Parte 1 - Revista Emergência
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Parte 1 - Revista Emergência
2 Emergência JULHO / 2006 OPINIÃO A número 1 O surgimento de uma nova revista é um momento sempre especial. Gera ansiedade na equipe que a desenvolve e expectativa junto ao mercado. Quando a MPF Publicações Ltda, em 2003, passou a desenvolver o projeto de implantação desta revista, procurou, antes de tudo, identificar o perfil mais adequado ao Brasil. Inspirado em publicações internacionais, mas calcado na realidade brasileira, projetou-se uma publicação técnica que abordasse temas até hoje espalhados em outros veículos, mas que têm ligação e é resumido pela palavra emergência. Ficou claro que o nome da revista não poderia ser outro. A proposta da Revista Emergência é reunir informações, reportagens, artigos sobre as áreas de incêndio, resgate e emergência, atendimento pré-hospitalar e emergências químicas. Nos últimos meses, uma equipe trabalhou para pesquisar junto a estes setores que, embora às vezes estejam separados, se reúnem quando uma emergência ocorre. Você tem em mãos o resultado deste trabalho com o número 1 da nova revista. A equipe da Emergência acredita que este projeto possa dar sua parcela de contribuição para que as ações nesta área sejam cada vez mais profissionais. Esperamos que você goste deste novo projeto. Tenha certeza de que há muita dedicação por traz dele. 04 08 Presenças internacionais debateram as novidades sobre as diretrizes de emergências médicas, num evento em SP. ESPECIAL 16 Como está a integração entre os órgãos de atendimento às ocorrências no país? Profissionais dizem estarmos longe de uma interação perfeita. Falta de estrutura e de um número central para chamadas são alguns dos problemas. 24 HORAS 26 Emergência acompanhou o dia inteiro de trabalho de uma enfermeira do Samu, de Campinas, em São Paulo. REPORTAGEM 30 Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro completa 150 anos este mês. Sua história e conquistas são retratadas em reportagem especial. RESGATE 36 A tragédia da Vila Socó, ocorrida há mais de 20 anos, é resgatada através de pesquisas e depoimentos de quem vivenciou o acontecimento na época. INTERNACIONAL 38 O paramédico norte-americano Larry Newell fala de evolução e das tendências mundiais nas ações de urgência. JULHO / 2006 Sede Rua Lucas de Oliveira, 49 - cj 401 Fone (51)2131-0400 - Fax (51)2131-0445 93510-110 - Novo Hamburgo - RS E-mail: [email protected] Site: www.revistaemergencia.com.br São Paulo Av São Luís, 86 - cj 191 Fone/fax (11)3129-4580 01046-000 - São Paulo - SP Editora: Paula Barcellos Profissionais de urgência têm cotidiano estressante. O tenente coronel e psicólogo, Ib Martins Ribeiro, fala sobre a necessidade de se gerenciar o estresse da atividade. ATUALIZANDO DIRETOR Alexandre Gusmão REDAÇÃO Fone: (51)2131-0422 E-mail: [email protected] Boa leitura SEÇÕES ENTREVISTA Revista trimestral sobre proteção e combate a incêndio, resgate e emergência, atendimento préhospitalar e emergências químicas Textos: Cristiane Reimberg, Lia Nara Bau, Paula Barcellos e Sabrina Auler 40 Foto de capa: Tenente Miguel Jodas/Assessoria de Comunicação do Corpo de Bombeiros/SP A organização de assistência num acidente industrial ampliado e informações relevantes para o enfermeiro é tema de artigo. Editoração Eletrônica: Karina L. Coelho de Brito e Scheila Cristina Wagner ENFERMAGEM DEFESA CIVIL 48 Artigo fala da necessidade de uma estrutura federal equilibrada e uma cultura prevencionista para a Defesa Civil Brasileira. DICAS DE EMERGÊNCIA 53 É preciso atentar para detalhes no uso do Desfibrilador Externo Automático. EMERGÊNCIA RESPONDE 54 56 Perguntas dos leitores são respondidas pelos consultores. EVENTOS Cursos nacionais e internacionais do setor oferecem opções na busca de aperfeiçoamento profissional. LEIS E NORMAS 58 As principais legislações recentes de interesse dos profissionais de emergência estão nesta seção. PRODUTOS & SERVIÇOS 60 62 Espaço para as tecnologias em equipamentos e serviços. SAÍDA DE EMERGÊNCIA Um noticiário sobre ocorrências que acontecem no país e no mundo, curiosidades e história sobre a área. Ilustração: Gabriel Renner PUBLICIDADE Rio Grande do Sul: Fone/fax: (51)2131-0430 E-mail: [email protected] Gerente: Rose Lanius São Paulo: Fone/fax: (11)3129-4580 E-mail: [email protected] Gerente: João Batista da Silveira CIRCULAÇÃO Fone/fax: (51)2131-0410 E-mail: [email protected] Gerente: Cristina Juchem Martins Assinatura 1 ano (4 edições) R$48,00 2 anos (8 edições) R$82,00 Assinatura exterior: 1 ano (4 edições) US$30.00 Exemplar avulso: R$15,00 ASSINATURAS NOS ESTADOS São Paulo (11)3129-4580 Minas Gerais (31)30810802 Goiás: (62)3945-5711 Rio de Janeiro (21)2580-8755 Rio Grande do Sul (51)2131-0440 Reprodução de artigos somente com a autorização do editor. Emergência não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados, sendo estes de responsabilidade de seus autores. Tiragem de 10.000 exemplares auditada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação) Emergência é filiada à ANATEC - Associação Nacional das Editoras de Publicações A revista Emergência é editada pela Publicações Ltda Impressão: Sociedade Vicente Pallotti Emergência 3 ENTREVISTA Estresse no trabalho ◗ Importância do gerenciamento do estresse para os profissionais que lutam contra o tempo e contra a morte em seu cotidiano P rofissionais de emergência têm que estar a postos para qualquer ocorrência, não interessa onde, nem quando, nem como. Considerados heróis pela maioria das pessoas, este status ultrapassa os limites da compreensão quando torna-se um risco de vida ou uma pressão psicológica, afetando a saúde mental e fazendo com que os mesmos sigam, até mesmo, os passos do suicídio. “Mas quem lembra disto?”, questiona o psicólogo e consultor em psicologia de emergência, Ib Martins Ribeiro. Responsável por fazer um trabalho junto aos profissionais de urgência, como policiais, bombeiros, resgate, Defesa Civil e saúde, em São Paulo, Ib procura fazer com que eles deixem de lado as questões culturais que não os permitem dialogar e expressar sentimentos, abrindo espaço para os aspectos emocionais e psicológicos, muitas vezes, prejudicados pelas características do trabalho de emergência. O intuito desta atividade é dar a compreensão de que eles são seres humanos com problemas físicos e psicológicos como qualquer outra pessoa. Através desta nova visão, os profissionais vêm trabalhando a auto-estima, a segurança e a confiabilidade, o que reflete numa melhoria da qualidade de vida com a família e diretamente no trabalho. Paula Barcellos PORQUE É IMPORTANTE O GERENCIAMENTO DO ESTRESSE PARA O PROFISSIONAL DE EMERGÊNCIA? Certa vez, eu estava fazendo um patrulhamento e, de repente, vejo um policial fardado que estava sangrando por um problema de saúde e tive que levá-lo para o hospital. Agora, imagine se está acontecendo um assalto naquele momento? O policial não pode nem se recusar a atender. Para as pessoas pouco importa se o policial está bem ou não. Elas querem ser socorridas e pronto. O profissional de emergência é aquele que socorre as pessoas em situações críticas, em catástrofes e no risco de vida, pois se ele não tomar uma medida imediata, rápida, eficiente, as pessoas PERFIL IB MARTINS RIBEIRO JEFFERSON MENDES Tenente coronel da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, psicólogo e consultor em psicologia de emergências, Ib Martins Ribeiro, desde 1977, vem atentando para os problemas emocionais dos profissionais de emergência. Na época, era guarda de trânsito e soube que um colega havia morrido. “Mas o pessoal comentou que ele não estava bem e pensava em se matar”, recorda. Já em 1980, no Corpo de Bombeiros, presenciou o desespero de outro colega ao retirarem uma criança que havia morrido em um poço. “Foi quando decidi fazer psicologia”, revela. Formado em 1986, numa época em que psicologia era incipiente para estes profissionais, o coronel já atuou no Centro de Seleção, Alistamento e Estudos de Pessoal da PM de SP durante nove anos, tendo sido chefe por três anos. Também atuou na Secretaria da Saúde e no Centro de Assistência Social, Religiosa e Jurídica (CASRJ) também da PM de SP. De lá para cá, vem fazendo cursos Por ....... e treinamentos, teórico e prático, envolvendo a questão do estresse, estresse pós-traumático e suicídio. 4 Emergência morrem. É neste momento que ele entra naquele processo de culpa: “O que eu fiz de errado?”. Acaba tendo uma pressão muito grande em cima disto. Além disso, quando existe uma situação em que envolve cadáver, sangue, o corpo reage de imediato e pensa: “Meu Deus, eu sou o próximo a morrer!”. Então, gera todo aquele processo de estresse que é exatamente o que? Defender a sobrevivência do organismo. ELE É IMPORTANTE PARA QUE O PROFISSIONAL CONSIGA ATUAR CORRETAMENTE? Sim, pois o estresse é um resquício, da época das cavernas, exatamente procurando manter o corpo vivo. Quando o corpo percebe um sinal de perigo, seja ele verdadeiro ou não, ele se prepara para lutar ou para fugir. Qual é a resposta natural diante de um incêndio ou de um tiroteio? É fugir. Já o bombeiro e o policial vão para cima. Então, o profissional de emergência, em primeiro lugar, ele já começa a agredir o próprio organismo, indo contra o instinto natural. É aí que começa um desgaste muito maior, além do desgaste natural do corpo que se prepara para o estresse numa situação crítica que exige a fuga. E ele precisa aprender a gerenciar tudo isto. Ele começa a gastar uma energia absurda para manter isto funcionando, pois o coração bate mais forte, a respiração fica mais forte, o raciocínio mais rápido, e por aí afora. DE QUE FORMA ELE TEM QUE GERENCIAR ISTO? Ele tem que primeiro entender que isto é uma coisa natural. Quer dizer, são atendidas várias ocorrências no mesmo dia e corpo se preparou todas as vezes para isto. Daí em um uma semana, JULHO / 2006 um mês ou um ano o profissional começa a ensinar para o seu organismo que existem alguns comportamentos que são normais, por exemplo, o coração bater mais forte, a pressão ficar mais alta. Então, com o tempo, irão surgir problemas cardíacos, problemas respiratórios, problemas de pele, problemas intestinais, problemas estomacais, entre outros. E estou só falando da parte física. Na parte emocional, para lutar e se defender, o profissional tem que se tornar muito mais agressivo e incisivo, tanto verbal quanto fisicamente. Desta forma, o profissional de emergência vai se tornando mais agressivo e as outras pessoas que estão em volta dele começam a ficar incomodadas. Para melhorar este comportamento eu trabalho com um grupo de, no máximo, 25 pessoas e vou mostrando para eles como o estresse vai acontecendo, como o corpo reage diante do perigo, como os profissionais de emergência contrariam este movimento natural do corpo, os desgastes que se tem e as conseqüentes doenças que vão surgindo. A partir daí, eles vão identificando estes problemas em si mesmos e dentro do grupo. Começam a ficar mais à vontade e a falar de seus próprios problemas e dificuldades emocionais porque percebem que os outros profissionais também sentem o mesmo. E o grande problema que se tem com o profissional da emergência é que ele tem sempre que manter aquela postura de força, pois problema emocional é coisa de mulher. A FIGURA DO HERÓI ENTRE ESTES PROFISSIONAIS DA ÁREA É MUITO FORTE. ATÉ ONDE ISTO PODE PREJUDICÁ-LOS? É muito forte, mas a coisa ruim é você se considerar herói, porque começa a buscar isso a qualquer preço. O bombeiro costuma falar assim: “mas eu tenho que salvar nem que custe a minha vida!”. Mas se ele morrer, ele não salva mais ninguém. Vemos isto, principalmente, em profissionais muito jovens. E TEM UMA FORMA DE MOSTRAR QUE EXISTEM LIMITES PARA ISTO? Tem que treinar este homem, tanto no aspecto cognitivo, como no físico, emocional e espiritual. O treinamento de rappel é muito bom para isso. É preciso mostrar para ele quais são seus erros e trabalhar estes erros. Aprender a confiar no equipamento e nele, pois a partir daí ele pode fazer muita coisa. COMO É TRABALHAR A PARTE FÍSICA, EMOCIONAL E TÉCNICA DE UM PROFISSIONAL DE URGÊNCIA? Hoje se gasta muito no mundo todo, tentando encontrar maneiras de controlar o estresse, quer 6 Emergência ARQUIVO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO CBMERJ ENTREVISTA ou morreu queimada no incêndio. Muitas vezes, bombeiros e policiais confessaram a mim que não acreditavam em nada, pois se existisse um “Deus”, ele não deixaria acontecer isto a crianças. Muitos tentaram se matar duas ou três vezes em função disto. Então, mostro para eles a importância da religiosidade, não importa qual, mas uma que ele se sinta bem e possa trabalhar bem. Trabalhando bem, ele sai mais rápido de uma situação de estresse pós-traumático e evita chegar ao suicídio. seja através de medicamentos, quer através de terapia, e, normalmente, a solução mais barata acaba caindo onde? Na atividade física. Quando entramos em uma situação de estresse, temos uma descarga de adrenalina e outros hormônios muito forte que vão deixando o corpo cada vez mais tenso. Quando chega no final do dia, durante o qual se enfrentou problemas sérios, o corpo está dolorido, mas fazendo uma atividade física ele relaxa. Se o profissional fizer um alongamento e uma boa respiração toda essa musculatura se solta e a energia começa a fluir mais facilmente. Com isto, consegue dormir melhor, se alimentar melhor e pensar melhor. Essa é a importância da atividade física, além disto, ela vai aumentar a resistência dele em relação ao estresse. E ESTA SERIA UMA DAS SOLUÇÕES? Sim, uma das soluções. Imagine um triângulo. Do lado esquerdo o aspecto intelectual (cognitivo) que nada mais é do que treinamento técnico. Do lado direito, a parte física. Na base desse triângulo está o aspecto emocional e em seu centro a espiritualidade. O aspecto emocional está na base deste triângulo, pois, para você gerenciar o estresse, o que é preciso? Ferramentas. Uma delas é saber que aquelas coisas existem. Então, passo para o profissional ferramentas, mostrando que isso é uma coisa normal, natural, que não precisa ter vergonha do que está acontecendo com ele. Também falo sobre a espiritualidade do indivíduo. Por exemplo, uma criança foi violentada O ÍNDICE DE SUICÍDIOS É MUITO GRANDE ENTRE ESTES PROFISSIONAIS? Temos que ensinar que em nossa vida, todos temos problemas, mas o que acontece? Quando estamos bem, temos um grande leque de soluções para este problema. E dentro deste leque de opções a morte é uma delas. Nós temos o controle sobre algumas coisas, mas sobre as ocorrências que iremos atender não, mesmo não estando bem para atendê-las. Às vezes a pessoa está com vontade de se matar, mas tem que salvar alguém. O que acontece? O suicídio não surge de uma hora para outra, ele vai se desenvolvendo na história de vida da pessoa, o leque vai diminuindo cada dia mais até que um dia a pressão está tão grande que a idéia de se matar se torna extremamente atraente. Só que, muitas vezes, para se matar, você precisa encontrar uma forma de fazer isto. Então, em alguns casos, se acelera a viatura sem necessidade, por exemplo. Se ele morrer nesta situação o que acontece? Vira herói, a família recebe o seguro e ninguém fica sabendo que ele se matou. Por isto, é importante evitar que a pessoa passe por toda esta fase, que entre no estresse, na depressão e no estresse pós-traumático. E EXISTE UM LEVANTAMENTO DESTES SUICÍDIOS? Segundo dados da PM de São Paulo, que envolve tudo, bombeiros, polícia, profissional de trânsito, no Estado, por exemplo, o número de suicídios dos profissionais de emergência, é de seis a oito vezes maior que da população geral. Mas é normal este índice ser maior entre os profissionais de emergência. Nós perdemos muita gente. Para você ter uma idéia, de 1994 até 2005, foram 290 profissionais da área de emergência que se suicidaram. O ALCOOLISMO E USO DE DROGAS É INTENSO ENTRE ESTES PROFISSIONAIS? O álcool é um antidepressivo barato, então você bebe para ficar alegre, para relaxar. E quando se trabalha num grupo de emergência se vê que muitos do grupo bebem para relaxar. Além do que, existe uma pressão indireta do próprio grupo JULHO / 2006 para que todos bebam para relaxar após a ocorrência. E o profissional vai bebendo. Bebe um golinho hoje, mas quando está numa depressão perde a conta. TRABALHAR A PARTE EMOCIONAL NA EMERGÊNCIA NÃO É COMPLICADO EM VISTA DA POSTURA RÍGIDA DOS PROFISSIONAIS? Trabalho muito em função de mostrar para eles o que está acontecendo com o estresse e estimulando para que eles falem e aprendam a ouvir também. Neste sentido, costumo fazer um trabalho chamado roda da fogueira, onde coloco o grupo em torno de uma fogueira imaginária e eles falam sobre a infância, as coisas boas que aconteceram. É quando começam a aparecer também as coisas ruins. No outro dia, falam também sobre as ocorrências boas e ruins. Com isto, o profissional sente que as pessoas têm problemas tanto quanto ele e, às vezes, tão mais fortes que os dele. Você vai, desta forma, quebrando esta barreira e ele sente-se seguro, acolhido e amparado, pois o grupo entende tudo que ele fala e, com isto, ele evolui tanto na vida pessoal quanto na profissional. É DIFERENTE TRABALHAR O LADO PSICOLÓGICO DE QUEM ATENDE UM COMBATE A INCÊNDIO SEM VÍTIMAS DE JULHO / 2006 “ O profissional de emergência que vai procurar ajuda se recupera muito mais rápido QUEM RESGATA FERIDOS E MORTOS? O problema não é apenas a ocorrência em si, mas é como este profissional de emergência vai perceber e interpretar essa ocorrência. O que vai diferenciar uma ocorrência da outra? A maneira como ele interfere nela. Se ele estiver com aquele triângulo bem equilibrado, intelectualmente bem, tecnicamente, muito bem treinado, fisicamente e emocionalmente bem, que problema ele vai ter? Ele conseguirá desenvolver o trabalho dele adequadamente, bem como os resquícios emocionais da ocorrência. Caso necessário, terá coragem de procurar socorro. O profissional de emergência que vai procurar ajuda se recupera muito mais rápido. O NÃO EQUILÍBRIO DE UM PROFISSIONAL DE EMERGÊNCIA PODE RESULTAR EM ATENDIMENTO MAL SUCEDIDO? No caso de um acidente de carro, por exemplo, a equipe fica por horas tentando tirar a pessoa das ferragens, segurando a mão e conversando para mantê-la acordada. Mas ela acaba morrendo. Aí vem aquela sensação de impotência, de culpa. Porém, vamos supor agora que a vítima sobreviveu. Ela vai ser socorrida, fica com algumas seqüelas emocionais, só que a família leva num psicólogo para tratamento e, em pouco tempo, ela estará boa. E com o profissional de emergência? As seqüelas emocionais não foram cuidadas, tratadas. Alguém vai tratar? Não. Ele segue atendendo outras ocorrências. Neste sentido, o profissional da emergência é hoje uma espécie de vítima que ninguém lembra. Se ele não possuir aquele triângulo equilibrado como ele vai trabalhar? Não vai conseguir raciocinar direito e o risco de tomar uma decisão errada é muito grande. COMO O SENHOR PERCEBE A EVOLUÇÃO DO ESTRESSE NOS DIAS DE HOJE NESTES PROFISSIONAIS E O QUE SUGERE PARA AMENIZAR ESTE PROBLEMA? Eu acho que não só a instituição tem que se preocupar com a pessoa, mas o profissional tem que sair daquela posição cômoda de achar que a instituição é responsável por tudo. Ele tem que ter uma postura profissional e assumir: eu tenho que procurar ajuda. Eu acho que isto é importante. Emergência 7 ATUALIZANDO ENCONTRO ECSI, que conta agora com mais de 50 novos cursos on line relacionados à área de atendimento às emergências. O material está em inglês, mas já vem sendo traduzido para o espanhol e português . Futuramente, o intuito é traduzí-lo para outros idiomas. Na oportunidade, também foi apresentado como funciona o sistema de emergências médicas nos EUA e como está organizado o processo de treinamento dos profissionais e leigos que integram esse sistema. Anualmente, cerca de oito milhões de pessoas leigas são treinadas em primeiros socorros nos EUA, formando a base de uma pirâmide de responsabilidades. “Em um cenário de emerPor ano, oito milhões de pessoas gência, são pessoas comuns treinaleigas são treinadas em primeiros das que farão a diferença ao ajudar”, socorros nos Estados Unidos explica Larry Newell. Discussões internacionais A s novas diretrizes de RCP (Ressuscitação Cardiopulmonar) e ACE (Atendimento Cardiovascular de Emergência), publicadas em novembro de 2005 pela American Hearth Association, foi um dos aspectos tratados no Encontro Internacional ECSI 2006 & Instructor Orientation realizado em Bragança Paulista/SP, no mês de maio. Dentre os palestrantes internacionais convidados, esteve presente Larry Newell, paramédico e diretor executivo do ECSI (Emergency Care and Safety Institute), nos Estados Unidos, – um sistema de treinamento para atendimento às emergências desenvolvido pela AAOS (American Academy of Orthopaedic Surgeons) – e endossado pelo ACEP (American College of Emergency Physicians) – ver entrevista Experiência internacional, na página 38. Larry Newell expôs sobre as mudanças importantes nas diretrizes 2005, entre elas, reiterou sobre a aplicação da RCP imediata e da aplicação de choques com o DEA (Desfribilador Externo Automático) em intervalos menores. As diretrizes anteriores preconizavam aplicar uma seqüência de três choques para então reavaliar a vítima e, se necessário, aplicar um minuto de RCP. “Segundo as novas diretrizes, competirá aos médicos reguladores regionais descrever protocolos que sejam realistas de acordo com as circunstâncias existentes em cada localidade ou instituição”, alerta Randal Fonseca, diretor executivo da RIT Editora Randal Fonseca, responsável pela tradução e impressão do material didático ECSI em português. FORMAÇÃO Segundo o diretor, o objetivo do evento é formar novos instrutores para ministrar cursos de atendimento às emergências sob a égide do ECSI, “contando com um grupo de instrutores que se desenvolveu ao longo desses 12 anos de atividades do Programa de Emergências que representamos no Brasil”. Outro ponto abordado no evento foi referente à ampliação de programas de treinamento oferecidos a partir de 2006 pelo 8 Emergência ARQUIVO RESGATE TREINAMENTOS Profissionais trazem atualizações para o setor FORA DO BRASIL DIRETRIZES Proposta é simplificar atendimento Desde novembro de 2005, entraram em vigor as novas diretrizes de RCP (Reanimação Cardiorrespiratória) e ACE (Atendimento Cardiovascular de Emergência). As diretrizes de 2005 baseiam-se na mais ampla revisão da literatura já publicada sobre ressuscitação. Uma das principais mudanças, de acordo com o novo consenso, é que o paciente com parada cardiorrespiratória deve ser submetido, nos primeiros três minutos após a parada, a 30 compressões (massa- As principais modificações para todos os socorristas Ênfase para melhorar a aplicação de compressões torácicas eficazes. Uma única relação compressão-ventilação para todas as vítimas (exceto recém-nascidos). Recomendação de que cada ventilação de resgate seja aplicada durante um segundo e produza visível elevação do tórax. Nova recomendação de que a aplicação de choques únicos, seguidos de RCP imediata, seja utilizada para tentar a desfibrilação em casos de parada cardíaca com FV (Fibrilação Ventricular). Aprovação da recomendação ILCOR 2003 para o uso de DEAs em crianças de um a oito anos e a utilização de um sistema de doses pediátricas. Fonte: Currents gem cardíaca) e duas ventilações (respiração boca a boca). Até agora, adotava-se 15 compressões para duas ventilações. A nova diretriz vem comprovar também a importância do Suporte Básico de Vida pré-hospitalar, que consiste em quatro pilares: diagnóstico, acionamento da equipe médica, compressão e ventilação corretas e uso do DEA (Desfibrilador Externo Automático). Para o médico e presidente