Neus Molin Canals - PGLA - Universidade de Brasília
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Neus Molin Canals - PGLA - Universidade de Brasília
Universidade de Brasília -UnB Instituto de Letras –IL Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução –LET Mestrado em Lingüística Aplicada - MLA Autopercepções do processo de aculturação entre hispanofalantes de Brasília Neus Moliné Canals ii NEUS MOLINÉ CANALS AUTOPERCEPÇÕES DO PROCESSO DE ACULTURAÇÃO ENTRE HISPANOFALANTES DE BRASÍLIA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Lingüística Aplicada do Departamento de Letras da Universidade de Brasília, como requisito parcial à obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Unternbäumen. BRASÍLIA-DF 2005 Dr. Enrique Huelva iv Autopercepções do processo de aculturação entre hispanofalantes de Brasília Neus Moliné Canals Banca para a defesa: _______________________________________ Presidente: Prof. Dr. Enrique Huelva Unternbäumen Universidade de Brasília - UnB _______________________________________ Examinadora Externa: Profa. Dra. Maria Ceres Pereira Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE ________________________________________ Examinadora interna: Profa. Dra. Maria Luisa Ortíz Alvarez Universidade de Brasília - UnB _______________________________________ Examinadora Suplente: Profa. Dra. Percília Lopes C. dos Santos Universidade de Brasília – UnB Brasília, 19 de dezembro de 2005 vi Agradecimentos Ao meu orientador, professor Dr. Enrique Huelva, pela sua dedicação, paciência e estímulo ao longo da realização deste trabalho. Aos professores e colegas do Mestrado em Lingüística Aplicada, pela oportunidade dada e, especialmente, à professora Dra. Maria Luisa Ortiz, pela sua ilusão e alegria. vii viii Sumário ÍNDICE DAS TABELAS ........................................................................................................ xi LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................. xiii RESUMO ................................................................................................................................. xv ABSTRACT ............................................................................................................................ xvii INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1 1. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA ....................................................................................... 6 1.1. BILINGÜISMO E AQUISIÇÃO DE SEGUNDAS LINGUAS ........................................................ 6 1.2. CULTURA ........................................................................................................................... 11 1.2.1. LÍNGUA E CULTURA............................................................................................ 12 1.2.2. COMPETENCIA CULTURAL .................................................................................. 13 1.3. ACULTURAÇÃO .................................................................................................................. 16 1.3.1. MODELO DE ACULTURAÇÃO DE SCHUMANN ...................................................... 18 1.3.2. MODELO DE ACULTURAÇÃO DE BROWN ............................................................ 25 1.3.3. OUTROS MODELOS DE ACULTURAÇAO .............................................................. 28 1.3.4. ALGUNS CONCEITOS NOS MODELOS DE ACULTURAÇÃO .................................... 31 2. METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 35 2.1. TIPO DE PESQUISA .............................................................................................................. 35 2.2. CONTEXTO E SUJEITOS DE PESQUISA ................................................................................. 36 2.3. PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS E DE ANÁLISE ........................ 37 2.3.1. OS QUESTIONÁRIOS ............................................................................................ 38 2.3.2. AS ENTREVISTAS ................................................................................................ 40 2.3.3. TRIANGULAÇÃO DOS DADOS.............................................................................. 45 3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............................................................... 46 3.1. DIMENSÃO DE ACULTURAÇÃO .......................................................................................... 46 3.1.1. DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE ACULTURAÇÃO .................................................. 46 3.1.2. ANÁLISE DO PROCESSO DE ACULTURAÇÃO ....................................................... 53 3.2. DIMENSÃO CULTURAL ....................................................................................................... 79 3.2.1. DIFERENÇAS CULTURAIS PERCEBIDAS .............................................................. 79 3.2.2. MUDANÇA DE VALORES ..................................................................................... 96 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 100 BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................... 104 ANEXOS.................................................................................................................................. 109 ix x ÍNDICE DAS TABELAS Tabela 1. Paradigma de Berry. ..................................................................................... Tabela 2. Variáveis-chave de motivação...................................................................... Tabela 3. Perfil dos sujeitos de pesquisa. ..................................................................... 28 30 46 xi xii LISTA DE SIGLAS Aquisição de segunda língua ASL Primeira língua, língua materna L1 Segunda língua, língua-alvo L2 Segunda cultura, cultura-alvo C2 PLE Português língua estrangeira PEPPFOL Programa de Ensino e Pesquisa em Português para Falantes de Outras Línguas xiii xiv RESUMO Neste trabalho, objetivamos estudar as autopercepções do processo de aculturação de um grupo de hispanofalantes de Brasília. Para isso, analisamos duas dimensões: a dimensão de aculturação, na qual contextualizamos o processo de aculturação dos sujeitos pesquisados, para depois analisar e interpretar as percepções deles quanto ao seu processo de aculturação; e a dimensão cultural, onde analisamos e interpretamos as diferenças culturais que eles percebem entre as suas culturas de origem e a cultura brasileira, e como eles conceitualizam essas diferenças; finalmente, examinamos as possíveis mudanças de valores notadas por eles mesmos. O estudo insere-se no âmbito de aquisição individual de uma segunda língua e cultura num contexto de imersão e tem como modelo teórico principal o modelo de aculturação proposto por Schumann em 1978. A escolha deste tema justifica-se pelas necessidades diferentes dos hispanofalantes em relação a outros grupos lingüísticos na sua aquisição da língua e cultura brasileira, e da constatação de que, apesar da crescente importância das relações entre hispanofalantes e brasileiros num mundo globalizado, não existem estudos de processos de aculturação de hispanofalantes no Brasil dentro dos modelos teóricos ambientalistas. Como resultado da análise e interpretação de dados, observamos como, em geral, os sujeitos pesquisados escolhem preferencialmente uma estratégia de aculturação, no sentido que eles acreditam ser importante estabelecer e manter relações com o grupo da língua-alvo, tentando porém preservar as próprias características culturais. Quanto à percepção das diferenças culturais, observamos como em todos eles essa percepção se dá no contraste com a própria cultura, e esse contraste deriva muitas vezes não somente da reflexão sobre a cultura do outro, como também da reflexão sobre os valores da própria cultura. A explicitação das diferenças culturais faz com que seja possível, finalmente, uma mudança de valores e na maneira de olhar o outro. Palavras-chave: aculturação, competência cultural, cultura, aquisição de segundas línguas e bilingüismo. xv xvi ABSTRACT In this work, our objective was to study the self-perceptions of the acculturation process of a group of Spanish speakers in Brasilia. To do this, we analyzed two dimensions: the acculturation dimension, in which we contextualized the subjects’ acculturation process, so that later we could analyze and interpret their perceptions in relation to this process; and the cultural dimension, where we analyzed and interpreted the cultural differences that they perceived between their culture of origin and the Brazilian culture, and how they conceptualized these differences. Finally, we examined the possible changes in values that they themselves noted. This study is inserted in the area of individual acquisition of a second language and culture in the context of immersion, and has as its main theoretical model, the model of acculturation proposed by Schumann in 1978. The choice of this theme is justified by the different necessities of Spanish speakers in relation to other linguistic groups in their acquisition of the Brazilian language and culture, and the verification that, in spite of the growing importance of the relationship between Spanish speakers and Brazilians in a globalized world, there are no studies about the processes of the acculturation of Spanish speakers in Brazil using environmental theoretical models. As a result of the analysis and interpretation of the data, we observed that, in general, the subjects preferably chose an acculturation strategy, in the sense that they believe that it is important to establish and maintain relations with the target-language group, trying, however, to preserve their own cultural characteristics. In relation to the perceptions of the cultural differences, we observed, in all of the subjects, a perception of the contrast with their own culture, and this contrast frequently derives not only from the reflection about the culture of the other, but also from the reflection about the values from their own culture. The explanation of the cultural differences is what, in the end, makes possible a change in their values and in the way that they see the other. Key words: acculturation, cultural competence, culture, second language acquisition, bilingualism xvii xviii INTRODUÇÃO Este trabalho visa analisar as percepções do próprio processo de aculturação de um grupo de hispanofalantes de Brasília. O estudo insere-se no âmbito de aquisição individual de uma segunda língua/cultura (L2/C2) no contexto sócio-cultural da língua-alvo, e tem como modelo teórico principal o modelo de aculturação de Schumann. Os objetivos deste estudo são a identificação e explicação do processo de aculturação dos sujeitos pesquisados e também das diferenças culturais percebidas por eles entre as respectivas culturas e a culturaalvo, neste caso, a cultura brasileira. A dissertação foi dividida em três capítulos. No primeiro capítulo são examinados os conceitos centrais que constituem a fundamentação teórica desta pesquisa. Bilingüismo e Aquisição de Segundas Línguas formam o arcabouço teórico geral da nossa pesquisa. Pelo fato da nossa pesquisa ter como foco principal as autopercepções do processo de aculturação, tem-nos parecido pertinente explicar conceitos como o de cultura, sobretudo em relação com a língua, partindo da idéia de que a aquisição de uma segunda língua é também a aquisição de uma segunda cultura; para chegar ao conceito central da pesquisa, que é o conceito de aculturação, onde são discutidas diversas definições e apresentados alguns modelos de aculturação importantes dentro do campo de aquisição de segundas línguas, como os modelos de aculturação de Schumann, Brown, Berry, Bourhis, Giles ou o chamado Modelo de Aculturação Ortogonal. Finalmente, são definidos conceitos como identidade étnica, vitalidade etnolingüística e etnocentrismo usados no nosso trabalho em relação ao processo de aculturação dos sujeitos pesquisados. No segundo capítulo do trabalho, é descrita a metodologia da pesquisa e os procedimentos e instrumentos de coleta e de análise de dados. Assim, é descrito primeiro o tipo de pesquisa, como sendo qualitativa e interpretativa; o contexto e sujeitos de pesquisa; a elaboração e aplicação dos instrumentos de coleta de dados, questionários e entrevistas; e as categorias e codificação usadas para a análise e interpretação dos dados. No terceiro capítulo, são analisados e interpretados os dados obtidos através dos questionários e das entrevistas. Os dados são apresentados segundo duas dimensões analíticas: dimensão de aculturação e dimensão cultural. Na dimensão de aculturação é traçado primeiro o perfil do processo de aculturação dos sujeitos pesquisados, para passar depois à análise e interpretação desse processo, do ponto de vista dos sujeitos, seguindo as variáveis estabelecidas no modelo de Schumann e as etapas do processo de aculturação descritas por Brown. Na dimensão cultural são analisadas e interpretadas as principais diferenças culturais 1 percebidas pelos sujeitos a partir da constatação de diversos temas recorrentes no discurso deles. Por último, ainda na dimensão cultural, apontamos as mudanças de valores percebidas por eles no seu processo de aculturação. Finalizamos o trabalho com algumas considerações gerais, nas quais refletimos sobre os temas tratados e argumentamos sobre um conceito de aculturação como um conceito complexo multidimensional que reflete a socialização da pessoa em um grupo cultural diferente do próprio. Consideramos, também, que podemos adquirir padrões, condutas ou normas de outra cultura, mantendo também as próprias, adquirindo assim competências culturais em diferentes culturas. Justificativa A presente pesquisa surgiu de um interesse já antigo da autora pelos fenômenos que têm a ver com o contato de línguas e as minorias lingüísticas. Esse interesse cresceu depois de chegar ao Brasil e observar que, apesar do suposto monolingüismo do país, este encerrava, na realidade, uma grande diversidade lingüística e cultural. Esta constatação nos reafirmava na crença de que o bilingüismo é um fenômeno mais comum do que parece e que, geralmente, é propositadamente esquecida a realidade, mais atual que nunca, que mais da metade do mundo fala mais de uma língua. Atualmente, o movimento migratório das pessoas é muito intenso, devido à relativa facilidade do deslocamento nos nossos dias. Essas migrações, que ocorrem por diversas razões de tipo social, econômico, religioso ou político, levam rapidamente ao bilingüismo, pois a língua de origem continua, geralmente, sendo usada nas relações intragrupais, enquanto a língua do país de acolhida é adquirida para uso nas demais interações. Porém, não somente é adquirida uma nova língua, mas também alguns novos costumes, definitivamente, uma nova cultura. E esse caminho, em que se produz, normalmente, um processo de mudança de valores e a aquisição de uma nova visão do mundo, geralmente mais complexa e abrangente, a partir do contato e, às vezes, do confronto entre as duas culturas, era o que nos parecia ser mais interessante para a nossa pesquisa. No contato direto entre duas culturas não podemos ocultar as diferenças, e a explicitação delas é importante para evitar os possíveis mal-entendidos ou as condutas inapropriadas. Pareceu-nos relevante, pois, explicitar as diferenças culturais percebidas nesse processo de aculturação, entendido não como um fenômeno estático, mas, ao contrário, muito dinâmico, altamente sensível a muitos fatores dificilmente quantificáveis, porém vivenciados realmente na experiência dos indivíduos que passam por ela. 2 Faltava-nos, porém, umas categorias para, de alguma maneira, poder fazer um estudo sistemático desse processo de aculturação. Acreditamos tê-lo encontrado no modelo de Schumann, já que nos permite analisar e interpretar esse processo de uma maneira metódica. Posteriormente, como comentaremos no capítulo 2, foram criadas outras categorias, a partir da análise do discurso dos próprios pesquisados, que compreendiam essas diferenças culturais percebidas por eles mesmos, mas que possivelmente possam ser ampliadas a um universo um pouco mais vasto. Pensamos, como afirmam Appel e Muysken (1996: 141), que “talvez o conceito de distância social de Schumann possa se estender até incluir a distância cultural, de tal maneira que possa dar conta do efeito da diferença cultural”. Para nós, a relevância desta pesquisa se fez evidente na leitura das seguintes palavras de Almeida Filho (2002: 213): ao ensinar uma nova língua incluindo por força sua dimensão cultural, será preciso introduzir as representações culturais que já foram explicitadas (em estudos) no comportamento de falantes competentes para uso deliberado nos planejamentos, nos materiais, nas aulas e nos exames. O processo de aculturação vivenciado pelos aprendizes tem que ser bem conhecido pelo professor que ministra aulas de uma língua segunda, neste caso português como segunda língua, bem como as diferenças culturais entre a cultura de origem e a cultura de chegada, explicitadas no ensino formal na sala de aula, para assim minimizar, tanto quanto possível, os efeitos do choque lingüístico e cultural. Tais fenômenos, apesar de o caso dessa pesquisa ser de duas culturas e línguas geralmente tidas como bem próximas, não deixam de acontecer. Assim, é preciso levar em conta no ensino formal do português como segunda língua para hispanofalantes as necessidades diferentes destes em relação a outros grupos lingüísticos. Para os sujeitos pesquisados, o ensino formal do português é importante porque, sendo cientes da sua interlíngua, possibilita a correção dos erros que se produzem nos distintos níveis da língua-alvo. Outros benefícios apontados por alguns deles são a maior velocidade de aquisição e também a melhora do nível de qualidade dessa aquisição. Para todos eles, então, o ensino do português na sala de aula pode simplificar a aquisição da língua e da cultura. Os seus objetivos, porém, como já foi dito, são diferentes de outros grupos lingüísticos porque, sendo o espanhol e o português línguas muito próximas, faz-se mais necessário dar ênfase às diferenças lingüísticas e culturais, que são a maior causa de mal-entendidos e possíveis constrangimentos. Desta maneira, a sala de aula pode auxiliar na solução de problemas realmente vivenciados no seu processo de imersão na sociedade-alvo através da discussão de temas do seu interesse como, por exemplo, a diversidade lingüística e cultural do Brasil, 3 muitas vezes simplificada na sua chegada; os elementos pára-verbais, como os gestos, difíceis de ser encontrados em livros didáticos; os diferentes códigos nas relações sociais e até mesmo a interação com a própria cidade, bastante desconhecida, que pode ser motivo de pesquisa e também facilitadora de um maior entrosamento entre aprendizes e professor. Finalmente, a sala de aula também pode servir para amenizar os efeitos do choque lingüístico e cultural, porque por ser um espaço no qual diferentes indivíduos compartilham sentimentos parecidos – desorientação, perda, solidão,... – abre a possibilidade de refletir sobre esse fenômeno e, portanto, de racionalizá-lo. No entanto, também é certo que nem sempre esse ensino formal será totalmente efetivo porque, dependendo dos mecanismos do processo de aculturação do aprendiz, nem sempre este estará preparado para isso. Uma última ressalva: a autora deste estudo declara-se bilíngüe e nasceu num território onde convivem duas línguas e que, na atualidade, tal convívio tem se estendido com a entrada de novas línguas e culturas diferentes. Por tudo isso, continua a querer acreditar que a fidelidade à própria língua e cultura não tem por que ser incompatível com o fato de fazer parte de uma sociedade realmente plurilíngüe e multicultural. Objetivos A pesquisa objetiva compreender melhor os aspectos ligados às percepções do processo de aculturação e quais são os aspectos culturais que podem oferecer maior problema de aquisição para os hispanofalantes que aprendem português em Brasília. Os objetivos específicos contemplados são: 1. Identificar e explicar, segundo as variáveis do modelo de Schumann, as percepções quanto ao processo de aculturação dos sujeitos pesquisados. 2. Identificar e explicar as diferenças culturais percebidas entre a cultura de origem e a cultura-alvo e como os sujeitos pesquisados as conceitualizam. 3. Identificar e explicar as possíveis mudanças de valores resultantes do contato com a cultura do Outro. 4 Perguntas de pesquisa Assim, as perguntas de pesquisa são: 1. Quais são as percepções dos sujeitos pesquisados quanto ao seu processo de aculturação? 2. Quais são as diferenças culturais percebidas pelos sujeitos pesquisados entre sua cultura de origem e a cultura-alvo no seu processo de aculturação e como estes conceitualizam essas diferenças? 3. Quais são as mudanças de valores percebidas pelos sujeitos pesquisados durante o processo de aculturação? 5 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A fundamentação teórica desta pesquisa terá como base os estudos sobre aculturação no processo de aquisição de segunda língua num contexto de imersão. O nosso referencial teórico principal é o modelo de aculturação proposto por Schumann em 1978, embora também consideremos outros modelos de aculturação, sobretudo os desenvolvidos por Brown e Berry. O contexto teórico geral no qual se insere o trabalho pertence basicamente às áreas de Bilingüismo e Aquisição de Segundas Línguas. 1.1. Bilingüismo e Aquisição de Segundas Línguas O Bilingüismo é um campo de estudo que trata, em geral, das línguas em contato e, portanto, também das culturas em contato. O foco do nosso trabalho são as percepções do processo de aculturação dos sujeitos pesquisados, e todo processo de aculturação, como veremos, se produz quando há um contato de culturas. É por isso que para nós se faz necessário iniciar este capítulo de Fundamentação Teórica com a contextualização, ainda que breve, das áreas Bilingüismo e Aquisição de Segundas Línguas, onde o nosso tema se enquadra, e a definição de alguns dos conceitos, pertencentes à área, que serão usados ao longo da análise e interpretação dos dados. Bilingüismo O conceito de bilingüismo é complexo e difícil de ser definido, uma vez que são várias as abordagens e os critérios usados para caracterizar uma situação de bilingüismo. O problema das definições é que, em geral, elas se aplicam a um padrão ideal, de forma generalizada e, em muitos casos, não correspondem a uma realidade concreta. Assim, Weinreich (1953, apud Siguan, 2001: 27), que foi o pioneiro no estudo científico do bilingüismo, o define da seguinte forma: “chamamos bilingüismo ao hábito de utilizar duas línguas alternativamente e chamamos bilíngües as pessoas que o praticam”. Uma definição que, segundo Siguan (2001: 27) “não diz nada sobre a profundidade com que o bilíngüe conhece as duas línguas nem sobre a freqüência com que as usa”. Já Bloomfield (1933, apud Appel e Muysken, 1996:11) fala do bilíngüe como aquele que “domina duas línguas como um nativo” (bilíngüe perfeito), mas então abre a questão sobre o que entendemos por competência 6 igual à de um “nativo”. Macnamara (1969, apud Appel e Muysken, 1996) fala do bilíngüe como aquele que tem competência em uma das quatro habilidades lingüísticas numa outra língua diferente da materna. Definições mais recentes insistem nas características específicas do bilíngüe. Assim, Grosjean (1985, apud Hamers e Blanc, 1989: 7) define o falante bilíngüe “como mais que a soma de dois monolíngües no sentido que o bilíngüe também tem desenvolvido um único comportamento lingüístico”. Da mesma forma, para Lüdi (1986, apud Hamers e Blanc, 1989: 7), o bilingüismo é “uma capacidade extrema de falar diversas línguas”. O bilingüismo é um fenômeno que tem sido estudado segundo várias perspectivas como, por exemplo, a social, a psicolingüística, a educacional, a política etc. Dentro dessas perspectivas, podemos distinguir entre o bilingüismo no indivíduo e o bilingüismo na sociedade, embora esses níveis estejam, até certo ponto, entrelaçados. As pesquisas sobre bilingüismo individual focalizam, principalmente, o uso das línguas pelo indivíduo (competência e desempenho, interferência, interlíngua, graus de fluência etc.), enquanto as pesquisas sobre bilingüismo na sociedade preocupam-se com as mudanças que ocorrem na língua e no seu uso em relação à comunidade (a manutenção ou a perda de uma língua de geração para geração, as situações de diglossia, os domínios sociais, a comunicação intercultural etc.). As pesquisas mais recentes focalizam, principalmente, o uso das línguas e as funções que elas exercem nos diversos domínios, ou seja, a necessidade do individuo de adquirir e usar uma determinada língua em um determinado local, quando em contato com esta ou aquela pessoa. Em outras palavras, o bilíngüe usa suas línguas para diferentes propósitos, em diferentes situações e com diferentes pessoas e, por isso, nem sempre desenvolve fluência igual em ambas. Fishman (apud Winford, 2003) foi o introdutor do conceito de domínios sociolingüísticos (sociolinguistic domains) para representar os contextos de interação nos quais a vida social é organizada. Fishman adotou o conceito de diglossia de Ferguson (1964), que dava conta de duas variedades de uma língua utilizadas numa distribuição funcional dependendo da situação, para estendê-lo e incluir situações bilíngües caracterizadas por uma divisão similar do uso das línguas entre domínios públicos e privados. O modelo de Fishman foca no bilingüismo social, isto é, quando temos duas línguas ou variedades de uma mesma língua faladas numa região, sendo que uma delas é considerada como de maior prestígio que a outra e, portanto, é utilizada numa maior variedade de situações, sobretudo formais. 7 Fishman (1964, apud Winford, 2003: 110) cita cinco domínios principais entre as inúmeras situações de fala: a família, o relacionamento afetivo entre amigos, a religião, a educação e o trabalho. Cada um desses domínios pode ou não exigir uma língua ou variedade da língua vista como mais apropriada para uma interação em particular. Para Fishman (1972, apud Winford, 2003:110) domínios são “contextos institucionais e suas co-ocorrências comportamentais congruentes”. Assim, a noção de domínios está diretamente relacionada ao comportamento lingüístico do bilíngüe e ao contexto sociointeracional do evento de fala. Segundo Winford (2003: 112), “domínios são construtos abstratos, construídos a partir de uns participantes e suas relações estabelecidas, locais e temas”. É com base neste conceito de Fishman que temos operacionalizado os usos lingüísticos dos sujeitos para a análise do nosso trabalho. A influencia de uma língua sobre outra é muito importante em situações de contato lingüístico continuado. Em Languages in contact, Weinreich (1953, apud Appel e Muysken, 1996: 123) sugere que “a primeira língua influencia a aquisição da segunda”, e refere-se ao termo de interferência como a “reorganização de modelos que resulta da introdução de elementos estranhos nos âmbitos mais estruturados da língua, como a maior parte do sistema fonêmico, uma grande parte da morfologia e a sintaxe e algumas áreas do vocabulário”. Segundo Appel e Muysken (1996: 125), “desde os anos setenta, a interferência ou transferência negativa tem sido um aspecto importante da pesquisa no campo de aquisição de segundas línguas”. Assim, estudos longitudinais detalhados sobre a aquisição de segundas línguas têm mostrado que efetivamente se produzem interferências, sobretudo em determinados estágios do processo. Assim, Winford (2003: 108) fala que “muitos pesquisadores distinguem entre mudança de código praticada por bilíngües competentes e a mistura encontrada na interlíngua de pessoas adquirindo uma segunda língua”. Lüdi (apud Winford, 2003) utiliza o termo bilíngüe exolingüe. O último tipo é típico de algumas populações de imigrantes que adquiriram uma competência funcional limitada na língua-alvo, e recorrem à sua L1 para compensar sua falta de conhecimento da língua-alvo. Também, segundo Winford, há casos de imigrantes que perderam parte da sua competência na L1 e recorrem à L2 para preencher as possíveis lacunas. Poplack (1987, apud Winford, 2003) também distingue as classes de mistura associadas com bilíngües fluentes dos erros de discurso que envolvem elementos das duas línguas, e que podem ser considerados como interferências. A mudança de código é definida também por Grosjean (1982, apud Winford, 2003) como o uso alternado de duas línguas em uma mesma enunciação ou conversação. Segundo 8 ele, a mudança de código é um dos aspectos do bilingüismo e é comum não só durante o processo de aquisição de duas ou mais línguas, mas também em qualquer fase do modo bilíngüe. Até bem pouco tempo, na literatura da área, a mudança de código era considerada como uma inabilidade do bilíngüe, resultado da interferência de uma língua sobre a outra, mas, pelo contrário, a mudança de código requer um alto grau de competência nas duas línguas. Sob o prisma da pragmática, a mudança de código é uma opção comunicativa. O bilíngüe alterna suas línguas como recurso discursivo, assim como o monolíngüe utiliza diferentes estilos ou registros. Para o nosso estudo, estes conceitos de interferência e mudança de código são muito interessantes, já que, como observaremos no capítulo de Análise e Interpretação dos Dados, nossos sujeitos, apesar do pouco tempo de residência no Brasil, já apresentam estes fenômenos na sua fala. O bilíngüe, geralmente, escolhe uma língua base para ser usada na interação verbal, porém nem sempre essa é a única língua usada durante a conversação, pode ocorrer que a outra língua seja trazida para a interação de várias maneiras, uma dessas maneiras é a mudança de código. Assim, ao interagir com outros bilíngües, o indivíduo pode passar de uma língua para outra, inserindo uma palavra, uma frase ou uma sentença na enunciação. Aquisição de segundas línguas Larsen-Freeman e H. Long (1994) falam de mais de quarenta modelos teóricos no âmbito de Aquisição de Segundas Línguas (ASL), sem contar os que tratam de outros fenômenos, como a aquisição da primeira língua, a pidginização ou a variação lingüística. Esses modelos teóricos vão desde as chamadas teorias nativistas até chegar às teorias ambientalistas da ASL, onde encontramos o modelo de aculturação de Schumann que serve como modelo teórico básico para esta pesquisa. Segundo Larsen-Freeman e H. Long (1994: 207), “as teorias nativistas são aquelas que explicam a aquisição por um talento biológico inato que permite a aprendizagem”. Os teóricos mais representativos desta abordagem, provavelmente, são N. Chomsky, com sua Gramática Universal (1965), e S. Krashen, com a sua Hipótese do Monitor (1977/1985). A hipótese do Monitor de Krashen é um dos modelos teóricos de aquisição de segundas línguas mais conhecido, embora também muito criticada. Este autor, contudo, tem criado uma dicotomia importante dentro da Lingüística Aplicada, que são os termos 9 aquisição e aprendizagem. A dicotomia de Krashen é um conceito útil que, segundo Liceras (1991: 16), “não fica limitada só à linguagem, senão também à atividade mental em geral, já que está relacionada com a captação e internalização de conceitos e habilidades”. Para Krashen (apud Larsen-Freeman e Long, 1994), a aquisição de uma língua é um processo inconsciente no qual são elaborados conhecimentos implícitos. A aquisição é desenvolvida através das interações verbais, elabora gradualmente a competência comunicativa e associa-se a um contexto de imersão. A aprendizagem, pelo contrário, supõe um ambiente mais formal e institucional, com a explicitação das regras da língua. Para Krashen, as pessoas são todas dotadas do dispositivo da aquisição da linguagem e dele se utilizam com êxito, salvo os que tiveram esse processo de aquisição interrompido ou impossibilitado por algum fator excepcional. Num contexto de imersão, as regras socioculturais são ou podem ser adquiridas por meio do intercâmbio e da interação direta com os falantes nativos e com situações e contextos reais de uso. Tais regras são importantes para o desempenho lingüístico, pois definem a adequação e/ou aceitação do expressado e o êxito da comunicação. Neste trabalho, nos serviremos do termo aquisição tal como definido por Krashen, já que os sujeitos de pesquisa, embora estejam aprendendo formalmente a língua-alvo, não deixam de estar em um contexto de imersão que favorece a interação com outros falantes dessa língua e, portanto, a sua aquisição inconsciente. Para as teorias ambientalistas, diferentemente, são mais importantes a educação ou a experiência para o desenvolvimento do que a natureza ou os talentos inatos. Os elementos inatos são tidos como uma espécie de estrutura interna sobre a qual atuam fatores externos ou ambientais. O exemplo histórico mais conhecido desta linha de pensamento é o modelo proposto por Skinner em 1957. Larsen-Freeman e Long (1994) afirmam que embora as teorias ambientalistas puras da aquisição lingüística não tenham feito nenhum progresso, em geral, há alguns modelos teóricos que acabaram, por exclusão, no âmbito do ambientalismo ao explicar a aquisição mediante as variáveis externas do aprendiz, sem levar em conta os processos cognitivos. Trata-se de modelos que analisam a situação social, econômica e cultural dos aprendizes. Segundo Larsen-Freeman e Long (1994: 233), “um dos modelos mais sólidos é o intento de Schumann por justificar uma ASL natural como resultado da aculturação”. 10 1.2. Cultura O termo cultura tem sido definido muitas vezes e de distintas maneiras ao longo da história. Cada definição é o resultado dos discursos que prevaleceram durante um determinado período da história da humanidade. Assim, segundo Barros (2005: 25), no final do século XVIII, e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Na Alemanha, o conceito de cultura foi muito discutido na procura de uma identidade própria, uma verdadeira necessidade para os alemães, que compartilhavam o mesmo idioma, mas não tinham ainda uma unidade política. Para os alemães, a civilização fazia parte de toda a humanidade, sendo que alguns povos seriam mais civilizados do que outros, enquanto a cultura seria uma característica unicamente alemã. Tylor, em 1873 (em Hamers e Blanc, 1989:198), sintetizou os dois termos, Kultur e Civilization, na palavra inglesa Culture e a definiu da seguinte forma: um conjunto de sistemas simbólicos que inclui conhecimentos, normas, valores, crenças, língua, arte e costumes, e também hábitos e habilidades aprendidos por indivíduos como membros de uma determinada sociedade. Contudo, ainda hoje não temos uma definição clara e aceita por todos do que seja cultura, já que sendo utilizada em todas as áreas das ciências humanas, sua definição varia de acordo com a filiação teórica de cada autor. Segundo Barros (2005: 59), “uma das tarefas da antropologia moderna tem sido a reconstrução do conceito de cultura, fragmentado por numerosas reformulações”. Há, entretanto, tendências dominantes na definição de cultura. Bennet (1996) afirma que existe uma tendência a utilizar a definição antropológica de cultura, quer dizer, a cultura entendida como modelo de crenças, comportamentos e valores mantido por um grupo de pessoas. Do mesmo modo, Brown (1994: 164) afirma que “a cultura é um construto que compreende idéias, crenças, costumes, habilidades, artes, ferramentas etc., que satisfaz necessidades concretas de caráter biológico e psicológico”. Já Coll (2003: 3) a define como conjunto de valores, crenças, instituições e práticas que uma sociedade ou grupo humano desenvolve num certo momento do tempo e do espaço, em 11 diferentes campos da realidade a fim de assegurar sua sobrevivência material e a plenitude espiritual, tanto individualmente como coletivamente. A cultura, então, segundo Brown (1994: 164): estabelece para cada pessoa um contexto de comportamento cognitivo e afetivo, um projeto para uma existência pessoal e social. Porém, tendemos a perceber a realidade dentro do contexto da nossa cultura; sem perceber que é uma realidade criada, não necessariamente uma realidade objetiva. Essa percepção subjetiva é o que nos leva freqüentemente aos mal-entendidos entre diferentes culturas. As diferenças entre culturas, segundo Brown, são reais, e devemos aprender a lidar com elas em qualquer situação em que duas culturas entram em contato. Segundo Santos (1994: 8-9), “o estudo da cultura contribui no combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito e a dignidade nas relações humanas”. Assim, o foco do nosso trabalho é como os nossos sujeitos percebem essas diferenças culturais e quais são as principais dificuldades apresentadas. O contato com a cultura do outro, como veremos na seção Mudança de Valores, favorece não somente a destruição de preconceitos, como também uma maior tolerância em relação à sua cultura. 1.2.1. Língua e cultura Para o objetivo deste trabalho, é importante que a reflexão teórica a respeito de cultura dê ênfase à sua relação com a língua. Assim, é consenso entre os que trabalham com o ensino/aprendizagem de uma L2/LE dizer que língua e cultura estão intimamente entrelaçadas. De fato, a maioria das definições de cultura concorda que a linguagem é um componente a mais da cultura, tal como, por exemplo, os valores, as crenças e as normas. O comportamento lingüístico seria, portanto, um produto da cultura transmitida de geração em geração em um processo de socialização. Segundo Hamers e Blanc (1989: 199), nossas representações culturais são formadas por linguagem. No entanto, como outros componentes de cultura, a linguagem interatua com ela de modos específicos: a linguagem é um transmissor de cultura; além disso, é a principal ferramenta para a internalização da cultura pelo indivíduo. Ainda que cultura e linguagem não existam independentemente uma da outra, não são homólogas. 12 É conhecido o debate gerado em torno da chamada teoria do “determinismo lingüístico” ou hipótese de Sapir-Whorf (1956) que, como teoria da linguagem, sustenta que uma “língua determina o pensamento” ou, de outro modo, que “uma língua específica determina uma visão da realidade diferente à de outra língua” (apud Brown, 1994: 186). A hipótese de Sapir-Whorf tem sido rejeitada pelo menos na sua acepção mais radical, já que enquanto pode ser reconhecido que a linguagem algumas vezes mostra valores e idéias, o contrário é igualmente evidenciado. Hamers e Blanc (1989: 199), por exemplo, consideram que “há entre língua e cultura uma contínua interação em que a língua pode às vezes formar idéias e outras vezes é resultado do comportamento e dos valores culturais existentes”. Segundo Almeida Filho (2002: 213), a cultura governa a maior parte das atitudes, dos comportamentos, das representações e dos costumes dos falantes de uma língua. Ela orienta as ações e as perspectivas desses falantes freqüentemente sem que eles estejam conscientes disso. Aprender uma outra língua, conseqüentemente, quer dizer aprender esses elementos culturais implícitos. Assim, segundo Brown (1994: 165), “a aquisição de uma segunda língua, exceto para uma aquisição instrumental, especializada, é então também a aquisição de uma segunda cultura”. 1.2.2. Competência cultural Chomsky (1965) introduziu os termos competência e desempenho na lingüística moderna com o objetivo de estudar a língua através de abstrações idealizadas. Para Chomsky, o termo competência refere-se ao conhecimento da gramática e de outros aspectos que um falante nativo ideal interioriza. Por desempenho entendia o uso efetivo que o falante faz da língua. Já Dell Hymes (1972) propõe ampliar o conceito de competência lingüística de Chomsky para o conceito de competência comunicativa. Esta noção inclui não somente a competência gramatical (conhecimento implícito ou explícito das regras gramaticais), como também a competência contextual ou sociolingüística. A competência comunicativa refere-se àquilo que um falante tem que saber para se comunicar de maneira eficaz em contextos culturalmente significativos. Segundo Spolsky (em Llobera e outros, 1995), a noção proposta por Hymes tornou-se particularmente relevante para os interessados na aquisição de segundas 13 línguas, já que oferecia uma base teórica para o crescente interesse no ensino da língua para comunicar. Uma década mais tarde, o conceito de competência comunicativa de Hymes foi ampliado por outros teóricos, como Canale e Swain (em Llobera e outros, 1995), os quais aplicaram o conceito de competência comunicativa no ensino e avaliação de uma segunda língua. Para Canale (em Llobera e outros, 1995), a competência comunicativa se compõe de: 1) Competência gramatical ou competência lingüística, relacionada com o domínio das estruturas gramaticais, compreendendo o vocabulário, a formação de palavras e frases, a pronúncia, a ortografia e a semântica; 2) Competência sociolingüística ou competência sociocultural, que se refere às regras sociais e culturais de uso que determinam a adequação ao contexto; 3) Competência discursiva; que trata de aspectos como a coesão e a coerência dos distintos tipos de textos; e 4) Competência estratégica, que se refere às estratégias lingüísticas e não-lingüísticas que podem ser utilizadas para favorecer a comunicação como, por exemplo, evitar determinadas formas verbais ainda não dominadas corretamente numa segunda língua, proporcionar a paráfrase de um termo que não é recordado em um momento determinado, etc. Estas estratégias, segundo Canale, atuam de forma conjunta e complementar. A aquisição destas é fundamental para que, no caso dos estrangeiros, participem de forma efetiva na nova sociedade, quer dizer, se integrem. Quanto ao ensino e aprendizagem de línguas, Canale (em Llobera e outros, 1995: 67) menciona que “há uma tendência em muitos programas para o ensino de segunda língua a tratar a competência sociolingüística como de menor importância frente à gramatical”. Conforme Canale (em Llobera e outros, 1995: 67), porém, “a competência sociolingüística é crucial para a interpretação de enunciados por seu ‘significado social’, por exemplo, função comunicativa e atitude”. O conceito primitivo de competência comunicativa de Hymes, ampliado depois por outros teóricos como Canale, dava uma grande importância à competência cultural no ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira. Atualmente, aprender uma língua é também aprender sua cultura, ser apto a utilizar a L2 com as crenças e pautas socioculturais da L2 e não as da L1. Segundo Gretel Fernández (2002: 40), “saber quais atitudes são as adequadas em cada situação de comunicação é tão importante quanto conhecer as estruturas lingüísticas que devem ser valorizadas nessas mesmas situações”. Se o aprendiz de uma segunda língua consegue fazer isso, com certeza minimizará o risco de choques e mal-entendidos culturais, situação que todo estudante de uma língua estrangeira vive no seu processo de aprendizagem, 14 especialmente quando este processo se produz no país da L2. Gretel Fernández (2002: 41) ainda acrescenta que é necessário que os estudantes sejam capazes de distinguir o que é aceitável daquilo que não o é em determinado contexto; saber quais comportamentos são adequados e quais não são admitidos em dada situação, em suma: é preciso conhecer os valores, crenças, formas de agir, atitudes a assumir, tom de voz a usar e gestos a fazer em diferentes contextos a fim de tornar-se um falante competente. Nos últimos anos, os estudos sobre o ensino da cultura estrangeira têm mudado bastante, dando especial ênfase à importância da competência intercultural. O conceito de competência intercultural vai mais longe que o conceito de competência sociocultural como parte integrante da competência comunicativa, já que é enfatizado o aspecto cultural do ensino da língua. Byram (1995, em Oliveras, 2000: 33) considera que a competência intercultural tem que incluir: uma mudança de atitude, uma aquisição de novos conceitos e uma aprendizagem através da experiência. Para Byram (em Oliveras, 2000: 34), as “pessoas que entram em contato com uma nova língua e uma nova cultura são pessoas com uma bagagem cultural própria, com uma identidade e um status social”. Na sua concepção, os aprendizes têm uma bagagem cultural própria que tem de ser levada em conta, já que influi no seu modo de olhar a nova cultura. Assim, podemos observar na nossa pesquisa a importância dos aspectos emocionais no contato com uma cultura estrangeira, aspectos tradicionalmente subestimados em favor dos aspectos cognitivos. Schumann, no seu modelo de aculturação, fala do choque cultural quando ao aprendiz de uma língua estrangeira já não lhe servem mais as estratégias comunicativas que lhe serviam na sua própria língua. Neste momento, portanto, surgem muitas questões a respeito do interculturalismo no ensino de L2/ LE, e progressivamente tem-se verificado a importância da identidade cultural para facilitar a “desestrangeirização”, termo usado por Almeida Filho (2002: 211) quando diz que num ambiente de ensino de LE típico, é necessário não idealizar uma aproximação estreita com a cultura estrangeira. O conhecimento da diferença, dos fatos que se explicam na evolução da cultura-alvo, da compreensão e da tolerância que podem ser integradores na equação afetivoideológica de muitos aprendizes em vários contextos é o que podemos almejar com realismo profissional. Toda experiência com e na língua-alvo que não almeje a língua em si mesma será então potencialmente uma experiência de cultura que podemos explicitar ou não na (re)construção da nova língua que queremos viva, nossa também, desestrangeirizada em boa medida para permitir nosso trânsito além dos limites da nossa língua-cultura. 15 Assim, segundo a visão interculturalista, entende-se que ensinar/aprender outra língua é enriquecer o aprendiz, na medida em que ele não é levado a assimilar a cultura da línguaalvo, mas sim a refletir sobre os valores próprios e os do Outro. 1.3. Aculturação O termo aculturação, do inglês acculturation, é utilizado pela primeira vez no final do século XIX por diversos antropólogos norte-americanos, sobretudo o etnólogo J. W. Powells (em 1880) para denominar os fenômenos que são conseqüência do contato direto entre grupos de indivíduos com culturas diferentes e as mudanças subseqüentes nos padrões de cultura originários de cada um destes grupos. Segundo Barros (2005: 97), no meio acadêmico brasileiro, o conceito de aculturação “passa a ser utilizado amplamente a partir dos anos 50, depois que Eduardo Galvão apresentou o seu Estudo de aculturação dos grupos indígenas brasileiros, na I Reunião Brasileira de Antropologia, em 1953”. A aculturação é um dos processos fundamentais a partir do qual é modificada a estrutura de valores. Nesse sentido, expressa uma dinâmica de mudança que não necessariamente é sinônima de integração, absorção ou substituição de uma cultura por outra. Nas ciências sociais, o estudo sobre a aculturação tem sido abordado pelas diferentes disciplinas que conformam este fenômeno. Deste modo, é possível fazer referências a definições dela do âmbito da Antropologia, assim como também da Sociologia. Não obstante, quase todas as noções e conceitualizações partem mais ou menos de uma premissa comum: para falar e compreender o processo da aculturação será necessário referir-se à cultura como fenômeno constituinte, de modo que a partir disso, estabelece-se um eixo de coordenadas para começar a entender o fenômeno. No âmbito das ciências sociais em geral, continuam tendo mais importância as posições funcionalistas com analogias orgânicas que entendem a aculturação como um processo de abandono de regras de comportamento social e cultural próprias para passar a absorver formas de comportamento próprias da outra cultura. Esta perspectiva considera que existe uma cultura em uma posição de poder suficiente que, ao entrar em contato com outra, impõe suas regras de comportamento social e cultural, quer dizer, que em um contexto de assimetria cultural, alguma das culturas inter-relacionadas se impõe sobre a outra. Desde essa perspectiva, o conceito de aculturação tende a ser operacionalizado como indicador de desestruturação social e cultural. Esta perspectiva enquadrar-se-ia no que Hamers e Blanc (1989) chamam de modelos lineais de aculturação. Assim, Hamers e Blanc (1989) 16 distinguem, dentro dos distintos modelos de aculturação, modelos lineais, que olham a aculturação como um continuum no qual a aquisição de uma nova cultura e língua significa a perda da cultura e língua originária, e modelos não lineais, que propõem explicações alternativas. Assim, segundo Hamers e Blanc (1989: 206), nos modelos não lineais, “diversas dimensões de aculturação não são vistas como uma extensão contínua que vai do isolamento à assimilação, senão que soluções alternativas são possíveis”. Hamers e Blanc comentam o modelo de Berry, que propõe quatro possíveis modos de aculturação: assimilação, separação, deculturação e integração, levando em conta ainda que dentro do conceito de separação pode-se distinguir entre segregação (quando o grupo dominante se impõe, por exemplo, a política da apartheid) e a separação propriamente dita (quando o grupo subordinado decide se isolar); e dentro do conceito de deculturação podemos ainda distinguir fenômenos como o etnocídio e a marginalização. Os termos de deculturação e integração são importantes para poder olhar o conceito de aculturação como o processo complexo que realmente é. Assim, por deculturação entende-se quando o individuo se adapta à nova cultura à custa de sua primeira cultura. Uma deculturação extrema leva à assimilação que pode estar acompanhada da perda da primeira língua. A deculturação normalmente é associada a um estado psicológico complexo que implica sentimentos de alienação e isolamento. Na deculturação existe uma perda da cultura original, enquanto na integração, a segunda cultura é adicionada à primeira sem perdas. O indivíduo pode se adaptar à cultura dominante e ao mesmo tempo reter características da sua própria identidade. Por outro lado, relaciona-se a identidade étnica do indivíduo com a sua integração ou assimilação à nova cultura. Assim, uma forte identidade étnica é relacionada à integração, enquanto uma fraca relaciona-se à assimilação. Neste processo complexo, temos que considerar que entre os membros majoritários de uma comunidade, desperta mais simpatia o imigrante assimilado que o integrado. Outro dos conceitos utilizado pelos autores da literatura dedicada ao tema é o de enculturação. Segundo Taft (apud Hamers e Blanc, 1989: 204), para chegar a ser um membro de uma sociedade, a criança é “enculturada para modos particulares e estilo de vida que constitui sua cultura, e como conseqüência chega a ser culturalmente competente”. Enculturação quer dizer, segundo este autor, o processo de primeira socialização que se dá num individuo. Assim, se a criança é socializada num entorno bicultural, a enculturação envolve as duas culturas. Quando uma criança passa já pelo processo de enculturação e entra em contato com uma segunda cultura, tem que se aculturar para se ajustar à nova cultura. A aculturação, então, segundo Graves (apud Hamers e Blanc: 1989), ocorre quando um 17 indivíduo experimenta mudanças de comportamento como resultado de estar em contato com outras culturas, depois de concluído um processo de enculturação. O nível de aculturação social, segundo Berry, Trimble e Olmeda (em Hamers e Blanc, 1989: 205), ocorre “quando dois grupos culturalmente independentes entram em contato por um longo período de tempo, resultando em mudança em um grupo ou nos dois”. Podemos dizer, então, que em sociedades culturalmente plurais, a aculturação é um processo constante: grupos e indivíduos influenciam-se mutuamente. Num processo de aculturação harmonioso, a pessoa adquire as regras culturais e as habilidades lingüísticas da nova cultura e as integra à sua primeira cultura, e sua identidade chega a ser bicultural. O adulto que tem que se adaptar a uma nova cultura deve integrar elementos culturais novos, incluindo a língua, numa identidade já bem estabelecida. Segundo Taft (apud Hamers e Blanc, 1989: 205), “quanto mais velho é o indivíduo mais difícil é sua adaptação cultural”. A idade como um dos fatores do sucesso ou não na aquisição de uma segunda língua e de uma segunda cultura tem sido muito estudada por diversos autores. A aculturação ainda pode ser interpretada em termos de convergência, modelo desenvolvido por Giles e associados. Assim, segundo Winford (2003: 121), “imigrantes (e outras minorias lingüísticas) buscam vantagens econômicas e recompensas sociais (ainda que a um alto custo) que a assimilação lingüística algumas vezes traz”. O aprendiz precisa geralmente da aprovação social, da integração e, por isso, tende à convergência. Atualmente, o conceito de aculturação é entendido como “um fenômeno psicosocial multidimensional refletido nas mudanças psicológicas que ocorrem nos indivíduos como resultado do seu encontro com uma nova cultura” (Dana, 1993; Casas e Pytluk, 1995, em: www.mec.es). 1.3.1. Modelo de aculturação de Schumann O modelo de aculturação de Schumann, restrito a grupos de imigrantes que adquirem a L2 de forma natural no contexto da língua-alvo, enfatiza a importância desse construto enquanto prediz que os aprendizes somente adquirirão a segunda língua na medida em que se aculturarem em relação à comunidade da L2. Assim, Schumann (1978: 29) define a aculturação como “a integração social e psicológica do aprendiz com o grupo da língua-alvo” e indica que esta combinação de fatores sociais e afetivos é uma variável causal significativa na aquisição de segundas línguas dando-lhe o nome de aculturação. Ele distingue dois tipos 18 de aculturação: a aculturação integrativa, quando os aprendizes estão integrados socialmente no grupo da língua-alvo e têm abertura psicológica para essa língua; e a aculturação assimilativa, quando os aprendizes estão integrados socialmente e têm abertura psicológica, e desejam também, consciente ou inconscientemente, adotar o estilo de vida e os valores do grupo da língua-alvo (características tradicionalmente associadas à noção de aculturação). Segundo Schumann, os dos tipos de aculturação garantem a ASL, ainda que sublinhe que não é preciso desejar chegar a ser como os falantes da L2 para adquirir a sua língua. Schumann publicou vários artigos (1974, 1976, 1978, 1997) sobre o mesmo tópico, nos quais vai desenvolvendo o seu modelo. Como parte de um estudo mais amplo, o Projeto Harvard (Cazden, Cancino, Rosansky e Schumann, 1975), Schumann (1975, 1978) fez uma pesquisa durante dez meses sobre a aquisição não controlada de Alberto, um trabalhador costarriquenho de 33 anos que vivia em Cambridge, Massachussets, e fazia quase toda a sua socialização em espanhol. Alberto foi o aprendiz com menos sucesso dentre os seis estudados por Cazden et al. Schumann tentou explicar por que a aquisição de Alberto estava sendo tão limitada, sendo descartados aspectos como habilidade cognitiva ou a idade. Na opinião de Schumann, a distância psicológica e social que tinha em relação aos falantes da língua-alvo poderia ser a explicação mais verossímil. Assim, Schumann explica que a aculturação – e conseqüentemente a aquisição da L2 – é determinada pelo grau de distância social e psicológica entre o aprendiz e a cultura da língua-alvo. A hipótese é de que quanto maior é a distância social entre a cultura do aprendiz e a cultura-alvo, maior é sua dificuldade para aprender a segunda língua. Schumann explica em numerosas publicações que a distância social e psicológica entre o aprendiz de segunda língua e os membros da comunidade da língua de chegada afeta o processo de aprendizagem. Quando a distância é ampla, a aprendizagem não pode ter êxito. A distância é um conceito neutro, e as duas partes implicadas podem tentar reduzi-la. Isto quer dizer que a falta de êxito na aquisição de uma segunda língua pode não ser só conseqüência de uma motivação insuficiente por parte do aprendiz, talvez causada por atitudes negativas, mas que também são importantes as atitudes positivas ou negativas da comunidade de acolhida. Segundo Appel e Muysken (1996: 141), “talvez o conceito de distância social de Schumann possa ser estendido até incluir a distância cultural, para assim dar conta do efeito da diferença cultural”. Distância social, segundo Schumann (1976), é um fenômeno de grupo, quer dizer, tem a ver com o individuo como membro de um grupo social que está em contato com outro grupo social cujos membros falam uma língua diferente. 19 Schumann (1976: 136) usou fatores como dominação social versus subordinação; tipo de integração (assimilação, aculturação, preservação); grau de fechamento; coesão e tamanho do grupo; concordância cultural; atitude; e tempo de residência para descrever a distância social e utilizou estes parâmetros para explicar hipoteticamente situações de aquisição “boas” ou “ruins”. A respeito de dominação versus subordinação, Schumann afirma que se um grupo é política, cultural, técnica ou economicamente superior (dominante), então tenderá a não aprender a língua que pertence ao grupo menos poderoso ou influente (subordinado). Dentro do tipo de integração, Schumann define três tipos de estratégias: assimilação, aculturação (ou adaptação) e preservação. A estratégia de assimilação se produz quando o aprendiz maximiza o contato entre os dois grupos e deseja a aquisição da língua-alvo até chegar a abandonar o seu próprio estilo de vida e valores de origem. A estratégia de aculturação é quando o aprendiz escolhe se adaptar ao estilo de vida e valores do grupo da língua-alvo, mas mantém seu próprio estilo de vida e valores dentro das relações intragrupais. Finalmente, a estratégia de preservação é quando o aprendiz tenta manter tanto quanto possível o próprio estilo de vida e valores e rejeita os do grupo da língua-alvo. O grau de fechamento é o terceiro fator que afeta o processo de aculturação de um indivíduo. Este se refere ao grau em que os dois grupos compartilham as mesmas igrejas, escolas, clubes, lazer, profissões e empregos. Se os dois grupos não compartilham os mesmos espaços, as oportunidades para adquirir a língua-alvo serão reduzidas. O quarto fator é a coesão e o tamanho do grupo. Segundo Schumann, se o grupo que está aprendendo a língua for coeso, quer dizer, morar, trabalhar e ter vida social juntos, seus membros tenderão a permanecer separados dos membros do outro grupo; e se o grupo que está adquirindo a língua-alvo for grande, o contato intragrupo será mais freqüente que o contato intergrupo; portanto, se o grupo é muito coeso e grande, as oportunidades de aprender a língua-alvo serão reduzidas. A concordância cultural refere-se à semelhança entre as culturas dos dois grupos. Se as duas culturas são semelhantes, é mais fácil o contato social e, portanto, a aquisição da L2. A atitude é outra das variáveis sociais apontadas por Schumann como um fator que serve para aproximar ou separar socialmente dois grupos. Segundo ele, existe uma relação estreita entre atitudes e sucesso na aprendizagem da língua. Schumann entende por atitude os estereótipos étnicos por meio dos quais cada grupo atribui valor positivo ou negativo ao Outro. Os aprendizes de segunda língua são beneficiados por atitudes positivas, e atitudes 20 negativas podem provocar com freqüência uma baixa motivação, que pode acabar resultando num baixo desempenho na aprendizagem. O tempo de residência, ou tempo de permanência planejado, foi o último fator social indicado por Schumann já que, segundo ele, um maior tempo de residência significa ter a oportunidade de manter relações afetivas mais profundas com o grupo da língua-alvo e, isso pode ajudar no processo de aculturação e na aquisição da segunda língua. Se a distância social é um fenômeno de grupo, a distância psicológica é um conceito que pertence ao indivíduo e compreende quatro fatores psicológicos: choque lingüístico, choque cultural e sotaque, motivação integrativa versus motivação instrumental e permeabilidade do ego. O conceito de distância psicológica de Schumann incorpora modelos teóricos de outros estudiosos do tema. Assim, ele incorpora as pesquisas de Stengal (1939), para desenvolver o conceito de choque lingüístico; de Smalley (1963) e Larson e Smalley (1972), para o conceito de choque cultural; de Gardner e Lambert (1972), para o conceito de motivação, e de Guiora (1972), para o seu conceito de permeabilidade do ego. O primeiro fator, choque lingüístico, segundo Schumann (1978: 31), se produz quando o aprendiz duvida se suas palavras refletem adequadamente suas idéias, quando freqüentemente interpreta palavras e expressões da língua-alvo diferentemente dos falantes nativos dessa língua e também geralmente quando tem medo que sua fala seja considerada infantil ou cômica. O segundo fator, choque cultural, se produz quando o aprendiz descobre que os mecanismos de resolução de problemas que ele tinha não funcionam na nova cultura e atividades antes rotineiras exigem-lhe agora uma grande energia. Esta situação lhe produz normalmente desorientação, estresse, medo e ansiedade. O estado mental que resulta desta situação lhe pode causar uma sensação de rejeição pelas pessoas do seu novo país, da organização para a qual está trabalhando, de sua própria cultura e até de si mesmo. Larson e Smalley (em Arnold, 2000: 39) assinalam a grande quantidade de energia que perdemos quando enfrentamos o choque cultural: “O novo clima, as novas comidas e as novas pessoas significam que o estrangeiro tem que recobrar toda a energia disponível e utilizá-la de uma forma nova”. Quanto ao fator de motivação, Schumann (1978:32) usa o conceito desenvolvido por Gardner e Lambert em Attitudes and Motivation in Second Language Learning (1972). Gardner e Lambert (1972, apud Cantos Gómez, 1999: 55) realizam um estudo detalhado sobre a questão da motivação e seu papel no ensino de línguas. Os dois pesquisadores 21 canadenses não enfocam a sala de aula (um contexto de aprendizagem artificial), mas sim a aquisição de uma língua num contexto natural, especificamente, canadenses francofonos que aprendem inglês e vice-versa. Estes autores distinguem a motivação instrumental da motivação integrativa em seu estudo. A motivação integrativa caracteriza-se pelas atitudes positivas em relação ao grupo de falantes da língua-alvo, pelo desejo ou vontade de integração nesse grupo ou, no mínimo, pelo interesse em conhecer membros do referido grupo e poder conversar com eles. Já a motivação instrumental caracteriza-se por um desejo de obter, graças ao conhecimento de uma língua estrangeira, um reconhecimento social ou vantagens econômicas. 1 Para Schumann (1978: 32), seguindo Gardner e Lambert, o aprendiz integrativamente motivado terá um baixo nível de distância psicológica e, diferentemente, o aprendiz instrumentalmente motivado terá um alto nível de distância psicológica. 2 Outro fator de distância psicológica apontado por Schumann (1978:33) é a relativa rigidez das barreiras do ego do aprendiz, o que ele chama de permeabilidade do ego. Este conceito, que provém da teoria psicanalítica, baseia-se nos estudos de Guiora (1972) e afirma que as pessoas que têm a habilidade de renunciar à sua individualidade parcial e temporalmente são melhores aprendizes de segundas línguas. Assim, segundo Guiora, a criança desenvolve ao mesmo tempo o seu ego geral e o seu ego lingüístico. Desse modo, quando ainda é pequeno, os limites do seu ego são relativamente flexíveis, porém com a idade vão se tornando mais rígidos. A permeabilidade do ego afeta a receptividade às influências exteriores como, por exemplo, um novo idioma e uma nova cultura. Guiora (em Arnold: 2000: 97) descreve esse processo da seguinte maneira: A tarefa de aprender um novo idioma é um projeto psicológico profundamente desestabilizador (...) Ao aprendiz lhe é pedido não somente uma mudança cognitiva em termos de vocabulário, gramática e sintaxe, mas também alguma coisa mais considerável: a necessidade de voltar a categorizar a informação (...) coisa que inevitavelmente produz uma exigência de (...) reconceitualização, e em última instância de experimentação, dos acontecimentos internos ou externos a nós (...) Aqui 1 A motivação integrativa foi considerada, muitas vezes, superior à instrumental e, inclusive, Gardner e Lambert (1972, apud Appel e Muysken, 1996:139) chegam a afirmar que “aqueles que aprendem a língua com uma motivação integrativa, estão querendo se converter em um novo membro da comunidade de acolhida, aprenderão a língua melhor que aqueles que têm só uma motivação funcional, que só têm razões práticas de tipo comercial ou educativo”. 2 Outros tipos de motivação recolhidos freqüentemente na literatura de aquisição de segundas línguas são: a motivação extrínseca, que tem como objetivo conseguir uma recompensa ou evitar um castigo, e a motivação intrínseca, onde é a curiosidade natural dos aprendizes que potenciam a aprendizagem (Arnold, 2000: 31). Outros autores como Ciancio (2000: 86) têm falado de uma motivação maquiavélica, onde a motivação ocorre para mudar ou controlar o outro. 22 é onde as diferenças individuais dos sistemas de defesa psicológicos e das flexibilidades psicológicas se refletem numa capacidade (ou disposição) a tentar a mudança (...) sem temor a perder o controle da integridade psicológica (...). Schumann (1978: 86) afirma que estas variáveis psicológicas individuais (afetivas) adquirem importância quando um indivíduo forma parte de um grupo que, segundo os fatores da distância social, não é nem particularmente favorável nem sua situação é especialmente negativa em relação à ASL. Para Larsen-Freeman e Long (1994: 240), Schumann (1978) fez a afirmação mais importante até hoje na bibliografia de ASL quando diz que “[A ASL] é só um aspecto de aculturação e o grau da aculturação do aprendiz ao grupo da língua-alvo controlará o seu nível de aquisição da segunda língua”. Resumindo, segundo Schumann, existe uma correspondência entre o grau de aculturação que o aprendiz consegue com relação ao grupo da língua-alvo e o seu nível de aquisição da segunda língua. Larsen-Freeman e Long (1994: 242) afirmam que o modelo de aculturação de Schumann “tem convertido em predições coerentes as que, de outra forma, em geral teriam sido idéias bastante vagas sobre o papel dos fatores sociais e psicológicos na ASL”. Este modelo, porém, e segundo estes autores, apresenta alguns problemas de tipo metodológico. O mais importante é que a comprovação empírica deste modelo é relativamente difícil, já que não existem medidas fiáveis e válidas para mensurar a distância social e psicológica. Schumann (1986, apud Larsen-Freeman e Long, 1994: 242) concorda com esse ponto de vista, quando afirma que, em sua opinião, o modelo pode ser comprovado teoricamente, porém não na prática. Segundo autores como Kelley (1982, 1983), Stauble (1981) e Schumann (1986), não existe uma série de princípios para examinar os distintos subcomponentes da aculturação e também temos que considerar a possibilidade que a influência de cada fator possa variar de indivíduo a indivíduo e ao longo do tempo. Larsen-Freeman e Long (1994: 243) também indicam que “as variáveis, as definições e os procedimentos de investigação também tendem a mudar de um estudo a outro, fazendo que a comparação dos achados não seja fiável”. Ciancio (2005), no seu estudo sobre Aculturação e Aquisição de Segundas Línguas, propõe uma escala, ASLA, que visa operacionalizar de forma empírica os principais conceitos dos modelos de aculturação de Schumann e de Brown. Segundo Ciancio, três fatores foram revelados como os mais importantes nesta análise fatorial: Competência Lingüística e Cultural, Atitude Frente ao País/Motivação e 23 Comprometimento com o País. O fator de Competência Lingüística e Cultural é, segundo Ciancio, o melhor indicador de aculturação, já que indica que o indivíduo superou os sentimentos de choque lingüístico, choque cultural e permeabilidade de ego e refletem confiança na utilização da L2. O segundo fator, Atitude Frente ao País/Motivação, segundo Ciancio (2005: 125-126), é relevante em qualquer situação “afetando o desempenho, bem como provocando perspectivas otimistas ou pessimistas”. O terceiro fator, Comprometimento com o País, “é responsável pela persistência do indivíduo na sua permanência no lugar”. Outro problema que estabelece o modelo de aculturação de Schumann, segundo Larsen-Freeman e Long (1994: 245), tem a ver com dois aspectos conceituais do modelo que impedem falseá-lo. O primeiro é que Shumann na realidade aceita que existem outras possibilidades de predição para cada um dos resultados possíveis da aprendizagem, quando afirma que os fatores psicológicos podem invalidar os sociais e induzir o indivíduo a transgredir a tendência do grupo. Assim, um indivíduo pode aprender a língua-alvo quando não é esperado e não aprendê-la quando o esperado é que a aquisição seja realizada com sucesso. O modelo, então, prediz qualquer combinação possível de fatores sociais (positivos, neutros e negativos) e psicológicos e o nível alcançado na SL. O segundo é que Schumann não fornece detalhes sobre as combinações e/ou níveis de fatores sociais e psicológicos que predizem a aprendizagem. Larsen-Freeman e Long (1994: 246) se perguntam questões como: “é preciso que a maioria ou todas as dimensões que compõem a distância social e/ou psicológica sejam negativas?” e “pode um valor positivo numa dimensão anular os efeitos de um negativo em outra?”. Em resumo, Larsen-Freeman e Long (1994: 247) confirmam a utilidade do modelo de aculturação de Schumann, porque este modelo aponta a possibilidade que um grande grupo de fatores sociais e psicológicos tenha um papel causal na ASL, ainda que afirmem que as variáveis sociais e psicológicas poderiam ser o ponto de partida para um modelo de aculturação viável e não de um modelo de ASL, já que “sem as variáveis lingüísticas e cognitivas não podemos explicar adequadamente um processo mental, a aprendizagem de uma (segunda) língua” (1994: 248). 24 1.3.2. Modelo de aculturação de Brown Brown (1994:170-171) entende que “aculturação é o processo de adaptação a uma nova cultura” e esse processo de adaptação afeta, segundo ele, diversas áreas, como a visão do mundo da pessoa, a identidade e até os sistemas de pensamento, atuação, sentimentos e comunicação. Brown descreve quatro fases ou etapas pelas quais alguém passa quando está vivendo numa nova cultura e adquirindo a língua local: 1) euforia, 2) choque cultural, 3) recuperação e 4) assimilação/ adaptação. É importante observar que se Schumann descrevia as variáveis do processo de aculturação, e Brown tenta nos explicar como se desenvolve este processo de aculturação. A primeira etapa é um estado de entusiasmo com relação à nova cultura. Brown a descreve como um período de excitação e euforia, devido às novidades do ambiente ao redor. Tudo é novidade para o aprendiz e, como conseqüência, pode ser que não enxergue problemas na nova cultura, ou os julgue somente idiossincráticos. A segunda etapa seria o choque cultural, que aparece quando as diferenças culturais obstaculizam as imagens do ego e a segurança. O choque cultural é uma experiência comum para uma pessoa que está aprendendo uma segunda língua no contexto de uma segunda cultura, e normalmente acontece quando o indivíduo espera uma dada forma de conduta ante um estímulo e obtém ou observa algo totalmente diferente. Para Brown (1994: 170), o choque cultural refere-se ao “fenômeno que vai desde uma suave irritabilidade até um estado profundo de pânico e crise psicológica. O choque cultural é associado com sentimentos no aprendiz de alienação, raiva, hostilidade, indecisão, frustração, infelicidade, tristeza, solidão, saudade e até doenças físicas psicossomáticas”. Peter Adler (1972, apud Brown, 1994: 170) descreve o choque cultural utilizando termos psicológicos mais técnicos: O choque cultural é uma forma de ansiedade que resulta da perda do percebido comumente e dos símbolos e sinais conhecidos da comunicação social. O choque cultural que o indivíduo experimenta reflete a sua ansiedade e nervosismo com as diferenças culturais através de mecanismos de defesa como: repressão, isolamento e rejeição. O antropólogo G. M. Foster (1962, apud Brown, 1994: 171) definiu o choque cultural em termos ainda mais extremos: 25 Choque cultural é uma doença mental, e como muitas doenças mentais, a vítima geralmente desconhece que está aflita. Pensa que está irada, deprimida, e provavelmente aborrecida pela falta de atenção que lhe é mostrada. A terceira etapa é uma tentativa gradual e vacilante de recuperação. Larson e Smalley (1972, apud Brown, 1994: 171) chamaram esta etapa de pressão ou estresse cultural (culture stress): (...) alguns problemas da aculturação estão resolvidos enquanto outros continuam por algum tempo. No entanto o progresso geral está feito, lento, mas de forma segura, na medida em que os indivíduos começam a aceitar as diferenças de pensamento e sentimento que os rodeiam e lentamente começam a mostrarem-se mais empáticos com outras pessoas da segunda cultura. O estresse cultural tem a ver com identidade. O indivíduo não tem um grupo fixo de referência com quem se relacionar, já que não forma mais parte da sua cultura de origem, porém ainda não pertence ao grupo da língua-alvo. Neste estágio podem experimentar a anomia, que é descrita por Brown (1994: 171) como um sentimento de incerteza e descontentamento social. Segundo ele, poderia ser descrita como o primeiro sintoma da terceira fase de aculturação, quando o indivíduo já não se sente tão firmemente ligado à sua cultura nativa, mas ainda não está completamente adaptado à segunda cultura. Para Brown, no entanto, a competência na segunda língua ocorre neste terceiro estágio, já que temos não só uma boa distância, como também uma pressão cognitiva e afetiva ótima que produz a necessária pressão para a aquisição da língua. A hipótese de Brown (1980: 161) é que existe uma distância mais apropriada para melhor incentivar a aquisição eficaz de uma L2. É o que ele chama de “ótima distância cognitiva e afetiva”, que proporciona aos aprendizes desafios razoáveis para motivá-los a continuar aprendendo. Brown incorpora as teorias de diversos autores para criar o seu modelo de “distância mais adequada” (Optimal Distance Theory). O conceito de distância é obviamente usado num sentido abstrato para denotar disparidade entre duas culturas. Segundo a definição dele (1980: 159), a distância social (Social Distance) é “a proximidade cognitiva e afetiva de duas culturas que entram em contato dentro de um indivíduo”. Ele destaca que o aprendiz não deve abraçar demais a nova cultura, sem questionamento, nem se isolar do novo input oferecido dentro do novo contexto cultural. A quarta etapa representa a assimilação ou a adaptação à nova cultura. O aprendiz aceita a nova cultura e tem confiança em si mesmo dentro da nova pessoa que se desenvolve nesta cultura. 26 O conceito de distância social surgiu como um construto que oferece poder explicativo ao lugar que ocupa a cultura no ensino de segunda língua. Uma das dificuldades da hipótese de Schumann já observada por Brown é a medição da distância social atual. Brown (1980: 160) tenta resolver este problema com a argumentação que a distância social atual entre duas culturas não é particularmente relevante, senão a percepção que os aprendizes têm do que forma parte da sua própria realidade. Segundo Acton (apud Brown: 1980), quando os aprendizes são enfrentados em uma nova cultura, o seu processo de aculturação será um fator de como eles percebem a sua própria cultura em relação à cultura da língua-alvo e vice-versa. Acton, então, inventou uma medida de distância social observada (perceived social distance – the Professed Difference in Attitude Questionnaire (PDAQ)) – que caracterizava o bem sucedido desempenho do aprendiz de língua com notável precisão. Basicamente, o PDAQ pedia aos aprendizes que quantificassem o que eles percebiam como sendo diferenças em atitude através de diversos conceitos (por exemplo: “socialismo”, “divórcio”,...) em três dimensões: (1) distância ou diferença entre eles mesmos e os seus compatriotas em geral; (2) distância entre eles mesmos e os membros da cultura-alvo em geral; e (3) distância entre os seus compatriotas e os membros da cultura-alvo. O PDAQ de Acton contribuiu na descrição empírica da relação entre a distância social e a aquisição da segunda língua, ainda que não prediga o sucesso na língua. Segundo Brown (1980: 162), um adulto que fracassa no domínio completo de uma segunda língua em uma segunda cultura pode ter fracassado na sincronização do desenvolvimento lingüístico e das etapas de aculturação. Os adultos que alcançam meios nãolingüísticos para enfrentar uma cultura estrangeira podem passar através do estágio três ao estágio quatro com um grande número de formas fossilizadas da língua, e nunca conseguirão o domínio dessa língua. Eles não têm razões para querer dominar completamente a língua desde o momento em que aprendem a usá-la sem precisar de um conhecimento sofisticado. Adquiriram um número suficiente de funções da segunda língua sem adquirir as formas corretas. O que sugere Brown (1980: 161) é que a “optimal distance model” poderia ser vista como uma hipótese culturalmente baseada no período critico, isto é, um período crítico que é independente da idade do aprendiz. O modelo de distância social é aplicado mais apropriadamente aos aprendizes adultos, já que as crianças têm ainda poucos filtros perceptivos para reajustar e conseqüentemente podem pular as fases de aculturação mais rapidamente. 27 1.3.3. Outros modelos de aculturação Entre as diversas tentativas de explicar o processo de aculturação destaca-se o modelo bidimensional de Berry. Berry (1980, apud Hamers & Blanc) distingue quatro possíveis modos de aculturação para indivíduos ou grupos: assimilação, integração, segregação ou separação e deculturação. Estas categorias são contínuas. O quadro que explicaria as maneiras possíveis de aculturação é o seguinte: É importante conservar sua identidade e seus traços culturais? Sim Não É importante estabe- Sim Integração Assimilação lecer e manter rela- Não Segregação Deculturação ções com outros grupos? Tabela 1: Paradigma de Berry O autor utiliza duas variáveis: o respeito pela identidade cultural e a procura de relações positivas. A combinação das duas, no âmbito individual o no âmbito grupal, unirão ou enfrentarão os contextos de origem e de chegada distinguindo entre quatro possíveis estratégias de aculturação: Assimilação, Segregação, Deculturação e Integração. Na primeira estratégia, assimilação, o imigrante abandona a cultura de origem e adota a do país de destino buscando relações positivas. Freqüentemente, os imigrantes que são assimilados não reconhecem nenhum tipo de adesão ao seu sistema cultural anterior nem mantêm relações associativas com os seus conterrâneos. Esta assimilação é mais visível no caso dos filhos dos imigrantes e segundas gerações, quando o processo de socialização ou enculturação é exclusivo na cultura do país receptor. A segunda estratégia, segregação, caracteriza-se pela conservação da identidade cultural, costumes do país de origem e rejeição da cultura dominante. Os imigrantes mantêm suas tradições, costumes, dieta, modo de vestir, sem quase incorporar elementos novos. Existe uma forte identidade de grupo. Costumam concentrar suas residências nos mesmos locais chegando a constituir, às vezes, autênticos guetos. A terceira, deculturação, se produz quando não é conservada a identidade cultural de origem e também não se tem relações positivas com a comunidade receptora. Esta situação 28 pode ser observada muitas vezes nos filhos de imigrantes de segundas gerações. Eles não são socializados nem na cultura de origem nem na da comunidade receptora. Como conseqüência, o processo de enculturação é um fracasso e a identidade pessoal e social são desvalorizadas podendo ter como resultado situações de marginação e alienação. A quarta e última, integração, se produz quando é conservada a identidade cultural e costumes do país de origem e, ao mesmo tempo, são incorporados os códigos normativos e culturais do novo contexto, sendo valoradas também as relações positivas com os membros do país de acolhida. O termo “integração” abrange diversos conceitos: integração no âmbito legal (estabilidade jurídica); integração de trabalho; integração social (participação em associações e instituições, relações com os autóctones); e integração cultural (conhecimento e uso dos códigos culturais da comunidade receptora). Berry também distingue entre aculturação cultural, em que o comportamento de um grupo cada vez se assemelha mais ao outro, e aculturação estrutural, em que um grupo participa do sistema econômico e social do grupo majoritário sem perder suas características culturais. Segundo Hamers e Blanc (1989), o modelo de Berry continua sendo bastante estático e é mais aplicável aos indivíduos que aos grupos. O seu mérito, porém, é que nos fornece uma taxonomia muito útil. Outro modelo é o chamado de Aculturação Integrativa de Bourhis (1995, apud Siguan: 2001). Este autor apresenta um modelo parecido ao de Berry. Assim, Bourhis afirma que a coexistência de dois grupos, o autóctone e o imigrado, podem ter diferentes resultados: a) Assimilação do grupo imigrado por parte do grupo autóctone; b) Integração dos imigrados na sociedade de recepção, porém conservando em maior ou menor medida as suas características próprias; c) Separação em condições mais ou menos desfavoráveis (exclusão ou marginação). Um modelo teórico que tem muitos aspectos em comum com o modelo de Schumann é o modelo intergrupal, inter-group theory, desenvolvido por H. Giles e J. Byrne (1982). H. Giles e J. Byrne (1982) consideram muito importante na aquisição de segundas línguas como o grupo social do aprendiz (endogrupo) define a si mesmo em relação à comunidade da língua-alvo (exogrupo). Segundo estes autores, as relações intergrupais são dinâmicas segundo a identidade que cada grupo denomina-se em relação ao outro. Para H. Giles, J. Byrne, R. Garden e N. Lambert (1972), a motivação é o fator mais determinante na consecução da competência no uso da L2. Eles consideram a motivação 29 como o reflexo de como os aprendizes definem a si mesmos em termos étnicos. Nisso participam uma série de variáveis-chave: VARIÁVEIS CHAVE 1. Identificação com A B Grau de motivação alto, Grau de motivação baixo, nível de competência alto. nível de competência baixo. o Pouca identificação Forte identificação endogrupo 2. Comparação interétnica Favorável ou não existe 3. Percepção da vitalidade Percepção baixa Comparações negativas Percepção alta etnolingüística 4. Percepção dos limites do Fracos e abertos endogrupo Sólidos e fechados (distância cultural e lingüística) 5. Identificação com outras Forte identificação, posição Pouca identificação, posição categorias sociais dentro do adequada no endogrupo endogrupo não adequada no endogrupo. (religiosas, sexuais, ...) Tabela 2: Variáveis-chave de motivação segundo Giles e outros Do mesmo modo que o modelo de J. Schumann, este modelo de ASL é pensado para contextos de segundas línguas não dando conta da seqüência do desenvolvimento. Outro modelo de aculturação que se enquadra dentro de uma perspectiva não-lineal é o chamado Modelo de identificação cultural ortogonal (Casas e Pytluk, 1995. Em www.mec.es). Segundo este modelo, a identificação com uma cultura não diminui a capacidade da pessoa de se identificar com outra cultura. Esta perspectiva contrasta com aquela na qual o processo de identificação é pensado como um contínuum lineal entre duas culturas. Segundo o modelo ortogonal, uma pessoa pode adquirir padrões, condutas ou normas de outra cultura e ao mesmo tempo manter as próprias quando estas se dão em ambientes diferentes ou que não são incompatíveis; em outras palavras, a pessoa pode adquirir competências culturais em diferentes culturas. Segundo o modelo ortogonal, não se pode considerar a aculturação como uma variável unidimensional, e não se pode interpretar situações semelhantes numa escala com idêntico significado, já que a mesma experiência pode ter sentido distinto segundo a posição da pessoa no grupo. 30 1.3.4. Alguns conceitos nos modelos de aculturação Identidade étnica A identidade étnica vem determinada por uma multiplicidade de fatores, como a língua, religião e educação, ainda que a importância relativa de estes fatores varie de grupo para grupo. Uma característica do grupo pode chegar a ser a mais importante se não pertence a nenhum outro grupo. Hamers e Blanc (1989: 200) usam o conceito de identidade étnica (...) para refletir o processo psicológico envolvido na construção de um mesmo com respeito dos outros membros do grupo (...) Um individuo pode identificar-se com todas ou só com algumas características do grupo, porém é necessário que o grupo o reconheça como membro. Similarmente o grupo deve perceber-se e ser percebido por outros grupos como uma entidade distintiva. Ross (1979; apud Hamers e Blanc, 1989: 280) define um grupo étnico como “uma coletividade politicamente mobilizada cujos membros mostram uma identidade distintiva”. A língua pode ser uma das características distintivas junto com outras. Segundo Giles e Coupland (1991; apud Hamers & Blanc, 1989: 204), há pelo menos quatro razões para a importância da língua em interações étnicas: é um atributo dos membros do grupo, a deixa para uma categorização étnica, uma dimensão emocional da identidade e um meio de coesão intragrupal. Quando a língua é o valor básico de um grupo cultural, este pode ser um fator importante para determinar a identidade cultural dos seus membros. Em casos extremos, pode se converter no único valor básico cultural como, por exemplo, os quebequenses em Canadá, que construíram sua identidade nacional quase que exclusivamente na defesa dos seus direitos lingüísticos. Segundo Giles, Bourhis e Taylor (1977, apud Larsen-Freeman e Long, 1994: 164), “o pertencimento a certo grupo étnico também pode predeterminar as atitudes e o comportamento para os que não são membros do mesmo e além do mais repercutir no domínio da SL”. Geralmente, acredita-se que existe uma correlação entre atitudes positivas para os falantes da língua materna e uma ASL ótima. Gardner e Lambert (1972) afirmam que “os fatores sócio-psicológicos estão intimamente relacionados com a melhoria no aprendizado de uma segunda língua” (apud Appel & Muysken: 1996: 139). Assim, acham que aqueles que aprendem uma língua com uma motivação integrativa, que estão querendo se converter em 31 um novo membro da comunidade de acolhida, aprenderão a língua melhor que aqueles que têm só uma motivação funcional. Segundo Larsen-Freeman e Long (1994: 165), a mudança de atitudes pode ser estimulada intencionalmente. Assim, segundo eles, “um dos objetivos da educação bilíngüe é a intensificação de atitudes dos grupos entre si”. Eles colocam como exemplo uma pesquisa feita por Cziko, Lambert e Gutter em 1979 entre estudantes anglófonos que seguiam um programa de francês de imersão no Canadá e estudantes anglófonos em regime de não imersão. A conclusão dessa experiência é que o programa de imersão teve como resultado uma mudança de atitudes e reduziu as “influências desagregadoras da etnicidade” (em Larsen-Freeman e Long, 1994: 165). Uma perspectiva interessante sobre os componentes da identidade étnica é oferecida por Isajiw (1990, em: www.mec.es). Este autor estabelece que a identidade étnica possa ser dividida em duas variáveis: interna e externa, que caracterizam as interações do psicológico com o social. As variáveis externas têm a ver com o conhecimento e uso da língua do grupo, as relações de amizade com o grupo étnico, atividades, mass-media e tradições étnicas. As variáveis internas se referem às imagens do próprio grupo étnico, conhecimento dos próprios valores, sentimentos de pertencimento ao grupo, preferência associativa com os membros do grupo étnico, satisfação com os padrões culturais do grupo étnico e solidariedade para com o próprio grupo étnico. Atualmente, os psicólogos sociais estudiosos da comunicação intercultural consideram a identidade como uma espécie de “mosaico” no qual as pessoas não somente identificam-se em termos relativamente estáveis (dimensões como nacionalidade, grupo étnico, língua materna, idade, gênero) mas também em termos dinâmicos. Vitalidade etnolingüística O conceito de Vitalidade etnolingüística (ELV) foi introduzido por Giles, Bourhis e Taylor em 1977 (apud Winford: 2003). Eles definem a vitalidade de um grupo etnolingüístico como “o que faz que um grupo se comporte como uma entidade coletiva distinta e ativa em situações intergrupais” (apud Hamers e Blanc, 1989: 282). O conceito refere-se ao grau de autonomia que um grupo tem em virtude de fatores como demografia (população total, concentração e distribuição no território, número de casamentos mistos,...), status (poder político e econômico, prestígio etc.) e ajuda institucional (mass-media, educação etc.). A hipótese é que cada um destes fatores pode afetar a vitalidade de um grupo etnolingüístico de 32 um modo positivo ou negativo. A crença geral é que quanto mais alto seja o grau de vitalidade etnolingüística, maior será a preservação da sua identidade e da sua própria língua. O construto de vitalidade etnolingüística tem sido criticado de diferentes perspectivas. Hamers e Blanc (1989: 287) afirmam que a primeira objeção tem a ver com o status das variáveis sócio-estruturais, já que estas formam uma taxonomia puramente descritiva carente de justificação teórica, isto é, não está baseada em uma teoria social. Por esta razão, os fatores e suas variáveis têm pouco valor predictivo: de fato, cada uma delas pode levar a conseqüências diametralmente opostas. Etnocentrismo Etnocentrismo é um termo aparentemente simples: ethno significa cultura, céntrico significa central – vendo a própria cultura como centro da realidade. Na verdade, porém, não é assim tão simples, já que significa que a pessoa etnocêntrica não somente ignora as diferenças, como também evita o contato com as pessoas diferentes. Filosoficamente, quer dizer que a própria cultura nos fornece um sentido da realidade melhor que qualquer outra cultura. Hamers e Blanc (1989: 241) definem o termo como “a percepção do próprio grupo étnico como sendo superior a outro grupo externo”. Esta é uma crença que nos é dada desde a nossa primeira socialização. Segundo Barros (2005: 73), “o etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão.” Barros (2005; 73) ainda afirma que “a dicotomia ‘nós e os outros’ expressa em níveis diferentes essa tendência”. O ponto de referencia desse “nós” é o grupo, que acredita-se, nessa visão, ser melhor que “os outros” e , portanto, recebem um trato diferenciado. É por isso que as pessoas etnocêntricas sentem um sentimento de estranheza em relação aos estrangeiros. O etnocentrismo, segundo Bennett (1996), pode ser dividido em três estágios. O primeiro caracteriza-se pela incapacidade para perceber as coisas como diversas, ao que ele denomina de “negação” ou “rejeição” (denial). Ocorre geralmente quando as pessoas são isoladas ou separam-se de outras pessoas diferentes. Quando as pessoas saem da fase de rejeição, elas passam então a uma fase de defesa. Neste segundo estágio, adotam uma atitude de superioridade ou de menosprezo para outras culturas, e geralmente definem o grupo externo de forma negativa. Também, porém, pode acontecer o contrário: pensar que o outro grupo ou sociedade é superior, e menosprezar a própria cultura. E finalmente, o último estágio, que denomina “minimização”, quando se relativizam todas as diferenças ou quando 33 as pessoas falam que todos somos iguais porque estamos sujeitos a alguns princípios universais. Segundo Bennett (1996) teríamos que considerar que as culturas nos fornecem diferentes organizações da realidade e que esta é a chave para compreender e apreciar as diferenças. 34 2. METODOLOGIA DE PESQUISA Este capítulo se propõe a apresentar a metodologia usada no presente estudo, expor o cunho da pesquisa, apresentar o contexto e sujeitos de pesquisa e descrever os procedimentos utilizados na coleta de dados e na análise. 2. 1. Tipo de pesquisa Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa e interpretativa. Entre as várias formas que pode assumir uma pesquisa qualitativa, destacam-se a pesquisa de tipo etnográfico e o estudo de caso. A pesquisa etnográfica define-se como um modelo de investigação qualitativo. Este modelo considera o ambiente natural como fonte direta e primária de seus dados e o investigador como um instrumento crucial para a análise e a coleta de tais informações. O material de coleta é, em sua maioria, descritivo e, diferentemente de um modelo quantitativo de pesquisa, o modelo qualitativo – ao qual a pesquisa etnográfica se filia – direciona o seu foco no sentido da compreensão e da interpretação de um determinado processo e não do produto e/ou do resultado de certo fenômeno ou conjunto de fenômenos associados a tal processo. Se na investigação conhecida como positivista, de base quantitativa, de modo geral, acredita-se na total distância e neutralidade entre o sujeito que investiga e o objeto dessa investigação, no modelo qualitativo, em especial no de base etnográfica, refuta-se esse princípio. Segundo Gaskell (Bauer & Gaskell, 2004: 69), “a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”. O termo “estudo de caso” é definido de diversos modos. Segundo Gil (1999: 72), “o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado”. O mesmo autor (1999: 73) continua a dizer que “o estudo de caso vem sendo utilizado com freqüência cada vez maior pelos pesquisadores sociais”, já que permite explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; e explicar as variáveis causais de 35 determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. Já Nunan (1997: 74) acrescenta que o estudo de caso pode ser desde o estudo de “um” caso simples e específico até um estudo mais complexo e abstrato. Assim, pelas características referidas, o nosso tipo de pesquisa enquadra-se no estudo de caso, já que envolve o estudo de um grupo limitado de pessoas em ambiente natural, dando uma atenção especial à própria perspectiva dos sujeitos. 2.2. Contexto e sujeitos da pesquisa Os sujeitos que formam parte desta pesquisa são alunos do Programa de Ensino e Pesquisa em Português para Falantes de Outras Línguas (PEPPFOL) da Universidade de Brasília. Segundo Benk de Moraes (2002: 88), o ensino de português para estrangeiros (PE) vive uma fase de desbravamento de fronteiras, tanto no Brasil como no exterior, e está em fase de consolidação institucional e de incremento de pesquisa desde a década de 1960, com o surgimento da Lingüística Aplicada ao ensino de português como língua estrangeira. No Brasil, apenas nesses últimos anos, algumas universidades têm dado atenção ao ensino de português para estrangeiros: no Rio Grande do Sul, a UFRGS e a PUC/RS; em São Paulo, a PUC/SP, a USP e a UNICAMP; no Rio de Janeiro, a URFJ e a PUC/RJ; em Niterói, a UFF; em Minas Gerais, a UFMG e a UFJF; em Santa Catarina, a UFSC; e, no Distrito Federal, a Universidade de Brasília (UnB). Desde 1989, o Programa de Ensino e Pesquisa em Português para Falantes de Outras Línguas (PEPPFOL), do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília, oferece cursos de Português para a comunidade estrangeira da capital federal, além de realizar pesquisas na área de ensino-aprendizagem da língua vernácula. Ao lado dessas atividades, o PEPPFOL vem desenvolvendo desde 1993 um projeto de Educação de Professores/Pesquisadores em Português como L2. Por intermédio deste projeto, com bolsas oferecidas pelo Decanato de Extensão, professores-alunos dão aulas em cursos de português oferecidos à comunidade estrangeira externa à UnB. É interessante o fato de que o PEPPFOL já sente há algum tempo a necessidade de realizar cursos direcionados só para hispanofalantes, dadas as suas necessidades concretas com relação à aprendizagem do português. A característica principal dos alunos estrangeiros desta escola, além de serem todos eles adultos, é sua heterogeneidade: variedade de línguas, culturas, motivações, níveis sociais 36 e culturais, ainda que nós tenhamos focado um grupo de hispanofalantes neste trabalho, quer dizer, num grupo que compartilha a mesma língua e cultura semelhantes. O ciclo básico de Português para Estrangeiros está dividido em seis níveis de proficiência – Iniciante I e II, Intermediário I e II, Avançado I e II. Cada nível tem 60 horas/aula, realizadas em um bimestre, com seis horas/aula por semana. Considerando a proximidade lingüística entre o português e o espanhol, os alunos hispanofalantes seguem um caminho distinto dos outros estrangeiros no início da sua aprendizagem. Em virtude dessa especificidade, a escola oferece dois níveis – Iniciante e Intermediário – também com 60 horas/aula cada um para atender exclusivamente esses alunos. Ao longo desse período, esse aluno, sendo aprovado, irá para o nível Avançado I, juntamente com os estrangeiros de outras origens lingüísticas. Assim, para esse grupo, o ciclo básico compreende apenas quatro bimestres. A opção por esse grupo para fins da nossa pesquisa teve como critério principal o fato de todos eles compartilharem a mesma língua materna, o espanhol, e a mesma faixa etária (entre 19 e 31 anos), de estarem num nível intermediário de aquisição-aprendizagem de português, e de todos eles levarem um tempo suficiente para poder dar conta do seu próprio processo de aculturação e de constatar as diferenças culturais percebidas, tempo que não era, porém, superior a cinco anos. Esta pesquisa, então, insere-se no âmbito da aquisição individual de uma L2 em contexto natural, ou seja, em um país que usa a língua-alvo. Neste caso, o estudo é feito com hispanofalantes aprendizes de português no Brasil. O processo de aquisição-aprendizagem da língua destes sujeitos, ainda que estejam estudando formalmente o português, é mais natural que institucional, já que no período da pesquisa estavam morando no Brasil, verificando-se, inclusive nos sujeitos que tentam preservar mais sua identidade étnica, uma efetiva imersão na sociedade e na cultura, e portanto, na língua. 2.3. Procedimentos e instrumentos de coleta de dados e de análise A coleta de dados foi feita por meio de questionários e entrevistas (semi-estruturadas) gravadas em áudio, realizados pessoalmente pela pesquisadora, e uma entrevista com as professoras do grupo que tinha como propósito recolher as impressões que elas tinham dos sujeitos pesquisados, não somente quanto ao seu nível de competência lingüística como também de seu processo de aprendizagem. 37 2.3.1. Os questionários Segundo Marconi & Lakatos (1996), questionário é um instrumento de coleta de dados utilizado em pesquisa de campo. Nosso questionário se baseia tanto nos tópicos da literatura de aquisição de segunda língua, como contextos de uso das línguas, atitudes e fatores socioculturais, entre outros, o que nos possibilita conhecer as crenças e valores culturais e as relações sociais de nossos sujeitos com relação às línguas usadas. De fato, tentamos operacionalizar os dois principais conceitos do modelo de aculturação e aquisição de L2 proposto por Schumann (1978) – distância social e distância psicológica – através de 40 perguntas, geralmente de caráter fechado, e o conceito de âmbitos de uso das línguas idealizado por Fishman. O questionário foi aplicado individualmente a cada sujeito e, seguindo as recomendações de Marconi & Lakatos (2001: 119), os que responderam ao questionário foram também posteriormente entrevistados com o auxilio de um formulário ou tópico-guia. Com isso, tentamos conseguir o cruzamento dos dados obtidos. Antes da aplicação definitiva do questionário e com a finalidade de detectar possíveis erros, fizemos uma validação realizada por dos membros do mestrado em Lingüística Aplicada e um préteste ou prova-piloto com três pessoas, que não participariam finalmente da pesquisa. Preparação dos questionários Elaborar um questionário que pudesse recolher a informação que nos interessava não foi tarefa fácil. De fato, se revisarmos o processo de sua preparação perceberemos mudanças tanto na ordem de conteúdo como no aspecto visual. O primeiro questionário, por exemplo, continha poucas perguntas, era de caráter fechado, e tinha um formato vertical pouco atrativo. O objetivo dele era já buscar respostas à competência cultural e lingüística dos sujeitos da pesquisa. Porém, as perguntas eram dirigidas a aspectos totalmente objetivos, já que nesse momento considerava-se ser mais importante o momento da entrevista para poder extrair o que nos preocupava, sobre quais seriam as principais dificuldades enfrentadas pelos hispanofalantes em contato com a cultura brasileira e as suas percepções no seu processo de aculturação. Ainda neste momento de elaboração do questionário, tinha-se em mente a participação de pessoas diversas que não necessariamente formassem um grupo coeso, porém que já levassem certo tempo em contato com a cultura brasileira para assim poder responder melhor ao perfil buscado. Nós até duvidamos se seria melhor fazer o trabalho utilizando como sujeitos de pesquisa só pessoas que tivessem como país de origem a Espanha, por considerar 38 que a cultura deles não seria tão diversa como escolher um grupo de hispanofalantes como um todo. Finalmente, nos decidimos por um grupo natural, como o que nos podiam oferecer as duas turmas de hispanofalantes, um nível intermediário e um avançado, que nesse momento iriam iniciar as aulas na escola de extensão da Universidade de Brasília. Contatamos também as professoras, as quais concordaram em falar com os alunos para pedir sua permissão para participar no nosso trabalho. Infelizmente, por falta de matrícula, concretizou-se somente o nível intermediário, já que o nível avançado para hispanofalantes foi cancelado. Avaliamos então a conveniência de seguir com o projeto dado o baixo número de possíveis participantes – os matriculados eram seis – e concluímos que podíamos continuar obtendo resultados úteis para a nossa pesquisa. Nesse momento, acreditamos necessário ampliar o questionário e assim poder reduzir o peso da entrevista, dado que tínhamos dito a eles que seriam entrevistados no máximo durante uma hora. O novo questionário tentou cobrir todos os fatores de distância social e psicológica elaborados no modelo de aculturação de Schumann, para assim poder avaliar melhor a própria percepção do processo de aculturação dos nossos sujeitos, assim como incluir algumas perguntas de caráter aberto para melhor conhecer os possíveis efeitos do choque lingüístico e cultural. Uma vez elaborado o questionário, este foi entregue a dois professores do mestrado de Lingüística Aplicada para ser supervisionado, os quais sugeriram algumas mudanças para melhor clareza das perguntas e também de correção do português. Feitas as mudanças e retornado à avaliação pelos professores, fizemos a testagem do questionário através de três pessoas externas ao processo de pesquisa. Estas pessoas formavam parte da rede social da pesquisadora e tinham o perfil adequado. Depois desse teste, demos por definitiva a versão do questionário (a distribuição das perguntas segundo os conteúdos do questionário aparece na tabela número 1 no anexo 1) e combinamos com as professoras do grupo o dia para sua aplicação. O questionário (anexo 1) foi repartido entre os alunos do nível intermediário de português dentro do Programa de Ensino e Pesquisa para Falantes de Outras Línguas (PEPPFOL) na última semana do mês de maio de 2005. O curso é um intensivo de dois meses realizado durante maio e junho, ministrado por uma professora titular e uma professorabolsista, e destinado somente a alunos hispanofalantes. Explicamos o trabalho que estavamos realizando, assim como os motivos e os objetivos. Todos pareceram interessados e confirmaram seu desejo de participar. Como o questionário tinha quatro perguntas abertas que pediam certa reflexão, achamos conveniente deixar que eles levassem o questionário para casa, tendo acordado a devolução para três dias 39 depois (o questionário foi passado numa terça e recolhido na sexta). Eles tinham também a possibilidade de responder em espanhol, por ser interessante que, no caso das perguntas abertas, pudessem contar suas experiências e não apenas revelar sua competência lingüística. Consideramos que poderia ser inclusive um dado interessante na nossa pesquisa a escolha da língua utilizada por eles para responder ao questionário. 2.3.2. As entrevistas A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas no âmbito das ciências sociais, talvez porque, segundo Gil (1999: 118), “(...) é uma técnica muito eficiente para a obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano” e “possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social”. Convencionalmente, a entrevista tem sido considerada como “um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional” (Lakatos, 1993: 195-196). Para Marconi e Lakatos (2001: 107) “a entrevista é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária”. Nessa visão, porém, o entrevistado é considerado como um mero informante passivo. Já para Rey (1999: 57-60), a investigação nas ciências humanas trata de um “sujeito interativo, motivado e intencional (...) Os próprios instrumentos de investigação adquirem um sentido interativo”. Nós partimos, então, como faz Heloisa Szymansky (2004: 12), “da constatação que a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, em que estão em jogo as percepções do Outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado”. As entrevistas, neste caso, serviram como um instrumento para obter informações detalhadas sobre as experiências, atitudes, valores e percepções dos indivíduos pesquisados em relação ao seu processo de aculturação. Elaboração do roteiro da entrevista O tipo de entrevista utilizado é a entrevista semi-estruturada em profundidade, já que permite uma maior espontaneidade nas respostas do entrevistado, sem que o pesquisador perca de vista os seus objetivos. Assim, previamente, elaboramos um tópico-guia com a finalidade de obter dados que pudessem ser comparados entre os vários sujeitos investigados. 