) sincronismo, ou tempo real, em lugar de uma troca de mensagens desfasada no tempo; e) proximidade no espaço e distribuição geográfica; f) riqueza de pistas e disponibilidade do sistema; (g) identificação, com participantes anónimos, com pseudónimos, ou identificados, (h) paralelismo, quer o formato permita mensagens simultâneas ou em série, e (i) antropomorfismo, ou o grau em que a interface de comunicação se assemelha à aparência humana. Como estes elementos variam, os teóricos esperam diferenças na participação individual (em níveis cognitivos, sensoriais, e viscerais), na reciprocidade (interdependência e compreensão compartilhada) e na individualização entre os participantes. O extraordinário valor desta abordagem é evitar um agrupamento monotónico de todas as qualidades como aumentando ou diminuindo como um conjunto ao comparar e testar media. Esta suposta falha foi identificada no conjunto de características dos media descritas pela teoria da riqueza dos media (ver Walther & Parks, 2002). Para a investigação identificar quais as propriedades causais que distinguem um medium de outro, ou aplicações alternativas de media em todas as situações, estes elementos devem ser capazes, em princípio, de variar independentemente. Embora algumas destas características sejam difíceis de separar empiricamente, o valor conceptual de características ortogonais ajudará os investigadores do assunto bem como os desenvolvedores a centrarem-se nos elementos críticos que efectivamente sustentam a comunicação entre diferentes plataformas da 10 /25 Internet e das comunicações tradicionais, como a investigação já começou a fazer (por exemplo, Burgoon et al., 2002). A dinâmica da interactividade, pelo menos implicitamente, também contribui para contrastar algumas das teorias dominantes que dizem respeito à comunicação na Internet e mais genericamente à CMC. Por exemplo, as consequências de uma comunicação interactiva mostram fortes contrastes entre os princípios da teoria da riqueza dos media (Daft & Lengel, 1986) e os da teoria da influência social (Fulk, Schmitz, & Steinfield, 1990) no que diz respeito àprevisão da utilidade e selecção de vários meios de comunicação. A riqueza dos media, discutida anteriormente, sustenta que os media têm características fixas, e as diferenças entre as pessoas e seus usos da tecnologia tem a ver com sua inteligência individual em reconhecer e utilizar aquelas características nas várias tarefas. Em contraste, Fulk e os seus colegas (Fulk, Schmitz, & Ryu, 1995) utilizaram uma visão social construtivista da percepção e escolha dos media argumentando que as características e a utilidade dos media, e em última análise a utilização daqueles media pelos indivíduos, são determinadas não isoladamente e reconhecimento mas pela interacção social com os outros. A nossa percepção da riqueza dos media, é portanto, em grande parte produto de notórias e dissimuladas avaliações dos media defendidas pelos que pertencem à nossa rede social fechada e são transmitidas através da interacção dentro e sobre aqueles media. Para seu crédito, Fulk et al. (1995) forneceram evidências muito convincentes e exigentes para a formação social das avaliações dos media. Eles argumentaram que, para que o efeito da influência social seja verdadeiro e não mágico (isto é, para reflectir a reacção de um individuo aos parceiros influentes da rede), a nossa percepção dos media deve reflectir a nossa percepção das percepções dos outros. Os investigadores mediram as percepções dos media entre diversas redes sociais. Encontraram, de facto, correlações mais fortes entre avaliações de várias tecnologias de um indivíduo e as suas percepções das avaliações dos seus colegas mais próximos do que entre as percepções individuais e as percepções actuais relatadas por aqueles colegas. É raro ver evidências tão fortes do efeito da interactividade na formação da percepção quando as avaliações individuais, por si só, foram aceites tão fortemente noutros locais. O potencial de comunicação interactiva também ajuda a contrastar os modelos hiperpessoal (Walther, 1996a) e SIDE (Spears & Lea, 1992), de algumas maneiras. Embora ambas as teorias conduzam à previsão da atracção social entre condições comparáveis do uso da CMC, o modelo hiperpessoal assenta os seus pressupostos, tal como a teoria do processamento da informação social (Walther, 1992), no desenvolvimento da atracção através dos processos de troca de mensagens. Para além do receptor/componente de idealização do modelo, trata-se de um modelo de certo modo racional, de efeitos preconceituosos. Isto é, à medida que um utilizador empreende uma auto-apresentação selectiva, mesmo que o receptor processe esta informação de forma racional e verídica, a impressão selectiva (muitas vezes positivamente distorcida) que