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" MUSEU MARITIMO E REGIONAL " DE ILHA. VO M·emória descri'Hva pelo Dirrecto.r ANTó NIO GOMES DA ROCHA MADAHIL I LISBOA 1 9 6 5 #- • I MUSEU MARÍTIMO E REGIONAL DE ÍLHAVO ,; MUSEU MARITIMO E REGIONAL ,; DE ILHAVO M emória descritiva pelo D irector ANTôNIO GOMES DA ROCHA MADAHIL LISBOA 1 9 6 5 Ac.,e~\0 t'ÃIJS,~u Nt\CA)NAI 1blio\:.e.cA '4 ~\ut ctl Du~r~c/ ~ ?.,Mt-J~ ~ ACJu'S\~ ·. ,.f'G cJJOIJJ , I I LHAVO, pátria ancestral de pescadores e de marinheiros, terra também de construtores navais de nomeada, vem de há muito procurando evocar em Museu local --já desde 1937 aberto ao Público -as principais actividades de seus naturais, bem como a sua própria história, municipal e particular, através de muitos séculos de existência perfeitamente documentada. Pergaminhos do meado do século XI mencionam já a uilla iliauo junto à costa do mar (1037 a 1065, 1088, 1095) . De 8 de Agosto de 1937 data o início da vida oficial da instituição museológica. A significativa iniciativa, que ultrapassa em muito o mero interesse regional e valiosamente se integra no vasto âmbito da E tnografia marítima geral, paradoXãl mente pouco cultivada entre nós, teve como operação preparatória uma E xposição de Arte e Indústrias locais realizada com assinalado êxito na Páscoa de 1932; visava o acto, já de si digno de nota, imprescindível sondagem prévia à viabilidade à uma futura unidade museológica na terra; como metodização a adaptar na recolha f exposição dos materiais que no Museu em projecto encontrariam apropriado lugar, elaborou-se também pormenorizado relatório, lido pelo Autor nos Paços do Concelho a 6 de Agosto do mesmo ano de 1932 e pouco depois publicado sob o título de Etnografia e História - Bases para a organização do Museu Municipal de llhavo redigidas por António Gomes da R ocha Madahil, tlbavo, Tip. da Casa Minerva, 1934 Mereceu o referido relatório, que ao presente constitui raridade bibliográfica constantemente procurada (a sua tiragem foi apenas de 300 exemplares, prontamente esgotados), integral aceitação pela Câmara Municipal, logo curando esta de assegurar instalação condigna às incipientes colecções, hoje notàvelmente desenvolvidas e distribuídas por onze salas que não comportam novos acréscimos, aliás indispensáveis para evitar a perda de espécies que dia a dia vão rareando e para complemento de séries, pois a E tnografia não é ciência estática e o seu campo de acção constantemente se dilata, englobando os novos elementos que a própria vida <.lo povo vai criando ou adaptando, em sua natural evolução. - 6Poucos meses decorridos após a publicação do plano orientador do Museu exaltava o Prof. MENDES CORREIA, sábio etnólogo e o mais completo Homem de Ciência do século, a segurança, a honestidade e o bom-senso em que as bases propostas para panteão da alma ilhavense assentavam, e comentava: «Não se trata dum plano ambicioso, desonknado ou com os exclusivismos que são o defeito de muitos especialistas. Antes pelo contrário, ao mesmo tempo que se confina mddestamente - m as seguramente - no terreno das possibilidades reais da sua terra, estabelece metàdicamente os tópicos duma ampla messe de documentos e materiais, que defitlem a região e a gente, os caracteres locais, as tradições, as actividades dominantes, desde a Geologia e a Geografia à História, à Arte e à vida espiritual, desde o Mar e desde a Ria- teatros da labuta e dos sonhos de tantos ilhavenses- à terra, à faina mercantil, à faina industrial e agrícola.» E noutro lugar dessa primorosa página de evocação ilhavense, donde omitimos as constantes e generosas referências pessoais: ... «Um Museu não é apenas uma exposição educativa. Não é também a seca e poeirenta mumificação de destroços da existência humana. Lá dentro palpita, em todas as peças expostas, uma vida intensa, a vida que as criou e que animava aqueles a qwe pertenceram, que as reunit·am ou que as fabricaram ttuma intenção utilitária ou desinteressada, mas sempre numa intetw;ão que irrompia duma alma! Mas palpita, também, a vida dos que ali trabalham, porque o Museu é, deve ser, um centro de estudo e de f!esquisa. é impossível aos gratules Museus deseWI!olver e fazer avultar a documentação de cada uma das circunscrições àM.m país, e assim a estas cabe, legitimamente ciosas de seu nome, de seu passado e de sUaS aotividades próprias, suprir essa deficiência com os Museus locais. E stes ficam sendo, na sua modéstia, na sua deSrjYretensão, o arquivo das mais sagradas e íntimas tradiçõ-es da localidade, que se dignificará tanto mais quanto maior for o afecto e o carinho que lhes votar.» (O Pri1tteiro de Janeiro, de 18 de Fevereiro de 1935). Nada, pois, se fez ao acaso, antes tudo foi inteiramente delineado tendo em constante atenção a característica estruturação da vida local, justificativa das secções propostas no citado relatório e assim concebidas: O HOMEM DO LEME do escultor A mérico Gomes Modelo original do bronze erioido na Foz do Douro (Encostado à base em que a escultura assenta, um maoní!ico exemplar de concha dos mares da tndia, de orandes dimensões) -9- E m 1. 0 lugar, uma secção basilar de A rquivo, que disporia de abundante documentação gráfica, representativa dos aspectos geológico, topográfico, hidrográfico e climático do concelho, tudo completado e esclarecido por fotografias de grande modelo, gravuras e documentos de toda a espécie . - Vinha em seguida a secção da Vida Marítima- a mais rica e expressiva de todas - ilustrada por meio de grandes composições picturais representando . as fainas características das actividades locais, secção essa que englobava avultado número de subsecções e de alíneas: o MAR Modelo original do bronze do escultor Sousa Caldas, aue ornamenta o Palácio M unicipal do Porto a) Pesca (da R ia, do L itoral e do Alto); com ampla exemplificação de redes e outros engenhos de pesca, e correlativos apetrechos, desde os anzóis, fisgas e agulhas de fazer rede até às canastras, oleados e aventais das peixeiras, aos foquins e aos carros de transporte do pescado para os locais de expedição, aos canastreis e às barricas da salga do peixe; b) Navegação - embarcações históricas e actuais, tanto regionais como estranhas, pois em todos os tempos e em todos os mares o ilhavense tripulou e tripula barcos: de pesca e de transporte, de carga e de passageiros; a remos, à vela, a motor; tudo, evidentemente, o Museu apresentaria em miniaturas construídas em escala, respeitando sempre perfis e cortes. Sempre que possível, e quando o espaço disponível permitisse, exemplares autênticos, em tamanho natural. E special atenção se pedia para a colecção dos barcos da Ria de A veiro e, particularmente ainda, para o moliceiro, o mais expressivo barco do concelho e, indiscutivelmente, um dos de maior significado etnagráfico em todo o país, conservando até ao presente memória viva das suas atávicas origens, felizmente sem abastardamentos nem modernizações das suas linhas estruturais. Colecções de trabalho~ de marinheiro (nós, estropos, gaxetas, pinhas, embotejados, coxin.s, tmhões, etc.) e de poleame ( bigotas, cademais, caçoilos, moitões, roldanas, sapatas, etc .) constituíam natural complemento da secção de Vida Marítima, que encontrava ainda um último reflexo nos ex-v otos ou painéis de devoção, emocionantes documentos de ardentes promessas na aflição dos naufrágios. - P aralelamente à secção da Vida Marítima , uma de Fauna e de Flora marítimas ( colecções de conchas e de búzios, colecção de peixes dissecados e de outros animais marinhos, colecção de aves marinhas, colecção de algas). -11- -10. - A ~ida agrícola, que em toda a parte fornece à E tnografia apreciável contnbuto, tena aqui particular