40 O tópico-guia foi criado a partir de diversas fontes, e depois de uma compreensão preliminar da área em estudo, de tal modo que partes relevantes fossem cobertas e que o guia fosse suficientemente aberto para acomodar qualquer aspecto novo que fosse trazido pelo entrevistado. Num primeiro momento, pensamos em realizar a entrevista em português, para poder assim avaliar também a competência lingüística. Porém, depois da coleta e avaliação dos questionários, consideramos mais importante que os sujeitos pudessem se expressar na sua língua materna para assim facilitar a livre fluência de suas opiniões e crenças a respeito do seu processo de aculturação e das diferenças culturais percebidas. Acreditamos que realmente a avaliação da competência lingüística não era o objetivo do nosso trabalho, e sim o fato de como eles percebem essa competência numa língua que não é a sua e, sobretudo, de como percebem as duas culturas em contato. É por isso que consideramos que a língua não deveria ser um possível obstáculo para eles elaborarem as suas idéias em relação aos temas pesquisados. O tópico-guia das entrevistas (anexo 2) focaliza principalmente os seguintes itens: motivações para aprendizagem do português; razões para vir ao Brasil e tempo de permanência; âmbitos de uso da língua materna e da língua-alvo; atitudes em relação às culturas brasileira e própria; diferenças culturais percebidas e mudança de valores em contato com a cultura do Outro. As questões foram ordenadas de maneira a favorecer o rápido engajamento do respondente na entrevista, bem como a manutenção do seu interesse. O grupo de pessoas a ser entrevistado foi preparado antecipadamente mediante contato pessoal prévio. Nesse primeiro momento, a pesquisadora se apresentou ao grupo explicando a finalidade de sua visita e fornecendo dados sobre sua pessoa, a instituição e o tema de pesquisa. Foi sublinhada também a importância da colaboração do entrevistado e a voluntariedade de sua participação. O objetivo era ter um contato inicial cordial e relaxado que favorecesse a disposição dos sujeitos a participar da pesquisa e que esclarecesse as possíveis perguntas e dúvidas. Já neste primeiro momento, foi solicitada sua permissão para a gravação da entrevista, deixando bem claro que a entrevista teria caráter confidencial e que as informações prestadas permaneceriam no anonimato. Desenvolvimento e transcrição das entrevistas Todas as entrevistas começaram com alguns comentários introdutórios sobre o tema e os objetivos da pesquisa, explicações de como seria feita a entrevista, agradecimentos ao entrevistado por ter concordado em falar e um pedido para gravar a sessão. As entrevistas 41 foram conduzidas como se fosse uma conversa, focadas nos tópicos específicos, porém deixando fluírem livremente as reflexões do entrevistado, e tiveram uma duração máxima de 50 minutos. A fase inicial da entrevista tinha sempre um breve período de aquecimento para o estabelecimento de um clima mais informal. Nesse momento, perguntávamos dados mais pessoais, considerados necessários para poder traçar o histórico do sujeito. Muitas vezes, no período inicial da pesquisa, ao se solicitar alguns dados pessoais, como onde foi criado, família, o que faz nas horas de lazer etc., alguns dos entrevistados alongavam-se demais, tendo a pesquisadora tido que tentar voltar ao foco de estudo. Essas digressões podem também ser encontradas ao longo da entrevista, mas normalmente fazem sentido para o entrevistado. A entrevista finalizava uma vez desligado o gravador, mas normalmente continuávamos falando com o entrevistado por aproximadamente uns 15 minutos mais; perguntávamos se tinha algum comentário mais a fazer e falávamos também de temas de seu interesse. Finalmente, dávamos por acabado o encontro agradecendo outra vez ao entrevistado e garantindo mais uma vez a confidencialidade das informações. As entrevistas foram realizadas nas residências dos pesquisados ou em locais da UnB. Todas as entrevistas foram semi-dirigidas e realizadas num encontro individual. Não havia um roteiro totalmente fechado, já que se baseavam na própria fala do entrevistado, mas os objetivos da entrevista estavam claros e tinhamos preparado um tópico-guia para cada entrevistado antes de cada entrevista, construído a partir do tópico-guia geral e adaptado a partir das respostas dadas pelos sujeitos no questionário. Ao finalizar cada entrevista, já em casa, escrevíamos um relatório, a fim de contextualizar as respostas recebidas do entrevistado e anotar observações que pareciam ser importantes ou interessantes. Para poder reproduzir com precisão as respostas, estas foram registradas durante a entrevista em áudio e transcritas depois em sua totalidade. A transcrição, segundo Szymanski (2004: 74), é a primeira versão escrita do texto da fala do entrevistado e deve ser registrada, tanto quanto possível, tal como ela se deu. No nosso caso, utilizamos uma série de convenções explicadas no anexo 2 do trabalho. Esta transcrição inclui todas as palavras faladas, mas não as características para-lingüísticas. Análise das entrevistas O processo de transcrição da entrevista, feito pela própria pesquisadora, é também um momento de análise, já que ao transcrever revivemos a cena da entrevista e os aspectos da interação. O número de entrevistas qualitativas, seis no total, mostrou ser suficiente por ser uma quantidade de texto razoável para ser analisado. Num dado momento, observamos o que 42 Bauer e Gaskell (2004: 507) chamam de “saturação de sentido, significando que não serão esperadas novas surpresas com entrevistas adicionais”. A análise dos registros obtidos através das entrevistas foi feita a partir da análise de conteúdo qualitativa. A análise de conteúdo é um dos métodos de análise de texto desenvolvidos dentro das ciências sociais. Segundo Weber (1985, apud Bauer e Gaskell, 2004: 192) a análise de conteúdo é “uma metodologia de pesquisa que utiliza um conjunto de procedimentos para produzir inferências válidas de um texto. Essas inferências são sobre emissores, a própria mensagem, ou a audiência da mensagem”. Para Bauer (2004: 191), “ela traça um meio caminho entre a leitura singular verídica e o ‘vale tudo’, e é, em última análise, uma categoria de procedimentos explícitos de análise textual para fins de pesquisa social”, e ainda afirma que “a análise de conteúdo nos permite reconstruir indicadores e cosmovisões, valores, atitudes, opiniões, preconceitos e estereótipos e compará-los entre comunidades” (2004: 192). Categorias e codificação Segundo Bauer (2004: 199) a codificação e, conseqüentemente, a classificação dos materiais colhidos na amostra, é uma tarefa de construção, que carrega consigo a teoria e o material de pesquisa. (...) Um referencial de codificação é um modo sistemático de comparação. Ele é um conjunto de questões (códigos) com o qual o codificador trata os materiais, e do qual o codificador consegue respostas, dentro de um conjunto predefinido de alternativas (valores de codificação). O critério de categorização seguido por nós foi temático e teve como primeiro objetivo fornecer uma representação simplificada dos dados para assim, posteriormente, realizar a sua interpretação. Num primeiro momento, foram construídas duas matrizes: a primeira (Dimensão de Aculturação) com as variáveis definidas por Schumann no seu modelo de aculturação (distância social e distância psicológica) e que tinham como objetivo explicar as percepções sobre o próprio processo de aculturação dos nossos pesquisados; e a segunda (Dimensão Cultural) com os outros dois objetivos e finalidades da pesquisa colocados como temas no título das colunas – Diferenças Culturais Percebidas e Mudança de Valores –, e o que cada entrevistado diz (anexo 3). Durante o trabalho de análise, ao passar de uma para outra entrevista, perceberamse diferentes assuntos recorrentes, que foram agrupados em diversas categorias. Essas 43 categorias foram nomeadas de acordo com o assunto a que diziam respeito. Assim, por exemplo, foram criadas as categorias: Brasil, Os Brasileiros, Cultura Brasileira e Brasília, que foram agrupadas no tema: Diferenças Culturais Percebidas. Dentro deste núcleo temático, foram analisadas não somente as diferenças culturais percebidas como também as Imagens e Estereótipos que os nossos pesquisados explicitavam. Finalmente analisamos, com base nos dados anteriores (Processo de Aculturação e Diferenças Culturais Percebidas), se os nossos sujeitos tinham efetivamente vivenciado uma série de mudanças a respeito não somente da outra cultura, mas também de si próprio e de sua cultura. Resumindo, para fazer a análise das entrevistas, fizemos primeiro um trabalho de explicitação dos significados e só então elaboramos as diversas categorias que agrupamos aos temas referidos. Para a discussão dos temas, voltamos às categorias, sendo utilizados trechos das falas dos entrevistados para dar suporte às interpretações. Os números em parênteses dos trechos destacados correspondem aos números de linhas de transcrição da fita da entrevista (E). Os textos completos das entrevistas analisadas estão transcritos no anexo 2, e as fitas estão catalogadas pelo número do participante, de S1 a S6, na ordem em que foram gravadas. Entrevista com as professoras do grupo Ao entrar no PEPPFOL, uma das primeiras informações que os alunos recebem é sobre o seu sistema de avaliação. Este sistema inclui duas provas escritas e duas provas orais, além de testes rápidos que o professor pode dar sem aviso prévio. O objetivo desses testes é fornecer ao professor uma forma de avaliar o desenvolvimento dos alunos durante o curso. As provas são realizadas na metade e no final de cada curso. A prova oral é aplicada pelo professor da turma e por outro professor do programa. O objetivo, segundo a coordenadora do programa, tem duas faces: ao mesmo tempo em que a presença de um dá segurança ao aluno, ao outro permite uma avaliação imparcial, sem a interferência do conhecimento prévio. A pesquisadora verificou com as professoras do grupo, quando terminado o curso, a possibilidade de ter uma entrevista com elas, realizada no dia 13 de julho de 2005, para assim poder avaliar os sujeitos de uma outra perspectiva, a dada pelas provas e testes feitos na sala de aula e o próprio desempenho do sujeito na interação na sala de aula. 44 2.3.4. Triangulação dos dados Um modo de assegurar a confiabilidade e validade de uma pesquisa qualitativa é a triangulação de perspectivas e métodos teóricos. Segundo Bauer e Gaskell (2004: 483), “apelar para a triangulação de perspectivas e métodos teóricos é um modo de institucionalização do processo de reflexão em um projeto de pesquisa”. Nesta pesquisa, usamos dados provenientes de várias origens (questionários e entrevistas) e diversos modelos teóricos (Schumann, Brown, Berry,...), que nos possam oferecer mais de uma perspectiva na interpretação dos fenômenos pesquisados. Bauer e Gaskell (2004: 483) ainda acrescentam que “a aproximação do problema a partir de duas perspectivas ou com dois métodos irá, inevitavelmente, levar a inconsistências e contradições. Estas diferenças irão exigir a atenção do pesquisador a fim de poder ponderar sua origem e sua interpretação.” Para Bauer e Gaskell (2004: 482), na pesquisa qualitativa, a confiabilidade é indicada pela “a) triangulação e compreensão reflexiva através de inconsistências; b) pela clareza nos procedimentos; c) pela construção do corpus e d) pela descrição detalhada.” Para estes autores “as inconsistências” podem chegar a demonstrar que os fenômenos sociais se apresentam diferentes na medida em que eles são enfocados de diferentes ângulos. 45 3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Depois da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo, os dados foram organizados, selecionados e analisados de acordo com o referencial teórico que apoiava a pesquisa. A seguir, apresentamos a análise de dados: 1. Dimensão de Aculturação: A análise e interpretação desta dimensão segue de perto as variáveis definidas por Schumann no seu modelo de aculturação. Num primeiro momento, e com a finalidade de contextualizar os nossos sujeitos, traçamos um breve relatório da história de vida e do processo de aculturação dos sujeitos pesquisados a partir dos dados obtidos nos questionários e nas entrevistas. Posteriormente, já entramos na análise propriamente dita e na sua interpretação através do comentário geral e da exemplificação – com base nos questionários e entrevistas – das categorias elaboradas por Schumann. 2. Dimensão Cultural: Nesta dimensão, analisamos e interpretamos – com base em exemplos extraídos basicamente das entrevistas – as categorias levantadas por nós a partir da constatação de diversos temas repetidos nas falas dos entrevistados, como: comidas, clima, formas de vestir, religião e relações sociais. Estes temas são por sua vez agrupados em quatro grandes categorias, derivadas da própria recorrência na fala dos entrevistados, e que são: O Brasil, Os brasileiros, Cultura brasileira e Brasília. Estes quatro núcleos temáticos nos servem para explorar, sobretudo, as imagens e estereótipos dos nossos pesquisados e as diferenças culturais percebidas. Finalmente, apontamos algumas mudanças de valores percebidas pelos nossos pesquisados ao longo da análise e interpretação de suas falas. 3.1. Dimensão de Aculturação 3.1.1. Descrição do processo de aculturação dos sujeitos pesquisados Idade Nacionalidade Sexo Língua materna Nível de escolaridade Tempo de permanência no Brasil Razões de vinda ao Brasil Filhos Outras línguas faladas Entre 19 e 31 anos Espanha (1), Chile (2), Guatemala (2), Colômbia (1) 4 homens e 2 mulheres Espanhol Superior Menos de cinco anos Profissionais (2), familiares (1), acadêmicas (3). Não Inglês (4), francês (1), nenhuma (1) Tabela 3: Perfil dos sujeitos de pesquisa 46 S1 Pelos dados que obtivemos no questionário, S1 tem 31 anos e nacionalidade chilena, ainda que nascida em Buenos Aires, Argentina. Seu nível de escolaridade é superior. Não tem cônjuge nem companheiro e atualmente não está trabalhando. As razões de sua vinda ao Brasil são familiares, e ainda que leve morando só seis meses no Brasil, diz se sentir confortável falando em português, usando-o em diversas situações. S1 mostra interesse em conhecer a cultura brasileira em todas as suas manifestações, embora avalie ser a sua cultura de origem superior em relação à cultura brasileira. S1 já morou, quando era pequena, em outros países como Equador, Argentina, Espanha e Inglaterra; porém, não fala outra língua além do espanhol. Ela se sente bem confiante em relação a sua adaptação à cultura e hábitos brasileiros e em relação ao seu nível de português, ainda que já nos pareça ser um dado significativo o fato de ela responder em espanhol às perguntas que têm um caráter aberto. Na entrevista com S1, percebemos que alguns aspectos de estilo de vida parecem entrar em contradição com as respostas do questionário. Seu uso do português não é tão confiante assim e ainda mostra muito receio e estranheza no que diz respeito à cultura e hábitos de vida dos brasileiros. Ela não se mostra bem adaptada à cidade – acha estranha, artificial, longe do que ela está acostumada – e isso se reflete na sua visão dos que a habitam – pessoas que não cumprem a palavra, que não recebem outros em casa, amigáveis, porém não hospitaleiros, e artificiais também. Ela não tem um círculo de amigos e conhecidos próprios, ainda que já tenha feito esforços para tê-los: é sócia de um clube, cursa uma disciplina como aluna especial do Mestrado em Ciência da Informação na Universidade de Brasília e está estudando português para estrangeiros no PEPPFOL. Os amigos que tem são hispanofalantes como ela, a maioria deles do Chile, dados que contradizem o respondido no questionário (Q: 25; Q: 26). A disciplina do mestrado lhe está servindo para manter contato, um dia na semana, com pessoas brasileiras, e para ampliar o seu círculo de amizades, embora continue tendo dificuldades para se relacionar, sendo esta, segundo ela, por causa dos diferentes “códigos de comportamento”. Quando perguntada sobre esses diferentes códigos, ela responde que são convites que não se concretizam, ligações não realizadas, difícil acesso à casa dos outros,... Apesar de ter viajado e morado em bastantes países, não parece ter sido facilmente permeável à influência de outras culturas. Uma das palavras mais repetidas na sua fala é “confusa”, pois sente confusão e desorientação a respeito do que há ao seu redor e ainda não pode compreender muito bem o que é dito para ela – sua empregada pergunta para ela se ela está com “fome”, e ela não sabe o que está perguntando. No caso de S1, observamos não só o choque a nível lingüístico, por falta da necessária competência, mas também o choque cultural, já que quando perguntada (Q: 36) sobre quais tem sido os seus sentimentos sobre as formas de vida brasileira quando chegou pela primeira vez ao Brasil, responde: “tristeza”, “estranheza”, “solidão”, “desconforto”, “saudade”, “desorientação”, “ansiedade” e “excitação”. Podemos ver como todos eles são relacionados com o conceito de choque cultural explicitado por Brown no seu modelo de aculturação. Esse choque cultural se reflete em todos os âmbitos da vida de S1, já que não lhe permite estabelecer relações sociais das quais ela está precisando, pois sentimentos de solidão se misturam com o desconforto e raiva que diz sentir por falta de um entorno amigável. Pelas respostas ao questionário, parece que S1 utiliza o português numa variedade grande de contextos (Q: 18). Porém, na entrevista, observamos como as suas interações em português são muito restritas: fala, por exemplo, com a empregada da casa e quando faz as compras, mas estas são situações interativas curtas, muitas vezes já estereotipadas, repetitivas, já que, na realidade, ainda não pode ter uma conversação fluente em português nem muitas vezes 47 participar, porque acaba por não compreender o que é dito. Assim, por exemplo, ela diz que gosta de cinema, mas para ela é difícil assistir a filmes em português pela dificuldade de compreender o diálogo. No questionário, observamos atitudes positivas em S1 com respeito à língua e à cultura brasileira e relações de amizade com brasileiros que, contudo, não são mostradas desta forma no dia da entrevista. Assim, no caso dela, essas atitudes tem mudado quando posta diante de diversos obstáculos, o que tem feito que reaja de uma maneira defensiva e até negativa. No momento da entrevista, por exemplo, o que mais desejava era voltar ao seu país para poder procurar trabalho como bibliotecária – sua profissão – e poder encaminhar sua vida, sem cogitar em nenhum momento a possibilidade de ficar no Brasil. S2 S2 tem 20 anos, é guatemalteco, nasceu na capital e morou sempre em bairros nobres da cidade. Seus pais são divorciados e ele foi morar com seu pai aos quatorze anos. Foi criado num ambiente em que nunca faltou nada, nunca teve que se preocupar com nada, pois tudo lhe era dado. O seu nível de escolaridade é superior incompleto, tendo iniciado estudos de Marketing, que não concluíu. Tem o inglês como segunda língua, aprendido na escola a partir dos cinco anos de idade – freqüentava colégio particular bilíngüe – e aperfeiçoado depois de uma breve estadia nos Estados Unidos com a intenção de trabalhar e ganhar dinheiro para pagar a sua passagem para o Brasil. As razões da sua vinda para o Brasil são acadêmicas – ele está estudando português para passar na prova do CELPE-BRAS e assim poder estudar Psicologia na USP – e também pessoais, já que o seu desejo principal, e o que levou a escolher precisamente o Brasil, era sair do ambiente em que se encontrava e conhecer outros estilos de vida. Nas palavras dele, a sociedade guatemalteca é profundamente classista e discriminadora, sendo feitas sempre muitas cobranças ao individuo, não lhe permitindo ser plenamente feliz. Ele está à procura de seu próprio equilíbrio. A percepção que tem dele mesmo é a de uma pessoa ativa, inquieta e ambiciosa. S2 está há quase um ano no Brasil, concretamente em Brasília. O seu nível de português é intermediário, porém ele afirma não se sentir muito confortável falando português – lhe faltam palavras para expressar suas idéias – e com saudade de falar a sua língua materna. Na atualidade, mora com sua namorada, guatemalteca, e fala com ela em espanhol. O grupo de amigos está formado só por hispanofalantes de diversas nacionalidades. As situações nas quais ele usa o português, portanto, ficam reduzidas ao âmbito da escola e das compras no mercado. Ele afirma usar só o português com os colegas da escola ou com desconhecidos que não falam a sua língua materna e diz não gostar muito de se expressar em português, porque não traduz completamente as suas idéias, ainda que diga compreender bem o português e não ter sofrido nenhum mal-entendido. S2 não mostra interesse nenhum pela cultura brasileira (Q: 23), desconhecendo totalmente as suas diversas expressões – música, cinema, festas populares. Segundo suas palavras, ele veio ao Brasil como poderia ter ido ao Peru ou ao México e pretende ficar no Brasil só até completar sua graduação. Na realidade, ele nada sabia do Brasil, apenas que falavam outra língua, e continua mostrando bastante desconhecimento. A música que ele escuta é latina, os locais que freqüenta são locais tipicamente latinos – Caribenho –, não está interessado na televisão ou rádio brasileira e não gosta muito do país e dos brasileiros, que acha conformistas e relaxados demais. Nas suas respostas ao questionário e à entrevista, ele se reconhece como parte de um grupo étnico e reflete uma imagem totalmente estereotipada do Outro, neste caso, o brasileiro, ainda 48 que perceba que teria que fazer um esforço maior de adaptação. Ele se encontra numa fase que interpreta o comportamento ou atitudes dos outros com base no próprio código cultural, fato que lhe produz uma grande desorientação por não corresponder às suas expectativas, e que se traduz muitas vezes num sentimento forte de irritação. Ele se irrita, por exemplo, com o modo de vestir dos jovens brasileiros, freqüentemente de chinelos e bermudas para ir tomar uma cerveja; se irrita também com a permissão das trocas de carinho públicas dos gays que, segundo ele, na Guatemala, seriam até agredidos, e admira-se da pouca variedade da comida brasileira, sempre com o arroz e feijão no prato. O mecanismo de defesa usado é o menosprezo pela cultura do Outro e a rejeição dos seus valores e crenças – os brasileiros ficam contentes com futebol e comida. A cultura do Outro passa a ser vista como “incompleta”, “inferior”. Essa interpretação, é claro, não deixa de ser etnocêntrica, pois desconsidera ou não reconhece a possibilidade de códigos culturais diferentes. S3 S3 tem 25 anos e é espanhol. Seu nível de escolaridade é superior: é formado em Ciência da Comunicação pela Universidade de Sevilla e estudou nove meses em Paris mediante uma bolsa de estudos Erasmus. Tem namorada, espanhola como ele, que mora em Sevilla. As razões de sua vinda ao Brasil são acadêmicas: ele está trabalhando e estudando atualmente por meio de um convênio da CAPES-MECD na Universidade de Brasília, no Departamento de Pós-Graduação de Ciência da Comunicação, e está preparando sua tese de doutorado. Esse fato tem ajudado muito na sua integração dentro do estilo de vida do país e facilitado a sua interação com brasileiros, já que embora leve menos de um ano no Brasil, tem uma rede social bastante ampla e diz se sentir confortável falando em português. De fato, como comprovamos na entrevista, S3 procura desenvolver experiências culturais e amizades onde a língua portuguesa se faz necessária e, por estudar na universidade, tem uma verdadeira necessidade de falar, ler e escrever em português. Ele mostra atitudes positivas e autoconfiança, tendo as atitudes positivas e a boa acolhida do grupo da língua-alvo também ajudado muito na sua adaptação. Mostra interesse em conhecer a cultura brasileira, gosta sobretudo da música – já conhecia a MPB no seu país de origem – e quer conhecer o país. Está planejando uma viagem junto com sua namorada para Bahia, Sergipe e Foz do Iguaçu. Nas respostas ao questionário, avalia que sua cultura de origem é semelhante à brasileira, mas na entrevista não deixa de perceber as diferenças entre as duas culturas. S3 não mostra preferência por ter contato com compatriotas; na realidade, ele conhece muito poucos espanhóis e a sua rede social atual está composta exclusivamente por brasileiros. S3 não pensa em morar permanentemente no Brasil, já que veio com um objetivo e por um tempo determinado. Por ter morado durante nove meses na França, já tem certa experiência intercultural, o que talvez tenha feito com que entrasse logo na fase de recuperação descrita no modelo de Brown. Acha que seu comportamento é adequado dentro da cultura brasileira e acha importante se relacionar com brasileiros. Segundo ele, a sua maneira de olhar o mundo tem mudado em contato com a cultura brasileira. 49 S4 S4 tem 19 anos, nasceu na Guatemala e morava num dos bairros nobres da capital. Desde pequena morou com o seu pai e seus dois irmãos, já que sua mãe se casou com um norteamericano, a quem chama de “gringo”, e foi a morar nos Estados Unidos. Atualmente mora com o seu namorado, guatemalteco, em Brasília. As razões da sua vinda ao Brasil são acadêmicas: ela está estudando Arquitetura, no primeiro semestre, na Universidade de Brasília. Conseguiu uma bolsa de estudos mediante um convênio entre as embaixadas de seu país e do Brasil, mas tem que passar no exame CELPE-BRAS para poder ficar definitivamente na universidade. Ela diz que escolheu Brasília para estudar devido a sua arquitetura moderna. S4 já estuda português formalmente há quase um ano em Brasília, no PEPPFOL, e o seu nível de português é intermediário. Usa o português com freqüência e em âmbitos diversos – telefone, igreja, universidade, rua, banco, mercado,... Lê e escreve em português sem dificuldade e tem muito interesse em conhecer a cultura brasileira nas suas distintas expressões. De fato, uma das razões de ter escolhido o Brasil para estudar é que já desde os 10 anos tinha paixão pelo futebol brasileiro e esse interesse fez crescer sua curiosidade por tudo o que fazia referência ao Brasil. S4 tem contato freqüente com outros hispanofalantes, e há um grupo com o qual sai para dançar, de preferência no Caribenho ou em algum bar. Apesar disso, acha muito importante ter amizades com brasileiros e, de fato, já tem alguns amigos que pertencem ao âmbito acadêmico. Ela diz ter sido recebida muito bem tanto na universidade – os colegas se interessam pela sua cultura de origem –, como por uma família formada por um brasileiro e uma guatemalteca, amigos de seu pai, que foram os que nos primeiros dias a ajudaram na adaptação. Ela já morou nos Estados Unidos durante três meses e tem também um nível intermediário de língua inglesa. Ainda que se sinta confortável falando em português, acha que nem sempre suas palavras refletem adequadamente suas idéias e mostra saudade por poder falar sua língua materna. Segundo ela, sua forma de olhar o mundo tem mudado em contato com a cultura brasileira. Ainda que veja sua cultura de origem e a brasileira como semelhantes, há aspectos que a tem chocado, como por exemplo, as formas de vestir das mulheres grávidas ou das mulheres mais velhas, e os costumes mais liberais em relação aos relacionamentos amorosos e ao sexo. A este respeito, ela dá o exemplo de meninas muito jovens já grávidas e a permissividade dos pais deixando seus filhos irem a festas já bem tarde da noite. Outra coisa surpreendente para ela são as distintas formas de viver a religião no Brasil, já que ela achava que este era o maior país católico do mundo e descobriu que a maioria das pessoas que conhece é evangélica, espírita ou de outras religiões. S4 se declara católica e essa situação é chocante para ela. Segundo ela, a sociedade guatemalteca é muito mais conservadora que a brasileira. Atualmente, se sente muito bem adaptada e não hesita a responder que gostaria de ficar permanentemente no Brasil se tivesse oportunidade e encontrasse trabalho, por exemplo. Ela acredita que a situação econômica do seu país é pior, mesmo que neste momento, morando no Brasil, perceba que este país também tem muita pobreza. Nas suas horas de lazer, gosta de jogar futebol, assistir TV, passear e dançar. S5 S5 tem 21 anos e é chileno. Ele vem de uma família de classe média baixa composta por mãe, viúva, e três filhos. Sua família, o pai principalmente, lhe deu uma educação moral rígida e a sociedade onde se criou era na época também bastante severa devido ao período da ditadura 50 de Pinochet. Seu nível de escolaridade é superior incompleto, já que teve que deixar os estudos de Biologia Marinha na Universidade de Valdivia no Chile, por causa da doença e posterior morte de seu pai e os poucos recursos econômicos da família. Não é casado nem tem namorada e atualmente está morando com seu tio e sua família numa casa no Lago Norte. Ele está trabalhando num salão de beleza e eestuda português para estrangeiros na UnB. O tempo de permanência de S5 no Brasil é curto: seis meses. Porém, ele já tinha vindo ao Brasil como turista, primeiro à casa do seu tio por um período de três meses e posteriormente numa viagem com colegas da faculdade em que fez um roteiro pelo sul do país no período de 1998-1999. Desta vez ele veio com uma bolsa de estudos para estudar português e tem que passar uma prova no seu país no mês de março, para depois poder fazer faculdade em Brasília. A razão principal da sua vinda ao Brasil, segundo o questionário, é política e acadêmica. A resposta por “razões políticas” (Q: 12) nos parece ser uma espécie de brincadeira, porque isso não se explicita em nenhum momento ao longo da entrevista, e, por outro lado, são claras suas razões de tipo acadêmico. Na realidade, seu desejo principal é estudar português para encontrar um bom trabalho que lhe permita trazer a família e morar definitivamente no Brasil. Assim, no questionário (Q: 13), quando perguntado sobre as razões de querer aprender português, ele marca três respostas: “profissionais”, “para poder influenciar na opinião de outras pessoas” e “para falar a língua”. Nesse tipo de resposta, observamos, sobretudo, uma motivação instrumental – o português para ele é uma ferramenta que lhe permite fazer uma série de coisas –, mas também observamos uma motivação de tipo maquiavélica (cf: cap. 1) na resposta “para poder influenciar na opinião de outras pessoas”. Esse sentimento fica mais bem explicitado na entrevista, quando observamos que para ele o Brasil é o país das oportunidades e que o português é “uma arma de trabalho” (E: 80-81). S5 avalia que sua cultura de origem é semelhante à do povo de acolhida, embora acredite que Brasília lhe proporciona melhores condições de vida e boas oportunidades de ter sucesso profissional: “(...) y yo no vine a Brasil a limpiar” (E: 146-147). Seu uso do português é freqüente e atinge todos os âmbitos, já que em casa ele fala muito também com as crianças, com a esposa de seu tio, que é brasileira, e com a empregada. De fato, seu desejo é de morar permanentemente no Brasil e observamos uma atitude positiva em relação à cultura brasileira e ao uso do português, que acha necessário para os seus fins. Embora não tenha filhos, ele acredita ser importante que seus filhos aprendam português (Q: 28). Em suas respostas ao questionário e também na entrevista, observamos que S5 gosta da cultura brasileira e se sente confortável usando o português; diz que já pode expressar muito bem o que ele pensa. Ele gosta, principalmente, de saber das tradições, costumes e história do povo brasileiro, e acha que o Brasil tem uma grande riqueza e diversidade cultural, o que no Chile está se perdendo. Os aspectos mais chocantes, como chileno, são as comidas – segundo ele, pouco variadas, rotineiras –, os horários e as relações sociais, que valorizam a festa e não o trabalho. Com relação aos brasileiros, acha que estes são conformistas demais com a situação econômica e política do país e com o estilo de vida que têm, seja bom ou ruim; muito informais, não separando o âmbito privado do âmbito público; muito tolerantes, raramente se sentem ofendidos; nada agressivos, eles reagem a um possível conflito com tom de ironia e brincadeira, e alegres e espontâneos nas suas relações interpessoais. Acha que o estilo de vida não é nada rígido comparado com o do seu país, o que lhe produziu uma espécie de liberação e alegria quando chegou. Por outro lado, sente falta de mais seriedade nos âmbitos que ele acha que devem ser levados a sério – faculdade, trabalho, economia, política,... Segundo ele, no Chile, estão muito bem separados os dois espaços, a festa e o trabalho, sempre tendo mais importância o sentido de esforço e seriedade no trabalho. 51 S6 S6 tem 30 anos, é colombiano, tem quatro irmãos, e destaca o fato de sua família ser muito unida. Seu nível de escolaridade é superior, está formado em Educação Física e tem pósgraduação. É solteiro. Está trabalhando como subchefe num centro de recuperação para adolescentes que infringem a lei e estuda português para estrangeiros no PEPPFOL. Faz quinze meses que está morando no Brasil. As razões da sua vinda ao país foram profissionais, já que lhe foi oferecida a oportunidade de fazer o mesmo trabalho que fazia na Colômbia, porém em Brasília. Ele ainda não se sente totalmente confortável falando português, já que nota a falta da riqueza de recursos expressivos que tem com a sua língua materna, porém o usa no dia-a-dia para tudo e em diversos contextos – no trabalho, com amigos,... Sente bastante saudade de não poder falar sua língua materna, que considera uma língua rica. Por razões de trabalho, tem que ler e escrever bastante em português. Mostra interesse em conhecer a cultura brasileira nas suas variadas manifestações – música, história, tradições, literatura,... – e acha que sua cultura de origem e a brasileira são semelhantes. S6 não mostra preferência por participar de atividades junto com os seus compatriotas e, de fato, mostra predisposição por uma plena integração no país, já que está pensando em morar permanentemente no Brasil (Q: 29). Sobre sua adaptação, ele fala que foi fácil, sem problemas, e acha que ele é uma pessoa de fácil adaptação. O que considera mais difícil é a aprendizagem da língua, fator ao qual ele atribui muita importância, para poder se expressar bem. Em sua opinião, a língua não deixa de ser um instrumento de trabalho, já que tem que chefiar e dar palestras. Por causa de não saber o idioma direito, teve alguns mal-entendidos. Esses mal-entendidos lhe têm causado alguns constrangimentos, mas a este respeito ele destaca o nível de tolerância dos brasileiros, que não se sentem ofendidos e que entendem que ele ainda não domina bem a língua nem os seus códigos culturais. Não tem problemas com os estilos de vida e cultura brasileiros, que ele acha bons, gosta da cidade e da tranqüilidade que lhe oferece – ele a compara com o nível de insegurança e violência da Colômbia – e tem encontrado bons amigos, o trabalho que faz não lhe permite se sentir só e com muita saudade da família, como aconteceu no princípio. As imagens que ele tinha do Brasil eram: mulheres bonitas, futebol, festa, caráter aberto e tolerante das pessoas. Algumas destas imagens têm mudado depois do seu contato com o Brasil; por exemplo, acha que as mulheres de seu país são mais bonitas e se arrumam mais quando saem de casa, e sobre a permanente festa brasileira, observa que nem sempre é assim. Também lhe tem surpreendido que o brasileiro não seja tão liberal quanto parece – fala que existem tabus e preconceitos – e que pode ser discriminador. O que mais lhe chocou quando chegou foram as diferentes relações de trabalho se comparado com o seu país. Ele se deparou com muitas ausências ao trabalho, sempre justificadas, porém pouco justificáveis no seu país, pouco compromisso e responsabilidade com o trabalho e, em geral, pouca vontade de trabalhar. Também lhe tem chocado alguns gestos que têm sido mal interpretados, o cheiro tão forte das comidas, os condimentos diversos, a freqüência do alho, a diferente qualidade das verduras. Outra coisa que lhe tem surpreendido é a presença constante da religião na vida dos brasileiros – na TV, nas conversações. Ele ouviu falar que o Brasil era o maior país católico do mundo, porém ele só se depara com crentes de outras religiões, evangélicos, sobretudo. 52 3.1.2. Análise do processo de aculturação Dominação social/ subordinação O prestígio atribuído a uma cultura afeta a motivação na aprendizagem da respectiva língua estrangeira. De acordo com o modelo de aculturação de Schumann, a predisposição ou não para a aprendizagem depende de como um grupo ou individuo percebe o outro e sua língua. Grupos de mais alto prestígio social tendem a não aprender a língua dos grupos de mais baixo status social: “(...) de las clases que hay en Guatemala, que están bien marcadas, yo estoy en la alta, verdad (…)” (S2: 13-14) Assim, as relações sociais são um dos fatores que influencia a receptividade ou a relutância na aprendizagem de uma L2: “Yo no puedo decir que la gente me ha rechazado por ser extranjero, por ser colombiano, porque nosotros los colombianos tenemos un estigma a nivel mundial” (S6: 152-154) “En el Lago Sur. Entonces nos vamos para allá. Ahí encontré como que algo similar donde yo frecuentaba en Guatemala, la verdad.” (S2: 450-451) O que nós podemos observar é que os hispanofalantes entrevistados são conscientes de que são uma minoria e que não têm condições de ser dominantes, ainda que quisessem: “(...) la vida aquí exige sacrificios.” (S5: 399) No entanto, eles se auto-apresentam como formando parte de um grupo étnico do qual sentem um forte orgulho de pertencimento: “(...) Colombia no es que sea el país más civilizado, no, hay de todo. (S6: 212) Em todos eles observamos, em diversos graus, a presença de imagens do próprio grupo e o conhecimento explícito dos valores e estilo de vida que representam o seu grupo: 53 “Yo, por ejemplo, cuando voy al cine voy vestido bien, es una costumbre que nosotros tenemos los guatemaltecos.” (S2: 357-358) Reparamos também a forte ligação afetiva com membros do próprio grupo étnico mostrada através dos sentimentos de segurança sentidos com os padrões culturais do próprio grupo em contraposição aos padrões culturais do outro grupo: “Aquí se mezcla mucho, aquí se mezcla mucho,…el problema es que mi tío gana una parte de eso, pero sigue con la otra parte del chileno, así entonces es un poco difícil, que, de repente, yo puedo estar discutiendo con él una cosa muy seria y él se va y vuelve a los cinco segundos y quiere darte unas risas, entonces…es como que se le olvidan las cosas…y…bueno…” (S5: 161-164) “(...) salir de mi casa, de mi familia donde lo tengo todo, porque como falei antes, como hablé antes la familia es una fortaleza…nuestra.” (S6: 247-248) Notamos também os vínculos morais estabelecidos com os membros do próprio grupo que são mostrados através da importância dada à aprendizagem da própria língua (Q: 27) e da importância de ajudar as pessoas do próprio grupo: “(...) mi papá tenía unos amigos que…eh, por suerte viven aquí en Brasilia, y entonces ya con ellos nos ayudamos, que es un brasileño que está casado con una guatemalteca, entonces ellos nos ayudaron (…)” (S4: 84-86) Também temos que considerar o forte prestígio da língua e cultura hispânica não somente entre eles próprios, mas também entre os próprios brasileiros, coisa que, por enquanto, não acontece no sentido contrário: “Es complicado porque yo llegué sin saber nada de portugués, o sea…porque nunca, nunca,…en Colombia no se tiene mucho contacto con el portugués. En Colombia se habla español y en las escuelas, colegios,…y en las universidades se estudia inglés, de pronto también francés, mas portugués, no. Entonces yo no tenía contacto con el portugués.” (S6: 69-72) 54 Essa consideração é importante porque os nossos sujeitos se percebem como formando parte de uma minoria no país de acolhida, porém com um peso demográfico e lingüístico importante no mundo: “(...) solo me juntaba con los latinos…los hispanofalantes, la verdad.” (S2: 431) Por esse motivo, sabem que não podem ser facilmente desvalorizados, e isso faz que também não abandonem facilmente as próprias tradições e costumes e até a língua, a qual goza de um prestígio muito alto tanto entre uns como entre os outros: “…para mi la dificultad mayor fue la lengua, a veces pensaba: ¡Dios mío! ¿Por qué esa gente no habla español? Sería todo más fácil, sería…mucho mejor.” (S6: 324-326) “...para mi es un placer cuando encuentro una persona para hablar en español” (S6: 273) Assim, nossos sujeitos se encontram em uma situação em que aprender espanhol para os brasileiros deixou de ser uma opção remota para se tornar uma necessidade. Além do Mercosul, há ao longo da fronteira do Brasil um enorme mercado, tanto do ponto de vista comercial como cultural, que não fala português. Para interagir, portanto, com esse mercado, os brasileiros estão querendo aprender cada vez mais a língua e a cultura dos vizinhos hispano-americanos e isto faz com que muitas vezes o recém chegado, hispanofalante, se depare com situações em que os outros, brasileiros, facilitam a comunicação até o ponto de eles trocarem de língua para assim aprender melhor o espanhol: “(...) aunque bueno al principio ellos hacían más el esfuerzo de hablarme en español que yo en portugués (…)” (S3: 196-197) A força da língua e da cultura espanhola no mundo é um fato, portanto, reconhecido pelos nossos sujeitos, o que faz que sua posição às vezes não seja tão subordinada assim. Até podemos observar posições totalmente contrárias, de se sentir como uma cultura superior, 55 dominante (Q: 24: dois sujeitos a avaliam como sendo superior), e outras mais neutras, de achar que as duas culturas têm o mesmo valor: “Yo no lo miro mal ni lo miro bien tampoco…No sé.” (S4: 244) Se, além disso, observamos fatores como a preservação das próprias tradições étnicas, como por exemplo a elaboração das comidas, concluiremos dizendo que mesmo não sendo nossos sujeitos um grupo formalmente compacto, eles se sentem, sim, como parte de um grupo que não é o de acolhida. Tipo de integração Os sujeitos pesquisados mostram diferentes tipos ou estratégias de integração, tal como descreve Schumann no seu modelo de aculturação. S1, por exemplo, opta por uma estratégia de preservação, preservação do próprio estilo de vida, dificilmente reversível já por causa do curto período de tempo que vai passar no Brasil. O olhar dela sobre a cultura do Outro é de estranheza, incompreensão e até de rejeição. A cultura do Outro é qualificada no seu discurso como “rara”, “estranha”, incompreensível e, portanto, é rejeitada: “(...) el lenguaje muy raro” (S1: 306) Além disso, observamos que os hábitos de S1 têm mudado pouco, já que, por exemplo, segue os horários do Chile em relação a comidas (ela se surpreende com o horário tão cedo do almoço do Brasil e também coloca o exemplo, chocante para ela, de uma amiga que a convidou para jantar às 18h30): “(…) es raro que aquí se almuerce a las doce, no” (S1: 423) Em relação às refeições brasileiras, ela afirma não gostar da mistura e da pouca variedade. Segundo ela, há poucas saladas, não tem peixe e as comidas em geral são pesadas – coloca o exemplo da feijoada. Ela também não gosta dos restaurantes de comida a quilo e do fato de ter que se servir no jantar: 56 “No, lo encuentro extraño también, la comida a kilo, pero igual es buena también” (S1: 280) Continua chocada com a cidade e diz não encontrar muitas coisas que procura, fala da dificuldade de encontrar Internet, locais que sirvam café, como no Chile, bem carregado, e se descreve como percorrendo a cidade sozinha, dando uma imagem própria de solidão e desorientação: “(...) estaba un poco confundida,…sólo caminar, rodar por la ciudad.” (S1: 130-131) No caso de S2, o processo de migração e o choque de culturas lhe produzem um problema de identidade que tenta solucionar através de uma atitude de rejeição ao Outro. Ele considera muito importante conservar sua identidade e suas características culturais e lhe supõe um grande esforço manter relações com o outro grupo: “(…) era aquella discriminación horrible, hasta yo me decía: no hombre, ya. Entonces tuve que ir cambiando poco a poco, de verdad, porque no podía hacer eso, pues estaba en este país, tengo que vivir aquí, tengo que me meter, tengo que convivir con ellos, de verdad, pero… sí, me ha costado (…)” (S2: 346-349) A sua estratégia de integração é a de preservação, já que continua conservando suas tradições, dieta, hábitos de vestir etc., ainda que timidamente comece a incorporar alguns elementos novos: “La comida, comer arroz y frijol todos los días en el almuerzo, y frijol en el almuerzo, no, nunca, eso nunca había hecho yo (…)” (S2: 374-375) É interessante observar que o fato de terem viajado e conhecido outros países, no caso de S1 e S2, não facilitam a sua integração na nova sociedade (Q: 30). Assim, S2 tenta passar uma imagem cosmopolita, de pessoa que tem viajado muito, e que está disposto a conhecer outras culturas, mas isso não significa, em nenhum momento, que tenha um interesse real de conhecer o Outro: 57 “Fuimos a Japón, fuimos a no sé donde,…que habíamos conocido el mundo, verdad, pero no habíamos conocido el Brasil.” (S2: 174-175) “Quería conocer algo nuevo,…algo que no tengo, algo nuevo, quiero conocer ciudades nuevas, quería conocer algo nuevo, así de simple, como, por ejemplo, estoy aquí y ahora quiero conocer algo nuevo, quiero ir a Argentina, quiero ir a Chile, quiero ir a Perú, quiero ir a cualquier otro lado.” (S2: 178-181) S3, S4, S5, S6, diferentemente, maximizam o seu contato com brasileiros, já que estão interessados em aprender a língua-alvo para uma melhor integração social. Eles têm adotado a estratégia de aculturação: “Yo también veo mi reacción que es bien diferente de la de ellos…entonces… realmente pienso que estoy realmente medio…como quien dice, no sé si es la Biblia, donde fueres haz lo que vieres, entonces me siento como que le estoy haciendo mal.” (S5: 252-254) S5, por exemplo, já está no caminho da aculturação: “La adaptación a la sociedad brasilera no me ha costado mucho la verdad” (S5: 118) “(...) porque uno cuando llega acá llega a mojarse del país que llega, a pesar de que normalmente quiere traerse cosas de donde viene, de su país, de mostrarlas, y muchas veces mal queriendo implantarlas, pero al final uno termina viendo, mojándose más que el mismo brasilero de lo que pasa en su país.” (S5: 328331) Na realidade, S5 deseja voltar ao Brasil e obter um bom trabalho para assim poder trazer sua família e melhorar a qualidade de vida de todos. Podemos concluir, portanto, que o tipo de estratégia de S5 é a de aculturação, já que ele busca vantagens econômicas e sociais, às quais não pode lograr sem uma efetiva integração no trabalho e interação social, mas por outro lado não quer perder os próprios valores e quer preservar suas raízes culturais, que segundo ele, são muito fortes: 58 “Bueno...yo creo que mi forma de desenvolverme aquí ha cambiado, pero creo que mi raíz es demasiado fuerte, porque yo mismo encuentro…, bueno…me doy rabia conmigo mismo cuando encuentro que reaccioné muy brasileiramente de alguna cosa…” (S5: 257-258) De fato, quando perguntado (Q: 35), ele afirma que sua visão de mundo não tem mudado, já que suas concepções morais continuam as mesmas. S6, também, se sente acolhido e realizado, e até poderíamos dizer que está plenamente integrado. Sua estratégia de integração é a de aculturação: “E: ¿Te has adaptado bien? S6: Perfecto.” (S6: 37-38) “Yo soy un hombre de fácil adaptación” (S6: 395) Ele ainda diz que tem mudado em contato com a cultura brasileira (Q: 35), já que acredita que tem crescido não só profissionalmente como também pessoalmente. Diferentemente, S3 e S4 são os que mostram uma posição mais neutra em relação à sua cultura e à do Outro. Os dois manifestam uma estratégia de aculturação, no sentido do respeito que mostram para com a outra cultura; porém, continuam também mantendo o próprio estilo de vida e valores. De fato, todos eles continuam preservando, em diferentes graus, os próprios estilos de vida e hábitos: “(...) doce horas, yo no entendía como la gente almorzaba a las doce, yo sigo almorzando a la una y media, como siempre.” (S1: 420-421) “(…) ahora me he adaptado un poco y como a las doce, lo que pasa que después hago la comida horario brasileño, pero la cena horario español, no, entonces intento cenar nueve y media, diez, entonces más o menos” (S3: 343345) “Hay una cierta preservación de mi cultura porque yo soy muy, muy amante de las cosas de Chile, me gustan mucho (…)” (S5: 382-383) 59 Berry, no seu modelo de aculturação, prefere falar de estratégia de integração, pois não somente é tido como importante o fato de estabelecer e manter relações com outros grupos, como também o fato de conservar a própria identidade e traços culturais. Resumindo, a preservação das suas características, ligadas muitas vezes à própria identidade, é uma preocupação consciente, sobretudo nos que pensam na possibilidade de ficar mais tempo. Fechamento Os nossos sujeitos estão num contexto de imersão onde o português é a língua dominante. As possibilidades interativas em português são, portanto, grandes, mas nem todos aproveitam esse contexto de imersão: “Este año solo me toca portugués, lo que no me está gustando mucho.” (S2: 244) Dos sujeitos pesquisados, S5 é quem utiliza o português numa maior variedade de contextos (em casa, ao telefone, na rua, no trabalho, no banco, mercado, lojas etc.): “Sí, por eso cuando yo vengo aquí al curso…la profesora me reta porque yo hablo mucho español y es que yo paso todo el día en el trabajo hablando portugués, en la casa hablando portugués, en la calle hablando portugués, voy a algún lugar y hablo portugués y aquí tengo gente que habla español y me gusta practicar un poco de español, me gusta el idioma (…)” (S5: 93-96) E S2, diferentemente, só fala português na escola (S2: Q: 18), e podemos deduzir, quando é obrigado. S2 e S4 também mostram preferência por locais de lazer aonde majoritariamente vão outros hispanofalantes como eles: “(...) entonces son aquellas cosas que vamos al Caribeño (…)” (S2: 443-444) “(...) la única discoteca que a mi me gusta es el Caribeño.” (S4: 192) E S1 freqüenta os bares de Brasília em companhia do seu próprio grupo étnico: 60 “No, no he ido con brasileños, he ido con otra gente la verdad, no…chilenos.” (S1: 320) Em conclusão, através das respostas ao questionário (Q: 18) e da análise das entrevistas, observamos que é nos espaços públicos onde os nossos sujeitos têm que se valer sempre do português, mas quando chegamos a um espaço privado como, por exemplo, a casa, normalmente a língua dominante é a língua materna, neste caso, o espanhol. Coesão e Tamanho do Grupo Pertencer a um grupo pode ser um elemento divisor ou de apoio. Às vezes, o tamanho do próprio grupo étnico já é suficientemente grande para não ter que tentar se relacionar fora dele: “E: ¿Tenéis un grupo para salir? S2: Sí, tres ecuatorianos, dos peruanos, tres bolivianos, dos argentinos, y…más algún paraguayo.” (S2: 434-435) Outras vezes, o próprio grupo facilita a adaptação dos recém-chegados: (...) y... los hermanos de mi papá tienen… están casi todos fuera del país, la mayoría aquí en Brasil. Están muy bien sucedidos y yo recibí la propuesta de venirme a vivir con mi tío (…)” (S5: 65-66) Todos eles, no entanto, são conscientes da necessidade de interação com os brasileiros para facilitar a aquisição do português: “(...) cuando llegué no tenía mucho contacto, sólo en el supermercado, había que tenerlo y no tenía mucho contacto” (S1: 119-120) “Es una de las cosas que me está dificultando aprender portugués, que yo tendría que tener amigos brasileños.” (S2: 459-460) 61 “y por cuestiones del portugués es mejor relacionarme con brasileros” (S6: 149) E, realmente, vemos a importância de pertencer a um grupo, de ter uma rede social, para facilitar a adaptação à nova cultura: “Sí, porque los lazos afectivos son fuertes, pero no, entré en el trabajo…empecé la correría, todo eso, y la situación a mejorar, o sea, a entender lo que la gente habla, ya los relacionamientos con la gente mejores, ya a sentir que tenía amigos, a sentir que conseguí lazos de amistad con varias personas.” (S6: 265-268) No entanto, escolhem muitas vezes a auto-exclusão: “(…) entonces trataba de alejarme un poquito y sólo me juntaba con los latinos…los hispanofalantes, la verdad.” (S2: 430-431) Podemos notar, contudo, que a maioria dos sujeitos pesquisados, apesar de poder optar a uma rede social suficientemente grande em espanhol, já que eles se reconhecem como formando parte de um grupo maior, que é a comunidade latina, prefere, muitas vezes, priorizar os relacionamentos com a comunidade de acolhida: “Eh…había una fiesta de colombianos en la embajada y por razones de trabajo yo no pude ir, que era como el momento de conocer y quedarme con ellos, después empezaron a programar otras cosas y no coincidía con mis horarios y después yo viajé a Colombia, estuve quince días, en esa época también hubo una reunión, así cosas, y …solamente una vez fui a una fiesta y no tampoco, tampoco, o sea, tampoco es como mi interés…y por cuestiones del portugués es mejor relacionarme con brasileros.” (S6: 144-149) 62 Concordância cultural A concordância cultural, segundo Schumann, refere-se ao fato da semelhança entre as culturas dos dois grupos. Nas respostas ao questionário (Q: 24), quatro dos nossos sujeitos pesquisados avaliam as duas culturas como semelhantes, enquanto dois acreditam que sua cultura de origem é superior à cultura brasileira. Nas entrevistas, observamos diversas colocações dos nossos entrevistados com relação à sua visão das duas culturas: a de origem e a de chegada. As duas são sempre comparadas em seu discurso, e a outra cultura é sempre vista a partir da ótica da própria cultura, dos próprios valores. Todos eles, porém, coincidem na percepção da diferença da cultura brasileira com relação às outras: “(…) creo que la cultura brasileña es bien diferente a las demás, verdad, aquí en Sudamérica (…)” (S2: 573-574) Tentando se mostrar neutros na valorização das respectivas culturas: “(...) y llegué acá y vi la sociedad brasilera y al principio vi…cucha aquí son bien diferentes como en Chile o bien diferentes como yo pienso que… es lo normal o lo bueno, bien diferente, no malo, pero es diferente” (S5: 325-327) “(…) y…así de cultura, y de personas, yo creo que son iguales, las dos culturas bien, bien alegres (…)” (S4: 100-101) Em resumo, se avaliarmos em geral a concordância cultural entre a cultura brasileira e a cultura latina, poderíamos dizer que existe uma grande semelhança nos aspectos culturais. O sentimento geral do povo de acolhida é também um sentimento de estar mais próximo da cultura latina que, por exemplo, da norte-americana. Segundo Schumann, se duas culturas são similares, é mais fácil a aquisição de L2, e nós acrescentamos a aquisição da cultura inerente a essa L2. No entanto, há, sim, diferenças culturais e estas são notadas por nossos sujeitos pesquisados, como comentamos, sobretudo, quando falamos de choque cultural e diferenças culturais percebidas. 63 Atitudes Acredita-se amplamente que existe uma relação estreita entre atitudes positivas e sucesso na aprendizagem da língua. As atitudes dos nossos sujeitos nem sempre são positivas para o povo de acolhida. Assim, já no questionário, obtemos algumas respostas negativas a perguntas que estão valorizando atitudes como: Q: 23: Tem interesse em conhecer a cultura brasileira? (5) SIM / (1) NÃO Q: 28: Acha importante que os seus filhos aprendam português? (4) SIM / (2) NÃO Q: 33: Acha importante se relacionar com brasileiros? (5) SIM / (1) NÃO Observamos como alguns dos entrevistados optam por ter atitudes totalmente etnocêntricas, quer dizer, percebem o próprio grupo étnico como sendo superior ao outro grupo: “Soy alguien que escojo, por ejemplo, si alguien es demasiado perezoso yo no puedo estar con él, necesito alguien activo, la verdad, porque sino yo también me duermo, también, la verdad, yo necesito alguien…, si veo que alguien es un poco bruto, tampoco voy con él, la verdad, entonces, también tengo que escoger bien, y aparte como no dominaba la lengua, no era como que podía conocer a la persona (…)” ( S2: 426-430) Contudo, a maioria dos entrevistados mostra atitudes positivas: “A mi me gusta. Me gustó mucho, y… entonces… voy a aprovechar al máximo. En este momento me gusta, me siento bien, estoy bien adaptado (…)” (S6: 60-61) Às vezes, mostram atitudes muito positivas, pois para eles vir ao Brasil representa parte de um sonho finalmente realizado: 64 “Porque mi sueño era venirme aquí a estudiar, eh…yo quería venir a estudiar arquitectura aquí en Brasil, no en otro lugar, ni inclusive ni en mi país (…)” (S4: 44-45) Desconsidera-se às vezes a importância das atitudes também do povo de acolhida, uma vez que atitudes negativas podem gerar rejeição no recém-chegado e, diferentemente, atitudes positivas produzem simpatia e vontade de compreender melhor o outro: “(...) yo lo destaco y lo resalto, la gente se ha manejado muy bien, se ha comportado muy bien,… excelente, la acogida ha sido…Yo no puedo decir que la gente me ha rechazado por ser extranjero, por ser colombiano, porque nosotros los colombianos tenemos un estigma a nivel mundial.” (S6: 151-154) Podemos observar, como já tinha dito Brown (1994), que os aprendizes de uma segunda língua são beneficiados de atitudes positivas e, diferentemente, atitudes negativas podem provocar, com freqüência, um desinteresse pela língua e cultura do outro. Tempo de residência Segundo Schumann, quanto maior é o tempo de permanência planejado, maiores são as possibilidades de aculturação. Quanto ao tempo de residência dos nossos sujeitos, temos que distinguir entre o tempo que eles realmente estão morando no Brasil e o tempo planejado de residência. Isso faz bastante diferença. Em geral, o tempo de residência dos nossos sujeitos é curto, e assim há alguns sujeitos que chegam e já sabem o dia em que vão embora: “Es que yo ya sé, me voy en marzo de 2006 yo” (S1: 66) “Hasta el 9, bueno hasta el 15 de diciembre más o menos” (S3: 94) Porém, há outros que planejam morar definitivamente ou ficar mais tempo do que o previsto: 65 “...quiero quedarme a vivir...yo si llego a alcanzar esa bolsa voy a volver aquí a estudiar” (S5: 179) Observamos também nos nossos entrevistados o quanto é importante o fato de ter um trabalho e uma segurança de trâmites burocráticos – visto de permanência – para se decidir a ficar: “Por eso yo quiero volver a Chile, donde yo pueda trabajar también” (S1: 385) “Si yo consiguiera un trabajo o algo así, tal vez sí, me quedaría” (S4: 129) Em resumo, o tempo de permanência no país dos nossos sujeitos é uma das variáveis importantes no desejo do aprendiz de se integrar e, portanto, aprender os valores da culturaalvo, já que um maior tempo de residência possibilita estabelecer umas relações afetivas maiores com os membros do outro grupo. Choque lingüístico No decorrer da análise das entrevistas, pudemos observar que, de fato, tal como já indicam numerosos estudos sobre o tema (Almeida Filho: 2001; Fernández: 1997; Briones: 2001; Cunha e Santos: 1998), para a maioria dos pesquisados, o português e o espanhol são línguas muito semelhantes. Essas semelhanças existentes entre as duas línguas em todos os níveis, morfológico, sintático, semântico e fonético-fonológico, facilitam já logo no início dos primeiros contatos a inter-compreensão entre os dois grupos, fazendo que os avanços num primeiro estágio sejam muito rápidos. Por outro lado, também possibilita constantes interferências da língua nativa, sendo encontrados muitas vezes prematuramente muitos erros já fossilizados, difíceis de serem corrigidos posteriormente: “(...) lo que tengo muchos problemas en que mezclo el español con el portugués, la verdad, es como para que no, entonces la maestra no me entiende (…)” (S2: 500-501) Surge assim, muitas vezes, o chamado por eles mesmos de portunhol, que de uma perspectiva positiva é um sinal de progresso (interlíngua), mas que em muitos casos o 66 aprendiz acaba acreditando que esse nível de interlíngua já é suficiente para se comunicar e não procura progredir. “(…) y tampoco me cuesta hacerme entender porque las personas me entienden aunque yo mezcle las lenguas, de verdad, me entienden” (S2: 533-534) Podemos observar também como eles expõem exemplos dessa fala, extremamente simplificada: “Simplemente que era como... cuando viene un...un norteamericano viene a Chile o a España: yo querer comida. Una cosa así (Risas). Eh…Entonces… el día a día vas midiendo las palabras, eh,…los verbos, los tiempos verbales…” (S5: 227-229) Uma fala que produz insegurança no aprendiz porque não é capaz de mostrar as verdadeiras capacidades (competências) de quem fala e é passada uma imagem que não se quer passar. Então, se produz o medo a que se refere Schumann, de ser considerado seu discurso infantil, cômico, e, portanto, o indivíduo que o fala desvalorizado: “Ah! Mal. Me siento molesta, boba, así. Me siento mal” (S1: 221) À pergunta no questionário “Se sente confortável falando em português?” (14) dois sujeitos responderam que não e quando foram perguntados “Acha que quando fala em português suas palavras refletem adequadamente suas idéias?” (34), o número já subiu para três. Estas percepções sobre a própria competência lingüística são explicitadas nas entrevistas e observamos que nossos sujeitos realmente são conscientes de que nem sempre podem explicar adequadamente aquilo que querem dizer: “Me siento con las ganas de tratar de explicarme bien, por ejemplo, si no tengo algo yo busco la forma de cambiar la oración para poder decirlo, la verdad.” (S2: 489-490) “(...) terminas utilizando sólo unas palabras y no los sinónimos que a lo mejor sería más completo, entonces hay dificultad” (S3: 385-386) 67 “Ahora puedo conseguir expresar mis ideas eh…cien por cien. Bueno… si estoy en una fiesta y estoy con un trago de más eh…es un poco difícil porque se van mezclando las lenguas…y ahí sale…” (S5: 231-233) “En español yo tengo mil palabras para decir una cosa, aquí tengo una palabra para… Es restringido, es limitado” (S6: 281-282) Isso faz com que tenham realmente saudade de falar a língua materna (Q: 15): “Es que es muy rico, o sea…y cuando yo voy a Colombia me siento feliz porque no tengo que hacer ningún esfuerzo, porque a pesar que ya tengo quince meses aquí y que ya entiendo siempre hay que hacer un pequeño esfuerzo para entender y para hablar” (S6: 275-277) Alguns deles, porém, são conscientes das interferências provocadas em grande parte pela sua língua materna e acreditam ser necessário um estudo formal que consiga assim reverter a possível fossilização dos seus erros: “(...) porque aquí cuando ya más o menos chapurreas el portuñol, no, todo el mundo te entiende, no, y nadie te corrige y lo bueno de la PEPFOL es que te corrigen los fallos que tienes repetidos de pronunciación, no sé, de palabras que utilizas medio en español que ellos entienden, pero yo no sé que está errado, entonces ellos mismos me…” (S3: 121-125). Apesar das semelhanças constatadas e, portanto, da aparente facilidade de intercompreensão entre os dois grupos, o choque lingüístico entre os nossos pesquisados não deixa de ser grande e chega a ser considerado por muitos deles como o principal problema de adaptação: “Yo llegué aquí y sin saber absolutamente nada. Las personas hablaban y para mi estaban hablando en chino. No conseguía entender,…para hablar…la única dificultad en realidad que yo tuve aquí fue con la lengua” (S6: 73-75) 68 E isso apesar da receptividade dos brasileiros, do esforço, geralmente, que realizam diante do estrangeiro para fazer-se entender e eles entenderem até o ponto de muitas vezes mudarem de língua se for possível, eles que são, na realidade, o povo de acolhida: “(…) aunque bueno al principio ellos hacían más el esfuerzo de hablarme en español que yo en portugués, no, porque yo mismo, el choque era muy grande, yo no tenía…” (S3: 196-198) A respeito da aquisição do português, todos eles relatam algumas das estratégias que têm usado ou usam habitualmente e podemos observar como são conscientes do seu uso: “(...) diarios, Veja, también televisión” (S1: 407) “Trato de pensar en portugués porque yo creo que toda la gente piensa en su cabeza, de verdad, entonces yo trato de cambiar las palabras en español para el portugués, trato de decir cómo se diría esto, y en lugar de preguntarle, yo tengo hábito de buscarlo (…)” (S2: 476-478) “(…) no puedo traducirlo totalmente…” (S2: 496) “(…) me dio para hacer el oído, cosa que es bastante importante, viendo la tele y tal (…)” (S3: 191) “(…) a partir del cuarto mes se produce un cambio cualitativo donde empiezas a entender, empiezas a poderte desenvolver mejor en el idioma, incluso sueñas en francés o en portugués ahora, empiezas a pensar, a pensar (…)” (S3: 60-62) “Entonces pensaba y trataba mentalmente de inventar estrategias para indicar cualquier cosa” (S6: 304) O nível que apresenta talvez mais dificuldades para o aprendiz de uma língua estrangeira é o nível fonético-fonológico. É o nível que normalmente diferencia o falante nativo de determinada língua do falante estrangeiro. Alguns dos nossos pesquisados explicitam na entrevista as dificuldades encontradas para se fazer entender, devido a seu forte 69 sotaque e ao desconhecimento de algumas regras gerais da pronúncia do português do Brasil. Assim, por exemplo: “Tampoco ellos entendían mucho cuando yo decía la l, la r, no sabía eso, nada,…” (S1: 152) Também para eles poderem compreender os diferentes sotaques, os quais são expostos no seu quotidiano: “(...) no me entiende porque es de Río…No entiendo, no entiendo cuando me habla. Me dice et…etnia, la verdad. Etnia, yo lo entiendo, pero me dice etnia. Entonces yo pensé que era étnica o algo así, entonces no entendía,…” (S2: 501503) Mas os sujeitos pesquisados não somente percebem as diferenças existentes entre os diferentes sotaques, como também explicitam a diferença observada entre o português de Portugal e o do Brasil: “(…) yo tenía un libro por el que iba estudiando pero era portugués de Portugal, que era muy diferente, el audio por ejemplo, no tiene nada que ver (…)” S3: 200-201) De acordo com Fernández (1997), o léxico representa uma das dificuldades mais relevantes na aquisição de uma língua estrangeira. Assim, o espanhol compartilha 96 % das suas palavras mais freqüentes com o português, mas por outro lado, temos que considerar que muitas das palavras que supostamente são idênticas na ortografia em espanhol e português não necessariamente significam a mesma coisa em cada uma dessas línguas, ou seja, podem ser iguais na forma, mas não no sentido. Nesse caso, estaríamos diante de um fenômeno bem comum em línguas próximas, os falsos cognatos, o que leva o aluno a usar termos impróprios ou construções erradas. Ulsh (apud Almeida Filho: 2001) estabelece que “(...) mais de 85 % do vocabulário português tem cognatos em espanhol”. Os falsos cognatos podem produzir desde pequenas interferências na comunicação até uma total mudança de significado entre o que se diz e o que se queria dizer: 70 “Yo me fijo mucho en las cosas, la verdad, por ejemplo, cocô, la verdad, yo para mí era coco, pero yo me acuerdo que oí una niñita decir: cocô cachorro, entonces me interesé y pregunté.” (S2: 543-545) “(…) las palabras que son típicas de latinos decir que no deberían decirlas, con significado diferente o la letra q que es cu para nosotros, entonces nunca tuve…” (S4: 153-155) Observamos, então, que durante a aquisição vocabular, a dificuldade que apresentam os nossos sujeitos decorre de transferências de designações da língua materna causando interferências comunicativas: “Estoy intentando recordar…a lo mejor cuando voy a pedir cesta, canasto, acá se dice cesta, no canasto. (S1: 162-163) Ou até constrangimentos: “Sí, con una palabra que aquí es palavrão, que las mujeres quedan así como avergonzadas y que en Colombia es normal, un medio de transporte urbano” (S6: 77-78) Que, às vezes, para sorte do aprendiz, podem ser tomados pelo outro como brincadeira: “(...) por ejemplo, la palabra molestar, que molestar yo creía que era normal, no, molestar. Aquí me dijo una vez un compañero: no, molestar es cuando tú estás molestando alguien pero sexualmente, no, entonces, es diferente, dice: a mi no me molestes nunca (risas)” (S3: 401-403). Podemos observar como alguns dos pesquisados explicitam esse tipo de mal-entendido lingüístico: “(…)utilizar palabras que aquí tienen connotaciones… a lo mejor sexuales, cosas así, por ejemplo, y que en España no, entonces si utilizan esa traducción 71 así libre que medio hacen entonces ellos te dicen: No, ten cuidado porque eso no significa lo mismo. Eso mucho. “(S3: 397-398)”. E outros, quando questionados, acreditam que nunca os tiveram: “No, para nada, eso está viendo, que no tengo ningún malentendido yo” (S2: 538) Também observam distintos estilos comunicativos: “Los distintos registros, no, cuando hablan con su pareja utilizan un registro y cuando hablan con los amigos utilizan otro y así. Yo siempre hablo igual.” (S3: 313-314) Um fato que nos surpreendeu, já quando realizávamos as entrevistas, era que apesar destas serem realizadas em espanhol, muitos dos entrevistados usavam palavras isoladas em português, nem sempre de maneira consciente e, portanto, apesar do pouco tempo de permanência no país, a sua fala já apresenta algumas interferências. O outro fenômeno apresentado é a mudança de código, usado, na maioria das vezes, pelos nossos sujeitos como um recurso comunicativo para dar ênfase, ou às vezes por falta de uma correspondência exata na outra língua, e também por hábitos adquiridos na fala quotidiana. “(...) porque unos compañeros de mestrado adoran aquello (…) (S3: 279) Os motivos são diversos. Assim reparamos como algumas palavras do português têm se introduzido com total naturalidade na fala espontânea de alguns dos pesquisados e que eles devem usá-las, com certeza, no seu dia-a-dia. Assim, todos eles apresentam, em um grau maior ou menor, diversos tipos de interferências, e muitas delas são expressões ou palavras que não têm um equivalente que se possa traduzir diretamente (mestrado, favela,) ou que talvez tenha uma conotação especial, se dita em português, dificilmente traduzível (feijoada, feijão, garotas, pedir carona, deixa para lá, brincadeira, mocinha,...). Apesar disso, muitas delas se revelam como palavras já muito introduzidas no dia-a-dia do entrevistado e, portanto, incorporadas ao idioleto do aprendiz quando sabe que fala com outra pessoa que está no 72 mesmo contexto que ele, quer dizer, que conhece também as duas línguas (turma, sorvete, diplomatas, hispanofalante, meninos, sumidas, cadeiras,...). E, finalmente, também encontramos exemplos em que o sujeito muda de língua porque está querendo representar a fala do Outro e esse Outro fala em português: “Que el trabajo não dava” (S1: 381) Em resumo, podemos dizer que o choque lingüístico experimentado pelos nossos sujeitos é bem maior do que eles percebem, às vezes, conscientemente, porém se reflete no discurso de todos eles. Choque cultural Quando o estrangeiro chega pela primeira vez ao país, é inevitável sentir um sentimento de desorientação: “No, no podía pasear, daba una vuelta a la cuadra y volvía a mi casa, no tenía sentido, no había parque, no había…, todavía no conocía los parques, era como una especie de…, no, era raro, no, porque es otra estructura, entonces era como un ser extraño metido en otra estructura, no me hacía bien…” (S3: 255-258) Sentimento que todos – menos S5, que já tinha vindo duas vezes ao Brasil – dizem ter experimentado nas respostas ao questionário (Q: 36) e na entrevista: “!Ah! Estaba confundida, llegué a la noche, entonces,…un poco confundida con la ciudad, el aspecto, los sitios,…” (S1: 109-110) “! Ah! Desconforto, porque estaba confundida, no tenía muchas amistades con brasileros, no tenía…oportunidad de entrar a estudiar todavía, entonces estaba un poco confundida, sólo caminar, rodar por la ciudad.” (S1: 129-131) Ao longo da entrevista com S1, observamos sentimentos fortes de raiva e frustração condizentes com o seu estado de profunda desorientação e mal-estar. Ela ainda sofre com o 73 impacto de um grande choque cultural, e uma das palavras que mais se repete no seu discurso é “confundida”: “Mal también, con rabia, confundida” (S1: 239) S2 nos mostra de uma maneira bastante explícita esse processo, descrito por Brown, que leva ao choque cultural: “Ah! Pues, primero no sé…el calor, lo primero que sentí, segundo todavía me sentí aliviado, al principio creo que me sentí aliviado, quería conocer algo y ya lo había logrado, había una meta cumplida, de verdad, entonces, poco a poco fue que no sé como que acá me sucedió, regresé a la cultura guatemalteca, de verdad, discriminé como a las dos semanas, al principio me sentía bien, como que estaba tranquilo, sentía que era una cosa que había logrado, entonces no me fijé en lo que estaba a mi alrededor (…) ya fue después, ya cuando me adapté, ya cuando vi que donde estaba y que no iba salir de aquí como que ya me dio la cosa de que: ¡Ah! Y ahí me empecé a fijar en todas las demás cosas que me fijaba en Guate, de verdad.” (S2: 585-594) E ainda manifesta uma grande sensação de perda: “(...) aquí yo sabía que iba a perder absolutamente todo, verdad, (…)” (S2: 132-133) O sentimento de perda se mistura com o sentimento de solidão, de saudade: “(...) me sentí muy mal porque me quedé totalmente sola y me quedé aquí en este departamento por seis meses, sola, sin conocer a nadie, sólo yendo a las clases de portugués en el PEPFOL, y era una cosa que los días se me hacían demasiado largos y sentía que nunca pasaban y extrañaba mucho todo porque estaba recién llegada y entonces era un poquito difícil eh pensar que había dejado todo y venirme aquí y saber que no conocía a nadie.” (S4: 156-161) E ainda também com o de alegria, de emoção, pelo encontro com o novo: 74 “(...) o sea era una mezcla, la emoción y la alegría de conocer otra cosa, yo pensaba: eso es espectacular, tener la oportunidad de conocer, de aprender otras cosas, bueno, y la tristeza de dejar (…)” (S6: 256-258) Estes sentimentos, porém, podem ser potencialmente produtivos para alguns, já que as diferenças culturais podem ser apreciadas mais claramente e o sistema de valores do indivíduo e o do Outro tende a ser relativizado. Encontramos, portanto, em todos eles, sentimentos de desorientação, estranheza, desconforto, tristeza,... (Q: 36), e em alguns deles de desvalorização da própria identidade e de perda de autoconfiança: “(...) me sentía inútil, eso, verdad, porque siempre me he sentido útil, pero aquí no podía hacer absolutamente nada, la verdad” (S2: 605-606) Mas outras vezes, como no caso de S4, identificamos esses sentimentos misturados com outros de alegria, de euforia. S4, por exemplo, nos descreve como se sentiu quando chegou ao Brasil e poderíamos realmente traçar um paralelo com o descrito por Brown para a primeira etapa no seu modelo de aculturação: “Cuando llegué aquí fue, fue extraño, porque yo después de tanto querer estar aquí, tanto…fue una cosa inacreditable, creo, porque yo llegué y no me sentía aquí, sino que yo todavía sentía que estaba en Guatemala soñando o una cosa así, porque fue demasiado grande para mí (…)” (S4: 76-79) À pergunta 32 do questionário, Acha que seu comportamento é adequado dentro da cultura brasileira? , houve um só “não” como resposta. Todos os outros, portanto, acham o seu comportamento adequado. Na análise das entrevistas, vemos como essa resposta ao questionário nos parece ser otimista demais, já que verificamos diversos mal-entendidos de tipo cultural. Precisamente, os códigos culturais do Outro são mais difíceis de apreender e exigem um tempo de observação. Os erros culturais, porém, têm piores conseqüências que os erros lingüísticos. A pouca competência lingüística, geralmente, é mais bem aceita por ser mais visível; já a competência cultural é mais sutil e, portanto, mais difícil de ser entendida como um erro de comunicação. As conseqüências mais negativas podem ser as incompreensões mútuas que podem levar a uma atitude totalmente contrária à esperada. 75 Assim, por exemplo, S1 mudou de opinião a respeito do brasileiro em geral a partir de alguns mal-entendidos culturais: “E: Respecto a la gente has cambiado. S1: Claro. E: ¿Podrías explicar? S1: No, respecto a la manera de ser (inaudible), dicen cosas que no se cumplen realmente” (S1: 334-337) Finalmente, observamos também como alguns casos de transferência de estilos conversacionais da L1 são avaliados negativamente e podem produzir erros na comunicação intercultural, que podem ter conseqüências muito negativas para os aprendizes de L2: “estáis todos contra mi, cogí, me levante y me fui, así riéndome, pero a ellos les chocó muchísimo (…). Hubo gente que realmente se quedó con la cara cambiada, entonces yo reconozco que para mí fue una broma, no, a más que muchas veces la hacemos allí en Sevilla o en España, no sé, eso de “estáis todos contra mí” (S3: 412-415) Em resumo, são bem visíveis em todos os nossos sujeitos os diferentes sentimentos que caracterizam o estado de choque cultural, segundo a definição dada por Larsen e Smalley em 1972, e retomada por Schumann no seu modelo de aculturação. Motivação integrativa/ motivação instrumental A motivação tem a ver com os motivos do aprendiz para aprender uma segunda língua. Na maior parte dos nossos sujeitos encontramos, num primeiro momento, uma motivação de tipo instrumental, já que a principal razão é a acadêmica (S2, S3, S4, S5): “(...) tenemos que hacer un examen, el CELPE-BRAS, tenemos que pasar el examen, entonces ya podemos entrar en la universidad…es como el vestibular para nosotros, tenemos que ganar ese examen para poder entrar en la universidad” (S2: 268-270) 76 “Ahora estoy presto para ir a Chile a dar la prueba” (S5: 169) Porém, não podemos separar tão facilmente os conceitos de motivação integrativa e motivação instrumental teorizados por Gardner e Lambert (1972) e recolhidos por Schumann no seu modelo de aculturação. Assim, consideramos também motivação integrativa quando observamos o desejo de integração de muitos deles (S3, S4, S6), mostrado no interesse em conhecer e conversar com membros do outro grupo. Também encontramos outros tipos de motivação que os levam a querer adquirir o português como L2, o que podemos ver através das respostas à pergunta 13 do questionário: Quais as razões por que você quer aprender português, em que obtivemos respostas como: para poder influenciar na opinião de outras pessoas. Respostas como estas estão ligadas, a um tipo de motivação maquiavélica (cf.: cap. 1), motivação clara no discurso de S6, para quem o domínio do português é essencial para o seu trabalho, e que se explicita na fala de S5: “(...) también me sirve como un arma de trabajo… en cualquier lugar, en Chile, aquí, en cualquier lugar me sirve como un arma de trabajo saber portugués…” (S5: 80-81) Outros sujeitos pesquisados, como S4, acrescentam ainda uma motivação intrínseca, quer dizer, uma motivação prévia ao contato com o outro grupo (cf.: cap. 1). No seu caso, ela já estava altamente motivada não somente para aprender português, mas também para se imergir num processo de aculturação: “(...) toda mi vida, prácticamente desde los diez años más o menos, yo soy una fanática de Brasil, me encanta, me fascina, y más que todo por el futbol, adoro jugar futbol, me encanta el futbol, verlo…eh…de todo, eh…más o menos a los trece años o algo así comencé a investigar cosas de Brasil, por hobby, y buscaba lugares y personas, cómo era aquí en Brasil y todo, inclusive mi papá me compró un diccionario de español-portugués y más o menos yo comencé a … digamos agarraba un papel que estuviera en español y comenzaba a buscar las palabras y ya me comenzaba a familiarizar con las palabras en portugués y así todo, eh. Siempre fue… mi hobby siempre fue Brasil, cualquier cosa.” (S4: 28-36) 77 Em resumo, embora predomine em todos eles uma motivação de tipo instrumental, pelas razões já comentadas, observamos também que a maioria dos sujeitos pesquisados apresenta uma vontade de integração ao grupo de acolhida e, portanto, também uma motivação de tipo integrativa. Permeabilidade do ego O conceito de permeabilidade do ego de Guiora (1972) refere-se à habilidade para renunciar à própria individualidade parcial e temporariamente. É um conceito muito relacionado com o conceito de identidade étnica. Dentre nossos pesquisados, o que apresenta um nível mais alto de permeabilidade do ego é S3. S3 já está acostumado a contatos interculturais, o que talvez tenha facilitado uma postura mais flexível e neutra. Ele está também pouco envolvido em condutas relativas ao seu grupo de origem, diferentemente dos outros pesquisados. Além do mais, se beneficia com uma imagem positiva que os brasileiros têm do seu grupo: “Si, yo le digo a la gente de aquí, de Brasil, que yo creo que ellos, por ejemplo, son más abiertos, así en un primer momento, en plan de: ¡ah! Español, muy bien, tal, no sé qué, todo el mundo muy simpático (…)” (S3: 210-212) Já S5, por exemplo, ainda que reconheça que tem mudado, apresenta um grau de compromisso alto e um forte sentido de pertencimento ao seu grupo étnico. Ele sente orgulho das suas características e não quer perdê-las: “yo creo que mi forma de desenvolverme aquí ha cambiado, pero creo que mi raíz es demasiado fuerte, porque yo mismo encuentro…, bueno…me doy rabia conmigo mismo cuando encuentro que reaccioné muy brasileiramente de alguna cosa.” (S5: 256-258) S2 e S6 também apresentam uma forte identificação com o endogrupo, e se autoidentificam sempre como sendo membros de um grupo determinado. Isso é mais explícito no discurso de S2, que sempre recorre ao: “nós, os guatemaltecos”: “(…) nosotros somos guatemaltecos, hacemos otras cosas (…)” (S2: 389) 78 S2 é quem apresenta o grau mais baixo de permeabilidade do ego. O contato com a cultura brasileira lhe supõe uma verdadeira ameaça à sua identidade e à construção dos seus valores internos, e, por isso, no seu discurso apresenta geralmente uma forte tendência a rejeitar novas informações que possam alterar os seus esquemas mentais. Podemos observar também a importância da língua como uma das características da própria identidade: “Se siente la falta de hablar español, de verdad” (S2: 598) “...para mi es un placer cuando encuentro una persona para hablar en español” (S6: 273) Finalmente, temos que levar em conta também que as tarifas aéreas relativamente baratas, menores custos do telefone ou a comunicação através da Internet (“E: Te escribes con ellos, tienes relación. S1: Ah! Si, por e-mail, por el Messenger.” (S1: 394-395)) permitem que as pessoas mantenham o contato com suas famílias e amigos, fazendo com que não seja perdida a identidade cultural originária tão facilmente. 3. 2. Dimensão Cultural Nesta dimensão objetivamos primeiro analisar e interpretar as diferenças culturais percebidas pelos próprios pesquisados a partir da constatação de diversos temas recorrentes no discurso deles, para depois analisar e interpretar as mudanças percebidas por eles no seu processo de aculturação. 3. 2.1. Diferenças Culturais Percebidas O Brasil, carnaval e futebol. O perfil do Brasil que os nossos entrevistados têm na sua chegada é chocante pelo profundo desconhecimento demonstrado, que se espelha ao longo das reflexões coletadas nas entrevistas. “E: Ya. ¿Qué idea tenías tú de Brasil antes de llegar aquí? S2: ¿Qué idea? 79 E: ¿Cómo te lo imaginabas antes de venir aquí? S2: Pues la verdad es que no tenía idea y eso es lo que me llamó la atención.” (S2: 182-185) “Se conoce Río de Janeiro, carnaval también, música, telenovelas brasileñas, nada más que eso, poca cosa.” (S1: 330-331) Esse perfil compreende algumas imagens estereotipadas que se reduzem muitas vezes a carnaval e futebol: “(...) me preguntaban Brasil y tal, decía, bueno, Brasil era fútbol y carnaval, era más o menos la imagen, no la imagen que tienes, pero la imagen que te dan los medios, no, no hay otra imagen así de Brasil (…) (S3: 235-237) S6 explicita também a imagem divulgada pelos meios de comunicação internacionais, uma imagem que liga o Brasil a um perfil positivo, porém exótico: “(...) yo sé que los deportes aquí son buenos, se destaca a nivel nacional y a nivel mundial y… el fútbol, eh… como yo estudié Educación Física. Otro, que…las mujeres lindas, o sea, la imagen que se tiene en Colombia es que la mujer brasilera…son mujeres lindas…Las garotas, que el viejo tiene suerte, porque las garotas…entonces te haces la idea que las garotas, que las mujeres brasileras son muy lindas, es como el imaginario de que todas son lindas y… fiesta, o sea que la gente es muy abierta, de mente abierta, mejor. Yo llegué aquí y me imaginaba eso, bueno, sé en ese momento, que hay ciudades y estados que sí son de mucha fiesta, de mucha rumba, casi todo el tiempo, de las mujeres lindas, tienen mujeres lindas, mas no es la mayoría.” (S6: 166-174) Observamos na fala de S6 como essa exotização pode levar facilmente ao preconceito de gênero, a uma imagem totalmente estereotipada da mulher brasileira. Essa imagem construída já não é simplesmente “mulher”, mas uma etiquetada de: “garota” ou “mocinha”: 80 “(...) y me usaron de traductor para todos sus contactos, si ellos querían hablar con una mocinha yo tenía que ir y traducir, lo que ella decía, lo que ella hacía, cualquier cosa tenía que traducir (…)” (S5: 223-225) O calor também é associado a certa imagem do Brasil, a um Brasil indolente, um Brasil “dormido”, utilizando as palavras de S2 que se refere assim num trecho da entrevista: “Pues aquí estoy durmiendo yo también (…)” “(…) aparte que el calor como que cae a las personas, de verdad” (S2: 301-309) Nossos sujeitos, contudo, reconhecem que essa imagem prévia construída é uma imagem reducionista e que, na realidade, eles não sabiam nada do Brasil: “(...) no sabía mucho,... no sabía nada” (S1: 327) O Brasil também tem a imagem de “país das oportunidades”: “Aquí las oportunidades están a mares, aquí hay oportunidades para todo, para hacer de todo, para vivir de cualquier forma, hay que buscar la que a uno más le gusta” (S5: 379-380) E representa para alguns dos pesquisados (S4, S5, S6) a possibilidade de mudança, de romper com a pressão do próprio grupo e de crescer profissionalmente e, sobretudo, individualmente, como indivíduo: “(…) aquí es otra cosa, soy yo. Crecí mucho como persona, profesionalmente muchísimo, y la visión se cambia, la visión del mundo, de las cosas.” (S6: 386387) Outra imagem repetida nos nossos pesquisados com relação ao Brasil é a imagem que sugere certa liberalidade dos costumes e uma ausência geral de controle social: “Si, yo creo que Guatemala en si es un país más conservador y Brasil es más liberal, (…)” (S4: 234-235) 81 “Chile es un país un poco más serio y severo en relación con ciertas cosas, es poco permisivo (…)” (S5: 14-15) Liberalidade ou tolerância com relação aos diversos grupos sociais que deixa admirados a alguns dos nossos pesquisados: “(…) Aquí es fiesta todos los días, bueno, no es tan diferente de Guate…pero no es tanto fiesta, sino que es reunirse con los amigos y todo eso y la mentalidad que es un poco bien liberal, que es otra cosa que me…hay mucho gay aquí y uno los mira agarrados de las manos por la calle, para mi eso es falta de respeto, la verdad, es otra cosa que también no, no… me choqueó la verdad.” (S2: 407-411) O Brasil, porém, oferece aos nossos pesquisados a possibilidade de levar uma vida mais simples, tranqüila e descontraída, graças à informalidade para se vestir e se relacionar e à sua sociabilidade flexível em geral: “Si. Bueno, aquí las personas son felices sin necesidad de nada, por ejemplo, usted los verá en chancletas a los brasileños en las calles, usted no puede hacer eso en Guatemala, lo discriminan totalmente, le dicen indígena, le dicen…la verdad, entonces usted tiene que llenar las expectativas del pueblo para poder vivir allá (…)” (S2: 202-205) Uma das diferenças percebidas por nossos sujeitos é a imagem que têm do Brasil como um país que obriga a viver dentro de certa improvisação: “(...) Mas que nada la gran diferencia pienso yo… es la informalidad, sigue siendo, la informalidad de las cosas, la incerimonialidad.” (S5: 529-531) Outro aspecto que alguns constatam é a desigualdade social: “Porque yo llegué a Brasil con una idea casi certera en cuanto a mi punto de vista eh…de acuerdo lo que sería o no eh…bueno para una sociedad o para el 82 desarrollo de una sociedad equitativamente, equitativamente, no igualmente que es diferente, y llegué acá y vi la sociedad brasilera (…)” (S5: 323-326) “(…) La administración aquí está, es todo muy…teatral, porque aquí acontece, pienso yo, que aquí alguien que tiene un poco de poder lo ocupa y lo ocupa para siempre (…)” (S5: 336-338) “(…) ahora conociendo todo Brasil, sabiendo que es un país… de una pobreza alta (…)” (S4: 135-136) Apesar disso, não encontramos somente imagens estereotipadas do Brasil por parte dos nossos pesquisados, mas também observamos através da fala deles como eles são vistos pelos brasileiros: “La gente tiene…por ejemplo con los adolescentes con los que yo trabajo cuando me preguntaban de dónde era yo…y decía Colombia, inmediatamente: ¡ah! Coca, coca, maconha. Todo mundo relaciona con “violencia y drogadicción.” (S6: 156-159) O Brasileiro, o homem cordial. Quando perguntados sobre a imagem que teriam dos brasileiros, quase todos os entrevistados coincidiram em ver o brasileiro como cordial, receptivo, alegre, despreocupado, informal e tolerante, imagens que, na maioria, são positivas: “Son receptivos, tengo dificultad con algunas personas solamente, pero bueno” (S1: 190) “(...) pues yo siempre imaginé que era un pueblo simpático, la verdad, que iba a ser un pueblo simpático, amables, generosos y no tan complicados como la sociedad de Guatemala donde yo me desenvolví.” (S2: 195-197) “Los brasileños son muy buena gente (…)” (S4: 110) 83 De fato, a tolerância do brasileiro é destacada por todos eles até o extremo de chegar a ser chocante para alguns dos nossos sujeitos: “(...) cuando el chileno se enfada eh…revienta al que se esté por delante con palabrotas, o está tan enojado que al final ya no se acuerda ni porque se enojó. Aquí no, aquí la persona se enoja y te dice otro tipo de cosas, así como que se enoja contigo pero no es agresivo, no es agresivo, se ríe, bueno a no ser que sea una persona de una índole más o menos agresiva, se ríe, de dice… vai a tomar banho,…Aparte que aquí no se enojan por nada.” (S5: 242-247) “Uno le puede estar diciendo cualquier cosa a una persona y no se enoja…es muy…La capacidad de sentirse ofendido aquí es mínima…entonces es…divertido porque…” (S5: 249-250) A tolerância é percebida como uma qualidade positiva que o brasileiro tem, mas ela também pode tornar-se facilmente negativa quando cai no conformismo. O conformismo como conduta de vida do brasileiro em geral é observado pela maioria dos nossos pesquisados: “(...) no ser tan conformista porque nunca se va a poder tener algo, nunca se va a poder sentir...” (S2: 221-222) “La verdad pienso que el brasilero es medio conformista, el que está abajo, el que está abajo es muy conformista, en el sentido de que si él, él o ella está contento con la vida, porque está vivo, ¡ah! La vida es linda, todo eso, eh…no…Carnaval y fútbol están contentos.” (S5: 354-356) A despreocupação do brasileiro é outra das características que todos eles destacam como sendo diferente em relação à sua cultura de origem: “(...) sino de no darle importancia a las cosas...” (S5: 270-271) “(...) Falta más... como compromiso, mas compromiso… así…” (S6: 130-131) 84 Essa despreocupação pode chegar a ser percebida por nossos sujeitos como muito negativa quando atinge o modo de ser de toda a sociedade. Assim, não são facilmente compreendidas reações dos brasileiros que eles qualificam como extremamente passivas: “(...) la sociedad misma no toma conciencia de lo que está pasando, es muy difícil encontrar que alguien esté…eh que alguien denun…normalmente ¿en Chile qué pasa? Tiene una reunión social, mismo sea medio festiva, va a salir el tema, y va a haber una discusión, mismo sea con tus tíos…no existe una discusión neutra. Aquí no, aquí ni se habla” (S5: 274-277) Ou quando é relacionada com a falta de responsabilidade em áreas como, por exemplo, o trabalho: “Es un modo distinto, se toman las cosas de otra manera, como el trabajo…” (S1: 350) “(…) la gente es más difícil en el área del trabajo, que la gente es más, o sea, cómo llamarle, o sea, el colombiano es muy trabajador y muy responsable, trabaja mucho.” (S6: 115- 117) Existem também diferenças entre uma cultura e a outra que se refletem em pequenos atos quotidianos que normalmente não são ensinados, senão aprendidos na experiência: “No sé bien como relacionarme aquí” (S1: 228) S3, por exemplo, observa no comportamento dos brasileiros com os quais trata uma necessidade de intimidade à qual ele não está acostumado, e é como se o brasileiro tentasse mostrar através dessas manifestações uma espécie de solidariedade entre as pessoas. “No, la relación es muy diferente, muy diferente, en el sentido que, lo que comentaba antes, no, al principio es más cercano, pero también mismo la forma… no sé… de plantear las cosas del día a día, del cotidiano, no, como que hay muchas diferencias en los sentidos muchas veces, es decir, en los sentidos, como construyes el sentido de una cosa o de otra, no, aquí creo yo que es todo 85 más… tiene más que ver con una cercanía de las personas, no, las personas tienen esa necesidad de tener una cercanía con la gente que les rodea, como una especie de confianza, no sé, y yo reconozco que no tengo tanto esa necesidad de cercanía, no. E: ¿De intimidad, quieres decir? S3: Claro, de intimidad, de hablar con la gente. Aquí, por ejemplo, te hablan, te intentan hablar mucho de lo personal, no, rápidamente: ¡Ah! ¿Cuál es tu horóscopo?, no. Entonces directamente te teorizan sobre tu horóscopo, el día que naciste, que estaba la luna en el sagitario, cosas así. O te preguntan también rápidamente por las relaciones de pareja, no, hablan mucho de eso, no sé qué, y yo reconozco que esas cosas no, primero no las hablo normalmente incluso ni con mis amigos, no, no… (S3: 283-296) Uma das coisas que o hispanofalante tem que aprender na convivência diária é que os brasileiros evitam opor-se ao interlocutor – ao menos claramente –, e, por isso, só usam digressões dificilmente entendidas pelos nossos sujeitos. Um “não” de um brasileiro é um “talvez”, “vamos ver”, “pode ser”, “eu ligo depois”, “é difícil”, “não dá”,... Com este tipo de mal-entendidos deparam-se os sujeitos S1 e S3, mal-entendidos que podem causar realmente dificuldade nas relações sociais: “E: ¿Te fue difícil hacer amigos aquí, te fue difícil tener amigos brasileños? S1: ¡Ah! Sí, un poco sí, porque no sé los códigos brasileños, cómo se relacionan aquí. E: Cuando hablas de códigos,… ¿Qué quieres decir? S1: La manera de comunicarse, de relacionarse.” (S1: 134-137) “E: ¿Por qué no podía?, ¿Qué te dijo? S1: Que el trabajo “não dava.” (S1: 380-381). Outras expressões que com freqüência causam mal-entendidos entre os hispanofalantes são: Te ligo amanhã, que não é mais que uma forma de encerrar uma conversação, e significa apenas Tchau, ou Apareça lá em casa um dia destes: 86 “Eso, aquí dicen algo y a lo mejor no cumplen, algo así, que a veces…” (S1: 232) “(…) todo el mundo muy simpático, están con el teléfono, te voy a llamar, no sé qué, así muy abiertos de pronto, no, como si fueran de pronto tus mejores amigos (…)” (S3: 211-213) “(...) en un primer momento era muy abierto, pero después en realidad no, no, no era tanta confianza y algunos me contaban la anécdota que, por ejemplo, aquí hay sitios en el interior de Brasil que conoces a alguien y te dice: ¡Ah! Vente a mi casa esta noche, tomamos algo, no sé qué, me interesa mucho, tal, entonces, y tú apareces en su casa por la noche queda medio enfadado como diciendo: Qué hace este tío aquí, no. Es un poco como…” (S3: 219-223) Outra que também provoca mal-entendidos ou estranheza é a flexibilidade dos horários, interpretada como uma falta de pontualidade: “Huum, como esa de salir o no salir o de que no son muy puntuales aquí también” (S1: 244) Surpreende também aos nossos entrevistados a liberalidade dos relacionamentos: “No sé, por ejemplo, el tema de las relaciones de pareja, por ejemplo. Tienen sus tabúes, pero también lo tratan de otra manera, no, porque, no sé, aquí siempre están con el tema de…yo creo que aquí se toman las relaciones de pareja de una manera mucho más flexible en el sentido de que cambian rápidamente, no sé qué, de pronto se casan, llevan seis meses y se casan, y a los seis meses se divorcian, cosas así (…)” (S3: 303-307) “Si, tal vez en el sentido de los relacionamientos, acá creo que son más liberales, eh, por ejemplo, yo más o menos los primeros dos meses que estuve aquí o una cosa así veía a muchas niñas, digamos así, embarazadas y eso me choqueó…bastante.” (S4: 254-256) 87 Em resumo, na caracterização que os nossos sujeitos fazem do brasileiro, ora falam de qualidades positivas (alegre, tolerante, tranqüilo,...), ora de qualidades negativas (pouco trabalhador, conformista, preguiçoso,...). Muitas destas características não são ditas de um modo explícito, senão por contraste com as características do próprio grupo: “Allá trabajan muchas horas, acá no. Son más serios (…)” (S1: 343) “Entonces yo comparo, porque da para comparar, en Colombia para que den un atestado médico, una incapacidad médica, la persona tiene que estar muy mal, aquí por cualquier cosa.” (S6: 122-124) Cultura brasileira: A mistura No olhar de todos eles, “a mistura” parece ser uma característica representativa da cultura brasileira em geral: “Aquí se mezcla todo, aquí se mezcla mucho (…)” (S5: 161) “Mistura” é, por exemplo, uma das características para com a comida brasileira dada pelos nossos sujeitos: “Acá es más mezclado, por eso ponen arroz con feijão, es raro eso, o mezclan salado y dulce en la comida, lo encuentro raro” (S1: 273-274) É um dos aspectos que lhes choca mais e observamos como nenhum deles se adapta facilmente nem às comidas brasileiras, nem aos horários destas comidas, nem até aos rituais que os brasileiros seguem no ato de almoçar: “Si, continuo, claro, es raro que acá se almuerce a las doce, no” (S1: 423) “(...) aquí intentar comer a las dos y media es complicado porque no hay nada, entonces ahora me he adaptado un poco y como a las doce (…)” (S3: 342-343) 88 Assim, é visto como muito estranho o fato de que o brasileiro sirva ele mesmo o almoço e não esteja sentado ao redor da mesa esperando a sua vez e aproveitando para conversar com a família. Esse modo de proceder é visto como muito impessoal: “Como aquí cada uno se sirve es muy impersonal, llega a cualquier hora, por ejemplo, yo puedo salir con otra persona y somos más que tienen que ir a almorzar de esa misma mesa y la otra persona llega a la media hora después y, como…está todo servido allí, no tiene que ir a la cocina a prepararse un plato, entonces va y punto, se sienta a cualquier hora, nosotros terminamos y ellos están recién comenzando. Es muuuy impersonal.” (S5: 481-485) Todos eles falam da rotina diária da comida brasileira, da pouca variedade, se comparada às suas respectivas culinárias: “Aquí no, aquí siempre arroz, feijão, carne y ensalada, arroz, feijão, carne de pollo y ensalada de otra cosa, arroz, feijão, fideos y otras cosas…” (S5: 417418) “(…) es una rutina de comida. Siempre va a haber arroz y feijão, siempre va a haber y siempre el plato va a ser así. Aquí y aquí y una cosa, otra cosa y otra cosa, un montón de cosas diferentes. Entonces…es un poco chocante.” (S5: 420-422) A comida brasileira, com os seus cheiros, condimentos próprios e também com a sua constante presença do arroz e feijão na mesa aparece como uma constante na fala de todos eles sem exceção: “(...) aquí se come arroz y fríjol en todos los lados, donde te invitan arroz y fríjol para el almuerzo, siempre, entonces, yo no podía entender eso, la verdad.” (S2: 381-382) O cheiro específico das comidas brasileiras, que tem o alho como um dos ingredientes principais: 89 “Con relación a las comidas, es el olor, el olor de la comida es muy fuerte, y aquí utilizan mucho el ajo, se utiliza mucho el ajo (…)” (S6: 346-347) Os temperos e a diversidade das frutas: “(...) el tempero es más fuerte, o sea aquí condimentan más las cosas, en Colombia se come bueno, mas con menos condimentos, o como decimos con condimentos más saludables, cosas más naturales, ¿sabe? Entonces no sé…En cuestión de frutas aquí hay frutas bien diferentes, o sea, muchas son las mismas, otras son…que yo nunca escuché en mi vida (…) (S6: 355-359) É por tudo isso que os nossos pesquisados apresentam poucas variações quanto aos seus hábitos nas refeições, e quando as apresentam é porque são obrigados pela força das circunstâncias: “(...) yo en Sevilla normalmente desayunaba a las once y media o una cosa así, además lo que desayunaba era un café con leche y una tostada con tomate y jamón, una cosa que aquí imposible (risas) y comía a las dos y media o tres, no, pero aquí intentar comer a las dos y media es complicado porque no hay nada, entonces ahora me he adaptado un poco y como a las doce, lo que pasa que después hago la comida horario brasileño, pero la cena horario español, no, entonces intento cenar nueve y media, diez, entonces más o menos.” (S3: 338345) Outro aspecto que também lhes tem surpreendido é a extrema religiosidade que impregna a cultura do brasileiro em geral: “La gente es muy religiosa, la gente es mucho de la Biblia, la gente es mucho de Dios. Y la gente, veo gente muy fanática, o sea que respiran, yo soy católico y … creo mucho en Dios, me gusta mucho todo eso de la religión, mas me parece que la gente exagera mucho (…)” ( S6: 329-331) 90 Religiosidade que se expressa de formas bem diversas. Alguns deles tinham uma imagem do Brasil como “o maior país católico do mundo” (S4, S6) e se depararam com outras muitas manifestações religiosas, nem sempre facilmente compreendidas: “Si, cuando a veces enciendo el televisor para ver un programa, digamos los domingos temprano, muchos canales salen manifestaciones religiosas, de mucha gente…Es mucho, mucho, país muy católico. Mi sorpresa cuando escuché que Brasil era un país muy católico, el país que tenía más católicos en el mundo, que escuché, entonces pensé: Brasil tiene mucho evangélico, muchas personas con otra religión.” (S6: 342-346) Outra vez os nossos sujeitos falam da “mistura”, desta vez religiosa, como denominador comum: “(...) aquí todo el mundo es religioso además, prácticamente todo el mundo, pero claro tienen una gama de elegir religiones enorme, no, pueden elegir desde el sincretismo tal o de las creencias religiosas así que es una mezcla entre religión cristiana…” (S3: 450-453) Outro dos aspectos repetidos na fala de todos os nossos entrevistados é a informalidade e heterogeneidade do vestir: “(…) sí, me ha costado, por ejemplo, ver personas con chancletas en medio de la calle, en pijama, en short todo el tiempo, no puedo ver, pero aquí hay cosas tan raras….” (S2: 349-351) “Aquí no se preocupan mucho por esa parte, me parece a mí, o sea, digamos en el trabajo las mujeres van vestidas como si fueran para la finca. No se preocupan por arreglarse mucho. (…) (S6: 181- 182) E também para S1 a dificuldade para encontrar aquilo de que ela gosta, já que acha que o estilo de vestir do brasileiro é bem diferente: “No, es que no la entiendo muy bien la moda de Brasilia, ¿Cuál es?” (S1: 253) 91 Outra imagem que aparece no discurso da maioria deles é a imagem de um Brasil marcado por uma cultura hedonista frente a outra cultura em que predomina o “esforço” e o “sacrifício”: “(...) yo creo que otras personas de fuera de Brasil pueden sacrificar la fiesta, la forma de vida alegre para conseguir algo, aquí son muy conformistas con su forma de vida, su espíritu, que es muy bueno ser tan alegre, tan bueno para hacer fiestas, para bailar samba, todo eso, pero la vida no es de eso, hay algo más …o sea yo no le voy a dar de comer a mi hijo estando en una fiesta, a no ser que en esa fiesta yo esté trabajando.” (S5: 314-318) Finalmente, das diversas manifestações culturais brasileiras, a mais conhecida e apreciada por todos eles é a música brasileira: “Hombre, había cosas que ya conocía antes de venir como Carlinhos Brown, eh, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Maria Bethania,…después aquí conociendo la música, más o menos, me gusta (…)” (S3: 369-371) Embora a grande diversidade da cultura brasileira também esteja presente na fala dos nossos entrevistados: “(...) la cultura brasilera es muy rica, es muy rica, es llena de cosas interesantes, eh… llena de festividades interesantes, llena de formas de ser, eh… formas de expresarse que hacen la vida un poco más amena. Yo pienso que eso es lo que más me gusta de Brasil.” (S5: 370-373) Em resumo, a cultura brasileira é representada, em geral, como uma grande festa, onde tudo pode ser misturado, e, portanto, reinventado, recriado. Brasília: Cidade artificial Quando perguntados por cidades do Brasil de que eles tinham notícia antes de vir, a resposta vem rápido: o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro é a imagem do Brasil no exterior, e essa imagem está ligada também ao clima tropical, mulheres bonitas, samba, futebol e 92 carnaval. É o estereótipo do Brasil. A outra cidade previamente conhecida é São Paulo, vista na sua grandeza demográfica: “(...) São Paulo es São Paulo.” (S2: 292-293) E Brasília? Brasília não existe no imaginário dos nossos pesquisados, e quando existe é para não ser considerada como cidade: “(...) pero igual es un poco extraño,…artificial,…” (S1: 112) Para os nossos pesquisados, Brasília não é uma cidade equivalente a nenhuma outra. A estrutura da cidade faz com que o estrangeiro ainda se sinta mais estranho. É uma estrutura fechada que não convida o recém-chegado a interagir com outras pessoas e que faz com que muitas vezes seja adotada uma atitude negativa para com ela: “La ciudad me pareció una, una basura (risas). Pensé: ¿Qué es esto?” (S3: 244245) Assim, no princípio, a visão que se tem de Brasília é a de um espaço estranho, raro, diferente de qualquer espaço antes conhecido. É aos poucos que Brasília é descoberta e valorizada, e o seu desvelamento ocorre muitas vezes paralelo ao processo de aculturação dos nossos sujeitos: “(…) tenía una imagen muy negativa de la ciudad al principio. Y después la situación esta de esta ciudad que no puedes pasear, es decir, que yo intentaba salir para dar una vuelta, pero decía: Bueno, ¿dónde voy? Es una cuadra, otra cuadra, así, muy complicado. (...) estaba acostumbrado a otro tipo de ciudad, Sevilla, no, las calles así, entonces claro, llegar aquí, las avenidas esas grandes, la…nadie en la calle a partir de las siete u ocho de la noche, no hay bares, y tampoco… muy complicado, pero ahora me gusta bastante.” (S3: 251-261) Observamos como a grandeza e solidão das ruas correm paralelas aos sentimentos experimentados num primeiro momento pelo recém-chegado, para depois, uma vez já melhor 93 conhecida a cidade e começado o processo de adaptação, o que antes era visto muitas vezes como defeito agora é visto sob outro olhar: “(...) me parece que la ciudad es muy bonita, que la ciudad es diferente (...).” (S6: 405) Assim, todos eles destacam a qualidade de vida de Brasília e a sua tranqüilidade: “(...) la tranquilidad de Brasilia, tiene una tranquilidad tremenda, no, la… no sé…mismo la naturaleza así más o menos que hay cercana a la ciudad (…)” (S3: 265-266) Qualidade de vida que resulta em que seja considerada uma das cidades mais caras do país: (...) y mira que aquí en Brasilia es como que lo más alto que hay en Brasil, la vida más cara que hay (…) (S2: 547-549) Até o clima, principal reclamação de muitos brasilienses, é visto sob um olhar positivo pelos nossos pesquisados: “A mi todo el mundo me hablaba del clima, (#), la seca es duro, es horrible, la gente aquí sangra, la gente no duerme bien,…Y para mí fue una época normal, o sea yo no tuve dificultades con eso.” (S6: 401-403) Brasília também é vista como local de encontro de culturas, com uma grande diversidade cultural: “Brasilia además, no, que tiene gente de todos lados, ves que hay gente de…, ves la realidad del Nordeste, la realidad del Sur, la realidad del Centro-Oeste, muy diferente, no, el tema del Amazonas, entonces aquí los distintos acentos que hay, las distintas formas de ser incluso, es curioso, no.” (S3: 239-242) 94 É relevante também como é interpretada de maneira diferente a segurança/ insegurança de Brasília: “Porque además yo llegué y me empezaron a decir, no, el problema de la violencia aquí, no, claro, además le llamaban violencia que para mi violencia es una palabra así como muy, no sé, si utilizaran inseguridad, pues yo quedaría más tranquilo, pero no, la violencia, entonces me dejaban en donde yo al principio me quedaba que era un apartotel y decían: no, no salgas por la noche, no sé qué, entonces era como una ciudad, una especie, para mi, era una especie de jungla, no, aquí el Bronx o algo así, no podía salir, porque en cuanto que salieras te iban a matar, no.” (S3: 244-250) “Hay una cuestión que yo sí pienso mucho y que es, yo que salgo de noche, por ejemplo, y camino y yo me siento tranquilo, ¿sabes?, no tengo miedo que me van a asaltar. En Colombia si se siente un poquito eso, …” (S6: 220-222) Outra imagem que se desfaz é a imagem da Brasília como cidade “que não tem nada para fazer”. Para os nossos pesquisados, uma vez que já levam um tempo em contato com a cidade, Brasília parece oferecer certa oferta cultural: “La vida cultural necesitas coche para moverte a todos lados, no, pero tienen…Centro Cultural Banco de Brasil, La Caixa Economica, que es otro centro cultural que está bastante bien, tiene cosas, no.” (S3: 354-356) O caráter do brasiliense também é destacado como diferente das imagens que têm do brasileiro típico: “(...) luego las personas, excepto aquí en Brasilia que son bien fechados, bien cerrados, de allí fuera, por ejemplo, en Mato Grosso y todos esos lugares, son un poco más abiertas las personas, la verdad.” (S2: 577-579) “(…) Brasilia en general es una ciudad donde la gente es muy fría e indiferente (…)” (S6: 407-408) 95 Finalmente, é destacada pela maioria deles a funcionalidade de Brasília: “Es una ciudad muy funcional a veces para lo bueno y para lo malo, a veces es muy malo porque tienes que ir a algún lado y tienes que coger o autobuses o pedir carona para alguien, pero otras es muy fácil moverte por ella, no, o sea…” (S3: 268-270) Observamos como essa cidade que primeiramente é enxergada como artificial, estranha a todos eles, aos poucos vai mudando de cara, se apresentando com uma cara mais amável, mais próxima. Em resumo, eles vão mudando o olhar na medida em que mudam também os seus valores. 3.2.2. Mudança de valores Atualmente, a aculturação é entendida como um fenômeno psicosocial multidimensional que se reflete nas mudanças psicológicas que acontecem no indivíduo como resultado do seu encontro com outra cultura (cf.: cap. 1). A aculturação, portanto, seria um processo de mudança de atitudes e comportamentos que ocorre, consciente ou inconscientemente, nas pessoas que entram em contato com uma nova cultura. A primeira mudança que se produz é no nível de língua e comportamento. É relativamente mais fácil mudar o estilo de vida e língua de uma pessoa do que suas idéias. Os próprios valores e crenças são aprendidos de uma maneira implícita, inconsciente e, por conseguinte, é mais difícil que sejam mudados. Por outro lado, a própria identidade é afirmada através da língua e do comportamento, e é aí que pode acontecer um possível conflito entre a necessidade de deixar de lado a língua e o comportamento do grupo de origem para se adaptar e a vontade de preservar a própria identidade ligada a essa língua e estilo de vida. Todos os nossos pesquisados manifestam algum tipo de mudança, e apesar de alguns só manifestarem mudanças no nível de comportamento, estas acabam afetando a estrutura de valores: “Aquí cambié hasta en eso, yo hasta en tenis me voy a veces, porque digo si todos van en tenis, para qué me voy a ir así yo, no voy cómodo (…) (S2: 369370) 96 As mudanças que nós podemos observar nas autopercepções dos nossos sujeitos são, sobretudo, de dois tipos: uma que poderíamos qualificar como superficial, no caso de S1 e S2, e outra um pouco mais significativa, no caso dos outros pesquisados. Assim, em S3, S4, S5 e S6, observamos uma dinâmica de mudança de valores porque já tem sido adotados aspectos da outra cultura, como língua, grupo étnico de amigos e alguns dos hábitos e estilo de vida do outro grupo. Eles mesmos explicitam como começa a mudar a sua visão do mundo em contato com a outra cultura: Yo pienso que he cambiado mucho, en muchos sentidos, (…) yo pensé: voy a crecer como profesional y voy a crecer como persona porque mi vida iba a cambiar el cien por cien en todos los sentidos hasta para hablar (…), entonces empecé de pronto a cambiar la visión.” (S6: 379-383) “(…) y la visión se cambia, la visión del mundo, de las cosas.” (S6: 387) Os sujeitos pesquisados deparam-se na sua chegada ao país com outra língua e outros estilos de vida. Esta nova língua e estilos de vida comportam uma série de valores e padrões de pensamento diferentes, e o distanciamento é necessário para poderem ser mais críticos com aquilo a que estavam acostumados. Coisas que antes passavam, talvez, despercebidas, adquirem outra dimensão quando comparadas a outros conhecimentos recém adquiridos. Assim, S4, se referindo a sua cidade natal, Guatemala, expõe: “Guatemala es no sé, podría decir que… es mucha fiesta, mucha fiesta, mucha parranda, muchas cosas así” (S4: 104-105) Diferentemente, S2 afirma: “Aquí es fiesta todos los días, bueno, no es tan diferente de Guate…pero, no es tanto fiesta, sino que es reunirse con los amigos y todo eso (…)” (S2: 407-408) O contato com o outro grupo pode nos levar a reavaliar o nosso próprio grupo étnico. Ainda que algumas das reações dos nossos sujeitos possam parecer um rechaço à cultura estrangeira, existe já um processo de mudança de atitude: 97 Primero mi anarquía, (…) como que ya encontré un equilibrio, de verdad. Otra que como yo, siendo guatemalteco, también era bien discriminador, bien discriminador, como cualquier otro guatemalteco, de verdad (…)” (S2: 323325) “(...) yo creo que mi forma de desenvolverme aquí ha cambiado, pero creo que mi raíz es demasiado fuerte, porque yo mismo encuentro…, bueno…me doy rabia conmigo mismo cuando encuentro que reaccioné muy brasileiramente de alguna cosa…” (S5: 256-258) Os códigos culturais marcam um comportamento diário, que é onde pode se produzir o conflito entre culturas. Língua, formas de vestir, atitudes e comportamentos são marcas de conduta que o indivíduo tende a preservar, mas que sofrem alterações no contato com códigos distintos. O conhecimento do Outro faz com que alguns estereótipos sejam destruídos, mas também pode ser que sejam observados comportamentos que não tinham sido pensados dentro da imagem prévia que eles tinham: “Ah, y otra cosa que pensaba que eran de mente más abierta y …!sorpresa! que anda que la gente todavía es…tienen mucho preconcepto de todo, ¿sabe?, la gente critica todavía mucho, la gente se escandaliza, y también creo que la gente maneja lo que llamamos la doble moral,…cuando yo hablo de la gente, pues todo el mundo.” (S6: 192-195) Finalmente, nós podemos imaginar muitas situações em que as pessoas convivem com diferentes culturas e esperamos algum tipo de experiência intercultural. De fato, muitas vezes isto não acontece, e continuam tendo uma visão etnocêntrica, como os sujeitos S1 e S2. Assim, S1, como já comentamos anteriormente, qualifica a cultura do Outro como “rara” e “estranha”, escolhe a auto-marginação (cf.: cap. 1. Modelo de Berry) e S2 produz um discurso totalmente preconceituoso, no qual vai atribuindo características negativas aos outros e à outra cultura, neste caso a brasileira, para assim ressaltar as qualidades, reais ou imaginárias, do próprio grupo. É significativo, no seu caso, como S2 vai construindo a própria identidade no seu discurso. Assim, na sua fala, enfatiza especialmente o “nós, os guatemaltecos”, na qual marca um sentido de pertencimento grande a um grupo étnico, grupo este que ele rapidamente delimita quando contrapõe sua imagem de “homem branco, de classe alta” a outra imagem 98 que pertence também ao seu grupo étnico que é a qualificada por ele como “indígena”. O preconceito de classe não o abandona na sua chegada ao Brasil e, por isso, a sua relutância em abandonar certas formas exteriores como o vestir e inclusive a língua – na sua sociedade alguém é aceito se vestido de forma determinada, e o espanhol é a língua da classe dominante – o marcam como parte de um grupo determinado, mas que já não tem razão de ser no país de acolhida. Podemos concluir dizendo que é mais fácil mudar a “parte externa” da cultura, formada pelo comportamento e a língua no caso da L2/ C2, que são aprendidos de forma consciente, que os valores do pensamento que são aprendidos implicitamente e, portanto, são, em grande medida, um conhecimento subjetivo e inconsciente. 99 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sobre o valor da análise interpretativa dos dados Schumann, no seu modelo de aculturação, aponta diversos fatores como possíveis variáveis importantes no processo de aculturação do indivíduo. Na análise dos dados, observamos que os fatores apontados por Schumann não são rígidos e estanques, mas que formam um continuum dinâmico em que um se relaciona com o outro. Sobre a adequação dos instrumentos usados O fato de ter utilizado dois instrumentos, questionário e entrevista, se mostrou eficaz para a validade dos dados. Observamos, no cruzamento destes, que nem sempre respostas dadas na entrevista eram iguais ou semelhantes às fornecidas no questionário, apresentando muitas vezes uma divergência suficientemente grande (como, por exemplo, no caso de S1) e nos fazendo obter matizes e significações diferentes. Um dado que deve ser levado em conta é que muitas das respostas da entrevista foram talvez dadas porque a entrevistadora formava parte do mesmo grupo lingüístico-cultural (coisa que gerou certa cumplicidade) e, desta maneira, o sujeito pesquisado permitia-se emitir juízos de valor que seguramente não diria para um brasileiro. Sobre o processo de aculturação dos sujeitos pesquisados Acreditamos, muitas vezes, que por serem o português e o espanhol línguas e culturas próximas, fenômenos como o choque lingüístico e o choque cultural são mais amenos ou leves mas, surpreendentemente, observamos, no caso dos nossos pesquisados, como esses fenômenos são vivenciados e, geralmente, descritos de uma maneira bem consciente. Assim, existe um forte choque cultural entre os hispanofalantes quando chegam ao Brasil pela primeira vez. O sentimento comum é de desorientação e também de perda que pode levar até à desvalorização da própria identidade. A forte ligação existente entre língua e identidade está presente em todos eles. Isso faz com que, à medida que avançam no domínio lingüístico da língua do Outro, também consigam re-equilibrar a nova identidade adquirida e se posicionar de uma maneira mais equânime em relação à cultura do Outro. No caso da língua, observamos que as semelhanças entre as duas línguas facilitam, sim, a comunicação, porém, sobretudo no 100 sentido inverso, o brasileiro entende melhor o hispanofalante do que este entende o brasileiro. O hispanofalante precisa de um período de “adaptação” ou simplesmente de aquisição de um nível básico de língua para poder entender a fala e para poder falar, outra coisa diferente é a escrita. Passado, porém, este estágio inicial e sem chegar a se perceber como bilíngüe, isto é, competente nas duas línguas, surpreende o nível de interferências não na língua do Outro, mas na língua própria. Este fenômeno, a mistura dos dois códigos lingüísticos, espanhol/português, usando a própria língua materna, é um fenômeno que merece realmente ser estudado com maior atenção. Finalmente, outro fato a ser levado em conta é que nem todos aproveitam as possibilidades que tem o contexto de imersão para a aquisição da língua e cultura alvos. Ainda assim, esse contexto de imersão e, conseqüentemente, de interação com os falantes dessa língua, favorece a aquisição da competência cultural, já que essa competência não é adquirida por si mesma e requer uma aprendizagem baseada na experiência. Além disso, mostra-se, em maior ou menor medida, como facilitador de uma mudança de atitudes. Sobre as diferenças culturais Quanto à percepção das diferenças culturais, levamos em conta variáveis como: experiência prévia em outros países, distância cultural (preferências de comida, costumes), identidade cultural (atividades culturais, interação social, oportunidades com o novo idioma) e discrepâncias entre expectativas e experiências no país estrangeiro, observando em todos os nossos pesquisados que a referência era sempre a própria cultura e que, portanto, o que sabem fazer os membros de uma determinada cultura é reconhecer o que não é próprio de seu universo cultural. Também observamos em alguns dos nossos pesquisados que nem sempre a experiência prévia em outros países modifica a estrutura de valores já adquirida e que as experiências muitas vezes continuam sendo avaliadas a partir de uma expectativa anterior. Assim, em algumas ocasiões, os problemas não são devidos à falta de um nível suficiente de competência lingüística, mas à falta de um nível suficiente de competência cultural. A pessoa que utiliza a língua estrangeira atua com as pautas da sua língua materna, e é assim que se produz facilmente a generalização do comportamento de um indivíduo a todos os compatriotas e, portanto, a criação do estereótipo. Encontramos a generalização, por exemplo, quando a partir de duas ou três experiências a tendência é considerar todos os indivíduos de uma cultura representados em um (os brasileiros são alegres). Observamos, então, que os membros de uma cultura não são conscientes da relatividade dessa cultura, sendo mais forte, 101 às vezes, a resistência e assimilação dos estereótipos, apesar de estarem imersos na culturaalvo e recebendo, neste caso, instrução formal. Observamos, também, que o contato com a língua e cultura do outro não garante sempre a compreensão e tolerância. Às vezes, podemos nos deparar até com atitudes muito negativas. Parece-nos, pois, que ainda há uma lacuna entre a aquisição de uma língua e a aquisição de sua cultura. Assim, percebemos certa tendência ao isolamento de algumas comunidades ou pessoas que depois de morar muitos anos em outro país ainda chegam a conclusões equivocadas a respeito da outra cultura. Para desfazer estereótipos, é necessário fazer antes uma reflexão sobre a própria cultura, comparar as duas culturas em contato e, finalmente, observar e refletir sobre a cultura do outro. Todos os nossos sujeitos fizeram uma reflexão sobre a própria cultura a partir da comparação estabelecida com a cultura do outro. Nem todos, ainda, conseguiram se distanciar suficientemente para poder fazer uma reflexão mais objetiva e crítica, porém quase todos tentaram colocar as próprias experiências vivenciadas para tentar compreender melhor o comportamento do outro que, num primeiro momento, era simplesmente qualificado de “estranho” e “raro”. Sobre mudança de valores Observamos nos nossos sujeitos pesquisados como a partir da consciência da existência de diferenças culturais, começam a “acrescentar” à própria cultura um novo repertório de comportamentos que lhes permita uma adequada interação com os outros. A generalização ainda se faz, mas começam a ser mais críticos com os estereótipos criados. Talvez já não seja necessário mais mudar como pensado, dentro de um conceito de aculturação clássico, mas simplesmente “somar”. Para finalizar Entendemos por aculturação um fenômeno social multidimensional que reflete a socialização da pessoa em um grupo cultural diferente do próprio (cf.: cap. 1). Assim, consideramos que podemos adquirir padrões, condutas ou normas de outra cultura, mantendo também as próprias, adquirindo assim competências culturais em diferentes culturas. Talvez o que seja importante é a aculturação biunívoca, no lugar da sua versão unívoca, como sugerido por Schumann no seu modelo de aculturação (1978). Temos que dar mais importância à adaptação e ao entendimento mútuo no lugar de buscar a assimilação, já que esta pode chegar 102 a propiciar o estabelecimento de barreiras psicológicas e o medo de perder a própria identidade. E assim, como diz Almeida Filho (2002:15), aprender uma língua é aprender a significar nessa língua e isso implica entrar em relações com outros numa busca de experiências profundas, válidas, pessoalmente relevantes, capacitadoras de novas compreensões e mobilizadora para ações subseqüentes. Aprender LE assim é crescer numa matriz de relações interativas na língua-alvo que gradualmente se desestrangeiriza para quem a aprende. 103 BIBLIOGRAFIA (metodologia da pesquisa) BAUER, W. e GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Rio de Janeiro: Vozes, 2004. BELL, Judith. Cómo hacer tu primer trabajo de investigación. Barcelona: Gedisa, 2002. COHEN, L. e MANION L. Research methods in education. 4. ed. London: Routledge, 1994. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. MARCONI, M. e LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico.São Paulo: Atlas, 2001. ______. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2000. ______. 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Tempo de residência 10, 11 DISTÂNCIA PSICOLOGICA 8. Choque lingüístico 14, 15, 16, 17, 34, 39 9. Choque cultural e sotaque 32, 36, 37, 38, 39, 40 10. Motivação integrativa/ instrumental 12, 13 11. Permeabilidade do ego 35 Observações: • • • • • 110 Um dos cuidados que tivemos quando elaboramos o questionário era o de relacionar os diversos itens com um só conceito, ainda que as respostas a alguns deles dêem muitas vezes informação relacionada a outros conceitos. O item 39, porém, aparece em Choque lingüístico e Choque Cultural porque segundo a resposta poderia ser um mal-entendido lingüístico ou um mal-entendido cultural. Para operacionalizar os conceitos de Fechamento e Coesão e Tamanho do grupo foi usado também o conceito de Domínios Sociolingüísticos de Fishman. No caso de Fechamento optamos pelos contextos em que efetivamente é usada a língua, e no caso de Coesão e Tamanho do grupo pelas interações com o grupo da língua-alvo. Para operacionalizar o conceito de Choque Cultural também foi usado o modelo de Brown. O conceito de Motivação era difícil de operacionalizar se tínhamos em conta a definição dada por Gardner e Lambert, base do conceito de Schumann, já que mantinha uma estreita relação conceitual com Atitude. É por isso que nós elaboramos a pergunta 13 com base nos motivos de aprendizagem da L2 (motivação para a aprendizagem). Item 20: Acabou se mostrando irrelevante já que nenhum deles tinha filhos. Tabela 2. Conceitos conteúdo questionário. DISTÂNCIA SOCIAL (variáveis externas) Se o grupo da L2 é política, cultural, técnica ou economicamente superior (dominante) ao grupo da línguaalvo, então tenderá a não aprender a língua que pertence ao grupo menos poderoso ou influente (subordinado). *Assimilação: Maximiza o contato entre os dois grupos e 2. Tipo de integração deseja a aquisição da língua-alvo. *Aculturação: Adquire o estilo de vida e valores do grupo da língua-alvo, porém sem perder os próprios valores e estilo de vida dentro do intra-grupo. (Berry fala de “integração”). *Preservação: É mantido o próprio estilo de vida e é rejeitado o estilo de vida dos outros. Grau de compartilhamento dos mesmos espaços entre os 3. Fechamento dois grupos. Se os dois grupos não compartilham os mesmos espaços, as oportunidades para adquirir a língua-alvo serão reduzidas. 4. Coesão e Tamanho do Se o grupo que está adquirindo a L2 é muito coeso e grande as oportunidades de aprender a língua-alvo serão menores. grupo Se as duas culturas são similares é mais fácil a aquisição da 5. Concordância cultural L2. Existe uma relação estreita entre atitudes e sucesso na 6. Atitude aprendizagem da língua Atitudes positivas favorecem a aquisição da L2. Maior tempo de residência significa mais relações com o 7. Tempo de residência grupo da língua-alvo. DISTÂNCIA PSICOLÓGICA (variáveis internas) O aprendiz duvida se suas palavras refletem adequadamente 8. Choque lingüístico suas idéias e freqüentemente interpreta palavras e expressões da língua-alvo diferentemente dos seus falantes nativos. Medo que sua fala seja considerada infantil ou cômica. Os mecanismos de resolução de problemas não funcionam 9. Choque cultural na nova cultura. Esta situação lhe produz desorientação, estresse, medo e ansiedade. 10. Motivação integrativa/ A motivação integrativa caracteriza-se pelas atitudes positivas em relação ao grupo de falantes da língua-alvo, instrumental pelo interesse em conhecer membros do referido grupo e poder conversar com eles. A motivação instrumental caracteriza-se por um desejo de obter um reconhecimento social ou vantagens econômicas. (Gardner e Lambert :1972) As pessoas que têm a habilidade de renunciar a sua 11. Permeabilidade do ego individualidade parcial e temporariamente são melhores aprendizes de segundas línguas (Guiora:1972). 1. Dominação social/ subordinação 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 ANEXO 2. Entrevistas - Tabela 1. Convenções na transcrição das entrevistas. - Tópico-guia das entrevistas. - Transcrição das entrevistas. 136 CONVENÇÕES NA TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS Ocorrências Convenções de transcrição 1. Indicação dos falantes Os falantes são indicados em linha, com uma sigla convencional (E: entrevistadora; S: sujeito entrevistado) 2. Pausa ... 3. Ênfase Sublinhado 4. Sonoridade MAIÚSCULAS 5. Segmentos incompreensíveis ou inaudíveis (inaudível ) 6. Transcrição incerta [ ] 7. Interferências, mudança de código Negrito 8. Mudança cara fita casete (...) 9. Exclusão de nomes próprios (#) 137 TÓPICO-GUIA DAS ENTREVISTAS • Onde você nasceu? Pode falar um pouco da sua família e de onde você foi criado? • Há quanto tempo exatamente que está morando no Brasil? Por quanto tempo você pretende ficar? • Por que você veio ao Brasil? • Nas suas horas de lazer você que gosta mais de fazer? • No seu quotidiano qual é a língua mais falada por você? • Há ocasiões em que você se sente mais confiante do seu português que em outras? Poderia falar para mim? • Que pensou do Brasil a primeira vez que chegou aqui? Que pensa agora? Mudaram suas opiniões? • Poderia comentar um pouco como se sentiu quando chegou ao Brasil pela primeira vez? • Quais são as semelhanças e as diferenças que você acha que tem a sua cultura de origem em relação a cultura brasileira? A sua forma de olhar o mundo tem mudado em contato com a cultura brasileira? • Há algo mais que você gostaria de me dizer? 138 • Entrevista realizada em casa da informante no dia 20/5/05 às 10 horas Duração: 45 minutos Transcrição: 10 horas Observações: Tem alguns trechos totalmente inaudíveis apesar do esforço para tentar fazer a transcrição. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 ENTREVISTA S1 E: A ver, vamos a empezar esta entrevista. S1: Bien. E: Tú me dijiste en el cuestionario que eras chilena, pero que naciste en Buenos Aires. Me podrías contar un poquito más de cómo fuiste criada, el motivo de nacer en Buenos Aires,… S1: Ah! Sí, de Buenos Aires. El golpe militar del 74 o 76 de Chile hizo que mi mamá se fuera en septiembre embarazada para Buenos Aires, al exilio, porque la podían echar porque estaba trabajando y tenía miedo, entonces se fue con mi papá, se fue a Buenos Aires, y allí estuvimos en varios países hasta que se normalizó un poco la situación en Chile, me parece, y volvimos en diciembre del 78. E: O sea que tú tenías unos dos años, o ¿cuántos años tenías cuando volviste a Chile? S1: Cuatro, cuatro años. E: Cuatro años en Argentina. S1: Claro, no, no, en Argentina, estuve en Londres, en España, un año en Londres y un año en España, eso es. E: O sea los primeros cuatro años de vida diríamos los pasaste viajando. S1: Claro. E: Motivo, el exilio de tus padres. S1: Casi cinco años viajando. E: Porque tus padres, ¿qué profesión tienen? S1: Mi mamá era periodista. E: ¿Y tu padre? S1: Mi papá, sociólogo. E: Tu madre no está aquí contigo. S1: Ah! Sí. Está acá. E: ¿Tú estás viviendo con tus padres? S1: Sólo con mi mamá. E: ¿Tu padre está entonces en Chile? S1: Ah! Eso, está en Chile. E: Está en Chile trabajando. ¿Tu madre trabaja en la embajada, quizás? S1: Eso, agregada cultural de la embajada de Chile en Brasil. E: O sea que acabáis de llegar y ella está trabajando como agregada cultural. S1: Claro. E: ¿Tú tienes más hermanos? S1: No, medio hermano solamente. E: Tu padre se volvió a casar. S1: Claro. E: O sea que estás tú con tu madre aquí viviendo. S1. Eso, sí. E: ¿Tu hermano está en Chile? S1: Sí, es chiquitito, tiene doce,…trece tiene ahora. E: Y tú ¿qué estudiaste? ¿Estudiaste allí, en Chile? S1: Claro. Soy bibliotecóloga. E: ¿Y ahora estás haciendo aquí alguna cosa? S1: Sí, una especialización en la UnB, no es mestrado porque yo me voy a Chile, sólo una especialización. E: Como una post-graduación. 1 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 S1: Eso, un post-grado de un año. E: ¿Y ya lo has empezado? S1: Sí, ya voy a terminar el primer semestre. E: Seis meses hace que llevas aquí has dicho. ¿Cuánto tiempo? S1: Como alumna especial, claro, seis meses. E: No, pero… ¿cuándo llegaste aquí …a Brasilia? S1: 30 de noviembre. E: El 30 de noviembre. Y ya te has apuntado a hacer esa post-graduación y estás estudiando portugués. S1: Sí,…qué pena que pasé 3 meses sin hacer nada o dos y medio y después empecé en la PEPFOL y después aquí, en la universidad. E: ¿Qué estás haciendo de asignaturas? S1: Una solamente. E: ¿Quieres hacer la prueba para entrar en el post-graduado? S1: El problema es que dura dos años el post-grado y yo me voy, entonces no da tiempo. E: ¿Cuánto tiempo crees que os vais a quedar aquí? S1: Es que yo ya sé, me voy en marzo de 2006 yo. E: Tú te quieres ir antes. S1: Claro. E: ¿Tu madre se va a quedar? S1: No, nos vamos juntas. E: Os vais ahora, en marzo de 2006, Es poco tiempo, normalmente los agregados de la Embajada trabajan más tiempo, ¿no? ¿No es así en tu país? S1: Sí, sí. Ella estuvo cinco años en Ecuador, entonces quería poco tiempo. E: ¿Tú estuviste también en Ecuador con ella? S1: Claro. E: Tú la has acompañado. S1: Ahí estuve un año y medio solamente. E: O sea que en marzo de 2006 te vuelves para Chile. S1: Por eso no me da tiempo de hacer mestrado. E: Y ahí… ¿Qué piensas hacer, ya volver definitivamente para Chile? S1: Huum, sí. E: ¿No hay posibilidad de que os quedéis más tiempo aquí o tú no quieres? ¿A ti te gustaría vivir más tiempo aquí? ¿Te gusta Brasil? S1: Ah! Sí, bien, pero no me gustaría porque tengo planes de trabajo, quiero trabajar. E: ¿Qué planes de trabajo? S1: No, buscar trabajo allá en la biblioteca, dejar de estudiar y trabajar un poco, por eso no puedo quedarme aquí. E: Pero tu madre también vuelve contigo. S1: Ah! Eso. Sí, vuelve. E: ¿Tú ya habías trabajado allí en Chile? S1: No, no, no había alcanzado trabajar porque justo veníamos para acá, entonces,… E: Desde Ecuador directamente os vinisteis aquí. S1: No, desde Chile. E: Pero antes dijiste que habías estado en Ecuador también. S1: Pero eso fue en el 95, 96, un año y medio allá. E: Y qué tal tus experiencias en otros países ¿Te han gustado? S1: Bueno, sí. E: ¿Sí? ¿O tienes ganas de volver a Chile? S1: Yo viví mucho tiempo fuera de Chile (inaudible) y… E: ¿Y qué te parecen esas experiencias que has tenido ahí fuera? ¿Te han gustado? S1: Huuuum, me gustaron, Nicaragua no me gustó mucho, por eso me vine al año y medio. E: ¿Por qué no te gustó? S1: (Inaudible) por los problemas, ahí me vine. E: ¿Y por qué Brasil, por qué decidiste Brasil? O fue una decisión familiar, de tu madre. 2 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 S1: Ah! A ella le gustó, quería hacer algo fuera de Chile y ahí le surgió esto y ahí se vino, este…un año y cuatro meses. E: ¿Y qué te parece? ¿Te está gustando Brasil? ¿Cuál fue tu primera impresión cuando llegaste aquí? S1: Ah! Estaba confundida, llegué a la noche, entonces,…un poco confundida con la ciudad, el aspecto, los sitios,… E: ¿Qué te pareció Brasilia? ¿Conocías algo de Brasilia en general? S1: Ah! Sí. En Internet había visto algunas cosas, pero igual es un poco extraño,…artificial,… E: ¿El contacto con la gente qué te pareció? ¿Cuáles fueron tus primeras impresiones? Podrías contar un poco. S1: El contacto con… E: Sí, con los brasileños, ¿qué te parecieron? ¿cómo te acogieron? S1: Ah! E: ¿Tienes amistades ya entre brasileños? S1: Por el mestrado, que antes cuando llegué no tenía mucho contacto, sólo en el supermercado, había que tenerlo y no tenía mucho contacto. E: O sea cuando llegaste no tenías contacto con brasileños. S1. No. E: ¿Tenías con tus compatriotas,…con chilenos? S1: Claro, en la embajada solamente. E: Pero tú querías tener más relación con brasileños. S1: Claro. E: Podrías contar un poco,…tú hablas, por ejemplo, de cierta extrañeza cuando llegaste, podrías explicarme un poco eso. S1: Ah! Desconforto porque estaba confundida, no tenía muchas amistades con brasileros, no tenía… oportunidad de entrar a estudiar todavía, entonces estaba un poco confundida,…sólo caminar, rodar por la ciudad. E: La ciudad es bastante diferente de cualquier otra ciudad, ¿no? S1: Claro. E: ¿Te fue difícil hacer amigos aquí, te fue difícil tener amigos brasileños? S1: Ah! Sí, un poco sí, porque no sé los códigos brasileños, cómo se relacionan aquí. E: Cuando hablas de códigos, …¿ Qué quieres decir? S1: La manera de comunicarse, de relacionarse. E: No hablas de lengua, sino hablas de la manera de relacionarse. S1: Claro. E: La lengua, no crees que haya sido un obstáculo para relacionarte. S1: Ah! No. Al principio fue sí, pero después ya no. E: Porque tú llegaste aquí que sabías un poquito de portugués, ¿o no? S1: Claro, sí porque yo hice la…un mes en Chile, casi dos meses, porque empecé el 4 de octubre y terminé el 29 de noviembre el curso allá. E: O sea que aprendiste un poco de portugués para que el choque no fuera tan fuerte, ¿no? S1: Sólo por eso, claro. E: Y cuando tú llegaste aquí… ¿entendías a la gente cómo hablaba? ¿los entendías? ¿No tenías problemas de entenderlos? S1: Ah! E: Porque una cosa es leer, pero entender… S1: Ah! Sí, sí. Claro. No, no los entendía muy bien, porque no había estudiado mucho. Tampoco ellos entendían mucho cuando yo decía la “l”, la “r”, no sabía eso, nada,… E: Ah! El cambio de”l” por “u”. S1: No sé, me costaba que me dijeran las cosas E: Tú hablas incluso que vas a pedir un café, un cortado,… S1: Ah! E: … que nosotros decimos, un cortado que es tan frecuente, y no sabías cómo se llamaba, ¿no? ¿Te pasó alguna cosa más?, aparte de eso del cortado, pedir un cortado y no saber qué era un cortado. 3 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 S1: Ah! Eso (inaudible) E: ¿Te acuerdas de algún malentendido? S1: Ah! Estoy intentando recordar…a lo mejor cuando voy a pedir “cesta”, “canasto”, acá se dice “cesta”, no “canasto”. E: ¿Las cestas para servirte en el supermercado?... Cosas más bien de vocabulario, que no dominabas bien el portugués. S1: Eso. E: ¿Te está ayudando ahora el curso que estás haciendo? S1: Ah! Sí, claro. Recuerdo algún malentendido con Dora (inaudible). E: ¿Dora es la chica que trabaja con vosotros?. S1: Sí. E: ¿Con ella hablas en portugués? S1: Claro. Ella me preguntaba si yo tenía “fome” y yo no sabía qué significaba, entonces no sabía qué hacer. E: ¿Ella lleva mucho tiempo viviendo con vosotros? S1: Ella…desde el 15 de diciembre. E: Y con ella hablas bastante. ¿Hablas con alguien más en portugués? S1: Ah! Sí, también con los colegas del mestrado, que voy sólo los martes, un día a la semana. E: El mestrado es del área de Biblioteca. S1: Claro. E: Y haces una asignatura por… S1: No es mestrado, es de Ciencias de la Información. E: Ah! Ciencias de la Información. Y ahí tienes oportunidad de hablar en portugués. S1: Ajá. E: Y… ¿cómo es la relación con ellos? S1: Buena, aunque al principio como yo entré como alumna especial fue diferente porque… E: Diferente. ¿Por qué? S1: No, es buena la relación con ellos, (inaudible) E: Tú como los encuentras a ellos, crees que son receptivos,…que se hace amigos fácilmente o has tenido alguna dificultad. S1: Son receptivos, tengo dificultad con algunas personas solamente, pero bueno. E: Tú si comparas la gente de aquí con la gente de tu país, ¿Cómo crees? S1: Que son más amistosos, una amistad que… E: ¿Aquí? S1: Allá, en Chile, aquí no sé. E: ¿Allá son más amistosos? S1: Claro, en Chile. E: Yo no conozco Chile, tengo una amiga chilena…Pero hablan de los brasileños como muy receptivos, muy hospitalarios, ¿Tú como los ves? S1: Sí, también hospitalarios, sí. E: ¿Has hecho amigos ya o te mueves más con gente chilena? S1: No, no, si también estoy con unos amigos. E: ¿Sales con ellos? ¿Vais al cine,…? Porque... ¿tú que haces en las horas de ocio?, ¿qué te gusta hacer? S1: Sí, claro, al cine, al bar, esas cosas… E: ¿Y vas con gente brasileña? S1: También con gente brasileña, sí. E: Pero preferiblemente con chilenos o… ¿tú qué prefieres? S1: A mi me da lo mismo, así conozco más el portugués también. E: ¿Te gusta tener oportunidad para poder hablar o para poder hacer amistades simplemente? S1: Eso, amistades y hablar también. E: ¿Te gusta hablar en portugués? S1: Y es que todavía me cuesta un poco, mezclo el español y el portugués. E: No te pasa a veces un poco que no puedes expresar todo aquello que querrías. S1: Eso. Mucho. 4 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 E: Y ahí ¿Qué haces? Sobre todo cuando tienes que expresar cosas a nivel de sentimientos, ¿no? o una conversación cuando todo el mundo está en la mesa y todo el mundo habla muy rápido y tú tienes que hablar… S1: Ah! E: … y piensas: “¿Cómo puedo decir yo todo esto? ¿Qué haces ahí en esos momentos? ¿Cómo te sientes? S1: Ah! Mal. Me siento molesta, boba, así. Me siento mal. E: Mal. ¿Cómo? S1: Mal, confundida, porque no puedo hablar en español y no me entienden. E: ¿Tú no tenías ganas quizás cuando llegaste aquí de volverte para Chile, o no, querías estar aquí? S1: Ah! No, quería, pero a veces se me ponen unas ganar de irme, de verdad. E: Brasilia también es un poco especial para relacionarte ¿no? S1: No sé bien como relacionarme aquí. E: Es complicado. Antes me has hablado de códigos, ¿no? ¿Qué son? S1: Ah! También. E: ¿Tú has notado códigos diferentes de tu país? S1: Eso, aquí dicen algo y a lo mejor no cumplen, algo así, que a veces… E: ¿Dicen algo y después? S1: No cumplen, quedamos para salir todas las chicas, y después ellas dicen que no pueden, que tienen que hacer, y no me llaman, entonces encuentro como raro eso. E: Parece que sea muy fácil invitar y después no tan fácil quizás… S1: En Chile siempre se cumple. E: Y ahí ¿qué haces?, ¿cómo te sientes? S1: Mal también, con rabia, confundida. E: Ya. Y esto crees que se ha ido superando, estos malentendidos de alguna manera, crees que ya entiendes mejor los códigos diferentes entre tu país y… S1: Ah! Sí, a los pocos los voy entendiendo. E: ¿Tú podrías explicar alguna otra diferencia o alguna otra cosa que te haya pasado? S1: Huum, como esa de salir o no salir o de que no son muy puntuales aquí también. E: La puntualidad… Y de las formas, por ejemplo, de vestir… has hablado de relación social, no, por ejemplo, incluso de hábitos aquí…tú también hablas de las modas, haces referencia en el cuestionario de las modas. S1: Ah! ¿Cómo se dice? En invierno, abrigado, en verano…Acá no. Entonces es raro. E: Pero aquí tampoco hace frío. S1: No, no hace frío, pero acá no hay mucho… mucha moda como en Chile, me parece a mi, no veo nada que me… E: No te gusta la moda de aquí. S1: No, es que no la entiendo muy bien la moda de Brasilia, ¿Cuál es? E: ¿Crees que la moda de tu país está más marcada? S1: Mucho, claro. E: Marcada, ¿por qué? S1: No, porque te gustan pantalones así (hace el gesto)… que no hay mucha… E: No encuentras un tipo de moda o alguna cosa. S1: No, a veces polleras a mi…, pantalones,… E: A mi también me costó mucho. Los dos primeros años iba de vacaciones a mi país y compraba mi ropa allí, no encontraba aquí nada que me gustara, es un estilo diferente de vestir, ¿no? S1: Ajá. Claro. E: ¿Y las comidas? Tú también me comentabas de las comidas, que habías encontrado diferencias de comida. S1: Que hay mucha mezcla acá, salada el último, para empezar la feijoada,…yo me tomo más o menos, me como eso y me pongo muy pesada, me parece a mí. E: ¿Cómo es vuestra comida en Chile? S1: No, verduras, arroz, pollo…tranquilo, acá en cambio hacen…acá siempre es lo mismo, pero. 5 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 E: ¿Crees que es más variada en tu país? S1: Claro. E: ¿Crees que la culinaria es mejor en tu país que aquí? S1: Acá es más mezclado, por eso ponen arroz con feijão, es raro eso, o mezclan salado y dulce en la comida, lo encuentro raro. E: ¿Encuentras raro que cada día se coma feijão aquí? ¿o eso no? S1: No, es que le das la vuelta a la cuchara y encuentras cosas raras como carne, feijão,... E: ¿Allí en Chile no coméis feijoada? S1: No, allí ( inaudible) y otro día torreznos con arroz. E: ¿Te gusta ir a restaurantes? ¿Te gusta este hábito de comida a kilo? S1: No, lo encuentro extraño también, la comida a kilo, pero igual es buena también. E: Te gusta más que te sirvan a la carta. S1: Claro, además la comida en Chile [no está hecha con tanto ajo] (inaudible), pero aquí… E: O sea lo que no te gusta es la mezcla aquella que hacen. S1: Claro, cuando te ponen…lo encuentro horrible, después (inaudible). E: ¿Habéis salido con gente de aquí? ¿Habéis ido a la casa de algún brasileño para comer? ¿Os han invitado? S1: No, no. E: ¿No? S1: Ah! Si, unas niñas [nos invitaron a comer]. Sí, fuimos a casa de brasileños, claro. E: ¿Y qué te pareció? S1: También fue raro porque nadie come ensalada, (inaudible). E: ¿Y tú te serviste o ellos te sirvieron? S1: Yo me serví. E: ¿Era como un buffet? S1: Claro, eso. Es otro tipo de cena, se va a buscar la comida y se sienta a la mesa con su plato. E: ¿Era una fiesta? S1: Claro. E: ¿Y cómo era la fiesta, era una fiesta con música o sólo una comida? S1: Era una fiesta con comida, sí. E: Tú me decías que te gusta la cultura brasileña o que estás interesada. ¿Qué es lo que más te gusta de la cultura brasileña? S1: Puede ser el cine, la música,… E: ¿Cine brasileño? S1: Claro. E: ¿Qué película, tienes alguna película en mente que hayas ido a ver? S1: Fui como hace casi dos semanas y no la entendí, el lenguaje muy raro. E: ¿Qué película fue? S1: Quase dois irmãos. E: Quase dois irmãos. ¿Te costó entenderla? S1: Si, porque el lenguaje es complicado. E: No la he visto yo esta película, no sé. ¿Y vas al teatro o alguna otra cosa? S1: No, brasileño no, no he visto teatro hasta ahora. E: ¿Qué más te gusta hacer en tus horas de ocio? S1: Ir a bares, a bailar, a conversar,… E: ¿Y aquí frecuentas bares? S1: Sí. E: ¿Y cómo los encuentras? S1: Muy interesantes, pero me falta ir a algunos…quizás más bares. E: ¿Vas con brasileños o vas con chilenos? S1: No, no he ido con brasileños, he ido con otra gente la verdad, no…chilenos. E: Chilenos. S1: Claro. E: ¿Y ellos qué comentan?, ¿ellos ya llevan más tiempo tus amigos chilenos viviendo aquí? S1: No, poco tiempo también. 6 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 E: ¿Y crees que has cambiado un poco de opinión de Brasil? ¿Qué referencias tenías tú de Brasil y de los brasileños antes de llegar aquí? S1: Ah! Que eran alegres, no sabía mucho,…no sabía nada. E: Porque, por ejemplo, en España una de las imágenes que se tiene es la de carnaval, fútbol,… ¿Y en Chile? S1: Se conoce Río de Janeiro, carnaval también, música, telenovelas brasileñas, nada más que eso, poca cosa. E: ¿Y ahora?, ¿ha variado alguna cosa?, ¿has cambiado de opinión en algún aspecto? S1: Ah! Sí, (inaudible) con la gente, eso. E: Respecto a la gente has cambiado. S1: Claro. E: ¿Podrías explicar? S1: No, respecto a la manera de ser (inaudible), dicen cosas que no se cumplen realmente. E: Tú dices que en tu país se trabaja más que aquí. S1: Ah! Eso sí es verdad. E: ¿Sí? ¿Por qué crees que es verdad? S1: Porque acá son todos con más humor (inaudible), [pero ella es muy católica]. E: Tú crees que en tu país son más serios que aquí. S1: Ah! Claro. Allá trabajan muchas horas, acá no. Son más serios, no tienen ni una (inaudible), no se va a las casas a la hora del almuerzo. E: ¿Allí en Chile no se va a la casa a la hora del almuerzo? S1: No. E: ¿Crees que la vida es mejor aquí? … ¿Qué en Chile? S1: … E: ¿Crees que se vive mejor? S1: Es un modo distinto, se toman las cosas de otra manera, como el trabajo… E: ¿Y tú que crees que es mejor? S1: No sé, (inaudible) E: Te gusta más seriedad. S1: Claro. E: Más compromiso. Crees que aquí la gente no se compromete, no tiene mucha seriedad a la hora de trabajar. S1: Me parece que no. E: ¿Pero de divertirse, se divierten más aquí, tú crees, o en tu país también se sabe divertir la gente? S1: No, aquí, acá siempre es fiesta, en mi país no. E: ¿Y tú qué crees de las fiestas brasileñas?, ¿has tenido oportunidad de ir a alguna fiesta típica, una fiesta junina o carnaval? S1: No, fiesta junina, no, carnaval tampoco, no fui. E: ¿Has participado de alguna fiesta, de algún acontecimiento? S1: No,… una cosa que ahora me acuerdo, en el Club Naval, para el Carnaval, ahí sí. E: ¿Eres asidua de algún club? S1: De ese club. E: Yo también. ¿Cuándo llegaste aquí te apuntaste al club? S1: Claro. Es interesante (inaudible) E: Vas allí un poco para socializar, para encontrarte con gente. ¿Conocéis gente allí en el club? S1: No, no mucho todavía, no sé si es fácil conocer gente allá, no sé. E: Tú sabes que el club hace cursos de remo, de windsurf,... Allí puedes conocer. Es una oportunidad de ir conociendo gente. Aquí conoces gente o por el trabajo,... Tú aquí no trabajas, ¿no? S1: Ese es el problema que no trabajo, acá es imposible. E: ¿Tú intentaste trabajar aquí? S1: Claro, en la embajada, en la embajada colombiana, el chico dijo que no, que no podía hacer nada. 7 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 432 433 434 E: ¿Por qué no podía?, ¿qué te dijo? S1: Que el trabajo não dava (inaudible) E: Pero había alguna solicitud de trabajo o alguna cosa. S1: Claro, yo le había pedido para trabajar ahí, (inaudible). E: Ah! Era un amigo, un conocido. S1: Claro, sí, eso. Por eso es yo quiero volver a Chile, donde yo pueda trabajar también. E: Es complicado. Tu madre por el trabajo debe conocer más gente. S1: Claro. E: ¿Y con los colegas de portugués? S1: Ah! Sí, también, hemos salido a veces. E: ¿Os lleváis bien? S1: Claro. E: ¿Tú echas de menos…? S1: Echo de menos eso, las amistades de allá. E: Te escribes con ellos, tienes relación S1: Ah! Sí, por e-mail, por el Messenger. E: O sea que hablas directamente con ellos. S1: Eso. E: Tú me comentabas precisamente en el cuestionario que te había sido difícil encontrar lugares donde había Internet. S1: Tampoco hay mucho aquí, (inaudible). E: Te sigue pasando eso o ahora te sientes mejor con el portugués. S1: Ah! Me siento mejor, pero todavía me pasan cosas que no entiendo, (inaudible) [que era delgada tampoco]. E: ¿Y ahí qué hacías cuando no entendías alguna cosa? S1: Preguntaba, (inaudible) E: ¿Tú lees bastante en portugués o qué haces tú para aprender? S1: Sí, diarios, Veja, también televisión. E: Televisión tú ves bastante. S1: Claro. E: ¿Y música? Me decías que te gustaba… S1: También escucho música. E: ¿Qué te gusta de la música brasileña? S1: No sé, Maria Bethania, Caetano Veloso,… E: La música popular brasileña. Te lo dicen los amigos, o tú vas mirando. S1: Yo veo. E: Vas mirando a ver lo que te gusta, ¿no? S1: Sí. E: A mi una cosa que también me chocó bastante fue los horarios de las comidas. No sé cómo será en Chile, no, los horarios de las comidas. S1: Ah! Eso, (inaudible) doce horas, yo no entendía como la gente almorzaba a las doce, yo sigo almorzando a la una y media, como siempre. E: Ah! Tú continuas con los horarios de… S1: Sí, continúo, claro, es raro que acá se almuerce a las doce, no. E: Tú almuerzas a la una y media, allá en Chile almorzáis a la una y media. S1: También, pero a veces almuerzo acá a las dos, a la hora que llegue mi mamá. E: Y aquí se cena a las siete. S1: Sí, el otro día había quedado con una amiga del mestrado, y me dice a las seis y cuarto. ¿Qué es eso? ¡Es muy temprano! (Risas) E: Ahí tomamos un café, en España. S1: Allá también. E: Allá también, a las seis y cuarto, once se llama. S1: (inaudible) E: ¿Tú has notado ese cambio? De cosas que al principio te chocaban, te sorprendían,… S1: Eso, almorzar a las doce, o la cena tan temprano, sólo que yo tan temprano no. 8 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 E: Y antes me decías que tenías nostalgia de tu país por las amistades, claro, pero hay alguna cosa más que notes a faltar, que tengas ganas de…Si a ti te dijeran: hay un trabajo para ti, ¿tú te quedarías aquí, en Brasil? S1: Es que no sé, es muy improbable un trabajo aquí para mi. E: Crees que es improbable. S1: Claro. E: Pero a ti te gustaría quedarte aquí si tuvieras un trabajo. S1: No mucho. E: O sea tú ya has venido aquí con la idea de que vas a volver. S1: Claro. E: ¿Qué echas de menos de allí? Tú me decías en el cuestionario que tu cultura en cierta manera era mejor que la brasileña, ¿en qué aspectos crees que es mejor? S1: Ah! Costumbres, comidas. E: Echas de menos la comida. S1: Claro. E: De comida, ¿qué echas de menos? Porque aquí es bastante variada. Yo echo de menos el pescado, por ejemplo. S1: Aquí no hay pescado. (…) *** 9 Entrevista realizada em casa do informante no dia 23/5/05 às 8,30 horas Duração: 45 minutos Transcrição: 7 horas Observações: Muito barulho provocado pelo transito da L2. Tem alguns trechos inaudíveis na transcrição. Aos 45 minutos dou por acabada a gravação e conversamos distendidamente 15 minutos mais. Sem a gravadora ele fala dos sentimentos diversos com respeito ao Brasil. Ele se mostra contrario a idéia de morar permanentemente no Brasil, quer conhecer outros países e voltar para Guatemala. Ele fala que sente saudade da sua sociedade, da sua língua, ainda que reconheça que o contato com Brasil lhe está fazendo ser mais tolerante. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 ENTREVISTA S2 E: Bueno, vamos a iniciar la entrevista. S2: Bien E: A mí me gustaría que me explicaras un poco dónde naciste, cómo te criaste, con quien vives actualmente,… S2: Esta bien, bueno, yo nací en la ciudad de Guatemala, viví con mi papá toda mi vida hasta los dieciocho años y medio en que ya me vine por aquí eh. Mis padres eran divorciados, eh, yo vivía con mi papá, eh, siempre en una cultura bastante alta, se podría decir, porque yo estaba acostumbrado a lo que hubiera querido, verdad. E: ¿Que allí tenías una cultura más alta? No entendí. S2: Bueno, por ejemplo, de las clases que hay en Guatemala, que están bien marcadas, yo estoy en la alta, verdad, pero no, no me gustaba mucho, verdad. Entonces yo quería algo diferente, no me gustaba que me dieran todo, quería conseguir las cosas por mi cuenta, verdad. E: Entonces allí en Guatemala hay una jerarquía. S2: Bien marcada. E: Bien marcada, ¿no? S2. Bien marcada. Por ejemplo están los indígenas que son los más dis…que la gente más discrimina, está la clase media baja, que tienen sus zonas, por ejemplo, porque allá viven por zonas en la capital, entonces… E: ¿Tú eres de la capital? S2: Soy de la capital E: ¿Naciste allí? S2: Nací allí. Entonces está la media baja que tiene sus zonas, la zona media alta que tiene sus zonas, la alta que tiene sus zonas, tengo una clase todavía mayor que también tiene sus zonas. E: O sea está totalmente separado. S2: Está totalmente , digamos, separado. Se mezclan las clases solamente si se necesita, por ejemplo, la clase alta necesita alguien para hacer los trabajos domésticos entonces van para bajo, pero ahí no se mezclan para nada, no conviven, entonces, bien marcado. E: Una sociedad muy clasista ¿no?, por lo que me cuentas. S2: Sí. E: Entonces tú fuiste criado en una familia de clase alta, de poder adquisitivo alto… S2: Pues…empezó que mi familia era pobre al principio, pero la determinación de mi papá y de mis abuelos como que subieron en un dos por tres, en cuestión de dos años ya estábamos viviendo en una mejor zona, en un mejor ambiente, estudiando en mejores colegios, entonces fue un cambio que ni dio para sentirse, de verdad. E: Entonces la ascensión social es posible. S2: Sí E: Aunque esté muy compartimentada, se puede, por trabajo, ¿no? S2: Se puede, se puede, por trabajo, por esfuerzo. E: Porque hay sociedades que aunque trabajes no hay manera de ascender. S2: Es que allí las clases están divididas por dinero, el que tiene dinero se mezcla con cualquier clase, pero el que no tiene, no puede, de verdad. 1 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 E: Entonces tú estabas acostumbrado a vivir bien, buenos colegios,… ¿tener empleados quizás en casa? S2: Eh…No tenía empleada porque vivía sólo con mi papá, entonces no había porque tener una empleada ahí todo el tiempo, pero sí llegaban para hacer limpieza, por ejemplo, entonces yo no me preocupaba por esas cosas y todo eso vino a cambiar aquí totalmente porque vivo aquí sólo y todas las cosas y tengo que hacer yo mis cosas, todo lo tengo que hacer, verdad, no tengo carro que es otra de las cosas… E: ¿Allí tenías tu coche propio? S2: Tenía un coche mío, propio. Lo tenía como 5 años o más. E: ¿Cinco años? Tú eres muy joven. ¿Allí se puede conducir tan joven? S2: Se puede conducir desde los catorce. E: ¿Tienes hermanos, Kevin? S2: Tengo dos hermanos más pequeños. E: ¿Y ellos viven con tu padre o con tu madre? S2: Uno con mi papá y otro con mi mamá. E: O sea, que hacía tiempo que tú ya vivías con tu padre. S2: Pues yo empecé viviendo con mi mamá, pero yo…no sé…yo me llevé mucho mejor con mi papá siempre. E: ¿Desde qué edad vivías con tu padre? S2: Desde los catorce años. E: O sea, a los catorce fuiste a vivir con tu padre, tenías tu coche… S2: Tenía coche, tenía todo lo que yo quisiera E: ¿Estabas estudiando? S2: Estaba estudiando. E: ¿Tú en qué te has formado? S2: Pues en un bachillerato en ciencias y letras. E: Ciencias y letras…pero ¿hiciste licenciatura? S2: No. E: Lo que aquí llaman graduação, estudio superior. Porque tú me dijiste en el cuestionario que tú hiciste estudios superiores. S2: Pues bueno, yo entré en la universidad, entré estudiando mercadotecnia, pero yo no terminé,… E: Los dejaste incompletos. S2: Los dejé incompletos por muchas razones, por ejemplo, primero porque salió la oportunidad de venir aquí a Brasil, verdad, y mercadotecnia a mí no me gustó, me pareció una clase un poco…eh… falta de algo, falta, falta de profundidad. E: ¿Qué es eso? No sé lo que es eso exactamente. S2: Pues, técnico en publicidad. E: Ah! Como una especie de marqueting. S2: Marqueting, eso. Entonces es sólo números, no tiene una materia sólida, la verdad, o esto o esto. No hay forma de investigar más a fondo, entonces yo no quería esa carrera. E: Y tú me has dicho que te salió la oportunidad de venir a Brasil. ¿Puedes explicar eso? S2: Pues salió la oportunidad de venir aquí a Brasil y yo le conté a mi papá, no quedó muy contento la verdad, entonces, no quería que viniera, entonces él me dijo que si quería que viniera yo tenía que arcar con el pasaje. ¡Ah! Bueno, le dije yo, la verdad, entonces me fui a trabajar a los Estados Unidos con mi tía, otra cosa que fue totalmente… nunca había trabajado en mi vida, fui a trabajar con mis tíos, pues a arreglar cosas, entrar en las casas,… E: ¿Un taller? ¿Una especie de taller tenían tus tíos? S2: No. Mi tía no, mi tía sólo cuidaba sus niñas, pero mi tío trabajaba de componer piezas (inaudible) en su casa, él iba y yo le ayudaba y también en un restaurante. A los tres meses yo ya tenía el dinero, me regresé para Guatemala y me vine para aquí, verdad. E: ¿Y tú ya sabías algo de inglés cuando fuiste allí? S2: Ah! Sí. Toda mi vida en Guatemala estudié ingles. Allá el estudio…si es un colegio privado te enseñan ingles allá. E: Ah! ¿Allí la enseñanza es en español y en inglés? 2 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 S2: Español primero e inglés segundo. E: ¿Como segunda lengua? ¿Desde pequeño? S2: Desde pequeño, por ejemplo, sólo los primeros años, los primeros tres años que son de los párvulos, de verdad, de los pequeñitos, ahí no, pero una vez en el primer grado, ya, empiezan a enseñarte ingles. E: O sea desde los seis años o ¿desde los siete? Porque aquí es con siete el primer grado. S2: Seis. E: Con seis, como en España. S2: Casi once años estudiando inglés. E: ¿Puedes decir que salís bilingües? S2: Bueno, los guatemaltecos que estudian en colegio privado, porque la escuela pública sí sólo español. E: Ya. En un colegio privado es inglés y español al mismo nivel. O sea que tú sabes hablar inglés. Porque en el cuestionario tú me decías nivel intermediario. S2: Es que…lo que pasa…no sé…como que tal vez a veces me trabo por la falta de práctica porque en Guatemala sólo hablo español y aquí sólo portugués, entonces no es como que tenga mucha práctica, a veces me trabo, confundo las palabras, además aprendiendo portugués también. E: Ya. ¿Pero tú llegaste allí y te podías defender en inglés? ¿Y entendías? S2: Sí, por supuesto. No allá a las dos semanas ya había perfeccionado el inglés de tanta práctica, pero al regresar aquí y al tener un año y no practicarlo, todo baja otra vez. E: Pero eso es normal. S2: Sí, bueno que entiendo, perfecto y que me puedo comunicar también. E: ¿Fue buena esa experiencia en Estados Unidos? S2: Muy buena. E: ¿Y no pensaste en quedarte allí? S2: No, porque cuando yo me foco en una cosa quiero conseguir eso, entonces yo me había focado en venir aquí. E: Y ¿Por qué? Me puedes explicar eso, porque tú me habías dicho que las razones eran académicas. S2: Pues las razones eran académicas, quería venir a estudiar aquí, pero también otra cosa es que no quería que me lo dieran todo, no quería tener todos aquellos privilegios, quería sentir lo que se siente al ganar algo ,verdad, por mi cuenta, entonces aquí yo sabía que iba a perder absolutamente todo,verdad,, entonces, no sé… E: ¿Y por qué Brasil? ¿Por qué no cualquier otro sitio, Estados Unidos, por ejemplo, habías trabajado? S2: Ah! Lo que pasa es que en el colegio te pasaban universidades, pasaban universidades en el colegio diciendo: miren, estudien aquí y todo eso, la verdad, pero…llegaron embajadas también, por ejemplo, llegó la embajada de Méjico, la embajada de Argentina, llegó la embajada de Brasil, entonces... español ya sé, quiero aprender otro idioma, quiero comprender otra cultura, no es como que…no sé… este país es el más diferente de toda Latinoamérica, yo ya había visitado muchos países, de verdad, porque mi papá era presidente de boliche, de la federación de boliche de Guatemala y del Caribe, verdad, Centroamérica y Caribe, perdón,…entonces conozco toda Centroamérica y… E: Porque tu padre era político... S2: No, era presidente de la federación de boliche. E: Porque… ¿La profesión de tu padre cuál es? S2: Bueno, el no se graduó en la universidad, quedó en el tercer año de administración de empresas, pero se dedica a todo lo que usted pueda imaginarse. E: ¿Negocios? S2: Sí, es un empresario, construye casas, por ejemplo, después las vende. Tiene una fábrica de poliductos, ¿sabes lo que es eso? E: ¿Una fábrica de poli…? S2: Poliducto. Como en Guatemala hay demasiado campo para la agricultura necesitan tubos que lleven el agua. 3 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 E: Para canalizar el agua. S2: Para canalizar el agua. Entonces eso, tenía también otros negocios, tenía una peluquería, tenía un café-internet, tenía…de todo. E: Por eso tú saliste también inquieto. S2: Sí, ahí creo que sí. Entonces vino él y quiso meterse en el boliche, mas a él le gustaba el boliche de bien pequeño, y empezó y estuvo cuatro años de vocal, después estuvo cuatro años que no estuvo nada y después él se metió a elección y ahorita salió presidente, la verdad. E: ¿Y eso os ha permitido viajar? ¿Tú viajabas con tu padre? S2: Viajábamos bastante. Como yo vivía bien con él, que iba para Puerto Rico, que iba Santo Domingo, Costa Rica, Panamá y también para Europa, verdad, para los mundiales, ahorita como Holanda, él va para Holanda porque tiene que llevar toda su selección, verdad. Me parece que Guatemala es un buen equipo, por ejemplo, tenemos tres de los que hay allá son campeones olímpicos, olímpicos no, mundiales, en los últimos cinco años. E: Eso te ha permitido viajar mucho. ¿Brasil no? S2: Pero nunca conocí Sudamérica. E: ¿Sudamérica no? S2: No, Sudamérica nunca, solo de Panamá hasta Estados Unidos, Canadá, creo que a Groenlandia, pasamos con el avión, verdad, porque íbamos a Dinamarca. E: O sea Sudamérica era la gran desconocida. S2: La gran desconocida. Fuimos a Japón, fuimos a no sé donde,…que habíamos conocido el mundo, verdad, pero no habíamos conocido el Brasil. E: Y ¿qué idea tenías sobre Brasil? ¿Por qué Brasil? Volvemos a esa pregunta anterior. Me dijiste un motivo la lengua,…aprender otra lengua y aprender otra cultura. S2: Exactamente. Quería conocer algo nuevo, …algo que no tengo, algo nuevo, quiero conocer ciudades nuevas, quería conocer algo nuevo, así de simple, como, por ejemplo, estoy aquí y ahora quiero conocer algo nuevo, quiero ir a Argentina, quiero ir a Chile, quiero ir a Perú, quiero ir a cualquier otro lado. E: Ya. ¿Qué idea tenías tú de Brasil antes de llegar aquí? S2: ¿Qué idea? E: ¿Cómo te la imaginabas antes de venir aquí? S2: Pues la verdad es que no tenía idea y eso es lo que me llamó la atención. E: ¿Ninguna idea? S2: Ninguna idea. E: Aunque no se tenga ninguna idea, alguna idea, alguna cosa… ¿no? S2: Es que yo tenía un amigo aquí que siempre decía: sí que aquí…, él está aquí en Brasilia, la verdad, cada cuadra tiene sus cosas que no sé qué, de verdad, sus necesidades básicas, peluquerías,.. E: Él ya te había informado. S2: Él me había dicho, entonces yo… E: Pero Brasil como país…y los brasileños. S2: Como país… pues yo siempre imaginé que era un pueblo simpático, la verdad, que iba a ser un pueblo simpático, amables, generosos y no tan complicados como la sociedad de Guatemala donde yo me desenvolví. E: ¿Sois complicados? S2: Ah! Sí. Necesitan de mucho para lograr satisfacer, la verdad. E: Eso me contabas tú, me decías que era una cultura más sofisticada que la brasileña, ¿no? ¿Puedes explicar? S2: Sí. Bueno, aquí las personas son felices sin necesidad de nada, por ejemplo, usted los verá en chancletas a los brasileños en las calles, usted no puede hacer eso en Guatemala, lo discriminan totalmente, le dicen indígena, le dicen…la verdad, entonces usted tiene que llenar las expectativas del pueblo para poder vivir allá, a excepción que si es extranjero, la verdad, pero eso ya es otra cosa, por ejemplo, los gringos que llegan pueden ir de short que no le importa a nadie, la verdad, pero si vieran a un guatemalteco así lo llevan al suelo…totalmente de una mirada hasta un …hasta si necesita un favor no lo hacen, de verdad…entonces también allí se necesita tener mucho, por ejemplo…aquí, por ejemplo, miro la gente aunque no tenga 4 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 carro, están felices, allá no, si no tienen carro, se tiene que conseguir, como sea, porque sino nunca van a ser felices, la verdad y así y tienes que estar creciendo constantemente, por lo menos en la zona donde yo vivía, o sea, tenían esto, ahora es esto y ahora es esto, y ahora es esto. No se pueden quedar en un sólo lugar tranquilos ya, la verdad, como mi papá, que sigue ahí, si sale de presidente va a querer hacer otra cosa, la verdad, es así, sencillamente. En cambio aquí no, aquí yo los veo un poco más tranquilos, un poco más calmados. E: ¿Y a ti qué te parece? S2: Pues son dos lados totalmente diferentes, la verdad. E: Tal como lo estás mostrando... Y entonces… ¿A ti qué te parece? S2: Pues, para mí debería haber un equilibrio entre las dos, la verdad, pues yo creo que en todos mis viajes que he hecho, la verdad, eso es de las cosas que quiero aprender, que es lo que se necesita realmente y yo digo que entre las dos estaría bien, no ser tan conformista porque nunca se va a poder tener algo, nunca se va a poder sentir… E: ¿Crees que son conformistas los brasileños? S2: Pues algunos sí, con algunos que he hablado, por ejemplo, algunos amigos que tengo aquí que lo único que quieren es salir todos los viernes y sábados a parrandear y son felices, ya no quieren nada más, y ahí están en la Uni porque tienen que estudiar, que quieren ya hacer algo, está bien difícil, la verdad. Y tiene algunos que no, la verdad, como en cualquier sociedad, pero en sí lo que yo admiro, por ejemplo, cuando voy a la universidad y estoy caminando, tiene un montón que están ahí como sin ganas, de verdad. E: Tú hablabas de pueblo dormido en el cuestionario. S2: Sí, de un pueblo un poco dormido, eso no lo digo yo, como que yo lo vi, sino que me lo dijo una maestra, yo estaba estudiando en el PEPFOL, de mañana también, entonces había una maestra que dijo: “sí, nosotros somos un pueblo dormido, el gobierno de aquí duerme a la gente para que no se exalte”, la verdad, les ponen fútbol y otras cosas que me dijo pero no me acuerdo y ya quedan tranquilos, quedan contentos, de verdad. Entonces como que el gobierno duerme a la gente aquí. Eso dijo la maestra y eso que es brasileña, de verdad. E: Entonces tú estudias también en la PEPFOL por la mañana. S2: Es que me parece que sólo estoy estudiando portugués, porque es un convenio en el que estoy. Tengo que hacer un año de portugués, tengo que salir aprendiendo la lengua perfectamente. E: Explícame eso. Tú viniste aquí entonces ya con un convenio… S2: Sí, un convenio entre embajadas, la embajada de Brasil y la de allá, claro, entonces… E: ¿Sólo estás estudiando portugués? S2: Este año sólo me toca portugués, lo que no me está gustando mucho. E: ¿No te está gustando? S2: No, porque es demasiado, me quito todo el día. Me gustaría que fuera, ¿qué le digo?, sólo la mañana, la verdad, cuatro horas en la mañana no me importaría, pero que me dejara la tarde libre para hacer otras actividades. E: ¿Cuatro horas haces por la mañana? S2: Los lunes, miércoles y viernes de ocho a doce, que es bastante. E: ¿Y por la tarde también estás estudiando? S2: Los martes, miércoles, (se corrige) , los martes, jueves y viernes de cinco a siete, entonces este horario ya me quita toda mi vida, por estar pendiente de eso ya no puedo hacer otras cosas que me gustaría. E: Realmente estás sólo estudiando portugués. S2: Y ahorita …eso fue una maestra, que vio que yo estaba un poco más adelantado en el idioma, que me dio otra oportunidad, porque solamente era de diez de la mañana a doce del día y de dos de la tarde a cuatro de la tarde. ¡Me quitaba todo mi tiempo! ¡No podía hacer absolutamente nada! ¡Toda la tarde y toda la mañana perdida! E: Pero… ¿Por la mañana estás en un grupo también? S2: Estoy con un grupo de Portugués 1 y Portugués 2. E: Eso por el convenio con las embajadas. 5 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 S2: No, el convenio es PEC-G, es otra turma, que es la otra que le estaba hablando, que es de diez de la mañana a doce y de dos de la tarde a las cuatro, todos los días, pero entonces sí me quitaba mucho tiempo y quería hacer otras actividades realmente. E: Y ese convenio… ¿Por qué? Porque tú tienes que estudiar un año portugués para después poder hacer alguna cosa. S2: Sí, tenemos que hacer un examen, el CELPE-BRAS, tenemos que pasar el examen, entonces ya podemos entrar en la universidad…es como el vestibular para nosotros, tenemos que ganar ese examen para poder entrar en la universidad. E: Tu objetivo es entrar aquí, en la universidad de Brasilia. S2: No, voy a estudiar en São Paulo. E: ¡Ah! Vas a estudiar en São Paulo. S2: Sí. E: ¿En cuál? S2: En la UNESP. E: En la UNESP. Y has hecho los pasos… S2: Sí, o sea lo único que tengo que llevar es el certificado, pero en Internet sale que nosotros pasamos el examen, entonces ya revisan. E: Porque… ¿Cuánto tiempo tú quieres vivir aquí, en Brasil? S2: Mi carrera. E: O sea, tú te quieres formar aquí. S2: Tengo que formarme aquí. E: ¿Y qué carrera quieres hacer aquí? S2: Voy a hacer psicología. E: Nada que ver con… S2: Nada que ver con marqueting. E: Muy bien, o sea Psicología en São Paulo. S2: En São Paulo. E: ¿Por qué São Paulo? S2: Pues porque está más cerca de todo lo demás, por ejemplo, voy a Uruguay, voy a Argentina, voy a cualquier capital de Sudamérica, se podría decir, de verdad. Bueno, São Paulo es São Paulo. E: ¿Ya la conoces? ¿Conoces São Paulo? S2: Sólo llegué del avión, del avión para la rodoferroviaria, y de la rodoferroviaria para aquí. E: Pero ya viste que era una enorme ciudad. S2: Ciudad enorme. E: No tiene nada que ver con Brasilia. S2: No. E: Y aquí la experiencia ¿cómo te está resultando? S2: Pues aquí estoy durmiendo yo también. No sé como que, en Guatemala me levantaba a las siete de la mañana y tenía que estar fuera en la calle, tenía que estar saliendo, haciendo cualquier cosa, iba a gimnasia a las siete de la mañana, era el único hobby, verdad, en el gimnasio a las siete de la mañana y allí estaba echando hasta las nueve, por ejemplo, cuando tenía vacaciones, verdad, y después me iba a la casa de mis amigos, después a no sé dónde, a ver otra cosa, y así allá a las nueve de la noche a mi casa sólo a dormir, de verdad; pero aquí no, aquí lo único que salgo (inaudible) de la casa. E: Es otro ritmo. S2: Sí, totalmente, aparte que el calor como que cae a las personas, de verdad. E: ¿Allí no hace tanto calor? S2: Es un poco más frío, de verdad, bastante más frío, unos quince grados menos E: O sea, qué te esta cambiando un poco la manera de… S2: Ah! Sí, como cualquier civilización. E: Porque una de las preguntas del cuestionario es si te había cambiado la manera de ver el mundo y tú me dijiste que no. S2: ¿Te dije que no? 6 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 E: Me dijiste que no. Me extrañó porque me habías puesto que habías estado en Estados Unidos y uno normalmente cambia un poco, ¿no? S2: Sí, tiene que cambiar. E: ¿Si? ¿Has cambiado? S2: Sí, pero yo, por ejemplo,…sí, si he cambiado. E: ¿En qué aspectos? S2: Primero mi anarquía, aquí me (inaudible)un poco y no está tan mal, como que ya encontré un equilibrio, de verdad. Otra que como yo, siendo guatemalteco, también era bien discriminador, bien discriminador, como cualquier otro guatemalteco, de verdad, excepto (#), ella no es nada así, ella es la ovejita negra del país, se podría decir. E: ¿Ya la conocías de antes? S2: Sí, ya. E: Ah! Ya la conocías allí. S2: Sí. E: Pero… ¿ella vino antes que tú? S2: Sí, ella vino antes,…es que, por ejemplo, su papá le dio el pasaje y todo, mi papá no me dio el pasaje. E: O sea, ya salíais allí. S2: Sí. E: Porque vivis juntos, ¿no? S2: Sí,…entonces,… ¿qué más? E: El cambio de…la percepción nueva que tienes, ¿no? Me has dicho que aquí de alguna manera has encontrado un equilibrio entre las prisas y el excesivo relajamiento, ¿no? S2: Yo creo que porque había corrido demasiado también. E: Me decías también que discriminabas, que allí discriminabas igual que cualquier guatemalteco. ¿Cómo actuabas? S2: Entonces aquí, al venir aquí ni se imagina, de verdad, cómo un guatemalteco va a actuar en un país así. E: Y ¿Cómo actuabas? S2: Ah! Pregúntale a (#), era aquella discriminación horrible, hasta yo me decía: no hombre, ya. Entonces tuve que ir cambiando poco a poco, de verdad, porque no podía hacer eso, pues estaba en este país, tengo que vivir aquí, tengo que me meter, tengo que convivir con ellos, de verdad, pero …sí me ha costado, por ejemplo, ver personas con chancletas en medio de la calle, en pijama (sonido j como palatal), en short todo el tiempo, no puedo ver, pero aquí hay cosas tan raras… E: Las formas de vestir… S2: Las encontraba un poco…, por ejemplo, iba al Patio Brasil (sonido u en vez de l), de verdad, en la entrada se ponían un montón vestidos de negro, un montón de jóvenes vestidos de negro, pintadas las uñas, y con unos cabellos…No ¿qué es eso? Pues, de verdad. E: ¿Allí vais vestidos más formales? S2: Yo, por ejemplo, cuando voy al cine voy vestido bien, es una costumbre que nosotros tenemos los guatemaltecos. E: ¿Qué es ir vestido bien? S2: O sea, ir con un jeans, qué le digo, no sucio, un buen jeans, zapatos elegantes, no elegantes así como para ir a una fiesta, pero tampoco… no sé como explicarle…limpios, no tenis, o una playera, pero, ir bien, con gelatina, bien presentado, de verdad, entonces… no como que acabo de levantarme, me puse una camisa y un short y me voy para allá, de verdad, entonces es otra cosa que... Igual (#), ella no puede ir al cine en tenis, tiene que ir con tacón, tiene que ir con sandalias, pero tiene que ir de alguna forma, de verdad, tiene que ir arreglada. E: ¿Por qué ella quiere? S2: Si. E: o… ¿Por qué a ti te gusta? S2: No, porque ella quiere. Yo le digo: ándate en tenis, aquí cambié hasta en eso, yo hasta en tenis me voy a veces, porque digo si todos van en tenis, para que me voy a ir así yo, no voy cómodo, entonces le digo ándate en tenis que no sé qué, no sé cuánto, ella no. 7 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 E: Las formas de vestir es algo que te extrañó bastante. Alguna otra cosa que te haya producido así una especie de choque, o decir: ¡qué extraño!, ¡qué diferencia de mi cultura! S2: La comida, comer arroz y frijol todos los días en el almuerzo, y frijol en el almuerzo, no, nunca, eso nunca había hecho yo, por ejemplo, para comer tenía que comer un arroz, al principio, ahorita ya no como ahí. E: ¿Dónde comías? S2: En el REU, en el restaurante universitario. E: Ah! Sí. S2: Y todos los días era arroz y carne toda desaborida o algo así, de verdad, pero claro que era de restaurante, pero igual, aquí se come arroz y frijol en todos los lados donde te invitan arroz y frijol para el almuerzo, siempre, entonces, yo no no no no podía entender eso, la verdad. E: ¿La comida en Guatemala es más variada? S2: Es mucho más variada. E: ¿Puedes explicar un poco? S2: Pues, qué le digo, teníamos arroz una vez a la semana y frijol no había en el almuerzo, era imposible encontrar frijol en el almuerzo, verdad, después habían caldos… E: No te gusta el frijol. S2: No, a mí me encanta el frijol, nosotros somos guatemaltecos, hacemos otras cosas, el frijol en Guatemala…, pero es para el desayuno y son colados, ¿sabes como es? E: No. S2: En lugar de las bolitas…es, ¿cómo se llama? es amasado totalmente y es con huevo, entonces, se come con huevo, huevo, frijol, pan, es un desayuno. Pero, vine aquí y frijoles en el almuerzo, ¡imagínate! ¡Qué horror! E: O sea la comida la encontraste bien diferente de tu país. S2: Bien diferente. E: ¿Y ahora qué haces? ¿Comes en tu casa? ¿Haces tú la comida? S2: Sí, casi yo siempre, porque... (#) de vez en cuando, así…como ella va todos los días de ocho a doce a la uni…me gusta hacerle eso. E: ¿Y habéis adaptado alguna cosa de aquí? S2: Yo como si estuviera en Guatemala, excepto algunas cosas como caja de panquecas, de verdad, caja para hacer panquecas, uno tiene que hacer su mezcla,…no me salen como quisiera. Las cajas de panquecas… (Inaudible) tranquilo que va a vender, te lo juro. E: (Risas) Sí, yo también extrañé mucho la comida. Aún cocino cosas de allí. S2: La paella. E: La paella. Pero dime el vestir, las comidas,…y ¿las relaciones entre las personas? S2: Bueno, las relaciones también es otra cosa, la verdad. Aquí es fiesta todos los días, bueno, no es tan diferente de Guate…pero, no es tanto fiesta, sino que es reunirse con los amigos y todo eso y la mentalidad que es un poco bien liberal, que es otra cosa que me…hay mucho gay aquí y uno los mira agarrados de las manos por la calle, para mí eso es falta de respeto, la verdad, es otra cosa que también no, no… me choqueó la verdad. E: ¿En Guatemala no se es tan permisivo? S2: ¿En Guatemala? Te miran un gay y ¡ya te imaginas!, la verdad. Lo apedrean y ni siquiera la clase alta no hace nada, las clases altas… E: ¿Lo apedrean? ¿Quieres decir físicamente? S2: La clase media alta tampoco, pero la baja, mira un gay y lo siguen, le tiran piedras, lo apalean con un palo, ¡es increíble! E: Son muy discriminados. Aquí son más tolerantes, ¿no? S2: Aquí sí. Ayer estábamos comiendo un sorvete (pronunciado i final), no me sale la palabra. E: Un helado. S2: Un helado, y entró un gay y ah! Que…Yo no, no aguantaba (risas). No podría. E: Y las relaciones con… ¿Tienes amistad con brasileños? S2: Sí. E: Antes me hablabas que te habían invitado, que habías ido a alguna casa y te habían servido el arroz y el feijão y… ¿Has hecho amistad rápidamente con brasileños? 8 426 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 S2: Pues no, porque yo estoy con mis amigos. Soy alguien que escojo, por ejemplo, si alguien es demasiado perezoso yo no puedo estar con él, necesito alguien activo, la verdad, porque sino yo también me duermo, también, la verdad, yo necesito alguien…, si veo que alguien es un poco bruto, tampoco voy con él, la verdad, entonces, también tengo que escoger bien, y aparte como no dominaba la lengua, no era como que podía conocer a la persona, entonces trataba de alejarme un poquito y sólo me juntaba con los latinos…los hispanofalantes, la verdad. E: O sea, que tu grupo de amigos es más de hispanohablantes. S2: Sí. Sólo casi. E: ¿Tenéis un grupo para salir? S2: Sí, tres ecuatorianos, dos peruanos, tres bolivianos, dos argentinos, y…más algún paraguayo. E: Es un buen grupo. S2: Sí. E: ¿Frecuentáis locales también que hay otros hispanoamericanos? S2: Sí. Ellos son diplomatas, viven en el Lago. E: ¿Son diplomáticos o hijos de diplomáticos? S2: Hijos. E: Hijos. S2: Entonces ya te imaginas todas las libertades que tienen, verdad, entonces son aquellas cosas que vamos al Caribeño, ¿tú lo conoces? E: Sí, lo conozco. S2: Entonces eso es para hispanofalantes, verdad E: Música latina… S2: Y ocasionalmente hacemos reuniones en casa de alguno, como hay tantas casas para escoger. E: ¿Ellos viven en el Lago Sur? S2: En el Lago Sur. Entonces nos vamos para allá. Ahí encontré como que algo similar donde yo frecuentaba en Guatemala, la verdad. E: Claro, porque aquí también hay una cierta jerarquía. S2: Ah! Sí, por ejemplo, los que viven aquí en el Plano Piloto con los que viven en el Lago es bastante, y todavía hay los que viven en las ciudades satélites. E: ¿Y tú no te has sentido discriminado? S2: Pues no, la verdad, yo creo que no hay la oportunidad de eso. E: ¿Y con los brasileños? Tienes un buen grupo ya de amigos latinoamericanos, entonces casi no necesitas amistad… S2: Exacto. Es una de las cosas que me está dificultando aprender portugués, que yo tendría que tener amigos brasileños. E: Claro. Porque tú realmente portugués estás hablando bastante porque estás haciendo muchas horas ¿no? de portugués, pero aparte de la escuela lo utilizas en alguna otra… S2: No, ese es el problema, porque yo con Andrea sólo hablo español, la familia de Andrea es una colombiana, es una peruana, entonces sólo español y con todos mis amigos sólo español, entonces sólo hablo portugués con todos los que están aprendiendo portugués o con el maestro, verdad. E: Y los que aprenden portugués también son latinoamericanos, ¿no? S2: Eh,… bueno, en la mañana yo no estudio con latinoamericanos. E: ¿Son de diferentes nacionalidades? S2: Son africanos, son franceses, son japoneses. E: Ahí sí que tienes que hablar todo en portugués, ¿no? S2: Ahí todo en portugués porque sino no nos entendemos. E: O sea, cuando vas a comprar sólo…y pocas interacciones en portugués, ¿no? S2: Sí. Exacto. E: ¿Qué haces para aprender más portugués? ¿Te pones música o…? S2: Trato de pensar en portugués porque yo creo que toda la gente piensa en su cabeza, de verdad, entonces yo trato de cambiar las palabras en español para el portugués, trato de decir cómo se diría esto, y en lugar de preguntarle yo tengo hábito de buscarlo y digo: ¡Ah! Bueno. 9 481 482 483 484 485 486 487 488 489 490 491 492 493 494 495 496 497 498 499 500 501 502 503 504 505 506 507 508 509 510 511 512 513 514 515 516 517 518 519 520 521 522 523 524 525 526 527 528 529 530 531 532 533 534 Por ejemplo, iba, yo siempre decía: yo iba para no sé qué, ia, entonces yo decía: “iba”, no “iba” no es, entonces yo me puse a preguntar y así hablando con alguien, ia, ia.¡Ah!, ia. E: ¿Te sientes confortable hablando en portugués? ¿Te sientes bien? S2: Sí E: O crees que… S2: No, está bien, está bien el portugués. E: ¿No tienes algún problema? Por ejemplo había una pregunta en el cuestionario que decía: Crees que todo lo que tú tienes en tu cabeza lo puedes decir en portugués. S2: ¡Ah! No. No todo. E: Y ahí ¿Cómo te sientes? S2: Me siento con las ganas de tratar de explicarme bien, por ejemplo, si no tengo algo yo busco la forma de cambiar la oración para poder decirlo la verdad. E: ¿Qué estrategias utilizas? Me puedes poner algún ejemplo. S2: Por ejemplo hoy tengo que hacer algo de… una presentación, en la PEPFOL hoy a la tarde, es un examen oral, entonces tenía unos textos en inglés sobre un grupo que me gusta, entonces voy a hablar de eso, entonces miraba la grabación y decía: ¿cómo digo eso? Traducía pero al español, pues ahora al portugués, ¿cómo la traduzco al portugués? Entonces tengo que agarrar otra forma, no puedo traducirlo totalmente, tengo que tomar otra forma, de verdad, de decirlo, con palabras… E: Pero… ¿Tú crees que ahora ya tienes un buen nivel de portugués? S2: Acá hicieron un examen, verdad, saqué siete punto ocho, pero lo que tengo muchos problemas en que mezclo el español con el portugués, la verdad es como para que no, entonces la maestra no me entiende porque es de Río,…No entiendo, no entiendo cuando me habla. Me dice et..etnia, la verdad. Etnia, yo lo entiendo, pero me dice etnia (pronunciado con d). Entonces yo pensé que era étnica o algo así, entonces no entendía, por eso te decía… E: El acento es un poco diferente. S2: Eh…Como yo no estoy acostumbrado a tratar personas de Río, entonces sí me costó y me bajó puntos por eso. E: ¿Ves películas, ves la televisión para…? S2: ¡Ah! Sí, tengo. E: ¿Ves películas brasileñas? ¿Te gustan las películas brasileñas? S2: No, no he llegado a ver ninguna película brasileña, pero…realmente miro…nos gustan las películas, a veces, de niños, ahora, por ejemplo, Los Increíbles o…Son películas buenas, la verdad. E: Los Increíbles es muy buena. S2: Entonces,…sólo está en portugués, entonces eso ayuda, la verdad. E: ¿La entendiste bien? S2: Sí. Cuando mi mamá vino aquí salió Garfield, yo fui a ver Garfield, me gusta Garfield, pero yo lo vi en inglés, era en portugués y yo no entendí nada. E: ¡Ah! En Guatemala veíais el Garfield en inglés. S2: Sí, o sea, las películas en Guatemala están dobladas, sólo las matinales que están para…en español para que las vean los niños, pero aquí está en portugués Garfield y no entendía nada. Todos se mataban de la risa y yo decía: ¿por qué?, la verdad, entonces… E: Entonces aún te cuesta entender un diálogo cuando hablan deprisa. S2: No. Eso no, eso fue al principio, ahorita ya no, ahorita… Los Increíbles, fuimos a ver Madagascar ahorita. E: Porque… ¿Cuánto tiempo llevas aquí? S2: Casi un año. E: Casi un año. S2: Sí, entender, comprensión estoy rebién, o sea yo entiendo cualquier cosa que me hable cualquiera. E: ¿Sí? ¿Cualquier conversación? Porque una cosa es que te hablen y otra cosa es estar ahí en una rueda de personas que empiezan a hablar deprisa, como nosotros, y entonces cuesta un poco más. ¿A ti no te cuesta? 10 535 536 537 538 539 540 541 542 543 544 545 546 547 548 549 550 551 552 553 554 555 556 557 558 559 560 561 562 563 564 565 566 567 568 569 570 571 572 573 574 575 576 577 578 579 580 581 582 583 584 585 586 587 588 589 S2: Sí, la verdad que no… y tampoco me cuesta hacerme entender porque las personas me entienden aunque yo mezcle las lenguas, de verdad, me entienden. E: Te entienden. S2: Sí, pero tengo problema que mezclo. E: ¿Y no te ha producido algún malentendido? S2: No, para nada, eso está viendo que no tengo ningún malentendido yo. E: Fíjate pues… S2: Trato de evitarlos E: Ni malentendidos,… ¿Ni de una palabra?, porque hay muchas palabras que en español que para nosotros tienen un significado y que para los brasileños tienen otro. S2: ¡Ah! No. Yo me fijo mucho en las cosas, la verdad, por ejemplo, “cocó” [kokó], la verdad, yo para mí era coco [kóko], pero yo me acuerdo que oí una niñita decir “cocó cachorro”, entonces me interesé y pregunté. E: Muy bien. Oye, me hablabas de que tu cultura era más sofisticada y… S2: Es que es bastante, por lo menos donde yo crecí es que es bien diferente, te digo, y mira que aquí en Brasilia es como que lo más alto que hay en Brasil, la vida más cara que hay y yo aún la miro barata comparado con lo que yo tenía, la verdad. E: ¿Si? S2: Allá en Guatemala hay un (inaudible) que es estadounidense donde se hace las compras al por mayor, entonces hay un montón de productos estadounidenses, mi papá sólo hacía compras allí, de verdad, entonces, (inaudible) unas cosas bien dosificadas (sic), de verdad, que yo me acostumbré, entonces vine a vivir aquí, una vida bien simples, tranquilo, la verdad, y la verdad…me siento un poco mejor aquí. E: ¿Te sientes mejor? S2: Sí E: ¿Por qué? S2: En primer lugar porque no gasto tanto dinero en cosas en vano, la verdad. E: Has cambiado un poco ¿no? S2: Por eso yo quería salir y tratar de encontrar lo que yo quería, porque yo aunque no me sentía lleno, sentía que faltaba alguna cosa. E: ¿Aquí te sientes más conforme contigo mismo? S2: Bueno, todavía no, pero sólo tengo 20 años, todavía falta mucho, ya encontré algo, la verdad, ya encontré por lo menos el equilibrio que quería. Ahora voy para Sao Paulo, tengo que encontrar alguna otra cosa y quiero viajar por Sudamérica, para encontrar alguna otra cosa. E: ¿Crees que tienes que agradecer entonces alguna cosa a la cultura brasileña? S2: ¡Ah! Sí, por supuesto. E: ¿Qué crees que te han ofrecido los brasileños o la cultura brasileña? S2: Tal vez no la cultura brasileña y sí el cambio de país, por ejemplo, me abrió los ojos, la verdad, realmente el mundo, creo que me hubiera pasado lo mismo si me hubiera ido a Perú, por ejemplo, la verdad, la misma cosa, la verdad, o Bolivia, que la mayor parte son indígenas, ¡imagínate! También me hubiera pasado lo mismo, pero creo que la cultura brasileña es bien diferente a las demás, verdad, aquí en Sudamérica, y talvez fue el mejor lugar donde hubiera caído. E: ¿Crees que es diferente a todas las demás? ¿En qué aspectos? S2: En primer lugar la lengua, luego las personas, excepto aquí en Brasilia que son bien fechados, bien cerrados, de allí fuera, por ejemplo, en Mato Grosso y todos esos lugares, son un poco más abiertas las personas, la verdad. E: ¿Has visitado algo de Brasil? S2: Pues Minas Gerais, Mato Grosso, no, no hemos tenido tiempo para… E: ¿Y habéis contactado con gente? S2: Sí. E: ¿Tú cuando llegaste qué sentimientos sentiste? S2: ¡Ah! Pues, primero no sé…el calor, lo primero que sentí, segundo todavía me sentí aliviado, al principio creo que me sentí aliviado, quería conocer algo y ya lo había logrado, había una meta cumplida, de verdad, entonces, poco a poco fue que no sé como que acá me sucedió, 11 590 591 592 593 594 595 596 597 598 599 600 601 602 603 604 605 606 607 608 609 610 611 612 613 614 615 616 617 618 regresé a la cultura guatemalteca, de verdad, discriminé como a las dos semanas, al principio me sentía bien como que estaba tranquilo, sentía que era una cosa que había logrado entonces no me fijé en lo que estaba alrededor, seguí corriendo, de verdad, porque nunca paré el ejercicio, salía a correr por todos lados, todas las dos asas me corría, entonces miraba todo y estaba todo tranquilo, ya fue después, ya cuando me adapté, ya cuando vi que donde estaba y que no iba salir de aquí, como que me ya dio la cosa de que: ¡Ah! Y ahí me empecé a fijar en todas las demás cosas que me fijaba en Guate, de verdad. E: ¿Y ahí empezaste a sentir nostalgia de tu cultura, de tu lengua,…? S2: Sí, se siente… Se siente la falta de hablar español, de verdad. E: Pero no estás dejando de hablar español. S2: ¡Ah! No, pero al principio, al principio no tenía amigos latinoamericanos, de verdad, pero ahorita ya, pero ya cuando conocí los ecuatorianos… E: Al principio estabas más sólo, no teníais amigos. S2: No teníamos nadie. E: ¿Estabas con (#)? S2: Pero sólo eso, no era como que teníamos amigos, no teníamos donde juntarnos, no teníamos nada, no sabíamos la lengua, como que estábamos, como se dice, tal vez… (Pausa muy larga) me sentía inútil, eso, verdad, porque siempre me he sentido útil, pero aquí no podía hacer absolutamente nada, la verdad. (#) hablaba un poco el portugués, porque llevaba cuatro meses aquí, pero yo no hablaba nada, entonces… E: O sea, el hecho de no poder comunicarte… S2: De no poder comunicarme, de no poder comunicar mis ideas, de no poder hacer eso, me sentía horrible, me sentía mal., ya después conocí los ecuatorianos, que fue los primeros que conocí, ahí sí cambió totalmente la situación, de verdad. E: Muy bien, yo creo que ya podemos… no sé si tú quieres decir alguna cosa más… S2: Está bien. E: Sí. Entonces lo vamos a dejar aquí. *** 12 Entrevista realizada no Departamento de pós-graduação de Ciências da Comunicação, Mestrado FAC, Laboratório de Políticas, UnB, no dia 24/5/05. Duração: 30 minutos Transcrição: 7 horas Observações: Aos 30 minutos dou por acabada a gravação e conversamos distendidamente 15 minutos mais. Sem a gravadora ele fala de diversas situações que tem originado malentendidos - pessoas que lhe pedem quase sem conhecê-lo o telefone e lhe ligam para falar em espanhol, da admiração que sentem os brasileiros por tudo o que é espanhol, de convites feitos dos quais o brasileiro não espera na realidade retorno, da falta de pontualidade - ele já chega pelo menos 1 hora mais tarde do acordado-, das festas que tem ido com brasileiros chamadas “à deriva” e que são totalmente improvisadas, sem saber onde a gente vai acabar, das brincadeiras mal-entendidas por parte de brasileiros 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 ENTREVISTA S3 S3: ¿Dónde grava? E: Aquí está el micrófono. Bueno a mi me gustaría así para iniciar que me contaras un poco donde naciste, el entorno familiar, cuánto tiempo hace que estás viviendo en Brasil y por qué, que ya me lo has contado un poco, pero bueno… S3: Vale. Bueno, pues a ver, nací en mayo del 80 en Jerez, en Jerez de la Frontera, provincia de Cádiz, en el seno de una familia humilde (risas). No, mis…vivía en un bloque del estado porque mis padres eran maestros, mi madre de Córdoba, mi padre de Badajoz y se conocieron dando clases en un pueblo por ahí y pidieron Cádiz porque era el único sitio donde no tenían puntos para poder desplazarse, no. E: ¿Maestros de escuela primaria? S3: De escuela primaria. Si, bueno de segundo…cuando aún tenían ese segundo ciclo, sexto, séptimo y octavo, que ahora cambió. E: Sí, sí. S3: Mi padre era profesor de matemáticas y ciencias naturales, mi madre de lengua y literatura, entonces, vivíamos en unos bloques estos que ponen para los maestros al lado de la escuela. E: ¿En Jerez de la Frontera? S3: En Jerez de la Frontera, en unos bloques allí, rodeados de maestros, eran tres bloques de once plantas todos llenos de maestros, era tremendo. E: Todos eran del mismo… S3: Sí, sí…además eran todos maestros que venían de Extremadura, prácticamente, porque eh…Cádiz era el único sitio donde no necesitaban puntos y Extremadura había muchos maestros, no sé, un lío, hasta el punto de que hicieron una casa de Extremadura allí en Jerez,… (Risas), un montón de maestros metidos. E: O sea que el origen es extremeño. S3: De mi padre, lo que pasa es que ese origen es más fuerte así dentro de las dos familias, de mi madre cordobesa y sevillana, no, de Osuna y Estepa, pero la familia de mi padre casi toda se vino a Cádiz desde Extremadura, entonces el origen es más fuerte y… me crié en Jerez, estuve en Jerez hasta los dieciocho años que me fui a estudiar a Sevilla y he estado viviendo en Sevilla hasta ahora,…excepto un año que estuve con el Erasmus en Francia. E: ¡Ah! Sí. Tú me contabas que habías ido nueve meses a Francia, ¿no? ¿Para estudiar? S3: Sí, para hacer el último año de graduación allí. E: O sea, has hecho la graduación en Sevilla… S3: Sí. E: Graduación en Periodismo y nueve meses en… S3: En París, París trece. Un Erasmus, era una beca Erasmus, que hay un montón. Estuve allí nueve meses, el último año de carrera lo terminé allí, dejé créditos así de libre configuración, optativos y las terminé allí. E: ¿Tú ya sabías francés? 1 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 S3: No, bueno, sí, sabía,… en el Instituto había estudiado como segundo idioma, francés, y después tuve un primero de la Escuela de Idiomas, pero cuando llegas allí te das cuenta de que no, no sabes nada. E: ¿Fue un choque? S3: Claro, porque yo sabía gramática, lo típico, sabía gramática, tal, pero hablar, nada, entonces hablar francés no tiene nada que ver con escribir el…o entender lo que hay escrito. E: ¿Las aulas eran en francés? S3: Sí, claro, todo en francés. E: ¿Y ahí que pasó? S3: Pues un choque igual, pero no…me adapté rápido y había más o menos la flexibilidad de algunos profesores que pedían trabajos, que pedían exámenes. La universidad también es diferente, no. E: Pero los trabajos eran en francés. S3: En francés, claro. E: Y ahí que tenias alguna ayuda. S3: Bueno, yo tenía una amiga de Barcelona, que la madre era francesa, entonces (risas) era bilingüe, entonces nos ayudaba ahí, hacíamos los trabajos juntos, no, pero fue bueno también, tranquilo, no hubo mucho problema con el idioma, bueno hubo problema, pero yo tengo mi teoría que son dos o tres meses donde realmente estás descolocado, pero a partir del cuarto mes se produce un cambio cualitativo donde empiezas a entender, empiezas a poderte desenvolver mejor en el idioma, incluso sueñas en francés o en portugués ahora, empiezas a pensar, a pensar, yo no le veo más problema más o menos. E: ¿Podrías decir que eres bilingüe en francés? S3: No, no. No soy bilingüe, no, el bilingüe es muy complicado, de francés así, sei lá iba a decir, no sé. E: Pero te defiendes. S3: Sí, claro, lo que pasa que ahora no puedo, ahora, por ejemplo, a un compañero le intento hablar en francés y no puedo cambiar el chip del portugués al francés, no, no, es muy complicado también. E: Ahora estás inmerso en portugués. S3: Claro, ahora es portugués, pero sí, el francés lo entiendo y hablar me defiendo también, no hay problema. E: ¿Y la cultura que te pareció cuando estuviste allí? S3: ¿Francesa? E: Sí. S3: Diferente, pero me gustó mucho, a mi me gustaba mucho la cultura francesa de antes y después llegué allí y me encantó, además no tuve mucho contacto tanto con la cultura francesa clásica, no, tradicional, sino con la cultura de las colonias francesas, es decir, que yo vivía en Saint Dennis, que es el norte de París y cuanto más al norte en París es barrio más trabajadores o barrio más de inmigración, entonces yo vivía en un barrio de estudiantes, …no sé si me estoy saliendo un poco del tema, no. E: Vamos a volver. S3: Bueno, termino ya. E: Sí. S3: Vivía en un bloque de diez plantas, no, en cada planta había como diez personas viviendo y éramos catorce blancos allí, el resto eran de Senegal, Argelia, Marruecos, entonces yo estoy con mi francés con acento, decían, que tenía acento de Marruecos. E: O sea que fue un contacto multicultural… S3: Muy bueno, a mi me gustó mucho la cultura allí. E: Tú me has dicho que llevabas cinco meses viviendo aquí. S3: Sí. Llegué aquí el 9 de febrero. E: El 9 de febrero. ¿Y tienes una duración hasta…? S3: Hasta el 9, bueno hasta el 15 de diciembre más o menos. E: Y ahí vuelves otra vez para Sevilla. S3: Vuelvo para Sevilla. 2 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 E: Para continuar estudiando y presentar tu tesis. S3: Claro, la idea es presentar la tesina, que es el primer estadio, en cuanto que llegue, en enero o febrero quiero presentarla y después empezar con la tesis. E: Tus razones, me dijiste en el cuestionario, que eran académicas. S3: Claro. Y laborales también, me pagan por estar aquí, entonces es como un trabajo. Yo soy un becario precario de estos que tienen allí en España, no, que somos trabajadores, pero no tenemos así derechos de trabajadores, porque tienes un trabajo, no, tienes que cumplir unos objetivos, tienes que…te están pagando por algo, pero no tienes seguridad social, no tienes… E: ¿No tienes seguridad social aquí? S3: Bueno, tienes un seguro que te cubre problemas que puedes llegar a tener, un seguro privado que te da el Estado, el Ministerio, pero no cotizas, por ejemplo, a la Seguridad Social, por ejemplo, yo puedo estar con esta beca diez años y no cotizo nada, no me cuenta como actividad laboral. E: ¿Pero tú te puedes mantener con esta beca aquí en Brasil? S3: Claro, pero si me tienen que operar de algo no me da el dinero. E: Oye y en tu cotidiano, en el día a día, ¿qué haces, qué te gusta hacer? S3: La verdad los días entre semana muy liado con la universidad, es decir prácticamente paso el día aquí, llego por la mañana, ah, la hora es flexible un poco, puedo llegar a las ocho y media, nueve y media, así más o menos, pero después suelo quedarme aquí hasta las siete u ocho de la tarde, sino aquí en la biblioteca, sino en la biblioteca pues cuando tengo un curso en la escuela de idiomas. E: Estás estudiando portugués en la PEPFOL. ¿Haces algún curso más? S3: No, ya es mucho ahí, ya (risas). No tengo tiempo. E: Qué te parece, te esta ayudando el estudiar portugués formalmente…para adaptarte. S3: Sí, porque normalmente aquí cuando ya más o menos chapurreas el portuñol, no, todo el mundo te entiende, no, y nadie te corrige y lo bueno de la PEPFOL es que te corrigen los fallos que tienes repetidos de pronunciación, no sé, de palabras que utilizas medio en español y tú…yo mismo no me doy cuenta, no, a lo mejor utilizo mucho una palabra en español que ellos entienden, pero yo no sé que está errado, entonces ellos mismos me…, allí en la PEPFOL sí que te dicen no, no ¿qué es eso?, tal, entonces sirve para eso, no, (inaudible) la conversación, además la PEPFOL a mi también me sirve para hablar con españoles, bueno gente hispanofalante, como no conozco a nadie voy allí y … (risas). E: No conoces a nadie. ¿Cuándo llegaste aquí no conocías a nadie? S3: Nadie, nadie. E: ¿Y ya tienes ahora un grupo de amigos? S3: Sí, ahora ya no hay problema, sólo me recogió un compañero de doctorado que la verdad que muy bien ahí con él. E: ¿Brasileño? S3: Brasileño, de Sao Paulo, pero lleva aquí diez años. Y…a partir de ahí conocí más gente un poco, no. E: Pero, ¿tú estás viviendo con alguien? S3: No, sólo. En una quitinete. E: Me decías que tienes compañera. S3: Sí, pero vive en España. E: ¡Ah! S3: Compañera pero lejos. Ahora viene en verano, viene dos meses. E: ¿Has viajado por Brasil? S3: Voy a aprovechar ahora, bueno, por Brasil sólo he ido a San Pablo, ahora cuando llegue vamos a ir, bueno, en realidad, vamos a ir a Argentina y a Chile. E: O sea que por Brasil nada, S3: No… E: pero tú me decías que estabas interesado en la geografía… S3: Sí, tenemos previsto un viaje a Sergipe, a Aracaju, aprovechando que también la universidad allí… porque mi orientador llega también ahora, dentro de un par de semanas, a pasar dos meses, dentro de la beca también. Vamos a Aracaju, a Sergipe, a pasar dos semanas, 3 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 no, queremos ir a Río, tenemos un compañero que estudió allí en Sevilla, bueno es de Belén, pero vive en Río. E: Es brasileño. S3: Es brasileño, pero estuvo hace poco en Sevilla y…qué más sitios queríamos ir… a Iguazú, no sé, quiero hacer un montón de…, y no sé, tengo unos amigos en Goiás que a lo mejor voy a ver, en Goiania. E: ¿En Goiás Velho o en Goiania? S3: En la ciudad, en Goiania, en la capital. Los conocí aquí en unas jornadas que hicieron y tal, una gente muy simpática, entonces también supongo que iremos para allá, no sé, bueno, más o menos. Tampoco da mucho para conocer porque sólo tengo quince días de vacaciones. ¡Ah! Bueno y Bahía, a Bahía voy en noviembre. E: La verdad es que ya creo que tienes mucha ambición. S3: Bahía voy en noviembre porque hay un congreso allí de Comunicación, entonces me contemplan…, sólo tengo quince días de vacaciones en realidad en la beca, entonces. E: Bueno y volviendo a tu grupo de amigos o lo que haces diariamente, dices que estás aquí en la universidad, pero sales al cine o… S3: Sí, sí, tengo algunos amigos, un colectivo de comunicación así alternativo, independiente, que yo pertenecía allí en Sevilla, y es un colectivo que es también internacional, no, entonces me puse en contacto con ellos, por ejemplo, y me llaman mucho para hacer cosas, yo la mitad de las cosas digo que no porque no tengo tiempo, pero las otras sí. E: Pero son brasileños. S3: Sí, brasileños. E: ¿Basilienses? S3: La mayoría son basilienses además, y después con la gente del doctorado también…hacen planes, voy con ellos a veces, otras veces no. E: O sea que sales frecuentemente con brasileños más que con hispanohablantes. S3: No, siempre que salgo, salgo con brasileños, no, no salgo con ningún hispanofalante, con la gente de la PEPFOL, sólo salí un día a tomar algo por ahí, pero no…hay más relación. E: O sea que tu día a día es más en portugués que español. S3: Completamente vamos. E: Y tú cuando llegaste aquí no sabías portugués. S3: Nada, absolutamente nada. Me avisaron de la beca en noviembre y en febrero tenía que estar aquí, entonces nada. E: No hiciste ningún curso. S3: Tenía que haberlo hecho, pero no me dio tiempo, es decir, tenia que cerrar allí todo, preparar el viaje, despedirme de la familia, todo, no me dio tiempo. E: Y cuando llegaste aquí ¿Qué pasó? S3: Un choque completo, no, llegué y claro… lo bueno es que llegué en febrero y las clases no empezaron hasta marzo, porque tuvieron que retrasar el primer semestre por una huelga, entonces me dio para hacer el oído, cosa que es bastante importante, viendo la tele y tal, y después pues cuando empezaron las clases empecé poco a poco a hablar y bueno que no fue directamente llegar y a la universidad hala, no, no, tuve un mes como de profesor incorporación al tema. E: O sea tu estrategia fue la televisión… S3: Sí, bueno y hablar con portugueses al principio, aunque bueno al principio ellos hacían más el esfuerzo de hablarme en español que yo en portugués, no, porque, yo mismo, el choque era muy grande, yo no tenía…entonces cuando empecé en la PEPFOL, ahí empecé, bueno me traje un libro de portugués, lo que pasa que de portugués de Portugal, no. En España es muy complicado encontrar libros de portugués de Brasil, entonces yo tenía un libro por el que iba estudiando pero era portugués de Portugal, que era muy diferente, el audio, por ejemplo, no tiene nada que ver, entonces…bueno… E: El canal 28 de Portugal… S3: Claro, nada que ver…pero más o menos por ahí. E: Me has hablado que fue un choque y en el cuestionario te preguntaba qué sentimientos habías tenido y tú me decías extrañeza,… 4 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 S3: Claro, porque al principio… primero la ciudad de Brasilia es rara, no, es extraña como cualquier otra ciudad, y después la gente aquí es muy diferente de como es en España, no. E: ¿Podrías comentar un poco las diferencias que percibiste o que sigues percibiendo? S3: Sí, yo le digo a la gente de aquí, de Brasil, que yo creo que ellos, por ejemplo, son más abiertos, así en un primer momento, en plan de: ¡ah! Español, muy bien, tal, no sé qué, todo el mundo muy simpático, están con el teléfono, te voy a llamar, no sé qué, así muy abiertos de pronto, no, como si fueran de pronto tus mejores amigos, no, bueno, generalizando, hay de todo, pero que después en un segundo momento, en realidad es más artificial, yo les planteaba eso, algunos decían que sí, que era así, en el sentido que , por ejemplo, después no es verdaderamente una amistad, como en España a lo mejor un primer contacto con la gente no hay un trato así muy de amistad, pero a medida que vas haciendo una amistad, la amistad en realidad es más fuerte, más profunda en el sentido de más confianza y más …y aquí…no…. no sucedía tan así, no, en un primer momento era muy abierto, pero después en realidad no, no, no era tanta confianza y algunos me contaban la anécdota que, por ejemplo, aquí hay sitios en el interior de Brasil que conoces a alguien y te dice: ¡Ah! Vente a mi casa esta noche, tomamos algo, no sé qué, me interesa mucho, tal, entonces y si tú apareces en su casa por la noche queda medio enfadado como diciendo: “qué hace este tío aquí”, no. Es un poco como… E/S3: (Risas) S3: Es un poco como las…te dicen que sí, pero después en el fondo es que no, no sé, es un poco raro. E: ¿Has ido ya a casa de alguien? ¿Has frecuentado la casa de algún brasileño? S3: Bueno de mis compañeros… es que casi todos son estudiantes y viven solos, es decir... E: En las quitinetes. S3: Sí. En quitinetes, o, por ejemplo, compañeros de doctorado que tienen su mujer, algunos tienen hijos, esos sí, pero no así una familia con los padres, los hijos,…que son mis compañeros. E: ¿Y fiestas? Llegaste en febrero, ¿tuviste oportunidad de ver el carnaval? S3: No, justo llegué cuando acabó el carnaval. E: Porque… ¿qué imagen tú tenías de Brasil? S3: Claro, la imagen era…, me preguntaban Brasil y tal, decía ,bueno, Brasil era fútbol y carnaval, era más o menos la imagen, no la imagen que tienes, pero la imagen que te dan los medios, no, no hay otra imagen así de Brasil, bueno, en realidad, con políticos últimamente sí tenía una imagen de MST, Lula , no, últimamente sí había otra…, pero era muy reducida,no, por ejemplo, cuando llegas a Brasilia de pronto ves, Brasilia además , no, que tiene gente de todos lados, ves que hay gente de…, ves la realidad del Nordeste, la realidad del Sur, la realidad del Centro-Oeste, muy diferente , no, el tema del Amazonas, entonces aquí los distintos acentos que hay, las distintas formas de ser incluso, es curioso, no. E: ¿Y la ciudad que te pareció? S3: La ciudad me pareció una, una basura (risas). Pensé: ¿Qué es esto? Porque además yo llegué y me empezaron a decir, no, el problema de la violencia aquí, no, claro, además le llamaban violencia que para mi violencia es una palabra así como muy , no sé si utilizaran inseguridad, pues yo quedaría más tranquilo, pero no, la violencia, entonces me dejaban en donde yo al principio me quedaba que era un aparthotel y decían: no, no salgas por la noche, no sé qué, entonces era como una ciudad, una especie, para mi, era una especie de jungla, no, aquí el Bronx o algo así, no podía salir, porque en cuanto que salieras te iban a matar, no. No sé, no, tenía una imagen muy negativa de la ciudad al principio. Y después la situación esta de esta ciudad que no puedes pasear, es decir, que yo intentaba salir para dar una vuelta, pero decía: “Bueno ¿donde voy?”. Es una cuadra, otra cuadra, así, muy complicado. E: ¿Cómo te sentías paseando por la ciudad? S3: No, no podía pasear, daba una vuelta a la cuadra y volvía a mi casa, no tenía sentido, no había parque, no había…,todavía no conocía los parques, era como una especie de…, no , era raro, no, porque es otra estructura, entonces era como un ser extraño metido en otra estructura, no me hacía bien …la estructura, estaba acostumbrado a otro tipo de ciudad, Sevilla, no, las calles así, entonces claro, llegar aquí, las avenidas esas grandes, la… nadie en la calle a partir de las siete u ocho de la noche, no hay bares, y tampoco…muy complicado, pero ahora me gusta bastante. 5 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 E: Te has acostumbrado. S3: Sí. E: Ahora ¿qué ventajas o qué es lo que te gusta? ¿En qué has cambiado? S3: Bueno, por ejemplo, la tranquilidad de Brasilia, tiene una tranquilidad tremenda, no, la…no sé…mismo la naturaleza así más o menos que hay cercana a la ciudad, yo vivo cerca del parque Olhos de Agua, que es bastante agradable, eh… la…no sé la tranquilidad así de la ciudad, no, me gusta bastante. Es una ciudad muy funcional a veces para lo bueno y para lo malo, a veces es muy malo porque tienes que ir a algún lado y tienes que coger o autobuses o pedir carona para alguien, pero otras veces es muy fácil moverte por ella, no, o sea… E: No tienes coche, vas con los autobuses. S3: No, no tengo coche, es el problema. E: ¿Conoces algo de las afueras de Brasilia? S3: Sí, conozco de las ciudades satélite, conozco Gama, conozco Paranoá, Varjão, conozco Sobradinho, Candangolandia, más o menos. E: O sea que conoces las ciudades satélites. ¿Y turismo? S3: Sí, bueno un sitio que se llamaba,…fui a pasar un fin de semana a una posada Terra Viva, se llamaba, estaba como en el…núcleo rural Lago Oeste para adelante, no, porque unos compañeros de doctorado adoran aquello, conocen al que lo lleva, que es un… E: O sea que sales de excursión con gente brasileña. S3: Sí, también…al Parque de Agua Mineral, al cine también. E: ¿Y percibes así diferencias entre las relaciones sociales, en las comidas, formas de vestir,…? S3: Sí, claro, sí. No, la relación es muy diferente, muy diferente, en el sentido que, lo que comentaba antes, no, al principio es más cercano, pero también mismo la forma …no sé…de plantear las cosas del día a día, del cotidiano, no, como que hay muchas diferencias en los sentidos muchas veces, es decir, en los sentidos, como construyes el sentido de una cosa o de otra, no, aquí creo yo que es todo más …tiene más que ver con una cercanía de las personas, no, las personas tienen esa necesidad de tener una cercanía con la gente que les rodea, como una especie de confianza, no sé, y yo reconozco que no tengo tanto esa necesidad de cercanía , no. E: ¿De intimidad, quieres decir? S3: Claro, de intimidad, de hablar con la gente. Aquí, por ejemplo, te hablan, te intentan hablar mucho de lo personal, no, rápidamente: ¡Ah! ¿Cuál es tu horóscopo? , no. Entonces directamente te teorizan sobre tu horóscopo, el día que naciste, que estaba la luna en el sagitario, cosas así. O te preguntan también rápidamente por las relaciones de pareja, no, hablan mucho de eso, no sé qué, y yo reconozco que esas cosas no, primero no las hablo normalmente incluso ni con mis amigos, no, no… E: ¿Crees que somos más reservados los españoles? S3: Claro, yo creo que somos más reservados de algunos temas, no, algunos temas así que ellos tratan como… le dan o más importancia o menos tabú. E: ¿Crees que hay menos tabúes aquí? S3: No, yo creo que hay tabúes, pero se tratan de manera diferente. E: ¿Qué tabúes crees que hay? S3: No sé, por ejemplo, el tema de las relaciones de pareja, por ejemplo. Tienen sus tabúes, pero también lo tratan de otra manera, no, porque , no sé, aquí siempre están con el tema de…yo creo que aquí se toman las relaciones de pareja de una manera mucho más flexible en el sentido de que cambian rápidamente, no sé qué, de pronto se casan, llevan seis meses y se casan , y a los seis meses se divorcian, cosas así, no, pero después eso mismo se crea un tabú , por ejemplo, con el tema de los celos, por ejemplo, una cuestión que a mi me chocó mucho,, no, que aquí las parejas son mucho más posesivas, al menos el ambiente en el que yo me muevo en España y el ambiente que me muevo aquí, no, relaciones de pareja mucho más posesivas, mucho más opresivas, así se trata más del tema del control, por ejemplo, como controlan el uno al otro, no. E: ¿Tanto el hombre como la mujer? S3: Sí, sí, sí… Los distintos registros, no, cuando hablan con su pareja utilizan un registro y cuando hablan con los amigos utilizan otro y así. Yo siempre hablo igual. E: ¿Utilizan registros diferentes? S3: La gente que yo conozco allí sí, es decir, es diferente, no, ponen la voz así…. 6 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 E: ¿Puedes explicar? S3: Sí, ellos mismos se ríen, dicen utilizo la voz del Teletubby, dicen, cuando hablan con su mujer: ¡Oh! ¡Amor! No sé qué, no sé cuánto (pone voz de falsete). E: ¿Crees que es falso entonces? S3: No, falso no, pero que es otro registro, es distinto, no, ellos utilizan como dos registros, entonces uno de los dos es más superficial que el otro, no sé. E: O sea uno para hablar con los amigos y otro para hablar con la mujer. S3: Claro, para hablar con su pareja, claro. Por ejemplo, para mi no es así, entonces ellos cuando yo, por ejemplo, hablaba con mi compañera por teléfono: “¡eh! Qué pasa, no sé qué”, así, normal, ¡Oh! Eres muy frío, me decían, ¿pero frío por qué? Si es así, no sé. O cuando, ah no sé…muy diferente, por ejemplo, cuando yo me vine aquí sin mi pareja me decían: ¡Oh! Cómo has podido, eso…entonces eso es que quieres dejarlo con ella, no sé qué. No, no tiene nada que ver, simplemente una situación coyuntural, me he tenido que venir, ella no podía venir, se ha quedado allí. Entonces para ellos era como… no sé, que es distinto esas formas de tratar a la…, no sé si es tabú, así tabú, pero sí que hay temas…no sé. E: Pensamientos ¿no? S3: Sí, formas de abordar las situaciones, las relaciones, diferente. E: Y de hábitos de vida, ¿Has adoptado alguno de aquí? Por ejemplo, las comidas, ¿qué te han parecido? S3: No, al principio no podía, no. E: ¿Comes aquí en el restaurante? S3: Sí, bueno, por aquí ,como o en la lanchonete o en el restaurante universitario, donde puedo , o allí en la 407 que tienen un restaurante así, pero al principio no podía, es decir, yo en Sevilla normalmente desayunaba a las once y media o una cosa así, además lo que desayunaba era un café con leche y una tostada con tomate y jamón, una cosa que aquí imposible (risas) y comía a las dos y media o tres, no, pero aquí intentar comer a las dos y media es complicado porque no hay nada, entonces ahora me he adaptado un poco y como a las doce, lo que pasa que después hago la comida horario brasileño, pero la cena horario español, no, entonces intento cenar nueve y media, diez, entonces más o menos. E: O sea la comida la has adaptado al horario brasileño. S3: Sí, porque no me queda otra, es decir…que si no, no como, está cerrado todo. E: ¿Y el desayuno también lo has adaptado? S3: Sí, el desayuno lo hago más temprano, a las ocho, siete y media, ocho, más o menos, cuando me levanto. E: Y ahora dices que ya sales, que ya empiezas a conocer algunos bares… S3: Sí, sí, más o menos. E: ¿Qué te parece la vida cultural de aquí? S3: La vida cultural necesitas coche para moverte a todos lados, no, pero tienen… Centro Cultural Banco de Brasil, La Caixa Economica, que es otro centro cultural que está bastante bien, tienen cosas, no. E: ¿Vas al teatro, vas al cine? S3: La verdad es que nunca he ido al teatro, al cine sí que he ido bastantes veces. E: ¿Alguna película brasileña? S3: La verdad es que brasileña no hay ninguna (risas). E: Hay, hay. Pocas pero hay. Pero, bueno, en portugués, ¿no tienes problema? S3: Lo bueno es que aquí algunos cines subtitulan en portugués pero dejan el idioma original, algunas en francés, en inglés. E: Pero... No has tenido problemas de entender. S3: No, problemas de portugués no. E: No has tenido problemas. ¿Y la música? ¿Te gusta la música brasileña? S3: Sí, sí. E: ¿Qué escuchas? S3: Hombre, había cosas que ya conocía antes de venir como Carlinhos Brown, eh, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Maria Bethania, …después aquí conociendo la música, más o menos, me gusta los compañeros, Legião Urbana, no sé, otros grupos así que me pasan, la verdad es 7 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 que los nombres, ah! Chico Siense, es una especie de rock pero que mezcla con ritmos indígenas, muy bueno, más o menos eso es lo que escucho. E: ¿La escuchas en tu casa? S3: Sí. E: ¿Has ido a algún concierto? S3: Creo que sí, espera,…sí, ah sí el del otro día, Manu Chao, por ejemplo. E: ¿Y ahí qué? ¿Percibiste alguna diferencia? ¿La gente se comporta igual? S3: Si, si, es decir, un concierto, mucha gente agrupada, no, y ya está, más o menos lo mismo. En ese sentido no percibí mucha diferencia. E: Decías en el cuestionario que no siempre aquello que quieres decir lo puedes expresar bien en portugués. ¿Puedes explicar? S3: Sí, muchas veces las palabras, entonces, mismo aquí dentro de la universidad si estás hablando de la teoría de la acción comunicativa, por ejemplo, como hablas en portugués de determinadas cosas que quieres decir, no, entonces es complicado y terminas utilizando sólo unas palabras y no los sinónimos que a lo mejor sería más completo, entonces hay dificultad. E: ¿Y a nivel de estructura de la frase? ¿Qué estrategias utilizas? S3: ¿De estructurar la frase? E: Claro, porque no es lo mismo hablar con el panadero que hablar de ese tema que me dices. S3: Normalmente intento empezar…no sé…la verdad es que intento …hago la misma estructura que en español prácticamente, es decir, empiezo introduciendo un poco el tema así, después la critica del autor, la defensa, no sé… E: ¿Has tenido algún malentendido o alguna situación que ha sido mal interpretada? S3: Si, sí, muchos. E: ¿Podrías explicarme alguno? S3: No, hay algunas que son graciosas y otras que son problemáticas, no, porque, por ejemplo, utilizar palabras que aquí tienen connotaciones …a lo mejor sexuales, cosas así, por ejemplo, y que en España no, entonces si utilizan esa traducción así libre que medio hacen entonces ellos te dicen: “No, ten cuidado porque eso no significa lo mismo”. Eso mucho. E: ¿Eso te has encontrado mucho? S3: Sí, no, por ejemplo, la palabra molestar, que molestar yo creía que era normal, no, molestar. Aquí me dijo una vez un compañero no, molestar es cuando tú estás molestando alguien pero sexualmente, no, entonces, es diferente, dice: a mi no me molestes nunca (risas), pero…también problemas de ,de ,de mi forma de ser con la gente de aquí, no, lo que te comentaba antes que … aquí la forma necesita más confianza o más intimidad, no, con la gente, estar rodeado de un entorno más positivo, no, entonces yo reconozco que no, entonces aquí la gente valora como que eres más duro, no, como que eres más frío, más distante, por ejemplo, en el sentido de las relaciones que tienes, por ejemplo, el otro día estábamos tomando un café y estaban ahí haciendo una brincadera, no, una broma entre la gente que decían que yo …me metía con Brasil, no, y yo decía que no, que no me metía con Brasil, pero que si ellos me provocaban pues yo entonces entraba en la provocación, entonces ah están todos mis compañeros de mestrado y yo, prácticamente todos contra mi, ahí ah, yo porque no, no sé qué, no, estáis todos contra mi, cogí me levanté y me fui, así riéndome, pero a ellos les chocó muchísimo como “se ha mosqueado mucho”. Hubo gente que realmente se quedó con la cara cambiada, entonces yo reconozco que para mi fue una broma, no, a más que muchas veces la hacemos allí en Sevilla o en España, no sé, eso de “estáis todos contra mi”. Era la hora de volver a clase, yo me levanté y me fui, así de simple. Claro, y aquí la gente queda como diciendo “qué ha hecho este tío”, no, y había gente que se quedo con miedo, no sé qué, pero como con miedo. Entonces, es un choque, no, para mi no tiene la menor importancia, pero algunos…si realmente yo…como diciendo “! Cómo ha podido tener esa reacción!”. No sé, una cosa muy rara, no. E: O sea crees que las reacciones son diferentes. S3: Sí, también tenías otros que no, que decían que no. E: ¿Más emocionales? S3: Sí, creo que son muy…muy emocionales en ese sentido, sí. E: Tú me hablaste, en cambio, en el cuestionario, que cuando llegaste aquí en el trabajo, en el ambiente de trabajo al menos, el ambiente era un poco frío, ¿no? 8 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 S3: Sí, también porque…bueno…por ejemplo, aquí la gente con la que yo trabajo está formada en Estados Unidos la mayoría. E: Bueno, entonces es otra cosa. S3: Es otra cosa. Y tienen unas relaciones más…bueno también, no sé, la academia también es diferente a la vida cotidiana, no, la universidad, los profesores, por ejemplo, aunque ahora es más tranquilo, más confianza, pero al principio, sí, siempre hay una distancia así, no, académica digamos, no sé. E: ¿Y de las formas de vestir? ¿Hay algo que te ha chocado? S3: No, creo que es igual que allí, hay gente hortera y gente que no, que viste normal, no sé; pero por ejemplo, yo es que tengo una lucha histórica dentro de la universidad por mi forma de vestir, no, yo siempre voy con camiseta, voy así con no sé qué, sin problema, y claro, mi mismo orientador de España y cuando llegué aquí lo mismo: No, un doctorando no puede vestir así, yo digo: ¿cómo no?, lo importante es lo que yo diga, no, no como yo vaya a vestir. No, porque tal, no sé qué. Entonces… E: ¿Aquí también te harían vestir formalmente? S3: Sí, sí. No, de hecho aquí procuro vestirme medio formal, con un polo, una camisa de manga corta, no sé, depende, si veo que no va a venir nadie me pongo cualquier camiseta, si tengo que venir a clase o algo así entonces, porque realmente si no después me hacen sentir incomodo de la forma de vestir, pero creo que es una cosa de la universidad, allí pasa lo mismo. E: Tú me hablabas también de una cosa que te había sorprendido que era la religión, incluso hablabas de fanatismo religioso. S3: No, no fanatismo así, sino una especie de vivencia de la religión mucho más… (Inaudible). Los programas esos de la tele que ves quinientos en una sala y el pastor allí cantando o hablando, no, es muy diferente de lo que yo estoy acostumbrado allí, entonces sí, aquí todo el mundo es religioso además, prácticamente todo el mundo, pero claro tienen una gama de elegir religiones enorme, no, pueden elegir desde el sincretismo tal o de las creencias religiosas así que es una mezcla entre religión cristiana… (…) *** 9 Entrevista realizada em casa do informante no dia 24/5/05 às 17,30 horas Duração: 30 minutos Transcrição: 5 horas Observações: Aos 30 minutos dou por acabada a gravação e conversamos distendidamente 15 minutos mais. Fico sabendo que ela na realidade não é aluna do PEPFOL, senão que foi aluna de outro programa, o PEC, que obriga a tirar o CELPE-BRAS para poder entrar na Universidade. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 ENTREVISTA S4 E: Vamos a empezar la entrevista, ¿de acuerdo? Y para empezar me gustaría así que me explicaras dónde naciste, cómo fue tu entorno, que me explicaras eso… S4: OK. Yo nací en la ciudad de Guatemala, en la capital, eh, la ciudad es pequeña, bastante pequeña, eh, está dividida en zonas, entonces yo vivía en la zona quince, una zona residencial, eh, casa particular, eh, nací…soy la primera de tres hermanos, dos hombres y yo soy la única mujer, eh voy ahorita para julio cumplir los 20 años, eh, siempre fui tranquila, no soy tan… E: Tú estudiaste… ¿Qué estudiaste? S4: En la universidad no, hasta ahorita que vine aquí a Brasil. Estudié en el colegio, un colegio particular también llamado Monte María, eh quedaba algo lejos de mi casa, por cierto, bastante lejos. E: Ahora la formación superior la estás haciendo aquí. S4: Sí, la universitaria sí. E: Estás en la Universidad de Brasilia. S4: Sí. E: ¿Qué estás estudiando? S4: Arquitectura. Primer semestre ahorita. Vine el año pasado a Brasil y como estoy por convenio, con el PEC, entre embajadas, entonces eh yo tengo que hacer un año de portugués, entonces nos obligan a hacer un año de portugués, que más o menos son prácticamente son ocho meses porque es de marzo a octubre y ahí después si pasamos entonces ya entramos eh…prácticamente se abre la matrícula en la UnB y ya podemos entrar a estudiar ahí, ahora si no pasamos nos regresan y ya no tenemos otra posibilidad de poder renovar la VISA y todo eso. E: O sea es un convenio entre tu país y Brasil. Y… ¿Por qué Brasil? S4: Yo, ¿por qué Brasil? ( Risas) E: ¿Por qué no otro país? S4: Bueno, eh, ah…!qué pregunta! Bueno, lo más fácil es que a mi toda mi vida prácticamente desde los diez años más o menos, yo soy una fanática de Brasil, me encanta, me fascina, y más que todo por el futbol, adoro jugar fútbol, me encanta el fútbol, verlo…eh…de todo, eh…más o menos a los trece años o algo así comencé a investigar cosas de Brasil, por hobby, y buscaba lugares y personas, cómo era aquí en Brasil y todo, inclusive mi papá me compró un diccionario de español-portugués y más o menos yo comencé a…digamos agarraba un papel que estuviera en español y comenzaba a buscar las palabras y ya me comenzaba a familiarizar con las palabras en portugués y así todo, eh. Siempre…Siempre fue…mi hobby siempre fue Brasil, cualquier cosa. E: Y tuviste apoyo familiar por lo que dices, tu padre. ¿Tu madre también te apoyó? S4: No, lo que pasa es que mis papás están separados y yo vivo con mi papá, y eso es ya más de diez años casi. Entonces toda mi vida yo viví con mi papá y mi mamá ya... Ella ya… ella está casada con un gringo y ya vive en los Estados Unidos y…casi no tengo relación con ella, comunicación es muy poca, entonces más que todo fue con mi papá, él fue quien me apoyó en todo, eh…inclusive fue él mismo que me dijo, ya en el último año del colegio, él fue que me dijo: “Mira, (#) he comenzado a buscar eh…cómo te puedes ir a Brasil, comenzar cómo puedes realizar tu sueño”. Porque mi sueño era venirme aquí a estudiar, eh…yo quería venir a estudiar arquitectura aquí en Brasil, no en otro lugar, ni inclusive ni en mi país, entonces eh comencé así a buscar cómo podía hacer para venirme acá y no sé cómo me topé con la embajada de Brasil y pues pregunté que si ellos tenían alguna posibilidad de yo irme allá y me dijeron que ellos 1 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 tenían convenio y que yo podía irme allá estudiar Arquitectura y todo y entonces ya comencé a hacer papeles, ellos piden eh las notas del colegio, eh papeles en si, documentos y todo eso y piden una mención económica , si uno puede eh sustentarse aquí en Brasil y todo. E: Tienes una bolsa. S4: Ajá. E: O sea tú no trabajas aquí. S4: No, yo no trabajo. E: Tú sólo estudias portugués prácticamente. S4: No, bueno estudié portugués y ahorita que estoy haciendo Arquitectura, ya no. E: ¿Estás haciendo todas las materias? S4: Sí. E: ¿Y tú cuando viniste aquí ya habías estudiado un poco de portugués? S4: No, sólo por mi cuenta, pero no era así un portugués que ...Que yo podía comenzar a hablar y todo, o sea, yo entendía algunas palabras que…cuando yo vine yo entendía algunas palabras que ellos decían, pero no entendía así una frase completa, por ejemplo. E: Ya oías música, por ejemplo, películas brasileñas,…el fútbol dices que fue tu primera pasión. S4: Ajá. Yo comencé a escuchar …mi papá fue el que más me apoyó en todo, entonces él… siempre que miraba algo de Brasil él me decía mirándola que está en todos sitios, o me decía que no sé quien tiene una música de un brasileño de eh…, incluso él me la copiaba y yo la comenzaba a oír y entonces ya me estaba familiarizando con el portugués y en el último año en el colegio él fue el que me dijo: “Bueno, tú te quieres ir, yo te apoyo en todo, yo te ayudo y todo y yo comencé a averiguar así que en la Embajada y todo. E: O sea que a ti siempre te ha gustado y te ha despertado simpatía digamos el país en general. S4: En general. E: Porque contacto con brasileños no tenías. S4: Nunca. E: ¿Y cuando llegaste aquí, qué? S4: Cuando llegué aquí fue, fue extraño, porque yo después de tanto querer estar aquí , tanto…fue una cosa …inacreditable, creo, porque yo llegué y no me sentía aquí, sino que yo todavía sentía que estaba en Guatemala soñando o una cosa así, porque fue demasiado grande para mi, entonces yo llegué aquí y pensé: “tengo que despertarme, porque estoy haciendo una mentira, yo no debo estar aquí” y comencé a ir a portugués y todo, yo , yo tenía la sonrisa en la cara y…mi papá me acompañó, me vino a dejar, y…porque aparte de todo yo no conocía a nadie, de verdad, entonces… eh aparte que mi papá tenía un poquito de miedo, yo vine con dieciocho años, entonces, eh, no sabía qué era lo que había aquí ni nada, entonces, gracias a Dios mi papá tenía unos amigos que …eh ,por suerte viven aquí en Brasilia, y entonces ya con ellos nos ayudamos, que es un brasileño que está casado con una guatemalteca, entonces ellos nos ayudaron y nos dijeron como era el proceso de la U, y todo eso, y ahí después comenzamos a buscar apartamento y ya, prácticamente sólo eso. E: Tú tenías mucho conocimiento de Brasil en general, pero de Brasilia en particular. S4: De Brasilia casi no, solo sabía que era una ciudad moderna, que todo el mundo hablaba que era una ciudad muy bonita, eh, más que todo por arquitectura. En la Embajada me dieron Brasilia por eso porque yo venía a estudiar Arquitectura y Arquitectura en Brasilia era perfecto, era el mejor lugar de todos, porque a uno lo ponen a escoger al lugar que uno se quiere ir, entonces eh…yo había pedido…, a mi me pueden dar cualquier lugar de Brasil que a mi…yo hubiera estado feliz, entonces eh me dijeron como yo iba a estudiar Arquitectura entonces me dijeron: están estos lugares que la arquitectura te va ayudar. Entonces estaba Paraná, Curitiba, y Brasilia, entonces yo dije: para mi cualquiera de los dos, por mi me voy a los dos. Entonces eh bueno me dijo el de la Embajada que a Brasilia, entonces a Brasilia. E: ¿Y qué te ha parecido la ciudad? S4: Brasilia me gusta mucho, lo comparo con Guatemala y Brasilia es no sé, tal vez es más amplia, de tamaño Guatemala es bien pequeña, y… así de cultura, y de personas, yo creo que son iguales, las dos culturas bien, bien alegres, aunque Brasilia es un poco más tranquila, bastante más tranquila. 2 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 E: Que Guatemala. S4: Sí. Guatemala es no sé, podría decir que…es mucha fiesta, mucha fiesta, mucha parranda, muchas cosas así. E: Y la ciudad es más antigua también. La configuración debe ser diferente. S4: La ciudad es más antigua, por ejemplo es más congestionada, por ejemplo en el sentido del transito y todo eso es… E: Y los brasileños. ¿Qué te han parecido? S4: Los brasileños son muy buena gente, aunque cuando yo llegué aquí, yo creo que es el basiliense que es un poco más cerrado, entonces es un poquito…no, no confía mucho en las personas, les cuesta abrir y…yo también soy así, yo no soy de las que se abren completamente, entonces era un poquito difícil para mi llegar por ahí y comenzar a hablar porque soy, soy bien cerrada. E: Tenías por eso ese matrimonio que de alguna manera te abrió las puertas para conocer gente. S4: Ajá. E: ¿Y conoces gente? ¿Tienes amigos brasileños? S4: Si, tengo amigos brasileños. El año pasado me costó un poquito, pero ya este año ya entrando en la facultad y todo ha cambiado bastante, tengo muchos amigos brasileños. E: ¿Sales con ellos o sales más con compatriotas o con hispanohablantes? S4: Pues tal vez con hispanohablantes , porque de compatriotas eh es difícil , pero no hay, porque yo creo que somos cuarenta y cinco guatemaltecos en Brasilia o en Brasil , creo, no sé, y de esos cuarenta y cinco los únicos dos (inaudible) somos nosotros dos, ya todos los demás ya están casados y con hijos, trabajando, entonces. E: O sea que han decido permanecer aquí ¿Tú te quieres quedar aquí, en Brasil? S4: No sé, si hubiera la oportunidad tal vez sí. E: ¿Sí? ¿Si encontraras trabajo? S4: Ajá. Si yo consiguiera un trabajo o algo así, tal vez sí , me quedaría. E: O sea prefieres quedarte aquí que volver a Guatemala. S4: Por el… por cuestión de cariño y todo eso tal vez…ahí sería un poquito difícil porque para mi los dos países me encantan, ahora por cuestión económica y todo eso, no sé, Guatemala está…muy mal ahorita, entonces. E: ¿Tú crees que la calidad de vida está mejor aquí que en Guatemala? S4: No sé, por lo menos aquí en Brasilia tal vez , tal vez un poquito mejor, ahora conociendo todo Brasil, sabiendo que es un país …de una pobreza alta, creo que tal vez así por un porcentaje tal vez Guatemala es un poquito más. E: Tú crees que formándote como arquitecta aquí tendrías más posibilidades. S4: Tal vez. E: Y la lengua, ¿ha supuesto un obstáculo? S4: La lengua. De obstáculos… he tenido dificultades, pero de equivocaciones grandes no. E: Porque cuando tú llegaste aquí me has dicho que alguna palabra, pero que aún no sabías… S4: Más o menos que yo sabía, ahora, por ejemplo, eh, aquí las palabras que son típicas de latinos decir que no deberían decirlas, con significado diferente o la letra q que es cu para nosotros, entonces nunca tuve… E: Pero tú dijiste alguna palabra de esa y se creó alguna situación incómoda. S4: No, que yo me recuerde no. E: O algún malentendido porque tú has querido decir una cosa y un brasileño ha entendido otra. S4: No, creo que no, que yo me recuerde no he tenido ese... E: Y bueno…los primeros sentimientos fueron así como de alegría por el hecho de llegar, conseguir tu sueño, S4: Ajá. E: pero también en el cuestionario me hablabas de tristeza, y también de malestar S4: De tristeza porque yo vine sola, o sea vine con mi papá, y él se estuvo casi una semana, creo yo, mientras que yo me establecía aquí, y todo y después que él se fue me sentí muy mal porque me quedé totalmente sola y me quedé aquí en este departamento por seis meses, sola, sin 3 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 conocer a nadie, sólo yendo a las clases de portugués en el PEPFOL, y era una cosa que los días se me hacían demasiado largos y sentía que nunca pasaban y extrañaba mucho todo porque estaba recién llegada y entonces era un poquito difícil eh pensar que había dejado todo y venirme aquí y saber que no conocía a nadie. E: ¿Qué extrañabas más los primeros días? ¿Los horarios? S4: Los horarios…creo que son cuatro horas de diferencia con Guatemala E: ¿El reparto del día es igual en Guatemala? ¿Se come a las mismas horas? S4: Sí, se come a las mismas horas ahora…extrañaba más a la familia y por ejemplo que acababa de ser novia con (#), entonces fue un…así un fuerte jaleo de haberlo dejado, entonces… E: Entonces lo convenciste para venir (risas) S4: (Risas) Él que se convenció. Sí , fue bastante difícil saber que había dejado todo, que tal vez quizás si …estaba totalmente sola, no conocía a nadie, y el casal que había conocido era así como que… era amigo de mi papá, pero yo no tenía gran confianza con ellos, entonces fue… E: Pero tú ibas a casa de ellos a comer. S4: A veces, a veces. E: ¿Ellos te acogieron bien? S4: Ajá. Sí, ellos se portaron rebién conmigo y todo, porque a la guatemalteca, la esposa de ese señor también le había pasado casi lo mismo, ella sabía, entonces…pero también fue un poquito difícil porque no tenía gran confianza. E: Y ahora que tienes ya amigos brasileños… S4: Ahora todo rebién, totalmente diferente de cuando yo llegué. E: Ya no tienes ese sentimiento de tristeza. S4: No, ya no, aparte de todo ya …me comunico más con mi papá, con mis hermanos, por Internet, tengo más contacto con ellos, aparte teniendo amigos y todo puedo pensar en otras cosas , no siempre que estoy fuera, que no … E: Y supongo que tienes más opciones para hacer más cosas, ¿por qué tú qué haces en las horas de ocio, cuando no estás en la universidad? S4: Cuando no estoy en la universidad, eh, bueno, a veces tengo que hacer trabajos, salgo, me gusta el cine, a veces salimos a jugar al futbol, eh, salimos a comer alguna cosa, me encanta el helado, eh, salimos con los amigos, vamos a bailar,.. E: ¿Crees que hay buena oferta cultural aquí en la ciudad? S4: Cultural no mucho, no hay mucho que hacer, porque si uno no sale a comer a un restaurante es para… lo que más hay es bares y no, no soy mucho de ir a un bar, entonces, no, no hay más cosas, y, por ejemplo, la única discoteca que a mi me gusta es el Caribeño. Otra cosa que aquí sin carro, uno no puede hacer mucho y el carro…no, el bus es, es muy caro, para mi es muy caro comparado con Guatemala. E: Y el Caribeño, poca gente brasileña debéis encontrar porque ahí van todos… S4: todos los negros. E: los latinoamericanos. Música latina. S4: A mi me gusta. Y es la única más o menos que hay porque las otras o son muy caras o es música que no, no me llama la atención. E: ¿Tú prefieres la música latina que la brasileña? S4: Por ejemplo, el forró a mi me gusta, pero, pero no es una música que me de ganas de bailar. E: ¿Y las películas brasileñas? S4: Las películas brasileñas he visto, pero no sé…no tienen mucho…pero si estoy viéndolas. E: ¿Y las entiendes? S4: Sí. E: Incluso si tienen acentos de otros lugares. S4: Sí, aunque a veces es difícil, pero sí entiendo. E: Tú ahora puedes decir que entiendes cualquier conversación en portugués. S4: Yo creo, por lo menos el basiliense lo entiendo, ahora no…lo único que sé es que los del Río de Janeiro hablan con el xix al final, es un poco diferente. E: Y los jóvenes con mucho argot S4: Sí. 4 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 E: ¿Entiendes ese argot? S4: Más o menos, algunas cosas las entiendo, ahora otras todavía tengo… que me digan qué significan. E: La gente es amable, te explica. S4: Sí, me explican y todo. E: O sea te has sentido bien aceptada y, S4: Sí. E: no has tenido ningún problema. ¿Cómo encuentras tú las relaciones sociales? Antes me has dicho que con los basilienses es un poco más difícil establecer amistad. S4: Sí, es un poquito más difícil, pero, por ejemplo, en la universidad yo no tuve problema, fue…bien bonito, porque no…es más me preguntaban así que tú eres extranjera, y de Guatemala, entonces me comenzaron a preguntar que cómo era, eh, inclusive había una persona que había oído hablar de los mayas, y todo eso, entonces que…cómo era eso, a veces se , se miraban interesados y ahí comenzamos a hacer una amistad y ahorita salgo con ellos y todo. E: Hospitalarios de alguna manera. ¿Tú crees que es un pueblo hospitalario, un pueblo tolerante? S4: Sí, yo creo que sí. E: O crees que el guatemalteco es más tolerante. S4: Ah! No sabría decir, yo creo que los dos. E: Porque tú crees que las dos culturas son semejantes, pero hay alguna diferencia, alguna cosa que te haya chocado. S4: Sí, yo creo que sí, yo creo que Guatemala en si es un país más conservador y Brasil es más liberal, eh, por ejemplo, eh, …aquí, por ejemplo, la mayoría de las fiestas y todo eso comienzan tipo diez, o once de la noche, allá en Guatemala comienzan siete u ocho de la noche y van terminando eh depende , verdad, tres, cuatro de la mañana, una cosa así, y es aquella cosa de , de pedirle permiso a los papás y depende si ellos dicen que no, es no, y si sí, es sí. Aquí no, no he visto eso, no…aquí comienzan tipo once o a medianoche y terminan hasta el otro día y no es aquella cosa de pedirle a los papás, es ya totalmente liberal. E: Hay más permisividad, tú crees. S4: No son tan agarrados a los hijos. En cambio en Guatemala sí, es muy conservador. E: Y tú como lo valoras eso, como lo ves. S4: Yo no lo miro mal ni lo miro bien tampoco…. No sé. E: Tú me decías en el cuestionario que te había cambiado la forma de ver el mundo. ¿En qué aspectos crees que has cambiado? S4: Creo que la responsabilidad aumenta, porque uno ya no está dependiendo de los papás, por ejemplo, bueno, en el sentido del dinero, sí, mi papá me sigue mandando y todo, pero ya no es aquella cosa de que si tengo que hacer algo le digo a mi papá: mira tú puedes hacer no sé qué o algo así, sino es por mi cuenta, por ejemplo, los gastos del departamento soy yo que lo tengo que hacer, aquella cosa de las cuentas, eh. E: Pero el contacto más con la lengua, con la cultura te ha hecho cambiar algunas opiniones o valores. S4: Sí, tal vez en el sentido de los relacionamentos, acá creo que son más liberales, eh, por ejemplo, yo más o menos los primeros dos meses que estuve aquí o una cosa así veía a muchas niñas , digamos así, …embarazadas y eso me choqueó… bastante, E: A mi también. S4: Ah! Sí. E: En el Parque de la Ciudad con una barriga enorme. S4: Y yo miraba… iba caminando y todo y decía: bueno, no puede ser, yo a ella le calculo unos, así mucho, unos catorce, dieciséis, mucho diecisiete años. Y aún así son demasiado pequeñas y embarazadas y todo, como si fuera algo… fue chocante. Entonces en ese sentido…me quedé pensando porque en Guatemala…tanto así no, entonces. E: Quizás por lo que decías que los padres no son tan permisivos, ¿no? S4: Tal vez,…aparte que es ese…el conservador de Guatemala es bastante cerrado, entonces, no sé…hay más…es más cerrado en ese aspecto, tal vez hay un tabú más fuerte en relación a relacionamientos. 5 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 E: La sociedad guatemalteca es bastante religiosa S4: Bastante. E: Pero quizás es una religiosidad diferente… S4: Y hablando de religión también tuve así un choque también porque, por ejemplo, yo tenía entendido que Brasil era el país más grande o el más religioso de todo el mundo era y yo no me he encontrado, creo yo, así mucho unas dos o tres personas que son católicas, todos los demás son evangélicos o protestantes o un montón de otras religiones, y entonces yo me quedé así pensando también porque si es religioso ¿de dónde?. E: De otras religiones, ¿no? S3: Sí, porque de católico no creo, porque entonces ahí Guatemala sí sería el primero. E: Guatemala es un país católico. S4: Bastante. E: Católico practicante diríamos. Porque aquí no sé si has tenido ocasión de ir a una iglesia. S4: Sí, yo voy los domingos, soy católica. E: Y ahí cómo lo has visto, ¿es diferente de tu país? S4: Sí… E: Porque yo fui a una boda aquí y me quedé chocada, como era una boda aquí y como era en España. ¿Qué te ha parecido a ti? S4: No, la misa tampoco no, no, no la he sentido así diferente, tampoco he ido a una cosa religiosa, primera comunión, una cosa así no sabría decirte. E: Porque por ejemplo aquí cantan, hay mucho espectáculo… S4: Sí, aquí cantan más tal vez, en Guatemala es más hablado. E: ¿Y las comidas? S4: A mi me gusta la comida, ahora eh…aquí la costumbre de comer arroz con feijão todos los días, podría yo hacerlo pero no todos los días tampoco. E: Tú sigues una dieta como en tu país. S4: Más o menos. E: Más o menos. S4: Las comidas son iguales siempre va a haber arroz o pollo o carne, una ensalada, no hay… (…) *** 6 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Entrevista realizada numa sala da UnB no dia 27/5/05 Duração: 50 minutos Transcrição: 8 horas Observações: Aos 50 minutos dou por acabada a gravação e conversamos distendidamente 10 minutos mais. ENTREVISTA S5 E: A ver… me gustaría, primero preguntarte dónde naciste, que me expliques un poco el entorno familiar y dónde fuiste criado. S5: Yo nací en Santiago de Chile, hace veintiún años ya...eh. Nací en una familia de clase media baja que..., mi padre estaba trabajando independientemente y mi madre no trabajaba, solamente cuidaba su hija que es mi hermana mayor y después a mí y el entorno fue siempre bien recto porque mi papá era un tipo ya mayor y era bien estricto, bien fuerte de carácter y era difícil eh…llevar una vida más así… libre en el sentido bueno de la palabra, no en el sentido de libertad opresiva, o sea de opresión, perdón, sino que…. Había ciertas cosas que no podíamos hacer, horarios muy definidos…eh… una cosa así bien antiguo. E: ¿Correspondía también con la sociedad que te envolvía o era la educación de tu padre? S5: No… en ese tiempo…Chile es un país un poco más serio y severo en relación con ciertas cosas, es poco permisivo, entonces se conducía más o menos con el tiempo porque a parte que yo nací en el año 84 cuando el gobierno militar estaba en auge, estaba en su mejor época, por decirlo de alguna forma, ya no existían las protestas, la disidencia era muy pequeña, entonces se conducía un poco con el ambiente. E: El ambiente familiar y de fuera eran más bien represivos… ¿no? S5: Lo que pasa… no represivo sino más que nada…eh… de imágenes muy claras, había ciertas cosas que no se podía hacer simplemente. Bueno se podía…en mi casa … era muy difícil conseguir un permiso para ir algún lugar, lo digo por mi hermana, porque yo ya después…eh… con el tiempo pasando ya fue menos difícil para mi, mi hermana en ese tiempo, cuando ella tuviera quince años, eh…mi papá no la dejaba salir… E: ¿Tú sólo tienes una hermana? S5: Tengo mi hermana mayor y mi hermana menor. E: Ah! Entonces tienes dos hermanas. S5: Exacto. Entonces ella en su edad de fiestas…era muy difícil que le diera permiso, simplemente había una hora y la iban a dejar y la iban a buscar. Entonces ese tipo de cosas. E: ¿Y tú en qué te formaste? S5: Tengo nivel superior, pero incompleto. Yo estuve estudiando dos años biología marina en Valdivia, aquí, una ciudad pequeña al sur de Chile. E: ¿Y lo dejaste? S5: Lo dejé porque tuve problemas de dinero, de salud de mi casa, había muchos problemas. Acontecía que la universidad en Chile no es gratuita, ni una. E: ¿Y no tenéis bolsas de estudios tampoco? S5: Tenía, solamente que en Chile es bien complicado porque… hay muchas personas que… para acceder a esa bolsa de estudios existe un…un papel que tienes que presentar… tienes que presentar en la…en la universidad misma, un papel que corre para todos los alumnos del estado, en la cual tú tienes que demostrar cierta renta de tu familia, ciertas cargas familiares, demostrar si tienes bienes o no, eh…todo ese tipo de cosas, E: ¿Está muy pautado? S5: Tiene que estar muy bien definido… pero lo que pasa que algunas personas que tienen un nivel económico bien mayor eh…pintan ese documento, lo pintan de diversas formas y acceden a créditos, lo que resta de…créditos para otras personas… entonces yo solamente alcancé 80 % de créditos cuando yo necesitaba…necesitaba de cualquier forma cien por ciento porque yo ya estaba con el gasto de que tenía que vivir en otra ciudad. E: Y tú me dijiste que tus razones de venir aquí a Brasil fueron académicas… 1 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 S5: Académicas mismo… porque…eh…bueno después que pasó todo eso… bueno yo cuando terminé… bueno seguí continuando estudiando, pagando, y fueron mis papás los que se encargaron de tener los vales de pagamento entonces yo pensaba que estaba todo bien, todos los pagamentos bien, que no había problemas con eso, después me di cuenta de que estaba debiendo todos casi y no tenía… y para poder después seguir estudiando tenían que pagar todo lo que debía para poder hacer mis cuentas. No había plata en mi casa, mi papá estaba enfermo y yo estaba gastando plata en Valdivia… entonces preferí dejar de estudiar y volver a Santiago… cuando aconteció que mi papá empeoró, él ya no estaba trabajando, eh…tuvimos que trabajar yo y mi mamá , después mi mamá sola, porque yo tenía que cuidar a mi papá, porque ella era la que … el negocio en que yo trabajaba es muy personal, es muy de personas, si yo iba no iba a dar el mismo resultado porque ella trabaja con la venta a crédito en una feria y entonces es una relación muy de vecindario …entonces… a ellos lo conocían a mi papá y a mi mamá… a mi no me conocían… si yo voy a cobrar no me van a pagar . E: Es una relación de mucha fidelidad… S5: Claro…entonces yo me quedaba cuidando a mi papá, porque ya era…él ya no trabajaba, estaba en cama todo el día, había que prepararle las noches, servirlo, vestirlo y acompañarlo, todo… y…los hermanos de mi papá tienen…están casi todos fuera del país, la mayoría aquí en Brasil. Están muy bien sucedidos y yo recibí la propuesta de venirme a vivir con mi tío, una vez que pasara todo lo de mi casa …que también no podía dejar a mi mamá sola con mi papá …entonces a esperar a que ocurriera lo peor para poder estar un poco más entre comillas liberado…cuando falleció mi papá yo tomé la decisión de juntar dinero para venir acá y estudiar acá que la universidad acá es gratuita y bueno tenía que hacer un montón de trámites allá en Chile que yo no lo hice, hice sólo la mitad, yo bueno…me vine aquí a vivir porque tenía que hacer una prueba de portugués allá para entrar con una bolsa aquí en la universidad. No, una bolsa, más que nada de vaga, no de…porque tenía que demostrar solvencia económica la cual me la daba mi familia, mis tíos. E: Porque tú estás viviendo con tus tíos. S5: Claro. Y …yo dije bueno si yo sé un poco de portugués pero no da para saber…hacer la prueba mejor voy allá, me sale mucho más barato ir allá a aprender portugués en el día a día que pagar un curso allá que es mucho más caro, entonces me vine para acá y bueno fui aprendiendo portugués y ahora estoy haciendo un curso de portugués que ya es algo más preparado que también me sirve como un arma de trabajo… en cualquier lugar, en Chile, aquí, en cualquier lugar me sirve como un arma de trabajo saber portugués… E: Porque… ¿cuánto tiempo hace que estás aquí ya? S5: Seis meses. E: ¿Y en estos seis meses has ido aprendiendo el portugués de oído o…? S5: De oído y ahora que llevo un mes y poco en el curso… E: Si… Tu familia, tu tío es chileno, ¿tu tía también? S5: No, mi tía, bueno la mujer de mi tío es brasilera. E: Es brasileña, entonces tú en casa hablas portugués. S5: Hablo portugués, hablo con mi tía, con la empleada de la casa, con mis dos primas, eh…con otras primas, con la gente de la calle, en el trabajo… E: O sea que tú tienes muchas situaciones realmente para hablar portugués, ¿hablas bastante? S5: Sí, por eso cuando yo vengo aquí al curso… la profesora me reta porque yo hablo mucho español y es que yo paso todo el día en el trabajo hablando portugués, en la casa hablando portugués, en la calle hablando portugués, voy a algún lugar y hablo portugués y aquí tengo gente que habla español y me gusta practicar un poco de español, me gusta el idioma, bueno en mi casa hablo con mi primo y mi tío, pero como me paso la mayoría del tiempo con mi tía ahora me paso más en la casa que en el trabajo… E: ¿Tenías saudade como dicen aquí de hablar español? S5: Claro, exactamente. E: Porque el grupo con el que sales, supongo que tienes un grupo ya o tienes amistades. S5: Tengo amistades, lo que pasa es que…las amistades las hace el contacto, en un salón de belleza que era donde yo tenía más contacto humano no haces muchas amistades, mas porque 2 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 el salón tiene un nivel que no es un salón para un publico cualquiera, tiene ya un público definido, tiene un público de alto rendimiento…entonces es muy difícil que yo pueda hacer amistades en ese circulo. Con mi familia sí ya es diferente, mi familia…yo puedo decir que soy amigo de mis tíos, amigo de otros tíos, de mis primos… E: Porque tú me hablabas que tenías más tíos, ¿todos viviendo aquí en Brasilia? S5: Tengo tres viviendo aquí en Brasil, todos con hijos y son muy mayores, algunos viven en otro país ahora, tengo tres tíos aquí en Brasilia, si no me equivoco, con quien vivo, tío Carlos y mi tía Ani, ellos tienen sus respectivas parejas, sus respectivos hijos, algunos de sus hijos…o sea mis primos ya tienen su mujer… E: O sea, ¿son todos ya adultos? S5: La mayoría, yo creo que mis primos de los…los más jóvenes soy yo y mi primo, que vino de Chile conmigo y…tengo una tía en Río, dos tías en Río, y mi primo que ahora se fue a trabajar a Río. E: La adaptación ha sido más o menos fácil o… ¿cómo crees? S5: La adaptación a la sociedad brasilera no me ha costado mucho, la verdad, mas… me ha costado un poco las comidas. E: Las comidas, ¿por qué? S5: No…es que…yo estuve mucho tiempo cuando viví en Valdivia yo vivía sólo, entonces ese tiempo me acostumbré a vivir sólo, a no depender de nadie ni que nadie dependiese de mí y hacer las cosas que yo precisaba hacer, en cambio…eh…yo estuve después con mi familia en Santiago, pero ya fue diferente porque yo tenía mi propia vida sólo que estaba ayudando en lo que me correspondía que era devolver la mano de la vida que me habían dado mis padres…para yo ayudarles y aquí llegué con mi tío que mi tío sólo tiene dos hijas pequeñas, no está acostumbrado a lidiar con …con gente de mi edad como padre, o como tío, solamente como amigo, como amigo nos llevamos increíblemente bien, pero a la hora… de … aparte de tío…es jefe, porque el salón es de él. E: Ah! El salón es de él, entonces entraste a trabajar también con él. S5: Sí, entonces eh…fue un poco difícil, eh…mi interés venía de una forma y terminaban de otra…Mi trabajo fue diferente al que yo esperaba hacer, no por culpa de él ni de otras personas ni mía, sino que simplemente eh…no salió la oportunidad, que yo quería hacer la administración del salón, pero yo no tengo noción alguna de administración, solamente sé ordenar un par de cuentas de tiendas y hacer lo que me digan, manejar computador, todo eso, no tenía bien quien me dijera las cosas que yo tenía que hacer, que mi tío también es el administrador pero con la ayuda de otras personas, entonces la parte contable yo no la puedo hacer…yo podía ir a pagar cuentas…entonces resulta que yo no estaba haciendo bien ese trabajo, bueno, culpa mía, porque yo también no lo sabía hacer, pero no era una culpabilidad premeditada…entonces pasé a trabajar en el salón mismo y ahí comencé …resulta que yo como vine viajando con mi primo, que tenia mi edad también, él comenzó siempre en el salón y no hubo una competencia, solamente que él salía mucho mejor con el trabajo, yo soy un poco más de ideas, más de desenvolvimiento cultural, educacional, cosas, yo soy más de , pienso yo, que soy más de pensar , no tanto de hacer, soy medio…Entonces resulto que yo no me pude ganar la confianza de los profesionales , entonces al no tener la confianza de los profesionales, no tengo trabajos , entonces pasé a ser un auxiliar, porque lo más que hacía era limpiar y yo no vine a Brasil a limpiar, y menos el salón de mi tío, entonces después de un par de discusiones… por actitudes, no sólo mías, sino de mi tío también…como… es el jefe que viene…es como mi papá como yo decía, es bien chileno en su actitud. E: ¿Qué quieres decir con bien chileno? S5: Lo que pasa que el chileno normalmente o diferencia muy bien entre lo que es fiesta y trabajo o simplemente no diferencia y no trabaja (Risas) E: ¿Crees que es así de radical la separación? S5: Bueno también… no es para todas las personas, pero en general …cuando el chileno está de fiesta, está de fiesta, fiesta…no habla nada serio, no va…va a ser todo chacota, va a ser todo eh…, como dicen … sacanagem de aquí todo ese tipo de cosas y al otro día va a tener que ir al trabajo y en el trabajo …mismo que haya estado de fiesta con el jefe, en el trabajo no se 3 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 acuerda, tal vez un pequeño comentario, pero él está en el trabajo y si no es así es de la otra forma. E: ¿Y tú crees que aquí en Brasil se mezcla más? S5: Aquí se mezcla mucho, aquí se mezcla mucho, …el problema es que mi tío gana una parte de eso, pero sigue con la otra parte del chileno, así entonces es un poco difícil, que de repente yo puedo estar discutiendo con él una cosa muy seria y él se va y vuelve a los cinco segundos y quiere darte unas risas, entonces…es como que se le olvidan las cosas…y… bueno…y yo también culpo mi carácter y el de él, muy fuerte, aparte que yo no estaba …no estaba contento con el trabajo, no estaba haciendo lo que yo realmente quería y me estaba …eh…deprimiendo sólo… E: Bueno, ahora puedes buscar otra cosa, ¿no? S5: Ahora estoy presto para ir a Chile a dar la prueba. E: ¿La prueba la tienes que haces en Chile? ¿No la puedes hacer aquí para entrar en la universidad? S5: Sí…Lo que pasa es que existe una cláusula respecto a esa bolsa que dice que el postulante tiene que…venga de un país donde no existen centros de estudios brasileros, está autorizado para darla aquí…pero en Chile hay centro de estudios brasileros. E: ¿Y cuándo tienes tú que hacer la prueba? S5: La prueba es en noviembre, me parece, pero yo vine aquí con visto de turista por tres meses, renové por tres meses más y…bueno…ahora ya se me está acabando el visto. E: Porque tú te quieres quedar aquí, me decías en el cuestionario. ¿Te quieres quedar a vivir? S5: Bueno…quiero quedarme a vivir…yo si llego a alcanzar esa bolsa voy a volver aquí a estudiar. La bolsa da una,……un visto por un año, renovable, si sigo estudiando.Eso me va a dar la oportunidad de…yo por un cierto tiempo sigo estudiando, terminar mi carrera pueda…bueno, la bolsa pide o exige que…el profesional una vez formado vuelva a Chile a trabajar, pero yo en ese tiempo puede hacer algún trato, alguna cosa que yo pueda hacer para venir acá. E: ¿Te gusta el país? S5: Eh…Me gusta… me gusta para traer a mi familia,… E: ¿Para traer a tu madre, a tus hermanas? S5: Sí,…porque acontece que allá, como yo te decía ,nosotros veníamos de una clase media pobre que con el tiempo subió un poco, pero ahora se estancó, lo que no es lo mismo que yo vivo acá, que yo vivo acá en el Lago Norte. E: O sea la calidad de vida… S5: La calidad de vida es muy diferente y si yo me traigo a mi familia no me la traigo a vivir para que viva en Samambaia… Y si yo me traigo a mi familia…mismo que vivamos aparte de mis tíos, yo por lo menos si me la traigo va a ser cuando yo tenga un trabajo bueno, cuando yo pueda mantenerla , a vivir, por lo menos aquí en el Plano, …o en Guará…, en algún lugar que no sea lo mismo que donde vivíamos allá. La calidad de vida es muy diferente, el ambiente donde va a crecer mi hermana es muy diferente. Mi hermana pequeña ya tiene doce años…calculo que si yo me la puedo traer va a ser cuando ya tenga dieciséis. Ya van a estar casi formadas ya, pero van a estar, como se dice, en el alvo de su conciencia social, y yo no quiero que crezcan rodeadas de personas que no le convienen. E: ¿Tú crees que es mejor aquí…la sociedad? S5: No, es que el ambiente allá es bien complicado. Existe mucha delincuencia, en el lugar donde yo vivo,…delincuencia, tráfico,…ese tipo de cosas. Hay mucha deserción escolar, la tasa de deserción escolar es…bien alta. E: ¿Crees que el ambiente aquí es más tranquilo? S5: Claro, si yo las traigo para que se vengan a vivir a Paranoá es lo mismo, pero yo no las quiero traer a vivir allá, yo quiero que vengan a vivir en el Plano aquí conmigo, que… compartan con su familia brasilera. Mi hermana mayor ella es peluquera y se está reciclando cada día con el tema…del…salón de belleza, ella puede venir a trabajar perfectamente con mi tío. Mi hermana pequeña puede venir a terminar sus estudios y pasar a la universidad. Mi madre ya vendría a aposentarse… E: ¿Y el portugués? ¿No te produce ningún problema ahora hablar en portugués? 4 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 S5: Yo ya entendía casi cuando llegué porque yo ya había venido dos veces... E: ¿Habías venido de turista? ¿De visita turística? S5: Si, de turista. La primera vez vine por tres meses,…me quedé mucho tiempo,…tres meses. E: ¿Y visitaste…? S5: La verdad es que conocí Brasilia y Río. La verdad es que no era para andar sólo, tenía quince años sólo. Y la segunda vez ya fue un poco más turístico porque vine con un paquete turístico con mis compañeros de escuela, ya tenía dieciocho casi, fuimos a Camboriu, conocimos Blumenau, pasamos a Uruguay…eh…fue increíble. Ahí fueron dos semanas apenas, pero ahí el contacto con el idioma fue supergrande porque mis compañeros ninguno sabía hablar portugués y yo ya tenía una noción, con tres meses ya había aprendido un poco, no? Podía comunicarme por lo menos en ese tiempo y me usaron de traductor para todos sus contactos, si ellos querían hablar con una mocinha yo tenía que ir y traducir, lo que ella decía, lo que ella hacía, cualquier cosa tenía que traducir, entonces…ahí practiqué mucho. E: O sea que cuando viniste ahora ya entendías… S5: Todo. Simplemente que era como... cuando viene un…un norteamericano viene a Chile o a España: yo querer comida. Una cosa así. (Risas) Eh…Entonces…el día a día vas midiendo las palabras, eh,…los verbos, los tiempos verbales… E: ¿Ahora crees que ya consigues expresar todo lo que quieres decir? S5: Ahora puedo conseguir expresar mis ideas eh…cien por cien. Bueno…si estoy en una fiesta y estoy con un trago de más eh…es un poco difícil porque se van mezclando las lenguas…y ahí sale… E: Entonces…emocionalmente…aún predomina el español… S5: Claro E: ¿Cuándo te enfadas?…o ¿Cuándo? S5: Cuando me enfado, también puedo…depende de con quien me enfado, si me enfado en un ambiente donde no me conviene enfadarme, me voy a enfadar en español obviamente, en castellano...que no quiero que entiendan que yo estoy muy enfadado. (Risas) E: ¿Crees que hay diferencias de comportamiento entre los chilenos y los brasileños? Porque nosotros los españoles quizás somos más bruscos… S5: Exactamente. El chileno es bien parecido en ese sentido, que…yo estuve en España, cuando el chileno se enfada eh…revienta al que se esté por delante con palabrotas, o está tan enojado que al final ya no se acuerda ni porque se enojó. Aquí no, aquí la persona se enoja y te dice otro tipo de cosas, así como que se enoja contigo pero no es agresivo, no es agresivo, se ríe, bueno a no ser que sea una persona de una índole mas o menos agresiva, se ríe, te dice … vai a tomar banho, …Aparte que aquí no se enojan por nada … E: ¿Crees que no se enojan por nada? S5: Uno le puede estar diciendo cualquier cosa a una persona y no se enoja…es muy…La capacidad de sentirse ofendido aquí es mínima…entonces es…divertido porque… E: ¿Crees que son más tolerantes? S5: Yo también veo mi reacción que es bien diferente de la de ellos…entonces …realmente pienso que estoy realmente medio…como quien dice, no sé si es la Biblia, donde fueres haz lo que vieres, entonces me siento como que le estoy haciendo mal… E: ¿Has cambiado entonces algo en contacto con este estilo de vida? S5: Bueno…yo creo que mi forma de desenvolverme aquí ha cambiado, pero creo que mi raíz es demasiado fuerte, porque yo mismo encuentro…, bueno…me doy rabia conmigo mismo cuando encuentro que reaccioné muy brasileiramente de alguna cosa… E: ¿Por ejemplo…podrías explicarme alguna situación?... ¿Algún ejemplo? S5: Bueno, yo ya dije que aquí no se toman las cosas muy en serio y yo soy totalmente en contra, para mí fiesta es fiesta y serio, es serio y…bien serio, las cosas como se dice aquí: ocho, ochenta, entonces… cuando veo que la gente está…yo estoy con algo serio, yo estoy de repente aproblemado con algo, tentando darle solución o sacar una conclusión y aquí vienen para acá, vienen a tu lado y te dicen: eh! Deixa para lá, y te dicen cualquier cosa, te agarran para la brincadeira, como si tú estuvieras jugando y ahí cuando me da rabia porque también…no puedo llegar y mandarlo a buscar…a cualquier lado, porque sino voy a ser una persona chata, 5 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 entonces tengo que esforzarme por no serlo, pero también me da rabia porque no debería ser así…encuentro yo. E: Un poco superficial lo llamarías o ¿Cómo lo llamarías tú? S5: Claro… de…No,… Superficial, no…, sino de no darle importancia suficiente a las cosas…Ahora…me da un poco de risa incluso la situación gubernamental, política que está en estos momentos… E: La verdad es que es para llorar… S5: Es para llorar…es muy fuerte y veo que la sociedad misma no toma conciencia de lo que está pasando, es muy difícil encontrar que alguien esté…eh que alguien denun…normalmente en Chile qué pasa? Tiene una reunión social, mismo sea medio festiva, va a salir el tema y va a haber una discusión, mismo sea con tus tíos… no existe una discusión neutra. Aquí no, aquí ni se habla. Mi tío está subscrito al Correio Braziliense y en el Correio viene un suplemento completo, completo, lleno del tema del día y siempre el tema del día tiene que ver con lo que está pasando en el gobierno …y entonces …a mí me da risa por la ironía, de que los medios de información tratan de meterte el tema, tratan de que se haga consciencia, si eso estuviera sucediendo en Chile ya …habría ya hasta atentados, me imagino, ya habría eh…protestas cada vez que aparece el presidente, protestas cada vez que aparecen los implicados, eh…boletines informativos por las calles,… E: Y eso… ¿Cómo lo interpretas tú? S5: Que toman poco serio las cosas, que cuando la cosa es seria…deixá para lá, eh…vira todo fiesta… E: ¿Y crees que afecta de alguna manera al estilo de vida? S5: No afecta al estilo de vida, pero sin embargo eh está sucediendo y eso afecta, ahora no, pero está afectando E: ¿Es poco consciente políticamente o crees que a otros niveles? S5: Aquí…yo pienso que aquí en el Plano no se concientizan de que todo eso que está sucediendo no les está repercutiendo mucho a ellos, les está repercutiendo a otras clases de la sociedad. E: ¿Y crees que no les importa? S5: Bueno, en el discurso todo el mundo le importa, pero lo veo…esas mismas clases que les afecta parecían no darse cuenta o no importarle, parecían estar sumidas ahí sin querer salir o queriendo que la salida venga gratis, que venga así a tu puerta, que a tu puerta te golpeen: a ti te compramos una casa para que vivas aquí y te compramos el negocio para que… E: Sin esfuerzo… S5: Claro…entonces…no estoy diciendo que todas las personas sean así porque hay personas que se esfuerzan mucho, que… es por eso que aquí en Brasil , en todo Brasil el extranjero triunfa, el extranjero por lo menos de Sudamérica triunfa, porque en otros países, en Argentina, en Chile, en Perú tienen mucho el sentido del esfuerzo. E: ¿Ambición también? S5: Bueno, ambición…No se le puede pedir a una persona que está muy pobre en Perú que tenga…, no se puede considerar ambicioso el venir a Brasil. E: No, ambición sana, de querer progresar, de querer tener algo mejor. S5: El motivo es la ambición y la herramienta es el esfuerzo, por eso que aquí hay muchos extranjeros que triunfan y que llegan a altas esferas, llegan… E: ¿Tú crees que es más trabajador? S5: No más trabajador, bueno, podría ser incluso que sí. E: ¿Diferentes valores de vida? S5: Exactamente, yo creo que otras personas de fuera de Brasil pueden sacrificar la fiesta, la forma de vida alegre para conseguir algo, aquí son muy conformistas con su forma de vida, su espíritu, que es muy bueno ser tan alegre, tan bueno para hacer fiestas, para bailar samba, todo eso, pero la vida no es de eso, hay algo más…o sea yo no le voy a dar de comer a mi hijo estando en una fiesta, a no ser que en esa fiesta yo esté trabajando. E: ¿Qué imagen tenías antes de tus contactos? ¿Ha cambiado algo esa imagen? Porque tú me decías en el cuestionario que no había cambiado tu manera de ver el mundo. S5: No. 6 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 E: ¿Podrías explicar? S5: Porque yo llegué a Brasil con una idea casi certera en cuanto a mi punto de vista eh…de acuerdo lo que sería o no eh… bueno para una sociedad o para el desarrollo de una sociedad equitativamente, equitativamente,no igualmente que es diferente, y llegué acá y vi la sociedad brasilera y al principio vi…cucha aquí son bien diferentes, como en Chile o bien diferentes como yo pienso que …es lo normal o lo bueno, bien diferente, no malo, pero es diferente, pero también veo las consecuencias de esa diferencia porque uno cuando llega acá llega a mojarse del país que llega, a pesar de que normalmente quiere traerse cosas de donde viene, de su país, a mostrarlas, y muchas veces mal queriendo implantarlas, pero al final uno termina viendo, mojándose más que el mismo brasilero de lo que pasa en su país. E: ¿Te termina afectando de alguna manera lo que pasa aquí? S5: Me termina afectando, pero no cambia la forma como yo pienso el mundo, sino que veo o me imagino lo que está haciendo falta. Aquí para llegar a eso que yo pienso que sería lo… E: ¿Te gustaría cambiar ciertas cosas de aquí? S5: Claro, yo en primer lugar cambiaría la administración, toda. La administración aquí está , es todo muy… teatral, porque aquí acontece, pienso yo, que aquí alguien que tiene un poco de poder lo ocupa y lo ocupa para siempre, entonces lo que hay cambiar es ese poder, porque las personas, todas, con un poco de poder van a cambiar para un lado o para otro, lo que hay que cambiar es a qué personas dar ese poder y limitar ese poder, me parecía tan ridículo que cuando el señor Severino Cavalcanti fue electo… su proyecto de ley era tan tan ridículo que me parecía increíble que lo pusieran en un diario, cómo va a disponer un proyecto de ley para subir el sueldo de los senadores de 17.000 reales a 23.000 reales , o sea, ¿de dónde?. Y la gente lee eso y no le importa, lee eso y no lo ve. Son cinco mil reales a más que se le puede dar a una persona trabajando… E: En España estaríamos en la calle con pancartas. S5: Exactamente. Un senador de la República hoy, aparte de tener a su señora y sus dos, tres hijos trabajando en cosas fantasma, recibiendo sueldo, está queriendo ganar más, teniendo casa gratis, vehiculo, motorista, cuantas pagas. E: ¿Eso es una cosa que a ti te exalta, te irrita? S5: Sí, me parece ridículo, y me parece más ridículo que aquí se sepa y no se haga nada, porque si eso sucede en Chile, no se sabe. E: ¿Y tú? ¿Qué motivación le das a eso? S5: La verdad pienso que el brasilero es medio conformista, el que está abajo, el que está abajo es muy conformista, en el sentido de que si él, él o ella, está contento con la vida, porque está vivo, ah! La vida es linda, todo eso, eh…no…Carnaval y fútbol están contentos.Acá no se ponen a pensar que su casa podría ser un poco mejor, de que podrían vivir un poquito más cómodos, que podrían vivir de una manera más digna, porque una persona que vive en una favela no vive realmente de una manera digna, un barrio pobre de Brasil no es una vida digna, no tienen agua potable en algunas partes, eh…muchas veces no tienen lo que comer, entonces… y están viendo que algunas personas que realmente no hacen mucho están ganando cien veces lo que esa persona gana o diez veces o treinta veces , están con todo gratis, buena ropa , se mexen en un ambiente bueno, interesante, su hijo no va a morir por una bala, entonces…no entiendo, sinceramente no entiendo. E: Pero, bueno… a ti, dejando aparte estos aspectos, ¿Te gusta en general la cultura brasileña…o hay algún aspecto que te gusta especialmente? S5: Me gusta. E: Porque tú me decías…en el cuestionario que no creías que tu cultura fuera superior, sino semejante, creo. S5: Claro, lo que pasa es que aquí la cultura brasilera es muy rica, es muy rica, es llena de cosas interesantes, eh…llena de festividades interesantes, llena de formas de ser, eh…formas de expresarse que hacen la vida un poco más amena. Yo pienso que eso es lo que más me gusta de Brasil. E: ¿La diversidad cultural? 7 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 S5: Eh…no sé si es la diversidad…es…yo diría que es… sí puede ser la diversidad…es algo que se diferencia con Chile. En Chile la cultura es rica, es grande, pero no es muy diferente entre ellas…no es muy diferente lo que pasa en ciertos lugares con lo que pasa en otro. E: ¿Crees que Brasil es un país que da oportunidades? S5: Aquí las oportunidades están a mares, a mares, aquí hay oportunidades para todo, para hacer de todo, para vivir de cualquier forma, hay que buscar la que a uno más le gusta. E: Incluso preservando tu identidad,… ¿Hay una cierta preservación de tu cultura? S5: Hay una cierta preservación de mi cultura porque yo soy muy, muy amante de las cosas de Chile, me gustan mucho, siento que en Chile se pierde cada día eso, por diversos motivos se va perdiendo, se va dejando de importar, a la gente le va dejando de importar ciertas fiestas, ciertas actitudes, ciertas cosas que son natas en el chileno y se van perdiendo y yo no quiero que se pierda eso y si yo puedo estar aquí en Brasil, adaptarme a una vida en Brasil, tener una vida buena, eh…pasar a llevar la cultura de acá, llenándome un poco más con esa cultura, porque la cultura aquí, como decíamos antes, que es todo muy festivo, carnaval, fútbol y …¿qué? E: No sé, eres tú el que tienes que hablar. ¿Te gusta eso? ¿Qué aspectos has tomado tú de la cultura…? S5: Claro… Yo encuentro que eso es bueno, yo no les critico a las personas que les guste eso, yo lo que critico es que pongan en primer lugar eso, eso es lo que no me gusta de Brasil, que pongan en primer lugar las cosas que quitan las tensiones, pero aquí no tienen ni tensiones (risas). E: Crees que no tienen tensiones. El estrés es sólo nuestro. S5: Claro. Aquí no hay…me imagino que casi no existe el estrés, porque esas cosas que son distracciones al final pasan a ser el primer, la primera vida, pasan a ser el primer tema. Ahora yo no quiero que mi familia venga…que eso sea la primera vida, porque sino van a salir de aquí…ligeritos a morar en otro lugar. Porque aquí…la vida aquí exige sacrificios. E: ¿Sacrificios? Si quieres vivir mejor… S5: Exige… en cualquier lugar del mundo la vida exige sacrificios. E: ¿Qué sacrificios te ha exigido aquí? S5: Perseverancia en lo que uno está haciendo, correr atrás de lo que uno quiere, buscar, buscar las cosas, reciclarse. E: ¿Y tú crees ahora que estás ya bien adaptado después de estos seis meses? Porque antes me hablabas de las comidas diferentes. S5: Las comidas son bien diferentes. Lo que pasa es que en Chile estamos acostumbrados al plato del día, como decimos de alguna forma, en Chile no se hace, voy a hablar primero de Chile, en Chile yo: madre, qué hay de almuerzo hoy? O bueno, ¿qué voy yo a preparar, ¿qué hago de almuerzo yo hoy? Tengo esto, esto y esto. Bueno, voy a hacer un buen plato de arroz con pollo al jugo y papas fritas y preparo un montón de arroz, un montón de pollo y un montón de papas fritas y voy sirviendo así unos platos para cada persona y si hay alguien quiere comer más, me pasa su plato y yo le sirvo más. Al otro día voy a hacer un buen plato de porotos con riendas, platos con nombre, que es un plato…que es una preparación… E: Se me hace la boca agua (risas) S5: Claro. Es una preparación así que…son platos típicos o no típicos, pero que uno normalmente hace un plato. Aquí no, aquí siempre arroz, feijão, carne y ensalada, arroz, feijão, carne de pollo y ensalada de otra cosa, arroz, feijão, fideos y otras cosas… E: Porque tú comes en tu casa… S5: Claro,…entonces es como siempre…es una rutina de comida. Siempre va a haber arroz y feijão, siempre va a haber y siempre el plato va a ser así. Aquí y aquí y una cosa, otra cosa y otra cosa, un montón de cosas diferentes. Entonces…es un poco chocante. Una vez yo preparé en casa porotos con riendas , que es un plato de porotos que se hace con zapallo, no sé como le dicen en España a zapallo. E: No sé lo que es zapallo. S5: Calabaza. E: Ah! Calabaza. ¿Y los porotos qué son? S5: Feijão. E: En España nosotros le llamamos alubias. 8 430 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481 482 483 S5: Me había olvidado. Porotos…con tallarines y algunas otras cosas, algunas especies…Entonces yo preparo un plato que es un caldo y se acompaña con un pebre, un pebre es un ají… E: ¿Una pimienta? S5: Sí, preparado así con pimentón, cebolla, ají de pasta, ají picado… E: Bien picante, ¿no? S5: Es muy rico. Entonces es un plato que es típico de invierno, que se prepara con caldo y es muy fuerte, entonces en invierno es una inyección de energía y calor. E: Aquí con el calor que hace (risas) S5: (risas) Claro. Pero no, yo lo presenté como un plato típico. Y resulta que yo lo sirvo, sirvo para mi tía, sirvo…Y mi tía llegó después: Ah! Qué rico. Hiciste unos porotos, pum, pronto. Y se sirve arroz, feijão preto, ensalada, otras cosas, y pesca de mis porotos y pone allí. Uhh! ¡Lo mezcló todo!! Perdió la gracia. Porque la gracia es ver un plato de porotos grande, hondo, lleno. Entonces, para mí hay mucho de tradición en esas cosas. E: Nosotros también tenemos lo que llamamos plato principal. S5: Claro…La cultura de comidas allá con acá es diferente. Aquí es poner cositas… (…) E: Tú me estabas diciendo que la disposición siempre es la misma y que cada uno mezcla y que cada uno se sirve. ¿No? S5: Exacto. E: ¿Y allí la costumbre es un poco diferente? S5: Espero algún argumento de las personas, cómo encontraron el plato, si les gustó, si encontraban que estaba muy fuerte, si les parece que podía haberle faltado algo o si simplemente saqué aplausos. E: ¿Crees que se le da más valor allí al acto de cocinar, de comer? S5: Es al acto de cocinar y al tiempo, a la situación del almuerzo. E: ¿Por qué? ¿Cómo se usa? Porque en España el almuerzo también es muy importante. S5: Es una reunión familiar, donde se conversa el día a día de cada uno, eh… después hay una sobremesa muy larga, normalmente después de un almuerzo puede aparecer una fiesta. ¿Por qué? Porque un almuerzo bien sucedido, bien entretenido, con personas que se entienden bien, da en una sobremesa un cafecito entretenido, alguna veces como en España, el café completo, ¿no? y…bueno… ahí… viene el café, un puro, el cigarro,… E: ¿Y crees que aquí no? S5: Aquí no, aquí mi compadre, mi tío, termina de almorzar y se va y hace lo que tiene que hacer. E: Aunque sea un día de fiesta, un almuerzo especial,… S5: Aunque sea un… E: ¿Crees que no hay diferencia? S5: Eh..Sí,… hay una diferencia. Hace poco, en casa, bueno no hace poco hace ya un mes o más de un mes se hizo una comida de despedida para mi primo que se estaba yendo a Río… bueno y todo el mundo se sirvió y se sentó de nuevo a sus cadeiras otra vez, porque partimos tomando un trago, una cerveza, compartiendo y esto…resulto que estuvo lista la comida y todo el mundo pescó su plato y se paró y comió y comió por su lado, se fueron a comer solos,… E: O sea, ¿no se puso la gente en la mesa? S5: Se puso las cosas en la mesa preparado para que comieran y si yo no la pongo, porque yo la puse, hubiera limitado eso. E: ¿Quieres decir que se sirvió tipo buffet? S5: Exactamente. Entonces… yo… me gusta eso en Chile, me gustan ese tipo de cosas,…el hecho de sentarme, dar un tiempo para almorzar, tranquilo, compartiendo, pasar un tiempo agradable, hacer una sobremesa, y…que no sea simplemente sentarse a comer. E: ¿La sobremesa aquí no existe? S5: Como aquí cada uno se sirve es muy impersonal, llega a cualquier hora, por ejemplo, yo puedo salir con otra persona y somos más que tienen que ir a almorzar de esa misma mesa y la otra persona llega a la media hora después y, como…está todo servido allí, no tiene que ir a la 9 484 485 486 487 488 489 490 491 492 493 494 495 496 497 498 499 500 501 502 503 504 505 506 507 508 509 510 511 512 513 514 515 516 517 518 519 520 521 522 523 524 525 526 527 528 529 530 531 532 533 534 535 536 537 538 cocina a prepararse un plato, entonces va y punto, se sienta a cualquier hora, nosotros terminamos y ellos están recién comenzando. Es muuy impersonal. E: ¿Notas a faltar esa calidez, esa relación que se mantiene? S5: Claro,…Sí,… pienso que todas esas cosas son inherentes a la cultura. ¿Por qué en Chile se da eso?, digo yo, por sus características climáticas, porque… con el frío, con eh…la imposibilidad en algunos momentos de salir de casa, llega la hora en que todo el mundo se junta en casa y se junta y llega la hora de la refeição, o sea, el desayuno, el almuerzo once o cena.. Allí tomamos once. E: ¿Once? S5: Once es un desayuno eh…por la tarde. E: ¿Un desayuno por la tarde? ¿Una merienda? S5: Una merienda, un lanche,… eh…No un desayuno,…es que tiene la forma de desayuno. E: ¿Por qué los horarios son diferentes? ¿A qué hora se come allí? S5: Bueno, el desayuno siempre es dependiendo del horario de cada quien, pero está cerca de las nueve o nueve y media de la mañana. E: ¿Los horarios de distribución de comidas son diferentes en Chile y en Brasil? S5: Eh…Podría decirse que sí. El almuerzo normalmente en Chile es a la una de la tarde, igual que acá, pero después …tengo… ahí todo depende de cada familia, porque cada familia tiene un trabajo diferente, un horario diferente, yo, por ejemplo, en mi casa almorzaba dos o tres de la tarde …y me daba tiempo para tomar once a la hora de la novela. E: ¿Y por qué se le llama once? ¿Es una hora determinada? S5: Bueno, existen muchas historias diferentes porque se le llama once. Hay dos historias que yo conozco, se le llamaba once dicen porque era la hora en que la gente cenaba y la gente cenaba a las once, porque era la noche. E: Pero tú me estabas hablando que era una merienda, ¿no? S5: Esa es una historia, yo no sé… después ya no era un plato de comida, y era diferente, ya no era una cera, era una merienda y después se fue adelantando, porque algunos llegaban con más hambre y le llamaban once. Y hay otra historia que dice que en algunas reuniones de señoras que se juntaban a tomar su té de ingles, cosas así ¿no? Y había algunas que les gustaba tomar una copa de aguardiente y entonces las llamaban las once, para no decir vamos tomar la merienda, el aguardiente, vamos tomar las once, que son las once letras de aguardiente. E: Siempre en toda historia hay las dos versiones, la políticamente correcta y… S5: Y la otra… que normalmente es la real. E: ¿Y es un aspecto que dices que es diferente de aquí? S5: Y es muy parecido con el desayuno porque se prepara…. Ahora lo que es la once, tomar once, se da mucho: Yo te invito a tomar once a mi casa, voy a dar una once para el cumpleaños de no sé quien, haces café, té, leche, igual al desayuno, haces un pastel para comer con el té, cosas para el pan, pan tostado, alguna masa típica de Chile, empanadas,… E: ¿Y eso aquí? S5: Y eso aquí no. Allá la hora de las comidas son muy ceremoniales, el desayuno no es tanto porque el desayuno sale uno a cierta hora para su trabajo, tiene que tomar un desayuno rápido, no sale a la misma hora que otra persona que se levanta un poco después porque trabaja solamente a la tarde o alguien que estudia, entonces el desayuno ya es un poco menos ceremonial. E: ¿Y las relaciones de trabajo? ¿Has notado alguna diferencia respecto a tu país? S5: Bueno…En los trabajos que he hecho tal vez no he notado diferencias porque…Más que nada la gran diferencia pienso yo… es la informalidad, sigue siendo, la informalidad de las cosas, la incerimonialidad. E: Bueno, vamos a acabar. Sólo quería preguntarte una cosa más y es que tú me comentaste que cuando llegaste aquí sentiste un poco sentimientos encontrados: alegría,… S5: Eso se refleja en lo que yo tal vez he dicho, porque me siento súper alegre, la forma de ser de las personas. Si yo quiero estar de fiesta voy a encontrar donde sea alguien para que me acompañe, si yo estoy triste voy a encontrar alguien que me alegre, por eso me siento… muy rico eso… pero… cuando veo…lo que estábamos hablando antes… las personas que roban a destajo… las otras personas que no se importan, o que no se dan cuentan…eso me da rabia,... 10 539 540 541 542 543 544 545 546 547 548 E: ¿Te irrita? S5: Me irrita… me irrita que…la actitud de uno y lo otro. Me irrita que unos sean tan descarados y me irrita que los otros no se importen, que los afectados no se importen. Entonces ese tipo de cosas son la que me produce eso. E: ¿Quieres decir alguna cosa más? Antes de acabar la grabación, la conversación la podemos seguir… S5: No, creo que no, creo que no tengo ninguna frase, solamente… no… eso es muy cliché. E: ¿Entonces lo damos por acabado? S5: Si pues. *** 11 Entrevista realizada numa sala da UnB no dia 28/5/05 às 18,45 horas Duração: 50 minutos Transcrição fita: 8 horas Observações: Aos 50 minutos dou por acabada a gravação e conversamos distendidamente 10 minutos mais. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 ENTREVISTA S6 E: ¿Preparado? Me gustaría que me explicaras un poco donde naciste y cómo fue tu ambiente familiar, ¿Dónde fuiste criado? S6: Yo nací en Manizales, en una ciudad del interior de Colombia, eh. Nací en una familia, gracias a Dios, estructurada, una familia compuesta por papá, mamá, y en ese entonces, tres hermanos, después de mí, nacieron dos más. Una familia de muchos valores, una familia tranquila, una familia de costumbres sanas, costumbres buenas, simples, gracias a Dios, porque me tocó una familia excepcional. E: ¿Y varios hermanos? S6: Sí, tengo cinco hermanos, de los cuales yo ocupo el cuarto lugar, son dos mujeres y cuatro 10.hombres. E: ¿Todos los hermanos están allí, en Colombia? S6: Todos viven..., se casaron, los mayores, y viven en Colombia. E: Y tu, ¿en qué te formaste?,…En el cuestionario dices que habías recibido enseñanza superior. S6: Sí, yo estudié Educación Física, en una universidad de mi ciudad, Manizales, y después hice post-graduación en fármaco- dependencia. E: Y los motivos de venir a Brasil... ¿son profesionales? ...de hecho tú estás trabajando. S6: Sí, yo llevo siete años trabajando en el área de reeducación con una institución que trabaja con adolescentes infractores o en conflicto con la ley y con la congregación religiosa, entonces ellos después me hicieron la propuesta de que si quería venir aquí al Brasil que están comenzando, pues, el trabajo en forma de reeducación. E: O sea, ¿tú ya viniste con una propuesta de trabajo de Colombia? S6: Sí, yo llegué… yo trabajaba allá, aquí en Brasil están comenzando con ese proyecto de humanización de esos centros de reeducación para adolescentes. En Colombia estamos fortalecidos en ese sentido, en Brasil no, aquí todavía no respetan… cuando tienen un trabajo pedagógico… E: ¿Es eso del CAJE? S6: No, aquí existe CAJE que es un centro de internación, que queda en el Asa Norte. No, nosotros trabajamos en una institución que las personas conocen como CAJE 2 que queda en la PAPUDA, en el complexo penitenciario. Son los mismos meninos, el mismo perfil, mas nosotros trabajamos con una propuesta pedagógica, una propuesta humana. E: ¿Cuánto tiempo hace que estás aquí? S6: Quince meses. E: ¿Te has adaptado bien? S5: Perfecto. E: ¿Te ha gustado? S6: Me gusta mucho, o sea, yo vine con la idea de estar solamente un año, como experiencia. Pensé: voy a aceptarlo para conocer un poco y dar lo que yo sé allá, que están comenzando. E: Porque… ¿tú has venido como técnico, como formador? S6: Si, exacto, porque la gente no tiene mucha experiencia en ese trabajo, o sea no se conoce ese trabajo, así bien pedagógico y…pero ya cumplí un año, ya fui de vacaciones a Colombia y seguí, voy a continuar. E: ¿Tienes un contrato? S6: Un contrato por la congregación. E: ¿Te puedes quedar tanto tiempo como tú quieras? 1 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 S6: Sí, porque la propuesta fue: si yo dejo de trabajar en Colombia y vengo para acá cuando yo decida volver voy a tener el mismo empleo que tenía antes. E: Muy bien, ¿no? S6: Sí, yo tengo en ese momento el seguro de salud, tengo la pensión y todo… E: ¿De Colombia? S6: De Colombia. E: Pero... ¿te pagan aquí? S6: Aquí, el salario es de aquí. E: Porque tú me decías incluso que estás pensando en quedarte definitivamente aquí,... en el cuestionario. S6: A mí me gusta. Me gustó mucho, y… entonces…voy a aprovechar al máximo. En este momento me gusta, me siento bien, estoy bien adaptado, y quiero aprovechar y estudiar, por eso estoy haciendo el curso de portugués para más adelante, de pronto, hacer una maestría,… E: También tú me decías que unas de las cosas que tenías que hacer antes de venir era estudiar la lengua. S6: Sí. E: ¿Te supuso alguna dificultad el llegar aquí y no saber portugués y ponerte a trabajar? S6: Muy difícil, o sea,… E: ¿Cómo? ¿Cómo hiciste? S6: Es complicado porque yo llegué sin saber nada de portugués, o sea…porque nunca, nunca,…en Colombia no se tiene mucho contacto con el portugués. En Colombia se habla español y en las escuelas, colegios,…y en las universidades se estudia ingles, de pronto también francés, mas portugués, no. Entonces yo no tenía contacto con el portugués. Yo llegué aquí y sin saber absolutamente nada. Las personas hablaban y para mí estaban hablando en chino. (Risas) No conseguía entender… para hablar… la única dificultad en realidad que yo tuve aquí fue con la lengua. E: ¿Tú te acuerdas de algún malentendido a causa de tu desconocimiento lingüístico? S6: Eh, Sí, con una palabra que aquí es palavrão, que las mujeres quedan así como avergonzadas y que en Colombia es normal, un medio de transporte urbano. E: (Risas) Ah! No sé. Como no soy brasileña creo que me lo puedes decir sin sentirme ofendida. S6: (Risas) “Buceta”. E: Ah! Si. S6: El medio de transporte allá es “buceta”. E: Es verdad, es verdad. S6: Nosotros en los avisos y todo allá aparece buceta, buceta. Al principio yo no sabía cuando llegué. Y nosotros trabajamos lejos, la facultad queda siempre isolada, un poco retirada, nosotros tenemos transporte… E: Ya me imagino, ¡qué situación! S6: Entonces,... digan que me esperen…Me voy a demorar un poco más,... pues todo el mundo así... Unas pocas personas ya sabían… entonces rieron…mas otras personas así como..., quedaron aquí, como dicen aquí sem graça…Mas nunca lo voy a olvidar (Risas) E: Malentendidos de ese tipo has tenido al principio, ¿no? … S6: Sí. E: Pero algún malentendido… S6: Muy limitado, … yo llegué a trabajar con personas y... solamente el director, yo soy el vicedirector de la institución, el director es colombiano, mas él no habla, tiene cuatro años aquí, pero él no habla en español, no le gusta, y desde el principio siempre inglés, portugués, portugués, …y para mí hasta para entenderle era más fácil, hay palabras que no, mas por el sotaque, por nuestro propio acento, da para entender mejor, mas cuando habla, …hablaba una persona de aquí para mí era muy difícil. E: Porque tú, en el cuestionario, hablabas de la frialdad del recibimiento… ¿tuvo algo a ver con que no sabías…? S6: Yo pienso que eso limitó y las personas de pronto estaban prevenidas que venía una persona a ser jefe de ellos, una persona extranjera, y es una institución donde tenemos 220 empleados brasileros, entonces se quedaron así… ser el jefe y no podernos comunicar adecuadamente. Sí, 2 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 las personas se quedaron frías, indiferentes,… ¿Por qué? Porque yo tengo costumbre de que la gente en Colombia es muy abierta, muy acogedora, muy calurosa con las personas. Y yo lo soy, o sea, yo soy así, sobretodo con las personas de fuera, me preocupo porque se sientan bien, por acoger bien y aquí la mayoría, no todas, son indiferentes y un poco, así, alejadas. E: Y ahora que ya llevas un tiempo... ¿crees que las personas son frías e indiferentes? S6: No, no. La gente es… no sé, si ya por poderme comunicar con ellos,… es bien, bien interesante la relación, o sea, tengo una relación muy buena, la gente, digamos que les gusta mi forma de ser, de tratar, de trabajar, de inter…, de interacción con ellos. E: ¿Has percibido alguna diferencia en las relaciones sociales o de trabajo? S6: Bueno, lo que yo identifiqué aquí que la gente es más difícil en el área del trabajo, que la gente es más, o sea, cómo llamarle, o sea, el colombiano es muy trabajador y muy responsable, trabaja mucho. Cuando nosotros llegamos aquí no existía eso, era un desorden en horarios con las personas, las personas no muy entregadas al trabajo, no muy comprometidas, en general, o sea como todo tiene las personas que sí. Sentí ese choque, yo venía de la institución donde la gente sabe lo que tiene que hacer y lo hace y aquí casi había que empujar a las personas para trabajar. Las personas faltan mucho al trabajo, llegan con atestados médicos mucho, o sea, consiguen la incapacidad médica con una facilidad que…Entonces yo comparo, porque da para comparar, en Colombia para que den un atestado médico, una incapacidad médica, la persona tiene que estar muy mal, aquí por cualquier cosa. Tengo ejemplos, de un colega que se golpeó en un dedo, mas una cosa normal, y siete días sin trabajar. Mujeres, tenemos dificultades con las mujeres que quedan embarazadas y desaparecen del trabajo, van al médico, dicen que están estresadas, que están afectadas y quedan fuera del trabajo. Una compañera trabajó tres meses, volvió ahora después de once meses. E: ¿En el área del trabajo has visto entonces una diferencia importante? S6: Sí, porque allá las mujeres trabajan hasta el último día normal. Falta más... como compromiso, mas compromiso… así... E: ¿Has percibido eso en otras áreas que tú te muevas? S6: O sea,…Yo digo que no puedo medir el pueblo brasilero por eso. E: No. Estamos hablando de percepciones subjetivas. S6: Exacto, porque yo entré a trabajar ahí y yo no he tenido otra experiencia así, o sea, trabajo allá y me relaciono con las personas de fuera, pero a nivel general yo no podría decir, yo digo … la institución donde yo trabajo, la gente, entonces con otros brasileros que a veces compartimos, que hablamos dicen que es muy normal, que es muy normal, que el pueblo brasilero si le puede sacar el fuste, como decimos nosotros, al trabajo, se lo saca, que no es la minoría, que es una buena cantidad de personas. E: Tienes una buena relación... ¿Tienes amigos brasileños? S6: La mayoría de mis amigos aquí son brasileros, con los colombianos me relaciono poco, poco. E: Poco, ¿Por qué no hay ocasión o por qué…? S6: Eh… había una fiesta de colombianos en la embajada y por razones de trabajo yo no pude ir, que era como el momento de conocer y quedarme con ellos, después empezaron a programar otras cosas y no coincidía con mis horarios y después yo viajé a Colombia, estuve quince días, en esa época también hubo una reunión, así cosas, y… solamente una vez fui a una fiesta y no tampoco, … tampoco, o sea, tampoco es como mi interés … y por cuestiones del portugués es mejor relacionarme con brasileros. E: ¿Tú estás incentivando tu relación con brasileños? S6: Y es buena, o sea yo lo destaco y lo resalto, la gente se ha manejado muy bien, se ha comportado muy bien,... excelente, la acogida ha sido…. Yo no puedo decir que la gente me ha rechazado por ser extranjero, por ser colombiano, porque nosotros los colombianos tenemos un estigma a nivel mundial E: ¿Por causa de la violencia? S6: Por causa de la violencia…Violencia y droga. La gente tiene… por ejemplo con los adolescentes con los que yo trabajo cuando me preguntaban de dónde era yo... Y decía Colombia, inmediatamente: ¡ah! Coca, coca, maconha. Todo mundo relaciona con violencia y drogadicción. 3 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 E: Y la imagen que vosotros tenéis de Brasil,... ¿qué imagen tenías tú de Brasil antes de llegar?, ¿Qué pensabas? S6: Voy a hablar de mi imagen y del imaginario colectivo de Colombia. Siempre, entre los países de Sudamérica, que yo siempre dije: ¡Ah! ¡Qué bueno conocer! estaba Brasil, mas… E: ¿Había un interés previo? S6: Sí, por los deportes, porque yo sé que los deportes aquí son buenos, se destaca a nivel nacional y a nivel mundial y... el fútbol, eh…como yo estudié Educación Física. Otro, que… las mujeres lindas, o sea, la imagen que se tiene en Colombia es que la mujer brasilera… son mujeres lindas…Las garotas, que el viejo tiene suerte, porque las garotas… entonces te haces la idea que las garotas, que las mujeres brasileras son muy lindas, es como el imaginario de que todas son lindas y… fiesta, o sea que la gente es muy abierta, de mente abierta, mejor. Yo llegué aquí y me imaginaba eso, bueno, sé en ese momento, que hay ciudades y estados que sí son de mucha fiesta, de mucha rumba, casi todo el tiempo, de las mujeres lindas, tienen mujeres lindas, mas no es la mayoría. E: O sea más o menos como en Colombia…. La mujer colombiana entonces supera... S6: La mujer colombiana es muy linda, sí, sólo que aquí la mujer brasilera es más alta que la mujer colombiana, la mujer colombiana no es muy alta, pero se preocupan mucho por estar bien organizadas. E: ¿Quieres decir bien vestida? S6: Bien vestida, cabellos bien organizados, no salen sin arreglarse, como ellas dicen, a la calle. E: ¿Y crees que aquí salen sin arreglarse mucho? ¿Qué crees del aspecto exterior de las mujeres y de los hombres? S6: Aquí no se preocupan mucho por esa parte, me parece a mí, o sea, digamos en el trabajo las mujeres van vestidas como si fueran para la finca. No se preocupan por arreglarse mucho. Cuando vamos a salir, digamos, para la noche, que vamos a ir a una celebración, sí, van mejor. Mas en Colombia eso es común, o sea, la mujer va a la universidad, al trabajo, cualquier tipo de trabajo van muy bien arregladas, o sea, primero el hecho de tener que salir de la casa para ellas es importante salir arregladas, aunque sea a la esquina a comprar cualquier cosa en la tienda, aquí es menos, son más descomplicadas en ese sentido, puede ser. Que otra cosa, humm,… E: Las mujeres bonitas,… S6: Eso las mujeres bonitas eh... Ah y otra cosa que pensaba que eran de mente mas abierta y …¡sorpresa! que anda que la gente todavía es… tienen mucho preconcepto de todo, ¿sabe?, la gente critica todavía mucho, la gente se escandaliza, y también creo que la gente maneja lo que llamamos la doble moral,… cuando yo hablo de la gente, pues todo el mundo. E: Ya,... S6: Se escandalizan porque su mujer hizo esto, o tal hombre hace esto y ellos no están muy lejos de hacer cosas parecidas. Existe mucho la critica, el preocuparse por la vida de las otras personas. E: ¿Tú hablarías de una hipocresía en las relaciones sociales? S6: Puede ser un poco de eso y de todavía de que las personas se escandalizan por cosas que para mí son… pueden ser normales y que yo pensaba que el pueblo brasilero era menos preocupado por esas cosas, pensaba que la gente… E: ¿Puedes poner algún ejemplo? S6: A ver, con que ejemplo... Por ejemplo la gente todavía se escandaliza de que una mujer tenga un embarazo de una persona que no era el novio ni nada de esas cosas, critican y hablan y todas esas cosas, eso es un ejemplo. Yo pensaba que la gente de pronto no se preocupaba mucho por eso, que era más normal. Eso es un pequeño ejemplo, si me pongo a pensar me imagino que hay muchos más. E: ¿Crees que hay todavía tabúes?,... y me hablabas tú de prejuicios y... quizás ya están superados en Colombia, o ¿se ven de otra manera? S6: Sí, no sé, o sea, Colombia no es que sea el país mas civilizado, no, hay de todo. , pero en común también ya la gente asume las cosas mas tranqüilo, tranquilo, no sé si es por todo lo que nosotros vivimos a diario, el que podamos preocuparnos por las cosas realmente importantes, y no por las cosas mas simples y comunes. 4 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 E: Ya,... S6: Nosotros tenemos otras preocupaciones,... E: Esa es una diferencia que puedes percibir aquí. En el cotidiano, en el día a día, cosas que tu consideras que son muy importantes como colombiano y que aquí no lo son, o al contrario… S6: Hay una cuestión que yo sí pienso mucho y que es, yo que salgo de noche por ejemplo y camino y yo me siento tranquilo, sabes?, no tengo miedo que me van a asaltar. En Colombia si se siente un poquito eso,…Por qué? Porque… en realidad sí hay mucha delincuencia lo que llamamos común, digamos hay lugares, determinados sitios que si uno pasa está expuesto, o a veces vas a una calle solitaria y se ve una persona que viene y piensa uno, no sabe uno si alegrarse porque ve otra persona o si asustarse porque puede ser un ladrón o un atracador, entonces existe eso, aquí yo me siento mas tranquilo en ese sentido. En Colombia no es que a todo mundo lo atraquen, sino que existe ya esa imagen y por todo lo que acontece diario, que existe violencia, secuestro, estamos un poco nerviosos y como paranoicos puede ser, una paranoia colectiva. E: ¿Crees que tu estilo de vida aquí ha mejorado? S6: Sí, en ese sentido me siento más tranquilo. E: ¿En el sentido de la seguridad? S6: De la seguridad. Aquí dicen las personas: No,... Brasilia está muy peligrosa. Brasilia no sé qué. Y yo digo,… Por ejemplo hablaban que aquí los adolescentes aquí eran horribles. No, no , no existe, o sea tienen la fama, o sea los adolescentes infractores y yo hago la comparación con los que he tratado allá y los que trabajo aquí y me parece que tienen estilos de vida más difíciles y más actos infracciónales en Colombia. Yo ya trabajé con adolescentes que han matado 20 o 25 personas por sicariato. E: ¿Sicariato? ¿Sicarios? S6: Sí, el trabajo en sí, la acción se llama sicariato. Y aquí no, aquí llega a la institución donde trabajo un adolescente por homicidio y la gente ah! que mató uno, ¿sabes? E: O sea que a nivel de trabajo estás como más tranquilo también... S6: Aunque nunca estuve intranquilo también. Para mi es una cosa muy importante o sea nunca tuve miedo ni pereza de hacer el trabajo. E: Me has dicho que te has adaptado muy bien, que te gusta mucho la cultura brasileña, ¿Qué aspectos destacarías?, ¿Qué es lo que te gusta tanto?, ¿Qué sentiste cuando llegaste a Brasil? S6: Sentimientos encontrados y es lógico, o sea, salir de mi casa, de mi familia donde lo tengo todo, porque como falei antes, como hable antes la familia es una fortaleza … nuestra Mi familia es muy unida, todos en ese momento vivimos en la misma ciudad,…y somos muy unidos E: ¿Y estabas viviendo con tu familia? S6: Sí, mi hermana vive aquí, en la misma ciudad y somos muy unidos y compartimos todo, lo positivo, lo negativo. Es una familia bonita, cuando yo hablo de familia bonita es porque en realidad lo es, entonces yo soy el primero que salio para no volver rápido, yo había salido otras veces a otras partes, pero de vacaciones que iba quince días máximo veinte días, pero yo salí de mi casa con las maletas listas para demorar, mínimo en un año y eso siempre era ah yo pensaba esperar un año para ver mi familia, mis amigos, el trabajo, o sea, era una mezcla, la emoción y la alegría de conocer otra cosa, yo pensaba: eso es espectacular, tener la oportunidad de conocer, de aprender otras cosas, bueno y la tristeza de dejar, entonces yo me acuerdo que mi hermana menor me dijo: Diego no pienses en lo que dejas sino que pienses en todo lo que vas a ganar, entonces como que yo vine con el pensamiento yo voy a aprender mucho, crecer mucho como persona, como profesional, voy a aportar de lo que yo aprendí para personas que están aprendiendo, que no saben, me puse a pensar en todas las cosas que iba a ganar y no no pensaba mucho en todas esas cosas si le daba mucha cabeza a eso me iba a devolver en un mes. E: ¡Ahá! S6: Sí, porque los lazos afectivos son fuertes, pero, no, entré en el trabajo , empecé la correría, todo eso y la situación a mejorar, o sea, a entender lo que la gente habla, ya los relacionamientos con la gente mejores, ya a sentir que tenía amigos, a sentir que conseguí lazos de amistad con varias personas . E: ¿Ha sido fácil encontrar amigos, aquellas personas conque puedas contar? 5 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 S6: Sí, yo puedo hablar de tres personas que considero…. E: ¿Amigos brasileños?... ¿Tus relaciones cotidianas casi transcurren más en portugués que en español? S6: El 99 %, es mas... para mí es un placer cuando encuentro una persona para hablar en español. E/S5: (Risas) S6: Es que es muy rico, o sea… y cuando yo voy a Colombia me siento feliz porque no tengo que hacer ningún esfuerzo, porque a pesar que ya tengo quince meses aquí y que ya entiendo siempre hay que hacer un pequeño esfuerzo para entender y para hablar. E: ¿Tú crees que ya puedes expresar todo lo que quieres decir? S6: ¡Ah! Yo me defiendo. E: Pero,... ¿bilingüe? S6: ¡Ah! No. En español yo tengo mil palabras para decir una cosa, aquí tengo una palabra para...Es restringido, es limitado. E: ¿Tienes estrategias para decir.aquello que quieres cuando...no tienes palabras...?. ¿Te acuerdas de alguna situación?, ¿De alguna cosa? S6: ¡A ver! Cuando yo tenía tres meses de estar aquí,... cuatro, me mandaron hacer un curso, a dar unas conferencias a otros estados. E: ¿En portugués? S6: ¡En portugués! Para mí eso fue un desafío grande. E: Me imagino. S6: Porque yo estaba apenas empezando y mi vocabulario en ese entonces era bien limitado y me toco estar una semana en Belén de Pará , primero una semana y después otra semana trabajando con un grupo de 100 personas hablando sobre mi trabajo, enseñando a las personas que ya trabajan. Entonces es bien difícil porque yo hablaba de una cosa, sabes, mi material estaba todo en portugués, yo sí conseguí una persona que me ayudo en las diapositivas, todo en portugués eso ayudaba mucho y eran bien cargadas o sea con mucha información. E: ¿En power point? S6: Sí, y muy cargado de información, normalmente en español yo no hago eso, o sea coloco lo mínimo. Aquí quedaba exageradamente lleno,... para que me facilitara la comunicación con ellos. E: ¿Tuviste algún problema? S6: ¡Hum! Yo hablaba y… y entonces decía: ¿Cómo digo a esta gente que se ponga de pie?, ¿Cómo explico eso? E: (Risas) S6: Entonces pensaba y trataba mentalmente de inventar estrategias para indicar cualquier cosa. E: ¿Los gestos te ayudan o también te han producido algún malentendido? S6: Creo que sí, trato de hacer eso,... no nada,... pero (señalando el gesto) es un gesto inadecuado E: ¡Ah! No lo sabía S6: Es la forma de indicar el tamaño del órgano sexual. Entonces digo vamos a vivir así y… (...) E: ¿Vamos a continuar? S6: Te estaba hablando que yo pienso que la gente entiende que por ser extranjero voy a decir cosas o voy a hacer gestos que para ellos no… son diferentes, tienen como esa capacidad de entender. E: ¿Crees que son tolerantes? S6: Sí, sí, pienso que son tolerantes y que normalmente siempre entre el publico hay una persona que puede entender más que otras, sabes, hay personas que…, me decía una señora: ¡ah! Yo me quedo cansada de escucharle a usted hablar, me decía, entonces yo le decía: imagínese si usted para escucharme a mí queda cansada, como quedo yo por tener que entender lo que ustedes hablan y después explicar a ustedes. Y entonces decía: ¡ah! Sí, tiene razón. Nomás, en general la expresión en general es buena y me conseguí comunicar. Es triste cuando yo explico una cosa y pregunto: ¿Entienden? Todo el mundo sí, sí, sí. Y en ese momento la persona pregunta lo que yo acabo de… y entonces pienso: No, no entienden. 6 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 E: Pero son bastante gentiles…hasta para dar esa respuesta. S6: Sí, nomás la experiencia fue buena y sí...para mí la dificultad mayor fue la lengua, a veces pensaba: ¡Dios mío! ¿Por qué esa gente no habla español? Sería todo más fácil, sería… mucho mejor. E: Esa es una de las diferencias que tú remarcas en el cuestionario, la lengua. Otras diferencias que tu decías era la comida, fanatismo religioso,…? S6: La gente es muy religiosa, la gente es mucho de la Biblia, la gente es mucho de Dios. Y la gente, veo gente muy fanática, o sea que respiran, yo soy católico y… creo mucho en Dios, me gusta mucho todo eso de la religión, mas me parece que la gente exagera mucho, y que a veces pueden identificar que hay personas que hablan mucho, pregonan mucho, predican mucho cuando hablo de dios y a veces con las actitudes no son coherentes con lo que están hablando y con lo que están haciendo. E: ¿La religiosidad se manifiesta diferentemente en Colombia? S6: Colombia es un país muy católico, .la gente es muy católica, la gente… hay otras religiones mas, mas no son mayoría, ¿sabe? No sé si porque es un pueblo muy grande, mucha gente entonces tiene para todos los gustos, mas aquí hay mucho, mucho evangélico, y la gente todos hablando de Dios y no se qué y la Biblia y citan capítulos de la Biblia, de que él era Lucas no se qué y todas esas cosas. E: ¿Eso te lo encuentras en tu vida cotidiana? S6: Sí, cuando a veces enciendo el televisor para ver un programa digamos los domingos temprano muchos canales salen manifestaciones religiosas, de mucha gente…Es mucho, mucho, país muy católico. Mi sorpresa cuando escuché que Brasil era un país muy católico, el país que tenía más católicos en el mundo, que escuche, entonces pensé Brasil tiene mucho evangélico, muchas personas con otra religión. Con relación a las comidas, es el olor, el olor de la comida es muy fuerte, y aquí utilizan mucho el ajo, se utiliza mucho el ajo, la comida normalmente en la institución donde yo trabajo, yo como allá, y se siente por toda la institución ese olor y los restaurantes a veces es muy fuerte y me parece a mi que las verduras tienen un sabor diferentes, ¿sabe? Tenemos comidas muy parecidas, se consume mucho el arroz, se consume mucho el frijol, las verduras son prácticamente las mismas y sin embargo hay como una diferencia del sabor, como que me gustan menos aquí, un sabor como diferente, no sé, no puedo identificar a qué, mas un sabor que a mi no me gusta mucho. Eh… cuanto a las comidas diferencias que también que tienen aquí el tempero es más fuerte, o sea aquí condimentan más las cosas, en Colombia se come bueno, mas con menos condimentos, o como decimos con condimentos más saludables, cosas más naturales, ¿sabe? Entonces no sé... En cuestión de frutas aquí hay frutas bien diferentes,o sea muchas son las mismas , otras son … que yo nunca escuché en mi vida y hay una que yo si consumo esa fruta quedo mal, paso mal de estomago. E: ¿Cuál es? S6: Caqui. E: ¡Ah! Sí. S6: Y me gusta, ¿sabe? Probé y me pareció rica, mas pasé mal, mal, yo no pensé que fuera por eso. E ¿Tú vas al mercado a comprar? S6: Yo trabajo de lunes a viernes y en la institución donde trabajo pues está el desayuno, está el almuerzo, yo ya como hum..hum…cosas más suaves, menos pesadas.En Colombia comía normal, o sea la comida, la cena era normal, el arroz todo eso, cuando llegué aquí me preocupé mucho porque en tres meses yo ya había aumentado 7 kilos, estaba gordo, nunca me gustó ser gordo, pues no sé si era por causa de la comida o por causa del agua que todo el mundo me decía no esto es seco y yo consumía mucho agua y me creció la barriga como se dice aquí y muy gordo y ya después de un tiempo comencé a disminuir la comida de la noche. E: ¿Los horarios son diferentes en Colombia y aquí,...horarios de comidas…? S6: Es parecido sólo que aquí hay una diferencia horaria de dos horas. Desayuno es normalmente a la misma hora, el almuerzo es entre doce y una y la comida a las 7 de la noche más o menos. Sí, es parecido. 7 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 E: A mi me gustaría que me dijeras si has cambiado la imagen que tenías de Brasil,... ¿Qué imágenes tienes ahora de Brasil y los brasileños en general? Tu misma personalidad o carácter o tu estilo de vida… si... ¿Has adaptado cosas? S6: Yo pienso que he cambiado mucho, en muchos sentidos, o sea cuando tomé la decisión de repente yo pensé voy a crecer como profesional y voy a crecer como persona porque mi vida iba a cambiar el cien por cien en todos los sentidos hasta para hablar o sea era empezar de cero en muchas cosas entonces todas esas cosas ayudan a formar mucho la persona, a crecer, a fortalecer muchas cosas, a aprender otras, entonces empecé de pronto a cambiar la visión. Yo nunca viví sólo, ahora vivo sólo y me encanta, ser responsable, ser autónomo cien por ciento porque en casa tenía mi autonomía pero se llegaba hasta donde se podía, compartía con otras personas, y yo nunca tuve problemas, pero aquí es otra cosa, soy yo. Crecí mucho como persona, profesionalmente muchísimo, y la visión se cambia, la visión del mundo, de las cosas. Digamos, los primeros días yo daría cualquier cosa por estar un minuto en mi casa, hablar con las personas y volver, o sea y las personas cuando están con la familia no valorizan eses momentos. E: O sea,... ¿Sentiste lo que aquí llaman “saudade”? S6: Sí, los primeros días, pero después… E: ¿Sientes una especie como de nostalgia de hablar en español o de tus cosas que has dejado allí? S6: Yo reconocí en mí las cosas que yo siempre pensé, yo soy un hombre de fácil adaptación, ¿sabe? No sé…si algún día yo leí por ahí que las personas que somos zurdas nos adaptamos más fácil a las cosas, ¿por qué? Porque nacemos y vivimos en un mundo que está hecho para los diestros, para los derechos, entonces a nosotros nos tocó de todas las formas adaptarnos a ese mundo y eso de cierta forma influye en nuestra personalidad, bueno, y yo me adapto muy fácil, o sea, los primeros días, como siempre digo, el cambio, el dejar todo y empezar aquí pero fue fácil, la adaptación fue fácil, hasta el clima., A mi todo el mundo me hablaba del clima, (#), la seca es duro, es horrible, la gente aquí sangra, la gente no duerme bien, … Y para mí fue una época normal, o sea yo no tuve dificultades con eso. E: O sea que tu adaptación puedes decir que fue rápida… S6: Estoy contento, me gusta, me parece que la ciudad es muy bonita, que la ciudad es diferente hum… que la gente con la que yo me relaciono es buena y tengo buenas amistades, hum…hablo a la gente de aquí mismo que Brasilia en general es una ciudad donde la gente es muy fría e indiferente, lo que yo percibí en un principio, sólo que yo tengo esa visión por las personas que me relaciono, que las personas en otros estados son más amables, más acogedores. E: ¿Has viajado? S6: A Belém de Pará, estuve en Río y estuve en Victoria, Espírito Santo,... entonces.... mas eran cursos de trabajo, llegué a un hotel y todos los días iba a trabajar y así. E: Y ahora... ¿Quieres estudiar también y conocer un poco más el país? S6: Sí,… conocer más… Siempre yo pensé que iba a esperar las vacaciones para salir corriendo para Colombia y ya estoy pensando… la mitad conociendo otros estados de aquí y la otra mitad sí en Colombia. Lo otro positivo es que mi familia está viniendo para acá, E: ¿De vacaciones? S6: De vacaciones, por ejemplo, el próximo domingo van a venir cinco personas de mi familia, mi mamá,…Todas esas cosas ayudan mucho. E: ¿Tu familia te ha ayudado mucho? S6: Para ellos ha sido muy duro, o sea eh…todos hablaron no espectacular experiencia, pero que tristeza que se vaya. Mi mamá creo que todavía llora (risas), todavía no se acostumbra. Ya les consuela saber que yo estoy bien, que estoy contento, yo con ellos me comunico con frecuencia y yo no les miento, yo les digo no … estoy bien, me tratan bien, el trabajo me gusta, ellos saben que este tipo de trabajo me gusta mucho. Ellos saben que estoy bien, mas dicen no la soledad que dejé fue grande. En diciembre yo no viajé, y siempre pasaba…entonces dicen qué diciembre como más apagado, más simple, que ellos han vivido, porque es una familia muy animada, son muy animados. E:Vamos a dejarlo por aquí. Muchas gracias. 8 ANEXO 3. Análise dos dados - Tabela 1. Análise dos dados: Dimensão de Aculturação. - Tabela 2. Análise dos dados: Dimensão Cultural. - Tabela 3. Síntese dos dados do questionário e das entrevistas. 139 Tabela 1. Análise dos dados. Dimensão de Aculturação. Perfil dos sujeitos segundo dados obtidos no questionário e nas entrevistas com os sujeitos. DISTÂNCIA SOCIAL Domínio social/ subordinação Tipo de integração Fechamento Coesão e tamanho do grupo Concordância cultural Atitude Tempo de residência DISTÂNCIA PSICOLÓGICA Choque lingüístico Choque cultural Motivação Permeabilidade do ego Tabela 2. Análise dos dados. Dimensão cultural. Principais diferenças culturais percebidas pelos sujeitos pesquisados a partir dos dados extraídos das entrevistas. 1. Imagens e estereótipos 2. Diferenças culturais percebidas. 3. Mudança de valores. 140 Tabela 3. Síntese dos dados do questionário e das entrevistas. S1 Q Domínio social/ subordinação Tipo de integração Fechamento S2 E. Q Semelhante S3 E Q Superior E Semelhante Preservação Preservação Preservação Preservação Aculturação Aculturação Baixo Alto Alto Alto Baixo Baixo Coesão e tamanho do grupo Concordância cultural Atitude Baixo Alto Alto Alto Baixo Baixo Superior Superior Diferente Diferente Diferente Diferente Positiva Negativa Negativa Negativa Positiva Positiva Tempo de residência Choque lingüístico Choque cultural Curto Curto Curto Curto Curto Curto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Alto Motivação Integrativa Instrumental Instrumental Instrumental Instrumental Instr./Integr. Permeabilidade do ego Baixo Baixo Baixo Baixo Alto Alto 141 S4 Q Domínio social/ subordinação Tipo de integração Fechamento S5 E. Q Semelhante S6 E Q Subordinado E Superior Aculturação Aculturação Aculturação Aculturação Aculturação Aculturação Baixo Baixo Baixo Baixo Baixo Baixo Coesão e tamanho do grupo Concordância cultural Atitude Baixo Baixo Baixo Baixo Baixo Baixo Semelhante Semelhante Semelhante Semelhante Semelhante Semelhante Positiva Positiva Positiva Positiva Positiva Positiva Tempo de residência Choque lingüístico Curto Permanente Curto Permanente Curto Permanente Baixo Baixo Baixo Baixo Alto Alto 142