o emissor tinha pretendido dar de si tenderá a persistir. O SIDE é, por outro lado, um modelo com pendor cognitivo no qual a interactividade não é central nem mesmo necessária ao processo de preconceituação teórica. Isto é, uma vez tornadas salientes as identidades sociais e assegurado o anonimato visual, as mensagens subsequentes têm pouca sustentação teórica nas avaliações finais que seriam de esperar que os utilizadores viessem a gerar. Em seu favor, diversos estudos do modelo SIDE detectaram a convergência, ao longo do tempo, para normas grupais ou para as avaliações de mensagens normativas, sugerindo que o modelo SIDE é uma teoria suficientemente forte para prever efeitos apesar das inconsistências dentro das conversações espontâneas. Ao mesmo tempo, alguns estudos do SIDE utilizaram ambientes em que conversas anteriores foram apresentadas e nas quais os comportamentos dos sujeitos em estudo não podiam causar impacto no comportamento dos “alvos” (por exemplo, Douglas & McCarty, 2001). Outros envolveram mensagens pré-estabelecidas apresentadas aos sujeitos em estudo, obviando a possibilidade de uma verdadeira interactividade (no sentido da influência mútua) independentemente do que escrevessem esses mesmos sujeitos (Tanis, 2003). Que as previsões do modelo SIDE tenham sido verificadas testemunha a sua força enquanto 11 /25 teoria psicológica, mas uma teoria em que a interacção não tem, necessariamente, que ser um mecanismo conducente aos resultados hipotetizados. Uma outra teoria que pressupõe e assenta na interactividade é a teoria da estruturação adaptativa (AST; Poole & DeSanctis, 1990): “Os processos de comunicação ocupam uma posição central em qualquer teoria de estruturação porque a interacção é o locus dos processos estruturantes” (Poole & DeSanctis, 1992, p. 6). A AST é uma teoria muito complexa, com numerosos termos definidos e relacionamentos recursivos especificados. A AST sugere que as tecnologias de grupo têm um efeito de reforço nas dinâmicas de grupo em vez de um efeito determinístico. Esta teoria tem tido um grande impacto no estudo das tecnologias de comunicação de grupo, especialmente entre os construtivistas e, em muitos casos, entre os investigadores interpretativos. Para outros tipos dos investigadores pode ser difícil extrair prognósticos específicos e testáveis da teoria, embora os esforços para o fazer tenham demonstrado ser corajosos e interessantes. Um pressuposto primário na AST é que a introdução e o uso de qualquer tecnologia de comunicação é socialmente co-construída e mediada pela comunicação humana e pela interacção que desenvolve, e reforça, nas estruturas disponíveis em grandes grupos sociológicos (Poole & DeSanctis, 1990). A AST enfatiza que a adaptação ocorre à medida que a comunicação do grupo vai desenvolvendo uma complexa interacção entre as propriedades da tecnologia de informação, normas de interacção, estruturas sociais e interacções humanas (DeSanctis & Poole, 1994). No essencial, a teoria defende que os grupos conceptualizam a tecnologia por via do seu uso em modos potencialmente diferentes. As pessoas adaptam intencionalmente as regras e os recursos para atingirem os seus fins. Estas apropriações podem ser “fiéis” à concepção ou intenção da tecnologia (i.e., usada de acordo com a intenção do criador, como é o caso da utilização do voto anónimo para obter um grau provisório da concordância) ou podem ser “irónicas” em relação aos propósitos dos criadores (por exemplo, fazendo-se passar por outro participante quando o anonimato permitiria o uso de nomes falsos). A forma como os grupos utilizam a tecnologia pressupõe que venha a produzir impacto na qualidade dos resultados das suas tomadas de decisão, contudo, os factores que podem conduzir ao à afinação de um grupo e às apropriações da tecnologia no seu trabalho são o assunto de investigações ainda a decorrer. Uma expectativa central da AST é que grupos diferentes usarão a tecnologia e comunicarão de maneiras diferentes. Mais ainda, as diferentes formas como uma tecnologia é usada podem mediar o seu impacto nos resultados do grupo. DeSanctis e Poole (1994) sugeriram que o impacto da tecnologia nos grupos pode ser avaliado através da análise de como os grupos se tendem a estruturar à volta de rotinas sociais intimamente ligadas às tarefas que eles empreendem assim como ao seu ambiente ou contexto. “A estruturação ao nível micro caracteriza-se por duas dinâmicas de interacção distintas… a contínua produção e reprodução de estruturas, à medida que vão sendo utilizadas em actividades… [e] os pontos de encontro em que ocorrem as maiores alterações na estrutura”, de acordo com Poole & DeSanctis (1992, p. 15). Semelhantes alterações, que em princípios se podem observar, podem ocorrer como resposta a diferenças nas características