Monografia Maximo Ghirello - Maximo Ghirello
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Monografia Maximo Ghirello - Maximo Ghirello
MÁXIMO GHIRELLO ESPINHEIRA SANTA - PLANTA NATIVA A Eficácia da Espinheira Santa no Sistema Digestório ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA – EBRAMEC E CENTRO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE FISIOTERAPIA, ACUPUNTURA E TERAPIAS ORIENTAIS – CIEFATO. SÃO PAULO 2009 MÁXIMO GHIRELLO ESPINHEIRA SANTA - PLANTA NATIVA A Eficácia da Espinheira Santa no Sistema Digestório Monografia de Curso apresentado a EBRAMEC\CIEFATO, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Fitoterapia, sob orientação da Professora Janete Santos Moreno Valerio Fernandes SÃO PAULO 2009 ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA – EBRAMEC E CENTRO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE FISIOTERAPIA, ACUPUNTURA E TERAPIAS ORIENTAIS – CIEFATO. ESPINHEIRA SANTA - PLANTA NATIVA A Eficácia da Espinheira Santa no Sistema Digestório Monografia apresentada pelo (a) aluno (a) MÁXIMO GHIRELLO ao curso de Especialização em Fitoterapia Chinesa em a avaliação dos professores: _______________________________________________ Professor Vicente Eduardo Jofre - Fitoterapeuta ________________________________________________ Professora Janete Santos Moreno - Fitoterapeuta e recebendo Dedico meu trabalho ao Professor e Mestre Walter Radamés Accorsi que, entre outras coisas, me ensinou a ouvir e respeitar o ser humano, e a buscar e encontrar muitas soluções na natureza. . AGRADECIMENTOS Sou grato aos meus pais Plínio e Carlina pela compreensão, paciência e amor. Sou especialmente grato a Nivea, amiga querida, pela inspiração e apoio em toda minha trajetória de amizade, estudos e trabalho com a natureza e com o ser humano. Agradeço também a todas as pessoas, amigos, órgãos e instituições que contribuíram para a minha formação. E, sou ainda imensamente grato à Espinheira Santa, presença certa em todos os jardins que planto pelo mundo. “Quando você faz uma pergunta e confia, as portas vão se abrindo e as revelações acontecendo”. RESUMO Este trabalho tem como objetivo verificar os efeitos do uso do chá infuso da Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia) no Sistema Digestório do ser humano. A INTRODUÇÃO aborda o tema, a justificativa e os objetivos. FUNDAMENTOS DA MEDICINA CHINESA descreve sobre o Taoísmo, Yin Yang, Substâncias: Energia, Sangue, Líquidos Orgânicos, Teoria dos Cinco Elementos, Zang Fu – Órgãos e Vísceras, Padrões de acordo com os Oito Princípios. O segundo capítulo – FÍGADO E SISTEMA DIGESTÓRIO descreve as funções e desequilíbrios do fígado e a relação deste com os rins, baço\pâncreas e estômago conforme a Medicina Chinesa. O terceiro capítulo – ESPINHEIRA SANTA, PLANTA NATIVA descreve sobre a planta. O quarto capítulo – ESPINHEIRA SANTA NOS MALES DA DIGESTÃO trata da metodologia aplicada. O resultado deste trabalho discorre sobre a percepção do que a metodologia aplicada promoveu um efeito desintoxicante no sistema digestório nos três casos onde se pode constatar que é bastante reveladora a ação da espinheira santa no sistema linfático. Sugere que as toxinas mobilizadas pelo uso da planta tenham sensibilizado este sistema, sendo que este pode ser o principal veiculo para sua ação no organismo. Nas CONSIDERAÇÕES FINAIS, amplia-se um pouco a reflexão sobre os resultados percebidos com o uso da Espinheira Santa. Palavras-Chaves: 1. Fitoterapia Chinesa. 2. Espinheira Santa. 3. Gastrite. ABSTRACT The purpose of this work is to demonstrate the effects on the human Digestive System resulting from the intake of infusions made with the plant Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia). The INTRODUCTION part addresses the actual theme, justification and objectives thereof. FUNDAMENTALS OF CHINESE MEDICINE presents a description on Taoism, Yin-Yang principles; Substances such as Energy, Blood, Organic Fluids; Theory on the Five Elements; Zan Fu – Internal Organs; and Standards according to the Eight Principles. Second chapter – LIVER AND DIGESTIVE SYSTEM describes functions and imbalances of the liver and the respective relation with the kidneys, spleen/pancreas and stomach according to Chinese Medicine. The third chapter includes a description of the plant itself. Fourth chapter – ESPINHEIRA SANTA FOR DIGESTIVE COMPLAINTS addresses the applied methodology whose results promoted a detoxifying effect in the three cases presented herein where it was possible to observe a considerable revealing action of the plant Espinheira Santa on the Lymphatic System, thus the resulting effects suggest that the toxins mobilized by the use of this plant have directly affected this vital internal system. In FINAL CONSIDERATIONS a broader perspective on the results obtained from the application of Espinheira Santa can be verified. Key words: 1. Chinese Phytotherapy. 2. Espinheira Santa. 3. Gastritis. SUMÁRIO INTRODUÇÃO, 10 1 2 FUNDAMENTOS TEORICOS DA MEDICINA CHINESA, 12 1.1 Taoísmo – Princípio Único, 13 1.2 Yin – Yang, 14 1.3 As Substâncias: Qi, Sangue, Líquidos Orgânicos, 21 1.4 A Teoria dos Cinco Elementos, 26 1.5 Função fisiológica dos órgãos e vísceras (Zang Fu), 29 1.6 Identificação de Padrões de acordo com os Oito Princípios, 32 FÍGADO, 38 2.1 As origens das desarmonias do Fígado conforme a Medicina Tradicional Chinesa – MTC, 38 2.2 Padrões de desarmonia do Fígado na relação entre Fígado e Rins e Fígado e Sistema Digestório, 40 3 ESPINHEIRA SANTA – PLANTA NATIVA, 45 3.1 Aspectos Energéticos da Espinheira Santa Baseado na Medicina Tradicional Chinesa, 45 4 ESPINHEIRA SANTA NOS MALES DA DIGESTÃO, 50 4.1 Metodologia, 50 4.2 Estudos de caso, 52 4.3 Resultados, 56 CONSIDERAÇÕES FINAIS, 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 59 APÊNDICES, 60 INTRODUÇÃO Consideramos importante o resgate do uso das plantas nativas na prevenção, tratamento e equilíbrio da saúde. A planta nativa é ecologicamente integrante da nossa realidade, está em equilíbrio com nosso eco-sistema, e apresenta a possibilidade de ser plantada, colhida e usada de maneira simples, acessível e eficaz. Citando Ângela Lima sobre a Espinheira Santa: Tornou-se conhecida na Medicina Ocidental Brasileira a partir de 1922 quando um pesquisador da Faculdade de Medicina do Paraná descreveu a importância do seu uso no tratamento de úlcera gástrica, sendo até hoje a sua principal indicação. É planta reconhecida mundialmente desde o início do século passado, usado pela população indígena brasileira para o tratamento de tumores. (LIMA, 2008, p. 154). A Medicina Tradicional Chinesa, que possue fundamento taoísta, considera o ser humano de uma maneira integrada, então corpo físico, mente e espírito são partes do todo, e, que o diagnóstico e intervenção devem igualmente considerar este todo. O desequilíbrio em uma das partes reflete na harmonia no todo. O resgate, o retorno ao equilíbrio deve também contemplar a visão do todo. “Tao é seguir o próprio caminho. É estar de acordo com a natureza. A natureza é energia, a energia vital.” (CHANG, 2009, p.15). Segundo a Medicina Tradicional Chinesa o fígado exerce uma influência fundamental na assimilação de nutrientes no processo de digestão. É a ele atribuído funções energéticas que o colocam no comando do equilíbrio das emoções, da digestão e também do bom-humor. Em desequilíbrio este órgão pode gerar uma série de transtornos psíquicos, emocionais e orgânicos. Este trabalho pretende investigar como o uso da Espinheira Santa pode ser eficaz no retorno ao equilíbrio do funcionamento do fígado e do sistema digestório. Justificativa O uso da planta nativa integrado à compreensão taoísta do todo remete a uma possibilidade não apenas de resgate, prevenção e manutenção da saúde, mas também oferece uma visão de integração ecológica com o meio ambiente local, respeitando inclusive os usos e hábitos populares e tradicionais. Objetivo Geral Esta pesquisa tem como objetivo verificar se o uso da Espinheira Santa é realmente eficaz no tratamento dos males do fígado e do sistema digestório. Objetivo Específico O objetivo mais específico é observar em quais casos ela apresenta eficácia e em quais casos ela não apresenta eficácia. Para tanto, foi ministrado e acompanhado o uso de chá, infusão, da erva em três voluntários que apresentam algum tipo de disfunção no fígado e\ou sistema digestório. FUNDAMENTOS TEORICOS DA MEDICINA CHINESA A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não pode simplesmente ser considerada uma prática médica, ela é mais que isso. Quando entramos em contato com a MTC ela se mostra como um caminho de tratamento, mas logo em seguida percebemos que a MTC é um caminho de transformação e uma opção de vida. A MTC esta baseada em princípios filosóficos, na observação dos fenômenos da natureza e sua influência energética no ser humano e em suas relações internas e externas, na astrologia chinesa, na compreensão do princípio único (Tao) e sua dualidade energética (Yin e Yang). O objetivo das práticas terapêuticas baseadas na MTC é compreender os fatores que propiciaram ao indivíduo o seu desequilíbrio energético e tentar estabelecer a fluidez energética obtendo o equilíbrio. Para tanto, o seu diagnóstico (uma correta avaliação energética) procura estabelecer relações entre o comportamento e alimentação, odores, transpiração, pulso, língua e condições da natureza que esteve exposto, entre outras coisas para determinar qual é o princípio de tratamento a ser realizado. Este tratamento energético pode ser obtido através de diversas práticas terapêuticas orientais, como: acupuntura, moxabustão, ventosa, massagens, fitoterapia, dieta, tchi kun, I ching. Estas práticas são integrantes de uma ciência com conceitos próprios, diferentes e independentes dos conceitos da medicina ocidental. Os tratados médicos mais conhecidos são: "Fórmulas para o tratamento de cinqüenta e duas doenças", “Shang Han Lun (Tratado do Frio Nocivo)”, "Huang Di Nei Jing" - Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo, o mais antigo livro de medicina que ainda hoje se mantém em uso, tendo sido encontrado um exemplar, em escavações arqueológicas, datado de cerca de 500 a.C. É dividido em 2 volumes: "Su Wen" e "Ling Shu". O 1. º é referido como sendo o Livro das Patologias e o 2. º como o Livro da Acupuntura. A MTC chegou ao ocidente através das viagens à China por comerciantes e posteriormente pela imigração Chinesa. Mas o grande crescimento da MTC no ocidente se deu com as imigrações orientais para o ocidente e através de um diplomata francês Soulie de Mornat, que se encantou com a prática da acupuntura e tornou-se um estudioso sobre a prática. Quando voltou a França, tornou-se um divulgador da acupuntura. No Brasil, a MTC foi trazida principalmente pela imigração japonesa que introduziu aqui o Shiatsu e a Acupuntura, há 100 anos. A fitoterapia chinesa e o tchi kun foram introduzidos posteriormente pela imigração chinesa. Mas estas técnicas só começaram a serem amplamente divulgadas após a criação do “Instituto Brasileiro de Chi Kung”. 