Gasolina mais barata reduz competitividade do etanol
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Gasolina mais barata reduz competitividade do etanol
12 Quarta-feira 8 de agosto de 2012 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia Energia Gasolina mais barata reduz competitividade do etanol Preço da energia eólica deve ser menor nos próximos leilões A expectativa do diretor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) José Carlos de Miranda é de que os preços da energia eólica recuem nos próximos leilões, previstos para serem realizados em outubro. “É esperado que os preços da eólica continuem caindo ou se estabilizem. A perspectiva é de que, em alguns locais, os preços caiam ainda.” Em 2011, a energia eólica chegou a ser contratada a R$ 99,00 por Mwh. Questionado sobre se o governo também sinalizaria para uma redução, com a diminuição do preço-teto do leilão, Miranda disse que a decisão é do ministro de Minas e Energia e que a EPE faz o trabalho de levantamento junto ao mercado e leva em consideração também o resultado dos últimos leilões. Mas admitiu que a tendência é de que os preços sejam mantidos. “A redução é proporcionada pela própria competição”, afirmou. O diretor da EPE também PETROBRAS/DIVULGAÇÃO/JC Especialistas defendem elevação do preço do combustível fóssil para viabilizar investimentos na expansão da matriz renovável Setor trabalha com capacidade ociosa de 100 milhões de toneladas por falta de cana para moagem O debate sobre a necessidade de reajuste do preço da gasolina deverá ter resultado depois das eleições, avalia o presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari. Em sua opinião, diante do prejuízo divulgado pela Petrobras, fica insustentável manter o preço da gasolina em patamar artificial por muito mais tempo. “Não há justificativa econômica nem lógica para a manutenção da gasolina em patamares baixos”, disse durante evento sobre energia organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta terça-feira. Nastari avalia que a defasagem de preço já ocorria, mas era mascarada pelo câmbio em torno de R$ 1,50. Com a alta do dólar, o problema aflorou. Segundo especialistas, a manutenção do preço artificial da gasolina há mais de cinco anos é o principal motivo da perda de competitividade do etanol no mercado doméstico. Para o presidente interino da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, a competitividade do etanol hoje está restrita ao estado de São Paulo, responsável pelo consumo de 60% do combustí- vel renovável. “Como é incerto o aumento do preço da gasolina, o setor terá de encontrar formas de redução de custo para voltar a ser competitivo.” Padua explica que esse potencial de redução de custo está basicamente em um ajuste tributário. Atualmente, a grande diferença paulista é a cobrança de ICMS de apenas 12%, enquanto na maioria dos estados brasileiros oscila entre 25% e 30%. “Essa falta de competitividade está afastando novos investidores no setor sucroalcooleiro”, afirmou. O presidente da Unica diz que enquanto em São Paulo o investimento em etanol gera um retorno de 4% ao ano, os recursos aplicados no setor produtivo buscam no mínimo rentabilidade de 14% ao ano. “Diante desse cenário, se nada mudar, os investimentos para o setor sucroalcooleiro não virão do mercado.” Rodrigues calcula que o setor sucroalcooleiro precisa de investimentos de R$ 130 bilhões para voltar a crescer e retomar a participação do etanol de 50% da matriz de combustíveis do Brasil. Segundo ele, estes recursos seriam utilizados na construção de 100 novas usinas para produ- ção apenas de etanol. Em 2010, o etanol chegou a representar 44,6% do total de combustíveis utilizados no Brasil. No final de 2011, a participação caiu para 31,68%. “Nesses investimentos não está adicionada a produção de açúcar”, disse. Rodrigues explica que este valor terá que ser aplicado caso exista um marco regulatório que defina o percentual que o etanol ocupará na matriz de combustível. “Se for 50%, é este o valor necessário, se for menos, o valor será menor.” Rodrigues acredita que as usinas já existentes podem contribuir com um aumento na oferta de cana da ordem de 100 milhões de toneladas no Centro-Sul e os novos projetos teriam que produzir mais 300 milhões de toneladas para garantir essa possível meta de 50%. Atualmente, o setor trabalha com uma capacidade ociosa de cerca de 100 milhões de toneladas em função da falta de cana para moagem. A falta de cana fez com que 14 usinas deixassem de operar na atual safra 2012/13, de acordo com o dirigente da Unica. Outras duas que deveriam iniciar suas atividades nesta safra ainda não ligaram suas caldeiras. comentou a respeito do preço da energia de PCH. Projetos dessa fonte não têm sido contratados nos leilões porque empreendedores consideram que os preços-teto já são baixos demais. Mas Miranda argumentou que, em recentes conversas, representantes dessa área teriam dito que já conseguiram reduzir preços de equipamentos. Apesar da conhecida falta de gás disponível para novos projetos termelétricos, o próximo leilão A-3, marcado para outubro, deverá contar com algumas “poucas” usinas movidas a este insumo, segundo Miranda. Ele diz que várias térmicas se cadastraram para participar do leilão, mas provavelmente poucas conseguirão ser habilitadas, tendo em vista a exigência de comprovação do fornecimento de combustível. De acordo com Miranda, o grupo OGX, que tem gás próprio, deve estar presente no leilão. Aneel aprova norma dos medidores eletrônicos de eletricidade no País A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta terça-feira o regulamento dos medidores eletrônicos de consumo de energia, o que possibilitará aos consumidores pagar preços mais baixos pela eletricidade consumida fora dos horários de pico. No futuro, o equipamento também permitirá que as distribuidoras ofereçam novos serviços, como a energia pré-paga, ou ainda a venda e distribuição do excedente de energia gerada por meios solares ou eólicos domiciliares. Na prática, os medidores digitais propiciam a formação da chamada rede inteligente (smart grid, no jargão da área), que funcionará como a internet da energia, nas palavras do diretor relator do regulamento, André Pepitone. “Essa tecnologia reduz a conta de luz do consumidor, diminui as perdas de energia no sistema e aumenta a qualidade dos serviços prestados”, afirmou. O sistema de cobrança diferenciada de energia foi aprovado pela Aneel em novembro do ano passado, mas dependia dos medidores eletrônicos para que pudesse ser implementado. Nesse modelo - que será opcional para os usuários - a eletricidade consumida nos horários de menor demanda na rede, batizada como Tarifa Branca, custará cinco vezes menos que os preços cobrados no pico de consumo e três vezes menos que as praticadas nos horários intermediários. Além da diferenciação por horário, os medidores inteligentes poderão comunicar quedas de energia às distribuidoras em tempo real, agilizando o processo de restabelecer a rede de força. O equipamento também permite o corte ou religamento remoto do serviço nas residências, sem precisar da presença de um técnico da companhia no local. Em até 18 meses, as distribuidoras terão que oferecer o novo equipamento para os consumidores que o solicitarem. Caso o pedido seja por um medidor com mais dados e informações disponíveis, o custo a princípio será do próprio solicitante, mas caso o pedido seja apenas por um modelo que utilize a Tarifa Branca, o custo de instalação poderá ser pago também pelas companhias, que depois terão esses gastos remunerados nos reajustes anuais de tarifas. Ainda assim, a agência considerou que os benefícios dos medidores eletrônicos para o sistema de distribuição do País superam esse custo que, além disso, deve ser diluído ao longo dos próximos anos. “Essa é uma etapa de um processo maior e de longo prazo”, definiu Pepitone.