A utopia e o possível - Rede Metodista de Educação
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A utopia e o possível - Rede Metodista de Educação
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Quarenta anos do golpe de Estado de 1964 A utopia e o possível: contra um realismo político e educacional Utopia and the possible: against political and educational realism Danilo Di Manno de Almeida Doutor em Filosofia pela Universidade de Paris Docente e pesquisador do Programa de Mestrado em Educação da UMESP R e s u m o Analisando o que se convencionou chamar de “abertura política” após o regime militar, este texto fala sobre o que julga um “excesso” de realismo, em suas diversas formas – geral, político, cultural, educacional etc. Comenta como esse realismo diminui as utopias e coloca em risco possibilidades de transformação. O artigo discorre a respeito do efeito do realismo na política e nas instituições educacionais. Também insere o mercado e as relações mercadológicas nesse contexto. Afirma que ideologia e utopia se complementam e avalia esta como um instrumento de resistência. Unitermos: utopia, realismo, mercado, ideologia, unidimensionalidade. Synopsis Analyzing what is commonly referred to as “the political opening up” which followed the military regime in Brazil, this text deals with a supposed excess of realism in its various forms – general, political, cultural and educational. The suggestion is made that the approach taken by realism diminishes the notion of utopia and as such, diminishes the possibilities that exist for real transformation. The article also discusses the effect of realism on political and educational institutions and talks about the market, contextualizing market activity in during this period. The assertion is made that together, ideology and utopia are valuable agents of resistance. Terms: utopia, realism, market, ideology and one dimensionality. Resumen Al analiza analizar lo que se ha convencionado llamar de “apertura política” después del régimen militar, este texto habla sobre lo que juzga ser un “exceso” de realismo, en sus diversas formas – general, político, cultural, educacional etc. C omenta cómo ese realismo disminuye las utopías y pone en riesgo las posibilidades de transformación. El artículo habla a respecto del efecto del realismo en la política y en las instituciones educacionales. También añade el mercado y las relaciones mercadológicas a ese contexto. Afirma que la ideología y la utopía se complementan y evalúa la última como un instrumento de resistencia. Términos: utopía, realismo, mercado, ideología, unidimensionalidad. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 21 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ s tempos tristes e mortais vividos sob o recente regime militar foram enfrentados por muitos com resistência, reacendendo intensa efervescência e criatividade em vários sentidos, político, cultural, educacional. Após esse período, convencionou-se que foi instalada uma “abertura política” no Brasil, a qual não fez senão metamorfosear, quando não deixou explícito as mesmas investidas contra projetos e ações de transformação das condições existentes. Talvez essa insistência “hegemônica” tenha gerado, do ponto de vista da resistência, um certo estupor político coletivo. O estupor é aquele estado em que mesmo estando a consciência desperta, o doente sente dificuldades de reagir a questionamentos, a estímulos externos, permanecendo numa posição estática. A relativa consciência política se perde numa imobilização social – com as raras exceções, simbolizadas pela perseverança do MST e de algumas ONGs – perigosamente contagiante. A situação exige que nos arrisquemos e, por isso, gostaria de arriscar um diagnóstico: ficamos doentes de realismo – realismo geral, político, social, cultural, sexual, científico, econômico, educacional, entre tantos. Nesse vácuo de tantas coisas, não é estranho que apareçam os realistas cavaleiros do Apocalipse anunciando a “finalização” de uma época: fim da ciência, da religião, do marxismo, do cientificismo, do evolucionismo, da ideologia, da história... Fim da utopia. Nessa orquestração em tom de finale, a utopia, em particular, ganhou ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O A utopia passa a ser designada como “utopia possível” A relativa consciência política se perde numa imobilização social perigosamente contagiante Fim da utopia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ uma seriedade realista. É o momento da sua aprendizagem política recente, no qual lhe são ensinadas as grandes “lições” da história e de suas eventuais transformações. Sendo a política a “arte do possível”, o momento de estágio político atual da utopia assegura ao utópico a pertinência política que lhe faltava. A utopia, então, passa a ser designada como “utopia possível”. O que para muitos pode ser sinal de “maturidade” utópica, pode ser visto como decadência utópica. Decair utopicamente é lançar-se irrefreavelmente ao topos1, o que se traduz em redirecionar toda manifestação utópica à tarefa de perfectibilidade do atual estado de coisas. Decair utopicamente também é submeter a utopia às condições de possibilidades topológicas existentes, exigindo dela a construção da “melhor das sociedades possíveis” – alusão de Marx no Manifesto do partido comunista à Leibniz, para designar a maneira como a burguesia representava para si mesma seu domínio. Que a utopia esteja sempre referenciada ao topos, e que isso seja salutar, é coisa que veremos a seguir. Que ela seja dependente do topos, é algo bem inquietante. Que, segundo Paulo Freire, a vocação para ser mais exija o “envolvimento permanente no domínio do político, refazendo sempre as estruturas sociais econômicas, em que se dão as relações de poder e se geram as ideologias” 2, isso não implica rendição utópica às condições de possibilidade políticas do presente. Nesse sentido, a objeção mais significativa deste texto consis- 1 “Topos” é um termo utilizado para expressar o estado do realismo, estado de coisas vigentes, as condições presentes, o status quo, enfim. “Topologia”, “topológicas” têm o mesmo sentido e se opõem a “utopia” e a “utópica”. 2 Paulo Freire. Política e educação educação, 6ª ed., 2002, p. 10. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 22 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ te em denunciar e recusar o domínio político da utopia. Se a política é a arte do possível, então é preciso prestar atenção, primeiramente, ao possível da “utopia possível” ou seja, às condições de possibilidades (potencialidades) políticas presentes. O problema é que a política é mais do que “arte do possível”, ela também é arte da simulação e dissimulação, do enfraquecimento das resistências, da sedução, da manipulação. A política gera e regenera esse sentimento de estupor político. Nisso consiste o realismo que nos adoece, deixa pequenas nossas utopias, quer dizer, as reduz ao tamanho das possibilidades políticas do presente, fazendo-as instrumentos de aperfeiçoamento do “melhor dos mundos possíveis”, definindo as possibilidades topológicas da utopia. Esse é o contra-senso utópico de tal utopia, que é de ser pequena e global. Ou o mundo ficou pequeno ou as utopias do topos apequeneram o mundo, transformando-o em único mundo. Tudo isso não acontece sem insistentes investidas políticas unilaterais que minam as resistências e as possibilidades plurais de transformação, seduzem e infiltram o sentimento de amor ao “real”, à “realidade”, às “efetivas possibilidades” da política, às coisas tais como “elas são”. Assim é gerado o ideal do realismo, que é o ideal da coincidência entre a utopia e as nossas possibilidades concretas, dadas pela ideologia e eficácia do presente estado de coisas. Um boletim registra o agravamento do estado doentio de realismo: per- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A política é mais do que “arte do possível” A cessão de direitos utópicos corresponde à abdicação de direitos políticoeconômicos Campo educacional é também um lugar estratégico ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ manência do quadro de estupor e risco de desfalecimento das possibilidades de transformação da política e da topologia vigentes. Poderíamos voltar os olhos para o campo educacional e buscar nas suas instituições algumas alternativas para a transformação das condições políticas atuais. Dura constatação: as instituições educacionais também aderiram ao realismo presente, adoecendo também desse mal. Sucumbiram ao realismo político, dobrando-se a outras instâncias. Nesse sentido, o terreno educacional demonstra, com privilégios, a constituição econômica da política. De modo que a cessão de direitos utópicos – paráfrase ao “direito de sonhar”, de Bachelard – corresponde à abdicação de direitos político-econômicos. Não é necessário esposar a teoria da “reprodução” educacional para constatar a facilidade como, em geral, as estruturas educacionais brasileiras têm servido de veículo para “efetivação das exigências do modelo social” 3 . Mas o campo educacional não está unificado a ponto de se resumir a essa situação dependente. Ele é também um lugar estratégico, como diz Tadeu da Silva, a educação é “uma dessas principais conquistas sociais e (...) está envolvida na produção da memória histórica e dos sujeitos sociais” e, por isso mesmo, é um “campo permanentemente atravessado por lutas e disputa por hegemonia”4. Essa permanentemente condição crucial das instituições educacionais estimula a utopia. Não há mais sentido em querer voltar a um “paraíso 3 Roberto G. Bianchetti. Modelo neoliberal e políticas educacionais educacionais, 1997, p. 94. Tomaz Tadeu da Silva. “A ‘nova’ direita e as transformações na pedagogia da política e na política da pedagogia”. In: Pablo A. A. Gentilli; T.T. da Silva (organizadores). Neoliberalismo, qualidade total e educação educação, 1994, p. 28. 4 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 23 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ perdido” da educação, onde estivéssemos livres da doença realista e não víssemos “ex-combatentes” assumindo compromissos intelectuais com topologia dominante. Como acordar desejos de transformação? Não seria já um bom sinal de esperança qualquer superação da morbidez do realismo? Será muito saudável recuperar a indignação na educação (Paulo Freire), e, acredito, para isso pode contribuir o enfrentamento de nosso realismo político e educacional. Se não for possível curar-nos dele, que sintamos ao menos o mal-estar dessa condição. Eis a utopia deste texto. I. À perfectibilidade do topos 6 7 ○ ○ ○ ○ ○ ○ Como acordar desejos de transformação? A sedução do realismo começa por consumir nossas energias Comecemos esboçando uma breve reconstituição da problemática e do pano de fundo do realismo político, em relação à utopia e às suas “possibilidades”. Para destacar um primeiro aspecto das possibilidades utópicas do realismo político, tenhamos em conta o circuito interinstitucional no qual se envolveu a educação presente. O possível é o possível das instituições e do horizonte de todas elas: o mercado. Para lá se orientam os planos decisivos, que acabam por esvaziar a dimensão social, cultural, histórica da utopia, reduzindo-a ao funcionalismo das relações do mercado e suas instituições. Tudo se orienta para esse fim. As inovações, os empreendimentos, as políticas educacionais visam à perfectibilidade do mercado. Esse é o topos par excellence da situação topológica. Mais aqui, menos ali, con5 ○ As inovações, os empreendimentos, as políticas educacionais visam à perfectibilidade do mercado ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ cebido desejado como inevitável, o mercado inspira as orientações educacionais e suas práticas. Ocorre aquilo que é descrito por Tadeu da Silva, “há uma forte pressão para que as escolas e as universidades se voltem para as necessidades estreitas da indústria e do comércio” e dos serviços 5 . O horizonte do topos mercadológico impele para a competitividade do mercado, por meio de uma “nova economia do afetivo e do sentimento”, que consiste em “nova configuração da manipulação e administração das energias e dos investimentos afetivos, com finalidades políticas”6. A sedução do realismo começa por consumir nossas energias; distrair os espíritos, direcionar nossas indagações para o topos, ocupar-nos com a obrigação de prestar contas às suas exigências. De modo que o futuro aparece subordinado às exigências da efetividade real. Portanto, um futuro possível, tanto mais crível quanto mais topológico for, quer dizer, quanto mais estiver subordinado, sustentado, disciplinado nas e pelas condições da “situação presente”. Nessas condições, a utopia ocupa uma função de “factibilidade autolegitimadora”, para empregar expressão atribuída ao pensamento conservador por F. Hinkelammert. Com essa expressão, ele quer dizer que “a ordem social objetivada já apresenta implicitamente uma legitimidade”, impedindo qualquer “questionamento legítimo” dela 7 . Não muda muito a situação o fato de o pensamento liberal postular a diversidade de sociedades e suas respec- Idem, ibidem, p. 24. Idem, ibidem, p. 17. Franz Hinkelammert. Crítica à razão utópica utópica, 1986, p. 23 e 25. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 24 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ tivas legitimidades, dado que, no fim das contas, legitima-se apenas uma sociedade em prejuízo e contra as demais 8. O topos real é o topos legítimo e o legítimo é o real. De igual modo, por não ter cortado vínculos com a orientação político-econômica topológica vigente, mas apenas com seu “espírito”, o que se convencionou chamar de pósmodernidade sustenta a mesma tendência realista. Tendência de se apegar à eternidade do presente , pois, como dizem Heller e Féher, apesar de incluir “saltos no nihil”, verifica-se uma “autolimitação pós-moderna ao presente como nossa única eternidade” 9. Não têm em comum todas essas posições um intenso trabalho de perfectibilidade do topos, do único topos legitimado e legitimador? ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O topos real é o topos legítimo e o legítimo é o real II. Utopia possível Assim vamos nos adoecendo de realismo: a perspectiva topológica de tudo, inclusive da utopia. Esse perspectivismo doentio se traduz estrategicamente na desocupação política do utópico, quer dizer, na neutralização política da utopia. Resulta daí a submissão do utópico ao domínio político (econômico) vigente. Tentemos estabelecer a etiologia dessa doença, recorrendo ao exame de três posturas que, por razões das mais diversas e mesmo opostas, insurgem contra o utópico e contribuem para perpetuar a concepção da ineficácia da utopia sem o controle do político. A Vamos nos adoecendo de realismo: a perspectiva topológica de tudo, inclusive da utopia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ primeira investida contra a ocupação da utopia é feita em nome do gênero literário “utópico”. A segunda investida é feita em nome de uma visão científica das coisas e se liga à polêmica marxista. A terceira, resultante ou em comum acordo com as duas anteriores, sustenta a idéia da utopia como irrealizável, sonho, quimera. Primeiramente, a utopia como gênero. A utopia, defende Raymond Trousson, tem nascimento na modernidade e surge como gênero literário 10. O fenômeno literário (processo da utopia) se diferencia da atitude mental ou ideológica (processo do utopismo). O utopismo engloba o gênero literário, tal como a tragédia inclui o gênero trágico, a comédia abriga o cômico. É por causa somente de uma “confiscação pelas ideologias” que a utopia passa a desempenhar um papel ideológico. Outra distinção afasta o gênero utópico do conturbado mundo ideológico. Trata-se da diferenciação entre o cientista e o utopista, a partir de uma separação entre o “modo utópico” e o “gênero utópico”. O modo utópico é entendido como “faculdade de imaginar”, semelhante à experiência mental do matemático em suas especulações geométricas e por meio da qual a realidade é modificada mediante hipóteses11. Por sua vez, a história do gênero utópico12 pode ser traçada como “uma série de quadros imaginários de um ideal construtivo da vida em sociedade supostamente realizado e apresentado no marco de um relato”13. Na dis- 8 Idem, ibidem, p. 47. Agnes Heller; Ferenc Féher. A condição política pós-moderna pós-moderna, 2002, p. 15. 10 Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes inexistentes, 1995, p. 8ss. 11 Idem, ibidem, p. 42. 12 Entre outras, são características do gênero utópico a localização insular das utopias, a postura diante do econômico, a regularidade, a aspiração à uniformidade social, à síntese e à harmonia, o coletivismo, o humanismo (ver Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes inexistentes, 1995, p. 43-50). 13 Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes inexistentes, 1995, p. 48 9 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 25 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ tinção proposta entre o cientista e o utopista (modo utópico), Trousson observa: supondo a definição da atitude do cientista em três etapas (Claude Bernard): “observação, hipóteses, experimentação”, o utopista se detém no segundo momento, deixando para o cientista a experimentação. O utopista se aproxima do real adotando a mesma atitude do artista, o qual, sem negar o real, procura “aprofundá-lo mediante a invenção do que poderia ser”14. Como o artista, o utopista tem a pretensão de “oferecer um quadro descritivo” e não um conjunto de leis e princípios15. O que desocupa politicamente a utopia é a sua ocupação literária, tendo por pressuposto que a literatura não sofre em nenhum momento “confiscação ideológica”. De qualquer forma, como gênero ela tenderá a não fazer mal a nenhuma esfera da política. Ela se ocupa, afinal, das impossibilidades toleráveis e esperadas em toda literatura, mas não na política16. No tocante à segunda investida, nota-se que o combate marxista contra os socialistas utópicos resultou num prejuízo para o tema da utopia. Se, do ponto de vista do gênero literário, pode-se reclamar da confiscação política da utopia, na polêmica marxista recusa-se a presença da utopia (ineficaz por princípio) para as transformações da sociedade. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Marx e Engels definem os socialistas utópicos como “inventores de sistemas” O combate marxista contra os socialistas utópicos resultou num prejuízo para o tema da utopia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels definem os socialistas utópicos como “inventores de sistemas”17. Estes, mesmo que percebam o antagonismo das classes sociais, não se apercebem, do lado do proletariado, de “nenhuma iniciativa histórica, nenhum movimento político que lhe seja próprio”18. Com efeito, os socialistas utópicos querem substituir as “condições históricas de emancipação pelas condições tiradas de sua imaginação”, sem levar em conta as “condições materiais de emancipação”, seu pacifismo rejeita toda “ação política e, sobretudo, toda ação revolucionária” 19. O resultado dessa crítica foi a divulgação do socialismo francês como “subproduto”, “subMarx”, “subsocialismo”20 e a inocuidade da utopia. Como diz Buber, “em nossa época, ser ‘utopista’ significa não estar à altura do moderno desenvolvimento industrial; o que seja o moderno desenvolvimento industrial ensina-nos o marxismo” 21. Igualmente, a utopia é um passo atrás do desenvolvimento científico. Graças à visão científica da política pode-se afirmar, ainda no Manifesto, que os socialistas utópicos são como “alquimistas da revolução” e utopias como “infância do movimento proletariado, como a astrologia e a alquimia sob a infância da ciência”22. Se há utopia no marxismo, é uma utopia com traços científicos, 14 Idem, ibidem, p. 42. Idem, ibidem, p. 43. 16 Ocuparemos a utopia de seu papel político enumerando as “realizações práticas” dos socialistas utópicos franceses, como O socialismo utópico pretende Jacqueline Russ (O utópico, 1991)? Teriam eles contribuído para a perfectibilidade do real? Para a autora, “nossa época parece ter feito sua cura de realismo; ingressou na escola do realismo e procura repudiar ideologias e utopias” (p. 239). Cura ou doença profunda? 17 Karl Marx. Philosophie Philosophie, 1965, p. 436. 18 Idem, ibidem, p. 436. 19 Idem, ibidem, p. 436. 20 Jacqueline Russ. O socialismo utópico utópico, 1991. 21 Martin Buber. O socialismo utópico utópico, 1971, p. 15. 22 Karl Marx. Philosophie Philosophie, 1965, p. 607, nota 2 da p. 437. 15 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 26 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ como o sugere Kolakowski sobre Marx: “ele estava certo de conhecer o significado da História; é esta certeza que constitui a consciência utópica do marxismo e que lhe permite também nutrir pretensões científicas”23. As pretensões científicas do marxismo têm como pano de fundo o problema da racionalidade, tal como posta por Hegel. Segundo Hinkelammert, Hegel parece ter sido um dos primeiros a criticar o projeto de uma sociedade transformada que não esteja firmado na racionalidade. Fora da racionalidade, a idéia de transformação está fora do âmbito do possível – quer dizer, do político efetivo, visto que a política é a “arte do possível” 24 . Toda “abstração” de todo e qualquer projeto político é criticada. Em Marx, também a impossibilidade de uma determinada política é o seu irrealismo25. A sociedade capitalista é vista como impossível por causa de seu caráter destrutivo. A única sociedade possível – portanto, fruto não da abstração e de uma racionalidade alucinante – é a sociedade socialista, pois só ela poderá “controlar o progresso humano em função da vida humana”26. Para decidir entre o possível e o impossível, elege-se o “critério da reprodução da vida humana real e concreta”27. É esse critério que permite acusar de utópicas aquelas construções mentais que pensam a sociedade como ela deve ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Aspretensões científicas do marxismo têm como pano de fundo o problema da racionalidade A sociedade capitalista é vista como impossível por causa de seu caráterdestrutivo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ser, no lugar de pensar o “deve ser” da sociedade em função do poder: “o dever segue-se ao poder, não o precede” 28. A sociedade que não puder acelerar o processo de reprodução da vida humana real é vista como sociedade impossível. Contudo, como não ser engolido pela topologia dominante se perdermos a utopia de uma sociedade compreendida como impossível, se o critério decisivo se encontra nas próprias condições topológicas atuais? Adolfo Sanches Vasquez observa, sobre Marx, que “ao longo de sua obra ele fala de uma sociedade necessária, desejável e possível, mas nunca a chama ou a considera utopia”, nem no seu sentido geral nem no específico, positivo, de utopia socialista-comunista”29. Tanto para Marx como para Engels, a utopia é sempre impossível, quer dizer, “projeto de uma nova sociedade, melhor, mas condenada a não se realizar”. O cerne da crítica marxiana está em apontar o caráter fantasioso da utopia (socialismo utópico) pelas seguintes razões: a) pela inexistência das condições históricas necessárias para sua realização; b) ainda que legítimos os fins, os meios para realizá-los são inadequados e ineficazes 30. A dimensão científica do socialismo não deixará espaço para a utopia; mais precisamente, a contribuição do marxismo estaria em “privar a utopia socialista de seu caráter quimérico ou ilusório”31. Essa 23 Leszek Kolakowski. “A antiutopia utópica de Marx”. In: O espírito revolucionário. Marxismo. Utopia e antiutopia antiutopia, 1985, p. 87. Franz Hinkelammert. Crítica à razão utópica utópica, 1986, p. 11. 25 Idem, ibidem, p. 12. 26 Idem, ibidem, p. 13. 27 Idem, ibidem, p. 13. 28 Idem, ibidem, p. 13. 29 Adolfo Sanchez Vasquez. Entre a realidade e a utopia utopia, 2001, p. 379. 30 Idem, ibidem, p. 380. 31 Idem, ibidem, p. 381. 24 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 27 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ advertência do socialismo à utopia significaria que o projeto de uma sociedade futura exige que se coloque a questão do conhecimento da realidade e das possibilidades desse conhecimento32. Contudo, como pontua Vasquez, se forem aplicados ao socialismo científico os mesmos critérios aplicados ao socialismo utópico, a sociedade futura desejada por Marx pode ser considerada uma utopia, porque ela se revelará impossível. Que se pense na superação da alienação pelo comunismo, por exemplo33. Para Cioranescu, o materialismo dialético é utópico como todos os sistemas. Distingue-se pelo fato de o materialismo ter abandonado “o sentimento, e, com ele, todos os outros resíduos irracionais do pensamento” e por fundar “sua política sobre uma concepção científica do universo”34. Sem pretender fazer uma crítica da utopia marxista, gostaria apenas de assinalar aquilo que nos importa no desenvolvimento destas reflexões. Nesse sentido, a análise científica marxista da utopia se junta ao mesmo procedimento de exclusão que vimos no exame do gênero literário. A utopia sofre, do lado da literatura, uma proteção purista de “gênero” contra uma