pelos caminhos da história - unidade iii (cap13-cap15)
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pelos caminhos da história - unidade iii (cap13-cap15)
CAPÍTULO 13 A independência da América Latina, 203 CAPÍTULO 14 As reformas pombalinas e as contestações coloniais, 217 CAPÍTULO 15 O processo de Independência do Brasil, 230 A imagem acima traz a Alegoria da Batalha de Boyacá, de J. W. Canaree, 1919, Museu Nacional da Colômbia, Bogotá. Já a segunda, o pintor modernista Cândido Portinari faz uma representação do momento em que o príncipe regente de Portugal, dom João, desembarcou na Bahia. Chegada de dom João VI a Salvador, Cândido Portinari, 1952. 202 A independência da América Latina O Antigo Sistema colonial, fundamentado nas práticas mercantilistas e no absolutismo monárquico entrou em decadência a partir de segunda metade do século XVIII. Os movimentos emancipacionistas que se propagaram na América espanhola se enquadram nesse contexto histórico de instabilidade e crise enfrentada pelos Estados metropolitanos. Assim, o sistema colonial entrava em franca decadência. Pintura de Diego Rivera intitulada História e perspectiva do México (1935), Palácio Nacional da Cidade do México. O mural faz referência ao centro aos padre Hidalgo e José María Morelos, herois no processo de independência do México. Torna-se bastante relevante destacar que o processo de independência das colônias hispânicas não foi acompanhado por transformações radicais nas estruturas socioeconômicas advindas da época colonial. Esse cenário facilitou a projeção dos países recém-independentes em um novo contexto que prevalecia uma ordem econômica que atendeu, inicialmente, os interesses ingleses e, posteriormente, atendeu as necessidades de capital dos Estados Unidos. “Quando a América Latina se separou dos antigos impérios coloniais, já havia outros candidatos a substituí-los. A Espanha manteve a ideia da reconquista até meados do século XIX. No entanto, não teve forças nem prestígio suficiente para levá-la a cabo. (...) Os ingleses, que já tinham algumas pequenas possessões, optaram pela conquista econômica. Se a América Latina não foi esquartejada como a África, deve-se ao fato – é preciso reconhecê-lo – de ter tido, sem que houvesse solicitado, um ‘tutor’. Um tutor ousado porque se atreveu a dizer que a América era para os americanos, num momento em que apenas tinha a ilusão de ser uma potência. No entanto, quando este tutor se transformou em grande potência, mudou de discurso e gritou que era dono”. BRUIT, Héctor. O Imperialismo. São Paulo: Atual, 1986. p.23. 203 As propostas revolucionárias inspiradas nas concepções iluministas tiveram na América um denso caráter de combate ao pacto colonial e uma luta em favor da liberdade. A Independência dos Estados Unidos, em 1776, foi vista pelas demais colônias como um exemplo a ser seguido. Assim, para compreender melhor o processo emancipatório das colônias espanholas, torna-se imprescindível, inseri-lo num quadro de transformações sociais, políticas, econômicas e ideológicas desencadeadas tanto na Europa quanto nas colônias hispânicas. Em relação ao passado histórico da América Latina, o historiador Eduardo Galeano, em sua famosa obra, destacou: “É na América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até os nossos dias, tudo se transformou em capital europeu acumulado ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos.” GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. p.14. As razões da independência A instabilidade do sistema colonial pode ser entendida no contexto das intensas modificações que ocorreram em fins do século XVIII e início do XIX. Diversos fatores foram decisivos para que as estruturas do Antigo Sistema Colonial fossem impactadas. As mudanças não se restringiram à Europa. A Declaração de Independência dos Estados Unidos serviu como modelo e fez multiplicar os sonhos de alcançar a autonomia entre as demais colônias americanas. De maneira geral, os principais elementos, internos e externos, que favoreceram o processo de emancipação das colônias hispânico-americanas foram: a consolidação da Revolução Industrial, o desenvolvimento das colônias, a influência das teorias iluministas, as contradições internas entre criollos e chapetones e a política napoleônica. AMÉRICA ESPANHOLA ANTES DA INDEPENDÊNCIA 204 . O desenvolvimento da produção industrial inglesa criou a necessidade de abrir novas áreas para trocas internacionais. Nesse sentido, as práticas mercantilistas prejudicavam o capital industrial, uma vez que o monopólio comercial limitava as transações comerciais. Desse modo, a Inglaterra estava bastante interessada no processo de formação dos estados nacionais na América espanhola, como observou o economista Celso Furtado: “As novas condições criadas pelo avanço da Revolução Industrial na Inglaterra e pelo controle progressivo que este país pode exercer sobre transportes marítimos teriam que resultar em uma política de portos abertos, em todo o continente americano, política esta incompatível com o tipo de relações que prevaleciam entre a Espanha e suas colônias. A vastidão destas e a incapacidade de metrópole para supri-las de produtos manufaturados exigiriam necessariamente modificações profundas na estrutura de um império organizado em torno à exploração de metais preciosos, três séculos antes. A primeira metade do século XIX está marcada na América Latina, pelas lutas de independência e pelo processo de formação dos estados nacionais”. FURTADO, Celso. A economia Latino-americana. São Paulo: Brasiliense, 1989. p.39. Segundo o historiador Antônio Novais, “não é possível explorar a colônia sem desenvolvê-la”, ou seja, após trezentos anos de exploração e dominação colonial, tornou-se evidente a incompatibilidade entre a durabilidade do sistema colonial e o desenvolvimento econômico das colônias. De fato, para que a metrópole pudesse explorar teria que ocupar, aumentar o povoamento e viabilizar o crescimento econômico das colônias. Todos esses aspectos contribuíram para o fortalecimento das colônias espanholas. “Instalados a várias gerações (...) numa terra que consideram sua, os criollos têm nas mãos as rédeas econômicas da América Hispânica. Possuem imensas estâncias e rebanhos de escravos, detêm e desempenham os cargos da advocacia, constituem de modo compacto o povo dos letrados, particularmente aberto às idéias do século. Ora, por uma contradição interna, essa elite econômica e de inteligência, numa sociedade em que a presença do índio e do escravo negro confere a todo homem branco ‘um complexo de superioridade’, sofre com a exclusão da administração real e com a desconfiança que esta lhe manifesta. Esses espanhóis de raça e de cultura (...) são mantidos à margem dos altos cargos, das funções mais honoríficas e lucrativas, Entre os sessenta Vice-Reis da história colonial, houve apenas quatro criollos; e quatorze entre os seiscentos e dois capitãesgenerais”. CHAUNNU, Pierre. História da América Latina. 4 ed. São Paulo: Difel. p.59. As sociedades na América Hispânica conviviam com contradições consideráveis, com disputas internas que demonstravam as disparidades políticas e sociais. Existiam escravos, mas também um pequeno grupo privilegiado que dominava a maioria. Havia os chapetones (espanhóis) e o criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América). Os chapetones ocupavam os melhores cargos burocráticos e possuíam as funções mais significativas no poder judiciário. Enquanto os criollos representavam a elite econômica colonial. Formado por grandes fazendeiros, mineradores e comerciantes, tinham uma situação financeira e social bastante superior aos demais integrantes da sociedade, o que lhes permitiam uma vida de conforto e luxo. A princípio, elite criolla contribuíu para o pleno funcionamento do exclusivismo colonial, porém, como era tratado em condição de inferioridade política e socialmente, uma vez que os cargos político-administrativos eram destinados aos chapetones, ela passou defender a ideia de separação e ruptura com a dominação da Coroa espanhola. Em 1807, as tropas francesas invadiram a Espanha e depôs o rei Fernando VII, assumindo o trono José Bonaparte, irmão de Napoleão. Esse acontecimento desarrumou, temporariamente, o controle espanhol sobre suas colônias. Em algumas cidades da América Espanhola, sob o comando dos criollos, formaram-se Juntas Governativas, que a princípio foram contrários a usurpação do trono espanhol. No segundo momento, entretanto, passaram a questionar a continuidade das extruturas de exploração colonial. 205 Para alguns historiadores, por volta do início do século XIX, a dominação espanhola já dava sinais de fragilidade e dissolução, pois as colônias se encontravam isoladas do governo metropolitano em razão da desorganização política provocada pelo expansionismo napoleônico. Por outro lado, os cabildos (órgão de poder local) adotavam medidas cada vez mais autonomistas e atendiam as aspirações dos criollos. A Independência no México e na América Central O processo de emancipação da América de colonização espanhola pode ser estudado em dois períodos: 1. Entre 1810 e 1816: marcado por grande truculência. Os movimentos emancipacionistas foram fortemente reprimidos após o restabelecimento do trono espanhol, em 1815. 2. Entre 1817 e 1824: nesse período houve a organização dos movimentos coloniais e os revolucionários foram auxiliados pela Inglaterra. As primeiras atitudes de implantar a independência foram desencadeadas no Vice-Reino da Nova Espanha (México), no Vice-Reino do Rio da Prata (Argentina, Uruguai e Paraguai) e na Capitania Geral da Venezuela. Os principais líderes dos movimentos emancipacionistas foram: padre Hidalgo, Morellos, Bolívar, Miranda, San Martín, Sucre e O’Higgins. As primeiras movimentações em favor da independência ocorreram no México, em 1810. O padre Hidalgo organizou a resistência que teve a participação de índios, brancos e mestiços. Hidalgo foi morto em 1811. Outro padre, Morellos, tentou organizar a população em combate à Coroa espanhola, chegando a escrever um manifesto que provavelmente seria a primeira Constituição. Porém, também acabou sendo perseguido e fuzilado. Para alguns historiadores, o caminho da libertação mexicana apresentou algumas particularidades. Entre elas, a grande participação de populares e a defesa de propostas radicais, como a libertação dos CRONOLOGIA DOS PAÍSES INDEPENDENTES escravos e devolução das terras indígenas. Após uma longa fase luta, o México alcança sua independência em 1821, sob o comando do general criollo Itúrbide. O general se autoproclamou imperador mexicano, mas foi destituído pelos republicanos em 1823. Com a queda de Itúrbide, a América Central separou-se do México. Surgiram, dessa forma, as Províncias Unidas da América (Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Honduras e Costa Rica) que alcançariam sua independência em 1838. A Independência das Antilhas Em 1791, foi iniciado o processo de inde-pendência começou na ilha de Santo Domingo (ex-Hispaniola, atual Haiti). A participação dos negros, maioria escravos (certa de 80%), na luta de libertação de São Domingos foi ampla. Nesse mesmo ano, uma manifestação de escravos massacrou parcela da população branca. 206 Diante da situação tensa, o governo espanhol enviou tropas para conter o levante. Sob a liderança do ex-escravo François Dominique Toussaint (Louverture), a população local enfrentou-as e resistiu-as bravamente. Teve início, desse modo, a luta pela independência. No final, a vitória foi dos colonos que decretaram o fim da escravidão e o estabelecimento de um governo constitucional. Porém, em 1802, o exército napoleônico invadiu a ilha antilhana e prendeu Louverture. Em 1820, surgiram novos grupos de resistência. Nesse mesmo ano, após exigir uma pesada indenização, a França reconheceu a emancipação de São Domingos. Em 1845, houve duas divisões: a parte oriental proclamou sua independência, dando origem a República Dominicana; enquanto que a ocidental formou o Haiti, cujo processo de independência foi analisado com grande preocupação pelos europeus, pois ficaram temerosos que houvesse a multiplicação desse caso em outras regiões. A revolução no Haiti, provocou grande pânico entre as elites proprietárias de escravos da América no decorrer do século XIX. A independência na América do Sul Os movimentos de independência na América do Sul assumiu um caráter mais radical sob a liderança de Sucre, San Martín e Simón Bolívar. San Martín comandou um exército revolucionário que contribuiu para que a Argentina (1816) e o Chile (1818) alcançassem sua independência. Já Bolívar e Sucre, com o auxílio de tropas popular-nacionalistas, libertaram a Colômbia (1819), a Venezuela (1821), Equador(1822) e Bolívia (1825). Martín e Bolívar se encontraram no Peru, em 1822, com o propósito de lutar pela libertação dessa região, que veio a ser concretizada em 1824. Por questões político-ideológicas, Martín afastou-se de Bolívar. Representação de Paolo Fumagalli da praça principal de Buenos Aires, com monumento em homenagem à emancipação da Argentina, século XIX. No período de 15 anos, entre 1810 e 1825, o Império Hispânico foi extremamente reduzido, restando, apenas, ao domínio espanhol Cuba e Porto Rico. É importante destacar, o apoio que a Inglaterra forneceu aos revolucionários. Sobre isso o historiador J. B Trend comentou: “A Grã-Bretanha queria, na realidade, o direito de comércio, e o governo britânico estava alerta a qualquer ato de qualquer outra potência europeia que pudesse interferir nos seus privilégios comerciais. O domínio britânico dos mares era absoluto. Nenhuma frota poderia mover-se contra a América Latina, a menos que a Grã-Bretanha o permitisse, e, na realidade, só com a ajuda ou convivência da Marinha britânica a Espanha poderia restabelecer seu império. Bolívar reconheceu, agradecido, esse fato, numa carta de 1823: ‘Somente a Inglaterra, senhora dos mares, nos pode proteger contra as forças unidas da reação europeia’. Os estadistas britânicos eram levados, naturalmente, pelas razões de interesse nacional, que em último caso são ‘o fator determinante da política de todas as nações”. TREND, J.B. Bolívar e a Independência da América Espanhola. Rio de Janeiro: Zahar. p. 140. 