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ANÁLISE DA ADERÊNCIA A GESTÃO POR PROCESSOS EM EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS Flávia Rangel de Moura DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Aprovada por: ____________________________________________ Prof. Rogério de Aragão Bastos do Valle, D. Sc ____________________________________________ Prof. Marcus Vinícius de Araújo Fonseca, D. Sc ___________________________________________ Prof. Fernando Guilherme Tenório, D. Sc RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MARÇO DE 2006 MOURA, FLÁVIA RANGEL Análise da aderência a gestão por processos em empresas públicas e privadas – sobre o mito da gestão pública. Um estudo de caso no setor de gráficas de segurança. [Rio de Janeiro] 2006. XIV, 192 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia de Produção, 2006) Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Gestão por processos 2. Flexibilidade organizacional 3. Reengenharia 4. Teoria da organização I. COPPE/UFRJ II. Título (série) iii Dedicatória Dedico este trabalho a toda minha família, em especial a minha mãe, Maria Otilia. v Agradecimentos Escrever esta dissertação de mestrado provou-se uma longa caminhada solitária, como já me havia sido alertado por diversos companheiros, que já trilharam o mesmo caminho. Esse caminho, porém, não foi apenas uma corrida contra o tempo, mas um grande presente, graças aos amigos que encontrei ao longo do percurso. Cada um deles contribuiu, direta ou indiretamente para a confecção desse trabalho, sendo difícil expressar a importância de cada um deles. Não poderia começar meus agradecimentos por outra pessoa que meu professor e orientador, Dr. Rogério Valle, o qual me propiciou a oportunidade de realizar uma de minhas maiores aspirações: o mestrado. Através dele conheci o que é a Engenharia de Produção, que foi capaz de mudar todo o meu foco de interesse, tanto acadêmico quanto profissional; Agradeço especialmente a Sérgio Hilst, que não somente ofereceu ajuda na elaboração do trabalho, desde a formulação do projeto de dissertação até as referencias bibliográficas, quanto sua amizade e companheirismo, sempre. Um amigo que faz com que, apenas por têlo conhecido, tenha valido a pena o tempo que passei no mestrado; A José Domingos Sidrim, vice-presidente da ABNC, pela boa vontade ao me receber e facilitar meu acesso aos dados da empresa, e também por seu exemplo de vida: pelo excelente profissional que é e por transmitir a todos que tenham a oportunidade de conhecêlo, o verdadeiro amor que tem a seu trabalho; Á Casa da Moeda do Brasil, que foi onde conheci Engenharia de Produção na prática e também a todos os amigos que fiz por lá; vi A meu irmão, Carlos Eduardo, que mais que um irmão, é um amigo com quem posso contar sempre. E a Fernanda Moura Bastos que, ao reverso, é uma amiga que vale por uma irmã. A esses dois, não tenho como agradecer a grande ajuda durante todo esse trabalho; Aos colegas e amigos do SAGE, seja pela troca de idéias, seja pelo carinho. Em especial, meus amigos “moedeiros” Marília, que me deu apoio “operacional” e psicológico, Sandrine, Tatiana, Eduarda, Brettas, Júlio, Hubert, Cristina e Rodrigo, pela maravilhosa convivência esses dois anos, e a Aline, Lúcia Helena, Roquemar e Oswaldo, por estarem prontos a me ajudar sempre que precisei, cada um a sua maneira; Finalmente à CAPES, pelo apoio financeiro. vii Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISE DA ADERÊNCIA A GESTÃO POR PROCESSOS EM EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS Flávia Rangel de Moura Março/2006 Orientador: Rogério de Aragão Bastos do Valle Programa: Engenharia de Produção Este trabalho apresenta uma análise da gestão em empresas públicas e privadas, baseada no estudo de uma amostra de duas empresas do setor de gráfica de segurança: Casa da Moeda do Brasil e American Bank Note Company. Foi feita uma análise comparativa teórica das duas empresas, baseada na revisão dos conceitos de estruturas organizacionais e gestão por processos que possibilitará concluir qual das duas organizações possui o modelo de gestão mais adequado ao contexto socioeconômico atual. Essa avaliação será feita através de sua flexibilidade, verificando-se qual delas oferece menos resistência, ou melhor, qual adere mais facilmente à mudança para gestão por processos. As empresas foram analisadas através de questionários e entrevistas nos aspectos: flexibilização organizacional, estruturas organizacionais, racionalização, participação dos trabalhadores e resistência à mudança. viii Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.) ANALYSIS OF PROCESS MANAGEMENT CHANGE IN PUBLIC AND PRIVATE ORGANIZATIONS Flávia Rangel de Moura March/2006 Advisor: Rogério de Aragão Bastos do Valle Department: Industrial Engineering This work presents an analysis about management in both public and private enterprises, based on a study about a sample of two companies from the security-printing sector: Casa da Moeda do Brasil and American Bank Note Company. First of all, it presents a review about the organizational structures and process management concepts based on a comparative analysis of these two enterprises in order to conclude which of these two kinds of organizations has the most flexible and, therefore, the most adequate management system according to the actual social and economical context. In order to do that, it will be evaluated which of them offer the least resistance, meaning, which of them is more easily adaptable to process management. There were analyzed the aspects of organizational flexibility, organizational structures, rationalization, workers participation and resistance to change through questionnaires and interviews. ix ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................1 1.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................2 1.2- PANORAMA HISTÓRICO: EMPRESA PÚBLICA E PRIVADA ......................4 1.2.1- Casa da Moeda do Brasil ......................................................................................4 1.2.2- American Bank Note Company............................................................................6 1.3- CENÁRIO ATUAL E A ESCOLHA POR GESTÃO POR PROCESSOS ................8 1.4- REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE A EMPRESA PÚBLICA ........................8 1.5- OBJETIVOS DA PESQUISA ..............................................................................10 1.6- OBJETIVO GERAL..................................................................................................11 1.7- OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................11 1.8- JUSTIFICATIVAS TEÓRICA E PRÁTICA DA PESQUISA .................................11 2- METODOLOGIA .........................................................................................................13 2.1- PERGUNTAS DA PESQUISA.................................................................................13 2.2- DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS.................................................................................14 2.3- DELINEAMENTO DA PESQUISA.........................................................................15 2.4- COLETA DE DADOS ..............................................................................................19 2.4.1- Questionário .......................................................................................................19 2.4.2- Entrevista através de pesquisa qualitativa ..........................................................20 2.4.3- Análise de documentação ...................................................................................21 2.5- LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................................21 3- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................23 3.1- TEORIAS, PRINCÍPIOS E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ......................23 3.1.1- Administração clássica/científica: analogias e diferenças..................................25 3.1.2- Gestão por processos ..........................................................................................29 3.1.3- Gestão por processos e o modelo de administração científica ...........................30 3.2- REFORMULAÇÃO DAS AÇÕES GERENCIAIS E DA RACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ....................................................................................................................31 3.2.1- Fordismo e pós-fordismo....................................................................................31 3.2.2- Desenvolvimento organizacional e seu impacto na racionalização da produção ......................................................................................................................................40 3.2.3- Tendência à flexibilização do mercado e conseqüente opção por gestão por processos .......................................................................................................................42 3.2.4- Reengenharia ......................................................................................................47 3.3- FORÇA DE TRABALHO NO ATUAL AMBIENTE INDUSTRIAL.....................52 3.3.1- Racionalização e o modelo de participação........................................................56 3.3.2- Gestão com subjetividade...................................................................................63 3.3.3- Agir comunicativo ..............................................................................................64 3.4- A GESTÃO POR PROCESSOS E AS MODIFICAÇÕES DEVIDAS À CONJUNTURA ATUAL .................................................................................................67 3.4.1- Neoliberalismo e globalização............................................................................71 3.4.2- Mudanças na transição do fordismo ao pós-fordismo ........................................75 3.4.3- Vantagens e empecilhos à implantação de gestão por processos .......................76 3.5- REPRESENTAÇÃO SOCIAL ..................................................................................77 3.5.1- Representação social e estereotipia ....................................................................79 x 3.5.2- Processos sociocognitivos das representações sociais........................................81 3.5.3- Estereótipo, teoria da atribuição e representações sociais..................................82 3.5.4- Multifuncionalidade das representações sociais e funcionalidade dos estereótipos ...................................................................................................................84 3.5.5Estereótipos, representações sociais e comportamento ................................85 3.5.6- Estereótipos, representações sociais e diferenciação social ...............................85 4- MODELO DE ADMINISTRAÇÃO NA CMB E ABNC ............................................87 4.1- ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ...................................................................87 4.1.1- Ênfase na estrutura e na divisão por funções......................................................87 4.1.2- Estruturas organizacionais da CMB (DEGER) e da ABNC ..............................87 4.1.3- Divisão do trabalho.............................................................................................92 4.1.4- Observância aos princípios da administração.....................................................92 4.2- ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA ..........................................................................92 4.2.1- Conceitos básicos ...............................................................................................92 4.2.2- A idéia de tarefas ................................................................................................94 4.2.3- Observância aos mecanismos do sistema ...........................................................94 4.2.4- Cooperação entre direção e trabalhadores ..........................................................94 4.3- CONCLUSÃO...........................................................................................................95 5- SISTEMA DE GESTÃO POR PROCESSOS ..............................................................96 5.1- O MODELO DE GESTÃO POR PROCESSOS.......................................................96 5.1.1- Premissas e etapas de implantação .....................................................................97 5.1.2- Sistema de funções .............................................................................................98 5.1.3- Sistema de processos ..........................................................................................99 5.1.3.1- Terminologia e modelo de processo..........................................................101 5.1.3.2- Definição de processos e produtos ............................................................103 5.1.3.3- Documentação do sistema por processos ..................................................103 5.2- OPERACIONALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO NAS EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS.............................................................................................106 5.2.1- Cumprimento de premissas ..............................................................................108 5.2.2- Aderência aos requisitos necessários à gestão por processos...........................109 5.3- MANUTENÇÃO E APRIMORAMENTO DOS SISTEMAS DE GESTÃO ........110 5.3.1- Gestão da mudança...........................................................................................110 5.3.2- Aderência na CMB e na ABNC .......................................................................113 6- ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................................................114 6.1- ANÁLISE DE DADOS ...........................................................................................114 6.2- ANÁLISE DE ENTREVISTAS..............................................................................124 6.3- ANÁLISE GERAL DOS RESULTADOS..............................................................131 7- CONCLUSÕES ..........................................................................................................133 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................140 APÊNDICE A – Questionários da pesquisa .......................................................................146 APÊNDICE B – Entrevista da pesquisa .............................................................................152 APÊNDICE C – Dados da Casa da Moeda do Brasil.........................................................159 xi LISTA DE QUADROS 1 Principais empresas concorrentes no setor de gráficas de segurança p.122 2 Quadro comparativo das médias da escala de flexibilidade p.129 3 Direção ABNC – últimos 10 anos p.132 xii LISTA DE FIGURAS 1 Processo de tomada de decisão p.61 2 Organograma da Casa da Moeda do Brasil p.88 3 Organograma do Departamento de Gráfica Geral p.89 4 Organograma da ABNC p.91 5 IDEF-0 p.101 6 Exemplo de fluxograma p.105 7 Tabela de análise dos resultados p.128 xiii LISTA DE SÍMBOLOS ABNC: American Bank Note Corporation ARH: Administração de Recursos Humanos BACEN: Banco Central do Brasil CMB: Casa da Moeda do Brasil CNH: Carteira Nacional de Habilitação DEGER: Departamento de Gráfica Geral DEPGQ: Departamento de Gestão da Qualidade ERP: Enterprise Resource Planning IDEF-0 : International Definition (modelo 0) ISO: International Organization for Standardization ITR: Instruções de Trabalho JIT: Just in time RI: Relações Industriais TGA: Teoria Geral da Administração TGO: Teoria Geral da Organização TOC: Theory of Constraints TQC: Total Quality Control TQM: Total Quality Management xiv 1 INTRODUÇÃO GERAL No cenário atual, onde as empresas buscam modelos de gestão alternativos mais adequados às suas características, surge a necessidade de desenvolver e implantar diferentes sistemas de gestão, mais adequados à nova realidade: uma dessas opções é a Gestão por Processos abrangendo seus órgãos internos, mas mantendo-se aderente à estrutura hierárquica da empresa. Esse trabalho deseja avaliar a possibilidade de introdução desse novo modelo de gestão nas empresas públicas e privadas, seus empecilhos e benefícios, contrastando esses dois setores, afim de concluir em qual deles esse processo de implantação enfrentará maiores barreiras. Existe uma representação social que nos induz a acreditar que a empresa pública enfrenta maiores barreiras pelo fato de sua gestão ser baseada no governo então em vigência e não em seus objetivos estratégicos, causando portanto, descontinuidade das políticas públicas. Busca-se demonstrar se a idéia de que a gestão estatal realmente é prejudicial às empresas é um dogma, senso comum, ou se essa imagem é construída e difundida pela ideologia do neo-liberalismo. Será feita uma comparação em caso prático para contrastar os dois tipos de gestão que comprovará ou refutará essa imagem. Como toda entidade relacional, a imagem da empresa pública é formada a partir de um contraste com a empresa privada, afim de avaliar em que medida essa imagem atrapalha a própria gestão da produção. Considerando que a Casa da Moda do Brasil (CMB) e a American Bank Note Company (ABNC) são empresas atualmente estruturadas segundo os princípios e conceitos de Taylor, Ford e Fayol no que se refere à estrutura organizacional da empresa como um todo e que a gestão por processos busca romper de certa forma com o paradigma fordista e criar novos papéis para seus membros, que passam a ter maior participação nas decisões, liberdade de propor mudanças e autonomia de ação, tendo em contrapartida maiores atribuições e responsabilidades, quando se faz a avaliação da aderência ao modelo de gestão por 1 processos se está avaliando, ao mesmo tempo, a transição de cada uma das empresas ao modelo pós-fordista. O sistema de gestão por processos dá ênfase à difusão da informação através da aplicação de recursos tecnológicos de comunicação, informática, supervisão e controle, à inserção das empresas num mercado globalizado e à democratização das relações sociais dentro das empresas. Esses fatores auxiliarão a avaliação dessa pré-disposição do setor público e do setor privado à mudança de gestão. O objetivo dessa dissertação é estudar o aumento da subjetividade nas relações de trabalho no setor de gráfica de segurança, verificando as diferenças entre o setor público e o privado para analisar se o fato da gestão na empresa publica ser problemática é apenas uma representação social. Para tanto serão avaliadas as condições econômicas que levaram à flexibilização organizacional, que culminou em mudanças no modelo de gestão para gestão por processos, deixando trabalhadores mais autônomos, multifuncionais e mantenedores1. 1.1 INTRODUÇÃO Numa época de economia globalizada, onde as decisões são cada vez mais complexas, o mercado modificou-se de tal forma que passou a exigir que as empresas mudassem sua abordagem no que refere-se a seus modelos de gestão. As empresas hoje têm investido cada vez mais seus recursos em sua reestruturação organizacional para manterem-se flexíveis e inovadoras em ambientes mais competitivos e turbulentos, fazendo um realinhamento estratégico entre suas estruturas, objetivos e processos. Demandas cada vez mais específicas (customizadas, ou, “ao gosto do freguês”), e o aumento da concorrência via incessantes pesquisas por tecnologias redutoras de custo e de flexibilização da produção tornam imperativo o uso de ferramentas destinadas à realização 1 De acordo com Pessanha (1994) trabalhadores mantenedores são aqueles que além de supervisionar e controlar variabilidades presentes na operação, também intercedem na manutenção do sistema parcial ou totalmente com base na indicação dos pontos de defeito acusados pelo sistema de controle. 2 de uma mudança organizacional através dos processos de negócios. O objetivo dessa dissertação é avaliar as condições que levaram a tais transformações no mundo das organizações, apresentando a proposta de Gestão por Processos. Primeiramente, no referencial teórico, será feita uma breve revisão das principais teorias da Administração, demonstrando a evolução das modificações na racionalização da produção. Será mostrado como o desenvolvimento do mercado tornou necessários os requisitos de flexibilização, competitividade, customização, qualidade e principalmente, informação rápida e confiável, e como as organizações precisam se ajustar a isso, levando à necessidade de um novo modelo de gestão. Na “Primeira Fase” (Taylor/Ford/Fayol), será mostrada a teoria da produção/ consumo em massa visando o consumidor e a retroalimentação da economia; a “Segunda Fase”, via Teoria das Relações Humanas, como uma etapa de transição, demonstrando o foco no bem estar do consumidor (New Deal – EUA, Welfare State – Escócia, etc), com empresas estatais suportando o modelo econômico e finalmente a principal oposição ao modelo de administração clássica anterior, o Modo de Especialização Flexível, advindo dos anos 1980/1990, com a chegada da globalização, administração flexível e produção customizada, apoiada em ferramentas da administração e TI, culminando na gestão por processos. Concomitantemente será apresentada a definição de gestão por processos e sua interação com o modelo de administração científica, mostrando-o como uma opção de modelo de gestão num contexto pós-fordista e os requisitos dos modelos de gestão atual graças ao neoliberalismo e a globalização. Para esclarecer o papel da flexibilidade nas organizações atuais será feito um contraste entre flexibilidade e subjetividade, onde será discutida a socialização do trabalhador no ambiente industrial, desde a expropriação do mestre, o início da linha de produção, mostrando sua evolução. Será demonstrada a tendência a subjetividade por parte dos gerentes (flexibilização) e a consideração da subjetividade dos trabalhadores pelos gerentes. Com as considerações pela subjetividade, onde os problemas subjetivos (individuais) 3 aumentam, aumenta a negociação entre gerentes e operários, tornando-a portanto mais lenta, e aumentando também a participação de todos nas decisões. A parte teórica também contará com conceitos-chave detalhados de processos, gestão por processos, mapeamento e modelagem de processos e reengenharia. Complementando a parte teórica serão apresentados conceitos de representação social. O referencial prático apresentará como são as estruturas organizacionais da Casa da Moeda do Brasil (CMB) e da American Bank Note Company (ABNC), representantes, respectivamente, dos setores público e privado. Por último, complementando a parte teórica, um capítulo sobre os requisitos da mudança para gestão por processos e a avaliação da predisposição de cada uma delas à mudança de gestão, mentalidade, hábitos, papel da gerência em ambas as empresas, adequação da linha de produção tradicional (padronização de peças e trabalhadores, objetividade total) à gestão por processos (produtos diferenciados, subjetividade) e, por fim, baseado nessa análise, pretende-se concluir qual tipo de empresa tem maior aderência à gestão por processos. 