1.1 Taoísmo – Princípio Único Os fundamentos da medicina tradicional chinesa dependem da compreensão da filosofia taoísta, do conceito de energia e do estudo das relações entre o homem, o céu e a terra. Tao é tudo o que existe e ao mesmo tempo nada. Ë o princípio da unicidade. A palavra Tao poderá ser traduzida de diversas formas. Literalmente, significa: falar, dizer ou conduzir. Segundo Lao-Tsé: "O Tao que pode ser definido, não é o Tao Eterno". Didaticamente Tao pode significar Caminho do Sábio. O Taoísmo utiliza o conhecimento das diversas ciências para que o indivíduo através do auto-conhecimento se torne um com o universo. Alguns dos filósofos que introduziram e divulgaram o taoísmo foram: Lao-Tsé: escreveu o grande livro que pode ser considerado como a Bíblia taoísta: Tao Te King - O livro do sentido da vida. Chuang-Tsé: foi o discípulo mais próximo de Lao- Tsé, e também escrevia versos pitorescos. Chu-Shao-Hsien: Escreveu o Tao Tsang, grande cânone taoísta que tinha nada menos que 5.485 volumes. Tao O Tao não pode ser definido, só podendo ser compreendido através de percepção direta, pois está além do alcance do racional. É algo que permeia tudo e todos. De Lao Tse, no livro Tao Te King, aprendemos que “[...] o grande Tao é onipresente” (WILHEM, poema 34, p.70) e também que “O Tao flui sem cessar, no entanto, na sua atuação, ele jamais transborda [...]” (poema 4, p.40). E ainda, "A coisa mais macia na terra vence a mais dura. O que não existe penetra até mesmo no que não tem frestas. Nisso se reconhece o valor da não-ação. O ensino sem palavras, o valor da não-ação, são raros os que conseguem na Terra.” (poema 43, p.8). Por ser "Todo em tudo", o Tao é indivisível e seu movimento é que nos ilude de que existem objetos separados e distintos uns dos outros. Compreendendo o movimento do Tao, os sábios distinguiram duas categorias básicas a que denominaram Yin e Yang, movimentos opostos, mas que não existem um sem o outro e mais ainda: um nasce do outro e o outro do um, em eterna mutação. 1.2 Yin – Yang O conceito de Yin – Yang é provavelmente o mais importante e distintivo da Medicina Tradicional Chinesa. A teoria Yin e Yang, juntamente com o Qi têm permeado a filosofia chinesa há séculos. Yin e Yang representam qualidades opostas, mas também complementares. Cada coisa ou fenômeno poderia existir por si mesma ou pelo seu oposto. Além disso, Yin contém a semente de Yang e viceversa. A teoria do Yin e Yang considera o mundo como um todo e que esse todo é o resultado da unidade contraditória dos dois princípios, o Yin e o Yang. Desta forma, todos os fenômenos do universo encerram os dois aspectos opostos do Yin e Yang, como o dia e a noite, a atividade e o repouso, etc. Percebemos que tudo é constituído pelo movimento e a transformação dos dois aspectos Yin e Yang. O caractere chinês Yin, indica o lado com sombra de uma colina e o caractere chinês Yang indica o lado ensolarado. Então, podemos dizer que também indicam: escuridão e luminosidade ou sombreado e brilhante. YIN YAN É bem provável que a mais antiga origem do fenômeno Yin e Yang tenha se originado da observação de camponeses sobre as alterações cíclicas entre o dia e a noite. Levando em consideração a natureza do conceito Yin e Yang, o dia corresponde ao Yang e a noite ao Yin, e, por conseguinte, a atividade refere-se ao Yang e o repouso ao Yin. Alternância contínua de todo o fenômeno entre os dois pólos cíclicos: um corresponde à luz, sol, luminosidade e atividade (Yang), e o outro, à escuridão, lua, sombra e repouso (Yin). Portanto, sob este ponto de vista, Yin e Yang é uma expressão de dualidade no tempo, uma alternância de dois estágios opostos no tempo. Cada fenômeno no universo se altera por meio de movimentos cíclicos de altos e baixos, e a alternância de Yin e Yang é a força motriz desta mudança e movimento. Assim temos o dia se transformando em noite, o verão em inverno, crescimento em deterioração e viceversa. Sendo assim, o desenvolvimento de todos os fenômenos do universo é resultado de uma interação destes dois estágios, Yin e Yang. E cada fenômeno contém em si mesmo ambos os aspectos, porém em diferentes graus de manifestação. Por exemplo: O dia pertence ao Yang, mas após alcançar o seu pico ao meio-dia, o Yin dentro dele, começa gradualmente a se desdobrar e a se manifestar. O mais importante para se compreender isto, é que os dois estados opostos de condensação ou agregação das coisas não são independentes um do outro, mas modificam-se mutuamente. Yin e Yang simbolizam também, dois estados opostos de agregação das coisas. Na sua forma mais pura e rarefeita, Yang e totalmente imaterial e corresponde à energia pura e Yin no seu estado mais áspero e denso é totalmente material e corresponde à substância. A partir deste ponto de vista, energia e matéria são dois estados de um contínuo, com um número de possibilidades infinitas de estados de agregação. Yin é calmo, Yang ativo. Yang origina a vida. Yin promove o desenvolvimento. Yang é transformado em Qi, Yin é transformado em vida material. Como o Yang corresponde à criação e à atividade, naturalmente corresponde também à expansão e, por conseguinte, ascende. Como o Yin corresponde à condensação e à materialização, naturalmente corresponde também à contração e, portanto, descende. Desta forma, podemos adotar uma lista de correspondências do Yin e Yang: Yang Yin Imaterial Material Produz energia Produz forma Tempo Espaço Energia Matéria Ascendente Descendente Expansão Contração Rápido Lento Verão Inverno Calor Frio Fogo Água Seco Molhado Céu Terra Luz Escuridão Dia Noite Masculino Feminino O Tai-Ji Os relacionamentos de interdependências entre o Yin e Yang podem ser representados no famoso símbolo: Este símbolo é chamado Tai-ji (Máximo Supremo) e representa bem a interdependência do Yin e Yang. Os principais pontos desta interdependência são: Embora sejam estágios opostos, são complementares e formam uma unidade; Yang contém a semente do Yin e viceversa; Nada é totalmente Yin ou totalmente Yang; Yang transforma-se em Yin e vice-versa. Aspectos do relacionamento - os aspectos principais do relacionamento Yin e Yang podem ser resumidos em quatro: Oposição do Yin e Yang Yin e Yang são tanto estágios opostos de um ciclo como estados de agregação. Nada no mundo natural escapa desta oposição. E é esta contradição interna que constitui a força motriz de toda modificação, desenvolvimento e deterioração das coisas. Porém, a oposição é relativa e não absoluta, assim como nada é totalmente Yin ou totalmente Yang. Tudo contém a semente do seu oposto. Mesmo tudo contendo Yin e Yang, não haverá nunca a estatística proporcional de meio-a-meio (50% / 50%). O que existe é um equilíbrio dinâmico e constantemente variável. Relação recíproca do Yin e Yang Embora opostos, um não pode existir sem o outro. São interdependentes. Esta relação recíproca que liga intimamente o Yin e o Yang faz com que não se possa separar um princípio do outro e que nenhum dos dois possa existir separadamente. O dia é oposto à noite, não pode haver atividade sem descanso, energia sem matéria ou contração sem expansão. O alto é Yang, o baixo é Yin, se não houver alto, não se pode falar em baixo, do mesmo modo que se não houver baixo, não se pode falar de alto. A esquerda é Yang e a direita é Yin, sem esquerda não se pode falar de direita e vice-versa, etc. Todos os aspectos do Yin e Yang são assim, o Yin existe pelo Yang, o Yang pelo Yin. Cada um tem o outro como condição de existência. Consumo mútuo do Yin e Yang Yin e Yang estão num constante estado de equilíbrio dinâmico, que é mantido por meio de ajustes contínuos dos níveis relativos do Yin e Yang. Isto quer dizer que os dois aspectos opostos e unidos do Yin e do Yang não estão em repouso, mas em movimento de crescimento e decrescimento mútuo. Quando Yang decresce, o Yin cresce, quando o Yin decresce, o Yang cresce. Quando eles estão em desequilíbrio, afetam-se mutuamente e modificam sua proporção, alcançando um novo equilíbrio. Além do estado de equilíbrio normal do Yin e Yang, existem outros quatro possíveis estados de desequilíbrio: Plenitude do Yin: Quando o Yin estiver em plenitude, provocará uma diminuição de Yang, isto é, o excesso de Yin consome o Yang. Plenitude do Yang: Quando o Yang estiver em plenitude, provocará uma diminuição de Yin, ou seja, o excesso de Yang consome Yin. Deficiência do Yin: Quando o Yin estiver deficiente, o Yang aparecerá em excesso. Deficiência do Yang: Quando o Yang estiver deficiente, o Yin aparecerá em excesso. Nos dois casos de deficiência, o excesso é somente aparência já que este excesso se dá apenas em relação a uma qualidade deficiente, não em absoluto. Simplificando, o excesso é causado pela deficiência do seu oposto. Inter-relacionamento do Yin e Yang A partir de certa quantidade de um elemento, e se as condições externas forem adequadas, pode ocorrer a mudança de um aspecto no aspecto oposto, ou seja, pode-se assistir a uma transformação do Yin e Yang e vice-versa. Depois de atingido certo limite, a mudança na direção oposta é inevitável. Há uma fórmula que deixa isso claro: “Do frio extremo nasce o calor, do calor extremo nasce o frio”. Percebe-se que a mudança quantitativa (a quantidade de um fator), leva a uma mudança qualitativa (de um oposto a outro). Na verdade, mais do que uma transformação ocorre uma transmutação. Usemos como exemplo a mudança das estações: quando o calor do verão atinge o máximo, entra o frescor do outono, após o período mais frio do inverno, entra a primavera com o reaquecimento da temperatura. Aplicação da teoria Yin e Yang na Medicina Tradicional Chinesa A MTC como um todo, (fisiologia, patologia, diagnóstico e tratamento) tem como teoria básica e fundamental a relação Yin e Yang. Todo, sintoma, sinal ou processo fisiológico pode ser analisado sob a ótica da teoria do Yin e Yang. Portanto cada modalidade de tratamento é embasada numa dessas quatro estratégias: Tonificar o Yang, Tonificar o Yin, Sedar o Yang, Sedar o Yin. Não há Medicina Chinesa sem Yin e Yang. A compreensão da aplicação da teoria do Yin e Yang é, portanto, de suprema importância na Medicina Tradicional Chinesa. Yin e Yang e a estrutura do corpo Cada parte do corpo representa um caráter com predominância Yin ou Yang, e isto é muito importante na prática clínica. Observe-se que este caráter é somente relativo. Tomemos por exemplo: a área torácica é Yang em relação ao abdome porque se encontra mais acima, porém é Yin em relação à cabeça. Yang Yin Função Estrutura Costas Frente (Tórax, abdome) Cabeça Corpo Exterior (Pele e músculos) Interior (Órgãos) Acima da cintura Abaixo da cintura Órgãos Yang (ocos) Órgãos Yin (compactos) Função dos órgãos Estrutura dos órgãos Qi energia Xue Sangue Movimento e ação Tranqüilidade e repouso Simpático Parassimpático Ritmo respiratório Ritmo cardíaco Extrovertido Introvertido Prazer em experimentar Os pés na terra Progressista Conservador Excitável, reativo Contemplativo Eufórico Depressivo 1.3 As Substâncias: Energia Qi, Sangue, Líquidos Orgânicos O Qi, o sangue e os líquidos orgânicos são os materiais básicos do organismo. Sua origem, desenvolvimento, circulação e sua distribuição, só podem efetuar-se graças à atividade funcional das vísceras. Mas, inversamente, a atividade funcional das vísceras não se pode manifestar sem que o Qi, o sangue e os líquidos orgânicos lhes sirvam de base material. (AUTEROCHE, 1992, p.33) A energia - QI A tradição oriental descreve o mundo em termos de energia. Todas as coisas são manifestações da força vital universal chamado de Qi e Chi na China e de Ki no Japão. Esta energia (Qi) é a matéria fundamental que constitui o universo, e tudo no mundo é o resultado de seus movimentos e transformações. O Qi é invisível, mas está presente. Sua parte material é o sangue (Xue). O Qi transforma-se o tempo todo, portanto ele é mutável. O Qi esta em constante mutação da energia do céu (Yang) para energia da terra (Yin). São estas transformações que fazem as estações mudarem, o ser humano crescer e desenvolver, existirem o calor e o frio, o dia e a noite, o homem e a mulher, a ação e a não ação entre outras transformações. O Qi tem uma função extremamente importante para o corpo humano, e suas principais características funcionais são: a colocação em movimento (o impulso), a regulação da temperatura do corpo, a proteção, a atividade de controle, a atividade de transformação. O conceito de energia que circula no corpo está ligado a uma antiga forma de compreensão da vida baseada na comparação do ser humano com o meio ambiente em que ele habita. Os povos orientais guiavam-se pela observação do universo, e introduziram a interpretação das reações humanas em relação aos ciclos celestes e terrestres, que de alguma forma mantinham uma afinidade entre si. Se existe uma força cósmica capaz de produzir o movimento nos corpos celestes, todos eles se movem. Se existe uma força terrestre capaz de fecundar o solo com uma semente, que germina, e brota, e cresce, e floresce e fecunda novamente o solo, e envelhece, e morre e se perpetua na planta seguinte - a filha. Se também eu nasci dos meus pais e fui criança, e me tomei um homem, envelhecerei e morrerei deixando nos filhos e no trabalho a semente que fecunda a terra e me perpetua. A energia corporal sendo uma extensão, uma continuação, uma representação, uma energia cósmica, pode ser medida, interpretada, localizada, modificada e reequilibrada pelo ser humano. Ela tem fontes onde podemos re-elaborar a energia que colocamos em contato com a nossa própria energia e que transforma o momento, a ponto de produzir reações que re-equilibrem o organismo. As fontes de energia são em número de cinco, divididas em: primordiais: Macrocósmica e Ancestral, presentes já nos primórdios da vida; e de manutenção: Respiratória, Alimentar, Interpessoal. Fonte macro-cósmica - É a primeira fonte, aquela que nos induz a tomar o próprio universo como causador e maior interlocutor de nossas vidas. Representa a força universal que deu origem à vida e que, no caso, permitiu toda a evolução da espécie humana até aqui e permite prosseguir nas crianças de hoje, que serão os pais de amanhã. É esta a fonte que contém todas as demais, que reúne toda a energia pura. Fonte ancestral - Esta é a segunda fonte, e já se mostra mais individual, é a representação da soma da energia contida pelo pai e pela mãe do indivíduo, capaz de gerar um novo ser. No momento da concepção ocorre a libertação de uma centelha energética, que produz o fenômeno da vida. Fonte respiratória - Esta fonte de energia é na realidade, a primeira utilizada, pois é a primeira inspiração de ar que determina o nascimento de uma pessoa. Naturalmente, mantemos o fluxo respiratório ativo durante toda a nossa existência, é esta função, que na maior parte de nossa vida é involuntária, mas pode também ser voluntária, ou bem cuidada, de tal forma que possamos contar esta fonte para estabelecer o equilíbrio energético do fluxo corporal. Além dos problemas específicos que a má utilização da respiração pode causar, destaca-se o fato de que o equilíbrio geral depende da utilização harmoniosa das três fontes de manutenção (respiratória – alimentar - interpessoal). Portanto uma utilização precária desta fonte respiratória estará relacionada com o desequilíbrio de toda energia. Fonte alimentar - A qualidade do alimento é mais importante do que a quantidade, e o que há de mais notável em uma alimentação saudável é a sua capacidade de nos deixar bem ativos e bem humorados. Bom senso na quantidade, qualidade, variedade, boa mastigação, respeito aos horários biológicos, podem fazer toda diferença na saúde do organismo. Fonte interpessoal - Todas as trocas humanas envolvem a fonte interpessoal. Contatos diretos ou indiretos (pensamento, sentimento, através de objetos, etc.) podem ser positivos ou desarmoniza dores. Devemos, portanto, manter o nível desta troca de energia interpessoal o mais alto possível e purificá-la sempre que possível. O Sangue (Xue) Conforme AUTEROCHE (1992, p. 41), o sangue é fruto da transformação da essência dos alimentos pelo Baço e Estômago. O sangue é governado pelo Coração, armazenado pelo Fígado, controlado pelo Baço, circula nos vasos que são uma de suas moradias. A formação do sangue é realizada pela combinação de três fatores: A essência dos alimentos, Energia Yin (Yin Qi), essência da medula (Jing Qi) Essa formação só se pode efetuar graças à atividade regular do Qi do Aquecedor Médio e do Qi dos órgãos Coração, Rim, Fígado. O sangue circula por todo o corpo; no interior, atinge todos os órgãos e vísceras (Zang e Fu), no exterior atinge a pele, a carne, os tendões e os músculos. Sua atuação é dupla, de um lado nutre e umedece os tecidos orgânicos do corpo inteiro, do outro lado serve como base material à atividade mental. Se o sangue for insuficiente, não pode cumprir sua função de nutrir e umedecer e podem ocorrer sintomas como diminuição da vista, olhos secos, articulações rígidas, membros entorpecidos, pele seca. O sangue circula sem parar nos vasos para responder às necessidades de todos os órgãos e tecidos. A circulação normal do sangue resulta da ação coordenada dos órgãos: a energia do Coração é a força motora de base, a energia do Pulmão permite a difusão no corpo todo, a energia do Baço permite que o sangue seja contido nos vasos, a energia do Fígado permite ao Fígado estocar o sangue e o liberar em função das necessidades. Se qualquer um dos órgãos não cumpre corretamente sua função, acarretará perturbação na circulação sanguínea. Por exemplo, se o Baço estiver com baixa energia não poderá conservar o sangue nos vasos, causando hematomas, hemorragias, perdas de sangue, etc. Se a energia do Coração estiver baixa a circulação do sangue estará debilitada. Os Líquidos Orgânicos (Jin Ye) Os líquidos orgânicos são produtos da essência dos alimentos e englobam a totalidade dos líquidos normais do corpo, sangue, linfa, secreções, líquidos das articulações, excreções. O metabolismo dos líquidos é um processo complexo, que resulta da ação combinada de vários órgãos, em particular o Pulmão, o Baço, o Rim e o Triplo Aquecedor. Se no metabolismo dos líquidos, qualquer um dos elos não for eficiente, haverá aparecimento de doença, por exemplo, se ocorrer diminuição dos líquidos seja por produção insuficiente, seja por perda excessiva. Por outro lado, uma má distribuição acarretará em estagnação dos líquidos, que terão dificuldade em escoar normalmente e poderão surgir edemas e outros acúmulos nas diversas cavidades do corpo. Classificados em Jin e Ye que se distinguem pela natureza, funções e distribuições. Jin é a parte mais leve, rara e sutil dos líquidos somáticos, circula na superfície do corpo, bastante fluído tem capacidade de movimentos. Penetra e alimenta a pele e as carnes. Ye é mais pesado, viscoso e turvo, circula no interior do corpo, nos vasos, e também alimenta o cérebro, a medula. A atuação dos Jin e Ye é múltipla: lubrificar e alimentar os órgãos, as carnes, os vasos, a pele e as articulações. O que é mais externo é mais particularmente reservado à ação dos Jin, o que é mais interno à ação dos Ye. Constituir o sangue e lhe fornecer a parte aquosa, a fim de que a circulação seja ininterrupta. Enriquecer a essência, a medula, o cérebro, sendo esta uma função mais de Ye caso seja deficiente acarretará em estado de vazio da medula, cérebro e medula dos ossos. Manter o equilíbrio do Yin e Yang, manter a temperatura do corpo, e o bom andamento dos órgãos. Relações entre as substâncias: Energia Qi, Sangue, Líquidos Orgânicos Para a prática da MTC é importante conhecer as relações existentes entre as substâncias citadas para compreender a fisiologia, a patologia, o diagnóstico e a escolha do tratamento. Por exemplo, a energia dá impulsão ao sangue, e o sangue é a “mãe” da energia. A formação, distribuição e expulsão dos líquidos orgânicos dependem da atividade da energia. A estagnação de líquidos pelo corpo pode gerar edemas e bloquear a circulação da energia. 1.4 A Teoria dos Cinco Elementos A teoria dos cinco elementos (ou dos cinco movimentos) considera que o universo é formado pelo movimento e transformação dos cinco princípios representados por: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. A MTC possui como base fundamental a percepção do caráter relacional e sistêmico entre o organismo, equilíbrio, desarmonias, estados mentais, emocionais, incluindo sua relação com o meio em que vive, com os fatos da natureza, o tempo, entre outros. Tudo está interligado, tudo se relaciona com tudo. Esta compreensão sistêmica dos eventos que compõem a vida é fundamental. Os cinco elementos são na realidade, os cinco elementos básicos que constituem a natureza. Esta teoria classifica os fenômenos da natureza, as espécies vivas, a fisiologia, a patologia e a anatomia do ser humano. Através dela, pode-se compreender as influências da força da natureza na vida do homem, no meio ambiente e no relacionamento dele para com ele mesmo. Os cinco elementos são Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra. A Água umedece em descendência, o Fogo chameja em ascendência, a Madeira pode ser dobrada e esticada, o Metal pode ser moldado e endurecido e a Terra permite a disseminação, o crescimento e a colheita. Aquilo que absorve e descende (Água) é salgado, o que chameja em ascendência (Fogo) é amargo, o que pode ser dobrado e esticado (Madeira) é azedo, que pode ser moldado e enrijecido (Metal) é picante, e o que permite disseminar, crescer e colher (Terra) adocicado. Estas afirmações mostram de forma clara, que os cinco elementos simbolizam cinco qualidades inerentes diversas e expressam o fenômeno natural. Ao relatar sobre o sabor dos cinco elementos, indica que estes sabores representam mais uma qualidade inerente de determinada coisa e não necessariamente o seu gosto de fato. A direção dos Movimentos Os cinco elementos também simbolizam cinco direções diferentes de movimentos dos fenômenos naturais, ou seja: A Madeira representa o movimento expansivo e exterior em todas as direções; O Fogo representa o movimento ascendente; A Terra representa a neutralidade ou estabilidade; O Metal representa o movimento contraído e interior; A Água representa o movimento descendente. Os ciclos sazonais Cada um dos cinco elementos representa uma estação