Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel
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Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel
Zeila Chittolina Piotto Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel - Estudo de Caso Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Engenharia, junto ao Departamento de Hidráulica e Sanitária. (Volumes 1 e 2) São Paulo 2003 Engenharia Zeila Chittolina Piotto Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel - Estudo de Caso Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia Hidráulica e Sanitária. Orientadora: Dra. Dione Mari Morita São Paulo 2003 Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. São Paulo, 30 de abril 2003. Assinatura do autor ____________________________ Assinatura do orientador _______________________ FICHA CATALOGRÁFICA Piotto, Zeila Chittolina Eco-eficiência na indústria de celulose e papel – estudo de caso / Zeila Chittolina Piotto. – São Paulo, 2003. 379 p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária. 1.Eco-eficiência 2.Indústrias de celulose e papel 3.Estudo de caso I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária II.t. FICHA CATALOGRÁFICA A minha família pelo carinho, estímulo e compreensão pelos momentos de ausência. AGRADECIMENTOS A professora Dione pelo incansável apoio, incentivo e competente orientação durante a execução deste trabalho. A Votorantim Celulose e Papel -VCP pelo patrocínio, em especial à Francisco Valério, José Arno Schappo, Marcelo Castelli, José Eduardo Patelli e Carlos R. Paiva Monteiro. Ao colega Luiz Alberto Banci pela competente revisão do texto. A todos os colegas da VCP que contribuiram com informações, dados e suporte técnico, em especial a José Carlos Kling, Paulo Gaia, David Meissner, Marcelo Rodrigues e Alessandro Bolsoni. Aos colegas Ernesto Lima, Celso Foekel e Ricardo Mastroti contribuição com dados e informações do setor de celulose e papel. pela valiosa RESUMO O presente trabalho apresenta, discute e avalia as principais ferramentas viabilizadoras da eco-eficiência no segmento industrial, com destaque para o setor de celulose e papel. São apresentados os conceitos de eco-eficiência, de produção mais limpa, de contabilização ambiental, de avaliação de desempenho ambiental, de indicadores de desempenho, de análise de ciclo de vida e de melhores tecnologias disponíveis para a produção de celulose e papel. No estudo de caso, é apresentada e discutida a implementação de tais ferramentas na Votorantim Celulose e Papel Unidade Jacareí, realizada no período de 1992 a 2002. Da análise dos resultados obtidos, pode-se concluir que o uso destas ferramentas foi decisivo para a melhoria ambiental da indústria e para a sua competitividade no mercado mundial de celulose. ABSTRACT The following paper presents, discusses and evaluates the main eco-efficiency enabling tools, on the industry segment, emphasizing the paper and cellulose field. It presents the concepts for eco-efficiency, cleaner production, environmental accounting, environmental performance evaluation, performance indicators, life cycle assessment and the best available technology for the production of paper and cellulose. In the case study, the implementation of these tools at Votorantim Celulose e Papel – Jacareí Facility, made between 1992 and 2002, is presented and discussed. From the analysis of the results obtained, we may conclude that that the use of these tools was decisive for the industry’s environmental improvement, and for its competition at the worldwide cellulose market. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1 2 OBJETIVOS....................................................................................................... 3 3 A QUESTÃO AMBIENTAL............................................................................. 4 3.1 HISTÓRICO RECENTE ............................................................................................ 4 3.2 MEIO AMBIENTE – VISÃO GERAL SOBRE A GOVERNANÇA INTERNACIONAL....... 10 3.3 A INDÚSTRIA; GOVERNO, MERCADO, SOCIEDADE E O MEIO AMBIENTE.............. 11 3.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECO-EFICIÊNCIA ...................................... 18 3.4.1 Evolução histórica .......................................................................................... 18 3.4.2 Elementos–chave para viabilizar a eco-eficiência.......................................... 20 3.4.3 Dimensões da eco-eficiência.......................................................................... 21 3.4.4 Ferramentas da eco-eficiência ........................................................................ 24 3.4.4.1 Produção mais limpa/prevenção à poluição ............................................... 25 3.4.4.1.1 Visão histórica .......................................................................................... 27 3.4.4.1.2 Produção mais limpa e as melhores técnicas disponíveis (BAT - Best Avaliable Technologies)........................................................................... 30 3.4.4.1.3 Implementação da produção mais limpa .................................................. 31 3.4.4.1.4 Barreiras para implementação da produção mais limpa na perspectiva da indústria .................................................................................................... 38 3.4.4.1.5 Experiências e programas de implementação de produção mais limpa ... 39 3.4.4.2 Análise do ciclo de vida - ACV.................................................................. 42 3.4.4.2.1 Metodologia da ACV................................................................................ 44 3.4.4.2.2 Principais aplicações da Análise de Ciclo de Vida (ACV) ...................... 58 3.4.4.2.3 Limitações e perspectivas para a ACV..................................................... 68 3.4.4.3 Avaliação de desempenho ambiental ......................................................... 69 3.4.4.3.1 Indicadores de eco-eficiência ................................................................... 70 3.4.4.3.2 Indicadores ambientais segundo as normas IS0 14031 e EMAS ............. 78 3.4.4.3.3 Considerações relativas à implementação de um sistema de avaliação de desempenho ambiental ............................................................................. 82 3.4.4.3.4 Tendências ................................................................................................ 84 3.4.4.4 Relatórios de desempenho ambiental ......................................................... 84 3.4.4.4.1 Definições e principais tipos de relatórios de desempenho ambiental e de sustentabilidade. ....................................................................................... 87 3.4.4.4.2 Elaboração do relatório............................................................................. 89 3.4.4.4.3 Principais iniciativas................................................................................. 90 3.4.4.4.4 Tendências ................................................................................................ 95 3.4.4.5 Sistemas de gestão ambiental ..................................................................... 97 3.4.4.5.1 Normas da série ISO 14000................................................................... 102 3.4.4.5.2 Sistema Europeu de Certificação – EMAS (European Eco-Management and Audit Scheme) ................................................................................. 109 3.4.4.5.3 Especificação para um sistema de gestão ambiental - norma BS 7750. 110 3.4.4.5.4 Programa "Atuação Responsável®" (Responsible Care) ....................... 111 3.4.4.5.5 Integração dos sistemas de gestão (meio ambiente, segurança e qualidade) ................................................................................................................ 114 3.4.4.6 Contabilidade ambiental........................................................................... 115 3.4.4.6.1 Contabilidade ambiental como ferramenta de gestão nas empresas....... 117 3.4.4.6.2 Custos ambientais ................................................................................... 118 3.4.4.6.3 Análise financeira dos investimentos ..................................................... 123 3.4.4.6.4 Contabilidade ambiental financeira - relatórios de prestação de contas. 126 3.4.4.6.5 Publicação das informações financeiras ................................................. 134 4 PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL ................................................... 139 4.1 CELULOSE........................................................................................................ 139 4.2 FLORESTAS ...................................................................................................... 141 4.2.1 FSC - Forest Stewardship Council ............................................................... 142 4.2.2 Pan European Forest Certification – PEFC.................................................. 143 4.2.3 Programa nacional de certificação florestal -CERFLOR ............................. 143 4.3 PROCESSOS PARA PREPARAÇÃO DA CELULOSE ................................................. 144 4.3.1 Processo Mecânico – MP ............................................................................. 144 4.3.2 Processo Termomecânico – TMP ................................................................ 145 4.3.3 Processo Semiquímico ................................................................................. 145 4.3.4 Processo Químico – Kraft ............................................................................ 146 4.3.5 Processo Químico – Sulfito.......................................................................... 146 4.3.6 Processo Químico – Sulfato ......................................................................... 147 4.4 BRANQUEAMENTO DA POLPA CELULÓSICA ...................................................... 147 4.5 FABRICAÇÃO DE PAPEL .................................................................................... 148 4.5.1 Matérias-primas não fibrosas ....................................................................... 148 4.5.2 Descritivo da produção de papel .................................................................. 151 4.5.2.1 Preparação de massa................................................................................. 151 4.5.2.2 Máquina de papel ..................................................................................... 152 4.6 A INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NO BRASIL E NO MUNDO. ........................ 155 4.6.1 Dados gerais sobre produção de papel e de polpa........................................ 155 4.6.2 Produção de celulose branqueada ................................................................ 158 5 PREVENÇÃO À POLUIÇÃO EM INDÚSTRIAS DE CELULOSE E PAPEL - USO DAS MELHORES TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS (BATS)............................................................................................................. 161 5.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO KRAFT .................................................................... 161 5.1.1 Estocagem e preparação da madeira ........................................................... 163 5.1.2 Cozimento e deslignificação ........................................................................ 163 5.1.3 Lavagem e depuração................................................................................... 165 5.1.4 Deslignificação com oxigênio...................................................................... 166 5.1.5 Branqueamento............................................................................................. 167 5.1.6 Depuração da polpa branqueada e secagem (extração)................................ 170 5.1.7 Sistema de recuperação química .................................................................. 170 5.2 PRINCIPAIS CONSUMOS E EMISSÕES DO PROCESSO KRAFT ............................... 173 5.2.1. Consumo de madeira...................................................................................... 174 5.2.2 Consumo de água e geração de águas residuárias........................................ 175 5.2.3 Emissões atmosféricas.................................................................................. 183 5.2.4 Geração de resíduos sólidos ......................................................................... 190 5.2.5 Consumo de produtos químicos ................................................................... 191 5.2.6 Consumo de energia ..................................................................................... 192 5.2.7 Geração de ruído .......................................................................................... 194 5.3 BAT PARA O PROCESSO KRAFT ........................................................................ 194 5.3.1 Descascamento a seco .................................................................................. 199 5.3.2 Cozimento modificado estendido para obter celulose com baixo número kappa (em batelada ou contínuo) ................................................................. 200 5.3.3 Fechamento do circuito de filtrados na lavagem e depuração marrom........ 203 5.3.4 Deslignificação com oxigênio...................................................................... 203 5.3.5 Branqueamento com ozônio......................................................................... 205 5.3.6 Branqueamento ECF .................................................................................... 206 5.3.7 Branqueamento TCF .................................................................................... 208 5.3.8 Fechamento parcial da unidade de branqueamento...................................... 209 5.3.9 Coleta de derrames ....................................................................................... 212 5.3.10 Controle de processo e lavagem eficiente .................................................... 213 5.3.11 Arraste com vapor (“stripping”) e reúso dos condensados .......................... 214 5.3.12 Utilização de tanques com capacidade suficiente para armazenar fluidos de processo quentes ou concentrados................................................................ 215 5.3.13 Tratamento aeróbio das águas residuárias.................................................... 216 5.3.14 Tratamento terciário ..................................................................................... 219 5.3.15 Aumento do teor de sólidos no licor negro .................................................. 220 5.3.16 Instalação de lavador de gases na caldeira de recuperação.......................... 221 5.3.17 Coleta de gases não condensáveis diluídos para incineração na caldeira de recuperação................................................................................................... 222 5.3.18 Coleta de GNC concentrados e diluídos para incineração no forno de cal .. 223 5.3.19 Incineração de gases de enxofre reduzido em queimador específico equipado com lavador para SO2 ................................................................................. 224 5.3.20 Instalação de tecnologia de baixa emissão de NOx em caldeiras auxiliares e forno de cal................................................................................................... 224 5.3.21 Tecnologia SNCR (Selective Non Catalytic Reduction) em caldeiras de biomassa ....................................................................................................... 225 5.3.22 Tecnologia OFA (Over Fire Air Technique) em caldeiras de recuperação . 227 5.3.23 Instalação de lavadores de lama mais eficientes na caustificação ............... 227 5.3.24 Precipitadores eletrostáticos para reduzir emissões de particulados na caldeira de biomassa e no forno de cal ...................................................................... 228 5.4 BAT PARA CALDEIRAS AUXILIARES ................................................................ 229 5.5 TECNOLOGIAS EMERGENTES ............................................................................ 231 5.5.1 Gaseificação do licor negro.......................................................................... 231 5.5.2 Uso de SNCR na caldeira de recuperação.................................................... 232 5.5.3 Remoção dos agentes de quelação presentes em águas residuárias de indústrias kraft por tratamento biológico e sistemas avançados - “kidneys”234 5.5.4 Aumento do fechamento do circuito combinado com a recuperação de quelantes....................................................................................................... 235 5.5.5 Polpas produzidas com solventes orgânicos como álcool e formaldeído – “Organosolv Pulping” .................................................................................. 235 5.6 6 BAT PARA PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE PAPEL........................................... 237 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 243 6.1 A INDÚSTRIA ESTUDADA: VOTORANTIM CELULOSE E PAPEL-VCP ................. 243 6.2 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E DA PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO NA UNIDADE JACAREÍ ............................................ 244 6.2.1 Projeto P-600................................................................................................ 245 6.2.1.1 Descrição do processo produtivo antes da implementação do Projeto P600 .................................................................................................................. 246 6.2.1.2 Descrição do projeto P-600 ...................................................................... 250 6.2.1.3 Investimentos............................................................................................ 250 6.2.2 Projeto ECF .................................................................................................. 251 6.2.2.1 Descrição do projeto ECF ........................................................................ 252 6.2.2.2 Investimentos do Projeto ECF................................................................. 263 6.2.3 Projeto P 1.200 ............................................................................................. 265 6.2.3.1 Descrição do Projeto P 1.200 ................................................................... 265 6.2.3.1.1 Linha de fibras A .................................................................................... 266 6.2.3.1.2 Linha de fibras B .................................................................................... 266 6.2.3.1.3 Evaporação ............................................................................................. 267 6.2.3.1.4 Caldeira de biomassa .............................................................................. 267 6.2.3.1.5 Nova estação de tratamento de águas residuárias (ESTAR) .................. 268 6.2.3.1.6 Fechamento de circuitos ......................................................................... 272 6.2.3.2 Investimentos do P 1.200 ......................................................................... 289 6.3 EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NA UNIDADE JACAREÍ ............................. 290 6.4 CONTABILIADE AMBIENTAL ............................................................................. 292 7 7.1 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................ 293 RESULTADOS DO PROJETO P 600 ..................................................................... 293 7.1.1 Emissões hídricas ......................................................................................... 293 7.1.2 Emissões atmosféricas.................................................................................. 297 7.2 RESULTADOS DO PROJETO ECF....................................................................... 299 7.2.1 Rendimento do cozimento............................................................................ 300 7.2.2 Carreamento de matéria orgânica nos filtrados e eficiência do branqueamento ...................................................................................................................... 302 7.2.3 Consumo de água ......................................................................................... 308 7.2.4 Geração de águas residuárias. ...................................................................... 309 7.2.5 Emissões atmosféricas.................................................................................. 315 7.2.6 Geração de resíduos sólidos ......................................................................... 316 7.2.7 Consumo e cogeração de energia ................................................................ 317 7.3 RESULTADOS DO PROJETO P 1.200 .................................................................. 318 7.3.1 Emissões hídricas e captação de água .......................................................... 318 7.3.2 Emissões atmosféricas.................................................................................. 322 7.3.3 Matriz energética.......................................................................................... 323 7.4 ESTIMATIVA DE REDUÇÃO DO CUSTO DE PRODUÇÃO DEVIDO ÀS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS ................................................................................................ 324 7.5 RESULTADOS DOS PROJETOS RELACIONADOS À GESTÃO .................................. 325 7.5.1 Gestão ambiental na Unidade....................................................................... 325 7.5.2 Elaboração de relatórios de desempenho ambiental do Grupo VCP............ 325 8 PROJETOS FUTUROS ................................................................................ 327 9 CONCLUSÕES .............................................................................................. 329 10 ANEXOS ......................................................................................................... 332 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 348 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Novo modelo de regulação e controle ambiental ...................................... 13 Figura 2 - Matriz de sustentabilidade para empresas do setor florestal e celulose e papel. ....................................................................................................... 14 Figura 3 - Indicadores ambientais de empresas de celulose e papel segundo levantamento do Banco Sarasin. ............................................................. 15 Figura 4 - Perfil ambiental de empresas produtoras de celulose e papel, segundo critérios do WBCSD. .............................................................................. 16 Figura 5 - Perfil social de empresas produtoras de celulose e papel, segundo critérios do WBCSD.............................................................................................. 17 Figura 6 - Síntese da sustentabilidade segundo o WBCSD. ...................................... 23 Figura 7 - Métodos e ferramentas para melhoria de desempenho ambiental............. 25 Figura 8 - Visão geral de produção mais limpa ou prevenção à poluição. ................ 26 Figura 9 - O balanço entre o efeito econômico e ambiental. ..................................... 29 Figura 10 - Evolução da abordagem tecnológica....................................................... 29 Figura 11 - Etapas para implementação de um programa de produção mais limpa. . 32 Figura 12 - Avaliação do processo –principais alternativas....................................... 34 Figura 13 - Ciclo de vida de um produto. .................................................................. 43 Figura 14 - Protocolo da ACV. .................................................................................. 45 Figura 15 - Duas formas de limites do sistema, considerando-se fronteiras estreitas (a) e amplas (b)........................................................................................ 47 Figura 16 - Principais categorias dos dados do inventário......................................... 48 Figura 17 - Procedimento para cálculo dos ecoindicadores....................................... 55 Figura 18 - Exemplo de apresentação dos resultados de um estudo comparativo hipotético, após estabelecimento de pesos para os impactos avaliados. . 56 Figura 19 - Representação gráfica de uma análise de ciclo de vida utilizando-se a metodologia “Ecoindicador 99”. ............................................................. 57 Figura 20 - Fases do desenvolvimento de um produto. ............................................. 62 Figura 21 - Estratégias relacionadas ao desempenho ambiental e ao potencial de mercado. .................................................................................................. 67 Figura 22 - Aspectos relevantes para as diferentes categorias de indicadores de ecoeficiência. ................................................................................................ 71 Figura 23 - Indicadores ambientais segundo a OECD. .............................................. 73 Figura 24 - Escolha dos indicadores-chave segundo metodologia OECD. ............... 74 Figura 25 - Avaliação de desempenho ambiental e seus indicadores segundo a norma ISO 14031. .............................................................................................. 79 Figura 26 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – indústria. ............. 80 Figura 27 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – serviços. .............. 80 Figura 28 - Indicadores de desempenho de gestão ambiental.................................... 81 Figura 29 - Implementação da avaliação de desempenho ambiental segundo GEMI. ................................................................................................................. 83 Figura 30 - O papel das instituições financeiras na gestão dos recursos com relação à eco-eficiência. ......................................................................................... 86 Figura 31 - Principais etapas para elaboração de um relatório .................................. 89 Figura 32 - Resumo geral de avaliação do desempenho ambiental, social e econômico segundo GRI ......................................................................... 92 Figura 33 - Abordagem das empresas para a questão ambiental. ............................ 101 Figura 34 - Número de certificados ISO 14001 emitidos no mundo até 2001. ...... 104 Figura 35 - Distribuição dos certificados ISO 14001 emitidos até 2001. ................ 104 Figura 36 - Classificação dos custos e sua mensuração........................................... 121 Figura 37 - Custos privados e sociais....................................................................... 122 Figura 38 - Etapas para avaliação financeira de investimentos. ............................. 125 Figura 39 - Componentes da madeira. ..................................................................... 139 Figura 40 - Produção de polpa no mundo. ............................................................... 156 Figura 41 - Produção de polpa no Brasil em 2001................................................... 157 Figura 42 - Produção de papel no Brasil em 2001. .................................................. 157 Figura 43 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo. ....................... 159 Figura 44 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo. ....................... 160 Figura 45 - Visão geral do processo kraft de produção de celulose........................ 162 Figura 46 - Representação esquemática de um digestor contínuo utilizado para o cozimento da madeira. .......................................................................... 164 Figura 47 - Representação esquemática do ciclo de recuperação de álcalis ............ 171 Figura 48 - Representação esquemática do ciclo de licor e circuito de sólidos....... 172 Figura 49 - Representação esquemática do processo kraft – matérias-primas, insumos e resíduos gerados ................................................................... 174 Figura 50 - Águas residuárias típicas geradas no processo kraft. ............................ 176 Figura 51 - Principais reações que ocorrem na caldeira de recuperação. ............... 184 Figura 52 – Processos de tratamento de águas residuárias normalmente empregados em indústrias de celulose e papel. ......................................................... 217 Figura 53 – Evolução da produção anual de celulose e papel e período de implantação dos projetos na Unidade Jacareí da VCP.......................... 245 Figura 54 – Representação esquemática da linha de fibras...................................... 247 Figura 55 – Representação esquemática do sistema de recuperação de produtos químicos. ............................................................................................... 248 Figura 56 – Representação do sistema de caustificação. ......................................... 248 Figura 57 – Representação esquemática da fabricação de papel. ............................ 249 Figura 58 – Novo sistema de evaporação (P-600). .................................................. 250 Figura 59 – Linhas de produção de celulose e Projeto ECF. .................................. 252 Figura 60 – Fluxograma do branqueamento - Linhas A (existente) e B (nova). .... 252 Figura 61 – Representação esquemática do digestor Lo-solids®. ........................... 255 Figura 62 – Representação esquemática da linha de fibras ECF e TCF (linha B).. 258 Figura 63 – Representação esquemática do sistema de lavagem de massa – Linha B. ............................................................................................................... 258 Figura 64 – Máquina extratora de celulose – JE2. ................................................... 260 Figura 65 – Representação esquemática do sistema de caustificação do licor. ....... 261 Figura 66 – Análise da competitividade da Unidade Jacareí no mercado mundial. 265 Figura 67 – Representação esquemática da linha de fibras A.................................. 266 Figura 68 – Representação esquemática da modificação do branqueamento B..... 267 Figura 69 – Representação esquemática da nova estação de tratamento de águas residuárias. ............................................................................................ 271 Figura 70 – Principais consumos e geração de águas residuárias da máquina de papel (J1)......................................................................................................... 276 Figura 71 – Proposta para otimização do consumo de água e da geração de águas resísuárias na máquina de papel (J1)..................................................... 277 Figura 72 – Balanço do consumo de água – valores reais e projetados (em litros por minuto). ................................................................................................. 287 Figura 73 – Balanço da geração de águas residuárias – valores reais e projetados (em litros por minuto)................................................................................... 288 Figura 74 – Evolução da vazão específica de águas residuárias ao longo do tempo. ............................................................................................................... 295 Figura 75 – Evolução da DQO específica nos afluentes e efluentes da ESTAR. .... 295 Figura 76 – Evolução da carga específica de DBO5,20 nos afluentes e efluentes a ESTAR. ................................................................................................. 296 Figura 77 – Evolução da cor específica do efluente industrial. ............................... 296 Figura 78 – Evolução da emissão específica de MP. .............................................. 298 Figura 79 – Evolução da emissão de TRS. .............................................................. 298 Figura 80 – Evolução da emissão específica de SO2. .............................................. 298 Figura 81 – Evolução tecnológica da produção de celulose versus o número kappa. ............................................................................................................... 301 Figura 82 – Principais tecnologias e sua correlação com os aspectos ambientais. . 303 Figura 83 – Produção diária de celulose. ................................................................. 304 Figura 84 – Representação esquemática do branqueamento após modificações..... 305 Figura 85 – Número kappa na linha B do processo ECF com e sem modificações. 306 Figura 86 – Consumo de produtos químicos na linha B, projetado, obtido no processo ECF sem e com as modificações........................................................... 306 Figura 87 – Representação esquemática do branqueamento a partir de setembro de 2000....................................................................................................... 307 Figura 88 - Evolução da vazão específica de água captada ao longo do tempo. ... 308 Figura 89 - Evolução da vazão de águas residuárias................................................ 309 Figura 90 - Evolução temporal da carga específica de DBO5,20 no afluente e no efluente da ESTAR. .............................................................................. 311 Figura 91 - Evolução temporal da DQO no afluente e efluente da ESTAR. ........... 311 Figura 92 - Comparação da evolução da vazão e da DBO antes e depois do projeto ECF com os valores de projeto. ............................................................ 312 Figura 93 - Evolução da cor específica da água residuária ao longo do tempo. ...... 313 Figura 94 - Evolução emissão específica de AOX durante o projeto ECF............. 314 Figura 95 - Evolução da cogeração de energia em relação ao consumo de energia elétrica total. .......................................................................................... 317 Figura 96 - Evolução do consumo total de energia.................................................. 317 Figura 97 - Evolução temporal da vazão de água captada no rio Paraíba do Sul. .. 318 Figura 98 - Evolução da vazão do efluente industrial ao longo do tempo.............. 319 Figura 99 - Evolução da carga específica de DBO no efluente industrial na entrada e saída da ESTAR. ................................................................................... 319 Figura 100- Evolução da DQO específica no afluente e efluente da ESTAR. ........ 320 Figura 101 - Evolução da DQO solúvel no afluente e efluente da ESTAR............. 321 Figura 102 - Evolução remoção da DBO na ESTAR. ............................................. 321 Figura 103 - Evolução da emissão de material particulado. ................................... 322 Figura 104 - Evolução da emissão de dióxido de enxofre (incluindo caldeira auxiliar). ................................................................................................ 323 Figura 105 - Evolução da emissão de TRS. ............................................................. 323 Figura 106 - Matriz energética ao longo do tempo. ................................................. 324 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Cronologia dos eventos relevantes relacionados às questões ambientais... 4 Tabela 2 - Setores nos quais foram implementados programas de Produção Mais Limpa. ..................................................................................................... 40 Tabela 3 - Categorias de impacto ambiental segundo diferentes organismos. .......... 52 Tabela 4 - Nível de detalhamento. ............................................................................. 59 Tabela 5 - Fases do desenvolvimento de um produto. ............................................... 65 Tabela 6 - Indicadores para diferentes categorias e aspectos..................................... 75 Tabela 7 - Normas da série ISO e sua abrangência.................................................. 102 Tabela 8 - Comparação entre contabilidade ambiental gerencial e financeira........ 117 Tabela 9 - Uso das ferramentas de gestão ambiental pelas empresas. ..................... 118 Tabela 10 - Custos ambientais. ................................................................................ 120 Tabela 11 - Quadro comparativo dos métodos de análise de investimentos............ 124 Tabela 12 - Tipos de fibras....................................................................................... 141 Tabela 13 - Produção de papel no mundo................................................................ 155 Tabela 14 - Produção de celulose no mundo. .......................................................... 156 Tabela 15 - Número kappa para diferentes tipos de cozimento e madeira. ............ 167 Tabela 16 - Características típicas das águas residuárias geradas no descascamentoda madeira. ................................................................................................. 177 Tabela 17 - Quadro comparativo entre os tipos de cozimento e o número kappa e a DQO. ..................................................................................................... 180 Tabela 18 - Valores de AOX em função do tipo de cozimento, deslignificação, branqueamento e carga de dióxido de cloro aplicada. .......................... 181 Tabela 19 - DQO nas águas residuárias em diferentes etapas do processo. ............ 182 Tabela 20 - Emissões hídricas de metais na produção de polpa branqueada e não branqueada. ........................................................................................... 182 Tabela 21 - Emissões atmosféricas típicas da caldeira de recuperação e forno de cal. ............................................................................................................... 186 Tabela 22 - Geração de resíduos sólidos em industrias de papel e celulose-processo kraft. ...................................................................................................... 191 Tabela 23 - Consumo de produtos químicos para a produção de polpa kraft. ......... 192 Tabela 24 - Características das águas residuárias. ................................................... 196 Tabela 25 - Emissões atmosféricas típicas do processo kraft. ................................. 198 Tabela 26 - Consumos de energia térmica e elétrica em fábricas kraft eficientes. .. 199 Tabela 27 - Características das águas residuárias oriundas de indústrias que utilizam descascamento úmido e a seco. ............................................................. 200 Tabela 28 - Numero kappa e estimativa de DQO filtrada utilizando-se diferentes tecnologias de deslignificação............................................................... 205 Tabela 29 - Características típicas dos efluentes de sistemas de lodos ativados tratando águas residuárias de indústrias de papel e celulose (processo kraft)...................................................................................................... 219 Tabela 30 - Níveis de emissões BAT para caldeiras auxiliares. .............................. 230 Tabela 31 - Tecnologias alternativas para a produção de polpa. ............................. 236 Tabela 32 - Emissões hídricas provenientes da fabricação de papel utilizando as BATs ..................................................................................................... 238 Tabela 33 - Emissões hídricas de fábricas européias de celulose e papel que utilizam as BATs. ................................................................................................ 240 Tabela 34 - Emissões atmosféricas de fábricas de celulose e papel européiais que utilizam as BATs................................................................................... 241 Tabela 35 - Geração de resíduos sólidos em fábricas européias.............................. 242 Tabela 36 - Resumo das alternativas propostas para redução do consumo de água e da geração de águas residuárias. ........................................................... 283 Tabela 37 - Evolução da produção de celulose e papel e dos indicadores das emissões hídricas. ................................................................................................. 293 Tabela 38 - Emissões atmosféricas e produção........................................................ 297 Tabela 39 - Comparação entre as emissões hídricas geradas antes e depois dos projetos com valores de referência BAT ou Nordic Swan................... 314 Tabela 40 - Comparação das emissões atmosféricas antes de após a implantação do Projeto ECF em comparação com valores de referência BAT e Nordic Swan. ..................................................................................................... 316 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABTCP - Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel ACV - Análise de Ciclo de Vida ADT -Air dry ton AOX - Compostos orgânicos halogenados adsorvíveis BAT - Best Available Technology (Melhores tecnologias disponíveis) Bracelpa - Associação Brasileira de Celulose Papel CERES - Coalition for Environmentally Responsible Economies CERFLOR - Programa Nacional de Certificação Florestal CETESB - Companhia de Tecnologia de SaneamentoAmbiental CFC - Cloro fluor carbono CNTL - Centro Nacional de Tecnologias mais Limpas COD -Chemical Oxygen Demand (demanda química de oxigênio) CP - Cleaner Production (produção mais limpa) DBO5,20 - Demanda Bioquímica de Oxigênio DEFRA - Department For Environment, Food and Rural Affairs-UK DfE - Design for Environment (Design ambiental) DQO - Demanda Química de Oxigênio Eac - Environmental Accounting (Contabilidade ambiental) ECF - Elementary Chlorine Free (Celulose isenta de cloro elementar) EEA - Agência Ambiental Européia EMAS - Eco-management Audit Scheme EMS - Environmental Management System (Sistema de gestão ambiental) EPE - Environmental Performance Evaluation (Avaliação de desempenho ambiental) FSC - Forest Stewardship Council GEMI - Global Environmental Management Initiative GNC - Gases não condensáveis concentrados GRI - Global Reporting Initiative INEM - International Environmental Management IPPC - Integrated Pollution Prevention and Control ISO - International Standardization Organization LCA - Life Cycle Assessment (Análise de ciclo de vida) NBR - Normas Brasileiras OECD - Organization for Economics Co-operation and Development OX - Compostos orgânicos halogenados totais P2 - Pollution Prevention (Prevenção à poluição) PCB - Bifenilas policloradas PERI - Public Environmental Reporting Initiative SGA - Sistema de gestão ambiental TCF - Totally Chlorine Free (Celulose isenta de cloro) TRS -Total Reduced Sulphur (enxofre total reduzido) UNEP - United Nations Environmental Program USEPA - United States Environmental Protection Agency (Agência de proteção ambiental americana) VCP - Votorantim Celulose e Papel WSCSD - World Business Council for Sustainable Development 1 1 INTRODUÇÃO Uma das citações da Carta da Terra apresenta as novas relações na sociedade moderna de forma contundente: (....) “A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva” (Earth Council, 2000). É nesse contexto que emergem conceitos extremamente importantes como o da sustentabilidade e o da eco-eficiência - termo criado pelo World Business Council For Sustainable Development (WBCSD) em 1992 e definido como a produção e entrega de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas, promovendo qualidade de vida, ao mesmo tempo que progressivamente, são reduzidos os impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos naturais em todo o ciclo de vida, em consonância com a capacidade estimada da terra em prover estes recursos e absorver os impactos (UNEP-DTIE, 2001). A eco-eficiência pode servir de base para as empresas desenvolverem e implementarem estratégias voltadas à sustentabilidade. Essas estratégias terão o foco em inovações tecnológicas e sociais, na transparência, na contabilização ambiental e na cooperação com os demais segmentos da sociedade. Eco-eficiência é um conceito de negócios, que pode ser aplicado amplamente nas empresas, desde o desenvolvimento de produtos e serviços até a sua distribuição. A eco-eficiência envolve três objetivos principais: (a) redução do consumo de recursos naturais, incluindo-se a redução do uso de energia, insumos, água e solo por meio do aumento da reciclabilidade e durabilidade dos produtos e da otimização dos 2 processos produtivos (reúso); (b) redução dos impactos ao meio ambiente por intermédio da minimização das emissões; redução do uso de produtos perigosos e uso sustentável de recursos renováveis; (c) valorização de produtos ou serviços perante aos consumidores por meio do aumento da sua funcionalidade e flexibilidade, de modo a atender às suas expectativas, permitindo, assim, que o mesmo serviço ou produto possa ser entregue utilizando-se menos recursos naturais. As empresas, por sua vez, podem acrescentar um quarto objetivo: embutir a gestão da sustentabilidade na gestão do negócio, integrando-a com as demais de forma a fomentar a eco-eficiência. O sistema de gestão ambiental – SGA deve, portanto, permitir a identificação dos riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade, assim como garantir que os mesmos sejam corretamente avaliados e gerenciados. Implementar a eco-eficiência na gestão dos negócios é basicamente buscar as oportunidades de ser mais ecoeficiente em quatro áreas: no projeto e design de produtos; no processo produtivo; na cooperação com as demais empresas e na forma de atender a demanda dos consumidores. A eco-eficiência também pode ser empregada pelos governantes como estratégia para o desenvolvimento sustentável, fomentando e dando condições para a inovação, estabelecimento de parcerias e difusão de conhecimento para diversos segmentos da sociedade, visando o progresso, o crescimento da economia e à melhoria da qualidade de vida (WBCSD, 2000a). Na esfera governamental, destacam-se como elementos viabilizadores da sustentabilidade: (a) eliminação de subsídios danosos ao meio ambiente; (b) substituição de taxas sobre o lucro por taxas relacionadas ao uso de recursos naturais e a poluição; (c) implementação de instrumentos econômicos que incentivem a proteção ao meio ambiente e (d) promoção de iniciativas ambientais voluntárias acordos com múltiplos segmentos. Este trabalho abordará resumidamente a evolução histórica das questões ambientais na sociedade contemporânea, destacando-se a implementação da eco-eficiência sob a ótica empresarial e suas ferramentas. 3 2 OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho são: • Discutir o conceito de desenvolvimento sustentável e de eco-eficiência; • Aplicar as seguintes ferramentas da eco-eficiência na indústria Votorantim Celulose e Papel – Unidade Jacareí: produção mais limpa, contabilidade ambiental, indicadores de eco-eficiência e de desempenho ambiental, relatórios de desempenho ambiental e sistema de gestão ambiental; • Avaliar e quantificar os ganhos ambientais e financeiros decorrentes desta aplicação. 4 3 A QUESTÃO AMBIENTAL 3.1 HISTÓRICO RECENTE Desde os primórdios do desenvolvimento da civilização humana na Terra, a busca por alimentos, abrigo e bem-estar, causa impactos ao meio ambiente. No entanto, somente com o crescimento da população é que esses efeitos tornaram-se significativos e com uma abrangência local ou regional. O final do século XX foi marcado pela globalização dos impactos ambientais e pela percepção do seu efeito: a degradação ambiental. Esta percepção desencadeou uma série de medidas reguladoras, inicialmente, em escala regional, como, por exemplo, legislação ambiental voltada para meios específicos (ar, água e solo), licenciamento de indústrias e mecanismos de controle, entre outros. No final da década de 60 do século XX, no entanto, ficou clara a necessidade de uma visão integrativa entre diversos segmentos da sociedade e de ações em escala global voltadas para a preservação ambiental. Na Tabela 1 estão indicados os principais eventos que de certa forma, instigaram uma nova ordem mundial, com reflexos já perceptíveis em vários setores da economia, da sociedade e dos governos. Tabela 1 - Cronologia dos eventos relevantes relacionados às questões ambientais. Evento Ano Convenção sobre Pesca no Atlântico Norte e NE - Conservação e uso racional dos estoques de peixes. 1959 Protocolo 91 – Tratado Antártico: Utilização da Antártica para fins pacíficos Convênio sobre Proteção dos Trabalhadores contra Radiações Ionizantes: Proteção da saúde e segurança dos trabalhadores. 1959 1960 5 Evento Ano Convenção sobre Responsabilidade de Terceiros no Uso da Energia Nuclear – Compensação sobre danos causados e garantia do uso pacífico 1960 da energia nuclear. Convenção sobre Proteção de Novas Qualidades de Plantas: Reconhecimento e proteção dos cultivadores de novas variedades de 1961 plantas. Publicação do livro: “Silent Spring”– Rachel Carson – Pesquisa em toxicologia, ecologia e epidemiologia mostrando que a presença de pesticidas estava crescendo e causando problemas em animais e seres 1962 humanos. Convenção de Viena sobre Responsabilidade Civil por Danos Nucleares – Provisão de recursos contra danos resultantes do uso pacífico da 1963 energia nuclear. Tratado proibindo ensaios nucleares na atmosfera, espaço ultraterrestre (Lua,etc.) – Desincentivar a produção e testes de armas nucleares. 1963 Acordo sobre Poluição do Rio Reno - Cooperação entre países para prevenir a poluição e manter a qualidade da água. Convenção sobre Conselho Internacional para Exploração do Mar Nova constituição para conselho criado em 1902. Convenção Fitossanitária Africana - Controle e eliminação de pragas das plantas. 1963 1964 1967 Conferência intergovernamental para o uso racional e conservação da biosfera (UNESCO) – primeiras discussões sobre o conceito de 1968 desenvolvimento sustentável Publicação do livro: “Population Bomb” – Paul Ehrlich - Faz conexão entre exploração dos recursos naturais e o meio ambiente Convenção sobre Conservação dos Recursos Vivos do Atlântico SE: Cooperação e uso racional de recursos. Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição por Óleo -Visa compensação de danos causados 1968 1969 1969 6 Evento Ano por derramamento de óleo. Convênio Relativo à Intervenção em Alto Mar em caso de acidentes com Óleo: Para tomada de providências em acidentes que afetem o mar e a costa. Criação do Centro Internacional de pesquisa do desenvolvimento (IDRC) a partir do relatório “Partners in Development”, coordenado pelo primeiro ministro do Canadá, Lester B. Pearson. 1969 1970 Convenção Relativa às Áreas Úmidas de Importância Internacional (RAMSAR) – Proteção das áreas úmidas, reconhecendo seu valor 1971 econômico, cultural, científico e recreativo. Convênio sobre Proteção contra Riscos de Contaminação por Benzeno Proteção de trabalhadores na produção, manuseio e uso do benzeno. 1971 Convênio sobre Responsabilidade Civil na Esfera do Transporte Marítimo de Materiais Nucleares - Responsabiliza o operador da instalação nuclear por danos causados em incidente nuclear no 1971 transporte marítimo de material nuclear. Princípio do poluidor pagador – no qual a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) determina que aqueles que 1971 causam poluição devem pagar por isso. O Clube de Roma publica: “Limites do crescimento” – Relatório controverso e pessimista, prevendo sérias conseqüências caso o 1972 crescimento não fosse reduzido. Conferência das Nações Unidas para o meio ambiente, em Estocolmo, com foco em chuva ácida e outros temas relativos à poluição nos países nórdicos. Esta conferência deu origem à formação de uma série de 1972 agências nacionais de controle e a UNEP - Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas. Nasce o movimento: “Chipko” na Índia, em resposta à devastação das florestas e degradação ambiental, engajando as mulheres em questões 1973 ambientais. Crise do petróleo – tem início a discussão sobre seu limite de exploração 1973 7 Evento Publicação do estatuto para proteção de espécies ameaçadas nos Estados Unidos, visando à preservação da fauna e flora. Publicação na Revista técnica “Nature” do trabalho de Rowland and Molina, sobre CFCs, alertando para a destruição da camada de ozônio Ano 1973 1974 Apresentação do Modelo Latino-americano para desenvolvimento, elaborado pela Fundação Bariloche, em resposta à proposta “Limites do Crescimento”. Ressalta para o crescimento e desigualdade no terceiro 1974 mundo Primeiro Encontro Internacional sobre Habitação e sua interligação com o meio ambiente Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação Inicia-se o Movimento “Cinturão Verde” no Quênia para evitar a desertificação, com envolvimento da comunidade para o plantio de árvores. 1976 1977 1977 È adotada a convenção sobre poluição atmosférica transfronteiriça 1979 Acidente na usina nuclear ”Three Mile Island” – USA 1979 Publicado o relatório das Nações Unidas sobre a natureza no qual é adotado o princípio de que cada ser vivo é único e deve ser respeitado e ressalta a interdependência humana dos recursos naturais e a necessidade de controle 1982 da sua exploração Convenção sobre Direito do Mar - Estabelece o regime jurídico para os mares e oceanos, bem como padrões de proteção e sanções contra a 1982 poluição. Vazamento tóxico em Bhopal na Índia deixa 10.000 mortos e 300.000 feridos Mais de 250.000 pessoas morrem de fome na Etiópia 1984 1984 È criado o programa “Responsible Care” - atuação responsável, por iniciativa da indústria química do Canadá. Estabelece um código de 1985 conduta para as indústrias químicas, que é expandido para outros países È descoberto por cientistas britânicos e americanos o buraco na camada de ozônio na Antártida Encontro da Sociedade Mundial de Meteorologia e UNEP – reporta o 1985 1985 8 Evento aumento da concentração de CO2 e outros gases estufa e prevê Ano o aquecimento global Acidente nuclear de Chernobyl gerando uma grande contaminação radioativa 1986 Publicado o Relatório “Brundtland Report”, Nosso Futuro Comum, no qual são abordados, de forma integrada, aspectos econômicos, sociais e 1987 ambientais para uma nova ordem global. Adotado o Protocolo de Montreal - voltado para a restrição do uso e da fabricação de substâncias que causam depleção da camada de ozônio É criado o painel intergovernamental de mudanças climáticas como um fórum de discussão técnico, econômico e científico. O acidente com o navio Exxon Valdez resulta no vazamento de cerca de 385.000 m3 de óleo na costa do Alasca 1987 1988 1989 Convenção sobre Controle de Movimentos Transfronteiços de Resíduos Perigosos (Convenção da Basiléia) - Comercialização internacional e 1989 depósitos de substâncias tóxicas. Convenção Africana sobre o Banimento da Importação e Controle do Movimento e Gerenciamento de Perigosos Transfronteiriços (Bamako) - 1991 Proibição da importação para a África de Resíduos Perigosos. Convenção sobre Cooperação Pesqueira entre Países Africanos beirando o Oceano Atântico: Cooperação nas atividades pesqueiras visando autosuficiência alimentícia através do uso racional e integrado dos recursos 1991 pesqueiros. Protocolo ao Tratado Antártico sobre Proteção Ambiental - Designa a Antártica como Reserva Natural, destinada à paz e à ciência; determina princípios de proteção ambiental da região; estabelece a cooperação no 1991 planejamento e condução das atividades na região. Convenção sobre Avaliação de Impacto Ambiental em Contextos Transfronteiriços - Assegurar a execução de AIA antes da tomada de decisão sobre uma dada atividade que pode causar significativo impacto ambiental. 1991 9 Evento Ano Conferência denominada Cúpula da Terra promovida pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro, deu origem à carta de intenções denominada Agenda 21, a Convenção sobre diversidade biológica e as bases para a Convenção das 1992 Mudanças Climáticas. Convenção para Proteção do Meio Ambiente do Atlântico Nordeste Prevenção e eliminação de poluição por fontes terrestres; eliminação e prevenção de poluição por despejo ou incineração; proibição de despejos 1992 por fontes extra-costeiras. Inclui os princípios da precaução do poluidorpagador. Convenção para Proteção do Mar Negro contra Poluição - Prevenir,reduzir e controlar a poluição para proteção e preservação do meio ambiente do 1992 Mar Negro. Convenção para Proteção do Mar Báltico - Prevenção e eliminação de poluição; inclui os princípios do poluidor-pagador e da precaução e exige o 1992 uso da melhor tecnologia prática disponível. Convenção sobre os Efeitos Transfronteiriços de Acidentes Industriais Prevenção de acidentes industriais e mitigação de seus efeitos. 1992 Convenção sobre Responsabilidade Civil por Danos Resultantes de Atividades Perigosas ao Meio Ambiente (Conselho da Europa, CEE, outros países) – Assegurar compensação adequada por danos resultantes de 1993 atividades perigosas ao meio ambiente e meios de prevenção e recuperação. Primeiro encontro da Comissão de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas para acompanhar o que foi preconizado na Agenda 21, 1993 estimular a cooperação internacional e racionalizar as tomadas de decisão. Convenção de Londres sobre Banimento de Despejo de Resíduos de Baixo Índice de Radiação nos Oceanos: Impõe banimento permanente do despejo 1993 de resíduos de baixo índice de radiação nos oceanos. Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos Países afetados por Desertificação e/ou Seca - Reconhece a importância do combate à pobreza, da melhor distribuição dos benefícios do desenvolvimento e do 1994 10 Evento Ano atendimento às necessidades de saúde e bem-estar das populações afetadas pela desertificação. Cúpula das Américas sobre o desenvolvimento sustentável – Santa Cruz, Bolívia: reforça a necessidade de esforços conjuntos para o 1996 desenvolvimento sustentável. Sistema voluntário de certificação ambiental – ISO 14001 é formalmente adotado para sistemas de gestão ambiental Têm início as discussões sobre organismos geneticamente modificados 1996 1998 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10): avaliação dos progressos conseguidos desde a Rio 92 e definição de metas para acesso ao saneamento, restauração de pesqueiros para produção sustentável, eliminação de práticas pesqueiras destrutivas, estabelecimento 2002 de rede representativa de áreas de proteção marinha, redução de perda de biodiversidade e uso de produtos químicos ambientalmente adequados. 3.2 MEIO AMBIENTE – VISÃO GERAL SOBRE A GOVERNANÇA INTERNACIONAL A busca pelo desenvolvimento sustentável em uma escala global é o desafio deste novo século. Embora muito esforço já tenha sido feito com inúmeros tratados e acordos internacionais a partir do consenso de que a questão ambiental não pode estar dissociada das questões econômicas e sociais, os mecanismos institucionais criados são fragmentados e não estão suficientemente coordenados, segundo os interlocutores do United Nations Environmental Program (UNEP, 2001a). O novo modelo de governança internacional deve ser instituído de forma a possibilitar a obtenção do desenvolvimento sustentável considerando-se a sua estreita interdependência de inúmeros fatores como demanda social, pressões demográficas e 11 pobreza nos países em desenvolvimento, contrapondo-se com o consumo excessivo e o desperdício nos países desenvolvidos. O relatório executivo do encontro internacional sobre governança e meio ambiente, promovido pela UNEP em abril de 2001, apresenta uma visão geral desta questão, analisando de forma abrangente os acordos existentes, discutindo, inclusive, a complexa questão do financiamento para a implementação e viabilização dos acordos assumidos (UNEP, 2001a). Com o objetivo de estabelecer um organismo de coordenação para estas questões, foi recomendada a criação do Global Ministerial Environment Forum (GMEF). Este fórum se reuniu pela primeira vez em maio de 2001 em Malmo-Suécia. Parte destas considerações sobre governança ambiental faz parte da “Declaração de Malmo”; na qual são abordados os principais desafios ambientais para o século XXI (UNEP, 2001b). Segundo essa declaração, o setor privado emerge como um importante ator no cenário de preservação ambiental, especialmente com relação ao uso da tecnologia e investimentos, incorporando a variável ambiental na tomada de decisões. Nesse aspecto, as ações do governo são fundamentais para induzir mudanças na criação de uma nova cultura no setor privado. Princípios como o do “poluidor-pagador” e o da precaução, associados ao uso de ferramentas de gestão como: contabilidade ambiental, indicadores e relatórios de desempenho ambientais, eco-eficiência devem ser estimulados pelos governos e agências reguladoras. 3.3 A INDÚSTRIA; GOVERNO, MERCADO, SOCIEDADE E O MEIO AMBIENTE. A percepção atual das questões ambientais em países de terceiro mundo pode ser associada com idéias pre-concebidas, como por exemplo, de que é difícil reverter a 12 poluição ambiental nestes países uma vez que não foi atingido um patamar de riqueza e desenvolvimento similar ao existente no primeiro mundo e que a globalização tem tendência a encorajar o deslocamento de indústrias poluidoras para países do terceiro mundo. O Banco Mundial, em um recente trabalho denominado: “Greening Industry - New Roles for Communities, Markets and Goverments” (World Bank, 1999), reporta que essa visão está equivocada e apresenta experiências de sucesso em diversos países do terceiro mundo para controle e prevenção da poluição. As agências e órgãos de controle ambiental dos países em desenvolvimento perceberam que a abordagem regulatória tradicional, importada do primeiro mundo, era inapropriada para países do terceiro mundo, e a partir desta percepção, desenvolveram sistemas eficientes e flexíveis que estimulam os poluidores a reduzir e a prevenir a poluição. Incentivos econômicos, como, por exemplo, as taxações de emissões, proporcionaram estímulo às empresas para reduzir seus níveis de emissão, como foi observado nos programas adotados na Colômbia, China e Filipinas. A taxação, ao mesmo tempo em que induz a redução das emissões, permite a geração de recursos que podem ser utilizados pelos governos locais para controle da poluição (World Bank, 1999). Outra experiência de sucesso foi o programa de redução de poluição adotado pela Indonésia, denominado “PROPER” - Programa para Controle, Classificação e Avaliação da Poluição; conduzido pela agência ambiental da Indonésia (BADEPAL). Este programa inovador teve início em 1995 e fundamentou-se basicamente na melhora do desempenho ambiental e redução das emissões a partir do levantamento e classificação das principais indústrias poluidoras. As empresas analisadas tiveram um prazo de seis meses para reverter a sua classificação, adotando medidas de controle de poluição, antes da divulgação dos resultados para a sociedade. O desempenho ambiental foi classificado em 05 categorias, identificadas por cores: preto (pior desempenho), vermelho, azul, verde e dourado (melhor desempenho). Este programa mostrou ser eficaz onde os instrumentos reguladores não obtiveram sucesso, quer seja por sua inexistência, quer seja por falta de recursos para monitoramento e controle. 13 Este é um excelente exemplo da mudança no perfil das forças indutoras que estão atuando sobre as empresas, em que, por um lado, o papel regulador do Estado está mais voltado para mediação, estímulo à prevenção e à redução da poluição do que simplesmente para a fiscalização e autuação. Por outro lado, emergem nesse cenário duas outras forças indutoras: o mercado e a comunidade. Esse novo modelo está amostrado na figura a seguir: Políticas públicas de incentivos a prevenção à poluição Taxas e subsídios Governo mu Co do ni d rca ad e Me A questão do crédito e financiamento Fundos de investimentos Passivos e sustentabilidade Acordos Pressão por informações e transparência Figura 1 - Novo modelo de regulação e controle ambiental Fonte: World Bank (1999) Em uma economia globalizada, a influência do mercado pode ser decisiva para estimular as empresas a adotar padrões mais rigorosos de desempenho ambiental e social. Despontam iniciativas como as dos Fundos de Investimentos Socialmente Responsáveis, SRI (Socially Responsible Investment), nos quais os aspectos sociais, ambientais e financeiros são considerados nos investimentos. Estima-se que em 1999 cerca de US$ 2 trilhões de ativos foram geridos seguindo critérios sociais e ambientais nos Estados Unidos (Ecofinanças, 2001). Um dos exemplos de elaboração de perfis de grandes empresas com vistas a recomendação para esses fundos foi publicada em julho/00, pelo banco europeu - 14 Bank Sarasin & Co., no relatório: “Are the founders of sustainability true to their roots? – An overview of the forestry and paper industry”. Neste trabalho, são avaliadas do ponto de vista ambiental e social as doze mais importantes empresas do setor florestal e de celulose e papel do mundo. A metodologia utilizada para a dimensão ambiental segue critérios do World Business For Sustainable Development (WBCSD) para as principais etapas da cadeia produtiva. Os aspectos ambientais analisados estão alinhados com as sete dimensões da ecoeficiência (ver item 4.2 deste trabalho). É apresentada também, uma matriz na qual a sustentabilidade do setor é comparada com a dos demais, ao mesmo tempo em que é feita uma comparação entre as Su st en t a bilida de da in dú st r ia (in t r a ) empresas, conforme apresentado na Figura 2. Alta Acima da média Stora Enso SCA AssiDoman Holmen Korsnas Metsa Serla Média Aracruz UPM-Kymmene Weyerhauser Norske Skog Abaixo da média International Paper Abitibi-Consolidated Baixa Baixa Abaixo da média Média Acima da média Alta Su st en t a bilida de da in dú st r ia (ext r a set or ia l) Figura 2 - Matriz de sustentabilidade para empresas do setor florestal e celulose e papel. Fonte: Sarasin (2000) 15 Os indicadores do consumo de energia e emissões, por exemplo, são apresentados por unidade de valor adicionado (VA) - diferença entre o custo de produção e o valor de venda do produto, que é uma forma inovadora e ainda não muito utilizada pelas empresas, mas que está alinhada com o conceito de eco-eficiência. Esta forma de apresentação dos indicadores ambientais está representada na Figura 3. Emissões 80 70 60 SO2 (t/ US$ milhões VA) COD (t/ US$ milhões VA) AOX (t/ US$ milhões VA) 50 40 30 20 10 PM -K ym m ol H m en M e et sa -S er As la si D om N an or sk e Sk og Ar ac ru z Ko rs na St s or a En so en A SC U In te r na tio na lP W ap ey er er ha eu Ab se iti r bi -C on s. 0 Figura 3 - Indicadores ambientais de empresas de celulose e papel segundo levantamento do Banco Sarasin. Fonte: Sarasin (2000) SO2 – dióxido de enxofre COD – Chemical Oxygen Demand (demanda química de oxigênio) AOX – compostos orgânicos halogenados adsorvíveis O perfil ambiental de cada empresa com relação à estratégia, gestão e aos aspectos ambientais relacionados aos insumos, fabricação, produtos e serviços são comparados com a média do universo amostrado. Do mesmo modo, são comparados 16 os indicadores de desempenho social, conforme mostrado nas Figuras 4 e 5. (Sarasin, 2000) SGA – Sistema de Gestão Ambiental Perfil ambiental -Abitibi-Cons. (%) 0 20 40 60 80 100 Estratégia SGA Insumos Produção Média da indústria Média da empresa Produtos e serviços Figura 4 - Perfil ambiental de empresas produtoras de celulose e papel, segundo critérios do WBCSD. Fonte: Modificado do relatório do Banco Sarasin-Sarasin (2000) 17 Perfil Social - Abitidi-Cons.(%) 0 20 40 60 80 100 Estratégia Gestão Saúde e Segurança Governo e sociedade Investidores Fornecedores Empregados Média da indústria Média da empresa Clientes Competidores Figura 5 - Perfil social de empresas produtoras de celulose e papel, segundo critérios do WBCSD. Fonte: Modificado do relatório do Banco Sarasin. Sarasin (2000) Uma das conclusões deste trabalho, segundo a metodologia utilizada pelos pesquisadores, é que as representantes nórdicas apresentaram desempenho ambiental superior às demais, destacando-se nos itens relativos à estratégia e gestão ambiental. No Brasil, uma das iniciativas pioneiras foi a do Unibanco, por meio de sua carteira de investimentos, que elaborou o perfil de algumas empresas brasileiras, afim de orientar aqueles que desejam investir naquelas com responsabilidade social e ambiental (Ethos, 2001). 18 Em países como o Japão, Reino Unido e Alemanha crescem as pressões para que os fundos de pensão incluam, além de critérios financeiros, critérios ambientais e sociais para a escolha dos investimentos (Ecofinanças, 2001). A sociedade civil também desponta como um importante agente de mudanças no comportamento das empresas, por meio de associações de bairro, organizações nãogovernamentais, sindicatos, etc. A empresa moderna não pode estar dissociada da realidade local, das comunidades vizinhas e dos anseios da população. Há necessidade cada vez maior de transparência das empresas, discutindo com a comunidade problemas ambientais e sociais, visando a uma solução conjunta. 3.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECO-EFICIÊNCIA 3.4.1 Evolução histórica O desenvolvimento sustentável, segundo definição do Dr. John R. Ehrenfeld, criador do conceito “Industrial Ecology” da Universidade da Noruega é: “O desenvolvimento conduzido responsavelmente por indivíduos, empresas, governos e outras instituições, cuidando do futuro como se ele lhes pertencesse, dividindo e partilhando eqüitativamente os recursos naturais dos quais os seres humanos e as demais espécies dependem, de forma a garantir que aqueles que hoje existem estejam presentes também no futuro para satisfazer as necessidades e aspirações humanas” (Ehrenfeld, 2001). A sustentabilidade traz no seu bojo o confronto com o paradigma da modernidade, que norteou a sociedade até bem pouco tempo atrás. Tornar real esse conceito é um colossal desafio para o novo século que se inicia. Muito esforço está sendo feito por diversos países e organismos internacionais para estabelecer indicadores que permitam tornar mensurável a sustentabilidade, para 19 então, estabelecer estratégias adequadas (EEA,1998). Vários fóruns internacionais têm discutido a questão da contabilidade ambiental, como, por exemplo, European Environmental Agency (EEA). Um exemplo interessante é o modelo desenvolvido pelo Prof. Mathis Warckrnagel, coordenador do Centro de Estudos para a Sustentabilidade da Universidade Anáhuac de Xalapa no México, denominado “Ecological Footprints” - pegadas ecológicas- no qual a “quantidade” de recursos naturais utilizados para manter os hábitos de consumo do Homem é “medida” em equivalentes de área produtiva. Em 1996, esse modelo foi utilizado para estimar as “pegadas ecológicas” de 140 países e os resultados indicaram que países industrializados apresentam um déficit de recursos naturais - conforme era de se esperar. Cada cidadão americano, por exemplo, precisa, em média, do equivalente a 9,6 ha (96.000 m2) para manter seus hábitos de consumo. Segundo esse modelo, atualmente, a quantidade de recursos naturais disponíveis é o equivalente a 1,8 ha por habitante, considerando-se que 12% das áreas produtivas e oceanos sejam mantidos para preservação. A média dos 140 países analisados foi 2,9 ha por habitante, indicando, portanto, que a capacidade da terra estaria sendo ultrapassada em cerca de 38% (Wackernagel et al. 1996). A sustentabilidade requer o uso mais eficiente dos recursos naturais, menor geração de resíduos, fontes alternativas de energia, mudanças dos hábitos de consumo, reutilização e reciclagem de produtos, entre outros. Há que se dissociar a relação quase que direta de crescimento econômico com uso de recursos naturais, e uma das ferramentas para isso é a eco-eficiência, termo criado pelo World Business Council For Sustainable Development (WBCSD) em 1992 e definido como a produção e entrega de bens e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas, promovendo qualidade de vida, enquanto que, progressivamente, são reduzidos os impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos naturais em todo o ciclo de vida, em consonância com a capacidade estimada da terra em prover estes recursos e absorver os impactos (UNEP-DTIE, 2001a). 20 3.4.2 Elementos–chave para viabilizar a eco-eficiência Segundo o World Business For Sustainable Development – WBCSD, todos os segmentos da sociedade são responsáveis pelo progresso. As empresas exercem um papel fundamental incorporando as mudanças e aceitando os desafios. Da mesma forma, os governos e a sociedade civil também têm um importante papel a representar. Essa composição de atores e seus papéis rumo a sustentabilidade, está mostrada a seguir, como os 12 elementos-chave para um futuro sustentável (WBCSD, 2000a). Líderes de governo e de trabalhadores: i. Estabelecer objetivos associados à macroeconomia que possam ser traduzidos como critérios para o desenvolvimento sustentável; ii. Integrar políticas públicas e medidas que visem o fomento da eco-eficiência, como por exemplo, eliminando subsídios e tornando mais efetivas as taxas para as empresas ambientalmente inadequadas ; iii. Fortalecer e estimular os acordos, as políticas internacionais, os mercados, os sistemas financeiros, visando a otimização no uso de recursos naturais, a minimização das emissões e a redução nas desigualdades; Líderes da sociedade civil e de associação de consumidores: iv. Estimular os consumidores a escolher produtos e serviços que sejam produzidos de forma sustentável e ecoeficiente; v. Suportar medidas políticas que visem criar condições para privilegiar a ecoeficiência; Educadores: vi. Incluir os conceitos de sustentabilidade e da eco-eficiência nas escolas secundárias e nas universidades, fomentando a pesquisa e projetos; Investidores a analistas de mercado: vii. Reconhecer e estimular a sustentabilidade e a eco-eficiência por meio de critérios específicos de financiamento; viii. Ajudar a divulgar para o mercado financeiro as empresas líderes que se destacam pelo seu desempenho ambiental; 21 ix. Promover o desenvolvimento de ferramentas de avaliação de sustentabilidade visando sua disseminação no mercado financeiro, bem como promover os benefícios da eco-eficiência; Líderes de negócios: x. Integrar a eco-eficiência nas suas estratégias de negócios (parte operacional, inovação de produtos e marketing); xi. Reportar e divulgar de forma transparente os resultados relativos à sustentabilidade e à eco-eficiência da empresa para as partes interessadas; xii. Suportar o estabelecimento de políticas que visem premiar e estimular a ecoeficiência. 3.4.3 Dimensões da eco-eficiência Considerando-se a estreita relação entre sustentabilidade e economia, as sete dimensões da eco-eficiência aplicáveis para toda empresa que forneça produtos e serviços, modifique processos ou qualquer outra ação que tenha correlação com o meio ambiente são as seguintes: a) Reduzir a intensidade do consumo de materiais em produtos e serviços; b) Reduzir a intensidade do consumo de energia em produtos e serviços; c) Reduzir a dispersão de compostos tóxicos; d) Promover a reciclagem; e) Maximizar o uso de recursos renováveis; f) Estender a durabilidade dos produtos; e g) Aumentar a intensidade do uso de produtos e serviços (por exemplo, como no programa suíço de locação e compartilhamento de carros, que permitiu o uso mais racional do transporte, aumentou o uso do transporte público e reduziu o consumo de combustíveis). Desta forma, assumindo que os produtos e serviços fornecidos permitam o desenvolvimento econômico, eles serão mais eficientes do ponto de vista ambiental 22 à medida que utilizem mais dimensões da eco-eficiência e/ou sejam mais efetivos na sua utilização individualmente (WBCSD, 2000b). Atualmente, a forma de “fazer negócios” é profundamente diferente daquela utilizada há cerca de 30 anos. A gestão ambiental nas empresas não pode mais enfocar somente o controle local dos impactos ambientais associados ao processo produtivo, mas, ser estendida a toda a cadeia produtiva, desde matérias primas até o descarte e disposição final dos produtos. Também passa a ser importante na gestão ambiental das empresas modernas o relacionamento com a sociedade, que cada vez mais está envolvida nas questões ambientais (IGC, 2001). Empresas ecopioneiras, que se destacam dos seus competidores por meio de um comportamento proativo, incorporando nos seus negócios os conceitos da ecoeficiência, são ainda em número reduzido, e representam menos de 20% do total das empresas americanas e européias (IGC, 2001). A maior parte das empresas ainda está voltada para o atendimento às exigências legais e à gestão reativa. Empresas como a 3M, que a partir de 1975 utilizou ferramentas como o design ambiental para redução de emissões, economizando cerca de US$ 750 milhões desde então, e a empresa Proctor & Gamble, que desenvolveu em 1989 os “ultradetergentes”, reduzindo emissões e o consumo de matérias-primas e energia, são exemplos de empresas ecopioneiras. Os avanços tecnológicos permitiram que a eficiência do uso da energia fosse aumentada à razão de 2% ao ano no período de 1970-1990. No entanto, esse crescimento praticamente estagnou nos países industrializados desde então. Acelerar esse processo é também um dos desafios da eco-eficiência. s nto m e os tru ic I n s n ôm Eco o por ntaçã ias r lame Regu s e parce o Acord Legislação Comando e controle Sustentabilidade 23 Empreendimentos Responsáveis Pegadas Ecológicas Fator X Eco-eficiência Agenda 21 Desenvolvimento sustentável Produção Mais Limpa Atendimento Legal Auditorias Auditorias EHS Carta ICC EMS Certificação Estratégia Sustentabilidade Tempo ICC- Câmara internacional de comércio EMS – Environmental Management System (sistema de gestão ambiental) Fator X- Estabelecimento de metas de aumento de eco-eficicência Figura 6 - Síntese da sustentabilidade segundo o WBCSD. Fonte: WBCSD (2000a). A Figura 6 apresenta uma síntese da sustentabilidade e suas inter-relações temporais com a eco-eficiência e demais mecanismos. Atualmente, especialmente nos países europeus, existe um grande esforço dos governantes em estabelecer novos instrumentos e políticas voltadas para a responsabilização dos fabricantes pelos produtos, durante todo o seu ciclo de vida. Como exemplos dessas medidas tem-se as taxas ambientais, o estabelecimento de meta de reciclagem e as exigências para que os produtores coletem e se responsabilizem pela destinação final de seus produtos pós-consumo – política “takeback”. A política “take-back” induziu fabricantes a alterar os processos produtivos e o design dos seus produtos, visando reduzir o uso de compostos tóxicos, aumentar a reciclagem, reduzir o tamanho e quantidade das embalagens, entre outros. 24 No Brasil, esta parece ser também uma tendência, com o surgimento de novas legislações no ano de 2000, que obrigam os fabricantes a coletar, tratar e dispor os produtos pós-consumo, como pilhas e baterias, e mais recentemente essa exigência estendeu-se aos pneus. Está em fase de elaboração a política nacional de resíduos sólidos, cuja proposta inicial fundamenta-se em adotar um modelo de gestão semelhante ao da comunidade européia (Kapaz, 2002). Nesse sentido, já existem intensas discussões em diversos segmentos da sociedade questionando a sua viabilidade em um país com a extensão territorial do Brasil, permeado por profundas diferenças socioeconômicas e culturais. 3.4.4 Ferramentas da eco-eficiência As ferramentas da eco-eficiência que serão abordadas neste trabalho são: • Produção mais limpa ou prevenção à poluição; • Análise de ciclo de vida e “Design for Environment”; • Contabilidade ambiental; • Indicadores de eco-eficiência e de desempenho ambiental; • Relatórios de desempenho ambiental; • Sistemas de gestão ambiental. A Figura 7 apresenta uma proposta de como essas ferramentas estão interligadas com processos e produtos em uma escala espacial e temporal. 25 Ecolab- Selos verdes LCA- Análise de ciclo de vida EAc- Contabilidade ambiental Sociedade CP- Produção limpa DfE- Design ambiental EMS- Sistema de gestão ambiental EPE- Avaliação de performance ambiental 5- Políticas, protocolos e Agenda 21 N fábricas Ciclo de vida de um produto Uma fábrica/processo 4- Eco-efciência N produtos Descarte/ disposição 2- LCA, DfE, Ecolab. 5 3-EMS, EPE Uso 4 Fabricação 1-CP, EAc Planejamento Fabricação Uso Disposição Duração da empresa Vida Humana Tempo Vida útil do produto Figura 7 - Métodos e ferramentas para melhoria de desempenho ambiental. [Modificado de NTNU- Norwegian University Of Science- and Technology -IndEcol –Industrial Ecology Programme]- Fet, (2000). 3.4.4.1 Produção mais limpa/prevenção à poluição Define-se como “produção mais limpa” a aplicação contínua de uma estratégia integrada e preventiva em processos, produtos e serviços, visando aumentar a eficiência global, reduzindo os riscos aos seres humanos e ao meio ambiente. Em processos produtivos, a produção mais limpa implica na conservação de matérias-primas e energia, eliminação de insumos tóxicos e redução da quantidade e da toxicidade das emissões e dos resíduos (Figura 8). 26 Em produtos, ela envolve reduzir os impactos negativos durante todo o ciclo de vida do produto, desde o consumo de matérias-primas até a sua disposição final. Nos serviços, implica na adoção de estratégias que incorporem aspectos ambientais na concepção e na entrega de serviços (UNEP, 2001a) Produção Mais Limpa É uma estratégia Preventiva e Contínua Instrumentos De Gestão Produtos Para modificar Processos Instrumentos Regulatórios (governo) Instrumentos Tecnológicos Serviços Assegurando Melhoria do Desempenho Ambiental e redução Dos custos Figura 8 - Visão geral de produção mais limpa ou prevenção à poluição. Fonte: EEA (2001a) A Prevenção à Poluição consiste no uso de processos, práticas, materiais, produtos ou energia, de modo a minimizar a geração de poluentes e de resíduos, ao mesmo tempo em que reduz o risco à saúde humana e ao meio ambiente (UNEP, 2001a). 27 Os conceitos de prevenção à poluição e produção mais limpa enfocam basicamente a não geração e a abordagem preventiva com respeito aos aspectos ambientais em vez do caráter corretivo. Entretanto, as diferenças entre eles podem ser consideradas somente como geográficas, uma vez que o termo prevenção à poluição é mais usado na América do Norte enquanto que produção mais limpa é mais utilizado no restante do mundo (UNEP-DTIE, 2001b). Segundo a UNEP - United Nations Environment Program, os conceitos de ecoeficiência e produção mais limpa são praticamente sinônimos. A diferença seria quanto ao conceito de eco-eficiência, que destaca primeiramente a eficiência econômica, que por sua vez traz benefícios ambientais, enquanto que o conceito de produção mais limpa enfoca inicialmente os aspectos relacionados com a eficiência ambiental, que por sua vez conduz a benefícios econômicos. 3.4.4.1.1 Visão histórica A partir da percepção da degradação ambiental e da escassez de recursos naturais, teve início um processo lento, que instigou mudanças nas empresas e nos governos, sobrepondo a visão imediatista baseada em políticas de curto prazo e meramente financeira, por uma nova forma de governança. A filosofia da abundância de recursos e da capacidade ilimitada da Terra em absorver e diluir os impactos ambientais foi a base para o desenvolvimento industrial. Os problemas ambientais eram evitados por meio de migrações, do uso da capacidade dispersiva (ar e água) e da concentração e disposição no solo de resíduos (EEA, 2001a) Todas essas alternativas mostraram-se ineficientes no longo prazo, como ficou notório com problemas de bioacumulação, contaminação de solo e de sedimentos com resíduos radioativos ou tóxicos como os contendo bifenilas policloradas (PCBs). 28 A etapa seguinte, com início na década de 60 do século XX, foi marcada pelo uso do conceito da tecnologia a serviço do meio ambiente com uma visão corretiva, também denominada “end-of-pipe” (fim de tubo). Embora esse conceito tenha permitido minimizar impactos ambientais, não atuava sobre as causas do problema e sim, nas conseqüências. Além disso, de certa forma, transferia-se o problema ambiental. Um exemplo clássico é a geração de subprodutos, como lodo e/ou filtrados contaminados resultantes do processo de tratamento de águas residuárias. O conceito de prevenção à poluição está intimamente ligado com o conceito de sustentabilidade, uma vez que a produção mais limpa permite o uso mais eficiente de recursos naturais, da energia, redução do consumo e emissão de produtos tóxicos, tendo como escala temporal a vida útil do produto e não simplesmente o processo de fabricação. Pode-se deduzir, portanto, que a prevenção à poluição é um dos mais importantes caminhos para a sustentabilidade, ponderando-se aspectos econômicos e ambientais, conforme está mostrado na Figura 9. Como principais instrumentos viabilizadores da produção mais limpa tem-se: • Mecanismos governamentais, por intermédio de programas, acordos, imposições legais, etc.; • Evolução da gestão; • Evolução tecnológica (mostrada na Figura 10). Positivo Expansão econômica não sustentável Negativo E feit o E con ôm ico 29 Situação desfavorável Sinergia entre economia e meio ambiente, através da inovação e prevenção Abordagem “end-of-pipe” Negativo Positivo E feit o a m bien t a l Figura 9 - O balanço entre o efeito econômico e ambiental. Fonte: EEA (2000a) Abordagem tecnológica Corretiva 1960 1970 1980 1990 Tecnologia “end-of-pipe” Remediação Otimização de processos existentes Integrativa Novos processos e tecnologias Melhores tecnologias disponíveis Racionalização do uso de energia Orientada para Seleção de insumos e matérias-primas Reciclagem e reuso Fonte ou insumos Desenvolvimento sustentável Preventiva e orientada Para produto Figura 10 - Evolução da abordagem tecnológica. Fonte: EEA (2000a) Uso racional de insumos LCA e “design” ambiental Inovação de produtos 30 3.4.4.1.2 Produção mais limpa e as melhores técnicas disponíveis (BAT - Best Avaliable Technologies) O conceito de produção mais limpa está integrado com a Diretiva do IPPC (Integrated Pollution Prevention and Control) por intermédio do uso das melhores técnicas disponíveis (BAT). Define-se BAT - como as técnicas mais eficientes e avançadas disponíveis para execução de atividades, aplicáveis a processos específicos, de forma a evitar emissões e os impactos ambientais adversos, ou quando isso não for possível, pelo menos reduzí-los. Técnicas compreendem, além da tecnologia, os aspectos de projeto, construção, manutenção e operação. Disponíveis entende-se como aquelas que permitem sua implementação em escala industrial em setores relevantes, levando-se em conta além dos aspectos tecnológicos, o custo e a acessibilidade. Melhores técnicas entende-se como aquelas que permitem maior proteção ambiental. Na Europa, o conceito similar ao BAT é o BATNEEC; que significa (Best Available Techniques Not Entailing Excessive Costs) - melhores técnicas disponíveis que não acarretam custos excessivos. Na Inglaterra, por sua vez, o aspecto de custo não é incluído no conceito de melhores tecnologias disponíveis (BAT). Neste trabalho, será utilizado o conceito BAT alinhado com a diretiva européia (IPPC). 31 3.4.4.1.3 Implementação da produção mais limpa Para ter sucesso, a implementação da produção mais limpa deve ter uma abordagem integrativa, ser economicamente viável e, por vezes, inovadora. Esse processo, na maioria das vezes, é iniciado por instrumentos governamentais com objetivos claros, estimulando o desenvolvimento e a implantação de alternativas tecnológicas, aliando a estes programas educativos e de treinamento para assegurar resultados a longo prazo. A metodologia proposta pela UNEP, para identificar e avaliar as oportunidades de implementação de tecnologias limpas em indústrias em geral, pode ser dividida em cinco etapas: planejamento e organização; pré-avaliação; avaliação; estudo de viabilidade e implementação, conforme está demonstrado na Figura 11. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) do Estado de São Paulo elaborou um manual com a metodologia para implementação de um programa de prevenção à poluição, muito similar ao que foi proposto pela UNEP (CETESB, 2001b). 32 Identificação da necessidade de implementar Produção mais limpa 1 - Planejamento e organização 2- Etapa de Pré avaliação 3 - Avaliação 4- Estudo de viabilidade Continuação Do Programa 5- Implementação Avaliação dos resultados Figura 11 - Etapas para implementação de um programa de produção mais limpa. Fonte: UNEP-DTIE (2001b) a) Planejamento e organização A partir da identificação da necessidade de se implementar um Programa de Produção mais Limpa, os elementos-chave para seu sucesso são: Comprometimento da alta gerência: O gerente geral da indústria deve dar início ao processo, para obter colaboração e comprometimento de todos. Envolvimento dos funcionários: Embora o gerente possa dar o “pontapé inicial” no programa, a identificação das oportunidades de melhoria e de prevenção à poluição dependem basicamente dos funcionários, principalmente daqueles envolvidos com as atividades de processo e de manutenção no chão-de-fábrica, que normalmente detêm o conhecimento de como e por que são geradas as emissões e os resíduos, e principalmente o que pode ser feito para minimizá-los. 33 Controle adequado dos custos, de modo a mostrar para a alta gerência e funcionários que prevenir a poluição reduz custos de tratamento e disposição de resíduos. Abordagem organizada, coordenada por equipe multidisciplinar que: • Detenha conhecimentos do processo produtivo, para avaliar as sugestões propostas e que tenha capacidade e autonomia para implementá-las; • Identifique as barreiras que possam existir para implementação do programa e • Estabeleça os objetivos desafiadores para a companhia. O planejamento sistemático que faz parte da implementação do Programa de Produção mais Limpa permite assegurar a escolha das opções mais viáveis economicamente; alinhar os objetivos do programa com os demais objetivos da empresa, facilitar o planejamento dos investimentos e, por fim, pode servir como base para financiamentos . b) Etapas de pré-avaliação e avaliação Durante esta fase, é feito o balanço de material de modo a identificar quais perdas podem ser reduzidas. A equipe responsável pela implantação do programa deve identificar quais são as alternativas para prevenção à poluição, buscando referências em outras companhias, em literatura, em fornecedores e outras fontes. É recomendável também fazer “brainstorming” com funcionários da empresa para identificar as oportunidades de melhoria ambiental. Pode-se dividir este processo em três fases: • Balanço de massa do processo industrial, associado com o fator custo, apresentando em um fluxograma as fontes de geração de resíduos e de emissões; • Identificação dos fatores que influenciam o volume, a quantidade, a composição e as propriedades das emissões e dos resíduos; • Propositura de alternativas para controlar ou eliminar as causas da geração dos resíduos e das emissões. As práticas genéricas de prevenção à poluição identificadas na etapa de “brainstorming” devem ser usadas para desenvolver as 34 alternativas mais apropriadas para o resíduo ou emissão em questão. A partir daí, as opções selecionadas devem ser submetidas à avaliação técnica e econômica, como qualquer outra inovação. As alternativas de tecnologia mais limpa podem ser relacionadas como indicado na Figura 12. Mudança tecnológica Mudança nos Produtos Processo Boas práticas de operação Mudança nos insumos Reuso e Reúso reciclagem interna Figura 12 - Avaliação do processo –principais alternativas. Fonte: UNEP-DTIE (2001b) Mudança nos insumos ou matérias-primas O uso de insumos mais puros ou sua substituição permite reduzir ou eliminar compostos perigosos no processo, ou a toxicidade - periculosidade dos resíduos gerados. 35 Mudança tecnológica A mudança tecnológica pode estar voltada para o processo, equipamentos, mudanças em variáveis do processo e uso de automação. Boas práticas de operação Boas práticas de operação incluem adequada manutenção e uma gestão administrativa voltada para a redução das emissões e da geração de resíduos. Compreendem as seguintes práticas: • Treinamento e conscientização de funcionários, programas de estímulo à redução de resíduos e emissões; • Estocagem e programação adequada do uso de materiais, evitando perdas de produtos por danos ou por excederem prazos de validade. • Controles adequados das perdas, evitando e minimizando vazamentos e transbordos; • Segregação de resíduos para evitar a contaminação com os demais, ou mesmo inviabilizar sua reutilização ou recuperação; • Contabilização dos custos de tratamento das emissões e da disposição dos resíduos, e sua apropriação nas áreas geradoras; • Programação de produção adequada visando minimizar as perdas, principalmente em processos produtivos intermitentes (ou batelada). Mudança no produto Mudança na especificação de qualidade, na composição e na durabilidade dos produtos, ou mesmo por intermédio da sua substituição com objetivo de minimizar a geração de resíduos, de águas residuárias e de emissões gasosas. As mudanças feitas nos produtos podem alterar os impactos ambientais associados nas diversas etapas do ciclo de vida dos mesmos, desde a extração da matéria-prima até sua disposição final. Reúso e reciclagem interna Implica na reutilização dos resíduos no próprio processo de origem (reciclagem) ou como insumo em outro processo (reúso). 36 c) Estudo de viabilidade Esse estudo tem a finalidade de verificar a viabilidade técnica e econômica aliada aos ganhos ambientais das alternativas propostas. Este processo pode ser dividido em 05 fases: 1. Avaliação preliminar Nesta etapa as alternativas são segregadas em função da necessidade ou não de dados complementares. Aquelas que envolvem decisões apenas gerenciais podem não requerer avaliação técnica, assim como opções mais simples, podem não exigir avaliação ambiental. Similarmente, opções de baixo custo não requerem estudos econômicos tão detalhados como aqueles exigidos nas opções mais complexas. 2. Avaliação Técnica Consiste na verificação de dois fatores básicos. - Existência de equipamentos disponíveis e adequados para a sua implementação; influência na qualidade e produtividade e, por fim, mudanças na forma de utilização e de manutenção dos equipamentos. - Mudanças no fluxo de materiais, induzindo a necessidade de novos balanços de massa e de energia. 3. Avaliação econômica Requer no mínimo o levantamento de dados tais como investimentos, custos operacionais e benefícios, retorno financeiro das alternativas tecnicamente viáveis. É importante fazer uma análise criteriosa dos custos envolvidos, com uma visão de longo prazo a fim de incorporar as vantagens da produção mais limpa. 4. Avaliação ambiental Os objetivos da avaliação ambiental são os de determinar os impactos (positivos ou negativos) das alternativas propostas ao meio ambiente, tendo em conta todo o ciclo de vida de um produto. 37 Essa avaliação pode ser feita basicamente de duas formas: qualitativa ou quantitativa. A avaliação quantitativa baseia-se no estabelecimento de critérios mensuráveis, que serão comparados com os valores calculados para as alternativas propostas. Os critérios podem ser os custos de tratamento e disposição final, energia consumida nas diferentes fases do produto, etc. 5. A abordagem qualitativa implica em elaborar uma matriz comparativa com os diferentes aspectos e impactos ambientais nas diferentes fases do ciclo de vida, para as alternativas propostas. 6. Seleção das alternativas viáveis Devem ser excluídas as alternativas que se mostraram inviáveis tecnicamente, ou com baixa significância em ganhos ambientais. As demais devem ser analisadas de forma a conciliar os ganhos ambientais com os custos. d) Implementação e monitoramento Nesta etapa devem ser estabelecidos critérios de mensuração para avaliar e monitorar os resultados da implementação da(s) alternativa (s) selecionada(s) para o projeto de produção mais limpa. Para o sucesso do programa é necessário: • Elaborar um plano de ação detalhado de todas as fases, com data, responsabilidades e atribuições dos envolvidos; • Para as alternativas que envolvam custos elevados ou projetos complexos, é necessário estabelecer um planejamento adequado que inclua a necessidade de desembolso nas diferentes fases. Também é importante o acompanhamento e comissionamento do projeto por uma equipe técnica capacitada, para assegurar o desempenho e a eficiência dos novos processos, sistemas ou equipamentos. • Monitorar o progresso do projeto de produção mais limpa, informando-o às equipes, indivíduos e departamentos envolvidos no mesmo. A escolha de como medir o progresso é crucial e deve envolver a quantificação das emissões, do 38 consumo de energia ou insumos e o aumento da lucratividade. Mudanças na forma e composição dos produtos também devem ser incluídas. • A manutenção do programa pode requerer mudanças estruturais na organização e na gestão da empresa.Os elementos-chaves neste processo são integração entre a área de desenvolvimento com os demais setores, contabilização dos resíduos e participação e envolvimento dos empregados. 3.4.4.1.4 Barreiras para implementação da produção mais limpa na perspectiva da indústria Apesar do aspecto atrativo da produção mais limpa devido a redução dos impactos ambientais, a utilização desta ferramenta ainda é limitada. Segundo um levantamento da UNEP (UNEP-DTIE, 2001b) as principais barreiras são: Financeiras e econômicas a) Custos altos para o financiamento de projetos na indústria; b) Falta de mecanismos e incentivos apropriados para o financiamento de projetos de produção mais limpa; c) Percepção que investimentos em inovação, como uso de tecnologias mais limpas, são de alto risco; d) Normalmente este tipo de investimento não é suficientemente atrativo pois apresenta baixo retorno financeiro; e) Imaturidade da empresa na apropriação de custos. Organizacionais f) Falta de visão estratégica e de foco em tecnologia e mercados; g) Imaturidade na gestão ambiental e nas políticas da empresa; h) Ausência de liderança e imaturidade da função de gestor ambiental; i) Percepção de risco de exposição para gerentes e ausência de incentivos para adotar projetos inovadores; j) Imaturidade da estrutura organizacional da empresa; 39 k) Pouca experiência na implantação de projetos com a participação dos funcionários. Técnicas e conceituais l) Ausência de práticas operacionais estruturadas e bem estabelecidas e de planos de manutenção; m) Complexidade na implementação da produção mais limpa; n) Pouco acesso às tecnologias mais limpas e às inovações tecnológicas; o) Indiferença quanto ao papel da empresa na melhoria ambiental; p) Falta de entendimento do conceito de produção mais limpa; q) Resistência à mudanças. 3.4.4.1.5 Experiências e programas de implementação de produção mais limpa Embora existam referências de programas de produção mais limpa desde 1976 nos Estados Unidos e na Dinamarca, foi na década de noventa do século XX, que esses programas se multiplicaram e passaram a ter relevância em diversos países. A UNEP publicou dois livros relatando estudos de caso em cerca de 21 países (UNEP,1993,1995). Além destes, está disponível no site UNEP-DTIE um guia com as principais fontes de informação sobre produção mais limpa e diversos centros de referência nos cinco continentes. O anexo A deste trabalho apresenta também uma série de referências e sites com informações sobre produção mais limpa e ecoeficiência. Os setores que se destacam nestes programas são mostrados na Tabela 2. Pode-se observar que os segmentos que mais participam dos programas de implementação da prevenção à poluição são os relacionados ao segmento industrial, embora em alguns países o setor público tenha sido incluído. Na Austrália, existe um programa específico voltado para as pequenas e médias empresas e outro voltado para o setor publico e gestão municipal (EPA-Australia,1996). 40 Tabela 2 - Setores nos quais foram implementados programas de Produção Mais Limpa. País Setor Indústria de celulose e papel, automotiva, petrolífera, plásticos Austrália e resinas, municípios, programas para pequenas e médias empresas. Bulgária Industria química; siderurgia; programas para pequenas e médias empresas. Canadá Público, pequenas e médias empresas, hospitalar. China Celulose e papel República Tcheca Serviços de água e esgotos, transportes, alimentício e agricultura. Dinamarca Têxtil, galvanoplastia e gráfica Hungria Automobilístico, gráfica e indústria química. Israel Indústria química e farmacêutica Itália Têxtil e beneficiamento de couro Lituânia Têxtil, eletroeletrônico e alimentício. Polônia Setor público (água e esgotos), alimentício, agricultura e tratamentos superficiais . Portugal Galvanoplastia e indústria química Romênia Celulose e papel e têxtil Eslovênia Público, indústria química e alimentícia, agricultura Turquia Têxtil, galvanoplastia e indústria de alvejantes Inglaterra Indústria química, gráfica e de impressão, galvanoplastia. Estados Unidos Indústria química, galvanoplastia e celulose e papel Fonte: UNEP (1993); Overcash (2000). No Brasil, ainda existem poucas iniciativas estruturadas voltadas para produção mais limpa. O Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável possui atualmente 07 Núcleos de Produção Mais Limpa (CE, PE, BA; MG; MT; SC e CNTL-RS), com as primeiras experiências voltadas para pequenas e médias empresas (CEBDS, 2001). 41 A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) do Estado de São Paulo desenvolve programas voltados para a prevenção à poluição. Já estão disponíveis as seguintes publicações : • Manual de Implementação de um programa de prevenção à poluição; • Manual Ambiental: projeto piloto de prevenção à poluição em indústrias de bijuteria no Município de Limeira; • Compilação de técnicas de prevenção à poluição para indústrias de galvanoplastia, • Compilação de técnicas de prevenção à poluição para o setor têxtil; • Casos de sucesso. Os projetos específicos são voltados para os setores de galvanoplastia, têxtil, indústria cerâmica e público - compras verdes (CETESB, 2001b). O website também apresenta referências bibliográficas em produção mais limpa, prevenção à poluição e reciclagem para diversos setores produtivos. Comparando-se os estudos de caso apresentados pela UNEP e os citados pela CETESB, pode-se observar uma diferença de abordagem no que se refere à sua estruturação. Os casos apresentados pela UNEP fornecem dados econômicos do projeto, como investimentos, custos operacionais e retorno financeiro, além dos dados relativos a redução de emissões, insumos, energia, etc. Por outro lado, os estudos de casos apresentados pela CETESB detalham mais os ganhos ambientais, e embora apresentem dados sobre os ganhos econômicos, não abordam de forma clara os investimentos. Em outubro de 2002, a CETESB promoveu o Seminário de lançamento da “Mesa Redonda Paulista de Produção Mais Limpa”, quando foi criado um fórum permanente para discussão do tema em São Paulo. No evento, foram apresentados cerca de 23 casos de sucesso de implementação de produção mais limpa de empresas atuantes no Estado. 42 3.4.4.2 Análise do ciclo de vida - ACV O conceito de ciclo de vida é baseado na abordagem do “berço ao túmulo” (Figura 13), na qual cada etapa do ciclo de vida de um produto (extração e processamento de matérias-primas; fabricação, transporte, distribuição, reutilização ou reciclo, tratamento e disposição dos resíduos) apresenta impactos econômicos e ambientais associados. De acordo com a ISO–International Organization for Standardization, ACV é uma técnica de avaliação de aspectos e impactos potenciais associados com um produto, por meio da: • Compilação de um inventário de todas as entradas e saídas do sistema; • Avaliação dos impactos potenciais associados com essas entradas e saídas; e • Interpretação dos resultados do inventário e dos impactos em relação aos objetivos do estudo. Os primeiros estudos ambientais relacionados com ciclo de vida de produtos datam do final da década de 60 do século XX, com foco nos aspectos energia, consumo de matérias primas e disposição de resíduos. Em 1969, a Coca-cola elaborou em estudo para comparar o consumo de recursos naturais e as emissões relacionadas ao tipo de embalagem do seu produto. Similarmente, na Inglaterra em 1972, Ian Boustead desenvolveu um modelo para determinar os consumos de energia relacionados às embalagens de alumínio, vidro, plástico, etc (EEA, 2001b). Neste mesmo período, foi desenvolvida uma metodologia de avaliação quantitativa do consumo de recursos, denominada – REPA - Resource and Environmental Profile Analysis, que pode ser considerada uma das precursoras da análise do ciclo de vida (Environment Canada, 2001). 43 No início da década de 90 do século XX, esse tipo de abordagem evoluiu, embora despertasse interesse somente em um grupo reduzido de países, principalmente no meio acadêmico. Atualmente, o conceito está sendo usado em análises quantitativas de ciclo de vida, em projetos e desenvolvimento de novos produtos e como ferramenta de políticas públicas para a taxação de embalagens, notadamente na União Européia (Environment Canada, 2001). As empresas, por sua vez, utilizam-se dessa ferramenta para a tomada de decisões, melhoria no desempenho ambiental, desenvolvimento de novos produtos, entre outros. Transporte Embalagem Reuso Uso Fabricação Extração de Matérias primas Reciclagem de materiais Figura 13 - Ciclo de vida de um produto. Fonte: EEA (2001b) Descarte Disposição final 44 As principais etapas de uma análise de ciclo de vida são: • Definição do escopo; • Execução do inventário detalhado do ciclo de vida, compilando-se os dados relativos ao consumo de energia, recursos naturais e emissões em cada etapa do ciclo; • Estimativa dos impactos ambientais associados ao uso dos recursos naturais, processo produtivo e as emissões geradas; • Interpretação dos resultados relacionando-se os dados obtidos com o objetivo do trabalho. Considerando-se que nos dias de hoje o desenvolvimento sustentável está presente nas agendas políticas e econômicas, a análise de ciclo de vida desponta nesse cenário como uma das mais importantes ferramentas para o desenvolvimento de novos produtos e na gestão corporativa estratégica. 3.4.4.2.1 Metodologia da ACV A complexidade da análise de ciclo de vida requer o estabelecimento de um protocolo padrão, como o recomendado pela ISO (International Organization for Standardization). Este protocolo (Figura 14) divide a análise de ciclo de vida em quatro fases: • Definição do objetivo e do escopo; • Inventário; • Avaliação dos impactos e • Interpretação. 45 Protocolo da ACV Objetivo e Escopo Inventário Interpretação Avaliação de Impacto Ambiental Aplicações: •-Desenvolvimento De produtos; •-Planejamento Estratégico; •-Estabelecimento De políticas públicas; •-Marketing •-Outras Figura 14 - Protocolo da ACV. Fonte: ABNT (2001b) a) Definição do objetivo e escopo A definição do escopo da análise de ciclo de vida deve incluir os seguintes itens: • A funcionalidade do sistema, ou, no caso de estudos comparativos, dos sistemas; • A unidade funcional; • Sistema a ser estudado; • Fronteiras do sistema; • Forma de alocação adotada; • Tipos de impacto e metodologia usada na avaliação e interpretação dos mesmos; • Dados necessários; • Hipóteses e critérios adotados; • Limitações; • Qualidade requerida para os dados; • Critérios empregados na revisão crítica (se houver); • Tipo e formato do relatório necessário ao estudo. 46 A unidade funcional - um dos mais importantes balizadores da ACV pode ser definida como a medida do desempenho das saídas funcionais do sistema de produto. O propósito principal da unidade funcional é fornecer uma referência para assegurar a comparabilidade dos resultados da ACV. Por exemplo, a unidade funcional para um sistema de pintura pode ser a área protegida por um período de tempo específico (ABNT, 2001b). Segundo Chehebe (1998), pode-se visualizar melhor esta etapa quando se associa o escopo às três dimensões, que devem ser definidas de forma a atender ao estabelecido nos objetivos do estudo: -Primeira (Extensão)- Onde iniciar e parar o estudo; -Segunda (Largura) - Quantos e quais subsistemas incluir; -Terceira (Profundidade) – Nível de detalhes do estudo. É importante definir se o estudo em questão é para comparação de produtos ou somente para o estabelecimento de uma relação com um determinado padrão, por exemplo, selo verde. Do mesmo modo, o estudo pode visar o desenvolvimento de um produto novo, ou simplesmente conhecer em detalhes os aspectos e impactos ambientais de um produto já existente. Por fim, considerando-se que se trata de um processo iterativo, deve-se revisar e adequar o seu escopo no decorrer do estudo. 47 b) Análise do inventário Nesta etapa, são compilados e quantificados os principais fluxos de massa e energia que transpõem as fronteiras econômicas e ambientais do sistema, podendo ser dividida da seguinte forma, segundo Guinée (Guinée, 2001): Definição das fronteiras - Envolve a definição de quais fluxos relevantes do ponto de vista ambiental, serão considerados para só então se estabelecer a fronteira. Um caso típico é o das florestas e outros sistemas biológicos, conforme mostrado na Figura 17. (a) Floresta nativa (b) Emissões do aterro Luz solar CO2 Água Minerais Floresta plantada Figura 15 - Duas formas de limites do sistema, considerando-se fronteiras estreitas (a) e amplas (b). Fonte: Guinée (2001) Outro ponto interessante a considerar no exemplo da Figura 15 é: o aterro deve ser incluído dentro da fronteira? Dependendo do projeto e operação do aterro, ele pode ser considerado parte do sistema, e as emissões serão os fluxos cruzando a fronteira. Por outro lado, no caso da disposição sem qualquer controle, ele deverá ficar fora, assim sendo, o fluxo de material cruzando a fronteira, será o próprio resíduo depositado no aterro. 48 Balanços de massa e diagramas – Consiste em elaborar um diagrama de blocos com os principais componentes do sistema, tendo como elemento central a unidade funcional. Haverá, portanto, ramificações associadas às etapas anteriores (insumos e matérias-primas) e posteriores (gestão dos resíduos) a esta unidade funcional. Após esse desenho, segue-se o levantamento de todos os dados relevantes associados ao sistema, conforme sugerido na Figura 16. Também é necessário fazer um refinamento dos dados disponíveis em relação ao escopo proposto, de forma a evitar perda de tempo e de recursos na busca por dados que podem ser suprimidos ou estimados. Na seqüência, deve ser identificado se há necessidade de alocação de fluxos e das intervenções nos processos que são comuns a mais de uma unidade funcional, como no caso da reciclagem e do co-processamento. Deve-se considerar também na alocação dos fluxos outras funções que o produto possa ter. O detalhamento dos cuidados que se deve ter nestes casos foge do escopo deste trabalho e pode ser encontrado nos sites listados no anexo A e em Chehebe(1998) e Leiden University (2001). Saídas Entradas Produtos Fluxos Produtos Serviços Materiais Energia Resíduos Consumo de recursos bióticos Consumo de recursos abióticos Alteração do solo Uso do solo Intervenções no meio ambiente do Produtos Serviços Materiais Energia processo Resíduos Unidade Fluxos Emissões atmosféricas Emissões hídricas Resíduos sólidos Radiação Ruído Poluição térmica Danos aos seres vivos Etc. Intervenções no meio ambiente Figura 16 - Principais categorias dos dados do inventário. Fonte: Chehebe (1998). 49 As conclusões da análise do inventário são os cálculos dos fluxos associados à unidade no funcional, processo de como polimerização pode de ser 1 kg visto, de PVC, por exemplo, disponível no URL:http://service.eea.eu.int/envirowindows/lca/tab341.htm. Neste exemplo, são calculados os fluxos de 42 componentes relacionados a insumos, combustíveis e emissões. O inventário pode conter também indicadores qualitativos e relevantes para o sistema em questão, e que devem ser considerados na ACV. c) Avaliação do impacto ambiental A avaliação do impacto ambiental é a terceira fase da ACV, composta, segundo “Draft” ISO Standard 14042.33 (ISO, 2002), pelos seguintes itens mandatários e não mandatários: Itens mandatários: I. II. III. Seleção das categorias de impactos, indicadores e modelos; Classificação das categorias de impacto ambiental; Estimativa dos impactos; Itens não mandatários: IV. V. VI. VII. Normalização dos indicadores em relação ao valor de referência; Agrupamento; Atribuição de pesos e Análise da qualidade dos dados. O emprego de todos os itens (mandatários e não mandatários) ou parte deles dependerá do escopo e aplicação da ACV. I. Seleção das categorias de impactos, indicadores e modelos (EEA, 1998b) As premissas para seleção das categorias de impacto, indicadores e modelos são: • Ser consistentes com os objetivos e escopo do estudo; • Ter embasamento científico e técnico; 50 • Apresentarem descrição detalhada e precisão; • Ter consistência e relevância ambiental. A European Environmental Agency (EEA) relaciona as seguintes categorias de impacto: Impacto devido ao uso de recursos abióticos – Materiais que são extraídos da natureza para serem utilizados como insumos ou matérias primas para fabricação de produtos. Impacto devido ao uso de recursos bióticos - Recursos retirados ou extraídos da natureza, como por exemplo, fauna e flora. Impacto pelo uso do solo: - Refere-se à utilização do solo relacionada com o estudo em questão (áreas produtivas, parque industrial, disposição de resíduos, etc.) Efeito estufa: - Efeito de aquecimento da Terra em função do lançamento de gases (CO2; CH4, CO, NOx, etc.) na atmosfera, causando elevação na temperatura média dos oceanos e mudanças climáticas na Terra como um todo. Depleção da camada de ozônio: - Efeito de redução da camada de ozônio na estratosfera devido à emissão de gases CFCs, tendo como conseqüência danos aos seres humanos e ecossistemas. Impactos ecotoxicológicos: - Relacionados aos efeitos químicos e biológicos de substâncias nos ecossistemas. Esses efeitos podem ser expressos pela seguinte expressão: Sinm = Eim Finm Min; eq.(1) Onde: Sinm = Efeito ambiental da substância “i” no meio “n” e transferido para o meio “m”; Eim= Efeito ambiental da substância “i” no meio “m” (ar, água, solo e cadeia alimentar); 51 Finm= Efeito ambiental de exposição da substância “i” relacionado com bioacumulação, degradação e toxicidade; do meio “n” para o meio “m” (ar, água, solo e cadeia alimentar); Min= Emissão inicial da substância “i” no meio “n” (ar, água ou solo); Embora exista uma série de modelos para estimar os efeitos ecotoxicológicos relacionados com a exposição a diferentes agentes químicos, até o momento não houve consenso internacional sobre esse tema. Por esta razão, a EEA recomenda utilizar mais de um método quando da estimativa dos impactos ecotoxicológicos (EEA,1998b). Impactos toxicológicos aos seres humanos: - Esta pode ser considerada a categoria mais complexa de todas, uma vez que esses efeitos dependem das características químicas e bioquímicas da substância, das condições intrínsecas de cada indivíduo, da presença de outras substâncias que potencializam ou retardam o seu efeito, da dose, da forma e do tempo de exposição. Os efeitos nos seres humanos podem ser: • Agudos; • Mutagênicos; • Carcinogênicos; • Neurotóxicos; • Teratogênicos. Da mesma forma como ocorre nos impactos ecotoxicológicos, foram desenvolvidos vários métodos para estimar os efeitos tóxicos nos seres humanos. Além dos cuidados salientados no item anterior, é interessante identificar os compostos mais perigosos para a saúde humana antes de estimar os impactos. Impactos devido aos oxidantes fotoquímicos: -Refere-se à formação de ozônio na troposfera, decorrente de reações fotoquímicas dos compostos nitrogenados com os compostos orgânicos voláteis, tendo como conseqüência danos à vegetação (afeta a fotossíntese, superfície das folhas, etc.) e aos seres humanos (irritações nos olhos, problemas respiratórios agudos e crônicos, entre outros). 52 Acidificação: Refere-se à deposição ácida em solos e águas, que ocorre devido à conversão das emissões de óxidos de enxofre e de nitrogênio na atmosfera a ácidos sulfúrico e nítrico, respectivamente. Pode ser avaliado pelo potencial de acidificação, medido em equivalentes de SOx. Eutrofização: - Refere-se ao lançamento de nutrientes nos corpos de água, causando crescimento excessivo da biomassa de algas e por conseqüência, provocando impactos aos ecossistemas como alteração da biodiversidade e danos à saúde humana. Impactos decorrentes das atividades produtivas: - Refere-se aos impactos toxicológicos aos seres humanos associados às condições de trabalho. Com relação a esta categoria de impacto, pesquisadores da Universidade de Leiden – Holanda elaboraram um relatório detalhado – “LCANET Theme Report – Work Environment and LCA” (Potting et al., 1997) onde é discutida a sua inclusão em análise de ciclo de vida (Leiden University, 2001). Na Tabela 3 são apresentadas as categorias de impacto utilizadas por diferentes organismos internacionais envolvidos com ACV. Tabela 3 - Categorias de impacto ambiental segundo diferentes organismos. SETAC – SETAC – lista de Países Nórdicos Lista preliminar Europa-1992 referência- 1996 1995 ISO – 1995 Não renováveis Pouco renováveis - - Uso inadequado dos recursos Uso inadequado Energia e materiais dos Recursos abióticos abióticos Uso inadequado Uso inadequado dos recursos - bióticos Uso inadequado do solo Abrangência dos Recursos Global Global bióticos Impactos à água Impactos no solo ou uso inadequado do solo? Uso inadequado do solo - Local 53 SETAC – SETAC – lista de Países Nórdicos Lista preliminar Europa-1992 referência- 1996 1995 ISO – 1995 Abrangência Efeito estufa/ Efeito estufa Efeito estufa Efeito estufa Mudanças Global climáticas Depleção da Depleção da camada de ozônio camada de ozônio Toxicidade Impactos Impactos à saúde aos seres toxicológicos aos associados a humanos seres humanos agentes químicos - Depleção da camada de Global ozônio Global, Toxicidade aos continental, seres humanos regional e local Impactos à saúde - - associados a outros - - - Local agentes Saúde ocupacional - Impactos à saúde do trabalhador Global, Toxicidade Impactos Impactos ambiental ecotoxicológicos ecotoxicológicos Ecotoxicidade continental, regional e local Formação de foto-oxidantes Formação de foto- Formação de fotooxidantes oxidantes Formação de Continental, oxidantes regional e fotoquímicos local Continental, Acidificação Acidificação Acidificação Acidificação regional e local Eutrofização Eutrofização (Inclui DBO e Continental, Eutrofização Eutrofização aquecimento) DQO regional e local - - - Local - - - Local Incômodo Odor - - Local (ruído, odor) Ruído Poluição térmica Local 54 SETAC – SETAC – lista de Países Nórdicos Lista preliminar Europa-1992 referência- 1996 1995 ISO – 1995 Radiação - - - - - - - - Resíduos - - - - Acidentes - - Local - Local Demanda de espaço Resíduos perigosos Abrangência Local e regional Local Local e regional Local e regional Mudanças no - - Hábitat e impactos na biodiversidade Fonte: EEA (1998b) II. Classificação das categorias de impacto É a etapa de análise qualitativa na qual os dados do inventário são correlacionados com as categorias de impactos ambientais. Como pode ser observado na Tabela 3, ainda não há consenso sobre as categorias de impacto e sobre a sua abrangência. III. Estimativa/caracterização dos impactos Consiste da transformação do valor estimado de um determinado indicador para um índice relacionado com os impactos analisados. Como por exemplo: potencial de aquecimento global, potencial de acidificação, potencial de formação fotoquímica de ozônio, entre outros. Os demais itens não mandatários (normalização, agrupamento, atribuição de pesos e análise da qualidade dos dados) são ferramentas que visam ao adequado entendimento e alocação dos dados, de forma a garantir sua integridade e pertinência em relação ao escopo proposto. A análise estatística dos dados pode ser feita segundo recomendações constantes na ISO/FDIS 14041 (EEA,1998b). 55 A normalização visa correlacionar os indicadores obtidos com valores conhecidos e referenciados a um mesmo produto, região ou limites legais, de forma a associar a contribuição dos efeitos ambientais identificados no estudo com os efeitos existentes no meio (Pre Consultants, 2001a). A atribuição de pesos para os indicadores normalizados permite associar outros aspectos relevantes ao estudo. A atribuição de pesos é feita normalmente caso a caso e, por isso, traz consigo grandes dificuldades metodológicas e de padronização. Em vista disso, a ISO não recomenda sua utilização para análises de ciclo de vida abertas ao público com objetivo de comparação de produtos (ABNT, 2001b). De todas as etapas do protocolo da ACV, uma das mais discutidas e controversas é a estimativa dos impactos, devido à inexistência de dados e de metodologias para estimá-los (Pre Consultants, 2001a). Um dos modelos propostos para avaliar os impactos é o modelo denominado – “Ecoindicador 99”, no qual os dados obtidos no inventário são classificados, normalizados e estimados segundo metodologia proposta por um grupo de pesquisadores holandeses (Pre Consultants 2001b). A Figura 17 apresenta a seqüência básica para obtenção do indicador proposto pelo modelo “Ecoindicator 99”. Resultado do inventário Inventário de todos os fluxos associados aos processos de um produto Recursos Uso do solo Emissões Aplicação de modelos para estimar os impactos Impactos nos recursos naturais Impactos nos ecossistemas Impactos nos seres humanos Figura 17 - Procedimento para cálculo dos ecoindicadores Fonte: Goedkoop et al. (2000) Atribuição de pesos para as categorias de impacto Indicador 56 uPt Sacos de papel Sacos de plástico 94,8 100 80 60 49,9 40 20 0 Efeito estufa Ozônio Acidificação Eutrofização Metais Carcinogenicidade Smog (inverno) Smog (verão) Figura 18 - Exemplo de apresentação dos resultados de um estudo comparativo hipotético, após estabelecimento de pesos para os impactos avaliados. Fonte: Pré consultants (2001b). Pode-se notar no exemplo hipotético apresentado na Figura 18, que os sacos de papel apresentam menor impacto ambiental, uma vez que a soma dos ecoindicadores padronizados é inferior àquela obtida para os sacos de polietileno. Neste estudo foram adotados os seguintes pesos para as categorias analisadas: • Impactos aos seres humanos: 40% • Impactos ao meio ambiente: 40% • Impactos relacionados ao uso dos recursos naturais: 20% A unidade padrão de impacto ambiental é micropontos (µPt) e reflete a quantificação dos impactos em todas as etapas do ciclo de vida do produto. No site:http://www.pre.nl é possível se obter mais informações sobre a metodologia de quantificação dos impactos, bem como ter acesso ao banco de dados dos valores específicos estimados. Por exemplo, para energia elétrica esses valores são expressos em µPt/kWh. 57 A Figura 19 mostra de forma gráfica os resultados da análise de ciclo de vida de uma cafeteira, utilizando-se a metodologia denominada –“Ecoindicador 99”. O tamanho das caixas representa a contribuição parcial dos diferentes processos na pontuação total dos impactos avaliados. Pode-se observar que o principal impacto está associado ao consumo de energia. Poliestireno Alumínio Aço Vidro Papel Processamento Distribuição Uso Eletricidade Disposição Figura 19 - Representação gráfica de uma análise de ciclo de vida utilizando-se a metodologia “Ecoindicador 99”. Fonte: Goedkoop et al. (2000). Maiores informações sobre a metodologia, inclusive com uma detalhada discussão sobre a atribuição de pesos (significância) para os impactos é feita no manual: “The Ecoindicador 99 – A Damage Oriented Method for Life Cycle Impact Assessment”, disponível para cópia no site:http://www.pre.nl/. d) Interpretação A última etapa do protocolo da ACV é a interpretação dos resultados obtidos face aos objetivos propostos. Trata-se de um processo interativo, alinhado com as três fases do protocolo e deve considerar os seguintes itens: • Identificação dos aspectos ambientais relevantes; • Avaliação da metodologia e dos resultados obtidos, incluindo-se a qualidade dos dados; • Conclusões e recomendações. 58 Segundo especialistas, de todas as etapas do protocolo da ACV a interpretação é a menos estudada até o momento. Guinée (2001) apresentou uma proposta de operacionalização desta etapa na publicação: “Handbook of Life Cycle Assessment – Operational Guide to the ISO Standards”, Universidade de Leiden, 2001. 3.4.4.2.2 Principais aplicações da Análise de Ciclo de Vida (ACV) a) Extensões Considerando-se os níveis de aplicação do conceito de ciclo de vida, a União Européia considera basicamente três extensões (EEA, 1998b): • Nível conceitual, no qual a abordagem baseia-se em inventário qualitativo. O objetivo é responder perguntas como: -Esse produto difere significativamente dos similares da concorrência? -Esse produto tem vantagens inequívocas com respeito aos aspectos ambientais? Este conceito parte do pressuposto que para algumas estratégias relativas aos “produtos verdes” não há necessidade de um inventário detalhado para identificar vantagens ambientais. • Análise Simplificada, na qual é feito um inventário, que pode ser qualitativo ou quantitativo de todas as etapas do ciclo de vida, focando-se somente os aspectos e impactos ambientais mais significativos. O objetivo da análise simplificada é obter os mesmos resultados da análise detalhada, reduzindo-se custos e tempo dedicado neste trabalho. No entanto, a simplificação confronta-se com o dilema da confiabilidade e qualidade dos resultados obtidos. As principais etapas são: 1. Levantamento inicial - Visa identificar os principais componentes do processo, os fluxos mais importantes e a necessidade de dados adicionais, se for o caso; 59 2. Simplificação - Usando os dados obtidos na etapa inicial, define-se quais são os processos e fluxos mais relevantes do sistema; 3. Verificação - Avaliar se as simplificações não reduziram a significância dos resultados obtidos. Dependendo da aplicação, os dados podem ser qualitativos ou quantitativos. Indicadores como consumo de energia, intensidade de material por unidade de produto, produtos-chaves (associados a um ou mais impactos ambientais) podem ser usados como guias para identificar os principais pontos do sistema (“hot spots”). Por outro lado, indicadores relacionados somente a uma característica do produto, como, por exemplo, degradabilidade, devem ser usados em combinação com os demais indicadores. Embora os estudos simplificados possam ser reportados externamente, eles são normalmente usados internamente pelas empresas. Análise detalhada, segundo especialistas da União Européia, este tipo de abordagem demanda um considerável esforço, e ainda pode ser considerada um desafio devido às dificuldades de metodologia. A Tabela a seguir mostra o nível de detalhamento da análise de ciclo de vida em algumas aplicações: Tabela 4 - Nível de detalhamento. Nível da ACV Aplicação Design Conceitual for Environment (DfE) Desenvolvimento de. produto Melhoria X X X X em X produtos Selos verdes tipo II Simplificado Detalhado X Observações Sem ligação formal com ACV X Abordagem variada Associada a produtos existentes Raramente associada a ACV 60 Nível da ACV Aplicação Conceitual Simplificado Detalhado Selos verdes tipo I Planejamento estratégico Declaração ambiental X X X X X Bônus ambientais X Taxas verdes X de embalagens usam conceitos da ACV X Marketing ambiental Escolha Critérios de desenvolvimento X Selos verdes tipo III Observações X Inventário e/ou análises de impacto Inclusão da ACV em relatórios de performance Conhecimento e aplicação gradual do conceito da ACV ACV não é tão detalhada como nos selos verdes Reduzido número de parâmetros na ACV Reduzido número de parâmetros na ACV Inventário detalhado X X Resultados da ACV são abrangentes no nível de empresa Fonte: EEA (1998b). b) Aplicações no setor privado As principais aplicações no setor privado são: • Desenvolvimento de produtos; • Marketing; • Planejamento estratégico. A aplicação depende bastante da posição em que a empresa está situada na cadeia produtiva e dos mecanismos reguladores legais e de mercado. Empresas produtoras de “commodities”, como plástico e metais, normalmente, elaboram inventários para avaliar a geração de resíduos e oportunidades de reciclo ou reúso. 61 As empresas produtoras de componentes enfocam os aspectos relacionados ao design e à manufatura, com objetivo de gerar informação aos consumidores e minimizar os impactos ambientais. Nas empresas fornecedoras de bens de mercado, na maioria das vezes, não é viável a realização da ACV, devido à insuficiência de dados, à curta duração do desenvolvimento dos produtos, ao tempo requerido para a análise do ciclo de vida e sua complexidade. • Desenvolvimento e otimização de produtos Os principais objetivos no desenvolvimento e otimização dos produtos são: a prevenção à poluição, a redução no uso de matérias primas e energia e o aumento da reciclagem. A metodologia denominada – “Design for Environment - DfE” – que agrupa um conjunto de métodos que incorporam a variável ambiental no “design” de produtos, apresenta grande similaridade com a ACV, muito embora esses conceitos tenham sido desenvolvidos inicialmente sem um vínculo formal. Os principais temas enfocados no DfE são: - Seleção de materiais; redução dos impactos durante a manufatura; - Uso do produto, - Reciclo e reúso de produtos e componentes, - Extensão da vida útil de produtos e de seus componentes e - Disposição final segura. A Figura 20 ilustra as diversas fases de desenvolvimento de um produto e como se pode integrar ferramentas como a ACV neste processo. O tipo da ACV a ser utilizado (detalhado, conceitual ou simplificado) dependerá da disponibilidade de dados, complexidade do produto, aplicação, entre outros. Vários programas que incorporam a variável ambiental no desenvolvimento de produtos estão sendo conduzidos no mundo. Maiores detalhes sobre esses programas e pesquisas podem ser obtidos nos sites recomendados no anexo A. 62 Elementos ou Ferramentas Etapa Grupo De Ecoprodutos Planejamento Seleção do produto Estimativa do Sucesso do produto ACV Análise do Problema e Definição das prioridades Marketing Avaliação De impactos Matriz de: Materiais Efeitos toxicológicos Energia Conceito e Detalhes do design Estabelecimento De alternativas Brainstorming ACV Checklist Figura 20 - Fases do desenvolvimento de um produto. Fonte: Cowell et al. (1997) • Marketing O marketing é uma forma já consolidada de comunicação e divulgação das propriedades de um produto ou serviço, visando atender as necessidades e expectativas dos consumidores. À medida que aumenta o nível de informação e de conscientização ambiental, cresce a atenção dos consumidores para os aspectos ambientais dos produtos. A partir desta constatação, muitas empresas passaram a priorizar o marketing ambiental, e houve evolução dos modelos de avaliação e divulgação de desempenho ambiental dos produtos, com o aprimoramento dos sistemas de gestão. Notadamente: • Selos verdes (selos tipo I); • Manifestos ou autodeclaração (selos tipo II) • Declarações ou rótulos ambientais - (selos tipo III); • Marketing organizacional (ISO 14001, EMAS, BS 7750) 63 Selos Verdes O principal objetivo dos selos verdes é estimular a produção de bens e serviços com menor impacto ambiental, de modo que o consumidor possa identificá-los. Existem, atualmente, um grande número de selos verdes ratificados por países ou organizações supra-governamentais, como por exemplo: Nordic Swan (países nórdicos), The Blue Angel (Alemanha), Green Seal (Estados Unidos da América), etc. Estes selos foram desenvolvidos para diferentes produtos e possuem critérios revisados periodicamente, que nem sempre são claros e justificáveis. Na União Européia, por exemplo, uma comissão formada por diferentes organizações, estabeleceu seis fases para a definição dos critérios ambientais a serem contemplados no selo verde – EU Ecolabel: • Fase I - Estudo preliminar; • Fase II - Estudo de mercado; • Fases III e IV - Inventário e avaliação de impacto ambiental; • Fase V - Escolha de critérios; • Fase VI - Elaboração de uma proposta preliminar para validação pela comissão. Do ponto de vista da indústria, não é preciso executar a ACV para poder ter um produto com selo verde, basta que os integrantes da cadeia produtiva atendam os critérios definidos para o mesmo. A ISO (International Organization for Standardization) está desenvolvendo um padrão de selo tipo I (ISO 14020) que utiliza a metodologia de análise de ciclo de vida. A publicação “Life Cycle Assessment” feita pela Agência ambiental da União Européia, disponível no URL:http://service.eea.int/envirowindows/lca/ apresenta mais detalhes sobre os selos verdes e estabelece “links” com vários organismos certificadores. Além deste, a SETAC, apresenta no seu site:http://www.setac.org/, na parte sobre ACV, um grande número de informações sobre o tema. A EPA por sua 64 vez, também fez uma extensa revisão sobre os selos verdes, na publicação de 1998, denominada: “Environmental Labelling Issues, Policies, and Practices Worldwide”, disponível no URL:http://www.epa.gov/greenbuildings/environmental- labeling/report.html. Neste compêndio são apresentados 54 programas relacionados à certificação de produtos em mais de 30 países (USEPA, 1998a). Manifestos ou auto-declarações ambientais São selos ou afirmações que indicam aspectos ambientais associados a produtos ou serviços, na forma de símbolos, frases, boletins técnicos, propaganda, ou qualquer outra forma de divulgação. Normalmente são de abordagem unidimensional do tipo: “produto isento de CFC”; “produto biodegradável”; etc. Este tipo de abordagem tende a decrescer devido à mudança do perfil dos consumidores e à maior preocupação com as questões ambientais. Declarações ou rótulos ambientais A declaração ambiental pode ser uma importante ferramenta de marketing, à medida que fornece informações ambientais provenientes do inventário do ciclo de vida, por meio de índices, gráficos, etc. Basicamente, a idéia é apresentar em forma de gráfico, tabelas, ou qualquer outra representação, os principais impactos ambientais associados a um determinado produto. O rótulo ambiental permite comparação dos principais impactos ambientais associados aos produtos em questão, permitindo ao consumidor escolher aquele de menor importância. Já por meio dos selos verdes, não é possível distinguir se um produto é melhor ou pior do que outro. Grande esforço está sendo feito nos comitês técnicos da ISO (ISO TC 207/SC3/WG1) para padronizar essa ferramenta, incluindo-se requisitos mínimos de 65 metodologia, transparência, revisão externa, componentes certificáveis e procedimentos que balizam a certificação e habilitação dos órgãos certificadores. O principal obstáculo a esse tipo de certificação é transcrever para o consumidor um grande número de informações. Além disso, é necessário o levantamento e a disponibilização de informações sobre produtos de diferentes fabricantes e fornecedores e por fim, a descodificação da linguagem técnica de tal forma que o consumidor possa compreendê-la. A Tabela 5 apresenta as principais diferenças entre os selos verdes e a declaração ambiental. Tabela 5 - Fases do desenvolvimento de um produto. Declaração ou rótulo Parâmetro ambiental Tipo da ACV Selo verde Inventário detalhado ou ACV O conceito é utilizado na simplificado escolha de critérios Tipo de avaliação Neutra Número de produtos Todos em princípio Positiva (avaliação por especialistas) Somente 10 – 30% dos melhores do grupo Revendedores, compradores Grupo de alvo especializados, consumidores Consumidores em geral verdes Nível de informação Forma de informação Permite comparação Complexo Diagramas, gráficos de barras, valores de referência Sim , quando há mais de uma Revisão Fonte: Cowell et al. (1997) declaração Quando mudar o produto Simples Selo Não Têm revisões periódicas 66 De todos os selos, somente os do tipo III utilizam análise de ciclo de vida como prérequisito. Os sistemas de gestão nos moldes da ISO 14001, EMAS ou BS 7750 encorajam as empresas a implementar programas como a ACV, embora não tenham correlação explicita com os mesmos, uma vez que são voltados para a organização e não para o produto. • Estratégia das empresas A integração dos aspectos ambientais na estratégia das empresas está cada vez mais presente nas corporações modernas. Esta mudança de comportamento foi induzida por fatores como: pressão dos consumidores, atendimento à legislação, pressão da sociedade por melhoria de desempenho ambiental e oportunidades de mercado. Em muitos casos, as características ambientais de um produto passam a ser uma propriedade intrínseca, fazendo com que a utilização de uma ferramenta como a ACV permita as comparações com os produtos existentes, e também possibilite identificar novos segmentos de mercado. As estratégias básicas associadas à demanda de mercado versus desempenho ambiental dos produtos estão mostradas na Figura 21. A utilização nas empresas esbarra na dificuldade de entendimento da alta gerência e dos empregados em diferentes níveis, fazendo com que sejam necessários programas especiais de treinamento e conscientização. Um bom exemplo dos desafios de implementação de um programa da ACV foi apresentado no Congresso sobre Eco-eficiência em Malmo – Suécia, no trabalho: “Ecoefficient products and services through LCA in R&D/design”. Os autores apresentaram os resultados de uma pesquisa realizada na empresa ABB, na qual foram avaliadas a percepção e a utilização da ACV pelos principais envolvidos no programa. 67 Os resultados indicaram que embora a maioria dos entrevistados percebesse a ACV como uma ferramenta útil, ela de fato não tinha sido integrada nas atividades do diaa-dia, como foi constatado pelo baixo tempo dedicado pelos envolvidos nas atividades relacionadas ao projeto - em média, menor do que um mês durante todo o ano de 2000 (Laestadius et al.,2000). D e se m p e n h o a m b ie n t a l Alto Estratégia: Focar em desempenho ambiental em outro segmento Estratégia: Vender Alto Baixo Estratégia: Iniciar projeto de produtos sustentáveis Estratégia: Mudar o produto P ot e n cia l d e m e r ca d o Baixo Figura 21 - Estratégias relacionadas ao desempenho ambiental e ao potencial de mercado. Fonte: EEA (1998b) c) Aplicações no setor governamental O conceito de desenvolvimento sustentável foi incluído nas agendas da maioria dos países desde a Conferência de Meio Ambiente em 1992, no Rio de Janeiro. Mesmo na ausência de uma definição precisa do que seja o desenvolvimento sustentável, fica claro que a análise do ciclo de vida vai ao encontro do conceito de sustentabilidade. Embora a ACV não seja a única resposta para essa questão, é sem dúvida, uma abordagem estratégica que pode nortear ações e políticas públicas voltadas para a sustentabilidade. 68 As principais aplicações no setor governamental são: • Políticas orientadas para produtos; • Políticas de gestão de resíduos, • Subsídios e taxas; • Políticas setoriais. Utilizando-se do conceito de ciclo de vida de produtos, muitos países têm desenvolvido programas que visam reduzir os impactos ambientais associados à produção e ao consumo de produtos, como acontece com a Dinamarca. Neste país, um comitê formado por representantes do governo, da indústria e dos consumidores elaborou um guia com informações sobre os principais aspectos e impactos ambientais de produtos, baseando-se na análise simplificada do ciclo de vida. Para alguns produtos são fornecidas somente informações qualitativas, como por exemplo, tecnologia, enquanto que para outros, são compilados dados de consumo de energia, de água, etc. (EEA,1998b). No entanto, pode-se dizer que até o momento o maior uso seja na gestão de resíduos e de embalagens. A análise de ciclo de vida tem sido utilizada como suporte para estabelecimento de políticas de gestão de embalagens, muito embora a ACV não forneça dados inequívocos que permitam assegurar o desempenho superior ou inferior de diferentes produtos ou materiais. Casos como, por exemplo, os de embalagem de leite, bebidas e refrigerantes desencadearam grandes debates, ressaltando-se que por trás de questões puramente metodológicas, existem grandes interesses comerciais. Mais detalhes sobre essa questão podem ser encontrados em diversas publicações disponíveis em meio eletrônico, nos sites citados no anexo A. 3.4.4.2.3 Limitações e perspectivas para a ACV A principal característica - sua natureza holística - é ao mesmo tempo sua maior qualidade e sua maior limitação, segundo Guinée (2001). 69 A ACV não identifica os impactos locais relacionados à atividade ou processo, além disso, ela não aborda os aspectos sociais e econômicos. Do mesmo modo, não é possível relacionar os impactos a uma escala temporal. Embora ela pressuponha uma base científica, sua execução envolve uma série de estimativas e alocações, que podem comprometer seus resultados. Por último, a limitação desta metodologia envolve a baixa qualidade dos dados disponíveis, que além de não permitir comparações, muitas vezes estão obsoletos. No entanto, mesmo com grandes desafios a vencer, principalmente metodológicos, a sua utilização tende a aumentar como ferramenta estratégica de gestão e no desenvolvimento de produtos, devido à maior demanda da sociedade. Além disso, em função das discussões do que é melhor ou pior ambientalmente, deverá haver uma grande evolução na metodologia de avaliação e mensuração dos impactos, segundo análise dos especialistas da European Environmental Agency – EEA (EEA, 1998b) 3.4.4.3 Avaliação de desempenho ambiental A avaliação de desempenho ambiental envolve uma questão básica - não se pode gerir o que não é medido. Por outro lado, requer também a seleção de indicadores que possam enfocar os principais aspectos ambientais de uma organização de forma vinculada aos critérios de sustentabilidade e de eco-eficiência. 70 3.4.4.3.1 Indicadores de eco-eficiência O conceito de eco-eficiência contém dois importantes ingredientes: a economia e a sustentabilidade. A sua implementação requer a mensuração do desempenho ambiental considerando-se essa “mistura” de ingredientes. Transcrever isto em números é um dos grandes desafios da sustentabilidade. Segundo o WBCSD (World Business Council for Sustainable Development), os indicadores ambientais devem seguir os seguintes princípios (EEA, 2000): • Ser relevantes para a proteção do meio ambiente, para a saúde humana e para a qualidade de vida; • Informar e servir de base para os tomadores de decisão quanto ao desempenho ambiental de uma organização; • Reconhecer a diversidade de negócios; • Promover a comparação e permitir acompanhar a evolução ao longo do tempo; • Ser bem definidos, de fácil mensuração e verificação; • Ser de fácil compreensão e significativos para todas as partes interessadas; • Abranger todos os processos de uma empresa ou organização, incluindo produtos e serviços, enfocando principalmente os processos que estão sob seu controle e gestão direta; e • Reconhecer outros aspectos importantes do negócio como fornecedores e o uso dos produtos durante a sua abordagem. Principais categorias de indicadores Segundo o WBCSD, pode-se dividir os indicadores em três diferentes categorias associadas a: • Valor do produto ou serviço; • Influência ambiental relativa à fabricação ou criação do serviço ou produto; e • Influência ambiental associada ao uso do serviço ou produto. 71 Esse conceito também está alinhado com a terminologia adotada pelas Normas ISO 14000. Em cada categoria são relacionados os seus aspectos significativos, como está apresentado na Figura 22. Valor do produto ou serviço Influência ambiental associada ao uso do produto ou serviço Volume ou massa Valor monetário Função Características do produto ou serviço Geração de resíduos (embalagem) Consumo de energia Influência ambiental associada à criação ou fabricação do produto ou serviço Emissões durante o uso e/ou disposição Consumo de energia Consumo de matérias-primas matérias primas Consumo de recursos naturais Indicador = Valor do produto ou serviço Influência ambiental Geração de sub -produtos e rejeitos Eventos não programados Figura 22 - Aspectos relevantes para as diferentes categorias de indicadores de ecoeficiência. Fonte: WBCSD (2000b) Os indicadores também podem ser segregados segundo sua aplicação, ou seja, quando aplicáveis a qualquer tipologia de organização – são denominados genéricos; ou específicos – quando forem particularizados a uma determinada tipologia ou segmento. • Indicadores genéricos Esses indicadores podem ser aplicáveisa qualquer tipo de organização, embora possam ter significância bastante diferenciada dependendo do tipo de empresa. Eles estão associados normalmente a padrões globais de mensuração de influência ambiental e/ou de valor. Para o WBCSD são considerados os seguintes aspectos relacionados aos indicadores genéricos: 72 a) Valor de serviço ou produto: − Quantidade de produto ou serviço produzido ou criado; − Vendas líquidas; − Valor agregado. b) Influência ambiental: − Consumo de energia; − Consumo de matéria-prima; − Consumo de água; − Emissões de gases relacionadas ao efeito estufa (GHG); − Emissões de substâncias redutoras da camada de ozônio; − Emissões atmosféricas de substâncias que causam acidificação; − Geração de resíduos. Cabe ressaltar o grande esforço que vem sendo desenvolvido no mundo com o objetivo de estabelecer indicadores ambientais “globais”, como, por exemplo, o trabalho desenvolvido pela OECD – Organisation For Economic Co-Operation and Development, no trabalho, denominado: “Key Environmental Indicators” publicado em 2001. Neste, são abordados de forma detalhada os indicadores ambientais relacionados à poluição e ao consumo de recursos naturais (OECD, 2001). O estudo realizado pela OECD apresenta, ainda, a evolução desses indicadores nos 30 países membros desta organização. Os indicadores-chave disponíveis e os de médio prazo propostos pela OECD são mostrados na Figura 23. 73 Poluição Indicadores disponíveis Indicadores de médio prazo Mudanças climáticas 1 Emissão de CO2 Índice de emissões de GHG Camada de ozônio 1 2 Índices doconsumo consumo Índices consumo aparente desubs. do do consumo aparente de subs. Índice do de desubs. substâncias Índice depletoras deozônio ozônio depletoras depletorasda dacamada camada ozônio de de ozônio depletorasda da camada camada de Geração de resíduos 1 3 Geração de resíduos nos municípios Geração de resíduos baseada nos fluxo de materiais Qualidade do ar 1 4 Emissão de SOx e NOx Exposição à poluição atmosférica dos seres humanos Qualidade das águas 1 5 Índice de esgotos tratados Lançamento de carga orgânica nos Corpos de água Recursos naturais Recursos hídricos 1 6 Intensidade do uso Incluir condição limite Recursos florestais 1 7 Intensidade do uso Incluir condição limite Peixes 1 8 Intensidade da pesca Relacionar com a disponibilidade Biodiversidade 1 9 Energia 1 10 Número de espécies ameaçadas Especificar espécies e hábitats habitats de extinção Consumo de Energia Criação de um índice Figura 23 - Indicadores ambientais segundo a OECD. Fonte: OECD (2001) Do mesmo modo, a Figura 24 apresenta de forma simplificada os principais aspectos relativos ao estabelecimento dos indicadores-chave. 74 Adaptados para os países De forma a se adequar as suas peculiaridades Usados em Monitoramento do desempenho Ambiental Revisão do Desempenho ambiental Medição do progresso Com vias a sustentabilidade Disseminação da Conscientização ambiental e informação ao público Indicadores Ambientais 40- 50 indicadores Aspectos ambientais Complementados com Indicadores setoriais Transporte Energia Agricultura Consumo doméstico Turismo Outros Contabilização ambiental Aspectos socioeconômicos E Indicadores gerais Gastos com meio ambiente Uso de recursos naturais Usos de recursos materiais Seleção dos Indicadores-chave Figura 24 - Escolha dos indicadores-chave segundo metodologia OECD. Fonte: OEDC (2001) Na Tabela 6, a seguir, são apresentados alguns indicadores para diferentes categorias e aspectos (WBCSD, 2000b). 75 Tabela 6 - Indicadores para diferentes categorias e aspectos. CATEGORIA: VALOR DE SERVIÇO OU PRODUTOS Aspecto Volume Massa Monetário Funcional Indicador Unidades vendidas Número Unidades indexadas Número médio Mão-de-obra Número de empregados; homemhora Área Área construída Quantidade vendida Kg; toneladas Quantidade produzida Kg; toneladas Vendas líquidas $$ Lucro líquido $$ Valor adicionado $$ Custos $$ Investimentos $$ Desempenho do produto Serviço entregue Rendimento agrícola Outros relevantes Exemplo Kg de roupas lavadas; m2 de parede rebocadas Número de transações bancárias efetuadas Toneladas, volume de madeira produzido Durabilidade Quilômetros rodados; horas Capacidade de transporte Toneladas-km; passageiros-km Preço do produto $$ Fração de mercado % 76 CATEGORIA: INFLUÊNCIA AMBIENTAL (Fabricação, criação e uso) Aspecto Indicador GigaJoules consumidos Consumo de energia Consumo de materiais Consumo de recursos naturais Geração de Combustíveis fósseis Fonte Exemplo GJoules GJoules de carvão, GJoules de óleo GJoules de fonte renovável ou não-renovável Emissões Toneladas de SO2, NOx, etc. Toneladas consumidas Toneladas Tipo Fonte Toneladas de insumos primários e secundários Virgem – reciclada, renovável – não-renovável Características especiais Tóxicas –não tóxicas Toneladas consumidas Água, madeira, minerais Renovável-não renovável; m3 de Fonte água subterrânea ou superficial, doce ou salina Uso da terra ha de biodiversidade/espécie Quantidade bruta gerada Toneladas Quantidade tratada Toneladas Emissões Toneladas (ar- solo e água) Toneladas de resíduos perigosos e resíduos Característica não perigosos, poluentes prioritários prioritários Embalagem Toneladas vendidas Toneladas (resíduo) Fonte Reciclada - virgem Fonte: WBCSD (2000b). toneladas de –não 77 No evento realizado em Copenhague em outubro de 1998, denominado: “Making Sustainability Accountable”, coordenado pela European Environmental Agency, foi feita uma avaliação dos principais eco-indicadores propostos por diferentes organizações, ao mesmo tempo em que foi proposta uma abordagem sistemática para esse tema (EEA, 1998a). Foi introduzida a expressão: eco-intensidade , que representa o quociente entre o uso da natureza e o bem-estar. Eco-intensidade = Uso da natureza Bem-estar O uso da natureza é representado pela soma do consumo de materiais e energia, além da geração de resíduos (M+E+P). É proposta também uma classificação dos ecoindicadores em 04 tipologias, que visam responder as seguintes questões: • TIPO A: - “O que está acontecendo com o meio ambiente?” • TIPO B: - “Quais os efeitos no meio ambiente?” • TIPO C: - “Está ocorrendo melhoria em termos ambientais?” • TIPO D: - “Qual a situação atual em relação aos demais indicadores de qualidade de vida (por exemplo, evolução do PIB verde)?” Como se pode observar, há necessidade de se criar parâmetros que representem tanto o numerador quanto o denominador; o que não é nada simples. Pode-se constatar que em muitos aspectos há convergência na abordagem feita por diferentes organizações (OECD, WBCSD, EEA, UNEP, etc.), enquanto que para outros, ainda há muito a se discutir. 78 Indicadores Específicos São aqueles indicadores relevantes para um determinado segmento ou tipologia de organização. Esse tipo de indicador requer o conhecimento dos principais aspectos relacionados ao processo e/ou produto. Os indicadores específicos serão abordados em maiores detalhes nos próximos itens. 3.4.4.3.2 Indicadores ambientais segundo as normas IS0 14031 e EMAS De acordo com a ISO-International Organisation of Standardization, a avaliação de desempenho ambiental – EPE (Environmental Performance Evaluation) é um processo que facilita a gestão das decisões relativas ao desempenho ambiental das organizações, por meio da: • Seleção de indicadores, • Análise de dados e comparação com os critérios de desempenho, • Divulgação, • Revisão periódica e melhoria contínua. A norma ISO 14031 apresenta um guia para a EPE, enquanto que a norma ISO/DIS 14032 apresenta exemplos de indicadores. Segundo a norma, as organizações devem selecionar indicadores que sejam relevantes para permitir a avaliação e o acompanhamento de seu desempenho ambiental (ABNT, 2001a). A ISO 14031 identifica 05 tipos de medidas quantitativas: • Diretas; • Relativas; • Normalizadas (indexadas); • Agregadas; • Ponderadas (por peso). 79 Os indicadores são classificados em dois grupos: (a) Indicadores de desempenho, contendo os de gestão e os operacionais; e (b) indicadores de condição ambiental, conforme está indicado na Figura 25. Pode-se observar que os indicadores pertencentes à categoria de condições ambientais – ECIs; estão alinhados com os classificados como indicadores genéricos pela OECD. Avaliação de Desempenho Ambiental EPE Indicadores de desempenho Ambiental - EPIs Indicadores De desempenho Operacionais- OPIs Relativos às condições operacionais, equipamentos, insumos; produtos, etc. Indicadores De desempenho De gestão –MPIs Indicadores de Condições Ambientais – ECIs Relativos às condições ambientais locais, regionais e globais. Por exemplo: efeito estufa, depleção da camada de ozônio, diversidade, etc. Relativos à gestão, treinamentos, conformidade legal, alocação de recursos, aquisição e desenvolvimento de produtos Figura 25 - Avaliação de desempenho ambiental e seus indicadores segundo a norma ISO 14031. Fonte: ABNT (2001a). Segundo o sistema europeu de certificação de gestão ambiental – EMAS (Environmental Management Auditing Scheme), os indicadores de desempenho ambiental são divididos em (EMAS, 2000): • Indicadores de desempenho operacional industrial (Figura 26); • Indicadores de desempenho de serviços (Figura 27); • Indicadores de desempenho do sistema de gestão (Figura 28). 80 INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL - INDÚSTR IAS Atividades Aspecto Ambiental Indicador Transporte Consumo de energia Poluição do ar litros combustível/tonelada entregue % frota equipada com catalisador Utilização de energia Consumo de energia % energia – fontes renováveis Utilização de recursos naturais Consumo de energia Consumo de água Consumo matérias-primas KWh/h de máquina Litros/ unidade produzida Kg/por unidade produzida Processo produtivo Emissões atmosféricas Emissões hídricas Geração de resíduos Kg CO 2/unidade produzida Kg DQO/unidade produzida Kg resíduos/unidade produzida Distribuição e embalagem Geração de resíduos % embalagens reutilizadas Armazenamento Riscos de vazamento % se produtos armazenados em áreas com contenção Figura 26 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – indústria. Fonte: EMAS (2000) INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL- SERVIÇOS Atividades Aspecto Ambiental Indicador Aquecimento Consumo de energia litros combustível/ano/área Translados Consumo de combustível Km viagem/funcionário/ano % trabalhadores que utilizam transporte público Impressões e fotocópias Consumo de papel Restaurante Geração de resíduos Kg resíduos/refeição Manutenção Consumo de produtos % produtos biodegradáveis Litros de produtos de limpeza/ano/m2 Kg de papel/funcionário/ano % papel reciclado (usado) Figura 27 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – serviços. Fonte: EMAS (2000) 81 INDICA DORES DE DESEMPENHO DE GESTÃ O AMBIENTAL Atividade Aspecto Ambiental Indicador Gestão ambiental Objetivos e metas % de metas atingidas Contabilidade ambiental Investimentos % dos investimentos em meio ambiente Recursos humanos Treinamento Horas de treinamento/trabalhador/ano Segurança Incidentes ambientais Número de incidentes/ano Reclamações Relações com a comunidade Visitas Número Número Número Número de de de de reclamações de r uído/ano reclamações odor/ano visitantes/ano reuniões /ano Aquisições Critérios ambientais % compras feitas com critérios ambientais Fornecedores Gestão ambiental % for necedores qualificados com critérios ambientais Figura 28 - Indicadores de desempenho de gestão ambiental. Fonte: EMAS (2000) Segundo a organização GEMI –Global Environmental Management Initiative - os indicadores também podem ser classificados em (GEMI, 1998): ! Indicadores “end-of-pipe” e ! Indicadores “in process”. Os indicadores “end-of-pipe” são quantitativos e estão freqüentemente relacionados às emissões, enquanto que os indicadores “in process” podem ser quantitativos ou qualitativos e estão relacionados aos aspectos de gestão e de prevenção. Como se pode observar, os sistemas ISO e EMAS apresentam indicadores similares em muitos casos e, alinhados com a abordagem feita pelo GEMI. Caberá, portanto, a cada organização selecionar os indicadores relevantes ao seu negócio, as demandas legais e as partes interessadas. 82 3.4.4.3.3 Considerações relativas à implementação de um sistema de avaliação de desempenho ambiental A implementação de um sistema de avaliação de desempenho ambiental pode ser desenvolvida seguindo a abordagem do ciclo de melhoria contínua, denominado P D C A, como indicado na Figura 29. Onde : P - Planejamento (planning); D - Implementação (doing); C -Verificação (check); A - Revisão (act). 83 Planejamento (P) 1. Identificar quais aspectos ambientais são relevantes ao negócio; 2. Identificar qual é o público alvo e porque Se está medindo o desempenho ; 3. Estabelecer objetivos; 4. Definir a inclusão ou não de dados relativos a saúde e segurança ocupacional; 5. Selecionar os indicadores que promovam a efetiva P D A C melhoria do desempenho ambiental; 6. Verificar a sustentabilidade do programa; 7. Garantir a consistência ano a ano; - 8. Selecionar parâmetros que sejam disponíveis e façam parte do sistema de informação da organização; 9. Utilizar sempre que possível indicadores e parâmetros já utilizados para outros fins; 10. Definir a forma de divulgar os indicadores de desempenho na organização; 11. Definir como, quando e quem serão os responsáveis pela coleta dos dados; 12. Normalizar os dados Imple me ntação (D) 1. Buscar apoio da alta adminis tração; 2. Buscar apoio das diversas áreas da empresa; 3. Identificar unidades ou process os que requeiram abordagem diferencia da; 4. Evitar o uso de muitos indica dores. Verificar a efetividade Verificação da efetividade do sistema do sistema ( C ) 1. Identificar se os dados de desempenho performance são foram disponibilizados disponibilizados de forma adequada, permitindo a tomada de decisões; 2. Verificar se os dados obtidos são consistentes com os demais demais dados divulgados; 3. Identificar se os indicadores selecionados induzem a 3. Identificar se os indicadores selecionados induzem a melhoria do desempenho; melhoria do desempenho; 4. Pesquisar junto ao público alvo a efetividade do programa. 4. Pesquisar junto ao público alvo a efetividade do programa. Revisão do sistema (A) Com base na etapa anterior; revisar o sistema com objetivo de corrigir as distorções e/ou aumentar sua efetividade. Figura 29 - Implementação da avaliação de desempenho ambiental segundo GEMI. Fonte: GEMI (1998) 84 3.4.4.3.4 Tendências As principais tendências relacionadas à avaliação de desempenho ambiental e suas métricas são: • Globalização (a) devido ao desenvolvimento de indicadores genéricos relacionados com fenômenos globais, como o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio, (b) tendência de mercado associada à demanda da sociedade e dos órgãos de controle para uma atuação responsável, e, por fim, (c) o desenvolvimento de organismos de certificação e de padrões internacionais de gestão ambiental; • Foco em sustentabilidade, dando continuidade ao processo desencadeado pela Conferência Mundial de Meio Ambiente – Rio 92; • Ênfase em sistemas de gestão ambiental como um dos principais instrumentos viabilizadores de melhoria de desempenho ambiental; • Integração do desempenho ambiental com o da organização, por intermédio da correlação dos aspectos ambientais com os dados de desempenho econômicos, visando não somente à redução dos custos, mas o aumento dos lucros devido ao uso mais eficiente de recursos e de uma maior participação no mercado. 3.4.4.4 Relatórios de desempenho ambiental O “slogan” usado nos negócios: “Do good and let it be known” – Faça bem e divulgue – tem sido aplicado pelas empresas européias para divulgar o seu desempenho ambiental (INEM, 2001). Há mais de uma década, as empresas vêm enfrentando a pressão dos investidores, comunidade, consumidores e órgãos de controle para divulgar informações relativas ao seu desempenho ambiental, bem como os aspectos relacionados à saúde ocupacional (CEFIC, 1998). Os primeiros relatórios ambientais corporativos voluntários datam da década de 80 do século XX. 85 Já na década de 90 do século XX, a União Européia por meio da diretiva 90/313/EEC – “Freedom to access to environmental information” - tornou compulsório o fornecimento ao público das informações mantidas pelos órgãos de controle ambiental. Em 1996, a diretiva do IPPC - Integrated Pollution Prevention and Control - 96/61/EC obrigou as indústrias com alto potencial poluidor a medirem e divulgarem as emissões atmosféricas, líquidas e de resíduos sólidos. Além disso, a cada três anos o inventário das emissões deve ser publicado (DEFRA, 2001). Como conseqüência das demandas regulatórias, a indústria química européia, por exemplo, publicou em 1993, o primeiro manual orientativo para divulgar o desempenho ambiental (CEFIC, 1998). A Dinamarca, em 1995, também estabeleceu a obrigatoriedade de fornecimento de informações ambientais, por intermédio da iniciativa denominada: “Green Accounts Act” (EPA-Danish, 2000). Nos Estados Unidos surgiram demandas legais para o levantamento e a divulgação de informações ambientais relacionadas à utilização e emissão de substâncias químicas perigosas e as relativas aos custos para o atendimento às exigências legais e/ou recuperação de passivos ambientais (Repetto, 2000). Desde então, muitas iniciativas estão sendo feitas no sentido de definir formas e padrões para estes relatórios, destacando-se os das seguintes organizações: • UNEP- United Nations Environmental Program; • GRI-Global Reporting Initiative; • CERES-Coalization for Environmentally Responsible Economies; • PERI-Public Environmental Reporting Initiative; • WBCSD- World Business Council for Sustainable Development; • FEE- Fédération des Experts Comptables Européens; • DEFRA - Department for environment, food and rural affairs. 86 O site: URL:http://enviroreporting.com relaciona as principais organizações que estão desenvolvendo trabalhos relacionados a este tema, assim como os principais manuais disponíveis para a elaboração dos relatórios de desempenho ambiental e de sustentabilidade. Nos dias de hoje, um grande número de empresas está trabalhando na integração de valores éticos, ambientais e sociais ao seu negócio como forma de atuação responsável. Emergem iniciativas que visam assegurar tanto a gestão e melhoria do desempenho ambiental como a demonstração de transparência, por meio da divulgação para as partes interessadas dos principais aspectos ambientais relacionados ao seu negócio. As instituições financeiras também começam a perceber que este tema não pode mais ser dissociado dos negócios. Com isso, junto com informações meramente financeiras são requeridas informações ambientais e sociais. Graças a esta demanda, estão sendo estabelecidos critérios para a mensuração do desempenho ambiental e social assim como modelos de divulgação e de classificação das empresas quanto a este parâmetro. A Figura 30 ilustra essa questão. Fontes de capital Fundos de pensão, bancos. Diálogo Pressão EPRTs (Avaliação/benchmark) EPIs (Medição do desempenho) CER (Comunicação) Usuários do capital EPIs – Indicadores de desempenho ambiental CER – Elaboração/divulgação dos relatórios de desempenho ambiental EPRTs – Ferramentas de classificação de desempenho ambiental Figura 30 - O papel das instituições financeiras na gestão dos recursos com relação à eco-eficiência. Fonte: EEA (2001d) 87 Relatar o desempenho ambiental, portanto, tornou-se uma necessidade que traz consigo outras demandas importantes, como por exemplo: a definição de indicadores, o estabelecimento de objetivos e metas, a definição de prioridades, a coleta de dados entre outras tantas. Nos próximos itens serão abordados, de forma sucinta, os principais conceitos relacionados à elaboração de relatórios de desempenho ambiental e de sustentabilidade, assim como as principais iniciativas de estabelecimento de padrões mundiais. 3.4.4.4.1 Definições e principais tipos de relatórios de desempenho ambiental e de sustentabilidade. Relatório de desempenho ambiental pode ser definido como uma ferramenta que contempla a coleta de informações relativas à gestão ambiental da empresa com a finalidade de divulgação para as partes interessadas. Como exemplo deste tipo de relatório, tem-se o emitido pelas empresas certificadas pela norma Européia - o EMAS. Por sua vez, os relatórios de sustentabilidade agregam também informações relacionadas aos aspectos sociais e de saúde ocupacional dos trabalhadores das empresas. Como exemplo, os relatórios que seguem modelos desenvolvidos pelo GRI e CERES. Pode-se dividir os relatórios em relação à demanda em: (a) relatórios compulsórios e (b) voluntários (EEA, 2001d). Quanto à abrangência, os relatórios podem abordar: (a) somente questões ambientais; (b) questões ambientais e de saúde ocupacional; (c) questões ambientais, de saúde ocupacional e sociais; (d) questões ambientais, de saúde ocupacional, sociais e financeiras. 88 Segundo a associação denominada “The sustainability Report” que analisou os relatórios corporativos de sustentabilidade de 20 organizações líderes, a maioria apresenta-se de forma híbrida, nos quais são feitas as seguintes abordagens: • Aprendizado – no qual a empresa relata como está integrando as questões ambientais e sociais às operações da empresa e à gestão do negócio; • Subjetiva - Com poucos dados, apresenta projetos que envolvem poucos membros da corporação; • De gestão ambiental - Enfocam principalmente a gestão ambiental, apresentam indicadores e objetivos de melhoria de desempenho; • CERES, GRI, Triple bottom line - Apresentam dados ambientais, sociais e econômicos de forma não-integrada; • Integrada - A evolução das questões ambientais, sociais e de saúde ocupacional são apresentadas no contexto das demais informações relatadas no relatório anual; • Inovativa - Nesta abordagem procura-se evitar seguir um padrão muito similar às demais empresas, na tentativa de particularizar as necessidades e objetivos específicos da corporação (MacDonald, 2001). A publicação: “Trust Us’(UNEP, 2002) analisou e classificou os relatórios e as informações disponibilizadas nos websites de 100 empresas, com relação a sua estrutura, informações e forma de abordagem; em cinco diferentes tipos: reativos, cosméticos, “nerds”, virtuosos e supersônicos. Os reativos abordam somente o que for obrigado por lei; os cosméticos apelam por destacar a sua reputação e não seu desempenho, já os “nerds” são os fanáticos por números, mas não tratam as questões ambientais de forma contextualizada. Os dois últimos conseguem ter um pouco da abordagem dos “nerds” mas, de forma mais contextualizada com a sustentabilidade. Destes dois, os supersônicos são os que de fato, tem uma gestão dos negócios que incorporou os conceitos do desenvolvimento sustentável (UNEP, 2002). A estruturação e a forma de divulgação dos relatórios pode diferir em função do publico alvo. 89 Atualmente, já existem manuais que propõem estruturas e formatos para elaboração de relatórios “on line” na WEB, como por exemplo, o manual denominado: “Environmental, Social and Sustainability Reporting on the World Wide Web: A Guide to Best Practice” (ACCA, 2001). 3.4.4.4.2 Elaboração do relatório Para elaboração do relatório é preciso definir: o público alvo; o escopo; a abrangência, a forma de divulgação, a forma de verificação, entre outros. Os relatórios devem ter as seguintes premissas: credibilidade, transparência, comparabilidade e continuidade. A Figura 31 indica as principais etapas para elaboração do relatório de desempenho. Figura 31 - Principais etapas para elaboração de um relatório Fonte: DEFRA (2001) 90 Conteúdo/estruturação do relatório A estrutura dos relatórios depende do seu objetivo e do público alvo. No item 3.4.4.4.3. serão abordadas as principais formas de relatórios. Entretanto, para os relatórios de sustentabilidade, a organização “The Sustainability Report” recomenda três padrões (MacDonald, 2001): • Padrão A - Impressionando positivamente; • Padrão B - Ilustrando que sustentabilidade é um bom negócio, e • Padrão C - Relatório padrão Os modelos A e B são bastante similares na sua estrutura, diferindo basicamente na forma de abordagem dos ganhos ambientais e financeiros relacionados com as práticas e com a gestão da empresa - mais destacados no modelo B. O padrão C é similar ao padrão recomendado pelo GRI, que será apresentado no próximo item. 3.4.4.4.3 Principais iniciativas Como já foi dito nos parágrafos anteriores, muitas organizações já desenvolveram ou estão desenvolvendo padrões para os relatórios de desempenho ambiental. Neste trabalho, serão abordados os modelos propostos pelas seguintes organizações: • GRI – CERES; • PERI; • EMAS; • DEFRA; • INEM. 91 a) GRI –CERES A Global Reporting Initiative- GRI originou-se da Coalition For Environmentally Responsible Economies – CERES em cooperação com a UNEP. O processo de elaboração das diretrizes envolveu vários segmentos da sociedade, como ONGs, universidades, empresas e associações, entre outros. A primeira reunião do grupo aconteceu em 1997. Em junho de 2000 foram publicadas as diretrizes para a elaboração do relatório de sustentabilidade, englobando os aspectos econômicos, sociais e ambientais. O texto contendo as diretrizes foi dividido em quatro partes: introdução e orientação geral, princípios e métodos para elaboração de relatórios de sustentabilidade; conteúdo do relatório e anexos. As principais características qualitativas dos relatórios são: relevância; veracidade; clareza; comparabilidade, periodicidade e verificabilidade. Como elementos de informação sobre o desempenho tem-se: Categorias: áreas ou agrupamentos de aspectos ou impactos (poluição atmosférica, economia local, etc.); Aspectos: Elementos relacionados a uma categoria específica (emissões de gases que causam o efeito estufa, energia consumida, etc.) Indicadores: Valores específicos associados aos aspectos considerados. É recomendado também aos relatores que, sempre que possível, explicitem os critérios adotados para escolha e cálculo dos indicadores, destaquem e justifiquem escolhas relacionadas ao âmbito do relatório, mudanças na estrutura organizacional, entre outros. Estrutura do relatório: 1) Declaração do presidente; 2) Perfil da organização; 3) Síntese e indicadores relevantes (sociais, econômicos e ambientais); 92 4) Visão e estratégia; 5) Política, organização, sistemas de gestão e relações com as partes interessadas; 6) Desempenho (ver Figura 31). Desempenho Social Qualidade da Gestão de pessoas RH Saúde e segurança ocupacional Remuneração e Benefícios Formação e educação Trabalho infantil Discriminação e minorias Liberdade de associação Direitos humanos Desempenho dos provedores Niveis de satisfação de clientes Desempenho Econômico Lucros Ativos Investimentos Salários Impostos Fornecedores Produtos e serviços Direitos humanos Políticas, sistema de gestão, relações com partes interessadas Desenvolvimento e envolvimento dos funcionários e operações da empresa nas questões ambientais Sistemas de incentivo e remuneração com foco em desempenho ambiental Desenvolvimento e patrocínio a pesquisas Contabilização ambiental Auditorias Plano de atendimento à emergências Relações com fornecedores Relações com a comunidade Desempenho ambiental Indicadores gerais •Energia comprada •Total energia •Energia total utilizada utilizada •Emissão de gases estufa •Resíduos gerados •Desempenho dos fornecedores Indicadores específicos •Energia fóssil consumida por tonelada produzida •Quantidade de resíduos reciclada ou reaproveitada •Consumo de produtos químicos •Emissões atmosféricas (MP, VOCs, etc.) •Emissões •Águas hídricas residuárias •Requisitos ambientais relativos a selos á verdes e outros critérios específicos (certificação florestal, etc.) •Programas de recuperação e preservação •Exigências legais •Multas e penalidades Desempenho Ambiental, Social e Econômico Indicadores integrados (proposta) Sistêmicos – Correlacionam a aatuação atuação da corporação comparativamente ao setor ou à a região Transversais -Correlacionam a informação Entre dois ou mais elementos da entre sustentabilidade com o desempenho da organização (eco-eficiência, custos externalizados, etc.) etc. Figura 32 - Resumo geral de avaliação do desempenho ambiental, social e econômico segundo GRI Fonte: GRI (2000) 93 b) PERI – Public Environmental Reporting Initiative Surgiu em 1992, a partir da iniciativa de empresas americanas em estabelecer um relatório padrão de desempenho ambiental. Evoluiu no decorrer dos anos e passou a ser de aplicação para qualquer empresa, organização ou setor. Este padrão foi revisado e adaptado de forma a contemplar outras exigências ou modelos voluntários ou compulsórios, como por exemplo, Responsible Care, demandas legais americanas como TRI e européias CEFIC e EMAS. Estrutura do relatório: 1) Perfil da organização; 2) Política ambiental; 3) Gestão ambiental; 4) Emissões; 5) Conservação de recursos naturais; 6) Gestão de riscos ambientais; 7) Atendimento legal; 8) Responsabilização/gestão do produto; 9) Programa de incentivo, remuneração e treinamento de funcionários; 10) Relacionamento com as partes interessadas. c) EMAS- EcoManagement Auditing Scheme O EMAS é um rótulo europeu ambiental de gestão de adesão voluntária, adotado em 1993 pelo Conselho da UE e aberto à participação das indústrias desde 1995. Este sistema, entre outras exigências, preconiza a comunicação do desempenho ambiental às partes interessadas, através da declaração ambiental. A declaração ambiental deve ser emitida a cada três anos, atualizada anualmente e ser validada por auditor externo. Os indicadores de desempenho ambiental são divididos em: indicadores de desempenho operacional e indicadores de gestão. 94 Estrutura do relatório: 1. Descrição da organização (atividades, produtos e serviços); 2. Política ambiental e descrição do sistema de gestão; 3. Descrição dos aspectos e impactos ambientais significativos; 4. Programa ambiental e seus objetivos; 5. Resultados do programa ambiental; 6. Indicadores de desempenho (ano anterior e atual); 7. Data e identificação do auditor externo. d) DEFRA – Department for environmental, food and rural affairs- UK Esta iniciativa do governo inglês teve por objetivo facilitar e orientar a elaboração de relatórios de desempenho ambiental. São sugeridos indicadores gerais e específicos, expressos de forma absoluta, normalizados e com a sua evolução ao longo do tempo. Os indicadores sugeridos estão relacionados às categorias de impactos: emissões atmosféricas, consumo de recursos naturais, transporte, energia, emissões hídricas, uso do solo, biodiversidade, geração de resíduos perigosos e ruído. Estrutura do relatório: 1) Declaração do presidente; 2) Política ambiental; 3) Perfil da organização; 4) Aspectos e Impactos ambientais significativos; 5) Indicadores de desempenho ambiental; 6) Objetivos e metas; 7) Atendimento à legislação. 95 e) INEM – International Network for Environmental Management Esta iniciativa, patrocinada pelo governo alemão, é voltada à questão da sustentabilidade, abordando, portanto, aspectos ambientais, sociais e econômicos. A publicação: “The INEM Sustainability Reporting Guide – A Manual on Practical and Convincing Communication for Future-Oriented Companies” (INEM, 2001) aborda de forma detalhada o objetivo, princípios, design e apresentação dos relatórios de sustentabilidade. Estrutura do relatório: 1) Fatos relevantes; 2) Declaração do presidente; 3) Perfil da organização; 4) Visão e estratégia; 5) Políticas da organização; 6) Sistemas de gestão; 7) Desempenho (social; ambiental e econômico). Este modelo é bastante similar ao proposto pelo GRI inclusive na recomendação de validação do relatório por auditor externo. Como se pode observar, das iniciativas apresentadas, duas mostram a abordagem dos relatórios alinhadas com o conceito de sustentabilidade (GRI e INEM). As demais enfocam, principalmente, a dimensão ambiental, embora estimulem a abordagem mais abrangente. 3.4.4.4.4 Tendências A EEA - Agência Ambiental Européia - no relatório: “Business and the Environment: Current Trends and Developments in Corporate Reporting and Ranking” (EEA, 2001c) discute a questão de avaliação de desempenho ambiental e seus indicadores, assim como as novas tendências de integração do desempenho 96 ambiental com os aspectos sociais e econômicos das organizações. As principais tendências observadas são: • Auditoria externa; • Aumento da demanda por informações ambientais em diversos segmentos, principalmente por clientes e agentes financeiros; • Aumento da comparação de desempenho - benchmarking (intra e extra-setorial); • Uso dos relatórios para comparação e classificação das empresas; • Aumento da pressão pela emissão compulsória de relatórios em vez de voluntária; • A inclusão da dimensão social no desempenho das organizações. Na pesquisa realizada em 1999 pela empresa KPMG sobre este tema, das 1.100 companhias européias pesquisadas, 269 (24%) elaboraram relatório de desempenho ambiental e destes, 36% englobaram aspectos de sustentabilidade. Para as empresas classificadas como poluidoras esta percentagem foi de 44% (EEA, 2001d). A federação européia de contabilistas – FEE - discutiu a evolução dos relatórios de desempenho ambiental no trabalho denominado: “Towards a generally accepted framework for environmental reporting”. Segundo este trabalho, a evolução na forma de relatar e medir o desempenho ambiental, principalmente nos aspectos relacionados à credibilidade e comparabilidade (por segmento), tende a estimular a sua maior utilização pelo setor financeiro (FEE, 2001). A publicação recente feita pela UNEP e o Grupo Sustainability - denominada “Trust US” (UNEP, 2002) aborda de forma abrangente a questão da divulgação de informações ambientais pelas empresas. A base deste trabalho foram duas pesquisas feitas em 2000 e 2002, tendo como base os relatórios de desempenho publicados e as informações disponibilizadas nos websites de 100 empresas associadas ao World Business Council for Sustainable Development –WBCSD. Segundo este trabalho, a década de 1992-2002 foi caracterizada pela demanda por transparência, enquanto que a seguinte deverá ser a década da confiança, com duas prioridades: a materialidade e a integração. 97 A materialidade implica na necessidade das empresas evidenciarem de forma concreta suas ações, programas, gestão, resultados e estratégia com respeito a sustentabilidade. A segunda prioridade será a integração, com foco em 04 áreas: balanços financeiros, governança, marcas e novos modelos de negócios (UNEP, 2002). A demanda da sociedade por transparência das empresas, a globalização, a evolução da tecnologia de comunicação, a abertura de mercados e instrumentos reguladores, entre outras razões, tendem a ampliar o processo de avaliação, classificação e divulgação do desempenho ambiental das organizações nos diversos setores da economia. 3.4.4.5 Sistemas de gestão ambiental Um sistema de gestão ambiental pode ser definido como uma estrutura organizacional que inclui responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos necessários para gerir os aspectos ambientais relacionados ao negócio, garantindo, ao mesmo tempo, conformidade com suas políticas e com as expectativas das partes interessadas (Five Winds, 2000). Para ser efetivo, deve buscar a otimização do uso de recursos naturais e minimizar os impactos ambientais, enquanto mantém a viabilidade econômica do negócio. Este sistema deve ser integrado à gestão da empresa, em vez de ser admitido como um “esforço” paralelo e tratado separadamente (Tamura, 1999) Nos últimos anos, houve o reconhecimento maior destes sistemas, devido à difusão de padrões internacionais certificáveis para a gestão ambiental, como a ISO 14001. Entretanto, deve-se ressaltar que existem outros sistemas de gestão que podem ser usados nas indústrias, alguns criados por um determinado segmento e outros mais generalistas. Como exemplos deste tipo de sistemas de gestão, tem-se: 98 • Responsible Care – Atuação responsável - Sistema de gestão integrada de saúde, segurança e meio ambiente voltado para a indústria química. • STEP (Strategies for Today’s Environmental Partnership) - Estratégias ambientais para as corporações – Programa de gestão integrada de saúde, segurança e meio ambiente para indústrias do setor petroquímico americano. • EMAS – European EcoManagement and Audit Scheme – Sistema Europeu de Gestão e Auditoria Ambiental – Padrão europeu de gestão ambiental. • BS 7750 – UK- British Standard – Sistema de gestão ambiental inglês. Segundo o grupo de trabalho internacional que analisou os desafios globais da ecoeficiência (Five Winds, 2000), os quatro fundamentos que devem nortear um sistema de gestão ambiental são: a) Orientação – Toda a organização deve identificar claramente os objetivos e as metas da gestão ambiental, e que deverão estar alinhados com a política ambiental; b) Compromisso – Deve haver o comprometimento de todos na organização no sentido de realizar as ações necessárias que suportem a gestão ambiental. Este compromisso é baseado nos valores da organização e na integração dos mesmos em todas as atividades da empresa, assim como na responsabilidade da alta direção; c) Recursos – A organização deve ser capaz de prover recursos humanos, materiais e financeiros para o cumprimento dos objetivos e metas e para suportar a gestão ambiental; d) Aprendizado contínuo – O aprendizado da organização permite a evolução contínua da gestão ambiental, assim como o estabelecimento e o atendimento dos objetivos e metas. Este processo é facilitado por intermédio do monitoramento do desempenho ambiental, da efetiva comunicação com as partes interessadas – indivíduos afetados pelo desempenho ambiental da corporação - e da revisão crítica feita pela alta direção. 99 Estes fundamentos permitem a gestão mais efetiva dos aspectos e impactos ambientais, que por sua vez, permitem a melhoria contínua alinhada com as diretrizes da empresa. A UNEP, por sua vez, relata como elementos-chave da gestão ambiental os seguintes: a) Política ambiental – Expressa o comprometimento da alta gerência na melhoria do desempenho ambiental e congrega princípios, intenções e ações que a empresa deve atender, incluindo os objetivos e metas; b) Programas ambientais (planos de ação) - Relatam as etapas que devem ser cumpridas visando ao atendimento dos objetivos e metas. Descreve as atividades, responsabilidades e infra-estrutura necessárias (recursos humanos e financeiros) relacionadas à sua implementação. Estes planos derivam também da análise dos principais aspectos e impactos ambientais da empresa e dos itens relativos à conformidade legal (aspectos reguladores); c) Estrutura organizacional – Estabelece as atribuições e responsabilidades para as ações relacionadas à gestão ambiental. O responsável por ela normalmente reporta-se ao gerente de operações. A estrutura organizacional deve ter suporte adequado em termos de recursos humanos e financeiros compatível com a dimensão da organização. d) Integração da gestão ambiental nas operações da empresa – Efetivada pela inclusão de procedimentos relacionados ao controle dos aspectos ambientais nas áreas da empresa envolvidas (direta ou indiretamente) com estes: suprimentos, pesquisa & desenvolvimento, financeira, comunicação, engenharia e marketing, entre outras. Este envolvimento permite a elaboração de manuais de operação e outras instruções de trabalho que descrevem os controles, monitoramentos e acompanhamento das ações relacionadas aos programas ambientais. Normalmente, os procedimentos incluem: 100 • Política ambiental, objetivos e metas; • Comunicação com partes interessadas; • Registros e controle da documentação; • Controles operacionais relativos às atividades conduzidas diretamente pela empresa ou por contratadas; • Avaliação e gestão de riscos, com plano de atendimento a emergência visando minimizar os riscos e evitar danos significativos (Tamura, 1999). Os principais benefícios percebidos pelas empresas com sistema de gestão ambiental implementado são: • Melhora no relacionamento com os órgãos de controle ambiental; • Abertura de novos mercados; • Melhora nas relações com a comunidade; • Redução nas penalidades na cadeia produtiva; • Melhora no relacionamento com clientes; • Aumento na efetividade da gestão com uma visão mais de longo prazo; • Melhor comunicação interna; • Redução de custos; • Modernização da gestão; • Maior envolvimento da alta direção; • Visão sistêmica e holística para as questões ambientais; • Estímulo à participação e inovação; • Maior conformidade legal, e • Redução dos acidentes ambientais (EMAS, 2000; USEPA, 1998b; Five Winds, 2000). De um modo geral, as empresas que implementaram sistemas de gestão ambiental identificaram claros benefícios na gestão dos negócios. No entanto, os resultados e a eficácia da gestão ambiental das corporações dependem dos esforços empreendidos e do efetivo compromisso delas com a gestão ambiental. (Five Winds, 2000). 101 Os benefícios podem ser mais abrangentes para as companhias que ampliarem o foco da gestão ambiental, voltando-o para toda a cadeia produtiva e para a prevenção à poluição. A Figura a seguir ilustra a inter-relação entre estes fatores. Efetividade e Aceitação externa Nível 1 Resolvendo problemas Postura reativa a partir de demandas. Sem (pouca) estrutura formal. Nível 2 Atendimento Legal Gestão e monitoramento do desempenho ambiental a partir de demandas legais. Foco em Reduzir penalidades. Nível 3 Gestão ambiental Integração da gestão Ambiental nas decisões da empresa. Política ambiental e programas de gestão que respondem as ameaças potenciais ao desempenho ambiental. Nível 4 Foco em eco-eficiência Integração de aspectos Financeiros, econômicos; ambientais e sociais na condução dos negócios. A gestão e decisões transcendem os limites da empresa e incluem diálogo permanente com as partes interessadas. Tempo e esforço Figura 33 - Abordagem das empresas para a questão ambiental. Fonte: Five Winds (2000) O desenvolvimento e a implementação de sistemas de gestão ambiental dependem da complexidade, natureza e escala das atividades, produtos e serviços fornecidos pela organização. A seguir serão apresentados de forma resumida, os sistemas de gestão ambiental ISO 14001, EMAS, Atuação Responsável (Responsible Care) e BS 7750. 102 3.4.4.5.1 Normas da série ISO 14000 a) Introdução A série de normas ISO 14000 foi desenvolvida para auxiliar as empresas na gestão ambiental das suas atividades. Elas foram elaboradas pela organização internacional denominada ISO - International Organization for Standardization em 1991. Consistem em uma série de documentos que definem os elementos-chaves da gestão ambiental, tendo em vista os aspectos ambientais relacionados às atividades desenvolvidas pelas empresas. A primeira norma foi publicada oficialmente em 1996. A norma 14001 foi elaborada a partir de normas européias e canadenses, quais sejam: BS 7750 (Inglaterra); EMAS (União européia) e Environmental Management Program CSA- Canadian Standards Association (Canadá). Destaca-se que as normas não determinam padrões de desempenho ambiental, elas indicam somente a sistemática para gerir o desempenho ambiental por meio de diferentes ferramentas de gestão. A sua adoção tem caráter voluntário e não compulsório. Até o momento foram listadas 27 normas desta série, sendo que destas, 24 já foram publicadas e as demais estão nas versões intermediárias que precedem a sua publicação, conforme indicado na Tabela 7. No Brasil a divulgação das normas traduzidas é feita pela ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. Tabela 7 - Normas da série ISO e sua abrangência. Normas Abrangência A série 14001 e 14004 Refere-se à gestão ambiental Norma 14015 Refere-se a avaliação de organizações e empresas. A série 14020, 14021, 14024 e TR 14025 A série 14031 e 14032 Refere-se a certificação de produtos (selos verdes). Refere-se a avaliação de desempenho ambiental 103 Normas Abrangência (indicadores) A série 14040, 14041, 14042, 14043, TR Refere-se a avaliação do ciclo de vida dos produtos (onde 14047, TR 14048 e TR TR significa relatório técnico). 14049 Norma 14050 Norma TR 14061 Norma TR 14062 Norma 19011 ISO Guide 64 ISO Guide 66 Refere-se ao glossário de termos e definições. Refere-se a informações para auxiliar o uso das normas 14001 e 14004 em corporações florestais. Refere-se a gestão ambiental para integrar aspectos ambientais do projeto e desenvolvimento de produtos. Refere-se a instruções para auditoria (substitui as normas 14010, 14011 e 14012). Refere-se a instruções para inclusão dos aspectos ambientais de produtos. Refere-se a instruções gerais para registro e avaliação de organismos certificadores. Fonte: ISO (2002) Existem três documentos que estão em fase de elaboração/discussão (14047, 14063 e 14064) e que relacionam-se à análise de ciclo de vida, a comunicações ambientais e a medição, divulgação e verificação de projetos relacionados às emissões de gases estufa, respectivamente. Esta parte da revisão bibliográfica abordará somente a norma relacionada à gestão ambiental 14001. As demais foram discutidas em detalhes na publicação: “Global Green Standards: ISO 14000 and Sustainable Development” da IISD (IISD, 1996) e no site: http://www.iso.org. Segundo o relatório feito pela ISO, até dezembro de 2001 existiam 36.765 empresas certificadas no mundo, conforme a norma 14001. Como se pode ver nas Figuras 34 e 35, a maior parte das certificações estão na Europa e Ásia. O Brasil tinha até 2001, 104 350 empresas certificadas. O país com maior número de certificações é o Japão, com 8.123 certificados (ISO, 2002). Africa e Leste da Asia 20000 América Central e do Sul 15000 América do Norte 10000 Europa 5000 Asia 0 Certificados ISO 14001 Austrália a Nova Zelândia Figura 34 - Número de certificados ISO 14001 emitidos no mundo até 2001. Fonte: ISO (2002) 4% 3% 2% Africa e Leste da Asia 7% América Central e do Sul América do Norte 34% Europa Asia 50% Austrália a Nova Zelândia Figura 35 - Distribuição dos certificados ISO 14001 emitidos até 2001. Fonte: ISO (2002). 105 b) Principais características da norma ISO 14001 O objetivo desta norma é estabelecer um padrão de conformidade para a gestão ambiental, tendo como foco a melhoria do desempenho ambiental (IISD,1996; ABNT, 1996). Estas normas têm cinco componentes principais, que por sua vez são subdivididos em elementos. Os principais componentes são: • Política ambiental; • Planejamento; • Implementação e operação; • Verificação e ações corretivas e • Análise crítica (revisão). Como pode ser observado, o padrão de PDCA (P-Plan; D-do; C-Check; A-act) é refletido nos componentes da norma, similarmente às normas ISO voltadas para a gestão da qualidade. A política ambiental deve explicitar o compromisso da organização com: • A melhoria contínua; • Atendimento às normas e regulamentos; • Prevenção à poluição. A política deve ser apropriada à escala e natureza da empresa e deve ser conhecida por todos os funcionários e disponível ao público em geral O planejamento compreende a identificação dos principais aspectos ambientais e das demandas legais; o estabelecimento de objetivos e metas e o programa de gestão ambiental. O planejamento deve identificar os responsáveis, a infra-estrutura e demais detalhes que permitam o efetivo acompanhamento e atendimento dos objetivos e metas. 106 Destaque-se que, embora o foco da ISO 14001 seja a gestão ambiental, a norma não desencoraja a inclusão dos aspectos relacionados à segurança e a saúde ocupacional. A implementação e operação compreendem os seguintes elementos: • Estrutura e responsabilidade; • Treinamento e capacitação; • Comunicação; • Documentação; • Controle da documentação; • Controle operacional e • Preparação e atendimento a emergência. A organização deve ter uma sistemática para identificar situações de risco visando implementar ações corretivas e preventivas para minimizar os danos ao meio ambiente. A verificação e ações corretivas compreendem os seguintes elementos: • Monitoramento e medição; • Não conformidades, ações corretivas e preventivas; • Registros e • Auditorias. As auditorias de rotina podem ser feitas por auditores internos ou externos, enquanto que a auditoria de conformidade (para fins de certificação e manutenção do certificado) é feita por auditores externos vindos de empresas habilitadas. A análise crítica (revisão) do sistema pela alta gerência permite verificar a adequação e eficácia da gestão ambiental, indicando onde há necessidade de mudanças e de correções de rumo, inclusive revisão da política ambiental, se for o caso. 107 c) O que a norma estabelece, permite ou induz e o que a norma não estabelece, permite ou induz A norma estabelece; induz ou permite: • A sistemática para gerir as questões ambientais, identificando falhas na gestão de alguns aspectos e permitindo a sua integração à gestão da empresa; • A gestão adequada dos objetivos e metas, validando essa gestão por um organismo certificador externo; • A melhoria do desempenho ambiental das organizações; • A redução de pressões regulatórias e permite o atendimento às demandas legais com menores gastos de fiscalização pelo governo. No entanto a norma NÃO estabelece; permite ou induz: • Mudanças nos requisitos legais; • Garantia do cumprimento às normas e requerimentos legais, ela só indica que a gestão do atendimento às exigências legais é feita pela empresa; • Padrões de desempenho ambiental; • Maior divulgação de informações relativas ao desempenho ambiental da empresa, conforme é mandatário no sistema europeu EMAS. d) A ISO 14001 e a prevenção à poluição Em 1998, um grupo de trabalho do Programa Nacional de Prevenção à Poluição da USEPA elaborou um documento que discutiu a questão da prevenção à poluição e suas implicâncias com a norma ISO 14001. Neste documento, embora reconheça inúmeros aspectos positivos da norma, o grupo identificou os seguintes aspectos negativos: • A norma é voltada para a gestão e não para o desempenho ambiental e neste sentido, ela não demanda sua melhora, medida por meio de indicadores ambientais; 108 • A definição do termo “prevenção à poluição” não distingue a prevenção do controle da poluição. Segundo o documento, ela falha por não destacar explicitamente a redução na fonte, prioritariamente a outras alternativas como reutilização e reciclagem, tratamento e disposição final; • Baixa demanda relacionada à comunicação com as partes interessadas, deixando para a empresa o poder de definir sua abrangência e forma; • A questão de confidencialidade das auditorias; • “Propaganda” distorcida da norma, exagerando a sua utilidade e abrangência. A partir destas observações, o grupo fez algumas recomendações, dentre elas: treinamento em prevenção à poluição para os auditores e para os demais atores envolvidos na certificação; explicitar a redução na fonte como primeira estratégia para prevenir a poluição e maior envolvimento e transparência com as partes interessadas (USEPA, 1998b). De certa forma, o trabalho do grupo evoluiu para uma proposta de um sistema integrado de gestão ambiental com uma abordagem mais ampla, voltada para a prevenção à poluição e que também considera os critérios de DfE –design for environment e de responsabilidade pós-consumo. Como conseqüência, em 2000 foi publicado um guia para implementação do sistema integrado, cuja formatação está alinhada com o conceito de PDCA - já empregado nas normas da série ISO (USEPA, 2000). Em paralelo ao encaminhamento dado pela agência de proteção ambiental americana, várias modificações e inclusões estão sendo discutidas nos comitês da ISO relacionadas aos padrões ambientais. A norma 14001 está em processo de revisão, enquanto que outros relatórios estão sendo elaborados, como o TR 14063 – que está em fase de discussão, relativo às comunicações ambientais. 109 3.4.4.5.2 Sistema Europeu de Certificação – EMAS (European EcoManagement and Audit Scheme) a) Introdução Este sistema foi adotado pelo conselho da União Européia em 1993 e encontra-se acessível para utilização pelas empresas desde 1995. Para os países membros da União européia sua adesão é compulsória. Cada país deve designar uma instituição federal independente para viabilizar a sua utilização. A sua adesão pelas empresas, no entanto, é voluntária. A versão 2000 deste sistema incorpora requisitos da Norma ISO 14001, visando facilitar a sua transição (evolução) para o sistema EMAS. b) Principais características É um sistema voltado para a gestão ambiental e utiliza o conceito de melhoria contínua – PDCA e seu registro (certificado) só pode ser utilizado fábrica a fábrica. Os principais requisitos deste sistema são: • Adoção de uma política ambiental; • Compromisso com a melhoria contínua; • Definição e implementação dos programas de controle da poluição ambiental e de gestão ambiental; • Procedimentos para monitoramento, controle e verificação de conformidade legal; • Auditorias periódicas; • Preparação periódica do relatório de desempenho ambiental; • Validação por auditor externo do relatório de desempenho ambiental; • Garantia de acesso público ao relatório; • Estabelecimento pela alta direção de objetivos e metas de melhoria. 110 Talvez a principal diferença dos demais sistemas, notadamente, ISO 14001 e BS 7750 refere-se à elaboração do relatório de desempenho ambiental. Este, segundo o sistema EMAS deve conter (IISD, 1996): • Descrição das principais atividades da (s) unidade (s); • Avaliação dos aspectos ambientais significativos; • Apresentação dos principais indicadores ambientais relacionados às emissões hídricas, atmosféricas, a geração de resíduos, consumos de matérias-primas, consumo de água e energia, ruído e outros indicadores relevantes; • Apresentação da política, dos programas e do sistema de gestão ambiental; • Destaque às mudanças ocorridas em relação ao relatório anterior; • Indicação de prazos para divulgação do próximo relatório; • Identificação do organismo qualificado que validou os dados apresentados no relatório. O EMAS também sugere indicadores de desempenho ambiental divididos em: operacionais (indústrias e serviços) e de gestão. A implementação segue praticamente os mesmos passos previstos no sistema ISO 14001, exceto pela etapa de comunicação às partes interessadas, devido à necessidade da elaboração do relatório de desempenho. A União Européia juntamente com o INEM –International Network for Environmental Management disponibilizaram um manual orientativo para implantação deste sistema de gestão (EMAS, 2000). 3.4.4.5.3 Especificação para um sistema de gestão ambiental - norma BS 7750 O Instituto Inglês de Padronização (BSI) publicou a versão “draft” desta norma em 1992 e, em 1994, a final. Ela estabelece a especificação para um sistema de gestão ambiental. A sua estrutura foi desenhada visando torná-la compatível com o sistema EMAS e foi uma das precursoras da ISO 14001. Este sistema foi substituído pelo sistema ISO 14001 em 1997 em decorrência de um acordo entre a União Européia e a organização ISO (Acordo de Viena) (IISD, 1996). 111 3.4.4.5.4 Programa "Atuação Responsável®" (Responsible Care) Criado no Canadá em 1985 pela associação canadense da industria química (CCPA), estabelece códigos, práticas e princípios de gestão relacionados ao meio ambiente, saúde e segurança do trabalho, voltados para as indústrias químicas. Esse programa se expandiu e hoje existe em mais de 40 países. Sua adesão é voluntária e ele é conduzido normalmente, pelas grandes associações da indústria química no mundo. No Brasil, este programa é coordenado pela ABIQUIMAssociação Brasileira da Indústria Química desde 1992. A partir de 1998 a adesão à Atuação Responsável tornou-se obrigatória para todos os associados da ABIQUIM, a exemplo do que ocorre na maior parte dos países com indústria química desenvolvida. O Programa Atuação Responsável® é composto por seis elementos: I. Princípios Diretivos Os Princípios, em número de 12, estabelecem a base ética do Processo, indicando as questões fundamentais que devem nortear as ações de cada empresa: • Assumir o gerenciamento ambiental como expressão de alta prioridade empresarial, por meio de um processo de melhoria contínua em busca da excelência; • Promover, em todos os níveis hierárquicos, o senso de responsabilidade individual com relação ao meio ambiente, segurança e saúde ocupacional e o senso de prevenção de todas as fontes potenciais de risco associadas às suas operações, produtos e locais de trabalho; • Ouvir e responder às preocupações da comunidade sobre seus produtos e suas operações; • Colaborar com órgãos governamentais e não-governamentais na elaboração e aperfeiçoamento de legislação adequada à salvaguarda da comunidade, locais de trabalho e meio ambiente; 112 • Promover a pesquisa e desenvolvimento de novos processos e produtos ambientalmente compatíveis; • Avaliar previamente o impacto ambiental de novas atividades, processos e produtos e monitorar os efeitos ambientais das suas operações; • Buscar continuamente a redução dos resíduos sólidos, despejos líquidos e emissões gasosas para o ambiente, oriundos das suas operações; • Cooperar para a solução dos impactos negativos no meio ambiente decorrentes do descarte de produtos ocorrido no passado; • Transmitir às autoridades, funcionários, clientes e à comunidade informações adequadas quanto aos riscos à saúde, à segurança e ao meio ambiente de seus produtos e operações e recomendar medidas de proteção e de emergência; • Orientar fornecedores, transportadores, distribuidores, consumidores e o público para que transportem, armazenem, usem, reciclem e descartem os seus produtos com segurança; • Exigir que os contratados, trabalhando nas instalações da empresa, obedeçam aos padrões adotados pela contratante em segurança, saúde ocupacional e meio ambiente; • Promover os princípios e práticas do "Atuação Responsável®", compartilhando experiências e oferecendo assistência a outras empresas para produção, manuseio, transporte, uso e disposição de produtos. II.Códigos de Práticas Gerenciais São documentos destinados a definir uma série de práticas gerenciais, que permitem a implementação efetiva dos Princípios Diretivos. Os Códigos, em número de 6, abrangem todas as etapas dos processos de fabricação dos produtos químicos, além de tratarem das peculiaridades dos próprios produtos. São eles: • Segurança de Processos: busca garantir que não ocorram acidentes nas instalações das indústrias, procurando determinar as fontes de risco e, então, atuar na prevenção desses possíveis problemas; 113 • Saúde e Segurança do Trabalhador: busca garantir as melhores condições de trabalho dentro das empresas, visando manter em suas instalações um adequado ambiente, que não crie problemas à saúde e segurança dos que lá trabalham, sejam funcionários ou contratados de terceiros; • Proteção Ambiental: busca gerenciar os processos de produção da forma mais eficiente possível, com vistas a reduzir assim a geração de despejos líquidos, emissões gasosas e resíduos sólidos; • Transporte e Distribuição: busca otimizar todas as etapas de distribuição de produtos químicos, visando reduzir o risco proporcionado pelas atividades de transporte, além de melhorar a resposta a eventuais acidentes; • Diálogo com a Comunidade e Preparação e Atendimento a Emergências: busca a manutenção de canais de comunicação das empresas com sua comunidade interna (trabalhadores) e externa (vizinhos), bem como atuar nas possíveis emergências que venham a ocorrer nas instalações da indústria; • Gerenciamento do Produto: busca fazer com que as questões ligadas à saúde, segurança e meio ambiente sejam consideradas em todas as fases do desenvolvimento, produção, manuseio, utilização e descarte de produtos químicos. III. Comissões de Lideranças Empresariais São os foros de debates e de troca de experiências entre profissionais e dirigentes de empresas associadas, visando à coordenação das atividades conjuntas ligadas ao "Atuação Responsável®", tanto no âmbito da ABIQUIM como nas regiões de concentração de empresas químicas em todo o Brasil. IV. Conselhos Comunitários Consultivos Visa estreitar o diálogo entre a indústria química e seus potenciais interessados. Participam membros representativos da comunidade e integrantes da indústria. V. Avaliação de Progresso O Atuação Responsável® requer o acompanhamento permanente e estruturado de todas as atividades sob controle. O Programa contempla, assim, a sistematização das 114 avaliações de progresso, que se iniciam com uma auto-avaliação por parte de cada empresa, devendo, com o tempo, envolver a avaliação por terceiros. VI. Difusão para a Cadeia Produtiva Visa integrar toda a cadeia produtiva a ela ligada e transmitir a seus clientes e fornecedores os valores e práticas ligados ao Atuação Responsável®. Como pode ser observado, este programa distingue-se dos demais principalmente: • Pela abordagem integrada de meio ambiente, saúde e segurança; • Pela ausência de verificação de conformidade por auditoria independente; • Pela sua estrutura. A despeito de ser um programa pioneiro e difundido em vários países do mundo, ele não se mostrou capaz de reverter a imagem negativa associada à indústria química. Em termos de perspectiva, acredita-se que devido à grande difusão e reconhecimento das normas ISO e de outros sistemas de gestão de segurança compatíveis com estas (facilitando a integração) e que são auditáveis; o Programa Resposible Care venha a ser remodelado para facilitar a sua integração com os demais sistemas. 3.4.4.5.5 Integração dos sistemas de gestão (meio ambiente, segurança e qualidade) A implementação de um sistema de gestão ambiental nos moldes das normas ISO 14001 e EMAS permite às empresas identificar mais claramente as interfaces da gestão com as demais áreas da companhia. Além disso, a estrutura da norma é bastante similar às normas da qualidade, que precederam a série 14000. Desta forma, muitas ferramentas já conhecidas e utilizadas pelas empresas para a gestão da qualidade podem ser compartilhadas na gestão ambiental. De um modo geral, outros fatores como tecnologia de informação e ferramentas de informática, aliados a novos modelos de gestão de saúde e segurança dotados de 115 estruturas compatíveis com as normas ISO, também são facilitadores da integração dos sistemas de gestão. Segundo os autores do livro “Sustaining Enviromental Management Success”, os fatores indutores de integração estão relacionados à criação e a percepção de valor nos negócios. Os principais fatores indutores, segundo estes, são: competitividade, estratégia, responsabilidade pós-consumo, gestão de riscos, gestão da cadeia produtiva para reduzir custos e riscos; demandas de investidores e clientes por uma gestão não fragmentada e sustentabilidade do negócio (Wilson et. al., 1998). Entretanto, a despeito da atuação das forças indutoras para a integração, a sua efetivação é um grande desafio. Segundo Wilson et. al. (1998): - “é mais fácil dizer do que fazer”! Integrar é um processo de aprendizado e de melhoria continua, dependente da visão e liderança dos condutores do negócio. No Brasil cresce o número de empresas que estão implementado e integrando seus sistemas de gestão, segundo moldes das normas ISO e OHSAS 18001. 3.4.4.6 Contabilidade ambiental O termo contabilidade ambiental tem vários usos e significados. Nos últimos anos, o uso da contabilidade ambiental na gestão das empresas está sendo revisto como uma ferramenta que pode: • Identificar as áreas nas quais ocorrem os custos ambientais; • Fornecer informações que suportem os tomadores de decisão em relação às questões ambientais; • Identificar e estimar custos relacionados aos riscos ambientais associados a novos projetos e aquisições; • Estimar custos relativos às mudanças nos requisitos legais, taxação e subsídios; • Redesenhar a avaliação de desempenho da empresa, de forma a incluir o desempenho ambiental; 116 • Identificar as novas categorias de custos relacionadas às contingências e passivos ambientais (Gray; 2001). Segundo a USEPA, a contabilidade ambiental pode ser vista em uma escala mais ampla sob três diferentes contextos: contabilidade nacional; contabilidade financeira e contabilidade gerencial (USEPA, 1995). A contabilidade nacional trata-se de um indicador macroeconômico relacionado ao uso de recursos naturais. A contabilidade financeira permite às empresas classificar e reportar seus ativos e passivos sob a ótica ambiental, tanto relacionada ao atendimento legal e minimização de impactos ambientais associados ao seu negócio, quanto à questão de recuperação de passivos ambientais. Por sua vez, a contabilidade gerencial consiste na identificação, coleta e análise de informações para gestão interna dos processos e produtos, com vistas a suportar a gestão das organizações e a tomada de decisão. A contabilidade ambiental usada como ferramenta de gestão nas empresas envolve a determinação dos custos relacionados aos aspectos ambientais da empresa em diversas instâncias, podendo abranger desde a aquisição de matérias-primas, projeto de novos produtos, processo industrial até o descarte de embalagens e resíduos. As principais diferenças entre os dois tipos de contabilidade ambiental nas corporações está indicada na Tabela 8. Este trabalho restringir-se-á à contabilidade ambiental nas organizações com visão financeira e de gestão. 117 Tabela 8 - Comparação entre contabilidade ambiental gerencial e financeira. Fonte: UNEP (1999). Contabilidade Gerencial Contabilidade Financeira Usuários Gerentes em diversos níveis Investidores, agências de governo e gerentes Grau de liberdade na formatação Sem padrão definido, deve conter informações que evidenciem a melhoria do desempenho Com padrão definido seguindo os princípios gerais da contabilidade Indução de comportamento A mensuração e acompanhamento no dia-a-dia influencia a gestão A indução de comportamento é indireta, embora possa haver sistema de remuneração atrelada aos resultados Referência temporal Planejamento e orçamento Avaliação do desempenho no último ano fiscal Abrangência temporal Flexível Menos flexível, normalmente referenciado a trimestres Relatórios Relatórios detalhados para diversas áreas Relatórios resumidos da empresa como um todo Foco Multidisciplinar Mais restrito e formalmente definido 3.4.4.6.1 Contabilidade ambiental como ferramenta de gestão nas empresas As empresas enfrentam inúmeras pressões de investidores, acionistas, clientes, órgãos de controle e da sociedade como um todo para o fornecimento de informações relacionadas ao seu desempenho ambiental. Face às pressões, as empresas estão utilizando diferentes instrumentos para aprimorar o seu desempenho e divulgá-lo às partes interessadas. Segundo o relatório das Nações Unidas sobre este tema (UNEP, 2001), a prática em voga para a gestão ambiental tem sido implementar inicialmente auditorias ambientais e, por último, utilizar-se da contabilidade ambiental. Segundo esta mesma fonte, o processo deveria ser exatamente o inverso - utilizar a contabilidade ambiental como ponto de partida para a efetiva gestão ambiental dos negócios (Tabela 9). 118 Tabela 9 - Uso das ferramentas de gestão ambiental pelas empresas. Ideal Prática comum Contabilidade ambiental Auditorias ambientais Indicadores ambientais Relatórios de desempenho ambiental Sistemas de gestão ambiental Sistemas de gestão ambiental Auditorias ambientais Verificação Relatórios de desempenho ambiental Comparação (benchmarking) Verificação Indicadores ambientais Comparação (benchmarking) Contabilidade ambiental Fonte: UNEP (2001). As empresas devem contabilizar os custos ambientais pelas mesmas razões que contabilizam os demais custos. Eles podem representar uma parcela importante nos custos totais de uma organização, embora a maioria das empresas não tenha esta visão. O uso de tecnologias mais limpas e medidas de prevenção à poluição pode beneficiar as empresas a longo prazo, aumentando a eficiência do processo produtivo, reduzindo o consumo de insumos e a geração de resíduos. Neste sentido, a correta análise econômica e financeira é fundamental para a viabilização dos projetos de prevenção à poluição. Entretanto, no sistema tradicional de contabilidade das empresas a maioria dos custos ambientais está alocado em contas abrangentes e mesclados com outras despesas, de forma que não é possível identificá-los e nem fazer a sua gestão adequada (UNEP,1999). 3.4.4.6.2 Custos ambientais Os custos ambientais estão associados a produtos, processos, sistemas ou unidades e a sua definição depende de como as empresas os utilizam, da escala e da sua abrangência. Certos custos podem não ser claramente identificados como “ambientais”, uma vez que, em parte, podem ser atribuídos a outras categorias. 119 a) Identificação e classificação dos custos ambientais Sistemas tradicionais classificam os custos como: diretos (materiais e mão-de-obra); indiretos (manutenção, depreciação, seguros, taxas, utilidades e demais custos relacionados à produção); de vendas; administrativos e de pesquisa & desenvolvimento. Segundo alguns especialistas, os custos ambientais podem ser classificados em: custo total (TCA) que abrange custos diretos e indiretos e custo associado ao ciclo de vida (LCA cost), que tem uma abrangência mais ampla, pois considera os custos relacionados desde a produção de matérias-primas até a disposição final do produto. Por outro lado, segundo a visão americana, apresentada no trabalho “An Introduction to Enviromental Accounting As A Business Management Tool: Key Concepts and Terms” (USEPA,1995), visão esta compartilhada pela UNEP em publicações mais recentes, os custos ambientais podem ser classificados como: • Custos potencialmente escondidos ou difusos; • Custos de contingência e • Custos relacionados à imagem. Estas categorias de custos, por sua vez, podem ser divididas em três outras subcategorias: custos associados ao atendimento legal, custos de implantação e de desmobilização e custos voluntários, conforme pode ser visto na Tabela 10. 120 Tabela 10 - Custos ambientais. Custos potencialmente escondidos Atendimento legal Notificação Relatórios Monitoramento Remediação Planejamento Treinamento Inspeção Selos verdes Atendimento a emergência Equipamentos de segurança Seguros ambientais Controle da poluição Gestão de resíduos e efluentes Taxas Implantação Avaliação Preparação do site Licenciamento Pesquisa e desenvolvimento Projetos de engenharia Convencionais Capital e equipamentos Materiais Suprimentos Utilidades Desmobilização Comissionamento Inventários Monitoramento Avaliação Voluntários Acordos e parcerias com a comunidade Monitoramento Treinamento Auditorias Qualificação de provedores Relatórios Seguro Planejamento Estudos de viabilidade Reciclagem Pesquisa e desenvolvimento Preservação ambiental Financiamento de projetos Custos contingenciais Previstos para atendimento legal Previstos para controle de emissões Remediação Danos ao meio ambiente Danos a propriedade Danos econômicos Danos a pessoas Despesas legais Custos de imagem Imagem da empresa Relações com clientes Relações com investidores Relações com profissionais da empresa Relações com fornecedores Relações com a comunidade Relações com as autoridades Fonte: USEPA (1995) Os custos convencionais são comumente utilizados na gestão dos negócios e nos projetos, mas, normalmente, não consideram os custos ambientais. Em projetos de prevenção à poluição e de tecnologias mais limpas, a alocação correta dos custos convencionais é decisiva para a sua viabilização econômica. O relatório elaborado pela Instituição GEMI-Global Environmental Management Initiative: “Finding CostEffective Pollution Prevention Initiatives: Incorporating Environmental Costs Into Business Decision Making” apresenta estudos de viabilidade de um projeto de prevenção a poluição. Neste trabalho são comparadas duas situações – com e sem os 121 custos ambientais. No exemplo apresentado, o estudo que considera os custos ambientais tem uma estimativa do Valor Líquido Presente superior (GEMI, 1994). Os custos potencialmente escondidos (ocultos) normalmente são apropriados em outras contas, de forma que é difícil avaliar a sua magnitude. Este fato corrobora com a falta de gestão no dia-a-dia destes custos. Já os custos contingenciais podem ser previstos em termos probabilísticos. Normalmente incluem custos de remediação e compensações por acidentes que venham a ocorrer, assim como multas e penalidades que possam advir. Os custos ambientais menos tangíveis são àqueles relacionados com a imagem da empresa - custos de imagem. Estes são mais subjetivos e difíceis de serem mensurados e geridos. De fato, os custos são mensuráveis, os benefícios decorrentes deles é que não são facilmente identificados (Figura 36). Custos Custos Custos potencialmente Convencionais contingenciais escondidos Custos de imagem Fácil de mensurar Custos da sociedade Mais difícil de mensurar Figura 36 - Classificação dos custos e sua mensuração. Fonte: USEPA (1995) Determinados custos podem gerar dúvidas quanto à sua classificação. Por exemplo, como considerar os custos associados à implantação de processos de produção “mais limpos?” Como considerar os custos associados à gestão de riscos ou de saúde e segurança dos trabalhadores? 122 Os critérios para alocar estes custos podem ser: (a) Considerá-los como custos ambientais para determinado objetivo e não para outro; (b) Considerar parte como ambiental, ou (c) Considerá-los ambientais quando o montante “ambiental” for superior a 50%. A escala e o escopo dos custos ambientais podem variar em função dos objetivos associados à sua gestão. Os custos descritos até o momento são considerados privados. Existem os custos denominados sociais, que transcendem o escopo normalmente considerado pelas empresas. Por exemplo, os impactos causados ao meio ambiente pelo lançamento de águas residuárias não tratadas ou pela disposição inadequada de resíduos normalmente não são considerados. A Figura 37 apresenta de forma esquemática essa questão. Custos Sociais Custos Privados Custos Sociais Custos usualmente considerados pelas empresas para a tomada de decisões Custos potencialmente escondidos e não considerados nas tomadas de decisão (atendimento legal, instalação, operacionais, desmobilização, futuros e de relações com a comunidade) Figura 37 - Custos privados e sociais. Fonte: USEPA (1995) Custos Sociais 123 b) Utilização e alocação dos custos ambientais Uma das funções mais importantes da contabilização ambiental é permitir a identificação dos custos ambientais, motivando os gestores das empresas a reduzilos. Para tanto, é necessário alocar os custos em produtos, processos ou áreas diretamente relacionadas a estes, em vez de considerá-los como despesas comuns. Este tipo de abordagem permite também a correta estimativa dos custos de diferentes produtos e processos. Esta abordagem também se aplica aos créditos relacionados ao uso de produtos reciclados ou subprodutos. Alocação de custos ambientais em projetos A análise econômico-financeira dos investimentos normalmente é feita à luz dos padrões financeiros de retorno de capital, desconsiderando os aspectos ambientais e seus custos. Como decorrência, projetos de prevenção à poluição e uso de tecnologias mais limpas podem não ser considerados viáveis economicamente. 3.4.4.6.3 Análise financeira dos investimentos O objetivo da análise financeira dos investimentos é avaliar se estes irão adicionar valor econômico aos negócios, em relação a outras formas de aplicação. Segundo o documento: “Pollution Prevention Program Manual – P2 Planning and Beyond”, a análise financeira dos investimentos de prevenção à poluição deve seguir quatro etapas (CCPP, 2001): • Coleta de informações técnicas sobre custos envolvidos no projeto; • Elaboração dos fluxos de caixa; • Avaliação do retorno do investimento e; • Interpretação dos resultados. O esquema resumido das etapas de análise do investimento é apresentado na Figura 38. 124 A USEPA elaborou um programa em excel, denominado “P2 Finance”, que permite fazer a análise financeira dos investimentos em prevenção à poluição (USEPA, 2001). O retorno do investimento é calculado pelos mesmos métodos sugeridos pelo grupo P2 do Canadá (Tabela 11). Em ambos, o método recomendado para estimar o retorno do investimento é o do valor presente líquido. Tabela 11 - Quadro comparativo dos métodos de análise de investimentos. Considera Facilidade de a variação uso do valor da moeda Estima o valor dos Uso ganhos Vantagens e desvantagens Não considera a Tempo de retorno Simples Não Não (payback) Projetos pequenos variação do valor da moeda durante a vida útil do projeto É preciso Valor presente líquido estimar o fluxo de caixa durante a vida útil do Sim Sim Projetos maiores projeto e estimar Mede o risco ajustado do valor adicionado a taxa de retorno Pode ser Pode ser usado É preciso usado na avaliação Taxa estimar o fluxo na inicial interna de de caixa durante avaliação dos a vida útil do preliminar e investimentos projeto na e/ou para estimar verificação a taxa de retorno retorno Fonte: CCPP (2001). Sim Não 125 Identificação detalhada do processo e dos sub-processos envolvidos Alocação de todos os custos relacionados aos processos nas duas condições (antes e após a implementação) Contabilizar todos os custos relacionados ao projeto em base anual Calcular as diferenças nos custos entre as duas condições (incluir custos de instalações, equipamentos e operacionais) Elaborar o fluxo de caixa considerando a vida útil dos equipamentos, amortização, depreciação, juros, inflação e retorno esperado do investimento Calcular o retorno financeiro do investimento (usando: tempo de retorno; valor líquido presente ou taxa interna de retorno) Analisar os resultados considerando também aspectos qualitativos (imagem da empresa; qualidade do produto, etc) Figura 38 - Etapas para avaliação financeira de investimentos. Fonte: USEPA (2001) Quando as diferentes categorias de custos ambientais são consideradas na etapa de projeto de produtos e processos (estendendo-se a sua disposição final), tem-se a contabilidade do ciclo de vida. A contabilidade ambiental é uma ferramenta que torna os sistemas de gestão ambiental mais efetivos. A sua implementação pode ser feita gradativamente, a partir dos custos mais facilmente reconhecidos e mensuráveis e em escala mais limitada. Muitas vezes, inclusive, a avaliação de projetos não requer a estimativa dos custos 126 mais complexos, uma vez que os custos e benefícios mensuráveis já fornecem informações suficientes para a tomada de decisão. Segundo a agência ambiental americana –EPA, a integração dos custos ambientais, sociais e privados na gestão de negócios tende a expandir, de forma a permitir uma abordagem mais proativa e estratégica das empresas com relação a estas questões. 3.4.4.6.4 Contabilidade ambiental financeira - relatórios de prestação de contas Em 1992, a Comunidade Européia publicou um programa com objetivo de incentivar o desenvolvimento sustentável e uma das iniciativas propostas foi estimular a publicação de informações financeiras relativas às questões ambientais (EU, 2001). A ausência de normas explícitas para esta publicação contribuiu para se criar uma situação em que as diferentes partes interessadas, incluindo as autoridades regulamentadoras, os investidores, os analistas financeiros e o público em geral, considerassem as informações de natureza ambiental, publicadas pelas empresas inadequadas ou pouco confiáveis. Sob a ótica dos investidores, saber de que forma as empresas tratam as questões ambientais é muito importante. Já as autoridades regulamentadoras, têm interesse em monitorar o atendimento à legislação ambiental e os custos a ela inerentes.Todavia, a publicação voluntária de dados ambientais nas contas anuais e nos relatórios de gestão das empresas continua a ser pouco freqüente, mesmo que exista uma percepção generalizada de que os custos ambientais para o controle e prevenção da poluição sejam cada vez maiores (EU, 2001). Na ausência de linhas de orientação harmônicas e vinculadas entre as questões ambientais e financeiras, torna-se difícil estabelecer comparações entre corporações. No caso das empresas que publicam efetivamente informações sobre as questões ambientais, acontece freqüentemente que o valor desses elementos é gravemente prejudicado pela ausência de um conjunto comum e reconhecido de elementos informativos que inclua as necessárias definições e conceitos relacionados às 127 questões ambientais. A forma de divulgação das informações varia enormemente entre empresas, assim como os períodos contabilísticos. Os custos de publicação de dados ambientais, bem como o seu caráter confidencial em certos casos, são freqüentemente considerados como fatores que não incentivam a sua publicação no âmbito das informações financeiras das empresas. Todavia, estes argumentos não eliminam a necessidade de estimular a prestação de informações ambientais. Os investidores carecem de informações relativas ao impacto dos riscos e responsabilidades ambientais sobre a situação financeira da empresa, bem como no que se refere à sua eficiência ambiental, na medida em que podem ter conseqüências sobre a sua solidez financeira. Justificados pelos parágrafos anteriormente descritos, em maio de 2001 a União Européia publicou uma recomendação relativa à publicação de divulgação de resultados financeiros associados às questões ambientais. Em virtude do nível de detalhamento e abrangência desta publicação, nos itens a seguir serão apresentados os seus pontos mais relevantes. No Brasil, até a presente data, não foi possível localizar nenhum trabalho similar a este da União Européia. Definições Na publicação da União Européia, são consideradas despesas de caráter ambiental os custos das medidas tomadas por uma empresa ou em seu nome por outras empresas, para evitar, reduzir ou reparar prejuízos de caráter ambiental decorrentes das suas atividades. Estes custos incluem: a eliminação de resíduos ou as iniciativas destinadas a evitar a sua formação; a proteção dos solos e das águas superficiais e subterrâneas; a preservação da qualidade do ar e das condições climáticas; a redução do ruído e a proteção da biodiversidade. Os custos incorridos susceptíveis de produzir efeitos benéficos ao meio ambiente, mas cujo objetivo principal consista em dar resposta a outras necessidades, por exemplo, um aumento da rentabilidade, a sanidade e a segurança nos locais de trabalho, a segurança na utilização dos produtos 128 da empresa ou a eficiência produtiva, devem ser excluídos deste conceito. Caso não seja possível isolar o montante dos custos adicionais relativamente a outros custos nos quais possam estar integrados, poderá ser feita uma estimativa, na condição do montante obtido preencher o requisito de prevenção, redução ou reparação de prejuízos de caráter ambiental. Os custos incorridos em resultado de multas ou outras penalidades pelo não cumprimento da regulamentação ambiental, bem como as indenizações pagas a terceiros em resultado de perdas ou danos provocados por poluição ambiental no passado, são excluídas desta definição. Apesar de se relacionarem com os efeitos das atividades da empresa sobre o meio ambiente, estes custos não se destinam a evitar, reduzir nem reparar danos ambientais. Reconhecimento e valoração dos passivos a) Reconhece-se um passivo de caráter ambiental quando uma saída de fundos, correspondente a benefícios econômicos, resulta da regularização de uma obrigação presente, de caráter ambiental, que surgiu em resultado de acontecimentos passados, e se o montante pelo qual deve-se fazer essa regularização pode ser avaliado de forma confiável. A natureza desta obrigação deve ser claramente definida, e pode ser de dois tipos: • Legal ou contratual: a empresa tem uma obrigação legal ou contratual de evitar, reduzir ou reparar danos ambientais; ou • Implícita: uma obrigação implícita resulta da própria atuação da empresa, quando esta se comprometeu a evitar, reduzir ou reparar danos ambientais. b) Os danos ambientais que podem relacionar-se com a empresa, ou que podem ter sido por ela causados, mas relativamente aos quais não existe qualquer obrigação legal, contratual ou implícita de reparação, não podem ser reconhecidos como passivos de caráter ambiental nas contas anuais da empresa, de acordo com os item (a). Este fato não prejudica a aplicação dos critérios estabelecidos no item (e) aos passivos eventuais de caráter ambiental. 129 c) Reconhece-se um passivo de caráter ambiental quando pode ser efetuada uma estimativa dos custos decorrentes da obrigação subjacente. Caso exista, à data do balanço, uma obrigação cuja natureza esteja claramente definida e que seja susceptível de originar uma saída de fundos correspondente a benefícios econômicos, mas de montante ou data incertos, deve constituir-se uma provisão, desde que se possa fazer uma estimativa confiável do montante dessa obrigação Passivos eventuais de caráter ambiental d) Os passivos eventuais não devem ser reconhecidos no balanço. Se existe uma possibilidade, pouco provável, de que o dano deva ser reparado no futuro, mas essa obrigação esteja ainda dependente da ocorrência de um acontecimento incerto, deve inscrever-se um passivo eventual no anexo às contas. Se a obrigatoriedade da empresa incorrer numa despesa de caráter ambiental constituir uma possibilidade remota, ou se esta não for significativa, não é necessário evidenciar qualquer passivo eventual. Compensação de passivos e reembolsos esperados. e) Caso a empresa preveja que uma ou diversas das despesas relacionadas com uma obrigação de caráter ambiental sejam reembolsadas por um terceiro, esta será reconhecida apenas quando esteja praticamente certo o seu recebimento. f) Um reembolso esperado de um terceiro não deverá ser utilizado como compensação contra um passivo de caráter ambiental. Deverá ser evidenciado separadamente como um ativo no balanço por um montante que não exceda o correspondente da provisão. Apenas poderá ser utilizado como compensação contra um passivo de caráter ambiental quando existir um direito legal a esta compensação. Quando, com base nessas disposições, for adequado efetuar tal compensação, deve evidenciar-se no anexo às contas o montante total do passivo, bem como o reembolso esperado. 130 g) As receitas esperadas da venda de ativos afins não deverão ser utilizadas para compensar um passivo de caráter ambiental, nem tidas em consideração ao calcular uma provisão, mesmo que esta venda esteja associada ao acontecimento que dá origem à constituição daquela provisão. h) Em regra geral, a empresa é responsável pela totalidade do passivo de caráter ambiental. Caso contrário, apenas a parte imputável à empresa deverá ser inscrita como passivo ambiental. i) As despesas de caráter ambiental devem ser reconhecidas como despesas no período em que são incorridas, a menos que satisfaçam os critérios necessários para serem reconhecidas como um ativo, tal como previsto no item (l ). j) As despesas de caráter ambiental relacionadas com prejuízos que ocorreram num exercício anterior não podem ser consideradas como ajustes deste exercício, mas devem ser lançadas no exercício em curso, ou seja, no exercício durante o qual foram reconhecidas. Capitalização das despesas de caráter ambiental k) As despesas de caráter ambiental podem ser capitalizadas caso tenham sido efetuadas para evitar ou reduzir danos futuros ou para preservar recursos ou para proporcionar benefícios econômicos no futuro. l) As despesas de caráter ambiental efetuadas para evitar ou reduzir danos futuros, bem como para preservar recursos, apenas podem ser reconhecidas como ativos caso se destinem a servir de maneira durável à atividade da empresa e se, além disso, estiver satisfeita uma das seguintes condições: • Os custos relacionam-se com benefícios econômicos antecipados, que se espera venham a favorecer a empresa e que permitam prolongar a vida, aumentar a capacidade ou melhorar a segurança ou eficiência de outros ativos detidos pela empresa (para além do seu nível de eficiência tal como estimado originalmente); ou 131 • Os custos permitem reduzir ou evitar uma contaminação ambiental susceptível de ocorrer em resultado das futuras atividades da empresa. m) Se os critérios que permitem a inscrição como ativo, estabelecidos nos itens (k) e (l) não forem satisfeitos, as despesas de caráter ambiental devem ser imputadas à conta de resultados no momento em que são efetuadas. Se esses critérios são satisfeitos, as despesas de caráter ambiental devem ser capitalizadas e amortizadas na conta de resultados no período corrente e nos exercícios subseqüentes, durante um período adequado, ou seja, de forma sistemática ao longo da sua vida útil. n) As despesas de caráter ambiental não devem ser capitalizadas, mas, pelo contrário, lançadas na conta de resultados caso não dêem origem a benefícios econômicos futuros. Esta situação verifica-se quando as despesas de caráter ambiental relacionam-se com atividades passadas ou correntes ou com o restabelecimento das condições ambientais no estado em que se encontravam antes da contaminação (por exemplo, custos de tratamento de resíduos, de reparação de prejuízos verificados em exercícios anteriores, de natureza administrativa ou auditorias ambientais). o) Certos ativos, como, por exemplo, instalações fabris e equipamentos, podem ser adquiridos por motivos ambientais; é o caso das instalações de controle ou de prevenção da poluição, adquiridas para dar cumprimento à legislação ambiental. Caso satisfaçam os critérios necessários ao reconhecimento como ativo, previstos nos itens (l) e (m) devem ser capitalizadas. p) Existem certos casos em que não resultam da própria despesa de caráter ambiental quaisquer benefícios econômicos futuros antecipados, mas estes são provenientes de outro ativo que é utilizado na exploração da empresa. Quando isto ocorre, a despesa deve ser inscrita como parte integrante do ativo existente, não devendo ser reconhecida separadamente. 132 q) Podem existir direitos ou outros elementos de natureza semelhante adquiridos por motivos associados aos impactos das atividades da empresa sobre o meio ambiente (por exemplo, licenças ambientais) a título oneroso, e que satisfaçam as condições necessárias à sua inscrição como ativo, tal como previstas nos itens (l) e (m). Estes direitos devem então ser capitalizados e amortizados sistematicamente ao longo das suas vidas úteis esperadas. Caso contrário, devem ser lançados na conta de resultados no momento em que ocorrem. Diminuição do valor dos ativos r) Certos acontecimentos ou fatores de natureza ambiental podem dar origem a uma diminuição de valor de um ativo imobilizado já existente, por exemplo, o caso de contaminação de um local fabril. Deve ser efetuada uma correção caso o valor recuperável da utilização desse local tenha-se tornado inferior ao seu valor contábil. O montante desta correção deverá ser imputado à conta de resultados. s) Caso as despesas de caráter ambiental sejam reconhecidas como parte integrante de um outro ativo, esse ativo conjunto deverá, em cada data de referência do balanço, ser testado no que diz respeito à sua recuperação e, quando necessário, amortizado até atingir o seu montante recuperável. t) Caso o valor contábil de um ativo já tenha levado em conta uma perda de benefícios econômicos por motivos de caráter ambiental, a subseqüente despesa necessária para restabelecer os benefícios econômicos futuros na sua situação inicial de eficiência poderá ser capitalizada, na medida em que o valor contábil resultante não exceda o montante recuperável do ativo. Valoração dos passivos ambientais u) Os passivos ambientais são reconhecidos quando é possível efetuar uma estimativa fiável das despesas para fazer face à obrigação a eles subjacente. 133 v) O montante desse passivo deverá consistir na melhor estimativa da despesa necessária para regularizar a obrigação atual à data do balanço, com base na situação existente e levando em consideração a evolução das tecnologias e da legislação ambiental, na medida em que seja previsível a sua ocorrência. w) O montante deverá consistir numa estimativa do montante total do passivo, independentemente da data em que a atividade tenha cessado ou da data em que essa obrigação deva ser regularizada. x) Ao estimar o montante de um passivo ambiental, devem ser utilizadas as seguintes regras: se a avaliação dele é passível de diferentes resultados, nos termos do item (w), deverá ser contabilizada a melhor estimativa. Nos casos extremamente raros em que não é possível determinar a melhor estimativa do passivo com confiabilidade suficiente, este deve ser considerado como um passivo eventual, devendo, por conseguinte, ser referida a sua existência no anexo às contas anuais. Além disso, devem ser referidos os motivos pelos quais não pode ser feita uma estimativa fiável. y) Além disso, para se avaliar o montante de um passivo ambiental deve-se levar em consideração os seguintes elementos: • Custos marginais diretos do esforço de reparação, • Custo das remunerações e prestações pagas aos trabalhadores suscetíveis de dedicarem uma parte significativa do seu tempo de trabalho diretamente ao processo de reparação, • Obrigações de monitoramento após reparação dos danos, e • Progresso tecnológico na medida em que seja provável que as autoridades públicas recomendem a utilização de novas tecnologias. Provisões para recuperação de locais contaminados e custos de desmobilização z) As despesas atinentes à recuperação dos locais, retirada de resíduos acumulados, ao encerramento ou à desmobilização de ativos imobilizados, que a 134 empresa seja obrigada a efetuar, deverão ser reconhecidas de acordo com os critérios estabelecidos nos itens (a) a (d). Caso sejam satisfeitos esses critérios a obrigação de efetuar despesas no futuro deverá ser contabilizada como um passivo de caráter ambiental. aa) O passivo ambiental associado à recuperação de locais, à desmobilização ou ao encerramento de instalações deverá ser reconhecido na data em que tem início a atividade da empresa e, conseqüentemente, surge a obrigação. O reconhecimento desse passivo não deverá ser atrasado até ao momento do término da atividade ou do fechamento do local. Caso seja reconhecido este passivo, a despesa estimada é incluída como parte do custo do ativo associado que deve ser desmobilizado. Esta despesa capitalizada é então amortizada no âmbito da depreciação do ativo correspondente. Caso surjam danos suplementares no decurso das operações, a obrigação da empresa de reparar surge no momento em que esses danos ambientais se produzem. bb) Em conformidade com a norma contábil internacional, no caso dos custos de recuperação de locais e desmobilização das operações de longo prazo, é preferível o tratamento contábil previsto no item anterior. A empresa pode contabilizar custos de desmobilização de longo prazo durante o período relativo às operações. Uma fração dos custos é imputada como despesa em cada período contábil, sendo o saldo remanescente evidenciado como um passivo distinto. 3.4.4.6.5 Publicação das informações financeiras Segundo a União Européia, os aspectos ambientais devem ser informados na medida que sejam significativos no desempenho financeiro das corporações. Estas informações devem, portanto, ser apresentadas no Relatório Anual e nos anexos de contas consolidadas. 135 Informações ambientais financeiras do Relatório Anual a) Deve ser informada a evolução das atividades da empresa que tenham sido afetadas por questões ambientais, quais sejam: • A estratégia e os programas que foram adotados pela empresa relativamente às medidas de proteção ambiental, nomeadamente no que diz respeito à prevenção da poluição. É importante que os usuários do relatório de gestão possam verificar em que medida a proteção ambiental faz parte da estratégia e das atividades da empresa. Se for o caso, pode-se incluir uma referência à adoção de um sistema de proteção do ambiente, bem como a obrigação de respeitar um determinado conjunto de normas ou certificações associadas; • As medidas que foram implementadas ou estão em curso de implementação, em virtude da legislação atual ou para antecipar uma futura alteração legislativa já acordada; • Sempre que adequado e relevante, tendo em conta a natureza e a dimensão das atividades da empresa e os tipos de problemas ambientais associados a essa atividade, informações sobre o seu desempenho ambiental: por exemplo, utilização de energia, de matérias-primas e água, emissões, eliminação de resíduos. Estas informações poderão ser fornecidas por intermédio de indicadores quantitativos de eco-eficiência, discriminados, se for o caso, por segmento de atividade. É especialmente importante fornecer dados quantitativos, em termos absolutos, para as emissões e para o consumo de energia, água e matérias-primas em conjunto com dados comparativos relativos ao período de referência anterior. Estes valores deverão ser expressos, de preferência, em unidades físicas e não em unidades monetárias; além disso, para uma melhor compreensão do seu significado relativo e a sua evolução, os valores monetários poderiam ser relacionados com as rubricas evidenciadas no balanço ou na demonstração de resultados; 136 • Se a empresa publica um relatório ambiental separado, que contém informações mais pormenorizadas ou adicionais, quer quantitativas quer qualitativas, fazer uma referência a esse relatório. Pode-se, também, fazer uma descrição resumida da questão e indicar a consulta ao relatório ambiental para informações mais detalhadas. As informações prestadas no relatório ambiental separado deverão ser coerentes com as publicadas no relatório de gestão e nas contas anuais da empresa. Se o relatório ambiental foi sujeito a um processo de verificação externo, tal fato deve também ser mencionado no relatório anual. Caso a abrangência dos relatórios não coincida, ambos deverão explicitar claramente este fato, de forma a permitir a correta leitura e interpretação. Além disso, a data e o período de referência do relatório ambiental separado devem também, de preferência, coincidir com o do relatório de gestão. Publicação de informações no balanço b) As provisões devem ser inscritas no balanço sob a rubrica “outras provisões”. Pode ser feita uma subdivisão mais pormenorizada das rubricas previstas para os passivos: c) Caso sejam significativos, convém que os passivos de caráter ambiental sejam evidenciados separadamente no corpo do balanço. Caso contrário, deverão ser apresentados separadamente no anexo às contas; d) Devem ser incluídas no anexo às contas as seguintes informações: • A descrição dos métodos de valoração, bem como dos métodos utilizados para efetuar correções de valor, no que diz respeito aos aspectos ambientais; • As despesas extraordinárias de caráter ambiental imputadas à conta de resultados; • Informações pormenorizadas sobre a rubrica “Outras Provisões”, caso não sejam inseridas no corpo do balanço, de acordo com o item anterior; • Os passivos eventuais de caráter ambiental, incluindo informações descritivas com pormenores suficientes para que a natureza do seu caráter “eventual” sejam 137 entendidos. Se as incertezas na avaliação forem demasiado importantes para permitir estimar o montante de um passivo de caráter ambiental, convém referir esse fato, em conjunto com os motivos que o explicam e o intervalo de resultados possíveis; • Para cada passivo de caráter ambiental significativo, uma descrição da respectiva natureza e uma indicação do calendário e das condições da sua regularização. Uma explicação dos danos e das leis ou regulamentos que exigem a sua reparação e as medidas de recuperação ou prevenção adotadas ou propostas. Se a natureza e as condições subjacentes às diferentes rubricas forem suficientemente semelhantes, estas informações podem ser publicadas de forma agregada. Caso o montante dos custos seja estimado com base num intervalo de valores, uma descrição da forma como se chegou à estimativa, com indicação de quaisquer alterações esperadas na legislação ou na tecnologia existente, que tenham afetado os montantes previstos; • Caso tenha sido utilizado o método do valor presente e o efeito do desconto seja significativo, deve também ser apresentado o montante não descontado desse passivo, bem como a taxa de desconto utilizada; • No caso de custos de longo prazo de recuperação dos locais contaminados e desmobilização, o método contábil utilizado. • O montante das despesas de caráter ambiental imputadas à conta de resultados e a base em que tais montantes foram calculados. Se relevante, uma subdivisão pormenorizada das rubricas que a empresa identificou como despesas de caráter ambiental, adequada à natureza e à dimensão das atividades da empresa e aos tipos de problemas ambientais relevantes; • Na medida em que possa ser estimado de modo confiável, o montante de despesas de caráter ambiental capitalizadas durante o período de referência. Sempre que aplicável, deve-se referir também que parcela deste montante diz respeito a despesas destinadas ao controle ambiental e que parte representa a despesa adicional de adaptação das instalações fabris e/ou do processo produtivo com vista a provocar menos poluição (ou seja, que se relaciona com tecnologias ou práticas de prevenção da poluição); 138 • Caso sejam significativos, os custos incorridos em resultado de multas e outras penalidades pelo não cumprimento da legislação ambiental e indenizações pagas a terceiros, por exemplo, em resultado de perdas ou danos causados por uma poluição passada, deverão ser apresentadas separadamente, caso não sejam divulgados em rubricas extraordinárias. Embora estes custos estejam ligados ao impacto das atividades da empresa sobre o meio ambiente, eles não têm por objeto prevenir, reduzir ou reparar danos causados ao meio ambiente, pelo que convém distingui-los das despesas de caráter ambiental; • Os incentivos públicos relacionados com a proteção ambiental, recebidos ou atribuídos à empresa. Convém especificar as condições associadas à concessão de cada elemento de auxílio, ou uma síntese das condições, caso sejam semelhantes. Deve também citar o tratamento contábil adotado. 139 4 PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL 4.1 CELULOSE A celulose é um composto natural existente nos vegetais, de onde é extraída, podendo ser encontrada nas raízes, tronco, folhas, frutos e sementes. É um dos principais componentes das células vegetais que, por terem forma alongada e pequeno diâmetro (finas), são freqüentemente chamadas “fibras”. Os outros componentes encontrados, entre os principais, são a lignina e hemiceluloses (Figura 39). Madeira 21% hardwood 25% softwood 2 - 8% Extrativos Lignina Carbohidratos 45% Celulose terpenos ácidos graxos fenois insaponificáveis 35 % hardwood 25 % softwood Hemicelulose glicose manose galactose xilose arabinose Figura 39 - Componentes da madeira. Fonte: Smook (1982). A preparação da pasta celulósica para papéis ou outros fins (pasta solúvel para a produção de celofane, rayon etc.) consiste na separação das fibras dos demais componentes constituintes do organismo vegetal, em particular a lignina, que atua como um cimento, ligando as células entre si e que proporciona rigidez à madeira. 140 A quase totalidade das pastas de celulose é obtida a partir da madeira, sendo uma pequena parte derivada de outras fontes como sisal, linho, algodão, bambu, bagaço da cana etc. No algodão, a celulose está na forma praticamente pura (99%). Existem, portanto, muitas fontes diferentes e processos distintos de preparação de pastas celulósicas produzindo, conseqüentemente, pastas com características diversas. Alguns tipos de madeira como pinho, araucária, abeto etc., possuem fibras longas (3 a 5 mm), enquanto que as do eucalipto, álamo, carvalho, gmelina etc., possuem fibras mais curtas e finas (0,8 a 1,2 mm). As madeiras integrantes do primeiro grupo são denominadas coníferas ou softwood (madeira macia), enquanto que as do segundo são conhecidas por folhosas ou hardwood (madeira dura). Existe ainda um terceiro grupo de celulose, cujas fibras não são obtidas da madeira, como no caso do: • algodão (semente), ou • linho, juta, kenaf, cânhamo, rami, crotalária etc. (caule), ou ainda • sisal, fórmio, pita etc. (folhas). As fibras extraídas desses vegetais são muito longas e por isso mesmo denominadas “fibras têxteis”, amplamente utilizadas na indústria de tecelagem. Ainda dentro deste grupo, porém com fibras de menor comprimento, tem-se o bambu e o bagaço de cana. As principais fontes de fibras estão indicadas na Tabela 12. 141 Tabela 12 - Tipos de fibras. Fibras Longas - Coníferas pinho araucária abeto cipreste spruce Fibras Curtas - Folhosas eucalipto álamo carvalho gmelina bétula Fibras Muito Longas - Têxteis algodão linho juta kenaf cânhamo rami crotalária sisal fórmio Fonte: ABTCP (2002). 4.2 FLORESTAS Estudos feitos por técnicos e cientistas ao longo de vários anos (ABTCP, 2002) demonstraram que a produção de celulose e papel é inviável a partir da madeira de florestas nativas. Foi comprovado também que os papéis feitos a partir de florestas plantadas de eucaliptus e pinus resultam em produtos com alta qualidade e produtividade. As fábricas normalmente administram suas próprias florestas, no entanto, parte da madeira pode vir de terceiros, por intermédio do fomento florestal. Tendo em vista as demandas da sociedade, nos últimos anos foram desenvolvidos diversos sistemas de certificação florestal que visam creditar e reconhecer manejos 142 sustentáveis. Os principais sistemas desenvolvidos até o momento são: FSC- Forest Stewardship Council, PEFC - Pan European Forest Certification e CERFLOR – Programa Nacional de Certificação Florestal . 4.2.1 FSC - Forest Stewardship Council O Conselho de Manejo Florestal é uma organização internacional nãogovernamental, fundada em 1993. Esta entidade não emite certificados e sim credencia certificadoras no mundo inteiro, garantindo que os certificados emitidos por estas obedeçam a padrões de qualidade. As certificadoras desenvolvem um método baseado nos Princípios e Critérios do FSC, adaptando-o para a realidade de cada região ou sistema de produção. Os princípios que devem ser atendidos por todas as florestas são os seguintes: 1. Obediência às leis e princípios do FSC; 2. Respeito aos direitos e responsabilidades de posse e uso; 3. Respeito aos direitos dos povos indígenas; 4. Relações comunitárias e respeito aos direitos dos trabalhadores; 5. Benefícios socioeconômicos das florestas; 6. Minimização do impacto ambiental; 7. Planejamento do manejo florestal; 8. Monitoramento e avaliação; 9. Manutenção de florestas de alto valor de conservação; 10. Plantações - critérios complentares. Estes princípios possuem critérios definidos, mas, de acordo com as especificidades locais, outros critérios podem ser inseridos. Área total certificada no Brasil: 1.180.493 ha (FSC, 2002) Total Floresta Amazônica nativa: Total Mata Atlântica nativa: Total Plantações 332.913 25.271 822.309 143 Há 25 milhões de hectares de florestas certificadas no planeta e mais de 20 mil produtos com selo do FSC. Já foram emitidos mais de 300 certificados de manejo florestal e mais de 1.500 certificados de cadeia de custódia (FSC, 2002). 4.2.2 Pan European Forest Certification – PEFC O conselho do PEFC foi criado em junho de 1999, também de caráter voluntário, baseado em critérios próprios definidos nas resoluções das Conferências de Helsinki e de Lisboa, de 1993 e 1998, sobre Proteção Florestal na Europa. O objetivo primordial deste sistema é a sua homogeneização nos países da comunidade européia e fora dela - Suécia, Finlândia, Noruega, Alemanha, Inglaterra, EUA, Canadá, África do Sul, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Chile, Áustria, Gana, Bélgica e outros. 4.2.3 Programa nacional de certificação florestal -CERFLOR No Brasil, desde 1996, a Sociedade Brasileira de Silvicultura - SBS em parceria com algumas associações do setor, instituições de ensino e pesquisa, organizações nãogovernamentais e com o apoio de alguns órgãos do governo, vem trabalhando com um programa voluntário denominado CERFLOR - Programa Nacional de Certificação Florestal. O CERFLOR surgiu para atender a uma demanda do setor produtivo florestal do País. Desde esta data, a SBS também estabeleceu acordo de cooperação com a ABNT, para desenvolver os princípios e critérios para o setor. Mais recentemente, em fevereiro de 2001, foi instalado o Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis para estimular o diálogo entre o setor produtivo, Governo e o Congresso Nacional. Dentro do enfoque do Programa Fórum de Competitividade, o setor traçou ações necessárias para o desenvolvimento e implementação de pré-projetos e de um futuro Contrato de Competitividade. Um dos projetos propostos foi o de Certificação Florestal, que proocura introduzir o tema no âmbito do Sistema Brasileiro de Certificação. 144 O programa CERFLOR tem a finalidade de certificar unidades de manejo florestal que utilizam madeira de origem sustentável, de acordo com os Princípios, Critérios e Indicadores para florestas plantadas ABNT/CERFLOR. O Brasil já conta com um conjunto de normas que são utilizadas pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade para a certificação do manejo de florestas plantadas, publicadas em dezembro de 2001 e válidas a partir de janeiro de 2002. Estas normas são as seguintes: NBR 14789 - Manejo Florestal: Princípios, Critérios e Indicadores para Plantações Florestais; NBR 14790 - Manejo Florestal: Cadeia de Custódia NBR 14791 - Diretrizes para Auditoria Florestal - Princípios Gerais; NBR 14792 - Diretrizes para Auditoria Florestal - Procedimentos de Auditoria Auditoria de Manejo Florestal; NBR 14793 - Diretrizes para Auditoria Florestal - Critérios para Qualificação de Auditores Florestais. (SBS, 2002) O Inmetro solicitou ao PEFCC - Pan European Forest Certification Council sua filiação como membro do Sistema PEFC, sendo essa etapa o marco na busca do reconhecimento internacional do CERFLOR. 4.3 PROCESSOS PARA PREPARAÇÃO DA CELULOSE Existem muitos métodos diferentes para a preparação de pasta celulósica, desde os puramente mecânicos até os químicos, nos quais a madeira é tratada com produtos químicos sob pressão e pela ação de calor (temperaturas maiores que 150° C), para dissolver a lignina, havendo inúmeras variações entre os dois extremos. 4.3.1 Processo Mecânico – MP 145 Toras de madeira, neste caso preferencialmente coníferas, são prensadas a úmido, contra um rolo giratório, cuja superfície é coberta por um material abrasivo, reduzindo-as a uma pasta fibrosa denominada “pasta mecânica” (groundwood), alcançando um rendimento de polpação que varia de 93 a 98 %. Neste processo não ocorre uma separação completa das fibras dos demais constituintes, obtendo-se então uma pasta barata, cuja aplicação é limitada, pois o papel produzido com ela tende a escurecer com certa rapidez, mesmo depois de passar pela etapa de branqueamento, devido à oxidação da lignina residual. A pasta mecânica pura ou em composição com outra é muito usada para a fabricação de papel para jornal, revistas, embrulhos, toalete etc. 4.3.2 Processo Termomecânico – TMP A madeira, sob forma de cavacos, sofre um aquecimento com vapor (em torno de 140° C) provocando uma transição do estado rígido para um estado plástico na madeira e na lignina, seguindo para o processo de desfibramento em refinador a disco. A pasta obtida desta forma tem um rendimento um pouco menor do que no processo mecânico (92 a 95 %), mas resulta em celulose para a produção de papéis de melhor qualidade, pois proporciona maior resistência mecânica e melhor imprimibilidade, entre outras coisas. 4.3.3 Processo Semiquímico Neste caso, acrescentam-se produtos químicos em baixas porcentagens para facilitar ainda mais a desfibragem, sem contudo reduzir demasiadamente o rendimento (60 a 90 %). O mais comum desses processos é conhecido na Europa com a sigla NSSC (neutral sulphite semi chemical). 146 Porém, vem ganhando muito interesse um tipo de pasta derivado da TMP, em que um pré-tratamento com sulfito de sódio ou álcali é feito antes da desfibragem, no refinador a disco. Esta pasta é denominada pasta quimiotermomecânica - CTMP. 4.3.4 Processo Químico – Kraft A madeira, sob forma de cavacos, é tratada em vasos de pressão, denominados digestores, com soda caústica e sulfeto de sódio. É um processo químico que visa dissolver a lignina, preservando a resistência das fibras, obtendo-se dessa maneira uma pasta forte (kraft significa forte em alemão), com rendimento entre 50 a 60 %. É muito empregada para a produção de papéis cuja resistência é o principal fator, como para as sacolas de supermercados, sacos para cimento, etc. 4.3.5 Processo Químico – Sulfito É um processo em que os cavacos são cozidos em digestores com um licor ácido, preparado com compostos de enxofre (SO2) e uma base Ca(OH)2, NaOH, NH4OH etc. A pasta obtida desta maneira tem um rendimento entre 40 e 60 % e é de branqueamento muito fácil, apresentando uma coloração clara que permite o seu uso mesmo sem ser branqueada. Este processo, que era muito utilizado para a confecção de papéis para imprimir e escrever, está sendo substituído pelo processo sulfato (principalmente após a introdução do dióxido de cloro no branqueamento), devido à dificuldade de regeneração dos produtos químicos e as conseqüentes contaminações das águas. 147 4.3.6 Processo Químico – Sulfato Utilizam-se os mesmos produtos químicos do processo kraft mas as condições são mais fortes, isto é, emprega-se maior quantidade de sulfeto e de soda, além do cozimento ser feito por mais tempo e com temperaturas mais elevadas. É o processo mais usado no Brasil e se presta muito bem para a obtenção de pastas químicas com eucalipto, ou outras hardwood. Isso porque preserva a resistência das fibras e dissolve bem a lignina, formando uma pasta branqueável e com boas propriedades físico-mecânicas. 4.4 BRANQUEAMENTO DA POLPA CELULÓSICA Pode-se considerar o branqueamento como sendo uma continuação da deslignificação iniciada no cozimento, utilizando-se para isso o cloro e seus compostos (hipoclorito e dióxido de cloro) e, ainda, a soda cáustica. Normalmente, o branqueamento convencional Standard (STD) começa com um tratamento da pasta com cloro, seguido por uma extração alcalina com soda caustica, sendo aplicada, depois disso, uma série de combinações ou seqüências em que se alternam o dióxido de cloro, o hipoclorito e a soda cáustica. As técnicas modernas de branqueamento, no entanto, utilizam um processo denominado de deslignificação com oxigênio ou pré-branqueamento, que permite reduzir o teor de lignina da polpa, antes de receber os compostos químicos oxidantes. Além desta técnica já foram utilizados outros agentes branqueantes, como o ozônio e peróxido de hidrogênio. Dependendo do agente branqueante, a celulose é denominada: - STD - Standard - com uso de cloro molecular - ECF - Elementary chlorine free - sem uso do cloro molecular 148 - TCF - Totally chlorine free - sem uso de compostos clorados Branqueia-se para obter uma celulose mais estável (que não se altere com o tempo), que permita um tingimento controlado, mas, principalmente, para se obter um papel branco com as vantagens que ele traz para a impressão. Maiores detalhes sobre o processo Kraft, sobre o branqueamento e demais processos relacionados à produção de celulose serão abordados no Capítulo 5. 4.5 FABRICAÇÃO DE PAPEL A maior parte da composição do papel é constituída de celulose, que é a matériaprima mais importante no processo. Além desta, também são utilizadas inúmeras matérias-primas não fibrosas, dependendo do tipo e da utilização do papel. De acordo com a sua finalidade, os papéis podem ser classificados em impressão, escrever, embalagem, fins sanitários, cartões e cartolinas e especiais. 4.5.1 Matérias-primas não fibrosas As principais matérias-primas não fibrosas são: (a) Cargas O processo de adicionar matéria mineral ao papel (massa), antes da formação da folha, é extremamente antigo, tendo sido praticado desde os primórdios da fabricação do papel. No princípio não se via a adição de cargas à massa como benéfica e alguns papéis, que tinham quantidade apreciável de carga, eram considerados adulterados. Mais tarde, com a expansão do uso do papel e o conseqüente aparecimento de vários novos 149 requisitos, as cargas passaram a ser consideradas como parte integrante e, em alguns casos, imprescindíveis. Dentre as mais usadas destacam-se: caulim, dióxido de titânio, carbonato de cálcio, talco, etc. (b) Agentes de Colagem Vários tipos de papéis, entre eles os de escrever e imprimir, necessitam ter resistência controlada à penetração de líquidos, em especial a água. Para isto, são adicionados ao papel produtos que a repelem. Existem dois tipos de colagem feitas na massa: ácida e alcalina. - Colagem Ácida O material empregado é a cola de resina, derivada do breu. O breu é saponificado, transformando-se em sal solúvel. Atualmente, além desta reação, é feita uma outra com anidrido maleico, resultando numa cola fortificada, isto é, com mais grupos carboxilas livres para reação. Para que a cola de resina exerça sua função é preciso adicionar sulfato de alumínio, que tem a função de baixar o pH (meio ácido), favorecendo a precipitação da resina e depositando os flocos de resinato de alumínio, insolúvel, sobre as fibras de celulose. - Colagem Alcalina Neste caso utiliza-se um composto químico denominado alquilceteno, que reage com a celulose. A colagem alcalina é normalmente aplicada nos casos em que se consomem cargas quimicamente ativas, como, por exemplo, o carbonato de cálcio, quando se deseja papéis mais brancos e com maior resistência. Proporciona, também, maior vida para o papel e para os equipamentos por onde ele irá passar. 150 (c) Amido A resistência interna de um papel é geralmente conferida pelo tipo de fibra e tratamento mecânico dado a ela. Contudo, pode-se melhorar esta característica com a adição de amido, sendo o de milho o mais utilizado. Além da resistência interna, a adição do amido na massa (celulose) proporciona melhor lisura, maior rigidez, maior resistência à penetração de líquidos e evita a formação de pó. Os amidos também são empregados para proporcionarem maior resistência superficial, cujo processo é mais conhecido por colagem superficial, que é aplicado na prensa de colagem (size press, localizada no meio da secagem da máquina de papel), quando a folha já se encontra formada e praticamente seca. A colagem superficial, entre outras coisas, dificulta a penetração de líquidos, aumenta as características mecânicas, a opacidade e a facilidade de impressão. É muito importante para os papéis de impressão “offset”. (d) Corantes e pigmentos O tingimento de um papel compreende a utilização de: • Corantes. Na fabricação de papéis coloridos deve-se fazer o tingimento das fibras com corantes, que são adicionados à massa nos tanques ou “pulpers”. • Branqueadores Óticos. São agentes de branqueamento usados em papéis brancos. Estes produtos absorvem a luz na faixa ultravioleta e a emitem no espectro visível, fazendo o papel parecer mais branco. 151 • Corantes de Matização ou Anilagem. Usados na fabricação de papéis brancos e têm como função dar uma determinada tonalidade requerida pela especificação, eliminando o amarelecimento indesejável das matérias-primas. • Pigmentos. São cargas coloridas para dar cor ao papel. Trata-se de óxidos metálicos e produtos orgânicos sintéticos. Além dos compostos já mencionados, dependendo do tipo de papel podem ser utilizados inúmeros outros aditivos, como dispersantes, bactericidas, antiespumantes e resinas. 4.5.2 Descritivo da produção de papel 4.5.2.1 Preparação de massa A preparação da massa envolve quatro etapas: desagregação da celulose, refinação, preparação da receita e depuração. Desagregação da celulose A celulose em folhas ou em tabletes é desagregada em um equipamento chamado desagregador. Quando a fábrica de celulose é integrada com a de papel, a celulose já vem em suspensão e é armazenada em tanques de distribuição de massa. O desagregador, ou “hydrapulper” nada mais é do que um liquidificador doméstico de proporções gigantescas, com capacidade para 500 a 20.000 litros, ou mais. Refinação Posteriormente ao processo de desagregação, a pasta de celulose precisa ser refinada. A refinação consiste em submeter as fibras de celulose a uma reação de corte, esmagamento ou fibrilação. 152 A fibrilação aumenta a superfície da fibra em contato com o meio, que é a água. Sendo a celulose um material higroscópio, ela retém água em sua superfície, por isso, quanto maior o grau de refinação, mais água pode ser retida . O grau de refinação (maior ou menor) varia em função das características do papel que se pretende fabricar. Preparação da Receita Depois de refinada, a pasta celulósica entra em um tanque de mistura ou tanque de preparo de receita. Nesse tanque, a celulose é misturada com os demais componentes (cargas, produtos químicos e aditivos), que fazem parte da receita do papel. Essa fase do processo pode ser contínua ou em batelada. Depuração É o nome que se dá à operação de limpeza da mistura de celulose com os demais componentes da receita. Destina-se a retirar corpos estranhos, sujeiras, bolos de massa ou fibras enroladas que são indesejáveis para a aparência e finalidade da folha de papel. Os equipamentos de depuração são indispensáveis para a produção de papel de boa qualidade. Após passar pelo sistema de depuração, a suspensão de fibras com cargas, produtos químicos etc., alcança a máquina de papel propriamente dita. 4.5.2.2 Máquina de papel A máquina de papel, para melhor entendimento, pode ser dividida em 05 partes: caixa de entrada, mesa plana, prensas, secador, calandra e enroladeira. 153 Caixa de Entrada Trata-se de um compartimento que tem a função de distribuir a suspensão de fibras sobre a tela formadora o mais uniformemente possível. No interior da caixa de entrada existe um ou mais cilindros rotativos perfurados, que têm a função de uniformizar a suspensão, evitando a aglomeração de fibras em flocos, que prejudicam a uniformidade da folha de papel ou sua aparência e, conseqüentemente, a sua má formação. Mesa Plana É onde se dá a formação da folha. É constituída de uma mesa propriamente dita com suporte e colunas de aço, sobre o qual corre a tela formadora, apoiada sobre os elementos desaguadores, rolo de cabeceira, rolo de sucção e rolos guias. Esta suspensão tem uma concentração que varia entre 4 a 15 g/L (gramas de sólido por litro de suspensão), dependendo da máquina, do tipo de papel, da velocidade etc. A tela formadora é feita de plástico ou metal (bronze fosforoso ou aço inoxidável) e tem a malha bastante fechada (80 mesh para papéis grossos e 100 mesh para papéis finos). Ao cairem sobre a tela, as fibras ficam retidas na superfície e a água passa através da mesma, escoando em calhas apropriadas. Esta água, rica em partículas de fibras e cargas, é recirculada para diluir a massa que alimenta a máquina. Além do movimento longitudinal, a tela tem um outro movimento transversal realizado por um “shaker”. A conjugação certa da freqüência do sacudimento com a amplitude é um dos pontos-chave para uma boa formação do papel. Prensas A folha de papel, ao sair da mesa plana já está formada, porém 80 a 85 % da sua constituição é água. A finalidade das prensas é retirar parte dessa água. 154 A prensa é formada por 2 rolos cilíndricos, sendo o inferior de borracha ou ebonite e o superior de material mais duro como granito. As máquinas de papel têm 2 ou 3 prensas, que trabalham com feltro especial, agulhado, que serve para apoio e condução da folha. No ponto de encontro entre os dois rolos é feita a prensagem do papel e feltro. A água contida no papel é transferida para o feltro. Ao sair das prensas para a fase seguinte do processo (secagem), a folha de papel ainda contém 50 a 65 % de água Secagem A secagem é o setor da máquina de papel onde se faz a secagem final da folha e realiza-se a cura das resinas adicionadas. A secagem é composta de inúmeros cilindros secadores. O número de secadores depende do tipo e do tamanho da máquina. Os secadores são cilindros de aço com superfície polida e trabalham com pressão de vapor. Para condução da folha, entre os cilindros secadores, usam-se feltros ou telas secadoras. A água evaporada do papel é extraída por coifas especiais. A umidade da folha, ao deixar a seção de secagem, varia de 3 a 8 %. Algumas máquinas de papel dispõem, ainda nessa fase, de cilindro monolustro e/ou prensa de colagem. Calandra e Enroladeira A calandra é usada para o acerto da espessura e aspereza do papel, ainda na máquina de papel, enquanto que na enroladeira a folha contínua de papel vai sendo bobinada até um determinado diâmetro, daí partindo para os vários processos de beneficiamento. 155 4.6 A INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NO BRASIL E NO MUNDO. 4.6.1 Dados gerais sobre produção de papel e de polpa Como se pode observar nas Tabelas 13 e 14, a Europa e América do Norte são os maiores produtores mundiais de celulose e de papel. A fração recuperada de papel no mundo em 2001, ficou em cerca de 146 milhões de toneladas, o que representa cerca de 46% do papel produzido. Tabela 13 - Produção de papel no mundo. Produção de papel e papelão –2001 (1000 toneladas) Jornais/revistas Europa Imprimir e escrever Tissue 12.864 34.233 5.669 União européia 9.336 30.847 4.902 Leste europeu 1.245 1352 133 10.581 32198 5.035 2.283 2.035 634 8.730 27.277 6.527 738 586 261 14.147 28.464 7.047 América latina 928 3.522 1.933 África 359 727 263 Total 37.766 94.810 21.699 Total leste europeu Europa oriental Ásia Australasia América do Norte Papel corrugado Europa Papel cartão Papel Total 22.116 12.401 98.255 18.215 10.450 82.222 766 252 4.041 18.982 10.703 86.380 3.135 1.698 11.868 28.813 13.451 97.661 348 89 3.494 32.347 14.095 100.433 América latina 5.403 1.385 14.855 África 1.388 256 3.449 Total 90.415 41.677 318.147 União européia Leste europeu Total leste europeu Europa oriental Ásia Australasia América do Norte Papel total inclui todos os tipos de papel e papelão Fonte: PPI (2002) 156 Tabela 14 - Produção de celulose no mundo. Produção de celulose – 2001 (1000 toneladas) Polpa Química Europa Polpa Outras polpas Mecânica Total 28.843 14.539 2.986 46.368 20.633 11.273 1.663 33.764 865 1.733 84 2.677 21.499 13.006 1.747 36.441 7.344 1.534 1.239 9.277 14.637 2.390 3.745 20.772 1.232 1.190 3.202 5.624 América do Norte 61.800 15.912 1 77.713 América latina 10.193 403 1.027 11623 África 1.645 290 109 2.044 Total 118.350 34.724 11.070 164.144 União européia Leste europeu Total leste europeu Europa oriental Ásia Australasia Fonte: PPI (2002) Produção de polpa em 2001 (1000 toneladas) 90.000 80.000 Outras polpas 70.000 Polpa Mecânica 60.000 Polpa Química 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 Europa Ásia Australasia Figura 40 - Produção de polpa no mundo. Fonte: PPI (2002). América do Norte América latina África 157 No Brasil, as produções de celulose e de papel em 2001 foram respectivamente de 7.405 e 7.354 mil toneladas em 2001. A Figura apresenta os principais tipos de polpação em 2001 no mundo, equanto que as Figuras 41 e 42 indicam os principais tipos de polpação da celulose produzida e os principais tipos de papel produzidos no Brasil em 2001. Produção de celulose no Brasil - 2001 Polpa Mecânica 3% Outras polpas 5% Polpa Química 92% Figura 41 - Produção de polpa no Brasil em 2001. Fonte: PPI (2002). Tipos de papel produzidos no Brasil -2001 Jornais e revistas Corrugado Tissue Imprimir e escrever Papelão Outros 3% 12% 8% 30% 10% 37% Figura 42 - Produção de papel no Brasil em 2001. Fonte: PPI (2002). 158 A importação de papel é pequena no Brasil e representa menos de 9% em relação à quantidade produzida. Do total importado em 2001, cerca de 86% referem-se a papel para revistas e jornais e papel de imprimir e escrever (produzidos com polpa proveniente de polpação mecânica). O setor de celulose e papel no Brasil em 2001 empregou cerca de 100.000 pessoas, distribuídas em 156 fábricas de papel e em 68 fábricas de celulose (PPI, 2002). 4.6.2 Produção de celulose branqueada A polpa celulósica livre de cloro elementar (ECF), branqueada com o dióxido de cloro, continua crescendo e domina o mercado mundial de celulose química. Em 2001, a produção atingiu mais que 63 milhões de toneladas, totalizando mais de três quartos do mercado mundial (Figura 43). Em contraste, os sistemas de branqueamento TCF (Totalmente Isentos de Cloro), declinaram ligeiramente, mantendo um pequeno nicho de mercado acima de 5% da celulose química produzida. A explicação possível para a pequena quantidade de polpa TCF é que este processo é mais caro, tem menor rendimento e produz polpa com propriedades físico-mecânicas inferiores à polpa ECF (AET, 2002). Escandinávia Em 2001, o ECF representou na Escandinávia mais de 75% da produção de celulose química branqueada - mais que o triplo do branqueamento totalmente isento de cloro (TCF). As novas linhas de fibra na Escandinávia utilizam a tecnologia ECF (AET, 2002). Japão O Japão produz aproximadamente 8 milhões de toneladas de polpa química branqueada. Consistente com o compromisso feito pela maioria dos produtores de celulose branqueada do Japão, para eliminar o cloro elementar, verifica-se a 159 conversão para sistemas ECF. Em vista disso, a produção ECF cresce em ritmo rápido. Em 2001, um adicional de 800.000 t de polpa foi convertida em ECF, e agora representa quase um quarto de toda produção da polpa química produzida no Japão (AET, 2002). América do Norte (EUA e Canadá) Nos Estados Unidos, a produção de sistemas ECF aumentou de 15% passando a representar 96% da celulose química branqueada. Este crescimento deveu-se basicamente a conversão para ECF, feita para atender às “Regras Agregadas” da EPA (Cluster Rules). Separadamente, a produção da polpa ECF Canadense permaneceu estável, correspondendo a mais de 93% do mercado (AET, 2002). A “Cluster Rule” considera o ECF como a Melhor Tecnologia Disponível (BAT) para os papéis branqueados pelos processos “Kraft” e “Soda”. 80 Evo lu çã o d a p ro d u çã o d e ce lu lo se EC F -T C F -S T D n o m u n d o (1000 to n ) 70 EC F TC F S TD 60 50 40 30 20 10 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Figura 43 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo. Fonte: PPI (2002). O processo ECF foi recentemente reconhecido como um componente de “Melhor Tecnologia Disponível” (Best Available Technology – BAT) pela União Européia (UE), no seu Documento de Referência: Prevenção e Controle de Poluição Integrados (IPPC, 2001). 160 Em vista deste reconhecimento e dos demais aspectos ambientais favoráveis associados a este tecnologia, somados a um custo competitivo e a alta qualidade do produto, o crescimento para o ECF fica assegurado na Europa (AET, 2002) A tendência de aumento do ECF também ocorre nos demais países produtores (Europa Oriental e Ocidental, Chile, Brasil, Sudeste Asiático, África, Austrália, Nova Zelândia e Japão) (Figura 44). Os dados mostram também que a maior fração de celulose tipo STD é produzida nestes países, enquanto que nos Estados Unidos, Canadá e Países Nórdicos ela já é praticamente nula. Evolução da produção de celulose* ECF-TCF-STD (1000 ton) 24 ECF TCF STD 20 16 12 8 4 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 (* Europa Oriental e Ocidental, Chile, Brasil, Sudeste Asiático, África, Austrália, Nova Zelândia e Japão) Figura 44 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo. Fonte: PPI (2002). 161 5 PREVENÇÃO CELULOSE À E POLUIÇÃO PAPEL - EM USO INDÚSTRIAS DAS DE MELHORES TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS (BATs). A produção de celulose e papel é uma atividade bastante complexa. Consiste de vários processos, com diversos estágios e produtos. Os aspectos ambientais e técnicas relevantes para prevenção e redução de emissões e consumo de energia, matérias primas e insumos para a polpação kraft são descritos nos próximos parágrafos. Este capítulo tem como base a referência IPPC (2000), exceto onde estão especificadas outras fontes. Segundo IPPC (2000), Hoglund (1999), Springer (1993) e Axegard (1997); a análise da indústria de papel e celulose mostra que a forma mais efetiva de reduzir as emissões e o consumo de recursos naturais, bem como melhorar o desempenho econômico, é a implementação das melhores tecnologias de processo e controle de emissões remanescentes, combinadas aos seguintes fatores: • Educação, treinamento e conscientização dos envolvidos; • Otimização do processo produtivo; • Manutenção adequada das instalações; • Sistema de gestão ambiental eficaz, com procedimentos, metas e medições adequados. 5.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO KRAFT O processo kraft é o mais empregado para a produção de polpa em todo o mundo. Cerca de 80% da polpa é produzida utilizando este processo. Ele também é conhecido como processo “sulfato” devido a reposição das perdas ser feita com sulfato de sódio. Os compostos químicos utilizados no cozimento são o sulfeto e o hidróxido de sódio em pH alcalino (ajustado entre 13 e 14 no início do cozimento). 162 A produção de celulose pode ser dividida em quatro partes principais: preparação de matérias-primas, deslignificação química em circuito fechado recuperando-se energia, branqueamento com circuito aberto e sistema de tratamento de águas residuárias. Os sistemas auxiliares de geração de energia, preparação de madeira e produção dos produtos químicos do branqueamento estão inclusos nos quatro sistemas citados. A Figura 45 mostra de forma simplificada o processo kraft. Madeira Óleo combustível Água tratada Cascas e finos Pátio de madeira Tratamento De água Vapor de processo Cozimento Turbina Energia Elétrica Rejeito Lavagem de Polpa marrom Vapor Caldeira biomassa Vapor Evaporação Stripping Caldeira recuperação Licor verde Licor branco Deslignificação Dregs Caustificação Licor verde Cal Oxidação do Licor branco Lavagem da polpa Água tratada Branqueamento Extração/ Secagem da polpa Gases Mal cheirosos concentrados Preparação de Oxigênio Produto químicos de branqueamento Caustificação da Lama de cal Óleo combustível Oxigênio líquido ou ar Prod. Químicos (branq.) Celulose Figura 45 - Visão geral do processo kraft de produção de celulose. Insumos 163 5.1.1 Estocagem e preparação da madeira Os principais processos associados a esta etapa são: estocagem de madeira, descascamento, picagem (produção de cavacos) e peneiramento. A madeira pode vir das florestas com ou sem casca e em forma de cavacos ou toras. Para a produção de celulose via processo químico é necessário utilizar a madeira na forma de cavacos uniformes para garantir um cozimento homogêneo e obter o melhor rendimento. O descascamento remove as cascas das toras, que são geralmente encaminhadas à caldeira de biomassa, para geração de vapor e energia elétrica. O descascamento (a seco ou via úmida) é feito em tambor descascador. As toras descascadas são encaminhadas ao picador para a produção de cavacos. O peneiramento tem como objetivo separar as frações de cavaco muito finas ou muito acima do tamanho padrão (“oversized”). Os finos são normalmente queimados na caldeira de biomassa, enquanto que a fração “oversized” volta ao picador. Algumas fábricas costumam estocar os cavacos por um período de quarenta dias visando obter a degradação enzimática dos extrativos. Nestes casos, a pilha costuma aquecer-se durante este processo de maturação. Períodos de maturação superiores a 40 dias tendem a reduzir o rendimento do processo. 5.1.2 Cozimento e deslignificação No processo kraft, as fibras são separadas durante o cozimento por meio da dissolução da lignina e de parte das hemiceluloses no licor de cozimento - que contém hidróxido e sulfeto de sódio como agentes químicos ativos. 164 O cozimento pode ser feito em processo de batelada ou contínuo. Em ambos, há controle de pressão, temperatura, tempo de detenção, teor de álcalis e sulfidez. O controle de cozimento (do grau de deslignificação) é feito pelo teor residual de lignina - expresso pelo número kappa. O teor de lignina pode ser estimado multiplicando-se o número kappa pelo fator 0,165 (IPPC, 2000). Cavaco Licor negro Polpa Licor branco Licor negro diluído (lavagem) Figura 46 - Representação esquemática de um digestor contínuo utilizado para o cozimento da madeira. Fonte: IPPC (2000) Normalmente os cavacos são preaquecidos com vapor antes de entrar no digestor para facilitar a impregnação com o licor de cozimento. O tempo de detenção varia entre 1 a 2 horas, dependendo da temperatura. O kappa no final do cozimento depende do tipo de madeira e das variáveis já mencionadas. Para madeira tipo softwood (pinus e spruce) o kappa final (cozimento convencional) é cerca de 30 a 35. Para hardwood (eucalipto, birch), este é aproximadamente 14 a 22. (IPPC, 2000 e Hoglund, 1999). 165 Como decorrência da baixa branqueabilidade da polpa e dos problemas ambientais associados ao seu branqueamento, foram desenvolvidos vários processos de cozimento que permitiram remover mais lignina sem perda de rendimento e/ou perdas das propriedades da polpa. Com isso, o kappa final atingido para madeira softwood em cozimento modificado é de 15 a 25. Maiores detalhes sobre os novos métodos de cozimento estão indicados nos parágrafos que descrevem as melhores tecnologias disponíveis – BAT (item 5.2.3.2). 5.1.3 Lavagem e depuração A polpa oriunda do digestor contém fibras e licor negro impregnado com lignina, hemiceluloses e outros compostos solubilizados durante o cozimento. Cerca de 50% da madeira é dissolvida nesta etapa. A lavagem objetiva, portanto, separar o licor das fibras, para que o mesmo possa ser encaminhado para o processo de recuperação (insumos químicos e energia), enquanto que as fibras são enviadas para a etapa seguinte (deslignificação ou branqueamento). Hoje em dia, tanto em digestores em batelada quanto em contínuos, a lavagem iniciase no próprio digestor, pelo deslocamento do licor quente pelo licor frio. A lavagem subseqüente pode ser feita em filtros lavadores, prensas ou difusores. Sistemas eficientes de lavagem reduzem o carreamento de licor para as etapas seguintes, reduzindo também o consumo de produtos químicos na deslignificação (oxigênio) e no branqueamento. Como decorrência do menor arraste há também redução na carga orgânica carreada para as águas residuárias (IPPC, 2000). 166 Lavadores tipo prensa e/ou difusores são mais eficientes na remoção dos compostos orgânicos do que tambor lavador e, por esta razão, tem sido os equipamentos mais utilizados no último estágio de lavagem antes do branqueamento (Hoglund, 1999). No final desta etapa, a polpa é submetida ao processo de depuração em depuradores (peneiras centrífugas) visando separar o material não processado(nós e palitos). 5.1.4 Deslignificação com oxigênio O processo de deslignificação (em uma ou mais etapas) pode continuar após o cozimento com ou sem lavagem intermediária. A deslignificação com oxigênio é feita em meio alcalino, utilizando-se normalmente licor branco oxidado como álcali. Ele contém hidróxido e tiossulfato de sódio decorrente da oxidação do sulfeto presente no licor branco. Devido à baixa solubilidade do oxigênio no licor, a deslignificação é feita em reatores pressurizados em temperaturas elevadas (cerca de 100oC). Para preservar as propriedades da fibra é adicionado sulfato de magnésio. São utilizados reatores de média (10 a 15%) e de alta (25 a 30%) consistência em estágio único ou em dois estágios, visando aumentar a seletividade do processo. A deslignificação com oxigênio, normalmente, é um estágio intermediário entre o cozimento e a etapa de lavagem da polpa marrom. A lavagem em prensas é feita em contra-corrente de modo que o filtrado possa ser recuperado O grau de deslignificação em estágio único é cerca de 40-50% e pode atingir até 70% em estágio duplo (Mjoberg,1999). Embora o sistema seja relativamente seletivo, há perda de rendimento de cerca de 1,5 a 2,5% e a lignina remanescente deverá ser removida nas etapas subseqüentes IPPC, 167 2000). A Tabela 15 apresenta os números kappa comumente encontrados após o cozimento e a deslignificação com oxigênio. Tabela 15 - Número kappa para diferentes tipos de cozimento e madeira. Tipo de deslignificação Hardwood Softwood Cozimento convencional 14 a 22 30 a 35 Cozimento convencional e deslignificação com oxigênio 13 a 15 18 a 22 Cozimento estendido 14 a 16 18 a 22 Cozimento estendido e deslignificação com oxigênio 8 a 10 8 a 12 Fonte: IPPC (2000) A deslignificação com oxigênio permite reduzir o arraste de matéria orgânica para as águas residuárias e recuperar os produtos químicos e energia. 5.1.5 Branqueamento O objetivo do branqueamento é obter uma polpa com alvura (1) maior e estável (baixa reversão), uma vez que a polpa não branqueada possui alvura baixa (menor que 30% ISO). Polpas branqueadas tem alvura superior a 88% ISO. Como as etapas anteriores não removem toda a lignina, é necessário o uso de agentes químicos oxidantes para tal função. O kappa após o branqueamento é menor do que 1. O branqueamento da polpa é feito em mais de um estágio, normalmente quatro ou cinco. Os agentes químicos mais usados são dióxido de cloro, ozônio, oxigênio e peróxido. Ultimamente, tem sido utilizado também o ácido peracético. O cloro molecular assim como o hipoclorito estão sendo substituídos por outros agentes branqueantes como o peróxido, devido à formação de subprodutos clorados (AOX e OX). (1) É o valor numérico da reflectância da amostra na porção azul do espectro ( 457 nm) quando comparado à reflectância de um pacdrão, no mesmo comprimento de onda, cuja reflectância é de aproximadamente 100% (Colodette, 2001) 168 Destes produtos, o ozônio e o dióxido de cloro devem ser produzidos no local de aplicação, os restantes podem ser comprados. Em virtude da diferença de reatividade e de mecanismos de reação, são empregadas diferentes seqüências de branqueamento (e diferentes tipos de reatores) suplementadas com estágios ácidos ou alcalinos. Cada seqüência consiste de: • Sistemas de mistura; • Reatores de fluxo ascendente ou descendente com um tempo de retenção mínimo requerido; • Sistema de lavagem (separação do licor das fibras), normalmente utilizando prensas e difusores. Os estágios de branqueamento são designados por símbolos de acordo com o agente químico empregado, como se segue: • Q - Estágio ácido onde é adicionado um agente quelante (EDTA ou DTPA); • Z - Ozônio – usado na forma de gás; • P - Peróxido – em estado líquido em meio alcalino; • D - Dióxido de cloro – em solução (ClO2); • E - Extração alcalina – usando NaOH; • E/O - • E/P - Extração alcalina usando peróxido. Extração alcalina usando oxigênio; Os dois principais métodos de branqueamento são denominados ECF – Elemental Chlorine Free e TCF – Totally Chlorine Free, sem o uso de cloro molecular e isento de compostos de cloro, respectivamente. O processo ECF usa dióxido de cloro, complementado por estágios de extração alcalina, peróxido, oxigênio e ozônio. O processo TCF é bastante similar ao ECF exceto pelo fato de não usar compostos à base de cloro. Em virtude da baixa seletividade dos agentes braqueantes isentos de cloro, a produção de polpa TCF requer um kappa de saída do digestor menor do que aquele 169 usado para produção de ECF, a fim de obter uma polpa com alvura e resistência adequadas. Devido ao maior residual de lignina presente nas polpas TCF, estas apresentam reversão de alvura maior do que as polpas ECF (Axegard, 1997; Chirat, 1999). TCF versus ECF Segundo Chirat (1999), Choudens et.al (1999) e IPPC (2000), os últimos dez anos de estudos e discussões sobre características das águas residuárias geradas nestes dois tipos de branqueamento e seus impactos ambientais, incluindo-se pesquisas de campo e uso de modelos, podem ser resumidos como se segue: a) A composição química das águas residuárias geradas em fábricas modernas, com cozimento modificado e deslignificação com oxigênio, é muito diferente da composição das águas residuárias de indústrias de 10 a 15 anos atrás, mesmo considerando-se que as práticas operacionais de cada fábrica também interferem decisivamente nas emissões; b) Fábricas modernas que operam com baixos números Kappa na entrada do branqueamento e utilizam o processo ECF têm emissões muito baixas de compostos organoclorados, incluindo-se os fenólicos clorados, que praticamente não são detectados nas águas residuárias; c) Os diferentes padrões de operação de cada fábrica interferem decisivamente nas emissõese, muitas vezes, eles se sobrepõem ao efeito da tecnologia de branqueamento (ECF ou TCF); d) O tratamento secundário reduz os efeitos tóxicos aos ecossistemas aquáticos; e) Os efeitos de águas residuárias aos ecossistemas aquáticos apresentam correlação positiva com a DQO. Os resultados indicam que a operação da fábrica e o tipo de madeira são decisivos neste aspecto, independentemente do processo de branqueamento (TCF ou ECF). As contribuições de outros setores são mais significativas do que do próprio branqueamento na composição química das águas residuárias relativamente a ácidos graxos, esteróis, ácidos resinóicos. f) Embora o uso de branqueamento TCF tenha certa vantagem com respeito ao fechamento de circuitos, este processo requer o controle e retirada de metais (Mn, 170 Cu e Fe) da polpa devido à sua interferência negativa na eficiência do peróxido. Esta remoção normalmente é feita com quelantes ou com lavagem ácida. 5.1.6 Depuração da polpa branqueada e secagem (extração) A depuração é feita utilizando-se o mesmo tipo de equipamento que faz a depuração da polpa marrom – polpa não branqueada (saída do digestor). Em fábricas integradas, a polpa é bombeada para a fabricação de papel com cerca de 4% de consistência. Em fábricas não integradas, a polpa é prensada e depois seca com vapor em um processo multiestágios para então ser transportada. A folha de celulose seca é cortada e embalada em fardos. O teor de sólidos da polpa seca é de aproximadamente 90 a 92%. 5.1.7 Sistema de recuperação química O sistema de recuperação química possui três funções básicas: • Recuperação dos compostos químicos inorgânicos usados na polpação (cozimento); • Destruição (queima) dos compostos orgânicos para geração de energia térmica e elétrica; • Recuperação de subprodutos orgânicos vendáveis (terebentina, tall oil). O poder calorífico do licor negro é normalmente suficiente para gerar a energia necessária à fábrica de celulose. As principais unidades que compõe a recuperação química são: evaporação do licor negro, incineração do licor na caldeira de recuperação, caustificação e regeneração de cal. As Figuras 47 e 49 ilustram as principais etapas deste processo. 171 Ciclo Cáustico Digestor Licor branco NaOH + Na2S Na se o lo gr celu e n i or em lic e h + a na lp ni Po lig – S – Lavagem Licor negro diluído Polpa Lama de cal CaCO3 Forno de cal Evaporação Filtração Combustível NaOH CaCO3 Na2S Ciclo alcalino CO2 Caustificação Licor negro (65-75% de sólidos) Caldeira de recuperação Cal calcinada CaO Reposição Na2SO4 Licor verde Na2CO3 + Na2S Tanque dissolvedor Vapor Eletricidade Resíduos Dregs, cinzas Smelt Na2CO3 + Na2S Água ou Licor branco fraco Figura 47 - Representação esquemática do ciclo de recuperação de álcalis Fonte: IPPC (2000) O licor negro resultante da lavagem da polpa marrom com teor de sólidos entre 1418% deve ser concentrado antes de ser enviado para a queima na caldeira de recuperação. A evaporação em vários estágios permite elevar este teor para 65 a 75% aproximadamente. Os condensados gerados na evaporação do licor negro e no cozimento apresentam graus variados de contaminação com metanol, compostos reduzidos de enxofre (TRS) e outros compostos orgânicos voláteis. Estes compostos são removidos em uma coluna de arraste, que integra a de evaporação. Os condensados purificados podem ser usados no processo para lavagem da polpa e na unidade de caustificação. 172 O licor concentrado é incinerado na caldeira de recuperação. O fundido (smelt) é dissolvido em licor branco fraco de modo a recuperar o enxofre e sódio. O licor verde clarificado resultante consiste de carbonato e sulfeto de sódio (Figura 50). Lic o rb ra n co Cozimento _ Lavagem _ Evaporação _ Combustão _ Dissolução do smelt NaOH + Na2S Filtração do licor branco Clarificação do licor branco Circuito de licor Lic o rv erd e Clarificação do licor verde Na2CO3 + Na2S NaOH + Na2S Lavagem do dregs Dregs Caustificação Clarificação e adensamento da lama de cal Apagamento do cal (CaO) Ca l (C aO ) Grits Lavagem da lama CaCO3 Circuito de sólidos Calcinação CaCO3 Deságüe da lama Figura 48 - Representação esquemática do ciclo de licor e circuito de sólidos. Fonte: Grace et. al. (1989). Na etapa seguinte, denominada de caustificação, o carbonato é convertido em hidróxido de sódio mediante a adição de cal, após separação do carbonato. O filtrado é o licor branco. 173 A lama de cal é lavada e encaminhada ao forno para a calcinação (CaO) e retorno ao processo em circuito fechado. O processo de calcinação é endotérmico, requer alta temperatura e uso de combustível auxiliar. O processo de coleta, evaporação e incineração do licor negro gera substâncias (concentrados) odoríferas com alto teor de enxofre na forma reduzida (TRS), com sulfeto de hidrogênio (H2S), metil mercaptanas (CH3SH), dimetil sulfeto (CH3SCH3), e dimetil dissulfeto (CH3SSCH3). Estes gases são coletados e queimados em incineradores ou no próprio forno de cal. Os gases de combustão são normalmente tratados em lavadores de gases e o fluido de lavagem é encaminhado ao sistema de recuperação. Algumas fábricas também coletam e incineram os gases diluídos provenientes das etapas de pré-tratamento dos cavacos, depuração, lavagem de polpa e tanque dissolvedor (smelt). 5.2 PRINCIPAIS CONSUMOS E EMISSÕES DO PROCESSO KRAFT No processo de produção de celulose, as águas residuárias e as emissões atmosféricas são os aspectos ambientais que recebem maior atenção nos dias de hoje. Entretanto, espera-se que nos próximos anos os aspectos ambientais associados à geração e descarte de resíduos sólidos sejam os principais alvos de atenção (IPPC, 2000). A Figura 49 apresenta de forma simplificada os principais insumos e emissões do processo kraft. 174 Água Processo Resfriamento Insumos (químicos) NaOH; O2 ; NaClO3 EDTA; SO2, H2 O2 O 3 ; MgSO4; CaO Ácido peracético Energia Gerada (licor preto) Óleo Carvão Gás Cascas,resíduos Matérias-primas Matérias primas Madeira –toras Madeira- cavaco Madeira- resíduos Preparo da madeira Cozimento Depuração Branqueamento Secagem Preparação de Químicos Caldeiras Auxiliares Deslignificação Recuperação de Químicos e de energia ETE Ruído Energia Ar Água Lavagem Emissões atmosféricas NOx, SO2;CO; CO2 ; TRS; VOC; Compostos de cloro; Material particulado Manuseio de resíduos Produtos Celulose Polpa p/ papel Sub-Produtos Tall oil Terebentina Vapor Eletricidade Resíduos sólidos Cinzas; Dregs, grits; Lama de cal; cascas; Rejeitos da depuração; Lodo primário; lodo biológico; Resíduos gerados em áreas comuns. Emissões hídricas DQO; DBO; Extrativos da madeira; AOX (compostosorg. clorados); Cloratos; N; P; Sólidos em suspensos; supensão Metais e sais com cor Figura 49 - Representação esquemática insumos e resíduos gerados Fonte: IPPC (2000). do processo kraft – matérias-primas, 5.2.1. Consumo de madeira Muitas espécies de madeira podem ser usadas para a produção de celulose. A quantidade de madeira e o rendimento são função da seletividade do cozimento e do branqueamento. São necessários 4 a 6,6 m3 de madeira para se produzir uma tonelada de polpa. 175 A densidade média fica entre 0,4 a 0,6 g/cm3 e varia de espécie para espécie. A quantidade de cascas é cerca de 12 a 15% (em peso). 5.2.2 Consumo de água e geração de águas residuárias O consumo de água varia muito de fábrica para fábrica, podendo oscilar entre 15 a 100 m3/t. Valores superiores a 50 m3/t normalmente incluem a água de refrigeração. O consumo de água pode ser reduzido aumentando-se a recirculação interna, utilizando-se equipamentos de lavagem mais eficientes, reciclando filtrados alcalinos, purificando e reutilizando os condensados, entre outros (Hoglund, 1999). As águas residuárias são tipicamente caracterizadas por substâncias orgânicas consumidoras de oxigênio, expressas como DBO e DQO. O efluente do branqueamento (quando feito com compostos à base de cloro), contém também compostos organoclorados denominados: AOX - Adsorbable Organic Halogen. Alguns compostos presentes na água residuária do pátio de madeira apresentam efeitos tóxicos à biota aquática em decorrência da presença de extrativos, ácidos resinóicos, entre outros. Os compostos coloridos presentes nas águas residuárias podem causar impactos nos ecossistemas aquáticos devido a alterações na transparência da água e na penetração de luz no meio. O volume de água utilizado tem relação direta com a geração/emissão de águas residuárias, entretanto o potencial poluidor é dependente da operação da fábrica e do grau de fechamento de circuitos. As principais fontes de emissão são apresentadas a seguir (Figura 50). 176 Água fresca Preparo de madeira Cascas Areia Fibras Subst. Orgânicas dissolvidas Compostos tóxicos Cozimento Depuração Emissões ocasionais Emissões ocasionais Deslignificação Lavagem Lavagem Secagem Fibras Subst. Orgânicas dissolvidas Emissões ocasionais Tratamento dos condensados Branqueamento Fibras Subst. Orgânicas dissolvidas Compostos orgoclorados Clorato Fósforo Nitrogênio Sais Licor preto Tancagem Substâncias orgânicas dissolvidas Derrames Caustificação Preparação Do licor branco Caldeira de recuperação Sais dissolvidos Figura 50 - Águas residuárias típicas geradas no processo kraft. Fonte: IPPC (2000). Preparação de madeira Embora a drenagem de águas pluviais no pátio de madeira possa carrear sólidos e substâncias orgânicas dissolvidas com potencial poluidor, a maior fonte de poluição é o descascamento da madeira. O descascamento consome água e gera águas residuárias que contém matéria orgânica facilmente biodegradável (DQO e DBO) e compostos orgânicos tóxicos aos ecossistemas aquáticos. O descascamento a seco permite reduzir o consumo de água significativamente e reduz também a fração orgânica dissolvida nas águas residuárias.As características típicas das águas residuárias são apresentadas na Tabela 16. 177 Tabela 16 - Características típicas das águas residuárias geradas no descascamentoda madeira. DQO Fósforo total Tipo de Volume DBO Descascamento À úmido + prensa À seco + prensa (m3/m3 madeira) (kg O2/m3 (kg O2/m3 (g P/m3 madeira) madeira) madeira) 0,6 a 2 0,9 a 2,6 4a6 5a7 0,1 a 0,5 0,1 a 0,4 0,2 a 2 2a4 Fonte: IPPC (2000) O teor de sólidos das cascas oscila entre 35 a 45% (na madeira). Após o descascamento, este teor passa a 30 a 35%, que pode ser aumentado para cerca de 40 a 45% por meio de prensas, mas com o inconveniente de gerar uma quantidade maior de água residuária e com maior carga orgânica (DQO 20-40 kgO2 /m3). Condensados provenientes do cozimento e da evaporação Nas etapas de cozimento e evaporação, são gerados aproximadamente 8 a 10 m3/ADT (ADT = Air-dried tonne - tonelada de polpa seca ao ar) de condensados com concentrações específicas de DQO e DBO em torno de 20 a 30 kgO2/ADT e 7 a 10 kgO2/ADT, respectivamente. A DQO é formada principalmente por metanol (5 a 10 kg/ADT), etanol e TRS (1 a 2 kg/ADT). Os condensados contaminados contém também cetonas, terpenos, fenóis e resinas, entre outros compostos orgânicos voláteis. A fração mais contaminada dos condensados (cerca de 1 m3/ADT) é submetida ao arraste “stripping”, que permite a remoção de cerca de 90% dos contaminantes, dependendo do pH. O consumo de vapor neste processo está em torno de 0,2 toneladas para cada tonelada de condensado, mas pode ser reduzido até cerca de 0,02 a 0,04. Os gases volatilizados podem ser incinerados em sistemas específicos com lavagem dos gases ou incinerados no forno de cal. 178 A maior fração dos condensados (de 7 a 9 m3/ADT) é menos contaminada e pode ser utilizada diretamente na lavagem da polpa, nos lavadores de gases e no “make-up” de água para preparação de licor. Dependendo do local em que este condensado é utilizado, ele será incorporado ao circuito de licor (recuperação) e não contribuirá para a geração de águas residuárias. Os condensados moderadamente contaminados podem ser também submetidos ao arraste, conectados nas próprias colunas de evaporação, sem acréscimo significativo do consumo de energia. Deste modo, a DQO pode ser reduzida em até 50%, quando comparada ao tratamento somente dos condensados mais contaminados. Derrames em diferentes áreas do processo (spills) Perdas acidentais de fibras e de licor negro podem ocorrer nas áreas de cozimento, depuração, lavagem, evaporação e tancagem de produtos químicos e de licores de processo. Também podem ocorrer derrames de cal e de licor branco na caustificação. Na maioria dos casos, os derrames podem ser coletados e re-encaminhados ao processo, caso o sistema tenha capacidade de estocagem e de bombeio suficientes. O controle do retorno dos derrames ao processo é feito por meio de condutivímetros, que indicarão se os mesmos podem ser re-introduzidos no circuito de licor ou devem ser encaminhados ao tratamento de águas residuárias (ou lagoa de emergência). O controle adequado deste tipo de sistemas requer a coleta em separado de águas limpas (selagem e refrigeração) do sistema de derrames. Perdas de licor negro na lavagem As perdas de licor na lavagem da polpa marrom acarretam não somente a perda de produtos químicos (Na e S), como também aumentam a carga orgânica das águas residuárias. 179 O uso de prensas na lavagem da polpa permite reduzir o consumo de água na lavagem de 6 a 10 m3/t para 2 a 3 m3/t, aumentando a recuperação de produtos químicos e a fração de matéria orgânica queimada na caldeira de recuperação. As perdas de licor na lavagem podem ser avaliadas pelo arraste de sódio ou de DQO (kg) por tonelada de polpa. Perdas típicas de DQO estão em torno de 5 a 10 kgO2/t e de 7 a 12 kg O2/t para madeiras softwood e hardwood, respectivamente. Águas residuárias geradas no branqueamento Uma das principais etapas responsáveis pela geração de águas residuárias é o branqueamento.Valores típicos oscilam entre 20-40 m3/t. Em fábricas que tem fechamento parcial de circuitos, a vazão de águas residuárias pode ser reduzida a valores entre 5 a 10 m3/t de polpa. A redução de carga orgânica pode atingir 25 a 50% . Os volumes e as características das águas residuárias dependem de inúmeros fatores, destacando-se: perdas de lavagem, seqüência de branqueamento, agentes químicos utilizados no branqueamento, grau de deslignificação e geração de DQO durante o branqueamento (ataque às fibras, dissolvendo, por exemplo, as hemiceluloses, com conseqüente aumento da DQO solúvel). A geração de DQO pode ser estimada em aproximadamente 2 kg O2 por unidade kappa a ser removida durante o branqueamento. Os valores usuais de DQO para diferentes tipos de madeira e de tecnologias de cozimento estão indicadas na Tabela 17. 180 Tabela 17 - Quadro comparativo entre os tipos de cozimento e o número kappa e a DQO. Hardwood Softwood Tipo de Deslignificação DQO DQO cozimento Uso de ozônio Kappa kappa (kgO2/ADT) (kgO2/ADT) Convencional Convencional Deslignificação-O2 Modificado Modificado Deslignificação-O2 Modificado (estendido) Modificado (estendido) Deslignificação-O2 18 38 30 63 13 27 15 32 16 34 20 42 10 15 12 25 13 26 15 30 10 15 10 15 ND 3 ND 6 (1) Convencional Deslignificação O2 e O3 ND – não disponível (1) Após branqueamento com ozônio Fonte: IPPC (2000) Geração e emissão de compostos orgânicos clorados As discussões sobre a geração destes compostos na fabricação de celulose ocorrem há algum tempo, e a percepção dos impactos destes subprodutos clorados conduziu praticamente à eliminação do uso do cloro molecular no branqueamento na Europa. O não uso do cloro resultou na virtual eliminação da formação de dioxinas e furanos, bem como declinou sensivelmente a geração dos demais compostos aromáticos clorados (Tabela 18). 181 Tabela 18 - Valores de AOX em função do tipo de cozimento, deslignificação, branqueamento e carga de dióxido de cloro aplicada. Softwood Hardwood Seqüência de Cozimento branqueamento kappa ClO2 AOX kappa ClO2 AOX Convencional Conv. + deslign. Modif. deslign. 95 2 - - - D(EOP)DED 16 60 0,8 13 40 0,5 10 30 0,3 10 30 0,3 ZD ND 10 0,1 ND 5 0,1 ZP ND 0 0 ND 0 0 D + deslign. Modif. 30 + D(EOP)D(EP) deslign. Conv. D(EOP)DED + Valores de ClO2 e AOX expressos em kg/t ND – Não disponível D(dióxido); E (extração);O (oxigênio); P (peróxido) e Z (ozônio) Fonte: IPPC (2000) A presença de cloretos nos filtrados em decorrência do uso de dióxido de cloro acarreta dificuldades para o fechamento dos circuitos do branqueamento devido a problemas de corrosão nos equipamentos. Valores de DQO das águas residuárias geradas em diferentes etapas do processamento industrial Os menores valores reportados de DQO para águas residuárias após a decantação primária são de 25 a 30 kgO2/ADT e 17,3 a 21,7 kgO2/ADT para polpas softwood e hardwood respectivamente. Valores típicos estão indicados na Tabela 19. 182 Tabela 19 - DQO nas águas residuárias em diferentes etapas do processo. Estágio/processo DQO (kgO2/ADT) Preparo de madeira 1 a 10 Condensados 2a8 Derrames 2 a 10 Perdas na lavagem 6 a 12 Branqueamento 15 a 65 Total 31 a 105 Fonte: IPPC (2000) Emissões de nutrientes e de metais Os nutrientes encontrados nas águas residuárias provêm da madeira, dos insumos químicos e da adição de nitrogênio (N) e fósforo (P) no tratamento. Os valores médios de nitrogênio e de fósforo encontrados em efluentes brutos são 0,2 a 0,4 kg (como NTK) e 0,05 a 0,10 kg P por ADT, respectivamente. Do mesmo modo que os nutrientes, os metais também estão presentes na madeira e nos insumos químicos. As emissões usuais de metais estão indicadas na Tabela 20: Tabela 20 - Emissões hídricas de metais na produção de polpa branqueada e não branqueada. Polpa Cd Pb Cu Cr Ni Zn Não branqueada 0,03 0,3 0,5 0,2 0,4 5 Branqueada 0,1 0,4 1 0,7 0,9 15 Valores expressos em g/ADT Fonte: IPPC (2000) 183 5.2.3 Emissões atmosféricas As principais emissões são provenientes das seguintes áreas/processos: preparo de madeira; cozimento, lavagem da polpa, branqueamento, recuperação de produtos químicos, evaporação, caldeiras (recuperação, biomassa e auxiliares), forno de cal e secagem da polpa. As emissões consistem de TRS, material particulado, NOx, CO, CO2, SO2 e VOC (terpenos). Caldeira de recuperação A caldeira de recuperação é a maior fonte de emissão atmosférica em uma fábrica de celulose, principalmente no que se refere a enxofre (SO2), material particulado (sulfato e carbonato de sódio), TRS e NOx. As emissões de enxofre podem ser reduzidas em até 80% quando o teor de sólidos no licor negro evaporado aumenta de 65-67% a 64-76%, devido à elevação da temperatura da fornalha e de melhores condições de queima. Em contrapartida, temperaturas altas favorecem o aumento das emissões de NOx. O fundido gerado no fundo da caldeira de recuperação, denominado de smelt - é composto basicamente de carbonato e de sulfeto de sódio. Durante a redução do enxofre a sulfeto pode ocorrer a formação de gás sulfídrico, que pode ser carreado pelos gases quentes na saída da caldeira se a mistura ou fornecimento de oxigênio dentro da fornalha não forem suficientes para promover a sua oxidação. Na zona oxidante, o dióxido de enxofre reage com o sódio, formando o sulfato de sódio. As temperaturas altas da fornalha reduzem as emissões de sulfeto de hidrogênio e elevam as de sulfato de sódio. 184 Uma visão conceitual das principais reações que ocorrem na caldeira de recuperação são mostradas na Figura 51. N2, H2O, CO2 , SO2 , O2 , NOx NaCl, HCl , Na2SO4, (CO, H2S) Vapor Água Ar terciário Zona oxidante Na, SO2 , O2 # Na2SO4 H2S, O2 # SO2.H2O H, C, O # CO2, H2O, CO 1050 oC Ar secundário H2O , C, Na, NaOH , H2S Licor negro CO, CO2 Queima Zona redutora NaOH, Na, H2S Ar primário Na2SO4 , C, O2 Na2S, Na2CO3, CO2 800 oC Smelt Na2S , Na2CO3, Na2SO4, NaCl Figura 51 - Principais reações que ocorrem na caldeira de recuperação. Fonte: IPPC (2000). O material particulado retido pelo precipitador eletrostático da caldeira - composto basicamente por sulfato de sódio, é adicionado novamente ao licor negro. De forma complementar, este tipo de caldeira pode dispor de lavadores de gases para abatimento do SO2, que operam com pH entre 6 e 7, controlado pela adição de NaOH ou licor branco fraco ou oxidado. Os valores típicos de emissão das caldeiras de recuperação são apresentados na Tabela 21. 185 As emissões de NOx são dependentes do conteúdo de nitrogênio no licor negro e do controle de excesso de ar na combustão. As emissões características de NOx são cerca de 1 a 2 kg/t. A redução das emissões de NOx pode ser obtida alterando-se o sistema de fornecimento de ar e otimizando-se as condições de queima. Em termos de emissões específicas, os valores usuais estão entre 50 e 80 mgNOx/MJ , no entanto, em caldeiras novas, estes valores podem ser menores do que 40 mgNOx/MJ. A produção de gás na caldeira oscila entre 6.000 a 9.000 Nm3 (base seca) por tonelada de polpa. A geração de vapor é cerca de 13 a 18 GJ/t. Devido ao menor rendimento da polpação dos processos que utilizam madeira softwood, há também menor produção de vapor. O fechamento de circuitos por sua vez, permite aumentar a geração (recuperação) de energia. Forno de cal No forno de cal ocorre o processo de re-caustificação da lama de cal (carbonato de cálcio) para produzir óxido de cálcio que será utilizado na conversão do carbonato de sódio em NaOH. Este processo é conduzido em fornos rotativos alimentados por combustível em temperaturas que oscilam entre 800 até cerca de 1.100 oC. As vazões de gases são de aproximadamente 1.000 Nm3/t (base seca) e a demanda de energia é cerca de 1,5 a 1,8 GJ/t de polpa. As principais emissões do forno de cal são material particulado, óxidos de nitrogênio, TRS e dióxido de enxofre. 186 Tabela 21 - Emissões atmosféricas típicas da caldeira de recuperação e forno de cal. SO2 Material (S) particulado Sem lavador de gases mg/Nm3 100 a 800 10 a 200 – 63 a 65% sólidos no mg/MJ 60 a 250 Unidade Caldeira NOx (NO2) TRS (S) de recuperação < 10 50 a 80 1a4 0,1 a 1,8 0,6 a 1,8 < 0,05 Com lavador de gases mg/Nm 20 a 80 10 a 200 100 a 260 < 10 – 63 a 65% sólidos no mg/MJ 10 a 25 licor negro kg/ADT 100 a 260 3 licor negro 50 a 80 kg/ADT 0,1 a 0,4 0,1 a 1,8 0,6 a 1,8 < 0,05 3 Sem lavador de gases mg/Nm 10 a 100 10 a 200 100 a 260 < 10 – 72 a 80% sólidos no mg/MJ 12 a 30 licor negro kg/ADT Unidade 50 a 80 0,2 a 0,5 0,1 a 1,8 SO2 Material (S) particulado 0,6 a 1,8 NOx (NO2) < 0,05 TRS (S) Forno de cal mg/Nm3 Óleo combustível mg/MJ kg/ADT Óleo combustível e NCG 5 a 30 2,5 a 16 0,002 a 0,003 mg/Nm3 150 a 900 mg/MJ 80 a 740 kg/ADT 0,1 a 0,6 20 a 150 (200 a 600) 240 a 380 < 50 130 a 200 0,01 a 0,1 0,2 a 0,3 < 0,03 (0,1 a 0,4) 20 a 150 (200 a 600) 0,01 a 0,1 < 50 ND < 0,03 (0,1 a 0,4) 20 a 150 3 mg/Nm Gás mg/MJ kg/ADT (200 a 600) ND 380 a 600 < 50 200 a 320 0,01 a 0,1 0,3 a 0,4 < 0,03 (0,1 a 0,4) ND- Não disponível Valores com precipitador eletrostático e Valores entre parênteses – só com lavadores de gases Fonte: IPPC (2000) 187 As emissões de dióxido de enxofre são provenientes do enxofre presente no combustível e do carreamento de enxofre na lama de cal. Uma fração do dióxido de enxofre reage com o sódio gerando sulfato de sódio e parte, pode ser adsorvida nas partículas de carbonato de sódio presentes no forno. A redução das emissões de dióxido de enxofre pode ser obtida controlando-se o teor de enxofre nos combustíveis ou usando-se lavadores de gases para remover os compostos presentes nos gases antes da queima (quando estes forem incinerados no forno de cal). As emissões de TRS são constituídas principalmente de H2S e sua formação dentro do forno é função do residual de sulfeto de sódio na lama de cal. O controle, portanto, pode ser feito pelo ajuste do excesso de ar e pela lavagem adequada da lama de cal, visando reduzir a contaminação com sulfeto. O controle do material particulado é feito com precipitadores eletrostáticos, que retêm as partículas de carbonato de sódio condensadas nos gases de exaustão. A emissão de óxidos de nitrogênio está correlacionada com a presença de nitrogênio no combustível. Tanto metanol quanto os gases não condensáveis (GNC) aumentam a formação do NOx. As emissões dos gases nitrogenados estão em torno de 900 mg/m3 quando são incinerados metanol e GNC juntamente com combustíveis fósseis. Caldeiras de biomassa e caldeiras auxiliares As cascas e cavacos podem ser usados para a geração de energia. As cascas (com teor de sólidos de 45%) têm poder calorífico entre 7 a 8 GJ/t e baixos teores de enxofre. 188 Devido às baixas temperaturas na fornalha, a emissão de gases nitrogenados é menor do que quando outro combustível é utilizado, com valores médios entre 70 a 100 mgNOx/MJ. O excesso de oxigênio durante a queima permite reduzir a formação de NOx, mas, por outro lado, aumenta as emissões de VOC e CO. Considerando-se o poder calorífico das cascas em torno de 7 MJ/t, a faixa de emissão de NOX é de 0,3 a 0,7 kg por tonelada de cascas. O limite inferior é obtido com controle das condições de combustão e com tratamento adicional com amônia (SNRC). As emissões de material particulado podem ser reduzidas a níveis de 20 a 40 mgMP/Nm3 (base seca-11% de O2) com o uso de precipitadores eletrostáticos (valores específicos na faixa de 0,1 a 1 kgMP/t). As caldeiras auxiliares à base de óleo, carvão ou gás são usadas para complementar a demanda de energia em fábricas integradas, devido ao adicional necessário para fabricação de papel. As emissões dependem do tipo de combustível, da tecnologia de queima e do controle de combustão na fornalha. Emissão de substâncias odoríferas As substâncias odoríferas compõem-se de sulfeto de hidrogênio, metil mercaptanas, dimetil sulfeto e dimetil dissulfeto. Normalmente, são denominadas como TRS – total reduced sulphur. Estas substâncias são divididas em concentradas (teor de enxofre > 5 g/m3) e diluídas (teor de enxofre < 0,5 g/m3). Os gases concentrados provêm do digestor e da evaporação e do arraste dos condensados, representando um volume de cerca de 25 m3/t de polpa. Estes gases são coletados e incinerados no forno de cal, caldeira de recuperação ou em queimadores dedicados (específicos). 189 A incineração no forno de cal é vantajosa, pois evita a necessidade de outra unidade de queima e os gases de enxofre podem ser absorvidos pelos sais presentes na fornalha. Em média, 15% do combustível usado no forno de cal pode ser substituído pelos gases coletados no processo, no entanto, as variações no seu poder calorífico podem dificultar o controle da calcinação e, por conseguinte, a qualidade e a uniformidade da cal produzida. A separação do metanol destes gases e a sua injeção na forma líquida podem minimizar este impacto. Os gases diluídos provenientes da impregnação de cavacos com vapor, da depuração, da lavagem, do tanque dissolvedor e da ventilação de tanques que contém licor negro, são gerados em volume correspondente a cerca de 2.000 a 3.000 m3/t de polpa e apresentam teores de enxofre de 0,2 a 0,5 kg S/ADT. Estes gases podem ser incinerados na caldeira de recuperação, no forno de cal ou ser absorvidos em lavador de gases. O lavador é eficiente principalmente para remoção do gás sulfídrico. A incineração na caldeira de recuperação pode requer modificações na sua forma de operação. Em algumas instalações, tanto os gases diluídos quanto os concentrados são incinerados na caldeira de recuperação. Durante o cozimento e a evaporação, parte das substâncias odoríferas são transferidas para os condensados, que contém metanol e outros compostos que consomem oxigênio (geradores de DBO). Estes condensados podem ser tratados em colunas de arraste e reutilizados no processo. O excedente é encaminhado para o tratamento de águas residuárias. Emissão de gases com cloro Estes gases são oriundos do processo de branqueamento com compostos clorados e do processo de fabricação do dióxido de cloro. Os compostos clorados gerados nestas 190 fontes são parcialmente absorvidos em lavadores de gases antes do seu lançamento para a atmosfera. 5.2.4 Geração de resíduos sólidos A produção de celulose gera vários tipos de resíduos orgânicos e inorgânicos. Os principais resíduos inorgânicos são dregs e lama de cal do processo de recuperação. O preparo de madeira dá origem às cascas, enquanto o tratamento de águas residuárias gera lodo com fibras, lodo biológico e uma fração inorgânica removida na decantação primária. Parte da fração orgânica, como cascas e demais resíduos da madeira (finos) pode ser utilizada para recuperação de energia por meio da queima em caldeiras. Em algumas fábricas, o lodo gerado no tratamento de águas residuárias é incinerado (Harila et al, 1999). As cinzas provenientes da queima dos resíduos orgânicos podem ser utilizadas nas florestas para repor parte dos nutrientes, desde que o teor de metais pesados permita este tipo de aplicação. A maior fração dos resíduos sólidos é composta pelo lodo gerado no tratamento de águas residuárias. O lodo biológico e o físico-químico são de difícil desidratação. O tratamento do lodo é feito normalmente em várias etapas, iniciando pelo adensamento seguido pelo condicionamento e desidratação. O teor de sólidos do lodo biológico pode ser aumentado quando ele é misturado com o lodo gerado no tratamento primário, que é rico em fibras. O lodo misto pode ser desidratado a níveis de 25 a 35% de sólidos secos utilizando-se filtros-prensas e de 40 a 50% com equipamento tipo “screw-press” precedido de pré-tratamento com vapor. 191 O ganho energético da incineração pode ser nulo ou até negativo se o teor de sólidos do lodo estiver abaixo de 40% ou se o conteúdo de compostos inorgânicos for elevado. A incineração permite reduzir drasticamente o volume do lodo e as cinzas geradas devem ser dispostas adequadamente, normalmente, em aterros próprios. Os dados relativos à geração de resíduos ainda são limitados e os valores reportados por algumas fábricas suecas e finlandesas variam enormemente. Os valores reportados para processo kraft, em base seca são mostrados na Tabela 22. Tabela 22 - Geração de resíduos sólidos em industrias de papel e celulose-processo kraft. Tipo de Polpa Resíduos Inorgânicos (kg/ADT) Resíduos Orgânicos (kg/ADT) Não Branqueada 30 a 60 20 a 60 Branqueada 40 a 70 30 a 60 Fonte: IPPC (2000) 5.2.5 Consumo de produtos químicos O consumo de produtos químicos varia de fábrica para fábrica. Além disso, em alguns casos, estes números são considerados confidenciais. Os valores reportados na literatura estão indicados na Tabela 23: 192 Tabela 23 - Consumo de produtos químicos para a produção de polpa kraft. Consumo (kg/t) Consumo (kg/t) Insumo Polpa kraft não branqueada Polpa kraft branqueada NaOH 10 a 20 25 a 50 O2 5 a 25 NaClO3 20 a 50 EDTA 0a4 SO2 2 a 10 H2O2 2 a 30 O3 0a5 MgSO4 0a3 CaO 5 a 10 5 a 10 Fonte: IPPC (2000) Para os principais produtos químicos usados no processo, no caso sódio e enxofre, é recomendável que seja feito o balanço de massa destes elementos como forma de minimizar as perdas, reduzir as emissões e a reposição, uma vez que vários insumos, inclusive a própria madeira, contêm enxofre e sódio, assim como a produção de dióxido gera sais à base de sódio e de enxofre. 5.2.6 Consumo de energia A energia é consumida basicamente para o aquecimento, para o transporte e para a evaporação de fluidos. Parte da energia térmica é utilizada para aquecimento e controle das reações químicas no cozimento e branqueamento. A energia elétrica é utilizada principalmente para o bombeamento. O consumo de energia é dependente da tecnologia utilizada, da configuração do sistema e da eficiência do controle operacional. 193 A produção de polpa requer aproximadamente de 10 a 14 GJ/t de energia térmica (não computada a fração utilizada para geração de energia elétrica nas turbinas a vapor). O consumo de energia elétrica oscila entre 600 – 800 kWh/ADT, incluindose a secagem da polpa. Para esta etapa, cerca de 50% da energia elétrica é consumida no bombeamento. Para fábricas integradas, este consumo é cerca de 950 – 1.300 kWh/t. Embora o processo de produção de celulose seja grande consumidor de energia, a maior parte é gerada internamente a partir da queima de subprodutos oriundos de fontes renováveis, no caso, lignina e cascas. Parte da energia pode ser reaproveitada em diferentes etapas do processo para produção de água quente e água morna. O uso de combustíveis fósseis complementa a necessidade de energia, como por exemplo, o uso de óleo no forno de cal. Configurações típicas de fábricas não integradas consistem de turbinas a vapor interligadas com as caldeiras de recuperação e de biomassa. Parte da energia contida no vapor é utilizada nas turbinas (vapor de alta pressão) para geração de energia elétrica e parte (vapor de média e de baixa pressão) é utilizada para aquecimento das unidades de processo. A incineração das substâncias odoríferas coletadas no processo (no forno de cal e/ou na caldeira de recuperação) pouco contribui para o balanço energético da fábrica e sua queima é feita basicamente por razões ambientais. Em fábricas integradas, a demanda adicional de energia deve ser suprida com caldeiras auxiliares com ou sem turbinas a vapor. O consumo de energia para a produção de insumos químicos pode ser alta, variando de 10 kWh por quilo de produto para o dióxido de cloro e ozônio; 3,5 kWh para produção de peróxido e 1,6 e 0,4 kWh para cada quilo de álcali e oxigênio produzidos, respectivamente. 194 Valores típicos de consumo de energia no tratamento de águas residuárias são de cerca de 46 kWh/t para sistemas de lodos ativados. 5.2.7 Geração de ruído As principais fontes de ruído são o descascamento e picagem da madeira, e por isso, normalmente estas áreas são providas de isolamento acústico. Válvulas de alívio de pressão de vapor também são fontes de ruído. Os valores limites para ruído no entorno das fábricas depende da legislação local. No caso de indústrias na Suécia, por exemplo, o valor máximo permitido a 500 m da fábrica são 50 dB (A) (à noite). No Brasil, a Norma NBR 10.151 apresenta os limites admissíveis para os períodos diurnos e noturnos em diferentes ambientes. Para áreas predominantemente industriais, o valor máximo recomendado é 60 e 70dB(A), para o dia e para à noite, respectivamente. Em áreas mistas, estes valores 50 e 65 dB(A) (ABNT, 2000). 5.3 BAT PARA O PROCESSO KRAFT O processo kraft ou sulfato, utilizado para produzir 80% da polpa no mundo, é o mais importante dos métodos de produção de celulose empregados atualmente. A importância do processo sulfito vem decaindo constantemente nos últimos anos e hoje em dia, menos de 10% da produção mundial é obtida com este método. O termo “sulfato” é derivado do “make-up” com sulfato de sódio, feito no circuito de recuperação para compensar as perdas de produtos químicos. O processo kraft pode ser usado com qualquer tipo de madeira; possibilita uma eficiente recuperação de produtos químicos e a polpa produzida possui características de resistência superiores àquela obtida no processo sulfito. Por outro lado, o processo kraft produz emissões de substâncias odoríferas . 195 Na polpação kraft, as águas residuárias geradas; as emissões atmosféricas (incluindo compostos reduzidos de enxofre – TRS) e o consumo de energia são os principais aspectos a considerar. Em alguns países, os resíduos sólidos também são considerados relevantes. As principais matérias-primas são recursos renováveis (madeira e água) e insumos químicos para o cozimento e o branqueamento. As águas residuárias originárias nas unidades de branqueamento, que utilizam derivados de cloro, contém compostos organoclorados - medidos como AOX. Alguns compostos presentes nas águas residuárias apresentam efeitos tóxicos em organismos aquáticos; a cor afeta o hábitat das espécies e os nutrientes (nitrogênio e fósforo) podem contribuir para a eutrofização dos corpos d’água. Metais extraídos da madeira são descarregados em baixas concentrações, mas devido às vazões elevadas, as cargas podem ser significativas. Uma redução considerável na emissão de compostos organoclorados e não clorados tem sido obtida por meio de modificações nos processos de produção. Segundo o IPPC (2000) são consideradas BAT para polpação kraft: • Descascamento a seco da madeira; • Aumento da deslignificação antes do branqueamento por meio de cozimentos estendidos ou modificados e adição de estágios de oxigênio; • Lavagem de massa marrom altamente eficiente e fechamento do circuito de depuração marrom; • Branqueamento ECF (Elemental Chlorine Free) com baixa emissão de AOX ou TCF (Totally Chlorine Free); • Recirculação (fechamento de circuito) de algumas águas residuárias do branqueamento, principalmente as alcalinas; • Sistemas eficazes de monitoramento, contenção e recuperação de derrames ; • Arraste (stripping) e reutilização do condensado da evaporação; • Capacidade suficiente da unidade de evaporação de licor negro e da caldeira de recuperação para absorver a carga adicional de licor e sólidos secos; • Coleta e reutilização da água de refrigeração; 196 • Instalação de tanques com capacidade adequada para estocar derrames de licores e condensados contaminados, visando evitar picos de carga e conseqüentes quedas de desempenho da estação de tratamento de águas residuárias; • Tratamento biológico das águas residuárias. A Tabela 24 apresenta as principais características das águas residuárias das indústrias de produção de polpas kraft branqueadas e não branqueadas que utilizam as BATs. Tabela 24 - Características das águas residuárias. DQO DBO KgO2/ KgO2/ ADT ADT 30 a 50 8 a 23 25 a 25 5 a 10 Vazão 3 m /ADT SST AOX N Total P Total Kg/ADT Kg/ADT 0,3 a 1,5 0,6 a 1,5 < 2,5 0,1 a 0,25 0,01 a 0,03 0,2 a 0,7 0,3 a 1,0 - 0,1 a 0,2 0,01 a 0,02 Kg N/ADT Kg P/ADT Polpa branqueada Polpa não branqueada DQO: Demanda Química de Oxigênio DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio SST: Sólidos Totais em suspensão N total: Nitrogênio Total = Nitrogênio Orgânico + Nitrogênio Amoniacal + Nitrito + Nitrato AOX: Compostos Organohalogenados Adsorvíveis P Total: Fósforo Total Estes valores referem-se a médias anuais. A vazão de águas residuárias é estimada assumindo-se que a água não contaminada (refrigeração, etc) é descartada em separado. Os valores consideram somente a produção de celulose; em fábricas integradas, os valores das emissões geradas na produção de papel devem ser adicionados, conforme o “mix” de fabricação. Fonte: IPPC (2000) As emissões atmosféricas oriundas de diferentes fontes são consideradas como outro importante problema ambiental. Elas são originadas na caldeira de recuperação, forno de cal, caldeiras auxiliares, estocagem de cavacos, digestor, lavagem, branqueamento, evaporação, depuração, preparação de licor branco e de diversos tanques. Além disso, várias emissões difusas escapam de diferentes pontos do processo. As fontes principais são a caldeira de recuperação, o forno de cal e as 197 caldeiras auxiliares. As emissões consistem basicamente de óxidos de nitrogênio, compostos de enxofre como o dióxido de enxofre, compostos reduzidos de enxofre e material particulado. As BATs para reduzir emissões atmosféricas são: • Coleta e incineração de compostos reduzidos de enxofre concentrados e controle da emissão de SO2 resultante. Os gases concentrados podem ser queimados na caldeira de recuperação, no forno de cal ou em queimadores específicos; • Coleta e incineração de compostos reduzidos de enxofre diluídos originados em várias fontes e controle da emissão de SO2; • Minimização das emissões de TRS da caldeira de recuperação por meio de um eficiente controle de combustão e medição de CO; • Minimização das emissões de TRS do forno de cal por intermédio do controle do excesso de oxigênio, da utilização de óleo combustível com baixo teor de enxofre e controle do residual de sódio solúvel na lama enviada ao forno; • Controle das emissões de SO2 da caldeira de recuperação por intermédio da queima de licor com alto teor de sólidos e/ou utilizando um lavador de gases; • Redução das emissões de SO2 das caldeiras auxiliares utilizando cascas, gás, óleo combustível com baixo teor de enxofre ou controle das emissões com lavador de gases; • Utilização de precipitadores eletrostáticos para controlar emissões de particulados nas caldeiras de recuperação, caldeiras auxiliares e forno de cal. Os níveis de emissões atmosféricas associadas à aplicação combinada destas técnicas em processos kraft para polpas branqueadas e não branqueadas são mostrados na Tabela 25. Os valores correspondem a médias anuais, em condições normais de operação. Os valores de emissões de caldeiras auxiliares não foram incluídos e serão abordados em tópico específico. 198 Tabela 25 - Emissões atmosféricas típicas do processo kraft. Material NOx SO2 Particulado Kg S/ADT Kg NO2/ADT Kg MP/ADT Polpa branqueada e não branqueada Fonte: IPPC (2000) 0,2 a 0,5 0,2 a 0,4 1,0 a 1,5 TRS Kg S/ADT 0,1 a 0,2 A BAT para reduzir os resíduos sólidos é diminuir a geração e recuperar, reciclar e reutilizar estes materiais, sempre que isto for tecnicamente viável. Sistemas de coleta e estocagem intermediários, próximos às fontes geradoras, podem auxiliar a alcançar estes objetivos. Quando o material recolhido não é reutilizável no processo, formas alternativas de uso ou disposição externas são consideradas BAT (como incineração de resíduos orgânicos em caldeiras adequadas para geração de energia). Existem diversas técnicas disponíveis para reduzir o consumo de vapor e energia elétrica e aumentar a geração interna destes insumos. Em fábricas de celulose não integradas, que são auto-suficientes do ponto de vista energético, a energia térmica gerada pela queima do licor negro e a incineração de cascas excede as necessidades do processo industrial. Entretanto, é necessário utilizar óleo combustível para a partida e em algumas delas também nos fornos de cal. Os consumos de energia térmica e elétrica de fábricas kraft eficientes são apresentados na Tabela 26. 199 Tabela 26 - Consumos de energia térmica e elétrica em fábricas kraft eficientes. Consumo de energia térmica GJ/ADT Polpa branqueada; fábricas não integradas. Polpa branqueada; fábricas integradas. Polpa não branqueada; fábricas integradas. Consumo de energia elétrica MWh/ADT 10 a 14 0,6 a 0,8 14 a 20 1,2 a 1,5 14 a 17,5 1,0 a 1,3 Fonte: IPPC (2000) 5.3.1 Descascamento a seco No descascamento úmido, as toras são colocadas em um tanque com água e as cascas são removidas pelo atrito com a lateral de um tambor. Parte da água utilizada é reciclada, porém parte é perdida por transbordamento para retirada das cascas removidas. As fábricas mais modernas já utilizam o descascamento a seco, onde a água é empregada somente para lavagem e descongelamento (em climas frios) e é efetivamente recirculada com geração mínima de águas residuárias. Este processo produz cascas com baixos teores de umidade, que beneficiam o balanço energético da indústria, além da quantidade de água requerida e de substâncias orgânicas dissolvidas serem bem menores. A Tabela 27 mostra as características das águas residuárias originárias de indústrias que utilizam o descascamento a seco e úmido. 200 Tabela 27 - Características das águas residuárias oriundas de indústrias que utilizam descascamento úmido e a seco. Volume de águas Fósforo Tipo de DQO DBO residuárias total descascamento /t polpa KgO /t polpa KgO 2 2 m3/t polpa g P/t polpa Úmido 3 a 10 5 a 15 20 a 30 25 a 35 Seco 0,5 a 2,5 0,5 a 2,5 1 a 10 10 a 20 Fonte: IPPC (2000) 5.3.2 Cozimento modificado estendido para obter celulose com baixo número kappa (em batelada ou contínuo) A deslignificação antes da unidade de branqueamento é feita no digestor e em muitas fábricas também, por meio da deslignificação por oxigênio. Portanto, estas tecnologias devem ser analisadas em conjunto, pois do ponto de vista ambiental, o essencial é o grau de deslignificação da polpa antes do branqueamento. Visando reduzir o teor de lignina (baixo número kappa) na entrada do branqueamento e assim diminuir o consumo de produtos químicos, a deslignificação estendida (ou cozimento kraft modificado) foi introduzida na indústria no final dos anos 70 e início da década de 80 do século XX. A redução do teor de lignina diminui a descarga de poluentes e aumenta a quantidade de substâncias orgânicas enviadas para a caldeira de recuperação. Diversos processos kraft modificados, contínuos e em batelada, foram desenvolvidos e aplicados comercialmente. Nos sistemas de cozimento contínuo, as três alternativas disponíveis são: o MCC (Modified Continuous Cooking), o EMCC (Extended Modified Continuous Cooking) e o ITC (Isothermal Cooking). No processo MCC, a área de cozimento do digestor é dividida em duas, chamadas de zonas concorrente e contra-corrente. A carga de licor branco é dividida entre estas. O propósito desta modificação é o de diminuir a concentração inicial de álcali, mantendo-a constante durante o cozimento e uma 201 baixa concentração de lignina dissolvida na parte final do processo. O EMCC foi desenvolvido a partir do MCC e a diferença consiste na injeção de licor branco na zona de lavagem para estender a deslignificação no digestor. A tecnologia mais recentemente desenvolvida é o ITC, que é um aperfeiçoamento do MCC. Neste processo, a totalidade do vaso do digestor é usada para deslignificação, o que possibilita cozimento em condições menos agressivas (menor temperatura), preservando as propriedades das fibras. Dependendo do número kappa desejado, o teor de produtos químicos é o mesmo ou levemente maior . Uma vez que o ITC utiliza menor temperatura, não há aumento no consumo de vapor e o rendimento é limitado. Nos sistemas descontínuos ou por batelada existem três processos com aplicação comercial: RDH (Rapid Displacement Heating), SuperBatch e EnerBatch. Nos processos RDH e SuperBatch é feito um pré-tratamento (impregnação) do cavaco com licor negro, visando reduzir o consumo de vapor e ao mesmo tempo aumentar a sulfidez inicial e reduzir a carga de álcali efetiva. No processo EnerBatch é feito um pré-tratamento do cavaco com licor branco seguido de um pré-tratamento com licor negro. Todos estes processos possibilitam uma substancial economia de energia e melhoram a qualidade da polpa. O cozimento convencional tem seus limites de número kappa em torno de 30 a 32 para softwood e 18 a 20 para hardwood, estabelecidos para preservar a qualidade da polpa. Com a aplicação das tecnologias descritas anteriormente, o número kappa pode ser reduzido para 18 a 22 (softwood) e 14 a 16 (hardwood), mantendo-se o mesmo rendimento e propriedades da polpa. Um menor teor de lignina na polpa significa uma menor descarga de poluentes no branqueamento, tanto de substâncias orgânicas quanto nutrientes. Uma unidade kappa corresponde a cerca de 0,15% de lignina na polpa, portanto, a redução de uma unidade kappa na entrada do branqueamento resulta numa diminuição de DQO de cerca de 2 kgO2/ADT. 202 O cozimento estendido afeta diversos elementos do processo kraft, tais como: • Aumento do consumo de álcali ativo; • Aumento da quantidade de substâncias dissolvidas enviada para a caldeira de recuperação; • Aumento da geração de calor na caldeira de evaporação; • Diminuição da demanda de produtos químicos no branqueamento; • Diminuição da carga orgânica oriunda das águas residuárias do branqueamento; • Diminuição do consumo de energia e vapor no cozimento e aumento do consumo de vapor na evaporação em sistemas em batelada modificados. O impacto da aplicação destas tecnologias é muito específico para cada fábrica, mas de maneira geral, têm sido obtidas reduções do número kappa de 6 a 7 unidades para softwood e 4 a 5 unidades para hardwood. Os investimentos necessários para modificar as unidades de cozimento existentes giram em torno de US$ 5 milhões para capacidade de 1.500 ADT/dia. Para obter a redução de DBO e DQO, a eficiência de lavagem também deve aumentar, custando aproximadamente US$ 4 milhões adicionais. No processo ITC não há necessidade de instalação de equipamentos adicionais para lavagem, se a modificação for feita sem aumento de capacidade. Em indústrias que operam no limite da capacidade da caldeira de recuperação, a perda de produção pode chegar a 8% se não forem adotadas medidas para adequação ao aumento da carga de sólidos (ex: instalação de estágios adicionais na evaporação para aumentar a concentração de sólidos secos no licor; adição de antraquinona; aumento da capacidade da caldeira de recuperação). A principal força motivadora para aplicação desta tecnologia é a redução na geração de águas residuárias, embora também ocorra a diminuição do consumo de produtos químicos no branqueamento. Este ganho deve ser comparado caso a caso com a possível perda de rendimento e o conseqüente aumento no consumo de madeira, para avaliar sua viabilidade. 203 5.3.3 Fechamento do circuito de filtrados na lavagem e depuração marrom O sistema de filtrados na depuração marrom pode ser completamente fechado, o que já é feito nas fábricas mais modernas. A tecnologia disponível para manuseio de madeira e cozimento permite que menos de 0,5% de nós e “shives” (palitos) sejam deixados na polpa após o cozimento. O fechamento contribui para redução dos compostos orgânicos nas águas residuárias, que são incinerados na caldeira de recuperação. A idéia é enviar o filtrado sem contaminação em contra-corrente ao longo da linha de fibras, aumentando gradualmente a concentração de sólidos e fazendo com que não haja geração de águas residuárias na depuração e lavagem. Este procedimento pode ser adotado tanto em fábricas kraft novas quanto nas existentes, porém poderá ser necessário substituir alguns equipamentos para reduzir o consumo de água de lavagem e utilizar materiais mais resistentes à corrosão. Em algumas indústrias pode haver necessidade de aumentar a capacidade de evaporação do sistema de recuperação. Os investimentos necessários giram em torno de US$ 6 milhões para fábricas novas e US$ 8 milhões para as existentes. Os custos operacionais são cerca de US$ 300 a 500 mil/ano para capacidade de 1.500 ADT/dia. Um desenvolvimento importante nesta área é a possibilidade de trabalhar a polpa com consistências maiores, o que reduz o investimento necessário e o consumo de energia elétrica. 5.3.4 Deslignificação com oxigênio Após o cozimento, a polpa ainda contém lignina que deve ser removida antes do branqueamento final, de forma seletiva, minimizando danos à parte celulósica e perdas de rendimento. Cerca de 50% da lignina residual após a depuração marrom pode ser removida pela adição de oxigênio em uma suspensão alcalina. 204 Neste processo, o oxigênio oxida o licor branco e o sulfato de magnésio é misturado à polpa em um reator, tanto em alta (acima de 18%) quanto em média consistência (em torno de 14%). O reator de deslignificação é pressurizado e a temperatura é elevada para cerca de 100ºC. A deslignificação é feita em um ou dois estágios, após o cozimento e antes do branqueamento, podendo atingir eficiências de 40 a 60%. O filtrado (licor usado) é enviado em contra corrente para o sistema de recuperação de produtos químicos. Esta tecnologia pode ser adotada em indústrias novas ou existentes, mas não da mesma forma e nem com os mesmos custos. A instalação pode reduzir a produção se o sistema de recuperação não tiver capacidade suficiente. O consumo adicional de vapor na evaporação é de até 4% para alta consistência e de 4 a 10% para média consistência; a carga adicional de sólidos é de aproximadamente 70 kg/ADT para softwood e 45 kg/ADT para hardwood; a geração de vapor com os sólidos adicionais é cerca de 1,5 a 2,5% menor que o aumento da carga devido ao baixo poder calorífico do licor proveniente da deslignificação com oxigênio. Os maiores benefícios obtidos são a redução do consumo de produtos químicos no branqueamento e da carga orgânica nas águas residuárias geradas na indústria (DQO e compostos orgânicos clorados no caso de branqueamento ECF). As fábricas modernas são sempre projetadas combinando cozimento modificado e deslignificação com oxigênio, portanto, os efeitos ao meio ambiente (DQO e AOX) devem ser analisados em conjunto. A Tabela 28 resume os números kappa obtidos com as diferentes tecnologias e permite uma comparação grosseira das cargas orgânicas das águas residuárias geradas . 205 Tabela 28 - Numero kappa e estimativa de DQO filtrada utilizando-se diferentes tecnologias de deslignificação Estimativa de DQO Tecnologias de deslignificação Kappa Kappa nos filtrados do hardwood softwood Branqueamento (kgO2/t) Hardwood Cozimento convencional Cozimento convencional + deslignificação com oxigênio Cozimento Softwood 14 a 22 30 a 35 28 a 44 60 a 70 13 a 15 18 a 20 26 a 30 36 a 40 14 a 16 18 a 22 28 a 32 36 a 44 8 a 10 8 a 12 16 a 20 16 a 24 modificado/estendido Cozimento modificado + deslignificação com oxigênio Fonte: IPPC (2000) Os investimentos necessários para implantação desta tecnologia giram em torno de US$ 35 a 40 milhões para uma capacidade de 1.500 ADT/dia e os custos operacionais são US$ 2,5 a 3,0 milhões/ano. Entretanto, a deslignificação com oxigênio reduz o consumo de produtos químicos no branqueamento, resultando numa redução do custo de produção que depende do tipo de madeira utilizada. Em indústrias existentes, a carga adicional de sólidos secos para a caldeira de recuperação pode chegar a 10% (mais tipicamente entre 4 e 6%) e este mesmo percentual é requerido como acréscimo de capacidade na caustificação e forno de cal. Se não houver esta capacidade adicional disponível, normalmente ocorre uma redução da produção da fábrica como um todo. 5.3.5 Branqueamento com ozônio O branqueamento com ozônio (O3) está relacionado à produção de polpas ECF e TCF e sua principal finalidade é aumentar o poder de deslignificação. O O3 é gerado por meio de descargas elétricas em um fluxo de oxigênio, sendo bastante elevado o investimento requerido para instalação. Uma vez que o teor de O3 obtido do oxigênio 206 é somente de 14 a 16%, é necessário produzir grandes volumes, fazendo com que o custo operacional para viabilizar a sua implantação seja também elevado (devido ao alto custo do oxigênio e do consumo de energia elétrica). No branqueamento ECF, a substituição de ClO2 pelo ozônio reduz a carga de AOX nas águas residuárias e na polpa, produzindo a polpa chamada de “ECF light”. No TCF, o uso do ozônio no branqueamento é comum, assim como de outros produtos químicos sem cloro, tornando com isso, menos complicado o fechamento do circuito de filtrado dos estágios de lavagem. A instalação de um estágio (PO) pressurizado no final da seqüência de branqueamento é outra opção para reduzir a carga de ClO2. Em fábricas de polpa TCF, a utilização do estágio PO é bastante freqüente (Lachenal et al. ,1999; Finchem, 1998 e Axgegard et al., 1997). O investimento necessário para implantação de uma indústria ECF com uma capacidade de 1.500 ADT/dia, gira em torno de US$ 15 milhões e o correspondente custo operacional é de aproximadamente US$ 2 milhões/ano. 5.3.6 Branqueamento ECF O branqueamento ECF (Elemental Chlorine Free) utiliza uma seqüência onde o ClO2 é geralmente o principal agente. A remoção da lignina ocorre em várias etapas (os dois primeiros estágios retiram a lignina e os subseqüentes removem o resíduo e fornecem acabamento ao produto). O cloro elementar pode ser substituído pelo dióxido de cloro no primeiro estágio do branqueamento porque o poder de oxidação e a seletividade destes compostos na remoção de lignina são semelhantes. Reforçando os estágios de extração alcalina com oxigênio e/ou peróxido de hidrogênio, obtém-se um efeito oxidante maior, o que reduz a lignina residual a ser removida antes dos estágios finais com dióxido de cloro. 207 A substituição do cloro pelo dióxido reduz a geração de compostos organoclorados e elimina a formação de dioxinas, cujos efeitos ambientais são bastante adversos. Este procedimento, entretanto, normalmente requer modificações na unidade de branqueamento e também aumento da capacidade da unidade de dióxido de cloro. O dióxido é o mais seletivo de todos os produtos normalmente utilizados no branqueamento. Seu emprego isolado no primeiro estágio faz com que a carga total de cloro efetivo tenha de ser aumentada e, portanto o uso de oxigênio e/ou peróxido de hidrogênio nos estágios de extração é mais intensa. Várias soluções técnicas foram testadas e algumas delas mostraram-se mais apropriadas para produção em escala industrial (IPPC, 2000). O branqueamento ECF é diferente para softwood e hardwood e em muitas indústrias, o conceito ECF é adaptado às instalações existentes. Geralmente, para atingir a mesma alvura, hardwood requer menos produtos químicos que softwood, o que normalmente permite utilizar um número menor de estágios de branqueamento. Os principais ganhos ambientais obtidos com esta tecnologia são: • Redução a níveis não detectáveis de 2,3,7,8 TCDD e 2,3,7,8 TCDF (Tetraclorodibenzodioxina e Tetraclorodibenzofurano, compostos policlorados suspeitos de causarem alterações mutagênicas em seres vivos). Entretanto, a completa eliminação das dioxinas nas águas residuárias depende do número kappa e da pureza do dióxido utilizado. Com kappa elevado e ClO2 com alta concentração de Cl2 , a probabilidade de formação de dioxinas aumenta, • Eliminação dos clorofenóis prioritários propostos na regulamentação da USEPA United States Environmental Protection Agency a níveis não detectáveis, • Diminuição na formação de clorofórmio, • Diminuição na formação de compostos organoclorados (AOX) a níveis de 0,2 a 0,1 kg/ADT nas águas residuárias. Normalmente, níveis de AOX menores que 0,3 kg/ADT são facilmente alcançáveis por branqueamentos ECF. 208 A implementação de branqueamentos ECF tem imposto às indústrias um aumento da utilização de substitutos para o Cl2, acarretando grande consumo de energia para produção de ClO2, O3 e H2O2. Os investimentos necessários para uma indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia giram em torno de US$ 10 milhões para novas instalações e de US$ 5 milhões para as existentes. Os custos operacionais são de aproximadamente US$ 12 milhões/ano. O principal motivador para este investimento é a redução das concentrações de AOX na polpa e nos águas residuárias. 5.3.7 Branqueamento TCF O branqueamento TCF (Totally Chlorine Free) é um processo que não utiliza nenhum composto que contenha cloro. O uso deste tipo de branqueamento cresceu em alguns países (Suécia e Finlândia) mesmo exigindo muitas modificações na indústria. O peróxido de hidrogênio e o ozônio ou ácido peracético (PA) são os produtos químicos normalmente empregados. Garantido um número kappa adequadamente baixo após o cozimento estendido e a necessária remoção dos metais de transição nos estágios de quelação, é possível atingir níveis de alvura aceitos pelo mercado, utilizando somente o peróxido de hidrogênio no branqueamento. Entretanto, a curva de dosagem de peróxido versus alvura é quase horizontal para alvuras maiores (88 ISO), fazendo com que pequenas alterações no número kappa causem altos custos de branqueamento ou desclassificações de produto por alvura baixa. Uma opção para reduzir o consumo de peróxido é a utilização de ozônio na seqüência de branqueamento, num estágio anterior ao peróxido. O ozônio é muito eficiente para reduzir o consumo de peróxido, viabilizando a obtenção de alvuras altas. O ponto fraco do ozônio é que sua utilização em altas dosagens pode degradar a polpa (ataque às cadeias de celulose). 209 Os perácidos estão se tornando comercialmente disponíveis, por exemplo, na forma de ácido peracético. Este composto é um importante complemento quando utilizado em um estágio anterior ao peróxido, substituindo o ozônio. Permite atingir alvuras altas, mesmo com certas variações no número kappa. Seu inconveniente é o alto custo O branqueamento TCF é atualmente uma tecnologia bem estabelecida. Diversas fábricas são capazes de utilizar o branqueamento ECF ou TCF dependendo da demanda de mercado. Poucas fábricas produzem somente TCF. Os custos operacionais maiores e a piora da qualidade do produto têm limitado a sua demanda, decrescendo sua participação no mercado nos últimos anos. O investimento necessário para implantação do branqueamento TCF, para uma indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia, gira em torno de US$ 8 milhões para novas fábricas e de US$ 5 milhões para as existentes. Os custos operacionais são consideravelmente superiores ao ECF (cerca de US$ 20 milhões/ano), devido ao elevado custo dos produtos químicos utilizados. A principal motivação para utilização do TCF é a redução das concentrações de AOX nas águas residuárias e a não formação de compostos organoclorados. 5.3.8 Fechamento parcial da unidade de branqueamento As descargas de águas residuárias antes da unidade de branqueamento são bastante limitadas e se esta for total ou parcialmente fechada, o resultado será uma significativa redução na descarga de compostos orgânicos, nutrientes e metais ao meio ambiente. O principal pré-requisito para o fechamento do branqueamento, que significa a recirculação dos filtrados para a recuperação química, é a redução do fluxo utilizando-se sistemas eficientes de lavagem da polpa. O fechamento pode ser 210 conseguido recirculando-se os filtrados em contra-corrente ao longo da seqüência, do último estágio de branqueamento para a lavagem de massa marrom. Para que isto seja possível é necessário aumentar as capacidades de estocagem e do sistema de distribuição de filtrados. É inevitável que a concentração de substâncias orgânicas dissolvidas e produtos de reação aumente à medida que o filtrado circule nos estágios. A acumulação destes sólidos dissolvidos causa um aumento considerável no consumo de produtos químicos, podendo até inviabilizar a obtenção dos níveis de alvura necessários. Outro fator complicador é que os ajustes de pH com ácido sulfúrico e soda cáustica têm custos maiores devido à quantidade maior de filtrado circulante, podendo afetar o equilíbrio sódio-enxofre da fábrica. A conclusão é que o fechamento completo do branqueamento não é uma tecnologia viável até o momento, mas é possível criar dois sistemas de recirculação do filtrado em contra-corrente, um ácido e um alcalino. O filtrado alcalino pode ser usado para lavar a polpa antes do branqueamento, resultando em uma considerável redução da geração de águas residuárias nesta unidade. Deve ser considerado ainda que o cálcio está presente na polpa e durante o branqueamento oxidativo é formada uma quantidade substancial de ácido oxálico. Quando o filtrado alcalino é usado para lavar a polpa vinda de um estágio ácido ou é misturado com um filtrado ácido que contém cálcio e sódio, existe um grande risco de haver precipitação de oxalatos. A tendência de precipitação do oxalato de cálcio é diretamente proporcional à sua concentração, ou em outras palavras, quanto mais fechado for o sistema, maior é o risco de incrustações. Este problema ainda não tem solução e é muito difícil reduzir as vazões específicas de águas residuárias do branqueamento a valores menores que 5 m3/t. Além disso, o aumento da quantidade de cloretos pode causar corrosão nos equipamentos se o sistema for fechado. Portanto, as fábricas que estão tentando utilizar esta tecnologia são as que produzem TCF ou ECF utilizando pouca quantidade de dióxido de cloro. 211 Geralmente esta tecnologia pode ser aplicada em indústrias novas ou existentes, mas para estas o investimento é bastante elevado devido à necessidade de aumentar a capacidade de armazenagem e circulação de filtrados. As indústrias mais novas já utilizam menos água no processo, devido à maior eficiência dos equipamentos e por terem um sistema de evaporação e de recuperação dimensionados adequadamente de modo a permitir o fechamento parcial. Deve-se observar também que, no caso de indústrias ECF existe um risco considerável de haver corrosão por cloretos na caldeira de recuperação. Os principais resultados obtidos com o fechamento do circuito são a redução da DQO em 6 kgO2/ADT e da vazão específica de águas residuárias para valores de até 10 m3/ADT. Uma indústria reportou a redução de vazão para 5 m3/ADT e a diminuição da DQO de 30 para 14 kgO2/ADT, havendo também redução da toxicidade (IPPC, 2000) As tentativas para fechamento do circuito de filtrados do branqueamento vem sendo feitas desde 1993 em uma indústria localizada na Suécia, que produz polpa utilizando bétula (IPPC, 2000). As instalações operaram alguns meses e, como conseqüência das incrustações, parte do circuito de filtrados teve de ser reaberto no primeiro estágio ácido para remover o filtrado com maior concentração de sódio. Após ajuste das condições de processo, a indústria começou a operar com fechamento parcial do circuito, caso raro para este tipo de indústria. Os investimentos necessários são bastante elevados, englobando o redimensionamento de todo o sistema de circulação e armazenagem de filtrados e a implantação de uma estratégia de gerenciamento do consumo de água. Não foram obtidos ainda dados confiáveis sobre os valores envolvidos. 212 5.3.9 Coleta de derrames As indústrias de celulose kraft forçosamente devem adotar medidas para reduzir as descargas acidentais de licor do processo, uma vez que o tratamento de águas residuárias, especialmente o biológico, pode ser severamente prejudicado pelas descargas alcalinas. O licor do processo é perdido de diversas maneiras (sistemas de selagem, válvulas, separadores de nós, depuradores, bombas, manutenções, paradas e partidas, etc). Portanto, as indústrias devem ser projetadas obedecendo os seguintes conceitos: • Coleta dos derrames de licor no mais alto teor de sólidos possível; • Retorno do licor e das fibras coletadas do processo; • Construção de bacias de contenção para isolar as áreas críticas do processo e evitar cargas acidentais na estação de tratamento de águas residuárias ou contaminação dos sistemas de drenagem de águas pluviais; • Monitoramento de condutividade e pH em locais estratégicos para detectar perdas e derrames. De maneira geral, as águas residuárias contaminadas e derrames devem ser coletados em poços e bombeados para tanques de estocagem. Tipicamente, por razões econômicas, são recolhidos licores com pelo menos 2-3% de sólidos dissolvidos. As lavagens de piso e águas de selagem podem diluir o filtrado e tornar sua recuperação inviável. O condensado das unidades de cozimento e evaporação devem ser também recolhidos para reutilização no processo. Estes condensados são classificados em função do seu grau de contaminação: o mais contaminado tem poucas chances de ser reutilizado no processo e provoca aumento da carga orgânica e da temperatura da água residuária; os menos contaminados podem ser utilizados em substituição à água. 213 Outra opção, também por razões ambientais, é utilizar uma coluna de arraste, para separar o enxofre e os componentes orgânicos voláteis, purificando o condensado, que poderá ser então ser utilizado em diversas aplicações no processo. Esta técnica é aplicável tanto em fábricas existentes quanto em novas, entretanto o controle efetivo de derrames é obviamente mais fácil de implementar em novas instalações. De maneira geral, um gerenciamento adequado do processo, um sistema de coletas adequadamente dimensionado e 5 a 10% de capacidade extra de evaporação possibilita a redução de 3 a 8 kg DQO/ADT. Além disso, o risco de distúrbios no sistema de tratamento de águas residuárias é minimizado. O investimento necessário para uma indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia é de aproximadamente US$ 2 milhões; se houver necessidade de aumentar a capacidade de evaporação, o investimento aumenta para cerca de US$ 6 milhões. Os custos operacionais são de US$ 500 mil/ano. 5.3.10 Controle de processo e lavagem eficiente O objetivo da lavagem da massa marrom é separar as fibras de compostos orgânicos e inorgânicos dissolvidos, antes que a polpa deixe a área de cozimento para possibilitar a recuperação dos produtos químicos utilizados. O estágio de lavagem consiste na combinação de sucessivas diluições e prensagens ou deslocamentos, que são utilizados por diversos tipos de equipamentos, tais como filtros, prensas, difusores e outros. As prensas lavadoras, filtros pressurizados e difusores apresentam melhor desempenho. Uma vez que a lavagem nunca é 100% eficiente, sempre haverá um residual de impurezas (“carry-over” ), que será transportado com a polpa e causará aumento do consumo de produtos químicos no branqueamento. 214 As perdas na lavagem que utiliza um filtro convencional de tambor podem chegar a 8 kg DQO/ADT, enquanto que numa prensa podem alcançar 2 a 4 kg DQO/ADT (com um rendimento de 96 a 98% na recuperação de licor negro). Se a lavagem antes da deslignificação for eficiente, haverá uma redução no consumo de oxigênio. Se for antes do primeiro estágio de branqueamento, haverá redução da carga de compostos orgânicos, resultando em diminuição das concentrações de AOX, DBO e DQO das águas residuárias. Os investimentos necessários giram em torno de US$ 6 milhões para fábricas novas e US$ 4 milhões para as existentes. 5.3.11 Arraste com vapor (“stripping”) e reúso dos condensados O principal objetivo desta tecnologia é reduzir o consumo de água da indústria, diminuir a carga orgânica a ser enviada para a estação de tratamento de águas residuárias e reduzir as emissões de TRS. A coluna de arraste com vapor (“stripper”) pode ser um equipamento separado ou parte da unidade de evaporação. O condensado gerado na evaporação do licor negro é enviado ao topo da coluna e o vapor vem do fundo, em contra-corrente. O vapor d’água e os gases são enviados a um condensador de refluxo. Os gases não condensáveis são enviados para incineração onde os compostos orgânicos e TRS são destruídos por oxidação. O condensado que não contém metais é particularmente útil para a lavagem no branqueamento, quando se pretende fechar este circuito. Ele pode também ser utilizado na lavagem de massa marrom, na caustificação, na lavagem de gases (“scrubbers”) ou como água de “make-up” do licor branco. 215 O melhor local para reúso do condensado é na lavagem da polpa, em estágios operando com circuito de filtrados fechado. Tipicamente, o consumo de água para lavagem é 10 a 13 m3/ADT e são produzidos 6 a 9 m3/ADT de condensado (que é a quantidade de água que pode ser economizada). A remoção de TRS chega a 97% e a de metanol a 92%. Para esta tecnologia ser aplicada é necessário que os gases não condensáveis sejam incinerados, a fim de evitar descargas de TRS na atmosfera. Quando combinados, o reúso do condensado permite a economia de até 6 m3/ADT de água e de gás natural ou óleo combustível para geração de energia uma vez que os gases volatilizados (encaminhados para a queima) contém cerca de 8 a 12 kg de metanol por ADT. Os investimentos necessários para instalação do sistema giram em torno de US$ 3 milhões para uma indústria de 1.500 ADT/dia. Se a unidade de arraste é operada separadamente da evaporação, os custos operacionais são cerca de US$ 700 mil/ano; caso contrário, eles passam a ser de aproximadamente US$ 400 mil/ano. 5.3.12 Utilização de tanques com capacidade suficiente para armazenar fluidos de processo quentes ou concentrados As indústrias de celulose kraft necessitam minimizar descargas de fluidos quentes ou concentrados, ou para evitar cargas de choque na estação de tratamento de águas residuárias (principalmente no caso de processos biológicos) ou porque alguns destes licores são importantes economicamente, devido ao seu poder calorífico ou aos produtos químicos que contém. Esta medida de controle de poluição está relacionada ao controle de derrames. Para evitar cargas desnecessárias na estação de tratamento de águas residuárias, o cozimento e a recuperação de licores e condensado devem ter pelo menos 30% de capacidade volumétrica adicional para armazenagem, quando comparados a processos tradicionais. Os fluidos são separados para evitar diluição dos licores potencialmente recuperáveis. O controle dos volumes disponíveis é especialmente 216 crítico em situações de parada, partida e/ou distúrbios do processo. A demanda depende da concentração; isto significa que o volume requerido é consideravelmente superior em indústrias com baixa eficiência de lavagem da polpa marrom ou em unidades de evaporação sem superconcentradores. Os investimentos necessários chegam a US$ 1 milhão, para uma indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia (considerando a instalação de tanques, bombas e tubulações). 5.3.13 Tratamento aeróbio das águas residuárias Normalmente, as águas residuárias provenientes de indústrias de papel e celulose são tratadas por processos aeróbios, tais como lagoas aeradas ou lodos ativados. O tratamento biológico é precedido por tratamento primário que visa a remoção de fibras e materiais em suspensão presentes na água residuária. Em alguns casos, também são necessários sistemas de neutralização/equalização e resfriamento da água residuária antes do tratamento biológico. Maiores informações e dados sobre o tratamento de águas residuárias provenientes de fábricas de celulose e papel, podem ser obtidas na publicação: “Industrial Environmental Control – Pulp and Paper Industry” (Springer, 1993). 217 Neutralização, remoção de fibras, caulim, Etc. Lagoas aeradas Decantação Neutralização x Lodos ativados x x Resfriamento Remoção de carga orgânica Figura 52 – Processos de tratamento de águas residuárias normalmente empregados em indústrias de celulose e papel. Fonte: IPPC (2000) Lagoas aeradas As lagoas vêm sendo preteridas em função das grandes áreas necessárias e da menor eficiência de remoção de contaminantes em comparação com sistemas de lodos ativados. As lagoas produzem menos lodo que o processo de lodos ativados, mas em ambos os casos ele é difícil de desidratar, dificultando sua disposição final (requerem maior quantidade de produtos químicos para facilitar a desidratação e maior consumo de combustível, se a alternativa for a queima). A eficiência de tratamento varia muito em função das características das águas residuárias, dos parâmetros de projeto adotados e das condições de operação. Tipicamente, as eficiências de remoção são de 40 a 85% para DBO, 30 a 60% para DQO e 20 a 45% para AOX, sendo os limites superiores atingidos com os maiores tempos de residência (superiores a 6 dias). 218 O investimento necessário varia muito em função do local da instalação, ficando na faixa de US$ 15 a 20 milhões, para uma capacidade de 1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são de US$ 1,3 a 1,7 milhões. Lodos ativados A revisão bibliográfica e levantamentos feitos para a publicação do documento sobre as melhores tecnologias disponíveis para a produção de celulose e de papel indicou que na Europa, cerca de 60 a 75% dos processos de tratamento de águas residuárias são sistemas de lodos ativados (IPPC, 2000). Suas principais vantagens são a alta eficiência de tratamento, a possibilidade de controlar o processo (por exemplo, o consumo de oxigênio) e o menor espaço requerido. As desvantagens são a alta vulnerabilidade a distúrbios no processo (cargas de choque), alta produção de lodo (resíduo) e custos operacionais elevados. A eficiência de tratamento varia muito em função das características das águas residuárias, do projeto do sistema e das condições de operação. Os valores típicos estão na faixa de 85 a 98% de remoção de DBO, 60 a 85% de DQO e 40–65% de AOX. Fósforo e nitrogênio são reduzidos em 40 a 85% e 20 a 50% respectivamente. A eficiência global de remoção de SST é 85 a 90%. A Tabela 29 indica as concentrações típicas dos efluentes dos sistemas de lodos ativados tratando águas residuárias de indústrias de papel e celulose 219 Tabela 29 - Características típicas dos efluentes de sistemas de lodos ativados tratando águas residuárias de indústrias de papel e celulose (processo kraft). Parâmetro Concentração (mg/L) DBO DQO SST P Total 20 a 40 300 a 500 20 a 40 0,2 a 0,4 N Total (NTK N+NO2+ N-NO3) 2a4 Fonte: IPPC (2000) O investimento necessário para uma nova instalação é de US$ 19 a 24 milhões para uma capacidade de 1.500 ADT/dia, sendo o limite menor para fábricas de polpa não branqueada. Os custos operacionais são de US$ 2,0 a 2,6 milhões. 5.3.14 Tratamento terciário Em alguns casos, o tratamento de águas residuárias tem que ser estendido a um nível terciário, no qual os nutrientes, principalmente o fósforo, são removidos por precipitação e filtração ou sedimentação subseqüentes. Os produtos químicos normalmente utilizados para este fim são sais de alumínio, de ferro e de cálcio. São utilizados também polieletrólitos para auxiliar a sedimentação do precipitado. Em paralelo à remoção de nutrientes também ocorre a remoção de DBO, a de DQO e AOX. Os resultados obtidos em estudos em escala piloto na Suécia mostraram que as seguintes eficiências de redução podem ser obtidas: 80 a 90% de fósforo, 30 a 60% de nitrogênio, 80 a 90% de DQO e 80 a 90% de AOX com este tipo de tratamento (IPPC, 2000). A precipitação do fósforo resulta em uma grande quantidade de lodo viscoso, muito difícil de desidratar e dispor. Além disso, o custo dos produtos químicos é elevado. O investimento necessário é de aproximadamente US$ 3 milhões para uma indústria kraft com capacidade de 250.000 t/ano e US$ 4 milhões para 500.000 t/ano. 220 5.3.15 Aumento do teor de sólidos no licor negro Na caldeira de recuperação, as substâncias inorgânicas são reduzidas e separadas como “smelt” (principalmente como Na2S e Na2CO3) e as substâncias orgânicas são oxidadas e, portanto, geram calor. Numa caldeira convencional, existe uma zona de oxidação na parte superior e uma de redução na parte inferior da fornalha. O licor negro concentrado é introduzido por meio de um ou mais bicos injetores na zona de redução; o ar de combustão é suprido em diferentes níveis, como ar primário, secundário e terciário (em sentido ascendente). As emissões das caldeiras de recuperação consistem basicamente de particulados, óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre. Os níveis destas emissões são mantidos tão baixos quanto possível por intermédio da otimização dos parâmetros de combustão como temperatura, ar, teor de sólidos do licor e o balanço químico. O objetivo de melhorar a evaporação é conseguir o maior teor de sólidos (TS) possível no licor a ser enviado para a caldeira. Após uma evaporação convencional, o teor de sólidos fica próximo de 65%; com a instalação de um superconcentrador, pode-se atingir até 80% (o TS depende da espécie de madeira utilizada e da temperatura; o valor máximo viável é limitado pelo aumento da viscosidade e pela tendência de incrustação do licor – na prática, para eucalipto e outras “hardwoods”, é difícil conseguir mais que 70%). Os valores de referência, visando a otimização do balanço da fábrica são 72 a 73%, medidos logo após a evaporação (antes do misturador da caldeira). A redução das emissões de enxofre conseguida por meio do aumento do teor de sólidos, eleva as emissões de particulados. Para compensar é necessário instalar precipitadores eletrostáticos mais eficientes e, portanto, mais caros. Os melhores resultados obtidos referem-se a reduções das emissões de enxofre para 5 a 50 mg S/Nm3 ou 0,1 a 0,3 kg S/ADT ou até mesmo quase zero porque mais sódio será vaporizado e reagirá com o enxofre. 221 Quando se trabalha com altos teores de sólidos (TS > 80%), ocorre uma considerável liberação de compostos de enxofre no último estágio da evaporação, que devem ser coletados e incinerados. Além disso, o aumento do TS acarreta aumento das emissões de NOx da caldeira de recuperação, se nenhuma medida de controle for adotada. Em indústrias existentes, o custo de modificar a evaporação e aumentar a concentração do licor negro é função do teor de sólidos que se pretende alcançar, como segue (considerando uma capacidade de 1.500 ADT/dia): Aumentar a concentração de: 63% para 70% US$ 1,7 a 2,0 milhões 63% para 75% US$ 3,5 a 4,0 milhões 63% para 80% US$ 8,0 a 9,0 milhões O acréscimo de custos operacionais devido às modificações não é significativo, sendo compensado pela economia de energia (de até 1,7%) e ganho de capacidade na caldeira de recuperação. 5.3.16 Instalação de lavador de gases na caldeira de recuperação Considerando somente os aspectos ambientais, esta medida pode ser aplicada alternativamente ao item anterior, instalando-se um lavador de gases (“scrubber”) para reduzir as emissões de dióxido de enxofre da caldeira de recuperação. A eficiência de remoção de cloretos pela água fria é da ordem de 60 a 70% e o SO2 e os particulados são também removidos. A lavagem é feita com água em pH 6-7, ajustado pela adição de licor fraco ou licor branco oxidado. O SO2 reage com o licor de lavagem, formando Na2SO3 e Na2SO4. Pode ser removido também TRS, na forma de H2S. O licor de lavagem é recirculado, normalmente para a preparação de licor branco. 222 A eficiência de remoção de SO2 é tipicamente maior que 90% e as emissões de enxofre são reduzidas de 0,5 a 2 kg/ADT para 0,1 a 0,3 kg/ADT. O equipamento geralmente é fornecido como um “pacote” pelo fornecedor e o investimento necessário fica em torno de US$ 10 milhões. Os custos operacionais são de cerca de US$ 500 mil/ano. 5.3.17 Coleta de gases não condensáveis diluídos para incineração na caldeira de recuperação O controle das emissões de TRS pode ser dividido em tratamento de gases não condensáveis (GNC) concentrados, que contém cerca de 4 kg TRS/t (medido como S) e GNC diluídos, que contém cerca de 0,5 TRS/t. Os GNC concentrados são geralmente coletados no cozimento e evaporação e enviados a incineradores ou ao forno de cal. Poucas indústrias incineram estes gases na caldeira de recuperação. Um grande volume de GNC diluído é formado no manuseio de licores e lavagem da polpa e a sua composição varia muito de indústria para indústria. A coleta é feita por meio de tubulações e sopradores de gases e a incineração pode ocorrer com o ar secundário ou terciário da caldeira de recuperação. Dependendo do volume e do “layout” da indústria, pode ser necessário instalar diversos sistemas de destruição de TRS. Como alternativa à incineração, pode-se utilizar lavadores de gases. A caldeira de recuperação é capaz de destruir os compostos reduzidos de enxofre, porém é somente uma das alternativas disponíveis. A vazão de GNC gerada em uma indústria de 1.000 ADT/dia gira em torno de 50.000 a 100.000 m3/h, dependendo das características da mesma (com digestores contínuos e difusores o volume é menor que com digestores em batelada e filtros lavadores). 223 O investimento necessário para coleta e disposição final dos GNC diluídos na caldeira de recuperação é de aproximadamente US$ 4,5 milhões, para uma planta de 1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são de US$ 500 mil/ano. 5.3.18 Coleta de GNC concentrados e diluídos para incineração no forno de cal Como mencionado anteriormente, os GNC concentrados podem ser incinerados em equipamentos específicos dotados de lavadores de SO2, ou no forno de cal. Os GNC concentrados contém cerca de 90% do volume de compostos de TRS gerados na indústria. Pequenos volumes de gases altamente concentrados são gerados em sistemas de recuperação de terebentina, condensadores de vapor de “flash” em digestores contínuos, tanques de estocagem de condensado contaminado, evaporadores e nos sistemas de recuperação de calor dos digestores em batelada. A vantagem de queimar estes gases no forno de cal é evitar a instalação de queimadores adicionais, além de possibilitar que os compostos de enxofre sejam absorvidos pela lama, reduzindo emissões de SO2. Entretanto, apenas certo volume de enxofre pode ser absorvido pelo sódio gasoso, formando sulfato de sódio. Quando esta capacidade é ultrapassada, ocorrem emissões de SO2 e este efeito é intensificado quando da incineração de GNC. Para minimizar este efeito pode-se reduzir o teor de enxofre do óleo combustível e/ou retirar os compostos de enxofre dos GNC antes da queima. Cerca de 10 a 15% do óleo combustível pode ser substituído pelo poder calorífico dos GNC concentrados, porém a variação na energia gerada torna difícil manter constante a qualidade da cal. A condensação de metanol após a coluna de arraste pode minimizar o problema da variação da qualidade do gás, mas requer investimentos adicionais. 224 Os investimentos para coleta e incineração são de aproximadamente US$ 5 milhões para indústrias com capacidade 1.500 ADT/dia. Caso o metanol possa ser utilizado, não haverá incremento de custos operacionais; caso contrário, pode-se esperar um aumento de US$ 500 mil/ano. 5.3.19 Incineração de gases de enxofre reduzido em queimador específico equipado com lavador para SO2 A queima dos GNC (ver item 5.1.3.18) pode também ser feita em incineradores equipados com lavadores de SO2. Os investimentos necessários são de cerca de US$ 10 milhões para indústrias com capacidade de 1500 ADT/dia e os custos operacionais aproximadamente US$ 500 mil/ano. Existem indústrias onde estes incineradores são utilizados apenas como “stand-by”, atuando quando ocorre alguma falha nos sistemas principais. 5.3.20 Instalação de tecnologia de baixa emissão de NOx em caldeiras auxiliares e forno de cal Em indústrias de produção de polpa são utilizados diversos combustíveis como cascas, carvão, óleo, lignina ou gás natural, normalmente acoplados a sistemas de geração de energia. A queima destes combustíveis requer diversas medidas para controle das emissões de particulados, SO2 e NOx. A tecnologia de baixa emissão de NOx aplicada à queima de combustíveis sólidos envolve principalmente a utilização de caldeiras com leitos fluidizados. Carvão e lignina podem ser utilizados como combustível principal ou complementar neste tipo de caldeira, onde um controle operacional rigoroso propicia baixas emissões de NOx. Caldeiras convencionais a óleo ou gás natural devem ter projetos adequados e os parâmetros de combustão devem ser controlados de forma a manter baixas as 225 emissões de NOx. O ar primário é injetado nos queimadores; os secundários e terciários são injetados em separado para manter um apropriado balanço ar primário versus ar secundário e versus ar terciário. Pode ser necessária ainda a injeção de ar acima da chama principal para completar a queima do combustível. A finalidade da alimentação de ar em diversas fases é queimar o combustível sem excesso de ar, em atmosfera reduzida, de forma a: • Evitar que exista oxigênio para formação significativa de NOx. • Garantir que a temperatura da chama seja menor que a dos queimadores tradicionais, diminuindo a formação de NOx. Geralmente, as emissões variam em função do combustível. Em comparação aos queimadores tradicionais com 250-500 mg NOx/MJ, as emissões podem ser reduzidas para 120 a 140 mg NOx/MJ. Os investimentos necessários são de aproximadamente US$ 800 mil e não há variação nos custos operacionais. 5.3.21 Tecnologia SNCR (Selective Non Catalytic Reduction) em caldeiras de biomassa Devido à baixa temperatura de combustão, as caldeiras de casca têm baixas emissões de NOx, tipicamente na faixa de 70 a 100 mg NOx/MJ quando somente cascas são queimadas. Quando somente óleo é utilizado, as emissões variam de 100 a 150 mg NOx/MJ. O excesso de oxigênio favorece a formação de NOx e, portanto, deve ser evitado; por outro lado, pouco oxigênio aumenta o risco de emissões de CO e VOC. 226 O NO é gerado nas fornalhas tanto pela reação com nitrogênio no ar (que aumenta com o aumento da temperatura de combustão) quanto pela oxidação do nitrogênio no combustível. Uma parte do NO é oxidada para NO2. No processo SNCR, o NO é reduzido pela uréia à nitrogênio, dióxido de carbono e água, conforme indicado nas reações 1,2 e 3. 2NO + 2NH3 + ½ O2 3NO2 + 4NH3 7 2N2 + 3H2O Reação 1 /2 N2 + 6H2O Reação 2 Quando é utilizada uréia, ocorre primeiramente a seguinte reação, sendo a amônia o produto: (NH2)2CO + H2O 2NH3 + CO2 Reação 3 O equipamento para injeção de uréia ou amônia pode ser instalado em indústrias novas ou existentes. Nestas últimas, será mais difícil conseguir condições ótimas de reação, portanto o potencial de redução de emissões é menor. A redução de NOx conseguida em uma caldeira de biomassa é de 30 a 50% por meio da melhoria das condições de combustão (ver 5.1.3.20) e/ou aplicando o processo SNCR. A emissão de NOx pode chegar a 40 a 60 mg NOx/MJ ou 100 a 200 mg/Nm3 e a de enxofre a 10 a 20 mg/MJ quando da queima de cascas. Existem sistemas em operação desde o início dos anos 90 apresentando boa eficiência, mas em alguns casos a solução de uréia tem causado danos à caldeira. Os sistemas são de difícil controle devido às constantes alterações de carga requeridas. Os investimentos necessários chegam a US$ 1 milhão e o custos operacional é devido à aquisição da uréia (1 a 2 kg uréia por kg de NOx removido). 227 5.3.22 Tecnologia OFA (Over Fire Air Technique) em caldeiras de recuperação As caldeiras de recuperação operam com atmosferas redutoras no fundo da fornalha, o que faz com que a formação de NOx seja menor que em outros tipos de caldeira. Mesmo assim, algumas modificações no sistema de alimentação de ar têm propiciado reduções nestas emissões, por intermédio da limitação da quantidade de ar na zona de combustão e instalando portas para injeção de ar nas zonas superiores da fornalha (nível quaternário). A redução obtida depende do tipo de caldeira e da forma de aplicação da tecnologia. Normalmente, ela é de 10 a 25%. O investimento necessário para implantação é de aproximadamente US$ 2,5 milhões e não há alterações nos custos operacionais. 5.3.23 Instalação de lavadores de lama mais eficientes na caustificação A cal (CaO) é usada para caustificar o licor verde (Na2S + Na2CO3), transformando-o em licor branco (Na2S + NaOH). Após a caustificação, é formada lama (CaCO3), que é reciclada no forno, onde é queimada, formando novamente a cal. Antes de ser enviada ao forno, a lama deve ser lavada para se remover o residual de hidróxido, sulfeto e outros sais de sódio, e desidratada. Os equipamentos normalmente utilizados são clarificadores ou filtros prensa. Aumentando a eficiência de lavagem pode-se reduzir o residual de licor branco de 100 mg/dm3 para 0 a 30 mg/dm3, aumentar a consistência da lama de 50 a 60% para 70 a 80% e reduzir a concentração de sulfeto, diminuindo a formação de sulfeto de hidrogênio durante a queima no forno. Os investimentos necessários são da ordem de US$ 1,5 milhões. 228 5.3.24 Precipitadores eletrostáticos para reduzir emissões de particulados na caldeira de biomassa e no forno de cal Caldeiras de biomassa Os resíduos de madeira (cascas e restos) são queimados para geração de vapor, que por sua vez, gera energia. Esta queima é necessária para reduzir a utilização de combustíveis fósseis e a geração de resíduos sólidos. As principais emissões destes equipamentos são os materiais particulados, que consistem de materiais não queimados e cinzas. Normalmente, as caldeiras possuem ciclones para coleta da poeira (eficiência de 85%), porém os precipitadores eletrostáticos com eficiências acima de 95% são cada vez mais utilizados. A redução de emissões alcançada tem sido na ordem de 250 a 500 mg/Nm3 para 100 a 150 mg/Nm3 com a utilização de ciclones. Com precipitadores eletrostáticos, as emissões são reduzidas a 20 a 40 mg/Nm3. Os investimentos necessários são da ordem de US$ 4 milhões, para indústrias com capacidade de 1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são aumentados em US$ 300 mil/ano. Forno de cal O projeto adequado do forno minimiza a formação de poeira, uma vez que o mecanismo de evaporação de sódio depende de sua quantidade no forno e da temperatura da seção de calcinação. A quantidade de vaporização pode ser controlada até certo ponto, por meio de ajustes no formato e posição da chama. A utilização de diferentes combustíveis também afeta a emissão de particulados. Visando reduzir as emissões, pode ser instalado um precipitador eletrostático, que é mais eficiente que um lavador para esta tarefa. 229 As emissões de particulados são de 20 a 100 mg/Nm3 após o precipitador. A maior parte da poeira é CaO, que escapa pela alimentação do forno. Os investimentos necessários são da ordem de US$ 6 milhões, para indústrias com capacidade de 1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são aumentados em US$ 300 mil/ano 5.4 BAT PARA CALDEIRAS AUXILIARES Indústrias que produzem polpa a partir de fibras virgens, normalmente possuem caldeiras auxiliares. As emissões atmosféricas originadas nas mesmas dependem fundamentalmente do tipo de combustível utilizado (fóssil, cascas, restos de madeira, etc). Para indústrias de papel não integradas as emissões atmosféricas estão relacionadas principalmente à geração de vapor e energia. São consideradas BAT para caldeiras auxiliares (Tabela 30): • cogeração de energia, se o balanço da indústria permitir; • Utilização de fontes renováveis de energia; • Controle das emissões de NOx por intermédio do controle da queima e instalação de queimadores de baixa emissão de NOx.; • Redução das emissões de SO2 por meio da utilização de casca, gás ou óleo com baixo teor de enxofre ou controle das emissões; • Controle da emissão de particulados por intermédio de precipitadores eletrostáticos ou filtros de mangas. 230 Tabela 30 - Níveis de emissões BAT para caldeiras auxiliares. Emissões Carvão mg S/MJ 100 a 200 Óleo BPF 1 100 a 200 5 (50 a 100)5 Gás óleo Combustível Gás Renovável (cascas, etc). 1 25 a 50 <5 <15 combustível (50 a 100) mg NOx / MJ 80 a 1102 combustível (50 a 80 SNCR)3 mg particulados/ 10 a 304 10 a 404 <5 <5 10 a 304 MJ combustível 6% O2 3% O2 3% O2 3% O2 6% O2 80 a 1102 (50 a 80 SNCR) 60 a 1002 45 a 602 30 a 602 3 (40 a 70 SNCR)3 Notas: 1. As emissões de SO2 em caldeiras a carvão ou óleo dependem da disponibilidade de óleo ou carvão com baixo teor de enxofre. Alguma redução pode ser obtida através da adição de carbonato de cálcio. 2. É aplicada somente tecnologia de combustão. 3. Medidas secundárias como SNCR (Selective Non Catalytic Reduction) são também aplicadas, normalmente em instalações maiores. 4. Valores associados ao uso de eficientes precipitadores eletrostáticos. 5. Quando são utilizados lavadores de gases. Fonte: IPPC (2000) Deve-se salientar que as caldeiras auxiliares em indústrias de polpa e papel são dos mais diferentes tamanhos (de 10 a mais de 200MW). Para as menores, somente o uso de combustível com baixo teor de enxofre e técnicas de combustão adequadas podem ser suficientes, enquanto as maiores certamente requerem medidas de controle. 231 5.5 TECNOLOGIAS EMERGENTES Recentemente, um número significativo de novas e promissoras tecnologias tem sido desenvolvido, resultando em redução das emissões e na economia de energia. A melhoria no desempenho ambiental pode não ser sempre a principal força impulsionadora, mas certamente possui um papel relevante neste desenvolvimento. Algumas destas técnicas serão discutidas nos itens subseqüentes, que incluem aspectos que somente recentemente despertaram o interesse da comunidade científica. 5.5.1 Gaseificação do licor negro Esta tecnologia é promissora para geração de energia elétrica. A produção de um gás combustível de várias fontes (carvão, resíduos de madeira, licor negro) é possível por meio de diferentes tecnologias de gaseificação. O princípio da gaseificação do licor negro é fazer a pirólise do licor concentrado em uma fase inorgânica e uma fase gasosa por meio de reações com oxigênio (ar) a altas temperaturas. Diversos processos já foram propostos, que conceitualmente podem ser divididos em duas categorias: • Gaseificação em baixa temperatura, na qual o gaseificador opera abaixo do ponto de liquefação dos sais inorgânicos (700 a 750ºC). Leitos fluidizados são compatíveis para a gaseificação em baixa temperatura e estão sendo utilizados para desenvolver esta tecnologia; • Processos que operam acima da temperatura de liquefação dos sais e usam água para resfriar e dissolver os sais de sódio fundidos. As possíveis vantagens da gaseificação são: • Aumento da geração de energia por intermédio do uso combinado de turbinas a gás e turbinas a vapor. Os cálculos teóricos do balanço mostram que o processo baseado em licor negro gaseificado poderá ser até 30% mais eficiente 232 termicamente, porém a produção de vapor será menor. Numa situação de sobra de vapor, esta alternativa pode ser interessante para aumentar a geração de energia e exportar; • Baixas emissões atmosféricas; • Possibilidade de aumento de produção em fábricas limitadas pela capacidade da caldeira de recuperação. O sistema é particularmente benéfico em indústrias com capacidade excedente na linha de fibras já instalada. A introdução desta tecnologia em indústrias kraft possibilitará a geração de 1.700 kWh/ADT ao invés dos atuais 800 kWh/ADT, acarretando, porém, uma redução de 4 GJ/ADT na geração de calor (mais do que o excesso observado nas indústrias modernas). 5.5.2 Uso de SNCR na caldeira de recuperação Existem muitos processos que utilizam o SNCR para reduzir as emissões de NOx, através da redução térmica dos óxidos de nitrogênio a nitrogênio gasoso pela amônia, conforme mostram as seguintes reações: 2NO + 2NH3 + ½ O2 3NO2 + 4NH3 7 2N2 + 3H2O Reação 1 /2 N2 + 6H2O Reação 2 Quando é utilizada uréia, ocorre primeiramente a seguinte reação, sendo a amônia o produto: (NH2)2CO + H2O 2NH3 + CO2 Reação 3 A reação 1 geralmente ocorre dentro de uma faixa estreita de temperatura, em torno de 1.000ºC. Quando a temperatura é muito alta, mais NOX é gerado; quando é muito baixa, ocorre a formação de amônia. No processo NOX OUT são utilizados agentes químicos para suprimir a formação de amônia. A amônia produzida em reações secundárias indesejáveis e o consumo de produtos químicos são os principais parâmetros para otimização deste processo. 233 O agente de redução em um teste industrial do processo NOX OUT (uma das opções desenvolvidas), realizado na Suécia, foi uma solução aquosa de uréia. O processo utilizou a fornalha da caldeira como um “reator”, não requerendo nenhum equipamento adicional. A caldeira operou entre 95 e 105% de sua capacidade e foram instaladas diversas portas para os injetores de produtos químicos. O teste mostrou que o processo podia ser aplicado com sucesso em caldeiras de recuperação (IPPC, 2000). Comparando-se com outros processos de combustão, a caldeira de recuperação apresenta baixos níveis de emissões de óxidos de nitrogênio, tipicamente na faixa de 50-80 mg NOx/MJ. Apesar deste fato, ela é uma das principais fontes destas emissões em uma indústria kraft, devido ao alto fluxo de gases. Além disso, pode-se prever um aumento das emissões de NOx em caldeiras de alta eficiência, causadas pelo maior teor de sólidos do licor e maiores cargas na fornalha. Dependendo da estequiometria aplicada, até 50% de redução da emissão de NOx pode ser alcançada, sem perturbações ou outros efeitos na operação da caldeira e no ciclo de recuperação. O custo operacional total é relativamente baixo e as modificações requeridas na caldeira podem ser feitas durante as paradas normais para manutenção. O uso de uréia no processo SNCR pode eventualmente causar corrosão na caldeira e por razões de segurança, não é recomendada a sua utilização em caldeiras de recuperação na Suécia. Como testes realizados utilizando NH3 (gasoso ou líquido) mostraram potencial de até 30% de redução das emissões de NOx, estão sendo planejados novos testes de longa duração. Os investimentos necessários para instalar o processo Nox OUT em uma caldeira de recuperação com capacidade de 1.600 TSS/dia ficam em torno de US$ 3 milhões. Os custos operacionais estimados são de US$ 1 a 1,4 /kg NOx reduzido. 234 5.5.3 Remoção dos agentes de quelação presentes em águas residuárias de indústrias kraft por tratamento biológico e sistemas avançados “kidneys” Os quelantes (Q) são utilizados há bastante tempo na indústria devido à sua habilidade de suprimir a atividade dos íons de metais de transição, sem permitir sua precipitação. Estes íons metálicos são capazes de catalisar a decomposição do peróxido de hidrogênio em radicais livres. O branqueamento TCF atualmente só é possível com o tratamento da polpa por quelantes, antes do estágio de peróxido. O aumento da concentração de quelantes é percebido na água residuária gerada, em concentrações de 10 a 15 mg/L quando a carga no branqueamento é de 2 kg/t. Embora estas substâncias não sejam tóxicas nestas concentrações, existe preocupação quanto a sua capacidade de reativar metais pesados dos sedimentos de rios e reservatórios e quanto à sua degradação. O tratamento biológico utilizado na indústria é eficiente na remoção de DQO e DBO, porém não pode reduzir significativamente a concentração de quelantes. Foi verificado que este tipo de composto é resistente a biodegradação em sistemas de lodos ativados. Além disso, eles não ficam adsorvidos no lodo. Um estudo investigou a biodegradação de quelantes em um teste em escala real, com a indústria operando em condições moderadamente alcalinas (pH 8 a 9); foi constatada uma redução média de 50% contra 10% em pH igual a 7 (IPPC, 2000). Outra opção em estudo para reduzir o consumo e descarga de quelantes é a utilização de “kidneys” - sistemas de membranas para a eliminação de íons indesejáveis (cloretos, magnésio, potássio, etc...) dos filtrados do branqueamento e reaproveitamento dos mesmos, reduzindo a geração de águas residuárias e o consumo de água.. Uma empresa na Suécia instalou sistemas com esta finalidade em 1998, esperando reduzir o consumo de quelantes em 65% (IPPC, 2000). Nesta mesma empresa está sendo planejada a aplicação do Kemira NetFloc, que se mostrou eficiente na remoção de substâncias problemáticas de filtrados como extrativos e metais. 235 A redução da quantidade de metais no circuito de filtrado permite reduzir o consumo de quelante antes do estágio de peróxido. São esperadas taxas de redução da ordem de 80% de cálcio, manganês e ferro; o quelante recuperado reduz a necessidade de make-up e a concentração dos complexos metálicos nas águas residuárias. 5.5.4 Aumento do fechamento do circuito combinado com a recuperação de quelantes Uma vez que a principal fonte geradora de águas residuárias é a unidade de branqueamento (principal parte aberta da fábrica), diversos esforços têm sido realizados para minimizar a quantidade de lignina enviada para esta unidade. O envio dos filtrados para o sistema de recuperação ainda é um problema, sendo necessário recirculá-los dentro do branqueamento para reduzir o volume. Isto provoca a acumulação de substâncias dissolvidas e elementos estranhos ao processo, causando aumento no consumo de produtos químicos e deposição de sólidos no sistema. Um projeto em andamento da Comissão Européia prevê a continuação da pesquisa (IPPC, 2000) de diferentes alternativas para o reúso dos filtrados da unidade de branqueamento feitas até o momento em diferentes instituições. São empregadas técnicas de simulação de processo para determinar as conseqüências no consumo de água, produtos químicos e energia, quando os sistemas de separação forem integrados ao processo. O risco de deposição/incrustação também está sendo avaliado. 5.5.5 Polpas produzidas com solventes orgânicos como álcool e formaldeído – “Organosolv Pulping” Nesta última década, foram realizadas diversas pesquisas para desenvolver novos processos de polpação, sendo que alguns têm se mostrado promissores. Seus principais objetivos são: 236 • Reduzir a poluição (baixo consumo de água, polpa TCF, livre de enxofre); • Processos de cozimento simplificado e recuperação de produtos químicos utilizados; • Melhor aproveitamento da madeira (alto rendimento, uso alternativo para componentes da madeira, etc); • Utilização de qualquer tipo de madeira, obtendo polpa com boas propriedades; • Baixos custos de investimento. Os novos processos são baseados em solventes orgânicos e para alguns destes podese esperar reduções das emissões de dióxido de enxofre e de outros compostos reduzidos de enxofre, devido à aplicação de tecnologia “livre de enxofre”. Todos os processos pretendem possibilitar o fechamento completo da fábrica por meio da recuperação direta dos solventes após o cozimento, por destilação e queima dos componentes da madeira dissolvidos ou seu uso alternativo. Os projetos pretendem, além de solucionar os problemas ambientais, aumentar a viabilidade econômica da fabricação de polpa. A Tabela 31 mostra uma comparação entre alguns processos em desenvolvimento com maior potencial de aplicação industrial e que já foram testados pelo menos em escala piloto. Tabela 31 - Tecnologias alternativas para a produção de polpa. Matérias Produtos Parâmetros Kappa antes do primas Químicos de cozimento branqueamento ASAM Softwood Hardwood Sulfeto de sódio (alcalino) álcool 175 a 185ºC 11 a 14 bar 13 a 20 FORMACELL Softwood Hardwood Ácido acético Ácido fórmico 160 a 180ºC 2 a 10 60 a 80 / 90 a 110ºC 30 a 35 155 a 175ºC 8 bar 10 a 20 Processo MILOX Modified SULPHATE Hardwood Softwood Hardwood Fonte: IPPC (2000) Ácido fórmico Peróxido de hidrogênio Hidróxido de sódio Sulfeto de sódio 237 Uma vez que nenhum destes processos foi implementado com sucesso em escala industrial (a indústria Organocell em Kehlhein na Alemanha teve que interromper a produção devido a problemas ainda não solucionados), é precoce fazer um julgamento conclusivo das alternativas. Nesses processos, solventes de alto custo substituem a água e a viabilidade econômica depende muito da capacidade de recuperação destes (deve ser necessariamente superior a 99%). 5.6 BAT PARA PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE PAPEL Papel é feito de fibras, água e aditivos químicos. Além disso, grande quantidade de energia tem que ser aplicada para acionar todo o processo. Energia elétrica é consumida para acionamento de motores da refinação e preparação de massa. Energia térmica é utilizada principalmente para aquecer água, outros licores e ar, evaporar a água na área de secagem e conversão de calor em energia elétrica (no caso de cogeração). Grandes quantidades de água são usadas no processo e para refrigeração. Vários aditivos químicos são utilizados como auxiliares do processo e para melhorar as propriedades do papel. Os principais impactos ambientais causados por indústrias de papel referem-se a geração de águas residuárias e ao consumo de energia e de produtos químicos. São também gerados resíduos sólidos. As emissões atmosféricas estão relacionadas principalmente à geração de energia por meio da queima de combustível fóssil. As BAT para redução da geração de águas residuárias e seu impacto ambiental são: • Minimizar o uso da água, aumentando sua recirculação; • Controlar as conseqüências negativas do fechamento de circuito; 238 • Construir sistemas balanceados de armazenamento de água e, no caso de substituição de equipamentos, utilizar aqueles que apresentem menor consumo de água; • Aplicar medidas para reduzir a freqüência e os efeitos de descargas acidentais; • Coletar e reutilizar as águas de refrigeração e selagem, ou descarregar em separado; • Pré-tratar em separado a água de preparação de tintas; • Substituir insumos químicos danosos ao meio ambiente por outros menos perigosos; • Construir tanques de equalização antes do sistema de tratamento de águas residuárias; • Tratar águas residuárias com sistemas biológicos e/ou em alguns casos, por precipitação química ou coagulação, floculação e sedimentação. Para indústrias não integradas, os níveis de emissão associados à aplicação combinada das BATs são mostrados na Tabela 32: Tabela 32 - Emissões hídricas provenientes da fabricação de papel utilizando as BATs Parâmetros Unidades DBO5 KgO2/t de papel 0,15 –a 0,25 0,15 a 0,25 0,15 a 0,4 DQO KgO2/t de papel 0,5 a 2 0,5 a 1,5 0,4 a 1,5 SST Kg/t de papel 0,2 a 0,4 0,2 a 0,4 0,2 a 0,4 AOX Kg/t de papel <0,005 <0,005 <0,01 P total Kg/t de papel 0,003 a 0,01 0,003 a 0,01 0,003 a 0,015 N total Kg/t de papel 0,05 a 0,2 0,05 a 0,2 0,05 a 0,25 m3/t de papel 10 a 15 10 a 15 10 a 25 Vazão específica de águas residuárias Papel branco Papel revestido Tissue Fonte: IPPC (2000) Os valores apresentados referem-se a médias anuais e não consideram contribuições da produção de polpa. 239 O tratamento de águas residuárias de uma ou várias indústrias em sistemas de consórcio ou o lançamento em estação de tratamento de esgotos sanitários também são considerados BAT, desde que esta tenha condições de recebê-las. As emissões atmosféricas são normalmente relacionadas à geração de vapor e energia (ver BATs para caldeiras auxiliares). A BAT para reduzir resíduos sólidos é minimizar sua geração e recuperar, reciclar e reutilizar os materiais, sempre que viável. Coletas separadas e estocagens intermediárias próximas às fontes podem contribuir para atingir este objetivo. Quando o resíduo coletado não pode ser reutilizado no processo, utilizações externas ou incineração em equipamentos adequados também devem ser consideradas. Geralmente, neste setor, é considerado BAT a utilização de tecnologias eficientes do ponto de vista energético. Existem diversas opções para reduzir o consumo de energia nos diferentes estágios de fabricação. Normalmente, estas medidas estão relacionadas a investimentos para substituir, reformar ou modernizar equipamentos. Vale salientar que medidas para reduzir o consumo de energia não são aplicadas somente para economizar energia, a eficiência de produção, a melhoria na qualidade do produto e a redução de custos são as mais importantes bases para o investimento. Indústrias não-integradas, eficientes, consomem energia e vapor nas seguintes faixas: • Papel branco: 7 a 7,5 GJ/t e 0,6 a 0,7 MWh/t • Papel revestido: 7 a 8 GJ/t e 0,7 a 0,9 MWh/t • Tissue, produzido a partir de fibras virgens: 5,5 a 7,5 GJ/t e 0,6 a 1,1 MWh/t. As Tabelas 33, 34 e 35 apresentam os resultados (médios anuais) alcançados por indústrias européias que aplicam estas tecnologias. Os dados foram retirados de relatórios ambientais governamentais. disponíveis e estatísticas publicadas por órgãos 240 Tabela 33 - Emissões hídricas de fábricas européias de celulose e papel que utilizam as BATs. DQO Fábricas KgO2/ ADT Soedra Cell DBO5 ou 7 KgO2/ADT AOX Kg/ADT SST FósforoTotal Nitrogênio Total Kg/ADT KgP/ADT 1,7 0,03 0,31 (40) (0,7) (7) KgN/ADT 13 0,9 Suécia (300) (20) Polls AG 17,6 0,64 0,30 1,45 0,07 0,06 Áustria (400) (15) (6,6) (30) (1,5) (1,5) Modo Alizay 11,1 0,6 0,1 2,24 0,08 0,38 - França (180) (10) (1,6) (37) (1,3) (6,2) Enocell 12 0,2 0,14 0,3 0,004 0,08 Finlândia MB Kaskinen Finlândia Sunila Finlândia MB Aanekoski Finlândia UPM Kymene Finlândia MeADT-Rauma Finlândia Alberta Pacific Canadá Backhammars Suécia (300) (5) (5) (8) (0,1) (2) 14 0,3 0,07 1,0 0,02 0,15 (300) (7) (1,4) (20) (0,4) (3) 22 14 0,14 2,1 0,026 0,21 (160) (10) (0,2) (15) (0,2) (6) 24 0,6 0,38 1,9 0,012 0,17 (750) (5) (11,9) (60) (0,4) (5) 23 2,7 0,22 1,1 0,02 0,19 (360) (40) 4 0,4 (270) (30) 6,9 0,2 (130) (4) 7 1,5 (80) (20) (3,5) 0,05 (0,8) - (20) (0,3) (3) 0,7 0,015 0,14 (45) (1) (10) n/a n/a 0,9 0,007 0,47 (10) (0,1) (5) 1,66 (30) Nota: os números entre parênteses expressam as concentrações (mg/L). Fonte: IPPC (2000) Vazão Tipo de 3 m /ADT tratamento 45 45,8 61 39 49 70 32 63 15 50-60 85 Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Lodos ativados Secundário e terciário 241 Tabela 34 - Emissões atmosféricas de fábricas de celulose e papel européiais que utilizam as BATs. NOx em kg NOx/ADT (como NO2) Fábricas Aspa Suécia Iggesund Suécia Husum Suécia Monsteras Suécia Ostrand Suécia Skutskar Suécia Skarblacka Suécia Skoghall Suécia Valvik Suécia Varo Suécia Dynas Suécia Frovi Suécia Obbola Suécia Backammar Suécia Huelva Espanha Pols AG Áustria Stora Celbi Portugal Enocel Finlândia Oulu Finlândia Caldeira Forno Cald. Recup. de cal auxiliar 0,36 0,10 n/a 0,40 0,11 0,30 Outras SO2 e TRS em kg S/ADT Total do Caldeira Forno Cald. processo Recup. de cal auxiliar Outras Total do 0,37 0,83 1,29 0,20 n/a - 1,49 0,30 0,37 0,89 1,50 0,13 0,82 - 1,63 0,01 0,16 0,39 0,79 1,21 0,11 0,39 0,07 1,50 0,11 0,05 0,10 0,50 0,66 0,95 0,21 0,12 - 1,16 0,06 0,40 0,07 0,47 0,93 1,36 0,08 0,47 - 1,44 0,14 0,10 0,02 0,52 0,76 1,26 0,19 0,37 - 1,45 0,17 0,05 0,10 0,08 0,29 0,66 0,23 0,72 - 0,89 0,17 <0,01 0,49 0,035 0,52 1,14 0,15 0,53 0,13 1,42 0,07 0,29 0,19 0,12 0,48 1,44 0,22 0,28 - 1,65 0,06 0,29 0,04 0,49 0,74 1,51 0,26 0,20 - 1,79 0,04 <0,01 0,22 0,69 0,74 1,24 0,22 0,52 - 1,66 0,03 0,01 0,26 0,27 0,31 1,01 0,21 0,99 0,29 1,51 0,11 <0,01 0,05 0,33 0,4 1,02 0,18 0,31 - 1,20 0,14 0,001 0,25 0,2 0,4 1,22 0,04 0,37 - 1,26 0,41 0,67 0,17 n/a 1,08 0,88 0,06 0,31 - 0,94 0,04 <0,01 - 0,009 0,04 1,6 0,45 - - 2,05 0,06 0,02 0,62 0,02 0,10 1,02 0,17 0,37 0,19 1,38 0,011 0,133 0,015 0,154 0,30 1,186 0,171 0,292 0,164 1,52 0,046 0,006 - 0,342 0,39 0,810 0,270 - - 1,08 processo 242 NOx em kg NOx/ADT (como NO2) Fábricas Aanekoski Finlândia Kaskinen Finlândia Sunila Finlândia Joutseno Finlândia Wisaforest Finlândia Caldeira Forno Cald. Recup. de cal auxiliar 0,380 0,059 - 0,392 0,044 0,433 Outras SO2 e TRS em kg S/ADT Total do Caldeira Forno Cald. Outras Total do processo Recup. de cal auxiliar 0,095 0,53 1,748 0,101 - - 1,85 - 0,095 0,53 1,366 0,160 0,611 - 1,53 0,061 0,313 0,310 0,80 1,029 0,275 0,404 0,042 1,35 0,036 0,012 - 0,719 0,77 1,013 0,168 0,261 - 1,18 0,178 0,030 0,189 0,151 0,36 0,864 0,326 0,758 0,403 1,59 processo Fonte: IPPC (2000) Tabela 35 - Geração de resíduos sólidos em fábricas européias. Unidade Polpa kraft branqueada Polpa kraft branqueada Planta integrada, polpa não branqueada Tipo de resíduo Quantidade Total Kg/ADT Kg/ADT Cinzas 2,0 Dregs 10,0 Resíduos de madeira 3,4 Rejeitos de celulose 0,3 Lama do forno de cal 9,7 Dregs 8,1 Lodo da estação de tratamento de águas residuárias 8,7 Rejeitos e cascas 6,0 Outros 10,5 Não especificados 15 45 30 a 50 Fonte: IPPC (2000) Uma pequena quantidade de resíduos perigosos é também gerada, tais como óleos lubrificantes e graxas usados, óleo hidráulico e fluido dielétrico usado, baterias, solventes, tintas, biocidas e resíduos químicos, etc, cuja quantidade normalmente fica entre 0,05 e 0,1 kg/t de produto. 243 6 MATERIAIS E MÉTODOS Este capítulo apresentará os projetos mais relevantes de aumento de produção com atualização tecnológica e uso das melhores tecnologias disponíveis e suas implicâncias na melhoria do desempenho ambiental da VCP- Votorantim Celulose e Papel – Unidade Jacareí, que constitui o estudo de caso da presente tese de Doutorado. Excetuando-se o primeiro projeto (item 6.2.1), que já havia sido implementado antes do início deste trabalho, nos demais, foram aplicadas as seguintes ferramentas da eco-eficiência: produção mais limpa (BATs); avaliação de desempenho ambiental; relatório de desempenho ambiental; sistema de gestão ambiental e contabilidade ambiental. Em vista disso, somente no primeiro projeto foram quantificados os investimentos e os ganhos ambientais afim de permitir a comparação dos resultados decorrentes do uso das ferramentas de eco-eficiência supracitadas. 6.1 A INDÚSTRIA ESTUDADA: VOTORANTIM CELULOSE E PAPEL-VCP A Votorantim Celulose e Papel S.A. – VCP é uma das maiores empresas produtoras de papel e celulose do Brasil e líder de mercado em papéis de imprimir e escrever e papéis especiais. A otimização do processo produtivo permitiu atingir no início de 2002, uma capacidade instalada de 850 mil toneladas/ano de celulose e 655 mil toneladas/ano de papéis revestidos, não-revestidos e especiais. Cerca de 60% do volume de vendas são absorvidos no mercado interno. Essa produção está distribuída em 04 unidades produtivas localizadas no Estado de São Paulo: • Unidade Jacareí - Fábrica integrada que produz celulose e papel e exporta celulose de mercado; • Unidade Luiz Antônio - Fábrica integrada que produz celulose e papel; • Unidade Piracicaba - Fábrica de papel; 244 • Unidade de Mogi das Cruzes – Fábrica de papel As exportações são dirigidas para mais de 55 países, nos cinco continentes. A maior parte do suprimento de madeira provém de florestas plantadas (próprias) de eucalipto e o restante de eucalipto plantado, vindo de fornecedores do programa de fomento. O estudo de caso refere-se à Unidade Jacareí- adquirida pela VCP em 1992. Nessa data, a produção média de celulose era cerca de 400 toneladas diárias. A partir da aquisição da fábrica, muitos investimentos foram feitos visando ao aumento de produção, em paralelo com otimizações para adequação e melhoria do desempenho ambiental. Os valores investidos no período de 1992 a 2001 totalizam US$ 415 milhões, e, destes, cerca de US$ 80 milhões podem ser atribuídos à prevenção e controle da poluição. 6.2 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E DA PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO NA UNIDADE JACAREÍ Excetuando-se as questões ambientais relacionadas às unidades florestais, pode-se assumir que os principais avanços tecnológicos que repercutiram diretamente na melhoria de desempenho ambiental da unidade aconteceram depois de 1992, com os seguintes projetos: • P-600 (1988 a 1995) – Que contemplou pequeno aumento de produção de celulose branqueada e substituição do sistema de recuperação de produtos químicos; • ECF (1995 a 1998) – Que contemplou aumento de produção de celulose branqueada de 600 para 1000 toneladas diárias; 245 • P-1.200 (1999 a 2001) – Que contemplou um pequeno aumento de produção e otimizações na prevenção e controle da poluição. • P-2.000 (2001 a 2003) – Duplicação da produção de celulose de mercado para cerca de 950.000 toneladas por ano (este projeto será comentado no item Projetos Futuros). A Figura 53 mostra os períodos em que foram implementados os projetos, em função da produção de celulose e papel da Unidade Jacareí da VCP. Produção de celulose (ADT) e papel (t) 900.000 Produção celulose Produção Papel Projetada 800.000 700.000 600.000 Projeto P-1200 500.000 Projeto ECF 400.000 300.000 Projeto P-600 200.000 100.000 0 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Figura 53 – Evolução da produção anual de celulose e papel e período de implantação dos projetos na Unidade Jacareí da VCP. 6.2.1 Projeto P-600 A concepção deste projeto teve início em 1988 mas não foi implementado na sua totalidade em virtude de problemas financeiros e de mudanças na empresa - que foi vendida ao grupo Votorantim em 1992. O projeto parcial foi denominado projeto P600. 246 O projeto P-600 teve como objetivo principal dar continuidade operacional à Unidade, tendo em vista que o sistema de recuperação de produtos químicos era obsoleto e estava no final da vida útil. Além deste aspecto, havia a questão da nãoconformidade ambiental devido à elevada emissão de gases odoríferos e de material particulado, também decorrente da tecnologia ultrapassada. 6.2.1.1 Descrição do processo produtivo antes da implementação do Projeto P600 As produções anuais de celulose branqueada e de papel em 1988 eram, respectivamente, 189.057 e 91.128 toneladas. A madeira era recebida com e sem casca. A madeira com casca era encaminhada ao descascador e na seqüência, as toras eram lavadas e encaminhadas ao picador. As cascas eram enviadas ao pátio para posteriormente serem queimadas nas caldeiras de biomassa. O sistema de lavagem da massa era feito em filtros rotativos à vácuo e os filtrados eram encaminhados ao sistema de recuperação do licor. O branqueamento era feito em quatro estágios, intercalados com filtro lavador conforme pode ser observado na Figura 54. Onde: C = cloro H= hipoclorito de sódio E/O = extração/oxigênio D= dióxido de cloro 247 Linha de fibras Descascador Digestores em batelada (06) Picador Digestor Separador de nós (peneira) Lavagem (filtros rotativos à vácuo) Depuração Filtros engrossadores Branqueamento (04 estágios C - E/ O - H - D) Água Polpa para extração Água D Água H Água Eo C Águas residuárias Figura 54 – Representação esquemática da linha de fibras. O sistema de recuperação de produtos químicos, conforme mostrado nas Figuras 55 e 56, tinha início com a concentração do licor negro - coletado durante o processo de lavagem e depuração da massa marrom - em processo de evaporação por contato direto até atingir 60-65% de sólidos. O licor concentrado era injetado para queima nas caldeiras. O fundido (smelt) das caldeiras de recuperação era encaminhado para o tanque dissolvedor, que recebia licor branco fraco como agente diluidor, dando origem ao licor verde. Na etapa seguinte, o licor verde recebia a adição de hidróxido de cal, para conversão do carbonato de sódio em hidróxido de sódio. Na seqüência, o licor era clarificado 248 (primeiro estágio) e o sobrenadante - licor branco forte - voltava para o cozimento. O decantado, depois de lavado com o sobrenadante do terceiro estágio, era encaminhado ao segundo estágio. Evaporação de Licor Negro - 1992 Evaporação I - 5 efeitos licor negro 45% sólidos Caldeiras de Recuperação licor negro oxidado Evaporação contato direto Evaporação II - 5 efeitos Gases combustão tipo venturi scrubber Ar Licor negro p/queima 63% sólidos Figura 55 – Representação esquemática do sistema de recuperação de produtos químicos. Caustificação- 1992 1º Clarificador 2º Clarificador Tanque de Licor Verde Slaker Clarificador Licor Verde Condensado Evaporação Caustificadores Filtro de Dregs Tanque Licor Branco Fraco Dregs 3º Clarificador Lama de Cal Forno de cal Licor Branco Forte Figura 56 – Representação do sistema de caustificação. Para a produção de papel, a polpa de celulose era bombeada para os tanques de massa, passando por refinadores. Na seqüência, a massa era encaminhada para tanques de mistura, onde eram adicionados os aditivos (caulim cola, sulfato, anilina, alvejante ótico e outros). 249 Após receber os aditivos, a massa era encaminhada ao tanque da máquina de papel para ser depurada e em seguida encaminhada para a caixa de entrada da máquina. Na máquina, acontecia a formação e secagem da folha de papel, que era então encaminhada para as rebobinadeiras. Para a produção de papel revestido “couché”, as bobinas recebiam uma cobertura de tinta especial, e então passavam pela supercalandra para polimento. A representação esquemática dos principais processos estão indicadas na Figura 57. Polpa Aditivos Armazenagem da massa Refinação Mistura de aditivos Armazenagem de massa Papel Rebobinadeiras Máquina de papel Coater Depuração Papel revestido (couché) Figura 57 – Representação esquemática da fabricação de papel. Principais problemas ambientais identificados antes do projeto Os principais problemas ambientais destacados em 1988 eram: • Alta emissão de material particulado nas caldeiras de biomassa, de recuperação e no forno de cal; • Emissões elevadas de TRS (gases reduzidos de enxofre) devido, principalmente, ao sistema de evaporação do licor negro (contato direto); • Elevada cor das águas residuárias; • Consumo elevado de água e alta geração de águas residuárias. 250 6.2.1.2 Descrição do projeto P-600 Neste projeto foram implementados: • Nova caldeira de recuperação em substituição às duas existentes; • Novo sistema de evaporação (Figura 58); • Aumento da produção de celulose para 600 toneladas por dia; • Unidade de cogeração - Turbina a vapor e gerador de eletricidade com capacidade para 25 MW. Evaporação de Licor Negro - 1994 Evaporadores de tubo Evaporação III - 6 efeitos tipo falling film licor negro 72% sólidos Precipitador Eletrostático Recuperação Metanol Stripping de condensado contaminado Figura 58 – Novo sistema de evaporação (P-600). A produção de celulose em 1997 era cerca de 600 toneladas por dia após a implementação do P-600, representando um aumento de 15% em relação a 1992. 6.2.1.3 Investimentos Os investimentos do P-600 totalizaram US$ 150 milhões e foram assim distribuídos (em US$): Fabricação de celulose Planta química 12.860 mil 1.065 mil 251 Evaporação 15.483 mil Caldeira de recuperação 48.842 mil Caustificação 1.562 mil Turbogerador 12.400 mil ETA- Estação detratamento de água 3.599 mil ETAC- Estação de tratamento de água de caldeiras 8.817 mil Infra-estrutura * 46.263 mil *Obras civis, utilidades, incineração de gases, torre de resfriamento, sistemas elétricos, tubulações, etc. ) 6.2.2 Projeto ECF Após o P-600, a VCP implementou o projeto ECF, com o objetivo de exportar celulose. A este interesse de mercado, procurou-se aliar o uso das melhores tecnologias disponíveis (BAT) e tecnologias inovadoras, descritas a seguir: I. Instalação de um digestor com tecnologia Lo-solids ® em substituição aos digestores em batelada; II. Introdução da deslignificação com oxigênio (pré-branqueamento) na linha de fibras, III. Utilização de ozônio no branqueamento para produção de polpa ECF e com a possibilidade de produção de polpa TCF; IV. Implantação de uma máquina extratora de celulose para produção de celulose tipo exportação; V. Implantação de um sistema de caustificação com filtros pressurizados de licor verde e de licor branco, que permitiram o maior fechamento do circuito de filtrados e maior qualidade do licor recuperado, além de um novo forno de cal; VI. Incineração dos gases não condensáveis na caldeira de recuperação permitindo reduzir as emissões de TRS e de dióxido de enxofre. Na linha de fibras existente, além da implantação do pré-branqueamento com oxigênio, houve a substituição parcial do cloro por dióxido de cloro no estágio de cloração. 252 6.2.2.1 Descrição do projeto ECF O projeto previa aumento da produção para 1.150 toneladas de celulose branqueada ECF e TCF tipo exportação, conforme indicado na Figura 59. Máquina Papel J1 Linha A – 400 ADT por dia (existente) PréBranqueamento Digestor Contínuo 1500 ADT Papel Branqueamento Extratora de celulose Lavagem da massa Difusor Separador de Nós Lavagem de massa PréBranqueamento Celulose úmida Mercado interno Branqueamento Extratora de celulose Linha B – 750 ADT por dia (nova) Celulose Exportação ECF TCF Figura 59 – Linhas de produção de celulose e Projeto ECF. As seqüências do branqueamento nas linhas A (existente) e linha B (nova) estão indicadas na Figura 60. Seqüências de Branqueamento PréBranqueamento O Cloro/Dióxido C/D Oxigênio e Peróxido EOp Hipoclorito H Dióxido D Celulose Standard Linha existente (A) PréBranqueamento O Quelante Q Oxigênio e Peróxido EOp Ozônio Z Dióxido (DnD) Celulose ECF Linha nova (B) Peróxido pressurizado (PO) Celulose TCF Nota: O parênteses ( ) indicam que não há lavagem da massa entre os dois estágios Figura 60 – Fluxograma do branqueamento - Linhas A (existente) e B (nova). 253 Principais unidades de processo do Projeto ECF Item Descrição 01 BAT Digestor hidráulico contínuo, tecnologia Lo-solids® 02 Sistema de depuração 03 Deslignificação com oxigênio 04 05 06 07 Branqueamento ECF/TCF (linha B) Separação de nós/depuração Cozimento modificado Deslignificação com oxigênio Prensas, uso do ozônio, uso de peróxido de hidrogênio, fechamento parcial de circuitos Sistema pressurizado Unidade Extratora de celulose (JE2) Caldeira auxiliar CBC 80 Filtros pressurizados, permitindo a 08 Sistema de caustificação redução de metais no licor e maior fechamento de circuito 09 Turbogerador a vapor 10 Planta dióxido de cloro 11 Planta de oxigênio/ozônio Recuperação do gás para uso no pré-branqueamento a) Digestor O digestor fabricado pela Ahlstrom utilizava a tecnologia denominada “Lo- solids®”, que é reconhecida pelo IPPC- Integrated Pollution Prevention and Control como uma das melhores tecnologias disponíveis para o cozimento dos cavacos (IPPC, 2000). Este digestor substituiu os antigos, que operavam em batelada. O sistema de cozimento era composto de um digestor contínuo hidráulico, com cozimento estendido modificado. Neste tipo de tecnologia de cozimento, os sólidos de madeira dissolvidos são removidos do sistema, extraindo-se os licores usados da impregnação e/ou do 254 cozimento por meio de múltiplos pontos no digestor. Os licores usados possuem alta concentração de sólidos e baixo residual de produtos químicos. Com essa remoção é evitada a entrada dos sólidos dissolvidos extraídos na zona de cozimento, ou acima ou abaixo do ponto de extração, e as quantidades de sólidos dissolvidos presentes nas fases de deslignificação principal e final são diminuídas. Durante a fase de impregnação entre 20 e 30% de sólidos de madeira são dissolvidos. Adicionalmente aos sólidos de madeira dissolvidos, água e produtos químicos do cozimento são também removidos do sistema em cada ponto de extração. As quantidades de água e álcali efetivos removidos de cada ponto de extração dependem do fluxo de extração e da concentração do álcali. A água deve ser adicionada para satisfazer as necessidades hidráulicas do sistema. Os produtos químicos de reposição devem ser adicionados para garantir o cozimento por intermédio de uma combinação de licor branco e filtrado de lavagem - adicionados no local ou abaixo de cada ponto de extração. Muitos, mas não todos os sólidos dissolvidos presentes em determinada zona, podem ser removidos via um sistema de extração. O licor branco e o filtrado de lavagem de reposição têm concentrações de sólidos de madeira dissolvidos significativamente inferiores aos licores remanescentes no digestor aos quais são misturados. A combinação dos fluxos de reposição, portanto, diluem os sólidos de madeira dissolvidos que permanecem no sistema após uma extração. Ao mesmo tempo, a adição combinada de fluxos de reposição permite o controle da relação licor/madeira. No sistema projetado para a Unidade Jacareí (mostrado na Figura 61), a primeira carga de licor branco era adicionada ao longo do sistema de alimentação de cavacos. Esse licor fluía em sentido concorrente descendente juntamente com os cavacos na zona de impregnação do digestor. O licor pós-impregnação, que possuía baixo álcali efetivo e alta concentração de sólidos de madeira dissolvidos, era então removido do meio de reação através do primeiro conjunto de peneiras de extração. Licor branco e licor de lavagem preaquecidos eram adicionados abaixo dessa extração por intermédio do sistema de circulação de aquecimento subseqüente. Essa circulação 255 fazia uso de um tubo central para descarga e de um segundo conjunto de peneiras a fim de distribuir temperatura e produtos químicos de cozimento radialmente. A zona de retenção entre o primeiro e o segundo conjunto de peneiras era usada para aquecimento contracorrente e como zona de lavagem. O licor branco de reposição necessário para a deslignificação principal era uniformemente distribuído por meio da coluna de fluxo contracorrente nessa zona de retenção. Licor branco (LBR)WL E and cavacos Chips In Zona de Impregnação Impregnation Zone Counter-current Aquecimento e lavagem contracorrente (início da heating/washing deslignificação principal) Extração de licor Extraction Liquor Out Licor (start of bulk delignification) branco White (LBR) Liquor Deslignificação Principal Bulk Delignification Wash Licor preto Water (LPR) Counter-current Aquecimento e lavagem contracorrente heating/washing (deslignificação residual) (residual delignification) Licor de Lavagem Wash Licor Licornegro preto ( Water LPR ) Licor White branco (LBR) Liquor Saída de polpa Pulp Out Figura 61 – Representação esquemática do digestor Lo-solids®. A deslignificação principal se completava na terceira zona de retenção do digestor entre o segundo e o terceiro conjunto de peneiras. O licor residual usado no cozimento e os licores de lavagem eram extraídos do sistema no terceiro conjunto de peneiras. As cargas finais de licor branco e licor de lavagem eram aplicadas e aquecidas até à temperatura final de cozimento por meio do sistema de circulação de lavagem. Da mesma forma que um cozimento contínuo modificado, o fundo do 256 digestor era simultaneamente usado para uma lavagem contracorrente e deslignificação residual. O kappa para produção de polpa ECF e TCF previsto para saída do digestor era cerca de 13-14 e 11 a 12, respectivamente, enquanto que o rendimento previsto era de 53,2% a 53,6%. b) Pré-branqueamento e depuração A lavagem da massa produzida no digestor contínuo é iniciada dentro do próprio digestor, em contracorrente “Hi-Heating Washing” com licor negro e complementada no difusor atmosférico, com capacidade para 1.350 ADT/dia (nominal), sendo então enviada para o tanque de massa lavada. Neste processo, a polpa proveniente da torre de estocagem é bombeada ao separador de nós pressurizado. A separação de nós tem por objetivo separar os cavacos mal cozidos do fluxo principal, constituído da mistura diluída polpa-licor. O rejeito do separador é enviado para o lavador de nós e volta ao processo. Na linha de fibras B (ECF/TCF), a pasta proveniente da separação de nós é enviada a um sistema de depuração com três estágios e separador de areia. O rejeito deste processo, após refinação, é encaminhado à linha A. A pré-deslignificação com O2 consistia no processo de oxidação em um reator onde a massa recebia a ação do oxigênio junto com LBO (licor branco oxidado) ou a soda. Este sistema previa uma remoção de 6 unidades de kappa. c) Branqueamento O branqueamento (Figura 62) consistia de quatro estágios: Quelação (Q), Oxigênio peróxido (Op), ozônio (Z) e dióxido de cloro (D). 257 Nesta seqüência de branqueamento, a pasta era enviada a um misturador de oxigênio e daí seguia para o reator para completar a reação. Deste reator, a pasta era lavada em um difusor de lavagem; a seguir, era adicionado quelante por meio de um tubo de sucção e a mistura seguia para uma torre denominada “Q-Quelante”, e daí a massa era enviada a uma prensa lavadora. Após a etapa de quelação, a pasta era enviada a um misturador de oxigênio e daí seguia para a torre de oxigênio/peróxido, onde era adicionado peróxido de hidrogênio. Deste reator, a massa era encaminhada a uma prensa lavadora e a seguir era adicionado ozônio, por intermédio do tubo de sucção e seguia, então, para um reator. Terminada a reação, a polpa era lavada em uma prensa lavadora. No processo TCF o quelante era adicionado junto com o ozônio. Para a fabricação de pasta ECF, após a ozonização, a celulose era encaminhada ao misturador de dióxido de cloro e daí seguia para a primeira torre de dioxiocloração; desta torre, a celulose era encaminhada para a segunda etapa de dioxicloração (D), onde era novamente adicionado dióxido de cloro. A mistura seguia, então, para a segunda torre de dioxicloração e na seqüência, para o filtro lavador onde era armazenada na torre de celulose branqueada. Para a fabricação de celulose TCF, após a etapa de ozonização (Z) com adição de quelante, a celulose era enviada a um misturador de oxigênio e daí seguia para o reator de peróxido/oxigênio, onde era adicionado peróxido de hidrogênio, e daí era encaminhada para a torre de peróxido, utilizada no segundo estágio de dioxicloração da fabricação de pasta ECF. Desta torre a pasta branqueada passava por um filtro lavador e era armazenada na torre de celulose branqueada. A Figura 64 apresenta de forma esquemática as principais etapas do branqueamento. Os gases contendo dióxido de cloro eram coletados e enviados a um lavador de gases com solução alcalina de sulfito de sódio. 258 Digestor Tanque de despressurização Depuração Filtro lavador Torre de massa Misturador de oxigênio Bombas MC Misturador de ozônio Reator OP Prensa Reator de peroxidação Bombas MC Torre quelação Misturador de dióxido de cloro Prensa Torre de quelação Prensa Difusor TCF Misturador de dióxido de cloro Torre de dioxicloração Torre de massa branqueada Polpa para depuração e para a extratora de celulose Torre de Dioxicloração ou peroxidação Filtro lavador Figura 62 – Representação esquemática da linha de fibras ECF e TCF (linha B). O circuito de filtrados e de lavagem de massa previsto para a nova linha de fibras está mostrado na Figura 63. Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B Seqüência: OQ(Op)ZD Setembro/1997 a Agosto/1998 Prensa 1002 Prensa 1010 Água Quente Prensa 1018 Difusor 1006 Filtro 1001 O Para tanque de licor negro diluído Q Op Z Água Branca Água Quente Filtro 1032 D Efluente 5 m³/adt Figura 63 – Representação esquemática do sistema de lavagem de massa – Linha B. 259 d) Depuração e extratora de celulose A depuração de pasta branqueada tem por objetivo remover as impurezas da polpa a fim de atingir os graus de limpeza exigidos para a celulose do mercado de exportação. Esta etapa do processo foi prevista apenas para a nova linha de celulose (B) que produz celulose ECF ou TCF. Neste processo, a celulose branqueada é enviada para um depurador, que tem por objetivo a remoção das impurezas grosseiras e promoção de sua homogeneização. O aceite dos depuradores alimenta o sistema de depuração centrífuga, composto de cinco estágios de “centricleaners”. A depuração centrífuga é feita em baixa consistência e a água necessária para esta diluição é obtida da máquina de desaguamento e secagem de celulose (JE-2). A Unidade extratora de celulose –JE2 (Figura 66), é constituída da parte úmida (caixa de entrada, sistema de vácuo, prensas, etc.); parte seca (secador, sistemas de recuperação de calor, etc.); da cortadeira e da embaladeira. A capacidade de projeto da máquina era 750 toneladas/dia. Durante este processo são consumidos grandes volumes de água para diluição da massa e, na etapa seguinte, são gerados grandes volumes de água (retirada das fibras – denominada; água branca). Por esta razão, foi prevista a instalação de tanques de massa- denominados torres- e tanques para armazenagem da água branca, que poderia ser reutilizada na própria unidade ou em outros pontos da fábrica. 260 Prensas Mesa Desaguadora Cleaners Reverso Secador tipo colchão de ar Cortadeira 1 Centri Cleaners Peneira Pressurizada 1 Tanque Massa Branqueada Tanque Massa Tanque de água branca Água Branca Recuperada para Branqueamento Celulose Figura 64 – Máquina extratora de celulose – JE2. e) Evaporação (já existente) O sistema de evaporação de licor negro consiste de uma bateria de evaporadores de múltiplos efeitos, composta por 6 efeitos, onde o licor é concentrado de 15,5 para 50% de sólidos e de três concentradores, onde a concentração de sólidos atinge 72%, sendo enviado então para a caldeira de recuperação. f) Caustificação Nesta etapa do processo produtivo foi prevista a recuperação de produtos químicos (Na e S), formando o licor branco, que seria utilizado no processo de cozimento. As principais unidades que compõem a caustificação estão indicadas na Figura 67. O projeto ECF contemplou o uso de precipitador eletrostático no forno de cal, uso de combustível com baixo teor de enxofre e lavagem eficiente da lama (redução de TRS) – que são consideradas as melhores tecnologias disponíveis na caustificação (BAT). 261 Licor Verde Filtração Licor verde Licor Branco Caustificação X-Filter Filtração dregs Licor Branco Clarificação do licor Branco Filltração Licor branco CD Filter Licor Branco Filtração lama de cal Lama De Cal Dregs Re-caustificação (forno de cal) Ciclones Precipitador eletrostático Lavador de gases Gases para atmosfera Óxido de cal Figura 65 – Representação esquemática do sistema de caustificação do licor. O sistema de filtração de licor verde é composto por dois X-filters com capacidade de produção de 4.400 m3/dia. A filtração dos dregs – resíduo insolúvel gerado na dissolução do smelt - é feita em filtros à vácuo que usavam cal como pré-camada de filtração. O projeto previu a instalação de um filtro de dregs com capacidade de 10 toneladas por dia (dregs). O processo de caustificação do licor verde filtrado é feito nos caustificadores mediante sistema automatizado de alimentação (adição) de cal e agitação, para permitir a reação de formação de NaOH e precipitação do carbonato de cálcio. O licor resultante deste processo é denominado licor branco. Após clarificação o licor branco é filtrado em filtros denominados-CD filters. O licor branco filtrado é então armazenado e pode ser usado no processo. A lavagem da lama de cal, que é feita sob pressão, permite reduzir a perda de álcalis e as emissões de TRS no forno de cal. O forno de cal - unidade que permite transformar o carbonato de cálcio em óxido de cal - é alimentado continuamente pela lama de cal proveniente dos filtros de lama e 262 por óleo combustível para o processo de caustificação. O forno instalado tem uma capacidade para 380 toneladas de cal por dia. g) Planta química (dióxido de cloro) O processo de fabricação do dióxido de cloro utiliza o clorato de sódio, o ácido sulfúrico e o metanol como matérias-primas, gerando o dióxido de cloro como produto e o sesquisulfato de sódio como subproduto. Este processo consiste basicamente de um gerador à vácuo e um trocador de calor tipo casco/tubo, por onde circula o licor do gerador. O clorato de sódio é alimentado antes do trocador de calor (ou refervedor), enquanto que o ácido sulfúrico e o metanol são adicionados após o refervedor. O dióxido de cloro gasoso liberado na reação passa por um condensador de superfície, onde é resfriado e, a seguir, por torres de absorção onde, em contato com água gelada, a contracorrente, forma a solução de dióxido de cloro na concentração desejada. O licor do gerador, sob a forma de uma suspensão de sólidos, é filtrado em um filtro rotativo a vácuo, quando são separados os cristais de sesquisulfato de sódio, retornando o filtrado ao gerador. O sesquisulfato de sódio separado na filtração é reaproveitado na linha de fibras B para acerto de pH do estágio de ozônio. h) Planta de oxigênio e ozônio A planta de ozônio consiste em dois geradores de ozônio com capacidade unitária de 90 Kg de ozônio por hora e de uma planta de geração de oxigênio VSA (Vacuum Swing Adsorber) com capacidade para 44 toneladas de oxigênio com pureza de 90% por dia. A fabricação de ozônio é feita por intermédio da passagem de fluxo de oxigênio gasoso por meio de um tubo (dielétrico) onde uma descarga elétrica constante (efeito corona) transforma a molécula de oxigênio (O2) em uma molécula de ozônio (O3). 263 A concentração do ozônio obtida é de 13% em peso e a planta foi dimensionada para a geração de 180 Kg de ozônio por hora. A geração de oxigênio é feita por meio da passagem de ar comprimido em um leito de adsorção contendo uma peneira molecular de alta eficiência. Esta peneira adsorve preferencialmente o nitrogênio e outros gases, gerando o oxigênio que é enviado para fabricação de ozônio. A planta foi dimensionada para a geração de 44 toneladas por dia de oxigênio com 90% de concentração. O ozônio residual do processo de branqueamento é destruído termicamente e o gás recuperado constituído basicamente de oxigênio em concentração de 85% é reaproveitado nos estágios de pré-branqueamento com oxigênio. Deste modo as plantas de ozônio e oxigênio não geram contaminantes para o meio ambiente. i) Caldeiras auxiliares Foi implantada uma nova caldeira auxiliar para geração de 80 toneladas de vapor por hora queimando óleo combustível. j) Turbogeradores O projeto previu a construção das novas caldeiras (de recuperação e auxiliar) com pressão de vapor de 85 bar, permitindo a geração de energia elétrica por intermédio da redução da pressão do vapor para os valores utilizados no processo (14 e 5 bar). Isto permitiu a implantação de turbo gerador a vapor com capacidade de 25 MW, reduzindo a dependência externa de energia elétrica. 6.2.2.2 Investimentos do Projeto ECF Os investimentos deste projeto totalizaram US$ 225 milhões, assim distribuídos: Área Pátio de madeira Valor US$ 4.470 mil Cozimento 41.087 mil Linha de fibras 49.233 mil 264 Máquina extratora de celulose 51.976 mil Lavagem de gases 1.033 mil Sistemas de produtos químicos 6.310 mil Torre de resfriamento 1.486 mil Substação e compressores 10.708 mil SDCD 3.348 mil Ozônio 1.192 mil Caustificação 17.593 mil Forno de cal 14.176 mil Estação de tratamento de água 1.625 mil Estação de tratamento de água de caldeira 2.972 mil Estação de tratamento deefluentes 1.702 mil Pipe-rack e tubulações 16.415 mil Em 1995, antes da implantação do Projeto ECF, os custos de produção da celulose standard (STD) estavam acima do preço mínimo de mercado. Desta forma, a expectativa da VCP era garantir competitividade no mercado internacional, tanto em termos de qualidade, quanto em termos de custo de produção. A análise econômica do Projeto ECF indicou que haveria demanda de celulose em 2000, com preço de mercado em torno de US$ 350/t (Figura 68). Na época, havia também a expectativa de que a celulose TCF seria a maior responsável por esta demanda. A redução esperada do custo de produção devia-se ao aumento da escala, à diminuição do custo da madeira (aumento de rendimento no digestor) e ao decréscimo dos custos de utilidades (vapor e energia). Os custos projetados para o branqueamento TCF eram cerca de 67% maiores do que os do branqueamento standard (linha A), devido ao consumo de peróxido, dióxido e ozônio. Todavia, os custos de produção do licor deveriam ser reduzidos devido a diminuição nas perdas de sódio e enxofre 265 US$/t Demanda 99 400 Custos* Jacareí – 1995 350 Estimativa do preço mínimo mercado – 2000 (US$ 350/t) 300 250 Chile Espanha França USA Suécia Indonésia Portugal Brasil Finlândia Custos previstos * Jacareí – 2000 Canadá *Incluem madeira, energia, produtos químicos, mão-de-obra direta e transporte Capacidade com custos desconhecidos Capacidade de produção Figura 66 – Análise da competitividade da Unidade Jacareí no mercado mundial. Prevendo-se uma produção de celulose de 1500 toneladas/dia, a estimativa de redução no custo fixo foi de 60,8% e de 12,8% no custo variável (ECF). 6.2.3 Projeto P 1.200 Este projeto, que teve início em 1999, previu um pequeno aumento de produção de celulose de cerca de1.080 para 1.250 toneladas diárias, sendo que a maior parte dos investimentos foi de cunho ambiental. 6.2.3.1 Descrição do Projeto P 1.200 Os principais itens previstos no projeto foram: • Eliminação do estágio de hipocloração da linha de fibras A, • Conversão do branqueamento da linha A (possibilidade de produção de polpa ECF), • Nova ESTAR- Estação de tratamento de águas residuárias, 266 • Instalação do 7o estágio de evaporação e reforma no “stripper”, • Instalação do precipitador eletrostático na caldeira de biomassa, • Alteração no branqueamento (linha B), • Fechamento de circuitos, • Torre de resfriamento, e • Otimização da extratora de celulose 6.2.3.1.1 Linha de fibras A A linha de fibras A foi modificada para permitir a produção de celulose ECF e foi eliminado o estágio de hipoclorito (Figura 69). PréBranqueamento O Cloro/Dióxido C/D Oxigênio e Peróxido EOp Dióxido D Celulose Standard ECF Figura 67 – Representação esquemática da linha de fibras A. 6.2.3.1.2 Linha de fibras B Foram realizadas modificações na deslignificação (pré-branqueamento) e inclusão do estágio PO (final) visando aumentar a eficiência do branqueamento. A lavagem de massa após a deslignificação passou a ser feita em duas prensas em série, sem lavagem intermediária. O estágio PO passou a contar com uma lavagem adicional por meio de um difusor, conforme está indicado na Figura 70. 267 Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B Seqüência: OOZD(PO) De Agosto/1998 a Setembro/ 2000 Prensa 1010 Filtro 1001 Prensa 1018 Difusor 1006 Prensa 1002 Água Quente Água Branca Filtro 1032 Água Quente Água O Para tanque de licor negro diluído O Z Efluente 2,5 m³/adt D (PO) Efluente 7 m³/adt Figura 68 – Representação esquemática da modificação do branqueamento B. 6.2.3.1.3 Evaporação Foi aumentada a capacidade de evaporação do licor negro mediante adição de um novo estágio de evaporação (7o efeito), e de um concentrador final de licor, além do aumento de capacidade do concentrador de superfície. Estas modificações demandaram maior consumo de água de refrigeração, por isso também foi prevista a construção de uma nova torre de resfriamento, com capacidade para 2.000 m3/h. 6.2.3.1.4 Caldeira de biomassa Instalação de um precipitador eletrostático na caldeira, com eficiência de 99,8% de remoção de partículas em suspensão e concentração de 100 mg/Nm3 nos gases na saída da chaminé. 268 6.2.3.1.5 Nova estação de tratamento de águas residuárias (ESTAR) O sistema foi projetado para tratar 76.400 m3/dia e carga orgânica de entrada equivalente a 31.500 kg de DBO5,20 por dia e concentração de sólidos de 600 mg/L na entrada do decantador primário. O lançamento de carga orgânica - DBO5,20 (máxima instantânea) no rio Paraíba do Sul deveria ser inferior a 2.100 kg/dia, conforme exigência da licença de operação expedida pelo órgão ambiental. O sistema de tratamento é composto pelas seguintes unidades: • Sistema de equalização/neutralização; • Lagoa de emergência; • Sistema de decantação primária; • Torres de resfriamento das águas residuárias; • Sistema de tratamento biológico por lodos ativados duplo estágio;, • Sistema de adensamento de lodo biológico; • Sistema de pré-desidratação mecânica do lodo (tambores rotativos) e • Sistema de desidratação do lodo (“Screw press”). Lagoa de emergência: Parte do sistema antigo de lagoas aeradas é utilizado como sistema de emergência, visando evitar cargas de choque e/ou problemas de pH nos reatores biológicos a fim de garantir o desempenho da estação. Sistema de equalização: Com volume de 900 m3, além da função de homogeneização, possui sistema de ajuste automático de pH e desvio para a lagoa de emergência, quando necessário. Sistema de decantação primário: (02) decantadores circulares com diâmetro de 43m, com medidores de concentração de sólidos nas linhas de lodo permitindo a remoção de lodo de forma automatizada. 269 Torre de resfriamento: Torre sem enchimento, com possibilidade de “by-pass” das células para manutenção e limpeza. Projetada para temperatura de entrada de 58 oC e de saída inferior a 35 oC. Sistema biológico – Reatores: Processo de lodos ativados em duplo estágio com 04 reatores biológicos (02 do primeiro estágio e 02 do segundo). Os reatores biológicos têm volume individual de 10.500 m3 e altura de 5 m. O primeiro estágio opera com Oxigênio Dissolvido (OD) inferior a 0,5 mgO2/L e SST igual a 7 g/L e idade do lodo menor do que 2 dias. No segundo estágio, a concentração de OD mínima é de 2,5 mgO2/L, com SST no tanque igual a 3,5 g/L e idade do lodo entre 10 –20 dias. Como conseqüência dos parâmetros operacionais, o tipo de microrganismos e a forma de remoção do substrato são diferenciados nos dois estágios. No primeiro, prevalecem mecanismos de adsorção e bactérias com alta taxa de crescimento. No segundo estágio, bactérias heterotróficas e nitrificantes estão presentes no meio juntamente com protozoários e organismos de crescimento lento. Sistema biológico - Sistema de insuflamento de ar: O oxigênio é introduzido no meio líquido por intermédio de difusores de membrana (bolha fina). O sistema de grades e mangueiras flexíveis permite a sua substituição sem necessidade de esvaziar o tanque. Os sopradores (07) são do tipo rotativo trilobular, sendo que destes, dois possuem variador de freqüência para ajuste de vazão de ar. Sistema biológico – Decantador secundário: Tipo retangular com fluxo transversal com sistema de remoção de escuma, com taxa de aplicação máxima de 0,70 m3/m2/h. Adensamento do lodo biológico: Composto por adensador com diâmetro de 33 m e com possibilidade de ajuste de taxa de aplicação hidráulica por meio de diluição com efluente tratado visando minimizar problemas de flotação do lodo. Sistema de deságüe de lodo misto (primário mais lodo biológico): O sistema de desidratação do lodo é feito em duas etapas. Na primeira, o lodo misto é desidratado em tambor desaguador (drum thickener) até atingir cerca de 9 -10% de sólidos. Na 270 última etapa, o lodo proveniente do tambor é encaminhado para a prensa (screw press), onde alcança um teor de sólidos de 40% . O sistema é composto por duas linhas em paralelo, com dois tambores e duas prensas desaguadoras.O sistema tem capacidade para desaguar até 60 toneladas por dia (sólidos secos). O lodo misto recebe polieletrólito na entrada do tambor desaguador. A limpeza do sistema (prensas e tambor) é feita com efluente decantado, visando reduzir o consumo de água e a geração de águas residuárias. Sistema de automação e controle: Visando otimizar o controle operacional da ESTAR e reduzir a necessidade de intervenção do operador, o sistema dispõe de diversos medidores: COT, sólidos (linhas de lodo e reatores), OD nos tanques de aeração ligados em malha de controle aos sopradores de ar, vazão, temperatura e sensores de nível e de vibração, entre outros. A nova ESTAR foi projetada para atender a vazão prevista após no Projeto de expansão P-2.000. 271 Lagoa emergência Efluente bruto Lagoa emergência Expansão Tq neutralização Efluente Lodo Torre de resfr. Decantador φ=43m adensador Reator B Tanque de lodo Tambor desaguador Decantador secundário Reator A Filtro prensa Reator D Decantador secundário Reator C Lodo 40% Efluente tratado Figura 69 – Representação esquemática da nova estação de tratamento de águas residuárias. 272 A estação de tratamento antiga, composta por duas lagoas aeradas em série, foi modificada, transformando-as em lagoa de emergência e lagoa de polimento, respectivamente. A aeração foi mantida na lagoa de polimento para oxidação dos gases odoríferos. 6.2.3.1.6 Fechamento de circuitos Este projeto previa reduzir o consumo de água e a geração de efluentes na fábrica. Foi feito, inicialmente, um inventário detalhado dos consumos de água e geração de efluentes para o estabelecimento das alternativas técnicas e economicamente viáveis. De antemão sabia-se que a linha B (projeto ECF) já estava no limite da otimização quanto ao uso de água e à geração de águas residuárias, portanto, o levantamento foi dirigido às demais unidades do processo. A linha A, que deveria ser desativada com a entrada do novo projeto de expansão, também ficou fora deste projeto. O consumo de água em banheiros e a geração de esgoto doméstico não foram analisados neste trabalho. Para fins de balanço, no entanto, foi adotado o valor de 100 L/min. 1) Levantamento das medidas para redução do consumo de água a) Pátio de Madeira O pátio de madeira consumia apenas água branca excedente na J1(máquina de papel) para a lavagem de toras, na vazão aproximada de 1.040 L/min (1.500 m3/d), por isso, não foram previstos investimentos nesta área. 273 b) Máquina de Papel J1 A máquina de papel demonstrou ser o ponto com maior quantidade de aberturas no sistema, isto é, mais pontos de água enviados ao tratamento de águas residuárias. Exatamente por esta razão mostrou ser a área com maior potencial para redução de consumo de água e de geração de águas residuárias (Figuras 72 e 73). Na época o efluente da J1 era da ordem de 10.637 L/min: • Para a lavagem de toras e repolpador 1.600 L/min • Efluente final (ESTAR) 9.037 L/min Parte do efluente final era originado do constante transbordo de água no tanque de selo das pernas barométricas do sistema de vácuo. Na época, a água excedente na J1(máquina de papel) e na JE1 (extratora de celulose da linha A) eram misturadas em um tanque. Demonstrou-se que a linha de fibras A tinha consumo para toda a água excedente da extratora, portanto não haveria sobra de água para este tanque de “águas residuais”, que, desta forma, passaria a ser um tanque exclusivo da J1. O transbordo existente da JE1 para este tanque poderia ser mantido, passando a funcionar como transbordo de emergência. A bomba existente alimentaria diretamente a lavagem de toras e o repolpador do engrossador da linha de fibras A. O tanque existente na linha de fibras A que recebia a água branca da J1/JE1 seria desativado, evitando com isso a transferência de efluentes de uma área para outra, além de se economizar a energia de bombeamento. As medidas consideradas viáveis no caso da máquina de papel são citadas a seguir: Fechamento do Circuito de Águas do Sistema de Vácuo. Esta opção previa a instalação de uma torre de resfriamento exclusiva para o sistema de vácuo da J1. 274 Desta forma, o “make-up” de água para este sistema de vácuo seria reduzido de 758 L/min para 57 L/min e o consumo total de água em cerca de 8% (Figura 73). O transbordo do tanque de água quente aumentaria em virtude do transbordo do tanque que alimentava as bombas de vácuo e, com isso, a geração de águas residuárias seria: • Para a lavagem de toras e repolpador A 1.600 L/min s/ alteração • Efluente final (ESTAR) 8.300 L/min 8% de redução Reforma e rearranjo dos tanques de água fria e morna da J1 Para ser viável, esta medida deveria ser precedida da instalação da torre de resfriamento no sistema de vácuo. Desta forma, gerar-se-ia um excedente de água limpa que justificaria o investimento necessário. Esta modificação poderia ser feita em duas etapas: primeiro, instalando-se as bombas de chuveiros de água no tanque existente e depois se implantando uma nova bomba para aproveitar a água que anteriormente era enviada ao rio Paraíba.Como os tanques existentes estavam numa posição desfavorável, o material e a geometria não eram ideais e estas duas etapas iriam requerer duas paradas, recomendou-se que fosse instalado um tanque de aço novo, dividido, que cumprisse as funções dos dois tanques existentes. Desta forma, os custos totais ficariam bastante reduzidos. As bombas de água dos chuveiros da J1 deveriam ser instaladas no lado quente deste novo tanque que receberia o retorno de água de refrigeração dos condensadores de vapor da pré e pós-secagem e da calandra, além do trocador de calor Cytec. Como o total de água não era suficiente para alimentar os chuveiros, a água do lado frio desse tanque deveria transbordar para o quente. O lado frio receberia água da lubrificação central, dos redutores da secagem e do ar condicionado das salas 275 elétricas. Por esta razão, deveria ter uma geometria de forma a se criar uma “armadilha de óleo” para o caso de haver algum vazamento . Com essas alterações, o consumo total de água seria reduzido em cerca de 31% e o volume de águas residuárias diminuiria, pois o tanque de água quente deixaria de transbordar para alimentar os chuveiros. A geração de efluentes passaria a ser (sempre comparado com a situação existente sem o projeto): • Para a linha de fibras A 1.600 L/min s/ alteração • Efluente final (canaleta) 4.600 L/min 45% de redução Outra vantagem de se recircular esta água quente seria a elevação da temperatura média de trabalho do fluxo afluente ou, sob outro ponto de vista, mantendo-se a temperatura do sistema, a diminuição do consumo de vapor para a torre de água branca . Instalação de torres de água branca e refugos Um problema crônico das duas máquinas (J1 e JE1) e que não aparecia nos balanços, era a insuficiência de torres de água branca – água separada/removida durante o processo de secagem da celulose e das torres de refugos. Quando havia quebras prolongadas, ocorria o transbordamento do tanque de refugos e um grande “make up” de água por esgotamento da água branca. Durante a partida das máquinas, o sistema era preenchido com água quente ou água tratada, enquanto que, se existisse uma torre de água branca, o sistema poderia ser abastecido com a água recuperada em substituição à água limpa. Para a J1, este sistema deveria ter: torre de refugos com capacidade para 500 m3 e torre de água branca com capacidade para 700 m3. 276 Instalação de sistema de recuperação do efluente final da J1 Após a realização de todas as medidas consideradas viáveis, o efluente final da J1 ainda seria de cerca de 4.100 L/min. Poderia ser instalado um tanque subterrâneo onde hoje está a calha Parshall, bombeando-se esta água para um separador de fibras, seguido por um leito de areia, que recuperaria cerca de 2.500 L/min. (Ver balanços nas Figuras 70 e 71) Medida similar havia sido adotada na VCP – Piracicaba, mas estudos mais profundos deveriam ser desenvolvidos para que se tivesse segurança da qualidade da água recuperada e para os seus usos. Sistema existente Água selagem Água Chuveiros Make-up Sistema de vácuo 758 L/min Transbordo Tanques água branca 888 L/min Lavagem de toras 1.583 L/min Água refrigeração Make-up (quebras prolongadas, etc.) 341 L/min Máquina de papel Água branca Água morna Água branca Recuperada 1377 L/min Efluente 9.037 L/min Figura 70 – Principais consumos e geração de águas residuárias da máquina de papel (J1). 277 Sistema proposto Água selagem Água Chuveiros Make-up Sistema de vácuo 57 L/min Transbordo Tanques água branca 0 L/min Lavagem de toras 1.583 L/min Make-up (quebras prolongadas, etc.) 0 L/min Água refrigeração Torre resfriamento Máquina de papel Tanque Água fria Água branca Efluente 4.163 L/min Água morna Tanque água Branca (JE1) 1.585 L/min Figura 71 – Proposta para otimização do consumo de água e da geração de águas resísuárias na máquina de papel (J1). c) Máquina Coater JC2 A JC2 já tinha um circuito de águas bastante fechado, pois o efluente total da máquina estava em torno dos 150 m3/d. Uma medida que beneficiaria bastante o tratamento das águas residuárias seria a separação das tintas do restante do efluente industrial por intermédio da micro filtração. Mas esta alternativa já havia sido testada com resultados insatisfatórios. A tinta recuperada neste processo era de qualidade inadequada para a linha de produtos da VCP, portanto, seria necessária a criação de uma nova linha de produtos de qualidade inferior e de um centro de estocagem da tinta recuperada para que se pudesse ter volume suficiente para a produção durante um tempo viável. d) Máquina Extratora JE1 278 Esta máquina é muito antiga e estava em vias de ser desativada, além do mais a geração de águas residuárias era bastante baixa, principalmente porque a linha de fibras A utilizava toda a água branca gerada pela JE1. e) Máquina Extratora JE2 Foram identificadas as seguintes medidas para redução da geração de águas residuárias e do consumo de água. Separação das Bombas de Água Branca A JE2 possuía um problema crônico, que era a capacidade da bomba de água branca, insuficiente para bombear todo o excedente para a torre, provocando transbordo no tanque de armazenagem e causando a necessidade de “make-up”de água morna, na torre durante quebras prolongadas. A solução mais simples seria aumentar a capacidade da bomba existente, mas ainda restaria um outro problema, que era o fato de esta bomba alimentar dois pontos com requerimentos de pressão bastante diferentes. Assim sendo, a alternativa mais viável seria deixar a bomba existente, exclusivamente para bombear água branca para a diluição da torre de alta consistência B. Para a transferência da água excedente do tanque para a torre de água branca, instalar-se-ia uma nova bomba, exclusivamente para esta função. Fechamento do Circuito de Água Morna O tanque de água quente apresentava um excedente de água da ordem de 1.000 L/min, que era enviada ao tanque de água branca e finalmente à ESTAR. Esta água era limpa e poderia ser enviada à torre de resfriamento da fábrica. Para tanto, poucas modificações seriam necessárias: 279 • Modificar o encaminhamento da tubulação para a torre de resfriamento (a capacidade da bomba era suficiente). • Substituir a válvula de controle. Diluição da Torre de Alta Consistência A com Água Branca da JE2 Outro ponto de desequilíbrio do sistema de águas da JE2 ocorria quando havia consumo de massa da linha A. Nesta situação, cerca de 650 L/min de água com as fibras eram enviados à JE2, causando um excedente, e ao mesmo tempo, a necessidade de reposição na JE1. Para solucionar este desequilíbrio, foi proposta a instalação de uma bomba nova, exclusiva para esta função, instalada na torre de água branca, aproveitando o bocal de dreno cujo diâmetro é de 300 mm. Esta bomba faria a diluição na torre de alta consistência da linha A. Como existia a possibilidade da a JE2 trabalhar com 100% de fibras da linha A (ECF), a bomba deveria ser dimensionada para diluir até 500 ADT por dia. Devido à grande variação de vazão nesta bomba, de cerca de 650 L/min em condições normais e até 9.100 L/min de pico, foi sugerido um variador de freqüência para o motor . f) Caustificação e Forno de cal Para a condição existente da caustificação e do forno de cal, foi considerado que toda a água de refrigeração utilizada, quando não incorporada ao processo (bombas de vácuo e compressores, lavador de gases - scrubber e refrigeração dos mancais do forno de cal), seria enviada para a respectiva canaleta e encaminhada para a ESTAR. Foi recomendado que a água utilizada nas bombas de vácuo, mancais do forno de cal e compressores fosse incorporada ao circuito da torre de resfriamento. Entretanto, a 280 água de selagem dos compressores, devido à possibilidade de contaminação, não deveria ser recuperada. Também foi sugerido que a água de selagem das bombas de vácuo do filtro de dregs fosse encaminhada para a torre de resfriamento . Tratamento de condensado Outra alternativa proposta foi a recuperação dos condensados contaminados por intermédio da instalação de uma coluna de arraste (stripper). Desta forma, ter-se-ia os seguintes ganhos: - redução de 55% no fluxo de águas residuárias da área caustificação e forno de cal; - aproveitamento total do condensado tratado (parte seria enviada ao tanque de água quente da lavagem e parte à lavagem e diluição da lama, garantindo uma redução nos valores de emissões atmosféricas referentes ao forno de cal); - redução de metanol referente ao desvio do fluxo de condensado contaminado e resfriado lançado à rede de efluente industrial (1.062 L/min). g) Caldeira de recuperação Nesta área, o ponto com potencial para recuperação de águas residuárias era a selagem de bombas, resfriamento de amostras e descarga contínua da caldeira. Os efluentes deveriam ser direcionados para um tanque coletor subterrâneo com bomba vertical para enviá-los à ETA, à torre de resfriamento ou à ESTAR. Deveria ser instalado um condutivímetro no tanque para evitar o bombeamento de água contaminada. A economia prevista era de 290 L/min em operação normal. Eventualmente, essa vazão poderia ser maior, dependendo da necessidade de descarga contínua da caldeira. 281 O tanque coletor receberia a água de selagem da evaporação para ser bombeada junto com as águas recuperadas da caldeira para a ETA ou torre de resfriamento. A recuperação total de água seria de 400 L/min. Na evaporação, a única descarga normal de efluente, com possibilidade de recuperação seria a água de selagem das bombas. A água coletada em uma tubulação comum seria levada por gravidade até um tanque coletor na caldeira de recuperação. A economia prevista seria de 110 L/min. h) Turbogeradores, ar comprimido e ar condicionado central Nestas áreas a recuperação das águas utilizadas já era total. i) Caldeiras auxiliares – GTV e CBC 80 Os efluentes das caldeiras GTV (biomassa) e CBC 80 (caldeira auxiliar) eram basicamente águas de selagem, e resfriamento e descarga contínua das caldeiras. A quantidade estimada, 94 L/min, poderia ser coletada em conjunto com a água recuperada da ETAC- estação de tratamento de águas de caldeiras, perfazendo um total de 156 L/min. j) ETAC- Estação de tratamento de água de caldeiras Grande parte do efluente desta área - o rejeito da osmose reversa - já era recuperada e enviado como reposição para a torre de resfriamento. Um ponto potencial de recuperação seriam as águas de selagem e de resfriamento das bombas que poderiam ser canalizadas e direcionadas, por gravidade, para serem recuperadas em um tanque coletor nas caldeiras auxiliares. A economia gerada por esta medida seria de 62 L/min. 282 Outro ponto de possível recuperação seria a água de retrolavagem dos filtros de areia pressurizados (2.000 m3/d), que poderia ser coletada e enviada ao sistema de recuperação em conjunto com a água de retrolavagem da ETA. k) Linha de fibras Foi constatado que não havia perdas significativas de água nesta área. As correntes passíveis de recuperação seriam: • Água industrial do amostrador de condensado p/ aquecedores (cozimento); • Água industrial dos resfriadores de amostra (cozimento); • Água morna dos resfriadores de gases (cozimento); • Água de resfriamento da unidade hidráulica do raspador de fundo do digestor (cozimento); Destas, as duas primeiras correntes eram desprezíveis com vazões abaixo de 3L/min. A terceira já era utilizada no branqueamento ou na torre. A água de resfriamento da unidade hidráulica do digestor deveria retornar à torre de resfriamento, porém, isto não ocorria devido à baixa pressão. A solução seria a instalação de um tanque e uma bomba, mas como a vazão estava em torno de 78 L/min, o investimento não seria justificado. l) Plantas químicas O levantamento inicial indicou que as poucas alternativas possíveis para redução do consumo de água e/ou geração de águas residuárias nas plantas químicas (planta de dióxido de cloro, planta de dióxido de enxofre, planta de ozônio, manuseio de soda cáustica e planta de água gelada) representavam muito pouco em termos de vazão e requeriam altos investimentos. Em vista disso, não foram propostas medidas de otimização para estas unidades. 283 m) ETA - Estação de tratamento de água A ETA tem um único ponto de geração de efluentes que é a água de retrolavagem dos filtros (2.800 m3/d). Esta água poderia ser coletada e enviada ao sistema de recuperação em conjunto com a água de retrolavagem da ETAC. O sistema de recuperação destas águas (ETA e ETAC) seria composto de um tanque de sedimentação com purga periódica do lodo sedimentado, que seria enviado à ESTAR, enquanto a água recuperada seguiria para o sistema de captação. 2) Resumo das alternativas propostas no projeto fechamento de circuitos A tabela 36 resume as principais recomendações, com os seus respectivos custos de implantação e benefícios em termos de redução de consumo de água e geração de águas residuárias. Tabela 36 - Resumo das alternativas propostas para redução do consumo de água e da geração de águas residuárias. Código Descrição Redução de Redução Redução Custo águas de de DBO5,20 (R$) residuárias Água (kgO2/adt) (l/min) (l/min) (9) Recirculação do excesso de 210 água morna da JE2 para a 74.458 1.002 972(4) 0,03 717 702 0,03 torre de resfriamento Instalação 120 de torre de resfriamento no sistema de 171.977 vácuo da J1 Reforma e rearranjo dos 130(5) tanques de água fria e 214.417 2.184 3.769 morna da J1 + zero 1.475(2) Recuperação de água do 320 sistema vácuo – lama e 37.119 mancais do forno 336 326 - 284 Código 310 400 220 410 Descrição Recuperação de água sistema de vácuo – dregs Evaporação/caldeira de recuperação Separação do bombeamento de água branca da JE2 Coleta de água da ETAC e caldeiras auxiliares Redução de Redução Redução Custo águas de de DBO5,20 (R$) residuárias Água (kgO2/adt) (l/min) (l/min) (9) 35.894 230 223 - 84.785 401 389 - 323.836 850 850 - 60.000 156 151 - - 3 333 - 648 629 0,02 Recuperação de águas de 900 retrolavagem da ETA e 725.000 ETAC 110 Diluição da TAC A com água branca da JE2 421.096 0,67 300 Tratamento de condensado 2.347.103 1.095 1.062 metanol/A DtB 140 150(6) Instalação de torres de água branca e refugos na J1 Clarificação das residuárias da J1 1.249.118 (1 736 341(3) 341(3) 0,37(3) ~2.500 ~2.500 - 718)(8) águas 890.000 kg 285 Código (1) Descrição Redução de Redução Redução Custo águas de de DBO5,20 (R$) residuárias Água (kgO2/adt) (l/min) (l/min) (9) Os custos são estimativos. Incluem todos os impostos, fretes, embalagem, material de campo, equipamentos, civil, elétrica e montagem. Não estão incluídos os serviços como, engenharia, treinamento, assistência à partida, etc. (2) A redução de consumo de água aparecerá como redução de consumo de água quente da je1 e finalmente no “make- up”da torre de resfriamento da fábrica. (3) Valores estimados, uma vez que a economia gerada será devido à redução de transbordos em tanques de refugos e redução de “make up” de água fresca durante quebras. (4) Esta redução de consumo de água vai se refletir na diminuição do “make up” da torre de resfriamento. (5) A medida 130 só é eficaz se a medida 120 for adotada antes. (6) Apesar da medida 150 parecer atraente, ela está colocada em último lugar porque são necessários testes e maiores experiências para que se possa definir os usos (destinos) desta água economizada. (7) Todas as economias de água geradas por retorno à torre de resfriamento, apresentam uma perda de cerca de 3%, que são as perdas por arraste, evaporação e transbordo da torre. (8) A solução otimizada para a sugestão 140 seria a instalação das torres em conjunto com a instalação de um engrossador de refugos para o “couch pi”t. Caso se optasse por instalar este equipamento, o custo adicional de medida 140 seria cerca de r$ 487.600. A relação (custo adicional)/(benefício adicional) não justificaria este investimento. (9) Os valores específicos estão considerados em relação à 1.333 teladas por dia de celulose branqueada “air dry” (adt/d) Considerando-se todas as modificações sugeridas, com exceção da medida 150 (aproveitamento das águas residuais da J1), estimou-se um consumo total de água de aproximadamente 52.200 m3/dia (39,1 m3/ADT) contra os 69.700 m3/dia (52,3 m3/ADT) da situação existente, representando cerca de 25% de redução. A vazão de águas residuárias geradas resultou em aproximadamente 36.720 m3/dia contra os 50.430 m3/dia na condição existente (sem o projeto), representando cerca de 27% de redução. Este fluxo total de águas residuárias considerava o estágio Z no branqueamento B totalmente aberto. Considerando-se o estágio Z fechado, chegar-se-ia a uma geração total de 33.430 m3/d, representando cerca de 34% de redução. Da mesma forma, o consumo de água estimado seria cerca de 49.000 m3/d. Vale lembrar que nesta 286 situação haveria um excesso de água quente que deveria retornar à torre de resfriamento. Além da redução nos custos do tratamento de água e no tratamento de águas residuárias, previa-se os seguintes benefícios: • Aumento da eficiência das bombas de vácuo por trabalharem com temperaturas mais controladas; • Melhora no aproveitamento térmico da J1 e JE1, reduzindo o consumo de vapor; • Benefícios operacionais, proporcionando uma “receita” mais estável na produção de papel, devido à existência de um pulmão para dosagem de refugos. • Redução na demanda de produtos químicos na área de fabricação de papel, pois uma maior parcela deles seria recirculada no processo. Ocorreria também um melhor aproveitamento térmico da instalação (calor devolvido ao sistema) • Redução das emissões atmosféricas referentes ao forno de cal 3) Resumo dos balanços de água e da geração de águas residuárias As Figuras 72 e 73 apresentam, respectivamente, um resumo do balanço do consumo de água e da geração de águas residuárias no processo industrial 287 P 1200 - Balanço do consumo de água ETA Atual 43.523 L/min 62.674 m3/d 47,0 m3/ADT Proposto 34.344 L/min 49.455 m3/d 37,1 m3/ADT Redução: 21,1% ou 13.219 m3/d 3.333 2.498 Limpeza filtros ETA Cozimento 214 295 Depuração e préBranqueamento B 875 9.609 (6.803) 215 Branqueamento A 4.613 (3.763) Caldeiras auxiliares Branqueamento B 165 JC2 – Coater de papel 44 4.236 Caldeira de recuperação Trat.água de Caldeira (ETAC) 112 Evaporação 100 1.349 Água potável Plantas Químicas 180 Caustificação 806 Vila Garcia 867 13.693 (8.589) JE1- extratora de Celulose (úmida) JE2- extratora de celulose 40 280 J1- maquina de papel Depuração e préBranqueamento A ESTAR Torre de resfriamento Figura 72 – Balanço do consumo de água – valores reais e projetados (em litros por minuto). 288 1.042 Pátio de madeira 396 Cozimento 295 Depuração e préBranqueamento B JE1- extratora de Celulose (úmida) 440 Evaporação e condensados 1.237 (40) 9.149 Branqueamento A 105 Trat.água de Caldeira (ETAC) 6.015 Branqueamento B 68 Plantas Químicas 109 Caldeiras auxiliares J1- maquina de papel 9.037 (4.163) 4.394 (1.891) JE2- extratora de celulose JC2 – Coater de papel 130 319 (30) Caldeira de recuperação 100 Água potável Caustificação 1.261 (695) P 1200 - Balanço da geração de efluentes Atual 34.581 L/min 49.797 m3/d Proposto 25.142 L/min 36.204 m3/d 37,4 m3/ADT ESTAR 27,2 m3/ADT Redução: 27,3% ou 13.592 m3/d Figura 73 – Balanço da geração de águas residuárias – valores reais e projetados (em litros por minuto). 289 4) Medidas selecionadas pela VCP para serem implementadas no Projeto fechamento de circuitos. De todas as medidas elencadas (Tabela 38) no levantamento inicial, somente três itens não foram selecionados para fazer parte do escopo do P-1.200. Os itens incluídos e implementados foram: • Recirculação do excesso de água morna da JE2 para a torre de resfriamento; • Instalação da torre de resfriamento para o sistema de vácuo da J1; • Reforma e rearranjo dos tanques de água fria e água morna da J1; • Recuperação de água do sistema de vácuo do formo de cal; • Evaporação/caldeira de recuperação; • Separação do bombeamento de água branca da JE2; • Recuperação de águas da ETAC e ETA; • Diluição da torre de alta consistência com água branca da JE2. Ressalta-se que o sistema de recuperação de água da ETAC e da ETA foi projetado e implementado de forma diferente do que havia sido proposto no estudo inicial. No sistema implementado no Projeto P 1.200, o efluente da contralavagem é encaminhado ao canal de captação (por gravidade) e retorna ao sistema sem tanques intermedários. 6.2.3.2 Investimentos do P 1.200 Os investimentos previstos neste projeto foram os seguintes: Área US$ Linha de fibras A 7.800 mil Extratora de celulose (JE2) 4.700 mil Evaporação 5.000 mil Torre de resfriamento 1.300 mil Estação de tratamento de água ESTAR 500 mil 13.500 mil Precipitador eletrostático 4.000 mil Fechamento de circuitos 2.000 mil 290 A análise econômica do investimento previa um período de retorno (payback) de 4 anos e dois meses. Do total previsto inicialmente, foram efetivamente investidos até março/02 cerca de US$ 35 milhões. Os investimentos associados diretamente ao controle e prevenção à poluição, foram denominados “estratégicos” pela empresa. Aparentemente, em nenhum deles, foi feita a análise do investimento sob a ótica da prevenção a poluição, no seu sentido mais amplo. O retorno esperado foi associado basicamente ao aumento da produção. 6.3 EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NA UNIDADE JACAREÍ A evolução tecnológica na VCP precedeu a evolução da gestão ambiental no seu sentido mais amplo. Os investimentos e os esforços dirigidos ao aprimoramento da gestão e da aplicação das demais ferramentas da eco-eficiência foram mais intensos a partir de 1999. Destacam-se as seguintes iniciativas: Revitalização dos programas internos de conscientização ambiental e da semana de meio ambiente A partir de 1999, com objetivo de divulgar os programas e projetos ambientais da empresa e aumentar o envolvimento dos profissionais são feitas inúmeras atividades lúdicas, como teatros, gincanas e concursos durante a semana de meio ambiente. A partir de 2001 essa atividade foi integrada a semana de prevenção aos acidentes de trabalho, e passou a ser denominada: “Semana Integrada de Meio Ambiente e Segurança no Trabalho”. Implementação do programa de biomonitoramento do Rio Paraíba do Sul em parceria com a USP-SC. 291 Em 1999 teve início o monitoramento das comunidades aquáticas em 04 pontos de amostragem em um trecho de cerca de 20 km ao longo do rio Paraíba do Sul. Além do acompanhamento biológico, são analisados cerca de 55 parâmetros fisicoquímicos e são realizados ensaios ecotoxicológicos. O biomonitoramento tem como objetivo avaliar o efeito do lançamento dos efluentes tratados no corpo receptor em termos variação dos índices de riqueza e diversidade das espécies, indice gonodal e maturação sexual (peixes), entre outros. Implementação da coleta seletiva. A partir de 2000 foi implementada a coleta seletiva na fábrica. Foi contruída uma central de resíduos para armazenagem dos materiais que são encaminhados para as empresas recicladoras. Este projeto também abrangeu a substituição de embalagens de materias-primas por embalagens recicláveis e/ou retornáveis. Projeto de adequação do sistema de gestão ambiental em conformidade com a norma ISO 14001. Este projeto teve início em 2000 com previsão de certificação em 2002, entretanto, devido as obras do projeto de expansão (P-2.000) a certificação foi postergada para 2003. Como parte da metodologia prevista na norma e para facilitar a avaliação de significância e criticidade dos aspectos e impactos, foi desenvolvido um aplicativo – denominado SGA- que permite cadastrar e correlacionar as atividades da fábrica com os aspectos e com os impactos ambientais, além de permitir também a sua correlação com a legislação ambiental aplicável. Foram treinados 23 monitores ambientais nos diferentes processos e áreas, incluindo-se os provedores, com objetivo de tornar a gestão ambiental descentralizada (atuando-se na fonte) mais efetiva. Foi criada também a equipe do SGA- Sistema de gestão ambiental, específica para auxiliar e coordenar as ações relacionadas à esta questão. 292 Elaboração e publicação do relatório de desempenho. Em 2001 e 2002 foram elaborados e publicados os Balanços Sociais e Ambientais do grupo VCP. Esta publicação apresenta os pontos mais relevantes as ações ambientais da empresa relacionadas à gestão, o desempenho ambiental, os investimentos e os projetos ambientais. Estima-se que foram investidos até 2002, cerca de US$ 350 mil nestes projetos (sem contar os custos de mão-de-obra). 6.4 CONTABILIADE AMBIENTAL A contabilidade ambiental foi realizada segundo a metodologia preconizada pelo CCPP (2001). Ressalta-se, no entanto, que esta implementação foi parcial e voltada para a contabilidade gerencial. Priorizou-se a identificação dos resíduos perigosos gerados na Unidade e dos custos associados ao seu tratamento e descarte. Em um segundo momento, modificou-se a forma de apropriação dos custos relacionados ao tratamento e disposição final, que passaram a ser de responsabilidade das áreas geradoras 293 7 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 7.1 RESULTADOS DO PROJETO P 600 Com a implementação da nova caldeira de recuperação (e desativação do sistema antigo), da nova evaporação e do turbogerador, além dos ganhos de produção – aumento de 15%, houve a melhora dos indicadores ambientais, conforme apresentado nos próximos itens deste capítulo. Todavia, os ganhos ambientais decorrentes do projeto P-600 não são os mais significativos, quando comparados aos demais projetos implementados. Nesta fase, devido à falta de dados não foi possível analisar se houve ganhos relacionados à geração de resíduos sólidos. 7.1.1 Emissões hídricas A Tabela 37 apresenta a evolução da produção de celulose e papel e dos indicadores das emissões hídricas no período de 1992 a 1997. As Figuras 74 a78 mostram a evolução destes indicadores graficamente. Tabela 37 - Evolução da produção de celulose e papel e dos indicadores das emissões hídricas. Produção Vazão Celulose Produção Ano (ADT) Produção Efluente DBO e DBO s (m3/t) (kgO2/t) (kgO2/t) Papel (t) vendável (t) DQO e DQO s Cor AOX (kgO2/t) (kgO2/t) (kg Pt/adt) (kg/adt) 1992 178764 105974 208452 88,0 26,0 2,8 90,6 31,5 184 - 1993 149472 112268 184416 88,5 29,7 2,9 104,5 31,6 173 1,26 1994 186264 117159 221826 74,9 31,8 3,9 103,9 37,3 181 1,82 1995 194568 102486 228870 66,2 16,2 1,9 59,7 20,3 111 0,90 1996 186888 81440 208236 78,9 24,0 2,9 70,8 21,6 81 1,30 Adt – air dry t – telada seca ao ar ; AOX – organo- halogenados Produção vendável – inclui a soma da produção vendável de celulose e de papel e = entrada da ESTAR ; s = saída da ESTAR 294 Houve uma redução significativa da cor do efluente industrial como decorrência da otimização do sistema de recuperação de produtos químicos e da menor perda de licor. Antes do projeto, a cor média do efluente oscilava entre 1.500-1.900 mg PtCo/L e depois, ela foi reduzida para valores entre 600 e 1.000 mg Pt-Co/L. Verifica-se que os indicadores ambientais relacionados às emissões hídricas, notadamente, DQO, DBO5,20 e cor, foram os mais afetados (positivamente) pelo projeto. Estes resultados reforçam a influência da tecnologia no desempenho ambiental, uma vez que não foi contemplado nenhum item de controle à poluição (final de tubo). Tais resultados corroboram com os encontrados por Axegard at al.(1999) e Lachenal (1999). Mesmo sem a utilização da deslignificação com oxigênio, a DQO no efluente industrial (após tratamento) ficou abaixo dos valores preconizados no selo verde Nordic Swan (30 kg/ADT) (Nordic Swan, 2001). Destaca-se que este selo tem como base os processos europeus que utilizam madeira softwood – que possui composição química e propriedades diferenciadas da madeira hardwood (eucalipto). Com isso, o perfil do número kappa e demais condições de cozimento e de branqueamento são diferentes. O grau de deslignificação obtido no cozimento é menor para madeiras softwood (perfil de kappa mais elevado), quando comparado com o cozimento de madeira como o eucalipto (IPPC, 2000). Conforme pode ser observado na tabela 39 e nas Figuras 75 e 76, houve uma redução da carga orgânica (DBO5,20 e DQO) na entrada da ESTAR em decorrência das mudanças no processo produtivo. Os valores de DQO indicam a mesma tendência que a DBO, embora deva ser ressaltado que a DQO total não é um bom indicador para estimar a carga orgânica de efluentes de celulose, pois o .arraste de fibras contribui para a DQO. Com isso, aumentos ou reduções neste parâmetro podem indicar somente variação na perda de fibras e podem não significar alteração na carga orgânica passível de ser degradada na ESTAR (para tempo de detenção hidráulico projetado para as lagoas e sistemas de lodos ativados). A DQO solúvel ou COT são 295 parâmetros mais representativos para a análise e quantificação da carga orgânica no efluente bruto de fábricas de celulose e papel. Evolução da vazão (m3/t) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1992 1993 1994 1995 1996 Figura 74 – Evolução da vazão específica de águas residuárias ao longo do tempo. Evolução da DQO (kg O2/t) 120 DQO entrada DQO saída 100 80 60 40 20 0 1992 1993 1994 1995 1996 Figura 75 – Evolução da DQO específica nos afluentes e efluentes da ESTAR. 296 Evolução da DBO5 (kg O2/t) 35 DBO saída DBO entrada 30 25 20 15 10 5 0 1992 1993 1994 1995 1996 Figura 76 – Evolução da carga específica de DBO5,20 nos afluentes e efluentes a ESTAR. Evolução da cor (kg Pt-Co/ADT) 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1992 1993 1994 1995 1996 Figura 77 – Evolução da cor específica do efluente industrial. A maior eficiência da lavagem da polpa também contribuiu para a redução da cor e da DQO das águas residuárias, conforme sugerido por Springer (1993) e Holgund (1999). 297 7.1.2 Emissões atmosféricas A Tabela 38 e as Figuras 79 a 81 apresentam a evolução das emissões atmosféricas ao longo do projeto. Tabela 38 - Emissões atmosféricas e produção. Produção Celulose Ano (ADT) Produção Produção TRS Papel (t) Vendável (t) (kg S/t) SO2 MP (kg S/t) (Kg/t) 1992 178764 105974 208452 - - 25,00 1993 149472 112268 184416 - - 15,68 1994 186264 117159 221826 0,036 1,22 17,66 1995 194568 102486 228870 0,162 1,04 3,86 1996 186888 81440 208236 0,047 2,00 6,95 ADT- tonelada de celulose seca ao ar Produção vendável inclui a soma de celulose e papel 298 Emissão de Material Particulado (kg/t) 30 25 20 15 10 5 0 1992 1993 1994 1995 1996 Figura 78 – Evolução da emissão específica de MP. Emissão TRS (kg S/t) 0,25 Problem as operacionais no forno 0,2 0,15 0,1 0,05 0 1992 1993 1994 1995 1996 1995 1996 Figura 79 – Evolução da emissão de TRS. Emissão de SO2 (kg S/t) 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 1992 1993 1994 Figura 80 – Evolução da emissão específica de SO2. 299 Em termos de TRS - gases reduzidos de enxofre- os dados indicam que conforme esperado, o grande ganho na redução das emissões deveu-se à desativação dos concentradores de licor, que apresentavam emissões superiores a 22 ppm. As emissões de SO2, por sua vez, não foram reduzidas devido à maior queima de óleo nas caldeiras. Conforme preconizado por Springer (1993), a redução da emissão de material particulado (MP) deveu-se à substituição dos equipamentos antigos de concentração e oxidacão do licor, pela caldeira de recuperação dotada de precipitador eletrostático. A substituição do sistema antigo de recuperação do licor e as mudanças na evaporação também foram responsáveis pela redução das emissões dos gases reduzidos de enxofre (TRS), exceto em 1995 (Figura 79). Nesse ano, o aumento das emissões deveu-se a problemas no forno que incinerava os gases coletados no processo. 7.2 RESULTADOS DO PROJETO ECF De todos os projetos citados, o ECF foi o mais importante do ponto de vista ambiental. O uso de tecnologias inovadoras, como por exemplo, a utilização do ozônio no branqueamento em paralelo com as tecnologias consideradas – BAT foram destaque neste projeto. Os principais ganhos ambientais associados ao processo produtivo e à tecnologia empregada foram: maior rendimento do cozimento; menor carreamento de matéria orgânica nos filtrados; menor consumo de água; redução na geração de águas residuárias, diminuição das emissões atmosféricas, redução das emissões hídricas (DQO, DBO, AOX) e minimização do consumo de energia. Estes ganhos também foram constatados por IPPC (2000), Springer (1993), Hoglund (1999) e Mjoberg (1999). 300 7.2.1 Rendimento do cozimento O rendimento do cozimento e o grau de deslignificação têm relação direta com a quantidade de cavaco (madeira) consumida para produção da polpa e com a maior remoção de lignina, que permite aumentar a quantidade de energia recuperada via sistema de recuperação de produtos químicos. Além da recuperação de energia (devido ao envio de uma quantidade de sólidos maior para a caldeira de recuperação) há um menor carreamento de matéria orgânica com a polpa, permitindo reduzir o consumo de insumos químicos e a carga orgânica dos filtrados e nas águas residuárias (Lachenal et. al., 1999; IPPC, 2000; Hoglung, 1999). A Figura 81 indica de forma simplificada a evolução do cozimento, da deslignificação (pré-branqueamento) e do branqueamento com respeito à remoção de lignina (número kappa) e à geração de águas residuárias. Pode-se observar que o Projeto ECF -implementado em 1997, utilizava tecnologia inovadora, conforme pode ser visto pelos números Kappa de saída do cozimento e de entrada do branqueamento (Hoglund, 1999; Axegard, 1997 e Lachenal et al., 1999). 301 0 10 1970 20 Branqueamento Branqueamento 1973 Deslignificação efluente Branqueamento 1989 2000 - VCP ECF 9-10 NÚMERO KAPPA Cozimento Cozimento Licor-recuperação Deslignificação Branquea-Deslignimento ficação kappa 30 Cozimento modificado Cozimento modificado 13-14 Branquea-Deslignimento ficação Cozimento modificado Figura 81 – Evolução tecnológica da produção de celulose versus o número kappa. Mais recentemente, devido à evolução da tecnologia e do reconhecimento da influência dos ácidos hexanurônicos (Rodrigues et. al, 2000; Finchem, 1998) no processo de deslignificação e de branqueamento, foram desenvolvidos e implementados estágios ácidos no branqueamento. Com isso, o kappa de saída do digestor pôde ser alterado (aumentado), proporcionando maior rendimento da polpação e garantindo-se desempenhos similares aos obtidos em kappa mais baixo. Em outras palavras, pode-se operar com números kappas mais elevados sem afetar negativamente as etapas subseqüentes, com relação ao consumo de produtos químicos, carreamento de carga orgânica e eficiência do branqueamento. Esta modificação é comentada em mais detalhes no item a seguir. 302 7.2.2 Carreamento de matéria orgânica nos filtrados e eficiência do branqueamento Conforme foi citado no item anterior, o carreamento de matéria orgânica nos filtrados (e na polpa) é decorrente principalmente: do tipo de cozimento, da presença ou não da deslignificação com oxigênio, do tipo de lavagem da polpa e do grau de fechamento dos circuitos de filtrados. Quanto maior este arraste, maior será o consumo de produtos químicos no branqueamento, maior a perda de sódio e de enxofre pelas efluentes industriais e maior será sua carga orgânica (Springer, 1993; Gleadow et. al., 1998; Chirat et.al., 1999; Warnqvist, 1999 e Reeve, 1999). Como conseqüência, há a necessidade de se repor mais sódio e enxofre no processo, aumentar a dosagem de produtos químicos no branqueamento e aumentar/redimensionar a ESTAR visando comportar a (maior) carga afluente. Todas as conseqüências citadas implicam ao mesmo tempo em maior custo de produção da celulose e em maiores impactos ambientais (Figura 82). Percebe-se claramente que o uso das melhores tecnologias permite a prevenção à poluição, reduzindo os custos operacionais do processo produtivo e os custos associados ao controle da poluição - é o conceito “win-win” (WBCSD, 2000a). 303 Figura 82 – Principais tecnologias e sua correlação com os aspectos ambientais. Tecnologia Carga orgânica (filtrados) Carga orgânica (polpa) Perda de Na e S Consumo químicos branqueamento Cozimento “lo-solids” Deslignificação com oxigênio Lavagem eficiente (uso prensas) Controle de Perdas (spills) Em contrapartida, o grau de fechamento de circuito - maior recirculação e reaproveitamento dos filtrados - afeta negativamente a concentração de matéria orgânica (e inorgânica) nos mesmos. Embora a carga orgânica nos efluentes do branqueamento possa ficar inalterada, há um maior consumo de produtos químicos no branqueamento e problemas de aumento da precipitação de sais (notadamente oxalatos de cálcio e magnésio) nos equipamentos (IPPC, 2000; Silva et. al., 2000; Warnqvist, 1999 e Finchem, 1998). Este efeito deletério foi observado após a partida da nova linha de branqueamento, com problemas de precipitação excessiva de sais, consumo de produtos químicos no branqueamento muito superior aos valores projetados (Figura 86 ), dificuldade de branqueamento da polpa (baixa eficiência nos estágios Z e PO) e alta instabilidade do processo. Além destes aspectos, devido ao consumo de dióxido de cloro estar acima da capacidade da planta química, houve também, redução da produção média diária – que ficou menor do que a esperada (Figura 83). 304 Produção média diária (ADT) 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Projeto ECF ECF modificado Figura 83 – Produção diária de celulose. Para minimizar os problemas detectados foram adotadas as seguintes medidas paliativas: • Abertura parcial do circuito do estágio de ozonização, visando reduzir as concentrações de sais – e reduzir as incrustações além de aumentar a eficiência do branqueamento; • Redução do kappa na saída do digestor. Entretanto, estas medidas não foram suficientes para manter o branqueamento estável e reduzir os consumos de produtos químicos. Como conseqüência, depois de estudos e ensaios em laboratório - feitos em parceria com a Universidade de Viçosa, foi alterada a seqüência de branqueamento, que passou a ser: OOZ(DQ)(PO) conforme indicado na Figura 84. 305 Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B Seqüência: OOZD(PO) De Agosto/1998 a Setembro/ 2000 Prensa 1010 Filtro 1001 Prensa 1018 Difusor 1006 Prensa 1002 Água Quente Água Branca Filtro 1032 Água Quente Água O Para tanque de licor negro diluído O Z Efluente 2,5 m³/adt D (PO) Efluente 7 m³/adt Figura 84 – Representação esquemática do branqueamento após modificações. Após estas modificações houve uma redução de 46,7% do consumo de dióxido de cloro, que passou de 30 kg/ADT para 16 kg/ADT. O consumo de peróxido foi ligeiramente reduzido, de 9 kg/ADT para 8 kg/ADT (Figura 86). A produção média da linha B elevou-se de 620 para 830 toneladas diárias (Figura 83). Porém, essas modificações também acarretaram redução da eficiência de deslignificação, que, por sua vez, causou o aumento do número kappa nas diversas etapas subseqüentes do processo. A explicação para este efeito, segundo Rodrigues (2000), seria o aumento da produção e a retirada de um equipamento de lavagem entre os reatores de oxigênio, que reduziu a eficiência da lavagem, aumentando o carreamento de matéria orgânica para os estágios subseqüentes (Figura 85). Embora o aumento do número kappa pareça não ser significativo, seus efeitos danosos ao processo em termos da estabilidade do branqueamento, do consumo de produtos químicos e da eficiência dos estágios Z e PO são relevantes (Finchem, 1998). 306 Evolução do número Kappa 16 ECF ECF modificado 14 12 10 8 6 4 2 0 Digestor Deslignificação Op Ozônio Figura 85 – Número kappa na linha B do processo ECF com e sem modificações. Consumo de produtos químicos no branqueamento (kg/ADT) 35 Projeto ECF ECF modificado 30 25 20 15 10 5 0 Dióxido (D) Peróxido (P) Figura 86 – Consumo de produtos químicos na linha B, projetado, obtido no processo ECF sem e com as modificações. 307 Em setembro de 2000, visando otimizar ainda mais o branqueamento de modo a aumentar o kappa do digestor, aumentar a eficiência do estágio de ozônio e a estabilidade do processo, ao mesmo tempo em que se reduzia o consumo de produtos químicos e as incrustações, a seqüência de branqueamento foi novamente alterada. Esta modificação fez parte do escopo do projeto P 1.200. Foi introduzido um estágio ácido antes da ozonização, conforme mostrado na Figura 87. Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B Seqüência: OAZD(PO) De setembro/ 2000 até hoje Água Quente Prensa 1002 Filtro 1001 Prensa 1018 Prensa 1010 A Para tanque de licor negro diluído Z Efluente 5 m³/adt Água Quente Filtro 1032 Água O Água Branca D Efluente 3 m³/adt PO Efluente 7 m³/adt Difusor 1006 Figura 87 – Representação esquemática do branqueamento a partir de setembro de 2000. Após esta modificação, observou-se os seguintes ganhos (Silva e Colodette, 2000): • Redução no consumo de dióxido e de peróxido de 24% e 28%, respectivamente; • Redução do kappa antes do estágio de ozônio de 9,8 para 5,7, e, depois do estágio, de 6,6, para 4,4; • Redução de 54% do teor de oxalato de cálcio na polpa (antes da modificação o teor de oxalato na polpa era cerca de 2,01 kg/ADT passando para 0,89 kg/ADT depois da introdução do estágio ácido); • Redução do teor de ácidos hexanurônicos em 59%, melhorando a eficiência do estágio de ozônio. 308 Outra conseqüência das modificações feitas no Projeto ECF (maior abertura do circuitos e deficiência na lavagem de massa) foi o aumento da carga orgânica (em termos de DBO) na entrada da ESTAR. Os valores observados -entre 19.000 e 23.000 kg O2/dia ficaram acima do valor projetado- 17.500 kg O2/dia. Os efeitos desta abertura na eficiência da ESTAR serão comentados em mais detalhes nos itens a seguir (geração de águas residuárias e emissões hídricas). 7.2.3 Consumo de água A Figura 88 apresenta a evolução da vazão específica de água captada no Rio Paraíba ao longo do tempo Vazão de água captada (m3/t) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 1996 1997 1998 1999 Figura 88 - Evolução da vazão específica de água captada ao longo do tempo. Observa-se que houve uma redução no consumo de água devido à implantação do Projeto ECF. Esta redução deve-se à maior eficiência de lavagem da massa, ao maior reaproveitamento dos filtrados, da água branca, dos condensados e dos circuitos fechados de água de refrigeração, conforme constatado por por IPPC (2000); Lachenal et.al. (1999) e Axegard et.al. (1997) entre outros. 309 Também contribuíram para a redução no consumo de água o uso de selos mecânicos e águas de selagem em circuito fechado e sistemas de “spills” (perdas de licor) bem dimensionados e com controle de condutividade – que permitiram retornar ao processo os derrames e perdas a partir de uma determinada condutividade (2000 uS/cm). Considerando-se que a entrada em operação das novas unidades aconteceu durante o ano de 1997, a redução do consumo de água também ocorreu nos dois anos subseqüentes devido aos ajustes do processo. A redução obtida foi significativa: 38,3%. 7.2.4 Geração de águas residuárias. Os mesmos aspectos identificados na redução da vazão de água captada puderam ser também correlacionados com a redução da vazão de águas residuárias (Figura 89). Após o projeto, a vazão específica do efluente indutrial foi reduzida de 79 m3/t para 40 m3/t. Vazão de efluente (m 3/t) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1996 1997 1998 1999 Figura 89 - Evolução da vazão de águas residuárias. Com respeito ao grau de fechamento de circuitos previstos no projeto ECF – geração de 5m3/ADT (no branqueamento) cabem as seguintes considerações à luz da 310 evolução tecnológica e dos resultados observados nos projetos implementados depois de 1997: • A tecnologia existente, disponível e viável técnica e economicamente até a presente data indicou que o valor previsto para a geração de águas residuárias era inexeqüível, devido aos problemas de concentração de metais e de outros compostos indesejáveis que afetam diretamente o desempenho do sistema. Estes efeitos deletérios foram verificados na Unidade Jacareí e especialistas como Mjoberg (1999) e Warnqvist (1999) estimam que hoje só são viáveis sistemas com a geração mínima de 8-10 m3/ADT; • Os sistemas testados e implementados para a retirada de metais e de matéria orgânica que permitem reduzir a geração de águas residuárias, porque possibilitam aumentar a reutilização dos filtrados, ainda não atingiram os resultados preconizados por IPPC (2000); Warnqvis (1999) e Axegard et.al. (1997). Além dos custos envolvidos, existem problemas técnicos, como, por exemplo, a eficiência e rendimento das membranas filtrantes. • Os problemas detectados no fechamento de circuitos conduziram a investigação dos fatores intervenientes no processo, por exemplo, a influência dos ácidos hexanurônicos, além do desenvolvimento de novas alternativas para o branqueamento, como estágios ácidos a exemplo do que foi instalado na Unidade Jacareí (Finchem, 1998 e Silva et.al., 2000). As Figuras -90 e 91- evolução da DBO5,20 e da DQO mostram que houve uma redução substancial na carga orgânica específica afluente a ESTAR entre 1996 e 1998, como decorrência das mudanças tecnológicas implementadas no projeto, notadamente: alteração no processo de cozimento, implantação da deslignificação com oxigênio (para as duas linhas de branqueamento), seqüência de branqueamento na linha nova (B) que permitiu maior fechamento de circuitos (menor carreamento de carga orgânica) e mudanças no sistema de lavagem de massa. Tais resultados concordam com os encontrados por Reeve (1999), Hoglun, (1999) e Mjoberg (1999). 311 DBO5, 20 das águas residuárias (Kg O2/t) 30 DBO entrada DBO saída 25 20 15 10 5 0 1996 1997 1998 1999 Figura 90 - Evolução temporal da carga específica de DBO5,20 no afluente e no efluente da ESTAR. DQO no efluente industrial (Kg O2/t) 80 DQO entrada DQO s aída 70 60 50 40 30 20 10 0 1996 1997 1998 1999 Figura 91 - Evolução temporal da DQO no afluente e efluente da ESTAR. Devido à mudança tecnológica, também era esperada a redução da vazão do efluente industrial em termos absolutos, entretanto, devido à abertura parcial do circuito de filtrados a vazão aumentou de aproximadamente 45.000 m3/dia para 50.000 m3/dia. 312 Da mesma forma, a carga orgânica prevista na entrada da ESTAR (em termos de DBO) era 17.500 kg O2/dia, mas os valores observados foram superiores, entre 19.000 e 23.000 kg O2/dia conforme indicado na Figura 90. Evolução da vazão e da DBO5,20 60.000 Vazão (m3/dia) DBO-entrada ESTAR (kg O2/dia) 50.000 Vazão de projeto 40.000 30.000 20.000 DBO de projeto 10.000 0 1996 Antes do projeto 1997 1998 1999 Depois do projeto Figura 92 - Comparação da evolução da vazão e da DBO antes e depois do projeto ECF com os valores de projeto. Estes dois aspectos, aliados ao assoreamento parcial das lagoas de tratatamento de águas residuárias existentes na época, provocaram redução na eficiência do sistema de tratamento. Com isso, tanto a DQO quanto a DBO5,20 do efluente tratado não tiveram a redução esperada. Como consequência, a DBO específica de efluente da ESTAR ficou acima do valor de referência preconizado pelo IPPC (IPPC, 2000) que é de 1,5 kg O2/ADT. A DQO específica do efluente tratado (Figura 91), por sua vez, apesar da deficiência da ESTAR, ficou dentro da faixa de referência do IPPC (IPPC, 2000) e abaixo do valor recomendado pelo selo verde Nordic Swan (Nordic Swan, 2000) que são, respectivamente, 8-15 kg O2/ADT e 30kg O2/ADT. 313 Conforme observado por Homaki et.al. (1999), Reeve (1999) e Hoglund (1999), tanto a cor das águas residuárias quanto à emissão dos compostos organocloradosAOX foram reduzidos drasticamente (Figuras 93 e 94). A forma mais efetiva para redução da cor é por intermédio do cozimento eficiente, da deslignificação, da lavagem eficaz e do controle e recuperação adequados das perdas de licor Cor no efluente (Kg Pt-Co/t) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1996 1997 1998 1999 Figura 93 - Evolução da cor específica da água residuária ao longo do tempo. A emissão específica de AOX-que representa a fração de orgaclorados solúvel em água- ficou abaixo do valor recomendado pelo selo verde Nordic Swan que é 0,20 kg/ADT (Figura 94). Da mesma forma, como foi destacado para o parâmetro cor, a redução efetiva da geração e da emissão destes compostos foi devido preponderantemente ao uso de tecnologias adequadas e à substituição dos compostos de cloro no branqueamento. Sistemas convencionais de tratamento de águas residuárias de indústrias de celulose e papel removem entre 20 a 45% dos compostos organoclorados -AOX (IPPC, 2000 e Payne et. al., 1999). De forma similar ao que foi observada nas águas residuárias, a concentração de organoclorados totais– expressa como OX - na polpa de celulose também foi reduzida drasticamente em virtude do novo tipo de branqueamento. Para a polpa proveniente da linha A (branqueamento standard), os valores típicos oscilam entre 314 400-500 g/ADT, enquanto que para a polpa da linha B (ECF) os valores encontrados estão entre 70 a 120 g/ADT. AOX no efluente industrial (Kg Cl/ADT) 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 1996 1997 1998 1999 Figura 94 - Evolução emissão específica de AOX durante o projeto ECF. A Tabela 39 apresenta a evolução dos principais parâmetros relacionados às emissões hídricas, comparando-os com os valores de referência do selo Verde Nordic Swan e das melhores tecnologias disponíveis (IPPC, 2000 e Nordic Swan, 2000). Tabela 39 - Comparação entre as emissões hídricas geradas antes e depois dos projetos com valores de referência BAT ou Nordic Swan. Depois do Antes do projeto Referência Projeto (De 1997 a BAT ou (1996) 1999) Nordic Swan Vazão efluente (m3/ADT) 60,0 30,7 30- 50 DQO(kgO2DT) efluente tratado 22,6 10,5 8-23 2,47 2,39 0,3-1,5 BAT 133 24 - - DBO5,20 (kg O2/ADT) efluente Observações BAT BAT N. Swan=30 tratado Cor (Kg Pt-Co/ADT) efluente tratado 315 Depois do Antes do projeto Referência Projeto (De 1997 a BAT ou (1996) 1999) Nordic Swan 1,15 0,14 0,10-0,20 BAT 2,4 2,5 0,6-1,5 BAT - 0,04 0,02-0,03 BAT AOX (kg/ADT) efluente tratado Sólidos em suspensão (kg/ADT) efluente tratado Fósforo Total (kg P/ADT) Observações efluente tratado ADT- Celulose seca ao ar Conforme indicado na Tabela 40, pode-se observar que os parâmetros vazão, DQO, e AOX estão dentro da faixa recomendada pelo IPPC ou Nordic Swan, enquanto a DBO, fósforo e os sólidos totais em suspensão estão acima. 7.2.5 Emissões atmosféricas Conforme pode ser observado no Tabela 40 os parâmetros mais influenciados pela mudança tecnológica e pela instalação de novos equipamentos de controle foram o TRS, o SO2 e o material particulado. Das tecnologias consideradas BAT segundo IPPC (2000) para controle e redução das emissões atmosféricas, o projeto ECF contemplou: • Uso de óleo combustível com baixo teor de enxofre; • Coleta e incineração dos gases odoríferos concentrados e diluídos; • Lavagem de lama de cal eficiente para reduzir o arraste de enxofre; • Lavadores de gases (scrubers). 316 Tabela 40 - Comparação das emissões atmosféricas antes de após a implantação do Projeto ECF em comparação com valores de referência BAT e Nordic Swan. Depois do Referência Projeto BAT ou Nordic (1997-1999) Swan Antes do Projeto (1996) TRS (kg S/t) 0,098 0,036 0,100-0,200 SO2 (kg/t) 0,42 0,36 0,2-0,4 MP (kg/t) 10,3 3,61 0,2-0,5 Observações BAT N. Swan=0,20 BAT N. Swan=0,60 BAT Todos os valores são expressos por tonelada vendável e podem ser considerados equivalentes a o valor expresso por ADT devido à proporção entre a produção de celulose vendável e a produção vendável de papel. Os valores BAT não incluem as emissões das caldeiras auxiliares Os valores Nordic Swan incluem as emissões das caldeiras auxiliares O projeto ECF não contemplou tecnologias para redução e controle das emissões de NOx, conforme indicado pelo IPPC (2000) e Ruohola et.al.(2000); em virtude disso, os valores das emissões deste poluente 1,83 kg NO2/ADT estão ligeiramente acima dos valores estipulados pelo selo verde Nordic Swan ( 1,7 kg/ADT – que considera todas as fontes de emissão) e pelo IPPC (1,0 –1,5 – sem caldeiras auxiliares). O valor correspondente à emissão de NOx excluindo-se a emissão da caldeira auxiliar é cerca de 1,7 kg/ADT. 7.2.6 Geração de resíduos sólidos Segundo IPPC (2000) as melhores técnicas disponíveis associadas à geração de resíduos sólidos consistem basicamente em reduzir e maximizar a sua reutilização. A nova linha de fibra apresentou perdas menores de fibras, ainda superiores às tecnologias hoje existentes. Em muitas fábricas estão sendo instalados sistemas de recuperação de fibras. 317 7.2.7 Consumo e cogeração de energia Com respeito à fração de energia elétrica gerada e comprada, a partir da entrada em operação dos turbogeradores (TG1 e TG2), a Unidade Jacareí passou a gerar a maior parte da energia elétrica consumida na planta, (Figura 95) por meio da queima de licor, complementada pela biomassa e óleo combustível. A Figura 96 indica a evolução da matriz energética. Geração de energia - cogeração (%) 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1997 1998 1999 2000 Figura 95 - Evolução da cogeração de energia em relação ao consumo de energia elétrica total. Consumo de energia - (MWh/t) 10 Licor Biomassa Óleo 8 6 4 2 0 1998 1999 Figura 96 - Evolução do consumo total de energia. 2000 318 Destaca-se que a mudança de tecnologia do cozimento de digestores em batelada para digestores contínuos acarretou a redução do consumo de 0,8 toneladas de vapor para cada tonelada de celulose produzida, valor este de acordo com o sugerido pelo IPPC (2000). 7.3 RESULTADOS DO PROJETO P 1.200 7.3.1 Emissões hídricas e captação de água Os principais ganhos ambientais previstos neste projeto eram: a redução do consumo de água, a redução da geração de águas residuárias devido ao fechamento dos circuitos e maior remoção da DBO5,20 e da DQO devido à instalação da nova ESTAR. Os resultados apresentados nas Figuras 97 a 101 confirmam os valores esperados. Vaz ão de água captada (m 3/t) 60 50 40 30 20 10 0 1999 2000 2001 2002 Figura 97 - Evolução temporal da vazão de água captada no rio Paraíba do Sul. 319 Vazão de efluente industrial (m3/t) 50 40 30 20 10 0 1999 2000 2001 2002 Figura 98 - Evolução da vazão do efluente industrial ao longo do tempo. Evolução da DBO 5,20 (kg O2/t) 30 27 Entrada ESTAR Saída ESTAR 24 21 18 15 12 9 6 3 0 1999 2000 2001 2002 Figura 99 - Evolução da carga específica de DBO no efluente industrial na entrada e saída da ESTAR. 320 Evolução da DQO (kg O2/t) 60 Entrada ESTAR Saída ESTAR 50 40 30 20 10 0 1999 2000 2001 2002 Figura 100- Evolução da DQO específica no afluente e efluente da ESTAR. A redução das emissões hídricas - DQO e DBO do efluente tratado (Figuras 99 e 100) também ocorreu, mas em menor escala devido a problemas na aeração da nova ESTAR (dimensionamento do motor dos sopradores e sistema de difusores). Os valores atípicos no ano de 2002 devem-se à partida de novas unidades devido ao projeto de expansão – P-2.000 (projetos futuros). No período de 1999 a 2002, os valores da DBO na entrada da ESTAR foram crescentes, enquanto que a DQO apresentou tendência oposta e diminuiu ao longo do tempo. Observou-se o aumento da DQO solúvel na entrada da ESTAR (Figura 100) neste período- comportamento similiar ao da DBO, indicando aumento da carga orgânica nas águas residuárias. A redução da DQO total pode estar associada a menor perda de fibras. Mesmo com as deficiências no sistema de aeração, o bom desempenho do sistema primário e do próprio sistema biológico contribuíram para as maiores remoções de DBO, DQO total e solúvel no período. A partir da estabilização do processo de expansão e da ESTAR, a eficiência de remoção da carga orgânica deverá aumentar. 321 A remoção total de DBO passou de 82% para 90% no período, mas ficou inferior ao valor de projeto, que é 93% (Figura 101). Segundo Springer (1993) são esperados valores de remoção de DBO entre 90 a 95% em sistemas otimizados. DQO Solúvel (kg O2/t) 40 Entrada ESTAR Saída da ESTAR 35 30 25 20 15 10 5 0 1998 1999 2000 2001 Figura 101 - Evolução da DQO solúvel no afluente e efluente da ESTAR. Remoção de DBO 95% 5,20 93% 90% 88% 85% 83% 80% 78% 75% 1999 2000 2001 Figura 102 - Evolução remoção da DBO na ESTAR. 2002 322 Considerando-se o uso de água para refrigeração em circuito fechado, a reutilização da água branca, o reciclo de filtrados e o reúso dos condensados, a unidade Jacareí, depois do projeto passou a reutilizar cerca de 85% da água utilizada. 7.3.2 Emissões atmosféricas A instalação do precipitador eletrostático na caldeira de biomassa reduziu as emisssões de material particulado nesta fonte (de 1000 ppm para 100 ppm), e as emissões específicas da fabrica conforme mostrado na Figura 103. Embora não fizesse parte do escopo do P-1200, o combustível da caldeira auxiliar foi substituído por gás natural em 2001, antecipando uma alteração prevista para o ano de 2002. Esta antecipação deveu-se ao programa de estímulo do governo para uso do gás natural, com preços mais competitivos do que o óleo combustível. Com esta alteração, houve redução no consumo de óleo, mudança na matriz energética, além de redução das emissões de dióxido de enxofre. A Figura 104 mostra esta evolução. As emissões de TRS, por sua vez, aumentaram no período, devido à maior emissão do forno de cal e da caldeira de recuperação (Figura 105). Material Particulado (kg /t) 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 2000 2001 Figura 103 - Evolução da emissão de material particulado. 2002 323 Emissão SO2 (kg S/t) 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 2000 2001 2002 Figura 104 - Evolução da emissão de dióxido de enxofre (incluindo caldeira auxiliar). TRS (kg S /t) 0,070 0,060 0,050 0,040 0,030 0,020 0,010 0,000 2000 2001 2002 Figura 105 - Evolução da emissão de TRS. 7.3.3 Matriz energética Em virtude da substituição do óleo combustível por gás natural na caldeira auxiliar (CBC 80) a fração de energia produzida à base de gás natural contribuiu com cerca de 14,6% do total da energia gerada em 2002. A contribuição do óleo combustível no forno de cal, na caldeira de biomassa e na caldeira de recuperação passou de 18% para 13% (figura 106). 324 A redução da contribuição do licor deveu-se à elevação do kappa do digestor e aumento do rendimento- que foi possível após a introdução estágio ácido (no branqueamento), com isso, menos sólidos foram queimados na caldeira proporcionalmente aos anos anteriores. Licor Biomassa Óleo Gás natural 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2000 2001 2002 Figura 106 - Matriz energética ao longo do tempo. 7.4 ESTIMATIVA DE REDUÇÃO DO CUSTO DE PRODUÇÃO DEVIDO ÀS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS Considerando-se que o cenário com a produção de 2001, utilizando as mesmas tecnologias empregadas em 1995, com cozimento em batelada, produção de celulose STD e os mesmos consumos de água, de vapor e geração de águas residuárias daquela época, o custo unitário seria acrescido de US$ 70/ADT. Isto significa que os custos anuais seriam US$ 30 milhões acima dos valores atuais (2001). Destes custos adicionais, cerca de 30% referem-se ao tratamento de água, tratamento de águas residuárias e consumo de vapor. O restante, está relacionado ao consumo de madeira e redução do custo fixo. 325 7.5 RESULTADOS DOS PROJETOS RELACIONADOS À GESTÃO 7.5.1 Gestão ambiental na Unidade Com a implementação da coleta seletiva e do levantamento sistemático da geração dos resíduos, associados às mudanças na forma de custeio e pagamento com a coleta e tratamento dos mesmos, foram conseguidos os seguintes resultados : • Mais de 70% dos produtos químicos usados no processo passaram a ser fornecidos em embalagens retornáveis; • A quantidade de resíduo sólido que era encaminhada ao aterro municipal, foi reduzida em mais de 60%; • Alguns resíduos oleosos, após implementação de sistemas de recuperação mais eficientes, foram reduzidos em mais de 90%; • Redução de 100% do resíduo gerado no picador - resíduo classe I com alto teor de chumbo - graças à substituição do metal patente; • Substituição de 100% dos trapos utilizados para limpeza de peças por toalhas retornáveis; • Revisão de contratos com fornecedores, responsabilizando-os pela coleta e disposição das embalagens; • Implementação da sistemática de qualificação de todos os receptores de resíduos. 7.5.2 Elaboração de relatórios de desempenho ambiental do Grupo VCP A partir de 2001, a VCP tem elaborado anualmente um relatório contendo informações detalhadas relativas aos seus projetos ambientais e ao seu desempenho ambiental. 326 Embora com foco nos investidores, este relatório teve sua divulgação ampliada a outras partes interessadas, inclusive está disponível no site da empresa para consulta e “download” (http://www.vcp.com.br em Investidores). Este relatório também foi disponibilizado na intranet da empresa para acesso e divulgação entre os funcionários. O relatório da VCP aborda os seguintes temas: • Gestão ambiental; • Recursos Naturais; • Indicadores ambientais; • Educação ambiental, e • Investimentos. Os indicadores sociais são apresentados segundo o modelo Ibase. Analisado por especialistas o Relatório Anual da VCP de 2001 foi considerado o terceiro melhor entre os 59 relatórios apresentados pelas companhias brasileiras de capital aberto que se increveram para o 4o Prêmio Abrasca-Associação Brasileira de Companhias Abertas. 327 8 PROJETOS FUTUROS Os principais projetos de mudança tecnológica e produção mais limpa a serem implementados a partir de 2002 são: • O projeto P-2000, que prevê duplicar a produção de celulose a partir do ano de 2003, utilizando as melhores tecnologias disponíveis nas diversas áreas do processo, a desativação da linha antiga de branqueamento (linha A) e da extratora que recebia a polpa desta linha (JE1); • Instalação de um sistema “dual” de queima de combustível na caldeira de biomassa, para permitir a queima de gás natural ou óleo –previsto para 2003, • Instalação de uma unidade de cogeração – com gás natural que hoje está em fase de licenciamento, • Usos alternativos para disposição de resíduos – em andamento; • Elaboração do projeto de ampliação do aterro industrial para resíduos classe II. A valorização dos resíduos por meio de usos alternativos está sendo pesquisada desde 2001. Após inúmeros testes, parte do lodo gerado na ESTAR está sendo utilizado na fabricação de tijolos. Os resultados em escala industrial são animadores. Foram observados ganhos ambientais importantes, como, por exemplo, redução do uso de combustíveis na queima dos tijolos, redução no tempo de secagem e da quantidade de argila extraída. Por outro lado, houve em 2002 a redução de 10% na quantidade de lodo disposta no aterro classe II, o que representa uma economia de cerca US$ 70 mil. Outras alternativas estão sendo pesquisadas, desde a aplicação do lodo biológico em florestas próprias até a queima no sistema de recuperação. Além dos projetos citados relacionados diretamente à tecnologia, outros relativos à adoção de melhores práticas de gestão e de melhoria da governança ambiental estão em andamento. Dentre eles destacam-se: 328 • Certificação do sistema de gestão conforme a ISO14001 na unidade Industrial em 2003 (a Unidade Florestal recebeu a certificação em outubro de 2002); • Implementação do Plano de Gestão de Riscos Ambientais (PGR) em toda a unidade em 2003; • Criação de um índice, que pretende avaliar e monitorar o desempenho ambiental por intermédio de indicadores de gestão e operacionais, além de considerar os aspectos relacionados ao atendimento legal e as demandas das partes interessadas; • Revisão do website da VCP para otimizar a divulgação de informações relativas à gestão e desempenho ambientais; • Criação da rede de percepção de odor, que visa otimizar o controle operacional relacionado à coleta e incineração dos gases odoríferos. Este projeto deverá ser feito com a comunidade no entorno da fábrica e terá a duração de um ano; • Construção de um Núcleo de Educação Ambiental (NEA), próximo à fábrica, que contará com projeto pedagógico próprio e que tem o objetivo de disseminar os conceitos de preservação ambiental, dar suporte para as escolas próximas e aproximar a comunidade a fabrica; • Contrução de um sistema de coleta, transporte e tratamento de esgoto doméstico de uma população de aproximadamente 7.000 habitantes, residente em um bairro situado no entorno da fábrica. A VCP doou a área e construirá a estação de tratamento de esgotos, enquanto que o município implantará o sistema de coleta e transporte. Os investimentos previstos para o período de 2001-2003, em tecnologia e produção mais limpa são da ordem de US$ 78 milhões. Em gestão ambiental e melhores práticas são previstos investimentos de cerca de US$ 4 milhões em 2003. 329 9 CONCLUSÕES A percepção da degradação ambiental induziu inúmeras mudanças na sociedade, nos governos e nas empresas. Estão sendo desenvolvidas ferramentas, políticas públicas, tratados e acordos internacionais tanto na esfera empresarial quanto governamental visando o desenvolvimento sustentável. Todavia, os resultados ainda são limitados em termos de governança ambiental global, quer seja pela dificuldade de acordos entre países e por sua influência na macroeconomia, quer seja pelo desenvolvimento ainda incipiente de metodologias que dêem suporte as ferramentas da eco-eficiência, como por exemplo, análise de ciclo de vida e indicadores ambientais. Neste cenário, existe ainda a importante questão da inexistência de políticas públicas efetivas e a forma de atuação do controle ambiental feito pelo estado, que deve ser repensada. Por outro lado, observa-se a evolução da influência do mercado como indutor de melhoria ambiental nas empresas por intermédio de selos verdes, certificações ambientais e pelo estabelecimento de critérios ambientais para financiamentos e investimentos. O uso das ferramentas de eco-eficiência, notadamente, a prevenção à poluição, o uso das melhores tecnologias, a gestão e a avaliação do desempenho ambiental foi decisivo para a indústria Votorantim Celulose e Papel – Unidade Jacareí melhorar o seu desempenho ambiental e a sua competitividade no mercado mundial de celulose. No período analisado (1992 a 2002), simultaneamente ao aumento de 66% da capacidade da produção de papel e do aumento da produção de celulose, que triplicou, destacam-se os seguintes ganhos: • Redução de 30% no custo de produção de celulose; • Redução de 84% das emissões de AOX-compostos orgânicos halogenados (de 1,26 kg Cl/ADT para 0,20 kg Cl/ADT); • Redução de 87% da cor da água residuária tratada por sistema de lodos ativados (de 184 kg Pt-Co /t para 24kg PT-Co/t); 330 • Redução de 50% na vazão de água captada no Rio Paraíba e de 57% na vazão de águas residuárias; • Redução de 27% na DBO5,20 do efluente industrial (de 26,0 kg O2/t para 19,1 kg O2/t); • Redução de 31% na DBO5,20 da água residuária tratada por sistema de lodos ativados (de 2,8 kg O2/t para 1,9 kg O2/t); • Redução de 53% na DQO do efluente industrial (de 90,6 kg O2/t para 42,5 kg O2/t); • Redução de 65% na DQO da água residuária tratada por sistema de lodos ativados (de 31,5 kg O2/t para 11,1 kg O2/t); • Redução da emissão de material particulado de 25 kg/t para 1,66 kg/t; • Redução de 20% das emissões de compostos reduzidos de enxofre (de 0,043 kg S/t para 0,034 kg/t); • Aumento da cogeração de energia elétrica de 52% para 74%; • Mudança na matriz energética por intermédio da substituição de 50% do óleo combustível consumido na Unidade por gás natural; • Mais de 70% dos produtos químicos usados no processo passaram a ser fornecidos em embalagens retornáveis; • Redução de mais de 60% na quantidade de resíduo sólido encaminhada ao aterro municipal; • Redução de mais de 90% do resíduo oleoso gerado no sistema de lubrificação (cilindros secadores) da máquina de papel; • Redução de 100% do resíduo gerado no picador - resíduo classe I com alto teor de chumbo; • Substituição de 100% dos trapos utilizados para limpeza de peças por toalhas retornáveis. Em termos absolutos observou-se a redução das seguintes emissões: • AOX média do efluente tratado : De 1106 kg/dia para 260 kg/dia; • DQO média do efluente tratado: De 17.990 kg O2/dia para 17.918 kg O2/dia; • Material Particulado: De 10,8 toneladas por dia para 2,5 toneladas por dia. 331 Por outro lado, em termos absolutos, no mesmo período, houve aumento das seguintes emissões: • DBO5,20 média: De 1.600 kg O2/dia para 2.900 kg O2/dia; • TRS: De 44 kg S/dia para 92 kg S/dia; e • SO2: De 1,5 toneladas por dia para 3,3 toneladas por dia (expresso como S). No entanto, apesar dos aumentos verificados nas emissões hídricas não houve alteração na classe do rio. Além disso, os valores emitidos ficaram dentro dos limites estipulados na licença de operação concedida pelo órgão ambiental. 332 10 ANEXOS Anexo A Sites relacionados com eco-eficiência e produção mais limpa • UNIDO/UNEP NCPC Homepages • NCPC Counterpart Institutions • CP and Environment Related Institutions • CP Initiatives Worldwide • CP Periodicals • CP, EcoManagement and Environmental Technology Databases • CP Investments • More Links UNIDO/UNEP NCPC Homepages Centro Nacional de Tecnologias Limpas Brazil Centro Nacional de Produccion mas Limpia (CNP+L) Costa Rica 333 Czech Cleaner Production Centre Czech Republic Centro Guatemalteco de Produccion Mas Limpia Guatemala Hungarian Cleaner Production Centre Hungary National Cleaner Production Centre India 334 Centro Mexicano para la Producción Más Limpia (CMP+) Mexico Centro Nicaragüense de Producción Más Limpia Nicaragua Slovak Cleaner Production Centre Slovak Republic National Centre for Cleaner Production Tunisia 335 National Environmental Management and Cleaner Production Centre for Oil and Gas Industries Russia NCPC Counterpart Institutions IVAM Environmental Research, University of Amsterdam, Netherlands Erasmus University, Netherlands STENUM, Austria DTI, Danish Technological Institute, Denmark DTU, Technical University of Denmark University of Massachusetts at Lowell, USA World Cleaner Production Society, Norway FHBB FachHochschule Beider Basel, Switzerland EMPA, Switzerland BOb Partners, Switzerland Urbaplan, Switzerland CP e Meio ambiente UNEP - Production and Consumption Unit International Institute for Industrial Environmental Economics (IIIEE) 336 Korean National Center for Cleaner Production WorldBank Pollution Management Canadian Centre for Pollution Prevention US Environmental Protection Agency Environment Protection Authority, Australia Environmental Industry Interactive (EII) Environmental Agencies of the World Cleaner Production Center Austria CP – Iniciativas no mundo UK Initiative to Green Business: Envirowise US EPA Pollution Prevention Projects and Programs Australia EPA Cleaner Production Cleaner Production (Pollution Prevention) in China International Cleaner Production Cooperative Cleaner Production in Food Industry REC - Business & Environment: Cleaner Production in CEE The Centre for Sustainable Design Ecoefficiency & Cleaner Production ESPS (Environment Sector Programme Support) - Nepal Thai Cleaner Technology Information Center R'02 USA Pollution Prevention Resource Exchange 337 Pollution Prevention Regional Information Clearinghouse - Nebraska CP – Publicações periódicas Journal of Sustainable Product Design Online Journal of Cleaner Production Cleaner Production Pollution Engineering Online Sustainable development and the environment CP, Banco de dados Food & Drink Industry Project - case studies Greenleaf Catalogue - Contemporary Environmental Accounting NETT21(GEC Environmental Techonology Database) The Green Lane: Databases EcoManagement Accounting Network: EMAN EIS-Online (Colombia Cleaner Production Centre) CHAINET Green Pages - The Global Directory for Environmental Technology GREEN profit European Integrated Pollution Prevention and Control Bureau CP Investimentos Cleaner Production - Financing UNEP Financing CP 338 Outros Links Towards Clean Production: contact list CleanerProduction.com APEC Network: Useful Links Links to Cleaner Production Sites Sustainable development: best starting points Energy-links LBNL Industrial Energy Use Analysis Páginas da WEB relacionadas à Prevenção à poluição Organizações internacionais Friends of the Earth - International Green Pressure Group: URL:http://www.foe.co.uk/ Greenpeace - International Green Pressure Group: URL:http://www.greenpeace.org/ UNEP - United Nations Environmental Programmes (UNEP homepage): URL:http://www.cedar.univie.ac.at/unep/or URL:http://www.unep.org/ UNEP (United Nations Environmental Programme) - Geneva Executive Center Switzerland: URL:http://www.unep.ch/ United Nations Environment Program, Work Group on Sustainable Product Development: URL:http://unep.frw.uva.nl/ 339 WFEO - World Federation of Engineering Organisations: URL:http://wwwparis.enpc.fr/~michel-j/WFEO.home.html Organizações européias Environmental governments on the Internet: URL:http://www.ovam.be/internetrefs/overh.htm European Union sites: URL:http://www.ovam.be/internetrefs/europa.htm PREPARE network: URL:http://www.io.tudelft.nl/research/mpo/prepare/home.htm The European Commission (EC): URL:http://europa.eu.int/index-en.htm The European Environment Agency (EEA): URL:http://www.eea.eu.int/ The European Union (EU): URL:http://www.helsinki.fi/~aunesluo/eueng.html or URL:http://www.europa.eu.int/: Outras organizações relacionadas com produção mais limpa Center for Clean Technology - University of California: URL:http://cct.seas.ucla.edu/cct.pp.html Center for Technology Transfer and Pollution Prevention: URL:http://ingis.acn.purdue.edu:9999/cttpp/cttpp.html Centre for Alternative Technology: URL:http://www.foe.co.uk/CAT/ Centre for Environmental Assessment of Product and Material Systems: URL:http://www.cpm.chalmers.se/ 340 Centre for Environmental Labbeling - Vancouver: URL:http://www.interchg.ubc.ca/ecolabel/cel.html Centre of Environmental Science: URL:http://www.leidenuniv.nl/interfac/cml/ Clean Technology Center: URL:http://cleantechnology.rtc-cork.ie/ Delft University of Technology: URL:http://www.tudelft.nl/home.html Ecodesign Research Centres and Resources: URL:http://daedalus.edc.rmit.edu.au/ecodesign.html Environmental technology center: URL:http://envtechcenter.com/ Environmentally Conscious Design and Manufacturing - Muchigan Technological University: URL:http://www.me.mtu.edu/research/envmfg/ Environmentally Conscious Design and Manufacturing Lab - University of Windsor: URL:http://ie.uwindsor.ca/ecdm_lab.html Illinois Waste Management and Research Center Home Page: URL:http://www.inhs.uiuc.edu/hwric/hmlhome.html Institute for Chemical Process and Environmental Technology: URL:http://www.icpet.nrc.ca/ IVAM Environmental Research - 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