0.1- PANORAMA HISTÓRICO: EMPRESA PÚBLICA E PRIVADA Nesse trabalho será feita uma análise do setor de gráfica de segurança. Para representar as empresas públicas, o estudo de caso analisará a Casa da Moeda do Brasil e, representando o setor privado, a American Bank Note Company. 1.2.1- Casa da Moeda do Brasil A História da Casa da Moeda, registrada ao longo dos duzentos e noventa anos de atividades da instituição, assemelha-se em grande parte à própria História do Brasil. Foram as dificuldades da Metrópole em nos suprir adequadamente suas moedas que levaram as autoridades do Reino a aprovar a criação da Casa da Moeda, fundada em 1694. 4 Inicialmente a instituição conseguia produzir apenas algumas dezenas de peças ao dia, cunhando moedas de ouro e prata. Transferida em 1698 de Salvador para o Rio de Janeiro, somente cento e setenta e quatro anos após sua criação é que a Casa da Moeda viria funcionar em prédio próprio, adequado às suas finalidades, construído em espaço amplo e inaugurado em 13 de setembro de 1868, na Praça da República, prédio hoje tombado pelo patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1964 o Governo transformou-a em autarquia dando-lhe condições para se reaparelhar e instalar uma moderna fábrica de cédulas e papéis de segurança, inaugurada em 14 de abril de 1969. Em 1973, foi transformada em Empresa Pública. O novo parque fabril, em Santa Cruz, o maior para produção de valores nas Américas, e atualmente em pleno funcionamento, vem atendendo às encomendas do Banco Central do Brasil de moedas e cédulas, além de fabricar selos para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, bilhetes para as Companhias do Metropolitano de São Paulo e Rio de Janeiro, passaportes para a Polícia Federal, cartões telefônicos para a Telemar e atender às necessidades da Secretaria da Receita Federal para o controle da fabricação de bebidas e cigarros, suprindo, assim, o mercado interno, sem interferir na iniciativa privada. A partir de 1964 o Governo passou a dedicar especial atenção ao problema do meio circulante e a criação do Banco Central do Brasil através da lei 4595 de 31 de dezembro de 1964, paralelamente à reestruturação da Casa da Moeda, fixaram um marco na historia do dinheiro brasileiro. Anteriormente nosso meio circulante era precário e deficiente.(GONÇALVES, 1984,p180) Com a nova estrutura da empresa e o apoio governamental, passou a se atender às encomendas formuladas pelo Banco Central do Brasil. Todo meio circulante foi substituído por cédulas impressas na CMB. A evolução da economia tornou necessária a elaboração de alternativas de projeto para a instalação do novo e indispensável parque industrial de Santa Cruz, à rua René Bitencourt n371, no Estado do Rio de Janeiro, para o qual a CMB foi 5 transferida no dia 25 de março de 1983. Estando localizada no km 5 da rodovia BR101, próxima ao porto de Sepetiba, à base aérea de Santa Cruz e a importantes rodovias e ferrovias, a nova sede da CMB abrange uma superfície de 500.000 metros quadrados, nos quais se distribuem 12 prédios, com a área construída de 110.000 metros quadrados. A CMB é a responsável pela fabricação de qualquer tipo de impressos fiduciários. Com a área construída de 13.220m² , nela estão instalados o cofre para a guarda de papéis de segurança, da matéria-prima, cofre de selos e a área de impressão e acabamento.(GONÇALVES, 1984, p.192) Essa unidade é encarregada de fabricar os selos dos Correios, bem como selos consulares e selos fiscais para relógios, bebidas e cigarros. Incumbe-se ainda da confecção de passaportes brasileiros, todos os tipos de carteiras de identidade, certificados de registro de veículos e Bônus a Divida Pública Federal, Estadual e Municipal, inclusive os bônus brasileiros lançados nos Estados Unidos e aceitos pela Bolsa de Valores de Nova Iorque, entre muitos outros. A capacidade instalada vem suprindo a demanda dos mais variados clientes, monopolizados ou não. 1.2.2- American Bank Note Company A American Bank Note foi fundada em 1795 nos Estados Unidos e, desde então sua atividade tem sido prover produtos impressos de segurança, personalizados e uma vasta gama de serviços e soluções. O grupo opera em segmento geográfico: Estados Unidos, Brasil, Austrália, Nova Zelândia, França e Argentina, servindo a instituições financeiras, governos e empresas. A American Bank Note Ltda no Brasil é subsidiária da American Bank Note Company. Começou a operar no Brasil a partir de 1993 com a aquisição da fábrica da Thomas De La Rue, que havia sido fundada em 1956 no Rio de Janeiro. Desde então a operação brasileira 6 vem crescendo significativamente, sendo a maior empresa do Grupo nos dias de hoje. Em 1995, com a incorporação da Gráfica do Grupo Bradesco, o mesmo passou a deter 22,5% do capital da Empresa. Atualmente a empresa se faz presente em todos os Estados da Federação com quatro fábricas, sites e através de representantes comerciais. O investimento e acesso às mais recentes tecnologias, somado à especialização de seus funcionários e aos modernos equipamentos instalados, permitem à American BankNote fornecer a seus clientes documentos de valor e sistemas informatizados a prova de adulterações e falsificações. Seus principais clientes atualmente são: Bradesco, C&A, Fenaseg, Fininvest, Detran, Claro, Credicard, Caixa, TIM, ITAU, Banco do Brasil, Telemar. Seus principais produtos são serviços gráficos, entre eles : impressão de dados variáveis (cheques, extratos, faturas, malas diretas, envelopes, impressos promocionais, serviços de manuseio, envelopamento e distribuição), sistemas de identificação (Carteira Nacional de Habilitação –CNH- , carteiras de identidade, digitalização e indexação de documentos, sistemas para controle de documentos, confecção e distribuição de impressos de segurança) e cartões (telefônicos indutivos, pré pagos (scratch), crédito e débito, comerciais, smart cards, serviços de personalização, manuseio, envelopamento e distribuição). A American Bank Note Company é atualmente uma das maiores concorrentes da Casa da Moeda do Brasil, e utiliza a gestão funcional, com unidades de negócios auto-geridas. Cada departamento da empresa é independente, possui sua própria logística, não existindo troca de informações entre eles. A empresa é dividida em três vice-presidências: • Vice-presidência administrativa-financeira; • Vice presidência de cartões; • Vice presidência de produtos gráficos. 7 1.3- CENÁRIO ATUAL E A ESCOLHA POR GESTÃO POR PROCESSOS Diariamente, mais e mais empresas estão adotando de forma silenciosa, a Gestão por Processos. Estas empresas elegem executivos de carreira para gerir macroprocessos fundamentais e mudam o foco dos seus sistemas de aferição de objetivos das unidades para objetivos dos processos e basearam seus sistemas de remuneração diretamente sobre a performance dos seus processos. A maneira como as empresas recrutam e treinam seus colaboradores também é alterada com ênfase nos macroprocessos e não nas pequenas tarefas. Elas ainda trabalham em mudanças pequenas, porém fundamentais, na sua cultura. Por fim, essas empresas buscam assumir gradativamente o controle do orçamento destinado a melhoria desses macroprocessos, uma vez que estes detêm o conhecimento sobre seus pontos fracos em toda sua extensão, tornando possível investir os recursos da empresa com muito mais propriedade. Isso ocorre porque as empresas precisam se adaptar às mudanças do mercado. Essas transformações vêm afetando as capacitações locais, tanto produtivas quanto inovativas em diversos países (Cassiolato, 1998). Portanto, as empresas buscam novos modelos de gestão mais adequados às suas novas características, surgindo a necessidade de desenvolver e implantar um novo sistema de gestão mas adequado: Gestão por Processos. 0.3- REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE A EMPRESA PÚBLICA A representação social é uma forma de conhecimento prático, de senso comum, que circula na sociedade. Esse conhecimento é constituído de conceitos e imagens sobre pessoas, papéis, fenômenos do cotidiano. As pessoas constroem suas representações nos seus grupos sociais, através das conversas, das visões, das crenças que veiculam. Assim, os conceitos e imagens vão sendo aceitos, naturalizados, considerados verdadeiros, embora sejam apenas representações. Muitos dos 8 preconceitos, dos estigmas, das exclusões de pessoas, decorreram desse processo e dos equívocos que pode gerar. Segundo Rangel (2004), o confronto das representações com a realidade, quando submetido a uma análise crítica e fundamentada, pode demonstrar esses equívocos. Em relação ao contraste entre empresas públicas e privadas, podem-se destacar alguns aspectos chave: há um embate no que diz respeito à ordem econômica. Há o princípio da livre iniciativa e o da propriedade privada acomodados com a função social da propriedade e a valorização do trabalho (artigo 170 da Constituição da República Federativa do Brasil), sendo vedada (tese dos liberais) a intervenção estatal no domínio econômico. O fundamento constitucional dessa tese é o artigo 173 da Constituição da República Federativa do Brasil: “Ressalvados os casos previstos nesta constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.”( CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 2005,p.173) O problema das empresas públicas é que seus cargos de direção, durante toda a trajetória política do Brasil, foram de natureza política com indicação ad nutum, ou seja, conforme a vontade de seus superiores. Sendo assim, por muitas vezes a indicação para esses cargos não é feita nem por competência, e sim por acomodação das forças do momento, nem através de concurso público como acontece com os cargos de níveis hierárquicos inferiores. Dessa forma, incharam-se os cargos e as empresas públicas começaram a tornar-se perdulárias, gastadoras, gerando prejuízo para o Estado. Conforme encontramos em Aragão (2003), a legitimação da intervenção do Estado pode vir a ser desenvolvida pelo interesse nacional, que precisa ser expresso em lei. Entra aí a 9 retórica e a nova hermenêutica2, inclusive como forma do Estado brasileiro tentar assegurar o principio da dignidade da pessoa humana. Ademais, não basta mero decreto executivo, a Constituição da República Federativa do Brasil traz uma reserva legal3. Um novo aspecto para as empresas públicas seria, além do regime da CLT (Código de Lei Trabalhistas), o uso de uma nova forma de administração. Todos seus funcionários deveriam ser concursados e a prestação de contas divulgada em veículos de informação de grande circulação. 0.4- OBJETIVOS DA PESQUISA Interesses econômicos influenciaram mudanças na própria engenharia, transformando a organização. No escopo geral, a gestão funcional não atende mais aos atuais requisitos do mercado e é necessária uma transição, para a qual foi feita uma análise de duas empresas caso desejassem se adequar às modificações na gestão exigidas pelo mercado. Isso inclui mudanças na economia do trabalho, pois há a necessidade de trabalhadores cada vez mais autônomos, multifuncionais e mantenedores, de subjetividade. Cabe a esse trabalho demonstrar que a conjuntura sócio-econômica atual com o aumento da flexibilidade nas organizações e subjetividade nas relações de trabalho são facilitadores na mudança para gestão por processos. Essa dissertação busca contrastar uma empresa pública e uma privada no que diz respeito a sua adequação à gestão por processos, buscando concluir se há vantagens de uma em relação a outra. O consenso geral é que a gestão das empresas públicas é ruim. Isso nos motiva a tentar validar a suposição de que a gestão nas empresas públicas realmente é pior que a das empresas privadas ou, ao contrário, verificar que isso não passa de uma representação social. 2 Nova hermenêutica é um ato discricionário praticado pelos administradores públicos sob a nova égide do pós positivismo, com afastamento metódico do positivismo jurídico sem prejuízo da segurança, trazendo para o debate a participação dos interessados através prática do dialogo argumentativo. 3 Princípio da reserva legal (anterioridade) segundo o artigo 50, XXXIX, Constituição da República Federativa do Brasil: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. 10 1.6- OBJETIVO GERAL Avaliação de uma representação social de que a gestão estatal é essencialmente prejudicial (descontinuidade, política, etc) e é realmente inferior à do setor privado através da flexibilidade, contrastando a imagem criada com o caso concreto. 0.6- OBJETIVOS ESPECÍFICOS Além do objetivo principal de verificar se há uma representação social acerca da gestão pública, esse trabalho pretende: • Avaliar se é apenas representação social ou se realmente a gestão pública apresenta mais resistência à mudança do que as empresas privadas; • Verificar qual das empresas tem maior aderência à mudança para gestão por processos através de um comparativo acerca e sua flexibilidade e subjetividade; • Qual está mais aderente às requisições do mercado segundo as exigências de flexibilização; • Verificar como é o relacionamento interpessoal e a ocorrência de democratização das relações sociais e analisar as relações de trabalho na gestão das duas empresas. 1.8- JUSTIFICATIVAS TEÓRICA E PRÁTICA DA PESQUISA A teoria da administração científica (Ford/Taylor/Fayol) foi muito bem sucedida quando o cerne das atenções ainda era produção em massa, com foco no consumidor médio e, portanto, na gestão funcional, que ainda o é em alguns segmentos, mas com a queda da produtividade ocorrida pós-crise de 1929, surgiu a Teoria das Relações Humanas, baseada nos princípios das políticas do New Deal e do Welfare State, onde as economias se levantaram pois havia o apoio do Estado, seu maior consumidor. 11 Da produção em massa o foco mudou para o bem-estar do indivíduo. Porém, houve nova mudança nos padrões de consumo vinda com as crises do petróleo, que trouxeram um grande período de recessão nos anos 80. O início dos anos 90 marcou a chegada da globalização, da administração flexível e da produção customizada, gerando a necessidade de uma mudança na forma de gestão, agora por processos. Esse novo cenário tornou-se possível com o uso das novas ferramentas de teoria da administração e de tecnologia da informação. As organizações têm se modificado buscando se adaptar ao novo contexto de mercado. Para tanto, modificaram-se as relações inter-departamentos, necessitando de uma forma nova de coordenação entre eles, um redesenho de suas funções. Para isso são usadas ferramentas de modelagem de processos e apoio à decisão. O cenário atual torna necessário que as empresas sejam naturalmente mais flexíveis. Isso pode apontar na direção de uma mudança na gestão para a administração de seus processos. Naturalmente, o impacto dessa mudança não será o mesmo em empresas públicas e privadas. Esse trabalho buscará fazer o contraste entre elas para verificar diferenças e semelhanças e por em cheque o consenso geral de que as empresas públicas têm necessariamente uma gestão mais problemática que as privadas. Serão demonstrados os obstáculos com que a empresa pública se defronta, e finalmente uma conclusão sobre essa representação social negativa. Esse tema é de extrema relevância no que diz respeito à imagem atual da empresa pública brasileira. É necessário que se avaliem as questões que envolvem a gestão estatal, contrastando-a com a gestão pública para se chegar a resultados concretos que confirmem ou refutem essa representação social, baseada em ideais neoliberais. 12 1- METODOLOGIA Esse capítulo visa apresentar a metodologia utilizada na investigação do problema da pesquisa e dos objetivos propostos. 2.1- PERGUNTAS DA PESQUISA A pergunta que constitui o objetivo principal desse trabalho é: As características de uma empresa estatal impõem barreiras maiores (maior dificuldade) à implementação de gestão por processos no setor de gráfica de segurança do que uma empresa privada, dado o contexto econômico-social atual, que favorece esse modelo de gestão? Para responder a pergunta central, é necessário responder às seguintes perguntas secundárias: • Quais são as características do modelo de gestão por processos; • Se os fatores sócio-econômicos atuais permitem ou propiciam a adoção desse modelo; • Qual é o modelo de gestão da Casa da Moeda do Brasil – setor público; • Qual é o modelo de gestão da American Bank Note Corporation – setor privado; • Levantar as dificuldades na implantação da gestão por processos (sair da gestão funcional) numa empresa estatal; • Quais são as principais diferenças entre o modelo de gestão das empresas pública e da privada no setor de gráfica de segurança; • Se ambos aderem ao modelo e gestão por processos. A relevância do tema está associada à avaliação da gestão nas empresas públicas e privadas na sociedade que está se organizando no processo de globalização. A partir da conscientização de todas as partes envolvidas neste redesenho da economia, abrem-se pontos de discussão sobre qual deve ser a melhor opção de desenvolvimento para o país, 13 as organizações e comunidades envolvidas e o novo papel que a empresa pública deverá exercer nesse contexto. 2.2- DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS Neste tópico serão apresentadas as variáveis que constituem essa pesquisa. Para avaliar o conceito de pós-fordismo, definido como um modelo de gestão que se caracteriza pela “diferenciação integrada da organização da produção e do trabalho sob a trajetória de inovações tecnológicas em direção à democratização das relações sociais nos sistemasempresa” (TENÓRIO, 2002a, p.192), serão usadas as seguintes variáveis: 1- Progresso científico-técnico: utilização de equipamentos e programas de microeletrônica e de novas formas de organizar o trabalho e a produção que fomentam os processos de flexibilização organizacional. Será medido nessa pesquisa através de dois aspectos: capacidade e tecnologia dos equipamentos utilizados e conhecimentos de informática necessários para as especificas tarefas; 2- Globalização da economia: aumento do alcance econômico e geográfico das organizações para se manterem no mercado e viabilizarem sua produtividade. Será verificado o número de concorrentes e a inserção de ambos no mercado (nacional), diferenças da gestão privada e da gestão pública; 3- Valorização da cidadania: participação da força de trabalho nas decisões da organização. Esse é o elemento principal de avaliação da pesquisa. Será inquirida a percepção dos membros da força de trabalho diretamente ligada à produção a respeito de sete variáveis: (1) autonomia na tomada de decisão e delegação de poder. Verificar se o comportamento gerencial na implantação da nova forma de gestão é compatível com ações gerenciais dialógicas; (2) evolução do relacionamento interpessoal gerência-operação; (3) gestão participativa, avaliando a contribuição dos trabalhadores para a gestão. Ambos 2 e 3 verificam a conscientização da força de trabalho sobre a importância do sistema de gestão; 14 (4) busca de aperfeiçoamento do relacionamento com fornecedores e clientes; (5) estrutura organizacional horizontal; (6) valorização da mão-de-obra por parte das empresas e, (7) uma avaliação da força de trabalho em si, através de sua (7i) capacidade de tomar microdecisões; (7ii) se há multifuncionalidade; (7iii) se é qualificada e (7iv) se há trabalho de equipe nas organizações pesquisadas. Pretende-se provar com essa pesquisa que o pós-fordismo somente se efetivaria se além dos princípios propostos acima se concretizassem os princípios de comunicação propostos por Habermas (Agir comunicativo) na ação gerencial dialógica. (TENÓRIO, 2002a p.78-79) 2.3- DELINEAMENTO DA PESQUISA No que se refere à metodologia da pesquisa, o estudo se caracteriza como um estudo de caso, uma vez que a temática se refere especificamente às empresas CMB e ABNC. A caracterização da pesquisa é de natureza qualitativa. O método principal a ser utilizado é o da observação, que será complementado por uma pesquisa participativa e descritiva, pois é necessária uma captação de dados subjetivos. Segundo Vergara (1997), as pesquisas podem ser classificadas quanto aos fins e quanto aos meios de investigação. Quanto aos fins, a pesquisa pode ser descritiva e explicativa. Nesse trabalho, será feita uma pesquisa descritiva, que é aquela que “expõe características de determinada população ou fenômeno”. (VERGARA, 1997, p.45) A informação coletada será qualitativa, por tratar-se de uma observação da “vida cotidiana” na fábrica. Como há parcialidade nas diferentes visões, os dados tendenciosos, subjetivos terão que ser tratados. O enfoque construtivista permitirá, através do tratamento desses dados, comprovar a hipótese que está sendo sugerida. O uso de métodos participativos é essencial ao enfoque construtivista, para que as especificidades das gráficas de segurança sejam captadas através de