207 O grande sonho de Bolívar Nascido em Caracas, de ascendência aristocrática, Simón Bolívar teve uma formação intelectual influenciada pelas idéias liberais e por sua vivência na Europa. Defensor do projeto republicano, Bolívar foi bastante atuante no processo de independência das colônias hispânicas. Ele entrou em discordância com San Martin, pois não era favorável da ideia deste, que consistia em chamar governantes europeus para administrar as nações recém-formadas. Bolívar era mais radical, em razão de que desejava formar uma federação com governos republicanos, sob o comando de uma só pessoa. Bolívar desenvolveu uma ousada tentativa de manter a unidade política da América espanhola. Entretanto, o Congresso do Panamá (1826), que pretendia discutir o sonho bolivariano foi frustrado. Participaram do congresso, apenas, representantes da Colômbia, América Central, México e Peru. De acordo com Bolívar, a unidade pretendida deveria ser: “Uma liga verdadeiramente americana, não formada apenas dentro dos princípios de uma aliança (...) ofensiva e defensiva. Deve ser mais rigorosa que a liga formada recentemente na Europa contra as liberdades populares (a chamada Santa Aliança entre Áustria, Rússia e Prússia). Nossa sociedade deve ser de nações irmãs, unidas, fortes, e capazes de suportar a agressão de potências externas.” TREND, J. B. Bolívar e a Independência da América Espanhola. Rio de Janeiro: Zahar. p. 145. Segundo alguns historiadores, a fragmentação geopolítica da América espanhola, ocorrida após o processo emancipatório ocorreu pelos seguintes fatores: distâncias geográficas entre os vários núcleos coloniais; surgimento de diversas lideranças político-militares; as peculiaridades culturais; as medidas empreendidas pela Inglaterra, que não tinha qualquer interesse na consolidação de gigantescas nações; as divergências e as brigas pelo poder entre as oligarquias latifundiárias. Com o fracasso do bolivarianismo, naquele momento, a história das novas nações latinoamericanas durante do século XIX foi marcada pela hegemonia da aristocracia criolla e pela tutela internacional do capital inglês. Simultaneamente, firmou-se o fenômeno político-social, conhecido como caudilhismo (grande latifundiários que se tornaram chefes políticos e que tinham a fidelidade política de seus seguidores). Além disso, houve uma submissão às imposições estabelecidas pelos Estados Unidos, através da Doutrina Monroe “América para os Americanos”. Diante disso, a independência política não representou para as ex-colônias espanholas plena autonomia e desenvolvimento econômico. Os novos países latino-americanos permaneceram exportando matérias-primas e produtos agrícolas e comprando produtos industrializados. Apesar de contar com a participação de camadas populares e adotar o regime republicano, os dirigentes dos recém-estados excluíram a maior parte da população das decisões políticas. As elites agrárias assumiram o poder no decorrer da história da América Central e América do Sul. Visando atender seus interesses, os governos oligárquicos usaram métodos e mecanismos abusivos. O desastroso passado colonial, somado aos problemas internos após a emancipação e os interesses político-econômicos dos estrangeiros, impôs aos países da América Latina um processo de desenvolvimento periférico e subordinado ao capital internacional. Os países latino-americanos ficaram distantes dos benefícios gerados pelas inovações industriais, o que proporcionou o subdesenvolvimento. A modernização da América Latina foi atrasada substancialmente, ocorrendo só partir da segunda metade do século XX e início do XXI. Logo, muitos problemas sociais, políticos e econômicos permanecem até os dias atuais. Os futuros dirigentes latino-americanos têm grandes desafios a serem enfrentados nas veias abertas da América Latina. 208 TEXTO COMPLEMENTAR A Guerra Civil na América Hispânica Às costas da América Espanhola chegavam as alternativas da guerra nacional espanhola e as discussões reveladoras das Cortes de Cádiz. Ao mesmo tempo, as tropas espanholas no Novo Mundo, divididas interiormente entre servis e liberais, exteriormente eram a expressão do império espanhol e reprimiam onde podiam as tentativas crioulas de reassumir a soberania. Além disso, brotavam na América os interesses regionais privilegiados das classes crioulas, exportadoras e latifundiárias, que geralmente, em relação ao Império britânico, só pensavam em romper com a Espanha para poderem enriquecer à vontade. Contudo, um punhado de patriotas encabeçava em toda parte a ideia nacional hispano-americana e começava a levantar exércitos e a propagar a revolução. (...) A Revolução hispano-americana irrompe como consequência direta da invasão napoleônica. Entretanto, uma longa gestação a tinha precedido, na história da Espanha e das Índias. A ruína irresistível do Império espanhol se baseava na impotência de sua burguesia em varrer as instituições arcaicas da sociedade espanhola, conjurar os particularismos feudais e regionais, estabelecer o regime capitalista na península e em seus domínios ultramarinos, além de situar a Espanha ao nível que os tempos modernos exigiam. (...) O fracasso da revolução espanhola abre a etapa das guerras da independência da América, A guerra civil se traslada a este continente, onde combatem espanhóis contra espanhóis e criouLlos contra crioulos. (...) Esta guerra perseguia um duplo objetivo: impedir que a América Hispânica recaísse sob o jugo absolutista e conservar a unidade política do sistema de vice-reino através de uma confederação dos novos grandes Estados. Aquele que fornece a formulação mais categórica, razoável e definida dessa última posição é de Simon Bolívar. Seu formidável programa parece num certo momento próximo de realizar-se. Porém ele rapidamente se dilui e a morte do libertador simboliza o fracasso de manter a unidade na independência. RAMOS, Jorge Abelardo. A Guerra Civil na América. In:PINSKI, Jaime (org.). História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 1989. p.63-64. Analisando o texto 1. O texto acima apresentou uma explicação sobre as causas dos movimentos de independência ocorridos na América espanhola. Quais os principais aspectos analisados pelo o autor? Comente-os. 209 FAZENDO HISTÓRIA 1. Leia atentamente o discurso datado de 1815, do “libertador” Simon Bolívar. “Façamos com que o amor ligue com o laço universal os filhos do hemisfério de Colombo e que o ódio, a vingança e a guerra se afastem de nosso seio e sejam levados às fronteiras para serem empregado contra quem é justo usá-los, isto é, contra os tiranos (...). A filosofia do século, a política inglesa, a ambição da França e a estupidez da Espanha influíram bastante na América.” Após a leitura do texto, identifique os fatores externos que colaboraram para o desenvolvimento de independência nas colônias hispânicas. 2. (UERJ) Em fevereiro de 2004, o Haiti foi manchete de jornais e revistas, em função da saída de seu primeiro presidente eleito de forma direta, Jean-Bertrand Aristide, frente à crescente oposição interna. A história de lutas no Haiti começou, no entanto, no final do século XVIII, quando ocorreram os primeiros movimentos de resistência à dominação francesa. Somente em 1804, após mais de dez anos de conflitos, essa colônia conquistou sua independência, passando a se chamar Haiti. a) Identifique o episódio da conjuntura internacional que influenciou, em agosto de 1791, no Haiti, o levante contra a dominação dos franceses a dominação dos franceses e justifique sua resposta. b) Aponte a característica que distinguiu o processo de independência do Haiti do das outras colônias americanas e um reflexo dessa característica sobre as elites brasileiras da primeira metade do século. 3. “É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma única nação em que todas as partes sejam unidas entre si e em conjunto por um mesmo elo. A origem é comum, assim, como a língua, os costumes e a religião, por conseguinte, deveria ter um só governo que confederasse os diversos Estados que hão de se formar; mas não é possível porque climas distintos, diversidade de situações, interesses opostos, a dessemelhança de caracteres dividem a América”. O texto acima foi escrito por Simón Bolívar. O grande sonho dele era que houvesse uma unidade continental americana. Após a leitura, identifique os fatores favoráveis a concretização do pan-americanismo. Comente-os. 4. Há alguma relação entre a fundação da república negra do Haiti e intensificação da repressão aos escravos e negros livres em toda a América? Por quê? Justifique. 210 5. (UFGO) “A história do México é do homem que procura a sua filiação, a sua origem. Sucessivamente afrancesado, hispanista, indigenista, atravessa sua história como um cometa de jade, que de vez em quando relampagueia. Na sua excêntrica carreira, o que persegue? Corre atrás da sua catástrofe: quer voltar a ser sol, voltar ao centro da vida onde um dia – na conquista ou na independência- foi desligado”. O texto acima foi retirado do livro O labirinto da Solidão, de Octávio Paz. O autor define um campo de tensão social e cultural própria do mundo mexicano, mas que responde a um sentimento presente em toda a América Latina. A partir do exposto, comente por que se pode refletir sobre a Conquista ou a Independência, com base na ideia de catástrofe. 6. Leia trechos do projeto de Constituição elaborado pelo padre José Maria Morellos: 1º - Que a América é livre e independente da Espanha e de toda outra Nação, Governo ou Monarquia, e que assim se sancione, dando ao mundo as razões. 2º - Que a religião católica seja a única, sem tolerância de outra. 3º - Que todos seus ministros se sustentem de todos os dízimos primícias e apenas disso, e que o povo não tenha de pagar mais obtenções que as de sua devoção e oferenda. (...) 5º - A soberania dinama diretamente o Povo, que só quer depositá-la em seus representantes, dividindo os poderes dela em Legislativo, Executivo e Judiciário, elegendo as Províncias seus vocais e estes aos demais que devem ser indivíduos sábios e de probidade. 7º - Que os vocais funcionarão por quatro anos, revezando-se, saindo os mais antigso ara que ocupem o lugar os eleitos, (...) 9º - Que os empregos os obtenham somente os americanos. (...) 15º - Que a escravidão se prescreva para sempre, o mesmo para distinção de castas, permanecendo todos iguais (...). BELLOTO, Manuel Lelo; CORRÊA, Ana Maria M. A América Latina de colonização espanhola. São Paulo: Hucitec/Edusp. p. 161-162. a) Identifique nesse projeto os princípios iluministas. b) Há alguma contradição no projeto de Constituição escrito por Morellos? Por quê? Justifique. 7. No século XIX, o ideal de Bolívar de que as novas nações livres na América se unissem e formassem um só país não se realizou. Atualmente, os países da América que Bolívar, junto com outros revolucionários, ajudaram a se libertarem formam o bloco econômico Pacto Andino. Pesquise na internet, na biblioteca, em revistas e jornais mais informações sobre esse bloco econômico. Em seguida faça possíveis relações com o projeto pan-americanismo de Bolívar. 211 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (FUVEST-SP) “Neste território não poderá haver escravos. A servidão foi abolida para sempre. Todos os homens nascem, vivem e morrem livres (....). Todos os homens, qualquer que seja sua cor, pode ser admitido em qualquer emprego”. Artigos 3 e 4 da Constituição do Haiti, assinada por Toussaint L’Ouverture, 1801. Lendo o texto acima e associando-o ao processo de independência das Américas espanhola e francesa, é possível concluir que: a) Como o Haiti, em todos os demais movimentos houve uma preocupação dominante as aspirações populares. b) A independência do Haiti foi um caso especial nas Américas, pois foi liderada por negros e mulatos. c) Na mesma década da independência do Haiti. As demais colônias do Caribe alcançaram a libertação. d) o movimento de independência do Haiti foi inspirado pelo modelo dos Estados Unidos. e) A independência do Haiti foi concebida por Napoleão Bonaparte, com base nos princípios liberais. 2. (UFG) No processo de independência política das colônias hispanoamericanas, no início do século XIX, verificou-se o agravamento de uma tensão entre a Coroa Espanhola e a elite criolla, que não está circunscrita ao processo revolucionário. Essa tensão consiste: a) na fragilidade da Coroa Espanhola diante das reivindicações dos nativos do novo continente. b) na desigualdade da distribuição do poder e da riqueza coloniais. c) na tendência da elite criolla em negar suas raízes culturais europeias. d) no impedimento régio às atividades comerciais dos criollos. e) na disputa de ambos com a Igreja pela hegemonia das ações coloniais. 3. (UFRGS) A partir da segunda metade do século XVIII, o chamado antigo sistema colonial, baseado nas práticas e nos princípios mercantilistas, enfrentou uma profunda crise. Desta crise resultou um conjunto de movimentos de independência nas áreas coloniais da América Latina. Considere os seguintes elementos. I. A Revolução Industrial na Inglaterra. II. A luta pela liberdade de comércio e pela autonomia. III. O desenvolvimento socioeconômico das colônias. IV. A influência das ideias iluministas. V. A política napoleônica. VI. A rivalidade entre a elite local e os representantes da elite metropolitana. Quais dentre eles contribuíram para a emancipação das colônias e rompimento do pacto colonial? a) Apenas I e II. b) Apenas I e IV. c) Apenas I, III e V. d) Apenas II, IV e VI. e) I, II, III, IV, V e VI. 4. (UFF) Ao final das guerras de independência na América Espanhola, o clima de instabilidade política alastrou-se por toda parte, multiplicando-se as lutas de facções e a sucessão de governos frágeis em quase todos os territórios hispano-americanos. Assinale a opção que explica melhor a instabilidade política vigente na América Espanhola na primeira metade do século XIX. a) Nesse período não foi possível a formação de blocos de poder hegemônicos que viabilizassem estruturas estatais sólidas nos países resultantes do esfacelamento do império hispano-americano. Isto favoreceu o poder pulverizado e efêmero de vários caudilhos. 212 b) As economias hispano-americanas estvam totalmente destruídas, rompendo-se, por conseguinte, o comércio com a Europa, outrora vigoroso, e a possibilidade de alianças políticas no interior das classes dominantes. c) A manutenção das heranças políticas coloniais, sobretudo a estrutura dos ViceReinados, favoreceu o caudilhismo e retratou a formação dos Estados Nacionais. d) A opção pelo regime republicano, ao invés do monárquico, é a chave para se compreender não só a instabilidade política das jovens nações hispano-americanas, mas também a fragmentação territorial e a descentralização dos regimes nelas instauradas. e) A instabilidade política hispano-americana deveu-se, basicamente, à multiplicação de regimes militares, a exemplo do pan-americanismo bolivariano, herança do pósindependência que marcaria a tradição política do continente. 