possível degradação – é pelo menos o que sugere a expressão “confiscação ideológica” da utopia. Assim, ela é isolada no estrato dos gêneros literários, onde não sofreria nenhum ataque e nem rapto para a esfera da política humana. Por ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ outro lado, quando entra no domínio da política, ela sofre o expurgo por ser duplamente – como gênero e como ideologia – ineficaz na transformação da sociedade. III. Impossibilidade da utopia, possibilidade do político Para Cioranescu, o materialismo dialético é utópico como todos os sistemas Essa condição política da utopia foi exposta de maneira muito interessante por Eugenio Imaz, ao opor A Utopia de Thomas More (1516) a O Príncipe de Maquiavel (1513). A duas obras, contemporâneas, expressam duas concepções da realidade (sociedade e comunidade, parte e o todo, indivíduo e gênero), fazendo pensar na crítica da Política de Aristóteles à República de Platão. A arte do possível denuncia o irrealizável – quer dizer, impossível. A vida de Thomas More atesta esse conflito entre o destino do homem político e do escritor. Como criador do gênero utópico, More foi capaz de imaginar coisas e, de maneira indireta, efetivar pela literatura – sem censura – a crítica da sociedade existente. Sua carreira política levou-o a ocupar a função de chanceler da Inglaterra, mais alto cargo do governo britânico. Nessa função, mostrou-se incapaz de tolerar os hereges de sua época e expressou seu desejo de erradicar as heresias sediciosas 35. Igualmente, não sofreu censura por sugerir que seria insensato não procurar o prazer por todos os meios possíveis na sua Ilha36, por de- 32 Idem, ibidem, p. 382. Observa Vásquez que os bolcheviques e seu irrefreável voluntarismo não levaram em conta o alto custo humano para a realização da utopia de Marx, e tampouco o alto custo dos valores socialistas, como a liberdade e a democracia (Adolfo Sanchez Vasquez. Entre a realidade e a utopia utopia, 2001, 385). 34 Alexandre Cioranescu. L’avenir du passé passé, 1972, p. 253-54. 35 Thomas More. A utopia utopia, 1979, p. 157, comentários de Pessanha. 36 É claro que tudo sob uma moral severa, em que o adultério é punido com a escravidão e, na reincidência, com a morte. 33 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 28 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 37 clarar a volúpia como virtude ; a “volúpia é o fim de todas as nossas ações” 38. Ou sobre o prazer: “os utopianos reduzem todas as ações e mesmo todas as virtudes ao prazer como finalidade”39. É que no mundo do impossível – por uma razão apolítica – tudo é permitido. Se morre decapitado é por causa do político, pela arte do possível. Oporse à decisão real de Henrique VIII de se separar da autoridade papal por causa das objeções ao seu casamento com Catarina de Aragão lhe custou a exoneração de seu cargo de chanceler, sua prisão e condenação final. Com ou sem razão, Eugenio Imaz opõe, como foi mencionado anteriormente, A Utopia e O Príncipe. More escreve uma utopia e Maquiavel apresenta um breviário da razão de Estado40. Maquiavel representa a política, a arte do possível, contra a impossibilidade utópica da ilha de Thomas More. Rompimento da idéia de um dever-ser para tornar-se efetivamente político. “Muitas repúblicas e principados foram imaginados, sem que nunca se viram ou se existiram na realidade. E a maneira como vivemos e aquela em que deveríamos viver são coisas tão diversas que de aquele que abandona uma para entregar-se a outra está mais próximo de destruir-se que de salvar-se”41. “Quem está certo?”, pergunta Imaz. Todos concordarão que é Maquiavel. O Príncipe troca o utópico pelo possível. O contexto das obras é o da conquista européia de novos mundos. A 37 38 39 40 41 42 43 44 No mundo do impossível – por uma razão apolítica – tudo é permitido ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Utopia de More ressoa o maravilhamento dos europeus pelo reencontro com terras paradisíacas 42. Na mesma época, propõem-se estratégias para os principados. Utopia contemporânea do nascimento de um novo jogo de relações políticas. De fato, o que se expandiu na seqüência dos dois escritos não foi o sonho idílico de um mundo impossível , de Thomas More, mas a eficiência política em direção à expansão colonialista da Europa. Quem chega ao mundo possível das Índias sonhadas não são os utopianos de More, mas os Príncipes, por meio de homens sedentos de novos mundos e novas riquezas. A empreitada é efetivada porque se acredita na possibilidade de que a aventura dê certo. A aventura tem continuidade porque, na avaliação da arte do possível, ela era viável, portanto, uma utopia possível. A barbárie utópica possível tem início: “o Paraíso terrestre ao alcance do poder” 43 . IV. A utopia e o topos A utopia tem a vocação do futuro44, mas se mescla de suas condições históricas. More se entretinha com as notícias de um novo mundo, LouisSébastian Mercier, em pleno século XVIII, elogiava o progresso propagado pelas Luzes. É com a obra desse francês nascido em 1740 que a utopia se anuncia como literatura de antecipação. Desde então, a utopia Thomas More. A utopia utopia, 1979, p. 239, 256ss. Idem, ibidem, p. 252. Idem, ibidem, p. 253. Eugenio Imaz. Topia y Utopia Utopia, 1946, p. 58. Maquiavel. O Príncipe Príncipe, apud Eugenio Imaz. Topia y Utopia Utopia, 1946, p. 58. Darcy Ribeiro. Utopia selvagem; saudades da inocência perdida. Uma fábula fábula, 1982, p. 49. Jacques Attali. 1492 1492, c. 1991, p. 266. Alexandre Cioranescu. L’avenir du passé passé, 1972, p. 190. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 29 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ não se restringe ao título de um livro, a um gênero literário, mas passa a esboçar um programa, um projeto 45. Mercier escreveu a obra O ano 2440 , projetando 700 anos depois de seu nascimento. Entre tantas antecipações, vislumbra a França em posse das florescentes colônias do Egito e da Grécia, a Rússia com seus 45 milhões de habitantes, O Espírito das Leis de Montesquieu traduzido em japonês, a entrada aos Jardim das Tulherias seria livre para todos, dirigíveis rápidos conduziriam de Paris a Pequim em sete dias e meio, as ruas de Paris contariam com guardas de trânsito46. Se as inovações pretendidas fazem sorrir hoje, se Mercier não “via um palmo adiante do nariz”, importa notar, contudo, que ele não queria esperar 700 anos para que as ruas de Paris fossem ocupadas por guardas de trânsito. Ele escrevia para o imediato 47, alegrando-se por ver que, em 1786, muitas de suas idéias eram efetivadas na França. Efetivamente, a data de 2440 é escolhida aleatoriamente para dizer “amanhã”: “a referência cronológica não conta na prática, não resta ao pensamento utópico que a referência à realidade imediata” 48. A utopia aponta para uma dimensão e uma condição humana de insatisfação, de recusa das condições presentes do topos. Nesse sentido, ela pode mesmo incentivar a evasão, fuga e resignação. Em muitos casos, 45 46 47 48 49 50 51 52 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ está implícita a idéia de um fim da história, pois o modelo utópico dispensa qualquer tipo de continuidade. Como diz Ricoeur a propósito de Saint-Simon: “não há história depois da institucionalização do modelo”49. Não é diante de um “mundo às avessas” (Fourier) provocado pelos contrastes profundos da França de 1830 e 1840, incentivando motins em meio às “leis de exceção” da monarquia burguesa de Luís Felipe e ao conformismo de ministros, militares, banqueiros, que surgirão as utopias românticas? Não sugerem as utopias o “desenraizamento do tempo presente” incentivando o sonho, o devaneio e a loucura50? Afinal, o que pode significar a idéia de Saint-Simon51 de uma “paixão ecumênica gerada pelo povo da imaginação”? O que importa é aquilo para que aponta essa utopia: a insatisfação com o topos – com o lugar e as condições políticas, econômicas, culturais desse lugar. Em outras palavras, a utopia é uma recusa do possível... existente. Paul Ricoeur sugere que há uma “função integradora da utopia” 52, já que é difícil estabelecer a unidade temática da utopia, deve-se procurar a unidade de suas funções. É utopia tanto suntuosidade do estilo de vida como o ascetismo, que se priva de toda pompa. A função da expressão “nenhum-lugar” provoca um estranhamento; dado que nada pode ser pressuposto, abre-se o campo das alternativas dos modos de viver. A utopia A idéia de um fim da história Já que é difícil estabelecer a unidade temática da utopia, deve-se procurar a unidade de suas funções Idem, ibidem, p. 196. Idem, ibidem, p. 193ss. Idem, ibidem, p. 195. Idem, ibidem, p. 197. Paul Ricoeur. Lectures on Ideology and utopia utopia, 1986, p. 95. Elias Thomé Saliba. As utopias românticas românticas, 1991, p. 27. Paul Ricoeur. Lectures on Ideology and utopia utopia, 1986, p. 26. Idem, ibidem, p. 15. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 30 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ nos ajuda a repensar a natureza de nossa vida social, nos termos seguintes: “a fantasia de uma sociedade alternativa e sua exteriorização ‘nenhum-lugar’ não funciona como uma das mais formidáveis contestações daquilo que é?”. Em relação à imaginação, a “utopia introduz variações imaginativas sobre os tópicos da sociedade, poder, governo, família, religião” 53. Ideologia e utopia se complementam: “não há integração social sem subversão social”54. Nessa dupla função, Ricoeur intenciona justamente evitar a patologia tanto de uma como de outra: a patologia da ideologia é a dissimulação, a da utopia, o escapismo. Desviar o “lugar nenhum” do aqui e agora, não é isso que se pode criticar nos utopistas? Mas a patologia da ideologia não é “sua cegueira e sua estreiteza precisamente em sua inabilidade para conceber um lugarnenhum” 55? Nota-se, disso tudo, que mesmo a utopia futurista, com sua vocação conformista56, está imbricada na realidade, no topos. Imbricado não quer dizer preso, limitado, alienado. A utopia não quer o topos, não está limitada a ele – para parafrasear Kant, ela não nasce do, mas no topos. Por isso, pode-se dizer que ela é histórica, cultural, espacial. A idéia de uma utopia à medida do topos implica o aniquilamento de sua força política, cultural etc. A utopia tem a ver com o topos de uma maneira pouco confortável para o domínio topológico. Por esse motivo, ela precisa ser submetida imediata- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mente à arte do possível. Por conta de não ser possível se livrar dela, é preferível tê-la sob vigilância constante de um forte comando político. Como indicadores de uma outra possibilidade, as utopias introduzem a crise do presente, a crise topológica. Ela provoca o desprendimento e estranhamento em relação ao projeto topológico generalizado, “hegemônico”. Contragolpe imediato: individualiza-se, sectoriza-se a crise, sempre vista como crise do indivíduo, de uma facção ou de um grupo; de qualquer maneira, sempre uma crise ideológica. Segue o vaticínio dos vigilantes do possível utópico: qualquer tipo diferente de utopia é “ilusão”, “alienação”, “quimera”, “excentricidade”, “ficção”. Providências mais efetivas são tomadas em dois níveis: concorrencial e político. Na concorrência utópica, aproveita-se da imobilidade generalizada assumida. O topológico sedutor propaga que é melhor ficar perto dele e desfrutar de seus consolos imediatos. O topos tira a ocupação política da utopia, despolitizando, num só ato, tanto a utopia como os seus adeptos de suas utopias possíveis. O topos também tem suas maneiras de alienar; o mercado produz utopias de consumo. O consumo das utopias topológicas se faz por meio daquilo que é chamado de ilusão, fantasia, devaneio, imaginação, sonho (casa própria, sorteios, concursos, projetos, sucesso, conquistas). O realismo de seus habitantes facilita a apropriação das utopias disponíveis e possíveis. Essa é a ter- Ideologia e utopia se complementam Na concorrência utópica, aproveita-se da imobilidade generalizada assumida 53 Idem, ibidem, p. 16. Idem, ibidem, p. 16-17. 55 Idem, ibidem, p. 17. 56 Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes inexistentes, 1995, p. 196. 54 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 31 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ceira forma de investimento contra a utopia. Esta passa a alimentar os sonhos topológicos, como válvula de escape para o indivíduo, os grupos, as associações, as instituições. As providências políticas contra a utopia tentam descaracterizar a imbricação topológica, referindo-se a essa utopia como “alienante”, “ingênua”, “genérica”. Resistência para reconhecer a imbricação topológica da utopia, mesmo a utopia futurista. O “desligamento” do topos é impossível, no sentido que nenhuma utopia será utópica, quer dizer, de lugar nenhum; estão dadas as condições e as motivações topológicas de toda utopia, que não correspondem, por sua vez, aos limites topológicos do utópico. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O desejo põe em risco a coerência V. A utopia e o possível O duro princípio do realismo impede aqueles que tratam da utopia nos limites do político de levar em conta o determinante utópico de toda transformação política. Não se trata de saber quem politiza o político, em alusão à questão de Marx, quem educa o educador? O utópico em tensão com o político mantém este último aberto à sua própria transformação. Por estar em tensão, esse utópico não funciona como princípio do prazer, oposto estrategicamente ao princípio de realismo. Essa função é privilégio da utopia possível. O utópico em tensão com o possível desloca a realidade, aponta para outras formas de se relacionar com ela. A utopia possível exige a submissão do utópico ao realismo. Sob esse O utópico em tensão com o político mantém este último aberto à sua própria transformação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ponto de vista, é interessante notar que o realismo, projetado como gênero literário nos séculos XVIII e XIX, logo revelou sua relação estreita com o capitalismo. Como observa T. Todorov, o realismo “é coextensivo, e, pode-se acrescentar sem risco, consoante ao mundo ocidental moderno e às suas sociedades capitalistas” 57. Suas características principais são duas: valorização do particular e da coerência. Para usar uma expressão de Leo Bersani, diria que a fascinação pelo topológico resulta de um “medo do desejo”58. O desejo põe em risco a coerência, desorienta os arranjos realistas das situações concretas. Não se trata aqui do desejo do possível – esse desejo alimentado constantemente pela topologia dominante. Não deixa de sugerir múltiplas indagações o fato de que a literatura realista acorda uma “enorme importância aos desejos destruidores”59. É sob condições de destruição que o desejo topológico – capitalista, científico, realismo político – acolhe a utopia e lhe impõe condições. A utopia que cabe dentro das previsões, das organizações e das sistematizações políticas já foi triturada nas máquinas desejantes – alusão a Deleuze e Guattari – topológicas e, conseqüentemente, perdeu seus efeitos sobre a política. Quando se aceita o comando de tudo pelo possível e a submissão da dimensão utópica à esfera da política, morrem nossas possibilidades políticas. É como se vivêssemos absorvidos pela dimensão única do 57 Tzvetan Todorov. “Présentation”. In: Gérard Genette; Tzvetan Todorov (direction). Littérature et réalité réalité, 1982, p. 8. Leo Bersani. “Le réalisme et la peur du désir”. In: Gérard Genette; Tzvetan Todorov (direction). Littérature et réalité réalité, 1982, p. 47ss. 59 Idem, ibidem, p. 65. 58 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 32 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ político-econômico e houvesse uma unidimensionalidade topológica – o topos como dimensão “unidimensional”, precisamente no sentido utilizado por H. Marcuse. Para este, “o reinado de tal realidade unidimensional não significa o domínio do materialismo e que as ocupações espirituais, metafísicas e boêmias estejam desaparecendo”; persistem, diz Marcuse, o Zen, o existencialismo e estilos exóticos de vida. Na realidade unidimensional, “tais formas de protesto e transcendência não mais são contraditórias ao status quo e não mais são negativas”60. A utopia subordinada a essa realidade unidimensional está a serviço da continuidade de um topos. Aceita-se a utopia nas mesmas condições que Kant e Locke aceitavam a revolução, como diz Marcuse: “se e quando ela tenha alcançado êxito em organizar o todo e em impedir a subversão” 61 . O que é uma utopia possível senão uma utopia que participa da organização do topos, cerceada, controlada, vigiada... com função positiva antiutópica de evitar a subversão topológica 62 . Eis a utopia que toda topologia vigente deseja, condicional e condicionada: a utopia possível. Dadas as condições utópicas da topológica vigente, venho tentando defender a irredutibilidade da utopia à política. No lugar de uma “utopia possível”, preferiria insistir nas relações de tensão entre a “utopia” e o “possível’, do qual a política é uma arte. Na tensão mantemos irreduzíveis, de um lado, o campo aberto ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ do utópico humano e, de outro, os políticos de profissão, cientistas, administradores, gestores, que arrogam o entendimento, a condução e até a ciência do possível. Uma utopia possível não resulta senão em uma certa antecipação ideológica de uma política efetiva. Que não se veja nisso a intenção de defender um purismo utópico, muito menos de desconsiderar as duras regras e as condições políticas nas quais vivemos. Não está descartado aqui o “reino da necessidade” ou o princípio de realidade. Sugiro apenas que essa necessidade não pode se impor à utopia. Se é ilusão ignorar o regime político da necessidade, é excesso de realismo e de rendição ao necessário compreender todas as dimensões humanas sob o regime da necessidade. Deve existir algo em nós mesmos, nas nossas instituições, em nossa práxis, que não esteja submetido a esse domínio do necessário e que, mesmo assim, não seja designado como ilusório, alienante. Afinal, como poderia o realismo suportar a utopia, o não-necessário, a imaginação, a paixão, o princípio do prazer, a esperança, sem refreá-los, estigmatizá-los, controlá-los e tornálos objeto de ciência e, o mais terrível, esvaziá-los de sua pertinência política? Uma utopia possível não resulta senão em uma certa antecipação ideológica de uma política efetiva Venho tentando defender a irredutibilidade da utopia à política VI. Instituições, educação, utopias O que o realismo político espera das instituições educacionais, senão que elas cumpram seu papel social, 60 Herbert Marcuse. A ideologia da sociedade industrial o homem unidimensional unidimensional, 6ª ed., 1982, p. 33. Idem, ibidem, p. 34. 62 La fin de l’utopie Ecoa o fundo marxista na concepção marcusiana de utopia. Para Herbert Marcuse (La l’utopie, 1968), é necessário romper com a ordem vigente, rompendo com a utopia que lhe é própria. 