entrevistas que 15 busquem estimular a interatividade em todas as seções e divisões. Nessa pesquisa aberta, em sua maioria não-estruturada, aparecerão depoimentos com perspectivas diferentes, estimulando o entrevistado a revelar aspectos não previamente abordados. Com esse enfoque pretende-se alcançar resultados inesperados, possibilitar que através da pesquisa revelem-se fatos que não estavam previstos dentro dos objetivos iniciais. Vários autores oferecem definições acerca do que se trata um estudo de caso. Para SCHRAMM (1971): “a essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados”. Para YIN (2005, p.32), “um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Ainda para o autor este método pode ser usado em cinco aplicações principais, a saber: • Explicar os supostos vínculos causais em intervenções da vida real que são complexos demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas em levantamentos; • Descrever uma intervenção e o contexto na vida real em que ela ocorre; • Ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação, de modo descritivo; • Explorar as situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados; • Meta-avaliação, ou estudo de um estudo de avaliação. Como esforço de pesquisa o estudo de caso contribui para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos. Ele permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real - tais 16 como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores. Uma interpretação equivocada muito comum é a que as diversas estratégias de pesquisa devem ser dispostas hierarquicamente. Assim está descrito em Yin: "Ensinaram-nos a acreditar que os estudos de caso eram apropriados à fase exploratória de uma investigação, que os levantamentos de dados e as pesquisas históricas eram apropriadas à fase descritiva e que os experimentos eram a única maneira de se fazer investigações explanatórias ou causais. A visão hierárquica reforçava a idéia de que os estudos de caso eram apenas uma ferramenta exploratória e não poderiam ser utilizados para descrever ou testar proposições" (YIN, 2005, p.21) Segundo Yin (2005, p.22) esta visão hierárquica está incorreta. Certamente sempre houve experimentos motivados por razões exploratórias. Além disso, o desenvolvimento de explanações causais sempre representou uma séria preocupação para os historiadores, refletida pelo subcampo conhecido como historiografia. E os estudos de caso estão muito longe de serem apenas uma estratégia exploratória. Questões do tipo "como" e "porque" são mais explanatórias, e é provável que levem ao uso de estudos de caso, e também pesquisas históricas e experimentos como estratégias de pesquisa escolhidas. O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se pode manipular comportamentos relevantes. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pela pesquisa histórica, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série sistemática de entrevistas (YIN, 2005 p.27). 17 Uma segunda preocupação muito importante quanto aos estudos de caso é que eles fornecem pouca base para se fazer uma generalização científica. Uma resposta muito breve para essa questão é que os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso, assim como o experimento, não representa uma amostragem, e o objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística). “Ou, como descrevem três notáveis cientistas sociais em seu estudo de caso único, o objetivo é fazer uma análise "generalizante" e não "particularizante".” (YIN, 2005, p.27) Um estudo de caso é uma investigação empírica que: (YIN, 2005,p.32) • investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando; • os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Um projeto de pesquisa é "um plano de ação para se sair daqui e chegar lá, onde aqui pode ser definido como o conjunto inicial de questões a serem respondidas e lá é um conjunto de conclusões (respostas) sobre essas questões." (YIN, 2005, p.41) O propósito principal de um projeto é ajudar a evitar a situação em que as evidencias obtidas não remetem às questões iniciais da pesquisa. Nesse sentido o projeto de pesquisa ocupa-se de um problema lógico e não logístico. Em um caso a unidade de análise estudada é apenas um indivíduo relevante, que é a unidade primária de análise. O caso também pode ser algum evento ou entidade que é menos definido que um único indivíduo. Pode-se realizar estudo de caso sobre decisões, programas, processos de implantação de alguma coisa em alguma empresa ou entidade e sobre uma mudança organizacional. No caso desse trabalho, serão estudadas e comparadas duas unidades, uma empresa representando o setor público e outra, o setor privado. Há uma maneira de se fazer um estudo de caso mesmo que os dados não sejam extensivamente abundantes, generalizando resultados: é a generalização estatística. (Yin, 18 2005, p.53) Faz-se uma inferência sobre uma população (ou universo determinado) com base nos dados empíricos coletados sobre uma amostragem. Yin (2005, p.65) atenta para o fato de que podem haver problemas com o projeto holístico: toda a natureza do estudo de caso pode se alterar sem o conhecimento do investigador, durante a realização do estudo. As questões iniciais podem apresentar uma orientação, mas à medida que o estudo avança, ela pode mudar, e as evidencias se voltam para questões diferentes. 2.4- COLETA DE DADOS A coleta de dados foi feita através de questionários aos níveis gerencial e operacional e entrevistas. Foi aplicada uma entrevista adicional, aberta, ao vice-presidente da ABNC, também ex-funcionário da CMB, visando obter uma análise comparativa entre as duas empresas através do seu ponto de vista. A coleta de dados secundária foi baseada na documentação geral da empresa. 2.4.1- Questionário O questionário foi dividido em duas partes (apêndice A): • Questões que permitissem a análise dos dados por grupo de entrevistados, divididos em corpo gerencial e força de trabalho operacional (preservando a identidade dos participantes) com perguntas objetivas, classificadas através de uma escala; • As mesmas questões, porém, focando valores intangíveis associados ao objeto da pesquisa, através de perguntas em aberto, dissertativas, para respostas adicionais, por escrito; No questionário fechado foi utilizada a seguinte escala, com valores de 1 a 5: 1- forte concordância com a afirmação 2- concordância fraca com a afirmação 19 3- indecisão (o entrevistado não sabe se concorda ou discorda) 4- discordância fraca com a afirmação 5- forte discordância com a afirmação As respostas poderiam ser deixadas em branco, caso o entrevistado desconhecesse o tema ou não quisesse expressar a sua opinião. A partir dos valores obtidos, foram empregadas técnicas simples de estatística como média simples e ponderada. 2.4.2- Entrevista através de pesquisa qualitativa Foram feitas perguntas sobre capacitação e política da qualidade, endereçadas para ambos os operadores e seus gerentes, visando contrastar a visão gerencial com a realidade no chão de fábrica. Por tratar-se de uma pesquisa social, já que envolve correlações subjetivas entre empregadores e empregados, os objetivos da pesquisa extrapolam a dimensão da mera observação e explicação, buscando basicamente se fazer uma descrição. O conteúdo da entrevista será composto de uma tentativa de homogeneização de conceitos entre o nível gerencial e o chão de fábrica, sem generalizações excessivas e mantendo-se ao máximo o diferencial de cada uma das empresas. Serão analisados dados de ambas as gestões, pública e privada, que servirão como base para a comprovação desses conceitos. A pesquisa servirá para complementar a informação obtida na observação. Essa entrevista comporá as variáveis progresso científico-técnico, globalização da economia e valorização da cidadania através da elaboração de uma matriz de avaliação de resultado e um quadro comparativo de médias. A análise de entrevistas complementa ou legitima as informações obtidas por meio de documentos e dados levantados. As entrevistas foram realizadas com os chefes de divisão e seção e com os operadores das fábricas. Para complementar a análise foi feita uma entrevista com o vice-presidente da ABNC, ex-funcionário da CMB, para dar uma visão 20 comparativa de quem vivenciou os dois tipos de gestão. O roteiro da entrevista encontra-se no apêndice B. Para esta investigação, adota-se a postura do estudo descritivo. Considera-se um estudo de caráter descritivo por ser oposto à pesquisa explicativa e pelo fato de todos os dados da realidade serem considerados importantes, assim como a singular riqueza das descrições presentes no material coletado na pesquisa. 2.4.3- Análise de documentação A análise de dados quantitativos é necessária para se dar um diagnóstico da variável globalização da economia. Foram utilizados os documentos Relatório de produto final (tarefas), Ficha preparatória para delineamento (tarefas), Faturamento anual, Demonstrativo gerencial – Acompanhamento do faturamento bruto, Relatório de faturamento para uma noção dessa variável. 2.5- LIMITAÇÕES DA PESQUISA A mudança organizacional dentro das empresas no modelo pós-fordista, mesmo que em pequeno grau de profundidade, é indispensável. A pesquisa feita no DEGER(CMB) abrange apenas os dados do setor de gráfica geral fornecido pelo setor público, devendo ser, portanto, consideradas suas diferenças de participação no mercado em relação ao setor privado. Não há limitações quanto ao método de pesquisa (não-estruturado), mas a base de dados empírica pode provar-se insuficiente. Esse levantamento de documentos não pode ser efetuado na ABNC, visto que a empresa alegou estar em curso de abertura de seu capital, não podendo, portanto, fornecer informação privilegiada. Esse fator torna então a análise documental apenas complementar ao resultado do estudo. 21 Contudo, as limitações não podem impedir a ilustração do tipo de tentativa de mudança de ação gerencial que está se pretendendo medir no DEGER-CMB (Departamento de Gráfica Geral) e na ABNC, e a possibilidade de um estudo que contraponha a forma de gestão instrumental atual à que se pretende avaliar a implantação, mais voltada ao paradigma teórico-social (ação comunicativa), legitimando a discussão de conteúdos técnico administrativos com conteúdos sociais. 22 2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este capítulo procura oferecer um apanhado conceitual sobre as mudanças ocorridas nas estruturas organizacionais e a teoria sobre gestão por processos e questões relativas aos seus impactos nas organizações traduzidos nas suas estratégias, processos e pessoas, constituindo o referencial teórico dessa dissertação. 3.1- TEORIAS, PRINCÍPIOS E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS A maioria das organizações fundamenta sua estrutura e administração em uma análise das partes: é o problema da compartimentalização de Taylor que sub-otimizam o todo e impedem o contato interdepartamental e interfuncional. Isso torna as organizações ineficazes, fazendo necessária uma maior dinâmica na coordenação entre as partes, maior rapidez de informação e realimentação por parte de suas estruturas. Dessa forma a organização tradicional, que era vista como sólida e permanente, é substituída por relações de alianças, parcerias, participações e acordos, que são estabelecidas de acordo com a necessidade e funcionam, de forma temporária, baseadas em objetivos, políticas e estratégias comuns, trabalho em equipe e na capacidade de persuasão de atores. Para esta organização atual, o mercado pode ser local ou regional, porém a concorrência é global. São necessários clareza e equilíbrio dos dirigentes e tomadores de decisão quanto à escolha das técnicas e ferramentas destinadas a reestruturar as organizações. A mudança tecnológica e a sua inserção em um ambiente de competição globalizada tornam necessário o redesenho drástico das funções organizacionais de modo a adequá-las à realidade do mercado, visando aumentar a competitividade e o valor organizacional. Dada a oportunidade de mercado e a necessidade existentes, a área empresarial acentuou seu interesse nos processos organizacionais e na sua importância para o desenvolvimento de uma organização inovadora e competitiva em ambientes turbulentos. Desta forma, em um curto espaço de tempo, proliferaram-se no mercado as metodologias, técnicas e ferramentas destinadas ao mapeamento, modelagem e redesenho de processos, tornando-se uma tarefa 23 difícil a escolha de qual deles utilizar para cada programa ou projeto de mudança ou reestrutura organizacional. Essa escolha tem também importância estratégica pois pode comprometer a implantação, os resultados práticos e a própria sobrevivência organizacional. Dentre as abordagens de mudança que lidam com estrutura e processos, segundo Osborne (1996) destacam-se a Administração da Qualidade Total, a Reengenharia de Processos e a Aprendizagem. Estas abordagens distinguem-se pela maneira e profundidade com que mapeiam, discutem e analisam os processos organizacionais, o que termina ocasionando mudanças mais ou menos radicais. Assim, a abordagem da Administração da Qualidade Total dedica uma atenção cuidadosa no entendimento prévio das características dos atuais processos, sugerindo intervenções incrementais para realizar a melhoria contínua dos processos. Já a Reengenharia de Processos ignora as características dos processos atuais e privilegia o entendimento dos objetivos fundamentais dos processos para possibilitar o desenho de outros novos e revolucionários. Por sua vez, a Aprendizagem Organizacional examina cuidadosamente os processos atuais e suas estruturas básicas, para possibilitar a adaptação dos processos de modo a apoiar estruturas aperfeiçoadas. O estudo dos processos de uma organização de forma sistematizada pode proporcionar não somente a inovação e mudança, mas também novos modelos organizacionais mais leves e fluidos. A constante reavaliação da sua estrutura, processos e mecanismos de controle torna a organização cada vez mais autocrítica e competitiva, características indispensáveis para enfrentar as crescentes complexidades atuais. Dentro das opções inerentes aos antigos arranjos verticais, não há como uma organização responder às expectativas do cliente que demandam tanto alta qualidade como baixos custos. Assim, as interações entre as funções devem ser coordenadas, desaparecendo os problemas de repasses (custos de transação) com a substituição dos arranjos verticais pela organização horizontal. Com isto, os “compartimentos” isolados são substituídos por uma rede contínua e interconectada de processos, já que a interação e a interconexão em toda a organização são os requisitos da horizontalização. (RUMMLER E BRACHE,1994) 24 Uma visão horizontal da organização permite ver como o trabalho é realmente feito por processos que cortam fronteiras funcionais, mostrando os relacionamentos internos entre cliente-fornecedor – por meio dos quais são produzidos produtos e serviços – além de incluir os ingredientes que faltam aos organogramas: o cliente, o produto e o fluxo de trabalho. (RUMMLER E BRACHE,1994) 3.1.1- Administração clássica/científica: analogias e diferenças Como apresenta Harvey ( 1992 ), na virada do século XIX para o XX, as idéias de Frederick Taylor deram origem à chamada “gerência científica da produção” ou “racionalização do trabalho”. Em 1911, tais idéias foram publicadas no livro Os Princípios da Administração Científica, que, em essência, propunha a separação entre gerência, concepção, controle e execução da produção e a decomposição de cada processo produtivo em movimentos e tarefas extremamente simples. Segundo Taylor, o objetivo tanto do trabalhador, quanto da administração, deve ser a formação e aperfeiçoamento da força de trabalho, para aumentar a eficiência e o ritmo do trabalho e é a tarefa o ponto central da administração científica. (TAYLOR, 1970,p.31) Segundo Taylor, um tipo de homem era necessário para planejar e outro tipo diferente, para executar. Cabia à gerência, e não aos trabalhadores, reunir todos os conhecimentos que os antigos operários possuíam no passado e reduzi-los a tarefas elementares o suficiente para que fossem cronometradas, descritas e ensinadas a qualquer pessoa, por mais desqualificada que ela parecesse ser. Afinal, para Taylor, os trabalhadores não passavam de “gorilas amestrados”, interessados apenas em salário ( HARVEY, 1992, p.120 ). No entanto, é necessária uma cooperação entre direção e trabalhadores, baseada no interesse de ambos de maximizar o resultado da empresa, o que exige a percepção, principalmente por parte da força de trabalho, de uma clara “divisão eqüitativa do trabalho e responsabilidades entre o operário e a direção” (TAYLOR, 1970, p.83). Os mecanismos 25 para execução dos princípios da administração científica compreendiam o estudo dos tempos e movimentos, a padronização dos instrumentos de trabalho, o pagamento de gratificação, o sistema de rotina, uma chefia numerosa (em lugar de um único contramestre), dentre outros. Pouco depois de Taylor, Henry Ford dava início ao fordismo ao introduzir seu five dollars a day como forma de recompensa para os trabalhadores da linha de montagem de automóveis de Michigan ( HARVEY, 1992, p.122 ). O que havia de realmente especial em Ford e que, em última análise o distingue de Taylor, era a sua visão de que produção em massa significava consumo em massa. Tanto assim que o dia de oito horas e os cinco dólares propostos por Ford, vinham, na verdade, garantir que os trabalhadores tivessem renda e tempo suficientes para consumir os produtos que as corporações estavam fabricando em quantidades cada vez maiores ( HARVEY, 1992, p.121 ). O regime fordista, contudo, quase criou um entrave para si mesmo. Isto porque sua essência estava fundamentada em um trabalho por demais rotineiro e em praticamente nenhuma participação dos trabalhadores nas tomadas de decisão. Em uma empresa fordista os trabalhadores não participam da organização do processo produtivo. A este respeito, Tauile ( 2001, p.101 ) acrescenta que: “[no fordismo] os trabalhadores abriram mão de qualquer controle sobre o processo de trabalho em si. Aos empresários continuaria a caber a organização do processo de produção, que subdividiram como quiseram”. Ford deu origem a uma forma de gestão da produção e do trabalho, complementar ao Taylorismo, cujos princípios são: • A racionalização do trabalho (taylorista): uma divisão horizontal, parcelamento das tarefas, e vertical, separação entre concepção e execução e especialização do trabalho; 26 • Desenvolvimento da mecanização através de equipamentos especializados; • Produção em massa de bens padronizados; • Salários elevados e crescentes, incorporando ganhos de produtividade, para compensar o tipo de processo de trabalho predominante. Para Chiavenato (1999), os princípios básicos adotados por Ford são: • Princípio da intensificação: diminuição do tempo de produção através do emprego imediato de equipamentos e matéria-prima; • Princípio da economicidade: redução ao mínimo do volume de estoque de matériaprima em transformação; • Princípio da produtividade: aumento da capacidade de produção do homem em um dado período em função da especialização e da linha de montagem. A aplicação dos princípios do fordismo traz implicações para a organização da produção. Eles diferenciam a concepção de execução, instituem normas de supervisão imediata e controlam o ritmo de trabalho pela máquina. Fragmentam e simplificam as operações usando equipamentos especializados e pouco flexíveis através da linha de montagem. O trabalhador fica fixo no posto de trabalho, na frente de uma esteira rolante que traz e leva objeto a ser transformado por meio de ferramentas específicas. Segundo Fayol, (1968) as operações da empresa são divididas em: • Operações técnicas: produção, fabricação, transformação; • Operações comerciais: compras, vendas e permutas; • Operações financeiras: procura e gerência de capitais; • Operações de segurança: proteção de bens e pessoas; • Operações de contabilidade: inventários, balanços, preços de custo, estatística, etc; • Operações administrativas: previsão, organização, direção, coordenação e controle. Para Fayol, nenhuma das funções acima são encarregadas de formular o programa de ação geral da empresa, de constituir seu corpo social, de coordenar esforços, de harmonizar os atos. (Fayol, 1968, p.20) 27 Para Fayol, a função administração adota as seguintes definições: (FAYOL, 1968, p.21) • Prever é perscrutar o futuro e traçar o plano de ação; • Organizar é constituir o duplo organismo, material e social, da empresa; • Comandar é dirigir o pessoal; • Coordenar é unir e harmonizar todos os atos e todos os esforços; • Controlar é velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. Fayol adotou princípios que precisam ser aplicados para se alcançar os objetivos acima: • Divisão do trabalho: com o objetivo de produzir mais e melhor, com o menor esforço; • Autoridade e responsabilidade: direito de mandar e se fazer obedecer (autoridade) e a recompensa ou penalidade que acompanha esse poder (responsabilidade); • Disciplina: obediência às convenções estabelecidas; • Unidade de comando: um agente deve receber ordens e apenas um chefe; • Unidade de direção: um só programa para operações que visam ao mesmo objetivo; • Hierarquia: grau de autoridade e responsabilidade no sentido funcional e organizacional; • Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar. Um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar; • Estabilidade do pessoal: necessidade de tempo para o agente estar treinado e apto para desempenhar bem sua função; • Iniciativa: capacidade individual para concepção e execução em momentos difíceis; • União do pessoal: harmonia interna como fonte de vitalidade da empresa. Prever é calcular o futuro e programá-lo, é agir. É ter planos de ação prontos com antecedência para não haver hesitações, mudanças de orientação. Organizar é prover a empresa de recursos materiais, necessários à execução das tarefas, dividir claramente as funções em todos os níveis da empresa, dotar cada órgão da empresa de agentes capacitados e treinados para a função a ser desempenhada. A boa formação desses agentes 28 é sinal de boa administração. A cada chefe cabe comandar, tendo a responsabilidade por sua unidade. (FAYOL, 1968, p.77) Tanto para Taylor quanto para Fayol, há divisão do trabalho entre os que pensam e os que executam. Aos que pensam, cabe fixar os padrões de produção, descrever os cargos, estudar métodos de administração e normas de trabalho (CHIAVENATO, 1999, p.47). Ambos reconheciam a importância de treinamento para todos na empresa. A diferença reside no fato de que Fayol via a empresa do topo para a base enquanto Taylor a via da base para o topo, já que Taylor dá ênfase às tarefas e Fayol à estrutura. A visão de Taylor é um sistema de administração, e a visão de Fayol é um conjunto de princípios teóricos. 