do GRE (Grupo de Resgate e Emergência), Paulo Guimarães, é importante entender, no entanto, que as diretrizes não são verdades absolutas. “Determinadas diretrizes que adotamos hoje, podem ser abandonadas no futuro, em virtude de estudos mais aprofundados e aparecimento de novas tecnologias”, explica. Segundo o instrutor de primeiros socorros e comissário de vôo, Roberto Cristiano de Oliveira, as determinações locais também devem ser respeitadas. “Os protocolos locais, pertinentes à determinada comunidade ou instituição, não contradizem as diretrizes, mas as complementam”, afirma. Os objetivos que nortearam as mudanças, além da evolução científica na abordagem da parada cardíaca súbita, também foi o de simplificar o ensino da RCP para as pessoas leigas, buscando atingir eficiência e qualidade nas manobras, aumentando o índice de sobrevivência. Informações no www.americanheart.org. JULHO / 2006 ATUALIZANDO SAMU Congresso urgente Transporte e resgate aeromédico foram alguns temas de destaque do I Congresso da Rede Nacional do Samu 192, ocorrido em Brasília/DF. Isto porque a modalidade está sendo implantada nos Samus, através de convênio com a Polícia Rodoviária Federal, onde serão disponibilizados dois helicópteros e mais 130 ambulâncias para a Rede. Segundo a coordenadora geral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde e coordenadora da Rede Nacional Samu, Irani Ribeiro de Moura, a Polícia Rodoviária irá ceder os helicópteros e pilotos, enquanto o Samu entrará com médicos e enfermeiros. Os helicópteros serão destinados aos Estados de Pernambuco e Santa Catarina. Realizado pela Coordenação Geral de Urgência e Emergência (CGUE) do Ministério da Saúde, o evento ocorrido em março contou com a participação de mais de 1.300 profissionais da Rede Samu, e os demais especialistas da área de emergências, gerentes e gestores de serviços e sistemas de atenção às urgências e à saúde em geral. Questões como organização regional, importância dos comitês gestores, elaboração e pactuação de grades de referência, regulação médica, organização dos serviços, capacitação e educação permanente dos trabalhadores foram debatidas no decorrer dos três dias de Congresso. Segundo a coordenadora Irani Ribeiro ARQUIVO MINISTÉRIO DA SAÚDE. Evento da Rede Nacional oportuniza novas parcerias AMBULANCHAS Na abertura do Congresso foi assinado o acordo de cooperação entre o Ministério da Saúde e da Defesa para a Marinha construir sete lanchas (ambulanchas) como reforço ao Samu. As unidades construídas pela Marinha terão os mesmos equipamentos das UTIs e permitirão o atendimento em seis estados da Região Norte e no Maranhão, garantindo atenção às urgências em localidades de difícil acesso, onde vivem comunidades ribeirinhas. As ambulanchas serão enviadas para o Samu de Manaus/AM, Porto Velho/RO, Rio Branco/ AC, Macapá/AP, São Luís/MA, Boa Vista/RR e Santarém/PA. de Moura, o Congresso também trouxe novas perspectivas para o Samu. “Tivemos uma repercussão muito boa, pois firmamos parcerias, como, por exemplo, com a Sociedade Brasileira de Pediatria para o atendimento de urgências pediátricas”, assegura. COMEMORAÇÃO Inaugurada unidade da Cruz Vermelha O Dia Internacional da Cruz Vermelha, 8 de maio, foi celebrado na sede do órgão central da Cruz Vermelha Brasileira com uma solenidade que contou com a presença de diversas autoridades do Estado do Rio de Janeiro. Aproveitando a data, foi realizada a inauguração da Cruz Vermelha Brasileira – Filial do Estado do Rio de Janeiro. Na oportunidade, o vice-presidente Eimar Delly de Araújo, apresentou um breve histórico da criação do Movimento Internacional de Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e ressaltou as principais 10 Emergência campanhas e realizações do Movimento nos últimos anos. “A situação da Cruz Vermelha Brasileira é bem mais modesta e conta hoje com o apoio do Comitê Internacional de Cruz Vermelha, da Federação e de Sociedades Nacionais da Espanha, Alemanha e Suécia no fortalecimento da imagem institucional. A entidade também comemorou a data com a tradicional atividade “Cruz Vermelha nas Praças”, com aferição de pressão arterial, tipagem sangüínea, inscrição de novos voluntários e divulgação dos trabalhos da instituição. JULHO / 2006 SEMINÁRIO DEFESA CIVIL Psicologia das emergências Entre os dias 8 e 10 de junho ocorreu o 1º Seminário Nacional Psicologia das Emergências e dos Desastres, em Brasília/ DF. O evento foi promovido pelo Conselho Federal de Psicologia, em parceria com o Ministério da Integração Nacional e Defesa Civil, e contou com a participação de cerca de 350 profissionais, entre psicólogos e técnicos de Defesa Civil. A atuação da psicologia em situações de emergência e desastres já é desenvolvida em vários países da América Latina e tem mostrado bons resultados. No Brasil, ainda existe uma cultura da “imprevidência”, ou seja, as políticas baseadas na prevenção deste tipo de evento são recentes e frágeis. Segundo a psicóloga e gerente do Departamento de Minimização de Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil, Daniela Lopes, o evento representa um avanço da Defesa Civil no Brasil. “Ele reforça o processo de construção de uma cultura prevencionista de administração de desastres”, afirma. No evento, profissionais de outros países discutiram a problemática dos desastres e a atuação da psicologia para amenizar o sofrimento das comunidades atingidas. Participaram representantes do Chile, Espanha, México, Cuba, Estados Unidos, Costa Rica, Equador, Colômbia, entre outros países. Todas as comunidades estão expostas a uma série de ameaças que JULHO / 2006 ADALBERTO MARQUES Seminário discute atuação dos psicólogos em desastres É preciso atenção não só aos danos materiais causados por um desatre, mas também aos danos emocionais EM DEBATE podem produzir um desastre, como inundações, temporais, epidemias e terremotos. A idéia foi discutir como os psicólogos podem contribuir para evitar estas situações, seja atuando em parceria com instituições governamentais, ou dentro das próprias organizações comunitárias por meio de uma educação ambiental mais eficiente. “É importante organizarmos a atenção aos danos não só materiais causados por um desastre, como também aos danos emocionais”, salienta Daniela. A partir das discussões do Seminário será produzida uma publicação inédita que servirá de base para a formação dos futuros profissionais. Ação nos acidentes químicos ampliados O V Seminário sobre Prevenção de Acidentes Químicos Ampliados para o Sistema Nacional de Defesa Civil, ocorrido dias 20 e 21 de junho, em Porto Alegre/RS trouxe um debate sobre os acidentes químicos ampliados, com abordagem na prevenção, no planejamento e na resposta a emergências. Exemplos de acidentes foram relatados por diversos profissionais. O gerente do Setor de Operações de Emergência da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), Jorge Luiz Nobre Gouveia, abordou o rompimento de um duto e vazamento de GLP em Barueri/SP, em 2001, ressaltando as ações durante o sinistro. “Diversas entidades atuaram, como Corpo de Bombeiros, Cetesb, Defesa Civil e Polícia Rodoviária”, ressaltou. O atendimento pré-hospitalar também ganhou destaque no evento. O médico e responsável pela implantação do Samu Metropolitano no RS, Cloer Vescia Alves, apresentou a estrutura do serviço, ainda em fase de implantação no país. Fernando Vieira Sobrinho, da Fundacentro/SP, avaliou o Seminário sob a perspectiva da integração. “O evento foi excelente, auxiliando na integração das entidades e divulgando novas informações”, afirmou. O evento foi promovido pela Fundacentro, Secretaria Nacional de Defesa Civil, Coordenadoria de Defesa Civil do Rio Grande do Sul e DRT/RS. Emergência 11 ATUALIZANDO PRODUTOS PERIGOSOS FISCALIZAÇÃO Guia para emergências químicas TASK - SPECIAL SERVICES Os principais aspectos que devem ser considerados no atendimento a uma emergência com produtos perigosos estão no mais recente Guia Nacional de Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos da ABPCEA (Associação Brasileira de Prevenção e Controle de Emergências Ambientais). Lançado no dia 30 de maio, o Guia contempla a Resolução n° 420 de 12/02/2004 da ANTT (Agência Nacional Transportes Terrestres), além de trazer instruções básicas de atendimento emergencial a partir da experi- Guia traz instruções básicas de atendimento ência de profissionais renomados. Buscase, assim, não apenas dar o dispositivo legal como proporcionar o seu entendimento. Ainda apresenta a relação de produtos perigosos, dando informações como grau de risco, limites por veículo e embalagens. Outro fator positivo é que o Guia trabalha a questão da responsabilidade social do empresário e a importância da realização de programas preventivos para a diminuição dos acidentes ambientais e de suas conseqüências, apontando também responsabilidades e a necessidade de comunicação do acidente. No lançamento, estiveram presentes o presidente da entidade, José Guilherme Berardo, a diretora secretária da ABNT, Glória Benazzi, e também membros do Corpo de Bombeiros, da Polícia Rodoviária Estadual e Federal, Cetesb, Samu, Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), concessionária Ecovias, entre outras entidades. Mais informações pelo telefone (11) 3177-6363 ou através do e-mail abpcea@ terra.com.br PAM Administrando emergências O II Seminário Empresarial de Prevenção a Incêndio e Emergências do PAM (Plano de Auxílio Mútuo) de Santo Amaro, em São Paulo, contou com a participação de profissionais da área, reunidos para troca de conhecimentos. Entre os palestrantes, o capitão do Corpo de Bombeiros e comandante do 2º Grupamento de Bombeiros da Zona Sul, Rogério Guidette, falou sobre o papel do Corpo de Bombeiros na Região de Santo Amaro para as empresas e comunidade. O capitão da Defesa Civil, Wagner Luís Cardoso Mora, ministrou a palestra ”Administração de Emergências”, e o engenheiro de Segurança do Trabalho, Cláudio César Abreu de Oliveira, abordou o tema “Comunicação com a Mídia: Antes, Durante e Após Emergências”. O consultor e diretor técnico da empresa EcoSeg, Luiz Cláudio Santana, falou sobre a “Atuação do PAM nas empresas filiadas”. “A palestra abordou toda a trajetória do PAM Santo Amaro, desde sua fundação, 12 Emergência os documentos administrativos, o plano de trabalho, programa de treinamento anual, entre outros aspectos”, explica Santana. Para ele, a avaliação do evento foi totalmente positiva. “Os questionários de feedback demonstraram que 92% dos presentes aprovaram esta iniciativa do PAM”, garante. Oliveira compartilha da mesma opinião: “Este evento pôde garantir ao PAM ser conhecido por todas as instituições públicas e privadas da região e, com esta integração, pode atenuar perdas decorrentes de eventuais emergências”, complementa. O evento, que ocorreu em abril, foi organizado pela Fare Fatto Gestões em Eventos e patrocinado pela Universidade Anhembi Morumbi, Prot-Cap, Kidde e Dragersafety, com os apoios institucionais da AAPSA (Associação Paulista de Gestores de Pessoas), ABSO (Associação Brasileira dos Profissionais em Segurança Orgânica), Associação Comercial de São Paulo - Distrital Santo Amaro, Corpo de Bombeiros, Inpame e Sintesp. ARQUIVO DA DEFESA CIVIL DO RS ABPCEA lança publicação para atendimento a situações de risco Defesa Civil RS fiscaliza transporte Operação de fiscalização já autuou 122 veículos Fiscalizações de transporte de produtos perigosos fazem parte da agenda de operações da Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Realizadas, em média, a cada dois meses, recentemente a operação foi feita em Torres/RS, em abril. A ação contou com 52 profissionais, em parceria com Ibama, Inmetro, Polícia Rodoviária Federal, Fepam, Secretaria da Saúde, Secretaria da Fazenda, Secretaria Municipal da Saúde de Torres, Brigada Militar e Corpo de Bombeiros. “Ainda estão previstas para este ano outras sete operações