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A CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA NO BRASIL MERCADO INTERNACIONAL E NACIONAL José Alberto de Àvila Pires Engenheiro Agrônomo, Coordenador Técnico/Bovinocultura de Corte da EMATER/MG Avenida Raja Gabaglia, 1.626 – Bairro Luxemburgo. 30350-540 – Belo Horizonte – Minas Gerais Fone: (31) 3349 8272 – Fax: (31) 3296 4990 e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Ao conjunto da produção de bens e serviços intermediários e finais realizados antes, dentro e depois da porteira, dá-se o nome de cadeia produtiva. A noção sobre cadeias produtivas e o conhecimento das relações entre seus segmentos são necessários, pois além de evidenciar onde o poder econômico é exercido, revelam as especificidades técnicas e econômicas ocorrentes e mostram ainda, que, para todos os agentes econômicos, é imprescindível conhecer e levar em conta a estrutura dinâmica técnico-financeira dos setores e ramos que as compõem, objetivando a competitividade no mercado (Amaral, 2000). A ocorrências das doenças da “vaca louca” e da “febre aftosa” na Europa está afetando de forma marcante o mercado e a cadeia produtiva de carne bovina no mundo inteiro. Segundo Talamani (2001), o rico mercado consumidor europeu e demais países desenvolvidos determinará como os sistemas de produção agropecuária vão operar. O objetivo do consumidor europeu é consumir alimentos saudáveis com o mínimo de riscos à saúde, que sejam produzidos sob conceitos de respeito ao ambiente e ao bem estar animal, de preferência oriundos de unidades de produção estruturados nos moldes de organização familiar. Diante desta nova realidade do mercado de carne bovina, este trabalho procura mostrar os futuros potenciais dos mercados internacional e nacional, e analisar a importância do criador, o pecuarista que faz exclusivamente a produção de bezerros de corte para venda logo após a desmama/apartação, com a base de sustentação de toda a cadeia produtiva da pecuária bovina de corte. 2 MERCADO INTERNACIONAL Principais Países Produtores, Exportadores e Importadores Dados publicados pelo ANUALPEC 2000 mostram que a população bovina mundial encontra-se concentrada em dez países com cerca de 850 milhões de cabeças, 80,30% do rebanho total, e o Brasil se desponta como o maior rebanho bovino “comercial”, (154,5 milhões de cabeças), já que a Índia por questões religiosas não utiliza seu rebanho bovino para produção de carne. Quanto à produção mundial de carne bovina, os dez países maiores produtores são responsáveis por cerca de 36 milhões de toneladas ano, aproximadamente 73% do volume total produzido. Os maiores produtores são os Estados Unidos com cerca de 11,5 a 12,0 milhões de toneladas ano (24,5%) e o Brasil com 6,5 a 7,0 milhões (14,3%). No cenário das exportações, nove países respondem por 93% das exportações mundiais, cerca de 6,4 milhões de toneladas ano. Os destaques são para a União Européia com 2,2 milhões de toneladas ano (32,5%), a Austrália com 1,3 milhões (19%) e os Estados Unidos com 985 mil toneladas (14,4%). O Brasil, embora colocado entre o 6º e 7º lugar no ranking dos países exportadores mundiais de carne bovina, durante quase toda a década de 90, vem ampliando substancialmente sua participação no mercado. Com as desvalorizações cambiais em 1999 e mais recentemente em 2001, e o avanço do programa de erradicação da febre aftosa, estimativas preliminares indicam que o Brasil poderá exportar cerca de 700 mil toneladas já em 2001. Caso isto ocorra, o Brasil irá para o 4º lugar, atrás da União Européia, Austrália e Estados Unidos. Os esforços do Governo e da iniciativa privada são para que o Brasil consiga exportar 1 (Hum) milhão de toneladas de carne bovina, por ano, no curto prazo. Quanto às importações, sete países – Estados Unidos, Japão, União Européia, Rússia, Canadá, Coréia do Sul e México aparecem como responsáveis por 89% do mercado com um volume aproximado de 5,0 a 5,5 milhões de toneladas de carne importada por ano. O destaque se refere ao fato de que estes países se encontram no bloco dos países livres da febre aftosa, impondo rigorosas barreiras sanitárias à carne bovina proveniente de países ainda sujeitos à febre aftosa. E é exatamente para poder participar como exportador, deste rico mercado consumidor, que o Brasil vem se empenhando na erradicação da febre aftosa. III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 3 Consumo Mundial “per capita” Comparado O consumo mundial de carne bovina tem sido influenciado por questões que vão desde a preocupação dos consumidores com a saúde, com a conservação do meio ambiente e, principalmente pelas mudanças nos preços relativos das carnes concorrentes, especialmente a carne de frango. Na década de 90, o crescimento do consumo de carne de aves nos Estados Unidos foi de 27,73%, no Brasil de 59,63%, e na União Européia de 15,50%. Neste período, o consumo de carne bovina permaneceu estável nos Estados Unidos e União Européia, teve um pequeno crescimento no Brasil (7,6%) e aumentou significativamente no Japão e Coréia do Sul (41,97%) (ANUALPEC, 2000) . Aliás, um maior crescimento do consumo per capita de carne bovina tem sido observado em toda Ásia. Em alguns países da União Européia tem sido observada uma queda drástica em função dos diversos problemas sanitários dos rebanhos (vaca louca, febre aftosa, dioxina) e nos países da antiga União Soviética devido a problemas econômicos e políticos. Somente com a doença da “vaca louca” estimase uma queda de 15% no consumo de carne bovina na Europa, o que irá corresponder a cerca de 1 (Hum) milhão de toneladas/ano. 2.3. Preços A Tabela 1 mostra os preços dos mercados internos para arroba do boi gordo, praticados no Brasil (base São Paulo), na Argentina, Uruguai e Estados Unidos. Estes preços são nominais, expressos em dólares norte americanos, sendo portanto afetados por mudanças nas taxas de câmbio, como a que ocorreu no Brasil à partir de 1999. Em 2001, a desvalorização do Real (R$) frente ao Dólar (US$) mantém as cotações da arroba do boi gordo no Brasil, variando de US$ 18,00 (safra) a US$ 20,00 por arroba (entressafra). 4 Tabela 1 - Preços no Mercado Mundial de Gado (US$/arroba de boi gordo) Países Brasil Argentina Uruguai Estados Unidos 1.995 26,19 24,72 24,44 45,75 1.996 22,79 25,95 23,93 44,60 1.997 24,40 28,11 24,58 45,38 1.998 23,77 31,75 26,31 43,24 1.999 18,57 24,80 22,65 46,62 Média 23,14 27,07 24,38 45,12 OBSERVAÇÃO a) Para cálculos, foram considerados 62% de rendimento de carcaça para os Estados Unidos e 52% para Argentina, Uruguai e Brasil. b) Brasil: Preço à vista em São Paulo. c) Uma arroba = 15 kg de carcaça Fonte: ANUALPEC/2.000 (FNP. Consultoria e Comércio Ltda.) O que se observa é que estes preços são menores no Brasil, Argentina e Uruguai onde o sistema de alimentação predominante é baseado em pastagens. Já nos Estados Unidos, onde a alimentação predominante é baseada em grãos (confinamento), os preços pagos aos produtores foram, na média dos cinco anos considerados (1995/99), cerca de 95% maiores do que no Brasil e 67% do que na Argentina. Custos de Produção Considerando-se a produção exclusiva à pasto, uma planilha de custo de produção foi desenvolvida pela CEPEA/Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (USP)/Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) – Piracicaba (SP) em 1994, envolvendo o ciclo completo da bovinocultura de corte – a cria, a recria e a engorda. Chegou-se a um custo operacional total de US$ 13,13 por arroba (PREÇOS AGRÍCOLAS, 1994). Adotando-se este mesmo modelo de análise de custo de produção, o ANUALPEC 2000 publicou em abril/2000, resultados referentes a 1999, de uma série de estudos de custos considerando-se, isoladamente, os sistemas de CRIA, o de RECRIA/ENGORDA, e o de III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 5 CRIA/RECRIA/ENGORDA. Os sistemas de produção foram ainda classificados em extensivos, semi-intensivo e intensivo, e de acordo com o tamanho do rebanho em uma única propriedade: pequenas (500 UA); médias (1.500 UA) e grandes (7.500 UA). NOTA: 1 UA (Unidade Animal) igual a 450 kg de peso vivo. De uma maneira geral, na maioria dos casos (56%), os custos por arroba produzida variam de US$ 12,00 a US$ 15,00, com um mínimo de US$ 9,00 e um máximo de US$ 16,00. Principais Importadores e Preços Como o comércio de qualquer produto, o comércio de carne bovina depende das vantagens comparativas em termos de custos de produção, que estão diretamente relacionadas com a disponibilidade de terra, boas pastagens, de grãos e condições climáticas favoráveis. Neste contexto, a posição do Brasil como exportador tem se firmado cada vez mais. E o avanço do programa de controle e erradicação da febre aftosa está dando um novo incentivo às exportações. As exportações brasileiras de carne industrializada e “in natura”, por países ou regiões de destino, nos anos 1996 a 1999, são mostradas nas Tabelas 2 e 3. Os países da União Européia (Reino Unido, Países Baixos, Itália, Alemanha e Espanha) são os principais países de destino das exportações do Brasil, tanto de carne “in natura” quanto de carne industrializada. Os Estados Unidos se destaca como maior importador de carne industrializada. Observa-se que, apesar do crescimento no volume de carne exportada pelo Brasil nos últimos anos, verificou-se um queda dos preços. Para carne industrializada esta queda foi de 21,17% em 1999 comparativamente a 1998, e para carne “in natura” esta queda foi ainda maior – 41,5% no período de 1996/1999. Tabela 2 – Exportações Brasileiras de Carne Bovina Industrializada*, por Destino Países 1996 m US$ Ton. 1997 US$/t m US$ Ton. 1998 US$/t m US$ Ton. 1999 US$/t m US$ Ton. US$/t Estados Unidos 52,776 19,351 2,727 63,451 22,041 2,879 95,683 31,178 3,069 110,335 47,108 2,342 Reino Unido 81,210 32,459 2,502 91,524 36,081 2,537 102,325 39,495 2,591 107,770 50,384 2,139 Itália 18,087 4,333 4,175 5,153 1,420 3,629 13,629 3,135 4,348 12,906 3,473 3,716 Alemanha 14,863 4,308 3,450 13,283 4,031 3,296 14,746 4,521 3,262 12,676 4,265 2,972 França 9,338 2,623 3,560 7,024 2,960 2,373 8,560 3,100 2,761 11,312 3,825 2,957 Jamaica 4,427 1,834 2,414 8,067 3,294 2,449 8,956 3,641 2,460 9,104 4,227 2,154 Porto Rico 6,825 2,826 2,415 6,593 2,606 2,530 8,701 3,413 2,550 8,328 4,171 1,997 11,440 4,507 2,538 5,629 2,287 2,461 7,985 2,839 2,813 8,012 3,174 2,524 Canadá 4,604 1,889 2,438 6,393 2,554 2,503 3,693 1,479 2,498 6,052 2,957 2,046 Japão 2,680 905 2,961 1,869 677 2,761 1,786 625 2,858 2,748 1,061 2,591 83 28 2,978 136 42 3,200 994 337 2,954 2,653 789 3,363 29,991 12,588 2,383 22,694 9,602 2,363 29,175 12,288 2,374 26,208 Países Baixos Bélgica Outros Total Proces. Total Eq. Carc** 236,323 87,650 2,696 231,816 87,596 219,125 12,575 2,084 2,646 296,233 106,050 2,793 318,106 138,008 2,305 265,124 345,021 218,989 * - A partir de 1996 inclui preparações alimentícias e conservas bovinas. ** - Para a conversão em equivalente carcaça, o total processado foi multiplicado pelo fator 2,5. III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 7 Tabela 3 - Exportações Brasileiras de Carne Bovina “In natura,” por Destino Países 1996 m US$ Ton. 1997 US$/t m US$ Ton. 1998 US$/t m US$ Ton. 1999 US$/t m US$ US$/t Resfriada s/ Osso 41,828 6,486 6,449 48,534 7,935 6,116 57,262 10,839 31,083 3,778 Países Baixos 13,351 1,870 7,140 16,979 2,397 7,083 24,257 3,643 6,658 31,855 6,049 5,266 Reino Unido 9,140 1,478 6,185 15,489 2,401 6,451 8,688 1,414 6,146 17,688 3,637 4,863 Alemanha 6,235 777 8,026 3,596 508 7,086 2,718 402 6,762 11,549 2,598 4,445 Espanha 1,122 215 5,224 1,387 303 4,582 2,824 621 4,550 9,242 1,937 4,771 Suíça 4,369 813 5,377 4,096 750 5,463 5,791 1,073 5,395 7,602 1,438 5,287 7,611 1,334 5,706 6,987 1,577 4,429 3,522 39,486 Outros Congelada s/osso 152,469 40,166 3,796 147,712 44,476 5,283 117,422 Ton. 12,984 3,687 15,424 2,560 3,321 219,176 69,876 3,137 326,145 119,471 2,730 Países Baixos 45,319 9,968 4,546 45,391 11,306 4,015 63,081 15,886 3,971 85,400 23,320 3,662 Itália 39,127 10,168 3,848 42,964 11,606 3,702 51,419 13,935 3,690 56,780 19,079 2,976 Espanha 22,626 6,208 3,645 13,425 4,505 2,980 21,314 6,924 3,079 40,801 11,059 3,689 Hong Kong 6,472 2,648 2,444 5,635 2,559 2,202 7,858 3,332 2,358 26,496 12,643 2,096 Reino Unido 10,033 2,487 4,033 9,769 2,881 3,391 8,898 3,492 2,548 18,502 8,984 2,059 8,131 1,638 4,963 4,397 1,042 4,221 8,711 2,088 4,173 17,124 4,674 3,664 614 370 1,660 3,434 1,672 2,054 12,320 8,794 1,401 Alemanha Chile Israel 3,239 1,701 1,904 8,810 4,134 2,131 15,093 7,112 2,122 10,356 5,704 1,816 Outros 17,522 5,347 3,277 16,707 6,073 2,751 39,367 15,435 2,550 58,367 25,215 2,315 3,743 276,595 80,850 3,421 443,835 150,740 2,944 105,105 195,720 Total Original 194,297 46,657 4,165 196,295 52,441 Total Eq. Carc* 60,648 * - Eq. Carcaça = Carne sem osso x 1,3 FONTE: ANUALPEC/2000 68,134 Tendências Segundo análise de SAFRAS & MERCADO - BOIS & CARNES, a ocorrência das doenças da “vaca louca” e “febre aftosa” na Europa indicam uma mudança radical no mercado internacional de carne bovina, nos próximos anos. Somente com a doença da “vaca louca” espera-se uma queda de 600 mil toneladas/ano na produção e de 300 mil toneladas/ano nas exportações de carne bovina da Europa. No caso da “febre aftosa”, como o abate e eliminação das carcaças tem sido a forma de se buscar a erradicação desta doença, a produção de carne e couro bovino para consumo fica reduzida. Assim, as exportações da Europa de 900 mil toneladas/ano poderão cair ao nível inferior de 400 mil toneladas em 2001. São 500 mil toneladas de carne bovina que deixarão de atender mercados do Leste Europeu, das ex-repúblicas Soviéticas, Oriente Médio e Ásia. Se o Brasil conquistar 200 mil toneladas/ano do mercado que não estará sendo atendido pela Europa, o que é o mínimo esperado neste momento, as vendas de carne bovina pelo Brasil crescerão 34% em relação ao ano de 2000 (578,5 mil toneladas). Mas para atender este crescimento de mercado o Brasil terá que se mostrar competitivo na produção de carne bovina através de maior produtividade, melhor qualidade e preços compatíveis com o mercado. Por exemplo, para o caso das doenças da “vaca louca” e “febre aftosa”, a questão não é ter ou não ter estas doenças no Brasil, mas ser competente na execução de medidas preventivas que evite sua ocorrência. MERCADO NACIONAL Principais Estados Produtores (Rebanho, Produção e Rendimento) A Tabela 4 mostra os dez Estados brasileiros maiores produtores de carne bovina, com 82,11% do rebanho bovino existente e 80,8% do volume anual de carne produzida Em alguns Estados a baixa taxa de abate, como Minas Gerais (14,21%) e Mato Grosso do Sul (15,89%) indica que estes Estados são exportadores de animais vivos para abate em outros Estados, que por isto, apresentam altas taxas de abate. Este é o caso de São Paulo (35,84%), reconhecidamente importador de boi gordo para abate, do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais (Triângulo Mineiro) e Goiás. O III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 9 Estado da Bahia (29,74% de taxa de abate) importa principalmente boi gordo de Minas Gerais, Goiás. Quando comparado com os países de pecuária bovina mais evoluída, o baixo rendimentos da atividade, de quase todos os Estados expresso pela taxa de abate, está associado a um sistema de exploração extensiva, com problemas na alimentação dos animais, em especial às pastagens, ao melhoramento genético, à sanidade e manejo do rebanho. Tabela 4 - Brasil/Principais Estados Produtores de Carne Bovina - 1999 Estado Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiás Mato Grosso Rio Grande do Sul São Paulo Paraná Bahia Pará Tocantins TOTAL BRASIL % Efetivo (mil cab.) 20.033 19.778 16.556 15.540 13.482 12.700 9.813 9.086 6.458 5.452 128.898 156.986 Abate (mil. cab) 3.184 2.810 3.015 2.644 2.767 4.552 2.294 2.702 901 669 25.538 31.622 Taxa Abate (%) 15,89 14,21 18,21 17,01 20,52 35,84 23,38 29,74 13,95 12,27 19,82 20,14 Produção (t) 648.218 556.389 612.424 540.495 565.520 995.154 479.519 547.416 185.247 139.096 5.269.478 6.522.345 82,11 80,76 xxx 80,80 Preço - US$/@ 1.999 1.998 17,7 21,00 17,6 22,00 16,6 21,00 16,7 20,80 17,2 21,80 18,7 24,42 17,8 22,20 16,9 22,40 15,9 20,30 16,1 20,60 xxx xxx xxx xxx xxx xxx Fonte: ANUALPEC/2.000 (FNP. Consultoria e Comércio Ltda.) Evolução dos Rebanhos Regionais A Tabela 5 permite concluir que, dentro da Tabela da evolução dos rebanhos bovinos brasileiros, a participação das regiões Nordeste, Sul e Sudeste está diminuindo, ao mesmo tempo em que está aumentando as participações do Centro-Oeste e região Norte. A região Norte, por ser uma região de ocupação mais tardia, o seu rebanho bovino quase que triplicou (aumentou de 4,2% para 11,3%) entre os anos de 1985 a 1995, em relação ao total do rebanho brasileiro. 10 Tabela 5 - Região NE CO SU SE NO TOTAL Evolução do Rebanho Brasileiro de Bovinos por Regiões (em 1000 cabeças) 1940 7.665 5.112 8.664 11.597 999 34.387 1960 11.566 10.533 11.678 20.840 1.235 55.841 1980 21.506 33.261 24.495 34.835 3.989 118.086 1985 22.287 39.595 24.742 35.661 5.359 127.643 1995 22.842 50.766 26.219 35.954 17.274 153.055 FONTE: CNA/SEBRAE Consumo “Per Capita” O consumo de carne bovina é influenciado principalmente pela renda per capita da população, pelo preço da carne bovina e pelo preço das demais carnes, suas substitutas. Paralelamente, a influência pode vir da mudança das preferências dos consumidores. As análises da demanda da carne bovina, utilizam a carne de frango e a carne suína como produtos substitutos, mostrando que a redução nos preços de quaisquer dessas carnes reduz a demanda de carne bovina. Os dados levantados mostram que, no Brasil, durante toda a década de 90, enquanto a carne bovina apresentou um crescimento de 7,6%, o consumo de carne suína cresceu 38,36% e o de carne de frango 59,63%. Os dados apresentados mostram ainda que o consumo “per capita” de carne bovina variou na década de 90 de um mínimo de 36,79kg/hab./ano (em 1998) até um máximo de 40,7 kg em 2000 (estimativa). Estudo realizado pela CNA/SEBRAE projetou o consumo de carne bovina no Brasil para três cenários: baixo crescimento (PIB anual crescendo, em média a 2%, entre 1999 e 2010); médio crescimento (PIB anual crescendo, em média, a 4%, entre 1999 e 2010); e alto crescimento (PIB anual crescendo, em média, a 6%, entre 1999 e 2010). Os resultados mostram a expressiva quantidade de carne bovina que vai ser necessária para satisfazer o consumo doméstico em 2010, caso as hipóteses do modelo de previsão se confirmem: 7,4 milhões de toneladas, no cenário de baixo crescimento; 8,3 milhões de toneladas, em caso de médio crescimento; e 9,3 milhões de toneladas, para alto crescimento da renda. III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 11 Em termos de consumo per capita, haveria um incremento bastante limitado no cenário atual –de 37kg/hab/ano para 40 kg/hab./ano, aumentando substancialmente, entretanto, caso prevalecesse o cenário intermediário (45 kg/hab./ano) ou o otimista, em que se atingiria 50 kg/hab./ano. CADEIA PRODUTIVA Valor da Produção, Emprego, Renda A cadeia produtiva de bovinos de corte, envolve as seguintes fases: 1ª Fase : Antes do Sistema Biológico de Produção ("Antes da Porteira"): material genético (reprodutores, semem e embrião); indústria de insumos (produtos veterinários, rações, adubos); indústria de máquinas e equipamentos; comercialização de animais. 2ª Fase : Dentro do Sistema Biológico de Produção ("Dentro da Porteira"):Dentro da estrutura da cadeia produtiva de bovinos de corte, o ciclo biológico de produção é caracterizado pelas atividades de cria, recria e engorda. A atividade de cria compreende a reprodução e o crescimento do bezerro até a desmama, que ocorre entre seis e oito meses de idade. A fase de recria vai da desmama ao início da reprodução das fêmeas ou ao início da fase de engorda dos machos, sendo a de mais longa duração, enquanto a engorda, quando feita no regime predominante de pasto, tem duração de 6 a 8 meses. Estas atividades da produção é que dão as características dos pecuaristas classificados ou denominados CRIADORES (cria), RECRIADORES (recria) e INVERNISTAS (engorda). 3ª Fase : Depois do Sistema Biológico de Produção ("Depois da Porteira"): frigoríficos e matadouros; indústria de couros (curtumes); indústria de calçados e manufaturados; indústria química e farmacêutica; indústria de rações. Para mostrar o valor da bovinocultura de corte, no Brasil, o Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC) realizou um levantamento das estimativas de pessoal empregado/ocupado, número 12 de estabelecimentos do sistema integrado da pecuária bovina, indústria e comércio, e do faturamento bruto de cada segmento da cadeia produtiva, para o ano de 1.993 e as previsões para o ano 2.000 (Tabelas 6, 7 e 8) (DBO Rural, 1995). Integração A estrutura básica da cadeia produtiva, onde tudo começa e se desenvolve, é o chamado ciclo biológico de produção e caracterizado pelas chamadas atividades de cria, de recria e de engorda. Estas fases da produção são as que dão as características dos produtores, também chamados de pecuaristas, e classificados, ou denominados CRIADORES (cria), RECRIADORES (recria) e INVERNISTAS (engorda). Os criadores tem uma influência marcante na eficiência produtiva de todo o ciclo biológico da cadeia produtiva da carne bovina. A atividade de cria tende a se concentrar na pequena produção, em áreas de terras mais fracas e pequenas propriedades. O nível de conhecimento e a capacidade de uso de tecnologia é BAIXA. Na maioria dos casos, os animais não recebem nenhum tipo de alimentação além do pasto (capim). Como conseqüência, é baixa a taxa de nascimentos de bezerros por ano (50%), e estes bezerros, na sua grande maioria, são de qualidade inferior – 120 a 150 kg de peso vivo aos 7-8 meses de idade (apartação). Esta baixa eficiência dos criadores é um sério complicador para o desenvolvimento das outras fases de produção, a recria e a engorda. Tabela 6 - Número de Estabelecimentos do Sistema Integrado da Pecuária Bovina, Indústria e Comércio – Ano de 1.993 Especificação Estabelecimento com Atividades Pecuárias Área Ocupada em Hectares População Bovina Indústrias de Carnes e Derivados Indústria de Armazenagem Frigorífica Estabelecimentos de Comércio Varejista de Carnes Indústrias Curtidoras Indústrias de Calçados Quantidade 1.793.324 221.982.144 157.000.000 742 99 55.000 558 4.150 III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 13 Tabela 7 - Pessoal Empregado Atividade Produção Animal (IBGE-1.990) Indústria de Carnes Comércio Varejista Indústria de Couros Indústria de Calçados Pessoas Ocupadas 1.993 2.000 5.834.000 6.916.000 400.000 480.000 165.000 200.000 60.000 78.000 375.000 435.000 Tabela 8 - Faturamento Atividade Produção Total de Carnes Exportação de Carnes Produção Total de Couros Produção de Calçados Exportação de Calçados Total (1) (1) (1) Faturamento (US$ milhões) 1.993 2.000 6.870 9.400 575 1.000 1.600 2.100 4.700 8.250 2.000 3.500 13.170 19.750 Incluem os montantes exportados. Diversos pesquisadores concluíram que, do ponto de vista econômico, o desempenho reprodutivo é cinco vezes mais importante para o crescimento, e pelo menos, 10 vezes mais importante que a qualidade da carne. Por outro lado, a relevância do crescimento do bezerro na fase pré-desmama, nas regiões tropicais, é salientada por outros pesquisadores, que argumentam que nesta fase ocorre a mais alta taxa de incremento de peso na vida do animal, que atinge aos 7 meses de idade 25 a 35% do peso final de abate, enquanto necessita mais de 30 a 40 meses para completar o desenvolvimento. A fases de recria e engorda, individualmente, ou associadas concentram-se quase sempre em áreas/propriedades maiores e de terras de fertilidade média a alta, especialmente a fase de engorda. Já a verticalização total das três fases do processo produtivo – cria, recria e engorda – é realizada por uma pequena parcela de pecuaristas, quase sempre em grandes propriedades. Na suinocultura industrial, moderna e atual, cada etapa do ciclo biológico da produção é desenvolvida por um produtor especializado. A 14 atividade de cria é feita pelo chamado “matrizeiro”, um tipo de suinocultor especializado nesta atividade (cria), que possui apenas o rebanho de reprodução (matrizes e reprodutores) e cuida especificamente da produção e venda de leitões desmamados. Na seqüência, o chamado suinocultor “terminador” compra estes “leitões” desmamados (machos e fêmeas) e faz a sua engorda e venda para abate. De uma forma geral, historicamente, na bovinocultura de corte cada etapa do ciclo biológico da produção é executada por diferentes pecuaristas. Ao se admitir esta especialização dos pecuaristas para cada uma das etapas do ciclo – cria, recria e engorda – é importante destacar o papel da pequena e média produção, desenvolvida pelo criador/produtor do bezerro de corte. Como o recriador/terminador (invernista) não desenvolve a atividade de cria, há uma dependência clara entre estes tipos diferentes de pecuaristas: os recriadores/terminadores dependem fundamentalmente do criador para a produção do bezerro, e o criador depende do recriador/terminador para a compra dos bezerros. Com isto, fica claro que atenção especial precisa ser dada aos pequenos e médios criadores de bezerros de corte para venda logo após a desmama. À eles precisam ser levadas informações técnicas e recursos (crédito rural, principalmente) para que estes criadores possam produzir e disponibilizar para o mercado (vender) um BEZERRO DE CORTE DE QUALIDADE, e em quantidade (melhorias na reprodução dos rebanhos) e com isto assegurar o incremento da produção de carne bovina. Sem este envolvimento dos pequenos e médios criadores, toda a cadeia produtiva ficará comprometida. Inclusive, a falta de bezerros de corte tem sido freqüentemente um dos mais, senão o principal fator de entrave ao crescimento e desenvolvimento de produção de carne bovina no Brasil. Competitividade Para se traçar um cenário desejado para a cadeia produtiva da bovinocultura de corte, o mais realista possível, temos que considerá-la diante da Tabela de globalização da economia. A abertura econômica iniciada no Brasil em 1.992, a criação do MERCOSUL, a redução de impostos no comércio exterior e as profundas modificações no sistema financeiro nacional revelam que há um processo crescente de III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 15 modificações internas, principalmente, no sentido de adequação da economia brasileira à realidade mundial. O que se observou após a implantação do Plano Real (1.994), foi um período de fortes alterações na economia e que estão influenciando de forma acentuada todo o meio produtivo. Para a bovinocultura de corte, este processo de redirecionamento da economia brasileira revela a necessidade de novos conceitos na produção e comercialização. Independente destas alterações observadas na economia como um todo (Brasil e mundial), o cenário tendencial da cadeia produtiva já recomenda, por si só, alterações profundas para toda a cadeia produtiva, como forma de sobrevivência do setor, alterações estas caracterizadas pela busca da competitividade através de maior produtividade, melhor qualidade dos produtos, e custos compatíveis com o mercado. Mas o que é “ser competitivo” na exploração de bovinos de corte, no Brasil? O conceito de competitividade aqui adotado será definido como “um processo de adoção contínua de inovações nas esferas tecnológicas, organizacional e institucional/legal, dotando determinado segmento econômico de poder de concorrência no mercado interno e externo de forma sustentável”. (Perosa, 1998). No caso do Brasil, a necessidade de tornar a exploração de bovinos de corte mais competitiva dentro do mercado de carnes, está trazendo grandes mudanças “dentro da porteira” naquilo que se convencionou chamar de PRODUÇÃO DE NOVILHO PRECOCE. Ao lado destas inovações “dentro da porteira”, estão também surgindo as chamadas “Alianças Mercadológicas”, inovações “para fora da porteira” e que definem a parceria entre pecuaristas criadores (agricultura familiar/pequenos produtores), Recriadores /Invernistas/Confinadores, Frigoríficos e Varejo Final (Supermercados, Açougues e Casas de Carnes) voltadas para a produção e comercialização de carne bovina de qualidade (carne de novilho precoce). Dentro deste enfoque COMPETITIVIDADE, aspectos ligados a uma melhor ARTICULAÇÃO da cadeia produtiva de bovinos de corte se mostram de fundamental importação. E é na busca desta MELHOR ARTICULAÇÃO que tem surgido as chamadas ALIANÇAS MERCADOLÓGICAS . 16 Vale ressaltar dentro destas “alianças” a importância de uma perfeita integração entre o criador e o terminador. Isto porque para se chegar a um “novilho precoce”, definido como um "bovino jovem" de dois a dois e meio anos de idade – até quatro dentes incisivos permanentes (as pinças), peso mínimo de quinze arrobas líquidas (225 kg de carcaça quente) e acabamento de carcaça com no minimo 1mm e no maximo de 10 mm de gordura, precisa-se partir de um bezerro de qualidade. Ao se admitir a especialização dos pecuaristas ou para a CRIA ou para a ENGORDA, pode-se afirmar com segurança que o sucesso da produção de novilho precoce passa, OBRIGATORIAMENTE, por um apoio ao CRIADOR que, antes de mais nada precisa saber (também) o que é “novilho precoce” e quais as vantagens para ele/CRIADOR, traz a produção de BEZERROS DE QUALIDADE. À este criador precisa ser levadas informações para que ele possa produzir um bezerro de corte de QUALIDADE, tendo como padrão/referência um bezerro de corte que por ocasião da desmama/apartação dos 7 a 8 meses de idade, atinja peso vivo superior a 180 kg (6 arrobas). Outro fato importante é a existência de um mercado em FRANCO CRESCIMENTO para compra de bezerro de qualidade. O próprio “desafio” da produção de “novilho precoce”, com redução da idade de abate de 4 a 5 anos do “tradicional boi de corte”, para 2,0 a 2,5 anos do “novilho precoce”, estará DOBRANDO a pressão de compra de bezerro de corte pelos tradicionais invernistas ou confinadores. Há muito a realização dos leilões de bovinos (gado de corte) demonstram claramente uma valorização do bezerro de corte de qualidade, que atinge cotações de preços por arroba de bezerro, de 25% superiores ao preço da arroba do boi gordo. Assim para os atuais preços médios anuais da arroba do boi gordo de R$ 40,00, um bezerro de corte de qualidade, de apartação (7-8 meses de idade), com peso vivo de 180 kg (6 arrobas) alcança no mercado preço de R$ 300,00 por cabeça, ou seja, R$ 50,00 por arroba de bezerro. Produzir bezerros de qualidade se tornou um dos mais atrativos investimentos para a bovinocultura de corte. E isto precisa ser discutido com os CRIADORES. III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 17 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, R.A. Cadeia Produtiva de Carne Bovina: organizar para competir. Informe Agropecuário da EPAMIG, Vol. 21, nº 205, jul/ago.2000. ANUALPEC 2000. Anuário da Pecuária Brasileira: FNP Consultoria & Comércio, 2000.392 p. DBO Rural. A Revista de Negócios do Criador. Ano 13, n.º 174-A, fevereiro/95. PREÇOS AGRICOLAS. Revista de Mercados e Negócios Agropecuários. Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz”/FEALQ. Ano 8, vol. 98, dezembro 1995. SAFRAS & MERCADO – Boi & Carnes. Publicação Quinzenal sobre Tendências de Mercados. Disponível site http://www.safras.com.br. Consultado em 21 maio 2001. TALAMANI, D.J.D. Lições de um sistema insensível. AGROANALYSIS. Revista de Agronegócios da FGV. Vol. 21, n.º 3, março 2001. 18 MERCADO E ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO DA CARNE BOVINA: ALIANÇAS MERCADOLÓGICAS E INTEGRAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA Feliciano Nogueira de Oliveira Médico Veterinário MSc e Coordenador Técnico da EMATER-MG / Uberlândia INTRODUÇÃO O final dos anos 80 e toda a década de 90 foram, sem dúvidas, ocasiões marcantes para todos os setores da economia em função das profundas mudanças ocorridas dentro da denominada “nova ordem econômica mundial”, que apresentou-se tendo como pano de fundo a globalização. Contidos nessa nova ordem econômica estavam a abertura internacional de mercados, a formação de blocos econômicos com unificação de moedas, o surgimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) e, mais especificamente no Brasil, o plano de estabilização econômica (Plano Real), a composição do Mercosul e as discussões a respeito da Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA). É óbvio que sendo a economia o ponto nevrálgico em todos os tipos de relações, os resultados das mudanças ocorridas no setor são sentidos de forma direta e em algumas vezes imediata nos demais setores à sua volta (político, social, produtivo, ambiental,...). As mudanças em curso vêm provocando o surgimento de novos conceitos que, por sua vez, geram novos comportamentos e vice-versa, novos comportamentos gerando novos conceitos. Nessa perspectiva dois conceitos assumiram destacada importância: a valorização do consumidor – muitas vezes tratado apenas como “mercado” e o conceito de qualidade. Quando o assunto é direcionado para a vertente do agronegócio percebe-se o quanto a ênfase a esses novos valores torna-se acentuada e o quanto que em nosso país muitos dos atores sociais nela envolvidos, ainda não estão despertados e, portanto, despreparados para esse novo cenário mundial, o que acarreta, principalmente, perdas econômicas e exclusão social das mais diversas formas. 20 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Nessa vertente, a pecuária bovina de corte vem vivenciando situações ímpares e totalmente novas, o que vem promovendo transformações rápidas, profundas e, a princípio, irreversíveis em todos os seus segmentos. O objetivo deste trabalho é o de apresentar, de forma resumida, algumas informações sobre questões relacionadas aos segmentos que compõem a cadeia produtiva da carne bovina de qualidade, suas formas de integração, as estratégias de comercialização, os mercados e o foco “do” consumidor. A CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE: NOVOS CONCEITOS E NOVOS COMPORTAMENTOS Ainda hoje é percebido o predomínio de uma visão bastante compartimentada da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte por parte dos vários representantes de seus segmentos e mesmo por parte dos técnicos também nela envolvidos. No que diz respeito ao segmento da produção, a atenção do pecuarista sempre se voltava única e exclusivamente para o que acontecia dentro de sua propriedade, julgando como o ponto culminante do seu trabalho o momento em que os animais eram embarcados para o frigorífico e ele recebia sua recompensa econômica, a qual era estabelecida pelo frigorífico e paga de 25 a 30 dias após o abate dos animais. Os pecuaristas mais preocupados e interessados no resultado de seu trabalho, acompanhavam o abate apenas para verificar o rendimento de carcaça dos animais. O que acontecia com o produto por ele preparado à partir do frigorífico, no seu julgamento, já deixava de ser de sua alçada de responsabilidades. Da mesma forma procediam, respectivamente, os demais segmentos, sugerindo que a responsabilidade sobre o produto resultante que chegaria ao consumidor final, fosse exclusiva de quem está vendendo o corte de carne. Felizmente, alguns focos de mudanças positivas dessa visão têm tomado vulto entre os segmentos, em vários pontos do país. Nesses focos a visão da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte deixa de ser compartimentada e passa a ser sistêmica. No entanto a passagem II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 21 da visão e do entendimento do processo para a prática é um passo largo e complexo, exigindo dos segmentos envolvidos a quebra de paradigmas consolidados culturalmente ao longo de muitos anos. Na visão sistêmica o pecuarista deixa de ser simplesmente “produtor de boi em pé” e passa a produzir e a ofertar “carne bovina de qualidade”; da mesma forma o frigorífico deixa de ser um “abatedouro de animais” e passa a ser um “processador de alimento de alta qualidade”, e assim sucessivamente, necessitando, no entanto, da contribuição de todos os segmentos da cadeia para assegurar esse resultado. De forma compacta, a seguir é mostrada, esquematicamente, a cadeia produtiva da pecuária bovina de corte e seus segmentos mais expressivos. Cadeia Produtiva da Pecuária Bovina de Corte Insumos à produção Demais Produtos Processamento Produção Distribuição Consumidor Consumidor 22 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Associados à visão sistêmica, dois fatores complementares contribuíram sobremaneira para a busca da modernização do segmento produtivo: a estabilização econômica e a agregação do valor “qualidade” ao produto a ser ofertado. Com o estabelecimento do Plano Real, em 1994, a terra e o gado perderam sua condição de reserva de valor e o pecuarista teve que buscar a eficiência do seu sistema de produção. A terra passou a valer aquilo que ela produz e, portanto, passou a haver a necessidade de se otimizar o seu uso buscando elevar a renda e fazer girar mais rápido e em maior volume o capital empregado nas atividades nela conduzidas. No caso da pecuária de corte passou-se a buscar a pecuária precoce, tendo na produção do novilho precoce sua maior estratégia. O objetivo a ser atingido com esta estratégia foi o de produzir um animal pronto para o abate que atendesse a quatro requisitos básicos: maturidade precoce, peso, conformação de carcaça e cobertura de gordura. Sem estabelecer grau de importância, porém considerando a busca da eficiência econômica dos sistemas de produção, seguramente o parâmetro maturidade precoce para o abate é o que pode propiciar o giro de capital maior e mais rápido da atividade, refletindo, portanto, na sua eficiência. Ressalta-se, no entanto, que a busca de eficiência exige custos mais elevados de produção. Embora tenha havido por parte de vários governos estaduais o estabelecimento de programas de apoio e de incentivo fiscal à produção do novilho precoce, em alguns estados, como é o caso de Minas Gerais, esse incentivo foi retirado em início de 1998. Com a queda do incentivo fiscal os pecuaristas que haviam investido na atividade ficaram em situação difícil, uma vez que adicionalmente a isso o novo produto gerado não recebia nenhuma remuneração diferenciada. Tal circunstância vivida pelos pecuaristas mineiros produtores de novilho precoce, exigiu dos mesmos mudanças de comportamento que acabaram por levá-los a se organizarem e recorrerem a estratégias inovadoras de comercialização do produto diferenciado. Concomitante às situações citadas, o outro fator – agregação do valor “qualidade” ao produto carne, toma importância expressiva para se negociar remuneração compatível aos custos mais elevados da produção. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 23 Começam, a partir daí, a ser consideradas com maior atenção a opinião e a figura do consumidor, levando-se em conta que é ele quem passa a sinalizar os atributos de qualidade para a carne que ele e sua família querem consumir. As mudanças de comportamento das famílias passam, então, a ser observadas: o tempo que a “nova” dona de casa despende para o preparo de uma refeição, a postura “conservadora” de outras quanto à preferência pelo ponto de venda, a procura por carnes alternativas, seus novos hábitos alimentares, a escolha do corte a ser comprado em função do poder aquisitivo, o seu referencial de qualidade e, principalmente, sua necessidade quanto à segurança alimentar. Uma nova consciência começa a emergir, considerando que todo o trabalho desenvolvido ao longo da cadeia produtiva da carne bovina deve ser feito em atenção ao consumidor, uma vez que os atributos de qualidade agregados ao produto carne e percebidos pelo consumidor é que o tornará disposto ou não a melhor remunerá-lo. O MERCADO INTERNO DA CARNE BOVINA Apesar de grande parte dos segmentos envolvidos na cadeia produtiva da carne bovina no Brasil estar atenta e ávida em atingir o mercado internacional, na expectativa de melhor remuneração e maiores ganhos, o grande mercado consumidor da carne bovina brasileira é o próprio mercado interno. Dos 6,3 milhões de toneladas de carne bovina produzidas pelo Brasil no ano 2000, cerca de 650 mil toneladas foram destinadas à exportação, ou seja, aproximadamente 90% da produção é consumida internamente (Anualpec, 2000). Segundo informações da EMBRAPA Gado de Corte, publicadas pela Revista DBO Rural, abril/2000, deverá haver excesso de carne bovina para o Brasil exportar, a continuar o movimento de recuperação no consumo per capta registrado no ano 2000: 37,2 kg/habitante, contra 36,9 kg/habitante em 1999, acompanhado do crescimento da produção de 6,3 milhões de toneladas em 2000, contra 6 milhões em 1999. Essa tendência só seria revertida se a renda média do trabalhador brasileiro viesse a aumentar. Numa projeção feita para 2010, se o Produto Interno Bruto crescer 2% ao ano, o consumo interno de carne bovina subiria para 39,8 Kg/habitante/ano; se crescer 4%, saltaria para 44 Kg e atingiria os 50 Kg/habitante/ano caso o crescimento atingisse 24 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte 6% ao ano. Análises como essa reforçam a correlação positiva entre a elevação do poder aquisitivo da população e o aumento no consumo de carne bovina. Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Bovina Brasileira de 1990 a 1999 EXPORTAÇÃO PRODUÇÃO ANO (mil t) (mil t) % da PROD 1990 5.218 249 4,8 1995 6.467 287 4,4 1999 6.522 541 8,3 Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000 CONSUMO CONSUMO PER INTERNO CAPTA (mil t) % da PROD (Kg/hab/ano) 5.224 100,1 36,1 6.301 97,4 40,7 6.023 92,3 36,9 Além das questões intrínsecas da cadeia produtiva da carne bovina, com suas dificuldades e conflitos próprios, a ascensão do consumo de carnes alternativas pelo mercado interno, em especial das carnes de frango e de suínos, estabeleceu um grau de concorrência desconhecido por muitos e que a cada dia vem tomando maiores proporções. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 25 Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Suína Brasileira de 1990 a 1999 ANO 1990 1995 1999 PRODUÇÃO (mil t) 1.050 1.898 1.860 EXPORTAÇÃO CONSUMO CONSUMO PER INTERNO CAPTA (mil t) % da PROD (mil t) % da PROD (Kg/hab/ano) 25 2,4 1.027 97,8 7,1 49 2,6 1.869 98,5 12,1 116 6,3 1.753 94,2 10,1 Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000 Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Frangos Brasileira de 1990 a 1999 ANO 1990 1995 1999 EXPORTAÇÃO PRODUÇÃO (mil t) (mil t) % da PROD 2.357 291 12 4.050 424,2 10 5.526 770,6 14 CONSUMO CONSUMO PER INTERNO CAPTA (mil t) % da PROD (Kg/hab/ano) 2.066 87,7 14,3 3.626 89,5 23,4 4.755 86.1 29,1 Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000 Na década de 90, enquanto o crescimento percentual do consumo interno per capta de carne de frangos foi de 103,5%, o de carne suína foi de 42,2%, para um discreto crescimento de 2,2% no consumo de carne bovina. É interessante observar que não obstante o crescimento percentual do consumo interno per capta de carnes alternativas estar bastante superior ao da carne bovina, esta ainda é a carne preferida pelo consumidor brasileiro. É notório que o crescimento percentual de consumo das carnes alternativas se deve, na maioria das situações, à capacidade de organização, de articulação e de eficiência dos integrantes das suas 26 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte respectivas cadeias produtivas, aliadas a investimentos financeiros em campanhas de marketing sobre os produtos. O MERCADO INTERNACIONAL DA CARNE BOVINA O Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo, estimado no ano 2000 em 143,2 milhões de cabeças, é o segundo maior produtor mundial, com 6,3 milhões de toneladas e o terceiro maior exportador, com um volume exportado de 650 mil toneladas em 2000. Rebanho Bovino Mundial (mil cabeças) PAÍSES 1995 1997 1999* 2000** Índia 293.922 299.802 306.967 312.572 Brasil 149.315 146.110 143.893 143.259 China 123.317 110.318 124.354 126.000 EUA 102.785 101.656 99.116 98.048 54.207 51.696 49.437 49.432 1.057.944 1.031.718 1.027.065 1.027.830 Argentina MUNDO Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000 Produção Mundial de Carne Bovina (mil t) PAÍSES 1995 1997 1999* 2000** EUA 11.585 11.714 12.124 12.023 Brasil 6.080 6.050 6.050 6.300 China 4.154 4.409 5.100 5.400 Austrália 1.717 1.942 2.004 1.870 MUNDO 47.958 48.862 49.169 49.349 Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 27 Exportação Mundial de Carne Bovina (mil t) PAÍSES 1995 1997 1999* 2000** 1.092 1.147 1.245 1.220 EUA 826 969 1.056 1.055 BRASIL 291 290 550 650 U. E. 934 900 810 640 NOVA ZELÂNDIA 504 531 420 460 5.207 5.496 5.663 5.720 AUSTRÁLIA MUNDO Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000 Uma das conclusões a que se chegou no seminário “Perspectivas da Carne Brasileira no Mercado Interno e Externo”, ocorrido em 22 de março de 2001, em São Paulo, é que o Brasil pode desfrutar de uma cômoda posição no mercado internacional, no médio e no longo prazos, independentemente dos ganhos imediatos decorrentes das dificuldades enfrentadas pela Europa, maior comprador da carne bovina brasileira e abalado cumulativamente pela multiplicação dos casos de doença da “vaca louca” e de febre aftosa, e pela Argentina, um dos maiores concorrentes do Brasil, abatido por cerca de 150 casos comprovados de febre aftosa em seu território. Embora com boas perspectivas de ampliação de mercados como a Europa Oriental e os países asiáticos, o principal mercado para as vendas externas do setor continua sendo a União Européia, que absorveu 73% da carne bovina in natura e 49% da carne bovina industrializada que o Brasil exportou em 1999. É interessante observar por meio dos gráficos que em 1999 os EUA foram os destinatários de 35% das exportações brasileiras de carne bovina industrializada. Porém, o Brasil ainda é impedido de exportar para os EUA a carne bovina in natura devido a restrições sanitárias relacionadas até então à febre aftosa. 28 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Brasil: Exportação de Carne Bovina in natura, 1999. % União Européia Chile Hong Kong 6 3 222 5 Suíça Israel 7 Cingapura Rep.Isl. Do Irã Outros 73 Brasil: Exportações de Carne Bovina Industrializada, 1999. % União Européia EUA Jamaica 3 35 32 Porto Rico 8 Canadá Ourtros 49 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 29 O momento é favorável para que o Brasil possa aumentar sua participação e consolidar uma forte posição no mercado mundial da carne bovina. ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO Como em vários outros setores do agronegócio, a comercialização da carne bovina, da produção à distribuição, é historicamente cheia de conflitos entre as partes interessadas, constituindo-se em um dos maiores pontos de estrangulamento para a atividade e como ameaça à composição harmônica da cadeia produtiva da carne bovina. O que ainda prevalece nas relações comerciais entre pecuaristas e frigoríficos e entre frigoríficos e distribuidores (açougues e supermercados), são comportamentos arcaicos e compromissos frágeis, muitas vezes oportunista, o que é reflexo de uma cultura individualista e imediatista quanto aos resultados particularmente desejados pelos respectivos segmentos envolvidos. A ruptura dessa cultura tem sido alcançada com o surgimento de alguns focos de modernização nessas relações comerciais, por meio das denominadas alianças mercadológicas. As Alianças Mercadológicas como Estratégias de Renovação nas Relações Comerciais para a Carne Bovina. O entendimento e a prática das alianças mercadológicas hoje estabelecidas na cadeia produtiva da carne bovina de qualidade transcendem a noção da simples transação de compra e venda de produto. Essas alianças constituem um compromisso estratégico de negociação assumido entre os segmentos de produção (pecuaristas), de processamento (frigoríficos) e de distribuição (supermercados e açougues) de carne bovina de qualidade, podendo ser estendido a outros segmentos que processam os demais produtos procedentes dos animais abatidos, como é o caso do couro. Uma aliança mercadológica deve buscar atingir pelo menos dois objetivos, sendo um voltado ao atendimento do consumidor final e o outro aos interesses dos próprios aliados. São eles, respectivamente: 30 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte - ofertar carne bovina com atributos de qualidade que a diferencie da carne comumente encontrada no varejo; e assegurar a sobrevivência justa e duradoura de todos os segmentos que compõem a cadeia produtiva, proporcionando margens de lucro equilibradas e a participação constante e crescente de todos os aliados em mercados estáveis. Na composição de uma aliança mercadológica alguns pontos são pressupostos básicos para garantia de seu sucesso. Dentre esses pressupostos poderiam ser citados: - Conhecer de forma mais completa possível o consumidor que se pretende atingir(nicho de mercado); - Gerar o produto de acordo com a expectativa do consumidor; - Assegurar volume e regularidade de oferta do produto; - Buscar a padronização do produto a ser ofertado; - Implementar um programa de rastreabilidade que proporcione a garantia de origem do produto; - Disponibilizar um produto de qualidade; - Proporcionar benefícios para a Aliança em toda a sua extensão e para cada um de seus aliados de forma independente. Deve ser ressaltado que em uma parceria comercial desta natureza cada aliado deve assumir o compromisso que lhe cabe de forma íntegra, consciente que os objetivos só serão atingidos se todos os envolvidos assim se posicionarem. Há que se entender que a aliança é um compromisso estratégico entre parceiros, numa visão de empreendimento coletivo e perspectiva de futuro. A participação dos três segmentos com maior grau de envolvimento pode se dar de formas diversas, de acordo com a necessidade da própria aliança. No entanto, considerando de forma isolada cada um desses segmentos, algumas análises devem ser feitas verificando as ameaças e as oportunidades que podem oferecer o perfil de cada segmento e a forma como ele vai se inserir na parceria. Para os pecuaristas (segmento produtivo), sua participação deve se dar necessariamente sob a forma de grupos organizados (Núcleos ou Associações de produtores), profissional, com sistemas sustentáveis de produção e oferta regular de produtos padronizados e certificação de origem. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 31 No caso da indústria frigorífica, como grande agroindústria que é, deve ser criteriosamente verificado o seu perfil, principalmente no que diz respeito ao seu custo operacional e seus encargos sociais e tributários. Também as condições de instalações físicas, de tratamento humanitário dos animais no pré-abate, de inspeção sanitária e de tratamento de efluentes, são hoje fatores limitantes aos serviços prestados pela indústria frigorífica. Quanto à forma de inserção dos frigoríficos nas alianças, há uma tendência dos mesmos se tornarem apenas prestadores de serviços à parcerias compostas somente entre grupo de pecuaristas e distribuidor. Já para a rede distribuidora ou comércio varejista cabe como ponto relevante de sua participação, a decodificação do comportamento do consumidor junto ao produto ofertado, passando essa informação aos segmentos antecedentes. Uma oportunidade de vantagem comparativa oferecida pelos perecíveis, como é o caso da carne, aos supermercados, é que são estes os produtos que vêem trazendo diferenciais positivos a serem oferecidos aos consumidores. No caso das grandes redes de supermercados, uma ressalva que deve ser feita à sua forma de participação nas alianças é quanto ao risco da concentração crescente do comércio varejista nessas empresas (mercado oligopsônio), aumentando sobremaneira sua possibilidade de determinar o preço de compra e de venda dos produtos. Em resumo, a composição das alianças mercadológicas é, no momento, a única saída viável para o setor; é o início de um trabalho de busca de soluções em conjunto, para o qual deve haver motivação dos pecuaristas, incentivos à indústria, equilíbrio na distribuição e informação ao consumidor. Portanto o novo paradigma na cadeia produtiva da carne bovina de qualidade deve conduzir os segmentos a uma nova forma de sentir, uma nova forma de pensar e uma nova forma de agir. 32 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS: INTEGRAÇÃO EM PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DE CONFORMIDADE L.E.L. PINHEIRO, MV. MSc. DR. Presidente do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal A REALIDADE BRASILEIRA As crescentes exigências a respeito da segurança de alimentos destinados ao consumo humano, tornam-se cada vez mais abrangentes, requerendo a adoção das mais variadas tecnologias ao longo de toda a cadeias produtiva. O modelo de visão sistêmica deve abranger desde a origem e composição de insumos, indo até o produto industrializado posto à mesa dos consumidores, passando, necessariamente, por todas as etapas de produção, industrialização e transporte. Tudo isso requer o cumprimento de normas específicas e acreditadas pelos mercados compradores, seguido da devida avaliação de conformidade (com as normas) e certificação. Em todo o processo, o elemento fundamental é sempre o especialista, devidamente preparado e credenciado, capaz de assessorar a montagem de projetos de qualidade, implantá-los e de atuar como auditor, obviamente dentro da pertinência de cada situação. Nota-se que, na maioria dos programas que estão sendo formulados nesta área, o ponto mais crítico reside sempre na sustentação do processo e na sua capilarização, principalmente no segmento de produção ou “dentro da porteira”. Este fato é conseqüência de uma visão equivocada, pois parte do princípio de que basta ter regulamentos e normas institucionalizadas para que tudo funcione, tendo o estado como fiscalizador e gestor de todo o processo. A situação ideal seria aquela em que o estado fiscalizaria, fazendo a sociedade organizada a gestão do todas as etapas de implantação, monitoramento e auditoria. Regra geral, o Brasil vem sendo impelido a adotar padrões de normas de qualidade internacionais, sem o que, dentro em breve, não terá mercados compradores. Vê-se, portanto, à voltas com inúmeros sistemas, entre os quais destacam-se o IS0 (International Organization 34 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte for Standartization), o GMP (Good Manufature Practices) e o HACCP (Hazard Critical Control Points), todos com sobreposições e limitações. Para o setor industrial, além das dificuldades de acesso a informações precisas a respeito do que implantar, faltam também melhores e menos onerosas formas de avaliação de conformidade e de certificação. AS PROPOSIÇÕES INOVADORAS NA FORMAÇÃO DE ESPECIALISTAS Tem se tornado cada vez mais claro que o principal gargalo do País, reside na inexistência de apreciável contigente de especialistas na área, capaz de melhor esclarecer e de atender a todo o setor produtivo, inclusive com diminuição de custos. Neste cenário, destaca-se o esforço do SENAI/SEBRAE na implantação do Projeto APPCC (Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle ou HACCP em Inglês), o qual tem como premissa básica a formação de recursos humanos. No projeto, em cooperação com inúmeras instituições, inclusive o MCT/CNPq, estão previstas ações de internalização da APPCC nas universidades, o que reforçamos nesta apresentação. A lógica de convencimento ou indução é muito simples, pois parte do princípio de que ao oferecer aos estudantes, a oportunidade de egressarem da universidade como peritos em implantação ou certificação (em qualquer um dos citados sistemas), estaríamos criando excepcional diferencial de competitividade para os mesmos. Ações nessa direção vem sendo executadas em todo o País, o que também fazemos hoje na UFV. Na oportunidade cabe ressaltar que grandes empresas, como é o caso do CARREFOUR, também presente neste Evento, já necessitam ou necessitarão em breve, de amplo contigente de profissionais com tais qualificações. Para obter melhores informações e mesmo embasamento, sugiro leitura atenta de recentes artigos sobre o assunto, entre os quais recomendo: Recursos Humanos para o Agronegócio, MCT/CNPq 2000, 284p, e GAMA, G.B.M.N. O Perfil Desejado para o Profissional de Ciências Agrárias, In: Rev. Bras. Reprod. Anim. v.25,n.1,pp14-16, 2001. Neste último artigo é feita menção ao dinâmico processo de facilitação tecnológica às empresas, que vem sendo montado pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA), a respeito do qual, maiores II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 35 informações podem ser obtidas nas publicações: PINHEIRO & PINHEIRO (Rev. Bras. Reprod. Anim. v.24,n.3, pp172-173,2000) e PINHEIRO et.al. (Rev. Bras. Reprod. Anim. v.25.n.1. pp.16-18, 2001). Nestas últimas publicações, descreve-se parte do sistema que o CBRA criou, objetivando transformar o seu quadro de especialistas numa vasta rede de peritos, disponibilizadas às empresas associadas. Tal modelo vem se constituindo em efetivo e pouco oneroso processo de facilitação na adoção de processos de avaliação de qualidade, podendo ser estendido à muitas outras instituições do gênero. 36 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte PRODUÇÃO DO NOVILHO SUPERPRECOCE Antônio Carlos Silveira1 ; Mário de Beni Arrigoni; Henrique Nunes de Oliveira; Ciniro Costa; Luis Arthur Loyola Chardulo; Luiz Guilherme Gonzaga Silveira; Cyntia Ludovico Martins 1 Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal - Fac. de Medicina Veterinária e Zootecnia Unesp - Câmpus de Botucatu - Cx. Postal 560 - 18618-000 - Botucatu - SP e.mail: [email protected] CONSIDERAÇÕES GERAIS A intensa seleção a que foram submetidos os zebuínos no Brasil permitiu alcançar peso de abate compatíveis aos índices das raças européias de gado de corte. Entretanto, a precocidade não foi priorizada no processo, o que é evidenciado pela reprodução e abate tardio destes animais, nunca inferior aos 24 meses de idade. À vista disso, incrementou-se a importação de raças européias de alta precocidade, mas pouco adaptadas ao nosso meio e que, quando cruzadas com zebuínos permitem obter índices zootécnicos mais econômicos. A importância da precocidade para a produtividade do rebanho nacional foi demonstrada em trabalho conduzido por pesquisadores da Faculdade de Economia e Administração da USP (1987). Esses pesquisadores observaram que a redução em um ano de idade de cobertura das fêmeas e no abate dos machos resulta em um aumento de 19,4% na taxa de desfrute do rebanho nacional, cifra esta também alcançada através do aumento de cerca de 40% na taxa de natalidade acompanhada da redução de 10% na taxa de mortalidade, tarefa esta muito mais dispendiosa e impraticável a curto prazo. Finalmente, a redução na idade à primeira parição das fêmeas e do abate dos machos para 2,5 anos, resultaria em um aumento na taxa de desfrute da ordem de 40 %, elevando a mesma para 26,9%. Tudo indica que a utilização de técnicas convencionais para alcançar esses índices zootécnicos são impraticáveis a curto prazo, ficando a alternativa mais factível as inovações tecnológicas de manipulação de fatores que antecipem a precocidade de machos e fêmeas. 38 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Dentre as técnicas atuais, sem dúvida que se destacam aquelas que levam em consideração a preservação e o aprimoramento de atributos positivos ligados à herança genética. Entretanto, por mais importantes que sejam as técnicas como a manipulação genética, as seleções, cruzamentos, inbreeding e outbreedings, as linhagens clonais e transgênicas ainda não são capazes de selecionar muitas das limitações da produção animal. Estas técnicas, convencionais, ou não, geralmente demandam longo tempo para produzir os primeiros resultados e são extremamente dispendiosas para serem adotadas em países em desenvolvimento. As alternativas que se apresentam aos pesquisadores e criadores são concordantes num ponto único que é de associar o potencial genético das linhagens ou dos produtos de cruzamentos com a manipulação de fatores ambientais notadamente a alimentação para se conseguir a melhoraria do desempenho animal. PRECOCIDADE A precocidade pode ser entendida como sendo a velocidade em que o bovino atinge a puberdade, ocasião em que o mesmo completa o crescimento ósseo e a maior parte do conjunto da musculação. Na puberdade os hormônios do crescimento responsáveis pelo crescimento dos tecidos ósseo e muscular são substituídos pelos hormônios sexuais, ocasião em que as fêmeas mostram cio e os machos aumentam a circunferência escrotal. Na puberdade também intensifica-se o enchimento dos adipócitos, ocorrendo a deposição de gordura na carcaça. Desta maneira, as raças ou indivíduos dentro de raças que primeiro atingem a puberdade podem ser considerados de maior precocidade sexual e de terminação. (Figura 1). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - .a – concepção .b – nascimento .c – puberdade .d - maturidade 39 GRANDE M ÉDIO PEQUENO PV a b c d IDADE Fo nte : ada pta do de O WENS (1993) Figura 01 - Curva de crescimento de bovinos de diferentes “frame-size” A Tabela 1 que se segue mostra que as raças ou indivíduos dentro das mesmas de menor tamanho corporal atingem a cobertura de gordura desejada na carcaça com menor peso vivo, sendo então considerados mais precoces e portanto mais adequados para se abater animais terminados em sistema de produção de ciclo curto. 40 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Pesos de bovinos de maturidade (Frame-Size) Graus “Frame-size” 1 3 4 6 7 9 2 “pequeno” diferentes tamanhos a Peso Vivo ( kg) Carcaça terminada ( 28% de gordura) Inteiros Castrados 480 400 520 438 560 487 5 “médio” 600 500 640 533 680 567 8 “grande” 720 600 760 633 800 667 Fonte: Fox et al. (1992) Bovinos superprecoces são os animais que imediatamente após o desmame serão terminados em regime de confinamento e abatidos antes dos 15 meses de idade. Com este sistema de produção elimina-se a recria dos animais. Por outro lado, bovinos precoces necessitam de recria e são abatidos após 15 meses de idade, De acordo com Willians et al. (1995), animais superprecoces apresentam alta eficiência biológica, definida como sendo o ganho de peso vivo em gramas pela energia consumida em Mcal. A eficiência biológica será tanto maior quanto menor for a idade de abate dos animais. Através da Tabela 2 pode-se observar a melhor eficiência biológica dos animais abatidos com 11,6 meses em relação aos abatidos com 12,9 e 15,0 meses de idade. Verifica-se também que a partir de 15 meses, seria economicamente interessante realizar uma recria a pasto, pois os animais alcançariam um maior peso ao abate, com a mesma eficácia, se fossem terminados em confinamento. Assim sendo, por serem recriados a pasto estes animais deixariam de integrar a categoria de superprecoces passando para a de precoces. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 41 A eficiência biológica dos bovinos em relação a idade e/ou ao peso, pode ser melhor esclarecida se verificar-mos que aproximadamente 70% da MS ingerida por dia pelo animal são utilizados para cobrir as exigências de manutenção da vida e que somente o restante será utilizada para fins produtivos; e que a exigência de manutenção está relacionada com o tamanho corporal do animal. Resumindo, poderemos afirmar que quanto maior for o tamanho (peso) do animal, maior será os gastos com sua manutenção, sobrando menos nutrientes para engorda, piorando sua eficiência biológica. Tabela 3 - Eficiência Biológicaa observada para animais em diferentes sistemas de Produção Tamanho Sistema de Produção Dias de Alimentação Peso ao Abate (kg) Eficiência Biológica Pequeno Superprecoce 139 (11,63 meses) 439 52,8 Pequeno Superprecoce 178 (12,93 meses) 492 48,9 Pequeno Superprecoce 242 (15,06 meses) 554 45,5 * Pequeno Precoce 174 (16,46 meses) 591 45,6* Eficiência Biológica = gramas de ganho de peso vivo/Mcal de Em consumida. Adaptado de WILLIANS et al. (1995) A Tabela 3 que segue adaptado de Peixoto et al. (1987) exemplifica bem esta situação. Para um bovino em confinamento passar de 350kg de peso vivo para 400 Kg terá que consumir neste determinado período 431kg de alimento, exibindo uma eficiência de conversão de 8,6kg de alimento consumido para 1kg de peso ganho. Entretanto, para este mesmo animal passar de 400kg de peso para 450kg, já terá que consumir muito mais, ou seja, 727kg de alimento, com uma conversão alimentar de 14,6kg de alimento para cada 1kg de peso ganho. E, assim por diante, cada vez mais, piorando a conversão alimentar e inviabilizando economicamente o processo, à medida que se queira engordar animais maiores ou mais pesados e que possuem maior 42 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte exigência de manutenção, sobrando menos alimentos para se processar a engorda. Tabela 3 - Influência do peso vivo sobre a eficiência do ganho de peso de taurinos Raças Européias * 2 o período 3 o período 4 o período Parâmetros 1 o período Peso vivo (kg) Ganho de peso/período (kg) Consumo de ração no período (kg) Eficiência de conversão (kg alim/kg ganho) Custo relativo (%) 350-400 50 431 400-450 50 727 450-500 50 1019 500-550 50 1320 8,6 100 14,6 146 20,4 190 26,4 236 Fonte: Adaptado de Peixoto et al. (1987). UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA ULTRA-SONOGRAFIA COMO INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DE CARCAÇA EM ANIMAIS VIVOS A identificação de indivíduos com valor genético superior para características de carcaça não tem sido feita no Brasil, por exigir a realização de onerosos testes de progênie. Como estas características exigem o abate do animal; não podem ser realizados no animal a ser selecionado. Durante os últimos 35 anos tem sido despendidos consideráveis recursos em pesquisa para o desenvolvimento de técnicas não evasivas e não destrutivas para a avaliação da composição química e qualidade de carcaça de animais vivos. A ultra-sonografia em tempo real tem sido aplicada como uma técnica confiável e de custo aceitável para esta função (HOUGTON eTURLINGTON, 1992). Em bovinos, são medidas a área de secção do músculo “longissimus dorsi” (área-de-olho-de-lombo), e a espessura da camada de gordura de cobertura do mesmo músculo obtidas através de imagens tomadas entre a 12a e 13a costela. (Figuras 2 e 3). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 43 Figura 2 - Local exato para medição do músculo “longissimus dorsi” (Área-de-olho-de-lombo) e da gordura de cobertura na garupa (picanha) Estas estimativas, quando obtidas por técnicos devidamente adestrados, tem apresentado repetibilidade aceitável, assim como são as correlações destas com as medidas correspondentes tomadas na carcaça dos animais após o abate. Além da identificação de touros mais precoces, a técnica da ultra-sonografia pode ser também utilizada para a determinação do ponto de abate dos animais, com predição do potencial produtivo de carcaça e carne. 44 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Figura 3 - Determinação da Área-de-olho-de-lombo, no o músculo longissimus dorsi e da espessura de gordura subcutânea. Com este procedimento, os animais superprecoces tem sido abatidos, quando atingem o grau de cobertura de gordura na carcaça adequado ao processo de resfriamento empregado no país, garantindo assim a qualidade da carne, não permitindo o seu enrijecimento e/ou escurecimento. Além disso o grau de musculosidade obtido pela visualização e medição da área-de-olho-de-lombo no ultra-som determina o rendimento em produção de carne, podendo em muitos casos pela predição do rendimento e da qualidade, antecipar II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 45 significativamente o tempo de abate, minimizando os custos de confinamento e consequentemente os de produção. Em pesquisa recente realizada pela UNESP, Câmpus de Botucatu, Chardulo et al. 2000 constataram quando da comparação entre diferentes grupos genéticos, constituído de animais machos e fêmeas abatidos no sistema superprecoce, algumas diferenças significativas nas características de carcaça e da carne, entre as raças de corte, demonstrando haver diferenças entre a eficiência das mesmas. Tabela 4 - Valores médios das características de carcaça dos diferentes grupos genéticos Raça Angus Charolais Gelbvieh Hereford Simmental PCQ 244,47 238,67 247,06 263,04* 251,87 PCR 239,65 234,31 242,54 258,22* 247,38 Variáveis PR RTk 1,88 115,88* 1,77 121,92 1,82 123,24 2,03 123,57 1,74 124,45 RTp 47,97 50,44 49,80 47,29 49,31 RC 55,14 53,95 55,92 55,57 54,29 PCQ = Peso de carcaça quente (kg); PR = Perda por resfriamento (%); PCR = Peso de carcaça resfriada (kg); RTK = Rendimento de traseiro em quilogramas (kg); RTp = rendimento percentual de traseiro (%); RC = Rendimento de carcaça (%). Pelos resultados do experimento podemos observar no tocante às bezerros com maior peso, apresentou ao final de 130 dias de confinamento, maior peso na carcaça (Tabela 4). Por este resultado evidencia-se a exigência do sistema superprecoce em desmamar bezerros os mais pesados possíveis, fato este garantido pelo uso da suplementação em "creep feeding" durante o aleitamento dos bezerros. Ao mesmo tempo, a raça Angus, apesar de ter mostrado menor rendimento de traseiro em relação aos demais, apresenta rendimento de carcaça semelhante às outras, mostrando que apesar desta raça ser de tamanho pequeno a maturidade diferentemente das raças continentais, apresenta uma distribuição uniforme de carne pelo corpo. Pela análise de qualidade da carne entre os diferentes graus de sangue (Tabela 5), pode-se generalizar que o sistema de produção do novilho superprecoce garante a carne com excelente índices de 46 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte qualidade à vista do mesmo preconizar o abate de novilhos ainda muito jovens. No entanto, neste particular destaca-se a raça Angus, que pela precocidade da terminação da carcaça, mostrou maior maciez medida pela força de cizalhamento, fato este que talvez pudesse ser atribuído ao maior teor de gordura de cobertura ou de marmorização nesta raça. Esta afirmativa estaria fundamentada pelo menor impacto proporcionado pelo resfriamento rápido da carcaça no frigorífico, evitando-se o encurtamento das fibras, uma vez que pelos dados obtidos verificou-se na carcaça do Angus maior temperatura durante o resfriamento concorrendo para maior ação glicolítica muscular, menor índice pH e conseqüente inibição da capalstatina, possibilitando maior ação da calpaína enzima esta, responsável pela maciez da carne. Outra explicação viável para concorrer com a maciez da carne Angus seria o maior grau de marmorização do mesmo em relação às outras raças especializadas para corte. Outro ensaio conduzido pelos pesquisadores da UNESP em parceria com a Agropecuária Meira Fernandes, Município de Buri, SP., 350 animais superprecoce de 12 meses de idade, mestiços Nelore x Braunvieh foram abatidos em novembro de 2000 no Frigorífico Mondeli, Bauru, SP. Uma amostragem dos resultados obtidos são apresentados na Tabela 6 abaixo e comprovam os altos rendimentos cárneos e a qualidade da carne de novilhos superprecoce. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 47 Tabela 5 - Valores médios das características de qualidade de carne de bovinos mestiços jovens em confinamento Raças Variáveis AOL BF MBL GDR PT UMD pH TPA SF CALP Angus 56,705 3,813* 4,406* 4,275* 25,126 61,010 5,366* 8,6* 3,963* 0,166 Charolais 64,340 2,562 3,194 2,960 25,850 60,905 5,499 5,5 6,274 0,101 Gelbvieh 63,991 2,500 3,056 2,788 26,380 60,116 5,555 4,8 6,382 0,125 Hereford 65,849 2,969 3,387 3,202 24,783 62,012 5,510 3,9 6,120 0,119 Simmental 62,293 2,562 3,100 3,068 26,420 61,430 5,529 6,2 5,631 0,148 Sexo Macho 67,421 2,650 3,470 3,352 25,412 62,412 5,509 7,6 5,814 0,122 Fêmea 57,850 3,113 3,387 3,221 26,115 61,845 5,475 5,3 5,529 0,143 AOL= Área-de-olho-de-lombo (cm2) BF = Gordura subcutânea (cm) MBL = Índice de marmorização (praticamente ausente = 2,0-2,9; Traços =3,0-3,9; Muito Pouco = 4,0-4,9) pH = potencial hidrogênio iônico GDR = Gordura total PT = Proteína total UMD = Umidade TPA = Temperatura interna da carne 15hs pós mortem (oC) SF = Força de cizalhamento (kgf) Calp = Calpastatina 48 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 6 - Características de carcaça e qualidade de carne de animais mestiços Braunvieh X Nelore submetidos ao Sistema Superprecoce No Peso carcaça Peso Animal (Kg) carcaça (@) 01 257,0 17,13 02 279,5 18,63 03 250,0 16,66 04 314,0 20,93 05 279,5 18,63 06 254,5 16,96 07 297,0 19,80 08 247,5 16,50 09 252,0 16,80 10 250,0 16,66 11 274,0 18,27 12 278,0 18,53 13 273,0 18,20 14 290,5 19,37 15 255,5 17,03 16 264,5 17,63 17 239,0 15,93 18 269,0 17,93 Média 268,02 17,87 AOL (cm2) 74,69 77,26 74,83 79,72 69,41 87,04 92,19 87,54 84,12 75,45 91,00 83,54 80,15 85,01 71,17 75,52 83,85 79,24 80,65 EG (mm) 3,00 3,50 3,80 7,60 5,10 5,70 5,40 4,70 6,30 4,80 5,70 4,10 4,70 6,70 6,70 5,20 3,10 5,10 5,06 MBL Traço Pouco Traço Pouco Pouco Traço Pouco Traço Traço Traço Pouco Pouco Pouco Pouco Traço Traço Traço Pouco - Força de cizalhamento(kg) * 4,5 5,1 4,6 4,4 4,9 5,0 5,8 3,9 3,9 4,4 3,1 4,6 4,2 4,5 4,4 5,9 5,1 4,2 4,6 UNESP x Meira Fernandes (2000) * Carnes resfriadas por 24 horas ALIMENTAÇÃO DO SUPERPRECOCE A suplementação dos bezerros no ¨creep-feeding¨tem por finalidade não interromper o crescimento dos bezerros o que normalmente ocorre após dois meses de idade pela queda na produção leiteira da mãe. Assim sendo o concentrado deverá apresentar valor nutritivo similar ao leite materno. Para a formulação da ração de ¨creepfeeding¨ recomenda-se a utilização de concentrado preparado pela Nutrumin Nutrição Animal ( 25 kg) que deverá ser mistuado com milho quebrado (75 kg) ou outro grão de cereal produzido na propriedade. O fornecimento da ração deve ser ¨ad libitum¨, pois não ultrapassa a média de l.000 g/cabeça/dia no período, para ganhos de peso da ordem II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 49 de 1,1 kg/dia. Considerando que além do leite materno os bezerros consomem ainda por dia uma média de 6-7 kg de leite com 13% de MS e 0,5 a 1,0 kg de pasto com 25% de MS, facilmente chegaremos a uma conversão alimentar durante o período de ¨creep-feeding¨ de 2,0 a 2,5 kg de peso ganho, conversão esta bastante baixa e por consequinte econômica, se comparada com a fase seguinte do processo, ou seja, a fase de confinamento propriamente dita. No confinamento os animais chegam a consumir de 4 kg de MS/dia no início a 8 kg de MS/dia ao final do período com uma conversão alimentar média de 6:1. Desta forma, pode-se facilmente verificar que o retorno financeiro do ¨creep-feeding¨ é grande e, portanto, quanto mais pesados forem os bezerros na desmama, mais baixo será o custo de produção do sistema. A Tabela 7 mostra a desmama de bezerros Simental x Nelore evidenciando um aumento de 10,5 a 18,3% nos pesos de desmama aos 5 e 7 meses respectivamente. O emprego do ¨creep-feeding¨ possibilitou, ainda, a desmama aos 5 meses de idade com 200 kg de peso vivo, bem como o benefício de 8,9% na fertilidade das matrizes Nelore. Tabela 7 - Resposta à utilização do “creep feeding” no peso ao desmame e na fertilidade das matrizes ½ SIMENTAL X NELORE 5 meses 7 meses NELORE PESO DOS BEZERROS (kg) No de animais s/creep c/creep 100 170 190 100 200 245 FERTILIDADE DAS MATRIZES (%) 400 77,0 84,5 % 10,5 18,3 8,9 Fonte: Equipe Superprecoce, 1996 Durante o confinamento o volumoso deverá fornecer um mínimo suficiente de fibra efetiva para garantir a ruminação enquanto o concentrado deve ser de fácil aproveitamento pelos microorganismos. Os concentrados fornecerão energia para os microorganismos se desenvolverem, aumentando a população microbiana, que ao passar 50 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte para o intestino durante a ruminação poderá cobrir em até 70% das exigências diárias de proteína para o animal, garantindo assim o seu desenvolvimento. Dentro deste conceito, os concentrados devem perfazer de 85 a 90% do total da matéria seca da dieta desde que os 10 a 15% restantes forem de um volumoso que realmente forneça fibra efetiva para ruminação. Quanto aos concentrados, recomenda-se processar adequadamente os grãos de cereais para melhor serem aproveitados pelos microorganismos ruminais, uma vez que a proteína microbiana tem qualidade superior em termos de aminoácidos essenciais a todas as outras fontes proteicas comumente encontradas no mercado (Santos, 1998). Esta talvez seja a explicação para o mais rápido crescimento muscular dos bezerros superprecoces, quando da utilização de grãos de cereais processados. A Tabela 8 adaptado de Owens et al. (1986) explicita as vantagens de se processar adequadamente o grão de milho propiciando melhor digestão no rúmen e consequentemente maior aproveitamento do amido pelos microorganismos enquanto A Tabela 8 evidencia as vantagens em se utilizar os grãos úmidos de milho ensilados para melhorar a eficiência alimentar dos bezerros confinados. Tabela 8 - Formas de processamento do milho e os sítios de digestão do amido Formas de Processamento Rúmen Inteiro Quebrado Laminado 58.9 68.9 71.8 Moído Ensilado Floculado 77.7 86.0 82.8 Fonte: Owens et al. (1986) Digestão do amido % Intestino Intestino Delgado Grosso 17.0 2.8 12.9 8.2 16.1 4.9 13.7 5.5 15.6 4.3 1.0 1.3 Total 91.7 87.6 93.2 93.5 94.6 97.8 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 51 Os grãos úmidos de milho são colhidos para serem ensilados quando apresentarem um teor de umidade em torno de 26 a 30%, o que é facilmente observado pela presença do chamado ponto preto na base do grão, na inserção deste com a espiga. A presença do ponto preto indica a maturação fisiológica do grão, isto é, o grão de milho esta totalmente formado, não havendo mais translocação de nutrientes da planta para os grãos. O processo de colheita de grãos, moagem e ensilagem, em silos trincheira seguem as recomendações usuais para a confecção de silagem. Tabela 9 - Comparações entre silagem de milho úmido x milho triturado em confinamento de animais inteiros Simental x Nelore Milho úmido Milho triturado Volumoso Suplemento protéicomineral + aditivos No de animais Confinamento (dias) Peso inicial (kg) Ganho diário (kg) Consumo (MS/kg) C.A./kg MS/kg ganho Índice 100:0 80 0 11 75:25 60 20 11 9 9 18 90 336 1,53 11,96 7,82 120 18 90 334 1,63 12,58 7,72 121 Tratamentos 50:50 40 40 11 9 INFORMAÇÕES 18 90 333 1,39 12,45 8,97 108 25:75 20 60 11 0:100 0 80 11 9 9 18 90 335 1,33 12,51 9,40 104 18 90 335 1,30 12,70 9,77 100 Fonte: Stock et al., 1987. COMENTÁRIOS TÉCNICO / ECONÔMICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DO NOVILHO SUPERPRECOCE Utilizando-se de iguais índices zootécnicos em um rebanho iniciado com 2800 matrizes e evoluindo-o por um período de 15 anos, comprova-se pelos dados apresentados na Tabela 16, as vantagens do sistema de produção do Novilho Superprecoce (12 meses de idade), em relação aos sistemas de abate previstos para 24 e 36 meses de idade. 52 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Considerando, apenas os últimos 5 anos após sua estabilização, e sendo mantida a mesma lotação por hectare (0,8 U.A.), verifica-se que para alcançar a mesma produtividade de 1682 cabeças abatidas/ano, nos três sistemas de produção, a necessidade de aumentar significativamente a área de ocupação da propriedade, ou seja, 4388, 7856 e 9707 hectares respectivamente para os sistemas de 12, 24, e 36 meses de idade, constatando assim, uma diminuição da eficiência produtiva do rebanho à medida que se retarda o abate dos animais. Este fato pode ainda ser melhor caracterizado quando oferece-se o índice 1,0 ao sistema superprecoce, e verifica-se a necessidade de aumentar em 1,79 vezes a área de utilização para o sistema de 24 meses e de 2,21 para o de 36 meses para idêntica produção. Tabela 10 - Evolução do Rebanho Evolução do rebanho (anos) Número de matrizes Total de UA (450 kg) Lotação UA/há Área total (há) Animais abatidos Animais descartados Superprecoce 12 meses estabilização 2541 3510 0.8 4388 1682 389 Precoce 24 meses estabilização 2541 6285 0.8 7856 1682 418 Precoce 36 meses estabilização 2541 7766 0.8 9707 1682 418 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHARDULO, L.A.L. Desempenho, níveis plasmáticos de harmonia, expressão e quantificação das proteínas musculares, características de carcaça e qualidade de carne de bovinos mestiços jovens de diferentes grupos genéticos submetidos ao sistema superprecoce. Tese de Doutorado. FCAV, UNESP, Jaboticabal. 2000, 70p. Equipe superprecoce (1996) Agropecuária 4A, Campina do Monte Alegre, SP. Trabalho enviado para publicação. Revista Agropecuária Brasileira. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 53 Equipe superprecoce (1997) Fazenda Cambiju, Ponta Grossa, PR. Trabalho enviado para publicação. Revista Agropecuária Brasileira. Equipe superprecoce (1998) Agropecuária Cerviéri, Ponta Porâ, MS e Meira Fernandes Agropecuária Ltda, Buri, SP. Dados a serem enviados a publicação. FIPE Pecuária bovina brasileira: as causas da crise. p. 99-110, 1987. FOX, D.G.; SNIFFEN, C.J.; O'CONNOR, J.D.; RUSSEL, J.B.; VAN SOEST, P.J. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: III. Cattle requirements and diet adequacy. J. anim. Sci., v.70, p.3578, 1992. HOUGTON, P. L., TURLINGTON,L.M. Aplication of ultrasound for feeding and finishing animals. A review J. anim. Sci., v.70, p. 930, 1992 OWENS, F.N.; ZINN, R.A. and KIN, Y.K. Limits to starch digestion in the ruminant small intestine. J. anim. Sci., Albany. v.63, p.1634-1648, 1986. PEIXOTO, H.M.; HADDAD, C.M.; BOIN, L. e BOSE, L.M.V. O confinamento de bovinos de corte. Piracicaba, FEALQ, 110p. 1987. SANTOS, F.A.P. Efeito de fontes protéicas e processamento de grãos no desempenho de vacas de leite e digestibilidade dos nutrientes. Tese de Livre docente. ESALQ, USP, Piracicaba, SP, 105p. STOCK, R.A.; BRINK, D.R.; BRANDT, R.T.; MARRIL, J.K.; SMITH, H. Feeding combinations of high moisture corn and dry corn to finishing cattle. J. anim. Sci. v.65, p.282, 1987. UNESP & MEIRA FERNANDES, 2000 (enviado para publicação). WILLIANS, C.B.; BENNETTI, G.L.; KEELE, J.W. Simulated influence of postweaning production system on performance of different biological types of cattle. III. Biological efficiency. J. anim. Sci. v.73, p.686-697, 1995. 54 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte PRODUÇÃO INTENSIVA DE CARNE BOVINA EM PASTO Valéria Pacheco Batista Euclides Enga.-Agra., Ph.D., CREA No 12797/D, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4, Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: [email protected] INTRODUÇÃO O sistema de produção para ser parte integrante de uma cadeia produtiva de carne eficiente necessitará de inversões diversas, especialmente, tecnológicas. Sem inserção de tecnologias, nenhum segmento será capaz de vencer os desafios que são colocados pela globalização. Dentre todos os atores dessa cadeia talvez o sistema de produção seja aquele mais carente de utilização efetiva de tecnologias em larga escala. Essas tecnologias terão, em maior ou menor grau, a função de promover sua intensificação. Nesse aspecto, poder-se-á usar conhecimentos e alternativas tecnológicas disponíveis em várias áreas do conhecimento que deverão, preferencialmente, ser utilizadas de forma integrada em um enfoque sistêmico, e serem capazes de tornar esse setor competitivo. Nesse sentido, um dos principais componentes do sistema de produção é a alimentação e, em especial, as pastagens. Ressalta-se, que para ser competitivo o sistema deverá ser capaz de, basicamente, possibilitar o aumento da capacidade de suporte das pastagens. Segundo Corsi e Nussio (1992), os pecuaristas precisam planejar sistemas de exploração de pastagens cada vez mais intensivos, sugerindo ser possível estabelecer metas para taxa de lotação de 17 UA/ha. Várias são as formas disponíveis para se obter tal incremento, dentre as quais podem-se mencionar, a adubação das pastagens, o uso de irrigação, nas condições onde essa for uma prática recomendável, o uso de suplementação alimentar em pasto e mesmo o confinamento. Esse último, além de ser recomendado para aqueles animais de melhor desempenho potencial, é uma estratégia importante para liberação de pastos para outras categorias animais. Para maiores eficiência e eficácia de quaisquer dessas alternativas é necessário que se conheçam as características das pastagens tropicais. 56 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Nesse texto será dada ênfase à adubação e à suplementação alimentar, uma vez que os tópicos irrigação das pastagens (Alencar, 2001) e o confinamento (Silveira, 2001) serão apresentados nesse evento. CARACTERÍSTICAS DAS PASTAGENS TROPICAIS A disponibilidade e a qualidade das forrageiras são influenciadas pela espécie e pela cultivar, pelas propriedades químicas e físicas do solo, pelas condições climáticas, pela idade fisiológica e pelo manejo a que a forrageira é submetida. A eficiência da utilização de forrageiras só poderá ser alcançada pelo entendimento desses fatores e pela sua manipulação adequada de modo a possibilitar tomadas de decisão sobre manejo objetivas de maneira a maximizar a produção animal. Assim, a produtividade de uma pastagem e sua qualidade são determinadas, em qualquer momento, pelo conjunto de fatores de meio, capazes de agir sobre a produção e sobre a utilização da forragem, e pela resposta própria de cada espécie forrageira a tais fatores. As forrageiras tropicais, em conseqüência da estacionalidade da produção, não fornecem quantidades suficientes de nutrientes para a produção máxima dos animais. Segundo t’Mannetje (1983) as principais limitações são, pelo menos, durante a metade do ano, a baixa disponibilidade de forragem verde e o seu baixo valor nutritivo durante a maior parte do período de rebrota ativa da planta. O que se busca em uma forrageira é a capacidade de atender, pelo maior período possível, às demandas dos animais. No entanto, se por um lado as forrageiras variam em qualidade, por outro, os requerimentos nutricionais do animal também não são constantes durante sua vida, ou mesmo no decorrer do ano. Estes variam em função de diversos fatores, como idade, estado fisiológico, sexo, grupo genético, peso e escore corporais. Assim, considerando-se sistemas de produção nos quais se buscam índices elevados de eficiência, somente em situações particulares, e por pouco tempo, mesmo durante o verão, estas forrageiras seriam capazes de possibilitar que animais de bom potencial genético tivessem suas exigências atendidas (Euclides, 2000). A qualidade das forrageiras mais utilizadas no Brasil e seus efeitos limitantes na produção de animal foram discutidos por Euclides (2000). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 57 Nessa revisão, as forrageiras foram classificadas em três grupos distintos: o de alta qualidade, composto por gramíneas dos gênero Panicum (tanzânia, mombaça, tobiatã, vencedor), Cynodon (estrela, coastcross e tiftons) e Pennisetum (cameroon, napier e anão), o de média qualidade formado pelas gramíneas do gênero Brachiaria (ruziziensis, decumbens e marandu) e Andropogon (planaltina e baeti), e o de baixa qualidade constituído pelas gramíneas do gênero Brachiaria (humidicola e dictyoneura cv. Llanero). As diferenças entre esses grupos parecem estar relacionadas, principalmente, com o conteúdo de proteína bruta e consequentemente com a redução no consumo voluntário e na produção animal. Uma vez que qualquer decréscimo no consumo voluntário tem efeito negativo significativo sobre a eficiência de produção, o entendimento dos fatores que restringem o consumo de forragem pode ser de grande importância como elemento auxiliar no estabelecimento de manejos que permitam superar essas limitações e melhorar a utilização das pastagens. Vale ressaltar que o consumo só será controlado pelo valor nutritivo da forragem se a quantidade de forragem disponível não for limitante. O NRC (1987) contém uma revisão de dados sumarizados por Rayburn (1986) da qual pode-se concluir que, sob pastejo, o consumo máximo ocorre quando a disponibilidade de forragem é de, aproximadamente, 2.250 kg de matéria seca (MS)/ha, ou a oferta de forragem é da ordem de 40 g de matéria orgânica (MO)/kg PV0,75. Podese observar ainda, que o consumo decresce rapidamente para 60% do máximo, quando a oferta de forragem foi de 20 g de matéria orgânica/kg PV0,75 . Entretanto, inúmeros trabalhos, principalmente, com forrageiras tropicais, têm demonstrado que onde há grande acúmulo sazonal de material morto, a produção animal não está correlacionada com o total de forragem disponível. No entanto, ela está assintoticamente correlacionada com a disponibilidade de matéria verde seca (MVS). Corroborando essa relação assintótica, podem ser mencionados os resultados obtidos em pastagens de Panicum maximum cvs. Colonião, Tobiatã e Tanzânia (Euclides et al., 1993a), de Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha (Euclides et al., 1993b) e em cinco espécies de forrageiras tropicais (Duble et al., 1971). 58 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Esses resultados sugerem, claramente, que quanto melhor for a qualidade da forrageira, maiores ganhos de peso são obtidos por animal e menor oferta de forragem é necessária. Assim, o ponto crítico para se conseguir bons desempenhos por animal se constitui na determinação da oferta de forragem que não limite o consumo pelo animal. Algumas sugestões têm sido apresentadas na literatura. Gibb e Treacher (1976) sugeriram que a disponibilidade de forragem deve estar entre duas e três vezes o que o animal consome, e que em disponibilidades inferiores a essas o consumo decresce acentuadamente. Paladines e Lascano (1983) sugeriram uma oferta de MVS igual a 6 % do peso vivo. Já, Adjei et al. (1980) sugeriram ofertas de 6 a 8 kg de MS/100 kg de PV. Por outro lado, Maraschin (2000) criticou de forma veemente essas recomendações, sugerindo que esses experimentos foram conduzidos com baixa oferta de forragem com conseqüente limitação de consumo por parte do animal contribuindo assim para a falsa imagem de baixa qualidade das espécies forrageiras tropicais. Segundo esse autor, baseado no fato de que o animal seleciona, preferencialmente, lâmina foliar, a oferta forrageira não deve se fundamentar em MVS e sim, em matéria seca de lâmina foliar (MSLF). Dentro desse enfoque, Maraschin e sua equipe trabalhando com oferta de forragem não limitante, em espécie de inverno no Rio Grande do Sul, observaram ganhos de peso consistentes superiores a 1.000 g/animal/dia (Quadros e Maraschin, 1987). Ribeiro Filho et al. (1997) verificaram, em pastagem de capim-elefante anão, que com uma oferta de MSLF de até 13% do PV houve aumento linear na ingestão de forragem, propiciando ganhos de peso de 1.000 g/novilho/dia. Além disso, esse tipo de manejo tem beneficiado também as plantas, como evidenciado por Almeida et al. (1997) que observaram que os diâmetros das touceiras, cobertura de solo e o desenvolvimento radicular do capim-elefante foram influenciados positivamente pelas maiores ofertas de MSLF. Dessa forma, fica evidente a importância do manejo correto das pastagens para o estabelecimento de uma pecuária moderna e produtiva. MANEJO DAS PASTAGENS O conhecimento das características morfológicas e fisiológicas dos capins é essencial para se estabelecerem procedimentos adequados II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 59 de manejo. É importante ressaltar, que existem diferenças entre espécies. Por essa razão, as bases para o estabelecimento do manejo de pastagens foram amplamente discutidas para as espécies de Brachiaria (Corsi et al., 1994), para as cultivares do gênero Panicum (Rodrigues e Reis, 1995), para as cultivares do gênero Cynodon (Silva et al., 1998) e para o Pennisetum purpureum (Rodrigues et al., 1999). Por outro lado, é de fundamental importância que os princípios de manejo sejam conhecidos e praticados para que as pastagens possam se manter produtivas e persistentes. A constituição genética da planta define seu potencial produtivo, no entanto, o manejo é o responsável pela sua expressão. A produção de forragem é função do meio, da temperatura e da radiação e é limitada pela disponibilidade de fatores manejáveis, basicamente, nutrientes e água. A remoção de parte dessa limitação pela introdução de insumos, tais como fertilizantes e irrigação, vai depender do clima e, obviamente, da relação custo-benefício. Os custos dificilmente podem ser alterados para um dado nível de insumos e, por isso, deve-se concentrar esforços em maximizar os benefícios, ou seja, otimizar a produção. Dessa forma, há necessidade de se buscar aumento de produtividade, o que pode ser alcançado pelo incremento da capacidade de suporte das pastagens e/ou pela melhoria do ganho de peso individual. Capacidade de suporte A capacidade de suporte foi definida por Mott (1960) como sendo a taxa de lotação (número de animais por unidade de área) na pressão de pastejo (quilos de peso vivo por quilos de forragem disponível) ótima, ou seja, é a amplitude de utilização que permite um equilíbrio entre o ganho por animal e por unidade de área permitindo, desta forma, o maior rendimento por área. A disponibilidade de forragem determina a taxa de lotação e essa, por sua vez, controla simultaneamente a qualidade e a quantidade das pastagens, possibilita, ou não, que as plantas se mantenham produtivas e, ao mesmo tempo, define a produção animal. É fácil concluir daí, a importância de se considerar a interação entre 60 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte disponibilidade de forragem e produção animal quando da tomada de decisão. Uma das maneiras para se garantir disponibilidade adequada às demandas dos animais é proceder o ajuste da taxa de lotação. Em geral, grande proporção de forragem é produzida durante os períodos das águas, o que gera déficit de forragem durante o período seco. Consequentemente, as pastagens comportam elevado número de animais nas águas e esse número se reduz drasticamente durante a seca (Tabela 1). Assim, o pastejo controlado deveria ser o primeiro componente para qualquer sistema de pastejo. Nesse aspecto, é digna de menção a revisão feita por Iglesias et al. (1997) que retratou os resultados obtidos nessas últimas duas décadas em Cuba. Esses autores discutiram vários aspectos dos sistemas de produções de carne e leite desenvolvidos em diversas pastagens, incluindo os gêneros Brachiaria, Pennisetum, Panicum e Cynodon. Além dos resultados de produção eles discutiram a importância da definição das taxas de lotação para cada forrageira de acordo com o nível de insumo utilizado. De acordo com Walker (1995) os pesquisadores e especialistas em manejo de pastagens se tornaram obcecados em implementar pastejos rotacionados, como se isto fosse a base do manejo de pastagens. Está bem demonstrado, atualmente, que as diferenças entre os vários sistemas de pastejo são usualmente de pouca importância, quando comparadas àquelas decorrentes dos efeitos da pressão de pastejo. Desta forma, fica evidente que maior ênfase no manejo deve ser colocada na utilização da pressão de pastejo correta comparada com o sistema de pastejo. A utilização de uma taxa de lotação constante o ano todo é o método mais simples e mais utilizado. Define-se uma única taxa de lotação e o que for subpastejado nas águas sobrará para a seca. Para que se aumente a capacidade de suporte da propriedade é fundamental que se modifique a prática usual de se estabelecer a taxa de lotação com base na produção forrageira observada durante o período seco. Adubação das pastagens É comum nas regiões tropicais e subtropicais a ocorrência de solos ácidos, os quais geralmente têm baixo pH, baixos teores de cálcio II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 61 e magnésio trocáveis, teores relativamente elevados de alumínio trocável e de manganês disponível e baixa porcentagem de saturação por bases. Desta forma, a baixa fertilidade do solo é a maior limitação à intensificação da produção de carne em pastagem no Brasil, principalmente, em solos dos Cerrados. Na exploração de pastagens nesses solos, recomenda-se a escolha de forrageiras que sejam adaptadas a estas condições. Contudo, mesmo estas espécies apresentam, normalmente, resposta marcante à adubação (Tabela 1). Vale ressaltar, que os capins mais produtivos são mais exigentes em fertilidade e em manejo. Estudos realizados em solos da região dos Cerrados têm demonstrado que a saturação por bases trocáveis e os conteúdos de fósforo são fatores diretamente relacionados com a produtividade das pastagens e com a sua sustentabilidade (Macedo, 1997). Uma vez feitas estas correções, a produtividade é altamente dependente da adubação nitrogenada (Macedo, 1995). É importante observar, a necessidade de equilíbrio da adubação nitrogenada com o suprimento dos demais nutrientes. Isso pode ser exemplificado pelos resultados obtidos por Euclides et al. (1997b) em pastagens de gramíneas do gênero Panicum e Brachiaria recuperadas utilizando dois níveis de calagem e adubação (Tabela 1). Os acréscimos observados, nas taxas de lotação e na produção animal, de todas as gramíneas do nível de fertilização baixo (FB) para o nível alto (FA) refletem os aumentos da disponibilidade e da qualidade dessas pastagens (Tabela 1). Contudo, independente da gramínea, houve decréscimo nas taxas de lotação do primeiro para o terceiro ano de pastejo, sendo em média, de 2,1 para 1,4 UA/ha e de 2,6 para 1,5 UA/ha, para os FB e FA, respectivamente. Consequentemente, o decréscimo em ganho de peso vivo por área foi de 90 e 220 kg/ha/ano, respectivamente, para os FB e FA. Os teores de P no solo decresceram de 5,3 e 7,2 ppm para 3,5 e 4,6 ppm, para os piquetes adubados com FB e FA, respectivamente, do primeiro para o terceiro ano após fertilização. Isso pode explicar o declínio gradual da disponibilidade de forragem neste período e a conseqüente redução na taxa de lotação ao longo do tempo (Euclides et al., 1997b). 62 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Produção e produtividade de pastagens de diversas gramíneas submetidas a manejos variados Gramíneas Colonião Tobiatã Tanzânia Marandu B. decumbens Colonião Tobiatã Tanzânia Marandu B. decumbens Tobiatã Tanzânia Marandu B. decumbens Tobiatã Tanzânia Marandu B. decumbens Mombaça Tanzânia Massai Adubação Estabelecimento (kg/ha) 1.500 calcário 400 da fórmula 0-16-18 50 microelementos 3000 calcário 800 da fórmula 0-16-18 50 microelementos 400 da fórmula 0-20-20 50 microelementos 800 da fórmula 0-20-20 50 microelementos 2.700 calcário 500 fórmula 020-15 50 microelementos Manutenção (kg/ha) Sistema de pastejo Sem Contínuo Sem Contínuo 50 de N (anualmente) Contínuo Após 2 anos: 500 gesso e 2.000 calcário 50 de N (anualmente) Contínuo 2o ano: 500 gesso e 2.000 calcário 50 N (anualmente) 3o e 4o ano: 200 fórmula 0-20-20 e 1.600 calcário Rotacionado (7x35d) Taxa de lotação (UA/ha) Seca Águas 0,8 1,3 1,2 1,6 1,6 0,9 1,3 1,3 1,7 1,8 1,4 1,4 1,5 1,5 1,7 1,8 1,7 1,8 1,0 1,0 1,1 1,0 1,4 1,4 1,7 1,7 1,1 1,4 1,4 1,8 1,8 2,2 1,9 1,9 2,1 2,7 2,3 2,2 2,3 3,0 2,9 3,2 Ganho de peso Ganho de (g/cabeça/dia) peso Seca Águas (kg/ha/ano) 100 170 240 160 200 120 215 295 120 280 100 120 35 80 120 100 55 150 130 140 10 500 440 540 430 400 530 570 640 540 500 600 680 530 520 595 700 570 565 570 615 400 270 420 490 380 400 320 630 660 600 600 450 467 333 387 545 579 475 467 700 725 620 Referência Euclides et al., 1997b Euclides et al., 1997b Euclides et al., 2001b Euclides et al., 2001b Euclides et al., 1999 Euclides et al., 2000 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 63 Tabela 1 - Continuação... Gramíneas Tanzânia Mombaça Marandu Cameroon Mombaça Marandu Tanzânia Tanzânia Coastcross Adubação Estabelecimento (kg/ha) 2.700 calcário 500 fórmula 0-20-15 50 microelementos 2.000 calcário 400 de yorin e 300 de superfosfato simples Adubação para: P = 15ppm e V = 60% Adubação para: P = 20ppm e V = 70% Adubação para: P = 20ppm e V = 70% * kg/ha/período das águas Taxa de lotação (UA/ha) Seca Águas Ganho de peso Ganho de (g/cabeça/dia) peso Seca Águas (kg/ha/ano) Manutenção (kg/ha) Sistema de pastejo 100 N (anualmente) 3o e 4o ano: 200 fórmula 0-20-20 e 1.600 calcário Rotacionado (7x35 d.) 1,1 3,2 125 635 820 Euclides et al., 1999 Anualmente: Rotacio250 fórmula 0-20-20 nado 150 N e 60 K (2x30 d.) 1,9 2,0 1,8 4,7 5,0 3,5 383 409 452 474 455 520 596 623 573 Thiago et al., 2000 Rotacionado (3x36 d.) Rotacionado (3x36 d.) - 5,3 4,0 - 680 590 491* 437* Corrêa, 2000 - 5,8 - 680 803* - 7,5 - 835 922* Corrêa, 2000 Rotacionado (4x24 d.) - 7,6 -- 637 907* Anualmente: 1000 fórmula 20-05-20 Anualmente: 1000 fórmula 20-05-20 1500 fórmula 20-05-20 Anualmente: 1500 fórmula 20-05-20 Referência Adaptado de Corrêa, 2000 64 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Considerando-se que esse resultado foi conseqüência da queda de fertilidade no solo estabeleceu-se nova avaliação utilizando-se de uma adubação de manutenção (Euclides et al., 2001b). Os níveis de adubação dessa para N, P e K são apresentados na Tabela 1. Observouse a mesma tendência do ciclo anterior, ou seja, as taxas de lotação e os ganhos por animal e por área foram maiores nos piquetes adubados com FA. O primeiro e o terceiro anos apresentaram maiores taxas de lotação do que o segundo ano, sendo em média, para os pastos adubados com FB, 1,6; 1,3 e 1,5 UA/ha, e para os pastos adubados com FA, 1,9; 1,5 e 1,7 UA/ha, respectivamente, para o primeiro segundo e terceiro anos de utilização. Em parte, isso pode ser explicado pela correção da fertilidade de solo, em junho do segundo ano de utilização (Tabela 1), o que melhorou a produção das pastagens e consequentemente a taxa de lotação. Do segundo para o terceiro ano de utilização, no entanto, houve aumento na saturação por base no solo de 26% para 34% e de 32% para 40%, para as pastagens adubadas com FB e FA, respectivamente. O P (resina) disponível no solo também aumentou, no mesmo período, de 4,9 para 6,2 mg/L, nas pastagens com FA entretanto, não houve alteração na disponibilidade desse elemento nas pastagens com a menor adubação (3,2 mg/L). Provavelmente, além do crescimento do sistema radicular resultante da aplicação de cálcio e de gesso, o calcário aumentou o P lábil ligado tanto na fração orgânica quanto inorgânica, principalmente, por meio da mineralização da matéria orgânica (Euclides et al., 2001b). A correção de P e a aplicação anual de 50 kg/ha de N não foram suficientes para manter a produção de forragem e consequentemente as capacidades de suporte dessas pastagens. Isso pode ser explicado, principalmente, como conseqüência da queda acentuada nos teores de saturação por bases que atingiu valores inferiores a 30%, o que é muito baixo para essas gramíneas, exceto para B. decumbens (Macedo, 1997). É importante ressaltar, que apesar de as cultivares de P. maximum apresentarem maior produtividade, elas são menos tolerantes à acidez do solo e mais exigentes quanto à fertilidade. Assim, para se conseguir estabilidade de produção torna-se necessário utilizar adubações de manutenção mais freqüentes, especialmente, para as gramíneas do gênero Panicum. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 65 O efeito positivo da adubação de manutenção adequada pode ser observado pelos resultados obtidos por Euclides et al. (1999, 2000). Com correção e adubação no plantio seguidos por adubações anuais esses autores conseguiram manter pastagens de capins tanzânia, mombaça e massai (P. maximum) com alta produtividade por cinco anos (Tabela 1). Altas produtividades em pastagens dos capins elefante, marandu e mombaça (Tabela 1) também foram observadas por Thiago et al. (2000), e para as pastagens de capins tanzânia, mombaça, marandu e coastcross por Corrêa (2000) quando foram utilizadas adubações adequadas de implantação e de manutenção. Em condições edafoclimáticas normais, e mediante a inexistência de outra limitação, seguramente o nitrogênio é o fator de maior impacto na produtividade da pastagem. Na Tabela 1, pode-se observar o efeito da adubação nitrogenada em pastagens de capim-tanzânia (Corrêa et al., 2000; Euclides et al.,1999). Os pastos adubados com níveis mais elevados de nitrogênio, suportaram maiores taxas de lotação, as quais resultaram em maior produtividade, pelo fato de possibilitarem maiores produções de quilos de PV/ha. Observou-se que, quando se aumentou a adubação nitrogenada de 50 para 100 kg/ha (Euclides et al., 1999), e de 200 para 300 kg/ha (Corrêa, 2000) houve acréscimos de 1,9 e de 1,2 kg/ha de peso vivo, respectivamente, para cada quilo adicional de nitrogênio aplicado. Todavia, os maiores efeitos da adubação são observados diretamente durante o período das águas, especialmente, se não houver um estratégia estabelecida para incremento da taxa de lotação durante o período seco subseqüente. Taxa de lotação versus período seco Apesar de o efeito residual da correção e da adubação das pastagens aumentar a capacidade de suporte durante o período seco, o maior benefício é observado durante o período das águas (Tabela 1), quando as condições climáticas não são limitantes. Dessa forma, para se intensificar a produção das pastagens no período das águas, o produtor tem que estar preparado para a produção de alimentos suplementares para serem utilizados durante o período seco. Caso contrário, haverá animais excedentes nesse período, o que resultará em desperdício de investimento anterior e ineficiência do sistema de produção. Dentre as 66 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte diversas alternativas existentes para esse fim, as mais viáveis são: armazenamento do excesso de forragem produzida durante o verão, na forma de feno ou de silagem, ou a reserva de pastagens estrategicamente vedadas nas águas para pastejo direto durante o período crítico. Qualquer dessas alternativas deve ser implementada durante o período das águas. A integração entre pastejo e a produção de silagem de capim será apresentado nesse evento por Corrêa (2001), e a conservação de forragem por Pereira (2001). Assim, apenas a reserva do excesso de forragem na forma de feno-em-pé para pastejo direto durante o período crítico, será discutido brevemente. Essa prática é denominada de “pastejo diferido”, e consiste em se selecionar determinadas áreas de pasto e vedá-las à entrada de animais no final da estação de crescimento. As forrageiras mais indicadas para essa prática são aquelas que perdem lentamente o valor nutritivo ao longo do tempo, tais como as gramíneas dos gêneros Brachiaria (decumbens, capim-marandu), Cynodon (capins estrela, coastcross e tiftons) e Digitaria (capim-pangola). Já B. humidicola tem grande capacidade de acúmulo de forragem, mas seu valor nutritivo é baixo quando comparado ao das outras espécies de Brachiaria . Por outro lado, as gramíneas de crescimento cespitoso, tais como as dos gêneros Panicum (capins tanzânia, mombaça e tobiatã), Pennisetum (capim-elefante) e Andropogon (cvs. Planaltina e Baeti) quando vedadas por períodos longos apresentam acúmulo de caules grossos e baixa relação folha/caule. Portanto, não são indicadas para produção de fenoem-pé. É importante ressaltar que não se recomenda vedar áreas de B. decumbens com histórico de infestação de cigarrinhas-das-pastagens. Para conciliar maior produção com melhor qualidade, Euclides e Queiroz (2000) recomendaram a vedação escalonada das pastagens da seguinte forma: vedam-se 40% da área de pastagens destinada à produção de feno-em-pé no início de fevereiro para consumo de maio a fins de julho; e vedam-se os 60% restantes no início de março para utilização de agosto a meados de outubro. A área de pastagens vedada em fevereiro deverá ser menor do que a vedada em março, uma vez que essa pastagem apresentará maior produção de forragem por ter sido vedada em período mais favorável ao crescimento. Para aumentar o II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 67 acúmulo de forragem, esses autores ainda recomendaram a aplicação, em cobertura, de 50 kg/ha de N, na época da vedação. Utilizando-se a forrageira adequada e o manejo de vedação correto, essas pastagens apresentarão boa disponibilidade de forragem, entretanto, seu valor nutritivo será baixo. Dessa forma, a vedação das pastagens deve estar sempre associada a algum tipo de suplementação alimentar, tais como, sal mineral enriquecido com uréia, mistura mineral múltipla e concentrado energético-protéico. Desempenho animal As interações entre pressão de pastejo e os ganhos de peso, por animal e por área, estão bem discutidas na literatura (Mott, 1960; Maraschim, 1994). É importante ressaltar que aumentando-se a taxa de lotação, a produção por área é acrescida, e a produção por animal é reduzida, e isto nem sempre é desejável. Enquanto a produção por área é importante para o produtor, a produção por animal não deve ser esquecida, uma vez que o desempenho e a terminação do animal são de grande importância, pois estes podem influenciar o retorno econômico do empreendimento. Isso reforça a importância de as pastagens serem manejadas o mais próximo possível da sua capacidade de suporte. Nesse contexto, vale mencionar os resultados obtidos por Pereira e Batista (1991) em pastagens de B. decumbens e por Biachin (1991) em pastagens de capim-marandu. Esses autores mostraram a importância de se utilizar uma taxa de lotação adequada como forma de terminar novilhos aos 28 ou 30 meses de idade. Em ambos os experimentos, independentemente do aumento de produtividade, em taxas de lotação mais altas, os animais precisaram de seis meses a mais para atingir o peso de abate. A adubação e o manejo corretos das pastagens têm proporcionado sensíveis melhorias nos índices de produtividade (Tabela 1) porém, essas estratégias não são suficientes para resolver o problema de alimentação do gado no período seco. Euclides et al. (1997a, 2001a), mostraram que é possível reduzir a idade de abate de animais suplementados durante o período seco em pastagens de B. decumbens. Essa redução variou de 2 a 9 meses, dependendo da 68 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte suplementação utilizada. Além disso, houve aumentos, de 24% a 30%, na capacidade de suporte dos pastos, onde os animais receberam suplementação. No caso da suplementação alimentar em pasto, o que deve ser feito é complementar o valor nutritivo da forragem disponível de forma a se atingir o ganho de peso desejado. Assim, fica evidente a necessidade de se terem estimativas do consumo e da qualidade da forragem. Além disso, faz-se necessário conhecer as exigências nutricionais dos animais. Várias opções de suplementos para diferentes categorias animais, ganhos de peso e época do ano foram apresentadas e discutidas por Thiago e Silva (2000) e Euclides (2000). Suplementação durante o período seco Nesse período, a suplementação alimentar tem como objetivo complementar a qualidade e/ou quantidade da forrageira. Apesar de a estratégia de suplementação ser dependente do objetivo que se deseja alcançar, sua escolha deverá ser também fundamentada em uma análise econômica. É importante ressaltar que se essa estratégia de suplementação estiver sendo utilizada para animais em recria, ou seja, se os animais continuarão nas pastagens durante o período das águas subseqüentes, o suplemento deve ser balanceado para ganho igual ou inferior àquele esperado durante o período das águas subseqüente. Quando o objetivo da suplementação é ganho de peso de até 250 gramas dia, há necessidade de se incluir energia e proteína no sal mineral. Nesse caso, a mistura tem sido, comumente, denominada de “Mistura Mineral Múltipla”. Essa mistura deve complementar os macro e os microelementos das forrageiras e suplementar proteína e energia. Geralmente, são constituídas de cloreto de sódio (controlador da ingestão), mistura mineral, uréia, uma fonte de proteína verdadeira e uma fonte de carboidrato solúvel. Recomenda-se essa suplementação, durante todo o período seco, e o consumo diário deve ser de 0,1% a 0,2% do peso vivo. Outro procedimento que pode ser utilizado para otimizar o uso das pastagens, e manter níveis mais elevados de produção, é a suplementação alimentar com mistura balanceada de concentrados. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 69 Nesse caso, as taxas médias de ganho, durante o período de suplementação, variam entre 500 gramas/dia e 900 gramas/dia e serão em função da quantidade de suplemento oferecido (0,6% a 1% do peso vivo), do potencial do animal, da sua condição corporal, da forragem disponível, do tamanho dos pastos, da distância das aguadas e da declividade do terreno. Esta mistura pode ser balanceada utilizando-se de alimentos energéticos e protéicos, e mistura mineral. A uréia, normalmente, entra nas formulações em razão do preço e da necessidade de nitrogênio não-protéico. A adição de ionóforos e de calcário calcítico, também são recomendados. O cloreto de sódio pode entrar na formulação como controlador do consumo. Na utilização de qualquer uma dessas misturas, o volumoso é a forragem da pastagem (diferida ou áreas novas em formação), portanto, a disponibilidade dessa não pode ser limitante. Quando a quantidade de forragem é limitante, além da utilização de concentrados, há necessidade de se fazer a suplementação com volumosos. Maiores detalhes sobre a utilização de suplementos múltiplos para a recria e engorda de bovinos em pastejo (Paulino, 2001), e sobre suplementação com forragem conservada (Pereira, 2001) serão apresentados nesse evento. 70 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 2 - Médias dos pesos vivos iniciais e finais, dos ganhos de peso e dos consumos de diferentes tipos de suplementos (mistura balanceada de concentrados, MBC e mistura mineral múltipla, MMM), por novilhos e bezerros desmamados, em diferentes pastagens, durante o período seco Ano Pastagens 1997 1998 1999 2000 1999 B. brizantha cv. marandu MBC1 B. brizantha cv. marandu B. decumbens MBC2 MBC2 B. decumbens e B. brizantha P. maximum cv. Tanzânia 3 1999 2000 2000 1 2 3 4 Suplemento Novilho MBC MMM4 MBC3 MMM4 Nelore Nelore Nelore Nelore Nelore Nelore Mestiço - 96 157 177 143 98 98 98 0,53 0,85 0,76 0,72 0,82 0,74 0,73 177 191 188 185 175 227 281 218 255 246 240 232 288 361 Ganho PV kg/dia 0,427 0,415 0,330 0,391 0,580 0,620 0820 Nelore Nelore - Mestiço Mestiço 115 115 115 115 0,72 0,16 0,70 0,17 324 326 222 220 390 358 312 281 0,550 0,264 0,786 0,534 - Bezerro Período Consumo desmamado dias % PV PV inicial kg PV final kg Referência Corrêa et al., 2000 Euclides, 2001 Euclides, 2001 Euclides, 2001 Euclides, 2001 MBC - O suplemento era constituído de milho moído (78,65%), farelo de soja (20%), uréia (1%), carbonato de cálcio (0,2%), sulfato de amônio (0,3%) e rumensin (0,04). Ainda foi fornecido, à parte, sal mineral à vontade. MBC - O suplemento era constituído de milho moído (77,16%), farelo de soja (19,5%), uréia (2%), calcário calcítico (1%), sulfato de amônio (0,3%) e rumensin (0,04). Ainda foi fornecido, à parte, sal mineral à vontade. MBC - O suplemento era constituído de milho moído (75,0%), farelo de soja (21,2%), uréia (2,06%), calcário calcítico (1,4%) e sulfato de amônio (0,3%) e rumensin (0,04%). ). Ainda foi fornecido, à parte, sal mineral à vontade. Euclides (2001). MMM - O suplemento era constituído de refinazil (47,3%), farelo de soja (26,0%), uréia (5%), sulfato de amônio (0,7%), sal branco (13%), sal mineral (7,8%) e rumensin (0,2%). Ainda foi fornecido, a parte, sal mineral à vontade. Euclides (2001) II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 71 Na Tabela 2 são mostrados alguns exemplos de como a composição e a quantidade dos suplementos oferecidos, o genótipo animal e diferentes forrageiras podem influenciar os desempenhos dos animais. Independente desses fatores, todos animais suplementados ganharam peso durante o período seco. Algumas observações podem ser feitas a partir desses resultados. O efeito da interação entre a pastagem e o suplemento e sua importância na eficiência da suplementação podem ser verificado, pela comparação dos resultados obtidos por Corrêa et al. (2000) e por Euclides (2001), em condições climáticas semelhantes, ou seja no período seco de 1999. Em ambos os casos, bezerros Nelore desmamados foram suplementados com MBC similares, em pastagens de capim-marandu, observa-se que os consumos dos suplementos foram de 1,64 e 1,68 kg/dia, para MBC1 e MBC2, respectivamente, e os ganhos de peso diários médios com eles obtidos foram de 330 e 580 g (Tabela 2), resultando em conversões iguais a 4,97 e 2,90 kg de concentrado para cada kg de ganho de peso vivo, sugerindo que o maior efeito da suplementação conseguida por Euclides (2001), se deveu à melhor condição da pastagem utilizada, uma vez que essa foi vedada e a disponibilidade de forragem não foi limitante, decrescendo de 4,3 para 2,2 t/ha de MS, do início para o fim do período seco. Já na outra situação, a disponibilidade de forragem foi limitante, tanto que segundo os autores foi necessário prolongar o período de suplementação. Apesar de a disponibilidade de forragem não ter sido um fator limitante, Euclides (2001) verificaram que durante o período seco foram observados decréscimos nos valores nutritivos dessas pastagens, sendo maiores para as pastagens de braquiárias (Tabela 3). Nesse caso, pode-se observar outra interação importante verificada entre o suplemento e a qualidade da forrageira. O melhor valor nutritivo apresentado pela pastagem de capim-tanzânia, provavelmente, foi o responsável pelo melhor desempenho dos animais, independente do suplemento utilizado. Por outro lado, independente do pasto, os animais que receberam MBC3 apresentaram melhores desempenhos do que os suplementados com MMM4, uma vez que, o consumo de MBC e MMM para cada quilo de ganho de peso vivo foi, respectivamente, de 2,4 e 0,8 kg, para as pastagens de tanzânia, e 4,7 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte 72 e 2,1 kg, para as pastagens de braquiárias (Tabela 2), sugerindo, desta forma, que os animais recebendo o MBC substituíram parte do consumo de forragem pelo suplemento 2. O suplemento MMM, por outro lado, promoveu, principalmente, o efeito aditivo (Euclides, 2001). Vale ressaltar que, apesar de parte das melhores conversões dos suplementos em peso vivo nas pastagens de tanzânia, poder ser explicada pela qualidade da dieta, deve-se considerar a categoria animal. No capim-tanzânia foram suplementados bezerros desmamados e nas braquiárias, novilhos de sobreano. Tabela 3 - Médias dos conteúdos de proteína bruta (PB) e das digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) de amostras simulando o pastejo animal, durante o período de suplementação B. decumbens* B. brizantha* Tanzânia PB DIVMO PB DIVMO PB DIVMO Maio 8,8 58,0 9,4 59,6 13,6 68,2 Julho 7,6 57,6 5,8 56,5 9,7 57,3 Setembro 5,1 53,8 4,4 51,3 8,1 54,4 *Pastagens vedadas: 40% da área em fevereiro e 60% da área em março. Euclides (2001) Suplementação durante o período das águas O efeito substitutivo deve ser sempre considerado quando se pretende suplementar durante o período das águas. Geralmente, quando a forrageira é de alta qualidade, o animal reduz o consumo de forragem substituindo-a pelo concentrado, em conseqüência do controle quimeostático, que é sensível à quantidade de energia digerível ingerida. A importância desse controle de consumo pode ser observada pelos resultados obtidos por Euclides et al. (1997a) quando suplementaram novilhos em pastagens de B. decumbens com uma mistura de concentrados na proporção de 0,8% do PV dos animais. As médias de ganhos de peso, durante o período das águas, foram de 610 e 490 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 73 g/dia, para os animais recebendo ou não suplementação, respectivamente. Nesse caso, os animais consumiram 14 kg de concentrado para cada quilo adicional de peso vivo. Apesar da redução observada na idade de abate, o consumo de concentrado foi muito alto para a taxa de ganho de peso verificada, o que tornou essa suplementação economicamente inviável. Dessa forma, para se evitar esse efeito de substituição, a suplementação, durante o período das águas, deve ser utilizada para corrigir nutrientes específicos que estão deficientes na forrageira. Por exemplo, mesmo no início do período das águas, as pastagens de B. decumbens e B. brizantha, sob pastejo contínuo, apresentam conteúdos de PB inferiores (Euclides, 2000) ao necessário para produção máxima que, segundo Ulyatt (1973), é de 12% para todos os propósitos em um rebanho de bovino de corte. Durante esse período, também são encontradas deficiências macro e micronutrientes nas forrageiras. Assim, a utilização de uma mistura mineral múltipla poderia corrigir essas deficiências. Euclides (2001) suplementou novilhos, em pastagens de B. decumbens e B. brizantha, com uma MMM na base de 0,2% do PV. Os novilhos suplementados apresentaram ganhos médios de 740 g/dia e os não-suplementados de 535 g/dia. Nesse caso, o consumo da MMM, durante 184 dias, foi de 90 kg por novilho, a um custo de R$ 0,29 (cotação abril de 2001). Apesar de a diferença de ganho de peso ser pequena, aproximadamente, 200 g/dia, ela resultou em novilhos mais pesados (40 kg de PV) com um custo total do concentrado igual a R$ 26,00/novilho. Essa pequena diferença em desempenho pode representar grande diferença no sistema como um todo, uma vez que esse ganho é suficiente para que o animal seja terminado no período seco subseqüente, quer seja utilizando-se suplementação em pasto, quer seja pelo uso de confinamento. Assim, mesmo que a análise isolada desse efeito não represente ganho econômico direto, ele pode representar impacto importante no sistema completo. É importante ressaltar que a intensificação do sistema de produção tem como uma de suas conseqüências comuns, a diminuição da margem de lucro/animal. Vale enfatizar que a otimização dos investimentos realizados em alimentação só será obtida com o uso de animais adequados. 74 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte GENÓTIPO DO ANIMAL É importante ressaltar que a intensificação da utilização de pastagens deve ser acompanhada de modificações no sistema de produção de modo a possibilitar a sua otimização com relação ao ganho de peso e à competitividade do setor. Segundo Euclides Filho (2000) quanto ao genótipo do animal, a pecuária de corte moderna deverá requerer animais que sejam precoces, tanto no tocante à reprodução quanto ao acabamento, férteis, adaptados, que apresentem boa eficiência bionutricional e bom ganho de peso. Considerando-se sistemas mais intensificados, onde a idade máxima de abate é de, aproximadamente, 26 meses, pode-se considerar a possibilidade de se utilizarem algumas estratégias de manejo que, combinadas ou não com o genótipo animal, contribuirão para melhoria da eficiência. Dessa forma, podem ser usados animais puros ou mestiços, de ambos os sexos, os quais podem ainda, ser intactos ou castrados. Tais alternativas, sugeridas por Euclides Filho (2000) como sendo importantes estratégias para se produzir carne de qualidade com constância e de forma uniforme durante o ano todo, têm se revelado capazes de contribuir para tal. Essas estratégias podem ainda segundo esse autor, como estratificação dos animais na desmama considerandose o peso. Os animais mais pesados, com pesos acima de 240 kg podem ser confinados imediatamente para produção de novilhos superprecoces, aqueles com pesos entre 210 kg e 240 kg podem receber suplementação alimentar, por 30 dias ou 60 dias quando serão confinados. Aqueles com peso entre 180 kg e 210 kg devem ter suas dietas suplementadas durante o primeiro período seco devendo ser confinados durante o segundo período seco. Bezerros com pesos inferiores a 180 kg deverão ser recriados e terminados em pasto, podendo ser suplementados durante a segunda seca, o que possibilitaria redução de, aproximadamente, 60 dias na idade de abate. Para sistemas com uso intensivo de pastagens, todavia, essa estratégia deve ser ajustada. Nesse caso, o primeiro estrato pode ou não seguir o manejo recomendado, enquanto os outros são recriados e terminados em pasto, podendo receber suplementação alimentar e/ou serem confinados durante a segunda seca. O importante dessas alternativas é que elas visam à redução do ciclo de produção o que, por II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 75 sua vez, é fundamental para a viabilidade econômica da atividade. É importante ressaltar que a otimização da produção será obtida quando a maximização da produção forrageira for utilizada por animais de maior potencial produtivo. Discussão mais detalhada sobre a importância do genótipo e sua interação com o sistema de produção será apresentada nesse evento (Euclides Filho, 2001). A combinação apropriada da alimentação com o potencial genético do animal, levando-se em consideração o mercado e a necessária melhoria da qualidade da mãode-obra, tem como conseqüência natural, a intensificação do sistema. SISTEMA INTENSIVO DE PRODUÇÃO A intensificação do sistema, em maior ou menor, fica na dependência do objetivo do empreendimento, e consequentemente, do mercado a ser atendido, da capacidade de desembolso e do retorno esperado. A princípio, o sistema intensivo de manejo de pastagem, tem por característica principal a exploração de forrageiras de alta produtividade, durante o período das águas. Para conduzir explorações pecuárias neste sistema, a aplicação de fertilizantes é essencial, em conseqüência da remoção intensa de forragem e da necessidade de rebrota rápida. É importante lembrar, entretanto, que, se por um lado, as pastagens comportam elevado número de animais nas águas, este número se reduz drasticamente durante a seca. Então, para se intensificar a produção das pastagens no período das águas, o produtor tem que estar preparado para a produção de alimentos suplementares para serem utilizados durante o período seco. Corsi (1986) criticou a grande ênfase dada na busca de alternativas tecnológicas que explorem o acúmulo de forragem produzida durante o final do verão (produção de feno-em-pé), quando a temperatura, o fotoperíodo, a umidade e os nutrientes ainda não são, de todo, limitantes. Segundo esse autor, essa alternativa tem a desvantagem de não possibilitar grandes mudanças nas taxas de lotação das pastagens, uma vez que o vigor da rebrota durante o período seco é limitado por fatores ambientes. Por conseguinte, o único alimento disponível para o gado seria aquele oriundo do acúmulo forrageiro observado no final das chuvas. Dessa forma, o número de animais a ser 76 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte alimentado durante o período crítico deve ser muito bem equacionado, pois só assim, será possível estender o período de pastejo. Incrementos na taxa de lotação, certamente, comprometeriam o volume forrageiro acumulado e, consequentemente, a disponibilidade de forragem durante o período seco. Todavia, o diferimento de pastagens pode ser conduzido dentro de um sistema intensivo como evidenciado por Euclides (2001). Esse autor observou ser possível triplicar a capacidade de suporte da área, utilizando-se parte das pastagens intensivamente, durante o período das águas, mantidas com reposição anual de N-P-K micronutrientes e calagem, produzindo-se feno-em-pé e suplementação alimentar durante o período seco, combinadas com um biótipo animal adequado. Esse sistema é constituído por pastagens de três gramíneas com a seguinte composição: 30% da área de capim-tanzânia, 35% de capim-marandu e 35% de B. decumbens. Durante o período das águas, o capim-tanzânia está sendo utilizado intensivamente, enquanto os pastos de braquiárias são subutilizados, sendo vedados a partir de fevereiro. Esse manejo de pasto é a base da produção do boi “verdeamarelo”. Durante o período seco, a utilização dos pastos é revertida, as braquiárias são utilizadas intensivamente e o capim-tanzânia é subpastejado. Além disso, nesse período, todos animais recebem suplementação alimentar. Os animais que vêm sendo utilizados nesse sistema são Nelore, Angus-Nelore e Braford-Nelore. Vale ressaltar, que os animais entram nesse sistema logo após a desmama e estão atingindo o peso de abate entre 16 e 25 meses de idade. Esse sistema aliando manejo adequado, genótipo apropriado e suplementação alimentar durante o período seco tem se mostrado bioeconomicamente vantajoso. Apesar de não alcançar os níveis propostos por Corsi e Nussio (1992) ele, atualmente, se constitui em uma alternativa de maior alcance, especialmente, pela maior facilidade de manejo e pelos menores desembolsos requeridos com insumos. Mesmo considerando-se um sistema de ciclo completo, ou seja, cria, recria e engorda, o manejo intensificado das pastagens possibilita incrementos substanciais na produção de carne/hectare, conforme Corrêa et al. (2000). Nesse caso, as pastagens foram formadas por diferentes tipos de gramíneas, B. brizantha, B. decumbens e Tanzânia. Todos os pastos receberam adubação de manutenção, anualmente. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 77 Foram utilizados animais Nelore. Os machos, durante a recria, receberam suplementação alimentar durante o período seco e foram confinados no segundo período seco. Com esse manejo foi possível produzir 101 quilos de equivalente-carcaça/hectare/ano, o que representou, aproximadamente, um incremento de 200% em relação a média brasileira. Essa medida, equivalente-carcaça, é a que melhor expressa a eficiência de produção de um sistema de produção completo. É importante ressaltar que além dos resultados biológicos, esse sistema se mostrou economicamente viável. Segundo esses autores, a intensificação do uso de insumos, resultante da adubação das pastagens e suplementação alimentar em pasto e terminação em confinamento, aumenta a complexidade do sistema de produção. A estrutura de custos é significativamente alterada, com os custos explícitos (envolvendo desembolso de dinheiro), aumentando sua participação nos custos totais. Isso passa a exigir um gerenciamento mais rigoroso, sem o que a viabilidade do negócio pode ficar comprometida. Dessa forma, a maior utilização de capital e de tecnologia tem como conseqüência maiores probabilidades de maior lucro, mas, por outro lado resultam em maior complexidade e aumento de risco, o que por sua vez requer melhor gerenciamento. A diversificação de pastagens é uma prática recomendada e, na maioria das propriedades, há áreas indicadas para diferentes espécies forrageiras. Recomenda-se que aquelas áreas que apresentam alta produtividade tenham seu uso concentrado na época de crescimento forrageiro mais intensivo, e de preferência, em manejo rotacionado, para permitir melhor aproveitamento da forragem produzida. Por outro lado, as forrageiras mais apropriadas para o diferimento poderiam ser utilizadas menos intensivamente durante as águas para serem vedadas no fim do verão, pastejadas durante a seca. CONSIDERAÇÕES FINAIS 3 Sistemas de produção com nível de intensifocação considerado médio-alto podem ser bioeconomicamente atrativos, além de apresentarem grande potencial de expansão. 3 A melhoria do nível nutricional dos animais deve ser acompanhada de melhoria do potencial genético do animal. 78 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte 3 Para que a produção de carne bovina em pastagens seja intensificada, há necessidade de forrageira adequada para o período seco. 3 O nível de intensificação a ser adotado fica na dependência da região, do objetivo e das metas do empreendimento, do mercado e da qualidade da mão-de-obra. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADJEI, M.B.; MISLEVY, P.; WARD, C.Y. 1980. Response of tropical grasses to stocking rate. Agron. J. 72: 863-868. ALMEIDA, E.X.; MARASCHIN. G.E.; HARTHMANN, O.E.L.; RIBEIRO FILHO, H.M.N. 1997.. Dinâmica da pastagem de capim elefante anão cv. Mott e sua relação com o rendimento animal. . 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Considerações sobre índices de produtividade da pecuária de corte em Mato Grosso do Sul. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 53p. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 7). MELHORAMENTO GENÉTICO DA PRECOCIDADE SEXUAL NA RAÇA NELORE Fábio Dias1 ; Joanir P. Eler2 ; José Bento S. Ferraz2 ; Josineudson A. II de V. Silva3 1 Zootecnista, MSc. Agro Pecuária CFM Ltda, Av. Feliciano Sales Cunha, 1330. São José do Rio Preto, SP. E mail:[email protected] 2 Docente do Grupo de Melhoramento Animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, Pirassununga, SP. Caixa Postal 23, 13.630 – 970 Pirassununga, SP. E mail: [email protected] 3 Bolsista de Pós-Doutorado da FAPESP. FZEA/USP Introdução Em qualquer sistema de produção de gado de corte, a reprodução é um componente de grande importância para um desempenho econômico lucrativo. Várias são as citações regularmente publicadas em revistas especializadas sobre a contribuição da reprodução para a rentabilidade da pecuária de corte. Embora a ênfase quase sempre tenha sido dada à seleção para desempenho ponderal, os criadores de gado de corte conhecem os benefícios potenciais da seleção para características reprodutivas. Após a publicação de trabalhos desenvolvidos na Universidade do Colorado (Evans et ali., 1999 e Doyle et ali., 2000) e após várias análises realizadas na raça Nelore, os quais foram agora enviados para publicação (Eler et ali., 2001), a Agropecuária CFM Ltda publicou em seu “Sumário de Touros Nelore 2000”, uma lista dos melhores touros para uma característica relacionada com a precocidade sexual, medida diretamente na fêmea e que, portanto, faz parte dos seus objetivos de seleção. Esta característica é a prenhez de novilhas, que pode ser definida como a observação de uma novilha conceber e permanecer prenhe até o diagnóstico de gestação, dado que a ela teve oportunidade de ser acasalada. No referido Sumário de Touros, a característica foi designada como Probabilidade de Prenhez de Novilhas (PP14). No trabalho enviado para publicação em revista internacional a designação da característica foi mantida (Eler et al., 2001). As metodologias de análise de características reprodutivas, medidas diretamente na fêmea, tiveram desenvolvimento mais lento e estas características foram até agora, pouco exploradas em termos 84 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte práticos. Algumas razões poderiam ser citadas para esse menor desenvolvimento: 1) conceito “pré-estabelecido” de que características relacionadas com a fertilidade de fêmeas são de baixa herdabilidade e por isto de difícil mudança genética; 2) as associações de raça não pediam dados de prenhez de novilha aos criadores e, por isto, não se dispunha de dados para análise; e, 3) o desenvolvimento de procedimentos analíticos para dados categóricos, como é o caso da Probabilidade de Prenhez, é recente. Além disto, os procedimentos são um pouco mais complexos do que aqueles utilizados para características representadas por variáveis contínuas, como as características de desempenho ponderal, por exemplo. Estudos recentes na Universidade do Colorado apresentam estimativas de herdabilidade variando entre 0,14 e 0,27 para a Probabilidade de Prenhez de Novilhas. Trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Melhoramento Animal (GMA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP/Pirassununga) revelam herdabilidade de 0,55 (Eler et ali., 2001). Há uma razão lógica para se acreditar nesta herdabilidade alta. A raça Nelore, ao contrário das raças Hereford e Angus, analisadas no Colorado, não são selecionadas para precocidade. A taxa reprodutiva é baixa. Taxas reprodutivas muito baixas poderiam levar à estimação de coeficientes de herdabilidade mais altos. As diferenças entre reprodutores são visíveis e grandes em populações com baixas taxas reprodutivas. Observações práticas na população permitem também constatar o controle genético da precocidade sexual. CARACTERÍSTICA ECONOMICAMENTE IMPORTANTE Os programas de melhoramento genético de bovinos de corte têm utilizado com muita ênfase o perímetro escrotal (PE). Esta característica é no entanto apenas indicadora da fertilidade da novilha, principalmente da idade à puberdade. Por outro lado, a Probabilidade de Prenhez é medida diretamente na novilha, leva em conta a sua fertilidade inerente e, por isto, é a característica econômica de interesse, ou o objetivo de seleção. A característica tem várias propriedades que a tornam um candidato à inclusão nos objetivos de seleção: os registros II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 85 dos dados de prenhez de novilha não têm custos adicionais, pois já são normalmente controlados pelos criadores. Os métodos de diagnóstico de prenhez estão bem estabelecidos (palpação retal ou ultra-som, por exemplo), os procedimentos analíticos já foram desenvolvidos e a DEP pode ser informada em porcentagem. A predição do mérito genético (Diferenças Esperadas de Progênie -DEP’s) para Probabilidade de Prenhez tem grande potencial para melhorar a fertilidade da novilha e custa muito pouco. Para uma melhor interpretação desta DEP, tome-se o seguinte exemplo de dois touros extremos da análise realizada pelo GMA (Eler et ali., 2001), touros A e B, sendo cada um acasalado com grupos diferentes de vacas do mesmo rebanho. Para simplicidade, assuma-se que toda a progênie é formada de novilhas, todas são retidas para acasalar, e todas têm oportunidade igual no acasalamento. O touro A tem uma DEP de PP14 igual a 25 e o touro B uma DEP igual a –25. Em média, as novilhas filhas do touro A terão uma probabilidade 50% maior de conceber e permanecer prenhes quando comparadas com as filhas do touro B. Este foi o caso extremo mas, para a maioria dos touros, as diferenças, embora menores, são significativas. Assim, a seleção baseada nas DEPs para PP14 levaria a um rápido progresso genético para a precocidade sexual. Para a predição das DEPs é, no entanto, fundamental a percepção e o interesse dos criadores. Nas raças européias, quando se fala de prenhez de novilha está implícito que é em torno de um ano de idade. Para os zebuínos, a idade de reprodução sempre foi tida como 24 meses ou mais. No caso de seleção para precocidade, como na raça Nelore, por exemplo, há necessidade de expor as fêmeas jovens ao touro ou inseminá-los. Só recentemente, grupos como a CFM iniciaram este trabalho, expondo todas as novilhas aos 14 meses de idade, independentemente do peso. Os resultados da CFM são encorajadores e irão certamente desafiar as Associações de Criadores a colher os dados de prenhez de novilha e, quem sabe, dentro de algum tempo, desenvolver também as suas DEPs para PP14. Ao se dar ênfase à característica Probabilidade de Prenhez, poderia então ser argumentado que a coleta de dados de perímetro escrotal (PE) seria então um esforço perdido! Na verdade não é. O perímetro escrotal, avaliado em torno dos 14 meses de idade, é um bom preditor da puberdade da novilha nesta mesma idade. Trabalhos 86 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte recentes desenvolvidos pelo GMA têm mostrado correlação genética negativa (portanto favorável) de até 40% com idade ao primeiro parto e correlação positiva de 35% com precocidade de acabamento que, por sua vez, poderia estar relacionada com a precocidade sexual. Deve-se, no entanto observar que se trata de PE aos 14 meses correlacionado com idade ao primeiro parto de fêmeas que foram expostas pela primeira vez aos 14 meses de idade. Mais importante ainda seriam os procedimentos analíticos utilizados em análises de características múltiplas permitindo que os dados de perímetro escrotal contribuam com informações para aumentar a acurácia da predição das DEPs para Probabilidade de Prenhez (Evans et al.,1999; Doyle et al., 2000). As análises têm indicado, no entanto, que a relação entre PE e Probabilidade de Prenhez de Novilhas não é linear. A forma desta relação genética precisa ser bem determinada para que o perímetro escrotal seja incorporado rotineiramente à avaliação genética da Probabilidade de Prenhez. A obtenção da correlação entre perímetro escrotal e PP14 em análise bi-característica tem apresentado problemas analíticos que ainda necessitam ser solucionados. Uma forma alternativa de avaliar a relação entre as duas características seria a utilização de grupos genéticos. Trabalhos da Universidade do Colorado mostraram a não linearidade da correlação genética em raças européias. Na raça Nelore foram realizadas pelos pesquisadores do GMA, duas análises uni-característica para obtenção das DEPs para PP14 e para PE (ainda não publicado). Na análise para PP14, os animais fundadores (com pai e/ou mãe desconhecidos) foram classificados de acordo com suas DEPs para PE, formando assim 5 grupos genéticos. Para esses animais fundadores, os pais foram substituídos pelo grupo genético correspondente. A análise para PP14 foi novamente processada e a solução para os grupos genéticos mostrou que os animais com DEPs mais altas para PE apresentavam 10% a mais de probabilidade de prenhez do que os animais com DEP em torno de zero. A análise reversa foi também realizada, ou seja, grupos genéticos para PP14 substituindo os pais dos animais fundadores na análise de PE. Os resultados mostraram que os animais de DEPs mais altas para PP14 são também os melhores para PE. A partir da incorporação do PE nas análises de PP14 e obtenção das DEPs para esta característica, as DEPs para Perímetro Escrotal não II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 87 seriam mais usadas nas decisões de seleção porque a acúracia da seleção seria mais baixa com a utilização simultânea das duas características. Embora possa parecer o contrário, é intuitivo pensar que numa tomada de decisão de seleção, a utilização das duas informações para o mesmo objetivo seria um complicador desnecessário uma vez que uma delas já estaria incorporada na outra. A Probabilidade de Prenhez é uma característica que poderá revolucionar a seleção para precocidade sexual nas raças zebuínas, mas para a predição das DEPs é fundamental a percepção e o interesse dos criadores. Há necessidade de expor os animais jovens ao touro ou inseminá-los. Há necessidade de identificação dos lotes de vacas expostas, para formação de grupos contemporâneos adequados. Os resultados da CFM são encorajadores e, além de colocar no mercado touros com maior probabilidade de produção de filhas que emprenham aos 14 meses de idade, irão certamente desafiar outros grupos privados e e/ou associações de criadores a colher dados de prenhez de novilhas no sentido de melhorar a precocidade sexual na raça Nelore. Em algumas regiões, e dependendo da disponibilidade de pastagens, poderia ser discutido um programa alternativo de prenhez de 18 meses. Em relação ao programa tradicional de prenhez aos 24, este teria a vantagem de adiantar o parto em seis meses, permitindo um maior descanso antes da próxima estação de monta e conseqüentemente aumentando a taxa de prenhez com possível diminuição da porcentagem de descarte de fêmeas primíparas. Isto implicaria, no entanto, em uma estação de monta especial ou “fora de época”, com sérios complicadores para o manejo da propriedade. Não acreditamos todavia que esta alternativa seja um substituto para o programa de prenhez aos 14 meses. UM PROGRAMA DE SELEÇÃO PARA PRECOCIDADE SEXUAL No programa da Agro-Pecuária CFM, o PE sempre fez parte do índice de seleção e as fêmeas que não emprenham aos dois anos sempre foram descartadas. Em 1991 iniciou-se uma estação de monta “fora de época” para prenhez aos 18 meses, que ainda é utilizado em uma das fazendas. Em 1994 foi iniciado o programa de prenhez aos 14 meses, com todas as fêmeas desmamadas no rebanho participando da 88 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte estação de monta. Em geral tem sido utilizada a monta natural, controlada ou com reprodutores múltiplos. No primeiro ano a taxa foi muito baixa, em torno de 11%, passando a uma média atual de cerca de 25%, sendo que a última safra já atingiu 40% de novilhas prenhes em uma das fazendas. Nesta fazenda, as fêmeas da safra 2000 foram assim classificadas: Total de fêmeas prenhes Fêmeas com primeiro parto em torno de 24 meses Fêmeas com primeiro parto até 36 meses Uma indicação do controle genético da precocidade sexual pode ser vista na tabela abaixo que se refere à estação de monta de 2000 e que tendem a confirmar a estimativa elevada do coeficiente de herdabilidade. Coeficiente de herdabilidade Taxa de prenhez entre touros Filhas de Fêmeas comuns (não precoces) Filhas de vacas super precoces Touros “Tops” (tabela a seguir) 55% (estimado recentemente) Variando de 0 a 55% 19% de prenhez 40% de prenhez (Fazenda SF) Vários filhos entre os líderes para PP14 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 89 90 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte ADAPTAÇÃO DAS FÊMEAS SUPER PRECOCES AO SISTEMA DE PRODUÇÃO Outro aspecto a ser considerado é a adaptação das fêmeas super precoces ao sistema de produção exclusivamente em pasto. Alguns elementos indicam que as fêmeas que parem aos 2 anos não são prejudicadas neste sistema. a) na safra 2.000 a taxa de prenhez foi de 85%. b) as fêmeas adultas que tiveram o primeiro parto aos 24 meses apresentaram taxa de prenhez semelhante às demais do rebanho. c) a correlação entre idade ao primeiro parto e peso aos 550 dias foi próxima de zero. METAS DO PROGRAMA A meta final do programa de melhoramento para precocidade sexual proposto pela empresa é ter 100% das fêmeas parindo aos 24 meses. A situação atual permite prever que a meta poderá ser alcançada em poucos anos. a) hoje são 1.600 fêmeas super precoces (FSP). Mais 700 estão sendo incorporadas em 2001. b) pela estratégia atual (monta aos 14 meses, com 25 a 30% de prenhez), pode-se atingir 8.000 fêmeas super precoces em mais 9 anos. a) todavia, utilizando-se transferência de embriões (TE) das fêmeas super precoces, o tempo poderá ser encurtado para 6 anos. b) há ainda a chance da taxa de prenhez aumentar com a seleção de touros baseada na DEP para PP14, iniciada na estação de monta de 2001. PROGRAMA DE TE COM FSP O programa iniciou-se em 1998 com a seleção de 12 FSP como doadoras. Os critérios então adotados foram: a) todas as doadoras haviam parido aos 2 anos de idade b) nenhuma havia falhado nas estações de monta subseqüentes II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 91 c) todas eram DECA 1 (melhores 10% ) para índice CFM (quem engloba DEPs para peso à desmama, ganho de peso pós-desmama, perímetro escrotal e musculatura) d)todas eram DECA 1 para peso aos 550 dias. Das 12 doadoras, 6 tinham 4 crias, 1 tina 3, 1 tinha 2 e 4 tinha apenas 1 cria. Foram produzidos 150 embriões Em 2001 foram selecionadas 40 fêmeas super precoces. Todas foram escolhidas com os mesmos cuidados tomados anteriormente. Foram produzidos cerca de 800 embriões. No intuito de se fazer uma correção das distorções ambientais, as receptoras utilizadas foram todas Nelore de 24 meses e a implantação foi realizada nos primeiros 15 dias da estação de monta para que houvesse a formação adequada de grupos contemporâneos (todos em um mesmo grupo) Para as próximas safras, a seleção dos touros a serem utilizados na produção de super precoces levará em conta as DEPs para PP14, além do índice CFM. CONSIDERAÇÕES FINAIS 1. Um trabalho de simulação realizado em conjunto com a FNP Consultoria de São Paulo mostrou que a prenhez de 14 meses é a variável individual de maior impacto sobre o desempenho econômico. 2. A reprodução aos 14 meses não requer grande aumento de investimento em alimentação. 3. É a melhor alternativa para melhorar sistemas de produção de baixo custo. 4. Um alerta: não adianta ser só precoce, o animal precisa ser também ganhador de peso, ou seja, deve ser bem equilibrado. 92 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Doyle, S.P.; Golden, B.L.; Green, R.D.; Brinks, J.S. Additive genetic parameter estimates for heifer pregnancy and subsequente reproduction in Angus females. J. Anim. Sci. 2000. 78:2091-2098 Eler, J.P.; Silva, J.A.V.; Ferraz, J.B.S.; Dias, F.; Oliveira, H.N.; Evans, J.L.; Golden, B.L. Genetic Evaluation of the Probability of Pregnancy at 14 Months for Nelore Heifers. J. Animal Sci. 2001 (enviado para publicação) Evans, J. L.; Golden, B.L; Bourdon, R.M.; Long, K.L. Aditive genetic relationship between heifer pregnancy and scrotal circumference in Hereford cattle. J. Anim. Sci. 1999. 77:2621 a 2628 Ferraz, J.B. S; Eler, J.P. Coeficientes de herdabilidade para efeitos diretos (h2) e efeitos maternos (h2m ) para as características analisadas no Sumário de Touros CFM, 2000. Sumário de Touros Nelore 2000/Agro-Pecuária CFM, 2000, p.13. INTERAÇÃO GENÓTIPO-AMBIENTE-MERCADO NA PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA NOS TRÓPICOS Kepler Euclides Filho Eng.-Agr., CREA No 12153/D, Visto 1466/MS EMBRAPA- Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC) Caixa Postal 154, 79002-970, Campo Grande - MS. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Por muitos anos, os criadores brasileiros se preocuparam em promover seleção dos bovinos com enfoque quase que exclusivo nas características relacionadas com o padrão racial e com a caracterização das diversas raças zebuínas. Tais características foram, por muito tempo, aquelas relacionadas com o aspecto do animal tais como, formato de cabeça, tamanho e forma de orelha, inserção de cauda, inserção e forma de chifres dentre outras. A evolução da pecuária de corte introduziu modificações de comportamento e interesse mas, principalmente, mudanças de conceito e, com isso, as característicasalvo de seleção também se modificaram. A conformação, o aprumo, a linha de dorso, a caixa torácica, as características sexuais e outras, assumiram importância maior. Esse trabalho quase que obstinado dos produtores e técnicos foi um dos grande responsáveis pelo estabelecimento, pelo fortalecimento e pelo nível de desempenho observado, atualmente, nas diversas raças zebuínas presentes no Brasil. Entretanto, a evolução natural do conhecimento científico e das demandas de mercado, introduziu novos conceitos e permitiu o engajamento maior de técnicos e produtores em torno de propostas fundamentada no desempenho produtivo dos animais. Assim, o melhoramento genético animal iniciou uma nova fase que vem se solidificando e se aprimorando com o desenvolvimento das novas biotécnicas, e com a evolução das áreas da computação, da estatística e da bio-informática. Esse processo de transformação fez com que EUCLIDES FILHO (2000) afirmasse que "à semelhança do passado, a ciência deverá continuar sendo permeada pela arte, no sentido de ser capaz, não só de combinar a beleza da forma com a função, mas também de ser capaz, 94 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte muitas vezes, de, pela forma, predizer a produção. Esta necessidade de visão global, do bom senso, do conhecimento científico e, principalmente, da capacidade de se combinar tudo isto, é que faz do melhoramento genético não só ciência, mas também uma arte". Nesse novo cenário, o animal e, em especial, sua constituição genética, tem assumido importância crescente na cadeia produtiva da carne bovina; Todavia, para que o setor seja rentável e, ao mesmo tempo, atenda às demais demandas como sustentabilidade da cadeia produtiva e satisfação do consumidor, o sistema de produção deve ser enfocado, analisado e implementado como um todo. SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE PREDOMINANTES NO BRASIL Entende-se por sistema de produção de gado de corte o conjunto de tecnologias e práticas de manejo, bem como o tipo de animal, o propósito da criação, a raça ou o grupamento genético e a ecorregião onde a atividade é desenvolvida. Deve-se considerar ainda, ao se definir um sistema de produção, os aspectos sociais, econômicos e culturais, uma vez que esses têm influência decisiva, principalmente, nas modificações que poderão ser impostas por forças externas, e especialmente, na forma como tais mudanças deverão ocorrer para que o processo seja eficaz, e as transformações alcancem os benefícios esperados. Permeando todas essas considerações deve estar a definição do mercado, e consequentemente, a demanda a ser atendida, ou seja, quais são e como devem ser atendidos os clientes ou consumidores. Assim, torna-se evidente que o estabelecimento, e/ou a adequação de um determinado sistema de produção, não depende unicamente do desejo do produtor mas está intimamente relacionado com as condições sócioeconômicas e culturais da região e da sua possibilidade e/ou capacidade de promover investimentos. Outro aspecto decisivo é a necessidade de o sistema ser estruturado com base em objetivos bem definidos que, ao serem estabelecidos, devem levar em conta as demandas do mercado consumidor. Considerando-se que no Brasil há tremenda diversidade em todos estes aspectos, considerando-se ainda, a necessidade de a atividade ser, antes de mais nada, um empreendimento econômico, e II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 95 como tal, deve gerar lucros como premissa básica para que se desenvolva e prospere, pode-se facilmente concluir que, no Brasil, dificilmente existirá um sistema de produção de gado de corte único. Assim, o uso isolado ou combinado das tecnologias disponíveis deve ser analisado dentro de cada contexto particular. Essa visão integrada é também de fundamental importância no próprio desenvolvimento de novas tecnologias. Entretanto, os cenários globais presente e previsível permitem se inferir que a pecuária de corte brasileira tem grandes possibilidades de se estabelecer como atividade competitiva nos mercados nacional e internacional, podendo ser, em muitas situações, conduzida em sistemas altamente intensivos, competitivos, sustentáveis e economicamente viáveis. No Brasil, os sistemas de produção de carne bovina caracterizam-se pela dependência quase que exclusiva de pastagens. À exceção da região Sul, ou seja, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná, em todas as demais, as forrageiras predominantemente utilizadas são tropicais. Dentre essas destacam-se as cultivares dos gêneros Brachiaria e Panicum. Enquanto o fato de se fundamentar em pastagens resulta, por um lado, em vantagem comparativa por viabilizar custos de produção relativamente baixos; por outro, a utilização exclusiva dessa fonte de alimentação tem, nesse momento em que as competitividades por preço e por qualidade de produto impõem mudanças no setor, se apresentado bioeconomicamente inviável em muitas situações. Isso é agravado, principalmente, pela forma como estas pastagens são, de modo geral, manejadas. É por demais conhecido o problema da sazonalidade da produção forrageira intensificado pelo fato de as forrageiras tropicais, mesmo no período das chuvas, não serem capazes de produzir, por muito tempo, alimento com qualidade que possibilite o atendimento das exigências para crescimento dos animais, principalmente daqueles de alto potencial genético. Assim, as gramíneas mais cultivadas, apesar de produzirem grande quantidade de material forrageiro durante o período das águas, apresentam um período muito curto no qual a forragem por elas produzida possui qualidade capaz de possibilitar desempenhos compatíveis com a necessidade requerida para se manter sistemas competitivos. 96 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte A duração desse período varia com a região e com as condições de manejo geral do sistema de produção, mas em qualquer situação, esse período é inferior à duração da estação de chuvas (EUCLIDES e EUCLIDES FILHO, 1998). No restante da época chuvosa e, principalmente, durante o período seco, além da redução verificada na quantidade de matéria seca produzida, ou mais adequadamente segundo EUCLIDES et al. (1993a,b), redução na quantidade de Matéria Verde Seca (MVS), há decréscimo acentuado em sua qualidade. Tal situação pode ser amenizada, ou mesmo melhorada, com o uso de estratégias de manejo envolvendo alternativas diversas, as quais poderiam englobar uso diferenciado de sistemas de pastejo; fertilização, tanto direta quanto por meio de rotação de culturas; irrigação; uso de consorciação com leguminosas e uso de espécies de gramíneas mais adequadas. Em contraposição a essa situação existe uma demanda cada vez mais crescente que se traduz na necessidade de se produzir de forma econômica, eficaz, eficiente e competitiva. Tal exigência encerra em seu bojo, a tendência inexorável de intensificação. Isso não quer dizer, no entanto, que a intensificação será total, nem tampouco, no mesmo nível nas diversas regiões. Além disso, ela não será um processo a ser desenvolvido somente nos sistemas de produção, mas sim, uma necessidade que deverá permear os diversos segmentos componentes da cadeia produtiva. O atendimento dessa demanda ampla de melhoria de eficiência será alcançado pelos sistemas de produção de gado de corte de diversas maneiras. Dentre as quais podem-se mencionar desde o desenvolvimento de sistemas especializados nas diferentes fases até produção de carne com marca, passando pelo uso de animais de alto potencial genético em sistemas envolvendo pastagens adubadas com pastejo rotacionado, suplementação alimentar em pasto e confinamento. Apesar de se poder prever, conforme mencionado por EUCLIDES FILHO (1996), que haverá especialização de sistemas para as diferentes fases da pecuária, quais sejam: cria, recria e engorda, e que em alguns casos a recria será eliminada, a grande maioria hoje envolve as três fases (Figura 1). Qualquer que seja a situação, no entanto, o uso de tecnologias será responsável por incrementos importantes nos índices zootécnicos do rebanho conforme pode ser observado na Tabela 1. Além II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 97 disso, em razão das variações ocorridas nos preços de insumos e naqueles do boi gordo, nos últimos anos, a relação de troca, conforme discutida por ZIMMER et al. (1998) (Tabela 2), tornou-se desfavorável e, com isso, tornar-se-ão inviáveis, em muitos casos, os sistemas de produção que permanecerem com níveis tecnológicos, e consequentemente de produtividade, baixos. FÊMEAS DE REPOSIÇÃO E.M. ACASAL. FASE DE CRIA PRENHAS VAZIAS FASE DE RECRI FASE DE ENGORDA MERCADO MERCADO DESMAMA MERCADO Figura 1 - Estrutura do sistema completo de produção de bovinos de corte no Brasil. Fonte: EUCLIDES FILHO (2000) 98 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro e em sistemas envolvendo cria, recria e engorda com uso mais intensivo de tecnologia Índices Natalidade (%) Mortalidade até a desmama (%) Taxa de desmama (%) Mortalidade pós-desmama (%) Idade à primeira cria (anos) Intervalo de partos (meses) Idade média de abate (anos) Taxa de abate (%) Peso médio de carcaça (kg) Rendimento de carcaça (%) Taxa de lotação (animal/hectare) Quilograma de carcaça/hectare Média Brasileira 60 8 55 4 4 20 4 17 210 53 0,9 34 Sistema melhorado 11 >70 6 >66 3 3 <17 3 20 230 54 1,2 53 Sistema melhorado 2 >80 4 >77 2 2 <15 2 35 240 57 1,6 80 Fonte: Modificado de Zimmer & Euclides Filho (1997). 1 Sistemas melhorados 1 e 2 referem-se a estimativas desenvolvidas com base em observações feitas junto a produtores e em experimentos que se encontram em andamento. Tabela 2 - Relação de troca de boi gordo ou arrobas de carne por equipamentos ou insumos agrícolas Relações Bois/trator de 61 HP Arroba de carne/t de calcário Número de doses de vacina aftosa/@ carne Sacos de sal mineral/boi gordo Rolos de arame/boi gordo Bezerros/boi gordo Arrobas de carne/salário mínimo Fonte: Zimmer et al. (1998). Períodos 1980/1990 1986/1996 41,40 69,10 0,70 0,73 80,30 34,40 142,50 129,20 10,70 11,40 3,00 2,30 4,30 3,60 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 99 No sistema 1 (Tabela 1), além de se utilizar suplementação alimentar em pasto durante o período seco, parte das pastagens são recuperadas anualmente e parte recebe adubação de manutenção como forma de manter altos níveis de produtividade. No sistema 2, grande parte dos animais recebem suplementação alimentar em pasto e são terminados em confinamento. Nesse caso, além dos investimentos para produção de volumosos e grãos, faz-se necessário, nas pastagens, que se utilize mais intensivamente, corretivos e fertilizantes. Faz-se necessário ainda, o uso de fêmeas mestiças, especialmente, para se conseguir parto aos dois anos de idade. Hoje, considerando-se isoladamente as fases da pecuária de corte conduzidas na forma tradicional, em sistemas de produção considerados como representativos da média, pode-se concluir, após análises de benefício/custo, que a cria se constitui na atividade de menor rentabilidade além de ser aquela que apresenta o maior risco. Todavia, é importante ressaltar que também é ela que sustenta toda a estrutura subseqüente, e por conseguinte, toda inversão que nela se fizer, e resultar em aumento de eficiência, resultará não só em sua consolidação mas também em benefício de toda a cadeia produtiva da carne bovina. Para estudar essa situação, Martins 1 (1998), desenvolveu algumas simulações cujos resultados (Tabela 3) possibilitaram se ter uma idéia da importância dos índices e/ou do nível tecnológico/administrativo do sistema de produção sobre a rentabilidade do empreendimento. Todos os sistemas simulados podem ser considerados tradicionais, com baixo nível tecnológico e representam, segundo o autor, sistemas médios do Brasil Central Pecuário. Foram todos desenvolvidos em propriedade com área de 1.464 ha, com 1.171 ha de pastagens. O número de animais, e consequentemente, o número de Unidades Animais (UA), variaram de acordo com o sistema (cria, recria, engorda ou cria/recria/engorda) e com a estação do ano. Assim, o número de animais foi de 1.235 durante as águas e 863 durante o período seco, para o sistema de cria; 1.986 e 1.315, para o de recria exclusiva; 1.233 e 820, para o sistema de engorda e 1.202 e 912 para o 1 Comunicação pessoal. 100 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte sistema completo de cria/recria/engorda. Em todos os casos, esses números eqüivaleram a 0,76 e 0,70 UA/ha, nos períodos chuvoso e seco, respectivamente. Esses resultados permitem concluir que a sobrevivência do setor depende da melhoria dos índices zootécnicos do sistema, e que ênfase especial deve ser dada à fase de cria. Pela análise dessas simulações fica claro que no Brasil, para que essa demanda seja atendida, e os sistemas de produção voltados exclusivamente para cria sejam rentáveis, faz-se necessário aumento da eficiência. Tabela 3 - Comparação de custo operacional e análise de renda em sistemas tradicionais com baixo nível de inversão financeira e tecnológica Sistemas Custo operacional* Completo Cria Recria Engorda 29.744 31.700 136.211 146.052 Custo operacional efetivo** 24.364 24.364 24.364 24.364 Custo operacional total 54.109 56.124 160.575 170.416 Receita bruta Resíduo para remunerar*** 56.668 53.383 176.368 174.708 2.550 -2.741 16.793 4.291 Fonte: Martins (1998) (comunicação pessoal). Base outubro/97 igual a 100. *Insumos, administração, impostos, aquisição e venda de animais. **Depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias; e mão-de-obra familiar. ***Terra, capital e empresário. A ADEQUAÇÃO DO TRINÔMIO “GENÓTIPO-AMBIENTEMERCADO” Uma das demandas que vem se consolidando no setor de pecuária de corte é o desenvolvimento de sistemas sustentáveis. Para que essa meta seja alcançada é necessário que o sistema de produção seja capaz não só de manter a produção, mas também de ser rentável e estruturado sobre princípios socialmente justos. Ademais, cria corpo uma exigência nova que consiste na oferta de produtos oriundos de sistemas de produção com certificação ambiental. Todas essas mudanças impõem outra demanda que se refere à qualificação de pessoal dos diversos segmentos da cadeia produtiva. É nesse ambiente II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 101 que se deve estruturar a pecuária de corte moderna que necessita ser rentável e competitiva. Isso indica, claramente, a necessidade de se buscar um ajuste do trinômio “Genótipo-Ambiente-Mercado”. É esse cenário, portanto, que deverá nortear as ações do melhoramento genético animal nos próximos anos e, consequentemente, a seleção e os cruzamentos. Tais exigências requerem ajustes, inversões e melhorias e têm contribuído para que o melhoramento genético animal ocupe a posição de destaque que ele tem assumido nos últimos anos. Ressalta-se que à medida que se promovem investimentos buscam-se maiores retornos. Dessa forma, é importante desenvolver e/ou buscar animais que melhor respondam aos investimentos. Nesse contexto, o melhoramento genético com suas duas ferramentas, seleção e cruzamentos, tem sido utilizado cada vez mais. De acordo com EUCLIDES FILHO (1999), “Seleção é o processo decisório que indica quais animais de uma geração tornar-se-ão pais da próxima, e quantos filhos lhes serão permitido deixar. Em outras palavras, pode-se entender seleção como sendo a decisão de permitir que os melhores indivíduos de uma geração sejam pais da geração subseqüente. Por cruzamento, entende-se o acasalamento de indivíduos pertencentes a raças, linhagens ou espécies diferentes”. Enquanto o processo de seleção pode ser implementado de forma independente do cruzamento, esse último não deve ser conduzido desconsiderando-se a seleção. É importante que os indivíduos participantes de um cruzamento tenham sido selecionados. Esse processo de seleção pode ocorrer de duas formas, como componente do sistema de cruzamentos, onde machos e fêmeas mestiças oriundos do cruzamento são selecionados e utilizados para produção da geração seguinte, ou como elemento introduzido. Nesse caso, os animais devem ser selecionados nas raças puras para participarem do cruzamento. A combinação desses dois procedimentos de seleção, no entanto, pode trazer benefícios adicionais e é recomendado, especialmente, para populações compostas. Considerando-se um termo mais amplo, ou seja, acasalamento, torna-se mais clara a interdependência entre a seleção e o cruzamento. A seleção por si só também não resulta em progresso genético, mesmo que o critério de seleção tenha sido muito bem escolhido, porque o 102 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte benefício da seleção só se incorpora à população se os indivíduos selecionados forem acasalados. Nesse enfoque, cruzamento é um caso particular de acasalamento. Portanto, seleção e acasalamento são elementos fundamentais para se obter progresso genético em qualquer população. Para melhor adequação do trinômio supramencionado é importante ter-se uma definição dos termos que o compõem, assim, o genótipo deve ser entendido como sendo o tipo de animal a ser utilizado e a sua raça ou grupo genético. Com respeito ao ambiente, é importante considerar não só os aspectos climatológicos e de solo, mas também aqueles relacionados com elementos socioeconômicos e culturais incluindo capacidade de mão-de-obra, infra-estrutura existentes e outros. O mercado, além do item preço, deve englobar os aspectos referentes à qualidade do produto final, que no caso da carne, deve envolver os atributos organolépticos intrínsecos, bem como a ausência de contaminação, sendo ainda, saudável e adequada no tocante às características nutricionais. No quesito qualidade organoléptica, maciez é um dos fatores mais importantes ao lado da suculência e do sabor. Essa variável é influenciada por diversos fatores de manejo pré e pós-abate, alimentação, idade e genética. Ademais, é cada vez mais importante que essa carne seja resultado de uma cadeia produtiva socialmente justa e correta com respeito aos aspectos ambientais. É importante ressaltar que as regiões tropicais e subtropicais caracterizam-se pela presença de ecto e endoparasitas e pela existência de altas temperaturas e altas radiações solares associados à sazonalidade de produção forrageira. Isso, tem como conseqüência baixos níveis nutricionais disponíveis para os bovinos e em grande estresse para esses animais, especialmente, em determinadas épocas do ano. Esses fatores atuando em conjunto ou isoladamente, contribuem para redução da produtividade (FRISH & VERCOE, 1984; FRISH, 1987). Nessas condições, o Zebu, por ser adaptado, possui maior capacidade para reproduzir e produzir. Como conseqüência, esses animais apresentam menor potencial genético para características de importância econômica tais como, taxa de crescimento, precocidade reprodutiva e carne macia. As raças de origem européia, britânicas e continentais, por outro lado, apesar de possuírem maior potencial genético para essas características, só as expressam sob condições II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 103 favoráveis de ambiente, ou seja, sob baixa infestação parasitária e boas condições nutricionais. Essa dicotomia tem favorecido o florescimento dos cruzamentos, uma vez que a combinação de alguma raça de origem européia, adaptada ou não, com uma raça zebuína resulta, geralmente, em animais com boa capacidade produtiva em ambientes tropicais. A adaptabilidade se constitui em um atributo de fundamental importância para pecuária de corte de regiões tropicais e subtropicais. Dentre as características que a compõem podem-se destacar a resistência aos carrapatos, à mosca-dos-chifres e aos helmintos, e a tolerância ao calor. Embora grande parte do efeito desse estresse possa ser minimizado com a utilização de tecnologias disponíveis, seu controle está comumente associado a aumentos dos custos de produção. Além disso, certas medidas de controle dos parasitas internos e externos requerem uso, muitas vezes intensivo, de produtos químicos, os quais têm, cada vez mais, se constituído em uma grande preocupação da sociedade, tanto pelos problemas de possíveis resíduos na carne quanto pela contaminação do meio ambiente. Como preocupação adicional pode-se mencionar a capacidade de resistência apresentada por esses parasitas aos agentes químicos utilizados em seus controles. Dessa forma, restam como possíveis soluções para equacionamento do binômio “adaptação-produtividade” o desenvolvimento de vacinas e/ou o uso de cruzamentos. Nesse caso, esquemas de cruzamento envolvendo raças zebuínas e raças européias adaptadas ou não, podem trazer grandes contribuições ao sistema. Segundo EUCLIDES FILHO (1999), apesar de o desenvolvimento de vacinas para o controle de parasitas de bovinos vir alcançando relativo sucesso e as perspectivas colocadas pelo avanço constante em novas biotecnologias possibilitar a antevisão de resultados ainda mais promissores, seu uso, dado o grande número de parasitas a ser controlado, deverá permanecer, ainda por muitos anos, restrito. Nesse contexto, a busca de solução por meio do uso de animais com alta resistência genética aos parasitas e de alto potencial de produção surge como uma alternativa merecedora de avaliação. Considerando-se que nenhuma raça combina superioridade para todas as características de importância econômica, conforme ficou evidenciado pelos resultados de CUNDIFF et al. (1993), a combinação mais de uma raça em 104 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte cruzamentos com o objetivo de desenvolver um grupo genético, explorar a heterose ou a complementaridade e/ou ainda, combinar características economicamente importantes de diferentes raças de modo a adequar o genótipo resultante ao ambiente e às exigências de mercado, pode se constituir em uma das formas mais eficientes de se produzir carne. A ESCOLHA DO CRITÉRIO DE SELEÇÃO NESSE CONTEXTO Até muito recentemente, a pecuária de corte brasileira tinha como objetivos quase que exclusivos, o aumento do peso e do ganho de peso dos animais. Esses critérios de seleção foram e vêm sendo responsáveis pela grande transformação no tamanho adulto que hoje se observa, especialmente, na raça Nelore. Todavia, nesse momento em que eficiência global do sistema de produção se transforma no objetivo maior de qualquer empreendimento pecuário, outras características começam a assumir importância maior. Nessa ótica, os estudos de melhoramento genético deveriam concentrar esforços em características capazes de promover as mudanças desejadas de modo a atender à essas novas demandas que se constituem em exigências de "mercado". Para que o trinômio "genótipo-ambiente-mercado" seja bem equacionado, essa adequação do genótipo ao mercado, deve ser alcançada de maneira a possibilitar o alinhamento do terceiro componente, qual seja, o ambiente. Considerando-se esse cenário, três características podem ser destacadas por merecerem atenção especial de técnicos e criadores. São elas a precocidade reprodutiva, a precocidade de acabamento e o desempenho nutricional. Portanto, seus efeitos diretos, suas interações e seus reflexos sobre a eficiência global da cadeia produtiva da carne bovina devem ser estudados com maior profundidade. Como critérios de seleção para as três características mencionadas merecem estudos mais abrangentes os seguintes: Quanto à precocidade de acabamento, há necessidade de estudos para melhor entendimento da curva de crescimento e, principalmente, para identificar a possibilidade de mudança no seu padrão. Com relação à precocidade reprodutiva, a idade à puberdade pode ser uma característica de grande potencial. No tocante ao desempenho II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 105 nutricional, sugere-se maiores avaliações da eficiência bionutricional (EBN). Segundo EUCLIDES FILHO et al. (2001) a EBN parece ser mais eficiente do que conversão alimentar para a discriminação de animais com potenciais genéticos diferentes para eficiência de utilização de alimentos. Nesse contexto, há necessidade de se desenvolver avaliações amplas e para isso, é importante que sejam concentrados esforços conjuntos de diversas áreas como melhoramento genético, nutrição animal, reprodução animal, ciência da carne e fisiologia. Segundo EUCLIDES FILHO (1998), tais esforços deveriam se concentrar em: a) desenvolvimento de estudos para melhor entendimento das relações entre características de peso, ganho de peso, precocidades reprodutiva e de acabamento, e tamanho adulto e eficiência bioeconômica do sistema de produção; b) promoção de esforço conjunto para o desenvolvimento de ações integradas entre o melhoramento genético animal e outras áreas do conhecimento, especificamente, alimentação e nutrição, reprodução, fisiologia e biologia molecular, para o desenvolvimento de estudos envolvendo seleção genética e cruzamentos que possibilitem promover: i) mudança da curva de crescimento; ii) mudança no nível de ingestão de alimentos; iii) incremento da taxa de maturidade; iv) redução de taxa metabólica ou na energia necessária para mantença; v) mudança na capacidade de perdas calóricas; e vi) resistência e/ou tolerância a parasitas e/ou doenças. Tais esforços deveriam ter seus efeitos e suas interações com outras características economicamente importantes avaliados, e ser auxiliados pelas novas biotécnicas, principalmente, no tocante à identificação de marcadores genéticos associados a tais características; e c) desenvolvimento de estudos que viabilizem: i) a produção de carne com baixo teor de gordura, especialmente, alguns ácidos graxos saturados e colesterol; ii) a capitalização dos benefícios potenciais de outros ácidos graxos como o ácido linoléico conjugado (CLA); iii) o conhecimento mais profundo sobre esses ácidos graxos, para compreender melhor seu metabolismo; iv) o conhecimento da composição lipídica dos diversos genótipos animais; v) o conhecimento dos efeitos do manejo alimentar sobre 106 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte essas composições; e vi) a capitalização na possibilidade de se terem os produtos chamados nutracêuticos. IMPORTÂNCIA DA PRECOCIDADE NO SISTEMA DE PRODUÇÃO A redução da idade de abate e/ou de início da vida reprodutiva tem como conseqüência direta, a diminuição do ciclo da pecuária. Isso reflete, positivamente, nos índices zootécnicos do rebanho e resulta em melhoria de alguns parâmetros econômicos importantes como evidenciam alguns trabalhos. Essa redução pode ser alcançada pela incorporação de diferentes tecnologias que variam de uma simples estruturação de manejo até o uso de pastejos rotacionados com utilização de altos níveis de adubação, passando pela utilização de animais puros de alto potencial genético e/ou cruzamentos. De acordo com EUCLIDES FILHO & CEZAR (1995), a redução da idade de abate de 42 meses para 26 meses, em um sistema de produção com índices médios para taxa de desmama igual a 65%, resultou em aumento de 25% na taxa de desfrute. Além disso, reduziuse a quantidade de animais em recria, o que possibilitou incremento de aproximadamente 34% do número de fêmeas em reprodução, refletindo em maior quantidade de bezerros produzidos (Tabela 4). Tabela 4 - Efeito da idade de abate sobre alguns parâmetros em sistemas de produção envolvendo as fases de cria, recria e engorda Parâmetro Total de animais no rebanho Total de fêmeas em reprodução Total de bezerros desmamados Total de animais vendidos Peso vivo vendido Desfrute Equivalente carcaça Unidade cabeça cabeça cabeça cabeça kg/ha % kg/ha Fonte: EUCLIDES FILHO & CEZAR (1995) Abate 42 meses 6.874 1.866 1.206 1.135 111 16 52 Sistema Abate 38 meses 7.234 2.140 1.384 1.293 122 18 57 Abate 26 meses 7.534 2.495 1.566 1.492 138 20 67 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 107 A redução da idade à primeira cria, por sua vez, também trouxe contribuições efetivas na melhoria do desempenho da atividade como pode ser verificado pelos resultados obtidos por CEZAR e EUCLIDES FILHO (1996). Esses autores observaram que a redução da idade ao primeiro parto de três para dois anos resultou em incremento da produção de carcaça/ha/ano. Nesse sentido, podem, ainda, ser mencionados os resultados obtidos por PÖTTER et al. (1998). Esses autores, utilizando-se de simulações, avaliaram três sistemas que se diferenciavam basicamente pela idade à primeira cria. Os três sistemas avaliados foram parição aos dois anos de idade, aos três e aos quatro. Esse último sendo considerado como tradicional para a região Sul do País. Segundo os autores, os sistemas intensivos foram superiores ao tradicional e o sistema com concepção a um ano foi aquele que resultou em maior produção de quilogramas de peso vivo/hectare (aproximadamente, 114 kg versus 106 kg para concepção aos dois anos de idade, e 60 kg para o tradicional), maior desfrute (aproximadamente, 35% comparado, respectivamente, com 29% e 14%) e maior eficiência de estoque (51%, 44% e 20%, respectivamente). Tais reduções podem ser obtidas pelo uso de tecnologias envolvendo utilização de alternativas de suplementação alimentar, combinadas ou não com confinamento, estratégias de manejo de pastagens e uso de grupos genéticos, dentre outras. Na Tabela 5 pode ser avaliada a possibilidade de se aumentar de 18% a 58% a produtividade de pastagens tropicais pelo uso de adubação. Aumentos importantes de produtividade também podem ser observados na Tabela 6. Nesse caso, ainda se verificou incremento de, aproximadamente, 10% na taxa de lotação das pastagens de Tanzânia quando se utilizou 100 kg de N por hectare. 108 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 5 - Médias dos ganhos de peso por animal (gramas/novilho/dia) e por área (quilograma/hectare), e taxas de lotação (no de novilho/hectare), em três cultivares de Panicum maximum (Colonião, Tanzânia e Tobiatã), Brachiaria brizantha cv. Marandu e Brachiaria decumbens cv. Basilisk, de acordo com os níveis de adubação (média de três anos) Gramíneas Colonião Tobiatã Tanzânia Marandu Basilisk Nível de adubação 1 a g/nov./ nov.*/ha/ kg/ha/ dia ano ano 370 1,84 270 340 2,93 420 430 2,99 490 340 2,97 400 330 2,88 380 Nível de adubação 2 b g/nov./ nov./ha/ kg/ha/ dia ano ano 360 2,13 320 435 3,30 630 515 3,61 660 435 3,63 600 420 3,60 600 Fonte: Adaptado de EUCLIDES (1996). * Novilho de 200 kg de peso vivo (equivalente a 0,54 UA). a 1,5 t de calcário dolomítico, 400 kg da fórmula 0-16-18/ha e 50 kg de FTE 16. b 3,0 t de calcário dolomítico, 800 kg da fórmula 0-16-18/ha e 50 kg de FTE 16. Tabela 6 - Ganhos de peso por animal (grama/novilho/dia) e por área (quilograma/hectare/ano) em pastagens de Panicum maximum cvs. Mombaça e Tanzânia, com e sem adubação nitrogenada, implantadas em solos LVE, em Campo Grande, MS, sob pastejo rotacionado de sete dias de utilização e 35 dias de descanso Cultivares Mombaça Tanzânia Tanzânia + 100 kg N/ha Ganho de peso g/nov.*/dia kg/ha/ano 410 700 440 710 465 830 * Novilho de 250 kg de peso vivo. Fonte: EUCLIDES (1997). Taxa de lotação, UA/ha 2,4 2,3 2,5 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 109 Quanto à suplementação alimentar durante o período seco, resultados de alguns trabalhos recentes têm evidenciado que, além dos benefícios obtidos nos aspectos zootécnicos, essa alternativa se constitui em uma opção bioeconomicamente viável. Dentre esses resultados podem-se mencionar aqueles obtidos por EUCLIDES et al. (1998). Esses autores avaliaram quatro alternativas de suplementação alimentar durante o período seco que foram comparadas entre si e com um tratamento testemunha. Os resultados são resumidos na Tabela 7, e indicaram que a suplementação alimentar com concentrados, durante o período seco, foi capaz de reduzir a idade de abate de cinco a treze meses, além de se mostrar economicamente viável, mesmo quando combinada com confinamento. Outro aspecto importante ressaltado pelos autores refere-se à redução de custos fixos e maior velocidade no giro de capital. Tabela 7 - Meses de abate, coeficientes de valor atual (CVA), rendas brutas (RB) e valores presentes líquidos (VPL), de acordo com os tratamentos Tratamento Mês de abate CVA RB VPL 1 VPL Sem suplementação Suplementação 1 seca Suplementação 2 seca Suplementação 1 e 2 secas Suplementação 1 a seca e confinamento 2a seca 10/93 05/93 03/93 01/93 10/92 0,76 0,80 0,82 0,83 0,86 233 251 259 270 265 -5,7 13,6 14,2 16,7 4,5 -5,7 27,3 33,5 41,8 38,4 2 Fonte: Adaptado de EUCLIDES et al. (1998). 1 Sem considerar o benefício de liberação de pastagens. 2 Considerando-se o benefício de liberação de pastagens. Apesar de essa alternativa ter apresentado bons resultados bioeconômicos é importante ter-se em mente que para maior eficiência da estratégia, e consequentemente, maior rentabilidade, é imprescindível o uso de animais de potencial genético compatível com a alimentação que será fornecida. Além disso, os cuidados sanitários tornam-se ainda mais importantes nessas condições. Faz-se necessário 110 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte salientar ainda, que a suplementação alimentar em pasto só será eficiente se houver disponibilidade adequada de matéria seca nas pastagens. Caso contrário, os resultados esperados não serão alcançados. Na Figura 2 podem ser observados os desempenhos desses animais nos diversos tratamentos de suplementação alimentar durante o período seco. Os cinco os tratamentos utilizados foram: T 1) testemunha, T 2) Suplementação alimentar durante a segunda seca na vida do animal, T 3), suplementação durante a primeira seca na vida do animal e confinamento na segunda, T4) suplementação durante a primeira seca na vida do animal e, T 5) suplementação durante as duas primeiras secas na vida do animal. Como evidenciado na Tabela 4, esses desempenhos foram acompanhados de evidências que suportam a viabilidade econômica da suplementação. Pode-se observar que a suplementação alimentar com concentrados. Outros aspectos importantes, ressaltado pelos autores, referem-se à redução de custos fixos e à maior velocidade no giro de capital. A influência do genótipo pode ser verificada nas tabelas 8 e 9 onde são apresentados os desempenhos nutricionais de animais de diferentes grupos genéticos. Verifica-se que os cruzamentos podem se constituir em uma importante opção para produção de carne bovina no país, podendo viabilizar a oferta de carne de alta qualidade, especialmente, macia (Tabela 10). É importante ressaltar ainda, que a participação de raças européias adaptadas nesses cruzamentos contribui para redução do uso de químicos nos controles de parasitas com conseqüente diminuição do risco de contaminação da carne e do ambiente sem prejuízos do desempenho (Tabela 11). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 111 Tabela 8 - Médias de quadrados mínimos para conversão alimentar (quilograma de MS ingerida/quilograma de ganho de peso) para o primeiro (CV1) e segundo períodos (CV2) e para ganho de peso total (GPT) no período experimental, de acordo com grupo genético Grupo Genético Nelore ½ Caracu - ¼ Angus - ¼ Nelore ½ Caracu - ¼ Simental - ¼ Nelore CV1 6,40 a 5,11 b 5,69 c CV2 7,44 a 5,75 b 6,19 c GPT 152 a 189 b 175 c a, b, c - Médias na mesma coluna, seguidas de letras diferentes, diferem entre si (P<0,01). Para GPT as diferenças foram (P<0,067). CV1 - 123 dias em alimentação. CV2 - 152 em alimentação. Tabela 9 - Médias de quadrados mínimos para eficiência bionutricional, de acordo com o grupo genético Grupo genético Nelore ½ Caracu - ¼ Angus - ¼ Nelore ½ Caracu - ¼ Simental - ¼ Nelore 1, 2. 3 Eficiência bionutricional 16,701 60,722 48,633 Médias com sobrescritos diferentes diferem entre si (P<0,05) de acordo com os contrastes analisados. Tabela 10 -Médias de peso vivo (PV), área de olho-de-lombo (AOL), espessura de gordura (EG) e força de cisalhamento (WBS), de acordo com a raça. Idade média de 19 meses Raça Guzerá Nelore Caracu PV, kg 466 453 472 AOL, cm2 62,80 66,42 70,81 EG, mm 10,00 8,71 5,61 Fonte: Nardon et al. (1996). 1 Médias com sobrescritos diferentes, diferem entre si (P<0,05). WBS 1 4,11a 4,10a 2,96b 112 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 11 -Médias de quadrados mínimos para eficiência bionutricional, de acordo com o grupo genético Grupo genético Nelore 1/2 Romosinuano - 1/2 Caracu 1/2 Senepol - 1/2 Caracu 1/2 Belmont Red - 1/2 Caracu 1/2 Valdostana - 1/2 Nelore Eficiência bionutricional 425,07 561,46 506,02 512,24 499,30 Fonte: EUCLIDES FILHO et al. (prelo) 500 % 450 400 k g 350 %+ ( * , P 300 V 250 + % ( 200 * , 150 , * % ( + ( *+ , , ( * + , ,TEST +Iª SECA *2ª SECA (1ª , 2ª SECAS %1ªSECA, 2ª CONF A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S Figura 2 - Ganhos de peso de novilhos Nelore submetidos a alimentares diferentes regimes Fonte: EUCLIDES et al. (1998). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 113 CONSIDERAÇÕES FINAIS Precocidade reprodutiva e precocidade de acabamento são importantes para redução do ciclo da pecuária, para maior giro do capital e, consequentemente, para maior eficiência da atividade. A pecuária moderna requer que o sistema de produção estabeleça seus objetivos e metas em consonância com o ambiente e, consequentemente, com a capacidade de inversões técnicas e financeiras, e com o mercado. Essa avaliação integrada possibilita a análise de retorno econômico do investimento. Torna-se importante que o sistema de produção esteja sintonizado e, de preferência integrado, com a cadeia produtiva da carne bovina REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CEZAR, I.M., EUCLIDES FILHO, K. 1996. Novilho precoce: reflexos na eficiência e economicidade do sistema de produção. Campo Grande: EMBRAPACNPGC. 31p. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 66). CUNDIFF, L.V.; SZABO, F.; GREGORY, K.E.; KOCH, R.M.; DIKEMAN, M.E.; CROUSE, J.D. Breed comparisons in the germplasm evaluation program at MARC. Proceedings of BIF Research Symposium and Annual Meeting, Asheville, N. C. May 26-29. 1993. EUCLIDES FILHO, K. 1998. Retrospectiva e desafios da produção de ruminantes no Brasil. Anais dos Simpósios e Workshops da 36 REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36, SBZ, Porto Alegre, RS, 26-29 Julho, 1998, 344p. I. Zootecnia. p. 15-48. EUCLIDES FI;HO, K. 1999. Cruzamentos na pecuária de corte nos trópicos. In: Simpósio internacional de genética e melhoramento animal. Anais... 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Não dispondo dos elementos para dirimi-la, ficarei neste trabalho na posição mais confortável de apenas levantar algumas dúvidas e tentar apontar algumas das variáveis relevantes neste assunto, sem pretender fazer uma revisão exaustiva do assunto. PAPEL DOS SISTEMAS DE DUPLO PROPÓSITO Em recente trabalho, Barbosa e Bueno (2000) mostraram que no Brasil o número de vacas ordenhadas representa menos de 9% do rebanho bovino, indicando que os sistemas mistos de produção de leite e carne não são muito importantes na produção de carne, em comparação com vários países europeus, onde aquela proporção é maior que 35%. Mas eles salientaram, por outra parte, que quase 25% do leite produzido no Brasil provêm de fazendas mistas, proporção que varia de 18% na Região Sudeste a 45% e 49% nas regiões CentroOeste e Norte, de forma que o sistema de duplo propósito ocupa lugar importante na produção de leite. Nas fazendas leiteiras de Minas Gerais, 23 % da receita da atividade decorre da venda de animais, mas este valor varia amplamente entre as diversas regiões do Estado, de 10% nas Regiões Central Mineira e Campos das Vertentes até 41% no Norte de Minas (Diagnóstico..., 1996). Utilizando os dados do último estudo, com 350 propriedades, divididas em três estratos de produção e agrupadas, segundo a localização, em 11 mesorregiões (n= 33), Holanda Jr. e Gomes (1999) verificaram uma alta correlação entre a margem líquida da atividade leiteira e a renda oriunda de vendas de animais (r = 0,77). 118 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte margem líquida, R$ Como pode ser visto na Figura 1, para cada aumento de 1% na participação dos animais na renda, a margem líquida aumentava R$ 0,92, indicando os autores que o menor grau de especialização da exploração resultou em melhor desempenho econômico. Em outro estudo com 32 fazendas em programas de assistência técnica em Araxá, Viçosa e Governador Valadares, para cada 1% de maior especialização da fazenda (receita com leite/ receita total) a rentabilidade do capital investido se reduzia em 0,163% (P<0,0007, Evandro V.Holanda Jr., comunicação pessoal). Como a amplitude da especialização nessa amostra variava de 41 a 100%, a diferença na rentabilidade devido a este fator podia chegar quase a 10%. 0,84 0,74 0,64 0,54 0,44 0,34 0,24 0,14 0,04 -0,06 y = 0,92x - 0,11 R2 = 0,60 0 0,2 0,4 0,6 0,8 renda de animais/renda total Figura 1 - Regressão da margem líquida sobre a participação percentual da renda oriunda da venda de animais. Reproduzido de Holanda Jr. e Gomes (1999). Estes resultados contradizem a afirmativa que é repetida muitas vezes, mas sem o apoio de dados, de que pode se atribuir o atraso relativo da pecuária leiteira à falta de especialização dos produtores e seus rebanhos. Devo confessar que não consigo entender como é que os produtores que ganham mais dinheiro são os atrasados. De todo modo é muito claro que são necessárias pesquisas de campo, II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 119 descrevendo e quantificando os sistemas de produção utilizados pelos produtores brasileiros, para que possamos interpretar a nossa pecuária com base a dados reais e não a preconceitos. Uma vantagem dos sistemas de produção de duplo propósito é a flexibilidade para regular a produção de leite ou de carne segundo as flutuações dos preços relativos de ambos os produtos, como assinalado por Barbosa e Bueno (2000), que comunicaram variação da relação preço por kg de peso/preço do litro de leite entre 12,6 e 3,8, no período 1973 a 1998. Em momentos em que o preço do leite é desfavorável, os produtores diminuem a produção reduzindo o concentrado, ordenhando parte o todo o rebanho uma só vez por dia, deixando mais leite para os bezerros ou ainda soltando-os com as vacas. Em momentos que a carne tem preço baixo, eles tem a opção de abater os machinhos. Madalena (1986) e Barbosa e Bueno (2000) citaram diversos estudos em países da América Latina tropical onde os sistemas de duplo propósito foram descritos. Holman (1998) relatou que os sistemas de duplo propósito com gado mestiço nas regiões de baixa altitude da Venezuela, com clima quente e úmido, apresentaram margem líquida semelhante aos sistemas com gado puro na serra, porém os últimos utilizavam investimentos 3,8 vezes maiores. Situação similar é encontrada na Colômbia (A. Restrepo, comunicação pessoal). T.R. Preston propôs alguns anos atrás uma estratégia para produção de bovinos nos Trópicos, visando “a produção combinada de leite, carne, combustível e fertilizante, numa mesma unidade integrada, o que poderia melhorar o nível nutricional da população como um todo e contribuir para poupar divisas” e acrescentou “As tecnologias desenvolvidas nos países temperados para produção de leite e carne em sistemas especializados independentes não são apropriadas para as necessidades das nações em desenvolvimento nos Trópicos” (Preston, 1977). Sua proposta, cuja base forrageira era a cana de açúcar, seria mais adequada à produção familiar e além de economicamente viável tinha balanço energético positivo, sem necessidade de consumir energia de fora da fazenda. Na minha opinião estas idéias estavam (estão) muito à frente de seu tempo, e não serão percebidas na sua real dimensão social até que o aumento da população torne totalmente insuportáveis os custos ambientais e sociais da produção ineficiente em termos de recursos naturais e humanos. 120 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Preston (1977) também expressou que “Em países como os Estados Unidos, Brasil, Argentina e Austrália, tal política (de especialização) pode ser aceitável porque há grandes áreas de pastagens nas quais é possível produzir a baixo custo sem recorrer à alimentação suplementar. Em quase todos os outros países a produção unicamente de carne é uma operação de luxo que não pode ser suportada”. VALE A PENA CRIAR O BEZERRO? A última frase mostra que no Brasil, o bezerro de rebanho leiteiro estará competindo com o bezerro produzido em rebanho de corte, o que nem sempre lhe será favorável, dependendo do custo de produção e da possibilidade de venda na região de produção. O único que vem “de graça” no bezerro leiteiro, porque contabilizado no custo da mãe, é seu peso ao nascer, uns 33 kg, dependendo do grau de sangue (Lemos et al., 1984). Entretanto, os demais custos, do leite, concentrados e volumosos consumidos, custos veterinários, mão de obra, instalações, etc., deverão ser levados em conta, inclusive as perdas por mortalidade. Com bezerros de raça Holandesa, desmamados com 24 horas e criados no sistema de casinhas e piquetes, atingindo 196 kg aos seis meses de idade, com 52,6% de rendimento de carcaça e 0,73 mm de gordura subcutânea, Campos et al. (1995) comunicaram custo de US$ 21,85/arroba (terra, piquetes e instalações não incluídas). O autor desconhece avaliações econômicas brasileiras do custo de criação do macho leiteiro no sistema de aleitamento natural no Brasil, praticado pela maioria dos produtores. Em sistema de aleitamento natural restringido, deixando um teto nas primeiras quatro semanas de vida e nas segundas quatro apenas o leite que “rasparem” após as ordenhas, com desmame abrupto a oito semanas, Campos et al. (1993a,b) comunicaram consumo de 146 kg de leite, 31 kg de concentrado (18% PB) e 8 kg de volumoso de boa qualidade, para bezerros com ganho de peso de 0,430 kg/dia até os 70 dias de idade. Estes autores encontraram menor incidência de mamite nas vacas de aleitamento restringido que nas desmamadas, enquanto que ambos os grupos tiveram intervalo parto-primeiro cio semelhante. As vacas de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 121 aleitamento restringido produziram, na lactação, 277 kg de leite a mais que as desmamadas. Considerando-se o tempo necessário para conter o bezerro de 2,78 min/dia, estimado por Benedetti e Pedroso (1996), é provável que o custo das 3 horas-homem de serviço adicional nas oito semanas fosse menor que o lucro obtido com o leite adicional no aleitamento restringido. Entretanto, há técnicos que preferem fazer o aleitamento restringido com as fêmeas, abatendo os machos, o que também deveria ser melhor estudado. Os valores acima são mostrados mais como indicativo do tipo de dados que são necessários do que pretendendo chegar a uma conclusão final sobre o sistema de criação de bezerros. Alguns elementos do problema, como a mortalidade e a morbidade somente podem ser auferidos com grandes amostras de fazendas e animais. Dados de Cuba, por exemplo, indicam que o custo veterinário é três vezes maior para os bezerros criados artificialmente (Ugarte, 1992). Dados sobre mortalidade em sistemas de aleitamento natural são quase inexistentes na literatura, um paradoxo, já que sendo este o sistema preferido pelos produtores dos países tropicais as pesquisas tem se concentrado no aleitamento artificial (Madalena et al., 1995). Isto é mais um reflexo do posicionamento da pesquisa que “já sabe” que os produtores estão errados e assim não se dá ao trabalho de verificar o que eles fazem nem o porquê. DESEMPENHO DOS MACHOS DE REBANHO LEITEIRO Os pesos de bezerros de machos leiteiros, do Programa MLB (Mestiço Leiteiro Brasileiro), com “grau de sangue” variando de 5/8 a 7/8 de Bos taurus, foram comparados com os de bezerros de corte, ¼ Chianina: ¾ Nelore, ficando ambos os grupos, de 32 machos inteiros cada, juntos, nos mesmos pastos, após a desmama. O experimento foi conduzido na Fazenda Sagres, em Carlos Chagas, MG, dirigida pelo Dr. Armando Leal do Norte. O rebanho leiteiro, em sistema de duplo propósito, era ordenhado uma vez ao dia, deixando-se para os bezerros um teto pela manhã e todo o leite da tarde, sendo desmamados com idade média de 9,6 meses, contra 6,9 meses dos bezerros de corte. Como pode ser observado na Figura 2, a diferença de peso inicial entre ambos os grupos, de 34 kg, caiu para 13 kg ou 2,9% do peso dos de 122 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Peso, kg corte, ao final do experimento, concluindo-se que os machos do rebanho leiteiro constituem importante alternativa para a produção de carne, quando mantidos sob condições de manejo que permitem ganhos de peso pós-desmama da ordem dos 500 g/dia. 450 400 350 300 250 200 150 100 429 442 MLB 1/4 Chi:3/4 Nel 175 209 10 Meses 27 Meses Idade Figura 2. Pesos de machos inteiros Mestiço Leiteiro Brasileiro (MLB) e 1/4 Chianina:3/4 Nelore em Carlos Chagas, MG Fonte: Madalena et al. (1989) COMPARAÇÕES DE MESTIÇOS DE RAÇAS LEITEIRAS COM MESTIÇOS DE RAÇAS DE CORTE Em um experimento realizado na Estação Experimental do Instituto de Zootecnia de São Paulo, em Sertãozinho, foram comparados cruzamentos de seis raças de pai com vacas Nelore. Após os 18 meses, 42 machos de cada cruzamento foram sorteados para serem terminados a pasto ou em confinamento, com alimentação com aproximadamente 40% de volumoso e 60% de concentrado (Razook et al., 1986). Pode ser visto na Tabela 1 que em confinamento, os cruzados com Canchim e Santa Gertrudis apresentaram maiores pesos vivos e de carcaça e melhor conversão alimentar que os Nelore puros, que por sua vez, II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 123 tiveram maior cobertura de gordura e menor área de olho do lombo. Assim, possivelmente os produtos cruzados de Canchim e Santa Gertrudis teriam melhor desempenho econômico para engorda em confinamento, dependendo do sistema de pagamento por qualidade da carcaça. Os cruzamentos com raças leiteiras apresentaram altos ganhos de peso em ambos os sistemas de engorda, embora o Nelore puro e os cruzamentos com Canchim apresentassem maior rendimento de carcaça. Tabela 1 - Cruzamentos de várias raças com vacas Nelore em Sertãozinho, SP Machos em confinamento Número Idade de abate, meses Peso de abate, kg Ganho de peso diário, g/d Mat.seca/ganho de peso. kg/kg Peso da carcaça quente, kg Rendimento da carcaça, % Cobertura de gordura, mm Área do olho do lombo, cm2 Machos a pasto Número Idade de abate, meses Peso de abate, kg Peso da carcaça quente, kg Rendimento da carcaça, % Cobertura de gordura, mm Área do olho do lombo, cm2 Nelore Canchim Raça do pai Sta. Holandês Gertrudis P. Suíço Caracu 21 26,0 425 904 8,6 249 58,6 4,7 71,0 21 26,2 475 1004 8,2 283 59,5 3,1 87,1 19 26,2 477 1039 8,1 277 58,1 3,4 86,0 23 25,9 517 1060 9,2 301 58,1 3,3 86,0 20 25,2 483 1070 8,4 279 57,8 2,8 83,2 21 25,9 461 943 8,8 265 57,4 3,1 77,6 21 32,6 421 239 55,1 4,2 71,0 21 32,6 468 262 56,2 3,1 79,2 18 32,5 461 254 54,5 3,6 73,6 20 32,5 502 276 54,2 3,0 74,9 15 32,3 472 253 52,7 2,9 80,7 21 32,5 470 254 54,1 3,6 76,4 Fonte: Razook et al. (1986) Naves (1998) apresentou revisão de literatura, especialmente a brasileira, comparando F1 de zebu x raças de Bos taurus leiteras com F1 de zebu x raças de Bos taurus de corte. A grande maioria dos experimentos foram realizados em confinamento, geralmente num período de tempo fixo. Nessas condições, como pode ser visto na Tabela 2, os cruzamentos ganharam mais peso que o zebu, sendo o Holandês 124 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte uma das raças de maior ganho. A conversão alimentar dos F1 de Holandês e Pardo Suíço foi um pouco melhor que a do zebu, mas pior que a de várias F1 de corte. O rendimento da carcaça foi menor na F1 de leite que no zebu, por sua vez menor que em algumas F1 de corte, enquanto que a cobertura de gordura era menor, e o percentual de músculo geralmente maior, nos cruzamentos que no zebu. É claro que os resultados devem ser interpretados levando-se em consideração que os experimentos foram realizados em período de avaliação fixo. Tabela 2 - Diferença percentual do desempenho de cruzamentos F1 de várias raças x zebu, com o zebu puro, para machos em confinamento1 Hol2 PS Sim M/ Chi Lim Canc Ang Nor SG Cara Ganho de peso 36,6 25,8 12,9 25,6 52,4 11,1 24,3 34,8 16,0 6,2 n5 3 3 1 2 1 2 1 1 1 1 Conversão3 alimentar -2,6 -2,3 4,1 -8,2 -8,9 -4,7 -3,0 -10,4 -5,8 2,3 n 3 1 1 1 2 1 1 1 1 1 Rendimento da carcaça4 -0,3 -0,7 1,0 2,1 1,0 -2,0 -0,5 -1,1 n 2 1 1 1 1 1 1 Gordura subcutânea 3 -29,8 -40,4 -33,3 -22,2 -34,4 -27,7 -34,0 n 1 1 1 1 1 1 1 Tecido muscular, % da 1,3 0,0 2,1 3,6 4 carcaça n 2 1 1 1 3 1 Para cada experimento, foram calculadas as diferenças percentuais com o zebu e depois calculada a média. 2 Hol = Holandês, PS= Pardo Suíço, Sim=Simental, M/ Chi = Marchigiana ou Chianina, Lim=Limusin, Canc= Canchim, Ang=Angus, Nor+Normando, SG=Santa Gertrudis, Cara=Caracu. 3 100[(F1 (i) – zebu)/zebu] 4 100(F1 (i) – zebu) 5 Número de experimentos nesta média. Fonte: Naves (1998) Naves (1998) examinou também as comparações das exigências nutricionais, concluindo que as exigências de energia para mantença dos F1 de Holandês x zebu, são próximas às dos zebus, com tendência a serem menores que as dos outros mestiços, enquanto que exigências de energia líquida para ganho de peso são menores nos F1 de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 125 Holandês, também com tendência a ser menores em relação aos cruzados de raças especializadas de corte. As menores exigências do zebu para mantença, e maiores exigências para ganho, com respeito às raças européias puras, estão bem documentadas na literatura (p.ex. Borges, 2000). EFEITOS DO “GRAU DE SANGUE” Diferenças de adaptação conferem vantagens a um ou outro genótipo, dependendo das condições em que deverá se desempenhar, gerando o fenômeno que os melhoristas chamam de interação genótipo x ambiente. Em outras palavras, o “grau de sangue” influencia o desempenho dos mestiços de forma diferente em diferentes condições. Num experimento conduzido em Cuba, foram comparados os ganhos de peso de 190 machos inteiros de quatro “graus de sangue” Holstein x zebu, em confinamento, dos seis aos 15 meses, e em capim pangola suplementado, até os dois anos de idade (López et al., 1982). Como pode ser visualizado na Figura 3, as diferenças entre os “graus de sangue” foram menores em confinamento, onde os 5/8, ¾ e Holstein puro ganhavam mais do que os ¼ Holstein. Já a pasto, este último genótipo teve desempenho superior aos outros três, sendo que o ganho de peso diminuía com o aumento do “sangue” Holstein. 126 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Ganho diário, g/d 1000 800 600 Confinamento 400 Pasto 200 1/4 5/8 3/4 HOL "Grau de sangue" Holstein Figura 3. Ganho de peso de machos inteiros Holstein x Zebu em Cuba. Fonte: López et al. (1982) Na Figura 4 são apresentados os resultados de experimento realizado no Brasil com 180 novilhas de seis “graus de sangue” Holandês/Guzerá, confinadas, tratadas com capim elefante na estação chuvosa e silagem deste na seca, e suplementadas com concentrados de forma a se obter ganhos médios de 500 e 300 g/dia em cada estação (Paiva et al., 1992). Pode ser visto que na estação chuvosa houve tendência de maior capacidade de consumo com maior “grau de sangue” Holandês, o que não acontecia na estação seca. As novilhas F1 apresentaram o maior ganho diário em ambas as estações, mas, na seca, seu consumo de matéria seca por cabeça foi pouco superior ao das novilhas >31/32 de Holandês, enquanto que nas águas foi igual, de forma que elas tiveram também melhor eficiência de conversão alimentar, em ambas as estações. A heterose para eficiência de conversão foi significativa na estação chuvosa, mas não pode ser demonstrada na seca (Madalena et al., 1992). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 127 PRODUÇÃO DE CARNE NO SISTEMA F1 Experimento de cruzamentos de gado de leite conduzido pela EMBRAPA com apoio da FAO em 67 fazendas da região Sudeste mostrou que nas condições de produção que prevalecem na Região Sudeste, em regime de duas ordenhas diárias, a estratégia de repor continuamente o rebanho com fêmeas F1 seria a mais rentável. Os resultados estão resumidos na Figura 4, onde pode ser visto que as outras estratégias, como a rotação de uma geração de Holandês e uma de zebu (H-Z) ou de duas gerações de Holandês seguidas de uma de zebu (H-H-Z), ficaram aquém da F1. A formação de Holandês PC teve desempenho semelhante à rotação H-H-Z nas fazendas com manejo “alto” (principalmente uma estação experimental), mas foi deficitária nas fazendas de manejo “baixo” (o comum, em fazendas com duas ordenhas). A formação de bimestiço 5/8 também não teve bom desempenho econômico, em decorrência da perda de heterose. 128 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte (a) g/dia 600 500 400 300 200 ¼ ½ 5/8 ¾ 7/8 >31/32 Fração de Holandês 3,5 kg/100kg (b) 3 2,5 2 ¼ ½ 5/8 ¾ 7/8 >31/32 Fração de Holandês (c) kg/kg 19 17 15 13 11 9 ¼ ½ 5/8 ¾ 7/8 >31/32 Fração de Holandês Figura 4 - Ganho de peso (a), consumo de matéria seca por 100 kg de peso vivo (b) e conversão alimentar (c) de novilhas de seis cruzamentos de Holandês x Guzerá alimentadas com capim elefante, picado, na estação chuvosa (barras brancas) e ensilado, na seca (barras pretas), com suplemento de concentrados e minerais em ambas as estações. Dados ajustados por peso inicial. (Fonte: Paiva et al., 1992). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 129 5 4 litros/dia 3 2 1 0 -1 -2 F1 H-H-Z H-Z PC 5/8 F1 H-H-Z H-Z PC 5/8 Estratégia de cruzamento Manejo "alto" Manejo "baixo" Figuralíquido 5. Lucro Figura 5 - Lucro porlíquido dia de por vida dia de útil,vida expresso útil, expresso em litros em litros de leite. de leite. F1=primeiro cruzamento, H-H-Z e H-Z= rotação de Holandês-zebu, por F1 = primeiro cruzamento, = rotação depor Holandês-zebu, por dois5/8 ou uma dois ou uma H-H-Z gerações, PC=puro cruza, 5/8=bimestiças gerações, PC = puro por cruza, 5/8 = bimestiças 5/8 Holandês: 3/8 zebu. Holandês:3/8 zebu. Fonte: Madalena et al. (1990) Fonte: Madalena et al. (1990) Não cabe aqui entrar em maiores detalhes sobre cruzamentos para leite. Os resultados de experimentos de cruzamentos de Bos taurus x B. indicus, principalmente os brasileiros, foram revisados recentemente por Madalena (1997). Em níveis de produção de menos de 10 kg de leite por dia de intervalo de partos, a superioridade das mestiças, especialmente das F1, tem sido consistente, para quase todas as características de importância econômica, incluindo produção de leite, gordura e proteína, idade à puberdade e ao primeiro parto, eficiência de conversão de alimentos nas novilhas, mortalidade, morbidade e custos de saúde de bezerras, taxa de descarte de novilhas e vacas, vida útil, preço das vacas de descarte e custo da ordenha. 130 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Diversos levantamentos têm mostrado que os produtores, em concordância com os resultados experimentais, corretamente escolhem o genótipo mais adequado para os sistemas de produção de baixos insumos, que são a maioria no Brasil tropical. Por exemplo, um estudo em 291 fazendas de Minas Gerais indicou que 89% do rebanho era mestiço e que a maioria dos produtores (46%) queria mantê-lo assim, embora 40% não tivesse meta definida a respeito do tipo de rebanho que pretendia ter no futuro próximo (Madalena et al., 1997). Por outro lado, os produtores têm detectado a superioridade do cruzamento F1 (apesar da inexistência de propaganda e de esclarecimento por parte dos órgãos oficiais), tendo surgido mercado incipiente para este tipo de animal, que recebe excelentes preços (Madalena, 1997). A superioridade do cruzamento F1 poderia ser aproveitada através de sistema de reposição contínua do rebanho leiteiro com fêmeas daquele cruzamento (Madalena, 1993). Organograma do funcionamento deste esquema se F 1 se apresenta na figura 6. O esquema apresentado na Figura 6 é especialmente apropriado para fazendas de corte, com alta eficiência reprodutiva, já que, do contrário, somente uma minoria das matrizes poderiam ser utilizadas para cruzamentos sem diminuir o tamanho do rebanho B. indicus. Os números da Figura 1 foram calculados para um rebanho que consiga 38 novilhas entrando em reprodução por cada 100 matrizes acasaladas. Nesse caso, 60% das matrizes podem ser inseminadas com B. taurus e as 40% restantes acasaladas com B. indicus. Dessa forma, um rebanho de 600 matrizes B. indicus pode sustentar um rebanho leiteiro de 1000 matrizes F1 (Madalena, 1992). Em caso de transferência de embriões, o número de matrizes B. indicus se reduziria inversamente à eficiência da mesma. Uma fazenda de corte como a da figura 7 produziria 139 novilhas F1, que recebem preços de mais de duas vezes a arroba de boi gordo, mais 139 machos F1, que como foi visto acima são bons animais para engorda e mais 88 machos zebu. Desta forma, o sistema de reposição com F 1 se presta para produção de carne. No esquema da Figura 6, o produtor de leite tem várias alternativas para acasalar suas vacas. Como venderá todas as progênies, tanto machos quanto fêmeas, a raça a usar depende basicamente do seu mercado, que, dependendo da região pode preferir novilhas ¾ B. taurus, para leite, ou ¾ B. indicus, como matrizes para II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 131 corte ou, ainda, cruzamentos com raças européias continentais ou seus mestiços, para confinamento. As últimas duas opções gerariam também bons machos para corte, como mostrado acima. A “Agência Organizadora” da Figura 6 pode ser qualquer instituição de fomento, cooperativa, banco, prefeitura, organismo de extensão, etc. Mas, na verdade, tal agência não é indispensável e, na sua ausência, os próprios produtores estão se encarregando de produzir e distribuir as F1 Brasil (Madalena, 1997). Sabe-se que existem alguns produtores de F1 na Colômbia, assim como também em outros continentes, como na Nova Zelândia, que exporta F1 de pais Sahiwal (e mais recentemente Gir brasileiro) x mães Friesian/Jersey para vários paises e em países da África que produzem F1 com mães Boran, embora não tenha sido possível documentar a magnitude destes cruzamentos. 132 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte SISTEMA DE REPOSIÇÃO CONTÍNUA COM F11 Fazendas Leiteiras Agência vacas F1 novilhas F1 1000 139 novilhas e machos Faz. Criadoras vacas B. indicus x pais B. taurus vacas B. indicus 231 x pais B. indicus 366 novilhasB. indicus machos B. indicus Venda 139 machos F1 Figura 6 - O sistema de reposição contínua com fêmeas F1. Uma agência organizadora (ou particulares) contratam a produção de novilhas F1 com fazendas criadoras de alto padrão zootécnico e sanitário e as repassa às fazendas leiteiras. Parte do rebanho Bos indicus é inseminado com B. taurus para produzir novilhas F1 para reposição do rebanho leiteiro, e o restante é acasalado com B. indicus, para produzir novilhas de reposição do rebanho criador. Índica-se o número de animais de cada categoria, num sistema que mantenha 1000 vacas leiteiras F1, supondo-se alta eficiência reprodutiva nas fazendas criadoras. Fonte: Madalena (1992, 1993). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 133 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barbosa, P.F. e Bueno, R.S. 2000. Sistemas mistos de produção de leite e carne bovina. Simpósio sobre Manejo e Nutrição de Gado de Leite, Anais... CBNA, Goiânia, p. 53-68. Benedetti, E., Pedroso, D.S.G. 1996. Efeitos da ordenha mecânica sobre a saúde do úbere. Veterinária Notícias (Uberlândia) 2:51-60. Borges, A L.C.C. 2000. Exigências Nutricionais de Proteína e Energia de Novilhas das Raças Guzerá e Holandesa. Tese Doutorado, Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte,89 p. Campos, O. 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Essas metas devem ser coerentes com as condições existentes na propriedade, portanto, possíveis de serem atingidas, pois deverão servir como base para o plano estratégico relacionado com o manejo e os programas de saúde e alimentação a serem estabelecidos, de maneira a se obter o desejável de maneira rentável. O Intervalo de Partos (IP) de 12 meses ou próximo de um ano inclui-se entre essas metas desejadas, por ser considerado economicamente ótimo para vacas leiteiras (BRITT, 1996; OPSOMER et al., 1996), o mesmo ocorrendo para gado de corte (um bezerro/ano), e para isso o período de serviço ou intervalo parto e concepção não poderá exceder 80 a 90 dias (SANTOS e AMSTALDEN, 1998). A maioria das vacas leiteiras bem manejadas começa a ciclar (reinício da atividade ovariana luteal cíclica - AOLC) novamente entre a 2.ª e 4.ª semana pós parto. As vacas com problemas de saúde, amamentando (vacas de corte) ou que apresentam acentuado Balanço Energético Negativo (BEN) pós-parto podem atrasar o aparecimento do cio no início da lactação. Há citações de que as vacas ovulam pouco depois que o BEN alcançou seu ponto mais baixo e começou a se elevar para atingir o ponto de equilíbrio. Um bom indicador da adequada alimentação do rebanho é a proporção de vacas que ainda não voltaram a ciclar até a 6.ª semana pós parto (45 dias). Quando esse índice excede a 25 % dos animais, é indicativo da necessidade de uma cuidadosa avaliação do programa de alimentação, com o objetivo de aumentar o consumo de energia e encurtar o período de BEN. Deve-se lembrar que falhas na identificação de cios podem estar contribuindo para o problema (CANFIELD e BUTTLER, 1991; OPSOMER et al., 1996). 138 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Algumas vacas começam a ciclar normalmente dentro do período desejado pós parto, mesmo perdendo muito peso no início da lactação, desde que apresentem boa condição corporal ao parto, porém, em geral, esses cios mostram baixa fertilidade quando o animal é acasalado ou inseminado nesse período (BRITT, 1996; SANTOS e AMSTALDEN, 1998). Entre tantos outros fatores que afetam o desempenho reprodutivo de vacas de leite e corte, o manejo nutricional é o que tem maior impacto, sendo a energia o principal nutriente requerido para a reprodução de fêmeas bovinas. A insuficiente ingestão de energia está correlacionada com inferior performance reprodutiva, refletindo num maior intervalo parto e 1.º cio / ovulação pós-parto e/ou menor taxa de concepção em fêmeas bovinas de corte e leite (SANTOS e AMSTALDEN, 1998; de VRIES e VEERKAMPF, 2000). A relação entre nutrição e reprodução em rebanhos leiteiro e de corte tem sido extremamente revisada (STAPPLES e THATCHER, 1997; SWECKER, 1997; STAPPLES et al., 1998; de VRIES E VEERKAMPF, 2000). É importante salientar também, que em relação à proteína, tanto sua deficiência como o excesso podem prejudicar o desempenho reprodutivo. Vacas de corte alimentadas com pastagem de baixa qualidade, ingerem dieta com déficit protêico, e nesses casos podem apresentar comprometimento da fermentação ruminal , com menor consumo de matéria seca e menor digestibilidade da fibra. Desse modo a ingestão de energia será limitada devido à maior ingestão de fibra, associada ao baixo conteúdo de proteína na dieta (SANTOS e AMSTALDEN, 1998). Quando a proteína é ingerida em excesso (condição mais rara) podem ocorrer aumento do N2 ureico no sangue e leite, alteração da atividade tubárea e endometrial, maior custo energético (gasto de ATP para transformação de NH3 em uréia para ser eliminada) e uma possível supressão do sistema imunológico. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 139 CONDIÇÃO CORPORAL E EFICIÊNCIA REPRODUTIVA O Escore da Condição Corporal (ECC) tem sido utilizado como eficiente método auxiliar de manejo para rebanho de leite e corte, pois permite uma avaliação da disponibilidade de reservas energéticas do animal. O ECC de cada animal é obtido com base na observação visual e/ou palpação de determinadas áreas do corpo (costelas, região dorsal e caudal, anca, inserção da cauda...), onde são avaliados subjetivamente os depósitos de gordura subcutâneo e massa muscular. A reduzida ingestão de nutrientes está associada com perda de peso corporal, que traz como conseqüência mudanças no ECC (VIZCARRA et al., 1998). Em rebanhos leiteiros é mais comumente usada a escala de ECC variando de 1 a 5 (FOX, 1991). Para gado de corte utiliza-se, em geral, o ECC variando de 1 a 9, com base na gordura subcutânea. (FOX, 1991) mostra na Tabela 1 os sistemas de Escore de Condição Corporal mais comumente usados para bovinos de leite e corte, e a porcentagem estimada de gordura corporal correspondente a cada escore. A escala pode ser aperfeiçoada adicionando-se (+) ou (-) para cada escore, em casos de dúvidas. Para raças de corte européias, a mudança de 1 unidade de ECC na escala de 1 a 9 corresponde de 30 a 40 Kg de mudança no peso corporal (SWECKER, 1997). Para vacas de raça Holandês (HPB), uma unidade de mudanças no ECC na escala de 1 a 5 representa de 50 a 60 Kg do peso corporal (FERGUSON, 1991). A performance reprodutiva de vacas de corte é altamente influenciada pela condição corporal ao parto. A nutrição em período anterior ao parto, que se reflete no ECC ao parto, é o fator mais importante determinante do intervalo parto e 1.º cio/ovulação (OSORO e WRIGHT, 1992). Experimentos conduzidos com mais de 1742 vacas de corte, mostraram pouca influência da alimentação pós-parto no intervalo parto e 1.º cio, quando as mesmas apresentaram adequado ECC (≥ 6) ao parto. 140 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Escore de condição corporal (ECC) na vaca CORTE LEITE % GORDURA 1 1 5,0 2 1,5 9,4 3 2,0 13,7 4 2,5 18,1 5 3,0 22,5 6 3,5 26,9 7 4,0 31,2 8 4,5 35,6 9 5,0 40,0 APARÊNCIA DA VACA Extremamente raquítica, próxima da morte por inanição. Costela, espinha dorsal e anca muito proeminentes. Nenhum tecido gorduroso visual. Um pouco definhada. Costelas, espinha dorsal e anca proeminentes. Magra. Costelas visualizadas individualmente, mas não tão salientes. Um pouco de carne ao longo da espinha dorsal. Costelas individuais pouco ou não evidentes. Pouca gordura sobre costelas e ossos da anca. Pode apalpar espinha, não pontiaguda. Moderada ou boa. Gordura palpável sobre as costelas e qualquer lugar de garupa. Espinha dorsal pouco visível. Necessita de pressão para apalpar espinhas. Considerável gordura palpável sobre as costelas. Gorda. Um pouco de gordura no peito, boa quantidade de gordura sobre as costelas. Acúmulo de gordura na região da garupa. Muito gorda. Peito repleto e grande depósito de gordura sobre as costelas, garupa, inserção da camada e vulva. Extremamente gorda e block. Estruturas ósseas não visíveis e não palpáveis. A importância da alimentação e condição corporal na reprodução pode ser exemplificada numa consulta realizada à equipe de reprodução da Embrapa Gado de Leite por um criador de gado de corte, cujo rebanho era constituído por cerca de 1.000 vacas. Alegava o criador que na última estação de monta apenas 300 vacas tinham sido vistas em cio e inseminadas, não sendo observado cios nas 700 vacas restantes. Manifestou sua intenção de aplicar duas doses de Prostalglandina F2∝ , com intervalo de 11 dias em cada animal cujo cio não foi observado, na tentativa de induzir o cio nos mesmos, e perguntava se isso seria recomendado. Indagado se as vacas não haviam iniciado a estação de monta em condição corporal inferior (magras), o produtor respondeu afirmativamente, informando que naquele ano teve sérios problemas II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 141 com a alimentação do rebanho e um período de seca muito extenso. Pelas informações obtidas chegou-se à conclusão tratar-se de uma condição generalizada de anestro (ausência do ciclo estral e/ou do cio) prolongado pós-parto, quando as vacas provavelmente estariam com os ovários afuncionais ou inativos. Nesses casos, o medicamento que seria aplicado pelo criador nenhum efeito causaria, e os recursos gastos com essas aplicações, calculados na época em torno de R$ 8.000,00 (oito mil reais), seriam suficientes e mais bem aproveitados caso utilizados na implantação ou reforma de pastagem em expressiva área (produção de alimentos volumosos). Na Campanha Nacional de Aumento da Produtividade em Rebanhos Leiteiros, lançada em 1990, idealizada e Coordenada pela Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora - MG), preconiza-se a utilização do sistema de Escore de Condição Corporal modificado de WILDMAN (1982), de maneira a melhor atender às condições de manejo ou exploração vigentes no Brasil (FERREIRA, 1991). Na Tabela 2 são mostradas as poucas diferenças existentes entre os dois sistemas de ECC mencionados. As modificações foram introduzidas pelo fato de que, no Brasil, a grande maioria dos bovinos não recebe alimentação suficiente para atender suas necessidades, predominando com isso animais de condição corporal inferior (magros), uns poucos gordos e raros muito gordos. Nesse caso, ao se utilizar o sistema de ECC tradicional de WILDMAN (1982), no qual o escore 5 representa animais muito gordos, essa unidade de escore não seria praticamente usada no manejo de rotina. Além disso, introduziu-se a condição corporal regular para o escore 3, correspondente a um animal considerado meio magro, para que esse escore possa servir de alerta aos produtores, pois tais animais exigem atenção especial pelo fato de que se perderem um pouco mais do peso vivo certamente entrarão em anestro, condição reprodutiva indesejável pelas grandes perdas econômicas que acarreta, tanto para rebanhos leiteiros como de corte, por alongar o intervalo de partos. 142 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 2 - Sistemas de Escore de Condição Corporal (ECC) de WILDMAN (1982) e o adaptado por FERREIRA (1991), para bovinos ECC 1 2 3 4 5 CONDIÇÃO CORPORAL WILDMAN (1982) FERREIRA (1991) MUITO MAGRO MUITO MAGRO MAGRO MAGRO MODERADO (BOM?) REGULAR (MEIO MAGRO) GORDO BOM MUITO GORDO GORDO VARIAÇÃO DO PESO CORPORAL E ATIVIDADE OVARIANA Cada vaca possui uma massa corporal ideal para ótima fertilidade, e quando essa massa declina ou aumenta além de certos limites a reprodução é afetada (LAMOND, 1970). Existe um peso mínimo abaixo do qual a vaca não concebe ou pára de ciclar (cessa a atividade ovariana luteal cíclica - AOLC), o que ocorreria quando a fêmea bovina perde de 20 a 30% de seu peso adulto (OLIVER e RICHARDSON, 1976; TOPPS, 1977). BOND et al. (1958) trabalhando com novilhas de corte pesando 305 Kg em média, observaram que a perda de 59,5 Kg (19,5%¨) em 136 dias provocou anestro nos referidos animais, que voltaram a ciclar após ganharem 41,1% (101 Kg) do peso vivo apresentado quando em anestro (245,5 Kg). Num segundo experimento semelhante com novilhas de corte com peso médio de 289,5 Kg, os animais pararam de ciclar ao atingirem 240,4 Kg, o que significa uma perda de 49,1 Kg (17,0%). Esses animais voltaram a ciclar ao recuperarem 56,8 Kg, o que representa 23,6% do peso que apresentavam quando em anestro. Analisando os dois experimentos concluiu-se que as novilhas de corte cessaram a AOLC (pararam de ciclar) após 4,5 meses de restrição alimentar e perda média de 18,0% do peso vivo. O reinício da AOLC variou de 4,5 a 7,0 meses. Existe uma lata correlação (x = 0,72) entre porcentagem (%) de perda do peso vivo e número de dias para cessar a AOLC em bovinos, II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 143 com os animais mais leves necessitando de menos % de perda de peso vivo para cessar a AOLC (IMAKAVA et al., 1983). Vacas da raça Hereforf com peso médio de 390 Kg foram submetidas à restrição alimentar e apresentaram anestro após perderem 18% do peso vivo (70 Kg), ao atingirem 320 Kg. A recuperação da AOLC desses animais ocorreu após os mesmos serem alimentados adequadamente e ganharem 24,0 % do peso vivo (HALE, 1975). Utilizando vacas da mesma raça com peso vivo médio de 420 Kg, RICHARDS et al. (1986) observaram a indução do anestro após a perda de 24% do peso vivo, com a recuperação posterior ocorrendo após o ganho de 12% de peso vivo apresentado quando em anestro. FERREIRA e TORRES (1993) submeteram à subnutrição vacas girolando, adultas e não-lactantes, com peso vivo médio de 535,5 ± 48,4 Kg e condição corporal boa ou gorda (4 ou 5), e observaram que o anestro ocorreu quando esses animais perderam em média, 35,7 ± 3,8 % do peso vivo inicial, ao atingirem 344,5 ± 25,3 Kg e ECC 2,2 ± 0,3. Vacas girolando, magras, adultas e não-lactantes, com anestro e peso médio de 315,0 ± 29,4 Kg foram alimentadas para ganho de peso até a recuperação da AOLC, o que ocorreu após um ganho médio de 77,7 ± 11,2 Kg do peso vivo (24,7 ± 4,5 %), conforme demonstrado no trabalho de FERREIRA et al. (1999a). O alto custo da recuperação de AOLC nas vacas com anestro, verificado por FERREIRA et al. (1999b), permite se concluir pelas grandes perdas econômicas decorrentes desse problema reprodutivo, de alta prevalência em nossos rebanhos bovinos. ANESTRO NUTRICIONAL A subnutrição traz como conseqüência a perda do peso vivo, que afeta a reprodução inicialmente reduzindo a taxa de concepção (cios menos férteis), e em casos extremos, após uma significativa perda de massa corporal, provocando o anestro, condição em que os ovários apresentam-se inativos ou afuncionais, sendo caracterizado pela palpação retal como pequenos, duros e lisos (PDL), nos casos de restrição alimentar severa e por longo período. O anestro pode ser considerado como o principal problema reprodutivo no rebanho bovino racional. O animal pode apresentar-se em anestro devido alguma condição fisiológica (ante da puberdade e 144 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte durante a gestação) ou patológicas (manejo inadequado, subnutrição, doenças debilitantes, ovarianas ou uterinas). No Brasil, a principal causa do anestro nos rebanhos bovinos é o déficit alimentar, e embora sua causa seja conhecida e, conseqüentemente, também a sua solução (dieta adequada), sua prevalência continua alta e desafiando a técnicos e produtores. Sabe-se que são vários os fatores capazes de reduzir a fertilidade do rebanho bovino (doenças da reprodução, estresse térmico, patologias do útero e ovários, manejo...), mas o grande e incisivo efeito da nutrição sobre a atividade ovariana de bovinos permite concluir que “NUTRIÇÃO e REPRODUÇÃO REPRESENTAM UM CASAMENTO SEM DIVÓRCIO”, uma reunião indissolúvel, não havendo como se dissociarem ou agirem separadamente. Isso porque sem nutrição adequada não haverá reprodução, e sem esta haverá extinção de espécies, quando não haverá bovinos a serem nutridos. A BOA CONDIÇÃO AO PARTO é condição essencial para a precoce manifestação do cio pós-parto, e conseqüente aumento da eficiência reprodutiva do rebanho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOND, J.; WILTBANK, J. N.; COOK, A. C. Cessation of estrus and ovarian activity in a group of beef heifers on extremely low levels of energy and protein. Journal Animal Science, v.17, p.1211, abstr. 192, 1958. BRITT, J. H. Manejo reproductivo eficiente. Primer Simpósio International de Ganaderea Lechera Tropical. San Juan Marriot Resort, Puerto Rico, 1996. 175p. CANFIELD, R. W.; BUTLER, W. R. Energy balance, first ovulation and the effects of naxolone on LH secretion in early post partum dairy cows. Journal Animal Science, n.69, p. 70 , 1991. DE VRIES, M. J.; VEERKAMPF, R. F. Energy balance of dairy cattle in relation to milk production variables and fertility. Journal Dairy Science, n.83, p.62-69, 2000. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 145 FERGUSON, J.S. Nutrition and reproduction in dairy cows. In: The Veterinary Clinics North America: Food Animal Practice - Dairy Nutrition Management. v.7, n.2, p. 483-507, 1991. FERREIRA, A. M. 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Este fato aconteceu em todos os países, independente do estágio de desenvolvimento social e econômico, em face de globalização no uso principalmente de aves e suínos destinados à produção comercial. Inegavelmente os bovinos, suínos e aves são as espécies de exploração econômicas mais expressivas para a produção de alimentos destinados ao consumo humano. As mudanças na cadeia produtiva dessas espécies, com a implantação recente do conceito de cuidar da produção da granja à mesa do consumidor, sintetizam todos os cuidados e metodologia que se deve ter em relação a segurança alimentar. A seleção genética procurando maximizar o potencial biológico, os progressos na nutrição, instalações e manejo viabilizaram produzir mais animais por área, exigindo dessa forma cuidado especial com a sanidade. A prevenção, erradicação de doenças transmissíveis, controle rigoroso sobre os insumos veterinários utilizados na produção animal constituem um elenco de medidas essenciais para garantir níveis seguros e competitivos na produção de alimentos de origem animal. Os clássicos agentes infecciosos, vírus, bactérias, fungos, espiroquetas, protozoários e helmintos ainda estão presentes e são motivos de preocupação na exploração moderna dos animais, principalmente quando estamos aumentando, cada vez mais, a densidade animal por área. A densidade da população animal deve ser vista em todo o território nacional e não só no nível da fazenda. Os paises com uma população animal altamente concentrada possuem condições altamente favoráveis para a propagação desses agentes, desencadeando epidemias de grande porte e longa duração. A febre aftosa é um bom exemplo dessa assertiva. Os recentes episódios na Inglaterra, na Argentina, Uruguai e nos municípios da fronteira do Rio 148 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Grande do Sul, transformaram-se rapidamente em ondas epidêmicas , graças a alta densidade de bovinos suscetíveis nessas regiões. Outro aspecto a considerar é a transformação, em escala mundial, de um grande número de rebanhos pequenos em um número pequeno de propriedades com grandes rebanhos. A existência de propriedades com 10.000 a 100.000 bovinos de corte, de 200 a 2000 vacas de leite, de 20.000 a 100.000 suínos e granjas com milhões de frangos de corte e aves de postura favorecem a manutenção de determinadas doenças transmissíveis, principalmente as respiratórias, digestivas e por contato direto. O rebanho bovino brasileiro, formado em sua maior parte por animais de corte, é o segundo do mundo com cerca de 170 milhões de cabeças. Sua produtividade pode ser considerada baixa, pois o desfrute está em torno de 13%, o índice de natalidade de 55%, a idade média do primeiro parto é de 45 meses, o abate de 4 a 5 anos, o peso médio das carcaças de 222 Kg e a mortalidade até a idade adulta de 15% a 20%. Baptista et al (1999) pesquisaram o peso da carcaça quente de 505.005 bovinos abatidos em Minas Gerais, de janeiro a dezembro de 1977 e a média encontrada foi de 222,31 Kg. Setenta e três por cento dos bovinos abatidos tinham idade igual ou superior a 4 anos. Esse binômio idade-peso ao abate é um indicador de pouco progresso qualitativo na produção de bovinos de abate em Minas Gerais. Na tese “ Tuberculose e outras causas de condenação de bovinos em frigoríficos de Minas Gerais, Brasil”, defendida por Baptista (1999), como pré requisito do doutorado em Ciência Animal da Escola de Veterinária da UFMG, os resultados da pesquisa realizada em 11 frigoríficos sujeitos à Inspeção Federal, no período de janeiro de 1993 a dezembro de 1997, quando foram abatidos 2.424.826 bovinos, permitiram concluir : a) A tuberculose é a principal causa de condenação de carcaças de bovinos para graxaria, embora a cisticercose seja a principal causa de julgamento e aproveitamento condicional desta peça em frigoríficos de Minas Gerais sujeitos à Inspeção Federal. b) Magreza, caquexia e traumatismos são importantes causas de depreciação de peças de bovinos abatidos em frigoríficos. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 149 c) As carcaças que vão a julgamento são aproveitadas condicionalmente (57,03%) ou liberadas para consumo (41,98%). Menos de 1% são condenadas para graxaria. d) O julgamento das vísceras de bovinos resulta quase sempre em depreciação, principalmente com envio para graxaria. e) O prejuízo devido à condenação de fígado dos bovinos para graxaria é cerca de quatro vezes superior ao da condenação de suas carcaças. f) As principais causas de condenação de fígado de bovinos em frigoríficos sob Inspeção Federal são a teleangiectasia maculosa e as lesões supuradas. A modificação dessa Tabela, ou seja, melhorar a produtividade, será viável se as prioridades forem ênfase na garantia de boa disponibilidade e qualidade da alimentação animal durante todo o ano, aumento do potencial genético do rebanho e, finalmente, conduzir com seriedade e perseverança os programas de controle e erradicação das principais doenças infecciosas prevalentes no Brasil. Nessa linha, o Ministério da Agricultura e Abastecimento publicou recentemente as diretrizes para o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Bovina. Não há a menor possibilidade de sucesso na expansão da produção ate que sejam controladas e mesmo erradicadas doenças como a febre aftosa, tuberculose e brucelose nos bovinos, peste suína clássica nos suínos e Newcasttle nas aves. Essas doenças podem ser agrupadas em três importantes categorias: A) – Doenças que causam severas perdas econômicas e que são barreiras no comércio internacional de animais e de seus produtos. Exemplos são a febre Aftosa, Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB- Vaca Louca), Peste Suína Africana e Clássica e NewCasttle. B) – Doenças que são onipresentes, prevalentes e são causas que contribuem para baixa performance dos animais. Aqui estão incluídas as doenças respiratórias, infecções entéricas e doenças por ecto e endo parasitas. C) – As zoonoses, doenças dos animais transmissíveis ao homem e, portanto de importância para a Saúde Pública. Exemplos são as 150 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Cisticercoses, Bruceloses, Tuberculose e Leptospiroses. Hidatidose, Leptospiroses, Existe um consenso de que nos últimos 20 anos houve significativos progressos no controle e erradicação das principais doenças dos animais que são relevantes no aspecto econômico e de saúde pública. À medida que a situação sócio-econômica melhora em todos os países, cresce a demanda por produtos de origem animais isentos de doenças e com alto padrão de qualidade. Atualmente, no mundo cada vez mais globalizado, não é mais possível tratar os paises individualmente, pois as exigências para a comercialização, tanto para o consumo interno, como para importação e exportação de alimentos está se tornando cada vez mais rigorosa, homogênea, seguindo normas estabelecidas pelos organismos internacionais. Qualquer país como o Brasil, que possui um grande potencial para dobrar sua produção animal, ampliando sua participação no mercado internacional de produtos de origem animal, deverá desenvolver urgentemente um Programa Estratégico de Segurança Alimentar (PESA). Nesta linha, no período de 2 a 4 de maio de 2001, na cidade de São Paulo, realizou-se a XII REUNIÃO INTERAMERICANA A NÍVEL MINISTERIAL DE SAÚDE E AGRICULTURA, evento histórico pois pela primeira vez reuniram-se os Ministros de Agricultura e Saúde fora de Washington, sob o patrocínio da Organização Panamericana da Saúde, órgão da Organização Mundial da Saúde, com a participação de todos os países das Américas, para tratar em conjunto de temas de saúde humana e animal, que entre outras resoluções políticas que nortearão os países nesse setor, aprovou a proposta brasileira, por unanimidade de criação da Comissão Panamericana de Inocuidade de Alimentos (COPAIA). Os fundamentos para essa resolução foram com base nos seguintes considerandos: “Considerando que durante os últimos 10 anos ocorreram importantes surtos de doenças transmitidas por alimentos no mundo, os quais alertaram as autoridades dos países sobre a necessidade de tomar medidas para evitar o risco de sua transmissão a população e as perdas econômicas por alimentos contaminados; II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 151 Considerando que a situação de inocuidade de alimentos no mundo foi recentemente analisada na 53a Assembléia Mundial da OMS, que emitiu uma resolução (WHA 43.15) que estabelece a inocuidade dos alimentos como uma prioridade e faz recomendações correspondentes aos Estados Membros e a Diretoria Geral da OMS; Considerando que a criação da Organização Mundial do Comércio motivou os países a revisar suas políticas e adotar as Normas do Codex Alimentarius como a base científico-técnica para garantir que os alimentos consumidos pela população tenham condições sanitárias apropriadas e facilitem seu comércio internacional.” Essa decisão política dos países americanos se associa a posição já assumida pela maioria das nações européias, aceitando o conceito de segurança alimentar para que as pessoas, em todo o mundo, tenham acesso a alimentos nutritivos e saudáveis, capazes de assegurar uma vida sadia, digna e ativa. No mínimo quatro dimensões estão contidas nesse conceito: acesso, estabilidade da oferta, disponibilidade e sustentabilidade. A criação da COPAIA é um exemplo que esse conceito, que busca manter o objetivo de dar segurança alimentar universal para o individuo, ao lado da integração crescente da economia mundial, irá incorporar todos os países para que participe das decisões sobre a produção e o controle de qualidade dos alimentos de origem animal. A Organização Mundial da Saúde disponibiliza informações pela internet, onde se pode encontrar a informação de que aproximadamente um 1 bilhão e meio de pessoas no mundo apresentam episódios de diarréia por ano, com 3 milhões de óbitos entre crianças menores de 5 anos, principalmente nos países em desenvolvimento, calculando-se que 70% são causados por alimentos biologicamente contaminados. Os microorganismo patogênicos transmitidos por alimentos, os parasitos e a exposição a produtos químicos, incluídos os resíduos de carrapaticidas, bernicidas e alguns produtos tóxicos que ocorrem naturalmente, podem causar graves problemas de saúde, conforme resumido na Tabela 1. 152 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Riscos potencia is para Saúde Humana e Sistema de Produção de Alimentos Tipos de risco Características do risco Antibióticos Resíduos nos Alimentos Resistência bacteriana Doenças agudas no homem e animal Seqüelas Doenças agudas, crônicas e morte Resíduos nos alimentos Doenças crônicas no homem e animais Microorganismos Patogênicos Praguicidas Micotoxinas Doenças Parasitárias Metais pesados e Resíduos Tóxicos Doenças agudas e crônicas n homem e animais Idem, idem. Ponte do Sistema onde está o risco Aditivos nos alimentos Tratamento de doenças Presentes no tubo digestivo homem/animais Meio ambiente Usados na produção, elaboração e distribuição Natural em plantas, produtos animais e vegetais armazenados Parasitos dos animais, água e solo Alimentos, contaminados, solo e água. Por esses motivos, o sistema de avaliar a produção de alimentos da origem até a mesa do consumidor é cada vez mais adotado mundialmente. Este sistema permite identificar e resolver os problemas de introdução de riscos nos diversos pontos da cadeia produtiva. A metodologia de ANÁLISE DE PERIGO E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE (APPCC). Essa metodologia composta de um conjunto de normas internacionalmente aceitas e adotada em vários países se difunde para aumentar a inocuidade dos alimentos e reduzir a incidência das doenças transmitidas pelos alimentos. A APPCC procura incorporar os controle de sanidade agropecuária e inocuidade dos alimentos na fase de produção, elaboração e comercialização dos alimentos em lugar de concentrar a análise no produto final. Assim, os problemas específicos na fazenda de produção podem ser separados dos existentes na indústria, no processo tecnológico de processamento e distribuição e comercialização dos produtos, como está resumido na Tabela 2. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 153 Tabela 2 - Distribuição da responsabilidade na produção de alimentos inócuos e saudáveis. Setor Agropecuário Propriedade Transporte de Setor de Saúde Pública Frigoríficos animais e produtos matadouros Higiene das Higiene instalações instalações Higiene do Higiene pessoal Transporte Elaboração Limpeza Higiene Limpeza Inspeção pré e Higiene pessoal pessoal Resfriamento Manejo Manejo higiênico dos higiênico dos produtos produtos Rotulação Contaminação Desinfecção Manejo Higiene do Controle por água higiênico dos pessoal microbiológico residual produtos Controle de Determinação Praguicidas de resíduos Controle de Controle Produtos microbiológico Rotulação Higiene local Higiene pós mortem Veterinários Alimentação instalações Desinfecção pessoal Uso da água Serviços de Rotulação 154 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte O Banco Mundial, que no período de 1985 a 2000 financiou aproximadamente 2 bilhões e meio de dólares para praticamente todos os países do mundo, aumentarem e melhorarem a produção de alimentos, considera que o aumento da inocuidade dos alimentos e da sanidade agropecuária não dever ser exclusivamente financiada pelo setor público, pois o custo é muito elevado. Assim, recomenda uma divisão de responsabilidade com o setor privado, como está registrado na Tabela 3. Finalizando, acredita-se que as perspectivas do Brasil controlar e erradicar determinadas doenças de impacto econômico e de saúde pública são viáveis. Apesar do atraso em relação a vários países , com condições sócio-econômicas idênticas ou piores que o Brasil, mas que conseguiram erradicar a febre aftosa, raiva, brucelose, hidatidose e tuberculose, existem em nosso meio exemplos de sucesso. A história registra que quando há decisão política, o país foi capaz, existe competência instalada em vários setores, e a erradicação da peste bovina em 1922 e da peste suína africana em 1984 ilustra bem essa capacidade. A erradicação da poliomielite humana é outro sucesso em termos mundiais dessa determinação de resolver e enfrentar grandes problemas. O outro aspecto fundamental está na qualidade sanitária dos animais criados comercialmente no Brasil. Poucos países têm o privilégio de possuir rebanhos onde a prevalência global das principais doenças de importância econômica e zoonoses estão sempre abaixo de 5%. Dobrar a produção de alimentos de origem animal deveria ser uma meta de todos os atores que participam dessa importante atividade para o desenvolvimento social e econômico do Brasil. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 155 Tabela 3 - Funções dos Setores Público e Privado na Sanidade Agropecuária e na inocuidade dos alimentos Áreas 1. Investigação na propagação e reprodução e genética animal Setores Privado YY Exemplares resistentes a doenças por hibridação; Estrutura do mercado; Animais geneticamente modificados patenteados ; Técnicas de criação para reduzir riscos YYY Pesquisa aplicada nos produtos com patentes e segredos de fabricação (vacinas, fármacos, praguicidas e alimentos compostos). Sistema integrado de produção pesquisar o manejo para controle de doenças e dos nutrientes YY 3. Medidas Sanitárias Apoio mediante Preventivas em plantas diagnóstico, vacinas e e animais herbicidas. Produção e distribuição de insumos veterinários. Atenção clínica quando afeta a comercialização dos produtos YYY 4. Fornecimento de Produção de vacinas, medicamentos e fármacos e outros produtos atenção a saúde animal de uso veterinário 2. Investigação em proteção de doenças dos alimentos, prevenção e nutrição Público YYY Estudos básicos de genética de animais e plantas, fisiologia e eficiência biológica. Técnicas de cria para aumentar a resistência as doenças; Elaboração de esquemas de melhorias genéticas e gestão para os produtores e redução de riscos de doenças YYY Pesquisa básica sobre patologia animal e fitopatologia, nutrição e fisiologia. Pesquisa aplicada em sistemas de manejo para controlar e erradicar doenças e melhorar a eficiência das forragens. Identificação dos fatores de risco. YYY Vigilância epidemiológica sobre denças e qualidde de vacinas e medicamentos. Identificação dos fatores de risco. Fiscalização das importações de plantas e animais. YY Quando a eficácia dos programas de vacinação e controle de vetores está ameaçada por descumprimento das metas por parte dos agricultores. 156 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Continuação... 5. Pesquisa em áreas de risco de doenças transmitidas por alimentos 6. Atenção sanitária contra doenças transmitidas por alimentos Áreas 7. Produção de alimento, normas e procedimentos de elaboração 8. Vigilância Epidemiológica das Doenças transmitidas por alimentos YYY Pesquisa aplicada para garantir produtos inócuos. Desenvolver técnicas para detecção de riscos e de novos equipamentos para prevenir riscos YYY Pesquisa básica sobre antibióticos, doenças, praguicidas, micotoxinas e metais pesados. Pesquisa sobre patogenicidade, epidemiologia e ecologia de microorganismos patogênicos. Preparação de modelos de avaliação de riscos de toxinas, praguicidas e doenças. Elaboração de métodos novos para produção agrícola e elaboração dos alimentos. YYY YYY Diagnóstico, tratamento e Vigilância sanitária permanente medicamentos para as pelos órgãos de saúde pública. doenças agudas e crônicas Setores Privado Público YYY Elaboração e publicação de regulamentos para normas de produtos ou requisitos de produção. Inspeção das indústrias para garantir o cumprimento das normas. Certificar os produtores que cumprem com as normas públicas. Vigilância sobre a importação de alimentos. Y YYY Escassa participação a Vigilância e investigação da menos que os clientes incidência de doenças. sejam afetados Investigação dos sustos de toxiinfecções YYY Estabelecimento de procedimentos operativos padronizados, boas práticas de fabricação e sistemas APPCC. Uso de especificações em contratos e certificação por terceiros para assegurar o cumprimento dos fornecedores II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 157 Continuação... 9. Assistência Educacional e Técnicas Y Pouca ênfase YY Instalar Serviços Técnicos para garantir inocuidade dos alimentos. As organizações Industriais podem proporcionar educação para seus membros. YY Média ênfase YYY Educação dos consumidores dos trabalhadores do setor de alimentos, dos gerentes e dos proprietários mediante financiamento público. YYY Forte ênfase 158 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte INTEGRAÇÃO DE PASTEJO E USO DE SILAGEM DE CAPIM NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE 1 Luciano de Almeida Corrêa1 , Edison Beno Pott1 , César Antonio Cordeiro2 Pesquisador - Embrapa Pecuária Sudeste, 2 Técnico especializado - Embrapa Pecuária Sudeste INTRODUÇÃO O Brasil, pela extensão da sua área territorial e pelas condições climáticas favoráveis, apresenta enorme potencial de produção de carne em pastagens. Todavia, a maioria das pastagens encontra-se na região dos Cerrados do Brasil Central, que são áreas de baixa fertilidade natural. Além disso, vem sendo explorada de maneira extrativista e, como conseqüência, está em processo de degradação. Atualmente, a degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente em pastagens, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo. Estima-se que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares da área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central, que responde por 60% da produção nacional de carne, apresentam atualmente algum estágio de degradação (Barcellos, 1996). Dentre as várias causas de degradação das pastagens, tais como espécie forrageira não adaptada às condições locais, mau estabelecimento e manejo inadequado, a redução da fertilidade do solo está entre as mais importantes (Kichel et al., 1997), em razão dos nutrientes perdidos no processo produtivo, por exportação no corpo dos animais, erosão, lixiviação, fixação e acúmulo nos malhadouros. O somatório dessas perdas pode chegar a mais de 40% do total de nutrientes absorvidos pela pastagem em um ano de crescimento, o que provoca o empobrecimento contínuo do solo e a redução no crescimento das plantas. Para Werner (1994), a redução da disponibilidade do nitrogênio é uma das principais causas da degradação das pastagens tropicais, o que resulta em queda acentuada da capacidade de suporte da pastagem e do ganho de peso vivo dos animais a cada ano de utilização. Uma alternativa no caso do nutriente nitrogênio, em sistemas pouco 160 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte intensivos, seria o uso de pastagens tropicais consorciadas. Todavia, essa tecnologia ainda constitui um desafio para a pesquisa. A degradação das pastagens tem contribuído para que a pecuária de corte apresente, há décadas, índices zootécnicos muito baixos (Corsi, 1986), com lotação das pastagens em torno de 0,5 UA/ha/ano e produtividade na faixa de 100 kg de peso vivo/ha/ano (uma unidade animal - UA – eqüivale a um animal de 450 kg de peso vivo). Há portanto, necessidade de se evitar a degradação das pastagens e também intensificar a sua produtividade, a fim de tornar a pecuária de corte mais rentável e mais competitiva frente a outras alternativas de uso do solo, principalmente nas terras mais valorizadas. PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTAGENS A produtividade animal em pastagens é determinada por dois componentes básicos: desempenho por animal (ganho de peso vivo) e capacidade de suporte (número de animais por unidade de área). O desempenho animal é função da ingestão de matéria seca, da qualidade da forragem e do potencial genético de animal utilizado, e a capacidade de suporte é função do potencial de produção de matéria seca da forrageira (Boin, 1986). Quanto ao desempenho animal, a média do ganho de peso vivo, nas águas, está na faixa de 0,6 a 0,8 kg/animal/dia, podendo chegar até 1,0 kg/animal por dia (Corsi, 1993). O desempenho animal é um componente importante a ser alcançado, pois baixos ganhos de peso vivo provocam longo tempo de engorda, com acentuado aumento nas necessidades totais de matéria seca (Tabela 1). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 161 Tabela 1 - Matéria seca (MS) e digestibilidade da MS para satisfazer diferentes ganhos de peso de novilhos, desde 150 kg até 450 kg de peso vivo Ganhos diários (kg) Pastejo (dias) MS/dia (kg) Digestibilidade da MS (%) MS Total (kg) 0,25 0,50 0,75 1,10 1200 600 400 239 6,10 7,44 7,63 7,95 57 59 67 74 7320 4464 3052 1903 Adaptado de Blaser (1982). Embora a média de ganho diário de peso vivo, obtida normalmente nas pastagens tropicais não alcance a proporcionada pelas forrageiras temperadas, a produtividade animal pode ser elevada pelo seu grande potencial de produção de matéria seca no período das águas. Para a expressão desse potencial, é necessário considerar que as gramíneas forrageiras são tão ou mais exigentes do que as culturas agrícolas tradicionais (Silva, 1995). Desta forma, para a exploração intensiva das pastagens nos solos de cerrado, a correção do solo e a adubação estão entre os fatores mais importantes a determinar o nível de produção das forrageiras. Tendo em vista a baixa fertilidade dos solos de cerrado, é necessário que se estabeleçam, inicialmente, níveis de fertilidade a serem alcançados, como possibilidade de viabilização técnica e econômica, dada a gradual capacidade de resposta dos solos no processo de recuperação. Aspecto importante é realizar a correção e a adubação de forma equilibrada, mantendo a proporcionalidade entre os nutrientes Ca+2, Mg+2 e K+, no complexo coloidal do solo, em 65 a 85% de Ca+2, 6 a 12% de Mg+2, 2 a 5% de K+ e 20% de H+ (Silva, 1995). 162 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte MANEJO DAS PASTAGENS Existem dois sistemas clássicos de pastejo, com suas variações: o contínuo, no qual os animais permanecem na mesma área durante o período de produção da pastagem, e o rotacionado, que se caracteriza pela divisão da pastagem em piquetes e pela mudança freqüente e periódica dos animais de um piquete para outro dentro da mesma pastagem. Embora ainda haja divergências sobre qual é o melhor sistema de pastejo, de modo geral, o contínuo se justifica quando o sistema de produção for extensivo e não houver condições de aplicar técnicas específicas. Todavia, em sistemas de produção com lotação animal elevada, como no caso da exploração de pastagens tropicais sob adubação intensiva, o pastejo rotacionado é o mais indicado, por garantir maior uniformidade e maior eficiência de pastejo, com conseqüente ganho em produtividade, compensando os maiores investimentos, principalmente em cercas e bebedouros. A divisão da pastagem permite ainda: maior controle da lotação e da qualidade da forragem, distribuição mais uniforme dos excrementos, pastejo com mais de um grupo de animais e colheita de parte e/ou excesso de forragem produzida nas águas para ser conservada na forma de silagem ou feno, para uso na seca, etc. O número de piquetes de cada pastagem será função do período de descanso (PD) e do período de ocupação (PO), que pode ser obtido pela equação: Número de piquetes = (PD ÷ PO) + 1. O período de ocupação deve ser de curta duração, de um a três dias, para garantir melhor rebrota das plantas e facilitar o controle da lotação e do resíduo da pastagem. O período de descanso varia conforme a espécie forrageira, visando obter melhor equilíbrio entre produção e qualidade da forragem (Tabela 2). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 163 Tabela 2 - Período de descanso para algumas gramíneas forrageiras utilizadas sob pastejo rotativo Gramínea 1 Capim-elefante Capim-colonião2 e outras cultivares Capim-andropogon3 Capim-braquiarão4 Capim-braquiária5 Capim-coastcross6 1 - Pennisetum purpureum 2 - Panicum maximum 3 - Andropogon gayanus Período de descanso (dias) 45 (35 - 45) 35 (30 - 35) 30 (25 - 30) 35 (30 - 35) 30 (25 - 30) 25 (20 - 28) 4 - Brachiaria brizantha cv. Marandu 5Brachiaria decumbens 6Cynodon dactylon cv. Coastcross A altura do resíduo é um indicador prático para evitar o subpastejo e o superpastejo. Essa altura é variável com as espécies forrageiras, de acordo com suas características morfofisiológicas (Tabela 3). O subpastejo significa perda de forragem e excesso de sombreamento na base das plantas, o que pode prejudicar o perfilhamento. O superpastejo afeta negativamente a produção animal e a rebrota das plantas. 164 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 3 - Altura de pastejo (cm) de algumas gramíneas forrageiras Altura (cm) das forrageiras Espécies ou variedades Variedades de capim-elefante1 Capim-tobiatã2 Capim-colonião 3, Capim-tanzânia 4 Capim-mombaça5 Capim-andropogon6 Capim-braquiarão 7 Capim-pangola 8, Capim-coastcross9, Capimbraquiária10 Brachiaria humidicola Modificado de RODRIGUES (1986). 1 - Pennisetum purpureum 2 - Panicum maximum cv. Tobiatã 3 - Panicum maximum cv. Colonião 4 - Panicum maximum cv. Tanzânia 5 - Panicum maximum cv. Mombaça 6 - Andropogon gayanus Animais entram na pastagem 160 - 180 160 - 180 100 - 120 120 - 130 50 - 60 40 - 45 Animais saem da pastagem 35 - 40 50 - 80 30 - 40 40 - 50 20 - 30 20 - 25 25 - 30 15 - 20 10 - 15 5-8 7 - Brachiaria brizantha cv. Marandu - Digitaria decumbens 9 - Cynodon dactylon cv.Coastcross 10 - Brachiaria decumbens 8 PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE EM PASTAGENS NA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE, SÃO CARLOS, SP Pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu (12 ha) e Panicum maximum cv. Mombaça (10 ha) foram estabelecidas em latossolo vermelho amarelo e vermelho escuro distróficos, que apresentavam, inicialmente (em 1994), 2 ppm de P (determinado pelo método da resina) e 12% de saturação por bases (V%). Atualmente, com as correções e as adubações posteriores, os valores de P e V% na camada de 0 a 10 cm estão em torno de 15 ppm e 60%, respectivamente. Também foram estabelecidas pastagens de Cynodon dactylon cv. Coastcross (14 ha) e Panicum maximum cv. Tanzânia (8 ha), em que os valores iniciais eram de 5 ppm e 36%, sendo atualmente de 20 ppm e 70%, respectivamente, para P e V%. O sistema de pastejo é o rotacionado, com período de descanso de 36 dias e ocupação de três dias, com exceção da pastagem de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 165 capim-coastcross, em que o período de descanso é de 24 dias e a ocupação, de quatro dias. A adubação de 1000 a 1500 kg/ha da fórmula 20-05-20 e/ou similar é aplicada parceladamente em seis vezes, durante às águas, no caso do capim-coastcross, e quatro vezes para as demais pastagens, totalizando 200 ou 300 kg de nitrogênio (N) por hectare por ano, conforme a Tabela 4. A lotação é ajustada com animais extras, de acordo com a disponibilidade de forragem, que normalmente é mais elevada em janeiro, fevereiro e março, em virtude das condições climáticas mais favoráveis para o crescimento das gramíneas forrageiras tropicais. Tem sido obtido, em média, no período das águas, acúmulo de forragem de 2500 a 4000 kg de matéria seca/ha, a cada ciclo de pastejo, variando com a época, o nível de adubação, a fertilidade do solo e a espécie forrageira. Os teores de proteína bruta obtidos são de 9 a 10% para o cultivar Marandu, 10 a 12% para os cultivares Tanzânia e Mombaça, e de 12 a 14% para o cultivar Coastcross. Na Tabela 4 estão apresentadas informações sobre a produção por animal e por área, obtidas com essas pastagens sob adubação intensiva na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP. 166 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 4 - Taxa de lotação e ganho de peso vivo (PV) de bovinos Canchim e cruzados Canchim x Nelore em diferentes pastagens na Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, nas águas Gramínea/ano No de Categoria Adubação animais (kg N/ha) Ganho de Ganho de Lotação PV média PV (kg/animal/dia*) (kg/ha) (UA/ha) Tanzânia/96a Tanzânia/97a Tanzânia/98a 65 58 50 novilhas garrotes garrotes 200 300 300 0,680 0,820 0,850 803 909 935 5,8 6,4 8,5 Coastcross/96 b Coastcross/97 b Coastcross/98 b 121 134 205 novilhas novilhas novilhas 300 300 300 0,713 0,600 0,600 900 780 1040 6,6 7,6 8,5 Mombaça/97 c Mombaça/98 c 75 200 0,590 491 5,3 40 novilhas vacas com cria 200 - - 5,0 62 80 garrotes vacas 200 200 0,680 - 437 - 4,0 8,0 d Braquiarão/97 Braquiarão/98d * Após jejum de 16 horas. a - Panicum maximum cv. Tanzânia. b - Cynodon dactylon cv. Coastcross. c - Panicum maximum cv. Mombaça. d - Brachiaria brizantha cv. Marandu. Na Tabela 4, as gramíneas não devem ser comparadas, pois existem variações quanto a solo, idade da pastagem, nível de adubação, categoria animal, etc., mas os resultados demonstram que diferentes gramíneas, desde que manejadas adequadamente, podem apresentar bom desempenho, tanto em produção por animal quanto por área. ESTACIONALIDADE DA PRODUÇÃO DE FORRAGEM Embora em sistema intensivo de uso das pastagens se consiga maior produção de forragem no período da seca do que nos sistemas extensivos, em decorrência principalmente do efeito residual das II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 167 adubações, a estacionalidade da produção de forragem, em razão de fatores climáticos, vai continuar ocorrendo, com valores de 10 a 20% da produção total anual, a menos que seja corrigida, em parte, com o uso de irrigação. Dessa forma, na exploração da pastagem, seja extensiva ou intensiva, haverá sempre um período de produção abundante de forragem, nas águas, e outro de escassez, na seca. Assim, quando intensificamos toda a área da propriedade, há necessidade de aliviar a lotação na seca ou dispor de um sistema de alimentação para este período de escassez de forragem. O número de animais a ser mantido na seca, fora das áreas de pastagens intensificadas, aumenta à medida que aumenta a produtividade das pastagens nas águas. O custo de alimentação desses animais durante a seca é um dos principais fatores a serem considerados na viabilização da intensificação da produção por unidade de área (Boin e Tedeschi, 1997). A lotação poderá ser reduzida com a venda de animais de descarte no final das águas ou, principalmente, daqueles apresentando peso adequado de abate. O preço de venda desses animais no período de safra (preço por arroba mais baixo) é compensado pelo seu menor custo. Também pode ser feito ajuste, no caso da fase de cria, programando-se a parição para outubro (Corsi e Santos, 1995), combinando o período de maior exigência nutricional dos animais com a época de maior produção de forragem. O confinamento pode ser uma alternativa interessante, que permite reduzir a lotação das pastagens e mantém a intensificação da produção pela possibilidade de venda de animais na entressafra, combinando maior preço, maior giro de capital e maior produtividade. Se a decisão for de manter lotação mais elevada na pastagem, uma opção é a suplementação no pasto com volumosos, tais como cana-de-açúcar, silagem e feno. Na região Centro-Sul do Brasil, a estacionalidade da produção é causada principalmente pela redução da precipitação pluviométrica, da temperatura e da radiação solar, durante o período de abril a setembro. A Figura 1 ilustra as médias das taxas mensais de acúmulo de matéria seca em pastagem de capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia), adubado, sem irrigação, nos anos de 1995 e 1996, na Embrapa Pecuária Sudeste. Verifica-se que a precipitação pluvial e a temperatura mínima 168 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte são críticas para o crescimento das gramíneas forrageiras tropicais, principalmente no período de maio a setembro. 350 160 Temperatura mínima (º C) 140 300 Taxa de acúmulo de forragem (kg MS/ha/dia) 250 Precipitação pluvial (mm) 120 100 200 80 150 60 100 40 20 17 18 19 20 19 16 11 13 16 13 0 N D J F M A M 50 14 10 Precipitação pluvial (mm) Taxa de acúmulo de matéria seca (kg MS/ha/dia) 180 0 J J A S O Meses Figura 1 - Médias das taxas mensais de acúmulo de matéria seca (MS) em pastagem de capim-tanzânia adubado, sem irrigação em 1995 e 1996 na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP Por outro lado, durante as águas, em virtude de condições climáticas mais favoráveis, o crescimento das plantas, em determinados meses, é tão intenso que ultrapassa a capacidade de consumo de matéria seca do rebanho, havendo necessidade de ajuste na lotação, principalmente em sistemas adubados. A Figura 2 ilustra a variação da taxa de lotação em capim-tanzânia adubado, durante as águas, na Embrapa Pecuária Sudeste, em 1996 e 1997. No período estudado, em janeiro e fevereiro a lotação da pastagem teve de ser duplicada, em relação a novembro, para aproveitar a forragem produzida. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 169 100 89 Número de animais 90 89 UA/ha 79 Número de animais 80 55 60 50 9,0 45 5,4 53 9,5 40 7,9 7,8 40 30 69 64 70 6,4 6,1 4,2 5,0 20 10 0 27/11 2/1 7/1 20/1 27/1 17/2 6/3 2/4 28/4 Data Figura 2 - Taxa de lotação (UA/ha) e número de animais por área em pastagem de capim-tanzânia, durante as águas, em 1996 e 1997, em São Carlos, SP (UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo) Essa variação na taxa de acúmulo de forragem durante o ano também foi constatada para a Brachiaria brizantha cv. Marandu (Figura 3). Esta pastagem que vem sendo adubada durante as águas e manejada intensivamente sob pastejo rotacionado, na Embrapa Pecuária Sudeste, também mostra a necessidade de ajuste na lotação, de forma semelhante ao capim-tanzânia, para aproveitar a forragem produzida. 170 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Taxa de acúmulo de matéria seca (Kg MS/ha/dia) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Meses Figura 3 - Médias das taxas mensais de acúmulo de matéria seca (MS) em pastagem de B. brizanta cv. Marandu adubada, sem irrigação, no ano de 1999, na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP Esse manejo, com variação do número de animais também nas águas, às vezes se torna pouco prático ou pouco interessante ao produtor. Uma estratégia mais viável é a ensilagem desse excesso de forragem, pois, além de fornecer volumoso para o período da seca, permite racionalizar o manejo intensivo das pastagens durante as águas. A colheita é facilitada no sistema de pastejo rotacionado, em que piquetes podem ser excluídos do pastejo, para a ensilagem da forragem, voltando posteriormente ao ciclo de pastejo, quando necessário. A silagem de capim também pode ser feita de maneira mais intensiva com a reserva de uma área de pastagem específica para este fim, onde, com correção adequada do solo e adubação, consegue-se rapidamente, a cada 30 a 40 dias de crescimento das plantas, elevada quantidade de forragem para ser armazenada para a seca. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 171 Nussio et al. (2000) simularam a produção de gado de corte (fase da engorda), com diferentes combinações de pastagem e silagem, visando a possibilidade de se recomendar a silagem de capim para potencializar a produção de carne (Tabela 5). O sistema intensivo, nessa simulação, foi caracterizado principalmente por maior produtividade e melhor qualidade da forragem, em função do manejo e da reposição da fertilidade do solo. Tabela 5 - Projeção da produção de carne e da receita líquida geradas em sistemas de produção simulados por meio de combinação de áreas para produção de silagem e de pastejo de capim-tanzânia, manejados sob diferentes intensidades de exploração. Sistemas de produção Produtividade Lotação Ganho Custo Receita (t MS/ha) (UA/ha) (kg/animal/d) (R$/@) (R$/ha/ano) pastejo intensivo 20,0 3,5 0,7 24 673 16,9 2,7 0,6 28 350 7,6 1,5 0,5 21 242 4,5 0,7 0,5 26 80 silagem intensiva pastejo intensivo silagem extensiva pastejo extensivo silagem intensiva pastejo extensivo silagem extensiva Fonte: Adaptado Nussio et al. (2000). MS = matéria seca; UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo. Simulação com 20% da área com silagem e 80% com pastejo. A Tabela 5 mostra que a intensificação do uso de pastagens determinou maiores receitas ao sistema, independentemente do uso da silagem intensiva ou extensiva, devendo portanto ser priorizada. Observa-se também que os melhores resultados foram observados para as condições de uso intensivo da pastagem e da silagem, enquanto que 172 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte a receita menos favorável foi observada para a combinação da pastagem extensiva e silagem extensiva. A simulação também mostrou que a área destinada à produção intensiva de silagem, associada ao uso intensivo da pastagem, seria de até 20% da área total da propriedade, pois valores maiores do que esse contribuiriam para a redução da receita do sistema (Figura 4). Pastejo Extensivo Silagem Extensiva Pastejo Intensivo Silagem Intensiva Pastejo Extensivo Silagem Intensiva Pastejo Intensivo Silagem Extensiva % de área destinada a produção de silagem Figura 4 - Projeção da receita líquida para a combinação de produção baseados na intensidade de manejo e na porcentagem de área ocupada com pastagem e silagem (Nussio et al., 2000) Observa-se também que, quando a silagem é feita de maneira extensiva, sua presença é deletéria à receita projetada, levando a propriedade a obter lucro zero quando a participação atinge 50% da área. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 173 SILAGEM DE CAPIM O estudo da silagem de capim na alimentação de bovinos no Brasil não é recente, mas seu uso somente vem ganhando espaço atualmente. Dentre as gramíneas forrageiras tropicais, o capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum) foi o mais estudado (Condé et al., 1969; Faria & Tosi, 1971; Tosi, 1972). De modo geral, os resultados mostraram que esta espécie está entre as gramíneas que apresentam teor de carboidratos solúveis mais elevado, variando de 9 a 16% na matéria seca, o que é suficiente para garantir razoável fermentação lática. Todavia, quando a forragem está com qualidade adequada, o teor de umidade para a ensilagem ainda é muito elevado, podendo chegar a mais de 85%, o que favorece a fermentação butírica e a elevada produção de efluentes. A Tabela 6 ilustra a produção de efluentes e as perdas de matéria seca da silagem em função dos teores de matéria seca da forragem. Tabela 6 - Produção de efluentes e perda de matéria seca (MS) em silos do tipo trincheira Conteúdo de MS Produção de efluentes Perdas de MS (%) (litros por tonelada de silagem) (%) 30 0 0 25 20 0,4 20 60 1,6 15 200 7,2 Fonte: PEDROSO (1998). Também foram feitos, na década de 70, alguns estudos com outras gramíneas forrageiras tropicais: capim-braquiária (Brachiaria decumbens Stapf), capim-colonião (Panicum maximum Jacq.), capimgamba (Andropogon gayanus Kunth), capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa Ness) e capim-pangola (Digitaria decumbens Stent) (Tosi, 1973). Na 174 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte maioria das espécies, foi constatado teor muito baixo de carboidratos solúveis, em torno de 6% na matéria seca, insuficiente para garantir boa fermentação lática. Todavia, nesse trabalho, a qualidade da silagem também foi prejudicada pela idade avançada, aproximadamente 95 dias de rebrota, da forragem colhida. Atualmente, sobretudo por causa da necessidade de a pecuária de corte se tornar mais competitiva, com redução de custos e aumento da produtividade, a silagem de capim vem ocupando espaço crescente na preferência dos produtores. Estima-se que a silagem de capim já responda por um terço do volumoso utilizado nos confinamentos (DBO Rural, 1999). Contribuiu também para isso o surgimento de colheitadeiras mais eficientes, que picam a fibra do capim em tamanhos de até 3 a 5 cm, facilitando a compactação, a fermentação, a retirada do material do silo e a sua mistura com o concentrado. Ainda que os diversos capins, diferentemente do milho, possam apresentar problemas que interfiram na fermentação (baixo teor de carboidratos solúveis, alto poder tampão e alto teor de água), eles têm vantagens que os tornam estrategicamente interessantes como reserva de alimento para a seca, na forma de silagem, tais como: Ø Elevada produção (mais do que três vezes a produção de matéria seca do milho), Ø Perenidade, Ø Menor custo por quilograma de matéria seca, Ø Baixo risco de perda e Ø Maior flexibilidade na colheita. A menor qualidade nutricional da silagem de capim, cerca de 10% a menos de energia digestível ou de nutrientes digestíveis totais em relação à de milho, pode ser corrigida, quando for o caso, adicionando-se no cocho 1,5 kg de milho moído por animal/dia ou seu equivalente energético, como, por exemplo, sorgo e polpa cítrica (DBO Rural, 1999). Com relação aos problemas na ensilagem de gramíneas forrageiras tropicais, existem aditivos que podem ser utilizados para melhorar a qualidade da silagem. Os principais objetivos do uso de aditivos no processo da ensilagem são: melhorar a qualidade da fermentação no silo, reduzir II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 175 perdas de nutrientes e aumentar a ingestão e o desempenho animal (Wilkinson, 1998). Os aditivos podem ser divididos em três categorias gerais: - estimulantes da fermentação, tais como, enzimas e inoculantes bacterianos; - inibidores da fermentação, tais como, ácidos orgânicos e inorgânicos; e - substratos ou fontes de nutrientes, tais como, melaço, polpa cítrica, cama-de-frango, uréia, etc. Alguns substratos, como a polpa cítrica peletizada, podem estar associados a mais de um efeito, por exemplo, estimulam a fermentação, têm capacidade absorvente e também são fontes de nutrientes. RESULTADOS DA INTEGRAÇÃO DE PASTEJO E USO DA SILAGEM DE CAPIM NA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE A Embrapa Pecuária Sudeste tem feito alguns estudos com silagem de capim, integrando pastejo e conservação de forragem, visando manter lotação animal mais estável e mais elevada o ano todo. Um dos trabalhos foi desenvolvido em duas áreas de pastejo rotacionado intensivo, já descritas no capítulo “Produção de gado de corte em pastagens na Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP”, com capim-tanzânia (8 ha) e capim-coastcross (Cynodon dactylon cv. Coastcross) (14 ha). O período de descanso da pastagem nas águas foi de 36 e 24 dias e o período de ocupação de três e quatro dias, para o capim-tanzânia e o capim-coastcross, respectivamente. A adubação (NPK) de 1500 kg/ha da fórmula 20-05-20 foi parcelada durante o período das águas, após a saída dos animais de cada piquete. A lotação das pastagens foi fixada em torno de 4,0 UA o ano todo, com 55 garrotes no capim-tanzânia e 99 novilhas no capim-coastcross. À medida que ocorria sobra de forragem nas águas, parte dos piquetes foi sendo reservada para confecção de silagem. A colheita foi feita com colheitadeira de forragem com repicador, sendo a forragem colocada diretamente, sem pré-murchamento, em silo de superfície, sem aditivo ou com 6 a 8% de polpa cítrica peletizada ou 5% de milho moído. No caso do capim-tanzânia, a colheita foi feita com 55 dias de crescimento das plantas e do capim-coastcross, com 30, 35 e 45 dias. O 176 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte fornecimento da silagem iniciou em junho, quando a forragem produzida nas pastagens não era mais suficiente para manter a lotação preconizada. Cada animal alimentado com silagem de capim-tanzânia recebeu, misturado à silagem, no cocho, 0,5 kg de farelo de soja por animal por dia. Na seca, o período de descanso passou para 60 e 48 dias, respectivamente, para as pastagens de capim-tanzânia e capimcoastcross, tendo os animais livre acesso à pastagem e à silagem. O capim-tanzânia e o capim-coastcross, diferentemente do capim-elefante, apresentam boa qualidade de forragem, mas com teor de matéria seca mais elevado, próximo ou superior a 20% e, com isso, mesmo sem adição de aditivos, podem apresentar fermentação razoável (Tabelas 7 e 9). O capim-tanzânia foi colhido com 55 dias de idade, com o objetivo de aumentar o teor de matéria seca, o que aparentemente não compensou a queda da qualidade da silagem e o pequeno incremento no teor de matéria seca (Tabela 7). Avaliações feitas com o capim-tanzânia , colhido com 35 dias de idade, têm mostrado teor de proteína bruta de 11 a 12% e digestibilidade “in vitro” da matéria seca de 62%, com teor de matéria seca de 19 a 21%, bastante próximo daquele obtido aos 55 dias de idade (20 a 22%). Com a adição de polpa cítrica, houve aumento no teor de matéria seca da silagem de capimtanzânia (Tabela 7) e, aparentemente, houve melhora na fermentação, observada pelo aspecto, pelo cheiro e pela cor da silagem. Foi observado que as forragens ensiladas com teor de matéria seca de 20%, mesmo sem aditivos, apresentaram pouca produção de efluentes, quando armazenadas em silos de superfície de 70 a 80 t de capacidade, o que está de acordo com os dados da Tabela 6. Esse fato pode ser explicado em parte pela picagem mais grosseira do material, pela natureza da fibra do capim tropical e pelo tipo de silo, que provavelmente dificultaram a produção de efluentes. Haigh (1990), em extenso estudo com silagem de capim em fazendas comerciais no Reino Unido, concluiu que teor de matéria seca acima de 25% já é suficiente para que a silagem de gramíneas temperadas apresente boa fermentação. Esse valor pode ser facilmente alcançado com as gramíneas tropicais com o uso de aditivos, que aumentem o teor de matéria seca e que, além de melhorar a qualidade da fermentação, podem muitas vezes enriquecer a silagem de capim. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 177 Esse teor de matéria seca (25%) também é facilmente alcançado com o capim-coastcross, que apresenta boa qualidade de forragem e teor de matéria seca mais elevado do que o capim-tanzânia. Tabela 7 - Características da silagem de capim-tanzânia* com e sem aditivo, na Embrapa Pecuária Sudeste Silagem Capim* Capim* + 6-8% Polpa cítrica Características** pH N.NH3/N Total (%) DIVMS (%) MS (%) PB (%) 20-22 5,5-7,0 4,4-4,7 11,0-19,0 46-50 24 7,0 4,4 10,8 51 * Colhido com 55 dias de idade. ** MS = matéria seca, PB = proteína bruta, N.NH3x100 N Total = nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total e DIVMS = digestibilidade “in vitro” da matéria seca. O consumo da silagem de capim-tanzânia com 55 dias de rebrota (kg de MS/100 kg de peso vivo) foi bom, apesar da qualidade relativamente baixa e variou em função da disponibilidade de forragem (Tabela 8). No último dia de pastejo, quando a disponibilidade de forragem era mínima, a média de consumo foi elevada, atingindo praticamente 2% de matéria seca em relação ao peso vivo dos animais. Com relação à silagem com polpa, o consumo foi mais elevado a partir do 3o dia de pastejo (Tabela 8). 178 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 8 - Consumo diário de matéria seca (MS) de silagem de capimtanzânia, de acordo com os dias de pastejo, na Embrapa Pecuária Sudeste, em 1998 Consumo (kg MS/100 kg PV) Dias de pastejo Capim* Capim + 6 a 8% de polpa cítrica** 1o 0,88 0,83 o 1,52 1,68 o 1,62 2,00 o 4 1,82 2,00 5o 1,96 2,10 2 3 * Forragem disponível no pasto: 1800 kg de matéria verde (base seca)/ha. ** Forragem disponível no pasto: 600 kg de matéria verde (base seca)/ha. O consumo mais elevado de silagem com polpa, nos primeiros dias, se deve em parte à menor disponibilidade de forragem nesse período (setembro), a qual era de aproximadamente 600 kg de matéria verde (base seca)/ha, praticamente a metade da disponível em junho e julho. Com relação ao desempenho dos animais, todos ganharam peso, com médias de ganho de 440 g/animal/dia, em função da silagem com ou sem aditivo (Tabela 9). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 179 Tabela 9 - Taxa de lotação e ganho de peso vivo (PV) de garrotes da raça Canchim em pastagens de capim-tanzânia, suplementados com silagem, na seca*, na Embrapa Pecuária Sudeste, em 1998 Ganho de PV Suplementação Média de lotação kg/animal/dia** kg/ha UA/ha 0,44 350,0 4,0 Silagem de capim*** + 0,5 kg farelo de soja * Trabalho em parceria com o Prof. Moacir Corsi/ESALQ, Piracicaba, SP, e o Eng. Agr. Paulo Tosi. ** Após jejum de 16 horas. *** Silagens com e sem 6 a 8% de polpa cítrica. UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo. A silagem de capim-coastcross apresentou melhor qualidade (Tabela 10) do que a de capim-tanzânia, mesmo sem aditivo, provavelmente em virtude do maior teor de matéria seca da forragem original, o que proporcionou melhor fermentação. Haigh (1999) também verificou o efeito positivo do maior teor de matéria seca da forragem na fermentação de silagem de gramíneas temperadas. Observa-se que o capim-coastcross, mesmo cortado com 30 dias e adição de apenas 4% de milho moído, apresentou fermentação adequada e elevado teor de proteína bruta na silagem. De maneira geral, o consumo foi elevado para silagem com e sem aditivo, atingindo 2% de matéria seca em relação ao peso vivo dos animais, praticamente em todos os dias de pastejo, indicando não ter ocorrido preferência tão acentuada em relação à forragem da pastagem, como no caso da silagem de capimtanzânia. Dado o elevado consumo da silagem de capim-coastcross, o fornecimento foi restringido, porque a quantidade de silagem disponível era limitada e mesmo assim todos os animais ganharam peso, apresentando boa condição corporal no final da seca, com médias de ganho de 200 g/animal/dia. 180 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 10 - Características da silagem de capim-coastcross, Embrapa Pecuária Sudeste, em 1999 SILAGEM Coastcross (45 dias) Coastcross (35 dias) (com 5-7% de milho moído) Coastcross (30 dias) (com 4-5% de milho moído) MS (%) 25,8 27,0 PB (%) 8,0 11,2 23,1 12,5 na CARACTERÍSTICAS* pH FDN N.NH3/N Total** (%) (%) 4,4 77 11,6 4,2 68 7,8 4,9 65 8,8 * MS = matéria seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro, N.NH3x100 N Total = nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total . ** valor crítico > 15. Desta forma, com o uso da silagem na seca integrado ao pastejo, foi possível manter os dois sistemas intensificados o ano todo, com rebanhos relativamente estáveis, alimentados praticamente apenas com forragem dos próprios sistemas rotacionados. No caso da pastagem de capim-tanzânia (recria-engorda), foi possível obter bovinos da raça Canchim com peso de abate na faixa de 450 kg de peso vivo aos 19 a 20 meses de idade. Nas águas, a alimentação consistiu somente de forragem pastejada, com média de ganho de 850 g/animal/dia; e na seca, forragem pastejada mais silagem do excesso de forragem das águas e 0,5 de farelo de soja, com média de ganho de 440 g/animal/dia. Outro estudo integrando pastejo e uso de silagem de capim está sendo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste, como parte do projeto “Estratégias de cruzamentos, práticas de manejo e biotécnicas para intensificação sustentada da produção de carne bovina”. Fazem parte desse projeto quatro sistemas de pastejo rotacionado de 12 ha cada, utilizando a gramínea Panicum maximum cv. Tanzânia e outros quatro sistemas utilizando a gramínea Brachiaria brizantha cv. Marandu, em que estão sendo avaliados quatro cruzamentos (Nelore x Nelore, Nelore x Canchim, Nelore x Angus e Nelore x Simental), visando manter um mínimo de 60 vacas por sistema de 12 ha (5 vacas/ha), durante o ano todo, usando como volumoso apenas forragem pastejada e silagem II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 181 de capim. O período de descanso nas águas para as duas gramíneas é de 36 dias e o de ocupação, de 3 dias. Na seca são 60 dias de descanso e 5 dias de ocupação. A adubação dos piquetes é feita após a saída dos animais, na dosagem eqüivalente a 250 kg/ha de fórmula 20-5-20 aplicada quatro vezes durante o período das águas. Para corrigir o processo de acidificação do solo é feita a correção no período seco com calcário na dosagem de 1,0 a 1,5 t/ha, de acordo com o resultado da análise do solo. Desta forma, durante o período das águas, à medida que sobra forragem, o que ocorre normalmente a partir de janeiro (Figura 3), ao invés de serem colocados animais extras para se manter a mesma pressão de pastejo, os piquetes são excluidos do pastejo, para serem ensilados, voltando posteriormente ao ciclo de pastejo, quando não houver mais sobra de forragem. Quando a forragem da pastagem não é mais suficiente para manter as 5 vacas/ha, inicia-se a suplementação no pasto com silagem de capim, o que tem ocorrido normalmente a partir do final de maio, com incremento gradativo da quantidade de silagem fornecida até setembro. A partir de outubro, a suplementação é diminuída, também de forma gradativa, à medida que ocorre maior contribuição da forragem das pastagens. Foram produzidas, com o excesso de forragem das águas, em torno de 300 toneladas de silagem de capim-tanzânia e 400 toneladas de silagem de B. brizantha. A colheita vem sendo feita com 40 a 50 dias de crescimento das plantas, com colheitadeira com repicador, sendo a forragem colocada diretamente, sem pré-murchamento em silo de superfície e, quando possível, dentro da área de descanso de cada sistema intensivo, para facilitar todo o manejo de colheita e distribuição da silagem no cocho. Ao capim ensilado é adicionado de 6 a 8% de polpa cítrica peletizada. A Tabela 11 ilustra algumas características das silagem com e sem aditivo. Verifica-se, de modo geral, a boa qualidade da silagem para as duas gramíneas, principalmente com adição de polpa cítrica. 182 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 11 - Características da silagem de capim-tanzânia e Brachiaria brizantha, com e sem adição de polpa cítrica peletizada SILAGEM MS (%) Tanzânia 19 - 21 Tanzânia + polpa cítrica (6-8%) 24 - 26 B. brizantha 19 - 21 B. brizantha + polpa cítrica (6- 26 - 28 8%) CARACTERÍSTICAS* PB FDN pH N.NH3/NTotal** DIVMS (%) (%) (%) (%) 7,0 74,0 4,9 11,0 – 19,0 55,0 8,7 67,0 4,2 8,0 59,1 7,9 68,6 4,7 10,0 – 18,0 57,8 8,0 68,0 4,2 6,5 59,0 * MS = matéria seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro, N.NH3x100 N Total = nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total , DIVMS = digestibilidade “in vitro” da matéria seca. ** valor crítico > 15. O consumo da silagem pelas matrizes da raça Nelore, mesmo sem aditivo, foi muito bom para a silagem das duas gramíneas. Tendo em vista as boas condições dos animais no período da suplementação, o consumo de silagem foi restringido a 25 kg/vaca/dia nos sistemas com vacas prenhas e a 35 kg nos sistemas com vacas com bezerro. Dada a maior exigência das vacas com cria, foi adicionado no cocho, junto com a silagem, 0,5 kg de farelo de soja/vaca/dia e no caso das vacas prenhas, nos últimos meses de gestação, 0,2 kg/vaca/dia. De modo geral, as vacas nas duas condições, durante o período do uso da silagem, apresentaram excelente desempenho com escores de condição corporal de 5 a 8 (1 = excessivamente magra a 9 = excessivamente gorda), em que vacas sem bezerro, mesmo com o consumo restrito de silagem, alcançaram médias de ganho diário de 360 g/animal/dia. Dessa forma, com o uso da silagem integrado ao pastejo é possível manter os oito sistemas intensificados, com média de lotação de 5 vacas/ha, durante grande parte do ano. Todavia, utilizando apenas o excesso de forragem das águas não é possível produzir silagem suficiente para toda a seca, sendo necessário nos 60 dias finais da seca utilizar cana-de-açúcar + uréia. Desta forma, está sendo previsto para o próximo ano, incluir uma área adicional de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 183 pastagem, cerca de 10% do sistema, para ser reservada apenas para produção intensiva de silagem de capim-tanzânia e de capim-brizantha. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ø A utilização de silagem de capim é uma estratégia viável para racionalizar o manejo intensivo das pastagens e como reserva para a alimentação dos bovinos na seca. Ø O menor valor qualitativo da silagem de capim pode ser corrigido, em parte, com o uso de aditivos no processo de ensilagem que aumentem o teor de matéria seca e energia, tais como polpa cítrica, fubá de milho e farelo de trigo, ou com uso de concentrados fornecidos diretamente no cocho. Ø Há necessidade de mais estudos sobre silagem de capim, envolvendo novas espécies forrageiras em diferentes estádios de maturidade. Ø São também indicados estudos sobre a fermentação e a estabilidade da silagem durante o armazenamento e após a abertura do silo. Ø Os estudos, principalmente com os novos inoculantes bacterianos ou enzimático-bacterianos, devem ser incrementados, visando verificar se eles são eficazes em condições tropicais, principalmente em termos de custo-benefício para ganho de peso ou produção de leite REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARCELLOS, A. de O. Sistemas extensivos e semi-intensivos de produção: pecuária de bovino nos cerrados. In: VIII SIMPÓSIO SOBRE O CERRADO BIODIVERSIDADE E PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE ALIMENTOS E FIBRAS NOS CERRADOS. Brasília, DF Anais... p.130-136, 1996. BLASER, R.E. Integrated pasture and animal management. Trop. Grasslands, v.16, n.1 p.9-24, 1982. BOIN, C. Produção animal em pastos adubados. 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Botucatu : SBZ, 1998, p.53-72. 186 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte SUPLEMENTOS MÚLTIPLOS PARA RECRIA E ENGORDA DE BOVINOS EM PASTEJO Mário Fonseca Paulino1 , Edenio Detmann 2 , Joanis Tilemahos Zervoudakis 2 1 D.S. Professor UFV - Bolsista CNPq, 2Doutourando UFV-Bolsista CNPq O aumento da capacidade de suporte das pastagens, o incremento das taxas de natalidade e a precocidade produtiva, que envolve rapidez de acabamento e pouca idade ao início da vida reprodutiva, são características fundamentais à bovinocultura de ciclo curto. Face a aspectos sócio-econômicos, e imposições ambientais, estas metas devem ser atingidas com sistemas com baixo a médio uso de insumos. O desempenho dos bovinos de corte é função de fatores como genética, sanidade, nutrição e manejo. Em termos de nutrição os bovinos demandam cinco nutrientes essenciais à sua mantença e produção, quais sejam, água, energia, proteína, minerais e vitaminas. Os volumosos são a fonte mais barata para alimentar os animais. Os valores relativos para o pasto, capineira, feno e grãos situam-se em 100, 130, 140 a 180 e 300 a 350, respectivamente (FREITAS et al, 1981). Assim, é natural que as pastagens constituam a base da alimentação dos bovinos, e, portanto, o fornecimento desses nutrientes depende da quantidade e qualidade da matéria seca disponível no pasto. Na exploração de pastagens, onde os ciclos de produção são longos e até permanentes, existe uma variação sazonal inerente ao clima tropical e subtropical; assim, as flutuações entre épocas de águas e secas serão sempre uma constante. Neste contexto a busca da sustentabilidade do sistema de produção no longo prazo, depende do estabelecimento (garantia) da estabilidade produtiva de curto prazo (anual). Os planos de alimentação deverão garantir alimentos que em quantidade e qualidade cubram todas as necessidades de consumo de matéria seca e, corrigir desequilíbrios nutricionais, porventura existentes, com as devidas correções táticas e, ou estratégicas. 188 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte DEMANDA E INGESTÃO DE NUTRIENTES E DESEMPENHO ANIMAL A exploração racional dos bovinos em pastejo envolve estratégias que permitem maximização da energia, a minimização do tempo de alimentação e a otimização do balanço nutricional. A produção animal é função do consumo e valor nutritivo (composição química e disgestibilidade dos nutrientes) e eficiência de utilização do alimento disponível. O consumo de alimentos é determinante do aporte de nutrientes necessário para o atendimento dos requisitos de mantença e de produção pelos animais. Assim, a produção por animal está diretamente associada com o consumo de matéria seca digestível (CMSD) quando proteína, minerais, vitaminas e outros fatores nutricionais são adequados (Tabela 1). O aumento na eficiência de conversão de forragem em produtos animais é conseguido quando a produção por animal é incrementada, devido à diluição dos requerimentos de mantença e diminuição da incidência do custo de mantença. Quando a energia ou CMSD aumenta acima do requerimento de mantença, maior quantidade de forragem ingerida é transformada em produto animal. Para recriar um bezerro de 150 kg de peso vivo até que atinja os 450 kg ao abate, com o ganho diário de 0,250 kg, seriam necessário 7320 kg de matéria seca de forragem, comparados a apenas 1903 kg de matéria seca se o ganho fosse de 1,100 kg diários (BLASER, 1990). Tabela 1 - Requerimento de matéria seca e proteína por um novilho para recria / engorda dos 150 aos 450 kg de peso vivo Ganho de peso diário (kg) 0,25 0,50 0,75 1,10 Fonte: BLASER (1990) Tempo necessário (dias) 1200 600 400 273 Requerimento total Matéria seca (kg) 7320 4460 3052 1903 Proteína (kg) 652 434 310 224 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 189 Para qualquer nível de ganho de peso, a eficiência de ganho é maximizada quando existe um perfeito equilíbrio, entre a exigência e disponibilidade, para todos os nutrientes, ou seja, substratos acetogênicos, aminogênicos e glucogênicos. Uma vez que as exigências dos animais em termos de proporcionalidade entre nutrientes é alterada com o aumento do peso vivo, tanto a taxa de ganho como a eficiência de ganho de peso tende a variar nas diferentes etapas das fases de crescimento e acabamento. O requerimento e o custo de mantença significam que o aumento da eficiência de bovinos no uso de gramíneas e matérias celulósicas é uma meta prioritária. Observa-se que o desempenho animal é um componente importante a ser alcançado, pois, baixos ganhos de peso vivo induzem ciclos de produção longos, com acentuado aumento nas necessidades totais de nutrientes. Admitindo animais com elevado potencial genético e padrão sanitário, assegurada disponibilidade de pasto, o desempenho do animal é função da qualidade da forragem. Como principal parâmetro da qualidade da planta forrageira devemos nos concentrar sobre o valor energético da forragem produzida. Para a produção de carne, a energia representa mais de 2/3 do custo dos nutrientes empregados para essa produção como se verifica na Tabela 2. Tabela 2 - Custo relativo dos nutrientes usados para produção de carne1 Nutriente Exigências % do custo total Energia digestível PROTEÍNA BRUTA Cálcio Fósforo Vitamina A Sal Potássio Magnésio Enxofre Microminerais 26,7 Mcal 950 g 26 g 20 g 25.000 UI 40 g 50 g 5g 16 g - 72,50 21,70 0,17 2,20 0,17 0,42 1,70 0,26 0,75 0,07 1 Com base em um novilho de 360 kg, ganhando 1,1 kg (CORSI, 1993) 190 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte A relatividade das porcentagens indicadas na Tabela 2 variará ao longo do tempo, mas é pouco provável que ocorram mudanças na ordem das posições (CORSI, 1993). A maximização no uso do conteúdo energético das forragens produzidas nas pastagens deve ser o objetivo daqueles que pretendem intensificar a produção animal através do desempenho animal, como principal componente do sistema. As variações no balanço de energia são dependentes do nível de ingestão de alimentos, que é influenciado por interações entre os alimentos, denominados efeitos associativos. A adição de concentrado a dietas volumosas aumenta parcialmente a eficiência de utilização de energia metabolizável para mantença e ganho (NRC, 1984), em virtude das reduções da produção de metano, da ruminação e do incremento calórico (VAN SOEST, 1994). A eficiência de utilização da energia ingerida tende a ser maior para dietas concentradas, quando comparadas a volumosas, devido as menores requisitos líquidos para mantença (ARC, 1980). Também, alimentos volumosos de melhor qualidade são mais eficientes que os de pior qualidade (VAN SOEST, 1994). Entretanto, ênfase deve ser colocada na interação entre os diferentes nutrientes sobre o desempenho animal. O AFRC (1991) salienta que, além do suprimento adequado de minerais, são necessários níveis adequados de proteína e energia para que ocorra desenvolvimento normal dos ossos. O NRC (1996) relaciona os requerimentos de Ca e P ao ganho diário de proteína e CONRAD et al (1985) afirmaram que a nutrição adequada de Ca e P depende do nível de vitamina D da dieta. A concentração de energia metabolizável é diretamente relacionada a digestibilidade da matéria orgânica e a digestibilidade da forragem tem uma importante influência sobre a quantidade consumida em muitas circunstâncias. No caso de ruminantes, o fornecimento adequado de minerais é importante para a otimização da atividade microbiana no rúmen (NRC, 1996), com uma deficiência produzindo impacto negativo sobre o crescimento microbiano, podendo induzir, ou não, uma redução da digestibilidade dos alimentos, dependendo da severidade da carência mineral . II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 191 Portanto, embora os minerais e vitaminas participem, relativamente, com reduzida porcentagem nos custos de produção em relação aos representados pela energia e proteína, eles são nutricionalmente essenciais e devem estar presentes quantitativa e equilibradamente nas dietas, ou seja, não só em quantidades suficientes como em proporções adequadas. Estabelecidos os padrões de crescimento, para cada sistema de produção, cabe ao pasto suprir a maior parte ou a totalidade dos nutrientes para satisfazer as exigências nutricionais dos animais. VALOR NUTRITIVO, CONSUMO DE FORRAGEM E DESEMPENHO ANIMAL Na produção de carne a pasto estamos interessados em otimizar o consumo de forrageiras pelos bovinos e a recuperação de nutrientes metabolizáveis destes alimentos. As plantas forrageiras desenvolvem seu ciclo de crescimento e dependendo do estádio fenológico, oferecem maior ou menor quantidade de nutrientes aproveitáveis. Normalmente, os melhores índices são alcançados durante o estádio vegetativo pleno. Durante o início da estação chuvosa (rebrota) as plantas são aquosas (pobres em matéria seca). No período outono-inverno as gramíneas ao atingirem estádio de florescimento tornam-se fibrosas e reduzem os teores de proteína, fósforo e caroteno (pró-vitamina A). Isto se deve ao fato de certos nutrientes, como o fósforo serem móveis na planta, diminuindo a concentração em tecidos mais velhos. O metabolismo de proteínas também é específico de cada órgão e depende da idade. Os órgãos e tecidos em crescimento, estocando materiais, sintetizam tipicamente proteína a uma taxa especialmente elevada. Nas folhas em processo de envelhecimento e em partes de flores, predominam a degradação de proteínas. Entre as influências ambientais, os efeitos sobre o metabolismo de proteínas são exercidos, principalmente, pela temperatura, e por fatores de estresse, como a seca e o excesso de salinidade. O consumo das forrageiras é positivamente influenciado pelo teor de nutrientes como proteína, fósforo, cobalto, enxofre e pela 192 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte digestibilidade de sua matéria seca ou matéria orgânica. Por outro lado, é negativamente correlacionado com constituintes de parede celular, quando os níveis de fibra detergente neutra alcançam patamares superiores a 55 - 60%. A qualidade da forragem envolve o consumo, a concentração de nutrientes, a digestibilidade do nutriente e a natureza dos produtos finais da digestão (associados à eficiência de utilização). Forragens diferem no valor nutritivo potencial de sua fração parede celular (fibra) por causa de diferenças na quantidade de paredes celulares derivadas de vários tipos de células consumidos pelo animal e suas degradabilidades individuais, ou seja, diferenças na proporção dos diferentes componentes desta parede (celulose, hemicelulosee lignina) e na forma como estes componentes interagem em sua estrutura. Estas variações são observadas não somente entre espécies, mas em diferentes partes da planta e estádios de maturidade dentro de uma mesma espécie. O conteúdo de matéria seca indigestível é o fator que, em maior medida limita, o consumo. Dentro de certos limites (aproximadamente 67% de digestibilidade), o consumo de matéria seca se incrementa à medida que aumenta a digestibilidade da dieta. O enchimento do rúmen parece ser o fator limitante no consumo quando a forragem é o maior consituinte da dieta. A digestibilidade da matéria orgânica, a qual determina o valor energético da forragem, depende essencialmente do grau de lignificação da parede celular. Por outro lado, a velocidade (taxa) de digestão é correlacionada com a distribuição da lignina nas células, a relação carbono:nitrogênio e a população microbiana, ou seja, depende do substrato e do aparato enzimático. As células se lignificam de acordo com o tipo e idade da célula, ou seja, a lignificação é característica associada à célula individualmente e ao processo de envelhecimento (estádio de diferenciação). Diferenças na quantidade e nas propriedades físicas da fibra podem afetar a utilização da dieta e o desempenho do animal, principalmente em razão do efeito sobre o consumo e sobre alterações na fermentação ruminal. Se a fibra detergente neutro (FDN) é a correspondente bromatológica dos tecidos de parede celular; a fibra detergente neutra indigestível (FDNi) é a correspondente dos tecidos II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 193 lignificados refratários à digestão (depletados dos tecidos potencialmente digestíveis). Em geral, as diferenças de ingestibilidade ligadas à idade do vegetal (estádio de desenvolvimento) são mais importantes que aquelas ligadas à espécie. Assim, devem ser priorizadas espécies que mantenham, durante o ciclo fenológico, os teores mais elevados de nutrientes disponíveis, bem como utilizar técnicas de manejo que favoreçam a manutenção de elevados níveis de conteúdo celular. DESEQUILÍBRIOS DE NUTRIENTES EM PASTAGENS Deficiências de nutrientes são comuns nas pastagens; muitos solos são deficientes em certos nutrientes, que afetam as plantas e, por sua vez, aos animais que se alimentam delas. Assim, em certos períodos as gramíneas em disponibilidade nos pastos apresentam teores de nutrientes abaixo das exigências dos animais. A tentativa de equilibrar os nutrientes oferecidos contribui para a manutenção de um padrão de fermentação uniforme, parâmetros ruminais (amônia, pH) constantes, ensejando maior eficiência microbiana, maior disponibilidade de substratos energéticos (ácidos graxos voláteis) e proteína microbiana. A proteína microbiana sintetizada no rúmen varia de acordo com a energia disponível para os microrganismos, que é determinada pelo consumo de energia e pelos compostos nitrogenados degradados no rúmen. A taxa de crescimento de bactérias fibrolíticas pode ser limitada pela lenta digestão da parede celular da forragem basal. A utilização de paredes celulares de plantas requer a interação dinâmica do animal, dieta e população microbiana. O uso produtivo de paredes celulares pelos animais é determinado pela restrição mais limitante dentro dessa interação dinâmica. Os microrganismos que digerem paredes celulares são anaeróbicos e requerem vários nutrientes. Cuidados são necessários para assegurar que nitrogênio ou proteína, minerais, pH, potencial oxiredutor não tornem fatores limitando a população microbiana e taxa de digestão de parede celular.Um nutriente disponível em concentrações 194 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte inadequadas (um nutriente “em mínimo”) é um fator limitante do rendimento. A elevação da capacidade produtiva dos bovinos gera demanda de nutrientes pelos tecidos. Embora os ruminantes tenham capacidade de digerir paredes celulares de plantas, o seu consumo elevado torna uma limitação quando o potencial de produção destes animais torna-se maior.As paredes celulares das plantas são menos digestíveis e têm menor densidade (maior capacidade de enchimento ruminal) que solúveis de plantas, resultando em menor densidade de energia nas forragens. A maneira mais simples de satisfazer os requerimentos de energia de ruminantes alto-produtores é remover parte das paredes celulares da dieta e substituí-la com conteúdos celulares mais fácil, rápida e altamente digestíveis. Os fatores controláveis que podem ser utilizados para potencializar a utilização do pasto são: a escolha da espécie e manejo do pasto, que permita a colheita de forragem pelo animal em um estádio imaturo; e a substituição parcial da forragem por alimentos concentrados, através da suplementação tática e, ou estratégica. MANEJO DE PASTAGENS E EQUILÍBRIO DE NUTRIENTES Em situação de pastejo os animais devem colher, eles próprios, a forragem, provocando em conseqüência mudanças em seu comportamento, incrementando-se as necessidades de mantença por um aumento da atividade voluntária e incorporando outros fatores relacionados às características não nutritivas da planta que afetam a apreensão, possibilidade de seleção e consumo, tais como: estrutura da pastagem (altura, densidade); modo de condução do pastejo (nível de oferta de pasto, sistema de pastejo) e ambiente. É indiscutível que a qualidade do alimento é um fator importante na determinação da resposta de animais em condições de pastejo, porém, não é o único e até pode ser de certa maneira “modulado” (por exemplo, através do modo de condução do pastejo; utilização de suplementação apropriada). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 195 Estrutura da pastagem Aspectos relacionados às características estruturais do pasto sobre o consumo de forragem foram discutidos por PAULINO (2000). Sabe-se que , além das características bromatológicas da forragem, a produção de bovinos a pasto depende das características fenológicas e estruturais da vegetação como: altura, densidade da biomassa vegetal (kg/ha/cm), relação folha/caule, proporção de inflorescência e material morto. Estas características estruturais do pasto determinam o grau de pastejo seletivo exercido pelos bovinos, assim como a eficiência com que o animal colhe a forragem na pastagem afetando a quantidade ingerida de nutrientes. As características estruturais do relvado dependem não só da espécie botânica, mas também do manejo adotado, principalmente a pressão de pastejo (GOMIDE, 1998). Oferta de pasto Para os sistemas baseados em pastagem o nível de oferta de pasto terá um efeito direto na resposta animal já que condiciona a quantidade e qualidade do material ingerido. Assim, deve-se permitir ofertas de pasto não limitantes de consumo, inclusive otimizando o pastejo seletivo. A atitude dos bovinos em pastejo por selecionar dieta com a mais alta qualidade possível é uma manifestação da estratégia para otimizar o balanço nutricional. Em conseqüência e como resultado da preferência manifestada em pastejo, a dieta é, geralmente, de maior digestibilidade, maior conteúdo de proteína e menor conteúdo de parede celular que o pasto oferecido. As mudanças de qualidade da dieta estariam associadas à disponibilidade e acessibilidade das frações preferidas do pasto. Em pastagens tropicais, caracterizadas por heterogeneidade em qualidade nos distintos estratos da planta (diferenciação morfológica), os animais selecionam uma dieta mais rica em proteína e mais digestível que a planta inteira (Tabela 3). 196 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 3 - Composição física e bromatológica de amostras de pastagem de Brachiaria decumbens obtidas diretamente pelo animal (extrusa esofágica) ou por coleta total da massa disponível Período Águas Seca Metodologia Folha (%) Extrusa 79,7 Coleta total 10,5 Extrusa 13,6 Coleta Total 1,3 MSV 1 (%) 90,0 26,0 30,0 2,5 PB (%) DIVMO 2 (%) 9,8 62,1 4,0 32,2 5,1 45,9 3,0 41,7 FON (%) 68,9 74,4 73,3 76,5 1 / Matéria seca verde / Digestibilidade “ in vitro” da matéria orgânica Fonte: Adaptado de EUCLIDES et al (1992) 2 A folha seria o componente mais importante da pastagem, enquanto que o rendimento em folha, sua porcentagem e a densidade do material verde seriam os principais fatores que influenciam o tamanho do bocado e conseqüentemente o consumo dos animais em pastejo. Os animais pastejam seletivamente, mesmo em condições onde a quantidade de forragem disponível é limitante. Assim, quando o conteúdo de folhas diminui, o tamanho do bocado também o faz, refletindo o esforço do animal em selecionar a folha remanescente, mas isto exige uma compensação via dilatação do tempo de pastejo, mas este é determinado geneticamente. Portanto, redução de oferta produz diminuição de consumo e rendimento dos bovinos. Admite-se que uma oferta de no mínimo duas vezes a quantidade consumida seria desejável, ou seja, pelo menos 5% do peso vivo em matéria seca disponível. SISTEMA PRIMEIRO - SEGUNDO PASTEJADOR A oferta de pasto que permite a maximização do poder de seleção pelo animal pode significar uma baixa eficiência de utilização do pasto (menos de 50% entre o ingerido: oferecido), desperdiçando uma grande quantidade da forragem produzida. Visando melhorar o aproveitamento da forragem produzida, pode-se adotar o sistema de pastejo rotacional especial, com animais II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 197 ponteiros e seguidores. Os primeiros pastejadores entram no piquete e consomem a metade da forragem oferecida, fazendo o desponte do pasto. Estabelece-se no sistema quais as categorias devem ser privilegiadas. Em seqüência, entram os seguidores no mesmo piquete consumindo a forragem remanescente; estes animais se adaptam às restrições impostas, pela redução do nível de oferta, pastejando os estratos mais baixos de planta, porém colhendo um material de menor valor nutritivo (mais colmos, folhas velhas e material morto). Em conseqüência, isto produz uma diminuição na produção desses animais devido ao efeito combinado de um menor consumo e uma menor qualidade do pasto colhido. MANEJO PARA QUANTIDADE X MANEJO PARA QUALIDADE Na maioria dos casos é no início da estação chuvosa que se oferece as melhores oportunidade de ganho de peso vivo. Ao longo da estação de pastejo, com o acúmulo de matéria seca residual aumenta a fração estrutural da forrageira, diluindo a qualidade geral do material disponível. Isto ocorre porque o manejo baseado na manutenção do meristema apical (manejo para quantidade) permite a planta forrageira rebrota vigorosa e rápida, uma vez que ela se processa a partir da área foliar remanescente além da produção e expansão de novas folhas originadas do meristema apical. Entretanto, como o crescimento do colmo não foi interrompido pela eliminação do meristema apical, observa-se que, mesmo a intervalos freqüentes de pastejo, ocorre acúmulo de material residual, caracterizado pela presença de colmos lignificados e partes mortas da planta, capaz de prejudicar o consumo de forragem (Tabela 4). 198 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 4 - Composição estrutural de pastagem de Brachiaria decumbens submetida a pastejo contínuo durante o período das águas Coleta Item (kg/ha) Folhas Colmos Matéria Morta 19/12/1997 1746 2602 2916 19/02/1998 1278 6513 2383 Fonte: Adaptado de DETMANN et al. (1999) Uma vez que as plantas forrageiras tropicais, devido à elevada taxa de crescimento, perde o valor nutritivo com o avanço da maturidade, e considerando a preferência dos bovinos pelas rebrotas tenras, o controle sobre o estádio vegetativo da forrageira na época da colheita pelo animal, independentemente da espécie, é o parâmetro que mais afeta a qualidade da dieta. As características ideais da pastagem para aumentar o consumo de matéria seca pelo animal, são determinadas quando ocorre eliminação do meristema apical dos perfilhos primários em pastejos estratégicos (manejo para qualidade). Após a eliminação a planta mantém o meristema apical baixo, apresenta rebrota através de gemas basilares, mantendo elevada percentagem de folhas e perfilhos novos, colocando à disposição do animal material rico em folhas e colmos novos, em quantidade e densidade que contribuem para aumentar o consumo. A vida das folhas varia conforme o cultivar / espécie e o tipo de crescimento, sendo maior durante o crescimento de rebrota. Portanto, devemos usar da plasticidade fenotípica da gramínea forrageira no sentido de adaptá-la ao pastejo. Visualiza-se a utilização de pastejo intenso, com categoria animal menos exigente e menos seletiva, visando a remoção do material residual de pastejo, pelo menos três vezes durante o ano: final da época seca (imediatamente antes do início da rebrota), meados da estação chuvosa (intercalado com os ciclos de pastejo visando máxima produção de matéria-seca) e final da estação chuvosa (imediatamente antes do início do diferimento de pasto para a época seca). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 199 Adubação A adubação pelo seu efeito de aumentar a produção de matéria seca, é uma prática desejável no aumento da produção por área. Entretanto, para se obter o desenvolvimento de tecido novo, rico em proteína e pobre em parede celular e lignina, deve-se associar manejo de colheitas freqüentes, uma vez que, especialmente a adubação nitrogenada, imprime crescimento rápido e acelera a taxa de maturidade fisiológica. A performance do animal reflete, principalmente, a qualidade do alimento, enquanto a lotação da pastagem é conseqüência da produção de forragem na área, ou seja, da quantidade de alimento disponível. Intensificar o uso de pastagem significa procurar o melhor nível de integração entre desempenho e lotação da pastagem. No equilíbrio desses dois fatores de produção, reside a tecnologia do uso da pastagem. Diferimento O diferimento (reserva) de pasto, para ser usado na época seca constitue-se em uma alternativa para se obter melhor distribuição de alimento durante o ano. Entretanto, se material residual produzido durante o desenvolvimento e crescimento do pasto nas águas é acumulado para ser utilizado durante a seca, resulta num alimento fibroso, pobre em proteína, pouco digestível e portanto, de baixo valor nutritivo. Assim, o emprego do manejo para qualidade, imediatamente antes do diferimento, é uma alternativa de manejo de modo a obter a maior quantidade possível de forragem com aceitável valor nutritivo durante a seca. O diferimento constitui uma poupança de forragem, representando um banco de energia latente, que deverá ser disponibilizada por medidas de suplementação adequadas. 200 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Manejo Diferenciado por Estação É de se esperar, mudanças na resposta animal para um mesmo nível de oferta devido a diferenças do valor nutritivo entre as estações do ano.Durante a época de primavera e verão, período de ativo crescimento das gramíneas, em que elas se encontram disponíveis e tenras, os bovinos exibem grande preferência por elas. A intervenção seria mais a nível de oferta, dando oportunidade ao animal de manifestar sua capacidade de seleção, no intuito de otimizar seu balanço nutricional. No outono e, especialmente no inverno, uma vez garantida a disponibilidade, via diferimento, é necessária a intervenção com nutrientes suplementares, no sentido de equilibrar os nutrientes. Outras informações sobre manejo de pastagens forem delineadas por PAULINO (2000). Para se explorar economicamente animais de potencial produtivo mais elevado torna-se indispensável o uso de suplementos, pelo menos em determinadas fases do ciclo produtivo destes animais. Entretanto, a exploração de interações entre práticas de manejo de pastagens e dos animais pode reduzir o uso de concentrados na exploração de elevadas performances dos animais. SUPLEMENTAÇÃO, EQUILÍBRIO DE NUTRIENTES E DESEMPENHO DOS BOVINOS A ingestão de matéria seca é o fator mais importante na determinação do desempenho animal, pois é o ponto responsável pelo ingresso de nutrientes, principalmente energia e proteína, necessários ao atendimento das exigências de mantença e produção. Como a fibra em detergente neutro (FDN) geralmente fermenta e passa pelo retículo-rúmen mais lentamente do que os outros constituintes não fibrosos da dieta, ela tem um maior efeito de enchimento do que aqueles e é considerada um preditor químico da ingestão voluntária de MS. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 201 Características intrínsecas e características extrínsecas afetando a cinética de digestão da parede celular As espécies de planta, maturidade e temperaturas ambientes durante crescimento são fontes de variação importantes na cinética de digestão.Embora a taxa de digestão intrínseca de paredes celulares seja o limite final de sua taxa de utilização potencial pelos ruminantes, tanto o animal como a dieta em que a parede celular é fornecida pode ter um efeito dramático sobre a cinética de digestão. Na verdade estes efeitos podem, freqüentemente, contornar os limites impostos por características intrínsecas da parede celular. Neste contexto, digestão deve, seguramente, ser um processo de segunda ordem, que é função do substrato e enzimas ativas.No caso de parede celular, digestão requer uma população microbiana ativa com capacidade de digerir parede celular.É possível que, tanto em dietas de forragem total (pastejo), como, especialmente, nas dietas mistas de forragem e concentrado, haja situações em que digestão é limitada por capacidade microbiana ou enzimática(propriedades extrínsecas) e não, somente, por propriedades cinéticas intrínsecas da parede celular. A grande maioria das forragens disponibilizadas para os ruminantes ao longo do ano é pastejada com pouca ou nenhuma suplementação; parece que estes animais se beneficiariam muito da eliminação parcial ou completa de limitações intrínsecas da taxa de digestão(vide conceito de manejo para qualidade). Mesmo neste cenário, entretanto, há situações onde fatores que não a parede celular limitam a digestão. Quando forragens de baixa qualidade são ingeridas, pode haver casos onde nutrientes outros que a energia obtida a partir de parede celular limitam o crescimento de microflora ruminal. Estas limitações, não ligadas diretamente a fatores da parede celular, podem ser caracterizadas em situações em que nutrientes dietéticos como N, peptídeos, S e possivelmente P, e isoácidos, sendo limitantes no meio, restrigem o crescimento microbiano, inibindo a produção de enzimas e, conseqüentemente, a degradação fermentativa dos compostos fibrosos no ambiente ruminal. A deficiência ruminal de compostos nitrogenados (N), seja na forma de amônia, aminoácidos ou peptídeos pode influenciar a regulação da ingestão de alimentos. Quando o suprimento, originário do 202 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte material ingerido ou de reciclagem endógena, não atende aos requisitos microbianos, ocorre limitações do crescimento microbiano (SNIFFEN et al, 1992) e depressão da digestão da parede celular , resultando em diminuição do consumo. Para VAN SOEST (1994), a depressão do consumo pode ser atribuída à deficiência de N para o animal, à redução na fermentação ruminal ou à menor saída de resíduos não-digeridos do rúmen. Assim, apesar da clássica associação de digestibilidade com teor de lignina, a proteína não seria ignorada quando avaliando a qualidade geral de forragens. Ela é freqüentemente, o primeiro fator nutricionalmente limitante em gramíneas tropicais e muitas vezes, um preditor de digestibilidade para estas forragens , especialmente com o teor de proteína da dieta abaixo de 7 a 8%. É prudente salientar que se um dos fatores estiver sendo fornecido em quantidade proporcionalmente menor do que os outros, em relação às necessidades dos microrganismos e, ou animais, exatamente ele determinará a taxa de ganho de peso dos animais. Em suma,a produção é determinada sempre pelo fator mais escasso. Vale notar que a escassez de um dos fatores implica obrigatoriamente o desperdício dos demais. Neste enfoque energia latente é perdida se nitrogênio solúvel, proteína, minerais, isoácidos estiverem em níveis sub ótimos . Interações com carboidratos solúveis e, ou fibra rapidamente digestível interferindo no ambiente ruminal são observadas. As pastagens tropicais, especialmente durante a época seca, raramente constituem uma “dieta balanceada” no senso que seus constituintes orgânicos e inorgânicos estejam presentes nas concentrações e proporções que melhor satisfaçam as necessidades dos animais. Neste contexto, os bovinos geralmente sofrem de carências múltiplas, envolvendo proteína, energia, minerais e vitaminas. Assim, na suplementação e/ou complementação das pastagens, deve-se levar em consideração a ocorrência de deficiências simultâneas, estabelecendo-se suplementos de natureza múltipla, envolvendo a associação de fontes de nitrogênio solúvel, minerais, fontes naturais de proteína, energia e vitaminas (eventualmente aditivos), visando proporcionar o crescimento contínuo dos bovinos em pastejo. Para desempenho ótimo todos estes fatores alimentares devem estar em balanço adequado na dieta. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 203 SUPLEMENTAÇÃO, PADRÕES DE CRESCIMENTO E SISTEMA DE PRODUÇÃO Em muitos cenários e,ou sistemas de produção, nutrientes suplementares são necessários para obter níveis aceitáveis de desempenho a partir de animais criados em regime de pastagens. Entretanto, deve-se avaliar constantemente o impacto que a suplementação teria sobre a performance animal. Uma estratégia de suplementação recomendável do ponto de vista econômico, seria maximizar uso de forragem pela maximização do consumo e digestão de forragem disponível, mas os suplementos não supririam nutrientes além dos requerimentos animais. Assim, o objetivo na formulação de suplementos para dietas altas em forragem é tipicamente determinar a energia, proteína e minerais suplementares necessários para satisfazer os níveis alvo de produção(metas de desempenho). Na pecuária de ciclo curto os principais aspectos a considerar, no estabelecimento de padrões de crescimento, são a idade ao primeiro parto para as fêmeas e a idade ao abate para os machos e as fêmeas de descarte. De especial interesse, é a taxa de natalidade das matrizes. Qualquer tentativa de exploração da precocidade em bovinos está, incondicionalmente, ligada à melhoria das condições de alimentação, notadamente durante o período seco (PAULINO e RUAS, 1988). Estabelecidos os parâmetros zootécnicos e monitorando o valor nutricional do pasto e, ou o desempenho dos animais,devemos definir o tipo e a época oportuna para fornecer a suplementação com o objetivo de corrigir parcial ou inteiramente a deficiência observada no pasto. Historicamente, na bovinocultura de corte desenvolvida à mercê das flutuações de disponibilidade e qualidade dos pastos, os animais apresentam crescimento ondulado (boi sanfona) e, ensejam idades de abate acima de 40 meses (Tabela 5). 204 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 5 - Ganho em peso de novilhos (g/cab/dia) pastejando gramíneas tropicais, de acordo com a época do ano Colonião Tobiatã Potiporã Marandu B. decumbens Nov Fev Maio Set Média Anual 1200 1152 1111 1110 780 723 893 959 600 571 370 281 255 460 380 -166 -312 -192 -140 -490 373 380 398 272 254 Fonte EUCLIDES et al (1989). De acordo com BOIN e TEDESCHI (1997) em condições experimentais e em inúmeras fazendas com bom manejo alimentar a pasto, que garantam o suprimento irrestrito de forragem ao longo do ano, animais com peso à desmama aos sete meses de 150 a 180 kg têm sido abatidos aos 28/32 meses de idade com 450/480kg. Diante disto, fica claro que sistemas de produção à base de pastagens podem ser estabelecidos para abate com idade mínima de 30 meses. Para abate a idades inferiores, os ganhos de peso durante o período seco tem que ser maiores do que aqueles normalmente encontrados na literatura (0,1 a 0,25 kg/dia). A melhoria de índices que caracterizem a bovinocultura de ciclo curto (precoce e superprecoce) a nível de pasto presume boas práticas de manejo durante as águas e garantia de disponibilidade de forragem para o período da seca. Uma prática de maior aceitação, de baixo custo e fácil adoção, é o diferimento de pastagens. Associadas a estas práticas de manejo são empregadas suplementações cabíveis. Suplementação na Época das Águas Durante o período das águas, o objetivo é alcançar ganhos de peso acima do potencial das pastagens, normalmente, considerado como sendo de aproximadamente 600g/animal/dia. Entretanto, ZERVOUDAKIS et al.(1999,2000) e PAULINO et al (2000a,c), associando II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 205 os princípios de manejo para quantidade e manejo para qualidade das pastagens tropicais, têm estabelecido o patamar de 1,3kg/animal/dia como o limite, pelo menos durante o período compreendido entre o início das chuvas e o mês de fevereiro; em condições normais de precipitação. Entretanto, em situações onde o ganho de peso não atinge o patamar estabelecido pelo potencial genético do animal, visualiza-se o uso de alimentação suplementar,durante o período das águas.Tal situação pode ocorrer, por exemplo, quando se prioriza a produção por área, valorizando elevadas taxas de lotação, sem considerar os conceitos de manejo para quantidade e qualidade, em conjunto. Neste contexto, PAULINO et al. (1996b), utilizando feno de guandu e casca de café como limitadores de consumo, testaram diferentes fontes de proteína em suplementos, ensejando acréscimo de ganhos de peso de cerca de 200 g / animal / dia, com a associação feno de guandu e farelo de soja (Tabelas 6 e 7). Peculiaridades serão discutidas em relação a cada categoria. Tabela 6 - Composição percentual das suplementares, por tratamento rações concentradas Tratamentos Experimento 1 Experimento 2 A Ingredientes 100,0 Mistura mineral (%) Feno de guandu (%) Casca de café triturada (%) Farelo de soja (%) Farelo de algodão (%) Farelo de trigo (%) B 5,0 75,0 20,0 - C 5,0 75,0 20,0 - D 5,0 75,0 20,0 A 100,0 - B 5,0 75,0 20,0 - C 5,0 75,0 20,0 - 206 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 7 - Pesos vivos médios, inicial e final, e ganhos em peso, total e diários, por tratamento Especificação A Peso inicial (kg) 208,11 Peso final (kg) 261,78 Ganho total (kg) 53,67 Ganho diário médio 0,624a (kg/animal/dia) Consumo médio de suplemento 0,061 (kg/animal/dia) Experimento 1 B C 199,20 198,70 268,00 260,10 68,80 61,40 0,800a 0,714a D 200,30 254,80 54,50 0,634a Experimento 2 A B C 167,91 168,40 166,90 213,27 221,90 214,90 45,36 53,90 48,00 0,528a 0,622a 0,558a 1,163 1,025 0,077 1,016 1,926 1,592 a Médias na mesma linha, seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Newman Keuls (P>0,05). Comparação feita por Experimento. Creep - feeding Em sistemas intensivos de produção de bovinos, nos quais o peso à desmama dos bezerros (as) tem importância primordial, visualiza-se a suplementação dos bezerros em amamentação. Sob a perspectiva do uso de estação de monta, com consequente disciplinação dos nascimentos, esta fase coincide com o período das águas. O creep - feeding consiste em fornecimento de alimentos suplementares aos bezerros criados ao pé das matrizes, sem que estas tenham acesso ao suplemento. A suplementação dos bezerros no creep - feeding tem por finalidade não reduzir o ímpeto de crescimento dos bezerros, o que normalmente ocorre após os dois meses de idade pela queda na produção de leite da mãe. O fornecimento de ração deve ser “ad libitum”, para ganhos da ordem de 1,0 kg / animal/ dia; o consumo, dos 2 aos 7 meses de idade, deve ser de até 1,0 kg de concentrado / cabeça / dia, resultando em uma conversão alimentar média de 2 kg de alimento / kg de ganho, considerando o leite e forragem consumidos. Normalmente a ração concentrada apresenta 17 a 18% de proteína bruta e 75% a 80% de nutrientes digestíveis totais. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 207 O creep - feeding pré-condiciona o animal ao tipo de alimentação que ele vai receber na terminação / engorda o que beneficia o desempenho do animal. Em relação à produção de novilho precoce/superprecoce para o abate, uma vantagem expressiva do creep - feeding é o ajustamento para o período de recria e terminação que pode ser reduzido, uma vez que o peso à desmama atinge 240 kg ou mais. Creep - grazing Alternativa e/ou concomitantemente ao sistema de creep feeding pode-se usar piquetes com espécies forrageiras de melhor valor nutritivo, para uso exclusivo dos bezerros enquanto eles ainda estão com as mães. Recomenda-se o uso de piquetes com gramíneas manejadas para alta qualidade. Uma opção é usar o sistema ponta rapador, sendo que os bezerros constituem o grupo dos primeiros pastejadores. Suplementação para Época Seca Deve-se definir, com clareza, o objetivo da suplementação dentro do sistema de produção. Assim, o aporte de nutrientes via suplementação durante a recria e recuperação de escore corporal de matrizes e touros, pode visar níveis diferenciados de desempenho pelos animais, desde a simples mantença de peso, passando por ganhos moderados de cerca de 200 - 300g por animal/dia, até ganhos de 500 600g por animal/dia, quando o objetivo é cobrir fêmeas com cerca de 14 meses e/ou abater machos aos 20 meses de idade. Já na fase de terminação os suplementos devem proporcionar ganhos de cerca de 700g para novilhas e acima de 800g para machos em engorda. Assim sendo foi gerada uma família (linha) de produtos, envolvendo sal-uréia-mineral, sais nitrogenados, sais proteinados, “suplementos múltiplos” para recria de novilhas e novilhos superprecoces, “suplementos múltiplos” para engorda de novilhas jovens, “suplementos múltiplos” para terminação de machos (PAULINO, 1998; 1999; 2000). 208 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Mistura sal-uréia-mineral A mistura sal-uréia-mineral é útil na mantença de animais (Tabela 8 ) e constitui-se em um método simples e econômico a ser usado no rebanho, quando se busca a adaptação dos bovinos ao uso de uréia, quando o sistema prevê o uso mais intensivo deste suplemento em alguma fase do sistema de produção(PAULINO et al.,1982). Em uma exploração racional seria benéfico assegurar pelo menos a mantença de peso nos períodos críticos do ano. Assim, o diferimentos das pastagens associado a um baixo nível de suplementação, durante o período da seca, seriam utilizados visando prevenir um dano permanente na atividade fisiológica do animal, de forma a possibilitá-lo sobreviver numa condição que possa tirar vantagens do ganho compensatório, que inciaria no período de pastagens abundantes e nutricionalmente adequadas (PAULINO e RUAS, 1988). Tabela 8 - Composição percentual das misturas e desempenho dos novilhos durante dois períodos de seca consecutivos Ingredientes Uréia (%) Mistura mineral (%) Desempenho dos Animais: Consumo da mistura (g/cabeça/dia) Ganho de peso diário na 1a seca (kg/animal/dia Ganho de peso diário na 2a seca (kg/animal/dia) Tratamentos C 40 60 A 0 100 B 20 80 D 60 40 60 0,142a 60 0,175a 50 0,178a 50 -0,008 b -0,083 -0,055 0,009 0,002 Sal nitrogenado Os custo requeridos com o transporte e a distribuição diária de suplementos para bovinos de corte em pastejo são bastante expressivos. As formulações de suplementos, fornecidas no sistema de autoalimentação, permite o controle de consumo pelo próprio animal, nos II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 209 níveis estabelecidos, bem como facilita o manejo e racionaliza a utilização de mão-de-obra na distribuição de suplementos na pastagem, a qual pode ser executada, obedecendo a uma periodicidade semanal ou mesmo quinzenal. Além disso, evita que o animal crie dependência pelo suplemento e apresenta aspectos positivos sob o ponto de vista nutricional, tais como sincronização de energia-amônia, equilíbrio de pH e amônia, dentre outros. Assim sendo, na formulação de suplementos para animais em recria, matrizes e reprodutores, recorre-se ao uso de controladores de consumo tais como o sal (PAULINO et al, 1996a) e a uréia (PAULINO et al, 1983, 1985, 1993b). Neste contexto, PAULINO et al (1983) mostraram a eficiência da inclusão de altos níveis de uréia em suplementos como controlador de consumo a níveis baixo, bem como a obtenção de desempenho moderado dos animais (Tabela 9, 10 e 11,e Figura 1). Existe a possibilidade de baixa utilização de uréia, durante o período de inverno por animais em pastejo, devido o baixo conteúdo de energia digestiva nas forragens. Daí a necessidade de inclusão de uma fonte de energia juntamente com a uréia. Os “suplementos múltiplos”, de baixo consumo, que usam nitrogênio não-protéico como fonte de nitrogênio solúvel, são comumente chamados “sais nitrogenados”. Tabela 9 - Composição percentual das suplementares, por tratamento Ingredientes Mistura mineral Fosfato bicálcico (%) Uréia (%) Enxofre (%) MDPS* (%) A 10,00 5,00 85,00 * - Milho desintegrado com palha e sabugo. B 10,00 5,00 5,00 0,15 79,85 rações Tratamentos C 10,00 5,00 10,00 0,30 74,70 concentradas D 10,00 5,00 15,00 0,45 69,55 210 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 10 - Pesos vivos médios, inicial e final, e ganhos em peso total e diário, nos diversos tratamentos Especificação Peso inicial (Kg) Peso final (Kg) Ganho total (Kg) Ganho diário médio (Kg/animal/dia) Consumo de suplemento (kg/animal/dia) A 244,14 274,07 29,03 0,214a 1,661 B 244,86 264,64 25,78 0,177b 0,635 Tratamentos C 246,57 273,64 27,07 D 241,64 260,07 18,43 0,193ab 0,492 a, b, c - Médias na mesma linha, seguidas pela mesma letra estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey (P > 0,05). 0,132c 0,247 não diferem Sal proteinado Associada à utilização de uréia, tanto como fonte de amônia quanto para limitar o consumo (junto com o sal), a adição de fonte natural de proteína aos “suplementos múltiplos” de baixo consumo é desejável no sentido de fornecer ácidos graxos de cadeia ramificada (isoácidos) aos microrganismos do rúmen, e/ou, proteína não degradada no rúmen aos animais. Neste contexto, as fontes naturais de proteína e energia devem ser portadoras de características biológicas compatíveis com a otimização da eficiência microbiana e utilização de uréia e forragens. Dados de experimento de PAULINO et al (1993a) são apresentados nas Tabelas 12 e 13 . A linha de produtos que segue estes fundamentos são classificados como “sais proteinados”. Os pecuaristas podem obter elevada performance dos animais em crescimento quando o ganho compensatório é explorado adequadamente. Para tanto, os animais que estariam sofrendo restrição alimentar durante o “período de inverno”, não devem perder peso e sim manter ganhos ao redor de 200g a 300g / dia/ cabeça.Não perdendo peso, animais sob restrição alimentar podem ter ganhos compensatórios nos períodos de abundância de forragem de boa qualidade. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 211 Tabela 11 - Requisitos nutricionais diários dos animais, consumo diário médio de nutrientes e % dos requisitos atendida pelos suplementos Tratamentos A B C D Nutrientes Requisitos* Consumo % Consumo % Consumo % Consumo % (kg) (kg) Atendida (kg) Atendida (kg) Atendida (kg) Atendida MS 6,40 1,52 23,7 0,59 9,2 0,44 6,9 0,22 3,4 PB 0,57 0,12 21,0 0,14 24,6 0,17 29,8 0,10 17,5 NDT 3,50 0,98 28,0 0,33 10,0 0,25 7,1 0,12 3,4 Ca 0,012 0,023 191,6 0,009 75,0 0,007 58,3 0,004 33,3 P 0,012 0,019 159,3 0,007 58,3 0,005 41,6 0,003 25,0 *- Novilhas de 250 kg para ganho diário de 0,30 kg (NRC, 1976). 212 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Figura 1 - Representação diagramática da evolução do peso vivo médio dos animais (kg), por tratamento. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 213 Tabela 12 - Composição percentual dos suplementos Ingredientes Mistura mineral (%) Uréia (%) Sulfato de amônia (%) Farinha de carne e ossos * (%) Farelo de algodão (%) Farelo de trigo (%) MDPS ** Tratamentos A B C 2,0 5,0 0,55 9,0 15,0 0,0 68,45 2,0 5,0 0,55 9,0 15,0 15,0 53,45 2,0 5,0 0,55 9,0 15,0 30,0 38,45 * Obs.: No momento é proibido o uso deste produto na formulação de rações para ruminantes. ** MDPS - Milho desintegrado com palha e sabugo. Tabela 13 - Desempenho dos animais Especificação Peso inicial (kg) Peso final (kg) Ganho diário médio (kg/animal/dia) Consumo de suplemento (kg/animal/dia) A 129,7 139,47 0,097 0,300 Tratament os B 130,50 146,94 0,154 0,323 C 132,93 153,27 0,190 0,548 Suplementos múltiplos para recria de novilhas superprecoce O sistema de acasalamento de fêmeas com quatorze a quinze meses, presume o aproveitamento do crescimento acelerado e rápido à custa do desenvolvimento dos tecidos ósseos e muscular que ocorre do nascimento a puberdade, ativados pela liberação de hormônios protéicos de crescimento. 214 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Para que isto seja viabilizado, o manejo nutricional deve possibilitar crescimento contínuo no pós-desmame, com magnitude em torno de 600g/animal/dia. Como nos sistemas de estação de monta normalmente usados no Brasil Central, a fase de recria (desmama puberdade) coincide com a época seca, PAULINO(1991) e PAULINO e RUAS (1992) conduziram trabalho com fêmeas em recria visando viabilizar a produção de novilhas prenhas superprecoce em regime de pastejo com suplementação (Tabela 14 e 15). Tabela 14 - Composição dos Suplementos Ingredientes Mistura mineral (%) Calcário calcítico (%) Uréia / sulfato de amônia - 9:1 (%) Farelo de soja (%) Farinha de carne e ossos * (%) Farelo de algodão (%) Milho grão (%) MDPS ** (%) * Tratamentos A B 4,0 1,0 5,0 25,0 65,0 4,0 1,0 5,0 5,0 30,0 30,0 25,0 Obs.: No momento é proibido o uso deste produto na formulação de rações para ruminantes. ** MDPS - Milho desintegrado com palha e sabugo. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 215 Tabela 15 - Desempenho dos animais Especificação Peso inicial - 23/08/1990 (kg) Peso final seca - 26/11/1990 (kg) Ganho diário médio (kg/animal/dia) Consumo de suplemento (kg/animal/dia) Peso início estação de monta - 31/01/1991 (kg) Peso final estação de monta - 21/03/1991 (kg) % de prenhez * Tratamentos A B 196,46 195,35 253,18 256,39 0,564 0,621 1,316 1,148 283,1 289,8 314,3 319,6 35,5 38,7 * Refere-se ao total das fêmeas ½ Holandês-Zebu, ou seja, as que apresentavam potencial genético para prenhez aos 14 - 16 meses. Para obtenção de níveis de ganhos mais elevados durante a recria, faz-se mister o refinamento da composição dos suplementos, bem como proporcionar consumos próximos a 1kg por animal / dia, atendendo as exigências totais de nitrogênio degradado no rúmen, sódio e microminerais, cerca de 50 a 60% das de fósforo e proteína, assegurando disponibilidade de peptídeos a nível ruminal, e cerca de 30% daquelas de energia. O principal objetivo de suplementar fêmeas durante a recria é de incrementar a sua performance reprodutiva proporcionando melhores condições corporais à primeira monta e ao primeiro parto, beneficiando o aumento do índice de repetição de cria e o peso ao desmame. Tratase de um investimento a longo prazo e com a obtenção conclusiva dos resultados após três, quatro ou mais anos consecutivos. Havendo potencial genético, à medida que o peso e o ganho de peso assegurem a maturidade sexual, as fêmeas apresentam melhores condições fisiológicas para manifestarem cio. Observa-se na Tabela 15 que as novilhas que eram detentoras de potencial genético - nesse estudo representadas por fêmeas ½ Holandês x Zebu - tornaram-se prenhes. Novilhas azebuadas e retrocruzadas não responderam ao tratamento. Portanto, genética e sanidade, são condições básicas, ao lado do plano nutricional, para viabilizar este sistema. Visando garantir boa eficiência reprodutiva das matrizes primíparas é necessário garantir o crescimento contínuo dos animais na 216 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte estação seca subseqüente, garantindo o parto com peso equivalente a 80% do peso adulto. Suplementos múltiplos para recria de novilhos superprecoce de pasto O sistema de produção de novilho “superprecoce de pasto”, com abate em torno de 18 a 20 meses, requer crescimento contínuo durante a recria a níveis superiores a 400g/animal/dia. Neste contexto, GOMES JR. et al. (2001) testaram diferentes fontes de proteína em suplementos múltiplos durante o período da seca, salientando a importância da compatibilidade das fontes de proteína para a adequada utilização de uréia e digestão e consumo de forragem de baixa qualidade (Tabelas 16 e 17). Tabela 16 - Composição dos Suplementos Ingredientes (%) Mistura mineral* Sal comum (NaCl) Uréia/Sulf.amônio(9:1) Farelo de soja Farelo de algodão Farelo de glúten de milho Farelo de trigo * Tratamentos MM 100,0 - FS FA FG FT 6,0 4,0 10,0 15,0 65,0 6,0 4,0 10,0 30,0 50,0 6,0 4,0 10,0 10,0 70,0 6,0 4,0 8,0 82,0 Mistura mineral: fosfato bicálcico, 50,0%; sal comum, 48,0%; sulfato de zinco, 1,5%; sulfato de cobre, 0,4%; sulfato de cobalto, 0,05%; sulfato de magnésio, 0,03% e iodato de potássio, 0,03%. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 217 Tabela 17 - Pesos vivos médios, inicial (PVMi) e final (PVMf), ganho de peso médio diário (GPMD), e consumo de suplemento (CS)em kg Itens PVMi PVMf GPMD CS Tratamentos MM 253 261 0,09b 0,046 FS 249 287 0,39a 1,480 FA 247 300 0,54a 1,490 FG 249 299 0,50a 1,500 FT 241 284 0,43a 1,480 a Médias seguidas pela mesma letra, em uma mesma linha, não diferem entre si, em nível de 5% de probabilidade, pelo teste Newman Keuls. Suplementos múltiplos para terminação de novilhas A produção de novilhas de descarte jovens (20 - 24 meses), com peso e acabamento adequados, constitui-se em opção viável. Quando a fase de acabamento coincidir com a época seca, associada à disponibilidade de forragem diferida, torna-se necessária o uso de suplementação. PAULINO e RUAS (1990) conduziram um trabalho visando testar diferentes fontes de energia em suplementos múltiplos, sobre o desempenho de novilhas de corte (Tabelas 18 e 19 ) 218 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 18 - Composição dos suplementos Ingredientes A Mistura mineral (%) Uréia (%) Gesso (%) Farinha de carne e ossos * (%) Farelo de trigo (%) Soja grão(%) Milho grão (%) Sorgo grão (%) MDPS ** 4,0 5,0 1,0 5,0 30,0 20,0 35,0 Tratamentos B 4,0 5,0 1,0 5,0 30,0 22,0 33,0 C 4,0 5,0 1,0 5,0 30,0 25,0 30,0 * Obs.: No momento é proibido o uso deste produto na formulação de rações para ruminantes. ** MDPS - Milho desintegrado com palha e sabugo. Tabela 19 - Desempenho dos animais Especificação Peso inicial (kg) Peso final (kg) Ganho de peso diário médio (kg/animal/dia) Consumo de suplemento (kg/animal/dia) A 284,46 371,00 0,628 1,694 Tratamentos B C 283,37 282,00 366,13 367,51 0,593 0,628 1,922 1,762 Em situações onde a fase de terminação coincidir com a época das águas, dependendo das condições de disponibilidade, espécie e qualidade do pasto, a suplementação bem elaborada pode ensejar incremento no desempenho das novilhas (Tabelas 20 e 21) (ZERVOUDAKIS et al, 1999). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 219 Tabela 20 - Composição dos suplementos Ingredientes Mistura mineral* (%) Milho grão (%) Farelo de soja (%) Farelo glúten milho (%) I Tratamentos II III 100,00 - 57,7 42,3 40,5 59,5 - * Tratamentos II e III: mistura mineral à vontade Tabela 21 - Desempenho de novilhas mestiças suplementadas no período das águas Especificação Peso médio inicial (kg) Peso médio final (kg) Ganho de Peso Total (kg) Ganho peso médio diário (kg/animal/dia) Consumo médio diário: Suplemento (kg/animal/dia) Mistura mineral (g/animal/dia) I 263,14 347,87 84,73 0,73 Tratamentos II 265,00 370,62 105,62 0,91 III 266,43 370,38 103,95 0,89 103,3 0,5 83,49 0,5 85,56 Ajustes devem ser feitos em cada sistema de produção específico, visando compatibilizar peso inicial dos animais, composição do suplemento e peso do abate exigido pelo mercado. Suplementos múltiplos para terminação de machos Para viabilizar a produção do novilho precoce/superprecoce em pastagens, deve-se estabelecer manejo que permita, durante a terminação ganhos de peso superior a 1kg/animal/dia, durante o período das águas, associados a ganhos superiores a 800g/animal/dia durante o final das águas e início ou durante a estação seca. 220 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte No período das secas, para obtenção de ganhos de peso acima de 800g/animal/dia, deve-se liberalizar o consumo de suplementos. Portanto, uréia e sal são usados sob a ótica de satisfazer às exigências nutricionais e otimização da eficiência microbiana, de consumo e utilização de forragens, sem a preocupação de controle de consumo. Com este objetivo, a literatura registra fornecimento de rações concentradas na base de 0,8 a 1,0% de peso vivo( Tabelas 22 e 23) (PAULINO et al, 2000b). Tabela 22 - Composição percentual, com base na matéria natural, das rações concentradas suplementares Ingredientes (%) Mistura mineral 1 Uréia/sulfato de amônia-9:1 Soja grão inteira Caroço de algodão inteiro Farelo de soja Milho grão triturado 1 SSI 2 2,0 2,5 25,0 70,5 Tratamentos SCAI 3 2,0 2,5 50,0 45,5 SMFS 2,0 2,5 17,0 78,5 4 Mistura mineral: fosfato bicálcico, 48,61%; sal comum, 48,61%; sulfato de zinco, 1,46%; sulfato de cobre, 0,72%; sulfato de magnésio, 0,50%; sulfato de cobalto, 0,05%; iodato de potássio, 0,05%. 2 SSI = suplemento contendo soja grão inteira; 3 SCAI = suplemento contendo caroço de algodão inteiro; 4 SMFS = suplemento contendo milho e farelo de soja. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 221 Tabela 23 - Pesos vivos médios, inicial e final, ganhos de peso total e diário e rendimento de carcaça, por tratamento Especificação Peso inicial com enxugo (kg) Peso final com enxugo (kg) Ganho de peso total (kg) Ganho de peso diário (kg/animal/dia) Rendimento de carcaça(%) SSI 1 363,25 461,50 98,25 1,056 52,21 Tratamentos SCAI 2 SMFS 3 363,00 356,50 457,50 462,25 94,50 105,75 1,016 1,137 53,04 53,61 1 SSI = suplemento contendo soja grão inteira; SCAI = suplemento contendo caroço de algodão inteiro; 3 SMFS = suplemento contendo milho e farelo de soja. 2 Sob a ótica de garantir fornecimento contínuo de animais e, ou acelerar a taxa de crescimento no período de transição águas-seca, visando evitar que determinados lotes de animais entrem no auge da seca (setembro-outubro), suplementação estratégica neste período pode ser utilizada (KABEYA et al, 2000; Tabelas 24 e 25). Tabela 24 - Composição dos suplementos Ingredientes (%) Sal mineral 1 Uréia/sulfato de amônia 9:1 Farelo de soja MDPS* Milho grão moído Farelo de trigo MDPS 2,00 2,50 45,00 50,50 --------- Tratamentos MILHO 2,00 2,50 40,00 ----55,50 ----- FTRIGO 2,00 2,50 30,00 --------65,50 * Milho desintegrado com palha e sabugo 1 - Composição percentual: fosfato bicálcico 50,00; sal comum 48,00; sulfato de zinco 1,50; sulfato de cobre 0,40; sulfato de cobalto 0,05; sulfato de magnésio 0,03 e iodato de potássio 0,03. 222 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 25 - Desempenho dos animais Especificação Peso médio inicial - 07/05/98 (kg) Peso médio final *- 01/09/98 (kg) Ganho médio diário (kg/animal/dia) Rendimento de carcaça (%) Consumo de Suplemento (kg/animal/dia) I 348,2 443,8 0,824 53,39 3,0 Tratamentos II III 346,2 341,8 447,0 433,0 0,869 0,786 54,31 54,70 3,0 3,0 * Idade média de 21 meses (todos com dente de leite) Suplementos múltiplos para recuperação de estado nutricional de matrizes Uma prática complementar à estação de monta importante para a manutenção de taxas elevadas de natalidade, é o monitoramento do estado nutricional do rebanho de cria, ao longo do ano. Isso possibilita que sejam adotadas práticas de manejo apropriadas, quando necessário, em benefício da eficiência reprodutiva do rebanho. Na avaliação do estado nutricional dos animais são atribuídos escores de condição corporal, sendo comumente utilizada uma escala de 1 a 9, em que 1 corresponde a animais extremamente magros e 9 a animais extremamente gordos, sendo desejáveis animais com escore de 5 e 6. As avaliações devem ser feitas ao parto, ao início e ao fim da estação de monta e à desmama dos bezerros. A condição corporal da vaca ao parto tem grande influência sobre o seu desempenho reprodutivo na estação de monta seguinte. Vacas com escore mínimo de 5 a 6, ao parto, retornam muito mais rapidamente ao cio que vacas magras, concebem mais cedo na estação de monta e apresentam taxa de concepção mais elevada. De forma semelhante, é desejável escore corporal mínimo de 5 ao início da estação de monta e à desmama de bezerros. Como a fase de cria normalmente é conduzida em áreas de pastagens de qualidade inferior ou de pastagens nativas, é conveniente complementar a alimentação desses animais em pastagens melhores nos períodos críticos.Neste contexto, LEITE et al. (1994) mostram um II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 223 incremento de cerca de 15% na taxa de natalidade de fêmeas recebendo “ suplemento múltiplo” para recuperação de escore corporal, no período compreendido entre a desmama e o início da estação das chuvas(Tabela 26) A suplementação de vacas de cria é ainda prática pouco utilizada no Brasil. Entretanto, tem se elevado o uso de sal proteinado para esta categoria, sendo que o Estado de Goiás lidera o seu emprego (SEBRAE, 2000). Tabela 26 - Composição dos suplementos e desempenho dos animais Ingredientes Mistura Mineral (%) Uréia/Sulfato de Amônia - 9:1 (%) Calcário calcítico (%) Monensina (%) Farinha de carne e ossos** (%) Farelo de algodão (%) Farelo de trigo (%) MDPS (%) Desempenho dos Animais: Consumo de suplemento1 (kg/Animal/dia) % de prenhez na EM2 I 100,00 - Tratamentos* II 100,00 - 0,060 53,33 0,060 55,55 III 5,00 5,55 1,00 0,10 9,00 30,00 15,00 34,35 0,533 68,42 *Tratamentos: I - Matrizes com escore de condição corporal > 5,0 no início do experimento II -Matrizes com escore de condição corporal entre 3,0 e 5,0 no início do experimento III - Matrizes com escore de condição corporal entre 3,0 e 5,0 no início do experimento ** No momento está proibido o uso deste produto na alimentação de ruminantes. 1 - Agosto a Outubro / 1993 2 - EM = estação de monta (Janeiro a março/1994) CONSIDERAÇÕES FINAIS No Brasil a bovinocultura de corte é baseada em sistemas de produção que incluem pastagens nativas e/ou cultivadas. A produção animal está condicionada à quantidade e qualidade da pastagem consumida. A quantidade diária de matéria seca consumida é uma 224 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte medida crítica para se fazer inferências nutricionais e se alcançar um balanço positivo entre a oferta e demanda por nutrientes do animal em pastejo. O manejo de pastagens tropicais requer técnica, habilidade e observação diária, de forma que ajustes na carga animal sejam compatíveis com a variação no crescimento das plantas, bem como às mudanças nos componentes morfológicas (folha, colmo e material morto) ao longo do ano. Ao definirmos o potencial das gramíneas tropicais para ganho de peso devemos fazê-lo sem restrições de oferta de pasto. Por outro lado, sabe-se que o limite de cada característica produtiva é determinado geneticamente; assim devemos assegurar, via programas bem delineados, capacidade de resposta dos animais. A exploração de desempenho animal ótimo em pastagens parece ser limitada por fatores como adequação das curvas “estacionais” de exigências nutricionais dos animais ao de produção da planta forrageira, consumo, densidade de nutrientes de forragem, digestibilidade e nível de suplementação com concentrado em determinadas fases produtivas do animal. Se esses parâmetros forem mantidos sob controle, podem-se traçar os limites de performance do animal para sistema de exploração que empregam forragens em diferentes níveis na dieta do animal. A primeira ação no sentido de garantir fornecimento de energia é garantir suprimento de forragem , a níveis de 5 a 7,5% do peso vivo em matéria seca, proporcionando oportunidade ao animal de exercer a seletividade e ingerir dieta com maior concentração de nutrientes. Com relação às características intrínsecas da planta devemos valorizar as técnicas de manejo para qualidade, mantendo a forragem em estádio mais imaturo via rebrotas constantes. No que concerne às características extrínsecas relacionadas à cinética de digestão, devemos valorizar a suplementação de natureza múltipla visando aumentar digestão, taxa de passagem de resíduos indigestíveis e consumo. Entretanto, a suplementação não deve ser considerada a única maneira de superar as limitações de forragens de baixa qualidade. Biologicamente, energia, proteína, fósforo, sódio, microminerais( cobre, cobalto, zinco, iôdo e outros , cuja deficiência regional for II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 225 cientificamente comprovada) e vitamina A, são os principais nutrientes limitando a performance de rebanhos em pastagem. Suplementação não é um sistema de alimentação, mas um corretivo dos déficits que possam apresentar nossas pastagens (naturais ou implantadas) em determinadas épocas do ano e em determinadas atividades. A suplementação deve ser fornecida de acordo com as exigências dos animais que, por sua vez, não é igual para as diversas categorias, uma vez que os mesmos não respondem de igual forma a uma determinada quantidade e qualidade de suplemento. A suplementação também pode ser fornecida de forma substitutiva com o objetivo de aliviar o pasto, aumentando-se assim a carga animal por hectare. Suplementação com proteína é essencialmente crítica quando a proteína bruta da pastagem encontra-se abaixo de 7 - 8%. Fósforo, sódio e microminerais devem ser fornecidos sempre. Suplementação de vitamina A é recomendada quando os rebanhos são mantidos por mais de 4 meses sem acesso a forragens verdes / tenras. É necessário reavaliar o conceito, geralmente aceito, de que as gramíneas tropicais constituem substrato de baixa qualidade. Neste contexto, entre os fatores controláveis visualizamos que, o potencial de desempenho (ganho de peso, precocidade sexual e de acabamento) é administrável com animais detentores de potencial genético; quantidade de matéria seca com escolha de espécie adequada, manejo, adubação e, ou reciclagem de nutrientes; a sazonalidade com manejo e diferimento; a qualidade de forragem com manejo e suplementos múltiplos; a questão econômica com administração e controle; a questão gerencial com educação em todos os níveis (visão de mundo tropical do trabalhador rural ao formulador de teorias). Salientamos que se o diferimento de pasto pode ser considerado uma poupança de pasto para a época seca, a forragem assim obtida pode ser considerada um banco de energia latente, cabendo-nos disponibilizá-la para o animal, via balanço adequado dos nutrientes, incrementando a digestão da fração potencialmente digestível, passagem do resíduo indigestível e consumo. Quando elevados níveis de produção de matéria seca nas pastagens forem alcançados, é possível explorar conjuntamente performance mais elevadas dos animais e elevadas lotações. 226 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte A suplementação de animais em pastejo e sua eficiência (kg de ganho / kg de suplemento) pode ter diferentes respostas produtivas já que depende de numerosos fatores e suas interações. Estes fatores se resumem em: - Alimento . Pasto - tipo, qualidade, disponibilidade . Suplemento - tipo, qualidade, quantidade e forma de apresentação. - Animal: potencial genético, antecedentes nutricionais e estado fisiológico ( fase do ciclo de vida). - Manejo: oferta de pasto (carga animal; pressão de pastejo), sistema de pastejo, distribuição do concentrado. Genericamente, o nível de fornecimento de suplementos múltiplos guarda relação com ganhos de peso e objetivos do sistema de produção da seguinte maneira: - Recria de animais precoces, objetivando ganhos de 200 - 300g / animal/ dia: consumos na base de 0,1 a 0,3% do peso vivo. - Recria de animais superprecoces, objetivando ganhos de 500 600g / animal / dia: consumos na base de 0,4 a 0,5% de peso vivo. - Terminação de novilhas precoces e machos com 13 a 14 arrobas, objetivando ganhos de 600 - 700 g/ animal / dia: consumos na base de 0,5 a 0,7% do peso vivo. - Terminação de machos com 11 a 12 arrobas, objetivando ganhos acima de 800g/animal/dia: consumos na base de 0,8 a 1,0% do peso vivo. - Terminação com efeito substitutivo, especialmente em condições com baixa disponibilidade de matéria seca: consumos na base de 1,0 a 1,5% do peso vivo. Embora os sistemas de produção de bovinos em pastejo (envolvendo suplementação / complementação) apresentem, naturalmente, maior variabilidade, eles constituem uma opção viável para os pecuaristas, pois, além de não requererem atividade agrícola para produção de volumosos (como requerem os confinamentos) permitem significativas melhorias nos índices de produtividade do rebanho e melhoram as condições de manejo das pastagens. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 227 Acrescentem-se como vantagens desta proposta os baixos investimentos em instalações e equipamentos e menores exigências em infraestrutura, podendo viabilizar a pecuária de ciclo curto até em regiões / propriedades não contempladas com energia elétrica. Entre os anos de 1990 e 1998 enquanto o número de animais engordados em confinamento cresceu de 753.000 para 1.415.000 de cabeças, a produção de animais terminados a pasto, com suplementação no período seco, passou de 115.000 para 1.850.000 cabeças (ANUALPEC, 1999). Sob a ótica da pecuária de ciclo curto, é factível delinear uma estratificação do rebanho visando o abate de 30 - 40% dos machos com “superprecoce de pasto” abatidos com cerca de 18-20 meses, 30 - 40% abatidos com cerca de 22 meses e 40 - 20% como “precoce” com, no máximo, 24 meses, bem como cobrir fêmeas de reposição com cerca de 14 a 15 meses e abater novilhas de descarte com 20 - 22 meses. Assim, diríamos que estão estabelecidas as bases para a bovinocultura do novilho “superprecoce verde - amarelo”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFRC - AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL. Technical committee on responses to nutrients. Report 6. A reappraisal of the calcium and phosphorous requirements of sheep and cattle. Nut. Abs. Rev., v. 16, n.9, p. 576-612, 1991. ANUALPEC - Anuário estatístico da pecuária de corte. São Paulo, FNP Consultoria e Comércio, 1999. 250p. ARC - AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL. 1980. The nutrient requirements of ruminants livestock. 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Fortaleza/CE, 1996a. p. 19-20. 230 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte PAULINO, M. F.; BORGES, L. E.; CARVALHO, P. P. et al. Fontes de proteína em suplementos múltiplos sobre o desenvolvimento de novilhos e novilhas mestiças em pastoreio, durante a época das águas. ANAIS DA XXXIII REUNIAO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA.vol. 3, Fortaleza/CE, 1996b. p. 21-22. PAULINO, M.F.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C. Soja grão e caroço de algodão em suplementos múltiplos para terminação de bovinos mestiços em pastejo. ANAIS DA XXXVII REUNIAO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA. Viçosa/MG, 2000b(CD-ROM). PAULINO, M.F.; KABEYA, K.S.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Suplementação de Brachiaria decumbens durante o período das águas. A NAIS DA XXXVII REUNIÃO ANUAL DA SBZ, Viçosa/MG, 2000a (CD-ROM). PAULINO, M.F.; KABEYA, K.S.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Suplementação de novilhos mestiços no período das águas em pastagem de Andropogon gayanus. A NAIS DA XXXVII REUNIÃO ANUAL DA SBZ, Viçosa/MG, 2000c (CD-ROM). PAULINO,M.F., REHFELD, O.A.M., RUAS, J.R.M. et al. Alguns aspectos da suplementação de bovinos de corte em regime de pastagem durante a época seca. Informe Agropecuário, v.89, n.8, p.28-31, 1982. PAULINO, M.F.; RUAS, J.R.M. Considerações sobre a recria de bovinos de corte. Informe Agropecuário,v.13, n.153/154, p.68-80. 1988. PAULINO, M.F., RUAS, J.R.M. Efeitos de diferentes fontes e proteína sobre a taxa de prenhez de novilhas mestiças em regime de pastagens. A NAIS DA XXIX REUNIÃO ANUAL DA SBZ. Lavras/MG, p.157, 1992. PAULINO, M.F.; RUAS, J.R.M.; LEITE, R.D. Efeitos de diferentes níveis de farelo de trigo sobre o desenvolvimento de bezerros nelores em pastoreio. ANAIS DA 30a REUNIÃO ANUAL DA SBZ. Rio de Janeiro, 1993. P. 539. PAULINO, M.F.; RUAS, J.R.M. Efeitos de diferentes fontes de energia em suplementos múltiplos sobre o desenvolvimento de novilhas de corte em regime de pastagens. 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Porto Alegre: SBZ, 1999 (CD-ROM). 232 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte PASTAGEM E CANA-DE-AÇÚCAR , IRRIGADOS POR ASPERSÃO DE BAIXA PRESSÃO Carlos Augusto Brasileiro de Alencar Professor da Universidade Vale do Rio Doce, UNIVALE, Centro de Ciências Agrárias,Gov.Valadares-MG, [email protected] INTRODUÇÃO O setor gado de corte está sendo pressionado a se modernizar, saindo do modelo tradicional e extrativista para outro mais empresarial, o que implicará na substituição dos fatores primários por capital e tecnologia, na busca de competitividade e equilíbrio entre altos rendimentos e rentabilidade. Do ponto de vista da alimentação do rebanho, o pasto é o mais barato de todos os alimentos para se produzir e utilizar (EMMICK 1991), além de se constituir num sistema de produção que requer menores inversões iniciais de capital. A utilização adequada de pastagens pode reduzir os custos de produção, principalmente pela redução de concentrados e mão-de-obra (VILELA et al., 1993). Uma vez que a alimentação responde por 40 a 60% do custo de produção, no Brasil, produtores, técnicos e pesquisadores devem buscar programas de produção de forragem e sistemas de alimentação mais eficientes no uso de energia, que demandem menos mão-de-obra e investimentos. O ajuste do manejo de uma forragem requer conhecimentos prévios sobre os níveis de produção por animal e por área, possíveis de serem obtidos, e sobre os fatores limitantes dessa produção, como os que afetam o consumo de forragem e consequentemente a produção por animal, e aqueles que afetam a produção de forragem e consequentemente a produção por área, como o clima, solo, irrigação e o uso de fertilizantes. Estudos realizados com a cana-de-açúcar e pastagens tropicais, mostram que quando bem manejados, estes sistemas podem suportar altas taxas de lotação, permitindo produções de carne por área em níveis relativamente altos (Tabela 1), (Tabela 2). 234 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Potencialidade da lotação para produção de carne a pasto nos trópicos com diferentes níveis tecnológicos Tecnologia Adotada Sem fertilizante Consórcio gramínea + leguminosa Com N, P, K e S Com N, P, K e S, + Irrigação Taxa de Lotação (u.a./ha) 0,5 – 1,5 1,5 – 2,5 2,5 – 5,0 6,0 – 9,9 Fonte: Dados pessoais Tabela 2 - Potencialidade da lotação para produção de carne com Cana-de-açúcar/uréia com diferentes níveis tecnológicos Tecnologia Adotada Sem fertilizante Com fertilizante Com fertilizante + Irrigação Taxa de Lotação (u.a/ha) 5,0 – 7,5 7,5 – 15 15 – 0 Fonte: Dados pessoais Os custos de produção de Matéria Seca (M.S) da cana-de-açúcar + uréia e das pastagens, em condições normais, ou seja, sem irrigação estão em torno de US$ 0,03/kg M.S. e US$ 0,02/kg M.S. respectivamente. Estas duas forragens quando comparadas com outros sistemas (Ex.: silagem, feno) tem custo menores e maiores rendimentos por área. Quando introduzimos um dos fatores limitantes de produção, a irrigação, o custo de produção de Matéria Seca (M.S.) da cana-deaçúcar + uréia e das pastagens passarão a ser US$ 0,04/kg M.S. e US$ 0,03/kg M.S. respectivamente. A resposta à irrigação de gramíneas tropicais tem sido controvertida, principalmente em função da região, da espécie forrageira, do nível de insumos e do sistema de irrigação. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 235 Na região do Estado de Pernambuco divisa com Estado de Alagoas, a irrigação do pasto de mombaça (P.maximum), mostrou viabilidade econômica, possibilitando uma taxa de lotação de 7,0 u.a/ha com o ganho de peso de 850 gr/cab./dia. No leste de Minas Gerais, a irrigação tanto da cana-de-açúcar (Tabela 3) quanto a do pasto de braquiária (B.brizantha), também mostraram viabilidade econômica, possibilitando uma produção de leite de 10,0 kg/vaca/dia e uma taxa de lotação de 5,0 vacas/ha, com custo de produção de US$ 0,13/lt. Trabalhos conduzidos pela EMBRAPA/Gado de Leite (EMBRAPA/CNPGL, 1996) demostraram que a irrigação das pastagens com as forrageiras do gênero Pennisetum e Cynodon, mostraram viabilidade econômica. O mesmo ocorreu com trabalho conduzido na região norte de Minas Gerais com a participação EMBRAPA/Gado de Leite, a ANPL e a COOPAGRO (EMBRAPA/CNPGL, 1996). Tabela 3 - Competição de oito variedades de cana-de-açúcar irrigada, para alimentação de bovinos, média de quatro cortes MÉDIAS Variedade RB739359 CB 453 SP711406 RB765418 RB739735 NA5679* RB785148* RB72454* MÉDIA* M.V Ton./ha 201 193 198 218 222 258 274 295 276 M.S. % 27,0 25,4 28,0 27,0 25,5 27,0 26,3 29,0 27,4 M.S. Ton./ha 54 49 55 59 57 70 72 85 76 Fonte: Convênio UNIVALE / EMBRAPA / LEITE GLÓRIA BRIX % 15,3 14,4 15,4 15,0 16,0 17,0 17,0 18,0 17,3 236 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte IRRIGAÇÃO Os padrões de disponibilidade hídrica (precipitação) e de evapotranspiração são, entre outros, determinantes da adaptação e produtividade das espécies forrageiras. Além disso, a quantidade de água disponível para as plantas depende da textura e profundidade do solo, além das características do sistema radicular em termos de sua profundidade. Dentre os fatores que afetam a perda de água pela planta, a radiação solar é o principal, sendo a temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento influentes em menor escala. Na prática considerando-se as perdas, seja em condições de precipitação natural ou de irrigação, valores da ordem de 1.000 a 1.500 mm/ano parecem ser razoáveis para sistemas intensivos de produção de forragem, embora valores mais exatos para otimização de sistemas de irrigação de forragem ainda sejam escassos em nosso meio. A aplicação da água no solo, com objetivo de fornecer às espécies vegetais a umidade ideal para seu desenvolvimento, pode ser feita por meio de diversos métodos de irrigação. A irrigação por aspersão tem sido um dos métodos mais difundido atualmente. Talvez tenham concorrido para isso o elevado grau de uniformidade de aplicação de água, a facilidade de manejo, a elevada eficiência do sistema, a facilidade para eliminar os perigos de erosão, a possibilidade de seu emprego nas mais diversas topografias e tipos do solos e a possibilidade de aplicação de fertilizantes e defensivos. Uma opção é a irrigação por aspersão fixo de baixa pressão, que é um sistema em que as linhas principais, secundárias e laterais são em quantidades suficientes para irrigar toda a área, com aspersores de pressão de serviço baixa. A condução d’água da motobomba até os aspersores é efetuada, por meio das tubulações de diversos tipos de materiais, tais como: aço zincado, alumínio e PVC rígido. Apesar das tubulações serem suficientes para irrigar ao mesmo tempo, a área inteira, a irrigação é feita com funcionamento de um determinado número de aspersores por vez, de acordo com o turno de rega. Para isso o sistema é dotado de Cap BR (Tampão com rosca), com controle manual, nos pontos de irrigação. Os aspersores são do tipo rotativo (Figura 1), movidos por impacto do braço oscilante e trabalham com pressão variando entre 15 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 237 a 25 m.c.a.. Por necessitarem de baixa pressão, muitos sistemas são instalados com pressão proveniente da diferença de nível entre a fonte d’água e a área a ser irrigada (por gravidade). A troca destes aspersores é feita a cada 12 ou 24 horas, dependendo da sua intensidade de aplicação, que pode variar de 2,0 a 5,0 mm/hora. A utilização deste sistema tem sido grande, em razão da baixa demanda de mão-de-obra, de energia, de vazão, possibilidade de fertirrigação e baixo custo do equipamento, US$ 700/ha (Tabela 4). Tabela 4 - Custo do Equipamento de Irrigação, ex.: 30 ha Descrição Sucção, Kit adubação, Moto-bomba, Chave partida, Registro, Manômetro e Conexões Linha principal, Linha secundária, Conexões Linha lateral, Conexões Aspersor, lixa, cola e fita TOTAL US$ % 3.200 7.300 9.300 1.100 21.000 15 35 45 5 100 238 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Manejo de Irrigação O manejo racional de qualquer projeto de irrigação deve ter como objetivo maximizar a eficiência do uso d’água e minimizar os custos, quer de mão-de-obra, quer de capital, mantendo as condições de umidade do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura irrigada (BERNARDO, 1984). Infelizmente, as práticas irrigatórias em uso são, geralmente, baseadas em costumes herdados ou em conveniências particulares, em vez de em corretas análises para as condições presentes. Após a instalação do sistema e durante as irrigações, fazem-se necessárias a análise e a calibração do sistema, a fim de que se possa implementá-lo, de modo que o sistema seja conduzido com eficiência. Através de trabalhos de campo que estão sendo realizados desde o início de 1996, em propriedades no leste do Estado de Minas Gerais , no sul do Estado da Bahia e Pernambuco, sugerimos, para obter boa produção, tanto na cana-de-açúcar (250 ton./ha) quanto na pastagem (6,0 u.a/ha), irrigação com turno de rega prefixado usando 60 - 80% de disponibilidade d’água do solo entre duas irrigações. EXTRAÇÃO DE NUTRIENTES Produções elevadas de forragem requerem alto nível de reposição de nutrientes, principalmente os mais solúveis como N e o K (Tabela 5), justamente os que têm o maior impacto sobre a produção. Ainda assim, nutrientes menos móveis como P e Ca devem ser constantemente monitorados, com saturação por bases (V%) mantida ao redor de 60%, para que a fertilidade não seja fator limitante em situações de exploração intensiva, como o caso de forragens irrigadas. Portanto o grande diferencial entre o potencial e a produção real das forragens se deve em muito ao fato do produtor e do técnico não encararem as plantas como culturas exigentes que extraem grandes quantidades de nutrientes do solo (Tabela 6). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 239 Tabela 5 - Quantidades de macronutrientes relativos a produção de 100 ton. colmos, variedade C.B. 4176 Macronutrientes N K P Nutrientes removidos (Kg) 150 150 20 Fonte: Malavolta, 1987 Tabela 6 - Produção de forragem e remoção de nutrientes em gramíneas Espécie Brachiaria ruziziensis Cynodon nlemfuensis Pennisetum purpureum Brachiaria mutica Digitaria decumbens Panicum maximum Melinis minutiflora Média Kg do nutriente/t.MS Produção de M.S. (t/ha.ano) 32,9 27,8 27,7 26,4 26,1 25,3 14,3 25,8 Nutrientes removidos N P K 333 54 442 380 64 460 332 70 554 337 47 421 329 52 393 317 48 399 227 35 228 332 53 415 13 2 16 (Kg/ha.ano) Ca Mg 150 77 148 53 105 69 126 87 119 74 163 109 62 48 125 74 4,8 2,8 Fonte: Rodrigues e Rodrigues (1987), modificado Segundo MALAVOLTA (1987), na cultura de cana-de-açúcar, cerca de metade das quantidades dos elementos extraídos estão no colmo. Daí a importância de termos que mudar os conceitos de adubação de canaviais destinados para alimentação de bovinos, visto que todo o material é colhido, ou seja, a ponta que representa a outra metade dos elementos não é reciclada, ao contrário que acontece nas usinas. CONCLUSÕES O sistema de irrigação proposto apresenta varias vantagens como: baixa demanda de vazão, de energia e de mão-de-obra, baixo 240 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte custo, otimização do uso de energia, maior vida útil, menor interferência da mão-de-obra, maior conforto da mão-de-obra, menor interferência de vento, emprego nas mais diversas topografias e tipos de solos, aplicação de fertilizantes e menor risco de fogo. Respondendo ou não a questões de cunho científico, o certo é que, num primeiro momento, o sistema vem dando suporte para que muitos produtores se fixem numa atividade em que a escala de produção é fundamental nos dias de hoje. Apesar de que nem sempre o conhecimento teórico possa ser direta e imediatamente aplicado para a formulação de sistemas de produção, aqui, a prática adiantou-se a gramática. Mais esforço da pesquisa deve ser concentrado nessa área, pois ainda há muito o que saber. Como, por exemplo, nível de adubação com fertirrigação, uniformidade da fertirrigação, manejo da fertirrigação , lâmina d’água adequada, espaçamento da cana, manejo adubação versus irrigação versus pastejo, física e química de solo, fisiologia de planta, período de pastejo e período de descanso, etc. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, C . A . B. Indicações de forrageiras com melhores características para serem utilizadas em pastejo intensivo e que respondam à fertilização e irrigação do solo. In: SIMPÓSIO SUSTENTABILIDADE DA PECUÁRIA DE LEITE NO BRASIL .1999.Goiânia. Anais... Juizde Fora : Embrapa Gado de Leite, Goiânia: Serrana Nutrição Animal /CNPq. 274 p.p. 75-83. BERNARDO, S. Manual de Irrigação. Viçosa, UFV, Imprensa Universitária, 1984 . 46 3 p. CORSI, M. e MARTHA JR, G.B. Manutenção da fertilidade do solo em sistemas intensivos de pastejo rotacionado. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM. 14., Piracicaba, 1997. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997. 327 p.p. 161-192. CORSI, M. ; MARTHA JR, G.B. ;Balsalobre, M. A . A . ; Penati, M. A . ,Pagotto, D. S.; Santos, P. M. e Barioni, L. G. . Tendências e perspectivas da produção de Bovinos sob Pastejo. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM. 17., Piracicaba, 2000. Anais... Piracicaba: FEALQ, 2000. 47 p. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 241 EMBRAPA-CNPGL. Relatório anual do projeto 06.0.94.203. Aumento da eficiência dos sistemas de produção de leite a pasto, via utilização de forrageiras de alto potencial de produção. Coronel Pacheco, 1996. EMMICK, D.L. Increase pasture use to decrease dairy feed costs. In: PASTURE / GRAZING FIELD DAY. Proc..., 1991. Penn State University, University Park. p. 10-14. 1991. MALAVOLTA, E. Manual de Calagem e Adubação das Principais Culturas. Campinas, S.P., Ed. Agronômicas Ceres, 1987. 496 p. Pasto Irrigado demonstra ser viável e rentável para leite. Balde Branco. Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo, São Paulo, N.º 430, 74 p.p. 30 –36 . RODRIGUES, L.R.A e RODRIGUES, T.J.D. Ecofisiologia de plantas forrageiras. In: Ecofisiologia da produção agrícola. CASTRO, P.R.C.; Ferreira, S. O.; YAMADA, T. (Edit.). Piracicaba: POTAFOS, 1987. 245 p p. 203-227. STOBBS, T.H. Milk Production per cow per hectare from tropical pasture – In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE GANADERIA TROPICAL PRODUCCION DE FORRAGES, 1976. México. Memória... México: Secretaria de Agricultura e Ganaderia/Banco de México S.A (FIRE), 1976, p. 129-146. TORRES, R.A.; LIMA JR., A C S.; TELES, F. M. e DERESZ, F. Utilização da mistura cana-de-acúcar, uréia e sulfato de cálcio como alimento suplentar de vacas em lactação em regime de pasto, no período seco e In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 28. João Pessoa, PB, 1991. Anais... João Pessoa, PB, SBZ. 1991 b, p. 296. VILELA, D.; ALVIM, M.S.; Pires, M.F.A.; Cóser, A.C.; Campos, O.F. de; LIZIERE, R.S.; RESENDE, J.C.; ASSIS, A.G. Comparação entre o sistema de pastejo em Cost-Cross (Cynodon dactylon, L.) e o sistema de confinamento para vacas de leite. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 30., 1993, Rio de Janeiro,. Anais... 1993. Rio de Janeiro 1993. 242 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte ALGUNS FATORES PRÁTICOS DA IRRIGAÇÃO DE PASTAGENS Gláucon Cézar Cardoso *M. Sc. Forragicultura e Pastagens Consultor Autônomo INTRODUÇÃO O Brasil, apesar de possuir o segundo maior rebanho bovino de corte do mundo e das tecnologias existentes, o que se observa, nas avaliações de propriedades rurais, são modestos índices de produtividade. Com grande extensão territorial, disponibilidade de mãode-obra, recursos genéticos que atendem as expectativas da produção animal a pasto, oferta de grãos e outros insumos e a ausência de invernos rigorosamente frios a favor da atividade, coloca o Brasil numa posição privilegiada na disputa pelo domínio da produção de carne bovina. Contudo, falta política agrícola e internacional para crescimento de estratégico da produção e marketing para mercados confiáveis que avalizem o produtor na aquisição e implantação integral de novas tecnologias que acelerem e sustentem a produção de carne bovina. O ciclo da bovinocultura de corte no Brasil depende, ainda, das condições climáticas. Grande parte do rebanho encontra-se no Brasil Central, onde a distribuição de chuvas é concentrada entre os meses de outubro a março. No período de inverno, caracterizado por ligeira queda de temperatura em função da redução do fotoperíodo, as chuvas são escassas e a produção forrageira é bastante restrita. O produtor precisa se profissionalizar como pecuarista e melhorar mais a genética, a nutrição, o manejo e a sanidade do seu rebanho, para disputar o mercado interno com as carnes de suínos e aves e também encarar as exigências do mercado internacional, vencendo cada desafio. PRODUÇÃO DE CARNE NO BRASIL Segundo dados do ANUALPEC (1998) mais de 90 % dos animais abatidos são produzidos exclusivamente a pasto, sujeitos a variações na idade de abate, obedecendo a distribuição anual de chuvas. O 244 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte desempenho dos animais é razoável na estação chuvosa com a pastagem em boas condições, e no período de inverno, associado no Brasil tropical ao período seco, o que se observa é a carência alimentar causada pela baixíssima qualidade do pasto, resultando em perda de peso no rebanho, acompanhando a distribuição das chuvas e a produção forrageira, conforme figura 01. Esta situação contrastante, que ocorre entre os períodos de chuva e seca, culmina em baixos índices zootécnicos que são expressos em baixa taxa de fertilidade, alta mortalidade, abate tardio, baixo desfrute, animais com qualidade de carcaça inferior e do maior custo de produção. 100% 90% 80% Produção de Massa (%) 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Nov Dez Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Figura 1 - Variação(%) da produção forrageira no Brasil Central durante os meses do ano. Várias são as maneiras de contornar esta situação em função do conhecimento sobre nutrição, manejo, sanidade animal e do potencial forrageiro dos capins cultivados e do volume de informações lançadas pelas Universidades e Centros de Pesquisa. As tecnologias de suplementação alimentar existentes, as condições climáticas, o mercado, os tipos de resíduos de culturas e as gramíneas largamente cultivadas no Brasil são fatores determinantes da forma e velocidade de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 245 terminação que se pode adotar para melhorar aqueles índices de produtividade da bovinocultura brasileira. Com dimensões continentais, o Brasil possui várias regiões com características peculiares e que seria prudente adotar tecnologias específicas ou adaptáveis com coerência para atender a essas carências e tornar o ciclo da pecuária brasileira mais curto, melhorando a qualidade, a produtividade e aumentando a competitividade do produto animal brasileiro dentro do mercado internacional. Muitas técnicas como o Creep-feeding, a suplementação a pasto, uso de corretivos e fertilizantes em pastagens, pastejo rotacionado, diferimento de pastagem e severo controle sanitário do rebanho estão sendo usadas sem nenhuma restrição e com grande eficiência em todo território nacional. Essas técnicas precisam ser amplamente difundidas para melhorar os índices de produtividade da bovinocultura de corte brasileira, já que muitos produtores tradicionalistas ainda resistem às inovações tecnológicas. Medidas simples podem reduzir ou anular o “efeito sanfona” expresso em satisfatório ganho de peso pela considerável oferta de alimento na primavera e verão, e a lastimável perda que os animais ainda sofrem após o desmame e durante cada período seco. Outras técnicas deverão ser usadas de acordo com as limitações das condições específicas regionais e podem ser adotadas como as pastagens de inverno na região Sul, os grandes confinamentos em regiões produtoras de grãos ou resíduos da agroindústria e a irrigação de pastagens para parte do sudeste e centro-oeste, e praticamente todo o nordeste. IRRIGAÇÃO DE PASTAGENS O uso de irrigação em pastagens com uso de pivô central recebeu impulso em meados do anos noventa, embora se tenha registro da utilização de irrigação através de aspersão convencional e inundação para capineiras e em pequena escala para produção de massa verde para pastejo direto. Pastagens irrigadas via Pivot Central tiveram origem em áreas de produção agrícola de grãos, onde havia baixa produtividade causada principalmente por solos cansados e contaminados por 246 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte patógenos, demandando elevadas doses de defensivos, conseqüência muitas vezes do monocultivo. Iniciado na sua maioria por agricultores profissionais, com pouca ou nenhuma experiência em bovinocultura e deficientes de conhecimentos sobre as reais necessidades dos capins cultivados, no que diz respeito a turno de rega, lâmina de irrigação, período de descanso, altura mínima de pastejo, índice de área foliar, doses de fertilizantes para sustentar a produtividade da forrageira, onde irrigar e qual categoria animal responderia em melhor retorno financeiro para adoção de sistemas irrigados. Em face disto muitos aventureiros fracassaram com a atividade. Com o objetivo de reduzir a estacionalidade de produção e produzir maior quantidade de massa forrageira durante o ano, a irrigação de pastagem, mesmo na época em que as condições climáticas são favoráveis, na primavera e verão, em que a temperatura e taxa de radiação solar favorecem ao crescimento vegetativo, pode-se imprimir acréscimos consideráveis ao volume de matéria seca produzida em função de contornar a escassez hídrica causada pela má distribuição das chuvas no período, principalmente a causada pelos veranicos. Neste período todas as condições climáticas concorrem pela alta produtividade, exceto o déficit hídrico. A redução na estacionalidade existe, ou pode até ser plenamente contornada. O conhecimento das amplitudes de temperatura e do fotoperíodo registradas entre o verão e o inverno são de fundamental importância para que se faça um prognóstico das possibilidades de introduzir ou não pastagens irrigadas em determinada região e qual a forrageira que melhor poderá responder esta tecnologia. Temperatura e radiação solar Alta temperatura ambiental e elevada quantidade e qualidade da luz são fatores determinantes na atividade metabólica da planta, na ausência de limitações hídricas e minerais. Dessa forma, a atividade meristemática da parte aérea e toda, ou quase toda a produção de assimiladas são direcionados para a demanda de crescimento de tecidos, priorizando o máximo crescimento da parte aérea para otimizar a captura da radiação solar. Esses eventos entre outros, são II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 247 responsáveis pela elevada produção de matéria seca durante os meses quentes e de dias longos. Dados técnicos de várias fazendas mostram que projetos implantados em regiões próximas da linha do equador onde o binômio temperatura e radiação apresenta nível elevado e não variam significativamente ao longo do ano, os resultados são bastante satisfatórios com relação à constância na produção forrageira. Em regiões com invernos mais rigorosos a produção forrageira tem ficado bem aquém da capacidade produtiva do verão. Nesta situação, torna-se necessário avaliar outra cultura a ser irrigada ou outra alternativa para suplementar os animais que seja mais conveniente a esta realidade. Temperaturas noturnas menores de 15 oC não permitem atividade metabólica satisfatória e formação de tecidos da parte aérea de forrageiras tropicais, principalmente para o mombaça e tanzânia, adotadas em projetos irrigados. Quedas de temperatura têm sido observadas em regiões localizadas abaixo do paralelo 20o. Não só a latitude deverá ser observada, mas também a altitude local. É comum nos cerrados, áreas de chapas com altitudes acima de 850 metros, onde a amplitude térmica é bastante significativa entre a temperaturas noturna e diurna, verão e inverno. A observação de fatores dessa natureza são fundamentais na decisão de implantação de tecnologia de irrigação de pastagens. A adoção da tecnologia de irrigação de pastagens demanda apoio técnico fundamentado no conhecimento da fisiologia, necessidades nutricionais da forrageira, uso coerente de fertilizantes compatíveis com os corretivos para que não se perder em produtividade do relvado. Sistemas mais intensificados de produção requerem grande domínio e precisão das atitudes a serem tomadas A escolha da forragem A escolha da forrageira é o primeiro passo depois da avaliação das condições locais e da decisão de implantar sistema de pastejo irrigado. Existem vários capins com excelente potencial produtivo nas regiões onde as condições ambientais permitem crescimento forrageiro ao longo de todo ano. Capins dos gêneros cynodon, P. maximum e a brachiaria brizantha têm sido amplamente difundido. 248 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte O gênero cynodon, altamente produtivo, porém de alto custo de implantação, deveria ser usado para produção de feno de maior rentabilidade, que para pastejo direto, de menor eficiência econômica. Além disto, contaminação do stand forrageiro por sementes de outros capins tem ocorrido. Normalmente as braquiárias, menos palatáveis e mais rústicas têm sido motivo de preocupação nestes sistemas, devido a alta rotatividade de animais nestes sistemas. O gênero P. maximum tem se mostrado mais adequado, devido a facilidade de manejo e alta produção de matéria seca. Os cultivares tanzânia e mombaça, de crescimento cespitoso, têm sido responsáveis pela sedução de produtores e técnicos e garantido a sustentabilidade dos sistemas irrigados. No auge do inverno e início da estação primavera em que as pastagens estão secas, estas forrageiras têm proporcionado verdadeiros oásis e permitido produção de carne ao longo de todo ano. Experiências de campo com o capim mombaça têm mostrado dados de produção forrageira diária de até 160 kg de matéria seca por ha, no auge do verão, em stand densos. O pisoteio e o desperdício após pastejo não são facilmente determinados mas, podem ser estimados. O hábito de crescimento desta forrageira favorece a menores desperdícios pelo pisoteio. Tabela 1 - Composição média de forragens cultivadas em sistemas irrigados (% MS) Capim Tanzânia (34 dias) Mombaça (34 dias) Tifton 85 (30 dias) NDT (%) 63,8 62,9 64,1 PB (%) 14,2 13,5 15,6 MS (%) 17,2 18,1 18,4 P (%) 0,29 0,28 0,31 *Valores obtidos em coleta de campo Manejo da irrigação A lâmina de irrigação necessária dependerá de observação e acurácia do manejador. Solos arenosos exigem maior freqüência de irrigação, duas a três vezes por semana, com lâminas mais “pesadas”. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 249 Solos argilosos por armazenarem maior quantidade de água poderão ser irrigados uma ou duas vezes por semana. Não existe, é claro, receita para determinar a freqüência de irrigação, outros fatores como umidade relativa local, taxa de radiação solar, tipo de solo, stand forrageiro e velocidade dos ventos deverão ser considerados para testar a lâmina mais adequada. Normalmente, têm-se trabalhado com lâminas de 10 a 15 mm. Respostas a lâminas mais pesadas e turno de rega a cada 3 ou 4 dias têm sido bastante satisfatórias. O encharcamento do solo a cada duas ou três vezes por semana têm permitido melhor distribuição do sistema radicular no perfil do solo. A adoção de lâminas mais leves e mais parceladas tem levado a decréscimos na produção forrageira ao longo do tempo. Nessas condições têm-se obervado crescimento radicular superficial com menor exploração do perfil solo em busca de nutrientes, alta sensibilidade a falta de irrigação, sujeito ainda a donos causados pelo pisoteio. O uso tensiômetros ou estação climatológica são imprescindíveis para se determinar o momento exato de se fazer a irrigação, evitando que ocorra a falta ou desperdício de água e energia e até mesmo comprometer o desenvolvimento da forrageira por falta ou excesso de umidade. Maiores efeitos do pisoteio têm sido notados em nível de solo que em desperdício de forragem, quando se trata P. maximum. Solos úmidos sofrem com maior compactação pelo pisoteio, dificultando o crescimento do sistema radicular, a infiltração da água e consequentemente a percolação de nutrientes lançados em cobertura para manutenção da fertilidade do solo. Porém, a não irrigação dos piquetes ocupados e dos que antecedem a ocupação tem favorecido a produtividade e a longevidade dos sistemas irrigados devido à redução do impacto do pisoteio. APLICAÇÃO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS É recomendável fazer aplicação de uma dose maciça de calcário antes da formação do pasto, desde que não ultrapasse o nível de pH que afete a disponibilidade de micronutrientes como o manganês. Atenção deve ser dada à profundidade de aplicação, de 25 a 30 cm, que permita melhor crescimento do sistema radicular. Em sistema de 250 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte pastagem irrigada não se permite movimentação periódica do solo. Preferencialmente o calcário deveria ser de granulometria mais grossa , baixo PRNT (70%), e alto PN, já que a extração é contínua e elevada. Calcários muitos finos têm levado aumentos de pH inicialmente e redução a curto prazo com redução nos níveis de cálcio e magnésio, consequentemente a menor eficiência de utilização de fertilizantes pelas plantas. Manipular níveis de fertilizantes em sistemas de alta extração de nutrientes tem sido um desafio, por não ser permitido remover o solo periodicamente, como em culturas anuais. Este tem sido um dos principais fatores de insucessos em sistemas irrigados, além do desconhecimento das necessidades fisiológicas das gramíneas perenes, relativas ao período de descanso, altura de pastejo e índice de área foliar. Grande economia é observada em aplicação de fertilizantes à base de N, S e K via fertirrigação. A aplicação com uso adubadeiras tracionadas por trator têm onerado muito os custos de manutenção dessas pastagens pelo fato necessitar de máquinas todos os dias além, do pisoteio comprometendo a forrageira e as condições físicas do solo. O P. maximum de modo geral tem apresentado excelentes respostas a adubações contendo altas doses de enxofre. Após o pastejo por período de 5 a 7 dias há crescimento de até 10 cm diários, e o que se observa a partir de então é uma ligeira redução na velocidade de alongamento foliar. Por tanto seria conveniente realizar a adubação de cobertura imediatamente após a saída dos animais do piquete para favorecer o alargamento das touceiras e o aparecimento de novos perfilhos. Muitos produtores, por falta de suporte técnico, cometeram erros realizando adubações nitrogenadas com uso de uréia logo após a calagem. Na verdade, por ter andado na frente da pesquisa científica, muitas atitudes foram tomadas intuitivamente ou de experiências com agricultura para produção de grãos. Hoje, com apoio de pesquisadores de universidades, de institutos de pesquisa e profissionais de campo qualificados têm-se obtido, a cada dia, melhores resultados com sistemas de pastagem irrigada. Maior eficiência nas fertilizações tem sido obtida em solos com um nível mínimo de matéria orgânica (MO). Solos tropicais, onde a temperatura normalmente é elevada, dificilmente consegue-se manter teores de 2 a 3% de MO, principalmente em áreas irrigadas em que a II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 251 atividade microbiana do solo é bastante expressiva. Nessas regiões a temperatura ambiental oscila entre 25 e 35oC e a umidade do solo é constante, favorecendo a ação dos decompositores e redução contínua dos teores de MO por mineralização. Contudo, torna-se necessário adicionar sempre que possível esterco de curral, cepilha, casca de arroz, resíduos da agricultura, cama de frango ou esterco de galinha poedeira. MANEJO DO PASTO IRRIGADO O sistema adotado é o pastejo rotacionado tradicional, que difere do sistema de sequeiro por não sofrer grandes influências de variações climáticas esperadas mas imprevisíveis quanto a duração, causadas pelos veranicos, responsáveis por flutuações na produção, exigindo interferências imediatas no controle da carga animal. O manejo do pasto exige acompanhamento bastante rigoroso. Qualquer descuido na pressão de pastejo poderá levar ao retardamento na recuperação da produção forrageira. A observação do índice de área foliar remanescente é fundamental para a recomposição do pasto em tempo hábil até a chegada do próximo pastejo. Alta pressão de pastejo poderá levar a planta a estresse fisiológico, menor conteúdo em reservas de carboidratos nos tecidos permanentes e retardar sua recomposição e consequentemente o próximo pastejo poderá ser comprometido, com redução da capacidade de suporte. O período de descanso é função da espécie forrageira e da região de estabelecimento do projeto e deve ser flexível para as diferentes estações do ano ou que ajuste na carga animal seja coerente com a velocidade de crescimento da forrageira. A planta não obedece ao tempo determinado pelo manejador e possui o seu tempo fisiológico que envolve o crescimento e recomposição de suas reservas nos tecidos permanentes. Durante o inverno em que a atividade meristemática é reduzida em função da queda de temperatura, é necessário aumentar o período entre pastejos e/ou reduzir a carga animal. Logicamente, existem grandes variações entre um ano e outro e, o sucesso do sistema está intimamente ligado ao acompanhamento técnico do sistema. A exploração intensiva de pastagens requer conhecimento dos eventos e a sua extensão sobre a forrageira que se pretende adotar como suporte para produção de volumoso. As pesquisas científicas 252 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte continuam gerando um grande volume de informações sobre a idade ótima de pastejo, altura de corte, descanso mínimo ou intervalo entre pastejos para recomposição das reservas da planta, curvas demonstrativas associando qualidade da forragem com volume de massa produzida, capacidade de produção de matéria seca ao longo do ano, extração de nutrientes, exigência em fertilidade, velocidade de recuperação pós pastejo, entre outras referências indispensáveis para se estabelecer o manejo para cada espécie. Enfim, um nível mínimo de conhecimento sobre a ecofisiologia das pastagens é necessário para otimizar a produção forrageira, de acordo com as exigências da categoria animal em produção para assegurar a sustentabilidade do sistema. Muito ainda terá que ser discutido sobre a produção forrageira em sistemas irrigados. Pastejo em sistemas irrigados nada mais é que intensificação do pastejo rotacionado já adotado em muitas propriedades, em várias regiões do Brasil. Sistemas de pastejo rotacionado foram adotados e descartados em grande parte das propriedades que o introduziram. A não obediência ou mesmo o desconhecimento das leis do pastejo rotacionado levaram esta tecnologia ao fracasso, à crítica e ao seu descrédito pelos produtores rurais e até mesmo por técnicos extensionistas, devido à dificuldade de conscientização dos manejadores de pastos. Por serem muito intensivos não apresentam elasticidade suficiente para retardar a tomada de decisão. O sucesso das decisões do manejador é função da observação da altura de corte, índice de área foliar, altura do ponto de crescimento, doses, forma e momento de aplicação de fertilizantes e corretivos. Esse conjunto de informações associado à densidade do stand forrageiro vão predizer a lotação admitida pelo sistema. O sucesso na tomada de decisão será fundamental sustentabilidade do pastejo rotacionado irrigado e obtenção de desempenho animal satisfatório. Têm-se observado que períodos de descanso ou intervalos entre pastejos, para o noroeste de mineiro, devem ser de 32 dias, aproximadamente. Trabalhos de pesquisa mostram períodos de descanso menores que este mas, o pastejo nunca é severamente controlado e pequenos ajuste na carga animal sempre são necessários. A presença do animal exerce efeitos conhecidos mas nunca quantificados com exatidão. Existe muita semelhança entre dados de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 253 pesquisa, obtidos em casa de vegetação em vasos ou pequenos canteiros e até mesmo em piquetes cujo período experimental, às vezes, não excede 24 meses e os obtidos no campo, em sistemas que contém de oito a dez animais com média de 400 kg de peso vivo por há, considerando o peso de entrada e saída do sistema. Quando se trabalha com lotes de 300 a 400 animais por piquete, têm-se que ser cauteloso e aumentar o período de descanso entre pastejos é bastante prudente. EXPECTATIVA DE PRODUÇÃO ANIMAL A produção animal em sistemas intensivos de exploração de pastagem pode ser bastante contraditória. Diferentes categorias podem representar diferentes resultados, tornando o investimento mais ou menos rentável. Deve-se sempre buscar maior produção de carne por ha, como mostra a figura 02. Sistemas de pastagem irrigada são implantados, normalmente, no sentido de eliminar a atividade de confinamento ou acelerar a terminação de animais para abate, em propriedades onde a estação seca é bem definida e longa. Outras, utilizam-se da tecnologia para recria de animais desmamados dentro da propriedades ou adquiridos de terceiro, permitindo o contínuo desenvolvimento para terminação no próprio sistema irrigado ou em confinamento fechado. Produtores de leite para pastoreio direto de vacas em lactação. Não importa a finalidade, o importante que o pastoreio direto se mostre mais rentável que a colheita mecânica de alimentos, armazenagem e fornecimento aos animais em cochos, deslocamento de máquinas e equipamentos, de mão-de-obra e infraestrutura de alimentação e acelere a terminação de animais de corte, contribuindo para o aumento da taxa de desfrute. 254 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Ganho máximo Ganho de peso por animal x Ganho de peso por área Ganho por área Ganho por animal Subpastejo Pastejo ótimo Superpastejo Pressão de pastejo Figura 2 - Eficiência em utilização de pastagens (Produção de MS x ganho de peso/ha) O desempenho de animais em fase de recria tem sido bastante satisfatório. O valor nutritivo da massa verde produzida, satisfatório em PB e ligeira deficiência energética, é bastante compatível com as exigências de animais em recria e de bois magros, conforme tabela 02 do NRC. As exigências de animais em fase final de terminação que acumulam gordura não encaixam com a oferta de forrageiras irrigadas. A oferta de proteína bruta (PB) do capim mombaça é bastante elevada em função das adubações constantes à base de N e S, e tem atingido níveis próximos de 13,5%. NDT têm oscilado entre 60 e 65%. A tabela 03 mostra o consumo médio de animais em fase de recria, novilhos e bois em fase de engorda de nutrientes oferecidos pela pastagem (média de três anos). São apresentados os ganhos médios diários (GMD) do período para diferentes categorias. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 255 Tabela 2 - Quadro de exigência animal para ganho de 1,0 kg/dia Categoria MS Bezerro-250 kg Novilhos magros - 360 kg Boi terminação-450 kg 5,8 8,0 9,8 Exigência (kg/Cab/dia) NDT 3,9 4,98 6,1 PB 0,897 0,924 1,176 *NRC (1988) Tabela 3 - Consumo de nutrientes observado para diferentes categorias de animais, em função do valor nutritivo do capim mombaça obtido por análise bromatológica e GMD Categoria Bezerro-250 kg Novilhos magros - 360 kg Boi terminação-450 kg MS 6,25 8,0 9,5 Consumo (kg/Cab/dia) NDT PB 3,9 5,0 5,9 0,719 0,92 1,193 MO 36,8 47,0 55,9 GMD observado 0,710 0,980 0,780 * Valores estimados de consumo médio por cabeça. A escolha da categoria animal deve levar em consideração o mercado que determina custo de aquisição de animais para reposição, função da oferta regional de bezerros, bois magros, vacas magras pósdesmame, a velocidade de giro de capital pretendida e a exigência nutricional. Experiências de campo têm mostrado que explorar o ganho compensatório novilhos magros (12 a 13 @) tem sido bastante vantajoso e normalmente, não tem excedido o prazo de 120 dias para atingirem o peso de abate. A capacidade de suporte pode variar bastante de região para região e um pouco menos de propriedade para propriedade, mas tem ficado em torno de 9,6 bois magros por ha. Animais em fase de recria submetidos a sistemas irrigados tem proporcionado ótimos níveis de ganhos por área. É possível em muitos casos conseguir-se lotações de 14 a 16 animais por ha. A tabela 04 apresenta dados de controle de desempenho trimestral. 256 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Animais geneticamente superiores como os cruzados de raças zebuínas com raças européias, onde se explora máxima heterose, os resultados têm sido bastante surpreendentes, com excepcionais GMD. Tabela 4 - Produção média de carne/ha Categoria Bezerro-250 kg Novilhos magros - 360 kg Primavera 984,0 801,6 Verão 945,0 790,8 Outono Inverno Ganho Total 890,6 834,3 3.653,9 715,0 698,0 3.005,4 * Ganhos obtidos em pastagem de capim mombaça. Mesmo com ganhos menores por ha, tem sido mais vantajoso a produção de carne a partir de novilhos magros em função dos preços de arroba adquirida e arroba terminada. Vacas magras pós desmame também tem apresentado retorno muito vantajoso, de fácil aquisição, principalmente na região dos cerrados e por ser um animal de carcaça formada, adequado para engorda. Animais magros aumentam a viabilidade do investimento. INVESTIMENTO EM SISTEMAS IRRIGADOS Os custos são extremamente relevantes em sistemas irrigados onde o equipamento utilizado é o Pivô Central. Além disto, nem todas as propriedades dispõem de condições topográficas, energia elétrica, água e solo que permitam a adoção desta tecnologia. Em função disto não há porque implantar esta tecnologia em regiões em que o déficit hídrico causado pela escassez de chuvas não seja bastante acentuado. O ponto de capitação pode elevar bastante os custos de implantação deste sistema. O conjunto moto-bomba, rede elétrica e adutora podem ser muito expressivos na composição dos custos de implantação. Outro aspecto é que conjuntos moto-bombas muito potentes tendem a elevar o custo energético de acionamento do equipamento. Os equipamentos mais adotados atualmente têm sido de 80 a 100 ha, por reduzirem o custo por área e causarem menor impacto em nível de solos. Pivôs muito grandes possuem alta vazão na extremidade II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 257 podendo causar erosão em solos de baixa absorção e com topografia mais inclinada. Outros investimentos como aquisição de animais, cercas fixas e eletrificadas, bebedouros, cochos de sal e formação de pasto são específicos para a atividade de pecuária e devem ser considerados antes de se decidir pelo sistema de pastagem irrigada, conforme resumo da tabela 05, considerando custos para bois magros. Mas, ainda em pivôs que irrigam lavouras anuais talvez seja sugerível fazer pastagem por período de 1 a 2 anos para auxiliar no controle de patógenos de solo, principalmente em propriedades que cultivam lavouras de feijão por anos seguidos. Considerando que o ciclo dos animais dentro do pivô não excede, em média a 120 dias para bois magros, é possível trabalhar com 3 lotes por ano para esta categoria. Fator que melhora significativamente a rentabilidade do sistema. Outras opções são bastante rentáveis como a recria de animais recém desmamados e a engorda de vacas magras. 258 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 5 - Resumo de custos de implantação, manutenção de equipamentos e despesas operaicionais (US $) 1 - Investimentos Unidade Quantidade Pivô Central (100 ha) Formação de Pastagem Conjunto ha 1 100 Cerca elétrica montagem do pivô central km Conjunto 19,1828 1 Valor Unitário Valor Total $120.000,00 $262,00 $120.000,00 $26.200,00 $242,00 $4.200,00 $4.642,24 $4.200,00 Total (10 anos) $155.042,24 Sub-total1 (1 ano) $15.504,22 2 - Custo Operacional 2.1 - Rebanho Minerallização Vacinas e vermífugos M.D.O. ton 29,2 $290,00 $8.468,00 dose salário 3 30 $2,80 $80,00 $8,40 $2.400,00 Sub-total2 $10.876,40 2.2 - Irrigação Energia elétrica contas 12 $1.400,00 Manutenção do pivô (3%) Sub-total3 $16.800,00 $3.600,00 $20.400,00 2.3 - Manut. pastagem Super Simples ton 70 $160,00 $11.200,00 Sulfato de Amônio NPK (20-00-20) ton ton 50 70 $170,00 $205,00 $8.500,00 $14.350,00 Esterco de galinha ton 300 $25,00 $7.500,00 Calcário Dist. De corretivos e fertiliz. ton h.m. 100 675 $5,20 $12,00 $520,00 $8.100,00 Sub-total4 $50.170,00 Total Geral (1+2+3+4) (TG) $96.950,62 Aquisição de animais cabeça 800 $230,00 $184.000,00 Venda de animais cabeça 800 $310,00 $248.000,00 Receita Bruta (RB1) $64.000,00 Rec. Bruta (3 ciclos) (RB2) $192.000,00 Receita líquida (RB2 - TG) $95.049,38 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 259 CONCLUSÃO A irrigação de pastagens tem grande potencial para expansão e pode contribuir muito para melhorar os índices de produtividade da pecuária brasileira, contribuindo ainda mais para a produção do boi de pasto com alimentação mais natural possível. Os índices de produtividade poderão ser melhorados se adotada uma suplementação que possa acelerar o ganho de peso em pastejo, corrigindo as necessidades de cada categoria animal. Os investimentos são elevados e muitos critérios técnicos devem ser adotados e respeitados para permitir o sucesso do empreendimento. A observação de fatores como temperatura, fotoperíodo e distribuição das chuvas, são variáveis climáticas fundamentais para adoção da tecnologia de irrigação de pastagens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.6, 1998. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.7, 1999. Gomide, J. A. Morfogênese e análise de crescimento de gramíneas tropicais. In: Simpósio Internacional sobre produção animal em pastejo, 1997, Viçosa. Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p.411-429. Maraschin, G. E. Produção de carne a pasto. In: Simpósio sobre manejo da pastagem, 13., 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997. p.243274. Nabinger, C. Princípios da exploração intensiva de pastagens. In: Simpósio sobre manejo da pastagem, 13., 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1997. p.15-95. National Research Council. 1996. Nutrient Requirements of Beef Catle. Washington, D.C., National Academy of Sciences. Zimmer, A.H., Euclides Filho, K. As pastagens e a pecuária de corte brasileira In: Simpósio Internacional sobre produção animal em pastejo, 1997, Viçosa. Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p. 349-379. 260 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS COM FORRAGENS CONSERVADAS Odilon Gomes Pereira1 , Karina Guimarães Ribeiro2 2 1 Professor do DZO/UFV, Bolsista do CNPq, e-mail: [email protected] Professora do DZO/FESURV, Rio Verde - GO, e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A estacionalidade da produção de forragens é reconhecida como um dos principais fatores responsáveis pelos baixos índices de produtividade da pecuária nacional, visto que os níveis de produção animal obtidos na estação das águas são comprometidos pelo baixo rendimento forrageiro durante a seca. No Brasil Central, esse período compreende os meses de maio a setembro, época em que ocorre acentuada redução no crescimento das gramíneas forrageiras tropicais, resultando em menor disponibilidade de forragem, de baixo valor alimentíceo, afetando, assim, o desempenho dos animais mantidos a pasto, observando-se, portanto, prejuízos como: atraso no crescimento dos animais jovens, perda de peso nos machos adultos, elevando a idade de abate dos bovinos, atraso na idade da primeira parição e baixa fertilidade do rebanho. Várias são as estratégias utilizadas visando contornar o déficit de forragens no período seco do ano, nas diferentes regiões pastoris do Brasil. Essas estratégias devem ser coerentes com o sistema de produção de cada propriedade. O uso de forragens conservadas, a suplementação concentrada no pasto e o uso de irrigação são alternativas capazes de explorar a elevada produtividade dos pastos tropicais nesse período do ano. A conservação de forragens proporciona alimentos de alta qualidade, de maneira mais uniforme, ao longo do período de suplementação. A silagem e o feno, com destaque para o primeiro, são as principais formas de uso de forragens conservadas. FORRAGENS CONSERVADAS COMO FONTE SUPLEMENTAR A suplementação com forragens conservadas dependerá dos requerimentos nutricionais da categoria de bovinos de corte e da 262 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte composição de nutrientes da forragem. A suplementação objetiva o suprimento adicional de proteína, energia e minerais, basicamente. Os produtos da fermentação microbiana no rúmen suprem parte da energia e proteína metabolizada pelos bovinos. Como o animal hospedeiro, os microorganismos do rúmen requerem um suprimento balanceado de proteína e energia para atuarem eficientemente. Segundo o NRC (1984), os microorganismos ruminais sintetizam aproximadamente 113 g de proteína bruta bacteriana por quilograma de NDT. Logo, um desbalanço de nitrogênio e energia no rúmen pode resultar em redução da produção de proteína microbiana e da digestão da forragem, além de perdas de nutrientes (McCOLLUM III, 1999). Este desbalanceamento de nutrientes pode diminuir o consumo e o desempenho de bovinos. Na Figura 1, observa-se a relação entre o teor de proteína bruta da forragem e o consumo. Verifica-se que o consumo decresce rapidamente quando o teor protéico da forragem situa-se abaixo de 7%. Isso é atribuído à deficiência de nitrogênio no rúmen, insuficiente para atender aos requerimentos dos microorganismos. O termo suplemento refere-se a um alimento rico em determinado nutriente (proteína, energia, minerais, ou outros nutrientes), visando corrigir as deficiências nutricionais de animais em pastejo ou recebendo rações basais, balanceando, assim, as dietas dos animais (VALLENTINE, 2000). Segundo o NRC (1996), a máxima eficiência de utilização da dieta resulta do suprimento de dietas nutricionalmente balanceadas, sendo a performance do animal afetada pelo principal nutriente limitante. Deste modo, quando a energia é o principal nutriente limitante, outros nutrientes não serão eficientemente utilizados. Da mesma forma, se a proteína for o principal nutriente limitante, o suprimento de energia adicional poderá não melhorar o desempenho animal. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 263 Figura 1 - Consumo de matéria seca de forragem em relação ao teor de proteína bruta (Moore e Kunkle, 1994, citados por McCollum III, 1999) Os suplementos são geralmente alimentos concentrados, ou menos comumente uma forragem conservada, rica em determinado nutriente, como por exemplo feno de alfafa ou mesmo um pasto de elevada qualidade (uma legumineira, p.ex.), pastejado simultaneamente com um pasto de baixa qualidade (VALLENTINE, 2000). Algumas forragens são pobres em proteína, não atendendo os requerimentos de qualquer categoria de bovinos. Silagens de milho e de sorgo forrageiro, além de restos de culturas, como palhadas de cereais, necessitam ser suplementadas com proteína. Todavia, forragens ricas em proteína, como feno ou silagem de leguminosas, não necessitam ser suplementadas com este nutriente, a menos que a quantidade destes alimentos na ração sejam baixas. Independentemente do tipo de forragem, a suplementação protéica deve ser calculada com base nos requerimentos da categoria animal e no teor de proteína bruta da forragem. Compostos nitrogenados não protéicos, como a uréia, têm sido amplamente utilizados como fonte de nitrogênio, em rações para 264 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte ruminantes. Uma das razões para o uso dessas fontes de NNP, é o menor custo do quilograma de nitrogênio, em relação aos concentrados protéicos. Várias considerações sobre a adição de compostos nitrogenados não protéicos, no momento da ensilagem ou por ocasião da alimentação, foram relatadas por GOODRICH e MEISKE (1985). No Brasil, foram desenvolvidos alguns trabalhos, na década de 80/90, objetivando aumentar o teor protéico de silagens de milho, por meio do consórcio desta gramínea com leguminosas (EVANGELISTA et al., 1983; OBEID et al., 1985; OBEID et al., 1992a, b). Alguns desses trabalhos registraram aumentos consideráveis no teor protéico das silagens, em decorrência da consorciação, com incrementos de 22 e 100%, respectivamente, em silagem de milho consorciada com soja e mucuna, em relação à silagem exclusiva de milho (OBEID et al., 1992a). Como consequência, o maior teor protéico das silagens com leguminosas resultou em maiores consumos, e, por conseguinte, maiores ganhos de peso dos animais (ZAGO et al., 1985; OBEID et al., 1992b). Quando o desempenho animal é limitado pelo consumo de energia proveniente da forragem, faz-se necessária a suplementação com uma fonte de maior densidade energética. Todavia, para uma forragem rica em energia, como a silagem de milho, a suplementação energética poderá não ser necessária, exceto, talvez, para bovinos em terminação (FONTENOT et al., 1995). Contudo, essa suplementação será necessária quando forragens pobres em energia são fornecidas a bovinos com requerimentos moderados a altos. A quantidade de suplemento será determinada pela categoria de bovinos e pela disponibilidade de energia na forragem. UTILIZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS NO CONFINAMENTO O sistema de produção, como parte integrante de uma cadeia produtiva eficiente de carne, terá de fazer inserções diversas, especialmente tecnológicas, visando promover a intensificação do sistema, de modo que este seja competitivo (EUCLIDES et al., 2000). Todavia, a adoção de determinada tecnologia deve ser vista de forma integrada e sistêmica. Nesse contexto, o confinamento de bovinos na II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 265 fase de terminação tem se revelado uma alternativa tecnológica importante na intensificação de sistemas de produção de bovinos de corte. O confinamento tem possibilitado o aumento do ganho de peso diário dos animais e sensível redução da idade de abate, com reflexos positivos na taxa de desfrute, na obtenção de carcaças de melhor qualidade e no maior giro de capital. Para isso, preconiza-se a utilização de forragens conservadas de qualidade superior, associadas a concentrados, para garantir maiores ganhos de peso, e o uso de animais de alto potencial genético, normalmente mestiços ou provenientes de cruzamentos industriais entre raças zebuínas e européias, cujo vigor híbrido proporciona maior velocidade de crescimento e qualidade de carcaça superior, em relação aos das raças puras. O consumo é uma das variáveis mais importantes que afetam o desempenho animal, sendo influenciado por características do animal, do alimento e das condições de alimentação. Segundo VAN SOEST (1965), o consumo é inversamente correlacionado ao teor de parede celular, quando este situa-se acima de 55-65%. Quando a densidade energética da ração é alta, em relação às exigências do animal, o consumo será limitado pela demanda energética do animal, e, se a ração apresenta baixa densidade energética, o consumo será limitado pelo efeito de enchimento (MERTENS, 1992). O estádio de maturidade da planta à colheita influencia seu valor nutritivo mais do que qualquer outro fator, notadamente, em gramíneas e leguminosas forrageiras, quando colhidas para feno (PEREIRA, 1998), ou silagem. Portanto, é relevante o conhecimento do momento da colheita, pois a forragem de melhor qualidade certamente promoverá maiores consumos e desempenho animal Uma das maneiras de se conseguir máximo consumo de energia é a manipulação da proporção de volumoso:concentrado na ração. Portanto, na formulação de rações, deve-se suplementar os volumosos disponíveis com concentrados, de modo a corrigir suas deficiências de nutrientes, seja devido a mais baixa qualidade da forragem ou à impossibilidade de atendimento dos requerimentos de categorias animais de desempenho mais elevado. Como a alimentação representa a maior parte dos custos de produção nos confinamentos, deve-se proceder uma escolha criteriosa 266 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte do programa de alimentação a ser adotado, o qual deve ser bioeconomicamente viável. Em decorrência disto, a maioria dos pesquisadores têm procurado aquele nível de forragem conservada:concentrado na dieta que resulta nesse ótimo bioeconômico. Suplementação com feno Avaliando o consumo e o desempenho de bovinos F1 Simental x Nelore, recebendo rações contendo diferentes proporções de concentrado:volumoso (25; 37,5; 50,0; 62,5 e 75%), utilizando fenos dos capins coastcross e braquiária, na base de 50% cada um, como fonte de volumoso, FERREIRA et al. (1999) verificaram aumentos nos consumos de matéria seca, proteína bruta e nutrientes digestíveis totais, bem como nas características de desempenho, com o aumento da inclusão de concentrados na dieta (Tabela 1). Nesse estudo, os teores de FDN das rações, que variaram de 63,12% (25% de concentrado) a 27,69% (75% de concentrado), explicam a redução linear do consumo deste nutriente com o aumento de concentrado nas rações (Tabela 1). TIBO et al. (2000), em ensaio de digestibilidade, usando animais com o mesmo grau de sangue e as mesmas proporções de concentrado nas rações, também registraram incrementos lineares para o consumo e a digestibilidade aparente total da matéria seca, com o aumento da proporção de concentrado nas rações. Outros estudos também revelaram efeitos de diferentes níveis de concentrado sobre os consumos de matéria seca (RODRIGUEZ et al., 1996; LADEIRA et al., 1999; DIAS et al., 2000). Por sua vez, CARVALHO et al. (1997) e CARDOSO et al. (2000) não verificaram efeito das diferentes proporções de feno:concentrado sobre o consumo de matéria seca. GESUALDI JÚNIOR et al. (2000), avaliando o desempenho de novilhos F1 Limousin x Nelore, recebendo rações contendo cinco níveis de concentrado na matéria seca (25; 37,5; 50,0; 62,5 e 75%), usando como fonte de volumoso feno de capim-coastcross, observaram que o consumo de matéria seca apresentou resposta quadrática, em função do nível de concentrado na ração, estimando-se consumo máximo de 8,04 kg MS/dia, para o nível de 41,48% de concentrado. Comportamento semelhante foi verificado para o ganho médio diário de peso vivo e II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 267 carcaça, com valores máximos de 1,16 e 0,81 kg, para os níveis de 61,1 e 64,47% de concentrado, respectivamente. Na Tabela 2, encontra-se um resumo dos dados de desempenho obtidos neste trabalho. Os autores registraram, ainda, decréscimos lineares para a conversão alimentar, com o aumento dos níveis de concentrado nas rações. Isso pode ser atribuído à maior densidade energética das rações contendo níveis mais elevados de concentrado, resultando, assim, em maior ingestão de energia. Tabela1 - Valores médios obtidos para os consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), nutrientes digestíveis totais (CNDT), ganho médio diário em peso vivo (GMD), conversão alimentar (CA) e rendimento de carcaça em relação ao peso vivo (RCPV)1 Item CMS 2 CPB2 CFDN2 CNDT 2 GMD2 CA RCPV (%) 1 25 9,25 0,79 5,79 5,84 0,83 11,32 59,8 Níveis de concentrado 37,5 50 9,73 9,23 1,08 1,24 5,06 4,10 6,08 6,22 1,04 1,13 9,72 8,37 56,6 57,6 Adaptado de FERREIRA et al. (1999) kg/dia 2 (%) 62,5 10,0 1,56 3,51 7,17 1,43 7,16 56,7 Efeito 75 10,4 1,78 2,68 7,82 1,64 6,48 58,2 L L L L L L - 268 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 2 - Valores médios obtidos para consumo de matéria seca (CMS), ganho médio diário em peso vivo (GMD), ganho de carcaça (GCAR) e conversão alimentar Item CMS 2 CMS (%PV) GMD2 GCAR2 CA 25 7,85 1,96 0,85 0,54 10,0 Níveis de concentrado (%) 37,5 50 62,5 8,05 8,03 7,68 2,0 1,97 1,86 1,03 1,11 1,19 0,66 0,77 0,84 8,70 7,84 6,39 Efeito 75 7,3 1,78 1,10 0,78 6,67 Q Q Q Q L 1 Adaptado de GESUALDI et al. (1999) kg/dia 2 CARDOSO et al. (2000), em ensaio de digestibilidade, usando animais com mesmo grau de sangue e as mesmas rações do estudo de GESUALDI JÚNIOR et al. (2000a), não observaram variação no consumo de matéria seca e proteína bruta, contudo, a ingestão de NDT aumentou linearmente, com o incremento de concentrado nas rações. Os autores atribuíram isso às digestibilidades mais elevadas de proteína bruta, extrato etéreo e carboidratos totais, cujos valores aumentaram linearmente com a participação do concentrado nas rações. Estudos conduzidos por RIBEIRO et al. (2001), com bovinos fistulados no rúmen e abomaso, recebendo dietas contendo feno de capim-tifton 85, colhido aos 28, 35, 42 e 56 dias de rebrota, adotandose relação volumoso:concentrado de 60:40, estimaram máximo consumo de matéria seca para rações contendo feno com 41 dias de idade. Quanto à digestibilidade aparente da matéria seca, os autores não detectaram influência da idade do feno, registrando valor médio de 71%. Nas Tabelas 3 e 4, são apresentadas as composições bromatológicas dos fenos e do concentrado, e os consumos e as digestibilidades de alguns nutrientes das rações. Os autores atribuiram a redução no consumo de matéria seca, a partir de 41 dias de idade, ao mais alto teor de parede celular indigerível no feno de idade mais avançada. Tal afirmativa é baseada no trabalho de HENRIQUES et al. (1998), que, avaliando a degradabilidade desses fenos, observaram valores de FDN indigerível, após 144h de incubação ruminal, de 19,6; II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 269 18,4; 21,1; e 28,9%, para fenos de 28, 35, 42 e 56 dias de rebrota, respectivamente ATAIDE JÚNIOR et al. (2000), em experimento com ovinos, utilizando-se como fonte única os mesmos fenos do trabalho de RIBEIRO et al. (2001), também encontraram comportamento quadrático para a ingestão de matéria seca do feno de capim-tifton 85, em função da idade de rebrota, estimando máximo consumo para feno com 39 dias de idade. Para a digestibilidade aparente da MS, os autores verificaram decréscimo linear com o avanço da idade de rebrota dos fenos, estimando-se valores de 63,4 e 58,9%, para fenos com 28 e 56 dias de rebrota, respectivamente. HILL et al. (1997), trabalhando com fenos de três cultivares de Cynodon (coastal, tifton 78 e tifton 85), e duas idades de corte (28 e 42 dias), ofertados a novilhos de 279 kg, verificaram que o consumo de matéria seca não foi influenciado pelos tratamentos, registrando-se consumo médio de 5,3 kg/dia. Todavia, as digestibilidades dos nutrientes foram reduzidas com o aumento da idade das plantas ao corte, para todos os cultivares. Mandebvu et al. (1998), citados por HILL et al. (1998), verificaram mais altos consumos em novilhos recebendo, como fonte única, fenos de capim-tifton 85 ou capim-coastal, de plantas colhidas com 49 dias de idade do que com 21 ou 35 dias. Tabela 3 - Composição bromatológica dos fenos de diferentes idades de rebrota e do concentrado na ração Idade do feno (dias) MS MO (%) EE FDN % na MS 28 85 92,9 16,4 1,35 78,8 35 86 92,6 15,5 1,67 78,7 42 86 93,3 14,3 1,38 79,9 85 92,4 11,3 1,04 81,3 88 97,3 8,3 3,55 15,0 56 Concentrado * PB * Concentrado contendo fubá de milho e mistura mineral. 270 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Em ensaio de desempenho com bovinos Nelore, recebendo as mesmas rações do estudo de RIBEIRO et al. (2001), exceto aquela contendo feno com 28 dias de rebrota, ATAÍDE JÚNIOR et al. (2001) não detectaram influência da idade do feno de capim-tifton 85 na dieta sobre o ganho de peso diário, que revelou valores médios de 1,37; 1,10 e 1,20 kg/dia de PV, para rações contendo fenos com 35, 42 e 56 dias de rebrota, respectivamente, embora tenham registrado decréscimos no consumo de matéria seca, de 0,037kg para cada dia de avanço na idade de rebrota do feno. Os autores recomendaram a produção de feno com este capim até aos 42 dias de rebrota, devido ao maior teor de fibra em detergente neutro indigerível a partir desta idade, bem como, ao acamamento do mesmo, dificultando assim a opreracionalidade das máquinas por ocasião da fenação. Tabela 4 - Consumos e digestibilidades aparentes médias totais de alguns nutrientes1 Item Idade do feno na ração (dias) 28 1 35 42 Consumo(kg/dia) 5,85 5,72 0,72 0,66 0,15 0,14 MS PB EE 5,39 0,69 0,13 FDN NDT CHOS 3,09 3,98 3,85 MS PB 73,3 64,5 70,6 59,0 FDN CHOS 67,9 76,9 65,0 74,4 3,38 4,18 4,04 Digestibilidade Total Adaptado de RIBEIRO et al.(2001) Efeito 56 5,27 0,52 0,11 Q Q - 3,06 3,51 3,40 Q Q Q 72,3 61,4 67,3 55,0 - 66,6 75,8 58,0 70,5 L L 3,37 4,11 3,98 (%) (%) II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 271 VILLALOBOS et al. (1997a), avaliando o consumo, a digestibilidade e a cinética da digesta ruminal de feno de pasto nativo de baixo valor nutritivo (5,7% PB; 68% FDN), suplementado com um feno de gramínea, irrigada, de alto valor (16,5% PB; 53,5% FDN) ou com um suplemento concentrado (40% PB) contendo 70% de farelo de soja e 30% de trigo grão, fornecidos a novilhos fistulados no rúmen, concluíram que o feno de gramínea produziu efeitos similares, na cinética ruminal e no consumo do feno de pasto nativo, aos do suplemento concentrado. Esse trabalho evidencia a perspectiva de se efetuar a suplementação de animais mantidos em pastos de baixo valor nutritivo, no período seco do ano, usando forragem conservada de alta qualidade. Usando novilhos fistulados no rúmen, BODINE et al. (2000) avaliaram oito diferentes combinações de suplementos com feno de pasto nativo, assim constituídos: milho prensado (0 ou 75% do peso corporal), associado a quatro níveis crescentes de farelo de soja, para proporcionar de zero a 1,3 g de proteína degradada no rúmen, por kg de peso corporal. O consumo de matéria orgânica do feno e total aumentou quadraticamente em resposta ao acréscimo de proteína degradada no rúmen, com ou sem suplementação de milho. A suplementação com milho e farelo de soja resultou em maiores consumos de matéria orgânica digestível do que a suplementação protéica sozinha. Segundo os autores, isso poderia resultar em maior consumo de energia, e, possivelmente, melhor performance de bovinos consumindo fenos de baixa qualidade, quando suplementados com estas fontes de alimentos. Portanto, a adição de adequada quantidade de proteína degradada no rúmen pode reduzir boa parte dos efeitos associativos negativos resultantes da suplementação de fenos de baixa qualidade com altos níveis de grãos. MATHIS et al. (2000), ao avaliarem a adição de níveis crescentes de proteína degradada no rúmen, sobre a utilização de forragens de baixa a média qualidade (fenos de capimbermuda; capim-de-pomar e sorgo forrageiro) encontraram significativa variação entre os fenos, na quantidade de proteína degradada no rúmen necessária para maximizar o consumo e a digestão, quando expressos em relação à matéria orgânica digestível. 272 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Suplementação com silagem A exemplo do observado para a suplementação de bovinos com feno, grande parte dos estudos desenvolvidos com silagens têm avaliado diferentes níveis de suplementação com concentrados sobre o desempenho dos animais. Neste contexto, Drennan (1984), citado por STEEN (1987), numa revisão de 18 experimentos, quantificou a resposta de novilhos, na fase de terminação, à suplementação com concentrados. Quando o concentrado aumentou de 0 para 1,8 kg/dia (19% do consumo total de matéria seca), os ganhos de peso vivo e de carcaça aumentaram 147 e 91 g/kg de concentrado, respectivamente. Incrementos no concentrado de 1,8 para 3,6 kg/dia (19 para 34% do consumo de matéria seca) resultaram em aumentos de 63 e 52 g/kg de concentrado, para as respectivas variáveis. Em estudo mais recente, conduzido por STEEN e KILPPATRICK (2000), em que avaliaram níveis crescentes de concentrados, em dietas à base de silagens de gramíneas, fornecidas ad libitum e restrita, a novilhos mestiços Simental x Holandês, o aumento na proporção do concentrado na dieta reduziu o consumo de silagem em 0,56 kg de matéria seca/kg de matéria seca do concentrado. Segundo esses autores, isto é um exemplo típico de taxa de substituição, quando silagens de gramíneas de alta digestibilidade são suplementadas com concentrado. Na Tabela 5 encontram-se os dados de desempenho animal deste estudo. É oportuno destacar que a resposta à suplementação com concentrado depende da qualidade da silagem e do potencial de ganho do animal. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 273 Tabela 5 - Consumo, desempenho animal e dados de carcaça1 Item 0 Consumo MS da silagem2 MS total1 Desempenho animal Período da dieta3 Peso de carcaça4 Ganho de PV 2 Rend. de carcaça5 Ganho de carcaça2 7,0 a 7,0 d 298 a 298 0,56 a 532 0,34 a Níveis de concentrado na dieta (g/kg) 120 240 360 0/360 6,6 b 7,5 bc 247 b 298 0,69 b 532 0,41 b 5,7 d 7,7 b 207c 301 0,84 c 542 0,53 c 5,2 e 8,4 a 165 d 298 1,04 d 531 0,61 d 360 6 6,3c 7,4c 4,1f 6,6 247 b 298 0,70 b 532 0,42 b 263 b 301 0,67 b 538 0,42 b 1 Adaptado de STEEN e KILPPATRICK (2000) kg/dia; 3dias; 4kg; 5g carcaça/kg PV, 680% do consumo ad libitum 2 FERREIRA et al. (1995), ao fornecerem rações contendo silagem de milho (SM), silagem mista (1/3 SM + 2/3 silagem de capim-elefante SCE) e a combinação de SM mais SCE, na proporção de 1:2, na base natural, a novilhas ¾ Holandês x Zebu, com peso vivo médio de 240 kg, registraram maior ganho em peso para as novilhas que receberam silagem de milho como volumoso. As silagens foram oferecidas ad libitum, juntamente com 1 kg de concentrado, por novilha. Os consumos de matéria seca das silagens foram semelhantes, conforme se observa na Tabela 6. Logo, o maior ganho de peso dos animais alimentados com silagem de milho decorreu de seu alto valor energético. 274 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 6 - Ganho de peso e consumo de nutrientes em novilhas alimentadas com rações à base de silagem de milho e capim-elefante1 Item GMD (kg) Consumo MS (kg/dia) Volumoso Concentrado Total Consumo PB (g/dia) Volumoso Concentrado Total Milho 0,802a Silagens Mista 0,580b Mistura 0,448b 5,56 0,862 6,42 5,23 0,862 6,09 4,56 0,862 5,42 378 464 842 329 461 790 246 461 707 a > b - teste Tukey a 5% 1 Adaptado de FERRREIRA et al. (1995) Quanto ao uso de silagens tratadas com inoculantes microbianos, na alimentação de bovinos de corte, a literatura nacional apresenta poucas informações. Contudo, tem se verificado, na prática, uma crescente procura, por parte dos pecuaristas, por tais inoculantes. As bactérias ácido lática são os aditivos mais comuns, sendo o principal papel destas garantir mais rápida e eficiente fermentação no silo (MUCK, 1993; MUCK e KUNG Jr., 1997; KUNG Jr. e MUCK, 1997). O desempenho animal nem sempre é melhorado, porém, o nível de melhora na performance animal é freqüentemente maior do que esperar-se-ia, em termos de mudanças na fermentação e redução da proteólise (MUCK e SHINNERS, 2001). Dados sumarizados por KUNG Jr. e MUCK (1997) mostraram respostas positivas de inoculantes microbianos sobre o consumo, o ganho de peso e a produção de leite, respectivamente, em 28, 53 e 47% dos estudos. Embora esses dados sejam animadores, alguns cuidados devem ser tomados quando da interpretação dos mesmos, haja visto que nem todos os inoculantes são iguais, ou, ainda, devido a ampla variação de condições existentes entre os estudos, isto é, organismos com o mesmo nome não são necessariamente os mesmos II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 275 organismos, podendo, portanto, não apresentar a mesma efetividade (KUNG Jr. e MUCK, 1997). Na Tabela 7 é apresentado um sumário de 19 estudos, conduzidos com gado de corte, usando um único inoculante de silagem, o Lactobacillus plantarum MTD1. Para todos os estudos e tipos de forragens, os bovinos alimentados com silagens inoculadas consumiram 7,5% mais matéria seca e apresentaram ganho de peso 11,1% superior. Tabela 7 - Consumo de matéria seca (CMS) e ganho médio diário (GMD) de peso vivo, em kg/dia, em bovinos recebendo silagens inoculadas com MTD1, nas fases de crescimento e terminação (Moran e Owen, 1995 citados por KUNG Jr. e MUCK, 1997) Crescimento Itens Controle MTD1 Diferença (%) Probabilidade Gramínea (n = 5) CMS GMD 4,49 0,657 4,74 0,757 + 5,3 + 15,2 NS < 0,01 Terminação Silagens Alfafa e milho (n = 5) Gramínea (n = 9) CMS GMD CMS GMD 7,27 1,05 6,57 0,50 8,15 1,15 6,82 0,55 + 12,0 + 9,4 + 3,8 + 9,8 < 0,10 < 0,01 NS < 0,01 WEINBERG e MUCK (1996) relataram que, em alguns estudos, o desempenho animal tem sido melhorado pelo uso de inoculantes microbianos, mesmo não se detectando efeito destes sobre a fermentação da silagem. Esses autores sugerem que os inoculantes microbianos podem proporcionar um efeito probiótico, inibindo microorganismos prejudiciais na silagem e no rúmen, ou prejudicando substâncias benéficas que podem favorecer microorganismos ruminais específicos, resultando, assim, em melhoria do desempenho animal. Alguns efeitos dos aditivos microbianos sobre o desempenho de animais e a fermentação de silagens foram discutidos por KUNG Jr. e MUCK (1997). Estudos conduzidos por SILVA et al. (2001a), utilizando silagens de milho e sorgo, com e sem inoculante microbiano, fornecidas a bovinos mestiços H x Z, respeitando-se uma relação 276 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte volumoso:concentrado de 63:37%, na base da matéria seca, não mostraram efeito das dietas sobre o consumo de nutrientes, ganho de peso e rendimento de carcaça, conforme consta na Tabela 8. SILVA et al. (2001b), usando as mesmas rações acima, em ensaio de digestibilidade com bovinos fistulados no rúmen e abomaso, também não detectaram efeito das rações sobre as digestibilidades aparentes totais e ruminais dos nutrientes. Com base nestas considerações, os autores concluíram que as rações avaliadas equivalem-se nutricionalmente. Associação de feno e silagem como suplementos Existe considerável evidência de que o consumo de matéria seca da silagem é menor do que o do material verde ou do feno produzido com a mesma cultura. Demarquilly (1973), citado por THOMAS e GIL (1987) observou variação de -1 a 64%. Isto reflete as alterações na composição bromatológica da forrageira entre o corte e alimentação. No entanto, LUGINBUHL et al. (2000) avaliando o efeito do método de conservação do Panicum virgatum L., como feno ou silagem, sobre o consumo e comportamento mastigatório de novilhos Hereford, verificaram maiores consumos de matéria seca e fibra em detergente neutro naqueles animais que receberam silagem, conforme se observa na Tabela 9. O consumo de feno pode ter sido limitado pela quantidade de saliva necessária para seu umedecimento e posterior deglutição, uma vez que os novilhos gastaram mais tempo mastigando feno por quilograma de fibra em detergente neutro consumida do que aqueles alimentados com silagem. Por sua vez, Burns et al. (1993), citados por LUGINBUHL et al. (2000), não registraram diferenças nos consumos e digestibilidades da matéria seca dos fenos e silagens de P. virgatum L., ofertados a novilhos. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 277 Tabela 8 - Consumos de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), ganho médio diário (GMD) de peso vivo e rendimento de carcaça (RC) de bovinos Holandês x Zebu, recebendo rações contendo silagens de milho e sorgo, com e sem inoculante microbiano Silagem Inoculante Sorgo Sorgo Milho Milho Sem Com Sem Com Média CV (%) 1 kg/dia, 2 MS 1 9,25 8,67 9,68 9,96 9,39 11,53 Consumos MS 2 PB1 2,12 1,3 2,01 1,06 2,24 1,23 2,31 1,25 2,19 1,17 9,06 11,24 FDN1 3,90 3,66 3,77 3,78 3,78 12,24 GMD (kg) RC (%) 1,13 1,05 1,13 1,10 1,10 11,57 49,35 49,97 50,34 49,56 49,81 2,86 % PV Tabela 9 - Consumo voluntário de Panicum virgatum L. fornecido a novilhos, nas formas de feno e silagem¹ Consumos MS (kg/dia) FDN (kg/dia) PB (g/dia) Água (l/dia) Água total (l/dia)2 Métodos de Preservação FENO Silagem 5,3 6,2 3,9 4,5 387,9 369,8 22,0 10,6 22,6 27,8 P<F 0,02 0,07 0,30 0,001 0,03 ¹Adaptado de LUGINBUHL et al. (2000) 2 Consumo de água do alimento e de suprimento. CAVALCANTE (informação pessoal), ao fornecer rações contendo 60% de volumoso e 40% de concentrado, na base da matéria seca, a novilhos H x Z, fistulados no rúmen, usando como fontes de volumosos a silagem de milho e o feno de capim-tifton 85, respectivamente, nas proporções de 0:100; 33:67; 67:33; e 100:0%, também não registrou efeito das dietas experimentais para os consumos de matéria seca expressos em kg/dia e percentagem do peso vivo. Por sua vez, para o 278 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte consumo de fibra em detergente neutro, detectou-se efeito quadrático (P<0,09), estimando-se máximo consumo para dietas contendo 35,33% de silagem de milho. SOUZA et al. (2001), ao avaliarem o consumo de nutrientes, o ganho de peso e a conversão alimentar de novilhos H x Z recebendo rações contendo silagem de sorgo e pré-secado de capim-tifton 85 como volumoso, nas proporções de 0:100; 32:68; 66:34; e 100:0%, respectivamente, com base na matéria seca, numa relação volumoso:concentrado de 60:40%, não detectaram influência das rações sobre os consumos de matéria seca e proteína bruta, quando expressos, em kg/dia. Todavia, o consumo de matéria seca expresso em percentagem do peso vivo e o ganho médio diário foram influenciados pelos níveis de silagem de sorgo no volumoso, estimando-se valores máximos 2,35% do PV e 1,25kg/dia, para as respectivas variáveis, com 28,68 e 60,95% de silagem de sorgo no volumoso. Os autores concluíram que o uso de silagem pré-secada de capim-tifton 85, associada à silagem de sorgo, mostrou-se uma boa alternativa de alimentos volumosos, para terminação de bovinos de corte em confinamento. Nas Tabelas 10 e 11 encontram-se a composição bromatológica das silagens e os dados de desempenho dos animais. Esses resultados são animadores, se considerarmos que os animais que receberam silagem pré-secada de capim-tifton 85, de pobre valor nutritivo (Tabela 10), como fonte única de volumoso, apresentaram ganho de peso vivo diário somente 12,6% inferior àqueles alimentados com rações contendo silagem exclusiva de sorgo. Isso evidencia a possibilidade de se reduzir o custo de alimentação, dado que a silagem pré-secada de capim-tifton 85 apresenta custo de produção inferior ao da silagem de sorgo, possibilitando, assim, maior flexibilidade no programa de suplementação alimentar do rebanho no período seco do ano, quer seja usando-a como fonte exclusiva de volumoso ou em associação à silagem de sorgo. Esta última alternativa proporciona, ainda, a redução na área destinada ao cultivo do sorgo para produção de silagem, liberando áreas para outros cultivos, como por ex. produção de grãos. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 279 Tabela 10 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica(MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e carboidratos totais (CT), das silagens de sorgo e capimtifton 85 e do concentrado Item Silagem de sorgo Silagem de capim-tifton Concentrado Frações na MS (%) MS (%) MO 24,44 95,59 53,65 93,56 89,79 96,96 PB 6,12 5,99 21,25 EE 2,46 1,85 9,59 CT 87,31 85,82 66,3 Tabela 11 - Consumo de nutrientes, ganho de peso, conversão alimentar, rendimento de carcaça e respectivos coeficientes de variação (CV%) Item CMS (kg/dia) CMS (%PV)a CMO (kg/dia) CPB (kg/dia) CEE (kg/dia) GMD (kg/dia) a CA RC (%) a Níveis de silagem de sorgo no volumoso (% da MS) 0 32 66 100 9,44 9,71 9,50 9,20 2,33 2,35 2,31 2,20 8,97 9,27 9,10 8,86 1,20 1,23 1,21 1,18 0,50 0,51 0,53 0,51 1,04 1,26 1,20 1,19 9,14 7,72 7,96 7,89 52,94 52,90 53,29 52,64 CV (%) 6,32 5,28 6,31 6,07 7,20 13,66 10,09 2,13 efeito quadrático (P<0,08) Cararcterísticas da silagem afetando o consumo A colheita de plantas para ensilagem no ótimo estádio de maturidade, para máximo rendimento de nutrientes digestíveis, necessariamente não resulta em elevados consumos de forragem e altas taxas de desempenho animal, dado que o processo de ensilagem resulta em perdas na colheita e no armazenamento, bem como no consumo potencial da forragem ensilada, em comparação ao mesmo material, na forma fresca. ERDMAN (1993) relatou que a redução no consumo potencial de silagem pode atingir valores de 30 a 40%. As maiores 280 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte reduções no consumo de silagem estão associadas com aquelas forrageiras de alta umidade ou colhidas diretamente, sem pré-secagem prévia. Estas silagens sofrem fermentação mais intensa, resultando em maiores perdas e aumentos na produção de ácidos acético e butírico. A exata razão para a redução no consumo de silagem de alta umidade não é bem conhecida. Todavia, as perdas no desempenho animal não devem ser ignoradas. Dados sumarizados por ERDMAN (1993) indicam que quando gramíneas e leguminosas são emurchecidas para 40% de matéria seca ou mais, antes da ensilagem, o consumo é semelhante ao da mesma forragem fornecida na forma de feno. Portanto, o teor adequado de umidade da planta, no momento da ensilagem, é tão importante quanto os efeitos do seu estádio de maturidade (proteína, fibra e outros) sobre o desempenho animal. No entanto, embora o emurchecimento geralmente resulte em aumentos no consumo de matéria seca, raramente tem promovido concomitantes incrementos no desempenho animal (STEEN, 1987). Steen (1984), citado por STEEN (1987), numa revisão envolvendo 40 comparações de silagens emurchecidas e não-emurchecidas, relatou que o emurchecimento resultou em incrementos de 178 g/kg e 41 g/dia, respectivamente, para consumo de matéria seca e ganho de peso vivo. A fermentação do material ensilado resulta em grandes mudanças na quantidade e tipos de nutrientes na silagem, em relação ao material fresco, conforme se observa na Tabela 12. Os carboidratos solúveis são convertidos a ácidos orgânicos, que servem para reduzir o pH e conservar a silagem. Durante a fermentação, a proteína é convertida em vários compostos nitrogenados não protéicos, de modo que 40-75% do nitrogênio da silagem encontra-se como NNP. É possível que um ou mais dos produtos da fermentação do material ensilado afete o consumo potencial da silagem. Nesse contexto, o menor consumo de matéria seca, verificado em silagens de alta umidade, parece não estar relacionado ao teor de água da forragem per si, uma vez que em nenhum dos estudos em que se fez a adição de água ao alimento, resultou em redução do consumo (ERDMAN, 1993). Todavia, os produtos finais da fermentação (ácidos lático, acético e butírico), que encontram-se presentes em altos níveis na forragem úmida, parecem afetar negativamente o consumo da silagem. Isto tem sido provado em estudos em que esses ácidos, extratos da fermentação II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 281 solúveis em água e efluentes foram adicionados aos alimentos por ocasião da alimentação, resultando em reduções de até 40% no consumo de forragem, conforme relatado por ERDMAN (1993). O pH da silagem é outro fator que pode afetar o consumo. ERDMAN (1993) relatou que o ótimo consumo de silagem, ocorreu a um pH de 5,6. Entretanto, a faixa de pH da silagem que resultou em redução mínima do consumo variou de 4,5 a 7,0. Se o pH estiver fora dessa faixa, o consumo pode ser reduzido de 5 a 15%. Tabela 12 - Mudanças na composição de forragens ensiladas (adaptado de ERDMAN, 1993) Item Matéria seca (%) pH Proteína bruta (%) FDA (%) FDN (%) Ácido lático (%) Ácidos orgânicos totais N-Amônia (%N-total) Açúcares Gramínea/ leguminosa fresca 20,9 17,9 34,0 45,3 2,9 5,1 Silagem gramínea/ leguminosa 25,8 4,62 19,6 40,4 52,8 6,6 11,2 8,0 0,6 Planta de milho Silagem de milho 29,4 5,2 8,2 24,5 45,5 5,5 10,8 30,0 3,91 8,0 24,5 45,3 4,6 6,7 8,0 1,6 FORRAGENS CONSERVADAS COMO SUPLEMENTO PARA BOVINOS EM PASTEJO A suplementação de bovinos de corte em pastejo, no período seco do ano, usando forragem conservada de alta qualidade, tem recebido especial atenção por parte dos pecuaristas, em algumas regiões dos Estados Unidos e da Austrália. No Brasil, essa alternativa já é adotada em algumas áreas de pecuária mais desenvolvida, embora com pouco critério técnico, uma vez que a pesquisa científica, com essa estratégia de suplementação é praticamente inexistente. O feno tem sido a principal fonte de forragem conservada suplementar neste sistema. Estudos de digestibilidade conduzidos por 282 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte MANYUCHI et al. (1997a, b) e VILLALOBOS et al. (1997b), respectivamente, com ovinos e bovinos, usando forragens conservadas de alta qualidade, como suplementos de forragens de baixa qualidade, resultaram em aumentos no consumo total com a forragem suplementar. Esse aumento tem sido atribuído ao incremento no consumo de nitrogênio dietético, estimulando, assim, o crescimento microbiano no rúmen. DEL CURTO et al. (1999), em artigo de revisão, destacaram que o feno de alfafa proporciona os mesmos benefícios que outros suplementos protéicos, quando fornecidos em equivalente base protéica. VILLALOBOS et al (1997a), avaliando as seguintes estratégias de suplementação de vacas de corte, durante o inverno: 1- controle (pasto nativo, somente), 2- pasto nativo suplementado com 2,2kg de feno de gramínea (15% de PB), 3- pasto nativo mais 1,2 kg/vaca/dia de um suplemento concentrado (36% de PB) e 4- pasto nativo mais os suplementos dos tratamentos 2 e 3, fornecidos em dias alternados, concluíram que o feno de gramínea de alta qualidade, mostrou-se uma alternativa eficiente para manutenção do peso e condição corporal de vacas gestantes mantidas em pastos nativos, nesse período. No entanto, resultados de pesquisa avaliando o efeito da suplementação protéica sobre o consumo de pastos, durante o inverno, têm sido inconsistentes. Na maioria dos casos, a resposta animal à suplementação é maior ou menor do que a esperada. Estas variações entre o desempenho esperado e o observado são explicadas pelos efeitos associativos da suplementação sobre o consumo voluntário e a concentração de energia disponível da dieta total (MOORE et al., 1999), bem como pela disponibilidade do pasto e seu teor protéico e severidade das condições climáticas. O conceito de efeitos aditivos refere-se a interações não aditivas entre ingredientes em dietas mistas. Por sua vez, WALES et al. (1998) praticamente dobraram o ganho em peso de novilhos mantidos em pastos anuais irrigados, pelo incremento da taxa de lotação de 2,5 para 5 novilhos/ha, ao suplementarem os animais da maior lotação com 2,4 e 5,6 kg de silagem de milho, na base da matéria seca, por novilho por dia. Os autores registraram aumentos no ganho de peso de 245 kg/ha (controle), para 464 ou 576 kg/ha, quando a silagem de milho foi fornecida na base de 2064 ou 4816 kg de matéria seca/ha, II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 283 respectivamente, para a menor e maior taxa de lotação, durante 172 dias de avaliação. CONSIDERAÇÕES FINAIS A suplementação alimentar de bovinos com forragens conservadas, quer em regime de confinamento ou em pastejo, é uma alternativa que pode resultar em aumento da eficiência bioeconômica de sistemas de produção de bovinos de corte, por proporcionar melhores índices produtivos e reprodutivos, e, portanto, maior giro de capital para o pecuarista. Todavia, o desempenho de bovinos de corte suplementados com forragens conservadas é determinado principalmente pela qualidade da forragem e potencial de crescimento do animal, assim como pela relação volumoso:concentrado adotada. Logo, a suplementação alimentar com forragens conservadas, além do planejamento criterioso na etapa de produção das mesmas, requer adequado balanceamento das rações, de modo a atender às exigências dos animais para o desempenho esperado. Contudo, a decisão em usar forrageiras conservadas como suplementos para bovinos de corte, no período seco do ano, dependerá das condições econômicas do produtor, das particularidades da propiedade e suas metas, bem como do mercado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATAIDE JÚNIOR, J.R., PEREIRA, O.G., GARCIA, R. et al. 2000. Valor nutritivo do feno de capim-tifton 85 (Cynodon spp.) em diferentes idades de rebrota, em ovinos. Rev. Bras. Zootec., 29(6):2193-99 (suplemento 2). ATAIDE JÚNIOR, J.R., PEREIRA, O.G., VALADARES FILHO, S.C. et al. 2001. Consumo, digestibilidade e desempenho de novilhos alimentados com rações à base de capim-tifton 85, em diferentes idades de rebrota. Rev. Bras. Zootec., 30(1): 215-21. BODINE, T.N. II, H.T.P., ACKERMAN, C.J. et al. 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Zootec., 14(4):510-14. 290 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS E EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS PARA BOVINOS NO BRASIL 1 1 2 Sebastião de Campos Valadares Filho, Fabiano Ferreira da Silva, 3 4 Vicente Ribeiro Rocha Júnior, Edílson Rezende Cappelle Prof. Titular Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, 2 Prof. Universidade Estadual da Bahia, Itapetinga-BA, 3 Estudante de Doutorado DZO/UFV, 4 Prof. Escola Agrotécnica de Rio Pomba, Rio Pomba-MG. TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS Considerando que o conhecimento da composição químicobromatológica dos alimentos é o primeiro passo na avaliação nutricional dos mesmos e que no Brasil são poucos os trabalhos publicados no sentido de compilar as informações sobre a composição desses, vem sendo desenvolvido no DZO-UFV um software, denominado CQBAL (CAPPELLE, 2000) que apresenta os dados de composição dos alimentos disponíveis na literatura. Na primeira etapa foram compilados dados oriundos de teses de Mestrado ou Doutorado concluídas na região sudeste, CQBAL versão 1.0, (CAPPELLE, 2000). Também um resumo dessas tabelas foi apresentado na reunião Anual da SBZ (VALADARES FILHO, 2000). Recentemente, o NRC (2001) sugeriu que o valor energético dos alimentos pode ser estimado a partir de sua composição, sendo então necessário o conhecimento dos teores de proteína bruta, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, carboidratos não fibrosos, lignina e nitrogênio insolúvel em detergente ácido para se estimar o valor energético dos alimentos. Dessa forma , observa-se que a elaboração de uma tabela de composição de alimentos com o maior detalhamento possível torna-se extremamente importante, sendo então possível predizer o desempenho animal a partir da composição dos alimentos juntamente com o conhecimento do consumo de matéria seca. Na Tabela 1 são mostradas a composição de alguns alimentos utilizados com maior freqüência nas condições Brasileiras, em termos de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), carboidratos totais (CHOT), nutrientes digestíveis totais 292 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte (NDT), digestibilidade da MS (DMS), teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), lignina (LIG), cálcio (Ca), fósforo (P), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio não protéico (NNP) e as frações, “a” e “b”, e a taxa de degradação (kd, %/h) da proteína bruta obtidas com o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979). Essas tabelas apresentam além das médias, o número de observações e o desvio padrão, para que o usuário possa avaliar a confiabilidade das médias apresentadas. Os teores de CHOT foram calculados como: CHOT = 100 – (% PB + %EE + %MM). Observando a Tabela 1, nota-se que há necessidade de maior número de análises químicas e principalmente do valor energético dos alimentos. Observase também que os valores de NDT e DIGMS às vezes são bastante diferentes o que se explica em virtude do número de observações ser diferente para essas variáveis. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 293 Tabelas Tabela 1 - Alimentos selecionados da tabela CQBAL Alimentos 1 - Alfafa feno Medicago sativa L. 2 - Aveia feno Avena sativa 3 - Capim braquiária decumbens Feno Brachiaria decumbens Stapf. 4 - Capim coast -cross feno Cynodon dactylon L. 5 - Capim colonião feno Panicum maximum Jacq. 6 - Capim elefante cameroun feno Pennisetum purpureum Schum. 7 - Capim elefante feno Pennisetum purpureum Schum. 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 PB1 EE1 87,35 35 5,76 85,36 13 2,49 88,85 34 4,25 88,57 24 2,43 86,47 11 5,66 88,30 1 0,00 88,11 17 3,59 18,06 38 2,16 14,01 19 3,54 6,35 34 2,09 7,19 24 1,49 7,47 9 2,70 3,21 1 0,00 5,87 23 1,96 2,44 28 0,87 2,62 15 0,32 1,17 13 0,61 1,72 3 1,09 2,17 6 0,79 MM1 CHOT1 FORRAGENS SECAS 9,13 70,94 28 26 1,16 3,03 13,23 1 0,00 7,05 81,80 32 15 1,73 3,24 5,36 86,40 7 5 1,53 2,34 5,95 85,83 2 2 0,53 4,66 7,03 1 0,00 7,97 82,29 6 3 3,23 3,68 NDT 1 56,86 6 1,06 55,55 2 6,86 DMS 1 59,09 7 7,35 55,75 2 3,54 48,30 2 7,49 53,09 2 0,74 50,90 10 9,05 FDN1 51,97 9 6,18 62,73 9 8,12 93,49 1 0,00 81,75 21 3,98 78,22 7 3,62 74,42 1 0,00 79,26 10 5,19 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 295 Tabela 1, Cont., Alimentos 1 2 3 4 5 6 7 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 Ca1 P1 NIDA 2 NIDN2 36,58 9 2,84 33,59 4 4,39 53,20 1 0,00 42,77 14 5,59 43,07 5 6,08 49,08 1 0,00 52,25 11 5,00 9,90 2 0,42 7,20 6 1,65 6,19 5 0,67 7,63 2 2,18 1,20 10 0,23 0,38 11 0,06 0,18 2 0,03 0,49 13 0,19 0,48 4 0,14 FORRAGENS SECAS 0,24 26,73 10 2 0,04 3,50 0,23 11 0,08 0,15 3 0,02 0,15 2,24 30,49 11 1 1 0,06 0,00 0,00 0,20 4 0,10 7,84 6 0,87 0,22 10 0,07 0,21 10 0,04 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) 68,35 1 0,00 25,95 1 0,00 50,30 1 0,00 41,70 1 0,00 15,88 2 2,58 74,55 2 18,45 33,11 1 0,00 51,19 1 0,00 PB kd3 (%/h) 29,63 1 0,00 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 1,15 2 0,95 2,25 1 0,00 2,69 1 0,00 296 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Cont., Alimentos 8 - Capim gordura feno Melinis minutiflora Beauv. 9 - Capim Jaraguá feno Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf. 10 - Grama estrela feno Cynodon nlenfluensis Vanderryst. 11 - Milho rolão Zea mays L. 1 - Azevém Lolium multiflorum Lam. 2 - Cana -de -açúcar Saccharum officinarum L. 3 - Cana -de -açúcar c/ uréia Saccharum officinarum L. 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 86,37 40 4,01 87,37 14 2,78 88,47 1 0,00 88,76 12 2,15 PB1 3,65 33 0,82 4,29 14 0,97 5,67 1 0,00 6,46 14 1,15 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 20,30 3 5,55 24,16 81 5,81 29,37 2 4,57 13,37 6 4,45 4,21 73 2,16 10,90 2 0,29 EE1 MM1 CHOT1 1,25 6,51 87,83 9 9 4 0,72 2,33 1,96 1,73 10,00 84,16 9 10 9 0,51 2,57 2,84 1,20 6,29 86,84 1 1 1 0,00 0,00 0,00 2,77 3,17 87,72 9 10 9 0,90 2,32 1,88 FORRAGENS VERDES 11,90 3 0,26 1,50 4,93 92,78 21 58 15 1,23 1,82 1,86 2,00 1 0,00 NDT 1 37,40 10 12,43 51,39 2 0,00 DMS 1 32,51 10 12,77 45,56 6 5,63 58,61 11 5,21 60,90 1 0,00 65,39 15 4,17 75,30 1 0,00 60,20 3 3,73 58,48 1 0,00 FDN1 81,79 8 3,95 76,72 9 3,27 88,94 1 0,00 62,50 1 0,00 54,77 25 7,11 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 297 Tabela 1, Cont., Alimentos 8 9 10 11 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 Ca1 P1 54,26 7 6,31 47,70 9 3,71 45,49 1 0,00 40,90 1 0,00 10,02 8 2,79 4,17 7 2,26 0,35 15 0,14 0,47 12 0,12 0,09 15 0,05 0,17 12 0,06 3,36 2 0,70 0,12 4 0,08 0,13 4 0,04 10,13 47 2,78 0,68 3 0,09 0,23 11 0,05 0,27 2 0,02 0,06 11 0,02 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 27,00 1 0,00 73,00 1 0,00 1,00 1 0,00 29,13 2 9,23 36,33 2 2,09 4,75 1 0,00 FORRAGENS VERDES 1 2 3 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 35,38 20 6,36 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 298 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 4 - Capim andropogon pasto Andropogon gayanus Kunth. Média Obs. Desvio 5 - Capim angola Média Brachiaria mutica (Forsk) Stapf. Obs. Desvio 6 - Capim braquiária Média Brachiaria sp. Obs. Desvio 7 - Capim braquiária de 0 a 60 dias Média Brachiaria sp. Obs. Desvio 8 - Capim braquiária de 61 a 150 Média dias Obs. Brachiaria sp. Desvio 9 - Capim braquiária brizantha Média Brachiaria brizantha (Hochst) Obs. Stapf Desvio 10 - Capim braquiária decumbens Média Brachiaria decumbens Stapf Obs. Desvio 11 - Capim braquiária humidícola Média Brachiaria humidicola (Rendle) Obs. Stapf Desvio 1 - %MS MS 1 14,08 3 0,81 36,11 76 13,32 28,68 21 5,37 43,70 14 7,36 30,20 1 0,00 32,75 24 5,14 29,00 1 0,00 PB1 4,79 13 1,32 9,09 3 0,63 5,75 255 1,95 8,98 25 2,70 3,48 13 0,82 7,50 1 0,00 7,26 52 2,59 6,12 11 0,74 EE1 MM1 CHOT1 1,26 4 0,71 6,37 13 1,31 84,41 2 1,44 0,70 1 0,00 1,21 1 0,00 6,38 1 0,00 6,70 9 1,22 85,42 1 0,00 83,39 1 0,00 NDT 1 DMS 1 51,30 15 9,31 48,61 3 2,34 51,48 80 13,88 81,94 8 2,79 59,82 16 9,20 67,83 20 14,29 41,12 5 2,12 FDN1 72,89 65 6,64 65,74 8 1,04 66,37 12 4,28 80,45 1 0,00 75,81 1 0,00 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 299 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos 4 5 6 7 8 9 10 11 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 39,44 41 3,96 38,10 8 2,56 37,01 12 2,00 44,94 1 0,00 44,79 1 0,00 LIG1 5,60 39 1,32 5,63 8 1,63 5,37 11 0,55 Ca1 P1 0,41 1 0,00 0,28 10 0,12 0,14 1 0,00 0,25 227 0,17 0,33 10 0,08 0,24 18 0,06 0,28 49 0,19 0,23 69 0,10 0,32 48 0,23 0,41 2 0,03 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) 4,53 1 0,00 11,00 1 0,00 28,51 1 0,00 48,10 1 0,00 45,30 1 0,00 6,39 1 0,00 11,57 1 0,00 49,13 1 0,00 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) PB kd3 (%/h) 300 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 12 - Capim braquiária ruziziensis Brachiaria ruziziensis Germain. Média Obs. Desvio 13 - Capim buffel Média Cenchrus ciliaris L. Obs. Desvio 14 - Capim buffel de 0 a 60 dias Média Cenchrus ciliaris L. Obs. Desvio 15 - Capim buffel de 61 a 84 dias Média Cenchrus ciliaris L. Obs. Desvio 16 - Capim coast -cross de 0 a 50 Média dias Obs. Cynodon dactylon L Desvio 17 - Capim coast -cross de 51 a 70 Média dias Obs. Cynodon dactylon L Desvio 18 - Capim coast -cross Média Cynodon dactylon L. Obs. Desvio 19 - Capim colonião Média Panicum maximum Jacq. Obs. Desvio 1 - %MS MS 1 26,54 7 4,37 25,62 11 7,78 23,44 5 3,81 21,00 4 1,54 24,28 1 0,00 28,73 51 5,23 PB1 8,15 7 2,60 10,34 10 3,61 14,00 4 2,08 9,00 4 0,23 15,42 4 3,30 9,61 2 1,17 13,01 7 3,83 6,59 89 2,62 EE1 2,27 1 0,00 MM1 5,39 4 1,22 CHOT1 NDT 1 DMS 1 FDN1 32,80 2 5,09 1,46 1 0,00 1,87 5 0,69 8,69 1 0,00 7,34 5 0,39 79,63 1 0,00 87,45 3 0,55 43,33 4 9,54 63,49 4 10,03 52,93 2 2,79 59,97 6 9,57 46,45 98 11,64 73,66 4 4,34 80,15 2 0,57 76,39 7 4,59 75,73 14 4,07 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 301 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos 12 13 14 15 16 17 18 19 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 40,01 4 4,42 45,84 2 1,00 42,43 7 4,37 43,85 14 6,44 LIG1 7,82 13 2,34 Ca1 P1 NIDA 2 0,43 1 0,00 0,21 2 0,04 0,21 52 0,12 0,16 11 0,05 0,15 5 0,03 0,13 4 0,04 0,23 4 0,04 0,17 2 0,01 0,21 6 0,04 0,18 58 0,06 8,49 1 0,00 0,24 4 0,03 0,17 2 0,01 0,21 6 0,04 0,46 49 0,17 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 302 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 20 - Capim colonião de 0 a 50 dias Média Panicum maximum Jacq. Obs. Desvio 21 - Capim colonião de 51 a 120 Média dias Obs. Panicum maximum Jacq. Desvio 22 - Capim elefante Média Pennisetum purpureum Schum. Obs. Desvio 23 - Capim elefante de 0 a 45 dias Média Pennisetum purpureum Schum. Obs. Desvio 24 - Capim elefante de 46 a 63 Média dias Obs. Pennisetum purpureum Schum. Desvio 25 - Capim elefante de 64 a 120 Média dias Obs. Pennisetum purpureum Schum. Desvio 26 - Capim elefante de 121 a 200 Média dias Obs. Pennisetum purpureum Schum Desvio 27 - Capim elefante cameroun Média Pennisetum purpureum Schum. Obs. Desvio 1 - %MS MS 1 28,62 4 3,55 25,83 9 6,30 22,03 317 7,76 13,12 15 3,84 16,25 42 1,57 18,58 73 3,12 28,79 20 4,44 19,60 44 6,00 PB1 11,55 4 5,38 8,16 9 3,97 6,23 414 2,75 13,93 7 2,60 7,13 44 1,78 7,32 60 1,91 4,35 22 2,09 6,52 53 3,07 EE1 2,38 94 1,00 4,33 5 0,86 2,93 1 0,00 3,05 10 0,69 2,40 12 0,47 1,99 7 1,22 MM1 9,43 117 2,93 14,28 6 3,86 9,07 2 5,83 10,63 14 3,84 7,51 17 2,30 5,80 9 2,88 CHOT1 82,09 71 6,14 68,25 5 5,50 81,48 1 0,00 79,59 10 4,15 85,99 12 2,01 86,11 7 5,98 NDT 1 50,15 2 8,27 50,21 18 8,34 51,10 1 0,0 DMS 1 72,28 4 4,85 44,42 25 7,99 51,27 332 11,35 55,14 13 27,40 59,37 42 4,96 58,37 59 7,42 43,71 19 11,76 54,68 40 7,49 FDN1 71,50 4 3,52 77,65 5 3,13 72,28 97 6,26 61,29 5 1,29 62,06 2 5,32 70,36 12 3,18 71,55 2 2,62 68,95 9 7,41 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 303 Tabela 1, Cont., Alimentos 20 21 22 23 24 25 26 27 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 Ca1 P1 35,67 4 3,83 46,08 5 4,02 46,45 175 4,84 35,88 9 6,67 40,33 2 0,81 44,14 20 4,15 48,31 14 2,23 46,82 24 3,72 3,70 1 0,00 7,76 5 1,47 7,43 122 2,06 4,29 5 1,19 3,60 2 1,14 6,22 10 1,46 0,70 4 0,12 0,73 5 0,13 0,28 199 0,12 0,21 5 0,17 0,52 1 0,00 0,30 13 0,19 0,30 15 0,17 0,32 26 0,14 0,17 4 0,06 0,17 5 0,05 0,20 263 0,10 0,17 1 0,00 0,13 13 0,04 0,08 16 0,06 0,07 16 0,03 0,22 36 0,09 6,30 19 2,01 NIDA 2 11,38 9 3,17 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 29,81 3 7,83 53,78 3 24,62 1,00 2 0,00 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 304 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 28 - Capim elefante mineiro Pennisetum purpureum Schum. Média Obs. Desvio 29 - Capim elefante napier Média Pennisetum purpureum Schum. Obs. Desvio 30 - Capim elefante napier silagem Média Pennisetum purpureum Schum. Obs. Desvio 31 - Capim elefante silagem Média Pennisetum purpureum Schum. Obs. Desvio 32 - Capim gordura Média Melinis minutiflora Beauv. Obs. Desvio 33 - Capim gordura de 0 a 60 dias Média Melinis minutiflora Beauv. Obs. Desvio 34 - Capim gordura de 61 a 240 Média dias Obs. Melinis minutiflora Beauv. Desvio 35 - Capim Jaraguá Média Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf. Obs. Desvio 1 - %MS MS 1 20,40 6 2,63 23,10 84 7,10 30,55 4 9,35 26,45 80 7,60 48,32 96 20,53 23,98 14 3,39 30,24 14 6,96 50,24 22 19,19 PB1 6,10 12 2,03 6,20 101 3,58 5,33 6 1,65 4,88 85 1,42 7,51 148 3,78 11,76 30 2,49 7,49 20 2,63 9,47 136 3,12 EE1 2,57 65 0,90 2,98 2 1,03 1,47 8 1,03 1,51 1 0,00 MM1 11,14 2 0,51 9,39 12 2,06 7,65 2 3,17 7,28 9 2,82 8,20 6 0,69 CHOT1 NDT 1 81,80 58 6,31 83,79 2 2,82 86,73 4 3,77 80,95 1 0,00 52,91 11 6,04 57,18 1 0,00 50,89 2 8,90 50,15 4 7,25 60,20 1 0,00 46,80 3 3,38 47,50 1 0,00 DMS 1 41,19 16 9,94 46,98 64 14,16 37,20 1 0,00 34,26 56 10,01 48,29 76 9,74 55,23 27 7,06 43,19 34 8,14 46,10 45 10,77 FDN1 74,99 15 4,89 75,15 2 2,28 74,04 17 5,00 78,57 4 4,31 69,35 5 2,66 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 305 Tabela 1, Cont., Alimentos 28 29 30 31 32 33 34 35 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 Ca1 P1 NIDA 2 48,03 10 2,02 43,75 40 6,31 51,57 1 0,00 52,50 16 3,49 47,32 8 4,09 8,82 4 1,45 5,94 10 1,38 9,59 1 0,00 8,21 9 1,75 6,89 14 2,33 4,48 4 1,48 7,48 4 2,83 6,44 9 2,23 0,24 6 0,07 0,29 62 0,15 0,28 1 0,00 0,32 10 0,06 0,33 126 0,09 0,29 24 0,07 0,24 14 0,03 0,55 46 0,13 0,32 19 0,10 0,12 63 0,06 0,10 1 0,00 0,11 7 0,02 0,14 144 0,08 0,22 27 0,08 0,13 14 0,06 0,17 26 0,04 9,29 4 4,59 12,92 1 0,00 45,94 16 5,33 NIDN2 15,81 1 0,00 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 32,10 1 0,00 67,00 1 0,00 1,00 1 0,00 58,63 1 0,00 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 306 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 36 - Capim Jaraguá de 0 a 60 dias Média Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf. Obs. Desvio 37 - Capim Jaraguá de 61 a 160 Média Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf. Obs. Desvio 38 - Capim tobiatã Média Panicum maximum Jacq. Obs. Desvio 39 - Capim tobiatã de 0 a 60 dias Média Panicum maximum Jacq. Obs. Desvio 40 - Capim tobiatã de 61 a 250 Média dias Obs. Panicum maximum Jacq. Desvio 41 - Girassol silagem Média Helianthus annun Obs. Desvio 42 - Mandioca silagem Média Manihot esculenta Crantz. Obs. Desvio 43 - Milho silagem Média Zea mays L. Obs. Desvio 1 - %MS MS 1 20,13 3 1,45 29,94 5 5,39 29,65 9 7,32 23,18 2 2,37 31,57 7 7,25 25,62 14 0,05 24,17 2 0,03 30,67 110 5,36 PB1 13,37 12 2,98 6,36 9 2,56 7,06 31 3,10 9,48 7 5,20 6,50 8 2,27 9,06 14 0,20 11,22 2 1,32 6,73 104 1,20 EE1 MM1 CHOT1 NDT 1 DMS 1 56,02 10 5,41 45,93 8 9,12 50,40 21 12,93 61,88 2 6,33 31,75 3 20,72 FDN1 66,71 2 1,38 70,41 2 0,56 74,04 15 4,87 71,67 9 3,58 77,58 6 4,56 47,24 14 1,22 5,35 24 1,23 83,75 21 2,12 63,03 28 6,49 56,60 33 4,67 58,03 53 6,63 13,66 13 1,66 2,76 44 1,12 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 307 Tabela 1, Cont., Alimentos 36 37 38 39 40 41 42 43 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 Ca1 P1 42,88 8 5,69 48,99 8 2,68 43,54 15 5,99 40,29 9 2,82 48,40 6 6,36 35,64 14 0,98 6,00 6 2,06 7,31 3 2,75 5,85 9 2,41 3,86 4 1,07 7,44 5 1,91 6,47 13 0,39 0,43 4 0,02 0,24 14 0,03 0,53 23 0,16 0,45 7 0,21 0,63 4 0,20 0,17 10 0,04 0,13 14 0,06 0,17 23 0,05 0,23 7 0,04 0,15 4 0,03 0,83 2 0,06 0,33 43 0,19 0,13 2 0,00 0,17 41 0,05 32,43 38 5,93 6,12 20 1,89 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 6,12 12 4,12 13,21 2 2,24 50,07 2 1,97 55,50 8 10,71 32,60 8 14,23 3,16 8 0,86 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 308 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 44 - Soja perene Glycine wightii Verdc. 45 - Sorgo silagem Sorghum vulgare Pers. 1 - Cana -de -açúcar c/ napier silagem 2 - Milho silagem c/ capim elefante 1 - Arroz farelo desengordurado Oryza sativa 2 - Arroz farelo integral Oryza sativa 3 - Arroz quirera Oryza sativa 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 24,12 51 8,24 28,56 172 4,92 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 23,61 1 0,00 29,71 3 6,50 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio PB1 16,11 58 3,29 7,50 164 2,12 EE1 MM1 CHOT1 3,45 9,05 71,90 4 5 4 0,14 0,51 0,30 5,37 5,44 80,50 14 17 12 1,77 0,93 1,18 ALIMENTOS MISTURADOS NDT 1 59,52 35 8,77 DMS 1 56,44 71 5,79 55,38 65 7,00 5,20 1 0,00 6,69 3,41 6,11 55,96 3 1 1 1 1,66 0,00 0,00 0,00 ALIMENTOS CONCENTRADOS ENERGÉTICOS 89,86 18,44 2,25 9,61 69,70 5 5 5 5 5 1,07 2,49 0,85 0,99 1,58 88,16 14,15 16,14 8,19 61,75 80,54 33 32 28 23 22 1 2,56 1,83 2,90 2,09 3,55 0,00 87,91 9,20 0,81 1,20 88,29 2 3 3 2 2 0,97 1,65 0,29 0,39 2,19 FDN1 57,18 1 0,00 55,88 99 8,50 77,67 1 0,00 31,51 4 5,15 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 309 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos 44 45 1 2 1 2 3 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 44,04 1 0,00 33,11 100 6,86 LIG1 Ca1 P1 5,56 81 2,00 1,21 13 0,50 0,31 28 0,19 0,16 36 0,16 0,13 26 0,06 0,39 1 0,00 0,36 2 0,08 0,05 1 0,00 0,07 2 0,04 ALIMENTOS CONCENTRADOS ENERGÉTICOS 1,40 6,2 26,50 62,20 5 1 1 1 0,18 0,00 0,00 0,00 1,55 5,10 45,30 40,00 12 1 1 1 0,41 0,00 0,00 0,00 0,07 2 0,01 46,70 1 0,00 18,27 4 2,97 5,40 2 0,60 0,08 5 0,02 0,09 12 0,02 0,08 2 0,01 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 17,92 39,43 18,50 7 2 2 13,51 2,18 7,38 ALIMENTOS MISTURADOS 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 6,49 1 0,00 12,15 1 0,00 310 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 4 - Centeio Secale cereale L. 5 - Citrus polpa 6 - Mandioca raspa Manihot esculenta Crantz. 7 - MDPS Zea mays L. 8 - Milheto Pennisetum americanum L. 9 - Milho farelo de gérmen Zea mays L. 10 - Milho fubá Zea mays L. 11 - Milho grão umedecido Zea mays L. 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 23,00 3 8,77 85,17 2 0,95 88,48 27 2,45 87,68 35 2,63 14,75 2 5,87 88,85 1 0,00 87,54 210 1,79 57,78 6 10,15 PB1 14,88 6 3,43 8,07 2 0,47 2,97 27 0,86 8,26 41 0,93 13,03 3 3,21 10,70 1 0,00 9,15 296 1,08 EE1 CHOT1 3,21 2 0,35 0,49 15 0,26 2,95 9 0,56 MM1 10,17 3 2,76 6,88 2 1,39 2,90 9 1,13 1,86 9 0,45 NDT 1 DMS 1 68,60 1 0,00 81,85 2 0,57 93,14 8 1,57 86,82 6 0,95 66,62 7 4,04 73,15 2 1,77 67,68 3 4,98 59,20 1 0,00 0,22 1 0,00 3,97 119 0,99 8,47 1 0,00 1,50 96 0,44 80,61 1 0,00 84,90 87 1,64 85,12 10 6,32 86,29 21 9,42 FDN1 23,66 2 0,64 24,93 1 0,00 39,13 4 9,92 68,10 1 0,00 30,01 1 0,00 15,28 23 5,76 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 311 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos 4 5 6 7 8 9 10 11 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 28,01 2 0,57 LIG1 1,28 2 0,04 20,05 3 4,29 4,50 3 0,72 4,53 1 0,00 3,78 22 0,67 1,66 9 0,90 Ca1 P1 0,35 3 0,17 2,38 2 0,08 0,15 11 0,06 0,08 19 0,08 0,60 1 0,00 1,19 1 0,00 0,03 167 0,02 0,35 3 0,13 1,24 2 1,44 0,07 14 0,03 0,21 20 0,08 0,26 1 0,00 0,56 1 0,00 0,26 162 0,07 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 11,25 3 0,46 17,82 1 0,00 15,53 2 1,09 14,59 1 0,00 20,46 1 0,00 21,69 1 0,00 16,20 1 0,00 24,38 1 0,00 19,37 1 0,00 16,97 1 0,00 16,42 1 0,00 18,81 1 0,00 20,00 1 0,00 21,90 1 0,00 68,30 1 0,00 78,00 1 0,00 2,00 1 0,00 1,53 1 0,00 7,00 4 2,53 12,79 1 0,00 18,34 1 0,00 22,92 2 2,43 77,71 2 0,41 2,61 2 0,93 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 312 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 12 -Milho quirera Zea mays L. 13 - Milho triturado Zea mays L. 14 - Sorgo farelo Sorghum vulgare Pers. 15 - Sorgo grão Sorghum vulgare Pers. 16 - Soja óleo Glycine Max (L.) Merr. 17 - Trigo farelo Triticum aestivum 18 - Trigo farelinho Triticum aestivum 19 - Trigo gérmen Triticum aestivum 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 82,10 6 5,28 85,60 1 0,00 87,50 1 0,00 87,44 50 1,77 100,00 8 0,00 87,47 34 1,61 85,53 3 1,79 90,00 1 0,00 PB1 10,16 7 0,36 9,30 1 0,00 10,30 1 0,00 9,66 65 1,59 16,58 57 1,42 14,97 3 1,67 20,60 1 0,00 EE1 MM1 CHOT1 2,52 23 1,30 84,64 22 1,97 NDT 1 DMS 1 88,47 6 0,62 FDN1 22,68 6 0,52 9,00 1 0,00 68,30 30 5,68 22,91 5 6,97 74,40 1 0,00 47,01 8 6,00 5,30 1 0,00 2,83 27 1,16 99,67 9 0,71 4,13 25 0,76 3,06 3 0,46 3,20 1 0,00 207,00 1 0,00 5,77 20 1,06 5,65 3 0,09 6,00 1 0,00 73,67 19 2,24 76,32 3 2,04 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 313 Tabela 1, Cont., Alimentos 12 13 14 15 16 17 18 19 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 5,62 6 0,19 3,00 1 0,00 1,20 1 0,00 1,30 1 0,00 5,36 3 1,28 1,11 1 0,00 13,75 5 1,92 5,00 1 0,00 Ca1 P1 0,02 1 0,00 0,04 1 0,00 0,03 25 0,02 0,30 1 0,00 0,33 1 0,00 0,29 24 0,11 0,15 35 0,06 0,29 3 0,11 0,17 1 0,00 0,99 33 0,28 1,01 3 0,06 0,76 1 0,00 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 4,20 1 0,00 10,20 1 0,00 18,54 1 0,00 18,67 1 0,00 21,84 1 0,00 23,20 1 0,00 16,96 2 9,84 78,94 2 8,57 2,20 2 1,00 4,61 2 1,27 6,70 1 0,00 11,77 1 0,00 34,62 2 8,65 59,49 2 7,23 13,86 2 0,76 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 314 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 1 - Algodão caroço Gossypium hirsutum 2 - Algodão farelo Gossypium hirsuntum 3 - Algodão torta Gossypium hirsutum 4 - Amendoim farelo Arachis hypogaea L. 5 - Babaçu farelo Orbigya speciosa (Barb.) Rodr. 6 - Canola farelo Brasscica napus 7 - Carne e ossos farinha 1 - %MS MS 1 PB1 EE1 MM1 ALIMENTOS CONCENTRADOS PROTÉICOS Média 90,36 23,56 19,51 3,73 Obs. 9 10 8 1 Desvio 1,40 3,31 1,44 0,00 Média 89,85 30,67 1,08 4,98 Obs. 158 160 126 128 Desvio 1,25 7,52 0,62 0,83 Média 90,34 35,78 1,36 6,15 Obs. 4 4 3 3 Desvio 1,73 7,06 0,04 0,77 Média 88,74 58,42 0,32 6,10 Obs. 5 5 5 4 Desvio 0,86 1,30 0,05 1,43 Média 90,05 21,31 6,98 6,18 Obs. 4 6 4 4 Desvio 0,17 2,12 2,25 0,14 Média 90,60 39,84 1,23 6,48 Obs. 14 15 7 7 Desvio 1,45 2,38 0,12 0,39 Média 92,51 46,73 10,95 36,24 Obs. 29 34 25 22 Desvio 1,93 6,69 2,51 7,86 CHOT1 NDT 1 DMS 1 FDN1 5,62 1 0,00 64,48 122 8,09 54,39 3 7,25 35,38 4 2,29 62,67 2 0,00 52,29 5 0,90 6,37 17 3,32 77,64 1 0,00 63,91 10 6,13 72,32 1 0,00 50,29 5 14,06 47,44 6 0,55 36,95 7 8,86 48,45 1 0,00 30,03 4 1,68 38,60 3 4,35 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 315 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos 1 2 3 4 5 6 7 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio LIG1 38,60 2 2,96 28,71 10 7,97 22,22 4 1,33 5,62 1 0,00 4,92 3 0,47 Ca1 P1 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) ALIMENTOS CONCENTRADOS PROTÉICOS 12,7 13,68 1 3 0,00 4,96 0,22 0,76 5,34 9,06 24,55 30,27 19 18 5 1 1 5 0,05 0,33 0,78 0,00 0,00 9,43 0,24 0,85 1 1 0,00 0,00 0,14 0,79 5 4 0,05 0,33 0,07 0,53 4 4 0,05 0,38 0,64 0,89 9 8 0,10 0,19 11,91 5,59 3,1 8,48 20,79 19,95 26 25 5 1 1 4 2,69 1,43 2,02 0,00 0,00 9,87 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 76,44 3 6,17 62,61 5 8,93 2,00 3 0,00 5,90 5 1,99 30,43 4 5,73 14,53 4 3,21 316 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 8 - Coco farelo Cocos muciferae 9 - Girrasol farelo Helianthus annun 10 - Mamona farelo atoxicado Ricinus communis 11 - Milho glúten Zea mays L. 12 - Ossos farinha autoclavada 13 - Peixe farinha 14 - Protenose 15 - Refinasil 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 91,42 5 2,23 91,94 2 2,04 90,18 4 0,21 90,61 5 1,09 92,38 39 2,55 90,83 3 1,32 87,40 1 0,00 PB1 23,62 5 1,68 46,56 5 5,80 40,64 5 2,17 62,24 5 4,43 20,05 3 0,39 60,24 42 4,47 62,88 4 3,11 25,90 1 0,00 EE1 11,17 5 0,39 1,71 5 0,52 1,31 5 0,45 2,39 4 1,08 2,25 3 1,52 9,62 28 3,42 5,90 3 1,48 1,79 1 0,00 MM1 6,44 5 0,74 6,82 7 0,67 7,30 4 0,93 2,36 3 1,43 72,68 1 0,00 21,14 32 4,24 1,92 4 1,11 6,72 1 0,00 CHOT1 58,77 5 1,91 44,98 3 8,71 51,53 4 1,68 31,02 3 3,20 3,71 1 0,00 9,51 28 3,31 30,64 3 0,44 65,59 1 0,00 NDT 1 DMS 1 FDN1 94,18 1 0,00 4,65 1 0,00 61,63 1 0,00 79,81 1 0,00 32,00 1 0,00 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 317 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos 8 9 10 11 12 13 14 15 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 48,00 1 0,00 LIG1 Ca1 P1 0,08 2 0,01 0,84 6 0,27 0,71 3 0,02 0,07 4 0,03 24,60 5 2,50 6,65 35 1,12 0,05 3 0,04 0,17 1 0,00 0,48 2 0,13 0,96 6 0,19 0,71 2 0,00 0,47 5 0,20 9,50 5 2,97 3,55 34 0,73 0,43 2 0,11 1,21 1 0,00 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 1,99 2 1,72 6,97 1 0,00 1,47 1 0,00 22,12 1 0,00 1,15 1 0,00 41,76 1 0,00 18,86 2 10,54 31,56 2 8,00 4,09 2 1,25 1 - %MS; 2 - %PB; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 318 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 16 - Sangue farinha 17 - Soja farelo Glycine Max (L.) Merr. 18 - Soja grão Glycine Max (L.) Merr. 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 88,96 12 1,48 88,62 203 1,65 89,24 10 1,29 PB1 85,05 13 6,66 47,90 287 3,41 39,05 10 5,81 EE1 1,37 8 1,37 1,62 125 0,83 20,34 2 2,06 MM1 4,07 7 0,39 6,31 102 0,62 5,01 3 2,38 CHOT1 7,11 7 4,26 44,85 91 2,95 38,77 2 1,31 NDT 1 81,00 1 0,00 91,16 2 8,72 DMS 1 77,63 1 0,00 85,07 3 8,04 64,05 2 6,43 FDN1 64,52 1 0,00 14,06 24 1,29 28,54 1 0,00 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 319 Tabela 1, Cont., Alimentos 16 17 18 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 0,23 11 0,14 9,88 20 1,95 0,17 10 0,08 2,58 8 0,90 Ca1 P1 NIDA 2 NIDN2 NNP2 0,33 159 0,08 0,41 5 0,29 0,00 1 0,00 0,57 155 0,14 0,55 5 0,13 0,00 1 0,00 3,70 3 1,00 6,64 2 0,08 0,00 1 0,00 5,92 1 0,00 9,77 1 0,00 20,76 1 0,00 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 19,99 2 0,30 34,60 1 0,00 77,67 2 0,95 65,00 1 0,00 8,22 2 2,26 7,74 1 0,00 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 320 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., Alimentos 1 - Café casca Coffea arabica 2 - Cama de frango 3 - Cana -de -açúcar bagaço Saccharum officinarum L. 4 - Dejeto suíno 5 - Milho resíduo de cultura Zea mays L. 6 - Soja casca Glycine Max (L.) Merr 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio MS 1 PB1 EE1 SUB -PRODUTOS 83,96 10,37 3,26 6 7 2 2,30 1,84 0,86 82,31 18,84 0,37 15 17 5 5,74 2,99 0,21 58,06 1,60 2,59 17 21 11 22,47 0,30 2,12 17,50 22,57 5,96 9 10 5 2,75 2,82 0,72 91,08 3,44 2 2 0,00 0,00 89,52 10,17 1,22 21 21 20 1,03 0,58 0,18 MM1 CHOT1 42,69 1 0,00 22,48 6 16,40 3,66 16 0,89 17,09 8 3,25 42,92 1 0,00 62,72 4 11,71 92,25 10 2,09 56,18 2 7,88 3,73 21 0,59 84,87 20 0,83 NDT 1 61,00 1 0,00 DMS 1 28,10 1 0,00 44,66 16 11,16 77,63 1 0,00 FDN1 58,37 6 6,63 63,25 3 3,51 72,76 15 15,43 40,99 5 10,94 82,32 2 0,00 64,52 1 0,00 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 321 Tabela 1, Cont., Alimentos 1 2 3 4 5 6 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio FDA 1 LIG1 Ca1 P1 52,82 2 3,30 39,26 1 0,00 57,96 16 7,07 15,46 2 7,31 48,43 2 0,00 13,56 1 0,00 0,22 2 0,07 4,24 5 2,67 0,13 4 0,03 3,22 9 0,46 0,12 2 0,05 1,65 5 0,65 0,04 4 0,02 1,91 10 0,40 11,87 7 163 4,54 1 0,00 1,48 2 0,57 NIDA 2 NIDN2 SUB -PRODUTOS 26,61 33,91 1 1 0,00 0,00 10,72 33,12 3 3 3,55 13,78 NNP2 PB a3 (%) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) 19,40 1 0,00 69,31 1 0,00 2,00 1 0,00 22,70 3 14,03 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) 322 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1, Cont., MS 1 Alimentos 1 - Carbonato de cálcio 2 - Fosfato bicálcio 3 - Levedura Saccharomycis sp. 4 - Melaço 5 - Resíduo de cervejaria 6 - Soja leite 1 - %MS Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 98,60 4 1,62 98,60 4 1,62 18,22 2 2,23 72,75 19 5,17 20,15 5 1,71 9,40 1 0,00 PB1 ADITIVOS 29,62 19 2,99 3,14 39 0,97 34,77 5 2,49 2,92 2 1,42 EE1 MM1 CHOT1 0,92 15 0,72 1,53 8 1,05 7,90 1 0,00 1,07 2 0,87 85,57 3 3,36 85,57 3 3,36 10,01 15 3,17 12,84 28 4,73 3,30 1 0,00 0,72 1 0,00 59,62 12 4,62 83,72 8 3,51 57,10 1 0,00 93,68 1 0,00 NDT 1 DMS 1 FDN1 2,49 1 0,00 69,75 3 0,44 76,00 1 0,00 82,60 1 0,00 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 323 Tabela 1, Cont., FDA 1 Alimentos LIG1 Ca1 P1 NIDA 2 NIDN2 NNP2 PB a3 (%) ADITIVOS 1 2 3 4 5 6 Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio Média Obs. Desvio 2,64 2 3,25 2,64 2 3,25 38,70 9 1,06 23,86 97 1,60 1,18 13 0,42 3,65 28 2,97 18,41 96 1,03 0,66 11 0,30 0,16 26 0,13 0,02 1 0,00 0,05 1 0,00 4,23 1 0,00 14,12 1 0,00 38,90 1 0,00 24,80 1 0,00 1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979) PB b3 (%) PB kd3 (%/h) EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE BOVINOS NO BRASIL Os componentes químicos (água, proteína, gordura e minerais) do corpo variam, durante o crescimento. Fatores como idade, peso, espécie, raça, classe sexual e nível de ingestão de energia influenciam estas variações e conduzem a diferenças nos requisitos nutricionais dos animais. A avaliação desta composição corporal é necessária para a determinação dos requerimentos nutricionais dos animais. À medida que a maturidade avança, ocorre aumento na proporção de gordura e concomitante decréscimo nas concentrações de água, proteína e minerais no corpo animal (AFRC, 1993). As diferenças nas exigências de energia e proteína para ganho de peso devem-se às diferenças na composição do ganho, já que os requisitos líquidos de energia para crescimento consistem na quantidade de energia depositada nos tecidos, que é função das proporções de gordura e proteína no ganho do corpo vazio, e as exigências líquidas de proteína são função do conteúdo de matéria seca livre de gordura do peso ganho (NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC, 1996). As principais diferenças em relação ao sexo dos animais são observadas quanto ao tecido adiposo. Considerando-se animais pertencentes à mesma raça e com peso de corpo vazio (PCVZ) similar, fêmeas possuem maior quantidade corporal de gordura que machos castrados, e estes, mais que os inteiros. Este comportamento se reflete nas concentrações de energia corporal e nas respectivas exigências energéticas para ganho. GARRETT (1980) descreveu uma equação para estimar a exigência líquida para ganho (ELg) em função do peso de corpo vazio (PCVZ) e do ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ): ELg = 0,0635 * PCVZ0,75 * GPCVZ1,097. Para estimar a energia líquida para mantença (ELm), o NRC (1996) adotou o valor de 77 kcal/PCVZ0,75, obtido por LOFGREEN e GARRETT (1968). No Brasil, os dados sempre foram gerados em separado e, poucos são os trabalhos que tentaram agrupálos para dar maior consistência aos resultados. FONTES (1995) e BOIN (1995), analisando dados de vários experimentos, observaram aumento da ELg com o aumento do peso vivo (PV) dos animais para uma determinada taxa de ganho, mas não foi descrita nenhuma equação que pudesse estimar esta exigência em função do peso e da taxa de ganho II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 325 do animal. BOIN (1995), analisando três experimentos que utilizaram animais Nelore inteiros, relatou valores de ELm variando de 69,8 a 78 kcal/PCVZ0,75. Dos trabalhos individuais realizados na Universidade Federal de Viçosa, os valores de ELm, para animais zebuínos inteiros, variaram desde 47 kcal/PCVZ0,75 (SALVADOR, 1980) até 82,79 kcal/PCVZ0,75 (VÉRAS, 2000). Em relação às exigências líquidas de proteína para ganho, à medida que aumenta o PV e as taxas de ganho de peso do animal, ocorre uma diminuição das mesmas, fato este descrito pelas duas edições do NRC (1984, 1996), onde: proteína retida = ganho de peso vivo em jejum * (268 - (29,4 * (ELg/ganho de peso vivo em jejum). No Brasil, tendência semelhante foi obtida por FONTES (1995) e BOIN (1995), entre outros. Os requisitos líquidos de proteína para mantença, de acordo com o AFRC (1993), se baseiam no N endógeno basal (NEB), que inclui perdas urinárias endógenas e parte do chamado NMF, mais perdas por descamação de tecidos e pêlos e, admitindo-se eficiência igual a 1, a proteína metabolizável para mantença foi calculada como 2,30 g/kg PV0,75/dia. Já o NRC (1996) recomenda o valor de 3,8 g/kg PV0,75/dia como exigência de proteína metabolizável para mantença. No Brasil, EZEQUIEL (1987) obteve exigências de proteína metabolizável para mantença de 1,72 e 4,28 g/kg PV 0,75/dia para novilhos Nelores e Holandeses, respectivamente, enquanto, VALADARES (1997), utilizando outra metodologia para estimar tanto as perdas endógenas fecais, através da regressão entre a ingestão de N digestível (Y) e a ingestão de N (X), quanto as perdas urinárias endógenas, pela regressão entre a excreção de N total urinário (Y) e a ingestão de N (X), obteve exigências de proteína metabolizável para mantença de 4,13 g/kg PV 0,75/dia. O NRC (1996) estimou os requisitos líquidos de Ca e P para ganho de peso, em função do ganho diário de proteína, sendo para o Ca de 13,5 e 8,5 g/dia, para o ganho de 1 kg de PV de animais com 200 e 450 kg de PV, respectivamente, e de 7,5 e 4,8 g/dia para o fósforo com a mesma taxa de ganho e os mesmos PV. Para Mg, K e Na, este conselho recomendou médias de 0,1, 0,6 e 0,06-0,08% na MS da dieta, respectivamente, como requisitos dietéticos. No Brasil, a partir da década de 80, foram desenvolvidos alguns trabalhos de determinação de exigências líquidas de macrominerais (EZEQUIEL, 1987; LANA, 1991; 326 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte PIRES, 1991; SOARES, 1994; PAULINO et al., 1999; VÉRAS, 2000). FONTES (1995) realizou a análise conjunta de alguns destes trabalhos e observou que as concentrações dos macrominerais (Ca, P, Mg, K e Na) no corpo vazio decresceram com a elevação do peso corporal. Para um animal de 400 kg de PV, FONTES (1995) encontrou exigências líquidas para ganho de 1 kg de PV de Ca, P, Mg, K e Na de 12,25; 7,22; 0,37; 1,76 e 0,89, respectivamente. Os requerimentos dietéticos dos nutrientes são obtidos a partir da correção dos requisitos líquidos por um fator de eficiência de utilização. Talvez esteja ai uma das maiores dificuldades na experimentação animal e são poucos os dados nacionais. O NRC (1996) apresentou valores de eficiência de utilização da energia metabolizável para ganho de peso (kf), de 29 a 47,3%, para rações com diferentes proporções volumoso:concentrado, cujos teores de energia metabolizável (EM) variaram de 2,0 a 3,2 Mcal/kg de matéria seca. A eficiência de utilização da EM para mantença (km) apresentou, segundo o NRC (1996), valores de 58 a 69%, para rações com teores de EM variando de 2,0 a 3,2 Mcal/kg de MS, respectivamente. O AFRC (1993) desenvolveu equações de regressão lineares para o cálculo da kf e da km, a partir da metabolizabilidade da energia bruta da dieta. No Brasil, BOIN (1995), analisando três experimentos com animais Nelore encontrou km variando de 61,2 a 69,1% e kf variando de 32,3 a 45,6%. VÉRAS (2000), analisando dados de dois experimentos obteve valores de kf variando de 37 a 50% para dietas com teores de EM de 2,4 a 2,6 Mcal/kg de MS, respectivamente e km de 56%. O AFRC (1993) preconizou eficiência de utilização da proteína metabolizável (PM) para ganho de peso como 59%, enquanto o NRC (1996) considera que a eficiência de utilização da PM varia de acordo com o PV. Com relação aos coeficientes de absorção dos macroelementos minerais, o NRC (1996) recomendou valores médios para o Ca e P de 50 e 68%, respectivamente, e uma variação de 10 a 37% para o Mg. O AFRC (1991) citou valores médios de absorção para o Ca e P de 68 e 58 %, e o ARC (1980) de 100, 17 e 91% para o K, Mg e Na, respectivamente. Segundo SILVA (1995), as informações sobre os coeficientes de absorção de macrominerais inorgânicos, no Brasil, em bovinos alimentados com rações comuns, também são escassas e, em II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 327 sua revisão, encontrou médias de coeficientes de absorção real de Ca e P de 68,4 e 72,3%, respectivamente, variando bastante entre os grupos genéticos. Para o magnésio, o valor foi extremamente alto (52,2%), comparado ao do ARC (1980), de 17%, e, para o Na, foi, em média 63,2%, baixo em relação ao valor de 91% adotado pelo ARC (1980). Para o K, o valor médio foi 62,7%. Os objetivos deste trabalho foram agrupar os dados sobre exigências líquidas de proteína, energia e macroelementos minerais existentes no Brasil e utilizar as eficiências de utilização destes nutrientes mais coerentes publicadas no Brasil e no exterior para construir algumas tabelas de exigências dietéticas. Banco de Dados e Metodologias Utilizadas Neste trabalho, foram utilizados parcial ou totalmente dados dos artigos discriminados na Tabela 1, para determinação das exigências. Em todos os experimentos foi usada a técnica do abate comparativo, incluindo abate de alguns animais experimentais no início do período de alimentação (grupo referência), determinação da composição do corpo vazio, através da pesagem de todos os seus componentes (órgãos, vísceras, sangue, couro, cabeça, patas, rabo e carcaça). Amostras representativas foram tiradas de cada componente após moagem ou serragem e homogeneização. O sangue foi pesado e amostrado após o abate. Os teores de extrato etéreo, proteína e macroelementos minerais foram obtidos, segundo os métodos tradicionais , podendo maiores detalhes serem obtidos nos trabalhos originais. Tabela 1 - Autores, dados experimentais e dados utilizados dos mesmos para análise conjunta Raça PVI PA CS No A n Azebuado 350 144 d I 40 Nelore Mestiço Leiteiro 213 213 420 420 I I Holandês 213 420 PIRES, 1991 Nelore F1 Marchig/Nel F1 Limousin/Nel 252 330 339 SOARES, 1994 Nelore F1 Angus/Nel Mestiço Leiteiro Autores Exigências líquidas para ganho Mg Na Ca P K ELm Proteína Energia 10 30 X X X X I 10 X X 450 500 500 I I I 22 22 22 X X X X X X 295 405 358 450 500 500 I I I 16 14 16 Nelore 170 440 I Nelore F1 Angus/Nel 295 405 450 500 I I 16 14 X X X X Mestiço Leiteiro 358 500 I 16 X X PAULINO, 1996 Nelore Tabapuã Guzerá 376 369 362 450 450 450 I I I 15 16 16 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Gir 358 450 I 16 X X X X X X X X ARAÚJO, 1997 Mestiço Leiteiro 60 300 I 48 ROCHA, 1997 Holandês 202 300 I 16 SIGNORETTI, 1998 Holandês 78 300 I 52 X X X X X X X F1 Simental/Nel 354 500 I 29 X X X X X X X SALVADOR, 1980 TEIXEIRA, 1984 BOIN, 1995 FREITAS, 1995 FERREIRA, 1998 VÉRAS, 2000 VELOSO, 2001 SILVA, 2001 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Nelore 330 450 I 35 X X X X X F1 Limousin/Nel 330 500 I 50 X X X X X X Nelore 240 450 I 40 X X X X X X o X X X X X X Abreviaturas: PVI = peso vivo inicial; PA = peso médio de abate; CS = condição sexual (I = inteiro, C = castrado); N An = número de animais ; Ca = cálcio; P = fósforo; Mg = magnésio; Na = sódio; K = potássio; ELm = energia líquida para mantença. As exigências foram agrupadas em quatro categorias raciais: 1. Zebuínos - Animais das raças Nelore, Tabapuã, Guzerá, Gir e os chamados de “Azebuados”; 2. F1 (E x Z) - Animais cruzados filhos de pais de raças européia de corte e matrizes zebuínas; 3. Mestiços leiteiros - Animais ½, ¾ou 5/8 Holandês-Zebu; e 4. Holandês - Animais com grau de sangue igual ou superior a 7/8 Holandês-Zebu. A determinação da energia corporal foi obtida a partir dos teores corporais de proteína e gordura e seus respectivos equivalentes calóricos, conforme a equação preconizada pelo ARC (1980): CE = 5,6405 X + 9,3929 Y em que CE = conteúdo energético (Mcal); X = proteína corporal (kg); e Y = gordura corporal (kg). Os conteúdos de gordura, proteína, energia, Ca, P, Mg, Na e K retidos no corpo dos animais de cada grupamento racial foram estimados por meio de equações de regressão do logaritmo do conteúdo corporal de proteína, gordura, energia, Ca, P, Mg, Na ou K em função do logaritmo do PCVZ, segundo o ARC (1980), conforme o seguinte modelo: Y = a + bX + e em que Y = logaritmo do conteúdo total de proteína (kg), gordura (kg), energia (Mcal), Ca (kg), P (kg), Mg (kg), Na (kg) ou K (kg) retido no corpo vazio; a = intercepto; b = coeficiente de regressão do logaritmo dos conteúdos de gordura, proteína , energia ou minerais, em função do logaritmo do PCVZ; X = logaritmo do PCVZ; e e = erro aleatório. 330 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Derivando-se as equações de predição dos conteúdos corporais de proteína, energia, Ca, P, Mg, Na ou K em função do logaritmo do PCVZ, foram obtidas as exigências líquidas de proteína, energia, Ca, P, Mg, Na e K para ganho de 1 kg de PCVZ, conforme a equação : Y’ = b. 10a. Xb-1 em que Y’ = conteúdo de gordura no ganho, ou exigência líquida de proteína, energia, Ca, P, Mg, Na e K; a e b = intercepto e coeficientes de regressão, respectivamente, das equações de predição dos conteúdos corporais de gordura, proteína, energia, Ca, P, Mg, Na ou K; e X = PCVZ (kg). Para conversão do PV em PCVZ, dentro do intervalo de pesos incluídos nos trabalhos, utilizou-se a relação obtida entre o PCVZ de todos os animais analisados, em função dos respectivos PV. Para conversão das exigências para ganho de PCVZ em exigências para ganho de PV, utilizou-se o fator obtido a partir dos dados experimentais analisados. Foi efetuada equação de regressão entre a energia retida (ER) e o ganho diário de PCVZ (GDPCVZ) para dado PCVZ, assim como, uma equação de regressão entre a proteína retida (PR) em função do ganho de peso vivo em jejum (GPVJ) e da ER, conforme preconizado pelo NRC (1984, 1996). Para ajustar essas duas equações utilizaram-se os dados de TEIXEIRA (1984), somente para animais Nelore, FERREIRA (1998), VÉRAS (2000), VELOSO (2001) e SILVA (2001). A energia líquida para mantença (ELm) foi obtida através dos valores médios citados nos trabalhos para os diferentes grupos raciais. Os requisitos de proteína metabolizável para mantença (PMm) e ganho (PMg) e as exigências de proteína bruta foram obtidos segundo o NRC (1996). As EUEM para mantença (km) e ganho de peso (kf) foram estimadas a partir da relação entre os teores de energia líquida, para mantença ou ganho, respectivamente, em função da EM da dieta, segundo GARRETT (1980). Os requisitos de EM para mantença e ganho II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 331 foram obtidos pelas relações entre as exigências líquidas e as respectivas EUEM. As exigências de NDT foram calculadas dividindo-se as exigências de EM por 0,82, obtendo-se as exigências de energia digestível (ED) e, posteriormente, dividindo-as por 4,409. Para estimar as exigências de mantença e, posteriormente, somar às exigências para ganho, para obter as exigências dietéticas totais, foram adotadas as recomendações do ARC (1980) e do AFRC (1991) para as perdas endógenas totais de Ca, P, Mg, Na e K, e a disponibilidade destes elementos , segundo o ARC (1980) e o NRC (1996), conforme pode ser visualizado na Tabela 2. Tabela 2 - Perdas endógenas totais e disponibilidade de cálcio, fósforo, magnésio, sódio e potássio Elemento (kg) Ca P Mg Na K Fecal Urinária Salivar Através da pele Perdas endógenas totais 2 Disponibilidade (%) 3 [-0,74+0,0079PV+0,66CMS ] 501 1,6*[-0,06+0,693CMS] 681 3,0 mg/kg PV/dia 172 6,8 mg/kg PV/dia 912 1002 2,6 g/kg MS consumida 37,5 mg/kg PV 0,7 g/100 kg PV 1,1 g/dia 1 Dados obtidos do NRC (1996); Dados obtidos do ARC (1980) e do AFRC (1991); 3 Considerando consumo de MS de 2,4% do PV. 2 Para a análise dos dados agrupados, animais zebuínos e F1 (E x Z) e animais mestiços leiteiros e Holandeses, aplicou-se o teste de identidade de modelos, proposto por REGAZZI (1996), nas equações de regressão do logaritmo dos conteúdos de gordura, proteína, energia, Ca, P, Mg, Na ou K no corpo vazio, em função do logaritmo do peso do corpo vazio. 332 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Resultados Observados Na Tabela 3 estão apresentadas as relações entre PCVZ e PV e entre ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ) e ganho de peso vivo em jejum (GPVJ). Para o cálculo destas relações foram utilizados os valores dos experimentos que forneceram dados para os cálculos das exigências. Observa-se que os animais zebuínos e os meio sangue (F1 E x Z) apresentaram um relação PCVZ/PV de 0,88, próxima ao valor recomendado pelo NRC (1996), 0,891, e superior ao dos animais holandeses e seus mestiços, que foi 0,83. Os animais leiteiros apresentam um maior tamanho do trato gastrointestinal e, conseqüentemente, um maior conteúdo de digesta, do que os animais zebuínos (GONÇALVES, 1988), e isto leva estes animais a apresentarem uma menor relação PCVZ/PV. A relação GPCVZ/GPVJ dos animais zebuínos foi semelhante ao valor utilizado pelo NRC (1996), de 0,96, e os valores dos animais F1, mestiços leiteiros e Holandeses foram 1,00; 0,94 e 0,86, respectivamente. O NRC (2001) para gado de leite adota o mesmo valor da relação GPCVZ/GPVJ do NRC (1996) para gado de corte (0,96) para as novilhas leiteiras em crescimento. Os dados dos animais holandeses foram obtidos através de médias dos experimentos, pois, os mesmos não se encontravam disponíveis para a análise em conjunto. A relação PCVZ/PV de cada grupo genético será utilizada para a transformação do PCVZ em PV e as exigências que forem calculadas em função do GPCVZ serão convertidas para ganho de PV pela multiplicação pela relação GPCVZ/GPVJ do grupo genético em questão. Tabela 3 - Relação entre peso de corpo vazio e peso vivo (PCVZ/PV) e entre ganho médio diário de peso de corpo vazio e ganho de peso vivo em jejum (GPCVZ /GPVJ) Grupo genético Zebu F1 (E x Z) Mestiço leiteiro Holandês PCVZ/PV 0,8809 0,8852 0,8309 0,8327 GPCVZ/GPVJ 0,9628 1,0065 0,9424 0,8552 ± 0,0185 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 333 Os parâmetros das equações de regressão do logaritmo dos conteúdos de gordura (kg), proteína (kg) e energia (Mcal) no corpo vazio, em função do logaritmo do peso de corpo vazio (kg) de diferentes grupos genéticos estão apresentados na Tabela 4. Aplicando-se o teste de identidade de modelos , observaram-se diferenças entre os grupos genéticos, tanto em análise geral dos quatro grupos, quanto em análise entre animais zebuínos e F1 (E x Z) e entre Holandeses e mestiços leiteiros. Sendo assim, os resultados de exigências foram expressos separadamente para cada grupo genético. Na Tabela 5 estão mostradas as exigências líquidas de proteína (g) e energia (Mcal), por kg de GPCVZ, e os conteúdos de gordura no ganho de peso do corpo vazio (g/kg GPCVZ) em função do peso vivo (PV) de cada grupo genético. Os animais zebuínos apresentaram menor exigência líquida de proteína para ganho e um maior conteúdo de gordura e conseqüentemente maior exigência líquida de energia para ganho que os outros grupos genéticos. Para os animais zebuínos e os F1, a exigência líquida de proteína diminuiu e o conteúdo de gordura no ganho e a exigência líquida de energia aumentaram com o aumento do PCVZ. Para os animais mestiços leiteiros, de forma não esperada, a exigência líquida de proteína praticamente não se alterou com o aumento do PCVZ, sendo que o conteúdo de gordura no ganho e a exigência líquida de energia diminuíram com o aumento do PCVZ. Em relação aos animais Holandeses, a exigência líquida de proteína aumentou com o aumento do PCVZ, mas o conteúdo de gordura no ganho e a exigência líquida de energia também aumentaram com o aumento do PCVZ. FONTES (1995), analisando conjuntamente vários experimentos, encontrou exigências líquidas de proteína para ganho de 1 kg de PCVZ de 171 e 150 g para animais da raça Nelore com peso vivo de 200 e 400 kg de PV, respectivamente, e de 188 e 167 g para animais F1 (E x Z) com peso vivo de 200 e 450 kg de PV, respectivamente. Para a energia as exigências líquidas foram de 3,21 a 4,75 Mcal, para animais da raça Nelore com peso vivo de 200 e 400 kg de PV, respectivamente, e de 2,77 e 4,30 Mcal para animais F1 (E x Z) com peso vivo de 200 e 450 kg de PV, respectivamente. Todos estes resultados referem-se a machos não-castrados. 334 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 4 - Parâmetros das equações de regressão do logaritmo dos conteúdos de gordura (kg), proteína (kg) e energia (Mcal) no corpo vazio, em função do logaritmo do peso de corpo vazio (kg) de diferentes grupos genéticos e os respectivos coeficientes de determinação (r2) Grupo genético Parâmetro Intercepto (a) 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 2,6217 3,7344 0,5516 2,4771 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 0,3210 0,3019 0,7330 0,7758 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 0,5224 - 0,9098 0,5413 - 0,3813 Coeficiente (b) Gordura (kg) 1,7462 2,1181 0,9247 1,6848 Proteína (kg) 0,8350 0,8471 1,0023 1,0144 Energia (Mcal) 1,3827 1,5072 0,9626 1,3193 r2 0,83 0,84 0,75 0,89 0,90 0,84 0,98 0,99 0,89 0,88 0,92 0,95 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 335 Tabela 5 - Exigências líquidas de proteína (g) e energia (Mcal), por kg de GPCVZ, e conteúdo de gordura no ganho de peso do corpo vazio (g/kg GPCVZ) em função do peso vivo (PV) PV (kg) 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 Exigência Proteína Energia (g/kg GPCVZ) (Mcal/kg GPCVZ) Zebu 163,72 3,27 158,87 3,51 154,88 3,72 151,51 148,59 146,03 Conteúdo de gordura (g/kg GPCVZ) 233,69 267,75 300,39 3,92 4,10 4,27 F1 (E x Z) 2,87 3,15 3,40 331,86 362,35 391,99 3,64 3,87 4,08 Mestiço leiteiro 2,74 2,72 2,71 276,50 315,42 354,86 167,70 166,22 164,90 183,57 184,05 184,46 2,69 2,68 2,67 Holandês 3,02 3,20 3,36 184,81 185,13 185,41 3,50 3,64 3,76 299,84 325,03 349,34 185,13 180,04 175,85 172,30 169,22 166,52 187,64 187,72 187,79 187,84 187,89 187,94 163,48 200,45 238,15 173,74 171,37 169,39 217,32 246,22 273,64 Na literatura consultada foi observado apenas um trabalho determinando exigências em fêmeas (BORGES, 2000). Na Tabela 6 são apresentados os valores deste experimento para as exigências líquidas 336 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte de proteína e energia de novilhas Guzerá. Observa-se a mesma tendência dos machos, diminuição das exigências líquidas de proteína e aumento das de energia com o aumento do PV dos animais. As novilhas Guzerá apresentaram menores exigências líquidas de proteína e maiores exigências líquidas de energia que os machos zebuínos inteiros com o mesmo PV. A explicação deste fato consiste na maior precocidade das fêmeas em acumular maiores porcentagens de gordura com um menor PV do que os machos (NRC, 1996). Tabela 6 - Exigências líquidas de proteína e energia por kg de ganho de PV de animais da raça Guzerá, em função do peso vivo (PV) ou do peso de corpo vazio (PCVZ) PV, kg 200 250 300 PCVZ, kg 179,89 223,32 266,75 Proteína, g/kg PV 133,37 129,30 126,04 Energia, Mcal/kg PV 3,29 3,79 4,27 Borges (2000). As exigências dietéticas de proteína metabolizável para mantença (PMm) e ganho (PMg) e de proteína bruta (PB) estão apresentadas na Tabela 7. As exigências dietéticas totais serão sempre corrigidas para ganho de PV utilizando o fator obtido dos animais utilizados para cada grupo genético, conforme apresentado na Tabela 1. A exigência de PMm foi calculada segundo a recomendação do NRC (1996) de 3,8 g de PMm/ kg de PV0,75. Utilizou-se uma eficiência de utilização da PM para ganho de 49,2% para animais com PCVZ acima de 300 kg e, para animais com menos de 300 kg de PCVZ, a equação de AINSLIE et al. (1993), em que eficiência = 83,4 - (0,114 x PCVZ) A exigência de PB foi obtida dividindo a exigência total de PM por 0,67, segundo o NRC (1996), considerado para uma dieta que supre 80% da PM pela proteína microbiana e 20% por proteína não-degradada no rúmen (PNDR). Observa-se que para um consumo de MS fixo em 2,4% do PV, as exigências de PB diminuíram com o aumento do PV, fato esperado devido ao aumento do conteúdo de gordura e diminuição do II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 337 conteúdo de proteína no ganho com o aumento do PV do animal.Contudo, vale ressaltar que o consumo de MS diminui à medida que o peso vivo é aumentado.Isto foi observado nos animais Nelore , nas fases de recria e terminação por (SILVA,2001). A composição corporal, especialmente a porcentagem de gordura corporal, parece afetar a ingestão de alimentos. À medida que o animal se aproxima da maturidade, mais gordura é depositada. Em geral, quanto mais gordo o animal, menor o consumo de alimentos, para qualquer tamanho corporal. Um dos motivos é a redução na capacidade abdominal de acomodar o trato digestivo, com o aumento do volume da gordura abdominal (FORBES, 1995). Outra causa seria o efeito de “feedback” do tecido adiposo no controle do consumo. O consumo/unidade de peso metabólico começa a declinar por volta de 350 kg de peso, para um novilho de porte médio (NRC, 1987). Isto pode ser visualizado na Figura 1, com os dados de SILVA(2001), que demonstraram um efeito linear decrescente do PV sobre o consumo de MS. 2,6 Consumo de MS, % PV 2,4 2,2 2 1,8 Yˆ = 3,1237 - 0,0028*PV (r2 = 0,21) 1,6 1,4 1,2 1 250 290 330 370 410 450 Peso Vivo, kg Figura 1 - Estimativa do consumo de matéria seca (MS), expresso em % PV, em função do peso vivo do animal, em kg. 338 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Segundo o NRC (1996) para um animal de 250 e 450 kg de PV, consumindo 2,4% do seu PV em MS, o teor de PB da dieta deveria ser 13,4 e 8,53% na MS, respectivamente, para suprir mantença e ganho de 1 kg de PV. Com as devidas variações entre os grupos genéticos, as exigências de PB preconizadas pelo NRC (1996) apresentam-se com valores um pouco superior aos obtidos para animais zebuínos e Holandeses com PV inferior a 300 kg, mas apresentaram valores inferiores aos obtidos para todos os grupos genéticos com PV superior a 300 kg. Possivelmente, o NRC (1996) subestima as exigências de PB, para animais com PV acima de 300 kg, nas condições brasileiras. A Tabela 8 apresenta os requisitos de proteína degradável no rúmen (PDR) e de PNDR, em função do PV. Para a estimativa das exigências de PDR, utilizou-se o protocolo do NRC (1996), em que PDR (g/dia)= 1,11*proteína microbiana (g); e a proteína microbiana (g/dia) = 130*consumo NDT (kg). À medida que aumenta o PV do animal, a porcentagem da exigência da PB suprida pela PDR aumenta. Para animais zebuínos e Holandeses com PV acima de 450 kg, a quantidade de PDR fornecida, para uma dieta com 66% de NDT e assumindo um consumo de MS de 2,4% do PV, foi suficiente para suprir a exigência total de PB. Com o aumento do teor de energia da dieta (72% de NDT), para estes mesmos grupos genéticos, um animal com 400 kg de PV já não necessita de PNDR para suprir as exigências totais de PB. Para animais F1 e mestiços leiteiros, a proteína microbiana pode suprir as exigências totais de PB para animais com PV acima de 500 e 450 kg, para dietas com 66 e 72% de NDT, respectivamente. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 339 Tabela 7 - Exigências de proteína metabolizável para mantença (PMm) e para ganho (PMg) de 1 kg de PV (g/kg GPV), e de proteína bruta para mantença+ganho de 1 kg de PV (g/kg GPV) em função do peso vivo (PV), para um consumo de MS de 2,4% do PV Exigência PB PV (kg) PMm1 250 300 350 400 450 500 238,91 273,92 307,49 339,88 371,27 401,80 250 300 350 400 450 500 238,91 273,92 307,49 339,88 371,27 401,80 250 300 350 400 450 500 238,91 273,92 307,49 339,88 371,27 401,80 250 300 350 400 450 500 238,91 273,92 307,49 339,88 371,27 401,80 1 2 PMg2 g/dia ZEBU 270,41 760,18 287,13 837,39 303,09 911,32 296,49 949,80 290,78 988,14 285,77 1026,22 F1 (E x Z) 318,25 831,59 338,90 914,66 357,42 992,41 350,20 1029,97 343,95 1067,49 338,45 1104,85 Mestiço leiteiro 296,11 798,54 321,75 889,06 359,69 995,80 359,81 1044,31 359,90 1091,31 359,99 1137,00 Holandês 263,10 749,27 286,59 836,58 320,63 937,49 321,25 986,76 321,79 1034,42 322,28 1080,72 % na MS 12,67 11,63 10,85 9,89 9,15 8,55 13,86 12,70 11,81 10,73 9,88 9,21 13,31 12,35 11,85 10,88 10,10 9,48 12,49 11,62 11,16 10,28 9,58 9,01 3,8 g/kg 0,75 Exigências líquidas/0,492 p/ PCVZ > 300 kg; Exigências líquidas/(83,4 - (0,114 x PCVZ)) p/ PCVZ ≤ 300 kg 340 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 8 - Exigências de proteína degradável no rúmen (PDR) e de proteína não-degradável no rúmen (PNDR), em g/dia e % da PB, para mantença+ganho de 1 kg de PV (g/kg GPV) em função do peso vivo (PV), para uma dieta com 66 ou 72% de NDT e um consumo de MS de 2,4% do PV Dieta 66% de NDT PDR 1 Exigência PV (kg) g/dia % da PB 72% de NDT PDR 1 PNDR g/dia % da PB g/dia 250 300 350 400 450 500 571,43 685,71 800,00 914,28 988,14 1026,22 75,17 81,89 87,78 96,26 100,00 100,00 188,75 151,67 111,32 35,52 0,00 0,00 250 300 350 400 450 500 571,43 68,71 685,71 74,97 800,00 80,61 914,28 88,77 1028,57 96,35 1104,85 100,00 Mestiço leiteiro 571,43 71,56 685,71 77,13 800,00 80,34 914,28 87,55 1028,57 94,25 1137,00 100,00 Holandês 588,74 76,26 706,49 81,97 824,24 85,33 941,99 92,66 1034,42 100,00 1080,72 100,00 227,11 203,34 195,80 130,03 62,74 0,00 ZEBU 623,38 748,05 872,73 949,80 988,14 1026,22 F1 (E x Z) 31,29 623,38 25,03 748,05 19,39 872,73 11,23 997,40 3,65 1067,49 0,00 1104,85 227,11 203,34 195,80 130,03 62,74 0,00 28,44 22,87 19,66 12,45 5,75 0,00 160,53 130,09 113,25 44,77 0,00 0,00 23,74 18,03 14,67 7,34 0,00 0,00 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 1 24,83 18,11 12,22 3,74 0,00 0,00 % da PB PNDR g/dia % da PB 82,00 89,33 95,77 100,00 100,00 100,00 136,81 89,33 38,59 0,00 0,00 0,00 18,00 10,67 4,23 0,00 0,00 0,00 74,96 81,78 87,94 96,84 100,00 100,00 208,22 166,61 119,68 32,57 0,00 0,00 25,04 18,22 12,06 3,16 0,00 0,00 623,38 748,05 872,73 997,40 1091,31 1137,00 78,06 84,14 87,64 95,51 100,00 100,00 175,16 141,01 123,08 46,91 0,00 0,00 21,94 15,86 12,36 4,49 0,00 0,00 623,38 748,05 872,73 986,76 1034,42 1080,72 83,20 89,42 93,09 100,00 100,00 100,00 125,90 88,53 64,77 0,00 0,00 0,00 16,80 10,58 6,91 0,00 0,00 0,00 PDR (g) = 1,11*Proteína microbiana (g); Proteína microbiana (g) = 130*consumo NDT (kg). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 341 Foram obtidas as seguintes equações para estimativa da PR, em função do GPVJ e da ER: PR = - 17,6968 + 192,31 GPVJ - 3,8441 ER (r2=0,44), para animais zebuínos e PR = 31,4045 + 107,039 GPVJ + 5,632 ER (r2=0,50), para animais mestiços. A composição aminoacídica do corpo vazio (Tabela 9) apresentou-se semelhante aos valores de uma média de três experimentos citados por AINSLIE et al. (1993), à exceção da arginina, que apresentaram valores maiores do que os citados na literatura. Tabela 9 - Composição de aminoácidos dos músculos, conjunto (sangue, couro, órgãos, vísceras, ossos e gordura), todos os tecidos do corpo vazio, de bovinos Nelore, e da queratina (g/100 g de proteína) Aminoácidos* Músculos Met2 Lys His Phe Thr Leu Ile Val Arg 7,56 3,13 3,67 4,32 7,49 3,68 4,11 7,14 Asp Ser Glu Gly Ala Tyr Cys 8,83 3,94 15,36 5,76 5,97 3,09 1,86 Conjunto Corpo vazio Aminoácidos essenciais 2,00 4,84 5,91 1,80 2,39 3,11 3,34 2,92 3,52 5,71 6,42 2,27 2,88 4,23 4,18 8,00 7,59 Aminoácidos não essenciais 7,17 7,88 3,90 3,91 11,86 13,36 20,02 13,79 9,20 7,78 1,66 2,29 0,60 1,15 Queratina1 1,00 3,20 1,00 3,70 7,20 10,00 5,00 6,00 3,80 - * Met= Metionina; Lys= Lisina; His= Histidina; Phe= Fenilalanina; Thr= Treonina; Leu= Leucina; Ile= Isoleucina; Val= Valina, Arg= Arginina, Asp= Aspartato, Ser= Serina, Glu= Glutamato, Gly= Glicina, Ala= Alanina, Tyr= Tirosina e Cys= Cisteína. 1 Block e Bolling (1951), citados por O’CONNOR et al. (1993). 2 Média de três experimentos reunidos por AINSLIE et al. (1993). 342 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte As exigências líquidas para ganho, em g/kg de ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ), calculadas pelo método fatorial, estão apresentadas na Tabela 10. Observa-se que diminuíram com o aumento do peso vivo do animal, fato esperado, em função dessas exigências serem calculadas a partir das exigências liquidas de proteína para ganho, obtidas por SILVA (2001), que apresentaram decréscimo em conseqüência do maior acúmulo de gordura com o aumento do peso vivo (PV). Tabela 10 - Exigências líquidas de aminoácidos para ganho (g/kg de GPCVZ), de bovinos Nelore, em função do peso vivo (PV), calculadas pelo método fatorial PV (kg) Met Lys His Phe Thr Leu Ile Val Arg Asp Ser Glu Gly Ala Tyr Cys 200 250 Exigências líquidas 2,33 2,75 10,82 10,64 4,37 4,30 6,12 6,02 6,46 6,35 11,76 11,56 5,28 5,19 7,66 7,53 13,91 13,68 14,44 14,19 7,17 7,05 24,49 24,07 25,27 24,84 14,26 14,02 4,20 4,13 2,11 2,07 300 350 400 450 3,15 10,49 4,24 5,94 6,26 11,40 5,12 7,43 13,49 13,99 6,95 23,73 24,49 13,83 4,07 2,05 3,54 10,36 4,19 5,87 6,19 11,27 5,06 7,34 13,33 13,83 6,87 23,46 24,20 13,66 4,02 2,02 3,91 10,26 4,14 5,80 6,12 11,15 5,01 7,27 13,19 13,69 6,80 23,22 23,96 13,52 3,98 2,00 4,27 10,17 4,11 5,75 6,07 11,05 4,96 7,20 13,07 13,56 6,74 23,01 23,74 13,40 3,95 1,99 PCVZ = PV * 0,8975 As equações de regressão obtidas para descrever a relação entre a retenção diária de energia (ER), em Mcal/dia, e o ganho diário de PCVZ (GDPCVZ), a determinado PCVZ, foram: ER = 0,0435 * PCVZ0,75 * GDPCVZ0,8241 (r2 = 0,37), para animais zebuínos e ER = 0,0377 * PCVZ0,75 * GDPCVZ1,0991 (r2 = 0,84), para animais F1. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 343 A Tabela 11 apresenta os valores da ELm obtidos na literatura consultada e a partir destes dados foi calculada a média dos valores de ELm com os respectivos desvio padrão para os vários grupos genéticos. Não foi possível trabalhar com os dados em conjunto por falta de padronização e informações nos trabalhos consultados. Está apresentado na Tabela 11, também, o único dado de ELm de fêmea zebu. A média do valor de ELm de animais zebuínos inteiros (71,3 kcal/PCVZ0,75) obtida foi 11,8% inferior ao recomendado pelo NRC (1996). A ELm dos animais F1 foi bem próxima ao dos animais zebuínos. A média da ELm dos mestiços leiteiros (79,65 kcal/PCVZ0,75) apresentou valor bem próximo ao recomendado pelo NRC (1996) e a dos animais Holandeses um valor 11,6% superior ao referido conselho. Segundo o NRC (1996), animais não-castrados têm requisitos de ELm 15% maiores que machos castrados e novilhas (77 kcal/kg0,75/dia), e segundo LOFGREEN e GARRETT (1968), zebuínos são 10% menos exigentes que taurinos. Assim, a exigência de ELm de animais zebuínos não-castrados, segundo proposição do NRC (1996), seria de 79,70 kcal/kg0,75/dia. Em raças com aptidão leiteira, os maiores depósitos de gordura encontramse nos componentes “não-carcaça”, diferentemente das tradicionais raças de corte, em que os depósitos periféricos são mais pronunciados, ocasionando menor exigência para mantença destes últimos (OWENS et al.,1995). Deve-se acrescentar a isto, o maior tamanho do trato gastrintestinal e do fígado, principalmente, dos animais com potencial para elevada produção de leite (FOX et al., 1992). CATTON e DHUYVETTER (1997) relataram que os tecidos viscerais, embora em menor proporção no corpo dos animais, são de considerável importância para os requisitos energéticos de mantença, pois consomem cerca de 50% do total desta energia. 344 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 11 - Exigências líquidas de energia para mantença, expressas em kcal/PCVZ0,75 ou kcal/PV0,75, obtidas para os diferentes grupos genéticos Autor o N Animais SALVADOR, 1980 BOIN, 1995 PAULINO, 1996 VÉRAS, 2000 SILVA, 2001 40 63 35 40 PIRES, 1991 PIRES, 1991 VELOSO, 2001 22 22 50 TEIXEIRA, 1984 ARAÚJO, 1997 30 16 TEIXEIRA, 1984 ROCHA, 1997 SIGNORETTI, 1998 10 16 52 BORGES, 2000 Grupo genético 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês 16 > 178 94 46 78 ELm 0,75 kcal/PCVZ Zebuínos 56,00 73,62 60,38 82,79 83,70 F1 (E x Z) 67,92 68,03 76,36 Mestiço leiteiro 78,00 81,30 Holandeses 88,00 68,44 110,46 Fêmea zebu 61,02 Valores médios 71,30 ± 12,69 70,77 ± 4,84 79,65 ± 2,33 88,97 ± 21,03 kcal/PV0,75 55,87 64,83 64,58 69,32 77,56 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 345 Na Tabela 12, são apresentados os teores de NDT, as concentrações de EM das dietas e os valores calculados de ELm e ELg, além das km e kf calculadas, para os dados dos experimentos de FERREIRA (1998) e VELOSO (2001) que trabalharam com animais F1 e de VÉRAS (2000) e SILVA (2001) que trabalharam com animais Nelore. Os dados dos dois grupos genéticos foram agrupados para dar maior consistência aos resultados. O ajuste de uma equação relacionando a ELm em função das concentrações de EM das dietas apresentou-se na forma linear, sendo ELm = 0,1145 + 0,5950 EM, r2 = 0,73. E o ajuste da equação relacionando a ELg em função das concentrações de EM das dietas apresentou-se também na forma linear, sendo ELg = -1,364 + 0,8733 EM, r2 = 0,72. A partir destas relações foram estimados as eficiências de utilização da EM para mantença (km) e ganho (kf), que variaram de 0,65 a 0,63 e de 0,25 a 0,37, respectivamente, para dietas com concentração de EM variando de 2,2 a 2,7 Mcal/kg MS. Considerando uma dieta com teor de EM de 2,5 Mcal/kg MS, o NRC (1996) estima o km e o kf em 0,64 e 0,40, respectivamente. Tabela 12 - Concentrações de nutrientes digestíveis totais (NDT), energia metabolizável (EM), energia líquida para mantença (ELm), energia líquida para ganho (ELg) e eficiências de utilização da energia metabolizável (EUEM) calculadas para mantença (km) e para ganho de peso (kf) NDT (%) EM (Mcal/kg MS) ELm (Mcal/kg MS) ELg (Mcal/kg MS) 62,49 2,26 1,45 0,85 66,56 2,41 1,54 0,95 km kf 0,65 0,27 0,64 0,31 69,91 2,53 1,62 1,16 EUEM (%) 0,64 0,33 75,55 2,73 1,76 1,32 0,63 0,37 346 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte As exigências líquidas e totais para diferentes pesos vivos e taxas de ganho de peso vivo estão apresentadas na Tabela 13, para animais zebuínos e na Tabela 14, para animais F1. A exigência dietética de NDT e de PB de um animal zebuíno com 400 kg de PV e ganhando 1 kg de PV foi de 5,40 kg e 921 g, respectivamente. A exigência dietética de NDT, deste mesmo animal, segundo o NRC (1996),seria 13,7% superior ao encontrado neste trabalho, sendo a de PB bem próxima (913 g). Os animais de origem européia apresentaram uma maior exigência de mantença, possivelmente, em função de um maior tamanho de órgãos internos e apresentaram, também, uma maior exigência para ganho devido ao maior conteúdo de gordura no ganho, em relação aos animais zebuínos. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 347 Tabela 13 - Exigências nutricionais de energia e proteína para animais zebuínos não-castrados Peso vivo, kg 250 ELm1 PMm2 4,08 239 Mcal/dia g/dia GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 1,80 2,41 2,99 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia Exigências totais GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 190 286 382 11,85 13,72 15,49 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 3,28 3,79 4,29 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 639 781 924 300 350 400 450 Exigência de mantença 4,67 5,25 5,80 6,33 274 307 340 371 ELg requerida para ganho, Mcal/dia3 2,06 2,31 2,55 2,79 2,76 3,10 3,43 3,74 3,43 3,85 4,25 4,65 PM requerida para ganho, g/dia4,5 189 187 185 184 284 281 279 277 379 376 373 371 EM, Mcal/dia6 13,58 15,25 16,86 18,41 15,73 17,66 19,52 21,32 17,77 19,94 22,04 24,08 NDT, kg/dia7 3,76 4,22 4,66 5,09 4,35 4,88 5,40 5,90 4,91 5,52 6,10 6,66 PB, g/dia8 688 736 781 826 830 876 921 965 972 1017 1062 1104 500 6,86 402 3,02 4,05 5,03 182 275 368 19,93 23,07 26,06 5,51 6,38 7,21 869 1007 1146 Considerando: 1 ELm = 71,30 kcal/PCVZ0,75; 2 PMm = 3,8 g/kg 0,75 (NRC, 1996); 3 ELg = 0,0435 * PCVZ0,75 * GDPCVZ0,8241 ; 4 PR = - 17,6968 + 192,31*GPVJ - 3,8441*ER ; 5 PM = exigências líquidas/0,492 para PCVZ > 300 kg ou exigências líquidas/(83,4 (0,114 x PCVZ)) para PCVZ ≤ 300 kg (NRC, 1996); 6 km = 0,64 e kf = 0,33 (dieta com 2,5 Mcal/kg MS); 7 NDT = EM/0,82/4,409 (NRC, 1996); e 8 PB = PM total/0,67 (NRC, 1996). 348 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 14 - Exigências nutricionais de energia e proteína para animais F1 (E x Z) não-castrados Peso vivo, kg 250 ELm1 PMm2 Mcal/dia g/dia 4,06 239 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 1,46 2,16 2,89 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia Exigências totais GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 198 261 323 10,81 12,95 15,16 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 2,99 3,58 4,19 GMD 0,70 kg/dia 1,00 kg/dia 1,30 kg/dia 650 743 836 300 350 400 450 Exigência de mantença 4,66 5,23 5,78 6,31 274 307 340 371 ELg requerida para ganho, Mcal/dia3 1,68 1,88 2,08 2,27 2,48 2,79 3,08 3,36 3,31 3,72 4,11 4,49 PM requerida para ganho, g/dia4,5 220 238 240 242 289 313 317 320 359 389 394 398 EM, Mcal/dia6 12,39 13,91 15,38 16,80 14,85 16,67 18,42 20,12 17,38 19,51 21,56 23,56 NDT, kg/dia7 3,43 3,85 4,25 4,65 4,11 4,61 5,10 5,57 4,81 5,40 5,96 6,52 PB, g/dia8 734 811 863 913 838 924 977 1029 942 1037 1092 1145 500 6,83 402 2,46 3,64 4,86 244 323 402 18,18 21,78 25,49 5,03 6,02 7,05 961 1079 1197 Considerando: 1 ELm = 70,77 kcal/PCVZ0,75; 2 PMm = 3,8 g/kg 0,75 (NRC, 1996); 3 ELg = 0,0377 * PCVZ0,75 * GDPCVZ1,0991 ; 4 PR = 31,4045 + 107,039 GPVJ + 5,632 ER; 5 PM = exigências líquidas/0,492 para PCVZ > 300 kg ou exigências líquidas/(83,4 (0,114 x PCVZ)) para PCVZ ≤ 300 kg (NRC, 1996); 6 km = 0,64 e kf = 0,33 (dieta com 2,5 Mcal/kg MS); 7 NDT = EM/0,82/4,409 (NRC, 1996); e 8 PB = PM total/0,67 (NRC, 1996). II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 349 Na Tabela 15, são apresentados os parâmetros das equações de regressão do logaritmo dos conteúdos de cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na) no corpo vazio, em função do logaritmo do peso do corpo vazio (PCVZ), obtidos para cada grupo genético. Como o teste de identidade de modelos, aplicado às equações de regressão do logaritmo do conteúdo corporal dos elementos minerais, em função do logaritmo do PCVZ, para os quatro grupos genéticos, indicou haver diferença entre os grupos, foram utilizadas as equações relativas aos dados em separado. Os resultados demonstraram diminuição nas concentrações dos macrominerais estudados, principalmente Ca, P e Na, com o aumento do peso vivo (PV), o que era esperado, pois vários autores já observaram tal tendência (FONTES, 1995, SILVA, 1995). Na Tabela 16 estão apresentadas as exigências líquidas de macrominerais para ganho. Os animais zebuínos apresentaram as menores exigências líquidas de P, Mg e Na, mas as maiores de K. Os animais F1 apresentaram as maiores exigências líquidas de Na e Ca, este último sendo elevado também para os animais Holandeses. E as maiores exigências líquidas de Mg foram obtidas pelos mestiços leiteiros. A partir dos coeficientes médios de absorção verdadeira, recomendados pelo NRC (1996) para Ca e P, 50 e 68%, respectivamente, e pelo ARC (1980) para Mg, Na e K, de 17, 91 e 100%, respectivamente, e das estimativas das exigências líquidas para ganho, foram estimados os requisitos dietéticos de Ca, P, Mg, Na e K, por kg de ganho de PV, após a conversão da exigência líquida para GPCVZ em exigência para GPV. 350 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 15 - Parâmetros das equações de regressão do logaritmo do conteúdo de cálcio, fósforo, magnésio, potássio e sódio (kg) no corpo vazio, em função do logaritmo do peso do corpo vazio (kg) e os respectivos coeficientes de determinação (r2) Grupo Genético Intercepto (a) 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 1,1048 0,8829 0,4403 1,5785 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 1,1910 1,2504 1,5396 1,7515 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 2,8039 2,9215 3,1646 3,3613 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 3,5378 2,3003 1,6386 2,7454 1. Zebu 2. F1 (E x Z) 3. Mestiço leiteiro 4. Holandês - 1,6629 1,5090 1,8469 2,4795 Parâmetro Coeficiente (b) Cálcio (kg) 0,7312 0,6803 0,5073 0,9028 Fósforo (kg) 0,6654 0,7112 0,8219 0,8944 Magnésio (kg) 0,7578 0,8327 0,9360 0,9579 Potássio (kg) 1,3127 0,8551 0,6119 1,0173 Sódio (kg) 0,5362 0,5246 0,6167 0,8165 r2 0,51 0,31 0,65 0,90 0,49 0,40 0,71 0,93 0,36 0,93 0,97 0,93 0,46 0,73 0,59 0,99 0,35 0,15 0,64 0,96 II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 351 Tabela 16 - Exigências líquidas de cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na), em g por kg de ganho de peso do corpo vazio, de bovinos Nelore, em função do peso vivo (PV) PV (kg) Exigência líquida Ca P 250 300 350 400 450 500 13,47 12,83 12,31 11,87 11,50 11,18 7,05 6,63 6,30 6,02 5,79 5,59 250 300 350 400 450 500 15,85 14,96 14,24 13,64 13,14 12,70 8,40 7,97 7,62 7,34 7,09 6,88 250 300 350 400 450 500 13,28 12,14 11,25 10,53 9,94 9,44 9,17 8,88 8,64 8,44 8,26 8,11 250 300 350 400 450 500 14,18 13,93 13,73 13,55 13,39 13,26 9,02 8,85 8,71 8,58 8,48 8,38 Mg Zebu 0,32 0,31 0,30 0,29 0,28 0,27 F1 (E x Z) 0,40 0,39 0,38 0,37 0,37 0,36 Mestiço leiteiro 0,46 0,45 0,45 0,44 0,44 0,44 Holandês 0,33 0,33 0,33 0,33 0,32 0,32 K Na 2,06 2,18 2,28 2,38 2,47 2,55 0,95 0,88 0,82 0,77 0,73 0,69 1,96 1,91 1,87 1,83 1,80 1,77 1,25 1,14 1,06 1,00 0,94 0,90 1,77 1,65 1,56 1,48 1,41 1,35 1,13 1,06 1,00 0,95 0,91 0,87 2,01 2,01 2,02 2,02 2,03 2,03 1,02 0,98 0,96 0,93 0,91 0,89 352 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Para estimar as exigências dietéticas totais, foram adotadas as recomendações do ARC (1980) e do AFRC (1991) para as perdas endógenas totais de Ca, P, Mg, Na e K, enquanto a disponibilidade destes elementos foi estimada segundo o ARC (1980) e o NRC (1996). Estão apresentadas na Tabela 17 as exigências totais (mantença + ganho de 1 kg PV) dos macroelementos minerais estudados. Diferentemente da exigência para ganho, as exigências dietéticas totais aumentaram com o PV do animal, devido à participação das exigências para mantença. As exigências totais de Ca encontram-se próximas às recomendações do NRC (1996), mas as de P apresentaram valores sempre superiores aos do referido conselho. Especificamente para Mg e K, as exigências líquidas para ganho representam uma pequena parcela das exigências dietéticas, tendo em vista a baixa disponibilidade do Mg e as elevadas exigências de mantença de K, conforme já observado e citado por FONTES (1995). Se for considerado um consumo de MS constante, durante as fases de recria e engorda de um bovino, as exigências dietéticas totais estimadas neste experimento, expressas em % da MS, demonstraram uma tendência de diminuição, com o aumento do PV, para Ca, P, Mg e Na e apresentaram-se praticamente constantes para o K. As exigências recomendadas pelo NRC (1996) para Ca, P, Mg, K e Na são de 0,68; 0,33; 0,10; 0,07 e 0,60 % da MS e 0,32; 0,19; 0,10, 0,07 e 0,60% da MS, para bovinos de 200 e 400 kg de PV, respectivamente, ganhando 1 kg de PV e consumindo 2,4% do PV em MS. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 353 Tabela 17 - Exigências dietéticas totais (mantença + ganho de 1 kg PV) de cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na), em g/dia e em % da MS para um consumo de 2,4% do PV, em função do grupo genético e do peso vivo (PV) PV (kg) 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 250 300 350 400 450 500 Exigência dietética total Ca P Mg K g/dia % MS g/dia % MS g/dia % MS g/dia % MS Zebu 36,33 0,61 19,62 0,33 6,24 0,10 29,80 0,50 37,47 0,52 20,99 0,29 7,04 0,10 35,27 0,49 38,84 0,46 22,47 0,27 7,86 0,09 40,71 0,48 40,38 0,42 24,04 0,25 8,69 0,09 46,15 0,48 42,04 0,39 25,67 0,24 9,52 0,09 51,58 0,48 43,79 0,36 27,34 0,23 10,37 0,09 57,01 0,48 F1 (E x Z) 42,10 0,70 22,00 0,37 6,79 0,11 29,78 0,50 42,67 0,59 23,32 0,32 7,60 0,11 35,08 0,49 43,61 0,52 24,77 0,29 8,42 0,10 40,38 0,48 44,79 0,47 26,30 0,27 9,26 0,10 45,69 0,48 46,16 0,43 27,90 0,26 10,10 0,09 51,00 0,47 47,66 0,40 29,54 0,25 10,94 0,09 56,32 0,47 Mestiço leiteiro 35,42 0,59 22,35 0,37 6,94 0,12 29,50 0,49 35,64 0,50 23,90 0,33 7,79 0,11 34,73 0,48 36,34 0,43 25,53 0,30 8,65 0,10 39,98 0,48 37,37 0,39 27,20 0,28 9,51 0,10 45,25 0,47 38,62 0,36 28,92 0,27 10,37 0,10 50,53 0,47 40,05 0,33 30,66 0,26 11,24 0,09 55,83 0,47 Holandês 34,65 0,58 20,99 0,35 6,09 0,10 29,54 0,49 36,59 0,51 22,73 0,32 6,96 0,10 34,89 0,48 38,61 0,46 24,50 0,29 7,83 0,09 40,24 0,48 40,69 0,42 26,31 0,27 8,70 0,09 45,59 0,47 42,80 0,40 28,13 0,26 9,58 0,09 50,94 0,47 44,94 0,37 29,97 0,25 10,45 0,09 56,29 0,47 g/dia Na % MS 2,88 3,17 3,48 3,80 4,13 4,47 0,05 0,04 0,04 0,04 0,04 0,04 3,24 3,50 3,78 4,09 4,40 4,72 0,05 0,05 0,05 0,04 0,04 0,04 3,04 3,34 3,65 3,97 4,30 4,64 0,05 0,05 0,04 0,04 0,04 0,04 2,82 3,17 3,51 3,87 4,22 4,58 0,05 0,04 0,04 0,04 0,04 0,04 354 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL - AFRC. 1991. 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BIOTECNOLOGIAS APLICÁVEIS À PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE NO BRASIL 1 1 Dante P. D. Lanna 2 e Márcio C. Silva Filho3 Parte de trabalho apresentado no “Workshop on Sustainable Animal Production and World Food Supply to 2020”. Hannover, GER, 2000. 2 Ph.D. Professor do Dept. de Produção Animal, ESALQ/Universidade de São Paulo. CNPq. 3 Ph.D. Professor do Dept. de Genética, ESALQ/Universidade de São Paulo. CNPq. INTRODUÇÃO Nas última década houve um extraordinário aumento no consumo de produtos animais. Com o crescimento econômico e contínuo aumento na afluência em vários países, os próximos anos verão uma explosão no consumo de carne e leite. Estas mudanças terão impacto mais significativo nos países em desenvolvimento. As previsões dos modelos econômicos indicam que a demanda por produtos animais continuará a aumentar, em ritmo acelerado, pelo menos até 2025. As previsões são de uma taxa de aumento crescente no consumo de carne e leite, particularmente em países com a maior proporção da população mundial (Delgado, 2000). Estas projeções têm implicações impressionantes, e nos remete a assumir uma grande responsabilidade. A produção de alimentos hoje é maior que a demanda, mas muito inferior à necessária para os notáveis aumentos na demanda. Estas responsabilidades incluem, primeiramente, a necessidade absoluta de garantir à população mundial, e particularmente às parcelas mais pobres, que não haverá falta de alimentos: segurança alimentar. Em segundo lugar o aumento na produção para atender a demanda deve ser feita de forma sustentável. Existem tecnologias disponíveis capazes de produzir aumentos a curto prazo na produção de carne, mas várias destas tecnologias trariam graves custos ambientais. Novas tecnologias jamais podem ser empregadas sem consultam prévia ao consumidor e devem levar em consideração questões de segurança, culturais e éticas. Entretanto, há necessidade de melhorar a qualidade deste debate, que deve se basear mais em dados reais e menos em interesses individuais. Os benefícios produtivos e ambientais 360 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte provenientes da adoção destas tecnologias precisa ser entendido, assim como os riscos. Na Índia, 92% dos produtores agrícolas acredita nos benefícios da biotecnologia, e cerca da metade é de opinião que o país precisará adotar estas técnicas (Org-Marg Research, 2000). Esta aparente aceitação da biotecnologia apresenta forte contraste com outros países onde as dificuldades ambientais e econômicas são muito menores do que as enfrentadas pela Índia. Entretanto, o continuo aumento da população mundial e o grande aumento do consumo per capita de carne e leite previsto para as próximas duas décadas terá importantes conseqüências ambientais, incluindo também países que não vivem o desafio dramático da Índia. DEMANDA POR PRODUTOS ANIMAIS Os desafios de países em desenvolvimento nos próximos 20 anos incluirão a habilidade de alimentar seu povo, a habilidade de exportar produtos agrícolas, a habilidade de contornar seus problemas ambientais através do uso de sistemas sustentáveis de produção e, finalmente, da capacidade de preservar intactos alguns de seus ecossistemas (e.g. Amazônia). É um desafio extraordinário! As elasticidades de demanda- renda para os mais importantes produtos de origem animal, é próxima de 1, particularmente para carne bovina, leite e carne suína, sendo ligeiramente inferior para frango. As projeções das tendências da demanda em produtos animais indicam um aumento da ordem de 118 milhões de toneladas métricas de carne até o ano de 2020 (Delgado, 2000). VELHAS E NOVAS TECNOLOGIAS PARA AUMENTO DA PRODUÇÃO ANIMAL Existe uma gama de tecnologias para melhorar a produção animal. Diversos críticos da biotecnologia sugerem que com a adoção destas “velhas” tecnologias, não seria necessário manipular o DNA de plantas ou de animais. Realmente, a adoção de várias práticas e tecnologias convencionais poderia aumentar a produtividade de forma significativa. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 361 Entretanto, os desafios para a produção agrícola a serem vencidos nas próximas décadas certamente vão requerer não um grupo de tecnologias, mas um planejamento estratégico utilizando diversas técnicas. É certo que nenhuma técnica sozinha será capaz de resolver os diferentes problemas enfrentados pela agricultura. A enormidade do aumento na demanda de produtos animais não pode ser exagerada. Segurança alimentar, redução do impacto ambiental e aumento da saúde humana através da nutrição são objetivos básicos que não podem ser atingidos apenas por um grupo de tecnologias. A busca ideológica de certas técnicas em detrimento de outras pode ter custos altíssimos, tanto sociais como ambientais. Uma avaliação baseada em fatos científicos tem que ser feita caso a caso. É claro que diferentes países enfrentarão diferentes desafios tecnológicos. Mesmo dentre os países em desenvolvimento existirão grandes diferenças. O desenvolvimento e transferência de biotecnologias têm que ser pautado em uma avaliação correta das dificuldades presentes em situações tão diversas como, por exemplo, do Brasil e da Índia. Diversas tecnologias disponíveis poderiam ser utilizadas para redução dos custos de produção, para redução do impacto ambiental e para aumento da segurança alimentar. Um exemplo particular à situação da produção de bovinos de corte, e que traz grandes semelhanças com a futura adoção de técnicas de biologia molecular, é o uso de implantes de esteróides. Como para a biotecnologia, os benefícios dos implantes esteróides em aumentar a eficiência de conversão alimentar (Tabela 1) e reduzir os custos são inequívocas. Os benefícios ambientais da melhora na conversão alimentar são também muito significativos. Somase a isto o fato de que comitês médicos de diferentes países, incluindo o FDA e o Codex Alimentarius, revisaram os dados e afirmaram que o uso de 5 moléculas específicas destes esteróides nas doses recomendadas é seguro para seres humanos (Preston, 1998). 362 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte Tabela 1 - Efeito dos esteróides (estrogênio) no desempenho e na eficiência na conversão alimentar em confinamento de 115 dias (Johnson et al., 1992) Item Peso Final, kg Ganho Diário, kg/d Ganho, % do controle Conversão, g/kg MS Conversão, % do controle Controle Synovex (estrogênio) 575 1.55 100 6.4 100 614 1.87 121 5.8 90 Apesar dos efeitos altamente positivos na eficiência de conversão (10-20%) implantes com esteróides foram banidos de diversos países incluindo países desenvolvidos (e.g. Comunidade Européia) e em desenvolvimento (e.g. Brasil). A resistência ao uso destes compostos pode trazer subsídios importantes à controvérsia ao redor das questões sobre o uso das biotecnologias, principalmente quando envolve o uso de animais e plantas transgênicas. Observa-se que diversas práticas já avaliadas, capazes de reduzir o impacto ambiental da produção de alimentos ainda não estão em uso. Dado o fato de que 250 milhões de americanos tem se beneficiado desta tecnologia por mais de 4 décadas, é interessante e ilustrativo reconhecer que há forte resistência baseada na percepção do público. BIOTECNOLOGIA AGRÍCOLA - PLANTAS TRANSGÊNICAS Cerca de 7 milhões de hectares, apenas para países em desenvolvimento, foram cultivadas com plantas geneticamente modificadas (GM) como soja, milho e algodão no ano de 1999. Isto representa um crescimento de 18% em comparação com 1998, sendo a maior parte na Argentina, China, África do Sul e México. O Brasil, maior produtor agrícola da América Latina, está ainda considerando o uso de plantas modificadas por engenharia genética, entretanto, existem ainda discussões quanto à melhor definição das regras que deverão ser respeitadas na produção, comercialização e uso de alimentos transgênicos. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 363 Ainda que as espécies vegetais do mundo desenvolvido tenham maior atenção dos laboratórios de engenharia genética, um número crescente de pesquisadores está manipulando o DNA de plantas nativas dos trópicos e sub-trópicos com potencial de produzir alimentos, fibras, combustíveis e fármacos. A primeira fase de desenvolvimento de OGMs agrícolas procurou basicamente criar tecnologias direcionadas a beneficiar os produtores, aumentando produtividade, reduzindo custos de produção, minimizando perdas por erosão e reduzindo uso de energia. Por outro lado a nova geração de OGMs teve como objetivo melhorar outras características das plantas transgênicas. A próxima geração de OGMs terá teores mais altos de proteína, um balanço de proteína mais próximo daquele requerido pelo homem ou pelo animal para o qual ela se destina. O aumento do teor de vitaminas e outras características nutricionais importantes para a saúde do consumidor terá grande relevância econômica e implicações importantes para a aceitação desta tecnologia pela sociedade. Entretanto, é necessário lembrar que as primeiras plantas transgênicas trouxeram alguns importantes benefícios ambientais, bem como reduções de custo que tem sido repassadas para o consumidor. Exemplos incluem OGMs responsáveis por grande redução no uso de pesticidas, um problema considerado importante para a opinião pública. Portanto, esforços para aumentar a produtividade enquanto reduzindo as aplicações de pesticida devem continuar. Como exemplo, o uso de uma variedade de milho resistente a insetos e a rotação de culturas com monitoração das populações de insetos pode reduzir a aplicação de defensivos em mais de 50% (Pimentel et al., 1993). A redução no uso de pesticidas na produção de plantas transgênicas utilizadas como alimento animal podem, em última instância, reduzir a contaminação de produtos animais como leite e carne. O impacto ambiental da produção animal depende diretamente da quantidade e da composição dos alimentos utilizados. As plantas alvo do maior número de modificações genéticas são a soja, o milho e algodão. Não é surpresa que estas plantas representam mais de 80% dos ingredientes de ração animal no Brasil (Tabela 2). O milho e a soja são também os mais importantes alimentos em diversos países incluindo os EUA o maior mercado mundial de alimentação animal, onde 90% do 364 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte milho é direcionado às rações animais. Portanto, deve-se esperar um extraordinário aumento na demanda de plantas GM. Tabela 2 - Alimentos usados na produção animal no Brasil Concentrado Total Milho Farelo de Soja Farelo de Algodão 35 Milhões de Toneladas 65 % 13% 6% O fato de que alguns países já produzem OGMs reduz seus custos e faz com que sua agricultura seja mais competitiva no mercado mundial. Novas variedades de plantas, somando novas características melhoradas, devem aumentar esta competitividade, bem como aumentar a qualidade do produto (e.g. produtos mais nutritivos). Um exemplo seria o milho, no qual o fitato se acumula, um composto capaz de reduzir a biodisponibilidade de fósforo. A biologia molecular pode fornecer meios para reduzir a concentração de fitatos no milho. O fornecimento deste milho com baixo teor de fitato reduziria a necessidade de suplementação da dieta com fósforo mineral, reduzindo o custo de produção. Mais importante, a redução da suplementação com fósforo teria importante beneficio ambiental, uma vez que a quantidade excretada de fósforo pelo animal seria reduzida. O acúmulo de fósforo no meio ambiente é um dos grandes problemas enfrentados pela agricultura animal. Há inúmeros exemplos de oportunidades para mudança do valor nutricional destes alimentos para os animais. A energia digestivel do milho pode ser incrementada com variedades GM com altas concentrações óleo, atualmente utilizadas em milhares de hectares de plantio nos EUA (Abelson e Hines, 1999). Na soja pode-se citar a redução nos níveis de oligossacarídeos com atividade antinutricional . Nos sistemas de produção de ruminantes nos trópicos, os cereais não são a maior fonte de nutrientes para os animais. A maior parte da produção de leite e carne ocorre sob sistemas a pasto. Diversas gramíneas e leguminosas são utilizadas e algumas espécies tem grande distribuição (e.g. Brachiaria spp). Oportunidades existem de manipular o DNA destas forragens para alterar uma série de características como II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 365 resistência a insetos, resistência a doenças, adaptação a baixo pH e alto teor de alumínio entre outras. Seria extraordinário poder manipular a concentração de substâncias antinutricionais como a lignina e o ácido fítico já citado. O desenvolvimento de forragens GM, com maior valor nutricional não só aumentaria a produtividade, mas reduziria o risco (menor susceptibilidade a doenças e pragas), com importantes conseqüências para a produção de carne nas condições brasileiras. BIOTECNOLOGIA ANIMAL Existem numerosas técnicas já descritas, e provavelmente muitas mais a serem desenvolvidas, para melhorar a produtividade animal sem uso de plantas GMs. Existem oportunidades para a produção de animais GM, ainda que o desenvolvimento destes ainda não esteja tão desenvolvido. Pesquisas também têm sido conduzidas no sentido de manipular o DNA dos microorganismos do rúmen, uma outra possibilidade de melhorar a produtividade animal. Apesar do potencial da tecnologia de transgenia para o futuro, a curto prazo o uso de outras tecnologias de biologia molecular parecem ter maior impacto. O uso de proteínas recombinantes como anabolizantes apresentam grande potencial. O uso de marcadores genéticos na seleção, e esforços no desenvolvimento de vacinas de DNA e outras técnicas terão grande impacto no futuro. PROTEÍNAS RECOMBINANTES O hormônio do crescimento recombinante, ou somatotropina (ST) foi uma das primeiras tecnologias com aplicação no setor pecuário. A proteína da ST é produzida em bactérias transgênicas contendo o gene da somatotropina de bovinos (bST) e suíno (pST). Em 1982, Bauman e colaboradores demonstraram um grande aumento na produção de leite (~20%) e conversão alimentar (~7%) em vacas tratadas com 40 mg/dia de bST (Bauman et al., 1982, 1985). Experimentos posteriores confirmaram estes resultados com vacas de alto e baixo mérito genético em diversos sistemas de produção, 366 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte incluindo sistemas de pastoreio em condições tropicais (Lanna and Madeira, 1999). Entretanto, não se deve esperar que estas tecnologias funcionem para produtores que não dão as condições adequadas para o animal responder ao estímulo. Em bovinos de corte, o efeito anabólico do bST certamente necessitará de uma dieta com níveis maiores de proteína. Ou seja, as biotecnologias funcionarão melhor em conjunto com outras tecnologias. Portanto, técnicas como o uso do bST, seja em bovinos de corte como de leite, devem beneficiar mais os produtores mais sofisticados tecnologicamente, o que geralmente significa os produtores mais ricos. O uso de hormônios na produção animal, inclusive proteínas recombinantes são um tópico de grande disputa apesar dos potenciais benefícios ambientais (Tabela 3). Um grande problema é que o notável aumento na eficiência de produção pode gerar uma significativa redução no número de produtores. A segunda controvérsia gira em torno dos possíveis efeitos deletério destas proteínas recombinantes sobre a saúde do consumidor ou do animal . Para o bST, estas alegações, de acordo com as agências de saúde de vários países, parecem ter muito pouco mérito científico. Tabela 3 - Benefícios ambientais do uso do hormônio do crescimento recombinante para produção de leite nos EUA (Johnson et al, 1992) Redução nas necessidades para produção de mesmo volume de leite Área agrícola 6% Perdas por erosão 5% Emissões de metano 9% Uso de combustíveis fósseis 6% Água para irrigação 9% O aumento na eficiência de produção de leite com bST, de carne suína com pST e potencialmente de carne bovina com bST reduziria a necessidade de cereais para alimentar animais e traria um enorme II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 367 benefício para as populações mais pobres (que não consumem grande proporção de produtos animais) ao reduzir a pressão para aumentos nos preços dos cereais. ST é apenas uma de centenas de proteínas que poderiam ser produzidas utilizando organismos geneticamente modificados. No futuro, com o aumento do conhecimento para regular de forma precisa a expressão dos diferentes genes, será possível utilizar animais transgênicos que produzam de forma mais barata esta mesma proteína, ao invés de termos que injetá-las nos animais. BIOLOGIA MOLECULAR E MELHORAMENTO GENÉTICO Marcadores moleculares O melhoramento assistido por marcadores já é uma realidade em programas genéticos com animais e plantas. Esta tecnologia superou os problemas de instabilidade e baixa precisão dos marcadores morfológicos através da detecção direta de diferenças entre alelos na sua seqüência no DNA. Nos últimos anos diversas estratégias levaram à identificação de marcadores moleculares associados com características importantes de plantas e animais. Os primeiros estudos envolveram o uso de RFLP (Restriction Fragment Lenght Polymorfism). Esta estratégia tornou possível desenvolver mapas de ligação para diversas plantas importantes para nutrição de bovinos de corte como o milho. Novos marcadores moleculares foram desenvolvidos utilizando a técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction), na qual seqüências específicas de DNA são amplificadas produzindo RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA). Mais recentemente, o uso de seqüências altamente repetidas de DNA (DNA satélite) foi introduzido em larga escala em programas de melhoramento. Animais Transgênicos A transformação de células com DNA de outras espécies é um mecanismo importante para a compreensão da regulação da fisiologia animal como também para geração de animais transgênicos com características desejadas. A técnica foi utilizada com sucesso há cerca de 368 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte 20 anos para introduzir o gene do hormônio do crescimento em camundongos (Palmiter et al., 1982). Desde então um extraordinário número de animais transgênicos foram produzidos, com objetivos que vão de estimular o crescimento até produzir substâncias importantes para o tratamento de doenças. Um importante uso de tecnologia de DNA recombinante será o uso de animais de interesse agronômico como vacas e ovelhas para produção de fármacos. Proteínas farmacologicamente ativas como o fator IX, o fator ativador de plaminogênio (tPA) e o α1-antitripsina humana são expressos no leite de animais transgênicos. Diversos pontos têm que ser superados no desenvolvimento de animais transgênicos. As técnicas apresentam dois problemas básicos. Primeiro, a habilidade de controlar o número de cópias e local de inserção do DNA de interesse no genoma. Segundo, o desenvolvimento de seqüências promotoras que controlem o local (tecido), tempo (estado fisiológico, etc.) e grau de expressão do gene introduzido. Finalmente, não se sabe exatamente como a maioria dos genes interagem, e existe uma necessidade crescente de desenvolvimento de estratégias e conhecimento para produzir transgenes. A maior parte dos animais domésticos transgênicos foram produzidos pela técnica da microinjeção, um procedimento aleatório. Por outro lado, camundongos transgênicos foram criados usando recombinação homóloga, onde uma única cópia do gene pode ser adicionada ao genoma. Em 1999 a recombinação homóloga foi feita com sucesso em ovinos. Este e outros avanços devem causar uma revolução neste área. O benefício potencial dos animais transgênicos é muito grande. Há camundongos transgênicos que expressam celulases no intestino bem como camundongos capazes de expressar as enzimas do ciclo do glioxalato. Estes dois sistemas enzimáticos não existem em animais domésticos. No caso das enzimas do ciclo glioxalato poderia ser o fim de doenças metabólicas como a cetose. Organismos ruminais transgênicos Diversos grupos têm desenvolvido programas de pesquisa para manipular o material genético de bactérias do rúmen no sentido de II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 369 aumentar a degradação de carboidratos estruturais.. O primeiro passo tem sido o desenvolvimento de um sistema de transferência de DNA em bactérias importantes na degradação de celulose como Ruminococcus albus, R. flavefaciens, Butyrivibrio fibrisolvens, e Fibrobacter succinogenes, bem como a clonagem de genes envolvidos na degradação de fibras (Lanna and Madeira, 1999). Estes programas de pesquisa vão enfrentar um grande número de dificuldades. Primeiro a necessidade de obter as bactérias transgênicas capazes de altas taxas de degradação de parede celular. Segundo deve-se desenvolver a capacidade de introduzir e manter uma população numerosa deste organismo no complexo ecossistema ruminal. Estes OGM teriam que competir com outros microorganismos bem como transferir substratos e metabólitos (Russell e Wilson, 1988). Seria uma tentativa de superar o processo evolutivo. Existem outras possibilidades. Gregg et al. (1996) conduziram um elegante experimento com a introdução de um gene que confere capacidade de degradar a toxina fluoracetato, de uma bactéria não ruminal para o Butyrivibrio fibrisolvens. A bactéria modificada sobreviveu no rúmen por mais de 6 meses. Apesar de alguns sucessos, a viabilidade destas técnicas deve ser questionada uma vez que existem importantes problemas ambientais em relação à liberação de bactérias transgênicas no rúmen. É difícil imaginar alguma possibilidade de controle e contenção, particularmente em função do alto nível de transferência genética no ecossistema ruminal. Vacinas Genéticas Ainda que as doenças não tenham um custo tão elevado quanto o programa nutricional, problemas sanitários tem um enorme custo e são decisivos para a conquista de mercados. Em certas regiões da África sub-Saara a proporção do custo total de produção devido a doenças foi estimado em 25%. Estes números devem ser vistos com cuidado já que baixos níveis de produtividade e nutrição inadequada tendem a superestimar a importância dos problemas sanitários. A tecnologia do DNA recombinante permitiu a criação de uma nova estratégia para imunização de animais domésticos. Existem duas 370 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte formas de desenvolver vacinas usando DNA ( Morrison, 2000). Primeiro, é possível deletar genes que determinam a virulência para produzir organismos que seriam usados como vacinas vivas. Uma segunda estratégia requer o conhecimento das proteínas do patógeno que estimulam a resposta imune. Estas proteínas podem ser utilizadas para imunizar os animais. Existe um grande expectativa no uso de OGM atenuados como vetores vivos de vacinas de DNA. O DNA plasmidial pode ser incorporado e expressado em células animais para estimular o sistema imunológico (Lowrie et al., 1999) Diagnóstico Os marcadores genéticos discutidos acima e utilizados em programas de melhoramento genético podem também ser utilizados como ferramentas de diagnóstico para identificar animais susceptíveis a determinadas doenças. A maior parte do estudos atuais têm utilizado a tecnologia de PCR para detectar variações nas seqüências de DNA. Há muito pouca oposição a este uso das novas técnicas de biologia molecular quando comparamos às restrições aos OGM. Entretanto, há importantes questões ligadas à propriedade intelectual, particularmente porque estes extraordinários avanços, capazes de aumentar a produtividade, minimizar o impacto ambiental, reduzir o preço dos alimentos e aumentar a segurança alimentar de milhões estarão fora do domínio público. Devemos comparar tecnologias? Há um acalorado debate questionando qual seria a tecnologia a ser utilizada em países tropicais para aumentar a produção de alimentos e a segurança alimentar. Este debate talvez seja fútil pois procura responder uma falsa pergunta. Várias tecnologias deverão ser utilizadas pois a maior parte têm efeitos aditivos ou sinergéticos. Parece pouco razoável promover o uso de apenas um tipo de tecnologia dado o tamanho do desafio a ser vencido. A Tabela 4 dá uma demonstração clara da aditividade de duas diferentes tecnologias, o uso de proteínas recombinantes produzidas por OGMs e o uso de implantes esteróides. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 371 Tabela 4 - Efeito do uso do hormônio do crescimento recombinante (bST) em combinação com implantes esteróides no desempenho de bovinos de corte (Rumsey et al., 1996) Controle Synovex (estrogênio) Somatotropina (ST) Synovex + ST Consumo, kg MS/d 5.4 5.5 5.6 5.5 Ganho de peso, kg/d 1.27 1.47 1.63 1.78 Ganho, % do Controle 100 116 128 140 Conversão, gGPV/kg MS 235 262 291 321 Conversão, % do Controle 100 111 124 137 Na realidade existem várias tecnologias que só trarão benefícios quando utilizadas em conjunto. Portanto o debate que compara a eficiência de diferentes tecnologias deve ser substituído por um debate sobre a implementação de estratégias multitecnológicas utilizando todo o conhecimento disponível. Grande preocupação tem que ser dada ao fato de que a incorporação de diversas tecnologias tem tido um impacto muito negativo sobre os pequenos produtores. Uma significativa parte das biotecnologias tem sido direcionadas para os produtores mais tecnificados. Junto das transformações no setor produtivo que acompanham a ampliação da economia globalizada, uma parcela importante dos produtores rurais no mundo poderão enfrentar enormes dificuldades. Mais pesquisa na área molecular deve ser conduzida para melhorar a qualidade de vida das população mais pobres. Este será um dos mais difíceis desafios a ser superado, principalmente porque deverá ser enfrentado ao mesmo tempo em que precisamos reduzir o impacto sobre o meio ambiente. OS CONCEITOS DE CADEIA ALIMENTAR, IMPACTO AMBIENTAL E TERRAS MARGINAIS O conceito clássico de “cadeia alimentar” é importante quando queremos modelar o efeito da biotecnologia sobre a produção animal. Animais podem ser vistos como ineficientes na transformação de energia 372 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte e proteína em função das inexoráveis perdas associadas ao seu metabolismo. Entretanto, este mesmo conceito aponta para o fato de que o uso de biotecnologia terá um efeito multiplicador na melhora da eficiência de produção animal. O uso de diferentes técnicas de biologia molecular pode: a) aumentar a produtividade das lavouras (e.g. 20%), b) reduzir as perdas por armazenagem (e.g. 10%) c) aumentar a eficiência de conversão do animal (e.g. 20% do pST). Em última instância, a combinação dos efeitos de a, b e c acima, significa que seria necessária quase a metade da área agrícola para produção da mesma quantidade de carne e leite. A redução na área necessária para produção tem como conseqüência a redução no uso de terras marginais, onde a probabilidade de frustração de safra (e.g. seca) ou degradação ambiental (e.g. erosão) é muito maior. É conhecido o fato de que algumas da mais importantes crises de fome e desastres ambientais foram resultado do uso de terras marginais. Parece lógico dizer que a redução da área necessária para produzir a mesma quantidade de alimentos terá um pronunciado efeito positivo sobre na segurança alimentar. OUTRAS QUESTÕES DO USO DE BIOTECNOLOGIA Há uma oposição muito grande ao uso de diversas tecnologias, de implantes esteróides a plantas e animais GM. Na realidade há mudança, por exemplo na Europa, no sentido de abandonar praticas convencionais para utilizar sistemas de produção muito menos intensivos. As alterações nos sistemas de produção de vitelos e frangos seriam bons exemplos. Logo, parece importante notar que questões culturais e éticas também devem ser avaliadas. Em alguns países ricos, há capacidade econômica de subsidiar a produção agrícola. Isto tem feito com que haja excesso de produção agrícola e consequentemente levado os administradores das políticas agrícolas a condenar tecnologias capazes de aumentar a produtividade. II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 373 MELHORANDO O VALOR NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS Outra área de intensa pesquisa é o desenvolvimento de metodologias para melhorar a qualidade dos alimentos de acordo com a demanda do consumidor. Uma possibilidade seria alterar a composição da carne de bovinos para conter menos gordura, gordura menos saturada, gordura com maior proporção de ácidos graxos insaturados, bem como desenvolvimento de alimentos com os chamados “nutracêuticos” (i.e. alimentos que contém compostos que agem como farmacêuticos, melhorando a saúde humana). Diversas biotecnologias, incluindo o bST, podem reduzir a proporção de gordura no crescimento animal. O nosso laboratório tem trabalhado no sentido de aumentar a concentração do ácido linoléico conjugado (CLA) na gordura de ruminantes (Medeiros et al., 2000). O isômero cis9, trans11 do CLA seria o mais importante molécula anticarcinogênica presente em alimentos de origem animal. Oportunidades existem, através de diferentes técnicas, de aumentar a concentração deste e de outros compostos benéficos nos alimentos. A manipulação da composição dos alimentos para melhorar o valor nutricional, e a inclusão de nutracêitocos teria impacto altamente positivo sobre a nutrição das populações mais pobres do planeta que tem acesso a um menor número de alimentos na sua dieta. BIOTECNOLOGIA E O AVANÇO DO CONHECIMENTO Ainda que existam vários exemplos de uso aplicado e comercial das biotecnologias, nos parece que o uso das técnicas de biologia molecular para aumentar o conhecimento seja tão ou mais importante. Os enormes avanços da pesquisa clássica em nutrição animal estão chegando a um ponto em que as questões a serem respondidas envolvem os mecanismos biológicos fundamentais. A biologia molecular será uma ferramenta de extraordinária importância para o avanço da nossa compreensão sobre a fisiologia dos bovinos e das plantas que lhes fornecem nutrientes. Independente do uso ou não da engenharia genética na produção de alimentos, as técnicas de biologia molecular deverão ser 374 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte utilizadas para avançar o conhecimento sobre como funcionam as plantas e os animais e como podemos melhor utilizar as tecnologias convencionais. CONCLUSÕES A biotecnologia tem o potencial de efeitos sem precedentes sobre a produtividade e eficiência de produção de bovinos de corte. Este efeito talvez seja mais importante em termos de redução do custo e impacto ambiental para atender o grande aumento da demanda por carne de bovinos previstas para as próximas três décadas. Estamos ainda longe de conhecer a maior parte dos efeitos do emprego da biotecnologia. Esta área de pesquisa promete benefícios extraordinários, mas como no caso do uso do hormônio do crescimento, descoberto em 1922, talvez ainda precisemos de 70 anos para utilizar todo este conhecimento na prática. Produtores e a sociedade devem entender que a maior parte destas tecnologias não estará disponível imediatamente. Isto tem um lado positivo, pois há necessidade da compreensão dos seus enormes efeitos, e de uma avaliação dos impactos econômicos e sociais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abelson PH, Hines PJ (1999) The plant revolution. Science 285: 367-368. Bauman, D. E., DeGeeter, C. J., Peel, G. M., Lanza, G. M., Gorewit, R. C. and Hammond, R. W. Effect of recombinantly derived bovine growth hormone (bGH) on lactational performance on high yielding dairy cows. J. Dairy Sci. 65 (Suppl. 1): ,121 (Abstr.). 1982. Bauman, D.E., McCutcheon, S.N., Steinhour, W.D., Eppard, P.J., and Sechen, S.J. Sources of variation and prospects for improvement of productive efficiency in the dairy cow: a review. J.Anim.Sci. 60:583-591, 1985. Delgado, C.L. Impact of the livestock revolution on food security and poverty alleviation in developing countries. 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