3.1.2- Gestão por processos Nesse tópico serão apresentados conceitos de um sistema de gestão baseado em processos. Primeiramente, serão apresentados conceitos de processo em si, visto que há uma diversidade de interpretações na literatura. Um processo, para Davenport (1994), é uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim, inputs (entradas) e outputs (saídas) claramente identificados, enfim, uma estrutura para ação. Já Harrington (1993) o define como sendo um grupo de tarefas interligadas logicamente, que utilizam os recursos da organização para gerar os resultados definidos, de forma a apoiar os seus objetivos. Para Johansson et al. (1995), processo é o conjunto de atividades ligadas que tomam um insumo (input) e o transformam para criar um resultado (output). Teoricamente, a transformação que nele ocorre deve adicionar valor e criar um resultado que seja mais útil e eficaz ao recebedor acima ou abaixo da cadeia produtiva. Já Rummler e Brache (1994) afirmam ser uma série de etapas criadas para produzir um produto ou serviço, incluindo várias funções e abrangendo o “espaço em branco” entre os quadros do organograma, sendo visto como uma “cadeia de agregação de valores”. 29 “Um processo é um conjunto de atividades estruturadas e medidas destinadas a resultar num produto especificado para um determinado cliente ou mercado. É, portanto, uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim, e entradas e saídas claramente identificadas. É uma estrutura para a ação”. (CHIAVENATO, 1995, p.123) Outra forma de pensar a respeito dos processos é apresentada pela equipe do Centro de Ciências da Coordenação do MIT, que considera os processos como seqüências semirepetitivas de eventos que, geralmente, estão distribuídas de forma ampla no tempo e espaço, possuindo fronteiras ambíguas (PENTLAND ET AL., 1999). Assim, um processo dispõe de inputs, outputs, tempo, espaço, ordenação, objetivos e valores que, interligados logicamente, irão resultar em uma estrutura para fornecer produtos ou serviços ao cliente. 3.1.3- Gestão por processos e o modelo de administração científica Tanto Taylor quanto Fayol propunham uma reestruturação do modo de produção industrial, da racionalização do trabalho: a substituição do modelo gerencial. Taylor afirmava que a escolha do método deveria vir da ciência, e não da cabeça do dono do negócio. Dizia que os dirigentes eram incapazes de aproveitar todas as capacidades físicas dos trabalhadores. O sucesso dependia da cooperação entre gerentes e empregados, possível se o aumento da produtividade alcançado via essa cooperação aumentasse os lucros e os salários. Porém, Taylor era contra a organização sindical, a qual não parava de crescer nos EUA, devido à arbitrariedade patronal. A racionalização produtiva de Taylor foi usada nas fábricas de Henry Ford. A aplicação do estudo de tempos e movimentos nas linhas de montagem (cooperação horizontal) e o 30 projeto de intercambialidade de peças reduziram ainda mais a necessidade de trabalhadores qualificados e intervenções no processo produtivo. O chamado Shop Management System buscava apoio na racionalidade do trabalhador. Sloan determinou a divisão por funções e compartimentalização da produção (cooperação vertical) num fluxo vertical de informações e decisões, priorizando a hierarquia. Ford estimulou a política de produção de massa e consumo de massa, com seu five dollars a day, uma política social associada ao New Deal. No entanto, além da criação de empregos em massa, as condições de trabalho eram péssimas. 3.2- REFORMULAÇÃO DAS AÇÕES GERENCIAIS E DA RACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO Levadas pela globalização, as organizações têm apresentado no final do século passado e inicio desse uma série de modificações em sua gestão, mostrando-se bem diferentes do modelo clássico de administração. Alguns métodos antes eficientes vêm demonstrando falhas e é preciso apurar se estas mudanças estão sendo causadas apenas pelo progresso técnico como parece ser e se as relações de trabalho estão sendo modificadas apenas pelas forças de mercado. Os próprios mercados e produtos atualmente são incompatíveis com o modelo taylorista. As demandas cada vez mais customizadas exigem que a linha de produção seja mais flexível, dando maior autonomia à força de trabalho. O próprio pós-fordismo supunha o uso da informatização como impulso a essa autonomia, porém, o que se verifica é uma tendência contrária: apenas uma pequena parte dos trabalhadores hoje é considerada qualificada, centralizando o saber em poucas pessoas, o que impossibilita a autonomia e conseqüente flexibilidade. 3.2.1- Fordismo e pós-fordismo A partir dos anos 1960, o fordismo começou a ser associado ao mero manuseio de máquinas-ferramenta a um modelo de gestão inflexível e ao conceito de rigidez 31 organizacional. Mesmo já depois da Segunda Guerra Mundial, os sindicatos – embora malvistos por Ford – ganharam considerável poder nas negociações coletivas das indústrias de produção em massa, mantiveram certo controle sobre as especificações das tarefas, sobre a segurança e sobre as promoções, e ainda conquistaram importante (embora não determinante) poder político sobre questões como salário mínimo e certos benefícios sociais ( HARVEY, 1992, p.125 ). Além do fortalecimento dos sindicatos, o período pós-1945 viu crescer uma série de indústrias baseadas em tecnologias que vinham amadurecendo desde o período entreguerras. Dentre essas indústrias destacaram-se a de fabricação de carros, construção de navios e de equipamentos de transporte, aço, produtos petroquímicos, borracha, eletrodomésticos e construção civil, que se tornaram os propulsores do crescimento econômico na época. Todavia – acrescenta Harvey: “... o crescimento fenomenal da expansão do pós-guerra dependeu de uma série de compromissos e reposicionamentos por parte dos principais atores dos processos de desenvolvimento capitalista. O Estado teve de assumir novos (keynesianos) papéis e construir novos poderes institucionais; o capital corporativo teve de ajustar as velas em certos aspectos para seguir com mais suavidade a trilha da lucratividade segura; e o trabalho organizado teve de assumir novos papéis e funções relativos ao desempenho nos mercados de trabalho e nos processos de produção”.( HARVEY, 1992, p.125 ) Vivia-se, assim, uma fase de crescimento corporativo (e não mais competitivo). Contudo, a despeito de todos os descontentamentos e de todas as tensões manifestas, o regime fordista manteve-se firme até 1973, quando uma aguda recessão no sistema capitalista mundial exigiu uma rápida transição para outro regime de acumulação. 32 São duas as principais críticas aos teóricos do primeiro modelo da racionalização do trabalho. Uma é a de que eles tentaram enunciar leis, hipóteses, teoremas e postulados aplicáveis a todas as organizações, ao invés de tipos específicos de organização. A outra é a de que eles encararam o homem de um ponto de vista absolutamente mecanicista, isto é, alheio às relações sociais e movido apenas por incentivos econômicos ( HARVEY, 1992, p.133). Tanto assim que, nos anos 1930, os trabalhos de Elton Mayo ergueram os pilares do que veio a se chamar “Movimento (ou Escola) das Relações Humanas”. E, juntamente com o surgimento deste movimento, o cientista político Hebert Simon publicou, com grande repercussão, o livro Administrative Behavior (1947), “que constituía um ataque indiscriminado aos princípios da escola de administração científica e a aceitação das principais doutrinas do movimento de relações humanas” ( PERROW, 1976, p.38 ). Muitos movimentos e idéias do início do século XX foram fatores influenciadores da Escola de Relações Humanas, tais como as idéias de Freud e Jung, divulgadas em conferências proferidas na Universidade de Clark em 1909, o lançamento da corrente behaviorista por Watson, baseada no comportamento dos indivíduos, entre 1910 e 1920 (BAUER, 1999) e o cenário norte-americano em 1930, que chamava atenção por seus aspectos negativos: depressão econômica, sindicalismo combativo, banditismo desenfreado etc. Segundo descreve Harvey ( 1992 ), nessa mesma década, o “Grupo de Harvard” sugeria aos gerentes das empresas que abandonassem o autoritarismo herdado de Taylor e que passassem a dispensar atenção pessoal aos funcionários, a se preocupar com o nível de iluminação e de ruído nas oficinas... Em suma, que passassem a contemplar tudo o que envolvesse o trabalhador e o seu ambiente (interno) de trabalho. A idéia desse grupo de psicólogos era abrandar os efeitos negativos externos à fábrica e, com isso, garantir maior eficiência no trabalho. Aos poucos, então, a Escola de Relações Humanas foi corrigindo o taylorismo e o fordismo à medida que introduzia mudanças que abrandavam a resistência dos trabalhadores às 33 condições de trabalho vigentes. Assim, em vez do trabalhador ocupar sempre o mesmo posto, ter o mesmo cargo e executar a mesma tarefa, os psicólogos e sociólogos (que, agora, atuavam dentro das fábricas) propuseram o alargamento das tarefas, o enriquecimento dos cargos e a rotação dos postos no intuito de “humanizar” o trabalho. Cabe definir o tipo de ação gerencial adequado a essas mudanças. A ação gerencial monológica deriva do conceito de ação estratégica de Habermas, que é uma “ação utilitarista, com cálculo de meio e fim, implementada através da interação de duas ou mais pessoas, tendo uma delas autoridade formal sobre a(s) outra(s)”. (TENÓRIO, 2002a ,p.150) Ainda segundo Tenório (2002a), a ação gerencial monológica é uma combinação de competência técnica com atribuição hierárquica, o que produz a substância do comportamento tecnocrático. Aqui, leia-se competência técnica como organização do trabalho, atribuição hierárquica como interação de duas ou mais pessoas tendo uma delas autoridade formal sobre as outras, caracterizando a separação entre planejamento e execução e comportamento tecnocrático como toda ação social implementada sob a hegemonia do poder técnico ou tecnoburocrático. Por ser calculada e utilitarista, a ação gerencial estratégica está submetida à razão instrumental, em que predomina o elemento tecnológico da organização da produção e do trabalho. Segundo Tenório (2002a), ao fazer uso da