Manual de Saúde Bucal
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Manual de Saúde Bucal
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE LONDRINA AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE ESTADO DO PARANÁ MANUAL DE SAÚDE BUCAL Londrina 2009 MANUAL DE SAÚDE BUCAL PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA Prefeito Homero Barbosa Neto SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE Secretário Agajan A. Der Bedrossian DIRETORIA EXECUTIVA Diretora Marly Scamdelai Coronado Assessoria Técnica de Odontologia Martha Beatriz Esgaib Issa DIRETORIA DE AÇÕES EM SAÚDE Diretora Bruna Maria Rocha Petrillo Gerência de Odontologia Oswaldo Pires Carneiro Júnior Produção, distribuição e informações: SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE LONDRINA Superintendência Municipal: Agajan A. Der Bedrossian Diretoria Executiva: Marly Scamdelai Coronado Diretoria de Ações em Saúde: Bruna Maria Rocha Petrillo Endereço Rua Jorge Casoni, 2350 CEP: 86010-250 Telefone: (43) 3376-1800 FAX: (43) 3376-1804 Email: [email protected] Site: www.londrina.pr.gov.br/saude 1ª Edição 2009 ISBN Revisão Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Projeto Gráfico/ Capa Marcelo Ribeiro Máximo - Artes Gráficas/Informática/AMS/PML Impressão Gráfica Progressiva – Curitiba – Paraná Direitos Reservados Nenhuma parte pode ser duplicada ou reproduzida sem expressa autorização da Autarquia Municipal de Saúde de Londrina CATALOGAÇÃO: Sueli Alves da Silva CRB 9/1040 Londrina. Prefeitura do Município. Autarquia Municipal de Saúde. Manual de saúde bucal/.- Prefeitura do Município; Domingos Alvanhan e Cristiane de Andrade Janene Gonini, coordenadores.- 1. ed. Londrina, PR: [s.n], 2009. 550p. : il, color.Vários colaboradores. Bibliografia. ISBN 1. Saúde Bucal – Manual. 2. Saúde Coletiva – Londrina. I. Alvanhan, Domingos. II. Gonini, Cristiane de Andrade Janene. III. Título. Manual de Saúde Bucal Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Coordenadores 1ª edição Autarquia Municipal de Saúde de Londrina Autores Alice Tayoko Ogawa Professora do Curso de Especialização em Endodontia da Associação Odontológica Norte do Paraná – AONP – Londrina. Especialista em Endodontia e Mestre em Microbiologia – Universidade Estadual de Londrina - UEL. Antônio Ferelle Professor do Módulo Clínica Integrada Infantil - Odontopediatria e do Núcleo de Odontologia para Bebês - UEL - Doutor em Odontopediatria. Carlos Alberto Spironelli Ramos Professor Adjunto da Disciplina de Endodontia – UEL – Doutor em Endodontia – Universidade de São Paulo - USP - Bauru - SP Cássia Cilene Dezan Garbelini Professora do Módulo Clínica Integrada Infantil - Odontopediatria e do Núcleo de Odontologia para Bebês - UEL - Doutora em Odontopediatria. Cristiana Castello Branco Nascimento Cirurgiã-Dentista da Autarquia Municipal de Saúde de Londrina - AMS - Especialista em Saúde Coletiva e Bioética – UEL Mestranda em Gestão de Serviços de Saúde - UEL. Cristiane de Andrade Janene Gonini Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Odontopediatria – AONP e Mestre em Saúde Coletiva – UEL. Domingos Alvanhan Cirurgião-Dentista da AMS e Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (SESA) – Especialista em Saúde Pública – Fundação Instituto Oswaldo Cruz – FIOCRUZ Auditoria de Sistemas e Serviços de Saúde – Instituto de Ensino Superior de Londrina INESUL e Periodontia – AONP. Coordenador de Vigilância Ambiental da 17ª Regional de Saúde de Londrina – SESA. Eliane Aparecida Azeredo Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Saúde Coletiva e Saúde da Família – INESUL. Euterpe Frigeri Barczysczyn Cirurgiã-Dentista da SESA – Especialista em Metodologia do Ensino Superior - UEL e em Saúde Pública. Fabrício Parra Garcia Médico Cardiologista – Residência em Clínica Médica, Cardiologia e Cardiografia Especialista em Cardiologia. Hilton Hirabara Cirurgião-Dentista da AMS – Residência em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial – Hospital Evangélico Londrina. João Fernando Balan Cirurgião-Dentista da AMS - especialista em Saúde Coletiva e Saúde da Família - UEL José Roberto Almeida Médico da Policlínica Municipal de Saúde de Londrina. Professor do Pronto Socorro do Hospital Universitário - UEL – Mestre em Medicina – UEL e Especialista em Geriatria e Gerontologia. José Roberto Pinto Coordenador do curso de Residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial – HU – UEL - Coordenador da Disciplina de Cirurgia Bucal - Universidade Norte do Paraná - UNOPAR e UEL. Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial - Pontifícia Universidade Católica - PUC – RS - Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial - Universidade do Estado de São Paulo - UNESP – Araçatuba – SP. Lázara Regina de Rezende Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Bioética – UEL - Odontologia Legal e Auditoria de Sistemas e Serviços de Saúde – INESUL - Mestre em Saúde Coletiva – UEL. Leila Maria Cesário Pereira Pinto Professora da UNOPAR e professora convidada do curso de Pós -Graduação em Odontopediatria da UEL - Doutora em Odontopediatria. Lisete Rosa e Silva Benzoni Médica Ginecologista e Obstetra. Residência médica em Ginecologia e Obsterícia – UEL - Especialista em Ginecologia e Obstetrícia – Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. MBA em gestão Estratégica de Pessoas Fundação Getúlio Vargas - Diretora de Relacionamento com cooperados da UNIMED – Londrina. Lucimar Aparecida Britto Codato Cirurgiã-Dentista da AMS e Professora do Módulo de Epidemiologia e Metodologia de Pesquisa e de Gestão de Serviços Públicos Odontológicos - UEL – Especialista em Saúde Coletiva e em Saúde da Família – INESUL - Mestre em Saúde Coletiva – UEL. Luiz Reynaldo de Figueiredo Walter Professor Titular de Odontopediatria – UEL Coordenador do Programa de Pósgraduação em Odontologia, Área de concentração em Dentística - UNOPAR. Mara Ferreira Ribeiro Médica da AMS - Coordenadora do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST) – Residência em Preventiva e Social – concentração em Saúde do Trabalhador - Especialista em Medicina do Trabalho. Márcio Grama Hoeppner Professor Adjunto do Curso de Odontologia – UEL - Especialista, Mestre e Doutor em Dentística Restauradora - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Araraquara. Patrícia Helena Vivan Ribeiro Enfermeira da Clínica Odontológica Universitária – UEL Especialista em Enfermagem na Saúde do Adulto, Centro Cirúrgico e de Materiais Esterilizados – SOBECC - Mestre em Enfermagem Fundamental - USP Ribeirão Preto Doutoranda em Enfermagem - USP Ribeirão Preto. Pedro Sperandio Lopes Morales Cirurgião-Dentista da AMS. Raquel Cristina Guapo Rocha Médica da AMS – Residência em Clínica Médica e em Nefrologia - Mestre em Medicina – Área de Concentração em Nefrologia – UEL. Renata Cristina da Silva Baldo Enfermeira da AMS. Mestranda em Saúde Coletiva – Faculdade de Medicina da UNESP – Botucatu – SP. Renato Mikio Moriya Médico da AMS – Coordenador do Núcleo de Saúde e Paz de Londrina - Especialista em Adolescentes, Terapia da família e em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes - USP – SP- Mestre em Medicina e Saúde - UEL. Rodrigo Borges Fonseca Professor Adjunto do Curso de Odontologia - UEL - Mestre em Reabilitação Oral Universidade Federal de Uberlândia Doutor em Materiais Dentários - Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP. Martha Beatriz Esgaib Issa Assessora Técnica de Odontologia da AMS - Especialista em Endodontia e em Pacientes Especiais. Rosangela Del Anhol Azevedo Fonoaudióloga da AMS – Especialista em Audilogia - Mestre em Distúrbios da Fala e da Comunicação Humana - Universidade Tuiuti - Paraná. Maura Sassahara Higasi Professora do Módulo Introdução à Saude Coletiva e Módulo de Epidemiologia e Metodologia de Pesquisa - UEL – Especialista e Mestre em Saúde Coletiva – UEL. Wagner José Silva Ursi Professor do Curso de Odontologia – UEL. Mestre em Odontologia, área de concentração em Dentística.- Especialista em Endodontia e em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Colaboradores Ana Flora Gomes da Siva Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Periodontia e Gerontologia. Anne Kelly Oliveira Mantovani Cirurgiã-Dentista. Cyntia Cristina Fiori Moreira Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Periodontia – AONP – Londrina. Danielli Molina Cirurgiã-Dentista da Secretaria de Saúde de Foz de Iguaçu – Paraná. Éder Willian Merlo Cirurgião-Dentista da AMS – Especialista em Saúde Coletiva. Elisa Emi Tanaka Carloto Professora do Módulo Clínica Integrada Diagnóstica – UEL Doutora em Diagnóstico Bucal – Radiologia – USP São Paulo. José Faiçal Júnior Cirurgião-Dentista da AMS - Especialista em Endodontia. Leilaine Aparecida Furlanetto Rodrigues Cirurgiã-Dentista – Secretária de Saúde do Município de Ibiporã – Paraná Especialista em Saúde Coletiva. Lia Ogawa Cirurgiã-Dentista da AMS - Especialista em Endodontia e em Saúde Coletiva. Luiz Carlos Baldo Médico da AMS e SESA – Residência em Ginecologia e Obstetrícia - UEL Nilça dos Anjos Ferreira Auxiliar de Saúde Bucal da AMS Salete Campos Mozer Sodré Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Periodontia e em Saúde Coletiva. Satílio Kasai Cirurgião-Dentista da Secretaria de Saúde de Cambé, Ibiporã – Paraná Especialista em Saúde Coletiva. Sérgio Vitório Canavesi Médico da AMS e do Serviço de Atendimento Médico de Urgência – SAMU – Londrina – Especialista em Saúde da Família e em Administração Hospitalar – Mestrando em Gestão de Serviços de Saúde - UEL. Sueli Alves da Silva Bibliotecária – Coordenadoria de Acervo e Informação Bibliográfica – AMS – Especialista em Gerência de Unidades de Informação e em Saúde Coletiva Sueli Tsuha Massaoka Cirurgiã-Dentista da AMS – Especialista em Saúde Coletiva e em Bioética - UEL Verena Turini Cirurgiã-Dentista do Centro Integrado e Apoio profissional – CIAP – Londrina Especialista em Endodontia. Waldemar Massahiro Tanaka Cirurgião-Dentista – Especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial e Radiologia. Validação Validação interna Com objetivo de contribuir para o aprimoramento do Manual de Saúde Bucal foram realizadas oficinas de trabalho e reuniões com os profissionais de Saúde Bucal do serviço e também envio de cópias de capítulos para profissionais de saúde da Autarquia Municipal de Saúde, conforme área temática: • Área médica - Ginecologia e Obstetrícia, Geriatria, Cardiologia, Nefrologia, Infectologia, Pediatria e Hebiatria • Fonoaudiologia • Odontologia Validação externa Para validação externa, foram encaminhadas cópias do manual para apreciação, contribuição e sugestões às seguintes instituições: • Conselho Regional de Odontologia do Paraná • Universidade Estadual de Londrina • Universidade Norte do Paraná Sumário Capítulo 1 - Atenção Odontológica em Londrina 1.1 – Introdução 1.1 - Programa Infanto-juvenil e Gestante 1.3 - Saúde Bucal no Programa Saúde da Família (SB/PSF) Capítulo 2 - Principais Patologias Bucais 2.1 - Cárie Dentária 2.2 - Doença Periodontal 2.3 - Câncer Bucal Capítulo 3 - Atenção Odontológica por Ciclo de Vida 3.1 - Atenção ao Bebê 3.2 - Atenção à Criança 3.3 - Atenção ao Adolescente 3.4 - Atenção ao Adulto 3.5 - Atenção ao Idoso Capítulo 4 - Atenção Odontológica a Pacientes com Necessidades Especiais 4.1 - Pré-natal Odontológico 4.2 - Diabetes Mellitus 4.3 - Hipertensão Arterial 4.4 - Acidente Vascular Cerebral (AVC) 4.5 – Alterações Cardíacas 4.6 - Endocardite Infecciosa 4.7 - Paciente em Terapia Anticoagulante 4.8 - Insuficiência Renal Crônica 4.9 - Pacientes Transplantados 4.10 – Hepatite 4.11 - Cirrose Hepática 4.12 - Paciente em Tratamento Oncológico 4.13 – Artrite 4.14 – Hemofilia 4.15 – Anemia 4.16 - Alterações da Tireóide 4.17 – Tuberculose 4.18 – Asma 4.19 - Desordens Convulsivas 4.20 - Síndrome da Dependência de Álcool 4.21 - Atendimento ao Portador do Human Immunideficiency Virus (HIV) e Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) 4.22 - Atenção à Pessoa com Deficiência 23 23 23 29 53 55 67 83 101 103 151 177 187 197 231 233 263 275 283 287 293 297 299 302 304 305 308 316 318 320 324 328 332 334 336 338 346 Capítulo 5 - Atenção Odontológica Especializada 5.1 - Critérios gerais para referência ao Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) 5.2 – Endodontia 5.3 – Periodontia 5.4 - Prótese Dentária 5.5 - Cirurgia Odontológica 5.6 - Pessoas com Deficiência (Pacientes com Necessidades Especiais) Capítulo 6 - Procedimentos Odontológicos 6.1 – Preventivos 6.1.1 - Terapia com flúor 6.1.2 - Selantes de Fóssulas e Fissuras 6.2 – Curativos 6.2.1 – Dentística 6.2.2 – Periodontia 6.2.3 – Cirurgia 6.2.4 – Endodontia 366 368 370 374 378 382 386 390 392 392 426 428 440 448 462 Capítulo 7 - Traumatismo Dentário na Dentição Permanente 472 Capítulo 8 – Hipossalivação 486 Capítulo 9 - Abuso Infanto-juvenil 492 Capítulo 10 - Funções e Atribuições da Equipe de Saúde Bucal 502 Capítulo 11 - Biossegurança em Odontologia 510 Apêndices 534 Anexo 547 Prefácio Quando se escreve um livro, o autor tem a completa dimensão da abrangência e significância de sua obra. Pois trata de sua produção, assim ele a vê com bons olhos. Ao prefaciar obra de outros é necessário uma análise crítica que envolve tanto o conteúdo como os autores. O conteúdo deste texto está voltado para a comunidade odontológica que atua em serviço público, onde a diversidade de temas deve ser abrangida de uma forma que alcance a objetividade do conteúdo dos diferentes temas. Este aspecto está perfeitamente claro e servirá de uma espécie de vad mecun para consulta. Quanto aos autores organizadores, duas virtudes eles nos oferecem, teimosia e persistência, aliadas à competência indispensável para organizar uma obra como esta. Os dois organizadores são teimosos, não admitem derrota, e assim persistem até alcançar o objetivo final. Destas virtudes surge este Manual, de grande utilidade para os serviços odontológicos, tanto nas Unidades de Saúde como nos serviços de Saúde da Família, incluindo conhecimentos básicos de cuidados odontológicos às gestantes, bebês, infantes, escolares, adolescentes, adultos e idosos. Londrina ganha, a Odontologia ganha e a Saúde Pública ganha, enfim todos ganham. Este é o resultado de um trabalho sério. Luiz Reynaldo de Figueiredo Walter Londrina, agosto de 2009. Apresentação A atenção em Saúde Bucal no Município de Londrina tem passado por um processo de transformação desde sua implantação na década de setenta, com a busca incessante de qualidade, resolubilidade e ampliação do acesso da população ao serviço, além de um consequente aumento de complexidade das ações. Nesse contexto, foram dados os primeiros passos para a organização da atenção odontológica no município de Londrina, com a elaboração de guias e fluxos da atenção. Em 1994, editou-se a Rotina Odontológica na tentativa de se consolidar esse processo de planejamento. Em 1998, uma nova edição da rotina foi publicada, intitulada “Odontologia em Saúde Pública”, contemplando conceitos ampliados e mais atualizados para a época. No ano de 2003, com a inserção da Odontologia no Programa de Saúde da Família, verificou-se a necessidade de se revisar e ampliar as informações contidas no documento em vigência, iniciando-se o processo de elaboração de novo protocolo para a saúde bucal. Sendo assim, com intenção de contribuir para o processo de elaboração, foram convidados representantes do serviço, da academia (Universidade Estadual de Londrina – UEL e Universidade Norte do Paraná – UNOPAR) e entidades de classe como Conselho Regional de Odontologia do Paraná e Associação Odontológica do Norte do Paraná (AONP). Este Manual apresenta-se como resultado deste processo e tem como objetivo fornecer subsídios técnicos e científicos, levar informações básicas para a reorganização da rede de assistência, tanto na atenção básica como na especialidade, definir competências e responsabilidades do serviço, das equipes e dos profissionais e aprimorar a resolubilidade da atenção à saúde bucal no âmbito do SUS. Por sua amplitude e complexidade, deverá apresentar caráter dinâmico e ser constantemente aperfeiçoado e atualizado diante das mudanças epidemiológicas, socioeconômicas, culturais e organizacionais que se apresentarem. Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini CAPÍTULO 1 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA EM LONDRINA 23 1. ATENÇÃO ODONTOLÓGICA EM LONDRINA Eliane Aparecida Azeredo Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan INTRODUÇÃO A atenção odontológica no Serviço Municipal de Saúde de Londrina iniciou-se na década de setenta, em uma clínica odontológica instalada nas proximidades do centro, na zona urbana, sendo voltada para o pronto-atendimento aos casos de urgência. Em 1972, ocorreu a fluoração da água de abastecimento público da cidade. No início da década de oitenta, implanta-se o Sistema Incremental, com a criação das primeiras clínicas odontológicas simplificadas em escolas, tendo como população alvo alunos de 7 a 12 anos do ensino fundamental público. Este programa adotava a lógica de que crianças já atendidas deveriam ser mantidas sob cuidados nos anos subsequentes. Apresentava como características a adoção de equipamentos, rotinas, instrumentais, materiais, técnicas restauradoras e cirúrgicas simplificados e a delegação de funções a pessoal de nível auxiliar e técnico. Com o desenvolvimento da Atenção Odontológica precoce pela Clínica de Bebês da Universidade Estadual de Londrina – UEL, e, seguindo as tendências preconizadas pela Odontologia Integral e pela Saúde Bucal Coletiva, os conceitos de risco, prevenção de cárie e os princípios de universalização, equidade, territorialização, integralidade e controle social passam a ser adotadas. Com isso, no início da década de noventa, a atenção odontológica transfere-se para as Unidades de Saúde, acarretando em mudanças no programa odontológico que passa a ser direcionado ao atendimento integral à população infanto-juvenil adscrita à Unidade de Saúde e a atenção odontológica a bebês. Em 1994, implanta-se a atenção odontológica à gestante. No ano de 2002, inicia-se a atenção odontológica ao portador de HIV e doente de AIDS contemplando os usuários dos ambulatórios do Centro de Referência Dr. Bruno Piancastelli Filho e do Hospital das Clínicas da UEL. Neste mesmo ano implantou-se o Programa de Odontologia na Maternidade Municipal com objetivo de orientar às puérperas sobre a importância dos cuidados à saúde bucal do bebê e da mãe na prevenção de doenças bucais. Esse serviço é executado por um Técnico em Saúde Bucal (TSB), o qual 24 realiza atividades de educação em saúde bucal, com enfoque especial ao aleitamento materno. A inserção da Odontologia no Programa Saúde da Família (PSF) no município de Londrina ocorreu no início de 2003, com a implantação das primeiras equipes de Saúde Bucal no PSF (SB/PSF) e veio de encontro à necessidade de oferecer à população um atendimento que enfrentasse o desafio de resolver a maior parte das necessidades de tratamento dos usuários, bem como oferecer, como diferencial, uma atenção humanizada, onde o vínculo profissional/família fosse estabelecido. O SB/PSF possibilitou o acesso gradativo de camadas da população até então excluídas da atenção odontológica, e, em especial, da população adulta. Em 2004, ocorre a inauguração do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), contemplando as especialidades de Endodontia, Periodontia, Prótese Dentária, Pacientes com Necessidades Especiais e Cirurgia Odontológica, com o objetivo dar resolubilidade à demanda por especialidades na atenção básica. Atualmente o serviço de odontologia de Londrina passa por uma fase de transição de paradigmas de atenção na qual coexistem o programa infanto-juvenil e gestante e o SB/PSF, os quais serão descritos a seguir. 1.2 PROGRAMA INFANTO-JUVENIL E GESTANTE Teve início na década de noventa e destina-se à atenção odontológica de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos de idade, residentes na área de abrangência das Unidades de Saúde da Família (USF), com manutenção até os 21 anos. Tem como princípio básico a atenção integral às necessidades de saúde bucal da população alvo. A atenção odontológica à gestante ou Pré-Natal Odontológico está direcionado às gestantes residentes na área de abrangência da USF que realizam pré-natal nesta e/ou em outros serviços como Hospital Universitário da UEL (referência secundária para o serviço de saúde), independentemente da idade gestacional. O programa está direcionado para: • Bebês de 0 a 36 meses, considerados prioritários para o programa, sendo a entrada dos mesmos não condicionada à abertura de vagas pela USF. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 3, item 3.1 • Crianças e adolescentes até 14 anos de idade, residentes na área de abrangência da USF, cuja entrada no programa está condicionada à disponibilidade de vagas para tratamento. Sempre que a demanda por tratamento exceder a capacidade de absorção 25 do serviço, sugere-se a adoção de lista de espera. A seleção desses usuários para ingresso ao programa se dará considerando-se critério de risco. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2, item 2.1.4.1.1. • Gestantes que realizam pré-natal na USF ou referenciadas por outros serviços (Ex: Gestantes de alto risco atendidas no Hospital da Clínicas ou Hospital Universitário – UEL) têm prioridade na atenção odontológica, independente da idade gestacional. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.1 1.2.1 Normas Operacionais do Programa 1.2.1.1 Agendamento 1 • Horário Os usuários deverão ser agendados em dois horários e atendidos de acordo com a ordem de chegada, com exceção da zona rural, que deverá levar em conta a realidade local. Manhã: 7:00 ou 7:30 e 9:00 ou 9:30 horas Tarde: 13:00 ou 13:30 e 15:00 ou 15:30 horas • Número de pacientes para atendimento odontológico Deverão ser agendados no período de atendimento para cada CD: a) Clínica com TSB Número de agendados: 14 pacientes, sendo: • Bebês: 4 pacientes • Crianças e adolescentes • o Com procedimentos restauradores ou cirúrgicos: 4 pacientes o Sem procedimentos restauradores ou cirúrgicos: 5 pacientes Gestantes: 1 paciente, com horário marcado ou reservar um período da semana para atendimento das mesmas, agendando 7 pacientes • 1 Urgências O horário de agendamento dos bebês pode ser flexível, de acordo com a realidade local. 26 b) Clínica sem TSB Número de agendados nessa modalidade: 10 pacientes, sendo: • Bebês: 3 pacientes • Crianças e adolescentes • o Com procedimentos restauradores ou cirúrgicos: 3 pacientes o Sem procedimentos restauradores ou cirúrgicos: 3 pacientes Gestantes: 1 paciente, com horário marcado ou reservar um período da semana para atendimento das mesmas, agendando 5 pacientes • Urgências 1.2.1.2 Atrasos A tolerância máxima será de 20 minutos. Após este tempo agendar novo horário. Deve-se levar em consideração o motivo do atraso e se a equipe tem disponibilidade de tempo para realizar o atendimento, apesar do atraso. 1.2.1.3 Faltas justificadas Serão abonadas apenas as faltas justificadas ou avisadas com antecedência. Condições que justificam ausência ao tratamento: • Doença do paciente confirmada, sempre que possível, por atestado ou apresentação da prescrição de medicamento que comprove o atendimento • Falecimento na família • Prova ou atividade escolar intransferível • Outras situações deverão ser analisadas pela equipe, como: Condições climáticas desfavoráveis no dia ou no momento da consulta, acidentes, entrevista para emprego, doença na família, teste de habilitação de trânsito, etc. 1.2.1.4 Falta não justificada • Durante o tratamento Na ocorrência de 3 faltas não justificadas nos últimos 3 anos ou 2 faltas não justificadas no período entre o exame clínico e o tratamento completado (TC), o usuário 27 deverá ser excluído do atendimento. Em ambos os casos, sua nova entrada no programa fica condicionada à abertura de vagas ou realização de nova reunião (no caso das crianças menores de 36 meses). No dia da consulta deve-se anotar, a lápis, a ocorrência da falta no prontuário do usuário. No momento de solicitação de nova consulta, anotar a caneta a falta e solicitar a assinatura do usuário ou responsável. • No retorno de manutenção O usuário que não retornar no mês determinado para a manutenção, terá prazo máximo de um ano para novo agendamento, a contar do mês previsto para o retorno. Caso contrário, será excluído do atendimento, ficando condicionada nova entrada no programa à abertura de vaga. Exemplo: Retorno para março de 2009. Prazo máximo de agendamento: Março de 2010. Gestantes: Reportar-se ao Capítulo 4, item 4.1.9. 1.2.1.5 Transferência • De clínica para clínica Ocorrendo a mudança de domicílio, o usuário poderá solicitar transferência, mesmo sem a conclusão do tratamento, para a clínica odontológica da USF mais próxima de sua residência. O mesmo será automaticamente incluído no programa. Não serão aceitas transferências somente com exame clínico, sem terem sido iniciados procedimentos odontológicos. • Da UEL ou Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) para a clínica Os pacientes encaminhados por essas instituições serão absorvidos automaticamente pela clínica odontológica da USF mais próxima de sua moradia, após a conclusão do tratamento na instituição de origem. 28 1.2.1.6 Urgências É considerada urgência • Dor aguda intensa, geralmente advinda de processo infeccioso ou inflamatório agudo (abscesso dentoalveolar, pulpites, pericoronarites, entre outros) • Trauma (dentário, ósseo, de tecidos moles ou ATM) • Hemorragias • Situações que incapacitem o usuário para a realização de suas atividades diárias Os usuários que apresentarem as condições supracitadas deverão ser avaliados e atendidos pelo CD durante o período de trabalho do mesmo, independente do horário de chegada do paciente. Situações que se enquadrem nos critérios acima, mas que ocorram fora do horário de atendimento do CD, deverão ser referenciados para Pronto Socorro da UEL. Queixas relatadas pelo usuários e que necessitem de uma intervenção clínica, mas não caracterizem situação de urgência, deverão ser atendidas, desde que haja tempo disponível para tanto. Na impossibilidade de atenção imediata do caso, tomar as devidas providências para sua resolução em ocasião mais oportuna. 29 1.3 SAÚDE BUCAL NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (SB/PSF) Neste item serão abordadas as etapas de planejamento e operacionalização da SB/PSF, destacando-se que este processo deve ser construído em conjunto com a Equipe de Saúde da Família (ESF) e a comunidade, de forma pactuada, integrada, dinâmica, flexível e adaptável à realidade local. Para a implantação e desenvolvimento deste programa parcerias são fundamentais, podendo-se destacar as estabelecidas com as lideranças comunitárias e com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). 1.3.1 Reconhecimento do Território Esta etapa visa o conhecimento da realidade do território da USF pela Equipe de Saúde Bucal (ESB) para o planejamento das ações a serem implantadas. Para tanto, é importante que a ESB: • Conheça a infraestrutura da USF, os profissionais e equipes que nela atuam, as atividades ou programas realizados pelas ESF(s) • Realize visita ao território da USF com finalidade de conhecer as características e as áreas de risco existentes • Identifique as formas de organização da comunidade como associação de moradores, conselho de saúde local e as lideranças comunitárias • Estabeleça parcerias com a comunidade e seus representantes, visando estabelecimento de vínculos • Identifique as condições ambientais no que diz respeito a depósitos de lixo, indústrias, terrenos baldios, etc. • Presença de barreiras geográficas que dificultem acesso à USF: Rios e córregos, estradas sem pavimentação, transposição de rodovias, subidas ou descidas íngremes, distanciamento de alguns bairros até a USF e demais situações • Condições de transporte: Linhas de ônibus, horários, outros meios de transporte • Saneamento básico: Abastecimento de água potável, sistema de esgoto (rede oficial, fossas, esgoto a céu aberto ou ausente), destino do lixo doméstico • Condições de moradia das famílias: Tipos de moradias, energia elétrica, etc. • Levante: o Dados estatísticos da área de abrangência tais como: N° de habitantes, composição etária da população, principais características sociais e econômicas e áreas de risco 30 o Perfil de morbidade da área de abrangência, com descrição dos principais agravos de saúde no território, disponíveis nos relatórios do SIAB, ficha A, relato de profissionais, ACS e moradores, etc. o Índices ou indicadores de saúde bucal da população, referentes às principais patologias (cárie dentária, doença periodontal, fluorose dentária, etc.) e das necessidades de tratamento • Identifique os locais para realização de trabalhos de educação e prevenção com a comunidade: Escolas e Centros de Educação Infantil (CEI) municipais, estaduais e particulares, igrejas, associação de moradores, indústrias ou fábricas, espaços comunitários, projetos sociais, asilos, etc. Para facilitar o processo de territorialização foi desenvolvida a “Ficha de Territorialização”, que deverá ser preenchida anteriormente ao início do atendimento da comunidade. (Apêndice A) 1.3.2 Organização do Processo de Trabalho O processo de trabalho da ESB no PSF está direcionado para a atenção a usuários/famílias prioritários e não prioritários. Esta etapa de planejamento deve ser amplamente discutida, envolvendo toda a ESF, Assessoria Técnica, inclusive da Odontologia, Gerência de Odontologia, Conselho Local de Saúde e lideranças comunitárias. 1.3.2.1 Atenção odontológica a usuários/famílias prioritários De acordo com a realidade local encontrada e seguindo a orientação do Ministério da Saúde (MS), os profissionais da ESB, ESF e lideranças comunitárias devem identificar os grupos populacionais e/ou indivíduos mais vulneráveis no território e que terão atenção odontológica priorizada. Geralmente esses grupos são formados por: • Indivíduos com problemas crônicos de saúde (diabéticos, hipertensos, acamados, sequelados de Acidente Vascular Cerebral (AVC), etc.) após avaliação de risco • Gestantes, em qualquer idade gestacional, com acompanhamento até o término de tratamento, mesmo após o nascimento da criança, em USF sem o programa infantojuvenil • Crianças de 0 a 36 meses, com acompanhamento até aos 14 anos (nas USF onde não exista o programa de odontologia infanto-juvenil) 31 • Crianças de 3 a 14 anos de idade com alta atividade de cárie2 • Famílias com alta vulnerabilidade e privação social, após avaliação de risco Considerações • Com exceção das crianças de 0 a 36 meses, gestantes e acamados, todos os outros usuários considerados como prioritários terão o acesso ao tratamento odontológico condicionado à Avaliação de Risco • Acima de 14 anos, o usuário deixa de pertencer ao grupo prioritário, devendo ser orientado a procurar o Pronto-Atendimento Odontológico da clínica, no caso de manutenção • A determinação dos grupos prioritários e não prioritários deve ser um processo em constante avaliação já que a realidade local é dinâmica 1.3.2.1.1 Seleção dos usuários/famílias prioritários Segundo o MS, são considerados pacientes prioritários os usuários/famílias que apresentam situação de Risco Biológico (pela presença de enfermidades crônicas, acamados, gestantes, etc.), Risco Social e Necessidades Bucais que justifiquem um atendimento preferencial dos mesmos em relação a indivíduos que não apresentam tais condições. A seleção dos usuários/famílias prioritários para a atenção odontológica programada no PSF será feita através da Avaliação de Risco, que tem como objetivo verificar as necessidades de tratamento do(s) mesmo(s) e a ordem de prioridade em relação aos demais usuários. Ressalta-se que todos os usuários, com exceção de crianças de 0 a 36 meses, gestantes e acamados, deverão necessariamente passar por esta avaliação, independentemente de serem provindos de grupos operativos da USF, de atendimento odontológico de urgência, de visitas a Instituições (escolas, CEIs, asilos, etc.), terem procurado o serviço espontaneamente (demanda espontânea) ou outras possíveis vias. a. Avaliação de Risco A Avaliação de Risco é a metodologia através da qual a ESB selecionará os usuários ou famílias para a atenção odontológica programada (prioritária). Para que se 2 Presença de mancha branca ativa ou cavidades de cárie ativas na dentição decídua ou permanente. Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 2. 32 concretize são imprescindíveis as informações fornecidas pelo ACS, a análise de dados da Ficha A do usuário e a realização de Visita Domiciliar (VD). Antes de iniciar os trabalhos, a ESF e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) deverão passar por capacitação sobre o processo de trabalho da SB/PSF e como identificar e encaminhar os usuários/famílias prioritários para atenção odontológica. A ESB deve entrar em acordo com a coordenação da USF sobre a melhor forma de se fazer esta capacitação, podendo-se utilizar as reuniões mensais da USF, as reuniões de equipe do PSF ou outras formas a serem propostas. Conforme será descrito no item 1.3.2.3, a ESB deverá reservar no mínimo 4 horas semanais (ou um período por semana) para Atividades Extraclínicas (AEC), como Avaliação de Risco, Visita Domiciliar, entre outras. Sugere-se que no início do período reservado para as AEC(s) seja realizada a avaliação das Fichas A com o ACS da microárea em questão. Como proceder? • Solicitar ao ACS de uma das microáreas que separe com antecedência em média 5 Fichas A de usuários que se encaixem nos critérios de prioridade para análise • De posse da Ficha A, a ESB e o ACS avaliam o Risco Biológico (RB) e Risco Social (RS) de cada usuário, aferindo notas, conforme os critérios a seguir. Para facilitar esta tarefa, foi desenvolvida a Ficha de Avaliação de Risco (Apêndice B) que deve ser parcialmente preenchida neste momento • Após a avaliação dos usuários pré-selecionados, solicitar ao ACS que agende a VD • No dia da VD, a ESB e o ACS, tendo em mãos a Ficha de Avaliação de Risco, devem checar as notas previamente aferidas a RB e RS, ratificando ou retificando os dados conforme a situação encontrada • Em seguida, avaliar as Necessidades Bucais (NB) de cada indivíduo presente na residência, atribuindo nota para este item. Nesta tarefa, realizar exame bucal utilizando espátula de madeira e luz natural • Ao final do período, deve-se calcular a nota do usuário/família • Elaborar uma lista de usuários/famílias a serem convocados para o atendimento, em ordem decrescente de notas • Sempre que possível abranger não só o indivíduo afetado, mas sim toda a sua família • Crianças entre 3 e 14 anos, pertencentes a famílias priorizadas através da Avaliação de Risco, deverão ser preferencialmente incluídas no atendimento odontológico 33 Considerações • Sugere-se elaborar um cronograma mensal de AEC que contemple os ACS(s) de todas as microáreas, utilizando-se o Cronograma de AEC (Apêndice C) • No início das atividades da SB/PSF, as Avaliações de Risco deverão ocorrer com mais frequência (Ex: Uma vez por semana) a fim de se selecionar um número suficiente de pacientes. Entretanto, com o passar do tempo, estas poderão ocorrer com intervalos maiores para que não se gere uma fila de espera e não se sobrecarregue a agenda, ocasionando um intervalo de tempo muito grande entre um atendimento e outro • Na VD, a ESB deverá estar preferencialmente acompanhada do ACS da microárea • Ressalta-se que a VD não visa somente a realização da Avaliação de Risco, por isso a ESB deve aproveitar este momento para estabelecimento de vínculo com o usuário/ família, esclarecimento de dúvidas, realização ações educativas, entre outras • Procurar priorizar a(s) microáreas mais vulneráveis, reservando uma proporção maior de vagas para essas • Nas USF com mais de uma ESB, as microáreas deverão se proporcionalmente divididas entre as equipes, levando-se em consideração a realidade demográfica, socioeconômica e epidemiológica de cada área b. Critérios de classificação por riscos Risco Biológico (RB): Nesse item é analisada a condição de saúde do paciente, dando-se ênfase às patologias crônicas que possam ser agravadas pela condição bucal ou interferir negativamente na saúde bucal (Diabetes Mellitus, hipertensão arterial, cardiopatias, doenças renais, acamados, pessoas portadoras de deficiências físicas ou mentais, HIV/AIDS, transplantados, entre outras). A classificação se dará através de notas variando de 1 a 5, dependendo do grau de comprometimento sistêmico apresentado, conforme descrito no Quadro 1. Ressalta-se que os critérios propostos devem servir de referência para o profissional, porém casos que não se enquadrem exatamente na classificação adotada deverão ser analisados pela equipe e enquadrados na categoria que mais se aproxime da realidade constatada. 34 Nota Condição encontrada 1 • Indivíduos que não apresentem condições patológicas 2 • Indivíduos com uma única patologia crônica controlada 3 • Indivíduos com duas ou mais patologias crônicas controladas ou com uma patologia sem controle adequado 4 • Indivíduos com duas ou mais patologias sem controle adequado 5 • Indivíduos insulino dependentes, transplantados de órgãos vitais ou acamados Quadro 1 - Classificação do RB do usuário 3 Risco Social (RS): Neste item devem ser analisadas as condições socioeconômicas do usuário/família, levando-se em consideração os seguintes fatores: a. Renda Familiar per Capita: Calcula-se dividindo a renda total da família pelo número de moradores da residência. Famílias com renda per capita inferior a 1/2 do salário mínimo vigente no país são classificadas como abaixo da linha de pobreza b. Congestionamento familiar: Para a classificação do limite aceitável de moradores por domicílio utiliza-se o indicador “morador por cômodo”. É considerado “congestionado” o domicílio em que a relação morador/cômodo for > 1. Para o cálculo deste indicador deve-se dividir o total de moradores da residência pelo número de cômodos da casa (incluindo cozinha e banheiro) . Estes dados estão disponíveis na ficha A c. Habitação de risco: Barracos, taipa (bambu entrelaçado preenchido com barro), construções com materiais reaproveitáveis, piso de terra, cobertura de lona, entre outros 3 Tabagismo, alcoolismo e demais dependências químicas são condições que podem aumentar a incidência de doenças crônicas e bucais. 35 d. Moradia em áreas de risco: Fundo de vales, regiões sujeitas a enchentes, acúmulo de lixo, áreas de encosta, assentamentos, etc. e. Violência intrafamiliar: Abusos físicos, psicológicos, sexual, negligência, além do uso de drogas e álcool por parte dos cuidadores f. Presença de crianças com idade abaixo de 14 anos g. Crianças com cuidadores abaixo dos 12 anos h. Participação em programas sociais (Ex: Bolsa Família) i. Trabalho infantil j. Pessoa com incapacidade funcional para realizar atividades da vida diária sem cuidador É de suma importância a participação do ACS para a determinação desta nota, visto que o mesmo tem maior vínculo com as famílias e poderá avaliar com mais veracidade as condições sociais das mesmas. Ressalta-se ainda que alguns itens são facilmente diagnosticados pela equipe e outros dependerão de uma observação mais atenta ou ainda serem relatados pelo ACS, como é o caso dos itens (e) e (i). Sugere-se também para classificação desse risco a adoção de notas de 1 a 5, conforme descrito no Quadro 2. Nota 1 2 3 4 • • • Condição encontrada Sem presença de fator de Risco Social Presença de até dois fatores de Risco Social Presença de até quatro fatores de Risco Social • Presença de até seis fatores de Risco Social 5 • Presença de sete ou mais fatores de Risco Social Quadro 2 - Classificação do risco social da família 36 Necessidades Bucais (NB): Sugere-se a classificação a seguir, conforme Quadro 3, como forma de facilitar a mensuração dessa nota, porém, casos específicos ou que fujam dessa classificação deverão ser analisados mais detalhadamente pela equipe que definirá uma nota a ser adotada. Condição encontrada Nota 1 Indivíduos sem necessidades odontológicas 2 Indivíduos que apresentem pelo menos um dos critérios abaixo: • Até 3 elementos dentários cariados, sem envolvimento pulpar • Presença de gengivite e cálculo supragengival 3 Indivíduos que apresentem pelo menos um dos critérios abaixo: • 4 ou mais elementos dentários cariados, sem envolvimento pulpar • Cálculo supra e subgengival, com ou sem e mobilidade dentária (grau I 4) 4 5 Indivíduos que apresentem pelo menos dois dos critérios abaixo: • Até 3 elementos dentários cariados, com envolvimento pulpar • Cálculo supra e subgengival e presença de mobilidade (grau II), com ou sem retração gengival • Necessidade de exodontias de 4 a 6 elementos dentários devido à cárie ou doença periodontal Indivíduos que apresentem pelo menos dois dos critérios abaixo: • 4 ou mais elementos dentários cariados, com envolvimento pulpar • Necessidade de exodontia de 7 ou mais elementos dentários devido à cárie ou doença periodontal • Cálculo supra e subgengival e presença de mobilidade (grau III) com ou sem retração gengival • Pacientes com necessidade de prótese total ou parcial anterior (com ausência de prótese) Quadro 3 - Classificação das necessidades bucais do usuário. Considerações • A classificação acima não considera a presença e profundidade de bolsas periodontais devido à dificuldade de mapeamento periodontal durante uma VD, pois os exames são feitos com luz natural e com auxílio de espátula de madeira 4 Classificação das mobilidades dentárias: Grau I – Mobilidade leve, até 1mm de deslocamento vestíbulo-lingual. Grau II – Mobilidade moderada, até 2mm de deslocamento vestíbulo-lingual. Grau III – Mobilidade severa, mobilidade > 2mm em todas as direções (vestíbulo-lingual , mésio-distal e vertical). 37 • Pacientes que têm RS e RB elevados, mas que necessitem de apenas um procedimento que possa ser realizado em uma sessão, poderão ser encaixados imediatamente para tratamento. Porém, caso os demais membros da família sejam incluídos no tratamento, os mesmos terão de aguardar a ordem de chamada • Lesões de boca com mais de 15 dias sem cicatrização devem ser encaminhadas para avaliação na clínica odontológica imediatamente e se necessário encaminhar o paciente para consulta especializada em Semiologia na UEL, avaliação com especialista em Cirurgia no CEO (seguindo os critérios de encaminhamento descritos no Capítulo 5, item 5.4) ou avaliação no Instituto do Câncer de Londrina (ICL) • Pacientes que necessitem apenas de prótese total poderão ser incluídos diretamente em lista de espera para o CEO na especialidade de Prótese, seguindo os critérios de encaminhamento descritos no Capítulo 5, item 5.4 • O interesse do usuário em receber o tratamento odontológico deverá ser levado em consideração. É importante não confundir “medo de Dentista” com desinteresse. Caso haja a recusa ao tratamento, o usuário deverá assinar a recusa ao tratamento odontológico constante da Ficha de Avaliação de Risco (Apêndice B) Nota do usuário/família A nota do usuário/família é determinada pela média aritmética dos valores dos três itens (RB+RS+NB ÷ 3). Para o cálculo da nota da família, adotar a nota mais alta encontrada nos itens Risco Biológico (RB) e Necessidade Bucal (NB), acrescidas da nota aferida ao Risco Social (RS), dividindo a somatória por 3. Critérios de desempate Caso haja empate entre usuários/famílias, utilizar os seguintes critérios: 1º - Considerar a maior nota de Necessidades Bucais apresentada 2º - Considerar a maior nota de Risco Biológico 3°- Considerar o indivíduo/família com maior interesse pelo atendimento odontológico 4º - Família com maior número de crianças até 14 anos 5º - Famílias com maior Risco Social 38 Fluxograma 1 - Acesso dos usuários/famílias prioritários USUÁRIO/FAMÍLIA PRIORITÁRIO ACS/ESF NASF GRUPOS PROCURA ESPONTÂNEA URGÊNCIA ANÁLISE DA FICHA “A” VISITA DOMICILIAR (AVALIAÇÃO DE RISCO) DETERMINAÇÃO DA PRIORIDADE PARA TRATAMENTO 1.3.2.2 Atendimento aos usuários não prioritários – Pronto-Atendimento (PA) Os usuários não prioritários terão acesso ao atendimento odontológico através do PA, que é definido pelo MS como o tipo de atendimento oferecido à população em razão de uma necessidade sentida ou uma queixa do usuário, sendo realizado através de livre demanda, em dias pré-definidos pela equipe (Ex: Dois dias por semana), ou diariamente, com vagas no início do atendimento. O atendimento poderá ser organizado de duas formas: • Triagem: No início do período de atendimento os usuários presentes são avaliados e triados pelo Cirurgião-Dentista (CD), priorizando-se casos de dor e/ou infecção. Os usuários não selecionados deverão ser orientados a retornar para nova triagem em outro dia. Caso o usuário não seja selecionado na terceira tentativa consecutiva, o seu atendimento deverá ser preferencialmente priorizado. Poderá ser realizada: 39 o Em 2 dias da semana, oferecendo-se um mínimo de 10 vagas/dia (5 pacientes por período), com horário agendado o Diariamente, durante a semana, possibilitando o acesso do usuário em qualquer dia, ofertando-se de 3 a 4 vagas/dia e utilizando-se os mesmos critérios de avaliação As vantagens e desvantagens da triagem estão descritas no Quadro 4. Vantagens Desvantagens • Usuários não necessitam chegar antes • do horário programado para garantir a vaga Usuário não tem garantia de atendimento no dia do comparecimento, pois somente os casos mais graves serão atendidos • Agilidade no atendimento das urgências, • pois são priorizados os casos de dor e/ou infecção • Resolução imediata dos problemas referidos pelos usuários A continuidade do tratamento depende do usuário • Alguns usuários não aceitam o fato de não serem selecionados no dia do comparecimento Quadro 4 - Vantagens e desvantagens da triagem • Senhas: No dia do PA são distribuídas no mínimo 10 senhas, obedecendo-se à ordem de chegada, agendando-se o horário de atendimento. Cada usuário terá direito a uma única senha e caso necessite de retorno, deverá pegar nova senha para atendimento. As mesmas poderão ser distribuídas em dias pré-determinados ou diariamente, no início do atendimento, conforme descrito na triagem Considerações • Nas USF onde ocorre atendimento através do SB/PSF e também através do programa infanto-juvenil e gestante, as vagas serão destinadas exclusivamente para os adultos • Nas USF onde só exista o atendimento do SB/PSF, as vagas serão distribuídas para adultos e crianças na proporção de 50% ou conforme a realidade local As vantagens e desvantagens desta metodologia estão descritas no Quadro 5. 40 Vantagens Desvantagens • Baixo índice de faltosos • A continuidade do depende do usuário • Agilidade no atendimento das urgências, pois são priorizados os casos de dor e/ou infecção • Possibilidade de formação de filas • Não contempla pacientes impossibilitados de acessar a clínica no horário de entrega das senhas • Resolução imediata dos problemas referidos pelos usuários tratamento Quadro 5 - Vantagens e desvantagens da senha 1.3.2.3 Atividade extraclínica (AEC) É toda a atividade desenvolvida fora do âmbito da clínica odontológica e que fortaleça as ações de promoção e educação em saúde para a comunidade. Essas ações deverão ser preferencialmente planejadas em conjunto com a ESF levando em consideração os perfis epidemiológicos, culturais e sociais da população assistida e também de acordo com as necessidades sentidas por essa mesma população. Sempre que possível, deverão ser abordadas e implementadas de forma multiprofissional. Deve ser realizada obrigatoriamente em um período da semana, com duração mínima de 4 horas para o CD e o Auxiliar em Saúde Bucal (ASB). Nas ESB com Técnico em Saúde Bucal (TSB), a periodicidade deve ser adaptada à realidade local, sendo disponibilizadas no mínimo 12 horas da carga horária semanal deste profissional (TSB) para estas atividades. Fazem parte das AEC(s) as seguintes ações: Visitas Domiciliares (VD) Os principais objetivos da VD são: • Conhecer a realidade de vida das famílias residentes na área de abrangência • Criar vínculos com as famílias e comunidade • Realizar Avaliação de Risco com finalidade de atendimento odontológico programado • Desenvolver atenção em saúde bucal em domicílio • Estimular o autocuidado • Atender usuários com perdas funcionais e/ou dependentes para realizar atividades da vida diária, com impossibilidade de locomoção à USF 41 Considerações • A VD deverá ser programada com antecedência e as famílias visitadas devem ser informadas através do ACS sobre a data e horário aproximado da mesma, sendo que essa deve ocorrer em momento oportuno, evitando-se visitas antes das 8:00 horas, próximo das 12:00 horas e após as 17:00 horas. • O número de famílias visitadas por período será de no mínimo 5. Na indisponibilidade de meio de transporte adequado para a locomoção da ESB, o número de visitas poderá ser readequado levando-se em consideração a distância a ser percorrida. Modalidades de VD • Avaliação de Risco: Para maiores informações, reportar-se ao item 1.3.2.1.1 • A acamados: De posse da relação dos acamados da área de abrangência, estabelecer cronograma para a VD. Os principais objetivos são: o Verificar a condição bucal do acamado o Orientar sobre saúde bucal, incluindo técnica de higiene bucal do acamado aos familiares e cuidadores o • Realização de procedimentos odontológicos, quando necessário Atendimento Domiciliar: As VDs poderão ser destinadas para execução de procedimentos odontológicos como: Profilaxia com escova dental, remoção de cálculo dental, aplicação tópica de flúor, adequação de meio bucal, exodontia simples (elementos com mobilidade dental, raiz residual, etc.) Como proceder? • Identificar na USF e com os ACS(s) os acamados ou usuários com impossibilidade de locomoção, residentes na área de abrangência • Analisar o prontuário médico do usuário na USF antes da VD • Agendar a visita • Realizar anamnese e exame clínico com ajuda do responsável ou cuidador • Elaborar plano de tratamento, de preferência de forma multidisciplinar 42 • Avaliar condições do local do atendimento como espaço físico, energia elétrica e água, biossegurança, ergonomia tanto para o paciente quanto para o profissional, além das condições físicas do paciente • Solicitar assinatura do usuário ou representante legal, do termo de consentimento para tratamento, esclarecendo sobre o tipo de tratamento a ser realizado e suas implicações • Realizar procedimentos na presença de pessoas da família e/ou do cuidador Procedimentos básicos • Adequação do meio bucal com Cimento de Ionômero de Vidro • Tratamento básico periodontal (raspagem, alisamento e polimento radicular) • Procedimentos preventivos e educativos • Exodontia, quando necessárias e possíveis • Reparos de aparelhos removíveis (dentadura, PPR, etc.) Consideração Sempre que houver possibilidade, realizar o atendimento odontológico na USF. • À puérpera: Tem por objetivo principal fornecer as primeiras orientações para a saúde bucal do recém-nascido e reafirmar a importância do aleitamento materno exclusivo para o desenvolvimento harmônico da musculatura orofacial, além dos benefícios odontológicos, como menor incidência de cárie dental e de hábitos deletérios (chupetas e sucção de dedos). Essa visita poderá ocorrer em conjunto com a ESF e/ou NASF e ser realizada por qualquer membro da ESB, devidamente treinado. Sempre que possível, preencher a ficha clínica odontológica com o cadastramento do bebê, evitando-se, assim, a ida da mãe até a USF, dispensando-a da reunião inicial para o atendimento do bebê. A mãe deverá ser orientada a procurar a clínica odontológica para o agendamento do bebê, conforme avaliação da ESB. Nas USF onde ocorre atendimento pelo SB/PSF e programa infanto-juvenil e gestante, essa atividade deverá ser desenvolvida pelo programa infanto-juvenil e gestante 43 Reuniões de equipe A participação em reuniões de equipes na USF é de suma importância para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas e fortalecimento das ações multiprofissionais e do vínculo entre a ESB e a ESF. A ESB deverá participar da reunião geral da USF e das reuniões semanais de equipe a qual esteja vinculada. No caso de USF onde haja somente uma ESB para mais de uma ESF, sugere-se que a participação nas reuniões de equipe se dê de forma alternada. 1.3.2.4 Educação em saúde bucal Envolve ações de interação da ESB com o indivíduo/comunidade visando produzir mudanças de comportamento em relação à saúde bucal, tornando-os ativos e autônomos no processo de promoção de saúde, seja individual ou coletivamente. Baseia-se no conhecimento progressivo dos indivíduos ou comunidade, desenvolvendo vínculo de respeito e confiança mútua, possibilitando a coparticipação na resolução dos problemas. São, sem dúvida, ações complexas para os profissionais de saúde, haja vista que, para que ocorra esse “despertar” do usuário é de fundamental importância modificar hábitos de vida muitas vezes já sedimentados. Portanto, cabe aos profissionais atuantes na Estratégia de Saúde da Família ter sensibilidade de propor atitudes e mudanças passíveis de serem praticadas pela população, identificando as barreiras culturais (crenças, tabus, superstições, etc.), socioeconômicas e ambientais, pois apenas informar poderá não acarretar em mudanças sustentáveis para o indivíduo e coletividade. São requisitos importantes para implementação desta estratégia: • Ampliar a disseminação de informações, apoiar o desenvolvimento de habilidades pessoais, sociais e políticas • Fortalecer a participação comunitária (associação de moradores, conselho local de saúde e outras lideranças locais) no que se refere ao planejamento local, definição de prioridades, tomada de decisões e avaliações, etc. • O saber técnico-científico deve ser compartilhado e abrir-se à interação respeitosa com a cultura popular, ampliando as visões de ambos os lados, num processo de construção compartilhada do conhecimento • Respeitar a opinião do usuário, dando oportunidade para que o mesmo manifeste seu ponto de vista 44 • Despertar o interesse pelo cuidado com a saúde, principalmente da saúde bucal, enfatizando a corresponsabilização do usuário com sua saúde e com a manutenção do tratamento realizado • Ter consciência que nem sempre uma única abordagem é suficiente para provocar mudanças significativas. Sendo assim, o processo educativo deve ser constante e construído no cotidiano • Agir com postura ética, sem preconceitos ou pré-julgamentos, respeitando as escolhas dos usuários • Trabalhar, sempre que possível, de forma multiprofissional, integrando os diversos saberes e evitando a duplicidade de informações • Planejar as ações a serem desenvolvidas considerando os ciclos de vida e os principais agravos de saúde que acometem a comunidade, elaborando cronograma de atividades a serem implementadas durante um período pré-determinado de tempo • Adotar metodologia de trabalho participativa, como: o Discussão em grupos - propor um tema e cada participante comenta a respeito do assunto abrindo assim um diálogo entre profissional e o grupo em questão o Leitura de textos – adotada principalmente para adolescentes, onde cada participante faz leitura de parte de um texto, como reportagens extraídas de revistas, jornais, livros, etc., abrindo para o debate com o grupo sobre o tema abordado o Atividades lúdicas – teatro, brincadeiras, desenhos, gincanas entre outras, que geralmente se adaptam bem ao público infanto-juvenil As ações de educação em saúde são atribuições que poderão ser implementadas pelos membros da ESB como CD, TSB, ASB ou ACS. Ressalta-se que um aliado importante nesse processo é o ACS já que, muitas vezes, tem maior vínculo e detém mais informações sobre a realidade da comunidade adscrita. Sugestão de conteúdo para ações educativas em saúde bucal • Noções básicas do processo saúde/doença: o O que é ser saudável? o O que é ser doente? o É possível ter uma deficiência física ou mental e ser saudável? o Como a comunidade percebe a sua saúde? 45 • Principais patologias bucais e seus fatores de risco (dieta, hábitos de higiene, tabagismo, alcoolismo, exposição solar, etc.): • o Cárie dentária o Doença periodontal o Câncer bucal o Outras Relação entre doenças bucais e patologias sistêmicas o Como a saúde bucal pode influenciar no controle de pressão arterial, diabete e outros órgãos (coração, rins, cérebro, etc.) e na gestação • Uso de medicamentos contínuos o Alterações que podem provocar na cavidade bucal Ardência Sensação de boca seca Alterações gengivais Descoloração dental Outros • Importância da dentição saudável • Hábitos bucais (chupeta, dedo, mamadeira, etc.) • Técnicas de escovação e uso de fio dental • Mecanismo de atuação do flúor tópico e sistêmico • Fluorose dentária • Orientações sobre dieta cariogênica • Lesões de tecidos moles e autoexame bucal • Uso e conservação de próteses dentais • Traumatismo dentário • Pré-natal odontológico • Responsabilização do usuário, pais ou responsáveis com o tratamento odontológico Considerações • Evitar abordar vários temas em um só encontro, pois o excesso de informações dificultará a fixação do tema central e não trará o resultado esperado • Adequar o assunto à faixa etária e nível de compreensão da população alvo • Os encontros devem ter uma duração aproximada de 60 minutos para melhor aproveitamento 46 1.3.2.5 Normas operacionais do programa Prontuário Adotar o prontuário único da USF a fim de, entre outros, facilitar o acesso a dados sobre a saúde geral do usuário. Nas USF onde não seja possível utilizar o prontuário único, recomenda-se que na primeira consulta odontológica anotem-se no prontuário odontológico os principais problemas de saúde do usuário como também as medicações utilizadas pelo mesmo. Nos retornos de manutenção proceder a atualização dessas informações. Na primeira consulta, registrar a entrada do usuário no programa, adotando-se, para isso, um livro de registro, até que esteja disponível o prontuário eletrônico. Contemplar, no mínimo, as seguintes informações: • Data de entrada no programa • Nome completo do usuário • Número de Identificação do Paciente (ID) • Outras informações que a ESB julgar pertinentes Preencher a anamnese e exame clínico odontológico constantes na Ficha Clínica Odontológica (Apêndice D). Impressos Os impressos abaixo relacionados deverão ser utilizados visando organização da clínica odontológica, documentação das atividades desenvolvidas pela equipe e prestação de contas. • Ficha de Territorialização (Apêndice A) • Ficha de Avaliação de Risco (Apêndice B) • Cronograma de AEC (Apêndice C) • Ficha Clínica Odontológica (Apêndice D) Agendamento • Pacientes prioritários: o Atendimento exclusivo a adultos: Horário marcado, reservando-se de 30 a 40 minutos para cada paciente, totalizando 5 a 6 atendimentos por período 47 o Atendimento a todas as faixas etárias, na proporção de 50% para adultos e 50% para crianças: Horário marcado, reservando 20 a 30 minutos para cada paciente, totalizando, no mínimo, 7 atendimentos por período • Pacientes não prioritários - PA - reportar-se ao item 1.3.2.2 Retorno de manutenção • Adultos: O retorno de manutenção está condicionado à presença de patologia crônica de maior gravidade (Ex: Diabetes Mellitus, transplantados, insuficiências renal e hepática, imunodeprimidos, etc.) e outras situações de risco, após avaliação profissional da necessidade de retorno periódico • Bebês, crianças e adolescentes: Para estabelecer o tempo para o retorno de manutenção, levar em consideração o risco/atividade de cárie e doença periodontal, conforme descrito nos Capítulos 2 e 3 Atrasos A tolerância máxima será de 10 minutos. Após este tempo agendar novo horário. Faltas Justificadas Reportar-se ao item 1.2.1.3 Faltas não Justificadas Considerar como abandono do tratamento. Atendimento das urgências Os casos considerados de urgência deverão ser avaliados e atendidos pelo CD no mesmo dia. Em situações especiais o profissional poderá requisitar apoio do Pronto Socorro da UEL. Para maiores informações reportar-se ao item 1.2.1.6. 48 Encaminhamentos ao CEO Os encaminhamentos deverão seguir as orientações do CEO conforme Capítulo 5. Somente deverão ser encaminhados os casos com nível de complexidade secundária e que não apresentem possibilidade de resolução na atenção básica. Serão encaminhados usuários para atenção nas especialidades: • Pacientes com Necessidades Especiais • Cirurgia Odontológica • Endodontia • Periodontia • Prótese dentária É importante que a ESB estabeleça critérios de prioridade para o encaminhamento do usuário ao CEO evitando o critério cronológico de entrada em lista de espera. Deste modo, os pacientes deverão ser pré-classificados ao serem colocados na lista de uma especialidade da seguinte forma: A – Alta prioridade B – Baixa prioridade Essa identificação deverá ter destaque ao lado do nome do paciente, facilitando a visualização no momento do encaminhamento. Sugere-se que ao se distribuírem as vagas disponibilizadas pelo CEO, priorizem-se os usuários com a letra A, destinando-se a maior parte das vagas para os mesmos. Nunca excluir da distribuição das vagas os usuários com a letra B. O Quadro 6 classifica os usuários quanto a prioridade de encaminhamento. 49 Especialidade Prioridade Critérios A • • • Dor constante no elemento com indicação cirúrgica Presença de cistos, granulomas ou outros tipos de lesões Processos infecciosos em pacientes de RB elevado B • Pacientes que necessitem de exodontia especializada, porém sem dor ou processo infeccioso instalado • • • • Dentes anteriores, principalmente em pacientes jovens Pacientes com recidivas de dor, mesmo após a pulpectomia Dentes com maior possibilidade de restauração Idade do paciente B • • Pacientes sem dor após a pulpectomia Dentes com menores possibilidades de restauração A • Pacientes com problemas sensoriais, mentais e/ou físicos com distúrbios de comportamento e não colaboradores • Pacientes com problemas psicológicos, não colaboradores. Ex. Depressão, Síndrome do pânico • • • • Pacientes motivados Pacientes com RB elevado Gestantes Pacientes em que os elementos anteriores estejam mais afetados Idade do paciente Cirurgia A Endodontia Pacientes com Necessidades Especiais B A • Periodontia B A Prótese Dental • • • • Pacientes pouco motivados Pacientes com mobilidades severas Pacientes com maior envolvimento dos dentes posteriores Pacientes com perdas dentárias em decorrência de doença periodontal • Paciente desdentado total que não possua nenhuma prótese Paciente desdentado ântero superior Pacientes que já possuam prótese total/parcial, mas que apresentem algum tipo de lesão bucal Pacientes com dor constante em ATM • • • B • Pacientes que necessitam trocar a prótese, mas não apresentem lesões bucais nem dores em ATM 50 Quadro 6 - Classificação do usuário conforme prioridade para encaminhamento ao CEO Considerações • Pacientes em espera há mais de seis meses devem ser reavaliados antes do encaminhamento • Exodontias com finalidade ortodôntica devem ser resolvidas na atenção básica • Avaliações pedidas por profissionais não pertencentes ao Serviço Municipal de Saúde (Ortodontistas) não deverão ser encaminhadas para o CEO 51 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 17). CURITIBA. Secretaria da Saúde. Protocolo integrado de atenção à saúde bucal. Curitiba, 2004. 100 p. LONDRINA. Autarquia Municipal de Saúde. 3 de outubro de 2007. Oficina de planejamento em saúde Bucal no PSF para Enfermeiros, CD, TSB e ASB da AMS. LONDRINA. Autarquia Municipal de Saúde. Apostila do curso introdutório para equipes de odontologia no PSF. Londrina: Diretoria de Ações em Saúde, Gerências de Odontologia e de Capacitação da AMS. 2003. Fotocopiado. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção em saúde bucal. Belo Horizonte: SES, 2006. 290 p. SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde. Crescendo e vivendo com saúde bucal. 2006. Disponível em <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/saude/bucal/0007/nascendo_cresc_viv .pdf>. Acesso em: 29 junho 2007. 53 CAPÍTULO 2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS BUCAIS 55 2. PRINCIPAIS PATOLOGIAS BUCAIS 2.1 CÁRIE DENTÁRIA Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan A cárie dentária é uma infecção bacteriana transmissível e multifatorial, sendo a lesão cariosa sua manifestação clínica. É determinada pela interação de fatores como presença de micro-organismos cariogênicos específicos (biofilme dental ou placa bacteriana), frequência de ingestão de açúcar, fluxo e capacidade tampão da saliva, presença de flúor na saliva, entre outros. É reversível, caracterizando-se por um processo dinâmico de desmineralização e remineralização (DES/RE) da estrutura dentária pelos produtos do metabolismo bacteriano. Os sinais iniciais da doença (mancha branca) aparecem antes da presença da cavitação e podem ser paralisados por ações de promoção à saúde e prevenção. Além disso, somente o tratamento restaurador da cavidade de cárie não garante o controle do processo da doença, sendo necessário intervir também sobre os seus determinantes para evitar novas cavidades e recidivas nas restaurações. 2.1.1 Perfil Epidemiológico A cárie dentária vem passando por alteração no perfil epidemiológico em diversos países, inclusive no Brasil, tendo apresentado um sensível declínio na sua prevalência entre crianças e adolescentes, nas últimas décadas. A expansão da oferta de água fluorada, a introdução no mercado de dentifrícios fluorados e a mudança de enfoque nos programas de odontologia em saúde pública são algumas das possíveis explicações do fenômeno. O declínio da mesma, entretanto, não ocorre de forma homogênea, afastando-se de uma distribuição uniforme da doença, com níveis crescentes de desigualdade na população. Apesar do declínio, ainda é uma doença muito prevalente em todas as faixas etárias, sendo ainda o principal problema de saúde bucal do país. Entre os adultos, observase um elevado ataque de cárie dentária e altos índices de perdas dentárias precoces. Nos 56 idosos, o edentulismo apresenta-se elevado (75% dos idosos brasileiros não possuem nenhum dente funcional). A cárie de raiz aparece como fator adicional de deterioração da saúde bucal, atacando os poucos dentes remanescentes. Em Londrina, no levantamento epidemiológico realizado em 1981, o índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPOD) era de 6,95 aos 12 anos de idade e em 2004 foi de 0,97, revelando um declínio da doença cárie na população infantil, notadamente na dentição permanente. Pode-se afirmar que o fenômeno de polarização5 é observado nessa faixa etária. 2.1.2. Principais Fatores de Risco • Controle deficiente do biofilme dental • Consumo frequente de sacarose ou carboidratos fermentáveis • Baixo fluxo salivar • Falta de acesso ao flúor • Presença de patologias sistêmicas, deficiências físicas ou mentais que interfiram na manutenção da saúde bucal Baixo nível sócioeconômico e cultural • 2.1.3. Abordagem Coletiva 2.1.3.1 Promoção de saúde bucal • Vigilância epidemiológica permanente das condições de saúde bucal e das necessidades de tratamento através de indicadores como ceo/CPO e outros, abrangendo progressivamente todas as faixas etárias • Garantia da fluoração da água de abastecimento • Vigilância dos teores de flúor na água de consumo público e produtos ou medicamentos disponíveis no mercado 2.1.3.2 Ações educativas e preventivas Devem ser direcionadas a grupos de pessoas residentes na área de abrangência, utilizando-se os espaços sociais disponíveis (centros de educação infantil, escolas, locais de trabalho, etc.), espaços na USF ou domicílos, com abordagem familiar, entre outros. 5 Polarização – fenômeno de concentração da maioria das lesões de cárie na minoria da população. Correponderia, por exemplo, a 75% das lesões de cárie em 25% das crianças. 57 Os seguintes procedimentos devem ser realizados pela equipe de saúde, conforme recomendação do MS: • Exame epidemiológico na área de abrangência da USF • Educação em saúde bucal • Escovação dental supervisionada e uso do fio dental • Entrega de escova e dentifrício fluorado aos grupos de maior risco • Aplicação tópica de flúor (ATF) para indivíduos com risco ou atividade de cárie6 OBS: As ações coletivas podem ser realizadas por membros da equipe de saúde bucal, de preferência de nível técnico ou auxiliar, sob supervisão do CD. 2.1.4 Abordagem Individual A abordagem individual compreende as seguintes etapas: • • Diagnóstico o Identificação dos fatores ou indicadores de risco de cárie o Avaliação da atividade da doença cárie Tratamento o Educativo/preventivo o Reabilitador o Manutenção 2.1.4.1 Diagnóstico 2.1.4.1.1 Identificação dos fatores ou indicadores de risco O risco de cárie indica a probabilidade de uma lesão cariosa se desenvolver ou de uma lesão já existente progredir, em um período específico de tempo. Aponta também o 6 De acordo com o MS, para se instituir a aplicação tópica de flúor de forma coletiva e universal deve ser constatada uma ou mais das seguintes situações: • Exposição à água de abastecimento sem flúor ou com teores abaixo de 0,4 ppmF • CPOD médio maior que 3 aos 12 anos de idade • Menos de 30% dos indivíduos livres de cárie aos 12 anos de idade 58 grau de necessidade de intervenções terapêuticas para cada indivíduo. Esta avaliação deve ser repetida em sucessivos intervalos, pois o risco de cárie é dinâmico. Informações coletadas durante a anamnese podem auxiliar na identificação de indicadores do risco de cárie, como: • História médica o Doenças, condições hereditárias e condições de vida que possam influenciar no risco de cárie o Presença de deficiência física ou mental que possa prejudicar a higiene e afetar a saúde bucal o Uso contínuo de medicamentos ou terapias Que alterem a composição e o fluxo salivar (para maiores informações reportar-se ao Capítulo 8) Que contenham sacarose em sua composição ou apresentem baixo pH7 • Hábitos o Dieta Frequência de ingestão de carboidratos rapidamente fermentáveis entre as refeições (salgadinhos, bolachas, café adoçado, refrigerante, balas, chicletes, pirulito, etc.) o Consistência dos alimentos ingeridos Consumo de líquidos com potencial cariogênico durante o sono Higiene bucal – frequência e a forma que realiza 7 A maioria dos antibacterianos (antibióticos) analisados em uma pesquisa nacional apresentou altas concentrações de sacarose e valores de pH abaixo de 5,5 (pH crítico, ou seja, valor abaixo do qual ocorre desmineralização do esmalte dentário, com perda de Cálcio e Fosfato para a saliva). Pastilhas para tosse também podem conter grande quantidade de sacarose. Verificar o uso prolongado das mesmas. Concentração média de sacarose e pH verificados em diferentes antibacterianos Novocilin Eritrex Faclor Amoxil Keflex Ilosone Sacarose 41,3% 35,4% 33,7% 33,6% 29,8% 29,2% pH 5,45 5,29 5,9 5,1 Fonte: Neiva e Colaboradores (2001) apud Mialhe e Pereira . Trimexazol Novatrex Novamox Espectrin 15,8% 5,9 0% 8,3 0% 5,5 0% 5,4 59 Acesso e uso de flúor • o Água fluorada o Dentifrício fluorado o Soluções fluoradas Transmissibilidade • o • Presença de cárie na família, principalmente mãe e irmãos ou cuidador Vulnerabilidade e privação social Estudos têm comprovado a associação direta entre privação social e piores condições de saúde bucal. Desemprego ou subemprego, congestionamento familiar (relação morador/cômodo >1), pais solteiros, pais adolescentes, mãe ou cuidador analfabeto, residência em assentamento, idosos que moram sozinhos, portadores de doenças crônicas limitantes, famílias dependentes de benefícios governamentais, etc. são parâmetros que podem indicar um maior grau de vulnerabilidade social e possivelmente um maior risco de cáries. 2.1.4.1.2 Classificação do risco de cárie Dado o caráter multifatorial da cárie dentária, a determinação do risco de cárie ainda é uma ciência imperfeita e não existe um único teste que quando aplicado possa determinar de maneira precisa o risco de cárie de um indivíduo. Entretanto, alguns fatores podem ser úteis na determinação da vulnerabilidade ou não do paciente à doença. O Quadro 7 apresenta a classificação do indivíduo conforme o risco de cárie. Ressalta-se que nesse processo a experiência do CD é muito importante e deve ser levada em consideração na avaliação de casos que não se enquadrem exatamente nos critérios descritos abaixo. Em relação à determinação do risco de cárie para bebês ou crianças até 36 meses, reportar-se ao Capítulo 3. 60 Fatores a Considerar Classificação História (determinada através de anamnese) Presença de alterações sistêmica 8 Baixa condição socioeconômica 9 Exposição ao flúor Baixo Médio Alto Não Não Sim Não Sim Sim Sim Sim Não Ingestão de alimentos cariogênicos Uma vez/dia Duas vezes/dia Duas ou mais vezes/dia Uma vez/dia Três ou mais vezes/dia Não realiza Escovação dentária 10 Avaliação clínica Áreas de desmineralização (mancha branca ativa em esmalte) Ausente ou inativas Cavidades de cárie Ausentes ou restauradas11 Até duas Presentes, inativas, mas não restauradas 3 ou mais Presentes e ativas Biofilme visível nos dentes anteriores Ausente Presente Presente Inflamação gengival (sangramento) Ausente Presente em até quatro dentes Presente em mais de quatro dentes Defeitos em esmalte12 Ausente Ausente Presente Presença de apartelhos protéticos ou ortodônticos Não Sim Sim Quadro 7 - Classificação do risco de cárie para crianças > 36 meses, adolescentes e adultos. Considerações • Outros critérios que poderão ser considerados para complementar a determinação do risco de cárie são: Mãe/cuidador/irmãos com lesões de cárie, aleitamento noturno, tempo decorrido desde a última cavidade ou restauração, fóssulas e fissuras profundas, dentes em erupção, apinhamento dental, etc. 8 Patologias que interfiram em fatores como fluxo salivar, capacidade de realização de higiene bucal, levem à adoção de dieta pastosa e cariogênica, uso prolongado de medicamentos que interfiram no fluxo salivar ou contenham sacarose, glicose, etc . Ex: Mal de Parkinson, Doença de Alzheimer, sequelados de AVC, Artrite Reumatoide, Síndrome de Sjogren, Lúpus eritematoso, Sarcoidose, depressão crônica severa, presença de deficência física ou mental, etc. 9 Vulnerabilidade e privação social: desemprego ou subemprego, congestionamento familiar (relação morador/cômodo > 1), pais solteiros, pais adolescentes, mãe ou cuidador analfabeto, residência em assentamento, idosos que moram sozinhos, portadores de doenças crônicas limitantes, famílias dependentes de benefícios governamentais, etc 10 No caso de crianças, verificar se a escovação é realizada com supervisão dos pais. 11 Restaurada provisoriamente com material que apresente boa adaptação marginal, sem sinais de infiltração ou atividade da lesão ou restaurada definitivamente. 12 Hipocalcificação, Hipoplasia, sulcos e fissuras profundos nos molares, etc. 61 Após o preenchimento da tabela, a classificação quanto ao risco será • determinada pelo maior risco assinalado, podendo-se levar em consideração outros critérios não sinalizados na tabela. 2.1.4.1.3 Avaliação da atividade de cárie A atividade de cárie descreve o estado do processo de cárie de uma superfície dentária em um indivíduo. Uma lesão de cárie pode estar progredindo para uma cavidade (desmineralização), estar inativa ou em processo de remineralização. Alguns indicadores da atividade de cárie podem ser detectados por meio de exame clínico e observação das características das lesões. Cárie coronária Lesão em esmalte (mancha branca) • O Quadro 8 apresenta critérios para se diferenciar manchas brancas ativas e inativas em esmalte. Ativa Opaca Superfície rugosa, corroída, como giz Branca Perto da margem gengival, geralmente coberta por biofilme dental • • • • Inativa • • • • Brilhante Superfície lisa ao exame tátil Pigmentada Geralmente longe da margem gengival Quadro 8 - Diagnóstico diferencial entre mancha branca ativa e inativa em esmalte. • Lesão em dentina O Quadro 9 apresenta critérios para se diferenciar cáries ativas e inativas em dentina. 62 Sinais e sintomas da Ativa camada Inativa Escurecida • Coloração superficial • Consistência Mole, friável, massa necrótica Dura e semelhante a couro • Sensibilidade Geralmente ao frio, doces e ácidos Sem sensibilidade • Idade Geralmente crianças Geralmente adultos • Progressão Rápida, usualmente expondo a polpa Lenta • Tipo de dentina sob camada superficial Sensível, desmineralizada Sem sensibilidade, esclerótica Clara Quadro 9 - Diagnóstico diferencial entre lesão de cárie inativa e ativa em dentina Cárie radicular (cárie em dentina) • Lesões ativas em estágio inicial apresentam-se amolecidas, cobertas por biofilme dental, coloração amarelada ou marrom clara • Lesões ativas de progressão lenta têm consistência coriácea, coloração mais escura, marrom ou preta, cavitadas ou não • Lesões paralisadas apresentam coloração marrom escura ou preta, endurecidas, superfície brilhante, polida, livre de biofilme e, quando cavitadas, suas margens são bem definidas • As lesões próximas à gengiva geralmente apresentam mais atividade do que as que se situam distantes da mesma. Nas proximais, as lesões radiculares têm maior atividade do que na vestibular e na lingual 2.1.4.1.4 Outros fatores a observar Durante o exame clínico observar também a presença de: 63 • Sinais clínicos sugestivos de diminuição do fluxo salivar – Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 8 • Presença de biofilme dental visível, espesso e pegajoso. Como muitos pacientes realizam uma melhor higiene bucal no dia da consulta, no caso de ausência de biofilme dental, a presença de inflamação gengival serve como sinal clínico da presença prévia de biofilme 2.1.4.1.5 Passos para diagnóstico de cárie dentária • Higiene bucal (escovação e fio dental) • Secagem da superfície dentária com jato de ar • Inspeção visual de cada superfície do dente e inspeção da superfície com sonda exploradora, com objetivo de remover o biofilme dental ou resíduos. Não utilizar pressão demasiada a fim de evitar dano aos prismas de esmalte desmineralizados. Recomendase a utilização de sonda de ponta romba ou não afiada 2.1.4.2 Tratamento O tratamento deve ser individualizado e baseado no risco e na atividade de cárie, compreendendo: 1ª Etapa – Tratamento educativo/preventivo • Educação em saúde bucal e aconselhamento dietético • Evidenciação de biofilme dental e orientação sobre escovação e uso do fio dental • Adequação do meio bucal (tratamento básico): Profilaxia, remoção da dentina cariada e selamento das cavidades com material provisório (cimento de ionômero de vidro - CIV), remoção de fatores retentivos de biofilme como restos radiculares e cálculos • Aplicação de selantes, fluorterapia, de acordo com o risco/atividade de cárie • Manejo de hipossalivação/xerostomia - reportar-se ao Capítulo 8 2ª etapa - Tratamento reabilitador 3ª etapa - Manutenção periódica 64 2.1.4.2.1 Tratamento de acordo com risco de cárie dentária Risco Baixo Médio Crianças e adolescentes • • • • • • • • • • • Alto • • • Monitorar dieta e higiene bucal, inclusive uso do fio dental Selantes: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 Flúor: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 13 Retorno de manutenção 14 o 3 a 6 anos – 18 meses o 6 a 12 anos – 12 meses14 o 13 a 19 anos – 12 a 18 meses14 Instituir controle de dieta e higiene bucal, inclusive uso do fio dental Selantes: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 Flúor: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 13 Retorno de manutenção 14 o 3 a 6 anos – 12 meses 14 o 6 a 12 anos – 12 meses 14 o 13 a 19 anos – 12 meses Controle rigoroso de dieta e do biofilme dental através de escovação dentária e uso do fio dental Prevenir a transmissibilidade de cárie mãe/cuidador Escavação em massa com repleção das cavidades de cárie com ionômero de vidro Selantes: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 Flúor: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 13 Retorno de manutenção : 14 o 3 a 6 anos – 6 meses 14 o 6 a 12 anos – 9 a 12 meses 14 o 13 a 19 anos – 12 meses Adultos • • • • Monitorar dieta e higiene bucal, inclusive uso do fio dental Selantes: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 Flúor: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 15 Retorno de manutenção • • • • Instituir controle de dieta e higiene bucal, inclusive uso do fio dental Selantes: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 Flúor: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 15 Retorno de manutenção • Controle rigoroso de dieta e do biofilme dental através de escovação dentária e uso do fio dental Prevenir a transmissibilidade de cárie mãe/cuidador Escavação em massa com repleção das cavidades de cárie com ionômero de vidro Selantes: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 Flúor: Seguir orientações constantes no Capítulo 6 15 Retorno de manutenção • • • • • Quadro 10 -Tratamento de acordo com o risco de cárie 13 Retorno de manutenção – a cada retorno reavaliar o risco/atividade de cárie do paciente. Em indivíduos que se encontrem em fase de erupção dentária, o tempo para retorno de manutenção poderá ser determinado pelo CD levando-se em consideração a necessidade de aplicação de selantes. 15 O retorno de manutenção deverá estar condicionado à presença de patologia crônica de maior gravidade (Ex: Diabetes Mellitus, transplantados, insuficiências renal e/ou hepática, imunodeprimidos, etc) e outras situações de risco, após avaliação profissional da necessidade de retorno periódico. 14 65 Fluxograma 2 - Cárie dentária Identificação de risco de cárie Identificação de atividade da doença cárie Paciente com risco/ atividade da doença Paciente sem risco/ atividade da doença Educação em saúde bucal, escovação orientada, uso de fio dental, controle de biofilme dental e fatores de risco, tratamento preventivo (flúor, selantes, etc) Educação em saúde bucal Escovação orientada Uso de fio dental Controle de biofilme dental Tratamento preventivo Dentística, exodontia, tratamento básico periodontal, etc. Encaminhamento à especialidade, quando necessário Manutenção periódica na USF 67 2.2 DOENÇA PERIODONTAL Domingos Alvanhan Wagner José Silva Ursi Cristiane de Andrade Janene Gonini INTRODUÇÃO A doença periodontal pode ser altamente mutilante em virtude de seus aspectos de morbidade e poder destrutivo, causando inflamação, perda óssea e dos elementos dentários, principalmente na idade adulta. O fator etiológico dessa doença é o acúmulo do biofilme dental, o qual pode iniciar o processo de destruição do tecido gengival e do periodonto de inserção. Deve ser vista como um processo de desequilíbrio entre as ações de agressão e defesa sobre os tecidos de sustentação e proteção do dente, a partir das diferentes respostas dadas pelo hospedeiro. Dada a elevada prevalência na população, constata-se a necessidade de desenvolver programas educativos, preventivos e reabilitadores, com o objetivo de se prevenir o surgimento e evolução desta patologia e, consequentemente, a perda dentária. 2.2.2 Principais fatores de risco • Deficiência de controle de biofilme dental • Idade • Fumo • Raça • Diabetes Mellitus • Imunodepressão congênita ou adquirida • Estresse • Medicações • Fatores genéticos/hereditários • Alterações hormonais • Síndromes (Down, Papilon-Lefèvre, Ehlers-Danlos, etc.) • Deficiências nutricionais • Fatores culturais e socioeconômicos 68 Considerações • Nem toda gengivite progride para periodontite, mas a periodontite inicia-se de uma gengivite, destacando-se a importância do diagnóstico precoce da doença • A periodontite não é mais considerada apenas como de evolução lenta e contínua, mas pode ter padrões variáveis de progressão, demonstrando a influência do poder de resposta do hospedeiro frente à agressão bacteriana • A periodontite tem sido apontada como possível fator de risco para outras alterações sistêmicas como doenças coronarianas e respiratórias, nascimento de bebês prematuros de baixo peso, dificuldade de controle metabólico do Diabetes Mellitus, etc. • O controle de biofilme dental é essencial na prevenção e no tratamento da grande maioria das doenças periodontais 2.2.3 Classificação da doença periodontal segundo a Academia Americana de Periodontologia A doença periodontal é classificada como gengivite e periodontite. 2.2.3.1 Gengivite Inflamação do tecido gengival que não resulta em perda de inserção clínica. É caracterizada por inflamação localizada, edema e sangramento gengival. A doença gengival é classificada em doenças gengivais induzidas por biofilme e doença gengival não induzida por biofilme, conforme descrito a seguir. 