da tecnologia, utilização da tecnologia e os vários esquemas dos utilizadores acerca dos processos de grupo. Uma investigação empírica da AST usou um sistema computorizado de apoio à decisão de grupo local (em vez de baseado na Internet) com níveis diferenciados de regras processuais e de restrições impostas pelo menu de ferramentas do sistema (Poole & DeSanctis). Os investigadores codificaram os comportamentos conversacionais dos participantes em categorias consistentes com as definições dos diferentes tipos de apropriação da tecnologia: a um nível, a forma como avança a estruturação (questionando ou sugerindo procedimentos para a discussão de grupo) a outro nível, e a um nível micro, enquanto tropos e esquemas retóricos de cada participante. Os dados foram transformados em sequências temporais. As análises destas sequências demonstraram que uma 12 /25 grande parte da discussão (79% dos actos de discurso) era sobre a tecnologia e como a usar no que diz respeito aos processos do grupo, com relações internas que se referiam a estruturas de sistemas de computador ou externamente sugeriam regras de procedimentos. Entre as muitas outras descobertas, os resultados demonstraram que quando o grau de restrição era mais baixo, os grupos empenhavam maior esforço conversacional para resolver a ambiguidade acerca de como utilizar o sistema de computador. Esta descoberta por e de si própria alerta-nos para a reciprocidade relacional entre as estruturas e as regras impostas por qualquer dada ferramenta de comunicação, as regras sociais impostas por administradores e a necessidade dos utilizadores para se adaptarem através dos seu próprio esforço inovativo quando há incerteza acerca de como coordenar e explorar uma tecnologia social. Não admira, pois, que as discussões ad hoc em grupos da Internet estejam cheias de FAQs sobre condutas aceitáveis e que os primeiros estádios de trabalho cooperativo suportados por computador mostrem proporções mais elevadas de perguntas e respostas sobre tecnologia do que acontece em fases mais avançadas (Hollingshead, McGrath & O'Connor, 1993). Noutra local, num complexo mas no entanto envolvente estudo, Contractor e Seibold (1993) mostraram que a AST é submissa à derivação de hipóteses específicas e forneceu evidência através da simulação assistida por computador que sustenta alguns dos seus princípios. A AST recebeu muita atenção mas uma razoavelmente limitada crítica. No entanto, a múltipla natureza contingente da AST pode ser tão emergente na sua natureza que certos resultados desafiam a previsibilidade ou que as previsões não estão abertas à falsificação. As afirmações proposicionais, tais como “grupos diferentes são diferentes”, fornecem alertas úteis sobre os tipos de variação que se podem esperar, mas desafiam o investigador a imaginar uma hipótese nula. Ao mesmo tempo, o construtivismo limitado da tecnologia através da interacção de grupo e da apropriação da tecnologia, o coração desta teoria, coloca-a como uma das poucas teorias em que tanto a interacção social como a tecnologia desempenham papéis centrais. A teoria encerra a promessa de mais aplicações para as características de várias ferramentas e ambientes da Internet, para as normas de utilização no seio de comunidades de utilizadores e a sua interacção dinâmica (veja-se, por exemplo, McLaughlin et al., 1995; Postmes, Spears & Lea, 2000; Sassenberg, 2002). Finalmente, a interactividade (ou o seu representante, a personalização do da entrega do conteúdo) está-se a fundir com a multimédia de formas muito originais e positivas à medida que som, vídeo e texto vão sendo armazenados em e recuperados de bases de dados baseadas nas respostas ad hoc de utilizadores da rede. Recentes campanhas de comunicação da saúde utilizaram estas técnicas de forma muito promissora (ver Rimal & Flora, 1997). Por exemplo, Buller et al. (2004) estudaram e criaram serviços de informação sobre saúde interactivos online que adaptavam a entrega de determinada informação para utilizadores cujos inputs indicavam diferenças nas suas características demográficas, atitudinais ou experienciais. Num sistema de prevenção e interrupção do tabagismo para adolescentes, as características do utilizador provocavam a aparição e animação de diferentes personagens, cuja aparência física reproduzia a idade do utilizador, de forma a conduzi-lo, através de diálogos especificamente adequados, módulos de informação e rotinas de tomada de decisão. Foram alcançados resultados positivos com este método através do aumento da aprendizagem e da influência social. Comutação de pacotes De todas as qualidades da Internet enumeradas por Newhagen e Rafaeli (1996), a da estrutura da comutação de pacotes da Internet foi a que, provavelmente, recebeu menos atenção da pesquisa convencional da