no ciclo anual. A Madeira corresponde à primavera e está associada ao nascimento; o Fogo corresponde ao verão e está associado ao crescimento; a Terra corresponde à estação anterior e está associada à transformação; o Metal corresponde ao outono e está associado à colheita, e a Água corresponde ao inverno e está associada ao armazenamento. Os inter-relacionamentos Os inter-relacionamentos são essenciais para o conceito dos cinco elementos. Dentro destes inter-relacionamentos destacam-se, entre outros, os ciclos biológicos de Geração e de Dominação. Ciclo de Geração Neste ciclo cada elemento gera o outro, sendo ao mesmo tempo gerado. Assim, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal, o Metal gera a Água e a Água gera a Madeira. Há geração sucessiva e num ciclo ininterrupto. Com base nos conhecimentos gerais é fácil entender que a Madeira, por sua combustão, é capaz de gerar o fogo, assim como promover sua intensidade. Após a combustão da Madeira, restam cinzas, que são incorporadas à Terra. Ao longo dos anos, a Terra, sob o efeito de grandes pressões, produz os Metais. E dos metais e rocha brotam as fontes de Água. Por outro lado, a Água dá vida aos vegetais e, gerando a Madeira, fecha o ciclo da natureza. A esse tipo de relacionamento, onde cada elemento gerado dá existência a outro elemento, os antigos denominavam relação Mãe-Filho. Mãe é o elemento que gera o elemento em questão, no caso o Filho. Desta forma, Água é Mãe de Madeira, e esta é Filha da Água. Para se equilibrar um possível desequilíbrio utilizando-se do Ciclo de Geração: pode-se tonificar a Mãe se o meridiano apresentar falta de energia ou sedar o Filho se o meridiano apresentar excesso de energia. Ex.: Para tonificar Fogo, tonifica-se sua Mãe que é Madeira. Ciclo da Dominação Neste ciclo, cada elemento domina o outro ao mesmo tempo em que é dominado. Desta forma a Madeira domina a Terra, a Terra domina a Água, a Água domina o Fogo, o Fogo domina o Metal e o Metal domina a Madeira. Essa relação de domínio também se reproduz sem cessar. Por exemplo: A Madeira domina a Terra, mas é dominado pelo Metal. Na concepção oriental sobre natureza, o Metal tem a capacidade de cortar a Madeira, além disso, as rochas e os metais podem impedir o crescimento da raiz das árvores (Madeira). A Madeira cresce absorvendo os nutrientes da Terra, empobrecendo-a, e as raízes e árvores, quando muito longas, perfuram e racham a Terra. A Terra, por seu lado, impede que a Água se espalhe, absorvendo-a. Que a Água possa dominar o Fogo é muito compreensível. O Fogo domina o Metal, pois o Metal é derretido pelo Fogo. O ciclo de dominação (controle) assegura que o equilíbrio será mantido entre os cinco elementos. Para se equilibrar um possível desequilíbrio utilizando-se do Ciclo de Dominação: pode-se sedar o Avô se o meridiano apresentar falta de energia ou tonificar o Avô se o meridiano apresentar excesso de energia. Ex.: Para tonificar Fogo, sedar seu Avô que é Água. Medicina Chinesa e os Cinco Elementos: A teoria chinesa dos cinco elementos e sua classificação submetida às leis da geração, dominação, agressão e contradominação, explicam concretamente a fisiologia humana, os fenômenos patológicos e constitui um guia para a elaboração do diagnóstico e do tratamento. 1.5 Função Fisiológica dos Órgãos e Vísceras (Zang Fu) Os conceitos de Zang (órgãos) Fu (vísceras) são fundamentais na Medicina Tradicional Chinesa. As funções dos órgãos e vísceras são a de receber o ar, os alimentos, os líquidos do ambiente externo e transformá-los em substâncias que circulam, nutrem, equilibram o organismo, e as não utilizadas serão excretadas. Todo o metabolismo orgânico é realizado pelos órgãos e vísceras, que se relacionam entre si, e são também responsáveis por manter uma interação harmoniosa entre o corpo e o ambiente externo. Zang (órgãos): Rins, Fígado, Coração, Baço\Pâncreas, Pulmão, Pericárdio, apresentam características Yin, são mais sólidos e internos, e os responsáveis pela formação, transformação, armazenamento, liberação e regulação das substâncias puras (Qi-energia, Xue-sangue, Jing-essência, Jin Ye-líquidos e Shen-espírito). Fu (vísceras): Bexiga, Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Estômago, Intestino Grosso, Triplo Aquecedor, apresentam características mais Yang, são mais ocos e externos, responsáveis pela recepção e armazenamento de alimentos e bebidas pela passagem e absorção de seus produtos e transformação e pela excreção dos resíduos. Cada órgão e víscera do corpo pertencem a um elemento, portanto temos: Coração, Intestino Delgado, Triplo Aquecedor e Circulação e Sexo pertencem ao elemento Fogo; Baço-Pâncreas e Estomago pertencem ao elemento Terra; Pulmão e Intestino Grosso pertencem ao elemento Metal; Rins e Bexiga pertencem ao elemento Água e Fígado e Vesícula Biliar pertencem ao elemento Madeira. Relação de sustento e de produção mútuos entre os órgãos: A teoria dos cinco elementos explica a existência da relação fisiológica entre os órgãos. Assim, o Jing (energia essencial) dos Rins (Água) vai alimentar o Fígado; o Fígado (Madeira) estoca o sangue que vai ajudar o Coração; o calor do Coração (Fogo) vai aquecer o Baço que transforma o Wei Qi (a essência dos alimentos), que vai encher o Pulmão; o Pulmão (Metal) purifica e faz circular para baixo a fim de auxiliar a Água dos Rins. Dominação recíproca da atividade dos órgãos: O Qi do Pulmão (Metal) purifica e desce, pode deter a subida excessiva do Yang do Fígado; a ação reguladora do Fígado (Madeira) pode drenar a congestão do Baço (Terra); o movimento de transporte e transformação do Baço poderá deter o transbordamento da água dos Rins; a modificação dos Rins (Água) poderá deter o excesso de calor do fogo do Coração; o calor Yang do Coração poderá controlar o excesso de refrescamento do metal do Pulmão. Para a MTC além das funções metabólicas os Zang Fu também estão relacionados com órgãos dos sentidos, estados mentais, emocionais, sentimentos, sabores, tecidos corporais, estações do ano, tempo e aspectos da natureza entre outros fatores. (ver tabela). A grande circulação de energia: A MTC considera que a energia flui pelo organismo de acordo com um relógio biológico, a saber: GRANDE CIRCULAÇÃODE ENERGIA P IG 03:00 05:00 05:00 07:00 E 07:00 09:00 BP 09:00 11:00 C 11:00 13:00 ID 13:00 15:00 B 15:00 17:00 R 17:00 19:00 CS 19:00 21:00 TA 21:00 23:00 VB 23:00 01:00 F 01:00 03:00 1.6 Identificação de Padrões de acordo com os Oito Princípios (Ba Gang) Conforme MACIOCIA (2005, p. 829) a identificação de padrões de acordo com os Oito Princípios de Exterior e Interior, Plenitude e Vazio, Calor e Frios, Yin e Yang é a base para todos os outros métodos de formulação de padrões, permitindo ao terapeuta identificar a localização e a natureza de desarmonia, bem como estabelecer o princípio de tratamento. Denominam-se Exterior (Biao) – Interior (Li) ou Superfície – Profundo, Plenitude (Shi) – Vazio (Xu), Calor (Re) – Frio (Han), Yin – Yang. O método de identificação de padrões de acordo com os Oito Princípios é a base teórica para todos os outros métodos e aplica-se para todos os casos. Nenhuma condição é complexa demais para cair fora do âmbito da identificação pelos Oito Princípios. É importante destacar que a identificação de acordo com os Oito Princípios não significa “classificar” de modo rígido a desarmonia para “encaixar” as manifestações clínicas em compartimentos estanques. Também não devem ser vistos como “ou esse ou aquele”, pois não é incomum ver condições simultâneas de Exterior e Interior ou por Calor e Frio ou Plenitude e Vazio ou Yin e Yang. E ainda uma transformando-se em outra. O propósito de aplicar os Oito Princípios não é classificar, mas compreender sua gênese e sua natureza. Só depois de compreender isso é que poderemos decidir sobre o tratamento para uma desarmonia em particular. Exterior – Interior ou Superfície – Profundo (Biao Li) A diferenciação entre Exterior ou Interior não é feita com base naquilo que causou a desarmonia, mas sim a localização da doença. O padrão pode ter sido exterior (vento, frio, umidade, calor, secura), mas a desarmonia se instalou nos órgãos internos. Conforme AUTEROCHE (1992, p. 244) a classificação em Sintomas de Superfície ou de Profundidade dos sinais colhidos permite determinar a localização da doença e suas tendência evolutiva. Quando a enfermidade esta localizada ao nível da pele, da epiderme ou do derma, pertence ao Biao – exterior, superfície. Quando a enfermidade está localizada mais internamente, nas vísceras, órgãos, vasos, ossos, medula, pertence ao Li – interior, profundo. A doença pode evoluir de modos diferentes: Pode ter início tanto na superfície quanto na profundidade; a condição exterior pode tornar-se progressivamente interior; a condição interior pode aparecer antes da supressão completa da desarmonia exterior; se a raiz da desarmonia estiver no interior, pode estender-se progressivamente ao exterior. Condição do Exterior – Interior (Biao Li) A condição exterior ocorre quando a enfermidade esta localizada na parte externa do corpo, e a causa é geralmente um dos seis excessos de origem externa (vento, frio, calor, umidade, secura, calor de verão). Representa uma doença aguda caracterizada por uma incubação curta, uma eclosão brutal, uma evolução rápida. Sintomas como febre, tremor, cefaléias, cervicalgias, lassidão, tosse. A condição interior ocorre quando a desarmonia esta localizada na parte interna do organismo (órgãos, vísceras, vasos, ossos), e também percebido como relativo a condição exterior, pois qualquer sintoma que não seja exterior é interior. As manifestações e causas são diversas. Algumas causas possíveis são, por exemplo: entrada de agente patogênico externo para o interior do organismo; uma energia perversa externa, inclusive alimentar, pode atacar diretamente órgãos e vísceras internos; doença relacionada a sentimentos recalcados, esgotamento por excessos sexuais, etc. Deve-se compreender as diferenças e relações entre ambas, e também a relação com os outros Princípios, mas existe uma orientação terapêutica geral de “Harmonizar o Interior” para superar as desarmonias. Aspectos Exterior – Interior Exterior Interior Sintomas (alguns principais) Língua Pulso Frio Não melhora por calor, dor nos ossos e articulações, febre, sem sede. Rev. fino e branco Superficial e tenso Calor Febre, tremor leve, sede, urina escura. Ver. fino e amarelo Superficial e rápido Vazio Febre, temor de vento, nariz congestionado, transpirações. Pálida Superficial e lento Plenitude Similar a síndrome de frio superficial, corpo e cabeça doloridos. Rev. fino e branco Superficial e tenso Frio Corpo e membros frios, palidez, sem gosto por bebidas quentes, mucos claros. Rev. branco escorregadio Profundo e retardado Calor Febre importante, rosto vermelho, ansiedade, desejo de bebidas frescas. Vermelha, rev. amarelo Rápido Vazio Respiração fraca, não deseja falar, anorexia, lasso, vertigens, palpitações. Pálida, rev. branco Fraco Plenitude Dores agravadas pela pressão, obstipação, repleção toráxico-abdominal. Rev.amarelo gorduroso Profundo e cheio Nota: tabela baseada em AUTEROCHE, 1992, p. 249 Condição do Frio – Calor (Han – Re) Frio e Calor designam a natureza de um padrão, a natureza de uma doença, normalmente são manifestações de um excesso de Yin ou de Yang. Conforme AUTEROCHE, “No vazio do Yang há um resfriamento externo, e no vazio do Yin aquecimento interno; na plenitude do Yang, há aquecimento externo, e na plenitude do Yin resfriamento interno”. (1992, p. 250 APUD Su Wen cap. 62). A condição do Frio expressa uma diminuição da atividade funcional do organismo, quer porque o Yang está vazio e o Yin florescente, quer porque há ataque pelo Frio perverso. Ocorre temor de frio aliviado pelo calor, boca pálida, e úmida, ausência de sede, rosto de tom azulado, revestimento da língua branco, brilhante, pulso retardado, tenso. A condição de calor expressa um aumento da atividade funcional do organismo, ou porque o Yang está florescendo, e o Yin vazio, ou porque há o ataque pelo calor perverso. Ocorre febre aliviada pela frescura, sede, desejo de bebidas frescas, rosto e olhos vermelhos, agitação, obstipação seca, língua vermelha, revestimento amarelo, pulso rápido. Condição de Frio apresenta rosto descorado, temor de frio não melhorado pelo calor, sem sede ou desejo de beber pouca bebida quente, urinas abundantes e claras, fezes poucas e pastosas. Língua pálida, revestimento fino e branco. Pulso retardado e rápido. Condição de Calor apresenta rosto vermelho, febre, sede, gosta de bebidas frescas, fezes densas, secas. Língua vermelha, revestimento amarelo, seco. Pulso rápido. Existem diferenças e relações entre as duas formas e os outros Princípios, devendose ampliar essa compreensão, pois ambas podem estar emaranhadas, ocorre a passagem de um estado para o outro, e ainda ocorrem formas enganadoras de frio e calor nas manifestações. Condição do Vazio – Plenitude (Xu-Shi) Vazio e Plenitude são os princípios que permitem determinar o estado da Energia Correta do organismo e o da Energia Perversa. O Vazio se manifesta em seguida à insuficiência da Energia Correta, e a Plenitude se manifesta em seguida ao Excesso de Energia Perversa. Conforme MACIOCIA (2005, p. 834) a diferenciação entre Plenitude (ou Excesso) e Vazio (ou Deficiência) é uma diferenciação extremamente importante. A distinção é feita de acordo com a presença ou a ausência de um fator patogênico e com força das energias do corpo. Uma condição de Plenitude é caracterizada pela presença de um fator patogênico ( interior ou exterior) de qualquer tipo e pelo fato de que a energia do corpo encontrase relativamente intacta. A energia luta contra o fator patogênico e isso resulta um aumento nocivo dos sintomas e sinais. Uma condição de Vazio é caracterizada pela fraqueza de energia do corpo e pela ausência de um fator patogênico. Se a energia do corpo está fraca e um fator patogênico fica no corpo por certo tempo a condição tem caráter de Vazio complicado com Plenitude. A distinção entre ambos se faz, mais que qualquer outra, pela observação. Condição de Plenitude apresenta voz forte e alta, dor cruciante, face muito vermelha, transpiração profusa, agitação, vontade de tirar as cobertas, acessos de mau-humor. Língua com revestimento espesso e gorduroso. Pulso grande com força. Condição de Vazio apresenta voz fraca, dor surda prolongada, face pálida, pouca transpiração, apatia, vontade de ficar em posição encolhida na cama e disposição para ficar quieto. Língua pálida sem ou pouco revestimento. Pulso fino e fraco. Existem diferenças e relações entre as duas formas e os outros Princípios, podendo ambas estar emaranhadas, ocorre evoluções de um estado para o outro, e existem formas enganadoras. Condição de Yin – Yang Conforme MACIOCIA (2005, p. 836) as categorias de Yin e Yang dentro dos Oito Princípios têm dois significados: em um sentido geral, elas são um resumo dos outros seis princípios, já que Interior, Vazio e Frio são de natureza Yin, e, Exterior, Plenitude e Calor são de natureza Yang. Além disso, possuem também um sentido específico, onde Yin e Yang definem dois tipos de Vazio e dois tipos de colapso: Vazio de Yin e Vazio de Yang, e colapso de Yin e colapso de Yang que definem um estado extremamente grave de vazio. Conforme AUTEROCHE (1992, p. 269) a síndrome de Yin Vazio é formada pela associação dos sintomas de insuficiência dos líquidos Yin (emagrecimento, boca e garganta secas, vertigens, insônia, oligúria, obstipação, língua sem revestimento, pulso fino) e de sinais de Yin não controlando o Yang (calor nas palmas das mãos, na sola do pé e na região precordial, hipertemia, transpiração durante o sono, língua vermelha, pulso rápido. Essa síndrome representa uma produção de Calor Interno Vazio. A síndrome do Yang Vazio é formada pela associação dos sintomas de Energia Vazia (astenia psicossomática, respiração superficial, dificuldade para falar, vontade de dormir, pulso tênue sem força) e dos sinais de Yang não controlando Yin (temor de frio melhorado pelo calor, membros frios, boca pálida, úmida, sem sede, rosto pálido, urinas claras, fezes pastosas). Essa síndrome representa uma abundância Interna de Frio e de Umidade. (AUTEROCHE, 1992, p. 269). O Yin e o Yang se sustentam e estão unidos. Se o Yin se esgota o Yang Qi fica sem apoio e se dispersa. Se o Yang desaparece o Yin nada tem para se reproduzir e chega ao fim. Assim, não se pode por o desaparecimento do Yin e o desaparecimento do Yang e na síndrome do desaparecimento, há apenas uma diferença de prioridade de tempo entre o Yin e o Yang. (AUTEROCHE, 1992, p. 269). 2 FÍGADO 2.1 As origens das desarmonias do Fígado conforme a Medicina Tradicional Chinesa Conforme ROSS, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, o fígado tem como função harmonizar o fluxo livre de Qi, armazenar o sangue, harmonizar os tendões, abrir-se nos olhos e manifestar-se nas unhas. Esta função esta integrada com outras do Zang Fu, assim o Baço\Pâncreas (Pi) regula a formação e a quantidade do Qi pósnatal, enquanto o Pulmão (Fei) e o Coração (Xin) governam a circulação do Qi pelo corpo, e o Fígado (Gan) regula uniformidade desta circulação. O Fígado (Gan) além de harmonizar o fluxo livre de Qi, promove a circulação livre e fácil das matérias pelo corpo, por isso, participa da harmonia e regularidade das funções do corpo e da mente, havendo fases principais das funções de fluxo livre deste órgão, como: harmonia das emoções, harmonia da digestão, secreção de bile, harmonia da menstruação. (ROSS, 1984, p. 99) Ainda conforme ROSS, a presença de calor interno prolongado, a deficiência de Yin dos rins, perda de sangue ou deficiência de sangue, a depressão crônica do Qi do fígado, o desgaste, a raiva, a depressão, o álcool, o fumo e uma alimentação excessiva e gordurosa, todos esses fatores contribuem para uma desarmonia de fígado. Padrões de desarmonia do fígado: depressão do Qi do fígado, sangue do fígado deficiente, fogo crescente no fígado, agitação de vento interno do fígado, umidadecalor no fígado e na vesícula biliar, estagnação de frio no canal do fígado. Nesta pesquisa estamos destacando, para efeito de estudo, os padrões de desarmonia ligados à Depressão de Qi do fígado, Yang do fígado hiperativo, Umidade e calor no fígado e vesícula biliar. Segundo a MTC, emoções fortes como a raiva, tristeza, depressão e ansiedade provocam descargas de toxinas na corrente sanguínea. Esta descarga de toxinas no sangue influenciará diretamente o fígado, pois uma de suas funções é armazenar o sangue enquanto repousamos. “Quando o sangue volta para o fígado com o organismo em repouso contribui para restaurar a energia da pessoa.” (MACIOCCIA, 1989, p.102). A pressão no trabalho, o cansaço, e às vezes o sentimento de impotência diante dos problemas podem deflagrar situações de frustração e de desgosto. Em situações como estas o fígado se sente sobrecarregado. Sua energia torna-se bloqueada. Outra função importante do fígado é harmonizar o fluxo livre de Chi (Energia vital) dentro do organismo. “Esta é a função mais importante do fígado e quando não consegue adequar esta função torna-se a base da patologia do fígado que se manifesta com muitos sintomas característicos da desarmonia deste órgão.” (ROSS, 1984, p.99). Com a energia bloqueada o fígado inicia um processo de construção de padrões desarmônicos. Os primeiros sinais apontam para: dor de cabeça, insônia, inquietação, sonhos pesados, calor acima do tórax, enjôo e irritação. À medida que este quadro se agrava, com a energia constrita no fígado a desarmonia pode evoluir para sintomas mais intensos. Outros fatores podem se agregar a este quadro, como alimentação desregrada, sentimentos de raiva, não-aceitação e hesitação. Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa – MTC - a estagnação de Chi pode eventualmente, decorrido um tempo, transformar-se em calor e depois aumentar para o estado de fogo. Assim como o desgosto e a raiva intensos, o álcool e o fumo, além de uma alimentação excessiva e gordurosa podem contribuir para a formação de Fogo do Fígado. (ROSS, 1984, p.111). Com o calor em ascensão o indivíduo pode ter reações inapropriadas, tornar-se hiper-sensível e até mesmo explosivo. Se formos rastrear as possíveis origens deste padrão desarmônico o encaminhamento possível, seguindo os sinais, seria: trabalho excessivo, falta de descanso, alimentação inadequada e\ou insuficiente, preocupação, inquietação e ansiedade e este quadro pode gerar uma dificuldade em recuperar suas energias. 2.2 Padrões de desarmonia do Fígado na relação entre Fígado - Rins e Sistema Digestório As funções dos rins, conforme a Medicina Tradicional Chinesa são: armazenar a essência Qi, a energia ancestral (Jing), controlar o nascimento, crescimento, desenvolvimento e reprodução, controlar os ossos, base do Yin e do Yang, controlar a água, controlar a recepção do Qi, abrir-se nas orelhas e manifestar-se nos cabelos. Em desarmonia, os rins apresentam os seguintes padrões de desarmonia: deficiência de energia ancestral dos rins, deficiência do Yang dos rins, deficiência do Yin dos rins, os rins falham ao receber o Qi, transbordamento da água. Nesta pesquisa estamos destacando o padrão desarmônico de deficiência de Yin dos rins. Os rins segundo a MTC funcionam como um celeiro de vitalidade e nos quadros de desarmonia o indivíduo estaria sendo desvitalizado. A deficiência de Yin (substrato) dos rins acarretaria em que a energia circulante não seria suficiente para nutrir o fígado, que por sua vez passaria a funcionar com deficiência de Yin do fígado. A função Yin no organismo é: nutrir, umedecer, resfriar e trazer momentos de repouso. O Yin depende do descanso. Portanto dormir um bom sono e ter momentos de lazer relaxantes são fundamentais e eficazes na preservação da energia Yin do organismo. Com a deficiência de Yin, o Yang se sobressai. O Yang no organismo produz movimento, aquecimento e transformação. É o Yang que faz a digestão. A falta de descanso, o excesso de trabalho e a preocupação excessiva deixarão o indivíduo sem reservas de Yin para manter seu equilíbrio. A deficiência e Yin e o excesso de Yang passa a fazer parte de sua rotina, gerando no organismo um excesso de calor nocivo. Do mesmo modo