O Estado nunca se deve demitir das suas
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O Estado nunca se deve demitir das suas
7 Anos Semanário l Sai à sexta JORNALISMO DE REFERÊNCIA. Edição N.º 372 - 20 Março de 2015 Director Carlos Ferreira Luanda 400 Kwanzas - províncias 450 Kwanzas 1º Caderno ECONOMIA MUTAMBA Homossexualidade entre o sim e o não Standard Bank valoriza Bolsa Nelson Ebo um tenor angolano Dossier >> P. 02 Banca >> P.04 Música clássica >> P.04 andebol FEMININO Vitória na estreia do Pré-Olímpico >>P. 25 moto-taxistas Os meandros de uma vida de risco analista isaac Paxe “O Estado nunca se deve demitir das suas responsabilidades” >>P. 10 diamantes de sangue >>P. 14 Rafael Marques é julgado terça-feira tragédia do lobito Isaac dos Anjos colide com Amaro Ricardo >>P. 08 >>P. 12 Beba com moderação. 02 20 Março 2015 Dossier Homossexualidade A dura luta pela aceitação Várias vezes falou-se sobre o homossexualismo em Angola, no entanto, o tema nunca foi tão efervescente como actualmente. O assunto está inclusive à beira de ser discutido oportunamente ao nível da Assembleia Nacional. Os homossexuais, que acreditam em melhores dias, já estão organizados em associação para discutir os seus direitos. Texto de António Paulo O medo de ser zombado, agredido, rotulado ou desprezado por familiares e amigos faz com que muitos homossexuais permaneçam escondidos em “armários sombrios”, sem poder libertar-se na sua idiossincrasia. Outros entendem que dar a cara é a melhor maneira de mostrar a sua existência, enfrentar e combater a descriminação e o preconceito. Nizer Mértola é um jovem homossexual assumido desde os seus 14 anos de idade. Mas foi aos oitos que diz ter começado a sentir sensações por um outro homem. “Mas não sabia o que era. Olhava para um homem e tinha desejos. Olhava para uma mulher e não sentia nada. Então, perguntava-me o que se passava”, contou. A resposta chegou para Nizer, quando no ensino médio conheceu uma turma de homossexuais. “Aí, tudo ficou mais fácil para perceber. Eram pessoas que tinham os mesmos desejos que eu. Homens com homens e mulheres com mulheres em beijos e abraços” detalha. A barreira da família foi o primeiro adversário que diz ter vencido, para hoje “andar de cabeça erguida” e enfrentar o “destrato da sociedade”. Com o apoio dos seus amigos, Nizer assumiu-se ao mundo, depois de uma conversa “franca” e “aberta” mantida com os progenitores que na época já ouviam os rumores” sobre a condição do filho”. “Os meus pais já ouviam dizer que eu andava com gays e lésbicas. Depois, um dos meus irmãos contou-lhes. Eles chamaram-me e pergun- taram se eu estava “doente”, ou tinha algum desvio” notou. Nizer conta que seus pais o tentaram convencer a fazer uma consulta, que recusou. “Porque não adiantava e que não iria resolver nada”, explicou. Para espanto do jovem, os seus pais reagiram de foram positiva, proporcionando uma alegria sem procedentes ao filho que hoje se assume como gay. “É uma alegria muito grande para mim. Penso que qualquer outro homossexual gostaria de estar no meu lugar”, regozijou-se. Quanto à sociedade, Nizer diz olhar estupefacto, para o preconceito que ainda se assiste em relação à homossexualidade, facto que diz ser inadmissível em pleno século XXI. “ Eu já não ligo aos comentários preconceituosos e à rotulação porque passamos. Isto já não me abala. Faço as minhas coisas com a Quintiliano dos Santos 20 Março 2015 03 “Aqui já há casamentos gays que se realizam de forma não oficial. São cerimónias restritas, mas quando um dia acontecer, as conservatórias irão encher” maior naturalidade. É uma vergonha imensa, em pleno século XXI ainda encontrarmos pessoas com tamanho preconceito” atirou. O jovem empresário de 26 anos, ligado ao designer e às artes gráficas, conta que para dar voz à sua causa, ele e o seu grupo conhecido por Divas, têm-se dedicado à realização de festas e outros eventos culturais virados para gays, lésbicas e simpatizantes. Uma fórmula encontrada, não só para se divertirem, como também para promoverem a sua existência. “Gostaríamos ser tratados como pessoas normais” O jovem fala sem tabus e despido de receios sobre a sua orientação sexual. Revela ter um namorado, com quem gostaria de casar e ter filhos. Deseja ainda que a sociedade encare o homossexualismo de “forma natural”. “Seria bom que a sociedade aceitasse de maneira natural a convivência entre duas pessoas do mesmo sexo aos abraços e beijos. Isto seria bonito mas, temos consciência que a sociedade não está ainda preparada” frisou. Por isso, observou Nizer, “o melhor mesmo é não abusar”. O interlocutor, optando em ser comedido nas suas explanações, dizendo tudo de forma racional para não ferir sensibilidades, confessa que, apesar dos seus anseios, não sai com o namorado aos beijos pelas ruas, bares e restaurantes para mostrar às pessoas que a homossexualidade existe. Contudo refere, o nosso interlocutor, “no dia em que a legislação permitir o casamento gay será uma alegria muito grande”. “Sei que não vai acontecer tão cedo, afinal ainda assistimos à manifestação de muitos preconceitos”, reconheceu. Revela, por outro lado, que de maneira informal, “vão ocorrendo casamentos entre pessoas do mesmo sexo, no país, com particular realce para Luanda”. “Aqui já há casamentos gays que se realizam de forma não oficial. São cerimónias restritas, mas quando um dia acontecer, as conservatórias irão encher”, avisou. Nizer sublinha que o preconceito que ainda marca os homossexuais tem feito com que muitos deles neguem a sua condição, outros cometam suicídio ou acabem mesmo loucos. Outros ainda adoptam uma dupla personalidade. “Isto é uma dor de cabeça para os homossexuais. Eu conheço pessoas que de dia são homens e de noite são mulheres”, disse. Por isso, o entrevistado apela ao fim do preconceito, ao respeito dos direitos e da igualdade para todos os seres humanos. “Somos pessoas iguais perante a lei. Cada um tem a sua vida e faz dela o que bem quiser. Não vamos mais maltratar-nos por ser gay, lésbica ou hétero. Não há motivos para isso. Vamos dizer não ao preconceito e à discrimina- Homem em Angola, mulher na Inglaterra IMMANNI DA SILVA inclui o grupo do transgénero, ou seja passou de homem para mulher, através da mudança de sexo que realizou na Inglaterra, país onde viveu e regressa “tecnicamente” para observações médicas, regulares, segundo a também transsexual. Neste caso particular, o desejo de ser mulher que sempre a acompanhou ainda na infância e adolescência provocou-lhe várias depressões na vida adulta, até que aos 27 anos, de idade, decidiu experimentar a terapia hormonal, para as mudanças físicas. “Sinto-me mulher desde os cinco anos, quando comecei a frequentar a escola. Sempre me identifiquei mais com as meninas do que os rapazes. Sempre fui assim e nunca mudei”, sustentou. A também artista plástica esclarece que a transexualidade “não é uma questão de orientação sexual, mas de identificação de género. Não tem nada a ver com a homossexualidade. Fazemos ambos parte da mesma comunidade LGBT. O meu caso não é uma questão de orientação sexual, porque nada tem a ver com o que me atrai sexualmente, mas sim com que género me identifico”, esclareceu. Na Inglaterra, país onde foi viver aos 19 anos, saído de Angola, Immanni disse ter aprendido mais sobre a sua condição, facto que a motivou a transição sexual. Submeteu-se a terapia hormonal de vários métodos, quer por via oral, xaropes e comprimidos quer por via de injecções de hormonas femininas que fizeram com que o seu corpo se transforme naturalmente. “Começamos a ter uma pele mais suave, características mais femininas e a ganhar gordura em partes do corpo que normalmente a mulher tem. Depois começamos a ter curvas e peitos e então, concluímos com cirurgias técnicas, como implantes mamários e estéticos de um modo geral, para estar mais próximo do lado feminino”, pormenorizou. Immanni, que também é modelo, conta que regressou da Inglaterra mais optimista, porém apreensiva, porque não sabia qual seria a reacção das pessoas no país. “Eu acredito que o respeito não se exige, é algo que se adquire, quando nos damos ao respeito. Não sou a favor de que nós, na comunidade LGBT, tenhamos que nos impor. Temos que nos proteção. O que nós queremos é somente viver”, pediu. Por fim, Nizer Mértola, religioso, agradece a Deus, pelo facto de, na ger sim e temos que pedir respeito das pessoas. E acima de tudo compreensão”, notou. Sociedade “vacinada” A também escritora entende que a sociedade está a ser “vacinada” perante o fenómeno mas admite que a discriminação que ainda hoje enfrentam os homossexuais resulta da falta de mais informação. “É nosso papel educar as pessoas, informá-las sobre o que passa connosco, sobre o que nós somos, para que elas nos possam entender e respeitar”, argumentou. Por outro lado, a interlocutora nega qualquer opinião que caracteriza os LGBT, como sendo pessoas anormais ou que sofram de distúrbios psicológicos. Para ela, o problema não é dos homossexuais, mas das pessoas que não procuram entender o fenómeno. “Não somos pessoas confusas, as pessoas é que não têm conhecimento e não se dão ao trabalho de nos entender. Temos a certeza do que somos e do que queremos. O problema da sociedade é o de compreensão do outro, mas eles também não são culpadas. Por isso, temos de explicar sempre que podemos, para mostrar que temos vozes e que existimos”, acentuou. Hoje- continuou, “belisco-me todos os dias porque o que consegui conquistar em Angola a nível profissional, na minha condição, é uma bênção. “Quando converso com as pessoas, elas sabem o que eu posso oferecer”, disse a entrevistada, que hoje acredita ter mais confiança em si. “Acredito nas minhas competências e cheguei à conclusão de que, desde que a “Não somos pessoas confusas, as pessoas é que não têm conhecimento e não se dão ao trabalho de nos entender. Temos a certeza do que somos e do que queremos” sociedade angolana, não se verificar o alastramento da violência contra os homossexuais, tal como acontece com frequência em outras gente demonstre com clareza a nossa personalidade, as pessoas conseguem aceitar a nossa condição”, destacou. Immanni da Silva é cidadã nacional e tem dupla nacionalidade, angolana e inglesa. A questão do género também é partilhada pelos dois países. Na Inglaterra, Immanni é oficialmente mulher, reconhecida pelas leis vigentes daquele país. Mas em Angola, do ponto de vista legal, “ela” continua ainda homem. O bilhete é outro constrangimento para interlocutora. No seu B.I angolano, o nome é masculino e, já na Inglaterra é feminino, registada com o nome de Immanni da Silva, porque lá a aceitação é mais rápida do ponto de vista legal. Lá há mais simplicidade.” “ Fiz tudo na net, preenchi o formulário e o motivo da mudança do género. A opção transexual também já vem expressa no documento. Portanto, em Angola do ponto de vista legal, sou homem e na Inglaterra sou mulher”, certificou. Por fim, e enquanto porta – voz da VAAPA, “uma organização angolana que trabalha em prol dos direitos humanos”, informou que aquela associação já tem uma proposta de lei de defesa dos direitos dos homossexuais, que também já foi remetida à Assembleia Nacional, aguardando por uma apreciação dos deputados. “O que mais me choca são os comentários das pessoas. Há muitas pessoas que olham para o homossexual como se fosse parte de uma epidemia, ou uma ameaça contra a sociedade. A maior ameaça para com a sociedade é a discriminação. É a discriminação que impede uma instituição de ter um bom funcionario, competente e com conhecimentos. Agora, o que ele faz dentro de quatro paredes e com quem, não interessa. O importante é que ele possui competências e pode trabalhar para o desenvolvimento da empresa e do país de um modo geral ”, finalizou. paragens em África e no mundo. O interlocutor tem fé que o problema da aceitação das orientações sexuais será um dia resolvido em ter- ras angolanas. “Veja que até, nunca mais nos chamaram de “paninas”. Agora só nos chamam gays que é um termo mais soft”, ironizou. 04 20 Março 2015 Dossier Homossexualidade A associação dos homossexuais quer emenda na Constituição Apesar da legislação angolana ser omissa quanto à questão da homossexualidade, os homossexuais estão a organizar-se para discutir e ver expresso os seus direitos no país. Uma associação cujo nome omitimos a pedido do seu presidente, promete lutar para que o executivo faça uma emenda constitucional a favor dos direitos dos gays. Carlos Henriques assume ser o representante da associação que congrega lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais ou transgéneros (LGBT). A associação, que não está legalizada, existe há mais de um ano e tem como principal objectivo a promoção e garantia da defesa dos direitos das minorias sexuais. O também homossexual, que não aceitou revelar o número de associados, garantiu ser diversificada a moldura de gente que compõe o grupo. “Apenas devo-lhe dizer que somos muitos. Por agora, estamos somente virados para o desenvolvimento da própria comunidade. Estamos a informar e a educar a nossa comunidade. Há muitos aspectos da homossexualidade que os próprios gays não conhecem. Este é um dos nossos principais objectivos por agora”, acentuou. Preferiu não dar a “cara” sublinhou que a homossexualidade não deve ser entendida, como sendo uma opção, mas sim, uma questão de orientação e de afectividade. Se assim fosse- argumenta- “nunca teria optado por isto, para depois ser discriminado ou barrado. As pessoas olham para mim de forma estranha na rua. Se fosse opção, não escolheria isto para mim”, frisou o cidadão para quem, “o lado afectivo entre as pessoas não é uma questão de escolha”. “A pessoa nunca escolhe se vai gostar de alguém gordo ou magro, branco ou negro. Assim como o homossexual não escolhe afectivamente ninguém. Posso até mesmo mudar os meus comportamentos sexuais, deixar de me envolver com homens, mas afectivamente ninguém escolhe o parceiro”, sustentou. Carlos Henriques conta que já passou por várias situações discriminatórias por causa da sua condição de homossexual e afirma ter vivido o preconceito mesmo dentro de instituições públicas, cuja função é proteger e salvaguardar as vidas dos cidadãos. “Quando comecei a participar nas primeiras reuniões do Instituto de Luta contra a Sida, via que muitos trancavam logo a cara, por sermos gays. As nossas opiniões não eram tidas em conta. Os nossos pensamentos não eram traduzidos à letra. No campo de emprego, somos muitas vezes também descriminados, principalmente os gays com características mais efeminadas”, revelou. O representante dos homossexuais exemplifica ainda episódios de discriminação vividos em hospitais do país, constatando a quebra de confidencialidade entre paciente e médicos. “Quero que quando os gays vão ao hospital, não sejam discriminados. Mutas vezes, depois de sermos atendidos, ouvimos o médico a dizer em bom som que “aquele paciente é gay”. Queremos ir ao hospital e sentirmo-nos à vontade. Assistamos sempre a quebras de confidencialidade por falta de preparação do médico para tratar o paciente gay”, sentenciou. O gay assumido desde a nascença, conforme faz questão de referenciar, contesta a falta de um dispositivo legal no ordenamento jurídico angolano, que reconhece e salvaguarde os direitos dos homossexuais. “Por isso, vamos lutar para que o Governo faça uma emenda sobre a situação dos homossexuais. Os nossos direitos são iguais a de todos, e não estão ser respeitados. Falo da questão do casamento, de ter filhos e da penalização contra a discriminação. Esta será a nossa luta”, aposta. Porém, reconhece que a inexistência do diploma não reduz o modo de vida dos homossexuais. “Reconhecendo ou não, continuaremos a existir. Eu tenho direitos sobre o meu corpo e de fazer aquilo que bem quiser desde que não fira os outros. O que faço dentro de quatro paredes ninguém precisa de saber. As pessoas não têm ideia do quanto a discriminação faz mal”, desafiou. Por último, o responsável desta comunidade de homossexuais diz estar ciente que, a aceitação do grupo das minorias sexuais, é uma questão de tempo e faz fé na mudança. Por enquanto, sublinha que o grupo está virado para actividades que visam o bem- estar da comunidade, realizando palestras, disseminando informações sobre o homossexualismo e doenças sexualmente transmissíveis, (DTS). Ampe Rogério AJPD “É preciso começar a aceitar” A presidente da Associação Justiça Paz e Democracia, Lúcia da Silveira, defende que os direitos e liberdades fundamentais do ser humano “devem ser respeitados em todos os seus aspectos, quer seja por via do credo religioso, das suas convicções ou da sua orientação sexual”. Por isso, entende ser importante que a sociedade comece a aceitar a questão da homossexualidade. Para a activista dos direitos humanos, “é necessário que o assunto da homossexualidade comece a ser discutido por todos”. “Os homossexuais não são pessoas doentes, não são pessoas com desvios. Não são pessoas que precisam de cura. São seres humanos como nós e que possuem uma outra orientação sexual. Eles têm o direito de viver de forma livre”, defendeu. Lúcia da Silveira lembra que a questão da homossexualidade “não é um fenómeno desconhecido”, justificando que “a situação apresenta-se como um problema para a sociedade quando o assunto avança para uma discussão pública em termos de direitos das minorias sexuais”. “A liberdade sexual sempre foi reprimida. Mas a homossexualidade não é uma coisa nova. Entretanto, sempre houve uma necessidade de se reprimir estas liberdades, assim como a masturbação. Qualquer tipo de liberdade sexual é reprimida. E se verificar, normalmente, evoca-se sempre a cultura e a religião”, criticou. Para a activista, todos cida- dãos são iguais perante a lei e em Angola, sendo um Estado laico, “a religião não pode ter mais peso que o governo diante de uma decisão para a elaboração de uma futura lei sobre os direitos dos homossexuais”. Ao contrário de alguns países em África como o Uganda, Angola não criminaliza, mas também não regula a questão da homossexualidade. A presidente da AJPD entende que a regulamentação da lei dependerá “muito” daquilo que a própria sociedade angolana pretender”. “Agora, a criação da lei é que dependerá, obviamente do interesse do contexto, e de tudo o que se deve ter em conta quando se cria uma lei. Mas é muito importante saber que seria apenas a garantia de um direito, quer seja de casar ou até mesmo de ter filhos, porque não”, questionou . Olhando para o lado cultural, Lúcia da Silveira critica, duramente, algumas práticas culturais que ainda se assistem em África e que na sua visão, “atentam contra os direitos dos cidadãos”. “Um dos exemplos é a mutilação genital que já deveria ter sido banida totalmente. Ela fere os direitos das mulheres, no caso o direito de sentir prazer. Mas só olhamos para o homossexualismo como algo mau para a cultura. Isto não está certo do ponto de vista dos direitos humanos”, contestou. Lúcia da Silveira sustenta ainda as suas teses em relação ao assunto, apoiando-se no facto da UNICEF ter declarado em 1990, a homossexualidade, como não sendo uma doença do fórum psiquiátrico. “Foram feitas várias pesquisas à volta disto e obviamente temos também que descartar esta hipótese”, insistiu. A fonte rebate na tecla dos homossexuais, afirmando que não está certo dizer que a homossexualidade é uma opção sexual. “Ela é uma questão de orientação sexual porque a pessoa não a controla. Quem iria assumir ser homossexual e correr risco até de vida? É uma questão de lógica. Em quase todos os países africanos, dos que criminalizam a homossexualidade, as pessoas vivem com medo”, desabafou. A presidente da AJPD lembra com tristeza episódios de repressão contra os direitos dos homossexuais que ocorrem um pouco por África, com particular incidência no Uganda, uma sociedade maioritariamente cristã. “No Uganda por exemplo, defensores dos direitos humanos e das minorias sexuais, foram expostos em jornais o que fez com que a sociedade tomasse conhecimentos destas pessoas e fossem atacadas. Nos últimos quatro anos, alguns países têm estado a criar leis que violam os direitos destas pessoas que querem viver a sua liberdade sexual. Isto é que incomoda”, criticou. Por fim, Lúcia da Silveira recomenda uma análise profunda sobre o assunto no país para que a sociedade angolana comece a aceitar melhor os homossexuais. 20 Março 2015 05 “Temos uma hierarquia de valores. As minhas liberdades individuais não podem extravasar a hierarquia de valores” Sociólogo adverte “É preciso ter cuidado” O sociólogo Carlos Jorge da Conceição chama a atenção ao cuidado que se deve ter ao abordar do tema. Para o especialista em ciências sociais, a homossexualidade tem estado a ganhar proporção somente nas grandes cidades, onde se mostra ser hoje um “problema”. E opinou na perspectiva de que o fenómeno está a ser introduzido em Angola pelos países ocidentais. O interlocutor aborda o assunto do ponto de vista socio-antropológico na vertente africana lembrando que, a questão da homossexualidade, na época dos ancestrais africanos,” era quase que um problema inexistente pelo facto de haver definições de papéis na transmissão de valores, de costumes e de educação que era feita por instituições próprias”. Olhando para a estrutura socio-cultural angolana, o académico, refere que Angola possui um mosaico socio-cultural extremamente vasto, comportando vários grupos etno-linguísticos com aspectos importantes. O sociólogo exemplifica a mukanda, na transmissão de valores, um ritual de passagem para os adolescentes masculinos em que se ensina questões ligadas aos papéis de carácter masculino. “Ali vai se ensinar o que é e como ser homem”, acentuou. No que toca à educação para as mulheres, na transmissão de valores, Carlos Jorge exemplifica o por efico, um ritual muito acentuado no grupo etnolinguístico Chockwe. “As meninas são de facto isoladas durante um determinado de tempo e são-lhes ensinads os papéis socias do ponto de vista da sua estrutura feminina. Ensinam-lhes a ser mães e a comportar-se socialmente”, explicou. Sendo assim, o entrevistado sustenta que do ponto de vista da sociologia africana e com particularidade a angolana, a questão da homossexualidade deve ser discutida em várias perspectivas. “Se olharmos para a sociologia rural, nas aldeias, nas comunidades, nas zonas mais longínquas, esta questão da homossexualidade não é muito aceite. Quem tiver este posicionamento numa determinada aldeia, socialmente falando, é como alguém que tem desvios de comportamento. Tem falta orientação sexual e que não passou nos ritos. Não passou da fase de iniciação da adolescência para a vida adulta”, justificou. Carlos Jorge da Conceição observa que a questão da homossexualidade “é mais sentida nos espaços socio-urbanos fruto das transformações que o mundo observou nos finais século XX e que se estendem para o século XXI, quer seja do ponto de vista da ciência, da tecnologia, afectando assim as questões dos valores culturais”. “Mas eu queria que percebessem que nós os africanos, particularmente os angolanos, temos os nossos sistemas de valores que são diferentes dos outros. Assim, estamos diante do relativismo cultural. Aquilo que os outros aceitam como cultura, não podemos aceitá-los devido ao nosso sistema de valores”, elucidou. “Se encararmos esta questão de ânimo leve, teremos problemas, talvez pior do que os outros. Eles tem um sistema que não é igual o nosso. Temos que olhar para a nossa ancestralidade, temos que olhar para a nossa cultura, para as nossas tradições, para os nossos valores. Como é que fomos socializados, cada um de nós, e a partir deste item, podemos ter um posicionamento face a esta problemática”, avisou. O pedagogo, que reconhece a evolução dinâmica das sociedades, sublinha que “a homossexualidade não é um fenómeno estranho à luz dos olhos da sociedade, porém, entende que a mesma está a ganhar posicionamento face à estrutura de valores das culturas angolanas”. “Não que é não faça parte da nossa identidade cultural. É como sendo um fenómeno que está a emergir num sistema de valores, num sistema cultural que está a ganhar posicionamento face à nossa estrutura de valores. É importante que a sociedade tenha um posicionamento um pouco mais de contenção. Temos que ter cuidado face a esta situação e não a aceitar de ânimo leve”, avisou. Contrato social O sociólogo faz uma simbiose entre o sistema de valores e a declaração universal dos direitos humanos, defendendo ser necessário o respeito das liberdades individuais, mas “sem extravasar os sistema de valores, tradição e cultura”. “Temos uma hierarquia de valores. As minhas liberdades individuais não podem extravasar a hierarquia de valores. Ou seja, a minha preferência, os meus desejos não podem extravasar a questão que tem a ver com o colectivo”, argumentou o sociólogo recorrendo às teorias de Jean Jaques Rosseaou, sobre o contrato social: “Todos nós temos um contrato com a sociedade. Sempre que tomar a minha posição tenho sempre que pensar na reacção dos outros”, parafraseou-o. Falando ainda sobre o direito ao casamento e ter filhos, reclamado por alguns homossexuais, o interlocutor rebate na questão do ordenamento jurídico angolano que clarifica a autorização de casamentos somente a pessoas sexo oposto. “Isto é claro em termos constitucionais, a não ser que se emende a constituição”, observou. Por outro lado, o jovem de discurso aberto contrasta o casamento gay na realidade angolana, com base na tradição do alambamento, que igualmente institui o casamento tradicional somente entre pessoas do sexo oposto. “Na minha etnia, não passa pela cabeça de ninguém apresentar um homem como sendo seu parceiro. Corro o risco de ser apedrejado ou negado. Nas nossas famílias, o alambamento ou casamento tradicional só é aceite entre pessoas do sexo oposto. Penso que os meus concidadãos homossexuais têm que rever a sua posição”, avisou-os o interlocutor que chama atenção para o conceito sociológico da constituição familiar africana. No que toca aos filhos, Carlos Jorge explica que na cultura africana ter filhos só é possível por via sexual, não por via adoptiva ou por outros meios artificiais, e argumenta que a “própria sociologia da família angolana remete-nos para esse caminho”. “Nas aldeias é medido o grau de masculinidade que é feito pela via sexual. A questão da infertilidade é um problema. Quando o casal tem problemas de fertilidade isso pode até concorrer para o divórcio. Agora imagine eu que vou adoptar um filho, quais serão os problemas que vou ter”, interrogou-se. A visão psicológica Por sua vez, o psicólogo Isaac Paulo Domingos, caracteriza a homossexualidade como “uma desorientação sexual. O mundo moderno sobretudo, o ocidental, encara isto como um desvio sexual. A psicologia sobretudo o manual de psicologia dos estudos das doenças mentais (DSM. IV),encara a homossexualidade como uma desorientação sexual, assim como o lesbianismo”, argumentou. O psicólogo diz serem vários os motivos que concorrem para tal desorientação, desde os orgânicos e sociais. A psicanálise, um ramo da psicologia também tem a sua explicação relativamente a isto”, disse Do ponto de vista orgânico, Isaac Paulo explica que algumas teorias sustentam que quando um recém-nascido homem apresenta o cromossoma X mais potente que o Y tem tendências para o homossexualismo. “O cromossoma do homem é XY. Quando o X é mais forte do que o Y, o menino vai ter características mais próximas de mulher que tem o cromossoma X. Então, isto é uma desorientação”, justificou. Uma outra razão apresentada pelo psicólogo são alguns dos estudos que de acordo com o interlocutor demostraram que, ao ser feita a introdução de hormonas femininas a recém-nascidos, a criança começa a demostrar manifestações femininas do que masculinas. Um outro factor evocado pelo especialista tem a ver com o factor social. “Por exemplo, privar os rapazes das raparigas e deixar só os menininhos entre si, pode também provocar atracção entre ambos”, exemplificou novamente, Isaac Paulo, O psicólogo refere ainda que a psicologia observa cinco fases do desenvolvimento “Privar os rapazes das raparigas e deixar só os meninos entre si, pode também provocar atracção entre ambos” psico-sexual da criança e que influencia o seu comportamento na vida adulta. Sigmund Freud. “Ele fala das zonas do corpo que provocam prazer. Diz que a criança dos zero até um ano, a zona de prazer é a boca onde encontra prazer através da amamentação”, elucidou Depois de um, dois anoscontinuou, “a criança encontra prazer através do ânus que se chama a fase anal, em que a criança encontra prazer através dos excrementos”. “Depois temos a fase fálica, entre esta fase e a anal, estamos aí nos três anos. Dos cinco aos sete anos, a criança começa a manifestar o complexo de édipo que é a super atracção do rapaz em relação à sua mãe. Naquela fase o rapaz encara a mãe como sua propriedade. Muitas vezes, vê o pai como seu adversário. Começa a manifestar o seu comportamento e a sua identidade sexual, como rapaz. Quando assim não acontece, já é problema”, acrescentou. Por fim, o psicólogo Isaac Paulo evoca ainda factores culturais e hereditários como estando na base da desorientação sexual. “A psicanálise tem a sua explicação e tudo isto merece uma abordagem profunda”, concluiu. 06 20 Março 2015 Política Em 2014 Repatriados cerca de 24 mil imigrantes ilegais em Cabinda A governadora da província de Cabinda, Aldina da Lomba, considerou “preocupante” o quadro da imigração ilegal em Cabinda, anunciando que “só em 2014 foram repatriado 23.812 estrangeiros”. “É urgente traçarmos uma estratégia conjunta para se controlar a imigração ilegal, devendo ser localizados e identificados os estrangeiros ilegais que se instalam um pouco por toda a província, promovendo práticas delinquentes como roubos, furtos, crimes violentos, tráfico de drogas, prostituição, branqueamento de capitais, falsificação de moeda e de documentos, disse a governadora. Aldina da Lomba falava durante uma conferência destinada a analisar a situação da emigração ilegal na província. Segundo ainda a governadora, “a imigração ilegal que mais preocupa é a dos cidadãos da República Democrática do Congo (RDC), pelo seu modus- operandi, pois que acabam por impôr no seio da população os seus hábitos e costumes”. “Os mercados informais são controlados por estrangeiros ilegais, que para além de comercializarem ilegalmente, introduzem elemen- tos claramente estranhos negativos nas nossas formas de vida,” alertou. Durante a conferência soube-se que o uso da fronteira e do espaço marítimo de Cabinda passou a ser a principal opção das redes de criminosos que têm estado a facilitar a entrada de cidadãos ilegais ao país. A Polícia começou também a tomar medidas sérias ao longo da fronteira terrestre, colocando mais homens da força de Guarda Fronteira. Com estas acções, os criminosos viram o seu campo reduzido. Como via alternativa, nos últimos tempos estes têm estado a optar pela via marítima onde, através de embarcações de dimensões diferenciadas, “facilitam” a entrada de emigrantes ilegais. “Esta situação preocupa-nos e já a considerámos de grave. Nos últimos tempos temos estado a registar uma entrada massiva de ilegais a partir da costa” disse ao Novo Jornal uma fonte policial. A autoridade admitiu que as autoridades têm uma força fluvial para fiscalizar a fronteira marítima, mas sublinhou que esta não é suficiente para responder ao actual nível de necessidades. “Para a dimensão das violações que estão a ocorrer ao longo da nossa costa, precisamos de nos reforçar tanto em homens, como em meios”, acrescentou a fonte da polícia. O norte e sul da província de Cabinda têm vindo a registar a entrada sistemática de emigrantes ilegais, situação que não só preocupa a Polícia, como também as próprias autoridades governamentais da região, embora o trabalho visando travar o fenómeno esteja já a ser feito no terreno com grande visibilidade. A província de Cabinda é uma das 18 províncias da República de Angola. Está limitada ao norte pela República do Congo, a leste e ao sul pela República Democrática do Congo e a oeste pelo Oceano Atlântico. A capital da província é a cidade de Cabinda, conhecida também com o nome de Tchiowa. Tem uma superfície de 7 283 km² . A população de Cabinda é na sua quase totalidade por povos bantu, mais concretamente do grupo Fiote, cuja língua, oIbinda, é um dos dialectos do Kikongo. Administrativamente, a província é constituída pelos municípios de Cabinda, Cacongo, Buco-Zau e Belize. David Filipe V Congresso Extraordinário do MPLA Explicações sobre deliberações terminam no próximo mês O Secretariado do Bureau Político do Comité Central do MPLA fixou o período de Fevereiro a Abril de 2015 para a realização das assembleias de militantes, para a explicação das deliberações do V Congresso Extraordinário do Partido, realizado em Luanda, de 4 a 6 de Dezembro de 2014. Através de uma circular, o Secretariado do Bureau Político estabeleceu que, para o suporte às reuniões alargadas de esclarecimento, devem ser considerados, como documentos fundamentais, a Resolução Geral do V Congresso Extraordinário e o Relatório do Comité Central ao V Congresso Extraordinário e respectiva Resolução. São, igualmente, documentos de suporte as teses “O Melhoramento da vida interna e maior inserção do partido na sociedade”, “O MPLA e os desafios político-eleitorais”, a “Resolução sobre os ajustamentos pontuais aos estatutos do MPLA”, bem como os discursos proferidos pelo Presidente do MPLA, nas sessões de abertura e de encerramento do evento. A circular determina que os comités comunais, distritais e municipais do MPLA são responsáveis pela sua materialização e pela distribuição dos materiais de apoio; e que o programa de trabalho é extensivo às estruturas do Partido junto das comunidades angolanas no estrangeiro, que deverão adoptá-lo à realidade de cada país. Terminado o período definido para a implementação da referida circular, devem ser produzidos relatórios informativos, dirigidos aos organismos imediatamente superiores, sobre o desenvolvimento da actividade e os resultados alcançados. Recorda-se que o V Congresso Extraordinário do MPLA fez uma abordagem profunda sobre a vida interna do Partido, dando realce à consolidação e ao prosseguimento do movimento de revitalização dos seus comités de acção, com vista ao reforço da sua capacidade organizativa e como condição indispensável para um maior desempenho do Partido nos próximos desafios políticos, buscando a sua maior inserção na sociedade. O conclave considerou importante o fortalecimento do trabalho ideológico, tendente ao reforço da sua unidade interna e muito particularmente na compreensão dos fenómenos políticos e ideológicos que se apresentam a cada momento. 20 Março 2015 07 O secretário de Estado para as Novas Tecnologias e Qualidade Ambiental, Syanga Abílio, à frente de uma delegação angolana, participou na III Conferência Mundial sobre a Redução de Riscos de Desastres, que se realiza de 14 a 18 de Março em Sendai, Japão Desvio de 33 milhões de kwanzas Administrador de Quimbele constituído arguido O administrador municipal de Quimbele, António Zambo, foi ouvido recentemente pela Procuradoria-Geral da República na província do Uíge e constituído arguido, na sequência de um alegado desvio de mais 33 milhões de kwanzas de subsídios para as autoridades tradicionais. “Na qualidade de gestor principal, António Zambo foi constituído arguido e o processo decorre os seus trâmites legais”, disse ao Novo Jornal uma fonte do governo provincial. Informações não oficiais dão conta que o chefe da secretaria da administração municipal do Quimbele, Samuel Nongo foi exonerado das suas funções e mantém-se detido, em regime de prisão preventiva na Comarca do Uíge. O NJ apurou ainda que o nepotismo faz morada na administração municipal de Quimbele, onde algumas pessoas ligadas ao administradores são demasiado bem pagas e “fazem e desfazem e ninguém lhes toca”. “A prática do nepotismo viola o princípio de impessoalidade administrativa na medida em que compõe privilégios em função de relações de parentesco e desrespeita a capacidade técnica para o exercício de cargos públicos”, alertou o economista Samuel Tami. Segundo o mesmo economista, “O nepotismo pode ser entendido como favorecimento de parentes de servidores públicos, sem concurso público, ou seja, o acesso a empregos no serviço públicos com benefícios, nomeadamente por intermédio de familiares com funções nos serviços públicos”. “O nepotismo é utilizado em função dos vínculos de parentesco nas relações de trabalho ou na garantia de acesso a “Na qualidade de gestor principal, António Zambo foi constituído arguido e o processo decorre os seus trâmites legais” um emprego. A moralidade administrativa contrasta com o nepotismo na medida em que busca a obtenção de garantias de probidade na Administração Publica”, concluiu. Recorda-se que o chefe da secretaria da administração municipal do Quimbele, Samuel Nongo, está detido na Cadeia Comarca do Uige, acusado de ter alegadamente desviado mais 33 milhões de kwanzas de subsídios que deveriam ser postos à disposição das autoridades tradicionais. A ordem de detenção foi dada no dia seis de Fevereiro, pela Direcção Municipal de Investigação Criminal local, depois de uma queixa apresentada pelo administrador António Zambo. Segundo fontes próximas ao dossier, Samuel Nongo é um funcionário que cumpre as ordens e todas as verbas, consideradas elevadas como esta, só são levantadas no banco com a assinatura do administrador municipal. “É uma flagrante injustiça prender o nosso parente. Este assunto deve ser analisado minuciosamente para se encontrar os verdadeiros culpados”, disse ao Novo Jornal uma fonte familiar. Recentemente, o governador provincial do Uíge, exigiu, no município do Quimbele, 290 quilómetros a nordeste da sede da província do Uíge, aos administradores municipais e outros gestores, que se pautassem por uma gestão transparente e coerente para que os objectivos da governação sejam alcançados. Pombolo falava durante a cerimónia da abertura da I sessão ordinária do governo da província que decorreu no palácio da administração municipal do Quimbele. Anunciou a propósito que a gestão das actividades em curso para o presente ano será muito rigorosa, visto que em algumas administrações municipais se regista um nível elevado de dívidas para as acções desenvolvidas e que atrapalham o pleno desenvolvimento da região. O governador solicitou ao Departamento dos Recursos Humanos do Governo Provincial no sentido de acelerar a preparação da avaliação do desempenho dos dirigentes e quadros seniores do executivo-sede e das administrações municipais, porque o nível dos problemas que as comunidades enfrentam exige dos governantes uma maior aproximação junto dos cidadãos, para conhecer melhor as suas dificuldades e definir estratégias que visam encontrar as soluções adequadas. David Filipe Angola preocupada ONU e Executivo da RDC divididos O Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Conselho de Paz e Segurança da União Africana exprimiram preocupação face às divergências entre o Governo da República Democrática do Congo e a Missão da ONU para a Estabilização do país, incluindo a Brigada da Força de Intervenção, por afectar as operações contra os grupos rebeldes. Esta informação foi fornecida pelo representante permanente de Angola junto da ONU em Nova Iorque, embaixador Ismael Gaspar Martins, quando apresentava o resultado da 9ª Reunião Anual Conjunta dos dois órgãos, durante uma sessão aberta do Conselho de Segurança dedicada ao balanço da sua missão à República Centro Africana (RCA), Addis Abeba/Etiópia (União Africana) e ao Burundi, na semana transacta. Ismael Martins disse que a reunião de Addis Abeba também ressaltou a importância dos signatários respeitarem e implementarem todos os aspectos do Acordo-Quadro para a Paz, Segurança e Coo- peração na RDC e na Região, assinado em 24 de Fevereiro de 2013, e reconheceu o importante papel desempenhado pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e a Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos. Frisou que a reunião conjunta teve como finalidade melhorar a parceria entre a União Africana e as Nações Unidas em questões relacionadas com a paz e segurança em África, visando o aperfeiçoamento dos métodos de prevenção e gestão de conflitos e o fortalecimento dos mecanismos de construção da paz. O embaixador angolano, que co-chefiou a delegação do CS à Addis Abeba (liderada pelo seu homólogo francês, François Delattre), disse que a reunião analisou a situação na Região dos Grandes Lagos, RCA, no Mali e Sahel, Líbia, Somália, Sudão do Sul, Darfur/ Sudão), bem como a estratégia de luta contra o grupo terrorista Boko Haram e a parceria estratégica entre a ONU e a UA. 08 20 Março 2015 Política Caso diamantes de sangue Rafael Marques começa a ser julgado terça-feira A primeira sessão do julgamento do activista cívico Rafael Marques, terá lugar na terça-feira, 24, na 4ª Secção da Sala dos Crimes Comuns na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP). O julgamento do autor do Livro “Diamantes de Sangue, Corrupção e Tortura em Angola”, estava previsto para o dia 15 de Dezembro passado, para responder por nove processos instaurados, decorrentes de queixas-crime apresentadas por oito generais angolanos, pela sociedade mineira ITM Mining Limited, e pela Sociedade Mineira do Cuango. “O adiamento deveu-se ao atraso na informação sobre quando é que o meu cliente se deveria apresentar em tribunal e pelo facto das testemunhas viverem no interior da Lunda Norte”, disse ao Novo Jornal o chefe da equipa dos advogados de defesa, Luís do Nascimento. “Fui eu que solicitei à DNIAP, o arquivamento do processo pelo facto de ter expirado o prazo de instrução processual de 90 dias, conforme o artigo 337º do Código de Processo Penal” acrescentou. Interpelado pelo NJ, Rafael Marques de Morais, diz “não ter conhecimento de que crime específico é acusado” mas, adiantou que lhe foram fornecidos simplesmente os números dos processos e os nomes dos queixosos, facto que o faz pensar que se trata de uma “estratégia para dificultar a preparação do grupo de advogados para a sua defesa”. “Tudo isto é mesmo para não permitirem que eu me defenda, quando as investigações decorrem desde Janeiro de 2013”, justificou o acusado. Dentre os autores das queixas figuram os nomes dos generais Hélder Vieira Dias «Kopelipa», ministro de Estado e chefe da Casa “Direitos humanos em Tribunal” Com data já marcada para o início do julgamento do «caso Diamantes de sangue», Rafael Marques diz não ter receios, salientando que “ os direitos humanos serão discutidos em tribunal”. “Estou tranquilo e contente pelo facto de ter a oportunidade de provar em tribunal a violação dos direitos humanos na região das Lundas. Podem crer que o caso não vai ficar por aqui”, declarou, acrescentando que “levará ao tribunal as vítimas dos queixosos”. O activista aproveitou para realçar que o governo angolano continua a dever-lhe “uma indemnização por ter ganhado, em recurso, no Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas um processo de difamação e calúnia contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, do qual era arguido, no “Estou tranquilo e contente pelo facto de ter a oportunidade de provar em tribunal a violação dos direitos humanos” Militar do Presidente da República, Armando da Cruz Neto, antigo governador de Benguela e actual deputado da bancada parlamentar do MPLA, João de Matos, antigo chefe de estado-maior das FAA, Carlos Alberto Hendrick, a quem Rafael Marques acusa de terem cometido crimes contra a humanidade, no seu livro «Diamantes de sangue Tortura e corrupção em Angola». Pelas denúncias feitas no livro, o escritor supõe que os crimes de que é acusado e pelos quais será julgado são o de difamação e calúnia. “Tudo isto não passa de pura especulação, porque enquanto não tivermos acesso ao processo será difícil e complicado saber que crime cometi”, frisou o antigo director da Open Society e actual responsável do portal makaangola.org. É de salientar que alguns generais, em 2012, apresentaram uma queixa-crime em Portugal contra Rafael Marques, mas viram o processo ser arquivado pelo Ministério Público daquele país, em Fevereiro de 2013, com o argumento de que “a intenção do autor não é claramente ano de 2000. “O comité de Direitos Humanos das Nações Unidas condenou Angola a pagar-me uma indemnização por me terem mantido preso durante seis meses, mas até agora não pagaram. O Estado está numa situação de caloteiro”, lembrou. Rafael Marques e o grupo de advogados aguardam pela primeira sessão de julgamento no Tribunal Provincial de Luanda, e esperam que os mesmos respeitem a alínea 2, do artigo 29º da constituição da República de Angola, o qual dispõe que lhes seja entregue a cópia do processo para uma atempada e mais organizada defesa. ofender, mas de informar”. “Os casos anteriores e actuais em Portugal contra o Rafael Marques de Morais são do conhecimento público. Assim, qualquer processo por difamação contra o activista Marques de Morais, em Angola, ameaça o princípio da dupla incriminação, o que no direito angolano constitui uma defesa peremptória”, pode ler-se na carta enviada ao Procurador-Geral da República por 16 entidades, internacionais e nacionais, defensoras dos Direitos Humanos. EDUARDO GITO Delegação da CNE esteve em Harare Uma delegação da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), chefiada pelo seu comissário nacional eleitoral, Agostinho Lima, participou na cidade de Harare, Zimbabwe, numa reunião do Fórum das Comissões Eleitorais dos Países membros da SADC. A reunião analisou o grau de cumprimento da actividade da 16ª As- sembleia Geral da organização, realizada em 2014, nas Ilhas Maurícias, onde Angola assumiu uma das suas vice-presidências e o direito a um lugar no Comité Executivo. Discutiu e aprovou o balanço apresentado pelo secretariado executivo da organização. Na sequência dos trabalhos foi igualmente analisada e aprovada a auditoria financeira referente ao exercício de 2014. A delegação angolana, através do comissário Agostinho Lima, apresentou um relatório sobre o nível de preparação da 17ª Conferência Anual, que decorrerá este ano, em Luanda. Na mesma ocasião, a delegação angolana apresentou uma proposta de agenda para essa reunião e o lema que irá balizar os trabalhos que na altura irão decorrer. A anteceder a reunião dos líderes das comissões eleitorais decorreu um encontro de técnicos que prepararam a agenda que viria ser seguida pelos diferentes membros. Além de Agostinho Lima, que liderou a delegação angolana na qualidade de representante do presidente da Comissão Nacional Eleitora, participaram das reuniões o director de formação, educação cívica e eleitoral e informação, Miguel Ganga, e o tradutor da CNE, António Bento. 20 Março 2015 09 O Conselho de Coordenação Estratégica de Luanda reuniu-se, quarta-feira, no Palácio Presidencial, sob orientação do Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, para apreciar a situação do Plano Director Geral Metropolitano de Luanda, cuja conclusão está prevista para Julho próximo Quintiliano dos Santos O orçamento aprovado está “prenhe de incertezas” ajustes orçamentais, quando e como quiser, incluir e excluir despesas, endividar o país quando lhe convier”, justificou Raul Danda. Segundo o deputado, o grupo parlamentar da UNITA votou contra o orçamento por considerar que o mesmo “vai prejudicar e dificultar a vida dos cidadãos pobres, por um lado, e por outro alimentar a corrupção”. Por sua vez, o deputado da CASA- -CE Alexandre Sebastião André considerou que o orçamento aprovado não ajuda o propósito da diversificação da economia. “O que constatámos numa apreciação cirúrgica deste orçamento é que tanto para a agricultura como para a indústria, que absorvem grandes quantidades de mão-de-obra, que absorve a juventude, é completamente descriminado”, frisou o deputado da segunda maior força da oposição angolana. Alexandre Sebastião André referiu ainda que os salários foram priorizados, mas entretanto os preços “dispararam no mercado”, o que mexe com o poder de compra dos cidadãos. Face à quebra na cotação internacional do petróleo, o Governo angolano reformulou várias previsões para 2015 e avançou, no OGE revisto, com um corte de um terço nas despesas totais. O documento define que a previsão da cotação do barril de crude para exportação, necessária para a estimativa das receitas fiscais, desce de 81 para 40 dólares. Esta revisão fará reduzir o peso do petróleo nas receitas fiscais angolanas de 70% em 2014 para 36,5% este ano. O défice orçamental é de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), face aos 7,6% do anterior orçamento. -Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, com o líder da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, reuniu-se com o ministro de estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Edetuldes Costa, com os ministros das Relações Exteriores, Finanças, Transportes, Saúde. Visitou igualmente o Memorial Agostinho Neto, onde colocou uma corroa de flores, em homenagem ao primeiro Presidente de Angola, assim como depositou também flores no túmulo do comandante Raul Ar- guelles no cemitério Alto da Cruzes. Angola e Cuba mantêm excelentes relações de cooperação nos domínios da Defesa e Segurança, Educação, Saúde, Transportes, Obras Públicas, Construção, Petróleo, Desportos , Cultura, Turismo, entre outras áreas . Os dois países estabelecem relações diplomáticas a 15 de Novembro de 1975, quatro dias depois da independência nacional, e, um ano depois ,assinaram o acordo geral de cooperação que organizou a Comissão Bilateral de Cooperação. OGE 2015 aprovado com 88 recomendações ao Governo O OGE 2015 retificativo foi aprovado com 154 votos a favor, do MPLA e da FNLA e 40 contra, da UNITA, CASA-CE e do PRS. O novo documento corta um terço de todas as despesas públicas e fixa um défice orçamental de 7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), face aos 7,6 por cento do documento anterior, que entrou em vigor a 01 de Janeiro. Devido à quebra de 55 por cento na cotação internacional do barril de petróleo, o novo OGE define que a previsão da cotação do barril de crude para exportação, necessária para a estimativa das receitas fiscais, desça de USD 81 para USD 40. Esta revisão fará reduzir o peso do petróleo nas receitas fiscais de 70 por cento em 2014 para 36,5 por cento este ano. Contudo, o barril de crude está a ser cotado nos últimos dias em torno dos USD 60. Na sua declaração de voto, o líder da bancada parlamentar da UNITA, Raul Danda, disse que o orçamento aprovado está “prenhe de incertezas”. “E que ainda se propõe, para não variar, dar superpoderes ao titular do poder executivo para usar o dinheiro dos angolanos da forma como entender, uma carta-branca para fazer Em vários domínios Vice-Presidente de Cuba defende actualização dos acordos O Primeiro Vice-Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros de Cuba, Miguel Diaz-Canel Bermídez, que visitou Angola esta semana sublinhou a necessidade de actualizar o texto do acordo de serviços aéreos e a revisão de projectos referentes a formação e capacitação de quadros. “Vamos trabalhar para passar em revista as questões financeiras que suportam as nossas relações bilaterais, em particular a dívida existente e a modalidade de pagamento”, referiu o dirigente cubano. Manifestou-se convicto que as re- lações de cooperação se consolidem e ajudem a cimentar a amizade forjada no campo de batalha. Proveniente da África do Sul nesta terça-feira, o Primeiro Vice-Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros de Cuba esteve em Angola para uma vista oficial de três dias, para o reforço das relações bilaterais de cooperação entre os dois países. O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Edeltrudes Costa, anunciou quarta-feira, em Luanda, que os quadros cubanos representam 42 por cento dos médicos e mais de 70 por cento dos especialistas no sector da Saúde no país. O anúncio foi feito durante a visita do Primeiro Vice-Presidente cubano, Miguel Diaz Bermúdez a Angola salientando que “ o país conta com mais de 1.600 professores cubanos no ensino superior público, enquanto cerca de 1.700 estudantes bolseiros se encontram a fazer formação superior em Cuba”. Durante a sua missão no país, o governante cubano manteve encontros de trabalho com o Vice- 10 20 Março 2015 Sociedade AMOTRANG com dificuldades Motoqueiros aprendem regras de trânsito O país registou no ano passado um total de dezassete mil e 271 acidentes. Deste número, cinco mil e 296 foram choques entre automóveis e motociclos que resultaram em 893 mortos e quatro mil e 45 feridos, segundo dados da Polícia Nacional. A Associação de Motoqueiros e Transportadores de Angola-Amotrang, quer reverter a situação e está ensinar regras de trânsito aos moto-taxistas. Mas, o projecto não chega a todas as províncias por falta de apoio. Texto de antónio paulo Para o presidente da AMOTRANG, Bento Rafael, o desconhecimento das regras de trânsito por parte de muitos motoqueiros, vulgos Kupapatas esta na base do alto índice da sinistralidade rodoviária no país. “Muitos deles eram roboteiros e aprenderam a conduzir, sem o mínimo conhecimento das regras de trânsito. Acumularam algum dinheiro e compraram as motas e fazem delas o seu ganho pão. Isto preocupa-nos. Por isso, estamos a levá-los para às salas de aulas com o objectivo de reduzir acidentes, envolvendo motorizadas”, argumentou. O projecto de salas de aulas para motoqueiros é de dimensão nacional e já leva alguns anos, porém, o responsável, explica que o programa está encontrar resistência para sua expansão a nível de todo território nacional, por falta de apoio dos governos provinciais que de acordo, com a fonte, foram orientados pelo Ministério do Território (MAT), a apoiar o programa. “Recebemos o apoio do MAT que comunicou aos governos províncias no sentido destes dar um apoio institucional, no que toca a construção de algumas salas a nível de todas as localidades do país. Infe- lizmente, este apoio até hoje não se concretiza a nível de todo país”, reclamou, o líder associativo. O interlocutor do Novo Jornal afirma que a província do Huambo é a que melhor acolheu a iniciativa da AMOTRANG, tendo já formado acima de sete mil motoqueiros. “Felizmente, encontramos apoio total na província do Huambo, onde já formamos mais de sete mil associados. E temos outros milhares a frequentarem as aulas. Hoje temos uma cobertura total a nível de todos os municípios, quimbos, bairros e sobados”, enfatizou. Bento Rafael garante que a formação está a dar resultados satisfatório, a julgar pela redução da sinistralidade rodoviária com envolvimentos de moto-taxistas. “Hoje no Huambo, estamos até a dar formação ambulatória e felizmente, a sinistralidade rodoviária com envolvência dos motoqueiros baixou muito”, asseverou. Para aquele líder associativo, a experiencia adquirida no planalto central, seria um “bom” exemplo a seguir pelas demais províncias, para a redução de acidentes e consequentemente, o número de mortos a nível do país O país regista, mensalmente uma média de 45 acidentes, envolvendo Bento Rafael garante que a formação está a dar resultados satisfatórios, a julgar pela redução da sinistralidade rodoviária com envolvimentos de moto-taxistas motorizadas, uma cifra que Bento Rafael considera de “muito alta” e que pode ser revertido com aumento de salas de aulas pelo país. “O nosso desafio é baixar o índice da mortalidade e o número de mortes. Achamos que se conseguirmos implementar este programa, poderemos baixar os acidentes no país. Felizmente, as províncias do Cabinda, Namibe, Cunene e a Huíla também ja despertaram”, acentuou. Na capital do pais, a Amotrang também encontra resistência, para a expansão do seu projecto segundo, o presidente dos motoqueiros, Bento Rafael, que pensa já bater as portas da nova governação para remeter o assunto. “Em Luanda temos somente duas escolas. Uma aqui em Cacuaco e outra no Panguila. Os demais administradores ainda não acolheram o nosso projecto. Por isso, vamos falar com o novo governador para ver se abraça esta causa”, disse, Bento da Rafael que se mostrou igualmente, preocupado com número de acidentes que se assiste em Luanda, envolvendo mototáxis. “Só no ano passado, Luanda registou mais de 800 acidentes, o que é mau. Por isso, queremos que os administradores apoiem-nos nesta luta para redução da sinistralidade”, apelou. Alfabetizar e profissionalizar A AMOTRANG existe desde 2005 e tA AMOTRANG existe desde 2005 e tem cadastrado na sua base de dados, de todo país, um total de 303 mil e 942 associados. Deste número, cerca de 80 por cento, são jovens que encontraram na actividade de mototáxi, o seu emprego, de acordo com Bento Rafael. A associação quer profissionalizar os seus associados com a atribuição de carteiras profissionais, com o carimbo do Ministério do Trabalho. Para atingir tal desiderato, Bento Rafael disse que a Amotrang tem em carteira a criação de três grandes centros de formação profissional. “Temos a intenção de criar três centros de formação no país, um centro norte, um sul e outro centro para que as pessoas que já tem conhecimentos básicos das regras de trânsito, e possuem cartas de condução, sejam levadas aos centros e obtenham uma carteira profissional. Aqui, temos feitos contactos com o Ministério do Trabalho, para 20 Março 2015 11 O PCA da ENDIAMA, Carlos Sumbula, entregou 18 milhões de kwanzas e um camião com material de construção no valor de sete milhões de kzs e a clínica Sagrada Esperança à disposição dos sinistrados das chuvas no Lobito O país regista, mensalmente, uma média de 45 acidentes, envolvendo motorizadas, uma cifra que Bento Rafael considera de “muito alta” e que pode ser revertido com aumento de salas de aulas pelo país que este indivíduo ganhe a profissão de mototáxi”, afirmou. Bento Rafael disse ainda que a sua agremiação está também preocupada com o alto índice de analfabetismo que reina no seio dos seus associados. Por isso, projecta para os próximos tempos, alfabetizar aos motoqueiros iletrados e solicita o apoio do Ministério da Educa- O projecto é sustentado pelos motoqueiros que contribuem com uma quota diária de 100 para manter a continuidade das aulas, um “acordo entre os seus associados” ção (MED) para reverter a situação. “É preciso ver que milhares de antigos guerrilheiros e muitos antigos FAPLA desmobilizados, estão hoje no exercício de mototáxi a nível do país. Muitos deles são iletrados, ou seja, são analfabetos. Por isso, temos encenados alguns contactos com o MED, no sentido de colocarmos algumas políticas, dentro da própria associação, para criarmos salas de alfabetização para os nossos associados, disse. Uma outra preocupação segundo, o seu responsável, da AMOTRANG, tem a ver com a ausência de registo de nascimento e de bilhete de identidade por parte dos associados. Bento Rafael solicita a intervenção do Ministério da Justiça, com a criação de uma brigada especial para atender os motoqueiros. “ Muitos deles, o único documento que possuem é o cartão de eleitor. Por isso, queremos também que nos ajudem a resolver este problema”, apelou. Sobreviver com quotas As aulas de condução e de regras de trânsito ministradas pela Amo- trang são “gratuitas” e leccionadas para além de, em língua portuguesa, também em línguas nacionais, ou locais, segundo deu a conhecer o seu presidente. O projecto é sustentado pelos motoqueiros que contribuem com uma quota diária de 100 para manter a continuidade das aulas, um “acordo entre os seus associados”. O montante cobrado, de acordo com Bento Rafael, serve igualmente, para apoiar os motoqueiros, em casos de acidentes, roubo da motorizada ou uma outra situação. “A quota é um contributo obrigatório que o associado dá a organização para sobreviver, uma vez que, não recebemos ajuda financeira de nenhuma instituição. Por meio da contribuição, associado recebe um apoio social, em caso de acidente ou óbito. Em caso de furto da moto, ele recebe uma nova motorizada na associação e também ganha a formação. Por isso, eles devem conservar as fichas de pagamento”, alertou a fonte. Para garantir o pagamento das quotas, a AMOTRANG optou por lançar fiscais de proximidade nos pon- tos de cargas e descargas de motoqueiros. Os ficais além de, cobrar valores servem também de meios de orientação e de pressão do condutor, explicou Bento Rafael. “Se o motoqueiro estiver a funcionar, ali mesmo na sua paragem, ele irá contribuir com 100 kwanzas ao fiscal. Esta experiência começou aqui em Cacuaco e estamos a levá-la um pouco a nível de Luanda” frisou. No entanto, o Novo Jornal apurou que estas cobranças tem criado desentendimento entre os fiscais da Amotrang e motoqueiros, que dizem não perceber do porque da pagamento. Outros, ainda, afirmam nunca ter beneficiado de qualquer apoio da Amotrang, e por outro lado reclamam da má actuação dos fiscais. “Eles mandam-nos parar sem maneiras obrigam-nos a pagar 100 Kwanzas caso, contrário, dizem que irão prender a mota. Eles não são policias”, resmungaram vários monetaristas ouvidos pela nossa reportagem. Reagindo o assunto, presidente da AMOTRAN assegurou que os seus associados estão informados da co- brança, porém diz ter conhecimento de recusa no pagamento, por parte alguns motoqueiros, que de acordo com o interlocutor “ainda não se inscreveram na instituição”. Por isso, apelou aos seus fiscais, a passar a informação, e a “adoptar um comportamento mais civilizado” para o êxito do trabalho de ambos. Por fim, Bento Rafael louvou o trabalho da Polícia Nacional, no que toca a inspecção regular das motorizadas, facto que julga estar a contribuir para a redução de roubos de motociclos. Apelou igualmente a Polícia Económica, a manter um controlo cerrado nas vendas de motorizadas, sem matrículas e sem o documento de registo inicial, passado pela Polícia de Transito. De salientar que dos 303 mil 942 motoqueiros inscritos na Amotrang, Luanda conta com 36 mil e 42 associados. A província com maior representação, é o Huambo, com um total de 45 mil e 663 motoqueiros. “Aqui temos muita adesão porque o associativismo é obrigatório e o índice de sinistralidade já reduziu muito”, asseverou, o presidente da associação. “Aprendi o código de estrada” Pedro Gonçalves é um jovem motoqueiro que já acumula dois anos de experiência na actividade de moto-taxi. Disse que a prendeu a conduzir na escola da Amotrang em Cacuaco. Inscreveu-se de forma gratuita e beneficiou de 70 horas de aulas. “Agora, já sei o código de trânsito e sei como devo comportar-me na via. Fui la através de alguns amigos e fiz a inscrição. No final da formação, contribuiu apenas com um valor para para o certificado”, explicou motoqueiro. Já Sabino Ndalo, outro jovem motoqueiro, diz sentir necessidade de entrar com urgência na escola de conduçao da Amotrang, para dominar os códigos de estrada para legalizar a sua situação e obter a carta de condução em falta. O jovem, oriundo da provincia de Ben- guela, disse que a falta de um emprego é o motivo que o levou a optar pela actividade de moto-taxi. “Estou na província de Luanda há já algum tempo. Estou nesta actividade de moto-taxi por falta de condições. Não tenho emprego. Não sou sócio da amotrang, mas pretendo entar na escola de condução, para que eu fique totalmente legalizado”, concluiu. De Salientar que a Amotrang realiza hoje, em Cacuaco, um encontro de sensibilização e educação rodoviária com todos motoqueiros da provincia de Luanda 12 20 Março 2015 Sociedade Tragédia no lobito Isaac e Amaro divergem A tragédia da semana passada em Benguela que vitimou 74 pessoas, dados que são provisórios, em consequência das chuvas que se abateram sobre a província reacendeu mais uma vez o clima tenso entre o governador provincial Isaac dos Anjos e o administrador do Lobito, Amaro Ricardo. Tudo terá acontecido devido ao pronunciamento de Isaac dos Anjos que sem receios culpou a administração do Lobito pelo sinistro. De acordo com o responsável máximo da província “a falência administrativa e operacional”, do município do Lobito resultou na falta de limpeza e manutenção dos canais de drenagem, contribuindo assim para morte dos cidadãos daquela zona. O pronunciamento que não agradou o administrador do Lobito, por entender que a situação vivida começa na base e termina em estruturas mais competentes para resolverem os problemas dos canais de drenagem. “Este é um assunto muito complexo que foge e ultrapassa as compe- “Este é um assunto muito complexo que foge e ultrapassa as competências municipais” tências municipais. É muito maior que isso. Há um projecto integrado de infra-estruturas de Benguela que prevê reabilitar todos os canais de drenagem e a macro drenagem. Este projecto começou e não foi concluído. Existe um conjunto de estruturas e entidades que estão neste processo e no meu entender há uma co-responsabilidade muito ampla”, disse Amaro Ricardo. De acordo com o administrador municipal do Lobito, a sua localidade não reúne, por si só, condições para ultrapassar os problemas dos canais, situação que deve ser abordada com alguma sensatez. “Municípios como o nosso, com uma dimensão e complexidade infra-estrutural enorme, estão muito longe de ter recursos à sua disposição para cuidar e gerir estruturas complexas como são os canais de drenagem do Lobito”, explicou Amaro Ricardo, que concluiu negando a ideia de que os moradores do Lobito morreram nos canais de drenagem. “Infelizmente os nossos sinistrados não perderam as vidas nos canais de macro drenagem. Perderam as suas vidas nas zonas residenciais, na parte dos morros, e os corpos vieram parar à zona baixa do Lobito pela força das águas”, concluiu. F.D. Malanje solidariza-se com as vítimas de Benguela Dezenas de toneladas de produtos diversos recolhidos na cidade de Malanje destinados às famílias afectadas pelas enxurradas nos municípios do Lobito e Catumbela, província de Benguela serão entregues amanhã, dia 21, ao executivo daquela localidade. O governador Norberto dos Santos que apresentou na última terça-feira, os bens alimentares, instrumentos agrícolas, utensílios de cozinha, calcados, roupa usada e chapas de zinco à Comissão Provincial de Protecção Civil de Malanje regozijou-se com a campanha de solidariedade levada a cabo pela Rádio Nacional e Televisão Pública locais. Durante a cerimónia de apresentação de todo o material de apoio e solidariedade recolhido, realizada em frente às instalações da Rádio Malanje, o governante referiu que “foi possível mobilizar os cidadãos aqui da província, empresários, toda a sociedade, para que Malanje pudesse manifestar a sua solidariedade às populações” vítimas da calamidade natural. Norberto Fernandes dos Santos garantiu que uma delegação inte- grada por membros do governo, representantes da sociedade civil e empresários, acompanhará a entrega das doações ao governador de Benguela, ressaltando que “foi um bom gesto, foi um gesto que marcou sempre o povo angolano, a solidariedade. E mais uma vez demonstrámos que quando queremos podemos fazer”. Neste momento de tristeza, o governador de Malanje endereçou ao seu homólogo, Isaac dos Anjos uma mensagem de conforto, desejando que as populações possam rapidamente encontrar soluções definitivas, e que a vida volte à normalidade como a de todos os angolanos. Por iniciativa do governo da terra da Palanca Negra Gigante, três postos de recepção de ajudas foram abertos no centro da cidade capital, nomeadamente na Emissora Provincial da Rádio Nacional, Estação dos Caminhos-de-Ferro e no Largo 4 de Fevereiro. O posto da RNA registou o maior número de ofertas, referiu o comandante provincial de Protecção Civil e Bombeiros de Malanje (SNPCB), Venâncio Eduardo, justificando a a DR escolha pela acessibilidade e visibilidade para os munícipes da região, da Avenida Comandante Dangereux (Estrada Nacional 230). O director-geral da empresa João Diogo Gaspar, comovido com as dificuldades que enfrentam os habitantes das duas localidades de Benguela e motivado pela sociedade malanjina entregou ao “Comité da Campanha de Solidariedade” 10 toneladas de produtos diversos, dos quais oito toneladas de arroz, uma tonelada de massa alimentar e outra de óleo alimentar. “Não é muito, mas, no meu entender é um contributo que vai permitir com que a população de Benguela (…) possa então, conseguir ultrapassar algumas preocupações que nessa altura esteja a viver”, reconheceu. Também aderiram à campanha os membros da Associação das Empresárias de Malanje (Assomeje). De acordo com a presidente Ana José “Nós somos mulheres, mães, irmãs, por isso temos que nos juntar nes- ta solidariedade para com as nossas irmãs em Benguela”, oferecendo colchões, arroz, fuba de milho e detergentes. O proprietário da firma JJR, José João Rafael “Tio Almeida” juntou-se à corrente de solidariedade entregando “baldes, banheiras, fuba de milho e caixas de conserva” gesto seguido pelos comerciantes estrangeiros Huang You Ane Mine da empreiteira Sonhy e Zeng Ji Long da fazenda Kinemuna. A JMPLA também mobilizou os seus militantes, amigos e simpatizantes, ao nível dos comités provincial e municipais com vista a compartilharem os produtos possíveis com as vitimas do sinistro ao sul do nosso país, por ser um fenómeno que pode ocorrer em qualquer parte do planeta terra. O primeiro secretário da juventude do partido no poder, César Tiago Quitumbo convidou igualmente “políticos, empresários, religiosos e a população” a solidarizarem-se “neste momento de angústia para muitas famílias”. Isaías Soares Em Malanje 14 20 Março 2015 Entrevista ISAAC PAXE “Há pessoas interessadas em mostrar serviço para ficarem bem na fotografia” O mote da entrevista foi um comentário que o docente universitário Isaac Paxe publicou na sua página do Facebook, uma plataforma interactiva onde se tem mostrado bastante interventivo, sobretudo com análises que têm que ver com as políticas públicas de ensino e outros temas. O académico falou ao Novo Jornal sobre a tragédia do momento, deixou as suas impressões sobre o fenómeno que vitimou 74 vidas no Lobito , mas não poupou nas críticas a algum oportunismo de pessoas que “querem mostrar trabalho para ficar bem na fotografia”, assim como não deixou de chamar a atenção do Estado para que este não se furte das suas responsabilidades. Texto de nok nogueira Fotos de dr Recentemente, através da rede social Facebook, onde, aliás, é bastante activo, no sentido da intervenção social, considerou as legações sobre as construções em zonas de risco como um “slogan infeliz”, referindo-se ao imputar de responsabilidades aos cidadãos que assim procederam e na esteira do que aconteceu no Lobito. Não há aqui algum radicalismo? Radicalismo de quem imputa as responsabilidades aos cidadãos ou por eu considerar as alegações como um “slogan infeliz”? Caso este radicalismo esteja na nossa abordagem do fenómeno, ele realmente o é, atendendo ao sentido da nossa fala, que se sustenta na premissa que defende a responsabilidade do Estado na sua relação com o cidadão, quer na efectivação dos direitos destes ou no dever do Estado de garantir que os cidadãos respeitem as leis da República. A responsabilidade que evocamos para o caso do Lobito foi a do não exercício, pelo Estado, da virtude e da responsabilidade ex-ante facto, que convoca o Estado a antecipar-se a fenómenos e a práticas que podem corroer a salvaguarda do bem-estar e da vida do cidadão. Esta antecipação pode ser feita via políticas públicas condizentes ou actuação nos marcos da lei para impedir, no caso das construções, que os cidadãos as consumam em zonas de perigo. Não receia que seja mal interpretado ao considerar a questão nos termos com que o fez? Infelizmente a nossa sociedade tem alguma dificuldade em assumir que é da livre circulação de ideias que se originam abordagens substanciais para os diferentes desafios que as sociedades enfrentam. O meu pronunciamento não teve o propósito de destratar a acção do governo, mas o de sinalizar que, ao buscar-se culpados numa situação de calamidade como esta, estaríamos a rejeitar a oportunidade de abordarmos não apenas as construções em zonas de risco em todo o país, mas também os movimentos necessários para se desenharem políticas habitacionais que, para além de garantirem o direito à habitação, salvaguardem a vida dos nossos concidadãos. É a necessidade de compreendermos que as calamidades podem prover ocasiões para se repensar a actuação da sociedade como um todo. Repare que nós falávamos dos agentes do Estado e também da sociedade civil que, como parceira do Estado, pode e deve induzir programas afins. Há a necessidade de uma atitude proactiva desta sociedade civil nas propostas de programas para a gestão do fenómeno (construções em zonas de risco) em detrimento da actual que se resume essencialmente no carácter reactivo a situações como as calamidades naturais ou as demolições 20 Março 2015 resultantes da acção do governo. Perfil Isaac Pedro Vieira Paxe possui licenciatura em Ensino de Língua Inglesa como língua estrangeira (2000) pela Universidade Agostinho Neto de Angola, Mestrado em Administração Escolar (2004) pela Lynch School of Education da Boston College, Boston MA, EUA, sob supervisão acadêmica do Professor Andrew Hargreaves; e Doutorado em Educação (2014) pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), sob orientação do Professor Romualdo Luis Portela de Oliveira. É director do Centro de Estudos Multidisciplinares do ISCED Luanda. Tem como interesse de pesquisa na área de Educação, com ênfase em Política Educacional, principalmente sobre os seguintes temas: Gestão democrática de sistemas e de unidades escolares, custos da educação, análise de políticas educacionais e financiamento público da Educação e políticas de formação de professores. Já agora acha que é pela ausência desse radicalismo que algumas coisas em Angola pecam, exactamente por não se aterem a um certo radicalismo quando as circunstâncias assim o exigem? Existem dois elementos essenciais nesta questão: Um deles é a existência de uma realidade legal para sustentar a actuação do poder público; o outro é a materialização dos pressupostos deste quadro legal. O radicalismo tem estado ausente fundamentalmente na materialização da lei. Há um certo descaso do poder público em exigir que o cidadão cumpra o que a lei estabelece. Se a construção em regiões não autorizadas é uma transgressão administrativa, qual tem sido a dificuldade da actuação eficaz do Estado? O descaso praticamente generalizado na nossa sociedade, na não observação das obrigações legais, exige do Estado um radicalismo para que os princípios ou as condições salvaguardadas pela lei sejam observados, principalmente quando esta transgressão pode resultar em atentados à vida. Mas também compreendemos que o próprio Estado, ao reconhecer (isso é mérito e não fraqueza) a não satisfação da necessidade à habitação condigna, pode condicionar acções mais radicais quando as transgressões ocorrem. Outra questão é a razão de muitos desses conjuntos habitacionais existirem há muitos anos como resultado do êxodo populacional nos momentos de crise do país, o que exige políticas de reassentamento sustentadas. E cada um de nós tem consciência dos obstáculos que condicionam a materialização de programas dessa natureza em curto espaço de tempo. Estamos diante de uma situação que poderá vir a mudar o paradigma das zonas de risco do país ou acredita que esse alarido em torno da questão da tragédia do Lobito poderá ficar “arquivado” passado algum tempo? Estou céptico quanto ao aprendizado que podemos tirar desta situação. Há muito que temos programas de fomento da habitação que buscam reassentar populações em zonas de risco, como também garantir moradia para todos na sua condição de cidadãos. A questão é saber como é que essas tragédias podem ser consideradas como pressuposições que informam novas abordagens na efectivação destes programas. A nossa cultura da gestão centralizada condiciona uma rápida adaptação dos programas às demandas do momento e do local. Na mesma publicação que fez no Facebook afirma que a responsabilidade não deve ser apenas dos cidadãos, mas, acima de tudo, do 15 menos de 48 horas. Mas as cheias, a destruição de residências, de bens e até de campos de cultivo é recorrente nas épocas de chuva. Apesar desta constante presença do fenómeno, temos sido, como sociedade, lentos nas respostas. Reconhecemos a existência de algumas obras em Luanda e em outros centros urbanos, mas a lentidão na sua execução e a não extensão das mesmas para outras realidades, elas também de risco, têm esvaziado a dimensão da resposta do Estado. Seria relevante abordar essa questão não como um assunto de gabinetes especializados dos agentes do Estado, mas como uma questão comunitária que, ao envolver os diferentes sectores destas comunidades, podem produzir resultados céleres e sustentáveis. O compromisso comunitário pode fiscalizar a acção dos seus membros e desenvolver consciências sobre os riscos resultantes da construção em zonas de riscos. “A questão que se coloca é: Melhorar a condição da habitação do cidadão como direito seu, não substituir apenas os factores que degradam essa condição” Estado enquanto tal. Pensa que o Estado tem sido muito permissivo ou há aqui uma situação clara de descaso das partes? Entre o Estado e o cidadão, sem, claro está, aquela clássica ideia de que “o Estado somos todos nós”…? Acho que ela já está respondida.... Entretanto, estamos a falar de um assunto que não é novo como tal. Provavelmente o que seja novo é a tragédia ocorrida e não necessariamente o facto das construções em zonas de risco. O que pensa o Isaac Paxe sobre estes temas que, na verdade, são recorrentes por altura do tempo chuvoso por causa de outras tragédias (talvez menos gaves como esta última) que ocorrem pelo país? A situação do Lobito chamou a atenção pelo número de mortes em Acredita que com a situação ora vivida abrem-se “boas” (e vou colocar isso entre aspas) perspectivas para o surgimento de debates que possam incidir mais a fundo sobre estas questões? O debate já está a acontecer na sociedade, mas é necessário que ele passe de facto para as arenas que produzem políticas públicas para programas sociais afins. Como dificilmente temos a cultura de indução de políticas públicas via sociedade civil, necessário se faz que as arenas dos debates sejam deslocadas do “centro para a periferia” da tomada de decisão, para que eles gerem ideias e contribuições úteis. Só incidiremos mais a fundo sobre estas questões quando elas forem encaradas neste debate como questões de cidadania, nos seus direitos e deveres, e de Estado, nos seus deveres, que se distanciam de programas pontuais de governo. Basta andar pelos arredores de Luanda que vemos centenas, senão milhares, de casas construídas em zonas de risco. Advinha-se, na sua opinião, que este ano venha a ser o da “caça às bruxas” aos cidadãos que construíram em zonas de risco, depois do que aconteceu no Lobito? Receio que isso aconteça. Receio que haja neste momento pessoas interessadas em mostrar serviço para “ficarem bem na fotografia”. Requer-se responsabilidade e sabedoria dos agentes do Estado em lidar com esta questão, para que não se repitam situações como as dos desalojados em várias áreas de Luanda, cuja situação social se degradou como resultado desta acção do Estado. A questão que se coloca é: Melhorar a condição da habitação do cidadão como direito seu, não substituir apenas os factores que 16 20 Março 2015 Entrevista degradam essa condição. Ainda sobre a sua publicação no Facebook afirma o seguinte: “Espero mesmo que a tragédia do Lobito nos tenha dado lições sobre a necessidade da promoção do “bem fazer”, em detrimento da nossa cultura de buscar os fracos aos quais a culpa deve caber como uma luva retirada de um “balão de fardo””. Quer falar sobre o destinatário do recado deixado? O destinatário somos todos nós na nossa condição de cidadão, eleitor, contribuinte e detentor de direitos. Compete ao cidadão participar nos programas de governo e também fiscalizar a acção do governo. Agora, há vozes que se fazem ouvir “aqui e ali”, identificando os culpados pelos resultados da tragédia. E sabemos que o elo mais fraco neste momento são aqueles moradores da região do infortúnio, mas esquecem-se os promotores deste discurso que ao imputarem os cidadãos como culpados, imputam também culpa ao Estado pela sua inépcia em regular a acção dos cidadãos. Acha que os especialistas da área de ordenamento do território, arquitectura, etc. etc., não têm sido ouvidos ou estes mesmos não têm feito soar a sua voz? Existem órgãos do governo e ordens profissionais da área. Acredito que em algum momento eles têm participado ou apresentado junto do governo as suas ideias. Contudo, desconhecemos o grau de assimilação destas ideias pelos programas do governo. Há um ‘déficit’ de informação sobre a questão. Quem deveria assumir a responsabilidade numa altura como esta em que teve lugar a tragédia do Lobito? Definitivamente, a responsabilidade é do Estado, mas isso não o converte em actor solitário no processo. Voltando à publicação que serviu de mote para esta conversa. Quando afirma que “o princípio que leva o Estado a organizar campanhas de vacinação para salvar as pessoas das doenças e de uma eventual morte é o mesmo que deve ser aplicado com a prática das construções em zonas de risco”, não estará a miniaturizar demasiadamente o problema, já que parece que estamos perante um gigantesco problema que transcende, às vezes, as fronteiras do bom senso do cidadão, uma vez que algumas famílias se encontram há mais de 20 anos nessas zonas? Não há aqui um problema estruturante da situação? Apresentado desta maneira, a comparação parece mesmo desproporcional, mas o que queríamos demonstrar com o exemplo é a natureza da responsabilidade ‘ex-ante facto’ do Estado. Ele concebe prognósticos, previsões sobre o resultado das suas acções ou das dos seus cidadãos. Quando essas acções denunciarem eventuais danos à condição humana e/ou atentado à vida, compete ao Estado desenvolver acções preventivas. Reconhecemos que a situação é gigantesca, também reconhecemos que é um problema estruturante, contudo nunca deve o Estado demitir-se das suas responsabilidades seja em que circunstâncias ele se encontre. Temos consciência de como as políticas de governo foram prejudicadas pela conjuntura política do país ao longo dos anos que durou a guerra civil. Sabemos também que a reversão do cenário requer tempo e recursos que não estão disponíveis nas quantidades e qualidades que satisfaçam as expectativas da sociedade. Por isso, o discurso que se espera do Estado é o de convocar sinergias para abordar o fenómeno sem ferir a justiça social, e os seus deveres na sua relação com os cidadãos. O primeiro secretário do MPLA em Luanda, Bento Bento, “solicitou e alertou para a retirada imediata “Temos tido exemplos dignos, como o dos Gambos, Cunene..., mas este talvez – também pela mediatização e pelo aparato da mobilização, a dimensão das “dores” – tenha unido mais os Angolanos” de todos os cidadãos em Luanda que vivem em zona de risco”. Estes apelos têm maior força quando advêm de entidades políticas do que propriamente da sociedade civil, por exemplo? Sim, porque a base de governo assenta essencialmente nos políticos; é neles que está concentrado o poder e o controlo dos mecanismos de distribuição dos privilégios conferidos pelo Estado. Agora, sobre o pronunciamento, o mesmo, se acatado, pode prejudicar mais a situação desses cidadãos do que os beneficiar. Para onde iriam esses cidadãos? O que os levou a construir nessas zonas de risco? E qual foi a experiência do senhor secretário sobre a gestão desta questão enquanto governou Luanda? Como tem acompanhado a onda de solidariedade em relação aos sinistrados do Lobito? Acha que este movimento poderia esten- der-se igualmente às pessoas que se encontram ainda em zonas de risco, no sentido de se perceber até as motivações que as levaram a construir nesses lugares? Há muito que não testemunhava um movimento de solidariedade como este em Angola. Temos tido exemplos dignos, como o dos Gambos, Cunene..., mas este talvez – também pela mediatização e pelo aparato da mobilização, a dimensão das “dores” – tenha unido mais os Angolanos. São situações como estas que me fazem sentir orgulho na nossa gente. Sobre o estender do movimento, é preciso compreender que a questão não se resume ao acto de construir em zonas de riscos, é necessário compreender as razões desta prática, até porque essas zonas não são constituídas por condomínios de luxo, ao contrário, por construções precárias. É crença minha que o foco deve primeiro assentar na compreensão das origens do fenómeno para depois se pensar em soluções que não firam a justiça social e os direitos dos cidadãos. 20 Março 2015 17 Editorial Uma sociedade plural Foi Simone de Beauovir, uma das mais importantes intelectuais do séc. XX e que permanece, apesar do tempo, extremamente actual no que às relações humanas e sociais diz respeito, que escolheu, para palavras de abertura do seu extraordinário livro “O Segundo Sexo”, a seguinte frase lapidar de seu companheiro de vida e de ideologia, Jean-Paul Sartre, referindo-se às relações Homem/Mulher: “ Metade vítimas, metade cúmplices, como toda a gente. “ Vem isto a propósito das profundas transformações que a sociedade angolana vem sofrendo, em particular, ao longo da última década, década e meia. E que merece, da parte de todos, uma atenção e um estudo profundos, por forma a que consigamos, em conjunto, despir a vivência quotidiana que temos, estudá-la, fragmentá-la e, com os métodos disponíveis que a super-estrutura ideológica tem, transformá-la num espaço mais humanizado, menos problemático e muitos menos agressivo. Beauvoir, quando se refere aos comportamentos dos seres sociais – que somos todos afinal, afirma: “A história de um indivíduo não é um progresso fatal: a cada momento, o passado é retomado mediante uma nova escolha e a “normalidade” da escolha não lhe confere nenhum valor privilegiado: é pela sua autenticidade que cumpre julgá-lo.” Em grande medida fruto da guerra que vivemos, todo o país sofreu profundas alterações, basicamente assentes na vinda para as cidades de uma população cujo modo de vida foi, durante séculos, rural, fazendo com que deixassem praticamente de existir grandes diferenciações entre urbanos e rurais, como, aliás, já tinha estudado o sociólogo Herbert Gans: “ Em condições de transitoriedade e heterogeneidade, só há interacção entre as pessoas em termos de papéis segmentados necessários à obtenção de serviços locais. As suas relações sociais, revelam assim, anonimato, impessoalidade e superficialidade.” É verdade que, em resultado do exercício da uma democracia representativa e da definição de uma economia de mercado, os mecanismos e as pulsões de uma sociedade, onde há desigualdades profundas, geram, normalmente, tensões e conflitos. Cabendo à super-estrutura ideológica (poderes político-partidários, judicial, religioso e outros) saber geri-los de forma a que, num crescendo da atenção dada à educação, à formação cívica e à resolução de problemas básicos de uma franja maioritária da população, se possa ir promovendo uma cada vez mais ampla noção das liberdades e das necessidades co- Partindo do pressuposto definitivo de que somos todos iguais, é exactamente das nossas diferenças que pode nascer uma maior riqueza, quer material, quer intelectual lectivas e individuais. Em simultâneo com o esforço educacional e cultural que nos fará ascender à categoria de uma sociedade moderna, que não assente os seus fundamentos na hostilidade, na agressividade, no egoísmo e no desrespeito por todos os que não pensam como o umbigo de cada um de nós. Partindo do pressuposto definitivo de que somos todos iguais, é exactamente das nossas diferenças que pode nascer uma maior riqueza, quer material, quer intelectual. O unanimismo, ainda que aparente, na não aceitação dos outros porque não correspondem aos padrões de comportamento em que fomos criados, é sempre perigoso e mau conselheiro. Tal como as opiniões definitivas, “catedráticas” e grosseiras, felizmente desmontadas pela ciência, pela história, pela realidade. Isabel Oliveira Andrade afirma, em “Caminhos de tolerância de John Locke às sociedades plurais”: “ O grande desafio que atravessa as nossas sociedades e Estados é a gestão de toda a diversidade resultante dessa crescente amplitude de mudanças no mundo. A multiculturalidade é um fenómeno transversal à maioria dos países, em que a existência de várias formas de vida quase nunca é fácil e ocasiona frequentemente conflitos e rupturas. A tolerância aparece assim como o princípio orientador das nossas acções e das políticas do Estado num contexto não somente diferente como mais complexo. É fundamental que cada um respeite o outro por aquilo que ele é, ainda que seja diferente, e nenhum grupo ou indivíduo deve julgar o seu modo de vida como único e verdadeiro. Deste modo, urge pensar a tolerância nesta sua nova configuração, de modo a responder também aos desafios surgidos pelos crescentes processos de fragmentação social.” Ficha técnica Propriedade: New Media Angola, SA Contribuinte: 5402136050 Registo: MCS- 491/B/2008 Director: Carlos Ferreira CHEFE DE REDACÇÃO: Hortêncio Sebastião SUB-CHEFE DE REDACÇÃO: Faustino Diogo Editores: Isabel Costa Bordalo SUB-EDITORES: Álvaro Vitória e David Filipe Redacção: António Paulo, Ernesto Gouveia, Faustino Diogo, Isabel João, e Nok Nogueira Secretária de Redacção: Yolanda Pacavira Fotografia: Quintiliano dos Santos e Ampe Rogério Chefe de Produção: Mateus Fula Chefe Gráfico: Luís Bessa Paginação: Luciano Bento e André J. Suamino Colaboradores: Abreu Paxe, António Tomás, Fernando Pacheco Fernando Pereira, Sérgio Calundungo, Jonuel Gonçalves, Eugénio Costa Almeida e Sérgio Piçarra Correspondentes: Fernando Mateus (K. Sul), Isaías Soares (Malanje), José Maria (Benguela), Teodoro Albano (Huíla, Namibe e Cunene) Direcção Comercial: Sofia Costa [email protected] Telm. 923 467171 Distribuição: VASPE, SA Concepção Gráfica: Editando, SA Impressão: DAMER, SA Morada: Rua Damião de Góis, 81 Bairro Alvalade Telefones: 222 322654 - 222 322674 - 222 322675 Fax: 222 323838 - 222323839 E-mail: [email protected] [email protected] SITE: www.novojornal.co.ao www.facebook.com/novojornal.ao Nota Os artigos de opinião publicados não vinculam o Novo Jornal e são da exclusiva responsabilidade dos seus autores Envie a sua “Carta À Direcção” para [email protected] 18 20 Março 2015 Opinião Ágora fernando pereira benvindo ao regresso! Dessei se alguém sentiu a minha ausência nas páginas do Novo Jornal, mas admito que pelo menos eu sentia a falta de me obrigar a ter este espaço. Aceitei o convite do Carlos Ferreira e só reitero o mesmo entusiasmo, igual ao de há sete anos quando o Vitor Silva e o Gustavo Costa me incentivaram a fazer esta crónica semanal, num semanário que criou enormes expectativas no quadro geral da imprensa angolana. Ficaram as enormes, faltam cumprir as expectativas! Não sei se irei manter o formato anterior, pois neste “ano sabático” surgiram novas ideias, projetos rejuvenescidos e nada melhor que citar o andaluz António Machado no seu “caminho faz-se caminhando”, para dizer que ainda não há nada definitivo neste retornar. Num recente trabalho de Maria José Tiscar Santiago, editado pela Colibri, “Diplomacia Peninsular e Operações Secretas na Guerra Colonial”, é feita uma exaustiva investigação sobre as ligações que havia entre Portugal e Espanha no contexto das lutas de libertação nacional das colónias portuguesas, e todo o percurso ziguezagueante dos diplomatas dos dois países na busca de soluções que as circunstancias desfavoráveis se propiciavam no pós-Bandung. Talvez não haja no essencial muitas surpresas, mas a pormenorização da discussão de algumas situações pouco conhecidas ou mesmo ignoradas dão um conjunto significativo de informações que explicam muito do que se foi passando nas décadas de sessenta e setenta em Angola e países limítrofes. As condenações na ONU por parte de países africanos contra a política colonial portuguesa e o alinhamento sistemático por parte da Espanha com o regime de Salazar e Caetano são revisitados pela historiadora, mostrando à saciedade quão útil foi a muleta de Madrid a Lisboa. Foram abertos os arquivos ultramarinos em Portugal, e os diplomáticos em Espanha dos anos 50,60 e 70 e isso faz com que este trabalho traga novas pistas sobre as ligações espúrias de alguns líderes africanos com as ditaduras ibéricas, dissimuladas através de uma retórica profundamente anticolonialista e de busca de uma autenticidade africana. As sucessivas “traições” que os movimentos independentistas das colónias portuguesas foram recebendo por parte de altos dignitários de alguns países africanos, conluiados com infiltrados da PIDE e comerciantes pouco escrupulosos, conseguiam por vezes resultados desastrosos nas débeis organizações que lutavam contra o colonialismo. Os apoios de Youlu, Kasavubu,Tshombé, Boigny, Mobutu e uma série de títeres e subalternos foram conseguindo adiar o futuro por uns tempos. Temos que convir que depois de lermos o livro ficamos com a sensação nítida que a diplomacia portuguesa e espanhola conjugada, executaram um excelente trabalho. Nas “memórias” de Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros português da fase final do governo de Salazar, dizia-o a Salazar utilizou Moreira como nós utilizamos um Kleenex e na altura em que estava resolvido um conflito com Deslandes, ao tempo governadorgeral de Angola e simultaneamente comandante militar no território nesse 1961, o ano de tudo, o “manholas” demitiu os dois em grande velocidade determinado passo: “ Não estava preocupado com o circo que estava montado na ONU. Os que mais vociferavam contra a nossa presença no ultramar, eram os primeiros nos bastidores a baterem-nos nas costas e a incentivar-nos a continuar determinados na presença de Portugal em África”. Este livro de Maria José Santiago contém uma vasta recolha de documentação que dá alguma razão a Franco Nogueira e às teses que defendia para a perpetuação de Portugal em Angola. O prefácio é assinado por Adriano Moreira, um “rectificado” pela democracia portuguesa, que tenta ocultar partes de um passado que não deveria ter tido. A estafada frase de Ortega Y Gasset em que “a vida somos nós e as circunstâncias” cai que nem uma luva no homem que foi diretor do ISCPU (Instituto de Ciências Sociais e Politica Ultramarina), escola de quadros da administração colonial, subsecretário de estado do fomento ultramarino e ministro do ultramar, onde em determinada altura se alcandorou a delfim de um Salazar que era velho, mas suficientemente sagaz para não dar hipóteses nenhuma a quem lhe oferecesse dúvidas. Salazar utilizou Moreira como nós utilizamos um Kleenex e na altura em que estava resolvido um conflito com Deslandes, ao tempo governador-geral de Angola e simultaneamente comandante militar no território nesse 1961, o ano de tudo, o “manholas” demitiu os dois em grande velocidade. Para além de ter sido um confesso defensor da política colonial portuguesa, um teorizador contrário ao avassalar das independências africanas, foi no seu consulado que reabriu o campo de concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago onde penaram prisioneiros de consciência da Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Cabo-Verde. Alguns por lá morreram e foi de certa forma aviltante quando no Cabo-Verde independente se dá a distinção de “Honoris Causa” a Adriano Moreira. Mereciam mais essa gente a quem a prisão tirou anos de vida para que as independências surgissem! Espero não ter uma surpresa destas na minha terra! Bem bastam outras que vou tendo e que também me desagradam. 20 Março 2015 19 CONVERSA NA MULEMBA Fernando Pacheco* uma crise para durar Quase três anos depois, o Chefe do Estado voltou a convocar o Conselho da República (CR), facto saudado por duas razões: tratou-se de um exercício salutar de diálogo institucional e deu-se cumprimento a uma disposição constitucional que já tardava. Contudo, o argumento mencionado por ter decorrido tanto tempo desde a última reunião – a estabilidade vivida – não foi feliz. Apesar da actual Constituição ter esvaziado o papel do CR, não me parece bem que a consulta a outras personalidades relevantes da vida do país seja feita apenas em momentos de crise, até porque a percepção do significado de “crise” pode ser subjectiva. Os conselheiros poderiam ter preocupações a colocar ao Presidente – e uma delas seguramente que era a questão das autarquias. Por outro lado, a sociedade foi abalada por acontecimentos que, de acordo com a comunicação social pública, seguidora da linha política do Executivo, poderiam indiciar perturbações políticas provocadas por partidos – pelo menos um – da oposição. Esse facto levou-me a escrever neste espaço que se estava em presença de uma situação anómala, pois, a serem verdadeiras as acusações, assumidas por altos dirigentes do partido no poder e do Executivo, estaríamos em presença de uma grave violação da lei e da ordem, não fazendo sentido que ao assunto não fosse dado tratamento judicial, a nível dos tribunais, e político, a nível da Assembleia Nacional e do CR. Afinal, deduzo agora que a comunicação social enganou os cidadãos. No meu entender, na linha do que exprimi na última conversa, vivemos desde há muito uma crise estrutural que resulta da corrupção que aumenta a cada dia que passa e é uma das causas da grande fragilidade institucional que, por sua vez, impede um desenvolvimento económico eficaz e eficiente, até pelo simples facto de tornar problemas simples, como a água e a electricidade e outros pequenos serviços, já para não falar do trânsito, verdadeiras dores de cabeça para os cidadãos, mesmo os mais abastados. Este facto justificaria uma reflexão séria e profunda ao nível do CR. Penso, também, que o CR deve servir para que o Presidente oiça ou- tras vozes, que não as do costume, no estabelecimento de prioridades. Já diversas vezes manifestei o meu desapontamento sobre a construção de aeroportos que comem muito dinheiro e não têm utilidade reconhecida. Agora, a juntar aos fracassos de Ndalatando, Uíje e Cuíto Canavale, vem o Luau. Não consigo perceber porque Luau, município servido agora por linha férrea que se pretende internacional mas não tem estrada em condições, precisa de um aeroporto. Numa altura em que são tantas as reclamações sobre a degradação das estradas asfaltadas recuperadas há menos de dez anos e a das estradas secundárias e terciárias, que nunca foram reabilitadas e tanto penalizam, de modo directo, milhões de cidadãos, para não falar uma vez mais da água potável, sem a qual os efeitos dos investimentos nos hospitais que se vão inaugurando acabam por não ser os esperados. Cada vez mais se manifestam vozes a sugerir o aumento e a melhoria do nível de diálogo entre decisores e os cidadãos. Parece-me errado e perigoso não dar atenção a este tipo de reivindicação. Até porque o Presidente parece ter assumido essa ideia quando expressou que duas cabeças podem pensar melhor do que uma. Uma ideia sobre a qual os membros e simpatizantes do partido no poder deveriam reflectir. O diálogo é um instrumento fundamental para a boa governação e para o bom funcionamento das democracias modernas. Mas também é um instrumento crucial para a estabilidade a nível das chamadas “comunidades tradicionais”. Não será por acaso que encontramos praticamente em todas as áreas socioculturais bantu do nosso país instituições que, na sua função primordial, se assemelham ao CR, e têm designações nas respectivas línguas – onjango, mbanza, tchoto, entre outras –, pois ajudam os sobas a tomar decisões consensuais com base em argumentos e fundamentos esgrimidos pelos seus membros, normalmente pessoas idosas, idóneas e com prestígio. Acontece que em Angola há uma deturpação, intencional ou não, do significado de diálogo institucional. Verificou-se isso no chamado diálogo com a juventude e depois na auscultação à mulher rural, embora neste último caso tivesse havido algumas melhorias. Dialogar implica troca de ideias e, sobretudo, saber ouvir. Saber ouvir o que o outro, o que pensa diferente, tem para dizer, sem pressões ou coacções. Daí que se questione a actual composição do CR, onde, para além dos líderes dos partidos da oposição e salvo um ou outro caso, os restantes membros são militantes ou simpatizantes do partido no poder, pessoas a quem o Presidente pode ouvir noutros espa- Os conselheiros poderiam ter preocupações a colocar ao Presidente – e uma delas seguramente que era a questão das autarquias ços que não o CR. Nesse sentido, o que se terá passado na última sessão do CR, segundo a comunicação social, não foi uma coisa boa. A auscultação aos membros do CR deveria ter sido anterior à aprovação do OGE revisto para 2015, de modo que estes pudessem apresentar as suas sugestões. Procedendo de outro modo, ficará sempre a ideia de que o que se pretendeu foi referendar as decisões do Executivo sobre a matéria, numa linha tão usual. E o destaque da notícia não podia ser outro – CR apoia medidas do Executivo. Se é assim, justifica-se ouvir o CR? A realidade tem vindo a mostrar que muitos dos chamados “críticos” afinal têm razão em algumas das suas opiniões. Limitando-me aos últimos acontecimentos, reporto o facto de o partido maioritário e o Executivo terem dado o braço a torcer no que respeita ao OGE para 2015, depois de ter ignorado muitas das sugestões sobre a sua inviabilidade. Chamo também a atenção para uma reflexão sobre as medidas divulgadas por órgãos supra ministeriais, ministérios e empresas públicas como estratégia para enfrentarem a “crise”. Fica muito claro, pelas suas próprias palavras pretensamente correctoras, que esses órgãos e organismos, de facto, geriam mal, gastavam o dinheiro público sem critérios ajuizados e sem bom senso, e, deduz-se, davam azo aos mecanismos de corrupção. A medida mais avisada que deveria ser tomada, tirando partido da crise, parece ser a do reforço institucional e das capacidades. Sem isso, não haverá combate à corrupção e, consequentemente, as instituições não terão eficácia nem eficiência e a diversificação da economia continuará a marcar passo, pelo que a crise estrutural que afecta o país não será ultrapassada. E como o preço do petróleo já está a subir…, logo se verá que tudo poderá voltar ao mesmo. É esta fragilidade institucional que explica a gravíssima situação que se está a viver nos arredores de Luanda com a ocupação de terrenos que são reserva do Estado por parte de pessoas cujos mandantes estão bem identificados, como referiu o jurista Carlos Feijó no seminário realizado em Dezembro passado. Decorridos dois meses, a falta de autoridade por parte das diversas instituições do Estado envolvidas é evidente. Várias agressões físicas – incluindo a figuras públicas – ocorreram e outras poderão acontecer, com consequências imprevisíveis. Mais uma vez fica patente que os “críticos” podem ter razão. Várias vozes têm vindo a alertar para o que está acontecer desde há muitos anos, perante a passividade de quem de direito. 20 20 Março 2015 África Tunísia Nove suspeitos detidos em relação ao ataque a museu na Tunísia - Presidência A Presidência tunisina anunciou na quinta-feira, 19, que foram detidas nove pessoas por suspeita de estarem relacionadas com os dois homens responsáveis pelo ataque contra o museu do Bardo, em Tunis, na quarta-feira, 18, que causou 21 mortos. “O chefe do Governo indicou que as forças de segurança detiveram quatro elementos relacionados directamente com a operação terrorista e cinco outros suspeitos de estarem relacionados com esta célula”, indicou a Presidência num comunicado, sem precisar o papel ou a identidade dos suspeitos. “O chefe de Estado afirmou que a Tunísia vive circunstâncias excepcionais, sendo confrontada com um salto qualitativo nas operações terroristas que passaram das montanhas para as cidades”, assinalou a Presidência. Entre a revolução de 2011 e o ataque contra o museu na quarta-feira, a Tunísia tem confrontado essencialmente os jihadistas ao longo da fronteira com a Argélia. No comunicado, a Presidência indicou ainda que vão ser tomadas medidas para reforçar as forças armadas e de segurança, o controlo das fronteiras com a Líbia e a Argélia e a cooperação entre os diferentes corpos responsáveis pela segurança da Tunísia. Vinte turistas estrangeiros foram mortos no ataque realizado por homens armados e uniformizados, que dispararam sobre os visitantes quando estes saíam de um autocarro e que depois perseguiram no interior do museu. Os autores do ataque foram identificados como sendo Yassine Abidi e Hatem Khachnaoui. O ataque ao Museu Nacional do Bardo é o mais grave contra estrangeiros na Tunísia desde o atentado suicida contra uma sinagoga em Djerba (sul), em que morreram 14 alemães e dois franceses, além de cinco tunisinos, em 2002, reivindicado pela Al-Qaida. Presidente da RDC, sob pressão, reprime oposição e activistas vindos do estrangeiro Aumentou a contestação contra o Presidente da República Democrática do Congo, desde que Joseph Kabila, tentou abrir o caminho para novo mandato, por meio de uma emenda constitucional. Kabila reage, reprimindo a oposição. Foi o que aconteceu nos últimos dias, quando activistas dos movimentos de cidadãos “Y En A Marre”, ou “Chega” em português, e “Balai Citoyen”, ou “Cidadão-Vassoura” em português, do o primeiro do Burkina Faso e o segundo do Senegal, entre outros, se reuniram com jovens congolenses, em Kinshasa, para sensibilizá-los a falarem sobre democracia e a promoverem a participação política. Repressão de movimentos As forças de segurança, então, interromperam o evento e prenderam cerca de 30 activistas. Em Goma, no leste do Congo, as forças de segurança detiveram pelo menos dez cidadãos que protestavam contra as detenções. Os cidadãos foram libertados na quarta-feira, 18. O governo congolês considerou que os activistas do Senegal e do Burkina Faso queriam organizar uma revolta no país, disse o ministro da Informação, Lambert Mende, alegando que as autoridades policiais da RDC “apenas tentavam defender a segurança no país, que não pode ser dominada por activistas senegaleses. Os senegaleses têm de limitar o seu activismo ao Senegal, os burquinabes ao Burkina Faso.” Movimentos cívicos em África Dias depois, o governo disse que iria expulsar os activistas estrangei- ros do Congo. No Senegal, o “Y En A Marre”, em 2012, lutou pela destituição do Presidente Abdoulaye Wade, que perdeu na segunda ronda eleitoral para o concorrente Macky Sall. O “Balai Citoyen protestou no ano passado contra uma emenda constitucional no Burkina Faso, que garantiria mais um mandato ao então Presidente Blaise Compaoré, levando-o a sair do cargo no final de Outubro de 2014. Desde então, um governo de transição está à frente do país. 20 Março 2015 11 pessoas foram mortas no curso de um ataque levado a cabo por centenas de combatentes do grupo islamista nigeriano Boko Haram contra a cidade de Gamboru, no nordeste, no seguimento da retirada das forças tchadianas Estatuto de cargos políticos em Cabo Verde causa divisão no PAICV Em Cabo Verde a revisão do estatuto dos titulares de cargos políticos englobado no projecto da reforma do Parlamento, cuja discussão parlamentar está agendada para este mês, colocou a direcção do PAICV, liderado por Janira Almada, e a bancada parlamentar, presidida por Felisberto Vieira, em trincheiras opostas. As bancadas dos partidos do governo e da oposição chegaram a um entendimento, mas a nova presidente do PAICV tem um entendimento contrário, alegando que o país não está em condições de suportar mais custos financeiros neste momento. Para o líder da bancada do PAICV, Felisberto Vieira, esse projecto surge na sequência de outros dossiers consensualizados entre as bancadas dos dois principais partidos com assento parlamentar, com anuência do presidente do MPD, Ulisses Correia e Silva, e o então presidente do PAICV, José Maria Neves, por isso não vê razão para o recuo neste momento. Felisberto Vieira entende que se devem encarar as coisas com determinação e sem subterfúgios, aludindo à necessidade de se dotar os titulares de cargos políticos de melhores condições, a fim de exercerem com responsabilidade as respectivas funções. A mesma posição é também assumida pelo líder da bancada do MPD, Fernando Elísio Freire, que fala da necessidade dos titulares de cargos políticos terem outras condições, evitando a situações de regalias camufladas que não abonam o exercício da actividade politica e a própria democracia. O presidente do MPD recorda que o momento é para se avançar com a reforma, já que houve um entendimento entre as duas bancadas, com o aval dos presidentes dos dois partidos, Ulisses Correia e Silva do Movimento para a Democracia e José Maria Neves, então dirigente máximo do PAICV. Em contra posição parece estar a direcção do PAICV presidida por Janira Almada, que entende não ser pertinente a aprovação do novo estatuto dos titulares de cargos políticos, quando o país atravessa dificuldades financeiras, não podendo resolver um conjunto de reivindicações de outras classes profissionais, nomeadamente a polícia judiciária e professores, que já fizeram greve. Apesar de reconhecer a necessidade do salário de titulares de cargos políticos ser ajustado, o analista político Daniel Medina entende que a conjuntura do país não suporta os custos inerentes à aprovação do referido estatuto, quando há reivindicações de outras classes sociais não resolvidas. Xenofobia aumenta no Soweto A associação dos Operadores de Pequenos Negócios no bairro histórico de Soweto, nos arredores da cidade sul-africana de Joanesburgo, não querem estrangeiros a operar negócios naquela zona e recorreu já à violência para marcar a sua posição. Desde o início deste ano, os membros da associação estão em frenética campanha de ataques, pilhagem e ocupação de pequenos negócios de estrangeiros. Na segunda-feira, 16, os membros da associação abandonaram uma reunião promovida pelo governo com o objectivo de encontrar uma solução de estabelecimento de boas relações com estrangeiros. Um membro da direcção disse que os gran- des negócios são bem-vindos ao Soweto, porque criam oportunidades de emprego para a comunidade e que os estrangeiros que apenas vão tirar dinheiro, sem empregar residentes locais, não serão bem-vindos.“Nós acolhemos qualquer pessoa que trabalhe em associação com sul-africanos. Não acolhemos ninguém que vem tirar dinheiro para fora do Soweto. Os centros comerciais que você vê aqui criam empregos e por isso dissemos que eram bem-vindos. Mas se alguém vem para o bairro sem criar emprego e leva dinheiro não será bem recebido- palavras de Mphuthu Mphuthu, membro da direcção da Associação de Pequenos Operadores de Soweto. 21 O governo sul-africano está embaraçado com a atitude dos associados do Soweto, porque acreditava que os ataques e pilhagens às lojas dos estrangeiros eram actos puramente criminosos, sem conotação com xenofobia. Há muitos estrangeiros cujos pequenos negócios não tem espaço nem condições para acomodar cidadãos locais, como é o caso de Aniceto Sambo e Henriques Massango, que produzem e vendem blocos para construção civil. O governo e associados do Soweto voltam à mesa de diálogo. Há muito receio de que o impasse entre as duas partes podem degenerar em novos ataques, pilhagens e ocupação de pequenos negócios de estrangeiros. Estado Islâmico reivindica ataque na Tunísia O Estado Islâmico reivindicou o ataque de ontem no Museu do Bardo, em Tunis. Através da publicação de uma gravação áudio na internet, o grupo terrorista disse ter sido o responsável pelo ataque que matou 20 turistas. Segundo a Reuters, ouve-se ainda elogios aos dois militantes que foram mortos, considerando-os “cavaleiros do Estado Islâmico” armados com metralhadoras e bombas.O ataque de ontem teria o Parlamento como objectivo, mas ao não conseguirem entrar, os homens foram para o Museu do Bardo, onde estavam mais de uma centena de turistas. 20 morreram, mais um cidadão tunisino. Yassine Abidi e Hatem Khachnaoui, os autores do ataque, foram mortos pelas autoridades. Operação no Egipto contra jihadistas fez 28 mortos O número de alegados jihadistas abatidos pelas forças de segurança egípcias, no norte do Sinai desde 1 de Março deste ano, subiu para os 143. Na quinta-feira, 19, as forças militares e policiais visaram as zonas a sul da capital da província Norte do Sinai e duas localidades junto à fronteira com a Faixa de Gaza. Seis suspeitos foram detidos, cinco veículos apreendidos e vários esconderijos destruídos, segundo fonte das forças de segurança citada pela agência EFE. A península do Sinai é desde há vários anos um foco de instabilidade, mas após a destituição do Presidente islamita Mohamed Morsi, em Julho de 2013, multiplicaram-se os ataques contra as forças de segurança. Vários grupos jihadistas têm as suas bases naquela península, entre os quais o Wilayat Sina, que jurou lealdade ao Estado Islâmico e reivindicou os atentados mais mortíferos. 22 20 Março 2015 Mundo Casa Branca teme recuo no processo de paz Vitória de Netanyahu em Israel compromete criação do Estado da Palestina O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, considerou esta quinta-feira ser impossível chegar à criação de um Estado palestiniano, ao lado de Israel, com o próximo Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “As declarações de Benjamin Netanyahu contra a solução de dois Estados e os apelos do ministro dos Negócios Estrangeiros Avigdor Lieberman a pedir a morte dos árabes israelitas provam, a serem verdade, que o Governo israelita não quer uma solução política”, disse Abbas, quando falava perante a direção palestiniana em Ramallah, na primeira reacção pública aos resultados das legislativas israelitas. “Não vamos mudar a nossa posição”, acrescentou, numa referência à ofensiva diplomática e judiciária iniciada pelos palestinianos. “Temos o direito de recorrer a todas as instituições internacionais para conseguir que os nossos direitos sejam respeitados e que as resoluções internacionais sejam aplicadas”, sublinhou. Os palestinianos pretendem entregar, a partir de 1 de Abril, junto do Tribunal Penal Internacional, a primeira queixa de “crimes de guerra” contra os dirigentes israelitas, acrescentando não terem renunciado à obtenção de uma resolução da ONU que fixe um termo para a ocu- pação israelita. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, líder do partido conservador Likud, venceu as eleições legislativas antecipadas de terça-feira, em Israel, ultrapassando as expectativas dos analistas que apontavam para um empate com a coligação de centro-esquerda União Sionista, liderada pelo trabalhista Isaac Herzog. Algumas sondagens chegaram mesmo a prever a derrota do líder do Likud. Netanyahu, que vai para o seu quarto mandato, o terceiro consecutivo, como chefe do Governo, acabou por surpreender e surpreender-se com os resultados de quarta-feira, quando obteve 30 lugares contra os 24 da coligação de Herzog, num Parlamento de 120 deputados. Netanyahu quer ter o processo de formação do governo concluído dentro de duas a três semanas, anunciou o Likud em comunicado. No discurso de vitória, Netanyahu lançou uma piscadela de olhos aos partidos conservadores para formar um “Governo nacional” que seja “forte e estável”. Constituído por partidos da direita, extrema-direita e religiosos, a futura equipa governativa de Netanyahu possui todas as receitas para entrar ainda em rota de colisão com a administração Obama e a União Europeia e em guerra com o Irão. A vitória de Netanyahu e a promessa feita na véspera das eleições de que o seu Governo não permitirá a criação de um Estado palestiniano e que continuará com a construção de colonatos em terras ocupadas desagradou à Casa Branca, que teme um retrocesso no processo de paz e o agudizar da tensão com os palestinianos. Ainda na quarta-feira, o Governo americano deixou claro que vai avaliar a sua abordagem sobre o processo de paz no Médio Oriente, reafirmando a aposta do Presidente Barack Obama na solução de dois Estados vivendo lado a lado. A Casa Branca manifestou ainda a preocupação com a “retórica desagregadora” de Netanyahu em relação aos eleitores árabes-israelenses. A posição de Obama contrasta com a dos republicanos que, pouco antes das eleições em Israel, convidaram Netanyahu para discursar no Congresso americano e após conhecidos os resultados eleitorais saudaram a vitória de “um verdadeiro líder que continuará a manter Israel forte e seguro”, como afirmou o ex-governador do Texas, Jeb Bush, irmão e filho dos ex-presidentes George Bush e possível candidato à Presidente pelo partido, na sua conta no Twitter. A nível interno, a vitória de Netanyahu também suscita preocupações pelo isolamento que a política do actual líder do Likud promove. Num artigo de opinião publicado no diário Haaretz, Revit Hecht explica que o país está “a galopar para um futuro antidemocrático binacional saturado de racismo e ódio”, temendo que a política do actual executivo fará de Israel o “próximo Estado falhado do Médio Oriente”. Polícia suspeita do crime organizado Tiroteio na Suécia faz dois mortos e mais de 10 feridos A polícia suspeita que o tiroteio que na madrugada de quinta-feira provocou dois mortos e entre 10 a 15 feridos num bar de Gotemburgo, no oeste da Suécia, esteja relacionado com uma disputa entre grupos rivais para o controlo do tráfico de droga. “Dois homens, de 20 e 25 anos, foram mortos e 10 a 15 pessoas ficaram feridas, com diferentes níveis de gravidade, quando vários homens abriram fogo com armas automáticas”, refere o comunicado da polícia, dando conta que três ou quatro feridos encontravam-se em estado grave, mas fora de perigo. A polícia descartou que se tenha tratado de uma acção terrorista, mantendo em aberto a possibilidade de uma acção relacionada com o crime organizado. “Temos problemas há algum tempo nesta área com o crime organizado”, esclareceu Ulla Brehm, porta-voz da polícia. A polícia não tinha, até ao início da manhã de quinta-feira, conseguido localizar os atiradores, que se colocaram em fuga numa viatura, segundo a agência noticiosa francesa AFP. Uma testemunha afirmou ao jornal Aftonbladet que dois homens invadiram o bar na área de Biskopsgaarden e abriram fogo. “Estávamos sentados a assistir a uma partida de futebol quando eles entraram”, acrescentou. Os dois atiradores estão a ser procurados pela polícia que tem registo de problemas similares com tiroteios nos últimos anos, embora nenhum desta magnitude. O tiroteio corresponde a uma resposta «olho por olho» entre grupos rivais neste tipo de área. Desde há vários anos que a Suécia e a vizinha Dinamarca se confron- tam com problemas com grupos criminosos, como os Hells Angels, os Bandidos e vários grupos de imigrantes que lutam pelo controlo do tráfico local de drogas. 20 Março 2015 23 O governo cubano autorizou a entrada em funcionamento do primeiro ponto público de wi-fi de acesso livre e gratuito, num centro cultural de Havana ligado ao artista plástico Kcho. O acesso pago à rede é incomportável para a esmagadora maioria dos cubanos Acidente na China Rochas atingem grupo de viajantes e matam sete turistas Presidente do Eurogrupo ameaça com cenário cipriota Casal de turistas alemão paga reparação de guerra à Grécia Um casal de turistas alemão mereceu a atenção da imprensa grega depois de depositar numa prefeitura de Peloponense um cheque de 857 euros referente à “sua” parte da dívida alemã de guerra com a Grécia. “Eles vieram ao meu escritório ontem (terça-feira) de manhã para dizer que queriam compensar a atitude do seu Governo, que tinham feito o cálculo da dívida dos alemães para o empréstimo imposto à Grécia durante a Segunda Guerra Mundial”, afirmou Nafplion Dimitris Kotsouros, prefeito de Náuplia. “O casal escolheu Náuplia simbolicamente, por ter sido a primeira capital da Grécia, no século XIX”, disse o autarca, acrescentando que o dinheiro foi para uma associação de ajuda comunitária a pessoas necessitadas. As autoridades da Grécia, país que tem uma dívida externa de 175% do seu Produto Interno Bruto, têm reclamado que a Alemanha nunca pagou as reparações de guerra e nem o empréstimo forçado em 1942. O montante de reparações reclamadas pelos gregos é de 162 milhares de milhões de euros, mais ou menos metade da dívida do país, segundo os dados que circulam em Atenas. O empréstimo forçado durante a ocupação Nazi foi de 11 mil milhões de euros. Esta história dá novo ânimo aos gregos, mas não resolve o impasse entre as instituições europeias, o FMI e Atenas sobre a dívida grega. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, pediu uma reunião a cinco à margem do Conselho Europeu, que se realiza esta quinta e sexta-feira. A situação na Grécia, que hoje tem de reembolsar mais de 350 milhões de euros ao FMI, não faz parte da agenda do Conselho Europeu, mas o assunto paira sobre a cimeira como uma nuvem negra, com as partes a extremarem posições. O presidente do Eurogrupo, que engloba os ministros das Finanças da zona Euro, ameaçou quarta-feira, a Grécia com um cenário idêntico ao de Cipre, em “que os bancos estiveram um tempo fechados e os controlos de capital – entradas e saídas de dinheiro – foram sendo feitos de acordo com determinadas condições”. Em declarações à rádio BNR, o também ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, acabou por deixar claro que os “cenários não têm que ser todos relativos à saída imediata” da Grécia da zona euro. Embora essa possibilidade não esteja afastada, os líderes europeus querem a todo o custo evitá-lo. O presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, manifestou-se quinta-feira optimista acerca das negociações entre o novo governo grego e as instituições europeias, afirmando que a zona euro “tudo fará para manter a Grécia” na moeda única. O apresentador de um programa satírico da televisão pública alemã Jan Bohmermann confessou ter manipulado o vídeo O novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, vai encontrar-se sexta-feira em Bruxelas com Martin Schulz, que iniciou no domingo uma visita de quatro dias à China, e com o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker. Em Fevereiro passado, o Eurogrupo chegou a um acordo sobre o prolongamento da assistência financeira à Grécia por quatro meses, mas em contrapartida, as autoridades gregas comprometeram-se a conduzir uma série de reformas, em linha com as condições previstas no actual programa. O embate tem envolvido sobretudo a Grécia e a Alemanha e, esta semana, registou um novo pico, após a divulgação de um vídeo em que o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, surge a fazer um gesto obsceno contra a Alemanha, durante um debate político de grande audiência na Alemanha, onde participava Varoufakis, que disse imediatamente que as imagens eram falsas. Apesar do desmentido, a produção do programa de debate político emitiu um comunicado a atestar a veracidade das imagens, acrescentando que não tinha sido encontrado nenhum sinal de manipulação com base em “vários especialistas”. Dias depois da polémica desencadeada no domingo, o apresentador de um programa satírico da televisão pública alemã Jan Bohmermann confessou ter manipulado o vídeo. A revelação foi feita num vídeo divulgado no sítio do seu programa na internet, onde o apresentador confessa que o registo com Varoufakis foi gravado durante uma intervenção na Croácia, em 2013, num festival em Zagreb, e que o gesto obsceno foi inserido no mês passado pela sua equipa. Jan Bohmermann acabou por pedir desculpa ao ministro das Finanças grego. Sete turistas morreram quinta-feira na China ao serem atingidos por rochas que caíram da montanha de Diecai, em Guilin, na região de Guangxi, informou a imprensa oficial. As rochas atingiram o grupo de viajantes quando estes esperavam para embarcar no barco na montanha de Diecai, em Guilin, informou a China Radio International (CRI). “Quatro pessoas morreram no local e outras quatro ficaram feridas”, informa a CRI na sua página de Internet. “Três dos feridos morreram no hospital”. O local do incidente é descrito como uma das maiores atrações turísticas do país e bastante visitado por turistas nacionais e estrangeiros. Cinco mortos no Iémen Confrontos entre milícias e forças leais ao Presidente encerram aeroporto Pelo menos cinco pessoas morreram e 13 ficaram feridas em confrontos na noite de quinta-feira junto ao aeroporto de Aden, no sul do Iémen, entre milícias e forças leais ao Presidente, Abd Rabbo Mansour Hadi, informaram fontes da segurança. Os confrontos obrigaram à suspensão de voos e ao encerramento do aeroporto. Os combates tiveram início após a implantação em várias estradas, incluindo perto do aeroporto de Aden, de unidades de forças especiais, lideradas pelo general Abdel Hafez al-Saqqaf. Os Comités de Resistência Popular, leais ao Presidente Hadi, reagiram à sua implantação das forças, com confrontos em várias partes da cidade. O Presidente do Iémen fugiu para a cidade portuária de Aden no mês passado depois de escapar à milícia xiita que controla a cidade de Sanaa 24 20 Março 2015 Desporto Ampe Rogério Girab la 2015 “Militares” inseguros À semelhança da época passada, o 1.º de Agosto começou da pior forma o Girabola deste ano. Em quatro jogos realizados, a equipa perdeu três e consentiu um empate, números que colocam os “militares” no penúltimo lugar da classificação. “Haja calma!”, tranquilizou o presidente do clube, Carlos Hendrik, após o empate (0-0) na jornada passada, na deslocação à Huíla, no encontro com o Desportivo. Trata-se de uma intervenção que confirma a confiança que a direcção do clube continua a depositar no técnico sérvio Dragon Jovic, que enfrenta uma grande pressão por parte dos adeptos “militares”, que não festejam o título há expressivos oito anos. E para a 6.ª Jornada, a decorrer este fim-de-semana, a formação afecta às Forças Armadas tem, teoricamente, uma grande oportunidade para se reencontrar e cruzar o caminho das vitórias. Os militares – que têm um jogo em atraso, frente ao Libolo, em Luanda, no dia 28 deste mês – recebem este sábado a modesta formação do Domant FC, estreante no Girabola. Com melhor prestação está o arqui-rival, Petro de Luanda, que ocupa o quarto lugar, somando sete pontos, com, no entanto, também menos um jogo, diante do Progresso do Sambizanga, agendado para 28 deste mês. Os petrolíferos enfrentam neste fim-de-semana o Benfica de Luanda (7.º classificado, com sete pontos), num “derbie” que vai colocar frente-a-frente dois candidatos ao título, ambas as agremiações representantes angolanos nas competições africanas deste ano. Ainda em Luanda, aguarda-se, com expectativa, pela entrada em cena do Kabuscorp (2.º, com 8 pontos), que vai defrontar o Desportivo da Huíla, 13.º classificado, com cinco pontos. Destaque ainda nesta jornada para o duelo, em Calulo, entre o campeão em título, Libolo, 3.º colocado, com sete pontos, diante da aguerrida equipa do Sagrada, que soma menos dois pontos, na 12.ª posição. ÁLVARO VICTÓRIA Kabuscorp em risco Ampe Rogério versário “habitué” nas provas africanas - Étoile Sahel - com quem perdeu na Tunísia, por 1-0. JG GM GS EP DT VT PT 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º 7.º 8.º 9.º 10.º 11.º 12.º 13.º 14.º 15.º 16.º 05 05 04 04 05 05 04 05 05 05 05 05 04 04 04 04 interclube kabuscorp libolo petro domant fc b. maquis b. luanda academica asa caála d. huíla sagrada sp. cabinda pogresso ls 1.º de agosto progresso s 10 07 08 03 07 05 06 06 05 03 03 02 05 03 02 02 02 06 05 03 09 07 02 06 03 03 04 06 06 04 06 07 02 03 01 01 01 00 01 00 02 05 02 02 02 00 04 01 00 00 00 01 02 02 01 03 01 00 01 02 01 02 04 03 03 02 02 02 02 02 02 02 01 00 01 01 01 01 00 00 5.º JORNADA Sagrada B. Maquis Interclube Sp. Cabinda Progresso D. Huíla Petro Domant Fc (0-0) (1-1) (0-0) (0-0) (1-2) (0-0) (-) (2-1) Caála Kabuscorp ASA B. Luanda Libolo 1.º de Agosto Progresso LS Académica PRÓXIMA JORNADA B. Luanda Libolo ASA 1.º de Agosto Académica Progresso LS Kabuscorp Caála (-) (-) (-) (-) (-) (-) (-) (-) Petro Sagrada B. Maquis Domant Fc Progresso S Interclube D. Huíla Sp. Cabinda ARTILHARIA Meyong e Abel Albert Meyong, avançado do Kabuscorp do Palanca, comanda a prova com 4 golos, e ana segunda posiçao estao Nandinho, Valdez ambos do Interclube com 2 golos cada. AFROTAÇAS O Kabuscorp do Palanca perdeu, por 2-0, na deslocação ao Sudão, diante do El Merreikh, e está em risco de ser afastado da Liga dos Clubes Campeões Africanos de futebol. Para superar o “score” e manter-se na corrida à fase de grupos da cobiçada prova, exige-se à equipa vice-campeã angolana, um conjunto forte, assente numa defesa sólida e num ataque concretizador, no jogo da segunda-mão, em Luanda, a 03 de Abril próximo. Também com motivos de preocupação, na Taça CAF, está o Benfica de Luanda, que terá como missão ultrapassar, em Luanda, também no dia 03 de Abril, um ad- CLASSIFICAÇÃO Melhor posicionado para confirmar a continuidade nas preliminares de acesso à fase de grupos da ARTILHARIA Taça CAF está o Petro de Luanda. Os tricolores foram à Swazilândia impor um empate (2-2) ao Royal Leopards, um “score” que retira alguma pressão à equipa angolana no duelo da segunda-mão, previsto para 05 de Abril. Recorde-se que, o Recreativo do Libolo foi afastado logo na primeira eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. O “carrasco” do campeão nacional foi o Sanga Balenda, da RD Congo, com quem perdeu no jogo da segunda-volta, em Kinshasa, por 2-0, resultado que anulou a vitória dos angolanos, por 3-1, conseguida em Calulo. Meyong à frente Aos 34 anos, Albert Meyong, atacante do Kabuscorp, tem demonstrado, neste início de campeonato, estar disposto a defender o título de melhor marcador das duas últimas edições do Girabola. Em cinco jornadas, o avançado camaronês já facturou por quatro vezes, o que lhe confere o estatuto de líder da lista dos melhores marcadores do presente campeonato. 11 09 07 07 07 07 07 06 06 05 05 05 04 03 01 01 20 Março 2015 25 Uma partida de basquetebol, que vai contar com a presença de várias exestrelas da modalidade do país e de África, vai ser realizada no domingo, 22, no pavilhão Victorino Cunha, em solidariedade com as famílias vítimas das chuvas ocorridas a 11 do corrente mês, no Lobito Crise não impede Congresso do futebol Presença no Mundial 2006 Ampe Rogério O futebol nacional vai mesmo a debate no Congresso previsto para Maio próximo, apesar das limitações financeiras da Federação Angolana de Futebol (FAF), que levaram a que os Palancas Negras desistissem de algumas provas internacionais. A garantia sobre a realização do certame em Luanda foi dada ao Novo Jornal pelo secretário-geral do Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD), Paulo Ferreira. “É um evento que vai ser suportado financeiramente pelo Ministério da Juventude e Desportos. O encontro foi anunciado, em primeira mão, pelo ministro Gonçalves Muandumba e deve acontecer este ano”, assegurou o dirigente. Trata-se de um encontro que vai ser realizado num ano em que as várias Federações ligadas ao desporto angolano viram reduzidas as verbas para os encargos de 2015, devido à crise financeira que o país enfrenta, resultante da queda do preço do petróleo no mercado internacional. A FAF, por exemplo, viu subtraídos do seu orçamento para 2015 cerca de 100 milhões de Kwanzas, o que levou a que a direcção de Pedro Neto retirasse as várias selecções nacionais de alguns compromissos internacionais, como a presença no torneio regional “Taça COSAFA”. Para este ano, segundo apurou o NJ num documento do MINJUD, a FAF vai receber cerca de 172 milhões e 500 mil Kwanzas (perto de 1 milhão e 725 mil dólares) para cobrir as despesas de funcionamento, competição e associativa. O Congresso do futebol, que propõe analisar, com profundidade, os problemas da modalidade ao nível de todo o país, está agendado para Maio próximo, em Luanda. “É o assumir de toda a Nação, de todos os actores, de que temos de resgatar a magia do futebol angolano”, referiu o ministro da Juventude e Desportos, Gonçalves Muandumba, à margem do Congresso do A FAF, por exemplo, viu subtraídos do seu orçamento para 2015 cerca de 100 milhões de Kwanzas MPLA, realizado em Dezembro de 2014, em Luanda. “Pretendemos fazer uma grande discussão nacional sobre o ‘fenómeno futebol’. Porque o futebol é, sem dúvida, um fenómeno social, um factor de inclusão social, de unidade e coesão nacional”, explicou o governante. “Estamos a estimar [o encontro] para o primeiro trimestre do próximo ano. O mais urgente possível, sobretudo, com as recomendações muito concretas e objectivas do Presidente da República e do Congresso do MPLA”, realçou, na ocasião, o titular da pasta do Ministério da Juventude e Desportos. O anúncio do Congresso foi saudado por vários agentes da modalidade no país, que, no entanto, alertam para a necessidade do encontro ser mais aberto, juntando, sobretudo, quadros nacionais. Trata-se, de resto, de uma reunião há muito aguardada e várias vezes adiada. “Tudo se fará para que a conferência não volte a ser adiada”, acalmou Gonçalves Muandumba. O tema sobre o actual quadro do futebol nacional voltou à ribalta sobretudo depois do afastamento, o ano passado, dos Palancas da corrida ao CAN 2015, que a Guine Equatorial acolheu em Janeiro último, ganho pela Costa do Marfim. Na ocasião, a selecção nacional, orientada pelo técnico angolano Romeu Filemon, não conseguiu superar, na concorrência, o Burkina Faso e o Gabão, no Grupo C, que seguiram para o Africano. Ajudaram a “agitar as águas”, além do afastamento dos Palancas do CAN 2015, os erros administrativos cometidos pelo elenco de Pedro Neto, que permitiu a actuação ilegal, pela selecção nacional, de jogadores com problemas de naturalização durante a fase de qualificação. ÁLVARO VICTÓRIA Com sete presenças no CAN, o momento mais alto do futebol angolano foi registado em 2006, durante a participação inédita da selecção nacional sénior no Mundial que se disputou na Alemanha. Também sob liderança de Justino Fernandes na direcção da FAF, a selecção de futebol sub-20 conseguiu conquistar, em 2001, o Africano que decorreu na Etiópia. Esta conquista permitiu a presença do país no Mundial da categoria, em 2002, ganha pela anfitriã Argentina, que contou com os préstimos do craque Lionel Messi. Salta ainda à vista entre os feitos do futebol angolano o segundo lugar conseguido pelos Palancas Negras na II edição do CHAN (prova dedicada a jogadores que actuam nos campeonatos internos). A competição, disputada no Sudão, decorreu um ano antes de o país acolher, pela primeira vez, o CAN de futebol, em 2010. Palancas defrontam campeões africanos Os Palancas Negras defrontam na próxima quinta-feira, 26, em Abidjan, a Costa do Marfim, campeã do CAN realizado este ano, na Guiné Equatorial. O jogo amistoso enquadra-se na primeira data FIFA de 2015. Segundo o programa da Federação, a selecção nacional, composta apenas por jogadores que actuam no futebol doméstico, concentra-se no dia 23. Para esta empreitada, Romeu Filemon, seleccionador nacional, convocou os seguintes jogadores: Guarda-redes: Mário (Kabuscorp) e Landu (Libolo); Defesas: Miguel, Gomito (Benfica), Natael, Carlitos (Libolo), Kibeixa, Silva (Kabuscorp) e Fabrício (Interclube); Médios: Paty (Interclube), Gilberto, Amaro (Benfica), Mingo Bile, Manucho Diniz (1.º de Agosto), Rudy (Libolo) e Job (Petro de Luanda) e os avançados Yano (Progresso do Sambizanga), Pedro (Benfica), Dário e Fredy, do Libolo. Entre os vários jogos agendados este mês para a primeira data FIFA do ano, destaque para as partidas: França-Brasil, no dia 26; Itália-Inglaterra (30); Holanda-Espanha, marcado para 31, dia em que Portugal enfrenta Cabo Verde. 26 20 Março 2015 Desporto 1.ª JORNADA ONTEM ANGOLA 38-21 Senegal Tunísia xx-xx RDC 2.ª JORNADA HOJE Senegal-Tunísia 17H00 ANGOLA-RDC 19H00 ÚLTIMA JORNADA AMANHÃ RDC-Senegal 17H00 Angola-Tunísia 19H00 ANDEBOL-ACESSO AO RIO2016 Vitória na estreia BIC-BASKET Tiro de largada para os “Play-Off” O campeonato nacional sénior masculino de basquetebol (BIC-Basket) está de regresso este fim-de-semana, depois de duas semanas de pausa, imposta pelos jogos dos quartos-de-final da Taça de Angola. Trata-se do arranque da fase que decide as quatro equipas que vão disputar os “Play-Off”, fase final da 37.ª edição do campeonato, em que cada equipa apurada embolsa 1 milhão de Kwanzas. Na etapa que está prestes a come- çar, em que as equipas jogam todos contra todos a duas voltas, as equipas estão divididas em dois Grupos: O A, de corrida ao título, e o B, de classificação do oitavo ao 11.º lugares. O Grupo A está composto pelas seis melhores formações da fase regular, ordenadamente: 1.º de Agosto (campeão da última fase e, por isso, vai beneficiar da bonificação de um ponto), Petro de Luanda, Libolo, Interclube, ASA e Sporting de Benguela. Já a Série B é constituída pelos úl- Sem grandes dificuldades, aliás, como já estava previsto, a selecção nacional sénior feminina de andebol derrotou ontem o Senegal, por 3821, na abertura do torneio Pré-Olímpico, que apura o vencedor para os Jogos Olímpicos que a cidade do Rio de Janeiro vai acolher, em 2016. O último jogo do primeiro dia de competição, as tunisinas, detentoras do título africano, defrontaram, timos quatro classificados da etapa regular, respectivamente Universidade Lusíada, Progresso, Vila Clotilde e Marinha de Guerra. Este sábado, para o pontapé de saída da penúltima fase do campeonato, para o Grupo A, o Libolo, campeão nacional, vai ter a visita, em Viana, do Interclube. No outro jogo do dia, o Petro de Luanda vai medir forças, no Pavilhão da Cidadela, com o ASA. Por cortesia e juntando-se à onda de solidariedade às vítimas das enxurradas do Lobito, o 1.º de Agosto transferiu o seu jogo de Luanda para Benguela, onde vai jogar diante do Sporting local. A 1.ª Jornada do Grupo B do BIC-Basket compreende as partidas Progresso-Marinha de Guerra e Vila Clotilde-Universidade Lusíada. Realce-se que, durante as duas semanas de pausa do campeonato, as equipas estiveram envolvidas nos quartos-de-final da Taça de Angola, cujas meias-finais já foram sorteadas. O emparcelamento ditou o “derbie” entre o Petro de Luanda e o 1.º de Agosto. Noutra partida, também marcada para 31 deste mês, o Libolo vai lutar pelo acesso à final diante do Progresso do Sambizanga. A final da 37.ª edição da Taça de Angola está aprazada para o dia 10 de Abril próximo. EDUARDO GITO também no Pavilhão da Cidadela, a RD Congo. Mas até ao fecho desta edição não nos foi possível apurar o resultado final deste jogo. Hoje, joga-se para a 2.ª jornada do torneio. As angolanas, vice-campeãs de África, vão ter pela frente as vizinhas congolesas, enquanto as tunisinas medem forças com as senegalesas. Sábado é o dia das decisões, com o destaque a recair para o embate que vai colocar frente-a-frente as duas melhores selecções de África: Angola e Tunísia. Senegal-RD Congo é o outro jogo do dia de encerramento do torneio. O duelo entre as angolanas e as tunisinas perspectiva-se como o da decisão da selecção que vai representar o continente africano nos Jogos Olímpicos de 2016. HÓQUEI EM PATINS Torneio de Montreux na agenda da selecção A selecção nacional sénior masculina de hóquei em patins foi convocada, no início da semana, para os trabalhos de preparação, tendo em vista a presença no Torneio Internacional de Montreux (Suíça), a disputar-se de 1 a 5 de Abril próximo. Da lista dos 16 hoquistas chamados pelo seleccionador nacional, Orlando Graça, salta à vista a presença dos sub-20 Watanga e Pi, que estiveram em grande na conquista da Académica de Luanda do último campeonato nacional. Os trabalhos de preparação tiveram início na quarta-feira, em Luanda. Este sábado, 21, a selecção ruma para Portugal, onde prevê efectuar três a quatro jogos de preparação, antes da partida para o palco da competição. No torneio, Angola vai competir no Grupo B, ao lado das selecções de França, Itália e a equipa do Montreux Club. Eis a lista completa dos eleitos para a competição: Tiago Sousa, André Centeno, Márcio Fernandes, Filipe Bernardino, Big, Johe, Nery, Martin Payero, Ziga, Watanga, Geovety, Pi, Dalas, Tino e Chiquinho. E.G. 27 20 Março 2015 O campeão mundial em título, inglês Lewis Hamilton, piloto da alemã Mercedes, venceu no domingo, 15, na Austrália, o primeiro Grande Prémio da temporada. A segunda corrida está marcada para Malásia, no dia 29 deste mês DOMINGO EM CAMP NOU Barcelona-Real Madrid: Clássico mundial Actualmente é visto como o maior clássico do futebol mundial ao nível de clubes. Barcelona e Real Madrid medem forças este domingo, 22, em Camp Nou, para a 28.ª Jornada da Liga espanhola. A presença de Messi, de um lado, e de Cristiano Ronaldo, do outro, são condimentos que elevam o interessa da partida. No entanto, o pano de fundo do embate recai sobre a luta pelo título da Liga espanhola, numa altura em que as duas equipas estão separadas por apenas um ponto. A vantagem pertence aos catalães, líderes do campeonato, com 65 pontos, contra os 64 dos rivais de Madrid. A vantagem, apesar de mínima, inclina a pressão para o lado dos “merengues”, que precisam pontuar para manter viva a luta pelo título. Na primeira volta, a vitória sorriu para o lado do Real Madrid, que venceu por 3-1, no Santiago Bernabéu. O confronto entre “blaugranas” e “merengues” não se resume apenas ao capítulo colectivo. Individual- O argentino, que conta com quatro troféus, parece atravessar melhor momento de forma mente, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi têm “contas a ajustar”. A prestação de cada um poderá ser decisiva para as contas finais da atribuição da cobiçada “Bola de Ouro” deste ano. O argentino, que conta com quatro troféus, parece atravessar melhor momento de forma em relação ao concorrente português, que este ano conquistou o seu terceiro troféu da FIFA. Messi é o líder da “artilharia” da Liga espanhola. O astro do Barcelona conta com mais dois golos, 32, que o craque do Real Madrid, que soma 30 tentos. A 11 jornadas do fim, o Valência ocupa o terceiro lugar, com menos sete pontos que o Real e mais um que o detentor do título, o At. de Madrid. Nesta jornada, a 28.ª, a equipa orientada pelo português Nuno Espírito Santo vai ao reduto do Elshe, enquanto o Atlético recebe o Getafe. ÁLVARO VICTÓRIA À espera do emparcelamento As atenções do mundo futebolístico internacional estão voltadas esta sexta-feira, 20, para a cidade de Nyon, Suíça, palco do sorteio dos quartos-de-final da Liga dos Campeões Europeus. De acordo com as regras da UEFA, o sorteio é livre, sem cabeças-de-série, sendo possível o cruzamento de duas equipas do mesmo país. A Espanha, com três equipas, domina o grupo das oito agremiações apuradas para os quartos-de-final da mais importante prova de clubes do continente europeu. Trata-se do detentor do troféu continental, Real Madrid, do Bar- celona FC e do Atlético de Madrid, este último que detém o título de campeão espanhol. Completam o quadro duas equipas francesas, Mónaco e PSG, uma portuguesa, FC Porto (Portugal), Bayern de Munique (Alemanha) e a Juventus, de Itália. Os jogos da primeira-mão dos quartos-de-final realizam-se entre 14 e 15 de Abril próximo, enquanto as partidas decisivas acontecem uma semana depois. A final da 59.ª edição da “Champions” está marcada para o Estádio Olímpico de Berlim, na Alemanha, no dia 06 de Junho. Lito Vidigal deixa Belenenses que nesta altura se traduz num sétimo lugar da tabela classificativa, a quatro pontos dos lugares de acesso às competições europeias. O português Jorge Simão, treinador do Mafra, com passagem anterior pelo Belenenses, foi o escolhido pela SAD do clube luso para substituir o técnico angolano. No entanto, segundo avançou A BOLA, o diferendo entre Lito Vidigal e a SAD do Belenenses, que culminou com o despedimento do treinador, passou do plano desportivo para o plano legal, podendo chegar MUNDIAL 2014 – O Mundial de 2014 garantiu à FIFA o maior resultado financeiro da sua história e milhões acima até mesmo do que a entidade previa. Segundo a imprensa brasileira, as receitas da prova terão chegado perto de 5 mil milhões de dólares, contra os 4,1 mil milhões de dólares da edição de 2010, na África do Sul. F1 – Fernando Alonso está ansioso em voltar às pistas pela McLaren. Ainda à espera do veredicto dos médicos, o piloto viajou para a sede da equipa, em Inglaterra, para começar a trabalhar com o simulador. O espanhol recupera do acidente sofrido durante os treinos de pré-temporada em Barcelona, em Fevereiro. MEIAS-FINAIS DA “CHAMPIONS” Terminou o vinculo contratual que ligava, há um ano e meio, o treinador angolano, Lito Vidigal ao Belenenses, da principal Liga portuguesa de futebol. A saída do treinador angolano, de 45 anos, do clube português terá sido originada pelas divergências com a direcção da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) do Belenenses, liderada por Rui Pedro Soares. Trata-se de uma rescisão que dividiu a massa associativa do clube, porquanto Lito Vidigal vinha a realizar um bom trabalho esta temporada, o BREVES aos tribunais. Além de ter sido jogador da equipa e de deixar a equipa numa posição confortável na Liga portuguesa, Lito Vidigal granjeia de grande simpatia no clube lisboeta depois de ter salvo o Belenenses de uma descida de divisão, na época passada. Ex-jogador da selecção angolana, José Carlos Fernandes Vidigal, ou simplesmente Lito Vidigal, recorde-se, começou a carreira de treinador em 2003, no Elvas, de Portugal. Destaca-se ainda na trajectória do treinador angolano, passagens pelo União de Leiria, de Portugal, Al Ittihad, da Líbia, e ainda pelos Palancas Negras. SIMIONE – O treinador do Atlético de Madrid, argentino Diego Simeone, que está ligado ao clube até 2017, deverá em breve renovar o contrato até 2020. “Sobre a renovação de Simeone vamos ter boas notícias nos próximos dias”, afirmou a empresária e irmã do técnico, Natalia Simeone, citada pela imprensa espanhola, que avança com os pormenores da renovação. CONTRATAÇÕES – Gareth Baler e Rafael Varane, do Real Madrid, poderão ser os novos reforços do Chelsea na próxima temporada. Segundo avança a imprensa britânica, José Mourinho terá convencido Abramovich a apresentar uma proposta de 200 milhões para garantir os jogadores. PARMA – Um tribunal de Itália declarou durante a semana a falência do Parma. Recorde-se que Giampetro Manenti, presidente do Parma, está detido preventivamente, devido a suspeitas de crimes de peculato, fraude informática, uso de cartões multibanco clonados e lavagem de dinheiro. SUSPENSÃO – Zlatan Ibrahimovic foi punido com um jogo de suspensão pelo Comité de Disciplina da UEFA na sequência da expulsão no encontro com o Chelsea, em Stamford Bridge, para a Liga dos Campeões. Já Serge Aurier, defesa costa-marfinense do PSG, vai cumprir três jogos de castigo por ofensas ao árbitro Bjorn Kuipers nas redes sociais. Manifestantes julgados em Malanje O Tribunal da Comarca de Malanje inicia hoje, sexta-feira, 20, o julgamento de oito activistas da União de Activistas das 18 Províncias (UA18P) detidos no sábado, dia 14 e domingo, dia 15 nas imediações de um minimercado naquela capital, quando tentavam manifestar-se para exigir do governo a reposição do 4 de Janeiro como feriado nacional. O advogado da Associação de Jornalistas e Juristas – Mãos Livres, Salvador Freire dos Santos encarregue de defender o caso em juízo garantiu ontem, ao telefone, que a ausência de uma procuração da associação anexada ao processo dos arguidos em posse do Ministério Público impossibilitou o contado com as alegações que deram lugar às detenções. O advogado, que contactou na quarta-feira, 18, os jovens privados de liberdade na unidade prisional da Comarca de Malanje, admitiu que os agentes da Polícia Nacional reconheceram a ilegalidade das detenções dos activistas, argumentando que se limitaram apenas a cumprir ordens. “Nem sequer realizaram a manifestação, houve uma tentativa de realizar a manifestação, não foi em flagrante delito, portanto, esta prisão dos jovens é ilegal”, disse Salvador Freire dos Santos que prometeu continuar “a batermo-nos, vamos continuar no sentido de ver reposta a legalidade”. O jurista das Mãos Livres referiu que as circunstâncias seriam suficientes para o Ministério Público orientar a liberdade para António Caquienze Duck de 38 anos de idade, Sampaio Vunda Yeto de 29, Samuel Manuel José, 23, Edmar Félix Francisco, 23 e José Mendonça Muhongo de 22 anos de idade detidos sábado, 14, e de João Alberto Joaquim Canda (22 anos de idade) e Maneco Celestino Costa e Estêvão Buca, ambos de 29 anos de idade. “Os jovens não podem continuar detidos, porque consideramos uma prisão ilegal”, sentenciou Salvador Freire dos Santos desprovido de subsídios para cartoon Contactos: 222 393 700 - 222 393 703 Tel: 222 372 417 - 222 372 603 927 955 587 - 927 955 588 Fax: 222 396 238 E-mail: [email protected] Nº 372/015 tempo para o fim-de-semana em luanda SEXTA Máx./Mín. 29° 25° SÁBADO DOMINGO 31° 24° 31° 25° sobe comprovar as alegações de uma fonte do Governo Provincial de Malanje que aventa a possibilidade dos “manifestantes” terem redigido e encaminhado ao governo local uma missiva em que exigem a entrega de habitações sociais, dinheiro e nomeações para cargos de administradores municipais e directores provinciais. Segundo o funcionário sénior da organização filantrópica “Mãos Livres” é intenção do executivo da região “ocultar a realidade dos casos que aconteceram, mas mesmo que assim fosse, a reclamação não permite que o Governo da província detenha os cidadãos presos”. Para ele, era o momento da entidade ouvir dos jovens as respectivas intenções. “É a posição do governo de Malanje contra os jovens e, evidentemente não acreditamos naquilo que o próprio governo de Malanje vem acusando os próprios jovens. Não havendo nenhum crime para que os jovens continuassem presos, opinou. Salvador Freire dos Santos foi dizendo que“o governo angolano é alérgico a manifestações, desde que os manifes- tantes não se identifiquem com as cores da bandeira do partido governante, situação que viola a constituição da República de Angola”. Em Janeiro de 2013, os activistas António Caquienze Duck, Sampaio Quimbamba Muanga (Vunda Yeto) e Yondelela Domingos Yossina,da União de Activistas das 18 Provinciais foram recebidos pelo ministro da Administração do Território (MAT), Bornito de Sousa com o qual abordaram aspectos relacionados com o 4 de Janeiro e a construção de um memorial dos heróis da Baixa de Kassanje, no município do Quela, a 110 quilómetros a nordeste de Malanje, referiu uma fonte independente. De acordo com a mesma fonte, o assunto “Feriado Nacional” seria levado para a Presidência da República e para a Assembleia Nacional, enquanto que a edificação do monumento seria discutida em concertação com o ministério da Cultura. Até ao fecho deste despacho não obtivemos qualquer confirmação oficial por parte do MAT sobre a realização do referido encontro. Isaías SoareS em Malanje A onda de solidariedade em prol das vítimas das chuvas em Benguela é um acto digno de se realçar. Por todo o país várias são as manifestações de apoio que têm chegado àquela localidade. Entidades públicas, privadas, pessoas colectivas e singulares têm sabido responder ao desafio lançado no sentido de minimizar e acudir as populações que ficaram sem os seus bens. Quantidades diversas de alimentos, materiais de construção civil e outros estão a ser recolhidos em grande escala. Estão também previstas manifestações culturais e desportivas de apoio às vítimas das chuvas. Só resta agora esperar que este apoio nacional chegue às mãos de quem precisa realmente. O presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, utilizou, na semana passada, o comboio para chegar à Viana onde iria reunir-se com membros da sua força política, sentindo e vivendo de perto o que os utilizadores deste meio de transporte vivem todos os dias. Esta iniciativa do presidente da CASA-CE segue-se a uma outra por si protagonizada no mês passado quando utilizando um autocarro público para se deslocar à zona do Gamek. Se é verdade que é uma jogada propagandística, também não é menos verdade que com estes gestos Chivukuvuku consegue conquistar simpatia das populações que vivem o dia-dia nestes meios de transportes. Bom seria que outros políticos, incluindo os do partido no poder, tivessem semelhante iniciativa e vivessem esta experiência para sentirem na pele os constrangimentos da população, ao invés de andar por Luanda com batedores. Desce O pronunciamento do governador de Benguela atribuindo responsabilidades da tragédia no Lobito ao administrador municipal, Amaro Ricardo, em nada engrandece Isaac dos Anjos. Independentemente da simpatia ou não que Dos Anjos nutre pelo seu subordinado hierárquico não fica bem ao responsável máximo da província sacudir a água do seu capote, como se nada tem a ver. O governador de Benguela não deve esquecer que o que acontece na localidade é em última estância sua responsabilidade e em situações como a que a província está a viver deve ser o líder máximo a assumir as coisas, ao invés do que fez Isaac dos Anjos, pois este cargo não serve apenas para louros. Muitos rios de tinta já jorraram à volta da problemática do lixo em Luanda. Mas esta questão volta à ribalta na urbe luandense quando desde os últimos dias regista amontoados de resíduos sólidos. A agravar esta penosa situação está a retirada pela empresa de saneamento de Luanda ELISAL dos contentores de plástico que serviam para depósito do lixo. Agora, para além do cheiro nauseabundo que estes causam a salubridade humana, o cidadão comum vê-se obrigado a conviver com estes resíduos que em muitos os casos ocupam vastas áreas de passeios e estradas de Luanda. Para quando a sua remoção?