comunicação humana. A comutação de pacotes é o mecanismo através do qual os bits digitais, enviados codificados com metainformação sobre o ficheiro a que pertencem, o seu destino, e onde se encaixam na sua configuração final, são encaminhados 13 /25 através da Internet numa variedade potencial de trajectos, de forma transparente para o utilizador. É muitas vezes referido que uma das motivações para a construção de uma rede de comutação de pacotes tinha em vista fins militares de emergência. No caso de um ataque nuclear destruir um dos nós da rede, os pacotes seriam reencaminhados através de outros nós, preservando-se, assim, as linhas de comunicação (Rheingold, 1993). É irónico, nesse contexto, que no dia em que os E.U.A foram realmente atacados – 11 de Setembro de 2001 – a Internet tivesse ficado entupida e não conseguisse responder, sem qualquer utilidade para muitos de nós (Pew Internet & American Life Project, 2001). Foram tantos os utilizadores que tentaram obter informação sobre os ataques terroristas e visualizar através dos meios multimédia imagens do World Trade Center que o sistema da Internet, construído para suportar um ataque acabou por se tornar vítima do seu próprio sucesso. O princípio da comutação de pacotes da Internet são um mau pressagio, para fins de políticas, uma vez que a comutação de pacotes significa que não há uma conduta central para a controlar ou desligar. Políticas destinadas a impedir determinados comportamentos através da Internet, tais como a regulação da pornografia, esbarram com o desafio que é os bits viajarem de uma forma transparente de áreas geopolíticas com um sistema local de regulação para outras áreas com leis e padrões diferentes, sem passarem por postos de controlo fronteiriços e sem nenhum mecanismo físico que impeça os bits de alcançarem o seu destino (Lane, 2000). Passase o mesmo com bits provenientes do estrangeiro. A comutação de pacotes também contribui para o crescimento das redes informacionais peer-to-peer (P2P) e a partilha de ficheiros multimédia. As questões legais, corporativas e culturais associadas a estes desenvolvimentos estão a ocupar grande parte da investigação das políticas de comunicação. Os sistemas P2P facilitam a partilha de ficheiros, fazendo crescer a partilha de materiais protegidos pelos direitos de autor assim como materiais pessoais. As controvérsias sobre a facilitação de trocas musicais, via P2P, pelo Napster, são o resultado da composição estrutural da Internet: uma vez retirados os bits dos suportes de armazenamento de memória, eles são imediatamente transmitidos como pacotes. O conceito de propriedade de um filme ou de uma canção, por exemplo, constitui um acalorado tema de debate político e corporativo sobre direitos de autor, em que as potenciais respostas apontam para questões como quais as intenções do utilizador relativamente ao material (copiar para uso pessoal ou partilhar, revender ou alterar) e por quanto tempo. De acordo com a análise de Gillespi (2004) das actuais questões políticas nos E.U.A, os principais momentos decisivos no controlo da indústria da cultura sobre seus produtos foram atingidos com a publicação da Lei dos Direitos de Autor do Milénio Digital (Digital Millennium Copyright Act ou DMCA), em 1998, e com o processo judicial da indústria discográfica contra o sistema de troca de músicas P2P Napster, que foi resolvido em 2001. O DMCA não só estendeu a protecção dos direitos de autor aos artefactos digitais, como também incluiu um “regulamento anticircunvenção” Se um proprietário de direitos de autor distribuir um trabalho digital com algum tipo de barreira tecnológica integrada (i.e., uma senha de segurança, uma marca de água, cifra, códigos anticópia, etc.), então, deverá ser ilegal um utilizador aceder sem autorização, violando essa barreira. Mais, deverá ser ilegal fazer ou distribuir uma ferramenta que facilite tal violação. (Gillespie, 2004, P. 240) No entanto, tais esquemas de encriptação, sobretudo para a prevenção da partilha de ficheiros de DVD, foi penetrada com a mesma frequência com que foi adoptada, apesar dos subsequentes julgamentos nos tribunais americanos contra os distribuidores de ferramentas de intrusão. Uma das conclusões mais óbvias destes debates sobre políticas é que as conceptualizações pré-digitais de posse e direitos de autor não são capazes de definir ou de guiar as permutas do consumo e distribuição na nova sociedade digital, organizada em rede. Tal como começamos agora a aperceber, estes problemas estão a ser resolvidos, em parte, através de políticas mas, na maioria dos casos através de novos modelos de comercialização, por via dos quais a indústria da cultura está a aderir à distribuição de conteúdos de áudio-vídeo, a preços 14 /25 muito mais baixos por unidade, recorrendo a serviços