5. (UFJF) Diferentemente daqueles que dirigiram o processo de emancipação das 13 colônias da América do Norte, que se orgulhavam de seu passado colonial, a elite crioulla latinoamericana, que dirigiu o movimento nas colônias espanholas, tinha um sentimento de repúdio e ressentimento em relação aos três séculos de presença metropolitana em seus territórios. Tal sentimento da elite crioulla latino-americana pode ser explicado pelos fatores abaixo, exceto: a) A voracidade da Espanha pelas riquezas produzidas nas colônias enquanto forma de compensar suas próprias fragilidades no que refere ao desenvolvimento de manufaturas e atividades agrícolas. b) A rigidez, complexidade e ineficiência que haviam caracterizado a estrutura políticoadministrativa dos vice-reinados e capitanias-gerais da América espanhola, dificultando o desenvolvimento econômico das colônias. c) A forte estratificação social e étnica ainda inexistente quando surgiram as condições para a autonomia política, impossibilitando uma aliança entre a elite crioula e a massa indígena, mestiça e negra. d) A exclusão da elite crioula da administração, bem como do comércio colonial, considerados atividades exclusivas dos chapetones (espanhóis nascidos na Espanha). e) A exclusão dos índios e negros das revoltas ocorridas contra a dominação espanhola durante o período colonial (Comuncros, Tupac Amaru). 6. (UFMG) Leia o texto. “A hegemonia da apóia, após o processo de independência dos países latino-americanos, sobre o predomínio comercial, sobre a força naval e sobre os tratados internacionais. Entre os motivos da sua força está também a utilização muito discreta; a potência hegemônica, com seu peso político, salvaguarda, sobretudo, os laços comerciais e não pretende intervir mais profundamente na economia da América Latina, arriscando amplamente. Coloca objetivos políticos adequados à situação”. DONGHI, Tulio Halperin. História da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1975. p.93. Todas as alternativas contêm objetivos políticos da Inglaterra conforme a situação apresentada no texto, exceto: a) A Gr-Bretanha procurou explorar a situação latino-americano com o reconhecimento imediato da independência dos novos Estados e a assinatura de tratados de amizade, comércio e navegação. b) A Inglaterra buscou, sistematicamente, respeitar tanto a manutenção da fragmentação política, resultado das guerras de independência, quanto as tentativas de integração do território. c) A Inglaterra evitou obter um domínio direto da região, o qual implicaria despesas administravas e a comprometeria nas lutas de facções locais. d) A política britânica, para os países americanos recém-independentes, baseava-se na política de seus agentes comerciais e, muito raramente, em ingerências diplomáticas. e) As elites latino-americanas buscaram, com insistência, soluções de conciliação com a Inglaterra, procurando manter os vínculos que as ligavam à nação hegemônica. 7. (UFRGS) A ocupação napoleônica na Espanha criou condições propícias aos movimentos de libertação ocorridos na América espanhola. Em relação a esses processos de emancipação, assinale a alternativa correta. a) Graças à fraqueza temporária da Espanha, as emancipações políticas ocorreram de forma pacífica, mediante negociações diplomáticas. b) As elites da América espanhola desejavam a emancipação para estabelecer monopólios mercantis, pois a Espanha praticava o livre comércio em suas colônias. 213 c) Influenciada pelos princípios franceses dos Direitos Universais, a aristocracia "criolla" pretendia, com o processo de independência, promover mudanças estruturais, instaurando regimes democráticos e estendendo o voto ao conjunto da sociedade. d) Os processos de independência da América espanhola foram incentivados pela Independência americana, pela Revolução Francesa e pelo pensamento do Iluminismo. e) O latifúndio e a escravidão foram abolidos, pois foram considerados prejudiciais à modernização econômica do continente latino-americano. 8. (UFMS) Leia as afirmações sobre o processo de emancipação política da América Latina. I. A independência brasileira singularizou-se pelo fato de ter sido feita por um português, enquanto na América espanhola apareceram líderes locais. II. O território fragmentou-se em vários países na parte espanhola, onde a república predominou, mas a unidade territorial foi mantida no Brasil, que adotou a monarquia. III. As camadas populares conduziram esse processo na América espanhola, já no Brasil foi a elite agrária, mantendo-se a dependência econômica. Estão corretas as afirmações a) I, II e III. b) apenas II. c) apenas I e II. d) apenas I e III. e) apenas II e III. 9. (UNESP) Bolívar, durante os anos de luta pela independência, deixara escritos cantos de louvor à liberdade e prognosticava um porvir que faria da América um exemplo para o mundo. Quinze anos depois, morria doente, desiludido e só. Poucos dias antes de sua morte, escreveu uma carta (...) em que afirmava que nem mesmo os espanhóis desejariam reconquistar a América, tal o caos instalado (...). Nosso destino, dizia ele, era ser governado por pequenos tiranos. (Maria Lígia Coelho Prado, América Latina no século XIX.) As afirmações de Bolívar: a) expressam opiniões pessoais de um líder político favorável ao estabelecimento de governos anti-imperialistas. b) revelam que o peso da herança do colonialismo era maior do que supunham os heróis da independência. c) foram negadas pela experiência histórica concreta da América Latina ao longo do século XIX. d) indicam o descontentamento da elite agrária, prejudicada pela adoção de princípios liberais. e) aplicam-se somente aos países do Caribe, que não conseguiram atingir estabilidade após a independência. 10.(UERJ) Com o termo Caudilhismo nos referimos ao regime imperante na maior parte dos países da América espanhola, no período que vai dos primeiros anos da consolidação definitiva da Independência, em torno de 1820, até 1860, quando se concretizaram as aspirações de unificação nacional. (BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora UnB, 1986.) Levando-se em consideração o período citado por Bobbio, o Caudilhismo é caracterizado, quase sempre, por: a) centralizar o poder nas mãos das elites criollas e utilizar-se do paternalismo. b) disputar o poder local e defender as estruturas socioeconômicas tradicionais. c) incentivar o desenvolvimento de manufaturas e defender uma maior mobilidade social. d) possuir lideranças originárias de grupos étnicos discriminados e apoiar a rebelião popular. 11. Nos últimos anos, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, adotou um discurso que resgata a figura do Libertador Simon Bolívar, denominando o processo de transformações impostas ao país como a "Revolução Bolivariana". No âmbito da política externa na América Latina, Hugo Chávez pretende estar trilhando o bolivarismo ao: a) pregar a união panamericana contra os interesses imperialistas dos Estados Unidos e da Europa, projetando-se como um líder continental. b) reivindicar a devolução do Panamá para a Venezuela, a quem pertencia antes da construção do Canal pelos Estados Unidos, no início do século XX. 214 c) propor a criação de um exército continental que busque a libertação dos povos americanos do jugo das elites ligadas ao capital estrangeiro. d) defender a formação de um Estado centralizado no continente, eliminando os Estados Nacionais e o nacionalismo do continente. e) incentivar a formação de um bloco continental que tenha por base o Mercosul, em oposição ao NAFTA, contrário aos interesses latino-americanos. 12.(CESGRANRIO-RJ) A implantação definitiva do capitalismo na esteira da Revolução Industrial forçou o aparecimento de mudanças em todas as esferas produtivas e espalhouse por todo o mercado mundial, inclusive nas áreas coloniais. Nesse sentido, as relações entre os processos de independência latino-americanas e a nova ordem não podem ser explicadas pela seguinte afirmação: a) O rompimento dos laços coloniais representaria o surgimento de um mercado consumidor necessário ao desenvolvimento industrial europeu. b) A manutenção dos estatutos coloniais era um obstáculo à nova ordem econômica mundial. c) A manutenção do escravismo colonial tornou-se um obstáculo à rápida expansão das relações capitalistas de produção, nas áreas coloniais. d) A existência de capacidade instalada nas regiões coloniais permitiria uma rápida industrialização, logo após a efetivação da independência política. e) O surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho transformou as antigas regiões coloniais em fornecedores de produtos primários e importadoras de manufaturados. 13.(UNIFESP) Octávio Paz, escritor mexicano, assim se referiu à participação de índios e mestiços no movimento de Independência do México: A guerra se iniciou realmente como um protesto contra os abusos da metrópole e da alta burocracia espanhola, mas também, e sobretudo, contra os grandes latifundiários nativos. Não foi a rebelião da aristocracia contra a metrópole, mas sim a do povo contra a primeira. Daí que os revolucionários tenham concedido maior importância a determinadas reformas sociais que à independência própria-mente dita: Hidalgo decreta a abolição da escravatura; Morelos a divisão dos latifúndios. A guerra de Independência foi uma guerra de classes e não se compreenderá bem o seu caráter se ignorarmos que, diferente do que ocorreu na América do Sul, foi uma revolução agrária em gestação. (O labirinto da solidão.) Segundo o autor, a luta pela Independência do México: a) contou com o apoio dos proprietários rurais, embora eles considerassem desnecessária a questão da ruptura com a Espanha. b) opôs-se aos ideais políticos do Iluminismo europeu, dividindo o país em regiões politicamente independentes. c) recebeu a solidariedade de movimentos revolucionários europeus, dado o seu caráter de guerra popular. d) enfraqueceu o Estado Nacional, favorecendo a anexação de territórios mexicanos pelos Estados Unidos da América. e) Contribuiu para a formação de uma sociedade marcada pela distribuição ponderada das riquezas e eliminação das disparidades sociais. 14.(PUC-RJ) Assinale a opção correta a respeito das lutas de independência no Haiti e nas Treze Colônias Inglesas. a) Ambas promoveram a instalação de governos republicanos e a imediata abolição do trabalho escravo. b) O ideal federalista confirmou a implantação do regime republicano no Haiti e nos EUA no momento imediatamente posterior à independência. c) As pressões dos grandes proprietários de terras, tanto no Haiti quanto nas Treze Colônias Inglesas, resultaram na manutenção do trabalhador escravo. d) Diferentemente do que ocorreu nas Treze Colônias, as lutas de independência no Haiti estiveram associadas a uma série de rebeliões escravas que conduziram à abolição da escravidão. e) Tanto no Haiti quanto nas Treze Colônias Inglesas, facções da burguesia comercial, na defesa de seus monopólios junto às antigas metrópoles, tentaram impedir a proclamação da independência política. 215 OLHARES HISTÓRICOS • Livros As guerras de independência da América Latina. TEIXEIRA, Francisco M. P. São Paulo: Ática, 1996. A independência dos países da América Latina. BARBOSA, Alexandre de F. São Paulo: Saraiva, 1997. • Cinema Diários de Motocicleta Direção de Walter Salles. EUA, 2004. 128 min. A viagem do jovem Che Guevara pela América do Sul, antes de se tornar um dos ícones da Revolução Cubana. • Sites www.anphlac.cjb.net Página da Associação Nacional de Pesquisadores de História Latino-Americana e Caribenha. Dá acesso a resumos de pesquisas e à revista eletrônica dos membros da associação, além de outras páginas sobre História da América Latina. www.memorial.sp.gov.br Traz informações sobre os programas realizados pelo Memorial da América Latina em São Paulo, publicações e links para dados geográficos e econômicos dos países latinoamericanos. 216 As reformas pombalinas e as contestações contra o governo metropolitano As transformações políticas e econômicas estabelecidas na Europa contribuíram fortemente para o desencadeamento da crise no Antigo Regime, o qual era fundamentado na exploração colonial. A relação entre o Brasil e Portugal começou a apresentar sinais de saturação a partir da decadência da economia mineradora, da subordinação crescente à Inglaterra e os precários meios de produção agrícola e manufatureira. A consolidação do capital industrial e a propagação dos ideais iluministas no século XVIII tornaram-se insustentável a permanência do modelo econômico mercantilista. Essas modificações desgastam intensamente o “pacto colonial”. Sobre isso, o historiador Caio Prado Júnior comentou: “A indústria capitalista toma logo tamanho vulto que ofusca o capitalismo comercial e assume cada vez mais o domínio da economia europeia. Resultará daí o declínio do antigo sistema colonial representado pelo pacto que é uma expressão perfeita do capitalismo comercial. O interesse do comércio no pacto é óbvio, pois o fim deste não é senão reservar para a metrópole, e portanto a seus comerciantes, o privilégio das transações coloniais em prejuízo dos concorrentes estrangeiros. E por isso o pacto se mantém enquanto o capital comercial domina. Mas para o industrial, sem interesse direto no comércio, e cujo único objetivo é colocar seus produtos, a situação criada pelo pacto é desfavorável. O monopólio comercial, de que não participa porque não é comercial, não lhe traz benefício algum; e pelo contrário, restringindo as relações mercantis, efeito necessário de qualquer monopólio, dificulta seu acesso aos mercados que é tudo quanto o interessa”. PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. p.123-124. As reformas pombalinas Os anos que antecederam à independência do Brasil foram marcados por várias mudanças nas configurações econômicas e sociais em boa parte das regiões da colônia portuguesa. Uma das conjunturas políticas que impulsionou essas modificações foi o governo de Sebastião José de Carvalho e Melo(1750-1777), o mais importante ministro do rei D. José I. Conhecido como Marquês de Pombal (título obtido em 1770), implementou reformas que foram decisivas e consideradas, por muitos historiadores, como modernizadoras. Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal de L. M van Loo e C. J. Vernet, 1766. No primeito plano dessa tela, vemos Pombal em meio a projetos para reconstruir Lisboa, destruída por um terremoto em 1755. 