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PORTADAS en PORTUGUES 2009.qxp:30X21 28/10/09 10:53 Página 2 Caminho de Fisterra-Muxía Os Caminhos de Santiago na Galiza FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 03/11/09 20:55 Página 2 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 03/11/09 20:55 Página 3 O Caminho de Fisterra – Muxía A peregrinação jacobeia como tal conclui na cidade de Santiago de Compostela. No entanto, quase desde a descoberta do sepulcro do apóstolo Santiago (s. IX) na que hoje é a urbe compostelana, determinados peregrinos, tanto da Península Ibérica como do resto da Europa, decidiam prolongar a sua viagem à Costa da Morte, na zona mais ocidental da Galiza, frente às bravas águas do oceano Atlântico. A razão desta tradição obedece a vários motivos, todos distintos, mas todos relacionados, e o seu resultado é o que se conhece como o Caminho de Fisterra-Muxía. A Costa da Morte era para os antigos –e assim foi até ao final da Idade Média– o último reduto da terra conhecida, a ponta ocidental da Europa continental, o trecho final de um itinerário marcado no céu pela Via Láctea, um espaço mítico e simbólico que tinha no impressionante volume do cabo Fisterra (“Finisterre”) a sua parte mais extrema. Era um lugar carregado de todo o tipo de crenças e ritos pagãos, no qual os romanos (s. II a. C.) se surpreenderam ao ver o enorme sol a desaparecer entre as águas. Viaggio in ponente a San Giacomo di Galitia e Finisterrae (s. XVII). Domenico Laffi Farol de Fisterra Textos Manuel Rodríguez Coordenação Ana B. Freire Rosa García Documentação: albergues e serviços Pilar Cuíña Rosa Fernández Ana B. Freire Rosa García Coroni Rubio Fotografia Arquivo da S.A. de Xestión do Plan Xacobeo Javier Toba Tono Arias Assistência técnica Dpto. de Arquitectura da S.A. de Xestión do Plan Xacobeo Revisão Dori Abuín Carla Fernández-Refoxo Carmo Iglesias Alfonso Salgueiro Tradução para o português Interlingua Traduccións S.L. Paulo Bandeira Lourenço Revisão e actualização Carraig Linguistic Services Desenho e maquetagem Permuy Asociados Impressão UTE (Unión Temporal de Empresas) Alva Gráfica, S.L. Gráficas Anduriña, S.C.L. Tórculo Artes Gráficas, S.A. D.L.: X XXXX-XXXX 3 Caminho de Fisterra – Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 5 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:53 Página 4 Vista desde o mirante de Ézaro. Carnota Cabo Vilán No entanto, o processo de cristianização da tradição pagã de Fisterra, seria já patente em meados do primeiro milénio. A partir do século XII, o Códice Calixtino vincula estas terras com a tradição jacobeia. O célebre códice assinala que os discípulos de Santiago viajaram à desaparecida cidade de Dugium, na actual Fisterra, procurando a autorização de um legado romano para enterrar o Apóstolo no que hoje é Compostela. Contudo, o legado, receoso, prende-os. Os discípulos conseguem fugir e quando estão a ponto de ser alcançados, cruzam uma ponte que acaba por ruir à passagem da tropa romana que os persegue. Paço de Cotón. Negreira Porém, a tradição jacobeia da finisterra galega fundamenta-se, sobretudo, na integração na mesma de numerosos elementos ancestrais da zona, que não só oferecia aos antigos peregrinos a visão da parte mais extrema do mundo conhecido, como também duas das devoções mais populares da Galiza. Trata-se do Santo Cristo, na Fisterra, do qual o licenciado Molina (s. XVI) diz que a ele “acodem os muitos romeiros que vêm ao Apóstolo”, atraídos pelo facto de poderem prostrar-se diante do filho de Deus em tão extremo lugar, após a sua estadia em Santiago, e da Virgem de A Barca, Monumento às botas. Cabo Fisterra 4 na pouco distante costa de Muxía. Segundo uma tradição que remonta à Idade Média, a Virgem Maria acudiu a este belo lugar na sua “barca de pedra” para dar ânimo a Santiago na