tais com o novo Napster e o iTunes. É espectável que os modelos comerciais continuem evoluir mais rapidamente do que os modelos reguladores, com um ritmo mais lento, e que aqueles venham a capitalizar cada vez mais com a Internet e as sua componente de comutação de pacotes, ao invés de competir com elas. Sincronicidade O grau em que uma comunicação da Internet é síncrona ou assíncrona é um tópico desafiante. Embora a mera compreensão das diferenças entres estes mecanismos seja comum, apenas uma muito pequena parte da investigação empírica comparou os efeitos de uma destas plataformas versus a outra. Além disso, muitas experiências em que a análise racional discute as organizações modernas que usam sistemas CMC, tais como e-mail e a conferência por computador (media assíncronos) coligiram os seus dados recorrendo a métodos de encontros síncronos. Uma pessoa não pode deixar se questionar sobre se isto de deve à relativamente maior facilidade de abordar assuntos, em sessões laboratoriais de CMC, em tempo real, com o fim de completar rapidamente a compilação de dados, comparada ao processo - muito mais caro, desagradável e gerador de ansiedade - de avaliar parcerias assíncronas durante algum tempo. Sem uma investigação adicional sobre as similaridades e as diferenças entre estes componentes, a generalizabilidade (capacidade de se tornar generalizável) da pesquisa sobre estas plataformas é questionável. Não obstante, alguma pesquisa comparou as duas formas de comunicação e há mais trabalho centrado sobre as formas da comunicação síncrona da Internet para o estudo. Dois estudos fizeram comparações directas entre operações síncronas e assíncronas sobre a mesma actividade. Honeycutt (2001) observou estudantes empenhados na avaliação dos seus pares sobre a trabalhos escolares escritos, em linha. Embora os estudantes tivessem expressado a sua forte preferência por sistemas tipo chat, a sua economia de linguagem e qualidade de trabalho sugerem que a modalidade síncrona é superior à assíncrona. Noutra experiência, Walther (1996b) comparou grupos de tomada de decisão que usaram alternadamente diversos sistemas de comunicação sincrónica - chat em CMC, encontros cara-acara (CaC ou FtC), ou trabalhos escolares rapidamente distribuídos – com grupos que usaram diversos sistemas assíncronos, tais como conferência por computador, uma caixa para depositar os trabalhos escolares em suporte de papel e um quadro de boletins (físico) em condições que incluíam expectativas de projectos de longo-prazo ou trabalho a curto-prazo. Um efeito da interacção ordinal revelou que ambos anteciparam a interacção em curso e a comunicação síncrona (em todas as suas formas) previram maior satisfação e comunicação afectiva. Estabelecendo um paralelo com as descobertas de Honeycutt, no entanto, a CMC assíncrona, assim como os grupos de trabalho em suporte de papel, mais lentos, sobre papel mais lentos, produziram melhores decisões. Parece que uma comunicação rápida é, frequentemente, mais gratificante mas, muitas vezes, menos eficaz em ambiente escrito. A CMC síncrona tem uma história mais infame, enquanto ferramenta recreativa que enquanto aplicação empresarial vulgarizada. Na verdade, os chat transmitidos via Internet, na Internet dos primeiros tempos, “chat rooms” da propriedade de redes tais como a AOL, o MUDS e o MOOS, que providenciam condições de desempenho de papeis e socialização, têm sido estudados pelas suas interessantes implicações na natureza e fluidez da identidade (Bruckman, 1992; Turkle, 1995), na formação de impressões e revisão (Jacobson, 1999, 2001), no desenvolvimento do relacionamento (Parks & Roberts, 1998; Utz, 2000), na linguagem de género e mudança de género (Herring & Martinson, na imprensa; Roberts & Parks, 1999). Adicionalmente à sua atracção a muitas pessoas de muitas predilecções, Caplan (2003) argumentou que quando indivíduos com deficientes competências sociais utilizam estes espaços como alternativa à interacção FaF, as suas competências offline podem, ironicamente, declinar. 15 /25 À medida que o Instant Messenger cresce em popularidade (e/ou à medida que os IMers [Instant Messenger users = utilizadores de mensagens instantâneas via CMC] dos tempos de universidade ingressam no mundo do trabalho [ou na força/mercado de trabalho]), mais usos do chat [conversas electrónicas] síncrono vão encontrando utilidade para as organizações. Nardi, Whittaker, e Bradner (2000) descreveram o uso de ecrãs abertos de MI como um modo de manter uma sensação de presença entre colegas distantes. A análise deles também se debruçou sobre as regras implícitas na utilização de MI; é aceitável estar a conversar na net por MI [Ming] e a falar, em simultâneo, ao telefone com outra pessoa, mas já o não é se estiver a falar FaF com outra pessoa. É aceite