Como a busca da qualidade em produtos evoluiu para o
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Como a busca da qualidade em produtos evoluiu para o
N. Sorin especial Como a busca da qualidade em produtos evoluiu para o conceito da Excelência em Gestão, a partir de uma visão sistêmica do negócio | Classe Mundial 2006 especial anos da Qualidade no Brasil Por Tarcísio Alves Se a invenção do automóvel foi uma revolução, a fabricação de veículos em série duplicou esse impacto: ao trabalhar à luz da padronização, a indústria produziu mais e tornou melhor a vida das pessoas, que passaram a contar com um novo e acessível meio de transporte. Porém, quando o norte-americano W. Edwards Deming repassou seus ensinamentos sobre estatística e qualidade para a indústria automobilística japonesa, nos anos 50, teve início uma revolução que ainda não terminou. A partir daí, nunca mais se fez carro do mesmo jeito. Aliás, não só carro. Todo e qualquer componente de um automóvel – mesmo um parafuso – começou a atender a especificações de um mercado cada vez mais competitivo. O resultado disso veio à tona no início dos anos 80, quando montadoras e empresas de autopeças do Japão “invadiram” os Estados Unidos. Apesar de pequena, a planta da Honda no Estado de Ohio logo passou a figurar entre as mais produtivas do país. Os carros da Toyota, por sua vez, ganharam a fama de eficientes e velozes, jogando poeira nas duas maiores concorrentes locais, Ford e GM. Classe Mundial 2006 | especial Essa história não acaba aqui – será retomada mais adiante –, mas sua introdução serve para ilustrar a importância da qualidade e a dimensão que ela adquiriu na vida das organizações e das pessoas. Virou um negócio tão sério que é constantemente testada e atestada por meio de reconhecimentos, certificações, selos e premiações. A sociedade, de seu lado, contribui com a percepção de que, sem um conceito mais amplo da qualidade, não há garantia na credibilidade de produtos e serviços e nem das empresas que os produzem. E ambas as partes estão cada vez mais caminhando juntas nesse processo, sobretudo a partir do momento em que a Responsabilidade Social passa a ser também uma bandeira defendida pelas organizações. Chega-se, a partir daí, a uma visão mais abrangente de todo o processo produtivo. Aliás, não é mais este, isoladamente, o objeto de preocupação das empresas. Todo o processo de gestão, seus meandros e inter-relações passam a interessar como plataforma de atuação no mercado. É por esse motivo que o conceito de Excelência em Gestão foi fundamental a partir do final do século 20. Com a FNQ, tema da Excelência em Gestão ultrapassou os muros das organizações e passou a constar na agenda do desenvolvimento do País | Classe Mundial 2006 Acervo Natura De diferencial de mercado, a qualidade transformou-se em condição básica para a sobrevivência das empresas (dos mais diversos setores produtivos, inclusive o automobilístico), em termos de produtividade e competitividade. E não só. Na década de 90, a qualidade começou a ganhar um conceito mais amplo Rumo à Excelência A história da qualidade no Brasil é recente, mas nem por isso destituída de intensidade. Neste 2006, completam-se 15 anos da criação da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), antes denominada Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ). Constituída, inicialmente, para ministrar o Prêmio Nacional da Qualidade® (PNQ), a FNQ tem uma atuação marcante, no sentido de disseminar os Fundamentos da Excelência em Gestão para o aumento da competitividade das organizações e do País. Essa entidade sem fins lucrativos chega ao 15º ano de olho no futuro: até 2010, planeja tornar-se um centro de referência de Classe Mundial sobre Excelência em Gestão no Brasil. Para isso, estruturou e consolidou a Rede Nacional da Gestão Rumo à Excelência, engajada no estudo, desenvolvimento, intercâmbio e irradiação do conhecimento das organizações que a compõem. “As empresas estão operando cada vez mais sob a forma de redes dinâmicas e abertas, viabilizadas pela complementariedade de suas atividades e pela comunhão de valores e princípios”, opina Pedro Luiz Barreiros Passos, presidente do Conselho Curador da FNQ. “Essas redes constituem verdadeiros ecossistemas, onde seus integrantes, conscientes de sua interdependência, investem significativamente na qualidade de suas relações”, completa. O PNQ, por sua vez, também apresenta evoluções. Tendo a atualização como pano de fundo constante, os Fundamentos da Excelência foram renomeados, visando acomodar uma melhor definição conceitual. Tais Fundamentos expressam conceitos reconhecidos internacionalmente, que redefinem o papel das organizações do século 21, além dos desafios que enfrentam e os meios que dispõem para superá-los. especial Acervo Toyota A indústria automobilística japonesa foi um dos primeiros bolsões de qualidade no mundo Dois momentos da evolução da Toyota O início pela indústria Embora a data do surgimento da FNQ simbolize a institucionalização da Excelência em Gestão no Brasil, o tema da qualidade nos produtos já estava presente por aqui, pelos menos, desde os anos 70. Porém, em fase embrionária. Nessa época, os japoneses já caminhavam a passos largos. Norte-americanos e europeus seriam os próximos a entrar na “onda” e nós, brasileiros, fomos privilegiados pela troca de experiências com todos eles. Quando assumiu a Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e Comércio (STI/MIC), em 1979, José Israel Vargas, oriundo da área de tecnologia nuclear, tinha como missão expressar em um único conceito as funções básicas do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). Posteriormente, agregou-se a essas funções a Gestão da Qualidade. “Não havia nenhuma filosofia básica dessa estrutura”, lembra. “Posso dizer, sem modéstia, que iniciei a modernização no nível do governo”, diz ele, referindo-se à criação do conceito de Tecnologia Industrial Básica (TIB). O QUE É TIB? A TIB reúne um conjunto de funções tecnológicas de uso indiferenciado pelos diversos setores da economia (indústria, comércio, agricultura e serviços). É composta pelas funções de metrologia, normalização, regulamentação técnica e avaliação da conformidade (inspeção, ensaios, certificação e outros procedimentos de autorização, como classificação, registro e homologação). A essas funções básicas agregam-se ainda a informação tecnológica, tecnologias de gestão e propriedade intelectual. A temática TIB está presente, hoje, em todos os blocos econômicos do mundo. Classe Mundial 2006 | especial Um exemplo do cenário da época: no almoxarifado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), havia 3 mil componentes de diferentes origens e, portanto, incompatíveis. “Montamos um processo de racionalização, e esses componentes foram reduzidos para 300. Isso gerou uma grande economia”, conta Vargas. Em 1979, o Brasil liderava os investimentos alemães na América Latina, fruto do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assinado quatro anos antes e vinculado à estatal Nuclebras. Segundo o livro Brasil-Alemanha: Fases de uma Parceria (Editora Fundação Konrad Adenauer, 2000), de Christina Lohbauer, em 1980 foram fechados 70 contratos entre empresas brasileiras e alemãs, em estágio mais avançado no tocante à qualidade. “Muitos de nós foram para a Alemanha, visitar associações que se ocupavam da qualidade desde o século 19, e também ao Japão”, diz o professor Vargas. Por essa época, nasciam, no Brasil, entidades como o Instituto Brasileiro de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Sem falar que instituições mais antigas, como as Fundações Vanzolini (São Paulo, 1967) e Christiano Ottoni (Minas Gerais, 1974), também se beneficiaram desse fluxo de informação. “Essas associações deram grande assistência à implantação da Qualidade Total, tanto em aspectos produtivos como administrativos”, sublinha Vargas. O setor ganharia novo impulso em 1984, com a assinatura do acordo de empréstimos do Banco Mundial ao Brasil, por meio de um Subprograma TIB dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT). “Não se podia fazer ciência industrial no Brasil sem uma metrologia válida”, argumenta Vargas. Ao longo dos anos, esse subprograma mostrou-se uma fonte consistente de apoio à Metrologia, Normalização e Certificação, além das Tecnologias de Gestão. Verbas destinadas pelo PADCT/TIB* Metrologia - US$ 21,6 milhões Capacitação de RH em GQ - US$ 13,4 milhões Informação tecnológica p/ indústria - US$ 15,9 milhões Normalização e certificação da conformidade - US$ 3,6 milhões Estudos - US$ 4,2 milhões TOTAL - US$ 58,7 milhões *Entre 1985 e 1996 Fonte: Governo Federal Troca de experiências Três entidades – as chamadas nucleadoras – foram selecionadas para obter capacitação em centros mais avançados. Técnicos do Instituto Brasileiro de Qualidade Nuclear (IBQN) foram à Europa. Já os da Fundação Vanzolini estiveram nos Estados Unidos. Por fim, os pesquisadores da Fundação Christiano Ottoni mantiveram contato com os japoneses. Um detalhe: a partir daí, o professor Vicente Falconi, principal consultor da Fundação Christiano Ottoni, ganhou destaque nacional. Escreveu um best-seller sobre Qualidade, segundo o modelo do Japão, e passou a dar consultoria a empresas brasileiras na implementação do sistema. É, hoje, orientador técnico do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG). Aprendizado concluído lá fora, era hora de as nucleadoras repassarem o conhecimento aqui dentro. “Estivemos em várias empresas na Zona Franca de Manaus, por exemplo. Ministrávamos cursos para agentes multiplicadores, que, por sua vez, treinavam suas equipes. Depois, fazíamos a supervisão”, conta Melvin Cymbalista, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de São Paulo (USP) e diretor de Certificação da Fundação Vanzolini. Nascido no âmbito do PADCT/TIB, o Projeto de Especialização em Gestão de Qualidade (PEGQ) treinou, entre 1987 e 1997, 28 mil especialistas e, de modo indireto, por meio da difusão do modelo orientado pelo trinômio 10 | Classe Mundial 2006 Diagnóstico, Treinamento e Implantação, 300 mil profissionais. Nesse período, foram promovidas mais de 30 missões técnicas ao exterior (Japão, Estados Unidos e Europa). Além disso, cerca de 20 especialistas vieram ao Brasil e mais de uma centena de projetos de implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade Total se concretizaram, em empresas públicas e privadas. Assumido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2001, após um hiato, o PEGQ apoiou projetos de tecnologias de gestão, tais como centros de referência para a orientação de empresas e organizações públicas e privadas quanto à competitividade. De 2001 a 2004, esses centros receberam R$ 8,3 milhões em investimentos. Houve ainda apoio a outras entidades, entre as quais a Fundação Nacional da Qualidade, que vivia seu período de expansão, consolidando-se nacionalmente como uma referência em premiação da qualidade. Investimento no Brasil rareia Com um total de US$ 15,1 bilhões, o País passou do 10º para o 14º lugar no ranking mundial de economias preferidas por investidores de fora. Na América Latina, o Brasil foi superado apenas pelo México (US$ 18,1 bilhões) em números absolutos, mas perdeu percentualmente. Na Argentina, por exemplo, o IED foi ampliado em 9%. Em termos continentais, a Ásia concentrou 62% dos investimentos, contra 25% da América Latina. 6% 6% 13% 14,25% Entre os motivos apontados por especialistas para o baixo nível de investimento estão a alta taxa de juros, a conseqüente falta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, ainda, a valorização cambial. O Brasil é considerado, hoje, o país com maior taxa de juros reais do mundo. Veja a tabela abaixo, com dados de setembro de 2006, considerando-se apenas o Bric: O Brasil ocupa o 14º lugar no ranking mundial de economias preferidas por investidores estrangeiros Infra-estrutura, educação e pesquisa O Brasil tem vários desafios. Um deles é superar o baixo investimento em infra-estrutura. Em setembro deste ano, a Associação Brasileira da Infra-Estrutura e das Indústrias de Base (Abdib) apresentou ao Governo Federal o documento Agenda da Infra-Estrutura 2007-2010, com proposta de investimento de R$ 87,7 bilhões por ano, a fim de solucionar problemas em áreas como política industrial, saneamento, transporte, telecomunicações e energia, além de sugerir caminhos para a boa gestão dos gastos públicos. Outro problema grave é o da educação. O relatório anual da Unesco Educação para Todos pôs o Brasil na 72ª colocação, no que diz respeito ao índice de cumprimento das metas traçadas na Conferência Mundial de Educação. As altas taxas de repetência e evasão no ensino fundamental contribuem para esse quadro. Na mesma seara, o estímulo à pesquisa e à tecnologia precisa ser intensificado, para haver mais investimento do capital privado e a conseqüente ampliação da capacidade produtiva. Se, por um lado, o Brasil ocupa o 17º posto no ranking mundial de produção de artigos científicos, está em 27º quando o assunto são as patentes. Classe Mundial 2006 | 11 Foto : Juarez Cavalcanti - Divulgação Petrobras Se, nos anos 70, o Brasil era um mercado interessante para investimentos estrangeiros – em 1975, a taxa de investimento no País chegou a 36,9% do PIB –, o panorama atual mostra um cenário bem diferente. Segundo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) divulgado em outubro, enquanto o fluxo global do Investimento Estrangeiro Direto (IED) cresceu 29% de 2004 para 2005, no Brasil ele diminuiu 17% no mesmo período. Foto : Helmut O tto - Divulgação Petrobras especial C ampo de Garoupa em C ampos /RJ da petrobras Ranking de certificações ISO 9001 no mundo* 1º China - 143.823 certificados 2º Itália - 98.028 certificados 3º Japão - 53.771 certificados 4º Espanha - 47.445 certificados 5º Reino Unido - 45.612 certificados 6º Estados Unidos - 44.270 certificados 7º Alemanha - 39.816 certificados 8º Índia - 24.660 certificados 9º França - 24.441 certificados 10º Austrália - 16.922 certificados 18º Brasil – 8.533 certificados (39,4% a mais do que em 2004) Total de certificados - 776.608 *Até dez/2005 Fonte: International Organization for Standardization (ISO) 12 | Classe Mundial 2006 O TQM e as ISOs Retomar a bem-sucedida “missão” dos japoneses nos Estados Unidos é necessário para a continuidade desta história. Tal fenômeno seduziu os administradores norte-americanos, que passaram a estudá-lo, ainda nos anos 80. Chamava a atenção todo o processo produtivo, muito diferente do praticado na América. Um exemplo: os orientais costumavam convidar fornecedores para tomar parte do desenvolvimento de seus projetos. Incentivava-se, com a participação, a produção de qualidade, ao passo que os ocidentais mantinham certa distância de seus parceiros, preocupando-se mais com o custo das operações. Nasciam, dessa forma, as bases do Total Quality Management (TQM). Conforme descrito no artigo Gestão Organizacional - Passado, Presente e Futuro, de autoria de Antonio Tadeu Pagliuso, atual superintendente-geral da FNQ, e de Rodolfo Cardoso, professor do Instituto Militar de Engenharia (IME), o TQM ampliava o foco da qualidade como aspecto estratégico da gestão do negócio, limitado anteriormente aos processos produtivos. Petrobras, referência em Qualidade especial Antes que se prossiga com os acontecimentos cronológicos, é preciso abrir um espaço para que se aborde um pouco da história da Petrobras. Entre as grandes companhias nacionais, e paralelamente à indústria nuclear, ela cumpriu e cumpre um papel exemplar no tocante à qualidade. Considerada, desde a sua fundação, como uma espécie de berço para a implementação de políticas econômicas pelo governo, a empresa esteve inserida nas tendências mundiais de gestão, principalmente a partir dos anos 60. Portanto, antes mesmo da implantação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), a partir do qual, no início da década de 90, incentivou-se as organizações brasileiras a integrar a corrida mundial rumo à Excelência, a Petrobras já exigia de seus fornecedores a orientação pelo código nuclear norte-americano 10-CFR-50. Um dos expoentes da companhia foi José Paulo Silveira, tido por muitos como “o pai da qualidade no Brasil”. Na empresa, esteve envolvido com o desenvolvimento de especificações técnicas e normas e também com a qualificação de fornecedores. Em 1991, a Petrobras implementaria o processo de Gestão pela Qualidade Total e, em 1994, iniciou o programa de certificação de sistemas da qualidade segundo as normas internacionais ISO 9000. Com isso, passou a ser reconhecida no mercado internacional e pôde competir em novos mercados. Nem só de petróleo se mantém a empresa • A totalidade das unidades operacionais da Petrobras no País está certificada pelas normas ISO 14001 (meio ambiente) e BS 8800 (segurança e saúde). É a empresa no País com o maior número dessas certificações. • Tornou-se auto-suficiente na produção de petróleo, em abril de 2006, e aumentará em 82% os recursos no exterior, com foco na costa africana e nos Estados Unidos – um mercado dez vezes maior que o Brasil. Em outras palavras, procedimentos como a inspeção por amostragem e o Controle Estatístico de Processo (CEP) não eram suficientes para a Qualidade Total, de fato. “Foi dentro dos conceitos do TQM que se fortaleceram os esforços no desenvolvimento de orientações ao gerenciamento das empresas, por meio de requisitos sobre como a organização deveria ser conduzida de uma forma sistêmica”, afirmam Pagliuso e Cardoso. A partir dessa constatação, prosseguem os autores, identificar e avaliar a eficácia das organizações era uma conseqüência natural. Embora o TQM tenha mexido com as estruturas norte-americanas, sua aplicação não surtia o efeito desejado em muitos casos. Tal lacuna abriu brechas para o surgimento de outros modelos de referência. Em 1987, como resultado dos estudos do grupo de trabalho da International Organization for Standardization (ISO) denominado TC 176, foram aprovadas as normas da série ISO 9000, explicitamente baseadas na britânica BS 5.750. “O surgimento da ISO 9000 foi um divisor de águas, inicialmente na indústria, depois no setor de serviços e, depois ainda, no governo”, diz Melvin Cymbalista, da Fundação Vanzolini, primeiro organismo de certificação credenciado pelo Inmetro a conceder certificados do Sistema de Qualidade na série NBR ISO 9000. “A ISO 9000 fazia uma análise crítica da situação e, por isso, tornou-se um piso para a empresa ser considerada séria”, sublinha. Vale ressaltar que, no Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) emitiu a primeira versão da série apenas em 1990. A ISO promoveu revisões das normas em 1994 e no ano 2000 – nessas duas Classe Mundial 2006 | 13 Acervo FNQ especial ocasiões, porém, o Brasil efetuou as mudanças ao mesmo tempo que no resto do mundo. A ISO 9001:2000 passou a ser a primeira norma internacional com foco em um modelo gerencial. Com o tempo, viriam outras normas, criadas para certificar organizações em relação a práticas mais específicas. Assim, se nas normas ISO 9001 o tema é qualidade, na ISO 14001 tem-se meio ambiente, na SA 8000, responsabilidade social e na OHSAS 18001, segurança e saúde ocupacional, e assim por diante. Atualmente, o Brasil integra o grupo de trabalho internacional que elabora a ISO 26000, norma de responsabilidade social mundial cuja publicação está prevista para 2008. PNQ 1997: no Palácio do Planalto, com as presenças de Elcio Anibal de Lucca , então vice- presidente do Conselho Curador da FNQ, e dos vice- presidente Marco Maciel e presidente Fernando Henrique C ardoso Surge o Prêmio Baldrige Entre os estudos norte-americanos sobre a qualidade japonesa, no início dos anos 80, destaca-se o da McKinsey&Company. A partir dele chegouse à identificação dos fundamentos de uma empresa de nível Classe Mundial, isto é, que têm em comum a busca constante da excelência em toda a sua gestão. Em um segundo momento, tais fundamentos foram desdobrados em requisitos, devidamente agrupados por critérios. Nascia, na forma de lei federal, em 1987, o Malcolm Baldrige National Quality Award (MBNQA). A América passava a contar com um instrumento oficial para avaliar e coroar as organizações excelentes. Estas, em contrapartida, eram obrigadas a compartilhar suas boas práticas. E não só. Consolidava-se a perspectiva da visão sistêmica. Em outras palavras, não era possível falar em Qualidade sem estratégia. Embora o Japão já tivesse seu Deming Prize desde 1951 – criado pela Union of Japanese Scientists and Engineers (Juse) em homenagem a W. Edwards Deming para empresas engajadas no controle de qualidade e gestão –, a instituição do Baldrige causou impacto imediato no Primeiro Mundo e, em seguida, em todo o planeta. Para se ter uma idéia, em 1988, 14 grandes empresas européias fundaram a European Foundation for Quality Management (EFQM), responsável pelo Prêmio Europeu da Qualidade. No Brasil, um grupo acompanhava atentamente a movimentação no plano internacional. Reunia-se na Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo, para discutir a crescente preocupação com a qualidade no Japão, nos Estados Unidos e na Europa. “Os países mais desenvolvidos já percebiam a necessidade de melhorar a Gestão das Empresas, e logo essa idéia contagiou o mundo”, comenta 14 | Classe Mundial 2006 Dalton Oswaldo Buccelli, engenheiro mecânico especialista em Qualidade, gestão organizacional, Sistemas da Qualidade e Critérios de Excelência do PNQ. “A competitividade passava a ser global”, sublinha. Um dos membros mais ativos nas reuniões na Amcham, Buccelli se tornaria o segundo gerente-técnico da FNQ. “As conversas giravam muito em torno do Prêmio Baldrige, e muitas vezes eram em inglês. Sentimos que era preciso ir além das reuniões na Amcham e iniciar um movimento nacional”, conta ele. Uma das pessoas que mais ofereceram colaboração nesse sentido foi Carlos de Mathias Martins, que faleceu em 2005. Um dos primeiros CQEs (Certified Quality Engineers) brasileiros, Martins presidiu o Grupo de Trabalho da ABNT responsável pela tradução da família de normas ISO 9000 para o português. Com seu entusiasmo, foi um importante incentivador do movimento da Qualidade no Brasil. Tanto que se tornaria o primeiro superintendente da então Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (1991-97). Muitas vezes, no início das atividades da instituição, abria as portas de sua casa, em São Paulo, para a realização de encontros e reuniões. gerdau especial A abertura da economia permitiu que o País tivesse acesso às tecnologias de ponta Como se vê, em fins dos anos 80, o movimento pela qualidade era incipiente. O resultado disso é que, enquanto alguns setores já começavam a se tornar competitivos – para isso, entre outras coisas, cortando gastos e otimizando a produtividade –, outros naufragavam no mar do desperdício. Estimativas da época apontavam que a margem de perdas atingia até 40% do produto industrial. O valor do desperdício no final da década de 80 era de US$ 50 bilhões/ano, considerando-se a participação do produto industrial na formação do PIB. Tal custo era repassado, naturalmente, para o preço final dos bens e serviços. Nesse período, elevadas taxas criavam barreiras à importação de produtos. O governo Collor assumiu o comando em 1990 e, dentro de sua meta de liberalização da economia e menor participação do Estado, reduziu as alíquotas de importação. De uma hora para outra, as empresas nacionais tinham de medir forças com as estrangeiras. Habituadas à concorrência internacional, as organizações de fora, não raro, ofereciam produtos com melhor desempenho a preços muito mais baixos. É então que surge, como resposta do governo ao empresariado nacional, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), com objetivo de estabelecer um conjunto ordenado de ações indutoras da modernização industrial e tecnológica, contribuindo para a retomada do desenvolvimento econômico e social. Um traço fundamental do programa, aliás, é que ele requeria a participação de toda a sociedade. Por esse motivo, de sua formulação fizeram parte técnicos do governo federal, assim como governos estaduais, entidades empresariais, consultores e a comunidade acadêmica. Ficou 16 | Classe Mundial 2006 Acervo PQU A abertura da economia estabelecido, por decreto, que 1991 seria o Ano Nacional da Qualidade e Produtividade. “O papel do governo, naquele momento, foi de estimular, mas a iniciativa foi das empresas”, entende Dorothea Werneck, secretária Nacional de Economia à época e uma entusiasta da causa. “Foi uma mobilização excepcional, um dos períodos mais ricos nos meus 27 anos de serviço público”, completa ela, hoje aposentada e vivendo no Uruguai. Crédito deve ser dado à atuação de Antônio Santos Maciel Neto que, como secretário do Ministério de Indústria e Comércio e Turismo e coordenador da implantação do PBQP, de 1990 a 1993, fez muito pela causa. “O Maciel era o técnico, e eu, a entusiasta”, confirma a ex-secretária, referindo-se ao atual presidente da Suzano Papel e Celulose. Segundo Dorothea, que prefere usar o termo “movimento” em vez de “programa”, quando se refere ao PBQP, alguns empresários foram pegos de surpresa com as exigências iniciais. “O próprio Albano Franco, que dirigia a Confederação Nacional da Indústria (CNI), me perguntou: ‘Vem cá, o que é esse negócio de qualidade?’ Mas, no ano seguinte, os empresários já haviam criado o primeiro prêmio”, relembra a também ex-ministra do Trabalho, citando o PNQ. “São vários casos que, hoje, olhando para trás, me deixam emocionada.” Na avaliação de Dorothea Werneck, em termos de qualidade, o principal foi feito no Brasil. “Na parte das empresas, o dever foi cumprido. A FNQ assumiu o desafio de conduzir a ação no setor privado e, aliás, precisa do governo cada vez menos”, comenta. O necessário, agora, é investir no ajuste de alguns pontos falhos. “O Brasil está atrasado em termos de competitividade”, decreta. Para ela, dois aspectos não deixam o País deslanchar nesse campo, além de afugentar investimentos estrangeiros: a burocracia, na figura de papeladas e outras exigências que atrasam todos os processos; e a carga tributária. “O papel do governo é muito mais de coordenação. A realidade da qualidade ocorre dentro da empresa”, defende Lourival Carmo Monaco, integrante da equipe do secretário Vargas e, depois, um dos formuladores do PBQP e presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Hoje, Monaco atua no Consórcio Municípios Produtivos Saudáveis, projeto da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, em parceria com a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O objetivo é criar um ambiente de produção com qualidade”, resume ele, frisando que, só em território paulista, há 250 mil pequenas propriedades rurais. Carga tributária: preocupação do setor produtivo Não é só a ex-ministra Dorothea Werneck que se preocupa com a alta carga tributária no Brasil. O tema faz parte da agenda nacional, já há algum tempo, e tira o sono de quem produz. No final de outubro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou sua Sondagem Industrial do 3º Trimestre, feita com pequenas, médias e grandes empresas em todo o País. De longe, a alta carga tributária brasileira garantiu o primeiro lugar das preocupações, com 71% para pequenos e médios empreendedores e 70% para grandes empresários. Tal fator, segundo a pesquisa, barra o desenvolvimento de negócios e o incremento de produção e vendas. Enquanto na China a carga tributária equivale a cerca de 17% do Produto Interno Bruto (PIB), aqui, segundo o IBPT, ela gira em torno de 38%. O estudo Doing Business in 2007, divulgado em setembro pelo Banco Mundial (Bird) com base em dados de 2005, coloca o Brasil na 121ª posição, apenas uma acima em relação ao ranking do ano anterior. Isso se deve, segundo o Bird, à carência de reformas para melhorar o ambiente de negócios – o Brasil só foi adiante quanto ao cumprimento de contratos. No quesito Começando um Negócio, registrou-se um prazo médio de 152 dias para se iniciar um empreendimento. No também emergente México, por exemplo, esse período é de 27 dias. Outro dado revelador da nossa realidade está no campo tributário. Uma empresa de porte médio perde, por ano, 2.600 horas só com impostos, o que inclui encargos administrativos, para além do pagamento propriamente dito. Estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) aponta que as empresas nacionais gastam perto de R$ 20 bilhões por ano, só para atender à burocracia exigida pelas autoridades fiscais no pagamento de mais de 60 impostos, taxas e contribuições à União, aos Estados e municípios. Na opinião de Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial, o estudo aponta que, em muitas economias, o custo de se fazer negócio é tão proibitivo que vários empreendedores são forçados a operar fora da economia formal. Acervo Honda Burocracia emperra a economia Linha de montagem da Honda Classe Mundial 2006 | 17 Acervo FNQ Cerimônia de entrega do PNQ 2000, ainda como FPNQ Anos 90: O PNQ e a década da Excelência em Gestão Com a abertura da economia e a criação do PBQP, acelera-se a necessidade da criação de uma entidade que mobilizasse as empresas rumo à Excelência em Gestão fora da esfera governamental. Era início dos anos 90 e o grupo de estudos que se reunia na Amcham em São Paulo aprofundava os estudos das transformações globais. Ao saber dessas reuniões, o PBQP convidou o grupo para fazer parte do novo programa. Foi dessa união de esforços que, em 11 de outubro de 1991, 39 organizações privadas e públicas instituíram, em São Paulo, a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ), dando início a uma das mais bem sucedidas iniciativas do PBQP. O objetivo inicial da FPNQ era administrar o Prêmio Nacional da Qualidade® (PNQ) e todas as atividades relacionadas à premiação, além de representar institucionalmente o PNQ nos fóruns internacionais. E, claro, disseminar fundamentos da Excelência para o aumento da competitividade das organizações e do Brasil. Se a adoção dos critérios da ISO 9000 trouxe otimização dos processos de gestão para as empresas e melhoria dos resultados globais para os clientes, com o PNQ era possível abranger outras partes interessadas, tais como acionistas, fornecedores, colaboradores e a sociedade. O primeiro ciclo de premiação da FNQ, em 1992, seguiu o modelo norte-americano Malcolm Baldrige National Quality Award (MBNQA). O japonês Deming Prize e outros prêmios foram considerados. A preferência pelo modelo dos Estados Unidos se deu porque estabelecia critérios de avaliação sem prescrever metodologias e ferramentas de gestão. “A partir de 1993, os critérios continuaram alinhados com o prêmio 18 | Classe Mundial 2006 norte-americano, mas alguns requisitos foram introduzidos”, lembra Dalton Oswaldo Buccelli. Outra mudança, “radical”, nas palavras dele, ocorreu em 1995. “Por influência dos europeus, a questão dos resultados passou a ser entendida de forma global dentro da empresa, e não apenas do ponto de vista da satisfação do cliente”. Em 2000, nova alteração. “Criamos um modelo próprio”, comenta Buccelli, dando como exemplo de diferencial o critério Sociedade. “Ele estava embaixo do critério Liderança. Aliás, nos Estados Unidos ainda é assim”, compara ele, lembrando que, apesar das ondas de conhecimento, os fundamentos nunca saem de moda. “Eles apenas se reciclam.” Hoje, resume Buccelli, o PNQ é uma “mescla” baseada no Prêmio Baldrige, mas com influências de outros prêmios, como o Quality European Prize (QEP), o Canada Awards for Excellence (CAE), o Premio Iberoamericano de la Calidad (Espanha) e o Premio Nacional de Calidad (México), entre outros. O grande fator distintivo do PNQ, ressalta, é o rigor. “A empresa que ganha o nosso prêmio ganharia até o norte-americano”, opina. especial Regionalização e setorização Paralelamente ao desenvolvimento e à consolidação do PNQ, surgiram premiações setoriais, estaduais e regionais, que hoje somam 52 e formam a Rede Nacional da Gestão Rumo à Excelência. Merece destaque o pioneiro Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP), que começou a ser estruturado em 1992 e foi lançado quatro anos depois. Considerado um benchmarking nacional e mesmo internacional, o PGQP vem auxiliando empresas locais a aperfeiçoar seus processos continuamente. Alguns dados relativos às organizações gaúchas chamam a atenção. Em 2003, as duas premiadas no PNQ eram do Estado: a Dana Albarus – Divisão de Cardans em Gravataí (categoria Grandes Empresas) e o Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum (categoria Médias Empresas). Um ano antes, a Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre foi a primeira entidade a levar o PNQ na categoria Organizações Sem Fins Lucrativos. Outra empresa gaúcha ganhou ainda mais destaque no ano. A Gerdau Aços Especiais Piratini, do Grupo Gerdau, que faturou o PNQ em 2002 (categoria Grandes Empresas), foi apontada em estudo da Fundação Dom Cabral como a organização brasileira mais internacionalizada. Em uma escala de zero a sete, que se refere aos sete critérios de internacionalização (como percentual de receita com vendas externas, ativos no exterior e porcentagem de funcionários lá fora), a Gerdau ficou no patamar 4,223. Vale frisar também que o Grupo Gerdau teve no seu comando, desde 1983, Jorge Gerdau Johannpeter, tido como o maior incentivador dos programas regionais de Excelência em Gestão, a começar do PGQP, do qual é fundador. Mobilizou a criação também do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) voltada ao estímulo e ao fomento do desenvolvimento da sociedade brasileira. Entre as premiações setoriais, uma ganha destaque por sua importância estratégica: o Prêmio Qualidade do Governo Federal (PQGF), instituído em 1998 dentro do Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP). Em 2003, o PQGF manteve a sigla, mas passou a se chamar Prêmio Nacional de Gestão Pública. É aberto a todas as organizações públicas, e não apenas àquelas ligadas ao Poder Executivo. O objetivo é reconhecer instituições que, além de apresentar bom desempenho, sigam práticas de Excelência em Gestão. “Acho que os grandes problemas que nós temos nas áreas pública e privada estão ligados à questão da gestão”, opina Dalton Oswaldo Buccelli, juiz do prêmio federal desde 1995. Para ele, escândalos como os do Mensalão, dos Vampiros e da Máfia das Sanguessugas são reflexo da falta de um modelo de gestão que possibilite um controle disso. O Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (Gespública) foi instituído por decreto, em fevereiro de 2005. A idéia é melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados ao cidadão e, ao mesmo tempo, aumentar a competitividade do País, por meio da administração pública profissional. Antonio Tadeu Pagliuso, superintendente-geral da FNQ, endossa o ponto de vista de que é Tricampeã vence duplo desafio do setor de serviços A Serasa foi a primeira empresa de origem totalmente brasileira a conquistar, em 1995, o Prêmio Nacional da Qualidade®. No ano 2000, após o intervalo de cinco anos exigido pelas regras do PNQ da época, a Serasa tornou-se a primeira organização a recebê-lo pela segunda vez. Em 2005, faturou o PNQ de novo. Agora, em 2006, conquistou pela segunda vez o Prêmio Ibero-americano, consolidando o seu trabalho de Excelência em Gestão. Maior empresa da América Latina em pesquisas, informações e análises econômico-financeiras para apoiar decisões de crédito e negócios, a Serasa é referência mundial no assunto. Com um detalhe: reconhecidamente, a implementação de programas de Excelência em Gestão no setor de serviços é muito mais complexa, já que envolve fatores intangíveis. Sem falar, também, que a busca pela qualidade é bem anterior no setor industrial. Ou seja, este tem mais tradição nesse aspecto. A primeira empresa vencedora do PNQ na categoria Prestadoras de Serviços foi o Citibank – Unidade Global Consumer Bank, em 1994. Classe Mundial 2006 | 19 Responsabilidade social e especial sustentabilidade preciso olhar a gestão pública de maneira, por assim dizer, corporativa. “No governo, de forma geral, não há indicadores, metas e planos de ação que permitam o acompanhamento e a avaliação da gestão de forma transparente para a sociedade”, afirma. Embora reconheça que há um esforço no ambiente do Gespública, falta, na visão de Pagliuso, um movimento amplo da administração pública como um todo. “Para mim, um governante é um CEO, e tem que seguir um plano estratégico com metas e plano de ação.” No entender de Paulo Daniel Barreto Lima, coordenador do PQGF, o problema está na complexidade do gerar valor público. “O estímulo no setor privado é mais concreto. Você consegue repartir resultado”, argumenta. Além disso, segundo ele, “uma coisa é a questão da qualidade nas grandes organizações privadas”. Ou seja: a Excelência em Gestão ainda não pegou nas médias e pequenas empresas para valer. “Isso leva um determinado tempo. A gente precisa de um ganho de escala”, avalia Lima, que defende uma parceria maior entre as esferas pública e privada. Por outro lado, ele destaca que o Gespública tem como meta formar, até 2012, uma rede de multiplicadores da Excelência em Gestão Pública em 1.500 municípios, a partir de 26 núcleos estaduais, e reciclá-los a cada dois anos. “A idéia é passar tecnologia de gestão para o município administrar recursos, tocar projetos e dar resultados para o cidadão.” Parcerias estratégicas A fim de cumprir sua missão de disseminar os Fundamentos da Excelência em Gestão para organizações de todos os setores e portes, a FNQ tem feito parcerias diversas. Uma delas, com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), foca a implementação de um sistema de gestão voltado à conquista de resultados entre as MPEs. “A idéia é entregar ferramentas, metodologias e conhecimentos para o empreendedor solidificar seu negócio”, resume Antonio Tadeu Pagliuso. Segundo ele, essa idéia desdobra-se em duas metas principais: baixar o índice de mortalidade das empresas (hoje, segundo o Sebrae, 49,4% das organizações fecham suas portas antes de completar dois anos de existência) e torná-las mais competitivas – inclusive para exportar. Disseminar e multiplicar a Excelência em Gestão : desafio para o futuro 20 | Classe Mundial 2006 Acervo FNQ Outra medida tomada pela FNQ, em parceria com o Sebrae e o MBC, foi a instituição do Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas. O ciclo de premiação permite a todas as organizações Não se pode deixar de destacar também a introdução, em 2002, do Fundamento Responsabilidade Social (RS) no PNQ. Jorge Emanuel Reis Cajazeira, ex-coordenador do Comitê Temático de Gestão dos Ativos Intangíveis na FNQ, analisou o tema em sua tese de mestrado na FGV-EAESP. “Estudos demonstravam a associação entre as empresas Classe Mundial e o sucesso financeiro dessas organizações. Faltava um elo demonstrando, empiricamente, a associação entre os Modelos de Excelência e os critérios de performance socioambientais”, explica ele. Com base nos dados analisados, diz Cajazeira, foi possível inferir que a Responsabilidade Social nas empresas Classe Mundial no Brasil está alinhada com os objetivos da RS, não caracterizando um discurso efêmero para abrilhantar o mito da Excelência. O Fundamento Responsabilidade Social da FNQ ensina que a organização de excelência busca o desenvolvimento sustentável, identifica os impactos na sociedade que possam decorrer de suas instalações, processos e produtos, e executa ações preventivas para eliminá-los ou minimizá-los. E conclui: “A responsabilidade social potencializa a credibilidade e o reconhecimento público, aumentando o valor da organização”. observar casos e boas práticas para a sobrevivência no mercado. Em tempo, o Movimento Brasil Competitivo congrega as funções do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) e do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP). Seu objetivo principal é viabilizar projetos que visam aumentar a competitividade das organizações e a qualidade de vida da população. “As organizações têm que entender que não estão sozinhas no seu meio. Trata-se de uma rede muito mais ampla do que a cadeia produtiva”, defende Pagliuso. “A organização é um sistema vivo. É preciso integrar para gerir, e não manter setores isolados. Todos os elos da rede são dinâmicos”, conclui.