217 No cargo de ministro de Estado dos Negócios da Marinha e dos Domínios Ultramarinos, Pombal aumentou seu prestígio diante do rei e de setores da burguesia após um terrível terremoto que atingiu Lisboa em 1755. O abalo sísmico destruiu casas, igrejas e prédios públicos. Aproximadamente 10 mil pessoas morreram nessa tragédia, e outras milhares ficaram desalojadas. Diante dessa catástrofe, Pombal convenceu o rei que seria mais interessante reconstruir Lisboa, em vez de transferir a capital para a cidade de Coimbra, o que era surgerido por muitos na época. Desde então, Pombal passou a ser o verdadeiro governante de Portugal. Em meados do século XVIII, a situação econômica da coroa lusitana era insatisfatória. Portugal contava com atividades agrícolas frágeis e dependia, essencialmente, dos lucros oriundos das colônias. As reformas realizadas por Pombal visavam melhorar essa situação, tornando a economia e a máquina administrativa mais modernas e eficientes. As reformas pretendiam: dinamizar o comércio com outros países, aperfeiçoar as manufaturas, ter maior controle das colônias, melhorar a receita tributária e reestruturar os setores administrativos. Pombal criou uma série de medidas com o objetivo de recuperar as finanças portuguesa. O fundamento da era pombalina foi o controle do Estado sobre a economia, através da criação de taxa, monopólios e subsídios. Essas práticas mercantilistas foram utilizadas por Pombal para fortalecer os grandes comerciantes portugueses ante a concorrência estrangeira, além de combater os contrabandos, que obtinham lucros exorbitantes, pois não pagavam impostos ao reino. O governo pombalino deve ser compreendido sob os aspectos do exercício do despotismo esclarecido, uma vez que suas ações fortaleceu as bases políticas do absolutismo e a economia mercantilista, ao mesmo tempo também inseriu medidas ilustradas, como a expulsão dos jesuítas dos territórios portugueses, a reforma no conjunto do sistema educacional e reorganização das instituições de ensino estatal. Pombal também criou as companhias de comércio do Grão-Pará (1755) e de Pernambuco (1759); extinguiu o regime de capitanias hereditárias(1759); transfereiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro; incentivou o densevolvimento e incorporação da região amazônica à economia colonial; instalações de manufaturas; extinção da escravização indígena e elevação do Estado do Brasil à categoria de Vice-Reinado. Com a morte de D. José I, em 1777, Pombal deixou o governo. Um extenso movimento de oposição se instaurou contra a sua administração no começo da gestão de D. Maria I. Assim que assumiu, ela anulou algumas medidas implementadas pelo antigo ministro, como a criação das companhias de comércio. Todavia, a política de centralização do poder e arrecadação tributária permaneceram. Tensões na América portuguesa Os choques de interesses entre os metropolitanos e os colonos tornaram-se evidentes a partir da segunda metade do século XVIII. Esse processo acompanhou os movimentos emancipatórios em outras regiões da América inglesa e hispânica. No Brasil, as primeiras conjurações visando a ruptura com a Corte portuguesa vão ocorrer por intermédio da Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração baiana (1798). De acordo com o historiador, Raymundo Faoro, em seu livro Os Donos do Poder, observou: “No Brasil, antes e depois da Revolução Francesa, lavrou-se uma inquietação revolucionária conjugada a um dado novo: a independência da Colônia, no momento em que se exauria o pacto colonial. No século XVIII, fermentam timidamente, sem a ação aberta, as conjurações de Minas no final dos anos 80, a conjuração do Rio de Janeiro (1794) e a Inconfidência Baiana (1798)”. FAORO, Raymundo. Os Donos do poder: Formação do Patronato Político Brasileiro. 2 ed. Porto Alegre: Globo. v.1. p.225. Algumas situações particulares e momentâneas internas também foram importantes para impulsionar a eclosão dos movimentos. No caso da Capitania de Minas Gerais, a crise nas atividades mineradoras conjugada com o surgimento de um grupo intelectual comprometido com as concepções liberais foram os fatores importantes para acelerar a formação de movimentos emancipatórios. 218 Em relação a Bahia, a decadência da agromanufaura açucareira, a perca e prestígio político devido a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763) e difusão das idéias liberais contribuíram para o aparecimento dos movimentos. Buscando reverter a crise conjuntural do sistema colonial, Portugal adotou aplicar no Brasil, de maneira mais rígida, os princípios mercantilistas e monopolistas. Porém, a forte fiscalização da Coroa portuguesa aprofundou ainda mais a crise, uma vez que influenciados pelas idéias liberais foram revelados alguns movimentos que reivindicaram a separação e o rompimento com a metrópole. “Triste Bahia! Oh quão semelhante Estás, e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhando, Rica te vejo eu já, tu mi abundante. A ti tocou-se a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mi foi-me trocando, e tem trocado Tanto negócio, e tanto negociante. Deste e dá tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas di sagaz Brichote (comerciante). Oh se quiser Deus, que de repente Um dia amanhecerás tão sisuda Que fora de algodão o teu capote!” Gregório de Matos A Conjuração Mineira Diversos grupos sociais participaram da Conjuração Mineira: poetas, intelectuais, religiosos, militares, pessoas de origem humilde (Tiradentes) e comerciantes. Os integrantes eram favoráveis à liberdade comercial, ao fim do monopólio, à livre produção e pregação da instauração de uma república. O suporte teórico desse movimento era intensamente elitista. Mesmo influenciados pela independência das Treze Colônias e as idéias iluministas, o movimento teve posições pouco avançadas do ponto de vista social. Por exemplo, condenava-se a escravidão, apenas moralmente, uma vez que muitos envolvidos eram proprietários de escravos. Além disso, até a elaboração de uma bandeira que representava o movimento evidencia o caráter elitista, pois a inscrição em latim Libertas quae será tamem foi fundamentada no poema épico, A Eneida, do escritor romano Virgílio. O início do movimento foi marcado para o dia da derrama, que consistia na cobrança de impostos atrasados sobre a produção de ouro e que deveria atingir no mínimo 100 arrobas ao ano. Em 1789, a Coroa portuguesa detectou que a quantidade de impostos atrasados alcançou a soma de 384 arrobas. Diante disso, vale considerar que muitos dos membros dos movimentos tinham muitas dívidas com o governo metropolitano. Os múltiplos interesses e decepções pessoais dos participantes, de certo modo, entraram em contradição com o projeto coletivo em geral. Até mesmo Tiradentes (oficial de baixa patente), deixou evidente sua frustração individual, durante aos interrogatórios a que foi submetido: “O fato de ser alferes influiu para transformar-me em conspirador, levado a tanto que fui pelas injustiças que sofri, preterido sempre nas promoções a que tinha direito. Uni as minhas frustrações às do povo, que eram maiores, e foi assim que ideia de libertação tomou conta de mim”. Depoimento de Tiradentes registrado no Autos da Devassa. 219 Às vésperas da derrama, Joaquim Silvério dos Reis, um dos conjurados, delatou o movimento às autoridades. Para reprimir a rebelião, suspendeu-se a derrama e os revoltosos foram presos, sendo em seguida transferidos para a capital da colônia, Rio de Janeiro. Os membros do movimento foram julgados por um tribunal especial vindo de Lisboa com as punições já estabelecidas: execução dos líderes da conjuração e extradição para demais condenados. Abriram-se vários inquéritos (conhecidos como devassa) para responsabilizar cada um. Alguns inconfidentes foram presos, outros exilados e teve outros que foram perdoados (os pertencentes às camadas sociais de poder aquisitivo). Leitura da Sentença de Tiradentes, Eduardo de Sá, 1921. Ela foi lida em 18 de abril de 1792. Tiradentes foi o único que não teve suspensão de pena de morte. Museu Histórico Naiconal, Rio de Janeiro. Esse quadro pintado à véspera do centenário da independência, resgata a imagem de Tiradentes como mártir. “Segundo José Murilo de Carvalho, a República não possuía nenhuma fuga capaz de sintetizar e sustentar simbolicamente o novo regime. A proclamação fora o desfecho de um movimento de poucas raízes populares, praticamente um golpe militar, que precisava de legitimação. Era o momento de constituir um figura heróica capaz de congregar diferenças, de unificar a nação e conferir legitimidade popular ao novo regime. O perfil de herói que acabou prevalecendo foi o do mártir Tiradentes, tornado uma figura cívico-religiosa. (...) A associação do herói com Cristo faz parte deste processo, Ela já se fazia presente nos anos 60 do século XIX. O condenado que saiu da cadeia em ‘solilóquios com o crucifixo’, que havia perdoado a seu próprio carrasco, tinha seu momento máximo ao pé da forca. A figura do condenado ao enforcamento, com a corda no pescoço, tornou-se grande símbolo da redenção do país. A forma de representar este símbolo daí por diante vai torná-lo sempre nesta situação, ao pé do cadafalso, em uma cenografia que lembra inevitavelmente a imagem de Cristo ao pé da cruz. As comemorações do 21 de abril no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em outros lugares do país ganham cada vez mais o caráter de procissões da Paixão ou do Senhor morto”. LARA, Silvia Hunold. Tiradentes e a nação esquartejada. In: Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Pátria amada esquartejada. São Paulo: DPH, 1992. Tiradentes, uma dos mais pobres do movimento foi condenado, executado e esquartejado, em 21 de abril 1792. Apesar da relevância política de Tiradentes, torna-se necessário ter uma olha mais crítico quanto as suas ações, pois sua imagem foi mitificada e transformada em herói no contexto da consolidação da República brasileira, no final do século XIX. A imagem de Tiradentes foi apropriada pelos republicanos com o desejo de divulgar seus ideais, associandoos ao martírio de Tiradentes. 220 A conjuração baiana A Conjuração baiana ou Conjuração dos alfaiates foi um movimento de caráter separatista que eclodiu na Bahia, em 1798. Diferente da Inconfidência Mineira, esse movimento apresentou um forte aspecto social. Os rebeldes defendiam a proclamação da República e o fim da escravidão. A Conjuração Baiana contou com a participação de pessoas de origens socioeconômicas simples: escravos, pedreiros, sapateiros, bordadores, negros libertos, alfaiates, soldados, mulatos, brancos pobres, além da presença de alguns intelectuais. Alguns historiadores apontam que aproximadamente cinco mil pessoas contribuíram com o motim. Na época, Salvador possuía uma população de cerca de 60 mil habitantes. Vista da cidade de Salvador. Litografia de Rugendas, 1837. Desde a transferência da capital para o Rio de Janeiro, em 1763, a situação das camadas sociais mais baixas ficou mais complicada. O desemprego e a subida dos preços provocaram várias manifestações populares, com ataques à Câmara, uma vez que não conseguia controlar a carestia da carne e na resolução de outros problemas sociais. Generalizaram-se os saques aos mercados à procura de comida. O Pelourinho foi incendiado. Diante dessa situação, só a rebelião apresentava-se como alternativa para a grande massa de oprimidos e excluídos. Foi construído um cenário favorável a circulação do ideário revolucionário. O pensamento revolucionário francês, especialmente os associados aos jacobinos e aos sans-cullotes, de postura mais radical, popular e democrático influenciou bastante a Conjuração Baiana. A empolgação com a Revolução Francesa se expandiu intensamente em Salvador que, em 1796, recebeu a visita do comandante do navio francês, Antoine René Larcher, que havia aportado para fazer algumas reparações na embarcação. Na ocasião, o capitão aproveitou para divulgar as idéias iluministas e ações da Revolução entre os intelectuais e as autoridades locais. A população local acolheu essas informações. Retornando ao seu país, Larcher tentou convencer o governo do Diretório uma ocupação à Bahia, pois, segundo o comandante os franceses seriam bem recebidos devido à boa receptividade ao ideário revolucionário entre os baianos. Em 1797, foi criada a sociedade secreta os Cavaleiros da Luz que tinha como principal objetivo divulgar as idéias iluministas. Importante intelectuais como os professores Francisco Muniz Barreto e José da Silva Lisboa (Visconde de Cairu), o cirurgião Cipriano Barata, o padre Agostino, o proprietário de engenho Siqueira Bulcão, entre outros, reuniram-se para estudar e analisar as teorias de Rousseau e Voltaire. 221 Bandeira da Conjuração Baiana. as cores da bandeira do movimento (Azul, branca e vermelha) são até hoje as cores da Bahia. Em 1798, os revoltosos afixaram em locais públicos e nas Igrejas de Salvador pasquins, folhetos e manuscritos que conclamavam a população a participar do movimento e da instauração de um governo libertário e igualitário. As propostas dos conjurados baianos consistiam: na implantação da república democrática, nos moldes da república jacobina; alteração no sistema tributário; aumento dos salários dos militares; abolição da escravidão; liberdade comercial; representação e soberania do Estado. “O poderoso e magnífico povo baiense republicano desta Cidade de Bahia Republicana considerando os muitos e repetidos latrocínios feitos com os títulos de imposturas, tributos e direitos que são cobrados por ordem da Rainha de Lisboa e no que respeita a inutilidade da escravidão do mesmo povo tão sagrado e digno de ser livre, com respeito à liberdade e igualdade ordena, manda e quer que ara o futuro seja feita nesta cidade (...) a sua revolução para que seja exterminado para sempre o péssimo jugo reinável da Europa”. Proclamação dos Revoltosos, Salvadr, 1798. In: INÁCIO, Inês da Conceição; LUCA, Tânia Regina de. Documento do Brasil Colonial. São Paulo: Ática, 1993. p.136. No momento que os integrantes do Cavaleiro da Luz perceberam o radicalismo do projeto social, assustaram-se e ficaram receosos de uma revolução popular. As principais lideranças do movimento foram os alfaiates e mulatos João de Deus e Manuel Faustino; Luís Pires, escravo; Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas, soldados. O governo português agiu rapidamente e levantou a lista dos suspeitos. Após alguns dias de investigação e comprovadas as acusações, os principais líderes da rebelião foram presos. As pessoas mais influentes do movimento foram absolvidas (exceção de Cipriano Barata), mas as de classe mais humilde foram condenadas. Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus foram enforcados e esquartejados. 222 TEXTO COMPLEMENTAR Texto 01 Aviso ao povo bahiense O poderoso e magnífico povo bahiense republicano desta cidade da Bahia Republicana considerando nos muitos e repetidos latrocínios feitos com os títulos de imposturas, tributos e direitos que são cobrados por ordem da Rainha de Lisboa e no que respeita a inutilidade da escravidão do mesmo povo tão sagrado e digno de ser livre, com respeito à liberdade e igualdade ordena, manda e quer que para o futuro seja feita nesta cidade e seu termo a sua revolução para que seja exterminado para sempre o péssimo jugo reinável da Europa.