O uso do cinema para o trabalho educativo envolvendo a

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O uso do cinema para o trabalho educativo envolvendo a
VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
Rio Claro - SP, 07 a 10 de Julho de 2013
O uso do cinema para o trabalho educativo envolvendo a temática
ambiental
Miriam Suleiman
Doutoranda em Educação Escolar
Unesp – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
[email protected]
Maria Cristina de Senzi Zancul
Professor Assistente Doutor
Unesp – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
Departamento de Educação
[email protected]
Alessandra Aparecida Viveiro
Professor Assistente Doutor
Unesp – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
Departamento de Educação
[email protected]
Resumo:
A linguagem cinematográfica por desenvolver a racionalidade, pode ser um instrumento
valioso na compreensão da realidade socioambiental, sendo utilizada de forma correta,
apresentando filmes que sejam coerentes com os propósitos educacionais de interesse.
Após um levantamento de filmes, selecionamos e analisamos dois documentários no
qual o principal foco é a temática ambiental, com o objetivo de compreender as
concepções de meio ambiente. Encontramos em um filme, elementos que se aproximam
de uma visão naturalista de meio ambiente, em outro, a visão socioambiental.
Destacamos a importância do educador ambiental, ao utilizar o cinema como
instrumento de sensibilização tendo conhecimento teórico do tema, possibilitando fazer
escolhas fundamentadas que contribuam em um processo de educação ambiental crítica.
Palavras-chave: Cinema, Educação Ambiental, Meio ambiente.
Abstract:
The cinematic language by developing rationality can be a valuable tool for the
understanding of environmental reality, being used correctly, presenting movies with
educational purposes. After a survey of movies, we selected and analyzed two
documentaries in which the main focus is environmental issues, with the objective of
understanding the environment concepts. We find in a movie, elements that
approximate a naturalistic view of the environment, in another, the environmental
vision. We emphasize the importance of environmental educators using cinema as a tool
for awareness and theoretical knowledge of the subject, enabling choices that contribute
in a process of critical environmental education.
Keywords: Cinema. Environmental Education. Environment.
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Realização: Unesp campus Rio Claro e campus Botucatu, USP Ribeirão Preto e UFSCar
Introdução
A ação escolar, conforme explica Libâneo (1994), é uma atividade social e cada
situação didática vincula-se a determinantes econômico-sociais, socioculturais, a
objetivos e normas estabelecidas conforme os interesses da sociedade. A prática
educacional se orienta para alcançar determinados objetivos e o professor deve possuir
uma compreensão clara do significado social e político do seu trabalho. Para isso, é
necessário que ele tenha uma formação teórica e política que resulte em convicções
sólidas sobre a sociedade e as tarefas da educação. Sendo a EA uma prática que não
foge a esses preceitos, é de grande relevância conhecer como a EA está sendo
desenvolvida nas escolas, quais teorias estão embasando as atividades pedagógicas dos
professores e que tipo de indivíduo está sendo formado para lidar com as questões
urgentes referentes ao meio ambiente com as quais as sociedades contemporâneas se
defrontam. Além disso, essas investigações podem ser úteis para nortear pesquisas que
busquem trazer inovações teóricas e práticas em EA, preenchendo as lacunas que
porventura possam existir no que se refere ao trabalho envolvendo essa temática.
De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino, efetivado pelo trabalho
docente, constitui-se de um sistema que articula objetivos, conteúdos, métodos e
condições. Como em qualquer processo de ensino, o educador ambiental, ao programar
atividades pedagógicas, primeiramente deve questionar: Que objetivos educacionais
pretendo alcançar? Que referenciais teóricos devo adotar? Que métodos e recursos
preciso utilizar? Que tipo de indivíduos pretendo formar?
Conforme explica Medina (2001), a EA é um campo de conhecimento em
formação, permeado por contradições e com um histórico que torna seu processo de
assimilação mais complexo. Como qualquer área do conhecimento, possui
especificidades que devem ser compreendidas com clareza para que seja possível um
correto desempenho de suas atividades.
Diante desses apontamentos, os educadores ambientais devem conhecer em
profundidade os referenciais teóricos e utilizar métodos apropriados, de modo a atingir
os objetivos específicos dessa área do conhecimento, proporcionando aos alunos o
domínio de conhecimentos e favorecendo o desenvolvimento de hábitos e atitudes que
contribuam na inserção e atuação na esfera da vida social (LIBÂNEO, 1994).
A EA crítica e o cinema no trabalho educativo envolvendo a temática
ambiental
No Brasil, dentre os documentos oficiais que norteiam as práticas escolares em
EA estão os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que incluem o Meio Ambiente
como um tema transversal (BRASIL, 1998). Segundo os PCN, estes devem ser
trabalhados de forma integrada a todas as disciplinas, articulando o estudo escolar a
questões sociais, no sentido de promover o uso desses conhecimentos pelos alunos em
situações de sua vida extraescolar.
De acordo com o documento, ao longo do Ensino Fundamental, os alunos devem
desenvolver diversas competências com relação ao meio ambiente. Entre elas está a
identificação do indivíduo como parte integrante da natureza, de modo que ele seja
capaz de perceber, apreciar e valorizar a diversidade ambiental e sociocultural. A
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compreensão das noções básicas com relação aos temas ambientais e a análise crítica
dos fatos e situações relacionadas a eles devem conduzir o aluno à aquisição de posturas
coerentes dentro da escola e também na sua comunidade (BRASIL, 1998).
O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), de âmbito nacional,
apresenta as diretrizes, os princípios e as missões que norteiam as ações em EA no país
(BRASIL, 2005). Com relação à EA, o documento aponta que
a educação ambiental deve se pautar por uma abordagem sistêmica, capaz de
integrar os múltiplos aspectos da problemática ambiental contemporânea.
Essa abordagem deve reconhecer o conjunto das inter-relações e as múltiplas
determinações dinâmicas entre os âmbitos naturais, culturais, históricos,
sociais, econômicos e políticos. Mais até que uma abordagem sistêmica, a
educação ambiental exige a perspectiva da complexidade, que implica em
que no mundo interagem diferentes níveis da realidade (objetiva, física,
abstrata, cultural, afetiva...) e se constroem diferentes olhares decorrentes
das diferentes culturas e trajetórias individuais e coletivas (BRASIL, 2005,
p. 34).
Dentre os seus princípios encontramos a concepção de ambiente em sua
totalidade, considerando a interdependência sistêmica entre o meio natural e o
construído, o socioeconômico e o cultural, o físico e o espiritual, sob o enfoque da
sustentabilidade. Destaca a articulação das questões ambientais e globais, enfoca
diferentes abordagens (humanista, histórica, crítica, política, democrática, participativa,
inclusiva, dialógica, cooperativa e emancipatória) e aponta a vinculação entre as
diferentes dimensões do conhecimento, os valores éticos e estéticos, a educação, o
trabalho, a cultura e as práticas sociais (BRASIL, 2005).
Podemos dizer que a visão de meio ambiente apresentada nos dois documentos
está de acordo com os princípios de uma EA crítica. Segundo Guimarães (2004), a EA
crítica aponta para a necessidade da construção de uma cidadania ativa, para a
percepção dos problemas ambientais e suas relações de causa e efeito e para a efetiva
participação nos processos de transformações sociais e constituição de novos
paradigmas que consolidem uma sociedade mais justa e ambientalmente saudável.
Para Loureiro (2006), o ponto de partida para uma EA que possa contribuir para
transformar as relações sociais se dá por meio do diálogo, do exercício da cidadania, do
fortalecimento dos sujeitos e na compreensão do mundo em sua totalidade. A EA se faz
por meio de processos individuais e coletivos, não devendo privilegiar apenas um
aspecto, pois, conforme o autor, soluções paliativas e individualistas não alteram a
lógica da sociedade.
Reigota (2004) afirma que a EA deve ser compreendida como uma educação
política, que prepare os sujeitos para “exigir justiça social, cidadania nacional e
planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza” (REIGOTA, 2004,
p. 10). De acordo com o autor, a EA deve proporcionar ao indivíduo o conhecimento e a
consciência dos problemas globais e procurar incentivá-lo a participar de forma ativa na
solução destes dentro de seus contextos e de sua realidade.
Carvalho (2008) explica que a prática educativa é um processo que aponta para a
formação de um sujeito enquanto ser social e historicamente situado. A educação não se
restringe a uma intervenção focalizada no indivíduo, mas deve ser pensada em conexão
com o mundo em que ele vive e pelo qual é responsável.
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De acordo com a autora, a EA crítica, inspirada nas ideias de uma educação
imersa na vida dos educandos, na história e nas questões urgentes do tempo atual, tem
como característica fundamental a compreensão entre a sociedade e a natureza e a
intervenção nos problemas e conflitos socioambientais. A EA crítica deve “contribuir
para uma mudança de valores e atitudes, formando um sujeito ecológico capaz de
identificar e problematizar as questões socioambientais e agir sobre elas”
(CARVALHO, 2008, p. 156/157).
Carvalho (2008) enfatiza que, no ato educativo, a indução ou mudança de
comportamentos em relação ao meio ambiente nem sempre alcança a formação de uma
atitude ecológica. De acordo com a autora,
cabe reconhecer que gerar comportamentos individuais ordeiros preocupados
com a limpeza de uma área ou com a economia de recursos ambientais como
a água ou a energia elétrica, pode ser socialmente desejável e útil, mas não
significa necessariamente que tais comportamentos sejam integrados na
formação de uma atitude ecológica e cidadã. Esta implicaria desenvolver
capacidades e sensibilidades para identificar e compreender os problemas
ambientais, para mobilizar-se, no intuito de fazer-lhes frente, e, sobretudo,
para comprometer-se com a tomada de decisões, entendendo o ambiente
como uma rede de relações entre sociedade e natureza (CARVALHO, 2008,
p. 181).
A autora acrescenta, ainda, que a educação é um processo permanente, aberto e
formativo e a ação educativa envolve processos cognitivos e socioculturais de atribuição
de significados. Nessa perspectiva, para além da aquisição de comportamentos
individuais, a aprendizagem é compreendida como um ato cultural, contextualizado,
imerso em um universo simbólico dos sentidos sociais, individuais e coletivos, no qual
o sujeito, inserido em uma trama de significados é, ao mesmo tempo, leitor do mundo e
produtor de novos sentidos, num movimento constante e dinâmico da cultura
(CARVALHO, 2008).
Conforme Libâneo (1994), o ato educativo articula objetivos, conteúdos,
métodos e condições. Com relação aos métodos e aos instrumentos, Mamede-Neves e
Duarte (2008) afirmam que, na atualidade, existem muitas discussões sobre a
importância dos recursos tecnológicos de informação e comunicação na construção do
conhecimento.
As autoras advertem, contudo, sobre a forma simplista como muitos
compreendem o uso das novas tecnologias ao afirmar que as mesmas, por si só,
aumentam a cognição, desenvolvem o raciocínio ou ampliam a inteligência. Para
efetivamente contribuir para o conhecimento enquanto entendimento, segundo as
autoras, o domínio das tecnologias deve favorecer os processos metacognitivos que
permitam uma análise crítica das informações e, principalmente, contribuir para a
sociabilidade.
De acordo com Díaz Bordenave e Pereira (2004), a escolha adequada de
atividades de ensino, que incluem métodos, técnicas, meios, procedimentos,
instrumentos, é uma importante etapa no processo de ensino e aprendizagem e esta deve
ser adequada aos objetivos educacionais, aos conteúdos da matéria e aos alunos.
Segundo os autores, dentre as diversas atividades didáticas existentes, o uso do cinema
está vinculado à capacidade de observar, podendo contribuir para desenvolver a
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competência de perceber a realidade, descrever situações e adquirir conhecimentos e
informações.
Segundo Machado (2008), os filmes não são meros instrumentos didáticos, não
devendo ser tomados exclusivamente como recurso para se trabalhar um determinado
conteúdo curricular. Segundo o autor, os filmes “têm uma história, uma forma de
produção e diferenças estéticas e narrativas que precisam ser mencionadas quando da
exibição deles em contextos de ensino” (MACHADO, 2008, p. 293). Em seu artigo
sobre o uso de filmes de ficção científica para o trabalho com temas ambientais, o autor
afirma que eles contribuem para a reflexão sobre o processo de produção e distribuição
de bens culturais, auxiliando na apropriação da cultura científica e na busca de
implicações éticas e ambientais.
Cabrera (2006) destaca a importância da linguagem cinematográfica como forma
de pensamento. De acordo com o autor, considerando-se essa linguagem do ponto de
vista da Filosofia, é possível definir três características: primeiramente, ela apresenta a
realidade de maneira sensível e que pode ser compreendida de forma logopática
(racional e afetiva ao mesmo tempo). Em segundo lugar, esta apresentação sensível da
realidade produz um certo tipo de impacto no expectador. E, em terceiro lugar, por meio
dessa apreensão sensível e impactante, é possível alcançar certas realidades “que podem
ser defendidas com pretensões de verdade universal” (CABRERA, 2006, p. 20, grifo do
autor). Estas não são apenas impressões psicológicas, mas constituem “experiências
ligadas à condição humana, isto é, relacionadas a toda a humanidade e que possuem,
portanto, um sentido cognitivo” (CABRERA, 2006, p. 20).
Porém Leandro (2001) adverte sobre a utilização equivocada do audiovisual em
processos de aprendizagem, sem haver a apropriação problematizada das imagens, que
levem à construção de um pensamento crítico. Segundo a autora, com o
desenvolvimento da tecnologia do vídeo, “a imagem tem sido cada vez mais
amplamente assimilada pela educação, sem a contrapartida de uma reflexão teórica mais
aprofundada e de uma práxis mais consequente dessa mesma imagem” (LEANDRO,
2001, p. 31). A autora acrescenta, ainda, que a imagem, num contexto de aprendizagem,
deve provocar um questionamento ético e estético, estimulando o espectador
intelectualmente através da forma e do estilo.
Acreditamos que a linguagem cinematográfica, por articular racionalidade e
afetividade (CABRERA, 2006), pode ser um instrumento valioso na formação de
sensibilizações e compreensões acerca da realidade socioambiental, desde que utilizada
de forma criteriosa, com a seleção de filmes ou documentários que sejam coerentes com
os propósitos educacionais aos quais se pretende atingir. Por essa razão é importante
refletir sobre a seleção de materiais que contenham elementos que contribuam para
alcançar os objetivos sócio-pedagógicos estabelecidos.
Sendo assim, podemos nos indagar se todo e qualquer filme ou documentário
que tenha como foco a temática ambiental pode ser utilizado como instrumento que irá
trazer as contribuições para a efetivação dos objetivos educacionais pretendidos.
Neste trabalho buscamos investigar dois documentários nos quais a temática
ambiental é o foco principal, com o objetivo de compreender as concepções de meio
ambiente predominantes nos mesmos, relacionando-os a um trabalho em EA, tendo em
vista uma perspectiva da EA crítica.
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Procedimentos metodológicos
Primeiramente foi feita uma pesquisa por filmes em páginas eletrônicas de busca
da internet. Utilizando os termos “filmes meio ambiente”, foi possível encontrar uma
variedade de filmes e documentários relacionados ao tema, sendo que muitos deles
aparecem repetidamente em diversas páginas eletrônicas. Optamos por escolher dez
dessas produções (Lixo Extraordinário; Obsolescência programada; A era da estupidez;
Home – nosso planeta, nossa casa; Ilha das Flores; Avatar; O dia depois de amanhã; A
última hora; Uma verdade inconveniente; A história das coisas), tomando como critério
a facilidade de acesso em sites de compartilhamento de vídeos (por exemplo Youtube) e
em videolocadoras1. Os dez vídeos escolhidos foram assistidos na íntegra.
Primeiramente procuramos identificar informações que se aproximassem das visões
naturalista e socioambiental exploradas por Carvalho (2008). Após essa análise, apesar
de julgarmos que todos os vídeos exibem traços dos elementos que procurávamos,
optamos por dois, por acreditar que haveria maior possibilidade de uma discussão que
estivesse de acordo com os nossos objetivos. Em Home – nosso planeta, nossa casa
(França, 2009) encontramos conexões com a visão naturalista e em A era da estupidez
(Inglaterra, 2009), com a visão socioambiental.
Sobre a concepção naturalista de meio ambiente, Carvalho (2008) a descreve
como sinônimo de natureza objetiva e neutra, como um fenômeno estritamente
biológico, um espelho do mundo natural, em oposição ao mundo do homem. A
interferência humana é vista como ameaçadora à sua integridade, devendo o homem
permanecer fora do seu alcance.
Na visão socioambiental explorada pela mesma autora, existe uma interação e
uma relação de pertencimento entre a natureza e os seres humanos, bem como entre a
sociedade e o meio ambiente. Este é pensado não como sinônimo de natureza intocada,
mas como um campo de interações entre a base física e a biológica dos processos vitais,
a cultura e a sociedade. O ambiente é identificado como um espaço relacional da vida
social, natural e cultural. A presença humana nem sempre é ameaçadora, podendo
muitas vezes ser sustentável, aumentando o nível de troca e a biodiversidade.
A análise dos vídeos foi feita segundo as orientações de Lüdke e André (1986)
sobre os procedimentos para uma análise documental: caracterização do tipo de
documento a ser usado na pesquisa; escolha não aleatória, feita de acordo com os
propósitos do pesquisador; análise e interpretação do conteúdo; registro e organização
dos dados.
Resultados e Discussão
O vídeo Home – nosso planeta, nossa casa é caracterizado como um
documentário que tem como foco principal mostrar o equilíbrio natural existente entre
os fatores da natureza (ar, água, solo...) e os seres vivos e mostrar o ser humano como
agente causador de desestabilização no ambiente. Enfatiza que esses processos
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Procuramos refletir em nossos procedimentos os passos que acreditamos se assemelharem ao trabalho de
um educador ao buscar filmes/documentários para realizar uma atividade envolvendo a temática
ambiental, ou seja, uma pesquisa em sites de busca e a opção por aqueles vídeos que fossem mais
acessíveis e que se relacionassem aos objetivos pretendidos.
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acontecem de forma lenta, gradual, que todos os seres vivos têm um lugar na natureza e
que o homem, cada vez mais depressa, vem quebrando esse equilíbrio, destruindo os
recursos do planeta. O documentário não apresenta diálogos, apenas uma única voz
feminina narrando os acontecimentos. As imagens são vistas de cima, com a câmera
passando lentamente sobre as cenas, como se o expectador sobrevoasse o planeta e
observasse os acontecimentos, sempre com um fundo musical instrumental, cujo estilo
varia conforme a cena apresentada.
No início há uma mensagem de alerta, em que a narradora convida o Homo
sapiens, o “homem inteligente” a ouvi-la, afirmando que a vida na Terra existe há
quatro bilhões de anos e que o ser humano, em apenas 200 mil anos, quebrou o
equilíbrio, essencial à vida. A origem da vida no planeta e os demais fenômenos
naturais que aparecem ao longo do documentário são abordados por meio de teorias
científicas. O documentário procura evidenciar que esse equilíbrio é frágil, podendo ser
facilmente quebrado. Mostra a natureza harmoniosa, perfeita, em que “tudo é
interligado”, “tudo é partilhado”, “para a vida e para a nossa vida na Terra”. Cada
espécie tem o seu lugar na natureza, nada é inútil ou prejudicial, enfatiza que “a Terra é
um milagre” e que “a vida continua a ser um mistério”. Nas cenas em que aparece o
ambiente natural, sempre há um fundo musical instrumental, que transmite ao
expectador a ideia desse equilíbrio, harmonia e paz que existe na natureza.
Nos primeiros quinze minutos, mostra-se a evolução da vida durante os quatro
bilhões de anos, que aconteceu de forma gradual, lenta, em perfeita harmonia. Tudo vai
bem na natureza, até que surge o homem. A narradora chama a atenção para esse fato
com as seguintes palavras: “Na grande aventura da vida na Terra, todas as espécies têm
um papel, todas as espécies têm o seu lugar. Nenhuma é fútil ou prejudicial. Todas
levam ao equilíbrio. É aí que você, Homo sapiens, „humano inteligente‟, entra nesta
história. Você beneficia de um fabuloso legado com quatro bilhões de anos, doado pela
Terra. Você apareceu no cenário há duzentos mil anos, mas já alterou a face do mundo.
Apesar de sua vulnerabilidade, apoderou-se de todos os habitats, e conquistou fatias do
território como nenhuma outra espécie antes de si.”.
Não é o objetivo do presente trabalho debater as controvérsias existentes entre a
evolução da vida na Terra mostrada no documentário e as teorias científicas aceitas
atualmente. Aqui nos detemos em analisar e discutir a concepção de meio ambiente e da
relação entre natureza e ser humano apresentada no documentário. Nestas cenas iniciais
podemos perceber a visão naturalista de meio ambiente, este como sinônimo de
natureza intocada, no qual o homem aparece como nocivo e desestabilizador do
equilíbrio. A natureza, que fornece seus recursos gratuitamente, é vítima da ação nefasta
do homem que, desde os primeiros momentos que surge no planeta, é um agente
desestruturador.
Outro fator que nos chama a atenção é a afirmação contida no documentário de
que “nenhuma espécie é fútil ou prejudicial”. Aqui percebemos a dicotomia entre o ser
humano e a natureza, pois, se nenhuma espécie é fútil ou prejudicial e o homem é um
agente de desestabilização do equilíbrio, podemos dizer que ele não faz parte do
conjunto que compõe a natureza. Sendo uma espécie à parte, que não se insere no
equilíbrio natural, é considerado como um ser que, desde os primeiros momentos de
aparição no planeta, interfere negativamente na estrutura harmoniosa existente no meio
ambiente.
A dicotomia entre homem e natureza é, segundo as descrições de Carvalho
(2008), uma das características da visão naturalista de meio ambiente. Fora do alcance
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humano, esta continua seguindo seu curso em perfeito equilíbrio. O documentário
mostra essa relação com nitidez, conforme veremos adiante.
A partir dessa cena, a ocupação humana ao longo do tempo é retratada.
Primeiramente, vivendo como nômade, depois desenvolvendo a agricultura, a formação
das cidades, e assim por diante. O homem inicialmente vivia de forma precária,
trabalhando duro com a força dos braços num ambiente hostil e ocupando espaços onde
houvesse maior disponibilidade de recursos. Em virtude dessa vida em condições
insalubres a expectativa de vida dos humanos era baixa.
Porém, “o homem sempre teve noção de sua fraqueza”, pois a natureza não o
dotou de muita força física. Para compensar, ele domesticou animais e desenvolveu sua
primeira revolução: a agricultura. A partir desse momento percebemos uma mudança no
fundo musical, que passa a ser triste, mostrando o trabalho braçal para produzir
alimentos, contando com a força dos animais domesticados.
No entanto, a grande revolução acontece em seguida, com a descoberta do
carvão e do petróleo. Este momento é retratado com uma vegetação pegando fogo e
com uma música mais agitada. O petróleo alterou a forma de vida do homem, reduzindo
os sacrifícios do trabalho braçal, trazendo conforto e “libertando-o das algemas do
tempo”. Conforme afirma a narradora, com a descoberta do petróleo, “em cinquenta
anos, a Terra mudou mais radicalmente do que com todas as gerações de humanos
precedentes”.
Após esse momento, o documentário vai alternando cenas em que aparece o
equilíbrio da natureza e os problemas causados pelo ser humano, sempre alterando o
fundo musical, calmo nas cenas do ambiente natural e ora triste ora mais agitada nas
cenas em que aparece o ser humano ocupando o planeta. É mostrado o crescimento da
população, o deslocamento para as cidades, as construções, a exploração dos recursos
fósseis, o desenvolvimento das máquinas, sempre precedido da frase “Cada vez mais
rapidamente...”. A narradora evidencia que o tempo da natureza é de bilhões de anos,
para formar todo o equilíbrio que existe no planeta, e que o tempo do homem é cada vez
mais acelerado, destruindo o ambiente e seus recursos numa velocidade cada vez maior.
Diversos problemas causados pelo homem são expostos no documentário: a
modificação do solo para produzir alimentos, o consumo de recursos fósseis para gerar
energia e a sua consequente liberação de gases-estufa, o crescimento descontrolado das
cidades, as habitações precárias, a superpopulação, a escassez de água, a exploração de
minérios, a pesca predatória, as queimadas... Conforme as cenas aparecem, são
mencionadas afirmações do tipo: “O homem tem desejos e necessidades insaciáveis.”;
“Desde que o homem apareceu na Terra tudo ficou trágico.”; “Estamos esgotando o que
a natureza nos oferece.”; “Estamos a destruir o ciclo de uma vida que nos foi
oferecida.”; “O desmatamento destrói o essencial para dar lugar ao supérfluo.”;
“Criamos fenômenos que não podemos controlar.”; “As florestas fornecem remédios
que nos curam”; “A atmosfera é um bem que partilhamos.”.
Podemos perceber nessas cenas que os problemas ambientais afetam
essencialmente os seres humanos. Ou seja, o homem é o principal agressor do ambiente,
e ele próprio sofre as consequências do seus atos. Essa percepção fica evidente em
muitas cenas, em que se comenta o quanto as nações pobres, onde vive a maior parte da
população, sofrem com os desajustes causados pela exploração desenfreada dos
recursos da natureza. Estes, que são oferecidos ao homem generosamente pela natureza,
não estão sendo conservados por causa do egoísmo humano, que não pensa nas suas
atitudes.
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Assim o documentário continua intercalando cenas de equilíbrio da natureza
com a destruição causada pelo homem, mostrando que tudo que existe demorou
milhares de anos para se formar e o homem está destruindo cada vez mais depressa. As
imagens, conforme já explicitado, sempre são vistas de cima, sem enfatizar nenhuma
expressão humana ou cena em particular. As sensações são geradas por meio da música,
que alterna sua melodia, conforme a cena apresentada. Quando é mostrado o ambiente
natural, a música é calma, agradável. No entanto, nas cenas em que aparecem o homem
e os problemas ambientais, a música é triste, um pouco mais agitada. Para o expectador,
as sensações produzidas por meio da música parecem reforçar a ideia central do filme: a
natureza selvagem, bela, em oposição à ação destrutiva do ser humano.
O documentário menciona, ainda, porém sem uma análise crítica, que, enquanto
os países ricos detêm a maior parte dos bens produzidos pela humanidade, uma imensa
parcela da população padece com os diversos problemas. Porém, todos estão sujeitos a
sofrer as consequências das ações no ambiente, pois, conforme a narradora, “tudo se
torna instável” e “os países ricos não serão poupados”. Apesar de citar que diversas
espécies estão sendo destruídas por causa do egoísmo humano, este é a principal vítima
daquilo que faz, pois não cuida dos recursos que a natureza, de forma voluntaria e
generosa, oferece a ele.
Podemos notar que o documentário não faz menção a um grupo humano em
particular, mas generaliza a espécie humana como causadora dos problemas e, ao
mesmo tempo, aquele que sofre as consequências dos seus atos. Isso fica evidente
quando a narradora afirma que “os países ricos não serão poupados”, isto é, tanto os
ricos quanto os pobres, todos estão sendo prejudicados com a degradação da natureza.
Após mostrar cada um dos problemas causados pelo homem, a narradora nos
adverte: “Vamos enfrentar os fatos. Temos que acreditar naquilo que sabemos. Tudo o
que temos visto até agora é reflexo do comportamento humano. Moldamos a Terra à
nossa imagem. Temos pouco tempo para mudar.” E chama a atenção: “Como é que este
século poderá carregar o fardo de nove bilhões de seres humanos se nos recusarmos a
assumir a responsabilidade por tudo aquilo que fizemos?”
Em seguida, aparecem diversas cenas alarmantes, com frases do tipo: “Um
bilhão de pessoas não têm acesso à água potável.”; “Quase um bilhão de pessoas estão
passando fome.”. Cada uma das afirmações aparece destacada em letras brancas sobre
um fundo escuro, seguida de uma cena que a retrata, sempre com uma música triste ao
fundo.
Porém, a narradora nos diz que nem tudo está perdido: “É tarde demais para
sermos pessimistas”, afirma, e completa que “todos podem contribuir”. O documentário
destaca os fatores que poderão resolver os problemas: os investimentos em educação, a
união entre os povos e a preservação do que ainda resta. Ela dá diversos exemplos de
iniciativas que o homem vem tomado nos últimos tempos para reverter o quadro
catastrófico em que a humanidade se encontra, enquanto diz: “Nunca a educação
chegou a tantos seres humanos.”; “A cultura, a educação, a investigação e a inovação
são recursos inesgotáveis.”; “Todos, do mais rico ao mais pobre, podem dar seu
contributo.”; “Fazendo face à miséria e ao sofrimento, milhares de ONGs2 provam que a
solidariedade entre os povos é mais forte que o egoísmo das nações.”. A harmonia entre
os seres humanos e a natureza se daria quando o homem aprender a respeitar o meio
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Organizações Não-Governamentais.
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ambiente, preservando o que sobrou. Como exemplo, mostra a Antártica, que não
pertence a nenhum país, sendo considerada uma “reserva natural consagrada à paz e à
ciência”. Assinado por quarenta e nove países, um acordo fez dela um “tesouro
partilhado por toda a humanidade” 3. A gestão sustentável tem como principal objetivo
“preservar para continuar fornecendo recursos”, e os consumidores devem ser
“responsáveis”, pensando naquilo que compram.
Chama-nos a atenção o fato de o documentário não mencionar a recuperação de
áreas degradadas, ao contrário, a solução para os problemas ambientais seria a
“preservação do que ainda resta”, para que a natureza continue fornecendo recursos ao
homem. Carvalho (2008) explica que esta concepção de natureza intocada e valorização
da vida selvagem surge no século XVIII, na Inglaterra e no século XIX, nos Estados
Unidos, no qual o termo wilderness passou a ser utilizado. Essa concepção passa a ser
utilizada à medida que se evidenciavam os efeitos da degradação ambiental e da vida
urbana causados pela Revolução Industrial. De acordo com a autora,
as chamadas novas sensibilidades estão na base do sentimento estético em
torno do que é natural, selvagem e não cultivado, isto é, do não submetido à
ordem e à intervenção humanas. Em nome dessa sensibilidade, que
idealizava a natureza como uma reserva de bem, beleza e verdade, abriu-se
importante debates sobre o sentido de viver bem, sendo o mundo natural
visto como um ideal estético em moral. Essa posição expressou-se nas
inúmeras críticas às distorções da vida nas cidades, às intervenções humanas
na natureza, à apropriação utilitária dos recursos naturais, à violência contra
animais e plantas” (CARVALHO, 2008, p. 100).
Ao final, a narradora convida a todos os seres humanos a fazer a sua parte: “Está
na hora de nos juntarmos! O importante não é aquilo que já desapareceu, mas o que
ainda resta. Sabemos que atualmente existem soluções. Todos temos o poder para
mudar. Por isso, o que estamos esperando? Depende de nós escrever o que vai se passar
a seguir. Juntos.”. Mais uma vez está presente a ideia de que a única chance de salvar a
natureza é a união entre os povos no sentido de preservar o que ainda permanece
intocado.
O filme A era da estupidez é uma mistura de documentário, ficção e animação.
O filme se passa no ano de 2055 e retrata o planeta destruído em consequência da
negligência humana frente aos problemas ambientais. Um arquivista, de uma torre no
Ártico derretido, observa imagens anteriores ao período de 2015, afirmando que
“podíamos ter nos salvado, mas não nos salvamos”. Ele mostra seis histórias, que se
passam em diferentes locais do mundo:
 Jeh Wadia, um empresário indiano de 32 anos que abre uma companhia aérea de
baixo custo em seu país;
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De fato, o Protocolo de Madri (Protocolo de Tratado da Antártica) a designa como uma reserva natural
consagrada à paz e à ciência, e assegura que ela seja para sempre utilizada para fins pacíficos e não se
converta em cenário ou em objeto de discórdia internacional. As atividades deverão ser planejadas e
executadas de forma a limitar os impactos sobre o meio ambiente e sobre os ecossistemas associados. As
informações
foram
obtidas
em
<
http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidadeaquatica/programa-antartico-brasileiro> Acesso em: 04.mar.2013.
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 Fernand Pareau, um velho guia de montanhas francês que observa com tristeza o
derretimento das geleiras nas montanhas e a mudança na paisagem ao longo dos anos. O
guia também se envolve em um grupo que protesta contra a expansão rodoviária em sua
região;
 Uma família inglesa que vai escalar a montanha Mont Blanc com a ajuda de
Fernand. Guy Piers, casado com Lisa, trabalha construindo turbinas eólicas nos EUA,
Inglaterra e África há quinze anos. O casal preocupa-se com a crise ambiental global
devido ao agravamento do efeito estufa e está engajado na luta pela construção de um
parque eólico numa região localizada no centro da Inglaterra;
 Alvin Duvernay, um geólogo americano que trabalhou durante toda a vida numa
empresa petrolífera, em Nova Orlenas, em busca de petróleo, e teve sua rotina
modificada após a destruição de sua casa com a passagem do furacão Katrina;
 Uma família iraquiana, representada por dois irmãos, Jamila e Adnan, que foge
para a Jordânia após a morte do pai durante a guerra do Iraque;
 A nigeriana Layefa Malemi, uma jovem de 23 anos que sonha em ser médica,
retrata a miséria existente numa região do Níger onde vive após a instalação de uma
usina petrolífera. Ela mostra como os moradores de uma das regiões mais ricas em
petróleo do mundo vivem sem as condições mínimas de infraestrutura devido à
corrupção política e ao desinteresse das indústrias petrolíferas em investir no bem-estar
da população.
O filme alterna as cenas de vida dos personagens com noticiários mostrando a
crise ambiental, sempre ao comando do arquivista. Aparecem, ainda, algumas cenas de
animação cujo objetivo é resgatar o contexto histórico dos acontecimentos que
culminaram nos problemas ambientais abordados. As imagens, os sons, a captação da
perspectiva dos personagens conduzem o expectador à reflexão sobre o modo de vida
capitalista baseado no consumismo e na exploração do petróleo como principal recurso
energético do momento e os conseqüentes desastres ambientais que o mundo está
sofrendo. O filme mostra a ligação entre as vidas dos personagens, de forma paradoxal,
o que permite ao expectador compreender aspectos locais e globais, trazendo à tona as
contradições entre o progresso e a miséria resultantes do modelo de desenvolvimento
atual. Mostra, também, o domínio dos detentores da riqueza nas decisões que afetam
diretamente a vida das pessoas em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo que
evidencia a falta de atitudes que poderiam mudar o mundo e evitar o futuro catastrófico
retratado no ano de 2055.
Para exemplificar essas contradições, podemos analisar a história de Layefa. A
jovem vive em uma região da Nigéria que, com a instalação de uma empresa
exploradora de petróelo, deveria ser bastante rica, pois parte dos lucros da indústria
deveria ser aplicada no desenvolvimento comunitário local. No entanto, a região não
possui água potável, assistência médica, eletricidade e outros serviços básicos de
infraestrutura. Layefa, que perdeu a sua irmã, vítima de cólera, caminhando por um
local abandonado onde a empresa deveria ter instalado um centro de saúde, relata seu
desejo de estudar medicina e ajudar a população de sua região. Região que, aliás, sofre
com doenças provocadas também pela queima do gás excedente da extração do
petróleo, que poderia ser usado como fonte energética local, porém não há interesse da
empresa em fazer os investimentos necessários à sua utilização. A pesca é o único modo
de conseguir dinheiro para pagar seus estudos, porém, devido à contaminação dos rios
pelo derramamento de petróleo, os peixes estão cada vez mais raros. Como forma de
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custear seus estudos mais rapidamente, a jovem busca como alternativa a venda
clandestina de óleo diesel, uma vez que o recurso é escasso em sua região.
Nos fatos mostrados da vida de Layefa podemos perceber diversos paradoxos e
como as histórias dos personagens estão interligadas: a miséria local com a exploração
de um dos recursos mais lucrativos da época; a necessidade da jovem de vender óleo
diesel para custear sua faculdade, produto cuja matéria-prima é fonte de tanta pobreza
na sua região; a falta do produto numa das regiões mais ricas em petróleo do planeta.
Ao mesmo tempo, os problemas que afetam a vida da jovem se relacionam aos
enfrentados pelos outros personagens, cuja causa central retratada pelo filme é o estilo
de vida moderno baseado na exploração do petróleo como matriz energética, cujas
consequências são as alterações ambientais, o aquecimento global, a concentração da
riqueza e aumento da miséria, o modelo social consumista, etc. Esses problemas são
ilustrados no filme e na vida dos personagens: o derretimento das geleiras e a alteração
da paisagem nas montanhas onde vive Fernand; o furacão Katrina que destruiu a casa de
Alvin; a disputa pelo petróleo no Iraque que levou a família de Jamila e Adnan a
refugiarem-se na Jordânia; a luta de Piers, que tenta sem sucesso instalar um parque
eólico numa região da Inglaterra para gerar energia limpa e contribuir para a redução da
emissão de carbono na atmosfera. Em contrapartida, a expansão dos negócios na Índia e
o investimento de Jeh na aviação, atividade retratada no documentário como grande
contribuidora para a emissão de gases-estufa na atmosfera.
Outro fator a destacar é que o expectador pode analisar os fatos segundo a
perspectiva dos personagens, que é influenciada por aspectos culturais, econômicos,
sociais, políticos, emocionais de cada um deles. Assim, é possível refletir sobre a
realidade através de pontos de vista diversos.
Embora carregado de um apelo emotivo ao retratar um futuro catastrófico para o
nosso planeta, acrescido de frases como: “por que não nos salvamos enquanto havia
tempo?”, o filme contém diversos elementos que nos fazem compreendê-lo segundo a
perspectiva sociambiental descrita por Carvalho (2008). Segundo a autora, essa visão
vai além dos aspectos biológicos da natureza, contendo expectativas e valores sóciohistóricos acrescidos. De acordo com a autora, a visão socioambiental “considera o
ambiente como um espaço relacional, em que a presença humana, longe de ser
percebida como extemporânea, intrusa ou desagregadora („câncer do planeta‟), aparece
como um agente que pertence à teia de relações da vida social, natural e cultural e
interagem com ela” (CARVALHO, 2008, p. 37).
Diferentemente do filme anteriormente analisado, que coloca o homem
exclusivamente com elemento de desestabilização do ambiente, no filme A era da
estupidez a interação entre o homem e a natureza nem sempre é retratada de forma
trágica, podendo muitas vezes ser sustentável e positiva. Carvalho (2008, p. 37) explica
que, quando essa relação acontece, ela pode ser pensada “como um tipo de
sociobiodiversidade, ou seja, uma condição de interação que enriquece o meio
ambiente”, como é visto em alguns personagens do filme que se engajam em causas
ambientais.
A abordagem história e dinâmica das relações humanas e da cultura no meio
ambiente apresentada no filme também é, segundo Carvalho (2008), um dos aspectos de
uma visão socioambiental de natureza. Essa outra forma de compreender a natureza,
segundo a autora, de um mundo estritamente biológico para “o mundo da vida, das
humanidades e também dos movimentos sociais, bem mais complexo e abrangente”,
atinge “não apenas as mentalidades, mas também as palavras e os conceitos”
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(CARVALHO, 2008, p. 38), ampliando as visões e criticando um único modo de
enxergar a realidade ambiental.
Considerações finais
O objetivo do presente trabalho foi analisar dois filmes envolvendo a temática
ambiental e identificar as concepções de meio ambiente predominante nos mesmos,
segundo a abordagem de Carvalho (2008).
Por meio da análise dos dois filmes percebemos que, enquanto o primeiro
apresenta uma visão naturalista, o segundo possui mais elementos que estão em
correlação com a perspectiva socioambiental de Carvalho (2008). Os resultados de
nossa investigação mostram a importância do educador ambiental possuir domínio
teórico e das práticas em EA, utilizando os recursos e instrumentos de forma coerente
com os objetivos educacionais pretendidos. Portanto, embora os dois filmes apresentem
como foco a temática ambiental, cada um deles possui uma diferente abordagem –
naturalista e socioambiental - se os analisarmos segundo as concepções de Carvalho
(2008). O educador ambiental, ao trabalhar com a linguagem cinematográfica ou com
qualquer outro instrumento, deve, portanto, ter clareza de objetivos e conhecer os
referenciais teóricos sobre essa área do conhecimento, utilizando os recursos didáticos
de maneira criteriosa, promovendo, assim, a aprendizagem dos seus alunos.
Os instrumentos didáticos são diversificados, apresentando perspectivas
diferentes. Ter conhecimento teórico a respeito do tema a ser abordado permite ao
professor fazer escolhas fundamentadas, tendo condição de orientar seu trabalho para os
objetivos que pretende. Com relação à EA, formar o professor em uma perspectiva
crítica pode favorecer que suas escolhas sejam baseadas nessas orientações.
Salientamos, ainda, que não excluímos nenhum dos filmes analisados num
trabalho com EA, uma vez que os recursos não falam “por si só” (MAMEDE-NEVES;
DUARTE, 2008) e o professor é o agente que comanda a ação educativa. De acordo
com a intenção pedagógica, ambos podem ser utilizados, no sentido de promover uma
visão crítica sobre os temas ambientais, o que depende da forma como o educador irá
empregar tais instrumentos. Porém enfatizamos a importância do professor possui
referencias teóricos e objetivos claros, que permitam o desenvolvimento de um trabalho
efetivo e que realmente contribua para produzir essas percepções.
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Fichas técnicas dos filmes analisados:
Nome: Home - Nosso Planeta, Nossa Casa
Nome Original: Home
Cor filmagem: Colorida
Origem: França
Ano de produção: 2009
Gênero: Documentário
Duração: 90 min
Classificação: Livre
Direção: Yann Arthus-Bertrand
Nome: A Era da Estupidez
Nome Original: The Age of Stupid
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Cor filmagem: Colorida
Origem: Inglaterra
Ano de produção: 2009
Gênero: Documentário
Duração: 92 min
Classificação: Livre
Direção: Franny Armstrong
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