não responder a uma MI imediatamente (ainda que a lista de “amigos” do seu amigo lhe diga que está no seu computador [em linha]) porque todos sabem que uma pessoa, sabe…, pode estar a atender alguém na “vida real.” Conversar ou surfar na net [IMing ou web surfing] em tempo real também acontece nas salas de aula, onde seria de esperar que tais actividades reduzam a atenção e a aprendizagem. Isso depende, porém, do destino ou do tópico que as ferramentas estão a ser utilizadas para aceder. Quando os estudantes “conversam na net”sobre o curso que frequentam ou examinam sítios na rede relacionados com o mesmo, “esta atenção dispersa” conduz, na verdade, a melhores trabalhos, conforme se tem constatado pelas suas notas (Hembrooke & Gay, 2003). Para aqueles cujas actividades os remetem para matérias da Internet irrelevantes para o curso, as notas são inversamente proporcionais ao uso de computadores nas salas de aulas. Outras análises de MI (Mensagem Instantânea) e de conversa na net síncrona (chat) centraram-se nos mecanismos de coerência conversacional, de mudança de assunto, de encerramento, de abreviaturas e outros marcadores linguísticos que ilustram como este sistema funciona entre os seus utilizadores. (Baron, no prelo). Por que devem os investigadores da comunicação estudar a Internet? A resposta convencional seria: “para desenvolver a teoria” - que é, ao fim e ao cabo o objectivo da investigação. É justo dizer que a curta história da pesquisa da comunicação na Internet tem, surpreendentemente, até agora, produzido pouca inovação teórica. Isto é, apesar da alegada novidade da nova tecnologia, há poucas teorias autenticamente novas (pelo menos que tenham sobrevivido ao escrutínio) de que se possa verdadeiramente dizer que representam os fenómenos do campo de estudo. Um conjunto de excepções possíveis foi anteriormente produzido nas teorias que compreendem o modelo das pistas sociais reduzidas (Culnan & Markus, 1987). A evolução destas teorias, contudo, fez muito para dissipar o seu impacto pela inclusão dos seus princípios em teorias de ordem mais elevada, explicando as discrepâncias nos estudos mais antigos, mas recorrendo a terminologia teórica menos especificamente relacionada com os media. A presença social e a falta de pistas do contexto social, por exemplo, e os resultados das pesquisas que os suportam, demonstraram estar sujeitas ao erro ou à subsunção. Tanto a teoria da identidade social de desindividuação (Spear & Lea, 1992) como a do processamento da informação social de Walther (1992) foram capazes de fundamentar as descobertas destas teorias por referência a variáveis, de outra forma extrínsecas, tais como a identidade saliente, o tempo, e a antecipação de futuras interacções – variáveis estas importadas de outros trabalhos da área de estudos da psicologia e da comunicação com origens tradicionais na interacção não mediada. O assalto final a estas teorias, enquanto teorias de selecção e uso dos media, pode ser o trabalho de Fulk et al. (1995), acima discutido, na medida em que refunde a percepção e a selecção dos media enquanto efeitos de rede socialmente situados, uma abordagem mais parcimoniosa e de ordem mais elevada do que qualquer quantidade de atributos dos media e definição de metas e objectivos. Assim, estas teorias que tiveram as propriedades da tecnologia como centrais, como efeito primordial de construção, foram suplantadas por perspectivas menos centradas nos media. É bom que o nosso pensamento evolua e é curioso, no entanto que poucas teorias novas definam este campo de estudo. 16 /25 Talvez a escassez de teorias novas seja a que deve ser. Pode discutir-se se a teoria deve evoluir conservadoramente, e se as novas teorias devem implantar-se somente quando as velhas já não o fizerem. Talvez a dinâmica da comunicação mude pouco quando mediada pela tecnologia, e as aparências de superfícies computorizadas desmintam mecanismos tradicionais de comunicação. Por uma variedade de razões possíveis, a pesquisa das novas tecnologias está ainda na infância e não é claro se deve alcançar a maturidade como um campo genuíno. Tão problemático quanto uma falta da teoria tecnologicamente centrada, no entanto, é a pesquisa ir beber às teorias tradicionais que comparam o meio ao meio, examinando ostensivamente o impacto da Internet, onde as suas características são insuficientemente explicitadas. Por exemplo, nos estudos de diversos investigadores dos media que estudaram o impacto da Internet na opinião pública e no compromisso político, encontramos a Internet conceptualmente não diferenciada. Considerando que a Internet pode ser, na perspectiva das teorias da opinião pública, apenas um outro meio, a pesquisa que conceptualizou e operacionalizou o uso da Internet monoliticamente não deve esperar muito impacto por, muito provavelmente, ter esmagado diferenças de valor substancial. O uso da Internet é uma categoria demasiado ampla para avaliar sistemática ou sensivelmente os potenciais impactos dos vários canais de comunicação para os quais a Internet é o condutor, limitando mesmo esses canais àqueles que dizem respeito à informação política: sítios do governo, de campanha, de notícia, pessoais, blogues, “newsgroups” políticos e chats politicamente orientados, para não dizer nada das discussões ad hoc livres de vontades em muitos recantos e buracos onde as opiniões políticas são compartilhadas, comparadas e discutidas. Apesar desta lista aleatória dos canais da Internet não oferecer mais do que uma incursão teórica para a compreensão dos papéis da Internet na participação política em vez de uma aproximação monolítica, reforça que pode haver qualidades, que a pesquisa rigorosa precisa de endereçar mais do que ignorar. Como Bimber (2000, p. 330) afirmou: “A Internet” pode envolver actividades muito diferentes, com efeitos divergentes, ou mesmo conflituosos, dos fenómenos humanos sob investigação. O tempo passado numa discussão política numa chamada “sala de chat” é diferente do tempo passado a enviar emails a um grupo de vizinhos acerca de um projecto comunitário de fim-desemana e estes são diferentes do tempo passado a ver pornografia. Falar de forma simples sobre “a Internet” pode esconder diferenças funcionais importantes, com implicações distintas para a obrigação cívica. Embora a tradicional divisão do mediado versus canais interpessoais de comunicação possa causar alguma sensibilidade na investigação dos meios de comunicação tradicionais, classificar a Internet como um outro meio do não interpessoal, desafia a experiência assim como a pesquisa sobre a maioria das recompensas dos relacionamentos orientadas e interpessoais que muitos americanos buscam através do uso da Internet (Stafford & Gonier, 2004). Quando a pesquisa permite que os aspectos do uso da Internet sejam interpessoais ou parecidos com os media e analisa várias actividades funcionais, resultados mais ricos do que os “becos sem saída” previstos por aproximações mais limitadas surgem. Por exemplo, Moy, Manosevitch, Stamm, e Dunsmore (no prelo) examinaram uma variedade de actividades e canais da Internet, incluindo o e-mail, os chats e as discussões e o uso da Web, que resultaram em diversos tipos de utilização funcional (participação política, activismo comunitário, trabalhos em redes sociais, informação e actividades financeiras e de consumo). Usando estas dimensões mais específicas, Moy et al. encontraram grande impacto de várias actividades da Internet em dimensões de relacionamento cívico, para além do que tem sido relatado em trabalhos anteriores: usando especificamente a Internet para procurar informação, e-mail com fontes interpessoais e actividade política… foram relacionados positivamente em todas as dimensões de relacionamento cívico … [e] dimensões específicas do uso da Internet emergiram como iguais, se não mais, poderosos instrumentos de previsão do relacionamento cívico que os dados demográficos, na utilização de meios tradicionais, ou medições mais antigas do uso da Internet. (p. 14) 17 /25 Apesar de resultados como estes fazerem muito para refocalizar a pesquisa sobre a Internet como media em vez de médium, ainda mais pode ser feito para definir utilizações da Internet para outros fins, pelo menos para favorecer aquelas utilizações que existem nas análises de interessantes relações empíricas teóricas! Há igualmente vozes contrárias, reclamando que a falta relativa das teorias para as novas tecnologias de comunicação, surge porque os impactos da tecnologia são tão revolucionários que precisamos absolutamente de ideias novas para compreender mudanças recentes e iminentes. O entusiasmo que acompanha os novos meios e locais de interacção apressou-nos a descrever e especular, com uma tendência infeliz para ignorar investigações anteriores, a mistificar e dramatizar todas as descobertas. Durante algum tempo, enquanto os estudantes encontravam espaços de chat e de discussão multi-uso de alteração de identidades, e nós éramos tratados como um bando de madrugadores pós-modernos de publicação própria, o futuro da bolsa de estudos nas novas tecnologias prometia parecer-se mais com uma série de películas francesas de adolescentes, do que com esforços na identificação de princípios generalizados e factores, tecnológicos, sociais, individuais e sócio-tecnológicos causadores ou deles resultantes. Mesmo entre investigadores quantitativamente orientados, os testes de hipótese falhadas foram oferecidos pelos seus verificadores como prova de que o determinismo era uma fatalidade da era da rede (não apenas determinismo tecnológico, mas determinismo per se), e