(…) Ó vós Homens cidadãos; ó vós Povos curvados, e abandonados pelo Rei, pelos seus despotismos, pelos seus Ministros. Ó vós Povos que nascesteis para sereis livre e para gozares dos bons efeitos da Liberdade, ó vós Povos que viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é quem se firma no trono para vos veixar, para vos roubar e para vos maltratar. Homens, o tempo é chegado para a vossa ressurreição, sim para ressuscitareis do abismo da escravidão, para levantareis a sagrada Bandeira da Liberdade. A liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do abatimento; a liberdade é a doçura da vida, o descanso do homem com igual paralelo de uns para outros, finalmente a liberdade é o repouso e a bem aventurança do mundo (…) Inês da Conceição Inácio & Tânia Regina de Luca. Documentos do Brasil Colonial, São Paulo, Ática, 1993. Texto 02 Tiradentes — o amigo da liberdade Ouro Preto — a rica terra mineira — era lugar de homens ilustres e também idealistas. Começaram eles a traçar planos, fazendo programas, distribuindo missões entre si. Era a conspiração contra os opressores estrangeiros que se formava. E Tiradentes serviria de elo entre as províncias vizinhas. Ninguém percebia porém a chama da liberdade que se inflamaria em breve. Mas… quem nunca ouviu dizer “uma ovelha má põe um rebanho a perder”? Houve uma ovelha má entre os conspiradores. Percebendo que ficaria bem com os que então mandavam na terra, só pensou em si. Traiu os companheiros. Revelou todos os planos. Aquele homem não era brasileiro. Talvez por isso não tivesse entendido a grandeza do movimento e não sentisse anseios de independência. Houve prisões, julgamentos. Tiradentes pagou com a vida, em praça pública, o sonho bom que tivera para a Pátria. Morreu como um justo. Rezava nos últimos momentos. Implorava por certo a Deus que a chama da liberdade, que naquela hora amortecia, nunca extinguisse nos corações de seu povo. Aquele que morreu pela liberdade, viu seus rogos atendidos. Não demorou muito e o próprio Regente das terras opressoras concretizava o sonho de Tiradentes com um grito que reboou pela terra afora: Independência ou Morte. Tiradentes — o amigo da liberdade. Diário de Minas. Belo Horizonte, 21 de abril de 1957, p. 4. In: Thais Nívia de Lima e Fonseca. “A Inconfidência Mineira e Tiradentes vistos pela Imprensa: a vitalização dos mitos (1930-1960)”. Revista Brasileira de História. Vol 22. No. 44. São Paulo 2002 Após a leitura dos dois documentos, comente as principais ideias contidas em cada do textos. Faça também as possíveis correlações entre esses dois movimentos políticos quanto ao seus ideários, projetos políticos e sociais. 223 FAZENDO HISTÓRIA 1. (UFC-CE) Leia o texto a seguir. “Em Portugal, durante o governo do Marquês de Pombal, foi implantado “um mercantilismo de tipo clássico, tardio mas ajustado à defasagem da sociedade lusa, adequado ao absolutismo reformador que dele se serve como instrumento de aceleração das mudanças insere-se, como problemática mais profunda, na transição do feudalismo ao capitalismo. Ilustração numa sociedade periférica, longamente fechada sobre si mesma, na qual o movimento ilustrado foi fatalmente alguma coisa vinda de fora, do estrangeiro [...] Encontro, teoricamente inexplicável, de dois fenômenos que deveriam em princípio repelirse um ao outro: o mercantilismo e a Ilustração. Entretanto, ali estavam eles juntos, articulados, durante todo o período pombalino.” FALCON, Francisco J. Calazans. A época pombalina. São Paulo: Ática, 1982, p. 483. Responda às questões propostas. a) Apresente dois objetivos e duas características da política do Estado português que o autor do texto acima chamou de mercantilismo clássico. b) Cite três modificações significativas ocorridas no Brasil durante a administração pombalina. 2. (UFU-MG) “O final do século XVIII foi um momento de grande turbulência política internacional, com ressonâncias no sistema colonial montado pelas nações europeias. As idéias liberais agitavam as mentes, acenavam com a possibilidade de mudanças. Para as colônias, traziam a esperança de independência política.” REZENDE, Antônio Paulo e DIDIER, Maria Thereza. Rumos da História: a construção da modernidade – o Brasil Colônia e o mundo moderno. São Paulo: Atual, 1996. p.238. Tomando como referência a citação acima e seus conhecimentos sobre as revoltas coloniais no Brasil, identifique as diferenças entre a Inconfidência Mineira e a Inconfidência Baiana. 3. (UFES) Reforma tributária ou derrama. “A Reforma tributária em andamento é uma verdadeira derrama de final de milênio. Nunca em nosso país, nem na época de Tiradentes, se chegou tão longe.” O Globo. Rio de Janeiro, 20 ago. 1999. Explique: a) O que foi a derrama na época de Tiradentes, no Brasil Colônia? b) Por que foi instituída a derrama? 224 4. (PDEA) Leia o texto referente à Conjuração Baiana e responda. “Não eram os norte-americanos que serviam de exemplo a João de Deus e aos seus companheiros. Eram os sans-cullotes. A 12 de agosto de 1798, apareceram por toda a cidade manifestos manuscritos. Dirigidos ‘ao povo republicano da Bahia’ em nome do ‘supremo tribunal da democracia baiana’, apelavam ao extermínio do ‘detestável jugo metropolitano de Portugal’.” MAXWELL, Kenneth; SILVA, Maria Beatriz N. da. O Império Luso-brasileiro. a) Como pode ser caracterizada a Conjuração Baiana? b) Indique o nome de outra conjuração do século XVIII cujos líderes conspiraram em segredo e, tomando como exemplo os Estados Unidos, advogaram governo republicano. 5. Durante muito tempo, a figura de Tiradentes foi tratada com mito entre artistas, políticos e historiadores, restando, pouco espaço para outras referências nos livros didáticos de História. Por exemplo, alguns líderes da Conjuração Baiana (Lucas Dantas, João de Deus e Luiz Gonzaga) não foram tão mitificados como inconfidente mineiro. A respeito dessa discussão, responda: a) Como ocorre o processo de formação de uma pessoa em herói, em mito? Cite alguns exemplos de pessoas que foram “mitificadas”. b) Em sua opinião, qual a importância de preservar, permanentemente, a memória histórica de personagens como Tiradentes ou os alfaiates da Conjuração Baiana. 6. (UFC-CE) Na manhã de 12 de agosto de 1798, um panfleto revolucionário afixado em vários lugares da cidade de Salvador dizia: "Povo, o tempo é chegado para vós defendêreis a vossa Liberdade; o dia da nossa revolução, da nossa Liberdade e de nossa felicidade está para chegar, animai-vos que sereis felizes." PRIORE, Mary Del et al (Org.). "Documentos de História do Brasil de Cabral aos anos 90". São Paulo: Scipione, 1997, p. 38. A partir desse texto e de seus conhecimentos, responda às questões propostas. a) Que movimento produziu o panfleto citado? b) Cite três acontecimentos ocorridos no período, na esfera internacional, que podem ser relacionados a esse movimento. c) Cite dois objetivos do movimento ao qual o texto acima se refere. d) Apresente a relação entre a dureza das penas impostas aos principais acusados e a condição social da maioria dos participantes desse movimento. 7. A tela de Pedro América, criada em pleno período da formação da jovem República brasileira, tem uma função política. Desenvolva hispóteses sobre os aspectos políticos que o pintor quis transmitir para esta obra. 225 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (FCC) Boris Fausto, ao analisar as rebeliões do final do século XVIII e início do século XIX, afirma: Podemos mesmo dizer que foram movimentos de revolta regional e não revoluções nacionais. Esse foi o traço comum de episódios diversos (...) as conspirações e revoluções ocorridas nos últimos decênios do século XVIII e nos primeiros do século XIX são frequentemente apontadas como exemplos afirmativos da consciência nacional. Se é possível dizer que eles indicam essa direção, devemos lembrar que até a independência, e mesmo depois, a consciência nacional passa pela regional. Os rebeldes do período se afirmam como mineiros, baianos, pernambucanos e, em alguns casos como pobres, tanto ou mais do que brasileiros. (Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2008, p. 113-14) Assim, os movimentos emancipacionistas, dos períodos indicados no texto, a) não refrearam o desenvolvimento da consciência de ser brasileiro. b) foram exemplos concretos da existência da consciência nacional. c) não pensavam o Brasil como uma unidade diversa de Portugal. d) tinham em comum as ideias iluministas vindas da França como fonte inspiradora. e) não visavam a tornar independente toda a colônia portuguesa. 2. (UFRGS-RS) Considere a seguir, a nota de 1776 do Marquês de Pombal ao Embaixador da França em Lisboa: 1) as colônias devem estar debaixo da imediata dependência de proteção dos fundadores; 2) o comércio e a agricultura delas devem ser exclusivos dos mesmos fundadores; 3) aos fundadores pertencem também privativamente os úteis provenientes da agricultura, comércio e navegação das colônias; 4) para que prestem a utilidade desejada, as colônias não podem ter o necessário para subsistir por si sem dependência da metrópole; 5) quando entretém algum comércio com estrangeiros, tudo o que importa esse comércio clandestino e essas mercadorias introduzidas é um verdadeiro furto que se faz à respectiva metrópole e um furto punível pelas leis dos respectivos soberanos [...]; 6) portanto, não atentam contra a liberdade do comércio as potências que o restringem nas colônias a favor dos seus vassalos, e todo o governo que por indiferença tolere nos seus portos a contravenção dos cinco princípios anteriores pratica uma política destrutiva do comércio e da riqueza da sua nação ." Com relação a essa nota, são feitas as seguintes afirmativas: I. A liberdade de comércio é a base de todo o antigo sistema colonial. II. A subordinação das colônias às metrópoles abrange a política, a agricultura, o comércio e a navegação. III. O comércio entre as colônias e metrópoles não estabelece dependência, tornando a colônia livre em termos de política econômica. a) b) c) d) e) Quais estão corretas? Apenas I Apenas II Apenas III Apenas II e III I, II e III 3. (UFAL/COVEST) As rebeliões coloniais tiveram importância para registrar as inquietações contra Portugal e firmar a presença das ideias liberais no Brasil. Uma dessas rebeliões, conhecida como Inconfidência Baiana: a) defendeu o liberalismo, envolvendo-se com os mais ricos de Salvador. b) marcou pela defesa que fez da igualdade social, tendo ajuda dos maçons. c) foi contra o liberalismo, defendendo a democracia e o socialismo utópico. d) teve forte ajuda do clero, aliado aos senhores de engenho de Salvador. e) era contra o fim da escravidão, apesar de suas ligações com os mais pobres. 226 4. (UFPE) Muitas rebeliões contestaram o poder português no Brasil colonial. Uma delas conhecida como a Revolta dos Alfaiates: a) foi liderada por padres e intelectuais adeptos do liberalismo. b) aconteceu em Salvador de forma espontânea, sem lideranças definidas. c) combateu os privilégios dos comerciantes, libertando os escravos urbanos. d) seguiu os ensinamentos de rebeldes da Inconfidência Mineira. e) teve a participação de pessoas ligadas à loja maçônica de Salvador. 5. (UFAL/COVEST) No Brasil, as chamadas rebeliões coloniais deram condições para que o processo de independência conseguisse ganhar força política. Na Bahia, um desses movimentos, conhecido como a Revolução dos Alfaiates, foi: a) liderado apenas por comerciantes, defensores do fim da escravidão e da radicalização dos princípios liberais. b) marcado pela participação da Loja Maçônica Cavaleiro da Luz na propagação das ideias liberais. c) influenciado pela organização da Inconfidência Mineira e por suas idéias mais significativas. d) desorganizado politicamente, restringindo sua adesão aos pobres e ao clero local mais radical. e) militarmente forte, pela ajuda de províncias do Sul e do Sudeste, em defesa da autonomia das colônias. 6. (COVEST) As idéias do Iluminismo foram importantes para a divulgação de concepções de mundo que condenavam a escravidão e o feudalismo. No Brasil, na época, movimentos políticos foram influenciados por estas idéias. A Inconfidência Mineira, por exemplo, no século XVIII: a) foi uma rebelião de caráter popular que envolveu intelectuais e ameaçou a dominação militar portuguesa na região das minas. b) não conseguiu seguir as ideias liberais, devido à pouca participação de intelectuais entre as lideranças. c) defendeu, com clareza, o fim da escravidão seguindo, de forma revolucionária, os ideais do liberalismo. d) fracassou nos seus planos e foi fortemente reprimida pelas medidas tomadas por Portugal. e) teve a participação de escravos, lembrando a estrutura da Revolta dos Alfaiates, que aconteceu na Bahia. 7. (UPE) No Brasil colônia, as revoltas contra Portugal aconteceram em vários pontos do Brasil. Em um destes, a Inconfidência Mineira conseguiu reunir intelectuais e padres, estabelecendo planos de rebelião. A este respeito, é correto afirmar que os inconfidentes mineiros: a) planejavam o fim imediato da escravidão no Brasil. b) instalaram uma República baseada no modelo romano. c) defendiam uma ampla reforma agrária na região. d) aliaram-se aos rebeldes do Norte para libertar o Brasil. e) foram denunciados antes do início da rebelião. 8. (COVEST) A Revolução Francesa divulgou ideais iluministas que criticavam o absolutismo e o monopólio comercial. Muitos desses ideais ajudaram a pensar as mudanças do sistema colonial. No Brasil, os ideais iluministas influenciaram a Revolta dos Alfaiates, a qual defendia: a) a imediata instalação de uma monarquia constitucional com sede na Bahia, seguindo o modelo de Montesquieu. b) a convocação de uma Assembleia Nacional para libertar os escravos e ampliar a cidadania. c) a estruturação de uma República e o fim das injustiças sociais existentes na colônia. d) a libertação dos escravos sem, contudo, haver a emancipação de Portugal, preservando-se, assim, o estatuto colonial. e) a independência da Bahia e a instalação de um governo de ex-escravos, baseado em ideais democráticos. 227 9. (UPF – RS) A Inconfidência Mineira (1789) é considerada como o inicio do processo de emancipação política do Brasil, e seu valor é inegável. No entanto, o projeto dos chamados “inconfidentes” apresentava limites, pois: a) buscava o isolamento, rejeitando apoios externos. b) ignorava a experiência republicana dos EUA. c) não questionava a legitimidade do escravismo. d) não questionava as bases do Pacto Colonial. e) rejeitava os postulados político-filosóficos do Iluminismo. 10.(FURG) Para o tema Inconfidência Mineira, coloque 1; para a temática Conjuração Baiana (ou dos Alfaiates), coloque 2. ( ) Apesar de algumas reivindicações sociais, esse movimento não levou em conta a questão da libertação dos escravos e o fim dos privilégios sociais de alguns grupos. ( ) A massa ficou marginalizada no processo, pois considera-se que este foi um movimento eminentemente político, da elite para a elite. ( ) Além de visar a emancipação colonial, este movimento questionava as desigualdades sociais existentes no Brasil e pregava uma democracia racial. ( ) Este movimento de libertação colonial do Brasil foi influenciado, principalmente, pela independência norte-americana. ( ) A elite branca divulgou os princípios liberais da Revolução Francesa, entretanto, a partir do momento em que as camadas populares passaram a exigir o fim de todos os privilégios e a igualdade de cor, a elite abandonou o movimento, afinal, suas pretensões não eram tão revolucionárias. A a) b) c) d) e) sequência correta da numeração é: 1; 1; 2; 1; 2. 2; 1; 1; 1; 2. 1; 2; 1; 2; 1. 2; 1; 2; 1; 2. 1; 2; 2; 1; 1. 11.