2.2.3.1.1 Doença gengival induzida por biofilme dental Gengivite associada somente com biofilme dental Características clínicas • Presença de biofilme dental na margem gengival • Aumento inflamatório da papila interdentária e/ou gengiva marginal • Perda de contorno superficial • Gengiva brilhante, edemaciada e avermelhada 69 • Aumento do exsudato gengival • Sangramento • Ausência de perda de inserção e de perda óssea • Reversibilidade com remoção do biofilme Fatores coadjuvantes • Irregularidade no alinhamento dental • Cárie de colo • Margem de restauração em excesso • Restaurações com contornos inadequados • Impacção alimentar • Respirador bucal • Hábitos de pressionar a língua contra a gengiva Modificada por fatores sistêmicos • Associada com sistema endócrino o Puberdade: Aumento gengival nas áreas de irritação local durante a puberdade Característica clínica O aumento gengival pode ser marginal e interdentário e se caracteriza também pela presença de papila interproximal bulbosa o Gravidez: O aumento resulta do agravamento das áreas anteriormente inflamadas. A gravidez não é a causa da lesão; o metabolismo alterado dos tecidos na gravidez agrava a resposta aos irritantes locais (biofilme dental) Característica clínica Aumento generalizado que tende a ser mais intenso interproximalmente do que sobre as superfícies vestibular e lingual. O aumento gengival é vermelho brilhante ou magenta, mole e friável e tem a superfície lisa. Sangra espontaneamente ou sob estímulo o Diabetes Mellitus: Pronunciada resposta na margem gengival na presença de biofilme, com mudança de cor e contorno, aumento de exsudato gengival, sangramento 70 • Associada com discrasias sanguíneas Leucemia: Representa uma resposta exagerada à irritação local manifestada por o uma densa infiltração de leucócitos imaturos e proliferantes ou por uma lesão neoplásica O aumento leucêmico verdadeiro ocorre na leucemia aguda e subaguda na presença de irritante local (biofilme dental), raramente na leucemia crônica. Característica clínica Pode ser difuso ou marginal, localizado ou generalizado, surgir como um aumento difuso da mucosa gengival, aumento exagerado da gengiva marginal ou uma discreta massa interproximal de aspecto tumoral. É geralmente vermelho azulado e tem uma superfície brilhante. A consistência é moderadamente firme, mas existe uma tendência para friabilidade e hemorragia espontânea ou sob ligeira irritação • Doença gengival associada a medicamentos Crescimento gengival (Fenitoína, Dilantina, Nifedipina, Ciclosporina) o Característica Clínica Lesão em forma de amora, firme, rosa pálida e resiliente, com superfície finamente lobulada muitas vezes limita-se à margem gengival e à papila Gengivite associada a contraceptivos orais o • Doença gengival associada à má nutrição o Avitaminose C o Outras 2.2.3.1.2 Lesões gengivais não induzidas por biofilme dental São classificadas de acordo com o fator etiológico: • De origem bacteriana específica (Ex: Neisseria gonorrhea, Trepanoma palidum, Estreptococos, etc.) • De origem viral (Ex: Gengivo Estomatie Herpética Aguda - GEHA) • De origem fúngica (Ex: Cândida sp) 71 • De origem genética (Ex: Fibromatose gengival hereditária) • Manifestações gengivais de condições sistêmicas (Líquen plano, Lúpus eritematoso, etc.) • Reações alérgicas (mercúrio, níquel, acrílico, dentifrícios, goma de mascar, bochechos, conservantes de alimentos) • Lesões traumáticas (química, física e térmica) • Reações a corpo estranho 2.2.3.2 Periodontite A periodontite é um grupo de doenças que se caracteriza pela inflamação dos tecidos de sustentação e proteção dos dentes, acompanhada de perda de inserção de tecido conjuntivo, consequência da agressão promovida pelo biofilme dental subgengival. Pode ser crônica, de evolução lenta, onde a perda de inserção está associada aos padrões de higiene bucal e fatores de risco. A periodontite agressiva é rara, com rápida progressão e mortalidade dental e tem uma forte agregação familiar. 2.2.3.2.1 Periodontite crônica a. Localizada (<30% de sítios afetados) b. Generalizada (>30% de sítios afetados) • Leve: 1 a 2 mm de perda de inserção • Moderada: 3 ou 4 mm de perda de extensão • Severa: ≥ 5 mm de perda de inserção A presença de bolsa periodontal é o sinal clínico da periodontite e caracteriza-se pelo aprofundamento patológico do sulco gengival em decorrência da perda de inserção. O avanço progressivo da bolsa leva à destruição dos tecidos periodontais de suporte, enfraquecimento e esfoliação dos dentes. O método eficiente e seguro de localizar bolsas periodontais e determinar sua extensão é através da sondagem cuidadosa da margem gengival ao longo de cada face do dente. Características clínicas • Perda de inserção clínica 72 • Perda de osso alveolar • Presença de bolsa periodontal e inflamação gengival • Retração gengival • Sangramento à sondagem • Exsudato purulento na margem gengival • Presença de zona vertical azul-avermelhada desde a margem gengival até a gengiva inserida, e às vezes até a mucosa alveolar • Mobilidade, migração ou extrusão dental • Aparecimento de diastemas 2.2.3.2.2 Periodontite agressiva16 a. Localizada (<30% de sítios afetados) b. Generalizada (>30% de sítios afetados) • Leve: 1 a 2 mm de perda de inserção • Moderada: 3 ou 4 mm de perda de extensão • Severa: ≥ 5 mm de perda de inserção 2.2.3.2.3 Periodontite como manifestação de doença sistêmica • Associadas com doenças hematológicas (Neutopenia, leucemia, etc.) • Associadas com alterações genéticas (Síndromes, agranulocitose, hipofosfatasia, etc.) • Não especificada 2.2.3.2.4 Doenças periodontais necrosantes • Gengivite ulcerativa necrosante • Periodontite necrosante aguda 2.2.3.2.5 Abscessos do periodonto • 16 Gengival Na classificação da AMERICAN ACADEMY OF PERIODONTOLOGY (1999) , a Periodontite de Estabelecimento Precoce, inclusive a Periodontite Juvenil, é denominada Periodontite Agressiva. 73 • Periodontal • Pericoronários 2.2.3.2.6 Periodontite associada a lesões endodônticas • Lesões periodôntica e endodôntica 2.2.3.2.7 Condições e deformidades de desenvolvimento ou adquiridas • Fatores locais relacionadas ao dente (anatomia, restaurações, aparelhos, fratura radicular) • • • Deformidades mucogengivais e condições ao redor do dente o Retração gengival o Falta de gengiva queratinizada o Vestíbulo raso o Freio anormal o Crescimento gengival o Cor anormal Deformidades e condições mucogengivais em áreas edêntulas o Deficiência vertical e/ou horizontal o Falta de gengiva/tecido queratinizado o Aumento gengival/tecido mole o Vestíbulo raso o Cor anormal Trauma oclusal O trauma oclusal é um fator importante na doença periodontal, sendo uma parte integrante do processo destrutivo na doença. Ele não provoca a gengivite ou bolsa periodontal, mas afeta o progresso e gravidade das bolsas iniciadas por irritação local. Entender seu efeito sobre o periodonto é útil no controle dos problemas periodontais. 74 2.2.3.2.8 Doença periodontal na infância • Doença gengival o Gengivite marginal crônica: É o tipo mais frequente de alteração gengival na infância. A gengiva apresenta todas as alterações em cor, tamanho e consistência de textura superficial característica da inflamação crônica. Muitas vezes se superpõe uma coloração rosa intensa às alterações crônicas subjacentes o Gengivite associada à erupção dentária: A frequência com que ocorre gengivite ao redor dos dentes em erupção deu origem a denominação gengivite de erupção. Entretanto a erupção dentária por si só não causa gengivite, a inflamação resulta do acúmulo de biofilme ao redor dos dentes em erupção. As alterações inflamatórias acentuam a proeminência normal da margem gengival dando a impressão de um aumento gengival acentuado o Dentes abalados e cariados: A margem desgastada dos dentes parcialmente reabsorvidos favorece o acúmulo de biofilme que causa alterações gengivais, variando de uma leve descoloração e edema até formação de abscesso com supuração. Outros fatores que favorecem o acúmulo de biofilme são impacção alimentar e acúmulo de matéria alba ao redor dos dentes com lesões de cárie o Dentes mal posicionados e má oclusão: A gengivite ocorre com mais frequência e gravidade ao redor de dentes mal posicionados por causa da dificuldade de remoção da biofilme dental. A saúde gengival e o contorno são restabelecidos pela correção da má posição, eliminação de irritantes locais e, quando necessário, remoção cirúrgica da gengiva aumentada o Retração gengival: Pode ser uma fase de transição na erupção dentária e corrigir-se quando os dentes alcançam o alinhamento correto, podendo ser necessário alinhar os dentes ortodonticamente. Ela também ocorrerá através de escovação incorreta, traumática, inflamação gengival, contatos oclusais anormais, etc. 75 o Gengivite associada à respiração bucal: Os respiradores bucais podem apresentar um quadro crônico de gengivite na região dos incisivos superiores, principalmente na vestibular dos mesmos e, ocasionalmenmte, também na vestibular dos dentes antero-inferiores. Nesses locais, devido ao constante ressecamento da mucosa provocado pela evaporação mais intensa da saliva, a gengiva apresenta-se edemaciada, eritematosa, com sangramento ao mínimo toque, fibrótica e geralmente com grande acúmulo de biofilme dental • Periodontite A periodondite ocorre ocasionalmente na dentição decídua e em 5% dos adolescentes, podendo se apresentar na forma crônica ou agressiva. A periodontite crônica é mais prevalente em adultos do que em crianças e adolescentes. Existem evidências de que a destruição periodontal tem início precoce nos indivíduos. É caracterizada por progressão lenta ou moderada, podendo incluir períodos de rápida destruição. A forma agressiva, tanto localizada como generalizada, pode se manifestar em pacientes saudáveis, apresentar rápida perda de inserção e destruição de osso alveolar. A quantidade de depósitos microbianos é inconsistente com a severidade de destruição periodontal, apresentando elevadas proporções de Actinobacillus actinomycetemcomitans e Porphyromonas gingivalis. Fatores genéticos, mecanismo de defesa do hospedeiro (especialmente neutrófilos), colaboram para determinar a susceptibilidade do mesmo a infecção periodontal e a velocidade de progressão da doença. O diagnóstico deve ser baseado principalmente nos dados clínicos e história do paciente, obtida através da anamnese. Dados radiográficos são atualmente considerados secundários o Periodontite Agressiva Localizada (Periodontite Juvenil Localizada) Manifesta-se em crianças e adolescentes e em muitos casos sem evidência clínica de doença sistêmica e inflamação gengival. Demonstra ser autolimitante, afetando mais de um dente permanente, principalmente molares e incisivos, com rápida e grave destruição do osso alveolar, sendo a velocidade de destruição quatro vezes mais rápida do que a periodontite do adulto. Os indivíduos apresentam perda de inserção clínica ≥ 4 mm e os dentes comumente atingidos são os primeiros molares e incisivos permanentes, havendo necessariamente o comprometimento de, no mínimo, um primeiro molar. 76 o Periodontite Agressiva Generalizada (Periodontite Juvenil Generalizada) Ocorre próxima à puberdade em jovens e adultos. Esses indivíduos apresentam grau elevado de inflamação gengival, biofilme e cálculo dental. Caracteriza-se por apresentar perda de inserção clínica ≥ 4 mm, afetando no mínimo oito dentes permanentes, dos quais, ao menos três dentes diferem dos primeiros molares e incisivos. Tratamento O tratamento da Periodontite Agressiva Localizada e Generalizada consiste em: • Procedimentos básicos periodontais • Antibioticoterapia na fase de raspagem e cirurgia periodontal: o Peridontite agressiva localizada: Tetraciclina por no mínimo 7 dias, de 8 em 8 horas. Pacientes refratários ao tratamento com tetraciclina, indicação é a associação do metronidazol e amoxicilina, três vezes ao dia, por um período de 7 a 10 dias o Periodontite agressiva generalizada: Associação de metronidazol e amoxicilina, três vezes ao dia, por um período de 7 a 10 dias Considerações • A tetraciclina está contraindicada para crianças menores de 9 anos • Dose para adulto o Tetraciclina 500mg o Metronidazol 250mg a 400 mg o Amoxicilina 500mg 2.2.4 Abordagem Coletiva A promoção de saúde e a prevenção da doença periodontal realizadas de forma coletiva devem ser ações previstas pela equipe de saúde bucal dentro do rol de procedimentos coletivos. Recomenda-se que sejam planejados com antecedência e realizados periodicamente a fim de que resultados positivos possam ser alcançados. 77 Estratégias • Identificar grupos e áreas de atuação o Grupos restritos ou clientelas cativas. Ex: Escolas, instituição de longa permanência, grupos religiosos, espaços de trabalho, etc. o Grupos operativos de maior risco: Tabagistas, diabéticos, gestantes, hipertensos, cardiopatas, 3ª idade, etc. o Áreas ou indivíduos sob risco social, com abordagem familiar, em domicílio • Atuar intersetorialmente, estabelecendo parcerias. Ex: Saúde e escola17 • Trabalhar de forma multidisciplinar na prevenção de doenças, planejando as ações educativas de forma integrada com as demais áreas de saúde • Utilizar abordagem de fator de risco comum o Ex.1: Controle do tabagismo para prevenção da doença periodontal e doenças cardiovasculares o Ex.2: Prevenção e controle da doença periodontal visando controle do Diabetes Mellitus e prevenção de doenças cardiovasculares, respiratórias e parto prematuro Ações • Educação em saúde bucal e estímulo à consciência sanitária e autocuidado • Controle do biofilme dental, escovação supervisionada e uso do fio dental • Distribuição de escovas de dente e de fio dental aos indivíduos sob maior risco social ou biológico • Capacitação dos profissionais da USF sobre o tema doença periodontal • Estímulo à realização do exame bucal pelos profissionais da unidade de saúde com o objetivo de diagnóstico de doença periodontal em pacientes de risco: Diabéticos, gestantes, hipertensos, cardiopatas, transplantados, etc. e encaminhamento dos mesmos, quando necessário • 17 Outras ações que venham a ser desenvolvidas pela equipe de saúde bucal Numa ação conjunta e intersetorial entre saúde e educação, pode-se estimular a escola a adotar uma série de ações que estimulem o aprendizado e que despertem a consciência sanitária dos alunos, como: Elaboração de calendário organizado prevendo programas contínuos para controle de biofilme, eventos como semana da saúde bucal, pelotão da higiene, inclusão da saúde bucal no currículo escolar. 78 2.2.5 Abordagem Individual Na atenção individual, é importante uma abordagem integral da doença periodontal, envolvendo ações de promoção à saúde e prevenção (para controle da atividade da doença e dos seus fatores de risco) e de tratamento cirúrgico reabilitador. Ações individuais de promoção de saúde e de prevenção poderão ser realizadas de maneira informal ou programada, na clínica odontológica, na USF, no domicílio ou outro local oportuno. 2.2.5.1 Gengivite 1ª ETAPA – Diagnóstico da atividade da doença Avaliar as seguintes condições: • Presença de sinais visuais o Sangramento o Edema o Perda do contorno superficial o Aumento do volume o Biofilme dental • Presença de fatores de risco o Alterações sistêmicas o Hábitos deletérios 2ª ETAPA – Educação em saúde e motivação para o controle do biofilme • Escovação supervisionada e uso do fio dental • Controle do biofilme 3ª ETAPA – Tratamento • Tratamento básico periodontal (raspagem e polimento supragengival, remoção ou tratamento de fatores retentivos do biofilme, exodontias, dentística, etc.) • Monitoramento e controle dos fatores de risco como tabagismo, diabetes, gravidez, alterações hormonais, entre outros, avaliando-se a possibilidade de intervenção sobre esses fatores 79 4ª ETAPA – Manutenção periódica A frequência de retorno varia individualmente de acordo com o risco e destaca-se a avaliação do sangramento gengival e o controle do biofilme para manutenção da saúde periodontal. 2.2.5.2 Periodontite 1ª ETAPA – Diagnóstico da atividade da doença Avaliar: Presença de perda de inserção através da sondagem ao longo da margem • gengival de cada dente • Presença de biofilme dental e de cálculo supra e subgengival • Mobilidade e migração dentária • Retração gengival • Presença de sinais inflamatórios (sangramento, secreção) • Fatores de risco: Condições sistêmicas, tabagismo, condição socioeconômica, uso de medicamentos, etc. 2ª ETAPA – Educação em saúde e motivação para o controle do biofilme • Escovação supervisionada e uso do fio dental • Controle do biofilme 3ª ETAPA – Tratamento • Tratamento básico periodontal (raspagem, curetagem e polimento supra e subgengival, remoção ou tratamento de fatores retentivos do biofilme, exodontias, dentística, etc.) • Encaminhamento a especialista, quando necessário • Monitoramento e controle dos fatores de risco como tabagismo, diabetes, gravidez, alterações hormonais, entre outros, avaliando-se a possibilidade de intervenção sobre esses fatores 80 OBS: A alta clínica deve ser dada ao usuário com ausência de sinais de atividade de doença e com controle do biofilme adequado 4ª ETAPA – Manutenção periódica A frequência da consulta de manutenção deve ser determinada individualmente, de acordo com as diferentes variáveis relacionadas ao processo saúde-doença. Pacientes com condições sistêmicas que atuem como fatores modificadores da doença periodontal podem necessitar de manutenção imunodeprinidos, etc. periódica mais frequente. Ex: Diabéticos, tabagistas, 81 Fluxograma 3 - Doença periodontal (gengivite e periodontite) Identificação da atividade da doença periodontal Paciente com atividade da doença Paciente sem atividade da doença Educação em saúde bucal Escovação supervisionada Uso do fio dental Controle de biofilme dental Controle fatores de risco Educação em saúde bucal Escovação supervisionada Uso do fio dental Controle de biofilme dental Dentística, exodontia, tratamento básico periodontal Encaminhamento à especialidade, se necessário Manutenção periódica na USF 83 2.3 CÂNCER BUCAL Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan Introdução De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer bucal no Brasil ocupa o 6º lugar entre o sexo masculino e o 7ª lugar entre as mulheres. O tipo histológico mais comum é o carcinoma de células escamosas (carcinoma espinocelular ou epidermoide) que corresponde a cerca de 95% dos cânceres que acometem a cavidade bucal. O carcinoma de boca é uma doença multifatorial, apresentando fatores de risco como tabaco, álcool, exposição à radiação solar sem proteção, avitaminoses, imunossupressões (AIDS e outras formas), etc. O câncer bucal é uma denominação que inclui várias localizações primárias de tumor, incluindo os lábios, a mucosa bucal, gengiva, palato duro, língua, soalho da boca e área retromolar, além da orofaringe (úvula, palato mole e base da língua). Na cavidade bucal, excetuando-se a região dos lábios, com alta incidência de tumores malignos, a língua e o soalho de boca são as localizações preferenciais de ocorrência do câncer bucal. O câncer bucal tem sido reiteradamente descrito como associado às desigualdades sociais, apresentando incidência e mortalidade mais elevadas nos grupos de pior condição social. 2.3.2 Fatores de risco mais comuns • Tabagismo É responsável pela grande maioria desse tipo de câncer, na forma de charuto, cigarro, cachimbo, cigarro de palha ou tabaco sem fumaça (fumo de mascar e rapé). Quanto mais a pessoa fuma maior será o risco. O uso regular de maconha também está associado ao câncer bucal. Estima-se que um terço da população de adultos no Brasil seja fumante. O tabagismo tem sido identificado como sendo mais frequente em pessoas com renda mais baixa e menores possibilidades educacionais. 84 Etilismo • O uso de bebida alcoólica, associado principalmente ao fumo, é um fator importante para o aparecimento dessa doença. O alcoolismo, da mesma forma que o tabagismo, tem apresentado frequência mais elevada em áreas submetidas à privação social. Idade • É menos frequente o aparecimento dessa doença antes dos 45 anos, após essa idade a sua frequência aumenta, principalmente em fumantes. Sexo • Esse tipo de tumor acomete mais os homens do que as mulheres. Infelizmente essa situação está se alterando, devido à mudança de estilo de vida das mulheres, de acordo com o INCA. Exposições ocupacionais • Exposição frequente à luz solar, acometendo o lábio inferior. Afeta pessoas que trabalham em ambiente externo como agricultores, trabalhadores da construção civil, carteiros, agentes de saúde, estivadores, portuários, etc. A maneira de prevenir é evitar o sol entre as 10:00 e 16:00 horas. É importante o hábito de proteger com filtro solar ou uso de chapéu. Algumas atividades industriais submetem operários à exposição a substâncias químicas consideradas carcinogênicas. Trabalhadores de oficinas mecânicas podem apresentar risco mais elevado de câncer bucal e de orofaringe. Outros fatores associados ao câncer bucal • o Má higiene bucal o Hábitos alimentares inadequados, desnutrição e imunodepressão o Portadores de próteses mal adaptadas ou outra irritação crônica da mucosa bucal o Consumo excessivo e prolongado de bebidas quentes como o chimarrão o Predisposição genética 85 Ressalta-se que as combinações de cigarro com álcool aumentam em 150 vezes as chances de uma pessoa desenvolver câncer de boca. O cigarro possui 4700 substâncias tóxicas, sendo que 60 são carcinogênicas. Essas substâncias penetram na mucosa e agem no DNA das células, fazendo com que elas se multipliquem de forma desordenada, formando os tumores. As bebidas alcoólicas também possuem substâncias tóxicas, como a nitrosamina e os hidrocarbonetos. O álcool, por ser solúvel, aumenta a permeabilidade das células da mucosa aos agentes carcinogênicos contidos no tabaco, o que explica a combinação fatal entre cigarro e bebida em excesso. Outro fator que não deve ser ignorado, é que o alcoolismo costuma causar perda do apetite que resulta em deficiências nutricionais, principalmente vitaminas A, C e E e complexo B, com isso diminui a imunidade e aumenta as chances de contaminação. Discreto, o câncer aparece em formas de pequenas lesões na boca ou manchas esbranquiçadas ou avermelhadas nos lábios. Se diagnosticado e tratado, na fase inicial, a chance de cura chega ao redor de 95% dos casos. Perfil de risco O conhecimento sobre os fatores de risco de câncer de boca orienta que este deve ser procurado em toda população, principalmente nos indivíduos que apresentem exposição a um ou mais fatores. Resumidamente, esses indivíduos enquadram-se no seguinte perfil: • Idade superior a 40 anos • Sexo masculino • Tabagistas crônicos • Etilistas crônicos • Má higiene bucal • Desnutridos e imunodeprimidos • Portadores de próteses mal ajustadas ou que sofram de outra irritação crônica da mucosa bucal 2.3.3 Diagnóstico precoce de lesões O diagnóstico precoce de lesões precursoras e do câncer de boca deve ser uma ação desenvolvida sistematicamente pelas equipes de saúde bucal na atenção básica. O estabelecimento do diagnóstico precoce é fundamental para que se assegurem medidas 86 preventivas e um prognóstico favorável na abordagem da doença. A seguir, segue a descrição das lesões de maior significado clínico para o câncer bucal. 2.3.3.1 Lesões precursoras Lesões brancas Sua coloração acinzentada ou esbranquiçada contrasta com a coloração róseaavermelhada da mucosa normal. As principais são: • Leucoplasia o Placa ou mancha esbranquiçada que não pode ser removida por raspagem o Lesões isoladas ou múltiplas o Geralmente indolor o Mais frequente entre homens com mais de 50 anos (70% dos casos), fumantes (80% dos casos) o Localização mais frequente: Bordas e face ventral da língua, soalho da boca e mucosa jugal o O diagnóstivo definitivo deve ser realizado através da biópsia o Aspecto clínico: Lesões homogêneas: São homogeneamente esbranquiçadas, de limites definidos e superfície lisa ou levemente irregular. Representa o tipo mais comum de leucoplasia. Quando detectada, devem-se afastar, sempre que possível, os fatores que possam tê-la provocado (irritantes crônicos da mucosa) Não homogêneas ou mosqueadas: Lesões de coloração variada podendo apresentar-se leve ou intensamente mosqueadas (intercaladas com pontilhado ou áreas vermelhas). Podem ainda mostrar erosões em sua superfície e têm maior potencial de malignização do que a forma homogênea o Prognóstico: Depende principalmente das características histopatológicas, aspecto clínico, localização e da idade do paciente (malignização é mais frequente nas idades mais avançadas). Risco de malignização é maior no soalho bucal e no ventre lingual. Ressalta-se que o aspecto histopatológico é fundamental para o diagnóstico, tratamento e prognóstico 87 o O tabaco é um fator preponderante no desenvolvimento da leucoplasia, sendo a sua ação potencializada quando associado ao uso do álcool o A sífilis e as hipovitaminoses são os fatores gerais mais relacionados com a leucoplasia • Ceratose ou Queilite Actínica o Lesão comum no vermelhão do lábio inferior, principalmente de indivíduos de pele clara e em idosos, podendo apresentar-se clinicamente como área descamativa, fina, esbranquiçada, eritematosa ou mesmo como ulcerações • o Associada à exposição solar o Elevado potencial de transformação maligna Líquen plano o Lesões frequentemente múltiplas, bilaterais, estriadas e mostram-se como placas esbranquiçadas, ocasionalmente erosadas. Têm um aspecto "rendilhado" de linhas brancas, denominado estrias de Wickham o Lesões podem ser dolorosas ou não o Na maioria das vezes, podem ser diagnosticadas clinicamente. Em caso de dúvida, deve-se recorrer à biópsia, sobretudo nas formas erosivas o Não há tratamento curativo, portanto, o portador do líquen plano deve ser acompanhado por toda a sua vida o • O potencial de malignização é controverso Diagnóstico diferencial das lesões brancas o Candidíase pseudomembranosa (monilíase ou sapinho): Áreas brancas espessadas que, quando removidas, permitem a exposição da mucosa subjacente, hiperemiada. É causada pela proliferação intrabucal de Cândida albicans o Candidíase crônica hiperplásica: As lesões desta forma de candidíase são mais difíceis de serem diferenciadas das leucoplasias, visto que elas se acompanham de uma resposta hiperplásica da mucosa, que produz queratinização excessiva. As placas não podem ser removidas pela raspagem da mucosa e o diagnóstico diferencial só pode ser feito por meio de biópsia. É um achado comum em indivíduos com exame imunológico positivo para HIV 88 o Estomatite nicotínica: Pápulas esbranquiçadas com pontos avermelhados no centro, que ocasionalmente confluem em placas cortadas por sulcos ou fissuras, e frequentemente estão localizadas no palato mole e duro. Constituem em resposta individual mais intensa ao tabagismo e devem ser diferenciadas das leucoplasias o Hiperqueratose irritativa: É uma hiperplasia da camada superficial de queratina provocada por trauma mecânico de baixa intensidade e se desenvolve na mucosa em resposta à irritação crônica. Apresenta-se como placas esbranquiçadas ou branco-acinzentadas, de forma, tamanho e localização variadas, superfície lisa, ondulada, pontilhada ou verrucosa, limites bem definidos ou, por vezes, confundindo-se com a mucosa normal, aparecendo em locais onde se encontra o fator irritante. Para o diagnóstico, a combinação do aspecto clínico da lesão e a história do paciente são sinais patognomônicos. O paciente deve ser orientado a abolir o hábito ou fator causal. Com o tempo, a lesão deve desaparecer. O diagnóstico diferencial deve ser feito com a leucoplasia. Lesões vermelhas São aquelas que apresentam coloração mais avermelhada que a da mucosa normal da boca. As principais lesões vermelhas, consideradas de risco de câncer, são as eritroplasias • Eritroplasia o Mancha ou placa de coloração vermelho escuro, brilhante, geralmente homogênea e bem delimitada e que não faz parte do quadro clínico de alguma doença já diagnosticada no indivíduo o Pode estar intercalada com algumas áreas leucoplásicas o Normalmente assintomática o Mais frequente no sexo masculino, acima de 50 anos de idade o Encontradas principalmente nos bordos da língua, soalho da boca, palato mole, mucosa alveolar o Mais raras que as leucoplasias, porém apresentam alto potencial de cancerização. Em 90% dos casos, a eritroplasia é diagnosticada como displasia grave ou carcinoma o Diagnóstico diferencial 89 Candidíase eritematosa: Placas vermelhas sem pontos brancos, frequentemente localizados no palato de portadores de prótese total superior, podendo ser encontradas também no dorso da língua e outros pontos da mucosa bucal Líquen plano erosivo: Na forma erosiva geralmente apresenta-se como uma lesão avermelhada, que pode ser bilateralmente encontrada em qualquer região da mucosa bucal Lúpus eritematoso: Na cavidade bucal, encontram-se lesões eritematosas na língua, palato e mucosa jugal, preferencialmente. As lesões podem ulcerar, sangrar ou associar-se a áreas esbranquiçadas Áreas Pigmentadas • Nevos o Lesões planas ou elevadas o Pigmentadas (marrom, cinza, azul ou preto) o Pequena dimensão o Raramente encontradas na boca o Locais de preferência: Orofaringe, palato e mucosa jugal o Traumatismo mecânico pode aumentar a possibilidade de transformação maligna em melanoma o Exigem observação constante o Diagnóstico diferencial: Mácula melanocítica, tatuagem por amálgama, melanoma 2.3.3.2 Lesões malígnas • Carcinoma epidermoide Dos cânceres que ocorrem na boca, 95% referem-se ao carcinoma epidermoide, espinocelular ou de células escamosas. Características o Úlcera de consistência e base endurecida, raramente apresentando consistência mole 90 o Fundo granuloso e grosseiro o Bordas elevadas circundando a lesão o As lesões podem ser ulceradas, nodulares e vegetantes o A palpação cuidadosa das áreas em torno da úlcera é importante para detectar endurecimento e propagação do tumor o Dissemina-se através dos linfonodos do pescoço, daí a importância de se inspecionar e palpar detidamente essa região o Geralmente assintomático, fator que dificulta o diagnóstico, pois tendem a ser pouco valorizadas pelo indivíduo acometido o As ulcerações em meio a uma área branca revelam um sinal de alerta, sugerindo uma transformação malígna desta área • o Diagnóstico diferencial: Tuberculose, Leishmaniose e a Paracoccidioidomicose o Áreas de maior risco Lábio inferior: Pele e vermelhão Língua: Borda posterior e superfície ventral Assoalho de boca Palato mole Úvula Pilar tonsilar Trígono retromolar Tumores de glândulas salivares o Tumores nodulares, de evolução lenta e assintomática, delimitados, e que se ulceram somente quando atingem grande volume o Localização mais frequente: Palato mole e na parte interna do lábio, onde se situam em grande número as glândulas salivares menores o O diagnóstico diferencial dos tumores de glândula salivar só pode ser feito por meio da biópsia o • Maior incidência no sexo feminino Sarcomas o São raros na boca o Origem mesenquimatosa o Muito vascularizados o Evolução rápida 91 • o Maior frequência em crianças e nos adultos jovens o Extrema gravidade o Metástase ocorre por via hematogênica, alcançando principalmente os pulmões Melanoma o Neoplasia muito rara na boca o Alta malignidade e mortalidade o Mancha isolada, acastanhada, azul acinzentada ou negra o Localização mais frequente na boca: Rebordos alveolares, palato ou gengivas o Deve ser sempre investigada, independente do tempo de evolução o A presença de áreas pigmentadas na boca é natural em indivíduos negros e mulatos, sendo difusas pela mucosa bucal o Diagnóstico diferencial: Mácula melanocítica, tatuagem por amálgama e o nevo 2.3.4 Exame clínico O exame clínico da boca não requer instrumentos especiais e deve ser realizado em todos os indivíduos, sobretudo nos considerados de risco para o câncer bucal, com a finalidade de se descobrirem lesões precursoras do câncer ou lesões malignas em suas fases iniciais. Condições e materiais necessários • • Iluminação natural ou fonte de luz direta • Espelho bucal, abaixadores de língua ou espátulas de madeira • Luvas (de látex ou de plástico) • Compressas de gaze ou lenços de papel Sequência A inspeção das estruturas da cavidade bucal tem por objetivo observar o volume ou o contorno das mesmas, cor e a textura da mucosa de revestimento, em busca de anormalidades como as já descritas. 92 Inspeção geral o Retirar próteses removíveis para possibilitar o acesso a toda a mucosa o Solicitar à pessoa que lave a boca o Realizar o exame com a pessoa sentada, de frente para o examinador, ambos no mesmo plano Inspecionar a face e o pescoço, observando presença de sinais, manchas, o assimetrias e de feridas que sangram ou não cicatrizam Inspeção da boca o Lábios (primeiro fechados e depois abertos): Visualizar a coloração e a linha de contato dos mesmos o Com o auxílio do espelho bucal, afastadores, espátulas ou dedos enluvados, expor a mucosa da face interna dos lábios e da face vestibular do rebordo gengival e examinar as estruturas superiores e inferiores o Examinar a mucosa jugal de cada lado, indo das comissuras labiais até as áreas retromolares e do sulco gengivo jugal inferior ao superior, bilateralmente. Na sequência, examinar a mucosa interna dos lábios superior e inferior o Solicitar que o paciente ponha a língua para fora, movendo-a para cima e para baixo e que toque o palato com a ponta da mesma o Segurar a ponta da língua com uma compressa de gaze ou lenço de papel, afastar a bochecha com um espelho ou espátula e movimentar a língua para a direita e esquerda, a fim de examinar suas bordas o Examinar o soalho da boca até a altura do último molar e a face lingual do rebordo gengival, de ambos os lados o Solicitar ao indivíduo que recline a cabeça para trás, abrindo a boca totalmente, a fim de visualizar o palato duro e a face palatina do rebordo gengival, de ambos os lados. Examinar o palato mole, as lojas e os pilares amigdalianos o Rebaixar a língua com espátula, espelho ou abaixador e examinar seu dorso o Solicitar que o indivíduo pronuncie a vogal A longamente, para melhor exposição daquelas estruturas 93 Palpação das estruturas bucais Após a inspeção dos lábios e da cavidade bucal, deve-se proceder à sua palpação, a fim de que se definam melhor as características de consistência, sensibilidade, limites, mobilidade e textura da superfície das áreas. o Usando luva, palpar os lábios em suas faces externa e interna, assim como a mucosa jugal de ambos os lados o Depois, uma mão traciona a língua pela ponta, envolvida em gaze ou lenço de papel, e o dedo indicador da outra mão a palpa em toda a sua extensão, especialmente a sua base o Com os dedos indicadores (um dentro e o outro fora da boca), buscar anormalidade nos tecidos moles do soalho bucal, nas glândulas salivares submandibulares, e no contorno da mandíbula o Com o indivíduo mantendo a boca totalmente aberta e a cabeça inclinada para trás, palpar o palato duro. Depois, com o indivíduo mantendo a boca fechada, palpar os linfonodos submandibulares e submentonianos Palpação do pescoço Proceder à palpação das cadeias linfáticas da veia jugular, fossa supraclavicular e espinhal, à procura de linfonodos suspeitos. 2.3.5 Autoexame de boca Uma estratégia auxiliar para o diagnóstico do câncer da boca em fase inicial é o autoexame da boca. Ele pode ser ensinado nas atividades de educação comunitária, em uma linguagem fácil e acessível à população. É um método simples, bastando para a sua realização um ambiente bem iluminado e um espelho. Técnica • Lavar a boca, remover próteses • Observar a pele do rosto e pescoço • Puxar com os dedos o lábio inferior para baixo, expondo sua parte interna. Palpar. Fazer o mesmo com lábio superior • Com a ponta do indicador, afastar a bochecha e examinar sua parte interna • Fazer isto dos dois lados 94 • Colocar indicador por baixo da língua e o polegar da mesma mão por baixo do queixo e palpar • Inclinar a cabeça e dizer ÁÁÁÁÁ... • Pôr a língua para fora e observá-la toda • Esticar a língua com um pedaço de pano e palpar • Examinar o pescoço, comparar os lados • Colocar polegar embaixo do queixo e palpar todo o contorno O que procurar • Mudanças na aparência dos lábios e parte interna da boca • Endurecimentos • Caroços • Lesões • Sangramento • Inchações • Áreas dormentes • Dentes amolecidos ou quebrados O paciente deve ser estimulado a fazer o autoexame regularmente e a procurar um CD ou um médico para a realização do exame clínico da boca anualmente. 2.3.6 Tratamento do Câncer Bucal • Depende do estadiamento clínico (TNM)18 • A cirurgia, a radioterapia e, em casos selecionados, a quimioterapia são, de forma isolada ou associadas, os métodos terapêuticos aplicáveis ao câncer bucal • Lesões iniciais (restritas ao local de origem, sem extensão a tecidos ou a linfonodos regionais): Cirurgia ou radioterapia, pois ambas apresentam resultados semelhantes, expressos por um bom prognóstico • 18 Demais lesões, se operáveis: Cirurgia associada ou não à radioterapia Classificação dos tumores malignos: T – Tumor – extensão N – Nódulos ou gânglios linfáticos M - Metástase 95 • No caso de linfonodomegalia metastática associada: Esvaziamento cervical do lado afetado. O prognóstico do caso é bastante reservado • Casos avançados: Quimioterapia para redução do tumor e posterior tratamento pela radioterapia ou cirurgia. Prognóstico é extremamente grave Acompanhamento clínico do paciente em tratamento de câncer bucal: Reportar-se ao Capítulo 4, item 4.12. Ações para a prevenção, diagnóstico e controle do câncer bucal na USF No Quadro 11 estão listadas ações visando a promoção de saúde, estímulo à adoção de hábitos saudáveis de vida, prevenção, diagnóstico precoce e controle do câncer bucal na área de abrangência da USF. 96 Profissionais possivelmente envolvidos Ações Ações de promoção de saúde e de prevenção • • Reuniões educativas periódicas (palestras, grupos de reflexão, mostra de vídeos, etc.) sobre o câncer, visando: o Motivação e conscientização para o autocuidado o Difusão do autoexame da boca o Eliminação dos fatores de risco Ações de restrição ao fumo o Educação de escolares o Educação específica fumantes dos • Integração da equipe de saúde bucal aos programas de controle do tabagismo, etilismo e outras ações de proteção e prevenção do câncer • Inclusão do tema nas ações de saúde • Vigilância à saúde dos usuários o Identificação dos indivíduos de risco o Exame bucal para diagnóstico de lesões precursoras ou patologia já instalada nestes indivíduos o Estímulo ao exame sistemático de boca por todos os profissionais de saúde da USF • Encaminhamento ao nível secundário de casos suspeitos • Prestação de cuidados gerais de saúde bucal na USF • • • • • • CD, TSB, ASB Médico Enfermeiro Auxiliar de enfermagem ACS Profissionais da equipe de saúde da USF e do NASF Locais Na USF • • • • • Clínica odontológica Consultório médico Sala de espera ou de reunião Demais dependências Grupos operativos existentes Fora da USF • • • • • • • • • • • Domicílios Igrejas Centros comunitários Sindicatos Fábricas e indústrias Supermercados Oficinas mecânicas Construção civil Demais estabelecimentos comerciais Quartéis (exército, polícia militar, corpo de bombeiros) Presídios Quadro 11 - Ações para a prevenção, diagnóstico e controle do câncer bucal na USF 97 Na atenção individual, sempre orientar o indivíduo quanto a: • Eliminação do consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas • Redução da exposição prolongada ao sol (uso de chapéu, protetor solar, etc.) • Realização exame odontológico de rotina e autoexame bucal periódico • Manutenção da higiene bucal • Controle da prótese quanto à higiene, adaptação e durabilidade Encaminhamento dos casos suspeitos Paciente com lesão (ferida) na boca há mais de 15 dias ou com suspeita da doença, deve ser avaliado pelo CD da USF e, conforme a hipótese diagnóstica da lesão, ser encaminhado para o CEO e/ou Disciplina de Estomatologia Universitário (COU/UEL). no Centro Odontológico 98 Fluxograma 4 - Câncer bucal Identificação do paciente de risco • • > 40 anos • Sexo masculino • Tabagistas crônicos • Etilistas crônicos • Má higiene bucal • Desnutridos e imunodeprimidos • Portadores de próteses mal ajustadas Consumo excessivo e prolongado de chimarrão Sem lesão Com lesão Eliminação dos agentes causadores Houve regressão da lesão? Não Sim Referência para especialidade CEO Semiologia UEL Manutenção periódica na USF 99 BIBLIOGRAFIA AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC DENTISTRY. Oral Health policies. Reference Manual, p. 2628, 2006-2007. AMERICAN ACADEMY OF PERIODONTOLOGY (AAP). International Workshop for a Classification of Periodontal Diseases and Conditions. J Periodontol, v. 4, n. 1, Dec, 1999. ANTUNES, J. L. F; PERES, M. A; CRIVELLO JÚNIOR, O. Epidemiologia da saúde bucal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 441 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Câncer de Boca. Manual de detecção de lesões suspeitas. 2. ed. Rio de Janeiro: INCA/PróOnco. 1996. 48 p. Disponível em: <http://virtualbooks.terra.com.br/>. Acesso em: 10 junho 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 17). FEATHERSTONE, J.D.B et al. Caries risk assesment in practice for age 6 through adult. CDA Journal, v. 35, n. 10, p. 70313, October, 2007. 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Disponível em: <http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=60&idesp=15&ler=s>. Acesso em: 18 setembro 2008. 101 CAPÍTULO 3 ATENÇAO ODONTOLÓGICA POR CICLO DE VIDA 103 3. ATENÇAO ODONTOLÓGICA POR CICLO DE VIDA 3.1 ATENÇÃO AO BEBÊ Luiz Reynaldo de Figueiredo Walter Antônio Ferelle Cássia Cilene Dezan Garbelini Leila Maria Cesário Pereira Pinto Cristiane de Andrade Janene Gonini Eliane Aparecida Azeredo Domingos Alvanhan 3.1.1 Acesso à Atenção Odontológica Todas as crianças residentes na área de abrangência da USF, com idade entre 0 a 36 meses, deverão ter atendimento odontológico priorizado e garantido pela clínica odontológica. As possíveis vias de acesso do bebê ao atendimento programado na USF são: Maternidade Municipal – Recém-nascido (RN) encaminhado ao programa • odontológico pela TSB da Maternidade Municipal, após receber orientações de cuidados com saúde bucal • Visita domiciliar • Puericultura • Programa de vacinação • Pediatria • Atendimento odontológico à gestante • Demanda espontânea Ao chegar à clínica, o responsável terá agendado um dia para participar da reunião educativa. 104 3.1.2 Reunião Educativa Objetivo Fornecer/transmitir conhecimentos básicos a respeito de meios e métodos de prevenção em saúde bucal nos primeiros anos de vida aos pais/responsáveis. Periodicidade A reunião deverá ser realizada no mínimo mensalmente. Tempo de duração • Parte informativa/educativa da reunião: Sugere-se uma duração aproximada de 60 minutos, com tempo livre para debate • Atividades complementares (agendamento, registro da criança, etc.): Dependerá do número de participantes e da quantidade de profissionais disponíveis. Sugere-se que se reservem 60 minutos adicionais • A pontualidade da equipe e dos pais é um aspecto importante a ser observado para que haja melhor aproveitamento da atividade • É recomendável que os responsáveis sejam avisados no momento de agendamento da reunião sobre o horário de início (tolerando-se um atraso de aproximadamente 15 minutos) e o tempo de duração da mesma • Sugerir aos pais que não levem a criança à reunião, podendo-se abrir exceção para RN e casos particulares que surgirem • Solicitar ao responsável que compareça à reunião com registro de nascimento da criança e comprovante de residência, sempre que possível Horário e local Serão definidos pela equipe, considerando as diferentes realidades. Poderão ser realizadas dentro ou fora da USF, em locais que comportem confortavelmente um grupo de pessoas (sala de reunião, sala de espera da odontologia, centro de educação infantil, escola, associação de bairro, salão paroquial ou comunitário, etc.). 105 Número de participantes Sugerem-se grupos pequenos, com aproximadamente 15 participantes, para melhor aproveitamento pelos pais, podendo variar dependendo da realidade e necessidades de cada USF. Durante a abordagem do conteúdo educativo, procurar estabelecer um clima agradável e descontraído que favoreça a participação dos envolvidos através de perguntas, exposição de experiências pessoais ou de dúvidas mais frequentes. A metodologia utilizada pode variar, podendo-se realizar reuniões que permitam a participação espontânea dos participantes ou palestras estruturadas. Estas últimas podem, muitas vezes, inibir a participação dos pais e responsáveis. Segue abaixo, uma lista de temas que poderão ser abordados durante as reuniões. Ressalta-se, entretanto, que nem todos os itens precisam ser obrigatoriamente discutidos, devendo-se estar atento para o tempo de duração da reunião, grau de interesse e de participação da população alvo. • Introdução o Objetivos da reunião o Apresentação da equipe o Rotina do programa, faixa etária de atendimento e área de abrangência o Funcionamento da clínica: Normas, horários de agendamento, esterilização, dinâmica de trabalho e procedimentos clínicos o • • Objetivos do atendimento às crianças de 0 a 36 meses Importância da saúde bucal o Saúde x Doença – relação de saúde bucal com saúde geral o Pais/responsáveis como promotores de saúde bucal de seus filhos o Importância de dentes saudáveis o Maior probabilidade de se ter dentição permanente sadia Amamentação o Importância o Benefícios o Orientações 106 • o Amamentação e desenvolvimento facial o Período de amamentação exclusiva o Processo de desmame Dentes decíduos o O que são e quantos são o Cronologia da erupção o Problemas relacionados à erupção o Suas funções: Mastigação, estética, fonética, manter espaço, guia de erupção o Cor do dente sem biofilme dental (limpo) x cor do dente com biofilme dental (sujo) – ensinar a identificar biofilme dental visível • • • Hábitos bucais o Chupeta o Dedo o Mamadeira o Possíveis relações com a maloclusão Doença Cárie o O que é o Qual a sua causa o Quando inicia o Sinais e sintomas: dor, mancha branca, cavidade e sua evolução o Enfoque à cárie precoce de infância (cárie de mamadeira) o Transmissibilidade de micro-organismos cariogênicos e como evitá-la o Como identificar o biofilme dental visível Fatores de risco, quais são? o Ausência de higienização/escovação antes de dormir o Consumo elevado de açúcar o Mamada noturna o Presença de biofilme dental visível 107 o Crianças com necessidades especiais (doenças sistêmicas) – maior dificuldade de higienização e características da alimentação Prevenção • o Higienização (limpeza/escovação/fio dental) o Controle de dieta alimentar, incluindo mamadas noturnas e ingestão de açúcar • o Flúor e cariostático o Selante Outros (a critério da equipe responsável) Sempre que possível, utilizar materiais didáticos para reforço e melhor compreensão dos pontos principais (folders, cartazes, fotos, álbum seriado, etc.). O final da reunião poderá ser utilizado para agendamento, preenchimento de ficha clínica odontológica, etc. O primeiro atendimento clínico deverá ocorrer em data mais próxima possível (em 30 dias). Sugere-se reservar os últimos horários de cada período na clínica para o agendamento dos mesmos, tanto no período matutino quanto no vespertino. 3.1.3 Atendimento Clínico Individualizado • Primeiro passo: Registro do bebê Caso este passo tenha sido realizado na reunião educativa, desconsiderar este tópico. • Segundo passo: Preenchimento da anamnese Para o preenchimento da anamnese, a criança deverá estar acompanhada por um dos seus pais ou pela pessoa responsável por ele. Caso este passo tenha sido realizado na reunião educativa, desconsiderar este tópico. • Terceiro passo: Orientações individualizadas A partir dos dados coletados na anamnese, orientações individualizadas serão dadas ao responsável, conforme as necessidades apresentadas pelo paciente. Reforçar 108 orientações transmitidas na reunião educativa, relacionando-as com a fase do desenvolvimento do bebê, conforme descrito abaixo: o RN ou criança até 6 meses de vida: Aleitamento materno exclusivo, hábitos de sucção não nutritivos, erupção dentária e possíveis alterações relacionadas a este processo, introdução gradativa de higiene da cavidade bucal, etc. o Criança com mais de 6 meses: Controle de dieta, principalmente da mamada noturna após erupção dentária, higienização bucal e controle de biofilme dental, uso de fluoretos para aumento da resistência dos dentes, hábitos deletérios, etc. Considerações o Procurar estabelecer um clima descontraído, pois este é um momento importante para que se concretize o acolhimento do usuário e também para que se crie um vínculo de confiança e corresponsabilidade entre as partes o As primeiras orientações não devem ser dadas com a criança na MACRI, no colo do CD ou na cadeira odontológica, pois este é um momento importante o Elogiar os pontos positivos antes das primeiras correções o Sempre ouvir o que o responsável tem a dizer, analisar a situação e orientar de maneira construtiva • Quarto passo: Exame clínico Após as primeiras explicações, colocar a criança na MACRI (quando esta não estiver disponível, utilizar a técnica joelho a joelho ou a cadeira odontológica) e realizar: o Exame físico geral: Observar se o aspecto geral da criança está de acordo com sua faixa de crescimento e desenvolvimento, como, por exemplo: Peso, estatura, locomoção, linguagem, entre outros. Encaminhar para avaliação de enfermagem ou médica suspeitas de desvios ou anormalidades o Exame de cabeça e pescoço: Além do tamanho, forma e simetria das estruturas, observar olhos, pálpebras, face, Articulação Têmporo-Mandibular (ATM), pescoço. Encaminhar para avaliação de enfermagem ou médica suspeitas de desvios ou anormalidades o Exame intrabucal: Examinar cuidadosamente a cavidade bucal, incluindo lábios, vestíbulo, freio labial, mucosa jugal e labial, rodetes gengivais, palatos duro e mole, língua, freio lingual, soalho de boca e, por fim, os dentes, se já estiverem presentes. Anotar no odontograma, com a respectiva data, quais dentes estão presentes, as 109 lesões de cárie, quando encontradas e eventuais restaurações. As alterações e patologias que eventualmente possam ser diagnosticadas deverão ser registradas na ficha clínica odontológica o Demonstrar como o responsável deverá higienizar a boca ou limpar/escovar os dentes. O profissional demonstra na criança os procedimentos de limpeza, podendo solicitar ao responsável que os realize também a fim de que possíveis falhas possam ser corrigidas Considerações • Nesta fase, estabelece-se a interação entre o responsável e o profissional e deve-se enfatizar que a eliminação do risco e a manutenção da saúde não dependem unicamente do fato do bebê frequentar a clínica • As orientações deverão ser transmitidas de forma simples, identificando-se o grau de interesse do responsável • O trabalho educativo é o alicerce principal da atenção odontológica precoce e, por isso, em todos os retornos da criança, deve-se reforçar a necessidade de controle caseiro dos fatores de risco • É imprescindível saber ouvir e respeitar as dificuldades enfrentadas pelos pais quanto à aplicabilidade das orientações recebidas • Ensinar, nas consultas de retorno, a identificar o biofilme dental visível • Estar atento a sinais de maus tratos à criança no que se refere à violência física, psicológica, sexual, negligência ou omissão de cuidados • Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 9 3.1.4 Determinação dos Fatores de Risco de Cárie A determinação do risco de cárie do bebê é realizada através da anamnese e do exame clínico, identificando-se fatores que possam estar associados com o desenvolvimento de cárie e que sejam passíveis de alteração através de medidas que interfiram no comportamento dos envolvidos. A presença de biofilme dental visível é o fator determinante para a classificação de alto risco de cárie e os demais fatores são indicativos, conforme os itens listados no Quadro 12. Sempre realizar nova avaliação do risco de cárie nas manutenções. 110 Risco Fatores Ausência de biofilme dental visível Escovação ou higienização bucal diária, antes de dormir, realizada pelos pais ou responsável, incluindo utilização de fio dental, quando indicado • Criança não dorme mamando no peito ou mamadeira, não mama para dormir (sem limpar os dentes) e não mama durante a noite, quando já apresenta dentes erupcionados • Frequência diária de consumo de alimentos sólidos ou líquidos entre as refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) menor que 2 vezes BAIXO • Frequência diária de amamentação ou uso de mamadeira menor que seis vezes quando já iniciou a erupção dentária • Utilização de mamadeira até no máximo dois anos de idade • Ausência de transmissibilidade precoce (mãe, irmãos ou cuidador sem lesões de cárie) • Ausência de dentes fusionados, hipocalcificados, com hipoplasia e defeitos congênitos • Ausência de doenças sistêmicas ou necessidades especiais • Presença de biofilme dental visível • Escovação ou higienização bucal diária, antes de dormir, não é realizada • Criança dorme mamando e/ou mama para dormir, inclusive durante a noite, sem limpeza e apresenta dentes erupcionados ALTO • Frequência diária de consumo de alimentos sólidos ou líquidos entre as refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) maior que 2 vezes • Frequência diária de amamentação ou uso de mamadeira maior que seis vezes, apresentando dentes erupcionados • Utilização de mamadeira acima dos dois anos de idade • Presença de transmissibilidade precoce (mãe, irmãos ou cuidador com lesões de cárie) • Presença de dentes fusionados, hipocalcificados, com hipoplasia e defeitos congênitos • Presença de doenças sistêmicas ou necessidades especiais Adaptado de Bebê Clínica/UEL – 2007 • • Quadro 12 – Classificação Segundo o Risco de Cárie 3.1.5 Tratamento Educativo/Preventivo de Cárie Compõe-se de: • Reversão dos fatores de risco • Aumento da resistência dentária • Tratamento de choque • Tratamento de manutenção clínico e caseiro 3.1.5.1 Reversão dos fatores de risco de cárie Objetivos: Reversão/controle desenvolvimento de carie dentária. dos fatores negativos associados com o 111 Estratégias • Instituir hábitos de limpeza ou escovação • Controlar a dieta e aleitamento noturno • Diminuir possibilidades de transmissibilidade de micro-organismos cariogênicos 3.1.5.2 Aumento da resistência dentária Será feito através da utilização de fluoretos Estratégias • Aplicação clínica de fluoreto de sódio 0,2%, verniz com flúor e/ou diamino fluoreto de prata 30% • Aplicação caseira de fluoreto de sódio 0,02%, pelo menos uma vez ao dia 3.1.5.3 Tratamento de choque Terapia intensiva para controle dos fatores de risco e aumento da resistência dos dentes, através do uso de soluções de fluoreto de sódio 0,2%, verniz com flúor ou diamino fluoreto de prata 30%. Objetivos: Eliminar fatores geradores da cárie e aumentar a resistência de forma rápida. Estratégias • Limpeza e controle rigoroso do biofilme dental • Reforço educativo • Aplicação intensiva de fluoretos (3 a 4 sessões) 3.1.5.4 Tratamento de manutenção • Clínico: Realizado na clínica odontológica com intervalo de 3 meses, até os 3 anos de idade, a fim de observar a evolução do tratamento. Manter a sequência de aplicação dos fluoretos e acompanhar o desenvolvimento da dentição decídua. É 112 importante, a cada retorno, reavaliar os fatores de risco de cárie da criança, anotando na ficha clínica odontológica qualquer alteração nos hábitos de dieta, higiene ou dificuldade relatada pela mãe • Caseiro: Realizado diariamente em casa, onde os fatores associados com a cárie deverão ser controlados. O responsável realiza a limpeza após as mamadas ou refeições, controla a frequência de ingestão de carboidratos e mamadas noturnas e aplica NaF 0,02%, pelo menos uma vez ao dia 3.1.6 Tratamento Educativo/Preventivo de Acordo com o Risco de Cárie • Baixo risco Procedimentos clínicos o Realizar a limpeza com uma das possibilidades abaixo: Gaze umedecida em solução de água oxigenada 3%, diluída na proporção 1:4 Escovação com água oxigenada diluída Profilaxia com baixa rotação e água oxigenada 3% diluída ou com pasta profilática o Aplicação de fluoreto de sódio 0,2% com cotonete o Retorno de manutenção: 3 meses Procedimentos caseiros o Realizar a limpeza da boca da criança, com um tecido macio, gaze umedecida, dedeiras de silicone ou de látex. O ideal é que a higiene bucal seja realizada de 2 a 3 vezes ao dia. Não sendo possível, realizar pelo menos uma limpeza antes de dormir, mas jamais dormir sem higienizar o Com a erupção dos primeiros molares (por volta dos 14 meses de idade), iniciar o uso de escova dental sem dentifrício ou com dentifrício não fluorado o Recomendar o uso do fio dental pelo menos em uma das limpezas, caso haja contato entre os dentes o Aplicação caseira de fluoreto de sódio 0,02%, pelo menos uma vez ao dia 113 • Alto risco Procedimentos clínicos Consulta inicial o Realizar a limpeza com uma das possibilidades abaixo: Gaze umedecida em solução de água oxigenada 3% diluída na proporção 1:4 Escovação com água oxigenada diluída Profilaxia com baixa rotação e água oxigenada diluída ou com pasta profilática o Aplicação de fluoreto de sódio 0,2%, com cotonete o Aplicação de diamino fluoreto de prata 30% ou de verniz com flúor nos dentes posteriores o Agendar o tratamento de choque Tratamento de choque Compõe-se de 4 sessões consecutivas, com intervalo de uma semana entre cada uma delas: o Aplicação de verniz com flúor nos dentes anteriores o Aplicação de diamino fluoreto de prata 30% nos dentes posteriores o Em todas as sessões, fazer reforço educativo e introduzir medidas de higienização, dando especial atenção ao controle do biofilme dental. Sugere-se a evidenciação do biofilme dental para maior motivação do responsável Tratamento de manutenção Avaliar, após o término do tratamento de choque, se houve reversão de risco de cárie. Caso não tenha ocorrido, realizar uma aplicação mensal de cariostático até a reversão do risco. Após a reversão, agendar o retorno de manutenção para 3 meses. 114 Procedimentos caseiros o Idem baixo risco, dando ênfase ao controle dos fatores geradores de cárie tais como: Controle de ingestão de sacarose e de mamadas noturnas, higienização, etc. 3.1.7 Tratamento Curativo O tratamento curativo será realizado em todas as crianças que apresentem lesões cariosas. Divide-se em três tipos: • Tratamento curativo primário ou Tratamento Restaurador Atraumático (TRA) • Tratamento curativo secundário ou especializado • Tratamento curativo de urgência 3.1.7.1 Tratamento curativo primário ou Tratamento Restaurador 19 Atraumático (TRA) Na presença de lesões cariosas, o primeiro passo após o enfoque educativo é a realização do tratamento clínico das lesões de cárie, através de: • Escavação em massa (retirada parcial da cárie) e preenchimento das cavidades com material restaurador provisório (TRA): o Cavidades rasas: Preenchimento com cimento de ionômero de vidro ou cimento de óxido de zinco modificado, dando-se preferência ao ionômero, devido à maior adesão do material à estrutura dentária e à liberação de flúor o Cavidades médias ou profundas: Inserção de CTZ no fundo da cavidade e sobre este o cimento de ionômero de vidro ou cimento de óxido de zinco modificado • 19 Utilização de diamino fluoreto de prata 30% nos dentes com lesões de cárie Também conhecido por ART (Atraumatic Restorative Treatment) 115 Considerações • Antes de aplicar o diamino fluoreto de prata, solicitar ao responsável a assinatura do termo de Autorização de Aplicação de Cariostático (Apêndice E), orientando sobre a possibilidade de descoloração (manchamento) irreversível dos dentes e sobre as vantagens de utilização do mesmo • Caso o responsável não concorde com a aplicação de diamino fluoreto de prata, principalmente nos dentes anteriores, utilizar verniz com flúor ou fluoreto de sódio 0,2%. Alertar os pais sobre a maior dificuldade de controle de cárie neste caso. Anotar na ficha a opção do responsável e solicitar a assinatura do termo de Não Autorização de Aplicação de Cariostático (Apêndice E) • Para proteger tecidos moles, aplicar vaselina sólida nos lábios, mucosa jugal e regiões circunvizinhas • Introduzir medidas de higienização, dando especial atenção ao controle do biofime dental. Sugere-se a evidenciação do mesmo para maior motivação do responsável 3.1.7.2 Tratamento curativo secundário (Especializado) Será realizado como complementação do tratamento curativo primário ou na resolução específica dos problemas presentes. 3.1.7.3 Tratamento de urgência Resolução de problemas que exigem a intervenção imediata (dor, inflamação, trauma, etc.) O Quadro 13 resume os tratamentos preventivo e curativo voltados para a criança de 0 a 36 meses de idade em função do risco de cárie. 116 Risco de cárie • • Características • • • • • • • Reversão do risco Aumento da resistência Tratamento de choque Manutenção Clínica • • • • • • • • • • • • • • • Não é necessário • • • • • • Evidenciação biofilme dental Limpeza/escovação/profilaxia Aplicação de NaF 0,2% Retorno em 3 meses Limpeza/escovação diária e uso do fio dental, principalmente após última mamada ou alimentação noturna Aplicação caseira de fluoreto de sódio 0,02%, pelo menos uma vez ao dia Escavação em massa e repleção das cavidades: o Rasa: CIV ou IRM o Profunda: CTZ + CIV ou IRM Diamino fluoreto de prata 30% • • • • • Caseira • Tratamento Curativo Primário Baixo risco Ausência de biofilme dental visível Pais/responsável limpam/escovam os dentes e utilizam fio dental, quando indicado Ausência de mamadas noturnas Baixo número de refeições diárias com sacarose Utilização de mamadeira até dois anos Baixa possibilidade de transmissão de micro-organismos cariogênicos Ausência de dentes com malformação Ausência de doenças sistêmicas ou necessidades especiais Não necessita, por não possuir fatores determinantes de risco. Entretanto, reforçar os fatores positivos, dando especial atenção ao controle de biofilme dental Aplicação NaF 0,2% (nos exames de rotina) Aplicação caseira de fluoreto de sódio 0,02%, pelo menos uma vez ao dia • • • Quadro 13 - Síntese da Prevenção e Controle de Cárie na Criança de 0 a 36 Meses Alto risco Presença de biofilme dental visível Pais/responsável não limpam/escovam os dentes e não utilizam o fio dental Mamadas noturnas ou para dormir, após erupção dos dentes Utilização de mamadeira após os dois anos Alto número de refeições diárias com sacarose Alta possibilidade de transmissão de micro-organismos cariogênicos Presença de dentes com malformação Presença de doenças sistêmicas ou necessidades especiais Interpor limpeza/escovação/uso do fio dental Controlar consumo de carboidratos e possibilidade de transmissão Orientar quanto à retirada de mamadas noturnas Aplicação de fluoretos: o NaF 0,2% o Verniz com flúor ou Cariostáticos o Aplicação caseira de fluoreto de sódio 0,02%, pelo menos uma vez ao dia Medidas destinadas a: o Reforço educativo o Evidenciação e controle do biofilme dental o 1 aplicação semanal de diamino fluoreto de prata 30% ou verniz com flúor durante 4 semanas consecutivas Evidenciação do biofilme dental Limpeza/escovação/profilaxia Aplicação de NaF 0,2% Após a reversão de risco, retorno de manutenção a cada 3 meses Limpeza/escovação diária principalmente após última mamada ou alimentação noturna Aplicação caseira de fluoreto de sódio 0,02%, pelo menos uma vez ao dia 117 3.1.8 Procedimentos 3.1.8.1 Caseiros 3.1.8.1.1 Limpeza/escovação da boca e dos dentes Usar ponta de tecido macio seco ou embebido em água filtrada ou fervida para limpeza dos dentes e da boca, inclusive a língua, no mínimo 01 vez ao dia. Após a erupção dos primeiros molares decíduos, substituir a limpeza pela escovação dos dentes sem o uso do creme dental ou com dentifrício sem flúor. 3.1.8.1.2 Aplicação de flúor Aplicar 4 gotas de fluoreto de sódio 0,02% em cada ponta do cotonete. Esfregar uma ponta na arcada superior e a outra na arcada inferior, após a limpeza ou escovação. Recomendar não ingerir nada por 30 minutos. Este procedimento deverá ser realizado pelo menos uma vez ao dia. O Quadro 14 resume os procedimentos caseiros voltados para as crianças de 0 a 36 meses de idade, incluindo também orientações sobre alimentação. Idade 0 - 6 meses Higiene • Tecido macio/fralda Alimentação • Tecido macio/ fralda Escovação sem dentifício ou • 7 – 24 meses com dentifrício sem flúor a partir da erupção dos molares decíduos • Escovação sem ou com dentifrício sem flúor, até os 3 • anos de idade 25 meses em diante • Introduzir escovação com dentifrício fluorado (500 ppm), em quantidade pequena, a partir dos 3 anos Quadro 14 - Procedimentos Caseiros - Síntese • • 20 Aleitamento exclusivo20 materno Aleitamento complementado materno Leite no copo + comida salgada, alimentos duros, frutas e sucos Maiores informações consultar o Guia de Orientação – Saúde Bucal nos primeiros anos de vida CRO (Paraná), 2008, Coleção Manuais. 118 3.1.8.2 Clínicos A síntese de procedimentos clínicos de acordo com a idade é apresentada no Quadro 15. 119 PROCEDIMENTOS CLÍNICOS Procedimento • • Exame bucal Usar macri ou técnica joelho a joelho 0 - 6 meses Objetivo Verificar: • Dentes natais e neonatais • Pérolas, nódulos, cistos • Doenças de boca • Tumores • Anomalias congênitas, etc. • Orientação aos pais: Usar cartazes, folhetos e outros • • • Promoção à saúde (principalmente amamentação exclusiva) Quando e como erupcionam os dentes: O que ocorre Como e por que fazer a limpeza da boca e futuramente dos dentes Hábitos de sucção e como evita-los 6 - 12 meses Procedimento • • Exame clínico de rotina Usar macri ou técnica joelho a joelho Objetivo Verificar: • Erupção • Oclusão • Dentes • Tecidos moles • Formação de biofilme dental • Cárie • Gengivite • Orientação pais: aos Usar cartazes, folhetos e outros • • • • Aplicação de Flúor • • Reforçar a necessidade de limpar os dentes Controlar o açúcar, etc Hábitos de sucção, como controla-los Informar sobre riscos de traumas Ensinar a identificar biofilme dental visível Adicionar o flúor tópico Cariostático, quando indicado 12 - 24 meses Procedimento Objetivo Verificar: • Exame clínico • Erupção • Usar macri • Oclusão ou técnica • Dentes joelho a • Tecidos moles joelho • Formação de biofilme dental • Cárie • Gengivite • Orientação pais: aos • Usar cartazes, folhetos e outros • Aplicação Flúor de • Reforço de temas já discutidos Ressaltar as necessidades de controle de biofilme dental e prevenção de cárie e gengivite Seguir terapias conforme indicação Cariostático, quando indicado 24 - 36 meses Procedimento Objetivo Verificar: • Erupção • Exame clínico • Oclusão • Usar macri, • Dentes cadeira • Tecidos moles odontológica ou • Formação de técnica joelho a biofilme dental joelho • Cárie • Gengivite • Orientação aos pais: • Usar cartazes, folhetos e outros • Aplicação de Flúor • • Tratamento curativo • • ART Tratar urgências Tratamento curativo • • ART Tratar urgências Tratamento curativo • • Quadro 15 - Procedimentos Clínicos - Síntese Reforço sobre os temas já discutidos Ressaltar as necessidades de controle de biofilme dental, prevenção de cárie e gengivite. Reforçar a necessidade da retirada de chupeta e/ou mamadeira Seguir as terapias conforme indicação Cariostático, quando indicado Resolução dos problemas presentes, quando possível Tratar urgências 120 3.1.9 Semiologia Relacionada à Criança de 0 a 36 Meses Os Quadros 16 a 18 apresentam de forma sintética as principais patologias que acometem a faixa etária com características, condutas e diagnóstico diferencial. 121 Alteração • • Dente natal • • Dente Neonatal Nódulos de Bohn • • • • • • • • Pérolas de Epstein Cistos da Lâmina Dentária • • • • • • • Granulações de • Fordyce • • Papila retrocanina • • Localização /características Presentes ao nascer Dentes mais afetados: Incisivos centrais inferiores • o Maduros: Estrutura e implantações normais • o Imaturos: Estrutura e/ou implantação anormais Podem determinar lesões na base da língua (Riga-Fede) e no peito da mãe • Da série normal (95%) ou extranumerários (5% dos casos) Aparecem dentro de 30 dias após o nascimento Idem dente natal Remanescentes de tecido mucoso glandular Nódulos múltiplos esbranquiçados Firmes à palpação 1 a 3 mm de diâmetro; não aumentam Localizados principalmente nas faces vestibular e lingual/palatina (longe da rafe palatina) do rebordo gengival Remanescentes de tecidos epiteliais aprisionados ao longo da rafe palatina mediana Branco acinzentado 1 a 3 mm de diâmetro Presentes em 80% dos recém-nascidos Seu conteúdo é de remanescentes da lâmina dentária Localizados na crista alveolar do rebordo gengival, na região mais posterior dos arcos, próximos à região do primeiro molar decíduo Podem ser bilaterais Lesões granulares branco amareladas Levemente elevadas Mais na mucosa do lábio ou bochecha Nódulo mole, séssil, superfície lisa ou rugosa, da mesma cor da mucosa circundante Localizada entre a gengiva livre e junção mucogengival Na região lingual do canino inferior Diagnóstico diferencial e observações Conduta Encaminhar para exame radiográfico • Dentes da série normal e maduros: Preservação, lixar bordas cortantes e instituir • higiene e aplicação clínica e caseira de flúor Dentes extranumerários ou imaturos: • Exodontia após 1ª semana de vida Através de exame radiográfico Diferenciar de cistos, nódulos e pérolas Verificar possível relacionamento com síndromes Idem dente natal • Idem dente natal • • • Não é necessária intervenção Involuem nos primeiros meses de vida • • Dente natal ou neonatal Abscessos de tecidos moles • • Não é necessária intervenção Involuem nos primeiros meses de vida • • Angina hérpica Úlceras traumáticas • • Não é necessário intervenção Involuem nos primeiros meses de vida • Diferenciar dos dentes natais e neonatais pela localização • • Não é necessário intervenção Tendem a se acentuar com a idade • • Não é necessário intervenção • São tão evidentes que não se confundem com outras enfermidades Abscessos dentários ou periodontais Cistos gengivais Papilomas, fibromas Quadro 16 - Manifestações Congênitas e de Desenvolvimento - Síntese • • 122 Alteração • Língua Fissurada • • Língua Pelada Lingua Geográfica ou Glossite Migratória Benigna • • • • • • • • Língua Saburrosa Anquiloglossia • • • • Petéquias Bucais Hematoma ou Cisto de Erupção Freio teto labial superior persistente 21 • • • • • • • Localização /características Fissuras, sulcos e pregas com profundidade relativa Sulco central longitudinal de onde partem inúmeros sulcos laterais com aspecto arboriforme Fácil acúmulo de biofilme na superfície da língua Sensível quando inflamada Despapilização do dorso da língua Aspecto vermelho brilhante Áreas irregulares rosa-avermelhadas com perdas de papilas filiformes Bem definidas, levemente elevadas. Áreas afetadas variam de um dia para o outro; mapa que muda continuamente Pode ocorrer perda do paladar e sensibilidade a cítricos e picantes Etiologia desconhecida, podendo ser hereditária Condição benigna transitória, comum em indivíduos com baixa resistência sistêmica Acúmulo de biofilme nas papilas filiformes – aspecto esbranquiçado ou amarelado Freio lingual curto ou inserção do freio na ponta da língua ou Freio lingual longo com inserção deltoide na mandíbula Pequenas manchas vermelhas, com 1 a 4 mm de diâmetro Podem aparecer em qualquer área da mucosa bucal, incluindo o palato Cisto associado à erupção dos dentes decíduos ou permanentes Tumefação translúcida, regular, indolor Se ocorrer sangramento no espaço cístico, apresentará coloração negra-azulada (hematoma) No recém-nascido a inserção palatina é normal Nova inserção vestibular se definirá com erupção dentária e crescimento ósseo Diagnóstico diferencial e observações Conduta • • • Limpeza com gaze e água oxigenada 3% diluída na proporção 1:4, de 3 a 4 vezes ao dia • Escovação lingual VASA 2%, aplicar com cotonete 3 a 4 vezes ao dia, em caso de 21 sensibilidade • Língua geográfica Relativo à origem (avitaminoses B, discrasia sanguínea, etc) • Encaminhar para o médico • Limpeza com gaze e água oxigenada 3% diluída na proporção 1:4, de • 3 a 4 vezes ao dia, caso esteja associada à língua saburrosa • Em caso de sensibilidade, aplicar VASA 2%, 3 a 4 ao vezes ao dia • Orientar quanto a controle de dieta condimentada e ácida em caso de sensibilidade Candidíase Língua fissurada Liquen plano Limpeza do dorso da língua com gaze e água oxigenada 3% diluída na • proporção 1:4, de 3 a 4 vezes ao dia • Escovação do dorso da língua Frenectomia somente nos casos abaixo relacionados: o Dificuldade de amamentação no recém-nato o Deglutição dificultada o Alteração da fala o Alterações periodontais • Não requer tratamento específico • Procurar estabelecer diagnóstico diferencial • • Língua geográfica Candidíase • • Pode se romper sozinho. Massagem digital ajuda a romper. • Incisão para drenagem, somente se houver dificuldade na alimentação. • Geralmente não é preciso anestesiar Cistos da lâmina dentária Hemangioma • Acompanhamento: Diagnóstico da indicação cirúrgica após a erupção dos caninos permanentes Cirurgia no bebê somente quando impossibilita amamentação • • • • • • • • VASA 2%: 600mg de violeta de genciana, 1,5 mL de lidocaína 2% ,sem vasoconstritor, 0,5 mL de sacarina e 30 mL de água q.s.p. Infecção por mononucleose Desordens sanguíneas (púrpura trombocitopênica) Decorrentes de vômito ou tosse Pode indicar abuso da criança 123 Quadro 16 - Manifestações Congênitas e de Desenvolvimento Síntese - Continuação Patologia Localização /características Diagnóstico diferencial e observações Conduta Alívio sintomático: • Limpeza da boca com água oxigenada 3% diluída na proporção 1:4 ou com água boricada, 3 a 4 vezes ao dia • Aplicação tópica de uma das opções abaixo: o VASA 2% antes das refeições e após a limpeza o Camomila 10% em orobase após a limpeza • Analgésicos: paracetamol ou dipirona 1 gota/Kg de peso corporal de 6 em 6 horas Considerações • A higiene bucal diária, feita em casa, é de extrema importância para o controle de infecção secundária por bactérias ou fungos • No caso de infecção secundária pode-se usar VASA 2% (30 mL) adicionando-se uma cápsula tetraciclina 500 mg • Recomendar dieta pastosa ou líquida e fria (chá, leite, sucos, gelatina, iogurte, sorvete, mingau, etc.) • Hidratação adequada • Alívio sintomático Lesões intrabucais: • Limpeza da boca com água oxigenada 3% diluída na proporção 1:4 ou com água boricada 3 a 4 vezes ao dia • Aplicação tópica de VASA 2% antes das refeições e após a limpeza Lesões extrabucais: • 1ª opção: VASA 2% • 2ª opção: Aciclovir tópico (creme 5%), de preferência logo no início dos sintomas. Aplicar 5 vezes ao dia, por 5 dias, podendo ser prolongado por até 10 dias, caso não ocorra a cicatrização nesse período • Evitar o contágio através da desinfecção de objetos contaminados, fervendo chupetas, mamadeiras ou outros por 5 minutos, diariamente • • • Gengivo Estomatite Herpética Aguda • • • • • Estomatite Herpética Recidivante e Herpes • Primeira infecção herpética (herpes vírus tipo I) Maioria dos casos ocorre até 5 anos de idade, com pico de incidência entre 2 e 3 anos. Raramente antes dos 6 meses de vida devido a anticorpos circulantes da mãe Primeiras 24 horas: Mal-estar geral, febre alta, cefaleia, irritabilidade, perda de apetite, linfadenopatia cervical anterior Após 24 a 36 horas: Gengiva inchada, salivação intensa, dor, formação de múltiplas vesículas na gengiva, palato, lábios, língua. Em poucas horas, vesículas se rompem e formam úlceras dolorosas, cobertas por pseudomembrana e com margem eritematosa Duração de 6 a 16 dias, com desconforto maior entre terceiro e sétimo dias Forma atenuada da doença primária Lesões intrabucais: o Localizadas na mucosa firmemente aderida ao periósteo o Raramente aparecem na mucosa mole, mais comum no palato, gengiva inserida e crista alveolar o Erosões únicas ou múltiplas, cobertas por membrana acinzentada o Margens circunscritas e dolorosas Lesões extrabucais: o Vesículas pequenas em grupo o Quando coalescem formam lesões maiores o Crostas acastanhadas, mais dolorosas no início • Gengivite de Erupção • • Gengivite temporária associada à erupção Em dentes posteriores pode evoluir para pericoronarite Quadro 17 - Lesões Bucais Patologias mais Frequentes - Síntese • • • • • • • • • • Limpeza com água oxigenada 3% diluída na proporção de 1:4 e VASA 2%, 3 a 4 vezes ao dia • Pericoronarite: Irrigação com água oxigenada 3% diluída na proporção de 1:4 Analgésicos: Paracetamol ou dipirona 1 gota/Kg de peso corporal, de 6 em 6 horas GUNA Não usar penicilina: fixa o vírus e prolonga a doença Tetraciclina não pigmentará dentes em desenvolvimento Não prescrever corticosteroides Afta recidivante Impetigo Varicela Alergia alimentar Desaparece após a erupção do dente 124 Patologia Localização /características Conduta • Candidíase Oral (Candidose, Sapinho, Monilíase) • • • • • • • Infecção oportunista principalmente por Cândida albicans Fatores que contribuem para aparecimento: Uso prolongado de antibióticos, imunossupressão (HIV, etc.), Diabetes Mellitus, candidíase neonatal por contaminação no trato vaginal durante o parto normal A candidíase neonatal em geral não é notada nas primeiras semanas de vida. Bebê mostra dificuldade de mamar e irritação Forma mais comum em bebês: Pseudomembranosa com placas brancas ou amareladas, macias, que são facilmente removidas deixando a superfície vermelha e com ardência Localização: Mucosa jugal, labial, língua e palato Indagar à mãe sobre presença de lesões nas suas mamas ou nas • nádegas do bebê. Neste caso, encaminhar para médico • • • Queilite Angular • • • • • Fissuras radiais profundas nas comissuras labiais que ulceram e sangram • Crosta exsudativa Sensação de ardência e secura Mais comum em respiradores bucais e crianças que molham o lábio com frequência Quando se apresenta de forma recorrente, pode estar associada à carência de vitamina B12 • Podem deixar cicatrizes Limpeza da boca: Utilizar pano limpo ou gaze enrolada no dedo, embebida em água fervida ou filtrada ou em solução de bicarbonato de sódio (1 colher de café rasa diluída em 1 copo de água filtrada ou fervida), 3 a 4 vezes ao dia, para a retirada do excesso de crostas Uso de antifúngicos tópicos: o 1ª opção: Nistatina suspensão oral: (Micostatin 100.000 UI/mL, frasco com 50 mL). Embeber gaze • com a solução e realizar a limpeza da boca, 3 a 4 • vezes ao dia, por 7 dias a 10 dias. O excesso pode • ser deglutido o 2ª opção: Miconazol (Daktarin® gel oral 2%, frasco com 40g), após a limpeza, aplicar com gaze enrolada no dedo, quatro vezes ao dia, de 6 em 6 horas, por 10 dias o 3ª opção: VASA 2%, 3 a 4 vezes ao dia até a cura o 4ª opção: Camomila 10% em orobase, 3 a 4 vezes ao dia Desinfecção de objetos contaminados: Ferver chupetas, bicos e talheres por 5 minutos diariamente, até a cura e acondicionar em ambiente seco e fechado Higiene de mamilo e aréola com água filtrada ou fervida, utilizando gaze ou pano limpo Aplicar no mamilo e aréola Nistatina solução oral. Realizar antes e após as mamadas por 07 dias em média Tratamento é sintomático, com uma das opções abaixo: • Lubrificar lábios com vaselina ou manteiga de cacau VASA 2%, 3 a 4 vezes ao dia Antifúngico local (Nistatina) por 7 dias a 10 dias • Camomila 10% em orobase, 2 vezes ao dia, por 14 dias Em caso de recidivas, encaminhar para avaliação médica o o o o Quadro 17 - Lesões Bucais Patologias mais Frequentes - Síntese - Continuação Diagnóstico Diferencial e Observações Biofilme dental GEHA Queimadura Úlcera herpética secundária Impetigo 125 Patologia Localização /características • Impetigo Contagioso • • • Lesões vesículo bolhosas que se rompem formando crostas de cor âmbar ou cor de mel Localização: Face, região peribucal e lábio. Mucosa bucal raramente é afetada Etiologia: Stafilococos áureos Podem se infectar secundariamente por Estreptococos • • • • • • • Escarlatina • • • • Diagnóstico Diferencial Conduta Agente etiológico: Estreptococos beta-hemolíticos que produzem toxina eritrogênica Diagnóstico estabelecido após 2 a 3 dias, quando surge exantema cutâneo característico, difuso, escarlate, brilhante, particularmente nas pregas cutâneas Lesões bucais: Estomatite escarlatínica, com lesões • inflamatórias no palato e tonsilas Língua em morango, papilas fungiformes edemaciadas e hiperêmicas, projetadas como saliências avermelhadas e recobertas com camada esbranquiçada Numa fase posterior, a cobertura esbranquiçada desaparece, mostrando uma língua intensamente vermelha, brilhante e lisa, onde se destacam as papilas fungiformes, edemaciadas e hiperêmicas, língua em framboesa Raramente acomete crianças abaixo de 7 anos de idade Recomendar lavar com água e sabão Banho com permanganato de potássio (1 comprimido para 4 litros de água), 2 a 3 vezes ao dia Aplicar antibiótico tópico, 2 a 3 vezes ao dia (neomicina ou bacitracina) Casos mais graves, com lesões disseminadas: Encaminhamento médico Orientar para separar os pertences pessoais, como: Bucha de banho, sabonete, toalhas, roupas de cama, etc. Encaminhamento para avaliação médica Quadro 17 - Lesões Bucais Patologias Mais Frequentes - Síntese - Continuação • • • • Herpes labial Alergia de contato Varicela Queilite angular 126 Doenças Etiologia • • Sarampo Paramixovírus (vírus RNA) • • • • • Varicela Vírus Varicela – Zoster • • Manifestações clínicas Incubação de 7 a 10 dias Sinais prodrômicos22 (6 dias): Febre, mal estar, coriza, dor nos olhos, conjuntivite, fotofobia, tosse, pequenos nódulos no pescoço, podendo haver reação dolorosa no abdômen Lesões bucais patognomônicas (manchas de Koplik): • Máculas irregulares pequenas, branco azuladas, com centro necrótico e halo avermelhado, que surgem na mucosa, na altura dos pré-molares. Aparecem nas últimas 24 horas do período prodrômico Período exantemático: Piora dos sintomas, desânimo, exantema típico céfalo-caudal, que aparece atrás das orelhas e na face, depois no tronco e persistem por 5 a 6 dias Período de convalescença ou descamação furfurácea – manchas se tornam escuras e descamação fina, lembrando farinha Transmissão por gotículas de saliva ou por contato com lesões. Incubação de 10 a 21 dias Período de contágio: 2 dias antes da erupção das • vesículas e até 5 dias após o aparecimento das mesmas Período prodrômico: Cefaleia, nasofaringite, anorexia e febre, seguida de erupções máculo-papulares ou vesiculares da pele, que começam no tronco e disseminam-se para face, membros superiores e inferiores. Vesículas evoluem para pústulas que se rompem e formam crostas Vesículas intrabucais se rompem formando úlceras com aspecto de aftas Quadro 18 - Lesões Bucais Relacionadas a Enfermidades Sistêmicas - Síntese 22 Sinais que antecedem a manifestação clínica da doença Localização Diagnóstico Diferencial Manchas de Koplik: Mucosa jugal e conduto de Stenon (saída do ducto parotídeo) Bochecha, • língua, gengiva, palato, mucosa da faringe e mucosa jugal Estomatite herpética Tratamento • Avaliação médica imediata. Podem ocorrer complicações como pneumonia, encefalite,otites médias, laringites, diarreias • Avaliação médica Contraindicação: AAS • 127 Doenças Herpangina Rubéola Caxumba ou Parotidite Etiologia Manifestações clínicas Fase aguda: Dor de garganta, disfagia, febre baixa e renitente Ulcerações com 2 a 4 mm de diâmetro que são precedidas de vesículas não muito dolorosas • As tonsilas se tornam edemaciadas e congestionadas. • Podem aparecer máculas no palato Incubação de 2 a 3 semanas Sinais prodrômicos: Cefaleia, anorexia, hipertermia, • náuseas, vômitos e dor subauricular Tumefação uni ou bilateral das glândulas salivares, em geral da parótida, abertura do ducto parotídeo pode estar edemaciada • Vírus do grupo Coxsackie A e • B • Togavírus • Paramixovírus • • • • • Diagnóstico Localização Diferencial Pilares anteriores das fauces, paredes posteriores da Herpes simples faringe, mucosa jugal, língua, às vezes no palato mole e duro e orofaringe Mucosa bucal, tonsilas e palato Tratamento Em caso de dor VASA 2% ou aciclovir tópico Avaliação médica Abscesso de Repouso, nutrição Glândulas origem dentária adequada, salivares, avaliação médica especialmente a parótida Quadro 18 - Lesões Bucais Relacionadas a Enfermidades Sistêmicas - Síntese - Continuação 128 3.1.10 Urgências Odontológicas em Crianças de 0 a 36 Meses 3.1.10.1 Traumatismos na Dentição Decídua Os traumatismos dentários podem ser divididos em lesões de tecidos periodontais e lesões de tecidos duros dentários e da polpa, conforme descrito abaixo. Lesões dos tecidos periodontais • Concussão/Comoção • Subluxação • Luxação intrusiva • Luxação extrusiva • Luxação lateral • Avulsão ou exarticulação Lesões dos tecidos duros dentários e da polpa • Trinco de esmalte • Fratura de esmalte • Fratura de esmalte - dentina • Fratura de esmalte - dentina - polpa • Fratura de esmalte - dentina - cemento • Fratura de esmalte - dentina - polpa - cemento • Fratura de raiz 129 Tipo de trauma • Concussão ou comoção • • Subluxação 23 Descrição • • Lesão das estruturas de sustentação do dente, sem mobilidade e/ou deslocamento anormal, mas com evidente reação à percussão Causa hemorragia e edema no ligamento periodontal, sem haver o rompimento de fibras, podendo haver dano ao suprimento neurovascular da polpa Lesão das estruturas de sustentação, com afrouxamento anormal, sem deslocamento do dente O sinal clínico comum é o sangramento do sulco gengival devido ao rompimento de algumas fibras do ligamento periodontal Dente sensível à percussão e às forças oclusais Tratamento imediato • • • • • • • • • Limpeza com gaze + H2O2 3% diluída 1:4 Remoção de hábitos de sucção Alimentação pastosa por 72 horas Acompanhamento 24 Solicitar RX Esplintagem rígida com fio de aço 0,5 mm, fio de latão ou resina por 15 a 20 dias Remoção de hábitos de sucção (chupeta, mamadeira, dedo) Alimentação pastosa por 72 horas 24 Solicitar RX Tratamento tardio • Alertar responsável sobre possibilidade de escurecimento do dente e aparecimento de abscesso • Dente com vitalidade pode evoluir para degeneração cálcica (coloração amarelada), reabsorção interna (mancha rosa e tecido de granulação) reabsorção externa, necrose (perceptível através de fistula, mobilidade, edema ou abscesso) • As alterações podem acontecer até 2 anos após o trauma • Retorno em 15 dias • Controle radiográfico a cada 3 meses Com mobilidade: • Esplintagem rígida com fio de aço por 15 a 20 dias 24 • Solicitar RX • Alertar responsável sobre possibilidade de escurecimento do dente e aparecimento de abscesso • Retorno em 15 dias Sem mobilidade: • Observação 24 • Solicitar RX • Controle radiográfico a cada 3 meses • • • • Observação e acompanhamento Remoção de hábitos de sucção Alimentação pastosa por 72 horas 24 Solicitar RX Quadro 19 - Lesões do Tecido Periodontal - Síntese Adaptado de Boer et al, 2004. 23 24 Observações Imediato - Até aproximadamente 3 a 4 horas depois de ocorrido o traumatismo. Técnica de Mankopf para crianças com até 2 anos e Randoll para maiores de 2 anos 130 Tipo de trauma Descrição • Luxação intrusiva • • Deslocamento do dente para dentro do osso alveolar, no sentido de seu longo eixo Clinicamente pode-se observar desde uma posição discreta de infraoclusão até o total desaparecimento do dente. Se o dente estiver firmemente impactado, o teste de percussão mostrará um som metálico Quando esta lesão se apresenta com fratura óssea da cavidade alveolar, clinicamente a gengiva pode se apresentar elevada Tratamento imediato Verificar a direção da intrusão para determinar o tratamento: • Ruptura da tábua óssea com exposição da raiz por vestibular: Exodontia • Deslocamento em direção ao germe do dente permanente: Exodontia • Ruptura da tábua óssea sem exposição da raiz: Aguardar a reerupção + medicação • Remoção de hábitos de sucção Tratamento tardio Observações • • Idem tratament o imediato • • • • • Luxação extrusiva • Deslocamento parcial do dente no sentido axial, para fora do alvéolo • Reposição do dente + esplintagem com fio de aço 0,5 mm, fio de latão ou resina (30 a 45 dias) + medicação • RX (quando for possível) + exodontia Quadro 19 - Lesões do Tecido Periodontal - Síntese - Continuação Adaptado de Boer et al, 2004. • • • Medicação: o Antibioticoterapia o Anti-inflamatório ® o Vitamina C (Ex: CETIVA AE 1 gota por Kg de peso, 2 vezes ao dia, por 7 dias) Controle radiográfico a cada 3 meses Reerupção poderá ocorrer entre 2 semanas a meses Se sinais de reerupção não estiverem presentes em até 2 meses, o prognóstico será desfavorável Possibilidade de anquilose Medicação: o Antibioticoterapia o Anti-inflamatório ® o Vitamina C (Ex: CETIVA AE 1 gota por Kg de peso, 2 vezes ao dia, por 7 dias) Controle radiográfico a cada 3 meses Alertar responsável sobre possibilidade de escurecimento do dente e de necrose Após 20 ou 30 dias pode ser necessária a endodontia ou exodontia 131 Tipo de trauma Luxação lateral Descrição • O dente se desloca em direção diferente à axial, com ou sem fratura do osso alveolar e podendo ocorrer intrusão ou extrusão do elemento dentário Tratamento imediato • • Reposicionamento do dente (quando possível) + esplintagem (30 a 45 dias) + medicação Ou exodontia Tratamento tardio • Exodontia Observacoes • Quando a luxação for mínima e não interferir na oclusão, o tratamento de escolha é a observação • Caso haja interferência, proceder leve desgaste incisal do elemento antagonista (alívio oclusal) com broca de alta rotação • Medicação: o Antibioticoterapia o Anti-inflamatório o Vitamina C (Ex: CETIVA ® AE 1 gota por Kg de peso, 2 vezes ao dia, por 7 dias) Se a avulsão ocorrer antes da erupção dos caninos decíduos possivelmente haverá perda de espaço na região anterior Se a avulsão ocorrer após a erupção de caninos decíduos, geralmente não ocorre perda de espaço, mas sim, problemas estéticos e fonéticos Para ambos os casos indicar mantenedor de espaço ou prótese • Avulsão • Deslocamento completo do dente para fora do alvéolo • • • Não reimplantar Suturar, se necessário Verificar a possibilidade de instalação de prótese • • Suturar, se necessário Verificar a possibilidade de instalação de prótese • • Quadro 19 - Lesões do Tecido Periodontal - Síntese - Continuação Adaptado de Boer et al, 2004 132 Tipo de trauma Descrição Tratamento imediato Tratamento tardio Observações • Fratura incompleta do esmalte • Fratura sem perda de substância dentária (trinco no esmalte), podendo ser detectada através da incidência de luz (feixe de luz incidindo paralelamente ao eixo vertical do dente) • Limpeza com H2O2 3% diluída 1:4 + NaF 0,2% • Solicitar RX • Limpeza com H2O2 3% diluída 1:4 + NaF 0,2% • Solicitar RX 25 25 • • • Fratura de esmalte ou Fratura não complicada da coroa • Fratura com perda estrutura dentária que limita ao esmalte de se • • Pequenas fraturas: Remover bordas cortantes com discos abrasivos ou broca diamantada em baixa rotação e refrigerada + NaF 0,2% • Fraturas maiores: Restauração com resina • Solicitar RX 25 • Pequenas fraturas: Remover bordas cortantes com discos abrasivos ou broca diamantada em baixa rotação refrigerada + NaF 0,2% Fraturas maiores: Restauração com resina Solicitar RX Quadro 20 - Lesões dos Tecidos Duros Dentários e da Polpa - Síntese Adaptado de Boer et al, 2004 25 Técnica de Mankopf para crianças com até 2 anos e Randoll para maiores de 2 anos. 25 • • • Primeiro retorno poderá ocorrer após uma semana, com o responsável já com a radiografia em mãos Próximo retorno poderá ser realizado na consulta de manutenção do bebê Alertar responsável sobre possibilidade de escurecimento do dente e de necrose pulpar Primeiro retorno após uma semana, com exame radiográfico para avaliação Próximo retorno em 4 semanas e acompanhamento rotineiro Alertar responsável sobre a possibilidade de escurecimento do dente e de necrose pulpar 133 Tipo de trauma Descrição Tratamento imediato Tratamento tardio Observações • • Fratura de esmalte e dentina ou Fratura não complicada da coroa • Fratura que atinge o esmalte e a dentina sem atingir a polpa • • Próxima à polpa: Proteção dentinária com cimento de hidróxido de cálcio ou CIV + restauração + acompanhamento Distante da Restauração acompanhamento Solicitar RX • Com dor: Pulpectomia + restauração • Sem dor: Proteção com cimento de hidróxido de cálcio ou CIV (quando próxima da polpa) + restauração polpa: + 25 • • • • • Fratura de esmalte, dentina e polpa ou Fratura complicada da coroa • • Fratura da coroa, comprometendo o esmalte, a dentina e estendendo-se até a polpa Formação radicular incompleta: Criança com + ou – 2 anos de idade: Pulpotomia alta (com broca esférica alta rotação, retira-se 2 a 3 mm da polpa + pasta Ca(OH)2 p.a + CIV + restauração de resina • Formação radicular completa: Criança com mais de 2 anos de idade: Pulpectomia + restauração de resina • Solicitar RX • 25 RX Pulpectomia Restauração + + • • • • 25 Quadro 20 - Lesões dos Tecidos Duros Dentários e da Polpa - Síntese - Continuação Adaptado de Boer et al, 2004 No caso de lesão aos tecidos de sustentação associada ou falta de cooperação da criança, uma restauração temporária pode ser indicada, visando-se proteger canalículos dentinários, porém sem preocupação estética Alertar para a possibilidade de necrose pulpar (abscesso) Ao primeiro sinal de dor, realizar a pulpectomia Primeiro retorno após uma semana, com exame radiográfico para avaliação Próximo retorno em 4 semanas Controle radiográfico a cada 3 meses Alertar para a possibilidade de necrose pulpar (abscesso) Primeiro retorno após uma semana, com exame radiográfico para avaliação Próximo retorno em 4 semanas Controle radiográfico a cada 3 meses 134 Tipo de trauma Fratura de esmalte, dentina e cemento Descrição • • Fratura esmalte, dentina, polpa e cemento • Fratura radicular Fratura que afeta esmalte, dentina e cemento, sem expor a polpa Fratura oblíqua, longitudinal, abrangendo esmalte, dentina, cemento com envolvimento da polpa. É uma fratura rara e de difícil tratamento conservador As fraturas radiculares que mais ocorrem na dentadura decídua são as do tipo I (1/3 apical) e II (1/3 médio), sendo difícil encontrar a do tipo III (1/3 cervical) Tratamento imediato Tratamento tardio • Remanescente recuperável: Restauração • Remanescente recuperável: Restauração • Remanescente irrecuperável: Exodontia + prótese • Remanescente irrecuperável: Exodontia + prótese • Remanescente recuperável: Pulpectomia + restauração • Remanescente recuperável: Pulpectomia + restauração • Remanescente irrecuperável: Exodontia + prótese • Remanescente irrecuperável: Exodontia + prótese • • 1/3 apical ou 1/3 médio: Esplintagem rígida (fio aço 0,5 ou 0,6) de 6 a 8 meses e 25 solicitar RX 1/3 cervical: Exodontia • Pouca mobilidade: 25 Esplintagem rígida + RX • Muita Exodontia mobilidade: Quadro 20 - Lesões dos Tecidos Duros Dentários e da Polpa - Síntese - Continuação Adaptado de Boer et al, 2004 Observações • No caso de exodontia, verificar erupção do canino e necessidade de prótese ou mantenedor de espaço • No caso de exodontia, verificar erupção do canino e necessidade de prótese ou mantenedor de espaço • Fratura do terço apical: Fragmento normalmente é reabsorvido, raramente ocorrendo complicação pulpar nos dentes esplintados Controle radiográfico a cada 3 meses Orientar responsáveis quanto às possíveis complicações pósoperatórias • • 135 4.1.10.2 Profilaxia do tétano no traumatismo dentário A imunização contra o tétano é feita através da vacina tetravalente (DPT + Hib), administrada em três doses iniciais, quando o bebê apresentar 2, 4, e 6 meses de idade. Posteriormente, faz-se um reforço aos 15 meses com a tríplice bacteriana (DPT). Os reforços seguintes contra difteria e tétano (dupla adulto ou DT) devem ser realizados a cada 10 anos, antecipado para cinco anos em caso de gravidez ou acidentes com lesões graves. Caso a última dose de vacina tenha sido tomada há menos de 5 anos, não há necessidade de reforço. No caso de haver decorrido mais de 5 anos da última vacina, recomenda-se a dose de reforço. Para pessoas não imunizadas recomenda-se a aplicação da vacina. 136 3.1.11 Erupção Dentária 3.1.11.1 Cronologia e desenvolvimento dos dentes decíduos O padrão normal de erupção dos primeiros dentes decíduos (geralmente os incisivos centrais inferiores) compreende um período que se inicia ao redor dos 4 meses de vida até aproximadamente 1 ano e 3 meses de idade. A partir de 1 ano e 4 meses, se a criança ainda não apresentar nenhum dente erupcionado, é recomendável solicitar uma radiografia para pesquisa de possíveis alterações. Independentemente dos primeiros dentes erupcionarem mais cedo ou mais tarde, a dentição decídua, em geral se completa por volta dos 36 meses. O Quadro 22 apresenta a a idade média de erupção e esfoliação dentária para a dentição decídua. Dente Erupção Raiz completa I 7 ½ meses 1 ½ anos Arco II 9 meses 2 anos Superior III 18 meses 3 ¼ anos IV 14 meses 2 ½ anos V 24 meses 3 anos I 6 meses 1 ½ anos II 7 meses 1 ½ anos Arco III 16 meses 3 ½ anos Inferior IV 12 meses 2 ¼ anos V 20 meses 3 anos Quadro 22 - Sequência de eupção - Dentição decídua Esfoliação 7 - 8 anos 8 - 9 anos 11 - 12 anos 10 - 11 anos 10 - 12 anos 6 - 7 anos 7 - 8 anos 9 - 10 anos 10 - 12 anos 11 - 12 anos Erupção por grupos dentários • o 6 º ao 12º mês - todos os Incisivos o 12º ao 16º mês - primeiros molares decíduos o 16º ao 20º mês - caninos o 20º ao 30º mês - segundos molares decíduos 3.1.11.2 Erupção dos dentes decíduos e manifestações orgânicas: Odontíase A existência de correlação entre a erupção dos dentes decíduos e a ocorrência de manifestações orgânicas (odontíase, erupção difícil) ainda é motivo de controvérsia. Sobre este assunto existem duas vertentes de pensamento. A primeira propõe que a erupção é um processo fisiológico e que a associação com diarreia, febre, falta de apetite, erupção cutânea, corisa, aumento de salivação e outras alterações não passa de coincidência. Na 137 segunda vertente, acredita-se haver relação evidente entre sintomas locais e sistêmicos, da mesma forma que pode ocorrer com o parto, menstruação e a digestão, que também são processos fisiológicos, podendo o organismo perder seu ritmo normal e manifestar desequilíbrio local ou sistêmico. Os dentes decíduos podem erupcionar sem nenhum sintoma, porém em pelo menos dois terços das crianças observam-ser sinais e sintomas que podem estar relacionados a este processo. Apesar da controvérsia, tem-se observado uma mudança de atitude dos profissionais da área médica quanto a este assunto, no sentido de se admitir que alguns distúrbios leves podem ocorrer. Os sinais e sintomas mais observados durante a erupção dentária estão relatados no Quadro 23. Sinais e sintomas associados à erupção dentária Sistêmicas Locais • Irritabilidade, impaciência • Eritema, edema e prurido gengival • Alterações no sono, que pode se • Eritema da face (muitas vezes, tornar agitado devido à presença somente uma das bochechas de dor local apresentase vermelha) • Aumento da temperatura • Irritação local traduzida pelo ato de morder e coçar • Diarréia • Hiperemia da mucosa bucal • Inapetência • Salivação excessiva • Diminuição da resistência • Tumefações gengivais sistêmica • Coriza • Cistos de erupção • Tosse • Úlceras • Eritema cutâneo • Aumento da sucção digital Quadro 23 - Sinais e sintomas da erupção dentária • Manejo O tratamento é sintomático e pode envolver uma série de medidas tópicas e, se necessário, sistêmicas, descritas a seguir. Tratamento não farmacológico Com o intuito de minimizar ou eliminar sintomas pode-se: • Aplicar mordedor gelado, pois o frio e pressão dão sensação de alívio. Preferir mordedores rígidos aos que possuem líquido dentro pelo risco destes últimos se romperem e a criança ingerir o conteúdo do mesmo 138 • Oferecer alimentos duros e frios como: Palitos de pepino, legumes cozidos frios, pedaços de frutas (ex: Banana gelada) • Realizar pressão digital (dedo envolto em gaze umedecida) ou com a parte convexa de uma colherinha de café • Cortar as unhas da criança, para evitar contaminação • Desinfetar diariamente chupeta, mordedor, brinquedos, etc, com uma solução de hipoclorito de sódio a 1% (30 minutos) ou fervura por 5 minutos • Aumentar o consumo de líquidos, oferecendo bebidas frias • Confortar a criança Tratamento farmacológico Agentes tópicos • Produtos à base de camomila o Infusão de chá de camomila concentrado, aplicado com fralda durante a massagem o Gel para massagem, à base de camomila (camomila em orobase), 2 a 4 vezes ao dia • Gel anestésico: No máximo 3 vezes ao dia em mucosa seca, em pequena quantidade para evitar intoxicação por deglutição acidental. Ex: Gingilone® Medicação sistêmica • Analgésico (caso necessário): Paracetamol, de 8 em 8 horas, na dose preconizada para a idade Consideração O aparecimento de sintomas exacerbados como estado febril maior (igual ou acima de 38 graus), quadro de diarreia intensa, vômito e erupção cutânea podem estar associados com alguma doença sistêmica. Neste caso, encaminhar a criança ao médico. 139 3.1.12 Transmissibilidade de Cárie As bactérias causadoras de cárie são normalmente transmitidas para a criança através do contato com a saliva das pessoas com quem mais convive diariamente como mãe ou cuidador(a), irmãos e demais pessoas da família. Em cerca de 70% dos casos, as mães são as transmissoras mais comuns das bactérias da cárie, reforçando a necessidade de atenção odontológica às mesmas através do Pré-Natal Odontológico. Para os demais membros da família, verificar a possibilidade de controle e prevenção de cárie. Hábitos que levem ao contato da criança com a saliva são formas comuns de transmissão das bactérias da cárie e podem ser evitados através de aconselhamento prévio. Assim, é importante: • Evitar o uso compartilhado de copos e talheres • Evitar o contato da boca da mãe ou cuidador com a comida do bebê • Evitar beijar o bebê na boca (medida também importante para prevenção de transmissão de outras doenças como herpes, resfriados, etc.) • Não “limpar” a chupeta do bebê com a boca após esta ter caído no chão • Evitar o uso de brinquedos contaminados com a saliva de outras crianças O aumento da resistência da criança à colonização de bactérias cariogênicas ocorrerá após a erupção dos dentes, através do uso de fluoretos, conforme descrito anteriormente neste capítulo. 3.1.13 Interação entre Odontologia para Crianças de 0 a 36 meses e USF A odontologia para crianças de 0 a 36 meses está intimamente integrada com outras atividades da USF, principalmente com a puericultura e a vacinação, portanto o Cirurgião-Dentista tem a função de conscientizar toda a equipe da USF (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, ACS e outros) da importância da atenção precoce na área odontológica e solicitar a estes profissionais que colaborem encaminhando os bebês e orientando aos pais para que procurem o serviço de odontologia existente na USF. Este trabalho poderá ser feito em reuniões com toda a equipe ou individualmente com cada profissional. 140 3.1.14 Integração entre as Clínicas Odontológicas das USF e a Clínica de Bebês da UEL Esta integração se dá de uma maneira global, onde ocorre um intercâmbio de informações e conhecimentos, bem como de encaminhamentos para atendimentos especializados que não são disponíveis nas USF (exames radiográficos em crianças menores de 5 anos, trabalhos protéticos, etc.) e encaminhamento de pacientes que não permitiram o tratamento (NPT). Os critérios de encaminhamento de paciente NPT serão estabelecidos entre a Gerência de Odontologia e Direção da Bebê-Clínica. Por sua vez, as Clínicas Odontológicas municipais darão continuidade ao tratamento das crianças que aos 5 anos completos deixaram de ser atendidas pela Bebê Clínica. Fluxograma 5 - Atenção odontológica ao bebê Criança até 36 meses da área de abrangência da USF • • • Demanda espontânea • Puericultura • Vacinação • Pediatria Pré-Natal Odontológico • Visita Domiciliar Maternidade Municipal Reunião inicial Adesão do bebê ao programa Atenção individual Baixo risco de cárie Procedimentos clínicos Anamnese Exame clínico Educação em saúde Procedimentos caseiros Limpeza ou escovação Aplicação diária de fluoreto de sódio 0,02% Controle de dieta Manutenção Retorno: 3 meses Alto risco de cárie Procedimentos clínicos Anamnese Exame clinico Educação em saúde Tratamento de choque Procedimentos caseiros Limpeza ou escovação Aplicação diária de fluoreto de sódio 0,02% Controle: Aleitamento noturno, dieta e transmissibilidade de cárie Manutenção Retornos mensais até a reversão do risco Após reversão, retornos em 3 meses 141 143 3.1.15 Fonoaudiologia Associada à Primeira Infância Rosangela Del Anhol Azevedo A fonoaudiologia tem como objetivo promover o desenvolvimento da comunicação, impedir, interromper e reabilitar as alterações da voz, fala, audição e linguagem. As desordens fonoaudiológicas, quando não diagnosticadas e tratadas precocemente, trazem sequelas sociais relevantes e por vezes incapacitantes. As crianças com faixa etária de 0 a 4 anos e 11 meses são atendidas atualmente no Pronto Atendimento Infantil (PAI) por meio de encaminhamentos (agendar por telefone), entretanto as patologias associadas a tratamentos ortodônticos não são tratadas por este serviço. 3.1.15.1 Tópicos a serem observados • Audição Verificar se o RN realizou o teste da orelhinha e caso não tenha sido feito, encaminhá-lo. Além disso, recomenda-se que toda criança realize exame audiométrico anualmente. • Desenvolvimento da linguagem Verificar a comunicação oral através da conversa espontânea, observando a ocorrência de distúrbios articulatórios, alteração vocal (rouquidão), gagueira, dificuldade de compreensão, dificuldade para ouvir e ausência de linguagem. Caso verifique algumas destas alterações encaminhar a criança para o setor de fonoaudiologia (PAI). 144 O Quadro 21 descreve resumidamente as estapas de desenvolvimento da linguagem visando facilitar a avaliação pelo profissional de saúde. Idade 0 a 6 meses 6 meses a 1 ano 1 a 2 anos 2 a 3 anos 3 a 4 anos Características Emite sons guturais, atenção ao som, localização sonora (em cimaembaixo-lados) Balbucio e surgimento das primeiras sílabas Compreensão de frases simples Surgem a primeiras palavras, frases simples, boa compreensão Amplia a complexidade estrutural da frase, vocabulário bem amplo Boa inteligibilidade de fala e sistema linguístico em potencial Quadro 21- Etapas de desenvolvimento da linguagem • Órgãos fonoarticulatórios Verificar a morfologia, tonicidade muscular e motricidade oral • Respiração Observar se a respiração é ofegante, bucal ou nasal, respeitando a faixa etária de um ano, na qual a respiração pode se apresentar de modo misto devido ao processo de maturação. Etiologia mais comum de problemas respiratórios são os pólipos nasais, desvio de septo, alergia, rinite, sinusite, hábito de manter a boca aberta, amigdalite, alterações de arcada dentária. • Reflexos o De busca: Tem como função a procura do alimento (peito ou mamadeira). Para verificar este reflexo realize toques na lateral da região perioral, superior e inferior. Como resposta, o RN faz abertura de boca, movimentos da cabeça em direção a área estimulada, assim como lábio e língua. Este reflexo é inibido por volta dos três meses de vida e a sua persistência deve ser investigada o De sucção: Seu objetivo é retirar o leite do peito ou mamadeira. O ato de sucção é verificado colocando o dedo na parte anterior da língua e palato duro. Este reflexo é inibido por volta do 4° mês, quando pode ser introduzida a colher. A ausência ou a persistência deste reflexo deve ser investigada 145 o De mordida: Este reflexo de apreensão tem como função a proteção. Realizar pressão moderada na área lateral anterior da gengiva superior e inferior. É inibido em torno do 4° mês o De deglutição: A sobrevivência depende deste reflexo. Introduzir certo volume de líquido dentro da cavidade oral desencadeará o ato de deglutir. Observar engasgos, regurgitamentos, incoordenação dos movimentos e alteração respiratória. Se algumas destas características estiverem presentes, a criança deverá ser encaminhada para investigação. Este reflexo é inibido por volta do 7° ao 11° mês o De vômito: Sua função é proteção. Quando a parte posterior da língua próximo à úvula é pressionada ocorre extensão de toda musculatura orofaríngea. Nos primeiros meses este reflexo é mais localizado na parte anterior da cavidade bucal e por volta do 7° mês se localiza no terço posterior. Crianças que apresentam ânsia ao mínimo toque nos lábios ou na língua fogem da normalidade. Observar também casos de refluxo 3.1.15.2 Amamentação e saúde bucal • O aleitamento materno exclusivo até os seis (6) meses de vida proporciona benefícios nutricionais e imunológicos, possibilita trocas afetivas fortalecendo o vínculo entre mãe e filho além de influenciar no desenvolvimento orofacial, fisiologia da fala, deglutição e respiração • Sugere-se a posição vertical do bebê, com o propósito de evitar as possibilidades de otite lactente, favorecendo maior exercitação da musculatura orofacial e melhor funcionamento digestivo • Ao nascer, o bebê apresenta uma grande desproporção entre o crânio e a face, retroposição mandibular (distância antero-posterior entre o rebordo superior e o inferior), além de pequena altura da face. Esta disposição é fisiológica e estímulos que vêm da amamentação, da mastigação e da respiração levarão ao desenvolvimento normal crânio-facial do bebê • Enquanto mama, o bebê respira pelo nariz, pois não solta o peito. A respiração nasal favorece para que a deglutição seja feita de forma correta. Além disso, aquece o ar, evitando instalação de doenças como a amigdalite • O ar que entra pelo nariz favorece o crescimento do maxilar superior 146 • Para sugar o leite, o bebê é obrigado a morder, avançar e retrair a mandíbula que é estimulada a crescer. Após 6 meses de amamentação exclusiva a diferença maxila mandíbula pode diminuir de 8 a 12 mm para 1 mm • Maxilares bem desenvolvidos propiciarão um melhor alinhamento da dentição, diminuindo a necessidade futura de tratamento ortodôntico • Músculos firmes ajudarão na fala • A amamentação (ordenha) é a primeira fase da mastigação. Os músculos respondem aos estímulos e na fase seguinte estarão prontos para mastigar. Nas duas fases trabalham os mesmos músculos. Desta forma, a amamentação prepara a criança para a mastigação • Ressalta-se que no caso de mãe HIV/AIDS a amamentação está contraindicada 3.1.15.3 Orientações complementares • A inibição da baba fisiológica deve ocorrer por volta do 15° mês. A realização de massagens com movimentos circulares na região orofacial e intraoral pode facilitar esta inibição • Quando as crianças estão com sono, aborrecidas, estressadas, frustradas, de mau humor, agitadas ou insatisfeitas após a mamada, precisam se acalmar e se satisfazer emocionalmente, com sensações agradáveis de prazer, carinho, aconchego e segurança. Caso a mãe perceba que o hábito de sucção de dedo está se instalando, ela poderá ofertar a chupeta (bico ortodôntico) de tamanho compatível com a idade da criança. No início, devido a sua imaturidade motora oral, ela terá dificuldade para manter a chupeta na boca sozinha. Essa troca demandará tempo e paciência por parte da mãe, que precisará segurar a chupeta por alguns minutos para que a criança desenvolva a coordenação do ato de sucção • A chupeta ou mamadeira pode, dependendo da frequência, duração e intensidade, levarem a transtornos de desenvolvimento orofacial como: Instalação de respiração bucal, mordida aberta, mordida cruzada, interposição lingual, deglutição atípica, atresia palatal, entre outros • No primeiro ano de vida, a sensação de fome e a necessidade de sucção ocorrem ao mesmo tempo e o ideal seria que ambas fossem saciadas juntas. Entretanto, para alguns bebês isto não acontece e estes acabam necessitando de sucção adicional aumentando assim sua necessidade emocional deste ato. Então a chupeta acaba sendo usada para satisfazer a necessidade de sucção. Desta forma, torna-se necessário orientar os pais sobre o uso mais racional da mesma 147 • O disco em volta da chupeta para apoio dos lábios deve ser de plástico, grande o suficiente para cobrir os lábios e parte da bochecha, evitando que a criança o coloque dentro da boca. Deve ter dois grandes orifícios de cada lado para permitir que a pele seja ventilada • Não se deve ofertar a chupeta a todo instante, a qualquer sinal de choro ou desconforto e até mesmo para acalmar a criança, pois isto pode levar ao hábito. Limitar o seu uso ofertando-a após as mamadas, por tempo limitado, complementando a necessidade de sucção ou para induzir o sono. Com o passar do tempo, evitar ofertar da chupeta durante o dia, se necessário, oferecer somente na hora de dormir. Sempre que a criança adormecer, retirar a chupeta • Evitar pendurar a chupeta na roupa da criança para que esta não esteja disponível a toda hora. Não amarrá-la com fita, corrente ou cordão no pescoço, sob o risco de estrangulamento. Não amarrar fralda na argola da chupeta, pois o peso da mesma puxará os dentes mais para fora e provocará flacidez muscular. Se possível, indicar chupeta sem argola, que tenha somente uma saliência para pega. Evitar deixar várias chupetas disponíveis pela casa e no berço da criança • Remover o hábito de sucção da chupeta entre um e dois anos, devendo a mãe começar a preparar a criança psicologicamente para isso. Evitar a retirada do hábito em períodos desfavoráveis para a criança (criança doente, novo irmão, gravidez da mãe, separação de familiares, etc.) Dedicar mais tempo à criança nesta fase, principalmente na hora de dormir. A mãe poderá contar estórias, cantar, acariciar, ajudando a criança a substituir a chupeta por outras formas de carinho • Não mergulhar a chupeta em substâncias doces • Desinfetar a chupeta e mamadeira diariamente, através de fervura por 5 minutos • O bico da mamadeira deve ser ortodôntico e com tamanho adequado à idade da criança. Não aumentar o furo (o líquido deve cair como o de um contagotas) e não permitir que a criança englobe toda a porção de borracha com a boca. O bico precisa ser trocado quando se apresentar melado, poroso e com alteração de coloração, para evitar a proliferação de bactérias • A introdução de outros alimentos deve ser iniciada a partir do 6° mês com orientação médica e deverão obedecer as seguintes etapas de consistência: Pastosos, semissólidos e sólidos • O hábito de roer unhas (onicofagia) e bruxismo poderão estar ligados ao psicoemocional (ansiedade) e a incoordenação neuromotora dos músculos da mastigação. Esses hábitos são retirados mediante a orientação e reeducação miofuncional 148 BIBLIOGRAFIA ARAGÃO, A. K. R; VELOSO, D. J; MELO, A. U. C. Opinião dos pediatras e odontopediatras de João Pessoa sobre erupção dentária decídua e sintomatologia infantil. Com. Ciências Saúde. v.18, n.6, p. 4550, 2007. ASSED, S. Odontopediatria: bases científicas para a prática clínica. São Paulo: Artes Médicas, 2005. 1069 p. BOER, F. A. C. et al. Protocolo de tratamento para traumatismo dentário em dentes decíduos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ODONTOLOGIA PARA BEBÊS, 5, 2004, Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2004. Disponível em: http://www.bebeclinica.uel.br/anais.asp Acesso em: 18 março 2007. CASTRO, L. M. C. P; ARAÚJO; L. D. S. (Org.) Aleitamento materno: manual prático. Londrina: PML, 2004. 152 p. CORRÊA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. 847 p. CORRÊA, M.S.N.P; DISSENHA, R.M.S; WEFFORT, S.Y.K. Saúde Bucal do bebê ao adolescente. Guia de orientação. São Paulo: Santos, 2005.176 p. LONDRINA. Autarquia do Serviço Municipal de Saúde. Odontologia em Saúde Pública. Londrina: MC Gráfica e Editora, 1996. 138 p. LONDRINA. Autarquia Municipal de Saúde. Avaliação e Assistência de Enfermagem: protocolo. PML, 2006. 87 p. LONDRINA. Secretaria Municipal de Saúde. Instrução de trabalho. Pronto atendimento pediátrico municipal. Londrina: SMS. 2001. 80 p. LOVATO, M. PITHAN, S. A. Avaliação da percepção de pediatras, odontopediatras e pais sobre as manifestações relacionadas à erupção dos dentes decíduos. Stomatos. v. 10, n.18, p.159, 2004. MACHADO, M. A. A. M et al. Odontologia em bebês. Protocolos clínicos, preventivos e restauradores. São Paulo: Santos, 2005. 158 p. McINTYRE. G. T; McINTYRE, G. M. Teething troubles? British Dental Journal, v. 192, n. 5, 2002. MEDEIROS, E.B; RODRIGUES, M.J; A importância da amamentação natural para o desenvolvimento do sistema estomatognático do bebê. Rev. Cons. Reg. Odontol. Pernambuco, v. 4, n. 2, p. 79-83, jul/dez. 2001. NEVILLE, B. W. et al. Patologia oral e maxilofacial. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2004. 798 p. PEDROSA, A. M.C. et al. Guia do dentista. Guia de medicamentos em linguagem clara. Rio de Janeiro: Record. 1998. 985 p. 149 ENCONTRO NACIONAL DE ODONTOLOGIA PARA BEBÊS, 5, 2004, Londrina. Documento Final. Londrina: UEL, 2004. WALTER, L.R.F., FERELLE, A., ISSAO. Odontologia para o bebê. São Paulo: Artes Médicas, 1996. 246 p. 151 3.2 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA À CRIANÇA (3 A 9 ANOS) Maura Sassahara Higasi Lucimar Aparecida Britto Codato Caracteriza-se por cuidados específicos a serem observados pela equipe de saúde bucal durante o atendimento da criança. Sugerem-se leituras complementares dos Capítulos Principais Patologias Bucais e Procedimentos Odontológicos, cujos conteúdos são importantes para a atenção à criança. 3.2.1 Vias de Acesso • Demanda espontânea • Programas sociais • Escolas /CEIs • Encaminhamentos de outros profissionais da USF • Indicação de usuários assistidos pela equipe de Odontologia • Visita Domiciliar • Bebê-Clínica da UEL 3.2.2 Acolhimento da Criança e Cuidador Deve ser realizado pela equipe de odontologia em todos os momentos que estiver em contato com o usuário. 3.2.3 Estabelecimento de Vínculo Criança - Família - Equipe É importante para adesão à atenção odontológica e para o desenvolvimento do autocuidado nas práticas diárias das ações propostas pela equipe. O conhecimento sobre a criança, sua família e o contexto socioeconômico e cultural no qual estão inseridos facilitam a abordagem e, consequentemente, a adesão da criança e de seus cuidadores à atenção odontológica. 152 3.2.4 Objetivos da Atenção Odontológica • Estimular os cuidadores e a criança na adoção de práticas de higiene bucal diária e desenvolvimento de hábitos saudáveis e do autocuidado • Motivar a criança na aceitação dos tratamentos preventivos e curativos necessários • Realizar atenção integral à saúde bucal da criança • Trabalhar de forma multiprofissional na atenção à criança 3.2.5 Educação em Saúde Bucal Os procedimentos educativos e preventivos contribuem para melhorar a adesão das crianças e de seus cuidadores ao atendimento odontológico, somado ao fato que o sucesso de tais programas está diretamente ligado à conscientização e motivação da criança e sua família. Assim, as informações devem ser transmitidas com entusiasmo pela equipe, de forma clara e com linguagem que permita fácil compreensão. Pode ser realizada por meio de: • Entrevista e/ou diálogos informais • Palestras • Dramatizações • Reuniões/Oficinas • Criação de grupos específicos • Cartazes • Jornais (publicações, entrevistas, cartas) • Televisão 153 Os quadros 24 e 25 apresentam métodos que podem ser utilizados pela equipe na educação em saúde bucal de crianças. Métodos educativos para crianças • Apresentação de casos, exemplos, chamar atenção para assuntos importantes e esclarecer dúvidas durante Palavra falada palestras, conferências, reuniões informais, trabalhos com pequenos grupos, mesas redondas ou mesmo individualmente • Devem ser confeccionados de acordo com a faixa etária Palavra escrita a ser abordada (folhetos, folders, revistas, encartes) • Podem ser utilizados para todas as faixas etárias a partir dos 2 anos de idade (fantoches, teatro, música, Recursos audiovisuais brincadeiras, jogos, quadro negro, álbum seriado, filmes, slides ou fotografias) Quadro 24 - Métodos educativos para crianças Idade Abordagem Crianças de 3 a 5 anos Crianças de 5 a 10 anos • Além da motivação da própria criança, a equipe de Odontologia deve dar atenção especial à capacitação dos pais, professores e cuidadores (Ex: Avós, tios, etc.) • Realizar grupos para pais ou cuidadores com participação ativa das crianças, de acordo com o grau de entendimento das mesmas • Estimular a troca de experiências, a exteriorização de dúvidas, a curiosidade e a realização de perguntas para a equipe Quadro 25 - Métodos educativos relacionados às idades das crianças 3.2.5.1 Espaços para atuação da equipe de odontologia na educação em saúde bucal • Reuniões de Conselhos de Saúde Locais • Centros de Educação Infantil • Escolas de Ensino Fundamental • Própria USF: Palestras e oficinas com os demais membros da equipe de saúde, para novos usuários e grupos locais já existentes • Outros espaços sociais (igrejas, orfanatos, casas abrigos, etc.) 154 3.2.5.2 Temas para abordagem em palestras, oficinas e dinâmicas de grupo. No quadro 26 estão listados temas a serem abordados em palestras, oficinas e dinâmicas de grupo pela equipe de saúde bucal. Assunto Dieta saudável • • Importância do estabelecimento de rotina de horários para criança • Dentição decídua • • • • Dentição permanente Cárie dentária Prevenção da cárie dentária Cuidados adicionais com a higienização Criança respiradora bucal • • • • • • • • • • • • • • Detalhamento Alimentação balanceada: Frutas, verduras, carnes, dieta fibrosa Evitar: o Consumo de doces e alimentos açucarados no intervalo entre as refeições o Uso abusivo de chicletes, bolachas, balas, etc. Horários para: Dormir, brincar, estudar, escovar os dentes Número de dentes Função/Importância: Mastigatória, estética, fonética, manutenção de espaço para dentes permanentes e guia de erupção Número de dentes Período de erupção. Frisar a erupção do 1º molar em torno dos 6 -7 anos, e que o dente “nasce atrás” sem que tenha esfoliado outro decíduo Importância Problemas decorrentes de perdas dentárias (erupção contínua do antagonista, dentes vizinhos se inclinam) Definição Formação Transmissibilidade Evolução Consequências Escovações: Número diário, tipo de escova, creme dental (enfatizar cuidados para evitar sua deglutição), crianças menores necessidade de supervisão pelo adulto Enfatizar a importância da higienização (escova e fio dental) antes de dormir Importância do uso do fio dental Demonstrar com macromodelo: Técnica de escovação e uso do fio dental Durante a ingestão de medicamentos açucarados (contêm açúcar: Xaropes, antibióticos em solução, pastilhas para garganta) Importância do vedamento labial e da respiração nasal Se necessário, encaminhar para avaliação da fonoaudiologia, otorrinolaringologia, fisioterapia e ortodontia 155 Quadro 26 - Roteiro para palestra direcionada a crianças e seus cuidadores Assunto Procedimentos realizados na USF Procedimentos não realizados na USF Rotina da USF Traumas dentários e outras urgências Responsabilidade dos pais e cuidadores na construção da saúde bucal dos filhos Detalhamento • • • • • • • • • • Selante de fóssulas e fissuras: O que é, para que serve Restaurações Exodontias Endodontia de dentes decíduos Enfatizar cuidados pós-operatórios (Exemplo: Cuidados com regiões anestesiadas) Ortodontia, endodontia de dentes permanentes, prótese dentária Orientação sobre o CEO (especialidades e acesso) Horários, normas para agendamentos, oferta de vagas, faltas justificadas e não justificadas Condutas e procedimentos a serem adotados Importância do acompanhamento diário dos filhos. Trabalho conjunto: Equipe de saúde e família • Definição/ Causas • Gengivite Doença Periodontal • O que é cálculo dental • Evolução da doença periodontal (casos mais graves perda óssea e do elemento dentário) • Prevenção e tratamento • Chupeta, dedo, mamadeira, unhas Hábitos • Estimular a criança a desenvolver outras atividades com a mão • Consequências para a saúde Quadro 26 - Roteiro para palestra direcionada a crianças e seus cuidadores - Continuação 156 3.2.6 Preenchimento da Anamnese Coletar todas as informações para a anamnese, como: • História presente e passada sobre aspectos médicos e odontológicos • Dados vitais da criança, história de pré-natal, parto e puericultura, dados sobre a família. O conhecimento das condições socioeconômicas do usuário é importante para o planejamento do tratamento • Ouvir primeiro a criança e o cuidador antes do preenchimento da ficha clínica odontológica. Questionar se há algo a mais que o responsável queira relatar. A escuta é fundamental para o conhecimento e adoção de condutas • Sempre atualizar a anamnese nos retornos de manutenção 3.2.7 Exame Clínico Geral e Intrabucal • Inspeção geral da criança (estatura, porte, linguagem, mãos, temperatura). Encaminhar para avaliação médica no caso de dúvida ou suspeita de alteração • Exame de cabeça e pescoço. Avaliar: Tamanho, forma, simetria das estruturas componentes, textura da pele, mucosa palpebral, olhos, músculos, ATM, pescoço. Encaminhar para avaliação médica no caso de dúvida ou suspeita de alteração • Exame da cavidade bucal: Lábios e mucosa labial, gengiva, vestíbulo, assoalho da boca, palato, língua, orofaringe, dentes, oclusão, com preenchimento do odontograma • Análise da fonação, deglutição e musculatura peribucal, posição da língua durante a fonação, balbucios, gagueiras, forma da língua em posição de descanso e posição dos lábios em repouso. A equipe deverá fazer os encaminhamentos que julgar necessários • Estar atento a sinais de maus tratos à criança no que se refere à violência física, psicológica, sexual ou negligência/omissão de cuidar. Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 9 3.2.8 Orientações aos Pais e Cuidadores O Quadro 27 descreve a abordagem do comportamento e as orientações a serem fornecidas aos pais durante o tratamento odontológico. 157 Assunto Conduta Identificar a origem do choro: Por medo, dor, birra, etc. Choro Respeitar o temor, não proibí-lo e procurar dialogar para ajudar a criança a superar os seus medos Mentiras • Nunca engane a criança • Diga-lhe que o CD é uma pessoa amiga, que estudou e Visita ao Cirurgião-Dentista emprega seus conhecimentos para ajuda-la a ter saúde bucal • Evitar fazer promessas. O mais correto é obter a Promessas cooperação por meio de técnicas de controle de comportamento. • Deixe a criança expressá-las com sinceridade, linguagem Curiosidades clara e objetiva. Esclareça-as ou peça ajuda Medo e temores dos • Controle-os. Jamais transfira para a criança os seus próprios pais e cuidadores próprios temores Confiança • Estimule a criança a confiar na equipe de saúde • Procure não interromper os diálogos entre a equipe de Diálogos saúde bucal e a criança Quadro 27 - Abordagens em relação ao comportamento das crianças • • 3.2.9 Resistência da Criança ao Tratamento Odontológico A equipe deve demonstrar cordialidade pela criança, enfatizar a necessidade e os • benefícios do tratamento proposto, bem como as consequências da sua não realização Utilizar a técnica de “Falar, Mostrar e Fazer”. Portanto, recomenda-se explicar e • mostrar antecipadamente tudo que usa e executa. Estimulá-la a manifestar seus anseios, medos e curiosidades e procurar esclarecê-los Conversar bastante com a criança sobre assuntos diversos de seu interesse, • promovendo ambiente descontraído • Transmitir confiança, segurança e simpatia • Buscar a coparticipação positiva dos pais e/ou cuidadores. Em caso de resistência extrema da criança, expor aos pais e/ou cuidadores as alternativas existentes e tomar decisão conjunta 3.2.10 Presença dos Pais ou Cuidador Durante o Atendimento Clínico • É direito de um dos pais ou responsável permanecer junto à criança durante o atendimento odontológico. Caso a equipe julgue que a permanência do mesmo esteja interferindo negativamente no comportamento da criança, solicita-se ao pai ou responsável a sua retirada do ambiente do consultório. Entretanto, se o mesmo não 158 concordar, a equipe não poderá obrigá-lo a sair. Nesse caso, não sendo possível realizar o tratamento odontológico, dar ciência do fato ao mesmo, registrando no prontuário e solicitando sua a assinatura (ciência) • Recomenda-se que haja sempre um cuidador responsável pela criança na USF durante os atendimentos odontológicos • A presença do pai ou responsável pela criança muitas vezes propicia segurança e bem estar a ela, além de favorecer a corresponsabilização pelo tratamento Consideração Casos específicos, intercorrências, acidentes ou particularidades acontecidas durante o atendimento: Anotar detalhadamente o acontecimento, as orientações dadas pela equipe e pedir para o pai ou responsável assinar e datar. 3.2.11 Cárie Dentária Nas consultas iniciais e nas de manutenção a equipe deverá identificar a presença ou não de fatores associados com a cárie e orientar a família como revertê-los. Em todas as sessões a equipe deverá ouvir, corrigir e fazer reforços educativos adicionais em linguagem de fácil entendimento para reverter o risco. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2, item 2.1. 159 3.2.11.1 Etapas de tratamento da cárie dentária Etapa 1ª 2ª 3ª 4ª Procedimentos • Identificação da atividade/fatores associados com a cárie: o Paciente com atividade/ fatores associados com a cárie Presença de cárie ativa (amolecida, esbranquiçada, úmida) Mancha branca ativa (fosca, rugosa) Presença de fatores de risco o Paciente sem atividade/ fatores associados com a cárie Mancha branca inativa (brilhante lisa) Cárie inativa (endurecida, cor escura) Ausência de fatores de risco • Educação em saúde • Evidenciação do biofilme dental e escovação supervisionada realizada antes de qualquer procedimento odontológico • Adequação do meio bucal • Fluorterapia • Selantes • Tratamento reabilitador: Dentística, exodontia, encaminhamento a especialidade • Manutenção periódica Quadro 28 - Etapas para tratamento de cárie dentária em crianças 3.2.12 A Doença Periodontal Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2, item 2.2. 3.2.12.1 Tratamento da doença periodontal • Identificação da severidade da doença • Presença de sangramento gengival • Presença de biofilme dental • Ações educativas para o controle do biofilme dental (evidenciação, escovação supervisionada, uso do fio dental) • Raspagem e polimento dental • Controle químico do biofilme dental (se necessário) • Monitoramento e controle dos fatores de risco • Manutenção periódica, através do controle de sangramento gengival e do controle de biofilme 160 3.2.13 Tratamentos Preventivos 3.2.14.1 Uso de flúor A equipe de odontologia deverá esclarecer aos usuários os benefícios da utilização do flúor bem como os riscos da sobre-exposição. Deverá citar as fontes de flúor, destacando o creme dental fluorado. Para indicações e técnica de aplicação, reportar-se ao Capítulo 6. 3.2.13.2 Selantes Para indicações e técnica de aplicação dos selantes, reportar-se ao Capítulo 6. 3.2.13.3 Controle mecânico do biofilme dental A escovação dos dentes e a utilização do fio dental são elementos essenciais para a remoção do biofilme dental. • Escova dental: É o produto mais comum para a remoção do biofilme dental. A escova macia é indicada para a maioria dos casos em odontopediatria por não causar trauma nos tecidos gengivais e facilidade de limpeza das áreas interproximais. É preferível utilizar uma escova de cabeça pequena e cabo um pouco mais volumoso do que para adulto. Em média, deverá ser substituída, em média, a cada três meses. Deve promover uma eficiente limpeza em todas as superfícies dentais, ser de fácil acesso e manuseio pelo paciente. Escovas unitufo ou elétricas devem ser recomendadas de acordo com a avaliação do profissional • A técnica de escovação e o uso do fio dental devem ser indicados de acordo com a idade do paciente e a sua habilidade manual, a partir dos 3 anos de idade. Até os 2 anos de idade a responsabilidade pela escovação é exclusivamente dos pais • A escovação dental e o uso do fio dental deverão ser realizados pelos pais, pelo menos uma vez ao dia, até a idade de seis anos • A partir dos sete anos de idade, inclusive na adolescência, os pais deverão supervisionar a higiene bucal, complementando a escovação e o uso do fio dental nas áreas de maior dificuldade apresentadas pela criança 161 Fluxograma 6 - Atenção odontológica à criança Atenção à Criança Tipo de atendimento Inicial Manutenção Urgência Palestras p/ crianças e/ou cuidadores Educação em saúde, evidenciação e escovação supervisionada Educação em saúde, evidenciação e escovação supervisionada Tratamento Preventivo/reabilitador Tratamento Preventivo/reabilitador Manutenção Manutenção Eliminação da dor SB/PSF Até 36 meses > 36 meses Tipo de Programa Tipo de Programa Infantojuvenil Agendamento Infantojuvenil Agendamento conforme disponibilidade de vaga SB/PSF Avaliação de risco familiar 163 3.2.14 Terapêutica Medicamentosa para Crianças Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan Neste item estão descritos sucintamente os medicamentos mais utilizados em odontopediatria, bem como nomes comerciais e as doses pediátricas (até 12 anos de idade). Parte dos medicamentos está disponível nas USF, entretanto, como em alguns casos se faz necessário prescrever outros produtos, estes estão também aqui descritos. De maneira geral, a terapêutica em odontopediatria segue os mesmos princípios que nos adultos, devendo-se, entretanto, levar em consideração peculiaridades como a imaturidade do metabolismo, maior absorção de penicilinas até os 3 anos e o menor peso. Dicas importantes para se calcular a dose de um medicamento indicado para crianças estão descritas a seguir. • • Quando não se conhece o peso da criança o Peso estimado = (idade x 2) + 9, onde o 2 e o 9 são constantes o Exemplo: Qual o peso estimado de uma criança de 4 anos? o Peso estimado = (4 x 2) + 9 = 17 Kg aproximadamente Conhece-se a dose de adulto, mas não a pediátrica o Usar a fórmula de Clark Posologia Pediátrica (PP) = Peso da criança (Kg) x dose adulta/75, onde 75 é uma constante Exemplo: Qual a posologia pediátrica para uma criança de 12 Kg de peso de uma penicilina cuja dose adulta é 500 mg 6/6 horas? PP = 12 x 500 / 75 = 80 mg 6/6 horas (aproximadamente) 164 3.2.14.1 Analgésicos e antitérmicos Acetaminofeno (Paracetamol) • Aspectos gerais Dose pediátrica Apresentação pediátrica • • • Nomes comerciais • Posologia • • • Efeitos adversos Contraindicações • • Potência analgésica semelhante à do Ácido Acetil Salicílico (AAS), porém não apresenta ação anti-inflamatória comprovada. É o analgésico de eleição em odontopediatria, em razão de raramente apresentar toxicidade em doses terapêuticas. Indicado para dores leves a moderadas 10 a 15 mg por peso em Kg, de 6 em 6 horas ou de 4 em 4 horas, se necessário. Uso máximo de 5 dias e não mais que 5 aplicações por dia Gotas 100 mg/mL e 200 mg/mL26, líquido em suspensão, suspensão oral concentrada Paracetamol 200 mg/mL (medicamento genérico), Dórico gotas 100 mg/mL e 200 mg/mL, Tylenol gotas 200 mg/mL, Tylenol Bebê Suspensão Oral Concentrada (100 mg/mL), Tylenol Criança Líquido em Suspensão (32 mg/mL) Gotas 200 mg/mL: 1 gota/Kg/dose até o limite de 35 gotas, de 6 em 6 horas Gotas 100 mg/mL: 2 gotas/Kg/dose, de 6 em 6 horas Suspensão oral concentrada (100 mg/mL): Acompanha seringa dosadora por Kg de peso, de 6 em 6 horas (indicado para crianças de 0 a 3 anos) Líquido em suspensão (32 mg/mL ou 160 mg/5mL): Acompanha copinho dosador, para crianças acima de 3 anos: 12 a 15 Kg (5 mL), 16 a 21 Kg (7,5 mL), 22 a 26 Kg (10 mL), 27 a 32 Kg (12,5 mL), acima de 32 Kg (15 mL) de 6 em 6 horas Reação alérgica cutânea (rara), doses diárias acima de 2 g podem ser tóxicas para fígado e rim, anemia hemolítica, icterícia, perda de apetite Condições que exigem cautela: Anemia, doença cardiovascular, gastrintestinal ou hepática, doença renal Quadro 29 - Informações sobre o uso de Acetominofeno para crianças Dipirona (Derivado pirazolônico) Aspectos Gerais Dose pediátrica Apresentação pediátrica Nomes comerciais Posologia Efeitos adversos Contraindicações • Analgésico, antipirético, para dor e febre. Tem uso restrito em alguns países por poder causar depressão medular com leucopenia, agranulocitose, trombocitopenia e anemia aplástica 6 a 15 mg por Kg a cada 6 horas • Gotas e solução oral • Dipirona gotas (50 mg/mL), Novalgina gotas (50 mg/mL), Novalgina solução oral (50 mg/mL, frasco de 100 mL), Magnopirol gotas (400 mg/10 mL), etc. • • Gotas – 1 gotas/Kg de peso/dose de 6/6 horas Solução – 2,5 a 15 mL de 6/6 horas, de acordo com o peso • Agranulocitose, depressão medular, trombocitopenia, anemia aplástica, reações cutâneas e nas mucosas de boca e garganta, do tipo alérgico Asma, hipersensibilidade aos derivados pirazolônicos, infecção respiratória crônica, reação alérgica à droga • • Quadro 30 - Informações sobre o uso de Dipirona para crianças 26 20 gotas correspondem a 1 mL 165 3.2.14.2. Anti-inflamatórios não hormonais (AINH) A inflamação em crianças geralmente é combatida com a resolução da causa da mesma. Nos traumatismos dentários, a aplicação local de gelo pode, muitas vezes, prevenir ou combater a inflamação. Dessa forma, os anti-inflamatórios apresentam prescrição restrita em crianças, particularmente para as menores de 2 anos de idade, devendo ser utilizados somente em caso de extrema necessidade, tendo-se em mente a relação risco/benefício. Derivados do Ácido Propiônico São analgésicos e anti-inflamatórios mais potentes que o AAS. Efetivos no alívio à dor associada a injúrias traumáticas e pós-cirurgias bucais. Apresentam menor possibilidade de hemorragia que o AAS por levar a uma inibição plaquetária reversível em 24 horas, ao passo que o AAS leva a uma inibição que pode perdurar por até 7 dias. Ibuprofeno • AINH menos tóxico, com sintomas gastrintestinais em menos de 3% das crianças, baixa atividade antiplaquetária. Apresenta ação analgésica em 30 minutos e pico em 1 a 2 horas Dose pediátrica • 5 a 10 mg /Kg de 6 em 6 ou de 8 em 8 horas Apresentação pediátrica • • Suspensões orais 100mg/5mL Gotas – 5 mg/gota Nomes comerciais • • Dalsy suspensões orais 100 mg/5 mL – Frasco com 100 e 200 mL Alívium gotas 50 mg/mL e 100 mg/mL • • • Suspensão oral Dalsy (acompanha seringa dosadora) Alívium Gotas: o 50 mg/mL- 2 gotas por Kg de peso corporal por dose o 100 mg/mL – 1 gota por Kg de peso corporal por dose Aspectos gerais Posologia Aftas, alterações sanguíneas, confusão mental, erupção cutânea, hemorragia, palpitação, entre outras • Crianças menores de dois anos de idade, história de reação alérgica induzida por AAS, relato de bronco-espasmo (asma), Contraindicações doença gastrintestinal, hemofilia ou outro problema de sangramento Quadro 31 - Informações sobre o uso de Ibuprofeno para crianças Efeitos adversos Naproxeno • 166 Aspectos gerais Dose pediátrica Apresentação pediátrica • • Indicado somente para criança maiores de dois anos 5 a 7 mg/Kg/dose de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas Solução oral Flanax – solução com 25 mg/mL (embalagem com 50 mL) Nomes comerciais Naprosyn - solução com 25 mg/mL (embalagem com 100 mL) Posologia 1 mL para cada 5 Kg /dose Aftas, ulceração e irritação das mucosas, não devendo ser utilizado em caso de estomatite, sangramento gengival, Efeitos adversos leucopenia, trombocitopenia, anemia aplástica, anemia hemolítica, confusão mental, diminuição de plaquetas, prolongamento do tempo de coagulação, vertigem e vômito • Crianças menores de dois anos de idade, história de reação Contraindicações alérgica induzida por AAS, relato de bronco-espasmo (asma), doença gastrintestinal, hemofilia ou outro problema de sangramento Quadro 32 - Informações sobre o uso de Naproxefeno para crianças • • • • • Cetoprofeno Aspectos gerais Dose pediátrica Apresentação pediátrica Nome comercial • • • Anti-inflamatório, analgésico e antipirético. Indicado somente para crianças acima de 1 ano de idade De 1 a 6 anos – 1 mg por Kg de peso corporal a cada 6 a 8 horas De 7 a 11 anos – 25 mg a cada 6 a 8 horas Solução oral com 20 mL - gotas Profenid gotas Acima de 1 ano: 1 gota por Kg de peso a cada 6 a 8 horas Posologia De 7 a 11 anos: 25 gotas a cada 6 a 8 horas Pode causar aftas, ulcerações ou irritação da mucosa oral. Efeitos adversos Manifestações gastrintestinais como dor epigástrica, náuseas, vômito, constipação, diarreia, cefaleia, vertigem, sonolência, erupções cutâneas, crises asmáticas, etc. • Hipersensibilidade ao AAS, úlcera gastrintestinal em evolução, Contraindicações insuficência renal e hepatocelular grave. Pacientes em uso de anticoagulantes Quadro 33 - Informações sobre o uso de Cetoprofeno para crianças • • • • • Anti-inflamatórios contraindicados para crianças 167 a. Devido a sua toxicidade • Indometacina – Indocid • Ácido mefenâmico – Ponstan • Fenilbutazona – Butazolidina • Oxifenilbutazona – Tandrex • Nimesulida – Nisulid ou Scaflan b. Por falta de estudos que corroborem eficácia e segurança • Diclofenaco – Cataflan e Voltaren • Diflunisal – Dolobid • Piroxican – Feldene • Enzimáticos – Paremzyme • Coxibs – Vioxx, Celebra c. Por estarem associados a outras drogas • Lisador (Dipirona e Prometazina) 5.2.14.3 Antimicrobianos Poderão ser necessários na terapia de infecção, como a presença de abscesso agudo com manifestações sistêmicas como febre e mal estar ou na terapia profilática para endocardite infecciosa. • Penicilinas São bactericidas, pois inibem a síntese da parede celular. Atuam contra anaeróbios e Estreptococos. 168 Ampicilina Aspectos gerais • É uma penicilina semissintética que cobre mais micro-organismos gram positivos e gram negativos que a penicilina V, sendo indicada para afecções moderadas 50 a 100 mg/Kg/dia em 4 frações, por 7 a 10 dias. Deve ser administrada entre as refeições, pois sua absorção é prejudicada quando ingerida com alimentos. A dose de criança não deve ultrapassar aquela recomendada para adultos • Suspensão oral 250 mg/5 mL • • • Binotal, Amplacilina, Ampifar, Ampitotal 2 mL/ Kg /dia dividido em 4 doses, por 7 a 10 dias Está mais associada a distúrbios gastrintestinais como náusea, vômito e diarreia. O exantema máculo papular aparece em cerca de 9% das crianças medicadas com este produto • Dose pediátrica Apresentação pediátrica Nomes comerciais Posologia Efeitos adversos Contraindicações • Alergia a penicilinas e cefalosporinas Quadro 34 - Informações sobre o uso de Ampicilina para crianças Amoxicilina • Aspectos gerais Dose pediátrica Apresentação pediátrica Nomes comerciais Posologia Efeitos adversos • • • • • Tem espectro de ação igual ao da ampicilina, porém, com menos efeitos adversos. É bem absorvida oralmente. É um dos antibióticos de escolha na profilaxia da Endocardite Infecciosa por atingir níveis séricos mais altos que a ampicilina. Pode ser administrada com alimentos. Indicada para afecções moderadas 20 a 50 mg/Kg/dia a cada 8 horas, por 7 a 10 dias. A dose de criança não deve ultrapassar aquela recomendada para adultos Suspensão de 250 mg/5 mL Amoxil, Amoxifar, Amoxicilina (medicamento genérico), Hiconal, Amoxiped, Novocilin 1 mL/ Kg/dia ou peso em Kg dividido por 3 = mL em cada 8 horas, por 7 a 10 dias Choque anafilático, candidíase bucal, diarreia, erupção cutânea, lesões bucais, problemas bucais, tontura, vômito Contraindicações • Alergia a penicilinas e cefalosporinas Quadro 35 - Informações sobre o uso de Amoxicilina para crianças Penicilinas G – benzilpenicilinas 169 Penicilina G procaína Aspectos gerais Dose Apresentação Nomes comerciais Posologia Efeitos adversos • Indicadas para crianças que não cooperam com a ingestão da medicação, sendo administrada por via intramuscular profunda • 50000 UI/Kg /dia, de 12 em 12 horas ou de 24 em 24 horas, por 7 a 10 dias • Frasco ampola para diluição contendo 400000 UI, sendo 300000 UI de Benzilpenicilina procaína associada a 100000 UI de Penicilina G Potássica/Cristalina • Penicilina G Procaína, Probecillin, etc. • 300000 a 600000 UI, de 12 em 12 horas ou 24 em 24 horas, por 7 a 10 dias Candidiase oral, choque anafilático, diarreia, dificuldades para respirar, dor articular, dor no local da injeção, erupção cutânea, náusea, vômito • Benapen, Despacilina, Wycillin R, Contraindicações • Hipersensibilidade a penicilinas e cefalosporinas Quadro 36 - Informações sobre o uso de Penicilina G Procaína para crianças Penicilina G Benzatina • Aspectos gerais Dose Apresentação Nomes comerciais Posologia Efeitos adversos • • • • • • • Normalmente utilizada para profilaxia antibiótica nos casos em que seja necessária (Ex: Profilaxia da Febre Reumática). Nas infecções agudas, devido aos baixos níveis séricos atingidos, deverá estar associada a outras penicilinas (geralmente Penicilina G Procaína) ou substituída por outros fármacos mais eficazes. Os níveis séricos se mantêm por 3 a 4 semanas. Administrada por via intramuscular profunda. Em crianças e lactentes, o local de aplicação é a face lateral da coxa 50000 UI/ Kg, em dose única Frasco/ampola para diluição com 600000 UI ou 1200000 UI Benzetacil, Longacilin, Penicilina G Benzatina Crianças até 10 Kg – 300000 UI, em dose única Crianças > 10 até 30 Kg – 600000 UI, em dose única Crianças > 30Kg – 1200000 UI, em dose única Candidiase oral, choque anafilático, diarreia, dificuldades para respirar, dor articular, dor no local da injeção, erupção cutânea, náusea, vômito Contraindicações • Hipersensibilidade à penicilinas e cefalosporinas Quadro 37 - Informações sobre o uso de Penicilina G Bezatina para crianças Cefalosporinas 170 São bactericidas, pois inibem síntese da parede celular. Apresentam largo espectro de ação. Mais indicadas para infecções consideradas graves. Classificação conforme a época de aparecimento • Primeira geração: Bactericidas, agem contra gram positivos e gram negativos, apresentam baixa toxicidade, alimentos não interferem na sua absorção, alergias são raras, porém, apresentam sensibilidade cruzada com penicilina. São mais indicadas para infecções odontopediátricas • Segunda, terceira e quarta geração: Mais efetivas contra bacilos entéricos, Haemophilus influenza e cocos gram negativos (Neisseria meningitidis), não apresentando benefício adicional nas infecções odontopediátricas Cefalexina • Cefalosporina de primeira geração, indicada para os casos de celulite porque age sobre S. aureus Dose pediátrica • 30 a 50 mg/Kg/dia, de 6 em 6 horas, por 7 a 10 dias Apresentação pediátrica • Suspensão oral 250 mg/5 mL • Keflex (250 mg/mL, frasco com 60 e 100 mL), Cefaporex, Cefalexina (medicamento genérico) • • Dividir o peso da criança (em Kg) por 2 para calcular a quantidade de mL a ser administrada em cada dose, a cada 6 horas. Nunca ultrapassar a dose de adultos Candidíase bucal com uso prolongado, dor abdominal, abdomem sensível ao toque, diarreia líquida, febre, diminuição de protrombina do sangue, anemia (rara), convulsão (rara), disfunção renal (rara) erupção cutânea (rara) • Hipersensibilidade a penicilinas e cefalosporinas Aspectos gerais Nomes comerciais Posologia Efeitos adversos Contraindicações Quadro 38 - Informações sobre o uso de Cefalexina para crianças • Macrolídeos 171 Em baixas concentrações normalmente são bacteriostáticos, pois inibem síntese de proteínas pelos micro-organismos. Em concentrações altas, apresentam ação bactericida. Têm excelente difusão na saliva, amígdalas e tecidos ósseos. Eritromicina Aspectos gerais Dose pediátrica Apresentação pediátrica Nomes comerciais Posologia • • • • Frasco de suspensão oral de 125 e 250 mg/5 mL Gotas 100 mg/mL (5 g/gota) • Pantomicina, Ilosone, Eritrex suspensão, Eritromicina suspensão (medicamento genérico) Suspensão oral 250 mg/mL: 1 mL/ Kg / dia ou peso em Kg dividido por 4 = mL a cada 6 horas Diarreia, que pode ser diminuída se as doses forem administradas durante as refeições. Podem acontecer casos raros de hepatite colestática com icterícia, exantema cutâneo, transtornos de audição e febre, urticária, vômito • • Efeitos adversos Contraindicações Apresenta espectro de ação similar ao da penicilina, com adição de microorganismos produtores de penicilinase. Indicadas para pacientes alérgicos a penicilinas Para crianças até 35 Kg, 30 a 50 mg/Kg por dia, fracionados em 3 a 4 vezes, por 7 a 10 dias. A dose máxima não deve ultrapassar 2 g por dia • Insuficiência hepática e arritmias cardíacas Quadro 39 - Informações sobre o uso de Eritromicina para crianças Novos macrolídeos São medicamentos mais resistentes à hidrólise ácida no estômago e menos estimulantes da mucosa gástrica. Apresentam melhor absorção oral e reduzido risco de toxicidade gastrintestinal comparado com outros macrolídeos. Entretanto, têm um custo maior. Claritromicina 172 • Mais potente que a eritromicina em relação a Estreptococos, Estafilococos e bactérias anaeróbias. Alcança alta concentração tecidual, inclusive na saliva, gengivas normais e inflamadas e tecido ósseo alveolar • 7,5 mg por Kg de peso corporal, 2 vezes por dia, até um máximo de 500 mg, por 7 a 10 dias Apresentação pediátrica • Suspensão pediátrica com 125 mg/5 mL e 250 mg/5 mL Nomes comerciais • Klaricid suspensão pediátrica com 125 mg/5 mL e 250 mg/ 5mL Posologia • 5 mg por Kg de peso corporal 2 vezes por dia, até um máximo de 500 mg por 7 a 10 dias • Diarreia, cefaleia, dor abdominal, má digestão, náusea, eritema cutâneo • Insuficiência hepática, arritmias cardíacas e alergia a macrolídeos como Eritromicina, Lincomicina e Clindamicina Aspectos gerais Dose pediátrica Efeitos adversos Contraindicações Quadro 40 - Informações sobre o uso de Claritomicina para crianças Azitromicina Dose pediátrica Apresentação pediátrica • Apenas uma dose diária. Semelhante à Claritomicina. Prescrita por curto período de tempo. Baixo índice de efeitos gastrintestinais. Tem papel importante nas infecções cutâneas e de tecidos moles. Seu uso na odontologia ainda não é corroborado 10 mg/Kg, em dose única • Suspensão oral com 200 mg/5 mL (40 mg/mL) Nomes comerciais • • • • • • • Zitromax suspensão oral com 200 mg/5 mL (40 mg/mL) 5 a 14 Kg: 10 mg/kg, 1 vez ao dia, por 3 dias 15 a 24 Kg: 200 mg, 1 vez ao dia, por 3 dias 26 a 35 Kg: 300 mg, 1 vez ao dia, por 3 dias 36 a 45 Kg: 400 mg, 1 vez ao dia, por 3 dias Acima 46 Kg: Dose de adulto Alterações sanguíneas, angioedema, choque alérgico, diarreia, dor abdominal, erupção cutânea, gases, náusea, problemas hepáticos, vômito Insuficiência hepática, arritmias cardíacas e alergia a macrolídeos como Eritromicina, Lincomicina e Clindamicina • Aspectos gerais Posologia Efeitos adversos Contraindicações • Quadro 41 - Informações sobre o uso de Azitromicina para crianças Consideração Orientações sobre o uso profilático de antimicrobianos na Endocardite Infecciosa – vide Capítulo 4, item 4.6. O Quadro 42 sintetiza os dados sobre analgésicos, anti-inflamatórios e antimicrobianos mais prescritos na primeira infância. Droga e nome Apresentação Dose pediátrica Regra prática 173 comercial pediátrica Analgésicos • PARACETAMOL OU ACETAMINOFENO (Tylenol, Dórico, Paracetamol) • Gotas 200 mg / mL • 10 a 15 mg/Kg/dose de 4/4 ou 6/6 horas • 1 gota/Kg/dose • DIPIRONA (Novalgina, Magnopyrol, Anador, Conmel) • Gotas 500mg / mL • 6 a 15 mg/Kg/dose de 6/6 horas • 1gota/Kg/dose mL/Kg/ • 1gota/Kg/dose Anti-inflamatórios não hormonais • IBUPROFENO (Alivium 100 mg) • Gotas /gota 5 mg • 0,5 dose Antibióticos • AMOXICILINA (Amoxil) • Sol 250 mg/5 mL • 20 a 50 mg/ Kg/dia de 8/8 horas • 1 mL/Kg/dia ou peso em Kg dividido por 3 = mL em cada 8 horas • AMPICILINA (Binotal) • Sol 250 mg/5 mL • 50 a 100 mg/Kg/dia de 6/6 horas • 2 mL/Kg/dia dividido em 4 doses • CEFALEXINA (Keflex) • Sol 250 mg/5 mL • 25 a mg/Kg/dia 6/6 horas 50 de • 1 mL/Kg/dia dividido em 4 doses • ERITROMICINA (Ilosone, Eritrex, Eritromicina) • Sol 250 mg/5 mL • 30 a mg/Kg/dia 6/6 horas 50 de • 1 mL/Kg/dia ou peso em Kg dividido por 4 = mL a cada 6 horas Adaptado de: Correa, 2005 Quadro 42 - Analgésicos, anti-inflamatórios e antimicrobianos mais indicados na 1ª infância 5.2.14.3 Anestésicos locais 174 • 1ª Opção: Lidocaína 2% com adrenalina 1:100000 Anestésico de duração intermediária (em torno de 60 minutos) • 2ª Opção: Prilocaína 3% com felipressina Anestésico de duração intermediária (de 60 a 90 minutos) Técnica infiltrativa - tempo de anestesia pulpar menor do que por bloqueio Bloqueio regional - anestesia pulpar, em torno de 60 a 90 minutos Pode produzir metahemoglobinemia, sendo contraindicada em paciente com metahemoglobinemia idiopática ou congênita, anemia, insuficiência cardíaca ou respiratória com hipóxia, gestantes, etc. • 3ª Opção: Mepivacaína 2% com adrenalina 1:100000 – recomendada para procedimentos que necessitem de uma anestesia mais prolongada Obs: Alertar sempre os pais quanto ao risco de mordedura Consideração • A mepivacaína 3% sem vasoconstritor é recomendada para: o Pacientes nos quais não se indicam um vasoconstritor o Procedimentos que não requeiram anestesia pulpar de longa duração ou com grande profundidade o Duração aproximada de 20 minutos Os quadros 43 e 44 resumem os dados para o cálculo de quantidade de anestésico levando-se em conta o peso da criança. Doses Máximas Recomendadas 175 Droga Lidocaína ou Mepivacaína 2% (20 mg/mL) Lidocaína ou Mepivacaína 3% (30 mg/mL) Prilocaína 3% (30 mg/mL) Articaína 4% (40 g/mL) Bupivacaína 0,5% (5 mg/mL) Dose máxima mg/Kg 4,4 4,4 6,0 6,6 1,3 mg/tubete 36 54 54 72 9 Peso (Kg) Número de tubetes 10* 15* 1,2 1,8 0,8* 1,2* 1 1,7 n/a n/a n/a n/a 20 30 40 50 2 3,5 4,5 6 1,5 2,5 3 4 2 3 4,5 5,5 2 3 4 4,5 n/a n/a n/a n/a n/a = não se aplica * Alguns autores contraindicam a utilização de mepivacaína para crianças abaixo de 4 anos ou com menos de 15 Kg. Quadro 43 - Doses máximas para crianças de anestésicos locais Idade Meninos Altura Peso (cm) (Kg) 12 meses 75 10,100 18 meses 82 11,770 2 anos 87 13,000 3 anos 95 14,870 4 anos 101 16,630 5 anos 107 18,670 6 anos 114 21,040 7 anos 120 23,600 8 anos 126 26,100 9 anos 131 28,500 10 anos 135 30,900 11 anos 139 34,000 12 anos 144 38,800 Quadro 44 - Peso e altura para crianças brasileiras BIBLIOGRAFIA Meninas Altura (cm) 73 80 86 95 102 108 113 119 125 130 135 141 147 Peso (Kg) 9,450 11,140 12,250 14,680 16,590 18,560 20,670 22,900 25,200 27,650 30,450 34,250 39,950 176 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de prevenção em serviços odontológicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 156p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Projeto SB-Brasil 2003 Condições de saúde bucal da população brasileira 2002 2003. Resultados Principais. Brasília, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília, 2004. CORRÊA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. 847 p. ISSAO, M., GUEDESPINTO, A.C. Manual de odontolopediatria. 10. ed. São Paulo: Pancast, 1999. KRAMER, P. F., FELDENS, C. A. Traumatismos na dentição decídua: prevenção, diagnóstico e tratamento. São Paulo: Santos, 2005. 311 p. LONDRINA. Autarquia do Serviço Municipal de Saúde. Odontologia em Saúde Pública. Londrina: MC Gráfica e Editora, 1996. 138 p. McDONALD, R.E. AVERY, D.R. Odontopediatria. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção em Saúde Bucal. Belo Horizonte: SAS/MG, 2006. 290 p. PEDROSA, A. M. C; MOROSINI, E. P. C; GODOY, F. Z; GOMES, J. L; LOUREIRO, L. A. BPR. Guia do dentista. Guia de medicamentos em linguagem clara. Rio de Janeiro: Record. 1998. 985 p. PINTO, V.G. Saúde Bucal Coletiva. 4 ed. São Paulo: Santos, 2000. CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde. Protocolo Integrado de Atenção à Saúde Bucal. Curitiba, 2004. SERRA, M. A. Farmacoterapia em pacientes especiais. Disponível <http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=152> . Acesso em: 4 fevereiro 2009. em: TOLEDO, O. A. Odontopediatria. Fundamentos para a prática clinica. 3 ed. São Paulo: Editorial Premier, 2005. WALTER, L.R.F., FERELLE, A., ISSAO. Odontologia para o bebê. São Paulo: Artes Médicas, 1996. 246 p. 3.3. ATENÇÃO ODONTOLÓGICA AO ADOLESCENTE (10 A 19 ANOS) 177 Lucimar Aparecida Britto Codato Maura Sassahara Higasi Tem como objetivo destacar particularidades relacionadas à atenção ao adolescente, pois os aspectos odontológicos gerais já foram descritos em outros capítulos deste Manual, também válidos para a atenção ao adolescente. 3.3.1 A Adolescência Fase do desenvolvimento humano caracterizada por intensas modificações biológicas, sociais e psicológicas. Nela, além das mudanças corporais, há busca de identidade, questionamentos intensos, pois é um período de transição entre a infância e a fase adulta. A atenção odontológica aos adolescentes também é importante para adaptá-los às mudanças do período, tendo a abordagem inicial papel fundamental no sucesso ou fracasso dos atendimentos subsequentes. Normalmente o adolescente não procura a USF de forma espontânea. No entanto, necessidades odontológicas estéticas o motivam a procurar atendimento. Desta forma, é importante que a equipe de saúde bucal acolha o adolescente, que busque a integração com a família, com a escola e com os demais membros da equipe multiprofissional da USF, com o objetivo de contribuir não só com a resolução das necessidades odontológicas desse usuário, mas também com a integralidade da atenção prestada a essa importante parcela da população. Portanto, os cuidados com a saúde bucal do adolescente devem fazer parte de um amplo contexto de promoção de saúde geral nos quais os profissionais de odontologia estejam sensibilizados para entender necessidades relatadas e referenciá-las a outros níveis de atenção ou setores, que motivem os futuros adultos na adoção de hábitos de vida saudáveis. 3.3.2 Principais Problemas que Afetam a Adolescência 178 • Violência • Problemas familiares (abandono, maus tratos, agressões) • Depressão • Drogas ilícitas e tabagismo • Álcool • Gravidez não planejada • Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)27 • Obesidade • Bulimia • Anorexia • Acidentes • Problemas dermatológicos (acne e outros) • Piercing 3.3.3 Abordagem • Linguagem simples, de fácil entendimento e comum entre jovens • Não tratar o adolescente como criança 3.3.4 Acolhimento • Acontece durante todo o contato do adolescente com a equipe • A equipe de saúde bucal deve permitir • o Expressão de sentimentos o Opiniões o Dúvidas o Inseguranças A escuta do adolescente e da família deverá estar presente em todos atendimentos. Quando a equipe de saúde bucal identificar necessidades que extrapolam o seu campo de atuação, deverá referenciá-las para outros membros da equipe multiprofissional 27 A equipe deve estar atenta à presença de lesões orais. Suspeitar ou diagnosticar as DSTs, haja vista a possibilidade de prática de sexo oral, muitas vezes sem proteção. 179 • A escuta do adolescente e da família poderá ocorrer em: o Momentos distintos ou simultâneos, conforme as necessidades identificadas pela equipe em cada atendimento o Durante o preenchimento da anamnese por meio de diálogo amplo e aberto, sem censuras e sem emissão de valores ou juízos, que gere confiança, espontaneidade e sinceridade na interação com a equipe 3.3.5 Roteiro para Palestras, Oficinas ou Dinâmicas de Grupo Iniciar apresentando a equipe e respectivas funções, espaço físico da clínica. Expor os horários de atendimento e normas específicas, bem como as faixas etárias atendidas e as vias de acesso à atenção odontológica. 180 Assunto Abordagem • • Vida Saudável Alimentação saudável Dentes Halitose • • • • • • • • • • Riscos e malefícios do uso de drogas lícitas (álcool, tabaco e outras), drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, Ecstasy, LSD, inalantes, heroína, barbitúricos, morfina, skank, chá de cogumelo, anfetaminas, clorofórmio, ópio e outras) Podem causar: o Halitose o Câncer bucal o Manchas nos dentes (pelo fumo) o Doença periodontal Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) Gravidez na adolescência e métodos preventivos Importância da atividade física Dieta balanceada Adolescência: Tendência a consumo exagerado de lanches rápidos, salgadinhos, chicletes, guloseimas e refrigerantes sem a disciplina de higienização conquistada na infância Evitar excesso de refrigerantes (pode também levar à erosão dentária) Valorização do sorriso na estética do indivíduo: Boa aparência física Principais funções dos dentes: Estética, fonética, mastigação Enfatizar a estética: “Cartão de visita” e diferencial para o mercado de trabalho competitivo Período de erupção dos 3ºs molares. Reforçar a importância de cuidados com a higienização dos dentes em erupção Etiologia: Fatores fisiológicos, fatores extrabucais e bucais. Reforçar a importância da higienização para evitar acúmulo de biofilme nos dentes e saburra na língua • Etiologia • Medidas preventivas: Cárie dentária o Escovação e fio dental: Ensinar técnica, explicar o uso correto do fio dental com macromodelo e/ou outros recursos visuais disponíveis (cartazes, slides, folders, fotos). Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2 Quadro 45 - Roteiro para palestra direcionada a adolescentes e seus cuidadores • 181 Assunto Abordagem • • Etiologia Medidas preventivas (para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2) • Orientar sobre os riscos de complicações de ordem inflamatória e infecciosa, entretanto respeitando a liberdade do adolescente em utilizá-lo ou não, sem censuras ou julgamentos Condutas frente a traumatismos dentários • • • Não limpar o local lesionado Colocar possíveis fragmentos dentários no leite Procurar imediatamente atendimento odontológico (para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 7) Aparelhos Ortodônticos • • • Requerem acompanhamento sistemático do especialista Cuidados redobrados com a higienização Maior acúmulo de biofilme e maior dificuldade para removê-lo Atendimento na USF • • • • Procedimentos realizados e não realizados na USF Respeitar horários agendados Atendimentos de urgências Não faltar aos atendimentos. Justificar com antecedência possíveis ausências Encaminhamentos para especialidades • CEO: Como é feito o encaminhamento Doença periodontal Piercing Quadro 45 - Roteiro para palestra direcionada a adolescentes e seus cuidadores - Continuação 182 3.3.6 Halitose A presença de mau hálito pode provocar prejuízos psicossociais para o adolescente como insegurança ao se aproximar das pessoas, depressão, dificuldade em estabelecer relações amorosas, resistência ao sorriso e ansiedade. A equipe de odontologia deverá explicar ao adolescente as causas, as principais características e cuidados necessários para revertê-la (Quadro 46). Enfatizar a importância da higienização dos dentes, da língua e da adoção de hábitos alimentares saudáveis. Caso a halitose persista após a reversão do risco e resolução de todas as necessidades odontológicas, a equipe deverá referenciar o paciente para atendimento multiprofissional. Halitose Fisiológica Causas bucais Causa extrabucais Principais características • Relacionada a leve hipoglicemia, a redução do fluxo salivar durante o sono, além do aumento da flora bacteriana anaeróbia proteolítica. Desaparece após a higiene dos dentes e da língua e após a primeira refeição da manhã • Causa mais comum é a higiene bucal deficiente e consequente formação de saburra lingual e biofilme dental. Pode também estar relacionada a cárie, próteses mal adaptadas, restaurações defeituosas e respiração bucal • Doenças da orofaringe, bronco-pulmonares, digestivas, alcalose, doenças hepáticas e renais, perturbações do sistema gastrintestinal, diabetes, nefrite, tabagismo, doenças febris, deficiência de vitamina A e D, estresse, etc. Quadro 46 - Causas da Halitose 3.3.7 Periodontia na Adolescência 3.3.7.1 Gengivite Descuidos no autocuidado aliados a hábitos alimentares inadequados podem levar ao aparecimento da gengivite na adolescência. O tratamento consiste na reversão dos fatores de riscos. Atentar para a possibilidade de gengivite gravídica. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2, item 2.2 e Capítulo 4, item 4.1. 183 3.3.7.2 Periodontite Caracteriza-se pela destruição do periodonto de sustentação. Trata-se de doença inflamatória crônica, na qual ocorre grande destruição óssea. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2, item 2.2. 3.3.7.3 Cárie Dentária Hábitos alimentares e de autocuidado adquiridos na infância nem sempre estão presentes durante a adolescência, podendo favorecer o aparecimento de cárie dentária nessa fase. É importante que a equipe de saúde bucal estimule o adolescente a resgatar hábitos saudáveis de vida. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2, item 2.1. 3.3.8 Distúrbios Alimentares e Manifestações Bucais O aumento excessivo de regiões de desmineralização (erosões e cárie) pode estar associado a transtornos alimentares. Sabe-se que a condição bucal é importante indicador desses distúrbios, porque eles geralmente envolvem práticas de vômitos crônicos, com consequentes exposições contínuas dos dentes a conteúdos ácidos que poderão favorecer o aparecimento de desmineralização. Em casos suspeitos, a equipe de odontologia, além de atuar na educação e prevenção, deverá referenciar o usuário para atendimento multiprofissional. O Quadro 47 descreve os principais transtornos com repercussões bucais em adolescentes. 184 Transtorno Descrição Ato repetido de comer compulsivamente seguido pela indução do que foi ingerido, a maioria das vezes, por meio do vômito. O sistema digestivo produz ácidos fortes para digerir os alimentos • • Erosão severa do esmalte, dentes gastos e translúcidos (alterações na cor, formato e tamanho), perda de esmalte, boca, garganta e glândulas salivares edemaciadas, halitose, sensibilidade à temperatura, lábios vermelhos, ressecados e rachados, xerostomia, exposição pulpar, infecções periodontais e endodônticas • Consumo excessivo de • anabolizantes e suplementos alimentares associado à intensa atividade física Xerostomia, biofilme dental espesso, com aspecto melado • Ingestão do comestível Lesões na mucosa da boca, além de risco de fraturas dentais Bulimia Nervosa Vigorexia Pica Manifestações bucais que não é • Quadro 47 - Principais manifestações bucais associadas a distúrbios alimentares 3.3.9 Anamnese, Exame Geral e Intraoral Reportar-se aos itens 3.2.7 e 3.2.8 neste capítulo. 3.3.10 Terapêutica Medicamentosa • Até 12 anos de idade: Reportar-se à Atenção à criança, item 3.2.14 • Acima de 12 anos de idade: Reportar-se à Atenção ao adulto, item 3.4.4 185 Fluxograma 7 - Atenção odontológica ao adolescente Atenção ao Adolescente Tipo de atendimento Inicial Manutenção Urgência Grupos, oficinas ou palestras Educação em saúde, evidenciação e escovação supervisionada Educação em saúde, evidenciação e escovação supervisionada Tratamento Preventivo/reabilitador Tratamento Preventivo/reabilitador Manutenção Manutenção Eliminação da dor Até 14 anos > 14 anos Tipo de Programa Tipo de Programa Infantojuvenil PSF PSF Agendamento conforme disponibilidade Avaliação de risco Avaliação de risco 186 BIBLIOGRAFIA BARRETO, R. A; BARRETO, M. A. C. Os pensamentos dos adolescentes durante o atendimento odontológico. Jornal Brasileiro de Odonto-Psicologia em Pacientes Especiais. Curitiba, ano 1, n. 4, p. 3425, jul/ago, 2003. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Projeto SB-Brasil 2003. Condições de saúde bucal da população brasileira 20022003. Resultados Principais. Brasília, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília, 2004. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde Integral de Adolescentes e Jovens. Orientações para a Organização de Serviços de Saúde. Brasília, 2005. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Marco Legal. Saúde, um direito de Adolescentes. Brasília, 2005. BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde Bucal. Cadernos de Atenção Básica, n. 17. Brasília, 2006. CORREA, M. S.; DISSENHA, R.M.S.; WEFFORT, S. Y. K. Saúde Bucal do Bebê ao Adolescente. São Paulo: Editora Santos, 2005. ELIAS, M.S. et al. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev. latinoam. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 1, p. 88-95, janeiro, 2001. ISSAO, M., GUEDESPINTO, A.C. Manual de odontolopediatria. 10. ed. São Paulo: Pancast, 1999. PINTO, V.G. Saúde Bucal Coletiva. 4. ed. São Paulo, Livraria Santos Editora, 2000. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE CURITIBA. Protocolo Integrado de Atenção à Saúde Bucal. Curitiba, 2004. SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Saúde. Nascendo e Crescendo com Saúde Bucal. Atenção à saúde bucal da gestante e da criança. São Paulo, 2007. 187 3.4 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA AO ADULTO (20 A 59 ANOS) Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan Introdução Os adultos compõem uma faixa etária extremanente ampla, representando mais de 50% da população total e que acumula grande volume de necessidades odontológicas. Frequentemente apresentam condições sistêmicas crônicas que podem influenciar a saúde bucal ou serem influenciadas pela mesma. Dessa forma, a atenção odontológica demanda, por parte do profissional, a adoção de uma abordagem multiprofissional, o conhecimento de condições sistêmicas, o planejamento de ações integrais e a necessidade de adoção de critérios justos de priorização a grupos de maior risco, frente ao grande desafio que é atender à demanda que se apresenta. Condições e patologias mais frequentes • Doenças cérebrovasculares • Doenças cardiovasculares • Doenças hipertensivas • Doenças endócrinas, principalmente o Diabetes Mellitus • Neoplasias • Doenças respiratórias • Problemas neurológicos e psiquiátricos • Outros Principais problemas bucais • Cárie dentária • Doença periodontal • Câncer bucal • Xerostomia • Edentulismo • Halitose • Necessidades acumuladas de tratamento 188 Na atenção à saúde bucal do adulto, a equipe de saúde bucal deverá: • Trabalhar de forma integrada com a equipe da USF no planejamento das ações de saúde • Identificar indivíduos ou grupos a serem priorizados para as ações de saúde bucal nas famílias, grupos operativos da USF, coletivos existentes (locais de trabalho, grupos religiosos, outros), regiões sob risco social, etc. • Possibilitar o acesso gradual destes à demanda programada, conforme critérios descritos no Capítulo 1, item 1.3. • Acolher os casos de urgência, de forma resolutiva • Encaminhar o paciente com necessidade de atenção especializada para o CEO, centros de referência ou outros • Realizar Visita Domiciliar com objetivos de avaliação de risco, diagnóstico, educação em saúde, encaminhamento para tratamento e, quando necessário, assistência odontológica aos adultos acamados da área de abrangência. Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 1 • Planejar e implementar ações de promoção de saúde e educação em saúde bucal • Encaminhar pacientes com suspeita de patologias sistêmicas ou com possíveis fatores de risco para avaliação médica e/ou para grupos operativos. Ex: Antitabagismo, hipertensão, diabetes, etc. 3.4.2 Promoção de Saúde Bucal As ações de promoção à saúde bucal podem ser realizadas por toda equipe de saúde bucal, dentro ou fora da USF, de forma individual ou coletiva. Estratégias • Abordagem familiar • Trabalho integrado com a USF em grupos operativos (diabéticos, hipertensos, terapia comunitária, etc), incluindo o tema saúde bucal • Atuação em espaços de trabalho (fábricas, construção civil, estabelecimentos comerciais, etc.) e espaços sociais (associação de moradores, sindicatos, reunião de 189 pais em escolas, grupos religiosos, entre outros) localizados na área de abrangência da USF • Integração e treinamento do ACS para o Detectar necessidade de atenção odontológica em domicílios e instituições o Educação do usuário em saúde bucal e estímulo ao autocuidado o Capacitação do ACS para atuação como promotor de saúde bucal Ações a serem desenvolvidas • Orientação de saúde bucal, incluindo o Higiene bucal com demonstração de técnica de escovação, limpeza de prótese, uso do fio dental, etc. o Fatores de risco para a cárie dentária, doença periodontal e o câncer bucal o Alimentação e saúde bucal o Autoexame bucal o Alterações mais comuns da cavidade bucal: retração gengival, cárie radicular, desgaste natural do esmalte, alterações de paladar e de fluxo salivar, saburra lingual, halitose, perda de dimensão vertical, lesões bucais e cuidados com próteses o Rastreamento de lesões pré-malígnas e dos casos de câncer na comunidade o Encaminhamento de fumantes para grupos de antitabagismo o Outros, a critério da equipe local Considerações • Aproveitar todas as oportunidades de realização de educação em saúde, de maneira informal ou por meio de reuniões programadas • Ao planejar essas atividades, sugere-se utilizar uma abordagem de fatores de riscos comuns a outras doenças, tais como: o O tabaco e o álcool são fatores de risco para a doença periodontal, para as doenças cardiovasculares, para o câncer bucal, de esôfago, de estômago e de pulmão 190 o O consumo de carboidratos é fator de risco tanto para a cárie dentária quanto para o diabetes e a obesidade, que por sua vez, podem ser fator de risco para doenças cardíacas 3.4.3 Atenção Clinica Na atenção clínica ao adulto, procurar seguir os seguintes passos 1) Evidenciação de biofilme dental, escovação supervisionada, uso do fio dental e orientações educativas 2) Anamnese • História médica pregressa e atual o Lista de problemas médicos, hospitalizações, incapacidades físicas e mentais o Lista de medicamentos utilizados o Dor de garganta persistente, dificuldade de fala, mastigação e/ou deglutição de alimentos • História odontológica o Queixa principal o História odontológica anterior o Hábitos dietéticos, de higiene bucal, fumo, consumo de álcool, uso de medicamentos, etc. • Registros dos sinais vitais (antes de todas as sessões) o Pressão arterial o Pulso: Frequência normal (60 a 100 batimentos por minuto) 3) Exame clínico • Avaliação extrabucal o Face o ATM e músculos da mastigação o Cadeias de gânglios cervicais para se observar presença de linfonodos aumentados 191 o • Halitose (doença bucal e sistêmica) Avaliação intrabucal o Lábios e mucosa labial o Comissura, mucosa bucal e vestíbulo o Palato mole e duro o Orofaringe o Língua o Soalho da boca o Observar presença de o • Ulcerações ou lesões que não cicatrizam há mais de 14 dias • Lesões brancas • Lesões vermelhas • Lesões brancas associadas com áreas vermelhas Identificar áreas de irritação crônica como próteses mal adaptadas ou quebradas, dentes fraturados e com bordas cortantes • Rebordo alveolar • Periodonto • Dentes 4) Preenchimento do odontograma 5) Adequação do meio bucal com cimento de ionômero de vidro, na primeira consulta de rotina, sempre que possível 6) Avaliar a necessidade de fluorterapia de acordo com o risco e a atividade de cárie. Para maiores informações reportar-se aos Capítulos 2 e 6 7) Encaminhamento a especialidades, quando necessário, conforme critérios descritos no Capítulo 1, item 1.3.2.5 8) Manutenção periódica, quando necessário. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 1, item 1.3.2.5 192 3.4.4 Terapêutica Medicamentosa Anestésicos Locais • Lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 (2 a 3 tubetes) • Prilocaína 3% com felipressina (2 a 3 tubetes) • Mepivacaína 2% com vasoconstritor (2 a 3 tubetes) • Mepivacaína 3% sem vasoconstritor (2 tubetes) Observação Avaliar a condição sistêmica e indicar o anestésico mais seguro para cada patologia em questão, conforme descrito no Capítulo 4. Analgésicos • 1a opção: Paracetamol (Tylenol, Dôrico) - 500 a 750 mg de 6/6 horas • 2a opção: Dipirona (Novalgina, Anador, Magnopyrol) - 1 comprimido ou 35 gotas de 6/6 horas • Dor mais intensa: Alternar a utilização de Paracetamol e de Dipirona, com intervalo de três horas entre cada um deles. Caso seja necessário, indicar 1 ampola de Dipirona injetável logo após a intervenção e depois iniciar o esquema sugerido, por via oral Observação Avaliar a condição sistêmica e indicar o analgésico mais seguro para cada patologia em questão, conforme descrito no Capítulo 4. Anti-inflamatórios • Diclofenaco (Cataflan, Voltaren, Diclofen, Biofenac 50 mg) - 50 mg de 8/8 horas por 3 a 5 dias Observação Avaliar a condição sistêmica e indicar o anti-inflamatório mais seguro para cada patologia em questão, conforme descrito no Capítulo 4. 193 Antibióticos Em situações normais, sem restrição. • 1ª opção: Amoxicilina - 500 mg (a cada 8 horas, por 7 a 10 dias) • 2ª opção – Alérgicos a Penicilinas e derivados: Eritromicina 500 mg (a cada 6 horas, por 7 a 10 dias), Clindamicina ou Claritromicina Profilaxia antibiótica no paciente adulto: Vide Capítulo 4, item 4.6 194 Fluxograma 8 - Atenção odontológica ao adulto Atenção ao Adulto Acesso ao tratamento • Acamado • Encaminhamento pela USF • Grupos operativos • Urgência • Demanda espontânea Avaliação de Risco Adulto sem possibilidade de locomoção à USF (acamado) Adulto com possibilidade de locomoção à USF Visita Domiciliar Acolhimento na USF Anamnese/Exame clínico Educação em saúde Orientações gerais Atendimento Clínico Anamnese/Exame clínico Educação ao adulto/ cuidador Orientações gerais Quando necessário Atendimento Domiciliar Encaminhamento a especialidades (CEO) Manutenção programada na USF ou domicílio/instituição para usuários com patologias crônicas graves ou outras situações de risco 195 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 17). BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Câncer de Boca. Manual de detecção de lesões suspeitas. 2. ed. Rio de Janeiro: INCA/PróOnco. 1996. 48 p. Disponível em:< http://virtualbooks.terra.com.br/>. Acesso em: 10 junho 2008. SONIS, S.T; FAZZIO, R.E.C; FANG, L. Princípios e prática da medicina oral. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1996. 197 3.5 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA AO IDOSO Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan José Roberto Almeida INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional faz parte da realidade brasileira e traz, entre outras, a discussão sobre a atenção à saúde do idoso como uma necessidade real do sistema público de saúde. Da mesma forma, a atenção à saúde bucal coloca-se como um desafio para os serviços de saúde, reconhecendo-se sua importância para a garantia do bem estar, manutenção do estado nutricional, melhoria da qualidade de vida e da autoestima do idoso, bem como prevenção de doenças sistêmicas como Endocardite Infecciosa, pneumonia por bronco-aspiração, etc. A maioria dos idosos apresenta grande deterioração da saúde bucal, com quadro clínico de edentulismo, doença periodontal, cárie radicular, xerostomia, halitose, abrasão, atrição dentária, entre outros. Tal acúmulo de problemas apresenta-se como reflexo de um conjunto de fatores como precárias condições de vida e de saúde, dificuldades de acesso à atenção à saúde bucal, etc. A atenção odontológica ao idoso demanda também, por parte do CD, conhecimentos sobre o processo de envelhecimento, sobre o conjunto de agravos que podem acometê-lo, além de fatores sociais e da vida diária que podem comprometer ou até dificultar o acesso do mesmo aos serviços disponíveis. Na atenção à saúde bucal do idoso, é essencial a abordagem familiar, muitas vezes com envolvimento do cuidador e também a interação com a equipe de saúde da USF. 198 3.5.2 Classificação A Lei do Idoso, editada no Diário Oficial da União, em 1994, que dispõe sobre a política Nacional do Idoso, considera idosa, para efeito de lei, a pessoa maior de sessenta (60) anos de idade. A OMS também considera idosos, em países em desenvolvimento, pessoas acima de sessenta (60) anos de idade. Classifica a população na seguinte progressão: • 45 a 59 anos - meia idade ou primeiro envelhecimento • 60 a 70 anos - senescência gradual • 71 a 90 anos - velhice conclamada • Acima de 90 anos - longevo A Federação Dentária Internacional (FDI) leva em consideração o estado funcional e a capacidade para autonomia de vida do indivíduo, classificando pessoas com mais de sessenta (60) anos de idade em: • Funcionalmente independentes - indivíduos sadios, podendo apresentar uma ou mais doenças crônicas não graves e controladas por medicação e/ou com algum declínio sensorial associado com a idade, mas que vivem sem necessitar de ajuda. Podem ir sozinhos ao consultório • Parcialmente dependentes - pessoas que têm problemas físicos debilitantes crônicos, de caráter sistêmico e/ou emocional, com perda do seu sistema de suporte social, fazendo com que sejam incapazes de manter independência total sem uma assistência continuada. Necessitam de ajuda para fazer compras, locomoverem-se ou marcar hora com o CD, por exemplo. Vivem em suas casas ou em casas geriátricas • Totalmente dependentes - inclui aqueles cujas capacidades estão afetadas por problemas físicos debilitantes crônicos, sistêmicos e/ou emocionais, que os impossibilitam de manter autonomia. São pessoas em geral institucionalizadas, recebendo ajuda permanente Os idosos também podem ser classificados como institucionalizados ou não, de acordo com sua relação de dependência e convivência em instituição de auxílio ou cuidado do idoso, como asilos, lares e casas de repouso. 199 3.5.3 Características do Envelhecimento Modificações na composição corporal • Aumento da gordura corporal em 20 a 40% • Diminuição do tecido adiposo dos membros e aumento no tronco (gordura central) • Diminuição da água corporal total em 15% a 20%, principalmente intracelular • Maior susceptibilidade a complicações consequentes das perdas líquidas e maior dificuldade de reposição do volume perdido devido a uma redução dos componentes intra e extracelulares, principalmente íons sódio e potássio • Alteração da absorção, metabolização e excreção das drogas devido às mudanças no metabolismo hepático e excreção renal • Redução da albumina, alterando o transporte de drogas no sangue • Diminuição do metabolismo basal de 10% a 20% com o progredir da idade Alterações fisiopatológicas • Menor capacidade homeostática - diminuição da capacidade de reserva, de defesa e de adaptação, o que os torna mais vulneráveis a quaisquer estímulos (traumático, infeccioso ou psicológico). Dessa forma, as doenças podem ser desencadeadas mais facilmente • Menor capacidade respiratória e imunológica • Diminuição da massa muscular • Diminuição da velocidade de condução do impulso nervoso • Problemas visuais e auditivos • Diminuição da capacidade metabólica do fígado, do fluxo sanguíneo e da função renal 200 Grupos de distúrbios mais específicos e prevalentes na 3ª idade • Incapacidade cognitiva - perda da habilidade de usar as funções cerebrais mais elevadas: Atenção, orientação, reconhecimento, memória, iniciativa, etc. • Instabilidade postural - falha de diversos mecanismos neuronais e músculoesqueléticos relacionados à marcha. Principais causas: Idade, história prévia de queda, déficit cognitivo e uso de medicamentos, sarcopenia28. Fatores extrínsecos (ambiente) • Incontinências - perda da urina em hora e local inapropriado. Leva ao isolamento social, depressão e infecção do trato urinário e lesões da pele do períneo • Iatrogenia - alteração patogênica provocada pela prática médica. O idoso é mais susceptível a iatrogenia por estar mais exposto aos procedimentos de diagnóstico e tratamentos • Imobilismo - redução dos limites do espaço vital de um indivíduo. Passa a se restringir cada vez mais, tornando-se incapaz para as atividades de vida diária. O idoso fica restrito ao leito. É frequente o risco de pneumonia por aspiração • Disfagia (dificuldade de deglutição) - o alimento vai para traqueia ao invés do esôfago, causando tosse ou engasgo. Sintomas: Sensação de alimento “parado” na garganta, necessidade de engolir várias vezes, dor ao engolir, tosse após engolir e engasgos frequentes. Os músculos utilizados nos vários estágios da deglutição estão fracos e sem coordenação. A disfagia leva à má nutrição e a riscos para a pneumonia por aspiração • Pneumonia por aspiração - aspiração de material (secreção) colonizado da orofaringe para os pulmões. Pode levar à morte. O risco de pneumonia por aspiração é aumentado quando está associado à saúde bucal precária e disfagia, sendon menor em edêntulos e idosos que recebem cuidados odontológicos, comparados com outros pacientes 28 Redução da massa muscular associada com a idade 201 Alterações psicossociais • Perda do cônjuge • Abandono repentino do trabalho (aposentadoria) • Mercado de trabalho excludente • Condições financeiras, muitas vezes, desfavoráveis • Abandono familiar, integração a um asilo • Capacidade reduzida de manter uma dieta balanceada • Aspecto físico externo, aparência estética comprometida 3.5.4 Condições e Patologias Comuns na 3ª Idade e de Interesse Odontológico 3.5.4.1 Hipertensão arterial (HA) • Acomete de 50 a 70% das pessoas idosas • A hipertensão sistólica isolada é uma forma específica de hipertensão mais comumente encontrada em indivíduos idosos, especialmente na sétima década de vida. É definida como uma pressão sistólica de 140 mm Hg ou maior e uma pressão diastólica menor que 90 mm Hg • A determinação correta da pressão arterial (PA) pode ser particularmente difícil nos pacientes idosos por causa do enrijecimento das paredes arteriais, resultando em PA falsamente elevada com o uso de um esfigmomanômetro comum. Por isso é chamada pseudo-hipertensão. Portanto, durante o exame físico deve-se incluir mais de uma aferição da PA, com intervalo de pelo menos 5 minutos entre cada uma delas e calcular a pressão média a partir dos valores obtidos ou realizar a manobra de Osler29 • Nível significativo dos pacientes idosos necessita de duas ou mais classes terapêuticas de medicamentos para controle da hipertensão • 29 Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.3 Esta manobra baseia-se na palpação da artéria radial após insuflação do manguito acima da pressão sistólica. Diz-se que a manobra de Osler é positiva quando a artéria permanece palpável, mas sem pulsações. Classicamente é considerada uma indicação de pseudo-hipertensão arterial. Para maiores informações, reportar-se ao Protocolo de Saúde do Adulto da AMS. 202 Considerações Odontológicas • A integração entre as equipes odontológicas e médicas é de fundamental importância • No prontuário da USF, verificar se o paciente é inscrito no Programa de Hipertensão, recebendo assim orientações para o controle da PA • Pacientes com HA deverão estar compensados para se submeterem a tratamento invasivo de rotina • Anotar a lista de medicamentos que podem causar xerostomia, hiperplasia gengival, etc. • Certificar-se que o paciente tomou medicação anti-hipertensiva • Aferir a PA antes do atendimento • Evitar consultas prolongadas e muito estressantes • Paciente em uso de diuréticos: Pedir para ir ao banheiro antes do atendimento • Estar atento para a presença de sintomas de hipotensão postural ou ortostática30 tais como instabilidade, tontura ou mesmo desmaio decorrentes do uso de medicação antihipertensiva. Desta forma, se o paciente permanecer por algum tempo na posição supina (deitada), deve-se: o Voltar à posição normal lentamente o Permanecer sentado por 3 a 5 minutos o Ajudá-lo a se levantar da cadeira odontológica o Proporcionar apoio até que o mesmo se sinta equilibrado o Pacientes em uso de metildopa e clonidina são mais susceptíveis 3.5.4.2 Doenças cardiovasculares Acima dos 60 anos, aproximadamente 40% de todos os óbitos têm como causa a doença coronariana. A hipertensão, o tabagismo, a dislipidemia (alterações no colesterol) e o diabetes são os principais fatores de risco, atuando de forma sinergística. • Cardiopatia isquêmica/ doença arterial coronariana (infarto e angina de peito) Angina – estreitamento das artérias coronárias Infarto – isquemia prolongada no coração 30 Queda brusca da PA em 20 mmHg quando o indivíduo fica de pé. Causas: HA descontrolada, desidratação, medicamentos (anti-hipertensivos, vasodilatadores, sedativos, antidepressivos tricíclicos, etc.) 203 Verificar • o Gravidade da angina (se necessário, perguntar ao médico) o Lista de medicamentos o Tempo decorrido do infarto/angina o Cautela com vasoconstritores o Dependendo da condição sistêmica: Tratamento em ambiente hospitalar o Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.5.1 Insuficiência Cardíaca Congestiva – ICC É a incapacidade do coração fornecer sangue oxigenado para o organismo Atentar para: • o Lista de medicamentos o Uso de vasoconstritores adrenérgicos o Risco para hipotensão postural o Contatar o médico o Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.5.2 Valvulopatias (estenose aórtica) o Manter o paciente em boas condições de saúde bucal o Pacientes com estenose aórtica (idade avançada): Risco para Endocardite Infecciosa o Profilaxia antibiótica: Amoxicilina 2,0 g ou clindamicina 600 mg, 1 hora antes do procedimento o Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.5.3 3.5.4.3 Diabetes Mellitus (DM) O DM apresenta tendência de aumento de incidência no idoso, afetando mais de 15% dos indivíduos entre 60 e 69 anos e 20% dos idosos acima de 75 anos, sendo que 1/3 destes desconhecem que têm a doença. O paciente idoso pode se apresentar oligossintomático e os sinais e sintomas clássicos podem estar ausentes, dificultando o diagnóstico desta patologia. Sendo assim, o paciente pode não saber que tem a doença e o CD deve estar atento a outros sinais e sintomas, como cansaço fácil, presença de infecções 204 crônicas, visão turva, muita sede, emagrecimento, hipoglicemia, etc. Na dúvida, encaminhar o paciente para avaliação médica. Considerações odontológicas • Reduzir a tensão do paciente • Consultas curtas e, se possível, no meio da manhã • Fornecer instruções sobre dieta e higiene bucal • Reduzir o risco de infecções (profilaxia antibiótica) • Somente realizar tratamento odontológico invasivo em pacientes compensados • Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.2 3.5.4.4 Osteoporose • Doença crônica que remove cálcio da estrutura do tecido ósseo e aumenta o risco de fraturas em situações diárias de impactos pequenos ou mesmo inexistentes • Mais comum em mulheres após a menopausa e em homens após os setenta anos de idade • É a maior causa de fraturas em idosos e vem tendo uma importante repercussão na Saúde Pública • Não é incomum ocorrerem artrites e alterações degenerativas associadas Considerações odontológicas • O paciente pode apresentar dificuldade de acomodação na cadeira odontológica • Muitas vezes será preciso usar técnicas de transferências, evitando movimentos de rotação • Ter cautela para exodontias e colocação de prótese total inferior, esta última devido à dificuldade de adaptação • Os pacientes com osteoporose podem apresentar diminuição na densidade óssea da mandíbula associada a um decréscimo de massa óssea esquelética • Suspeita-se que ocorra perda de inserção periodontal em pacientes com osteoporose 205 3.5.4.5 Alterações neurológicas e psiquiátricas 3.5.4.5.1 Doença de Alzheimer (DA) • Desordem progressiva do Sistema Nervoso Central (SNC), que afeta de forma gradativa as células do cérebro, levando à morte neuronal e causando perda de memória, confusão mental e mudanças de comportamento. Em fase avançada, compromete a habilidade do indivíduo de andar, falar e deglutir • A prevalência da doença aumenta com a idade, passando de pouco mais de 10% em pessoas com mais de 65 anos, alcançando 47% por volta dos 85 anos • O distúrbio começa com simples sinais de esquecimento e impedimento cognitivo suave. É a forma mais prevalente de demência Estágios Inicial/leve O paciente tem dificuldade de: o Percorrer trajetos novos o Recordar o nome de pessoas a quem foi apresentado recentemente o Recordar onde colocou objetos o Tirar proveito do que lê o Planejar controle de finanças, pequenos consertos, etc. Moderado O paciente tem dificuldade de: o Escolher roupas o Lembrar nomes de familiares próximos o Recordar números de telefone usados há muitos anos Observação Pode realizar atividades básicas da vida diária Avançado 206 O paciente tem dificuldade de: o Ocasionalmente, lembrar o nome do cônjuge ou pessoa com quem mais convive o Tomar banho ou vestir-se sem ajuda o Realizar todas as etapas do uso de vaso sanitário o Controlar esfíncter urinário Considerações Odontológicas • São cada vez mais frequentes nos consultórios • O paciente vai tornar-se mais dependente, à medida que a doença progride • Nos estágios iniciais da doença os tratamentos dentários são possíveis • As sessões de tratamento devem ser as mais curtas possíveis • A presença de um parente ou cuidador é desejável • Quando o paciente se torna muito agitado, o tratamento deve ser interrompido • Não devem ser realizados trabalhos provisórios, mas sim definitivos • A dieta do paciente muda e a ingestão de açúcar vai gradativamente aumentar • Normalmente não existe contraindicação de anestesia com vasoconstritores, salvo quando coexista alguma doença sistêmica que contraindique o uso dos mesmos 3.5.4.5.2 Mal de Parkinson • Doença progressiva do SNC, incurável, que se desenvolve geralmente entre 40 e 65 anos de idade. Causa a degeneração da substância negra do cérebro, no tronco cerebral. A dopamina, um neurotransmissor cerebral, deixa de ser produzida nos níveis adequados e a doença começa a se manifestar. Atinge cerca de 11% da população acima de 65 anos • Não existe tratamento específico para cura do mal de Parkinson, mas sim para os sintomas, como rigidez muscular e tremor, que podem ser amenizados pelo uso de drogas como dopamina (Levodopa) e por cirurgia • As faculdades mentais normalmente não estão afetadas, por isso é muito importante o manejo psicológico do paciente • A depressão e a demência podem estar associadas à progressão da enfermidade • Sinais clínicos 207 o Tremor rítmico das extremidades o Marcha lenta no andar, com braços caídos para o lado o Fala não muito distinta o Olhar parado o Expressão facial de máscara por falta de mobilidade dos músculos faciais o Salivação excessiva Considerações odontológicas • Os efeitos das medicações para diminuir a salivação provocam secura da boca e podem dificultar a deglutição. Instituir medidas para diminuir o risco de patologias bucais (controle de dieta, uso de flúor, controle de biofilme, manutenção periódica, manejo de hipossalivação) • O tratamento odontológico pode ser dificultado por causa do tremor presente nos músculos da mastigação e da língua • Pacientes depressivos podem não ser colaboradores e não seguirem recomendações • Pode haver prejuízo na higiene bucal por perda de destreza e coordenação para segurar dispositivos de limpeza bucal. Neste momento, a participação dos familiares e/ou do cuidador, com as devidas instruções sobre controle do biofilme e da dieta, se faz necessária • Pode apresentar dificuldade de adaptação de próteses devido aos movimentos involuntários maxilares e à hipossalivação • Ardência na língua • Tempo limitado para o tratamento odontológico devido à dificuldade de manter a boca aberta por muito tempo • Problemas na deglutição (engasgos) são frequentes • Nomes comerciais do Levodopa: Prolopa e Prolopa HBS, Cronomet, Levocarb, Sinemet 3.5.4.5.3 Depressão A depressão afeta de um modo geral, de 15 a 20% dos idosos. Já em idosos institucionalizados, a prevalência de depressão vai de 25 a 80%. A depressão é 3 vezes mais prevalente em idosos com alguma deterioração funcional que naqueles sem essa condição. 208 Os pacientes depressivos podem apresentar uma maior prevalência de patologias bucais como cárie dentária, doença periodontal, candidíase bucal, etc. A ansiedade relacionada ao tratamento dentário pode se constituir em barreira para a procura do mesmo. Os efeitos colaterais dos antidepressivos podem levar à secura bucal crônica. Medicamentos mais comuns • Antidepressivos tricíclicos o Podem causar hipotensão ortostática o Ação anticolinérgica, com hipossalivação e xerostomia o Vasoconstritor - limite de 2 a 3 tubetes com adrenalina 1:100000 e com administração lenta • Inibidores de recaptação de serotonina o Ação anticolinérgica, com hipossalivação e xerostomia o Vasoconstritor - limite de 2 a 3 tubetes com adrenalina 1:100000, com administração lenta • Inibidores da Mono Amino Oxidase - IMAO o Ação anticolinérgica, com hipossalivação e xerostomia o Podem causar hipotensão ortostática o Vasoconstritor - limite de 2 a 3 tubetes com adrenalina 1:100000, com administração lenta o Podem interagir com uma grande quantidade de medicamentos e causar crises hipertensivas, arritmias, etc. 3.5.4.6 Artrite Reumatoide • Deformidades dos dedos e dificuldade para higienização bucal • Uso de medicamentos: Drogas antiplaquetária (aspirina, AINH) • Observar alterações posturais • Quando as articulações são sobrecarregadas, distúrbios que afetam as articulações têmporo-mandibulares podem surgir, levando a dores orofaciais e dificuldades de alimentação, fonação e deglutição, incorporados ao estresse Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 4, item 4.13. 209 Osteoartrose (osteoartrite, artrite e artrose) • Doença articular (dor): Provoca limitações e incapacidade funcional • Não marcar horário muito cedo (dor matinal) • Cautela na mobilização e posicionamento do paciente • Higiene bucal deficiente (limitações da doença) 3.5.4.7 Síndrome de Sjogren • Doença autoimune de progressão lenta que leva à infiltração linfocítica das glândulas exócrinas, principalmente as lacrimais e salivares, resultando numa função secretora comprometida • Afeta 0,5 a 1% da população, predominantemente mulheres na meia idade (90% dos pacientes são mulheres após a menopausa, com 50 anos de idade ou mais), podendo ocorrer também em qualquer idade • O envolvimento das glândulas salivares maiores e menores leva a uma secreção salivar diminuída, com múltiplas consequências para a saúde bucal e a qualidade de vida • Características o Aumento da incidência de cárie dentária, principalmente cárie de raiz e em locais de pouca susceptibilidade como incisivos inferiores o Infecções fúngicas (principalmente a candidíase) com lesões pseudomembranosas ou eritematosas na mucosa, glossite romboide mediana e fissuras na língua, estomatite por uso de próteses ou queilite angular o A prevalência da infecção periodontal não está aumentada o A hipossalivação também influencia a saúde e a integridade da mucosa bucal. Sinais incluem lábios secos e fendidos e despapilação da língua o Outra manifestação bucal razoavelmente comum é o aumento da glândula parótida ou outra glândula salivar maior, o qual é assintomático e autolimitante o Manejo do paciente, reportar-se ao Capítulo 8 210 3.5.4.8 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) Limitação do fluxo aéreo, não reversível, progressiva e, em geral, associada a uma resposta inflamatória do pulmão a partículas ou gases nocivos. Principais componentes • Bronquite crônica o Aumento de secreção bronquial com aparecimento de exsudato inflamatório, piorando com fatores irritantes como o fumo e infecções o Principais sinais Tosse crônica com expectoração abundante, principalmente em pessoas de meia idade e tabagistas Dispneia Sibilo (chiado) no peito Incapacidade física, mais acentuada quando é complicada com infecções pulmonares • Enfisema pulmonar o Aumento anormal dos espaços aéreos, acompanhado de alterações destrutivas das paredes alveolares devido à ação de enzimas proteolíticas o O início dos sintomas costuma ocorrer após os 50 anos de idade, sendo raro em não fumantes o Características Dispneia de progressão longa e insidiosa Tosse geralmente seca Perda de peso Diminuição generalizada da massa muscular Aumento dos diâmetros do tórax o Medicamentos mais usados Broncodilatadores, corticoides, antibióticos, mucolíticos e fluidificantes. Os diuréticos são utilizados nos casos de insuficiência cardíaca congestiva associada 211 Considerações odontológicas • A posição do paciente na cadeira deve proporcionar maior comodidade para respirar, sendo recomendada a semissentada (inclinação de aproximadamente 45%), evitando-se a posição supina • A sedação consciente está contraindicada no paciente com DPOC grave • Sessões curtas, de preferência na segunda metade da manhã ou no início da tarde • Anestésico o Não utilizar anestésico local com adrenalina em pacientes que utilizam teofilina, aminofilina ou corticosteroides o Indicação: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor 3.5.4.9 Asma • Atinge de 7 a 9 % da população idosa, causando maior mortalidade nesta faixa etária • A doença é geralmente subdiagnosticada nesta idade, pois muitas vezes há uma menor percepção da dispneia, aliada a uma interpretação da asma como uma consequência natural da idade • O uso de anestésicos locais com vasoconstritores não é contraindicado. Na realidade, a adrenalina até poderia ter uma ação benéfica com consequente melhoria das condições respiratórias • Para pacientes asmáticos alérgicos deve-se, entretanto, ter cuidado, pois sulfitos (conservantes de alimentos que causam alergias) são também incorporados às soluções anestésicas que contém vasoconstritores do tipo amina simpaticomimética, para evitar a oxidação e consequente inativação dos mesmos. Deve-se, em pacientes asmáticos dependentes de corticoides, evitar estes vasoconstritores, dando-se preferência à felipressina • Drogas mais utilizadas para o tratamento da asma o Broncodilatadores o Agonistas Beta-2-adrenérgicos o Corticosteroides Considerações odontológicas • Evitar o uso de penicilina, AINH, AAS pois podem desencadear crise de asma caso o paciente seja susceptível aos mesmos 212 • Evitar o uso de macrolídeos em pacientes que utilizam agentes Beta-2-adrenérgicos (albuterol e terbutalina), derivados das xantinas (teofilina e aminofilina) • Anestésicos Antes de selecionar o anestésico, perguntar ao paciente se já apresentou alguma o reação com os mesmos Solicitar que paciente leve nas consultas o medicamento utilizado para crise de o asma 3.5.5 Saúde Bucal do Idoso No passado considerava-se que a perda dos elementos dentários e da saúde bucal seria um fenômeno inevitável. Atualmente, sabe-se que a fisiologia bucal pode se manter relativamente estável em indivíduos saudáveis. Verifica-se, no entanto, a deterioração das funções na presença de enfermidades e uso de medicação. Pacientes com patologias crônicas como doença de Parkinson, depressão, hipertensão arterial, demência, diabetes, entre outras, associadas a terapêuticas complexas, que levem à hipossalivação, podem apresentar inúmeras alterações bucais que irão influir na qualidade de vida do individuo. As doenças bucais também podem contribuir para uma piora do quadro de saúde de indivíduos idosos. 3.5.5.1 Alterações bucais mais comuns no idoso Alterações fisiológicas ou funcionais que podem aparecer na cavidade bucal do idoso, decorrentes do uso e do processo de envelhecimento. • Desvio mesial dos dentes provocado pela força de oclusão • Dentes escurecidos, com tonalidade amarelada, castanha ou cinza • Desgaste no esmalte devido ao atrito provocado pela mastigação, presente em grande parte dos indivíduos • Superfície dentária lisa e polida, devido ao atrito de alimentos e da escovação ao longo da vida • Diminuição da permeabilidade dos canalículos dentinários e aumento do limiar de sensibilidade à dor devido ao menor fluxo no seu interior • Polpa dentária reduzida, fibrótica, com menor celularidade e, consequentemente, mais susceptível ao dano irreversível. Respostas alteradas a estímulos e testes de sensibilidade 213 • Diminuição da vascularidade e da capacidade de reparação e proliferação celular predispondo à gengivite e periodontite • Diminuição da queratinização da gengiva, predispondo a lesòes e enfermidades gengivais • Alterações regressivas das glândulas salivares, levando a mudanças quantitativas e qualitativas na saliva • Atrofia de papilas filiformes e circunvaladas, com diminuição da capacidade gustativa, o que pode levar a perda do apetite e, consequentemente, à desnutrição • Fissuração da língua, particularmente a partir dos sessenta anos, predispondo ao acúmulo de biofilme sobre a mesma e aparecimento de saburra lingual • Varicosidades linguais no ventre da língua • Aumento no número de grânulos de Fordyce • Diminuição da competência imunológica 3.5.5.2 Problemas bucais mais frequentes nos idosos Edentulismo A perda dos elementos dentais traz, para o idoso, consequências para a fala, deglutição e mastigação, comprometendo o início do processo digestivo, a ingestão de nutrientes, o apetite, a comunicação e a autoestima, podendo acarretar a necessidade de uso de dieta pastosa e cariogênica. Cárie dentária Além da cárie coronária, a cárie radicular tende a se apresentar mais prevalente no idoso. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 2. Doença periodontal É considerada a segunda causa de perda dos dentes em idosos. A periodontite aguda não é comum nos idosos, entretanto, a agudização pode ocorrer devido a várias infecções sistêmicas. A doença periodontal, em razão da proliferação bacteriana que propicia bacteremia, é reconhecida como fator contribuinte ao agravamento do quadro clínico de doenças crônico degenerativas como doença cardiovascular, respiratória e diabetes. Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 2. 214 Candidíase Bucal A Candidíase constitui um problema frequente na 3ª idade. Sua incidência é elevada devido à presença de condições debilitantes, deficiências vitamínicas, traumas e, em muitos casos, higiene deficitária. O aspecto clínico intraoral pode variar, apresentandose como: • Candidíase pseudomembranosa: Presença de placas brancas ou amareladas removíveis por meio de raspagem, deixando uma superfície eritematosa e ligeiramente sangrante. A localização mais frequente é mucosa do palato, jugal ou labial, dorso da língua, podendo acometer também outras regiões. É uma das formas mais comuns de Candidíase, com predileção por crianças e pessoas debilitadas • Candidíase eritematosa: Pontos ou manchas avermelhadas encontradas com maior frequência no palato duro ou mole, dorso da língua e mucosa jugal • Estomatite induzida por próteses: Apresentando-se como eritema liso ou granular confinado à área da dentadura do palato duro e frequentemente associada à queilite angular, com ardência da língua e paladar alterado • Queilite angular: Fissuras radiais partindo da comissura labial devido a trauma, perda de dimensão vertical ou quando recorrente, é considerada como uma enfermidade devido à carência de vitamina B12. Quando associada a um processo infeccioso pode apresentar eritema e placas esbranquiçadas. O sintoma clínico é a ardência nos cantos da comissura labial, muitas vezes com presença de sangramento a um esforço maior na abertura de boca. A coloração branca é devido à presença de Candida albicans. O tratamento deve ser de acordo com o agente etiológico presente Tratamento • Nistatina Suspensão: 500000 a 1000000 UI por dia, divididos em 4 doses (6/6 horas), durante 14 dias. A droga deve ter contato íntimo com a mucosa e o microorganismo, através de bochecho com 10 mL por 1 a 2 minutos, com posterior deglutição, sem enxágue subsequente • Nistatina pastilha ou tabletes de 200000 UI: 1 a 2 pastilhas dissolvidas na boca, lentamente, 4 vezes ao dia, por 14 dias. Engolir 215 • Miconazol 20 mg: Passar no local uma camada fina, sem friccionar, 4 vezes ao dia, durante uma semana ou , no caso de uso de prótese, aplicar na parte interna da mesma, durante 14 dias • Pacientes portadores de próteses muco-suportadas (parciais ou totais) devem ser instruídos quanto à remoção mecânica, pela escovação, de resíduos, biofilme dental ou fungos retidos nas reentrâncias e na base das mesmas. Bochecho com gluconato de clorexidina 0,12%, por 1 minuto, duas vezes ao dia, por 14 dias • A queilite angular pode ser tratada com agentes tópicos como creme à base de Nistatina, PVPI (Polivinilpirrolidona-iodo), até a regressão da lesão. Quando se manifestar de forma recorrente, solicitar avaliação médica Líquen plano As lesões são frequentemente múltiplas, bilaterais, estriadas e mostram-se como placas esbranquiçadas, ocasionalmente erosadas, podendo ser dolorosas. O diagnóstico pode ser exclusivamente clínico nos casos com manifestações reticulares, mas em alguns casos e particularmente nas formas atróficas, ulceradas e em placa, a biópsia incisional está indicada. O MS sugere como conduta a realização da biópsia incisional como procedimento padrão e como recurso ao diagnóstico diferencial entre o líquen plano, leucoplasias ou lupus eritematoso, lesões estas de muita semelhança clínica e onde a terapêutica e conduta clínica merecem cuidados distintos Tratamento Não existe tratamento específico, mas corticosteroides diminuem os sintomas de dor, ardor e queimação que geralmente completam o quadro clínico. Os corticosteroides são os medicamentos mais úteis no controle dos casos sintomáticos (erosões e ulcerações). Podem ser aplicados preferencialmente na forma tópica. O medicamento mais indicado é a Dexametasona, na forma de elixir para bochechos, de 4 a 5 vezes ao dia (uma colher das de sopa) . A evolução é cíclica e ligada à instabilidade emocional, notando-se, por vezes, remissão completa da sintomatologia ou mesmo das lesões, sempre com possibilidade de recorrência. 216 Herpes simples Doença infecciosa aguda viral, causada pelo vírus do Herpes Simples 1 (HSV1). Manifestações clínicas • Inespecíficas: Mal estar, febre, queimação, coceira ou formigamento, em geral seguida de eritema local • Específicas: Surgimento de vesículas múltiplas que coalescem, formando bolhas • A região de maior prevalência de aparecimento das lesões são a semimucosa dos lábios e a pele próxima à mucosa labial que se rompem e formam úlceras rasas na semimucosa e úlceras crostosas na pele do lábio. As lesões regridem no peíodo de 7 a 15 dias Tratamento • Tópico: Recomendar ao paciente que tente reconhecer os sinais iniciais da doença e adote o uso de pomadas à base de Aciclovir. Como medicação de suporte, pode-se indicar VASA 2%, 4 a 5 vezes ao dia Câncer bucal No idoso, as localizações mais frequentes do carcinoma epidermoide de boca são língua, soalho bucal, gengiva, palato e região jugal, em ordem decrescente. Reportar-se ao Capítulo 2, item 2.3, para maiores informações. Hipossalivação • A sensação de boca seca (xerostomia) é uma queixa comum entre os idosos • Acreditava-se que a hipossalivação era uma consequência normal da idade. Atualmente, sabe-se que muitas pessoas idosas saudáveis podem produzir saliva suficiente para manter a saúde bucal • A ocorrência de disfunções salivares no idoso, muitas vezes está relacionada ao alto consumo de medicamentos. Entre as drogas consumidas pelos idosos e que podem causar hipossalivação hipertensivos, estão diuréticos, os anti-histamìnicos, antidepressivos, antiparkinsonianos, tranquilizantes, anti- antipsicóticos, 217 antineoplásicos e anticoagulantes. Não sendo possível a substituição destes, em geral, o tratamento da “boca seca” é paliativo • Para recomendações quanto ao manejo da hipossalivação, reportar-se ao Capítulo 8 Halitose Na população geriátrica, a halitose está presente em cerca de 2/3 dos indivíduos. Principais causas • Perda de elementos dentários ou uso de próteses parciais ou totais, levando a dificuldade de mastigação, com consequente mudança de hábitos alimentares e ingestão de alimentos líquidos e pastosos • Uso frequente de medicamentos que provocam diminuição na produção de saliva, alterando fluxo salivar e limpeza bucal • Aumento na quantidade de saburra lingual é responsável por mais de 90% dos casos de mau hálito • Má higiene bucal • Maior incidência de Diabetes Mellitus • Língua sulcada e fissurada é bastante comuns nos idosos, favorecendo os depósitos saburroides e instalação do mau hálito Manejo • Higiene bucal, com cuidadosa limpeza da língua, alcançando o V lingual • Em idosos dependentes e/ou acamados, a higiene bucal e limpeza da língua mostram-se como medidas ainda mais necessárias, face à grande incidência de pneumonia aspirativa • Pode ser necessário adaptação do cabo da escova a manetes de bicicleta, cabo de escova de cabelo, Durepoxi, etc. • A limpeza da língua pode ser realizada com gaze umedecida, escovação ou raspadores de língua, sempre de modo delicado, para não lesar a mucosa e não causar náuseas • Manejo da hipossalivação 218 3.5.5.3 Fatores que predispõem os idosos às doenças bucais • Dificuldade de realizar a higiene bucal e das próteses devido ao declínio da saúde geral, distúrbios cognitivos, dificuldades motoras e diminuição da acuidade visual • Efeitos colaterais de medicamentos, levando à diminuição da saliva, hiperplasia gengival, reações liquenoides, problemas na fala, paladar, deglutição, adaptação de próteses • Efeitos colaterais da terapia de doenças sistêmicas como radioterapia, terapia com oxigênio e aspiradores bucais que promovem ressecamento, redução ou falta de produção de saliva • Alterações sistêmicas com diminuição do fluxo salivar: Síndrome de Sjogren, Artrite Reumatoide, Sarcoidose, AIDS, menopausa, bulimia, anorexia nervosa, desidratação, Diabetes Mellitus, Doença de Alzheimer, depressão • Comportamentos e atitudes: Hábitos dietéticos cariogênicos, não realização de idas regulares ao CD, não higienização bucal, pouca ou nenhuma importância atribuída à saúde bucal, falta de informação 3.5.6 Estratégias de Acolhimento • No diálogo com o idoso é importante o contato visual direto, sem o uso da máscara • Sempre que possível, dirija-se ao idoso antes do cuidador • Chame-o pelo nome, evitando usar expressões como “titio” ou “vovô” • Fale de maneira clara e devagar. Se necessário, repita a mensagem com outras palavras • O local deve estar o mais silencioso possível • Demonstre carinho, atenção, paciência e respeito • Forneça informações detalhadas sobre o atendimento, exames e marcação de consultas especializadas, pois os mesmos sentem-se inseguros • Em caso de problema severo de audição, pode-se lançar mão da escrita • O cuidador tem um papel importante durante o tratamento dentário e deve ser encorajado a sentar-se ao lado do paciente para que este fique menos ansioso • Em muitos casos, o sucesso no tratamento do idoso dependerá do envolvimento do cuidador, o qual também poderá se apresentar desmotivado. Para motivá-lo como promotor de saúde bucal, às vezes se torna necessário realizar também o seu tratamento odontológico 219 3.5.7 Atenção Clinica O processo de envelhecimento produz mudanças fisiológicas ou patológicas que podem modificar a resposta do indivíduo a diferentes estímulos como o estresse e a administração de fármacos. Mesmo sadio, o idoso apresenta dificuldade em tolerar o estresse, porém, na maioria dos casos, tem um risco mínimo para realização de tratamento odontológico. 1) Evidenciação de biofilme dental, escovação supervisionada, uso do fio dental, higiene de próteses, outras orientações educativas 2) Anamnese • História médica pregressa e atual (reportar-se ao item 3.4.3) o Lista de medicamentos (polifarmácia) o Queixa principal (geralmente apresentam mais de uma) 3) Avaliação Extrabucal (reportar-se ao item 3.4.3) Observar • Face (sinais de ansiedade, depressão, dor, etc.) • Pele (doenças dermatológicas, sinais de maus tratos) • Olhos (afecções) • Ouvido (alteração auditiva) 4) Incluir anotações sobre • Destreza e coordenação motora • Acuidade visual e auditiva • Função motora oral (fala, mastigação e deglutição) 5) Avaliação intrabucal (reportar-se ao item 3.4.3) • Se possível lubrificar os lábios e remover os aparelhos protéticos antes de proceder ao exame 220 3.5.8 Terapêutica Medicamentosa Características • Metabolização e eliminação dos fármacos são mais lentas no idoso • Nível plasmático dos medicamentos está aumentado • Maior quantidade de gordura em relação à massa magra, com acúmulo de drogas (medicamentos) no organismo em comparação com outros grupos etários • Efeitos adversos mais frequentes e mais severos do que no resto da população • Pode ser necessário diminuir as doses e/ou aumentar os períodos entre elas • Levar em conta o risco de interação medicamentosa com as demais medicações crônicas dos pacientes • Adesão ao tratamento - possibilidade de não compreensão ou esquecimento do esquema proposto. No caso de idosos com dificuldade de realização de tarefas da vida diária, dar as orientações na presença do cuidador • O uso de drogas não prescritas pelo profissional (laxantes, vitaminas, analgésicos, remédios para tosse, resfriado e estômago), o uso de dose maior ou menor ou suspensão do tratamento, uso de medicamentos vencidos ou drogas restantes de tratamentos anteriores também podem ocorrer com certa frequência entre pacientes idosos • Maior sensibilidade à sedação e aos benzodiazepínicos • Maior incidência de confusão e desorientação com os antidepressivos tricíclicos • Maior frequência de hipoglicemia com a Clorpropamida e Tolbutamida Na prescrição terapêutica para idosos • Explique devagar e com clareza ao paciente tudo o que ele tem e porque precisa tomar a medicação • • Evite utilizar nas receitas expressões como o Tomar como indicado o A cada 6 horas o 3 vezes ao dia ou 4 vezes ao dia, com uma dose à noite o 1 comprimido a cada refeição Ao invés disso, escreva o Tomar um comprimido a cada 6 horas (às 6 horas da manhã, ao meio dia, às 6 horas da tarde e à meia noite) 221 o Se necessário, escrever por extenso: Tomar um comprimido no café da manhã, um no almoço e um no jantar • Escreva com letras grandes e legíveis • Se possível, utilizar drogas que possibilitem intervalos maiores • Na dúvida, entre em contato com o médico antes da prescrição Analgésicos • Paracetamol - 500 a 750 mg, de 6 em 6 horas • Dipirona - 500 mg, de 6 em 6 horas • Dor mais intensa o Alternar a utilização de Paracetamol e de Dipirona, com intervalo de três horas entre cada um deles o Caso seja necessário, indicar 1 ampola de Dipirona injetável logo após a intervenção e depois iniciar esquema por via oral Anti-inflamatórios • Diclofenaco sódico ou potássico - 50 mg, de 12 em 12 horas, por até 5 dias • Deve-se ter cautela em pacientes diabéticos, hipertensos, antecedentes de úlcera, gastrite, etc. Antibióticos • 1ª opção: Amoxicilina - 500 mg a cada 8 horas, por 7 a 10 dias • 2ª opção: Alérgicos – Eritromicina - 500 mg a cada 6h, por 7 a 10 dias – verificar interação medicamentosa com Digoxina, anticoagulantes (Warfarina), avaliando com o médico a necessidade de ajuste da dose • Em caso de dúvida, entrar em contato com o médico responsável Anestésicos locais • 1ª opção: Lidocaína 2% com adrenalina 1:100000 (2 a 3 tubetes) • Adrenalina deve ser evitada na presença de o Coronariopatia aguda há menos de seis meses o Arritmias graves 222 • o Cardiomiopatia hipertrófica com obstrução de saída de ventrículo esquerdo o Hipertensão não controlada ou não tratada o Diabetes Melitus o Estados hiperadrenérgicos como Hipertireoidismo não compensado o Sensibilidade a sulfitos o Antidepressivos tricíclicos 2ª opção: Prilocaína com felipressina (2 a 3 tubetes) - pacientes com anemia, enfisema ou outros distúrbios que dificultem a oxigenação evitar a prilocaína ou diminuir a dose • 3ª opção: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor 3.5.9 O atendimento extraclínica O atendimento extraclínica do idoso será realizado, quando necessário, em domicílio e/ou instituições. Este tipo de atividade está voltado para pessoas com impossibilidade de locomoção até a USF devido a problemas de saúde e que apresentem necessidade de atenção à saúde bucal. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 1, item 1.3.2.3. 3.5.10 Promoção de Saúde Bucal As ações de promoção à saúde bucal do idoso podem ser realizadas por toda equipe de saúde bucal, dentro ou fora da USF, de forma individual ou coletiva. Estratégias • Visita Domiciliar: Para diagnóstico, encaminhamento para tratamento, educação em saúde, atendimento ao idoso acamado, etc. • Trabalho integrado com a USF em grupos de 3ª idade, de diabéticos, hipertensos, terapia comunitária, etc., incluindo o tema saúde bucal • Atuação em asilos e instituições para idosos na área de abrangência da USF • Atuação em campanhas comunitárias, como de vacina contra gripe, para realização de atividades voltadas à saúde bucal na 3ª idade (diagnóstico de lesões, prática do autocuidado, etc.) 223 • Integração com o ACS para: o Detectar idosos com necessidade de atenção odontológica em domicílios e instituições o Educação em saúde bucal e estímulo ao autocuidado o Capacitação do ACS para atuação como promotor de saúde bucal Ações a serem desenvolvidas • Orientação de saúde bucal (para idosos, cuidadores, familiares), incluindo: o Higiene bucal, demonstração de técnica de escovação, de limpeza de prótese dentária, etc. o Autoexame bucal o Fatores de risco para a cárie dentária, doença periodontal e o câncer bucal o Alimentação e saúde bucal • Rastreamento de lesões pré-malígnas e dos casos de câncer na comunidade • Encaminhamento de fumantes para grupos de referência antitabagismo 3.5.10.1 Cuidados com a saúde bucal na 3ª idade – Orientações ao cuidador Os cuidados com a saúde bucal de idosos são muito importantes para a manutenção da qualidade de vida, mesmo entre aqueles que já perderam dentes e usam próteses dentárias. Os benefícios de uma dentição sadia incluem a estética, o conforto, a habilidade para mastigar, sentir sabor e falar. São aspectos que contribuem significativamente na nutrição e consequentemente na melhora da saúde geral e disposição das pessoas da 3ª idade. Por outro lado, uma dentição inadequada é um dos principais fatores que podem estar associados à piora do estado geral de saúde, especialmente em idosos acamados ou que residem em asilos. Os indivíduos com doenças periodontais como gengivite, sangramento, perda óssea (“dentes abalados”) ou outras infecções bucais, têm maior dificuldade de controlar diabetes, risco mais elevado de desenvolver doenças cardiovasculares (aterosclerose, infarto do coração, derrame, etc.) e doenças respiratórias (pneumonia por aspiração, abscessos pulmonares, especialmente quando estiverem acamados). 224 Outro aspecto importante é que uma mastigação inadequada leva o idoso a trocar as frutas, legumes e verduras por alimentos pastosos como biscoitos, papinhas, etc, com baixo valor nutritivo para a faixa etária em questão. Uma higiene bucal deficiente também favorece a colonização de bactérias bucais que causam infecções respiratórias e doenças pulmonares. Sendo assim, torna-se muito importante cuidar adequadamente da saúde bucal também na 3ª idade, como forma de se colaborar com a saúde geral do idoso. Dicas importantes • Perder dentes na 3ª idade não é um fato normal, inevitável e decorrente do passar dos anos • O idoso deve ter cuidados redobrados na limpeza de toda a cavidade bucal (dentes, próteses, língua, bochechas, mucosas e palato) • Cerca de 70% dos remédios comumente ingeridos pelos idosos têm efeitos colaterais na cavidade bucal • Os medicamentos que são usados com mais frequência no tratamento do Diabetes e hipertensão, por exemplo, causam diminuição na produção de saliva, levando à sensação de boca seca • A diminuição de saliva faz com o que o número de bactérias na boca aumente, levando a sérios problemas como gengivite e periodontite, aumento de cárie, mucosa bucal mais seca, incômodo no uso das próteses dentárias, dificuldade de mastigação dos alimentos com maior consistência e mais nutritivos, ardência na boca, mau hálito, Candidíase bucal (sapinho), etc. • Oferecer bastante água durante o dia é muito importante para evitar a desidratação e manter a boca sempre úmida, diminuindo assim a concentração de bactérias na boca • Os lábios podem ser lubrificados com vaselina a fim de que se evitem rachaduras e feridas • É importante observar a presença de dentes quebrados e cortantes, cariados, amolecidos, presença de sangramento, mau hálito, manchas, caroços e feridas na boca, principalmente aquelas que não cicatrizam após aproximadamente duas semanas e de próteses com trincas, quebradas, coladas, mau adaptadas, etc. 225 Higiene bucal • Pacientes independentes, que conseguem realizar atividades diárias, devem ser encorajados a escovar diariamente seus dentes e/ou higienizar suas próteses, após as refeições e antes de dormir • Para facilitar a pega da escova pelo idoso, pode-se adaptar ao cabo da mesma um manete de bicicleta, cabo de escova de cabelo ou aumentar com Durepoxi® • Pacientes totalmente dependentes, o cuidador precisará incluir o cuidado com a saúde bucal do idoso nas suas atribuições diárias • Os dentes naturais devem ser escovados após as refeições e antes de dormir, com uma escova macia e com pequena quantidade de pasta dental, para que não espume muito e não cause náuseas ou mesmo engasgo • No idoso acamado, o paciente deve estar recostado com a coluna reta, em frente a uma pia com espelho ou com uma bacia com espelho na mão • O cuidador poderá ficar por trás do paciente, para escovar os dentes naturais, usando luvas • Caso o idoso utilize dentadura e/ou ponte movel, retirar as mesmas antes de escovar os dentes naturais. Solicitar que o mesmo realize vários bochechos com água ou, na impossibilidade disso, solicitar que cuspa • Quando for difícil abrir a boca do idoso, deve-se introduzir delicadamente uma espátula entre os dentes e fazer um movimento rotatório. Se não for possível, devese utilizar o dedo indicador envolto em gaze para que seja possível a higienização. O cuidador também pode utilizar abridores de boca para facilitar a limpeza, como por exemplo, o gargalo de uma garrafa de refrigerante descartável (tipo PET); a ponta do gargalo é colocada na boca do idoso (na região posterior) para que ele a morda • Para os desdentados sugere-se utilizar uma escova macia ou uma gaze embebida em água, para a limpeza da mucosa. Essa limpeza deve ser realizada após cada refeição e principalmente à noite, antes de dormir. A gaze é envolta no dedo indicador e depois de umedecida é passada por toda boca, sem esfregar, mas com movimentos firmes. Trocar a gaze sempre que esta se apresentar com sujidades, até completar a higiene • Em caso de haver presença de uma crosta branca sobre a língua (saburra), ela deve ser removida utilizando escova de dente, de preferência sem pasta, limpadores linguais disponíveis no mercado, uma espátula de madeira envolvida em gaze ou até o dedo indicador envolto em gaze umedecida • A limpeza deve ser feita com movimentos suaves, sem esfregar, para não alterar as papilas 226 • Sempre realizar os movimentos no sentido de dentro para fora, nunca com a espátula ou dedo apontando para o final da língua, isto para evitar que machuque a garganta ou amígdalas do idoso Cuidados com as próteses dentárias • Orientar os idosos com próteses a removê-las após todas as refeições para higienizá-las e em seguida, recolocá-las • A higiene das próteses pode ser feita com escova dental, sem creme dental, limpando a parte interna, os cantos, os dentes, etc. da mesma • As próteses devem ser escovadas o mais próximo possível da pia ou sobre uma cuba ou bacia cheia de água, para evitar que se quebrem caso haja uma queda • Caso sejam retiradas durante a noite, devem ser higienizadas e mantidas em um recipiente com água. A água deste recipiente deve ser renovada diariamente • Quando forem observadas manchas e crostas na prótese, pode-se deixa-la durante a noite em um recipiente com uma parte de água sanitária, duas partes de água filtrada e, caso as manchas não desapareçam após a escovação, um CD (CirurgiãoDentista) deverá ser consultado para avaliar a real condição dessas próteses 227 Fluxograma 9 - Atenção odontológica ao idoso Usuários com 60 anos ou mais Acesso ao tratamento •Idoso institucionalizado • Idoso acamado • Encaminhamentos da USF •Grupos operativos • Atendimento odontológico de urgência • Demanda espontânea Avaliação de Risco Idoso com possibilidade de locomoção à USF Idoso sem possibilidade de locomoção à USF Acolhimento na USF Visita domiciliar ou à instituição de idoso Anamnese Exame clínico Educação ao idoso/ cuidador Orientações gerais Anamnese Exame clínico Educação ao idoso/ cuidador Orientações gerais Atendimento clínico Quando necessário Atendimento domiciliar Encaminhamento para CEO Manutenção programada na USF ou domicílio/instituição para usuários com patologias crônicas graves ou outras situações de risco 228 BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, J. 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Princípios e prática da medicina oral. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1996. VOLPATO, M.C. Farmacologia em odontogeriatria. Disponível em:<http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=482>. Acesso em: 27 Julho 2007. 231 CAPÍTULO 4 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA A PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS 233 4. ATENÇÃO ODONTOLÓGICA A PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS 4.1 PRÉ-NATAL ODONTOLÓGICO Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Lisete Rosa e Silva Benzoni Lucimar Aparecida Britto Codato INTRODUÇÃO Há muito se tem reconhecido a importância da realização do pré-natal para uma gravidez saudável, alcançando resultados positivos no nascimento da criança. Durante o pré-natal pode-se avaliar o estado de saúde da gestante, instruí-la, promover saúde, antecipar problemas, fornecer o cuidado individualizado à paciente, o que pode reduzir o potencial para o aparecimento de problemas perinatais, com possíveis repercussões por toda vida. A atenção à saúde bucal deve ser parte integrante do cuidado pré-natal, dado o reconhecido impacto da mesma na saúde geral. Melhorar a condição de saúde bucal durante a gravidez pode otimizar não somente a saúde geral da mulher, mas também contribuir na saúde do bebê. O Pré-natal Odontológico, termo ainda pouco utilizado no nosso cotidiano, tem como estratégia um conjunto de ações educativas, preventivas e curativas, visando à saúde bucal da gestante e do bebê. Os cuidados da gestante com sua alimentação, hábitos saudáveis e higiene bucal influenciam diretamente na dentição do bebê. É nesse contexto que se ressalta a importância do trabalho integrado, com o envolvimento de médicos, enfermeiros, equipe de odontologia, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, ACS, entre outros, onde teremos a oportunidade de desmistificar conceitos e esclarecer dúvidas que envolvem o assunto, reforçando que: • A perda dos dentes não é uma ocorrência natural da gravidez • O tratamento odontológico pode ser realizado de forma segura em qualquer período da gestação 234 • Antibióticos de maneira geral, quando bem indicados, não causam problemas dentários • O cálcio não é retirado dos dentes da mãe e repassado para o feto • A ingestão de flúor durante a gestação, não torna os dentes do bebê mais resistentes à cárie dental • A gravidez não é causa de aumento de cárie na gestante 4.1.2 Mudanças Fisiológicas na Gestação • Endócrinas: Durante a gravidez, a placenta tem um papel endócrino ativo secretando três hormônios principais: estrógeno, progesterona e gonadotrofina coriônica, que funcionam para assegurar a viabilidade da gravidez, sendo responsáveis por uma série de alterações na cavidade bucal, podendo exacerbar condições pré-existentes • Cardiovasculares: Em resposta às exigências crescentes do feto, observa-se frequentemente o aumento de 20% em média no débito cardíaco e o aumento do volume sanguíneo em 30%. Não é raro o aparecimento de sopro, taquicardia, anemia, hipotensão postural e síncope (resultante da pressão do útero sobre a veia cava inferior quando a gestante está deitada) • Respiratórias: Ocorre aumento da frequência respiratória pelo aumento do índice metabólico basal e restrição dos movimentos do diafragma, reduzindo o volume pulmonar inferior • Hematopoiéticas: Como resultado da síntese aumentada de estrógeno, progesterona, cortisol e aldosterona associados com a gravidez, há retenção de água e o volume sanguíneo aumenta em 1 a 2 litros. Ocorre também um aumento no volume de células vermelhas na gravidez, mas o maior volume sanguíneo se deve principalmente a um aumento na retenção de fluidos. Como consequência, o hematócrito cairá abaixo de 35% 4.1.3 Alterações na Cavidade Bucal Durante o período de gestação, podem ocorrer também alterações bucais. Tais problemas não são diretamente atribuíveis à gravidez, mas decorrentes das mudanças fisiológicas e de comportamento que ocorrem no curso da gestação. 235 • Aumento da acidez bucal Existem relatos de alterações no pH da saliva (tornando-a mais ácida) como sendo um dos fatores que predispõem ao surgimento de cárie dentária nas gestantes. Essa hiperacidez pode ser controlada por meio de escovações regulares após as refeições, quando existe um maior desequilíbrio no pH salivar, tendendo para a acidez. • Inflamação gengival A gengiva pode passar por alterações durante a gestação, devido a uma resposta exacerbada dos tecidos moles gengivais aos fatores locais, principalmente presença de biofilme dental e em decorrência do aumento da vascularização da gengiva mediada pelas alterações hormonais. Gengivite: As gestantes podem ficar mais predispostas à gengivite que chega a acometer de 30 a 100% das mesmas. Clinicamente caracteriza-se por eritema intenso da gengiva marginal e das papilas interdentais, edema, perda de resiliência e tendência ao sangramento. Pode ocorrer aumento da profundidade do sulco, sem perda de inserção (pseudobolsa). As alterações gengivais são mais aparentes a partir do segundo trimestre de gestação, alcançando seu ponto máximo no oitavo mês, mas podem estar presentes desde o primeiro trimestre. Estas alterações ocorrem com maior frequência na região ântero– superior da boca do que nos dentes posteriores e podem ser prevenidas e tratadas através de controle de biofilme, reduzindo-se o risco de seu aparecimento. Mobilidade dentária: Aumento generalizado na mobilidade dentária poderá aparecer, em decorrência de patologia periodontal pré-instalada, mudanças inflamatórias na gengiva, alterações minerais na lâmina dura e distúrbios no ligamento periodontal. A mobilidade dentária parece desaparecer espontaneamente após o parto, entretanto, mulheres com mobilidade pré-existente e não tratada continuarão a apresentar o problema após o parto, embora com uma inflamação menos intensa. Granulomas gravídicos: Podem acometer cerca de 10% das gestantes, sendo mais comuns a partir do segundo trimestre gestacional. Um granuloma gravídico classicamente aparece em área de processo inflamatório e de higiene bucal deficiente, depósitos de biofilme e cálculo no dente adjacente ao mesmo. Clinicamente tem aparência de amora devido à superfície granulosa, coloração que varia do vermelho escuro ao azulado, sangra facilmente e é usualmente indolor. A superfície da lesão pode estar 236 ulcerada, coberta por exsudato amarelado. Aparece geralmente entre as papilas gengivais dos dentes ântero superiores. Tem crescimento rápido, mas geralmente não ultrapassa 2 cm de diâmetro. Apresenta característica histológica semelhante ao granuloma piogênico. Conduta: Controle de biofilme dental e remoção de irritantes locais. Acompanhamento da lesão. Se a mesma interferir com a função (mastigação), estética ou higiene bucal diária, pode ser removida ainda durante a gravidez. Caso contrário, aguardar o parto e avaliar a necessidade de excisão, pois em alguns casos regride espontaneamente. Se a regressão for parcial, pode ser necessária uma plástica gengival posterior. • Hipossalivação / xerostomia Algumas gestantes reclamam de secura bucal, que pode estar relacionada a alterações hormonais. Recomenda-se aumentar consumo de água e quando possível a utilização de goma de mascar sem açúcar para estimular a salivação. Os cuidados caseiros com higiene dental, uso de dentifrício fluorado e o controle de dieta cariogênica podem prevenir o aparecimento de lesões de cárie e alterações gengivais, compensando o menor fluxo salivar. • Náusea, vômito, aumento na produção de saliva ou sialorreia Existem indícios do aparecimento de hipersecreção das glândulas salivares no início da gravidez que normalmente cessa entre terceiro e quinto mês e geralmente coincide também com o desaparecimento da emese gravídica, ou seja, dos enjoos, regurgitações e ânsias de vômito, bem frequentes no período gestacional, principalmente nos primeiros meses de gravidez. A sialorreia é atribuída a reações vagotônicas e irritações locais que por meio do nervo trigêmeo, estimulam a secreção da saliva pelas parótidas. • Mudanças nos hábitos alimentares As alterações comportamentais na gestante são bastante comuns, podendo levar inclusive à perversão do paladar e/ou do apetite, fato esse que poderá ter repercussões bucais. Nesse período pode ocorrer mudança no hábito alimentar, como aumento da frequência na ingestão de alimentos, principalmente ricos em carboidratos, nem sempre acompanhados de higiene bucal, podendo acarretar aumento na incidência de cárie dental e doenças periodontais ou exacerbação das pré-exitentes. Essa mudança manifesta-se com 237 mais frequência no terceiro trimestre e pode levar à ingestão de menor quantidade de alimentos, porém com maior frequência. • Diminuição nos cuidados com a higiene bucal Pesquisas demonstram que ocorrem alterações nos hábitos de higiene bucal durante a gestação, havendo ainda enjoo ao creme dental que compromete a escovação adequada. Além disso, depois do nascimento do bebê existe a tendência da mãe em esquecer de si mesma, não por descuido, mas porque recém-nascidos exigem atenção redobrada por parte dos seus pais, principalmente da mãe. 4.1.4 Efeitos da Saúde Bucal na Gestação e no Bebê • Doença periodontal e outras infecções bucais Estudos recentes têm indicado a associação entre saúde bucal precária e efeitos negativos na gravidez. A presença de doença periodontal, infecção bucal aguda e focos de infecção têm sido apontados como fatores de risco para parto prematuro (antes de 37 semanas) e bebês de baixo peso ao nascer (inferior a 2500g). O possível mecanismo de ação da infecção bucal com parto prematuro está resumido no esquema abaixo. INFECÇÕES BUCAIS NA GESTAÇÃO Infecção periodontal Reservatório de bactérias gram negativas anaeróbicas Resposta do hospedeiro Níveis elevados de mediadores químicos Prostaglandinas (PG), Interleucinas (IL) e Fator de Necrose Tumoral (FNT) Parto prematuro Mediadores do trabalho de parto (PG, IL, FNT) que induzirão a bebês prematuros e de baixo peso Ação direta de endotoxinas 238 Assim, a localização e erradicação de todo e qualquer foco de infecção na gestante é fundamental para a redução da morbi-letalidade materno-fetal. • Saúde bucal materna e cárie precoce da infância As bactérias causadoras de cárie dentária são frequentemente transmitidas pela mãe (doador mais comum destes micro-organismos) ou cuidador da criança, através de comportamentos repetidos que facilitem o contato ou troca de saliva entre os mesmos. Compartilhar utensílios domésticos como copos, talheres, beijar a boca da criança, “limpar” a chupeta colocando-a na boca são meios de transmissão destes micro-organismos. Estudos demonstram que a criança está mais propensa à colonização pelos microorganismos entre 19 e 31 meses, período conhecido como “Janela de Infectividade” da cárie dentária e que coincide com a erupção dos molares decíduos. Entretanto, no Brasil, esta janela pode ser mais precoce. Desta forma, uma gestante que apresenta intensa atividade de cárie precisa ser orientada sobre a necessidade de realização de procedimentos preventivos e curativos para que esteja com uma melhor condição bucal na hora do nascimento de seu filho, bem como receber aconselhamento sobre os cuidados com sua saúde bucal e como cuidar da boca do futuro bebê. 4.1.5 Esclarecimento Sobre o Aborto A incidência de aborto é muito difícil de ser estabelecida clinicamente. Estima-se que está entre 10 a 18%, mas quando se soma às perdas precoces da gestação, até a quarta semana, essa porcentagem pode chegar entre 41 e 62%. É sabido que 80% dos abortos ocorrem até a décima segunda semana de gestação. Ter conhecimento das causas do aborto, o que na maioria das vezes não se determina com certeza, é anseio constante das mulheres, porque essa situação reflete psicologicamente em seu estado geral. É de conhecimento que a maioria dos abortos decorrem de alterações cromossômicas ocasionais e que a porcentagem de repetição, felizmente, é extremamente baixa. Como regra geral, conduta básica, é conveniente não administrar medicamentos durante a gestação, especialmente no primeiro trimestre. Entretanto, algumas vezes faz-se necessário o uso de medicamentos durante o tratamento odontológico para não colocar em risco a saúde da gestante. Felizmente, a maioria das drogas utilizadas habitualmente na odontologia não são contraindicadas no período gestacional. Chamamos a atenção em relação às estreptomicinas e as tetraciclinas que são contraindicadas. 239 Por outro lado, muitos recursos terapêuticos não podem ser simplesmente omitidos sem incorrer no comprometimento da própria vida da paciente. É o caso das infecções, diabetes, cardiopatias, hipertensão, entre outras. Portanto, é importante o reconhecimento das reais necessidades de uma terapia medicamentosa aliada a uma criteriosa seleção e boa anamnese, reconhecendo exatamente, seja o médico ou o CD, quais os medicamentos que representam menor perigo para o nascituro, observando-se os momentos críticos teratogênicos. Por isso o trabalho em equipe é de fundamental importância, principalmente em relação ao médico que acompanha a gestante. Lembremos que a mãe e o feto podem apresentar diferentes respostas farmacológicas à administração de um determinado medicamento, daí a importância de se conhecer os momentos de maior risco. Vários autores estimam que somente 2 a 3 % das anomalias encontradas sejam oriundas por fármacos. Esta sinalização é difícil de ser diagnosticada, pois a relação causa e efeito abrange múltiplos aspectos. 4.1.6 Procedimentos Odontológicos O conhecimento das alterações fisiológicas da gravidez e a observação de alguns cuidados tomados durante o atendimento odontológico podem assegurar um tratamento seguro e confortável para a gestante. Desta maneira, recomenda-se que: • É desaconselhável realizar sessões muito prolongadas. Isso pode estressar a paciente e/ou deixa-la muito cansada • Quando possível, utilizar a segunda metade do período da manhã para agendamento, onde os episódios de enjoo e emese são menos frequentes • Antes de todo atendimento odontológico, aferir pressão da gestante. Para tanto, seguir as orientações sobre a medida da pressão arterial do Protocolo Clínico de Saúde do Adulto (Londrina, 2006) • É de suma importância que a posição da gestante na cadeira seja a mais confortável possível, permitindo que a paciente mude de posição, previnindo-se a hipotensão postural e síncope • Deve-se evitar a posição de decúbito dorsal (totalmente deitada). A posição mais recomendada é a semissentada ou em decúbito lateral esquerdo • Evitar mudanças bruscas de posição no caso da paciente se encontrar na posição deitada, dado o risco de hipotensão postural 240 • Ao terminar o atendimento, recomendar que a paciente fique sentada ou deitada do lado esquerdo por alguns minutos antes de se levantar visando prevenir este problema • Recomenda-se que quando do preenchimento da anamnese, o prontuário médico da gestante seja consultado a fim de se checar informações • Manter contato com o médico ginecologista da gestante e com a equipe da USF a fim de que se trabalhe de forma integrada O Quadro 48 apresenta orientações básicas para o tratamento odontológico da gestante de acordo com o trimestre gestacional. Trimestre Procedimentos • • • • • 1º • • 2º • • • 3º • Anamnese e preenchimento da ficha clínica o Avaliação geral da paciente – história médica e odontológica o Exame clínico – necessidades de tratamento odontológico Planejamento do tratamento a ser realizado Assinatura do termo de consentimento informado Educação em saúde bucal Adequação do meio bucal o Instrução de higiene bucal o Controle de biofilme dental o Raspagem e polimento coronário o Aplicação de fluoretos e antimicrobianos o Escavação e repleção das cavidades de cárie com CIV o Remoção de irritantes locais (restaurações em excesso, bordos ou arestas dentais) o Eliminação de focos infecciosos e da dor (exodontias, procedimentos endodônticos, drenagem de abscessos, etc.) Educação em saúde bucal Adequação do meio bucal o Instrução de higiene bucal o Controle de biofilme dental o Raspagem e polimento coronário o Aplicação de fluoretos e antimicrobianos o Escavação e repleção das cavidades de cárie com CIV o Remoção de irritantes locais (restaurações em excesso, bordos ou arestas dentais) o Eliminação de focos infecciosos e da dor (exodontias, procedimentos endodônticos, drenagem de abscessos, etc.) Tratamento odontológico de rotina (restauradores e cirúrgicos) Educação em saúde bucal Adequação do meio bucal o Instrução de higiene bucal o Controle de biofilme dental o Raspagem e polimento coronário o Aplicação de fluoretos e antimicrobianos o Escavação e repleção das cavidades de cárie com CIV o Remoção de irritantes locais (restaurações em excesso, bordos ou arestas dentais) o Eliminação de focos infecciosos e da dor (exodontias, procedimentos endodônticos, drenagem de abscessos, etc.) Tratamento odontológico de rotina (restauradores e cirúrgicos) Quadro 48 - Tratamento odontológico da gestante e trimetres gestacionais 241 4.1.7 Utilização de Drogas em Gestantes na Odontologia É exatamente por estar grávida que a mulher precisa dos cuidados do CD para que seja mantida ou reestabelecida a sua saúde bucal. Mais uma vez reforça-se que é de extremo valor que o CD procure uma interação com a equipe de saúde, estabelecendo contatos numa relação de profissional para profissional. Se houver a necessidade de prescrever medicamentos, troque ideia com o médico a respeito das drogas mais recomendadas para o caso em questão. O profissional não é somente responsável pelo atendimento eficaz e seguro à gestante, como também deve se preocupar com a segurança do feto. Analgésicos • Paracetamol: Pode ser prescrito em qualquer fase de gestação, em curto período (48 a 72 horas). Tem sido o mais utilizado e não há relatos de teratogenicidade • Medicamentos à base de AAS: Não devem ser utilizados nos últimos 3 meses de gestação, pela possibilidade de ocorrer inércia uterina (partos mais trabalhosos) e/ou fechamento prematuro do conduto arterial do feto • Dipirona: Em doses medicamentosas e por períodos curtos (48 a 72 horas), não tem contraindicação. Pode levar à hipotensão materna Anti-inflamatórios • Ibuprofeno, Piroxicam, Fenilbutazona, Diclofenaco e AAS são permitidos nos 2 primeiros trimestres, por períodos curtos de 48 a 72 horas. Todos são contraindicados a partir da 32ª semana gestacional, podendo atuar sobre as prostaglandinas (PG) e com isso promover a oclusão antecipada do ducto arterial e ocasionar hipertensão pulmonar primária no feto • Corticoides (betametasona ou dexametasona): Em caso de extrema necessidade, usar em dose única de 4 mg Anestésicos As soluções anestésicas para uso em gestantes devem conter um agente vasoconstritor em sua composição, com objetivo de retardar a absorção do sal anestésico para corrente sanguínea que leva à diminuição da sua toxicidade e aumento do tempo de duração da anestesia. Por isso não indicamos o uso de anestésico sem vasoconstritor, pois 242 sua absorção é rápida (30 minutos), sendo necessárias altas doses de anestésico e com isso a sua concentração será alta, tanto para a mãe como para o feto, além de causar estresse desnecessário devido as recorrentes reaplicações. Estudos demonstram que as gestantes têm sensibilidade aumentada à anestesia local e desta forma menores doses são necessárias para se alcançarem efeitos similares. Além disso, o tempo de latência parece ser menor e o de duração mais longo. Em relação às substâncias, é sabido que: • Lidocaína: É o anestésico local mais utilizado em todo o mundo e mais recomendado para gestante, já que não está associado a nenhum fator que possa contraindicá-lo. Recomenda-se limitar seu uso a 2 tubetes, sendo que a dose máxima para um adulto normal, saudável, não gestante, de 60 kg é de 7 tubetes anestésicos. A injeção acidental intravenosa da lidocaína leva à passagem da mesma pela placenta, entretanto, a concentração é muito baixa para prejudicar o feto. Portanto, é a solução anestésica indicada para gestantes. • Prilocaína (Ex: Citanest, Citocaína): Há risco de metahemoglobinemia (a hemácia tornase incapaz de transportar oxigênio). Sinais e sintomas: Cianose, fraqueza, tontura, dispneia, cefaleia. Estes ocorrem 3 a 4 horas após a administração, período em que a gestante já terá deixado o consultório. É importante lembrar que este episódio afeta não apenas a mãe, mas também o feto. Caso não haja outro anestésico disponível, a prilocaína deve ser utilizada com extrema cautela, não ultrapassando o limite máximo de 2 tubetes. Todas as soluções contendo este sal anestésico, comercializadas no país, possuem em sua composição o vasoconstritor felipressina (octapressin) que apresenta semelhança estrutural com a ocitocina, hormônio que provoca contrações uterinas. É importante pesquisar também se a gestante tem anemia, pois pode aumentar ainda mais o risco de metahemoglobinemia • Mepivacaína: Seu uso é contraindicado, pois contém base anestésica que não é metabolizada pelo fígado do feto • Bupivacaína: Alguns autores comentam que a mesma apresenta uma maior toxicidade em gestante. Por ser um anestésico de longa duração (média de 5 a 6 horas), não tem seu emprego justificado no tratamento odontológico habitual em gestantes 243 Consideração Durante muito tempo, o uso de vasocontritor em gestantes foi visto com desconfiança, entretanto, ao entrar na corrente circulatória, estas substâncias são rapidamente biotransformadas, não tendo efeito cumulativo no organismo. É importante ressaltar que a adrenalina, assim como a noradrenalina, são hormônios produzidos naturalmente pelo organismo, estando sempre presente na corrente circulatória, em maior ou menor concentração, dependendo do estado emocional da gestante. Em situações estressantes, a quantidade de adrenalina e noradrenalina liberada pelo organismo pode aumentar até 40 vezes o nível normal (de repouso), por isso a eliminação da dor é de fundamental importância. Vale enfatizar que os vasocontritores estão presentes nas soluções anestésicas locais em concentrações muito diluídas e com segurança podem ser usadas em gestantes, desde que sejam respeitadas as recomendações em questão. Em decorrência dos fatores aqui relatados, em relação aos anestésicos, indicamos em gestantes Lidocaína a 2% com adrenalina 1:100000. Antimicrobianos • Penicilinas (Penicilinas Benzatinas, Despacilina, Ampicilina, Amoxicilina): São antibióticos considerados seguros para o uso na gestação e lactação. A única ressalva se faz quanto à associação Amoxicilina + Ácido Clavulânico (Ex: Clavulin) devido à falta de maiores estudos • Cefalosporinas (Keflex): Também são consideradas seguras para o uso na gravidez • Eritromicina do grupo estearato: Pode ser utilizada. Evitar o grupo estolato • Tetraciclinas: São contraindicadas no período gestacional, por induzirem a alterações da dentição e esqueléticas no feto, quando usadas no final da gestação • Doxiciclina (Tetracilina bacteriostática): É contraindicada porque pode causar prejuízos semelhantes as tetraciclinas. Muito indicada por CD(s) devido à sua afinidade ao tecido ósseo, principalmente no tratamento de periodontite • Metronidazol: Não tem seu uso recomendado durante a gravidez, embora haja controvérsias a respeito • Cloranfenicol (Quemicetina) e Aminoglicosídeos (Gentamicina): Também devem ser evitadas neste período • Sulfas: Não devem ser utilizadas 244 Consideração Diante da necessidade do uso de medicamentos no tratamento da paciente grávida as vantagens a serem obtidas devem claramente superar quaisquer riscos inerentes à prescrição. Uso de Flúor • Vários autores comentam que não há diferença significativa na incidência de cárie entre as crianças de mulheres que receberam suplementos de flúor no período pré-natal, comparado com as que não receberam. Inclusive essa suplementação na gestação não foi aprovada pela American Dental Association (ADA). Sabe-se que o ion flúor é capaz de atravessar a placenta e ser armazenado nela. Por isso, não é recomendado o seu uso na gravidez • Já a fluorterapia tópica no período gestacional é sempre indicada de acordo com o risco e a atividade de cárie da mãe, conforme indicação terapêutica 4.1.8 Uso de Exames Radiológicos Tema que causa grande angústia às gestantes. Aconselha-se evitar exposições desnecessárias. Embora não se tenha nada comprovado que o radiodiagnóstico, criteriosamente indicado e corretamente realizado, determine malefícios durante a gravidez ou em qualquer outra situação, radiografias só devem ser solicitadas quando absolutamente indispensáveis ao diagnóstico ou à orientação terapêutica. A British Columbia Ministry and Nuclear Regulatory Commission afirma que a quantidade de radiação absorvida (dose de segurança) não deve exceder 5 rads (‘radiation absorbed dose”). Como o feto recebe a cada radiografia dental (sem a proteção do avental de chumbo), a que a mãe se submete, apenas 0,01 milirad, então seriam necessárias 500 mil tomadas radiográficas para o bebê receber 5 rads. Esta dose é 40 vezes menor do que a dosagem adquirida através de radiação doméstica (televisão, aparelho celular, relógio, micro-ondas, etc.). A quantidade de radiação para um exame radiográfico odontológico está muito aquém dos níveis nocivos, porém deve-se sempre usar avental com revestimento de chumbo e protetor de tireoide porque além da proteção da radiação, há um importante aspecto tranquilizador para a gestante e este procedimento deve ser unificado para todas as pacientes, pois nem sempre se tem conhecimento da gravidez. 245 4.1.9 Considerações Gerais • Gestantes da área de abrangência que realizam pré-natal na USF ou referenciadas por outros serviços (Ex: Gestantes de alto risco atendidas no Hospital da Clínicas ou Hospital Universitário – UEL) têm prioridade na atenção odontológica, independente da idade gestacional • Gestante que ainda não iniciou o seu pré-natal, deverá ser encaminhada para este serviço, antes do início do tratamento odontológico, com exceção de tratamento de urgência • A educação em saúde bucal voltada para a gestante deverá ser sempre realizada, aproveitando-se todos os momentos oportunos para esta atividade, seja de forma coletiva ou individual. O ideal seria o trabalho integrado com a equipe de saúde, aproveitando-se o(s) grupo(s) de gestante já existente(s) na USF. Desta forma, assim que a gestante for encaminhada ou procure espontaneamente o serviço odontológico, checar se está participando do grupo operativo • Caso a USF não possua grupo de gestante ou de pré-natal, a equipe de odontologia poderá programar reuniões ou palestras para gestantes • A gravidez por si só, não é uma razão para alterar a rotina de tratamento odontológico • O tratamento de urgência deve ser realizado em qualquer momento, já que a eliminação da dor e de focos infecciosos é de fundamental importância e o adiamento do mesmo poderá resultar em riscos desnecessários para a mãe e o feto • O período mais favorável para a realização do tratamento odontológico de rotina (restaurador e cirúrgico) situa-se entre o início do segundo trimestre (14ª semana) até a metade do 3º trimestre (35ª semana) • O tratamento eletivo, como troca de restaurações por motivos estéticos, cirurgia periodontal, exodontia de dentes inclusos, etc., poderão ser adiados para depois do parto • O tratamento deverá ser concluído, mesmo após o nascimento do bebê • Incentivar o agendamento do bebê, após o nascimento • Recomenda-se agendar a gestante, independente do tratamento concluído, próximo à data provável do parto, com o objetivo de reforçar os cuidados com higiene bucal • Na ocorrência de duas faltas consecutivas não justificadas durante o tratamento odontológico, no período gestacional, a gestante deverá ser excluída do tratamento • O retorno para conclusão do tratamento deverá ocorrer entre o 30° e o 60° dia pós-parto. Caso não compareça nesse período, realizar busca ativa pelo ACS e/ou equipe de odontologia 246 • Decorridos 10 dias após a busca ativa, o não comparecimento sem justificativa, é considerado como abandono do tratamento • Após o nascimento do bebê, realizar visita puerperal /domiciliar visando: o Reagendar a mãe para o término do tratamento, caso este não tenha sido concluído o Orientar sobre cuidados com saúde bucal do recém-nascido e incentivar a amamentação exclusiva até os 6 meses o • O aleitamento materno está contraindicado para bebê de mãe HIV/AIDS A visita domiciliar poderá ser realizada pelo CD, pessoal auxiliar da clínica odontológica (ASB ou TSB) ou por um ACS treinado para realizar educação em saúde bucal • Nas USF onde ocorre atendimento através da ESB/PSF e também através do programa infanto-juvenil e gestante, essa atividade deverá ser desenvolvida pelo programa infantojuvenil e gestante • Nas USF não contempladas com SB/PSF, as visitas às puérperas são de responsabilidade do programa infanto-juvenil e gestante 4.1.10 Atençao Odontológica na Gestação de Alto Risco As gestantes de alto risco, em geral, são aquelas que apresentam durante a gestação doenças obstétricas (pré-eclâmpsia, hemorragia na gestação, trabalho de parto prolongado, etc.) ou intercorrências clínicas (cardiopatias, pneumopatias, nefropatias, Diabetes Mellitus, hipertensão arterial, epilepsia, entre outras). Em geral, o pré-natal é realizado no Hospital das Clínicas (HC/HURNPR). Em relação à atenção odontológica, alguns procedimentos poderão ser realizados, como: • Educação em saúde bucal • Adequação do meio bucal (ART) • Tratamento básico periodontal • Aplicação de flúor Procedimentos que necessitem de anestesia local ou invasivos devem ser adiados, sempre que possível, para depois do nascimento do bebê. No caso de dor ou de focos de infecção, sem possibilidade de se postergar a intervenção, é imprescindível o contato do CD com o médico responsável para que juntos possam planejar o tratamento odontológico. 4.1.11 Promoção de Saúde Voltada à Gestante 247 Educação em saúde • Procurar planejar a educação em saúde bucal juntamente com outras áreas da USF e inserir assuntos específicos da odontologia nos grupos de gestante já existentes • Sugerem-se grupos pequenos, com no máximo 15 gestantes • Preferir metodologia problematizadora, estabelecendo-se um clima informal. Oferecer informações importantes e objetivas, de acordo com o interesse das gestantes, interagindo com as participantes através de perguntas, propiciando troca de experiências. Contar, se possível, com equipe multiprofissional • Garantir, no mínimo, 3 encontros com as gestantes durante o pré-natal (1 por trimestre) • É importante o uso de materiais educativos nestes grupos Sugestão de temas a serem abordados 1º Encontro • Relação entre saúde bucal e saúde geral na gestante e no bebê, enfatizando a associação entre infecção bucal e risco de aborto, parto pré-maturo, bebê de baixo peso e pré-eclâmpsia • Enfocar tabagismo, álcool e seus riscos para saúde bucal e geral da mãe e para o bebê • Etiologia e evolução da cárie dentária e doença periodontal • Alterações bucais mais comuns na gravidez e como prevení-las ou controlá-las • o Alterações hormonais e vascularização aumentada da gengiva o Gengivite e periodontite o Mobilidade dentária o Granulomas gravídicos o Outros Desmistificações de tabus o A gravidez não é causa direta de gengivite e periodontite o A perda dos dentes não é uma ocorrência natural da gravidez o O tratamento odontológico pode ser realizado de forma segura na gestação o Não existe risco para o uso de anestésico local em gestantes. A prevalência de complicações é a mesma na população gestante e não gestante o Desde que o CD tenha um conhecimento mínimo da fisiologia materna (não colocar a paciente totalmente deitada por muito tempo, principalmente em pacientes de 248 gestação mais avançada, provocando queda brusca de pressão por compressão da veia cava), o atendimento poderá ser realizado com segurança o Antibióticos de maneira geral, quando bem indicados, não causam problemas dentários o O cálcio não é retirado dos dentes da mãe e repassados para o feto o A ingestão de flúor durante a gestação não torna os dentes do bebê mais resistentes à cárie dental • Dieta o • Uso racional do açúcar Usar em menor quantidade e em menor frequência Consistência de alimentos menos aderente possível Escovação dentária e uso do fio dental o Explicar a importância da escovação, uso do fio dental, uso de dentifrício com flúor na prevenção e tratamento da doença cárie e periodontal • o Enfatizar a importância dos cuidados diários que devem ser realizados em casa o Ensinar metodicamente a escovação, o uso do fio dental e o autoexame de boca Presença de enjoos e vômitos o Tendem a diminuir ou desaparecerem após o primeiro trimestre o Bochechos com bicarbonato de sódio logo após o vômito podem reduzir a acidez bucal 249 2º Encontro Recordar temas já abordados no primeiro encontro e estimular o grupo a interagir através de perguntas e exposição de experiências pessoais. • Aleitamento materno o Benefícios para a saúde geral e bucal do bebê e aleitamento exclusivo até os seis meses de idade • A amamentação prepara a criança para a mastigação Durante a amamentação aprende-se respirar corretamente pelo nariz É também responsável pelo crescimento harmonioso da face e dentição Cuidados com o bebê o Introdução de alimentos saudáveis a partir de 6 meses o Hábitos deletérios: Chupeta, mamadeira, etc. o Transmissibilidade da cárie e maneiras de evitá-la (não experimentar alimentos, evitar beijos na boca do bebê e compartilhar talheres e copos, etc.) o Prevenção de cárie precoce da infância (cárie de mamadeira) o Higiene da cavidade bucal do bebê Deve ser iniciada o mais cedo possível, de preferência antes da erupção dentária É indispensável à noite, após a última mamada Deve ser realizada após o bebê se alimentar/mamar, ingerir xaropes e medicamentos que sejam adoçados Enrolar a ponta da fralda ou de uma gaze em torno do dedo e molhar em água filtrada ou fervida Limpar a parte interna da boca e a língua e esfregar os dentes (todas as superfícies) quando já estiverem presentes A escova de dentes com cerdas extramacias e cabeça bem pequena (própria para crianças) poderá ser introduzida a partir do primeiro dente Esclarecer que a saúde bucal da mãe e do responsável pelo bebê têm relação com a saúde bucal da criança 250 3º Encontro Recordar temas já abordados nos encontros anteriores e estimular o grupo a interagir através de perguntas e exposição de experiências pessoais. • Reforçar cuidados com saúde da gestante e do bebê • Orientar gestantes para procurarem atendimento odontológico para conclusão do tratamento e agendamento do bebê 251 Fluxograma 10 - Atenção odontológica à gestante Resultado positivo para Gravidez Grupo de Gestante da USF Educação em Saúde Ver roteiro No momento de encaminhamento para exames laboratoriais ODONTOLOGIA Anamnese + Evidenciação de placa bacteriana + Escovação supervisionada + Mostrar locais de risco e de atividade de doença Agendar para procedimentos Sem doença Reforço de Instrução de higiene bucal + flúor Com doença Procedimentos clínicos + Reforço de higiene bucal Urgência Tratamento Educativo Adequação do meio Tratamento Curativo 252 4.1.12 Terapêutica para Gestante: Síntese Anestésico local • Cloridrato de Lidocaína com vasoconstrictor (adrenalina 1:100000). Marcas comerciais: Xylestesin 2%, Xylocaína, Alphacaíne, Lidocaína com vaso • Evitar o uso de Prilocaína (Citanest, Biopressin) e Cloridrato de Fenilefrina (Novocol): São tóxicos ao feto e ao recém-nato Analgésicos • 1a opção Paracetamol ou acetaminofeno (Tylenol, Tylol, Dôrico 500 mg): 500 mg de 6/6 horas • 2a opção Dipirona (não utilizar em gestantes hipotensas): Novalgina comprimidos ou gotas, Magnopyrol comprimidos ou gotas: 1 comprimido de 6/6 horas ou 35 gotas de 6/6 horas OBS: No caso de dor intensa, pode-se alternar Dipirona e Paracetamol de 3 em 3 horas, para se evitar o uso de anti-inflamatórios Anti-inflamatórios • 1a opção o Meios físicos. O uso de frio, imediatamente após o procedimento, nas primeiras horas • 2a opção o Diclofenaco (não utilizar antes da 9 semanas e após 32 semanas de gestação). Cataflan, Voltaren, Diclofen, Biofenac, etc., todos de 50 mg, de 8/8 horas por 3 dias 253 Antibióticos • 1a opção Amoxacilina 500 mg de 8/8 horas, por 7 a 10 dias • 2a opção Alergia às penicilinas e seus derivados : Estearato de Eritromicina 500 mg 6/6 horas por 7 a 10 dias No quadro 49 estão sintetizadas informações sobre a classificação das drogas mais utilizadas na gravidez e lactação de acordo com a Food and Drug Administration (FDA). 254 Droga Categoria Gravidez Lactação Anestésicos Locais • • • • • Lidocaína Prilocaína Mepivacaína Bupivacaína Procaína • • • • • B B C C C • • • • • Ok Ok Use com cautela Use com cautela Use com cautela • • • • • Ok Ok Ok Ok Ok • • • • C/D B B/D C • • • • Cuidado, evite no 3º trimestre Ok Cuidado, evite no 3º trimestre Use com cautela. Consulte o médico • • • • Evite Ok Ok Ok • • • • • • B B B B D B • • • • • • Ok Ok, evite o estolato Ok Ok Evite Evite, controverso • • • • • • • Ok Ok Ok Ok Evite Evite • • • D D Não Classificado • • • Evite Evite Evite no 1º trimestre. Consulte o médico • • • Evite Evite Ok Analgésicos • • • • AAS Paracetamol Ibuprofeno Codeína Antimicrobianos • • • • • • Penicilina/Amoxicilina Eritromicina Clindamicina Cefalosporina Tetraciclina Metronidazol Sedativos • • • A. B. C. D. X. Benzodiazepínicos Barbitúricos Óxido Nitroso Estudos controlados em mulheres não demonstram riscos para o feto no primeiro trimestre e a possibilidade de dano fetal parece remota, não havendo evidências de riscos em estudos posteriores Estudos de reprodução animal não tem demonstrado risco fetal, mas não há nenhum estudo controlado em mulheres grávidas ou estudos de reprodução animal mostrando efeitos adversos no feto Estudos em animais revelaram efeitos adversos no feto e não há nenhum estudo controlado em mulheres. Só deveriam ser dadas essas drogas se o benefício justificar o risco potencial para o feto. Há evidências positivas de risco fetal humano, mas os benefícios de uso em mulheres grávidas podem ser aceitáveis apesar do risco. Estudos em animais e seres humanos demonstram anormalidades fetais ou a evidências de riscos para o feto baseando-se em experiências humanas, ou ambos, o risco de uso de fármacos está claramente acima do possível benefício. A droga é contraindicada em mulheres que estão ou podem ficar grávidas. Quadro 49 - Classificação das drogas utilizadas durante a gravidez e lactação, de acordo com a FDA. 255 4.1.13 Roteiro para esclarecimentos gerais (Adaptado de American Dental Association ADA, 2008) 01) Quando os dentes do meu bebê começarão a se formar? R. Os dentes decíduos (de leite) começam a se desenvolver antes do nascimento. Na época da criança nascer, os vinte dentes que irão aparecer durante os próximos dois anos e meio já estão formados. Entretanto, permanecerão escondidos pela gengiva até a época ideal de erupção de cada um deles. 02) O que posso fazer para assegurar a minha saúde bucal e a do meu filho? R. A melhor maneira de cuidar dos dentes do seu filho que ainda não nasceu, é cuidar dos seus próprios dentes e de sua saúde geral. Isto significa: • Seguir uma dieta saudável e, se possível, com pouco açúcar • Escovar os dentes e passar fio dental diariamente • Evitar beliscar doces e alimentos ricos em amido, principalmente entre as refeições Visitar o Dentista regularmente para avaliação odontológica • A placa bacteriana é uma ameaça constante à saúde bucal. As bactérias da placa usam o açúcar e o amido que você consome para produzir ácidos. A ação desses ácidos sobre o esmalte dos dentes pode causar a cárie. Outros produtos da placa também causam doença na gengiva. Uma dieta balanceada e uma adequada higienização para a remoção de placa são fatores indispensáveis para se assegurar uma boa saúde bucal. 03) Os alimentos que eu como afetam os dentes do meu bebê que ainda não nasceu? R. Sim, enquanto o dente de leite está se formando, cálcio, fósforo e outros minerais são necessários. Quando a sua dieta é balanceada, uma quantidade adequada desses alimentos nutre você e seu bebê. É incorreto afirmar que a criança retira cálcio dos dentes da mãe. Quando o bebê necessita de cálcio ele retira dos alimentos ingeridos pela mãe. Há indícios, ainda não comprovados, de que durante a gravidez se desenvolve o paladar da criança, portanto, recomendamos que a mãe evite o consumo exagerado de açúcares durante a gravidez, principalmente entre o quarto e quinto mês da gestação. As gestantes que consomem grande quantidade de açúcar neste período poderão ter bebês ávidos por açúcar. 256 04) A gravidez danifica os dentes da mãe? R. Não há nada de verdade no ditado que diz “a cada gravidez perde-se um dente”. Se você está com mais cáries ou problemas na gengiva, isto pode estar ocorrendo por falta de uma higiene adequada e também ingestão mais frequente de alimentos ricos em carboidratos. Se os alimentos ricos em carboidratos são ingeridos frequentemente e a placa bacteriana não for removida, haverá, naturalmente, uma destruição maior dos dentes. Observa-se que no primeiro trimestre são frequentes enjoos e vômitos, tornando-se a boca mais ácida e portanto, mais sujeita ao aparecimento de cáries, isso se não ocorrer uma higiene correta dos dentes. 05) Por que as minhas gengivas estão inflamadas? R. A placa bacteriana também acarreta o aparecimento de doença na gengiva. A placa bacteriana não removida pode irritar a gengiva, tornando-as vermelhas, flácidas e propensas a sangramento quando você escova. Esse estado é chamado gengivite, e será um alerta de problemas mais sérios da gengiva ou do osso que sustenta os dentes. Se você apresenta esses sintomas, procure um Dentista urgente. Durante a gravidez a gengivite pode ocorrer com maior frequência porque há um aumento do nível de hormônios que podem interferir na reação da gengiva aos irritantes produzidas pela placa bacteriana. Apesar da alteração hormonal, você pode evitar a gengivite, mantendo os dentes limpos. Para que isso ocorra, escove e use fio dental adequadamente. Mantenha uma dieta balanceada. Lembre-se que gravidez não afeta gengiva saudável. 06) Tratamento odontológico é seguro durante a gravidez? R. Sim. É de suma importância ter uma boa saúde bucal, principalmente durante a gravidez. Seu Dentista irá requerer, se necessário, uma avaliação de seu médico sobre sua situação geral, antes de iniciar qualquer procedimento. Durante os primeiros meses de gestação algumas mulheres podem ficar ansiosas, nervosas ou nauseantes, mas isso não impede que seja realizado o tratamento odontológico caso haja necessidade, principalmente ligados à prevenção. 07) Posso tirar radiografias durante a gravidez? R. Sim. As radiografias são um importante instrumento de diagnóstico para auxiliar o Dentista a detectar cáries e outros problemas que não sejam visíveis no exame clínico, como doença periodontal, problemas de canal, etc. O Dentista indicará a melhor técnica 257 para a realização de um exame radiográfico. Muitos fatores garantem a sua segurança e a do bebê, exemplo é a colocação de um avental de chumbo sobre a barriga da mãe. 08) Durante a gravidez, medicamentos e anestésicos podem ser utilizados no tratamento odontológico? R. Sim. Alguns medicamentos e anestésicos podem ser utilizados durante e após o tratamento dentário. Serão indicados somente aqueles sem efeitos colaterais comprovados. Havendo necessidade o Dentista consultará o seu médico. Tome sempre a dose prescrita e no período recomendado. Em caso de dúvida, sempre pergunte, nunca fique com questionamentos sem esclarecimento. 09) Quando os dentes de minha criança surgirão? DENTIÇÃO PRIMÁRIA (de leite) Superior Época de erupção Incisivo central 8 a 12 meses Incisivo lateral 9 a 13 meses Canino 16 a 22 meses 1º molar 13 a 19 meses 2º molar 25 a 33 meses Inferior Época de erupção Incisivo central 6 a 10 meses Incisivo lateral 10 a 16 meses Canino 17 a 23 meses 1º molar 14 a 18 meses 2º molar 23 a 31 meses 10) A erupção dos dentes é sempre dolorosa? R. Não. Quando os dentes de um bebê estão prontos para erupcionar a gengiva usualmente torna-se mais inchada. O bebê pode babar excessivamente e tornar-se mais irritado, inquieto. Massagear as gengivas com o dedo limpo ou uma colherinha fria, pode dar algum alívio. Oferecer ao bebê algo para morder, como um mordedor, também pode agir como calmante. Se a criança está extremamente irritada, desconfortável, procure o Dentista para uma avaliação. 258 11) Em que momento começarei limpar os dentes de meu filho? R. Mesmo antes dos primeiros dentes erupcionarem a mãe deve começar limpar o local dos dentes, com o objetivo de remover os restos de leite. 12.Tem algum problema se o bebê dormir mamando com a mamadeira? R. Sim. Este tipo de comportamento aumenta em muito o risco de cárie no bebê, que é denominada de cárie de mamadeira, pois destrói os dentes de forma muito rápida. Se a mamadeira contiver alimentos açucarados (açúcar, mel), a destruição dos dentes será muito mais acentuada. Infelizmente em pouco tempo os mesmos estarão totalmente destruídos pela cárie dentária. 13) Meu bebê chupa o dedo. Devo ficar preocupada? R. Não. Chupar o dedo é um reflexo natural que tende a diminuir a partir de um ano de idade. Normalmente, até essa idade, a criança interrompe o hábito sozinha. Contudo, se ele persistir, o desenvolvimento da dentição e da face poderá ser afetado. Peça orientação ao seu Dentista. 14) Meu bebê necessita de vitaminas com flúor para ter os dentes fortes? R. Não. Se a água de beber é fluorada, como é o caso da água da zona urbana de Londrina e de alguns Distritos, ela fornecerá a quantidade necessária de flúor para evitar a cárie. Ressaltamos que dieta balanceada e uma boa higienização dos dentes, são os fatores mais importantes para a prevenção e a manutenção de uma boa saúde bucal. 15) Qual a idade que as crianças poderão escovar os dentes e usar fio dental sozinhas? R. Até que a criança chegue aos 8-9 anos, ela necessitará da supervisão e assistência para se ter certeza que está realizando uma higiene eficiente. Use sempre pequenas quantidades de pasta e com concentrações de flúor recomendado pelo seu Dentista. Evite que a mesma engula restos de pastas dentais que poderão ocasionar a fluorose dental. 16) O que eu deveria fazer quando um dente decíduo (de leite) é perdido muito cedo? R. Consulte o Dentista imediatamente. Os dentes vizinhos poderão se inclinar para o espaço livre, diminuindo o espaço e comprometendo o nascimento do dente permanente. O Dentista poderá recomendar o uso de um aparelho. 259 17) O flúor evitará o aparecimento de cárie? R. Sim. Crianças nascidas ou residentes em comunidades onde a água de abastecimento é fluorada, têm redução de cárie em aproximadamente 65%, em relação às crianças que ingerem água não fluorada. O flúor incorpora-se ao esmalte dos dentes fortalecendo-o. Seu Dentista poderá também fazer aplicação de flúor, quando for indicado. 18) Quando devo levar meu filho ao Dentista pela primeira vez? R. Logo após o nascimento, antes mesmo da erupção dos primeiros dentes. Não espere a criança ter dor para procurar o Dentista, pois a melhor conduta é sempre a prevenção. 19) Como posso tornar a primeira visita ao Dentista agradável à criança? R. Tente fazer da primeira visita uma aventura agradável, fale que o Dentista é um amigo que irá ajudá-lo a proteger e cuidar de seus dentes. Sua atitude e exemplo podem despertar interesse da criança para os cuidados com os dentes. Não utilize a visita ao Dentista para amedrontar a criança, ameaçando-a com frases como: “Se você não me obedecer, ele irá te aplicar uma injeção e vai tirar o seu dente”. 20) Meu filho de três anos não consegue passar o dia sem beliscar alimentos, isto pode prejudicar seus dentes? R. Sim, se a criança ingerir alimentos, açucarados ou não, entre as refeições, sem a adequada higienização dos dentes, aumentará consideravelmente o risco de desenvolver cárie. 21) As crianças com deficiência são mais propensas a doenças bucais? R. Na maioria dos casos, o aparecimento de cárie ou doença periodontal é causado em função da dificuldade de higienização e pelo tipo de alimentação. Bons hábitos de higiene e uma dieta mais adequada irão contribuir em muito para a manutenção de uma boa saúde bucal. Procure o Dentista para maiores esclarecimentos. 260 BIBLIOGRAFIA ABDALLA , A. E. et al. Cuidados com a gestante. JADA Brasil, v. 2, agosto, p. 7880, 1999. AMERICAN DENTAL ASSOCIATION. Council on Access, Prevention and Interprofessional Relation. Women`s oral health care issues. Oral health care series. November. 2006. AMERICAN DENTAL ASSOCIATION. Oral Health Topics A – Z. Pregnancy. Frequent Asked Questions. Disponível em <www.ada.org/public/topics/pregnancy.asp>. Acesso em: 08 abril 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 17). BRUNETTI, M. C. et. al. A infecção periodontal como fator predisponente ao parto prétermo. Femina , v. 32, n 2, p. 105 -109, 2004. CONSONNI, E. B. Aspectos psicológicos na gravidez e parto. Feminina, v. 31, n. 7, 2003. CORREA E. M. C. et al. 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Journal of the Canadian Dental Association. v. 64, n. 6, p. 4343, June, 1998. 263 4.2 DIABETES MELLITUS (DM) Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Raquel Cristina Guapo Rocha O termo DM é aplicado a um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia crônica, resultantes de defeitos de secreção e/ou da ação de insulina, acompanhadas de distúrbio no metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras. Pode-se manifestar de várias maneiras: DM tipo 1: Representa 5 a 10% dos casos e é causado pela destruição autoimune do tecido pancreático. A produção de insulina é nula e o doente pode repô-la através de injeções de insulina diariamente para prevenir cetoacidose, coma e morte. Ocorre principalmente em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 a 14 anos), mas também ocorre em adultos. Pode apresentar instabilidade no quadro clínico laboratorial, com tendência a cetoacidose e vasculopatia. DM tipo 2: É o mais comum, representando de 90% a 95% dos casos e se refere a uma deficiência relativa de insulina devido a defeitos de secreção ou ação da mesma. A cetoacidose é rara e quando presente se faz acompanhar de infecção ou estresse muito grande. A hiperglicemia desenvolve-se lentamente, podendo permanecer assintomática por vários anos. Geralmente os pacientes apresentam tendência à obesidade. O controle é feito com terapia farmacológica (hipoglicemiante oral ou insulina), controle de dieta ou ambos. O risco de desenvolvimento de DM tipo 2 aumenta com a idade, aumento de peso e falta de atividade física. Além disso, é mais prevalente em pessoas com hipertensão e dislipidemia. DM tipo 3: São relativamente incomuns, tendo como causas prováveis fatores como defeitos genéticos da função das células β ou da ação das insulinas, doenças exócrinas do pâncreas, endocrinopatias, uso de drogas e medicamentos, infecções e certas síndromes genéticas. Quantidades excessivas de cortisol, glucagon e hormônio do crescimento podem causar DM em pessoas com defeitos pré-existentes na secreção de insulina. Drogas como glicocorticoides, tiazidas, dilantin e interferon podem diminuir a secreção de insulina. Alguns vírus, incluindo citomegalovírus, caxumba e vírus coxsackie têm sido associados com a destruição de células β. DM tipo 4: Definido como intolerância à glicose com início e diagnóstico na gestação. 264 4.2.2 Sinais e Sintomas • Poliúria (micção excessiva) • Polidipsia (sede excessiva) • Polifagia (fome exagerada) • Perda inexplicada de peso • Fadiga, fraqueza, letargia • Visão turva • Prurido cutâneo ou vulvar • Cicatrização difícil • Encontro casual de hiperglicemia ou glicosúria em exames de rotina • Infecções urinárias ou cutâneas de repetição (furúnculos frequentes), etc. OBS: Os sintomas clássicos podem estar ausentes, porém poderá existir hiperglicemia de grau suficiente para causar alterações funcionais ou patológicas por um longo período antes que o diagnóstico seja estabelecido. 4.2.3 Valores de Referências para Diagnóstico do DM (Glicemia) O Quadro 50 apresenta os valores de glicemia que são utilizados como referência para o diagnóstico de DM. Tipo de exame Valoles observados Interpretação • Glicemia em jejum • • • < 110 mg/dL ≥ 110 e < 126 mg/dL ≥ 126 mg/dL • • • Normal Exame duvidoso Provável DM • Teste Oral de Tolerância à Glicose (2 horas após sobrecarga oral de 75 g de glicose) • • • < 140 mg/dL ≥ 141 e < 200 mg/dL ≥ 200 mg/dL • • • Normal Exame duvidoso Provável DM • Glicemia ao acaso (em qualquer hora do dia) • • • < 140 mg/dL ≥ 141 e < 200 mg/dL ≥ 200 mg/dL • • • Normal Exame duvidoso Provável DM Quadro 50 - Valores de referência para diagnostico de DM 265 Para que o diagnóstico seja estabelecido em adultos fora da gravidez, os valores devem ser confirmados em um dia subsequente, por qualquer um dos critérios descritos. A confirmação não é necessária em um paciente com sintomas típicos de descompensação e com medida de níveis de glicose plasmática ≥ 200 mg/dL. A taxa de hemoglobina glicada ou glicosilada reflete os valores médios de glicose nos 3 meses anteriores e é utilizada para se avaliar se o controle metabólico do paciente está dentro da meta almejada. O valor normal é < 7%. O termo tolerância à glicose diminuída refere-se ao estágio metabólico entre homeostase da glicose e DM. Este estágio inclui pessoas com valores de glicose em jejum de 110 mg/dL ou maiores, porém, menores que 126 mg/dL. 4.2.4 Complicações Agudas As principais complicações agudas do DM são a hipoglicemia e a hiperglicemia, cujas características e o manejo estão decritos no Quadro 51. Para maiores informações, reportar-se ao Protocolo Clinico de Saúde do Adulto (Londrina, 2006). 266 Hiperglicêmica (Cetoacidose) Alta taxa de glicose no sangue (hiperglicemia > 200 mg/dL), como resultado de dieta e administração inadequada de hipoglicemiantes (orais e insulina) predispondo à desidratação e choque hipovolêmico, podendo evoluir para coma diabético • Sinais e sintomas: Polidipsia, poliúria, polifagia, rubor facial, respiração rápida e profunda, dores abdominais, hálito cetônico. Pode apresentar sinais de desidratação como impaciência, língua seca, enrugada e avermelhada • Tratamento o Avaliação da glicemia capilar (hemoglucoteste ou HGT) o Encaminhar para avaliação na USF o Postergar tratamento odontológico, se possível o Verificar presença de infecção bucal que possa ser a causa do controle deficiente da glicemia, sempre trabalhando integrado com médico na troca de informações Hipoglicemia • É a baixa concentração de glicose no sangue (menor que 60 mg/dL), como resultado do excesso de agentes hipoglicêmicos orais, insulina ou ingestão inadequada na dieta. Desenvolve-se de forma rápida, podendo culminar com perda de consciência e eventualmente convulsões • Sinais e sintomas: Fraqueza, nervosismo, tremores, distonia dos músculos da mastigação (contrações musculares involuntárias), palpitações e sudorese excessiva, pele úmida e pálida, letargia, agitação e confusão, dificuldade de fala, progredindo para convulsão e coma. • Tratamento o Avaliação da glicemia capilar (hemoglucoteste ou HGT), se considerar necessário o No paciente consciente Oferecer carboidratos de absorção rápida (de preferência líquido), na dose de 10 a 20 gramas (Ex: 01 colher de açúcar em meio copo de água, meio copo de refrigerante comum, suco de laranja, etc.) Pode ser necessário repetir a dose após 15 minutos o No paciente inconsciente Auxílio da equipe médica da USF Administração de 25 a 30 mL de solução de glicose a 25% Quadro 51 - Caracteríticas e tratamento das complicações agudas do DM • 4.2.5 Complicações Crônicas As complicações crônicas do DM são: Doença aterosclerótica cardiovascular, doença cerebrovascular e doença vascular periférica, retinopatia diabética, catarata, glaucoma, nefropatia diabética, neuropatia diabética periférica (perda de sensibilidade, dormência, parestesia, limitação motora, ulceração de membros inferiores), retardo de cicatrização, doença periodontal. São resultantes da hiperglicemia, hiperlipidemia e também de outras complicações associadas. 267 4.2.6 Medicações mais Utilizadas Hipoglicemiantes orais Classe Denominação genérica Clorpropamida Glimepirida Glipizida Gliclazida* Glibenclamida* • Sulfonureias • • • • • • Biguanidas • Metforminas* • Inibidor de alfaglicosidases intestinais • Acarbose • Tiazolidinedionas ou glitazonas • • • Troglitazona Rosiglitazona Pioglitazona • Metiglinidas ou glinidas • • Repaglinida Nateglinida * Disponíveis na USF Quadro 52 - Hipoglicemiantes orais mais utilizados no DM Insulina É utilizada no tratamento médico de todos os casos de DM tipo I e em casos mais severos de DM tipo II. Está disponível nos tipos rápida, intermediária e prolongada e é administrada pelo paciente através de injeção subcutânea. No mercado existem diferentes apresentações de acordo com seu tempo de ação. Para maiores informações, reportar-se ao Protocolo de Saúde do Adulto da AMS, pág 98-99 (Londrina,2006). As insulinas que estão à disposição nas USF são as insulinas do tipo NPH (Neutral Protamine Hegedom) e regular. 268 4.2.7 Repercussões na Cavidade Bucal Uma série de condições bucais tem sido associada ao DM, particularmente em pacientes com controle metabólico deficiente. • Cárie dentária Os pacientes diabéticos podem apresentar maior quantidade de lesões ativas de cárie e maior prevalência da mesma do que pacientes não diabéticos. Níveis elevados de glicose na saliva e presença de hipossalivação podem ser fatores predisponentes, além da presença de higiene bucal precária. • Doença periodontal O DM, principalmente quando não controlado, aumenta o risco de doença periodontal que geralmente está presente em 75% dos casos. Vários fatores predisponentes têm sido apontados incluindo função reduzida dos leucócitos e alterações no metabolismo de colágeno, aumentando o risco de destruição tecidual. O controle metabólico do DM também pode ser alterado pela inflamação periodontal. A presença de infecção periodontal severa pode aumentar o risco de complicações micro e macrovasculares. O tratamento da doença periodontal tem mostrado exercer papel positivo no controle glicêmico. Outro fator importante a ser observado é o tabagismo que poderá exacerbar ainda mais a doença periodontal no diabético. • Disfunção das glândulas salivares Estudos têm apontado que 40 a 80% dos diabéticos relatam a sensação de boca seca, quando descompensados, apresentando um fluxo salivar diminuído em relação ao paciente saudável. O aumento bilateral da parótida também pode ser observado em cerca de 24 a 48% dos pacientes, porém é um fenômeno assintomático. • Infecções fúngicas Têm sido associadas a um controle pobre da glicemia. Manifestam-se como glossite romboide mediana, candidíase oral, estomatite protética e queilite angular. A maior 269 predisposição pode estar associada à presença de hipossalivação, aumento de glicose na saliva, modificação da microflora bucal e problemas imunológicos. • Ardência bucal e distúrbios do paladar Pacientes com DM podem apresentar ardência da mucosa bucal e da língua, decorrente de neuropatia periférica, hipossalivação ou presença de candidíase. O bom controle dos níveis glicêmicos e da higiene bucal podem melhorar tais sintomas. Alterações do paladar (geralmente diminuição do sabor doce) também são comuns em pacientes com DM descompensado. • Líquen plano e reações liquenoides Podem estar presentes em decorrência da utilização de hipoglicemiantes ou anti- hipertensivos. 4.2.8 Considerações odontológicas • Levantar história médica do paciente por meio de anamnese e consulta ao prontuário da USF, avaliando: o Tipo de DM (1 ou 2) o Controle de glicemia pelo paciente o Níveis recentes de glicemia o Frequência de hipoglicemia o Medicações antidiabéticas utilizadas (insulina e/ou hipoglicemiantes orais), com dosagens e horários de administração o Uso de medicações concomitantes para controle ou prevenção de comorbidades. Ex: O uso diário de AAS é indicado rotineiramente ao diabético com finalidade de prevenção de coagulopatias o Existência de complicações do DM (doenças cardiovasculares ou renais, hipertensão, etc.) e que podem interferir no planejamento do tratamento dentário o Consultar médico responsável pelo paciente sempre que houver dúvida sobre controle metabólico da doença ou necessidade de ajuste na dose de medicamentos 270 • Aferir pressão antes de todas as consultas • Verificar a possibilidade de realização do hemoglucoteste (HGT) na USF, antes da intervenção, em caso de dúvida sobre a glicemia • Paciente em jejum tem risco de hipoglicemia aumentado. A ingestão de carboidratos orais antes do tratamento pode minimizar a possibilidade deste evento • Marcar consultas preferencialmente no meio da manhã, pois os níveis de cortisol são mais altos, o que eleva a concentração de glicose no sangue e diminui risco de hipoglicemia trans-operatória • Após o procedimento, dieta normal, sempre que possível • Pacientes que utilizam insulina regularmente e que após o tratamento odontológico não poderão ingerir alimentos normalmente (Ex: Cirurgia odontológica), devem ter sua dose usual de insulina matinal ajustada, após consulta com o médico • O medo e a ansiedade relacionados ao tratamento odontológico podem aumentar os níveis de glicemia no paciente diabético, por isso o controle de estresse é fundamental • Deve-se priorizar o tratamento odontológico do diabético, pois as infecções agudas e condições inflamatórias podem aumentar a taxa de glicose • O paciente diabético deverá passar por manutenção periódica • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por 1 minuto, antes de procedimentos dentários, pode ajudar a reduzir o risco de bacteremia • Instruir sempre o paciente sobre o Prevenção (uso de flúor e clorexidina) o Profilaxia (escovação e fio dental) o Autodiagnóstico de alterações gengivais (sangramento) e dentais (cárie e fraturas de restaurações) o Redução ou eliminação do consumo de álcool e fumo 271 No quadro 53 descreve-se o manejo do paciente com DM durante o tratamento odontológico, de acordo com os valores de glicemia. Risco Baixo • • • • • Características Bom controle metabólico Controle médico regular Ausência de hiper/hipoglicemia Sem complicações neurológicas, vasculares e infecciosas Níveis de glicose o Em jejum < 125 mg/dL o Pós-prandial < 140 mg/dL o Taxa de hemoglobina glicada ou glicosilada ou do (HbA1c) de 7% Conduta odontológica • • • • • • • • Médio • Sintomas ocasionais Controle metabólico razoável Controle médico regular Poucas complicações do DM Ausência de hiper/hipoglicemia recentes Níveis de glicose o Em jejum ≥ 125 < 140 mg/dL o Pós-prandial ≥ 140 < 200 mg/dL o Taxa de hemoglobina glicada ou glicosilada (HbA1c) entre 7% a 8% • • • Procedimentos não cirúrgicos o Restaurações, raspagem e polimento radicular supra e subgengival, endodontia: Sem restrição Procedimentos cirúrgicos o Exodontias simples, curetagem e gengivoplastias ajuste de insulina: Com restrição. Necessidade de avaliação médica Intervenções cirúrgicas complexas o Exodontias múltiplas e de dentes inclusos, cirurgias periodontais: Com restrição. Necessidade de avaliação médica Profilaxia antibiótica: Ver quadro 54 Controle metabólico deficiente Problemas frequentes de • Tratamento odontológico: Com hipoglicemia ou cetoacidose restrição • Usualmente necessitam de ajuste da • Adiar os procedimentos de rotina dosagem de insulina • Intervenção em caso de dor e • Níveis de glicose infecções bucais após avaliação o Em jejum > 140 mg/dL médica o Pós-prandial ≥ 200 mg/dL o Taxa de hemoglobina glicada • Profilaxia antibiótica: Ver quadro 54 ou glicosilada (HbA1c) acima de 8% Quadro 53 - Valores de glicemia e manejo odontológico do paciente • • Alto Tratamento odontológico: Sem restrição Profilaxia antibiótica: Ver quadro 54 272 4.2.9 Terapêutica Medicamentosa - Síntese Anestésicos Locais • 1a opção Prilocaína 3% com felipressina. Evitar derivados de adrenalina • 2ª opção Mepivacaína 3% sem vasoconstritor Analgésicos • 1a opção Paracetamol (Tylenol, Dôrico) - 500 a 750 mg de 6/6 horas • 2a opção Dipirona (Novalgina, Anador, Magnopyrol) – 1 comprimido ou 35 gotas de 6/6 horas OBS: Cuidado no uso da Dipirona, pois é discreto hiperglicemiante. Não utilizar AAS, pois sinerge com a insulina, podendo, nos pacientes insulinodependentes, provocar um choque hipoglicêmico. Anti-inflamatórios • 1ª opção Diclofenaco (Cataflan, Voltaren, Diclofen, Biofenac) - 50 mg de 8/8 horas por 3 a 5 dias. Cautela no uso em paciente hipertenso. Contraindicado na presença de nefropatia Profilaxia antibiótica no paciente diabético A indicação da profilaxia antibiótica está resumida no Quadro 54. Quando estiver indicada, seguir esquema descrito no item 4.6 deste capítulo. 273 DM Quando utilizar? Conduta • Tipo 1 Procedimentos cruentos e endodônticos • Tipo 2 Procedimentos cruentos e endodônticos • Realizar profilaxia antibiótica em todos os pacientes • Realizar profilaxia antibiótica quando taxa de glicose ≥ 200 mg/dL ou insulinodependentes Quadro 54 - Indicação de profilaxia antibiótica em diabéticos As medicações que podem alterar o controle de glicose por interferirem com metabolismo de insulina e carboidratos estão listadas no Quadro 55. Hipogliceminates • • • • • • Salicilatos Dicumarol Bloqueadores β Inibidores da Mono Amino Oxidase (IMAO) Sulfonamidas Inibidores da enzima angiotensina Hiperglicemiantes • • • • • • • • Dipirona Adrenalina Corticosteroides Tiazidas Contraceptivos orais Fenitoína Produtos para tireoide Bloqueadores de canal de cálcio Quadro 55 - Medicações com ações hipo ou hiperglicemiantes 275 4.3 HIPERTENSÃO ARTERIAL (HA) Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Fabrício Parra Garcia Introdução A hipertensão arterial (HA) é de alta prevalência no Brasil, variando entre 20 a 30% dos adultos. HA é definida como pressão sistólica igual ou maior que 140 mmHg e uma pressão diastólica igual ou maior que 90 mmHg. A pressão sistólica refere-se àquela no auge da contração ventricular, enquanto a pressão diastólica representa a resistência total de repouso das artérias após o término da contração no ventrículo esquerdo. A HA primária é a mais comum, atingindo aproximadamente 95% dos indivíduos hipertensos e tem sua ocorrência associada à interação de predisposição genética, fatores ambientais e características individuais como obesidade, ingestão excessiva de sal (cloreto de sódio), transtornos do sono, estresse, uso abusivo de bebidas alcoólicas, uso de contraceptivos hormonais, entre outros. A HA secundária é decorrente de outras patologias como nefropatia diabética, lúpus eritematoso sistêmico, glomerulonefrite, rim policístico, tumor da adrenal, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo, toxemia gravídica (pré-eclampsia e eclampsia), feocromocitoma31, síndrome de Cushing32, entre outras e também uso de medicamentos como drogas simpatomiméticas, anfetaminas, lítio, anti-inflamatórios não hormonais, etc. Atinge cerca de 5 % da população. 4.3.2 Fatores de Risco • Idade acima de 60 anos • Tabagismo 31 Doença rara, mas grave, caracterizada pela presença de tumor(es) produtor(es) de catecolaminas (adrenalina, noradrenalina, dopa e dopamina). Dentre as manifestações clínicas está a HA que é muito importante. 32 Desordem endócrina causada por níveis elevados de cortisol liberado pela adrenal ou induzido pela administração de drogas. Caracteriza-se por aumento de peso, depósito de gordura na parte superior do corpo, pescoço e face (lua cheia ou moon face), excesso de apetite e sede, aumento da produção de urina, fraqueza, cansaço fácil, nervosismo, insônia e labilidade emocional. Grande parte desses pacientes desenvolve HA e DM. 276 • Dislipidemias (alterações colesterol, triglicérides, etc.) • DM • História familiar de doença cardiovascular • Obesidade • Sedentarismo • Consumo excessivo de sal • Consumo de bebidas alcoólicas • Nível socioeconômico mais baixo 4.3.4 Aferição e Classificação da Pressão Arterial (PA) Seguir as orientações do Protocolo Clínico de Saúde do Adulto da AMS (Londrina 2006). Lembrar de: • Repouso de pelo menos 5 minutos, após a chegada do paciente • Observar a técnica correta • Bexiga vazia • Não ter praticado atividade física nos últimos 60 a 90 minutos • Não ter ingerido bebida alcoólica, café, alimentos ou ter fumado até 30 minutos antes 4.3.5 Classificação da PA Classificação • Ótima Pressão Sistólica (mm Hg) • < 120 Pressão Diastólica (mm Hg) • < 80 • Normal • < 130 • < 85 • Limítrofe • 130 - 139 • 85 - 89 • Estágio 1 (Hipertensão leve) • 140 - 159 • 90 - 99 • Estágio 2 (Hipertensão moderada) • 160 - 179 • 100 - 109 • Estágio 3 (Hipertensão severa) • ≥ 180 • ≥ 110 • Hipertensão sistólica isolada • > 140 • < 90 Quadro 56 - Classificação da PA de acordo com a medida casual no consultório (adultos > 18 anos), segundo o III Consenso Brasileiro de HA. 277 O valor mais alto de sistólica ou diastólica estabelece o estágio do quadro hipertensivo. Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação do estágio. Por exemplo, o valor 160/92 mmHg deve ser classificado como hipertensão Estágio 2 e 174/120 mmHg como Estágio 3, hipertensão sistólica isolada de 170/82 como Estágio 2. 4.3.6 Apresentação Clínica A HA primária nos Estágios 1 e 2 (leve e moderada) é usualmente assintomática e pode permanecer desta forma por muitos anos. Dor de cabeça (especialmente de manhã, pulsátil, suboccipital), distúrbios visuais, barulhos no ouvido, tontura, confusão mental, frio nas pernas ou formigamento das extremidades, palpitação, dor no peito, rubor facial e fadiga, podem ser sinais iniciais de hipertensão. 4.3.7 Tratamento O tratamento não farmacológico inclui redução de peso, abandono do hábito de fumar, redução do consumo de álcool, programa de exercícios regulares e modificação do consumo de sal. A utilização de medicamentos é destinada à diminuição e controle dos níveis pressóricos, sendo os mais utilizados: • Diuréticos • Inibidores adrenérgicos (de ação central, alfa-bloqueadores e beta- bloqueadores) • Vasodilatadores diretos • Bloqueadores de canal de cálcio • Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) • Antagonistas do receptor AT1, da angiotensina II (AII) OBS: Um significativo número de pacientes necessita de duas ou mais classes terapêuticas para controle da hipertensão. Os medicamentos disponíveis na USF estão listados no Quadro 57, além dos possíveis efeitos sobre a cavidade bucal ou tratamento odontológico. 278 Grupo Possíveis efeitos adversos na cavidade bucal ou tratamento odontológico Drogas Possíveis interações medicamentosas • • Diuréticos • Hidroclortiazida 25 mg Furosemida 40 mg • Xerostomia, alterações da mucosa • • Ação central • • Metildopa 500 mg Clonidina 0,100 mg (uso interno para crises hipertensivas) Inibidores adrenérgicos Beta-bloqueador • Propranolol 40 mg • • • Antagonistas – canais de cálcio • Nifedipina 20 mg Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) • • Enalapril 5 e 20 mg Captopril 25 mg • Xerostomia, alteração do paladar, edema ou dor nas parótidas, reações da mucosa Xerostomia, alteração do paladar, aumento da sensibilidade ao vasoconstritor dos anestésicos locais, diminuição da tolerância ao estresse Xerostomia, hiperplasia gengival, possível aumento do risco de sangramento gengival e de infecção, diminuição de tolerância ao estresse Perda do paladar • • • • • Anti-inflamatórios (AINH): Antagonizam efeito diurético levando a retenção de líquido e perda do controle da pressão Vasoconstritores: Podem antagonizar os efeitos dos anti-hipertensivos Limitar uso de adrenalina: 2 a 3 tubetes e utilizar adrenalina 1:100000 Os AINH antagonizam a ação antihipertensiva destes medicamentos Vasoconstritores: Podem antagonizar efeito anti-hipertensivo. Limitar uso de adrenalina: 2 a 3 tubetes e utilizar concentração de 1:100000 Os AINH antagonizam a ação antihipertensiva destes medicamentos Hipertensão e bradicardia podem ocorrer quando vasoconstrictores são administrados Limitar o uso de adrenalina: 2 a 3 tubetes e utilizar adrenalina 1:100000 • Podem apresentar aumento do efeito hipotensor quando receberem AAS • AINH e uso excessivo de vasoconstritores (mais de 3 tubetes) podem antagonizar o efeito anti-hipertensivo do medicamento Quadro 57 - Medicamentos disponíveis para o tratamento da HA na USF, possíveis efeitos edversos na cavidade bucal e interações medicamentosas no tratamento odontológico 279 4.3.8 Conduta nas Emergências Hipertensivas no Consultório Odontológico As emergências hipertensivas são uma preocupação no consultório odontológico e podem ocorrer em decorrência das intervenções clínicas e cirúrgicas, desencadeadas por fármacos ou mais comumente associadas ao fator emocional. Requerem redução imediata da pressão sanguínea (não necessariamente para níveis normais) para prevenir danos miocárdio, angina como hemorragia intracerebral, infarto agudo do instável do peito, aneurisma da aorta, etc., além de um risco aumentado de hemorragia, no caso de realização de procedimento cruento. Sinais mais comuns • Cefaleia, que pode ser intensa • Tontura • Alterações visuais • Ansiedade intensa • Dor • Dispneia (respiração curta) • Sangramento nasal • Ou qualquer tipo de desconforto apresentado OBS: Hipertensão e hipotensão arterial podem apresentar sintomas semelhantes. Conduta • Interromper e/ou finalizar o tratamento, quando possível • Sentar e acalmar o paciente • Aferir PA • Providenciar atendimento imediato na USF, conforme descrito no Protocolo de Saúde do Adulto da AMS – pág. 70 (Londrina, 2006) 280 Considerações odontológicas • Na primeira consulta e retornos em todos os pacientes, mesmo que assintomáticos, sempre aferir a PA • Registrar história médica detalhada por meio de anamnese e do prontuário da USF, anotando: • o Presença de hábitos deletérios (tabagismo, etilismo, sedentarismo, etc.) o História familiar relacionada a doenças cardiovasculares o HA prévia Se o paciente já for previamente diagnosticado como hipertenso, pesquisar o O esquema terapêutico adotado (medicação atual, doses e combinações medicamentosas) o Se está ou não compensado (adesão ao tratamento, uso correto da medicação) o Existência de anormalidades neurológicas, cardiovasculares ou renais (lesões em órgãos alvo) o Coexistência de outras patologias, como, por exemplo, o DM • Evitar consultas prolongadas e muito estressantes • Estar atento para a presença de sintomas de hipotensão postural, como: Tontura, desmaio ou síncope devido à medicação anti-hipertensiva. Para prevenir, quando paciente estiver em posição supina (deitada), deve-se: o Voltar a cadeira à posição normal lentamente o Solicitar ao paciente que permaneça sentado por 3 a 5 minutos o Ajudá-lo à se levantar da cadeira o Proporcionar apoio até que o mesmo se sinta equilibrado o Pacientes em uso de metildopa e clonidina são mais susceptíveis • Pacientes com hipertensão são mais propensos a desenvolver DM • Pacientes com DM apresentam incidência maior de hipertensão e mortalidade por doenças cardiovasculares • Somente realizar tratamentos invasivos mediante controle da HA e do DM • A realização de bochecho com de solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia • A descrição do tratamento odontológico do paciente hipertenso de acordo com os valores de PA está disponível no Quadro 58 281 Pressão Pressão sistólica Diastólica Conduta Aferir pressão antes de todas as consultas Até 139 Até 89 Tratamento odontológico e uso de vasoconstritor: Sem restrição • Aferir pressão antes de todas as consultas • Checar se paciente tomou medicação anti-hipertensiva de rotina • Uso de anestésico o 1ª opção: Lidocaína 2% com adrenalina 1:100000 (2 a 3 tubetes no máximo) 140 -159 90 - 99 o 2ª opção: Prilocaína com felipressina (máximo de 2 tubetes, no caso de coexistência de DM). Não recomendado no caso de isquemia cardíaca o 3ª opção: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor • Tratamento odontológico: Sem restrição • Acompanhamento médico e controle da hipertensão • Aferir pressão antes de todas as consultas • Checar se paciente tomou medicação anti-hipertensiva de rotina • Se PA ≥ 160/100: Medicação anti-hipertensiva para tentar obter redução na PA, seguindo fluxograma de HA do Protocolo de Saúde do Adulto da AMS pág. 70 (Londrina,2006) 160 -179 100 -109 • Após medicação o PA ≤ 159/99 Procedimentos não cruentos liberados Uso de anestésico: Vide quadro acima o PA ≥ 160/100, o paciente deve: No caso de dor: Receber tratamento paliativo Atendimento programado deve ser adiado • Acompanhamento médico e controle da hipertensão • Aferir pressão antes de todas as consultas • Providenciar atendimento imediato na USF, conforme Protocolo de Saúde do Adulto – pág. 70 (Londrina, 2006) • Adiar o atendimento odontológico de rotina ≥ 180 ≥ 110 • Em caso de dor, após níveis pressóricos corrigidos o No caso de dor: Receber tratamento paliativo o Atendimento programado deve ser adiado • Acompanhamento médico e controle da hipertensão < 90 • Vide quadros acima, de acordo com nível pressórico ≥ 140 aferido Quadro 58 - Tratamento odontológico de acordo com os valores de PA • • 283 4.4 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Fabrício Parra Garcia 4.4.1 Definição É uma isquemia ou infarto cerebral em consequência à obstrução de um vaso por tromboembolia. 4.4.2 Fatores de risco • HA não tratada (principal fator de risco para o AVC) • Doença cardíaca, arritmia, infarto do miocárdio, doença de Chagas, problemas nas válvulas, etc. • DM • Tabagismo • Hipercolesterolemia • Idade avançada • Ingestão de anticoncepcionais orais 4.4.3 Medicamentos • Aspirina®, AAS, Melhoral®, entre outros, são as drogas mais comumente utilizadas • Dipiridamol (Persantin®) diminui a adesividade das plaquetas e é usado na prevenção do infarto do miocárdio recorrente e AVC • Anticoagulantes orais (nome comercial: Warfarin® , Marcoumar®, Coumadin®, Marevan®, etc.) Estes medicamentos podem levar ao aparecimento de efeitos colaterais como a interação com diversas medicações: • Aumento da ação anticoagulante: Salicilatos, tetraciclina, metronidazol • Diminuição da ação anticoagulante: Fenobarbital e corticosteroides 284 Considerações odontológicas Realizar levantamento da história médica do paciente por anamnese e consultar o prontuário da USF, avaliando: • História do AVC ou de ataques isquêmicos passageiros: Tempo decorrido • Presença de fatores de risco: HA, DM, tabagismo, anticoncepcionais orais e outras doenças cardiovasculares • Medicamentos utilizados o Drogas antiplaquetárias o Antiagregantes ou anticoagulantes orais o Drogas anti-hipertensivas: Diuréticos, beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e inibidores da ECA, etc. o Drogas antiarrítmicas o Outros • Solicitar avaliação médica para posterior início do tratamento • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por 1 minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia • • Efeitos colaterais bucais das drogas utilizadas o Sangramento gengival o Complicações na cicatrização de tecidos moles o Estomatite o Dor nas glândulas salivares o Ulcerações o Hipossalivação parcial/ total O paciente pode apresentar dificuldade motora e de preensão de objetos. Recomendase adaptar no cabo da escova de dente em: • o Manete de borracha de bicicleta ou motocicleta o Cabo de escova de cabeleireiro o Aumentar o volume do cabo da escova com resina ou Durepoxi® Perda da tonicidade muscular da bochecha prejudicando a autolimpeza dos dentes (face vestibular), favorecendo a formação de biofilme dental • Orientação aos cuidadores (familiares, enfermagem, acompanhantes, etc.) quanto ao controle de biofilme dental • Aplicação tópica de flúor tanto por profissional quanto caseira 285 • Recomenda-se posição semissentada para evitar engasgos durante o tratamento odontológico O Quadro 59 apresenta a conduta para o tratamento odontológico em pacientes com AVC . Tempo decorrido após ataque isquêmico ou AVC Tratamento odontológico Conduta Avaliação médica obrigatória Se possível, adiar tratamento odontológico de rotina. Limitarse ao tratamento de urgência • Solicitar suporte médico em relação ao tempo de atividade de protrombina (TAP) e International Normalized Ratio (INR) Até 6 meses antes de realizar procedimentos cruentos • Redução do estresse, podendo-se utilizar técnica de sedação, após avaliação médica • Aferir PA antes das consultas • Uso do vasoconstritor está contraindicado • Anestésico local: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor • Avaliação médica antes do início do tratamento odontológico • Controle adequado das drogas antiplaquetárias e anticoagulantes, solicitando suporte médico antes da realização de procedimentos cruentos • Aferir PA antes das consultas Mais de 6 meses • Redução do estresse, podendo-se utilizar técnica de sedação, após avaliação médica • Vasoconstritor (adrenalina) não está contraindicado, respeitando-se limite de 2 a 3 tubetes Quadro 59 - Tratamento odontológico do paciente com risco de AVC • • 286 287 4.5 ALTERAÇÕES CARDÍACAS Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Fabrício Parra Garcia 4.5.1 Doença Cardíaca Isquêmica: Ocorre em decorrência da obstrução gradual das artérias coronárias por ateromas (placas de gordura) que leva à diminuição do fluxo sanguíneo para o miocárdio. Quando se manifesta transitoriamente, devido a uma obstrução parcial é chamada de angina pectoris. A obstrução total das artérias é chamada de infarte. Os medicamentos comumente utilizados pelos pacientes são nitroglicerina, antihipertensivos, drogas anticolesterol e anticoagulantes. Angina instável • A angina instável que não cede mesmo em situação de repouso e nem com o uso de vasodilatadores coronarianos deve ser considerada como risco iminente de infarto do miocárdio e ser assistida imediatamente • Características: Paciente apresenta dor, pressão ou queimação na região retroesternal que pode se irradiar para mandíbula (diferencial), base do pescoço e braço esquerdo • A fase mais crítica pós-infarto são os primeiros 6 meses, com risco de sofrer um novo infarto em 20 a 30 % dos casos nos 3 primeiros meses • Nesse período, o tratamento odontológico deve ser protelado, com exceção às urgências que devem ser tratadas prontamente, pois a dor persistente pode desencadear alterações hemodinâmicas e disritmias cardíacas • Recomenda-se o atendimento das urgências em ambiente hospitalar • Tratamento dentário de rotina após 6 meses decorridos do tratamento da angina • Vasoconstritor não deve ser usado • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia Angina estável Episódios pouco frequentes de dor, geralmente após esforço físico ou alteração emocional. Os medicamentos normalmente utilizados por estes pacientes são nitratos, 288 agentes bloqueadores β-adrenégicos e bloquedores do canal de cálcio. Em pacientes com angina estável, infartados há mais de 6 meses e naqueles que se submeteram à cirurgia de revascularização há pelo menos 3 meses, o tratamento odontológico pode ser realizado, contatando-se sempre o médico responsável para melhor estabelecer o plano de tratamento. • Não há contraindicação quanto ao tratamento dentário • Aferir PA antes das consultas • Anestésico • o Lidocaína com adrenalina 1:100000. Respeitar o limite de 2 ou 3 tubetes o Mepivacaína 3% sem vasocostritor Dor, tensão e ansiedade podem precipitar angina, por isso controle do estresse é fundamental através de consultas rápidas, boa técnica anestésica, sedação consciente etc. • Técnica de sedação poderá ser utilizada após avaliação médica. Ex: benzodiazepínicos diminuem a arritmia e a angina • Sugerir que o paciente leve nitrato (isossorbida) na consulta ou certificar-se de que está disponível na caixa de emergência da USF. Conhecer os efeitos colaterais desse medicamento, como: Hipotensão, síncope, cefaleia etc. • Pacientes podem necessitar de O2 • Em pacientes que fazem uso contínuo de anticoagulantes, os procedimentos cruentos devem ser feitos após consulta ao médico responsável, o qual decidirá sobre a necessidade ou não de suspender o uso do medicamento para a intervenção odontológica • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia 4.5.2 Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) Doença que provoca diminuição da contratilidade do músculo cardíaco, apresentando-se como insuficiência cardíaca esquerda, insuficiência cardíaca direita ou insuficiência cardíaca congestiva. A etiologia pode estar ligada à presença de cardiomiopatias, coronariopatias, valvulopatias, pericardiopatias, doenças sistêmicas (anemia, insuficiência renal crônica, hipertiroidismo, hipotiroidismo, etc). 289 Medicações mais usadas • Digitálicos • Diuréticos • Inibidores de ECA • Beta-bloqueador • Anticoagulantes orais Classificação do estado funcional do paciente de acordo com a New York Heart Association (NYHA) • Classe I: Paciente com doença cardíaca, porém sem limitações • Classe II: Paciente com limitação leve de atividade física (andar rápido, subir escadas, carregar compras) • Classe III: Paciente com limitação importante da atividade física, sintomas durante tarefas habituais (tomar banho, se vestir, higiene pessoal, etc.) • Classe IV: Paciente com sintomas de ICC em repouso Consideracões Odontológicas • Realizar anamnese detalhada, pois muitos pacientes usam polifarmacoterapia • Tratamento odontológico é permitido nas classes funcionais I e II • Nas classes III e IV, tratamento deverá ser realizado somente em ambiente hospitalar • Aferir PA antes das consultas • Ansiedade e dor podem induzir arritmia e HA, levando ao agravamento da ICC • Vasoconstritor (aderanalina 1:100000) nas doses preconizadas (2 a 3 tubetes) não aumentam o risco na classe funcional I e II • Caso o paciente utilize digitálicos, evitar o uso de adrenalina, macrolídeos, tetraciclina, AAS e AINH, pois tais drogas podem causar toxicidade • Evitar uso de prilocaína • Ficar atento às arritmias • Pacientes podem necessitar de O2 • Pouca tolerância à posição supina. Recomenda-se paciente semissentado • Em pacientes que fazem uso contínuo de anticoagulantes, os procedimentos cruentos devem ser feitos após consulta ao médico responsável, o qual decidirá sobre a necessidade ou não de suspender o uso do medicamento, para a intervenção odontológica 290 • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia 4.5.3 Anormalidade das Válvulas Cardíacas • Constituem a terceira causa de cardiopatia • A febre reumática é a causa mais comum de anormalidade nas válvulas cardíacas • A válvula aórtica e a mitral são as mais frequentemente acometidas pela estenose (estreitamento), podendo ocorrer nas demais válvulas cardíacas • Dependendo do grau de comprometimento, os portadores dessas anormalidades podem necessitar de colocação de uma prótese cardíaca • Esses pacientes são considerados de alto risco para o aparecimento de endocardite infecciosa que pode se manifestar após uma bacteremia transitória induzida por um procedimento odontológico que envolva sangramento • A doença periodontal pode predispor o paciente à bacteremia • Tratamento odontológico e controle de higiene bucal devem ser intituídos • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia • Realizar, sempre, profilaxia antibiótica no caso de tratamento que leve a sangramento gengival intenso Consideracões Odontológicas • Mesmas recomendações de ICC o Profilaxia para endocardite infecciosa o Anestésicos com vasoconstritores podem ser usados, desde que obedecidos os mesmos cuidados indicados às pessoas com doença cardíaca isquêmica o Aferir PA antes das consultas 4.5.4 Arritmias • Atividade elétrica atrial ou ventricular anormal que pode produzir sintomas e comprometimento cardiovascular • Sintomas mais frequentes o Falha de batimentos o Palpitações 291 • • o Tontura o Dispneia o Hipotensão o Síncope Complicações o Cardiopatia isquêmica (angina, infarto do miocárdio, ICC, parada cardíaca) o Ataques isquêmicos passageiros o Acidente cerebrovascular As arritimias podem ser o Atriais: Raramente ameaçam a vida, podendo causar sintomas hemodinâmicos o Ventriculares: Podem representar risco à vida, necessitando de tratamento médico constante • Valores de referência: Adulto o Frequência cardíaca normal: 60 a 100 batimentos por minuto (BPM) o Bradicardia: < 60 BPM o Taquicardia: > 100 BPM Criança Idade Variação (BPM) o 01 a 12 meses - 110 a 140 o 01 a 03 anos - 110 a 130 o 03 a 06 anos - 110 a 125 o 06 a 08 anos - 75 a 115 o 08 a 10 anos - 70 a 110 Considerações odontológicas • Anamnese: Pesquisar a causa da arritmia (cardiopatia de base) • Avaliação médica a fim de se conhecer com certeza o controle da doença • Vasoconstritores podem ser utilizados em pacientes bem controlados. Não exceder a dose de adrenalina (2 a 3 tubetes) devido ao efeito pró-arrítmico 292 • Anestésico com vasoconstritor é contraindicado no caso de arritmia refratária • Tratamento odontológico em ambiente hospitalar para arritmias refratárias • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia • Paciente que relata arritmia durante a anamnese: o Sem restrição às atividades diárias: Não há contraindicação ao tratamento odontológico ou ao uso de anestésico com vasoconstritor o Com restrições às atividades diárias: CD e o médico do paciente estabelecerão um plano de tratamento odontológico seguro • Drogas antiarritimicas podem causar crescimento gengival e hipossalivação • Aferir PA e frequência cardíaca antes das as consultas 4.5.6 Marcapasso Cardíaco Utilizado no tratamento de bradiarritmias e taquiarritmias. Considerações odontológicas • Os aparelhos modernos não sofrem interferência de raios X, ultrassom, bisturi elétrico, porém os antigos poderão sofrer interferência • Os anestésicos indicados são os mesmos utilizados para ICC e arritmia • A profilaxia para endocardite infecciosa não está indicada • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários reduz o risco de bacteremia 4.5.7 Considerações Gerais Considera-se o portador de cardiovasculopatia compensado ou controlado quando: • Apresentar HA controlada • A frequência cardíaca for menor que 100 BPM e maior que 60 BPM • Decorridos no mínimo 6 meses após infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC) • Decorridos no mínimo 3 meses após a cirurgia de ponte de artéria coronária ou revascularização • Apresentar angina pectoris ou insuficiência cardíaca congestiva estável 293 4.6 Endocardite Infecciosa (EI) Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Fabrício Parra Garcia 4.6.1 Conceito Processo infeccioso da superfície do endocárdio, envolvendo geralmente as válvulas cardíacas. Seu desenvolvimento pode estar relacionado com presença de bactérias na corrente sanguinea, após a realização de procedimentos invasivos ou mesmo de atividades diárias rotineiras como escovação dentária. 4.6.2 Fatores predisponentes • Usuário de drogas • Portadores de lesões orovalvares • Portadores de próteses valvares • AIDS/ imunocomprometimento O uso de antibioticoprofilaxia em odontologia está recomendado nos casos listados no Quadro 60. 294 Condições • • Profilaxia recomendada (Alto risco) Portador de prótese cardíaca valvar Valvopatia corrigida com material protético • • • Antecedentes de EI • • Valvopatia adquirida em paciente transplantando cardíaco Cardiopatia congênita cianogênica não corrigida ou corrigida, mas que evoluiu para lesão residual Cardiopatia congênita corrigida com material protético Shunt sistêmico pulmonar: Condutos pulmonares cirurgicamente construídos Antecedente de febre reumática com disfunção valvar Cardiomiopatia hipertrófica Pacientes com defesa imunológica prejudicada por doenças (AIDS, doenças autoimunes, neutropenia) ou por medicamentos (corticosteroide, imunossupressores, transplantados) Infecção facial severa DM Doença renal Hepatite crônica ou ativa • • • • • • • • • • • • • • • Profilaxia não recomendada (Baixo risco) Presença de septo atrial Correção cirúrgica de defeito de septo atrial ou ventricular ou pacientes com persistência de ducto arterioso (sem resíduo após seis meses) Cardíaco prévio com revascularização miocádica Prolapso da válvula mitral com ou sem regurgitação e/ou espessamento dos folhetos Doença de Kawasaki33 prévia sem disfunção valvar Antecedente de febre reumática sem disfunção valvar Marcapasso cardíaco intravascular e Epicárdio e desfibibrilador implantado Grandes próteses articulares Quadro 60 - Recomendações quanto à antibioticoterapia em Odontologia Considerações • Indivíduos com risco EI devem manter a melhor condição bucal possível para que se reduzam as fontes potenciais de disseminação bacteriana, o que pode ser obtido através de cuidados profissionais regulares e manutenção caseira pelo paciente (escovação dentária e uso do fio dental) • A realização de bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos dentários, reduz o risco de bacteremia • De preferência, realizar vários procedimentos em uma única sessão • No caso de várias sessões, respeitar o período de pelo menos sete dias entre as consultas, a fim de se evitar resistência ao antibiótico 33 É uma enfermidade que envolve a boca, a pele e nódulos linfáticos e afeta, principalmente, crianças abaixo de 5 anos de idade. De causa desconhecida, mas se seus sintomas forem reconhecidos logo, as crianças com esta doença podem se recuperar em poucos dias. Se não tratada, pode levar a sérias complicações que podem envolver o coração. É uma vasculite que pode provocar aneurismas principalmente das artérias coronárias. 295 • Caso o paciente já esteja utilizando rotineiramente um antibiótico que também seja o indicado para a profilaxia de EI, é recomendável que se selecione um antibiótico de outra classe do que aumentar a dose do mesmo No Quadro 61 estão listados os procedimentos odontológicos e o risco potencial de bacteremia relacionado a cada um deles. • • • • • • • • • Risco significativo de bacteremia Exodontias Implantes ou reimplantes dentários Tratamentos periodontais com sangramento: Raspagem, cirurgia, sondagem (mapeamento periodontal) Procedimentos endodônticos (instrumentação, cirurgias endodônticas) Injeções intraligamentares Colocação de bandas ortodônticas Profilaxia dentária com risco de sangramento gengival Outras intervenções, onde o sangramento é iminente (risco de bacteremia) Exodontias • • • Baixo risco de bacteremia* Procedimentos restauradores Injeções anestésicas locais Remoção de sutura • Aplicação de flúor • • • Radiografias Colocação de brackets Moldagens • Procedimentos restauradores * Não há necessariamente indicação de profilaxia antibiótica, entretanto, situações que apresentem risco de sangramento, devem ser analisadas caso a caso pelo CD. Quadro 61 - Risco de bacteremia relacionado ao tipo de procedimento odontológico 296 O Quadro 62 apresenta o esquema de profilaxia antibiótica para EI. Situação Não alérgico à penicilina Antibiótico Posologia adulto 1. Amoxicilina 1. 50 mg/Kg Via Oral (VO) 30 a 60 minutos antes 1. 2 g (VO) 30 a 60 minutos antes 2. Ampicilina 2. 50 mg/Kg Intramuscular (IM) ou Intravenoso (IV) 30 a 60 minutos antes 2. 2 g (IM ou IV) 30 a 60 minutos antes 3. Cefazolina Ceftriaxona Alérgico à penicilina Posologia criança* ou 3. 50 mg/Kg (IM ou IV) 30 a 60 minutos antes 3. 1 g (IM ou IV) 30 a 60 minutos antes 1. Cefalexina 1. 50 mg/Kg (VO) 30 a 60 1. 2 g (VO) 30 a 60 minutos antes minutos antes 2. Clindamicina 2. 20 mg/Kg (VO ou IM ou 2. 600 mg (VO ou IV) 30 a 60 minutos antes IM ou IV) 30 a 60 minutos antes 3. Azitromicina ou 3. 15 mg/Kg (VO) 30 a 60 3. 500 mg (VO) 30 minutos antes a 60 minutos Claritromicina antes 4. Cefazolina Ceftriaxona ou 4. 50 mg/Kg (IM ou IV) 30 a 4. 1g (IM ou IV) 30 60 minutos antes a 60 minutos antes) *A dose total pediátrica nunca deve ultrapassar a dose do adulto. **Os casos omissos deverão ser discutidos com a equipe multiprofisional da USF Fonte: Wilson et al, 2009 Quadro 62 - Esquema de profilaxia da EI para o paciente odontológico 297 4.7 Paciente em Terapia Anticoagulante Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Fabrício Parra Garcia A terapêutica anticoagulante é normalmente administrada nos seguintes casos: • Válvulas cardíacas protéticas • Cardiomiopatias como isquemia cardíaca • Arritmias • Fibrilação atrial • Trombose profunda • Embolia pulmonar • AVC • Pacientes em hemodiálise • Transplantados renais, cardíacos ou hepáticos • Outros Em pacientes que fazem uso contínuo de anticoagulantes orais (varfarina sódica34), os procedimentos cruentos devem ser feitos após consulta ao médico do paciente, o qual decidirá sobre a necessidade ou não de suspender o uso do medicamento, para a intervenção odontológica, uma vez que o paciente apresenta, por um lado, risco aumentado de sangramento e, por outro, risco de desenvolver trombose e embolia. Um parâmetro utlizado é o International Normalized Ratio (INR) que é um exame que mede o tempo de coagulação e o compara com uma média. Pessoas sadias apresentam um INR próximo de 1.0. Pessoas anticoaguladas têm um INR entre 2.0 e 4.0. Um INR > 4.0 pode indicar que a coagulação sanguinea está excessivamente lenta, criando um risco de hemorragia incontrolada. 34 Varfarina sódica – nomes comerciais: Warfarin®, Marevan®, Coumadim®, Dicumarol®, Varfarina®. 299 Insuficiência Renal Crônica (IRC) Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Raquel Cristina Guapo Rocha Doença progressiva caracterizada por uma crescente incapacidade do rim em manter níveis normais dos produtos do metabolismo das proteínas, valores normais de pressão arterial e hematócrito, bem como o equilíbrio de sódio, água, potássio e ácido base. Causas mais comuns • Hipertensão de longa duração causando nefroesclerose secundária • Nefropatia devido o DM o Pielonefrite o Glomerulonefrite o Rins policísticos o Doença autoimune como Lupus Eritematoso, entre outras o Intoxicação por abuso de analgésicos Alterações sistêmicas mais comuns • Cardiovasculares: Hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva, pericardite e aterosclerose • Gastrintestinais: Náuseas, úlcera péptica, gastroenterite, colite, alterações de paladar e sensação de gosto metálico • Dermatológicas: Prurido, empalidecimento e hiperpigmentação da pele • Hematológicas: Aumento no tempo de sangramento, anemia, petéquias e equimoses. Hematomas podem se formar após uma cirurgia bucal ou periodontal ou até mesmo após a injeção de anestésico local • Neurológicas: Perda de memória, encefalopatia, coma, convulsões e óbito • Musculoesqueléticas: Dores nos ossos, desgaste muscular e osteodistrofia renal35 35 Alteração esquelética causada pelo metabolismo alterado de cálcio e fosfato, de vitamina D e pelo aumento da atividade do paratormônio. 300 Achados laboratoriais mais frequentes • Anemia resultante da falta de produção de eritropoetina pelos rins • Hipercalemia e acidose metabólica secundária • Nível sérico elevado de fosfato e diminuído de cálcio • Coagulograma: Tempo de sangramento prolongado • Níveis elevados de creatinina e ureia séricas Manifestações bucais • IRC com início na infância pode causar hipoplasia do esmalte, estreitamento da câmara pulpar, manchas nos dentes, crescimento mandibular e maxilar alterados, maloclusão e erupção dentária retardada • Reabsorção óssea, migração, mobilidade ou até perdas dentárias • A higiene bucal deficiente e a acidose facilitam o desenvolvimento de erosão, aumento da deposição de cálculo (principalmente nos pacientes de diálise) e problemas gengivais com tendência a edema e sangramento • Presença de dor à percussão dental e à mastigação • Hálito amoniacal, gosto metálico, candidíase, hipossalivação e estomatite urêmica36 • Palidez da mucosa bucal, em pacientes em diálise, devido à anemia • Remodelação óssea anormal após a extração, devido à deficiência de reabsorção da lâmina dura e deposição de osso esclerótico • Pacientes em diálise podem apresentar baixa incidência de cárie, em decorrência do efeito anticariogênico dos níveis de ureia na saliva Considerações odontológicas • Avaliação médica para se conhecer o Controle metabólico do paciente o Informações sobre os exames complementares como hemograma/coagulograma, etc. 36 o Necessidade de realização de profilaxia antibiótica o Ajuste de doses de medicamentos, inclusive anticoagulantes orais Estomatite causada devido aos altos níveis de amônia na saliva, com consequente alteração do pH salivar e com repercussões na mucosa bucal 301 • Aferir pressão antes das consultas • Determinar a doença de base da insuficiência renal • Determinar presença de sintomas urêmicos (fadiga, náusea, vômito, letargia, prurido) • Pacientes em hemodiálise: Realizar o tratamento odontológico, inclusive exodontia, de preferência no dia seguinte ao procedimento, em decorrência de maior equilíbrio metabólico. Caso seja necessário realizar procedimentos cruentos (exodontia ou outros) no dia da diálise, avisar o médico responsável a fim de que o mesmo possa realizar adequações durante hemodiálise (ajuste de dose de heparina) • Pacientes que irão se submeter a transplante renal é de fundamental importância eliminar focos infecciosos bucais antes do transplante • O tratamento dentário eletivo deve ser evitado durante os seis primeiros meses póstransplante • Os procedimentos de urgência poderão ser realizados com a devida profilaxia antibiótica • Realizar profilaxia dental e bochecho com gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, antes de procedimentos odontológicos, principalmente cruentos • Instituir medidas hemostáticas. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 6, item 6.2.3.2.2 • Encorajar o paciente a ter cuidados diários com a saúde bucal • Renais crônicos hipertensos: Evitar mudanças bruscas de posição pelo risco de hipotensão postural Considerações sobre medicamentos • Analgésicos: Paracetamol e a Dipirona sem restrição • O AAS está contraindicado por seus efeitos antiplaquetários • Restringir o uso de AINH por seus possíveis efeitos nefrotóxicos. Em caso de indicação estrita, consultar o médico responsável • Amoxicilina: Sem restrição • Azitromicina e eritromicinas são seguras, porém necessitam de diminuição das doses • Metronidazol é seguro, mas é necessário ajuste do intervalo entre as doses • Claritomicina e tetraciclina são contraindicadas • Doxiciclina é segura, sem necessidade de ajuste de dose • Diazepam: Sem restrição • Anestésico local o 1ª opção: Lidocaína 2% com adrenalina: 2 a 3 tubetes o 2ª opção: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor: 2 tubetes o Evitar prilocaína 302 4.9 Paciente Transplantado (rim, fígado, coração, medula óssea, etc.) • Aumento de susceptibilidade às infecções • A avaliação médica é de fundamental importância para a realização de um plano de tratamento odontológico seguro • Profilaxia antibiótica antes de procedimentos invasivos. Para maiores informações reportar-se ao Quadro 62 deste Capítulo • Pacientes que normalmente fazem uso da ciclosporina37 e nifedipina podem apresentar hiperplasia gengival, hipertensão, aumento dos níveis de creatinina • Doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH)38 Considerações odontológicas • Em pacientes que irão se submeter ao transplante renal é de fundamental importância eliminar focos infecciosos bucais e controle efetivo do biofilme dental, inclusive após a realização do transplante 37 Medicamento utilizado para prevenir rejeição do órgão transplantado É a maior causa de morbidade e mortalidade principalmente em pacientes submetidos a transplante de medula óssea. As células do enxerto reconhecem os antígenos do hospedeiro como estranhas, desencadeando uma série de complicações na mucosa bucal, pele, fígado, trato gastrintestinal e sistema linfoide do transplantado. As alterações na cavidade bucal podem preceder as manifestações da DECH em outros órgãos, sugerindo a pesquisa e diagnóstico nos mesmos. Na cavidade bucal podem ocorrer as seguintes manifestações semelhantes ao líquen plano: leucoedema, estrias brancas, microstomia, úlceras dolorosas, ardência bucal, xerostomia, mucoceles, etc. O CD geralmente é o primeiro profissional da equipe a diagnosticar a DECH. O não diagnóstico pode levar à evolução de um quadro de infecção generalizada, responsável por altos índices de morbimortalidade do paciente 38 304 Hepatites Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini São infecções que acometem o fígado, podendo ser classificadas em: • Virais o o Vírus hepatotrópicos Atualmente reconhecem-se 7 tiposn de vírus Vírus A (HAV), Vírus B (HBV), Vírus C (HCV): Mais comuns Vírus Delta (HDV), Vírus E(HEV), Vírus F (HFV), Vírus G (HGV) Vírus não hepatotrópicos: Citomegalovírus, Epstein Barr (mononucleose), vírus da rubeola e do herpes também podem causar quadro clínico semelhante • Não Virais o Hepatite por álcool, medicamentos, autoimune, doenças metabólicas, infecciosas (não virais): Bactérias, protozoários, helmintos • Fases o Incubação: 4 a 12 semanas, podendo ser maior ou menor dependendo do tipo de vírus o Prodrômica ou pré-ictérica (duração de 3 a 4 dias): Náuseas, vômitos, às vezes diarreia, fadiga, cefaleia, perda de peso, mialgia, etc. Altamente infecciosa o Fase Clínica: Inicia-se aproximadamente uma semana após a fase prodrômica, podendo durar de 1 a 4 semanas ou até meses. Ocorre redução dos sintomas exceto os gastrintestinais, caracterizados por 305 hepatoesplenomegalia dolorosa e discreta, dor abdominal e fadiga. A urina é escura e o paciente se queixa de prurido cutâneo Fase de Recuperação: A ícterícia desaparece, os sintomas gerais diminuem e o o funcionamento do fígado retorna a valores normais OBS: As hepatites podem também ser subclínicas. As formas crônicas podem se desenvolver após hepatite por vírus B e C. Considerações odontológicas • Pacientes com hepatite ativa ou com esclerótica amarela ou icterícia: O tratamento odontológico deve ser adiado, devendo ser encaminhado para avaliação médica. Tratar somente casos de urgência • Portadores de hepatite ou com história pregressa de hepatite: Podem apresentar hepatite crônica e ter disfunção hepática, o que interfere com hemostasia e metabolismo de drogas. Recomenda-se avaliação médica antes do tratamento • Seguir normas de biossegurança • O tratamento odontológico de rotina, inclusive cirúrgico de baixa complexidade pode ser realizado sem restrição, após avaliação do médico responsável • Anestésico local: Lidocaína 2% com adrenalina, 2 a 3 tubetes • AAS e AINH: Contraindicados em todos os tipos de doenças hepáticas • Paracetamol: Pode ser utilizado, mas com cautela devido ao risco de toxicidade hepática • Amoxicilina: Sem restrição • Macrolídeos, tetraciclina e metronidazol: Contraindicados • Doxiciclina: Dose normal na hepatite. Reduzir dose na presença de cirrose • Clindamicina: Dose normal na hepatite. Reduzir dose na presença de cirrose. Não utilizar caso haja problema renal concomitante 4.11 Cirrose Hepática Destruição das células hepáticas e fibrose progressiva resultantes de lesão grave ou prolongada, após algum tipo de hepatite. Funções hepáticas deterioradas • Síntese de albumina • Fatores de coagulação • Metabolização de drogas 306 Principais causas • Álcool • Hepatites virais B, B/D e C Considerações odontológicas • Avaliação com médico responsável antes dos procedimentos odontológicos • Hemostasia e metabolismo de drogas podem estar alterados • Geralmente apresentam sangramento gengival devido à má higiene e presença de doenças periodontais • Procedimentos cirúrgicos de baixa complexidade podem ser realizados 308 4.12 Paciente em Tratamento Oncológico Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini O paciente com câncer que procura atendimento odontológico apresenta geralmente uma precária condição de saúde bucal. Somam-se a esse quadro as alterações que o tratamento radioterápico/quimioterápico podem provocar à cavidade bucal. Tanto a radioterapia como a quimioterapia causam toxicidade aos tecidos normais e ao leito tumoral, podendo os efeitos adversos ser classificados em agudos e tardios, de acordo com o período em que ocorrem. Os efeitos agudos podem aparecer durante o tratamento de radioterapia ou quimioterapia e acometem tecidos de grande renovação celular, como a mucosa bucal. Os tardios normalmente aparecem após o fim do tratamento oncológico e podem ser observados em tecidos e órgãos de maior especificidade celular, como músculos e ossos, também comprometendo o desenvolvimento dentário quando o tratamento for realizado durante a infância. Quimioterapia Aproximadamente uma a duas semanas após a sessão de quimioterapia, o paciente entra em imunossupressão, podendo apresentar: • Maior vulnerabilidade a infecções bucais (periapicais, fúngicas e virais), com proporções maiores que em pacientes saudáveis • Hemorragia gengival espontânea ou por escovação traumática • Mucosite • Neurotoxicidade Radioterapia de cabeça ou pescoço Complicações bucais mais comuns • Hipossalivação • Mucosite • Cárie de radiação 309 • Osteorradionecrose • Trismo • Desenvolvimento dentário anormal, quando a radioterapia coincide de formação do órgão dentário O Quadro 63 apresenta as caracteríticas das principais complicações bucais e a conduta do CD diante das mesmas. 310 Descrição Alteração • • Hipossalivação • • Mucosite • • • • • • • • • • • • Osteorradionecrose • • • • Diminuição no fluxo salivar em até 90% que pode ser transitória ou definitiva (rara) Queixas frequentes o Ardência bucal o Dificuldade de deglutir alimentos secos o Dificuldade de falar o Diminuição do paladar o Aumento do consumo de líquidos o Úlceras dolorosas o Aumento de lesões cariosas Redução progressiva do quadro de hipossalivação após o tratamento radioterápico Tratamento. Para maiores informações, reportar-se ao Capítulo 8 o Aumentar consumo de água o Controle biofilme dental o Controle de dieta o Fluorterapia o Goma de mascar sem açúcar o Outros Severa inflamação da mucosa bucal Início após a segunda semana de quimioterapia ou radioterapia Eritema e lesões ulceradas em diferentes regiões da boca Dor intensa Febre Possibilidade de infecções secundárias Dificuldade de alimentação e de fala Difícil de prevenir A regeneração da mucosa bucal submetida à radiação ocorre 30 a 90 dias após o término da radioterapia Tratamento o É paliativo o Analgésicos, dependendo da severidade o Evitar alimentos condimentados e ácidos, muito quentes ou muito gelados e de consistência sólida o Higiene bucal meticulosa com escova dental extramacia e pasta dental infantil de sabores não ácidos e não mentolados ou que possam causar ardência o Na impossibilidade de escovação normal, o paciente deverá realizar bochechos com solução fisiológica 0,9%, 4 vezes ao dia o Bochecho com hidróxido de alumínio ou magnésio, 4 vezes ao dia, podem ser indicados o Laser de baixa potência pode ser indicado Sequela de ocorrência tardia, com incidência maior nos primeiros três anos pósradioterapia, mas que pode ocorrer até 5 anos após a mesma Necrose óssea provocada por exodontias, procedimentos invasivos e cirúrgicos, próteses mal adaptadas, infecções periodontais e periapicais por toda a região irradiada Acomete mais a mandíbula Tratamentos conservadores (restaurações, endodontias ou remoções de cálculos dentários supragengival): Sem restrição quando executados com cautela Procedimentos cirúrgicos invasivos são contraindicados. Liberados somente após 5 anos, sempre com profilaxia antibiótica e espaço de tempo de 15 dias de uma intervenção para outra Tratamento da osteorradionecrose o Radical: Remoção cirúrgica da necrose óssea o Conservador: Solução de iodeto de sódio a 2% e água oxigenada 3% em partes iguais promovendo assim o sequestro da porção necrosada Quadro 63 - Complicações bucais decorrentes de quimioterapia e/ou radioterapia 311 Alteração Descrição • Trismo • • • • Cárie de radiação Plaquetopenia • • • • Neurotoxicidade • • • • Disgeusia • • • Candidose • • • • A articulação têmporo-mandibular e os músculos da mastigação expostos à radiação sofrem fibrose gradual levando ao trismo A abertura da boca fica comprometida por longo período, dificultando a higiene bucal e os procedimentos dentários Recomendar exercícios de fisioterapia e uso de relaxantes musculares, se necessário Decorrente das mudanças na microflora bucal e da hipossalivação Frequentemente no terço cervical, iniciando pela face vestibular e posteriormente pela lingual, progredindo ao redor do dente como uma lesão anelar que pode levar à amputação da coroa O tratamento mais eficaz é a prevenção Orientar o paciente quanto a o Higiene bucal o Restrição de açúcares na dieta o Manejo da hipossalivação (Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 8) o Aplicação tópica de flúor: Evitar em caso de mucosite Leva a sangramento gengival espontâneo ou por escovação traumática Muitos oncologistas recomendam que os pacientes suspendam a escovação durante fases de plaquetopenia severa Realizar bochechos com solução de soro fisiológico 0,9% , 4 vezes ao dia Grande relevância para a odontologia É rara, representando cerca de 6% das complicações bucais Dor odontogênica semelhante à dor de uma pulpite, os sintomas desaparecem com a suspensão da quimioterapia Acomete os pacientes a partir da segunda ou terceira semana de radioterapia, podendo durar várias semanas ou mesmo meses A recuperação ocorre entre 60 e 120 dias, após o término da irradiação Atinge cerca de 70% dos pacientes que são submetidos à radioterapia, implicando também em perda de apetite e de peso Ocorre em 17 a 29% dos indivíduos submetidos à radioterapia Decorre provavelmente da queda do fluxo salivar e da atividade fagocítica reduzida dos granulócitos salivares Manifesta-se na forma pseudomembranosa e eritematosa. Os pacientes relatam principalmente dor e/ou sensação de queimação o Tratamento com antifúngicos tópicos como Nistatina suspensão, pastilha ou tabletes ou Miconazol Quadro 63 - Complicações bucais decorrentes de quimioterapia e/ou radioterapia - Continuação 312 Cuidados pré-tratamento oncológico O tratamento odontológico prévio é de fundamental importância e tem o objetivo de eliminação dos focos de infecção na cavidade bucal e prevenção de complicações relacionadas ao tratamento oncológico, como a mucosite, por exemplo. Desta maneira, sugerem-se as seguintes precauções: • Entrar em contato com o médico responsável pelo paciente • Avaliar as condições sistêmicas do mesmo • Avaliar as condições de saúde bucal • Determinar tipo e local do tumor • Saber qual o tratamento oncológico proposto • Orientar o paciente quanto aos cuidados bucais o Controle de biofilme dental o Escovação com dentifrícios fluorados após as refeições e utilização do fio dental o Utilização diária de solução fluorada em base aquosa o Orientação sobre controle de dieta • Profilaxia e aplicação tópica de flúor no consultório odontológico • Raspagem supra e subgengival • Eliminação de focos de infecção através de endodontia, exodontia, selamento das cavidades com CIV • Exodontia: Deve ser realizada pelo menos duas semanas antes do início da radioterapia ou quimioterapia e de preferência com antibioticoterapia prévia. NUNCA na área do tumor. Realizar tratamento paliativo para eliminação da dor • Realizar tratamento restaurador sempre que possível • O alívio dos casos dolorosos deve ser realizado antes dos outros procedimentos OBS: Má nutrição, higiene bucal inadequada, dentes em mau estado, infecções crônicas e gengivite potencializam o risco de mucosite, além de possibilitarem o aparecimento de infecções dentais agudas, que podem levar a uma septicemia durante o tratamento oncológico, devido à queda de resistência. 313 Cuidados durante o tratamento oncológico Quimioterapia • Estimular o paciente a manter as medidas de cuidado bucal • Realização de antibioticoterapia profilática, seguindo esquema de profilxia para EI descritos no Quadro 62, deste Capítulo • Profilaxia dental e aplicação de flúor (evitar na presença de mucosite) • Raspagem supra e subgengival (esta última após avaliação da profundidade da bolsa, das condições gerais do paciente e sob antibioticoterapia, caso seja necessário) • Realizar tratamento endodôntico e restaurador sempre que possível • Acompanhamento após o término do tratamento oncológico, a fim de identificar ou prevenir os efeitos tardios da quimioterapia OBS: O paciente em quimioterapia tem que ter suas condições hematológicas monitoradas, principalmente contagem de leucócitos, se houver necessidade de exodontias. O CD deve prevenir e cuidar das sequelas da quimioterapia, principalmente a mucosite. Radioterapia • Estimular o paciente a manter as medidas de cuidado bucal o Escovação dental com dentifrícios fluorados após as refeições o Utilização correta do fio dental o Instrução de dieta adequada, com redução da ingestão de açúcar o Orientação sobre cuidados paliativos para hipossalivação como hidratação e reforço na higiene bucal • Realização de antibioticoterapia profilática para procedimentos invasivos, seguindo esquema de profilaxia para EI descritos no Quadro 62, deste Capítulo • Profilaxia dental e aplicação de flúor (evitar na presença de mucosite) • Raspagem supra e subgengival (esta última após avaliação da profundidade da bolsa, das condições gerais do paciente e sob antibioticoterapia, caso seja necessário) • Realizar tratamento endodôntico e restaurador sempre que possível • Acompanhamento após o término do tratamento oncológico, a fim de identificar ou prevenir os efeitos tardios da radioterapia 314 OBS: A exodontia em pacientes durante o tratamento radioterápio está contraindicada. Dada a hipocelularidade, hipovascularização e hipóxia do tecido ósseo, a injúria causada por uma simples extração pode desencadear um processo de osteorradiomielite e posterior necrose óssea, de difícil tratamento. Considerações adicionais • O uso de próteses totais ou parciais geralmente está contraindicado durante o período de tratamento oncológico, exceto quando estas tiverem a função de obturadores • A partir do primeiro dia de radioterapia/quimioterapia, caso o paciente apresente sangramento gengival intenso, o oncologista pode contraindicar a escovação, indicando higiene bucal com bochecho de soro fisiológico a 0,9% • Evitar o uso de caneta de alta ou baixa rotação para preparar dentes com cárie de radiação, optando pela escavação em massa • NUNCA realizar exodontia após a radioterapia. Mesmo depois de cinco anos, não há garantia de que o osso tenha vascularização suficiente para o reparo 316 4.13 Artrite Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini A artrite (osteoartrite ou a reumatoide) é uma inflamação das articulações que acarreta a diminuição da mobilidade dos pacientes, obrigando-os, com o passar dos anos, a ingerir quantidades maiores de analgésicos, anti-inflamatórios ou outros tipos de fármacos para amenizar a dor e a tumefação das articulações afetadas. Frequentemente causa grandes deformidades e limites de funções das articulações envolvidas. As mulheres são mais acometidas que os homens (3:1), com maior prevalência na raça branca e com maior incidência a partir dos quarenta anos, podendo, entretanto, se iniciar em qualquer idade, da infância à velhice. Acomete simetricamente as articulações dos pacientes. Nos casos agudos no adulto, as pequenas articulações das mãos e pés se tornam edemaciadas e dolorosas, a pele que as recobre torna-se muito lisa e avermelhada. As articulações do ombro, cotovelo, punhos, quadril e joelho também são acometidas. Na fase crônica, ocorre desmineralização e destruição do tecido, resultando em uma grande deformação da articulação por anquilose. Atrofias dos músculos são comuns nestes pacientes. Medicações mais consumidas: Salicilatos, AINH, glicocorticoides. Considerações odontológicas • Aferir pressão arterial antes das consultas • Os salicilatos e os AINH são comumente utilizados de forma prolongada no tratamento da doença por serem efetivos nas dores das artrites. O CD deve estar atento para esta terapia quando da realização de procedimentos cruentos, pois o mesmo pode ter um tempo de sangramento mais elevado (diminuição de protrombina no sangue) e correr risco de hemorragia • Os corticosteroides, normalmente prescritos por tempo prolongado, podem alterar a cicatrização e diminuir a resistência a infecções, por isso, a interação médico/CD tornase importante para que ambos possam decidir sobre as medicações a serem diminuídas ou alteradas durante as consultas • Alguns fármacos podem apresentar efeitos bucais como hipossalivação, ulcerações, estomatites, hipertrofia gengival, etc. 317 • A perda da habilidade manual necessária para desempenhar uma higiene bucal adequada é um problema comum entre pessoas com artrite reumatoide, por isso reforçase a importância da orientação sobre medidas preventivas à família e ao cuidador • A artrite pode limitar a abertura bucal e criar mastigação desconfortável. Os pacientes podem também ter dificuldade para manter a boca aberta por muito tempo durante o tratamento • Os pacientes com artrite reagem fortemente, tanto física como emocionalmente a uma situação de estresse. Muitas vezes, o tratamento odontológico precisará ser desmembrado em diversas consultas, mas de pequena duração • O uso gradual das articulações durante o dia reduz o enrijecimento, por isso consultas ao final da tarde serão mais confortáveis. Algumas vezes torna-se necessário o atendimento em cadeira de rodas • Em caso de transferência do paciente para a cadeira odontológica, o CD deverá se informar sobre técnicas corretas a fim de evitar danos à coluna cervical • O atendimento domiciliar pode ser fazer necessário, em casos mais graves de comprometimentos artríticos • Pacientes que tiveram substituição das articulações por próteses, bem como os que recebem glicocorticoides em longo prazo, precisam receber profilaxia antibiótica para EI antes da realização de intervenções cirúrgicas. Para maiores informações, reportar-se ao quadro 62 deste Capítulo 318 Hemofilia Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Doença hereditária caracterizada pela deficiência dos fatores VIII (hemofilia A) ou IX (hemofilia B) da coagulação. A hemofilia A é mais prevalente que a hemofilia B, ocorrendo em cerca de 1:10000 a 20000 homens. A hemofilia B é cerca de 4 vezes menos prevalente que a hemofilia A. De acordo com o nível de atividade coagulante do fator VIII, a hemofilia A pode ser classificada em: • Normal: Fator VIII = 100% ou 1 UI/mL • Leve: Fator VIII > 5% e < 40 % do normal ou > 0,05 e < 0,40 UI/mL • Moderada: Fator VIII ≥ 1% e ≤ 5% do normal ou ≥ 0,01 e ≤ 0,05 UI/mL • Grave: Fator VIII < 1% do normal ou < 0,01 UI/mL A característica clínica principal são os sangramentos prolongados, principalmente em musculatura profunda (hematomas), em articulações (hemartroses) e após procedimentos cirúrgicos, principalmente em cavidade bucal. Doença de von Willebrand (DVW) • Mais frequente das coagulopatias hereditárias • Também conhecida como pseudohemofilia • Caracterizada pela deficiência qualitativa e/ou quantitativa do fator von Willebrand (FVW) proteína que facilita a adesão da plaqueta ao endotélio e também é carreadora do fator VIII no plasma, protegendo-o da destruição prematura por proteases plasmáticas • Classificada em tipos 1, 2 e 3 • Uma das formas de apresentação mais comuns da DVW é o sangramento cutâneomucoso (gengivorragias, epistaxes, etc.), podendo, em sua forma mais grave (tipo 3), se assemelhar à hemofilia grave, com hemartroses e hematomas O tratamento médico das hemofilias consiste na reposição dos fatores de coagulação que se encontram ausentes ou diminuídos. Nos pacientes acometidos pela 319 DVW, o tratamento requer a infusão de concentrado de fator rico em FVW ou por meio do hormônio sintético derivado da desmopressina (DDAVP). O DDAVP é indicado para o tratamento de episódios hemorrágicos de algumas formas da DVW e da hemofilia leve. Considerações odontológicas • Pacientes com coagulopatias hereditárias, tais como a hemofilia e a DVW, apresentam alto risco de sangramento na cavidade bucal, principalmente após procedimentos cirúrgicos ou traumas mucosos • Verificar se paciente está compensado • Solicitar avaliação médica quanto a possibilidade de realização do tratamento odontológico na USF ou a necessidade de tratamento em ambiente hospitalar • Urgências: Tratamento paliativo, com controle da dor e infecção • Derivados do Paracetamol e da Dipirona são os analgésicos indicados • O AAS e seus derivados são contraindicados • Anti-inflamatórios : Uso restrito em função das suas atividades antiagregantes, devendo o médico responsável ser consultado antes da sua prescrição • Anestésico local com vasoconstritor: Sem restrição 320 4.15 Anemia Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini É uma diminuição dos glóbulos vermelhos circulantes, da concentração de hemoglobina (Hb) e/ou redução do hematócrito (Ht). Pode resultar de uma perda excessiva de sangue, diminuição da produção ou aumento da destruição de glóbulos vermelhos. Valores de referência • • Hemácias o Homens: 4,4 a 5,7 milhões/mm3 o Mulheres: 3,9 a 5,0 milhões/mm3 Hemoglobina Normal o Homens: 14 a 18 g/L o Mulheres: 12 a 16 g/L • Anemia leve: Redução de até 25% na Hb • Anemia moderada: Redução de 25% a 50% na Hb • Anemia grave: Redução de mais de 50% na Hb • Hematócrito Normal o Homens: 40 a 54% o Mulheres: 37 a 47% Causas • Perda de sangue, menstruação, úlcera péptica, câncer gastrointestinal, deficiência dietética (ferro, folato ou vitamina B12) 321 • Reações a drogas (quinidina, álcool, penicilina e sulfa) • Diminuição de glóbulos vermelhos • Aumento da destruição de glóbulos vermelhos • Talassemia39 • Anemia falciforme • Hemólise por anticorpos • Deficiência de G6PD (glicose-6-fosfato desidrogenase) • Hiperesplenismo (aumento do baço) Sintomas • Geralmente assintomática, podendo ocorrer palidez, sonolência e cansaço Classificação • Anemia hemolítica Causada pela destruição acelerada (hemólise) dos glóbulos vermelhos Tipos o Anemia falciforme: Afeta a membrana da hemácia o Anemia microangiopática: Rompimento da hemácia por traumas (vasos sanguíneos com alterações anatômicas na parede interna) o Anemia autoimune: Destruição das hemácias pelo sistema imune do paciente. Captação da hemácia pelo baço • Anemia não hemolítica É a redução significativa de Hb e Ht, porém sem destruição da hemácia. Tipos o Anemia megaloblástica: Por deficiência de vitamina B12, sendo comum em pacientes que fizeram cirurgia de redução do estômago o Anemia ferropriva: Por deficiência de ferro devido à má nutrição, regime rigoroso, etc. 39 Ou Anemia Mediterrânea é um tipo de anemia hereditária de transmissão recessiva, causada pela redução ou ausência da síntese da cadeia de hemoglobina 322 Considerações odontológicas • Pacientes sem história de anemia, mas sintomáticos, devem fazer hemograma completo (analisar o eritrograma) • Detectada alguma alteração: Encaminhar ao médico para identificação do tipo de anemia • Após avaliação médica, conduzir os procedimentos cruentos, realizando a profilaxia antibiótica, quando recomendada • Contraindicado o uso de prilocaína em todas as anemias • Anemia leve: Lidocaína com adrenalina 1:100000 (2 a 3 tubetes) • Anemia moderada: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor para procedimentos menos invasivos • Anemia severa: Adiar tratamento eletivo. Realizar somente procedimentos paliativos para controle da dor e infecção • AAS e AINH: Contraindicados, pois podem causar disfunção de plaquetas, gastrite, acidose • Paracetamol: Sem restrição, na dose terapêutica • Penicilinas: Sem restrição • Macrolídeos: Evitar na anemia ferropriva • Sulfa: Contraindicada na anemia por G6PD • Anemia falciforme e autoimune com uso de conticoide: Realizar profilaxia antibiótica para EI (Quadro 62 deste Capítulo) no caso de procedimento cruento 324 4.16 Alterações da Tireóide Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini 4.16.1 Hipertireoidismo No hipertireoidismo verifica-se uma concentração sanguínea aumentada de tiroxina livre ou triiodotironina (T3 e T4). Os medicamentos mais utilizados para o tratamento são drogas antitiroideanas como Propil Tio Uracil (PTU), Iodo radioativo ou Propranolol, os quais podem causar reações secundárias como a leucopenia e ação antivitamina K, entre outras. A retirada da tireoide pode ser necessária em alguns casos. Sinais mais comuns • Intolelância ao calor • Nervosismo • Tremores • Sudorese • Fraqueza muscular • Aumento de apetite • Perda de peso • Taquicardia • Pele quente • Aumento dos reflexos • Exoftalmia • Bócio • Desenvolvimento dentário acelerado quando presente em crianças • Má oclusão Outras manifestações clínicas • Cardiovasculares: Risco de angina, insuficiência cardíaca, arritmias, eventos embólicos, hipertensão 325 • Hematológicas: Anemia, plaquetopenia, neutropenia, sangramentos • Gastrintestinais: Absorção inadequada de medicamentos • Metabólicas: Aumento da eliminação de medicamentos, intolerância à glicose, perda de peso, fadiga • Endócrinas: Aumento da produção de cortisol Podem apresentar impulsos adrenérgicos mais acentuados e há possibilidade de sensibilização do miocárdio, levando a fibrilação. Considerações odontológicas • Solicitar avaliação médica antes de realizar procedimentos invasivos e/ou sob anestesia local • No paciente não controlado o tratamento odontológico está contraindicado • Pacientes controlados • o Anestésico com adrenalina está contraindicado o Indicação: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor O controle de estresse é fundamental e pode ser necessário utilizar medicação ansiolítica, pois o estresse pode levar o paciente a uma crise tireotóxica • Contagem de plaquetas e tempo de protrombina podem estar alterados • Aferir pressão arterial antes das consultas 4.16.2 Hipotireoidismo No hipotireoidismo, a glândula funciona num ritmo abaixo do normal, o que pode levar ao comprometimento de várias funções orgânicas. Os exames laboratoriais mostram baixos níveis de T4 e altos níveis de TSH. A doença pode se manifestar em pessoas de todas as idades. É mais frequente em mulheres, que são quatro vezes mais atingidas e nos idosos. Quando ocorre por ocasião do nascimento (Hipotireoidismo Congênito) ou durante o período mais rápido de crescimento, se não detectado ou tratado, causa deficiência mental e nanismo. 326 Causas • Ausência ou desenvolvimento deficiente da glândula tireoide e insuficiência de hormônio tireoidiano (Hipotereoidismo congênito) • Tireoidite Hereditária de Hashimoto • Reação à terapia com iodo radioativo ou à tireoidectomia Sinais e sintomas • Fadiga • Ganho de peso • Intolerância ao frio • Prognatismo, atraso no desenvolvimento dentário e macroglossia quando inicia-se na infância Considerações Odontológicas • Paciente controlado (utiliza hormônios tiroidianos): O anestésico indicado é a prilocaína com felipressina, 2 a 3 tubetes • Paciente não controlado: Mepivacaína 3% sem vasoconstritor 328 4.17 Tuberculose Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini • Doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium tuberculosis • Tem distribuição universal e apesar da atual diminuição da mortalidade é um problema de Saúde Pública em vários países, com cerca 118 mil novos casos por ano no Brasil • Com o advento da AIDS acelerou-se sua disseminação • A resistência do bacilo às drogas utilizadas e a não adesão do paciente ao tratamento, dificulta seu controle • O bacilo de Koch, como também é conhecido, é veiculado pessoa a pessoa, quase exclusivamente por aerossóis, onde pode permanecer viável por mais de seis semanas, penetrando no organismo por inalação • O pulmão é o local habitual da lesão primária e o principal órgão envolvido (85% dos casos), mas o bacilo pode ser disseminado pela corrente sanguínea e atingir ossos, articulações, fígado, baço, rins, trato gastrintestinal, meninges, nódulos linfáticos e cavidade bucal Principais sinais e sintomas • Fadiga • Perda de apetite • Perda de peso • Febre vespertina baixa • Sudorese noturna • Tosse persistente acompanhada ou não de escarro com hemoptise Tratamento médico • Pacientes novos: Esquema RIP (Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida) por um tempo mínimo de 6 meses 329 • Recidivas após o abandono ou após a cura: Outras drogas farão parte do tratamento, conforme Protocolo da tuberculose do Ministério da Saúde: Estreptomicina, Etionamida e o Etambutol. O tratamento pode perdurar por um ano Considerações odontológicas • As lesões bucais causadas pela tuberculose não são comuns • Quando presentes, geralmente se localizam em mucosa traumatizada e infectada por micro-organismos provenientes das secreções pulmonares • A base da língua é o local mais comum, podendo atingir também a mandíbula, maxila, lábios, processos alveolares, gengiva, mucosa jugal • As lesões podem ser ulcerativas (principalmente), verrucosas ou nodulares • Há maior risco de doença periodontal pois a tuberculose pode diminuir a resistência a irritantes locais e aumentar reabsorção do osso alveolar, já que esses pacientes geralmente apresentam uma higiene bucal deficiente • O bacilo é transmitido pela saliva, escarro e aerossóis. Fora do hospedeiro sobrevive nas roupas por 45 dias. No escarro, em ambiente frio e escuro, por 6 a 8 meses, na poeira por 90 a 120 dias • Paciente com doença ativa o Sem tratamento antituberculose Tratamento odontológico eletivo deve ser adiado Urgências odontológicas: Tratamento paliativo (medicamentoso) para eliminação da dor e da infecção. Caso seja necessária a intervenção, a mesma deverá ser realizada em ambiente hospitalar o Durante tratamento para tuberculose: Médico responsável deve ser consultado a respeito da infectividade, resultados de baciloscopia e exame radiológico Pode receber tratamento odontológico após 2 semanas de uso contínuo de medicação para tuberculose Sempre seguir normas de biossegurança e o uso de equipamentos de proteção individual, inclusive máscara e luva dupla o Após o tratamento para tuberculose (paciente em alta): Médico responsável deve ser consultado a respeito da infectividade, resultados de baciloscopia e exame radiológico Tratamento odontológico: Sem restrição 330 Medicamentos • O anestésico local indicado é a Lidocaina 2% com adrenalina 1:100000, de 2 a 3 tubetes • Evitar uso de AAS, AINH, Indometacina • Para dor a indicação é Paracetamol, nas doses terapêuticas • Evite utilizar Macrolídeos, Ampicilina, Tetraciclina e Metronidazol • Penicilina: Sem restrição 332 4.18 Asma Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini A asma é uma doença pulmonar na qual a reatividade aumentada das vias aéreas conduz a uma obstrução reversível. Em muitos asmáticos a crise pode ser desencadeada tanto por fatores alérgicos como não alérgicos. Os fatores psicológicos têm papel modificador, podendo agravar a crise asmática. É prudente solicitar ao paciente asmático que traga o medicamento do qual faz uso, já que o mesmo está habituado, para ser empregado numa possível crise aguda. O uso de anestésicos locais com vasoconstritores não é contraindicado. Na realidade, a adrenalina até poderia ter uma ação benéfica com consequente melhoria das condições respiratórias. Para pacientes asmáticos alérgicos deve-se, entretanto ter cuidado, pois sulfitos (conservantes de alimentos que causam alergias) são também incorporados às soluções anestésicas que contém vasoconstritores do tipo amina simpaticomimética, para evitar a oxidação e consequente inativação dos mesmos. Deve-se, em pacientes asmáticos dependentes de corticoides, evitar estes vasoconstritores, dando-se preferência à felipressina. 334 4.19 Desordens Convulsivas Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini • Convulsão: Alteração da função cerebral, caracterizada por uma crise envolvendo mudanças na consciência, atividade motora e fenômenos sensoriais • Epilepsia: Não é uma doença específica, e sim, sintoma de uma descarga neuronal excessiva e temporária • Estado epiléptico: (“ataque epiléptico”): Convulsões rápidas, repetitivas, geralmente durando mais que 5 minutos. Constitui-se numa situação de risco devido à acidose e hipertermia Pacientes que apresentam convulsões podem tomar uma variedade de medicamentos. Os cuidados que o CD precisa ter com este paciente devem seguir 3 regras básicas: • Possuir conhecimentos básicos sobre os distúrbios convulsivos • Evitar procedimentos e situações estressantes • Estar habilitado para tratar uma convulsão caso ela ocorra Caso o paciente não esteja tomando sua medicação de forma regular ou tenha relatado algum episódio convulsivo recente, o mesmo deve ser encaminhado para uma avaliação médica antes do início do tratamento odontológico. Deve-se verificar preventivamente, se o paciente tomou sua medicação no dia do atendimento e também avaliar seu grau de estresse ao procedimento planejado. A maioria das convulsões são autolimitadas. Após a recuperação, sob os cuidados de um adulto, o paciente pode ser dispensado com recomendação de não dirigir qualquer tipo de veículo. 335 Síntese • Troque ideias com o neurologista ou psiquiatra, conforme o caso em particular • Evite estresse e drogas estimulantes do SNC como cafeína, adrenalina ou codeína • Paciente deve estar compensado e, quando necessário, com acompanhamento familiar Anestésicos Locais • 1a opção: Prilocaína com vasoconstrictor (felipressina). Evitar anestésicos que utilizem a adrenalina ou seus derivados Analgésicos • Liberados. Evite os com cafeína ou codeína. Na dúvida, contate com o médico responsável Anti-inflamatórios • Liberados. Fique atento quanto às restrições clínicas do paciente Antibióticos • Sem restrições quanto ao uso 336 4.20 Síndrome da Dependência de Álcool Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini São pacientes que têm o hábito de consumo de álcool e, muitas vezes, apresentam resistência ao tratamento odontológico, necessitando de muita habilidade por parte da equipe, isso em decorrência de problemas sociais, psíquicos e biológicos que se apresentam nesses pacientes. Geralmente, são hepato e gastropatas, com metabolismo acelerado, insuficiência excretora, vasodilatação sistêmica e problemas de hiperglicemia. O consumo prolongado de álcool retarda as funções do sistema imunológico, levando a uma maior propensão para doenças infecciosas, pneumonias, tuberculose e mesmo câncer. Pode-se dizer que o consumo intenso de álcool afeta, de forma irreversível todas as funções do sistema imunológico, com isso aumenta as chances de contaminação, devido à imunodepressão. Também pode causar perda do apetite que resulta em deficiências nutricionais, principalmente vitaminas A, E, C e do complexo B. Anestésicos locais a • 1 opção: Prilocaína com felipressina. Evitar derivados de adrenalina • Os pacientes etílicos geralmente têm uma potencialização anestésica difícil Analgésicos a • 1 opção: Dipirona (Novalgina®, Anador®, Magnopyrol®, etc.) • 2a opção: Paracetamol (Tylenol® , Dôrico®) • Evitar AAS: Por ser irritante gástrico Anti-inflamatórios a • 1 opção: Benzidamina (Benflogin®, Benzitrat®, Eridamin® 50 mg) • Evitar Diclofenaco, Piroxicam®, Nimesulide e Corticoides, pela sobrecarga hepática Antibióticos • Sem restrições, indicado conforme a patologia em questão OBS: Nunca indicar enxaguatório bucal contendo álcool na sua composição 338 4.21 Atendimento ao portador do HIV e doente de AIDS Domingos Alvanhan Lázara Regina de Rezende O CD deve estar atendo aos seguintes preceitos em relação ao atendimento aos pacientes convivendo com HIV/AIDS: • Garantir um tratamento digno e humano, sem preconceitos, mantendo sigilo profissional. Devendo haver sempre respeito às diferenças comportamentais • Medidas de precaução padrão em relação a biossegurança, tanto do CD como do paciente, devem ser adotadas universalmente como rotina em todas as situações. A probabilidade do CD e sua equipe adquirirem HIV de pacientes é muito pequena para justificar a recusa em atendê-los • Estar atento às possíveis manifestações bucais relacionadas à infecção pelo HIV, pois podem representar os primeiros sinais clínicos ou indicadores do desenvolvimento da doença • Orientar e encaminhar o usuário à equipe de saúde, em caso de suspeita diagnóstica de infecção pelo HIV • Dar continuidade aos procedimentos de rotina odontológica caso o paciente tenha um diagnostico de sorologia positiva para HIV durante o tratamento • Interagir com a equipe multiprofissional • Manter-se atualizado sobre a doença, principalmente no que diz respeito aos aspectos técnicos, éticos, psicossociais e epidemiológicos • Incorporar ao seu cotidiano as ações de prevenção e solidariedade entre os seus principais procedimentos terapêuticos Considerações odontológicas A assistência odontológica à pessoa convivendo com HIV/AIDS não exige nenhuma técnica diferenciada para a execução dos procedimentos. No entanto, o acolhimento e a relação que se estabelece entre CD e os pacientes têm sido apontados como fatores de grande importância para a sua saúde. 339 A atenção odontológica de rotina ao portador do HIV ou doente de AIDS, assumindo-se que ele já possua um diagnóstico e que esteja sendo acompanhado pelo médico, deve respeitar a seguinte sequência de procedimentos: • Anamnese: Preencher formulários e fichas clínicas antes do início do tratamento, revisando a história médica do paciente e fazendo todas as anotações necessárias • Exame clínico o Extrabucal: Tem o objetivo de detectar qualquer anomalia facial (aumentos de volume, crescimentos tumorais), exame da pele, lábios, palpação de cadeias linfáticas. Pacientes soropositivos podem desenvolver linfadenopatia cervical e lesões de pele o Intrabucal: Tem o objetivo de detectar áreas anormais ou patológicas. Se houver lesões, elas deverão ser avaliadas com prioridade, a não ser que haja algum problema odontológico de urgência. Após a resolução de lesões e condições dos tecidos moles, o tratamento de rotina poderá ser iniciado • Plano de tratamento odontológico o O plano de tratamento odontológico para indivíduos infectados com HIV ou doentes de AIDS deve considerar, sempre, a saúde geral do indivíduo e não o estado sorológico. O que vai determinar o tipo de tratamento a ser instituído será a disposição do paciente em cumprí-lo. De modo geral, o tratamento seguirá a mesma sequência o Alívio da dor Restauração da forma e da função Atendimento das necessidades estéticas Complicações decorrentes do tratamento odontológico em portadores do HIV e doentes de AIDS são muito raras o As principais manifestações bucais presentes nas pessoas com a doença AIDS são: Leucoplasia pilosa, infecções herpéticas, úlceras bucais recorrentes e de difícil cura, infecções por Cândida albicans associada ou não à leucoplasia pilosa, sarcoma de Kaposi, linfomas de células B. As caracteríticas e a condutas diante das lesões estão descritas no Quadro 64. 340 Lesão • • • Característica • Pequenas vesículas que resultam em úlceras com bordas esbranquiçadas. É atualmente reconhecido como um co-fator infeccioso na patogênese do sarcoma de Kaposi • • É uma infecção fúngica causada pelo Candida albicans, caracterizada por placas brancas ou amareladas de fácil remoção, deixando a mucosa hiperêmica, no anel tonsilar da língua e mucosa, podendo levar a distúrbios no paladar e às vezes uma sensação ardência na língua. Em casos mais graves as lesões são erosivas • Leve: Bochechos com solução de gluconato clorexidina 0,12%, por um minuto, duas vezes ao dia ou Nistatina suspensão oral, bochecho com 10mL, por 1 a 2 minutos, durante 7 a 14 dias. • Grave: Cetoconazol ou fluconazol, 2 comprimidos por dia de 200 a 400 mg de 12/12 horas. Deve-se acompanhar o quadro com retornos de três em três dias • Realizar higiene do local com solução de gluconato clorexidina a 0,12% ou • PVPI (polivinilpirrolidona-iodo) oral e, em seguida, aplicação de antimicóticos (cetoconazol creme) até a regressão da lesão • Deve ser biopsiado e encaminhado para o CEO, COU/UEL ou Instituto do Câncer de Londrina (ICL) • Deve ser biopsiado e encaminhado para o CEO, COU/UEL ou ICL Leucoplasia Pilosa Infecção Herpética Cândidose/Candidíase Queilite Angular Sarcoma de Kaposi • • Linfomas de Células B ou Linfoma não Hodking Deve ser biopsiado, encaminhar para CEO ou Centro Odontológico Universitário - COU/UEL para confirmação de diagnóstico. O tratamento é o acompanhamento por ser assintomática. Quando necessário, usar Aciclovir tópico Higiene do local com lavagem com água e sabão ou solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, seguida de indicação de Aciclovir oral (comprimidos) 200 ou 400 mg de 4/4 horas, durante 10 dias Lesões brancas enrugadas nos bordos laterais da língua ou superfície ventral, causadas por fungos. Não removíveis pela raspagem • • • • • • Conduta de Tratamento É um processo inflamatório devido a contaminação por estreptococos, estafilococos e Candida albicans, localizado no ângulo labial, caracterizado por discreto edema, eritema, descamação, erosão e fissuras ou a perda da dimensão vertical de oclusão Tumor maligno proveniente das células das paredes dos vasos sanguíneos, tendo a forma de máculas, placas, pápulas ou nódulos avermelhados ou violáceos, com ou sem ulcerações Massa tumoral que envolve gengiva e o palato e está associado a dentes em mal estado. Devido a sua localização pode ser confundido com um abscesso dentoalveolar ou doença periodontal Quadro 64 - Conduta diante das principais lesões bucais no portador de HIV/AIDS 341 • Profilaxia antibiótica o Recomenda-se cautela no uso de antibióticos, pois a indicação não ocorre somente pelo fato do paciente ser portador do HIV/AIDS o A necessidade de profilaxia antibiótica deve ser baseada nas condições gerais de saúde, sempre em consonância com médico responsável pelo mesmo o Situações em que se recomenda a profilaxia antibiótica Endocardite infecciosa: Seguir indicações descritas no Quadro 62, deste Capítulo Granulocitopenia (contagem abaixo de 500/mm3 em pacientes que não recebem antibióticos bactericidas) seguir indicações decritas no item 4.6 deste Capítulo Não há necessidade de usar cobertura antibiótica para prevenir infecção pós-procedimento. O uso de antibióticos deve ser analisado a cada caso • Tratamento odontológico preventivo o Instituir métodos de higiene bucal para todos os pacientes. A manutenção de uma boa higiene bucal é fundamental na redução do potencial de risco de complicações o Pacientes com HIV/AIDS são considerados de alto risco para o desenvolvimento de cárie e doença periodontal, devido ao uso contínuo de medicamentos (terapia antiretroviral) que contêm glicose com o objetivo de melhorar o sabor e também diminuir a secreção salivar o Recomenda-se o seguinte protocolo de prevenção • Controle a cada três meses • Bochechos diários e aplicações tópicas de flúor de rotina, particularmente para pacientes com hipossalivação e aumento de incidência de cárie • Terapia odontológica periodontal o A terapia periodontal básica (raspagem e polimento coronário e radicular) pode ser realizada da mesma forma que para o indivíduo imunocompetente o Recomendam-se enxágues com solução antibacteriana (gluconato de clorexidina a 0,12%, por um minuto) antes do tratamento e duas vezes ao dia, por 3 dias após o mesmo, com o objetivo de reduzir o risco de complicações sistêmicas 342 o Os pacientes infectados pelo vírus HIV, especialmente os que apresentam contagem de células T CD4+ abaixo de 300 células/mm3, podem apresentar formas severas de doença periodontal como: • Eritema gengival linear: Caracterizado por uma banda eritematosa na gengiva marginal, podendo se estender até a gengiva inserida. Promove sangramento à sondagem e nota-se que a intensidade do eritema é desproporcional à quantidade de biofilme dental • Gengivite ulcerativa necrosante (GUN): Caracteriza-se por severo edema, eritema, sangramento espontâneo, presença de pseudomembrana e áreas de necrose. Além disso, o paciente queixa-se de dor intensa, odor fétido e a evolução do quadro é rápida. Para maiores informações, reportar-se ao item 6.2.2.1.5 • Periodontite ulcerativa necrosante (PUN): Quando há exposição e perda óssea progressiva, levando à perda de elementos dentários. Dor intensa por toda a maxila ou mandíbula pode ser a queixa principal do paciente. Responde inadequadamente aos tratamentos preconizados para as periodontites em geral • Tratamento endodôntico o A presença do HIV não altera a resposta ao tratamento endodôntico. Se ocorrer alguma sintomatologia será suave e poderá ser controlada com anti-inflamatórios e antibióticos, dependendo da sua natureza • Procedimentos cirúrgicos o Uma preocupação constante quando da manipulação cirúrgica de tecidos em portadores do HIV e doentes de AIDS diz respeito à habilidade de reparação tecidual. De acordo com vários estudos parece não existir diminuição da capacidade de reparação tecidual ou aumento da ocorrência de alveolite. Tratamento básico periodontal e adequação do meio bucal devem ser realizados antes do tratamento cirúrgico com o objetivo de reduzir a possibilidade de infecção sistêmica o Recomendam-se enxágues com solução antibacteriana (gluconato de clorexidina a 0,12%, por um minuto) antes do tratamento e duas vezes ao dia, por 3 dias após o mesmo, com o objetivo de reduzir o risco de complicações sistêmicas 343 o Recomenda-se enxágue com solução antibacteriana (gluconato de clorexidina a 0,12%, por um minuto) antes do procedimento cirúrgico, com o objetivo de reduzir o risco de bacteremia o Antes da realização de intervenções cirúrgicas, deve-se interagir com o médico responsável para avaliação do estado geral do paciente • Procedimentos reaturadores o Não há restrições quanto aos procedimentos a serem executados, como: Restauração com amálgama de prata, resina composta ou ionômero de vidro • Coroas e outros aparelhos protéticos Consultas de retorno o O retorno do paciente deverá ser de rotina, o tempo será determinado de acordo com o risco de cada paciente Fluxograma 11 - Atenção odontológica ao portador do HIV e doente de AIDS Anamnese Exame clínico extrabucal Sim Anomalia facial? Não Exame clínico intrabucal Encaminhar ao médico responsável Lesões em tecidos moles? Sim Não Encaminhamento para serviço de referência especializado Tratamento odontológico Preventivo Restaurador Endodôntico Peridontal Cirúrgico Protético Manutenção 344 346 4.22 Atenção à Pessoa com Deficiência Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Martha Beatriz Esgaib Issa De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) dez por cento da população mundial apresenta algum tipo de deficiência sejam estas físicas, motoras ou sensoriais. Segundo o Censo de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil apresenta 24,5 milhões de pessoas com deficiência, o que equivale a 14,5% da população. Na realidade o conceito de paciente especial tem se modificado e se distanciado um pouco daquele que definia o do excepcional (portador de retardo mental). Estudos epidemiológicos têm demonstrado que estes pacientes acabam por concentrar maior prevalência de doenças bucais, especialmente pela dificuldade de acesso ao serviço que, quando oferecido, ocorre em caráter emergencial. Alguns pacientes podem, eventualmente, impor certa dificuldade ao atendimento odontológico, muitas vezes, devido à limitação intelectual que possuem ou decorrente de medo frente ao atendimento. A aplicação de técnicas de gerenciamento comportamental pode ser útil no atendimento a certos pacientes, no entanto, em outros podem se mostrar ineficazes justificando a utilização de métodos de contenção física, química ou hospitalar, com isso oferecendo a estes pacientes um atendimento mais seguro e menos estressante. É importante que se destaque a necessidade do atendimento ao paciente com deficiência mental ser, primeiramente, oferecido pela USF do seu local de moradia, quando este se mostrar cooperativo. Dentro do grupo desses pacientes, o CEO oferece atendimento especializado a aqueles com deficiência mental, distúrbios comportamentais que imponham alguma dificuldade ao atendimento na USF. 347 4.22.1 Retardo Mental O retardo mental é um termo genérico utilizado quando o desenvolvimento intelectual de um indivíduo é significativamente mais baixo do que a média, acompanhado de limitação na capacidade de se adaptar ao seu meio em pelo menos duas das seguintes áreas: Comunicação, autocuidado, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. O início deve ocorrer antes dos 18 anos. Causas conhecidas • Anormalidades cromossômicas • Condições pré-natais (rubéola, consumo de álcool, uso de drogas, etc.) • Condições perinatais (anóxia ou hipóxia, prematuridade, hiperbilirrubinemia, infecções, etc.) • Condições pós-natais (meningite, encefalite, trauma, desnutrição severa, privação econônima e sociocultural, etc.) O retardo mental pode ser definido através do Quociente de Inteligência (QI) ou por outras categorias. Estas classificações, embora possam servir como parâmetro, nem sempre são recomendadas, o melhor seria uma abordagem individualizada. • Retardo mental leve: QI entre 50 e 55 até aproximadamente 70 o Desenvolvem habilidades sociais e de comunicação o Apresentam mínimo prejuízo nas áreas sensório motoras o Não são facilmente diferenciados de crianças sem retardo mental até uma idade mais tardia o • Durante a idade adulta, geralmente adquirem habilidades sociais e profissionais Retardo mental moderado: QI entre 35 e 40 até 50 e 55 o A maioria adquire habilidades de comunicação durante os primeiros anos de vida o Beneficiam-se de treinamento profissional e são capazes de realizar trabalhos menos complexos, necessitando de moderada supervisão o Podem adquirir uma relação de independência em viagens a locais que lhes sejam familiares, sendo socialmente adaptáveis 348 • Retardo mental severo: QI entre 20 e 25 até 35 e 40 o Durante os primeiros anos de vida adquirem pouca ou nenhuma fala comunicativa o Durante o período escolar podem adquirir habilidades elementares como cuidar da higiene pessoal o O aprendizado escolar é bastante limitado, embora possam dominar habilidades tais como reconhecimento visual de algumas palavras fundamentais à "sobrevivência” o Na idade adulta, podem ser capazes de executar tarefas simples sob supervisão direta o Adaptam-se bem à vida em comunidade, a menos que tenham alguma deficiência que exija cuidados especializados • Retardo mental profundo: QI menor que 20 e 25 o A maioria dos indivíduos apresenta danos neurológicos identificados o Durante os primeiros anos da infância, apresentam prejuízos consideráveis no funcionamento sensório motor o Exigem constante auxílio e supervisão o O desenvolvimento motor e as habilidades de higiene e comunicação podem melhorar com treinamento apropriado o Alguns desses indivíduos conseguem executar tarefas simples, necessitando de supervisão direta • Retardo mental de gravidade inespecificada o Quando existe forte indício de retardo mental, mas a inteligência da pessoa não pode ser testada por instrumentos padronizados. Em geral, é muito difícil de ser diagnosticado nos primeiros anos de vida 349 Desordens associadas • Desenvolvimento motor deficiente • Comprometimento da visão e audição • Convulsões • Anormalidades cardíacas • Desordens emocionais Achados bucais mais frequentes • Higiene bucal precária • Maloclusão • Defeitos do esmalte • Hiperplasia gengival • Bruxismo • Sialorreia • Protrusão de língua • Automutilação • Distúrbios de conduta ingestão de objetos não comestíveis (PICA) Considerações odontológicas • Permita que o paciente se familiarize com o ambiente clínico e com os membros da equipe antes de manipulá-lo • Sugira que o paciente traga de casa um objeto favorito para segurar durante a visita (bichinho de pelúcia ou brinquedo) • Converse sempre com o paciente, mesmo que aparentemente ele não entenda • Fale devagar, seja repetitivo e use termos simples • Procure tocá-lo suavemente e sorrir, uma vez que seu grau de sensibilidade é extremanente aguçado, apresentando maior nível de compreensão do que pode demonstrar • Dê somente uma explicação de cada vez • Elogie-o após o término de cada sessão • Ouça-o, estando atento aos gestos e pedidos verbais 350 • Realize consultas breves • Progrida gradualmente para procedimentos mais difíceis, após adaptação ao ambiente odontológico • Os equipamentos e instrumentos devem ser apresentados de forma gradual, dando-se especial atenção aos que produzem ruídos (sugadores e motores de rotação), uma vez que são muito sensíveis • Entre em contato com o médico para obter história médica completa • Podem apresentar distúrbios de conduta como inquietação, hiperatividade, agresssividade, etc. • Os retornos devem ser frequentes em função da necessidade de monitoramento constante 4.22.2 Paralisia Cerebral (PC) Disfunção neuromuscular causada por injúria ou dano permanente no cérebro nos períodos pré, peri ou pós-natal, quando o SNC ainda está em fase de maturação. Afeta entre 1 e 4 indivíduos para cada 1000 nascidos vivos. Causas • Qualquer fator que contribua para diminuir a oxigenação do cérebro em desenvolvimento pode levar a dano cerebral. Em pelo menos um terço dos casos de PC não existe causa discernível. Exemplos: o Nascimentos prematuros o Complicações no trabalho de parto o Meningites e encefalites o Toxemia na gravidez (pré-eclâmpsia e eclâmpsia) o Defeitos congênitos no cérebro o Icterícia nuclear o Envenamento com certas drogas e metais pesados o Traumas 351 Classificação de acordo com as áreas do corpo envolvidas • Monoplegia: Envolvimento de um único membro • Hemiplegia: Envolvimento de um lado do corpo • Paraplegia: Envolvimento de ambas as pernas • Diplegia: Envolvimento de ambas as pernas com mínimo envolvimento de ambos os braços • Quadriplegia: Envolvimento dos quatro membros Classsificação de acordo com a disfunção neuromuscular • Paralisia Espástica: Presente em aproximadamente 70% dos casos. Contração exagerada da musculatura quando estimulada. Músculos envolvidos são tensos e contraídos. Ex: Mãos e braços flexionados e mantidos contra o corpo, pé e perna flexionados e virados para dentro. O paciente apresenta dificuldade de deglutição e de mastigação. Os pacientes se irritam com facilidade e choram sem causa aparente. As convulsões ocorrem em carca de 50% dos casos e a inteligência pode estar severamente afetada • Paralisia Discinética (atetose e coreoatetose): Aproximadamente 15% dos casos, apresentando movimento constante e incontrolável dos músculos envolvidos. Sucessão de movimentos involuntários lentos, rotativos e contorcionais (atetose) ou rápidos e espasmódicos (coreoatetose). Apresentam dificuldade de deglutição, mastigação e de fala. A inteligência é menos afetada do que a aparência sugere, não sendo raro encontrar casos com inteligência normal • Paralisia Atáxica: Corresponde a 5% a 10% dos casos, apresentando perda de equilíbrio, andar cambaleante e estremecimento incontrolável ao tentar fazer tarefas voluntárias. A inteligência é afetada e a fala é pastosa • Rigidez: Apresenta períodos prolongados nos quais os músculos das extremidades ou do tronco permanecem rígidos, resistindo a qualquer esforço para movê-los. Presente em aproximadamente 10% dos indivíduos com PC • Hipotonia: Todos os músculos são flácidos e com função reduzida, sendo uma condição rara • Mistas: Afeta aproximadamente 10% dos casos, sendo a combinação de mais de um tipo de paralisia 352 Manifestações comuns • Retardo mental: Aproximadamente 60% das pessoas com PC apresentam algum grau de retardo metal • Desordens convulsivas: Aparecem em 30 a 50% dos casos, ocorrendo primariamente durante a infância. A maioria dos ataques pode ser controlada com anticonvulsivantes • Deterioração da audição • Estrabismo • Contrações articulares: Posturas anormais dos membros, principalmente por desuso do grupo dos músculos • Reflexo de sobressalto • Reflexo de náusea • Sensibilidade a toques, jatos de ar e água • Engasgos frequentes Condições bucais • Higiene bucal precária • Maior incidência doença periodontal • Hiperplasia gengival induzida por medicamento. Ex: Fenitoína • Hipoplasia do esmalte • Traumatismos dentários: Devido a uma tendência aumentada de cair. Acomete principalmente os incisivos superiores • Má oclusão: Protrusão dos dentes ântero-superiores, sobremordida e trespasse horizontal exagerado, mordida aberta e cruzada unilateral • Bruxismo e atrição severa dos dentes, perda de dimensão vertical e distúbios da ATM • Cárie dentária: Tendência a ingerir dietas pastosas e ricas em carboidratos, dificuldades de autocuidado na higiene bucal, levando a um aumento de incidência de lesões de cárie Considerações • Os tratamentos educativo e preventivo devem envolver membros da família e o cuidador • Evitar consultas longas 353 • Pode ser necessário tratar o paciente em sua própria cadeira de rodas • Se o paciente tiver que ser transferido para a cadeira odontológica, deve-se perguntar a ele sobre o modo que prefere. Se ele não tiver predileção, é recomendável que seja levantado por duas pessoas • É importante estabilizar a cabeça do paciente durante todo o tratamento para evitar acidentes tanto para o paciente quanto para o profissional • A posição totalmente deitada (supina) deve ser evitada para prevenir engasgos • Evitar forçar os membros para que fiquem em posição normal • O uso de travesseiros ou toalhas pode ajudar a apoiar o tronco e os membros • O abridor de boca é importante para se estabilizar a mandíbula. Blocos de mordida de borracha devem ser ligados por fio dental para facilitar a sua retirada caso se desloquem na boca. Abaixadores de língua descartáveis podem ser unidos e acolchoados, servindo como abridor • Evitar movimentos abruptos, mudanças repentinas de posição da cadeira, barulhos e luzes, avisando previamente o paciente a fim de se prevenir o reflexo de sobressalto 4.22.3 Síndrome de Down (SD) ou Trissomia do 21 Síndrome cromossômica em que ocorrem três cromossomos 21 ao invés de dois. A literatura antiga referia-se à SD como mongolismo, porém o uso deste termo é inapropriado e pode ser ofensivo, devendo-se evitá-lo. Características gerais • Órbitas pequenas • Olhos inclinados para cima • Nariz em sela • Orelhas malformadas e de implantação baixa • Retardo mental, com a maioria variando na faixa de leve a moderado • Baixa estatura • Ocasionalmente obesos • Pescoço e tronco curtos • Nuca plana 354 • Mãos e pés pequenos e grossos • Prega palmar única • Hipotonia com tendência de manter a boca aberta e protruir a língua • Respiração bucal • Palato ogival • Sialorreia • Perda de dimensão vertical • Língua fissurada • Macroglossia • Anodontia • Maloclusão (Classe III) • Bruxismo • Raízes curtas e conoides • Apinhamento dentário • Maior susceptibilidade à doença periodontal • Baixa susceptibilidade à cárie dentária • Atraso na erupção dentária nas duas dentições • Alta frequência de queilite angular OBS: A grande maioria dos pacientes com SD é agradável, alegre, afetuoso, colaborador. Normalmente podem ser tratados em consultório dentário do mesmo modo que os demais pacientes Condições sistêmicas mais frequentes • Alta frequência de cardiopatias congênitas, aparecendo em cerca de 40% dos indivíduos com SD. Este fato implica na necessidade de profilaxia antibiótica para EI, antes da realização de procedimentos cruentos • Incidência 10 a 20 vezes maior de leucemia durante a infância, comparada com a população em geral, o que não se mantém mais tarde na vida • Inflamação crônica da conjuntiva • Baixa resposta imunológica, o que as torna mais susceptíveis a infecções, problemas na mucosa e doença periodontal 355 • Infecções repetidas do trato respiratório superior • Possibilidade de convulsões • Os indivíduos com SD podem estar em maior risco para o desenvolvimento de demência do tipo Alzheimer. As alterações patológicas do cérebro associadas com este transtorno geralmente desenvolvem-se à época em que esses indivíduos estão na casa dos 40 anos, embora os sintomas clínicos de demência sejam evidentes apenas mais tarde 4.22.4 Autismo • Distúrbio de desenvolvimento mental e emocional muito incapacitante, que causa problemas de aprendizado, comunicação e relacionamento. Manifesta-se durante os três primeiros anos de vida, é de difícil diagnóstico e não tem cura • Ocorre em aproximadamente 5 para cada 10000 nascimentos • É quatro vezes mais comum em meninos do que em meninas • Crianças têm aparência normal e períodos de vida normais, entretanto têm capacidade limitada para se comunicar, socializar, aprender • Aproximadamente 60% têm QI abaixo de 50, 20% entre 50 e 70 e somente 20% maior que 70 • Apresentam pouco tônus muscular, pouca coordenação, sialorreia, espasmos hiperativos do joelho • Podem necessitar de várias visitas ao consultório para se adaptarem ao ambiente, pois têm dificuldade de mudança de rotina • Preferem comidas moles e adocicadas • Pouca coordenação da língua • Tendem a armazenar comida na boca, em vez de engolí-la • Higiene bucal é geralmente precária • Alta susceptibilidade à cárie e doença periodontal • Podem apresentar fala anormal e atividades repetitivas estereotipadas • O uso de medicamentos antipsicóticos é comum nestes pacientes, podendo causar hipossalivação • Podem apresentar alteração de comportamento, dificultando o tratamento odontológico ambulatorial • Técnicas de manejo, contenção física, sedação ou anestesia geral podem ser necessárias 356 4.22.5 Incapacidade Visual A deficiência visual varia de cegueira total a limitações na percepção de cores, de distância, reconhecimento de formas e também o tamanho do campo visual. As causas conhecidas de deficiência visual são: Causas pré-natais • Atrofia óptica • Microftalmia • Catarata • Coloboma40 • Tumores • Toxoplasmose • Sífilis congênita • Rubéola congênita • Meningite tuberculosa • Doença de inclusão citomegálica41 Causas pós-natais 40 • Trauma • Fibroplasia retrolental42 • Hipertensão • Nascimento prematuro • Policitemia verdadeira43 • Desordens hemorrágicas • Leucemia Nome dado a qualquer fissura, fenda ou descontinuidade em qualquer segmento do globo ocular de origem congênita 41 Infecção congênita por citomegalovírus 42 Fibrose vitreorretiniana, com formação de novos vasos, decorrente de hiperoxigenação de incubadora 43 Aumento da massa de eritrócitos, hemoglobina e hematócrito, acompanhado de um aumento do volume sanguíneo total. Como são demasiados, tornam o sangue muito viscoso e podem "entupir" alguns vasos ou facilitar que sangrem 357 • Diabetes Mellitus • Glaucoma Considerações odontológicas • Avise o paciente de sua presença • Determine o grau de deficência visual (Ex: O paciente pode distinguir claro do escuro?) • Apresente a equipe de maneira informal • No caso de paciente infantil, encoraje o responsável a acompanhá-lo • Crie uma imagem na mente do paciente usando palavras, descrevendo instalação do consultório, instrumentos e o tratamento • Dê orientações verbais. Explique os procedimentos antes de realizá-los. Ex: Eu vou colocar um pequeno espelho na sua boca, do tamanho de uma moeda de cinquenta centavos • Deixe o paciente fazer perguntas sobre o curso do tratamento, respondendo-as • Comente sobre texturas, vibrações e sabores que o paciente pode experimentar • Não toque o paciente antes de avisá-lo, pois deficientes visuais têm maior sensibilidade ao tato e podem se alarmar com isto • Não se ausente da sala sem antes avisar • Quando for guiar o paciente, ofereça o braço e deixe-o segurá-lo, não puxando ou empurrando-o. Descreva os obstáculos conforme andam • Permita ao paciente que usa óculos que o mantenha em posição • Em vez de usar a abordagem dizer, mostrar, sentir, fazer, convide-o a tocar, experimentar ou cheirar. Evite referência à visão • Evite barulho alto inesperado • Demonstre na unha do paciente a taça de borracha ou outros instrumentos • Crie vínculo com o paciente, gerando segurança no mesmo 358 4.22.6 Perda de Audição Refere-se à perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando da seguinte forma: • Surdez leve: De 25 a 49 decibéis (dB) • Surdez moderada: De 41 a 55 dB • Surdez acentuada: De 56 a 70 dB • Surdez severa: De 71 a 90 dB • Surdez profunda: Acima de 91 dB • Anacusia Causas mais conhecidas • • • Fatores pré-natais o Infecções virais, tais como rubéola e influenza o Drogas ototóxicas o Sífilis congênita o Síndromes hereditárias Fatores perinatais o Toxemia tardia na gravidez o Prematuridade o Trauma ao nascimento o Anóxia o Eritroblastose fetal Fatores pós-natais o Infecções virais (caxumba, sarampo, catapora, influenza, poliomielite, meningite, etc.) o Traumas o Drogas ototóxicas como aspirina, estreptomicina, neomicina, canamicina 359 Considerações odontológicas • Durante a anamnese, avalie a habilidade de fala e o grau de incapacidade auditiva • Identifique em que idade começou, grau, causa da perda auditiva e se existem outros problemas associados • Verifique como o paciente prefere se comunicar: Por intérprete (acompanhante), leitura de lábios, linguagem de sinais, notas escritas ou combinação destes • Facilite a comunicação reduzindo ruídos externos como sugador, rádio, etc. • Remova a máscara para mostrar seus lábios durante a conversa com o paciente • Fale de frente para o paciente, em ritmo normal, sem gritar • Use espelhos, modelos, desenhos e a forma escrita para se comunicar • Empregue a abordagem diga, mostre e faça • Antes de usar aparelhos rotatórios e o ultrassom, ajuste o aparelho auditivo (se paciente usar um), pois o mesmo amplifica todos os sons. Muitas vezes, o paciente preferirá desligá-lo. Se for o caso, procure dar todas as explicações antes de iniciar os procedimentos • Pacientes com perda auditiva podem ser muito sensíveis à vibração das brocas Considerações gerais • Os familiares e responsáveis devem ser orientados sobre a importância da sua conduta frente ao tratamento odontológico e na manutenção da saúde bucal do paciente. Os mesmos devem ser criteriosamente informados pela equipe de saúde bucal sobre todos os passos a serem tomados antes e depois de cada intervenção • No caso de pacientes com movimentos involuntários, cerramento da boca e aumento do reflexo de engasgar, a manutenção da higiene bucal pelos responsáveis pode ser difícil, havendo, portanto, necessidade aumentada de cuidado preventivo odontológico • Na presença de dieta pastosa e/ou rica em carboidrato ou, quando do uso de medicamentos adocicados, orientar sobre a importância da higiene após a alimentação para evitar cárie e doença periodontal • Para facilitar a higiene bucal, recomendar a utilização de pouco creme dental e a adoção de escova dental pequena. Escovar, sempre que possível, todas as faces dos dentes 360 • Pacientes com impossibilidade de escovação dentária, recomenda-se limpeza com gaze umidecida em solução de gluconato de clorexidina 0,12%, duas vezes ao dia, em todas as faces do dente, com auxílio do abridor de boca (feito com abaixadores de língua) 361 BIBLIOGRAFIA ABDALLA, A. E. et al. Cuidados com a gestante. JADA Brasil, v. 2, agosto, p. 78-80, 1999. ALBUQUERQUE, R. V. Manejo Odontológico do Cardiopata. Londrina. Autarquia Municipal de Saúde. 25 de outubro de 2006. Palestra ministrada a professores, alunos da UEL, profissionais e técnicos da Autarquia Municipal de Saúde de Londrina. Simpósio de atenção multiprofissional ao paciente com necessidades especiais. ALMEIDA, F. C. S et al. Avaliação Odontológica de Pacientes com Câncer de Boca Pré e Pós Tratamento Oncológico Uma Proposta de Protocolo. Pesq. Bras. Odontoped. Clin. Integr., João Pessoa, v. 4, n. 1, p. 25-31, jan./abr. 2004. AMERICAN DENTAL ASSOCIATION. 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ATENÇÃO ESPECIALIZADA Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini João Fernando Balan Euterpe Frigeri Barczysczyn 5.1 CRITÉRIOS GERAIS PARA REFERÊNCIA AO CENTRO DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS (CEO) • Antes do encaminhamento, certificar-se de que o usuário esteja motivado para o tratamento odontológico especializado • Esse usuário deve ter concluído ou estar em tratamento nas USF • O agendamento do mesmo deve ser realizado na USF, de acordo com a oferta de vagas das diversas especialidades • Os usuários encaminhados ao CEO deverão levar duas vias da guia de referência/contrarreferência contendo: o Identificação da USF de origem o Nome do profissional responsável e seu registro no CRO o Descrição do motivo do encaminhamento o Procedimentos realizados na USF o Radiografias, laudos médicos e exames complementares, se houver o Outras informações pertinentes • O encaminhamento deverá indicar a especialidade em questão • o Pacientes com Necessidades Especiais o Cirurgia Odontológica o Endodontia o Periodontia o Prótese Dental O usuário deve ser encaminhado ao CEO após a eliminação da dor, resolução dos casos de urgência e com os tratamentos básicos realizados (adequação do meio 369 bucal, terapia periodontal básica, remoção dos focos de infecção e selamento provisório das cavidades de cárie, entre outros) • Os usuários com patologias sistêmicas devem estar, preferencialmente, compensados antes de serem encaminhados para o CEO • Com a conclusão do tratamento especializado, o usuário retornará à USF de origem com a guia de contrarreferência preenchida, constando a identificação do profissional e o tratamento realizado. Uma via permanecerá no prontuário do usuário no CEO • Orientar o usuário para respeitar o horário da consulta agendada • Ocorrendo falta na Primeira Consulta (PC) no CEO, o mesmo deverá reagendar nova consulta na USF de origem • Nos casos de dúvidas, recomenda-se o contato com o profissional da especialidade para a discussão do tratamento 370 5.2 ENDODONTIA Referência Encaminhar • Dentes permanentes mono, bi ou multirradiculares Critérios de encaminhamento • Verificar o Se a coroa clínica será restaurável após tratamento endodôntico o Se há condições de receber isolamento absoluto. Caso contrário, encaminhar previamente para o serviço de Periodontia para aumento de coroa o Se o dente irá necessitar de uma prótese (orientar o usuário quanto ao seu custo, já que a mesma não será realizada pelo CEO) • Antes de encaminhar o usuário, remover toda a cárie do dente suspeito e verificar o potencial de reversão do processo patológico, realizando: o Proteção pulpar direta ou indireta o Aguardar por um período para verificar a reação pulpar, realizando testes de vitalidade o Verificar se o dente apresenta sintomas de alteração pulpar o Dentes com indicação de endodontia, fazer abertura coronária, reconstrução de paredes ausentes e curativo de demora (formocresol ou tricresol) • Estabelecer diagnóstico diferencial entre dor de origem endodôntica ou periodontal antes de encaminhá-lo ao serviço especializado • Dente com evidência clínica de abscesso com tumefação facial e/ou dor, realizar a devida intervenção e medicação anti-infecciosa com o intuito de aliviar os sintomas, antes de encaminhar ao serviço especializado 371 Não encaminhar • • Dentes com periodonto severamente comprometido com: o Grande perda de estrutura de sustentação o Alto grau de mobilidade horizontal e vertical o Envolvimento de furca Dentes com coroa destruída abaixo do nível ósseo Consideração Após a conclusão do tratamento endodôntico, o usuário retornará à USF de origem para restauração do dente e conclusão do tratamento. 372 Fluxograma 12 - Encaminhamento para Endodontia • • • • USF Diagnóstico Remoção de cárie Acesso endodôntico Curativo de demora (formocresol ou tricresol) Encaminhamento para Endodontia Endodontia • • Realiza a endodontia Encaminha o usuário para a USF de origem para a conclusão do tratamento USF • • Restauração do dente tratado Finaliza o tratamento 374 5.3 PERIODONTIA Referência Encaminhar • Dentes com bolsa periodontal > 4 mm e/ou nos casos de insucesso após raspagem subgengival • Cirurgia pré-protética: Aumento de coroa clínica para restaurações ou próteses (dentes que apresentem fraturas ou cárie subgengival e casos de prótese anterior ou posterior em que o paciente tenha condições de arcar com o custo da mesma) • Frenectomia: De freio lingual e em casos onde o freio labial é bem desenvolvido, que penetre na papila, causando diastemas. Este procedimento deverá, preferencialmente, ser realizado após a erupção dos incisivos superiores permanentes • Bridectomia: Quando sua inserção dificultar a higienização e/ou estiver causando recessão gengival • Contenção (Splintagem): Em caso de mobilidade severa dos dentes causada por doença periodontal avançada desde que haja controle adequado de biofilme dental • Cunha distal ou mesial: Nos casos de bolsas > 4 mm, onde se verifique hiperplasia gengival que impossibilite a higienização ou restauração adequada • Gengivectomia e gengivoplastia: Onde exista hiperplasia gengival, inclusive induzida por medicamento Não encaminhar • Pacientes sem tratamento básico realizado (raspagem supra e subgengival, adequação do meio, exodontias, etc.) • Pacientes sem controle efetivo do biofilme dental • Pacientes desmotivados • Pacientes com bolsas periodontais até 4mm 375 • Dentes com acentuada mobilidade (grau III)44 • Dentes com indicação de exodontia • Dentes com severa destruição coronária por cárie ou fratura, cujo paciente não possa arcar com os custos de uma prótese Considerações • Tratamento periodontal agudo deverá ser realizado na USF, como: Drenagem de abscessos, gengivite necrotizante aguda, pericoronarite, prescrição terapêutica • Orientar os pacientes a respeito dos procedimentos que serão realizados na Primeira Consulta (PC): Anamnese, mapeamento periodontal, exames radiográficos e plano de tratamento • A remoção de sutura será ser realizada no CEO para controle pós-operatório. Em situações excepcionais, como nos casos de baixa complexidade e visando-se maior conforto do paciente, será solicitada à USF a remoção de sutura • Na guia de referência, descrever o motivo de encaminhamento, o diagnóstico, especificando a região, quadrante, dente, etc. Não escrever somente: Avaliação e conduta periodontal 44 Classificação das mobilidades dentárias: Grau I – Mobilidade leve, até 1mm de deslocamento vestíbulo-lingual Grau II – Mobilidade moderada, até 2mm de deslocamento vestíbulo-lingual Grau III – Mobilidade severa, mobilidade > 2mm em todas as direções ( vestíbulo-lingual , mésio-distal e vertical) 376 Fluxograma 13 - Encaminhamento para Periodontia USF diagnostica e encaminha para Periodontia CEO Paciente atende aos critérios estabelecidos? Sim Não CEO realiza tratamento periodontal Contrarreferência para a USF que realizará a proservação Solução do problema na USF 378 5.4 PRÓTESE DENTÁRIA Referência Encaminhar • Desdentado total que atenda aos critérios o Rebordo alveolar em condições adequadas o Exodontias realizadas pelo menos 30 dias antes do encaminhamento o Ausência de hiperplasias gengivais e/ou em regiões da bochecha o Ausência de lesões ou alterações na mucosa e/ou rebordos alveolares o Pacientes com problemas de ATM, em decorrência da falta de prótese ou prótese desgastadas, com perda de dimensão vertical • Usuário com necessidade de prótese unitária para dentes anteriores (entrar em contato telefônico com o CEO para verificar a disponibilidade de vagas para este tipo de encaminhamento), após conclusão do tratamento endodôntico • Desdentado parcial que atenda aos critérios o Quando houver comprometimento estético (ausência de dentes anteriores) o Rebordo alveolar regular que possibilite o assentamento da prótese o Tratamento básico realizado (periodontal, restaurações, exodontias, etc.) e especializados, principalmente nos elementos de suporte da prótese Não encaminhar • Pacientes com síndrome motora, psiquiátrica ou nervosa severa. Após avaliação criteriosa, verificar a possibilidade de confecção e uso de prótese • Usuários com elementos dentários que possam ser tratados de forma conservadora Considerações • Retornos para ajustes ou outros motivos, deverão ser agendados diretamente no CEO • Em média, a prótese será confeccionada em 4 sessões, desde a moldagem até a entrega da mesma, exceto os ajustes posteriores 379 • Somente serão realizados consertos ou ajustes de próteses confeccionadas pelo CEO 380 Fluxograma 14 - Encaminhamento para Prótese Dentária USF encaminha de acordo com os critérios da especialidade Avaliação pelo CD da Especialidade • • • O CEO confecciona: Prótese parcial removível Prótese total Prótese unitária anterior CEO realiza ajustes A USF realiza proservação e orientação de higiene 382 5.5 CIRURGIA ODONTOLÓGICA Referência Encaminhar • Dentes retidos (inclusos ou impactados) • Dentes anquilosados • Dentes supranumerários • Hiperplasia tecidual anormal • Lesões brancas (Leucoplasia, Líquen plano, Ceratose actínea) • Lesões vermelhas (Eritroplasias) • Lesões ulceradas • Todas as lesões que persistirem mais de 2 a 3 semanas acompanhadas de endurecimento ou sangramento (para realização de biópsia) • Lesões malignas (carcinomas, tumores de glândulas salivares, sarcomas, melanomas, nevos) • Cirurgias pré-protéticas • Frenectomias labial e lingual • Cirurgia de cistos (odontogênicos ou não) • Apicetomias (com tratamento endodôntico realizado) • Fístulas Bucossinusal Não encaminhar • Exodontias simples, inclusive para finalidade protética (devem ser realizadas nas USF) • Raízes residuais • Procedimentos para atendimento em ambiente hospitalar • Usuários com patologias sistêmicas não compensadas 383 Considerações • A remoção de sutura deverá ser realizada na USF de origem, em 7 dias, exceto em casos especiais, retornar ao CEO para avaliação pelo profissional da especialidade • Nos casos de ulcerações, remover o agente causal como: Arestas de dentes, raízes residuais e próteses mal adaptadas. Reavaliar o caso antes do encaminhamento para a especialidade 384 Fluxograma 15 - Encaminhamento para Cirurgia Odontológica USF encaminha de acordo com critérios da especialidade Avaliação pelo CD da Especialidade Avaliação clínica e de imagens Biópsia Resultado do exame positivo para câncer Encaminhamento para especialista em Oncologia Procedimento de Rotina Resultado do exame negativo para câncer Retorno para USF Proservação 386 5.6 PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS Referência Encaminhar • Usuários que foram avaliados pelo CD da USF quanto à necessidade de tratamento odontológico e que não permitiram o atendimento clínico ambulatorial convencional • Pacientes que apresentam movimentos involuntários que coloquem em risco a sua integridade física • Portadores de sofrimento mental que não permitem atendimento na USF • Deficiente mental com comprometimento de fala e/ou que não responde a comandos identificados (não cooperativo) • Deficientes sensoriais e físicos, quando associados a distúrbios de comportamento • Patologias sistêmicas crônicas, endócrino/metabólicas, alterações genéticas e outras, quando associadas a distúrbio de comportamento • Deficiente neurológico “grave” (ex: Paralisia Cerebral) • Doenças degenerativas do sistema nervoso central, quando impossibilitados de atendimento na USF • Autista não colaborador • Superdotados, limítrofes e infradotados (deficiência mental), que não permitem tratamento na USF • Síndromes e deformidades crânio/faciais: Genéticos (Ex: Síndrome de Down, Displasia ectodérmica), ambientais (Ex: Infecções, idade da mãe) e multifatoriais (Ex: Deficiência mental), não colaboradores • Pessoas com distúrbios de comportamentos (Ex: Medo, ansiedade, disfunção cerebral mínima), não colaboradores • Pessoas com desvios psiquiátricos (neurose e psicoses), não colaboradores • Pessoas com deficiências sensoriais de comunicação: Comunicação oral (afasia), áudio-comunicação (deficiência auditiva) e distúrbios visuais (deficiência visual), que não permitem tratamento na USF 387 Agendamento • Contato telefônico com o CEO para efetuar o agendamento. O usuário deve retirar a guia de agendamento na USF de origem Considerações • O tratamento de manutenção poderá ser realizado: o Na USF de origem (devido à facilidade de acesso do paciente) o No CEO, quando o não houver condições de manutenção na USF • Relatar as condições sistêmicas do paciente, como uso de medicamentos, exames laboratoriais, avaliação médica, etc., na guia de referência • Encaminhar ao CEO somente os usuários que não permitiram o tratamento na USF • Usuários não colaboradores ou que apresentam comprometimento sistêmico severo, após a avaliação do profissional da USF, serão avaliados pelo profissional do CEO que indicará a necessidade de atendimento hospitalar sob sedação 388 Fluxograma 16 - Encaminhamento de Pacientes com Necessidades Especiais USF acolhe e a avalia o paciente É colaborador? Não Sim Entrar em contato com CEO para o agendamento USF Tem condições de atendimento ambulatorial? Educação em saúde Procedimento clínico Manutenção na USF Não Atendimento hospitalar Sim Atendimento ambulatorial • • Educação em saúde Procedimento clínico Manutenção no CEO 389 390 CAPÍTULO 6 PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS 392 6. PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS 6.1 PROCEDIMENTOS PREVENTIVOS Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan 6.1.1 Terapia com Flúor O flúor é comprovadamente um método seguro e eficaz na prevenção e controle de cárie dentária. Sua utilização em larga escala tem gerado benefícios a inúmeros grupos populacionais nas últimas décadas. Em Londrina, o início da fluoração das águas de abastecimento público ocorreu no ínício da década de setenta. A utilização crescente do flúor, associado às melhorias no acesso aos serviços de odontologia, ações de educação em saúde bucal, apropriação do conhecimento pela população, vem contribuindo para o declínio na prevalência de cárie dentária no município, demonstrado através dos resultados dos levantamentos epidemiológicos de cárie e de fluorose dentária realizados. O índice CPOD (número de dentes cariados, perdidos e obturados por indivíduo) aos 12 anos passou de 6,95 em 1981 para 0,97 em 2004, representando um declínio superior a 85% em 23 anos. Por outro lado, dado o contexto de múltipla exposição ao flúor, constataram-se níveis mais elevados de Fluorose Dentária, conforme verificado pelos estudos epidemiológicos conduzidos. Desta maneira, reafirma-se a importância da utilização racional do flúor a fim de que este método preventivo continue a ser empregado de forma segura e eficaz na população londrinense. 393 6.1.1.2 Mecanismo de ação Durante muitos anos prevaleceu o conceito de que o importante seria a ingestão de flúor durante a fase de desenvolvimento dentário, visando-se sua incorporação ao esmalte e obtenção de um dente mais resistente à ação dos ácidos provindos do biofilme dental. Assim, sua principal ação seria pré-eruptiva, justificando sua ingestão somente até os treze anos de idade, época em que os dentes permanentes estariam com suas coroas formadas, excetuandose os terceiros molares. Atualmente, entretanto, predomina o conceito da ação dinâmica do flúor durante os processos de desmineralização (DES) e remineralização (RE) do esmalte dentário ou de uma atuação predominantemente pós-eruptiva. De acordo com este pensamento, o flúor deve estar presente de forma contínua na saliva, com isto ofecerendo efeito tópico e terapêutico nos dentes, participando ativamente na inibição de cárie. Nos métodos sistêmicos (água fluorada ou suplementos de flúor), o reservatório de flúor é o osso renovável, o qual se mantém como manancial deste elemento para o plasma e, posteriormente, para a saliva. Nos métodos tópicos, o uso frequente dos fluoretos leva à formação de um mineral semelhante ao fluoreto de cálcio (CaF2), o qual se deposita sobre superfície dentária, funcionando como reservatório local de flúor. Nos episódios de queda do pH, em que ocorre a desmineralização, o flúor é liberado desta camada, potencializando o processo de remineralização. 6.1.1.3 Métodos de utilização 6.1.1.3.1 Flúor sistêmico • Água fluorada A fluoração da água de consumo público é um método seguro, efetivo, simples e econômico para a prevenção de cárie dentária. Reduz a prevalência da cárie em torno de 60% em média. É recomendada pela OMS e pelo MS sendo obrigatória por lei no Brasil onde houver estação de tratamento de água (Lei Federal 6.050, de 24/05/1974), pois é uma medida de Saúde Pública extremamente importante para países em desenvolvimento. 394 No Município de Londrina, a fluoração da água de abastecimento iniciou-se no ano de 1971, através Serviço Autárquico de Saneamento (SAS) para a região central da cidade. Posteriormente este serviço foi substituído pela Companhia Paranaense de Saneamento (SANEPAR) que ampliou a área de abrangência da fluoração para todas as regiões urbanas do município. Atualmente, a água oferecida na área urbana do município é proveniente das fontes do Ribeirão Cafezal, Rio Tibagi e de mais 05 poços artesianos (Vivi Xavier, Nova Esperança, Jamile Dequech, Semiramis e São Lourenço). Na maioria dos distritos rurais, a água de abastecimento não é fluorada, com exceção dos distritos de Paiquerê, Lerroville e Guaravera, onde a mesma recebe flúor. O processo de fluoração das águas é realizado nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) e também nas fontes (poços artesianos), e daí para a distribuição pela rede de água. Os limites recomendados para a concentração do íon fluoreto em Londrina são os seguintes: • Concentração mínima na água: 0,6 mg/L • Concentração média: 0,77 mg/L • Concentração máxima: 1,1 mg/L A eficácia preventiva da fluoração das águas de abastecimento público depende da continuidade da aplicação desta medida e da manutenção de níveis adequados de flúor. A empresa de saneamento faz controle operacional quando adiciona flúor às águas. Entretanto, faz-se necessário que além desse controle existam sistemas de vigilância baseados no princípio do heterocontrole. Em Londrina, o heterocontrole é realizado rotineiramente, tendo sido estabelecidos 16 pontos de coleta mensal em diferentes regiões da cidade. Os pontos de coleta foram determinados observando-se as cinco (05) regiões da zona urbana (centro, norte, sul, leste e oeste) e também a zona rural, do município. Este serviço está sob responsabilidade da Vigilância Sanitária da AMS. • Suplementos de flúor (comprimidos e gotas) De acordo com tendências atuais aplicadas à Saúde Pública, não se justifica a prescrição de medicamentos contendo flúor em gestantes por não apresentarem nenhum benefício comprovado. 395 A sua utilização pós-natal para o bebê não está indicada na região urbana de Londrina, pois a água de abastecimento público é fluorada. Em localidades sem água fluorada, seu uso também não está indicado, já que a população infantil tem acesso a dentifrícios com flúor. 6.1.1.3.1 Flúor tópico • Dentifrícios fluorados A utilização dos dentifrícios fluorados nas últimas décadas tem contribuído significativamente para redução na prevalência de cárie. Sua eficácia varia de 25 a 40% e reside no efeito de limpeza, pela escovação e efeitos mineralizantes obtidos pelo flúor. Atualmente no Brasil, 99% dos dentifrícios comercializados contêm flúor, com mais de 30 marcas comerciais disponíveis. Entretanto, 5 destas marcas representam 92% do consumo brasileiro. Diferentes formas de flúor podem ser adicionadas ao dentifrício, como o monoflúor fosfato de sódio (Na2PO3F) ou MFP, o fluoreto de sódio (NaF), o fluoreto de estanho (SnF2). A maioria dos dentifrícios brasileiros contém o MFP, compatível com o abrasivo à base de carbonato cálcio, que é de menor preço e facilmente encontrado no mercado nacional, entretanto dentifrícios contendo NaF também estão disponíveis. A concentração de flúor, na maioria, varia entre 1000 a 1500 partes por milhão (ppm), sendo encontrados também em concentrações mais baixas. A quantidade de flúor ingerido durante a escovação por crianças varia conforme a idade, representando um fator de risco para a Fluorose Dentária. O percentual médio de ingestão de dentifrício durante a escovação dentária, de acordo com a idade da criança, é: o 2 anos: 65% o 3 anos: 36% o 4 a 5 anos: 26% o 6 a 7 anos: 20% Sendo assim frisa-se a importância de supervisão da escovação pelos pais ou responsáveis até os sete anos de idade, bem como a utilização de pequenas quantidades do produto. 396 Vantagens o Sua forma de utilização leva à desorganização de biofilme (pela ação mecânica da escovação) e manutenção de flúor na saliva o Uso diário inibe desmineralização do esmalte Desvantagens o Ingestão continuda/rotineira, mesmo em pequenas quantidades, por crianças menores de 7 anos de idade, pode levar à Fluorose Dentária Indicações o Indivíduos acima de 36 meses de idade, independente do risco de cárie Frequência de utilização o Pelo menos 2 vezes ao dia Quantidade o 3 a 6 anos de idade: Equivalente a 1 grão de arroz (ou dois tufos de cerdas), com concentração 500 ppm de flúor o 6 anos de idade: Equivalente a 1 grão de ervilha ou técnica transversal, com concentração de 1000 a 1100 ppm de flúor o Adulto: Técnica transversal, com concentração de 1000 a 1500 ppm de flúor 397 • Soluções de fluoreto de sódio (NaF) Fluoreto de Sódio 0,05% Concentração de flúor o 0,05% ou 225 ppm de íon flúor Indicação o Pacientes ou indivíduos de médio ou alto risco/atividade de cárie, conforme avaliação criteriosa do profissional. Ex: Radioterapia de cabeça e pescoço, tratamento ortodôntico fixo, diminuição do fluxo salivar por medicamentos ou presença de patologia, portador HIV ou doente de AIDS, famílias com alta atividade de cárie, etc. Vantagens o Uso diário inibe desmineralização do esmalte Desvantagens o Adesão ao método o Risco de toxicidade aguda o Contraindicado para menores de 7 anos devido ao risco de ingestão Técnica de aplicação o Bochecho com 10 mL de solução por 1 minuto, uma vez ao dia, antes de dormir. A ação do flúor não é diminuída em função da presença de biofilme dental. Entretanto, como forma de se estimular o hábito, reforça-se a necessidade de escovação dentária. Não ingerir nada ou lavar a boca durante os primeiros 30 minutos. 