a deficiência de Yin do fígado, o Yang do fígado hiper-ativo, e o fogo crescente no fígado podem ser vistos como uma evolução contínua que começa com o primeiro e que evolui para as formas de Yang hiper-ativo e depois para o fogo crescente do fígado acompanhados pelos sintomas correspondentes. (ROSS, 1984, p. 108). Caso o indivíduo desenvolva um dos estágios mais avançados de desarmonia do fígado, o Fogo Crescente no Fígado, o corpo inteiro ficará quente e o rosto todo avermelhado, calor nas mãos e nos pés, dor de cabeça intensa, surdez repentina, olhos vermelhos, urina escura, insônia, sede, enjôo e raiva violenta. Estes sintomas, além de serem mais intensos podem ser repentinos, pois resultam da subida rápida de Yang Chi (calor) e de sangue para a cabeça. Destacamos que o movimento da energia do fígado é ascendente, vertical, e, portanto pode ocorrer um movimento descontrolado para a cabeça. Isso pode inclusive dar câimbras ou reações emocionais mais fortes e até violentas. O fígado, então em extremo estado de desequilíbrio pode agredir o baço-pâncreas e o estômago, prejudicando-os em suas funções de transformação e transporte dos nutrientes. Conforme a Medicina Tradicional Chinesa as funções do baço\pâncreas e estômago são: regular a transformação e o transporte, regular a parte carnosa dos músculos e os membros, governar o sangue, manter os órgãos fixos, abrir-se na boca e manifestar-se nos lábios. Padrões de desarmonia do baço\pâncreas: Qi do baço\pâncreas (Pi) deficiente, Yang Qi do baço\pâncreas deficiente, baço\pâncreas não governam o sangue, desmoronamento de Qi do baço\pâncreas, invasão do baço\pâncreas pelo frio e umidade, acúmulo de umidade-calor no baço\pâncreas, mucosidade turva estorva a cabeça. Os alimentos e as bebidas, sob influência do Qi do baço\pâncreas (Pi) são digeridos e separados em frações puras e impuras. As frações impuras passam do intestino delgado (Xiao Chang) para o intestino grosso (Da Chang) para a excreção. A fração pura é enviada, à custa do baço\pâncreas (Pi) para o pulmão (Fei) onde é transformada em energia (Qi), sangue (Xue), e líquido orgânico (Jin Ye). Se as funções de transformação e de transporte estão deficientes, isto é, as funções do Qi do baço\pâncreas (Pi) estão enfraquecidas, poderá haver, então, a deficiência de energia (Qi) e de sangue (Xue), e, possivelmente, a estagnação do líquido orgânico (Jing Ye) sob a forma de umidade e de mucosidade. (ROSS, 1984, p.80) As funções do estômago, conforme a Medicina Tradicional Chinesa são: receber e preparar o alimento e a bebida, a transformação dos alimentos inicia-se no estômago (Wei) em que a parte mais pura vai através da função do baço\pâncreas (Pi) para o pulmão (Fei), onde se torna energia (Qi), sangue (Xue) e líquido orgânico (Jin Ye). A parte mais densa, mais turva é encaminhada para o intestino delgado (Xiao Chang) para se fazer a digestão e separar o puro do impuro dos alimentos contidos nesta víscera. As funções do baço\pâncreas (Pi) e do estômago (Wei) são complementares, enquanto o primeiro governa o movimento de subida das frações mais puras do alimento, o segundo promove a descida das frações menos puras. Caso o estômago entre em desequilíbrio apresentará estes padrões de desarmonia: retenção de líquidos no estômago devido ao frio, retenção de alimento no estômago, deficiência de Yin no estômago, fogo no estômago. Nesta pesquisa estamos destacando os padrões desarmônicos: deficiência de Yin no estômago, fogo no estômago, Qi do baço\pâncreas deficiente, acúmulo de umidade-calor no baço\pâncreas. O sangue, os líquidos orgânicos e a energia adquirida são construções diárias, sendo a matéria prima para essas construções os alimentos sólidos e líquidos, ou podemos dizer “transformações do elemento terra”. Essa construção de essências alimentares é de responsabilidade do baço-pâncreas e do estômago. Sendo o estômago a víscera central, o ponto de partida na construção de energias e nutrientes. O fígado é o órgão que auxilia no mecanismo de assimilação de nutrientes para que se transforme no mar de energia e seja distribuído diariamente ao nosso organismo e ao nosso espírito. Se houver alguma irregularidade nas funções desempenhadas pelo fígado, pode haver uma descarga de toxinas indesejáveis no estômago e no baço. Conforme a Teoria dos Cinco Elementos (um dos fundamentos da MTC) neste caso a madeira (fígado) estará sobrecarregando o baço-pâncreas e o estômago, ambos ligados ao elemento terra em nosso organismo. O baço-pâncreas e estômago atingidos pela sobrecarga, passam a gerar uma umidade em excesso que sem o auxílio da função transformadora pode estagnar gerando um quadro de umidade-calor. A palavra umidade pode corresponder à pasta alimentar, aos alimentos triturados, mastigados, que estão estagnados no aquecedor médio, isto é, dentro do estômago. A permanência da umidade patogênica no organismo pode se encaminhar para um quadro de estagnação de umidade-calor no estômago. Esta umidade patogênica pode estar presente também nos intestinos provocando um quadro de gastrenterite aguda, uma intoxicação alimentar. Os sinais ou sintomas são: distensão abdominal, náusea, vômito, regurgitação ácida, ausência de sede, falta de apetite, dor de cabeça, febre e fraqueza. A presença da umidade no organismo refere-se à acumulação de fluídos reduzindo o metabolismo no que se refere à transformação e transporte dos fluídos orgânicos, tendo como conseqüência a obstrução dos canais. Essa umidade pode se acumular no organismo. No tratamento com fitoterapia temos que usar fármacos que ajam no baço, tonificando-o para que ele possa gerar menos umidade, e no rim para que a umidade seja eliminada pela urina. Também seria favorável que esse fitoterápico, ou fármaco, melhorasse o funcionamento do intestino grosso para que a umidade fosse eliminada junto com as fezes. Porém os fármacos que tratam de umidade não o fazem somente no aparelho respiratório, como é de se pensar, mas também atuam nos sistemas digestório, nos músculos, na pele e outros tecidos. A umidade depois de um tempo, pode se transformar em muco ou fleuma que tem significado amplo dentro da Medicina Chinesa. Pode ser representado pelo colesterol, triglicérides, ácido úrico, substâncias indesejáveis ou prejudiciais, todas chamadas genericamente de toxinas. A umidade, por sua vez, tem a característica da água, isto é, desce, infiltra, pesa e incha. Usando um fitoterápico com essas propriedades (tonificar o baço, auxiliar na eliminação, drenar o excesso de umidade) estaremos então drenando o excesso de umidade pelos rins e pelo bom funcionamento dos intestinos e o mais importante, tonificando e estimulando o funcionamento do baço-pâncreas e do estômago. Com isso estaremos também melhorando a circulação geral de energia do corpo. Já que o baço é o responsável pela absorção de energia dos alimentos. A umidade pode-se acumular nos meridianos e canais de energia provocando obstruções dolorosas. A umidade pode depois de um tempo sofrer acréscimo de calor, e teremos o quadro de umidade-calor ou umidade-fogo, furúnculos, abscessos e infecções. (WO, vídeo). 3 ESPINHEIRA SANTA – PLANTA NATIVA 3.1 Aspectos Energéticos da Espinheira Santa Baseado na MTC Figura: Planta fotografada por Ronaldo Régis Christensen em 14/04/2010 no bairro Boa Vista – Campinas/São Paulo - Brasil. A fotografia é da espécie Maytenus aquifolium Mart. A planta escolhida para essa pesquisa foi a Espinheira Santa – Maytenus ilicifolia por ser mais fácil de encontrar no comércio. Seu habitat natural é o Brasil, aparecendo espontaneamente desde Minas Gerias até o Rio Grande do Sul. É muito comum ao longo do Rio Paraná. Na escolha dos fármacos temos que ter em mente que para combater a umidade temos que expulsar as toxinas pela urina (diurético) e pelo intestino grosso (levemente laxativo). E simultaneamente tonificar o baço-pâncreas e o estômago (tônico). Também estamos buscando nesse fitoterápico uma propriedade tranqüilizante, já que o estresse se originou das descargas excessivas do Yang do fígado, irritação, insônia, falta de repouso e preocupação. Por último seria eficaz que esse fitoterápico tivesse propriedades antiinflamatórias, pois um baço sob estresse gera inflamações pelo organismo. O sabor adocicado nutre a energia e o sangue, regula a digestão e neutraliza as toxinas. Indica-se para doenças de Estômago e Baço\Pâncreas. Evita o cansaço, traz relaxamento muscular e geral. Também melhora o sabor dos demais componentes de uma fórmula e neutraliza seus efeitos colaterais. O sabor adocicado provém dos açucares e amidos. O sabor amargo dispensa o calor, apaga o fogo, é emético (provoca vômitos), laxativo e diurético, seca a umidade, endurece os tecidos. Indica-se para doenças do Coração e Intestino Delgado. O sabor amargo provém de alcalóides, sesquiterpenos e alguns glicosídeos. Os fármacos que possuem o sabor neutro melhoram edemas e facilitam a diurese, combinam-se aos outros nas formulações. A Espinheira Santa possue em sua natureza energética sabor adocicado, amargo e temperatura neutra e pertence à categoria das plantas que dispersam o vento e a umidade-calor internos, nos canais de energia e no estômago. A temperatura neutra neste contexto significa que os princípios ativos como alcalóides, sesquiterpenos e glicosídeos (amargos) e os carboidratos, açucares e amidos (adocicados) estão em quantidades reduzidas – tornando a planta com propriedades suaves. Do mesmo modo os carboidratos são metabolizados pela Terra Baço\Pâncreas e Estômago, transformando em energia para o corpo também de forma suave e eficaz. A temperatura neutra da Espinheira Santa evidencia que o sabor adocicado e amargo lhe traz uma suavidade na execução de suas funções, diurética, laxativa e tônica pela quantidade reduzida de seus princípios ativos. Sua função, segundo os orientais, é dissolver umidade-calor ou umidade-frio do organismo, harmonizar o Yin e o Yang do organismo e restabelecer o Jing (energia essencial do indivíduo armazenada nos rins). É indicado para casos de câncer de estômago e é cicatrizante para doenças externas. (EBRAMEC, 2008, p. ). Possue indicações em tratamentos de tumores especialmente no estômago. Também indicada como analgésica para dor de estômago e dor visceral. Muito utilizada para úlcera, má digestão, azia e gastrite. É também uma planta diurética, eupéptica (melhora a digestão, reduzindo os sintomas como peso) e laxativa. (BOTSARIS, 2006, p. 431). Segundo a herbalista e fitoterapeuta Ângela Lima a Espinheira Santa tem utilização no tratamento de patologias como úlcera gástrica, é antiinflamatória da mucosa, antiséptica, cicatrizante, protetora da mucosa do trato digestivo, atua na má-digestão, azia, distensão abdominal e flatulência. Segundo os chineses sua função principal é dissolver umidade-calor e umidade-frio. A Medicina Chinesa fundamenta-se no Yin e Yang e na Teoria dos 5 Elementos. Na Medicina Tradicional Chinesa, o macrocosmo, universo exterior, é representado pela Teoria dos Cinco Elementos, onde cada elemento governa uma parte do corpo incluindo órgãos, sistemas, tecidos e os aspectos mental e espiritual do indivíduo, sendo