(COVEST-Alt.) A leitura do processo da Revolução dos Alfaiates nos leva a compreender que essa revolução: I. adotou a mesma estrutura militar da Inconfidência Mineira. II. defendeu idéias radicais e revolucionárias para a época. III. não questionou a existência do regime escravocrata na colônia. IV. contou com a participação de membros do clero baiano. V. negou a importância dos intelectuais para o movimento. 12.(UFMG) Leia este trecho, que contém uma fala atribuída a Joaquim José da Silva Xavier: “... se por acaso estes países chegassem a ser independentes, fazendo as suas negociações sobre a pedraria pelos seus legítimos valores, e não sendo obrigados a vender escondido pelo preço que lhe dessem, como presentemente sucedia pelo caminho dos contrabandos, em que cada um vai vendendo por qualquer lucro que acha, e só os estrangeiros lhe tiram a verdadeira utilidade, por fazerem a sua negociação livre, e levado o ouro ao seu legítimo valor, ainda ficava muito na Capitania, e escusavam os povos de viver em tanta miséria.” Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados; Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1980. v. 5, p. 117. A partir dessa leitura e considerando-se outros conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar que os Inconfidentes Mineiros de 1789: a) acreditavam que o contrabando aumentava o valor recebido pelas pedras e ouro, pois dificultava sua circulação. b) consideravam que o monopólio comercial explicava por que as regiões de que se compunha Minas Gerais, cheias de pedras e ouro, ficavam mais ricas. c) defendiam o livre-comércio, por meio do qual pedras e ouro adquiririam seu real valor, uma vez que seriam vendidos aos estrangeiros legalmente. d) pensavam que os estrangeiros poderiam tirar vantagens do livre-comércio das pedras e ouro, visando a aumentar seus lucros. e) propuseram deliberar leis que pudessem trazer benefícios para os escravos das minas. 228 OLHARES HISTÓRICOS • LIVROS A interiorização da metrópole e outros estudos. DIAS, Maria Odila Leite da Silva. 1789-1808: O império luso-brasileiro e os brasis. VILLALTA, Luiz Carlos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. • CINEMA Tiradentes Direção de Oswaldo Caldeira. Brasil, 1997. 125 min. Nesse filme, o cineasta Oswaldo Caldeira apresenta a sua perspectiva sobre Tiradentes, um dos mentores da Inconfidência Mineira. • LITERATURA Romanceiro da Inconfidência Publicada em 1953, o Romanceiro da Inconfidência exprimi o drama da liberdade no seu constante combate contra os governos tirânicos. A obra consiste numa coletânea de romances. Mesmo a predominante característica lírica, pessoal e subjetiva, Cecília Meireles realiza uma rica poesia social, revelando sua sentimentalidade ao fato histórico. 229 O processo de Independência do Brasil A transferência da família real No final do século XVIII e início do XIX, as transformações políticas, econômicas e sociais decorrentes da Revolução Francesa, um dos eventos principais que compõe a chamada “Era das Revoluções”, a qual foi essencial para a superação dos entraves feudais e para o desenvolvimento do capitalismo, abalando em definitivo as bases do Antigo Regime. O governo napoleônico (1799-1815) encerrou o processo revolucionário francês. O grande sonho de Napoleão era garantir a hegemonia francesa no continente europeu. Entretanto, as pretensões hegemônicas francesas entraram em choque com os interesses britânicos, uma vez que a Inglaterra buscava ampliar mercados e consolidar a ordem capitalista, iniciada desde o final do século XVIII, na denominada Revolução Industrial. Em razão a grande força francesa, a Inglaterra, preocupada, firmou uma aliança com a Áustria, Rússia e Prússia para derrotar as tropas napoleônicas. Após derrotar o exército austro-russo em Austerlitz (1805) e as tropas prussianas em Iena, Bonaparte invadiu Berlim e decretou o Bloqueio Continental, em 1806, cujo objetivo era asfixiar a economia inglesa. De acordo com esse decreto, todos os países europeus deveriam anular qualquer tipo de relação comercial com a Inglaterra. Nesse contexto, a Coroa Portuguesa ficou neutra. O príncipe regente, D. João, pretendia manter uma equidistância diplomática entre as duas potências, porém, isso não foi possível. Em 1807, o exército napoleônico ocupou a Espanha. Em seguida foi decretada a invasão a Portugal caso este não respeitasse os princípios do Bloqueio Continental. Napoleão também projetava controlar a esquadra portuguesa, o que possibilitava o domínio do Atlântico Sul. Por outro lado, a Inglaterra, aliada tradicional dos portugueses, pressionava D. João, ameaçando-o bombardear a sua esquadra caso aderisse ao decreto francês. Diante desse impasse, D. João, aconselhado pelo Lord Strangford, optou em transferir a Família Real para o Brasil, que no momento, apresentou-se como a única alternativa de preservar o próprio governo joanino. Embarque do príncipe regente de Portugal, dom João, para o Brasil, em 27 de novembro de 1807. Representação de Nicolas-Louis-Albert Delerive, 1807-1818. 230 Em novembro de 1807, tomando quase quarenta embarcações, a Família Real acompanhada de 10 a 15 mil pessoas (nobres, altos funcionários, comerciantes, militares, religiosos), embarcaram para o Brasil escoltado por navios ingleses. Do embarque ao trajeto da viagem houve muita confusão, todavia o fato mais importante desse processo histórico, foi a culminância significativa e irreversível das relações políticas alteradas entre o governo metropolitano e a colônia brasileira. Em relação a esse assunto, o historiador Caio Prado Júnior examinou: “A transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808 veio dar à nossa emancipação política um caráter que a singulariza no conjunto do processo histórico da independência das colônias americanas. Todas elas, mais ou menos pela mesma época, romperam os laços de subordinação que as prendiam às nações do Velho Mundo. Mas, enquanto nas demais, a separação é violenta e se resolve mos campos de batalha, no Brasil é o próprio governo metropolitano quem, premido pelas circunstâncias, embora ocasionais, que faziam da colônia a sede da monarquia, quem vai paradoxalmente lançar as bases da autonomia brasileira. A vinda da Corte deriva do conjunto de circunstâncias que assinalam o agitado momento por que então atravessa a Europa. Mas, em última análise, (...) não foi senão a arma de que se utilizou a Inglaterra para completar a sua já tradicional política de absorção econômica do pequeno Reino Lusitano. (....) O certo é que se os marcos cronológicos com que os historiadores assinalam a evolução social e política dos povos se não estribassem unicamente nos caracteres externos e formais dos fatos, mas refletissem a sua significação íntima, a independência brasileira seria antedatada de quatorze anos, e se contaria justamente da transferência da Corte em 1808. Estabelecendo no Brasil a sede da monarquia, o regente aboliu ipso facto o regime de colônia que o país JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil. 9. ed. São Paulo: Brasiliense. p. 42-45. até então vivera”. A Família Real noPRADO Brasil Após uma rápida passagem pela Bahia, a corte desembarca no Rio de Janeiro, que se tornou a capital de todo o império lusitano. A transferência da Corte para o Brasil, em 1808, gerou uma série de mudanças na sociedade brasileira. Segundo alguns historiadores, esse fato representou o começo das transformações no campo político da colônia, que passa a ser centralizado eixo Centro-Sul. Além disso, associam o processo de independência do Brasil a esse acontecimento, uma vez que o Rio de Janeiro, sede metropolitana, passou a concentrar todas as medidas governamentais da Coroa portuguesa. Os principais cargos burocráticos foram confiados aos portugueses (nepotismo e apadrinhamento). O funcionalismo e a corte tinham despesas elevadíssimas, o que provocou progressivos déficits aos cofres do governo. O pintor modernista Cândido Portinari faz uma representação do momento em que o príncipe regente de Portugal, dom João, desembarcou na Bahia. Chegada de dom João VI a Salvador, Cândido Portinari, 1952. 231 Durante o período que a Família Real permaneceu no Rio de Janeiro, foram verificadas várias mudanças sob os aspectos urbanos e culturais. No período joanino foram instalados instituições científicas, colégios, bibliotecas e o desenvolvimento da imprensa. É bom enfatizar que, com exceção do Rio de Janeiro, outras regiões do país não foram reformas ou medidas governamentais expressivas. Em linhas gerais, as principais medidas tomadas pela Coroa foram: a abertura dos portos brasileiros às nações amigas (Carta Régia de 1808), o que na prática pôs fim ao “pacto colonial”, viabilizando a inserção da economia brasileira no contexto da ordem capitalista; Revogação do Alvará de 1785 que até o momento não permitia a instalação de manufaturas na Colônia; Tratados de Paz e Amizade e Comércio e Navegação (1810) assinados com a Inglaterra e que estabelecia uma taxa alfandegária de 24% ad valorem sobre as importações internacionais e de 16% sobre as mercadorias advindas de Portugal (vinagre, azeite, vinhos), já aos produtos ingleses foram outorgados a tarifa de 15%; Criação do Supremo Conselho Militar e de Justiça do Rio de Janeiro; Criação do Conselho de Estado; Criação da Imprensa Régia e do Real Erário; Fundação do Banco do Brasil; Criação da fábrica de pólvora e da Junta de Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação do Brasil; Criação do Real Hospital Militar do Rio de Janeiro, de uma escola de anatomia, de cirurgia e de clínica médica; Decreto sobre a liberdade de imprensa e suspensão da censura prévia; Criação da Escola de Ciências, Artes e Ofícios; autorização para a contratação de professores estrangeiros e vinda da Missão Artística Francesa; decreto que liberou a doação de sesmarias a estrangeiros e a facilitação da entrada destes, dando condições para a fundação da primeira colônia de imigrantes em Nova Friburgo (colonos suíços), no Rio de Janeiro. Gravura de autor identificado como APDG, 1826, fazendo alusão à cerimônia do beija-mão. Esse protocolo real permitia o contato entre o soberano e os súditos. No dia do beija-mão, aproveita-se para solicitar favor a dom João. De acordo com vários historiadores, essas ações implementadas foram fundamentais para o rompimento do monopólio comercial com Portugal, encerrando o “pacto colonial” e gerando uma nova situação econômica e política para o Brasil, ou seja, a partir de então foi construindo o caminho para a posterior formação do estado brasileiro. É importante também fazer alusão da dependência de Portugal ao capitalismo inglês, situação em que o Brasil se manteve após sua independência política. Paulatinamente começaram a surgir no Brasil entre os membros do governo e os comerciantes portugueses diversos interesses que provocaram atritos que conduziram, em certa medida, a colônia a sua emancipação política. Entretanto, algumas convulsões regionais, como a Revolução de 1817, mostraram outro tipo de contradição existente na colônia, a saber, as divergências entre os interesses da Coroa e dos colonos. “Segundo Alan Manchester, ‘quando foi dado o grito de independência, em 1822, esses interesses se tinham tornando tão importantes que a Grã-Bretanha forçou a colônia revoltada a aceitar as mesmas obrigações que Portugal tinha assumido pelo Tratado de 1810, apesar de o Brasil ter renunciado à autoridade do Governo que negociara este acordo’. (...) O Brasil está, portanto, inserido nos quadros do capitalismo do século XIX, por meio do controle britânico, em qualquer uma das duas etapas da industrialização europeia no período, o que somente serviu para mais fácil e violentamente anexar a economia brasileira nos quadros do futuro capitalismo dependente”. FRANCO JÚNIOR, Hilário; CHACON, Paulo Pan. História Econômica Geral e do Brasil. São Paulo: Atlas, 1980. p. 260-261. 232 A Revolução de 1817 Durante a permanência da Família Real no Brasil, os portugueses receberam uma série de regalias. Essas benesses foram conquistadas em detrimento dos habitantes da colônia. O processo de confluência de interesses e privilégios entre a elite colonial e a portuguesa foram um dos principais motivos que contribuíram para a eclosão da Revolução Pernambucana de 1817, também conhecida como Revolução dos Padres, dada a importante participação nessa insurreição de alguns membros do clero. O movimento contou com a participação de vários setores da sociedade (grandes proprietários, juízes, militares, artesãos e religiosos) e se expandiu por outras regiões nordestinas, como Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Somado a transferência de rendas das elites coloniais para os comerciantes portugueses que viviam no Brasil e o desenvolvimento limitado ao Rio de Janeiro, pode-se acrescentar a recessão econômica do Nordeste, causada pelas oscilações dos valores do açúcar e do algodão e pela queda de produção em razão da seca que assolava a região desde 1816. Outro fator que contribuiu para a eclosão do movimento foram cobranças de impostos classificadas abusivas pela população do Nordeste. Vale salientar, que os interesses dos participantes dessa insurreição não foram uniformes. Os grandes proprietários questionavam a forte centralização administrativa e política do governo metropolitano sediado no Rio de Janeiro, chegando a defender a autonomia do Nordeste. Em contrapartida, segmentos de outras camadas sociais pregavam a instauração de uma república, a liberdade e a igualdade. Entretanto, os motivos que os uniam eram as críticas contra as desigualdades regionais, o antilusitanismo e a libertação da colônia. A atual bandeira de Pernambuco foi inspirada no pavilhão criado pelo movimento revolucionário de 1817. Cerimônia de bênção das bandeiras da Revolução de 1817, de Antônio Parreiras, início do século XX. Do ponto de vista ideológico, a Revolução de 1817 foi influenciada pelos ideais do iluminismo. A natureza liberal do movimento tornou-se evidente com a tomada da cidade do Recife e o estabelecimento de um governo provisório que seguiu o modelo do Diretório francês de 1795, instaurado na Revolução Francesa. Durante setenta e cinco dias, os revoltosos resistiram às pressões da Coroa e conseguiram expandir o movimento para outras províncias. Entretanto, os antagonismo internos do movimento e forte repressão do governo foram determinantes para o fim da revolta. Os insurretos foram punidos rigorosamente, com diversas prisões e execuções dos principais líderes. 233 “Os revolucionários aboliram os impostos recém-instituídos por D. João VI e implantaram novos costumes, próprios do sistema republicano: introdução do termo ‘patriota’ e do pronome ‘vós’ nas formas de tratamento, à moda francesa; nova bandeira e garantia de liberdade de consciência e imprensa, mas ficavam proibidos os ataques à Constituição e à religião. Eram assegurados aos cidadãos as garantias e os direitos individuais, como o de propriedade, incluindo-se a manutenção da escravidão. Apesar da adesão da Paraíba e do Rio Grande do Norte, o apoio não foi suficiente para manter o movimento revolucionário. A repressão das tropas legalistas (...) pôs fim aos 75 dias da experiência revolucionária. Ocorreram vários fuzilamentos e enforcamentos dos liberais radicais, e medidas políticas foram tomadas por D. João, como o fechamento da Maçonaria (associação caracterizada pelo espírito de fraternidade e que teve expressiva atuação no contexto da independência brasileira) (...) Ainda que caracterizada por idéias liberais, essa revolução teve caráter conservador, ao propor a manutenção da propriedade e da escravidão. Para a ótica do poder constituído, representou uma série ameaça à estrutura política e econômica brasileira: a insurreição de Pernambuco poderia se transformar numa república negra, pois o número de negros era muito superior ao de brancos. Liberdade, irmandade e fraternidade eram temas perigosos, mesmo que defendidos pela pequena burguesia letrada, e esse perigo em potencial justificava a repressão violenta ao movimento”. BOTELHO, Ângela Vianna; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico do Brasil: Colônia e Império. Belo horizonte: O Autor, 2001. p.298. O rompimento com Portugal A permanência da Família Real no Brasil deixou a burguesia portuguesa de Lisboa bastante insatisfeita, pois o país estava sendo governado por uma junta governativa britânica dirigida por Beresford. Muitos portugueses questionavam a posição secundária da metrópole, principalmente quando o Brasil foi elevado, em 1815, à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves, em razão do Congresso de Viena. Diante dessa situação, a elite lusitana sentiu-se prejudicada, optando pelo fim do absolutismo em seu país. Em 1820, na cidade do Porto, eclodiu um movimento de perfil liberal liderado pela burguesia mercantil que ficou conhecido como Revolta Constitucionalista ou RevoltaLiberal do Porto. As principais reivindicações dos revolucionários era o retorno imediato de D. João VI para a Europa e a constitucionalização do reino. Para tal, as Cortes (assembleia) foram convocadas e foram iniciados os trabalhos para a elaboração da Constituição. A Revolta do Porto foi paradoxal, pois, se por um lado, pôs fim efetivamente ao absolutismo, consolidando a ordem liberal em Portugal, por outro, tiveram tendências explicitamente conservadoras, à medida que exigiram a recolonizarão do Brasil. As primeiras ações das Cortes portuguesas, aprovadas por meio de decretos, foram: a subordinação direta dos comandos militares instalados no Brasil e supressão dos tribunais e demais estabelecimentos públicos criados na época de D. João VI. “O fato em si da separação do reino em 1822 não teria tanta importância na revolução da colônia para o império. Já era fato consumado desde 1808 com a vinda da Corte e abertura dos portos e por motivos alheios à vontade da colônia ou da metrópole. A preocupação, por si, evidentemente, justificada de nossos historiadores em integrar o processo de emancipação política com as pressões do cenário internacional, envolve no entanto alguns inconvenientes ao vincular demais os acontecimentos da época a um plano muito geral; contribuiu decisivamente para o apego à imagem da colônia em luta contra a metrópole, deixando em esquecimento o processo interno de ajustamento às mesmas pressões que é o de enraizamento de interesses portugueses e sobretudo o processo de interiorização da metrópole no Centro-Sul da colônia. O fato é que a consumação formal da separação política foi provocada pelas dissidências internas de Portugal, expressas no programa dos revolucionários liberais do Porto e não afetaria o processo brasileiro já desencadeado com a vinda da Corte em 1808”. DIAS, Maria Odila. A interiorização da Metrópole. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). 1822: Dimensões. São Paulo, Perspectiva.p.165. 234 Em 1821, D. João VI decidiu voltar a Portugal, com o objetivo de resolver a crise política instalada e que ameaçava a sua permanência no poder. No Brasil, as várias forças da sociedade (comerciantes portugueses, aristocracia agrário-escravista) passaram a se articularem em torno de D. Pedro, filho de D. João. Com príncipe regente e representante da administração local, D. Pedro se transformou num habilidoso mecanismo de reivindicações. Embarque de D. João VI para Lisboa após a convocação das Cortes portuguesas. Beauchamp, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Diante das medidas recolonizadoras das Cortes portuguesas, a ruptura se tornou praticamente, a única solução política. É importante ressaltar, que as elites brasileiras viam com desconfiança o rompimento com Portugal. A principal preocupação se pautava na possibilidade da separação política provocar convulsões sociais que comprometeriam as estruturas socioeconômicas da época. Havia um grande temor ao “perigoso” exemplo da independência do Haiti (1804), onde as elites foram massacradas. Nessa perspectiva, as elites agrárias apoiariam a independência na condição da manutenção das estruturas latifundiárias, escravocrata e exclusão política das camadas populares. Para muitos historiadores, o processo de independência do Brasil teve um caráter peculiar. A transição da colônia para o império foi influenciada pelas transformações ocorridas no quadro internacional. Os conflitos internos e a independência O movimento de independência do Brasil consistiu num “arranjo político” entre os segmentos das elites brasileiras. Membros dessa elite concentraram-se no “partido brasileiro”, sob a liderança dos irmãos Andradas. A princípio, a aristocracia brasileira não apoiava a emancipação política, porém, com as pressões de recolonizarão, mudou-se de opinião. Com o retorno de D. João à Lisboa, o Brasil ficou sob a regência do seu filho D. Pedro que passou a ser pressionado pelos portugueses e brasileiros. Os primeiros exigiam a sua volta, enquanto que os últimos eram favoráveis a sua permanência. Esse impasse foi resolvido, em janeiro de 1822, quando o príncipe decidiu permanecer no Brasil (Dia do Fico). No decorrer de 1822, houve o desenvolvimento de importantes etapas decisivas para a proclamação da independência. As brigas internas entre diversos grupos defensores da libertação geraram relevantes debates que oscilavam entre postura mais radical e posicionamentos mais conservador. Os grandes proprietários, membros da burocracia e do exército defendiam a independência do Brasil e a introdução de uma monarquia centralizada. Outros grupos desejavam a monarquia constitucional que não alterasse a ordem social estabelecida. Havia também os radicais que pregavam a instauração de uma república liberal. 235 D. Pedro rompe com as cortes lusas e proclama a independência do Brasil. Oleo sobre tela por François-René Moreaux (Museu Imperial de Petrópolis). Depois de diversas pressões das Cortes portuguesas, em julho de 1822, D. Pedro convocou uma Assembleia Constituinte, que significou um decisivo passo para o rompimento político com Portugal. Rapidamente, a coroa portuguesa considerou ilegal a Constituinte Brasiléia, enviando tropas para combater no Brasil e exigir o regresso de D. Pedro que afirmou que não obedeceria as ordens vindas de Lisboa. Diante desse, desgaste , o príncipe regente, em sete de setembro de 1822, decretou a emancipação política do Brasil. Não houve nenhuma participação das camadas populares nesse acontecimento, ou seja, o movimento de independência não significou nenhuma ruptura com as estruturais sociais e econômicas em vigor. Em dezembro do mesmo ano, D. Pedro foi coroado Imperador Constitucional do Brasil. “A independência foi feita pelos grupos dominantes da sociedade, os grandes proprietários rurais e grandes comerciantes. Não houve participação popular decisória no processo. A ideia de realizar a independência com o apoio do príncipe e a exclusão das camadas inferiores da sociedade foi decorrência natural da formação social brasileira. Havia o temor da elite ilustrada, diante da perspectiva de conquistas pelas massas populares. Estas massas (...) constituíam-se de escravos e trabalhadores livres totalmente desamparados. (...) Dessa forma, a absorção do liberalismo no Brasil limitou-se à liquidação dos laços coloniais. A escravidão era intocável. Conciliava-se a ruptura do pacto colonial com a preservação do escravismo.” RIBEIRO JÚNIOR, José. A independência do Brasil. p.54. O sete de setembro representou o término de um longo processo de independência política, iniciada com o desembarque da Família Real, em 1808, e concluída pelas elites coloniais em 1822. Como foi afirmado anteriormente, a emancipação do Brasil não contou com a participação popular, sendo, na verdade, resultado da articulação da aristocracia conservadora. A singularidade política do Brasil contribuiu para a organização do regime monárquico no país (o único em toda a América) e permanência do sistema escravocrata. 236 TEXTO COMPLEMENTAR A independência no quadro de Pedro Américo “Um pintor de história deve restaurar com a linguagem da arte um acontecimento que não presenciou e que ‘todos desejam contemplar revestido dos esplendores da imortalidade’. Assim escreveu Pedro Américo em texto explicativo sobre o quadro conhecido como O Grito do Ipiranga, completado em Florença em 1888 por encomenda da comissão de construção do monumento do Ipiranga. (...) De início, do Pedro não podia montar a besta gateada de que falam as testemunhas. O pedestre animal (...) teve o desgosto de se ver substituído no quadro pela nobreza de um cavalo. Com maior razão, (....) o augusto moço podia ser representado com os traços fisionômicos de quem sofria as incômodas cólicas de diarreia, (...) o motivo da parada da comitiva às margens do Ipiranga (...). O uniforme da guarda de honra também foi alterado. A ocasião merecia traje de gala, em vez de uniforme ‘pequeno’. (...) Pedro Ame-rico, atendendo à finalidade da encomenda, buscou construir a imagem de um herói guerreiro, criador de uma nação”. CARVALHO, José Murilo de. Os esplendores da imortalidade. Brasil 500 anos, dez. 1999. Disponível em www.folha.uol.com.br. Acesso em 13 de julho de 2009. Independência ou morte, de Pedro Américo. 1. A conhecida obra O Grito do Ipiranga, do pintor paraibano Pedro Américo, contribuiu para a construção da imagem gloriosa no ato de D. Pedro levantando a espada declarando a emancipação do Brasil. A obra do artista foi concluída em 1888. Pedro Américo fez uma intensa pesquisa sobre o evento histórico e decidiu alterar algumas características da época, produzindo o quadro épico sobre o 7 de setembro. Após a leitura do texto e a análise da imagem, comente as incompatibilidades entre os comentários de José Murilo de Carvalho e os personagens apresentados na obra de Pedro Américo. Qual a função das imagens na construção da memória e suas relações com o poder político? Por quê? Justifique. 237 FAZENDO HISTÓRIA 1. (FUVEST-SP) Quem furta pouco é ladrão Quem furta muito é barão Quem mais furta e esconde Passa de barão a visconde Versos anônimos divulgados no Rio de Janeiro, depois da instalação da Corte Portuguesa no Brasil, em 1808. Considerando as críticas neles contidas: a) Explique as transformações políticas e administrativas trazidas pela Corte portuguesa. b) É possível estabelecer um paralelo com a atual situação dos políticos brasileiros? Comente. 2. O historiador Fernando Novais afirmou que, no início do século XIX, o Brasil “não era apenas um fator de desenvolvimento da metrópole, mas sim condição de sua existência”. Nesse contexto, como podemos explicar a transferência da corte portuguesa para o Brasil? 3. (PDEA) A Revolução Pernambucana de 1817 eclodiu no momento em que se acentuaram as contradições econômicas, políticas e sociais entre os grupos da sociedade pernambucana e o governo português. Mencione algumas reivindicações básicas dos revolucionários. 4. (UFF-RJ) O século XIX foi marcado por ondas revolucionárias que, em 1820, incidiram sobre a Península Ibérica. No caso específico de Portugal, houve uma revolução que alterou a relação deste país com o Brasil. a) Cite o nome dado a esta revolução. b) Correlacione esta revolução ao processo de emancipação política do Brasil. 5. Um dos grandes debates entre historiadores é a questão da ruptura ou continuidade no processo de independência do Brasil. Explique o que propõem os que defendem a ruptura e os que defendem a continuidade. 238 6. “Não houve ruptura do regime colonial, que sobreviveu com o absolutismo do regime imperial, com a legislação arcaica, com a relativa mobilidade administrativa, com a alienação das elites, com a fragilidade da conjuntura e a estabilidade da estrutura, imutável e incapaz de atender às necessidades nacionais”. RODRIGUES, José Honório. In: M OTA, Carlos Guilherme. Ideia de Revolução no Brasil: 1789-1801. 4 ed. São Paulo: Ática, 1996. p. 213. Após a leitura do texto, você acha que independência do Brasil não representou uma ruptura com as estruturas socioeconômicas vigentes na época? Por quê? Justifique. 7. Leia abaixo a opinião da historiadora Emília Viotti da Costa sobre a independência do Brasil. “A ausência de uma classe propriamente revolucionária, as distâncias e os antagonismos que separavam o povo dos chefes revolucionários, a liderança do movimento da independência pelas categorias dominantes, ligadas à terra, aos negócios e altos cargos, garantiram a sobrevivência da estrutura colonial.” COSTA, Emília V. da. In: MOTA. Carlos G.(org.) Brasil em perspectiva. 6. ed. São Paulo: Difel. p.122. Entre as três razões apresentadas pela autora, qual vocês acha mais determinante para a manutenção das estruturas socioeconômicas no Brasil independente? Por quê? Comente. 8. (FUVEST-SP) Procure interpretar a "charge" de Miguel Paiva, analisando sua versão da Independência do Brasil. 9. O historiador britânico Kenneth Maxwell é um dos estudioso da História do Brasil. No trecho a seguir, ele reflete sobre a peculiaridade da Independência brasileira. Leia-o com atenção. “É vital reconhecer, portanto, que no 7 de setembro de 1822, nas margens do Ipiranga, nos arredores de São Paulo, quando Dom Pedro, heredeiro do trono português, gritou, “Indpendência ou Morte”, estava exagerando. A questão, em setembro de 1822, não era certamente a “morte” e, apenas indiretamente, a “independência”. O Brasil havia sido independente, para todas as intenções e propósitos, desde 1808; desde de dezembro de 1815 o Brasil fazia parte de um reino unido, em pé de igualdade com Portugal. O que estava em jogo no início da década de 1820 era mais uma questão de monarquia, estabilidade, continuidade e integridade territorial do que de revolução colonial. Evitar a Revolução no Brasil era (...) uma grande preocupação na Europa (...)” Maxwell, Kenneth. Por que o Brasil foi diferente? O contexto da independência. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta (1500-2000): a experiência brasileira. 2. Ed. São Paulo, Senac, 2000. p.186. a) Comente a afirmação de Kenneth Maxwell de que dom Pedro exagerava quando gritou “Independência ou Morte”. b) A interpretação de Maxwell privilegia as rupturas ou as continuidades no processo de independência do Brasil? Jutifique. 