398 Preparo da solução de fluoreto de sódio 0,05% o 1 grama de Fluoreto de Sódio (1 comprimido ou 1 sachê de 1 grama) diluído em 2 litros de água destilada ou deionizada o Tempo de validade da solução: 3 meses o A solução poderá ser preparada pela farmácia conveniada pela AMS ou pela clínica odontológica, conforme protocolo da USF em relação a produtos manipulados o A solução para uso domiciliar deverá ser dispensada na clínica odontológica ou na farmácia, conforme protocolo da USF, através de receita fornecida pelo profissional, já que este produto é um medicamento o O frasco deverá estar identificado com o nome do produto, prazo de validade, nome do paciente e com a recomendação: Não ingerir e manter longe do alcance de crianças o Os sachês ou comprimidos e as soluções devem ser armazenados em lugar seco, arejado, sem exposição ao sol e seguro, devidamente identificados, a fim de se prevenir a ingestão acidental dos mesmos Fluoreto de Sódio 0,2% Concentração de flúor o 0,2% ou 900 ppm de íon flúor Indicação o Para grupos de indivíduos que apresentem uma ou mais das seguintes condições, devese instituir o bochecho semanal Exposição à água de abastecimento sem flúor ou com teores abaixo de 0,4 ppm de flúor CPOD médio maior que 3 aos 12 anos de idade Menos de 30% dos indivíduos livres de cárie aos 12 anos de idade o Aplicação clínica em crianças de 0 a 36 meses de idade, para aumento da resistência à cárie, conforme descrito no Capítulo 3, item 3.1.5.2 o No tratamento domiciliar de sensibilidade dentinária 399 Vantagens o Inibe desmineralização do esmalte o Maior concentração de flúor na solução, permitindo o uso semanal para a prevenção de cárie o Auxilia na obliteração de canalículos dentinários expostos Desvantagens o Sua eficácia depende da continuidade do método o Necessidade de motivação dos envolvidos (equipe, usuários, demais envolvidos) o Contraindicado na forma de bochecho para menores de 7 anos de idade, devido ao risco de ingestão e intoxicação Técnica de aplicação o Bochecho semanal Bochecho com 10 mL de solução por no mínimo 1 minuto, uma vez por semana. A ação do flúor não é diminuída em função da presença de biofilme dental. Entretanto, como forma de se estimular o hábito de higiene bucal, reforça-se a importância da escovação dentária. Para se garantir a eficácia do método é preciso realizar, no mínimo, 25 aplicações por ano o Aplicação clínica em crianças de 0 a 36 meses, conforme descrito no Capítulo 3, item 3.1.5.2 o Bochecho diário para sensibilidade dentinária Bochecho com 10 mL de solução por no mínimo 1 minuto, uma vez ao dia, para dessensibilização dentinária, até a remissão dos sintomas apresentados 400 Preparo da solução de fluoreto de sódio 0,2% o 2 gramas de Fluoreto de Sódio (2 comprimidos ou 2 saches de 1 grama) diluído em 1litro de água destilada ou deionizada o Tempo de validade da solução: 3 meses o A solução poderá ser preparada pela farmácia conveniada pela AMS ou pela clínica odontológica, conforme protocolo da USF em relação a produtos manipulados o A solução para uso domiciliar deverá ser dispensada na clínica odontológica ou na farmácia, conforme protocolo da USF, através de receita fornecida pelo profissional, já que este produto é um medicamento o O frasco deverá estar identificado com o nome do produto, prazo de validade, nome do paciente e com a recomendação: Não ingerir e manter longe do alcance de crianças o Os sachês ou comprimidos e as soluções devem ser armazenados em lugar seco, arejado, sem exposição ao sol e seguro, devidamente identificados a fim de se prevenir a ingestão acidental dos mesmos Fluoreto de Sódio 0,02% Concentração de flúor o 0,02% ou 90 ppm de íon flúor Indicação o Crianças de 0 a 36 meses de idade Vantagens o Uso diário inibe desmineralização do esmalte Desvantagens o Adesão ao método pelo responsável pela criança 401 Técnica de aplicação do fluoreto de sódio 0,02% o Gotejar a solução na ponta de um cotonete até que a mesma esteja bem molhada (aproximadamente 4 gotas por arco) e esfregar a mesma em todos os dentes após a realização de limpeza/escovação (sem dentifrício fluorado), no mínimo uma vez ao dia Preparo da solução de fluoreto de sódio 0,02% o 1 grama de Fluoreto de Sódio (1 comprimido ou 1 sachê de 1 grama) diluído em 5 litros de água destilada ou deionizada o Tempo de validade da solução: 3 meses o A solução poderá ser preparada pela farmácia conveniada pela AMS ou pela clínica odontológica, conforme protocolo da USF em relação a produtos manipulados o A solução para uso domiciliar deverá ser dispensada na clínica odontológica ou na farmácia, conforme protocolo da USF, através de receita fornecida pelo profissional, já que este produto é um medicamento o O frasco deverá estar identificado com o nome do produto, prazo de validade, nome do paciente e com a recomendação: Não ingerir e manter longe do alcance de crianças o Os sachês, comprimidos e as soluções devem ser armazenados em lugar seco, arejado, sem exposição ao sol e seguro, devidamente identificados a fim de se prevenir a ingestão acidental dos mesmos • Flúor gel Gel Acidulado O gel de flúor fosfato acidulado consiste em uma mistura de fluoreto de sódio, ácido fluorídrico e ácido fosfórico, com concentração de 1, 23% de fluoreto (12300 ppm de íon flúor), 0,98% de ácido fosfórico e um pH de 3,0 a 3,5. Sua utilização clínica leva a uma redução de aproximadamente 22% no índice de cárie. Indicações o Pacientes de médio e alto risco de cárie o Também indicado nas seguintes situações: 402 Radioterapia de cabeça e pescoço Tratamento ortodôntico fixo Diminuição do fluxo salivar por medicamentos ou presença de patologia (Ex: Síndrome de Sjogren) Deficiência física ou mental com repercussão na capacidade de manutenção da saúde bucal Vantagens o Praticidade na aplicação o Pode ser aplicado por TSB ou ASB, devidamente treinados o pH ácido da solução incrementa a incorporação de flúor pelo esmalte Desvantagens o Risco de toxicidade aguda, se deglutido o Induz salivação, facilitando deglutição acidental o Pode induzir à ânsia de vômito o Pode atacar superfícies de resina ou porcelana devido pH baixo o Não recomendado para pacientes com problemas gástricos como gastrite, úlcera, etc. Técnica de aplicação o A aplicação tópica de flúor (ATF) pode ser realizada utilizando-se moldeira ou por pincelamento / embrocação Aplicação com moldeira o Limpeza com gaze, escovação ou profilaxia dentária o Paciente deve estar sentado, com cabeça ligeiramente inclinada para frente o Colocar uma quantidade de gel equivalente a uma colher de café por moldeira (2,5 mL/ moldeira) o Aspiração constante da saliva o Orientar paciente para não deglutir 403 o Após a aplicação paciente deve cuspir exaustivamente o Tempo de aplicação: 1 a 4 minutos ou conforme indicação do fabricante o Não ingerir nada ou enxaguar a boca nos primeiros 30 minutos o Esta técnica é contraindicada para crianças menores de 7 anos de idade Aplicação por embrocação ou pincelamento o Limpeza com gaze, escovação ou profilaxia dentária o Isolamento relativo com rolos de algodão ou gaze o Paciente semissentado o Aspiração constante de saliva o Orientar para não deglutir o Utilizar pequena quantidade de flúor Crianças: 3 mL ou parte mais rasa do dappen (não pode ser de vidro) para o boca toda Adultos: 5 mL ou parte mais funda do dappen (não pode ser de vidro) para a boca toda o Nas proximais, o gel deve ser aplicado com o auxílio de um fio dental o Após a aplicação, retirar excesso com gaze e solicitar ao paciente cuspir exaustivamente o Tempo de aplicação: 1 a 4 minutos ou conforme indicação do fabricante o Não ingerir ou enxaguar a boca nos primeiros 30 minutos Frequência de aplicação o Médio risco de cárie: 1 aplicação 1 a 2 vezes ao ano o Alto risco de cárie: 1 aplicação 3 a 4 vezes ao ano 404 Gel Neutro O flúor gel neutro contém fluoreto de sódio 2%, apresentando 9040 ppm de íon flúor. Indicação o Pacientes de médio e alto risco de cárie, com facetas de resina ou porcelana em dentes anteriores ou grandes restaurações anteriores de resina o Pacientes de médio e alto risco de cárie, com problemas gástricos como gastrite, úlcera, etc. Vantagens o Praticidade na aplicação o Pode ser aplicado por CD ou TSB ou ASB, devidamente treinados Desvantagens o Risco de toxicidade aguda, se deglutido o Pode induzir à ânsia de vômito o Menor deposição de fluoreto de cálcio sobre o dente comparado com o gel acidulado Técnica e frequência de aplicação o Idem flúor gel acidulado • Verniz com flúor Tem como objetivo prolongar o contato entre o esmalte dentário e os íons de flúor e, desta forma, aumentar a deposição deste elemento químico na superfície dentária. O produto contém 5% de fluoreto de sódio (equivalente a 2,26% de íon flúor ou 22600 ppm de F), em uma base de resina natural, apresentando-se como um material viscoso amarelado que após o endurecimento torna-se uma película de cor amarela-amarronzada sobre o dente. Atualmente já 405 existem no mercado produtos com tonalidades mais compatíveis com a cor do esmalte. Apresenta uma efetividade clínica na redução de cárie de aproximadamente 38%. Indicações o Prevenção/controle de cárie em pacientes de médio e alto risco o Remineralização de manchas brancas de cárie o Erosão dentária o Hipersensibilidade dentinária o Dentes posteriores em erupção Vantagens o Facilidade de aplicação o Diminuição do tempo de trabalho o Liberação de flúor por aproximadamente 12 horas (a maior liberação seria nas primeiras quatro horas) o Alta margem de segurança o Não exige elevada cooperação do paciente o Endurece em contato com água ou saliva, podendo-se utilizar isolamento relativo para proteção dos tecidos moles o Sabor aceitável Desvantagens o Necessidade de aplicação em horário distante de refeições ou utilização de alimentação pastosa nas primeiras 4 horas o Custo maior comparado com outros produtos fluorados Técnica de aplicação o Limpeza com gaze, escovação ou profilaxia dentária o Isolamento relativo o Secagem com jato de ar ou gaze 406 o Aplicação de fina camada com aplicador ou pincel descartável, cotonete ou com bolinha de algodão (neste caso, utilizar a pinça hemostática para evitar risco de deglutição da bolinha pelo paciente). A quantidade necessária para se cobrir a dentição decídua completa varia de 0,3 a 0,5 mL de verniz o O produto irá se solidificar em contato com umidade o Orientar o paciente a não escovar os dentes ou comer alimentos duros nas primeiras 4 horas OBS: Aplicar somente nas superfícies dentárias afetadas ou sob risco de cárie Frequência de aplicação • Na prevenção de cáries o Paciente de médio risco de cárie: 1 a 2 aplicações ao ano o Paciente de alto risco de cárie: 3 a 4 aplicações ao ano • Remineralização de lesões incipientes de cárie (mancha branca) o No mínimo 3 aplicações com intervalo de 1 semana Nomes comerciais mais utilizados o Duraphat® o Fluorniz® o Duraflur® o Flúor Protector® 407 • Diamino fluoreto de prata O diamino fluoreto de prata é uma solução cariostática e anticariogênica, composta de hidróxido de amônia, nitrato de prata, hidróxido de cálcio, ácido fluorídrico e solvente. No Brasil é comercializado nas concentrações de 10%, 12%, 30% e 38%. Indicações o Cárie precoce da infância, cárie de mamadeira, cárie rampante (principalmente nos primeiros anos de vida) o Na adequação do meio bucal visando interromper o processo carioso e reduzir a atividade bacteriana o Prevenção de cáries recorrentes Vantagens o Age simultaneamente na paralisação e na prevenção de cárie o Promove endurecimento da dentina cariada pela deposição de íons de prata Desvantagens o Descoloração dentária irreversível (escurecimento) pela precipitação de íons prata o Pode causar irritação pulpar o Antiestético o Sabor metálico o Pode lesar a mucosa devido ao pH básico Marcas comerciais o Cariostatic® (Inodon): 100 mg/mm3 de diamino fluoreto de prata o Bioride® (Herpe), Cariestop® (Biodinâmica): 120 mg/mm3 de diamino fluoreto de prata o Safluoride di Walter® (Polidental), Cariestop® (Biodinâmica): 300 mg/mm3 de diamino fluoreto de prata o Saforide®: 380 mg/mm3 de diamino fluoreto de prata 408 Técnica de aplicação o Limpeza dos dentes com gaze, escovação ou profilaxia o Remoção parcial da dentina amolecida (necrótica), quando necessário. Em cavidades médias e profundas, protegê-las com CTZ e CIV antes da aplicação do diamino fluoreto de prata o Isolamento relativo e secagem do campo operatório o Proteção dos tecidos moles com vaselina sólida o Aplicação com bolinha de algodão com pinça apropriada ou aplicador descartável, por 3 minutos o Lavar com água para remoção de excessos Consideração o Antes da sua aplicação, informar aos responsáveis sobre a descoloração dentária irreversível (escurecimento) na região em que o processo da cárie estiver presente. Por isso a importância da autorização por escrito (Apêndice E) do responsável principalmente quando houver indicação em dentes anteriores o Caso ocorra contato desta substância com tecido mole, por exemplo, a gengiva, formando uma área esbranquiçada, pode-se neutralizar a ação do diamino aplicando-se solução salina a 3% 409 Os quadros 65 a 68 apresentam a indicação, de forma sucinta, da utilização racional do flúor tópico em função do risco de cárie e na sensibilidade dentinária. Faixa etária Dentifrício Gel Verniz Diamino fluoreto de prata 0 a 36 meses Não Não Não Não 3a6 anos Duas vezes ao dia Não Não Não Não Não Não 7 a 19 anos No mínimo 2 vezes ao dia Não Uma aplicação nos dentes em erupção Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Adulto No mínimo 2 vezes ao dia Fluoreto de sódio 0,2% Sim 45 Fluoreto de sódio 0,02% Sim 46 Quadro 65 - Utilização do flúor tópico em indivíduos com BAIXO RISCO de cárie 45 46 Nos atendimentos clínicos Uso caseiro diário Bochecho diário NaF 0,05% Não 410 Faixa etária Dentifrício Gel Verniz Diamino fluoreto de prata Fluoreto de sódio 0,2% Bochecho diário NaF 0,05% Não Não Não Após avaliação do profissional: 1 vez ao dia Não Após avaliação do profissional: 1 vez ao dia 0 a 36 meses* • 3 a 6 anos 2 vezes ao dia Não • • 7 a 19 anos No mínimo 2 vezes ao dia 1 a 2 aplicações ao ano • Adulto No mínimo 2 vezes ao dia 1 aplicação ao ano Remineralização de manchas brancas: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias Dentes em erupção: 1 aplicação Prevenção e controle de cárie em decíduos: 3 a 4 aplicações com intervalo de 7 dias Remineralização de manchas brancas: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias Dentes em erupção: 1 aplicação Prevenção e controle de cárie em decíduos posteriores: 3 a 4 aplicações com intervalo de 7 dias Remineralização de manchas brancas: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias Não * Na faixa etária de 0 a 36 meses a classificação de médio risco não é utilizada, conforme descrito no Capítulo 3, item 3.1.4 Quadro 66 - Utilização do flúor tópico em indivíduos com MÉDIO RISCO de cárie 411 Faixa etária Dentifrício Gel Verniz Diamino fluoreto de prata • 0 a 36 meses Não Não Dentes anteriores: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias • 3a6 anos 2 vezes ao dia Não • • 7 a 19 anos No mínimo 2 vezes ao dia 3 a 4 aplicações ao ano • • Adulto No mínimo 2 vezes ao dia 1 a 2 aplicações ao ano Remineralização de manchas brancas: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias Dentes em erupção: 1 aplicação Remineralização de manchas brancas: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias Dentes em erupção: 1 aplicação Remineralização de manchas brancas: No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias • Prevenção e controle de cárie em dentes decíduos posteriores: 4 aplicações com intervalo de 7 dias Cárie de mamadeira: 4 aplicações com intervalo de 7 dias Prevenção e controle de cárie em decíduos posteriores: 3 a 4 aplicações com intervalo de 7 dias Prevenção e controle de cárie em decíduos posteriores: 3 a 4 aplicações com intervalo de 7 dias Não Quadro 67 - Utilização do flúor tópico em indivíduos com ALTO RISCO de cárie 47 48 Nos atendimentos clínicos Uso caseiro diário Fluoreto de sódio 0,2% 47 Sim Fluoreto de sódio 0,02% 48 Sim Não Não Não Não Não Não Bochecho diário NaF 0,05% Não Não Após avaliação do profissional: 1 vez ao dia Após avaliação do profissional: 1 vez ao dia 412 Dentifrício específico para sensibilidade Verniz com flúor No mínimo 2 vezes ao dia No mínimo 3 aplicações com intervalo de 7 dias Bochecho diário a 0,2% No domicílio • • Após avaliação do profissional 1 vez ao dia, enquanto persistir a sensibilidade Quadro 68 - Terapia com flúor na sensibilidade dentinária para adolescentes e adultos 6.1.1.4 Terapia com flúor na atenção coletiva Na região urbana, a realização de bochechos com flúor de forma coletiva em escolares não está indicada em função dos indicadores epidemiológicos apresentados no levantamento realizado em 2004, quando se constatou um CPOD = 0,97 e mais de 30% de livres de cárie aos 12 anos, além da presença de níveis ideais de flúor na água de abastecimento público, constatados pelo heterocontrole de flúor realizado pela Vigilância Sanitária da AMS. Na zona rural, o programa de bochecho de flúor nas escolas deverá ser realizado rotineiramente e será coordenado pela clínica odontológica da USF. Os quadros 69 e 70 apresentam a terapia com flúor na atenção coletiva em centros de educação infantil (CEI) e em escolas. Faixa etária Dentifrício fluorado Bochecho com fluoreto de sódio 0,2% 0 a 36 meses Não Não 3 a 6 anos 2 vezes ao dia Não Quadro 69 - Terapia com flúor na atenção coletiva em CEI(s) – Zonas urbana e rural 413 Bochecho com fluoreto de sódio 0,2% Faixa etária Dentifrício fluorado Zona urbana Zona rural 7 a 14 anos 1 vez ao dia Não Sim: 1 vez por semana > 14 anos 1 vez ao dia Não Sim: 1 vez por semana Quadro 70 - Terapia com flúor na atenção coletiva em escolas 6.1.1.5 Toxicidade do flúor A toxicidade do flúor é dividida em: • Aguda: Ingestão de grande quantidade de flúor de uma só vez • Crônica: Ingestão de pequenas quantidades por um longo período de tempo 6.1.1.5.1 Toxicidade aguda Poderá estar associada ao uso exagerado de flúor ou ingestão excessiva de produtos de uso profissional ou suplementos fluorados. A Dose Provavelmente Tóxica (DPT) é de aproximadamente 5 mg de flúor por quilograma de peso corporal. O Quadro 71 apresenta a DPT dos diferentes tipos de flúor tópico utilizados na prática odontológica. 414 Concentração Quantidade contendo a DPT Produto Composto (Sal) % Íon Flúor ppm Criança de 10 kg* Criança de 20 kg** NaF 0,02 90 550 mL 1100 mL NaF 0,05 230 215 mL 430 mL NaF 0,2 910 55 mL 110 mL MFP 0,76 1000 50 g 100 g MFP 1,14 1500 33 g 66 g NaF 0,22 1000 50 g 100 g Flúor gel acidulado 2,72 12300 4 mL 8 mL Verniz com flúor 5,0 22600 2,2 mL 4,4 mL 10,0 21000 2,8 mL49 5,6 mL 12,0 25000 2,25 mL 4,5 mL 30,0 64000 0,86 mL 1,72 mL 38,0 80000 0,625 mL 1,25 mL Soluções Dentifrício Diamino fluoreto de prata * Peso médio de uma criança de aproximadamente de 1 ano de idade ** Peso médio de uma criança de aproximadamente de 5 a 6 anos de idade Quadro 71 - DPT dos diferentes tipos de flúor para uso tópico na odontologia Os sintomas de intoxicação aguda dependem da dose e variam desde uma leve gastrinterite até paralisia cardiorespiratória. 49 1 mL corresponde a 20 gotas 415 Sinais e sintomas • Gastrintestinais: Náuseas, vômitos, diarreia, cólicas e dores abdominais • Neurológicos: Parestesia, tetania, depressão do SNC e coma • Cardiovascular: Pulso fraco, hipotensão, palidez, choque, irregularidade de batimentos cardíacos e posterior falha destes • Sanguíneos (bioquímica): Acidose, hipocalcemia e hipomagnesemia • Iniciam geralmente após 15 minutos da ingestão do produto Tratamento Inicial (primeiros 15 minutos) • Tentar provocar vômito imediatamente • Ingerir bastante leite • Assistência médica e hospitalar imediata 416 6.1.1.5. Toxicidade crônica: Fluorose dentária Tem-se observado um aumento do diagnóstico da fluorose dentária em locais onde as concentrações de flúor na água de abastecimento público se encontra dentro dos valores considerados ideais. As formas brandas de fluorose são comuns em locais cuja água de abastecimento público é fluorada, contribuindo para isso a ingestão de flúor através de diversas formas dos fluoretos. A prevalência de fluorose leve na população com acesso a água fluorada está entre 15 a 25%. Considera-se que acima de 0,07 mg de flúor por quilograma de peso corporal aumenta-se o risco de ocorrência de fluorose leve na população. As formas mais severas são observadas, geralmente, em locais onde o flúor está presente em altas concentrações. Nos levantamentos epidemiológicos realizados em Londrina nos anos de 1995, 1996, 2001 e 2004, verificou-se que a fluorose dentária acomete, em média, 40% das crianças de 12 anos de idade, na zona urbana. A maioria dos casos diagnosticados foi classificada como fluorose muito leve ou leve. Definição Defeito de esmalte (hipomineralização), em dentes homólogos, causados pela ingestão de flúor em excesso durante as fases secretora ou de maturação da amelogênese. Período de risco • Incisivos e primeiro molar permanentes: A faixa etária entre 0 e 3 anos de idade é considerada crítica em termos de ingestão de flúor por coincidir com a maturação do esmalte dos dentes anteriores. Em particular, o período compreendido dos 15 aos 30 meses de idade é tido como a janela de susceptibilidade para fluorose dentária • Pré-molares, segundo molares e caninos: Dos 3 aos 6 anos de idade, são os dentes com maior risco de fluorose dentária 417 Histopatologia O flúor afeta sobretudo o processo de maturação do esmalte, prejudicando a remoção de proteínas e subsequente mineralização (deposição matriz inorgânica). Histologicamente, a fluorose apresenta-se como uma hipomineralização difusa, exibindo uma porosidade mais pronunciada no terço externo do esmalte, abaixo da camada superficial mineralizada. Quanto maior a severidade da fluorose, maior o grau de porosidade da estrutura do esmalte. Características Clínicas A fluorose dentária apresenta uma gama de mudanças clínicas no esmalte cuja gravidade dependerá da duração da exposição, da dose ingerida e da susceptibilidade individual. Alterações mais frequentes • Nos casos muito leves e leves notam-se finas linhas brancas e opacas cruzando o dente em todas as partes da superfície do esmalte e “cobertura de neve” nas pontas das cúspides, bordas incisais ou cristas marginais. Pequenos desgastes da superfície do esmalte e pigmentação amarelada ou marrom podem aparecer, com o passar do tempo, pela impregnação de corantes dos alimentos • Nos casos mais severos o esmalte é extremamente poroso e opaco, altamente friável, podendo se partir (destacar) e pigmentar após a erupção do dente • O diagnóstico diferencial mais importante é com mancha branca decorrente de cárie e com outras opacidades Padrão de distribuição na dentição • É simétrica, atingindo dentes homólogos o Todas as superfícies de um dado dente são igualmente afetadas na época da erupção o Dentes que erupcionam mais cedo são menos afetados: Incisivos inferiores e 1º molares permanentes o Dentes que erupcionam mais tarde são mais afetados: Pré-molares e 2 º molares permentes 418 Consideração As características da fluorose na dentição decídua são bastante semelhantes às dos dentes permanentes, mas com menor grau de severidade. Devido às características dos dentes decíduos (mais brancos e sem o padrão incremental), as formas brandas são difíceis de diagnosticar. Fatores de risco • Água fluorada com teores de flúor acima dos considerados ideais • Uso de suplementos de flúor em locais com água de abastecimento fluorada • Ingestão de dentifrícios fluorados no período de risco • Ingestão de flúor através da dieta. Ex: Uso prolongado de fórmulas infantis • Uso abusivo de fluoreto tópico (ocorrendo ingestão dos mesmos) • Múltipla exposição ao flúor Tratamento • Fluorose muito leve: Acompanhamento clínico. Possibilidade de desaparecimento em decorrência da abrasão proporcionada pela escovação dentária • Fluorose leve a moderada (com comprometimento estético): Microabrasão • Casos severos: Confecção de facetas, coroas, etc. Prevenção • Ações de competência do gestor municipal o Realização permanente do heterocontrole dos teores de flúor nas águas de abastecimento público o Realizar vigilância sanitária dos teores de flúor de águas minerais, bebidas enlatadas, refrigerantes, sucos e chás, etc., e de produtos ou medicamentos contendo flúor disponíveis no mercado o Realização de estudos epidemiológicos rotineiros para acompanhar a tendência da prevalência e severidade do agravo, bem como a identificação dos fatores de risco e posterior controle de exposição aos mesmos 419 o Informar os profissionais de saúde (CDs, pediatras, ginecologistas, nutricionista e outros) sobre os riscos de fluorose dentária e as diretrizes atuais de utilização do flúor • Ações de competência da equipe de saúde bucal o Identificação dos casos de fluorose dentária na área de abrangência da USF o Realização de tratamento dos casos com comprometimento estético ou encaminhamento dos mesmos para serviço especializado o Planejamento de ações de educativas para a prevenção de fluorose dentária Ações educativas As ações visam conscientizar pais, responsáveis, cuidadores e educadores de crianças de 0 a 6 anos de idade. As principais recomendações estão descritas abaixo. Uso apropriado de produtos fluorados • Suplementos de flúor o Seu uso está contraindicado em Londrina, pois a água já é fluorada. Orientar sobre riscos de automedicação. Para indivíduos não expostos à água fluorada, indica-se o uso de dentifrícios com flúor • Dentifrícios fluorados o Indicação: Após os 36 meses o Concentração de flúor o Até os seis anos: 500 ppm Sete anos ou mais: 1000 a 1100 ppm Adolescentes e adultos: 1100 a 1500 ppm Frequência 3 a 6 anos: Duas vezes ao dia 7anos ou mais: No mínimo 2 vezes ao dia 420 o Quantidade utilizada em cada escovação 3 a 6 anos: • Um grão de arroz ou • Dois tufos de cerdas da escova ou • Técnica da tampa: Com a bisnaga fechada, pressionar levemente o tubo de modo a que fique retida na parte interna da tampa uma pequena quantidade de pasta. Em seguida, abre-se o tubo e pressionam-se as cerdas da escova a fim de se transferir a quantidade de pasta ali retida > 6 anos de idade: • Um grão de ervilha ou • Técnica transversal, que consiste em, com o tubo de dentifrício em posição perpendicular ao longo eixo da escova, dispensar sobre as cerdas centrais da mesma uma quantidade de pasta equivalente a, no máximo, metade da largura da cabeça da escova. Esta técnica também é recomendada para adolescentes e adultos o • Orientar quanto a Necessidade de supervisão da escovação pelos pais / responsáveis ou cuidador Evitar a ingestão ou deglutição do dentifrício pela criança Manter produto longe do alcance da criança Aleitamento materno50 o Incentivar o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade como forma de evitar o consumo de água ou outros líquidos fluorados • Soluções para bochecho o Uso diário (0,05%) ou semanal (0,2%): Somente para indivíduos maiores de 6 anos de idade, conforme indicação do profissional 6.1.2 Selantes de Fóssulas e Fissuras Superfícies com fóssulas e fissuras são particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de cárie. As superfícies oclusais, por exemplo, representam somente 12,5% 50 O aleitamento materno está contraindicado no caso de mães HIV positivo ou doente de AIDS 421 do total de superfícies da dentição permanente, sendo responsáveis por mais de 60% das cáries. A explicação para este fato está na morfologia das mesmas, que favorece o acúmulo de biofilme dental, não sendo possível sua remoção mecânica, além de não se beneficiar da proteção oferecida pelo flúor como as superfícies lisas. Os selantes, por sua vez, são efetivos na prevenção de cárie de fóssulas e fissuras. O uso dos mesmos deve se basear no risco de cárie do indivíduo e da fóssula/fissura analisada. A morfologia da fissura e a experiência passada de cárie são os principais preditores da doença cárie, devendo-se considerar também fatores como o diagnóstico clínico, o padrão de exposição ao flúor e de higiene bucal, além da experiência do profissional . O risco de cárie pode se alterar devido mudanças de hábitos, das condições físicas, da microflora do paciente, etc. Desta forma, as fissuras devem ser analisadas continuamente até a idade adulta. A seguir, o Quadro 72 apresenta as condutas para a indicação de selantes. Condição encontrada na fóssula/ fissura Ausência de cárie Cárie questionável Mancha branca (ao longo do sulco) Conduta • • • Fóssulas e fissuras profundas: Selar Fóssulas e fissuras rasas e coalescentes: Não selar51 Optar por uma das alternativas abaixo o Selar52 o Restauração Preventiva de Resina (RPR)53 Selar Optar por uma das alternativas abaixo Cárie limitada ao esmalte o Selar o RPR • Optar por uma das alternativas abaixo Cárie em dentina o RPR o Restauração classe I convencional Quadro 72 - Indicação de selantes segundo condição da fóssula /fissura 51 • • No caso de diagnóstico duvidoso quanto à profundidade do sulco, indica-se selar A integridade marginal do selante é fundamental para a não evolução de cárie. Por isso, o controle do selante deverá ser periódico. 53 Restauração preventiva de resina (RPR) segundo classificação de Simonsen (1977): • Tipo A – Broca esférica (alta rotação) ¼ ou ½ - esmalte – selante • Tipo B – Broca esférica (alta rotação) 1 ou 2 – esmalte – resina ou CIV + selante • Tipo C – Broca esférica (alta rotação) ≥ 2 – dentina – resina ou CIV + selante 52 422 Considerações • A idade pós-eruptiva do dente não é o principal critério na seleção de um dente para selamento • Apesar da maioria dos selantes serem indicados para crianças, estudos sugerem que o risco de cárie de fissura pode se estender até a adolescência e a idade adulta • Pacientes adultos que por algum motivo apresentem-se com alto risco de cárie (Ex: Hipossalivação, uso de aparelho ortodôntico, presença de cáries oclusais nos demais dentes, etc.) podem receber selantes preventivos nas fóssulas e fissuras livres de cárie • Os molares permanentes (1º e 2º) são os dentes sob maior risco de cárie oclusal e constituem os principais candidatos para receberem selantes • Pré – molares, incisivos superiores permanentes poderão ser preventivamente selados quando estiverem sob risco de cárie • Dentes decíduos poderão ser selados preventivamente se as fóssulas e fissuras estiverem sob risco e apresentarem tempo prolongado para esfoliação • Dentes com fóssulas e fissuras coalescentes, rasas e facilmente higienizáveis são menos susceptíveis à cárie e pouco prováveis para receberem selantes • Na presença de lesão de cárie proximal, com integridade oclusal, o uso de selante está indicado nessa superfície • Procedimentos conservadores como a remineralização ou a realização de restaurações proximais conservadoras (slot ou gaveta, etc.) permitem o tratamento de cáries proximais posteriores, sem o sacrifício da oclusal • Avaliar os selantes periodicamente quanto à integridade, retenção e progressão de cárie • Sempre realizar ajuste oclusal após a aplicação do selante • No caso de perda parcial do selante e ausência de cárie na fissura, não há necessidade de remover o selante remanescente para reaplicar o mesmo • Dentes parcialmente erupcionados: Optar pela aplicação de verniz fluorado ou selamento provisório com CIV, quando houver dificuldade de controle da umidade Técnica de aplicação • Profilaxia com escova de Robinson e água oxigenada 3% • Lavagem e secagem dos dentes 423 • Isolamento com rolos de algodão e controle de saliva • Condicionamento com ácido fosfórico 37%, no mínimo 20 segundos. Em dente decíduo, 60 segundos • Lavagem por 15 a 20 segundos, removendo todo remanescente de ácido da superfície • Secagem com jato de ar até que o dente tenha aspecto opaco • Aplicação do selante • Polimerização • Avaliação com sonda exploradora • Teste de oclusão e, se necessário, ajuste oclusal • Controle do paciente 424 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 17). CLARK. D. C. Appropriate uses of fluorides for children: guidelines from the Canadian Workshop on the Evaluation of Current Recommendations Concerning Fluorides. CMAJ, v. 149, n. 12, p. 1787–1793, 1993. CONDE, N. C.O; REBELO, M. A. B.; CURY, J. A. Evaluation of the fluoride stability of dentifrices sold in Manaus, AM, Brazil. Pesquisa Odontológica Brasileira, v. 17, n. 3, ISSN 15177491, 2003. DITTERICH, R.G. et al. Diamino fluoreto de prata: uma revisão de literatura. Publ. UEPG Ci. Biol. 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The Jounal of Practical Hygiene. p. 516, JanuaryFebruary, 1999. Disponível em: <http://www.colgateprofesional.com.gt/ColgateProfessional/Home/GT/Products/ProductItems/Co lgateDuraphatBarnizFluoruroSodio5/ClinicalStudies/pdf/the_use_of_fluoride_varnish.pdf> Acesso em: 24 outubro 2008. WHITFORD, G. M. Acute and Chronic Fluoride Toxicity. J Dent Res, v. 71, n. 5, p. 1249, 1992. Disponível em: <http://jdr.iadrjournals.org/cgi/reprint/71/5/1249>. Acesso em: 23 outubro 2008. 426 6.2 PROCEDIMENTOS CURATIVOS BÁSICOS Têm como objetivo orientar os profissionais da USF sobre normas e procedimentos básicos adotados nas diversas especialidades. A padronização dos procedimentos em todas as clínicas odontológicas é necessária em virtude do grande número de profissionais e pela diversidade de técnicas nos procedimentos odontológicos. • • Dentística o Proteção pulpar indireta o Proteção pulpar direta o Tratamento expectante o Restauração provisória (curativo) o Tratamento Restaurador Atraumático (TRA) o Restauração em amálgama o Restauração em resina fotopolimerizável o Restauração em cimento de ionômero de vidro (CIV) o Fraturas de coroa Periodontia o Tratamento periodontal básico: Raspagem, curetagem e polimento supra e subgengival, remoção ou tratamento de fatores retentivos de biofilme dental, exodontias, dentística, etc. • o Diagnóstico periodontal o Urgência periodontal Cirurgia o Exodontia o Hemorragia e hemostasia o Alveolite o Acidentes e complicações cirúrgicas 427 • Endodontia o Em dente decíduo o Em dente permanente o Urgência endodôntica em dente permanente 428 6.2.1 Dentística Wagner José Silva Ursi Márcio Grama Hoeppner Rodrigo Borges Fonseca Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini 6.2.1.2 Proteção pulpar indireta Consiste na aplicação de materiais odontológicos protetores no interior da cavidade para manutenção da vitalidade do complexo dentina/polpa frente aos fatores irritantes pré, trans e pós-operatórios, além de estimular a formação de dentina esclerosada, reacional e/ou reparadora. Indicação • Em preparos cavitários de profundidade rasa, média ou profunda, sem exposição do tecido pulpar • No tratamento expectante, em que há o risco de exposição do tecido pulpar durante a remoção da mesma, com objetivo de estimular a remineralização dentinária Para amálgama • Cavidade rasa o Lavar com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina 2%54, por 30 segundos o 54 Aplicar 2 camadas de verniz cavitário, flúor ou sistema adesivo Assepsia com gluconato de clorexidina a 2% (gel ou solução) antes dos procedimentos restauradores não interfere na adesão e ajuda na prevenção da entrada de bactérias gram negativas e positivas nos túbulos dentinários, podendo minimizar a sensibilidade pós-operatória. Essa assepsia deverá ser realizada por 30 segundos, em seguida lavar e secar. 429 • Cavidade média o Lavar com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos o Inserir cimento de ionômero de vidro ou cimento de óxido de zinco modificado na parede de fundo (pulpar e/ou axial) o • Aplicar 2 camadas de verniz cavitário, flúor ou sistema adesivo Cavidade profunda55 o Lavar com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos o Aplicar cimento de hidróxido de cálcio na parede de fundo (axial e/ou pulpar) o Inserir cimento de ionômero de vidro ou cimento de óxido de zinco modificado o Aplicar 2 camadas de verniz cavitário, flúor ou sistema adesivo Para resina composta • Cavidade rasa o Lavar com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos o • Aplicar sistema adesivo Cavidade média o Lavar com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos o Inserir cimento de hidróxido de cálcio ou cimento de ionômero de vidro nas paredes de fundo (axial e/ou pulpar) o 55 Aplicar sistema adesivo Sugere-se, em cavidades profundas, com possibilidade de sensibilidade pós-operatória, aplicar ® curativo à base de corticosteroide (Otosporin - sulfato de polimixina B, sulfato de neomicina e hidrocortisona), durante 5 minutos, antes do forramento. Atua na redução/controle da pressão interna da polpa dental após a realização do preparo cavitário reduzindo, assim, a sensibilidade. 430 • Cavidade profunda56 o Lavar com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos o Inserir cimento de hidróxido de cálcio ou cimento de ionômero de vidro nas paredes de fundo (axial e/ou pulpar) o Aplicar sistema adesivo Para cimento de ionômero de vidro • Cavidade rasa e média o Lavar a cavidade com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina a 2%, por 30 segundos o Tratamento dentinário com ácido poliacrílico (10 a 20%), por 15 segundos, de forma ativa (esfregar), lavar e secar (sem ressecar a dentina) o Inserir o cimento de ionômero de vidro na cavidade o Cobrir com matriz de poliéster sob pressão durante a presa inicial (aproximadamente 5 minutos, a partir da manipulação), manobra essa que contribui na sua proteção superficial e reduz a necessidade do acabamento imediato o Proteger superficialmente com verniz cavitário, sistema adesivo ou esmalte de unha incolor o Realizar o acabamento para remoção dos excessos com instrumento cortante manual (lamina de bisturi) e reaplicar a proteção superficial o • Polimento deve ser realizado em outra sessão Cavidade profunda57 o Lavar a cavidade com água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) ou solução/gel de gluconato de clorexidina a 2%, por 30 segundos o Aplicar nas paredes de fundo (axial e/ou pulpar) cimento de hidróxido de cálcio o Tratamento dentinário com ácido poliacrílico (10 a 20%), por 15 segundos, de forma ativa (esfregar), lavar e secar (sem ressecar a dentina) o 56 Inserir o cimento de ionômero de vidro na cavidade Idem nota 53. Sugere-se, em cavidades profundas, com possibilidade de sensibilidade pós-operatória, aplicar ® curativo à base de corticosteroide (Otosporin ), durante 5 minutos, antes do forramento 57 431 o Cobrir com matriz de poliéster sob pressão durante a presa inicial, por aproximadamente 5 minutos, a partir da manipulação o Proteger superficialmente com verniz cavitário, sistema adesivo ou esmalte de unha incolor o Realizar o acabamento para remoção dos excessos com instrumento cortante manual (lamina de bisturi) e reaplicar a proteção superficial o Polimento deve ser realizado em outra sessão O Quadro 73 apresenta a síntese dos materiais de proteção do complexo dentina/polpa de acordo com a profundidade da cavidade e o material restaurador utilizado 432 Profundidade da cavidade Material restaurador Amálgama de prata Rasa • • Água de cal ou clorexidina 2% Verniz cavitário, flúor ou sistema adesivo Média • • • Resina composta • • Água de cal ou clorexidina 2% Sistema adesivo • • • Profunda Água de cal ou clorexidina 2% CIV ou cimento de óxido de zinco modificado Verniz cavitário, flúor ou sistema adesivo • Água de cal ou clorexidina 2% Cimento de hidróxido de cálcio ou CIV Sistema adesivo • • • • • • • • CIV • Água de cal ou clorexidina 2% Ácido poliacrílico • • Água de cal ou clorexidina 2% Ácido poliacrílico • • • • Água de cal ou clorexidina 2% Aplicação de Otosporin® CIV ou cimento de óxido de zinco modificado Verniz cavitário, flúor ou sistema adesivo Água de cal ou clorexidina 2% ® Aplicação de Otosporin Cimento de hidróxido de cálcio ou CIV Sistema adesivo Água de cal ou clorexidina 2% ® Aplicação de Otosporin Cimento de hidróxido de cálcio Ácido poliacrílico Quadro 73 – Materiais para proteção indireta do complexo dentina/polpa 6.2.1.3 Proteção pulpar direta Procedimento executado quando há exposição do tecido pulpar clinicamente comprovada ou suspeita de exposição, com o propósito de estimular a formação de barreira dentinária e manter a vitalidade do complexo dentina/polpa. Dependendo do caso, após a realização da proteção direta, pode-se restaurar com material provisório ou definitivo. 433 Técnica58 • Lavar a cavidade com soro fisiológico ou água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) • Secar a cavidade com bolinhas de algodão estéreis • Aplicar curativo à base de corticosteroide (Otosporin®), durante 5 minutos. Lavar com soro fisiológico ou água de cal • Colocar hidróxido de cálcio p.a. (puro ou em pasta) em contato com o tecido pulpar exposto • Forrar as paredes de fundo (axial e/ou pulpar) com cimento de hidróxido de cálcio • Inserir cimento de ionômero de vidro como base cavitária • Restaurar o dente com amálgama de prata, resina composta e/ou cimento de ionômero de vidro, de acordo o descrito no protocolo 6.2.1.3 Tratamento expectante Consiste na remoção do tecido cariado mais desorganizado em uma cavidade onde a remoção total deste invariavelmente levaria à exposição pulpar, com posterior selamento hermético da cavidade por um período de quatro a seis semanas, dando condições ao tecido pulpar de reorganizar e remineralizar a dentina subjacente. Técnica • Estabelecer a forma de acesso ao tecido cariado através de broca esférica grande em baixa rotação • Remover todo tecido cariado nas paredes circundantes e, em especial, próximo ao ângulo cavo-superficial para permitir adequado selamento da cavidade • Remover a camada mais superficial do tecido cariado com colher de dentina afiada de tamanho compatível com a lesão, deixando-se remanescente de tecido cariado no assoalho da cavidade • Lavar a cavidade com solução de hidróxido de cálcio, secando-a em seguida com bolinhas de algodão estéreis 58 Diante da polpa exposta, quer seja após remoção total do tecido cariado ou frente a um dente com fratura. 434 • Sobre a parede de fundo, aplicar uma fina camada de pasta de hidróxido de cálcio, obtida a partir da associação do hidróxido de cálcio p.a. e um veículo aquoso ou oleoso inerte (propilenoglicol) • Restaurar provisoriamente a cavidade com cimento de ionômero de vidro ou cimento de óxido de zinco modificado por um período de aproximadamente 45 dias, quando o material restaurador provisório deverá ser removido para reavaliação das condições do tecido dentinário (consistência e coloração) 6.2.1.4 Restauração provisória (curativo) A restauração provisória está indicada nos casos de tratamento expectante, impossibilidade de restauração definitiva por força maior (Ex: Queda de energia, falta de material, quebra de equipamento, criança que não permitiu terminar o tratamento, etc.), dentes decíduos próximos à esfoliação e dentes com encaminhamento para endodontia, podendo-se utilizar cimento de óxido de zinco modificado ou CIV restaurador. 6.2.1.5 Técnica restauradora atraumática - TRA Consiste na escavação em massa de tecido cariado de dentes decíduos ou permanentes e o preenchimento das cavidades com cimento de ionômero de vidro, com o objetivo de adequar o ambiente bucal de pacientes com alto índice de cárie, principalmente em locais onde não se pode contar com equipamentos convencionais para o preparo cavitário. 6.2.1.6 Restaurações em amálgama Indicações • Restaurações classe I em dentes decíduos e permanentes • Restaurações classe II em dentes decíduos e em pré-molares e molares permanentes, desde que não comprometa a estética • Restaurações classe V comprometimento estético em dentes decíduos e permanentes posteriores, sem 435 6.2.1.7 Restaurações em resina composta Este material restaurador é indicado para a substituição de tecido dental perdido por cárie, trauma (fratura) e/ou desgaste, principalmente em regiões onde existe comprometimento estético. O dente deve ser adequadamente isolado para evitar a contaminação com umidade ou saliva. Indicações • Restaurações preventivas de resina (RPR) em dentes permanentes e decíduos • Classe I59, II, III, IV e V em dentes permanentes e decíduos • Lesões cervicais cariosas e não cariosas • Facetas em dentes com alteração cromática e/ou malformação do esmalte • Preenchimento de esmalte socavado em resturações de amálgama ou resina 6.2.1.8 Restaurações com cimento de ionômero de vidro (CIV) Este material restaurador, quando bem indicado, se mostra bastante efetivo na adequação do meio bucal do paciente com alto risco à cárie. Entretanto, é bastante sensível à técnica, devendo-se respeitar suas limitações e principalmente seguir fielmente às instruções do fabricante. Suas indicações são múltiplas, indo desde a restauração provisória de dentes decíduos e permanentes até a restauração definitiva de cavidades proximais conservativas. Para amenizar a perda ou absorção de água, o material restaurador deve sempre ser protegido com uma matriz de poliéster até sua geleificação e, em seguida, proteger com verniz cavitário, sistema adesivo ou esmalte de unha incolor. Indicações • Restaurações provisórias em dentes decíduos e permanentes • Restaurações conservativas oclusal e/ou proximal em dentes decíduos e permanentes posteriores 59 Este material não está indicado para pacientes vulneráveis à carie dentária e em condições nas quais o controle da contaminação por saliva seja deficiente. 436 • Restaurações de Classe III e V em dentes decíduos e permanentes • Base cavitária em restaurações de amálgama de prata e/ou resina composta • Selamento cavitário em dentes tratados endodonticamente ou com tratamento expectante • Adequação do meio bucal em paciente com alto risco à doença cárie • Tratamento Restaurador Atraumático (TRA) • Reparo de restaurações • Selamento de cicatrículas e fissuras, principalmente em dentes parcialmente erupcionados 6.2.1.9 Fratura da coroa dental Colagem de fragmento dental sem exposição do tecido pulpar Técnica • Anestesia, se necessária • Prova do fragmento em posição no remanescente dental para checar a adaptação • Isolamento absoluto ou relativo do campo operatório, conforme a possibilidade • Profilaxia do remanescente dental e limpeza do fragmento • Preparo do remanescente dental • o Condicionamento ácido da dentina e do esmalte dental60 o Lavagem e secagem o Aplicação do sistema adesivo, sem fotopolimerização Preparo do fragmento dental o Alívio interno do tecido dentinário, sem tocar na margem em esmalte, para compensar a espessura do material de proteção do complexo dentina/polpa, caso esse seja inserido sobre a dentina no remanescente dental • 60 o Lavagem e secagem o Condicionamento ácido da dentina e do esmalte dental o Lavagem e secagem o Aplicação do sistema adesivo, sem fotopolimerização Aplicação da resina no fragmento61 Se necessário, dependendo do grau de comprometimento do tecido dentinário, idade do paciente e volume pulpar, antes do condicionamento ácido, pode-se utilizar cimento de hidróxido de cálcio e/ou CIV para proteção do complexo dentina/polpa, antes da realização do condicionamento ácido. 437 • Adaptação do fragmento ao remanescente dental • Remoção dos excessos de resina (se necessário) • Fotopolimerização por 40 segundos, por face (vestibular e lingual) • Acabamento • Avaliação da oclusão • Polimento Colagem de fragmento dental com exposição pulpar Técnica • Anestesia • Isolamento absoluto ou relativo do campo operatório, conforme a possibilidade • Lavar a área de exposição do tecido pulpar com soro fisiológico ou água de cal (hidróxido de cálcio p.a. + água destilada) • Secar o local com bolinhas de algodão estéreis • Aplicar curativo à base de corticosteroide (Otosporin®), durante 5 minutos. Lavar com soro fisiológico ou água de cal • Colocar hidróxido de cálcio p.a. em contato com o tecido pulpar exposto • Inserir nas paredes de fundo (axial e/ou pulpar) cimento de hidróxido de cálcio e, se necessário e tiver espaço suficiente, cimento de ionômero de vidro • Prova do fragmento em posição no remanescente dental para checar a adaptação • Profilaxia do remanescente dental e limpeza do fragmento • Preparo do remanescente dental o Condicionamento ácido da dentina e do esmalte dental62 o Lavagem e secagem o Aplicação do sistema adesivo, sem fotopolimerização 61 Por necessidade estética, quando não há uma boa adaptação do fragmento ao remanescente dental ou para aumentar a resistência na linha de colagem entre fragmento e remanescente, pode-se confeccionar canaleta na linha de união fragmento/remanescente vestibular, com ponta diamantada esférica, em alta rotação. Recondicionamento ácido, aplicação de sistema adesivo, inserção da resina composta e fotopolimerização. 62 Se necessário, dependendo do grau de comprometimento do tecido dentinário, idade do paciente e volume pulpar antes do condicionamento ácido, pode-se utilizar cimento de hidróxido de cálcio e/ou CIV para proteção do complexo dentina/polpa, antes da realização do condicionamento ácido. 438 Preparo do fragmento dental • o Alívio interno do tecido dentinário, sem tocar na margem em esmalte, para compensar a espessura do material de proteção do complexo dentina/polpa, caso esse seja inserido sobre a dentina no remanescente dental o Lavagem e secagem o Condicionamento ácido da dentina e do esmalte dental o Lavagem e secagem o Aplicação do sistema adesivo, sem fotopolimerização • Aplicação da resina no fragmento63 • Adaptação do fragmento ao remanescente dental • Remoção dos excessos de resina (se necessário) • Fotopolimerização por 40 segundos, por face (vestibular e lingual) • Acabamento • Avaliação da oclusão • Polimento Restauração direta com resina composta de dentes anteriores fraturados Técnica • Anestesia • Profilaxia dos dentes anteriores • Seleção da resina composta: Tipo(s) e cor(es) • Isolamento absoluto ou relativo do campo operatório, conforme a possibilidade • Profilaxia do remanescente dental • Limpeza do fragmento dental • Bisel do ângulo cavo-superficial • Forramento do complexo dentina/polpa • Condicionamento ácido do esmalte e/ou dentina • Lavagem e secagem • Aplicação do sistema adesivo e fotopolimerização • Colocação da matriz de poliéster e cunha de madeira 63 Idem nota 59. 439 • Inserção da resina composta em incrementos • Fotopolimerização de cada incremento por 40 segundos • Acabamento • Avaliação da oclusão • Polimento 440 6.2.2 Periodontia Domingos Alvanhan Wagner José Silva Ursi Cristiane de Andrade Janene Gonini 6.2.2.1 Tratamento das urgências periodontais 6.2.2.1.1 Abscesso gengival agudo • Descrição o Lesão localizada, dolorosa, de rápida expansão e geralmente de início súbito o Edema avermelhado com superfície lisa e brilhante o Causada pela penetração de substância estranha no tecido como cerda de escova, casca de pipoca, casca de crustáceos, espinha de peixe, pedaço de palito, banda ortodôntica introduzida de forma vigorosa na gengiva, restauração com excesso, etc. • Tratamento o Drenagem do abscesso e remoção do agente agressor 6.2.2.1.2 Abscesso periodontal agudo • Descrição o Inflamação purulenta nos tecidos periodontais, também conhecido como abscesso lateral ou parietal o Elevação ovoide da gengiva ao longo da face lateral da raiz o Gengiva edematosa, avermelhada, lisa e brilhante o Forma de cúpula, relativamente firme ou pontiaguda e amolecida 441 o Presença de pus na margem gengival mediante pressão digital suave o Ocasionalmente, o paciente pode apresentar sintomas de um abscesso periodontal agudo sem nenhuma lesão clínica notável ou manifestações radiográficas • Tratamento 1ª Sessão o Drenagem do abscesso (se possível via sulco gengival) o Antibioticoterapia recomendada quando o paciente apresentar temperatura elevada e/ou linfoadenopatia Amoxacilina 500mg de 8 em 8 horas por 7 a 10 dias. Nos casos mais severos, Amoxacilina com ácido clavulânico 500 mg de 8 em 8 horas, por 7 a 10 dias. Alérgicos à penicilina: Indicar eritromicina 500 mg ou clindamicina 500 mg, de 8 em 8 horas, por 7 a 10 dias o Na presença de dor poderá ser prescrito analgésico OBS: No caso de risco de EI, realizar também a profilaxia antibiótica conforme descrito no Capítulo 4, item 4.6 2ª Sessão o O edema em geral está pronunciadamente reduzido ou ausente, e os sintomas estão abrandados o Os sintomas desaparecem invariavelmente e então a lesão está preparada para o tratamento normal do abscesso periodontal crônico 6.2.2.1.3 Pericoronarite • Descrição o Processo inflamatório dos tecidos gengivais que recobrem as coroas dos dentes em erupção ou parcialmente erupcionados através de bactérias ali colonizadas 442 • Tratamento 1ª Sessão o Limpeza suave com bola de algodão embebida em água oxigenada 3% diluída na proporção 1:1, para eliminar resíduos e exsudato superficiais o Nesta primeira visita são contraindicados a curetagem profunda ou procedimentos cirúrgicos o Instruções ao paciente Bochechos 02 vezes ao dia com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto ou Bochechos 04 vezes ao dia com solução de água morna mais água oxigenada 3% na proporção 1:1 o O uso de antibiótico será necessário quando o paciente apresentar trismo, febre, taquicardia, infartamento ganglionar, falta de apetite, mal estar geral etc. ou for imunodeprimido, conforme esquemas descritos no item 6.2.2.1.2 deste Capítulo o Em casos de trismo indicam-se compressas quentes na região e o uso de relaxante muscular 2ª Sessão o Repetem-se os procedimentos de limpeza do local como na sessão anterior 3ª Sessão o Neste momento, decide-se pela conservação ou remoção do elemento dental. Na possibilidade de conservar o dente, os procedimentos cirúrgicos necessários devem ser realizados para remoção do capuz (cunha distal) 443 6.2.2.1.4 Gengivo estomatite herpética aguda • Descrição o Primeira infecção herpética (herpes vírus tipo I) o A maioria dos casos ocorre até 5 anos de idade, com pico de incidência entre 2 e 3 anos o Raramente ocorre antes dos 6 meses de vida devido a anticorpos circulantes da mãe, quando a criança encontra-se em aleitamento materno o Primeiras 24 horas: Mal estar geral, febre alta (> 38,5 C), cefaleia, irritabilidade, perda de apetite, linfadenopatia cervical anterior o Após 24 a 36 horas: Gengiva edemaciada, salivação intensa, dor, formação de múltiplas vesículas na gengiva, palato, lábios, língua. Em poucas horas, vesículas se rompem e formam úlceras dolorosas, cobertas por pseudomembrana e com margem eritematosa o Pode haver envolvimento herpético dos lábios ou face (herpes labial) com vesículas e formação de crostas superficiais • o Não deixa cicatrizes após a cura o Duração de 6 a 16 dias, com desconforto maior entre terceiro e sétimo dias o Pode aparecer também em adolescentes e adultos, sendo, entretanto, mais raro Tratamento o Limpeza da boca com água oxigenada 3% diluída na proporção 1:4 ou com água boricada três a quatro vezes ao dia o Aplicação tópica de VASA 2% antes das refeições e após a limpeza o Prescrição de Vitamina B (10 a 20 gotas ao dia até o término do frasco) Vitamina C (Ex: CETIVA AE®) uma gota por Kg peso corporal, duas vezes ao dia, até término do frasco, para aumentar a resistência do organismo. o Analgésicos: Paracetamol ou Dipirona A higiene bucal diária, feita em casa, é de extrema importância para o controle de infecção secundária por bactérias ou fungos 444 o No caso de infecção secundária pode-se dissolver uma cápsula de Tetraciclina 500 mg na solução de VASA 2% e aplicar no local antes das refeições e após a limpeza o Recomendar dieta pastosa ou líquida e fria (chá, leite, sucos, gelatina, iogurte, sorvete, mingau, etc.) o Hidratação adequada 6.2.2.1.5 Gengivite ulcerativa necrosante aguda • Descrição Doença destrutiva infecciosa e inflamatória. Conhecida como infecção de Vincent, boca de trincheira, gengivite ulcerosa aguda, etc. • Sinais bucais o Depressões crateriformes perfurantes na crista da gengiva o Envolve a papila interdental, gengiva marginal ou ambas o Sensível ao tato o Dor constante e irradiada, intensificada pelo contato de comidas quentes e mastigação • o Gosto metálico o Saliva pastosa Sinais e sintomas sistêmicos e extrabucais o Forma leve a moderada: Linfoadenopatia local e aumento leve de temperatura o Casos graves: Febre alta, pulso acelerado, falta de apetite e debilidade geral o Reações sistêmicas mais graves em crianças o Insônia, constipação, distúrbios gastrintestinais, dor de cabeça e depressão, algumas vezes, acompanham a doença 445 • Tratamento inicial o Anestésico tópico por três minutos o Limpeza com bolas de algodão embebidas em com solução de água morna e água oxigenada 3% na proporção 1:1 o Recomendações ao paciente Repousar Evitar o cigarro, álcool e condimentos Enxaguar a boca a cada duas horas com solução de água morna e água oxigenada 3% na proporção 1:1 • Antibioticoterapia: Metronidazol 400 mg de 8 em 8 horas por 7 a 10 dias Tratamento de rotina – após 24 a 48 horas 1ª Sessão o Anestésico tópico por três minutos o Limpeza com bolas de algodão embebidas em com solução de água morna e água oxigenada 3% na proporção 1:1 o Remoção de cálculos superficiais o Raspagem e curetagem profunda está contraindicada o Instruções para o paciente Evitar o cigarro, álcool e condimentos Bochechar solução de água oxigenada 3% e água morna na proporção 1:1, a cada duas horas Limitar a escovação dentária à remoção dos resíduos superficiais com um dentifrício, uso de fio dental 2ª Sessão o Repetir procedimentos da primeira sessão o Raspagem subgengival o Prescrever bochecho com a solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto, duas vezes ao dia 446 3ª Sessão o Repetir raspagem e curetagem o O paciente é instruído sobre os procedimentos de controle de biofilme 4ª Sessão o Reavaliar a continuidade ou não do bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto. Havendo presença de sequelas da enfermidade, o paciente deve ser encaminhado ao tratamento especializado 448 6.2.3 Cirurgia Domingos Alvanhan José Roberto Pinto Wagner José Silva Ursi Cristiane de Andrade Janene Gonini 6.2.3.1 Exodontias Sempre que se procederem exodontias de dentes permanentes em menores de 18 anos, as mesmas deverão ser comunicadas aos pais ou responsáveis, esclarecendo-se aos mesmos as implicações da perda dental e solicitando-se consentimento por escrito do procedimento a ser realizado e assinatura da ficha clínica. Este procedimento deve sempre ser realizado em pacientes menores acompanhados dos pais ou de um responsável. Os pacientes ou seus pais/responsáveis deverão ser orientados sobre as condutas pós-operatórias. Na exodontia de dente decíduo recomenda-se também a autorização. A exodontia por indicação ortodôntica será realizada somente com a carta de encaminhamento, a qual deverá ser anexada ao prontuário. • Indicação o Decíduos Cárie extensa onde não é possível a colocação de curativo ou restauração Dentes com perfuração de assoalho da câmara pulpar Presença de pólipo pulpar Presença de fístula perto da margem gengival, indicando possível comunicação endondôntica e periodontal o Indicação ortodôntica Permanentes 449 Impossibilidade de preservação do elemento dentário Dente unitário com indicação de prótese total Raiz residual Indicação ortodôntica Pré-tratamento médico (Ex: radioterapia de cabeça e/ou pescoço), podendo ser conservadora ou radical • Cuidados operatórios o Sindesmotomia adequada para a adaptação correta do fórceps ou extrator e visualização do dente o Cuidados com os tecidos moles, dentes vizinhos, germe do dente permanente e ATM o Curetagem do alvéolo e da fístula, se necessário. Dentes com indicação ortodôntica e sem lesão ou utilização de osteotomia, não se faz necessária a curetagem o Osteotomia e osteoplastia, se necessário o Inspeção do alvéolo e do dente removido o Cuidados para não deixar corpos estranhos na área cirúrgica o Cuidados para evitar a deglutição acidental o Prevenção e controle de hemorragia no trans e pós-operatório o Profilaxia antibiótica quando necessário (prevenção de infecção) o Os instrumentais cirúrgicos e as gazes com sangue deverão permanecer fora do alcance da visão do paciente • • Condutas do ASB o Facilitar o campo de visualização do CD o Manter o campo cirúrgico livre de saliva e sangue o Estar atento às deglutições acidentais o Manter a mesa organizada e servida de material Acidentes profissionais mais frequentes 450 o Perfuração do dedo com alavanca ou com agulha de sutura o Laceração da mão ou dedo com a dobradiça do fórceps 6.2.3.2 Acidentes e complicações cirúrgicas 6.2.3.2.1 Acidentes mais comuns no trans-operatório • • Principais causas o Exames radiográficos insuficientes ou com distorções o Técnica cirúrgica não compatível com o procedimento o Planejamento inadequado o Desconhecimento anatômico da área a ser operada o Preparo insuficiente em relação à técnica cirúrgica o Uso de instrumentais inadequados e insuficientes Acidentes mais comuns o Luxação de dentes vizinhos o Luxação da ATM o Lesões de tecido mole o Comunicação bucosinusal o Fratura da mandíbula o Lesão dos nervos mardibular, mentoniano e lingual o Fratura da tábua óssea o Fratura de raiz o Extração equivocada do elemento dentário o Deslocamento do dente para regiões circunvizinhas o Hemorragia Luxação da ATM A intervenção em dentes inferiores com uma força excessiva durante os movimentos e a falta de apoio mandibular podem levar a uma luxação da ATM uni ou bilateral, podendo ocorrer também por abertura exagerada da boca durante o ato cirúrgico ou tempo de abertura 451 prolongado. Nesse caso, o paciente não consegue fechar a boca, criando uma situação alarmante e desconfortável. Conduta • Manobras para a redução da ATM o Proteger os dedos com gaze ou com tecido, devido ao impacto no retorno à posição de oclusão o Prender fortemente a mandíbula com os polegares introduzidos na boca, sobre os dentes inferiores, e os demais dedos por baixo da mandíbula, empurrando-a para baixo, para trás e para cima o Receitar analgésico e relaxante muscular o Orientar repouso para a ATM (alimentação pastosa, evitar movimentos amplos da mandíbula) o Na impossibilidade de redução: Encaminhamento para atendimento hospitalar 6.2.3.2.2 Complicações pós-operatórias Principais causas • Inobservância do momento mais adequado para a realização do procedimento (Ex: Paciente sistêmica e emocionalmente descompensado, horário inadequado, entre outros) e de normas de biossegurança Complicações • Resposta inflamatória exacerbada • Alveolite • Hematoma • Hemorragia pós-operatória • Trismo mandibular • Outros 452 6.2.3.3 Hemorragia e hemostasia na prática odontológica Hilton Hirabara Pedro Sperandio Lopes Morales José Roberto Pinto Wagner José Silva Ursi Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini Faz parte da rotina odontológica a presença de sangramento durante o trabalho do CD. A intensidade varia desde pequeno sangramento até a lesão de veias e artérias em procedimentos cirúrgicos. Basicamente, duas situações afetam o processo de hemostasia em um paciente: A presença de doenças sistêmicas (Ex: Hipertensão) e os medicamentos por ele utilizados. Geralmente os pacientes têm conhecimento de sua doença e a relação com problemas hemorrágicos, estão em tratamento ou acompanhamento médico e muitas vezes frequentam serviços especializados. Nessa situação o profissional pode se cercar de cuidados que garantirão um trabalho com maior segurança e conforto, sendo a realização da anamnese de fundamental importância. Porém, durante um atendimento odontológico corriqueiro em um paciente aparentemente saudável, pode ocorrer uma hemorragia inesperada e incomum, denunciando uma alteração de saúde ainda desconhecida. Por isso é fundamental ter conhecimento do processo de hemostasia e das variáveis que podem afetá-lo, assim como as medidas para lidar com hemorragias em nossa prática. Os exames complementares para o estudo da coagulação são utilizados como instrumentos diagnósticos para avaliação de sinais como formação espontânea de equimoses, petéquias, sangramentos prolongados, epistaxes anormais, fluxo menstrual intenso, história familiar positiva para coagulopatias ou sangramentos gastrintestinais. Segundo critério profissional poderá ser solicitado ao paciente a realização de exames complementares. Os valores de referência do coagulograma são: 453 • Tempo de coagulação: 5 a 10 minutos • Tempo de sangramento: 1 a 3 minutos • Retração do coágulo: Completa • Prova do laço: Negativa • Tempo de protrombina: 70 a 100% • International Normalized Ratio 64 (INR): Até 1,30 • Tempo de tromboplastina parcial ativada (Ttpa): 22 a 42 segundos • Plaquetas: 150000 a 450000/mm³ Coagulopatias hereditárias mais frequentes As coagulopatias hereditárias são doenças hemorrágicas resultantes da deficiência quantitativa e/ou qualitativa de uma ou mais proteínas plasmáticas (fatores) da coagulação. Entre as coagulopatias hereditárias, as mais comuns são a Hemofilia e a Doença de von Willebrand (DVW). Para maiores informações reportar-se ao Capítulo 4, item 4.14. Medicamentos que podem alterar a hemostasia • O AAS e os AINHs são inibidores da agregação plaquetária • Anticoagulantes utilizados em cardiopatas, vasculopatas e pacientes nefropatas que necessitam de hemodiálise • Antidepressivos também são inibidores da atividade das plaquetas Anticoagulantes Heparina Sódica É um anticoagulante para uso intravenoso, intramuscular e subcutâneo profundo, mais indicado para nível hospitalar. A principal complicação da heparina é a hemorragia por 64 O INR é um exame que mede o tempo de coagulação e o compara com uma média. Pessoas sadias apresentam um INR até 1.3. Pessoas anticoaguladas têm um INR entre 2.0 e 4.0. Um INR > 4.0 pode indicar que a coagulação sanguínea está excessivamente lenta, criando um risco de hemorragia incontrolada. 454 alterações da coagulação, impedindo a função plaquetária e aumentando a permeabilidade vascular. Anticoagulantes orais mais utilizados e de importância para a Odontologia Os anticoagulantes orais do tipo cumarínico (Ex: Varfarina sódica) interferem com a produção dos fatores vitamina K dependentes, agindo como antagonistas competitivos da vitamina K. Os derivados cumarínicos não agem sobre os fatores já circulantes e sim, sobre aqueles que estão sendo sintetizados no fígado. As marcas disponíveis comercialmente são: Warfarin®, Marevan®, Coumadim®, Dicumarol®, Varfarina®. Interações medicamentosas da Varfarina Sódica Os quadros 74 a 76 apresentam as interações medicamentosas mais importantes da Varfarina Sódica para conhecimento dos profissionais de odontologia, tanto potencializando como inibindo a ação da mesma. • Eritromicina • Claritromicina Antibióticos / antifúngicos • Metronidazol • Trimetropim • Trimetropim-sulfametoxazol • Salicilatos Anti-inflamatórios e analgésicos • Fenilbutazona (doses elevadas) Antiarrítmicos • Amiodarona • Andrógenos Miscelânia • Cimetidina • Glucagon • Hormônio tiroideano Quadro 74 - Drogas que potencializam a ação da Varfarina de forma significativa Drogas antitiroideanas Barbitúricos Rifampicina Carbamazepina Colestiramina Quadro 75 - Drogas que inibem a ação da Varfarina de forma significativa 455 Efeito anticoagulante Drogas • Acetaminofem • Anti-inflamatórios não hormonais • Miconazol, fluconazol, cetoconazol • Anticoncepcional oral • Griseofulvina Diminuído • Espiranolactona • Diuréticos tiazídicos Quadro 76 - Drogas mais utilizadas que possuem interações com a Varfarina em menor Aumentado intensidade Antiagregantes plaquetários mais utilizados e de importância para a Odontologia • Acido Acetilsalicílico • Dipiridamol (Persantim®) Procedimentos odontológicos com objetivo de promover a hemostasia • Sutura • Compressão com gaze • Utilização de gelo • Colocação de esponja de fibrina no alvéolo • Colocação de cera cirúrgica no alvéolo • Infiltração local com solução anestésica com vasoconstritor • Cauterização com instrumento metálico aquecido • Cauterização com bisturi elétrico 456 Consideração Caso essas medidas não produzam resultado e de acordo com a gravidade do caso, é aconselhável o encaminhamento do paciente para um serviço médico e/ou para cirurgião bucomaxilo-facial. Conduta para hemostasia e prevenção de hemorragia pós-exodontia 1. Anamnese criteriosa 2. Curetagem de tecido de granulação 3. Compressão digital para aproximação das paredes do alvéolo 4. Sutura 5. Compressão com gaze por 15 minutos 6. Aplicação de gelo por 15 minutos Fluxograma 17 - Conduta frente à hemorragia pós-exodontia Pronto-atendimento Aferição da PA Inspeção da intensidade do sangramento e sua origem (tecidos moles ou ósseo?) Pequeno • • Compressão (mordedura) com gaze por 15 minutos embebida em soro fisiológico gelado Aplicação de gelo Grande • • • • • Remoção do coágulo Medidas físico-químicas locais. Ex: Esponja de fibrina ® Fibrinol ) Nova sutura Compressão com gaze por 15 minutos Aplicação de gelo Resolução do sangramento? Sim Observação por 30 minutos e recomendações Não Encaminhamento hospitalar em conformidade com fluxo da USF Retorno após 24 horas para nova avaliação Avaliação pelo cirurgião bucomaxilo-facial 457 458 6.2.3.4 Alveolite É a infecção superficial do alvéolo dental, causada principalmente por estreptococos e estafilococos que se instalam após uma exodontia, sendo uma condição na qual o alvéolo dental apresenta uma desagregação do coágulo. A incidência da alveolite é variável, estando presente entre 2% a 6% das exodontias. Classificação • Alveolite úmida ou por corpo estranho: Alvéolo purulento, sangrante e doloroso, normalmente em decorrência de reação a corpos estranhos, inclusive restos alimentares. Ocorre entre cinco a sete dias após a cirurgia. Apresenta odor fétido e dor localizada • Alveolite seca: Alvéolo aberto, sem coágulo, paredes ósseas expostas, dolorosas, tecido gengival pouco infiltrado, muito doloroso, sobretudo nos bordos. É uma lesão em que, por falta imediata ou por desaparecimento prematuro do coágulo, o alvéolo ficará aberto, o qual, entra em comunicação com a cavidade bucal, com suas paredes ósseas desprotegidas e seus bordos gengivais separados. Suas paredes ósseas apresentam uma cor acinzentada, a dor é irradiada e ocorre entre dois a três dias após a cirurgia Fatores de risco • Exodontias mandibulares • Exodontias de dentes inclusos mandibulares • Exodontias traumáticas e difíceis • Exodontias no sexo feminino quando utiliza anticoncepcional • Higiene bucal precária • Tabagismo • Diabetes Mellitus • Senilidade • Ausência de adoção de medidas de biossegurança • Pacientes imunodeprimidos (Ex: HIV/AIDS) 459 Prevenção • Identificação de fatores de risco • Higiene bucal antes do ato cirúrgico • Bochecho com gluconato de clorexidina a 0,12%, por um minuto • Traumatismo mínimo durante a intervenção cirúrgica • Não efetuar exodontais com infecção bucal ativa • Evitar infiltração anestésica em excesso • Profilaxia antibiótica prévia em pacientes de risco (Ex: Imunodeprimidos) • Aconselhar abstinência de fumo no dia anterior e dois dias após a cirurgia • Não efetuar bochechos durante as primeiras 24 horas • Evitar uso prolongado de terapia com gelo Tratamento Terapias básicas - Padrão 1ª opção • Irrigação do alvéolo com soro fisiológico morno • Irrigação do alvéolo com solução de gluconato de clorexidina a 0,12% ou solução de PVPI Preenchimento do alvéolo com pasta de acetil-cisteína e própolis sem eugenol ( • Alveolex® ) Repetir os passos anteriores diariamente até a remissão completa dos sintomas • 2ª opção • Anestesia infiltrativa ou troncular, conforme a região • Limpeza do alveolo (curetagem e irrigação com soro fisiológico, se possível morno) • Aguardar preencimento com novo coágulo • Sutura oclusiva 460 • Administração de analgésico, anti-inflamatório e antibiótico, conforme descrito no Capítulo 3, item 3.4.4 • Compressa quente na região da alveolite por 15 minutos, quatro vezes ao dia. Observar atentamente a presença de sangramento. 462 6.2.4. Endodontia Alice Tayoko Ogawa Carlos Alberto Spironelli Ramos 6.2.4.1 Endodontia em dentes decíduos Pulpotomia Remoção da polpa coronária seguida do uso de medicamentos que visam manter a polpa radicular em condições de saúde. Indicação • Exposição pulpar acidental ou por cárie • História de dor (durante a noite ou espontânea) Técnica • Anestesia • Isolamento absoluto ou relativo, conforme disponibilidade • Remoção do tecido cariado mais contaminado com brocas • Remoção da polpa coronária com cureta afiada ou brocas esféricas estéreis, em baixa ou alta rotação. • Hemostasia com água oxigenada 3% • Aplicação de bolinha de algodão esterilizada com formocresol • Capeamento com óxido de zinco e eugenol + 1 gota de formocresol ou CTZ (Cloranfenicol + Tetraciclina +Cimento Oxido de Zinco) • Forramento, de preferência com CIV • Restauração 463 Pulpectomia Indicação • Dentes decíduos anteriores com grande destruição coronária que necessitem de restauração • Dentes decíduos com mortificação pulpar Contraindicação • Dentes decíduos em esfoliação • Dentes sem condições de serem restaurados • Dentes com perfuração de assoalho • Dentes que apresentem grandes lesões e fístula próxima à linha mucogengival Condições especiais • Dentes que apresentam algumas das contraindicações citadas poderão ser preservados na tentativa de manter o espaço para a dentição permanente, desde que o responsável esteja informado Técnica • Anestesia, se necessária • Isolamento absoluto ou relativo, conforme disponibilidade • Remoção total de tecido cariado e polpa coronária • Localização dos condutos • Remoção do tecido necrótico com limas endodônticas. Na ausência de isolamento absoluto, é obrigatório o uso de amarrilhas com fio dental nos cabos das limas endodônticas para evitar a deglutição acidental das mesmas • Lavagem e irrigação com soro fisiológico, água destilada ou água oxigenada 3% • Secagem com cones de papel 464 Colocação da medicação (pasta de iodofórmio + Rifocort®65 + paramonoclorofenol • canforado - PC ou CTZ) • Forramento, de preferência com CIV • Restauração • Em presença de fístulas realizar sua curetagem 6.2.4.2 Endodontia em dentes permanentes Os casos de endodontia de dentes permanentes (com a possibilidade de restauração) deverão ser encaminhados ao CEO ou às entidades conveniadas, conforme descrito no Capítulo 1, item 1.3.2.5. Na impossibilidade de tratamento endodôntico e para evitar a exodontia, os molares de crianças até nove anos completos que se apresentarem vitalizados poderão ser submetidos à pulpotomia. Pulpotomia Técnica • Exame radiográfico inicial, se possível • Anestesia infiltrativa ou por bloqueio regional, complementada por intraligamentar (segundo o caso) • Remoção do tecido cariado e/ou restauração pré-existente • Isolamento absoluto ou relativo, conforme disponibilidade • Trepanação inicial (sugerem-se pontas diamantadas esféricas de haste longa 1012 HL, 1014 HL ou 1016 HL) • Remoção completa do teto da câmara pulpar (sugerem-se pontas diamantadas tronco-cônicas 3081 e 3082) • Exame do conteúdo pulpar e confirmação diagnóstica (polpa viva ou necrose) • Remoção completa da polpa coronária, preferentemente com curetas afiadas, indicada para dentes posteriores 65 Rifamicina SV sódica + acetato de prednisolona 465 • Lavagem e irrigação com soro fisiológico ou água destilada abundantemente até a hemostasia, sem formação de coágulo • Secagem com mecha de algodão hidrófilo estéril • Gotejamento com medicação à base de corticoesteroide e antibiótico (Otosporin®), aguardando um período de 3 a 5 minutos de ação • Lavagem da cavidade com solução saturada de hidróxido de cálcio (água de cal) • Secagem da cavidade com mecha de algodão hidrófilo estéril • Aplicação de uma camada de hidróxido de cálcio p.a., forrando o assoalho da câmara pulpar • Colocação de base forradora (cimento de óxido de zinco modificado ou similar) • Colocação de CIV • Restauração final • Ajuste oclusal • Prescrição de analgésicos, se necessário Pulpectomia (bio ou necro) Técnica • Exame radiográfico inicial, se possível • Anestesia infiltrativa ou por bloqueio regional, complementada por intraligamentar (segundo o caso) • Remoção do tecido cariado e/ou restauração pré-existente • Isolamento absoluto ou relativo, conforme disponibilidade • Trepanação inicial (sugerem-se pontas diamantadas esféricas de haste longa 1012 HL, 1014 HL ou 1016 HL) • Remoção do teto da câmara pulpar e de toda a polpa presente (coronária e radicular) • Na presença de tecido necrótico realizar uma leve instrumentação dos condutos • Lavagem e irrigação com hipoclorito de sódio 1% (Solução de Milton), soro fisiológico ou água destilada • Secagem com cones de papel absorvente 466 • Acomodação de bolinha de algodão esterilizada ligeiramente umedecida em formocresol ou tricresolformalina sobre as entradas dos condutos • Vedamento da cavidade com cimento de óxido de zinco e eugenol • Prescrever medicação analgésica, anti-inflamatória e antibiótica, quando necessário • Na presença de exsudato purulento em grande quantidade, a cavidade não deve ser vedada, sendo protegida somente com uma mecha de algodão estéril e deve-se indicar a terapêutica antibiótica • Havendo presença de abscesso dental com flutuação, os procedimentos acima mencionados devem ser realizados e complementados com a drenagem do exsudato da região de flutuação, com uma incisão utilizando um bisturi, principalmente, nos casos em que não houver drenagem suficiente via canal. A terapêutica antibiótica é sempre indicada quando existe infecção • Encaminhamento para especialidade de Endodontia 6.2.4.3 Urgência endodôntica em dentes permanentes O tratamento de urgência em endodontia é executado quando o paciente se apresenta com sintomatologia dolorosa, normalmente não debelada pelo uso de analgésicos. Geralmente com dor intensa e prostação, necessita da intervenção local e sistêmica quando necessária, realizada por um Cirurgião-Dentista. Entende-se como urgências endodônticas aquelas relacionadas à polpa e periápice dentais como pulpite aguda reversível ou irreversível, pericementite aguda e abscesso dento-alveolar. Os quadros 77 a 79 apresentam uma síntese de condutas e procedimentos endodônticos diante das alterações inflamatórias pulpares e periapicais agudas e crônicas. 467 Fase Reversível Fase Irreversível Alteração inflamatória pulpar Polpa dentária Aguda Pulpite aguda Sintomatologia Dor provocada ou exacerbada com frio, localizada, curta duração, cessando com analgésicos Dor forte, espontânea, exacerbada pelo calor, diminuída pelo frio, difusa, contínua, não cessa com analgésicos Inspeção intrabucal Palpação apical Percussão Horizontal Vertical Cárie, Restauração ou Prótese dentária - - - Sensível Ligeira sensibilidade - Cárie, Restauração ou Prótese dentária Ligeira sensibilidade - Ligeira sensibilidade Sensível Exacerbação da dor Espessamento do espaço pericementário - Sensível Sem sintomas Presença de característicos pólipo Pulpite (dor à pulpar, crônica mastigação, exposição difusa e mal pulpar definida) Fonte: Cadernos de Saúde Bucal – Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, 2005 Quadro 77 - Alterações inflamatórias pulpares e conduta Sensação diferente, sem caracterizar quadro álgico Teste térmico Frio Calor Exame radiográfico Cavidade pulpar aberta, rizogênese incompleta Conduta Tratamento conservador Pulpectomia Pulpectomia 468 Pericementite Aguda Alteração periapical aguda Alterações periapicais Sintomatologia Inspeção intrabucal Palpação apical Sensibilidade Vitalidade pulpar Vitalidade pulpar Sensibilidade Positiva Positiva Não responde Não responde Grande sensibilidade Sensível Sensível Não responde Não responde Polpa vital Sensação de dente crescido, dor localizada e permanente Contato prematuro Polpa Não Vital Sensação de dente crescido, dor localizada e permanente Contato prematuro Dor pulsátil, localizada ou difusa, permanente, presença ou não de edema Cárie, restauração, Prótese dentária edema apical, mobilidade Abscesso dento alveolar agudo Percussão Vertical Horizontal Positiva Fonte: Cadernos de Saúde Bucal – Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, 2005 Quadro 78 - Alterações periapicais agudas e conduta Positiva Teste térmico Frio Calor Exame radiográfico Conduta Espessamento do espaço pericementário Remoção da causa com ajuste oclusal e analgésico Espessamento do espaço pericementário Necropulpectomia Ajuste oclusal Medicação sistêmica, se necessário Ruptura da lâmina dura, rarefação óssea periapical Necropulpectomia Ajuste oclusal Drenagem Medicação sistêmica, se necessário 469 Alterações periapicais Alteração periapical crônica Pericementite crônica Sintomatologia Assintomática Abscesso dento alveolar crônico Assintomático, presença de fístula Granuloma Assintomático Cisto Assintomático, abaulamento ósseo Inspeção intrabucal Cárie, restauração ou prótese dentária Cárie, restauração, prótese dentária, fístula cutânea ou mucosa Cárie, restauração ou prótese dentária Cárie, Restauração ou prótese dentária abaulamento ósseo Palpação apical Percussão Horizontal Vertical Teste térmico Frio Calor - - Sensível - - Sensível - Sensível - - Sensível - Sensível - - Sensível - Fonte: Cadernos de Saúde Bucal – Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, 2005 Quadro 79 - Alterações periapicais crônicas e conduta Sensível - - Exame radiográfico Conduta Espessamento do espaço pericementário Necropulpectomia Medicação sistêmica, se necessário Rarefação óssea periapical difusa Necropulpectomia Medicação sistêmica, se necessário Rarefação óssea periapical circunscrita Rarefação óssea periapical circunscrita Necropulpectomia Medicação sistêmica, se necessário 470 BIBLIOGRAFIA ANTONIO, P.R. A. et al. Interações medicamentosas da Varfarina Sódica. Boletim informativo projeto sentinela. n. 1, nov. 2007. Disponível em:< http://www.iamspesaude.com.br/ohospital/projeto_sentinela/Boletim_Informativo%20do%20 Projeto%20Sentinela%20%20n%2001.pdf>. Acesso em: 22 de agosto de 2008. BERG, J.H. Glass ionomer cements. Pediatric Dentistry, v. 24, n. 5, p. 43-08, 2002. GREGORI, C; CAMPOS, A. C. Cirurgia buco-dento-alveolar. 2 ed. Sarvier, 2004. PEDIATRIC RESTORATIVE DENTISTRY CONSENSUS CONFERENCE. CONSENSUS STATEMENTS. Pediatric Dentistry, v. 24, n. 5, p. 37-46, 2002. RICIERI, C. B et al. Alveolite: Ocorrência e tratamento em consultórios odontológicos de Araçatuba/SP. Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, v.18, n.1, p.33-40, 2006. Disponível em <http://www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/revfol18_1nova.pdf > Acesso em: 11 setembro 2008. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Cadernos de Saúde Bucal. Qualidade e resolubilidade na atenção básica: recomendações de endodontia. Dezembro 2005. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Cadernos de Saúde Bucal. Qualidade e resolubilidade na atenção básica: recomendações de cirurgia ambulatorial. Dezembro 2005. 472 CAPÍTULO 7 TRAUMATISMO EM DENTES PERMANENTES 474 7. TRAUMATISMO EM DENTES PERMANENTES Alice T. Ogawa Antônio Ferelle Domingos Alvanhan Cristiane de Andrade Janene Gonini O exame dos pacientes com traumatismo dentário deve ser feito o mais rápido possível, logo após o acidente. Neste exame deve-se conseguir o máximo de informações como: Histórico do paciente (anamnese), histórico do trauma, exames clínicos e radiográficos, que deverão ser anotados na ficha para posterior consulta. 7.1 ANAMNESE Ao realizar uma anamnese são necessárias informações do estado geral do paciente como problemas sanguíneos, sensibilidade a medicamentos (anestesia, antibiótico, anti-inflamatório, etc.), se está em tratamento médico, fazendo uso de algum tipo de medicamento, se tem imunização antitetânica, etc. Imunização antitetânica: Quando ocorrem ferimentos é muito importante saber se o paciente está imunizado contra o tétano. Se o paciente recebeu a última dose de vacina nos últimos 5 anos, não há necessidade de reforço. No caso de haver decorrido mais de 5 anos da última vacina, recomenda-se a dose de reforço. Para pessoas não imunizadas, indica-se a aplicação da vacina. História do trauma Anotar por ordem cronológica as informações sobre o acidente, fazendo as clássicas perguntas: Quando? Onde? Como? Dependendo da resposta, poderá variar o procedimento clínico, principalmente nos casos de avulsão do elemento dentário. 7.2 EXAME CLÍNICO Se o trauma for recente é preciso verificar: Tecidos moles, osso alveolar e os dentes. 475 A inspeção, palpação e radiografias são procedimentos importantes para a constatação de qualquer anormalidade. Exame dos ferimentos dos tecidos moles: Verificar a presença de corpos estranhos como fragmentos de vidro, pedriscos ou tipos de objetos que se encontravam no local do acidente, através do exame visual ou pela palpação. Nos casos de dúvida, proceder a exame radiográfico o mais breve possível. Exame dos dentes: Verificar o deslocamento dos dentes, fratura da coroa, exposição ou não da polpa, vitalidade pulpar e mobilidade anormal do dente, levando-se à suspeita de fratura radicular ou do osso alveolar. Teste de vitalidade: Logo após o trauma, a polpa pode não responder ao teste de vitalidade durante 2 a 3 meses. Mesmo que a polpa volte a responder aos testes positivamente, pode ocorrer necrose pulpar meses ou anos após o trauma. Recomenda-se o acompanhamento do dente traumatizado por 2 a 3 anos, realizando testes de vitalidade, radiografias periapicais. Pode ocorrer escurecimento do dente (discromia). 7.3 EXAME RADIOGRÁFICO A radiografia é importante para o diagnóstico e para o tratamento do trauma dentário, com o objetivo de detectar fratura radicular e óssea, desenvolvimento do ápice radicular, normalidade ou não do espaço periodontal, presença de corpos estranhos, etc. É fundamental o acompanhamento após 6 semanas, 6 meses e anualmente por pelo menos dois anos, para verificar estreitamento do espaço pulpar (indicativo de calcificação pulpar), reabsorções dentárias internas e/ou externas, lesões periapicais, não desenvolvimento radicular, etc. Quando ocorre calcificação pulpar, porém, sem sinais de alteração apical, não há necessidade de tratamento endodôntico, apenas o acompanhamento radiográfico periódico. Nos casos de reabsorções internas/externas, indica-se o tratamento endodôntico. 7.4 PROCEDIMENTOS CLÍNICOS NOS DIFERENTES TRAUMAS DENTÁRIOS EM RELAÇÃO AO TECIDO DENTAL 7.4.1 Trauma Coronário Trauma sem fratura do esmalte 476 Conduta Exame radiográfico inicial e nos retornos de manutenção com objetivo de verificar • alteração periapical Acompanhamento clínico: Teste de vitalidade de 3 em 3 meses e observar • presença de discromia, etc. Tratamento endodôntico nos casos de alteração pulpar irreversível • Fratura do esmalte Conduta • Exame radiográfico inicial • Alisamento do esmalte ou, se necessário, restauração • Acompanhamento clínico, teste de vitalidade e radiografias de 3 em 3 meses • Tratamento endodôntico nos casos de alteração pulpar irreversível Fratura do esmalte e dentina Conduta • Exame radiográfico inicial • Limpeza do local com solução de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos • Teste de vitalidade e radiografias • Próximo à polpa: Proteção com cimento de hidróxido de cálcio e restauração • Distante da polpa: Restauração • Acompanhamento clínico, teste de vitalidade e radiografias de 3 em 3 meses Fratura do esmalte e dentina com exposição pulpar Formação radicular incompleta Tratamento imediato (primeiras horas) 477 Conduta • Exame radiográfico inicial • Limpeza do local com solução de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos • PPD com hidróxido de cálcio p.a. + solução anestésica ou propilenoglicol • Cimento de hidróxido de cálcio ou CIV • Colagem do fragmento ou restauração • Teste de vitalidade e radiografias periódicas Tratamento tardio (de 24 a 48 horas) • Exame radiográfico inicial • Limpeza do local com solução de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos • Pulpotomia • Aplicação de Otosporin® por 5 a 10 minutos • Irrigação com soro fisiológico • Aplicação de hidróxido de cálcio p.a. + solução anestésica ou propilenoglicol • Cimento de hidróxido de cálcio ou CIV • Colagem do fragmento ou restauração • Teste de vitalidade e radiografias periódicas Fratura da coroa a nível cervical Conduta • Exame radiográfico inicial • Limpeza do local com solução de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos • Tratamento endodôntico • Se possível, colagem com resina composta, se a fratura for supragengival e a coroa fraturada apresentar condições satisfatórias • Confecção de prótese, no caso em que não for possível a colagem 478 7.4.2 Fratura Radicular Fratura sem deslocamento Conduta • Exame radiográfico inicial • Contenção rígida com fio ortodôntico 0,5 mm + resina composta nos dentes vizinhos durante 2 a 4 meses • Testes de vitalidade: De 3 a 6 semanas e 3 meses após o trauma, pois há grande chance da polpa manter-se vital • Radiografias periapicais periódicas. Se após algumas semanas ou meses, ocorrer zona radiolúcida na região da fratura, é indicativo de necrose pulpar. Nessa situação, realiza-se o tratamento endodôntico, com curativo prévio de hidróxido de cálcio p.a., durante no mínimo 1 mês Fratura com pequeno deslocamento da porção coronária Conduta • Exame radiográfico inicial • Quando houver separação das partes radiculares com extrusão parcial da porção coronária, introduzir a porção deslocada delicadamente para dentro do alvéolo e imobilizar com fio ortodôntico 0,5 mm + resina composta nos dentes vizinhos, por um período de 4 meses • Testes de vitalidade: De 3 a 6 semanas e 3 meses após o trauma, pois há grande chance da polpa permanecer vital • Radiografias periapicais periódicas. Se após algumas semanas ou meses, ocorrer zona radiolúcida na região da fratura, é indicativo de necrose pulpar. Nessa situação, realiza-se o tratamento endodôntico, com curativo prévio de hidróxido de cálcio p.a., durante no mínimo 1 mês 479 Fratura com grande deslocamento da porção coronária Conduta • Exame radiográfico inicial • Quando ocorre deslocamento coronário para fora do alvéolo, sendo este muito grande, tenta-se o reposicionamento até onde for possível • Imobilização rígida com fio ortodôntico 0,5 mm + resina composta durante 4 meses • Ajuste oclusal com desgaste do rebordo incisal, se necessário • Tratamento endodôntico: Realiza-se o tratamento endodôntico apenas da porção que se deslocou do alvéolo. Nem sempre é possível o tratamento da porção apical fraturada. Nesse caso, realiza-se somente controle radiográfico • Não se recomenda a remoção cirúrgica da porção apical fraturada, exceto nos casos de alteração patológica, identificada através de exame radiológico (imagem radiolúcida em volta da raiz) 7.4.3 Deslocamento dentário sem fratura Sub-luxação Conduta • Exame radiográfico inicial • Antissepsia do local com solução de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos • Contenção interdental semirrígida por aproximadamente 10 dias • Analgésico, se necessário • Controle clinico e radiográfico Extrusão parcial Conduta • Exame radiográfico inicial 480 • Se for imediatamente após o trauma, é possível seu reposicionamento, preferencialmente após anestesia • Se ocorreu num período mais prolongado é necessário anestesiar, e introduzir o dente no local com pressão digital firme e constante • Contenção semirrígida por aproximadamente 10 dias • Se for uma extrusão de até 1 mm, é possível que a polpa se mantenha vital. Nesses casos realiza-se teste de vitalidade pulpar periódico. Nos casos de extrusão maior em que houve necrose pulpar, são indicados a necropulpectomia e tratamento endodôntico Intrusão Conduta • Exame radiográfico inicial • Dente em estágio de desenvolvimento radicular o Intrusão pequena: Esperar a reerupção espontânea. Existe uma pequena chance da polpa manter-se vital o Intrusão de 50% ou mais da coroa dentária. Reposicionamento e esplintagem com fio de nylon por 10 a 14 dias. o Acompanhamento radiográfico periódico para constatação de reabsorção externa e/ou interna e radiolucência periapical. Nessas situações realiza-se o tratamento endodôntico com curativo intracanal de hidróxido de cálcio e posterior obturação após o fechamento apical com tecido mineralizado • Dente com raiz formada o Não ocorre a reerupção o Tracionamento ortodôntico para a posição original. Após exposição da coroa, realizar curativo intracanal com hidróxido de cálcio p.a, que deverá ser trocado a cada 30 dias o Obturação do canal será realizada entre 6 e 12 meses o Acompanhamento radiográfico pelo menos uma vez ao ano 481 Avulsão total Conduta O tempo que o dente fica fora da boca é que irá estabelecer os procedimentos clínicos. • Imediatamente após o trauma (até uma hora) o Exame radiográfico inicial o Se o dente apresentar indícios de contaminação, lavar com soro fisiológico ou água corrente, sem manipular a raiz o Manusear o dente avulsionado com cuidado para evitar maiores danos ao ligamento periodontal já traumatizado o Anestesiar o Recolocar o dente no alvéolo o Contenção semirrígida (fio de nylon) durante 10 a 14 dias o Realização de novo exame radiográfico imediatamente após a contenção o Antibioticoterapia o Vacina antitetânica, se necessário o Encaminhar para endodontia o Acompanhamento radiográfico pelo menos uma vez ao ano Decorridas de uma a duas horas após o trauma • o Exame radiográfico inicial o Se o dente apresentar indícios de contaminação, lavar com soro fisiológico ou água corrente, sem manipular a raiz o Manusear o dente avulsionado com cuidado para evitar maiores danos ao ligamento periodontal já traumatizado o Se o dente foi mantido durante esse período dentro de um meio líquido (soro fisiológico, leite ou dentro da boca) lavar e mantê-lo no soro fisiológico ou no leite, enquanto se prepara o local para reimplante. o Anestesiar o Se houver presença de coágulo no alvéolo, realizar remoção delicada do mesmo 482 o Examinar possíveis fraturas da parede alveolar, removendo fragmentos ósseos cuidadosamente, se necessário o Recolocar o dente no alvéolo, inserindo-o suavemente e assentando-o no lugar o Verificar a posição de alinhamento e hiperoclusão o Estabilizar o dente com contenção semirrígida por a10 a 14 semanas o Encaminhar para endodontia o Antibioticoterapia o Vacina antitetânica, se necessário o Acompanhamento radiográfico pelo menos uma vez ao ano Após duas horas do trauma ou dente totalmente seco • Verificar a possibilidade de encaminhamento imediato ao CEO para realização do tratamento endodôntico do dente antes do reimplante • Na impossibilidade de encaminhamento imediato, deve-se realizar: o Tratamento da superfície radicular com raspagem dos remanescentes do ligamento periodontal com uma cureta periodontal afiada o Desinfecção da superfície radicular com solução de gluconato de clorexidina 2%, por 30 segundos o Mergulhar o dente numa solução de fluoreto de sódio 2,0% durante 30 minutos com o objetivo de agregação de íons de flúor na superfície radicular o Em seguida lavar com soro fisiológico e secar com gaze esterilizada o Anestesiar o Curetar o coágulo alveolar o Reposicionar o dente no alvéolo o Contenção semirrígida durante 45 dias o Antibioticoterapia o Vacina antitetânica, se necessário o Encaminhamento para tratamento endodôntico o Acompanhamento radiográfico pelo menos uma vez ao ano Considerações gerais • Nunca manusear o dente pela raiz, sempre prendê-lo pela região da coroa 483 A endodontia deverá ocorrer dentro de 10 a 14 dias após o reimplante para • evitar a reabsorção radicular externa inflamatória Dentes com rizogênese incompleta deverão receber tratamento visando-se a • apecificação antes da realização do tratamento endodôntico definitivo A contenção semirrígida visa permitir a movimentação fisiológica do dente evitar • a anquilose 7.5 PULPOTOMIA DE DENTES ANTERIORES TRAUMATIZADOS A pulpotomia é um procedimento clínico que consiste na remoção parcial da polpa. Este procedimento pode ser realizado em dentes de pessoas de qualquer idade, desde que o dente apresente uma polpa com boa irrigação sanguínea. É indicada quando a polpa está vitalizada, mas apresenta-se parcialmente inflamada. O sucesso desta técnica está na dependência do estado do remanescente pulpar e na execução de procedimentos clínicos corretos. Pode-se realizar a pulpotomia em dentes anteriores mesmo quando a polpa esteja exposta ao meio bucal por vários dias. O critério de analise da polpa é clínico. Ela é considerada de boa condição quando se apresenta com consistência firme e fibrosa e de coloração vermelho vivo e após seu corte apresenta-se uma hemorragia de cor viva e hemostasia dentro de 10 a 15 minutos. É considerada de má condição, quando se apresenta com aspecto gelatinoso, sem consistência, cujo corte se faz sem grande resistência e ela se apresenta com cor avermelhada escura com hemorragia abundante e incontrolável ou com a polpa com cor bastante clara, pendendo-se para o amarelo, sendo a pulpectomia o tratamento mais indicado. Procedimentos clínicos • Anestesia • Isolamento absoluto ou relativo • Acesso coronário com broca de alta rotação com bastante refrigeração a partir do local em que a polpa está exposta, com o cuidado de não se introduzir demais a broca no interior da polpa • Remoção parcial da polpa com uma broca diamantada de alta rotação (esférica, tronco-cônica ou cilíndrica) com bastante refrigeração. Não se recomenda a utilização de curetas, escariadores de dentina ou brocas de baixa rotação para esse procedimento, devido ao deslocamento da polpa e introdução de 484 raspas de dentina no interior da mesma. A altura do corte pulpar é de acordo com a condição da polpa coronária. Pode ser no 1/3 coronário, médio ou cervical, dependendo onde a polpa remanescente se apresente firme e consistente. Há autores que recomendam o corte pulpar de 2 a 3 mm a partir do local da exposição pulpar • Irrigação abundante com soro fisiológico, água destilada ou água de hidróxido de cálcio até que ocorra a hemostasia da polpa. Geralmente a hemostasia ocorre dentro de 10 a 15 minutos. Nos casos em que a hemorragia é incontrolável e abundante após decorrido esse tempo, é indicativo que a polpa remanescente apresenta-se inflamada e não está em condição de recuperação • Após a hemostasia, colocar medicamento a base de corticosteroide e antibiótico (Ex: Otosporin®, Rifocort®) sobre remanescente pulpar durante, 1 a 3 minutos, pois minimiza a inflamação pós-operatória • Colocação de hidróxido de cálcio p.a. sobre o remanescente pulpar, com o cuidado de verificar se não há coágulo sobre a polpa. A presença de coágulo entre o hidróxido de cálcio e o tecido pulpar dificultará a formação da ponte de dentina. O hidróxido de cálcio pode ser levado com um porta amálgama ou com uma cureta, na consistência cremosa (misturado com água destilada, água de cal ou soro fisiológico) • Remover cuidadosamente o excesso de hidróxido de cálcio das paredes laterais para se evitar uma posterior infiltração marginal • Colocação de cimento de óxido de zinco modificado • Colocação de CIV sobre o cimento quando se necessita melhor fixação • Decorridos 30 a 45 dias, remove-se toda a proteção (cimento, hidróxido de cálcio) para verificar a formação da barreira dentinária. Se a barreira mineralizada estiver presente, procede-se a restauração definitiva usual. No caso de sua ausência, indica-se a pulpectomia total 485 BIBLIOGRAFIA ANDREASEN, J.O. Replantation of avulsed teeth. In: ANDREASEN, JO. Atlas of replantation and transplantation of teeth. Freiburg: Mediglobe, 1992. ANDREASEN, J.O., ANDRESEN, F.M. Texbook and Color Atlas of Traumatic Injuries to the Teeth 3rd ed. Copenhagen, Munksgaard Publishers, 1993. ANDREASEN, J.O., BORUM, M., JACOBSEN, H.L. Replantation of 4oo traumatically avulsed permanent incisors. 1. Diagnosis of healing complications. Endod Dent Trumatol, v. 11, p. 51-58, 1995. ANDREASEN, J.O., ANDREASEN, F.M. Fundamentos de traumatismo dental: guia de tratamento passo a passo. 2. ed. Artmed Editora, 2001. BARRET, E.J., KENNY, D.J. Avulsed permanent teeth: a review of the literature and treatment guidelines. Endod Dent Traumatol, v. 13, p. 153-163, 1997. BASTOS, J. V. et al. Avulsão dental: manejo e tratamento emergencial dos casos encaminhados à clínica de traumatismos dentários da FOUFMG. In: Encontro de Extensão da UFMG. 8, 2005. Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2005. Disponível em <http://www.ufmg.br/proex/arquivos/8Encontro/Saude_12.pdf>. Acesso em 27 março 2009. CVEK, M. Partial pulpotomy in crownfratured incisors – Results 3 to 15 years after treatment. Acta Stomatologica Croatica, v. 27, p. 167 – 73, 1993. 486 CAPÍTULO 8 HIPOSSALIVAÇÃO 487 488 8. HIPOSSALIVAÇÃO Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan Hipossalivação refere-se à diminuição da produção de saliva acarretando, na maioria das vezes, a xerostomia (sensação de boca seca). Esta última, por sua vez, não é considerada uma patologia, mas sim um sintoma ou sensação subjetiva. A hipossalivação pode ser considerada como: • Primária: Ocorre em função de lesão patológica nas glândulas salivares como consequência de uma doença sistêmica (Ex: Síndrome de Sjogren) ou de um problema localizado (infecção, radioterapia de cabeça e de pescoço, etc.) • Secundária: Não apresenta lesão nas glândulas salivares, mas aparece como efeito de drogas sobre a fisiologia das glândulas, resultando em hipossalivação O Quadro 80 apresenta as causas mais frequentes de hipossalivação. Patologias ou condições • • • • • • Síndrome de Sjogren Artrite Sarcoidose Imunodeficiências congênitas adquiridas Anemia Demência • ou • • • • • Desordens hormonais (Ex: menopausa) Diabetes Melittus descompensado Lúpus eritematoso Radioterapia de cabeça e pescoço Hipertensão arterial Infecção, obstrução glandular Medicamentos • Analgésicos narcóticos • • Antiacneicos • • Antiarrítmicos • • Anticoagulantes • • Antidepressivos • • Anti-histamínicos • • Anti-hipertensivos • • Antieméticos • • Antipsicóticos • • Ansiolíticos • Fonte: Mialhe e Pereira, 2003 Quadro 80 - Etiologias da hipossalivação crônica Antiparkinsonianos Antineoplásicos Sedativos/tranquilizantes Antiparasitários Diuréticos Expectorantes Reguladores de apetite Antinauseantes Descongestionantes Relaxantes musculares 489 Na impossibilidade de se medir o fluxo salivar, algumas características intrabucais podem confirmar a suspeita de hipossalivação, conforme descrito no Quadro 81. Sinais e sintomas Bucais • • • • • • • • • • • • • • • Saliva: Diminuição da secreção e aumento da viscosidade Lábios: Secos, fissurados, queilite angular Língua: Lobulada, fissurada, ardência, dor Glândulas salivares: Edemaciadas, doloridas Mucosa bucal: Pálida e seca Candidíase: Afetando principalmente região da língua e dos lábios e comissuras labiais Frequente ingestão de líquidos, especialmente quando se alimenta. Mantém copo de água ao lado da cama para ingestão Dificuldade de mastigação e de utilização de próteses totais Dificuldade de deglutição Alteração de paladar Dificuldade de fala Acúmulo de biofilme dental Mau hálito Aumento da incidência de cárie, principalmente na região cervical Gengivite Sistêmicos • • • • • • Garganta: Secura, rouquidão, tosse seca persistente Nariz: Secura, frequente formação de crostas, diminuição olfativa Olhos: Secura, coceira, pálpebras aderidas, visão borrada, sensibilidade à luz Pele: Secura, erupções cutâneas Trato gastrintestinal: Constipação Sintomas gerais: Fadiga, fraqueza, perda de peso, depressão Adaptado de Mialhe e Pereira, 2003 Quadro 81 - Sinais e sintomas mais frequentes associados a hipossalivação Recomendações e conduta O paciente com hipossalivação apresenta, entre outros, um risco muito alto de desenvolvimento de cárie, requerendo uma abordagem individualizada a fim de que possa manter a saúde bucal. Na maioria dos casos, o tratamento a ser adotado é paliativo. As recomendações abaixo têm se mostrado úteis: • Identificar a causa da hipossalivação 490 • Evitar fumo, cafeína e consumo de bebidas alcoólicas • Ingerir pelo menos dois litros de água por dia, principalmente durante as refeições • Controle de dieta, principalmente de substâncias ácidas e doces, dando especial atenção à frequência de consumo de balas, café com açúcar, refrigerantes, etc. • Controle rigoroso de biofilme dental, tanto domiciliar como no consultório • Aplicação tópica de flúor em consultório com maior frequência do que em pacientes que não apresentam hipossalivação (Ex: Trimestral) • • Aplicação caseira de fluoretos: o Dentifrícios fluorados o Soluções de NaF 0,05% (sem álcool), duas vezes ao dia Para prevenção de candidíase, remover próteses durante a noite. As mesmas devem ser higienizadas diariamente • Uso de antifúngicos, no caso de candidíase • Para estimulação mecânica do fluxo salivar, utilizar gomas de mascar sem açúcar, contendo, se possível, xilitol, dando preferência àquelas que não se aderem facilmente. Ressalta-se que o efeito é transitório • Outros tratamentos poderão melhorar o fluxo salivar como acupuntura, homeopatia, etc. • Pode ser necessário o contato com o médico a fim de se verificar a possibilidade de substituição de medicamentos que levem à hipossalivação ou alteração da dosagem dos mesmos. Entretanto, na maioria dos casos, esta medida acaba não sendo possível Bibliografia MIALHE, F. L; PEREIRA, A. C. Diagnóstico da doença cárie. In: PEREIRA, A. C (org). Odontologia em Saúde Coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed, 2003. 492 CAPÍTULO 9 ABUSO INFANTO-JUVENIL 494 9. ABUSO INFANTO-JUVENIL Domingos Alvanhan Renato Mikio Moriya Cristiane de Andrade Janene Gonini Maus tratos da criança e do adolescente constituem um sério problema social e de Saúde Pública. Estudos atuais têm demonstrado um aumento da visibilidade em diversos países, inclusive no Brasil. É a violência mais comum contra crianças e adolescentes, sendo na maioria das vezes, praticada por pessoas que mantêm algum vínculo familiar ou de relacionamento mais próximo. A compreensão dessa violência leva a refletir sobre vários fatores de risco que, quando associados, principalmente com abuso de álcool e substâncias químicas, geram conflito familiar, desencadeando um descontrole e levando à agressão da criança e do adolescente. Os fatores de risco referentes aos pais são socioculturais e individuais, podendo-se citar: Pobreza, desemprego, isolamento social, educação rígida com estilo punitivo, relação conjugal instável e desequilibrada, falta de planejamento familiar, problemas emocionais e de afetividade, baixa autoestima, depressão, história pregressa de violência, abuso de drogas ou álcool, transtorno ou doença psiquiátrica. Dentre os fatores de risco referentes à criança podemos pensar em prematuridade, malformações congênitas, adoção, crianças menores de três anos, algumas fases difíceis do desenvolvimento neuropsicomotor (cólicas dos primeiros meses, anorexia, controle dos esfíncteres entre 18 e 24 meses). Os profissionais de saúde (CD, Médico, entre outros) estão em posição única para identificar possíveis abusos contra esta fase da vida, devendo, portanto estar instruídos para realizar o reconhecimento, documentação, tratamento e notificação de casos em que se suspeite de maus tratos. Esta suspeita no ambiente médico/odontológico, tem como ponto de partida o acolhimento, a anamnese e os exames clínicos complementares. Os maus tratos podem ser classificados como: • Violência física • Violência psicológica • Violência sexual • Negligência/omissão de cuidar 495 Violência Física Os maus tratos realizados no ambiente familiar ocorrem desde pequenas palmadas, tidas como educativas, até queimaduras e espancamentos. Alguns indicadores, conforme Pfeiffer e Waksman (2003), são importantes para identificação de crianças maltratadas, como: • Lesões que não são compatíveis com a idade ou com o desenvolvimento psicomotor da criança • Lesões que não se justificam pelo acidente relatado • Lesões em várias partes do corpo ou lesões bilaterais • Lesões que envolvem partes usualmente protegidas do corpo • Lesões que lembram o objeto usado para agressão • Lesões em estágios diferentes de cicatrização ou cura • Inexplicável atraso entre o acidente e a procura de tratamento De acordo com Hibbard e Sanders (2000), aproximadamente 50% das agressões físicas resultam em danos na cabeça e na face que podem ser reconhecidos pelo CD, 25% dos quais ocorrem na boca ou ao seu redor. Violência psicológica Na violência psicológica também conhecida também como "tortura psicológica", o diagnóstico se torna um pouco mais difícil, devido ao fato desta não deixar marcas. Caracteriza-se por atitudes como: depreciação, ameaças de abandono, discriminação, desprezo, chantagens e outras, levando ao: • Isolamento emocional • Baixa autoestima e autoconfiança • Dificuldades de fala ou linguagem • Fraco desempenho escolar • Comportamento regressivo • Medo (real ou aparente) em relação ao agressor(es) • Agressividade ou violência e comportamento suicida 496 Violência sexual Configura-se a violência sexual doméstica como todo ato ou jogo sexual, em uma relação hetero ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade obter a estimulação sexual da criança ou adolescente ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. O abuso sexual, mesmo quando não traz danos visíveis à integridade física da criança e do adolescente, é um fenômeno danoso. Em 80% dos casos, o abuso é praticado por membros da família ou por pessoas conhecidas da vítima. Esta forma de abuso inclui a presença da violência, como no estupro, brutalização ou mesmo assassinato de crianças e adolescentes. Inclui também atos onde não há contato físico, como exibicionismo e “voyeurismo”; onde há contato físico, como os físico/genitais, contato oral e genital e uso sexual do ânus. No caso do CD, cabe lembrar que o abuso sexual pode acarretar infecções no complexo bucofacial e sistêmico, em decorrência do sexo oral (felação), tais como: • HIV • Hepatite B • Gonorreia • Condiloma acuminado • Sífilis • Infecção por Herpes Tipo II • Monilíase • Tricomona vaginalis Neste sentido, em caso de violência sexual onde há contato de sêmen com a mucosa bucal, é imperativo se proceder à profilaxia de algumas destas doenças mencionadas, até o prazo máximo de 72 horas do ocorrido. Negligência / Omissão de cuidar Configura-se quando os pais (ou responsáveis) falham em termos de alimentação, de vestir adequadamente, de prover educação, etc. Não há roupas limpas, o ambiente físico é muito sujo, com lixo espalhado por todos os lados, as crianças são muitas vezes deixadas sós por diversos dias, peso da criança anormal para a sua idade. 497 A negligência consiste em uma omissão em termos de prover as necessidades básicas a uma criança ou adolescente. Dois critérios são necessários para caracterizar a negligência: • A cronicidade (deve-se observar a ocorrência reiterada e contínua de algum indicador) • A omissão (um responsável deve ter deixado de satisfazer alguma necessidade da criança) A criança negligenciada pode se apresentar para os profissionais com aspecto de má higiene (corporal, roupas sujas, dermatite de fraldas, lesões de pele de repetição), desnutrição por falta de alimentação, por erros alimentares persistentes, roupas não adequadas ao clima local, falta de supervisão da criança, provocando lesões e acidentes de repetição, frequência irregular à escola. Avaliação odontológica De acordo com Hibbard e Sanders (2000), o trauma às estruturas bucofaciais é uma manifestação frequente de violência contra crianças. O CD que suspeita de negligência ou abuso de criança deve realizar um meticuloso exame físico e dentário. Como os pais molestadores, ao visitar o profissional de odontologia, não mostram os mesmos cuidados que ao visitar o Médico, o CD pode ser a primeira pessoa a identificar a criança maltratada. Por isso, o mesmo deve aprender a identificar a criança que sofre abuso e a fazer as intervenções apropriadas. Qualquer avaliação requer uma história médica e um exame físico. A combinação de informações é o que gera a suspeita de possíveis maus tratos. A história clínica e dentária deve ser abrangente. Os profissionais que identificam e resolvem notificar uma suspeita de maus tratos devem, na medida do possível, falar com as crianças, a fim de esclarecer os fatos. No entanto, não conduzir as entrevistas de forma investigativa para apurar todos os detalhes ou classificar a veracidade dos fatos. Se a criança quiser revelar mais, torna-se adequado ouvi-la e apoiá-la. O exame físico do paciente começa antes mesmo que o indivíduo esteja em tratamento. Observe sua postura, seu modo de andar e de vestir. O pessoal auxiliar necessita ser treinado para reconhecer sinais de violência e negligência de forma que possa alertar o CD quando houver suspeitas. Roupas inadequadas podem ser uma indicação de abuso ou negligência. Por exemplo, uma criança que esteja usando camisa de mangas compridas em pleno verão, pode estar vestida assim para ocultar lesões antigas. O 498 comportamento da criança também pode ser inadequado. Não sorrir espontaneamente e evitar o contato de olhos nos olhos podem ser indicativos, assim como um comportamento demasiado alerta e vigilante. O CD deve iniciar o exame do alto, começando pela cabeça e couro cabeludo, e observar as estruturas mais baixas, sistematicamente. A alopecia sem motivo médico pode indicar má nutrição ou o arrancar de cabelos. O exame continua com a observação do nariz e septo nasal. Um septo desviado ou com sangue coagulado pode indicar um trauma prévio. Procurar por algum indício de trauma facial significativo como equimoses periorobitais, ptoses e pupilas desviadas ou desiguais. Contusões com forma de objetos tais como cinto, corda, vara ou chicote devem alertar o profissional para a ocorrência de trauma provocado. Variações de cores em equimoses devem ser particularmente observadas como estágios diferentes de recuperação. O pescoço deve ser examinado à procura de evidências de marcas de cordas ou contusões que possam indicar tentativas de estrangulamento. O trauma físico no peito ou nas costelas da criança pode ocasionar uma resposta dolorosa quando se movimenta a criança para cima ou para baixo na cadeira odontológica, durante o exame. A presença de marcas de mordidas de um adulto também pode ser sinal de agressão física ou abuso sexual. Tais marcas são úteis para identificar o agressor e necessitam ser claramente documentadas, se possível por fotografias, assim que forem observadas, pois tendem a desaparecer rapidamente. Após completar o exame físico geral, o CD deve examinar os dentes e estruturas de suporte. É indispensável observar qualquer ausência de elementos dentários ou dentes previamente traumatizados (avulsões, luxações, intrusões e fraturas) e prestar bastante atenção especialmente a ferimentos em tecidos moles. Examinam-se, na mandíbula, desvio de abertura, amplitude de movimento, trismo e oclusão em posição de descanso. A maxila também deve ser examinada para a evidenciação de qualquer mobilidade que indique fratura facial. Sangramento sob a língua pode indicar fratura do corpo da mandíbula. Observa-se também a condição dos freios labial superior e língua. Um freio labial superior rompido numa criança que ainda não sabe andar indica um possível trauma na boca, tanto por uma bofetada ou soco, como por alimentação forçada. A ruptura do freio lingual pode ser indicativa de abuso sexual ou, também, alimentação forçada. Contusões ou petéquias no palato mole ou duro podem indicar abuso sexual na forma de penetração oral. Qualquer indício de infecção ou ulceração deve ser prontamente pesquisado, para evidenciar doenças sexualmente transmissíveis. A criança que apresenta lesões de cárie extensas e não tratadas, infecções não cuidadas ou dor de dente, pode ser considerada vítima de negligência física, já que os pais não estão atendendo às suas necessidades básicas de saúde. O CD deve determinar se a 499 omissão de prover cuidados odontológicos é intencional ou devida à falta de consciência, de recursos financeiros ou de acesso aos serviços. Tratamento Deve-se providenciar o tratamento médico ou odontológico indicado de acordo com a condição em que a criança se encontra. Um relatório da história pediátrica completa e do exame físico ajudará na identificação e tratamento de outras situações possivelmente associadas (falta de desenvolvimento, anemia, etc.). Uma criança pequena (menos de 18 a 24 meses de idade), que tenha sofrido fratura, deve passar por um exame geral, a fim de se localizarem outras fraturas; crianças com contusões e equimoses precisam ser examinadas para se detectarem possíveis disfunções associadas. Encaminhamento Como profissionais da área da saúde, os CD(s) precisam estar especialmente atentos à necessidade de proteger as crianças contra maus tratos. É importante também saberem que estão legalmente incumbidos de notificar suspeitas de abuso e negligência em relação à criança, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê no artigo 13, capítulo do Direito à Vida e à Saúde, que “Os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”. A omissão em relação ao citado artigo poderá resultar em responsabilidade civil e criminal. O CD, no exercício de sua atividade profissional, responsável pela promoção da saúde, deve estar sensibilizado e capacitado para suspeitar de qualquer situação que sugira maus tratos. Estudos recentes têm demonstrado que o CD é um grande parceiro, fundamental na identificação de crianças e adolescentes em situações de maus tratos, sendo em muitos casos no seu cotidiano, o primeiro profissional a denunciar essa situação. O profissional que se defrontar com um caso de violência contra a criança ou adolescente deve ter consciência de que está diante de uma situação complexa que exige intervenção e investigação multiprofissional, visando medidas protetivas. Assim sendo, no caso de suspeita ou diagnóstico, o CD deverá preencher a Ficha de Notificação (Anexo A) e enviá-la para o Núcleo de Prevenção às Violências e Acidentes, Promoção da Saúde e Cultura da Paz. 500 BIBLIOGRAFIA HIBBARD, R.A.; SANDERS, B.J. Abuso e Negligência da Criança. In: Odontopediatria. McDONALD, R.E.; AVERY, D.R. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2001. BRASIL. LEI 8.069 de 16 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1990. PFEIFFER, L.; WAKSMAN, R. Violência contra crianças e adolescente. In: Manual de segurança da criança e do adolescente. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria/Nestlé Nutrição, 2004. 502 CAPÍTULO 10 FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE BUCAL 503 504 10. FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE BUCAL 10.1 ATRIBUIÇÕES DO AUXILIAR EM SAÚDE BUCAL (ASB) • Ligar equipamentos como compressor, autoclave, estufa, etc., verificando se estão funcionando adequadamente • Limpar equipos, cadeiras, mochos e mesas, verificando reservatórios de água e lubrificação das pontas • Organizar arquivo, estoque e reposição de todo material de consumo necessário • Providenciar os prontuários dos pacientes agendados • Preparar mesas e bandejas clínicas • Proceder à limpeza e antissepsia do campo operatório antes e após qualquer procedimento clínico • Fazer a recepção, acolhimento e agendamento dos usuários, respeitando as normas do local de trabalho • Instrumentar o CD e o TSB junto à cadeira operatória, inclusive em ambientes hospitalares • Manipular materiais intermediários ou restauradores necessários para os procedimentos clínicos • Realizar procedimentos como escovação supervisionada, evidenciação de biofilme dental e bochechos fluorados na USF e espaços sociais identificados • Participar dos programas educativos e preventivos de saúde bucal • Aplicar os procedimentos de biossegurança, conforme descrito no Capítulo 11 • Dar destino adequado ao lixo produzido na clínica, conforme descrito no Capítulo 11 ou de acordo com o protocolo da USF • Desligar equipamentos e compressor ao final do período de trabalho • Proceder à conservação e a manutenção do equipamento odontológico e solicitar reparos técnicos, se necessário • Selecionar moldeiras • Confeccionar modelos de gesso • Revelar e montar radiografias intraorais • Preencher ficha clínica e relatórios • Realizar o controle de estoque e verificar a validade de material permanente e de consumo • Agendar e orientar o paciente quanto ao retorno • Dar orientações pós-procedimentos odontológicos 505 • Acompanhar e apoiar o desenvolvimento dos trabalhos da equipe de saúde da família no tocante à saúde bucal • Colaborar nos estudos epidemiológicos e científicos • Colaborar nos estágios curriculares e extracurriculares 10.2 ATRIBUIÇÕES DO TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL (TSB) • Fazer a recepção e acolhimento do usuário • Colaborar com a equipe no planejamento de trabalho para promoção de saúde bucal e supervisionar sua aplicação pela equipe auxiliar • Propor e participar de programas de promoção de saúde junto à equipe de saúde da família no tocante à saúde bucal • Participar do treinamento e capacitação de ASB e de agentes multiplicadores das ações de promoção de saúde • Colaborar nos estudos epidemiológicos e científicos • Colaborar nos estágios curriculares e extracurriculares • Fazer orientação aos usuários sobre prevenção e tratamento das doenças bucais. Exemplo: Ensinar técnicas de higiene bucal para controle mecânico de biofilme dental • Organizar as ações administrativas da clínica • Proceder à limpeza e à antissepsia do campo operatório, antes e após atos cirúrgicos, inclusive em ambientes hospitalares • Aplicar os procedimentos de biossegurança, conforme descrito no Capítulo 11 • Realizar procedimentos clínicos de prevenção de cárie e doença periodontal como aplicação tópica de flúor, selantes , etc., conforme a orientação do CD • Inserir, condensar e esculpir materiais restauradores • Fazer polimento de restaurações executadas • Remover suturas • Fazer tomada e revelação de radiografias intraorais • Realizar teste de vitalidade pulpar • Confeccionar moldeiras • Preparar moldeiras • Solicitar a supervisão e avaliação do CD para todos os procedimentos clínicos • Instrumentar o CD em ambientes clínicos e hospitalares (trabalho a quatro mãos) • Realizar o controle de estoque e verificar a validade de material permanente e de consumo 506 • Supervisionar e ajudar na conservação e manutenção dos equipamentos odontológicos e solicitar reparos técnicos, se necessário • Preencher e assinar ficha clínica • Fazer relatórios diário e mensal 10.3 ATRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA (CD) • Fazer a recepção e acolhimento do usuário • Realizar anamnese, exame clínico inicial, diagnóstico e plano de tratamento • Prescrever medicamentos e outras orientações em conformidade com os diagnósticos efetuados • Emitir laudos, pareceres e atestar estados mórbidos e outros, inclusive para justificação de falta ao trabalho • Encaminhar e orientar os usuários que apresentarem problemas mais complexos a outros níveis de especialização, assegurando o seu retorno e acompanhamento, inclusive para fins de complementação do tratamento • Realizar atendimentos de urgências • Realizar cirurgias ambulatoriais • Supervisionar os procedimentos realizados pelo ASB e TSB • Responder pela administração da clínica • Registrar todos os procedimentos realizados nos relatórios diários e mensais (individual e de produção) • Capacitar as equipes de saúde da família no que se refere às ações educativas e preventivas em saúde bucal • Coordenar a equipe na elaboração do planejamento de ações para promoção de saúde bucal, supervisionar sua implementação e avaliar os resultados obtidos, propondo correção caso necessária • Realizar levantamentos epidemiológicos de saúde bucal na comunidade • Estimular a elaboração de trabalhos científicos pela equipe • Supervisionar estágios curriculares, extracurriculares e de pós-graduação • Promover ações de intersetorialidade na USF e sua área de abrangência • Executar as ações de assistência integral, aliando a atuação clínica à de saúde coletiva, assistindo as famílias, indivíduos ou grupos específicos, de acordo com plano de prioridades locais • Reportar-se à Coordenação da USF ou à Gerência de Odontologia sempre que necessário 507 10.4 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE (ACS) • Desenvolver ações de promoção de saúde bucal e de prevenção das doenças neste âmbito mais prevalentes, no seu território de atuação • Identificar espaços coletivos e grupos sociais para o desenvolvimento das ações educativas e preventivas em saúde bucal • Providenciar as fichas “A” dos pacientes da sua microárea para posterior avaliação pela ESB • Acompanhar a ESB durante as atividades extraclínica (visita domiciliar, grupos, reuniões, etc.) e demais atividades referentes à sua área de atuação • Registrar os procedimentos de sua competência realizados 10.5 ATRIBUIÇÕES GERAIS À ESB • A equipe deverá manter a ética com a comunidade e entre os componentes da mesma • Realizar atividades de promoção de saúde, inclusive na ausência do CD • Cumprir prazos para a entrega de relatórios determinados pela AMS • Manter os cuidados pessoais de acordo com os preceitos de biossegurança • Usar obrigatoriamente todos os EPI(s) • Capacitar a equipe da USF para orientação de usuários (mães, gestantes, crianças, etc.) com relação à saúde bucal • Participar do processo de planejamento, acompanhamento e avaliação das ações desenvolvidas no território de abrangência da USF • Identificar as necessidades e expectativas da população em relação à saúde bucal • Estimular e executar medidas de promoção da saúde, atividades educativas e preventivas em saúde bucal • Executar ações básicas de vigilância epidemiológica em sua área de abrangência • Organizar o processo de trabalho de acordo com as diretrizes do PSF e do plano de saúde municipal • Sensibilizar as famílias para a importância da saúde bucal na manutenção da saúde • Programar e realizar visitas domiciliares de acordo com as necessidades identificadas • Desenvolver ações intersetoriais para a promoção da saúde bucal • Os casos omissos serão resolvidos ou tratados pela Coordenação da USF e Gerência de Odontologia 508 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei nº 11.889 de 24 de dezembro de 2008, que regulamenta as profissões de Técnico em Saúde Bucal (TSB) e Auxiliar em Saúde Bucal (ASB) CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA DO PARANÁ. Manual do CirurgiãoDentista. Disponível em <http:// www.cropr.org.br/uploads/manuais/CD.pdf> Acesso em 23 setembro 2008. CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA DO PARANÁ. Manual do Técinico em Higiene Dental do do Auxiliar de Consultório Dentário. Disponível em <http:// www.cropr.org.br/uploads/manuais/higiene.pdf> Acesso em 23 setembro 2008. 510 CAPÍTULO 11 BIOSSEGURANÇA EM ODONTOLOGIA 512 11. BIOSSEGURANÇA EM ODONTOLOGIA Patrícia Helena Vivan Ribeiro Cristiana Castello Branco Nascimento Cristiane de Andrade Janene Gonini Domingos Alvanhan INTRODUÇÃO Este capítulo tem por finalidade padronizar a prática do controle de infecção no atendimento prestado aos usuários nas clínicas odontológicas do Serviço Municipal de Saúde, recomendando-se rotinas e técnicas a serem seguidas pelos profissionais que exercem atividades de risco biológico. O exercício da Odontologia expõe direta, indireta e continuamente os profissionais e pacientes a uma variedade de micro-organismos patogênicos que podem estar presentes no sangue, na saliva e nas vias aéreas dos envolvidos. Os procedimentos invasivos, instrumentos pontiagudos e cortantes contaminados, aerossóis provenientes da utilização de equipamentos de alta rotação, ultrassônicos, etc., e a proximidade física entre profissionais e pacientes são meios de disseminação de micro-organismos e favorecem os riscos de infecção cruzada. Como medida de segurança, todo paciente e pessoal da equipe devem ser considerados como potenciais portadores de alguma doença infectocontagiosa e as medidas preventivas aqui apresentadas devem ser rigorosamente seguidas no serviço. A anamnese é de fundamental importância, devendo incluir todos os detalhes mórbidos atuais e pregressos do paciente, seu histórico médico anterior e atual, antecedentes familiares, assim como exames laboratoriais, quando necessários. 11.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO PARA A EQUIPE 11.2.1 Imunização • Todos os profissionais da equipe devem estar imunizados contra: o Hepatite B o Sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice viral) 513 o Difteria e tétano (Dupla bacteriana) Consideração A imunização contra Influenza está fortemente recomendada para os profissionais de odontologia. 11.2.2 Equipamentos de Proteção Individual – EPIs Toda a equipe deve utilizar os seguintes EPIs: Gorro, máscara, luvas, sobreluvas, óculos de proteção, jaleco e sapatos fechados. Gorro ou touca • Deve ser descartável, colocado antes da lavagem das mãos, cobrindo todo o cabelo • Descartar a cada período ou em qualquer indício de contaminação como presença de respingos de sangue • No caso de procedimentos cirúrgicos, o mesmo deve ser descartado após o atendimento Máscara • Deve ser colocada antes da lavagem das mãos • Deve cobrir totalmente a boca e o nariz, sendo descartada a cada período ou em qualquer indício de contaminação como presença de respingos de sangue ou presença de umidade • No caso de procedimentos cirúrgicos, a mesma deve ser descartada após o atendimento Luvas • Devem ser trocadas a cada atendimento • Não manipular objetos fora do campo de trabalho enquanto estiver de luvas • Caso haja ruptura de uma das luvas durante o procedimento, descartá-las imediatamente e, em seguida, lavar as mãos, calçando novo par 514 o Tipos de luvas Luvas para procedimentos: Devem ser utilizadas em todos os procedimentos odontológicos, exceto nos cirúrgicos e descartadas após cada paciente Luvas cirúrgicas estéreis: Devem ter utilização restrita a procedimentos cirúrgicos Sobreluvas de plástico: Também descartáveis, devem ser calçadas por cima das luvas de procedimento durante o atendimento, sempre que for necessário tocar em outras superfícies. Ex: Puxadores de gavetas e de armários, telefone, maçanetas, canetas, lápis, prontuários, etc. Devem ser descartadas após cada paciente Luvas grossas de borracha: Serão utilizadas na lavagem dos instrumentais e na limpeza do local onde os pacientes realizam a higiene bucal (escovódromo). Após o uso, devem ser lavadas com água e sabão e deixadas arejadas para secar bem, interna e externamente Óculos de proteção • Devem ser utilizados durante todos os procedimentos • Usá-los mesmo sobre óculos de grau, pois os mesmos não oferecem proteção adequada • Devem ser fornecidos a todos os pacientes sempre que o procedimento colocar em risco a integridade ocular do mesmo. Ex: Agentes químicos, instrumentais perfurocortantes, etc. • Após cada atendimento, devem ser lavados com água e sabão. Agentes químicos como álcool 70% danificam a película protetora antiembaçamento Jaleco (avental) • Pode ser de tecido ou descartável66, ter colarinho alto, mangas longas e ser, preferencialmente, na cor branca • Deve ser colocado antes da lavagem das mãos e ser usado abotoado • Retirá-lo todas as vezes que se ausentar da clínica • Deve ser trocado no final do período ou em qualquer indício de contaminação como presença de respingos de sangue 66 Se a opção for por jaleco descartável, o mesmo deverá ser descartado no final do período. 515 • No caso de procedimentos cirúrgicos de rotina, o mesmo deve ser trocado após o atendimento • Após o uso, acondicioná-lo em saco plástico para transporte ao local onde será lavado • Deve ser deixado de molho em água sanitária na diluição 1:9 de água sanitária e água por 30 minutos • Lavá-lo separadamente das demais roupas de uso doméstico • Utilizar jalecos específicos para a clínica odontológica, visitas domiciliares e outras atividades extraclínica Calçados • Devem ser fechados e, de preferência, com solado antiderrapante • Visam proteger os pés de impactos de quedas de objetos, choques elétricos, agentes térmicos, cortantes e escoriantes, umidade proveniente de operações com uso de água e respingos de produtos químicos Considerações • Anéis, pulseiras, relógios, etc., são passíveis de acúmulo de micro-organismos assim como serem vetores de infecção cruzada, sendo o seu uso contraindicado durante os atendimentos • Toda equipe deve apresentar unhas aparadas de forma a não acumular microorganismos sob as mesmas, usar produtos de higiene pessoal (desodorantes, colônias e perfumes) de odor suave e às mulheres que costumam fazer uso de maquiagem recomenda-se utilizá-la de forma discreta • Ferimentos em áreas expostas, inclusive nas mãos, devem ser protegidos com esparadrapo ou curativo tipo Bandaid® antes da colocação da luva • É expressamente proibido fumar no ambiente odontológico 1.3 CLASSIFICAÇÃO DOS ARTIGOS E MATERIAIS ODONTOLÓGICOS SEGUNDO POTENCIAL DE TRANSMISSÃO DE INFECÇÃO Artigos não críticos: Materiais utilizados em procedimentos com baixo risco de desenvolvimento de infecção associada ou que entram em contato apenas com pele íntegra. Requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou médio nível, dependendo do risco de transmissão secundária de micro-organismos de importância epidemiológica 516 (Ex: Superfícies do equipo odontológico, placas de vidro e potes de Dappen, mufla, arco de Young, óculos de proteção, sacabroca e outros). Artigos semicríticos: Materiais que entram em contato com secreções orgânicas (saliva) e que não invadem o sistema vascular. Requerem esterilização ou desinfecção de alto nível para uso. Ex: Espelhos clínicos, sonda exploradora, pinça clínica, moldeiras, material de dentística (instrumentais para amálgama, resina, portamatriz e outros), canetas de baixa e alta rotação sem contaminação com sangue. Artigos críticos: Materiais utilizados em procedimentos de alto risco para desenvolvimento de infecções ou que penetram no sistema vascular, em tecido conjuntivo ou ósseo (áreas corporais desprovidas de flora própria). Requerem esterilização para uso (Ex: Agulhas, seringas, materiais para os implantes, pinças cirúrgicas, instrumentos de corte ou pontiagudos, instrumentos de periodontia e de cirurgia, broca cirúrgica, instrumentos endodônticos, canetas de baixa e alta rotação e outros). 11.4 LIMPEZA DO AMBIENTE DO CONSULTÓRIO A limpeza do ambiente deve ser realizada ao final de cada turno, na troca de equipes e deve seguir as orientações vigentes para o restante da USF, sendo executada pelo profissional de serviços gerais que deverá: • Proceder à limpeza do piso com pano de chão ou mop (esfregão) umedecido com água e sabão. Não utilizar varredura seca (vassoura) • Conservar limpas, com água e sabão, a parte externa das mangueiras e fiação do equipamento sobre o piso, assim como a parte externa de todo o mobiliário, pias, arquivos, ventiladores, geladeira (degelo periódico inclusive), etc. • Quando houver presença de matéria orgânica (sangue, vômito) no chão, retirar o resíduo com papel toalha usando luvas de procedimento, descartá-la junto com o papel infectado e o material biológico no LIXO INFECTADO e, em seguida, borrifar o local com ácido peracético 0,5% (Peresal®) ou hipoclorito de sódio 1% 11.5 ROTINA DA EQUIPE (ASB E TSB) EM BIOSSEGURANÇA A equipe odontológica deverá respeitar e executar as seguintes normas e rotinas de procedimentos. 517 11.5.1 Antes do Atendimento • No início do período de atendimento: o Arejar o ambiente, abrindo as janelas o Preparar a cuba plástica com a diluição de detergente enzimático para depósito de instrumentos usados o Conferir e corrigir, se necessário, as condições de asseio do ambiente: Piso, pias, mesas auxiliares, escrivaninhas, espelhos, etc. o Buscar os instrumentos estéreis na sala de esterilização o Providenciar campos para a embalagem dos instrumentos e os de desinfecção que será feita após cada atendimento • o Paramentar-se para as atividades do período o Acionar as pontas de baixa e alta rotação por 20 a 30 segundos Realizar desinfecção por fricção com ácido peracético 0,5% (Peresal®) nas canetas de alta e baixa rotação termossensíveis67, ponta da cânula e mangueira do sugador, seringa tríplice, alça e o interruptor do refletor, controle de manobra das cadeiras, mesa auxiliar, equipo e cadeira odontológicos, mochos e equipamentos periféricos antes de cada atendimento. Borrifar o ácido peracético 0,5% (Peresal®) diluído sobre as superfícies e espalhá-lo com campo para limpeza ou “bolachas” de algodão. Este processo deverá ser realizado antes de cada atendimento • Lavar as mãos antes de calçar as luvas, fechando a torneira com papel toalha, caso não tenha o acionamento por pé • Colocar babador descartável no paciente Considerações • Manter os materiais de consumo e permanente organizados, em locais secos, arejados, livres de odores e umidade, abrigados de calor, observando seus prazos de validade. Locais onde há conexões de água e esgoto são contraindicados para armazenamento de materiais odontológicos • Todos os materiais odontológicos deverão ser armazenados em caixas fechadas. Ex: Anestésico, gaze, algodão, etc. 67 Em situações corriqueiras, as canetas de baixa e alta rotação são classificadas como artigos semicríticos. Se houver contato com sangue, são classificadas como artigos críticos. A recomendação nesta situação é a esterilização em autoclave. Não sendo possível, proceder a desinfecção com ácido peracético 0,5% por fricção durante 20 a 30 segundos. A utilização da imersão em ácido peracético está contraindicada por causar corrosão às mesmas, principalmente nas partes internas. 518 11.5.2 Durante o Atendimento • Manter somente o material que será utilizado na área de trabalho, a fim de evitar contaminação desnecessária • Lavar a pia e o espelho onde os pacientes escovam os dentes (escovódromo) após a escovação de cada turno • Os materiais restauradores deverão ser manipulados preferencialmente pelo ASB, com a utilização de sobreluvas. Caso se observe presença de matéria orgânica nos frascos, realizar desinfecção com ácido peracético 0,5% (Peresal®) • Realizar desinfecção com álcool 70% ou gel de clorexidina a 2%, nos tubetes de anestésico antes do seu uso, sem imergi-los em nenhum tipo de solução desinfetante • Calçar sobreluvas se for necessário atender telefone ou porta durante o atendimento ou tocar na alça do refletor, botões de acionamento da cadeira, puxadores, canetas, lápis, prontuários, etc. e descarta-las depois de cada paciente • Entregar instrumentos pontiagudos ou cortantes e seringa Carpule montada para o operador de forma muito cuidadosa, evitando acidentes • Nunca passar quaisquer materiais ou instrumentos ao operador sobre a face do paciente, principalmente olhos, evitando acidentes • Manter a agulha usada protegida pela tampa, inserindo-a após o uso dentro do respectivo protetor sobre a mesa auxiliar sem tocá-lo com os dedos (técnica de pescagem). Uma vez que a agulha esteja introduzida no protetor, com a mão livre ajustá-lo pela base à seringa, nunca colocando a mão ou os dedos à frente da agulha • Ao substituir o tubete de anestésico para nova infiltração, fazê-lo sob rigorosa atenção, observando que o protetor da agulha esteja ajustado à base e a agulha usada bem protegida e não posicionar a mão ou os dedos à frente da agulha. Muita perícia também ao entregá-la e recebê-la do CD • Para o descarte da agulha, proceder da mesma forma: Desrosquear o conjunto agulha+protetor da seringa sem posicionar a mão ou os dedos à frente da agulha. Depositá-los na caixa ou frasco rígidos próprios para receber descartes perfurocortantes • Notificar ocorrências de acidente de trabalho aos encarregados (CD e Coordenador da USF) e seguir as orientações previstas para estas situações, conforme as disposições ao final deste capítulo • Não manipular envelopes, prontuários, canetas, lápis e carteirinhas dos pacientes com luvas contaminadas. • Moldagens, modelos, peças de prótese e aparelhos ortodônticos devem ser considerados sempre como contaminados. Os mesmos devem ser lavados em água 519 corrente para a eliminação de sangue e saliva residual. Antes de serem transportados ao Laboratório de Prótese, a desinfecção deve ser realizada, conforme orientações a seguir 11.5.3 Orientações para Desinfecção de Moldes Embora haja controvérsias quanto à técnica e produtos desinfetantes para este fim, considerando a concentração e o tempo de exposição do material de moldagem e possível alteração dimensional, medidas de biossegurança no tratamento dos moldes se fazem imprescindíveis. O quadro 82 resume as principais informações concernentes à desinfecção dos materiais de moldagem, próteses e impressão em cera. Material Desinfecção Alginato Hipoclorito de sódio 1% Prótese removível (PPR ou total) Registros em cera Hipoclorito de sódio 1% Hipoclorito de sódio 1% Técnica • Lavagem em água corrente Aspersão68 com hipoclorito, por alguns minutos Enxágue com água corrente • • • • Lavagem em água corrente Imersão por 10 minutos Lavagem Secagem • • • • Lavagem em água corrente Imersão por 10 minutos Lavagem Secagem • • Quadro 82 - Desinfeção de moldagens e aparelhos protéticos 11.5.4 Após o Atendimento • Descartar em recipiente rígido próprio e identificado todo material perfurocortante utilizado ao final de cada atendimento (agulhas descartáveis, de sutura, de aplicação de ácido gel e de alguns selantes, brocas, limas endodônticas, lixas de metal para 68 Aspergir: Borrifar 520 amálgama, lâminas de bisturi, cunhas de madeira, bicos de sugador e quaisquer outros perfurocortantes) • Recolher todos os medicamentos e instrumentos usados e imergir estes últimos em detergente enzimático, seguindo as orientações de tempo e diluição do fabricante • Materiais termossensíveis69 o Sacabrocas termossensíveis: Imergi-los em detergente enzimático, por 5 minutos. Em seguida, lavar com água e detergente ou sabão líquido utilizando escovas de cerdas macias ou esponja. Enxaguar em água corrente, secar e fricionar ácido peracético a 0,5% por 20 a 30 segundos o Escovas de Robinson termossensíveis, pontas de borrachas para profilaxia ou polimento e outros: Imergi-los em detergente enzimático, por 5 minutos. Em seguida, enxaguar abundantemente e secar. Esterilizar através de imersão em ácido peracético 2%, por 8 horas ou descartá-los o Pontas de baixa e alta rotação termossensíveis: Remover a broca Acionar o sistema de ar e água, por 20 a 30 segundos, a fim de eliminar ou reduzir o refluxo do líquido aspirado Limpar as pontas com gaze umidecida em água e detergente ou sabão líquido para remoção das sujidades • Secar em gaze ou papel toalha Lubrificar, se necessário Retirar o excesso de óleo acionando a ponta novamente por 20 a 30 segundos Friccionar ácido peracético (Peresal) 0,5% por 20 a 30 segundos Materiais termorresistentes o Imergir em detergente enzimático por 5 minutos. Em seguida, lavar com água e detergente ou sabão líquido utilizando escovas de cerdas macias ou esponja. Após abundante enxágue, os instrumentos devem ser enxutos com pano limpo ou papel absorvente e, em seguida, acondicionados adequadamente, conforme o tipo de esterilização a ser utilizada. o Escovas de Robinson termorresistentes deverão ser autoclavadas, após passarem pelo processo acima descrito 69 Materiais que ficaram imersos em ácido peracético e logo em seguida forem utilizados, deverão ser enxaguados com água destilada ou deionizada. 521 o Pontas de baixa e alta rotação termorresistentes: Remover a broca Acionar o sistema de ar e água, por 20 a 30 segundos, antes de retirar a peça a fim de eliminar ou reduzir o refluxo do líquido aspirado Limpar as pontas com gaze umidecida em água e detergente ou sabão líquido para remoção das sujidades • Secar em gaze ou papel toalha Lubrificar Retirar o excesso de óleo acionando a ponta novamente por 20 a 30 segundos Acondicionar Autoclavar Antes de utilizar, lubrificar novamente Acondicionamento dos instrumentos para esterilização em: Autoclave o Campo de algodão cru duplo, no caso de instrumentos de uso diário (validade de esterilização: 7 dias) o Envelopes descartáveis de papel grau cirúrgico com filme plástico (Plastiesteril®): Instrumentos de uso menos frequente, devidamente vedados através de seladora (validade de esterilização: 3 meses) Lacrados com fita adesiva (validade: 7 dias). Não é o meio mais adequado de selamento. Sempre que possível realizar o vedamento indicado (seladora) o Caixas metálicas perfuradas ou abertas acondicionadas em uma das duas embalagens citadas anteriormente (prazo de validade algodão cru: 7 dias; papel grau cirúrgico com filme plástico: 3 meses) Estufa o Os instrumentos deverão ser acondicionados em caixas metálicas lacradas, respeitando-se o tempo de exposição do material (validade de esterilização: 7 dias) • Após cada atendimento, realizar a desinfecção das cadeiras odontológicas, mochos, equipo, refletores, mesas auxiliares e dos equipamentos usados borrifando ácido 522 peracético 0,5% (Peresal®) sobre a superfície e espalhandoo com campo de algodão para limpeza ou “bolacha” de algodão • A fim de evitar infecção cruzada, deve ser usado um campo após cada atendimento e todos os utilizados no período encaminhados à lavanderia ao final do mesmo. Na indisponibilidade de campos, usar a bolacha de algodão para desinfecção da bancada, descartando-a depois de cada uso no LIXO INFECTADO • Descartar também no LIXO INFECTADO luvas, sobreluvas, máscara, gorro, canudos para proteção de seringa tríplice, dentes extraídos, películas de radiografia e tudo o que contiver sangue ou secreções purulentas • Papéis toalha, copos descartáveis de uso comum, embalagens de papel devem ser desprezados no LIXO COMUM • Tubetes de anestésico devem ser desprezados no LIXO QUÍMICO • Lavar as mãos após a remoção e descarte das luvas de procedimento • Seguir as orientações e rotinas da Central de Esterilização da USF e observar que estejam sendo realizados testes químicos (indicadores multiparamétricos) diariamente na primeira carga nos esterilizadores e testes biológicos (Bacillus stearothermophilus para autoclave ou Bacillus subtillis para estufa) no mínimo uma vez por semana, a fim de comprovar a eficácia do processo de esterilização • Realizar a desinfecção de objetos como telefone, maçanetas, puxadores de gavetas, armários e geladeira, etc. com ácido peracético 0,5% (Peresal®). Não usar o mesmo campo utilizado nos equipamentos odontológicos, pois este pode conter contaminação de material biológico 11.5.5 Orientações para Utilização de Autoclave / Estufa Onde não há uma Central de Esterilização, como no CEO, e que todo o processo de esterilização fica sob responsabilidade da Odontologia, os seguintes cuidados deverão ser observados pela equipe auxiliar, durante o ciclo de esterilização. Autoclave A esterilização em autoclave deverá ser a primeira escolha devido à comprovada eficácia do processo. 523 Tipos de autoclave a vapor sob pressão o Gravitacional: 15 a 30 minutos a uma temperatura de 121 a 127º C e 01 atm de pressão. É o mais utilizado no Brasil o Pré-vácuo: 04 a 07 minutos a uma temperatura de 132 a 134º C e 02 atm de pressão o Cicloflash: Recomendado para situações de uso imediato Material que poderá ser esterilizado em autoclave o Brocas (de aço, carbide, tungstênio ou pedra), instrumentais de endodontia, moldeiras de inox e plásticas, instrumentos metálicos, bandejas, placas, potes de vidro, materiais plásticos, borracha, tecidos, etc. que não sejam termossensíveis Cuidados básicos o Realizar limpeza semanal externa e interna da autoclave com bucha, água e sabão o Carregar somente 80% da capacidade do equipamento, favorecendo a penetração do vapor nos pacotes e a secagem o Posicionar os pacotes de modo vertical e com as aberturas voltadas para o fundo da câmara, para facilitar a entrada e a circulação do vapor, bem como a eliminação do ar o Dispor os pacotes de forma que não fiquem muito apertados, permitindo que o vapor passe por todos os itens o As embalagens de acondicionamento devem ser permeáveis ao vapor e de tamanho suficiente para envolver o item a ser esterilizado o Todas as embalagens devem ser lacradas com fita termocrômica (que indica o que foi esterilizado) e conter datas de esterilização e de validade o A porta da autoclave deve ser aberta lentamente após o término do processo e mantida entreaberta de 5 a 15 minutos para auxiliar na secagem do material o Descarregar a autoclave usando máscara e luvas de proteção térmica e os materiais devem ser dispostos em superfície protegida com campo para evitar a diferença brusca de temperatura e umidecimento dos pacotes por condensação, podendo levar à contaminação o A autoclave deve realizar automaticamente o processo de secagem efetivo. Se ocorrer que os pacotes saiam úmidos, isto deverá ser comunicado ao responsável para que o equipamento seja encaminhado à manutenção. Pacotes úmidos não 524 devem ser colocados em estufas para secarem. Este procedimento é condenado e incorreto, não garantindo a esterilização do material o Testes químicos (indicadores multiparamétricos) devem ser realizados diariamente na primeira carga da autoclave e testes biológicos (Bacillus stearothermophilus ou Bacillus subtillis), no mínimo uma vez por semana, a fim de comprovar a eficácia do processo de esterilização Estufa Deverá ser utilizada somente na impossibilidade de se realizar a esterilização em autoclave. Ciclo de esterilização 70 170º C por 1 hora ou 160º C por 2 horas Material que poderá ser esterilizado em estufa o Brocas (de aço, carbide, tungstênio ou pedra), instrumentais de endodontia, moldeiras de inox, instrumentais metálicos, bandejas, placas de vidro e potes de vidro Cuidados Básicos o Realizar limpeza semanal externa e interna da estufa com bucha, água e sabão o A temperatura deverá ser controlada por termômetro externo tipo bulbo o Distribuir os materiais no interior da estufa. As caixas devem ser colocadas de maneira que fique um espaço entre elas, permitindo que o ar circule livremente dentro da câmara. As caixas menores devem ser colocadas sobre as maiores e nunca ao contrário o Fechar a porta da estufa o Aguardar o termômetro indicar a temperatura desejada o Quando o termômetro já indicar a temperatura desejada, marcar o tempo de esterilização: O material deve ficar exposto por 1 hora a 170ºC 70 O ciclo de esterilização adotado pela Autarquia Municipal de Saúde: 170º C por uma hora. 525 o Após ter completado o ciclo de esterilização, deve-se desligar a estufa e aguardar a temperatura abaixar até 70 ºC para a retirada do material o Retirar o material (calçar luvas protetoras de tecido, caso o material ainda esteja quente) o Passar fita adesiva (crepe), lacrando a tampa de todas as caixas, colocando data de esterilização e data de validade 11.5.6 Considerações • Detergente enzimático: Deve conter de 3 a 4 enzimas. Diluir 5 mL do produto em 1 litro de água. Trocar uma vez ao dia ou antes, caso a solução fique turva. Pode ser desprezado na rede de esgoto. Os instrumentos contaminados devem ficar imersos por, no mínimo, 5 minutos e enxaguados em água corrente, para depois serem lavados com água, detergente líquido, escovinha e/ou esponja. Sempre seguir as recomendações do fabricante • Peresal®: É composto por ácido peracético e peróxido de hidrogênio. É fotossensível, por isso deve ser mantido em frasco que não permita a passagem de luz para seu interior. Deve ser aplicado borrifando as superfícies que possam conter material biológico e esfregando-as com campo de algodão cru ou “bolachas” de algodão, sem enxágue. Pode ser desprezado na rede de esgoto. Após a diluição de 5 mL em 1 litro de água (0,5%) ele tem a validade de 7 dias, em frasco adequado. Esta diluição deve ser seguida criteriosamente, pois caso a solução fique mais concentrada poderá causar danos aos equipamentos e demais superfícies • O operador que realizar a limpeza do material deverá calçar luvas de borracha grossa, avental impermeável, além dos demais EPIs 11.7 ROTINA DO CD NA BIOSSEGURANÇA 11.7.1 Antes do Atendimento • Paramentar-se para as atividades do período, conforme descrito no item 11.2.2 • Lavar as mãos antes de calçar as luvas, fechar a torneira com papel toalha, caso o acionamento não seja realizado por pé 526 • Analisar o prontuário antes de calçar as luvas. Caso seja necessária sua manipulação durante o atendimento, usar sobreluvas e, prevendo esta situação, deixá-lo em local de fácil acesso • Fazer o ajuste na cadeira e no refletor antes de calçar as luvas de procedimento • Supervisionar os procedimentos de biossegurança realizados pela equipe e também se os testes químicos e biológicos estão sendo realizados conforme recomendação 11.7.2 Durante o Atendimento • Tratar todos os pacientes como potencialmente infectados • É recomendado, antes de qualquer procedimento, que todo paciente realize bochecho com solução de gluconato de clorexidina 0,12%, por um minuto • Evitar a permanência na clínica de mais do que um acompanhante por paciente menor de idade • Não permitir a permanência na clínica de pessoas estranhas ao serviço como vendedores, visitantes, etc. • Não manipular envelopes, prontuários, canetas, lápis e cartão de retorno dos pacientes com luvas contaminadas • Calçar sobreluvas se for necessário atender telefone ou porta durante o atendimento ou tocar na alça do refletor, botões de acionamento da cadeira, em puxadores, canetas, lápis, prontuários, etc. e descartá-las depois de cada paciente • Entregar instrumentos pontiagudos ou cortantes para o ASB de forma cuidadosa, evitando acidentes • Nunca passar quaisquer materiais ou instrumentos ao ASB por sobre a face do paciente • Nunca reutilizar materiais descartáveis como pincel, microbrush, espátula de manipulação, casulos para adesivos ou selantes, etc. • Notificar quaisquer ocorrências de acidente de trabalho à coordenação da USF, conforme descrito neste capítulo • Garantir que todas as medidas de biossegurança sejam seguidas 11.7.3 Após o Atendimento • Descartar no LIXO INFECTADO luvas, sobreluvas usadas, máscaras, gorro e tudo mais que contiver sangue e secreções purulentas e, em seguida, lavar as mãos • Preencher os relatórios e prontuários sem luvas, após lavagem das mãos 527 11.8 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS O gerenciamento é tido como um instrumento capaz de minimizar ou até mesmo impedir os efeitos adversos causados pelos resíduos de saúde, do ponto de vista sanitário, ambiental e ocupacional. 11.8.1 Tipos de Resíduos Produzidos no Atendimento Odontológico Com base na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) 306/04, a segregação e acondicionamento deverão ser realizados obrigatoriamente conforme as seguintes recomendações: Grupo A - Resíduos Infectantes • Devem ser acondicionados nas lixeiras com tampa e pedal, forradas com sacos plásticos branco leitosos, com identificação de RESÍDUO INFECTANTE. Exemplo: Recipientes e materiais contendo sangue ou líquidos corpóreos (gaze, algodão, campos, barreiras, aventais, luvas, máscaras, peças anatômicas provenientes de procedimentos cirúrgicos, etc.) • O uso de sacos individuais pequenos (como os usados para sanduíches) como porta detritos permite o descarte prático e seguro de pequenos dejetos Grupo B - Resíduos Químicos • São resíduos contendo substâncias químicas que apresentam riscos à Saúde Pública ou ao meio ambiente. Exemplo: Desinfetantes, reveladores, fixadores, restos de amálgama, mercúrio, frascos de medicamentos ou de produtos odontológicos sólidos e líquidos, medicamentos, cápsulas de amálgama vazias, etc. • Devem ser acondicionados em recipientes individualizados, de compatibilidade química com o resíduo, de forma a evitar reação química entre os componentes, não permeáveis e encaminhados para empresa devidamente licenciada pelo órgão ambiental competente para tratamento • Resíduos de amálgama e mercúrio devem ser acondicionados em recipientes sob selo d’água e encaminhados para recuperação 528 • Cápsulas de amálgama vazias devem ser acondicionadas em recipientes rígidos com tampa (Ex: Frasco de álcool, garrafa Pet, etc.) e com a identificação “Cápsulas de Amálgama” • Frascos de medicamentos vencidos ou vazios, tubetes de anestésico (usados ou não) devem ser desprezados no lixo químico Grupo E - Resíduos Perfurocortantes ou Escarificantes • São todos os objetos e instrumentos contendo: Cantos, bordas, pontos ou protuberâncias rígidas e agudas capazes de cortar, escarificar ou perfurar. Exemplo: Lâminas, agulhas, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, lixa de amálgama, cunha proximal, sugador, etc. • As brocas devem ser retiradas das pontas, logo após o seu uso, para evitar acidentes • Os materiais perfurocortantes, como agulhas descartáveis, lâminas de bisturi e agulhas de sutura também devem ser descartados logo após o seu uso • Não se deve entortar nenhum tipo de agulha, para se evitar acidente • Esse material deve ser acondicionado em recipientes rígidos com tampa vedante e encaminhados para disposição final com identificação INFECTANTE E MATERIAL PERFUROCORTANTE Grupo D - Resíduos Comuns e Recicláveis • São todos os resíduos gerados nos serviços odontológicos que não apresentam riscos biológico, químico ou radioativo. Exemplo: Papel toalha, embalagens de esterilização não contaminadas, papel de uso sanitário, papéis em geral, caixas de papelão e de medicamentos, copos descartáveis de uso comum, etc. o Devem ser descartados como lixo comum ou reciclável o As lixeiras devem ser forradas com plástico e ter tampas e pedais, devendo ser a de lixo comum separada da de material contaminado • Resíduos recicláveis: Recomenda-se não armazenar no interior da clínica. Seguir fluxo da USF para tais resíduos. Exemplos de materiais recicláveis: Caixas de papelão, de medicamentos, papéis em geral não contaminados, copos descartáveis de uso comum, etc. 530 11.9 ACIDENTES DE TRABALHO: ORIENTAÇÕES GERAIS CONFORME PROTOCOLO DO CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR (CEREST) Mara Ferreira Ribeiro Renata Cristina da Silva Baldo 11.9.1 Acidentes de Trabalho sem Exposição a Material Biológico • Quando o acidentado for servidor da AMS (Estatutário) o Comunicar imediatamente o profissional responsável (CD e/ou Coordenador da USF) que emitirá o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT) e encaminhará o acidentado ao serviço de atendimento médico cadastrado pela Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais de Londrina (CAAPSML). Depois de ocorrido o atendimento, encaminhamento para CAAPSML, onde efetuará o registro da CAT • Quando o acidentado for funcionário de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Centro Integrado de Apoio Profissional (CIAP) ou outras Instituições o Comunicar imediatamente o profissional responsável (CD e/ou Coordenador da USF) que encaminhará para atendimento médico o Após o atendimento, o funcionário será encaminhado para o respectivo RH para emissão da CAT e acompanhamento do acidentado Considerações • As guias de acidente de trabalho que têm preenchimento obrigatório (Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT e Sistema de Informação de Agravos de Notificação SINAN) estão disponíveis na USF e CEO ou na página do CEREST (SINAN), com acesso pelo endereço eletrônico http://saude.londrina.pr.gov.br/cerest/ • A abertura da CAT deve ser feita no ato do acidente, com exceção dos casos de urgência que deverão ser atendidos antes do preenchimento do documento 531 11.9.2 Acidentes de Trabalho com Exposição a Material Biológico Acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos ocorrem com os profissionais da área da saúde durante o desenvolvimento do seu trabalho, onde os mesmos estão expostos a materiais biológicos potencialmente contaminados. Os ferimentos com agulhas e material perfurocortante em geral são considerados extremamente perigosos por serem potencialmente capazes de transmitir mais de 20 tipos de patógenos diferentes, sendo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o da hepatite B (HBV) e o da hepatite C (HCV) os agentes infecciosos mais comumente envolvidos. Para situações de ferimento com presença de material biológico seguir as orientações abaixo. • Quando o acidentado for servidor da AMS (Estatutário) Conduta no local de trabalho o Comunicar imediatamente o profissional responsável (CD e/ou Coordenador da USF) o Cuidar do ferimento do funcionário acidentado conforme protocolo da USF o Quando a fonte de contaminação (paciente) for identificada, solicitar autorização para a coleta dos exames (sangue) que será realizado na USF, conforme Protocolo da mesma o Encaminhar o funcionário acidentado impreterivelmente até 02 horas após o acidente com as Fichas de Notificação do SINAN e CAT da CAAPSML devidamente preenchidas junto com o sangue da fonte (identificado com nome, data de nascimento, unidade de origem e nome da mãe) ao CENTROLAB. Ressalta-se que esse procedimento deverá ser realizado mesmo se a fonte for desconhecida, por exemplo: Acidentes na hora da limpeza dos instrumentais, manuseio do lixo contaminado, etc. o O local de trabalho será responsável pela entrega do resultado da fonte, onde o paciente passará por consulta médica o Na ausência da coordenação da USF, qualquer outra pessoa habilitada poderá preencher a Ficha de Notificação do Acidente – SINAN e CAT o • A CAAPSML fará o acompanhamento do acidentado até a alta Quando o acidentado for funcionário de outras Instituições Empregadoras o Comunicar imediatamente o profissional responsável (CD e/ou Coordenador da USF) 532 o Cuidar do ferimento do funcionário acidentado conforme Protocolo da USF o Quando a fonte de contaminação (paciente) for identificada solicitar autorização para a coleta dos exames (sangue), que será realizado na USF, conforme Protocolo o Encaminhar o funcionário acidentado impreterivelmente até 02 horas após o acidente, junto com o sangue da fonte (identificado com nome, data de nascimento, unidade de origem e nome da mãe), conforme Protocolo da USF. Ressalta-se que esse procedimento deverá ser realizado mesmo se a fonte for desconhecida, por exemplo: Acidentes na hora da limpeza dos instrumentais, manuseio do lixo contaminado, etc. Locais que irão acolher as pessoas acidentadas 1) Pronto Atendimento Municipal - PAM o Servidores da AMS 2) Hospital Dr. Anísio Figueiredo (Hospital da Zona Norte – HZN) o Funcionários do CISMEPAR, SESA/ISEP, OSCIP, Hospital Zona Sul, ICL, INAMPS e outras Instituições empregadoras o Estagiários da Universidade Norte do Paraná - UNOPAR e de outras Instituições de ensino, com exceção da UEL o Funcionários estatutários quando o CENTROLAB estiver fechado 3) Hospital Universitário da UEL o Estagiários, residentes e funcionários da UEL, lotados nas USF, CEO e Maternidade Municipal • Quando o acidentado for o usuário o Comunicar imediatamente os profissionais responsáveis, tanto pela clínica odontológica como pela USF o Lavar o local com água abundante e sabão ou soro fisiológico, em caso de exposição em mucosa ocular. Sempre seguir o Protocolo da USF o O responsável auxiliará no preenchimento obrigatório do SINAN e no encaminhamento imediato do paciente ao Hospital da Zona Norte para o primeiro atendimento. Posteriormente o usuário também receberá acompanhamento conforme orientações do Hospital de referência 533 Bibliografia BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Serviços Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Controle de Infecções e a Prática Odontológica em Tempos de AIDS: Manual de Condutas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. CASEMIRO, L A; PANZERI H; Material de Moldagem: Solução Desinfetante. Pólo de Odontologia Digital Aplicada à Educação (PODAE) FORPUSP, 2006. PEDROSO, L. H. Recomendações Práticas de biossegurança e esterilização em odontologia. Campinas: Ed. Komedi, 2004. SILVA, A. S. F. et al. Protocolo de Biossegurança. Faculdade de Odontologia e Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic. Disponível em: < http://www.slmandic.com.br/download/protocolodebiosseguranca2008.pdf>. Acesso em: 16 outubro 2008. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. Manual de Rotinas para o Atendimento Ambulatorial. Londrina: UEL, 2008. UNIVERSIDADE SANTO AMARO. Manual de Biossegurança da Faculdade de Odontologia da Universidade de Santo Amaro. São Paulo, 2004. 534 APÊNDICES 536 APÊNDICE A – FICHA DE TERRITORIALIZAÇÃO PSF/BUCAL 1. INTEGRAÇÃO COM ESF USF Coordenador(a) Assessores Técnicos Componentes da ESF A B C D ACS Auxiliar de Enfermagem Enfermeiro(a) Médico (a) NASF Demais membros da USF Nome do grupo Grupos de Apoio/ Programas Dia e Horário Responsável 537 APÊNDICE A – FICHA DE TERRITORIALIZAÇÃO PSF/BUCAL - Continuação 2. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS USF: População/Área A B C D TOTAL 0 a 19 anos 20 a 59 anos > 60 anos Casos de Hipertensão Arterial (HIPERDIA) Casos de Diabetes Mellitus (HIPERDIA) Nº de Acamados (preso ao leito) Nº de pessoas com deficiência de locomoção Nº médio de gestantes % de abastecimento público de água (água fluorada) DADOS DE SAÚDE BUCAL (ÚLTIMO LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO) ANO: % LIVRES DE CÁRIE 3 ANOS Ceo-d 5 ANOS % LIVRES DE CÁRIE 5 ANOS CPO-D 12 ANOS % LIVRES DE CÁRIE 12 ANOS CPO-D 15 – 19 ANOS % LIVRES DE CÁRIE 15-19 ANOS CPO-D 35 - 44 ANOS % LIVRES DE CÁRIE 35-44 ANOS CPO-D 65 - 74 ANOS IPC 35 – 44 IPC 65 - 74 ANOS % NECESSI DADE PRÓTESE 538 3. ÁREA DE ABRANGÊNCIA USF: ÁREA: NOME ESCOLAS (PÚBLICAS/PARTICULARES) CENTROS EDUC. INFANTIL ENDEREÇO/TELE/FONE Nº DE ALUNOS CONTATO 1 2 3 4 5 1 2 3 REPRESENTANTE/TELEFONE ASS. MORADORES/CENTROS COMUNITÁRIOS CONSELHEIROS DE SAÚDE 1 2 3 NOME ENDEREÇO/TELEFONE 1 2 RESPONSÁVEL Centro de Referência de Assistência Social CRAS NOME IGREJAS/TEMPLOS/ INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS/ONGS etc. 4 TELEFONE 3 2 3 BARREIRAS DE ACESSO A USF 1 3 ENDEREÇO 2 1 2 TELEFONE 1 ENDEREÇO ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER OU DE REUNIÃO ENDEREÇO TELEFONE 539 APÊNDICE B - FICHA DE AVALIAÇÃO DE RISCO Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Afirmo que as declarações abaixo foram fornecidas por mim durante a realização da Visita Domiciliar da equipe de saúde bucal da USF a qual pertenço e são de minha inteira responsabilidade. Declaro estar ciente da forma de seleção para tratamento odontológico (avaliação de risco) e autorizo a utilização das informações para estudos científicos. ( ) autorizo a realização da Visita Domiciliar e do Tratamento Odontológico (se necessário) ( ) autorizo a realização da Visita Domiciliar, mas não autorizo o Tratamento Odontológico ( ) não autorizo a Visita Domiciliar e nem o Tratamento Odontológico Nome: ___________________________________________________Telefone: ______________ Data___/___/___ Assinatura:______________________________________________________________________ USF:____________________________________________________________ Data da V.D:____/___/___ Responsável pelo levantamento: _____________________________________________________________ Dados Pessoais do Usuário Priorizado Nome: __________________________________________________ Telefone: _______________ Data de nascimento.:___/____/___ Grau de escolaridade:________________________________ Endereço: ______________________________________________________ Nº____________ Bairro:_________________________________________________________Área:____________ ACS:_____________________________________ NOME/MORADORES IDADE OCUPAÇÃO CONDIÇÃO DE SAÚDE Observações:______________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Risco Biológico Avaliação de Risco Critérios 1 – Indivíduos saudáveis 2 – Indivíduos com uma única patologia crônica controlada 3 – Indivíduos com duas ou mais patologias crônicas controladas ou com uma patologia sem controle adequado 4 – Indivíduos com duas ou mais patologias sem controle adequado 5 – Indivíduos acamados, transplantados (órgãos vitais) ou insulino dependentes Nota de Risco Biológico (RB): ___________ 540 Risco Social Critérios A. B. C. D. Renda Familiar: Renda per capita inferior a 1/2 salário mínimo vigente no país Congestionamento familiar excessivo presente: Relação nº morador/nº cômodos > 1 Habitação de risco: Barracos, taipa, construções com materiais reaproveitáveis, entre outros Moradia em áreas de risco: Fundo de vale, regiões sujeitas a enchentes, acúmulo de lixo, áreas de encosta, assentamentos, invasões, etc. E. Violência Intrafamiliar: Abusos físicos, psicológicos, sexual, negligência, além do uso de drogas e álcool por parte dos cuidadores.(Verificar com ACS) F. Presença de crianças com idade abaixo de 14 anos G. Crianças com cuidadores abaixo dos 12 anos H. Participação em programas sociais (Ex: Bolsa Família) I. Trabalho infantil J. Pessoa com incapacidade funcional para realizar atividades da vida diária sem cuidador Classificação do risco social da família Sem presença de fator de Risco Social Presença de até 2 fatores de Risco Social Presença de até 4 fatores de Risco Social Presença de até 6 fatores de Risco Social Presença de 7 ou mais fatores de Risco Social 1 2 3 4 5 Nota de Risco Social (RS): __________ Necessidade Bucal (NB) Classificação das necessidades bucais do usuário Nota 1 2 3 4 5 Condição encontrada Indivíduos sem necessidades odontológicas Indivíduos que apresentem pelo menos um dos critérios abaixo: • Até 3 elementos dentários cariados, sem envolvimento pulpar • Presença de gengivite e cálculo supragengival Indivíduos que apresentem pelo menos um dos critérios abaixo: • 4 ou mais elementos dentários cariados, sem envolvimento pulpar • Cálculo supra e subgengival, com ou sem e mobilidade dentária (grau I 71) Indivíduos que apresentem pelo menos dois dos critérios abaixo: • Até 3 elementos dentários cariados, com envolvimento pulpar • Cálculo supra e subgengival e presença de mobilidade (grau II), com ou sem retração gengival • Necessidade de exodontias de 4 a 6 elementos dentários devido à cárie ou doença periodontal Indivíduos que apresentem pelo menos dois dos critérios abaixo: • 4 ou mais elementos dentários cariados, com envolvimento pulpar • Necessidade de exodontia de 7 ou mais elementos dentários devido à cárie ou doença periodontal • Cálculo supra e subgengival e presença de mobilidade (grau III) com ou sem retração gengival • Pacientes com necessidade de prótese total ou parcial anterior (com ausência de prótese) Nota de Necessidade Bucal (NB): _____ NP/NF = RB+RS+NB 3 RESULTADO FINAL: _______ 71 Grau I – Mobilidade leve, até 1mm de deslocamento vestíbulo-lingual. Grau II – Mobilidade moderada, até 2mm de deslocamento vestíbulo-lingual. Grau III – Mobilidade severa, mobilidade > 2mm em todas as direções (vestíbulo-lingual , mésio-distal e vertical). 541 APÊNDICE C - CRONOGRAMA DE ATIVIDADES EXTRACLÍNICAS (AEC) USF: _____________________________________________________________ Mês/Ano: Data: Data: Data: Data: Data: Mês/Ano: ÁREA: Data: Mês/Ano: ÁREA: Data: ÁREA: ACS: ACS: ACS: TIPO: TIPO: TIPO: ÁREA: Data: ÁREA: Data: ÁREA: ACS: ACS: ACS: TIPO: TIPO: TIPO: ÁREA: Data: ÁREA: Data: ÁREA: ACS: ACS: ACS: TIPO: TIPO: TIPO: ÁREA: Data: ÁREA: Data: ÁREA: ACS: ACS: ACS: TIPO: TIPO: TIPO: ÁREA: Data: ÁREA: Data: ÁREA: ACS: ACS: ACS: TIPO: TIPO: TIPO: 543 PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA AUTARQUIA MUNICIPAL DE SAÚDE FICHA CLÍNICA ODONTOLÓGICA PSF / CEO NOME: Nº ID. PAC./ HIGIA: DATA DE NASCIMENTO: SEXO: PROFISSÃO: ESTADO CIVIL: ESCOLARIDADE: ENDEREÇO: TELEFONE: BAIRRO: CIDADE – ESTADO: Nº CARTÃO SUS: USF: EQUIPE / MICROÁREA: ACS RESPONSÁVEL: ANAMNESE ESTÁ EM TRATAMENTO MÉDICO? SIM NÃO QUAL? ESTÁ TOMANDO ALGUM MEDICAMENTO? SIM NÃO QUAL? TEM PROBLEMAS COM ALERGIA? SIM NÃO A QUE? APRESENTA DOENÇA INFECTO CONTAGIOSA? SIM NÃO QUAL? JÁ FOI HOSPITALIZADO? SIM NÃO POR QUÊ? JÁ TOMOU ANESTESIA? SIM NÃO TEVE COMPLICAÇÕES: PROBLEMAS RENAIS? SIM NÃO ESPECIFICAR: PROBLEMAS CARDÍACOS? SIM NÃO ESPECIFICAR: PROBLEMAS DIGESTIVOS? SIM NÃO ESPECIFICAR: PROBLEMAS NEUROLÓGICOS? SIM NÃO ESPECIFICAR: PROBLEMAS COM HEMORRAGIA? SIM NÃO ESPECIFICAR: PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS? SIM NÃO ESPECIFICAR: É DIABÉTICO? SIM NÃO É HIPERTENSO? SIM NÃO FUMA? SIM NÃO FAZ USO DE ÁLCOOL? SIM NÃO É DOADOR DE SANGUE? SIM NÃO ESTÁ GRÁVIDA? SIM NÃO OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES: TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO: EU (RESPONSÁVEL),_______________________________________________________________________________ AUTORIZO A REALIZAÇÃO DE TRATAMENTO ODONTOLÓGICO, COMTEMPLANDO TODAS AS INTERVENÇÕES E EXAMES NECESSÁRIOS, ASSIM COMO AUTORIZO A UTILIZAÇÃO EM APRESENTAÇÕES DOS TRABALHOS QUE FOREM REALIZADOS (SLIDES, FOTOGRAFIAS, RADIOGRAFIAS, MODELOS DE ESTUDO, ETC.). DATA:__________________ ASSINATURA:_____________________________________________ PROFISSIONAL:________________________________________________ 544 18 48 17 16 47 46 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 55 54 53 52 51 61 62 63 64 65 85 84 83 82 81 71 72 73 74 75 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 26 27 28 36 37 38 ODONTOGRAMA \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ DATA: ___/___/___ OBS: _____________________________________________________________ ________________________________________________________________________ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ \\ DATA: ___/___/___ OBS: _____________________________________________________________ 545 APÊNDICE E - AUTORIZAÇÃO/ NÃO AUTORIZAÇÃO DE APLICAÇÃO DE CARIOSTÁTICO (DIAMINO FLUORETO DE PRATA) Eu, _______________________________________________________________ responsável pelo(a) paciente__________________________________________________: ( ) Autorizo a aplicação de diamino fluoreto de prata nos dentes ( ) anteriores ( ) posteriores do mesmo (a) e estou ciente que este flúor poderá levar ao escurecimento irreversível destes dentes, na cor marrom ou preta. Fui informado(a) também que o objetivo desta(s) aplicação(ões) é contribuir para paralisação de cárie dentária ( ) Não autorizo a aplicação de diamino fluoreto de prata (cariostático). Estou ciente sobre a dificuldade de controle de cárie neste caso. Assinatura:_________________________________________ Data ___/___/____ 547 ANEXO 549 ANEXO A - FICHA DE NOTIFICACAO DO CENTRO DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE N° (Campo exclusivo Centro de Proteção) 1-DADOS DA CRIANÇA/ ADOLESCENTE: Nome: Data de Nasc: Escolaridade: ( ) nenhuma escola Nome da Escola: Filiação: Mãe: Pai: Responsável: Endereço: Idade: ( )ed. Inf. Sexo: ( ( ) ensino fund./ médio série: )M ( )F ( ) fora da Turno: Bairro: Região: ( ) norte ( ) sul ( ) leste ( ) oeste ( ) central ( ) rural Ponto de referência: Município: Fone(s): 2- DADOS DA OCORRÊNCIA: Data do Ocorrido: ___/___/___ Descrição do ocorrido/ motivo da suspeita: Tipo de violência/ suspeita: ( ) física ( ) psicológica ( ) sexual ( ) negligência ( ) abandono Natureza da violência/ suspeita ( ) intrafamiliar ( ) extrafamiliar – Local: Existe algum tipo de lesão física aparente? ( ) sim ( ) corte ( ) hematomas ( ) fraturas ( ) queimaduras ( ) outro/qual? Em que parte do corpo? ( ) não Há indícios de violência sofrida anteriormente? Há suspeita de violência contra outros membros da família? Houve notificação anterior pela Unidade? ( ) desconhece ( ) não ( ) sim/qual: ( ) desconhece ( ) não ( ) sim/quem: ( ) não ( ) sim Órgão acionado: 3- DADOS DO PROVÁVEL AUTOR DA VIOLÊNCIA Relação com a criança/adolescente ( ) desconhecido ( ) pai ( ) autoagressão ( ) outro/especificar: ( ) mãe Nome: Endereço: ( ) Ignorado Bairro: Município: Idade: 4- PROCEDIMENTOS/ENCAMINHAMENTOS ( ) Conselho Tutelar ( ) IML ( ) Hospital de Referência ( ) Centro de Proteção ( ) Delegacia de Polícia Condutas/ intervenções imediatas Unidade Notificadora: Responsável pelo preenchimento: ( ( ( Sexo: )Outros Serviços de Saúde/qual: ) Programas da rede de Assist. Social/qual: ) Outros/qual: Ficha enviada em: Fone: