3 - Revista Brasileira de Terapia Intensiva
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3 - Revista Brasileira de Terapia Intensiva
Volume 16 - Nº 3 Julho/Setembro 2004 RBTI EDITORIAL Estamos no Bom Caminho Gilberto Friedman Dr. Ratton José Maria da Costa Orlando 123 123 SESSÃO ESPECIAL - TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON Triagem Não-Invasiva para a Exclusão Diagnóstica de Pacientes com Suspeita de Tromboembolismo Pulmonar 124 Marcos Mello Moreira1, Renato Giuseppe Giovanni Terzi2. Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado de Pacientes Sépticos sob Ventilação Mecânica* 130 Maria Auxiliadora Martins1, Maria Thereza Battiston2, Francisco Antônio Coletto3, úlio Sérgio Marchini4, Anibal Basile-Filho5. ARTIGO ORIGINAL 138 A Scanographic Assessment of Alveolar Recruitment and Overinflation during High Frequency Ventilation Preliminary Results in Three Patients Silvia Regina Rios Vieira1, Qin Lu2, Jean-Jacques Rouby3 ARTIGO ORIGINAL 142 Comparação entre a Pressão Inspiratória Máxima Medida pelo Método da Válvula Unidirecional e pelo Convencional em Pacientes Submetidos ao Processo de Desmame da Ventilação Mecânica Invasiva Wellington Pereira dos Santos Yamaguti1, Luiz Antonio Alves1, Ivanil Aparecida Moro Kauss2, Carrie Chueiri Ramos Galvan3, Antonio Fernando Brunetto4. ARTIGO ORIGINAL 146 O Uso de Baixos Níveis de Pressão Suporte Influencia a Avaliação de Parâmetros de Desmame? Júlio Flávio Fiore Júnior1; Ana Carolina Serigatto de Oliveira2; Emerson Pinho3; Edson Benassule3; Juliana Francischini4; Luciana Dias Chiavagato5. ARTIGO ORIGINAL 150 Incidência de Coleção Líquida em Seios da Face de Pacientes Intubados em Unidade de Terapia Intensiva Aline Carloni Dias Jorge¹, Rosmari Aparecida Rosa Almeida de Oliveira², Sílvia Maria de Toledo Piza Soares², Inês Minniti Rodrigues Pereira3, Sebastião Araújo4 ARTIGO ORIGINAL 155 Comportamento da Função Pulmonar e da Força Muscular Respiratória em Pacientes Submetidos à Revascularização do Miocárdio e a Intervenção Fisioterapêutica Audrey Borghi e Silva1, Pires Di Lorenzo, V.A.1, Cláudio Ricardo de Oliveira2, Sérgio Luzzi3 ISSN 0103-507X ARTIGO ORIGINAL 160 Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus. Relato de Sete Casos no Centro-Oeste do Brasil Wagner Marques Pereira Malheiros1, Carlos José Alves2, Gilberto Paulo Pereira Franco3, Abdon Salam Khaled Karhawi4, Marcos Vinícius Paes de Barros5. Michelli Silva Daltro Coelho6, Mabel da Silva Gallina6, Paloma Borges dos Santos6. NEUROINTENSIVISMO ARTIGO ORIGINAL 164 Estudo Epidemiológico do TCE em Unidade de Terapia Intensiva Geral como Resultado da Adesão ao Latin American Brain Injury Consortium Cláudio Piras1, Luís Vicente Forte2, Cássio Morano Peluso2, Ed Moreira Lima1, Mirto Nelson Prandini3. CONSENSO BRASILEIRO DE SEPSE – Parte II Distúrbios de Coagulação 170 Flávia R. Machado1, Eliézer Silva2, Werther Brunow de Carvalho3. Terapia Nutricional na Sepse 175 Paulo César Ribeiro1 Tratamento: Suporte Ventilatório 179 Coordenação: Carmen Sílvia Valente Barbas1, Marcelo Britto Passos Amato2, Carlos Roberto Ribeiro Carvalho3 Analgesia e Sedação em Sepse 182 José Luiz Gomes do Amaral1, Ana Paula Resque2, Hélio Penna Guimarães3, Antônio Capone Neto4, Fábio Santana Machado5, Rachel Moritz6 ARTIGO DE REVISÃO Disfunção Miocárdica na Sepse 185 Ludhmila Abrahão Hajjar1, Constantino José Fernandes Júnior2, Erick Sessa Mercon1, Aécio Flavio T Góis1, Elias Knobel2 , Liliane Kopel3 , Silvia Gelas Lage4 ARTIGO DE REVISÃO 192 O Uso de Isótopos Estáveis no Estudo da Cinética Protéica em Medicina Intensiva Anibal Basile Filho1, Júlio Sérgio Marchini2 ARTIGO DE REVISÃO Insuflação Traqueal de Gás 197 Andréa Diogo Sala1, José Otávio Costa Auler Júnior2 RELATO DE CASO Amaurose Cortical Pós-Parto. Relato de Caso 201 Wladmir Faustino Saporito1, Marcelo Eduardo Sproesser1, Fábio José Concilio Fucci1, Adilson Casemiro Pires2 Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 SUMÁRIO Fundada em 1980 Diretoria para o Biênio 2004-2005 Presidente José Maria da Costa Orlando ARTIGO ORIGINAL EDITORIAL Estamos no Bom Caminho 123 Gilberto Friedman Dr. Ratton Vice-Presidente Waldemar Henrique Fernal 1º Secretário Marcelo Moock 2º Secretário Luiz Alexandre A. Borges 1º Tesoureiro Rosa G. Alheira Rocha 2º Tesoureiro Afonso José Celente Soares Associação de Medicina Intensiva Brasileira Rua Domingos de Moraes, 814 Bloco 2 – Conj. 23 Vila Mariana – CEP 04010-100 São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 [email protected] Indexada na base de dados Lilacs A REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA reserva-se todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan-Americana e da Convenção Internacional sobre os Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela AMIB, que em qualquer situação agirá como detentora dos mesmos. 123 Audrey Borghi e Silva1, Pires Di Lorenzo, V.A.1, Cláudio Ricardo de Oliveira2, Sérgio Luzzi3 José Maria da Costa Orlando SESSÃO ESPECIAL - TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON ARTIGO ORIGINAL 124 Marcos Mello Moreira1, Renato Giuseppe Giovanni Terzi2. 130 Maria Auxiliadora Martins1, Maria Thereza Battiston2, Francisco Antônio Coletto3, úlio Sérgio Marchini4, Anibal Basile-Filho5. 138 A Scanographic Assessment of Alveolar Recruitment and Overinflation during High Frequency Ventilation - Preliminary Results in Three Patients Silvia Regina Rios Vieira1, Qin Lu2, Jean-Jacques Rouby3 142 Comparação entre a Pressão Inspiratória Máxima Medida pelo Método da Válvula Unidirecional e pelo Convencional em Pacientes Submetidos ao Processo de Desmame da Ventilação Mecânica Invasiva 146 O Uso de Baixos Níveis de Pressão Suporte Influencia a Avaliação de Parâmetros de Desmame? Júlio Flávio Fiore Júnior1; Ana Carolina Serigatto de Oliveira2; Emerson Pinho3; Edson Benassule3; Juliana Francischini4; Luciana Dias Chiavagato5. ARTIGO ORIGINAL 164 Estudo Epidemiológico do TCE em Unidade de Terapia Intensiva Geral como Resultado da Adesão ao Latin American Brain Injury Consortium Cláudio Piras1, Luís Vicente Forte2, Cássio Morano Peluso2, Ed Moreira Lima1, Mirto Nelson Prandini3. CONSENSO BRASILEIRO DE SEPSE – Parte II Distúrbios de Coagulação 170 Terapia Nutricional na Sepse 175 Tratamento: Suporte Ventilatório 179 Analgesia e Sedação em Sepse 182 ARTIGO DE REVISÃO 185 Flávia R. Machado1, Eliézer Silva2, Werther Brunow de Carvalho3. Paulo César Ribeiro1 Coordenação: Carmen Sílvia Valente Barbas1, Marcelo Britto Passos Amato2, Carlos Roberto Ribeiro Carvalho3 José Luiz Gomes do Amaral1, Ana Paula Resque2, Hélio Penna Guimarães3, Antônio Capone Neto4, Fábio Santana Machado5, Rachel Moritz6 Wellington Pereira dos Santos Yamaguti1, Luiz Antonio Alves1, Ivanil Aparecida Moro Kauss2, Carrie Chueiri Ramos Galvan3, Antonio Fernando Brunetto4. ARTIGO ORIGINAL Wagner Marques Pereira Malheiros1, Carlos José Alves2, Gilberto Paulo Pereira Franco3, Abdon Salam Khaled Karhawi4, Marcos Vinícius Paes de Barros5. Michelli Silva Daltro Coelho6, Mabel da Silva Gallina6, Paloma Borges dos Santos6. NEUROINTENSIVISMO ARTIGO ORIGINAL Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado de Pacientes Sépticos sob Ventilação Mecânica* ARTIGO ORIGINAL 160 Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus. Relato de Sete Casos no Centro-Oeste do Brasil Triagem Não-Invasiva para a Exclusão Diagnóstica de Pacientes com Suspeita de Tromboembolismo Pulmonar ARTIGO ORIGINAL 155 Comportamento da Função Pulmonar e da Força Muscular Respiratória em Pacientes Submetidos à Revascularização do Miocárdio e a Intervenção Fisioterapêutica 150 Incidência de Coleção Líquida em Seios da Face de Pacientes Intubados em Unidade de Terapia Intensiva Aline Carloni Dias Jorge¹, Rosmari Aparecida Rosa Almeida de Oliveira², Sílvia Maria de Toledo Piza Soares², Inês Minniti Rodrigues Pereira3, Sebastião Araújo4 Disfunção Miocárdica na Sepse Ludhmila Abrahão Hajjar1, Constantino José Fernandes Júnior2, Erick Sessa Mercon1, Aécio Flavio T Góis1, Elias Knobel2 , Liliane Kopel3 , Silvia Gelas Lage4 ARTIGO DE REVISÃO 192 O Uso de Isótopos Estáveis no Estudo da Cinética Protéica em Medicina Intensiva Anibal Basile Filho1, Júlio Sérgio Marchini2 ARTIGO DE REVISÃO 197 Insuflação Traqueal de Gás Andréa Diogo Sala1, José Otávio Costa Auler Júnior2 RELATO DE CASO 201 Amaurose Cortical Pós-Parto. Relato de Caso Wladmir Faustino Saporito1, Marcelo Eduardo Sproesser1, Fábio José Concilio Fucci1, Adilson Casemiro Pires2 119 RBTI REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA CORPO EDITORIAL Editor Chefe Gilberto Friedman Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Conselho Consultivo Cleovaldo S Pinheiro, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Rachel Moritz, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Santa Catarina, Porto Alegre, SC, Brasil. Werther B. de Carvalho, Professor de Medicina, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil. Diretor de Publicações AMIB José O Auler, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Editores de Sessão Revisão: Renato G. Terzi, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Estadual de Campinas, SP, Brasil. Pediatria: Jefferson Piva, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Enfermagem: Denis Moura Faria Jr, Enfermeiro Master do CTI do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil. Fisioterapia: Antonio Duarte, Coordenador do Departamento de Fisioterapia do Hospital Português, Salvador, Bahia, Brasil. Conselho Editorial Alberto Biestro, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade da República, Montevidéu, Uruguai. Álvaro Réa Neto, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Paraná, PR, Brasil. Andre Kalil, Assistant Professor of Medicine, University of Nebraska, EUA Anibal Basile-Filho, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina,, Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, SP, Brasil Arnaldo Dubin, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de La Plata, La Plata, Argentina. Carlos Carvalho, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Cid Marcus David, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Daniel Garros, Pediatric Intensive Care Unit, Stollery Children’s Hospital, University of Alberta, Edmonton, Canada Dinis R. Miranda, Professor de Medicina, Escola de Medicina, Universidade de Gröningen, Holanda. Ederlon C. Rezende, Diretor da UTI, Hospital Público do Servidor Estadual, São Paulo, SP, Brasil. Eduardo Troster, Professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Eliézer Silva, Professor de Medicina, Universidade de Santo Amaro, SP, Brasil. Felipe Dal Pizzol, Professor de Medicina, Departamento de Medicina, Laboratório de Fisiopatologia Experimental, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil. Francisco J. Hurtado, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade da República, Montevidéu, Uruguai. Glenn Poblette Hernandez, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Chile, Santiago, Chile. Hervaldo Sampaio Carvalho, Professor de Medicina, Universidade de Brasília, Brasil. Humberto Correa, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade da República, Montevidéu, Uruguai. Luis F. Poli de Figueiredo, Departamento de Cardiopneumologia, Instituto do Coração, Escola de Medicina, Universidade de São Paulo, Sao Paulo, SP, Brasil. Márcio Borges Sá, Investigador Associado, Facultade de Medicina, Universidade Complutense, Madrid, Espanha. Maria Cecília Bueno Jayme Gallani, Professora de Enfermagem, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. Maria de Fátima F. Vattimo, Professora de Enfermagem, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Natan Weksler, Assistant Professor on Anesthesiology and Critical Care Medicine, Faculty of Health Sciences, Ben Gurion University of the Negev, Beer Sheva, Israel Patricia M. Veiga de C Mello, Professora de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil. Pedro C. R. Garcia, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Raffo Escalante Kanashiro, Universidad Nacional Federico Villarreal, Instituto Especializado de Salud del Niño, Unidad de Cuidados Intensivos, Lima Peru Roberto Machado, Associate Investigator, Laboratory of Chemical Biology, Critical Care Department, Clinical Center, National Institutes of Health, Bethesda, EUA Roque Aras Junior, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia, Brasil. Rui Paulo Jinó Moreno, Professor de Medicina, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal. Sayonara de Fátima Faria Barbosa, Professora de Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. Sebastião Araújo, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil. Silvia Regina Rios Vieira, Professora de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Suzana Lobo, Professora de Medicina, Escola de Medicina, FUNFARME, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. Jornalista Responsável Marcelo Sassine - Mtb 22.869 Diretora de Arte Anete Salviano Projeto Gráfico e Produção Editorial MWS Design Fone: (11) 3399-3028 - www.amws.com.br A correspondência para publicação deve ser endereçada para: RBTI - Revista Brasileira de Terapia Intensiva AMIB Rua Domingos de Moraes, 814 – Bloco 2 – Conj. 23 - Vila Mariana – CEP 04010-100 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 E-mail:[email protected] 120 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NESTA REVISTA O escopo do jornal RBTI é um jornal médico com revisão crítica que objetiva melhorar o cuidado dos pacientes agudamente doentes através da discussão, distribuição e promoção de informação baseada em evidência relevante aos profissionais envolvidos com medicina intensiva. O jornal publica comentários, revisões e pesquisa em todas estas áreas do conhecimento relacionadas aos cuidados intensivos do paciente grave. Informação Geral RBTI acolhe pesquisa de alta qualidade em qualquer aspecto relacionado ao cuidado intensivo. Todos os trabalhos submetidos serão revisados. Todos os revisores são solicitados a responderem sua decisão inicial em 4-6 semanas. Os autores são solicitados a garantir que nenhum material infrinja direito autoral existente ou direito de uma terceira parte. Os autores que publicam com o RBTI, retêm o direito autoral de seu trabalho. Os artigos devem ser em português, espanhol ou inglês. Instruções para os autores de artigos de pesquisa A submissão de um artigo de pesquisa relatando pesquisa experimental em humanos ou animais implica que os autores obtiveram aprovação para a sua pesquisa do comitê de ética apropriado, e estão em concordância com a Declaração de Helsinki. Uma declaração deste efeito precisa estar incluída na sessão “Pacientes e Métodos” do seu artigo. Para todos os artigos que incluem informação ou fotografias clinicas relacionadas a pacientes individuais, um consentimento escrito e assinado de cada paciente para publicar também precisa ser enviado por correio ou fax ao escritório da revista. O manuscrito deve incluir uma declaração deste efeito na sessão de “Agradecimentos” como a seguir: “Consentimento escrito foi obtido do paciente ou seu parente para publicação do estudo”. Nomes Genéricos das drogas devem ser usados. Quando nomes comerciais são usados na pesquisa, estes nomes devem ser incluídos entre parênteses na sessão “Pacientes e Métodos”. Como eu organizo meu artigo de pesquisa? Todos os artigos de pesquisa devem incluir as seguintes sessões: Página Título: O titulo completo do artigo Os nomes completos de todo os contribuintes Todos os títulos/posições dos contribuintes (assistente, diretor, ou residente) O endereço completo (incluindo telefone, fax e email) do autor para correspondência. Resumo: Não ter mais que 250 palavras Ser estruturado com os mesmos cabeçários usados no texto principal. Mencionar todas as palavras chaves Refletir acuradamente todas as sessões do texto principal Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resumo traduzido), necessariamente em inglês Palavras chaves: ver sessão abaixo Introdução - esta sessão deve ser escrita do ponto de vista dos pesquisadores sem conhecimento de especialista na área e deve claramente oferecer – e, se possível, ilustrar – a base para a pesquisa e seus objetivos. Relatos de pesquisa clínica devem, sempre que apropriado, incluir um resumo da pesquisa da literatura para indicar porque o estudo foi necessário e o que o estudo visa contribuir para o campo. Esta sessão deve terminar com uma breve declaração do que está senso relatado no artigo. Pacientes e métodos - deve incluir o desenho do estudo, o cenário, o tipo de participantes ou materiais envolvidos, a clara descrição das intervenções e comparações, e o tipo de análise usado, incluindo o poder de cálculo se apropriado. Resultados e discussão - os resultados e discussão podem ser combinadas em uma sessão única ou apresentados separadamente. Resultados da análise estatística deve incluir, quando apropriado, riscos relativo e absoluto ou reduções de risco, e intervalos de confiança. A sessão de resultados e discussão pode também ser quebrada em sub-sessões com leituras curtas e informativas. Conclusões - deve discorrer claramente as conclusões principais da pesquisa e fornecer uma clara explicação da sua importância e relevância. Referências – Nós preferimos que não exceda 30 referências. Para formatar a referência veja a sessão abaixo’ Como eu formato as referências?’. Figuras e Tabelas: Estas devem ser mantidas separadas do texto principal do artigo. Veja abaixo ‘Figuras e tabelas’ para maiores informações. Agradecimentos: ver sessão abaixo Instruções para os autores de artigo de revisão O artigo de revisão é uma descrição compreensiva de certo aspecto de cuidado de saúde relevante ao escopo do jornal. Deve conter não mais que 2000 palavras e 50 referências. Existem três tipos principais de revisões: Revisões científicas - descrevendo ciência que podem ter impacto clínico Revisões “bancada a beira do leito” - descrevendo ciência que suportam situações clínicas Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Revisões Clínicas - descrevendo puramente situações clínicas Claramente, estes três tipos de revisões possuem o potencial de se sobrepor, mas o objetivo de dividir o jornal nesta maneira é ajudar os leitores achar o tipo de material que estão procurando. Como eu organizo meu artigo de revisão? Todos os artigos de revisão devem ser divididos nas seguintes sessões: Página Título: O título completo do artigo Os nomes completos dos contribuintes Todos os títulos/posições dos contribuintes (como assistente, diretor, ou residente) O endereço completo (incluindo telefone, fax e email) do autor correspondente. Resumo: Não ter maus que 250 palavras Ser estruturado como o texto principal. Mencionar todas as palavras chave Refletir acuradamente todas as sessões do texto principal Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resumo traduzido), necessariamente em inglês Palavras Chave: ver sessão abaixo Abreviações: ver sessão baixa Referências: listar o máximo de 50 referências. Para formatar a referência veja a sessão na página ao lado “Como eu formato as referências?” Figuras e Tabelas: Estas devem ser mantidas separadas do texto principal do artigo. Veja abaixo ‘Figuras e tabelas’ para maiores informações. Deve haver, também, a sessão de métodos que relaciona as fontes de evidência usadas. Se você procurou numa bibliografia eletrônica como Medline, por favor, liste as palavras usadas para realizar a procura. Instruções para autores de um comentário? Comentários são curtos (800-1000 palavras, excluindo o resumo), artigos de opinião escritos por especialistas e lidos pela comunidade médica em geral. Muitos são solicitados, contudo os não solicitados são bem vindos e são rotineiramente revisados. O objetivo do comentário é destacar algo, expandindo os assuntos destacados, e sugerir o que deve acontecer em seguida. Qualquer declaração deve ser acompanhada por uma referência, mas nós preferimos que a lista de referências não exceda 15. Para a leitura, sentenças devem ser curtas e objetivas. Use subtítulos para quebrar o comentário em sessões. Por favor, lembre que, apesar de muitos de nossos leitores serem especialistas, eles podem não ser especialistas na sua área e assim você necessitar explicar toda a terminologia e acrônimos a primeira vez que eles são usados. Por favor, providencie uma lista alfabética de todas abreviações. Assim como os comentários gerais também existem os tipos específicos: Debates clínicos Pro/con Dois autores convidados discutem suas diferentes opiniões sobre um assunto clínico especifico. Os assuntos são levantados através de cenários clínicos escritos pelo editor de sessão. Cada autor é solicitado a escrever um artigo referenciado de 500-palavras, descrevendo se eles concordam ou discordam com o cenário clínico (pro ou con). Os artigos contrários são mostrados aos autores para uma resposta de não mais que 100 palavras. Os autores sabem quem é seu oponente mas não podem ver o artigo oposto até terem submetido seu. Não deve haver mais que 10 referências no artigo de 500-palavras, e 2 referências na resposta de 100-palavras. Nós preferimos referências de estudos randomisados e controlados publicados nos últimos 10 anos. Comentários de Pesquisas Nossos artigos de pesquisa são freqüentemente acompanhados por comentários. Os mesmos visam descrever as qualidades e/ou deficiências da pesquisa, e suas implicações mais amplas. O artigo de pesquisa discutido deve ser a primeira referência do comentário. Comentários publicações recentes Artigos de pesquisa publicados são escolhidos pelo conselho editorial nos últimos seis meses e os relata na forma de um comentário. Como EU organizo meu comentário? Todos os comentários devem incluir as seguintes sessões: Página Título: deve listar todos os títulos/posições dos contribuintes e endereços completos (incluindo telefone, fax e email), e deve indicar o autor correspondente Resumo: não deve ter mais que 100 palavras e deve mencionar todas as palavras-chave (não se aplica a debates pro/con). Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resumo traduzido), necessariamente em inglês Palavras-chave: ver sessão abaixo Abreviações: ver sessão abaixo Texto Principal: veja ‘O que é um comentário’ para esclarecimento. Subtítulos: Nós encorajamos o uso de subtítulos no seu texto. 121 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NESTA REVISTA Instruções para os autores de cartas Nós damos boas vindas a comentários em qualquer artigo publicado no jornal. Cartas usualmente não são revisadas, mas, ocasionalmente, nós podemos convidar respostas as cartas para publicação no mesmo número da revista. Nós preferimos cartas com menos de 400 palavras e que contenham cinco ou menos referências (a primeira delas a ser referida deve ser o artigo do RBTI ao qual a carta se refere). Os autores devem também providenciar seus dados e endereço completo (incluindo telefone, fax, e email). Todas as cartas são editadas; a versão editada é enviada para os autores para aprovar antes da publicação. Palavras chave: ver sessão abaixo Agradecimentos: ver sessão baixo Referências Nós preferimos que a lista de referências não exceda 30. Para formatar a referência veja a sessão abaixo ‘Como eu formato as referências?’. Figuras e Tabelas Estas devem ser mantidas separadas do texto principal do artigo. Veja abaixo ‘Figuras e tabelas’ para maiores informações. Agradecimentos Estes devem ser concisos. Os autores devem usar esta sessão se eles gostariam agradecer o financiamento da pesquisa ou outra ajuda de organismos acadêmicos; ajuda de colegas ou colaboradores podem também ser mencionados. Os autores devem obter permissão para agradecer a todos mencionados nos agradecimentos. Interesses conflitantes Os autores correspondentes são solicitados a assinar o nosso formulário de interesses conflitantes em nome de todos os contribuintes. Por favor, mencione qualquer ajuda, financeira ou outra qualquer, de entidades comerciais. Como EU envio meu artigo? Todos os artigos (incluindo as figuras) podem ser enviados ao escritório editorial como anexos a emails. Eles devem ser menores que 1000Kb. Nós não requeremos uma cópia impressa. Nós aceitamos a maioria dos programas Word, em formatos PC. Em todo caso, envie também o texto como um arquivo txt para evitar problemas de processamento do arquivo. Se existem figuras, estas devem também ser enviadas como anexos a emails, os quais devem ser enviados ao escritório editorial. Para maiores informações sobre figuras, por favor, veja a sessão; ‘Figuras e tabelas’. Se necessário, nós podemos aceitar também disquetes, e CD-ROMs. Por favor, identifique os disquetes com os nomes dos autores’, o processador de texto e a versão usada. Se o disquete e o manuscrito diferirem, o manuscrito será tomado como a versão definitiva. Para evitar problemas com os arquivos, por favor: Digite o texto não justificado e sem quebra de palavras com hífens. Não use notas de rodapé. Espaço duplo ao longo do texto. Evite a inclusão de números de páginas. Use o caracter ASCII se possível para caracteres especiais (e.g. letras gregas e símbolos matemáticos); se você é incapaz de reproduzir um caracter especial no seu arquivo, explique no seu email ou escreva em papel e envie ao escritório editorial. O que acontece uma vez que eu submito o meu artigo? O escritório editorial agradece a todas submissões. Após, potencialmente existem seis estágios: O conselho editorial assegura que o artigo de pesquisa enquadra-se no escopo do jornal Se o artigo enquadra-se no escopo do jornal, três revisores sugeridos pelo editor são convidados a revisar o artigo. Ele é revisado para estrutura, gramática, e estilo do jornal. O editor aconselha o conselho editorial se o artigo deve ser aceito, revisto pelos autores ou rejeitado baseado nos relatos dos revisores. O conselho editorial toma a decisão final e os autores são informados. Nós temos como objetivo fornecer uma decisão inicial dentro de 4-6. Se o artigo de pesquisa é aceito, ele é copiado, editado, formatado, e enviado ao autor correspondente para verificação. Você será então solicitado a assinar nosso formulário de direitos autorais e separatas e nosso formulário de interesses conflitantes. Como EU formato as referências? Use as abreviações de revistas encontradas no Index Medicus/Medline. As citações no texto devem ser feitas entre parênteses, correspondendo às respectivas referências listadas por ordem cronológica, não-alfabética. Estas devem ser listadas ao final na ordem que aparecem no texto. Cada referência deve ter um número individual de referência (não parte ‘a’ e parte ‘b’, por exemplo). Por favor, evite um excesso de referências. O conselho editorial pode solicitar a redução do número de referências antes do aceite. Os livros devem ser referidos pelo autor, título, cidade-sede da casa editora, 122 nome da casa editora, número da edição (a partir da 2ª), volume, ano da impressão, e páginas inicial e final citadas. Se se tratar de capítulo de livro, fazer constar: autor do capítulo, título do capítulo, a palavra In (grifada), dois pontos, nome dos editores indicando com a abreviação eds., título do livro (grifado), cidade da editora, nome da editora, nº da edição (a partir da 2ª), volume, ano da publicação, páginas citadas. Quando o artigo tiver mais de três autores deverão ser citados os três primeiros seguidos de et al. Apenas artigos que foram publicados ou que estão em impressão podem ser citados; material não publicado não deve ser incluído na lista de referências, mas pode ser incluído no texto. A obtenção de permissão para citar dados na forma de comunicações pessoais é de responsabilidade do autor(s), que deve incluir uma confirmação escrita, que a permissão foi obtida com o manuscrito submetido. EXEMPLO DE REFERÊNCIAS Artigo de jornal Baumann WR, Jung RC, Koss M et al. Incidence and mortality of adult respiratory distress syndrome: a prospective analysis from a large metropolitan hospital. Crit Care Med 1986; 14 :1-4. Artigo de suplemento Walker LK: Use of extracorporeal membrane oxygenation for preoperative stabilization of congenital diaphragmatic hernia. Crit Care Med 1993, 21(suppl): S379-S380. Livro Doyle AC: Biological Mysteries Solved, 2nd Ed, London: Science Press, 1991. Capítulo de livro Lachmann B, van Daal GJ: Adult respiratory distress syndrome: animal models. In Pulmonary Surfactant. Edited by Robertson B, van Golde LMG, Batenburg JJ. Amsterdam: Elsevier, 1992:635-663 Resumo publicado Varvinski AM, Findlay GP: Immediate complications of central venous cannulation in ICU [abstract]. Crit Care 2000, 4(suppl 1):P6. Artigo In press Kharitonov SA, Barnes PJ: Clinical aspects of exhaled nitric oxide. Eur Respir J, in press. Figuras, Ilustrações, Fotografias e Tabelas Figuras e tabelas devem iniciar com o título que descreve a figura total. Tabelas não devem incluir linhas verticais. Elas não devem tomar mais espaço que duas páginas no jornal impresso, incluindo seus títulos e legendas. Elas devem ser mantidos separadas do texto principal do artigo, contendo suas respectivas legendas e assinalando sua exata localização no texto. Somente serão aceitas as ilustrações que permitirem boa reprodução. Se as fotografias forem enviadas diretamente ao escritório, essas não devem ser identificadas diretamente nas mesmas; não escreva no verso das cópias em papel, mas anexe a identificação com os nomes dos autores e o número da figura. Os autores são encorajados a submeter figuras em formato eletrônico de alta qualidade. A resolução mínima para as figuras é 300 dpi. Por favor, lembre que a reprodução pode reduzir qualidade da figura, assim providencie a mais alta resolução possível, e lembre que a redução do tamanho da figura irá também reduzir o tamanho do label. Formatos Eletrônicos: por favor, estes são os formatos de arquivo preferidos: TIFF (formato preferido para fotos/imagens; mínimo 300 dpi) Portable Document Format (PDF) CorelDraw PowerPoint Arquivo de Figura podem ser submetidos por email. Alternativamente, os arquivos podem ser submetidos em disquete ou CD-ROM. Unitermos Não mais que cinco palavras chave devem ser listadas em ordem alfabética. Por favor, garanta que as palavras chave são achadas na lista do Medical Subject Headings (MeSH) do Index Medicus. Estas palavras podem ser procuradas no browser da National Library of Medicine’s MeSH. Abreviações Acrônimos e outras abreviações devem ser listadas em ordem alfabética. Por favor, lembre que apesar dos seus leitores serem médicos, eles podem não ser especialistas no seu campo específico e assim você precisa explicar a terminologia e os acrônimos a primeira vez que eles são usados. Por favor, forneça uma lista alfabética de todas as abreviações usadas. Políticas de publicação do RBTI Publicação Submissão de um artigo ao RBTI implica que todos contribuintes leram e concordam com seu conteúdo. O artigo não foi ainda publicado em outro jornal e não deve estar em consideração por nenhum outro jornal. Direitos autorais Para artigos de pesquisa (incluindo qualquer material suplementar) e revisão, o direito autoral é dos autores. Os direitos de todo material publicado na RBTI pertence ao jornal. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / EDITORIAL Estamos no Bom Caminho Estamos crescendo. Nesta RBTI, vocês leitores poderão se deliciar com um número inédito de trabalhos originais e de revisão. Alguns trabalhos selecionados entre os melhores do nosso último Congresso em Curitiba e que concorreram ao Prêmio Ratton poderão ser lidos. A segunda parte do Consenso Brasileiro de Sepse também poderá ser apreciada. Esta RBTI prova que se nós, intensivistas, trabalharmos pelo seu crescimento ela poderá ser indexada. Falta pouco! Eu, como o Editor-Chefe, só posso agradecer as inúmeras contribuições, das mais variadas origens, que permitiram este crescimento. Agradeço a AMIB que permitiu criar uma estrutura mínima de secretaria com o trabalho de qua- lidade da Evanilde e pela iniciativa de criar e viabilizar o prêmio Ratton. Aos colegas intensivistas de todo o Brasil que entenderam e atenderam a nossa chamada por trabalhos científicos. Se mantivermos a quantidade e qualidade de trabalhos encontradas nesta RBTI, a nossa revista poderá ser indexada até o início de 2005. Um sonho? Ora, quem já não teve sonhos realizados......? O meu muito obrigado deste editor otimista, Gilberto Friedman Editor Chefe da RBTI Dr. Ratton Assim era conhecido o Dr. José Luiz de Amorim Ratton, médico intensivista por excelência, que se foi há pouco tempo. Formado em 1964, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, apaixonou-se pela Medicina Intensiva ao trabalhar na primeira UTI de Minas Gerais, na segunda metade da década de 60. Ficou muito conhecido por sua proficiência e pelo rigor com que coordenava a UTI do Hospital Governador Israel Pinheiro, em Belo Horizonte. Foi cumpridor absoluto de suas obrigações e extremamente dedicado aos pacientes, além de exigir total obediência às normas da Unidade, por parte de todos que nela trabalhavam. Este comportamento lhe valeu algumas incompreensões e dissabores. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Sócio fundador da AMIB e da Regional de Minas (SOMITI) participou ativamente e, continuamente, do movimento associativo em defesa da Medicina Intensiva. Presidiu o congresso da AMIB 2000, em Belo Horizonte, com total dedicação e brilho. Deixou uma legião de admiradores e seguidores na Medicina Intensiva. Foi feliz a AMIB ao criar o Prêmio Ratton, entregue pela primeira vez no Congresso deste ano, em Curitiba, em emocionante cerimônia. Será sempre lembrado com saudade e admiração por todos que o conheceram e com ele aprenderam e conviveram. José Maria da Costa Orlando Presidente da AMIB 123 RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON Triagem Não-Invasiva para a Exclusão Diagnóstica de Pacientes com Suspeita de Tromboembolismo Pulmonar* Noninvasive Screening for Diagnostic Exclusion of Patients with Suspected Pulmonary Thrombolism Marcos Mello Moreira1, Renato Giuseppe Giovanni Terzi2. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Present methods to diagnose pulmonary embolism (PE) are of relative risk, invasive, expensive and not always available. A search for noninvasive, inexpensive and available diagnostic methods at the bedside justifies this investigation. The objective of this paper is to report the correlation of the late dead space fraction (fDlate) with pulmonary scintigraphy, spiral computed tomography and pulmonary angiography in patients with suspected PE. METHODS: Prospective observational study in a University Hospital. 46 patients admitted to the hospital from January 2002 to January 2004 with clinical suspicion of PE underwent volumetric capnography (CO2SMO PLUS DX 8100) and arterial blood gas analysis to permit the calculation of fDlate (PaCO2 – P(15%CPT)CO2) / PaCO2). RESULTS: Employing a cutoff value of 0.12 as proposed by Eriksson, fDlate resulted true positive in 20 patients, false positive in 5 patients and true negative in 20 patients. One patient with an fDlate of -0.23 resulted false negative. Analysis resulted in a 95% sensitivity and 80% specificity. CONCLUSIONS: As a single variable fDlate was not sufficient to diagnose PE. However, if combined with a DD assay, it could be an acceptable method to exclude the diagnosis of PE. Key Words: Pulmonary embolism; dead space airway, physiologic and alveolar; arterial pressure carbon dioxide; end-tidal carbon dioxide; capnography; D-dimers; fDlate O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma entidade de difícil diagnóstico. Seus sinais e sintomas são variados e inespecíficos1. As necrópsias revelam que o TEP é uma ocorrência mais freqüente do que o suspeitado em vida e que os resultados anatomopatológicos são freqüentemente discrepantes da clínica2. É uma doença cuja mortalidade na primeira hora é de 12%3,4, e atinge 30% naqueles onde o diagnóstico não é realizado5,6, logo, a pronta instituição da terapêutica, está diretamente relacionada com o sucesso do tratamento. Em pacientes que foram submetidos a tratamento adequado com heparinização sistêmica, a mortalidade diminuiu para 8%7,8. A cintilografia pulmonar normal, virtualmente, exclui o diagnóstico de TEP. Entretanto, de acordo com o Prospective Investigation of Pulmonary Embolism Diagnosis (PIOPED)8, a maior parte dos pacientes com TEP não tem uma cintilografia de alta probabilidade. Freqüentemente, a cintilografia pulmonar não é suficiente para estabelecer um diagnóstico definitivo. Nos casos de cintilografia de baixa ou média probabilidade, a presença de trombose femoral ou poplítea detectada em estudo ultra-sonográfico dos membros inferiores, justifica a anticoagulação. A Tomografia Computadorizada Helicoidal (TCH) é um método de tecnologia recente e precisa. Entretanto, êmbolos em ramos distais podem não ser identificados. Embora haja relatos de que TEP subseqüente a uma TCH negativa seja baixa9 não pode ser excluída, com certeza, a possibilidade de um segundo fenômeno embólico fatal. Sabe-se que podem ocorrer mortes súbitas por TEP e que a anticoagulação é freqüentemente efetiva em reduzir a possibilidade de um novo fenômeno embólico e a morte. Por este motivo, os métodos diagnósticos por imagem (cintilografia e TCH) são solicitados toda vez que há uma suspeita clínica de TEP. Em nossa instituição os exames por imagem são negativos na maior parte dos exames solicitados por suspeita clínica de TEP. Esta incidência também é relatada por outros autores10-12. Os métodos diagnósticos por imagem são invasivos, de alto custo e potencialmente de risco, porque nem sempre as condições clínicas permitem que o paciente seja transportado para a realização do exame. O problema é, particularmente, mais sério em países em desenvolvimento, onde os exames por imagem não estão facilmente disponíveis. Por este motivo, métodos não-invasivos que possam excluir, com segurança, a possibilidade de TEP, reduziriam, de forma significativa, o número de pacientes submetidos, desnecessariamente, à cintilografia pulmonar e à TCH, mesmo em hospitais onde estes exames estão disponíveis. Da mesma forma, estes métodos não-invasivos poderiam ser usados em pequenos hospitais onde os exames por imagem não estão disponíveis, objetivando selecionar pacientes a serem transferidos para instituições de referência para investigação por imagem. Dependendo do grau de confiabilidade destes exames não-invasivos, expressos pela sua sensibilidade e especifici- 1. Fisioterapeuta. Pós-Graduando do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. 2. Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. * Recebido do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, SP Apresentado em 17 de agosto de 2004 - Aceito para publicação em 29 de setembro de 2004 Endereço para correspondência: Prof. Dr. Renato Giuseppe Giovanni Terzi - R. Conceição 233/810 - 13010-916 Campinas, SP - Telefones: R 19-32517738 - H 19-3789-9298 - AMIB 19-3233-2969 - 1. E-mail: [email protected] - 2. E-mail: [email protected] - [email protected] 124 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON dade, é possível antever que, em futuro próximo, a decisão de proceder a anticoagulação ou não, de um paciente com suspeita de TEP, possa se basear exclusivamente em métodos não-invasivos. Dois desses métodos parecem promissores: os D-dímeros e a capnografia volumétrica. Até o momento, nenhum destes exames, isoladamente, se mostrou infalível em estabelecer um diagnóstico definitivo de TEP. Porém, já existem evidências suficientes, para justificar seu emprego, em excluir da fila dos exames por imagem, boa parcela dos pacientes com suspeita clínica de TEP. As técnicas à beira do leito para avaliar pacientes com TEP, incluem a medida da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2), a utilização da capnografia, com a medida da pressão parcial de dióxido de carbono no ar expirado ao final da expiração completa (PETCO2)13-15, o cálculo do espaço morto fisiológico16, do gradiente artério-alveolar de CO2 (P(a-et)CO2) ou a fração do espaço morto alveolar17,18 com ou sem uma expiração forçada15,18. Estes estudos têm algumas limitações pelas dificuldades de diferenciar pacientes com TEP daqueles com outras doenças pulmonares de base. Eriksson e col.19, foram capazes de diferenciar pacientes normais, pacientes com TEP e pacientes com função pulmonar anormal (doença pulmonar obstrutiva crônica DPOC) usando para isto, uma variável - a fração de espaço morto tardia (fDlate) - calculada pelo espirograma de CO2 obtido pela variação dos valores de PCO2 no ar exalado em relação ao volume expirado, denominado de capnograma volumétrico. Eriksson e col.19 extrapolaram a reta de regressão da fase III até atingir o nível de PaCO2. Eles observaram que em indivíduos normais e, mesmo em pacientes com DPOC, a reta de regressão da fase III cruzava a reta da PaCO2 antes de atingir 15% da capacidade pulmonar total (CPT). Em pacientes com TEP; entretanto, o valor de CO2 extrapolado na fase III da curva, para um volume equivalente a 15% da CPT, era insuficiente para alcançar o valor da PaCO2. Em indivíduos normais e pacientes com DPOC a diferença entre a PaCO2 e a PETCO2 extrapolada em 15% da CPT é, portanto, um valor negativo e inferior a zero. Em pacientes com TEP a diferença é um valor positivo e superior a zero. Quando este gradiente é dividido pela PaCO2 temos uma fração desta variável, denominada por Eriksson e col.19 de fDlate, cuja expressão matemática é a seguinte: PaCO2 – PET(15% CPT)CO2 fDlate = _______________________ PaCO2 Onde PaCO2 é a pressão parcial de CO2 no sangue arterial; PET(15% CPT)CO2 é a pressão parcial de CO2 no ar expirado extrapolada para 15% da CPT, de acordo com as tabelas previamente publicadas20. Eriksson e col.19 relataram que pacientes com TEP apresentavam um fDlate acima de 0,12. Pacientes normais e pacientes com DPOC, exibiram valores de fDlate menores que 0,1219. Estas observações referem-se a pacientes em respiração espontânea. Posteriormente, Anderson e col.21 avaliaram 12 pacienVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Figura 1 – CO2 Volumétrico. Notar que em indivíduos normais (A) a PETCO2 virtual , obtida por extrapolação da Fase III atinge a reta da PaCO2 antes de ser atingido um volume de 15% da Capacidade Pulmonar Total (CPT). Observar que, em indivíduos com provável embolia pulmonar, a PETCO2 virtual, obtida por extrapolação da Fase III até 15% da CPT (CPT) não atinge os valores de PaCO2. O gradiente entre a PaCO2 e a PETCO2 extrapolada a 15% da CPT é utilizado para o cálculo do fDlate (ver equação no texto). tes, dos quais 11 eram vitimas de trauma. Todos foram submetidos à angiografia pulmonar por suspeita de TEP. Cinco destes pacientes tiveram confirmação diagnóstica para TEP, apresentando um fDlate de 0,12 a 0,48. Nove tiveram angiografia negativa para TEP e oito destes pacientes tiveram valores de fDlate abaixo de 0,12 (-0,12 a 0,08). Apenas um paciente com angiograma negativo para TEP apresentou um fDlate de 0,25. O estudo resultou em 100% de sensibilidade e 89% de especificidade, usando o mesmo valor de corte proposto por Eriksson. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a sensibilidade e a especificidade da fDlate e de outras variáveis fisiológicas que expressam a fração de espaço morto alveolar, para excluir o diagnóstico de TEP de forma não-invasiva. Para tanto foi desenvolvido um protocolo para pacientes internados em enfermarias ou em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas da UNICAMP, com suspeita clínica de TEP. O protocolo previa a realização de capnografia volumétrica, a gasometria arterial e um ou mais exames de imagem suficientes para confirmar ou afastar o diagnóstico de TEP. PACIENTES E MÉTODO Foram estudados 46 pacientes, 23 homens com idade de 53,2 ± 14,4 anos e 23 mulheres com idade de 55,5 ± 14,2 anos. Todos os pacientes foram submetidos aos seguintes exames: 1. Radiografia simples de tórax; 2. Monitorização da mecânica respiratória e CO2 volumétrico (CO2SMO PLUS); 3. Gasometria arterial. Todos foram submetidos a um, ou mais, dos seguintes exames por imagem para confirmar o diagnóstico de TEP: 1. Cintilografia pulmonar; 2. TCH; 3. Angiografia pulmonar; 4. Ultra-som ecodoppler venoso do membro inferior. 125 RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON Critérios de Inclusão Foram incluídos 46 pacientes com suspeita clínica de TEP. A suspeita diagnóstica era levantada pelo médico assistente nas Enfermarias e na Sala de Emergência do Hospital das Clínicas da UNICAMP. Quando um método gráfico era solicitado (cintilografia, angiotomografia helicoidal ou angiografia pulmonar), na seqüência ou anteriormente ao exame, era realizada a capnografia volumétrica e a gasometria arterial. No grupo TEP Positivo o diagnóstico foi feito por cintilografia em nove pacientes, por cintilografia + TCH em dez pacientes, por TCH + Doppler em um paciente e por cintilografia + Doppler em um paciente. No grupo TEP Negativo, o diagnóstico foi excluído em três pacientes por cintilografia normal, em quatro pacientes por TCH + cintilografia normais, em seis pacientes por TCH negativo + cintilografia de baixa probabilidade, em um paciente por TCH negativo + Doppler negativo, em quatro pacientes por cintilografia de baixa probabilidade + angiografia pulmonar negativa, em quatro pacientes por cintilografia de baixa probabilidade + Doppler Negativo e em três pacientes por cintilografia normal + Doppler negativo. Critérios de Exclusão Foram excluídos pacientes com os seguintes critérios: 1. Morte encefálica 2. Idade ≤ 18 anos MEDIDA DO VOLUME CORRENTE (PNEUMOTACOGRAFIA) E DO CO2 EXPIRADO (CAPNOMETRIA) Material Utilizado Monitor de perfil respiratório DX-8100 (CO2SMO PLUS) Dixtal/Novametrix acoplado ao software Analysis Plus que permite o cálculo do fDlate. Pneumotacógrafo: Sensor descartável (Novametrix). Princípio: manometria diferencial em resistência fixa por orifício. Fluxo: 2 a 180 L/min. Acurácia: Superior ±3% da leitura 0.5 L/min. Volume minuto: 2 a 60 litros. Volume corrente: 100 a 3000 ml. Pressão de vias aéreas: -120 a +120 cmH2O. Capnômetro: (Capnostat Novametrix), Princípio: O sinal elétrico correspondente à concentração de CO2 nas vias aéreas é captado por um sensor a partir de um feixe de luz infravermelha que atravessa (mainstream) o sensor descartável do pneumotacógrafo. Acurácia: ± 2 mmHg (para 0 a 40 mmHg); ± 5% de leitura (para 41 a 70 mmHg); ± 8% de leitura (para 71 a 100 mmHg). Calibração: A seqüência de calibração interna está incorporada ao software do aparelho. Embora não necessária, uma segunda calibração foi realizada com dois gases de referência certificados pela firma fornecedora de gases (gás 1: CO2 = 20% e N2 = 80% e, gás 2: CO2 = 5% e O2 = 20% e N2 = 75%). Protocolo 1. Estando o paciente sob ventilação mecânica, o sensor do Monitor (CO2SMO PLUS) foi conectado entre o tubo orotraqueal e o circuito do ventilador mecânico; 2. Estando o paciente sem ventilação mecânica, o sensor do Monitor (CO2SMO PLUS) foi conectado a um bocal. Foi ainda utilizado um clipe nasal, para evitar escape de ar pelo nariz. As seguintes variáveis foram registradas por um período de 3 minutos: 126 1. Volume corrente inspirado e expirado; 2. Espaço morto anatômico (VD/VTan); 3. Slope da fase III; 4. PETCO2. Espaço morto anatômico O espaço morto anatômico foi medido pelo método de Fowler22 pelo software do Analysis Plus. Espaço morto fisiológico A determinação do espaço morto fisiológico foi calculada de acordo com a equação de Bohr modificada por Enghoff em 193823. PaCO2 – PECO2 VD/VT fis = ________________ PaCO2 Onde PECO2 é a pressão parcial de CO2 médio medido no ar expirado calculado pelo Analysis Plus Espaço morto alveolar O espaço morto alveolar é calculado pela diferença entre o espaço morto fisiológico (Bohr/Enghoff) e o espaço morto anatômico (Fowler): VD/VT alv = (VD/VT fisiol) - (VD/VT an) Parâmetros calculados Gradiente artério-alveolar de CO2 P(a-et)CO2 = PaCO2 - PETCO2 Fração de espaço morto fisiológico: VD/VT fisiol = (PaCO2 – PETCO2) / PaCO2 Fração de espaço morto alveolar: VD/VT alv = VD/VT fisiol - VD/VT an Fração de espaço morto alveolar end-tidal AVDSf = (PaCO2 - PETCO2) / PaCO2 Fração de espaço morto alveolar tardía: fDlate = (PaCO2 – Pet(15% CPT)CO2)/ PaCO2 RESULTADOS Os parâmetros fisiológicos obtidos nos 46 pacientes com suspeita de TEP são apresentados na tabela 1. Os valores dos parâmetros coletados foram submetidos a um teste t para amostras independentes a um nível de significância de 5%. As variáveis acima foram submetidas a testes de sensibilidade e especificidade e os resultados são apresentados na tabela 1. Tabela 1 – Variáveis Medidas e Calculadas nos 21 Pacientes com Diagnóstico Positivo e nos 25 Pacientes com Diagnóstico Negativo para Tromboembolismo Pulmonar (Média ± DP) Exames Positivos (n = 21) Negativos (n = 25) Significância PaCO2 32,84 ± 5,71 35,01 ± 10,05 NS PETCO2 22,42 ± 6,31 29,65 ± 8,07 p < 0,05 P(a-et)CO2 (mmHg) 10,43 ± 4,69 5,36 ± 3,95 p < 0,05 VD/VT fisiol (fração) 0,52 ± 0,11 0,43 ± 0,10 p < 0,05 VD / VT alv (fração) 0,39 ± 0,17 0,27 ± 0,12 p < 0,05 AVDSf (fração) 0,32 ± 0,14 0,15 ± 0,10 p < 0,05 fDlate (fração) 0,25 ± 0,17 - 0,02 ± 0,19 p < 0,05 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON Foi calculada a sensibilidade (Sens) e a especificidade (Espec) para cada respectivo valor de corte de cada variável. Estes dados, acoplados à probabilidade do teste resultar positivo ou negativo são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 – Testes de Sensibilidade e Especificidade para as diferentes Variáveis de acordo com os Valores de Corte Valor de Corte Sensibilidade Especificidade P(a-et)CO2 (mmHg) VD/VT fis (fração) VD / VT alv (fração) AVDSf (fração) fDlate (fração) 5 (13) 0,40 (16) 0,20 (24) 0,15 (25) 0,12 (19) 0,90 0,90 0,95 0,95 0,95 0,60 0,32 0,32 0,60 0,80 fDlate (fração) + DD FDlate - 0,12 (19) DD – 500 ng/ml (2) 1,00 0,80 Exames Na tabela 3 são apresentados os valores preditivos positivos e negativos para cada variável estudada, incluindo o intervalo de confiança de 95%. Como a fDlate apresentou melhor sensibilidade e especificidade que os demais, esta variável foi selecionada para a triagem de pacientes com suspeita de TEP. Porém, foi encontrado um resultado falso-negativo. Isto inviabilizaria seu uso pela possibilidade de não se finalizar a investigação diagnóstica. Como o paciente com fDlate falso-negativo também apresentou um teste para DD positivo, a associação destes dois testes resulta em triagem diagnóstica positiva. Por isso, uma nova análise estatística para avaliar a sensibilidade e a especificidade da associação do fDlate com o DD no diagnóstico do TEP (Tabelas 2 e 3). DISCUSSÃO O diagnóstico do tromboembolismo pulmonar é essencial para indicar prontamente o tratamento e modificar o prognóstico do paciente26. O diagnóstico de TEP exige a necessidade de investimento em exames complementares de alto custo e risco. Por isso, métodos de avaliação nãoinvasivos e facilmente disponíveis para uso à beira do leito em pacientes com suspeita de TEP, resultariam na indicação mais racional de exames complementares complexos, com redução de custos hospitalares e de riscos para os pacientes. No presente trabalho foram estudados 46 pacientes com suspeita clínica de TEP, todos submetidos à capnografia volumétrica e à gasometria arterial para o cálculo da fDlate. Todos foram submetidos a algum tipo de exame gráfico capaz de confirmar ou afastar o diagnóstico de TEP. Quase todos realizaram a cintilografia pulmonar de inalação/perfusão. Alguns realizaram associada ou isoladamente a TCH ou a angiografia. Três pacientes encontravam-se sob ventilação mecânica. Em toda a casuística de 46 pacientes a fDlate foi positiva em 20 pacientes (57%) dos quais 21 pacientes (54%) com diagnóstico confirmado e 25 pacientes (46%) sem confirmação diagnóstica pelo exame de imagem. O número de casos de pacientes com fDlate negativa foi de 26 pacientes (43%). O método apresentou 95% de sensibilidade e 80% de especificidade. Deve-se enfatizar que a triagem não-invasiva de pacientes com suspeita de TEP não pode admitir resultados falso-negativos. Caso a avaliação diagnóstica fosse limitada exclusivamente à fDlate, um resultado de fDlate negativa implicaria em não prosseguir com exames diagnósticos mais complexos. Essa conduta poderia, eventualmente, resultar em fatalidade com as inerentes conseqüências médico-legais. Contrariamente, os falso-positivos (5 pacientes) exigiriam a realização de exames complementares de imagem. Nestes pacientes, a realização destes exames aumentaria os custos hospitalares e seria de algum risco para o paciente. Entretanto, caso algum dano ocorresse, não caberia qualquer ação de má prática, visto que todos os pacientes, e não somente os falso-positivos teriam sido submetidos aos referidos exames. A triagem com a capnografia volumétrica permitiria limitar os exames mais complexos e caros somente àqueles pacientes com fDlate positiva. Neste grupo estariam incluídos os pacientes efetivamente com TEP (n=21), assim como os pacientes falso-positivos (5 pacientes) totalizando 26 dos 46 pacientes estudados. Isto significa que a realização de 20 exames desnecessários poderia ser evitada, o que corresponde a 43% de todos os casos com suspeita clínica de TEP. Uma limitação deste método é a necessidade de se dispor de um capnógrafo volumétrico associado a um software que permite derivar a inclinação da reta (slope) da fase III do espirograma e extrapolar a reta até 15% da Capacidade Pulmonar Total. Outros métodos baseados na simples medida da PETCO2 empregando um simples capnógrafo comumente disponível no Centro Cirúrgico ou em Unidades de Terapia Intensiva permitem o cálculo do gradiente P(a-et)CO2 ou da sua relação com a PaCO2, uma variável denominada Fração de espaço morto alveolar end-tidal (AVDSf )25. É sabido que a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), freqüentemente cursa com aumento do VD/VT fis por conta de alterações anatômicas crônicas que vertem em incordenação V’A/Q’. Como a DPOC não é infreqüen- Tabela 3 – Valores Preditivos Positivos e Negativos para cada Variável Calculada. Os Valores do Intervalo de Confiança de 95% encontram-se entre parênteses Exames P(a-et)CO2 VD/VT fis VD / VT alv AVDSf fDlate fDlate + DD Verdadeiro Positivo 0,66 (0,46-0,81) 0,53 (0,36-0,69) 0,53 (0,36-0,70) 0,67 (0,47-0,82) 0,80 (0,59-0,92) 0,81 (0,60-0,92) Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Falso Positivo 0,34(0,19-0,54) 0,47 (0,31-0,64) 0,46 (0,30-0,63) 0,33 (0,18-0,53) 0,20 (0,08-0,41) 0,19 (0,07-0,40) Verdadeiro Negativo 0,88 (0,62-0,98) 0,80 (0,44-0,96) 0,89 (0,51-0,99) 0,94 (0,68-0,97) 0,95 (0,74-0,99) 1,00 (0,80-1,00) Falso Negativo 0,12 (0,02-0,38) 0,20 (0,04-0,56) 0,11 (0,01-0,49) 0,06 (0,003-0,32) 0,05 (0,002-0,26) 0,00 (0,00-0,20) 127 RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON te na população em geral, explica-se a grande quantidade de resultados falso-positivos encontrados nos parâmetros fisiológicos baseados no gradiente artério-alveolar (P(aet)CO2). Na tentativa de melhorar a especificidade da P(aet)CO2 para a detecção de TEP em pacientes com doença pulmonar de base, Hatle e Rokseth15 realizaram um espirograma estendido solicitando ao paciente uma expiração prolongada. Eles sugeriram que a medida de um gradiente P(a-et)CO2 tardio poderia diferenciar quadros de TEP e de DPOC. Porém, esta manobra interfere na fisiologia normal da ventilação, desviando o processo de um regime permanente (steady-state) para um regime transitório (non steady-state). Além disto, a manobra exige a colaboração e a capacidade física do paciente, nem sempre possíveis em pacientes com falência cardiorrespiratória. Por isso, o gradiente P(a-et)CO2 tardio foi obtido por Eriksson e col.27, por um método gráfico ao qual chamaram de fração de espaço morto tardia (fDlate). Caracteriza-se por uma extrapolação matemática, prolongando a fase III (slope III) do espirograma volumétrico de CO2 obtido durante um ciclo respiratório normal, até 15% da Capacidade Pulmonar Total (CPT). Com esse método é possível inferir a PaCO2 sem exigir um esforço do paciente, passível de interferência nos resultados. Eriksson avaliou 38 pacientes submetidos à angiografia pulmonar por suspeita de TEP em respiração espontânea. Por extrapolação matemática da fase III da curva do capnograma até 15% da capacidade pulmonar total (CPT), o valor de corte da fDlate encontrado para diferenciar pacientes com diagnóstico confirmado de TEP foi de 0,12. Olsson e col.27 usaram o mesmo valor de corte que Eriksson (0,12) quando calcularam a fDlate em 223 pacientes submetidos a cintilografia pulmonar de inalação/perfusão. Neste grande grupo de pacientes obtiveram uma sensibilidade de 85% e uma especificidade de 93%, incluindo três resultados falso-negativos. Em 1999, Anderson e col.21, utilizando o mesmo valor de corte do fDlate (0,12)19 obtiveram 100% de sensibilidade e 89% de especificidade em doze pacientes submetidos a angiografia pulmonar, dos quais, cinco apresentaram diagnóstico positivo para TEP. Obtiveram um resultado falso-positivo, porém, nenhum falso-negativo. Vê-se que nos trabalhos de Olsson27 e Anderson21, a especificidade do método atingiu valores ao redor de 90%, indicando uma boa discriminação entre pacientes portadores de TEP e aqueles portadores de DPOC. Neste trabalho foi utilizado o mesmo valor de corte proposto por Eriksson (0,12)19. É, sem dúvida, preocupante, a constatação, nesta casuística, de um resultado da fDlate falso-negativo. Não se trata um valor da fDlate próximo do valor de corte (0,12), o que poderia ser interpretado como inerente aos limites arbitrários definidos originalmente por Eriksson e col.19. Pelo contrário, o valor da fDlate de - 0,23 é um dos valores mais negativos da casuística. Trata-se de um paciente portador de neoplasia pulmonar cujo tumor broncogênico acometia a mesma região anatômica que o êmbolo pulmonar. Essa inusitada situação foi interpretada como uma “lobectomia funcional”, 128 visto que a ausência de ventilação mascarou o espaço morto resultante da ausência de perfusão. É sabido que pacientes submetidos a ressecções pulmonares não cursam, via de regra, com aumento de espaço morto. Esse resultado falso-negativo ocorreu por eventual singularidade e deve ser considerado na triagem dos pacientes com suspeita de TEP submetidos ao método fDlate. Porém, neste paciente, o DD medido pelo método de aglutinação do látex (D-Di test Diagnóstica Stago) foi positivo (2 a 4 µg/dL), logo, este paciente foi considerado positivo pela triagem não-invasiva quando o critério de triagem se baseou na associação dos dois métodos (fDlate e DD). Poderia ser argumentado que o DD pode ser positivo em portadores de neoplasia e que o resultado positivo não determina se a causa é neoplasia ou TEP. Isto é irrelevante, visto que tanto os casos com DD positivo por TEP (verdadeiros positivos) como por neoplasia (falso-positivos) seriam encaminhados para exames complementares para confirmar, ou não, a presença de TEP. Nesta casuística, a associação da fDlate ao DD apresentou uma sensibilidade de 1,00 e uma especificidade de 0,80. Embora ainda com uma casuística incipiente, pode-se observar que o método proposto por Eriksson19 (fDlate) quando associado ao DD é superior aos outros apresentados (VD alv/VT alv + DD e AVDSf + DD). De acordo com os dados apresentados nesta casuística, a associação fDlate e DD permitiu excluir com segurança a presença de TEP. Além da rapidez e da facilidade de se obter esta informação, visto que, tanto a fDlate como o DD, podem ser obtidos, em alguns minutos, na Sala de Emergência, poderiam ser evitados quase a metade dos exames de imagem. Se a exclusão do diagnóstico de TEP pela associação fDlate + DD for confirmada por outros autores em estudos multicêntricos, que é o que sinaliza Verschuren e col.11, este processo de triagem diagnóstica, na Sala de Emergência ou nas Enfermarias, poderá contribuir para a racionalização de recursos, para a redução da demanda aos Serviços de Imagem, para a redução dos custos hospitalares e para o conforto e a segurança dos pacientes e da equipe multiprofissional. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Métodos para confirmar o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar (TEP) são de risco relativo, de alto custo e nem sempre disponíveis. Justifica-se a busca de métodos mais acessíveis, não-invasivos, de baixo custo e que possam ser realizados à beira do leito. O objetivo deste trabalho foi comparar o cálculo da fração de espaço morto tardia (fDlate) com a cintilografia pulmonar, a tomografia helicoidal computadorizada e a arteriografia pulmonar em pacientes com suspeita de tromboembolismo pulmonar. MÉTODO: Foi realizado um estudo prospectivo e observacional em Hospital Universitário com 46 pacientes internados, no período de janeiro de 2002 a janeiro de 2004, com suspeita clínica de tromboembolismo pulmonar. Foi utilizada a capnometria (CO2SMO PLUS DX 8100) e a gasometria arRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON terial para posterior cálculo da fDlate (PaCO2 – P(15%CPT)CO2) / PaCO2). RESULTADOS: Considerando um valor de corte proposto por Eriksson (0,12), a fDlate resultou positiva em 20 pacientes; falso-positiva em 5 pacientes; e negativa em 20 pacientes, quando comparada com os exames por imagem. Obteve-se também um resultado falso-negativo (-0,23). Estes dados resultaram em 95% de sensibilidade e 80% de especificidade para o método. CONCLUSÕES: A fDlate quando utilizada de forma isolada não demonstrou ter uma sensibilidade suficiente para o diagnóstico não invasivo de tromboembolismo pulmonar. Esta técnica de triagem para tromboembolismo pulmonar poderia ser melhorada associando-se outras variáveis não-invasivas, tais como o D-dímero (DD). Unitermos: tromboembolismo pulmonar; espaço morto anatômico, fisiológico e alveolar; pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2); pressão parcial de dióxido de carbono no ar expirado ao final da expiração completa (PetCO2); capnografia; D-dímeros; fDlate. REFERÊNCIAS 01. Owings JT, Kraut E, Battistella F et al - Timing of the occurrence of pulmonary embolism in trauma patients. Arch Surg, 1997;132:862-866. 02. Vitório PK, Mendes ESPS - Dímeros no Diagnóstico de Embolia Pulmonar. In: Fernandes ALG, Mendes ESPS, Terra Fo MEDS. Pneumologia - Atualização e Reciclagem. Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia. São Paulo, Atheneu, 2000;2:213-220. 03. Gillum RF - Pulmonary embolism and thrombophlebitis in the United States, 1970-1985. Am Heart J, 1987;114:1262-1264. 04. Anderson FA, Wheeler HB, Goldberg RJ et al – A population-based perspective of the hospital and case-fatality rates of deep vein thrombosis and pulmonary embolism. The Worcester DVT Study. Arch Intern Med, 1991;151:933-938. 05. Dalen JE, Alpert JS - Epidemiology and natural history of venous thromboembolism. Prog Cardiovasc Dis, 1994;36:417-422. 06. Goldhaber SZ – Pulmonary embolism death rates. Am Heart J, 1988;115:1342-1343. 07. Moser KM – Pulmonary embolism. Am Rev Respir Dis, 1977;115: 829-852. 08. Value of ventilation/perfusion scan in acute pulmonary embolism. Results of the prospective investigation of pulmonary embolism diagnosis (PIOPED). The PIOPED Investigators. JAMA 1990;263:2753-2759. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 09. Goodman LR, Lipchik RJ, Kuzo RS et al - Subsequent pulmonary embolism: risk after a negative helical CT pulmonary angiogram – prospective comparison with scintigraphy. Radiology, 2000;215:535-542. 10. Lorut C, Ghossains M, Horellou MH at al - A noninvasive diagnostic strategy including spiral computed tomography in patients with suspected pulmonary embolism. Am J Respir Crit Care Med, 2000;162:1413-1418. 11. Verschuren F, Liistro G, Coffeng R et al - Volumetric capnography as a screening test for pulmonary embolism in the emergency department. Chest, 2004;125:841-850. 12. Dixon AK, Coulden RA, Peters AM - The non-invasive diagnosis of pulmonary embolus. BMJ, 2001;323:412-413. 13. Robin ED, Julian DG, Travis DM et al - A physiologic approach to the diagnosis of acute pulmonary embolism. N Engl J Med, 1959;260:586-591. 14. Nutter DO, Massumi RA - The arterial-alveolar carbon dioxide tension gradient in diagnosis of pulmonary embolus. Dis Chest, 1966;50:380-387. 15. 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SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES : Despite extensive efforts regarding intensive care management’s to improve outcome and survival of patients with sepsis and septic shock, its mortality remains high. In this context, continuous intravenous administration of isotopic sodium bicarbonate (NaH13CO3) is a tool that allows the evaluation of the organic retention of the 13 CO2 fraction, used in the correction of the calculation of substrate oxidation, amino acids in particular. The aim of this study was to evaluate, in septic patients under mechanical ventilation, the 13CO2 recovery fraction (RF) in the expired air. METHODS: This study included prospectively 10 patients (4 men and 6 women) victims of septic shock, between the 2nd and 5th day of evolution. Mean age was 55.1 ± 19 years. The APACHE II was 25.9 ± 7.4 with death risk of 60% ± 20% and the sepsis score of 19.1 ± 4.2. Initially, the CO2 baseline was collected and indirect calorimetry was performed. A prime of 5 mL of NaH13CO3 was administered followed by continuous infusion of 5 mL.h-1 for 6 hours. Six VCO2 measurements were made with a portable metabolic cart connected to a respirator and hourly samples of expired air were obtained for 13 CO2 enrichment. RESULTS: The patients presented a mean VCO2 value of 182 ± 52 mL.min-1. The mean RF was 0.68 ± 0.06. CONCLUSIONS: These original findings allow the conclusion that the 13CO2 recovery fraction in septic patients is incomplete, indicating retention of 13CO2. The severity of the septic shock is not associated on the 13CO2 recovery fraction in expired air. Key Words: 13CO2 Recovery fraction, stable isotope, septic shock. A sepse, o choque séptico e a disfunção de múltiplos órgãos são as principais causas de morte em unidades de terapia intensiva, apesar do grande avanço tecnológico e científico nesse contexto e do esforço que tem sido feito no sentido de melhorar a sobrevida dos pacientes1-3. A unidade de terapia intensiva desempenha um papel fundamental na sobrevida dos pacientes vítimas de sepse e choque séptico. Vários aspectos devem ser valorizados com relação ao paciente séptico. Além da avaliação hemodinâmica, infecciosa e da resposta imune, os aspectos metabólicos são relevantes. O metabolismo orgânico é um processo dinâmico, sobretudo em situações patológicas, ou seja, processos de síntese e degradação protéica ocorrem constantemente. O dióxido de carbono (CO2) é produzido em sua maior parte devido à oxidação de substratos que pode ser quantificado através do emprego de isótopos estáveis. Não se pode evitar a resposta endócrino-metabólica desencadeada pela sepse, mas pode-se tratá-la prevenindo lesão tecidual maior através do conhecimento pormenorizado do metabolismo. Atualmente nenhum método utilizado oferece parâmetros acurados de monitorização do metabolismo e um guia para a utilização de um determinado tipo de substrato energético nos quadros sépticos. Uma das mais importantes alterações metabólicas no curso da sepse e choque séptico é a predominância da resposta catabólica da musculatura esquelética. Essa resposta é multifatorial e reflete a inibição da captação de aminoácidos e a redução da síntese protéica com quebra acelerada de proteínas em particular a degradação de miofibrilas4. A degradação protéica excede a síntese levando ao aumento do consumo de O2 (VO2) que se não for corrigido tende a evoluir para disfunção orgânica muitas vezes irreversível. A medida da taxa de oxidação de nutrientes em pacientes críticos recebendo terapia nutricional é de grande interesse5-7. Através do uso de isótopos estáveis como o carbono marcado (13C) é possível se obter a fração de aparecimento do CO2 no ar expirado a partir da administração por via venosa de bicarbonato marcado (NaH13CO3)8. Como o CO2 produzido a partir do substrato marcado interage com o pool de bicarbonato antes de ser expirado, é necessário o conhecimento dessa fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado para se estudar a taxa de oxidação de um determinado substrato (p. ex.: proteína). Essa fração de recuperação atuará como um fator de correção nesse cálculo da oxidação protéica em 1. Médica Assistente e Supervisora de Equipe Médica do CTI – FMRP – USP. 2. Médica Residente do Centro de Terapia Intensiva – FMRP – USP 3. Médico Assistente e Pós-Graduando do Centro de Terapia Intensiva – FMRP - USP 4. Professor Associado e Chefe do Laboratório de Espectrometria de Massa, Departamento de Clínica Médica da FMRP – USP 5. Professor Associado e Chefe da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP – USP *Recebido da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. • Trabalho Apresentado no 33rd SCCM Congress, Orlando, Flórida, EUA, 2004 Tese de doutorado (2004) realizada na Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia (Centro de Terapia Intensiva Campus – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Projeto de pesquisa financiado pela FAPESP (99/07266-7). Apresentado em 22 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 01 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Dr. Aníbal Basile-Filho - Av. Bandeirantes, 3900 - 14049-900 Ribeirão Preto, SP - Fone (16) 602-2439 - E-mail: [email protected] - Fone: (16) 602-2439 130 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON estudos subseqüentes. Os objetivos deste trabalho foram mensurar a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado de pacientes críticos vítimas de sepse ou choque séptico sob ventilação mecânica, recebendo terapia nutricional enteral ou parenteral, através da infusão venosa contínua de NaH13CO3 e descrever a fração de recuperação do 13CO2 em grupos de pacientes selecionados de acordo com a gravidade (Índice prognóstico APACHE II e o Escore de Sepse). MÉTODO Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, tendo sido obtido o termo de consentimento livre e esclarecido em todos os casos (Processo n° 4989/99 - HCRP), foi realizado um estudo clínico prospectivo no Centro de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Campus). A investigação envolveu 10 pacientes de ambos os sexos (quatro do sexo masculino e seis do sexo feminino), vítimas de sepse de qualquer origem, ou choque séptico, após restauração volêmica e estabilização hemodinâmica. Foram incluídos pacientes entre o 2º e 5º dia de evolução do quadro, com indicação de ventilação mecânica invasiva, idade entre 15 e 85 anos, necessidade de FiO2 (fração de oxigênio no ar inspirado) < 0,6, PAM (pressão arterial média) > 50 mmHg, diurese horária > 50 ml.h-1 e utilização de terapia nutricional. Os critérios de exclusão foram insuficiência renal oligúrica de qualquer etiologia, ventilação espontânea, fístula aérea, morte encefálica e recusa do paciente ou responsável. Os critérios utilizados para o diagnóstico de sepse e choque séptico foram os estabelecidos pela conferência de consenso realizada pelo American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine9. Os pacientes foram divididos em dois grupos de acordo com a gravidade pelo índice prognóstico APACHE II (Acute Physiologic and Chronic Health Evaluation)10 e pelo sistema de graduação de sepse ou escore de sepse (Sepsis score - SS)11. Em todos os casos foram realizados restauração volêmica, suporte ventilatório mecânico com ventilador microprocessado (BIRD 8400 STi Bird Prod Corp, EUA, SERVO 900C Siemens, Suécia ou Savina Dragger), antibioticoterapia adequada, uso de drogas vasoativas e terapia nutricional de acordo com o gasto energético real calculado pela calorimetria indireta (70% de carboidratos, 30% de lipídios em relação ao valor calórico total e 1 g.kg-1.dia-1 de proteínas), conforme a dieta padronizada pelo HCFMRP-USP12. Os pacientes foram sedados com benzodiazepínicos e/ou opióides e o bloqueador neuromuscular foi utilizado quando necessário. A calorimetria indireta foi realizada em todos os pacientes com o calorímetro portátil Deltatrac II Metabolic Monitor (Datex-Ohmeda, Finlândia) acoplado ao ventilador mecânico. A calibração de pressão barométrica e de gases foi realizada antes de cada protocolo. A calorimetria foi realizada durante as 6 horas do protocolo, sendo realizada uma média do valor do VCO2 a cada hora juntamente com a coleta do ar expirado. O peso dos pacientes foi obtido no dia do protocolo de estudo por meio de balança portátil (Slingscale 2002, Instrucom/Hill-Rom series, Hillenbrand Industries, EUA). O protocolo teve duração média de seis horas. InicialmenVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 te foi realizada a coleta do CO2 expirado basal, ou seja, antes de iniciar a infusão de bicarbonato com carbono marcado (NaH13CO3) e calorimetria indireta durante todo o estudo. Após a coleta de gases basal, era realizado um bolus de 5 ml de NaH13CO3, seguido de infusão contínua a 5 ml.h-1 durante 6 horas (T1 a T6). O valor médio obtido a cada hora (tempo) do estudo foi utilizado para a base do cálculo da fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado. Utilizou-se para o cálculo da fração de recuperação, o VCO2 (convertido de ml.min-1 para mmol.kg-1.h-1) obtido através de medidas de calorimetria indireta e o valor do 13CO2 no ar expirado, conforme pode ser visualizado no delineamento do protocolo (Figura 1). Figura 1 - Delineamento do Protocolo de Estudo. O cálculo da dose do NaH13CO3 foi de acordo com o peso do paciente no dia da realização do protocolo. A dose utilizada para infusão em bolus (prime) foi de 3,8 µmol.kg-1 e para infusão contínua foi de 3,8 µmol.kg-1.h-1, baseado nos estudos de Tissot e col.13. O isótopo estável utilizado no estudo foi o NaH13CO3 (99 atm%) (Mass Trace Technologies, MA, EUA). A preparação do isótopo foi realizada na Divisão de Farmácia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em capela de fluxo laminar obedecendo todos os cuidados relacionados à assepsia e anti-sepsia. Foram coletadas gasometrias arteriais antes e após o protocolo de estudo para avaliar eventuais interferências da dose do NaH13CO3 no estado metabólico do paciente. O ar expirado foi coletado inicialmente para estabelecer um valor basal de referência no tempo de estudo -40, -25 e -15 minutos, antes de iniciar a infusão do isótopo. Após, foram coletadas sempre duas amostras a cada hora durante todo o protocolo de estudo (6 horas de infusão do isótopo). A coleta era realizada através de uma bolsa coletora de gases de 750 ml (Quintron, EUA) que era conectada na via expiratória do ventilador mecânico. As amostras foram analisadas por espectrometria de massa (Isotope ratio mass spectrometry - IRMS) (Europa Scientific, Inglaterra). As equações utilizadas para o cálculo da fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado foram as seguintes: *VCO2 (ml.min-1) x 60 min VCO2* = __________________________ Peso (kg) x 22,4 Onde, VCO2 = Produção de CO2 * Conversão de VCO2 em ml.min-1 para mmol.kg-1.h-1. 131 RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON Enr 13CO2 (APEx1000) = 13CO2 i - 13CO2 b x 1000 RESULTADOS Onde: O valor Enr 13CO2 APEx1000 (Enriquecimento do ar expirado em Átomos por cento em excesso) refere-se à diferença aritmética entre os valores de 13CO2 obtidos nas amostras de ar expirado após infusão (13CO2 i) e os valores basais (13CO2 b) antes da administração de NaH13CO3. A idade média dos pacientes variou de 55,1 ± 19 anos. O índice prognóstico APACHE II médio foi de 25,9 ± 7,4 com risco de óbito calculado de 60 ± 20%. O escore de sepse médio foi de 19,1 ± 4,2. A utilização do isótopo estável (NaH13CO3) venoso não alterou o estado ácido básico dos pacientes confirmado através da coleta de gasometrias arteriais antes e após o protocolo de estudo. Dos 10 pacientes estudados, oito (80%) evoluíram para o óbito. De acordo com o índice prognóstico APACHE II, a média de óbitos esperada era de 60% ± 20% (Tabelas 1 e 2). O gasto energético médio dos pacientes avaliados foi de 1587 ± 430 kcal.min-1 e quando utilizou-se a equação de Harris-Benedict15 verificou-se um gasto energético médio de 1440 ± 121 kcal.min-1. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois métodos de avaliação do gasto energético real (p = 0,43) com diferença entre as médias dos dois métodos de 146 kcal.min-1. O volume minuto médio dos pacientes avaliados foi de 7,7 ± 1,8 L.min-1 caracterizando uma ventilação minuto alveolar dentro dos limites da normalidade sugerindo pouca possibilidade de interferência da eliminação do CO2 sobre a fração de recuperação, uma vez que os valores de PaCO2 (pressão parcial de CO2) permaneceram estáveis. A produção de CO2 média dos pacientes avaliados foi de 182 ± 52 ml.min-1, valores que estão numericamente dentro dos limites da normalidade (Tabela 3). O cálculo da fração de recuperação do 13CO2, nas amostras de ar expirado, foi o seguinte14,15: [13CO2 no ar expirado] ______________________ *FR = Fração de Recuperação = [13CO2 infundido] *Onde, FR = fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado, VCO2 = produção de CO2, 13CO2 enr (APEx1000) = enriquecimento do ar expirado em átomos por cento em excesso. As medidas das variáveis estão expressas em média ± desvio padrão. O teste estatístico utilizado para comparação entre os dois grupos estudados de acordo com a gravidade foi o teste não-paramétrico dos sinais de Wilcoxon para duas amostras correlacionadas. Considerou-se como estatisticamente significativas, as comparações com valor de p < 0,05. Foi realizado também o coeficiente de correlação de Spearman entre a variável fração de recuperação do 13CO2 e o VO2, VCO2, volume minuto e gasto energético real. Tabela 1 - Diagnósticos Clínicos, Dados Demográficos e Índices Prognósticos dos Pacientes Estudados. Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Diagnóstico Infeccioso Pneumonia, parotidite purulenta Peritonite, pneumonia Abscesso intra-abdominal Pneumonia Pseudocisto infectado Pneumonia, endocardite Sinusite Pneumonia Pneumonia Empiema pleural Mediana Média DP Sexo F M F M F M F F F M Idade (anos) 64 72 71 76 48 78 28 40 37 37 56 55,1 19 Peso (kg) 64 80 99 77 59 72 78 62 79 60 68,5 73 12,3 Altura (cm) 160 170 171 179 157 162 157 165 165 170 165 165,6 7 APII 27 37 32 25 18 24 24 37 17 18 24,5 25,9 7,4 RO (%) 63 88 86 44 30 45 45 88 37 29 60 60 20 SS 18 20 24 22 16 18 18 26 11 18 18 19,1 4,2 Óbito Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Não AP II = Índice prognóstico APACHE II, RO = Risco de óbito calculado pelo AP II (%), SS = Escore de Sepse. Tabela 2 – Avaliação da Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado durante a Infusão de NaH13CO3 em Diferentes Situações13,16,17,19,20,22,29,30- 32. Autores Allsop e col. (1978) Irving e col. (1983) Irving e col. (1984) Wolfe e col. (1984) Irving e col. (1985) Garlick e col. (1987) Hoerr e col. (1989) Bresson e col. (1990) Tissot e col. (1993) Jeevanandam e col. (1994) 132 Pacientes Adultos Adultos Adultos Adultos Criança Adultos Saudável Recém-nascido Crítico Trauma Terapia Nutricional Jejum Jejum Jejum Pós-prandial e exercício físico Pós-prandial Jejum Jejum Pós-prandial Pós-prandial Jejum e pós-prandial Fração de recuperação 0,81 0,51 0,74 0,78 a 0,98 0,57 0,73 0,52 a 0,95 0,96 0,9 1,0 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON Tabela 3 - Valores Médios do Gasto Energético Real, Volume Minuto, Produção de CO2 (VCO2), Consumo de Oxigênio (VO2) e Quociente Respiratório (RQ) nos Pacientes Estudados. Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média ± DP Gasto Energético (kcal.min-1) 1191 1155 2258 1455 1458 1565 1773 1131 2353 1528 1587 ± 430 Volume Minuto (l.min-1) 6,0 7,9 10,0 8,5 6,4 6,9 7,5 5,2 11,1 7,6 7,7 ± 1,8 O consumo de O2 médio dos pacientes avaliados foi de 229 ± 67 ml.min-1, valores que permaneceram estáveis durante todo o protocolo de estudo. Isso era esperado, uma vez que os pacientes, apesar do estado de choque séptico, se apresentavam estáveis no momento à custa de suporte hemodinâmico. O quociente respiratório médio dos pacientes avaliados foi de 0,79 ± 0,10 caracterizando um estado de metabolismo adequado, sem predomínio de lipólise e neoglicogênese e nem de lipogênese (Tabela 3). Os valores médios do enriquecimento do 13CO2 no ar expirado dos pacientes estudados foram de 4,01 ± 0,76 (APEx1000) no período de 120 a 360 minutos. A avaliação dinâmica ao longo do protocolo de estudo evidenciou que houve um estado de equilíbrio (steady-state) em torno de duas horas após o início da infusão do isótopo, o que é o esperado devido à realização da dose inicial. Posteriormente houve um aumento gradual do enriquecimento demonstrando que a metodologia foi adequada (Figura 2). Não houve diferença estatisticamente significativa entre o enriquecimento nos grupos de acordo com a gravidade (p = 0,99). Figura 2 - Valores Médios e Respectivos Desvio-Padrão do Enriquecimento do 13CO2 (APEx1000) no Ar Expirado ao Longo do Protocolo de Infusão de NaH13CO3 nos Seis Momentos Avaliados (n = 10). VCO2 (ml.min-1) 149 145 277 168 165 165 158 146 281 162 182 ± 52 VO2 (ml.min-1) 174 140 327 215 217 211 277 163 343 225 229 ± 67 Quociente Respiratório 0,85 0,9 0,84 0,78 0,76 0,78 0,57 0,89 0,82 0,72 0,79 ± 0,10 A fração de recuperação média do 13CO2 no ar expirado dos pacientes estudados variou foi de 0,68 ± 0,06. Esses valores são diferentes daqueles relatados para pacientes críticos não sépticos, sugerindo que em algum momento na evolução choque séptico possa existir algum desvio do CO2 para outras vias metabólicas. Quando comparou-se a fração de recuperação do 13CO2 em diferentes grupos de acordo com a idade (p = 0,81), sexo (p = 0,25) e gravidade da doença (p = 0,62), não encontrou-se diferença estatisticamente significativa. A comparação entre os grupos de pacientes selecionados de acordo com os níveis de uréia e bicarbonato sérico não evidenciou diferença estatisticamente significativa (p = 0,99 e p = 0,25, respectivamente). Quando realizou-se a comparação entre os grupos selecionados de acordo com os valores de VCO2 verificou-se que apenas dois pacientes apresentaram VCO2 cima do normal (> 200 ml.min-1) e oito pacientes apresentaram VCO2 < 200 ml.min-1. Quando realizou-se uma categorização em grupos de acordo com valores de VCO2 e APACHE II acima e abaixo da média e comparados esses grupos, verificou-se que sete pacientes apresentaram APACHE II acima da média e três abaixo da média. Dentre os sete pacientes que apresentaram APACHE II acima da média, cinco apresentaram VCO2 acima da média e dentre os três com APACHE II abaixo da média, todos apresentaram VCO2 também abaixo da média. Quanto à via utilizada para terapia nutricional, verificouse que três pacientes utilizaram nutrição parenteral e sete Tabela 4 - Valores Médios da Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado nos Pacientes Estudados (n = 10). Houve uma correlação positiva, porém fraca entre o enriquecimento e o volume minuto e o gasto energético real sugerindo que há alguma influência da ventilação alveolar e da dieta oferecida na porcentagem de enriquecimento do 13CO2 no ar expirado. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média ± DP Fração de Recuperação do 13CO2 0,71 0,68 0,74 0,70 0,70 0,60 0,70 0,55 0,72 0,72 0,68 ± 0,06 133 RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON utilizaram terapia nutricional enteral e não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p = 0,5). Houve uma correlação positiva entre a fração de recuperação e o gasto energético real (r = 0,62) e (Figura 3) entre a fração de recuperação e o VO2 (r = 0,75) (Figura 4). Houve uma correlação positiva, porém pequena, entre a fração de recuperação e o volume minuto (r = 0,58) (Figura 5) e entre a fração de recuperação e o VCO2 (r = 0,57) (Figura 6). Figura 6 - Coeficiente de Correlação entre os Valores Médios da Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado e os Valores Médios do VCO2 nos 10 Pacientes Estudados. Figura 3 - Coeficiente de Correlação entre os Valores Médios da Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado e os Valores Médios do Gasto Energético Real nos 10 Pacientes Estudados. DISCUSSÃO Figura 4 - Coeficiente de Correlação entre os Valores Médios da Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado e os Valores Médios do VO2 nos 10 Pacientes Estudados. Figura 5 - Coeficiente de Correlação entre os Valores Médios da Fração de Recuperação do 13CO2 no Ar Expirado e os Valores Médios do Volume Minuto nos 10 Pacientes Estudados. 134 Não existem dados disponíveis na literatura até o presente momento, que explorem a taxa de recuperação do CO2 isotópico em pacientes sépticos sob ventilação mecânica. Isto pode ser devido, por um lado, pela dificuldade em se manter um paciente em condições de steady-state por um período prolongado (6 a 8 horas) e por outro, as dificuldades materiais (recursos humanos e financeiros) em se conduzir um protocolo experimental dessa magnitude à beira do leito do paciente em estado crítico. Isto reflete o esforço do nosso grupo de pesquisa, nos últimos anos, em procurar investigar alguns aspectos metabólicos dos pacientes com quadro de sepse/choque séptico, especialmente no nosso meio. No presente estudo, avaliou-se de maneira inédita, a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado de pacientes sépticos selecionados em grupos de acordo com a gravidade. Um dos propósitos iniciais foi também correlacionar a fração de recuperação do 13 CO2 no ar expirado com as variáveis metabólicas obtidas pela calorimetria indireta, como o consumo de O2 (VO 2), produção de CO 2 (VCO 2), volume minuto e gasto energético real. A utilização do carbono 13 (13CO2) possibilita o estudo do metabolismo do CO 2 e suas vias de atuação. A técnica tem como princípio, a injeção de uma substância enriquecida com carbono marcado ( 13C) na circulação sangüínea e a avaliação da fração de recuperação dessa substância através da coleta do ar expirado. Vários estudos já avaliaram o valor dessa fração de recuperação em animais de experimentação e em seres humanos através da infusão de bicarbonato marcado (NaH 13CO3) com resultados que variam de 0,51 a 0,95 (Tabela 2). Em indivíduos adultos a fração de recuperação do 13 CO2 é bastante variável de acordo com diversos estudos13,16-19. Durante o jejum essa taxa pode variar de 0,52 a 0,94 e durante a alimentação de 0,72 a 0,90 em adultos em repouso. Vários fatores podem explicar as discrepâncias encontradas nesses estudos, como idade, estado metabólico ou nutricional e a presença de condições patológicas RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON subjacentes e, sobretudo as condições em que o protocolo experimental foi realizado. Estudos na população de pacientes críticos sob ventilação mecânica, embora escassos, também já foram relatados, porém, sem distinção de doença específica 13. De acordo com Tissot e col. a fração de recuperação do 13 CO2 no ar expirado de pacientes críticos estáveis e em ventilação mecânica foi de 0,89 ± 0,26 sugerindo que uma porcentagem fica retida no organismo, com possível utilização em outras vias metabólicas não totalmente conhecidas. Porém, esses resultados foram obtidos através de estudos em pacientes críticos que apresentam diferentes condições patológicas não devendo ser aplicados incondicionalmente a uma doença específica. O princípio do uso de isótopos estáveis determina que o elemento (carbono 13) será reconhecido pelo organismo como o elemento natural já existente, pois eles apresentam as mesmas propriedades químicas. O isótopo administrado deverá entrar em equilíbrio dentro de vias metabólicas já existentes. A quantidade do isótopo que entra no pool é igual à quantidade que sai desse pool. A entrada, nesse caso, é representada pela administração da substância e a saída pela oxidação da mesma. Para se atingir uma estabilidade mais rapidamente foi realizada, nesse estudo, uma dose inicial do isótopo que determinou um equilíbrio (steady-state) em aproximadamente 120 minutos, sem a dose inicial esse equilíbrio poderia ser atingido em até 24 horas 20. O protocolo se estendeu até 360 minutos para que se pudesse ter uma avaliação segura e detalhada da cinética do 13CO2. Escolheu-se o bicarbonato marcado (NaH 13CO3) porque esse isótopo já foi validado em estudos anteriores (Tabela 2), interage com o pool de bicarbonato rapidamente e a sua transformação em CO2 é a única forma de interação em vias metabólicas. Além de apresentar menor custo, fácil manipulação e interpretação dos dados. Quando administramos o NaH13CO3 endovenoso e avaliamos sua fração de recuperação no ar expirado, verificamos que nem todo o isótopo administrado foi recuperado. Estudos clínicos avaliando a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado relatam valores que variam de 0,52 a 0,95 18. Valores inferiores a um indicam que a fração do isótopo administrada não é totalmente eliminada como 13CO2 no ar expirado. Existem três destinos principais identificados até o momento para a retenção desse isótopo no organismo. Primeiro, o 13 CO2 pode ser incorporado na síntese de uréia. Segundo, o 13CO2 pode ser incorporado em metabólitos intermediários como o oxalacetato ou malato 21, 22. E, finalmente o 13 CO2 pode participar de troca no sistema do bicarbonato ósseo, contribuindo para o aumento da sua concentração no pool ósseo, com conseqüente diminuição de seu fluxo plasmático. Estudo experimental em ratos23 demonstrou que após 120 minutos de infusão de NaH 14CO2, 7% a 10% é recuperado no esqueleto. Considerando o 13C incorporado na síntese de uréia, avaliamos dois grupos de acordo com os níveis de uréia e verificou-se que não houve diferença estatisticamente significante na fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado entre os grupos com níveis elevados e normais de uréia (p = 0,99). Considerando que o 13CO2 se dilui em um pool de biVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 carbonato preexistente, deve-se descartar uma possível interferência do valor basal do bicarbonato sérico na fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado obtida. Se o valor basal do bicarbonato é elevado, o 13C será diluído em um pool maior e, portanto a probabilidade de sua eliminação no ar expirado poderia ser menor do que nos casos em que o bicarbonato se encontrava em níveis menores. Quando analisou-se os grupos com bicarbonato baixo e elevado não se encontrou significância estatística entre eles (p = 0,25). Outros fatores podem interferir com a retenção do 13CO2 no organismo, como o exercício físico moderado e prolongado17, obesidade24,25, paciente em estado crítico13 estado de jejum ou pós-prandial. Não existe evidência documentada que indique qual é o padrão de recuperação do dióxido de carbono isotópico (13CO2 ou 14CO2) no ar expirado do paciente crítico vítima de sepse ou choque séptico. O delineamento experimental foi realizado com o objetivo de estudar pacientes vítimas de choque séptico entre o 2º e 5º dia de evolução em estabilidade hemodinâmica, recebendo terapia nutricional. A produção de CO2 também deve ser considerada como potencial fator de interferência na fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado. Essa variável pode ser afetada por vários fatores, principalmente a ventilação alveolar e o estresse oxidativo, por isso decidiu-se avaliar os pacientes selecionados de acordo com os valores de VCO2. Partindo-se do pressuposto que o 13CO2 é eliminado pelo pulmão, o valor do VCO 2 obtido pela calorimetria indireta poderia interferir na sua eliminação e conseqüentemente afetar a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado. O fator ventilação minuto alveolar provavelmente não interferiu nos valores do VCO 2 uma vez que o padrão ventilatório permaneceu estável e fisiológico durante todo o protocolo de estudo. Por outro lado, o fator peso corpóreo que afeta a quantidade de bicarbonato infundido e o processo oxidativo individual poderia alterar o valor do VCO 2. Sendo assim, nos pacientes com VCO2 mais elevados poderia ser esperada uma menor probabilidade de eliminação do 13CO2. Nesses casos, seria importante considerar esse fator limitante. Quando esta análise foi realizada verificou-se que apenas dois pacientes apresentaram VCO2 acima do normal (> 200 ml.min-1) e sete pacientes apresentaram VCO2 abaixo do normal e a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado foi semelhante entre os grupos. No presente estudo, a fração de recuperação 13CO2 foi de 0,68 ± 0,06 em pacientes sépticos recebendo terapia nutricional. Quando analisou-se grupos em estado grave, variáveis de acordo com o índice APACHE II e a graduação de sepse (Sepsis Score-SS), verificou-se que não houve diferença estatisticamente significativa entre eles (p = 0,62 e p = 0,99, respectivamente). O mesmo ocorreu quando avaliamos diferentes grupos selecionados de acordo com a idade (p = 0,81) e sexo (p = 0,25). O padrão de variação entre os pacientes avaliados foi de 8,8% demonstrando que o resultado foi bastante homogêneo na população estudada (Tabela 3). Esse dado é importante, pois, a população de pacientes sépticos é intrinsecamente heterogênea, no entanto, nesse contexto a heterogeneidade não interferiu com os resultados. O fator que provavelmente mais contribui para a fra- 135 RBTI / SESSÃO ESPECIAL TRABALHOS ORIGINAIS SELECIONADOS AO PRÊMIO RATTON ção de recuperação do 13CO2 no ar expirado é a taxa metabólica. Wolfe e col.16 relataram aumento na FR de 0,78 para 0,98 durante exercício intenso e prolongado. A mesma alteração foi encontrada por Hoerr e col.17 em resposta à dieta com correlação positiva entre VO 2, VCO 2, gasto energético real e os valores de fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado em adultos. Entretanto, Tissot e col.13 encontraram uma correlação positiva, porém fraca entre a FR e o VO2 e gasto energético real (ambas com r = 0,55) e não encontrou correlação entre FR e o VCO 2. Assim sendo, deve-se ter cuidado na interpretação desses dados devido ao risco de ocorrência de acoplamento matemático entre parâmetros que têm variáveis comuns26,27. Esse risco é particularmente maior para a correlação entre a Fração de recuperação (FR) e a produção de CO2 (VCO2) [FR = (VCO 2 x 13CO2 Enr)/(F x 0,99)]. Por outro lado, o volume minuto é uma variável comum para o cálculo da FR e do VO 2. No presente estudo houve uma correlação positiva, porém fraca entre o volume minuto e a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado (r=0,58) e uma melhor correlação entre o gasto energético real e a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado (r = 0,62) e o VO2 e a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado (r = 0,75). Esses resultados sugerem que a correlação entre essas últimas variáveis (Consumo de O 2 e fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado) não foi resultado de simples acoplamento matemático uma vez que a variável comum aos dois parâmetros (volume minuto) não se correlacionou com a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado. Considerando que o consumo de O2 (VO 2) é uma variável que se relaciona com sobrevida dos pacientes28, a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado poderia ter um papel semelhante, o que não foi evidenciado neste estudo, talvez pela casuística pequena. Esse raciocínio é particularmente relevante se inferir-se que uma fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado menor poderia estar relacionada com maior gravidade, ou seja, a menor recuperação do 13CO2 significando que o mesmo estaria sendo desviado para vias metabólicas alternativas que estariam agindo com o objetivo de resolver a lesão em questão. No entanto, até o presente momento, a recuperação incompleta do 13CO2 no ar expirado não está totalmente explicada porque não existem dados consistentes que documentem em qual compartimento orgânico o isótopo é perdido. É possível que uma significante porção do isótopo seja incorporada em vias metabólicas alternativas, as quais podem funcionar de maneira distinta de acordo com a condição patológica. Estudos devem ser realizados com o objetivo de elucidar valores de fração de recuperação em diferentes grupos de acordo com a idade, terapia nutricional e condições patológicas específicas com a finalidade de interpretar melhor a oxidação de substratos. Com isso, pode-se utilizar mais um caminho pouco explorado até então para alterar o prognóstico, validar novas modalidades terapêuticas e, quem sabe melhorar a sobrevida dos pacientes vítimas de sepse e choque séptico. Assim os resultados originais deste estudo permitem concluir que a fração de recuperação do 13CO2 em pacientes sépticos não é completa (0,68 ± 0,06) indicando que 136 ocorre retenção do isótopo no organismo. A gravidade do choque séptico de acordo com o índice APACHE II e o Escore de Sepse – SS parece não interferir com a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado. AGRADECIMENTOS Ao apoio financeiro adicional para a execução do presente projeto fornecido pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) e pela Fundação de Amparo ao Ensino Pesquisa e Assistência (FAEPA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Apesar dos grandes esforços para melhorar a sobrevida de pacientes sépticos, a sua taxa de mortalidade permanece elevada. Nesse contexto, a administração por via venosa contínua de bicarbonato de sódio isotópico (NaH13CO3) tem sido um instrumento que avalia a fração de recuperação (FR) do 13 CO2 no ar expirado, que é utilizada para a correção do cálculo de oxidação de substratos, como os aminoácidos. O objetivo desse estudo foi avaliar a FR do 13CO2 no ar expirado de pacientes sépticos sob ventilação mecânica. MÉTODO: Foram incluídos prospectivamente 10 pacientes (quatro homens e seis mulheres) com diagnóstico de choque séptico entre o 2º e 5º dia de evolução. A idade média foi de 55,1 ± 19 anos. O APACHE II médio foi de 25,9 ± 7,4 com risco de óbito de 60% ± 20%. O escore de sepse foi de 19,1 ± 4,2. Foi realizada coleta do CO 2 expirado basal e a calorimetria indireta. Uma dose inicial de 5 ml de NaH 13CO3 foi administrada, seguida de infusão contínua a 5 ml.h -1, durante 6 horas. Obteve-se seis medidas do VCO2, através de um calorímetro portátil acoplado a um ventilador e amostras horárias de ar expirado para a medida do 13CO2. RESULTADOS: Os pacientes apresentaram um valor médio VCO 2 de 182 ± 52 ml.min -1. A fração média de recuperação do 13CO2 no ar expirado foi de 0,68 ± 0,06. CONCLUSÕES: Estes resultados originais permitem concluir que a FR do 13CO2 em pacientes sépticos não é completa, indicando que ocorre retenção do 13CO2. A gravidade do choque séptico não está associada com a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado. Unitermos: Fração de recuperação do 13CO2, isótopo estável, choque séptico. REFERÊNCIAS 01. Parrillo JE - Myocardial depression during septic shock in humans. Crit Care Med, 1990;18:1183-1184. 02. Vincent JL, Van Der Linden P - Septic shock: particular type of acute circulatory failure. Crit Care Med, 1990;18:S70-S74. 03. Friedman G, Silva E, Vincent JL - Has the mortality of septic shock changed with time. Crit Care Med, 1998;26:2078-2086. 04. Rosenfeld RS - Alterações Metabólicas e Nutricionais no Paciente Crítico, em: Loss S, Ferro HC, Azevedo JR - Nutrição Parenteral e Enteral em UTI - Clínicas Brasileiras de Medicina Intensiva, São Paulo, Atheneu, 2001;311-334. 05. Wolfe RR, Durkot MJ, Allsop JR et al - Glucose metabolism in severely burned patients. Metabolism, 1979;28:1031-1039. 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METHODS: This was a prospective study in an Intensive Care Unit of a University Hospital, evaluating three ALI/ARDS patients. Scanographic measurements were done, using special software (Lungview), during HFV and conventional ventilation with or without PEEP, in a randomised order. In HFV and PEEP mean airway pressure was kept constant. Lung density histograms were plotted. Alveolar recruitment was calculated as the percentages of air that entering in sick lung areas. Overinflation was calculated as lung volume under –900 Hounsfield units. RESULTS: Lung density histograms were similar in both conditions. Alveolar recruitment was 49 ± 35% versus 48 ± 27% and overinflation was15 ± 5 ml (0.4 ± 0.1 %) and 2 ± 2 ml (0.1 ± 0.1%) in HFV and PEEP, respectively. CONCLUSIONS: In the three patients evaluated application of HFV and conventional mechanical ventilation with PEEP showed, for the same mean airway pressure, similar lung density histograms as well as similar level of alveolar recruitment and lung overinflation. Key Words: acute respiratory distress syndrome, acute lung injury, high frequency ventilation, positive-end expiratory pressure, alveolar recruitment, lung overinflation. M echanical ventilation can have deleterious effects in patients with acute respiratory distress syndrome (ARDS) or acute lung injury (ALI)1. This has raised concerns about the conventional ventilatory management of this syndrome and high-frequency ventilation (HFV) may offer an attractive alternative to conventional strategies because it minimizes lung injury2. HFV is a form of mechanical ventilation in which small tidal volumes (1 to 5 ml per kilogram) are administered at high rates (60 to 3600 cycles per minute. While applying small and frequent tidal volumes, it maintains the respiratory system between the lower and the upper inflection points from the pressure-volumes (P-V) curves2, making good physiologic sense in the management of ARDS. Clinical trials did not show benefits in mortality principally in adult patients with ALI or ARDS3-8. Nevertheless it has been used as a ventilatory mode for managing this syndrome not only in pediatric but also in adult patients9-16. The goals of mechanical ventilation in ARDS patients are to recruit damaged lung tissue causing the least lung overinflation in order to prevent barotrauma. Some studies have been done in the last years measuring alveolar recruitment and overinflation associated to conventional mechanical ventilation with positive end-expiratory pres- sure (PEEP), using CT scan measurements. It has been demonstrated that PEEP can induce alveolar recruitment17,18 but also that, at least sometimes, it can be associated with lung overinflation19-21, defining overinflation as lung volumes above –900 Hounsfield units (HU) in lung density histograms. There is no study, in our days, evaluating scanographic measurements of recruitment and overinflation induced by HFV. The goal of this study was to compare alveolar recruitment and lung overinflation induced by HFV versus conventional mechanical ventilation with PEEP, in three patients with ALI or ARDS. METHODS The study was designed to include patients with ARDS or ALI, defined according to the consensus conference (22), with diffuse radiological manifestations in CT scans examinations and with a lower inflection point in P-V curves. Patients with hemodynamic instability, heart failure, acute coronary insufficiency, chronic obstructive pulmonary disease (COPD), severe head injury and having a chest tube with air leak were excluded. The protocol was approved by the Comité Consultatif de 1. Professor of Internal Medicine, Department of Internal Medicine, Faculty of Medicine, Federal University from Rio Grande Do Sul, Intensive Care Unit, Hospital de Clinicas de Porto Alegre, Brazil. 2. Praticien Hospitalier, Surgical Intensive Care Unit Pierre Viars, Research Coordinator, La Pitié-Salpétrière Hospital, University of Paris VI, Paris, France 3. Professor of Anesthesiology and Critical Care Medicine, Director of the Surgical Intensive Care Unit Pierre Viars, La Pitié-Salpétrière Hospital, University of Paris 6, Paris, France * Received from the Surgical Intensive Care Unit, Department of Anesthesiology, Pitié-Salpêtrière Hospital, University of Paris VI, France. Received 28th June 2004 - Accepted 17th August 2004 Address for correspondence: Profa Dra Silvia Regina Rios Vieira - Rua São Luis, n° 1127/501 - 90620-170 Porto Alegre, RS, Brazil - E-mail : [email protected] 138 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Protection des Personnes dans la Recherche Biomédicale of la Pitié-Salpêtrière Hospital (Paris, France) and written informed consent was obtained from each patient’s next of kin. During the study, all patients were treated according to the routine from the Intensive Care Unit (ICU). They were sedated, paralyzed, orally intubated with a HI-Lo Jet number 8 Mallinckrodt tube (Mallinckrodt Inc; Argyle, NY, USA) and under mechanical ventilation. In all patients hemodynamic measurements were monitored using a fiberoptic thermodilution pulmonary artery catheter and a radial or femoral arterial catheter. P-V curves were obtained according to a constant flow technique23 and used to determine the lower inflection point. Patients were evaluated during conventional ventilation without (ZEEP) or with PEEP and during high frequency jet ventilation (HFV) in a randomised order. Conventional mechanical ventilation was performed with a César Ventilator, (Taema, France). Connections between the endotracheal tube and the ventilator were removed as well as the filter, replaced by a hot humidificator. Ventilatory parameters were: FIO2 1, I/E ratio 0.40, no inspiratory pause, respiratory rate at the limit of intrinsic PEEP, tidal volume between 6 and 8 mL/kg in order to keep PaCO2 value between 35 and 45 mmHg, plateau pressure below 30 cmH2O and PEEP 2 cmH2O above the lower inflection point. A sigh was administered 4 times a minute using 1.5 times the tidal volume, in order to reproduce conditions from HFV. With those ventilatory parameters mean airway pressure (measured in the distal portion from the endotracheal tube) and PaCO2 were unregistered and used as reference for HFV adjustments. HFV was performed using an AMS 1000 ventilator (Acutronic Medical Systems AG, Hirzel, Switzerland). Rewarming and humidification of gases were provided by an HH-812 jet humidifier (Acutronic Medical Systems AG, Hirzel, Switzerland). Additional conventional ventilation was obtained using a CPU 1 ventilator (Ohmeda, Maurepas, France). In HFV pressure and I:E ratio were adjusted in order to achieve the reference mean airway pressure measured in conventional ventilation. In the same way, tidal volume and respiratory rate were adjusted to achieve the same PaCO2 measured in conventional ventilation ± 5 mmHg. HFV was done in the proximal channel from the Mallinckrodt tube. Conventional ventilation was maintained with a volume of 100 mL, I/E ratio 1/15, respiratory rate 4 breaths per minute. Measurements of mean airway pressure in the distal portion from the endotracheal tube did not take in account the breaths from conventional ventilation. Data collected were: age; Simplified Acute Physiologic Score (SAPS II)24; Lung Injury Severity Score (LISS)25; cardiorespiratory measurements as well as CT acquisition unregistered as in other previous protocols19-21,23,26-28. Scanographic assessment was done using specifically designed software (Lungview) according to previous description21,26-28. Lung density histograms were plotted in the three conditions studied. Total and partial lung volumes and the volume of gas and tissue were measured and calculated as percentage of the total lung volume. As previously described19,20 different lung regions were defined as: nonaerated (–100 to +100 HU), poorly aerated (–100 to –500 HU), normally aerated (–500 Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 to –900HU) and overinflated (–900 to –1000 HU). Alveolar recruitment was calculated as the percentage of air going into sick lung areas, according to the method proposed by Malbouisson et al.28. Cardiorespiratory measurements were unregistered after one hour periods and CT acquisitions were taken after fifteen minute periods, in the following order, according to randomization: ZEEP, PEEP or HFV, ZEEP and PEEP or HFV. In PEEP and HFV they were compared in the same level of mean airway pressure. RESULTS During one year only three patients (mean age 47 ± 19 years, SAPS score 29 ± 10 and a LISS score 3 ± 0.6) fulfilled the inclusion and non-exclusion criteria. Two of them had ALI (PaO2/FIO2 = 258 and 247) and one ARDS criteria (PaO2/ FIO2 = 145). The three patients survived. The mean airway pressure during PEEP or HFV was 21 ± 7 cm H2O. The mean PEEP level used was 15 ± 5 cmH2O. The tidal volume was 713 ± 80 mL in ZEEP, 647 ± 50 ml in PEEP and 122 ± 39 in HFV. The respiratory rate was 18 ± 6 in ZEEP, 19 ± 5 in PEEP and 187 ± 23 in HFV. The most important cardiorespiratory and lung volume measurements in ZEEP, PEEP and HFV are shown in table 1. The measurements obtained in HFV and in PEEP were similar, but some small differences could be seen when both conditions were compared: arterial pressure and systemic vascular resistance were slightly lower; pulmonary pressure, pulmonary vascular resistance, PaCO2 and Qs/Qt were slightly higher in HFV. Alveolar recruitment was the same in HFV and PEEP. The volume of overinflation was slightly greater with HFV but similar when calculated in percentage over total lung volume. The lung density histograms obtained in the three conditions are shown in figure 1. There was no difference comparing HFV and PEEP, in the three patients described. DISCUSSION In the three patients studied application of conventional mechanical ventilation with PEEP and HFV had, for a same mean airway pressure, the same level of alveolar recruitment and overinflation. Previous results concerning clinical studies with HFV demonstrated very good results concerning oxygenation, being better than conventional ventilation with PEEP and, sometimes, lifesaving. It is true both when it is done as high frequency jet ventilation14 or as high frequency oscillation11,13. Considering its physiological basis, HFV is a ventilatory strategy that maintains the respiratory system between the lower and the upper inflection points from pressure-volume curves2. Taking in account this information one could hypothesize that HFV can induce the same or greater alveolar recruitment than PEEP with less risk of overinflation. This hypothesis was not observed in the three patients described here. Despite the small number of patients, this report was the first one showing lung density histogram during HFV and trying to quantify alveolar recruitment and lung overinflation with this ventilatory strategy, using the same sca- 139 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Table 1 – Cardiorespiratory Parameters and Lung Volumes in ZEEP, HFV and PEEP in the Three Patients Studied ZEEP HFV PEEP HR (bpm) 90 ± 20 88 ± 18 84 ± 22 MAP (mmHg) 93 ± 13 83 ± 14 89 ± 19 MPAP (mmHg) 29 ± 4 34 ± 1 29 ± 4 PAOP (mmHg) 16 ± 4 15 ± 5 12 ± 5 CI (L.min-1.m-2) 4.0 ± 1.6 3.2 ± 0.5 3.1 ± 0.7 SVR (dynes.s.cm .m ) 2004 ± 1383 1845 ± 791 2200 ± 1232 -5 2 PVR (dynes.s.cm .m ) 303 ± 151 489 ± 210 449 ± 152 PaCO2 (mmHg) 38 ± 10 46 ± 8 38 ± 4 PaO2 (mmHg) 217 ± 62 283 ± 56 295 ± 20 PaO2 + PaCO2 (mmHg) 254 ± 66 329 ± 64 333 ± 22 DO2 (mL.min .m ) 500 ± 165 417 ± 41 405 ± 66 VO2 (mL.min-1.m-2) 111 ± 35 109 ± 10 121 ± 13 Qs/Qt (%) 35 ± 5 30 ± 6 24 ± 4 Total lung volume (mL) 1630 ± 459 2555 ± 883 2729 ± 725 -5 -1 2 -2 Overinflated volume (mL) 0 ± 0 15 ± 5 2±2 (%)* Normally aerated volume (mL) (%)* 0±0 0.4 ± 0.1 0.1 ± 0.1 402 ± 270 1764 ± 683 1965 ± 501 26 ± 15 68 ± 5 72 ± 6 Poorly aerated volume (mL) 705 ± 248 335 ± 58 329 ± 69 (%)* 14 ± 3 12 ± 2 Non-aerated volume (mL) 523 ± 266 442 ± 138 433 ± 217 (%)* 18 ± 3 16 ± 5 49 ± 35 48 ± 27 Recruitment** (%)* 44 ± 9 31 ± 9 ZEEP= Zero PEEP; PEEP= Positive end-expiratory pressure; HFV= high frequency ventilation; HR = heart rate; MAP = mean arterial pressure; MPAP = mean pulmonary artery pressure; PAOP = pulmonary artery occlusion pressure; CI = cardiac index; SVR = indexed systemic vascular resistance; PVR = indexed pulmonary vascular resistance; PaCO2 = arterial pressure of CO2; PaO2 = arterial pressure of oxygen; DO2 = oxygen delivery; VO2 = oxygen consumption; Qs/Qt = pulmonary shunt; * percentages over the total lung volume; ** recruitment calculated according to Malbouisson et al [Malbouisson, 2001 #1988]. nographic methods previously described for conventional ventilation with PEEP19,20,28. Maintaining the same mean airway pressure, lung density histograms were superimposable as well as the calculated volume of recruitment and overinflation. The limitations of this report are that, till now, only three patients were included. Therefore, no definitive conclusion could be established from the observations described. A greater number of patients have to be enrolled in order to confirm the tendency observed here. In the same way, other protocols have to be considered using, for instance, the same plateau pressure instead of the same mean airway pressure. In conclusion, we have described three patients in whom HFV was compared by CT scan methods with conventional mechanical ventilation with PEEP and, for the same mean airway pressure, both ventilatory methods showed similar lung density histograms as well as the same amount of alveolar recruitment and lung overinflation. 140 Figure 1: Individual lung density histograms in the 3 conditions; ZEEP = Zero PEEP; PEEP = Positive end-expiratory pressure; HFV = high frequency ventilation. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A ventilação de alta freqüência (HFV) pode oferecer uma alternativa às estratégias ventilatórias convencionais em pacientes com síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) ou lesão pulmonar aguda (LPA), pois pode minimizar a lesão pulmonar. Como mantém a ventilação entre os pontos de inflexão inferior e superior, pode assegurar recrutamento e reduzir a possibilidade de hiperinflação. O objetivo deste estudo foi comparar o recrutamento alveolar e a hiperinflação induzidos pela HFV versus ventilação mecânica convencional com pressão expiratória final positiva (PEEP), em três pacientes com LPA/ SARA. MÉTODO: Foi realizado um estudo prospectivo em uma Unidade de Tratamento Intensivo de um Hospital Universitário, avaliando três pacientes com LPA/SARA. Medidas tomográficas foram realizadas, utilizando um programa especial (Lungview), durante HFV e ventilação convencional com ou sem PEEP, em ordem aleatória. Durante HFV e PEEP a pressão média de vias aéreas era mantida constante. Foram comparados os histogramas de densidade pulmonares. O recrutamento alveolar foi calculado como a quantidade de ar que penetrava nas áreas pobremente e não aeradas. A hiperinflação foi calculada como o volume pulmonar com densidade abaixo de –900 unidades Hounsfield. RESULTADOS: Os histogramas pulmonares foram similares em HFV e em PEEP. O percentual de recrutamento foi de 49 ± 35% versus 48 ± 27% e os valores de hiperinflação foram 15 ± 5 ml (0.4 ± 0.1 %) e 2 ± 2 ml (0,1 ± 0,1%), respectivamente em HFV e PEEP. CONCLUSÕES: Nos três pacientes estudados, a aplicação de HFV ou de ventilação mecânica convencional com PEEP mostrou, para a mesma pressão média de via aérea, RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL histogramas de densidade pulmonares similares, bem como níveis semelhantes de recrutamento alveolar e de hiperinflação pulmonar. Unitermos: Síndrome da angústia respiratória aguda; lesão pulmonar aguda; ventilação de alta freqüência; pressão expiratória final positiva; recrutamento alveolar, hiperinflação pulmonar. REFERENCES 01. Rouby JJ, Lherm T, Martin de Lassale E et al - Histologic aspects of pulmonary barotrauma in critically ill patients with acute respiratory failure. Intensive Care Med, 1993;19:383-389. 02. 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The objectives of this study were to compare MIP assessed by one-way valve and conventional methods and evaluate their learning effects, in patients under weaning, mechanical ventilation . METHODS: Then patients were evaluated, age means 44 ± 12 years. Consecutive patients under weaning, mechanical ventilation , conscious and cooperative, admitted in a 6 month period in an adult ICU. MIP was measured by both methods in a randomized sequence, through 10 measures each. The best values of 10 measures (MIP10) and first 3 measures (MIP3) from both methods were selected to statistical analysis. RESULTS: The MIP measured by conventional method was 48.9 ± 18.4 cmH2O and by one-way valve was 62 ± 19.8 cmH2O (p < 0.003). The MIP3 and MIP10 measured by conventional method were, respectively, 45.1 ± 16.4 cmH2O and 48.9 ± 18.4 cmH2O (p < 0.02) and by one-way valve method, 60.1 ± 19.9 cmH2O and 62 ± 19.8 cmH2O (p = 0.06). CONCLUSIONS: The one-way valve method is the best method for MIP assessment in patients under weaning, mechanical ventilation because it produces larger values and has no learning effect. Key Words: Maximal Inspiratory Pressure, Respiratory Muscles, Weaning, Mechanical Ventilator A mensuração da Pressão Inspiratória Máxima (PImax) é um método efetivo para a avaliação da força muscular inspiratória1. O método mais comum para se mensurar a PImax é através da manutenção de pressão negativa máxima por pelo menos um segundo após uma expiração forçada até o volume residual, contra uma via aérea ocluída2, com valores registrados em manovacuômetro analógico ou digital. Esse método é amplamente utilizado ambulatoriamente em pacientes respirando espontaneamente, tendo a particularidade de necessitar a colaboração do paciente. Em Unidades de Terapia Intensiva a PImax tem-se mostrado como um dos índices preditivos de sucesso no desmame da ventilação mecânica invasiva3-5. Sahn e Lakshminarayan6, mostraram que pacientes capazes de gerar pressões menores que -30 cmH2O obtiveram sucesso no desmame da ventilação mecânica invasiva e aqueles incapazes de gerar uma pressão de pelo menos -20 cmH2O não obtiveram sucesso no desmame. Em pacientes submetidos à ventilação mecânica a avaliação da PImax por esse método convencional torna-se difícil em virtude da dificuldade do paciente em cooperar, fato que pode comprometer a acurácia das medidas. Para resolver esse problema, Truwit e Marini7 desenvolveram uma técnica que otimiza o esforço inspiratório de pacientes críticos e não cooperativos. Esses autores propõem a utilização de uma válvula expiratória unidirecional onde a expiração é permitida sem resistência e a inspiração é bloqueada. Isso faz com que o paciente inicie sucessivos esforços inspiratórios progressivamente mais próximos do volume residual, gerando uma pressão negativa cada vez maior. Esse método envolve menor coordenação entre o paciente e o avaliador porque representa uma resposta fisiológica (aumento do drive respiratório depois de uma inspiração prévia insuficiente), podendo ser utilizado em pacientes incapazes de colaborar para a realização da manobra de PImax pelo método convencional. Caruso e col.8 compararam a técnica convencional e a válvula unidirecional, encontrando uma PImax maior quando medida pelo método da válvula unidirecional. Porém, diante do pequeno número de manobras realizadas em cada modalidade, os resultados encontrados poderiam não refletir a realidade em virtude de um possível efeito aprendizado existente nas técnicas. 1. Residente em Fisioterapia Pulmonar do Hospital Universitário Regional Norte do Paraná / UEL 2. Fisioterapeuta da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Regional Norte do Paraná / UEL 3. Docente do Curso de Fisioterapia da UEL 4. Docente do Curso de Fisioterapia da UEL e da UNOPAR * Recebido do Hospital Universitário Regional Norte do Paraná, Londrina, PR Apresentado em 11 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 27 de setembro de 2004 Endereço para correspondência: Wellington Pereira dos Santos Yamaguti - Av. Robert Kock, 60 - 86038-440 Londrina, PR. - Fone: (43) 3371-2477 - Fax: (43) 3371- 5100 - E-mail: [email protected] 142 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Dessa forma, os objetivos desse estudo foram comparar a PImax obtida pelo método convencional e pelo método da válvula unidirecional em pacientes em processo de desmame da ventilação mecânica invasiva e avaliar o possível efeito aprendizado existente em ambos os métodos. MÉTODO O estudo foi desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNPr), tendo sido previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do referido hospital. Todos os pacientes internados e em processo de desmame de ventilação mecânica durante um período de 6 meses foram avaliados. Os pacientes selecionados para o estudo deveriam, necessariamente, utilizar via aérea artificial, apresentar condições clínicas aceitáveis para o desmame de ventilação mecânica, apresentar bom nível de entendimento e compreensão, estar hemodinamicamente estável e concordar em participar do estudo por meio de um termo de consentimento. Foram excluídos do estudo pacientes que apresentassem contra-indicações para a realização de manobra inspiratória forçada (hipertensão intracraniana e instabilidade da caixa torácica) e aqueles que apresentassem sinais clínicos de fadiga muscular inspiratória ou qualquer sintoma de intolerância durante a realização das manobras. O protocolo de desmame da ventilação mecânica foi realizado de maneira padronizada em todos os pacientes, utilizando-se da modalidade de pressão de suporte ventilatório. Foi utilizado um manovacuômetro digital (MVD500, Porto Alegre, Brasil) capaz de registrar pressões de até -300 cmH2O, calibrado contra uma coluna de mercúrio antes do início da coleta de dados e semanalmente durante as mensurações. Na mensuração da PImax pelo método convencional, o manovacuômetro era acoplado a um tudo “T”, com uma saída fechada e a outra acoplada ao tubo endotraqueal do paciente. Na mensuração pelo método da válvula unidirecional, uma das saídas do tubo “T” era acoplada ao tubo endotraqueal e a outra a uma válvula unidirecional de baixa resistência que permitia apenas a expiração seletiva. Os pacientes com requisitos para participarem do estudo foram encaminhados pelo corpo clínico da UTI adulto aos pesquisadores responsáveis pela coleta de dados. Após contato inicial, os pacientes receberam as explicações para a autorização em participar do estudo e orientados quanto aos procedimentos que seriam realizados. O método a ser inicialmente aplicado foi definido previamente por alocação aleatória. Antes da realização das medidas era avaliada a condição da via aérea artificial e, quando necessário, era realizada a aspiração de secreções brônquicas e/ou ajuste de pressão do balonete. Durante a realização das mensurações de PImax, os pacientes permaneceram sentados em semi-decúbito de 45º e foram constantemente incentivados verbalmente de maneira padronizada. Após a realização do teste prévio, ocorria um intervalo de 20 minutos antes da realização do segundo teste, período em que o paciente permanecia conectado ao ventilador e em modalidade de desmame. Método convencional: o paciente era desconectado do ventilador mecânico e conectado ao manovacuômetro. SoliVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 citava-se para o paciente realizar uma expiração prolongada até próximo do volume residual (permitida pela não oclusão total da saída do manovacuômetro), seguida de um esforço inspiratório máximo com a conexão totalmente ocluída durante cerca de 2 a 3 segundos. Método da válvula unidirecional: o paciente era desconectado do ventilador mecânico e conectado ao tubo “T” acoplado à válvula unidirecional com a entrada inspiratória totalmente ocluída. Era solicitado ao paciente para que tentasse inspirar e expirar com o máximo esforço durante cerca de 20 segundos. Foram realizadas um total de 10 manobras de PImax para cada um dos métodos pelo mesmo investigador, com um intervalo de um minuto entre cada manobra. Durante esses intervalos o paciente era reconectado ao ventilador mecânico. Foi selecionado o maior valor obtido de 10 mensurações para a comparação entre os métodos. Também foi selecionado o maior valor das três primeiras medidas (PImax3) para a comparação com o maior valor de 10 medidas (PImax10) em cada um dos métodos, com o intuito de verificar a existência de efeito aprendizado nas diferentes técnicas. ANÁLISE ESTATÍSTICA A normalidade da distribuição dos valores foi avaliada através do teste de Shapiro-Wilk, seguido da aplicação do teste t de Student para dados pareados (distribuição gaussiana) ou do teste de Wilcoxon (distribuição não-gaussiana) para comparar os valores de PImax obtidos pelos métodos convencional e da válvula unidirecional, além de comparar os maiores valores obtidos nas três primeiras medidas (PImax3) com os maiores valores de 10 medidas (PImax10) em ambos os métodos, considerando nível de significância para p < 0,05. RESULTADOS Foram avaliados um total de 10 pacientes que atendiam a todos os critérios de inclusão. As características dessa população estão descritas na tabela 1. Tabela 1 – Características da População Estudada Idade (anos) * Peso (kg) * Altura (cm) * Sexo Masculino Feminino Período sob ventilação mecânica invasiva (h) * Critério de admissão na UTI Pacientes em pós-operatório Paciente com insuficiência respiratória aguda 44 ± 12 70 ± 49 158,5 ± 6,9 3 7 60 ± 50 6 4 * Valores expressos pela Média ± DP O valor médio da PImax obtida pelo método convencional foi 48,9 ± 17,5 cmH2O e o valor médio da PImax obtida pelo método da válvula unidirecional foi de 68,4 ± 28,5 cmH2O, apresentando diferença estatisticamente significativa (Wilcoxon, p < 0,003) (Figura 1). 143 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Figura 1 - Valores de PImax Medidos pelo Método Convencional e pelo Método da Válvula Unidirecional * - diferença estatisticamente significante (p < 0,003) No método convencional, quando se comparou a PImax3 (45,4 ± 15,6 cmH2O) com a PImax10 (48,9 ± 17,5 cmH2O) observou-se uma diferença estatisticamente significativa entre os valores (Wilcoxon, p < 0,02). Já no método da válvula unidirecional, não foi observada diferença estatisticamente significativa (Wilcoxon, p = 0,0656) entre a PImax3 (63,2 ± 27,4 cmH2O) e a PImax10 (68,4 ± 28,5 cmH2O) (Figura 2). Figura 2 – Comparação entre a PImax10 e a PImax3 Mensuradas pelo Método Convencional e pelo Método da Válvula Unidirecional * - diferença estatisticamente significante entre PImax3 e PImax10 no método convencional (p < 0,02) DISCUSSÃO Esse estudo teve como proposta verificar qual dos dois métodos é capaz de determinar maiores valores de PImax em pacientes ventilados artificialmente. Os resultados mostram que a PImax mensurada pelo método da válvula unidirecional é significativamente maior que a PImax mensurada pelo método convencional. No estudo de Caruso e col.8, o valor da 144 PImax mensurada pela válvula unidirecional foi aproximadamente 30% maior que a PImax mensurada pelo método convencional, apresentando um valor muito próximo ao presente estudo (diferença de 27%). Fica evidente, então, que avaliação pelo método convencional subestima a PImax em pacientes intubados e que a comparação com valores de normalidade1,9 (onde a PImax foi avaliada em indivíduos saudáveis e através do método convencional) fica prejudicada quando se utiliza o método da válvula unidirecional. Tentando excluir a influência do efeito aprendizado, foram realizados nesse estudo 10 manobras de PImax para cada método, selecionando o maior valor para a comparação dos resultados. A diferença entre a PImax obtida pelos dois métodos se manteve, mesmo selecionando o melhor valor obtido em 10 mensurações. Isso evidencia que outras variáveis devem ser responsáveis por essa diferença. Conforme discutido por Caruso e col.8, estímulo ao drive respiratório decorrente de estímulos mecânico pulmonar e metabólico por retenção de dióxido de carbono, além da realização da manobra em volume pulmonar próximo ao volume residual, fazem com que maiores valores sejam atingidos utilizando-se o método da válvula unidirecional. Caruso e col.8 realizaram apenas três medidas de PImax para cada método, selecionando o maior valor para a análise estatística e discutem sobre a possibilidade do valor de PImax obtido pelo método convencional ter sido subestimado por um possível efeito aprendizado existente nessa técnica. Alguns estudos realizados com indivíduos saudáveis ou pacientes respirando espontaneamente, utilizando-se do método convencional, mostraram que é necessária a realização de dez ou mais manobras para se anular o efeito aprendizado10,11. A partir dessas afirmações, apresenta-se a hipótese de que a realização de apenas três medidas de PImax pode não ter sido suficiente para a obtenção de um valor máximo no método convencional, sendo esse fator uma possível explicação para a diferença encontrada entre a PImax obtida pelos dois métodos. Para verificar a existência de efeito aprendizado em ambos os métodos, foram comparados os maiores valores de PImax obtidos em 3 e em 10 mensurações em ambos os métodos. No método convencional ocorreu uma diferença estatisticamente significativa entre a PImax3 e a PImax10, sugerindo a existência de efeito aprendizado na aplicação desse método. E essa diferença pode ter sido encontrada pelo fato da técnica convencional depender da colaboração e da motivação do paciente. Quando comparada a PImax3 com a PImax10 no método da válvula unidirecional, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa, sugerindo a ausência de efeito aprendizado nesse método. Tal resultado pode sugerir que essa técnica depende exclusivamente de fatores não controlados pelo paciente. Sendo assim, a realização de apenas três mensurações no método da válvula unidirecional foi suficiente para se obter o maior valor da PImax. Os resultados deste estudo podem ser generalizados para todos os tipos de pacientes em processo de desmame de ventilação mecânica, inclusive os não colaborativos. Há que se ressaltar que o tamanho reduzido da população de estudo pode ter influência nos valores encontrados em função de um menor poder estatístico, mas como evidenciado pelas baixas possibilidades de valores determinados pelo acaso (p < 0,05), RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL a tendência de maiores valores produzidos pelo método da válvula unidirecional e do relevante efeito aprendizado do método convencional ficam claros. CONCLUSÃO Diante do exposto, conclui-se que o método da válvula unidirecional é o mais adequado para a determinação da pressão inspiratória máxima de indivíduos submetidos ao desmame da ventilação mecânica invasiva, uma vez que apresenta maiores valores e não sofre influência de efeito aprendizado. AGRADECIMENTOS A Joseane Lopes pelo auxílio na redação do summary. valores obtidos nas 10 medidas (PImax10) e nas 3 primeiras medidas (PImax3) de cada método foram selecionados para análise estatística. RESULTADOS:. A PImax obtida pelo método convencional foi 48,9 ± 18,4 cmH2O e pela válvula unidirecional foi de 62 ± 19,8 cmH2O (p < 0,003). A PImax3 e PImax10 obtidas pelo método convencional foram, respectivamente, 45,1 ± 16,4 cmH2O e 48,9 ± 18,4 cmH2O (p < 0,02) e pela da válvula unidirecional, 60,1 ± 19,9 cmH2O e 62 ± 19, 8 cmH2O (p = 0,06). CONCLUSÕES: O método da válvula unidirecional é o mais adequado para mensuração da PImax em pacientes submetidos ao processo de desmame de ventilação mecânica invasiva, uma vez que produz maiores valores e não possui efeito aprendizado. Unitermos: Desmame de Ventilador Mecânico, Músculos Respiratórios, Pressão Inspiratória Máxima LISTA DE ABREVIAÇÕES REFERÊNCIAS PImax PImax3 PImax10 Pressão Inspiratória Máxima Maior valor de PImax nas 3 primeiras medidas Maior valor de PImax nas 10 medidas RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A avaliação da Pressão Inspiratória Máxima (PImax) é um método efetivo para estimar a força dos músculos inspiratórios, sendo empregado como índice preditivo para desmame de ventilação mecânica. Os objetivos desse estudo foram comparar a PImax obtida pelo método convencional e pelo método da válvula unidirecional em pacientes em processo de desmame de ventilação mecânica e avaliar o possível efeito aprendizado. MÉTODO: Foram avaliados 10 pacientes, com idade média de 44 ± 12 anos. Todos estavam em processo de desmame de ventilação mecânica invasiva, conscientes e cooperativos, internados por um período de 6 meses na UTI adulto. A PImax foi medida pelos dois métodos de forma aleatória, sendo realizadas 10 mensurações de cada método. Os maiores Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 01. Black LF, Hyatt RE - Maximal respiratory pressures: normal values and relationship to age and sex. Am Rev Respir Dis, 1969; 99:969-974. 02. Black LF, Hyatt RE - Maximal respiratory pressures in generalized neuromuscular disease. Am Rev Respir Dis, 1971;103:641-650. 03. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J Pneumol, 2000;26:(Supl2):S1-S68. 04. Feeley TW, Hedley-White J - Weaning from controlled ventilation and supplemental oxygen. N Engl J Med, 1975;292:903-906. 05. Yang KL, Tobin MJ - A prospective study of indexes predicting the outcome of trials of weaning from mechanical ventilation. N Engl J Med, 1991;324:14451450. 06. Sahn SA, Lakshminarayan S - Bedside criteria for discontinuation of mechanical ventilation. Chest, 1973;63:1002-1005. 07. Truwit JD, Marini JJ - Validation of a technique to assess maximal inspiratory pressure in poorly cooperative patients. Chest, 1992;102:1216-1219. 08. Caruso P, Friedrich C, Denari S et al - The unidirectional valve is the best method to determine maximal inspiratory pressure during weaning. Chest, 1998;115:1096-1101. 09. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC et al - Reference values for lung function tests. II. Maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Braz J Med Biol Res, 1999;32:719-727. 10. Wen AS, Woo MS, Keens TG - How many maneuvers are required to measure maximal inspiratory pressure accurately? Chest, 1997;111:802-807. 11. Fiz JA, Montserrat JM, Picado C et al - How many maneuvers should be done to measure maximal inspiratory mouth pressure in patients with chronic airflow obstruction? Thorax, 1989; 44:419-421. 145 RBTI / ARTIGO ORIGINAL O Uso de Baixos Níveis de Pressão Suporte Influencia a Avaliação de Parâmetros de Desmame?* Low Levels of Pressure Support Can Influence Evaluation of Weaning Parameters? Júlio Flávio Fiore Júnior1; Ana Carolina Serigatto de Oliveira2; Emerson Pinho3; Edson Benassule3; Juliana Francischini4; Luciana Dias Chiavagato5. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Investigate whether pressure support ventilation when used in minimal levels to compensate additional work of breathing caused by endotracheal tube can influence the evaluation of weaning parameters. METHODS: Twenty-six patients considered ready for extubation in post-operative period of cardiac surgery were evaluated. All patients underwent evaluation of respiratory rate, tidal volume, minute volume and rapid shallow breathing index after 30 minutes of spontaneous breathing in a T-piece and after 30 minutes of ventilation under pressure support adjusted in minimal levels to compensate endotracheal tube resistance (7 cmH2O). These trials were applied in a random order. RESULTS: The values of respiratory rate (p < 0.01), minute volume (p < 0.05) and rapid shallow breathing index (p < 0.01) were significantly lower and tidal volume were significantly higher (p < 0.01) when measured after ventilation under pressure support compared to 30 minutes T-piece spontaneous breathing. CONCLUSIONS: The evaluation of respiratory rate, tidal volume, minute volume and rapid shallow breathing index is influenced by the use of pressure support ventilation even when adjusted to compensate endotracheal tube resistance. It’s recommended to obey rigorously the methodology used in the studies that originally described the weaning parameters to avoid prejudice to its predictive value. Key Words: pressure support, mechanical ventilation, weaning. A determinação do momento ideal para a interrupção da ventilação mecânica (VM) é um desafio para os profissionais de terapia intensiva, sendo necessária a distinção entre os pacientes aptos a tolerar a ventilação espontânea daqueles que necessitam prosseguir com o suporte ventilatório1,2. A retirada precoce da VM permite diminuir os riscos associados ao procedimento, tais como infecções nosocomiais, estenose traqueal, barotrauma e toxicidade pelo oxigênio2-4, porém, a desconexão prematura pode exacerbar a instabilidade cardiorrespiratória e piorar o prognóstico do paciente3,4. Para orientar esta decisão diversos parâmetros foram propostos com o intuito de predizer o sucesso ou a falha no desmame da ventilação mecânica. Os estudos que descrevem os parâmetros de desmame e seus valores de referência, em sua grande maioria, realizam a avaliação com o paciente respirando espontaneamente através de tubo T5-9, no entanto, o uso de suporte ventilatório durante a avaliação é freqüente na prática clínica. O estudo de Rodrigues e col.10 mostrou que nas unidades de terapia intensiva da cidade de São Paulo o modo pressão suporte (PS) é extensivamente utilizado durante a avaliação dos parâmetros de desmame, com níveis de pressão variando entre 6 e 12 cmH2O. Alguns estudos sugerem que a avaliação de parâ- metros de desmame na vigência de suporte pressórico pode subestimar os valores encontrados na avaliação e prejudicar a acurácia preditiva dos parâmetros. El-Khatib e col.11 mostraram que o valor do índice de ventilação rápida e superficial (IRRS) é subestimado quando a avaliação é realizada com o paciente conectado ao ventilador mecânico no modo pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Lee e col.12 avaliaram o IRRS com pacientes conectados ao ventilador no modo CPAP ou PS mostrando prejuízo na acurácia preditiva do índice, porém, sem descrever os níveis de suporte pressórico utilizados. O modo pressão suporte é muitas vezes utilizado para compensar a resistência e o trabalho ventilatório impostos pelo tubo orotraqueal durante o desmame. Isso permitiria que o padrão ventilatório do paciente após a extubação traqueal fosse estimado antes da desconexão do ventilador5. Os estudos de Fiastro e col.13 e Brochard e col.14 sugerem que 7 a 8 cm H2O são os níveis mínimos de PS para compensar a resistência imposta pelo tubo. O objetivo do presente estudo foi verificar se o uso do modo PS, quando ajustado em níveis mínimos para compensar a resistência imposta pelo tubo orotraqueal, têm influência na avaliação de parâmetros de desmame da ventilação mecânica. 1. Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória pela UNIFESP. Supervisor do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória da UNIFESP. Fisioterapeuta do Hospital Alemão Osvaldo Cruz. 2. Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória pela UNIFESP. Fisioterapeuta do Hospital do Câncer A.C. Camargo. 3. Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória pela UNIFESP. Supervisor do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória da UNIFESP. Fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein. 4. Doutoranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Fisioterapeuta Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória da UNIFESP. Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade São Camilo. 5. Doutoranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Fisioterapeuta Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória da UNIFESP. Docente do Curso de Fisioterapia da UNICID e UNISA. * Recebido da Disciplina de Pneumologia. Universidade Federal de São Paulo, SP - UNIFESP Apresentado em 21 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 18 de outubro de 2004. Endereço para correspondência: Dr. Júlio Flávio Fiore Junior - Rua Onze de Junho, 643/153 - 04041-052. São Paulo, SP - E-mail: juliofiore@ig. com.br - Fone: (11) 9909-1533 146 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL MÉTODO RESULTADOS Foram avaliados 26 pacientes, de ambos os sexos, submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio, troca valvar ou correção de aneurisma de aorta, internados na Unidade de Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca do Hospital São Paulo – UNIFESP/EPM. O protocolo de estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição. Ao término da cirurgia os pacientes foram encaminhados a Unidade de Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca e conectados a ventilação mecânica (Bird 8400) durante o período de pós-operatório imediato. A inclusão destes pacientes no protocolo dependeu dos seguintes critérios: (1) paciente alerta, cooperativo e atendendo a comandos verbais simples; (2) hemodinamicamente estável (PAM > 7 mmHg, FC < 140); (3) gasometria arterial mostrando pH de 7,35 a 7,45 e PaO 2 > 80 mmHg com FiO 2 < 40% e PEEP = 5 cmH2O; (4) padrão ventilatório adequado (avaliação clínica); (5) ausência de disritmias graves; (6) ausência de sangramento excessivo (> 200 ml/h) pelos drenos torácicos. Os pacientes que obedeceram aos critérios de inclusão foram então submetidos a duas condições experimentais. Durante a condição 1 os parâmetros freqüência respiratória (f), volume corrente (VC), volume minuto (Ve) e índice de respiração rápida superficial (IRRS) foram avaliados após 30 minutos de macronebulização com tubo-T (FiO2 ajustada para SpO2 > 92%). Durante a condição 2 os parâmetros f, VC, Ve e IRRS foram avaliados após 30 minutos de ventilação em pressão suporte (PS = 7 cmH2O, PEEP = 5 cmH2O, FiO2 ajustada para SpO2 > 92%), com o paciente ainda conectado ao ventilador mecânico. As duas condições experimentais foram aplicadas seqüencialmente, de forma aleatória. Após a realização das medidas propostas os pacientes foram extubados. A avaliação dos parâmetros foi realizada através do ventilômetro Ohmeda Respirometer, modelo 121. O ventilômetro foi conectado diretamente ao tubo orotraqueal do paciente para as medidas após ventilação espontânea em tubo-T e conectado à porção proximal (ao paciente) do circuito expiratório para as medidas após o período de ventilação em PS. Optou-se pela utilização de disparo a pressão no ventilador mecânico para evitar a influência do fluxo de base sobre as medidas. O Ve foi obtido considerando a quantidade de ar exalada pelo paciente durante um minuto. A f considerada através da observação da quantidade de excursões do ponteiro do ventilômetro durante um minuto. O VC foi obtido através da divisão do Ve pela f. O IRRS foi considerado a partir da divisão da f pelo VC em litros. Os pacientes excluídos do estudo foram os que apresentaram instabilidade hemodinâmica (PAM < 7 mmHg, FC > 140), piora do padrão ventilatório (f > 35, uso de musculatura acessória e diaforese), hipoxemia (SpO2 < 90% com FiO2 = 40%) ou vômito durante a análise. A análise estatística dos dados foi realizada através do teste t de Student, comparando os valores de f, VC, VM e IRRS após o período de ventilação em tubo-T e PS. Foi estabelecido como nível de significância p < 0,05 ou 5%. As características dos pacientes estudados, assim como os tipos de cirurgias realizadas encontram-se na tabela 1. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Tabela 1 – Dados Demográficos Pacientes (n = 26) Idade (anos) Sexo Cirurgias Tempo de IOT (horas) 59,08 ± 11,36 Masculino = 18 (69,2%) Feminino = 8 (30,8%) Revascularização do miocárdio 18 (69,2%) Troca de valva aórtica Troca de valva mitral 3 (11,6%) 2 (7,7%) Correção de aneurisma de aorta 2 (7,7%) Correção de comunicação inter-atrial 1 (3,8%) 15,84 ± 7,86 Durante os procedimentos realizados não foram observadas deterioração da FC, PAM, SpO2 ou padrão ventilatório que justificassem a interrupção do estudo em nenhuma das condições experimentais. Os resultados encontrados na avaliação do IRRS durante as diferentes condições experimentais estão descritos na figura 1. Os valores de f (p < 0,01), VM (p < 0,05) e IRRS (p < 0,01) foram significativamente menores e os valores de VC (p < 0,01) foram significativamente maiores quando avaliados após ventilação em PS em comparação com a avaliação após ventilação espontânea em tubo-T. Todos os pacientes foram extubados com sucesso após a realização do estudo. DISCUSSÃO Para que os parâmetros de desmame sejam aplicáveis clinicamente e capazes de predizer adequadamente o sucesso da extubação traqueal é imprescindível que o método de avaliação seja simples e reprodutível6,15, porém, os estudos que descrevem os parâmetros, muitas vezes não expõem de forma adequada o método utilizado para a sua obtenção ou utilizam instrumentos pouco disponíveis e aplicáveis16-18. Isso repercute na prática clínica, onde se observa uma grande variabilidade nos métodos e critérios utilizados para obtenção dos parâmetros10,16. O uso de suporte ventilatório durante a avaliação dos parâmetros de desmame é freqüente na prática clínica. Rodrigues e col.10 mostraram que 91% dos fisioterapeutas que atuam em unidades de terapia intensiva da cidade de São Paulo utilizam o modo PS durante a avaliação dos parâmetros, com níveis variando entre 6 e 12 cmH2O. Em unidades de terapia intensiva da cidade de Los Angeles 31% dos terapeutas respiratórios afirmam utilizar a PS durante a avaliação, com níveis variando entre 1 e 10 cmH2O16. Segundo Hoo e Park16, o uso de suporte pressórico durante a avaliação dos parâmetros de desmame, seja através de PS ou CPAP, é uma das principais causas de comprometimento da acurácia preditiva dos parâmetros. O presente estudo mostra que a utilização de PS, mesmo quando aplicada em níveis mínimos para compensação da resistência do tubo oro- 147 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Figura 1 - Comparação da Freqüência Respiratória, Volume Corrente, Volume Minuto e Índice de Ventilação Rápida Superficial em Tubo-T e Pressão Suporte (PS). Media ± DP. traqueal gera influência significativa sobre os valores encontrados na avaliação dos parâmetros, subestimando - no caso da f, Ve e IRRS - ou superestimando seus valores - no caso do VC. A principal conseqüência desta influencia, se considerados os valores de referência descritos na literatura, seria a extubação traqueal precoce de pacientes ainda não aptos a tolerar a ventilação espontânea. A influência do uso de suporte ventilatório durante a avaliação dos parâmetros de desmame é sugerida em alguns estudos, especialmente quando avaliado o IRRS. O estudo de El-Katib e col.11, realizado em pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca, comparou valores de IRRS obtidos os pacientes em CPAP (PEEP = 5 cmH2O) com FiO2 de 40%, CPAP (PEEP = 5 cmH2O) com FiO2 de 21% e com os pacientes em ar ambiente (FiO2 = 21%) sem suporte pressórico. O valor do IRRS foi significantemente menor quando avaliado em CPAP em relação à avaliação realizada sem aplicação de pressão positiva. A variação da FiO2 não gerou influencia sobre o valor do índice. Lee e col.12 avaliaram 62 pacientes, 32 mantidos em PS e 30 no modo CPAP. O IRRS foi avaliado após a permanência dos pacientes durante uma hora nos modos ventilatórios descritos, com os pacientes ainda conectados ao ventilador mecânico. Os resultados mostraram que, quando avaliado nestas condições, o IRRS perde a acurácia preditiva em relação à avaliação nas condições originais descritas por Yang e Tobin6. Os autores do estudo, porém, não descrevem os valores de PS utilizados. Stroetz e Rubmayr19 mostraram que quanto maior o nível de PS menor é a f e maior é o VC, logo, mais baixos são os valores encontrado na avaliação do IRRS. Em nosso estudo buscou-se avaliar o índice com níveis de PS mínimos para compensação do trabalho ventilatório imposto pelo tubo orotraqueal13,14, sendo estes os níveis freqüentemente utilizados em trials de desmame com PS5. Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que a avaliação dos parâmetros f, VM, VC e IRRS é influenciada pela utilização do modo PS, mesmo quando este é ajustado em níveis mínimos para compensação da resistência imposta pelo tubo orotraqueal. Para a obtenção dos parâmetros de desmame recomenda-se obedecer rigorosamente o método empregado nos estudos que originalmente os descreve, evitando, desta forma, influencia sobre os valores encontrados na avaliação e prejuízo à capacidade preditiva destes parâmetros. RESUMO * p < 0,01 # p < 0,05 148 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Verificar se o uso de baixos níveis de pressão suporte gera influência na avaliação de parâmetros de desmame. MÉTODO: Foram avaliados 26 pacientes em pós-operatório de cirurgia cardiovascular considerados aptos para extubação traqueal. Os parâmetros freqüência respiratória, volume corrente, volume minuto e índice de respiração rápida superficial foram avaliados após trinta minutos de ventilação espontânea em tubo-T e após trinta minutos de ventilação no modo pressão suporte, ajustado em níveis mínimos para compensação da resistência imposta pelo tubo orotraqueal (7 cmH2O). Os pacientes foram distribuídos para que a ordem das avaliações fosse aleatória. A análise estatística dos dados RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL foi realizada através do teste-t pareado. RESULTADOS: Os valores de freqüência respiratória (p < 0,01), volume minuto (p < 0,05) e índice de ventilação rápida superficial (p < 0,01) foram significativamente menores e os valores de volume corrente (p < 0,01) foram significativamente maiores quando avaliados após ventilação espontânea em pressão suporte em comparação com a avaliação após respiração espontânea em tubo-T. CONCLUSÕES: A avaliação dos parâmetros freqüência respiratória, volume corrente, volume minuto e índice de respiração rápida superficial é influenciada pela utilização do modo PS mesmo quando este é ajustado em níveis mínimos para compensação da resistência imposta pelo tubo orotraqueal. Para a obtenção dos parâmetros de desmame recomenda-se obedecer rigorosamente o método empregado nos estudos que originalmente os descreve, evitando, desta forma, prejuízo à sua capacidade preditiva. Unitermos: ventilação mecânica, desmame, suporte de pressão. REFERÊNCIAS 01. MacIntyre NR, Cook DJ, Ely Jr EW et al - Evidence-based guidelines for weaning and discontinuing ventilatory support: A collective task force facilitated by the American College of Chest Physicians; the American Association for Respiratory Care; and the American College of Critical Care Medicine. Chest, 2001;102:375S -395S. 02. Manthous CA, Schimidt GA, Hall JB - Liberation from mechanical ventilation: a decade of progress. Chest 1988;114:886-901. 03. Saldias F, Castellon JM, Garayar B et al - Indices predictores del retiro precoz de ventilación mecánica en pacientes sometidos a cirugia cardíaca. Rev Med Chile 1996;124:959-966. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 04. Strieter R, Lynch JP - Complications in the ventilated patient. Clin Chest Med, 1988;9:127-139. 05. Esteban A, Alia I, Gordo F et al - Extubation outcome after spontaneous breathing trials with T-tube of pressure support ventilation. The Spanish Lung Failure Collaborative Group. Am J Respir Crit Care Med, 1997;156:459-465. 06. Yang KL, Tobin MJ - A prospective study of indexes predicting the outcome of trials of weaning from mechanical ventilation. N Engl J Med, 1991;324:1445-1450. 07. Jacob B, Chatila W, Manthous CA - The unassisted respiratory rate/tidal volume ratio accurately predicts weaning outcome in postoperative patients. Crit Care Med, 1997;25:253-257. 08. Chatila W, Jacob B, Guaglionone D et al - The unassisted respiratory rate-tidal volume ratio accurately predicts weaning outcome. Am J Med, 1996;101:61-67. 09. Epstein SK - Etiology of extubation failure and the predictive value of rapid shallow breathing index. Am J Respir Crit Care Med, 1995;152:545-549. 10. Rodrigues MM, Fiore Jr JF, Benassule E et al - Variação na mensuração dos parâmetros de desmame da ventilação mecânica em hospitais da cidade de São Paulo. Rev Bras Fisioter, 2004;(Supl):177 11. El-Khatib MF, Jamaleddine GW, Khoury AR et al - Effect of continuous positive airway pressure on the rapid shallow breathing index in patients following cardiac surgery. Chest, 2002;121:475-479. 12. Lee KH, Hui KP, Chan TB et al - Rapid shallow breathing (frequency-tidal volume ratio) did not predict extubation outcome. Chest, 1994;105:540-543. 13. Fiastro JF, Habib MP, Quan SF - Pressure support compensation for inspiratory work due to endotracheal tubes and demand continuous positive airway pressure. Chest, 1988;93:499-505. 14. Brochard L, Rua F, Lorino H et al - Inspiratory pressure support compensates additional work of breathing caused by endotracheal tube. Anesthesiology, 1991;75:739-745. 15. Yang KL - Reproducibility of weaning parameters. A need for standardization. Chest, 1992;102:1829-1832. 16. Soo Hoo GW, Park L - Variations in the measurement of weaning parameters: a survey of respiratory therapists. Chest, 2002;121:1947-1955. 17. Fiastro JF, Habib MP, Shon BY et al - Comparison of standard weaning parameters and the mechanical work of breathing in mechanically ventilated patients. Chest, 1988;94:232-238. 18. Borges VC, Andrade Jr A, Lopes AC - Desmame da ventilação mecânica. Rev Bras Clin Terap, 1999;25:171-178. 19. Stroetz RW, Hubmayr RD - Tidal volume maintenance during weaning with pressure support. Am J Respir Crit Care Med, 1995;152:1034-1040. 149 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Incidência de Coleção Líquida em Seios da Face de Pacientes Intubados em Unidade de Terapia Intensiva* Incidence of Mucosal Thickening in Paranasal Sinuses in Critically Ill Intubated Patients Aline Carloni Dias Jorge¹, Rosmari Aparecida Rosa Almeida de Oliveira², Sílvia Maria de Toledo Piza Soares², Inês Minniti Rodrigues Pereira3, Sebastião Araújo4 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The purpose of this study was to verify the incidence of complete opacification of the paranasal sinuses and its possible association with the presence of the orotracheal tube in patients under prolonged mechanical ventilation. METHODS: Fourteen patients with an hospitalization time less than 48 hours, orotracheally intubated and under mechanical ventilation, were enrolled in this study. Simple cranial x-ray had been taken at bedside immediately after the admission of the patients in the Intensive Care Unit and at the third and fifth days of evolution. RESULTS: Suggestive images of liquid collections in the paranasal sinuses of the patients were found before and after 24h of orotraqueal intubation. Radiographic and clinical findings were carefully evaluated searching for documentation of the presence of liquid collections in the maxillary sinuses, since they are frequently affected and easier to be visualized in a simple cranial x-ray. CONCLUSIONS: Complete opacification of the maxillary sinuses wasn’t seen in any patient, thus making not possible to associate the presence of the orotracheal tube and sinusitis based on simple cranial x-ray images. Key Words: orotracheal intubation, mechanical ventilation, x-ray, paranasal sinuses. A sinusite é definida como infecção dos seios da face, com duração de até três semanas, secundária à uma infecção viral ou bacteriana1,2. A infecção recorrente é diagnosticada quando o paciente apresenta de dois a quatro episódios infecciosos por ano, com menos de oito semanas entre cada episódio. A sinusite crônica é a persistência da sintomatologia durante 12 (doze) semanas, com ou sem a exacerbação do quadro2. A incidência da sinusite é variável, dependendo do critério diagnóstico utilizado e da população estudada. Alguns autores a definem através de resultados radiográficos ou da tomografia computadorizada1,2; outros, através da presença de anormalidades radiográficas associadas à febre e cultura positiva do material aspirado dos seios da face3. O acometimento dos seios maxilares geralmente está associado com o envolvimento dos seios esfenóide, etmóide e/ou frontal, sendo diagnosticada a Sinusite Maxilar geralmente em menos de sete dias nos pacientes que se encontram intubados4. Dessa forma, a sinusite paranasal tem sido relatada como importante complicação infecciosa em pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI)3-5. Dentre as complicações decorrentes das infecções nosocomiais do trato respiratório encontradas em pacientes sob tempo prolongado de ventilação mecânica, cuja causa principal é a sepse, destacam-se a sinusite, a traqueobronquite e a broncopneumonia3-5. A sinusite nosocomial é uma complicação associada à intubação traqueal e à ventilação mecânica prolongada em pacientes graves. Seu diagnóstico é baseado em exames de imagem (radiografias simples ou tomografias computadorizadas de crânio) e em culturas microbiológicas, sendo que as radiografias simples podem ser executadas à beira do leito. Sabe-se também que a presença do tubo nasotraqueal ou sonda nasogástrica, os quais provocam irritação da mucosa e edema locais, impossibilitando a drenagem decorrente da obstrução mecânica dos seios da face, predispõe o paciente à inflamação e à infecção dos seios paranasais4,5. Rouby e col.3 relataram que os pacientes com tubos nasotraqueais desenvolveram evidências radiológicas de sinusite (95,5%) mais freqüentemente do que os que estavam intubados por via orotraqueal (22,5%). Também relataram que após sete dias da presença de sonda nasogástrica associada ao tubo nasotraqueal é freqüente os sinais sugestivos de sinusites nas imagens tomográficas (95%), ao passo que apenas 25% dos pacientes intubados por via orotraqueal apresentaram as mesmas evidências3. O presente estudo teve como finalidade principal avaliar a incidência de coleções líquidas nos seios paranasais de pacientes intubados por via orotraqueal, sob ventilação mecânica prolongada, baseada na análise de radiografias simples de seios da face realizadas à beira do leito, procurando associar esses resultados com o tempo de presença do tubo orotraqueal. 1. Fisioterapeuta Especializada em Fisioterapia Respiratória em UTI de Adultos do HC–UNICAMP 2. Fisioterapeuta Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória na UTI de Adultos do HC/UNICAMP 3. Professora Assistente, Doutora e Chefe do Departamento de Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas do HC–UNICAMP 4. Professor Assistente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas, Doutor e Diretor da UTI de Adultos do HC–UNICAMP *Recebido da Universidade Estadual de Campinas da Universidade de Campinas, SP – UNICAMP. Apresentado em 16 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 09 de setembro de 2004 Endereço para correspondência - Aline Carloni Dias Jorge - Rua Oscar Leite, 147/74 - Ponte Preta - 13041-620 Campinas, SP - Fone (19) 8121-9109 - E-mail: [email protected] 150 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL MÉTODO Foi realizado um estudo prospectivo, longitudinal, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas da UNICAMP no período de setembro de 2003 a janeiro de 2004, sendo aprovado pelo Comitê Institucional de Ética em Pesquisa sob o protocolo nº 381/2003. A população elegível para o estudo foi composta por pacientes intubados por via orotraqueal e com perspectivas de ventilação mecânica prolongada. Os critérios de inclusão foram: a) Pacientes com idade igual ou maior que 18 anos; b) Internação na UTI, com tempo de internação hospitalar inferior a 48 horas; c) Pacientes intubados orotraquealmente, com perspectiva de duração da ventilação mecânica por no mínimo cinco dias. Os critérios de exclusão foram definidos como: a) História de sinusopatia crônica; b) Pacientes com fraturas de face ou má-formação congênita; c) Pacientes provenientes de outros serviços já com a presença do tubo orotraqueal e/ou traqueostomia; d) Pacientes com impossibilidade de posicionamento a 90º para avaliação radiográfica, e) Gestantes; f) O não consentimento dos familiares responsáveis para a participação do paciente no estudo. A presença de líquido nos seios da face foi verificada através do exame radiográfico simples realizado à beira do leito. Os pacientes foram devidamente posicionados sentados à 90º no próprio leito e com extensão máxima possível da coluna cervical. Em alguns casos foi necessário a utilização de um coxim na região interescapular para uma adequada obtenção do posicionamento. Os exames radiológicos foram obtidos no primeiro, terceiro e quinto dias de internação na UTI, utilizando-se um aparelho portátil, da marca GE, modelo VMX-Plus, com raios 18 x 24 cm, com utilização da técnica 20 mAs com 65 Kv, sendo a incidência de Waters em ântero-posterior. As imagens foram obtidas por um técnico especializado e treinado para a sua realização. O seio maxilar foi utilizado como referência para a confirmação da presença de líquido, por ser o mais comumente acometido e avaliado em trabalhos científicos3,4. A evolução das imagens radiográficas foi avaliada por uma médica radiologista experiente na área, que pesquisou os resultados específicos nos seios maxilares, tais como espessamento mucoso e os velamentos parcial e total (opacificação completa), baseando-se na presença de nível hidro-aéreo acometendo o interior dos seios maxilares. A fim de auxiliar a análise estatística, os laudos das imagens radiográficas foram pontuados respectivamente com 0 (zero) quando estavam normoaerados, 1 (um) quando apresentavam espessamento mucoso (opacificação acima de 4 mm), 2 (dois) quando apresentavam velamento parcial (opacificação acima de 50% ou mais) e 3 (três) quando se apresentavam totalmente velados (opacificação completa). As variáveis mensuradas incluíram o dia e tempo de intubação (sendo este maior ou menor que 24 horas), presença de sonda enteral, nasogástrica ou orogástrica, temperatura Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 corporal e radiografias simples dos seios da face. Para a análise estatística foi utilizado o programa SAS System for Windows (Statistical Analysis System), versão 8.2. Para verificar a presença de associação ou comparar proporções foram utilizados os testes Qui-quadrado, McNemar ou Exato de Fisher, quando necessário. O nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05). RESULTADOS Catorze pacientes, sendo oito do sexo masculino e sete do sexo feminino, com média de idade de 55,4 anos, compuseram a população do estudo. Destes, sete fizeram o primeiro exame radiográfico dos seios da face antes de 24 horas de intubação e os demais com um tempo de intubação inferior a 48 horas. Dos 14 pacientes que realizaram o primeiro exame, onze foram submetidos a dois exames (no primeiro e terceiro dias de internação) e sete pacientes foram submetidos aos três exames propostos originalmente (no primeiro, terceiro e quinto dias de intubação). Três pacientes foram submetidos a apenas uma radiografia dos seios da face (primeiro dia de internação). Quanto à distribuição dos acometimentos dos seios maxilares, na primeira imagem realizada nos 14 pacientes, oito estavam sem velamento, três apresentavam espessamento mucoso, três apresentavam velamento parcial e nenhum paciente apresentava velamento total. Na segunda imagem radiográfica foram estudados 11 pacientes, sendo que cinco estavam sem velamento, quatro apresentavam espessamento mucoso, dois pacientes apresentavam velamento parcial e seios e nenhum paciente apresentava velamento total. Na terceira imagem radiológica foram estudados sete pacientes e três destes estavam sem velamento, apenas um apresentava espessamento mucoso, três pacientes apresentavam velamento parcial e nenhum apresentava velamento total de seios maxilares. Dos pacientes submetidos a duas imagens radiográficas nenhum apresentou quadro radiológico evolutivo, dois permaneceram com os seios da face não acometidos e dois pacientes permaneceram com espessamento mucoso nas duas imagens radiológicas realizadas. Dentre os sete pacientes submetidos às três imagens radiográficas, seis mantiveram o quadro inalterado, sendo que três destes apresentavam os seios da face normais nas três imagens, um paciente apresentou espessamento mucoso nas três imagens e dois mantiveram a imagem sugestiva de velamento parcial nos três momentos. Apenas um paciente apresentou evolução do acometimento dos seios maxilares, evoluindo de seios normoaerados para espessamento mucoso na segunda imagem e para velamento parcial no terceiro exame radiográfico. Na ocasião do primeiro exame, 11/14 pacientes (79%) estavam com sonda nasogástrica (SNG) posicionada. No segundo exame, 10/11 pacientes (90%) tinham SNG. No terceiro exame, sete pacientes formavam a população estudada e todos eles apresentavam SNG no momento da obtenção da imagem radiográfica. A tabela 1 demonstra a distribuição dos acometimentos encontrados nos exames radiográficos realizados, a idade, sexo e diagnósticos dos pacientes incluídos no estudo. 151 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Tabela 1 – Distribuição dos Acometimentos dos Seios da Face, Idade, Sexo e Diagnósticos dos Pacientes. 1º RX 1º RX 1º RX Idade Sexo Diagnóstico 1 1 62 Masculino Politrauma 0 59 Masculino Insuficiência respiratória aguda 0 0 0 45 Feminino Pós-operatório 0 1 2 55 Masculino Acidente vascular encefálico hemorrágico 0 0 0 69 Masculino Acidente vascular encefálico isquêmico 0 67 Masculino Infarto agudo do miocárdio 2 80 Masculino Edema agudo pulmonar 0 0 59 Masculino Transplante hepático 2 2 2 45 Masculino Edema agudo pulmonar 0 0 0 46 Feminino Acidente vascular encefálico isquêmico 2 2 2 28 Feminino Lúpus 1 1 70 Feminino Acidente vascular encefálico hemorrágico 0 0 73 Feminino Pós-operatório de cirurgia ortopédica 1 1 1 18 Feminino Lúpus 0 - seios da face normoaerados (normal, não há velamento); 1 - espessamento mucoso (opacificação acima de 4 mm); 2 - velamento parcial (opacificação acima de 50% ou mais); 3 -velamento total (opacificação completa dos seios). Figura 1 – Evolução das Imagens Radiológicas A figura 1 ilustra a evolução das imagens radiológicas realizadas em todos os pacientes incluídos no estudo e sua legenda segue a mesma da tabela 1. A figura 2 demonstra a evolução das imagens radiológicas dos sete pacientes em que foi possível a sua realização no primeiro, terceiro e quinto dias de intubação orotraqueal. DISCUSSÃO No presente estudo, uma pesquisa piloto idealizada como proposta para dissertação de mestrado, em que foram incluídos pacientes com diferentes diagnósticos clínicos, objetivouse analisar prospectiva e longitudinalmente a evolução das imagens radiográficas dos seios paranasais de pacientes com intubação por via orotraqueal e submetidos à ventilação mecânica prolongada, com o objetivo de se detectar alterações sugestivas de sinusite. Uma vez que na UTI do Hospital de Clínicas da UNICAMP os pacientes tendem a receber alta precocemente e permanecem intubados em geral por tempo menor que o descrito na maioria dos relatos da literatura, limitou-se a sete dias de intubação o tempo utilizado como referência para o levantamento bibliográfico utilizado para a elaboração do presente estudo. Por essa razão, foi determinado que a terceira imagem radiográfica seria realizada no quinto dia de intubação orotraqueal, para que se pudesse realizar uma análise 152 Figura 2 - Evolução das Imagens Radiológicas dos Pacientes Submetidos às Três Radiografias. evolutiva das imagens obtidas. No início da década de 1970, estudos retrospectivos sugeriram que a sinusite nosocomial estava associada com a ventilação mecânica6. Na sua interpretação fisiopatológica incluiu-se a drenagem prejudicada dos seios da face na posição supina, a diminuição da drenagem venosa frente à pressão positiva da ventilação mecânica e a obstrução dos trajetos devido à presença de sonda nasogástrica ou tubo nasotraqueal. De fato, a intubação prolongada (nasal ou orotraqueal) tem sido relatada como causa de sinusite, e, embora haja poucos estudos comparando as vias de intubação e suas associações com esta complicação, tem sido descrito um aumento do risco de infecção dos seios paranasais com a intubação nasotraqueal5,7. No presente estudo foram realizadas imagens radiográficas simples dos seios da face (no primeiro, terceiro e quintos dias de intubação orotraqueal) como exame para diagnosticar a presença de velamento nos seios da face, embora não existam referências bibliográficas que discutam a incidência de sinusopatias diagnosticadas através de exames radiográficos realizados no leito e sua relação com tubo orotraqueal. Dentre os pacientes estudados, não foi possível o diagnóstico clínico de infecção, mesmo com controle rigoroso e diário do hemograma, devido ao fato de estarem aleatoriamente em uso de corticóides e/ou antibioticoterapia empírica. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Em um estudo prospectivo e observacional, com 366 pacientes internados em duas UTI por mais de um ano8, a incidência de sinusite nosocomial, que foi definida através de anormalidades radiográficas em um dos seios maxilares e a realização de culturas de material obtido através da aspiração transnasal foi de 7,7%, estimando-se uma incidência em torno de 12 casos por 1.000 pacientes por dia. Esses índices foram de 15,7 casos por 1.000 em pacientes/dia para pacientes com tubo nasotraqueal, com ou sem ventilação mecânica, e de 1,6 casos por 1.000 pacientes/dia para aqueles pacientes sem acesso nasal. Nos pacientes que receberam ventilação mecânica através do tubo orotraqueal, a incidência foi de 19,8 episódios por 1.000 tubos nasoenterais/dia. Os fatores de risco foram: colonização nasal por bacilos Gram-negativos, sondas nasoenterais, uso de sedativos e escala de coma de Glasgow menor que oito. Em 1994, Rouby e col.3 avaliaram 162 pacientes sob ventilação mecânica prolongada, através de tomografia computadorizada realizada após 48 horas de admissão e repetidas após sete dias. Os pacientes foram divididos aleatoriamente de acordo com as primeiras imagens radiológicas dos seios maxilares (normal: 40 pacientes, espessamento mucoso: dois pacientes e sinusite definida pela presença de nível aéreo ou opacidade total na imagem radiológica: 96 pacientes). Os pacientes sem o diagnóstico de sinusite foram divididos em dois grupos, de acordo com a presença de tubo orotraqueal ou nasotraqueal, e foram submetidos a novas imagens radiológicas sete dias após a intubação. A sinusite desenvolveu-se em 95% dos pacientes que estavam com tubo nasotraqueal comparado com 22,5% dos pacientes que foram intubados por via oral. Após sete dias, 46% dos pacientes que apresentavam espessamento mucoso evoluíram para sinusite e 12% normalizaram-se. No grupo de pacientes que apresentavam sinusite na primeira imagem radiológica, a análise estatística mostrou que havia discreta diferença que identificava o tubo nasotraqueal (p < 0,001), sonda nasogástrica (p < 0,05), duração da intubação endotraqueal (p < 0,01) e duração do tubo gástrico (p < 0,05) como fatores de risco isolados. A sinusite foi microbiologicamente confirmada através da punção transnasal em apenas 38% dos pacientes que apresentavam imagem radiológica sugestiva. Nos pacientes que apresentavam sinusite na primeira imagem radiológica, a pneumonia associada à ventilação mecânica desenvolveu-se em 67% nos pacientes em que a sinusite foi confirmada em comparação com os 43% restantes (p < 0,02). Nos pacientes incluídos no presente estudo, 79% possuíam algum tipo de acesso nasal durante a realização da primeira imagem radiográfica. Estudos sugerem que acessos nasais representam importante fator de risco para o desenvolvimento de sinusite nosocomial e, conseqüentemente, pneumonia nosocomial5. Mais importante, sugerem a necessidade de se definir um protocolo que inclua punção transnasal, drenagem e lavagem dos seios da face por mais de 15 dias sem a associação com a antibioticoterapia, e ele pode ser utilizado como controle de pacientes sob ventilação mecânica que apresentam sepse de origem desconhecida e na presença de imagem radiológica que confirme a sinusite5. Em um estudo realizado na França por Holzapfel e col.9, o impacto de uma busca sistemática do tratamento de sinusite maxilar em 399 pacientes sob ventilação mecânica através Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 de tubo nasotraqueal na incidência de pneumonia foram investigados. No grupo de intervenção, a sinusite foi diagnosticada com a presença de temperatura maior ou igual a 38 ºC, com sinais radiográficos comprovados na tomografia computadorizada e na presença de aspiração de secreção purulenta transnasal que envolviam os seios da face, diagnosticada em 80 dos 199 pacientes tratados com lavagem associada à antibioticoterapia. No grupo controle, nenhum paciente realizou tratamento para sinusite. A pneumonia associada à ventilação mecânica foi observada em 34% dos pacientes do grupo estudo e em 47% dos pacientes do grupo controle. Além disso, no 60° dia de internação a taxa de mortalidade foi estimada em 36% no grupo estudo e de 46% no grupo controle. Em suma, a sinusite nosocomial é provavelmente subestimada em pacientes críticos submetidos à ventilação mecânica, naqueles em que pode ser vista como uma conseqüência direta da impossibilidade de drenagem dos seios da face devido à presença de acessos nasais. Este fato representa um risco significativo do desenvolvimento de pneumonia nosocomial e sua prevenção poderia incluir a opção pela intubação orotraqueal, embora se saiba que evitar qualquer tipo de acesso nasal é praticamente muito difícil em pacientes não sedados10. CONCLUSÃO No presente estudo, nenhum paciente apresentou velamento total dos seios paranasais até o sétimo dia da evolução, não sendo possível estabelecer qualquer tipo de relação entre a incidência de velamentos nos seios da face com o tempo de intubação orotraqueal. Muito embora a casuística deste estudo piloto imponha certas limitações, conclui-se que a radiografia simples dos seios da face não é um exame radiológico adequado para ser utilizado diante da suspeita clínica de sinusite em pacientes intubados e sob ventilação mecânica, devendo-se, nessa eventualidade, lançar mão de outros recursos diagnósticos de imagem, como por exemplo a CT de crânio. AGRADECIMENTOS Em especial à boa vontade e dedicação dos profissionais do Departamento de Radiologia do Hospital das Clínicas da UNICAMP, que forneceram informações e recursos técnicos imprescindíveis para a elaboração deste estudo; ao Dr. Sebastião Araújo, pelo constante amparo e orientações recolhidas de sua prática pessoal; aos profissionais da UTI/HC-UNICAMP pela paciência e dedicação acima do dever; aos demais autores pelas idéias e orientações durante a realização da pesquisa. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O presente estudo teve a finalidade de avaliar incidência de velamento nos seios da face e sua possível associação com a intubação orotraqueal em pacientes sob ventilação mecânica prolongada. MÉTODO: Foram avaliados 14 pacientes com tempo de internação hospitalar inferior a 48 horas, intubados e sob ventilação mecânica. O exame radiográfico simples dos seios da face foi realizado no primeiro, terceiro e quinto dias de 153 RBTI / ARTIGO ORIGINAL internação na Unidade de Terapia Intensiva. RESULTADOS: Os resultados obtidos mostraram imagens sugestivas de coleção líquida nos seios maxilares dos pacientes antes e após 24 horas transcorridas da intubação orotraqueal. Os laudos médicos das imagens radiológicas revelaram que os seios maxilares são os mais acometidos e mais fáceis de serem visualizados em uma radiografia simples. CONCLUSÕES: Nenhum paciente apresentou velamento total dos seios maxilares, não sendo possível associar o tempo de presença do tubo orotraqueal com a suspeita diagnóstica de sinusite através de exames radiográficos simples dos seios da face. Unitermos: Intubação orotraqueal, ventilação mecânica, radiografia, sinusite. REFERÊNCIAS 01. Piccirillo JF - Clinical practice. Acute bacterial sinusitis. N Engl J Med, 2004;351:902-910. 02. Araújo Neto S - Alterações incidentais dos seios da face à tomografia com- 154 putadorizada do crânio e órbitas em crianças. Tese de Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente na Área de Concentração de Saúde da Criança e do Adolescente – FCM- UNICAMP, 2004. 03. Rouby JJ, Laurent P, Gosnach M et al - Risk factors and clinical relevance of nosocomial maxillary sinusitis in the critically ill. Am J Respir Crit Care Med,1994;150:776-783. 04. Bert F, Lambert-Zechovsky N - Sinusitis in mechanically ventilated patients and its role in the pathogenesis of nosocomial pneumonia. Eur J Clin Microbiol Infect Dis, 1996;15:533-544. 05. Eggimann P, Pittet D - Infection control in the ICU. Chest, 2001;120:20592093. 06. Arens JF, LeJeune FE Jr, Webre DR – Maxillary sinusitis, a complication of nasotracheal intubation. Anesthesiology, 1974;40:415-416. 07. Michelson A, Schuster B, Kamp HD - Paranasal sinusitis associated with nasotracheal and orotracheal long-term intubation. Arch Otolaryngol Head Neck Surg, 1992;118:937-939. 08. George DL, Falk PS, Meduri GU et al - Nosocomial sinusitis in patients in the medical intensive care unit: a prospective epidemiological study. Clin Infect Dis, 1998;27:463-470. 09. Holzapfel L, Chastang C, Demingeon C et al. A randomized study assessing the systematic search for maxillary sinusitis in nasotracheally mechanically ventilated patients. Influence of nosocomial maxillary sinusitis on the occurrence of ventilator-associated pneumonia. Am J Respir Crit Care Med, 1999;159:695-701. 10. Bach A, Boehrer H, Schmidt H et al – Nosocomial sinusitis in ventilated patients: Nasotracheal versus orotracheal intubation. Anaesthesia, 1992;47:335-339. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Comportamento da Função Pulmonar e da Força Muscular Respiratória em Pacientes Submetidos à Revascularização do Miocárdio e a Intervenção Fisioterapêutica* Pulmonary Function and Respiratory Muscle Strength behavior in Patients Submitted to Coronary Artery bypass Grafting and Physiotherapy Intervention Audrey Borghi e Silva1, Pires Di Lorenzo, V.A.1, Cláudio Ricardo de Oliveira2, Sérgio Luzzi3. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Cardiac surgery (CS) is associated with respiratory complications due to reduction of pulmonary function and respiratory muscle strength. This objective is determining the prevalence of preoperative pulmonary dysfunction and to evaluate the post-operative changes of pulmonary function and of respiratory muscle strength (RMS) in patients submitted to CS and physiotherapy intervention. METHODS: A prospective in patient from Intensive Care Unit of Santa Casa de Araraquara. Were evaluated 47 patients with, aging 57 ± 11 years were enrolled in this study. The spirometric variables and the maximal respiratory pressures (PImax and PEmax) were measured preoperative, at the 1st postoperative day and at hospital discharge. RESULTS: High prevalence of pre-operative pulmonary dysfunction was observed. Moreover, significant reduction of the pulmonary function and of respiratory muscle strength from the preoperative period to hospital discharge was observed. The RMS significantly increased from the first post-operative day to hospital discharge, however, it didn’t return to pre-operative values, although it was observed a lower incidence of post-operatives complications. CONCLUSIONS: These data suggest that the reduction of respiratory muscle strength and of some pulmonary function variables values do not reverse to pre-operative levels until hospital discharge. Moreover, despite the high prevalence of preoperative pulmonary dysfunction, low rates of complications were observed in the present study. Key Words: Cardiac surgery, pulmonary function, respiratory muscle strength, physiotherapy A cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) com circulação extracorpórea (CEC) está associada a uma prevalência significativa de complicações neurológicas, renais e pulmonares, levando a prejuízos da função respiratória1,2. As complicações respiratórias tem sido associadas à reduções dos volumes e capacidades pulmonares, modificação do padrão ventilatório, alteração da relação ventilação/perfusão (V/Q) que aumenta o shunt pulmonar, e a ineficácia dos mecanismos de defesa das vias aéreas, como a tosse e a depressão do sistema imunológico3. Além disso, a anestesia geral causa depressão respiratória, resultando em hipoventilação alveolar3, com conseqüente redução da capacidade residual funcional, com colapso alveolar e o aparecimento de atelectasias no pós-operatório4. Alguns autores5 observaram que no pós-operatório de CRM ocorreram importantes alterações dos parâmetros da função pulmonar, com lenta reversão, sendo necessários recursos ou técnicas fisioterápicas associados à aplicação de pressão positiva nas vias aéreas com a finalidade de reduzir as complicações decorrentes da cirurgia6,7. No entanto, Richter Larsen e col.8 constataram que mesmo com a aplicação de pressão positiva nas vias aéreas, os valores espirométricos não são totalmente restabelecidos até a alta hospitalar. Dentre as diversas alterações pulmonares encontradas no pós-operatório de cirurgia cardíaca, manifestadas pelas alterações na mecânica respiratória, destacam-se aquelas relacionadas aos músculos respiratórios. A redução da força muscular inspiratória e expiratória contribuem para o aumento da incidência de atelectasias no pós-operatório, hipoxemia e ineficácia da tosse. Alguns autores9 têm demonstrado que o treinamento muscular respiratório nos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca tem sido efetivo para melhorar a força dos músculos respiratórios tanto no pré como no pós-operatório. Em vista do exposto, os objetivos deste estudo foram avaliar a função pulmonar e a força muscular respiratória em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca que participaram de uma rotina de fisioterapia, tanto na fase pré como pós-operatória. MATERIAL E MÉTODO Foram incluídos neste estudo 47 pacientes, no período de fevereiro de 2001 a outubro de 2002, sendo a amostra composta de 33 homens e 14 mulheres, com idade media de 57 ± 11 anos, que foram avaliados no dia anterior à cirurgia. Os pacientes foram informados sobre os procedimentos a serem realizados e assinaram um termo formal de consentimento 1. Professor Doutor do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos- UFSCar2. Médico Cirurgião da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos. 3. Médico Cirurgião cardíaco da Santa Casa de Misericórdia de Araraquara. *Estudo desenvolvido na Santa Casa de Misericórdia de Araraquara - Unidade de Terapia Intensiva e Enfermaria da Cardiologia, em convênio com o curso de Fisioterapia da UNIARA- Centro Universitário de Araraquara - Estágio supervisionado em Fisioterapia Cardiorrespiratória Apresentado em 19 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 30 de agosto de 2004 Endereço para correspondência: Dra. Audrey Borghi e Silva - Rua Caetano Mirabelli, nº 79 - Parque Santa Marta. - 13564-210 São Carlos, SP - Fone: (16) 3307-8607 - E-mail: [email protected] Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 155 RBTI / ARTIGO ORIGINAL livre e esclarecido para participar deste estudo, em atendimento à Resolução 196/96 do CNS. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa em seres humanos da instituição. Foram excluídos os pacientes que apresentaram instabilidade hemodinâmica, aqueles com seqüelas neurológicas associadas ou dificuldade de compreensão e/ou de aderência aos procedimentos realizados neste estudo. Todos os pacientes foram submetidos de forma eletiva à cirurgia de revascularização do miocárdio, com incisão cirúrgica via esternotomia mediana. Os pacientes foram orientados quanto aos procedimentos cirúrgicos e à intubação traqueal, como também à importância da fisioterapia desde o pós-operatório imediato até a alta hospitalar. Os pacientes foram submetidos a medidas antropométricas e questionados quanto aos hábitos tabágicos. Foram calculados o índice de massa corpórea (produto do peso corpóreo (kg) pela altura (m) ao quadrado) e registrados os tempos de internação, tempo total de cirurgia, tempo de perfusão extracorpórea. As medidas da freqüência cardíaca e da saturação periférica de oxigênio foram registradas diariamente, com um oxímetro de pulso portátil (Nonim 8500A, Plymouth, Mn, USA). termitente (RPPI), tosse assistida, mobilização passiva, ativa-assistida e ativa-livre dos membros inferiores e deambulação no corredor, de acordo com a tolerância do paciente e as respostas cardiovasculares. Os exercícios foram realizados progressivamente, à medida que os pacientes tornavam-se menos restritos ao leito, com a retirada dos drenos e cateteres. A deambulação, entretanto, ocorreu somente após o 3º dia de pós-operatório, quando os pacientes encontravam-se na enfermaria. Espirometria Após as medidas de altura e peso realizou-se a espirometria com um aparelho da marca Vitalograph modelo Hand Held 2021 (Ennis, Ireland). Durante os testes de função pulmonar os pacientes permaneceram sentados sendo realizadas as manobras de Capacidade Vital Lenta (CVL) e de Capacidade Vital Forçada (CVF). Os procedimentos técnicos, critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade foram realizados segundo as normas recomendadas pela ATS 10. Os valores de referência utilizados foram os de Knudson e col.11. Os resultados obtidos foram expressos em condições BTPS. Os distúrbios ventilatórios foram classificados em leve, moderado e grave, segundo o consenso brasileiro de espirometria12. As medidas espirométricas foram realizadas no pré-operatório e no dia da alta hospitalar. No total, 68 pacientes foram elegíveis para o estudo, porém apenas 47 pacientes constituíram a população final da pesquisa. Dos 21 pacientes excluídos da amostra, três apresentavam instabilidade hemodinâmica, não sendo liberados pela equipe médica para realização das medidas espirométricas e de força muscular respiratória, dois apresentavam seqüelas neurológicas, cinco apresentaram dificuldades na execução da prova espirométrica e déficit de compreensão, três pacientes foram a óbito no pós-operatório e oito não aderiram ao tratamento fisioterápico proposto, devido à falta de colaboração nas diversas sessões e/ou recusa aos atendimentos. A tabela 1 mostra as características antropométricas e demográficas dos pacientes incluídos neste estudo. O tempo médio de internação dos pacientes estudados foi de 7,2 ± 1,5 dias (6 a 12 dias). Somente cinco pacientes apresentaram internação superior a 10 dias, decorrentes de complicações com a incisão cirúrgica (dois pacientes), presença de hipersecreção pulmonar (dois pacientes) e derrame pleural (um paciente). Força Muscular Respiratória A força muscular respiratória foi obtida com um manovacuômetro escalonado em cmH2O, de acordo com o método proposto por Black e col.13. A pressão inspiratória máxima (PImax) foi obtida a partir do volume residual e a pressão expiratória máxima (PEmax) a partir da capacidade pulmonar total. Os pacientes foram orientados a sustentar esforços máximos contra uma via aérea ocluída, com um pequeno orifício para a manutenção da glote aberta, com um clipe nasal. As medidas da força muscular respiratória foram realizadas no pré-operatório, no 1º dia de pós-operatório (1º PO) e no dia da alta hospitalar. INTERVENÇÃO Os pacientes foram submetidos a duas intervenções fisioterapêuticas diárias, desde o pós-operatório imediato até a alta hospitalar, que constou de exercícios de reeducação diafragmática e respiração fracionada, manobras desobstrutivas, exercícios com respiração por pressão positiva in- 156 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para a comparação dos valores espirométricos obtidos no pré-operatório e na alta hospitalar, utilizou-se o teste nãoparamétrico de Wilcoxon. Para a comparação dos valores de PImax e PEmax entre o pré, 1º PO e a alta hospitalar foi aplicado o teste não-paramétrico para as comparações múltiplas de Friedman. Para as diferenciações entre as situações foi utilizado o teste de Dunn. O nível de significância foi fixado em p < 0,05. RESULTADOS Tabela 1 – Características Antropométricas, Demográficas, Clínicas e Cirúrgicas da População Estudada. Variáveis Média(DP) Idade (anos) * 57 ± 11 Sexo Masculino 33 Feminino 14 Peso (kg) * 68 ± 13 Altura (m) * 1,66 ± 0,10 Índice de massa corpórea * 23 ± 3,9 Tabagistas (%) 46 Ex-tabagistas (%) 22 Tempo total de cirurgia (min) * 186,3 ± 45,6 Tempo de perfusão (min) * 82,8 ± 23,4 Tempo de internação (dias) * 7,2±1,5 * Valores expressos em Média ± DP RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL A figura 1 ilustra o percentual dos distúrbios ventilatórios observados nos pacientes estudados, obtidos no pré-operatório. Pode-se constatar que 27,6% dos pacientes apresentaram distúrbio ventilatório misto, 8,5% obstrução leve, 8,5% obstrução moderada e 4,2% distúrbio ventilatório restritivo. Somente 51,1% dos pacientes apresentaram prova espirométrica normal. Constatou-se que 49% dos pacientes estudados apresentavam prova espirométrica alterada, que foi detectada no pré-operatório. Também, 46% dos pacientes estudados eram fumantes atuais e 22% ex-tabagistas. Figura 2 – Resultados Obtidos entre as Variáveis Espirométricas do Pré-Operatório para a alta Hospitalar. Figura 1 – Percentual dos Distúrbios Ventilatórios na Amostra Estudada. res da força muscular respiratória, e os percentuais de perdas e ganhos obtidos. Tabela 3 – Resultados da Força Muscular Respiratória, Percentual de Diminuição e Ganho em Relação ao Pré-Operatório, 1º PO e na Alta Hospitalar. Os resultados dos valores espirométricos obtidos no préoperatório e na alta hospitalar estão apresentados na tabela 2. Pode-se constatar que, para todas as variáveis espirométricas, não houve restabelecimento total a seus valores prévios até a alta hospitalar, com valores percentuais menores que 20 a 30% daqueles obtidos no pré-operatório. Tabela 2 – Resultados dos Valores Espirométricos e Percentual de Diminuição em Relação ao Pré-Operatório. Pré-Operatório Pré-alta Percentual 74,5 ± 18,8 54 ± 18 ↓27,4% CVF (%) 76 ± 20 54,5 ± 20,5 ↓28,3% VEF1 (%) 72,7 ± 16,4 50,7 ± 15,3 ↓30,2% 65 ± 28 50,8 ± 20,5 ↓21% 57,6 ± 25,2 40,1 ± 17,9 ↓30,3% CVL (%) PF (%) FEF 25%-75% Pré-Operatório 1º PO Alta PImax (cmH2O) 61,1 ± 24,6 25,4 ± 14 (↓59,4%) 42,9 ± 21 (↑47%) PEmax (cmH2O) 73,6 ± 24,0 34,5 ± 16 (↓53,1%) 58,2 ± 28 (↑47%) PImax = Pressão Inspiratória Máxima; PEmax = Pressão Expiratória Máxima. A figura 3 ilustra o comportamento dos valores de força muscular respiratória, onde se pode constatar uma queda significativa entre o pré-operatório e o 1º PO, com p < 0,001 para a PImax e p < 0,001 para a PEmax. Foram também observados aumentos significativos dos valores de força muscular respiratória entre o 1º PO e a alta hospitalar, com p < 0,001 para a PImax e p < 0,001 para a PEmax. Entretanto, quando comparados os valores do pré-operatório para a alta hospitalar, constatou-se uma diminuição significativa dos valores de PImax (p < 0,01) e PEmax (p < 0,05). Figura 3 – Resultados Obtidos entre as Situações Pré-Operatório, 1º PO e Alta Hospitalar para a PImax e PEmax. CVL = Capacidade Vital Lenta; CVF = Capacidade Vital Forçada; VEF1 = Volume Expiratório Forçado no 1º segundo; PF = Pico de Fluxo Expiratório; FEF25%-75% = Fluxo Expiratório Forçado entre 25%-75% da Curva Expiratória, % = percentual do previsto. A figura 2 ilustra os resultados espirométricos obtidos na fase pré-operatória e na alta, sendo observadas diminuições significativas para as variáveis CV, CVF e VEF1, com p < 0,001. Com relação à força muscular respiratória, avaliada pelos valores de PImax e PEmax, pode-se observar que houve uma diminuição de 59% e 53% respectivamente, do pré-operatório para o 1º PO. Entretanto, do1º PO para a alta, houve um aumento de 47% tanto para a PImax quanto para a PEmax. Os percentuais de recuperação dos valores da força muscular respiratória do pré-operatório para a alta foram de 71% para a PImax e de 79% para a PEmax. A tabela 3 mostra os valoVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 DISCUSSÃO Este estudo investigou os efeitos da cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio associada com CEC sobre a função pulmonar e a força muscular respiratória em pa- 157 RBTI / ARTIGO ORIGINAL cientes submetidos à rotina de intervenção fisioterapêutica. Além disso, este estudo avaliou a prevalência de distúrbios ventilatórios encontrados na fase pré-operatória dos pacientes elegíveis, não sendo excluídos da amostra final aqueles com prova de função pulmonar alterada. As alterações da função pulmonar podem estar associadas a vários fatores como o tipo de incisão cirúrgica, a técnica de anestésica empregada, a disfunção diafragmática14, a dor pós-operatória15, e o posicionamento do dreno pleural16. No presente estudo, todos os pacientes que realizaram enxerto com artéria torácica interna apresentavam dreno torácico na região subxifóide, sendo assim uniformizado este fator. Com relação aos percentuais de diminuições encontrados neste estudo, observou-se que não houve retorno dos valores das variáveis de volumes e fluxos do pré-operatório para a alta hospitalar, mesmo na vigência da intervenção fisioterapêutica. Resultados semelhantes foram relatados por Ricksten e col.17, em pacientes no pós-operatório de cirurgia abdominal alta eletiva submetidos à fisioterapia associada à aplicação de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Também Lindner e col.18 constataram aumentos dos volumes e fluxos pulmonares logo após a aplicação do CPAP, porém estes valores foram menores, em torno de 25%, no 5° dia de pós-operatório, quando comparados aos valores basais do pré-operatório. Similarmente, neste estudo, observou-se uma redução entre 20% e 30% dos valores espirométricos na alta, mesmo com a intervenção fisioterapêutica. Com relação à força muscular respiratória, observou-se que a cirurgia cardíaca com CEC produziu prejuízos sobre a mecânica respiratória, reduzindo assim a capacidade dos músculos respiratórios em gerar tensão suficiente para vencer o trabalho imposto, por desvantagem mecânica ou por dor pós-operatória. Alguns autores têm constatado aumentos do trabalho respiratório em pacientes que foram submetidos à cirurgia cardíaca com CEC19. Outros estudos9,20 têm demonstrado que o treinamento muscular respiratório é efetivo para aumentar a força dos músculos respiratórios em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Entretanto, esses autores não relataram se os valores das variáveis por ocasião da alta são restabelecidos aos valores do pré-operatório. Nesse contexto, faz-se necessária a comparação dos valores obtidos na alta hospitalar com aqueles do pré-operatório, com o intuito de observar se há ou não um ganho real da força em relação à avaliação précirúrgica. Não foi constatado neste estudo o retorno dos valores da PImax e PEmax nos pacientes estudados, quando comparados os valores pré-operatórios com os da alta hospitalar. Entretanto, houve um aumento de 70% e 80% para a PImax e PEmax, respectivamente, do 1º PO para a alta, mesmo sem a realização do treinamento muscular respiratório. Além disso, foram observados baixos percentuais de complicações no pós-operatório, sendo que somente dois pacientes apresentaram hipersecreção pulmonar (1,41%) que ocasionou aumento do tempo de internação por complicações respiratórias. Estudos prévios têm demonstrado que tanto a função pulmonar como a mobilidade de caixa torácica superior é altamente prejudicada após a cirurgia cardíaca21,22,. Richter 158 Larsen e col.8 constataram que a CVF retornou aos valores do pré-operatório somente após seis meses da cirurgia cardíaca. Já a mobilidade torácica superior retornou aos valores basais após um ano da intervenção cirúrgica23. Este estudo apresenta algumas limitações tal como a ausência de um grupo controle (sem tratamento) com o objetivo de verificar se os pacientes submetidos à intervenção fisioterapêutica apresentariam valores superiores de função pulmonar e da força muscular respiratória, quando comparados àqueles sem intervenção. Porém, todos os pacientes foram tratados, seguindo uma rotina estabelecida pelo setor de fisioterapia. Além disso, não foi possível realizar medidas de função pulmonar no 1°PO, pois as manobras foram dificultadas pela dor. Em conclusão, os pacientes submetidos à cirurgia cardíaca eletiva mostraram uma alta prevalência de alterações espirométricas na fase pré-operatória. Além disso, a cirurgia cardíaca com CEC levou a prejuízos da função pulmonar e da força muscular respiratória. A intervenção fisioterapêutica aplicada aos pacientes incluídos no estudo possivelmente favoreceu um aumento da força muscular respiratória, porém os valores basais tanto da FP como da FMR não se mostraram completamente recuperados até a alta hospitalar. A intervenção fisioterápica pode ser justificada devido à alta prevalência basal de distúrbios ventilatórios observados nesses pacientes, com o intuito de reduzir a incidência de complicações respiratórias no pós-operatório. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A cirurgia cardíaca está associada à complicações respiratórias decorrentes de alterações da função pulmonar e da força muscular respiratória. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de alterações pulmonares no pré-operatório e avaliar o comportamento no pós-operatório, da função pulmonar e da força muscular respiratória em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e a intervenção fisioterapêutica. MÉTODO: Participaram deste estudo prospectivo 47 pacientes, internados na Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, com idade média de 57 ± 11 anos. Foram mensuradas as variáveis espirométricas e a força muscular respiratória (FMR) no pré-operatório, 1º pós-operatório e na alta hospitalar. RESULTADOS: Foi observada alta prevalência de alterações da função pulmonar (FP) no pré-operatório. Além disso, foram constatadas reduções significativas da FP do pré-operatório para a alta, bem como da FMR (p < 0,05). A FMR aumentou significativamente do 1º pós-operatório para a alta; entretanto, não retornou aos valores do pré-operatório, embora tenham constatados baixos percentuais de complicações pós-operatórias. CONCLUSÕES: Estes dados sugerem que a redução dos valores da FMR e da FP no pós-operatório não revertem completamente aos níveis pré-operatórios até a alta hospitalar. Entretanto, apesar da alta prevalência de alterações da FP no pré-operatório, neste estudo foram constatadas baixas taxas de complicações pós-operatórias. Unitermos: Cirurgia cardíaca, função pulmonar, força muscular respiratória, fisioterapia. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL REFERÊNCIAS 01. Taggart DP, el-Fiky M, Carter R et al – Respiratory dysfunction after uncomplicated cardiopulmonary bypass. Ann Thorac Surg, 1993;56:1123-1128. 02. Shapira N, Zabatino SM, Ahmed S et al – Determinants of pulmonary function in patients undergoing coronary bypass operations. 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Elias DG, Costa D, Oishi J et al - Efeitos do treinamento muscular respiratório no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca. Rev Bras Fisiot, 2000;12:9-18. 10. American Thoracic Society. Pulmonary Rehabilitation. Am J Respir Crit Care Med, 1999;159:1666-1682. 11. Knudson RJ, Lebowitz MD, Holberg CJ et al - Changes in the normal maximal expiratory flow-volume curve with growth and aging. Am Rev Respir Dis, 1983;127:725-734. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 12. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. I Consenso Brasileiro sobre espirometria. J Pneumol, 1996;22:105-164. 13. Black LF, Hyatt RE - Maximal static respiratory pressures in generalized muscular disease. Am Rev Res Dis, 1971;103:641-650. 14. Dureuil B, Cantineau JP, Desmonts JM – Effects of upper or lower abdominal surgery on diaphragmatic function. Br J Anesth, 1987;59:1230-1235. 15. Symreng T, Gomez MN, Rossi N - Intrapleural bupivacaine versus saline after thoracotomy - effects on pain and lung function - a double-blind study. J Cardiothorac Anesth, 1989;3:144-149. 16. Guizilini S, Gomes WJ, Faresin SM et al - Efeitos do local de inserção do dreno pleural na função pulmonar no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev Bras Cir Cardiovasc, 2004;19:47-54. 17. Ricksten SE, Bengtsson A, Soderberg C et al - Effects of periodic positive airway pressure by mask on postoperative pulmonary function. Chest, 1986;84:774-781. 18. Lindner KH, Lotz P, Ahnefeld FW - continuous positive airway pressure effect on functional residual capacity, vital capacity and its subdivisions. Chest, 1987;92:66-70. 19. Garzon A, Seltzer B, Karlson KE - Respiratory mechanics following openheart surgery for acquired valvular disease. Circulation, 1966;23:(Suppl4):I5764. 20. Garcia RCP, Costa D - Treinamento muscular respiratório em pós-operatório de cirurgia cardíaca eletiva. Rev Bras Fisiot, 2002;6:139-146. 21. Barbosa RAG, Carmona MJC - Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea. Rev Bras Anestesiol, 2002;52:689-699. 22. Ragnarsdottir M, KrustjAnsdittir A, Ingvarsdottir I et al - Short-term changes in pulmonary function and respiratory movements after cardiac surgery via median sternotomy. Scand Cardiovasc J, 2004;38:46-52. 23. KristjAnsdottir A, Ragnarsdottir M, Hannesson P et al - Respiratory movements are altered three months and one year following cardiac surgery. Scand Cardiovasc J, 2004;38:98-103. 159 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus. Relato de Sete Casos no Centro-Oeste do Brasil* Cardiopulmonary Syndrome due to Hantavirus. Report of Seven Cases on the Midwest of Brazil Wagner Marques Pereira Malheiros1, Carlos José Alves2, Gilberto Paulo Pereira Franco3, Abdon Salam Khaled Karhawi4, Marcos Vinícius Paes de Barros5. Michelli Silva Daltro Coelho6, Mabel da Silva Gallina6, Paloma Borges dos Santos6. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The diseases related to Hantaviruses, endemic in Eurasia as hemorrhagic fever with renal syndrome, were described in America in 1993, predominantly as a cardiopulmonary syndrome. The disease is transmitted to man through the inhalation of viral particles from feces and urine of small rodents, and is followed by the prodromic, cardiopulmonary and recovery periods. The viral induced damage to the lung capillary endothelium is the most important event in the cardiopulmonary period, and may be associated or not to some degree of ventricular dysfunction. CONTENTS: We report seven cases of the disease, confirmed by serology, and gathered within a period of three years. We reinforce the importance of a high degree of clinical suspicion, due to its impact on treatment; witch is based on judicious fluid replacement and the use of vasoactive drugs on the approach to shock. The oxygenation variables tended to a rapid improvement with this approach. We report one death in this group of patients. Ribavirin, witch was not used in these cases, is under evaluation by controlled trials. CONCLUSIONS: We believe that hantaviruses will become a more frequent differential diagnosis with acute pulmonary disease leading to respiratory failure and shock, especially due to the growing urban character it has acquired. Key Words: Hantaviruses, cardiopulmonary syndrome. A s doenças relacionadas aos diversos tipos de hantavirus não eram descritas no território americano até junho de 1993. Presentes nos demais continentes (em especial na Ásia e Europa), manifestavam-se por febre hemorrágica com insuficiência renal, sem envolvimento pulmonar1,2. Em maio de 1993 uma doença febril aguda associada à falência respiratória, choque e alta letalidade foi descrita na região de Four Corners, sudoeste dos EUA3. Investigação promovida pelo CDC demonstrou que um novo tipo de hantavirus era o agente etiológico envolvido, denominado inicialmente Four Corners, a seguir Muerto Canyon e finalmente Sin Nombre4,5. Posteriormente foram observados casos em outros estados americanos6,7, embora a predominância na região sudoeste permanecesse. Esta nova espécie de hantavirus diferenciava-se das demais previamente descritas pelo pouco comprometimento renal e pelo grave envolvimento pulmonar, com elevada letalidade. Na epidemia de Four Corners foram compilados 48 casos. Havia predominância no sexo masculino; a idade mediana era de 31 anos e a letalidade alcançava 60%8. Em novembro e dezembro de 1993 foram relatados três casos na região Sudeste do Brasil, na área rural de Juquitiba, SP9. Os pacientes eram irmãos e apresentavam doença respiratória aguda, dois deles evoluindo para o óbito. A investigação mostrou que o agente causal era um vírus semelhante ao Sin Nombre. O hantavírus tem como hospedeiro pequenos roedores silvestres10,11, existentes em grandes populações nas regiões produtoras de grãos. A presença de silos ou outros locais de armazenagem inadequadamente construídos, além do desmatamento, propicia o contato humano com os excretas destes roedores. A transmissão ao homem dá-se sob a forma de aerossol. O principal evento fisiopatológico, a lesão básica, reside nas células endoteliais dos capilares pulmonares, por ação direta do vírus nas integrinas beta 3, promovendo brutal alteração da permeabilidade, resultando em edema pulmonar12-14. A agressão viral não se limita ao pulmão, sendo encontradas partículas virais nas células cardíacas, resultando em redução funcional e surgimento de arritmias cardíacas15. Partículas virais podem também ser encontradas em diversos órgãos e tecidos, porém a maior relevância clinica sobre os pulmões e o coração fez com que a síndrome fosse alcunhada como uma 1. Especialista em Pneumologia/Tisiologia e Broncoscopia; Responsável pela rotina de doenças pulmonares/broncoscopia da UTI do Hospital Jardim Cuiabá. 2. Chefe da UTI Adulto do Hospital Jardim Cuiabá; Especialista em Terapia Intensiva; Professor Assistente na Disciplina de Semiologia Médica na Universidade de Cuiabá – UNIC. 3. Especialista em Terapia Intensiva; Responsável pela rotina médica da UTI Adulto do Hospital Jardim Cuiabá. 4. Doutor em Infectologia; Especialista em Terapia Intensiva 5. Especialista em Cardiologia; Especialista em Terapia Intensiva 6. Graduanda de Medicina na Universidade de Cuiabá – UNIC * Recebido do Hospital Jardim Cuiabá - Centro de Terapia Intensiva Adulto, Cuiabá – MT Fonte de Patrocínio: Centro de Estudos em Medicina Intensiva; Grupo Cuiabano de Medicina Intensiva - GCMI Apresentado em 06 de agosto de 2004 - Aceito para publicação em 18 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Dr. Wagner Marques Pereira Malheiros - Rua Ceilão, 480 Bairro Shangri-lá - 78070-150 Cuiabá, MT - Celular: (65) 9982-7699 CTI Adulto: (65) 612-4416 Residência: (65) 634-1544 - e-mail: [email protected]. FAX: (65)612-4415 160 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL entidade cardiopulmonar. A presença de receptores do tipo integrinas beta 3 nas plaquetas humanas justifica a moderada redução na contagem destes elementos, embora eventos hemorrágicos sejam incomuns. Outras alterações da coagulação, quando presentes, tendem a ser discretas e de rápida recuperação. A quantidade de inóculo infectante parece estar relacionada à gravidade da doença, observando-se desde casos mais brandos com boa evolução até outros com acentuada repercussão hemodinâmica. O período de incubação da doença pode variar de poucos dias a semanas, seguindo-se as manifestações clinicas iniciais. A síndrome cardiopulmonar por hantavírus é dividida clinicamente em três fases. Uma fase prodrômica, caracterizada por febre não elevada, mialgia intensa (principalmente na região dorsal do abdômen e posterior das coxas), tosse seca e dispnéia. Pode-se observar vômitos, diarréia e cefaléia, sendo esta última mais comum. Não ocorrem sintomas de vias aéreas superiores. Segue-se a fase cardiopulmonar, com deterioração hemodinâmica e respiratória, representada por colapso circulatório e insuficiência respiratória aguda por edema pulmonar, usualmente não cardiogênico. Efusão pleural é comum nesta fase. As alterações laboratoriais demonstram grande hemoconcentração, podendo o hematócrito atingir valores bastante elevados. Trombocitopenia, hipocalemia, leucocitose com presença de linfócitos atípicos, elevação de transaminases e desidrogenase lática são observados. Neste período a febre não mais é observada, cessando imediatamente após o inicio das alterações hemodinâmicas. A alteração da permeabilidade endotelial pulmonar resulta em inundamento alveolar, de maneira que nas observações radiológicas pode-se encontrar desde formas intersticiais até um padrão semelhante ao da SARA. Os valores de pressão de oclusão da artéria pulmonar podem ser normais ou notadamente baixos; a resistência vascular periférica tende à ele- vação e o trabalho ventricular esquerdo à redução. A terceira fase é a de convalescença. DESENVOLVIMENTO O estudo foi realizado em uma UTI mista de um hospital geral privado na cidade de Cuiabá, Mato Grosso. Foi realizada revisão de prontuário de sete pacientes, internados no serviço, com diagnóstico sorológico de síndrome cardiopulmonar por hantavírus, no período de dezembro de 2000 a dezembro de 2003. Todos os pacientes eram provenientes de área rural, em região produtora de grãos, especialmente soja, morando próximo a locais de armazenamento da produção, possibilitando o contato indireto com pequenos roedores. A idade variou de 13 a 57 anos (mediana de 37anos) e quatro dos pacientes eram do sexo feminino. Os sintomas iniciais em todos eles eram tosse, mialgia, em especial na região dorsal do abdômen e posterior das coxas, febre não elevada e dispnéia. A cefaléia foi observada em quatro pacientes. Não foram observados sintomas gastro-intestinais. Em cinco pacientes os sintomas iniciais ocorreram entre 48 e 96 horas antes da admissão. Os outros dois pacientes (um casal com sintomas mais tardios) eram provenientes de pequeno hospital no interior, com relato clinico dos mesmos sintomas iniciais, tendo sido admitidos após quinze dias do inicio do quadro clinico. A avaliação inicial dos pacientes pode ser observada na tabela 1. As alterações radiológicas variaram desde infiltrado intersticial, nos casos mais brandos, até um padrão de SARA (Figuras 1 e 2). Na paciente mais jovem (13 anos) a presença de esplenomegalia importante era notada. Nenhum outro paciente apresentava visceromegalias. O estudo laboratorial inicial dos pacientes pode ser observado na tabela 2. Tabela 1 - Estudo Clinico Inicial/Uso de Ventilação/Cateter de Artéria Pulmonar/Droga/Destino. Casos Idade Sexo Dobutamina APACHE PAM mmHg FC FR TA PaO2/FiO2 S.Ganz Ventilador Mecânico Final 1 2 3 4 5 6 7 37 57 36 31 13 50 43 M F F M F M F Sim Não Sim Sim Sim Não Sim 27 10 16 16 14 12 13 40 140 53 67 35 70 50 120 105 160 120 145 122 130 38 30 32 28 48 26 34 35.6 36.2 36.8 36.4 36,5 36.5 36.8 95.2 125 100 106.4 172 120 108 sim não não não não não não sim não sim não não não não Óbito Alta Alta Alta Alta Alta Alta FC – freqüência cardíaca, FR = freqüência respiratória, TA = temperatura axilar Figura 1. Evolução radiológica. Figura 2. Evolução radiológica. Caso 3: A - Evolução radiológica inicial, com padrão intersticio-alveolar, predominando na área medular do pulmão em “asa de borboleta”; B - Em 12 h, evoluindo com padrão de SARA; C - Após terapêutica instituída, quase normalização após 96 h. Caso 4: A - Avaliação radiológica inicial infiltrado interstico-alveolar difuso; B - Evolução com padrão de SARA seis horas após; C - Padrão radiológico pouco antes de evolução para óbito por atelectasia pulmonar. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 161 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Casos Leucometria (total/mm³) Hematócrito (%) 1 2 3 4 5 6 7 13.000 9.700 13.000 5.000 6.700 8.000 10.600 61.1 41 44 58 45 54 46 Tabela 2 - Exames Laboratoriais Admissionais Creat. Sódio Potássio Plaquetas Sérico Sérico Sérica (total/mm³) (mg/dl) (mEq/dl) (mEq/Dl) 90.000 1.9 128 3.2 287.000 1.0 134 3.4 146.000 1.1 130 3.6 87.000 0.5 134 3.5 81.000 0.8 128 3.6 95.000 0.7 130 3.3 113.000 1.6 133 3.1 Os pacientes apresentavam-se, em geral, hipotensos à admissão. A reposição volêmica, em alíquotas, respeitou as reavaliações clinicas, as trocas gasosas e as alterações radiográficas à beira do leito. Chamava a atenção que, em geral, pequenos volumes hídricos pioravam as trocas gasosas, bem como tornavam mais evidentes as alterações radiológicas. Em cinco pacientes foi necessário o emprego de amina vasoativa (dobutamina, na dose de 2 a 10 µg/kg/min, conforme Guideline do CDC)8. Todos os pacientes foram submetidos à ecocardiografia à beira do leito, sendo, em alguns, notada disfunção sistólica difusa de grau leve. Um paciente foi também monitorizado com cateter de artéria pulmonar, em razão da não resposta às manobras iniciais; os indices eram de baixa pressão de oclusão da artéria pulmonar, resistência vascular sistêmica elevada e trabalho ventricular esquerdo reduzido. Todos os pacientes apresentavam baixa relação PaO2/ FiO2, porém com melhora observada num espaço de tempo que variou de minutos a poucas horas, conseguida com acréscimo de oxigênio através de máscara de Venturi e a infusão mais judiciosa de volume. Dois pacientes necessitaram de ventilação mecânica. Ambos haviam evoluído também com maior refratariedade à correção do choque e rebaixamento do sensório. Um deles permaneceu em ventilação mecânica por 48 horas, com melhora das trocas gasosas após estabilização pressórica. O outro evoluiu para o óbito por atelectasia pulmonar à direita no sétimo dia de internação, quando já estava em processo de desmame ventilatório. O evento foi súbito, com intensa hipoxemia, seguindo arritmia ventricular refrataria. Não houve tempo para realização de broncoscopia para liberação do pulmão afetado. Em ambos se observou exteriorização de volumoso líquido amarelado pelo tubo orotraqueal, podendo este ser um indicativo para excluir a presença de hemorragia alveolar e suas doenças correlatas. Foi realizada broncofibroscopia no paciente que veio a falecer, caracterizando o BAL com poucas células, mas predominantemente linfocitico (> 30%), sem hemácias e células epiteliais. As culturas foram negativas e não se observou inclusões nos macrófagos. Uma paciente evoluiu com perda parcial da acuidade visual, tendo sido observada a presença de manchas de Roth em sua retina. O ecocardiograma de beira de leito foi normal, não sendo realizado por via trans-esofágica. Todos os outros obtiveram alta da UTI em período inferior a dez dias. DISCUSSÃO O reconhecimento, o entendimento da fisiopatologia e o 162 LDH TGO TGP Hemocultura 824 550 451 406 562 62 25 84 34 48 110 79 68 27 90 36 18 90 59 negativa negativa negativa negativa negativa negativa negativa aporte terapêutico adequado vêm reduzindo a mortalidade da síndrome, que outrora variava de 50% a 80%16. A reanimação volêmica, pilar na abordagem dos casos de choque circulatório, se não for extremamente cuidadosa, pode ser deletéria aos pacientes com síndrome cardiopulmonar por hantavírus, levando a um acréscimo na mortalidade17,18. Em decorrência da acentuada alteração na permeabilidade capilar pulmonar, notadamente aumentada, expansões volêmicas que seriam utilizadas em outras patologias que cursam com choque, aqui mais rapidamente deterioram as trocas gasosas, por avassalador inundamento alveolar. Entende-se, então, que o manuseio do choque, nestes casos, deve levar em conta judiciosa reposição volêmica. Acreditamos que o reconhecimento precoce da doença e seu manuseio, justifiquem que apenas dois pacientes requereram uso de ventilação mecânica, apesar dos baixos níveis de índice de oxigenação iniciais. A melhora do quadro clinico em geral é rápida, mas a evolução pode ser catastrófica, apesar do pouco volume infundido. Em alguns pacientes observamos que pequeno volume ( 100-150 ml ) infundido, o agravamento do quadro clinico era avassalador. A noradrenalina não foi utilizada nos pacientes em choque, especialmente pela fisiopatogenia da doença cursar com elevados valores de resistência periférica. O emprego da dobutamina foi eficaz no controle destes pacientes. O uso de rivabirina é recomendado com base na sua ação in vitro19, ainda que nenhum trabalho tenha demonstrado seu impacto sobre a mortalidade na síndrome. É difícil o acesso à sua apresentação por via endovenosa em nosso meio, razão da sua não utilização. Estudos publicados sobre o lavado bronco-alveolar (BAL) fazem referência a um líquido rico em proteínas, sem hemácias ou características de LBA hemorrágico, importante no diagnóstico diferencial com doenças que cursam com hemorragia alveolar e na leptospirose com acometimento pulmonar20. A suspeita clinica da doença baseia-se em um quadro inexplicável de insuficiência respiratória aguda seguindo-se colapso circulatório, aparentemente sem envolvimento cardiogênico, associado à história epidemiológica e características laboratoriais como hemoconcentração e plaquetopenia. O padrão radiológico demonstrando doença pulmonar difusa, com predomínio medular, variando desde a forma intersticial até o padrão de SARA, associado com silhueta cardíaca normal, pode sugerir edema pulmonar não cardiogênico. Febre foi relatada na fase inicial da doença em todos os casos, com desaparecimento após a instalação do choque, o que corrobora as séries anteriormente publicadas. Não houve RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL leucocitose expressiva em nenhum de nossos casos. As alterações eletrolíticas mais observadas foram hiponatremia e hipocalemia, mantidas durante quase toda evolução dos casos. O grau de suspeição clínica deve ser elevado, devido ao seu impacto sobre a abordagem terapêutica. Infelizmente, tal suspeição ocorre, na maioria das vezes, quando de pequenas epidemias, nas quais a similaridade e a gravidade dos casos remete a diagnósticos incomuns. Casos isolados dificilmente suscitam suspeita ou investigação para hantavirose, sendo em geral rotulados dentro das diversas causas de doença pulmonar com distúrbio hemodinâmico, em especial as pneumonias atípicas ou comunitárias graves. É possivel, então, ser a hantavirose doença sub-diagnosticada, com mortalidade incrementada quando do manuseio inadequado. Na nossa série, todos os pacientes eram de zona rural. Entretanto, relatos confirmados da doença em ambiente urbano vêm se sucedendo, empobrecendo a história epidemiológica, mas alertando para a existência da doença nesse meio. CONCLUSÃO Devido à sua particular fisiopatologia, principalmente em relação à agressão sobre o endotélio capilar pulmonar, deparamos com uma situação na qual a abordagem inicial ao choque pode contrariar o “instinto” do intensivista, por cursar com parcimoniosa reposição volêmica, atitude que se torna ainda mais difícil sem um diagnóstico definitivo precoce, com decisões guiadas pela elevada suspeita clinica. Acredita-se que esta doença tornar-se-á diagnóstico diferencial mais presente nos casos inexplicáveis de doença pulmonar com insuficiência respiratória e choque. Sua presença em nosso meio tem se tornado cada vez mais comum, especialmente pelo caráter urbano que vem adquirindo. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: As doenças relacionadas à hantavirose, endêmicas na Eurásia sob a forma de febre hemorrágica e com síndrome renal, foram descritas no continente americano em 1993, predominantemente como síndrome cardiopulmonar. A transmissão da doença ao homem dá-se por aspiração de partículas virais em aerossóis de fezes e urina de pequenos roedores, e é seguida pelas fases prodrômica, cardiopulmonar e de convalescença. A agressão viral ao endotélio capilar pulmonar com dramático aumento da permeabilidade caracteriza o principal evento fisiopatológico na fase cardiopulmonar, associado ou não a algum grau de disfunção ventricular. CONTEÚDO: Sete casos sorologicamente comprovados da doença, compilados ao longo de três anos. A importância de um elevado grau de suspeição clínica, deve ser ressaltada, devido ao seu impacto no tratamento, caracterizado por hidratação judiciosa e emprego de drogas vasoativas na Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 abordagem do choque. Os índices de oxigenação tenderam à rápida melhora com esta abordagem. Relatamos um óbito na presente série. A ribavirina, droga não utilizada em nosso meio, está sendo avaliada em estudos controlados. CONCLUSÕES: Acredita-se que esta doença tornar-se-á diagnóstico diferencial mais presente nos casos inexplicáveis de doença pulmonar com insuficiência respiratória e choque. Sua presença em nosso meio tem se tornado cada vez mais comum, especialmente pelo caráter urbano que vem adquirindo. Unitermos: Hantavirose, Síndrome cardiopulmonar por hantavírus. REFERÊNCIAS 01. Lee H, van der Groen G - Hemorrhagic fever with renal syndrome. Prog Med Virol, 1989;36:62-102. 02. Ahmeti S, Kutllovic M, Baljosevic S et al - Clinical and epidemiological characteristics of haemorrhagic fever with renal syndrome (HFRS) during epidemic. In: Symposium on Arbovirus in the Mediterranean Countries. 2nd Ed, Dubrovnik, Yugoslavia, 1989;S34. 03. Duchin JS, Koster FT, Peters CJ et al - Hantavirus pulmonary syndrome: a clinical description of 17 patients with a newly recognized disease. N Engl J Med, 1994;330:949-955. 04. Ksiazek TG, Peters CJ, Rollin PE et al – Identification of a new North American hantavirus that causes acute pulmonary insufficiency. Am J Trop Med Hyg, 1995;52:117-123. 05. Nichol ST, Spiropoulou CF, Morzunov S et al - Genetic identification of a hantavirus associated with an outbreak of acute respiratory illness. Science, 1993;262:914-917. 06. Khan AS, Spiropoulou CF, Morzunov S et al - Fatal illness associated with a new hantavirus in Louisiana. J Med Virol, 1995;46:281-286. 07. Khan AS, Gaviria M, Rollin PE et al - Hantavirus pulmonary syndrome in Florida: association with the newly identified Black Creek Canal virus. Am J Med, 1996;100:46-48. 08. C.D.C. Hantavirus pulmonary syndrome – United States, 1993. MMWR, 1994;43:45-48. 09. Vasconcelos MJ, Pedroso de Lima VC, Iversson LB et al - Doença humana por hantavirus na área rural de Juquitiba, área metropolitana de São Paulo, Brasil. In: XXX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em Salvador, 1994. 10. Song JW, Baek LJ, Gajdusek DC et al - Isolation of pathogenic hantavirus from white-footed mouse (Peromyscus leucopus). Lancet, 1994;344:1637. 11. Childs JE, Ksiazek TG, Spiropoulou CF et al - Serologic and genetic identification of Peromyscus maniculatus as the primary rodent reservoir for a new hantavirus in the southwestern United States. J Infec Dis, 1994;169:1271-1280. 12. Nolte KB, Feddersen RM, Foucar K et al - Hantavirus pulmonary syndrome in the United States: a pathological description of a disease caused by a new agent. Hum Pathol, 1995;26:110-120. 13. Mackow ER, Gravilovskaya IN - Cellular receptors and hantavirus pathogenesis. Curr Top Microbiol Immunol, 2001;256:91-115. 14. Peters CJ, Zaki SR - Role of endothelium in viral hemorrhagic fevers. Crit Care Med, 2002;30:(Suppl5):S268-S273. 15. Hallin G, Simpson SQ, Crowell RE et al - Cardiopulmonary manifestations of hantavirus pulmonary syndrome. Crit Care Med, 1996;24:252-258. 16. C.D.C. Update: Hantavirus disease – United States, 1993. MMWR Mord Mortal Wkly Rep, 1993; 42421-42424 17. Campos GM - Estudo clinico-epidemiológico sobre a hantavirose na região de Ribeirão Preto, SP (dissertação). São Paulo: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2002. 18. Zhao X, Hay J - The Evolution of hantavirus. Immunol Invest, 1997;26:191197. 19. Chapman LE, Ellis BA, Koster FT et al - Ribavirin Study Group. Discriminators between hantavirus infected and uninfected persons enrolled in a trial of intravenous ribavirin presumptive hantavirus pulmonary syndrome. Clin Infec Dis, 2002;34:293-304. 20. Levy H, Simpson SQ - Hantavirus pulmonary syndrome. Am J Respir Crit Care Med, 1994;149: 1710-1713. 163 RBTI / NEUROINTENSIVISMO - ARTIGO ORIGINAL Estudo Epidemiológico do TCE em Unidade de Terapia Intensiva Geral como Resultado da Adesão ao Latin American Brain Injury Consortium* Epidemiologic Survey of Traumatic Brain Injury in a General Intensive Care Unit as a Result of Latin American Brain Injury Consortium Adherence Cláudio Piras1, Luís Vicente Forte2, Cássio Morano Peluso2, Ed Moreira Lima1, Mirto Nelson Prandini3. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The authors present the Latin American Brain Injury Consortium (LABIC) their objectives and impact on a general ICU in Vitória city. The implantation of this Consortium in our state results in a traumatic brain injury (TBI) epidemiologic study in our city with the objective to acquire knowledge about them and promote actions in order to improve prevention and treatment of those patients. METHODS: Retrospective study of 105 patients accepted in a general ICU since January 2003 through October 2003. RESULTS: There were 92 (87.62%) men and 13 (12.38%) women. Twenty eight patients suffered TBI from fall (26.67%), ten patients suffered TBI from penetrating gunshot (9.52%) and fifty seven patients suffered TBI from crashes (54.29%) that was responsible for 54.76% of deaths. The overall mortality was 40% and was more prevalent in the elderly (80%), falls (39.28%), penetrating gunshot (50%) and crush (50%). Eighty one patients had Glasgow Coma Scale less than 9 on admission (77.19%). Mortality reached 92.31% (p = 0.0329) when APACHE II was more than 23. CONCLUSIONS: The authors concluded that the adherence to the LABIC was responsible for the knowledge of the actual situation of TBI in our city and give them means to make public those data in order to divulge the neurologic intensive care and promote debates and actions to prevent TBI as well as treat them. Key Words: brain hemometabolism, brain ischemia, intensive care, epidemiology, trauma, brain injury. A lesão isquêmica é o evento final mais comum na destruição do tecido encefálico, quer por ação primária ou secundária, de forma difusa ou focal, ocorrendo em conseqüência de alterações permanentes ou temporárias do fluxo sangüíneo para um dado metabolismo encefálico. Diversas condições etiológicas estão associadas com a lesão encefálica1. A compreensão crescente dos mecanismos de lesão e o desenvolvimento de tratamentos específicos despertaram o interesse de diversos grupos e agências. Surgiram drogas com o objetivo de tratar, evitar ou diminuir as áreas de isquemia. A necessidade de colaboração nacional e internacional, em grande escala, sobre a lesão encefálica aguda foi claramente estabelecida pelo EBIC (Europen Brain Injury Consortium) e outras organizações2. A falta de dados epidemiológicos precisos na América Latina dificulta o conhecimento da incidência real das lesões encefálicas nesse continente. A análise de apenas um fator etiológico, o trauma, pode servir como exemplo. Estudos indicam que o TCE é um grave problema de saúde pública nos EUA3,4 e que na América Latina a situação pode ser ainda pior. Essa incidência estimada abre um vasto campo para investigações clínicas multicêntricas e o desenvolvimento de equipamentos, drogas sedativas, trombolíticas e de neuroproteção. A possibilidade de estabelecer estudos multicêntricos re- gionais e a existência de outros dois Consórcios (Europeu5 e Americano6) incentivaram pesquisadores a conceber uma estrutura similar na América Latina. Após a adesão ao LABIC, realizou-se um estudo epidemiológico do TCE e avaliou-se as possíveis repercussões da adesão em uma UTI no Estado do Espírito Santo. MÉTODO Foram estudados 105 pacientes internados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), por traumatismo cranioencefálico (TCE), no período entre 01/01/2003 e 31/10/2003. O grupo com TCE foi escolhido para o estudo pelos seguintes motivos: integra o núcleo de interesse do LABIC, possui alta incidência, maior prevalência em adultos jovens, apresenta tempo de internação prolongado, possui elevada taxa de morbidade e mortalidade, necessita de reabilitação, envolve elevado custo social e financeiro, os fatores de risco são conhecidos e possibilitam a implantação de programas de prevenção. Os pacientes foram avaliados quanto ao sexo, idade, tempo de permanência na UTI, fator causal e APACHE II (Acute Physiology and Chronic Health Evaluation versão II). O grupo Faixa Etária (FE) foi dividido em quatro subgrupos: subgrupo I, idades entre 15 e 29 anos; subgrupo II, entre 1. Médico Intensivista do Hospital São Lucas. Especialista em Terapia Intensiva pela AMIB. Membro do LABIC Espírito Santo. 2. Neurocirurgião. Diretor do Instituto de Tratamento Neurológico e de Terapia Intensiva (INETI). Membro fundador do LABIC. 3. Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Neurocirurgia da UNIFESP. *Recebido da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Lucas, Vitória, ES Apresentado em 19 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 04 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Dr. Cláudio Piras - Rua Alaor de Queiroz Araújo, 175/602 - Enseada do Suá - 29055-010 Vitória, ES - Fone: (27) 3345-1118 / Fax (27) 3345-1297 - E-mail: [email protected] 164 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / NEUROINTENSIVISMO - ARTIGO ORIGINAL 30 e 44 anos; subgrupo III, entre 45 e 59 anos; e subgrupo IV, idade igual ou superior a 60 anos. O grupo Fator Causal (FC) foi dividido em sete subgrupos: subgrupo A, pacientes vítimas de acidente de trânsito em automóvel; subgrupo B, pacientes vítimas de acidente de trânsito envolvendo motocicletas; subgrupo C, pacientes vítimas de atropelamento; subgrupo D, pacientes vítimas de lesão encefálica por projétil de arma de fogo (PAF); subgrupo E, pacientes vítimas de espancamento; subgrupo F, pacientes vítimas de quedas; e subgrupo G, outros fatores causais não incluídos nos demais grupos. O índice APACHE II foi utilizado para se correlacionar a gravidade dos pacientes, através de faixas de pontuação com a mortalidade obtida. Foi utilizado também para se analisar a existência de diferença estatística significativa entre os valores médios obtidos nos pacientes que tiveram alta da UTI e os que evoluíram para o óbito. O Grupo APACHE II (AP) foi dividido em quatro subgrupos: subgrupo 1, valores de APACHE II entre 0 e 7 pontos; subgrupo 2, valores de APACHE II entre 8 e 15 pontos; subgrupo 3, valores de APACHE II entre 16 e 23 pontos; e subgrupo 4, valores de APACHE II igual ou superior a 24 pontos. A mortalidade foi analisada em cada grupo, entre os seus subgrupos, entre os sexos e de forma global. Os resultados foram apresentados na forma de números, percentuais (com duas casas decimais) e, quando cabia, através de análise estatística. Os testes utilizados foram o Quiquadrado e o Exato de Fisher (quando uma ou mais variantes tinham número inferior a cinco). O programa estatístico utilizado foi o EpiInfo for Windows 2002 (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta). Foram considerados significativos os valores de p menores que 0,05 (apresentados com 4 casas decimais), tendo sido registrados no texto e nas tabelas apenas esses. RESULTADOS Dos 105 pacientes estudados 92 (87,62%) eram do sexo masculino e 13 (12,38%) do sexo feminino. A permanência na UTI variou de 1 a 55 dias, com média de 10,85 ± 9,74 dias). A idade dos pacientes variou entre 15 e 82 anos (Grupo FE). O subgrupo I (15 e 29 anos) com 46 pacientes (43,81%); o subgrupo II (30 e 44 anos) com 33 pacientes (31,43%); o subgrupo III (45 e 59 anos) com 16 pacientes (15,24%); e o subgrupo IV (60 anos ou superior) com 10 pacientes (9,52%). Esses resultados estão apresentados na tabela 1. Tabela 1 - Distribuição dos Pacientes Portadores de Traumatismo Cranioencefálico por Faixa Etária (Grupo FE) Subgrupos I (15 a 29 anos) II (30 a 44 anos) III (45 a 59 anos) IV (60 anos e superior) Total Nº de pacientes 46 33 16 10 105 % 43,81 31,43 15,24 9,52 100,00 Quanto ao fator causal (Grupo FC) observou-se a incidência de 9 pacientes (8,57%) no subgrupo A (vítimas de acidente de trânsito em automóvel); de 22 (20,95%) no Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 subgrupo B (vítimas de acidente de trânsito em motocicleta); de 26 (24,76%) no subgrupo C (vítimas de atropelamento); de 10 (9,52%) no subgrupo D (vítimas de lesão encefálica por arma de fogo); de 8 (7,62%) no subgrupo E (vítimas de espancamento); de 28 (26,67%) no subgrupo F (vítimas de queda); e de 02 (1,91%) no subgrupo G (outros fatores causais). Esses resultados estão apresentados na tabela 2. Tabela 2 - Distribuição dos Pacientes Portadores de Traumatismo Cranioencefálico por Fator Causal (Grupo FC) e Mortalidade Subgrupos A (automóvel) B (motocicleta) C (atropelamento) D (projétil arma fogo) E (espancamento) F (quedas) G (outros) Nº de Pacientes 9 22 26 8,57 20,95 24,76 Nº de Óbitos 2 8 13 22,22 36,36 50,00 10 9,52 5 50,00 8 28 2 7,62 26,67 1,91 2 11 1 25,00 39,28 50,00 % % Não houve diferença estatística significante na mortalidade entre os subgrupos Na internação, 81 pacientes (77,14%) apresentavam pontuação na Escala de Coma de Glasgow (ECG) ≤ 8; 20 (19,05%) ECG entre 9 e 13 pontos; e 4 (3,81%) acima de 13. O Grupo APACHE II (AP) apresentou os seguintes resultados: 6 pacientes (5,71%) no subgrupo 1 (0 a 7 pontos); 42 (40%) no subgrupo 2 (8 a 15 pontos); 44 (41,91%) no subgrupo 3 (16 a 23 pontos) e 13 (12,38%) no subgrupo 4 (24 pontos ou superior). Esses resultados estão apresentados na tabela 3. Tabela 3 - Distribuição dos Pacientes Portadores de Traumatismo Cranioencefálico por Pontuação no APACHE II (Grupo AP) Subgrupos 1 (0 a 7 pontos) 2 (8 a 15 pontos) 3 (16 a 23 pontos) 4 (24 pontos ou superior) Total Nº de Pacientes 6 42 44 13 105 % 5,71 40,00 41,91 12,38 100,00 APACHE – Acute Physiology and Chronic Health Evaluation A mortalidade global foi de 40% (42 óbitos em 105 pacientes). A incidência de óbito no sexo masculino foi de 38,04% (35 óbitos em 92 pacientes) e no sexo feminino de 53,85% (7 óbitos em 13 pacientes). Não houve diferença estatística significativa entre os dois grupos. Relacionando a faixa etária com a mortalidade encontrou-se 30,43% de óbitos no subgrupo I, 36,36% de óbitos no subgrupo II, 50% de óbitos no subgrupo III e 80% de óbitos no subgrupo IV. Não foi observada diferença estatística significante na mortalidade entre os subgrupos (Tabela 4). Tabela 4 - Distribuição da Mortalidade por Faixa Etária em Pacientes Portadores de Traumatismo Cranioencefálico (Grupo FE) Subgrupos I (15 a 29 anos) II (30 a 44 anos) III (45 a 59 anos) IV (60 e superior) Nº de Pacientes 46 33 16 10 Nº de Óbitos 14 12 8 8 % 30,43 36,36 50,00 80,00 Não houve diferença estatística significante na mortalidade entre os subgrupos 165 RBTI / NEUROINTENSIVISMO - ARTIGO ORIGINAL A mortalidade no grupo FC (fator causal) foi de: 22,22% (2 óbitos em 9 pacientes) no subgrupo A; 36,36% (8 óbitos em 22 pacientes) no subgrupo B; 50% (13 óbitos em 26 pacientes) no subgrupo C; 50% (5 óbitos em 10 pacientes) no subgrupo D; 25% (2 óbitos em 8 pacientes) no subgrupo E; 39,28% (11 óbitos em 28 pacientes) no subgrupo F; 50% (1 óbito em 2 pacientes) no subgrupo G. Não houve diferença estatística significante na mortalidade em os subgrupos analisados. Esses resultados estão apresentados na tabela 2. O valor médio do APACHE II nos pacientes que obtiveram alta foi de 14,06 (DP 6,17) e nos que evoluíram para o óbito de 19,98 (DP 6,48). Não houve diferença estatística significante entre os valores obtidos. Analisando a mortalidade no Grupo AP (APACHE II) encontrou-se: 0% (0 óbitos em 6 pacientes) de mortalidade no subgrupo 1 (0 a 7 pontos); 23,81% (10 óbitos em 42 pacientes) no subgrupo 2 (8 a15 pontos); 45,45% (20 óbitos em 44 pacientes) no subgrupo 3 (16-23 pontos); e 92,31% (12 óbitos em 13 pacientes) no subgrupo 4 (24 pontos ou superior). Houve diferença estatística significante entre os subgrupos 1 e 4 (p=0,0368); e 2 e 4 (p=0,0093). Não foi encontrada diferença estatística significante entre o subgrupo 3 e os demais subgrupos, nem entre os subgrupos 1 e 2 (Tabela 5). Tabela 5 - Distribuição da Mortalidade por Pontuação de APACHE II nos Pacientes Portadores de Traumatismo Cranioencefálico (Grupo AP) Subgrupos 1 (0 a 7 pontos) 2 (8 a 15 pontos) 3 (16 a 23 pontos) 4 (24 pontos ou superior) Nº de Pacientes 6 42 44 13 Nº de Óbitos 0 10 20 12 % 0,00 (*) 23,81 (#) 45,45 92,31 APACHE – Acute Physiology And Chronic Health Evaluation (*) p = 0,0368 quando comparado com o subgrupo 4 (teste Exato de Fisher) (#) p = 0,0093 quando comparado com o subgrupo 4 O subgrupo 3 não apresentou diferença estatística significante com os demais subgrupos Os subgrupos 1 e 2 não apresentaram diferença estatística significante entre si DISCUSSÃO O neurointensivismo apresentou um crescimento marcante na última década. Vários fatores contribuíram para essa tendência, entre eles destacam-se: • Alta incidência de lesões neurológicas em pacientes jovens internados em UTI. • Possibilidade de diagnósticos precisos e rápidos com os novos exames de imagem. • Melhor conhecimento da fisiopatologia das doenças neurológicas em suas diferentes fases evolutivas. • Possibilidade de controle adequado dos parâmetros ventilatórios e cardiovasculares na UTI. • Evolução das técnicas neurocirúrgicas. • Novas técnicas de monitorização do hemometabolismo encefálico. As medidas empíricas de neuroproteção deram lugar ao tratamento objetivo direcionado pela manutenção das condições hemodinâmicas e metabólicas adequadas7,8. Para atingir essa meta o tratamento deve ser instituído de forma precoce e agressiva9,10. 166 Atreladas a esse conceito foram publicadas e, posteriormente revisadas, diretrizes de tratamento para algumas condições, tais como: TCE5,6,11-13, AVCI, HSA. A alta incidência projetada de lesões encefálicas agudas, a falta de dados epidemiológicos precisos, diferenças locais e regionais no tratamento e evolução dos pacientes demonstram a necessidade de divulgação e adoção do neurointensivismo na América Latina. A existência de outros dois Consórcios (Europeu5 e Americano6) incentivou pesquisadores latinoamericanos a conceber uma estrutura similar. Em outubro de 2003 foi formado o LABIC com representantes de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), de diversos países da América Latina. O LABIC tem os seguintes objetivos principais: 1. Capacitar os profissionais envolvidos no neurointensivismo. 2. Promover e conduzir investigações clínicas para melhorar os resultados. 3. Propiciar maior intercâmbio entre os centros (UTIs) participantes. 4. Negociar e participar, junto aos patrocinadores, no desenho e condução do estudo, análise e publicação dos resultados obtidos. 5. Atuar como um órgão de assessoria nos aspectos teóricos e práticos relacionados com os diversos estudos. 6. Estabelecer consensos de tratamento e monitorização em neurointensivismo. O Consórcio estabeleceu as seguintes áreas de interesse para atuação: TCE, traumatismo raquimedular (TRM), hemorragia subaracnóidea (HSA), estado de mal epiléptico, acidente vascular isquêmico e hemorrágico (AVCI e AVCH). O núcleo formador do Consórcio elaborou um questionário para analisar o perfil epidemiológico dos centros (UTIs) participantes. As questões exploram e, conseqüentemente, incentivam a organização do centro através de várias medidas, entre elas destacam-se: • Disponibilizar meios para diagnóstico precoce. • Armazenar as informações de forma confiável. • Utilizar escalas para avaliação da condição do paciente na internação e alta da UTI. • Estabelecer diretrizes de tratamento. Ainda que o objetivo do questionário não fosse sugerir ou criar preceitos, a auto-avaliação ocorre naturalmente. O centro passa a ter um modelo “ouro” de comparação. Se por um lado a comparação pode expor as deficiências de cada centro, por outro serve como referencial para o planejamento das mudanças necessárias. Os resultados serão registrados e formarão um banco de dados latino-americano sobre lesão encefálica. Essa medida permitirá conhecer as características de atendimento em cada região e possibilitará a implantação de medidas de capacitação e treinamento. A proposta central do LABIC é justamente incentivar a produção científica e divulgar o neurointensivismo, visando uma melhora nos resultados do tratamento. O Consórcio poderá criar um programa de educação continuada para médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais envolvidos no tratamento ao paciente neurológico crítico, assim como credenciar Centros de Pesquisa Neurológica na América Latina para realização de estudos multicêntricos clínicos para novas drogas, procedimentos e equipamentos. No nosso RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / NEUROINTENSIVISMO - ARTIGO ORIGINAL meio estimulamos a realização de um estudo epidemiológico em pacientes vítimas de TCE. O estudo foi realizado em um hospital público, terciário, referência para o atendimento de pacientes adultos politraumatizados. Essas características explicam a baixa incidência em idosos e a ausência de vítimas com menos de 15 anos. Apesar da falta de significância estatística em diversas correlações, os resultados encontrados estão de acordo com as tendências observadas em outros estudos nacionais e internacionais. O número pequeno da amostra pode ter sido responsável pela não confirmação das correlações investigadas. O estudo de Langlois e col.3 revelaram a importância do tema e o impacto no planejamento das ações de saúde. Cerca de 1,5 milhões de TCE ocorrem anualmente nos EUA, desses 250.000 necessitam de internação e cerca de 80.000 pacientes necessitam de ajuda para atividades diárias um ano após o trauma. A lesão encefálica traumática é a maior causa de epilepsia14. Os gastos diretos e indiretos com TCE chegam a US $56 bilhões/ano. A incidência global é maior entre adultos jovens do sexo masculino. Nesse grupo a principal causa observada foram os acidentes com veículos automotivos (carros e motocicletas). Vários estudos demonstraram que as causas etiológicas podem variar em níveis regionais e grupos etários específicos. BALDO et al.15 revisaram a epidemiologia de 55.368 casos de TCE, no nordeste da Itália, no período de 1996 a 2000. Em 60% dos casos foi identificada a causa: 48,5% acidentes com automóveis (maior incidência em adultos jovens e nos finais de semana), 8,8% acidentes de trabalho e 12,2% domésticos (maior incidência em crianças e idosos). Aare e von Holst16 revisaram 27.122 casos de TCE por acidente com motocicleta, no período de 1987 a 1999, na Suécia. A incidência foi maior em homens (8 vezes) e nos indivíduos com menos de 26 anos. Andersson e col.17 detectaram uma alta de incidência (546 por 100.000) de TCE na região oeste da Suécia. A causa principal foi queda do mesmo nível (31%). Hukkelhoven e col.18 encontraram características regionais com impacto na epidemiologia, tratamento e evolução de pacientes com TCE. Diferenças significativas foram encontradas entre o continente europeu e americano e entre os países europeus que refletem variações sociais, culturais e aspectos organizacionais de cada local. Observou-se que a principal causa de TCE nos pacientes com mais de 60 anos foram as quedas da própria altura e a taxa de mortalidade foi elevada nesse grupo. Hukkelhoven e col.19 alertaram para os fatores de risco para queda, em idosos: artrite, fraqueza muscular, distúrbio da marcha, equilíbrio ou visão e uso de 4 ou mais medicamentos por dia. Masson e col.20 realizaram um estudo prospectivo, baseado em população, da epidemiologia de 248 pacientes com TCE grave e compararam os resultados com o perfil observado em centros especializados. Concluíram que no estudo baseado em população os pacientes eram mais idosos, vítimas de queda e com taxa de mortalidade maior (52%) do que os pacientes dos centros de trauma. Diversos estudos também encontraram relação entre evolução pior (aumento da morbidade e mortalidade) e idade avançada. Hukkelhoven e col.19 realizaram uma extensa metanálise de 5600 pacientes com TCE e determinaram que as proporções de mortalidade e resultado insatisfatório aumentam com a idade: 21% e 39%, respectivaVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 mente, para menores de 35 anos e 52 e 74% para maiores de 55 anos. Harris e col.21 analisaram 13.908 casos de TCE, entre 1994 e 1995, divididos por décadas de idade. Concluíram que o risco de mortalidade aumenta progressivamente a partir dos 30 anos e o maior aumento ocorre após os 60 anos. Encontramos elevado número de pacientes vítimas de agressão física (17,14%), sendo 9,52% de ferimentos por PAF e 7,62% de vítimas de espancamento. Gerhart e col.22 revisaram 2.771 casos de TCE causados por agressão entre 1996 e 1999. Concluíram que as vítimas de agressão são, predominantemente, homens jovens, membros de grupos minoritários (gangues), solteiros e com antecedentes de alcoolismo. Um ano após o trauma, ainda apresentavam cefaléia, confusão mental, distúrbios de atenção e dificuldade para integração na comunidade. Burnett e col.23 confirmaram os achados de Gerhart e col.22. O ferimento por PAF pode ser considerado como a forma mais violenta de agressão física. Martins e col.24, no Brasil, revisaram 319 casos de PAF na cabeça, no período de 1994 a 2000. Os seguintes fatores foram considerados preditivos de alta mortalidade ou morbidade: baixa pontuação na ECG na admissão, anisocoria, pupilas médias e fixas, trajeto central do projétil (tipo transventricular ou bihemisférico) e ferimentos bi ou multilobar detectados pela TC. Eles concluíram que a cirurgia não deve ser recomendada em pacientes com ferimento penetrante e com 3 a 5 pontos na ECG, na ausência de hematoma causando efeito de massa. Langlois e col.3 revisaram a epidemiologia dos sobreviventes de TCE, em 1997, nos EUA. A incidência foi maior em adolescentes (15 –19 anos) e idosos (≥ 65 anos). As principais causas do TCE foram acidente com veículos motorizados, quedas e assaltos. Eles relataram que 46% dos ocupantes de veículos, 53% dos motociclistas e 41% dos ciclistas não estavam usando equipamentos de proteção pessoal no momento do trauma. As elevadas taxas de morbidade e mortalidade, e a falta de uso de equipamentos de proteção individual verificadas nos estudos citados, levaram vários autores a propor a adoção de medidas preventivas para os fatores causais mais relevantes. Essas foram direcionadas, principalmente, para os acidentes com veículos automotivos, agressões e quedas (campanhas de educação no trânsito, prevenção do TCE)15,16. Servadei e col.25 verificaram que a lei italiana que obriga o uso de capacete reduziu a incidência de TCE e procedimentos neurocirúrgicos em motociclistas, com o desaparecimento quase que completo dos hematomas extradurais. A lei e o policiamento foram efetivos na prevenção do TCE nesse grupo. O questionário do LABIC levou os autores a realizarem uma avaliação epidemiológica e organizacional do centro. Os resultados encontrados descrevem a realidade da região e servirão de base para a discussão de medidas preventivas, em grupos específicos. Servadei e col.26 utilizaram um estudo da epidemiologia local (Roma e região) para planejar o tratamento do TCE. Concluíram que o número de internações de TCE leve pode ser reduzido com o uso adequado da tomografia de crânio em adultos. Santos e col.27 observaram que o atendimento pré-hospitalar teve impacto relevante na mortalidade global dos pacientes com TCE. A taxa de mortalidade global foi elevada (40%), variou diretamente com a idade, foi maior nas mulheres (predominantemente idosas), em vítimas de atropelamento (50%) e ferimento por PAF (50%). Esses resultados estão de acor- 167 RBTI / NEUROINTENSIVISMO - ARTIGO ORIGINAL do com o material discutido anteriormente. Houve evidente presença de maior mortalidade nos pacientes com índice de APACHE II superior igual ou superior a 24 pontos, quando comparados com pontuações inferiores a 15 pontos. Não avaliamos a incidência de seqüelas neurológicas que poderiam expressar a morbidade associada aos diferentes agentes causais e demais parâmetros epidemiológicos. E não pesquisamos o atendimento pré-hospitalar que pode ter impacto relevante na mortalidade global.27 Merecerão atenção especial na adoção de medidas preventivas os pedestres (atropelamentos 20,95%), os motociclistas (acidentes com motocicletas 24,76%) e a segurança pública (agressão física 17,14%). Os achados reforçam a necessidade de se ampliar esse estudo epidemiológico a fim de levantar subsídios para campanhas preventivas, no que se refere a associação de drogas e álcool com acidentes de trânsito em geral e no que diz respeito às seqüelas funcionais que geram incapacidade para o trabalho, associando menor massa produtiva com maior custo em benefícios. As vantagens regionais para o estabelecimento de um centro associado ao LABIC são várias e podem ser divididas em: • Científica – possuir um centro de pesquisa, treinamento e formação especializada no tratamento de doenças neurológicas em fase aguda. • Operacional - divulgar diretrizes de tratamento a outras unidades para uniformização dos processos. Acompanhamento das incidências reais das diversas lesões neurológicas (banco de dados), do impacto das medidas de tratamento e desenvolvimento de campanhas profiláticas dirigidas.5,6,28 • Financeira - reduzir gastos na área da saúde, através de um programa organizado, racional e focado na prevenção. • Social - todos nós estamos sujeitos a lesões neurológicas graves. Nessa situação tempo e tratamento racional são fundamentais para uma boa recuperação. CONCLUSÃO Os preceitos, indiretamente, divulgados e estimulados pelo questionário do LABIC foram importantes para a reflexão sobre o tratamento dos pacientes com lesão encefálica aguda e, especificamente nesse trabalho, vítimas de TCE. A auto-avaliação baseada nos aspectos positivos e negativos encontrados na análise retrospectiva desencadeou o interesse em se promover ações para melhorar a organização do centro e os resultados do tratamento de pacientes portadores de TCE. Pode-se concluir que: 1. A idéia de se estabelecer centros especializados em neurointensivismo é fundamental para o tratamento de pacientes com lesões encefálicas. 2. A adesão ao LABIC resultou em uma análise epidemiológica que permitiu o reconhecimento da real situação local. 3. Os estudos epidemiológicos são fundamentais para subsidiar campanhas de prevenção de TCE. 4. As informações obtidas pela análise do APACHE II nos diversos subgrupos são relevantes e demonstram a importância da adoção de escalas de avaliação do paciente (específicas e gerais). 5. A adesão de mais centros ao grupo LABIC-ES deverá 168 ter repercussão benéfica no tratamento e prevenção das lesões encefálicas. Essas conclusões incentivaram os autores a divulgar o neurointensivismo, no Estado do Espírito Santo, através das seguintes medidas: 1. Divulgar os objetivos do LABIC; 2. Incentivar a adesão de novos centros (UTIs) ao LABIC; 3. Incentivar a adoção de diretrizes e consensos de tratamento em neurointensivismo; 4. Sugerir medidas estaduais de prevenção ao TCE; 5. Estimular a pesquisa científica em neurointensivismo. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O LABIC (Latin American Brain Injury Consortium) pretende capacitar profissionais, incentivar a pesquisa científica e divulgar diretrizes de tratamento em neurointensivismo. O núcleo formador do Consórcio elaborou um questionário para analisar o perfil epidemiológico dos centros (UTI) participantes. A adesão ao LABIC, com o preenchimento do questionário proposto, resultou no interesse em se estudar o perfil epidemiológico de pacientes vítimas de traumatismo cranioencefálico (TCE). O objetivo de se traçar o perfil dos pacientes vítimas de TCE é o de ter-se dados fidedignos para serem utilizados no estímulo dos órgãos competentes a promover ações de prevenção e de adequação das Unidades de Terapia Intensiva para o tratamento desses pacientes. MÉTODO: Estudo retrospectivo de 105 pacientes, com traumatismo cranioencefálico internados em uma UTI geral estadual, no período de janeiro a outubro de 2003. RESULTADOS: Dos pacientes estudados 92 (87,62%) eram homens e 13 (12,38%) mulheres. A idade variou entre 15 e 82 anos. Vinte e oito pacientes sofreram queda (26,67%), ocorreu incidência importante (9,52%) de ferimentos por projétil de arma de fogo (PAF). O tempo médio de internação foi de 10,85 dias. Na internação, 81 pacientes (77,19%) possuíam escala de Coma de Glasgow ≤ 8. A mortalidade global foi de 40%, 35 óbitos no grupo masculino (38,04% do grupo) e 7 no feminino (53,85%). A mortalidade foi maior, porém sem diferença estatística significante, nos pacientes com idade acima de 60 anos (80%), nos grupos vítimas de queda (39,28%), atropelamento (50%) e PAF (50%). Os acidentes no trânsito (resultado de acidentes envolvendo automóvel, motocicleta ou atropelamento) foram responsáveis por 54,76% dos óbitos. Pacientes com valor de APACHE II (Acute Physiology and Chronic Health Evaluation) acima de 23 pontos tiveram taxa elevada de mortalidade, 92,31% (p = 0,0329). Os sobreviventes apresentaram valor médio de APACHE II de 14,06 pontos (DP 6,17). CONCLUSÕES: A adesão ao LABIC desencadeou uma análise epidemiológica que permitiu o reconhecimento da real situação local e a discussão de possíveis medidas preventivas a serem apresentadas aos órgãos competentes. A divulgação do neurointensivismo e a adesão de mais centros ao grupo LABIC-ES deverão ter repercussões benéficas no tratamento e prevenção das lesões encefálicas. Unitermos: hemometabolismo encefálico, traumatismo cranioencefálico, isquemia encefálica, neurointensivismo, epidemiologia, trauma, lesão encefálica. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / NEUROINTENSIVISMO - ARTIGO ORIGINAL REFERÊNCIAS 01. Peluso CM, Prandini NM, Forte LV - Monitorização da Oximetria Cerebral Transcutânea Durante Circulação Extracorpórea. Dissertação de Mestrado em Neurocirurgia. Universidade Federal de São Paulo, 1998. 02. Teasdale GM, Braakman R, Cohadon F et al - The European Brain Injury Consortium. Nemo solus satis sapit: nobody knows enough alone. 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Key Words: coagulation, sepsis, organ dysfunction, anti-thrombin, activated protein C, tissue factor A coagulopatia é responsável, em grande parte, pela disfunção de múltiplos órgãos observada em pacientes com sepse, no entanto, só recentemente a relação entre o processo inflamatório sistêmico, a coagulopatia com microtrombose difusa e a hipóxia tecidual, acarretando disfunção orgânica, tem sido claramente demonstrada. MÉTODO Utilizou-se a base de dados MedLine, envolvendo os anos de 1990 até 2002. As principais palavras-chave utilizadas foram: sepse, coagulopatia, anti-trombina, fator tecidual, proteína C ativada, diagnóstico, terapêutica e clinical trials. FISIOPATOLOGIA DOS DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO Cada fenômeno trombótico desencadeado no organismo é acompanhado pela geração de substâncias anticoagulantes e fibrinolíticas. Lesão endotelial (incluindo endotoxina), estimula a produção do fator tecidual. O complexo é capaz de gerar uma segunda molécula crucial na fisiologia da coagulação, a trombina. A trombina, por sua vez, atua na transformação do fibrinogênio em fibrina, a qual é um dos principais componentes do coágulo. Além disso, liga-se à trombomodulina, que é expressa na superfície das células endoteliais, no processo de ativação da proteína C. Três importantes vias controlam a cascata da coagulação: antitrombina (AT), proteína C ativada/proteína S e inibidor da via do fator tecidual. A antitrombina, produzida no fígado, é um dos mais potentes inibidores da cascata da coagulação. Ela exerce seu papel como anticoagulante através da inibição da trombina e dos fatores XIIa, XIa, IXa, Xa, plasmina e calicreína. Além disso, pode bloquear o complexo VIIa-FT. Além de inibir a trombina, liga-se a glicosaminoglicanos específicos (na ausência de heparina) na superfície das células endoteliais, induzindo a síntese de prostaciclina. Esta, por sua vez, inibe a agregação plaquetária, a expressão de moléculas de adesão e a ligação de neutrófilos às células endoteliais e atenua a liberação de IL-6, IL-8 e TNF a partir das células endoteliais (atividade antiinflamatória). O inibidor da via do fator tecidual bloqueia a ação do complexo fator VIIa-FT ao se ligar com o fator Xa, impedindo o desencadeamento da cascata da coagulação em sua fase inicial. A principal fonte do inibidor da via do fator tecidual são as células endoteliais. Outra molécula importante no controle da cascata de coagulação é a proteína C. Esta molécula, quando ativada, exerce seu papel como anticoagulante ao inativar os fatores Va e VIIIa, bloqueando a geração de trombina. Como destacado, a própria trombina, ao se ligar a trombomodulina, ativa a proteína C, funcionando como uma “alça” de controle da própria geração de trombina. Além desta ação anticoagulante, a proteína C ativada é capaz de bloquear a ação do PAI-1 (inibidor do ativador do plasminogênio-1)1 e do TAFI (inibidor da fibrinólise dependente de trombina)2, diminuindo o efeito supressivo destes compostos sobre a fibrinólise. Portanto, a proteína C ativada apresenta um papel pró-fibrinolítico. Por fim, a proteína C ativada é capaz de reduzir a resposta inflamatória por vários mecanismos. Além da inibição direta da trombina, bloqueando a ação inflamatória dessa molécula, este complexo transloca-se até o núcleo e apresenta múltiplos efeitos: a) diminuindo a geração de trombina; b) diminuindo a geração de citocinas inflamatórias (bloqueando a ação intracelular do NF-kB)3,4; c) impedindo a ligação do LPS ao seu receptor de membrana o CD145; d) diminuindo a expressão do fator tecidual; e) reduzindo a expressão de moléculas de adesão3; f) reduzido a transcrição de genes próapoptóticos e aumentado a de genes anti-apoptóticos3. O plasminogênio é uma proteína inativa, circulante no plasma, que se liga à fibrina à medida que o coágulo está sendo formado. O plasminogênio é convertido a plasmina no momento da formação deste complexo com a fibrina, iniciando a fibrinólise. Os compostos que controlam a fibrinólise são 1. Professora Adjunta e Chefe Clínica do Setor de Terapia Intensiva da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Universidade Federal de São Paulo 2. Doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo; Supervisor do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein; Professor da Pós-Graduação da Universidade Federal de São Paulo 3. Professor Adjunto Livre-Docente do Departamento de Pediatria – UNIFESP – EPM e Chefe das Unidades de Terapia Intensiva dos Hospitais São Paulo e Santa Catarina Apresentado na Assembléia do Consenso Brasileiro de Sepse em fevereiro de 2003 - Aceito para publicação em 04 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: R. Napoleão de Barros 715 4a andar - Secretaria da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva - CEP – 04024-900, São Paulo, SP 170 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva os já citados PAI, especialmente o PAI-1 e o TAFI. Inúmeros mecanismos fisiopatológicos interligam coagulação e a resposta inflamatória. Vários estudos têm demonstrado que a inflamação sistêmica é acompanhada por ativação do sistema de coagulação 6,7. A IL-6 parece ser a grande responsável pelo aumento na expressão de FT, assim como o TNF. Citocinas inflamatórias inibem a síntese de trombomodulina, que é essencial para a ativação da proteína C8, potencializando assim a ação prócoagulante destas citocinas. Outro aspecto a ser destacado é a participação da ativação do sistema de coagulação na resposta inflamatória. Boa parte deste papel é desempenhada pela trombina 9, que pode estimular a produção de citocinas inflamatórias, promover a expressão de P-selectina pelas células endoteliais – causando adesão de neutrófilos e monócitos – e de fator ativador plaquetário (PAF). Durante um episódio séptico a cascata da proteína C pode estar comprometida em quase todos os seus passos. Os níveis plasmáticos de proteína C estão reduzidos por múltiplas razões. O consumo de proteína C está aumentado pela ativação da cascata, a síntese hepática está reduzida pelo desvio de função para produção de proteínas de fase aguda e ocorre extravasamento para o interstício devido à permeabilidade capilar aumentada. Além disso, a presença de citocinas inflamatórias, principalmente TNF-α e IL-1, faz com que haja redução da expressão de trombomodulina e EPCR, comprometendo os mecanismos de ativação10,11. A trombose da microcirculação decorrente desses fenômenos caracteriza um estado de coagulação intravascular disseminada. Essa síndrome está presente na maioria dos pacientes com sepse grave, manifestando-se geralmente como disfunção orgânica e não como sangramento. Embora os critérios de coagulação intravascular disseminada sejam controversos, recentemente foi elaborado pela Scientific Subcommittee on Disseminated Intravascular Coagulation (DIC) of the International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH) a seguinte definição consensual: “CIVD é uma síndrome adquirida caracterizada pela ativação intravascular da coagulação secundária a diferentes causas. Pode-se originar de lesões a microvasculatura bem como causar dano á mesma, o qual pode ser suficientemente grave ao ponto de desencadear disfunção de múltiplos órgãos”. Este mesmo subcomitê criou um algoritmo para se diferenciar os quadros clássicos, multisintomático de CIVD (overt DIC) daqueles menos claros, com poucas manifestações clínico-laboratoriais (non overt DIC), como pode ser visto nos algoritmos abaixo. ALGORITMO PARA O DIAGNÓSTICO DE CIVD CLÁSSICA (OVERT DIC) 1. Avaliação do risco: o paciente apresenta uma doença de base que sabidamente está associada à CIVD clássica? Se a resposta for positiva, prossiga neste algoritmo; caso contrário, abandone-o; 2. Coagulograma (contagem de plaquetas, tempo de protrombina (TP), fibrinogênio, monômeros solúveis de fibrina ou produtos da degradação de fibrina) 3. Escore global para os testes da coagulação • contagem de plaquetas (> 100 = 0; < 100 = 1; < 50 = 2) • indicadores relacionados com elevação da formação de fibrina (por ex., produtos da degradação de fibrina (sem elevação: 0; elevação moderada: 2; elevação acentuada: 3) • tempo de protrombina prolongado (< 3 seg.= 0; > 3 seg. mas < 6 seg.= 1; > 6 seg. = 2) • nível de fibrinogênio (> 1 g/l = 0; < 1 gram/l = 1) 4. Cálculo do escore 5. Se ≥ 5: compatível com CIVD clássica; repetir o escore diariamente Se < 5: sugestivo (não afirmativo) de CIVD não clássica; repetir o escore em 1-2 dias. SISTEMA DE ESCORE PARA CIVD NÃO CLÁSSICA (NON OVERT DIC) 1. Avaliação de risco: o paciente possui alguma doença de base sabidamente associada a CIVD? sim = 2; não = 0 2. Critérios maiores Quadro 1 3. Critérios específicos Antitrombina Proteína C TATcomplexos …… normal = -1 Θ normal = -1 Θ normal = -1 Θ normal = -1 Θ baixo = 1 Θ baixo = 1 Θ alto = 1 Θ anormal = 1 Θ 4. Cálculo do escore Este sistema de escore é útil não somente para realizar o diagnóstico de CIVD clássica ou não-clássica, bem como, Quadro 1 Plaquetas > TP < 3 sec Θ Fibrina solúvel ou PDF 100 x109/l = 0 Θ > 3 sec Θ normal Θ <100 x 109/l =1 elevando = -1 estável = 0 Θ + Θ Θ caindo = -1 estável = 0 elevando = alargamento + Θ Θ Θ elevada caindo = -1 estável = 0 elevando = 1 Θ + Θ Θ Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 caindo = 1 Θ 171 para monitorizar a gravidade e a evolução da coagulopatia na sepse. Outra utilidade deste sistema é permitir maior homogeneização dos parâmetros que definem a presença ou não da coagulopatia intravascular. INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS Uma forma de se verificar a relação entre sepse, coagulopatia e disfunção de órgãos é a constatação que há diminuição de anticoagulantes endógenos e elevação de substâncias antifibrinolíticas, inclusive com implicações prognósticas. Fourrier e col. demonstraram que em pacientes com choque séptico há diminuição importante de antitrombina e proteína C naqueles que evoluem para óbito em relação aos sobreviventes12. Essa associação entre os componentes da cascata de coagulação e o prognóstico de pacientes com sepse que evoluem para disfunção orgânica motivou estudos envolvendo antitrombina, proteína C ativada e inibidor da via fator tecidual. UTILIZAÇÃO DE PROTEÍNA C A meia vida da proteína C ativada no organismo é curta, o que inviabiliza sua utilização a partir de plasma de doadores. O desenvolvimento de uma molécula por meio de engenharia genética, na forma já ativada, permitiu sua avaliação clínica. A molécula de proteína C ativada recombinante humana, denominada drotrecogina alfa ativada, foi utilizada em estudo clínico de fase III, recentemente concluído e publicado, onde se avaliou sua infusão em pacientes com sepse grave e choque séptico13. O mesmo foi interrompido precocemente uma vez que, pela primeira vez, houve redução significativa da taxa de mortalidade. Este é o primeiro estudo com impacto favorável na terapêutica da sepse envolvendo os mecanismos fisiopatológicos ligados à resposta inflamatória/ microtrombose. O principal efeito colateral observado foi a ocorrência de sangramentos graves em 3,5% dos pacientes no grupo tratamento versus 2% no grupo placebo (p = 0,06). A ocorrência de sangramento parece estar relacionada com a presença de coagulopatia grave, plaquetopenia e com a realização de procedimentos durante a administração da medicação. O uso concomitante de heparina não esteve relacionado ao aumento do risco de sangramento. UTILIZAÇÃO DE ANTITROMBINA A antitrombina (AT) é utilizada, na Europa, em pacientes com CIVD desde a década de 1980. Muitos estudos já demonstraram benefícios com relação à reversão da disfunção orgânica e parâmetros laboratoriais da coagulação. Em pacientes com choque séptico, Fourrier e col. 1993, demonstraram a redução significativa dos níveis plasmáticos de monômeros de fibrina após dois dias da administração de AT em comparação com a utilização de placebo14. Também houve redução da mortalidade, embora não significativa. Eles também mostraram melhora significativa das disfunções orgânicas, bem como redução dos níveis plasmáticos de IL-6 e de moléculas de adesão no grupo da droga15. Esses resultados favoráveis ensejaram um estudo clínico de fase III, com o objetivo primário de avaliar a redução de mortalidade em pacientes com sepse grave16. Um total de 172 2314 pacientes adultos com sepse grave foi incluído, divididos igualmente entre os grupos placebo e tratamento. Era necessária a presença de seis critérios de inclusão, sendo três deles obrigatórios: evidência de infecção, alteração na contagem de leucócitos e na temperatura. Os demais referiam-se basicamente a critérios de resposta inflamatória sistêmica e de disfunção orgânica . Os pacientes alocados para o grupo da droga recebiam, durante 96 horas, um total de 30.000 U, por via venosa, de antitrombina. A mortalidade global, no 28º dia, foi de 38,9% no grupo AT versus 38,7% no grupo placebo (p = 0,94). Quando se estratificou a amostra pela gravidade, determinada pelo índice SAPS II, o subgrupo de pacientes considerados de alto risco (mortalidade prevista pelo SAPS II entre 30% a 60%) mostrou tendência a redução de mortalidade em 90 dias (p = 0,07). INIBIDOR DA VIA DO FATOR TECIDUAL O inibidor da via do fator tecidual recombinante foi avaliado em estudo de fase II em 210 pacientes com sepse grave, onde se mostrou uma redução de 20% na mortalidade (não significativa), com melhora de disfunção orgânica (p = 0,053)17. O estudo fase III, recentemente publicado, avaliou a eficácia da infusão venosa da droga em 1754 pacientes com sepse grave. Não houve diferença significativa na mortalidade entre os grupos placebo e tratamento18. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS ESTUDOS Muitas razões possíveis foram apontadas na tentativa de justificar porque a infusão de proteína C ativada diminuiu a mortalidade de pacientes com sepse grave e a antitrombina e, mais recentemente, o TFPI não. Diferenças nos mecanismos de ação das moléculas ou no desenho do estudo poderiam ser responsáveis por esse resultado. Com relação ao mecanismo de ação, sabe-se que todas têm atividade anticoagulante, embora por vias diferentes. A ação anticoagulante da APC ocorre prioritariamente na microcirculação, como pode ser observado em pacientes com deficiência congênita que desenvolvem púrpura fulminans (doença microangiopática). Entretanto, os portadores de deficiência de AT apresentam doença macroangiopática, isto é, trombose venosa ou arterial de grandes vasos, sugerindo que seria esse o principal local de atuação da molécula. A ação do TFPI se dá num momento inicial da cascata da coagulação. A presença de múltiplos sistemas de retroalimentação positiva poderia manter essa cascata ativada, apesar da administração de TFPI. Parece relevante a diferença no tocante a ação antiinflamatória, pelo menos com base nos conhecimentos atuais. Entre outras ações, a APC modula a resposta inflamatória pela inibição da produção de NFκB e da apoptose. Essa forma de atuação não foi claramente demonstrada em relação à AT ou ao TFPI. Dado importante seria também a atividade pró-fibrinolítica desempenhada pela APC, não compartilhada pela AT ou pelo TFPI. Outra possível explicação origina-se da interação existente entre a heparina e a antitrombina. O papel aditivo da heparina e AT sobre o risco de sangramento e o efeito da heparina inibindo a ligação da AT com seu receptor de membrana, RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva bloqueando sua ação antiinflamatória, podem ter sido capitais na falta de eficácia da AT. Essa interação não ocorreu no estudo da proteína C. RECOMENDAÇÕES A avaliação laboratorial e o diagnóstico de CIVD não são necessárias para a indicação de terapia com proteína C ativada, mas podem ser necessários para a utilização de antitrombina em pacientes com sepse grave. Nível de evidência: II Grau de recomendação: C No estudo PROWESS, para reposição de proteína C ativada, 99% dos pacientes tinham evidência de coagulopatia, embora os critérios descritos não tenham sido utilizados. Essa população havia sido selecionada por critérios clínicos, o que sugere que o diagnóstico laboratorial não seja necessário para a indicação da reposição. Além disso, nesse estudo, mesmo os pacientes com níveis normais de proteína C tiveram benefício com a administração da medicação. Entretanto, alguns dos estudos de fase II de reposição de AT, guiaram a dose a ser utilizada pelos níveis plasmáticos de atividade da mesma, objetivando alcançar um nível de atividade pré-definido. Assim, para a utilização de drotrecogina alfa ativada fica claro que não existe a necessidade do diagnóstico laboratorial de CIVD, nem da dosagem do nível de proteína C, o mesmo não pode ser dito com relação a antitrombina. As recomendações sobre a utilização ou não dessas drogas estão a seguir. A Utilização de Antitrombina não está Indicada em Pacientes com Sepse Grave. Nível de evidência: I Grau de recomendação: B O estudo Kybersept não demonstrou redução significativa da mortalidade com a reposição com AT, além de mostrar aumento do risco de sangramento. Com base nesse estudo, o uso de AT nesses pacientes não pode ser recomendado. Em pacientes que não utilizam heparina, a utilização de antitrombina no tratamento da sepse grave é uma questão ainda não resolvida. Nível de evidência: III Grau de recomendação: D No estudo Kybersept, o subgrupo de pacientes com sepse grave que não utilizaram heparina teve sua mortalidade significativamente reduzida. Entretanto, como trata-se de análise de subgrupo, embora definido previamente, os dados quanto ao balanceamento entre o grupo placebo e droga não foram fornecidos. Assim, até que novos estudos sejam feitos e comprovem a eficácia da medicação nessa população específica, a questão permanece não resolvida. A utilização de inibidor da via do fator tecidual em pacientes com sepse grave não está indicada. Nível de evidência: I Grau de recomendação: B O estudo de fase III mostrou que não houve redução de mortalidade. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 A utilização de concentrado de proteína C em pacientes com sepse grave não está indicada. Nível de evidência: IV Grau de recomendação: E Não existem estudos duplos cegos, randomizados, placebo-controlados que mostrem que a utilização de concentrado de proteína C reduza a mortalidade de pacientes com sepse grave. Os casos já publicados mostraram efeitos benéficos, como redução da necessidade de amputação e de disfunção orgânica, em comparação com valores históricos. Assim, não existem dados para indicar ou contra-indicar o seu uso. A utilização de drotrecogina alfa ativada está indicada em pacientes com sepse grave com alto risco de morte. Nível de evidência: I Grau de recomendação: B O estudo PROWESS demonstrou redução significativa da mortalidade em pacientes que apresentavam, pelo menos, uma disfunção orgânica com instalação em menos de 48 horas. Assim a medicação está indicada nessa categoria de pacientes, na dose de 24 µg/kg/hora em infusão contínua durante 96 horas. O paciente “ideal” para ser tratado com drotrecogina alfa ativada deve preencher esses requisitos mínimos: 1. diagnóstico acurado de um quadro infeccioso de base; 2. no mínimo 3 sinais de resposta inflamatória sistêmica secundários à infecção; 3. presença de duas ou mais disfunções orgânicas secundária à infecção. A dosagem dos níveis plasmáticos de proteína C não é necessária para indicar a administração de drotrecogina alfa ativada. Nível de evidência: I Grau de recomendação: B No estudo PROWESS, tanto os pacientes com níveis plasmáticos reduzidos quanto aqueles com níveis normais se beneficiaram da infusão da medicação. A utilização do índice APACHE II como critério para indicar a administração de drotrecogina alfa ativada em pacientes com sepse grave ainda é uma questão não resolvida. Nível de evidência: III Grau de recomendação: D No estudo PROWESS, no subgrupo de pacientes com APACHE II menor que 25, a mortalidade do grupo placebo foi menor que no grupo da droga, embora sem significância estatística. Isso sugere que pacientes menos graves podem não se beneficiar do uso da medicação, ao mesmo tempo em que estão expostos a um risco aumentado de sangramento. Como o estudo foi interrompido precocemente, o número de indivíduos analisados nesse subgrupo foi pequeno o que dificulta conclusões definitivas a respeito. Além disso, embora esse raciocínio seja válido do ponto de vista de análise de grupo, não existem dados que sugiram que o APACHE II possa ser usado individualmente para previsão de risco de óbito. Também não se trata de um índice adequado para mensuração de disfunção orgânica. Está atualmente em curso um estudo duplo-cego, randomizado, placebo-controlado para avaliação do impacto na 173 mortalidade do uso de drotrecogina alfa ativada em pacientes com sepse grave e APACHE II menor que 25. Os resultados desse estudo vão contribuir para elucidar a primeira dessas questões. Entretanto, o problema da utilização de forma individual desse índice não poderá ser respondido. A drotrecogina alfa ativada está contra-indicada em pacientes com risco aumentado de sangramento. Nível de evidência: I Grau de recomendação: B Alguns dos critérios de exclusão do estudo PROWESS visavam a segurança dos pacientes. Como já observado, houve um aumento do risco de sangramento associado ao uso da medicação, incluindo casos fatais de hemorragia no sistema nervoso central, principalmente em pacientes com plaquetopenia grave (menor que 50.000 células/mm3). Esse aumento de risco se confirmou em estudos posteriores, com 2,5% e 5,3% de sangramentos considerados graves, respectivamente durante a infusão e nos 28 dias após o uso, incluindo SNC (0,5% e 1,1%, respectivamente) (dados ainda não publicados). O risco de sangramento parece estar associado à realização de procedimentos durante a infusão da droga. Dessa forma, é de fundamental importância observar atentamente as regras no tocante a procedimentos nesses pacientes, com interrupção da infusão duas horas antes e reinicio em tempo variável de acordo com o tipo de procedimento (desde imediato para pequenas intervenções até 12 horas após cirurgias de grande porte). Com base nisso, fatores que aumentem o risco de sangramento devem ser evitados, havendo algumas contra-indicações absolutas para o uso da medicação, citadas a seguir. Presença de sangramento ativo Cirurgia de grande porte há menos de 12 horas ou trauma recente Acidente vascular encefálico hemorrágico nos últimos três meses Cirurgia intracraniana ou intraespinhal nos últimos dois meses, TCE grave, massas intracranianas ou presença de cateter peridural. Contagem de plaquetas abaixo de 30.000 células/mm3 A utilização de parâmetros laboratoriais (dosagem de plaquetas e INR) para nortear a interrupção precoce da infusão de drotrecogina alfa ativada é ainda uma questão não resolvida. Nível de evidência: II Grau de recomendação: C No estudo PROWESS, recomendava-se a interrupção da infusão caso a contagem de plaquetas diminuíssem a níveis inferiores a 30.000 células/mm3, o tempo de tromboplastina parcial maior que 120 segundos e o tempo de protrombina aumentado com INR acima de 3.0. Não houve associação clara entre as alterações do coagulograma e o risco de sangramento, mas a presença de plaquetopenia grave parece predispor a sangramento em sistema nervoso central. Também o tempo de protrombina muito alargado pode estar relacionado ao aumento da incidência de sangramento. Com relação ao TTPA, sua mensuração fica alterada na presença de drotrecogina, o que torna o exame inadequado. Com base nesses resultados, sugere-se que sejam feitos diariamente os dois primeiros exames, interrompendo-se a infusão de drotrecogina caso a contagem de plaquetas diminua 174 abaixo do limite já citado. A transfusão de plaquetas para manter os níveis acima desse limite não parece ser segura, visto não ter diminuído as probabilidades de sangramento no sistema nervoso central. Isso provavelmente se deve ao fato da plaquetopenia ser, na realidade, um indicador da gravidade do distúrbio de coagulação. Além disso, a meia vida das plaquetas transfundidas está muito diminuída nesses pacientes. RESUMO Este documento apresenta uma síntese dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na coagulopatia da sepse, bem como os ensaios clínicos envolvendo substâncias anti-coagulantes, incluindo antitrombina, proteína C ativada e inibidor da via do fator tecidual. Unitermos: coagulação, sepse, disfunção de órgãos, antitrombina, proteína C ativada, fator tissular. REFERÊNCIAS 01. Krishnamurti C, Young GD, Barr CF et al – Enhancement of tissue plasminogen activator-induced fibrinolysis by activated protein C in endotoxin-treated rabbits. J Lab Clin Med, 1991;118:523-530. 02. Bajzar L, Nesheim ME, Tracy PB – The profibrinolytic effect of activated protein C in clots formed from plasma is TAFI-dependent. Blood, 1996;88:20932100 03. Joyce DE, Gelbert L, Ciaccia A et al – Gene expression profile of antithrombotic protein C defines new mechanisms modulating inflammation and apoptosis. J Biol Chem, 2001;276:11199-11203. 04. White B, Schmidt M, Murphy C et al – Activated protein C inhibits lipopolysaccharide-induced nuclear translocation of nuclear factor KappaB (NF-KappaB) and tumour necrosis factor alpha (TNF-alpha) production n the THP-1 monocytic cell line. Br J Haematol, 2000;110:130-134. 05. Grinnell BW, Joyce D – Recombinant human activated protein C: a system modulator of vascular function for treatment of severe sepsis. Crit Care Med, 2001;29:(Suppl7):S53-S60. 06. Vervloet MG, Thijs LG, Hack CE – Derangement’s of coagulation and fibrinolysis in critically ill patients with sepsis and septic shock. Semin Thromb Hemost, 1998;24:33-44. 07. Lorente JA, Garcia-Frade L, Landin L et al – Time course of hemostatic abnormalities in sepsis and its relation to outcome. Chest, 1993;103:1536-1542. 08. Levi M, van der Poll T, ten Cate H et al – The cytokine-mediated imbalance between coagulant and anticoagulant mechanisms in sepsis and endotoxaemia. 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Fourrier F, Chopin C, Huart JJ et al – Double-blind, placebo-controlled trial of antithrombin III concentrates in septic shock with disseminated intravascular coagulation. Chest, 1993;104:882-888. 15. Inthorn D, Hoffmann JN, Hartl WH et al – Effect of antithrombin III supplementation on inflammatory response in patients with severe sepsis. Shock, 1998;10:90-96. 16. Warren BL, Eid A, Singer P et al – KyberSept Trial Study Group. Caring for the critically ill patient. High-dose antithrombin III in severe sepsis: a randomized controlled trial. JAMA, 2001;286:1869-1878. 17. Abraham E, Reinhart K, Svoboda P et al – Assessment of the safety of recombinant tissue factor pathway inhibitor in patients with severe sepsis: a multicenter, randomized, placebo-controlled, single-blind, dose escalation study. Crit Care Med, 2001;29:2081-2089. 18. Abraham E, Reinhart K, Opal S et al - OPTIMIST Trial Study Group. Efficacy and safety of tifacogin (recombinant tissue factor pathway inhibitor) in severe sepsis: a randomized controlled trial. JAMA, 2003;290:238-247. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva Terapia Nutricional na Sepse Nutritional Therapy Sepse Paulo César Ribeiro1 SUMMARY In the last years, there has been a great interest on nutritional support in sepsis due to different reasons including the impossibility of make use of natural feeding ways, requirements of essential elements for survival during septic injury and the possibility of employ nutritional components by pharmacological doses and on especial combinations for metabolic and immunological control, resulting in improved outcome of these patients. This document synthesizes the best evidence available in the literature. Key Words: nutrition, therapy, sepsis D ados os avanços tecnológicos e científicos logrados nas últimas décadas, os pacientes graves internados em UTI sobrevivem por um tempo muito mais longo. É relativamente comum, atualmente, nos depararmos com enfermos que permanecem na UTI por meses, freqüentemente impossibilitados de se alimentar pelas vias naturais. A Terapia Nutricional, seja ela enteral ou parenteral, no mínimo, impede a morte por inanição, ou seja, provê nutrientes essenciais para a sobrevivência. Além disso, abre-se um campo magnífico e apaixonante onde se vislumbra a possibilidade de utilizar os nutrientes em doses farmacológicas e em combinações especiais não mais com o fim de nutrir o paciente, mas, controlá-lo do ponto de vista metabólico e modificar sua evolução, que é o que chamamos de farmaconutrição. Tudo isso torna a Terapia Nutricional ferramenta indispensável no cuidado do paciente séptico grave em UTI, e não é possível conceber seu tratamento sem que se saiba manuseá-la com destreza. AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPÓREA A mensuração da composição corpórea pode auxiliar na avaliação nutricional inicial e na eficácia do suporte nutricional ao longo do tempo. Métodos mais práticos, factíveis à beira do leito, mostram-se muito pouco precisos em função das alterações de distribuição hídrica apresentadas pelo paciente grave. Métodos antropométricos como peso, costuma apresentar variações consideráveis sendo útil apenas quando comparado ao peso prémórbido, ou quando determinações seriadas podem ser feitas de maneira adequada. A expressão mais comumente usada para cálculo do peso relacionado à altura é o Índice de Massa Corpórea (IMC) = Peso (kg) /Altura2 (m) que correlaciona quantidade de tecido adiposo melhor que o peso isoladamente, porém, freqüentemente classifica como obesos indivíduos com excesso de água, que é o caso dos pacientes em questão. RECOMENDAÇÃO A Avaliação Subjetiva Global, proposta por Detsky permite, de maneira simples, ágil e direta avaliação suficientemente sensível e específica nessa população. AVALIAÇÃO DO GASTO ENERGÉTICO Consensualmente a calorimetria indireta é o método de referência para cálculo do gasto energético, medindo o consumo de oxigênio e produção de gás carbônico durante troca de gases respiratórios. Através da equação de Weir e da medida do O2 consumido e CO2 produzido calcula-se o gasto energético como segue: GEB = {[3,796 x VO2] + [1,214 x VCO2]} x 1440. O consumo de oxigênio também pode ser calculado através de medidas feitas pelo cateter de SwanGanz, através da equação de Fick que subestima o gasto energético quando comparado com os métodos de referência. A fórmula mais antiga para calcular o gasto energético basal é a de Harris-Benedict na qual, ao gasto energético basal somam-se fatores de ajuste à gravidade da doença, grau de atividade, etc. No intuito de evitar a hiperalimentação, há proposta de utilizar a fórmula de Harris-Benedict no paciente grave sem considerar os fatores de gravidade. Para regimes de manutenção do estado nutricional recomenda-se administrar o gasto energético medido ou calculado (GE) (kcal/ dia) x 1 a 1,1; para regimes de repleção recomenda-se o GE x 1,3 a 1,5 Recomendação: Vários estudos recentes mostram claramente que o gasto energético diário do paciente grave dificilmente ultrapassa 20 a 30 kcal/kg (peso “seco”). Portanto, é perfeitamente justificável utilizar esse valor como referência para maioria dos pacientes em Terapia Intensiva. ALTERAÇÕES METABÓLICAS Pode-se resumir as alterações metabólicas quanto aos aspectos nutricionais: • Obtenção de energia através da oxidação compulsória de carboidratos, lípides e proteínas; e, ao mesmo tempo, uma limitação metabólica em utilizá-los. • Importante mobilização protéica do compartimento periférico para o central, com perda real de nitrogênio que só se atenua quando é possível controlar a causa da resposta hipermetabólica, quando prolongada, esgota as reservas protéicas de diversos órgãos e co-fator relevante para desenvolvimento da Insuficiência Orgânica Múltipla. 1. Responsável pelo Serviço de Terapia Nutricional do Hospital Sírio Libanês; Diretor da Socidade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral Apresentado na Assembléia do Consenso Brasileiro de Sepse em fevereiro de 2003 - Aceito para publicação em 18 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Rua Barata Ribeiro 237 cj 22 - Bela Vista - 01308-000 São Paulo, SP Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 175 ADMINISTRAÇÃO DE NUTRIENTES A necessidade energética nos pacientes típicos das UTI, situa-se geralmente entre 20 e 30 kcal/kg/dia. A glicose, permanece primeira fonte calórica nos pacientes hipermetabólicos; a taxa máxima de oxidação de glicose é de 5 mg/kg/min, ou seja, 7,2 g/kg/dia, e, no grupo em questão, parte desta carga máxima tolerável de glicose é fornecida pela gliconeogênese. Portanto, administração de glicose em quantidade superior a 5 g/kg/dia, freqüentemente leva ä hiperglicemia, hiperosmolaridade, esteatose hepática e aumento na produção de CO2 e trabalho respiratório. Sugere-se, ao suprir as necessidades energéticas do paciente, que se utilize sempre fonte calórica mista e que a glicose contribua com aproximadamente 60% das calorias não protéicas e os lípides com o restante. Os lípides devem ser administrados diariamente, como necessidade energética, uma vez que a oxidação de glicose está limitada. Isto ainda previne a falta de ácidos graxos essenciais. A dose recomendada, é de no máximo 1,5 g/kg/dia, e, se usada a via venosa que a administração seja lenta por 20 a 24 horas; não se aconselha doses superiores a 109 g em 24 horas. Não está determinada a relação ideal entre TCM e TCL a ser administrada, mas o que se preconiza atualmente é uma mistura de 50% de TCM e 50% de TCL. As necessidades protéicas do paciente hipercatabólico são grandes e o balanço nitrogenado é o parâmetro nutricional isolado mais consistentemente associado à melhora do prognóstico. A quantidade recomendada de proteínas para estes pacientes é de 1,5 a 2 g/kg/dia, estudos mostram que a faixa de suprimento protéico que mais se relaciona com melhora do balanço nitrogenado está em torno de 1,25 g/kg/dia. NUTRIENTES ESPECÍFICOS Ácidos Graxos Polinsaturados Os ácidos graxos polinsaturados tipo ômega-6, levam a maior produção de ácido araquidônico, ativando a cascata que resulta na formação de mediadores inflamatórios que, além de imunossupressores, são muito ativos quanto a fenômenos inflamatórios. Utilização de fórmulas enterais enriquecidas com ácidos graxos ômega 3 e antioxidantes têm mostrado benefícios nos pacientes com lesão pulmonar aguda, reduzindo o processo inflamatório, o tempo sob ventilação mecânica e de internação na UTI e a incidência de falência de múltiplos órgãos. A possibilidade de se usar ácidos graxos do tipo ômega três por via venosa talvez traga benefícios semelhantes1 GLUTAMINA A glutamina é o amino-ácido (aa) mais abundante do organismo. Estima-se que 50% da necessidade energética do intestino seja suprida pela glutamina. Há estudos que mostram redução drástica dos níveis de glutamina no plasma e músculo de pacientes sépticos. Vários trabalhos em animais e humanos suportam o fato de que a suplementação de glutamina melhora a função imune, o balanço nitrogenado, favorece a manutenção da integridade e a função da parede intestinal. Doses recomendadas são de 0,5 a 0,7 g/kg/dia. Mais recen- 176 temente, alguns estudos sugerem superioridade de ação da glutamina por via venosa em pacientes agudamente graves de UTI. Pacientes de UTI que utilizaram Nutrição Parenteral (NPP) enriquecida com glutamina tiveram redução da mortalidade, custos e permanência hospitalar comparados aos pacientes pareados que receberam NPP sem glutamina. A via enteral é considerada adequada para administração de glutamina no paciente grave de UTI. A glutamina é muito instável em solução e sua administração por via parenteral se faz de maneira mais segura usando-se dipeptídeos como alanil-glutamina ou glicil-glutamina. NUCLEOTÍDEOS Os nucleotídeos da dieta são considerados fatores importantes para a manutenção da imunidade normal. Dietas isentas de nucleotídeos levam à diminuição da hipersensibilidade tardia, supressão seletiva dos linfócitos T auxiliares, redução das enzimas necessárias à maturação dos linfócitos T e redução da barreira intestinal. ARGININA A dose recomendada diária é de 2% da carga calórica total, aproximadamente 30 g para uma adulto de 70 kg. Doses acima de 4% da carga calórica total levam à perda dos efeitos benéficos tanto imunológicos e de retenção nitrogenada, aumentando a mortalidade na sepse. Há atualmente sérias dúvidas quanto ao papel de dietas imunoestimulantes de primeira geração em pacientes sépticos. Metanálises recentes e bem conduzidas mostram que, em pacientes de UTI, o uso de tais fórmulas enterais não influenciou a taxa de infecção, reduziu o tempo sob ventilação mecânica, e a permanência hospitalar, talvez por uma tendência a aumento da mortalidade. Quanto às dietas imunomoduladoras de segunda geração(não enriquecidas com arginina), faltam estudos bem desenhados para provar seu efeito na população em questão. No entanto, trabalhos europeus atuais provam em animais e em humanos(ESPEN, 2004) benefícios com o uso de arginina na sepse. Recomendação: Não se preconiza hoje uso de fórmulas imunoestimulantes no paciente séptico de UTI, mas nutrientes específicos isolados, associados a fórmulas enterais comuns. São necssários mais estudos para uma conclusão mais sólida2-4. ANTIOXIDANTES Teoricamente, em situações em que há excessiva produção de oxidantes, a administração de agentes que os neutralizem ou repletem o organismo com defesas antioxidantes poderia conferir proteção contra a lesão tecidual e a disfunção orgânica. Deve-se lembrar que: • Doses de antioxidantes no paciente e nas diferentes doenças não estão estabelecidas; • Equilíbrio entre antioxidantes e sua relação com minerais e oligoelementos não nos são plenamente familiares; • Necessidades de oligoelementos na saúde e principalmente nos estados patológicos são pouco conhecidas e excesso de antioxidantes e oligoelementos pode ser muito prejudiRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva cial, desviando o equilíbrio orgânico; • Antioxidantes na dieta são equilibrados bioquimicamente, o que não acontece na suplementação farmacológica. Embora se saiba que, tanto perdas quanto necessidades de micronutrientes no paciente agudo grave estejam aumentadas e que sua administração possa ser benéfica as doses não estão ainda estabelecidas e qualquer regime adotado é infelizmente empírico. OLIGOELEMENTOS É difícil a avaliação dos parâmetros bioquímicos de maneira absoluta; se preconiza reposição de Fe no doente agudo grave apenas quando há sinais claros de deficiência de Fe, ou seja, quando há Fe baixo associado a Ferritina também baixa e aumento da CTLFe, ou sempre que houver perda aguda importante (hemorragia). Presume-se que a suplementação do Zinco seja importante pela ação na imunidade e cicatrização de feridas, alem disso Hormônio de Crescimento (GH) não age adequadamente em situações de baixas concentrações de Zn. Há estudos que mostram aumento da reação de fase aguda (RFA) associado à suplementação de Zn, demonstrado por febre mais alta e duradoura e aumento da liberação de Interleucina-1 beta. A orientação empírica é que nos doentes catabólicos se reponha 7 a 10 mg/dia, a menos que haja grandes perdas sensíveis por fístulas digestivas ou sonda gástrica (repor 12 a 17 mg por litro de débito). QUANDO INICIAR Há poucos dados concretos disponíveis sobre quando deva ser iniciado o suporte nutricional. A literatura não é conclusiva a respeito dos benefícios da alimentação precoce, embora estudos recentes sugiram que alimentação enteral precoce leve a melhor evolução dos pacientes quanto à morbidade infecciosa. Algumas considerações: Em pacientes instáveis clinicamente, a nutrição parenteral pode representar mais um fator de desequilíbrio e seria mais sensato retardar-se o suporte nutricional por 24 a 48 horas até que se atinja uma situação metabólica mais estável. Em pacientes hemodinamicamente instáveis, necessitando de quantidades crescentes de drogas vasopressoras, principalmente norepinefrina, o fluxo sangüíneo intestinal está reduzido ao valor limítrofe, e, introdução de suporte nutricional enteral pode desencadear necrose intestinal já que não há possibilidade de aumento do fluxo intestinal em resposta à introdução do alimento. Pacientes de UTI recebendo drogas vasoativas, sejam quais forem, “estáveis na sua condição hemodinâmica”, devem iniciar precocemente terapia nutricional preferentemente enteral. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Enteral O uso da via enteral como a preferencial apoia-se em várias premissas: De menor custo, fisiológica, segura, mantém a morfoloVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 gia e função do trato gastrintestinal, prevenindo translocação bacteriana. MANUTENÇÃO DA MORFOLOGIA E FUNÇÃO DO TRATO GASTRINTESTINAL: Estudos mostram evidências menos convincentes de que, a curto prazo, o jejum ou a nutrição parenteral levem a alterações significativas na estrutura e função da parede intestinal. Alguns nutrientes específicos são relevantes para manutenção do trofismo e função da parede intestinal. São exemplos a glutamina e ácidos graxos de cadeia ultracurta, como o ácido butírico e valérico. PREVENÇÃO DA TRANSLOCAÇÃO BACTERIANA: A permeabilidade seletiva da parede intestinal está diretamente ligada à sua integridade. Nos doentes agudamente graves, alterações na permeabilidade da parede intestinal podem levar a translocação bacteriana, explicando a persistência de um quadro séptico na ausência de foco infeccioso definido. MELHOR EVOLUÇÃO Pacientes graves em nutrição enteral apresentam índices de infecção muito menores do que os que recebem nutrição parenteral. Que outro fator poderia estar influenciando a melhor evolução infecciosa nesses pacientes? Praticamente 50% do Sistema Retículo Endotelial e células imunológicas são oriundas do intestino; 80% das imunoglobulinas são produzidas no intestino; 50% dos linfócitos T “helper” circulantes com receptores D14 para endotoxinas vem do intestino. Linfócitos B sensibilizados por estímulo antigênico saem das placas de Peyer, circulam pelo corpo aumentando a defesa da mucosa local e sistêmica através do aumento na produção de IgA na lâmina própria que na luz intestinal se aglutina com microorganismos, facilitando sua eliminação. Há evidências cada vez maiores que a manutenção da massa tecidual linfóide do intestino preserve a imunidade local e sistêmica. A nutrição enteral relaciona-se a maior produção de colecistocinina (aumenta o Ca nos linfócitos, que é um co-fator para multiplicação dos linfócitos), regula produção de mediadores inflamatórios nos monócitos e aumenta produção de IgA intraluminar. A falta de nutrientes na luz intestinal, como ocorre no suporte nutricional exclusivamente parenteral ou na administração de dietas elementares que são absorvidas no jejuno proximal, aumenta a expressão das adesinas, fazendo com que a aderência bacteriana2-7. A detoxificação hepática é um mecanismo importante que consiste em duas fases. Tanto a Fase I como a II dependem de uma série de nutrientes como bioflavonóides, alguns aminoácidos como cisteína, N-acetil cisteína, taurina, glutamina freqüentemente ausentes nas soluções mais comuns para suporte nutricional parenteral e mesmo em algumas fórmulas de nutrição enteral. Nas situações de Sepse ou SIRS, onde há formação de muitas substâncias tóxicas para organismo a suplementação desses nutrientes parece importante. 177 PNEUMONIA NOSOCOMIAL RELACIONADA À NUTRIÇÃO ENTERAL: O papel do pH gástrico na patogênese da pneumonia nosocomial é controverso. Em dois estudos recentemente publicados o sucralfato, que protege a parede gástrica sem elevar o pH, para prevenção da hemorragia digestiva alta, levou a menores índices de pneumonia do que o uso de antiácidos isolados ou em combinação com antagonistas da histamina, no entanto é discutível se uso isolado de antagonistas da histamina relaciona-se com maiores índices de pneumonia nosocomial. No entanto, não só o pH intraluminar, mas também o volume gástrico deve ser considerado como fator de risco para aspiração e conseqüente pneumonia e suporte nutricional enteral, quando por via gástrica, atua elevando o volume gástrico, contribuindo para a ocorrência de pneumonias por aspiração8,9. O impacto do suporte nutricional enteral na aspiração leva em conta vários fatores: • Posição do paciente, • Via de administração - Alimentação jejunal deve ser a escolha para pacientes com alto risco para aspiração. A via gástrica pode e deve ser usada para aqueles que tenham alterações da deglutição de diversas causas, alterações de motilidade esofágica, falta de iniciativa para se alimentar, etc. A gastrostomia percutânea ou convencional parece relacionarse com índices mais baixos de aspiração, pelo menos a médio prazo e pode ser alternativa nos pacientes em que a permanência de sondas naso ou orogástricas seja problema. • Modo de administração: administração intermitente parece ser mais fisiológica. Há estudos que mostram não haver diferença na freqüência de aspiração segundo administração intermitente ou contínua. A administração contínua no estômago mantém o pH luminar constantemente alto o que favoreceria a pneumonia, a menos que se utilizasse uma pausa noturna para acidificar o estômago ou se acidificasse o alimento administrado. PARENTERAL A Nutrição Parenteral, principalmente no paciente grave, em muitas situações é não só muito útil como imperativa. Este grupo, freqüentemente apresenta intolerância total ou parcial à nutrição enteral, ou, por catástrofes abdominais, não pode utilizar o trato digestivo, ou apresenta instabilidade hemodinâmica importante que coloca em risco a viabilidade intestinal, ou necessita de suplementação parenteral para atingir seus requerimentos nutricionais. Independentemente de seu inestimável valor, algumas desvantagens podem ser apontadas: reduz complicações não infecciosas, mas aumenta a morbidade infecciosa dos pacientes; pela não utilização do trato alimentar; alguns estudos mostram índices de infecção 2,2 vezes superiores nos pacientes que recebem nutrição 178 parenteral quando comparados aos que recebem nutrição enteral10. É mais comum hiperalimentação quando usa-se nutrição parenteral e isto significa excesso de glicose e de lípides e suas conseqüências indesejáveis relativas à diminuição das defesas antiinfecciosas. O suporte nutricional parenteral exige na maioria das vezes um acesso venoso central favorecendo a ocorrência de infecção pela presença do cateter. Nos pacientes sépticos com utilização do cateter central para monitorização e administração de medicamentos, nutrição, etc. a taxa de infecção por cateter costuma ser maior do que quando utilizado isoladamente para NP (1% a 2%). Cateteres de múltiplos lumens independentes, cada um usado para uma finalidade, cursa com índices de infecção superiores aos dos cateteres de luz única, da ordem de 13%, segundo alguns estudos, provavelmente por excesso de manipulação, principal fator determinante de contaminação11. RESUMO Nos últimos anos cresceu o interesse pelo suporte nutricional ao paciente séptico por diversos motivos, tais como a impossibilidade de utilizar as vias naturais de alimentação, a necessidade de prover elementos essenciais à sobrevivência durante o insulto séptico e a possibilidade de se utilizar nutrientes em doses farmacológicas e em combinações especiais para o controle metabólico e até imunológico, podendo resultar em melhor evolução destes pacientes. Este documenta sintetiza todas essas possibilidades utilizando as melhores evidências disponíveis na literatura. Unitermos: nutrição, terapia, sepse. REFERÊNCIAS 01. 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RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva Tratamento: Suporte Ventilatório Treatment: Ventilatory Support Coordenação: Carmen Sílvia Valente Barbas1 Marcelo Britto Passos Amato2, Carlos Roberto Ribeiro Carvalho3 SUMMARY The ventilatory support of the septic patient aim to reduce the work of breathing and energetic demand as well as to avoid the ventilator induced lung injury. The ventilation with low tidal volumes (6 mL/kg) and individual PEEP levels titration must be done to keep the lungs opened and guarantee an homogeneous ventilation. Key Words: mechanical ventilation, repiratory failure, sepsis, weaning A sepse caracteriza-se por resposta inflamatória sistêmica a presença de microorganismos e/ou de toxinas e ou mediadores inflamatórios liberados por estes. Os pacientes sépticos, mesmo os sem comprometimento pulmonar, apresentam taquipnéia e aumento da ventilação minuto como resposta do sistema respiratório à sepse1-5. Além disso, os pulmões podem ser afetados como local primário ou secundário da infecção causadora da sepse e ou ainda serem acometidos pela Lesão Pulmonar Aguda e ou Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo6-9. Com o objetivo de otimização do suporte ventilatório destes pacientes pode-se classificá-los em: 1. PACIENTE SÉPTICO ESTÁVEL HEMODINAMICAMENTE (SEM USO DE DROGAS VASOATIVAS) a) sob ventilação espontânea sem comprometimento pulmonar b) sob ventilação espontânea com comprometimento pulmonar c) sob ventilação mecânica sem comprometimento pulmonar d) sob ventilação mecânica com comprometimento pulmonar 2. PACIENTE SÉPTICO INSTÁVEL HEMODINAMICAMENTE (COM USO DE DROGAS VASOATIVAS) a) sob ventilação mecânica sem comprometimento pulmonar b) sob ventilação mecânica com comprometimento pulmonar c) sob ventilação mecânica com comprometimento cardíaco e pulmonar 3. PACIENTE SÉPTICO EM DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA. 1.a) Paciente séptico estável hemodinamicamente (sem uso de drogas vasoativas) sob ventilação espontânea sem comprometimento pulmonar: Nestes pacientes observa-se o aumento da freqüência respiratória (FR) e do volume minuto com conseqüente aumento do trabalho respiratório e gasto energético. Na tentativa de diminuir o trabalho respiratório pode-se acoplar a estes pacientes um suporte ventilatório não-invasivo através de máscaras faciais com ventiladores de alta sensibilidade, tempo de resposta rápido e níveis de pressão inspiratória suficientes para reduzir o esforço muscular e poder proporcionar o repouso da musculatura respiratória10. Grau de evidência : E 1.b) Paciente séptico estável hemodinamicamente ( sem uso de drogas vasoativas) sob ventilação espontânea com comprometimento pulmonar. Este paciente normalmente apresenta taquipnéia, aumento do trabalho respiratório e graus variados de hipoxemia de acordo com a extensão e intensidade do comprometimento pulmonar. A administração de oxigênio é obrigatória através de cateter de O2 e ou máscara de Venturi para manutenção da SpO2 > 93%. O suporte ventilatório não- invasivo pode ser instalado com níveis de EPAP para manter a SpO2 > 93%. Com níveis de FIO2 < 40% e níveis de IPAP para manter o volume corrente acima de 350 ml e a freqüência respiratória < 28 mov/resp/min. O paciente que necessitar de FIO2 > 50% com níveis ótimos de EPAP deve ser intubado e conectado à ventilação mecânica invasiva. O uso de níveis de IPAP> 25 cmH2O para manutenção de volume corrente acima de 350 ml e ou FR< 28 também é indicativo de intubação orotraqueal5,9,10. Grau de evidência: E 1. Professora Livre Docente da Disciplina de Pneumologia da FMUSP e Coordenadora científica da equipe e da pós-graduação em Pneumologia do CTI Adultos do Hospital Israelita Albert Einstein. 2. Doutor em Pneumologia e chefe do laboratório experimental em ventilação mecânica da Disciplina de Pneumologia da USP. 3. Professor Associado da Disciplina de Pneumologia da FMUSP. Apresentado na Assembléia do Consenso Brasileiro de Sepse em fevereiro de 2003 - Aceito para publicação em 15 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Prof. Dra. Carmen Sílvia Valente Barbas - Av. Albert Einstein 627 – 5º Andar - CTI-Adultos – Hospital Israelita Albert Einstein - Morumbi - São Paulo, SP Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 179 1.c). Paciente séptico estável hemodinamicamente (sem uso de drogas vasoativas) sob ventilação mecânica sem comprometimento pulmonar. Este paciente normalmente necessita de intubação orotraqueal e ventilação mecânica pela diminuição do nível de consciência e ou proteção de vias aéreas e ou anestesia para dor nos casos de politrauma e ou para procedimentos cirúrgicos. Nestes pacientes os níveis de PEEP devem ser mantidos para garantir a FIO2 < 40% e relação PaO2/FIO2 > 300. Níveis de volume corrente devem ser mantidos entre 6 e 8 ml/kg (considerar peso ideal) respeitando a pressão de platô máxima de 35 mmHg ( para evitar ocorrência de lesão induzida pela ventilação mecânica), com freqüência respiratória entre 15 e 20 mov/resp/min5,9. Grau de evidência: E 1.d). Paciente séptico estável hemodinamicamente (sem uso de drogas vasoativas) sob ventilação mecânica com comprometimento pulmonar. Este tipo de paciente geralmente apresenta pneumonia grave associada à sepse e ou LPA/SDRA associada a sepse. Se possível realizar tomografia computadorizada de tórax para melhor avaliação do comprometimento pulmonar e de sua extensão, de preferência com vários níveis de PEEP para um melhor entendimento da resposta pulmonar à aplicação de pressão positiva. Os níveis de PEEP devem ser ajustados para manutenção de uma troca gasosa adequada (PaO2/ FIO2 > 300) com uma ventilação pulmonar homogênea. Os níveis de volume corrente devem ficar entre 6 e 8 ml/kg (considerar peso ideal do paciente) respeitando a pressão de platô máxima de 35 mmHg5,9,11,12. Grau de evidência: E 2.a) Paciente séptico instável hemodinamicamente (com uso de drogas vasoativas) sob ventilação mecânica sem comprometimento pulmonar. Este paciente deve ser mantido sedado e monitorado. Deve ser realizada reanimação volêmica precoce e o uso de drogas vasoativas (noradrenalina e dobutamina) para manutenção dos níveis de SvO2 > 75% e os níveis de lactato arterial e ou venoso central os mais próximos possíveis do normal. Os níveis de PEEP devem ser mantidos para garantir relação PaO2/FIO2 as mais altas possíveis (de preferência acima de 300). O volume corrente deve ser mantido entre 6 e 8 ml/kg (considerar peso ideal), respeitando a pressão platô máxima de 35 cmH2O, com freqüência respiratória entre 15 e 20 mov/resp/min para se evitar o desenvolvimento de lesão induzida pela ventilação mecânica como já demonstrado em estudos experimentais5,9,11-13,16. Grau de evidência: E 2.b) Paciente séptico instável hemodinamicamente (com uso de drogas vasoativas) sob ventilação mecânica com comprometimento pulmonar. Este paciente deve ser mantido sedado e monitorado. Deve ser realizada reanimação volêmica precoce e o uso de drogas vasoativas (noradrenalina) para manutenção dos níveis de SvO2 > 75% e os níveis de lactato arterial e ou venoso central os mais próximos possível do normal . Ventilar com volume corrente de 6 ml/kg ( considerar peso ideal e utilizar 180 modos ventilatórios com limitação de pressão de platô). A freqüência respiratória deve ser mantida em 20 mov/resp/ min e os níveis de PEEP titulados 2 cmH2O acima do ponto de inflexão inferior da curva pressão-volume do sistema respiratório, (geralmente entre 15 e 25 cmH2O), pelo método dos volumes aleatórios Deve-se tentar manter, se possível, a FIO2 < 50%14-18. Grau de evidência: C Trinta e cinco por cento dos pacientes sépticos desenvolvem Síndrome do desconforto respiratório agudo. Para estes pacientes existem evidências que volumes correntes de 6 ml/kg ( peso ideal) diminuem a mortalidade se comparados a 12 ml/kg14,15. Grau de evidência: A Quando disponível, realizar tomografia computadorizada de tórax para observação do grau e distribuição do comprometimento pulmonar. As manobras de recrutamento alveolar com níveis de PEEP progressivos (até 45 cmH2O) com níveis de pressão controlada fixos em 15 cmH2O podem ser utilizadas. Nos pacientes com hipoxemia refratária as manobras de recrutamento alveolar deve-se utilizar a posição prona e ou decúbito ventral e se observar a resposta. Nos casos de hipoxemia refratária (PaO2/FIO2 <100) apesar do máximo suporte ventilatório já descrito pode-se utilizar a oxigenação extracorpórea com oxigenador de membrana16-21. Grau de evidência : E 2.c) Paciente séptico instável hemodinamicamente (com uso de drogas vasoativas) sob ventilação mecânica com comprometimento pulmonar e cardíaco. Este paciente deve ser mantido sedado e monitorado. Ajustar a volemia e drogas vasoativas (noradrenalina e dobutamina) de maneira a manter a SvO2 > 75% e níveis de lactato arterial e ou venoso central os mais próximos possíveis do normal. Se possível mensurar o índice de trabalho dos ventrículos direito e esquerdo, assim como o índice trabalho do ventrículo esquerdo/ pressão capilar pulmonar (tentar manter este índice acima de 3)22-24. Ventilar o paciente com volume corrente de 6 ml/kg, freqüência respiratória de 20 e níveis de PEEP titulados pelo ponto de inflexão inferior da curva pressão-volume do sistema respiratório (PEEP entre 15 e 25 cmH2O) com manutenção de FIO2 mais baixas possíveis para manutenção de PaO2 entre 80 e 100 mmHg. Se os níveis de CO2 tiverem acima de 50 mmHg, com pH < 7,2 ou houver intolerância cardiovascular aos níveis aumentados de CO2 ( aumento importante das pressões de artéria pulmonar) pode-se associar o uso de insuflação intra-traqueal de gases e ou ainda se os níveis de pressão de platô permitirem aumentar os níveis de volume corrente até 8 ml/kg14-21. Grau de evidência: E 3. Paciente séptico em desmame da ventilação mecânica. O desmame do paciente séptico da ventilação mecânica deve ser iniciado assim que este esteja capacitado a iniciar um modo assistido de ventilação com níveis mínimos de trabalho respiratório, normalmente o modo pressão de suporte. O paciente deve estar estável hemodinamicamente (uso mínimo de drogas vasoativas) e com a FIO2 < 40%. A sedação deve ser descontinuada para permitir que o paciente inicie a ventilaRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ção espontânea com níveis de pressão de suporte que garantam um volume corrente acima de 350 ml e uma freqüência respiratória abaixo de 28 mov/resp/min, mantendo o paciente confortável e sem dor. Os níveis de pressão de suporte devem ser baixados progressivamente até níveis de 8-10 cmH2O quando , então, deve se iniciar a diminuição dos níveis de PEEP. Quando a PSV estiver em níveis de 5 a 7 cmH2O e os níveis de PEEP de 5 a 6 com FIO2 < 40% e SpO2 > 95% considerar o paciente apto para extubação. Neste momento deve-se verificar a PImáx (> 25 cmH2O), capacidade de tosse, nível de consciência e balanço hídrico e função do VE. Neste momento deve-se fazer uma prova de ventilação espontânea em Tubo T e ou PSV de 5 a 7 cmH2O e PEEP de 5 a 6 cmH2O por 30 minutos a 2 horas. Se o paciente mantiver o volume corrente maior que 350 ml, freqüência respiratória < 28 mov/ resp/min e SpO2 > 93%, sem disritmias com risco de vida, sem hipertensão arterial grave e ou freqüência cardíaca maior que 120 bat/min: o paciente poderá ser extubado. Grau de evidência: C Nos pacientes em ventilação mecânica e sedados, há evidências de que o desmame do suporte ventilatório ocorrerá mais rapidamente com a interrupção da sedação uma vez ao dia para avaliação do nível de consciência do paciente e a possibilidade de progressão do desmame27. Nível de evidência: B Nos pacientes com fraqueza muscular (comum na polineuromiopatia da sepse) verificar a dose de corticosteróide e mantê-la a menor possível, ajustar o aporte nutricional e iniciar a reabilitação da musculatura respiratória com treinamento progressivo com aparelhos de treinamento de musculatura inspiratória destinados a este fim. Estes pacientes devem ser extubados com auxílio de ventilação mecânica não-invasiva, que deve ser mantida pelo menos 24 horas após a extubação destes pacientes28. Nível de evidência: E Na ausência de melhora da força muscular com reabilitação (PImáx >20 cmH2O), deve-se indicar traqueostomia e ser iniciado o treinamento progressivo da musculatura respiratória seguidos de períodos de descanso com pressão inspiratória positiva. Com a melhora da força muscular respiratória, o paciente deve permanecer por períodos progressivos em nebulização e ou respiração espontânea até a retirada total da pressão positiva e posterior fechamento da traqueostomia28. Nível de evidência: E RESUMO O suporte ventilatório do paciente séptico deve ser realizado no sentido de diminuir seu trabalho respiratório e gasto energético e de evitar a lesão induzida pela ventilação mecânica. A ventilação com volumes correntes de 6 ml/kg .e os níveis de PEEP devem ser ajustados individualmente para se garantir os alvéolos abertos e ventilação homogênea. Unitermos: ventilação mecânica, insuficiência respiratória, sepse, desmame. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 REFERÊNCIAS 01. Amato MBP, Barbas CSV, Medeiros DM et al - Efffect of a protective-ventilation strategy on mortality in the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med, 1998;338:347-354. 02. 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Key Words: sedation, analgesia, sepsis A depressão da consciência, bem como do controle neural da respiração e da atividade autonômica induzida por analgésicos e sedativos agrava-se na sepse. Além disso, essas drogas alteram a resposta imunológica, aumentando risco de infecções e sepse1,2. Os opióides afetam a proliferação, a diferenciação e a função das células imunológicas3,4, a resposta à atividade fagocitária e a ação de mediadores inflamatórios5,6. Os benzodiazepínicos afetam a função linfocitária7. O propofol parece estimular, enquanto o midazolam reduz a produção de interleucinas (IL)-1beta, IL-6 e TNF-alfa, e ambos suprimem a produção de IL-88. Através de mecanismos diversos o tiopental também afeta a resposta imunológica9,10. A estimulação dos receptores α-2 pela dexmedetomidina pode, in vitro, induzir a agregação plaquetária e in vivo, promover liberação do óxido nítrico do endotélio vascular e a diminuição da liberação de catecolaminas, ao estimular os adrenorreceptores α-2 pós-sinápticos11. A fraqueza muscular após uso prolongado de bloqueadores neuromusculares constitui um dos fatores limitantes ao uso destes fármacos. A sepse e a disfunção de múltiplos órgãos tem sido, por sua vez associada à miopatia12-18 ou polineuropatia, denominada “polineuropatia do paciente grave”19-24. As disfunções orgânicas hepática, renal e circulatória que acompanham a sepse modificam as intervenções destinadas a promover sedação e analgesia ao paciente séptico. Metabolismo de Sedativos e Analgésicos na Sepse Os opióides são eliminados através do metabolismo hepático (conjugação) e excreção renal. As disfunções nestes órgãos, devida a sepse, poderão acompanhar-se de acúmulo destes agentes ou seus metabólitos ativos e prolongar seus efeitos25-27. Da mesma forma, a eliminação dos diazepínicos depende do fluxo sangüíneo do fígado e da sua atividade enzimática, pois o metabolismo extra-hepático destes agentes não tem grande expressão clínica. A duração da ação do propofol é relativamente pouco afetada em portadores de disfunção renal ou hepática, o que não limita o seu uso em pacientes graves sob tratamento intensivo28. A taxa de ligação protéica da dexmedetomidina é de 94%, e ela não é afetada pela disfunção renal. No entanto, nos pacientes com disfunção hepática, pode resultar em valores menores de depuração. INSTABILIDADE HEMODINÂMICA, SEDAÇÃO E ANALGESIA NA SEPSE Em razão da instabilidade hemodinâmica associada à sepse, é fundamental, ao se prescrever analgésicos e sedativos, estar atento aos seus efeitos cardiovasculares: Todos os opióides promovem bradicardia em razão de estimulação vagal, e dentre eles, a morfina tem maior potencial de histaminoliberação, que determina a vasodilatação arteriolar e venosa. Os demais opióides não afetam a pré-carga ou a pós-carga desde que não haja prévia estimulação adrenérgica. Na presença de hipovolemia, quando o equilíbrio hemodinâmico depende da intensificação do tônus adrenérgico, os opióides poderão precipitar a hipotensão arterial - redução do retorno venoso por venodilatação e redução da resistência vascular sistêmica por dilatação arteriolar - acentuada. O diazepam29 e o midazolam30 têm ação vasodilatadora direta. Isto faz com que estes agentes, principalmente quando administrados em bolus, ou associados a opióides, 1. Professor Titular da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo 2. Médica Assistente e Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva Neurocirúrgica do Setor de Terapia Intensiva da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Escola Paulista de Medicina - Universidade São Paulo 3. Médico Assistente do Setor de Terapia Intensiva da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São 4. Médico assistente e Coordenador do Grupo de Suporte Neurológico do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Albert Einstein; Médico assistente do Serviço de Fisiologia Aplicada, do Instituto do Coração, da Universidade de São Paulo 5. Médico do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Albert Einstein Médico Assistente da Disciplina de Clínica Médica da Faculdade de Medicina - USP 6. Professora da UFSC, Mestre em Ciências Médicas, Doutora em Engenharia de Produção - Ergonomia Apresentado em Apresentado na Assembléia do Consenso Brasileiro de Sepse em fevereiro de 2003 - Aceito para publicação em 05 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Dr. José Luiz Gomes do Amaral - Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva UNIFESP - Rua Napoleão de Barros 715 - 4º andar - 04024 900 São Paulo, SP 182 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva sejam mal tolerados em pacientes hipovolêmicos ou portadores de instabilidade hemodinâmica. Já em indivíduos normais, a administração de propofol é acompanhada de redução significativa da pressão arterial, do débito cardíaco e da resistência vascular. Este efeito é ainda mais intenso quando associado a opióides, ou se for administrado em pacientes hipovolêmicos ou debilitados31,32. Sua associação com cetamina pode reduzir este inconveniente32. Os efeitos hemodinâmicos do propofol devem-se a vasodilatação33, dos territórios de capacitância34, da resistência35 e da depressão da atividade baroreflexa36. A dexmedetomidina promove sedação e analgesia, sem depressão respiratória. Do ponto de vista hemodinâmico, apresenta comportamento bifásico. Em menores doses, age sobretudo nos receptores α2a com redução da freqüência cardíaca, pressão arterial média e resistência vascular periférica. Em doses maiores, age sobre receptores α2b com aumento da resistência vascular sistêmica, com conseqüente aumento da pressão arterial e diminuição reflexa da freqüência cardíaca36. Particularmente na indução de pacientes em choque37 e em procedimentos de curta duração em pacientes graves, são usados a cetamina e o etomidato. A cetamina estimula o sistema cardiovascular, por meio da combinação de ações indireta simpática central e periférica, bem como direta no músculo liso dos vasos e miocárdio38. A cetamina inibe a recaptação de catecolaminas39 e promove a vasodilatação direta40. O inotropismo positivo observado em indivíduos normais, não se manifesta na presença de reserva miocárdica reduzida41. Entre os demais agentes hipnóticos usados em anestesia ou sedação para procedimentos invasivos, o etomidato é o fármaco com menor impacto hemodinâmico41, afetando pouco o inotropismo ou a capacitância venosa42,43. As doses elevadas de tiopental utilizadas no tratamento da hipertensão intracraniana resultam amiúde em acentuada depressão cardiovascular, exacerbada na presença de sepse. Doses e velocidade de injeção de barbitúricos tem de ser ajustadas para esta condição. O haloperidol pode aumentar o intervalo da onda QT, com risco aumentado de disritmias cardíacas ventriculares, incluindo Torsades de Pointes. O aumento significativo do intervalo da onda QT já foi descrito, com doses baixas de 35 mg e a presença de disritmias relatadas após infusão, por via venosa, de 20 mg ou mais44,45. A taquicardia associada ao pancurônio e o efeito histaminoliberador atribuído a alguns bloqueadores neuromusculares, como pancurônio e atracúrio pode sobreporse à expressão clínica de quadros sépticos, dificultar sua avaliação clínica e, eventualmente, constituir complicação do tratamento. O flumazenil é um antagonista gabaérgico que reverte os efeitos dos diazepínicos por competição. Seu uso isolado nas doses terapêuticas não resulta em efeito significativo sobre a pressão arterial, a freqüência cardíaca, a pressão ocluída da artéria pulmonar, o índice cardíaco, a resistência vascular sistêmica e as variáveis respiratórias. No entanto, não está recomendando após o uso prolongado de benzodiazepínicos pelo risco de induzir sintomas de abstinência e aumentar o consumo de oxigênio do miocárdio. A naloxona, antagonista puro de todos os receptores opióides, tem curta duração de ação o que pode propiciar Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 a recorrência do efeito do opióide, quando administrada em pequenas doses. A superdosagem pode resultar em hipertensão arterial grave, disritmias cardíacas e edema pulmonar agudo47,48. A taquicardia associada ao pancurônio e o efeito histaminoliberador atribuído a alguns bloqueadores neuromusculares, como o pancurônio e o atracúrio pode sobreporse ã expressão clínica de quadros sépticos, dificultar a sua avaliação clínica e, eventualmente, constituir complicação do tratamento. RECOMENDAÇÕES A monitorização da qualidade da analgesia, do nível de sedação e do grau de bloqueio neuromuscular tem particular relevância no paciente em sepse. A interpretação dos resultados exige cuidadosa interpretação em razão do impacto da sepse sobre os sistemas nervoso e neuromuscular. Grau E* A interferência dos agentes usados em sedação e analgesia sobre a resposta imunológica não contra-indica utilização destes fármacos, mas exige consideração na prescrição de pacientes sépticos. Grau E* A disfunção de múltiplos órgãos que acompanha a sepse exige ajustes freqüentes na prescrição dos agentes usados em sedação. Grau E* A instabilidade circulatória que acompanha a sepse exige cuidado adicional na titulação de sedativos, hipnóticos e bloqueadores neuromusculares. Os opióides e sedativos reduzem o tônus adrenérgico e podem precipitar hipotensão arterial em pacientes dependentes da resposta autonômica e reserva cardíaca limitada. Agentes dotados de expressivo potencial de histaminoliberação devem ser evitados. Grau E* O uso de antagonistas, tanto de benzodiazepínicos como de opióides, não está recomendado. Seu uso está associado à precipitação de abstinência ou ao retorno do efeito sedativo dessas drogas. Grau E* *As recomendações Grau E encontram respaldo na opinião de especialistas e representam extrapolação de situações análogas às encontradas na sepse. Não são, portanto, baseadas em estudos prospectivos, controlados aleatoriamente realizados em pacientes sépticos e controles normais. RESUMO Adequadas sedação e analgesia aumentam o conforto, reduzem a resposta ao estresse e facilitam os procedimentos diagnósticos e terapêuticos em pacientes sépticos gravemente enfermos. Analgesia e sedação podem também reduzir morbidades. Além disso, o tratamento destes pacientes é melhor guiado por escores clínicos simples. A implementação de diretrizes para sedação e analgesia podem reduzir o tempo de permanência nas unidades de terapia intensiva. Unitermos: sedação, analgesia, sepse. 183 REFERÊNCIAS 01. Pacifici R, Di Carlo S, Bacosi A et al - Pharmacokinetics and cytokine production in heroin and morphine-treated mice. Int J Immunopharmacol, 2000;22:603-614. 02. 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RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Disfunção Miocárdica na Sepse* Myocardial Dysfunction in Sepsis Ludhmila Abrahão Hajjar1, Constantino José Fernandes Júnior2, Erick Sessa Mercon1, Aécio Flavio T Góis1, Elias Knobel2 , Liliane Kopel3 , Silvia Gelas Lage4 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Myocardial dysfunction in sepsis occurs in approximately 40% of the patients, and is responsible for significant increase of mortality. The objective of this article is to review myocardial dysfunction in sepsis, regarding its pathogenetic mechanisms and clinical consequences. CONTENTS: Although its pathogenesis and clinical consequences remain incompletely understood, myocardial dysfunction plays a clear role in human septic shock. Septic myocardial depression in humans has been seen to be characterised by reversible ventricular dilation, decreased systolic function, and decreased response to both fluid resuscitation and catecholamine estimulation, all in the presence of a hyperdynamic circulation. This phenomenon is related to the presence of circulating myocardial depressant factors, like TNFα IL-1 and nitric oxide. CONCLUSIONS: Our current approach to cardiac dysfunction in patients with septic shock is still aimed at goals of reestablishing organ and tissue perfusion and oxygen delivery by fluid resuscitation and inotropic or vasopressor therapy. However, as we continue to understand the cellular mechanisms of organ dysfunction, the hope is that there will be exciting new strategies and therapeutic options to reduce mortality of critical patients. Key Words: Myocardial dysfunction, myocardial depression, sepsis A sepse é uma entidade complexa definida como uma síndrome de resposta inflamatória sistêmica à infecção, caracterizada e modulada por vários mediadores inflamatórios e antiinflamatórios1,2. Nos pacientes críticos a sepse é um problema crescente, dada sua alta prevalência e altas taxas de mortalidade, variando de 25% a 70%3. A morbimortalidade da sepse, é em grande parte resultante de distúrbios graves no sistema cardiovascular, com hipotensão arterial refratária e colapso cardiovascular4. Apesar do progresso obtido em monitorização hemodinâmica e cuidados intensivos, a mortalidade atribuída à sepse persiste extremamente elevada. Atualmente, o paciente com sepse não morre da infecção primária e sim de disfunção orgânica progressiva, atribuída em parte ao fenômeno sistêmico de resposta inflamatória5. A depressão miocárdica associada à sepse é uma das manifestações da disfunção orgânica dessa afecção2. Estima-se que a disfunção do sistema cardiovascular ocorra em 40% dos pacientes com sepse3. A taxa de mortalidade aumenta de 20% a 30% na sepse sem acometimento cardiovascular para 40% a 70% no choque séptico3. O maior entendimento do acometimento cardiovascular na sepse abre perspectivas na elucidação dos mecanismos envolvidos nessa síndrome e pode orientar estratégias terapêuticas no manuseio do choque séptico. HISTÓRICO Na era moderna, o conceito de depressão ou disfunção miocárdica reversível foi pela primeira vez descrito por Wiggers em 1947, que postulou a existência de um fator depressor do miocárdio responsável por disfunção miocárdica no choque hemorrágico6. Nas décadas de 1960 e 1970, estudos experimentais demonstraram evidências de disfunção miocárdica temporária em várias formas de doença crítica, incluindo choque hemorrágico e séptico7,8. Em 1973, foi publicada uma metanálise de sete estudos correlacionando sobrevida de pacientes sépticos com o índice cardíaco9. A redução do índice cardíaco correlacionou-se a maiores taxas de mortalidade (p < 0,02). Esses estudos foram corroborados por modelos animais de sepse induzida por injeção de endotoxina ou organismos vivos10-12. Quase todos os modelos produziam choque caracterizado por débito cardíaco reduzido e resistência vascular sistêmica aumentada. As críticas a esses estudos fundamentam-se na comparação do choque induzido experimental com o choque séptico em humanos, e na utilização das medidas da pressão venosa central (PVC) como estimativa do volume diastólico ventricular final. Evidências acumuladas nas últimas quatro décadas sugerem que a PVC tem baixa correlação com a pré-carga do ventrículo esquerdo nos pacientes críticos, particularmente no paciente séptico13,14. Alguns autores propuseram que o déficit de volume circulante seria o responsável pelo débito cardíaco reduzido no choque séptico9,12. Estudos seqüenciais mostraram que os pacientes portadores de choque séptico adequadamente reanimados, tipicamente apresentavam um estado circulatório hemodinâmico de alto débito e baixa resistência sistêmica, com depressão miocárdica, apesar do alto débito14-18. Nos pacientes que morriam, esse padrão hemodinâmico persistia até o óbito. 1. Médicos Cardiologistas do Instituto do Coração – HCFMUSP, Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. 2. Médicos Intensivistas da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein 3. Médicos Cardiologistas do Instituto do Coração – HCFMUSP 4. Médica Diretora da Unidade de Terapia Intensiva Clínica do Instituto do Coração – HCFMUSP *Recebido do Instituto do Coração – HCFMUSP/Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP Apresentado em 15 de julho de 2004. - Aceito para publicação em 24 de agosto de 2004 Endereço para correspondência: Dra. Ludhmila Abrahão Hajjar - Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 - 05403-000 São Paulo, SP - E-mail: [email protected] - Fones (11) 11 – 9937 2144/11- 30810609 11- 30695651 Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 185 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO A fase mais recente do entendimento e estudo das manifestações cardiovasculares da sepse e choque séptico deu início com o desenvolvimento das técnicas de cineangiografia de radionuclídeos portátil (ventriculografia radioisotópica) e com a aplicação da ecocardiografia volumétrica no manuseio do paciente crítico. co implicaria em uma probabilidade 5,7 vezes maior de morrer em associação com a disfunção miocárdica sepse-induzida26. AVALIAÇÃO DA DISFUNÇÃO VENTRICULAR NOS PACIENTES COM SEPSE Após a descrição e a confirmação do padrão hemodinâmico de alto débito cardíaco e baixa resistência sistêmica no choque séptico, alguns autores continuaram a argumentar que a disfunção cardíaca era fato importante, uma vez que as demandas metabólicas excediam a performance miocárdica2,9. Weisel e col.14 e Rackow e col.27 avaliaram a resposta a volume nos pacientes com choque séptico através do cateter SwanGanz. Ambos demonstraram evidências semelhantes de depressão miocárdica, com reduzida resposta de trabalho sistólico ao volume empregado. Parker e col.20, utilizando ventriculografia seriada e medidas de débito por termodiluição em pacientes com choque séptico, demonstraram o padrão típico hiperdinâmico. Destes, 75% apresentaram depressão da fração de ejeção ventricular nos dois primeiros dias do choque. Surpreendentemente, todos os pacientes com choque séptico com disfunção ventricular de moderada a grave (fração de ejeção do ventrículo esquerdo ≤ 0,40) sobreviveram. Dos pacientes que evoluíram para óbito, apenas um tinha fração de ejeção ventricular esquerda menor que 0,40. Os sobreviventes apresentaram dilatação ventricular esquerda aguda com aumento do índice de volume diastólico final (IVDF) e índice de volume sistólico final (IVSF), que juntos com a fração de ejeção reduzida, retornaram ao normal em 7 a 10 dias à medida que os pacientes se recuperavam. Os não sobreviventes apresentaram IVDF, IVSF, índice de volume sistólico e a função ventricular normais durante todo o curso da doença até a morte. Nesse estudo20, alguns aspectos interessantes são descritos. Primeiro, os sobreviventes do choque séptico sofreram dilatação ventricular esquerda aguda e redução da fração de ejeção quando comparados aos não sobreviventes que mantiveram inalterados os volumes cardíacos e a fração de ejeção. Ambos os grupos apresentavam débito cardíaco normal ou elevado. Esse paradoxo aparente de dilatação ventricular esquerda no grupo sobrevivente pode ser atribuído a vários fatores. Uma explicação potencial é que os não sobreviventes tinham uma maior redução na resistência vascular sistêmica que os sobreviventes, o que permitiria que estes mantivessem o débito cardíaco e a fração de ejeção sem necessidade de dilatação ventricular apesar de seu miocárdio com disfunção16,20. No grupo de não sobreviventes, a menor resistência sistêmica poderia indicar uma disfunção microvascular mais acentuada, o que poderia ser associada com edema miocárdico, e aumento do infiltrado de polimorfonucleares de permeio às fibras caracterizando uma verdadeira miocardite intersticial28. A perda de complacência e a falência subseqüente do ventrículo comprometeriam a performance miocárdica, levando a aumento de mortalidade. O segundo achado importante desse estudo refere-se à caracterização da reversibilidade da depressão miocárdica séptica: alterações agudas nos volumes ventriculares e na fração de ejeção são sustentadas até 4 dias e então retornam ao normal em 7 a 10 dias nos sobreviventes. A definição das alterações diastólicas não é tão clara como a disfunção sistólica na sepse. Ellrodt e col.29 sugeriram a ocorrência Estudos experimentais em animais têm demonstrado que a sepse claramente altera a contratilidade miocárdica in vitro e in vivo19. No homem, pelo fato do débito cardíaco encontrarse normal ou elevado após a reanimação volêmica, a disfunção ventricular tem sido de difícil avaliação através de estudos hemodinâmicos4,13,19. Com o uso da cintilografia radioisotópica e medidas hemodinâmicas de termodiluição, tem sido demonstrado redução da fração de ejeção no choque séptico19. De acordo com uma série de estudos clínicos e experimentais, a redução na fração de ejeção ocorre entre 24 e 48 horas após o início da sepse, e é reversível nos pacientes que sobrevivem, em 5 a 10 dias após o surgimento5,20,21. A combinação de fração de ejeção reduzida em pacientes com resistência sistêmica diminuída sugere a presença de depressão miocárdica intrínseca. A análise hemodinâmica com o cateter de Swan-Ganz permite o diagnóstico de uma pequena proporção de pacientes que se apresenta com disfunção miocárdica grave, caracterizada por débito cardíaco reduzido, saturação venosa mista baixa e/ou resposta alterada a volume. Freqüentemente a monitorização hemodinâmica mostra-se insensível para o diagnóstico desta grave condição, visto que não é incomum encontrar débitos cardíacos elevados associados à baixos índices de trabalho sistólico do ventrículo esquerdo em pacientes sépticos, independentemente da associação com disfunção miocárdica definida pelo encontro de níveis elevados de troponina I sérica22. Estudos recentes mostraram que a ecocardiografia bidimensional é ferramenta valiosa no diagnóstico da disfunção miocárdica da sepse2,19. Polaert e col.21 mostraram que a ecocardiografia transesofágica bidimensional com Doppler identifica vários subgrupos de pacientes de acordo com sua função sistólica e diastólica do ventrículo esquerdo. Esse estudo sugeriu que a disfunção cardíaca no choque séptico tem caráter espectral, variando de disfunção diastólica isolada até a falência ventricular 21. Alguns autores sugerem que a ventriculografia radioisotópica tem o poder de superestimar o volume ventricular e a ecocardiografia de subestimar, resultando em avaliações conflitantes da função miocárdica. Uma moderada dilatação ventricular esquerda tem sido observada com qualquer método nos pacientes com choque séptico2,3,23. Tem sido postulada a utilização da ecocardiografia com estresse como um método de avaliação de reserva miocárdica na sepse19,24. Atualmente, um dos métodos sugeridos como avaliação do comprometimento da função miocárdica na sepse é a medida dos níveis séricos da troponina I cardíaca. A troponina I é um indicador altamente específico de lesão do cardiomiócito. Estudos recentes descreveram sua elevação em mais de 50% dos pacientes com choque séptico25. Sua detecção sugeriria a presença de lesão miocárdica mesmo que leve, sem diminuição do débito cardíaco, já que sua positividade associa-se a graus variados de disfunção ventricular esquerda19,25. Também há relatos de que a elevação do BNP > 190 pcg/ml no segundo dia do quadro sépti- 186 FUNÇÃO DO VENTRÍCULO ESQUERDO NA SEPSE E NO CHOQUE SÉPTICO RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO de disfunção diastólica nos pacientes sépticos, baseado na ausência de correlação entre a pressão capilar medida e qualquer parâmetro de volume ou performance ventriculares. Jafri e col.30, com técnicas de Doppler, demonstraram redução do tempo de esvaziamento ventricular e maior dependência da contribuição atrial ao volume diastólico final esquerdo (redução da complacência) em pacientes com sepse ou choque séptico quando comparados com controles. Em estudo recente com pacientes portadores de choque séptico dependentes de vasopressores, Poelaert e col.21, demonstraram um espectro de fisiopatologia ventricular esquerda, variando de disfunção diastólica isolada a anormalidades sistólica e diastólica combinadas. Posteriormente, esses dados foram confirmados por Munt e col.31, que descreveram alterações diastólicas mais acentuadas ainda no grupo de não sobreviventes. FUNÇÃO DO VENTRÍCULO DIREITO NA SEPSE E NO CHOQUE SÉPTICO Embora em condições fisiológicas o débito dos ventrículos seja semelhante, em condições fisiopatológicas como no choque séptico, o ventrículo direito (VD) pode estar sujeito a influências diferentes que o ventrículo esquerdo32. Não se pode assumir que a função do ventrículo direito na sepse e no choque séptico seja igual à do ventrículo esquerdo por várias razões. Na circulação sistêmica, o choque séptico associa-se a redução da resistência vascular sistêmica e da pressão arterial. Isto quase sempre resulta em redução da pós-carga ventricular, que tende a manter ou elevar o débito cardíaco apesar da presença de depressão da contratilidade miocárdica. Por outro lado, a pós-carga do ventrículo direito usualmente encontra-se elevada nesses pacientes devido a aumento da resistência vascular pulmonar associada a lesão pulmonar ou a síndrome de desconforto respiratório agudo2,33. Isso tende a reduzir o débito ventricular direito. Alguns autores sugerem que a redução do débito do ventrículo direito seja resultado de redução no gradiente de perfusão durante o choque associado com hipertensão pulmonar33. Raper e col.34, utilizando ventriculografia radioisotópica, demonstraram depressão intrínseca da contratilidade do ventrículo direito em pacientes com sepse normotensos quando comparados com pacientes vítimas de trauma. Hoffman e col.35 e Kimchi e col.36 demonstraram redução da função ventricular direita em portadores de choque séptico. Parker e col.37 demonstraram comportamento do VD semelhante ao já descrito do VE no choque séptico. Pacientes que sobreviveram apresentaram disfunção acentuada de VD com dilatação ventricular, com normalização na recuperação, enquanto os não sobreviventes tinham fração de ejeção discretamente reduzida de VD que persistia até a morte. Nesse estudo, foi documentada dilatação biventricular nos sobreviventes. Assim, os dados disponíveis até o momento indicam a importância da disfunção ventricular direita no paciente séptico. Evidências mostram que apesar das diferenças dos ventrículos quanto a estrutura e função, seu comportamento na sepse é semelhante. MECANISMOS DA DEPRESSÃO MIOCÁRDICA NA SEPSE E NO CHOQUE SÉPTICO Desde a concepção inicial da depressão miocárdica na sepse, muito tem sido discutido sobre os mecanismos envolvidos em Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 sua gênese e manutenção. Há duas teorias vigentes. A primeira, que prevaleceu por vários anos, foi a da hipoperfusão miocárdica resultando em lesão isquêmica ao coração séptico. Essa teoria foi sustentada vários anos por modelos caninos de choque endotóxico que demonstravam evidência de hipoperfusão miocárdica global10,33. Entretanto, cada vez mais tornou-se conhecido que o choque endotóxico não era o modelo mais apropriado de estudo da disfunção miocárdica da sepse. Após essa constatação, emergiu a segunda teoria, que cada vez se fortalece mais, a de substâncias depressoras circulatórias no choque séptico11. As origens dessa teoria remontam a descrição clássica de Wiggers6, que propôs a presença de uma fator depressor no choque hemorrágico experimental. O maior conhecimento sobre a fisiopatologia da sepse envolvendo a inflamação e a imunomodulação sustenta a idéia de que diversos mediadores estejam envolvidos na cardiodepressão da sepse, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), a interleucina I (IL-1) e o óxido nítrico (NO). Abaixo, estão descritos os fatores supostamente envolvidos na disfunção miocárdica. a) Hipoperfusão Miocárdica A hipótese da hipoperfusão global no miocárdio com isquemia e reperfusão foi praticamente abandonada após a publicação de dois estudos38,39. Cunnion e col.38, mediram o fluxo e avaliaram o metabolismo coronário através de cateteres com termodiluição em 7 pacientes com choque séptico. Foi demonstrado que o fluxo coronariano encontrava-se normal (com freqüência cardíaca abaixo de 100 batimentos/minuto) ou aumentado (se a freqüência fosse abaixo de 100/minuto). Não houve diferenças no fluxo coronariano entre os pacientes com ou sem depressão miocárdica. Não ficou demonstrada produção miocárdica de lactato. Dhainaut e col.39, em uma série grande de pacientes, confirmaram os resultados descritos, de fluxo coronariano mantido e ausência de lactato local. Estudos experimentais com infusão de endotoxinas resultando em padrão hiperdinâmico também confirmam esses achados por mostrar aumento do fluxo sangüíneo miocárdico2,9. b) Agressão Miocárdica Turner e col.25 avaliaram o comportamento da troponina em portadores de choque séptico com o objetivo de determinar a presença de agressão miocárdica não diagnosticada clinicamente. Nesse estudo, foi encontrado que a troponina I estava elevada em 12 de 15 pacientes com choque séptico comparados com um de seis pacientes críticos sem sepse25. Houve correlação positiva entre troponina elevada e necessidade de vasopressores e correlação negativa entre troponina e índice de trabalho sistólico ventricular25. No estudo de Mehta e col.40, 37 pacientes com sepse sem doença coronariana prévia foram submetidos à dosagem de troponina sérica à admissão, em 24 e em 48 horas após a inclusão. Os pacientes foram divididos em dois grupos – troponina I alta ou troponina I baixa. Foram realizados ecocardiograma, eletrocardiograma e avaliações bioquímicas e hemodinâmicas seriadas. Dezesseis pacientes (43%) apresentavam elevação da troponina I – esses comparados ao grupo com baixos níveis de troponina tiveram maior necessidade de vasopressores (81% x 43%, p = 0,018), maior pontuação no score APACHE II (28 x 21, p = 0,004), maior incidência de disfunção segmentar no ecocardiograma (60% x 6%, p = 0,002), menor fração de ejeção (46% x 187 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO 60%, p = 0,04) e maior mortalidade (50% x 19%). A análise de regressão logística mostrou que a troponina é um fator preditivo independente de mortalidade, duração da internação na terapia intensiva e necessidade de terapia com vasopressores40. A agressão miocárdica pode ser conseqüência da hipotensão arterial e do choque nos pacientes sépticos, podem ser causadas ou pioradas pelo uso das catecolaminas, ou pode estar relacionada com a ação de uma substância depressora miocárdica circulante. O valor prognóstico da troponina nos pacientes sépticos ainda não está definido. O estudo da troponina na sepse tem o potencial de elucidar muitas dúvidas da fisiopatologia do miocárdio nessa condição. Novas pesquisas provavelmente vão esclarecer se a avaliação da troponina será uma ferramenta clínica útil no manuseio do choque séptico, como se tornou no tratamento da doença coronariana. c) Substâncias Depressoras Circulatórias A ligação entre a ocorrência de depressão miocárdica na sepse humana e a evidência do efeito depressor miocárdico do soro de pacientes com sepse só foi esclarecida após o estudo de Parrillo e col. em 19852,41 . Eles foram os primeiros a mostrar a ligação entre a depressão ventricular na sepse humana e o efeito depressor miocárdico de um mediador circulante do soro desses pacientes. Foi demonstrado que o soro de pacientes sépticos com disfunção miocárdica induzia depressão significativa da contratilidade miocárdica em ratos comparados ao soro de pacientes críticos sem sepse. Monslave e col.42 descreveram em 1984 a depressão miocárdica no choque séptico meningocócico. Pathan e col.43, em 2002, confirmaram a presença de uma substância depressora circulatória no sangue de crianças com choque por meningococcemia. Os resultados desses estudos ratificaram a proposição da teoria de depressores circulantes em detrimento da hipoperfusão miocárdica, sendo aberta a partir de então novas linhas de pesquisa buscando a identificação desses mediadores44. c.1. Citocinas Os mediadores inflamatórios endógenos potencialmente envolvidos incluem os metabólitos do ácido araquidônico (prostaglandinas e leucotrienos), o fator ativador plaquetário, histamina, endorfinas2. Mas, as citocinas, um grupo distinto de mediadores imunológicos polipeptídicos/protéicos idealmente preenchem o padrão bioquímico do fator depressor circulante42. Embora seja um grupo extenso contemplando entre outras a IL-1β, TNF-αIL-2, IL-4, IL-6, IL-8, IL-10, IFN-γ, endotelina, e TGF-α, o TNF-α e a IL-1β têm importância singular na disfunção miocárdica2,3,41,44. O TNF-α desempenha papel fundamental na resposta inflamatória e está implicado em várias afecções além da sepse. A administração do TNF-α em modelos experimentais e em voluntários humanos produz clínica e hemodinâmica de choque séptico (hipotensão arterial, débito cardíaco aumentado e resistência reduzida)45. Esses dados foram reforçados por estudos que demonstraram que a aplicação do TNF-α em tecido miocárdico de animais e humanos resulta em depressão da contratilidade concentração-dependente45-47. Kumar e col.45 removendo o TNF-α do soro de pacientes sépticos, eliminaram parcialmente a atividade depressora do miocárdio, e a terapia com anticorpo monoclonal anti-TNF-α mostrou-se capaz de bloquear a disfunção miocárdica dos mode- 188 los experimentais de sepse2. Em alguns estudos, a administração do anticorpo monoclonal anti-TNF-α em pacientes com choque séptico mostrou melhora da função ventricular50. Muitos dos efeitos biológicos do TNF-α são compartilhados pela IL-1β, como o encontro de níveis elevados na sepse e no choque séptico e sua capacidade de induzir sepse com disfunção miocárdica2,41. A administração do antagonista da IL-1β atenua as manifestações metabólicas e hemodinâmicas do choque experimental e no homem51. Sua imunoabsorção no soro de pacientes sépticos parcialmente neutraliza a atividade depressora miocárdica da sepse2, mas não altera a mortalidade. Apesar de fortes evidências sugerindo o papel dessas citocinas na disfunção miocárdica da sepse, alguns aspectos dessa associação ainda não foram esclarecidos. Um deles é a rápida redução das concentrações plasmáticas desses fatores ao mesmo tempo em que se observa depressão miocárdica mantida por vários dias19. Alguns autores explicam esse fato através de estudos que revelam a produção local miocárdica de citocinas, o que perpetuaria a disfunção19. Dados recentes sugerem que o TNF tem efeitos pleomórficos no coração além de sua ação na contratilidade cardíaca; muitos destes podem ser benéficos, protegendo os cardiomiócitos em situações de estresse. A estimulação de miócitos com o TNF promove aumento da expressão das proteínas do choque térmico (HSP 27 e 72 kD), substâncias que sabidamente promovem reparo tecidual5. Além disso, a exposição do tecido cardíaco ao TNF leva à produção de antioxidantes endógenos, que devem proteger o coração do estresse oxidativo5. Também foi demonstrado que o TNF leva a adaptações a curto prazo estimulando resposta de crescimento do miocárdio com hipertrofia e ativação das metaloproteínas, com função no remodelamento ventricular5. Embora o TNF-α seja reconhecido como o principal mediador da disfunção miocárdica da sepse, esses achados sugerem que seus efeitos podem também incluir respostas adaptativas que protegem o coração sob condições de estresse52. FIGURA 1: Efeitos Pleomórficos do TNF-α na Função Miocárdica na Sepse. c2. Óxido Nítrico Embora vários mecanismos possam estar envolvidos na depressão miocárdica na sepse, a geração de óxido nítrico parece ter papel central nesse processo53. Sob condições fisiológicas, o óxido nítrico (NO) tem ação reguladora no tônus vascular e ação discreta sobre a contratilidade miocárdica, embora seja conhecido que este modula a ação de agonistas na função cardíaca. Também foi descrita ação do óxido nítrico nos canais de RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO cálcio modificando a atividade da proteína cinase, reduzindo a resposta das miofibrilas ao cálcio e inibindo a função mitocondrial50. A ausência de efeito significativo do NO na contratilidade cardíaca em condições fisiológicas é explicada por estudos anatômicos que mostram que a imunorreatividade da óxido nítrico sintase no coração e no músculo liso é fraca. A geração patológica de óxido nítrico e GMP cíclico parece contribuir para a disfunção cardiovascular na sepse e no choque séptico2,54. Esse processo parece ocorrer em parte pela geração de óxido nítrico e GMP cíclico via ativação da sintase constitutiva, o que é consistente com o surgimento rápido da disfunção contrátil em alguns modelos48. Mas, esse mecanismo não explica a depressão miocárdica tardia relacionada a citocinas. Atribuise a este último à disfunção de adrenorreceptores por sub-unidades inibitórias da proteína G, além da geração tardia da óxido nítrico sintase induzida. Tem sido sugerido que citocinas como o TNF e a IL-1 estimulem a produção de óxido nítrico sintase em suas duas formas19. Assim como as ações benéficas do TNF na homeostase circulatória, alguns estudos sugerem que o óxido nítrico seja um mediador antiinflamatório e regulador do fluxo microvascular na sepse. Tem sido demonstrado que a administração de l-Arginina (que aumenta a produção do NO) reverte a depressão miocárdica no choque endotóxico e melhora a perfusão regional em estados de choque. Em modelos experimentais de sepse, a inibição da óxido nítrico sintase reduz o fluxo microvascular e aumenta a isquemia tecidual no intestino, fígado e rins, o que é parcialmente revertido com a administração de l-Arginina. Sugere-se que a produção do NO deva contrapor-se à ação de vasoconstritores como a endotelina e exerça efeitos antiinflamatórios agindo nas moléculas de adesão e citocinas. Recentemente, um estudo clínico aleatório utilizando um inibidor seletivo da óxido nítrico sintase em pacientes com sepse foi suspenso pela alta mortalidade observada no grupo tratado5. Por outro lado, um estudo observou redução de mortalidade em pacientes sépticos cuja alimentação enteral era enriquecida com arginina5. A importância da suplementação com l-arginina é sustentada pela proposição de classificação da sepse como um estado deficiente em l-arginina devido à redução da ingestão, aumento do metabolismo e redução da arginina pelo aumento da expressão da arginase. Assim, até o momento apesar de evidências de efeitos depressores cardiovasculares do óxido nítrico na sepse, não se encontrou ainda a maneira ideal de modular sua ação com repercussões positivas na evolução dos pacientes. c.3. Catecolaminas Na sepse, os níveis de catecolaminas encontram-se elevados e associam-se com sub-regulação dos β-adrenorreceptores cardíacos, resultando em implicações clínicas como necessidade maior de drogas β-agonistas nos pacientes sépticos. Quando o plasma de pacientes sépticos é incubado com cardiomiócitos murinos neonatais por 48 horas, os β-adrenorreceptores são reduzidos em 35% e o nível das sub-unidades inibitórias da proteína G aumentam em 60%5. Esses dados sugerem que a atividade simpatomimética em excesso no soro resulta em redução da contratilidade miocárdica no contexto do choque, independente se é pela sepse ou por doença intrínseca do miocárdio5. Outro mecanismo proposto de disfunção contrátil causada pelo excesso de catecolaminas é a indução de hipertrofia ventricular levando à necrose miocitária. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 c.4. Outras Substâncias Relacionadas Na sepse, há produção aumentada de fator ativador plaquetário, tromboxano e prostaciclinas, o que se associa a maior mortalidade. O aumento do nível desses prostanóides relaciona-se a aumento da expressão da ciclooxigenase-2 nas células endoteliais, musculares lisas e nas células do endocárdio. Essa enzima poderia alterar a auto-regulação vascular coronariana, a ativação leucocitária e a função endotelial, com implicações na disfunção miocárdica. Outras substâncias recentemente apontadas como mediadoras da depressão miocárdica na sepse são as caspases, que são proteases intracelulares da cisteína que participam da ativação de citocinas inflamatórias e da apoptose celular. Algumas isoformas das caspases são conhecidas como a m-calpaína e a µ-calpaína. Ativação excessiva das calpaínas tem sido implicada na fisiopatologia da inflamação, trauma e isquemia/reperfusão55. Tissier e col.56 demonstraram que o tratamento com inibidores da calpaína melhorou a disfunção miocárdica e a inflamação induzida pela endotoxina em ratos. Uma outra molécula ultimamente discutida como possivelmente relacionada à depressão cardíaca da sepse é a esfingosina57. A produção celular da esfingosina poderia inibir a liberação sarcoplasmática de cálcio e reduzir o cálcio do miócito, resultando em disfunção contrátil58. Charpentier e col.26, ilustraram o provável papel do peptídeo natriurético cerebral (BNP) como marcador de disfunção sistólica da sepse, representando este um fator de mau prognóstico nesses pacientes. Knuefermann e col.59 têm defendido o papel dos receptores Toll-like na mediação inflamatória da sepse com possível efeito no colapso cardiovascular da sepse. d. Distúrbios no Metabolismo do Cálcio como Base Celular da Depressão Miocárdica As bases celulares da depressão contrátil têm sido estudadas e o papel de alterações no metabolismo do cálcio torna-se evidente5,46,60. Uma redução na resposta dos miofilamentos ao cálcio pode constituir-se na base celular da dilatação ventricular aguda observada no choque séptico, provavelmente decorrente da fosforilação indesejada das proteínas contráteis60. As vias do AMP e GMP cíclico seriam responsáveis pela fosforilação protéica, sendo proposto que alterações na troponina I seriam Figura 2 - Mecanismos da Disfunção Miocárdica da Sepse. Uma vez ocorrido o estímulo infeccioso, a resposta inflamatória subseqüente caracteriza-se por fenômenos complexos envolvendo ativação dos linfócitos B (B), monócitos/macrófagos (Mo), polimorfonucleares (PMN) e linfócitos T, que no contexto do complexo de histocompatibilidade (CPH) reconhecem as células apresentadoras de antígenos (Apc) culminando com a produção de citocinas inflamatórias, endotelina, radicais livres de oxigênio (RLO) e ativação da óxido nítrico sintase (iNOS). O resultado dessa ativação Inflamatória é disfunção contrátil e disfunção ventricular. 189 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO determinantes da disfunção contrátil da sepse5. Alguns estudos demonstram redução dos canais de cálcio tipo L, e que essa redução é paralela à redução da contratilidade. A confirmação da possibilidade do envolvimento de distúrbios do metabolismo do cálcio na depressão miocárdica da sepse levanta a possibilidade que drogas sensibilizantes do cálcio devem ter aplicação clínica nos portadores de choque séptico. TRATAMENTO DA DEPRESSÃO MIOCÁRDICA RELACIONADA À SEPSE A reanimação volêmica adequada associada à antibioticoterapia precoce é o cerne do tratamento do choque séptico. O objetivo principal da terapia volêmica nos pacientes sépticos é restaurar a perfusão tissular através da otimização das pressões de perfusão e do débito cardíaco. O choque séptico é acompanhado de hipovolemia absoluta e aumento da capacitância venosa. Essas alterações volêmicas participam da disfunção cardíaca da sepse, o que é confirmado pelo fato da reposição volêmica aumentar o índice cardíaco em 25% a 40%. Atualmente, a tendência de início precoce dos vasopressores tem sido observada e ainda são necessários fatores preditores da resposta dos pacientes aos fluidos. Estudos recentes mostram que em pacientes sépticos em ventilação mecânica, a análise das alterações respiratórias na pressão arterial ou na área final diastólica medida por ecocardiografia transesofágica são métodos eficientes para prever a resposta do débito cardíaco à reposição volêmica. A reanimação volêmica em muitos casos isoladamente não consegue restaurar a perfusão e faz-se necessário o uso de vasopressores, como a dopamina e a noradrenalina, esta última mais atualmente utilizada por incorrer em menos efeitos deletérios no débito cardíaco e na função orgânica. O tratamento específico da disfunção miocárdica na sepse ainda não está estabelecido. Deve-se ter em mente que a depressão miocárdica é freqüente, porém na maior parte dos casos, esta não limita o aumento do débito em resposta a volume. Dessa forma, parece que apenas uma minoria de pacientes deve se beneficiar do tratamento com inotrópicos. Agentes inotrópicos, preferencialmente a dobutamina, devem ser administrados se detectado índice cardíaco reduzido apesar de reposição volêmica adequada. Pacientes com índice cardíaco normal ou aumentado provavelmente não necessitam de inotrópicos. Embora alguns autores defendam o aumento da oferta tissular de oxigênio via um incremento no índice cardíaco com o uso de inotrópicos, não foi mostrado que essa estratégia reduz a mortalidade dos pacientes sépticos. A hemofiltração tem sido uma ferramenta útil em alguns casos de choque séptico com o objetivo de remover mediadores deletérios circulantes. Essa terapia, em alguns estudos, mostrou-se ter impacto na performance cardíaca, com demonstrações de aumento de mais de 50% do débito cardíaco e melhora da pressão arterial em portadores de choque séptico5. Entretanto, estudos definitivos ainda são necessários, uma vez que são poucos e conflitantes os resultados disponíveis. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Nos últimos 50 anos muito tem sido o progresso relacionado ao maior entendimento da patogênese e hemodinâmica 190 da sepse e do choque séptico. A importância dos mecanismos inflamatórios e da resposta imunológica na sepse torna-se gradativamente crescente, acoplada à maior compreensão da disfunção orgânica nessa afecção. Nesse contexto, a disfunção miocárdica da sepse tem sido caracterizada com seus mecanismos cada vez mais elucidados, com os objetivos de se obter maior conhecimento sobre o colapso cardiovascular do choque séptico e propor estratégias terapêuticas que reduzam sua mortalidade. A depressão miocárdica parece desempenhar um papel claro no choque séptico humano – caracteriza-se por dilatação biventricular reversível, disfunção contrátil, redução de funções sistólica e diastólica, e por redução das respostas à reanimação volêmica e a vasopressores, na presença de uma circulação hiperdinâmica. Este fenômeno é de natureza complexa, regido por diversos mediadores dos quais destacam-se as citocinas inflamatórias e o óxido nítrico. A visão atual sobre a depressão miocárdica da sepse alicerça-se na teoria de substâncias depressoras circulatórias que levariam à redução da função contrátil e à agressão miocárdica, o que é corroborado pela liberação de marcadores de necrose como a troponina. A aplicação clínica desses achados impulsiona o estudo do emprego de antagonistas de citocinas, inibidores do óxido nítrico e outros no tratamento do choque séptico, ainda sem impacto clínico. Alguns autores têm sugerido que a detecção de troponina ou de níveis aumentados de peptídeo natriurético cerebral serviria para se diagnosticar a depressão miocárdica da sepse, mesmo sem repercussão cardíaca e seria o bastante para indicar o uso de terapia inotrópica. A elucidação dos mecanismos de depressão miocárdica da sepse abre fronteiras para a maior compreensão da fisiopatologia da sepse e maior esclarecimento sobre os mecanismos celulares da disfunção orgânica dessa entidade. À luz dos conhecimentos atuais, a disfunção cardiovascular da sepse ainda representa um fenômeno complexo pouco compreendido, cujo estudo deve resultar em estratégias atraentes e opções terapêuticas eficazes no manejo da sepse. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A disfunção miocárdica da sepse é uma das manifestações da disfunção orgânica da sepse, presente em aproximadamente 40% dos pacientes e responsável pelo aumento significativo da mortalidade. O objetivo deste estudo foi revisar a disfunção miocárdica da sepse, no que se refere aos seus aspectos fisiopatológicos e implicações clínicas. CONTEÚDO: Embora sua patogênese e conseqüências clínicas não estejam totalmente elucidadas, a depressão miocárdica parece desempenhar um papel claro no choque séptico humano. Esta caracteriza-se por dilatação biventricular reversível, disfunção contrátil, redução de funções sistólica e diastólica, e por redução das resposta à reanimação volêmica e a vasopressores, na presença de circulação hiperdinâmica. Este fenômeno é de natureza complexa, regido por diversos mediadores dos quais destacam-se as citocinas inflamatórias e o óxido nítrico. CONCLUSÕES: Atualmente a abordagem da disfunção miocárdica tem como metas o restabelecimento da perfusão tissular e a otimização da oferta de oxigênio através de reaniRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO mação volêmica e utilização de inotrópicos e vasopressores. A elucidação dos mecanismos de depressão miocárdica da sepse abre fronteiras para a maior compreensão da fisiopatologia da sepse e esclarecimento sobre os mecanismos celulares da disfunção orgânica dessa entidade, devendo resultar em estratégias e opções terapêuticas eficazes visando reduzir a morbimortalidade do paciente crítico. Unitermos: disfunção miocárdica, depressão miocárdica, insuficiência cardíaca na sepse REFERÊNCIAS 01. Bone RC, Balk RA, Cerra FB et al - Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. Chest, 1992;101:16441655. 02. Krishnagopalan S, Kumar A, Parrillo JE et al - Myocardial dysfunction in the patient with sepsis. Curr Opin Crit Care, 2002;8:376-388. 03. Dhainaut JF, Cariou A, Laurent I - Myocardial dysfunction in sepsis. Sepsis, 2000;4:89-97. 04. Hotchkiss RS, Karl IE - The pathophysiology and treatment of sepsis. N Eng J Med, 2003;348: 138-150. 05. Piper R - Myocardial dysfunction in sepsis. Clin Exp Pharmacol Physiol, 1998;25:951-954. 06. Wiggers CJ - Myocardial depression in shock. A survey of cardiodynamic studies. Am Heart J, 1947;33:633-650. 07. Brand ED, Lefer AM - Myocardial depressant factor in plasma from cats in irreversible post-oligemic shock. Proc Soc Exp Biol Med, 1966;122:200-203. 08. 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For the study of hypermetabolism, stables isotopically labeled substrates satisfy both the analytical and ethical requirements for tracer use in the critical care setting. Using stable isotopes data to develop models of biological systems dynamics is an essential element of estimating substrats events that take place in cells or organs otherwise inaccessible in humans. CONCLUSIONS: The enhanced availability of stable isotopes and the gas chromatography/mass spectrometry allow spreading world-wide the use of these techniques, including the critically ill patient, especially among us. Key Words: Stable isotopes, proteins, leucine. R udolph Schoenheimer e col.1 utilizaram, há quase setenta anos, pela primeira vez, o isótopo estável deutério (água pesada ou 2H2O), na tentativa de elucidar parte do metabolismo intermediário no tecido adiposo do homem. A partir desse trabalho clássico e pioneiro, o legado deixado por este autor produziria uma infinidade de investigações em animais de experimentação e em seres humanos, no sentido de explorar a cinética do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas, numa extensa variedade de condições clínicas2. Entre as décadas de 1950 e 1960, no entanto, enquanto as técnicas de administração de isótopos radioativos estavam muito em voga, na pesquisa ou diagnóstico em Biologia, Medicina e Cirurgia, os maiores usuários dos isótopos estáveis não radioativos eram os metabologistas. Várias razões justificaram o emprego de isótopos estáveis em Nutrição e Metabologia, dentre as quais destacam-se: (a) a dinâmica da interação dos nutrientes metabolicamente ativos com os seus locais de reserva foi primeiramente explorada e melhor compreendida, através do uso de isótopos estáveis; (b) o seu emprego, sobretudo clínico, era seguro, sendo o isótopo 15N mais conveniente na exploração do metabolismo nitrogenado orgânico; e (c) a proibição formal do uso de substâncias radioativas em populações desnutridas, onde se aguardava, ansiosamente, a exploração detalhada do metabolismo dessas populações, para a melhor compreensão desse estado fisiopatológico e posterior tratamento3. Apesar das vantagens mencionadas, o emprego do isó- topo foi restringido em virtude da limitada disponibilidade desses isótopos estáveis, assim como as dificuldades técnicas envolvidas em suas análises quantitativas. Porém, nessas três últimas décadas, essa situação mudou drasticamente. Esses obstáculos iniciais foram ultrapassados graças ao advento da análise de compostos estáveis específicos (Compound-Specific Isotope Analysis), através da introdução da cromatografia gasosa acoplada a um espectrômetro de massa (Gas Cromatography/Mass spectometry - GCMS) com ionização por impacto dos elétrons (Selective Ion Monitoring - SIM). Este método de análise foi descrito por Matthews & Hayes4, em 1978, que se valeram desta técnica para a análise quantitativa dos isótopos de carbono. Desde então, vários isótopos entre eles os de carbono, os de oxigênio e os de hidrogênio têm sido empregados no estudo do metabolismo de substâncias de alta relevância fisiológica, como os ácidos graxos, os carboidratos e os aminoácidos5. DEFINIÇÃO DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS Todos os átomos de um elemento têm, por definição, o mesmo número de prótons em seu núcleo. No entanto, o isótopo estável é um elemento que possui o mesmo número de prótons e diferente número de nêutrons. Por exemplo, o átomo de hidrogênio (1H) possui um próton em seu núcleo, enquanto que o deutério (2H) possui um próton e um nêutron. Devido ao mesmo número de prótons, eles ocupam a mesma (“iso”) posição (“topo”) na tabela periódica e possuem diferentes 1. Professor Associado e Chefe da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo 2. Professor Associado e Chefe do Laboratório de Espectrometria de Massa do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo *Recebido da Disciplina de Terapia Intensiva - Departamento de Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP Apresentado em 20 de julho de 2004 - Aceito para publicação em 14 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Dr. Aníbal Basile Filho - Av. Bandeirantes, 3900 - 14049-900 Ribeirão Preto, SP - Fone: (16) 602-2439 - E-mail: [email protected] 192 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO partículas e o campo magnético provoca um desvio dos íons de acordo com a relação massa/carga (m/z) dos mesmos. Por exemplo, o íon 13CO2+, pelo fato de ser mais pesado (m/z = 45) do que o 12CO2+ (m/z = 44) atinge o eletrodo negativo em um local diferente, podendo ser facilmente diferenciado, da mesma maneira, o pico de leitura para a fenilalanina não isotópica é de m/z 336 e m/z 338 para a [2H2] fenilalanina. De um modo geral, todos os isotopômeros possuem as mesmas características em relação aos seus elementos correspondentes. massas, porém apresentam propriedades químicas idênticas. Certos isótopos, como o 14C, são radioativos e se desintegram ao longo dos anos, emitindo partículas extremamente deletérias para a estrutura celular. Por outro lado, o 13C não se desintegra, permanecendo estável por muito tempo. Na prática, o isótopo estável, também designado por “tracer”, é uma substância biológica marcada capaz de identificar rotas e velocidades de formação de substratos diversos. A incorporação destes isótopos estáveis em moléculas de interesse biológico permite sua utilização, pelo fato de serem inócuos6, em experimentos em seres humanos de qualquer idade, raça ou sexo, em estudos de fisiologia7-9 ou mesmo em situações clínicas complexas, como no caso do hipermetabolismo conseqüente ao trama, sepse e queimaduras graves(10,11,12,13,14). Contudo, a sua utilização depende da sua proporção, que deve ser inferior a 10%, em relação ao isótopo mais abundante na natureza. Em outras palavras, o 13C apresenta-se na proporção de 1,11% em relação ao 12C, largamente mais abundante, na proporção de 98,89%. O organismo humano não somente absorve diferentes isótopos dos diversos elementos, após a sua administração em ensaios experimentais ou clínicos, como também é constantemente exposto a esses isótopos estáveis, em virtude de sua ocorrência natural em alimentos, na terra, na água e no ar. A abundância dos isótopos estáveis, presentes na natureza e mais utilizados em estudos, pode ser visualizada na tabela 1. A administração por via venosa em dose única (bolus) de NaH13CO3, em conjunção com um aminoácido marcado, é de particular relevância nos estudos isotópicos que envolvem o metabolismo do aminoácido estudado, em virtude da interligação entre o pool do bicarbonato e a oxidação desse aminoácido. Além disso, essa administração intravenosa em dose única faz com que a concentração de 13CO2 atinja um platô (steady-state) em duas horas, facilitando a sua detecção (dosagem), a partir dos valores basais e incorporação de seus valores nos cálculos de produção total de CO2 e na taxa de oxidação do determinado aminoácido (Figura 1). Tabela 1 – Abundância (em %) dos Isótopos Estáveis mais Utilizados em Estudos Clínicos, Presentes na Natureza. Figura 1 – Efeito da Dose Inicial (prime) de NaH13CO3 sobre o Enriquecimento Plasmático de 13CO2 [E]. Elemento Símbolo Massa Abundância Natural (%) Hidrogênio H D ou 2H 1,007825 2,014102 99,9 0,01 C C 12,00000 13,003354 98,89 1,11 N N 14,003074 15,000108 99,635 0,365 O O 18 O 15,994915 16,999133 17,999180 99,759 0,037 0,204 Carbono Nitrogênio 12 13 14 15 16 Oxigênio 17 A IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO DE RECUPERAÇÃO DO 13C BICARBONATO NO AR EXPIRADO NA CINÉTICA DO METABOLISMO AMINOACÍDICO. EMPREGO DO ESPECTRÔMETRO DE MASSA POR DETERMINAÇÃO DA RAZÃO ISOTÓPICA (IRMS). O espectrômetro de massa é conhecido pelo fato de se obter medidas precisas em concentração isotópica muito baixa. Assim, por exemplo, quantidades de 0,001 MPE (mol por cento em excesso ou mol acima da abundância natural) podem ser determinadas em amostras gasosas, cujas concentrações de CO2 e N2 varia entre micromoles e nanomoles(3,5). A amostra de gás a ser analisada é introduzida a baixa pressão (10-8 mbar), dentro da primeira parte do aparelho, conhecida como câmara de ionização), onde as moléculas do gás são bombardeadas por um feixe de elétrons emitidos por um filamento aquecido, produzindo íons gasosos positivos. Em seguida, os íons formados são submetidos a um filtro de massa. Neste filtro, os íons positivos são acelerados pela presença, na extremidade distal, de um cátodo, sendo também aplicado um campo eletromagnético perpendicular à trajetória dos íons. O resultado da interação entre a aceleração das Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 No entanto, uma fração variável de 52 a 95%15 e de 89,9±2,6%16 do 13C bicarbonato administrado em indivíduos saudáveis ou pacientes críticos, respectivamente, é recuperado como 13CO2 no ar expirado. Contudo, o restante é retido pelo organismo, por várias razões, justificando, assim um estudo prévio dessa fração de recuperação de 13CO2 no ar expirado, através da infusão intravenosa contínua de NaH13CO3. Dentre essas razões, destacam-se: o dióxido de carbono isotópico (13CO2) pode ser incorporado na síntese de uréia, sendo eliminado pela urina ou retido no organismo por tempo indeterminado17. As perdas urinárias de 13CO2, incorporado na uréia, são estimadas em 3 a 4% do total do fluxo de bicarbonato; o 13CO2 pode, também, ser utilizado em etapas intermediárias do metabolismo do oxaloacetato ou malato18; o 13CO2 pode fazer parte de troca do sistema do bicarbonato ósseo, contribuindo para o aumento da sua concentração no 193 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO ‘pool’ ósseo, com conseqüente diminuição de seu fluxo plasmático. Na verdade, o tempo de infusão de bicarbonato parece influenciar o grau de recuperação do 13CO2 no ar expirado, pois em infusões de longa duração (12 a 36 horas) existe uma tendência de equilíbrio isotópico do 13CO2 e de todos os pools orgânicos; - a diferença na taxa metabólica dos diversos grupos de indivíduos estudados, em condições experimentais dissimilares. Wolfe19, em 1984, demonstrou que o exercício físico de média intensidade e prolongado aumenta a fração do bicarbonato de 78 a 98%; e, finalmente, o padrão de recuperação do 13CO2 no ar expirado pode ser variável por alterações interindividuais ou em situações orgânicas especiais como a obesidade. Apesar dos estudos em pacientes em estado crítico (trauma e/ou sepse) serem escassos, alguns relatos apontam para o fato de que a recuperação do 13CO2 no ar expirado varia com a gravidade do quadro clínico e com o estado nutricional prévio dos pacientes. Assim, foram observadas amplas variações no padrão de recuperação do dióxido de carbono isotópico, nesses pacientes, da ordem de 78%16 a 100%11. Nesse particular, Martins e col.20 estudaram 10 pacientes sépticos sob ventilação mecânica. vítimas de choque séptico em ventilação mecânica a partir da infusão endovenosa contínua com 3,8 µmol.kg-1.h-1 de NaH13CO3, durante 6 horas. Os pacientes apresentaram um valor médio de produção de CO2 (VCO2) de 182 ± 52 mL.min-1 durante a fase de equilíbrio. A fração média de recuperação do 13CO2 no ar expirado foi de 0,68 ± 0,06. Finalmente, a importância de estimar-se, com precisão, a fração de recuperação do 13CO2 no ar expirado, num determinado grupo de pacientes, submetidos a um modelo experimental sobre a cinética protéica corpórea global utilizando a 13 C-leucina como marcador, está ligada ao fato desta fração de recuperação ser utilizada como fator de correção no cálculo da taxa de oxidação desse aminoácido. Várias críticas surgiram após o emprego deste marcador protéico, onde as maiores dificuldades de utilização deste método repousam no fato de assumir-se a sua distribuição eqüitativa em todos os compartimentos, como se o organismo fosse um único compartimento (teoria do “single pool”). Na verdade a glicina não tem distribuição uniforme no plasma e nem possui fluxo celular similar, como por exemplo, nas hemácias26. Além disso, ao utilizar-se a 15N-glicina, as condições metodológicas devem ser absolutamente pré-definidas e invariáveis, com grupos controle adequados e critérios experimentais rigorosos, sob pena de se verificar resultados diferentes daqueles obtidos com outros marcadores do metabolismo protéico27. Em virtude da inconstância nos resultados observados com o emprego da 15N-glicina e com o advento das técnicas de GCMS, mais precisas, que permitiram determinar o enriquecimento de produtos intermediários do metabolismo, em concentrações de nmoles, a 13C-leucina e o seu metabólito, o 13C-αcetoisocaproato (13C-KIC), começaram a serem mais empregados, como marcadores biológicos da cinética do metabolismo protéico corpóreo total, possibilitando cálculos mais acurados da síntese e da degradação protéica em todas as situações clínicas, mesmo nos pacientes em estado crítico (Figura 2). Figura 2 – Etapas Metabólicas da Oxidação da Leucina, com Transaminação e Formação de αcetoisocaproato (KIC) (1), seguida de Descarboxilação com a Formação de CO2 (2), que pode ser Recuperado no ar Expirado. A IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DA CINÉTICA PROTÉICA CORPÓREA GLOBAL, ATRAVÉS DO METABOLISMO DA 13C-LEUCINA. Vários estudos publicados na literatura médica dos últimos anos destacaram o uso de isótopos estáveis no estudo do metabolismo protéico, cujas finalidades específicas são a evolução no esclarecimento do metabolismo dos aminoácidos no homem e o estabelecimento das necessidades básicas diárias desses nutrientes21-24. O interesse em se conhecer as necessidades básicas diárias dos aminoácidos reveste-se de particular importância em saúde pública, cujo leque estende-se desde a elaboração dos protocolos de alimentação em determinados grupos populacionais, até situações fisiopatológicas complexas como, por exemplo, no trauma e na sepse. Um dos métodos, utilizando isótopos estáveis, para estimar a cinética total corpórea das proteínas foi a administração de 15N-glicina25. A validação deste método exige a assunção de várias hipóteses, tais como: o pool metabólico de nitrogênio (N) deve ser único; a glicina penetra igualmente em todos os compartimentos do organismo onde existe nitrogênio; deve existir proporção constante entre o N da glicina e o dos outros aminoácidos em todo o organismo e durante o experimento não deve existir reciclagem do N marcado. 194 O uso da 13C-leucina, como marcador protéico, tem também, embora menores do que a 15N-glicina, suas limitações, onde algumas hipóteses devem ser aceitas para validar a interpretação dos resultados obtidos, tais como: o isotopômero (13C-) não é reciclado durante a realização do experimento, ou seja, a única fonte de substância marcada é proveniente de sua própria administração exógena; o enriquecimento plasmático é semelhante ao intracelular. No caso da leucina, o seu enriquecimento plasmático é sempre maior do que o celular, razão pela qual, recomenda-se a utilização do seu metabólito transaminado intracelular, o 13C-αcetoisocaproato (13C-KIC), para fins de cálculos de sua oxidação28. Além disso, o enriquecimento intracelular do 13C-KIC é semelhante à da 13C-leucina-t-RNA, no tecido muscular, resultando numa estimativa apropriada da síntese protéica; a fração de recuperação deve ser estimada para o grupo específico de pacientes RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO investigados, em estudos com infusão intravenosa contínua de NaH13CO3, conforme foi salientado acima; a utilização de qualquer aminoácido essencial marcado deve fornecer resultados comparáveis. Apesar da leucina ser oxidada, de maneira preferencial, na musculatura esquelética e a fenilalanina no fígado, ambos permitem o cálculo da cinética protéica corpórea global, sendo os resultados semelhantes; enfim, o método que emprega a leucina como aminoácido marcado, vem sendo utilizado, há mais de 20 anos. Um dos seus pontos mais fortes repousa no fato de se apoiar em cálculos matemáticos consistentes e ser estocástico, isto é, ser baseado em compartimentos corpóreos bem definidos e constantes29. Existem poucos relatos, na literatura, do uso da 13C-leucina no paciente grave12,13 ou submetido a estresse cirúrgico importante14, para fins de cálculo da cinética protéica corpórea, sendo de crucial importância o conhecimento, em nosso meio, do perfil de cinética protéica global de pacientes críticos, estratificado em diferentes grupos de gravidade. O modelo cinético da leucina é similar ao estudo do metabolismo da fenilalanina e da tirosina proposto por Clarke e Bier, em 198230. Assim, o fluxo plasmático da leucina (Leu) é calculado de acordo com as normas padrões, baseados nos princípios utilizados no estudo da hemodiluição dos isótopos estáveis, essencialmente da mesma maneira descrita por Matthews e col., em 198031, de acordo com a equação: Q (µmol.kg-1.h-1) = i (Ei/Ep) onde: Ql = Fluxo Plasmático da Leucina (µmol.kg-1.h-1) i = Taxa de Infusão da Leucina Isotópica (µmol.kg-1.h-1) Ei e Ep = Concentração da 13C-leucina na solução infundida e no plasma, respectivamente. A taxa total de produção plasmática de 13CO2, produzida pela oxidação da [13C]leucina e liberada pelo bicarbonato deve calculada de acordo com as normas preestabelecidas por El-Khoury e col., em 199432. Essas taxas são corrigidas para a remoção natural do 13CO2 pelo organismo (FR ou Fração de Recuperação), tendo sido baseadas em estudos anteriores de infusão contínua de NaH13CO320,32,33. O valor horário, da concentração plasmática dos isótopos descritos e da VCO2 (convertida de mL.min-1 em mmol.kg-1.h-1), obtida através de medidas de calorimetria indireta, conforme descrito anteriormente, deverão ser utilizadas como o valor para a base de cálculos. A equação a seguir é utilizada no cálculo da produção total de 13CO2: VCO2 x concentração de 13CO2 Produção de CO2 _________________________________________________________ (µmol.kg-1.h-1) = FR 13 A exemplo dos cálculos efetuados observados em outros estudos32, é computada a taxa de oxidação da leucina, a partir da relação entre a produção de 13CO2 e a concentração plasmática do metabólito da leucina isotópica ou [13C]KIC (α-cetoisocaproato), em equação enunciada a seguir: Produção de 13CO2 (mmol.kg-1.h-1) Leu-Ox (µmol.kg-1.h-1) = _____________________________ Concentração Plasmática de [13C]-KIC (APE/100)* Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 * O valor APE (Átomos por cento em excesso) refere-se à diferença aritmética entre os valores de [13C]-KIC obtidos nas amostras de sangue e da média dos valores basais antes do início da infusão contínua de 13C-leucina. Durante a infusão intravenosa contínua de 13C-leucina, o platô de equilíbrio no plasma é atingido em, aproximadamente, duas horas. Este fato implica que cada molécula de leucina marcada (ou isotópica) é diluída pela leucina natural (“cold leucine”), passando, em conjunto, a fazer parte do ‘pool’ total orgânico da leucina. Nestas condições, a razão entre a leucina marcada e a não marcada é igual à razão do débito de infusão da 13C-leucina (i), e à taxa de aparecimento endógeno da leucina (em µmol.kg-1.h-1), via degradação protéica. A leucina é um aminoácido essencial proveniente da dieta, no presente caso da nutrição parenteral (Leu-NP) ou da degradação endógena de proteínas (Leu-PB). Por outro lado, a leucina é oxidada de maneira irreversível a CO2 (Leu-Ox) ou incorporada em proteína, via síntese protéica (Leu-PS). No estado de equilíbrio metabólico, a quantidade (fluxo – Q) de leucina que entra no plasma (taxa de aparecimento – Ra) é igual à que sai (taxa de desaparecimento – Rd), sendo representado pelos seguintes cálculos31 (Figura 3): Figura 3 – Modelo de Utilização da 13C-leucina para o Estudo da Cinética Protéica Global. Ra = [Leu-PB] - [Leu-NP] = Leu-PS + Leu-Ox Leu-PS* = Q - Leu-Ox Leu-PB* = Q - [Leu-NP + i] Leu-PT* = [Leu-PS] - [Leu-PB] * valores expressos em µmol.kg-1.h-1 Em conclusão, essa nova linha de pesquisa, a beira do leito, tem contribuído muito para o conhecimento da taxa global de renovação protéica, em diversas situações, inclusive no paciente em estado crítico, vítima de trauma ou sepse. No estudo específico do paciente com hipermetabolismo, essas substâncias satisfazem as condições analíticas e éticas para o seu emprego, nesse grupo de pacientes. Além disso, o uso de isótopos estáveis em modelos biológicos dinâmicos tornou-se numa poderosa ferramenta para analisar etapas metabólicas que ocorrem nas células, outrora inacessíveis em seres humanos. Por outro lado, com o incremento do uso dessas substâncias e da cromatografia de gás/espectrometria de massa disseminaram o emprego desta técnica, inclusive em nosso meio. 195 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO AGRADECIMENTOS Ao Professor Vernon Roberts Young, PhD (1936-2004) do Clinical Research Center do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Cambridge-Boston, EUA, onde pudemos ter a honra do convívio e o privilégio de compartilhar algumas idéias muito construtivas entre 1993 e 1997, na qualidade de Visiting-Scientist. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os isótopos estáveis são substâncias biológicas marcadas, que permitem identificar rotas e velocidade da formação de substratos diversos, in vivo, tais como os aminoácidos que têm sido largamente utilizados para mensurar a oxidação, a síntese e o catabolismo de proteínas. CONTEÚDO: Este artigo revisa o emprego do isótopo estável no estudo do metabolismo. Esta técnica tem contribuído muito para o conhecimento da taxa global de renovação protéica, em diversas situações, inclusive no paciente em estado crítico, vítima de trauma ou sepse. No estudo específico do paciente com hipermetabolismo, essas substâncias satisfazem as condições analíticas e éticas para o seu emprego nesse grupo de pacientes. Além disso, o uso de isótopos estáveis em modelos biológicos dinâmicos tornou-se numa poderosa ferramenta para analisar etapas metabólicas que ocorrem nas células, outrora inacessíveis em seres humanos. CONCLUSÕES: O incremento do uso dessas substâncias e da cromatografia de gás/espectrometria de massa disseminaram o emprego desta técnica, em nosso meio, inclusive para o paciente em estado crítico. Unitermos: Isótopos estáveis, proteínas, leucina. REFERÊNCIAS 01. Shoenheimer R, Rittenberg D - Deuterium as an indicator in the study of intermediary metabolism III. The role of fat tissues. J Biol Chem, 1935;111:175181. 02. Young VR, Ajami A - Isotopes in nutrition research. The Rudolf Schoenheimer Centenary Lecture. Proc Nutr Soc, 1999;58:15-32. 03. Bier DM - Stable isotopes in biosciences, their measurements and models for amino acid metabolism. Eur J Pediatr, 1997;156:(Suppl 1):S2-S8. 04. Matthews DE, Hayes JM - Measurements of stable isotope in nutrition. Anal Chim, 1978;50:1465-1479. 05. Matthews DE, Bier DM - Stable isotope methods for nutricional investigation. Annu Rev Nutr, 1983;3:309-339. 06. Koletzko B, Sauerwald T, Demmelmair H - Safety of stable isotope use. 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The objective of this method is the improvement of alveolar ventilation and or reduction of airway pressures. After the introduction of the concept of lung protective strategy in ARDS patients, in the clinical practice, the data concerning TGI results may represent a useful association during mechanical ventilation in severe ARDS. Theoretically TGI allows to keep PaCO2 near normal during strategies of volume minute reduction. CONTENTS: This review of the literature has the purpose to examine the main articles published about TGI in an attempt to describe its technique, clinical application and to compare different modes related to its efficacy in CO2 reduction and interference in the volume and pressures of the respiratory system. Concerning TGI technique the data showed better results when TGI catheter is positioned one, two cm above carina, utilizing maximum gas flows of 6 L/min. The way of TGI application during respiratory cycle: continuous, inspiratory, total expiratory, initial of expiration, final of expiration, has been studied by several authors in an effort to safely introduce the method in the clinical practice. CONCLUSIONS: Doubts still remain related to the value of flow to be applied as well as the modality during respiratory cycle. Finally more studies are necessary to better define the best way to use this technique as a routine practice in ICU patients. Key Words: Tracheal Gas Insufflation; Alveolar Ventilation; Gas Exchange; Hypercapnia A insuflação traqueal de gás (TGI – do inglês tracheal gas insufflation) consiste na insuflação contínua ou fásica de gás fresco nas vias aéreas centrais, para aumentar a eficiência da ventilação alveolar e/ou minimizar a necessidade de pressões ventilatórias1. A TGI facilita a eliminação do dióxido de carbono (CO2), mas também pode ter efeitos indesejáveis no volume corrente e pressões do sistema respiratório, dependendo do modo de ventilação e método de administração2, sendo que os estudos sobre TGI, principalmente com modelos pulmonares, têm o objetivo de avaliar estas alterações. Esta revisão de literatura se propõe a reunir os principais artigos publicados sobre a TGI, para descrever a técnica, suas aplicações, e comparar os modos de TGI com relação à sua eficácia na redução do CO2 e alterações de volumes e pressões no sistema respiratório. A revisão dos artigos publicados na literatura entre 1966 e 2004 (palavras-chave: tracheal and gas and insufflation) foi realizada por meio de pesquisa no site da BIREME (www.bireme.br), em Biblioteca Virtual em Saúde, no banco de dados MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde e Biomédica). Os benefícios da redução no espaço morto anatômico, para melhorar a ventilação, têm sido notados desde 1966, quando a traqueostomia foi empregada como tratamento para pacientes com grave enfisema pulmonar e insuficiência respiratória3. A TGI começou a ser estudada em 1969, quando Stresemann e Sattler4 demonstraram em cães normais anestesiados, que a lavagem expiratória do espaço morto proximal permitiu decrescer o volume minuto sem alteração na PaCO2. Outro estudo dos mesmos autores5 utilizando TGI, de forma contínua ou somente na expiração, em dois pacientes com insuficiência respiratória, resultou em decréscimo na ventilação minuto sem efeito na PaCO2. Outros trabalhos aplicaram a insuflação traqueal de oxigênio em cães em apnéia tanto com pulmões saudáveis, quanto com lesão por ácido oléico, conseguindo-se manter adequadas trocas gasosas; sugerindo que esta técnica pode ser útil para ventilação de emergência, mesmo quando o edema pulmonar ocorre após a reanimação6,7. A partir das estratégias de ventilação protetora em pacientes com síndrome da angústia respiratória aguda (SARA)8, os estudos com TGI indicam que a sua associação à ventilação mecânica pode representar uma nova estratégia, permitindo decrescer o volume minuto, enquanto mantém a PaCO2 constante9,10. TGI ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA NA SARA A estratégia ventilatória protetora foi desenvolvida para diminuir as lesões pulmonares induzidas pela ventilação mecânica convencional em pacientes com SARA. A proposta dos autores foi a manutenção da pressão positiva no final da 1. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Fisioterapeuta da Unidade de Apoio Cirúrgico da Disciplina de Anestesiologia da FMUSP e da UTI do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Supervisora do Curso de Aprimoramento em Fisioterapia em UTI do HCFMUSP e do Curso de Especialização em Fisioterapia Hospitalar da USP 2. Professor Titular da Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Diretor da Divisão de Anestesia e Unidade de Apoio Cirúrgico do Hospital das Clínicas da FMUSP; Diretor do Serviço de Anestesiologia e UTI Cirúrgica do Instituto do Coração – InCor-HC-FMUSP. * Trabalho realizado no Laboratório de Biofísica da Disciplina de Anestesiologia da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo Apresentado em 18 de agosto de 2004 - Aceito para publicação em 19 de outubro de 2004 Endereço para correspondência: Prof. Dr. José Otávio Costa Auler Júnior. - Serviço de Anestesia e Terapia Intensiva Cirúrgica, Instituto do Coração, HC-FMUSP. - Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, n° 44 - Cerqueira César - 05403-900 São Paulo, SP - Fone 0xx (11) 3069-5232 - E-mail: [email protected] e [email protected] Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 197 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO expiração (PEEP) acima do ponto de inflexão inferior da curva pressão-volume, volume corrente inferior a 6 ml/kg, pressão inspiratória menor do que 20 cmH2O acima da PEEP e hipercapnia permissiva8. Embora a hipercapnia permissiva seja bem tolerada, existem alguns inconvenientes, como por exemplo na vigência de hipertensão intracraniana devido à elevação no fluxo sangüíneo encefálico9; nos cardiopatas, pela ação direta do CO2 sobre o coração e pela resposta do sistema nervoso autônomo; e em pacientes com insuficiência renal, devido à intensa vasoconstrição e diminuição no ritmo de filtração glomerular10. Belghith e col.11 propuseram a utilização da TGI, para substituir a remoção extracorpórea de CO2, em pacientes com SARA, onde a TGI pela remoção do CO2 aumentou a tolerância da ventilação limitada à pressão. Outros estudos12-17 associando TGI à técnica de hipercapnia permissiva comprovam sua eficácia na redução da PaCO2 e na manutenção de um pH tolerável, permitindo maior redução no volume minuto. Levy e col.18 empregaram a TGI em dois pacientes com SARA e hipertensão intracraniana, obtendo decréscimo na PaCO2 de 17% e 26%, respectivamente bem como redução na hipertensão intracraniana e aumento na pressão de perfusão cerebral calculada. Existem dois mecanismos principais responsáveis pela redução da PaCO2 durante a aplicação da TGI: o proximal, no qual o gás fresco introduzido próximo à carina principal, dilui o CO2 contido no espaço morto anatômico proximal à extremidade do cateter no final da expiração. O mecanismo proximal é o responsável pela maior redução do CO2 reduzindo a concentração do CO2 re-inalado na inspiração subseqüente. No mecanismo distal, a turbulência gerada pelo jato na extremidade do cateter, pode aumentar a mistura gasosa em regiões distais ao orifício, aumentando ainda mais a eliminação de CO219. A diferença na PaCO2 entre a TGI aplicada com cateter direto e reverso, serve para quantificar quanto o mecanismo distal contribui para a redução do CO2, sendo este valor estimado em 22% a 29% da diminuição total do CO219-21. também testaram o cateter de TGI localizado abaixo da carina, porém de forma seletiva (em apenas um brônquio-fonte), o que resultou em redistribuição da ventilação entre os pulmões, com o pulmão ipsilateral sendo relativamente hiperventilado, e o contralateral, relativamente hipoventilado. Nahum e col.20 ao posicionar o cateter da TGI entre um e dez cm acima da carina, concluíram, que para a turbulência jato-induzida contribuir para a eliminação do CO2, a zona de turbulência necessita estar localizada próxima à carina. Visto que a eficácia da TGI é maior quando a extremidade do cateter é situada próximo à carina, a maioria dos estudos com TGI tem sido realizada com o cateter um cm acima da carina7,15,17,23,24,30,33,35-38 ou dois cm acima da mesma11,13,18,34,39. Em relação à configuração do cateter, dois tipos têm sido mais estudados: o cateter direto (fluxo direcionado à carina) e o cateter reverso (fluxo direcionado às vias aéreas superiores). Controvérsias ainda existem sobre a eficiência da TGI relacionada à direção do fluxo, porém o sistema reverso de aplicação da TGI evita danos potenciais à mucosa causados pelo jato direto, e elimina o aumento na PEEP causado pelo fluxo de TGI com cateter direto2. Nahum e col.19 compararam a TGI aplicada por meio do cateter direto e do reverso, observando menor PaCO2 e maior volume pulmonar expiratório final, com o cateter direto. Dolan e col.40 em trabalho experimental também encontraram maior eficácia na redução da PaCO2 aplicando a TGI com o cateter direto quando comparado com o reverso, tanto antes quanto após lesão pulmonar com solução fisiológica. Outro estudo41, apenas com cães saudáveis, obteve o mesmo resultado. Ao contrário, Imanaka e col.42 não obtiveram diferenças significativas na redução da PaCO2 entre TGI com cateter direto ou reverso. Entretanto, o cateter com fluxo direto aumentou a PEEP total. Delgado e col.25 compararam a TGI aplicada por meio de cateter direto, reverso e bidirecional (fluxos simultâneos em direção à carina e vias aéreas superiores) associada a válvula de alivio de pressão. Não observaram diferenças na redução da PaCO2 entre os tipos de cateter. A PEEP total aumentou com o cateter fluxo direto, ficou reduzida com o cateter reverso e não se alterou com o cateter bidirecional, em relação à linha de base. DIÂMETRO, POSIÇÃO E TIPOS DE CATETERES DE TGI FLUXOS DE TGI O diâmetro do cateter não influencia na eficácia da TGI em decrescer o CO2, bem como não promove alterações significativas no volume corrente e nas variáveis de pressão22. A partir deste princípio, tem-se preconizado a utilização de cateteres com diâmetro interno (DI) variando entre 1,1 mm e 3 mm para a aplicação da TGI7,11-15,17,18,22-35. Está bem estabelecida na literatura a posição do cateter de TGI que confere maior eficácia à técnica. Nahum e col.22, Ravenscraft e col.29 e Nakos e col.31 observaram a maior redução na PaCO2 quando o cateter foi posicionado 1 cm acima da carina. Long e col.27 estudaram o posicionamento do cateter de TGI abaixo da carina (um cateter em cada brônquio fonte), comparando com o cateter 2 cm acima da carina, havendo tendência para a redução da PaCO2 ser maior quando o cateter foi posicionado abaixo da carina. Eckmann e Gavriely32 Os fluxos de TGI empregados na maioria dos estudos atingem no máximo 15 L/min, sendo que fluxos entre 1 e 4 L/ min mostram-se eficientes na redução da PaCO2, sem alterações na pressão de pico inspiratória (PIP) e pressão média das vias aéreas (Pmva)11. Fluxos de até 20 L/min podem produzir decréscimos adicionais na PaCO2 de modo fluxo-dependente, porém determinam elevação importante nas pressões das vias aéreas27. Quando comparados fluxos de 4 e 6 L/min de TGI contínuo, conseguiu-se reduções progressivas na PaCO2 e na relação VD/VT ao se elevar o fluxo para 6 L/min, permanecendo constantes PIP e Pmva13,30. Aumentando progressivamente o fluxo do cateter até 10 L/min, ocorre redução na PaCO2 de modo fluxo-dependente, sem alterações na PIP29,34,36; embora o volume pulmonar29,36 e a auto-PEEP41 tendam a elevar-se com maior fluxo. MECANISMOS DE AÇÃO DA TGI 198 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO A TGI contínua com fluxos de 4, 8 e 12 L/min, aumentou o volume corrente, PIP, pressão alveolar (PA) e auto-PEEP de modo fluxo-dependente43. Os mesmos fluxos de TGI expiratória não alteraram a PIP, quando associados à PCV (ventilação controlada a pressão), mas promoveram elevação na PIP e PEEP de modo fluxo-dependente quando associados à VCV (ventilação controlada a volume)44. Nahum e col.19 avaliaram a TGI contínua a fluxos de 5, 10 e 15 L/min, obtendo redução fluxo-dependente na PaCO2, e elevações na Pmva, pressão traqueal (Ptr) e volume pulmonar no final da expiração conforme aumento no fluxo do cateter, não havendo mudanças na PIP. Dolan e col.40 também compararam fluxos contínuos de 5, 10 e 15 L/min, encontrando reduções progressivamente menores na PaCO2 conforme aumento no fluxo da TGI. A TGI expiratória promoveu reduções progressivas no volume corrente com fluxos de 2, 5 e 10 L/min, sendo não significativa com fluxo de 15 L/min, enquanto a PaCO2 se manteve constante33. Em outro estudo quando a TGI foi liberada no final da expiração a fluxos de 2,5, 5, 10 e 15 L/min, ocorreu redução na PaCO2 de modo fluxo-dependente, com pequena diferença entre os fluxos, sem alterar a PIP38. MODOS DE APLICAÇÃO DA TGI Os modos de aplicação da TGI - contínua, inspiratória, expiratória total, bem como fluxos liberados no início da expiração, final da expiração - têm sido estudados por vários autores, para viabilizar sua aplicação clínica. A eficácia da TGI contínua na redução da PaCO2 e relação VD/VT foi comprovada por estudos clínicos em pacientes com SARA11,13-15,18, lesão pulmonar aguda30, insuficiência respiratória aguda de diversas etiologias29 e com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)31. Também foi comprovada por estudos experimentais em animais com pulmões saudáveis22,28,32, com lesão pulmonar induzida por ácido oleico37 e lavagem com solução fisiológica2, com broncoespasmo induzido34 e tórax restritivo com edema pulmonar associado35. Imanaka e col.43 utilizando a TGI contínua em modelo pulmonar unicompartimental, observaram que particularmente com tempos inspiratórios prolongados e altos fluxos de TGI, ocorreu elevação no volume corrente, no pico de pressão alveolar e de vias aéreas, e na auto-PEEP, sendo estes efeitos mais pronunciados quando a TGI foi associada a VCV do que a PCV. Na TGI contínua associada a PCV, uma vez que o fluxo inspiratório do ventilador retorna a zero, o fluxo da TGI resulta em aumento na pressão no sistema respiratório acima da pressão inspiratória ajustada, principalmente a tempos inspiratórios prolongados e altos fluxos do cateter41,43. Quando associada a VCV, aumentos no volume corrente e nas pressões no sistema, são atribuídas à soma do fluxo da TGI com o volume liberado pelo ventilador mecânico43. Vários estudos13,37,43,44 preconizam a correção no volume corrente do ventilador mecânico, quando associada a TGI contínua (TGI volume ajustado), subtraindo o volume gerado pelo cateter da TGI (fluxo da TGI em mL/s multiplicado pelo tempo inspiratório) do volume programado no ventilador. Aumentos na auto-PEEP promovidos pela TGI contíVolume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 nua1,2,22,28,36,37 refletem elevação na capacidade residual funcional (CRF)21,22. Nahum e col.28 citam três potenciais razões para o desenvolvimento da auto-PEEP: momento da troca entre o fluxo da TGI e o gás dos pulmões; fluxo da TGI que retarda a expiração; e a presença do cateter aumentando a resistência expiratória, devido a redução do diâmetro das vias aéreas. Por outro lado, quando a TGI ocorre seletivamente durante a inspiração, parte do volume corrente inspirado é decorrente do fluxo liberado pelo cateter intratraqueal, ultrapassando o espaço morto proximal36. Burke e col.36 compararam a efetividade da TGI inspiratória com a TGI contínua, e no terço final da expiração; observaram que o fluxo no tempo inspiratório promoveu o menor decréscimo na PaCO2 e na relação VD/VT, melhorando sua eficácia com fluxos maiores (10 L/min). A eficácia da TGI expiratória foi comprovada em pacientes com SARA12, em animais submetidos a lesão pulmonar com ácido oléico24 e em animais com pulmões saudáveis23. No estudo de Nahum e col.24, foram examinados os efeitos da TGI expiratória a fluxos de 10 L/min, não observando alterações no volume corrente, na complacência pulmonar nem no pico de pressão das vias aéreas, mesmo após lesão pulmonar. Neste estudo os decréscimos no espaço morto (VD) e na relação VD/VT resultantes da TGI foram significativamente menores após a lesão pulmonar, mas a mudança absoluta na PaCO2 foi similar. Imanaka e col.44 observaram em seu estudo com modelo pulmonar mecânico, que a TGI expiratória associada a modalidade PCV não aumentou as pressões de pico alveolar nem de vias aéreas, embora a pressão alveolar no final da expiração aumentasse; quando associada a modalidade VCV. Neste trabalho a TGI expiratória elevou todas as pressões das vias aéreas. Em pacientes com SARA a TGI expiratória associada à técnica de hipercapnia permissiva mostrou uma redução de 30% na PaCO2, elevação no pH, aumento de 44% na PaO2 e redução de 24% no shunt pulmonar. Entretanto, estes potenciais efeitos benéficos foram associados a aumentos na pressão de platô (PPLAT) e Pmva em 26% e 29% respectivamente, acarretando o potencial risco de barotrauma pulmonar5. Burke e col.36 consideram que duas condições devem ser encontradas para maximizar a efetividade da TGI expiratória. Primeiro, a deflação pulmonar deve estar encerrada relativamente precoce no período exalatório, permitindo tempo necessário para o gás fresco ocupar a via aérea proximal antes do próximo ciclo respiratório. Segundo, o produto do fluxo do cateter pelo tempo de fluxo expiratório deve resultar em volume suficiente para substituir todo gás exalado no compartimento proximal à extremidade do cateter com gás fresco antes do próximo ciclo inspiratório. Já foi demonstrado previamente que a expiração é o segmento ativo do ciclo respiratório para a TGI, e que o efeito de lavagem do CO2 deve ocorrer principalmente na fase final da expiração36,38. Pelo estudo de Burke e col.36, a TGI liberada no terço final da expiração foi eficaz na redução da PaCO2. Este trabalho mostrou que a maior parte do fluxo produziu efeito de lavagem do espaço morto anatômico, e pequena parte do mesmo participou como fluxo inspiratório, liberado durante o terço terminal da fase expiratória. 199 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Carter e col.39 avaliaram a TGI aplicada nos últimos 20%, 40%, 60% e 100% da expiração, observando que a PaCO2 decresceu progressivamente com o aumento da duração da TGI até 60%, mas não a 100% da expiração. Ravenscraft e col.38 compararam a TGI liberada no 1,2 s final da expiração com durações maiores (2,4 e 4,8 s), não encontrando diferença na eficácia da redução da PaCO2 ou relação VD/VT. Neste estudo o volume inspiratório e pressões nas vias aéreas permaneceram inalteradas. Compararam também a TGI liberada no início e no final expiração, demonstrando maior eficácia da TGI no final da expiração na redução da PaCO2. Em modelo pulmonar foram avaliados os efeitos da TGI expiratória (associada a PCV e VCV) e TGI contínua com volume ajustado, nas pressões e volumes do sistema. Todos os modos de TGI testados aumentaram a PEEP de modo similar. A TGI expiratória em conjunto com PCV resultou em mínimas alterações nas pressões de pico alveolar e de vias aéreas. A TGI contínua com volume ajustado mostrou alterações similares nos volumes e pressões quando comparada a TGI expiratória com VCV, mas sua utilidade foi limitada devido à impossibilidade de ajustar os parâmetros do ventilador mecânico com altos fluxos de TGI e tempos inspiratórios prolongados44. Pelo estudo de Nahum e col.19, a TGI contínua foi superior à expiratória (terço final da expiração) em termos de trocas gasosas, porém a pressão de pico nas vias aéreas durante a TGI expiratória foi significativamente menor que a observada durante a TGI contínua. O volume pulmonar no final da expiração aumentou de forma fluxo-dependente apenas na TGI contínua. A TGI liberada ao final dos 60% do tempo expiratório obteve eficácia na redução da PaCO2. Esta redução não foi significativamente diferente da TGI expiratória total, porém limitou a exposição da traquéia ao fluxo da TGI, reduzindo potencial hiperinsuflação induzida pela TGI39. Embora sincronização de tempo seja requerida, a TGI expiratória representa refinamento técnico da sua variante contínua; mas até que questões com relação à segurança e eficácia sejam resolvidas, e as características operacionais precisamente definidas, o uso clínico de qualquer modo de TGI deve ser considerado ainda como experimental45. CONCLUSÃO Os estudos comparando a eficácia da TGI durante toda a expiração com a TGI no final da expiração são controversos, ainda não sendo possível determinar qual a melhor forma de aplicação da técnica. Dúvidas também persistem em relação ao valor de fluxo a ser utilizado, não estando bem delimitado se os ganhos adicionais na redução do CO2 com elevações no fluxo da TGI compensam os aumentos nos volumes e pressões do sistema respiratório. Da mesma forma, questiona-se a eficácia da TGI expiratória (principalmente a TGI no final da expiração) quando há redução no tempo expiratório, e se há necessidade de utilizar fluxos maiores nesta situação. Muito embora haja crença na utilidade da TGI é necessária a realização de mais estudos para que possa ser estabelecida a melhor forma de aplicação desta técnica, com o intuito de sua adoção rotineira nas unidades de terapia intensiva. 200 LISTA DE SIGLAS Auto-PEEP CO2 CRF DPOC PaCO2 PA PCV PEEP PIP Pmva PPLAT Ptr SARA TGI VCV VD VD/VT pressão positiva no final da expiração intrínseca dióxido de carbono capacidade residual funcional doença pulmonar obstrutiva crônica pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial pressão alveolar pressure control ventilation (ventilação controlada a pressão) positive end expiratory pressure (pressão positiva no final da expiração) pressão inspiratória de pico pressão média das vias aéreas pressão de platô pressão traqueal Síndrome da Angústia Respiratória Aguda tracheal gas insufflation (insuflação traqueal de gás) volume control ventilation (ventilação controlada a volume) espaço morto relação espaço morto/volume corrente RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A insuflação traqueal de gás (TGI – do inglês tracheal gas insufflation, consiste na insuflação contínua ou fásica de gás fresco nas vias aéreas centrais, para aumentar a eficiência da ventilação alveolar e/ou minimizar o requerimento de pressões ventilatórias. A partir das estratégias de ventilação protetora em pacientes com síndrome da angústia respiratória aguda, os estudos com TGI indicam que a sua associação à ventilação mecânica pode representar uma nova estratégia, permitindo durante o decréscimo do volume minuto, manter a PaCO2 constante. CONTEÚDO: Esta revisão de literatura se propõe a reunir os principais artigos publicados sobre a TGI, para descrever a técnica, suas aplicações, e comparar os modos de TGI com relação à sua eficácia na redução do CO2 e alterações de volumes e pressões no sistema respiratório. Com relação à técnica da TGI, os estudos demonstram maior eficácia da TGI quando se posiciona o cateter 1 a 2 cm acima da carina, com fluxos de até 6 L/min. Os modos de aplicação da TGI - contínua, inspiratória, expiratória total, início da expiração, final da expiração - têm sido estudados por vários autores, para viabilizar sua aplicação clínica. CONCLUSÕES: Dúvidas persistem em relação ao valor de fluxo a ser utilizado e qual o modo de aplicação é mais eficaz. Há necessidade de se realizar mais estudos para que possa ser estabelecida a melhor forma de aplicação da TGI, a fim de que esta técnica possa ser adotada como rotina nas unidades de terapia intensiva. Unitermos: Insuflação Traqueal de Gás; Ventilação Alveolar; Troca Gasosa; Hipercapnia RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO REFERÊNCIAS 01. Nahum A - Animal and lung model studies of tracheal gas insufflation. Respir Care, 2001;46:149-157. 02. Kirmse M, Fujino Y, Hromi J et al – Pressure-release tracheal gas insufflation reduces airway pressures in lung-injured sheep maintaining eucapnia. Am J Respir Crit Care Med, 1999;160:1462-1467. 03. Bruderman I, Alkalay I, Stein M et al - Tracheostomy for acute respiratory failure. Dis Chest, 1966;50:393-402. 04. 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Case Report Wladmir Faustino Saporito1, Marcelo Eduardo Sproesser1, Fábio José Concilio Fucci1, Adilson Casemiro Pires2. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Eclampsia and Preeclampsia occur during gestation especially in primigravidas, and are characterized by arterial hypertension associated with proteinuria and edema. In spite of intense investigation, its pathophisiology has not been well defined. One proposed mechanism is that hypertension causes brain vasoconstriction resulting in brain ischemia or vasogenic edema. The incidence of visual perturbations in eclampsia/preeclampsia is reported to be 20%25% in the medical literature and that of transient cortical blindness, in this condition, is 1%-3%. Therefore, transient cortical blindness is an uncommon disease, that is however distressing to the medical community, patients and their relatives. CASE REPORT: Transient cortical blindness in a 23-year old primigravida. After cesarean section the patient’s course was complicated by mild arterial hypertension requiring treatment with captopril. Six days after delivery, she developed sudden loss of vision with severe headache and hypertension. Magnetic resonance angiography showed narrowing of the left posterior brain artery and mapping demonstrated a predominance of bilateral slow waves in the temporal parietal regions. CONCLUSIONS: She was therefore transferred to the intensive care unit and hydration, phenytoin and analgesics were prescribed. After 36 hours, blindness completely resolved. Key Words: Cortical blindness, Preeclampsia, Pregnancy complications. A eclâmpsia/pré-eclâmpsia surge durante a gestação, principalmente em primigestas, sendo caracterizada clinicamente após a 20° semana, devido ao início de uma hipertensão induzida pela gravidez associada a proteinúria e edema. Apesar dos intensos estudos sobre esta doença, sua patogênese ainda não esta muito bem esclarecida. A amaurose cortical temporária é um exemplo de manifestação clinica atípica, associada ao quadro de hipertensão durante a gestação. Os autores relatam um caso de cegueira cortical associada à hipertensão gestacional. fálica posterior esquerda. No eletroencefalograma com mapeamento encefálico evidenciou-se a presença de ondas lentas com predomínio têmporo-parietal bilateral. Foi encaminhada para a unidade de terapia intensiva (UTI) e instituída hidratação, infusão de fenitoína em dose de ataque de 20 mg/kg e manutenção de 4 mg/kg, dexametasona 16 mg/dia e analgesia. Ocorreu melhora progressiva do quadro clínico, com reversão completa após 36 horas do início do tratamento. RELATO DO CASO A eclâmpsia/pré-eclâmpsia é uma manifestação da doença hipertensiva específica da gestação (MHEG) que acomete preferencialmente, primigestas, dentre estas, aquelas que ocupam os extremos das faixas etárias. Os estados de eclâmpsia/pré-eclâmpsia seguem sendo, junto com as infecções e hemorragias uma das principais causas de mortalidade materna1. As manifestações neurológicas mais graves ocorrem na eclâmpsia, onde o típico quadro convulsivo pode evoluir para alterações da consciência e coma. Além disso, é a causa principal de acidentes cerebrovasculares hemorrágicos e da maior parte das mortes causadas por hipertensão em gestantes sem conseqüência de hemorragias intracranianas1. A incidência de alterações visuais nas mulheres com pré-eclâmpsia grave são cerca de 20% a 25%2, sendo que as principais manifestações oftalmológicas descritas são descolamento de retina, vasoespasmo da artéria retiniana, trombose da artéria retiniana central e amaurose cortical reversível3. A amaurose cortical é uma manifestação passageira Paciente com 23 anos, primigesta, realizou seu pré-natal sem anormalidades, submetida à cesariana sob anestesia peridural sem intercorrências. Após o parto a paciente apresentou hipertensão arterial sistêmica (HAS), sendo iniciado o uso de captopril. No sexto dia pós-parto, apresentou quadro de perda súbita da visão associado à cefaléia intensa e HAS leve (150/100 mmHg), sem outras alterações. Foi submetida a exames complementares que apresentaram os seguintes parâmetros: análise bioquímica de líquor sem alteração, exame de fundo de olho normal (resposta pupilar, sem descolamento de retina ou qualquer outra alteração), hemograma normal. uréia, creatinina, sódio, potássio, glicemia e TGO/TGP todos normais e VHS aumentada (92 mm). Realizado também tomografia computadorizada de crânio (TC) e ressonância nuclear magnética da cabeça (RNM) apresentando-se normais, sendo evidenciado a angiorressonância de artérias encefálicas, uma redução do calibre do segmento P1 da artéria ence- DISCUSSÃO 1. Intensivista do Hospital Nossa Senhora de Lourdes - Especialista pela AMIB/SP 2. Intensivista do Hospital Nossa Senhora de Lourdes - SP * Recebido do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, São Bernardo do Campo, SP Apresentado em 10 de maio de 2004 - Aceito para publicação em 04 de outubro de 2004. Endereço para correspondência: Dr. Wladmir Faustino Saporito - Rua Silva Jardim, 470 - São Bernardo do Campo, SP - E-mail: [email protected] 202 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO que pode durar de 4 horas até 8 dias após o parto1,2. No entanto, Mion e col. relataram que pode durar até o 21° dia4, sendo que, evolui com completa normalização após esse período e, portanto possui bom prognóstico. Sua incidência em casos de eclâmpsia/pré-eclâmpsia varia de 1% a 3%2, mas alguns autores relataram incidência de até 15%4,5. A amaurose cortical é caracterizada por resposta pupilar normal frente ao estímulo luminoso e sem alterações de fundo de olho1,2. A anóxia encefálica tem sido atribuída como causa da cegueira cortical temporária, mas a etiologia e o mecanismo de desenvolvimento dessa rara desordem visual não foi muito bem elucidado. Beal6, Lorincz7 e Stein8 citaram a trombose venosa encefálica como causa da amaurose cortical, porém seus casos referiam-se a pacientes com hipotensão pós-parto e não a casos de eclâmpsia/pré-eclâmpsia. Estudos mais recentes tem outro ponto de vista inclusive comprovados pelos resultados de ressonância nuclear magnética. Apollon e col.3 acreditaram que a patofisiologia é baseada no aumento da permeabilidade a líquidos e proteínas em torno dos tecidos, resultando em edema vasogênico e hiperperfusão da circulação encefálica posterior. Já outros autores acreditam que essa alteração visual é uma conseqüência do vasoespasmo cerebrovascular com lesão isquêmica5 e da maior susceptibilidade dos lobos occipitais à redução de fluxo sangüíneo por estarem localizados em zona de perfusão limite1. Além disso, a inervação simpática da circulação dos lobos occipitais é deficitária e, portanto pode causar vasoconstrição seletiva da artéria encefálica posterior e grave redução do aporte sangüíneo nessa região1. No caso relatado evidenciou-se vasoespasmo através da angiorressonância de artérias encefálicas e a presença de ondas lentas com predomínio têmporo-parietal bilateral no mapeamento encefálico, sugerindo uma crise convulsiva iminente. Na ausência de qualquer lesão patológica do olho, nervo óptico e trato óptico, a amaurose cortical temporária deve ser questionada e a hipertensão arterial rapidamente revertida. O tratamento da hipertensão arterial impõe-se com urgência uma vez que a amaurose cortical é considerada como uma manifestação análoga à crise convulsiva caracterizando, deste modo, uma situação de eclâmpsia. A maioria dos autores inicia o tratamento com hidralazina por via venosa na dose de 5 mg não havendo, entretanto, consenso quanto ao tipo de droga a ser utilizado. Enquanto Verdile e col.9 recomendam o uso de labetalol tanto por via venosa (na fase aguda) quanto via oral no tratamento continuado, Hara e col.10 recomendaram a nicardipina por via venosa na fase aguda na dose de 0,3 µg/kg/min. O uso de sulfato de magnésio venoso por 24 a 48 horas é recomendável pela maioria dos autores e diazepam venoso no momento de eventual crise convulsiva é necessário11. A prevenção de crises convulsivas subseqüentes é recomendável através do uso de fenitoína não havendo consenso a respeito do tempo de duração deste tratamento11,12. Por tratar-se de uma síndrome caracterizada por vasoespasmo e edema encefálico o uso de corticosteróide como a dexametasona, análogos de manitol e bloqueadores de canais de cálcio estariam indicados10. Volume 16 - Número 3 - Julho/Setembro 2004 Quanto ao prognostico a maioria dos autores é veemente em citar a reversão do quadro de amaurose em poucos dias sem seqüelas visuais uma vez instituído o controle da hipertensão arterial sistêmica e da crise convulsiva. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A eclâmpsia/préeclâmpsia surge durante a gestação, principalmente em primigestas sendo caracterizada por hipertensão arterial sistêmica (HAS) associada a proteinúria e edema. Apesar de intensos estudos sua patogênese ainda não está bem definida, podendo resultar de vasoespasmo com lesão isquêmica ou de um edema vasogênico. A incidência de eclâmpsia/pré-eclâmpsia varia de 20% a 25% e da amaurose cortical temporária, nesta condição, de 1% a 3% preocupando a comunidade médica, os pacientes e os familiares quando ocorre. RELATO DO CASO: Amaurose cortical temporária em paciente primigesta de 23 anos. Após cesariana, cursou com hipertensão arterial sistêmica leve iniciando-se o uso de captopril e no 6° dia após o parto apresentou quadro de perda súbita da visão associada à cefaléia intensa e HAS. Submetida a exames complementares apresentou à angiorressonância uma redução do calibre da artéria encefálica posterior esquerda e ao mapeamento encefálico com predomínio de ondas lentas em região têmporoparietal bilateral. CONCLUSÕES: A paciente foi encaminhada para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e tratada com hidratação, fenitoína e analgesia, ocorrendo reversão completa do quadro, após 36 horas do início do tratamento. Unitermos: Cegueira cortical, Pré-eclâmpsia, Complicações na gravidez. REFERÊNCIAS 01. Dávila M, Pensado A, Rama P et al - Ceguera cortical como síntoma de presentación de una preeclampsia. Rev Esp Anestesiol Reanim, 1998;45:198200. 02. Ebert AD, Hopp HS, Entezami M et al - Acute onset of blindness during labor: report of a case of transient cortical blindness in association with HELLP syndrome. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol, 1999;84:111-113. 03. Apollon KM, Robinson JN, Schwartz RB et al - Cortical blindness in severe preeclampsia: computed tomography, magnetic resonance imaging, and single-photon-emission computed tomography findings. Obstet Gynecol, 2000;95:1017-1019. 04. Mion G, Olive F, Forel JM - Cécité corticale au cours de la toxémie gravidique. Amaurose transitoire par baisse de pression de perfusion cérébrale. Ann Fr Anesth, Reanin, 1998;17:196-198. 05. Anate M - Transient cortical blindness in gestational hypertension: report of two cases. East Afr Med J, 1996;73:838-840. 06. Beal MF, Chapman PH – Cortical blindness and homonymous hemianopia in the postpartum period. JAMA, 1980;244:2085-2087. 07. Chapman K, Karimi R - A case of postpartum eclampsia of late onset confirmed by autopsy. Am J Obstet Gynecol, 1973;117:858-861. 08. Stein LB, Roberts RI, Marx J et al - Transient cortical blindness following an acute hypotensive event in the postpartum period. N Y State J Med, 1989;89:682-683. 09. Verdile VP, Verdile LA – Postpartum amaurosis. Ann Emerg Med, 1991;20:311-314. 10. Hara N, Fujii T, Tsutsumi O – Postpartum eclampsia associated with cortical blindness. Int J Gynaecol Obstet, 1994;47:287-288. 11. Mandelkern D, Burger A – Cortical blindness in postpartum preeclampsia progressing to eclampsia: case report. Mt Sinai J Med, 1992;59:72-74. 12. Slater RM, Wilcox FL, Smith WD et al – Phenytoin infusion in severe preeclampsia. Lancet, 1987;1:1417-1421. 203 RBTI / ERRATA ERRATA do Suplemento do XI Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva Realizado em Curitiba de 11 a 15 de Junho de 2004 O-100 LETALIDADE EM REVASCULARIZAÇÕES E ANGIOPLASTIAS CORONÁRIAS NAS DOENÇAS ISQUÊMICAS DO CORAÇÃO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NO PERÍODO DE 1999 A 2002 Gláucia Maria Moraes de Oliveira, Paulo Henrique Godoy, Carlos Henrique Klein, Nelson Albuquerque de Souza e Silva Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - Escola Nacional de Saúde Pública - Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro Introdução: Revascularizações (RM) e angioplastias coronárias (AC) são intervenções não farmacológicas utilizadas no tratamento das doenças isquêmicas do coração (DIC). Objetivo: Estimar a letalidade nos procedimentos de RM e AC em grupos de DIC, nos hospitais do SIH/ SUS (Sistema de Informações Hospitalares/Sistema Único de Saúde) no Estado do Rio de Janeiro (ERJ), de 1999 a 2002. Métodos: Os procedimentos considerados RM e AC provieram do banco do DATASUS. As taxas foram padronizadas por sexo e idade, tendo como padrão todos os procedimentos de alta complexidade cardiovascular, realizados no ERJ em 2000. Os grupos de DIC são infarto agudo do miocárdio (IAM, CID-10 I21 a I23), síndrome coronariana aguda sem supra de ST (SCAsSST, CID-10 I24) e insuficiência coronariana rônica (ICoC, CID-10 I20 e I25). Resultados: As letalidades globais por IAM, SCAsSST e ICoC foram de 16,48, 2,85 e 3,14%, respectivamente. As letalidades por RM/ AC foram respectivamente 6,76/6,33% (IAM), 7,33/1,17% (SCAsSST) e 8,24/1,44% (IcoC). Conclusão: As intervenções RM e AC são benéficas nos IAM, ainda que as letalidades sejam relativamente elevadas. Na RM ocorreu letalidade desproporcionalmente elevada nas ICoC quando comparada com aquela ocorrida nos IAM. Na AC o padrão de letalidades nos procedimentos primários e eletivos foi o esperado. P-079 FATORES DETERMINANTES NA MORTALIDADE NO TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EM IDOSOS Gláucia Maria Moraes de Oliveira, Paulo Henrique Godoy, Maurício da Rocha Pantoja, Ronir Raggio Luiz, Hugo Wiedemann, Marcelo Brandão, Márcio Roberto Moraes Carvalho, Gustavo Novais, Marcos Miranda Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e UTI - Prontocor Lagoa - Rio de Janeiro - RJ- Brasil Introdução: O tromboembolismo pulmonar (TEP) aumenta com a idade. Objetivo: Analisar fatores determinantes da mortalidade nos pacientes idosos com TEP em UTI. Método: Coorte prospectiva de 1298 pacientes, idade >65 anos, seguimento de 48 meses. Os pacientes (n=43) com alta probabilidade clínica realizaram dímero D, eletrocardiograma, gasometria arterial, radiografia de tórax, ecocardiograma transtorácico e Doppler venoso dos MMII. Utilizou-se o ecocardiograma transesofágico, a cintigrafia ventilação/ perfusão (alta probabilidade), a angiotomografia ou a angioressonância para confirmação diagnóstica. A associação com a mortalidade foi pelo teste exato de Fisher, ANOVA e curva de sobrevida de Kaplan-Meier, considerando-se 5% nível de significância. Resultado: A média da idade foi 80±9 anos e APACHE 13±5. Um seguimento durante 6 meses ocorreu em 95% dos casos. A mortalidade pelo TEP foi 16%, o restante por choque séptico. Apenas neoplasia se associou com mortalidade (p=0,013). Essa associação também ocorreu com PA sistólica <100mmHg (p=0,001) e freqüência respiratória >20 irpm (p=0,019) nas primeiras 24 horas da internação. O Doppler venoso positivo para TVP (p=0,033) e APACHE II >15 (p=0,002) correlacionaram-se com mortalidade por TEP. Conclusão: A neoplasia, taquipnéia, hipotensão, APACHE II >15 e o Doppler venoso positivo nas primeiras 24 horas de internação, associaram-se com maior mortalidade nesta população. 204 P-231 ANTIBIOTICOTERAPIA EMPÍRICA E MORTALIDADE EM IDOSOS COM CHOQUE SÉPTICO Gláucia Maria Moraes de Oliveira,Paulo Henrique Godoy, Maurício da Rocha Pantoja, Ronir Raggio Luiz, Carlos Eduardo Figueiredo, Renata Rocha Casemiro, João Regalla, Lenir Solha, Paolo Blanco Villela Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e UTI - Prontocor Lagoa - Rio de Janeiro - RJ- Brasil Introdução: Persistem dúvidas na eficácia da antibioticoterapia empírica (ATBE) no choque séptico (CS). Objetivo: Avaliar o emprego de ATBE na mortalidade dos pacientes com CS. Métodos: Coorte prospectiva de 67pac., 32 meses, idade >65a e tratamento para o CS (ressuscitação volêmica, culturas-24 h, ABTE largo espectro, suporte ventilatório e hemodinâmico). A ABTE seguiu provável sítio e natureza (comunitária/nosocomial) da infecção, considerando-se adequada quando um antibiótico estivesse correto. Avaliou-se comorbidades (MORB), número falências orgânicas (FO) (critérios de Le Gall) e APACHE II. Empregou-se testes: t Student, qui-quadrado e Kaplan-Meier (significância=5%). Resultados: A média da idade foi 80±7a, APACHE II 19±5, tempo de permanência (TP) 18±9d, CS pulmonar em 70%, urinário 3%, ambos 27%, 10% das hemoculturas positivas e 8% de germes multiresistentes. Os gram negativos causaram 79% das infecções (Pseudomonas=36%). Das MORB destacaram-se HAS-40%, cardiopatia isquêmica-31%, AVE-21% e DPOC-30%. Ocorreram 39 óbitos. ATBE estavam corretas em 87% e foram modificados em média 72h (piora clínica/resultado do antibiograma). Não houve associação entre idade (p=0,22), ATBE adequada (p=0,46) e mortalidade, porém APACHE II (p<0,001) e FO (p=0,006) associaram-se. O TP não correlacionou-se com ATBE (p=0,66). Conclusão: A ATBE adequada e precoce não se associou com a mortalidade ou com o TP nesta população. P-374 MODELO SIMPLES PARA PREDIÇÃO DA MORTALIDADE EM IDOSOS COM CHOQUE SÉPTICO Glaucia Maria Moraes de Oliveira,Paulo Henrique Godoy, Maurício da Rocha Pantoja, Ronir Raggio Luiz, Roberta de Lima Machado, Antonio Farias Neto, Paolo Blanco Villela, Leonardo J. C. Paula Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e UTI - Prontocor Lagoa - Rio de Janeiro - RJ- Brasil Introdução: Os pacientes idosos com choque séptico têm crescido, tornando-se importante investigar a existência de fatores prognósticos. Objetivo: Elaborar um modelo prognóstico simples de mortalidade em idosos com choque séptico internados em UTI clínica. Métodos: Coorte prospectiva de 67 pacientes (idade ³ 65 anos), período de 32 meses, tendo monitoração da artéria pulmonar devido ao choque séptico. Empregou-se como variável dependente o óbito e como variáveis independentes àquelas com p-valor altamente significativos na análise univariada: APACHE II, presença de doenças cardiovasculares prévias (DCV), positividade da troponina I, necessidade de noradrenalina em doses ³0,5mg/Kg/min e número de falências orgânicas pelos critérios de Le Gall. As variáveis foram dicotomizadas e acrescentadas no modelo, tendo ao final apenas o APACHE II e as DCV. Empregou-se o pacote estatístico SPSS 10, sendo 5% nível de significância. Resultados: Àqueles com DCV e APACHE II ³20 tiveram 85% de probabilidade de óbito e os com DCV e o APACHE II >20, 74%. Aqueles com APACHE II <20 e sem DCV tiveram probabilidade de 5%. Conclusão: A DCV deveria ser incluída nos modelos para predizer probabilidade de óbito nos pacientes idosos com choque séptico. Este modelo simples deverá ser ampliado e aplicado em população semelhante para validação. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva