organização para segurança e cooperação na europa - osce
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organização para segurança e cooperação na europa - osce
1 ORGANIZAÇÃO PARA SEGURANÇA E COOPERAÇÃO NA EUROPA - OSCE ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES CE – Comunidade Europeia CEE – Comunidade Econômica Europeia CFE – Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa CSBM’s –Medidas de Segurança e Cooperação CSCE – Conferência de Segurança e Cooperação na Europa CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas EUA – Estados Unidos da América ETA – Pátria Basca e Liberdade, do basco, Euskadi Ta Askatasuna FMI – Fundo Monetário Internacional FSC – Fórum de Segurança e Cooperação IFOR – Força de Implementação da OTAN IRA – Exército Republicano Irlandês ODIHR – Office for Democratic Institutions and Human Rights ONG – Organização Não-Governamental ONU – Organização das Nações Unidas OSCC – Comissão Consultiva de Céu Aberto OSCE – Organização para Segurança e Cooperação na Europa OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte PIB – Produto Interno Bruto REACT – Equipes de Peritos de Assistência e Cooperação Rápida SALW – Small Arms and Light Weapons SFOR – Força de Estabilização da OTAN SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute SOI – Simulação de Organização Internacional TINF – Tratado de Força Nucleares de Alcance Intermediário TNP – Tratado de Não Proliferação de Armas UE – União Europeia UNODA – Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas CARTA DE APRESENTAÇÃO Prezados Ministros, Bem vindos! Depois de muitos meses de trabalho duro e outros tantos momentos de descontração, é com orgulho que apresentamos o Guia de Estudos da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). O documento trata de uma série de aspectos relevantes do tema “Controle de Armas e Segurança nas Fronteiras Europeias” e sua leitura é imprescindível para o início das preparações para a simulação. Seus seis diretores dedicaram-se arduamente para que vocês disponham de um bom material e não tenham tanto trabalho nas suas pesquisas posteriores, por isso, esperamos que todos leiam o fruto dos estresses da direbarraqueira, Tara. Sem maiores delongas, apresentamos: Andrey Miranda Albuquerque de Oliveira, 23 anos (o direold do comitê ), solteiro, iludido, relacionamento enrolado, enfim, status ainda por definir. Defensor do meio ambiente, cursou controle ambiental no IFRN, e, atualmente, frequenta o 7º período do curso de Direito da UFRN, paga 10 matérias, além de ser bolsista no PRH, e participar da diretoria da SOI (o menino é um gênio!). Aspira à carreira de diplomacia e sabe tudo sobre o Instituto Rio Branco. Fluente em espanhol, nas horas vagas curte viajar para Cuba e ficar “mucho loco” por lá (não só lá haha). Tem carinha de bom moço, mas não se enganem (destruidor de lares haha :x)! Como ele mesmo se auto definiu, é “experiente com cara de novinho”, um poço de modéstia esse menino kkkkkk. Muito receptivo, sugere até mesmo improvisar um carnaval, sendo, é claro, o mestre-sala, para que a pessoa se sinta acolhida em sua chegada. Além disso, é um exímio cozinheiro, sabe preparar um ótimo pão de queijo (coloque no forno por quinze minutos) e serve água/suco/coca como ninguém! É viciado em café (e para surpresa de todos, ele sabe fazer café)! Não dispensa também uma coca-cola, e suspeita ter gastrite, uma ótima combinação Oo. Viciado em GoT, não aguenta mais ver todos os personagens morrerem ! É fã da presidenta e está sempre ligado na DilmaBolada. Magno Francisco Sátiro Catão, é o diretor com a vida mais secreta deste comitê, cargo altamente concorrido. Isso torna difícil o acesso a determinadas informações, como o seu status de relacionamento, apesar dos boatos de que teve casamento relâmpago com uma Diretora da LEA. Incontroverso é que seu constante olhar sedutor continua encantando quando na verdade ele só está pensando na vida. Com 20 anos, Magno foi nomeado Alto Comissário das Minorias Nacionais, visto que sua defesa dos pobres é algo recorrente durante as reuniões e lhe despertou interesse na disciplina de História da África, a qual pretende cursar no 6° período do curso de Direito. Aliás, seu estilo hipster ganhou destaque no semestre anterior quando ele decidiu cursar Cultura e Literatura brasileira I e inovou o visual com um admirável alargador. Estudante de alemão e escritor de poesias, ainda foi o corretor ortográfico de todo o guia (obrigada, Maguinho!), o famoso Sr. Das Vírgulas. Além disso, é leitor entusiasta de Game of Thrones, apreciador de filmes de drama e, com humor sagaz, é famoso por suas judge faces – a diversão do comitê. Ah, uma dica: procure não se intrometer na sua vida secreta, é melhor... “Beijo, beijo!” Raissa RAQUEL de Paula Almeida, apesar de ter chegado a Natal fugindo da seca e do calor mossoroenses com um lenço na cabeça e uma trouxa de roupas sujas, é a diretora mais cosmopolita de todo o comitê. Boatos rolam que ela passa dias e dias inteiros confabulando assuntos secretíssimos com seus amigos estrangeiros, tentando transformar Mossoró numa grande nação e, com apenas 20 anos, dar um golpe de Estado e reinar ao lado de algum inglês bonitão. A propósito, dessas reuniões virtuais Raissa herdou um sotaque britânico invejável, com o qual humilha os seus coleguinhas de comitê e quaisquer aspirantes à fluência em língua inglesa. E, apesar de ter uma voz doce e impecável, com que canta Oasis distraidamente, falam as más línguas que isso é só uma performance manipuladora, pois ela não é tão boazinha assim. Aliás, ela está disposta a atacar seriamente qualquer um que ouse chamá-la de “Raquel” - e o escritor desta carta de apresentação sofre sérios riscos de não acordar com vida nos dias que seguem (afinal, Raquelzinha é espectadora assídua de séries de serial killers por algum motivo). Good-bye, little Raquel. Sarah Caroline Batista Rodrigues, carinhosamente conhecida no comitê como “Tara”, é a nossa direbarraqueira. Cursando assiduamente o 5º período, é a nossa outra diretora que ainda se importa em faltar aula (Andrey também é um drama só com a UFRN, meu Deus rs). Com 20 anos, Sarah não perde uma novela da globo e adora uma boa confusão. Jura detestar sorvete, mas boa parte do comitê acredita que ela sequer conhece a textura e consistência da sobremesa. Extremamente eficiente, ela gosta de fazer as atividades administrativas, aquilo que todo mundo odeia, tendo ido em todos os escritórios de advocacia de Natal chorar patrocínio para o nosso evento de extensão. Seu absoluto analfabetismo digital impede que tenha um carreira promissora como secretária, contudo, tem se empenhado em aprender com seus coleguinhas de comitê as funções do word (ainda nem acredito que ela só aprendeu para que serve o “delete” há poucos meses). Todos sabemos que ela tem a mente mais poluída do que qualquer outro diretor, mas, insiste em se fazer de pacata e inocente e, constantemente, finge não entender algum comentário com duplo sentido. Tâmara [CENSURADO] de Menêses e Pires Muniz, é a diretora mais “looouca, louquinha” que esse comitê já viu. Ela tem 20 anos, reside em Natal, é comprometida e tenta cursar o 6º período do curso de Direito da UFRN quando não está muito ocupada completando seu ciclo de sono de 16 horas diárias. Exímia jogadora de futebol e torcedora fanática do Botafogo, Tâmara passa seu tempo livre recebendo e encaminhando vídeos 'peculiares' para os seus contatos do whatsapp e “coletando” cones de trânsito (sim, cones) para sua coleção. Ela também é a autora dos jargões mais famosos da OSCE como: “Sacanaaagem”, “Que absuuurdo” e o mais querido por todos, “Sério, pô. De verdade!”, usado quando duvidamos de sua larga (só que nunca) credibilidade. Como toda boa estudante de Direito, Tâmara é uma fiel incentivadora dos negócios locais, em especial os que comercializam substâncias alcoólicas flamejantes e pretende, junto com outro diretor deste Comitê, eventualmente desenvolver uma organização internacional chamada OITA, com agência reguladora própria, a OEMA. Acredita-se que caso seja condenada por apropriação indébita de cones, ela fuja e seduza um certo ex-diplomata, com quem residirá em Fortaleza, escondida da Justiça. Sério, pô! De verdade. Wescley Bruno Lima dos Santos tem 22 anos e nas horas vagas entre os concursos, artigos, a SOI e o TCC ele tenta cursar o famigerado 10º e último período de Direito na UFRN (sendo o nosso dire-ancião a nível acadêmico). Recém-aprovado no exame da OAB (uhuu!), Wescley desfruta do seu status de advogado do comitê com muito luxo, rYqueza e ostentação. Repudiando toda forma de subdesenvolvimento, nosso diretor-acadêmico-mor se orgulha em simular um comitê essencialmente Europeu (rYco), uma vez que não tem que se deparar com os países “POBRES” ao longo da simulação. Agora um alerta: Wescley, também conhecido no mundo do crime como Wescley SAFADÃO, é um diretor da mais alta periculosidade. Devido a isso, é recomendado aos 9inhos (lê-se novinhos) que sejam cautelosos, pois não raro ele faz algum comentário maldoso de duplo sentido, podendo ainda, no meio de uma conversa normal, soltar um sonoro “U-AAAU”, interpretando tudo da maneira mais maliciosa possível e julgando muito a inocência dos que não entendem. Além disso, a sua conhecida pontualidade britânica permite que Wescley nunca se atrase, nem que seja para sair para um barzinho... Portanto, 9inhos, não se atrasem para as simulações!! ;) Também gostaríamos de aproveitar este espaço para agradecer a todos aqueles que nos ajudaram neste ano soístico e acabaram também se tornando parte da família OSCE: primeiramente, a Derance, nosso corretor, que nos auxiliou da submissão do comitê até os dias de simulação; a Altair Filho, que originalmente seria diretor, mas mesmo como parte do secretariado, esteve sempre muito disposto a nos ajudar; aos namorados/rolos e amigos, que reclamaram ao longo de todo ano das nossas muitas reuniões e todas aquelas outras pessoas que fizeram com que todo o trabalho que tivemos não fosse tão chato e valesse a pena, muito obrigado! =D Até Outubro! Andrey Miranda, Magno Catão, Raissa Almeida, Sarah Rodrigues, Tâmara Muniz e Wescley Santos. SUMÁRIO CARTA DE APRESENTAÇÃO........................................................................................... 3 1 A Organização para Segurança e Cooperação na Europa – OSCE........................... 10 1.1 Aspectos Históricos................................................................................................... 10 1.1.1 A Criação da CSCE.................................................................................................... 11 1.1.2 A Institucionalização da CSCE no Pós-Guerra Fria................................................... 13 1.1.3 A Atuação da OSCE Frente aos Desafios do Século XXI......................................... 15 1.2 Estrutura Decisória.................................................................................................... 16 1.2.1 Cúpula dos Chefes de Estado.................................................................................... 17 1.2.2 Conselho Ministerial.................................................................................................. 18 1.2.3 Conselho Permanente................................................................................................ 19 1.2.4 Fórum para Cooperação e Segurança........................................................................ 19 1.3 Natureza Decisória.................................................................................................... 20 2 Controle de Armas e Segurança nas Fronteiras Europeias........................................ 21 3 A Problemática Atual................................................................................................ 27 3.1. As Armas de Pequeno Porte e o Mercado Negro de Armamentos .......................... 30 3.1.1 As Empresas de Segurança Privada e os Mercenários............................................... 32 3.2 A Atuação da OSCE na Cooperação para a Segurança ............................................ 34 4 A Concepção de Segurança para a OSCE.................................................................. 34 5 O Código de Conduta Militar..................................................................................... 36 6 Principais Conflitos na Europa................................................................................... 37 6.1 Conflito da Iugoslávia ............................................................................................... 38 6.1.1 As Consequências da Dissolução da Iugoslávia......................................................... 39 6.2 Eslovênia.................................................................................................................... 40 6.3 Macedônia.................................................................................................................. 41 6.4 Croácia........................................................................................................................ 41 6.5 Bósnia-Herzegóvina................................................................................................... 41 6.6 Montenegro................................................................................................................ 43 6.7 Kosovo....................................................................................................................... 44 7 Conflitos no Cáucaso................................................................................................. 45 7.1 A Disputa por Nargono-Karabakh............................................................................. 46 7.2 A Ossétia do Sul........................................................................................................ 48 7.3 Rússia e Chechênia.................................................................................................... 49 7.4 A Revolta no Quirguistão........................................................................................... 50 8 Relações Externas de Cooperação da OSCE quanto à Segurança............................. 52 8.1 Organização das Nações Unidas................................................................................. 52 8.2 Organização do Tratado do Atlântico Norte.............................................................. 54 8.3 União Europeia........................................................................................................... 55 8.4 Organizações Não-Governamentais........................................................................... 56 9 Principais Tratados..................................................................................................... 56 9.1 Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa......................................... 57 9.2 Documento de Viena de 1999.................................................................................... 58 9.3 Tratado de Céu Aberto.............................................................................................. 59 9.4 Tratado Internacional sobre Comércio de Armas...................................................... 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 63 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 65 10 1. A Organização para Segurança e Cooperação na Europa – OSCE1 1.1. Aspectos Históricos Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo dividiu-se em dois grandes blocos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América (EUA) e o socialista, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). As duas nações figuraram como as grandes potências do globo e disputaram a supremacia mundial até o final da década de 80, principalmente nos campos político-ideológico, socioeconômico e tecnológico (espacial e militar). Enquanto o regime socialista soviético ampliava sua área de influência no mundo e mais países aderiam ao seu modelo econômico, o governo estadunidense investia fortemente em propaganda para solidificar as nações capitalistas já existentes. A Europa, contudo, firmava-se como um continente em que a bipartição mostrava-se bastante clara – seu lado oeste era de ideologia capitalista, o leste, socialista. As disparidades entre os dois grandes blocos tornavam a comunicação diplomática entre as nações cada vez mais complicada, quer no campo político, quer no campo de segurança. Tratando-se especificamente do aspecto de segurança, o continente europeu dividiu-se em duas grandes alianças militares que buscavam, essencialmente, o domínio político-militar, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de Varsóvia. Aquela foi criada em 1949 como a aliança militar do bloco capitalista e existe até os dias de hoje. Seis anos mais tarde, o bloco socialista, em resposta, criou o Pacto de Varsóvia, desfeito somente em 1991. Ambas organizações tiveram participação decisiva nos conflitos e fatos marcantes daquele período da história, entre eles, a Guerra da Coreia (1950 – 1953), a Revolução Húngara e a Guerra de Suez em 1956, a Guerra do Vietnã (1964 – 1975) e os golpes de Estado ocorridos na América Latina (Brasil, Chile, Guatemala, Argentina, etc.). Como forma de reunir o maior número de nações possível, a Conferência para Segurança e Cooperação na Europa (CSCE) surge como fórum político de segurança destinado a criar uma estrutura de diálogo inicial entre o leste e o oeste europeu 2. A reunião atinge um grande número de Estados por não exigir vinculação jurídica ao documento final elaborado em 1975. Desta feita, as decisões emitidas ali baseavam-se em comprometimentos meramente políticos e não sancionáveis em caso de sua não observância. 1 2 Ver <http://www.osce.org/>. Acesso em: 12 mar. 2013. Sobre a personalidade jurídica da OSCE, ver: < http://www.osce.org/secretariat/36184>. 11 1.1.1. A criação da CSCE A ideia de convocar uma conferência sobre segurança europeia foi proposta pela URSS ainda na década de 503. Os países, passando por um período de tensão na segurança mundial, com os conflitos armados mencionados anteriormente e a crise dos mísseis de 1962, conseguem reunir-se somente na década de 70. Assim, nos anos de Ministros dos Estados-participantes em Helsinque, 1973. Fonte: OSCE (http://www.osce.org/secretariat/4925/) / LETHIKUVA 1973 (Helsinque e Genebra) e 1975 (Helsinque) foram realizadas as reuniões que implicaram a assinatura do Ato Final de Helsinque por representantes de 35 Estados4, incluindo duas nações do continente americano (Canadá e Estados Unidos). O documento estabelece linhas de orientação para o desenvolvimento de relações diplomáticas entre os Estados-participantes, através da “Declaração de Princípios que Guiam as Relações entre os Estados-participantes” e o “Documento de medidas de fortalecimento da confiança e certos aspectos de segurança e desarmamento”. Ademais, estabelece uma nova concepção de segurança não restrita ao campo militar, qual seja, a segurança compreensiva, entendida como a consecução de três grandes dimensões: a dimensão político-militar, a dimensão econômico-ambiental e a dimensão humanitária5. Basicamente, dez são os princípios estabelecidos no Ato Final de Helsinque que deveriam, a partir daquele momento, guiar a relação entre os Estados-participantes da CSCE: I – o princípio da igualdade soberana e do respeito aos direitos inerentes à soberania (Seção I); II – a proibição do emprego ou ameaça do emprego da força (Seção II); III – a inviolabilidade das fronteiras (Seção III); IV – a integridade territorial dos Estados (Seção 3 FERNANDES, Castro Teixeira; SOUSA, José Pedro. A Segurança da Europa Ocidental: Uma Arquitectura Euro-Atlântica Multidimensional. Lisboa: Fundação Calouste Geelbekian, 2002. p. 281. 4 Áustria, Bélgica, Bulgária, Canadá, Chipre, Dinamarca, Espanha, EstadosUnidos da América, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Iugoslávia, Liechtenstein, Luxemburgo, Malta, Mônaco, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido da Inglaterra e Grã-Bretanha, República Democrática da Alemanha, República Federal da Alemanha, Romênia, San Marino, Santa Sé, Suécia, Suiça, Turquia, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e Tchecoslováquia. 5 FERNANDES, Castro Teixeira; SOUSA, José Pedro. A Segurança da Europa Ocidental: Uma Arquitectura Euro-Atlântica Multidimensional. Lisboa: Fundação Calouste Geelbekian, 2002. p. 282. 12 IV); V – a resolução pacífica dos conflitos (Seção V); VI – a não intervenção nos assuntos internos dos Estados (Seção VI); VII – o respeito aos direitos do homem e às liberdades fundamentais, inclusive à liberdade de pensamento, consciência, religião e credo (Seção VII); VIII – os direitos iguais e autodeterminação dos povos (Seção VIII); IX – a cooperação entre os Estados (Seção IX) e, finalmente; X – o cumprimento de boa-fé das obrigações decorrentes do direito internacional (Seção X)6. Os dez princípios citados no parágrafo anterior permanecem inalterados até os dias de hoje e, conforme verifica-se na própria declaração, deverão ser aplicados de forma igualitária e independente de qualquer reserva em qualquer das áreas de atuação da Organização. Ou seja, terão aplicação obrigatória em todos os aspectos de “segurança” entendidos no Ato Final de Helsinque de 1975, lembrando que a segurança observada Erich Honecker, Primeiro Secretário da República Democrática Alemã assina o Ato Final de Helsinque. Logo ao lado, o Presidente dos Estados Unidos à época, Gerald Ford – 1º de Agosto de 1975. Fonte: OSCE (http://www.osce.org/mc/87188) / Budensarchiv e Host Sturm no documento (a outrora referida segurança compreensiva) abarca medidas de cooperação nos campos de economia, tecnologia e do meio ambiente, assim como o fortalecimento da confiança em aspectos de segurança, a promoção do desarmamento e a atenção especial conferida aos direitos humanos. As conferências seguintes tiveram como objetivo precípuo implementar os acordos e expandir o diálogo político entre os Estados-participantes. A primeira delas, na cidade de Belgrado em 1978 e a seguinte, em Madrid, em 1983, lograram pouco êxito, visto que as tensões decorrentes da Guerra Fria ganharam força a partir do final da década de 70 com “a intervenção militar da ex-URSS no Afeganistão, a repressão na Polônia e a decisão da OTAN de instalar os Euromísseis, como resposta aos SS20 do antigo Pacto de Varsóvia”7. 6 CONFERENCE ON SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Conference on Security and Cooperation Final Act. Helsinqui: CSCE, 1975. Disponível em: <http://www.osce.org/mc/39501?download=true>. Págs. 4-8. Acesso em: 27 mar. 2013. 7 FERNANDES, Castro Teixeira; SOUSA, José Pedro. A Segurança da Europa Ocidental: Uma Arquitectura Euro-Atlântica Multidimensional. Lisboa: Fundação Calouste Geelbekian, 2002. p. 283. 13 1.1.2. A Institucionalização da CSCE no Pós-Guerra Fria Sob o governo de Mikhail Gorbachev, a URSS sofreu alterações expressivas a partir do ano de 1985: a Perestroika (em português, reconstrução) e a Glasnost (em português, transparência) se firmam como pacotes de medidas econômicas e políticas para reestruturação e abertura progressiva do governo soviético, que culminariam no esfacelamento da grande potência em 1991. Ademais, a queda do muro de Berlim e a reunificação da Alemanha em 1989 também mudaram substancialmente o panorama geopolítico europeu. Naquela época, um grande número de Estados tornava-se independente, contudo, as nascentes democracias eram frágeis e a população migrava em massa para outros países do continente europeu em busca de melhores condições de vida. É nesse momento que a CSCE observou que seu objetivo inicial de promover o diálogo entre o leste e o oeste europeu encontrava-se comprometido, e o continente, no início da década de 90, já não lidava com as mesmas problemáticas do período de Guerra Fria. A Conferência precisava rever, portanto, suas perspectivas de trabalho, sob pena de ter sua importância reduzida na Europa. Diante disso, na Carta de Paris de 1990 para uma Nova Europa8, os Estadosparticipantes destacaram um novo comprometimento-chave para a Conferência: a defesa e consolidação da democracia como único sistema de governo de seus membros, a fim de buscar a paz e a unidade entre todos. É Cúpula dos Chefes de Estado de Paris – 19 de Novembro de 1990. Fonte: OSCE (http://www.osce.org/secretariat/4930) / George Bush Presidential Library. um comprometimento responsável, essencialmente por desenvolver uma nova ótica à dimensão humana de segurança compreensiva – a liberdade democrática. Os Estados-participantes se comprometeram, a partir daquele momento, a defender a liberdade de votar, a justiça no processo eleitoral, a liberdade de expressão e de imprensa, a tolerância a todos os grupos da sociedade e a igualdade de oportunidades para todas as pessoas9. Proteger a liberdade democrática, ainda hoje, é um dos focos da Organização, que, através de seu Escritório para Instituições Democráticas e Direitos Humanos (em inglês, The 8 Disponível em: <http://www.osce.org/mc/39516>. Acesso em: 30 mar. 2013. CONFERENCE ON SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Charter of Paris for a New Europe. Paris: CSCE, 1990. Pág. 4. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/39516>. Acesso em: 30 mar. 2013. 9 14 OSCE Office for Democratic Institutions and Human Rights – ODIHR), monitora e emite pareceres sobre o processo eleitoral de seus membros. No dia 8 de março deste ano, por exemplo, foi aberta missão para observar as eleições presidenciais em Montenegro que ocorreram no dia 7 de abril10. É imprescindível notar que, a partir do início da década de 1990, os regimes socialistas foram extintos no continente europeu e boa parte das nações do leste estava em transição para economia de mercado, o que repercutiu diretamente sobre a dimensão econômico-ambiental de segurança compreensiva da CSCE. Os países passavam a se comprometer com a liberdade econômica capitalista, a máxima eficiência econômica dos mercados e recursos econômicos, trazendo ainda a responsabilidade ambiental e o conceito de desenvolvimento sustentável como elementos indispensáveis ao progresso das nações europeias11. Em 1994, a CSCE passou a ganhar configurações institucionais mais sólidas. O Documento de Budapeste de 1994, em sua Seção I, art. 1º, destaca que a partir de 1º de janeiro do ano seguinte, a CSCE passava a ser OSCE, o que fortificou massivamente sua estrutura. Aqui, é acordada, por exemplo, a periodicidade das reuniões da Cúpula de Chefes de Estado, do Conselho Ministerial, do Fórum Econômico e do Conselho Permanente, além de definidas suas funções e as dos cargos de Presidente e Secretário-Geral (Capítulo I, arts. 19 e 20). Outros órgãos e cargos subsidiários foram criados em anos seguintes, como o Representante para Liberdade de Imprensa e o Alto Comissário das Minorias Nacionais. A temática órgãos e estrutura decisória da OSCE, entretanto, será tratada em tópico específico. A partir de 1994, a Organização também voltou-se para problemáticas mais específicas nos documentos emitidos por suas Cúpulas de Chefes de Estado e estabeleceu importantes missões diplomáticas. A OSCE passou a atuar na prevenção de conflitos nas regiões de Nagorno-Karabahkh, na Geórgia e na Moldávia12, além de ter sido criado, em seu âmbito, o Código de Conduta em Aspectos Político-Militares de Segurança e a definição dos 10 Disponível em: <http://www.osce.org/odihr/elections/100041>. Acesso em: 30 mar. 2013. CONFERENCE ON SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Charter of Paris for a New Europe. Paris: CSCE, 1990. Pág. 4. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/39516>. Acesso em: 30 mar. 2013. 12 Atualmente, a OSCE também possui missões em Kosovo, na Bósnia Herzegovina, em Montenegro, na Sérvia e na cidade de Escópia. 11 15 princípios de não-proliferação nuclear13. Recomenda-se a leitura do Documento de Budapeste de 1994 para facilitar a compreensão do funcionamento da Organização. 1.1.3. A atuação da OSCE frente aos desafios do século XXI Dois anos após o Documento de 1994, a Cúpula dos Chefes de Estado de Lisboa de 1996 tentou definir os parâmetros iniciais para um Modelo de Segurança Comum e Compreensivo para Europa do Século XXI. Os Estados-participantes discutiram a aplicabilidade dos princípios estabelecidos no Ato Final de Helsinque de 1975, reconhecendo as questões que estavam afetando diretamente a manutenção da segurança e paz no continente europeu, conforme leitura do art. 2º da Declaração de 1996: Nós enfrentamos desafios sérios, mas enfrentamos juntos. Eles estão relacionados à segurança e soberania dos Estados, além da estabilidade de nossas sociedades. Direitos humanos não são completamente respeitados por todos os Estados da OSCE. Tensão étnica, nacionalismo agressivo, violação dos direitos de membros de minorias, além das dificuldades na transição econômica, podem ameaçar a estabilidade e se espalhar para os outros Estados. Terrorismo, crime organizado, tráfico de armas e drogas, migração descontrolada e o aumento dos danos ambientais estão relacionados a toda a comunidade da OSCE14. Outro ponto levado em consideração na Declaração de 1996 foi a cooperação entre organizações internacionais. Sabendo-se que algumas têm competências comuns e desempenham atribuições semelhantes, a OSCE firmou cooperação com outras organizações que apresentam princípios similares àqueles insculpidos no Ato Final de Helsinque de 1975, como a própria ONU, a União Europeia e a OTAN, realizando importantes ações conjuntas e convidando representantes dessas organizações para suas reuniões mais importantes15. O final da década de 1990 e o início do século XXI foram marcados por diversos acontecimentos importantes para o continente europeu e o mundo como um todo: o movimento separatista foi intensificado em regiões como a Ossétia do Sul, Kosovo Transnístria, País Basco, dentre outros. Além disso, houve o destaque a um novo objeto de 13 CONFERENCE ON SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Budapest Document 1994: Towards a Genuine Partnership in a New Era. Budapeste: CSCE, 1994. pág. 8-12. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/39554?download=true6>. Acesso em: 02 abr. 2013. 14 ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Lisbon Document 1996. Lisboa: OSCE, 1996. pág. 10, trad. livre. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/39539?download=true>. Acesso em: 02 abr. 2013. 15 Disponível em: <http://www.osce.org/ec>. Acesso em: 02 abr. 2013. 16 intensas discussões a partir do atentado de 2001 nos Estados Unidos: o terrorismo. Esses fatores foram determinantes para o trabalho da Organização na última década. Em 1999, os Estados-participantes, reunidos na Cúpula de Istambul, assinaram a Carta para Segurança Europeia e o Documento de Viena de 1999 de Negociações nas Medidas de Construção de Confiança e Segurança16. Nesses documentos, criaram-se, na dimensão político-militar, os comprometimentos de combate ao “terrorismo internacional, extremismo violento, crime organizado e tráfico de drogas”17 (art. 4º da Carta para Segurança Europeia) e a necessidade de manter o Mediterrâneo e a Ásia Central estáveis e seguros, de modo a conferir uma ampla proteção aos Estados-participantes, que já totalizavam 55. A Cúpula dos Chefes de Estado de 1999 foi notável ainda por tentar fortalecer a confiança militar entre os Estados, incentivando a notificação prévia de exercícios militares, a troca de informações relacionadas a aspectos estruturais das forças armadas dos membros da Organização (art. 10) e a promoção do desarmamento; na dimensão humana, repudia expressamente a discriminação contra mulheres e crianças e, por fim; na dimensão econômica, exige maior efetividade no combate dos países contra corrupção. As reuniões seguintes deram ênfase especificamente à problemática do terrorismo. Em 2001, foi assinado o Plano de Ação de Bucareste para o Terrorismo18, em que houve tentativa de estabelecimento de medidas preventivas (art. 10 e ss.), ressaltando a importância dos Estados-participantes em promover os direitos humanos, a tolerância e o multiculturalismo, a prevenir conflitos violentos e movimentos terroristas, a combater o crime organizado, dentre outros fatores19. A Cúpula dos Chefes de Estado de Astana de 2010 20 limitou-se a reafirmar compromissos antigos e a vontade dos membros da Organização em construir uma comunidade segura. 1.2. Estrutura Decisória 16 Disponíveis em: <http://www.osce.org/mc/39569?download=true>. Acesso em: 02 abr. 2013. ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Istanbul Document 1999. Istambul: OSCE, 1999. Pág. 2. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/39569?download=true>. Acesso em: 02 abr. 2013. 18 Disponível em: <http://www.osce.org/atu/42524>. Acesso em 03 abr. 2013. 19 ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE.The Bucharest Plan of Action for Combating Terrorism. Bucareste: OSCE, 2001. pág. 8-12. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/40515>. Acesso em: 03 abr. 2013. 20 Disponível em: < http://www.osce.org/cio/74985?download=true>. Acesso em: 03 abr. 2013. 17 17 Em linhas gerais, a OSCE é composta por quatro órgãos decisórios: a Cúpula de Chefes de Estado, o Conselho Ministerial, o Conselho Permanente e o Fórum para Cooperação em Segurança. O Secretário Geral é o Chefe do Escritório Administrativo, escolhido para mandato de três anos pelo Conselho Ministerial. O cargo hoje é exercido pelo italiano Lamberto Zannier. Ligados a essa função, existem, ainda, órgãos como o Representante Especial e Coordenador de Combate ao Tráfico Humano, o Escritório para Instituições Democráticas e Direitos Humanos, o Alto Comissário das Minorias Nacionais, o Representante da Liberdade de Imprensa, dentre outros. Administrativamente, destaca-se ainda a função de Presidência21, exercida pelo Ministro de Relações Exteriores de qualquer um dos Estado-participantes que for designado como tal, por decisão do Conselho Ministerial, para mandato de um ano. O Estadoparticipante escolhido como Presidente ficará incumbido de realizar a reunião do Conselho do ano em que estiver no exercício da função. Em 2013, o Ministro ucraniano Leonid Kozhara é responsável pela realização do 20º Conselho Ministerial, que ocorrerá nos dias 5 e 6 de dezembro próximo. 1.2.1. Cúpula dos Chefes de Estado As Cúpulas de Chefes de Estado são reuniões orientadas pelo mais alto nível político representativo dos Estados- participantes22. São convocadas sempre que necessário e não possuem regular uma – tendo periodicidade a primeira ocorrido em Helsinque, em 1975; Cúpula dos Chefes de Estado de Astana 2010, Cazaquistão Fonte: OSCE (http://www.osce.org/mc/87200) / Vladimir Trofimchuk a segunda em Paris, em 1990; a terceira em Helsinque, em 1992; a quarta em Budapeste, em 1994; a quinta em Lisboa, em 1996; a sexta em Istambul, em 1999; e a sétima em Astana, em 2010. 21 22 Disponível em: <http://www.osce.org/cio>. Acesso em: 04 abr. 2013. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/43197>. Acesso em: 04 abr. 2013. 18 Os documentos produzidos nas Cúpulas são de extrema importância para OSCE e são responsáveis, por exemplo, por estabelecer as suas prioridades de trabalho e apresentar um direcionamento à atuação da Organização a partir daquele momento. A partir da leitura de qualquer das Declarações e Documentos emitidos nas Cúpulas de Chefes de Estado, pode ser facilmente observado que esse órgão não enfrenta situações concretas que afetem a segurança do continente. Tal órgão torna-se responsável, basicamente, pela estruturação da Organização, levando as questões correntes para os órgãos decisórios “inferiores”, como será exposto em linhas seguintes. 1.2.2. Conselho Ministerial Órgão que será simulado na XIII SOI, o Conselho Ministerial é, sem dúvidas, o órgão central e mais importante da estrutura decisória da Organização23. Criado pela Carta de Paris de 1990 para uma Nova Europa como Conselho de Ministros das Relações Exteriores, foi reafirmado 17º Conselho Ministerial da OSCE – Atenas 2009, Grécia. Fonte: OSCE (http://www.osce.org/mc/11570) / George Kontarinis como órgão decisório principal no Documento de Helsinque de 1992 e renomeado para Conselho Ministerial no Documento de Budapeste de 1994. O Conselho reúne-se anualmente, em geral no mês de dezembro, a fim de discutir as problemáticas mais relevantes daquele ano para a OSCE e tomar as decisões cabíveis. É o órgão que lida diretamente com o maior número de questões, dentre as quais se destacam o controle de armas, a segurança nas fronteiras, o combate ao tráfico humano e ao terrorismo, a prevenção e resolução de conflitos, as atividades econômicas e ambientais, a educação, as eleições, a igualdade de gênero, os direitos humanos, a liberdade de imprensa, a reforma e cooperação militar, os direitos de minorias, o policiamento, a tolerância e não discriminação, dentre outros24. 23 24 Disponível em: < http://www.osce.org/mc/43196>. Acesso em: 04 abr. 2013. Disponível em: < http://www.osce.org/what>. Acesso em: 04 abr. 2013. 19 Em 2013, na XIII SOI, como já foi pontuado anteriormente, simularemos a 20ª reunião do Conselho Ministerial, situada na cidade de Kiev, Ucrânia. 1.2.3. Conselho Permanente Conselho Permanente da OSCE em Hofburg, Viena – 29 de Janeiro de 2009. Fonte: OSCE (http://www.osce.org/pc/10202) / Mikhail Evstafiev. O Conselho Permanente reúne-se semanalmente na sede da OSCE, em Viena, e é responsável pelas consultas genéricas e decisões regulares sobre todas as temáticas em que existe atuação da Organização25. É formado, como os outros órgãos da estrutura decisória, por 57 delegações. 1.2.4. Fórum para Cooperação em Segurança Também reunindo-se semanalmente em Viena, o Fórum para Cooperação em Segurança, criado na Cúpula de Chefes de Estado de Helsinque de 1992, é responsável, em essência, pelo foco político-militar da Organização. Contando com 57 delegações, a sua presidência é rotativa, exercida pelo curto mandato de quatro meses 26. É um fórum onde se discute constantemente medidas de confiança e de reforço na segurança do continente. 25 26 Disponível em: < http://www.osce.org/pc>. Acesso em: 04 abr. 2013. Disponível em: < http://www.osce.org/fsc>. Acesso em: 04 abr. 2013. 20 1.3. Natureza Decisória O aspecto mais interessante da Organização, e que não pode ser esquecido durante a simulação, é o seu caráter eminentemente político, a sua natureza cooperativa intragovernamental. A CSCE nasceu como um acordo político do mais alto nível entre seus Estados-participantes e não propriamente por um tratado solene ou carta constitutiva. Ainda hoje, a Organização privilegia uma estrutura institucional bastante flexível e distante da estrutura burocratizada da maioria das Organizações Internacionais27. As decisões emitidas pelos quatro órgãos decisórios são advindas de voluntarismo político do Estado e não possuem vinculação jurídica. Entretanto, por serem resolvidas por meio do consenso, o qual, segundo as regras de procedimento 28, deve ser entendido como a “ausência de qualquer objeção expressa por qualquer Estado-participante para adoção da decisão em questão”, gozam de maior efetividade. Trazendo esse caráter político consensual, não se pode falar que os documentos emitidos pela OSCE são de caráter recomendatório, tampouco vinculativo, uma vez que a Organização não possui órgãos para execução compulsória de suas decisões. Espera-se, na verdade, que os Estados-participantes adotem e executem individualmente de boa-fé o que decidirem de forma unânime nas reuniões da Cúpula de Chefes de Estado, do Conselho Ministerial, do Conselho Permanente e do Fórum para Cooperação em Segurança, tendo em vista que todos são representados e possuem igual direito de voto. Duas circunstâncias, contudo, são reconhecidas como exceções ao princípio do consenso, apresentado nos parágrafos anteriores: a primeira delas foi estabelecida no art. 16 da Seção IV do Documento de Praga de 199229, (I) aqui nos casos de clara e grosseira violação de comprometimentos-chaves da OSCE, se necessário ao consenso, o Estadoparticipante violador poderá perder seu direito ao voto; ou de acordo com o Documento de Estocolmo de 199230, (II) os Estados em litígio não poderão participar das decisões diretamente relacionadas com o conflito. 27 FERNANDES, Castro Teixeira; SOUSA, José Pedro. A Segurança da Europa Ocidental: Uma Arquitectura Euro-Atlântica Multidimensional. Lisboa: Fundação Calouste Geelbekian, 2002. p. 292. 28 Disponível em:< http://eeas.europa.eu/delegations/vienna/documents/eu_osce/rules_of_procedure_en.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2013. 29 Disponível em: <http://www.osce.org/mc/40270>. Acesso em: 04 abr. 2013 30 Disponível em: <http://www.osce.org/mc/40342>. Acesso em: 04 abr. 2013. 21 2. Controle de Armas e Segurança nas Fronteiras Europeias Primeiramente, para uma adequada compreensão acerca do tema em comento, se faz imprescindível destacar a definição da matéria, bem como sua correlação com o Direito Internacional. Sendo assim, inicia-se salientando a diferença entre Desarmamento e Controle de Armas, apesar desses conceitos estarem intimamente ligados. O primeiro consiste na aniquilação, no todo ou em parte, de tipos específicos de armas em determinado país; o segundo, por sua vez, tem por escopo estreitar condutas concernentes à criação, distribuição e utilização de alguns tipos de arsenais. Dessa forma, como se há de prever, o desarmamento pode constituir-se como uma decisão unilateral do Estado, à medida que o controle de armas, frequentemente, resulta de vontade multilateral, isto é, de diversos Estados. Entretanto, principalmente a partir do século XX, os tratados e convenções internacionais passaram a abordar tanto o desarmamento, quanto o controle de armas31. Os Costumam tratados internacionais ser utilizados quando o tema se limita aos interesses dos Estados claramente abarcados. Já as convenções internacionais detêm uma maior compreensão, atingindo não só os Estados signatários, mas também os não signatários sujeitos através de consentimento tácito ou Manifestantes em prol do controle de armas. expresso32. Para que os tratados ou Fonte: <www.people.howstuffworks.com>. convenções internacionais acerca do controle de armas sejam cumpridos plenamente, se faz necessário, por parte dos Estados envolvidos, fiscalizações recíprocas, de modo eficiente. Além disso, torna-se imprescindível a conscientização dos Estados e organismos internacionais atingidos, direta ou indiretamente, sobre as metas que embasam as negociações, assim como a disposição destes em efetivar tais metas. No âmbito da Organização que será simulada, salvo as duas situações previstas no art. 31 ALVES, Ricardo Luiz. O controle de armas e o desarmamento e o Direito Internacional Público. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6040/o-controle-de-armas-e-desarmamento-e-o-direitointernacional-publico>. Acesso em: 02 abr. 2013. 32 Idem. 22 16, Seção IV do Documento de Praga de 1992 e no Documento de Estocolmo de 1992, que tratam das exceções ao princípio do consenso33, os Estados-participantes da OSCE para emitirem documentos, devem executá-los de boa-fé e decidi-los de forma unânime. Para que os tratados sobre controle de armas sejam mais facilmente aceitos e cumpridos de maneira efetiva pelos Estados, é necessário que se delimitem e se especifiquem os tópicos abordados nos mesmos, e que se estabeleçam validades corroboradas pelas partes. Por fim, é relevante ressaltar que o controle de armas não se refere ao embargo destas, sendo esse tido como um bloqueio, temporário ou não, da comercialização ou distribuição de armas a outros Estados, por questões de interesses logísticos internacionais34. No que tange à Segurança nas Fronteiras Europeias, é de se observar que a Europa possui posição estratégica, fazendo fronteira com diversos países, muitos deles de outros continentes, e, Policias romenos observam veículo vindo da Moldávia na fronteira de dessa maneira, exercendo Sculeni. profunda influência sobre os Fonte: <www.presseurop.eu>. mesmos. Todavia, os limites dispostos no continente Europeu nem sempre lhe acarretam consequências positivas. A acentuada proximidade com países politicamente instáveis acaba por gerar tensão, por diversas vezes, em todo o continente. Portanto, realizar a efetiva segurança de suas fronteiras se faz imprescindível à Europa, uma vez que protegê-las significa também zelar por toda sua população. É fundamental, porém, atentar que não apenas as fronteiras estabelecidas com países externos ao continente Europeu merecem atenção. As fronteiras entre os próprios países europeus carecem também de constante proteção, visto que vários conflitos internos se fazem presentes na região, a exemplo dos conflitos de natureza étnica. Estados politicamente instáveis, bem como alguns grupos étnico-separatistas armados colocam em risco a segurança 33 Disponível em:< http://www.osce.org/mc/40270>. Acesso em: 05 abr. 2013 ALVES, Ricardo Luiz. O controle de armas e o desarmamento e o Direito Internacional Público. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6040/o-controle-de-armas-e-desarmamento-e-o-direitointernacional-publico>. Acesso em: 02 abr. 2013. 34 23 de toda a Europa. Ademais, o tráfico ilegal de armas ainda é uma realidade presente na região. Posto isso, se faz fundamental tratar do histórico das questões suscitadas. Iniciando pelo período da Segunda Guerra Mundial – época em que o controle de armas e a segurança nas fronteiras europeias começam a ganhar destaque, ainda que acontecimentos anteriores tenham tratado sobre a matéria, como será aqui exposto – tem-se que essa foi um conflito iniciado no ano de 1939, quando dois grupos se enfrentaram: os Aliados (URSS, Inglaterra, França e Estados Unidos) versus o Eixo (Alemanha, Itália e Japão); desenvolvendo-se a princípio na Europa e dispersando-se posteriormente. Diversos motivos contribuíram para o estopim desta guerra, dentre os quais: o advento, na Europa, de governos totalitários que possuíam metas militares com o escopo de expansões territoriais; a imposição do Tratado de Versalhes, em 1919, às nações derrotadas na Primeira Guerra Mundial, estabelecendo punições aos países que compunham a Tríplice Aliança; e a Crise de 192935. Em 1945, a guerra chega ao seu fim, com vitória dos Aliados sob o Eixo e diversas consequências, desde a morte de milhares de japoneses por meio das bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki até a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, com o intuito de garantir a paz entre os Bomba atômica. países. Fonte: <www.hypescience.com>. De fato, o controle de armas já havia, de certa forma, mostrado sua faceta, através do Tratado de Versalhes, em 1919, imposto à Alemanha, considerada a principal responsável pela Primeira Guerra Mundial, determinando, entre outras medidas punitivas, certas condutas relativas à utilização dos arsenais alemães, – a fim de reprimir uma nova corrida armamentista, como a que desencadeou a Primeira Guerra – quais sejam: o exército alemão não poderia ser formado por meio de alistamento obrigatório, nem suas tropas ultrapassarem 35 MIRANDA, Francisco. Os motivos da Segunda Guerra Mundial. Disponível <http://www.portalfeb.com.br/os-motivos-da-segunda-guerra-mundial>. Acesso em: 02 abr. 2013. em: 24 100 mil soldados; redução do número de navios de guerras alemães; restrição relativa a produção de certos tipos de armamentos36. Além disso, em 1922, outro tratado aborda também, de certa maneira, o Controle de Armas. O Tratado Naval de Washington, e seu aderente legal, o Tratado de Londres de 1930, tiveram por fim conter a corrida armamentista, no que dizia respeito ao planejamento e criação de belonaves militares por parte dos Estados signatários. Todavia, a concreta efetivação dos presentes tratados foi marcada pelo insucesso37. Com a motivação do Tratado de Versalhes, entre outros fatores, dá-se início a Segunda Guerra Mundial e há, assim, durante a mesma, a utilização em larga escala dos mais variados tipos de armamentos – a exemplo das armas recém-criadas pelos alemães que foram enviadas e testadas na Guerra Civil Espanhola – culminando, por fim, na utilização de bombas nucleares por parte dos Estados Unidos, que demonstraram para o mundo seu poderio bélico. Dessa forma, finda-se a guerra e inicia-se a era nuclear, que se originou pouco antes do atentado às cidades japonesas, através do primeiro teste com uma bomba de plutônio realizado no deserto do Novo México – tentativa que fez parte do Projeto Manhattan38. No período do mencionado conflito, com as conquistas de territórios por parte de certos países e consequentes expansões territoriais, assim como a perda de regiões por outros, várias fronteiras foram redefinidas. Em 1945, na Conferência de Yalta, ocorreu a divisão do mundo entre a Inglaterra, Estados Unidos e URSS. Ademais, a Alemanha, após sua rendição, seria dividida em quatro zonas de ocupação, uma para cada país anteriormente citado e a outra para a França. Foram assinados também, nessa conferência, acordos com o escopo de garantir um fim célere à guerra e a manutenção do status quo do mundo no pós-guerra39. Logo após a Segunda Guerra Mundial, instaura-se a Guerra Fria, a qual se estende até o ano de 1991, com a dissolução da URSS. A Guerra Fria consistiu em um embate ideológico entre os Estados Unidos e a URSS, que tinha por objetivo a expansão das áreas do capitalismo, defendido pelos Estados Unidos, e do socialismo, apoiado pela URSS. Essas 36 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3 ed.São Paulo: Moderna, 2007, 539 p. 37 ALVES, Ricardo Luiz. O controle de armas e o desarmamento e o Direito Internacional Público. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6040/o-controle-de-armas-e-desarmamento-e-o-direitointernacional-publico>. Acesso em: 03 abr. 2013. 38 NOTICIAS UNIVERSIA. Linha Do Tempo Dos Tratados Nucleares. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/02/18/489721/linha-do-tempo-dos-tratadosnucleares.html>. Acesso em: 03 abr. 2013. 39 EDUCA TERRA. A Conferência De Yalta. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2003/11/28/004.htm>. Acesso em: 03 abr. 2013. 25 eram consideradas as duas potências mundiais que constituíam, assim, um mundo bipolar. O conflito pautava-se na questão da hegemonia de uma das ideologias – capitalista ou socialista –, uma vez que esta supremacia ideológica carregaria consigo a hegemonia da potência defensora da mesma. Dessa forma, o período da Guerra Fria gerou uma tensão mundial, uma vez que as duas superpotências mundiais competiam para conquistar áreas de influência, a única restrição aqui seria um confronto armado direto entre os Estados Unidos e a URSS. Todavia, uma corrida tecnológica e armamentista ocorria, nesse período, em ambos os países, marcada, por exemplo, pela evolução das armas nucleares40; além de que entre os anos de 1950 a 1990 os Estados Unidos e a URSS realizavam a venda de armas para seus aliados, visto que os mesmos eram tidos como essenciais para as superpotências no referido período de Guerra41. Em 1949, devido ao profundo clima de tensão existente entre os Estados Unidos e a URSS, ou seja, entre o mundo capitalista e o socialista, foi criada, pelos Estados Unidos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que consistia numa aliança políticomilitar com o objetivo de combater a expansão OTAN versus Pacto de Varsóvia. Fonte: <www,portfoliogeografiadamona.blogspot.com>. do comunismo e se defender de um possível ataque soviético. Inicialmente foi constituída pelos Estados Unidos, França, Bélgica, Canadá, Países Baixos, Dinamarca, Reino Unido, Luxemburgo, Noruega, Finlândia, Itália e Portugal. Em contrapartida, a URSS, em 1955, fundou o Pacto de Varsóvia, sendo, também, uma aliança militar, em que faziam parte países do Leste Europeu, e, em momento posterior, a Alemanha Oriental42. Desse modo, a OTAN e o Pacto de Varsóvia marcaram fortemente a possibilidade de uma guerra, àquela época, entre os Estados Unidos e a União Soviética. A partir de 1960, a venda de armas passou a constituir-se como um negócio comercial que envolvia também os governos dos Estados exportadores de armas. Uma vez que os 40 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3 ed.São Paulo: Moderna, 2007, p. 605. 41 ALVES, Ricardo Luiz. O controle de armas e o desarmamento e o Direito Internacional Público. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6040/o-controle-de-armas-e-desarmamento-e-o-direitointernacional-publico>. Acesso em: 02 abr. 2013. 42 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3 ed.São Paulo: Moderna, 2007, 606 p. 26 armamentos tornavam-se cada vez mais tecnológicos e letais, os governos desses Estados passaram a estabelecer certo controle de armas, sobretudo para os países politicamente instáveis. Dessa forma, devido à disseminação desmedida de venda de armas pós-Segunda Guerra, o controle de armas, tanto regional quanto global, ganhou força43. Por volta de 1963, vários acordos relativos a utilização de arsenais começaram a ser traçados, a saber: Tratado assinado em 1963, pela URSS, Estados Unidos e Grã-Bretanha em que se proibiam testes nucleares atmosféricos44; Tratado sobre a Não Proliferação de Armas (TNP), de 1968; Tratado assinado em 1971, que veda teste com armas nucleares e armas de destruição massiva nos locais como fundo de mares, subsolo e oceanos 45; Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (TINF) de 1987, o qual foi assinado pelos Estados Unidos e URSS, e acordava na extinção dos mísseis nucleares de médio alcance na Europa46; e o Tratado assinado em 1991 pelo presidente George Bush e Mikhail Gorbatchev acordando a diminuição de um terço dos armamentos nucleares47. O Tratado de Não Proliferação de Armas (TNP) ganhou destaque quando entrou em vigor (1970), sendo examinado até os dias atuais em um intervalo de cinco anos, com o escopo de revisão. No período da Guerra Fria, o tratado versava sobre uma negociação diplomática, onde os Estados renunciariam o acesso às armas nucleares, em contrapartida das superpotências desarmarem-se e garantirem meios que proporcionassem a produção de energia nuclear com fins pacíficos. Atualmente esse tratado tem por objetivo evitar uma guerra nuclear, garantindo, nesse sentido, a paz mundial48. 43 ALVES, Ricardo Luiz. O controle de armas e o desarmamento e o Direito Internacional Público. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6040/o-controle-de-armas-e-desarmamento-e-o-direitointernacional-publico>. Acesso em: 02 abr. 2013. 44 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Cronologia: União Sovietica. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/000000_curss.shtml>. Acesso em: 04 abr. 2013. 45 NOTICIA UNIVERSIA. Linha Do Tempo Dos Tratados Nucleares. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/02/18/489721/linha-do-tempo-dos-tratadosnucleares.html>. Acesso em: 04 abr. 2013. 64 OPERA MUNDI. Hoje Na História: 1987 – Gorbachev Anuncia Que Urss Está Pronta Para Banir Armas Atômicas. Disponível em: < http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/27456/hoje+na+historia+1987+%96+gorbachev+anuncia+que+u rss+esta+pronta+para+banir+armas+atomicas.shtml>. Acesso em: 05 abr. 2013. 47 NOTICIA UNIVERSIA. Linha Do Tempo Dos Tratados Nucleares. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/02/18/489721/linha-do-tempo-dos-tratadosnucleares.html>. Acesso em: 04 abr. 2013. 48 SIMULAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS. Guia de Estudos da Agência Internacional de Energia Atômica 2012. Disponível em: < http://www.soi.org.br/upload/6fe63f29cc025beb79528c650bb0aa201356598f22e110bd44db364fdaeea45c.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013. 27 Um problema ainda enfrentado pela eficácia desse tratado consiste na posição das grandes potências mundiais em se comportar como se ele versasse unicamente sobre a não proliferação, e, por conseguinte, demandam profundo controle para o uso pacífico da energia nuclear. Entretanto, não atentam para o fato de que se comprometeram também para com a eliminação dos arsenais nacionais e quaisquer meios de lançamento, a cessação de fabricação e a liquidação dos estoques49. A partir da assinatura dos vários acordos que versavam sobre o estreitamento da corrida armamentista, anteriormente citados; do enfraquecimento da economia soviética, com consequente crise do modelo socialista e extinção da URSS; bem como a queda do Muro de Berlim, a Guerra Fria chega ao seu fim em 1991. Por fim, faz-se necessário expor acerca da Segurança nas Fronteiras Europeias no período da supracitada guerra, bem como no momento pós-Guerra Fria. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e posteriormente, com a dissolução da URSS em 1991, as fronteiras europeias foram reestabelecidas, ficando mais passíveis de influências estadunidenses. Além disso, países recém independentes da URSS estavam debilitados politico-economicamente, o que acabou por desencadear conflitos internos étnico-fronteiriços. Dessa forma, a venda de armas por parte dos Estados-exportadores apenas se intensificou nessa época. 3. A Problemática Atual É de fundamental importância para o entendimento do mercado global de armamentos que se tenha alguma noção do seu tamanho e abrangência. Não há um consentimento nem por parte dos Estados, nem das organizações responsáveis pelo controle dos itens envolvidos no comércio de armas quanto à sua definição específica. Isso se dá em virtude do grande número de armamentos produzidos e suas diferentes complexidades e funções. Não existe tampouco um comum acordo sobre quais atividades seriam classificadas como “comércio de armas”, pois existem muitas ações distintas que se enquadram como tal. 49 ELETRONUCLEAR. Panorama de Energia Nuclear No Mundo. Ed. Novembro de 2011. ELETRONUCLEAR: Rio de Janeiro, 2011. p. 125. Disponível em: <http://www.eletronuclear.gov.br/LinkClick.aspx?fileticket=GxTb5TAen5E%3D&tabid=297>. Acesso em: 5 abr. 2013. 28 Alguns exemplos seriam: empréstimos de armamentos entre os Estados; presentes e/ou doações; venda de tecnologia para a produção dos armamentos e equipamentos militares; bem como atualizações e serviços relacionados a essa transferência de armas50. Além dos fatores citados anteriormente, outro que dificulta o controle do comércio de armamentos e a apuração de dados precisos é a falta de transparência de alguns fornecedores e destinatários de armas quanto ao valor das transações comerciais, bem como a quantidade que foi transferida. Encontra-se dificuldade no controle desta atividade também devido à multiplicidade de sujeitos envolvidos nas relações de comércio. Ademais, além dos países (governos) em si, existem diversas empresas militares (públicas e/ou privadas), organizações independentes, etc. O resultado disso é uma variedade de diferentes definições do comércio internacional de armas e estimativas quanto à sua escala, o que prejudica quaisquer esforços para o controle sobre as transferências através de um futuro tratado internacional que trate do tema. Os gastos militares representam uma atividade econômica importantíssima para a dinâmica financeira entre os países do globo. O fluxo de capital resultante da compra e venda de armamentos e posterior aplicação dos lucros influencia de maneira tal a economia das nações envolvidas, que mesmo em meio à crise financeira corrente desde 2008, tem-se no Comércio Internacional de Armas uma das poucas áreas que sofreram minimamente com a recessão e os cortes orçamentários feitos pelos governos de alguns países. A década passada, marcada pelos atentados terroristas aos Estados Unidos em 2001 e o posterior início da “Guerra ao Terror”, foi o momento crucial para a expansão e fortalecimento do comércio de armas como atividade comercial. A grande demanda ocasionou a produção em larga escala e o desenvolvimento tecnológico dos aparatos bélicos, mas também contribuiu – com as guerras no Afeganistão e Iraque – para o aumento da militarização no Oriente Médio. De acordo com as estimativas do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), os gastos militares não tiveram aumento exponencial entre 2011-2012 pela primeira vez em 13 anos, somando um valor estimado em cerca de $1,7 trilhões de dólares51 – ou 2,5 50 HOLTOM, Paul; BROMLEY, Mark. The International Arms Trade: Difficult to Define, Measure, and Control. Disponível em: <http://www.armscontrol.org/act/2010_07-08/holtom-bromley>. Acesso em: 13 abr. 2013. 51 EVANS, Gareth. SIPRI Yearbook 2012: Armaments, Disarmament and International Security. Disponível em: http://www.sipri.org/yearbook/2012/files/SIPRIYB12Summary.pdf>>. Acessoem: 07 abr. 2013. 29 % do Produto Interno Bruto (PIB) mundial – que, se comparado com os valores de 2010, $1,6 trilhões, mostra uma taxa de crescimento menor do que nos anos anteriores. Na Europa Central e Ocidental, os governos implantaram medidas rígidas de combate à crise que incluíram cortes nos orçamentos militares. Em países como a Espanha, Itália e Grécia, as medidas tomadas foram de caráter urgente, visto que estas nações não tinham meios para quitar seus débitos, recorrendo, inclusive, à ajuda financeira da União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A queda nos gastos militares não foi vista com bons olhos pelos grandes exportadores da Europa e América do Norte, os quais teceram severas críticas quanto à capacidade dos países europeus de sustentarem suas obrigações nas demandas militares. A consequência dessa minimização dos gastos nos armamentos foi percebida claramente quando a demanda por armamentos na Europa cai 20% em quatro anos, o Reino Unido sai da lista dos cinco principais exportadores de armamentos e a China ocupa seu lugar. 52 A tentativa de diminuição das importações se torna mais evidente quando em 2012, tanto a Holanda quanto a Itália reduzem suas encomendas de aviões de combate americanos F-35, e ao mesmo tempo a Bulgária, a Croácia e a Romênia (entre outros Estados) procuram exportar os armamentos adquiridos por eles. Os cinco maiores exportadores de armas de grande porte durante o período de 20082012 foram os Estados Unidos (30% das exportações globais), Rússia (26%), Alemanha (7%), França (6%) e China (5%). Nota-se, recentemente, que as exportações de países desenvolvidos para os em desenvolvimento vêm crescendo a fim de modernizar setores estratégicos dentro daquilo que é pertinente à defesa nacional e criam um novo mercado consumidor para as potências bélicas. A exportação para certos países em desenvolvimento na Ásia, no Oriente Médio ou mesmo na América Latina pode ser preocupante para determinadas organizações, no sentido de que amplificar o poderio armamentista implica, consequentemente, aumento da instabilidade de regiões por vezes já problemáticas. O comércio mundial de armamentos é, por excelência, dominado por empresas de países desenvolvidos. Das 100 maiores empresas, 85 tem suas matrizes nessas nações. Mas, nos últimos anos, esse quadro tem começado a mudar, ao passo que países em 52 SIPRI. China replaces UK as world’s fifth largest arms exporter. <http://www.sipri.org/media/pressreleases/2013/ATlaunch>. Acesso em: 10 abr. 2013. Disponível em: 30 desenvolvimento como Brasil, China, Índia, Israel, Paquistão, Cingapura, Coreia do Sul, África do Sul e Turquia passam a conquistar espaço no mercado. 53 3.1. As Armas de Pequeno Porte e o Mercado Negro de Armamentos Apesar do controle das exportações/importações armamentistas de grande porte ser de fundamental relevância para os propósitos da OSCE de manutenção da segurança e desenvolvimento regional, a organização dá prioridade ao controle e combate da proliferação das chamadas armas de pequeno porte. Essas armas menores são conhecidas pelo termo “SALW”, que significa Small Arms and Light Weapons. Armas de pequeno calibre (Small Arms) são projetadas para o uso pessoal – como revólveres, rifles, pistolas e carabinas – ou, ainda, submetralhadoras, rifles de assalto e metralhadoras leves. Light Weapons, por sua vez, designa armas de médio calibre e explosivos, transportáveis por um veículo ou mesmo por uma única pessoa, apesar de serem desenvolvidas para o uso em grupo. Armas brancas – como facas – não configuram nessa categoria por não disparar projéteis por meio do disparo de um explosivo. 54 O enfoque sobre a importância do combate à proliferação dessas armas pela OSCE dáse pela fácil distribuição das SALW, visto que em sua maioria são portáteis e podem ser facilmente deslocadas de um lugar para outro sem passar pelos rigorosos registros alfandegários, sendo produto valioso no tráfico internacional de armamentos e no mercado negro. O não registro nas fronteiras abre margem para diversos problemas, tais quais a não obtenção de dados exatos sobre o fluxo dessas armas e o não conhecimento do número potencialmente perigoso de armas que adentram um território por suas autoridades. A transferência desses recursos bélicos por interesses políticos é algo bastante frequente na história e nem sempre foram recursos distribuídos com escopos comerciais. Durante os anos de Guerra Fria, por exemplo, ocorreu a transferência de armas carregadas de objetivos ideológicos. Em 1979, os Estados Unidos distribuíram para grupos armados no Afeganistão material bélico a fim de conseguir apoio deles contra as forças da União Soviética. Com o fim do conflito, o grupo afegão Talibã manteve a posse desse material, que 53 SEDGHI, Ami. Arms sales: Who are the world's 100 top arms producers? Disponível em: <http://www.guardian.co.uk/news/datablog/2012/mar/02/arms-sales-top-100-producers>. Acessoem: 13 abr. 2013. 54 DONOWAKI, Ambassador Mitsuro. Small Arms and Light Weapons and the challenge of terrorism. Disponível em: <http://www.mofa.go.jp/mofaj/gaiko/arms/sw/dnw_200208e.html>. Acesso em: 14 abr. 2013. 31 eventualmente foi usado contra as próprias forças americanas na resistência contra a ocupação estrangeira. O auge de produção dessas armas de pequeno porte ocorreu durante a Guerra Fria. O modelo AK-47, criado55 por Mikhail Kalashnikov em 1947, principalmente, tornou-se bastante popular e foi produzido em larga escala por diversos países do mundo. O transporte fácil, o bom custo-benefício e a fácil manutenção fazem dessa arma ainda uma das mais populares dos conflitos da atualidade. Grupos extremistas como o ETA e o IRA por vezes fazem uso de SALW ou Homemade Artillery (Armamentos construídos em casa) para as suas “ações”. É importante ressaltar que esses grupos armados surgem a partir da insatisfação de algum ramo da sociedade que se agrupa e organiza-se belicamente para defender suas ideologias e, de regra, não têm representação política. Os que contam com esse apoio político, no entanto, são reconhecidos na sociedade internacional como beligerantes. Para a manutenção da segurança europeia, é papel da OSCE evitar ações terroristas de tais grupos a fim de se ter uma convivência pacífica. Entende-se por grupos terroristas aqueles que utilizam do terror como meio de coerção. Para o ex-Secretário Geral da ONU56, Kofi Annan, entende-se por terrorismo: Qualquer ato que tem como objetivo causar a morte ou provocar ferimentos graves em civis ou qualquer pessoa que não participa ativamente das hostilidades, numa situação que visa intimidar a população ou compelir um governo ou uma organização internacional a fazer ou a deixar de fazer qualquer ato. Como exposto anteriormente, os governos ocidentais costumavam, no período da Guerra Fria, fornecer armas e outros aparatos para os seus aliados 57. Contudo, com o fim da guerra, os grupos rebeldes precisavam descobrir um novo método de financiamento de suas armas. Com o advento da globalização, o crime organizado e as trocas no mercado negro foram os meios mais fáceis de manutenção das reservas armamentistas. 55 M. K. MUSEUM. Mikhail Kalashnikov's Biography. Disponível em: <http://en.museummtk.ru/armourers/kalashnikov/biography/>. Acesso em: 13 abr. 2013. 56 AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Terrorismo: um conceito muito empregado e pouco explicado. Disponível em: <http://www.aticaeducacional.com.br/htdocs/secoes/atual_geop.aspx?cod=740>. Acesso em: 14 abr. 2013. 57 DHANAPALA, Jayantha. Multilateral Cooperation on Small Arms and Light Weapons: From Crisis to Collective Response: United Nations Under-Secretary-General for Disarmament Affairs. Disponível em: <http://www.watsoninstitute.org/bjwa/archive/9.1/SmallArms/Dhanapala.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2013. 32 É um desafio não só para a OSCE, mas também para outras organizações e órgãos estatais, lidar com o combate ao crime organizado. As atividades ilícitas praticadas por elas vão desde a lavagem de dinheiro e sequestros até tráfico de seres humanos e de narcóticos. Por ser um negócio lucrativo e arriscado, a utilização de armamentos é imprescindível para o “funcionamento da organização”. As SALW são a escolha mais provável de utilização, e o tráfico das armas de pequeno porte por essas facções torna-se um negócio não somente lucrativo como também vitalmente necessário. Tanto o tráfico de narcóticos como o de armas são fatores que contribuem para uma séria desestabilização regional. Se a organização criminosa for sistematizada e tiver meios, a corrupção de agentes estatais pode significar fiscalização “branda” e sem tantos trâmites burocráticos para a comercialização dos produtos. Com o fim da URSS em 1991, as rotas de tráfico atingiram maior complexidade e passou-se a usar países subdesenvolvidos devido à grande facilidade de atravessar as fronteiras. Desta forma, o controle nas fronteiras e, por conseguinte, do tráfico de armas de pequeno/médio porte são também meios de se combater o próprio narcotráfico. Do mesmo modo, se a circulação de drogas diminuísse e eventualmente também o dinheiro que ela gera, haveria um desequilíbrio no poder dos grupos que usam as armas como meios de opressão da população e das próprias autoridades. Visto que o mercado negro de drogas e armamentos requer uma cadeia criminosa multinacional para funcionar, faz sentido que o combate dessas atividades ilegais também requeira uma cooperação internacional de vários países, bem como das estruturas organizacionais de um mesmo Estado. São necessários mecanismos de controle regional, nacional e internacional58. 3.1.1. As empresas de segurança privada e os mercenários Em 1991, com o fim da Guerra Fria, a dissolução da URSS e a abertura para comércio internacional de armas, além do que já foi exposto, surgiram outros participantes a fim de desempenhar suas atividades na nova ordem econômica mundial. 58 DHANAPALA, Jayantha. Multilateral Cooperation on Small Arms and Light Weapons: From Crisis to Collective Response: United Nations Under-Secretary-General for Disarmament Affairs. Disponível em: <http://www.watsoninstitute.org/bjwa/archive/9.1/SmallArms/Dhanapala.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2013 33 Os antigos soldados das potências durante a Guerra Fria, sem emprego devido às desmobilizações das tropas e o não tão mais necessário treinamento militar, passaram a aplicar seu conhecimento no recente e promissor negócio de segurança privada. Passou-se a desenvolver o trabalho das empresas privadas militares e de segurança, bem como a atuação de mercenários que desenvolviam serviços como combate e suporte operacional; treinamento e aconselhamento militar; aquisição de armamentos; suporte logístico; serviços de inteligência e também serviços de segurança e de prevenção da criminalidade. O modus operandi desses mercenários era pouco convencional e duramente criticado pela ONU. A Organização encontrou conexões entre a atividade dos mercenários e o tráfico ilícito de SALW e expôs em seu relatório especial: As várias formas de associações criminais envolvendo mercenários incluem tráfico ilícito de armamentos, o que constitui uma das atividades ilícitas que mais causam danos à humanidade. Muitos conflitos armados ocorrem porque foram provocados por mercadores de armas e outros são desnecessariamente prolongados por eles. As investigações conduzidas por várias células da Organização das Nações Unidas indicam que o tráfico de armas é a operação ilegal mais difundida. Na opinião do relator especial, os mercenários são um componente geralmente presente nas operações de tráfico ilegal de armamentos. Mercenários são contratados como pílotos, co-pilotos ou engenheiros de aviação para o transporte das armas, como vendedores de armas no Mercado negro, como instrutores no uso de armamentos e material militar que vem sendo vendido, ou treinando tropas e grupos paramilitares, que em muitos casos incluem recrutas, pessoas com pouca formação ou conhecimento ou combatentes ad hoc.59 A Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio Ilícito de Small Arms and Light Weapon reforça em seus trâmites a importância de coordenar e fortalecer os esforços internacionais para resolver os problemas associados ao tráfico ilícito, a proliferação e o mau uso de armas pequenas. Ao definir qual era o papel de empresas militares e de segurança privada, bem como o dos mercenários no tráfico ilícito de SALW, e ao tomar medidas que incorporem esses serviços militares e de segurança dentro do objetivo do controle das exportações, a 59 MAKKI, Sami; MEEK, Sarah; MUSAH, Abdel-Fatau; CROWLEY, Michael. Private Military Companies and the Proliferation of Small Arms: Regulating the Actors. Disponível em: <http://www.saferworld.org.uk/downloads/pubdocs/Btb_brf10.pdf >. Acesso em: 14 abr. 2013. 34 comunidade internacional iria elevar seus esforços ao combate dos problemas intrínsecos a essas armas. 3.2. A atuação da OSCE na cooperação para a segurança A OSCE vem ao longo dos anos desenvolvendo projetos no âmbito de controle de armamentos e construção da segurança como nenhuma outra organização do continente europeu. Apesar do orçamento limitado, tem empregado 15 milhões de euros em 40 projetos em países como a Armênia, Montenegro, Albânia, Ucrânia, Bulgária, Figura 1 - Membro do exército Ucraniano coleta uma amostra do combustível de foguete líquido Cazaquistão e diversos outros60. Apesar de os Estados-membros da OSCE antes do material ser eliminado desfrutarem de uma relativa estabilidade, eles enfrentam outros desafios tal qual o já mencionado déficit no controle do estoque de armas de baixo e médio porte que são comercializadas através de suas fronteiras. Os riscos para a segurança provocados pela proliferação desestabilizada de SALW e munições convencionais ainda é uma preocupação para membros do bloco. A Organização desenvolve um programa de cooperação voluntária que presta auxílio na destruição de armamentos de pequeno, médio e até grande porte. O orçamento de 15 milhões de euros é destinado também à resolução de problemas que os Estados venham a enfrentar com o tráfico ilícito de armas, como por exemplo a destruição de um combustível de foguete líquido chamado Mélange que foi encontrado na Ucrânia e era altamente tóxico. Por último e não menos importante, a OSCE desenvolveu um papel importantíssimo no auxílio à destruição de minas terrestres – implantadas na década de 90 – que se encontravam na fronteira entre o Tajiquistão e o Afeganistão e apresentavam sério risco à integridade física dos civis. 4. A Concepção de Segurança para a OSCE 60 ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. ANNUAL Report 2012. Disponível em: <http://www.osce.org/sg/100193?download=true>. Acesso em: 14 abr. 2013. 35 Em matéria de segurança, fugindo do seu caráter tradicional limitado à dimensão militar, característico do período da Guerra Fria, a OSCE apresenta uma visão distinta abrangente acerca do tema, envolvendo a proteção dos direitos humanos e a cooperação econômica e ambiental de maneira equiparada aos temas clássicos de viés político-militar. É inegável ser esta uma concepção inovadora, mas que permaneceu à sombra da Guerra Fria durante anos. Apenas após 1991, com a dissolução da URSS, houve o real desenvolvimento da concepção compreensiva da segurança. Nesse sentido, quanto à sua dimensão política, considerada a atribuição tradicional da segurança, pode-se destacar a novidade da OSCE ao adotar instrumentos como o alerta rápido, a prevenção de conflitos, a gestão de crises, além da possibilidade de desenvolvimento de operações de paz, ou seja, expandiu-se a visão clássica do viés da segurança. Inclusive, a Carta de Istambul reafirmou tais instrumentos e, por meio da introdução de Equipes de Peritos de Assistência e Cooperação Rápida (REACT), promoveu a especialização da própria Organização em atividades ligadas à segurança não militar61. Quanto à dimensão político-militar, destaca-se, inicialmente, a criação institucional de um instrumento próprio, qual seja, o Fórum para a Segurança e Cooperação62. Sediado em Viena (1992), ele representa uma evolução do controle armamentista da OSCE, pois possibilitou a criação de um órgão de diálogo, consulta e cooperação que trata do controle de armamento e das Medidas de Segurança e Cooperação (Confidence and Security-Building Measures – CSBMs), e reúne-se semanalmente. Com o mesmo fim de proporcionar segurança e confiança na Europa, a Organização ainda recorre à celebração de tratados e códigos de conduta. Para tanto, os membros da Organização passaram a selar compromisso de câmbio de informações militares, bem como de cooperação entre si, além de notificar as suas atividades e calendários militares e determinar princípios responsáveis por controlar a transferência de armamentos. Diante desta última responsabilidade firmada, surgiu o Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa (CFE)63, o qual atuou tanto como contribuidor para a finalização da 61 FERNANDES, Castro Teixeira; SOUSA, José Pedro. A Segurança da Europa Ocidental: Uma Arquitectura Euro-Atlântica Multidimensional. Lisboa: Fundação Calouste Geelbekian, 2002. p. 286. 62 Ibid., p. 288. 63 Esse tratado será adiante pormenorizado. Treaty on Conventional Armed Forces in Europe. Disponível em: <http://www.osce.org/library/14087>. Acesso em: 09 abr. 2013. 36 Guerra Fria em 1990, como restaurador do equilíbrio no continente europeu no que diz respeito ao controle bélico. Por sua vez, a dimensão humana tem seu centro na preservação dos direitos humanos, levando em consideração a ligação entre as relações interestatais e colocando esse ideal no mesmo patamar dos demais temas abordados pela Organização. Situação igual de equiparação ocorre com a dimensão econômico-ambiental, cuja atuação é de responsabilidade do Fórum Econômico, proporcionando o desenvolvimento de políticas econômicas e ambientais, em especial, observando o caso específico de cada país em busca de possíveis situações de conflito. Ademais, também impulsiona políticas econômicas e ambientais, em particular nos Estados que apresentam sistema econômico de transição para economia de mercado64. Dentre todas as dimensões da concepção de segurança compreensiva, a econômica e ambiental ainda é aquela receptora dos maiores estímulos e, no cenário atual, não restam desconfianças de que é necessário abordá-la na visão abrangente de segurança adotada pela OSCE. De forma geral, no âmbito da segurança compreensiva, pode-se dizer que a partir da sua evolução no período pós-Helsinque, a OSCE passou a afirmar-se cada vez mais como Organização Internacional Regional da Europa, de modo a desenvolver iniciativas que vêm estabelecendo um elo fundamental entre a segurança europeia e a segurança global. Os principais modos de atuação da OSCE para a resolução de tensões e conflitos regionais têm sido, principalmente: ações de diplomacia preventiva; desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos para prevenção de conflitos; gestão de crises e manutenção da paz, a exemplo das missões de averiguação, missões de relatores, do desenvolvimento de bons ofícios, das ações de consultoria, conciliação e resolução pacífica de crises. 5. O Código De Conduta Militar6566 O Código de Conduta Militar (Code of Conduct on Politico-Military Aspects of Security) tem como principal meta regular o papel das forças armadas nas sociedades 64 Ibid., p.291. ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Code of Conduct on PoliticoMilitary Aspects of Security. Disponível em: <http://www.osce.org/fsc/41355>. Acesso em: 14 abr. 2013. 66 Disponível em: <http://www.osce.org/secretariat/73222>. Acesso em: 14 abr.2013. 65 37 democráticas. Com o seu caráter inovador, ele paulatinamente vem ganhando adesão nas searas diplomática e militar. A União Africana, por exemplo, aderiu a ele. O Código de Conduta Militar visa, pois, a aprofundar e codificar importantes princípios do Ato de Helsinque, criando uma verdadeira moldura entre Estados, especialmente no que concerne ao não uso da força. Ademais, permite a visualização de normas únicas quanto às políticas militares. Nas seções VII e VIII, esmiúça o compromisso dos Estados relativamente às forças armadas. Progressivamente, alguns países têm-se utilizado de tais seções. 6. Principais Conflitos na Europa Na década de 1990, com o fim da Guerra Fria e a derrocada do socialismo soviético no Leste Europeu, alguns países dessa região mergulharam em turbulências políticas e profundos conflitos étnicos separatistas. A região dos Bálcãs, situada no sudeste europeu, foi ocupada, durante séculos, por diferentes povos das mais diversas culturas, etnias (sérvios, croatas, eslovenos, macedônios, montenegrinos, albaneses e bósnios muçulmanos) e religiões (católica, cristã-ortodoxa e islâmica), que se enfrentaram em diversas ocasiões ao longo da história67. No início do século XX, as hostilidades entre estes povos acabaram servindo de estopim para o início da Primeira Grande Guerra, quando, em 1908, os sérvios, com o apoio russo, entraram em conflito com o Império Austro-Húngaro, para conter o expansionismo austríaco na região, o qual já havia anexado a Bósnia-Herzegovina ao seu território, região já pretendida pela Sérvia, que também possuía planos expansionistas. O assassinato do príncipe herdeiro austríaco em 1914, em Sarajevo, na Bósnia, devido às fortes tensões que já existiam por todo o continente europeu, acabou por deflagrar a Primeira Guerra Mundial68. A República Iugoslava foi formada em 1929, unindo aqueles mais diversos povos dos Bálcãs, quais sejam os reinos sérvio, croata e esloveno, reunindo em um só país diversas etnias. 67 MAGNOLI, Demétrio. O conflito nos Balcãs. Disponível em: <http://geografiaonline.wordpress.com/2009/07/31/o-conflito-nos-balcas/>. Acesso em: 11 abr. 2013. 68 AGUIAR, Lilian. A crise nos Balcãs. Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/idadecontemporanea/a-crise-nos-balcas.htm>. Acesso em: 12 abr. 2013. 38 6.1. Conflito da Iugoslávia Após a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia consistia em uma federação de repúblicas socialistas formada pela Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia – além das minorias albanesa e húngara sitiadas nas províncias autônomas de Kosovo e Voivodina, respectivamente; como também ciganos, eslovacos, tchecos, turcos, e outros, justificando a alcunha de mosaico balcânico. De 1945 até 1980, o país ficou sob o comando de Josip Broz Tito, o qual certa vez declarou que são “seis repúblicas, cinco nações, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um só partido”, demonstrando ser conhecedor dos instrumentos necessários para realizar uma verdadeira engenharia política, capaz de ser maior do que tais diferenças. Assim, a existência de uma ditadura, com base na estrutura do partido comunista, foi essencial para manter a unidade do país, em detrimento das tentativas de separatismo. Tito ainda promoveu em seu governo o deslocamento populacional para misturar as etnias, a fim de criar uma identidade iugoslava acima das particulares de cada povo. No entanto, com a morte de Tito, em 1980, houve o colapso geral do modelo político e econômico da Iugoslávia. As desigualdades regionais foram agravadas, afinal, Tito parecia ser o ponto em comum que unia a região. Além disso, a década de 80 apresentou muitas mudanças no âmbito internacional, as quais afetaram diretamente o mundo socialista. Dessa forma, a Iugoslávia sofreu a queda do socialismo, propondo reformas à Liga Comunista e buscando mecanismos capitalistas em detrimento do socialismo de Estado. Exatamente nesse momento, o mosaico iugoslavo foi despedaçado em meio a uma sensação de ódio entre as etnias que coexistiam na região. O que Tito lutou para unir, ruiu. Lembrando as palavras de Tito acerca das disparidades étnicas da região, pode-se imaginar a proporção que a situação tomou: as repúblicas não mais toleravam continuar vinculadas à Federação, ao passo que as minorias locais, por sua vez, insurgiam contra estas maiorias com o intuito de preservar o vínculo com a unidade iugoslava. Reconhecendo a larga escala do conflito, organizações procuraram intervir em busca de soluções. A ONU em sua atuação possibilitou uma abertura para negociações através de um cessar fogo. Nesse ínterim, a Comunidade Econômica Europeia (CEE), anterior à União Europeia, temendo uma generalização da guerra capaz de atingir os interesses do continente europeu, decidiu determinar que houvesse uma atuação em conjunto por parte dos membros da Iugoslávia, sem reconhecer as declarações de independência da Federação. Ainda chegou a 39 afirmar que ofereceria ajuda para superar o momento de crise iugoslava, mas que a unidade deveria ser preservada. Contudo, em 1991, países começaram o processo de reconhecimento da independência das repúblicas separatistas, o que automaticamente gerou o reconhecimento do desmembramento da Iugoslávia. Então, a ONU volta a se fazer presente. Agora, seu papel é nas novas fronteiras que surgiam com a reorganização do mapa da região, a fim de preservá-las. Da mesma forma, a OSCE atuou no conflito. Seu papel aconteceu com o envio de observadores para a área, a fim de analisar o desenvolvimento das negociações que se seguiram à fragmentação. Na França, em 1999, ocorreu o encontro de Rambouillet, contando com a presença dos representantes das forças em conflito, especialmente tratando de novo tópico, Kosovo e sua desmilitarização, além do seu direcionamento à autonomia. A Sérvia, todavia, alegou que discordava de pontos específicos do acordo que seria assinado em consequência desse encontro, apesar de reconhecer as cláusulas gerais deste. Mesmo assim, dois dias depois da assinatura do acordo, alegando o seu nãocumprimento, os EUA, por meio da atuação da OTAN, iniciam sua intervenção para manutenção da paz na região da Iugoslávia. No entanto, essa intervenção acabou por consolidar a desfragmentação da Iugoslávia, fazendo o mundo questionar quais os reais motivos para a guerra. Kosovo, em si, não apresentava atrativos materiais que pudessem interessar uma disputa, eliminando a possibilidade de ser vantagem de a União Europeia tê-lo como membro. É preciso observar que, para a UE, seria interessante o domínio na região para evitar o tráfico de armas, a emigração clandestina e mesmo a dispersão de desordem política. No caso dos EUA, nota-se um interesse no que diz respeito a legitimar o papel da OTAN no mundo atual, visto que seu anterior fim não é mais possível em um mundo pós-guerra fria no qual inexiste a necessidade de conter tensões de países socialistas como havia antes. O papel dessa organização passou a ser questionado, inclusive acarretando na hipótese de uma substituição pela organização de maiores objetivos – a OSCE. 6.1.1. As consequências da dissolução da Iugoslávia A dissolução desse país multiétnico começou em 1991, com o fim da Guerra Fria, marcada por sangrentas guerras que resultaram em sua fragmentação, ao longo dos anos 1990, entre os grupos étnicos que disputavam os territórios. 40 O fim do socialismo soviético e seu consequente esfacelamento influenciaram o mesmo movimento entre as minorias étnicas na Iugoslávia, dando ensejo a um grande movimento separatista contra a maioria sérvia que controlava o país. A diferença étnicoreligiosa foi fator marcante para o conflito entre os sérvios (cristãos-ortodoxos), eslovenos e croatas (católicos), bósnios e albaneses (muçulmanos). Iniciado o conflito na região, a ONU protagonizou diversas tentativas políticas com a finalidade de chegar-se a uma solução diplomática viável à crise nos Bálcãs. A Comunidade Europeia (CE)69, já em setembro de 1991, enviou um diplomata inglês com o intuito de tentar estabelecer a paz na região. Posteriormente, com a falta de progressos nas negociações, o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, nomeou o ex-Secretário de Estado americano, Cyrus Vance, para, juntamente com a CE, tentar solucionar a crise iniciada na região70. Contudo, nas reuniões que se seguiram, com os presidentes das repúblicas envolvidas, mostrou-se evidente que não se conseguiria reunificar a Iugoslávia devido às negativas de Slobodan Milosevic71. O processo de fragmentação do Estado Iugoslavo findou por dar origem a novos Estados, a partir de 1991, como: Eslovênia, Macedônia, Croácia, BósniaHerzegovina, Sérvia, Montenegro e Kosovo. 6.2. Eslovênia72 A Eslovênia foi o primeiro país da antiga Iugoslávia a conseguir a independência, em 1991. A independência se deu através de um referendo em que a população eslovena concordava com a separação da Iugoslávia. Como represália, esta deu início a um conflito durando apenas cerca de 10 dias. Após a independência, o país conseguiu uma importante estabilidade política e financeira, e, em 2004, aderiu à União Europeia. 69 Atualmente, União Europeia (UE). ÁLVAREZ, Ana Muniz. A atuação da onu no conflito dos bálcãs. Disponível em:<http://www.cedin.com.br/revistaeletronica/volume3/arquivos_pdf/sumario/A%20Atua%E7%E3o%20da%2 0ONU%20no%20Conflito%20dos%20B%E1lc%E3s%20%96%20Ana%20Muniz%20%C1lvares.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2013. 71 Na época, Presidente da Iugoslávia. 72 TRAVASSOS, Luiz Eduardo Panisset. A Eslovênia e seu Arste, percebidos por um Geógrafo Brasileiro. Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/1815/1561>. Acesso em: 13 abr. 2013. p.1-4. 70 41 6.3. Macedônia73 Na Macedônia, apesar de haver tensões étnicas em seu território, conseguiu-se uma independência de forma pacífica perante a Iugoslávia em 1991, ao contrário dos seus vizinhos. A maioria da população macedônia é cristã-ortodoxa, agregando ainda uma parte muçulmana albanesa. A Bulgária foi o primeiro país a reconhecer a Macedônia como nação independente. Em 1999, durante a guerra do Kosovo, cerca de 360.000 albaneses se refugiaram na Macedônia. Em 2001, a tensão entre albaneses e macedônios quase desencadeou um confronto. Entretanto, um acordo de paz, mediado pelas Nações Unidas e com a cooperação da OSCE, estabeleceu um convívio pacífico entre as diferentes etnias. 6.4. Croácia74 Após uma guerra civil que eclodiu em 1991 entre os croatas e uma minoria sérvia, a República da Croácia conquistou sua independência, se desvinculando da Iugoslávia. Depois de a Croácia ter declarado sua independência, em junho de 1991, a minoria sérvia no país buscou o apoio de Milosevic. Em setembro de 1991, forças federais da Iugoslávia invadiram a Croácia dando início à guerra. Cerca de 20 mil pessoas morreram no conflito, além das quase 400 mil que ficaram desabrigadas. As vitórias sérvias levam a ONU a impor sanções econômicas contra a Iugoslávia, que retirou suas tropas em 199575. 6.5. Bósnia-Herzegovina O conflito que houve na Bósnia-Herzegovina foi o mais violento desses conflitos separatistas, tendo início em 1992 e findando apenas em 1995, contando com a intervenção militar da OTAN. Após declarar independência, em abril de 1992, depois de um referendo convocado por bósnios-muçulmanos e croatas – e boicotado pelos sérvios da república – a violência explode na Bósnia-Herzegovina. Milosevic, como justificativa de declarar a guerra, afirma 73 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Principais Momentos Históricos da Macedônia. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010820_tmacedonia.shtml>. Acesso em: 13 abr. 2013. 74 UNITED NATIONS. Ex Yugoslavia Unprofor. Disponível em: <http://www.un.org/spanish/Depts/dpko/dpko/co_mission/unprof_b.htm>. Acesso em: 13 abr.2013. 75 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. A Guerra da Croácia. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/static/especial/milosevic_yugoslavia/croatia.htm>. Acesso em: 13 abr. 2013. 42 que vai defender os sérvios do "genocídio provocado pelos croatas" e do "fundamentalismo islâmico" dos muçulmanos76. Apesar dos argumentos para o ataque, os sérvios da Bósnia promoveram, nas áreas ocupadas, uma verdadeira limpeza étnica: a expulsão dos não sérvios, o massacre de civis, a prisão da população de outras etnias e a reutilização dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. Enquanto isso, a Bósnia-Herzegovina pede auxílio e uma intervenção militar a comunidade internacional, porém só recebe ajuda humanitária como alimento e medicamentos. A Croácia entra no conflito, primeiramente, reivindicando parte do território bósnio e, em uma segunda etapa, volta-se contra a Sérvia. A guerra dura mais de três anos e se transforma num dos mais sangrentos conflitos travados na Europa. O governo da Sérvia fornecia apoio militar e financeiro aos bósniossérvios na frente de batalha, afirmando que era meio de defesa do seu povo. Enquanto isso, do outro lado, a Croácia subsidiava militarmente os croatas da Bósnia, defendendo uma República Soldado norte-americano durante ocupação de tropas internacionais na Bósnia-Herzegóvina. Croata da Bósnia-Herzegovina. A região transformou-se em palco de um dos mais Fonte: <http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/ 0,,MUL1352971-16107,00.html>. trágicos genocídios da história atual, o maior do pós-Guerra Fria77. Com o acirramento da guerra, a OTAN envia tropas. No fim de 1995, a ONU manda uma força de paz de 40 mil membros. Tentativas de cessar-fogo propostas pelas Nações Unidas são repetidamente desrespeitadas. No início do referido ano, os sérvios dominam 70% do território da Bósnia-Herzegovina. O quadro muda após a Batalha de Krajina, em agosto, da 76 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. A Guerra da Bósnia. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/static/especial/milosevic_yugoslavia/bosnia.htm>. Acesso em: 13 abr. 2013. 77 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Bosnia-Hercegovina Country Profile. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/country_profiles/1066886.stm>. Acesso em: 13 abr. 2013. 43 qual os croatas saem vitoriosos. A relação de forças torna-se mais equilibrada e facilita a estratégia dos Estados Unidos de promover uma negociação de paz78. Em vista das evidências de massacres promovidos pelos sérvios, a ONU decreta um embargo econômico como sanção à, então na época, Sérvia e Montenegro e já em maio de 1993 se compromete em proteger seis cidades bósnias sitiadas, denominadas “zonas de segurança”, entre elas Sarajevo. No entanto, devido ao desinteresse e inércia das nações mais desenvolvidas, os “capacetes azuis” das forças de paz da ONU não foram capazes de conter, sozinhos, o levante sérvio, que promoveu um verdadeiro massacre contra os bósnios. Este foi um dos maiores desastres militares e políticos já encabeçado pelas Nações Unidas, sendo o conflito mais longo e sangrento vivido na Europa desde o fim da Segunda Guerra79. A intervenção das tropas da OTAN, que durante o ano de 1995, de modo decisivo, atuou no conflito da Bósnia-Herzegovina na Operação Força Deliberada, criando condições para manutenção da paz e segurança na região. As atividades foram coordenadas e contaram com a imensa cooperação da OSCE, que atuou de forma a cooperar com a nova “Agenda de Paz” da ONU, a qual inclui uma nova perspectiva de colaboração entre as Nações Unidas e as organizações internacionais regionais, de modo a exercer um trabalho de complementação de ações, não de concorrência, entre si80. Até 2009, o país esteve sob a mediação internacional e vigilância de tropas internacionais como a Força da União Europeia. Ainda há líderes bósnios e sérvios sendo julgados nos tribunais internacionais por suas condutas no conflito, observando-se que a maioria destes crimes de guerra e genocídio foi do lado sérvio81. 6.6.Montenegro82 Diante da sua grande fragmentação ainda nos anos 1990, a então República Federal da Iugoslávia, no ano de 1992 passou a chamar-se Sérvia e Montenegro, apesar dos sangrentos 78 PORTAL SÃO FRANCISCO. Guerra da Bósnia. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/guerra-da-bosnia/guerra-da-bosnia-2.php>. Acesso em: 13 abr. 2013. 79 Idem. 80 ALMEIDA, João Marques de. A Nato e a Intervenção Militar na Bósnia. Disponível em:<http://comum.rcaap.pt/bitstream/123456789/1397/1/NeD105_JoaoMarquesAlmeida.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2013. p. 182. 81 FERREIRA, João Sette Whitaker. A Guerra na Bósnia. Disponível em: <http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/j_whitaker/bosnia.html>. Acesso em: 13 abr. 2013. 82 GUIA-GEO EUROPA. Montenegro. Disponível em:<http://www.guiageo-europa.com/montenegro.htm>. Acesso em: 13 abr. 2013. 44 conflitos na Bósnia-Herzegovina e da ainda recente separação de Kosovo. Após o referendo popular de 2006 sobre o status da República, 55% dos eleitores de Montenegro votaram pela independência montenegrina, que se separou de maneira pacífica da Sérvia em 2006. Neste mesmo ano, já se iniciaram as conversações para um futuro ingresso na União Europeia. 6.7. Kosovo Kosovo é um país pobre, cuja população é majoritariamente albanesa83. Declarou-se independente da Sérvia após anos de conflitos e relações dificultosas. Neste contexto, auferiu rapidamente o reconhecimento dos Estados Unidos e da maioria das potências europeias, auxiliado pela Rússia. Concomitante à dissolução da Iugoslávia, a Sérvia interviu no Kosovo militarmente, e a paz só foi conquistada em 1999 após o auxílio da OTAN. Desta feita, a região foi administrada até 2008 pela ONU, posto que os conflitos na região entre a maioria albanesa e a minoria sérvia perpetuam-se. Sabe-se que as populações albanesa e sérvia convivem juntas no território desde o século VIII. Entretanto, ao longo dos anos, os albaneses cresceram quantitativamente, fato importante para a compreensão da dimensão do problema. Ao longo do século XX, o embate perdurou entre as duas etnias e, concomitantemente, Kosovo foi ganhando espaço nos âmbitos das decisões governamentais, culminando na sua autonomia em 1974. Tal fato, porém, gerou ressentimento entre os sérvios, os quais, sob a presidência de Slobodan Milosevic, tomaram a outrora obtida autonomia de Kosovo. Inicialmente, os albaneses de Kosovo originaram um movimento pacífico e passivo na década de 1990, a fim de reaver a perdida autonomia. Apesar de não ter conquistado sucesso, proclamou-se independente unilateralmente em 1991. No decorrer dos anos A ONU vem administrando Kosovo desde o programa de limpeza étnica sérvio. Fonte: <www.bbc.co.uk/news/world-europe18328859> 83 90, tem-se um movimento bélico albanês, o Exército para Liberação do Kosovo. BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Kosovo Profile. <http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-18328859>. Acesso em: 13 abr. 2013. Disponível em: 45 A falta de negociações permaneceu em voga, enquanto o governo sérvio promovia um programa de limpeza étnica, o qual provocou o refúgio dos albaneses para a Albânia, Macedônia e Montenegro, bem como a morte de milhares deles. Desde 1999, nada obstante, a ONU administra a província. No intervalo de dezembro de 1998 a junho 1999, a OSCE atuou no sentido de relatar violações de direitos humanos, as quais têm sido reportadas pela Divisão de Direitos Humanos da OSCE, sob o que se intitulou As Seen, As Told – An Analysis of the Human Rights Findings of the OSCE Verification Mission84. Esses relatos são importantes no sentido de que denunciam as ofensas a direitos humanos e infrações na lei de conflitos armados cometidas pelas forças sérvias e iugoslavas em conformidade com a polícia, militares e alguns civis – e, nesse sentido, apresenta as dificuldades e direcionam a possíveis soluções. Tais violações abrangem casas queimadas, bloqueios impedindo o direito de ir e vir, tratamento discriminatório em escolas, cerceamento da liberdade de expressão etc. Ainda, kosovares de etnia sérvia sofreram abusos do Exército para Liberação do Kosovo. A OSCE também tem atuado junto com a UNMIK (United Nations Interim Administration in Kosovo), propiciando iniciativas de caráter público e criando instituições.85 7. Conflitos no Cáucaso Os conflitos étnicos eclodiram rapidamente após o fim da Guerra Fria. Desta feita, instalaram-se com imensa destreza embates entre Armênia e Azerbaijão e, posteriormente, guerras inseriram-se no cenário caucasiano e russo. O desejo para auferir dominação, tal como independência ou autonomia – geralmente, o primeiro choca-se contra estes últimos –, baseado, sobretudo, em questões étnicas, trouxe violência e conflitos generalizados. Ademais, o número de mortos e torturados, bem como de feridos, traduz, de fato, o que se convencionou chamar de limpeza étnica. Nesse contexto, essas guerras demonstram sobremaneira as problemáticas relativas ao controle de armas, uma vez que ele não está apartado do uso de itens militares pesados; da proliferação de armas leves, explosivos etc. 84 85 Disponível em: <http://www.osce.org/kosovo/17781?download=true>. Disponível em: <http://www.osce.org/kosovo/57420> 46 7.1. A Disputa por Nagorno-Karabakh A partir do início de 1988, inicia-se um conflito entre duas nações do Cáucaso Sul, quais sejam, Armênia e Azerbaijão. A disputa, por sua vez, gira em torno da região NagornoKarabakh. No entanto, além de tal problemática ensejar conflitos entre os dois países outrora mencionados, ela não acaba neste contexto. Sabe-se que, em 1991, houve a proclamação da República de Nagorno-Karabakh, a qual não é, todavia, dotada de reconhecimento internacional. Nesse ínterim, não se percebe a atuação de duas nações soberanas pleiteando uma região reduzida a objeto. Pelo contrário, tem-se a intervenção de um terceiro agente, a República Nagorno-Karabakh, o qual, embora não seja detentor de soberania, surge no contexto como sujeito e dificulta ainda mais a busca de soluções. O conflito entre Armênia e Azerbaijão, sabe-se, possui raízes e motivos históricos profundos. Os azeris alegam que a região em pauta sempre esteve sob os costumes e leis azerbaijanos; no entanto, os armênios apregoam o fato de que originariamente a região de Nagorno-Karabakh pertencia a seu território, em tempos os quais remontam a quatro séculos a.C.86 Ademais, a própria origem do nome carrega consigo disputas, uma vez que “Karabakh” é uma aglutinação de termos persas, turcos e russos – e tal fato traduz, realmente, três poderes antes dominadores da região (no século Milícia armênia. Fonte: <www.bbc.co.uk/news/world-europe18270325> 86 XIX, Nagorno-Karabakh foi incorporada ao Império Russo87). Nesta perspectiva, aduz-se que o embate entre Armênia e Azerbaijão remete-se, CONELL, Svante E. The Nagorno-Karabakh Conflict. Disponível em: http://edoc.bibliothek.unihalle.de/servlets/MCRFileNodeServlet/HALCoRe_derivate_00003079/NagornoKarabakh%20Conflict.pdf >. Acesso em 11 abr. 2013. 87 REGIONS and territories: Nagorno-Karabakh. Disponível <http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/country_profiles/3658938.stm>. Acesso em 11 abr. 2013. < em: 47 sobretudo, a questões antigas de origem e território, incluindo-se competições entre cristãos armênios, turcos muçulmanos e influências persas. No início do século XX, os azeris e os armênios conviviam relativamente em paz, apesar de ainda terem ocorrido ataques de ambos os lados. Ao fim da Primeira Guerra Mundial, a URSS, como parte da política bolchevista, instituiu a Região Autônoma de Nagorno-Karabakh, com etnia armênia majoritária. Entretanto, a década de 1980 trouxe um abrandamento do controle soviético, fato que acabou culminando a eclosão da contenda entre os dois países já citados, uma vez que o parlamento da região decidiu juntar-se à Armênia. Durante o conflito, esta última auferiu controle sobre a região, tomando, ainda, terras azeris a fim de criar uma zona de ligação entre o território armênio e Nagorno-Karabakh. Todavia, em 1991, tal região declarou-se independente, embora não tenha sido reconhecida internacionalmente. A hostilidade resultou em milhões de refugiados e milhares de mortos. Em 1994, foi assinado um cessar-fogo intermediado pela Rússia – conforme o Protocolo de Bishek88 -, no qual o território Nagorno-Karabakh e a outrora criada zona de ligação ficaram em mãos armênias. No entanto, Azerbaijão alega que o território é seu de direito, gerando grande tensão. Afora isto, suspeita-se que o cessar-fogo foi acordado apenas como meio de reorganização e recriação de estratégias. Em dezembro de 2006, houve referendo, considerado ilegítimo pelos azeris. Tal engendrou uma nova constituição para Nagorno-Karabakh. Em 2009, a tensão ampliou-se e, de lá para cá, algumas violações ao cessar-fogo têm ocorrido. Este conflito latente tem provocado tentativas de intermediação por parte da Rússia, França e o Grupo de Minsk da OSCE89. No âmbito das relações internacionais, sabe-se que os Estados Unidos têm exercido pouca influência no conflito. Limita-se, assim, a submeter resoluções no Conselho de Segurança, embora não determine quem seja o agressor. Ainda, a OSCE tem sido a única instituição a qual tem dirigido esforços para mitigar os impactos do conflito e conquistar mais do que um mero cessar-fogo. 88 PILPG. The Bishek Protocol. Disponível em: <http://publicinternationallawandpolicygroup.org/wpcontent/uploads/2011/10/The-Bishkek-Protocol-1994.pdf>. Acesso em: 13 abr.2013. 89 Disponível em: http://www.osce.org/mg Acesso em: 13 abr. 2013. 48 Salienta-se que a participação da Organização pode ser dividida em cinco fases 90. A primeira delas concerne a um período em que a Rússia encontrava seu poder persuasivo afrouxado, havendo – com a deixa – a preponderância da CSCE em mediações relativas a outros países do Leste Europeu. A segunda, por seu turno, caracteriza-se por interesses russos combinados com a implantação de uma nova ótica, a neo-Eurasianist one – fato que acabou por mitigar a participação da CSCE no conflito; a terceira, no entanto, propiciou cooperação entre a Rússia e a OSCE. A quarta fase iniciou-se em janeiro de 1997, quando França e Estados Unidos ingressaram como presidentes permanentes do Grupo de Minsk, bem como a Rússia. Nota-se, em tal período, a deposição de Levon Ter-Petrosyan como presidente da Armênia, o que traduz a rejeição armênia de políticas da OSCE. A quinta fase é assinalada por abertura e negociações. 7.2. A Ossétia do Sul Em 1920 os ossetos permaneceram ao lado do Kremlim quando as forças bolcheviques ocuparam a Geórgia menchevique. Desta feita, com a vitória do Exército Vermelho 91, a Região Autônoma da Ossétia do Sul foi criada na Geórgia, ao passo que a Ossétia do Norte ficou pertencendo à Rússia – fato que se tornou insignificante com a formação da URSS. Contudo, com o fim da União Soviética, houve uma grande fragmentação do seu território, ensejando a anexação da Ossétia do Sul e da Abhkásia ao território da Geórgia. No entanto, Capital da Ossétia do Sul, Tshinkvali, quarto dias após ofensiva russa. Fonte: <topicos.estadao.com.br/fotos-sobreossetia-do-sul/capital-da-ossetia-do-sultskhinvali-quatro-dias-apos-o-inicio-daofensiva-russa,c1b1316e-a22c-4f11-9c7bdcf8e6327689>. 90 sabe-se, como outrora mencionado, que a população da Ossétia do Sul é minoritariamente georgiana – fator que acabou por desencadear o pedido do Supremo Conselho da Ossétia do Sul quanto a uma possível alteração para uma CONELL, Svante E. The Nagorno-Karabakh Conflict. Disponível em: <http://edoc.bibliothek.unihalle.de/servlets/MCRFileNodeServlet/HALCoRe_derivate_00003079/NagornoKarabakh%20Conflict.pdf?hosts=local"> Acesso em: 13 abr. 2013. 91 CASTRO, Guilherme Antunes de. A questão separatista entre Geórgia, Ossétia do Sul e Abhkásia. Disponível em: <http://www1.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CBO_ARQ_BOLET20101101130249.pdf> Acesso em: 13 abr. 2013. 49 república autônoma. Posteriormente, eclodiu em 2008 uma guerra entre Rússia e Geórgia, tendo como foco a região de Ossétia do Sul. Em seguida, esta última declarou-se independente e foi reconhecida pela Rússia, embora poucos Estados tenham-na seguido. A declaração de autonomia da Ossétia do Sul acarretou uma limpeza étnica da população georgiana na região. O estopim da guerra deu-se quando a Geórgia, a fim de pôr um fim nos conflitos separatistas, iniciou poderosa investida contra forças militares ossetas, bem como forças de paz russas, ocasionando 1492 mortes e 35.000 refugiados92. Em 2009, a Rússia assinou um tratado de cinco anos, a fim de controlar as fronteiras da Ossétia do Sul, com uma espécie de supervisão da Geórgia. Entretanto, a tensão na região continua, e o futuro, principalmente com o fim da vigência do tratado, ainda é incerto. 7.3. Rússia e Chechênia O conflito envolvendo a Chechênia configura-se como um dos mais relevantes e problemáticos da atualidade. Sendo uma região montanhosa, esteve separada da Rússia por mais de dois séculos, quando finalmente o poderio russo subordinou-a, em 1859. Após 60 anos, a Chechênia obteve novamente sua independência, apesar de curta – posto que, em 1922, foi anexada novamente em território russo. O fim da Guerra Fria, como já exposto, propiciou o afrouxamento do controle e influência russos na região. Em declarou-se, 1991, a mais Chechênia uma vez, independente. A tensão ampliou-se com inegável rapidez e, em 1994, a Rússia mandou tropas para conter a Cerca de cem mil pessoas morreram nos conflitos de 1994. Fonte: <www.bbc.co.uk/news/world-europe-18188085>. rebelião, ao passo que os chechenos revidaram prontamente. Em 1996, acordos entre Rússia e Chechênia encontraram sua tradução na concessão de autonomia à Chechênia, mas não de independência. Entretanto, o crime organizado perdurou, 92 Idem. 50 bem como sequestros de chechenos93. Ainda, em 1999, os chechenos juntaram-se à causa do Daguestão, o qual se apropriou de armas para guerrilhar contra a Rússia. O conflito foi logo mitigado e, assim, retrocedeu. A Rússia tem sido alvo de críticas, uma vez que suas táticas têm desrespeitado direitos humanos. Milhares de familiares chechenos não conseguem aceitar que vários de desaparecidos possam estar mortos. Fora da Chechênia, é opinião majoritária que tais desparecidos estão mortos, embora ela e a Rússia não se pronunciem e não divulguem dados oficiais94. As grandes mídias, bem como diversas organizações governamentais, continuam a criticar as violações dos direitos humanos na Chechênia e retiram o seu apoio a Moscou95. Embora seja uma região rica em petróleo, ela apresenta uma economia degradada em virtude dos conflitos que lá se apresentam. Para os russos, os chechenos estão intimamente ligados à ideia de terrorismo, apesar de o governo russo já ter demonstrado autoridade demasiada e violência desnecessária, como o bombardeio à capital chechena Grozny, em 1994. Por sua vez, em 2011, a Chechênia realizou um ataque terrorista contra a Rússia, matando seis pessoas96. A OSCE, por meio do seu grupo de assistência na Chechênia, formado em 1995, teve como escopo a mediação dos conflitos de maneira pacífica97. Em 1998, devido a questões de segurança, o grupo de assistência mudou-se para Moscou, engendrando ajuda humanitária e potenciais soluções para os conflitos. Em 1999, visto que as disputas armadas eclodiram novamente, o escritório de Grozny fechou e só retornou às atividades em 200198. 7.4. A Revolta no Quirguistão Em 2010, estourou no Quirguistão uma revolta que foi responsável pelo desalojamento do então governo. As causas de tal conflito residem nas altas taxas de corrupção e baixa 93 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Chechnya Profile. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-18188085>. Acesso em: 14 abr. 2013. 94 Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-14170036>. Acesso em: 14 abr. 2013. 95 REVISTA FAAP. Chechnya Profile. Disponível em: <http://www.faap.br/revista_faap/rel_internacionais/pdf/revista_economia_10.pdf#page=98>. Acesso em: 13 abr. 2013. 96 Disponível em: BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Chechnya Profile. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-18188085>. Acesso em: 14 abr. 2013. 97 Disponível em: <http://eurlex.europa.eu/Notice.do?mode=dbl&lang=es&ihmlang=es&lng1=es,pt&lng2=da,de,el,en,es,fi,fr,it,nl,pt,sv,&val =311292:cs> Acesso em: 14 abr. 2013. 98 Disponível em: <http://simulaonuccbh.files.wordpress.com/2010/05/osce-ok.pdf> Acesso em: 14 de abril de 2013. 51 qualidade de vida. O presidente então à época, Bakiyev, aumentou os preços dos produtos, bem como favoreceu projetos empresariais abusivos. Ainda, e mais relevante, iniciou-se uma agressiva violação aos direitos humanos. O sistema político quirguiz, apesar de ser bem organizado, é dotado sobretudo de corrupção e nepotismo (assim foi na era pré-Soviética e assim é atualmente). Tal fato, por seu turno, é um retrocesso no que concerne à construção de uma democracia saudável, além de prejudicar o desenvolvimento socioeconômico e o próprio ato de governar. Ademais, outro fator preponderante neste contexto é a existência de clãs, o Ong, o Sol e o Ichkilik. Embora nem todos os clãs tenham estado na constituição originária do Quirguistão, eles mantêm verdadeira identidade com o lugar. Salienta-se, nesse sentido, a rivalidade natural entre os clãs é uma das principais causas da existência de corrupção e nepotismo no Quirguistão. Por sua vez, estes, aliados a um governo autoritário e violador dos direitos humanos, ensejaram a revolta de 2010. Desta feita, o conflito iniciou-se na capital Bisqueque e espalhou-se massivamente, dando azo a duelos étnicos na parte sul do país99. Tais duelos ganharam A população Uzbeque, perseguida, tenta atravessar a fronteira do Quirguistão. Fonte: <www.portugues.rfi.fr/mundo/20100626-eleitoresaprovam-nova-constituicao-no-quirguistao> representação, sobretudo, com o fim da União Soviética. Os conflitos étnicos, até então latentes, também entraram em voga com a Revolta de 2010, uma vez que o Quirguistão caracteriza-se por uma forte fragmentação social, com diversas identidades nacionais – traduzidas, principalmente, na questão do construto identitário do usbeque. Em 1989, por exemplo, um grupo uzbeque chamado Adalat quis unirse ao Uzbequistão, com o apoio de Moscou. A revolta de 2010 deixou cerca de 200 mortos e centenas de pessoas feridas. O presidente, por sua vez, foi culpado por não cumprir promessas, tal qual reduzir o poder 99 ASLAM, Sabah. Kyrgyzstan: internal instability and revolt in 2010. Disponível em:<http://www.issi.org.pk/publication-files/1315811291_92037725.pdf>. Acesso em: 14 de abril de 2013. 52 presidencial, entre outras. No primeiro dia de protesto, a revolta foi controlada. Entretanto, nos dias que se seguiram a população tomou conta de armas e veículos armados. . Atualmente, o Quirguistão apresenta potenciais causas de conflito, posto que as rivalidades étnicas ainda não foram sanadas, bem como a existência de clãs, nepotismo e corrupção. Dada à sua posição estratégica, eventuais conflitos no Quirguistão podem atingir proporções enormes e influenciar o tráfico de armas. 8. Relações Externas de Cooperação da OSCE quanto à Segurança Levando em consideração os princípios que guiam a concepção da segurança para a OSCE – quais sejam a globalidade, indivisibilidade e cooperação –, sabe-se que existem outros atores que contribuem para a propagação de tais princípios no que pode ser chamada de “arquitetura europeia de segurança”100. A cooperação com outras organizações internacionais é fator fundamental na dimensão política de atuação da OSCE101. As relações institucionais entre a OSCE e outras organizações internacionais estão contempladas no Documento de Helsinque, evidenciando a possibilidade de a Organização agir em conjunto com outras instituições de modo a contribuir para um maior protagonismo operacional da OSCE, principalmente em missões de manutenção de paz e de caráter humanitário. Sendo assim, incumbe tratar daquelas principais organizações que abordam a segurança em sentido abrangente assim como a OSCE. São elas: a própria Organização das Nações Unidas (ONU) e seus comitês especializados, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a União Europeia (UE), além de Organizações Não-Governamentais (ONGs). 8.1. Organização das Nações Unidas A OSCE desenvolveu forte contato com as Nações Unidas e suas instituições especializadas. Atuando lado a lado, a cooperação entre a OSCE e a ONU teve início em 100 RUBIO, Antonio Rafael. La OSCE e su concepción de la seguridad: La convergencia de las organizaciones regionales europeas e de la OSCE en torno a una concepción comun de la seguridad. 2008. 441 f. (Doutorado) Curso de Direito, Universidad Complutense de Madrid, Madrid, 2008. 101 ORGANIZATION FOR SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Istanbul Document 1999. Istambul: OSCE, 1999. Pág. 3. Disponível em: < http://www.osce.org/mc/39569?download=true>. Acesso em: 08 abr. 2013. 53 1992, quando a ONU declarou que a OSCE (CSCE naquela época) já se configurava uma Organização Regional, nos termos do Capítulo VIII da Carta das Nações Unidas102. A cooperação entre ambas as Organizações foi acordada em 1993, quando a CSCE ganhou status de observador na ONU. Desde então, os encontros e acordos entre representantes da ONU e da OSCE tornaram-se regulares e, atualmente, esta já se faz presente na Assembleia Geral das Nações Unidas, em seus encontros de relatório anual. Na crise dos Balcãs, a OSCE desenvolveu um importante trabalho de cooperação com o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), exercendo um trabalho de complementação das ações de terreno103. Sem fórmulas predefinidas, a Organização tem estabelecido acordos e parcerias de cooperação de terreno para atuar, principalmente, em áreas como no Leste Europeu e Ásia Central, colaborando com instituições das Nações Unidas ativamente e cooperando com o Conselho da Europa. De forma complementar, a OSCE atuou em missão na Bósnia e Herzegovina, em setembro de 1996, dando apoio à promoção de direitos humanos e organizando as primeiras eleições democráticas na região104. Em Kosovo105, em julho de 1999, tendo por base a Resolução 1244 das Nações Unidas106, a função da OSCE estava relacionada com a construção da democracia e defesa dos direitos humanos na região polo do conflito. A OSCE e a ONU também cooperaram no Tajiquistão, prestando assistência em assuntos como proteção de refugiados, assistência eleitoral e proteção humana107. Estes são alguns exemplos da cooperação existente entre as duas organizações com repercussões na área da segurança e defesa. 102 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. Página 31. Disponível em: <http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>. Acesso em: 09 abr.2013. 103 A ação mais importante da OSCE foi sua intervenção na crise da antiga Iugoslávia, onde colaboro0u juntamente com o CSNU e a União Europeia para impor sanções contra Sérvia e Montenegro. Além disso, ainda nos Bálcãs, a OSCE organizou as primeiras eleições da Bósnia, sem setembro de 1996. (SEITENFUS. Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2008. p. 333.) 104 Ibid., p. 333. 105 MORE, Rodrigo Fernandes. Intervenção Da Otan No Kosovo. Disponível em: <http://www.more.com.br/artigos/Kosovo%20OTAN.pdf>. Acesso em: 09 abr.2013. 106 Disponível em: <http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:336:0001:0003:PT:PDF>. Acesso em: 09 abr.2013. 107 Disponível em: <http://www.osce.org/node/45538>. Acesso em: 09 abr. 2013. 54 8.2. Organização do Tratado do Atlântico Norte A OSCE também desenvolveu mecanismos de grande importância quanto à cooperação política relacionando-se com a OTAN, a fim de estabelecer a segurança e gerar estabilidade na área de atuação de ambas. Assim, as duas organizações cooperam nas dimensões políticas, da mesma maneira que operacionalmente, abrangendo campos como a prevenção de conflitos, gestão de crises e afrontamento de novos riscos à segurança. Neste sentido, anexa à própria Carta de Istambul, encontra-se institucionalizada a cooperação OSCE-OTAN através da Plataforma para Segurança Cooperativa108, em que se estabelece uma espécie de “contrato de parceria” para as instituições relacionadas à segurança. Ligadas estreitamente por objetivos comuns de garantir um processo de interação política e de cooperação, OSCE e OTAN atuam em conjunto, encontrando-se regularmente através dos contatos entre o Presidente da OSCE e o Conselho do Atlântico Norte, desde 1996109. Pragmaticamente, a OTAN contribuiu em uma ação coordenada para a atuação da Missão de Verificação da OSCE no Kosovo110, no final de 1998 e início de 1999, possibilitando que funcionários da OSCE trabalhassem em parceria com as forças aéreas de verificação da OTAN. Outros casos foram o trabalho Narcotráfico no Afeganistão Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2010/06/08/9390301/ 108 conjunto das duas organizações na instituição de sanções e na NORTH Altantic Treaty Organisation. Disponível em: <http://www.ukessays.co.uk/essays/accounting/north-altantic-treaty-organisation.php>. Acesso em: 09 abr. 2013. 109 PEREIRA, Sandra. Que papel para as organizações internacionais de segurança e defesa na europa? Disponível em: <http://www.achegas.net/numero/vinteecinco/sandra_pereira_25.htm>. Acesso em: 09 abr. 2013. 110 A prevenção estrutural e multissetorial no Kosovo e na Macedônia: o sociograma de cada crise. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/10847/10847_7.PDF>. Acesso em: 09 abr. 2013. 55 averiguação do controle de armas nos Balcãs e a disponibilidade da OSCE na cooperação junto a OTAN contra o tráfico de drogas no Afeganistão111. Na situação da Bósnia e Herzegovina, a OSCE recebeu apoio da Força de Implementação da OTAN (IFOR) e de sua sucessora, a Força de Estabilização (SFOR), na implantação de um programa de ação comum para instituir controle de armas e segurança no país. A eficiência do apoio possibilitou um excelente desenvolvimento das eleições, no ano de 1996, na região, sob os cuidados da OSCE112. 8.3. União Europeia Apesar de discrepantes em estruturas e objetivos, a União Europeia (UE) e a OSCE também desenvolveram significativa atividade de cooperação, visto que compartilham de iguais princípios e valores fundamentais, ao mesmo tempo em que dividem relevantes compromissos quanto à prevenção de conflitos, gestão de crises e recuperação pós-conflito, além da promoção da democracia, e dos direitos humanos e de desenvolvimento institucional. Além de todos os Estados-Membros da UE serem também Estados-participantes na OSCE, nas reuniões desta organização, a delegação de representantes da UE integra comissários das áreas mais diretamente envolvidas no conflito, emitindo uma única posição comum dos Estados-membros da UE. Sendo assim, a cooperação entre a OSCE e UE busca atuar em todas as dimensões da concepção característica de segurança para ambas as organizações, quais sejam a políticomilitar, a humana e a econômico-ambiental, da mesma forma que pretende disponibilizar missões específicas no que diz respeito à prevenção de conflitos, gestão de crises e recuperação pós-conflito. Portanto, estão compreendidos como meios de cooperação estabelecidos entre a OSCE e a UE o intercâmbio de informações e de análises quando em missões de recolhimento de dados, além de iniciativas de benefício mútuo nas quais a UE pode contribuir nas operações da OSCE no domínio da gestão de crises, nas ações coordenadas no campo da recuperação pós-conflito e nas operações de gestão de crises na sequência de um pedido da OSCE. 111 OSCE e OTAN irão resolver problemas do Afeganistão. Disponível em: <http://portuguese.ruvr.ru/2012_10_24/zannier-osce-e-otan-irao-resolver-problemas-do-afeganistao/>. Acesso em: 11 jul. 2013. 112 PEREIRA, Sandra. Que papel para as organizações internacionais de segurança e defesa na europa? Disponível em: <http://www.achegas.net/numero/vinteecinco/sandra_pereira_25.htm>. Acesso em: 09 abr. 2013. 56 8.4. Organizações Não-Governamentais Não diferente do que ocorre com a ONU, a OTAN e a UE, a cooperação da OSCE com as Organizações Não-Governamentais também se mostra valiosa. Neste sentido, a principal forma de cooperação com as ONGs é o compartilhamento de dados, uma vez que essas são de grande importância enquanto fontes de informação em se tratando de violação de direitos humanos e proteção das minorias113. 9. Principais Tratados A Carta de Helsinque114 representa um divisor de águas na história da OSCE, uma vez que nesse tratado estão contidos os princípios fundamentais os quais dão base à atuação da Organização, quais sejam: o não recurso à Conferência da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) – resultando na Carta de Helsinque. Fonte: http://www.helsinki200.fi/en/helsinki-18122012/1975-osce violência, a regulamentação pacífica de conflitos, o direito à igualdade territorial e respeito pelos direitos humanos e das minorias nacionais. Tais princípios encontram conformidade com os Objetivos e Princípios da Carta das Nações Unidas, mais especificamente com o conteúdo do seu Capítulo VIII. Todavia, além da Carta de Helsinque e dos demais documentos produzidos nas reuniões subsequentes, como a Carta de Paris de 1990, o Documento de Lisboa de 1996 e a Carta de Istambul de 1999, existem outros tratados que se correlacionam com os interesses da OSCE – como o Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa (CFE) de 1990, o Documento de Viena de 1999, o Tratado de Céu Aberto de 2002 e o Tratado Internacional sobre Comércio de Armas, recentemente aprovado, em abril de 2013 – a seguir pormenorizados. 113 FERNANDES, Castro Teixeira; SOUSA, José Pedro. A Segurança da Europa Ocidental: Uma Arquitectura Euro-Atlântica Multidimensional. Lisboa: Fundação Calouste Geelbekian, 2002. p. 287. 114 CONFERENCE ON SECURITY AND CO-OPERATION IN EUROPE. Conference on Security and Cooperation Final Act. Helsinqui: CSCE, 1975. Disponível em: <http://www.osce.org/mc/39501?download=true>. Págs. 4-8. Acesso em: 09 abr. 2013. 57 9.1. Tratado Sobre Armas e Forças Convencionais Na Europa (CFE) Após o final da Guerra Fria, o Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa virou o cerne da segurança nesse continente, assumindo um relevante significado histórico ao passo que foi marco do fim do conflito da Guerra Fria, responsável pela destruição de um número significativo de armamentos e equipamentos, impossibilitando, consequentemente, amplos ataques. Assinado em 1990, seu objetivo inicial foi diminuir as forças armadas, bem como reduzir a utilização dos demais equipamentos clássicos de insegurança utilizados pelos dois principais blocos, no âmbito de uma Europa dividida em Leste/Oeste. No entanto, esse só passou a vigorar em 1992, o que acabou por ensejar novos objetivos: para alcançar a confiança do outro, cada país firmou o compromisso de comunicação no que diz respeito a suas manobras militares, além de permitir inspeções recíprocas com base no ideal da transparência. Também é tema deste tratado, a vedação sem prévio acordo de envio de tropas estrangeiras para posicionamento em território de outro Estado. Todavia, o tratado mostrou-se, em parte, obsoleto em virtude da reorganização das fronteiras, tornando o critério de limitação de armamentos por território tumultuado – com alguns países tentando se aproveitar disso. Com a dissolução da URSS, especialmente, o texto sofreu revisão em 1999. Contudo, a ratificação da nova versão é rejeitada pelos países integrantes da OTAN, sob o argumento de que deve haver a completa retirada das tropas russas da Geórgia e da Moldávia – posto que seria uma atitude incoerente com o tratado supramencionado, isto é, alega-se que a Rússia não respeita o seu texto. Deste modo, afirmando não ter condições de permanecer sozinha tolerando uma situação de inobservância do tratado, visto que ratificou a nova versão do texto (posteriormente, a Bielorússia, o Cazaquistão e Ucrânia também ratificaram), a Rússia sugeriu uma interrupção do caráter da transparência, colocando empecilhos nas inspeções realizadas por países da OTAN e, também, não mais limitando sua quantidade de armas convencionais. Além da explicada desavença das tropas russas posicionadas forçosamente em território estrangeiro, também é discórdia, específica, entre as duas antigas superpotências do mundo bipolar da Guerra Fria, a questão dos Estados Unidos da América insistirem em construir bases avançadas do seu escudo antimíssil em dois dos países da antiga área de autoridade da URSS. Vale salientar que já foi tratada por Washington com a Polônia e a 58 República Tcheca a construção de uma base de mísseis interceptores e a instalação de uma base de radares, respectivamente115. Apesar desses contrapontos, o Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa, vigorando com seu texto antigo, permanece sendo um dos cruciais instrumentos de segurança Polónia autoriza instalação do escudo antimíssil americano. Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/poloniaautoriza-instalacao-do-escudo-antimissilamericano-1339060 europeia. Afinal, foi através dele que este continente retornou ao seu estado de garantia de tranquilidade, sem a constante ameaça de possíveis invasões ou ataques da URSS (e, posteriormente, da Rússia) sobre a Europa Ocidental a qualquer momento – além, claro, das consequências políticas, financeiras e militares que o tratado proporcionou116. 9.2. Documento De Viena De 1999 Abordando os objetivos da Carta de Helsinque, o Documento de Viena117 atua como politicamente vinculativo. Os princípios basilares determinados naquela Carta serviram de fundamentação para os posteriores documentos criados com o fim de promover confiança e segurança, a exemplo do Documento de Estocolmo de 1986 seguido do primeiro Documento de Viena de 1990 (este sendo sucedido, por sua vez, pelos demais Documentos de Viena de 1992, 1994 e 1999). No intuito de promover a confiança mútua e a transparência militar, o Documento de Viena de 1999 alia-se aos demais tratados de mesmo objetivo. Em se tratando de Medidas de Segurança e Cooperação (Confidence and Security-Building Measures – CSBMs), já no Documento de Viena de 1994 houve grande destaque para essa área de atuação da Organização, todavia, o novo texto de 1999 trouxe inovações e apresentou um caráter mais restritivo no que tange à quantidade de armamentos e equipamentos em geral de cunho 115 G1, GLOBO. EUA QUEREM INSTALAR ESCUDO ANTIMÍSSEIS NA POLÔNIA E NA REPÚBLICA TCHECA. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1429910-5602,00.html>. Acesso em: 08 abr.2013. 116 RAMALHO, José Luís Pinto. A OSCE na sua Dimensão Político-Militar. Disponível em: <http://comum.rcaap.pt/bitstream/123456789/1284/1/NeD103_JoseLuisPintoRamalho.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2013. 117 DOCUMENTO DE VIENA. Disponível em: <http://www.osce.org/node/41281>. Acesso em: 09 abr. 2013. 59 militar, bem como à localização e deslocamento das forças armadas de cada Estado – sempre a fim de promover o sentimento de segurança no continente europeu. Durante os debates acerca dos dispositivos do Documento, ficou deliberado sobre o seguinte: a compatibilidade das novas sugestões com relação aos acordos já existentes acerca do controle de armas, o sentido militar das propostas, o princípio de equiparado respeito pela segurança de todos os Estados-participantes, bem como o correlacionado conceito de indivisibilidade da segurança, sua suscetibilidade de verificação e seu balanceamento entre custos adicionais e seu efeito funcional acessório118. Nesse sentido, houve avanço do texto de 1999 no que concerne à adoção de novos institutos, como a produção de relatórios em determinados prazos preestabelecidos, a iniciação de noções do Código de Conduta, a proposta de mudança reduzindo os limites permitidos de efetivos, a alteração de certas quotas e área de aplicação do próprio Documento, e mais. Inclusive, a própria OTAN em sua cooperação externa de segurança com a OSCE chegou a sugerir o acréscimo de novos tipos de aeronaves e infraestrutura no rol já determinado pelo texto anterior de 1994. Destaca-se a introdução de um novo capítulo ao Documento e a retirada de parte significativa de outro, quais sejam o Capítulo sobre Medidas Regionais e o Capítulo sobre Comunicações, respectivamente. A adição do primeiro funciona como um guia de orientação para que os Estados-participantes possam desenvolver tais medidas, ao passo que a diminuição do último possibilitou a produção de um material específico sobre o tema das comunicações interestatais, sob a responsabilidade do Fórum de Segurança e Cooperação (FSC). Além do já exposto, após o ápice do conflito de Kosovo no ano de revisão do Documento, o texto aborda em capítulo específico a Notificação Prévia de Certas Atividades Militares e destina parágrafo particular para tratar das forças multinacionais. 9.3. Tratado De Céu Aberto119 118 RAMALHO, José Luís Pinto. A OSCE na sua Dimensão Político-Militar. Disponível em: <http://comum.rcaap.pt/bitstream/123456789/1284/1/NeD103_JoseLuisPintoRamalho.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2013. 119 2007/339/CE: DECISÃO DO CONSELHO E DOS REPRESENTANTES DOS GOVERNOS DOS ESTADOS-MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA, REUNIDOS NO CONSELHO, DE 25 DE ABRIL DE 2007, RELATIVA À ASSINATURA E APLICAÇÃO PROVISÓRIA DO ACORDO DE TRANSPORTE AÉREO ENTRE A COMUNIDADE EUROPEIA E OS SEUS ESTADOS-MEMBROS, POR UM LADO, E OS 60 O Tratado Open Skies (do inglês, Céu Aberto) trata-se de um acordo firmado entre os EUA e a Europa que prevê a total abertura das rotas transatlânticas europeias e americanas. O tratado inclui ainda um mecanismo que possibilita a revisão e aprofundamento de questões relativas à propriedade das companhias aéreas. Através deste acordo, em vigor desde janeiro de 2002, as companhias aéreas da União Europeia passam a poder efetuar voos para os EUA com partida de qualquer aeroporto europeu, independentemente da nacionalidade (sendo a aeronave reconhecida como europeia); fixar os preços de acordo com o mercado; e assinar acordos de cooperação. No entanto, o conceito original do Tratado de Céu Aberto está embasado no direito de observação aérea mútua e cooperativa entre os países. O acordo ainda reforça a cooperação entre os países partes em assuntos como a segurança e as fronteiras, uma vez que, até a data do tratado, o transporte aéreo para os EUA era regulado através de tratados bilaterais. Os Estados-parte do Tratado de Céu Aberto estabeleceram e passaram a integrar a Comissão Consultiva de Céu Aberto (OSCC – Open Skies Consultive Commission), instituto que funciona junto à OSCE, tomando decisões ou elaborando recomendações em consenso, visando a promover os objetivos do Tratado120. Com a intenção de reforçar a segurança, paz, cooperação e estabilidade dessa área que vai da América do Norte até a Rússia, o Tratado de Céu Aberto mostra-se como instrumento político que procura promover a confiança, abertura e transparência entre os Estados-parte e suas respectivas populações. Para além do seu funcionamento como uma zona de segurança e cooperação mútua internacional, o tratado estabelece um regime que acaba por servir como um meio a mais para obtenção de informações militares, sobretudo úteis a países que não possuem sofisticados sistemas de observação por satélite. 9.4. Tratado Internacional sobre Comércio De Armas ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, POR OUTRO.Disponível em:<http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:32007D0339:PT:NOT>. Acesso em: 09 abr.2013. 120 RAMALHO, José Luís Pinto. A OSCE na sua Dimensão Político-Militar. Disponível em: <http://comum.rcaap.pt/bitstream/123456789/1284/1/NeD103_JoseLuisPintoRamalho.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2013. 61 O comércio global de armas internacionais configura-se atualmente como um dos ramos empresariais mais lucrativos para os países fornecedores, movimentando cerca de 70 bilhões de dólares por ano121 e segue em ascensão mesmo com a crise econômica mundial. A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou recentemente, em abril de 2013, um inédito tratado sobre a regulação da exportação e importação de armas convencionais122, dentro das seguintes categorias: tanques de combate, veículos blindados de combate, sistemas de artilharia de grande calibre, aviões de combate, helicópteros de ataque, navios de guerra, mísseis e lançadores de mísseis, além de armas pequenas e leves123. O tratado vinha sendo discutido há uma década quando foi reaberta a discussão em Assembleia Geral, no final de 2012. Aprovado por 154 dos 193 países-membros da ONU, em que três Estados-Membros – Coreia do Norte, Irã e Síria, os quais enfrentaram sanções e estão atualmente envolvidos em conflitos internacionais – votaram contra a resolução, enquanto 23 países – como Rússia, China e Índia, grandes exportadores, e Qatar e Arábia Saudita, fornecedores atuais dos rebeldes da Síria – se abstiveram. Os representantes da Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua e Venezuela consideraram que o tratado confere privilégios aos países exportadores de armamentos e pode ser “manipulado politicamente”. Os cinco países afirmam ainda que o texto do tratado “não é equilibrado”, uma vez que não inclui uma menção à proibição de transferência de armas a grupos armados não governamentais, entre outras “deficiências”, como a não definição do termo genocídio124. Entretanto, o tratado é considerado um marco histórico para os Direitos Humanos e a favor do controle de armas. O documento regula o comércio global de armas e abrange em seu teor a questão dos Direitos Humanos ao vetar aos países a venda de armamentos a Estados que venham a utilizá-los em genocídios, crime organizado, alvos civis e crimes contra a Humanidade, sumariamente violando a Convenção de Genebra de 1949, reguladora das leis 121 O GLOBO. ONU Aprova Tratado para Regular Mercado Global de Armas. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/onu-aprova-tratado-para-regular-mercado-global-de-armas8005353#ixzz2Q4NUh0mM>. Acesso em: 08 abr.2013. 122 Disponível em: <http://www.un.org/News/Press/docs/2013/ga11354.doc.htm>. Acesso em: 08 abr. 2013. 123 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral Da ONU Aprova Tratado Histórico sobre Comércio Global de Armas. Disponível em:< http://www.onu.org.br/assembleia-geral-da-onu-aprova-tratadohistorico-sobre-comercio-global-de-armas/>. Acesso em: 08 abr. 2013. 124 VEJA. ONU Aprova Tratado sobre Comércio Internacional de Armas. Disponível em:<http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/onu-aprova-tratado-sobre-comercio-internacional-de-armas>. Acesso em: 08 abr. 2013. 62 de guerra. Aos países exportadores caberá identificar os riscos de utilização dos armamentos fornecidos. Este tratado é de caráter vinculante e, portanto, passa a ser obrigatório após a sua entrada em vigência. Ele entrará em vigor 90 dias depois de ratificado pelo signatário n° 50125 e obrigará todos os países a criarem sistemas nacionais com o objetivo de controlar o mercado de armas. Além das determinações já mencionadas, será vetado o comércio caso o Estado tenha informações e esteja ciente de que seus produtos serão usados para violar direitos humanos. Os Estados que aderirem ao tratado deverão informar publicamente sobre as vendas de armamentos anuais, de modo que amplie a transparência do setor e expandindo a participação pública nas decisões sobre o tema. Não estará no âmbito do tratado, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento (UNODA), nenhuma ação no sentido de: interferir no comércio doméstico de armas ou no direito de portar armas nos Estados-Membros; proibir a exportação de qualquer tipo de arma; infringir o legítimo direito dos Estados para autodefesa ou minar padrões nacionais de regulação de armamentos já em vigor126, respeitando, deste modo, a soberania e o livre mercado dos países nos ditames estabelecidos internacionalmente. 125 ASSEMBLEIA Geral da ONU aprova tratado histórico sobre comércio global de armas. Disponível em: <http://www.onu.org.br/assembleia-geral-da-onu-aprova-tratado-historico-sobre-comercio-global-de-armas/>. Acesso em: 08 abr. 2013. 126 Idem. 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS O controle de armas não se funda em desarmamento ou aniquilação de arsenais bélicos globais, mas, sim, na criação de instrumentos internacionais capazes de regular a criação, a distribuição e a utilização desses. A temática ganha destaque a partir das duas grandes Guerras Mundiais do século XX e tem tomado proporções maiores na medida em que aumenta a comunicabilidade entre as diversas regiões do mundo. Os países passam a não se preocupar somente com seus vizinhos fronteiriços, dado que problemas como tráfico de armas e terrorismo atravessam os limites físicos entre duas nações. A Europa é continente de fundamental importância para resolução das problemáticas demonstradas, não só por ter sido foco dos principais eventos recentes que impulsionaram o desenvolvimento da indústria bélica, como também por estar em posição estratégica, próxima às duas regiões mundiais de maior instabilidade política – a África e o Oriente Médio; e, dessa forma, exercer forte influência em ambas. Interessante é observar, ainda, que a temática em comento alcança novas dimensões com o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria. O continente europeu forma uma configuração geopolítica diferente: com o esfacelamento da antiga URSS surgiram diversas outras nações, frágeis democracias que tentavam estabelecer-se após anos de vivência em regime socialista e completa separação do resto do continente. A preocupação aqui deixava de ser uma possível Terceira Guerra Mundial entre as duas fortes nações e passava a ser os problemas internos de cada um desses Estados recém-independentes. Como foi apresentado ao longo do guia de estudos, diversos foram os conflitos de cunho separatista que abalaram a região à época: a dissolução da antiga Iugoslávia; a separação da Eslovênia, da Croácia, da Macedônia, da Bósnia-Herzegovina e de Montenegro; a independência do Kosovo, dentre outros. Alguns conflitos relacionados ao período preocupam as autoridades até os dias de hoje. Nesse âmbito, destacam-se a disputa por Nagorno-Karabakh e os conflitos na Ossétia do Sul, na Chechênia e no Quirguistão. São problemas diretamente relacionados à política europeia de controle de armas e segurança de fronteiras. Outras problemáticas são de fácil visualização ao se aprofundar no tema a ser tratado nas futuras negociações do comitê: o terrorismo e o aumento dos gastos militares a partir dos atentados ocorridos na primeira década do século XXI; o mercado negro e as armas de 64 pequeno porte; a participação de empresas privadas e militares no comércio de armas ; e a diminuição da transparência militar entre as nações. É imprescindível destacarmos ainda os instrumentos internacionais já existentes e a necessidade de se discutir a efetividade e a abrangência dos tratados que regulamentam a matéria, como o Tratado sobre Armas e Forças Convencionais na Europa (CFE), o já citado Tratado de Céu Aberto, e o atual Tratado sobre Comércio de Armas, além de boa parte dos documentos emitidos no contexto da própria Organização – especialmente, o Ato Final de Helsinque de 1975, a Carta de Paris de 1990, o Documento de Lisboa de 1996 e o Documento de Viena de 1999. A OSCE, sendo a maior organização de segurança do planeta, possui importância ímpar em caráter regional e internacional, principalmente graças a sua vasta competência e atuação territorial – abrange 57 países de três diferentes continentes (Europa, Ásia e América). Configurou-se num esforço político-diplomático sem precedentes entre 35 nações, de diferentes culturas; sua manutenção e expansão, no contexto atual, é uma vitória de um mundo cada vez mais integrado. Para a resolução dos conflitos naturais advindos da tamanha diversidade de seus participantes, a OSCE se ergue sobre pilares de força política e se fortalece com base no consenso durante a tomada de decisões, de maneira a transformá-las em realidades com peso singular. Inserida num panorama tão vasto e com objetivo precípuo de manter a segurança global, a Organização é participante indiscutível e de suma importância para a construção de um futuro melhor. 65 REFERÊNCIAS AGUIAR, Lilian. A crise nos Balcãs. 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