Víbora de Seoane

Transcrição

Víbora de Seoane
Víbora de Seoane
Fundamentos para a conservação das víboras do Parque Nacional da Peneda-Gerês
José Carlos Brito
Em Portugal ocorrem duas espécies de víboras, sobre as quais há ainda muito por
saber e que urge conservar. Só no Noroeste de Portugal continental é possível
encontrar ambas as espécies, sendo por isso um local privilegiado para as estudar.
A Víbora-cornuda (Vipera latastei) e a Víbora-de-Seoane (Vipera seoanei) são as
duas únicas espécies de víboras que existem em Portugal. Enquanto que V. latastei
possui uma distribuição mais alargada, ocupando toda a Península Ibérica (excepto na orla setentrional) e Noroeste
de África, V. seoanei circunscreve-se à região Noroeste da Península e extremo Sudoeste da França (Pleguezuelos,
1997).
Em Portugal, V. latastei possui núcleos populacionais dispersos e de carácter irregular por todo o país, enquanto que
V. seoanei se restringe a núcleos potencialmente isolados no extremo Noroeste do país (Crespo & Sampaio, 1994).
Informações recentes (Brito & Álvares, 1996) apontam, no entanto, para uma distribuição mais alargada de V.
seoanei do que a anteriormente conhecida. O Noroeste de Portugal é assim a única região do país onde ambas
coexistem.
O estatuto de conservação que preliminarmente lhes foi atribuído - Indeterminado no caso de V. latastei e Raro no
caso de V. seoanei - é revelador do insuficiente conhecimento sobre V. latastei e a necessidade de obter informação
mais detalhada sobre V. seoanei. V. latastei é uma espécie estritamente protegida, constando do anexo II da
Convenção de Berna e V. seoanei uma espécie incluída no anexo III da mesma Convenção e no anexo IV da Directiva
Habitats (92/43/CEE).
Fig. 1 - Víbora-cornuda - Vipera latastei (A) e Víbora-de-Seoane - Vipera seoanei (B)
Em Portugal, o conhecimento que se detém do estado actual das populações destes répteis é muito escasso, sendo
no entanto reconhecido, a nível internacional, que as suas populações têm vindo a declinar (Gasc et al., 1997). Os
factores de ameaça a que estas espécies estão sujeitas podem ter diversas origens mas basicamente são os
seguintes (Dodd, 1987; Corbett, 1989; Greene & Campbell, 1992): (1) Alterações de Habitat, nomeadamente a
florestação, construção de estradas de elevado impacto, urbanizações e desenvolvimento turístico; (2) Factores
Catastróficos, nomeadamente os incêndios florestais; (3) Morte Deliberada por possuírem uma carga supersticiosa e
mística muito elevada e por em alguns casos serem espécies potencialmente perigosas para o Homem. Refira-se, por
exemplo, a extinção de uma pequena população de V. latastei numa ilha espanhola em três anos, durante a
construção de um farol, baseada apenas em motivos supersticiosos (Bernis, 1968). (4) Coleccionismo e Comércio.
Constituem factores de ameaça muito frequentes na região Norte de Portugal, sendo potencialmente perigosos pois
podem
pôr
em
risco
populações
locais
destas
espécies.
Os dois primeiros factores de ameaça afectam particularmente estas espécies dado que são vertebrados com uma
reduzida capacidade de dispersão, quando comparada com a das aves e/ou mamíferos. Os dois últimos factores de
ameaça são importantes porque estas são espécies de maturação sexual tardia (superior a 6 anos) e com reduzido
número de descendentes (menos de 8 recém-nascidos por fêmea) por geração (Saint-Girons & Naulleau, 1981).
Objectivos
A região Noroeste de Portugal e especialmente o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) corresponde à totalidade
da área de distribuição de V. seoanei no nosso país. Esta região é portanto a única zona do país onde coexistem as
duas espécies de víboras da nossa fauna. Assim o PNPG é uma zona prioritária em termos de conhecimento sobre a
distribuição, habitats ocupados e efectivos populacionais, de ambas as espécies, a fim de se proporem adequadas
medidas
de
conservação
para
esta
região.
Os
objectivos
propostos
dividem-se
em
quatro
grandes
grupos:
Distribuição,
Habitats
e
Núcleos
Populacionais
das
duas
Víboras
Delimitação da área de distribuição de V. latastei e V. seoanei na região do PNPG e serras vizinhas e localização de
possíveis áreas de simpatria entre ambas espécies. Pretende-se identificar os principais núcleos populacionais,
caracterizar os habitats ocupados, determinar os factores de ameaça (específicos para esta região) e elaborar uma
cartografia
sobre
a
sua
distribuição
real
e
potencial.
Elementos
Demográficos
e
de
Comportamento
Espacial
de
V.
latastei
Obtenção de elementos demográficos e de comportamento espacial para V. latastei na zona da Mata de
Albergaria/PNPG, visto ser uma área de especial interesse e onde é reconhecida desde há muito uma elevada
densidade populacional desta espécie. Pretende-se determinar a densidade populacional, estrutura populacional,
taxa de sobrevivência e área vital.