interesse e característica documentação, dada a interpenetração que a vida piscatória, proporcionada pelos inúmeros b raços da R ia que atravessam o concelho, nela exerce, em especial nos vastos areais das Gafanhas, que o H omem tenazmente tem procurado transformar em terra arável, à custa das algas e dos limos da Ria (moliços) e de pescado não u tilizado na alimentação (escasso) . - Indústrias locais, rubrica importa~tíssima também, que englobava a Construção Nav al, de honrosas tradições, na actualidade continuadas; a SalicicuUura, secularmente exercida nos recessos do litoral concelhio, em simples tabuleiros de lama batida , depois areada, e cujos rudimentares mas produtivos processos se tem mantido com inalterável constância através de mais de mil anos de rotina, constitumdo um dos mais fortes esteios da riqueza local; a preparação e Secagem do bacalhau pescado nos mares distantes, na Gronelândia e na T erra Nova, pela numerosa frota de arrastões e de lugres armados no concelho e na quase totalidade aqui construídos; e a Porcelana, que no lugar da Vista Alegre se radicou desde ~!:' tímidos ensaios de 1824, subsecção esta que logo de início reclamou de nós especial atenção e amplas acomodações, a ela estando reservado espectacular desenvolvimento. - I ndústrias caseiras (Artesanato) não foram também esquecidas ; como tais, a Olaria, a Cestaria, a Tecelagem, e, p rincipalmente, o Vestuário regional, masculino e feminino , que tantas pinturas, gravuras e litografias inspirou através de todo O século XIX {L' EVÊQUE , KINSEY , CHARTIER-ROUSSEAU, FRANCISCO JOSÉ DE 1'-ESENDE , MACPHAIL, PALHARES, JOUBERT), a elas indo OS figurinistas de nossos dias ( ROQUE GAMEIRO, MANUEL DE MACEDO , ALBERTO SOUSA, ALFREDO DE MORAIS, etc.) buscar as manaias, o gabão e o barrete do pescador, a saia de serguilha, rodada, da pescadeira, o gracioso coletinho de dupla abotoadura, a mantilha, ou o farto capote e o chapéu de abas largas, de m eia moeda, como então os designava a faceta musa popular da Vila. - R ecordações históricas da terra justificavam largamente uma secção independente,. para a qual não escassearia material de interesse expositivo, que todos os naturais de llhavo contemplariam com respeito e aprazimento. - Os ~rtistas locais, com apreciável d ocumentação desde o século passado, agrupar-se-Jam em secção apropriada; já então era possível constituir núcleos de Desenho, E scultura e Pintura, hoje notàvelmente acrescidos com invulgares trabalhos de JOÃO CARLOS, EUCLIDES VAZ , CÂNDIDO TELES, e outros. - Arte de estranhos à terra, mas à reg1ao respeitante, igualmente era lembrada no programa inicial que vimos extratando; e a experiência mostrou como não eram infundadas as esperanças criadas pela evocação de um núcleo desse modo constituído, encontrando-se arquivado já certo número de obras de pintores, gravadores e escultores a quem o ilhavense, ou o Mar, por ele em todos os sentidos percorrido, forneceram tema e inspiração. - Dava-se igualmente guarida em sala especial a documentação artística antiga, de ordem geral, mas recolhida na região, embora enquadrada na trastaria e sumptuária características da abastança das diversas épocas, que se destrinçariam convt:nientemente; por muito fechado que o Meio ilhavense das passadas eras tivesse sido, nele se tinham de reflectir, embora a distância de algumas décadas, as condições gerais da sociedade portuguesa , como bem se compreende. - Núcleos de comparação , tanto da vida marítima como das artes cerâmicas, eram igualmente previstos, para melhor estudo da evolução local. - Como complemento cultural do Museu e ao mesmo tempo como instrumentos . indispensáveis de trabalho, preconizava-se a criação duma Biblioteca e a publicação duma Revista, em cuja actuação logicamente se depositava aquela sólida confiança que tais organismos sempre merecem às instituições culturais a que se encontram normalm~nte adstritos . - O programa, que não vi::ava fazer a história completa e ordenada do povo de llhavo, mas tão somente a representação dos aspectos da sua vida mais ricos de significado social, e, nomeadamente, de expressão museológica, era vasto, como se vê; e as possibilidades materiais da Municipalidade, à qual a instituição esteve sempre, e continua a estar, subordinada, são, naturalmente, bastante limitadas, embora não tenha escasseado boa vontade nem compreensão - principalmente nestes últimos anos - do real interesse que o Museu oferece tanto a naturais como a estranhos. Nem tudo quanto se propunha se conseguiu, portanto, corporizar; apesar de o edifício onde o Museu foi instalado ser uma das poucas grandes residências antigas da terra, embora desprovida de características arquitectónicas definidas, a sua compartimentação não deu para mais do que a seguir se enumera; secções houve que não chegaram a ser montadas ; e para algumas das iniciadas- nomeadamente as de Cerâmica, Pintura e E scultura- numerosos objectos, pertença já do Museu, não conseguiram um mínimo, sequer , de espaço onde pudessem ser colocados. -13- II Pela força das circunstâncias, pois, - que não por vontade nem com satisfação do seu organizador - o Museu é presentemente constituído apenas pelos seguintes n úcleos, cujo catálogo completo excederia em muito os naturais limites desta simples memória: FAUNA E FLORA MARlTIMAS Uma sala com peq uenos lotes de conchas, búzios, algas, espongiários, corais, estrelas do Mar, ouriços, crustáceos, vértebras de cetáceos e espinhaços de peixes de grandes dimensões, tartarugas do Mar, etc. Alguns exemplares (poucos) de peixes raros embalsamados, e a exemplificação do que poderia ser uma subsecção de A ves Marit~has (os trabalhos de dissecagem e de conservação da fauna são de tal forma dispendiosos, que não tem encontrado cabimento no diminutíssimo orçamento do Museu) . ' NAVEGAÇÃO E PESCA EXPRESSIVO PAINEL VOTIVO DO SÉCULO XIX «Offerecldo ao Sefir. J esus. Por J ose Carlos Fernandes Parraxo.» memorando um naufrágio ocorrido com um barco do m ar, característico da região, e ainda actualmente empregado pelas campanhas da borda do mar (artes da xávega), desde Espinho até à Caparica O Senhor J esus (dos Navegantes), cuja imagem se venera na I greja Matriz de tlhavo, é o padroeiro de maior devoção não só p erante os marítimos como entre todo o povo da r egião Seis salas, pelas quais se encontram distribuídas 43 mit~iaturas de embarcações à vela (algumas das quais de grande porte), 13 a remos, 12 a va por, 5 jangadas e 12 valiosos meios cascos (modelos para construção naval). Enquadram essas miniatu ras e enchem por completo armários e vitrinas, os mais d iversos utensílios da vida marítima, antigos e modernos: quadrante, balestilha c astrolábio, agulhas de marear, ampulhetas, bússolas, barómetros, instrumentos azJmutais, óculos de alcance, odómetros, oitantes, sextantes, buzinas, 1 porta-voz, 1 fogone, 1 catthão de bordo, faróis da borda (bombordo e estibordo) 1 lampeão de mastro, bitáculas, ventiladores, rodas de leme, correntes, amarras, âncoras e jateixas de diverso calibre, 1 mareato, etc. Tem destacada apresentação uma curiosa colecção de poleame, compreendendo 42 peças ( bigotas de abotoar, bigotas a/ceadas com sapatilha, borlas de mastarétt, caçoilos, cadernais, moitões, rodas surdas e de cilindro, roldanas, etc. ); e outra, valiosíssima, de trabalhos de marinheiro, em fio, somando 153 espécies, a que se junta ainda um mostruário de cabos e de linhas de sisal, outros de aço e de arame, e outros de linho alcatroado e de algodão alcatroado também, para trol, bacalhau, lula e gagim,· manilhas para amarras, etc.; apresentam essas miniaturas de trabalhos de marinheiro, por vezes de acentuado -14cunho artístico e não apenas funcional, modelos