Português - Hiv Vereniging Nederland
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Vida português indice Introdução 1 ‘Você tem HIV’. 2 A doença 3 O hospital 4 O tratamento Entrevistas: 5 7 14 martha ‘Na Etiópia, o médico trata deste assunto de outra maneira’. 18 21 27 37 miguel ‘Nunca me sobra tempo’. 41 5 Religião, rituais cerimoniais e tratamentos naturais alternativos 6 Sexualidade 46 53 patricia ‘O apoio da minha família é muito importante para mim’. 7 Filhos e desejo de ter filhos 57 8 Drogas 62 63 michael ‘Talvez eu encontre uma garota holandesa que não tenha problema com o meu HIV’. 9 Trabalho 67 10 Seguros e assuntos financeiros 68 11 Viagem ao exterior 72 75 sylvia ‘O HIV não é o fim da vida, mas o início de uma nova viagem’. 12 O Hiv Vereniging 79 13 Outras organizações 84 85 boris ‘Mesmo que você seja cem por cento heterossexual, você pode contrair o HIV’. 14 HIV em síntese 91 93 bert ‘Eu acho que sem o HIV, eu não estaria tão bem como agora’. Colofão 96 Você acabou de saber que é HIV positivo. Iso pode lhe abalar muito. Mas também é possível que você reaja com mais calma. Este folheto lhe pode ajudar na sua vida com HIV. português sua vida 2 com hiv 3 prefácio Este folheto é uma publicação do Hiv Vereniging Nederland e está disponível em holandês e em mais quatro idiomas. As versões em inglês e francês são destinadas a informar as pessoas provenientes da África que vivem na Holanda. As versões em espanhol e português são destinadas a informar as pessoas provenientes da América do Sul que vivem na Holanda. A linguagem utilizada neste folheto é a linguagem que é utilizada nestas regiões do mundo. Na composição do texto, o Hiv Vereniging obteve a ajuda de pessoas com HIV que originariamente são provenientes destas regiões do mundo. A informação contida aqui é, evidentemente, também interessante para pessoas provenientes de outras regiões do mundo. Existe também o folheto ‘Optar pela terapia combinada?’, o qual consiste integralmente de informações sobre a doença e o seu tratamento, e também está disponível em holandês, inglês, francês, espanhol e português. Se desejar receber um exemplar deste folheto, ligue para o Servicepunt do Hiv Vereniging Nederland. O telefone é 020 689 25 77, e você pode ligar nos dias úteis entre 14:00 e 22:00. O texto de ambos os folhetos também estarão disponíveis no website www.hivnet.org. Existem grupos destinados às pessoas com HIV, que são provenientes da África e América do Sul: PAMA, SidáVida e Afapac. Mais informações sobre estes grupos encontra-se no capítulo 12 e 13. As versão em português deste folheto foi possível através do apoio financeiro da empresa Boehringer Ingelheim. 4 Introdução Se você acabou de saber que é HIV positivo, pode ser uma situação horrível para você. Talvez você esteja totalmente depressivo. Mas também é possível que você reaja com mais tranquilidade. Este folheto pode ajudá-lo a retomar a sua vida. O primeiro capítulo deste folheto descreve o que pode vir à sua cabeça no início. Os capítulos dois, três e quatro contêm informações sobre a doença, sobre o hospital, e sobre o tratamento com os anti-retrovirais. O capítulo cinco refere-se às religiões, cerimoniais e tratamentos naturais alternativos. Nos capítulos seguintes, são abordados assuntos que, devido à presença do HIV na sua vida, possam ter sofrido alterações: sexualidade, filhos, drogas, trabalho, seguro de saúde, finanças, e viagens ao exterior. Os capítulos doze e treze refere-se ao Hiv Vereniging e outras organizações que estão relacionadas com o HIV. O último capítulo contém uma síntese do significado dos termos mais importantes. Isto agiliza a procura da informação desejada. Além disso, sete pessoas com HIV contam a sua história: como eles enfrentam o HIV em suas vidas? Todas as sete pessoas moram na Holanda, mas cinco delas nasceram em outro país. Este folheto contém muitas informações. Se você tem mais perguntas, basta telefonar ou enviar um email ao Servicepunt do Hiv Vereniging. Se desejar, não precisa dar o seu nome. Você pode fazer perguntas sobre todos os assuntos contidos neste folheto aos funcionários do Servicepunt. Eles podem, através do telefone ou email, lhe dar mais informações, lhe assessorar, ou enviar-lhe um folheto com mais informações sobre um assunto específico. Além disso, você pode ligar para o Servicepunt se desejar ter uma conversa telefônica com alguém que também seja HIV positivo. O Servicepunt lhe informa também sobre grupos de conversa para pessoas com HIV, e como você pode marcar um encontro para conversar com uma pessoa que também seja HIV positivo. As informações neste folheto datam de junho de 2004, porém elas podem alterar-se rapidamente. Para saber se desde abril 5 de 2004 alguns assuntos importantes sofreram modificações, você pode olhar no www.hivnet.org, ou ligar ou enviar um email ao Servicepunt do Hiv Vereniging. O Hiv Vereniging cuida dos interesses das pessoas com HIV. Quanto mais membros o Hiv Vereniging possuir, melhor ele poderá exercer o seu trabalho. Se você tornar-se membro, receberá periodicamente a revista Hivnieuws. Assim você estará sempre a par das informações mais atuais, e das atividades que podem ser interessantes para você. Você pode tornar-se membro do Hiv Vereniging através do cartão de resposta incluído neste folheto. Se não tiver o cartão de resposta, ligue para o Servicepunt do Hiv Vereniging. Servicepunt Hiv Vereniging Nederland 020 689 2577 (dias úteis das 14.00 às 22.00) [email protected] Hiv Vereniging Nederland Eerste Helmersstraat 17 1054 CX Amsterdam Postbus 15847 1001 NH Amsterdam 020 6 160 160 fax 020 616 1200 [email protected] www.hivnet.org e www.jongpositief.nl 6 1 ‘Você tem HIV’ Você acabou de saber que tem HIV. Cada um reage de uma maneira. Para um, esta é uma notícia terrível. Um outro pode reagir tranquilamente. Uma pessoa reage imediatamente, e uma outra pode reagir bem mais tarde. Faz diferença, por exemplo: –> se você recebe o resultado através do seu médico, que você talvez já conheça há muito tempo, ou através de alguém que você quase não conhece; –> se você se sente saudável, ou se você há pouco tempo ficou muito doente; –> se você já decidiu há muito tempo em fazer o teste, ou se você recebeu inesperadamente a notícia de que tem HIV; –> se você já esperava que o resultado fosse ‘HIV positivo’, ou se você não contava com este resultado; –> se você conhece pessoas que também têm HIV. E isso é simplesmente diferente para cada pessoa. Todo tipo de pensamentos e sentimentos podem vir à tona: você se sente em choque, você se sente confuso, você deseja continuar a viver, você fica com raiva, você fica com medo de morrer, você fica com medo de ficar doente, você se sente inseguro, você fica desesperado, você se sente sujo, você se sente triste, você fica completamente surpreso, você prefere morrer imediatamente, você não quer nem pensar nisso, você se sente culpado, você se sente sombrio, você se sente envergonhado, você acha que o seu próprio sangue, esperma ou fluido vaginal é venenoso, você simplesmente não acredita, você simplesmente não sabe mais o que fazer. No entanto, pode ser que você reaja de forma positiva. Você pode se sentir aliviado. Ou mais forte. Talvez irá gostar mais de você mesmo e se cuidar melhor. Talvez seja melhor no início não ficar muito tempo sozinho, e ir encontrar pessoas. Se tiver perguntas, é melhor escrevê-las, para que possa discuti-las com seu médico na próxima consulta. Você pode também marcar novamente uma consulta com quem lhe deu o resultado de que é HIV positivo. Se você fez 7 o teste no GGD (Gemeentelijke Gezondheids Dienst - Serviço Municipal de Saúde), você pode marcar uma consulta com uma enfermeira social que trabalha lá. Neste folheto você encontra informações sobre todas as organizações que podem lhe ajudar na sua vida com HIV. Porém, elas não vêm até você. Você mesmo precisa procurá-las para receber ajuda. Vivendo com incertezas Ser HIV positivo significa viver com incerteza. Desde 1996 existem medicamentos, os anti-retrovirais, que têm obtido bons resultados com pessoas com HIV. Antes desta data, os HIV positivos, após um período de tempo, desenvolviam a AIDS e morriam. Atualmente, para muitas pessoas, o HIV é uma doença que não mata. Você não se livra dela, mas é possível viver muitos anos com uma vida saudável. Mesmo assim, viver com HIV significa viver com incertezas. Incerteza: –> se você conseguirá seguir vivendo normalmente –> sobre a sua saúde –> sobre se você vai começar a tomar os comprimidos e quando –> se os comprimidos vão fazer efeito em você –> sobre os efeitos colaterais que podem ocorrer –> sobre por quanto tempo continuará vivendo –> sobre como as pessoas irão reagir sobre o seu HIV –> sobre o seu relacionamento –> sobre sexualidade –> sobre o risco de outros contraírem HIV através de você –> sobre os seus filhos ou desejo de ter filhos –> sobre o seu trabalho –> sobre o seu dinheiro Você mesmo encontrará a sua própria maneira de viver com esta incerteza. Você poderá ler neste folheto, como cinco pessoas se sentiram no momento em que souberam do resultado ‘HIV positivo’, como eles enfrentaram a situação, e como eles concederam um lugar ao HIV em suas vidas. Talvez lhe seja útil. Contar ou não? Para quem você vai contar que é HIV positivo? Quando você vai contar? Também aqui cada um decide à sua maneira. Para quem você irá contar? –> ao seu companheiro(a) 8 –> –> –> –> –> –> –> –> –> –> –> –> ao seu ex-companheiro(a) aos seus filhos aos seus familiares aos seus amigos ao seu chefe aos seus companheiros de trabalho aos seus vizinhos à sua babá aos seus conhecidos ao seu médico de família ao seu dentista etcetera Há pessoas que rapidamente conversam com outras pessoas sobre isso, enquanto outros não contam para ninguém. Tudo é possível. Alguns vão devagar e contam primeiro a alguém que eles confiam e de quem esperam um apoio. Outros conversam com a sua família e amigos sobre isso, mas não contam, por exemplo, aos colegas no trabalho e aos vizinhos. Pode lhe fazer bem se você puder conversar sobre o seu HIV com alguém que você confia. Você pode então pedir apoio a ele ou ela, e pode assim contar a ele ou ela a sua história. A quem contar sobre o seu HIV? Quais os assuntos que passam pela sua cabeça? –> Como você acha que alguém irá reagir? Espera desta pessoa um apoio, ou uma reação desagradável? –> Tem medo que alguém vá contar aos outros? –> Esta pessoa tem consideração por você? Ou ela tem tanto medo de HIV que você não receberá nenhuma atenção? –> Tentará contar de maneira que a pessoa aceite o fato com mais facilidade? –> Tem medo que alguém faça um drama se você o contar? –> Sente-se tenso se você não conversa sobre o seu HIV? Ou, ao contrário, sente-se tenso se conversa sobre o seu HIV? –> Tem medo de perder o seu emprego? –> Você teve talvez relações sexuais sem proteção com alguém? Conta-o a esta pessoa, ou não? –> Tem medo de perder alguém se você lhe contar sobre o seu HIV? Ou não se sente bem se não lhe contar sobre isso? –> Quer contar sozinho, ou traz alguém com você? 9 Você não precisa contar a ninguém que você é HIV positivo. Nada é obrigatório. Também não é preciso contar ao seu médico de família, dentista, especialista ou médico da empresa. Se você tem queixas relacionadas com a sua saúde, pode ser bom contar ao seu médico que você é HIV positivo, porque o HIV pode desempenhar um papel nestas queixas. Todos os médicos exercem o sigilo profissional. Eles não podem contar a outras pessoas que você tem HIV. 10 Lucia Chris Eric Martha ‘Na Etiópia, o médico trata deste assunto de outra maneira’. Marta (32) veio há dez anos atrás da Etiópia para a Holanda. ‘Há cinco anos atrás soube da minha doença. Me faz bem contar a minha história uma vez. A minha dor de barriga torna-se um pouco menor ao contá-la. Eu vivia na Etiópia com a minha avó. A nossa família é cristã-ortodoxa, e alguns dos meus familiares são ativos na política. O meu irmão foi preso pelo governo. Para mim também poderia haver problemas. Eu tive então que deixar o país para evitar problemas. Eu nunca tinha estado fora do meu país. Eu tinha aprendido um pouco de inglês na escola. A minha avó pagou a viagem e contactou uma pessoa que organizou toda a minha viagem e me acompanhou. Eu viajei da Etiópia para a Europa de avião. Não sei em que país o avião pousou. Depois viajei uma distância enorme de ônibus, e finalmente cheguei em Amsterdã. O meu guia me levou à polícia e rapidamente sumiu. Eu não tinha mais o meu passaporte. A polícia me transferiu então para um centro de refugiados. Eu me sentia muito triste e solitária no centro de refugiados. Eu vinha de um país quente, onde eu vivia com minha família. A Holanda é um país frio e húmido e eu não conhecia ninguém. Eu fui severamente interrogada pela polícia. Isso eu achei assustador, porque eu fugi da Etiópia exatamente porque estava com medo da polícia. No centro de refugiados, fiz testes de HIV e de doenças sexualmente transmissíveis. Eu estava saudável. Na 14 Holanda me envolvi com um homem da Etiópia. Nós estávamos muito apaixonados e nos casamos. Depois de um ano engravidei e descobri que estava com hepatite B. Recebi medicamentos que me ajudaram. Há cinco anos atrás fiquei doente. Eu tinha coceira e dor de cabeça freqüente. Primeiro fui examinada pelo meu médico, e depois pelo hospital. No espaço de duas semanas, fui três vezes ao laboratório para fazer exames. Depois fui novamente ao meu médico. Ele disse: ‘Você tem AIDS.’ Somente na segunda vez que ele disse que eu caí em mim. Eu fiquei muito abalada e chorei. Depois conversei com o enfermeiro de HIV. Eu me sentia extremamente desolada. Não tinha vontade de comer nem de beber. Eu me sentia quase morrendo. Não tenho a menor idéia como eu contraí o HIV. Até aquela época nunca tinha tido outro homem além do meu companheiro. Ele também fez o teste de HIV e resultou negativo. Eu estava com medo de que o meu filho também tivesse HIV. Felizmente ele não tinha nada. Meu marido me traiu várias vezes e se apaixonou por uma outra mulher. Desde então, ele não é mais carinhoso comigo. Ele usa o meu dinheiro e me recrimina. Dói saber que ele quer se separar de mim. Eu tento esquecê-lo, mas eu ainda continuo apaixonada por ele. Não me pergunte porque. Eu me mudei para uma outra casa. Além de meu novo parceiro, ninguém mais sabe da minha doença. Se eu contar às pessoas vindas da Etiópia sobre a minha doença, ninguém irá mais tomar café comigo. Se você diz que tem HIV, as pessoas não o aceitam. E elas vão ficar com medo de contrair HIV através de mim. Todos têm medo da doença, e ninguém faz o teste. O meu filho tem sete anos. É um belo menino. Ele não sabe que tenho HIV. Ele é muito jovem para isso e eu não quero sobrecarregá-lo. Mas eu tomo os meus comprimidos na sua presença. Ele não sabe para que eles servem, mas ele sabe que sem eles eu não posso viver. Às vezes ele me acorda de manhã e diz: ‘Mamãe, mamãe, os seus com15 primidos!’. O meu filho é tudo para mim. Se eu tenho dor ou estou doente, eu penso logo: ‘Quem irá cuidar do meu filho quando eu não puder?’. O médico que eu vou por causa da minha doença é amável e simpático. Isso eu acho importante. A primeira vez que eu estive com ele, achei tudo muito difícil. Na Etiópia, o médico trata deste assunto de outra maneira. Lá os médicos contam para as outras pessoas que você tem HIV. Não existe segredo médico. Somente quando você fica muito doente é que o médico lhe conta. Na Holanda o médico logo expõe o problema. Eu preciso me acostumar com isso. Também não é fácil para mim entender e falar holandês. Há quatro anos tomo os comprimidos para HIV duas vezes por dia. No começo achei muito difícil. Eu tenho problemas em engolir comprimidos. É difícil para mim engoli-los. Na primeira vez achei, que era melhor morrer. Agora já estou acostumada e não me dão mais trabalho. Só me dão problemas se como ou bebo pouco. Se eu recebo novos comprimidos, eu peço à minha assistente social para ler a bula para mim. Eu perguntei ao médico na última consulta se eu podia tomar menos comprimidos, porque agora tudo está bem comigo. A minha quantidade de HIV está indetectável. Ele diz que é melhor eu continuar tomando os comprimidos. Segundo ele, é exatamente por causa dos comprimidos que está tudo bem comigo. Atualmente, o HIV me incomoda muito pouco. Eu só ando um pouco esquecida. Deve ser por causa do HIV. Eu vou regularmente, nas sextas-feiras de manhã, ao grupo de conversa para mulheres com HIV. Eu gosto muito. As pessoas sem HIV também têm problemas, mas nós temos um problema extra. Nós conversamos sobre tudo: sobre os comprimidos, sobre os homens e assim por diante. Eu não quero viver mais na Etiópia. É um país muito bonito, mas é muito perigoso. Ninguém tem respeito por mim sendo soropositiva. Dinheiro é muito importante lá. Se você não tem dinheiro, não recebe os comprimidos contra o HIV. O esclarecimento sobre HIV e AIDS é ruim. 16 Há seis meses atrás soube que o meu irmão na Etiópia também é HIV positivo. Os medicamentos custam lá cem euros por mês. Isso ele não pode pagar. Ele tem mulher e duas crianças pequenas. Eu me preocupo com ele. Ele não sabe da minha doença. Eu não quero sobrecarregá-lo com problemas. Há pouco tempo veio uma amiga etíope me visitar. Ela dormiu algumas noites na minha casa. Ela viu os meus comprimidos, porque eu os conservo na geladeira. Ela começou a chorar e disse: ‘Eu tenho o mesmo que você’. Foi bonito poder dividir isso entre nós. Ela me disse que não aceitava o fato de ser soropositiva. Eu disse a ela: ‘Você não precisa ficar com raiva. A vida é muita curta para isso. Você precisa viver com o sangue que você tem agora. E agora o HIV faz parte dele. Ela se preocupava principalmente com o futuro. Eu lhe disse que sou positiva sobre o futuro. ‘Talvez surja um medicamento que nos cure’. 17 2 A doença O HIV é um vírus que faz você ficar doente mais rápido. O HIV faz com que o seu sistema de defesa contra as doenças fique debilitado. Torna-se mais difícil ao seu sistema de defesa lutar contra algumas doenças. Você então contrai doenças que pessoas HIV negativas não contraem. HIV é uma abreviação. HIV significa Vírus da Imunodeficiência Humana (Human Immunodeficiency Virus em inglês). Isto significa que o HIV é um vírus que enfraquece o sistema imunológico das pessoas. Anticorpos Se você contrai um vírus, o seu organismo fabrica anticorpos para lhe proteger. Estes anticorpos permanecem, na maioria das vezes, durante toda a sua vida no seu sangue. Ao fazer um exame de sangue, torna-se evidente se você tem anticorpos. Assim você sabe se teve uma determinada doença. O seu sistema de defesa é mais forte do que a maioria das doenças, e por isso você se cura de uma gripe. Também no caso do HIV, o seu organismo fabricou anticorpos contra o vírus HIV. O teste de HIV determinou que estes anticorpos estavam presentes no seu sangue. Você é, portanto, ‘HIV positivo’, ou também denominado ‘soropositivo’. Os anticorpos HIV do seu sangue, infelizmente, não vencem o vírus HIV. O vírus HIV, também chamado de vírus da AIDS, permanece então no seu organismo. Após um período de tempo, o vírus vence a batalha. HIV recém contraído Se você acabou de contrair HIV, o seu sistema imunológico ainda não sabe o que fazer. Este período chama-se infecção aguda ou primária. O HIV pode afetar o seu sistema de defesa sem que o seu sistema de defesa reaja contra ele. O seu sistema de defesa precisa de tempo para aprender isso. Ele torna-se rapidamente debilitado e você pode ficar doente. Os sintomas mais comuns são uma espécie de gripe e gânglios linfáticos inchados. Uma pessoa pode ficar muito doente logo após ser infectado pelo HIV, enquanto uma outra pessoa pode não sentir nada. 18 luta contra o vírus Em pouco tempo, o seu sistema de defesa aprende a combater o vírus HIV. As células com HIV são destruídas pelo seu sistema de defesa, e o seu organismo produz anticorpos, que previnem que o vírus HIV infecte outras células. O seu sistema de defesa torna-se mais forte, a doença que talvez você tivesse desaparece, e você começa a se sentir melhor. Porém, o HIV é quase sempre mais forte do que o seu sistema de defesa. O resultado é que o seu sistema de defesa, após um período de tempo, novamente se torna debilitado. Você torna-se mais susceptível a todo tipo de doenças. A forma como isso ocorre varia de pessoa para pessoa. Uma pessoa tem HIV há anos e se sente saudável, uma outra fica rapidamente doente. AIDS Se você tem HIV, não significa que também tem AIDS. Você tem AIDS somente se o vírus HIV debilita tanto o seu sistema de defesa que você contrai alguma doença que as pessoas sem HIV nunca contraem. Tal doença chama-se infecção oportunista. Ela surge porque uma infecção, que o seu sistema de defesa normalmente cura, agora o ataca porque o seu sistema de defesa está debilitado. Você pode até mesmo morrer por causa dessas doenças. Um exemplo dessas doenças é um determinado tipo de pneumonia (PCP). Você pode também contrair um determinado tipo de câncer, por exemplo, Sarcoma de Kaposi. AIDS é uma abreviação. Significa Acquired Immuno Deficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Estas quatro palavras significam ‘adquirida’, ‘sistema de defesa’, ‘deficiência’, ‘conjunto de doenças’. AIDS é, portanto, uma doença que você contrai, e que o seu sistema de defesa não pode se defender. Por isso, você pode contrair todo tipo de doenças. anti-retrovirais Desde 1996 existem cada vez mais medicamentos, os antiretrovirais, que têm bons resultados em muitas pessoas HIV positivas. Como o tratamento de HIV consiste de uma combinação de vários medicamentos anti-retrovirais, o tratamento também é chamado de coquetel ou terapia combinada. Se você espera muito tempo para tomar os comprimidos, a chance de que você fique doente no futuro é muito grande. O espaço de tempo entre o momento que você contrai o HIV até a AIDS se 19 desenvolver varia entre alguns meses até mais de 10 anos. Se você num determinado momento começar a tomar os comprimidos, então a chance é grande de que você fique saudável durante muito tempo. Como o uso dos anti-retrovirais começou em 1996, ninguém pode garantir que eles evitarão que você nunca tenha AIDS. Para cada pessoa, a doença se desenvolve de uma maneira diferente. Você pode, no entanto, cuidar para que não desenvolva a AIDS: se você tomar os comprimidos contra o HIV sempre nas horas certas, a chance da AIDS se desenvolver torna-se a menor possível. É necessário tomar alguns comprimidos com ou sem alimentos. Se o médico lhe disse que esse é o caso dos seus comprimidos, é importante então seguir a prescrição dele à risca. Queixas físicas e sintomas de doenças Abaixo encontra-se uma lista com as queixas físicas e doenças que você pode ter se você tem HIV. Isto não é para lhe assustar, mas para fazer com que você rapidamente reconheça as queixas. A probabilidade de que você tenha queixas físicas e fique doente, varia de pessoa para pessoa. Se você começa a tomar os comprimidos num determinado momento, você diminui muito a chance de ficar doente. Vá ao médico se você acha que tem algum sintoma. O seu médico pode lhe informar ou talvez lhe tratar. As queixas físicas e doenças mais importantes que você pode ter logo são: –> você se sente cansado ou exausto –> você perde peso –> você tem febre constante (acima de 38º C) –> muitos suores noturnos –> você tem diarréia constante –> gânglios linfáticos inchados no pescoço, axilas e virilha –> erupções brancas, a maioria na boca, garganta ou vagina (candidíase) –> problemas de pele: pele seca, pele escamada, eczema, etc. –> verrugas reincidentes: na vagina ou ânus –> a sua gengiva está muito inflamada –> infecções na sua vagina –> herpes: bolhas cheias de líquido e nevralgias 20 3 O hospital O seu médico de família o encaminha ao hospital. Você pode ir a este hospital para um controle médico. Você não pode ir a qualquer hospital, mas somente a um hospital que tem um centro para tratamento de HIV. Neste hospital existe um setor especial para o tratamento de HIV. Lá você fica sob os cuidados de um médico, um internista, que é especializado em HIV e AIDS; um assim chamado cuidador de AIDS (AIDS-behandelaar). O internista lhe informa sobre o tratamento. Além disso, você pode também no hospital conversar com um enfermeiro. Este também é chamado de enfermeiro de HIV (hiv-verpleegkundige) ou enfermeiro conse-lheiro (verpleegkundig consulent) de HIV e AIDS. Um enfermeiro lhe oferece informações. Ele ou ela o acompanha na sua vida com HIV, e o apoia na ingestão dos comprimidos. Em diversas cidades na Holanda existem hospitais para os quais você pode se dirigir se tem HIV. Você pode até mesmo escolher um hospital e um médico. Tais questões você pode se perguntar: –> Que hospital existe na sua vizinhança? –> Você confia no médico e no enfermeiro? –> Você pode conversar bem com o médico e com o enfermeiro? Contato com os médicos e enfermeiros Se você é estrangeiro, o contato com o seu médico e enfermeiro pode ser difícil. O idioma pode ser um problema. Talvez você não esteja acostumado com os médicos e enfermeiros holandeses. O seu médico e enfermeiro talvez não conheçam os seus antecedentes médicos, e não sabem de que maneira você vive com a sua doença. Idioma É evidentemente importante que você entenda o seu médico e o seu enfermeiro. Também é importante que você possa falar com clareza o que você quer dizer ao seu médico ou enfermeiro. Qual o idioma que você fala com o seu médico e enfermeiro? Você fala holandês? Entende bem o holandês? Há um intérprete na conversa? Ou você leva alguém da família, um 21 amigo ou um conhecido que traduz para você? Você se sente livre para falar sobre tudo se uma outra pessoa estiver junto? O médico ou o enfermeiro fala português? O médico pode se expressar bem neste idioma? O médico entende você? Se o idioma é um obstáculo, tente encontrar uma solução junto com o médico e o enfermeiro. Se você faz como que entendesse tudo, mas não entende, então você é quem vai sair prejudicado. Isto pode ser prejudicial para a sua saúde. Insegurança? Os médicos na Holanda geralmente discutem com o paciente sobre qual é o melhor tratamento. Em outros países, este não é sempre o costume, e o médico geralmente tem mais autoridade. Se o médico lhe faz perguntas ou deixa você tomar decisões junto com ele sobre o tratamento, não é porque ele está inseguro. Esta é a maneira holandesa. Aperto de mãos Na Holanda é um costume o médico (ou o enfermeiro) e o paciente se cumprimentarem dando um aperto de mãos no início da consulta. Isto também é valido se um é homem e o outro uma mulher. Na hora Médicos e enfermeiros acham importante que você chegue na hora. Especialmente os médicos têm pouco tempo para você. Em outros países é geralmente comum que primeiro se converse um pouco. Muitos médicos holandeses não costumam fazer isso. Consulta com o médico e enfermeiro Talvez você não esteja acostumado, mas você pode falar sobre você mesmo com o médico ou enfermeiro. Também é comum, aqui na Holanda, que você faça as suas próprias perguntas e seus comentários. Você não precisa apenas responder as perguntas que os médicos e enfermeiros lhe fazem. Fale sobre o seu outro tratamento Pode ser que você não vá apenas ao médico ou enfermeiro no hospital, mas também que você também siga um outro tratamento, por exemplo, de um homeopata, de um especialista winti, de um assistente hindu ou de um curandeiro 22 tradicional turco ou marroquino. É bom falar sobre isso com o seu médico ou enfermeiro. Eles não vão achar isso estranho, e vocês podem conversar sobre como os tratamentos podem ser combinados. Queixas psíquicas Os médicos holandeses não se preocupam apenas com as queixas físicas, mas também com as queixas psíquicas. Eles consideram que você também pode ficar doente por causa de queixas psíquicas. Para alguns estrangeiros, isto não é usual. Controle médico periódico Muitas pessoas com HIV vão ao hospital a cada três meses, mesmo se não se sentem doentes. Se você vai ao hospital estando com HIV, não significa que você irá receber remédios imediatamente. Isto não significa que o seu médico não leva a sério a sua doença. Às vezes é melhor prorrogar o início da ingestão dos comprimidos. A decisão de iniciar com os comprimidos é tomada tendo-se como base o exame de sangue. Todas as vezes é realizado no hospital um exame especial do seu sangue. Este exame proporciona informações sobre o seu HIV. Com base nestas informações, você pode, junto com o seu médico, tomar a decisão se irá começar a tomar os comprimidos, ou se ainda não é necessário. Se você vai ao hospital e faz um exame de sangue, não significa, portanto, que você vai sempre receber comprimidos. Se você já toma comprimidos contra HIV, então você pode saber através do seu exame de sangue se os comprimidos fazem efeito, ou se é melhor substituí-los por outros comprimidos. Como você vai a cada três meses ao hospital, você não fica durante muito tempo sofrendo incômodos que talvez possam ser tratados. Para muitas pessoas, é um momento tenso todas as vezes que elas vão ao hospital e recebem o resultado do exame de sangue. Exame de sangue No exame de sangue, o seu sangue é coletado em quantidade suficiente para encher alguns tubinhos. Se você é de origem muçulmana, talvez tenha problemas com isso. Sangue é certamente um símbolo de força vital, mas sangue não se esgota. O seu organismo produz novamente sangue, assim como o seu 23 organismo faz crescer cabelo e unhas. Existem vários tipos de exames de sangue: –> exame de sangue: células CD4 Para saber qual o estado do seu sistema imunológico (sistema de defesa do organismo), é realizado um exame de sangue para contar a quantidade de células CD4 no seu sangue. As células CD4 também são chamadas células T4. As células CD4 são células brancas do sangue. O vírus HIV irá se alojar especialmente dentro destas células. O HIV destrói estas células. Através da contagem da quantidade de células CD4, é possível determinar como está a sua resistência. Se você faz a contagem somente uma vez, o resultado não diz muito. Mas se a contagem for feita periodicamente e ficar demonstrado que o número de células CD4 estiver caindo, então isso indica que a sua resistência está diminuindo. Pessoas sadias sem HIV possuem entre 500 a 1.500 células CD4 por mm3 de sangue. Se você tem menos de 200 células CD4, a chance é grande de que você contraia uma infecção oportunista mais cedo. –> exame de sangue: carga viral No exame de sangue também é determinada a quantidade de HIV em seu sangue. A quantidade de HIV em seu sangue é chamada de carga viral. A carga viral é a quantidade de cópias do vírus por mililitro de sangue. Se a sua carga viral é alta, então a chance é grande de que a sua resistência diminua rapidamente, fazendo com que você fique doente mais cedo. A sua carga viral pode ser maior do que um milhão. A carga viral pode ser também tão baixa que não é possível determiná-la, sendo por isso chamada de indetectável. Assim como a quantidade de células CD4, a sua carga viral também oscila. Se a sua carga viral reduz-se pela metade ou duplica-se, pode não significar nada. Mas se isso acontece duas vezes seguidas, significa provavelmente que você tem mesmo menos ou mais HIV no seu sangue. A sua carga viral é determinada se você ainda não toma os comprimidos e também se você já toma os comprimidos. Através da carga viral, é possível determinar se os comprimidos fazem bom efeito. Se sim, então a sua carga viral cairá 95 por cento se você tomar os comprimidos durante um mês. Se 24 você tomar durante seis meses, a sua cara viral não estará mais detectável. Isto não significa que o vírus HIV foi expulso do seu organismo. O que acontece é que há tão pouco vírus HIV no seu sangue que não é mais possível contá-lo. Se você toma os comprimidos contra o vírus HIV, mas possui novamente mais vírus no seu sangue, o seu médico irá lhe aconselhar a tomar outros comprimidos. Os comprimidos que você está tomando certamente não estão mais surtindo efeito. –> exame de sangue: determinação da concentração anti-retroviral no sangue Se você toma comprimidos contra o vírus HIV, às vezes também é determinada, no exame de sangue, a concentração de drogas anti-retrovirais. Assim é possível averiguar se os comprimidos estão presentes no seu organismo na quantidade certa. Será que os comprimidos são bem absorvidos pelo seu organismo? Esta determinação é importante para todos que tomam os comprimidos contra o HIV. Se a concentração de um determinado anti-retroviral no sangue está muito baixa, pode significar que o comprimido não faz um bom efeito. Se a concentração é muito alta, você pode sofrer mais efeitos colaterais. Após a determinação da concentração anti-retroviral no sangue, pode ocorrer que o seu médico o aconselhe a alterar a quantidade de comprimidos contra HIV que você toma. A concentração de muitos anti-retrovirais e de alguns outros remédios pode ser determinada. Isto é importante porque algumas vezes um comprimido altera a concentração de um outro comprimido. –> exame de sangue: determinação da resistência aos antiretrovirais Se você toma comprimidos contra o HIV, é importante saber se os comprimidos estão fazendo efeito contra o seu HIV. O seu HIV pode ser menos sensível para um ou mais anti-retrovirais. Isto se chama resistência. Talvez você tenha sido contaminado por alguém que já toma anti-retrovirais. Pode ser que estes comprimidos não fazem mais efeito contra o seu HIV, e portanto, você é resistente a estes comprimidos. Pode ser também que você seja resistente porque você já toma ou já tomou anti-retrovirais, e por isso o seu HIV tornou-se mais forte por 25 causa destes comprimidos. A resistência pode ser freqüentemente determinada através de um exame de sangue. Mesmo que você já toma os comprimidos, é aconselhável determinar a resistência se, por exemplo, a sua carga viral aumenta. Através da determinação da resistência, o médico pode lhe receitar comprimidos que façam mais efeito com você. O exame de determinação da resistência não é sempre realizado em pessoas com HIV. –> exame de sangue: outros exames Na maioria da vezes são investigados outros itens num exame de sangue, como o seu colesterol, o seu fígado e rins. Eles são investigados porque os anti-retrovirais são às vezes prejudiciais para o seu colesterol, o seu fígado e seus rins. Exame preventivo (exame de colo do útero) É aconselhável às mulheres fazerem todo ano um exame de colo de útero através da colheita de material (exame preventivo ou Papanicolau). Com regularidade, ocorre que as mulheres tenham uma vez um resultado desfavorável. No caso das mulheres HIV positivas, a chance de obter um resultado desfavorável é ainda maior. Se for descoberto a tempo, é possível tomar providências para prevenir que você desenvolva câncer. Insatisfeito Talvez você esteja insatisfeito com o seu médico, enfermeiro, médico de família, dentista ou outro profissional. Às vezes acontece de um médico de sua empresa (bedrijfsarts) contar para outras pessoas da empresa que você tem HIV, ou que um dentista atenda mal as pessoas que têm HIV. Você pode escolher se: –> não faz nada; –> conversa sobre isso com o seu médico ou enfermeiro; –> conversa sobre isso com um amigo ou alguém conhecido; –> procura um médico, enfermeiro, médico de família, dentista que melhor lhe atenda; –> telefona ou envia um email ao Servicepunt do Hiv Vereniging; –> pede informações a um outro médico. Isto se chama ‘segunda opinião’. 26 4 O tratamento Na Holanda existe felizmente um bom tratamento para o HIV: a terapia combinada. Em muitos outros países o tratamento é, para muitas pessoas, caro. Na Holanda o tratamento é reembolsado pelo seu seguro de saúde (ziekenfonds ou particuliere verzekering). O tratamento implica que é preciso tomar os comprimidos em horários determinados. Os comprimidos se chamam anti-retrovirais. Uma pessoa toma um anti-retroviral uma vez por dia, uma outra pessoa precisa tomá-los duas vezes por dia, e ainda uma outra pessoa precisa tomá-los três vezes por dia. Este tratamento funciona bem com muitas pessoas com HIV. Com outras pessoas, os anti-retrovirais causam efeitos colaterais ou não têm mais efeito a partir de um determinado momento. Tomar comprimidos de outras pessoas e dar comprimidos a outras pessoas Tome somente anti-retrovirais que você recebe do seu médico. É uma péssima idéia tomar um comprimido que você recebeu de uma outra pessoa, ou enviar seus comprimidos para, por exemplo, familiares em outro país. Ao receber comprimidos de uma outra pessoa em vez do seu médico, você ainda não sabe se talvez fosse melhor para você não começar ainda a tomar os comprimidos, ou mesmo tomar outros comprimidos. Existem vários tipos diferentes de comprimidos contra HIV. E uma vez iniciado com os anti-retrovirais, não é sensato parar de tomálos sem que antes você converse com o seu médico. Se você parar de tomar os anti-retrovirais por conta própria, pode ser que os comprimidos no futuro não funcionem mais para você. A escolha é sua Você toma os anti-retrovirais, portanto, sempre após conversar com o seu médico, mas com a sua aprovação. Afinal, a escolha é sua se você vai tomar os anti-retrovirais. E você escolhe também quais os anti-retrovirais que vai tomar e quando vai começar a tomá-los. Não se deixe pressionar, e tenha calma para se informar. Você não toma os comprimidos para agradar o seu médico, mas sim para a sua própria saúde. Na prática, ocorre com freqüência que diferentes médicos oferecem dife27 rentes conselhos. Os conselhos também mudam conforme o tempo vai passando: há alguns anos atrás, era aconselhado a todas as pessoas com HIV a começar o mais rápido possível a tomar os comprimidos; atualmente, eles são mais cuidadosos sobre isso. É importante que você esteja pronto para começar a tomar os comprimidos. Se você tomou a decisão de começar a tomar os comprimidos, você então irá tomá-los no horário determinado com mais facilidade. Isto é muito importante para o bom efeito dos comprimidos. E se você estiver pronto para começar o tratamento, estará também melhor preparado para os desagradáveis efeitos colaterais que possam ocorrer. Diferentes tipos de anti-retrovirais O vírus HIV precisa de células humanas para se multiplicar. As células dentro das quais o HIV se encontra estão, portanto, infectadas. As substâncias que precisam combatê-las trabalham de diversas maneiras. Atualmente existem três classes de antiretrovirais. –> inibidores da transcriptase reversa Cuidam para que menos células sejam infectadas pelo HIV. Eles impedem que o vírus HIV alcance o núcleo da célula, evitando que novos vírus sejam produzidos. Existem dois tipos, análogos de nucleosídeos e não nucleosídeos, que funcionam cada um de uma maneira. –> inibidores da protease Fazem com que as células que já estão infectadas tenham mais dificuldade de produzir novos vírus HIV –> inibidores de fusão Inibem o HIV no momento que ele tenta penetrar na célula. 1 Inibidores de fusão impedem que o vírus HIV penetre na célula v hi 2 Inibidores da transcriptase reversa impedem que o vírus HIV alcance o núcleo da célula, evitando que novos vírus sejam produzidos 2 1 hiv 28 3 Inibidores da protease fazem com que as células que já estão infectadas tenham mais dificuldade de produzir novos vírus HIV hiv 3 núcleo da célula Os Inibidores de fusão impedem que o vírus HIV penetre na célula Os Inibidores da transcriptase reversa impedem que o vírus HIV alcance o núcleo da célula, evitando que novos vírus sejam produzidos Os Inibidores da protease fazem com que as células que já estão infectadas tenham mais dificuldade de produzir novos vírus HIV Atualmente existem aproximadamente 20 anti-retrovirais diferentes. Nos próximos anos provavelmente irão surgir novos comprimidos, que funcionarão tão bem contra o HIV, que o seu sistema imunológico irá se manter saudável por mais tempo. Como o tratamento existe desde 1996, ainda não se sabe se os comprimidos fazem efeito a longo prazo. Não é possível (ainda) a cura do HIV. Um remédio ou vacina que evita que as pessoas contraiam o HIV também não existe. Terapia combinada Se você usa apenas um anti-retroviral, ele logo não fará mais efeito. Isto ocorre porque o HIV é um vírus que se copia de forma desordenada. Entre as várias cópias desordenadas, encontra-se às vezes um vírus que é mais forte do que o anti-retroviral. O anti-retroviral não faz mais efeito e o HIV continua o seu caminho dentro do seu organismo. Essa característica do HIV chama-se resistência. Com o uso simultâneo de vários anti-retrovirais, o HIV torna-se resistente com menos rapidez. A produção de novos HIV é reprimida com mais intensidade, e torna-se mais difícil para o HIV esquivar-se de todos os anti-retrovirais. Com uma combinação de medicamentos, o HIV pode freqüentemente ser combatido com mais intensidade e por bastante tempo. Há combinações que somente consistem de inibidores da transcriptase reversa. Há também combinações - que nem sempre são melhores - que consistem de inibidores da transcriptase reversa e inibidores da protease. O tratamento padrão do HIV consiste de três ou quatro diferentes anti-retrovirais, que você precisa tomar uma ou duas vezes por dia. Antigamente era usual que alguém tomasse mais de vinte comprimidos por dia. Atualmente o padrão consiste 29 de dois a dez comprimidos por dia. Para facilitar isto, cada vez mais surgem comprimidos nos quais um comprimido contém vários anti-retrovirais combinados. Se você pretende ficar grávida futuramente, você pode levar em conta, no momento em que for começar a tomar os antiretrovirais, em escolher por anti-retrovirais que tragam menos riscos à gravidez. Assim, você não precisa mudar para outros anti-retrovirais quando for iniciar a gravidez. Você pode conversar sobre isso com o seu internista. Na Holanda, os médicos aconselham a começar a tomar os comprimidos quando você tem queixas físicas severas que são causadas pelo HIV. Se você não tem queixas, é investigado a sua quantidade de células CD-4 e a sua carga viral. É aconselhável começar quando você tiver menos de 350 células CD-4 e/ou a sua carga viral for maior do que 30.000. Se a sua carga viral estiver entre 5.000 e 30.000, ou se a contagem de células CD-4 estiver entre 350 e 500, a escolha é sua se você já começa com os anti-retrovirais ou não. O que você pode fazer? Você mesmo pode tomar algumas medidas para cuidar que os seus comprimidos façam um bom efeito. Se você tiver uma boa adesão ao esquema da terapia, a chance de que o HIV fique mais forte que os seus comprimidos torna-se muito menor. Ter uma boa adesão ao esquema da terapia significa que você segue as regras do tratamento. Isto quer dizer: –> Tome sempre os seus comprimidos. Não pule a vez de tomá-los. –> Tome precisamente a quantidade de comprimidos, e nunca menos. –> Siga as instruções eventuais sobre os alimentos: alguns comprimidos precisam ser ingeridos com alimentos e alguns sem alimentos. Outros comprimidos precisam ser ingeridos antes do café da manhã. Existem cada vez mais comprimidos sem regras de alimentos. –> Tome os seus comprimidos na hora certa. Isto não significa que cada minuto conta: alguns comprimidos você pode tomar um pouco antes ou um pouco depois da hora. Na maioria das vezes, é mais importante tomar na hora exata os inibidores da protease do que os outros anti-retrovirais. 30 Você pode perguntar ao seu médico ou enfermeiro como isso funciona no seu caso. Se você começar a tomar os comprimidos, escolha os horários fixos que irá tomá-los. É melhor você escolher os horários que melhor se adaptam ao seu ritmo de vida. Assim você pode levar em conta o seu horário de trabalho, a hora de ir dormir e o tempo de sono. Você pode mover os horários de tomar os comprimidos, mas é importante conversar antes sobre isso com o seu médico ou enfermeiro. Para muitas pessoas, a ingestão dos comprimidos se torna um hábito num determinado momento. Outras têm às vezes um pouco de dificuldade. Pode, por exemplo, acontecer: –> que você se esqueça dos comprimidos –> que você perca um comprimido –> que você sofra efeitos colaterais –> que você considere os seus comprimidos uma coisa suja –> que não seja permitido comer quando ingerir um comprimido, mas você está morrendo de fome –> que você tenha que comer quando tomar um comprimido, mas você não tem a menor fome –> que você não queira pensar no seu HIV por um momento –> que você odeie os seus comprimidos É comum que você tome uma vez os seus comprimidos mais tarde do que devia, ou mesmo que não o tome. Se isso ocorrer muito raramente, não será um grande problema, mas se ocorrer com freqüência, sim. A chance então de que os seus comprimidos não façam mais efeito num determinado momento é muito maior. Você precisará então tomar outros anti-retrovirais, e isto você pode fazer somente algumas vezes: –> Se o seu HIV é resistente a um determinado anti-retroviral, então o seu HIV geralmente também é resistente a outros anti-retrovirais da mesma classe. Isto se chama resistência cruzada. –> Talvez você sofra de efeitos colaterais severos por causa de certos anti-retrovirais. Se você tem dificuldades com os seu comprimidos, talvez você possa adaptá-los conversando com o seu médico. Não decida por conta própria diminuir a dose dos comprimidos ou mesmo 31 parar de ingeri-los. Sempre converse primeiro com o seu médico. Jejum Também se você precisar jejuar por causa de sua religião, é importante que você tome os comprimidos nos horários determinados e segundo as prescrições médicas. Se você não o faz, aumenta a chance de os comprimidos não fazerem mais efeito num determinado momento. Você precisa ingerir os comprimidos com um copo de água, e no caso de alguns comprimidos, é preciso também comer. Muitos muçulmanos não sabem que o islamismo abre uma exceção do jejum para as pessoas doentes. Você pode falar sobre isso com um imã, ou conversar com o seu médico ou enfermeiro sobre como você pode seguir tomando os seus comprimidos durante o período de jejum. Esquecer O que fazer ao descobrir que você esqueceu de tomar os seus comprimidos? Tome imediatamente os comprimidos. Os comprimidos seguintes você pode novamente tomar no seu horário habitual. Se você for tomar os comprimidos e descobrir que esqueceu de tomar os comprimidos da vez anterior, não é necessário ingerir uma dose dupla. Vomitar Se você vomitar logo depois de tomar os seus comprimidos, então às vezes é preciso tomá-los novamente. Deve-se fazer isso porque o seu organismo ainda não absorveu as substâncias dos comprimidos. Se você ingeriu os seus comprimidos sem alimentos e: –> vomitar dentro de uma hora depois que os ingeriu: tome os seus comprimidos novamente. –> vomitar mais de uma hora depois que você os ingeriu: não tome os seus comprimidos novamente. Se você ingeriu os seus comprimidos com alimentos e: –> vomitar dentro de três horas depois que os ingeriu: tome os seus comprimidos novamente. –> vomitar mais de três horas depois que você os ingeriu: não tome os seus comprimidos novamente. –> Se você ver pedaços dos comprimidos no seu vômito: tome os seus comprimidos novamente. 32 Efeitos colaterais Você pode ter efeitos colaterais ao tomar os seus antiretrovirais. Uma pessoa pode sofrer severos efeitos colaterais, enquanto uma outra pode não sentir nada. Não se assuste ao ver a enorme lista de efeitos colaterais que está na bula dos anti-retrovirais. Os efeitos colaterais que geralmente ocorrem são: enjôo, vômitos, diarréia e dor de cabeça. Alguns efeitos colaterais, como erupções cutâneas, podem surgir nas primeiras semanas depois que você começar a tomar os anti-retrovirais. Geralmente eles se tornam mais brandos ou desaparecem. Também podem surgir efeitos colaterais que só aparecem depois de algum tempo, como por exemplo, uma alta taxa de colesterol e bochechas afundadas. Bochechas afundadas são classificadas como lipodistrofia. Lipodistrofia é uma alteração da distribuição de gordura no seu corpo: por exemplo, a gordura pode aumentar na sua barriga, e pode diminuir no seu rosto, braços, pernas e nádegas. Se você conversar sobre os seus efeitos colaterais com o seu médico ou enfermeiro, freqüentemente é possível encontrar uma maneira de aliviar os sintomas: –> tomar os seus comprimidos com alimentos para não sentir enjôos; –> tomar medicamentos suplementares contra os seus efeitos colaterais; –> tomar outros anti-retrovirais se os efeitos colaterais forem muito severos. Um outro tipo diferente de efeito colateral dos anti-retrovirais que pode ocorrer, é você se sentir doente pelo fato de tomar os comprimidos. Você também pode se sentir tenso: porque você toma os comprimidos às escondidas, ou porque você quer ingeri-los sempre na hora exata. Além dos seus anti-retrovirais, tomar outros remédios ou drogas Se você toma anti-retrovirais, não é indicado você tomar também qualquer outro tipo de medicamento, pois podem surgir efeitos colaterais extras. Um determinado comprimido pode ter menos efeito se for tomado com um outro comprimido. Você pode também ter problemas se tomar medicamentos que 33 você não recebeu do seu médico, mas que você mesmo comprou na farmácia. Drogas também podem causar problemas. É aconselhável que você, antes de tomar um medicamento ou drogas, converse com o seu médico ou com um profissional da farmácia. Eles podem lhe dizer se isto pode lhe causar problemas. Se os medicamentos não tiverem um bom efeito juntos, eles podem lhe dar um conselho. Pausa na terapia Existem pessoas com HIV que optam, por exemplo, em parar de tomar os anti-retrovirais por alguns meses. Isto é chamado de ‘pausa na terapia’. Ainda não foram realizadas amplas pesquisas sobre isso. Uma vantagem pode ser que durante a pausa na terapia você não tenha queixas de efeitos colaterais. Uma outra vantagem pode ser que o seu organismo, durante a pausa na terapia, não fique sobrecarregado com os anti-retrovirais, de forma que você tenha mais sucesso a longo prazo. Uma desvantagem pode ser que você corra o risco de sofrer rapidamente uma recaída e voltar a ter a quantidade de células CD-4 e a carga viral que você tinha anteriormente. Se você por acaso desejar uma pausa na terapia, converse com o seu médico. Não existem regras específicas para isso. Um médico pode ter sobre isso uma opinião diferente de outro médico. Pesquisas de medicamentos Muitas pesquisas para novos anti-retrovirais estão sendo realizadas. Uma pesquisa de medicamentos chama-se ‘ensaio clínico’. Você pode considerar em tomar parte de um ensaio clínico. Antes que você decida tomar parte num ensaio clínico, você recebe informações sobre ele por escrito. Se você decidir participar, é preciso que você assine um documento onde está escrito que você está bem informado sobre a pesquisa e sobre os seus riscos. Evidentemente, você pode parar com a pesquisa sempre que quiser e a qualquer momento. É importante você se informar bem e pedir um tempo para pensar, pois assim você pode refletir sobre as suas vantagens e desvantagens. Informe-se também sobre os tratamentos habituais e sobre os ensaios clínicos que são realizados em outros hospitais. Tenha em mente que o seu médico às vezes possa ter interesse que você tome parte de um ensaio clínico. Para maiores informações sobre as pesquisas de medicamentos, você pode ligar para os enfermeiros que fazem parte das pesquisas no IATEC: 34 020 566 3013, de segunda a quinta-feira entre 13:00 e 14:00. Evite que você fique doente Você pode ficar doente mais cedo por causa do seu HIV, mas você pode tornar menor a chance de que você contraia determinadas doenças: –> vacina antigripal Alguns médicos de família e internistas recomendam a vacina antigripal. Você pode conversar sobre isso com o seu internista, e receber a vacina antigripal do seu médico todos os anos em outubro. –> Vacina contra hepatite A e hepatite B Esta vacina, que você pode receber através do seu médico de família, é recomendada se você tem relações sexuais com diferentes parceiros, se você trabalha no sistema de saúde e/ou tem hepatite C. A vacinação é importante porque a hepatite A e B pode lhe causar problemas agora que você é HIV positivo. –> profilaxia Se você tem menos de duzentas células CD-4, é recomendada a profilaxia. Profilaxia é o uso de medicamentos para evitar que você contraia uma infecção oportunista, por exemplo uma pneumonia PCP. O seu internista pode lhe dar mais informações sobre isso. Vida saudável Viver uma vida saudável é tão importante para pessoas com HIV como para pessoas sem HIV. Viver saudavelmente significa, por exemplo: –> alimentar-se bem –> dormir o suficiente –> viver uma vida regular –> não beber muito álcool –> não fumar –> beber dois litros de água por dia –> fazer esporte (por exemplo, natação ou jogging) Muitas pessoas se sentem muito bem se levam uma vida ativa e fazem atividades com a qual sentem prazer. Métodos alternativos e terapias Utilizar-se de pequenos recursos extras para a sua saúde, talvez ajude a adiar o início do uso de anti-retrovirais. Você também 35 pode utilizar pequenos recursos extras ao mesmo tempo em que toma os anti-retrovirais. Alguns exemplos: –> vitaminas e minerais –> maconha (baseado) –> remédios homeopáticos –> Ioga –> meditação Ainda são pouco conhecidos os efeitos que estes métodos e terapias exercem sobre o HIV. Porém, na prática parece ter bons resultados. Eles podem melhorar a qualidade da sua vida, porque ajudam contra, por exemplo: –> doenças de pele –> cansaço e desânimo –> efeitos colaterais dos anti-retrovirais –> dor Você pode ligar ou enviar um email ao Servicepunt do Hiv Vereniging ou conversar com o seu médico sobre métodos alternativos e terapias. Com alguns médicos é possível conversar melhor sobre isto do que com outros médicos. 36 Miguel ‘Nunca me sobra tempo’. Miguel (52) nasceu na Grã-Canária. Aos 25 anos veio para a Holanda. Miguel sabe desde cedo que morrer é a única certeza em sua vida: ‘Minha mãe morreu de câncer quando nasci. Meu pai não quis saber de mim. Eu soube através de outras pessoas que ele faleceu há oito anos atrás. Eu e minha irmã fomos criados pela melhor amiga da minha mãe. Eu tinha também um irmão. Ele morava num orfanato, e ele não podia ter contato com pessoas de fora do orfanato. Quando ele tinha 18 anos, eu o conheci. O contato com o meu irmão foi muito especial. Três meses depois ele morreu de câncer. Na verdade, eu nunca fui uma criança. Eu nunca brinquei com bola. Eu tive que ir trabalhar quando tinha oito anos, e fui lavar pratos em um bar. Eu precisava trabalhar. Quando eu não tinha trabalho, nós comíamos os restos de comida dos ricos. Eu sempre soube que eu era homossexual. Quando eu tinha sete anos, tive o meu primeiro contato sexual com um homem. Eu mesmo procurei esse contato. Naquela época não era fácil ser homossexual na Grã-Canária. As pessoas o depreciavam e a polícia o maltratava. A polícia me prendeu uma vez porque a minha aparência parecia ser a de um homossexual. Eu estava farto daquela intolerância. Num determinado momento tornei-me um travesti. Era mais admitido ser travesti do que ser homossexual. Além disso, sendo um travesti, podia ganhar dinheiro como prostituta. Quando tinha 25 anos, vim para a Holanda junto com dez amigos meus. Eu sabia que a Holanda era um país tolerante. Nós queríamos ganhar dinheiro fazendo cabaré para fazermos a operação de mudança de sexo. Na época não era tão difícil entrar na Holanda. A alfândega disse que eu precisava ter dinheiro ou que alguém tinha que ser responsável por mim. Eu tinha conhecido Henk, um rapaz holandês, na GrãCanária. Eu resolvi ligar para ele. Ele quis ser responsável 37 por mim, e veio me buscar na alfândega. Eu tive um relacionamento com ele durante quatro anos. Eu decidi, finalmente, não me tornar uma mulher. Isso foi porque na Holanda eu descobri que aqui era possível viver uma vida normal sendo homossexual. Um ano depois que terminei com Henk, conheci Jan. Naquela época ouvi as primeiras terríveis notícias sobre a AIDS. Quando eu e Jan fomos morar juntos – tinha na época trinta anos – fomos fazer o teste de HIV. O resultado não foi favorável para mim. A enfermeira me disse que eu tinha HIV e simplesmente continuou com o seu trabalho. O atendimento foi péssimo. Depois o médico internista me disse que eu tinha menos de cinco anos de vida. Felizmente, o que aconteceu foi diferente, mas aquele momento foi para mim um confronto com a morte. Eu me preparei para a minha morte: fiz meu testamento e organizei o meu funeral. Eu via as pessoas com AIDS à minha volta ficando doente e morrendo. Felizmente, o meu namorado Jan era HIV negativo. Depois eu soube que ele teve muita dificuldade com o meu HIV. Eu vivi junto com Jan durante 21 anos numa pequena cidade. Há dois anos atrás nós terminamos. Eu sempre faço sexo seguro. Eu não quero que alguém seja infectado por mim, e também não quero contrair outras doenças. Já é difícil o suficiente ter HIV. Se você faz sexo sem proteção, você pode contrair outras variantes do vírus HIV e também doenças venéreas. Não tem nenhuma graça contrair, por exemplo, hepatite C. Minha mãe adotiva me ensinou a cuidar bem de mim mesmo. Por isso faço exames de doenças venéreas a cada seis meses. Eu me preocupo muito com o fato de que os jovens cada vez mais fazem sexo sem proteção. Não existe atualmente informação suficiente sobre como fazer sexo seguro e todos os riscos que você corre? Eu acho uma pena que as pessoas tratam as suas vidas com tanto desleixo. Não é uma brincadeira tomar os comprimidos contra HIV. Você pode sofrer de efeitos colaterais. E pessoas também morrem por causa dos comprimidos. 38 Eu vivo há mais de vinte anos com HIV. Eu tive gripe algumas vezes, mas nunca estive seriamente doente. Eu continuo com pouco HIV no meu sangue, e a minha resistência é ainda boa. Eu ainda não preciso, após todos estes anos, começar a tomar os comprimidos contra HIV. Eu sou uma das poucas pessoas que há tanto tempo têm HIV e que ainda não precisa tomar os comprimidos. Isto é realmente uma exceção. Desde que soube que tenho HIV, procurei levar uma vida saudável e escutar melhor o meu corpo. Eu me alimento saudavelmente, parei de fumar e beber, e vou sempre dormir antes da meia-noite. Eu tomo pílulas de algas. Elas me fazem sentir bem. No inverno eu também tomo pílulas de vitaminas, e todo ano tomo uma injeção contra gripe. Eu faço também esporte: um ano eu nado, e no outro eu faço jogging. Eu quero com certeza chegar aos oitenta anos, mas eu não quero me tornar um velho decrépito. Eu sou vaidoso. Eu quero continuar a me olhar no espelho com satisfação. Desde pequeno fui criado dentro do catolicismo. Minha mãe adotiva era uma católica rígida. Eu não acredito mais no catolicismo. Eu escutei uma vez um filósofo dizer que você primeiro precisa tornar-se ateu para poder descobrir Deus. Ele acha que você é muito influenciado pelos seus pais e pelo seu ambiente. Antes que você possa estar aberto para a sua própria religião, é preciso que você se livre desta influência. Há dez anos atrás, fui dispensado de trabalhar. Eu trabalhava até então como gerente de uma loja. No começo achei um drama não trabalhar mais. Agora eu acho ótimo não ter um trabalho pago. Eu estou sempre ocupado. Nunca me falta tempo. Eu faço trabalho voluntário, eu faço tricô, faço crochê, eu leio muito. Eu conheço muitas pessoas com HIV. Eu freqüento o SidáVida, um grupo onde há muitas pessoas com HIV que falam espanhol. Eu tento fazer as pessoas tornarem-se conscientes de que você pode também viver uma vida normal tendo HIV e AIDS. Eu gosto de conversar com pessoas 39 que, assim como eu, têm HIV. O HIV me ensinou a viver a minha vida com mais responsabilidade. Eu me dei conta de que não vou viver para sempre. Tudo o que eu ainda quero fazer na minha vida, eu preciso fazer logo. Eu talvez não seja tão inteligente, mas sou muito habilidoso. Eu acho, por exemplo, formidável fazer camisolas. Num determinado momento tornou-se evidente que eu não ia morrer logo por causa do HIV. Mesmo assim, eu vivo com mais responsabilidade do que antigamente. Eu vivo o momento. Eu, por exemplo, tenho agora planos de fazer um curso de chapelaria’. 40 5 Religião, rituais cerimoniais e tratamentos naturais alternativos Se você é cristão, judeu, muçulmano, hindu ou um seguidor de uma religião naturalista: a religião, os rituais cerimoniais e tratamentos naturais alternativos podem oferecer apoio à sua vida com HIV. Como você vê a doença através da sua religião? Você sente vergonha do seu HIV? Ou através da sua religião você encontra um lugar para o seu HIV na sua vida? O islamismo prega que as pessoas têm o dever de fazer tudo para permanecerem sadias. Se você fica seriamente doente, então esse é o destino determinado por Alá. O hinduísmo encara a doença – assim como tudo na vida – como vinculada inseparavelmente ao carma das pessoas. Através da fidelidade à sua religião, o hindu confia que os deuses bons o protegerá contra poderes maléficos e semeadores de doenças. Como você vê a doença através da sua religião? Tratamentos com um fundo religioso Se você está doente, você pode entrar em contato com um curandeiro que o possa ajudar através da sua doutrina religiosa. Você pode ter muitos benefícios ao fazer isso. No entanto, é aconselhável que, junto a este curandeiro, você também vá ao seu médico no hospital. Somente ele pode lhe dar os antiretrovirais, e este é o único tratamento que foi comprovado fazer com que muitas pessoas com HIV possam viver saudáveis durante anos. No entanto, um tratamento complementar advindo da sua religião, certamente poderá lhe fazer bem. Talvez você possa conversar com este curandeiro sobre se você está pronto para começar a tomar os anti-retrovirais. Ou talvez você possa usar este tratamento para combater os efeitos colaterais que eventualmente possam ser causados pelos antiretrovirais. Aqui estão alguns exemplos de tratamentos com um fundo religioso: 41 Tratamento winti Talvez você possa beneficiar-se de um tratamento winti através de um curandeiro tradicional surinamês. O bonuman ou bonuvrouw (especialistas em winti) pode lhe ajudar em todo tipo de queixas físicas. Certamente em sintomas como tremores e convulsões, a ajuda de um bonuman pode ser benéfica. O bonuman recebe conselhos de antepassados, e pode lhe oferecer o oso-dresie, um remédio feito de plantas e ervas. O bonuman pode, no caso de doença, avaliar o que falta ao ‘kra’. Este é a essência mais profunda das pessoas e o motor da vida, concedido pelos deuses no momento do nascimento. Se você sofre de nara (queixas na barriga), o kowroe-dresie (bebida feita de milho) pode lhe ajudar. O diagnóstico é geralmente finalizado com um wassie, um banho cerimonial onde todos os problemas são lavados embora. O tratamento geralmente é finalizado com um winti-pré, uma festa noturna onde um dos presentes entra em transe. Assistente hindu Se você é hindu, pode beneficiar-se de um tratamento através de um ou vários assistentes hindus. Neste tratamento, a mística exerce um papel importante. Um assistente hindu usa informações obtidas em sonho e na astrologia. Algumas vezes trabalha-se também com ervas medicinais. Curandeiro turco tradicional (hoca) ou curandeiro marroquino (fqi) Os islamitas podem recorrer a um curandeiro tradicional para diminuir as forças maléficas. Este curandeiro pode ler versos do Corão, ou fazer um amuleto com versos do Corão, que você carrega no seu peito. Hospitalização e falecimento Cada religião possui os seus próprios rituais no que se refere à doença e ao falecimento. Os hospitais holandeses e empresas funerárias estão cada vez mais familiarizados com pessoas de diferentes religiões. Pode ocorrer que um determinado ritual não seja possível. Como o seu hospital trata festividades como a Festa do Açúcar, Festa do Sacrifício, Holi Phagwa ou Festa Divali? Existe um espaço para oração no seu hospital? É possível se lavar da maneira que você deseja? É possível continuar seguindo a sua dieta? É possível, se você desejar, trazer comida 42 de casa e comê-la nos horários em que está acostumado? É possível uma boa cooperação entre médicos e enfermeiras no hospital e o seu bonuman? Você consegue, por ser muçulmano, uma permissão para sepultar alguém dentro de 24 horas? Pode ser bom você pensar previamente sobre isso, e refletir como deseja tratar este assunto. Jejuar Se por causa da sua religião você tem um período de jejum, é importante tomar os seus comprimidos nos horários e segundo a receita médica. Se você não fizer isto, aumenta a chance de que os comprimidos, num determinado momento, não façam mais efeito. Você precisa tomar os seus comprimidos com um copo de água, e com alguns comprimidos também é necessário tomá-los junto com alimentos. Muitos muçulmanos não sabem que o islã possui uma dispensa da obrigação de jejuar para as pessoas doentes. Você pode conversar sobre isso com um imã, ou conversar com o seu enfermeiro ou médico como você poderá seguir tomando os seus comprimidos durante o período de jejum. 43 Dorry Tyrone 6 Sexualidade Este capítulo é sobre sexo e sexualidade. Para mostrar claramente o que é sexo seguro e o que é sexo inseguro, este capítulo aborda diferentes formas de fazer sexo: sexo entre uma mulher e um homem, sexo entre homens, e sexo entre mulheres. Pode ser que algumas formas de sexo não sejam do seu agrado. Cada pessoa vive a sua vida da sua maneira. Este folheto é destinado a todas pessoas com HIV. Talvez você não pense agora nem um pouco em sexo. Você pode então escolher em ler este capítulo mais tarde, porque no futuro talvez você sinta novamente desejo de fazer sexo. Existem muitas diferenças entre as pessoas no campo da sexualidade. Você sabe se o seu parceiro é HIV positivo ou não? Você pode ter relações sexuais com um parceiro fixo ou ter contatos sexuais com várias pessoas. Ao ter diferentes contatos sexuais, pode ocorrer que você faça sexo com alguém com que você pouco converse ou mesmo que não converse nada. Muitas pessoas com HIV escolhem por isso fazer sempre sexo seguro. É sempre uma escolha sua, por exemplo: –> Você acha que a responsabilidade em não infectar outra pessoa com o seu HIV é só sua? Ou acha que o seu parceiro também é responsável por isso? –> Você quer que o seu parceiro saiba do seu HIV antes de fazerem sexo? –> Você quer saber se o seu parceiro é HIV positivo antes de fazerem sexo? –> Você quer fazer sexo com um parceiro somente se ele também for HIV positivo? –> Você quer fazer sexo seguro, para ter o cuidado, por exemplo, de que a outra pessoa não contraia o seu HIV, ou para se proteger de doenças venéreas e reinfecção do HIV? Ou você quer fazer sexo seguro para que depois não tenha sentimento de culpa? Ou porque você quer encontrar-se com o seu parceiro sexual várias vezes e não tem vontade de ter uma conversa incômoda? –> Você não quer fazer sexo seguro porque, por exemplo, não sente prazer fazendo sexo seguro, ou porque você só de pensar numa camisinha já tem problemas de ereção? 46 –> A sua carga viral e a do seu parceiro influenciam as escolhas que você faz? Sexo seguro Sexo seguro é qualquer forma de fazer sexo na qual nenhum sangue, esperma ou fluido vaginal contendo HIV de um parceiro entrem no corpo do outro parceiro. Estes são os pontos mais importantes de fazer sexo seguro: –> Se você tem relações sexuais, use uma camisinha. Isto é importante tanto para o contato vaginal como para o anal. –> Cuide para que durante a felação (sexo oral no pênis, boquete) você não receba esperma na sua boca, e que você não goze na boca da outra pessoa. Para estar totalmente seguro, é preciso usar então uma camisinha. –> A chance de alguém ser infectado ao estimular com a boca o clitóris e a vagina (cunilíngua) é muito pequena. A cunilíngua durante a menstruação não é seguro. Você pode usar a camisinha de língua ou quadriláteros de látex (dental dams). –> A infecção não ocorre através de uma pele intacta, isto é, uma pele sem feridas ou machucados. Fazer sexo seguro é também, portanto, fazer carícias, beijar, fazer massagem, masturbação, gozar sobre a pele, etc. Conselhos no uso da camisinha Existe sempre o risco de que a camisinha rasgue ou escorregue sobre o pênis. A camisinha, portanto, não garante uma proteção total. Usando-a da forma correta, torna o risco bem menor. Alguns conselhos: –> camisinhas Você pode comprar camisinhas em muitos lugares: no supermercado, na drogaria, na farmácia, nos banheiros de cafés, etc. Use somente camisinhas aprovadas. Preste atenção na data de validade na embalagem da camisinha. Após esta data, a qualidade da borracha cai, tornando-se mais porosa e rasgandose com mais rapidez. Você também pode comprar uma camisinha feminina na drogaria ou na farmácia. Esta camisinha você pode introduzir de antemão. No sexo entre homens, não é necessária uma camisinha com maior resistência. As pesquisas mostraram que uma camisinha normal também é uma boa proteção para o sexo entre homens. O que é muito importante no sexo anal é usar bastante lubrificante. 47 –> lubrificante Não use lubrificantes à base de óleo, como óleo de bebê ou vaselina. Estes deterioram a qualidade da borracha, fazendo com que a camisinha torne-se porosa e rasgue mais rápido. Use somente lubrificantes à base de silicone ou à base de água, por exemplo, Wett Stuff, Sensilube, Durex Topgel ou KY. Alguns lubrificantes contêm o espermicida nonoxynol-9. É dito que isto mata o sêmen e o vírus. Isto não foi comprovado na prática. Se você freqüentemente usar um lubrificante contendo nonoxynol9, é possível que tenha efeitos colaterais. Você pode ter, por exemplo ao ter sexo anal, problemas de irritação na parede intestinal. –> Uso da camisinha: Leia antes as instruções de uso, e pratique um pouco como colocar a camisinha no pênis. –> abrir a embalagem da camisinha Tenha cuidado para que não haja nenhum contato entre o pênis e a vagina ou ânus antes que a camisinha esteja colocada no pênis. Abra a embalagem com cuidado. Tome cuidado para não danificar a camisinha com as suas unhas ou dentes. –> colocar a camisinha Segure firme a ponta da camisinha com os seus dedos enquanto desenrola a camisinha. Coloque a camisinha somente com o pênis totalmente ereto. Tome cuidado para não trocar o lado de dentro pelo lado de fora quando estiver desenrolando a camisinha. –> tirar a camisinha imediatamente após a ejaculação, puxe o pênis para trás e segure firme a camisinha de modo que ela não deslize. Doenças venéreas Você pode contrair doenças venéreas (ou seja, DST: Doenças Sexualmente Transmissíveis) fazendo sexo com ou sem proteção, como hepatite A e B, sífilis, herpes e verruga genital (condiloma). Sexo com proteção torna menor a chance de contrair estas DST. Estas DST são transmitidas, por exemplo, através de sexo oral (felação ou cunilíngua). É aconselhável fazer exames de controle de doenças venéreas duas vezes por ano. Pessoas com HIV contraem diversas DTS mais facilmente, e elas são, além disso, geralmente mais difíceis de se tratar. Sexo inseguro Sexo sem camisinha é inseguro. Isto vale para o sexo vaginal 48 ou anal. Se um homem e uma mulher fazem sexo sem camisinha, a mulher pode contrair HIV através do homem, mas o homem também pode contrair HIV através da mulher. Através de sexo anal sem camisinha, o HIV pode facilmente entrar na corrente sangüínea do seu parceiro. Tanto a vagina como o ânus (reto) têm muitos vasos sangüíneos e consistem de uma mucosa vulnerável. Durante o ato sexual esta mucosa pode facilmente ficar machucada ou irritada. A infecção ocorre através de pequenas lesões na mucosa, e o vírus entra facilmente na corrente sangüínea. Se alguém tem doenças venéreas, ou feridas ou infecções nos órgãos genitais, a chance torna-se maior de ser infectado pelo HIV. Fazer sexo sem proteção também pode causar a gravidez. Isto às vezes é esquecido, porque toda a atenção recai no HIV. Carga viral e transmissão do HIV Se você tem pouco HIV no seu sangue (a sua carga viral é indetectável), é provável que seja menor a chance de alguém se infectar através do seu HIV. Se o seu sangue contém pouco HIV, então provavelmente o seu esperma ou fluido vaginal também contém pouco HIV. A diminuição da sua carga viral no seu sangue e no seu esperma ou fluido vaginal pode ser pequena ou grande. Cada anti-retroviral difere na maneira como ele chega ao seu esperma ou fluido vaginal. Sexo sem proteção, quando você tem pouco HIV no seu sangue é, portanto, mais seguro do que quando você tem muito HIV no seu sangue, mas o risco continua existindo. PEP Se você está com medo de que o seu parceiro contraiu HIV, seja porque, por exemplo, a camisinha rasgou ou porque você fez sexo sem proteção, então existe a PEP (Post Exposure Profylaxis – Profilaxia Pós-Exposição). PEP é um tratamento com anti-retrovirais que imediatamente (o mais rápido possível, de preferência dentro de duas horas, e no máximo dentro de 48 horas) após a situação de risco precisa ser iniciado. Ainda não foi comprovado se a PEP sempre funciona, mas é muito provável que, através da PEP, a chance é menor de que alguém contraia o HIV. Através do tratamento com a PEP, é possível que, assim como no tratamento com anti-retrovirais pelos HIV positivos, surjam efeitos colaterais. Estes são sentidos geralmente de forma mais severa, porque no caso da PEP, há 49 pouco tempo para reflexão. Muitos HIV positivos dispõem, ao contrário, de um período de tempo para se prepararem antes de começar a tomar os anti-retrovirais. A PEP está disponível através da GGD (Gemeentelijke Gezondheids Dienst - Serviço Municipal de Saúde), e fora dos horários comerciais, no seu hospital. É aconselhável primeiro telefonar para saber onde você pode ir. Se a PEP será concedida, depende do grau de risco ocorrido. Um determinado médico pode ter uma opinião diferente de um outro médico. Se você for junto com o seu parceiro, você pode explicar com mais clareza qual foi o risco ocorrido. Se você fez sexo sem proteção, você pode, para evitar discussões, considerar em dizer que a camisinha rasgou. Sexo com alguém que também é HIV positivo Se você faz sexo com alguém que também é HIV positivo, então não há como evitar que o outro também torne-se HIV positivo. No entanto, vocês podem contaminar um ao outro com doenças venéreas. Além disso, também é teoricamente possível que você possa contrair do seu parceiro uma outra variante do HIV, para o qual o seu sistema imunológico ainda não tem uma resposta. Ou você pode contrair uma variante do HIV que é resistente aos seus anti-retrovirais. Especialistas diferem de opinião sobre se a chance de reinfecção e resistência realmente existem. Transmissão do HIV e higiene As outras pessoas correm o risco de contrair HIV se o seu sangue (portanto, também o sangue menstrual), esperma (sêmen), fluido vaginal ou leite materno entre no corpo de uma outra pessoa. Apesar de o HIV também estar presente em muito pouca quantidade em outros fluidos corporais, como lágrima, saliva, líquido pré-seminal, suor e líquido amniótico, não é possível, através deles, ocorrer uma infecção. Você não precisa tomar nenhuma providência especial em casa, na escola e no seu trabalho. Todo mundo pode usar o mesmo banheiro ou os mesmos talheres, sem correr nenhum risco de contrair HIV. Independente do HIV, estes conselhos de higiene valem para todos: –> sangue e excrementos Evite que outras pessoas entrem em contato com o seu sangue, e que você encoste no sangue dos outros. Coloque os curativos com sangue imediatamente dentro de sacos plásticos e jogueos no lixo. É pouco provável que você transmita HIV através de 50 Ethel excrementos: vômitos, fezes e urina. No entanto, apesar de você não ver, sangue pode estar presente neles. Você pode então optar em usar luvas plásticas ao limpá-los. Você pode lavar com água e sabão as suas mãos e os objetos que entraram em contato com sangue ou excrementos. –> escova de dentes e lâmina de barbear Utilize a sua escova de dente e lâmina de barbear somente para uso próprio. Até agora não é conhecido nenhum caso de transmissão de HIV através de escovas de dentes ou lâminas de barbear, mas não é higiênico compartilhá-los com outras pessoas. 52 Patricia ‘O apoio da minha família é muito importante para mim’ Patrícia (35) é descendente de surinameses. ‘Há três anos atrás, a minha saúde deteriorou. Eu tive gripe, uma pneumonia dupla, infecções e uma espécie de câncer. Perdi quinze quilos, suava a noite e me sentia muito cansada. Em Paramaribo, onde eu morava na época, o meu médico internista aconselhou-me a fazer o teste de HIV. Eu achava muito difícil que eu fosse HIV positiva. Eu tinha um relacionamento monogâmico há dez anos. Quando eu recebi o resultado ‘HIV positivo’, foi um enorme golpe. No Suriname, não há anti-retrovirais disponíveis. Meu internista me disse que eu tinha apenas mais alguns meses de vida. O meu mundo veio abaixo. Eu sonhava todas as noites que ia morrer, e sentia-me cada vez pior. Eu fiz o meu testamento e preparei o meu enterro. Eu me perguntava como eu tinha contraído HIV. O meu namorado era um pai íntegro e exemplar. Quando eu conversei com ele sobre isso, ele me disse com muita dificuldade que ele já sabia há anos que era HIV positivo. Nós tínhamos um filho com um ano de idade. Felizmente, ele não estava contaminado com HIV. Eu conversei com a minha família e resolvi ir para a Holanda para me tratar com anti-retrovirais. Eu não queria simplesmente me entregar. O meu relacionamento acabou naquela época. O internista que eu fui me disse: ‘Nós vamos cuidar para que você não vá morrer’. Aquilo foi um alívio enorme. Então eu comecei com os anti-retrovirais: Nos primeiros três meses, sofri muito com os efeitos colaterais: enjôo, vômitos, tonteira e diarréia. Depois de três meses, ficou só um pouco de enjôo. Os comprimidos fizeram bastante efeito: todos os sintomas dos efeitos colaterais desapareceram, e após nove meses a minha carga viral tornou-se indetectável. Na época que eu ainda não tomava os comprimidos, eu tinha menos do que 20 células CD4. Agora eu tenho mais de 700. 53 Quando eu li sobre a pausa na terapia no ano passado, resolvi parar com os comprimidos. Durante seis meses foi tudo bem. Depois disso, a minha saúde deteriorou rapidamente. Comecei então a tomar outros anti-retrovirais. Eu não preciso necessariamente comer alimentos gordurosos nas refeições, e eu tomo agora apenas dois comprimidos por vez. Eu consigo tomá-los facilmente sem que as pessoas percebam. Eu tomo os meus comprimidos sempre na hora certa. Eu não preciso da ajuda de um despertador ou algo parecido. Algumas vezes acontece de eu tomálos meia hora mais tarde, por exemplo, quando estou dançando numa festa. Eu me sinto agora melhor do que nunca. Não me sinto mais enjoada, e tenho novamente energia para fazer bastante esporte. Eu vou a cada três meses ao hospital para controle médico. Estou muito contente com o meu internista. Ele me mantém informada sobre as pesquisas e os novos medicamentos. Eu converso sempre um pouco também com o meu conselheiro de HIV (hiv-consulent). O início da minha estadia na Holanda foi muito difícil. Eu tinha medo de estar com as pessoas e também tinha medo de ficar sozinha. Através do apoio da minha mãe no Suriname, e dos meus irmãos e irmãs, que moram na Holanda, consegui vencer este período. A minha família me apoiou não apenas emocionalmente, mas no início, também pagou os meus custos médicos e me ajudou a encontrar uma moradia. O apoio da minha família é muito importante para mim. Eu também encontro muito apoio no Hiv Vereniging. Eu vou lá pelo menos uma vez por semana. Lá posso falar sobre meus problemas e vivenciar uma grande solidariedade com os outros HIV positivos. Você aprende muito com as experiências de vida das outras pessoas. Além das pessoas mais próximas da minha família, e das pessoas que eu conheço através do Hiv Vereniging, eu não conto para ninguém que sou HIV positivo. Eu tenho receio de que as pessoas reajam com compaixão exagerada, porque elas acham que eu não tenho muito tempo de vida. Pode também acontecer de as pessoas ficarem 54 amedrontadas e manterem as crianças longe de mim. Eu quero viver e ser tratada como uma pessoa normal. A minha mãe cuida do meu filho no Suriname. Eu quero que ele, no momento, permaneça lá. Eu o vejo duas vezes por ano durante algumas semanas. Ele exige muita energia física de mim, e essa energia eu não tenho sempre. Eu faço agora trabalho voluntário, mas eu estou procurando um trabalho pago. Mas é difícil, porque eu não trabalho há anos e os empregadores sempre perguntam o porquê. Quando eu tinha acabado de saber que era HIV positiva, eu achava que eu nunca mais teria um relacionamento. Mas que nada, logo depois encontrei o meu novo namorado! Ele não é HIV positivo. Desde o início, ele soube do meu HIV. Eu lhe perguntei se ele sabia no que ele estava se metendo. Eu simplesmente não entendia o que ele tinha visto em mim. Nós temos uma vida sexual fantástica. O HIV não nos atrapalha. Nós sabemos muito bem o que podemos e o que não podemos fazer. A minha carga viral está indetectável, e isso me dá muita tranquilidade. Devido a isso, a chance de que o HIV passe para o meu namorado é um pouco menor. O meu namorado me apóia na minha vida com HIV. Eu posso conversar abertamente com ele sobre isso. Eu não tenho nenhum problema de saúde. Eu vivo, assim como antigamente, muito saudável: faço muito esporte, me alimento bem, tomo pílulas de vitaminas, não bebo álcool nem fumo. Mas eu acho que antes de completar sessenta anos, eu vou morrer por causa do HIV. Eu tenho uma vida maravilhosa. O HIV não controla a minha vida. Por causa do meu HIV, eu vivo com mais responsabilidade que antigamente. Eu escolho pessoas a minha volta que eu estimo, e que têm uma energia positiva. Antes eu esquecia de mim mesma, agora eu penso mais em mim. As pessoas não precisam necessariamente me achar simpática. 55 Quando eu me levanto, geralmente ouço música de rock pesado. Eu faço os meus exercícios abdominais, tomo um farto café da manhã, e danço pela minha casa. Isto me dá um enorme estímulo. Quando eu chego em casa no fim do dia, sento primeiro no banco durante uns quinze minutos, e fico sem fazer nada, para descarregar o estresse. Desta maneira, consigo ganhar tranquilidade para a noite’. 56 7 Filhos e desejo de ter filhos Você tem filhos? O que mudou por causa do HIV? Tem desejo de ter filhos? Este desejo mudou, agora que você sabe que tem HIV? Seu filho ou filhos Se você tem um filho ou vários filhos, alguns temas podem ser relevantes. Certamente faz diferença qual a idade do seu filho, ou se você tem um parceiro, e se sim, se ele tem HIV. Alguns temas são: –> Você sabe se o seu filho tem HIV? Quer que ele faça o teste de HIV? Quando e onde você faz o teste? –> Você contou ao seu filho que você tem HIV? Se sim, quando e como? Você pede a ele para guardar segredo? –> Você contou sobre o seu HIV às pessoas da escola, à babá, à creche, etc? –> O seu filho tem necessidade de um apoio, por exemplo, através do contato com outras crianças que têm um pai ou mãe com HIV? Desejo de ter filhos Existem na Holanda dezenas de pais com HIV que tiveram um filho saudável sem HIV. O que pode desempenhar um papel importante na escolha de ter um filho? –> O quão saudável você é? Quanta energia você tem para o seu filho? –> Por quanto tempo a criança terá você como pai ou mãe? O que acontecerá se você não puder mais cuidar do seu filho, ou se você não estiver mais vivo? –> Você tem um parceiro? Ele ou ela tem HIV? Como ele ou ela encara o problema? –> Como reagem as pessoas a sua volta? A sua família e seus amigos o apoiam? Como você enfrenta as eventuais reações negativas? –> Como é essa situação para o seu filho? Você quer contar ao seu filho que você é HIV positivo? E se sim, quando? Não importa se você é um homem ou mulher HIV positivo: se você deseja ter filhos, é possível fazer, tomando-se algumas 57 medidas, com que a chance seja muito grande de que o seu parceiro e o seu filho não contraiam HIV. As seguintes situações são possíveis: –> mulher com HIV e homem sem HIV Através de auto-inseminação, você evita que o seu parceiro contraia HIV. Você pode diminuir a chance de que o seu filho contraia HIV para menos de um por cento, através de: –> num determinado momento, tomar anti-retrovirais –> o tipo de anti-retrovirais que você toma –> tomar medidas de precaução durante o parto –> não amamentar o seu bebê O preenchimento destes critérios varia de pessoa para pessoa. Se você pretende ficar grávida futuramente, você pode levar em conta, se for usar anti-retrovirais, em tomar comprimidos que tragam menos riscos à gravidez. Assim, você não precisa mudar para outros anti-retrovirais quando iniciar a gravidez. –> mulher e homem com HIV Por causa do risco de reinfecção e da resistência, é melhor escolher a auto-inseminação. Para reduzir a chance de que o bebê nasça HIV positivo, valem as diretrizes mencionadas anteriormente. –> mulher sem HIV e homem com HIV A mulher corre o risco de contrair HIV, e consequentemente, também o bebê. No entanto, o risco pode ser quase totalmente zerado, através de um método onde o esperma é colocado numa centrífuga especial, tornando-o assim praticamente livre do HIV. Este método é caro, e ainda não é aplicado na Holanda. Se o seu bebê tem três meses de idade, pode ser determinado se ele possivelmente tem HIV ou não. Após um ano e meio, isto pode ser determinado com certeza. No momento, ainda são pouco conhecidas as consequências a longo prazo para o seu filho, devido ao uso de anti-retrovirais durante a gravidez. O seu ginecologista e o seu internista podem lhe aconselhar sobre o seu desejo de ter filhos. Possivelmente você será encaminhada a um médico que é especializado em HIV e gravidez. 58 Sylvia Larissa Arthur 8 Drogas Se você injeta drogas, a maneira mais segura é sempre usar uma seringa nova e limpa, e não compartilhar objetos como colheres e algodão com outras pessoas. Assim, você e os outros não correm o risco de HIV e hepatite B e C. É melhor você criar o hábito de ter sempre consigo uma seringa limpa no bolso. Se você acha isso difícil, é melhor então você limpar a sua seringa e guardá-la até que você tenha uma nova. Isto é mais seguro do que usar a seringa de uma outra pessoa. Se você tirar com a sua seringa um pouco de droga da seringa de uma outra pessoa, pode acontecer de ela estar misturada com sangue, e você acaba injetando o sangue do outro em você. Em municípios de grande e médio portes, existe geralmente um programa para troca de seringas, ou uma outra modalidade de distribuição. Às vezes é possível comprar seringas e agulhas limpas sem receita na farmácia. Você pode evitar que outras pessoas toquem as suas seringas e agulhas usadas, colocandoas primeiro numa embalagem inutilizável bem resistente, por exemplo, uma lata de refrigerante, e depois jogando-a na lata de lixo. Existem, evidentemente, outras drogas além daquelas que são injetáveis. Se você compartilha canudos ao cheirar, por exemplo, cocaína, você pode transmitir hepatite C e talvez também hepatite B. Algumas drogas recreativas, por exemplo, êxtase (XTC), afeta a sua noção do tempo. Isto pode fazer com que fique mais difícil você tomar os seus comprimidos no horário. 62 Michael ‘Talvez eu encontre uma garota holandesa que não tenha problema com o meu HIV’. Michael veio, há dois anos atrás, da África para a Holanda como asilado político. Há alguns meses atrás, ele soube que o seu pedido de permanência foi negado. Michael teve logo um relacionamento com uma garota holandesa: ‘Nós sempre usávamos camisinha. Como nós queríamos parar de usar camisinha, fizemos o teste de HIV há um ano atrás. Quando o médico me disse que eu era HIV positivo, eu não pude acreditar. Eu, HIV positivo? Não podia ser verdade. Eu não estava doente e a minha aparência estava ótima. Eu não tinha nenhum problema de saúde. Eu não chorei. Eu decidi me manter calmo. Eu fui para casa e procurei dormir um pouco para organizar meus pensamentos. À noite, fui a um internet café. Procurei alguns websites com informações sobre HIV e AIDS. Ainda é um mistério para mim como eu fui infectado pelo HIV. Eu nunca fiz sexo sem camisinha. Pelo que eu saiba, eu nunca fiz uma transfusão de sangue na África. A minha namorada ficou espantada quanto eu lhe contei que tinha HIV. Felizmente, ela não tinha HIV. Ela disse imediatamente que iria me apoiar. Ela não sabia muita coisa sobre HIV, por isso eu lhe expliquei tudo que o médico me contou sobre HIV. Desde então, nós não tivemos mais relações sexuais. Eu não quero passar pela situação em que um dia alguém me diga: ‘Você destruiu a minha vida’. Uma camisinha sempre pode arrebentar e então você acaba correndo o risco. Eu lhe disse que era melhor que fosse procurar um outro namorado. Eu não estou triste por isso. Nós ainda temos um bom contato. Nós constantemente enviamos emails um ao outro. Ela tem agora um novo namorado. Na cidade onde ficava o centro de refugiados que eu 63 morava, não tinha nenhum hospital que fosse especializado em HIV. Por isso, eu tive que ir a um hospital em outra cidade. Eu escolhi por um hospital acadêmico, que é um hospital que está ligado a uma universidade. Eu acho que lá eles têm bons médicos. Atualmente, eu vou a este hospital a cada três meses. O enfermeiro de HIV me explicou muita coisa sobre HIV e AIDS na primeira consulta. Eu tive que tirar sangue para vários tipos de exames, e voltar depois de três meses para conversar com o médico. Se o resultado do exame de sangue fosse ruim, eu iria receber um telefonema da enfermeira dentro de duas semanas. Eu tinha esperança que tudo sairia bem. Felizmente a enfermeira não ligou. Os resultados foram bons: a minha resistência está tão boa quanto a de uma pessoa que não tem HIV, e ainda não preciso começar a tomar os comprimidos. O médico também fez alguns exames físicos: tudo em ordem. O médico não ficou contente quanto lhe disse que estava ilegal na Holanda, mas no final, ele disse que não tinha problema. No entanto, eu mesmo tenho que pagar a conta. Como eu não tenho seguro para os gastos com saúde, e porque tudo vai bem comigo, é examinado no meu sangue somente aquilo que seja muito importante. Eu regularmente tenho transas de uma noite só. Eu não falo sobre o meu HIV, mas eu só faço sexo seguro. Isto é importante também para mim: você nunca sabe que tipo de doenças alguém tem. Contrair uma doença venérea pode ter um efeito ruim sobre o seu HIV. Se eu confiar numa garota e nós continuarmos a nos ver com freqüência, irei explicar a minha situação a ela. Eu espero que ela consiga aceitar a situação. Eu sou católico. Eu acredito que Deus, de uma maneira ou outra, tenta me proteger. Deus me enviou uma garota holandesa para que eu descobrisse que eu tenho HIV. Estou contente que agora sei que tenho HIV. Eu me protejo melhor. Eu telefono às vezes para a minha família na África. Nós também nos correspondemos através de cartas. Nós temos um bom contato. Eles não sabem que sou HIV positivo. 64 Não sei como eu poderia explicá-los. Os meus amigos africanos na Holanda também não sabem que tenho HIV. Isso eu guardo para mim mesmo. Se alguém souber, ele ou ela irá logo contar aos outros. Dentro de pouco tempo, todo mundo vai saber e todos irão virar as costas para mim. Eu acho isto uma das coisas mais difíceis ao se viver com HIV. Logo depois que eu soube do meu HIV, a minha namorada na época contou a outras pessoas. A novidade se alastrou rapidamente pelo centro de refugiados. Todos se mantiveram afastados de mim. Eu disse a minha namorada: ‘O que você está fazendo? Eu venho de uma sociedade onde as pessoas tentam lhe prejudicar. Por favor, de agora em diante guarde para você que eu tenho HIV’. Eu converso sobre AIDS com os meus amigos africanos que moram na Holanda, mas sem contá-los sobre o meu próprio HIV. Eles não sabem muito sobre o assunto, e então eu posso explicar a eles. Eu lhes digo que você não é imediatamente um paciente de AIDS só por que tem HIV. Eu ainda não conheci nenhuma pessoa na Holanda que é HIV positiva. O enfermeiro de HIV me perguntou várias vezes se eu não gostaria de conhecer outra pessoa com HIV. Eu não quero me encontrar com nenhum africano com HIV. É difícil conversar com eles abertamente sobre HIV. Eu quero sim conhecer uma garota holandesa que também tenha HIV. Nós vamos então não apenas conversar sobre a doença, mas também simplesmente travar conhecimento. Se ela não tiver nenhum relacionamento, talvez a gente possa começar algo juntos. Eu gostaria muito de ter uma namorada holandesa. Com uma namorada holandesa eu posso ficar legal na Holanda. Mas eu também posso encontrar uma garota que não seja HIV positiva. Talvez eu encontre uma garota que não tenha problemas com o meu HIV. Eu então a levarei ao médico comigo. Ele poderá lhe explicar quais são as possibilidades, e o que se deve fazer se a camisinha romper-se alguma vez. Eu sou otimista sobre o HIV. Eu aceito a vida como ela vem para mim. Ninguém sabe quando a morte chega. Pode ser que eu ainda viva bastante, mas eu posso morrer hoje ou amanhã em um acidente de automóvel. Você 65 nunca sabe. Eu acho que vai aparecer uma vacina que fará com que eu fique curado do HIV. Os medicamentos contra o HIV são muito caros. Eu não posso pagar. Uma solução para isso surgirá. Eu não me preocupo com isso’. 66 9 Trabalho No capítulo um foi explicado que você não precisa contar no trabalho que é HIV positivo. Também neste capítulo consta o que pode estar em jogo na escolha de contar ou não sobre o seu HIV. Esta é uma escolha pessoal. Você nunca poderá ser despedido porque você é HIV positivo. No entanto, pode ocorrer que o ambiente de trabalho fique mais difícil, ou que um patrão tente mandar embora alguém com HIV sob falsos pretextos. Solicitação de emprego Se você solicita emprego em algum lugar, não é permitido que se faça perguntas sobre a sua saúde. Exames médicos são proibidos. Alguns cargos formam exceção, como a de piloto, onde requisitos médicos especiais são exigidos. No entanto, se forem feitas perguntas sobre a sua saúde, você pode escolher em não dar uma resposta. Numa tal situação, é permitido legalmente dizer que você não tem HIV. Você é, no entanto, obrigado a informar numa solicitação sobre os assuntos que são de importância para o seu desempenho. Isto significa que você tem que dizer se, por causa do seu HIV, você tiver certeza de que nos próximos seis meses não poderá trabalhar por um período de tempo, não poderá desempenhar determinadas tarefas ou estará menos produtivo. Ziektewet e WAO Se você é um trabalhador assalariado e fica doente, você tem o direito a receber um auxílio-doença através do ziektewet (Lei de Seguro de Incapacidade para o Trabalho de curta duração). Este auxílio dura no máximo dois anos. Depois disso, você recebe – se passar pela perícia médica e satisfizer os requisitos – um auxílio (parcial) de Incapacidade para o Trabalho de longa duração, o WAO-uitkering. Existem extensas regulamentações legais sobre os direitos e deveres seus, a pessoa doente, e do seu empregador. Por causa de decisões políticas, ocorrem regularmente mudanças nas regras do WAO e na execução das regras. 67 e assuntos 10 Seguros financeiros Existem HIV positivos que fazem o teste de HIV anonimamente, e imediatamente após o resultado, fazem um seguro ou um empréstimo. Ao ser perguntado se ele sabe se é HIV positivo, ele diz que não sabe. Como o teste de HIV foi feito anonimamente, nunca poderá ser constatado se ele naquele momento sabia que era HIV positivo. É importante que se faça isto antes de ser realizado um controle ou tratamento médico. Em algumas seguradoras de saúde, não são feitas apenas perguntas sobre a saúde da pessoa, mas também é feito um teste de HIV. Neste caso, o que foi dito antes então não se aplica. Seguro de Saúde (Ziektekostenverzekering) Existem três tipos de seguros de saúde: –> ziekenfonds (seguro de saúde público), se a sua renda estiver abaixo de um determinado valor –> collectieve verzekeringen (seguro coletivo), através do seu empregador –> particuliere verzekeringen (seguro particular) Ao se fazer um seguro de saúde público ou um seguro coletivo, não é permitido que o obriguem a fazer um teste de HIV, e não é permitido que se faça perguntas sobre a sua saúde. Ao se fazer uma cobertura complementar do seguro de saúde público ou de um seguro particular, então são feitas perguntas sobre a sua saúde. Uma seguradora particular tem que lhe oferecer no mínimo um plano de seguro básico (standaardpakketpolis). Este é um seguro que tem uma cobertura menor por um prêmio maior. A cobertura e o prêmio deste plano de seguro básico é igual para todas as empresas seguradoras. Se você, antes de fazer um seguro particular, era segurado por um seguro coletivo, a empresa pela qual você estava segurado por um seguro coletivo é obrigada a lhe oferecer um seguro particular ‘normal’. Você não precisa, portanto, fazer a apólice de seguro básico. 68 Você corre o risco de ficar sem seguro somente: –> se antes de fazer um seguro particular, você tiver permanecido mais de quatro meses sem seguro, pois neste caso você poderá ser recusado. –> se ao fazer um seguro de saúde, você não responder honestamente às perguntas sobre a sua saúde, pois neste caso, se for provado que não foi honesto, a seguradora poderá romper o contrato. Seguro coletivo (collectieve verzekeringen) Se você puder, através do seu empregador, fazer um seguro coletivo de aposentadoria, WAO-gat, ANW-hiaat, saúde e incapacidade para o trabalho, então não é permitido que se faça perguntas sobre a sua saúde ou que se faça o teste de HIV. Seguro de vida e seguro de risco de falecimento (levensen overlijdensrisicoverzekering) Agora que você é HIV positivo, não poderá fazer um seguro de vida ou um seguro de risco de falecimento. Seguro particular de incapacidade para o trabalho (particuliere verzekeringen voor arbeidsongeschiktheid) e WAO-gat Agora que você é HIV positivo, não poderá fazer um seguro particular de incapacidade para o trabalho ou um WAO-gat. Há uma exceção: se você mudar da posição de assalariado para autônomo, poderá fechar um seguro de incapacidade para o trabalho. Seguro de aposentadoria particular (particuliere pensioenverzekering) Ao fazer um seguro de aposentadoria particular, é permitido que se façam perguntas sobre a sua saúde ou o teste de HIV. Existem, no entanto, outras possibilidades para organizar o seu plano de aposentadoria, no qual o seu HIV não causa problemas. Seguro de assistência funeral (begrafenisverzekering) Na maioria dos seguros de assistência funeral são feitas perguntas sobre a saúde. Alguns seguros não pagam ou pagam uma parte do seguro, se dentro de dois anos você morrer por algum outro motivo que um acidente. 69 Seguro de viagem (reisverzekering) Em alguns seguros de viagem há restrições, por exemplo, onde o seguro não paga os custos que podem ser previstos antes da viagem. Se você tem queixas de saúde ou está doente, pode ser uma boa idéia pedir ao seu médico de família ou internista uma declaração assinada, onde consta que você está apto a viajar. Você pode telefonar ou enviar um email ao Servicepunt do Hiv Vereniging, para se informar sobre seguros de saúde sem restrições no que se refere a doenças já existentes. Nem todos os seguros de saúde cobrem o transporte por ambulância ou ambulância aérea até a Holanda. Neste caso, talvez seja aconselhável fazer um seguro onde os custos de repatriação sejam cobertos. Hipotecas Agora que você é HIV positivo, existem restrições para conseguir uma hipoteca. É interesse do banco receber o dinheiro emprestado. O seu HIV não o impede de fazer uma hipoteca de no máximo o valor de execução do imóvel. O valor de execução é o valor do imóvel quando for preciso vendê-lo com urgência. Se você precisa de mais dinheiro do que o valor de execução, existem também algumas outras possibilidades. Para o assessoramento e fechamento de um contrato de hipoteca, você pode, através do Servicepunt do Hiv Vereniging, entrar em contato com uma empresa de consultoria financeira que trabalha para doentes crônicos. Empréstimos Ao fazer um empréstimo, é geralmente perguntado sobre a sua saúde. Agora que você é HIV positivo, pode significar que um empréstimo seja negado, ou que dentro de poucos anos tenha que ser reembolsado. Auxílio financeiro do Serviço Social (Sociale Dienst) Se você tem uma renda insuficiente para pagar custos extras causados por situações especiais, por exemplo, porque você tem HIV, você pode pedir um auxílio financeiro especial ao Serviço Social (Sociale Dienst). Mesmo que você não receba um subsídio de auxílio social (bijstandsuitkering), você pode beneficiar-se deste apoio financeiro. Para fazer o pedido, é necessário um relatório positivo do GGD (Gemeentelijke Gezondheids Dienst - Serviço Municipal de Saúde). Você pode 70 informar-se sobre o auxílio financeiro especial no Serviço Social da sua cidade. Auxílio financeiro do Aids Fonds Se você fizer gastos extras relacionados com o seu HIV, você pode fazer um pedido ao Aids Fonds se estes custos não forem reembolsados através de outros meios. Estes custos referemse, por exemplo, aos custos com medicamentos alternativos e terapias que não são cobertos pelo seu seguro de saúde. Os funcionários do departamento de Assistência Individual (Individuele Hulpverlening) do Aids Fonds podem lhe informar sobre isso. Suporte financeiro permanente e saneamento financeiro de dívidas não são possíveis. Na avaliação do seu pedido, é levado em conta: –> a sua renda –> a sua situação pessoal –> o suporte financeiro que você pode conseguir em outro lugar, como por exemplo, através do Serviço Social (Sociale Dienst) Para maiores informações, entre em contato com o departamento de Assistência Individual (Individuele Hulpverlening) do Aids Fonds. 71 11 Viagem ao exterior Talvez você vá visitar a sua família no exterior. Ou talvez você vá ao exterior de férias ou por causa do trabalho. No que você precisa ficar atento, agora que sabe que tem HIV? Assistência de saúde e riscos de doenças Você corre, às vezes, um grande risco de ficar doente num país estrangeiro. Você pode, por exemplo, ter diarréia, simplesmente porque a comida é diferente da que você está acostumado, ou porque as condições higiênicas são diferentes. Se a sua resistência está baixa, você vai sofrer antes os efeitos disso do que quando a sua resistência está boa. Além disso, o nível da assistência de saúde em alguns países é diferente do que na Holanda. Isto é algo a se levar em conta, por exemplo, se você tem problemas de saúde e pensa em viajar a um país em desenvolvimento. No website www.hivnet.org, você pode informarse sobre os hospitais no exterior. Restrições de viagem Alguns países têm restrições de viagem para HIV positivos. Há também países em que você precisa ter uma declaração negativa de AIDS se você desejar permanecer por mais tempo. Informe-se através do Servicepunt do Hiv Vereniging e do website www.hivnet.org. Diferenças de fuso horário A que horas você vai tomar os comprimidos se você viajar para um país com um fuso horário diferente do que da Holanda? Pequenas diferenças de fuso horário não importam muito. Você pode simplesmente continuar a tomar os comprimidos nos horários que você está acostumado, mesmo que a diferença seja de uma hora antes ou depois. Isto vale para a maioria dos países europeus e africanos, e também na entrada do horário de verão ou de inverno. Se você for a um país com uma grande diferença de fuso horário, é freqüentemente melhor tomar os comprimidos no mesmo horário local que na Holanda. Se você seguir o horário na Holanda, então você precisará ajustar o horário de tomar os comprimidos para mais cedo ou mais tarde, dependendo para onde for, para se encaixar no mesmo 72 horário da Holanda. Se você tiver que tomar os comprimidos, por exemplo, cinco horas antes, você pode fazê-lo em diversas etapas. Se você não sofre muito de efeitos colaterais, pode fazê-lo em grandes etapas. Se você tiver que tomar os comprimidos mais tarde para encaixá-los no horário da Holanda, é aconselhável fazê-lo em pequenas etapas. Se você fizer grandes saltos de tempo, você corre o risco de que os seus comprimidos não façam mais efeito no futuro. Você pode conversar com o seu internista ou enfermeiro sobre a adaptação do seu horário de tomar os comprimidos. Alta temperatura Muitos comprimidos precisam ser conservados abaixo de trinta graus Celcius. Alguns comprimidos precisam ser conservados na geladeira. Isto serve, por exemplo, para o Fortovase, Kaletra e ritonavir. Estes comprimidos podem ser conservados apenas algumas semanas abaixo de 25 graus. Nas bulas de seus comprimidos você pode ler como isto se aplica a eles. Se você for para um país quente, pode ser difícil manter os seus comprimidos resfriados. Você pode comprar estojos refrigerantes na Holanda, nos quais você conserva os seus comprimidos resfriados. Pergunte ao seu enfermeiro para obter mais informações. Algo sai errado Se você está num país estrangeiro e tem problemas com os seus comprimidos ou com a sua saúde, você pode então consultar um médico naquele país. Você pode também ligar para o seu enfermeiro ou internista na Holanda. Por isso é aconselhável você levar os seus números de telefone na viagem. Medicamentos Se você usa medicamentos, você pode pedir ao seu médico um ‘passaporte médico’. Este é uma síntese dos seus remédios. Com o seu passaporte médico, você pode comprovar na alfândega que não está levando drogas, mas remédios para o seu próprio uso. Um passaporte médico também pode ser útil se você necessitar de novos comprimidos num país estrangeiro. Sempre que for viajar de avião, leve consigo um amplo estoque de comprimidos na bagagem de mão, para o caso de ocorrer algum atraso no vôo ou se a sua bagagem extraviar-se. 73 Vacinação Se você for viajar para algum país tropical, contacte antes o GGD (Gemeentelijke Gezondheids Dienst - Serviço Municipal de Saúde) sobre as vacinas recomendadas. Algumas vacinas são desaconselhadas para HIV positivos. Você pode considerar em talvez mudar os planos de viagem. Camisinhas e lubrificantes Pode ser prático levar camisinhas e lubrificantes de boa qualidade, porque eles são às vezes difíceis de se conseguir no exterior. Seringas Seringas não são vendidas livremente em qualquer país, e em alguns países são até proibidas. Se você precisa de seringas, é aconselhável levar ao exterior seringas limpas suficientes. Para evitar problemas com a alfândega, você pode pedir ao seu médico uma declaração, onde consta que você precisa das seringas. Você pode também mandar redigir esta declaração no idioma do país que você vai visitar. 74 Sylvia ‘O HIV não é o fim da vida, mas o início de uma nova viagem’. Sylvia (37) é proveniente do México e chegou na Holanda há um ano e meio atrás: ‘Dez anos atrás tive um nodo no meu gânglio linfático. Aconselhada pela minha sobrinha, que estudava medicina, fiz um exame de sangue. Eu nem sabia que também seria feito um exame de HIV. Eu recebi o resultado num papel, e não entendi o que estava escrito. Eu liguei então para a minha sobrinha e li para ela. Ela disse: ‘Venha para cá agora e nós conversamos sobre isso’. Ela me explicou que isto provavelmente significava que eu tinha HIV. Atualmente, o teste de HIV dá um resultado seguro de imediato, mas naquela época era preciso fazer novamente o teste. Para fazer este teste, fui ao setor de AIDS em um hospital público na Cidade do México. O hospital estava cheio de beliches repletas de pessoas moribundas. Eu pensei: ‘Este é o meu futuro’. Fiquei um tempo tentando entender como eu tinha contraído a doença. Eu não tinha vivido como uma freira, e alguns anos antes tinha levado tiros e tinha sido estuprada. Naquela ocasião também fiz uma transfusão de sangue. Atualmente isto é seguro, mas naquela época no México, podia-se contrair HIV através disto. Eu tive que esperar duas semanas pelo resultado do teste confirmativo. Estas foram duas semanas horríveis, que eu raramente dormi. Naquela época no México, havia uma opinião muito negativa sobre as pessoas com HIV e AIDS. Elas diziam que as pessoas normais não contraíam AIDS, somente homossexuais, prostitutas e usuários de drogas. As pessoas faziam piadas sobre pessoas que morriam por causa da AIDS. Elas não sabiam se podiam apertar as mãos de pessoas com AIDS. Quando eu soube do resultado definitivo ‘HIV positivo’, neguei para mim mesma durante um longo tempo. Fingi como se tudo estivesse bem. Um pouco mais tarde, cheguei à conclusão de que não iria viver muito mais tempo, e resolvi viver o máximo possível. Eu ia a festas, bebia e 75 viajava. Eu não queria perder nenhuma praia e nenhum pôr-do-sol. Eu então conheci um jovem cubano, realmente louco por festas. A sua namorada tinha morrido por causa da AIDS, e por isso eu achava que ele também tinha HIV. Eu não tinha coragem de contar para ele sobre o meu HIV, mas nós fazíamos sexo sem proteção. Eu não perguntava nada a ele, e ele também não me perguntava nada. Olhando para trás, penso que eu devia ter dito para ele, mas eu tinha muito medo. E eu estava furiosa. Porque logo eu tive que contrair HIV? Eu queria viver e ter filhos. Eu estava completamente apaixonada por ele, e logo me casei com ele. Ele era feliz e otimista, e desfrutava das pequenas coisas da vida. Depois que nos casamos que eu contei a ele que tinha HIV. Alguns dias depois ele me contou que também era HIV positivo. Cinco meses depois do nosso casamento, ele foi embora. Quando eu voltei de uma visita ao médico, ele tinha ido embora. Ele nem se despediu de mim. Ele queria viver festejando e bebendo até encontrar a morte. Enquanto isso, eu tinha me tornado um caco. Tive uma infecção e pneumonia. Uma grande amiga minha estava grávida. Antes que ela soubesse do meu HIV, tinha me contado que queria que eu fosse a madrinha. Após o parto, ela soube do meu HIV. Eu não queria tocar na criança por causa do meu HIV, mas ela me entregou o bebê para eu segurá-lo nos meus braços. Este foi um momento crucial na minha vida. Eu agora sabia o quanto era importante para mim que as pessoas me aceitassem. Eu abri o meu coração para as pessoas que se importavam comigo. Este é, para mim, o lado bom do HIV. Eu fazia de tudo para viver o mais saudável possível. Eu queria continuar viva por causa da minha família. Eu fui à Florida com meu irmão e minha sobrinha. Através de um programa especial, eu recebi lá medicamentos contra o HIV, que na época não se conseguia no México. Todo os anos era uma luta para poder permanecer nos Estados Unidos. Num determinado dia, tive que ir embora do país. Eu não podia voltar ao México, porque lá a minha vida não era segura. Lá eu não iria adiante. 76 Através da Internet, conheci um jovem holandês com HIV. Nós nos encontramos algumas vezes. Eu me sentia muito ligada a ele. Nós nos entendemos tão bem, que decidimos que eu fosse morar com ele na Holanda. Ele morava numa pequena cidade. Ele se preocupava muito com o fato das pessoas virem a saber que ele tinha HIV. Ele assustava-se com a maneira aberta que eu vivia com meu HIV. Eu logo peguei as minhas malas novamente e parti. Eu não tinha a menor idéia para onde ir. Fui à polícia e me enviaram ao centro de refugiados. Eu vivo lá há um ano e meio. É horrível. Você não passa de um número e é tratado como um criminoso. É sujo, e eu tenho saudade de ter a minha própria casa. Eu estou aguardando há meses pelo próximo veredicto do meu caso. Eu acho que finalmente vou poder ficar na Holanda. No começo eu queria ouvir as histórias dos outros asilados, mas num dado momento, eu fiquei cansada de todo aquele sofrimento, da criminalidade, das mentiras e da falta de perspectiva. Comparando com os outros, me sinto rica. Não tenho dinheiro, mas tenho uma rica experiência. Muitos outros estão morrendo sozinhos. Eles não desfrutam a vida. Eu tenho agora vários amigos na Holanda. Alguns deles conheci através do SidáVida, o grupo de pessoas com HIV de língua espanhola. O SidáVida é como uma família para mim. Nós nos apoiamos e nos ajudamos. Eu sou muito aberta sobre o meu HIV. Isso me ajuda a sobreviver e ter uma boa qualidade de vida. É importante para mim dar apoio. Eu quero mostrar que há esperança. O HIV não é o fim da vida, mas o início de uma nova viagem. Você precisa de um pouco de ajuda, mas depois você encontra o seu próprio caminho. Eu quero mostrar também que todo tipo de pessoas tem HIV, não apenas homossexuais, prostitutas e usuários de drogas. Eu sou positiva sobre o meu futuro. Eu faço o melhor que posso para viver feliz e saudável, e desfrutar de cada dia. Isto não é sempre fácil. Eu acho difícil viver tão longe da minha família. Por ser uma asilada, eu não posso ter um emprego pago. Por causa do HIV, eu me sinto às vezes cansada e doente, e por causa dos anti-retrovirais, meus seios cresceram. 77 Eu acredito em Deus. Eu sou católica. Eu não concordo com muitas coisas da igreja católica. A minha religião não representa um papel importante na minha vida com HIV. Eu desfruto do sexo tanto quanto antigamente. Eu não tenho a sensação de que eu tenho um veneno no meu organismo. Eu assumo a minha responsabilidade. Eu o faço por causa da outra pessoa, mas também por causa de mim. Eu posso também contrair doenças venéreas de outra pessoa. Antes de fazer sexo, eu conto sempre à outra pessoa que eu tenho HIV. Alguns não acreditam em mim. Eu prefiro me encontrar com homens que também têm HIV. Eu me sinto mais à vontade com um homem que têm HIV. Algumas vezes me sinto sozinha. Então eu escrevo aos meus amigos e minha família. Eu quero ter a certeza de dizer tudo o que precisa ser dito antes de eu morrer. Eu não quero ir para a cama quando estou com raiva. Desde que tenho HIV, eu tiro a maior quantidade de fotos possível, e faço contatos com o maior número de pessoas possível. Esta é a minha maneira de continuar viva’. 78 12 O Hiv Vereniging Você não precisa viver sozinho com o HIV. Você pode pedir ajuda aos ‘apoiadores’. Talvez você precise de informações e conselhos: na escolha de não contar a determinadas pessoas que você é soropositivo; na escolha de começar com a terapia combinada; em situações desagradáveis que você talvez se encontre, etc. Também pode ser que você apenas queira falar sobre a sua vida com HIV, ou que, de uma maneira ou de outra, deseja entrar em contato com outras pessoas com HIV. O Hiv Vereniging cuida dos interesses das pessoas com HIV, por exemplo, com a publicação deste folheto. Este capítulo contém um resumo do apoio que o Hiv Vereniging pode lhe oferecer. Para mais informações sobre o Hiv Vereniging, entre em contato com o Servicepunt do Hiv Vereniging ou acesse o site www.hivnet.org. Diversidade de grupos O Hiv Vereniging está aberto a todos que estão com HIV. No Hiv Vereniging existe lugar para diversos grupos, como: –> Pama (Positive Africans Mutal Aids) para as pessoas oriundas da África –> SidáVida para os latinos –> Jong Positief para jovens –> Grupo de trabalho que organiza atividades para heterosexuais e mulheres –> Grupo de trabalho para presos PAMA Positive Africans Mutual Aid PAMA é um grupo comunitário sem fins lucrativos fundado por africanos que vivem com HIV/AIDS na Holanda. Os seus membros dirigem o PAMA, apesar de contar com a Hiv Vereniging Nederland para financiamento e outras logísticas. O objetivo do PAMA é permitir que seus membros reativem e mantenham a melhor qualidade possível de vida pessoal. Também está na sua agenda contribuir na mobilização e apoio para lutar contra o HIV/AIDS e os confrontos sociais relacionados com as vítimas na África e em todo o mundo. O nosso lema é ‘através da ajuda mútua, podemos tornar a vida melhor’. Verdadeiro, pois na África tradicional, o amor e simpatia dos companheiros estão a serviço das pessoas afligidas por 79 estes problemas. Na nossa vida com PAMA, aprendemos que as experiências de alguém com HIV/AIDS são benéficas para outra pessoa. Basicamente, esta é a ajuda central. Nós discutimos os nossos desafios emocionais, jurídicos, sociais, etc. A partir disso, informações e apoio apropriados são fornecidos através das experiências dos outros membros e especialistas. Para isso nós organizamos mensalmente encontros, workshops/seminários, orações, fins de semana, contatos telefônicos e visitas individuais. Estamos planejando também serviços de assistência e atividades internacionais como as atividades de consciência comunitária e a troca de informações entre as organizações de HIV/AIDS na África, EUA e outros países. Afiliação: Todos os africanos que vivem com HIV/AIDS na Holanda estão convidados e são encorajados a unir-se ao PAMA. Você é soropositivo e desenvolveu a AIDS. E agora? Não esqueça, este não é o fim do caminho e você irá ficar bem! Telefone para nós e una-se a nós! Juntos podemos ter força, voz, energia e poder para lutar contra os nossos problemas e contribuir para a mobilização na luta contra o HIV/AIDS nas nossas vidas, na nossa região e no mundo. Também juntos, convocamos o amor e o poder de Deus. Endereço para contato: Positive Africans Mutual Aid, PAMA 1e Helmersstraat 17, Postbus 15847 1001 NH Amsterdam 020 6160160 ext. 207 (Quartas, quintas e sextas) Ou 020 689 25 77 (Servicepunt Hiv Vereniging Nederland) Email: [email protected] Internet: www.hivnet.org SIDAVIDA Grupo espanhol para pessoas infectadas e afetadas por HIV/ AIDS na Holanda. Quem somos? SIDAVIDA começou em 1999 em Amsterdam, onde possui a sua sede. Nas nossas atividades, o respeito e a discrição são muito importantes entre o grupo de voluntários, clientes e membros da família. No SIDAVIDA todos os tipos de pessoas são bem-vindos, não 80 importa qual a sua orientação sexual: heterossexuais, bissexuais, homossexuais, transexuais, etc. As pessoas que falam português também são bem-vindas. Atividades: –> Apoio individual fornecido por um membro do grupo –> Encontros mensais para apoio mútuo e informação –> Contatos telefônicos –> Informações gerais sobre HIV/AIDS, por exemplo, médicas, jurídicas, etc. –> Eucaristia e suporte para pacientes através de um pastor (casa Migrante) –> Workshops para elevar a qualidade de vida. Endereço: SIDAVIDA 1e Helmersstraat 17 – andar térreo 1054 CX Amsterdam tel. 020-6160160 ext. 207 fax. 020-6161200 Celular 06-41082580 E-mail [email protected] Website www.hivnet.org Hivnieuws (Notícias sobre HIV) Através da revista Hivnieuws (Novidades sobre o HIV), os membros do Hiv Vereniging ficam a par dos novos desenvolvimentos e atividades que podem ser de interesse na sua vida com HIV. A revista é publicada de 4 a 6 vezes por ano e é escrita em holandês. Atividades em vários lugares na Holanda O Hiv Vereniging possui vários escritórios e pontos de apoio na Holanda. Estes escritórios e pontos de apoio e a organização nacional do Hiv Vereniging organizam muitas atividades em diversos lugares na Holanda, como por exemplo: –> saídas à noite para um café, tomar uma bebida, jantares e brunches –> trabalho do corpo, com atenção no movimento corporal e tratamento do estresse –> apoio no trabalho e no retorno ao trabalho com HIV –> reuniões sobre medicamentos alternativos e terapias 81 Se você é membro, será informado das atividades que são organizadas na sua região. Grupos de conversas Grupos de conversas para soropositivos são organizados em diversos lugares na Holanda, e são coordenados por voluntários que também são soropositivos. Também são realizados grupos de palestras direcionados às pessoas que sabem há pouco tempo que são soropositivas. Para mais informações e para se inscrever no grupo de palestras, você pode telefonar para o Servicepunt do Hiv Vereniging. Websites e links No website www.hivnet.org é possível obter informações que podem ser úteis para a sua vida com HIV. Durante o ano de 2004 estará disponível no website o texto deste folheto e outros textos em inglês, francês, espanhol e português. PAMA e SIDAVIDA irão preencher as suas próprias páginas. Você pode também ir ao website criado especialmente para jovens do Hiv Vereniging: www.jongpositief.nl, em holandês e inglês. Na página de links do website você encontra muitos outros bons websites relacionados com HIV e AIDS, muitos dos quais em inglês. Servicepunt Hiv Vereniging Nederland 020 689 2577 (dias úteis das 14:00 às 22:00) [email protected] Você pode telefonar ou enviar um email ao Servicepunt do Hiv Vereniging: –> para informar-se sobre as atividades para soropositivos, possivelmente perto de você –> para informações médicas e jurídicas –> para conversar com alguém que também é soropositivo –> para fazer alguma pergunta que você talvez tenha após ler este folheto Se você desejar, é possível telefonar anonimamente. No Servicepunt as pessoas falam vários idiomas. Atividades voluntárias Muitos soropositivos são ativos, de uma ou outra maneira, como voluntários no Hiv Vereniging. Estes voluntários formam o coração da associação. Esta pode ser uma maneira 82 boa e divertida de estar ativamente em contato com outros soropositivos. Ao tornar-se membro do Hiv Vereniging, você é informado sobre as várias possibilidades de estar ativo como voluntário. Defendendo os interesses O Hiv Vereniging segue a política holandesa em torno do HIV e AIDS e os desenvolvimentos médicos, sociais, jurídicos e políticos que interessam aos soropositivos. O Hiv Vereniging também defende regionalmente os interesses das pessoas com HIV. Para exercitar a maior influência possível, o Hiv Vereniging mantém contatos com organizações, médicos, políticos e dirigentes envolvidos. Ficou interessado? Ficou interessado no Hiv Vereniging? Torne-se então membro através do cartão de resposta incluído neste folheto. Não tem o cartão? Então ligue para o Servicepunt do Hiv Vereniging através do número 020 6892577. Hiv Vereniging Nederland Eerste Helmersstraat 17 1054 CX Amsterdam Postbus 15847 1001 NH Amsterdam 020 6 160 160 fax 020 616 1200 [email protected] www.hivnet.org www.jongpositief.nl 83 13 Outras organizações Neste folheto foram descritos todos os internistas e enfermeiros de HIV como profissionais de apoio na a sua vida com HIV, e no capítulo anterior o Hiv Vereniging. Que outros apoiadores existem? Médicos de família Você pode ir diretamente ao seu médico de família se tem perguntas e problemas médicos. Se você é soropositivo, ele é o primeiro a ser contactado para assuntos médicos. Você pode ter certeza que ele ou lhe ajuda ou lhe encaminha. Nem todos os médicos de família têm a mesma experiência com pacientes soropositivos. AFAPAC A AFAPAC FOUNDATION é dedicada à prevenção da AIDS e promoção da saúde geral entre os africanos subsaharianos na Holanda. A AFAPAC organiza treinos para o pessoal de saúde, médicos e instituições holandesas para permiti-los oferecer melhores serviços aos pacientes africanos. A AFAPAC foi fundada em 1993 dentro do sistema da Política Nacional Holandesa de Prevenção e Controle da AIDS. A AFAPAC foi formada para satisfazer as crescentes necessidades dos africanos de um programa culturalmente apropriado de prevenção da AIDS. A necessidade de atividades cresceu durante os anos, o que levou a organização a oferecer uma ampla gama de serviços nas áreas de prevenção da AIDS e assistência médica geral. A AFAPAC possui uma enorme variedade de atividades como: suporte e prevenção do HIV/AIDS, suporte médico geral (incluindo o suporte relacionado ao sistema de assistência médica holandês para residentes legais e ilegais), programas de rádio, treinamentos e serviços de consultoria. A ARAPAC também está envolvida em projetos de pesquisa e projetos internacionais. Mais informações você encontra no website www.afapac.nl. –> AFAPAC Foundation www.afapac.nl Daalwijk 29, 1102 AA Amsterdam 020 6003454 84 Fax 020 6006269 E-mail: [email protected] Geestelijke Gezondheidszorg (Assistência Médica Psicológica) e Algemeen Maatschappelijk Werk (Serviço Social) Você pode procurar o Geestelijke Gezondheidszorg (GGZ) e o Algemeen Maatschappelijk Werk (AMW) se precisar de ajuda psicossocial. Eles lhe podem ajudar se, por exemplo, você tenha problemas psicológicos devido ao HIV. Através do GGZ, você entra em contato com um enfermeiro social, psicólogo ou psiquiatra. Através do AMW, você é auxiliado por um funcionário do serviço social. As conversas com o GGZ, em geral, têm caráter mais profundo. Você pode ir ao AMW se precisar de uma ajuda prática, por exemplo, se tiver problemas com assuntos econômicos ou habitacionais. Você pode entrar em contato com o GGZ e AMW através de seu médico de família, mas você também pode procurá-los por iniciativa própria. Algumas vezes estão disponíveis funcionários que são treinados para tratar com soropositivos. Em algumas ocasiões pode existir uma fila de espera antes que você consiga a oportunidade de conversar. Você pode obter informações sobre o GGZ e AMW nas suas próprias agências localizadas na sua cidade. Marieke Bevelanderhuis Se você tem necessidade de uma conversa pessoal e individual com alguém que também tem HIV, então a Marieke Bevelanderhuis é o lugar indicado para você. Os colaboradores voluntários da Marieke Bevelanderhuis estão disponíveis 24 horas por dia. É possível conversar em vários idiomas e também através de comunicação de sinais para surdos. Para marcar um horário, basta telefonar. –> www.mbhuis.nl 020 665 2099 Stichting (Fundação) de Regenboog Esta fundação apoia os viciados em drogas. Umas das formas de apoio é através do chamado ‘Buddy’. Um buddy é um voluntário treinado que oferece ajuda social, emocional e prática. –> www.deregenboog.org 020 5317600 Mainline Mainline trabalha na prevenção e saúde dos usuários de drogas. A Mainline publica, entre outros, o informativo ‘Take it’ desti85 nado aos usuários de drogas soropositivos. –> www.mainline.org 020 682 2660 Belangenvereniging Drugsgebruikers (Associação pelos interesses dos usuários de drogas) MDHG MDHG defende a legalização, normalização, emancipação e aceitação dos usuários de drogas. –> www.mdhg.nl 020 624 4775 Stichting (Fundação) Vuurvlinder A Vuurvlinder organiza atividades nos campos de saúde e doença, bem-estar corporal e mental, espiritualidade e o sentido da vida. –> www.stichtingvuurvlinder.nl 0487 573 315 Schorerstichting Schorerstichting é um centro de conhecimento e informações para assistência médica para homens homossexuais e mulheres lésbicas. Para obter informações sobre os profissionais da área social e de saúde que são simpatizantes aos homossexuais e portadores de HIV, ligue para o helpdesk do Schorerstichting. Você também pode apresentar as suas queixas no helpdesk sobre profissionais que discriminam os homossexuais. Além disso, o Schorerstichting publica folders, folhetos e livros. –> www.schorer.nl 020 662 4206 Gemeentelijke Gezondheids Dienst (GGD) (Serviço Municipal de Saúde) Você pode ir ao GGD, que se encontra em várias localidades na Holanda, para vacinações, informações sobre viagens, e fazer o controle de HIV ou outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) de forma anônima. No GGD é possível conversar com um enfermeiro social. –> www.ggd.nl Duc d’Alf Duc d’ Alf organiza passeios e viagens de barco com o navio ‘de Gebroeders’ para pessoas com HIV e seus amigos. –> www.ducdalf.org 013 535 6992 86 Donorregistratie (Registro de doadores) Agora que você é soropositivo, é preciso afastar-se como doador de sangue, doador de esperma e doador de órgãos e tecidos. Se você está registrado como doador no Registro de Doadores do Ministerie van Volksgezondheid, Welzijn en Sport (Ministério da Saúde, Bem-Estar e Esporte), é preciso informá-los que você irá afastar-se como doador. –> 0900 821 2166 Sensoa Sensoa existe para dar acolhida e amparo aos soropositivos na Bélgica. Sensoa é o centro de serviços e especialista na área de HIV e DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) na Bélgica. –> www.sensoa.be +32 (0) 3 238 6868 Aids Soa Infolijn (Serviço de informações sobre DST e AIDS) Você pode ligar para o Aids Soa Infolijn e fazer as suas perguntas sobre HIV, AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Este número de telefone está disponível 24 horas por dia. De segunda-feira até sexta-feira das 14:00 às 22:00, você será atendido pessoalmente por um colaborador. Fora destes horários, você pode ouvir informações gravadas através de uma lista de opções. Os colaboradores também falam inglês. 0900 2042040 (10 centavos de euro por minuto) Aids Fonds O Aids Fonds mobiliza a sociedade para a luta nacional e internacional contra o HIV e a AIDS. O Aids Fonds promove assistência às pessoas com HIV e AIDS nas áreas médica, psicossocial e social, e fornece também ajuda financeira direta. Para esta última, você pode se encaminhar ao departamento de assistência individual. Além disso, o Aids Fonds estimula atividades de prevenção para evitar novas infecções por HIV. –> www.aidsfonds.nl –> Keizersgracht 390-392, 1016 GB Amsterdam 020 6262 669 [email protected] 87 Boris ‘Mesmo que você seja cem por cento heterossexual, você pode contrair o HIV’. Boris (30) fez há cinco anos atrás um exame de doenças venéreas: ‘A enfermeira me perguntou se eu também queria fazer o teste de HIV. Sem pensar, eu disse que sim. Eu não contava que o resultado do exame fosse ser ruim. Eu não me sentia nem um pouco doente. Eu transei com muitas garotas ao longo destes anos. Algumas vezes aconteceu sem camisinha. Eu achava na época muito ingenuamente que o HIV somente ocorria com homossexuais e usuários de drogas. Eu reagi lacônico ao resultado ‘HIV positivo’. Eu logo brinquei que eu tinha ganho o prêmio da loteria do HIV. Eu pensava: ‘Bem, eu vou ter que aceitar isto’. Eu sempre fui realista, e encaro a vida como ela vem para mim. Eu quis logo saber o lado prático da situação: Tenho que tomar os comprimidos? Como vai ser com o sexo? Este tipo de perguntas. Eu imediatamente contei aos meus pais, e a alguns amigos meus de outra cidade, que eu era HIV positivo. Eles todos disseram: ‘Mas como, se você não é homossexual?’. É uma grande erro dizer que somente homossexuais contraem HIV. Eu gostaria de gritar de cima do telhado: todos que fazem sexo sem proteção podem contrair HIV, mesmo que você seja cem por cento heterossexual. No início, meus pais e meus amigos não sabiam o que fazer comigo. Eles me tratavam como um doente de AIDS, e não viam que eu era simplesmente o velho Boris. Um dos meus amigos foi ao exterior por alguns meses. Quando eu depois o reencontrei, ele olhou para mim muito surpreendido e disse: ‘Mas você ainda está muito bem!’. Muitas pessoas acham que, se você tem HIV, vai ficar parecido com um 88 morto-vivo. Eles têm esta imagem por causa da televisão. Atualmente, os meus pais e amigos estão acostumados ao meu HIV. Algumas vezes parece até que eles se esqueceram dele. Se eu saio com meus amigos, e às duas horas da manhã digo que vou para casa, eles não entendem que eu estou totalmente derrubado. Isto não acontece porque eu bebi demais na noite anterior, mas porque agora eu tenho muito menos energia do que antigamente. Eu não quero que ninguém saiba na minha cidade, que é pequena, que eu tenho HIV. Lá existe uma estrutura social muito estreita. Há alguns anos atrás, uma pessoa foi excluída socialmente porque soube-se na cidade que ele era HIV positivo. A família do rapaz ainda tentou na época disfarçar dizendo que ele tinha câncer. Que situação. Isto eu não quero passar. Eu não conto para ninguém na minha cidade, e eu não busco os meus comprimidos na farmácia da cidade. Se eu fizer, seria o mesmo que colocar no jornal que eu tenho HIV. Eu trabalho no setor administrativo num escritório aqui na cidade. Lá eles também não sabem de nada. Eu fui algumas vezes ao Hiv Vereniging. Lá eu conheci algumas pessoas com HIV. Eu gosto de saber como os outros vivem com o seu HIV, e que tipo de problemas eles enfrentam. A primeira vez que eu fui ao internista, ele me aconselhou a começar imediatamente com os anti-retrovirais, e foi o que fiz. Eu não sentia nada antes de começar a tomar os comprimidos. Os resultados no papel indicam que estou melhor: a minha carga viral está indetectável, e eu tenho muito mais células CD4. Eu não sinto quase nada dos comprimidos. Mas eu me sinto pior: tenho muito menos energia do que antes, o que me faz ficar muito irritado. Além disso, tenho algumas vezes diarréia e erupções na pele. Não está claro se são causados pelo HIV ou pelos compri-midos. Eu tenho que tomar os comprimidos duas vezes por dia. Tenho que tomá-los precisamente na hora determinada, mas eu não tenho vontade de me tornar um escravo do relógio. Algumas vezes acontece de eu atrasar algumas horas. O meu internista diz que isto não é sensato, mas eu também estou querendo viver a minha vida. Não estou a fim de ficar preocupado com isso. 89 Eu não tinha vontade de fazer sexo no primeiro ano depois que soube do meu HIV. Agora eu sempre o faço com proteção: mesmo quando eu ganho um boquete, eu uso camisinha. Eu não quero, de maneira alguma, contaminar outra pessoa com o meu HIV. Eu não tenho um relacionamento fixo, mas de vez em quando levo uma garota para casa. Eu sempre conto antes sobre o meu HIV. Algumas vezes elas desistem. Algumas vezes aconteceu também das amigas dela dizerem: ‘Você é doido! Sabe os riscos que corre?’. Eu disse então: ‘Comigo você sabe da situação, e por isso o fazemos seguro. Com outro, você tem que esperar. Talvez você faça uma vez sem proteção e depois vai ter uma notícia desagradável’. Na maioria das vezes elas ficam convencidas, e temos uma noite fantástica’. 90 14 Hiv em síntese Neste folheto é amplamente tratado o lado médico do HIV. Neste capítulo descrevemos mais uma vez de forma resumida o significado dos termos mais importantes. HIV A abreviatura significa Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana). HIV é um vírus que enfraquece as suas defesas, o sistema imunológico, contra as doenças. As suas defesas então não são mais capazes de combater bem as doenças. Você pode contrair infecções que as defesas das pessoas que não são soropositivas podem combater sem problemas. Se você é soropositivo, não significa que você tem AIDS. AIDS A abreviatura significa Acquired Immuno Deficiency Sydrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma infecção adquirida na qual o sistema de defesa fica enfraquecido, e com isso um conjunto de doenças pode atuar. Você recebe o diagnóstico de AIDS somente se o vírus HIV atacar tanto as suas defesas, que você contrai uma infecção oportunista. Infecção oportunista Esta é uma infecção que a sua defesa normalmente pode eliminar. Com uma resistência mais baixa, tal infecção pode aproveitar a oportunidade para atacar. Você está muito suscetível a contrair infecções oportunistas se possui menos do que 200 células CD-4. CD4 As células CD-4, também chamadas células T4, são células sanguíneas brancas nas quais o HIV se reproduz e as quais são destruídas pelo HIV. Através de exame de sangue, é possível medir a quantidade de células CD-4, e assim determinar como está o seu sistema de defesa. Se após exames periódicos é constatado que a quantidade de células CD-4 está caindo com o passar do tempo, esta é uma indicação de que as suas defesas estão diminuindo. Isto é possível de se prever através da determinação da carga viral no seu sangue: Uma carga viral alta significa que possivelmente a sua resistência irá diminuir rapidamente, e 91 com isso você fique doente mais cedo. Carga viral Esta é a quantidade de partículas do vírus HIV por mililitro de sangue. A sua carga viral pode subir até acima de milhão. A sua carga viral também pode estar tão baixa, que não é possível detectá-la. Assim como a quantidade de células CD-4, a sua carga viral também oscila. Quando a sua carga viral aumenta duas vezes seguidas, por exemplo duplica, então possivelmente algo errado está acontecendo. A quantificação da carga viral também é usada para julgar se você suporta bem os anti-retrovirais. Um tratamento é bem sucedido se a sua carga viral cai 95 por cento após um mês, e dentro de seis meses está indetectável. Anti-retrovirais Estes são os comprimidos contra o HIV. Como o tratamento do HIV é constituído de uma combinação de diferentes antiretrovirais, ele é também chamado de coquetel ou terapia combinada. Se você num determinado momento começa a tomar estes comprimidos, então a chance é grande de que você continue saudável por muito mais tempo. Geralmente a terapia combinada é composta de dois até cinco comprimidos, os quais você deve tomar uma ou duas vezes por dia em horários fixos. Existem no momento quinze anti-retrovirais, que são divididos em quatro tipos diferentes: –> inibidores da protease –> inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos –> inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa –> inibidores de fusão Lipodistrofia Este é um efeito colateral que algumas pessoas têm ao tomarem os anti-retrovirais. A lipodistrofia é uma modificação na distribuição de gordura pelo corpo: a gordura pode ser acrescentada na sua barriga ou nas suas costas, assim como a gordura pode desaparecer do seu rosto, braços, pernas e nádegas. Os efeitos colaterais que ocorrem mais freqüentemente do que a lipodistrofia são enjôo, vômitos, diarréia, dor de cabeça e cansaço. 92 Bert ‘Eu acho que sem o HIV, eu não estaria tão bem como agora’. Bert (34) viveu uma vida agitada no cenário gay: ‘Eu fiz o teste de HIV há cinco anos atrás. Eu não tinha problemas com a minha saúde, mas queria fazer o levantamento da situação. Nos anos anteriores, eu fiz sexo com muitos rapazes. Eu nunca realmente fiz sexo sem proteção, mas não era tão rigoroso assim. Após alguns anos de psicoterapia, eu me sentia forte o suficiente para enfrentar um resultado ruim eventual. Eu ainda vejo o meu médico de família me dizendo: ‘Eu tenho uma péssima notícia para você’. O meu primeiro pensamento foi: ‘Agora não vou mais poder ter filhos’. Eu me via morrendo rapidamente. Foi terrível, e eu chorei muito. Eu contei logo aos meus amigos, minha família e no meu trabalho, que eu sou HIV positivo. Eu não tinha vontade de viver com um segredo, da mesma forma que quando eu descobri a minha homossexualidade. Eu explicava para todo mundo a minha situação para aliviar o meu choque. Se atualmente eu conto a alguém sobre o meu HIV, é quase como um comunicado casual. Algumas vezes o assunto vem à tona porque eu tomo os meus comprimidos abertamente, sem me esconder. Como isso não é mais um problema para mim, eu conto relaxado. Por isso, as pessoas reagem agora, em geral, tranquilamente. Alguns meses depois de saber que eu era HIV positivo, sofri uma grande crise. Tudo aquilo com que eu estava insatisfeito na minha vida veio à tona. Foi um período terrivelmente difícil: eu ficava louco se estivesse por um momento sozinho, e queria dar um fim à minha vida. Com a ajuda de um psiquiatra, consegui atravessar este período. Eu saí dele mais forte: eu tenho agora mais confiança em mim mesmo do que antes. Eu acho que sem o HIV, eu não estaria tão bem como agora. Antes eu sempre me sentia muito perturbado quando me perguntavam 93 se eu tinha HIV. Agora estou despreocupado: eu tenho HIV. Pode parecer estranho, mas eu aprendi a viver com incertezas: incerteza sobre a minha saúde, e sobre o quanto a minha vida vai durar. Para encontrar um bom lugar para fazer um tratamento, eu marquei uma consulta em três hospitais diferentes. O primeiro internista disse: ‘Não é sensato que você aborde isto desta maneira. Você torna as coisas difíceis para você mesmo’. Eu concluí que não poderia esperar dele muito respeito pelas minhas próprias escolhas, e por isso desisti dele. Eu não estou satisfeito com o hospital que eu finalmente escolhi: no meu primeiro ano, tive cinco internistas diferentes, que divergiam de opinião sobre se era bom ou não começar a tomar os anti-retrovirais. Depois que eu fiquei zangado, tenho agora sempre o mesmo internista. Ele mostra muito pouco interesse por mim. Eu vou lá apenas para receber o resultado do exame de sangue e a receita para buscar novos comprimidos. A minha quantidade de células CD4, durante os primeiros dois anos, estava entre 400 e 600, e a minha carga viral variava em torno de 150.000. Eu achei a decisão de começar ou não com os anti-retrovirais muito difícil. Eu hesitei muito. Quando eu comecei a me sentir muito cansado e a minha carga viral de repente subiu para 1.500.000, finalmente iniciei a tratamento. Os meus anti-retrovirais fazem bastante efeito, apenas o cansaço persiste. Nos primeiros meses sofri um pouco de diarréia. O ‘efeito colateral’ que eu agora sofro, é uma sensação de estresse, porque eu sempre tenho que tomar os comprimidos na hora certa. O alarme do meu relógio me ajuda nisso, mas mesmo assim, controlo seis vezes por dia, em leve pânico, o estojinho de comprimidos. Eu acho difícil ser aberto sobre o meu HIV no mundo gay. Eu não me sinto nem um pouco obrigado a contar sobre o meu HIV aos homens com que eu tenho sexo. A maioria das pessoas com HIV não sabem que têm HIV. Portanto, se você não quer contrair HIV, tem que fazer sexo com proteção com todos. Se o relacionamento torna-se sério, acho correto contar à pessoa. Antes, o fato de contar me 94 deixava muito estressado, mas agora eu penso: rapidamente estará evidente se a pessoa gosta de mim. Se no mundo gay, um rapaz deixa claro que para ele não é preciso fazer sexo seguro, eu respondo: ‘Certo, mas eu tenho HIV’. Já me ocorreu duas vezes em que a resposta foi: ‘Eu também!’. A minha camisinha rasgou uma vez durante o sexo. Eu então contei ao rapaz que eu sou soropositivo. Ele apreciou o fato de eu ter contado. Ele ainda não tinha ouvido falar da PEP, o tratamento que consiste em tomar anti-retrovirais durante um curto período logo após um eventual contágio. Eu contei sobre isso a ele, e nós fomos juntos ao setor de primeiros socorros do hospital. Ele achou muito corajoso da parte dele em ter que tomar anti-retrovirais durante um mês. Eu participei de um grupo de conversa no Hiv Vereniging. Lá fiquei amigo de algumas pessoas HIV positivas. Eu acho muito especial a intimidade com outras pessoas com HIV. Não pense que fico a noite inteira conversando sobre HIV. Ao contrário: na maioria das vezes, só é preciso meia palavra. A gente simplesmente se entende, mesmo que cada um viva a sua vida com HIV da sua própria maneira. Até o ano passado, eu trabalhei como consultor organizacional para um grupo de empresas. O meu HIV não causava lá nenhum problema, e nos tempos difíceis as pessoas demonstraram compreensão comigo. Eu me apeguei muito às garantias financeiras daquele trabalho. No ano passado quis mudar de emprego. Eu não queria ocultar o meu HIV nas entrevistas, e achei que as chances de um novo emprego fossem, por isso, muito pequenas. Por isso, tomei coragem e resolvi ir à luta como consultor organizacional autônomo. Eu estou adorando. Trabalhar como autônomo traz um pouco de incerteza, mas por causa do meu HIV, já estou acostumado a viver com incertezas. Eu não vou me limitar por causa do meu HIV. Pelo contrário!’. 95 Colofão publicação Hiv Vereniging Nederland redação Eric Kollen, Kees Rümke, Ronald Vos, Robert Witlox texto Fred Verdult, Volle Maan Communicatiebureau tradução Paulo Schroeter fotografia Lisette van Hooijdonk Extraído da série ‘Kracht – hiv-positieven in beeld’ (Força – HIV positivos em imagens). A série completa de fotografias está disponível no website: www.hivnet.org/kunst/kracht impressão Drukkerij Raddraaier design Hennipman + Schalken communicatieontwerpers vof agradecimentos ao –> Aids Fonds, FondsPGO, Boehringer Ingelheim, Stichting De Trut e membros e doadores do Hiv Vereniging, que tornam possíveis as atividades do Hiv Vereniging Nederland –> PAMA e SidáVida, por seu envolvimento na realização desta versão revisada –> os entrevistados –> os retratados ©Hiv Vereniging Nederland, abril 2004 Todos os direitos reservados. Nada desta publicação pode ser reproduzido, armazenado em um arquivo de dados eletrônico ou divulgados publicamente, em qualquer forma, seja ela eletrônica, mecânica, através de fotocópias, gravações ou qualquer outra maneira, sem autorização prévia do Hiv Vereniging Nederland. Apesar de todos os cuidados aplicados na redação deste folheto, o Hiv Vereniging Nederland não assume nenhuma responsabilidade pelos danos causados por quaisquer erros encontrados nesta publicação. 96 Este folheto é uma publicação do Hiv Vereniging Nederland O Hiv Vereniging cuida dos interesses das pessoas com HIV. Quanto mais membros o Hiv Vereniging possui, melhor será para os interesses dos soropositivos. Se você torna-se membro, você recebe periodicamente a revista Hivnieuws (em holandês). Assim você fica a par dos novos desenvolvimentos e atividades. Este folheto (e um outro folheto) é publicado em holandês, espanhol, português, inglês e francês. O texto também pode ser lido no website www.hivnet.org Você pode tornar-se membro do Hiv Vereniging através do cartão de resposta incluído neste folheto. Senão tiver o cartão, ligue para o Servicepunt do HIV Vereniging. Você também pode apoiar o Hiv Vereniging fazendo uma doação ao Stichting Vrienden van de Hiv Vereniging Nederland, gironummer (conta bancária): 9263523 em Amsterdam. Servicepunt Hiv Vereniging Nederland 020 6892577 (dias úteis das 14:00 às 22:00) [email protected] Aqui você pode vir com todas as suas perguntas, mesmo se não fala holandês. Hiv Vereniging Nederland, Pama e Sidavida: Endereço postal: Postbus 15847, 1001 NH Amsterdam Endereço de visita: Eerste Helmersstraat 17, 1054 CX Amsterdam 020 6160160 fax 020 6161200 www.hivnet.org www.jonpositief.nl