o corpo humano uma representação do microcosmo, universo interior. Assim o elemento Madeira se relaciona com o Fígado e a Vesícula Biliar, o elemento Fogo relaciona-se com o Coração e o Intestino Delgado, o elemento Terra com o Baço-Pâncreas e Estômago, o elemento Metal com o Pulmão e Intestino Grosso e o elemento Água com os Rins e a Bexiga. A cada elemento é também associado um sabor atribuído aos alimentos e às ervas, que é difícil de ser descrito, uma vez que ele não se reporta ao paladar propriamente dito, mas, à sua natureza energética ou temperatura natural e seu efeito terapêutico nos diversos locais de ação. (LEITE, 2005, p. 21). Os fitoterápicos ou fármacos possuem uma natureza intrínseca, uma temperatura e um sabor determinados. A temperatura pode ser quente, morna, fresca, fria ou neutra. Isso não condiz com a temperatura do fármaco e sim, se refere às sensações que esses produtos provocam dentro do corpo. Por exemplo, a cerveja é gelada (Yin), mas dentro do organismo provoca calor. Visualizemos a seguinte situação: Quando o cliente estiver em um estágio Yang (quente) com sinais de pressão alta, face vermelha, febre, dor de cabeça e pulso cheio, temos que ministrar fármacos frescos ou frios. Porém, quando o cliente estiver em estado Yin (frio) com sinais de cansaço, apático, inchado nas pernas, língua e rosto pálidos, com cobertura da língua branca, temos que ministrar fitoterápicos mornos e quentes. Buscaremos sempre o equilíbrio. Os chineses compõem fórmulas compostas de vários ingredientes – quando o cliente estiver Yin (frio) os componentes mornos e quentes podem predominar, mas pode existir um ou outro componente fresco para dar certo equilíbrio. Por outro lado, quando o cliente estiver Yang (quente) vamos utilizar componentes frescos e frios, mas pode ocorrer algum componente morno. Além da temperatura, os fármacos possuem sabores que estão associados aos Cinco Elementos da natureza. Como já visto cada órgão e víscera acoplada pertencem a um dos Cinco Elementos e necessitam de um dos Cinco Sabores. Azedo para a Madeira, Amargo para o Fogo, Adocicado para a Terra, Picante para o Metal e Salgado para a Água. A falta ou excesso desses sabores pode ser prejudicial ao indivíduo. O sabor nem sempre condiz com o paladar. Os chineses identificam o sabor do fármaco pela sua sensação ou efeito provocado dentro do organismo. São os sinais e sintomas que guiam o observador. O sabor adocicado está associado ao elemento Terra, ao órgão Baço-Pâncreas e a víscera Estômago. Segundo o conceito oriental o sabor adocicado ou doce, tem por função tonificar, energizar, e harmonizar o indivíduo. Todas as pessoas intuitivamente quando estão muito tensas buscam o doce. Ex: açúcar, amido, arroz, massas, batata, etc. São formas rápidas de compensação. Energizam rapidamente o sistema e proporcionam uma espécie de distensão, de relaxamento. 4 ESPINHEIRA SANTA NOS MALES DA DIGESTÃO 4.1 Metodologia O método adotado foi o Método Indiciário. Esse método tem por fundamento rastrear pistas, sintomas, sinais, que por vezes passam despercebidos aos olhos de leigos em determinados assuntos. O olhar atento, daquele que se dispõe a investigar, pesquisar, aprofundar uma situação qualquer ou uma patologia, pode levantar sinais ou sintomas que aos olhos de um leigo não despertam nenhum significado. Por milênios o caçador aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barba. Durante inúmeras perseguições aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pelos, plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou uma clareira cheia de ciladas”. [...] Gerações e gerações de caçadores enriqueceram e transmitiram esse patrimônio cognoscitivo. [...] num instante demonstram como, através de indícios mínimos, puderam reconstruir o aspecto de um animal que nunca viram. (Ginzburg, 1986, p. 151 ). O critério que adotamos na escolha dos três indivíduos participantes para essa pesquisa foi que tivessem o seguinte perfil: sintomas de desajuste entre fígado e estômago, ou fígado e baço, sendo que pelo menos um deles fosse acentuado; apresentação de algum índice de insatisfação pessoal como raiva, frustração, desgosto, tristeza; falta de autonomia em relação à própria vida; uma resolução pessoal precária, falta de presença de espírito, não estar sentindo-se forte diante da própria vida; reflexos abalados. Observou-se o sistema digestório, dores, rubores, calor, inchaços, desconfortos, enjôo, vertigem, empachamento, obstruções, prisão de ventre, infecções e outras desarmonias pertinentes. Na visão ocorrência de embaçamento, movimento involuntário, vermelhidão. Além destes, no aspecto físico foram considerados o sono, horários alimentares, nível de sedentarismo, qualidade de vida do local onde moram. Procuraram-se inicialmente indivíduos que estivessem no ambulatório da escola EBRAMEC. Foi pedido que os três participantes tomassem o chá das folhas da Espinheira Santa na forma de infusão. A preparação do chá: colocar água para ferver, e no momento em que começar a ebulição, desligar. Não deixar ferver. Colocar aproximadamente uma colher de sopa das folhas em uma xícara, despejar a água sobre as folhas, abafar por quinze minutos. Coar e beber. Administração orientada: tomar o infuso de espinheira santa durante dez dias, três vezes ao dia. Interromper por cinco ou dez dias. Tomar novamente por mais dez dias, três vezes ao dia. O período avaliado, portanto foi de vinte cinco ou trinta dias. Desta forma nos primeiros dez dias todos os sintomas de desarranjo do fígado poderão vir à tona, de forma suave, como por exemplo, dores pelo corpo, dores de cabeça, vertigem, enjôo, leve diarréia. Os cinco (ou dez) dias de intervalo seriam para o indivíduo avaliar e assimilar os efeitos do chá. Nos dez dias seguintes espera-se um conforto maior, uma diminuição dos sintomas patológicos iniciais e dos efeitos do próprio chá, tais como dores pelo corpo, dores de estômago, tontura, vertigem, e uma sensação de confiança e alívio. E na seqüência sustentação do bem estar. Apresentamos a seguir os estudos de casos. 4.2 Estudos de caso Participante JA: Não realizado na profissão. Sente raiva e frustração por não ter autonomia financeira e emocional. No momento está namorando, porém vem de um divórcio realizado há seis anos, mas não devidamente superado. Tem um filho de onze anos, que mora com ele. Este vínculo de pai e filho foi construído com dificuldades gerais, mas é um vínculo de amor profundo e verdadeiro. É cuidadoso com o filho e com os outros. É sempre solidário com todos, mas acaba esquecendo-se de si mesmo. O trabalho profissional tem sido exaustivo nesses últimos três anos, trabalha no setor de meio ambiente e reciclagens, percorrendo várias cidades com um caminhão. O trabalho requer um físico forte e resistente. Dorme rápido, mas durante a noite fica inquieto e acorda muitas vezes, dormindo novamente. Tem sonhos confusos e que emendam. Sente muito sono de dia, ao meio dia e às seis da tarde (horários do coração dos rins respectivamente). Mede 1,83m de altura, normalmente forte e vigoroso, atualmente tem sentido menos disposição. Prefere o inverno, sente-se ótimo. No verão sua disposição cai bastante e tem dor de cabeça. A pele do rosto é oleosa e com espinhas. No estômago, sua queixa principal, sente dores quando toma café, come pizza, exagera nos doces. Tem que tomar remédio para o estômago para sentir-se melhor. Tem compulsão por doces gordurosos como chocolate, creme de amendoim, cremes, etc. Seu apetite é bom, no geral come de tudo. Foi orientado para tomar o chá três vezes ao dia durante dez dias, interromper dez dias, voltar a tomar por mais dez dias. Nos três primeiros dias sentiu uma maior movimentação no intestino. Nos dias que se sucederam sentiu melhora na disposição física. Dormiu melhor e as dores de estômago cessaram após o quinto dia. Até o final do primeiro período de dez dias manteve o bem estar e a disposição para o trabalho. Interrompeu por dez dias. As dores e a indisposição voltaram. No segundo período as dores cessaram a partir do quarto dia. Porém ocorreu uma dor muscular muito forte, inicialmente no braço esquerdo, e logo após no direito. Disse que não conseguia levantar um copo. A urina ficou um pouco presa. A hemorróida inflamou muito, e ficou absolutamente desconfortável. Aumentou o funcionamento intestinal. Teve uma intensa dor de cabeça. Após o sexto dia do segundo período começou a sentir-se novamente melhor. Diminuiu os doces e as gorduras, tinha prazer em beber o chá porque sentia a digestão melhor, achava gostoso de tomar. As dores musculares e os desconfortos cessaram. Percebeu neste último período que todo o cansaço do final de ano e do trabalho estavam acumulados no corpo. Observou também que no período da manhã era ineficiente, tipo “enrolado”, atrasava-se. Ao perceber isso, passou a dar atenção ao seu desempenho e a se organizar melhor. Destaca-se que o fígado é o órgão que rege o planejamento, a estratégia e a ação. Participante CE: Enfermeira, 52 anos, casada, sem filhos. É magra, saudável, aspecto bonito, harmonioso. Pratica yoga. Tem um apetite saudável, gosta de tudo. No trabalho coordena um centro de saúde que demanda muita energia e disposição física e emocional. No casamento não sente a mesma autonomia. Gosta muito de viajar, viaja constantemente com o marido para diversas partes do mundo, mas onde mais gosta é uma pousada à beira mar, não tão longe de sua residência. A casa onde mora é confortável, arejada, possue um belo jardim com árvores. Sua queixa principal foi inchaço nos pés, além de dor de cabeça constante, propensão à prisão de ventre, uma distensão muscular, câimbras. Foi orientada para tomar o chá três vezes ao dia, durante dez dias. Interromper por cinco dias e prosseguir por mais dez dias. Nos primeiros dias não sentiu muita diferença, mas a seguir percebeu que os pés desincharam. A seguir sentiu uma melhora generalizada, sem se fixar num ou outro sintoma. Bem estar no geral. No segundo período de dez dias notou que estava sentindo-se mais leve, disposta e mais resistente no trabalho. As cãibras cessaram, porém as dores de cabeça permaneceram. Melhorou muito seu aspecto, com brilho nos olhos, olhar mais radiante, jovialidade no rosto. Parece que o organismo passou por uma desintoxicação eliminando o que estava estagnado. Participante NS: Mulher, 52 anos, solteira, independente, arquiteta. Pratica dança e caminhadas. Tipo físico normal, mais para magra, tem boa disposição. Mora em São Paulo, em bairro completo e confortável, mas muito poluído (ar e ruído) pelo intenso movimento de veículos. Tem bom apetite, mas não metaboliza bem gorduras, sendo que as evita. Sua queixa emocional é que se sente desajustada, não entende muito o sentido da vida, choca-se com a injustiça e a avidez humana, na natureza encontra sua verdadeira fonte de inspiração e refazimento. Tem um histórico de decepções nos relacionamentos tanto familiares quanto afetivos. Tem autonomia profissional. Gosta de viajar e sentir-se livre de pressões e opressões. Sua queixa física é de ordem metabólica. É sensível a alimentos pesados, gordurosos que lhe causam empachamento, dor de cabeça, gosto estranho na boca, odores fortes pelo corpo, oleosidade na pele. Tem bom sono, bom funcionamento intestinal, boa disposição em geral. Costuma beber bastante água, de dois a três litros por dia, sente que proporciona bem estar e frescor. Consequentemente urina bastante, urina clara. Muito sensível a ruídos, barulhos, que a deixam profundamente irritada. Prefere o silêncio. Sente embaçamento e vermelhidão na vista, e nos últimos quatro meses sente movimentos involuntários nas pálpebras. Foi orientada para tomar o chá três vezes ao dia, durante dez dias. Interromper por cinco dias e prosseguir por mais dez dias. Nos primeiros dez dias adorou. Sentiu leveza e bem estar, gosto muito neutro na boca, digestão leve e adequada. Perdeu umas gordurinhas localizadas, sentiu-se mais magra, mais esguia e leve. Desde o primeiro dia observou rajadas de dores pelo corpo. Aconteciam como raios, muito rápidos no rosto, pelo corpo, nos braços. No segundo período, entretanto, sentiu muitas dores nos seios e axilas. Dor bastante expressiva, sensação de inchaço nos seios, dificuldade para acomodar o corpo para dormir etc. As dores cessaram apenas após sessenta dias sem tomar o chá. Quanto ao sistema digestivo, sentiu-se muito bem especialmente quanto à neutralidade de gosto na boca e leveza geral no corpo. Observou também que seu rosto ficou mais bem definido, sentindo-se mais bonita. 4.3 Resultados Pude observar um efeito desintoxicante e resoluto no sistema digestivo nos três casos. O chá promoveu boa disposição e leveza física e emocional, jovialidade no aspecto, pele menos gordurosa, olhar mais brilhante, bem estar. Mas as dores nos participantes JA e NS me motivaram a também tomar o chá para avaliar seu efeito em meu corpo. No meu caso as dores concentraram-se na região do pescoço. Foram muito intensas e expressivas. Analisando muito cuidadosamente as regiões doloridas em todos os casos relacionei-as com o Sistema Linfático. Comparamos a região da dor com o Atlas do Sistema Linfático, e realmente coincidiram. É bastante interessante e revelador a ação da erva no Sistema Linfático. O resultado sugere diversas hipóteses. Pode ser que as toxinas mobilizadas com o uso da erva tenham sobrecarregado o Sistema Linfático, ou ainda que a própria erva o tenha sensibilizado e inflamado a ponto de provocar bastante dor. Interessante também que a dor concentrou-se em regiões diferentes em cada participante. Em JA nos braços, em NS nos seios e axilas, e em mim no pescoço. A Espinheira Santa revelou uma forte relação entre a fitoterapia e o Sistema Linfático, sendo que este pode ser o principal veículo para sua ação no organismo. Este assunto, pela sua importância, merecerá um estudo detalhado futuramente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Além dos estudos de casos desta monografia o que averigüei nesses anos de pesquisas e experimentos é que a Espinheira Santa é realmente eficaz em drenar, expulsar rapidamente o calor-umidade do estômago quando as descargas de toxinas têm como origem o desequilíbrio e a agressão do calor tóxico do fígado. Ou seja, com o acúmulo de energia o fígado descarrega sua sobrecarga no estômago. A digestão e a assimilação são interrompidas e o indivíduo sofre de enjôo, dor de cabeça, vômito, febre, fraqueza e dor de estômago. Nessa situação a Espinheira Santa age com eficácia aliviando os sintomas e reestruturando as energias do indivíduo. Ela desintoxica, é diurética e levemente laxativa, drena a umidade-calor através dos rins e intestinos. É tranqüilizante, destenciona e harmoniza. Ao mesmo tempo diminui o Yang excessivo que vem do fígado (drena umidade-calor). E também tonifica o Baço-Pâncreas, ajuda a fortalecer, a adquirir resistência e protege de possíveis infecções (sabor adocicado). O Baço é gerador de umidade no organismo, responsável pela digestão dos alimentos e transporte de seus nutrientes, chamados de essências alimentares, vitaminas, proteínas, carboidratos e lipídeos que são transportados. Essas energias são transportadas até o pulmão, onde ocorre uma mistura de energias. Caso esse mar de energia não consiga ser transportado para o corpo pode haver um acúmulo de umidade. O contínuo processo de transformação de energias e seu encaminhamento para o corpo como energia correta ou nutritiva quem o faz é o Baço ligado ao Elemento Terra. Quando esse órgão se estressa ou é agredido ocorre a estagnação dessas energias. Observo que a Espinheira Santa é eficaz quando a desarmonia vem do desequilíbrio Fígado -Estômago - Baço. Ou seja, uma estagnação que também se relaciona com a raiva, desgosto, impotência do indivíduo frente à própria vida. Porém se umidade-calor tiver como origem a deficiência de Yang do Rim e conseqüentemente de Yang do Baço, gerando um quadro de lassitude, cansaço, estagnação dos fluídos corpóreos, umidade e obesidade, a Espinheira Santa não tem a mesma eficácia. Neste caso será necessário um tratamento que recupere a essência do Rim, eleve a energia Yang do organismo, para mobilizar e transformar as energias e com isso reverter a situação e o equilíbrio se restabelecer. Este assunto será objeto de outro estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O Diagnóstico na Medicina Chinesa. São Paulo: Organização Andrei Editora Ltda., 1992. BARROS, FISCHER &ASSOCIADOS. Atlas do Corpo Humano. São Paulo: Barros, Fischer &Associados, 2005. BOTSARIS, Alex. Fórmulas Mágicas. Rio de Janeiro: Nova Era, 2006, EBRAMEC, Apostila do curso de Pós Graduação em Fitoterapia Chinesa e Plantas Brasileiras, 2008. Ginzburg, Carlo. Mitos Emblemas Sinais - Morfologia e História. Cia das Letras, 1986. KUANG, Wu Tu. DVD, Vídeo Fitoterapia Chinesa. LEITE, Mary Lannes Salles.Manual de Fitoterapia Chinesa e Plantas Brasileiras. São Paulo: Ícone, 2005 LIMA, Ângela. Índice Terapêutica Fitoterápico Ervas Medicinais. Petrópolis- RJ: Epub, 2008 Lorenzi, Harri, Matos, F.J. Abreu. Plantas Medicinais no Brasil: Nativas e exóticas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002. MACIOCCIA, Giovanni. Fundamentos da Medicina Chinesa. São Paulo: Roca, 1989. ______. A Prática da Medicina Chinesa. São Paulo: Roca, 1996. ______. Diagnóstico na Medicina Chinesa. São Paulo: Roca, 2005. ROSS, Jeremy. Zang Fu Sistemas de Órgãos e Víceras da Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: Roca, 1984. WILHELM, Richard. Tao-te king: o livro do sentido da vida. São Paulo: Pensamento, 2006. APÊNDICE A - Roteiro para anamnese Ficha de anamnese Bom Regular Ruim Fator principal desencadeante (start) Regular Ruim Descrição Regular Ruim Idade: Bom Aspectos Emocionais Sexo: Bom Cliente: Índice de satisfação pessoal, raiva, frustração, desgosto, tristeza. Responsabilidade e autonomia em relação à própria vida Reflexos, presença de espírito, nível de resolução pessoal. Outros Aspectos Físicos Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, Sono Hábitos alimentares Sedentarismo Clima e qualidade de vida onde mora Outros Sintomas físicos\fisiológico Sistema digestório: dores, rubor, calor, inchaço, desconforto, enjôo, vertigem, empachamento, obstruções, prisão de ventre, infecções, outros. Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, etc. Visão: embaçamento, movimento involuntário, vermelhidão. Outros Descrição Ficha de anamnese Índice de satisfação pessoal, raiva, frustração, desgosto, tristeza. Reflexos, presença de espírito, nível de resolução pessoal. X Outros X Aspectos Físicos Ruim Resolve os próprios problemas. Namorando, está bem. Regular X Bom Responsabilidade e autonomia em relação à própria vida Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, Dorme rápido, sono agitado. X Alimenta-se bem bom apetite. X Hábitos alimentares Trabalha muito fisicamente, desgaste. X Sedentarismo Clima e qualidade de vida onde mora Bom. No verão sofre. X Regular Bom Sistema digestório: dores, rubor, calor, inchaço, desconforto, enjôo, vertigem, empachamento, obstruções, prisão de ventre, infecções, outros. Ruim X Outros Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, etc. Descrição 1,83m, pele oleosa, língua normal. Sono Sintomas físicos\fisiológico Fator principal desencadeante (start) Raiva, frustrações profissionais. X Ruim Aspectos Emocionais Idade: 43 Regular Sexo: M Bom Cliente: JA Muito sono durante o dia. Descrição Dor de estômago insuportável após X tomar café, comer doces. Tem que tomar remédios. Aspecto geral normal, cansaço, pele X oleosa. Visão: embaçamento, movimento involuntário, vermelhidão. X As vezes vermelhidão. Outros X Dor de cabeça com o clima quente. Ficha de anamnese Índice de satisfação pessoal, raiva, frustração, desgosto, tristeza. X Responsabilidade e autonomia em relação à própria vida X Reflexos, presença de espírito, nível de resolução pessoal. X Ruim Aspectos Emocionais Idade: 52 Regular Sexo: F Bom Cliente: CE Fator principal desencadeante (start) Tem autonomia, coordena um centro de saúde, trabalha bastante. Casada, não tem total autonomia. Ruim Regular Aspectos Físicos Bom Outros Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, Descrição Magra, normal, saudável. Sono X Dorme rápido e bem. Hábitos alimentares X Alimenta-se bem, bom apetite. Sedentarismo X Clima e qualidade de vida onde mora X Ativa, pratica Toga, trabalha bastante. Bom, confortável. Sistema digestório: dores, rubor, calor, inchaço, desconforto, enjôo, vertigem, empachamento, obstruções, prisão de ventre, infecções, outros. Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, etc. Ruim Regular Sintomas físicos\fisiológico Bom Outros X Descrição Inchaços nos pés, dor de cabeça constante, prisão de ventre. Normal X Visão: embaçamento, movimento involuntário, vermelhidão. X Pres - miopia da idade. Outros X Distensão muscular, câimbras. Ficha de anamnese Bom Aspectos Emocionais Idade: 52 Índice de satisfação pessoal, frustração, desgosto, tristeza. raiva, Ruim Sexo: F Regular Cliente: NS X Fator principal desencadeante (start) Profissional ok, relacionamentos precários. Responsabilidade e autonomia em relação à própria vida X Tem total autonomia. Reflexos, presença de espírito, nível de resolução pessoal. X Normal. Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, X Sono X Hábitos alimentares X Sedentarismo X cebola ocorrem odores fortes, suor. Muito bom. Vegetariana, evita gorduras. Bebe muita água (3 litros\dia). Trabalha, estuda, descansa. X Descrição Se comer gorduras e temperos fortes: Sistema digestório: dores, rubor, calor, inchaço, desconforto, enjôo, vertigem, empachamento, obstruções, prisão de ventre, infecções, outros. X Tipo físico, aspecto, cor, língua, pele, odores, etc. X Visão: embaçamento, involuntário, vermelhidão. X movimento Poluição sonora e do ar. São Paulo. Dor nos pés e região lombar. Ruim Bom Sintomas físicos\fisiológico Regular X Outros Descrição Magra, língua rosa, pele normal, se comer Clima e qualidade de vida onde mora Outros Ruim Bom Aspectos Físicos Regular Outros empachamento, enjôo, dor de cabeça, pés inchados, abatimento no rosto, odores. Normal, gosto estranho na boca, odores fortes se comer temperos fortes. X Embaçamento, vermelhidão, também pela poluição local.