de: balço, balhardo, balões, bichas, bocas de amarra, bocas de lobo, botões, cabo eugoiado, trincafiado e forrado, cabr4.. . lhas, cadeias, cálices, catau de espia, cintos, costuras várias, coxins, defensas, embotejados v ários, encapeladuras, e1~árcias, escotas v árias, estralheiras, estropos, faZcaças, garrafas, garrucha, gaxetas várias, ilhós, lambaz, lanudo, lás de guias, lais, mãozinhas, nós muito v ariados, palombados, pau de atracação, pau das donzelas, pontes várias, pinhas de vários t ipos, rabichos, redes v árias, roscas, sacos, talhas v árias, leques, voltas. Ao lado de tão expressiva colecção, 5 exemplares daqueles enternecedores barquinhos de velas desfraldadas, de tipo indefinido, navegando airosos em meigas ondas de algodão em rama, dentro de velhas garrafas de v idro, obra de paciência - e de saudade também - de alquebrados marinheiros que no mar passaram a vida inteira e a ele não podem mais voltar. .. A notar, neste impressionante conjunto de navegação, e com referência mui to e::pecial, uma galera de guerra, do século XVIII, trabalho delicadíssimo em marfi·m , possivelmente de intenção votiva, uma naveta de prata em forma de nat.e, de estilização a que se pode assinar ainda o século XVII, e uma preciosa agulha azimtttal antiga, de construção portuguesa, de que entre nós se não conhece outro exemplar, citada com relevo digno de nota no modelar tratado de R . MORTON NANCE «Sailing-Ship Models / A selection from european and american coUections with introductory text ... England , H alton & Company Limited, 1949. Ao lado dos melhores museus marítimos de todo o mundo, cuidadosamente referenciados, o de 1lhavo não foi esquecido, identificando-se deste modo deveras honroso : ,; ..... ·.-; .l:; ~ <l ...:.<: ;:: ·<: o-.... ~ <l ·;; t; .:'1 <l ~~ o ..... t:;~ o[>1 ., ., :.> z< [>1 o ~ <l .,o .o ;:: 8.g .,_ .. ., ;:l ~ ..... < -:2 ..., o ..... < .... o UJ "' UJ .... (l . . .. I .. c ·~ UJ o< ""o -. .:: < ., <l p o::.., <l .. "lo::. ~ [>1 «lLH AVO. (North coast of Portugal). Municipal Museum of Ilhavo . Occupies eleven rooms and contains a considerable maritime collectiot~. consisting of 62 models of fishing boats; and numerous en'!gravit~gs paintings, etc. Amongst the most important is an azimuthal needle that throws light on the description.. of the marking needle of the celebrated Portuguese nav igator, J oão de Lisboa, who wrote a navigational treatise in the beginnittg of the 16th Cet&tury; the same as the one in, the illuseum at Hamburg.» (Pág. 78). ~~ < o o <i < ..... ;:: ..... ., o o f-< o[>1 il< UJ < ~ti (l "'~.o 1;5.::; <l ~ ~ <l ;:l .0~ <l <l ~<l .9~ ., ., '8~ ~ ., 0,9 ' ., o~ ;:: o <l :: ~~ Da mesma forma e quase pelas mesmas palavras se referiu às colecções marítimas do Museu de tlhavo o Comandante JAIME no INSO , que ao Museu de Marinha, de L isboa, tem dedicado particular actividade, muito concorrendo para a sua inteligente reorganização. O distinto historiador, enumerando, na conferência que em 29 de Abril de 1949 proferiu na Sociedade de Geografia, as instituições portuguesas que a a:;suntos marítimos se dedicam, encontrou apenas, «percorrendo a costa, de Norte a Sul», o Museu E tnológico da Póvoa do V arzim, o Museu Municipal de llhavo, o Museu Marítimo Almirante Ramallw Ortigão, de Faro, o Aquário .... ~ -17Vasco da Gama, de Algés, e o Museu de Marinha, de Lisboa, então em reorganização e hoje parcialmente instalado em dependências do Mosteiro dos Jerónimos, em Belém. A conferência veio a ser publicada em 1950, nos Anais de Marinha (N.0 13) e em separata, dela extratando nós a referência que directamente a este ponto interessa : «MUSEU MUNICIPAL DE ILHAVO. Foi inaugurado em 8 de Agosto de 1937. Ocupa onze salas e encerra uma apreciável colecção marítima C01t.Stituida por 62 modelos de barcos de pesca, 1~umerosas gravuras, pittturas, etc. Entre os objectos náuticos mais importantes contam-se antigas agulhas de marear, e um curioso relógio de Sol, antigo, com suspe1t.São de bala?tÇa e dispositivo fiara servir enz várias latitudes» .............. . ............. ........ . ......... . ...... .......... ..... ... . ... . ....... . GALERA DE GUER R A, DO Sf:CULO XV1ll Exemplar de marjim delicadamente trabalhado, d e qrande raridade e valor, muito possivelmente de intenção votiva Sem possibilidade de se isolarem por completo, nas actuais instalações do 1\fuseu, as embarcações de pesca das exclusivamente destinadas à navegação, procurou-se, mesmo assim, concentrar mais especialmente em uma das referidas seis salas o que à pesca diz respeito; além de embarcações do alto aí se documenta com particular carinho a pesca de arrasto da borda do mar da Costa Nova (xávega ) em sugestivo conjunto de jialheiro da campanha, barco com remos e rede, carro de transporte do pescado para a borda da R ia, através do areal, tudo executado <'m delicadas miniaturas; ladeiam o conjunto exemplares autênticos de pandas de cortiça, cabazes, ca1r.astras, canastréis, macolas, barricas, aringues, calimas, rossoeiros, chumbeiras, um antigo tirante de alar as redes, passado a tiracolo dos moços que eram atrelados aos rossoeiros, uma roda de carro de bois, própria para circular na areia sem se afundar, bóias, foquins, nassas, enxalabares, e 9 pedaços de rede, de variada malha, da xávega, e doutras artes de pesca . Embarcações de pesca, características, de toda a costa portuguesa, ali encontram igualmente representação: - Foz do Neiva, Fão, Espozende, Póvoa do VarZim, Espmho, Ov ar, São Jacinto, Mira, Buarcos, Vieira, Nazaré, Peniche, Tejo, Caparica, Setúbal, Cesimbra, Algarve, Ilha da Madeira, Açores, etc. Uma tona, da costa do Malabar, canoas de cépio, do Brasil, jangadas e dóris, dos lugres bacalhoeiros da Terra Nova, tendo ao lado o aparelho completo que à pesca do bacalhau é dado - ril, chumbado, linha, estralho com suevo e zagaia, anzóis - evocam pescas longínquas, em mares estranhos à nossa costa, bem como a miniatura dum vapor de arrasto, com a sua armação própria e as curiosas bóias àe v idro, e de zinco também, autênticas, por eles usadas para as suas redes, de grande metragem. E falta ainda no Museu toda a moderna utensilagem com que as novas indústrias por toda a parte vão transformando a vida de cada dia; as redes são agora -18de fio de nylon; as bóias das redes, de plástico ou de espuma de borracJ1a; de plástico, os cabazes de transportar o peixe; os aventais, são de borracha, e assim também os chapéus e os casacos, que antigamente eram de pano crú oleado, ou de lona de vela; e para as traineiras e outras embarcações de equivalente calado podertm embater umas nas outras sem rebentarem o costado, guarnecem-lhes a borda, dum lado e doutro, com velhos pneus de automóvel... Para bóias de salvação, câmaras de ar, de automóvel também , chapeadas de remendos por vezes ... Até no Tejo, não só nas fragatas utilitárias, como nos cacilheiros de passageiros, temos observado a desgraciosa e nova costumeira. t um artesanato inteiro que desaparece! e <; .<! 1'0 A pesca da Ria de A veiro forneceu ao Museu quantidade de utensílios a maior parte dos quais autênticos e não apenas em miniatura; assim: uma chincha, uma tarrafa, um botirão de calcadela, um galricho, um cmw.pão, fisgas e fisgões para pesca ao candeia, zagaias, um arpão (capinete), uma foice para a apanha das enguias; e as bateiras respectivas em miniatura, bem como um cerco da taínha r~altadoiro, tresmalho) em montagem especial, perfeitamente exemplificativa. Ainda da Ria, exibe-se em vitrina própria a colecção dos seus barcos: molictlro das Gafanhas, moliceiro de Mira, o grande barco saleiro, o barco mercantel, a bateira da fisga, para a pesca da solha, a bateira caçadeira, a de recreio, a ílhava, a do chinchorro ou esguicho, e até a chata do Rio Vouga, que entra nas águas baixas da Ria também; assim como a bateira labrega, ou murtoseira, e os botes, de tipo estrangeiro, mas hoje generalizado. (Seis tipos de barcos da Ria - únicos da região - estabelecia LUÍS DE MAGALHÃES quando na Portugália - li, 52 - se propôs esquematizar a navegação da laguna: a saleira, para o serviço das salinas; o moliceiro, para a apanha dos moliços; a bateira mercantel, para o transporte fluv ial da pesca marítima; a bateira murtoseira, ou labrega, para a pesca fluvial; a bateira de llhavo, para a pesca fluvial também; e a caçadeira, para a caça das aves aquáticas e para transporte e passagem nos canais de pouco fundo. O tempo e as modas, que também neste capítulo se observam, se encarregaram de introduzir na Ria novos tipos de embar~ cações, ao mesmo passo que mesclaram e abastardaram alguns dos tipos clássicos, limitados, a princípio, a seis). Do baroo moliceiro, como unidade indiscutível que é, recolheu-se uma proa autêntica (a mais expressiva peça de todo o barco) de altaneiro bico e polícromos painéis; ancinhos de arrasto, varas, uma antiga vela com bordado de chapa (as armas reais ... ), a jarra da água, a lareira de pedra do Eirol, a marmita de ferro, a colher de lata, o garfo de ferro, para a caldeirada, e a almotolia do azeite para o tempero; um tribolim embreado, autêntico também, para o carreto do moliço das "' . "'.,., ~ .~ ~ .,., < .... ~ < Q ~ rn ~ ~ o .,.. ., o o ~ ~ < lll .s"' rn o .,.,"'<> Q 1'0 o ., < .,o {) o[:1:1 :g ...o ....,. ;:l o ~ o <> ....,., ~ 1'0 .,e o 'C "' ~ ~ -21praias baixas para o barco. A padiola, a pá da borda, as falcas, e o vertedoiro, da mesma forma Já não faltam . Outros painéis isolados- 10- decoram a sala, com as suas expressivas legendas que encantaram outrora LUÍS DE MAGALHÃES e modernamente JAIME CORTESÃO e tantos outros: .. .«0 elegante moliceiro, de grande proa arqueada em papo de cisne e decorada de bárbaras e curiosas policromias, apanha o moliço e leva-o, ao longo dos canais, pelas terras dentro -estranho carro fluvial desta raça de lav radores-barqueiros.» (LUÍS DE MAGALHÃES, A Arte e a Natureza em Portugal, vol. V) . . . .«As proas e rés dos moliceiros são também revestidas de curiosíssimas ornamentações picturais, cheias da mais característica ingenuidade popular: animais, figuras humanas deliciosamente grotescas, flores, arabescos, o sol, a lua, tudo em policromias berrantes e com motes e dizeres expressivos. ( Eis alguns exemplos, na sua própria ortografia: Andar ce paça a bida; B anws c.om Deus; As mulheres qt~rce gcrdas; Leão B elho; F .... .. tudo; etc.). São dt.t.ma extrema variedade esses vistosos painéis de que a nossa estampa colorida reproduz fielmente um espécime 1 • O cavalo, o cão, o boi são os animais mais usualmente rep,roduzidos. Também aparece o leão, como 1io twsso cromo, e algumas aves. Das figuras humanas a série é muito vasta: abundam generais, a cavalo, de calças bran.cas, farda azul, chapéu. armado, dragonas de cachos; filas de soldados de arma ao ombro; 111amorados; dt~mas e janotas; lav radores e lavradeiras; imagens de santos, etc.» ( LUÍS DE MAGALHÃES , Portugália, li, 58 ) . Agora, Modelo dos CHAVECOS ARGELINOS que assolavam as costas de Portugal em guerra de corso, chegando as tripulações a desembarcar, para pilhagem de pessoas, gados e cereais JAIME CORTESÃO (O Primeiro de J aneiro, de 19 ov . 1955): .. .«E não vá supor-se que essa gente da R ia não possua o sentido épico da vida . Quem queira conhecer A veiro e a sua flama ín.tima, deve visitar, depois da cidade e da laguna, o Museu Municipal de tlhav o, e, principalmetúe, a secção de etnografia p:scatória e náutica. Aí poderá ver as miniaturas de todas as embarcações da Ria e do Jl.far, as diferentes redes de pescar, os estendais de bacalhau, a maquette duma salina com a exemplificação dos seus trabalhos e, finalmente, a sala do moliceiro, com a reprodução de alguns dos mais típicos painéis de proa dos seus barcos, encantadoras obras de arte popular. Foi lá e reoentemettte, que tomámos twta de algt1mas das legettdas que acompanham essas rústicas pintu ras . Aqui vamos transcrevê-las com a ortografia sónica ' O a rtigo, além de ilustrações no texto, apresent ava a reprodução colorida duma aguar ela do pintor aveirense SILVA ROCHA. -22dos originais. Ao lado de algumas humorísticas ou políticas, como «Bão indo que eu cá Bou» ou «Biba o sôr Afonso Costa», outras diziam: «A fama de longe sôa» «Cá bai o Portugal Belho» «Veleiro p'ra toda a terra» i., ., -.:3 o .6 Todas na redondilha menor das cantigas populares e com seu jeito de velas, cnfunadas por um vento de largada e tradição heróica.» (Além da publicação em O Primeiro de Janeiro citado, também em Portugal, a terra e o homem, pág. 150). .,... ~ o ::;., ., ., ;:>-.:3 ~; ~s ., ., São ainda de citar as mais recentes aquisições, especialmente cu:dadas, que muito enriqueceram a documentação histórica do Museu: miniaturas da Nau dos descobrimentos, da Caravela henriquina, do Chaveco argelino, e do Vapor de. rodas, assim como uma preciosa miniatura votiva dum Junco ohinês, possivelmente do si:culo XVIII , em madeira de teca . A essas preciosidades marítimas, de acentuado Y<:lor evocativo, se juntou, por fim, uma naveta sacra, de prata, ainda em forma à~ Nau, cujo estilo denuncia o século XVII, e que faltava no Museu de l!havo para o colocar a par dos Museus navais de Espanha e de França, onde exemplares idênticos cuidadosamente foram encorporados, em vista ao seu especial significado, simbolismo e forma . Resumindo, em nomenclatura náutica, os tipos de embarcações representados já no Museu marítimo de l!havo, o visitante encontrará modelos de barca, barco da Nazaré, bote, brigue, caravela, caíque do Algarve, canoa, clíper, corveta, dongo ajricano, dory, chaveco argelino, draga, galera, guiga, iate, junco chinês, kaiak esquimó, lancha (da Póvoa, de Buarcos, da Madeira) lugre, nwnotipo, nau, nepper, palhabote, paquete, pangaio dXl lndia, patacho, rabelo, salva-vidas, traineira, v apor de passageiros, de pesca, de ro!Uls, de carga. E encontrará mais, com nomenclatura e colocação próprias, como é de razão, a colecção de bateiras e barcos da Ria de A veiro, centro vital da região, e centro e!nográfico justificativo de particular atenção. Citámos acima as montagens, de particular beleza, do palheiro da borda do Jlar e do saltadoiro da taínha; duas outras o Museu guarda, com especial interesse, e ambas ligadas à vida marítima: a duma seca de bacalhau e a do Farol da Barra. (Ao falar da secção de Salicicultura nos referiremos a outra, que a tal sector do Museu pertence) . 1!: <i~ .,. ... < [zl 1!: < ~ [zl ~ ~ ·~ ~ t:S ~-.:3 .o !O ., ., -.:30 o-.:3 ~ < ~~Q):;: U1 :11 ...:l p !'>.;:! o .,~ .,.,... < ~ ... U1 < 8~o o.... .,· I;>. l2 t:S ~ E .s < o !O ~5 ;:! ..... ~~ -.. .,· o "'-.:3 ... t:S ~!O ~;>.._ .,~ .,H ., .,o .~ ~ ~ t:S -24- - 25 - E encerramos este breve apanhado da importante secção de Pesca e de Navegação - omitida mesmo a citação de gravuras antigas e de inúmeros objectos relacionados com a vida marítima, que só num catálogo geral caberia mencionar - registando a presença de 18 ampliações de Rosas dos Ventos, de aliciante traçado e colorido, reproduzindo as existentes nos antigos portulanos iluminados à mão pelos cartógrafos e desenhadores portugueses dos Descobrimentos. - Enfin une documentation des plus intéressantes sur la pratique et l'industrie de la pêche, iomprenant de nombreux modeles de ces embarcations dont on peut admirer les formes hardies, élégantes et si variées tout le long du littoral lusitanien, et surtout dans les petits ports d' A veiro, Ilhavo, Nazaré, Figueira da Foz, Cascaes, etc. Bateaux plats pour le trat~,Sport du sel, barques de pêche à l' avant tres décoré et plus ou moins relevé 'Selot~ les régions, grosses péniches à voile qui portent des barils de porto, et aussi un modele de doris, aveo cette particularité qu' il n' est armé que par un seul homme, contrairement à l' usage de la plupart des morutiers européet/,5. - Cette documentation est complétée par toute la gamme des engins de pêche, surtout de la mo rue, car Ilhav o et ses voisines arment pour l' I slande, d' ou vient cette morue qui, sous le nom de bacalhau, enrichit tant de menus portugais. En résumé, ce musée d' Ilhavo mérite une visite, car il est le mieux «gréé» f•our faire connaitre cette vie littorale toujours active et jadis in{ense qui permit aux navigateurs portugais de recruter les excellents équipages avec lesquels ils devaient découvrir l'Est et l'Ouest du monde connu.» 2 Mereceu a secção marítima do Museu de tlhavo a especializada atenção da Revista Neptunia, órgão da Associação Francesa dos /!migos dbs Museus de Marinha, que no seu n. 0 65, do 1. 0 trimestre de 1962, convidava, em artigo do conhecido nautógrafo JEAN MEIRAT, todos os seus associados, que ao nosso país se deslocassem, a visitar o Museu de flhavo, cuja organização e valia exaltava, dele dizendo: «Le Musée d'Ilhavo - Aux amis des Musées de la Marine qui vont visiter le Portugal naus croyons devoir signaler la petite ville d' Ilhavo, sur la côte, à 5 km mt sud d' Av eira, pour l' intérêt que présente son musée municipal. Alors que la côte occidentale de la pénit/,Sule ibérique reste étonnamment pauvre en souvenirs maritimes entre le Cap Finistere et Lisbonne ( pas un musée tz,a val à L a Corogne, rien de maritv dans celui de Viga, et p·as davantage dans l'ensemble portuaire L eixões-Porto), ou est agréablement surpris de découvrir à Ilhavo un musée artisanal qui rend aux métiers de la mer la part qui leur revie1~t dans la vie de la population du littoral. Situées au premier étage de ce musée, une demi-douzaine de salles contiennent des souvenirs et des collectiot/,S de valeurs diverses que l' on peut ra1~er en quatre catégories. -De tres nombreux modeles de navires de commerce à voiles et à vapeur, exécutés par des amateurs avec la touchante na"iveté - malheureusement sat/,S valeur documet~aire - qui caractérise dans bien des pays de travail passe-temps. - Quelques modeles plus sérieux, notamment celui du Sagres, un trois-mâts barque daté 1870-1913, la reconstitutiorv d'un chébec d'apres des doouments venant de Lisbomte, intéressante parce qu' elle montre l' adaptation atlat~ique de ce type de navire essentiellement méditerranéen, et une «galere» du XVli Je siecle en ivoire (celle qui signale le «Cuide Bleu») qui est, en fait, une frégate de 28, d'un joli t1·lwail. - U 1~ collectiotA d' ex-votos du siecle demier, peintures aussi na"ives que les modeles d' amateurs, accampagnée de óurieux tableaux en relief représentat~ des navires de oommerce, et d'une série de rases des vents reproduites d' apres des compas du XVJe siecle, dont l' originalité omementale et l' heureux coloris foumiraLent de beaux motifs déooratifs à bien des metteurs en page de revues maritimes. JEAN MEIRAT SALICICULTURA - P ara a indústria salineira, tão característica da região, cuja paisagem por completo se transforma quando, nos meses da safra, os montes de sal a enchem de luz e a pulverizam de reflexos irreais, que a marola das águas agita como fogos-fátuos, reservou-se exclusivamente uma sala e nela se instalou uma marinha c5quemática, construída em escala, de forma a dar ideia exacta das proporções q ue os seus diversos compartimentos guardam entre si:- viveiro, algibé, mandamento, caldeiros, sobre-cabeceiras, talhos, cabeceiras, m eios de cima da marinha tmva, tabuleiros do meio da marinha nova, meios de baixo da marinha nova, tabuleiros de sal da marinha nova, m eios de cima da tnarinha velha, tabuleiros do m eio da tnarinha velha, meios de baixo da marinha velha, tabuleiros de sal da marinha velha, entraval, malhadal, eira; tudo ligado e servido por barachas, traves, bombas, bombinhas, carreiras, lagrimais, portais, cat~ja s , madhos, sangradeiras, presidindo ao singular conjunto o palheiro onde o mamoto e os moços guardam as alfaias e se abrigam da torreira do sol de Julho e de Agosto . ' A revista Neptunia, donde extraímos o presente artigo, foi considerada pela Nautical Gazette of N ew York «th e most sumptuous magazine on the marine field in any country:.. -27Afixado ao lado da curiosa maqueta, um quadro explicativo dos trabalhos de amanho das marinhas de sal; acompanha ainda a montagem, que é de madeira p!ntada e mede 2,91 m por 1,36 e tem 0,24 de alto, a colecção das alfaias respectivas, exemplares autênticos fornecidos por um marnoto que a todos devidamente ciassificou:- A lmanjarras, ancinhos, anafador, balde, basculho, bomb"eiro e resp€ctiva tranqueira, canageira, canastras, círcio, densimetro em estojo de cana, eu,xada, fundeador de canejas, limpador de canejas, moeira, muradoiro, jxi côva, pá de abrir os tabuleiros, pá de amanhar, pá de en.aher, pagião, OLt pajão, pé de pau, punhos, rapão, rapinhadeira, rasoila, ugalho de bulir ou rer, ugalho de lama, vassoura . Amostras de sal (sal comum, sal de espuma, meio sal, sal vermelho), ândua, areia, bajunça para cobrir os montes de sal, esteiras de bunho, e torrão, completam amda a documentação salineira. ESOULTURA DE EVOCAÇÃO MARITIMA MARINHA DE SAL Montagem exemplificativa, em escala Além das peças escultóricas que numa saleta se reuniram, encontra-se também e!:cultura de evocação marítima a animar várias outras dependências do Museu, a principiar no topo da escada principal; estão já representados com trabalhos originais OS escultores: ABEL SALAZAR, AMÉRICO GOMES , EUCLIDES VAZ , HENRIQUE MOREIRA, JOÃO CARLOS, SOUSA CALDAS e RAUL XAVI ER, sendo altamente representativas algumas das esculturas expostas, tais como o busto do arrais Ançã, de ABEL SALAZAR, 0 Homem do leme, de AMÉRICO GOMES, 0 Mar, de SOUSA CALDAS, Pescadores, deste último também, o I nfante D. H enrique, de HENRIQUE MOREIRA, o busto do Arcebispo D . Manuel Trindade Salgueiro, de RAUL XAVIER, etc . PINTURA, EX-VOTOS, TRAJOS - Por falta de sala com dimensões e iluminação convenientes, houve que instalar estas espécies, e outras ainda de curiosidade local, no vasto corredor da casa e numa sala onde alguma escultura se expôs também; na sua quase totalidade, são maritimos os temas da pintura recolhida já no Museu, e subscrevem-na os artistas: ALBERTO SOUSA, ALFREDO MORAIS, ANTÓNIO VITORINO, ARTUR GUIMARÃES, CÂNDIDO CRAVEIRO , CÂNDIDO TELES , REI D. CARLOS I , CARLOS FRAGOSO , FAUSTO GONÇALVES, FAUSTO SAMPAIO, FRANCISCO JOSÉ DE RESENDE, J. ELOY, JOÃO CARLOS, NAVEGAÇAO E PESCA Aspecto parcelar de uma das salas. Exemplares autênticos de canastras macolas, fisgas, redes, um tirante, etc. ' JOÃO CAZAUX, JOSÉ DE PINHO , MANUEL EDUARDO PEREIRA, MANUEL DE MACEDO, MANUEL TAVARES, MARTINS BARATA, PAULO NAMORADO, PEDROSO, SOUSA LOPES, _ _ _ _ _ _ _ ! j' -29e TOMAZZINI ; há algumas obras não assinadas, há litografias c gravuras antigas, de trajas, e 8 quadros de ex-votos alusivos a naufrágios. Por falta de manequins e de vitrinas não se tem podido expor peças de vestuário antigo, salvo lenços, chapéus, aventais e rodilhas de fabrico local. TEODORO CRAVEIRO , CERÂMICA Abrange a secção de cerâmica louça popular e porcelanas da Vista-Alegre, bfm como vidros e cristais. A louça popular, recolhida na região e por essa razão encorporada no Museu, é proveniente, principalmente, das fábricas do Norte do País (Viana, Caia, Porto); mas das antigas fábricas do Cojo, da Fonte Nova, dos Santos Mártires, e da E . L. A ., (de Aveiro) houve o cuidado de obter alguma representação também, pois, além de incluídas na região, há a considerar que trabalharam nelas ceramistas e pintores naturais de llhavo, alguns dos quais transitaram depois para a fábrica da Vista-Alegre. O núcleo de porcelanas da Vista-Alegre é já importante; nele se encontram peças das primeiras fornadas, ensaios de decoração polícroma, e trabalhos dos grandes pintores estrangeiros que na fábrica fizeram escola, tais como VICTOR-FRANÇOIS CHARTIER-ROUSSEAU, e OS dois FORTIERS. Merece especial menção um par de jarras pintadas por CHARTIER-ROUSSEAU, apresentando como motivo de decoração o pescador e a pescadeira locais; uma legenda encorporada na decoração menciona, mesmo, o nome de l llwvo . ROUSSEAU trabalhou na Vista-Alegre até 1852, tendo vindo para llhavo em 1835 . Como a Vista-Alegre se dedicou, desde o princípio, ao fabrico de vidro e de cristal, em que atingiu o mais elevado grau de perfeição, recolheram-se igualmente, junto das porcelanas, quantos exemplares de vidro e de cristal, de lá provenientes, foi possível obter: copos lapidados, alguns com medalhão de caolino encorporado, outros em ponta de diamante, garrafas, utensílios domésticos vários. Somam cerca de 400 as peças da Vista-Alegre que se encontram no Museu e só por falta de espaço se não tem aumentado a colecção. ARRECADAÇÃO D . MANUEL TRINDADE SALGUEmO, ARCEBISPO DE :eVORA M odelo origi114Z ào busto, da autoria ào escu.Ztor Raul Xavier (D. Manuel, Que é o 2.• ArcebispO de Évora natural de tlhavo, foi eleito a 23 de Maio de 1955) Apesar de constituir dependência fundamental em lógica, indispensável para a preparação e estudo das dispõe apenas, para o efeito, de uma saleta exígua número de pinturas (a colecção J oão Carlos) e de HENRIQUE MOREIRA , RAUL XAVIER) aguarda, fora do toda a organização museoespécies a expor, o Museu e sem condições; avultado esculturas (EUCLIDES VAZ , edifício actual do Museu, - 31 - oportunidade de encorporação nas colecções expostas. São obras que o Público amda não conhece, sequer. E de todo impossível se tornou reservar um gabinete, pequeno que fosse, para a Direcção do Museu e para recepção; tudo foi sacrificado à recolha de materiais e à sua exposição tattto quanto possível metódica, o que, pela acumulação de e:;pécies, constituindo por vezes grandes séries, nem sempre se logrou alcançar. Achou-se preferível, porém, pecar por excesso do que por omissão, e assim se explicam algumas aglomerações que porventura se estranhem, por se encontrarem em c0ntradição com as regras da boa exposição museológica, justificativas de grandes espaços livres envolventes e da maior liberdade de circulação. Montagem, em escala, de um PALHEffiO das campanhas da borda do mar BARCO DO ALTO e CARRO de transporte do pescado através do areaÍ Assim mesmo, tal como é forçoso que estejam, as colecções do Museu de t:havo tem despertado, nos muitos milhares de visitantes que as percorreram já, vivo interesse e fund as impressões de Beleza e de valor documental, muitas vezes exteriorizadas em significativas referências, nunca solicitadas,· já acima se transcrtveram OS valiOSOS depoimentos do PROF. MENDES CORREIA , de JAIME CORTESÃO , c da R evista Neptunia, da Associação Francesa dos Amigos dos Museus de Marinha , de Paris; citaremos alguns mais, a que os nomes prestigiosos de seus autores, ligados intimamente a estudos de E tnografia e de Alta Cultura, conferem especialíssimo valor: - O malogrado etnógrafo MANUEL CARDOSO MARTA, da F igueira da F oz, dedic.ou um opúsculo inteiro à sugestão de um Museu etnográfico para a sua terra natal, terra também de marcantes e de pe cadores, após a leitura do plano que publicámos para o Museu de tlhavo, que enaltece, preconizando para a Figueira uma instituição mttseológica com organização idêntica ::. Em Março de 1941, após demorada visita ao .:'viuseu, o Prof. Doutor ALFREDO da Faculdade de Medicina do P orto, deixa exaradas no Livro dos Visitantes as impressões recebidas e diz: «- Velho amigo de llhavo, desde os remotos dias da minha mocidade escolar, tantas vezes hóspede do meu saudosíssimo condiscípulo e amigo Samuel Maia e de seus pais, visito este Museu ao fim da tarde, quase sen-~ luz, colhendo a impressão justa de qtte está aqui a organizar-se um Museu-Escola qtte faz ho111ra a esta linda e tão pitoresca terra de pescadores htmtildes e de mareantes gloriosos, autênticos 1·cpresentantes da Raça dos descobridores que imortalizaram Portugal . L ouvo o esforço admirável dos fundadores e dos conservadores do Museu, com os melhores votos por que o Estado, em comparticipação com a Câmara, dentro DE MAGALHÃES , SECA DE BACALHAU, DA GAFANHA Montagem, em escala • Um Museu Etnológico na Figueira. Figueira da Foz, Tlp. Popular, 1934; 12 pãgs. -32 em breve faça instalar em edifício próprio as admiráveis colecções que já constituem o fundo deste estabelecimento de carácter marítimo-regional - que deve ser visitado pelas crianças das escolas de todo o Norte do País e os bons portugueses de amanhã.» Em Agosto de 1947, o Professor Doutor AARÃO DE LACERDA , da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, publica no Diário O ComérCio do Porto uma série de artigos sob o título de Marginália - Para a criação do Museu do Povo Português e nele exalta (artigo de 20 de Agosto, n. 0 VI da série) as bases científicas que orientaram o plano do Museu de llhavo, honestamente expostas e indicadas no relatório apresentado à Câmara Municipal em 1932 e no início das presentes considerações evocado. No Mensário das Casas do Povo (n. 0 19, de 1948) o prestigioso etnógrafo lJ. SEBASTIÃO PESSANHA, que tão larga folha de serviços grangeou no estudo do povo português, dedica ao Museu de llhavo o n. 0 IV da série por ele intitulada Museus Etnológicos e aí analisa minuciosamente o nosso Museu, classificando de modelar o seu plano prévio, e escrevendo: ... «este pequeno, mas adorável, Museu de llhavo, só poderia ser uma realidade com uma feição n4tidamente etnográfica, pobre todo o concelho de outros valores afins, e a própria realização de tão feliz iniciativa se encarregou de demonstrar que foi acertado o caminho seguido, muito havendo ainda, nesse campo, para arrecadar e pôr a bom recato. Sem instalação condigna e adequada, como sucede com a maioria dos nossos museus, é, porém, um modelo de arrumação metódica e de bom gosto, que muito contribuem para a valorização do seu já v alioso recheio, constituído, como é lógico, por espécies que lhe vincam um acentu{J.do carácter marítimo, sem olvido das que lhe podiam fornecer a própria natureza. Por esta forma foi conseguido, sem cmário, nem artifícios, o ambiente local que deve exigir-se nestes museus, demo1~strada a tese de que ele se pode obter simplesmente pela acertada recolha e selecção dos exemplares a expor, e seu racional agrupamento, desde que não lhes falte o cunho de verdade e de autenticidade em que reside o seu valor etnográfico. E como t~ão se abusou das reduções, ou miniatttras, quase sempre lamentáveis e só admissíveis em casos especiais, nem das demonstrações, muitas vezes espectact.losas mas igMlmente condenáveis, conseguiu-se um conjunto francametnte bom. Descreve, a seguir, os principais núcleos etnográficos da casa, e termina dizendo: O Museu Mt4nicipal de llhavo, que muitos desconhecem, mas que encanta quat~tos o visitam, é, como não podia deixar de ser, um museu marítimo, que nos -::l "' ;:1 ~ ., <:1 't! ., "' ~ ~ <:1 .,..· "' OJ ~ ~ .§ o< .... ::s < lll ""o .:l ""' ::..:g .,., 't!ii <:1 ., ., o .9 ~ <i 10 .. OJ ., +-> .s~ .!:;Cl < OJ OJ < l=l ~ r:n o'-' ·.:10 I'>, I'>. 10 ., g.g ., <:1 ~ ·.: +-> > <i -.; .. ..."'o 1'>. '-' OJ 1'>. ., '( -35evoca, momet~to a momento, passadas gerações de mareantes, os que todos os anos se aventuram nos mares longínquos da Terra Nova e da Groenlândia, os que noite e dia labutam na ria ou na costa, os que, pacientemetúe, teimosamente, v ão transfcrmando em terra fértil e produtiva, a duna imensa das Gafanhas. Que perdure e progrido. tão bela obra; que ela viva sempre tws cor~ões de tcdos os ilhavenses; que eles não esqueçam, mas louvem e consagrem, os seus devotados realizadores! Em comunicação ao 1. 0 Con,gresso de Etnografia e Folclore, realizado em Braga em J unho de 1956, D . SEBASTIÃO PESSANHA volta a assinalar o v alor científrco e turístico do Museu de 1lhavo. PAR D E JAR RAS DE P ORCELANA D A VI STA ALEGRE decoradas com as figuras do pescad Mestre da Oficina de Pintura Vlc:r-~daa pelscaCdhelra de tlh.avo, da autoria do • nco s artler-Rousseau (1835-1852). Rousseau, natural de Paris e /'Ih de Normandie) e de GeneVieve D~ o R Jacques Ch.artier (natural de Gacé de pintor, era casado com Aímée st":~anC:Usseau (natural _d e Mans de Beance), tuual. Em flh.avo, veto a casar em ~852 e Ca~et, que ? nao 1!-co~panh.ou a PorFerraz, (irmã do Doutor Cattxto lnáci, com . Joaqutna F eltcisstma de A lmeida cina na Universidade de COimbra) deo de Al~et~ F erraz, Professor de Mediseau; Aímée Stéphante tinha entr~tant~u~n; '~d tmh.a um filho, Duarte Rousdocumentos, não se ;ustifica~ o aleuacÍ a eet ot em 1851 .. De tudo possuímos o paren esco do mntor com o f ilósofo Jean-Jacques Rousseau Em Outubro daquele mesmo ano de 1948 o DR. MAGALHÃES BASTO , na secção Falam velhos manuscritos, por ele criada e mantida com notável elevação no Diário O Primeiro de Janeiro, historia detalhadamente O Museu Municipal de llhavo, não hesitando em afirmar que o considera .. .«um dos que, no seu género, temos 1de mais notável em P ortugal; n;enhum outro Museu Público português possui, segundo creio, melhores colecções representativ as tanto da vida marítima do twsso povo, como das porcelanas e antigos vidros da Fábrica da Vista-Alegre, colecções sempre crescentes e de organização constantemente aperfeiçoada . ... «0 Museu Municipal de llhavo pode já ser orgulho de quem o criou, de quem o ampara, de quem provê à sua manutenção; ele hotwa a Vila e quem o dirige; cotllStitui uma lição admirável de esolarecida devoção regiot~lista, e é um livro aberto e v iv o de úteis e curiosos ensinr:zmentos. Mas quando tiver as instalações de que instantemente necessita- além de tudo úso, ele será (ou muito me et~gano! ... ) o mais belo e melhor Museu de Portugal, 1~0 seu género .» São do Doutor A. JORGE DIAS, antigo Professor de Etnologia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e actual catedrático do Instituto de Estudos Ultramarinos, de L isboa, as referên.cias que faz ao Museu de llhavo no seu Bosquejo Histórico da Etnografia P ortuguesa (Coimbra, 1952) e que passamos a transcrever, pois o Professor Doutor JORGE DIA~ é presentemente a autoridade máxima entre nós em assuntos de Etnografia: !lhavo: - Museu Municipal. Este museu importantíssimo deve-se ao seu director e futuiador ( ... ) e a um grupo de ilustres ilhavenses que reuniram uma preciosa colecção de miniaturas de embarcações e barcos da ria e do mar, aprestos, v ários tipos de redes, vestuário popular, ex-votos e louças regionais. E t'm museu etnográfico regional valiosíssimo, muito digno de ser visitado e que mttito hon:ra esta pequena e simpática terra. Pena é que a faUa de instalações adequado.s não permita dar-lhe o desenvolvimento que era de esperar v iesse a conseguir pelo qtte -37vemos realizado, e pelo programa amplo elaborado por Rocha Madaltil ( Etnografia e História, bases para a organização do Musett Municipal de flltavo; 1934) .» Guias turísticos estrangeiros, de responsabilidade, chamam muito expressamente a atenção do turista em P ortugal para o Museu de 1lhavo; L e Monde en couleurs- L e Portugal, de 1950, por exemplo, anota: Ilhavo est le pays des pêcheurs de ltatde ·mer. C est de là que viennent presqtte tous les commandants de la marine marcltande portugaise. Perdue maintenant dans les brmnes et les buées de la Ria, Ilhavo se souvient a: avoir été hier encare fouettée et salée par l' océan tout proclte. Son Musée ne parle que de la mer: maquettes de tous les types d' embarcations employées dans la Ria et sur la côte, collections d' algues, de coquilles, d' animattx marins, toiles inspirées par la pêclte, la tempête ou les aspects nuattcés de la lagune, et une toucltante série d' ex-votos, voiliers miniatures, cires, tableautins, témoignages de la foi na"ive et confiante des pêcheurs. Une salle est consacrée aux porcelaines de Vista Alegre, dont les fa"ietu:eries voisines, pour loger leurs employés, ont fait naitre la premiere cité ouvriere qu' on ait construite au Portugal. B lancltes, avec eles motifs bleu et vert, rehaussés d' or, ou crême à dessins bruns, les porctelaines de Vista A legre ressemblent à celles du H erry. Elles ttte remontent qu' au début du siecle demier. Comme on t~' avait alors pas mis au point Utl procédé d' emballage et d' expédition assez sur, les livraisons étaient faites jusqu'à Porto, ou Lisbonne, à dos de chame~.Zu: les caravanes se reflétaient bizarrement dans l' eau grise de la R ia». .. (Págs. 166/ 167) . PROMESSA T ela do Pintor ilhavense Dr. J oão Carlos Celestino Pereira G omes datada de 1925. Valiosa reconstituição de Etnografia local ' D e J oão Carlos possui o M useu apreciável quantidade de trabalhos não expostos ainda, e que em f u turas instalações constituirão umd sala especial a que está destinado o nome daquele d istinto conterrâneo Também os conhecidíssimos Cuides Bleus, na sua edição de 1953, por exemplo, rcgistavam cuidadosamente o Museu de llhavo: Ilhavo: L e musée municipal comprend deux sections: 1. 0 - H istoire de la pêclte et de la m er; gravures et peintures d'inspiration maritime, miniatures à l' échelle de toutes les embarcations de la ria, des navires de haute m er avec un précieux exemplaire de galere de guerre du XVIII• s. en ivoire, des barques de pêche de la côte portugaise, divers types de filets , etc. - 2 .0 - Poroelaines et cristaux de Vista A legre: série de pieces indiquant l' évolution dt4 gout artistiqtte de cette industrie, illustrées par les maitres décoratwrs; quelqttes beaux exemplaires de cristaux; collection de poterie populaire d' Ilhavo.» Para a Shell Portuguesa escreveu a escritora francesa SUZA.t"'NE CHANTAL , que aos aspectos paisagísticos e turísticos do nosso país tem dedicado utilíssimas páginas de fina observação e apropositado comentário, um simpático livrinho, intitulado Portttgal- The land and its people (english version by F . R. HOLLIDAY ) onde a tLHA VAS VENDEDORAS DE SARDINHA tLHAVOS PESCADORES DE SARDINHA Litoora/ia de J oubert, d os meados do séc. XIX, represent ando pescadores ilhavenses no Teio, com seus tratos característicos: manalas, gabão e barrete de orla de cor Litoora/ía de J oubert, dos meados do séc. XIX, r epresentando pescadeiras il.havenses no Teto: sala rodada, de sergullha, colete de grandes botões, jarta camisa estreitando nos punhos, capote com virola clara, lenço, e chapéu de largas abas; cordão de ouro de t rés voltas e crucifixo - 40 - -41- atenção do turista é chamada para o Museu de llhavo em termos de concisa mas inteligente visão: «The Ilhavo Museum has been lovingly assembled by people who have a deep, thorough knowledge of the lagoon. There we see revealed all the secrets of the boatmen and fisherm en, how they tie ropes or bait their fish hooks, the plan of the salt-pans and the humble devic~ of families, proudty dra'W1!1 on the bows of their boats. The latter are a curious as they are varied: the slime-carriers with flat botfoms and curved like a swan's necik , or cod-fishiwg barquentines, winde-jammers, light sailing-ships, a whole fleet of fresh water or ocean going vessels with their gear an-d tools. The Museum presents varieties of sands and shells, seaweed and sand rushes, crystals of salt, species of fish and also the equally varied and characteristic v illage types: the women wearing a linetZ< tunic and carrying the big rake used by t~e seaweed gatherers, and their «palheiros», houses made of painted TJJood with thatched roofs. All this is at~ absorbing trip around the R ia and may help to_ con.sole those who camwt be present at the great March festival on the decked-out canals of A veiro. » (P ágs. 48/ 49). de Antuérpia, J. vAN BEYLE. ·, com destino ao R eportório Geral dos Museus e Colecções de Marinha, a publicar em breve. Na sua forma esquemática, o referido questionário tem de ser considerado verdadeiro programa de Institutos do género, quer pelas suas rubricas basilares, quer, ainda, pelos agrupamentos que mostra patrocinar, o que, evidentemente, implícita uma organização por ele considerada - tipo. Aqui o incluímos também, para exemplificação a ter em conta na organização de documentários marítimos a fac ultar ao Público, e até mesmo como verbete museológico de mais lato âmbito: Em 1964 (12 de Março) solicitava-nos o S. N. I. material informativo (brochuras) que pudesse fornecer aos numerosos turistas estrangeiros que ali se dirigiam em busca de esclarecimentos acerca do Museu de llhavo, que desejavam visitar. E da Casa de Portugal em Paris igual pedido nos era dirigido, bem como de fotografias, a fim de se incluir uma referência circunstanciada ao Museu na publicação que os W agon.s-Lits estavam preparando a respeito do turismo na Europa. Nenhum destes pedidos pôde ser atendido, infelizmente, por falta de verba para a impressão do material solicitado, o que foi deveras lamentável, pois mais longe se teria levado o nome do Museu e maiores teriam sido os serviços por ele prestados à Cultura. Mas o movimento de visitantes nem por isso afrouxa; muitos milhares de pessoas de todas as condições sociais tem passado pelas salas do Museu, não escondendo a sua satisfação perante aquele variado e, para muitas delas, estranho e insuspeitado mundo, de conchas, algas, búzios, barcos e redes. Amiudadas visitas dos alunos das E scolas Primárias se tem realizado ao Museu, mesmo de pontos distantes; e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra mantém sempre nos seus programas de excursões dos Cursos de F érias, para estrangeiros, um passeio pela Ria e uma visita ao Museu de Ilhavo . Também em 1964 (Novembro, 5) o Intemational Council of Museums (ICOM), por intermédio da sua Comissão Nacional Belga, nos solicitava o preenchimento do questionário elaborado pelo historiador naval, do Natim~al Scheepvaartmuseum, Questionnaire pour un R epertoire des Musées et collections de Marine 1) NOM DU PAYS: 2) NOM DE LA VILLE : 3) NOM DU M USÉE : 4) ADRESSE : 5) TÉLÉPHONE: 6) ADRESSE TELEGRAPHIQUE: 7) NOM DU DIRECTEUR OU DU CONSERVATE UR EN CHEF: 8) NOM DU CONSERVATEUR DU DEPARTEMENT MARITIME: 9) JOURS ET HEURES D' OUVERTURE : 10) PRIX D'ENTRÉE : 11) STATUT 12) NOMBRE MOYEN DE VISITEURS AU COURS DES TROIS DERNIERES ANNÉES: 13) ORDRE DE GRANDEUR DU BUDGET ANNUEL: (précisions sur l'organisation, l'institution, etc., dont dépend le Musée : État, P rovince, Ville, privé, etc.). A: B ; C: D · A. (Somme inférieure à l'équivalent de $2.000); B. (somme intermédiaire entre 2.000 et 10.000 $) ; C. (somme intermédiaire entre 10.000 et 100.000 $); D. (somme supérieure à 100.000 $) . -43- -4214) 15) date de fondation: date d'ouverture: Édifices successivement occupés pa<r le Musée (mentionner si certains auraient un caractere historique): Édifice actuel (mentionner s'il a un caractere h~storique: s' il est moderne, donnez la date de construction et le nom de l' architecte) : Historique de Ia formation de la collection ( donateurs principaux, achats importants, etc.). Associations auxiliares ( «Amis du Musée» , nom et adresse de 1'Association): BREF HISTORIQUE: BUT ET NATURE DES COLLECTIONS (aire géographique, limites chronologiques) . E space disponible pour l'exposition: COLLECTIONS OU SECTIONS LES PLUS IMPORTANTES: (avec période et nombre) : Mo deles de bateaux: Guerre: Pêche: Navigation intérieure : Marchands : Yachting: Bateaux exotiques: Autres: Bateaux en grandeur nature ( espece) : Parties importantes de bateaux originaux ( trouvailles archéologiques, décoration de na vires, etc ... ). Modeles techniques: moteurs et machines: Pêche: Construction de navires: Ports: Hydraulique: Objets techniques: ou~ls : Engins de pêches: Ateliers ( fabrication de poulies, de voiles, etc. ). Collections de: Instruments de navigation: Armes, costumes et uniformes : Coutumes de marins (-art populaire, scrimshaw, tatouages, religion, superstition, etc.): Médailles, sceaux, drapeaux: I conographie Peintures: dessins: Gravures: Photographies: (catalogues, guides, périodiques, annuaires, cartes postales, diapositifs) . 16) P UBLICATIONS 17) SERVICES ÉDUCATIFS (visites guidées, conférences, éxpositions itinérantes, etc.): 18) BIBLIOTHEQUE: 19) BIBLIOGRAPHIE : salle de lecture ouverte au public; non ouverte au nombre de livres: P lans: Cartes: archives: archives photographiques Salle de enregistrements sonores: (cinema, etc.) . public : Manuscrits : disponibles : con férences Assim, pois, tem decorrido a vida desta instituição, vai para 30 anos já, servida sempre com inexcedível boa vontade e indefectível amor à terra natal ; podemos C')nsiderar de recolha e de experiência o período até agora decorrido; dos ensinamentos recebidos resultará, seguramente, o futuro Museu, de mais perdurável organização, se as amplas e condignas instalações que se pretendem vierem a ser alcançadas, como é de esperar. Para reorganização, dependente sempre, como é óbvio, do espaço disponível, preconizaríamos desde já, e em atenção às especiais características da terra, que semj~re co1wlicionaram o nosso plano de trabalho em tudo quanto ao Museu de llhavo diz respeito, o seguinte conjunto de secções, que consideramos um mín imo, e absolutamente indispensável: História local e Arquivo . Navegação . Pesca. Salicicultura . F au1.ia e Flora marítimas . T rajo regional. I ndústrias locais, d e ordem geral. Porcelanas da V ista A legre, cristais antigos da Vista A legre . Cerâmica regional. E tnografia comparada e em relação com as secções pràpriamente locais. A rte antiga, recolhida na região. A rte moderna relacionada com a região e com os objectivos do Museu. E scultura a destacar, pelo seu volume, das restantes secções de Arte. Sala J oão Carlos, a este A rtista local exclusivamente destinada . In stalação para embarcações em tamanho natural . B iblioteca especializada e regional. Salão de conferências. A rrecadação espaçosa. -44Casa de trabalho. Gabinete da Direcção. Gabinete para um Conservador. Instalações para um guarda privativo. Desta forma, servindo 1lhavo, objcctivo primordial da I nstituição, e homenageando implicitamente o seu laborioso povo de marcantes de todos os tempos, SE rvir-se-á igualmente a Etnografia e a Históvia marítimas, que a Portugal deviam merecer mais particular atenção e mais largo interesse, pois por meio delas atestará o País às gerações futuras, qualquer que seja a ideologia que venha a formá-las, o lugar inconfundível que tivemos no domínio dos mares soberanos, e, consequentfmente, na História da Humanidade. r ARRAIS GABRIEL ANÇA Busto em gesso pelo esculto r Dr. Abel Salazar O velho lobo do mar, nascido em 1845 e falecido em 1 9 3 O, consubstancia em si próprio a destemida e gloriosa valentia do marftimo ilhavense