Fig. 2 - Habitat típico para a Víbora-cornuda (A) e para a Víbora-de-Seoane (B)
Selecção
de
Áreas
Prioritárias
para
a
Conservação
das
duas
Víboras
Definição de áreas prioritárias para a conservação de ambas as espécies no Noroeste de Portugal. A definição destas
áreas terá em conta os critérios contemporâneos da Biologia da Conservação, tais como os efectivos populacionais,
graus de isolamento, fragmentação e interligação entre populações e o grau de preservação dos habitats.
Estratégia
de
Conservação
e
Medidas
de
Gestão
para
as
duas
Víboras
Elaboração de uma estratégia de conservação, para ambas as espécies, e proposta de adequadas medidas de gestão
para o Noroeste de Portugal.
Projecto financiado pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês
Bibliografia
Bernis, F. (1968). La culebra de las islas
Columbretes: Vipera latastei. Bull. R.
Soc. Española Hist. Nat., 66: 115-133.
Brito, J.C e F. Álvares (1996). Some
data on the Distribution and Feeding
Habits of Lataste's Viper (Vipera
latastei) and Seoane's Viper (Vipera
seoanei) in North-western Portugal.
Abstract IV Congresso Luso-Espanhol /
VIII
Congresso
Espanhol
de
Herpetologia, Porto, Dezembro 1996:
pp.56.
Corbett, K. (1989). Conservation of European Reptiles and Amphibians. Christopher Helm, London. 274pp.
Crespo, E.G. e L. Sampaio (1994). As Serpentes de Portugal. I.C.N. Lisboa. 40 pp.
Dodd Jr, C.K (1987). Status, Conservation and Management, In: R.A. Siegel, J.T. Collins & S.S. Novak (eds.): Snakes,
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Mc-Graw
Hill,
New
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Pp:
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Gasc, J.-P., A. Cabela, J. Crnobrnja-Isailovic, D. Dolmen, K. Grossenbacher, P. Haffner, J. Lescure, H. Martens, J.P.
Martinez-Rica, H. Maurin, M.E. Oliveira, T.S. Sofianidou, M. Veith e A. Zuiderwijk (Eds.) (1997). Atlas of Amphibians
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Greene, H.W. e J.A. Campbell (1992). The future of Pitvipers, In: J.A. Campbell & E.D. Brodie Jr. (eds.): Biology of the
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del
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Universidad
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Granada
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Saint-Girons, H. e G. Naulleau (1981). Poids des nouveau-nes et strategies reproductrices des viperes europeennes.
Rev. Ecol. (Terre et Vie) 35:597-616.
Documentos Recomendados
Relação entre a composição e a estrutura da paisagem e a herpetofauna em Portugal
A Víbora de Seoane (Vipera seoanei) é uma espécie de cobra da família Viperidae.
Espécie endémica do norte da Península Ibérica, restringe-se em Portugal às serras de Castro Laboreiro, Soajo e
Tourém. Atinge 50–60 cm. Essencialmente diurna, pode ser nocturna nos meses quentes. O seu veneno pode causar
edema, eritema, taquicardia, hipotensão, vómitos e convulsões. Alimenta-se de micro-mamíferos, lagartos, anfíbios
e aves.
Víbora-de-seoane
Vipera seoanei
Classificação
Reino
Filo
Classe
Ordem
Família
Género
Espécie Vipera seoanei
Características:
- No estado adulto, mede entre 50 e 60 cm de comprimento;
- Possui um corpo grosso e curto e uma cauda curta;
- É dotada de uma cabeça triangular e bem diferenciada do corpo e pupilas verticais;
Animalia
Chordata
Reptilia
Squamata
Viperidae
Vipera
- Possui escamas cefálicas muito fragmentadas, no máximo 2 ou 3 de contorno irregular;
- Nariz achatado e ligeiramente aumentado;
- Produz um potente veneno proteolítico, coagulante e hemolítico, potencialmente mortal para o Homem;
- A sua coloração é bege ou cinza claro, possuindo no dorso uma mancha mais escura, em zigue-zague, ao longo de
todo o corpo;
- Vive cerca de 13 anos.
Habitat:
- Ocorre principalmente em zonas de lameiros, pastagens, prados e matagais, frequentemente rodeados por muros
de pedra, com cobertura arbustiva baixa, mais ou menos densa, na proximidade de cursos de água. Pode ainda
ocorrer em zonas de floresta.
Alimentação:
- A víbora de Seoanei alimenta-se de micromamíferos (principalmente roedores ou insectívoros), lagartos, anfíbios
(salamandra) e aves de pequeno porte.
Predadores:
- Entre os seus predadores incluem-se algumas cobras, aves de rapina (falcões, tartaranhões e águias) e mamíferos
como o saca-rabos, o javali e o ouriço.
Reprodução:
- O acasalamento realiza-se na Primavera, a partir do final de Março a início de Maio. O período reprodutivo começa
no fim de hibernação e de dois ou três meses após a fecundação ocorre o nascimento das crias, entre 2 a 12 ovos
(média 7).
Estado de conservação:
- A perda e a degradação do habitat por acção antropogénica devido, fundamentalmente, a fogos, abandono da
agricultura tradicional e a implantação de infra-estruturas urbanas são os principais factores para a diminuição do
número de indivíduos desta espécie. É considerada vulnerável e está incluída no anexo III da Convenção de Berna e
no anexo IV da Directiva Habitats (92/43/CEE).