que os efeitos da tecnologia estão tão profundamente entranhados, especificamente localizados e emergentes, que desafiam as previsões racionais e generalistas. Este ponto, se verdadeiro, é aquele que é que realmente necessário ser realizado apenas uma vez, mas que foi mostrado ser falso em numerosas ocasiões. Trabalhos mais sofisticados parecem ganhar terreno, permitindo que retiremos algumas etapas do limiar a um mergulho de cabeça, no não realismo pós-moderno. Para além do limiar, nalguns domínios, velhas teorias e perspectivas foram esticadas, recontextualizadas e expandidas para ver onde cabem ou não os comportamentos que recentemente são situados e que no entanto são o material da natureza humana (veja, para a revisão, Walther e Parks, 2002). O número de resultados quase teóricos sobre a modificação ou transformação das práticas comunicacionais comuns afectadas ou permitidas pela tecnologia, tem crescido a um ritmo rápido. As tipologias emergiram para além das apresentadas anteriormente (por exemplo, Eveland, 2003; Finn, 2000; Nass & Mason, 1990). Tais como os elementos multi-nível identificados na teoria da actividade para o estudo e a avaliação de sistemas de HCI (veja Gay & Hembrooke, 2004), cada um pode guiar a nossa atenção e ajudarnos a comparar e identificar propriedades ocasionais e confusas entre meios novos, existentes e vindouros. Para a finalidade de projecto e execução, é necessária uma visão alargada dos atributos porque, o desenho de sistemas técnicos exige uma prudente reflexão das interacções entre os vários grupos que estão trabalhando, para as definir e desenvolver. Projectar um sistema eficaz, que vá de encontro às necessidades de vários utilizadores, exige a atenção a uma variedade de interesses sociais, organizacionais, administrativos e técnicos (Kilker & Gay, 1998). Contudo, para a maioria dos princípios mais elevados destas construções tipificadas, geralmente nós esperamos. A multi-mediação, a interactividade, a hipertextualidade, a comutação de pacotes e a sincronicidade são fenómenos interessantes e como se pode ver, tópicos de organização interessantes para relacionar, certamente não todos, numa pesquisa de comunicação sobre a tecnologia. Contudo, estas não razões suficientes para que os investigadores de comunicação estudem a Internet. Por outro lado, a Internet e as tecnologias relacionadas têm o potencial de ter grande um impacto nas interacções sociais, organizacionais, políticas e dos relacionamentos do dia-a-dia, como outros meios, tais como a televisão e o telefone tiveram no passado. A pesquisa em tecnologia de comunicação ajuda-nos a explorar esses impactos. Ajuda-nos também a compreender como a tecnologia nos afecta, a níveis cognitivos e sociais. Ajuda-nos ainda a desenhar e remodelar, de modo a fazer interfaces e sistemas mais capazes de suportar as necessidades humanas, mesmo quando descobrimos com grande precisão, quais são realmente 18 /25 as carências do ser humano em processamento de informação. Estas são mais do que boas razões para que os investigadores em comunicação estudem a Internet e outras tecnologias de comunicação. Além disso, e mais do que isso, a pesquisa da tecnologia de comunicação tem o potencial de abrir refrescar as nossas opiniões e compreensões sobre as maneiras básicas como as pessoas interagem uns com os outros, oferecendo novas visões dos processos normais, tradicionalmente focalizados nas dinâmicas interpessoais e interpessoais, no funcionamento dos grupos, no desenvolvimento e nos impactos das redes sociais, no comportamento das organizações, no comércio e na partilha de informação global. O estudo da Internet reforçou algumas das últimas simples verdades e expandiu seu impacto, de maneira que todos podem compreender. As pessoas relacionam-se às vezes, mais como grupos que como que como indivíduos; as pessoas contam umas com as outras, mesmo dentro a obscuridade e sem nenhum contacto de FaF; as pessoas ajudam-se ncs seus problemas, e às vezes é melhor perguntar a um desconhecido do que um amigo; um retrato vale mil palavras; como um coçador de costas ou um martelo, uma ferramenta é o que as pessoas fazem dela. Mais do que ajudar-nos a compreender, os nossos novos comportamentos tecnológicos, pesquisas utilizando a Internet ajudam-nos a compreender a condição humana, a maneira como nós somos e sempre seremos, como criaturas de troca de mensagens criadoras de sentido, e isso por si só garante a nossa atenção. Referências Baron, N. S. (2004). See you online: Gender issues in college student use of instant messaging. Journal of Language & Social Psychology, 23, 397–423. Bimber, B. (2000). The study of information technology and civic engagement. Political Communication, 17, 329–333. Bolter, J. D. 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