61 Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 33 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ como todas as outras instituições? Espera-se o desenvolvimento de uma atividade educacional que saiba lidar com o possível, que se aproprie de todos os meios disponíveis no topos vigente (em particular, os recursos tecnológicos) para efetivar os caminhos possíveis de transformação. Portanto, que as instituições educacionais levem em conta: a) as condições educacionais e históricas para sua realização; b) os meios adequados e eficazes para efetivá-la. Caminhos invertidos e pervertidos da história, esses que põem no coração do programa educacional vigente uma visão da utopia extraída do materialismo histórico marxista. Estranha coincidência entre a concepção do possível sustentada por um programa educacional neoliberal a visão marxista de uma transformação possível da sociedade63. Talvez o realismo político – em suas várias acepções – seja um ponto de convergência tanto da visão unidimensional do topos como de ações concretas que tentam eliminar a pluralidade de dimensões do topos. Pressionadas pelas políticas governamentais – que são pressionadas pelas economias políticas globais –, as instituições educacionais locais se desfiguram em relação à pluralidade de dimensões do topos. Dimensões que são sufocadas e destruídas em nome de uma universalidade política. A educação se torna unidimensional, fragmentada, unilateral. Como tal, não contempla e muito menos reflete o pluridimensional. As injunções políticas moldam e reduzem a diversidade educativa às políticas e práticas educacionais possíveis. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Espera-se o desenvolvimento de uma atividade educacional que saiba lidar com o possível O político encontra o científico no interior mesmo da universidade A educação se torna unidimensional, fragmentada, unilateral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Mas, as instituições educacionais submetidas às utopias possíveis desfiguram-se a si mesmas, ao assumirem políticas educacionais mais gerais, por obrigação ou por convicção, como meio de assegurar sua própria continuidade como instituição. Tudo e todos em direção a um único objetivo: sobreviver na topologia vigente e, por isso mesmo, render-se ao realismo. Todos num consenso topológico – a uniformização das instituições educacionais, sob a política universalmente imposta. Na utopia do possível, governa o político. O político encontra o científico no interior mesmo da universidade. Ambos visam ao mesmo realismo. As instituições educacionais têm no seu próprio ventre um elemento destruidor: seu realismo científico. Ela perpetua um mesmo ato, ela reconduz uma prática milenar: a instituição educacional é a guardiã de todo conhecimento possível. Ela se desfaz de toda ameaça de conhecimento impossível. Em outros termos, isso significa: ela legitima apenas os conhecimentos que contribuam para o crescimento da dimensionalidade do topos presente. Nesse aspecto, ela assume a unidimensionalidade de sua função educacional. Por isso, acredito que a irredutibilidade da utopia à política é imprescindível para a transformação das condições topológicas atuais, em particular no campo educacional. A utopia é resistência e anúncio de outras possibilidades: ela turva as águas cristalinas da unidimensionalidade. No acento que damos à pluralidade de dimensões, a utopia corresponde às dimensões de 63 É por um recurso mirabolante que são compatibilizados o socialismo e o anticomunismo, o orgulho nacional norte-americano e a revalorização da esquerda, como em R. Rorty (Suze de Oliveira Piza. “Para realizar a América, de Richard Rorty, e sua recepção no Brasil”. In: Crítica Marxista Marxista, nº 17, novembro de 2003, p. 131-140). Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 34 ○ ○ ○ Ano 13 - n0 24 - junho / 2004 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ desajuste, revolucionárias, imaginárias, inquietantes, apaixonadas, de nós mesmos, de nossas ações e das relações humanas. A irredutibilidade da utopia à educação acentua o papel importante na promoção dos mesmos desajustes ou estranhamentos necessários à crítica e à transformação do topos. Se as instituições educacionais continuarem a retroalimentar o topos, manterão suas atividades e seus programas sob o domínio do político (econômico). Assim, as utopias educacionais serão utopias desse topos. À utopia possível corresponderá uma educação possível. Essa perspectiva da educação, ainda que válida, não leva à zona de conflito, do dissenso. As instituições educacionais podem estar cedendo às políticas unidimensionais, mas o campo educacional é mais amplo que as instituições que se instalam nele. A educação é campo de disputa, de massacre de ideologias e de surgimento de utopias liberalizantes. Frente a instituições corroídas internamente por seu realismo científico, destruidor das utopias do conhecimento e das utopias ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ políticas, em função dos conhecimentos possíveis, aparecem outras concepções de educação e de instituições. A educação concebida como espaço para alimentação das nossas utopias, repleta de atores, pluralidade de papéis e de ações. À educação possível do topos opõe-se uma educação que alimente nosso estranhamento e desajuste institucional. Alimentar não pela transmissão do conhecimento topológico e nem pelo anúncio de um conhecimento futuro; alimentar as utopias pelo conflito, pela irredutibilidade da utopia à educação e à política. Irredu tibilidade de um ao outro, para que daí surjam utopias topológicas e o próprio encontro redimensione nossas expectativas e nossas práticas atuais. Nessa irredutibilidade, intensificamos nosso estranhamento – de maneira utópica – quanto às ligações perigosas das instituições educacionais com o topos dominante. E imaginamos, ainda, outras formas de proliferar a tensão entre essas dimensões e outras ainda não percebidas ou sentidas. À utopia possível corresponderá uma educação possível ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências bibliográficas ATTALI, Jacques. 1492 1492. Tradução de Thelma Costa. Lisboa: Editorial Teorema, c. 1991. 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