sua predicação, acontecimento que vincula este santuário com o da Virgem do Pilar de Saragoça. O Caminho de Fisterra e Muxía é, depois do Francês, o itinerário com mais referências na literatura de peregrinação. De Jorge Grissaphan, cavaleiro magiar do século XIV, é o relato mais antigo. Narra as suas peripécias como peregrino e eremita em Fisterra. Em finais do século XV, o polaco Nicolás von Popplau peregrina a Muxía, após tê-lo feito a Compostela, descrevendo os restos do “barco destroçado, feito de pura pedra”, da Virgem Maria. O veneziano Bartolomeo Fontana (s. XVI), na sua peregrinação a partir de Itália, visita Fisterra e assinala que os livres de pecado mortal poderão mover com um dedo as pedras do “navio” de Muxía. Doménico Laffi (s. XVII), erudito clérigo bolonhês, foi também até Fisterra, mencionando o farol para orientar os navegantes pelas difíceis águas da zona. Em muitos destes relatos é feita referência ao monte de San Guillermo, lendário eremita da zona, cuja ermida, hoje desaparecida, se associava a ritos de fecundidade. Nas páginas seguintes mostram-se as singularidades desta rota jacobeia que, ao contrário de todas as demais, tem na cidade de Santiago a sua origem. Aqui as metas são o cabo de Fisterra e o santuário de A Barca, a 89 e 87 quilómetros, respectivamente, de Compostela. 5 Caminho de Fisterra – Muxía Porto de Lira. Carnota FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 7 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 6 Santiago de Compostela Depois de passar diante da igreja barroca de San Froitoso e da sua fachada orientada à contemplação desde o Obradoiro, pelo que se remata com quatro notáveis estátuas das Virtudes da Prudência, Justiça, Força e Temperança, o Caminho avança por pequenas e típicas ruas, entre as quais se destaca a de Hortas. Fachada do Hostal dos Reis Católicos. Santiago de Compostela Depois de visitar a catedral de Santiago, arranca-se em direcção ao Caminho de Fisterra-Muxía partindo da Praça do Obradoiro, o espaço mais emblemático da cidade, que se abandona, passando entre o palácio de Raxoi e a Pousada dos Reis Católicos –antigo Hospital Real–, pela desaparecida porta do Peregrino ou da Trinidad. O seguinte destino é a “carballeira” (carvalhal) de San Lourenzo, à qual Rosalía de Castro dedica um dos poemas de Follas Novas, obra de referência da poesia do século XIX. O paço de San Lourenzo de Trasouto, antigo convento franciscano de origem medieval, destaca pelo seu conjunto arquitectónico, a igreja medieval e as obras de arte renascentistas e barrocas que guarda no seu interior. O claustro é embelezado por um singular jardim de buxo. O rio Sarela aproxima-se por momentos do traçado semi-urbano da Rota. Se caminharmos ao entardecer e é dia de céu limpo, a partir de alguns pontos iniciais deste itinerário é possível contemplar excepcionais quadros do pôr do sol a pintar a cidade antiga e a fachada da catedral. Rua das Hortas. Santiago de Compostela 6 Vista de Santiago desde o Caminho de Fisterra-Muxía 7 Caminho de Fisterra – Muxía Carvalheira de S. Lourenzo. Santiago de Compostela FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 8 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 9 Ames – Negreira Já no município de Ames, o Caminho alcança o núcleo de Augapesada, que conserva uma pequena ponte de origem medieval, antes de iniciar a ascensão ao alto de Mar de Ovellas, a partir do qual se contempla em todo o seu esplendor o vale de A Maía. Estamos numa zona que oferece também interessantes exemplos de arquitectura religiosa, como a igreja barroca de Trasmonte, e de construções tradicionais, que têm a sua culminação no núcleo da Ponte Maceira. As casas, e os restos de algum antigo moinho restaurado, repartem-se em ambas as margens do rio Tambre, comunicadas pela ponte mais significativa de todo este caminho. Trata-se de uma bela construção de finais do século XIV, reconstruída no século XVIII, que teve durante séculos grande importância nas comunicações entre Santiago e as terras da finisterra. Monumento ao peregrino. Negreira No outro lado da ponte, abre-se para o caminhante a comarca de A Barcala, de grande produção láctea e de carne. Negreira, capital desta comarca, é a maior povoação –supera os dois mil habitantes– que cruza o peregrino antes de alcançar a Rio Tambre na Ponte Maceira Paço da Chancela. Negreira costa. O paço da Chancela dá entrada nesta localidade, em cujo escudo se representa a ponte que com a sua destruição teria cortado a passagem aos soldados que perseguiam os discípulos de Santiago, que fugiam do legado romano de Fisterra. Negreira, vila de origem medieval à qual alude Ernest Hemingway na novela Por quem os sinos dobram, tem no paço de O Cotón, fortaleza medieval restaurada no século XVII, e na contígua capela de San Mauro, os seus monumentos mais característicos. Troço urbano do Caminho em Negreira 9 Caminho de Fisterra – Muxía Capela de San Mauro. Negreira FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 10 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 11 Negreira – Hospital Uma pequena ponte sobre o rio Barcala situa o peregrino à saída de Negreira. A rota volta a coincidir em diversos pontos, ao longo deste trecho, com o antigo caminho real a Fisterra. Assim no-lo recordam lugares como Camiño Real e Portocamiño. Por momentos, o trajecto percorre zonas de altiplano que permitem amplas perspectivas sobre terras dos municípios de Negreira e Mazaricos, este último já na comarca de Xallas, conhecida, sobretudo, pelo seu artesanato em vime e os seus originais chapéus femininos, realizados em palha. Espigueiros de Olveiroa Outra característica deste trecho é a sua arquitectura popular, que sobreviveu em parte nos núcleos rurais, com modestos, mas belos e variados, exemplos e algum conjunto de espigueiros –construções destinadas à conservação dos produtos do campo– de notável beleza, como, entre outros, os do lugar das Maroñas, que também conta nas suas imediações com a igreja românica de Santa Mariña. Um dos pontos de maior interesse paisagístico oferece-se ao caminhante nas elevações do monte Aro (556 m), a partir do qual se contempla parte da comarca de Terra de Xallas. Na parte final deste trecho a água é a grande protagonista. O rio Xallas e as suas ribeiras tornam-se presentes sobretudo na Ponte Olveira, cuja ponte, construída no século XVI e reformada posteriormente, situa o caminhante nas terras do município de Dumbría. A rota, que decorre perto da represa de A Fervenza, sobre o Xallas, atinge o seu fim quando se alcança o lugar de Olveiroa, de novo com notáveis exemplos da arquitectura popular da zona. Este trecho conclui em Hospital, uma aldeia que contou com um modesto hospital para peregrinos, hoje desaparecido. À saída deste núcleo, o Caminho bifurca: será necessário decidir se se segue a rota que leva a Fisterra ou a que conduz a Muxía e ao santuário de A Barca. 11 Caminho de Fisterra – Muxía Vista desde o “Monte Velho”. Comarca de Xallas FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 13 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 12 Hospital – Fisterra Se o viajante se dirige em primeiro lugar a Fisterra, o caminho irá levá-lo às imediações do santuário de A Nosa Señora das Neves (s. XVIII), com a sua “fonte santa” e uma concorrida romaria cada 8 de Setembro, e à também popular ermida de San Pedro Mártir, com outra fonte “milagrosa” para várias maleitas. Já no alto de O Cruceiro da Armada (247 m), o caminhante contempla, pela primeira vez, ainda à distância, o cabo Fisterra. Esquerda: Igreja de Nossa Senhora das Neves Direita: Igreja de Santa Maria da Xunqueira. Cee O cabo é o símbolo da comarca do mesmo nome, pela qual viajaremos no que resta do caminho, tanto se nos dirigimos a Fisterra como se o fazemos em direcção a Muxía. Esta comarca, dada como poucas a todo o tipo de lendas, conta com uma das franjas costeiras de maior beleza da Península Ibérica, na qual se alternam os grandes e tranquilos areais com abruptas formações rochosas e um mar bravo como poucos. O marisco, a pesca e a agricultura, com produtos artesanais de grande qualidade, também contribuem para fazer da zona um paraíso para a vista e os sentidos. Estaleiro de Cee Cee, a primeira localidade da comarca à qual chega o peregrino, conta com uma notável actividade comercial –destaca-se o seu mercado de domingo– e de serviços. O paço de O Cotón e o edifício do século XVIII da Fundação Fernando Blanco são dois dos símbolos da localidade, na qual também se destaca a igreja de A Xunqueira, de cabeceira gótica. Muito perto de Cee está a vila de Corcubión, que conserva uma parte antiga declarada conjunto histórico e artístico, reflexo em grande medida da antiga relevância do seu porto. A igreja de San Marcos, do gótico com influências marítimas e neogótico, deve o seu nome à imagem do patrono da localidade, uma obra 12 13 Caminho de Fisterra – Muxía Passeio de Corcubión, com Cee ao fundo FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 14 de madeira policroma, de origem italiana, de finais do século XV. Corcubión rende culto à riqueza da actividade de mariscar da zona celebrando no primeiro sábado de Agosto de cada ano a Festa da Amêijoa. A “Cruz de Baixar” com a Praia de Langosteira ao fundo. Fisterra O caminho chega a Fisterra depois de bordejar, durante uns dois quilómetros, as formações em dunas da bela e extensa praia de Langosteira. Fisterra, localidade de resistentes marinheiros e pescadores, está ligada à tradição jacobeia desde os seus inícios, como já se explicou na parte inicial desta publicação. E o epicentro dessa relação é a igreja de Santa María das Areas, de origem medieval, situada fora da localidade, a caminho do cabo Fisterra. Uma arcada, que se considera que formou parte do desaparecido hospital medieval de peregrinos, dá lugar a um templo no qual brilha com luz própria Igreja de Santa Maria das Areas. Fisterra Vista desde as ruínas de S. Guilherme. Fisterra FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 15 o Santo Cristo de Fisterra, singular escultura do século XIV que, segundo a lenda, apareceu na costa depois de ser lançada à água por um barco durante uma tempestade. Para muitos antigos peregrinos, a visita, após a peregrinação a Santiago, à que consideravam a mais ocidental das representações de Cristo era uma forma idónea de culminar a sua viagem. Fisterra celebra cada Páscoa a festa do Santo Cristo, declarada de Interesse Turístico Nacional. Trata-se de uma representação da vida e morte de Jesus que alcança o seu apogeu no domingo de Páscoa com a sua ressurreição, bailando-se, como cólofon, uma antiga e singular dança (“a danza das areas”). A representação é realizada por actores não profissionais, habitantes de Fisterra. Para além da capela barroca do Santo Cristo (1695), destaca-se no templo de Santa María das Areas a renascentista Virgem do Carmo. A capela maior (século XIV) guarda uma imagem pétrea da Virgem Maria, do século XVI. Também se venera uma imagem de Santiago com um ritual que recorda o da catedral compostelana. Apesar da portada principal ser românica, no exterior do templo predomina o gótico com influências marítimas. A partir da localidade de Fisterra, o peregrino deve realizar um último e curto trajecto para chegar à ponta do mítico cabo Fisterra, que nos anuncia o edifício do antigo farol, reabilitado para usos turísticos. O espírito e a natureza, o mar e o céu, a lenda e o presente dão a mão nesse extremo ocidental da Europa no qual os antigos acreditaram adivinhar o fim do mundo conhecido, talvez definitivamente convencidos ao observar os seus grandiosos crepúsculos. Porto pesqueiro de Fisterra 15 Caminho de Fisterra – Muxía Peregrinos no farol de Fisterra FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 17 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:54 Página 16 Fisterra – Muxía Conta a tradição que a Virgem Maria arribou num barco de pedra no que é hoje o santuário de A Barca, em Muxía, para dar ânimo ao Apóstolo Santiago na sua predicação pelo noroeste da Península Ibérica. Daí nasce o significado jacobeu deste lugar e a sua inclusão nas rotas jacobeias desde a Idade Média. Vista de Muxía desde o Monte Facho Secadouro de peixe. Muxía A distância entre Fisterra e A Barca é de 31 quilómetros. O primeiro e imediato encontro é em San Martiño de Duio, em cujas imediações se ocultariam as ruínas da desaparecida cidade de Dugium. Segundo a tradição medieval, aqui residia o legado de Roma ao qual os discípulos de Santiago se dirigiram, para que autorizassem a sepultura em terra compostelana dos restos do Apóstolo. O caminho avança entre aldeias, campos de cultivo, bosques e a presença do mar, com praias tão agrestes como a de O Rostro, até à pequena ria de Lires, onde é possível contemplar uma notável variedade de aves. Na rota encontram-se singulares mostras de arquitectura rural tradicional misturadas com notáveis igrejas, como as de origem românica de Santa Leocadia de Frixe e Santa María de Morquintián. O último esforço antes de Muxía é representado pela subida ao alto de As Aferroas (289 m), com as suas amplas vistas. A praia de Lourido é a antessala desta localidade, situada num belo espaço costeiro. “Pedra dos quadris”. Muxía Fundada no século XII, Muxía explode de cor cada mês de Julho com as festas do Carmo e a sua vistosa e concorrida procissão marítima. A localidade tem na pesca e no artesanato de renda duas das suas actividades mais características. A partir de Muxía, o santuário de A Nosa Señora da Barca está a um passo. A ele se chega bordejando o Monte Corpiño, pelo “Camiño da Pel” (Caminho da Pele), assim denominado porque nas suas imediações se situava uma fonte na qual os peregrinos se asseavam –um símbolo de purificação e respeito ao final da rota– antes de entrarem no santuário. O Caminho entre Fisterra e Muxía pode fazer-se também em sentido inverso, se se opta por visitar em primeiro lugar o santuário de A Barca. Um recanto de Muxía 16 17 Caminho de Fisterra – Muxía Igreja de Santa Maria de Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 19 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 18 Vista exterior do mosteiro de San Xulián de Moraime Hospital – Muxía O Caminho de Fisterra-Muxía oferece duas alternativas a partir da saída de Hospital. Mostrámos o itinerário que se dirige a Fisterra e, partindo desta localidade, a Muxía. Agora vamos atentar no que leva directamente a Muxía, um trajecto de quase 30 quilómetros que, pouco após o seu início, cruza a pequena povoação de Dumbría, com uma igreja do século XVII. O caminho decorre por alguns trechos empedrados do velho caminho real e oferece em San Martiño de Ozón motivos para uma paragem: um dos maiores espigueiros da Galiza, a sua igreja de abside românica e os vestígios do antigo mosteiro beneditino de San Martiño. A igreja do santuário –s. XVII– é a primeira visão que recebe o peregrino. No interior guarda um retábulo maior barroco de grande qualidade e, sobretudo, a imagem gótica de A Nosa Señora da Barca, a quem se dedica –o domingo depois do dia 8 de cada mês de Setembro– uma das maiores romarias da Galiza. No exterior, a magia do lugar insinua os seus segredos: só é preciso seguir o ritual e aproximar-se à ponta rochosa, quase com um pé no mar, e compreender que ali estão ainda o casco, a vela e o timão de pedra do barco no qual a Virgem chegou a este ponto perdido para dar ânimos a Santiago na sua predicação. É o momento em que cada um deve sonhar o seu próprio sonho. Significativo é também o desaparecido mosteiro de San Xulián de Moraime, ao qual se chega depois de se cruzar o lugar de Os Muíños, já perto do mar e que deve o seu nome ao grande número de moinhos tradicionais ali existentes. Este mosteiro foi o mais influente da comarca de Fisterra e dele se conserva o templo românico de três naves, com pinturas góticas. Espigueiro e “cruzeiro” de Ozón O trecho de entrada em Muxía oferece uma diáfana visão sobre esta localidade e o seu espaço envolvente, do qual se faz senhor absoluto o mar, com as suas formações rochosas, a sua luz e os seus areais. O passeio marítimo de Muxía, o porto e a igreja de Santa María –gótico com motivos marítimos– são os pontos finais de um caminho que alcança a sua meta no santuário de A Nosa Señora da Barca. 18 19 Caminho de Fisterra – Muxía Santuário da Virgem da Barca. Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 21 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 20 Rede de albergues A partir de 1 de Janeiro de 2008, para aceder aos albergues o peregrino deverá comprar em cada um deles uma senha-albergue (3 €), que dá direito unicamente ao uso das instalações em que foi adquirida e na data que figura no verso da mesma. Não será válida em qualquer outra data nem em qualquer outro albergue. Só se poderá permanecer uma noite em cada albergue, com excepção dos do Monte do Gozo e de S. Lázaro, ambos em Santiago de Compostela, e o número de peregrinos acolhidos por dia estará limitado às camas de que cada instalação dispuser. A ordem de preferência é a do costume: peregrinos a pé, a cavalo, de bicicleta e os que viajam com carro de apoio. Uma vez adquirida a senha é muito importante conservá-la até se abandonar o albergue, caso contrário, os albergueiros poderão pedir ao peregrino que desocupe as instalações. O albergue deverá deixar-se livre antes das 8 da manhã para permitir a sua limpeza. Este permanecerá aberto das 13 até às 22 horas. Negreira Fisterra Edifício de nova planta* Rua Patrocinio s/n. Negreira 20 lugares 3 lugares para bicicletas Próximo albergue, a 33,2 km (Olveiroa, Dumbría) Restauração de edifício* Rua Real, 2. Fisterra 36 lugares Lugares para bicicletas Olveiroa Restauração de um núcleo de edificações tradicionais do país* Olveiroa, s/n. Dumbría 34 lugares Lugares para bicicletas 3 lugares para cavalos Próximo albergue, a 30 km (Fisterra); a 29 km (Muxía) No caso de chegar algum peregrino com mobilidade reduzida e o albergue ter a sua capacidade lotada, poderá pedir-se a colaboração das pessoas já alojadas de forma a acomodá-lo nas instalações. Albergues de Negreira, Fisterra e Olveiroa Muxía Edifício de nova planta Rua Enfesto, 22. Muxía 32 (+ 32) lugares * Dispõe de infra-estruturas para deficientes físico Posto de informação do Caminho Albergue 1. Negreira 2. Olveiroa 3. Muxía Em todo o caso, o peregrino e quantos se acercam ao Caminho de Santiago dispõem doutras alternativas para o momento do seu descanso. Diversos centros religiosos e municipais atendem também o peregrino, sobretudo nos momentos de maior afluência. Nos últimos anos também tem aparecido, ao longo das distintas rotas, uma moderna e variada rede de hotéis e casas de turismo rural que diversificam os serviços e atractivos do Caminho. 20 4. Fisterra 21 Camiño de Fisterra – Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 23 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 22 Serviços Câmaras Municipais Urgências Santiago de Compostela Corcubión Urgências médicas Praça do Obradoiro, s/n. Pazo de Raxoi Tf.: 981-542300 Fax: 981-563864 [email protected] www.santiagodecompostela.org Praça de José Carrera, 1 Tf.: 981-745400 Fax: 981-747100 [email protected] 061 Ames Praça do Concello, 2 Bertamiráns Tf.: 981-883002 Fax: 981-883925 [email protected] www.concellodeames.org Negreira Rua do Carme, 3 Tf.: 981-885250 Fax: 981-885328 [email protected] www.welcome.to/negreira Santa Comba Praça do Concello, 1 Tf.: 981-880075 Fax: 981-880716 [email protected] www.santacomba.net Emergências (de todo o tipo, gratuito e internacional) 112 Cee Rua Domingo Antonio de Andrade, s/n Tf.: 981-745100 Fax: 981-746757 [email protected] www.finisterrae.com/concello/cee/httm Fisterra Rua Santa Catalina, 1 Tf.: 981-740001 Fax: 981-740677 [email protected] www.finisterrae.com Informação Jacobeo Posto de Informação, Santiago Tf.: 902-332010 Rua do Vilar, 30-32, rés-do-chao [email protected] www.xacobeo.es Central de Reservas de Turismo Rural Muxía Tf.: 902-200432 [email protected] Rua Real, 35 Tf.: 981-742001 Fax: 981-742298 [email protected] www.concellomuxia.com Oficinas de Turismo A Coruña Dársena da Mariña, s/n Tf.: 981-221822 Mazaricos Santiago de Compostela Avda. 13 de Abril, 59 Tf.: 981-867104 Fax: 981-852217 [email protected] www.mazaricos.net Rua do Vilar, 30-32, rés-do-chao Tf.: 981-584081 Turgalicia Tf.: 902-200432 Fax: 981-542510 www.turgalicia.es Dumbría Estrada de Dumbría, s/n Tf.: 981-744001 Fax: 981-744031 [email protected] www.dumbria.com 22 23 Caminho de Fisterra – Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 24 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 25 Os Caminhos de Santiago A descoberta do sepulcro do apóstolo Santiago o Maior, a princípios do século IX, gerou de imediato uma populosa corrente de peregrinação em direcção a este lugar, no qual hoje está a cidade galega de Santiago de Compostela. Esta afluência acabou por formar, desde os mais diversos pontos de Europa, uma densa rede de itinerários conhecida, no seu conjunto, como o Caminho de Santiago, ou a Rota Jacobeia. Os momentos de maior apogeu da peregrinação produziram-se nos séculos XI, XII e XIII com a concessão de determinadas indulgências espirituais. No entanto, esta corrente manteve-se, com maior ou menor intensidade, ao longo dos restantes séculos. Desde a segunda metade do século XX, o Caminho de Santiago vive um novo renascer internacional que combina o seu tradicional acervo espiritual e sociocultural com o seu poder de atracção turística e como renovado lugar de encontro aberto a todo o tipo de gentes e culturas. Tradicionalmente, os períodos de maior afluência de peregrinos e visitantes no Caminho coincidem com os Anos Santos Compostelanos, que se celebram cada 6, 5, 6 e 11 anos, mas qualquer ano e momento é idóneo para realizar algum itinerário desta rota e visitar a cidade que tem como meta: Compostela. 25 Caminho de Fisterra – Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 26 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:55 Página 27 Caminho de Europa O Caminho de Santiago gerou ao longo dos seus doze séculos de existência uma extraordinária vitalidade espiritual, cultural e social. Devido à sua existência nasceu a primeira grande rede assistencial da Europa e foram criados mosteiros, catedrais e novos núcleos urbanos. Pelo encontro entre gentes de tão diversa procedência que esta rota propiciou, surgiu uma cultura baseada no intercâmbio aberto de ideias e correntes artísticas e sociais, assim como um dinamismo socio-económico que favoreceu, sobretudo durante a Idade Média, o desenvolvimento de diversas zonas de Europa. A marca do Caminho e dos peregrinos a Compostela é reconhecível numa infinidade de testemunhos públicos e privados, em distintas manifestações de arte ou, por exemplo, nos mais de mil livros que nas últimas décadas se ocuparam, em todo o mundo, desta senda, obra e património de todos os europeus. As vias principais do Caminho de Santiago foram declaradas Primeiro Itinerário Cultural Europeu (1987) pelo Conselho de Europa, Bem Património da Humanidade pela UNESCO nos seus traçados ao longo de Espanha e França (1993 e 1998, respectivamente) e Prémio Príncipe de Astúrias da Concórdia 2004, outorgado pela Fundação Príncipe de Astúrias. 27 Caminho de Fisterra – Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:56 Página 29 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:56 Página 28 Galiza, o país de Santiago Caminho Francés Caminho do Sudeste– Via da Prata A Península Ibérica formaria parte, segundo determinados textos antigos, das terras nas quais o apóstolo Santiago predicou o cristianismo. Após morrer decapitado na Palestina, por volta do ano 44 d.C., os seus discípulos, segundo a tradição, trasladaram o seu corpo numa nave até à Galiza, uma das terras hispânicas incluídas na sua predicação. Caminho Português Rota do mar de Arousa e rio Ulla Caminho de Fisterra-Muxía Caminho Inglés Caminho do Norte Caminho Primitivo Os difíceis tempos dos primeiros anos do cristianismo e o despovoamento de grande parte do norte peninsular teriam levado ao esquecimento do lugar de enterro. No entanto, por volta do ano 820 são descobertos uns restos que as autoridades eclesiásticas e civis consideraram como sendo os de Santiago o Maior. Sucede isto num perdido bosque galego e o acontecimento daria lugar ao nascimento da actual cidade de Santiago de Compostela. Convertida na atractiva meta de uma peregrinação que levava ao sepulcro do único apóstolo de Cristo enterrado em solo europeu, juntamente com São Pedro, em Roma, a Santiago chegarão, ao longo dos séculos, peregrinos de todas as procedências e pelos mais diversos itinerários. Caminhos jacobeus galegos Devido à grande diversidade de procedências dos peregrinos, irão definindo-se sobre o solo galego seis itinerários principais de chegada de toda Europa. O itinerário que alcança uma maior concorrência e relevância, tanto socio-económica, como artística e cultural, é o denominado Caminho Francês, que entra em Espanha, a partir de França, pelos montes Pirenéus, e na Galiza pelo mítico alto de O Cebreiro. No entanto, outros cinco itinerários conseguiram adquirir, mesmo assim, o seu lugar na história das peregrinações jacobeias. 28 29 Caminho de Fisterra – Muxía FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:56 Página 31 FISTERRA EN PORTUGUES 2009=IMP.qxd:Maquetación 1 27/10/09 15:56 Página 30 São os Caminhos Primitivo e do Norte, que alcançaram relevância nos primeiros tempos da peregrinação, com dois traçados principais que entram na Galiza pelas Astúrias, procedentes do País Basco e Cantábria; o Caminho Inglês, seguido sobretudo pelos peregrinos que, partindo do norte de Europa e as Ilhas Britânicas chegavam a portos como os de A Coruña e Ferrol; o Caminho Português, que desde o sudoeste da Galiza utilizavam os peregrinos procedentes de Portugal; e o Caminho do Sudeste, pelo qual se dirigiam a Santiago os peregrinos que, desde o sul e centro da Península, seguiam a popular Via da Prata, entre Mérida e Astorga, para continuar, por terras de Ourense, em direcção a Compostela. Também se consideram itinerários jacobeus, pela sua simbologia histórica, outros dois. São o Caminho de Fisterra-Muxía, utilizado por determinados peregrinos medievais que, depois de venerarem a tumba apostólica, se sentiam atraídos pela viagem até ao cabo Finisterra, o extremo ocidental da terra naqueles tempos conhecida, e a denominada Rota do mar de Arousa e rio Ulla, que rememora o itinerário pelo qual, segundo a tradição, chegaram de barco à Galiza os restos mortais do Apóstolo (s. I). O Cebreiro. Caminho Francês Oseira. Caminho do Sueste-Via da Prata “Compostela” e credencial Corunha. Caminho Inglês 30 31 Caminho de Fisterra – Muxía Cabo Fisterra. Caminho de Fisterra-Muxía
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