239 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (FCC) Observe a litogravura. D. João VI. Partida do Príncipe Regente de Portugal para o Brasil em 1807. (In. Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2008, p. 121) A litogravura aborda um tema importante para a história do Brasil, pois o país, com a transferência da Corte portuguesa, a) foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal. b) concedeu o título de imperador ao regente luso. c) conquistou a autonomia política e econômica. d) ratificou a política monopolista metropolitana. e) tornou-se sede da Monarquia portuguesa. 2. (IFSC) Sobre a vinda da Família Real Portuguesa no começo do século XIX e sua permanência no Brasil assinale a incompatívil com os feitos que ocorreram no período joanino: a) A Insurreição Pernambucana de 1817 foi um movimento organizado pelos portugueses donos de terras e comerciantes de Pernambuco em apoio a D. João VI, frente aos movimentos separatistas da região. b) A província Cisplatina, motivo de guerra no Primeiro Império, foi anexada por D. João VI durante o período que esteve no Brasil. c) A idéia de transferir a Corte Portuguesa para sua colônia americana não era novidade, já havia sido vista como possibilidade por algumas vezes durante o período de dominação portuguesa no Brasil. Um dos defensores da possibilidade foi o Padre Antonio Vieira. d) No campo dos estudos superiores, durante o período em que D. João VI permaneceu no Brasil, foram criados alguns cursos e academias, como a Escola de Anatomia e Cirurgia, Aula de Comércio, Academia Real da Marinha e Aula de Botânica. e) O estabelecimento da sede da monarquia portuguesa na colônia e a substituição da engrenagem administrativa colonial ficaram conhecidos como “inversão brasileira”. 3. (UFPE) No início do século XIX, são criadas, no contexto internacional, as condições favoráveis à independência do Brasil de Portugal. Dentre essas condições, podemos mencionar: a) o avanço da política da Santa Aliança em relação às colônias. b) as guerras napoleônicas e a transmigração da família real portuguesa. c) o triunfo do absolutismo, nos países ibéricos, baseado no direito divino. d) a difusão, no mundo colonial, de idéias reformistas, modernistas e humanistas. e) a criação de “partidos” separatistas e nacionalistas baseados no sudeste brasileiro. 240 4. (UFPE) A vinda de D. João VI ao Brasil provocou mudanças na gestão portuguesa, transformando, sobretudo, a cidade do Rio de Janeiro. A sua vinda para o Brasil: a) trouxe a modernização da economia, com a instalação de indústrias conforme o modelo inglês tão copiado na época. b) deu mais liberdade política aos liberais, acabando com a censura e a repressão aos defensores da independência. c) mudou hábitos e costumes seculares, com a sociedade se espelhando em muitos comportamentos da corte portuguesa. d) alterou apenas as relações políticas dentro da colônia, não tendo repercussões na economia, que continuou agrícola. e) fortaleceu Portugal, consolidando suas relações diplomáticas com a Inglaterra e sua amizade com os Estados Unidos. 5. (UPE) Muitas revoltas tornavam claras as insatisfações dos colonos contra os desmandos de Portugal. Havia também a divulgação das ideias liberais, importantes para aprofundar a crise do sistema colonial. Nesse contexto, a Conspiração dos Suassunas em Pernambuco: a) destacou-se pela sua organização militar e seu ideário iluminista. b) estimulou o debate político contra o sistema colonial português. c) firmou a existência de núcleos politicamente conservadores. d) foi sem importância para o movimento libertário de Pernambuco. e) era um movimento restrito aos intelectuais do Seminário de Olinda. 6. (FUVEST) “Eis que uma revolução, proclamando um governo absolutamente independente da sujeição à corte do Rio de Janeiro, rebentou em Pernambuco, em março de 1817. É um assunto para o nosso ânimo tão pouco simpático que, se nos fora permitido [colocar] sobre ele um véu, o deixaríamos fora do quadro que nos propusemos tratar.” F. A. Varnhagen. História geral do Brasil, 1854. O texto trata da Revolução pernambucana de 1817. Com relação a esse acontecimento é possível afirmar que os insurgentes: a) pretendiam a separação de Pernambuco do restante do reino, impondo a expulsão dos portugueses desse território. b) contaram com a ativa participação de homens negros, pondo em risco a manutenção da escravidão na região. c) dominaram Pernambuco e o norte da colônia, decretando o fim dos privilégios da Companhia do Grão-Pará e Maranhão. d) propuseram a independência e a república, congregando proprietários, comerciantes e pessoas das camadas populares. e) implantaram um governo de terror, ameaçando o direito dos pequenos proprietários à livre exploração da terra. 7. (IPAD) O Brasil lutou pela sua independência através de revoltas políticas que marcaram as primeiras décadas do século XIX. A rebelião política de 1817 em Pernambuco: a) teve a participação de membros do clero local, cujo pensamento inspirava-se em ideias liberais da Europa. b) conseguiu vitória expressiva contra Portugal, tornando o Nordeste de colônia em uma região autônoma. c) foi vitoriosa devido ao seu poderio militar e à ajuda de algumas nações estrangeiras. d) fracassou na sua luta, não oferecendo ameaça ao governo português e facilitando sua política repressiva. e) articulou uma rebelião nacional, com participação do Sudeste, ameaçando Portugal com sua força política e militar. 8. (UFPE-Alt.) Esta questão diz respeito à Revolução de 1817. I.No início do século XIX, a Revolução de 1817, em Pernambuco, esteve articulada ideologicamente com lutas burguesas nos Estados Unidos e na Europa. II.A conspiração dos Suassunas está para a Revolução de 1817, assim como o 18 Brumário está para a Revolução Francesa. III.A Revolução Pernambucana de 1817 foi vitoriosa em vários estados: na Paraíba, no Rio Grande do Norte, no Ceará, na Bahia e no Maranhão. IV.Em Portugal, na cidade do Porto, a influência da Revolução de 1817 foi decisiva para a eclosão da Revolução Constitucional. V.O período que antecedeu 1817 caracterizou-se por uma fase de recessão que atingiu os preços do açúcar e do algodão no mercado internacional. 241 9. (UFPE) Atribuiu-se aos revolucionários de 1817 a defesa da soberania popular, a separação entre os poderes (legislativo, executivo e judiciário), a liberdade de culto e de expressão e a igualdade de direitos. Sobre esse movimento é correto afirmar: a) A revolta civil e militar, de 1817 em Pernambuco, destituiu o governo e estabeleceu pela força das armas um governo republicano, dando mostras de uma verdadeira revolução popular. b) O governo republicano que se instalou em Pernambuco em 1817, encontrou a estratégia militar que lhe garantiu a permanência no poder até abril de 1822. c) A ajuda do governo português aos revoltosos de 1817 em Pernambuco veio através de forças navais e terrestres, consolidando-se, então, o governo republicano revolucionário de Pernambuco. d) A origem de classe dos líderes do movimento republicano de 1817 não permitiu a radicalização das mudanças nas estruturas econômicas e sociais existentes. e) Em razão da ampla repressão do governo português ao movimento de 1817, os líderes foram presos e executados, inclusive o Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca. 10.(COMVEST) A emancipação política brasileira é um processo que se iniciou bem antes de 1822 e foi além. Com a chegada da família real em 1808, surgem as primeiras insatisfações e, uma vez conquistada a independência, iniciou-se longa luta pela sua consolidação. Assinale a única alternativa correta. a) Uma das causas da independência é a recusa lusitana em aceitar que os parlamentares brasileiros, nas Cortes Lusas, defendessem seus interesses, além de querer reduzir o Brasil a sua antiga condição de colônia. A determinação das Cortes, em fins de 1821, para que Pedro I retornasse a Portugal só acelerou o processo. b) O Dia do Fico (9 de janeiro de 1822) não é causa da ruptura entre brasileiros e portugueses. Ao insistir em ficar, Pedro I assumia a defesa dos interesses de Portugal no Brasil. c) O ato da independência era desnecessário. Em maio de 1822 o rei de Portugal anuiu a ordem de Pedro I de não aceitar os decretos vindos da Corte de Lisboa e não fez menções contra a convocação da Assembléia Constituinte no Brasil. d) Como os movimentos pró-independência eram constitucionalistas, Pedro I encerrou agitações sociais ao convocar a Assembleia Constituinte dias após o ato da independência, dando plenos poderes para um Conselho de Estado redigir o projeto constitucional. e) A Confederação do Equador, de 1824, não se relaciona com as insatisfações frente ao autoritarismo do imperador Pedro I. Os revoltosos queriam criar, no Brasil, uma república federativa tal qual a dos Estados Unidos da América. 11.(MACK) No ano de sua independência, o Brasil tinha [...] tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente [...]. O medo de uma rebelião dos cativos assombrava a minoria branca. O analfabetismo era geral. [...]. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil [...]. Laurentino Gomes, 1822 É correto afirmar que a independência do Brasil só não confirmou os temores apresentados no trecho, a) porque ao defender a revolução popular de inspiração camponesa, inspirou legisladores como José Bonifácio e Joaquim Nabuco a defenderem a emancipação completa em relação a Portugal. b) porque o povo conseguiu entender os anseios de D. Pedro e da elite brasileira, ao pegar em armas e defender até a morte uma independência que parecia condenada em sua própria estrutura. c) porque foi realizada à revelia da população pobre – destacadamente de origem africana e indígena – uma vez que suas simpatias pela Revolução Americana ameaçavam os poderes da elite branca. d) porque parcelas significativas da elite brasileira se aglutinaram em torno de D. Pedro, a fim de manter as antigas bases de um Brasil colonial na estrutura do novo país que nascia em 1822. e) porque foi inspirada pela Revolução Francesa e pelas ideias iluministas, no contexto da crise do Antigo Sistema Colonial, sendo liderada pela elite burguesa contra a tirania representada por D. Pedro. 242 12.(UFPE-Alt.) A Independência do Brasil não foi um mero projeto de Pedro I e de uns poucos grandes homens. Esta emancipação política é um dos aspectos da crise do sistema colonial e se relaciona profundamente com as mudanças econômicas em marcha, na Europa, desde o século XVIII. A nossa Independência I. obedeceu às exigências do processo capitalista que tem como pressuposto a liberdade de troca. II. alterou profundamente a tradicional posição ocupada pelo Brasil no mercado internacional como fornecedor de matérias primas. III. permitiu a continuidade da ordem social baseada no latifúndio e na escravidão. IV. teve o apoio das classes dominantes que sentiam necessidade de eliminar o intermediário na compra de produtos manufaturados. V. garantiu a diminuição do trabalho escravo no Brasil, estimulando um dinâmico mercado interno. 13.(UFPE-Alt.) Esta questão diz respeito ao movimento pela Independência do Brasil, que não foi uniforme nas províncias. I. Em São Paulo, Minas e Rio de Janeiro os interesses eram homogêneos em torno da permanência do latifúndio e da escravidão. II. As rendas fiscais do açúcar e do algodão permitiam ao governo independente maiores possibilidades de recurso, submetendo províncias – com aspirações regionais como a de Pernambuco – ao projeto de separação de D. Pedro. III. O café não proporcionava – no início do Século XIX – a fonte principal da receita; a Bahia e o Maranhão, entretanto, com açúcar e algodão, representavam uma adesão importante aos cofres do governo de D. Pedro. IV. Ao contrário dos políticos do Rio de Janeiro e de São Paulo – aliados de D. João VI e de D. Pedro – a junta Constitucionalista do Porto, em 1820, libertou os revolucionários de 1817. Pernambuco, no entanto, foi submetido ao movimento de Independência através de um acordo entre os setores mais retrógrados da província e as forças políticas do Rio e de São Paulo. V. As relações diretas entre as províncias do Pará, Bahia e Maranhão com Lisboa permitiram uma reação contra os interesses de São Paulo e Rio de Janeiro que, segundo Frei Caneca, tinham projetos despóticos em relação às outras províncias. 14. (COPERVE) A emancipação do Brasil de Portugal não foi um fato isolado, ocorrido às margens do Rio Ipiranga, como ainda mostram alguns livros didáticos. Na verdade, a declaração de independência é a culminância de um rico processo de articulação entre as classes dominantes, que assegurou reformas mas impediu uma revolução social. Sobre o processo de autonomia do Brasil, identifique as afirmativas corretas: I. A ideia de separação política já estava presente em diversos movimentos nativistas, entre os quais podem ser citados a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e a Revolução Pernambucana de 1817. II.A abertura dos Portos, em 1808, significou o fortalecimento do Pacto Colonial, que estreitou, ainda mais, os laços comerciais entre a Colônia e a metrópole portuguesa. III. A Inglaterra tinha interesse direto no processo de separação do Brasil, na medida em que mantinha relações econômicas cada vez mais frequentes com as elites coloniais. IV. A elite intelectual e agrária brasileira, desiludida com o sistema escravista, defendia um modelo de independência que mudasse a forma de trabalho e de propriedade. V. A autonomia do Brasil se deu apenas no campo político, uma vez que a estrutura econômica e social, baseada no latifúndio e no trabalho escravo, foi preservada. 15.(UPE) O dia 6 de março foi institucionalizado como a data magna de Pernambuco. O dia foi escolhido em referência à Revolução de 1817, que se caracterizou por: a) ser um movimento de caráter libertador que desejava transformar Pernambuco numa monarquia separada do restante do país. b) ser uma revolta elitista, com pouca participação de membros da Igreja e militares, pois apenas os senhores de engenho se interessavam pelas propostas do movimento. c) propor a imediata extinção da escravidão no Brasil. d) contar com o apoio de camadas populares. e) ser contra as ideias liberais e republicanas. 243 OLHARES HISTÓRICOS • LIVROS A corte portuguesa no Rio de Janeiro. JAF, I. São Paulo: Ática, 2001. 7 de setembro em cartaz. LADEIRA, Julieta de Godoy. São Paulo: Moderna, 1993. • CINEMA Carlota Joaquina, princesa do Brasil Direção de Carla Camurati. Brasil, 1995. 100 min. Um painel da vida de Carlota Joaquina (Marieta Severo), a infanta espanhola que conheceu o príncipe de Portugal (Marco Nanini) com apenas dez anos e se de-cepcionou com o futuro marido. Sempre mostrou disposição para seus amantes e pelo poder e se sentiu tremendamente contrariada quando a corte portuguesa veio para o Brasil, tendo uma grande sensação de alívio quando foi embora. Fonte: www.adorocinema.com 244