Jornal da Tarde - Cidade - Associação dos Alfaiates e Camiseiros
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Jornal da Tarde - Cidade - Associação dos Alfaiates e Camiseiros
ESCALAPB PB 2% 5% 10% 15% Produto: JT - BR - 16 - 21/03/06 %HermesFileInfo:16-A:20060321: caderno A 16 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR 16A - Proof Cidade jornal da tarde terça-feira, 21 de março de 2006 Alfaiates lutam para recuperar o prestígio Representante de uma profissão à beira da extinção, Valério Baptista assumiu a coordenação de um centro para formação de aprendizes na Capital, onde ele e outros alfaiates irão ensinar aos mais jovens todos os truques e a arte do ofício. Para eles, roupas é que devem se ajustar ao cliente e não o contrário José Patrício/AE Para honrar a memória do pai, Valério decidiu coordenar um centro para formação de aprendizes GILBERTO AMENDOLA Em 1948, Luís Fávero reuniu seus quatro filhos para indicar o que cada um deveria seguir profissionalmente. Seu raciocínio foi simples e brilhante: “O futuro está nos remédios, nas roupas e na comunicação”. Assim, o mais velho foi ser farmacêutico; os meninos do meio entraram para Companhia Telefônica Brasileira e o caçula, Valério Baptista, virou aprendiz de alfaiate. Fávero acertou tudo. Ou quase tudo. O que ele não sabia é que, no século 21, seu caçula seria o representante de uma profissão à beira de extinção. No Estado de São Paulo, por exemplo, não existem mais do que 1.500 alfaiates – com uma média de idade de 70 anos. Mas, antes que virasse peça de museu e tivesse o mesmo destino dos dinossauros, Valério decidiu honrar a memória do pai e agir. Ele assumiu a coordenação de um centro de formação para aprendizes. “Se a gente quer manter viva a nossa profissão, vamos ter que encontrar novos interessados”, disse. A partir do mês que vem, alojados no segundo andar de um prédio da Avenida Ipiranga, no Centro da Cidade, Valério e outros alfaiates irão ensinar os truques e a arte do ofício. A inauguração desse projeto, batizado de “Sob Medida”, aconteceu ontem de manhã. Os sobreviventes da área aproveitaram o evento para lembrar com saudade da década de 50, um tempo áureo para os alfaiates. “As pessoas usavam fraques e casacas. Era uma época onde a elegância tinha sua importância”, contou Gildo Saglia, 78 anos. A crise começou com a concorrência das fábricas de roupas prontas e com a impossibilidade de acompanhar os baixos preços decorrentes da aprodução em massa. Por isso, nos anos 80, as roupas sob medida se transformariam em um luxo para poucos. “Sai um pouco mais caro mesmo. Afinal, trata-se de uma peça única, feita para vestir uma única pessoa”, justifica Valério. A classe se agarra na tradição para recuperar o prestígio. “Nessas lojas, o cliente é que tem que se adaptar à roupa. Com os alfaiates é a roupa que precisa se adaptar”, afirmou Walter Zeferino Dias, 73 anos. A importância do atendimento individualizado também foi ressaltada entre os profissionais que estavam lá. “Existem três coisas que um cidadão precisa manter durante toda sua vida: o médico, o barbeiro e o alfaiate”, brincou José Silva, 71 anos. “Nós não morremos, apenas estávamos quietinhos. Com a escola, vamos começar a reerguer nossa classe”, comentou o presidente do sindicato dos alfaiates Alexandre Mirkai, 65 anos. Esses simpáticos velhinhos estão dispostos a tudo para recuperar o tempo perdido. Ao perceberem que o famoso estilista Ricardo Almeida estava entre os convidados da inauguração da escola, muitos torceram o nariz. “Ele não é alfaiate, não sei o que está fazendo aqui. Não entrevista ele não”, reclamou um septuagenário. As aulas devem começar no início de abril. Cada peça do vestuário terá um curso específico. Quem quiser aprender a fazer calças ou camisas deve pagar três mensalidades de R$ 350. O curso de paletó ainda não tem um valor definido. Os interessados devem ligar para o número (11) 3313-0250. Existem três coisas que um cidadão precisa manter durante toda sua vida: o médico, o barbeiro e o alfaiate.” “ JOSÉ DIAS, 71 anos, alfaiate Fotos: José Patrício/AE Máquina de costura, esquadro, fita métrica e tesoura: instrumentos de uma profissão em extinção