no Estado, incluindo a participação e integração de diversos órgãos, o que torna a fiscalização mais intensa, coerente e detalhada”, informou o coordenador da Defesa Civil/RS João Luiz Soares. A fiscalização contabilizou 426 veículos fiscalizados, sendo que 35 deles transportavam produtos perigosos. Quatro veículos foram retidos e 46 foram autuados por irregularidades. Em março, a fiscalização ocorreu no município de Erechim. A operação refletiu na fiscalização de 382 veículos de carga, emitindo 76 autuações e 16 retenções. Entre os veículos vistoriados, 26 transportavam produtos perigosos. As irregularidades mais freqüentes são a falta ou defeito de equipamento obrigatório de segurança e o acondicionamento inadequado de carga como, por exemplo, o transporte na mesma carroceria de produtos químicos e alimentícios. Segundo o coordenador desta operação, major Jair Euclésio Ely, iniciativas como esta fazem parte de um protocolo firmado entre os Governos dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul e ocorrem, simultaneamente, nos quatro estados. JULHO / 2006 RODOVIA HISTÓRIA Salvamar revive sua trajetória Memorial apresenta acervo dos Guarda-Vidas do Rio O Memorial Salvamar, do extinto Serviço de Salvamento Marítimo do Rio de Janeiro, está aberto a visitações. Por iniciativa dos remanescentes do serviço, foi inaugurada a sede da Associação dos Remanescentes do Salvamar, com o objetivo de homenagear todos que participaram do grupo e também proteger o acervo que conta a sua história. Na Associação há uma mostra permanente em painéis com mais de mil fotos que representam o trabalho dos Guarda-Vidas em diversas épocas. João Ferreira da Costa, membro da Associação, conta sua trajetória em busca de material para o acervo. “Não sabíamos mais do paradeiro dos companheiros ou se já haviam partido, então promovemos o 1º Encontro dos Remanescentes do Salvamar, JULHO / 2006 em 2002”, diz. Então, no ano seguinte, surgiu a idéia de estabelecer uma sede e um acervo histórico. “Com o passar dos anos, após a extinção do serviço de salvamento, a sensação era de que nunca havíamos existido, devido à falta de comunicação e de notícias dos companheiros”, fala Costa, relatando a necessidade da criação do acervo. “Não queríamos que a história do nosso serviço caísse no esquecimento, o que já estava acontecendo”, conta. O Salvamar foi o primeiro serviço de salvamento de praia na orla marítima brasileira, porém, foi extinto em 1984. O Memorial pode ser visitado todas as quintas-feiras, a partir das 14h, na Rua da Lapa, 120. Informações pelo telefone (21)22322678. Régis Bittencourt lidera acidentes A Régis Bittencourt foi a rodovia que registrou mais acidentes ambientais no ano passado em SP, com 24 ocorrências, segundo dados divulgados pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo). Em seguida, aparecem as rodovias Washington Luiz, com 19 casos, e a Dutra, com 17. Segundo dados do “Relatório de Emergências Químicas Atendidas pela Cetesb em 2005”, foram realizados, no total, 419 atendimentos emergenciais. O número é menor que os 475 atendimentos registrados em 2004. De acordo com o relatório, a maioria das emergências químicas registradas no ano passado envolveu líquidos inflamáveis (35%). Porém, em muitos atendimentos, não foi possível identificar o produto ou a substância não foi considerada perigosa, apesar de poder causar impacto ao meio ambiente. A Cetesb afirma que em 56,5% dos casos registrados em 2005 houve contaminação ou impacto no solo e em 30% os recursos hídricos foram atingidos. Emergência 13 PAULA BARCELLOS ATUALIZANDO TREINAMENTO Preparando para a ação Emergências químicas foram tratadas de forma teórica e prática Resgatistas, bombeiros, Defesa Civil, profissionais de emergências químicas e de Segurança do Trabalho do Brasil e exterior estiveram presentes na 5ª edição do Curso Internacional de Emergência com Produtos Químicos realizado pela Copesul (Companhia Petroquímica do Sul), em Triunfo/ RS, no final de maio. A participação de órgãos públicos como Defesa Civil, bombeiros e profissionais da Cetesb neste treinamento, junto aos profissionais da empresa e seus fornecedores, vem atentar para conscientização sobre o atendimento das emergências químicas numa maior amplitude. “Podemos ter emergências químicas dentro de nossa planta ou fora. Além disto, não necessariamente elas estão voltadas a algo dentro do nosso segmento ou de nossa responsabilidade. Então, com isto, estamos capacitando o nosso pessoal e a comunidade para prestar atendimento em qualquer emergência química que esteja acontecendo no âmbito em que estejam localizados. É isto que procuramos fazer a cada ano, além de estarmos atualizados tecnologicamente em como atuar nestas emergências”, destaca o executivo da área de Prevenção e Controle de Emergências da Copesul, Roger Kirst. EXERCÍCIOS Emergências químicas que envolveram vazamentos, incêndio e vítimas foram desafios expostos aos participantes na 14 Emergência forma de exercícios práticos. “O objetivo era justamente que eles gerenciassem as demandas que estavam surgindo na oportunidade, através de um sistema uniforme de comando, onde cada um tem sua função, estabelecendo um planejamento tático”, revela o instrutor do curso, Rubens César Perez. “Tentamos mostrar para eles quais seriam as ferramentas, o protocolo e etapas básicas numa emergência. Uma delas é reconhecer o produto, na seqüência, o potencial de dano, e a forma de controlar”, cita. Mas o instrutor lembra que é importante desenvolver a atividade de resposta com segurança e sempre ajustar a informação. Roger Kirst diz que para reagir em eventos como este é necessário ter pessoal capacitado para fazer os procedimentos de reação, reconhecer o equipamento disponível e mais adequado para a situação. Mas só isto não basta. “É preciso ter treinamento prático, pois ele é quem vai condicionar as pessoas na hora da ação”, enfatiza. Este treinamento foi bem vindo pelos profissionais presentes. O exercício prático feito pelo engenheiro elétrico e coordenador de 54 brigadistas da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, de Araxá/MG, Lourenço de Moura, o fez sentir-se mais apto para atuar em emergências químicas. “Tive um extremo conhecimento técnico e prático. Nós fizemos um teste aqui hoje, que se eu fosse fazer antes do curso, eu não faria tão corretamente”, destaca. EXPERIÊNCIA Defesa Civil reduz riscos em PE Olinda e Recife, em Pernambuco, apresentaram, nos últimos cinco anos, redução no índice de mortes nos morros no período chuvoso e diminuição dos pontos de risco. Por estes motivos, as duas cidades foram escolhidas para receber a visita de representantes da Defesa Civil de Brasília e das Ilhas do Caribe - Antigua e Barbuda -, no mês de maio. Na cidade de Olinda, mais de 190.000 pessoas moram em áreas de morro, sendo que mais de 2.000 encontram-se ameaçadas por ocuparem moradias em situação de risco. Mas a Defesa Civil do município vem ressaltando as ações realizadas, como o trabalho de Educação Ambiental nas escolas e nas comunidades, a construção de muros de contenção de encostas, recuperação de escadarias, colocação e reposição de lonas plásticas, identificação de pontos de risco, vistorias em encostas, casas e edifícios. Esses serviços vêm sendo intensificados ao longo dos últimos anos, a partir do mês de janeiro até o final do período chuvoso, com a Operação Inverno. A Defesa Civil de Olinda atende 24 horas no 0800-2812112. SERVIÇO Informações sobre substâncias tóxicas A população e os profissionais de saúde contam agora com um 0800 para tirar dúvidas e fazer denúncias relacionadas a intoxicações. A Anvisa criou o Disque-Intoxicação, que atende pelo número 0800722-6001. A ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Renaciat (Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica) espalhadas pelo país. Gerando respostas rápidas, o 0800 presta esclarecimentos à população e auxilia os profissionais de saúde a prestarem os primeiros socorros e a prescreverem o tratamento terapêutico adequado para cada tipo de substância tóxica. Em alguns casos, o atendimento pode ser presencial. Com uma rede de informação sistematizada é possível ainda delinear um mapa da situação do País no que diz respeito à intoxicação. JULHO / 2006 ESPECIAL Realidade desarticu Interação entre os órgãos brasileiros para o atendimento de situações de urgência depende de boa vonta E star preparado para uma situação de emergência significa muito mais do que possuir recursos humanos e materiais suficientes e eficazes. Significa integração. Considerando que dos 5.800 municípios brasileiros, 95% não dispõem de serviços de combate a incêndio, resgate ou pronto-socorro, o termo integração soa como algo impossível de ser concretizado. Ao longo dos anos, o país não desenvolveu seus sistemas de atendimento a emergências. Talvez porque não se considere alvo de desastres, principalmente, naturais. Mas, segundo o relatório do ISDR (International Strategy for Disaster Reduction) da ONU, o Brasil foi o 12º país em número de pessoas atingidas por desastres entre os anos de 1994 e 2003. Hoje, a qualidade do serviço prestado depende, muitas vezes, da vontade e do empenho pessoal dos profissionais que têm a missão de zelar pelo bem estar da sociedade. Os principais órgãos responsáveis por este atendimento são hoje os Corpos de Bombeiros, a Defesa Civil, os PAMs (Plano de Auxílio Mútuo) e o Samu (Serviço Móvel de Urgência). Eles formam, juntamente com outros setores como Polícia Rodoviária e organismos que atendem emergências químicas, uma rede de pronta resposta disponível 24 horas por dia para atender qualquer espécie de urgência. Mas, na prática, este sistema possui deficiências, que se tornam graves na medida em que podem comprometer a vida humana. gio Bezerra, explica a importância da atuação destes órgãos nos municípios. “A atuação do órgão municipal é extremamente importante, tendo em vista que os desastres ocorrem no município”, avalia ele. O consultor e ex-secretário adjunto de Segurança Pública do Distrito Federal, João Belém, explica que, como as ações de Defesa Civil visam à pro- PREPARO Enquanto alguns estados atuam de forma efetiva, outros se encontram ainda em desenvolvimento ou até mesmo sem nenhum preparo para atender situações de emergências. No Sistema Nacional de Defesa Civil, os órgãos operacionais são as Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (COMDECS). O engenheiro de Incêndio e Pânico e diretor do Departamento de Minimização de Desastres da SEDEC (Secretaria Nacional de Defesa Civil), Sér- teção coletiva de determinado grupo, elas necessitam da participação dos próprios beneficiários na busca de sua segurança. “Nenhum Estado, por mais poderoso que seja, disporá, sozinho, de efetivos e equipamentos capazes de enfrentar uma grande catástrofe, até porque isto seria ilógico sob o ponto de vista orçamentário da administração pública”, salienta. Belém lembra a passagem do furacão Katrina, nos Estados Unidos, em 2005. “Este fato ilustra bem a participação de grupos voluntários, pois os Reportagem de Lia Nara Bau 16 Emergência JULHO / 2006 ade e empenho dos profissionais efeitos devastadores foram minimizados muito mais pela atuação efetiva da Cruz Vermelha Americana e outras ONGs do que propriamente pelas unidades públicas de Defesa Civil, bombeiros e Guarda Nacional”, diz. No entanto, o professor e instrutor do ESCI (Emergency Care and Safety Institute) e RTI (Rescue Training Interna- JULHO JULHO/ /2006 2006 INTERFERÊNCIA A qualidade e eficácia no atendimento a grandes desastres, mesmo integrado, segundo Belém, vai depender de fatores como as circunstâncias do desastre, tempo-resposta, equipamentos disponíveis e adestramento das equipes. O temporesposta, por exemplo, que é medido pela velocidade com que o socorro chega ao local do evento e começa a operar, interfere e pode ser definitivo no atendimento. O consenso mundial estabelece como média aceitável, em áreas urbanas, o tempo de três a cinco minutos para a chegada dos primeiros elementos ao local do desastre. Sérgio Bezerra, da SEDEC, fala que os principais passos em uma operação de emergência ocorrem de acordo com o desenvolvimento técnico e operacional de cada sistema municipal e estadual. “Há aqueles mais desenvolvidos e há aqueles que ainda estão muito longe da capacidade técnica adequada, no caso da Defesa Civil, principalmente, por falta de comprometimento de prefeitos, que são os principais responsáveis pelo órgão no município”, lamenta. Jorge Alexandre Alves ressalta que alguns procedimentos deveriam ser seguidos. “Em acidentes de grandes proporções, por recomendações internacionais, devem ser estabelecidos os centros de comando unificados, onde representantes técnicos de cada serviço envolvido devem trabalhar no gerenciamento da emergência”, diz. JOSÉ ROBERTO HANSEN ulada tional), Randal Fonseca, explica que a participação de leigos no atendimento a emergências ainda é insignificante se considerarmos o universo brasileiro. “Os leigos treinados constituem uma porção ínfima da população. Mas mudanças estão em curso neste sentido, com a implementação dos cursos obrigatórios de primeiros socorros por meio dos Centros de Formação de Condutores e Auto-Escolas”, afirma. Segundo o paramédico e consultor especialista em emergências, Jorge Alexandre Alves, na maioria dos municípios, o problema é que a Defesa Civil, muitas vezes, não está estruturada, não possuindo nem mesmo endereço. “Em muitos casos, são comandadas por funcionários comissionados, sem conhecimentos técnicos básicos de administração de emergências”, fala. A precariedade do sistema faz com que, em algumas cidades onde não há a presença dos bombeiros, a Defesa Civil atenda as demandas do cotidiano. “É um paradoxo no contexto nacional, onde o município conta com uma Defesa Civil preparada para grandes emergências, mas não existem instituições para atender as demandas mais rotineiras”, explica. Emergência 17 País ainda tem longo caminho na busca pelo aperfeiçoamento dos serviços de emergência ESTRUTURA OS ÓRGÃOS DE EMERGÊNCIA DEFESA CIVIL RONALD BELÉM CASTOR BECKER JÚNIOR ESPECIAL DIMENSÃO Todos concordam, contudo, que a dimensão do incidente irá determinar o tipo de atendimento a ser adotado. “De uma maneira geral, entende-se que em casos de acidentes de grandes proporções, o representante da Defesa Civil local teria o papel de coordenador geral do atendimento ao evento, ficando as demais instituições responsáveis pelo comando e desenvolvimento de suas atividades espe- Belém: cíficas”, salienta Rodrigo Caselli, médico e gerente do Núcleo de Educação em Urgência (NEU) do Samu de Brasília. Ele cita o exemplo da queda de um avião dentro dos limites do aeroporto, com incêndio dos destroços e vítimas na pista. “Neste caso, estamos diante de uma situação cujo risco para a população ou meio ambiente é praticamente nulo. Tendo como maiores desafios a extinção do incêndio e a recuperação das vítimas, bombeiros e serviços de APH - Atendimento Pré-Hospitalar têm claramente definidas as suas áreas de atuação”, explica. Após o controle da cena, com combate aos focos de incêndio, segurança do local e retirada das vítimas, têm início as atividades das equipes de APH. “As vítimas seriam encaminhadas para um Posto Médico Avançado, onde equipes médicas realizariam a avaliação e estabilização para que, posteriormente, sejam evacuadas para os hospitais de referência para o tratamento definitivo”, esclarece. participação Na cena do acidente, inúmeras ações e comandos devem ser executados de forma ágil e precisa. “A partir do acionamento, ocorre a codificação do evento e deslocamento das equipes ao local, a triagem, regulação médica na cena, definição das referências hospitalares e transporte das vítimas”, fala o médico Cloer Vescia Alves, responsável pela implantação do Samu Metropolitano no Rio Grande do Sul. Há, no entanto, outras ações que são desencadeadas. “Diversos recursos podem ser disponibilizados para o atendimento de um evento com grande número de vítimas, como, por exemplo, o transporte aeromédico”, complementa Alves. Conjunto de ações preventivas,de socorro, assistenciais e reconstrutivas, destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social. O Sistema Nacional de Defesa Civil, que tem como órgão central a Secretaria Nacional de Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional, é composto por vários órgãos federais, estaduais e municipais. Integração deficiente BOMBEIROS MILITARES Se incendiasse a sua casa ou algum local próximo, você pediria socorro a quem? Ao Corpo de Bombeiros? E na queda de um avião? Que setores deveriam atuar no local? E em um acidente rodoviário? Na verdade, o que ocorre, muitas vezes, é que a primeira reação das pessoas é discar para o número 193 e pedir socorro ao Corpo de Bombeiros, que atua na maioria das emergências. Mas será que este é o procedimento adequado? Como são atendidos os mais variados tipos de emergências? O cenário ideal seria que todos os setores atuassem de forma integrada e sincronizada. Isto, infelizmente, acontece menos do que gostaríamos. Os especialistas são praticamente unânimes em afirmar que o país ainda tem um longo caminho a percorrer na busca pelo aperfeiçoamento de seus serviços de emergências. Para João Belém, a eficácia da integração do atendimento a situações de emergência tem início a partir da identificação de um número telefônico único para aciona- Militar especializado no combate a sinistros e em atividades de busca e salvamento. BOMBEIRO INDUSTRIAL ( CIVIL ) Funcionário civil que integra a brigada de incêndio ou anti-sinistro no seu local de trabalho. BOMBEIRO VOLUNTÁRIO Membro de uma comunidade treinado e capacitado a executar trabalhos de combate a incêndios e busca e salvamento. PAM O PAM (Plano de Auxilio Mútuo) estabelece a soma de esforços de pessoal, equipamentos e materiais, envolvendo órgaos governamentais, não governamentais e a comunidade, para enfrentar, com sucesso, situações de emergência. SAMU O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência é uma organização pública, coordenada por uma Central de Regulação Médica, destinada a prestar atendimento pré-hospitalar básico e avançado nas ruas e em domicílios, em casos clinicos, traumáticos e desastres. Fonte: Glossário de Defesa Civil 18 Emergência A articulação entre setores ainda engatinha no país mento, nos moldes do 911 americano, do 000 australiano, do 118 francês ou do 112 suíço. “Em tese, significa um planejamento operacional abrangente e a possibilidade de uma execução descentralizada e desburocratizada. Hoje, no Brasil, os diversos números utilizados, pelas várias organizações envolvidas, impedem que se obtenha o grau de coordenação que seria desejável”, afirma. Jorge Alexandre Alves concorda que não existe uma integração formal. “No Brasil, temos números diversos para cada setor, o que faz com que as pessoas não memorizem todos os números ou liguem para o serviço que possui menos conhecimento para aquela emergência”, desabafa. O coronel Antonio dos Santos Antonio, comandante geral do Corpo de Bombeiros de São Paulo, contudo, lembra que as chamadas, em São Paulo, são direcionadas para os setores responsáveis. “Através do telefone de emergência 193, triamos todos os chamados, avaliando quais são ocorrências de bombeiros e designando JULHO / 2006 ARQUIVO ESPECIAL LUIS OLIVEIRA / MS viaturas adequadas para da Defesa Civil do Rio atendimento das ocorrênGrande do Sul, major cias”, diz. Aroldo Medina, a Para Cloer Vescia Alves, articulação entre os seainda não temos o amadutores hoje é mais baseada numa cultura de respeito recimento e a conscientizamútuo, onde cada órgão ção necessária por parte da reconhece a sua função. sociedade brasileira no que “Os elos são criados na diz respeito à integração. prática do dia-a-dia, nas “Como um país que sequer ocorrências, nos cursos consegue aprovar leis adede especialização, nas oquadas, poderia amparar perações integradas legalmente a integração dos como, por exemplo, na diversos setores ligados às execução do trabalho urgências?”, questiona. As- Coronel Antonio: triagem preventivo de fiscalização sim, a integração passa a ser um ato de boa vontade. “Nos locais onde de cargas perigosas”, salienta. Ele fala que há um entrosamento, isso decorre muito existe uma cooperação entre os órgãos no mais da capacidade e espírito de equipe repasse das principais informações de alguns chefes e subordinados, do que relacionadas ao desastre. “Quando ocorre efetivamente de um procedimento padro- um desastre de proporções significativas, nizado pelo Estado”, ressalta Belém. Desta por exemplo, todos os órgãos costumam forma, os esforços individuais permane- acorrer para o local. Aí é preciso montar cem. “O Corpo de Bombeiros atua com um posto de comando para coordenar a ‘heroísmo’, onde muita dedicação e valo- atuação dos órgãos envolvidos. res individuais promoverão o resultado. É Normalmente, a Defesa Civil assume este o melhor que se pode dizer em termos papel, chamando para este posto as de organização”, lamenta Randal Fonseca. autoridades que têm comando sobre suas Isto, no entanto, somado ao fato das corpo- equipes e os técnicos que têm rações não estarem presentes na maioria conhecimento para lidar com o desastre”, das localidades brasileiras, torna a inte- esclarece. Medina lembra também que gração inviável. “Estamos muito longe do alguns aspectos são importantes neste que seria razoável”, desabafa. momento. “O profissionalismo, o controle emocional e a solidariedade costumam ser RESPEITO fatores importantes nestas ocasiões”, fala. Para o chefe da Divisão de Convênios O Corpo de Bombeiros, normalmente, EM DEBATE 20 Emergência Em função da Rede Samu 192 ainda estar sendo implantada, estão abertas diversas discussões para integração do serviço aos outros órgãos. Mesmo recente, o Samu já atende 82,3 milhões de brasileiros, em 604 municípios de 24 estados e DF. é o primeiro órgão acionado numa ocorrência. “No caso de uma enchente, por exemplo, a Defesa Civil inicia suas ações, posteriormente, ou até paralelamente. Também são mobilizadas viaturas para pontos críticos de onde os técnicos monitoram e repassam as informações”, esclarece o coordenador da Defesa Civil Municipal de São Paulo, coronel Jair Paca de Lima. O médico e diretor do Centro de Treinamento de Emergências da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), Agnaldo Pispico, concorda. “O Corpo de Bombeiros é responsável pelo atendimento de um acidente de grandes proporções e, caso necessite, deve pedir apoio aos serviços regionais como Samu, Defesa Civil, entre outros”, explica. SÃO PAULO Segundo o químico Edson Haddad, gerente da Divisão de Gerenciamento de Riscos da Cetesb(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo), a articulação entre os órgãos de atendimento a emergências foi se aperfeiçoando ao longo do tempo. “Hoje, em São Paulo, já é um procedimento de rotina o Corpo de Bombeiros contatar a Cetesb para emergências químicas”, afirma. Em acidentes rodoviários, por exemplo, normalmente, participam bombeiros, prefeitura, Defesa Civil municipal e policiais rodoviários. “O que ocorre, normalmente, em um acidente de caminhão com produto perigoso é a Polícia Rodoviária e a concessionária da rodovia serem as primeiras a chegar ao local”, informa. Haddad explica que as concessionárias possuem um plano de ação de emergência, que lhes permite acionar os órgãos públicos competentes, se necessário. Já a Polícia Rodoviária, no caso de São Paulo, normalmente chama os bombeiros e a Cetesb. “Além disso, outros órgãos são acionados conforme a necessidade. Se houver um produto inflamável que possa contaminar a água, por exemplo, será chamada a companhia de água, e assim por diante”, esclarece. O coronel Jair Paca de Lima, da Defesa Civil paulistana, fala que na cidade de São Paulo se busca cada vez mais a integração entre os órgãos de emergência. “Temos um excelente relacionamento com o Corpo de Bombeiros, com o Samu, com a Guarda Civil Metropolitana e com a Companhia de Engenharia de Tráfego, todos fundamentais e sempre presentes”, JULHO / 2006 JULHO / 2006 NACIONAL Mas para Agnaldo Pispico, da Socesp, a integração ainda é precária na maior parte do território nacional. “Infelizmente, a maioria dos serviços ainda não se comunicam entre si, as ocorrências são disputadas e atende quem chega na frente, usando recursos desnecessários e causando rivalidade entre as equipes”, salienta. Ele fala que o Samu de Araras/SP, onde também atua, funciona integrado ao Corpo de Bombeiros, através de uma central telefônica única 192/193, que distribui as ocorrências. “Esta integração é modelo e vem sendo utilizada por outros Samus do país”, informa. O técnico em química e vice-coordenador da Comissão de Preparação e Atendimento a Emergências da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), João Carlos Hermenegildo, ressalta que a integração é essencial. “Dada a complexidade das ações e face aos envolvidos – órgãos públicos, privados, população -, é emergente que os interlocutores tenham um mínimo de conhecimento dos processos e articulação entre si”, salienta. Os resultados, segundo ele, podem ser fatais. “Na passagem do furacão Katrina, por exemplo, a assistência e recuperação MÁRCIO CUNHA assegura. O comandante geral do Corpo de Bombeiros de São Paulo, coronel Antonio dos Santos Antonio concorda, explicando que a integração com bombeiros civis também acontece. “Existem alguns postos de bombeiros com bombeiros civis que integram o efetivo daquela localidade com funções específicas para cada município”, garante. Outro diferencial diz respeito ao Sistema de São Paulo que congrega os setores. “Existe o Sistema de Comando de Emergências, o Sicoe, onde todos os setores são integrados no posto de comando e as atuações são definidas pelos responsáveis”, salienta. No município, o coronel Paca de Lima acredita que os setores estejam articulados. “Cada órgão envolvido com emergências é ciente de suas responsabilidades e competências dentro de um cenário de desastres”, garante. Ele explica que a Defesa Civil no Brasil ainda está em processo de evolução. “Há falta de pessoal especializado e também uma grande carência de equipamentos e materiais”, lamenta. No entanto, ele acredita que isto possa ser superado. “Os governos e a população percebem a importância de termos uma Defesa Civil cada vez mais presente e atuante”, diz. Pispico: integração entre Samu e Bombeiros sofreram de falta de articulação e coordenação antes, durante e depois do evento, custando milhões de dólares em danos materiais e, se pudéssemos quantificar, bilhões em danos morais”, lamenta. Porém, a coordenação, para Hermenegildo, deve ter outro significado. “O fato de coordenar não significa comandar as ações, mas ter a visão estratégica de como as articulações Emergência 21 ESPECIAL PATTY REY/COMDEC-SP sastre”, complementa. PÓLOS No Pólo Industrial de Camaçari na Bahia, o primeiro complexo petroquímico planejado do país, a integração entre todos os setores se dá através de comunicação e padronização. “Existe um sistema de comunicação via rádio exclusivo para acionamento em emergência, e o PAM - Plano de Auxílio Mútuo - é formalizado pelo seu regimento”, explica o engenheiro de Segurança do Trabalho e superintendente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Cofic (Comitê de Fomento Industrial) do Pólo, Aurinézio Calheira Barbosa. Ele salienta que o atendimento tem início dentro da empresa atingida pela emergência: “A empresa sinistrada aciona a sua brigada, e, se houver necessidade, convoca as empresas da sua área e todo o PAM.” Segundo Coronel Paca de Lima: articulação em São Paulo Panorama internacional GISÈLE BATZLI dos poderes público e privado podem se auxiliar para maximizar os recursos escassos, emergenciais e urgentes das ações de de- ele, as Polícias Militar e Rodoviária também atuam em simulados de evasão dos trabalhadores do Pólo que são realizados todos os anos, pois a Defesa Civil está em processo de formação na cidade e não há Corpo de Bombeiros. “Nos simulados, mais de 16.000 trabalhadores saem de suas empresas”, relata ele. Em locais onde há a presença do PAM, algumas ações são desencadeadas mais facilmente, como no município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul “O PAM de Rio Grande tem um plano de acionamento que é desencadeado pelo Corpo de Bombeiros. Ou seja, qualquer pessoa que se depare com uma emergência pode ligar para os bombeiros, que eles irão desencadear o chamado. Cada unidade dos órgãos envolvidos, por sua vez, tem um cabeça de chave que automaticamente acionará o subseqüente”, explica o Como os países referência estão articulados para o atendimento de emergência Na América do Sul, entre os serviços de urgência, destaca-se a estrutura dos bombeiros do Chile, totalmente voluntária, que dispõe dos mais modernos equipamentos e preparo técnico. Segundo Marco Aurélio Rocha, bombeiro profissional civil, a cultura em emergências do Chile se dá devido aos constantes desastres naturais, pois o país está situado no chamado Círculo de Fogo de Pacífico, que provoca sismos na Costa Ocidental da América do Norte e Latina, ilhas do Pacífico Sul e Japão. Mas o Chile conta com o Sistema Nacional de Emergência, que também é denominado Sistema Nacional de Defesa Civil, integrado pelos ministérios, serviços e instituições ligadas à área, tanto do setor público quanto privado e entidades voluntárias. Cada um destes serviços mantém sua própria estrutura. A coordenação nacional fica a cargo da ONEMI (Agência Nacional de Emergência), e, em nível regional e comunitário, através dos intendentes regionais, governadores das províncias e prefeitos. “Cada uma das entidades elabora seu plano de ação e diretrizes para atendimento a emergência, levando em conta sua área de atuação”, fala Rocha. QUÍMICAS O atendimento das emergências químicas também é referência no Chile. Segundo Marcel Borlenghi, coor22 Emergência Estrutura de atendimento a emergências químicas do Chile é referência denador de emergência da Suatrans e membro do ITF – HAZMAT International Task Force, quando a emergência ocorre em uma via pública, bombeiros, polícia e emergência médica atuam na primeira resposta. “Posteriormente, o embarcador, transportador ou proprietário da carga se encarrega das atividades de controle, transferência, meio ambiente, entre outros”, explica. Ele fala que, na visão dos chilenos, o produto químico e o meio de transporte são de responsabilidade exclusiva de quem embarca, transporta e compra os produtos. Outras diferenças também são significativas entre Chile e Brasil. “A Defesa Civil não participa de emergências químicas no Chile”, afirma Borlenghi. Para Borlenghi, o Brasil deveria seguir normas neste sentido. “Deveria ser implantado o mesmo modelo americano que já vem sendo introduzido em muitos países da América do Sul”, referindo-se às normas NFPA 472 e OHSA 29 CFR 1910.120, que normatizam atendimentos de emergências com produtos perigosos. Ele acredita que o Brasil esteja aperfeiçoando seu atendimento a emergências químicas, em função do volume de cursos e treinamentos que estão sendo ministrados em todo o país. “Definitivamente estamos no caminho certo”, completa. MÉDICAS Em termos de APH, as referências são, principalmente, os Estados Unidos e a França. “O sistema de paramédicos americano e o Samu francês atingiram o mais elevado grau de eficiência e uniformidade em termos de formação de recursos humanos e integração com outros serviços”, explica o médico Rodrigo Caselli. O JULHO / 2006 bombeiro profissional civil e membro deste PAM gaúcho, Marco Aurélio Rocha. COMUNICAÇÃO A comunicação é um dos pontos-chave para a articulação dos setores. O consultor de intercomunicação de emergência, Leandro Pinheiro, desenvolveu um sistema de centrais de comunicação entre PAMs, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros. Este sistema foi feito para os PAMs da Região da Costa da Mata Atlântica, do qual fazem parte o PAM do Pólo Petroquímico de Cubatão, de Guarujá, Retroporto, do PIE (Plano Integrado de Emergência) – Terminais de Granéis Líquidos e do Porto de Santos. “O sistema foi desenvolvido a partir das necessidades de comunicação na emergência, antes, durante e após a ocorrência”, afirma. Foi implantado em 1991 e sofreu três up-grades até então. Pinheiro explica o seu funcionamento. “Ele integra as empresas, Corpo de Bombeiros, policiamento ostensivo, Defesa Civil e Forças Armadas, articulando os PAMs da região. Opera com radiocomunicação bidirecional, ou seja, a comunicação é conduzida de equipamento para equipamento, utilizando a freqüência de 360 a 390 MHz, o que assegura sigilo e segurança”, esclarece. Segundo ele, ações integradas são freqüentemente simuladas entre os setores, pois o sistema ainda deverá ser aprimorado. Alguns itens pretendem melhorar ainda mais a articulação dos setores no momento da emergência. “O sistema comporta medidas de integração dos PAMs sob um único comando, além da padronização da linguagem e de procedimentos, visando chegar ainda na classificação de grupos de atuação por especificidade de emergência”, ressalta. De acordo com ARQUIVO há um universo de diferenças entre os países, principalcaminho percorrido, inclusive, não foi muito diferente mente, os situados no Hemisfério Norte e os que estão daquele que vemos no Brasil. “Eles passaram pelas no Sul. “Mesmo dentro de um país existe uma quantidade mesmas dificuldades hoje encontradas aqui no Brasil: imensa de diferenças no tocante aos processos adotaproblemas de capacitação, de padronização de condutas, dos para sistematizar atendimento às emergências”, de aceitação pela sociedade e de integração com os diz. Ele ressalta as diferenças entre Estados Unidos, serviços já existentes”, ressalta. O médico Agnaldo referência em APH e resgate, e o Brasil. “Os EUA, por Pispico, diretor do Centro de Treinamento de Emergênquestões históricas, dedicam grande atenção às ecias da Socesp, lembra que o resgate americano, reamergências desde os primórdios do século XX. Eles lizado por paramédicos, diferencia-se desde a formação investem pesadamente em prevenção e incluem nela a dos profissionais. “O paramédico passa por um ano de premissa da necessidade de estar preparado para teoria e depois divide a sala de aula com estágios no atender em emergência”, salienta. interior da viatura, que são verdadeiras máquinas de Para ele, o pensamento se distancia do Brasil, pois protocolos”, afirma. lá eles entendem que atendimento às emergências é Outro ponto positivo, segundo ele, é a central de coisa séria. “Nos Estados Unidos o cidadão faz parte acionamento 911. “Ela é única e centralizada, despada solução, já que ele é o problema. No Brasil, o Estado chando todos os recursos necessários para a viatura assume a função paternalista. A mais próxima, sendo polícia, bomdiferença está no valor atribuído beiros e paramédicos acionados ao povo”, resume. Mesmo assim, por uma única central”, ressalta. ele acredita que há esperança de No Samu francês, ele fala que há melhorias. “As mudanças estão uma diferença essencial em reocorrendo lentamente com a inforlação ao Brasil. “Os atendimenmação passada por meio dos curtos são, obrigatoriamente, com a sos de primeiros socorros e simipresença do médico, tanto nas lares oferecidos com reconhecicentrais de regulação quanto nas mento internacional. São poucos, ambulâncias”, afirma. Pispico sacontudo, já podemos perceber que lienta, no entanto, que estes sishá um pequeno movimento neste temas devem ser utilizados como sentido”, fala. referência, mas a adequação do Para o consultor de intercomuniserviço deve ser regional. “Não pocação de emergência, Leandro Pidemos comprar idéias prontas e nheiro, um quadro geral dos siengolir pacotes e portarias que não Randal: universo de diferenças nistros no mundo mostra uma podemos cumprir aqui no país. permanente busca de aperfeiçoamento, principalmente Acredito que um misto do que existe nos Estados Unidos nos países desenvolvidos. “Vemos hoje especialização e na França pode ser o futuro do APH no Brasil”, não de recursos materiais, mas de recursos humanos complementa. voltados para o gerenciamento de crises, o que deve ser associado a uma forte integração do poder público e APERFEIÇOAMENTO iniciativa privada”, salienta. No panorama internacional, para Randal Fonseca, JULHO / 2006 Emergência 23 ESFORÇOS A articulação entre todos estes setores não é uma tarefa fácil. O médico Rodrigo Caselli acredita que a integração entre os órgãos de atendimento às emergências, na prática, não existe. “O que vemos são pessoas e instituições que trabalham dentro de padrões próprios e que procuram impor aos demais o seu modelo de trabalho”, diz. No entanto, ele lembra que alguns esforços vêm sendo feitos para reunir os setores. “No caso específico de APH, a portaria GM nº 2.048/02 (Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência) representou, a nosso ver, uma grande conquista e um avanço neste sentido”, afirma. O médico Cloer Vescia Alves ressalta que, embora ainda existam dificuldades, há uma rede de atendimento aos acidentes de grandes proporções que envolve o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e demais instituições públicas no país. “O comando na cena se dá, de forma operacional, em função do local. Por exemplo, no caso de acidente aeronáutico, o comando operacional estará a cargo da Infraero. Já no que diz respeito às ações de Atendimento PréHospitalar, em qualquer local e situação, o comando estará a cargo do médico do Samu que assumir a coordenação na cena, e assim por diante”, salienta. 24 Emergência A comunicação é uma das maiores dificuldades entre os órgãos de emergências Para onde vamos? As dificuldades existem, mas os caminhos estão abertos Sem dúvida, os caminhos que temos a percorrer ainda são longos até chegarmos a um nível satisfatório de qualidade e integração em atendimento a emergências. Para o consultor João Belém, o quadro geral do país em termos de prevenção e capacitação para resposta a desastres é preocupante. “Entre as principais carências e dificuldades, podemos destacar a amplitude territorial, a falta de cultura de prevenção e a incapacidade dos estados em cumprir suas obrigações constitucionais”, afirma. Ele acredita que o modelo estrutural brasileiro em vigor precisa ser repensado: “Ao estabelecer organizações de segurança pública e de serviços essenciais em níveis estaduais, este modelo deixa os prefeitos, verdadeiros interessados nas condições de vida de seus municípios, em posição de meros espectadores e pedintes desesperados por recursos quando uma catástrofe atinge suas cidades”. De acordo com SEDEC Pinheiro, eles possuem um procedimento normatizado que determina todas as ações desde o acionamento até o encerramento da ocorrência no que se refere à intercomunicação de emergência. “Num primeiro momento atuam as brigadas de incêndio da empresa sinistrada, para depois receber a ação direta do Corpo de Bombeiros e do PAM, numa atuação integrada e sinérgica”, afirma. Cada segmento do PAM, por sua vez, também tem seus procedimentos normatizados. “Cada qual tem sua tarefa específica de organizar os recursos na zona fria, isolar a área para minimização de riscos, entre outros”, cita. Segundo João Carlos Hermenegildo, da Abiquim, a comunicação e o comando da operação são as maiores dificuldades que os órgãos encontram numa emergência. “Temos notado que o maior problema é a comunicação em todos os níveis, quer do poder público com as instituições, quer das instituições com a comunidade, etc.”, afirma. “Com a demora da chegada dos recursos a situação tende a se agravar, dificultando cada vez mais as ações”, completa. JOSÉ JORGE NETO ESPECIAL “ As atividades de atendimento às emergências no país não tiveram, ao longo de sua história, prioridade. Há muito a caminhar. Sérgio Bezerra Diretor da Secretaria Nacional de defesa Civil Belém, o modelo brasileiro é contrário ao de todos os outros países. “No mundo inteiro, todo planejamento, prevenção e execução de ações de emergência se inicia com os recursos locais, onde lado a lado, Governo e entidades comunitárias procuram superar as dificuldades, antes da intervenção suplementar do Estado e da União, os quais só são acionados quando esgotados todos os esforços e disponibilidades municipais”, afirma. Segundo ele, embora seja isto o que determina o Decreto nº 5.376/05 (Sistema Nacional de Defesa Civil), há uma distância muito grande entre a norma e a prática. O engenheiro Sérgio Bezerra, da SEDEC, concorda que as carências e dificuldades da Defesa Civil ainda são muitas no país. “As atividades de atendimento às emergências, desastres e calamidades públicas, no país, não tiveram, ao longo de sua história, prioridade nem importância. Há muito a caminhar”, desabafa o diretor. Mesmo assim, Belém permanece otimista. “Ainda que não seja uma tarefa fácil, certamente poderemos reverter essa situação se conseguirmos aliar competência gerencial, desprendimento político e vontade comunitária no rumo da resolução desses problemas”, complementa. Carências e dificuldades, para Randal Fonseca, são inúmeras. “Há tudo para mudar, começando pela cultura de entender que as emergências não marcam hora nem lugar para ocorrer”, ressalta. FORMAÇÃO O médico Rodrigo Caselli também cita JULHO / 2006 JULHO / 2006 tribuição das corporações e a dificuldade dos estados em atender todos os municípios, promove conflitos entre militares, civis e voluntários. Segundo ele, o quadro poderá melhorar quando as instituições de ensino se engajarem na formação de profissionais dedicados para atendimentos a emergências. Um ponto positivo, segundo Alves, é que algumas empresas adquirem sistemas, métodos e capacitação de acordo com referências internacionais, o que faz com que padrões de prevenção e controle de emergências sejam difundidos no Brasil. “A má notícia, porém, é que os serviços públicos parecem resistir muito para aceitar e praticar estas recomendações”, lamenta. DIFERENÇAS A integração de fato não ocorre no país, segundo o médico Rodrigo Caselli: “Não podemos ainda considerar que exista um sistema real de enfrentamento às emergências, uma vez que este termo pressupõe a coesão de vários grupos com atribuições bem definidas, trabalhando em sintonia com um objetivo comum”, ressalta. No entanto, ele vê no futuro boas perspectivas. “Acredito que estamos indo numa ARQUIVO a falta de pessoas qualificadas para o APH como uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje no setor de emergências, o que pode incidir também sobre a articulação. Como a Portaria GM 2048 que regulamenta o serviço é de 2002, até então, a falta de padronização imperava no mercado. “O que ocorria era que os diversos serviços existentes se autodesenvolviam, a partir de protocolos importados. Felizmente, a maioria foi desenvolvido por profissionais sérios e competentes que, não tendo alternativa, diante da omissão dos órgãos públicos, foram obrigados a criar modelos e implantar seus próprios serviços”, diz. “Um dos grandes avanços no sentido de qualificar nossos recursos humanos está no empenho das universidades, principalmente, os cursos de Enfermagem e Medicina, em incluir nas suas grades curriculares disciplinas específicas relacionadas a emergências”, revela. A necessidade de formação é um agravante também para os bombeiros. “Cada vez mais há uma demanda de empresas, mesmo estatais, que buscam certificações de qualidade que pedem por estes profissionais em suas plantas”, diz o paramédico Jorge Alexandre Alves. Para ele, a questão da formação, aliada à dis- Alves: empresas adotam referência internacional direção promissora, uma vez que o país se tornou ativo com a implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências e com o fato de que cada vez mais o tema vem sendo motivo de discussões científicas, visando realmente a profissionalização e o desenvolvimento de um sistema real, cujo objetivo seja o de salvar vidas”, complementa. Emergência 25 24 HORAS 6H Indo para o trabalho Michele mora com os pais e acorda às 6h da manhã. Toma banho, se arruma e deixa para tomar café da manhã no Samu, onde passa 12 horas trabalhando. Ela vai trabalhar de carro. Sai de casa entre 6h30 e 6h40, chegando no Samu por volta das 6h50. São cerca de 8 km percorridos para chegar ao local de trabalho. 6H55 A vida por um fio A chegada Após bater o ponto, a enfermeira Michele checa o quadro com as escalas do dia. Lá ela vai saber em que viatura e com que equipe irá atuar. Também verifica a ordem de saída das viaturas e vê se todos os enfermeiros estão no local. Atendimento no Samu envolve a realização de procedimentos em locais inadequados, como as ruas, exigindo trabalho em equipe e agilidade “Sempre quis trabalhar com emergência”, afirma Michele de Freitas Neves, de 26 anos, que trabalha há oito meses no atendimento de emergência do Samu de Campinas/SP. Enfermeira formada pela Unicamp há quase três anos, ela também trabalha em um Pronto Socorro do Hospital da Universidade. No Samu, Michele trabalha 12h e folga 36h, atuando em viaturas de suporte avançado. Essas viaturas estão preparadas para as ocorrências que necessitam de UTI e, além de diversos equipamentos, contam com uma equipe completa: um médico, um enfermeiro, um técnico em enfermagem e o motorista. Reportagem Cristiane Reimberg/Emergência reunião com o Conselho Gestor, na qual a coordenação discute com os funcionários os problemas enfrentados e tenta resolvê-los. 7H05 Checagem O próximo passo é checar se tudo está em ordem na ambulância. Todos os equipamentos são verificados. Michele, por exemplo, observa se há oxigênio, checa o respirador, testa o desfibrilador, deixa os eletrodos prontos para monitorizar o paciente. Esses procedimentos são importantes para que tudo ocorra de forma rápida e prática durante o atendimento. 26 Emergência 8H25 7H35 Ocorrência Reunião Michele sai da reunião e tem seu café da manhã adiado mais uma vez. A sirene toca no Samu, avisando que a primeira viatura de suporte avançado da escala deve partir para atender Após a checagem, Michele costuma tomar café da manhã. Mas isso nem sempre acontece. Após checar os equipamentos, ela foi convocada para uma JULHO / 2006 uma ocorrência. A enfermeira rapidamente se posiciona na ambulância e no caminho já se prepara para o atendimento, enquanto recebe mais detalhes da ocorrência: um homem de mais de 60 anos é atropelado por um ônibus. equipe trabalhe em conjunto, da melhor forma possível. Michele procura a máscara para colocar no homem. O soro é montado. Ele perdeu muito sangue. Michele pede ao motorista que dê a ela os equipamentos que necessita. 8H35 8H45 Local do acidente Tensão O homem está debaixo do ônibus, próximo às rodas traseiras. É possível ver seus braços e rosto. A Polícia Militar já está no local. Também há curiosos observando a cena. Michele e o médico Eduardo olham se é possível retirá-lo do local. A técnica em Enfermagem, Benê, entra embaixo do ônibus para verificar se a vítima não está presa. Dessa forma, os três, auxiliados pelo motorista da ambulância, Marcos Roberto, colocam o homem na maca. A vítima agoniza de dor o tempo todo e faz movimentos involuntários com os braços e as pernas, que estão quebrados. O membro inferior esquerdo sofreu ainda amputação com o acidente. O sangue se espalha pela avenida. Michele tenta tranqüilizá-lo, apesar de já perceber que a situação é grave. O momento ainda é tenso. A equipe do Samu continua no local do acidente e o paciente está sendo atendido na ambulância. Michele pede outro soro. O motorista acha uma conta de água no bolso da vítima, que é entregue aos policiais. Agilidade É preciso agilidade para atender a vítima. Dentro da viatura de emergência, é possível ver a tensão no rosto dos profissionais, o que não impede que a JULHO / 2006 Equipe chega ao hospital O Samu chega ao hospital. A equipe do hospital observa a vítima. Michele preenche a ficha com os dados do senhor atropelado, relatando o que ocorreu. Ela também entrega os pertences encontrados com a vítima: dinheiro e alguns documentos. no crânio, no abdômen e no tórax. acidente com uma amiga. “Deu dó”, lamenta a enfermeira. 9H30 Retorno 8H52 Óbito 8H39 8H59 Às 8h50 a ambulância se prepara para partir. No caminho, o médico verifica os sinais vitais do paciente. Às 8h52 é atestado o óbito e retirado o oxigênio do homem. A equipe, serena, observa a vítima com a certeza de que deram o máximo de si para salvá-lo. Mas já tinham a consciência de que era difícil que ele sobrevivesse. Michele comenta o acidente. As rodas dianteiras passaram por cima do homem de 64 anos. Era possível ver as marcas. Além das fraturas dos membros superiores e inferiores e a amputação na perna esquerda, a vítima teve traumas A equipe sai do hospital e chega na unidade do Samu em cinco minutos. Michele conta aos colegas como foi o acidente, o trabalho realizado pela equipe e a situação em que ficou o homem atropelado. 9H45 Café da Manhã Só agora Michele pode sentar e tomar seu café da manhã. Ela toma um copo de café com leite e come pão. Ainda fala do 10H15 Reposição Alimentada, Michele vai repor o material na ambulância, que já foi higienizada pela equipe responsável pela limpeza. São repostos vários equipamentos como abocath (agulha para punção venosa), intracath (agulha para veia central), tubo, colares, soros e equipos (fios para o soro). Emergência 27 24 HORAS Após terminar toda a reposição de equipamentos e a limpeza do uniforme, Michele conversa com outros profissionais de emergência, enquanto aguarda alguma chamada de ocorrência. mais nada, a não ser consolar a família. 15H10 Tranqüilidade 19H15 De volta para casa 12H Almoço 10H45 Higiene Após arrumar os equipamentos, a enfermeira limpa algumas pequenas manchas de sangue do seu uniforme com água oxigenada. 11H30 Bate-papo Sem uma nova chamada, Michele vai almoçar no refeitório do Samu. O atendimento de UTI não tem hora específica para almoço, se houver uma chamada para sua viatura, o profissional deve parar de comer imediatamente e ir atender a ocorrência. Como não houve nenhum chamado nesse horário no dia em que a reportagem esteve presente, Michele pôde almoçar tranqüilamente. A tarde transcorre com tranqüilidade. Há mais duas chamadas de UTI, mas segundo a escala, outras equipes vão atender, já que a de Michele fez a primeira ocorrência do dia. A enfermeira aproveita para fazer a escala de serviço, que designa quem vai ficar em cada viatura durante o mês. Depois disso, passa a escala do dia seguinte para o quadro. 17H30 Nova ocorrência No final da tarde, Michele se depara com mais uma situação triste. Um rapaz de 22 anos se suicidou com um tiro na cabeça dentro de casa. Quando chegou no local já não podia fazer o paciente morre. Atendi uma vez vítimas de um capotamento. Vi as pessoas agonizando. Você sempre quer fazer mais, mas há um limite. Ocorrências com crianças também chocam muito. COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COM O SOCORRISMO? Foi aqui no Samu. Sempre gostei muito, mas a adaptação do Atendimento Pré-Hospitalar é um pouco difícil. Uma coisa é você atender o paciente no hospital, outra, na rua, onde tem contato direto com a população. Nós temos mais dificuldades nas ruas, pois há mais variáveis que podem estar influenciando no momento. A via pode ser escura e você tem que tirar o paciente do local onde ele está. É preciso fazer os procedimentos em locais inadequados. Mas depois que você aprende, é apaixonante, você não quer sair mais. QUAL EXPERIÊNCIA DE ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA QUE FOI MAIS MARCANTE? As mais marcantes são os atendimentos em que você tem um paciente com trauma, agonizando no local, em que consegue atender, mas 28 Emergência Em cada 24h, ocorrem no Samu de Campinas, no mínimo, 150 ocorrências. Dentre elas, 15 costumam ser de UTI. O máximo de atendimentos que Michele chegou a fazer em uma jornada de 12h foram seis. O dia de Michele acompanhado pela reportagem não foi um dia de muitas ocorrências, no entanto, foram duas chamadas nas quais foi necessário o contato com a morte. Foram momentos de tensão e muito trabalho, mas a certeza do dever cumprido, pois em um atendimento de emergência, nem sempre o final é feliz. Só resta a Michele voltar para casa. QUAIS OCORRÊNCIAS VOCÊ MAIS GOSTA DE ATENDER? Gosto de atender traumas e paradas, porque são os atendimentos nos quais você pode fazer muito pelas vítimas. Em um trauma ou uma parada, você tem que dar o máximo de si e quando o paciente sobrevive é muito gratificante. ADQUIRINDO EXPERIÊNCIA Michele de Freitas Neves fala das diferenças entre atender em um hospital e nas ruas, relatando os fatos que mais a marcam profissionalmente. QUAL SEU OBJETIVO NA PROFISSÃO? Quero continuar trabalhando com emergência. Quando tiver mais prática na área, pretendo atuar na educação voltada para a emergência. Para tanto, farei mestrado e doutorado. Mas acho que ainda não é a hora. Quero ter mais experiência. JULHO / 2006 REPORTAGEM Desde os tempos do Imperador Corporação mais antiga do País completa 150 anos neste mês, recordando atuações históricas dos bombeiros e destacando sua estrutura atual J ulho é mês de comemorações no CBMERJ (Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro). No dia 2, a Corporação festeja seus 150 anos de criação. Fundado antes mesmo da proclamação da República, o órgão foi estabelecido por ninguém menos que Dom Pedro II. A instituição aconteceu por meio do Decreto 1775, de julho de 1856. A Corporação é a mais antiga do País. Talvez por essa sua longa experiência é que a entidade carioca consiga dar conta das freqüentes chamadas de atendimento que recebe em todo o Estado hoje. Só no ano passado, para se ter uma idéia, a média foi de uma prestação de socorro a cada dois minutos e 36 segundos. Mesmo assim, mais interessante que os atuais registros do CBMERJ, só mesmo a própria história da Corporação - a começar por seu estabelecimento. Antes de ser constituído o Corpo de Reportagem de Sabrina Auler ARQUIVO “ Como o Rio foi precursor, muitas corporações foram criadas por um bombeiro carioca. Então, esta é uma comemoração para todas as corporações do país Carlos Alberto de Carvalho Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro 30 Emergência Bombeiros, a extinção dos incêndios que ocorriam no Rio de Janeiro era feita por pessoas dos Arsenais de Guerra e da Marinha, das seções de obras públicas e da Casa de Detenção. Assim, algumas pessoas eram preparadas para, caso houvesse incêndio, deixarem seus afazeres e dirigirem-se ao local para trabalhar na extinção do fogo. “Algumas casas, naquela época, eram de pau-a-pique, feitas com materiais de fácil combustão. Além do mais, as seções de combate a incêndio realizavam ações completamente separadas. Isso significa que não havia um acordo sobre as formas de extinguir o fogo, uma centralização de serviços”, conta o historiador do CBMERJ, subtenente Antonio Mattos. “A partir de 2 de julho de 1856, quando o Decreto 1775 foi assinado, estes trabalhos foram centralizados pelo o que na época foi chamado de Corpo Provisório de Bombeiros da Corte”, diz. “A nova estrutura foi caracterizada como provisória porque, como nunca se tinha pensado nesta centralização, era preciso experimentar primeiro para ver se iria dar certo”, explica. Mas a tentativa dos bombeiros procedeu. “Tanto que em 1860, quatro anos depois, a estrutura ganhou caráter permanente, passando a chamar-se Corpo de Bombeiros da Corte”, diz o subtenente Mattos. AMPLIAÇÃO Posteriormente, em 1861, a atuação dos bombeiros, que até então era focada apenas na extinção de fogo, foi ampliada. Naquele ano, a Corporação recebeu autorização (Decreto 8337) para atuar junto a soldados em casos de guerra. Isso significa que, em situações de conflito, o Governo poderia empregar bombeiros para construção de sapas e pontões. Entre as lutas em que os bombeiros estiveram presentes, destaca-se a Guerra do Paraguai, em 1865, onde os profissionais compuseram o então chamado grupo “Voluntários da Pátria”. TRAGÉDIAS Mesmo assim, apesar da participação em algumas batalhas, não foram elas as maiores tragédias vividas pela Corporação. Conforme o subtenente Mattos, dois grandes acidentes realmente marcaram a história do CBMERJ. Um deles foi a explosão na Ilha do Braço Forte, na década de 1950. “Tratava-se de uma ilha do Estado da Guanabara (na época). Lá, eram feitas as armazenagens de materiais explosivos e inflamáveis. Na noite do dia 7 de maio de 1954, um ladrão tentou roubar alguns dos materiais do depósito para revender a uma fábrica de fogos de artifício. Em contato com a umidade o material inflamou e começou a pegar fogo. Como havia toneladas de explosivos no galpão, o foco de incêndio se estendeu rapidamente. Vinte e três dos nossos homens se deslocaram para tentar conter o incêndio, 17 deles morreram. A explosão foi tão grande que foi ouvida em todos os bairros próximos à Baía da Guanabara e até em localidades mais afastadas, como em Teresópolis”, descreve. “Este foi um dos acontecimentos que mais nos marcou, pois neste dia, tivemos nosso maior número de vítimas em um mesmo evento”, lamenta. O historiador subtenente Mattos lembra de outro desastre, mas este ocorrido na década de 1970. “Foi no bairro de Vila Isabel, em 1975. Ao sair para atender a JULHO / 2006 PINTURA DE JOÃO FRANCISCO MUZZI um chamado, um de nossos carros Auto Bomba se chocou com um veículo de turismo. Cinco colegas nossos morreram”, menciona (ver Desastres Marcantes na História do CBMERJ, na página 32). APRENDIZADO Com 40 anos de atuação na área, subtenente Mattos garante que todas estas histórias serviram de aprendizado à Corporação. “Este tipo de acontecimento marca muito. Se você reparar, nós, bombeiros mais antigos, temos muitas marcas e cicatrizes pelo rosto. Eu, por exemplo, tenho manchas escuras na pele por conta de um recipiente com acetileno que estourou próximo de mim. Então, muita coisa que eu digo hoje não é porque eu ouvi falar, mas é porque eu passei, eu vivi, eu aprendi. A visão mais antiga do bombeiro era de que sua missão era extinguir incêndios. Agora, existe outra mentalidade. Hoje se trabalha muito com a prevenção a fim de evitar que Esta cópia da pintura os incêndios aconte- original de Leonardo çam. Isso traz econo- Joaquim, de 1789, mia de material, de representa um pessoal e uma série de incêndio ocorrido outros benefícios à no Recolhimento de Corporação e à comu- N. Srª do Parto, um nidade”, reflete. internato de mulheres Esta nova postura di- abandonadas. A ante do trabalho dos pintura está exposta bombeiros teve início no CBMERJ já no final da década de 1970, mais precisamente em 1976. É que foi neste ano que foi criado o Coscip (Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico). Elaborado por oficiais da Corporação carioca, o Coscip tornou obrigatório o cumprimento de algumas normas. Entre as regras, válidas até hoje, consta a necessidade das edificações e instalações de todo o Estado disporem de sistemas preventivos de incêndio e contra disseminação de pânico. De acordo com o subtenente Mattos, o estabelecimento das regras de precaução de incêndios surtiu efeitos. “A prevenção realmente tem dado um excelente resultado. Antigamente, a cada plantão, havia uma média de cinco ou seis saídas para socorro. Hoje, temos dias em que não há nenhuma. E isso não é porque o bombeiro deixou de ser útil, mas porque há regras incisivas focadas na necessidade de precaução”, expõe. 1789 JULHO / 2006 Emergência Emergência 31 31