racionalidade instrumental ou funcional, o processo de trabalho fordista visa alcançar objetivos predeterminados, não dando espaço para que os indivíduos utilizem racionalidade substantiva. Esta é a percepção individual da interação de fatos em determinado momento. Assim, nem administradores nem operadores conseguem desenvolver suas relações de forma a produzir segundo sua maneira particular de perceber a ação racional com relação a fins. Dessa forma, racionalização da produção tornou-se sinônimo da introdução de princípios tayloristas e fordistas. (VALLE, 1993) A racionalização passou a ser percebida também fora do ambiente de trabalho, se constituindo na vida moderna. Para a consciência moderna, ser racional é calcular os meios adequados para que os fins escolhidos sejam atingidos. A racionalidade trazida pelos princípios do Taylorismo/fordismo e pela burocratização 34 causam a perda do sentido da vida humana e a perda da liberdade de agir segundo seus valores. (VALLE, 1993, p.6) O paradigma do fordismo passou, portanto, a ser questionado segundo seus valores sociais e às sucessivas inovações tecnológicas que permitiram ganhos significativos através da flexibilização da produção e da forma de gestão de organizações, fato que pôde ser notadamente observado nas empresas japonesas a partir do último quartil do século XX. A Escola de Relações Humanas acabou por complementar o taylorismo/fordismo, e não substituí-lo, como poderia parecer. Complementação, inclusive, obtida com a entrada dos fatores humanos nas preocupações cotidianas dos supervisores das fábricas, desde o momento que o Grupo de Harvard suplantou a idéia taylorista de que todo operário era um “gorila” amestrado e passou a reconhecer a participação dos trabalhadores na produção. No final dos anos 1970, entretanto, as grandes corporações, que serviram de berço para a essa “segunda geração” da racionalização do trabalho, começaram a ressentir os percalços da alta verticalização e da excessiva centralização do capital. Sua estrutura estava muito “pesada” e a saída para a sobrevivência dependia da compressão dos salários e da drástica redução dos custos indiretos. O impacto disso sobre a vigência da Escola de Relações Humanas foi imediato, uma vez que seus princípios se tornaram (sobretudo financeiramente) cada vez menos aplicáveis ( HARVEY, 1992, p.136 ). É sabido que a Escola de Relações Humanas não conseguiu romper com o fordismo. (HARVEY, 1992, p.140). Quem deu sinais de possível ruptura com o status quo foi a Escola Sociotécnica, ao propor mudanças no processo de trabalho que abrangiam desde o chão-defábrica até os escritórios. Tecnicamente, esta Escola destacou-se por propor a substituição da linha de montagem fordista por grupos semi-autônomos e por dar preferência à forma de organização horizontal em lugar da hierárquica. Socialmente, ela inovou por estimular a negociação entre gerência e operários e por divulgar a idéia de que o trabalho poderia ser agradável. 35 Os fundamentos da Escola Sociotécnica consistiam em um sistema aberto, que interagisse com o ambiente, auto-regulado, com equifinalidade, (ou seja, diferentes meios para se chegar ao mesmo fim), formada por um subsistema técnico, com objetivo organizacional, que preocupa-se com instalações físicas, máquinas, equipamentos, etc.; e um social, visando o desenvolvimento dos indivíduos, buscando a eficiência através das pessoas, relações, habilidades, necessidades, aspirações. Entretanto, apesar de apresentar fatores que caracterizassem uma mudança em direção à transformação do fordismo, a Escola Sociotécnica era vista como utopia delirante pelos empresários e como armadilha ideológica pelos sindicalistas mais radicais e, portanto, não conseguiu se desenvolver a ponto de substituir o modelo então vigente. Em seu lugar, surgiram dois novos regimes: o modelo japonês (toyotismo) e o modelo de especialização flexível. Uma das principais causas da formidável competitividade das empresas japonesas era o fato de que o Japão teve que imprimir esforços para inovar nas áreas de organização do trabalho e gestão da produção, porém, só o conseguiu por razões que são próprias a esse país e a sua história. É verdade que, no princípio, a Toyota, tal como a maioria das empresas automobilísticas européias, tentou reproduzir as técnicas da produção em massa dos competidores americanos mas, sob o comando de Eiji Toyoda e de Taiichi Ohno, ela passou a desenvolver um estilo próprio, que melhor se adequava a sua escala e à natureza das suas operações. A originalidade do sistema Toyota ficou ainda mais evidente com o desenvolvimento do kanban e do Just in Time, que vieram substituir o sistema baseado em estoques que prevalecia nas indústrias manufatureiras tradicionais. De acordo com o sistema tradicional, os estoques funcionavam como uma espécie de “amortecedor” entre os sucessivos estágios da produção. Isto porque os bens processados em uma máquina eram mantidos em estoque até que a máquina subseqüente estivesse pronta para entrar em operação. Este esquema, entretanto, requeria economias de escala muito maiores do que as existentes na Toyota. 36 Foi então que, em lugar dos estoques, a Toyota estabeleceu um sistema com maior comunicação e com maior coordenação entre os sucessivos estágios do processo produtivo, de forma que cada um dos estágios, através de “etiquetas” (que é a tradução de kanban), fosse informado “just in time” quando deveria repassar seus produtos para o estágio seguinte. Com a produção enxuta (lean production), isto é, sem os estoques para amortecer possíveis falhas no processo, como peças com defeito ou máquinas quebradas, os engenheiros da Toyota deveriam primar pela máxima confiabilidade em cada etapa do processo. Para tanto, além dos engenheiros, os próprios operadores das máquinas eram treinados para que eles mesmos recuperassem os equipamentos com defeito, antes que todo o processo ficasse comprometido ( CORIAT, 1994, p.52 ). Um outro aspecto que distinguia a Toyota de seus competidores norte-americanos, segundo Coriat ( 1999 ), era o tipo de aliança existente entre a empresa automobilística e os fornecedores de autopeças. A GM tinha as seguintes características: era altamente verticalizada, dispunha de pronto acesso ao capital, e utilizava peças idênticas em diferentes carros. Por tudo isso, ela era capaz de produzir tais peças dentro dos limites da própria empresa. A Toyota, ao contrário, não dispunha nem de escala e nem de capital suficientes para seguir o caminho da GM. Fiando-se, então na tradição cultural japonesa, decidiu por confiar em fornecedores externos à firma não apenas para obter insumos básicos, como aço e parafusos, mas também para garantir componentes mais complexos, como faróis, freios e injeção eletrônica. Era o keiretsu, isto é, a garantia duradoura de exclusividade recíproca entre fornecedores e grandes empresas. O sistema Just in Time já exigia, por si só, uma estreita coordenação entre a firma produtora e os seus fornecedores. Nas décadas de 1970 e 1980 a economia mundial encontrava-se em recessão e estagnação, com deterioração do trabalho e das condições sociais, aumento do desemprego, etc. Ficam claros o esgotamento da forma de gestão da produção vigente no último quarto do século XX e a necessidade de mudança tanto na forma de gestão da produção quanto no modo de funcionamento do capitalismo nessa mesma época. 37 Tais mudanças envolveram a passagem (senão total, pelo menos, parcial) da forma de produção fordista para formas de produção menos rígidas e da etapa do capitalismo monopolista para uma outra etapa menos concentradora de capital ( INSTITUTE OF LABOR STUDIES, 1997 ). As formas de produção que vieram substituir a rigidez do fordismo foram o toyotismo (visto anteriormente) e a especialização flexível. Algumas áreas, como o nordeste da Itália, mantiveram até certo crescimento nesse período: estavam envolvidas tanto em setores avançados quanto tradicionais, intensivos em trabalho, desafiando a teoria de que esse tipo de atividade econômica não seria mais capaz de ter sucesso em países industrializados. Essas áreas têm certas similaridades que as permitem ser chamadas de distritos industriais, que são sistemas produtivos definidos geograficamente, caracterizados por um grande número de firmas que encontram-se envolvidas em vários estágios e de vários modos na produção de um produto homogêneo ( INSTITUTE OF LABOR STUDIES, 1997 ). A grande maioria das firmas em um distrito industrial é pequena ou são microempresas. Os diferentes distritos se especializam em produtos diferentes. O distrito é ao mesmo tempo uma unidade social e econômica ( INSTITUTE OF LABOR STUDIES, 1997 ). As marcas dos distritos industriais são a grande capacidade de adaptação e inovação, de se adaptar às rápidas mudanças na demanda e nos produtos, o que é extremamente dependente de uma flexibilidade na força de trabalho e nas redes de produção ( INSTITUTE OF LABOR STUDIES, 1997 ). Este modelo é chamado por alguns autores de Modelo de Especialização Flexível, contrastando com os princípios de produção fordistas. Esse modelo encontra-se em um local altamente desenvolvido de acumulação de conhecimento especializado, que acaba se difundindo para o restante da comunidade. 38 Uma característica significativa do modelo é que seu sucesso não se deveu à integração vertical, com seus recursos internos, nem à habilidade de obter benefícios de economias de escala e de poder de mercado. Ao contrário, deveu-se a uma organização de pequenas empresas, muitas vezes de propriedade familiar, com seus negócios ligados por uma divisão articulada de especialização. Cada grupo de estabelecimentos se especializava em um estágio particular da produção ou complementava o trabalho dos outros do distrito. Até os equipamentos são usados por todos os membros do distrito. Há um tipo de interdependência orgânica entre eles ( INSTITUTE OF LABOR STUDIES, 1997 ). A conseqüência disso é que o “todo” da coletividade das pequenas firmas é capaz de alcançar economias de escala, o que , até recentemente, pensava-se ser possível apenas em grandes empresas. A cooperação inter-firmas é importante, porém, é uma cooperação com competição. A cooperação só ocorre entre firmas que atuam em estágios diferentes do processo produtivo. Ela é importante no sistema de valores locais, introduz elementos de coesão e uma mentalidade trabalho em grupo na resolução de potenciais choques de interesse ( INSTITUTE OF LABOR STUDIES, 1997 ). A Escola de Relações Humanas e o modelo japonês até relaxaram o paradigma fordista, mas não conseguiram rompê-lo. O verdadeiro corte entre a produção fordista e a produção flexível se deu quando a possibilidade de um novo paradigma: o modelo de especialização flexível. É facilmente observável que o paradigma fordista passou a tornar-se impraticável perante as mudanças que hoje ocorrem (econômicas e sociais), tornando imperativa a transformação de um tipo de empregado taylorista, passivo, em um operário mais ativo e cooperativo. Surge o paradigma do pós-fordismo, que iniciou-se nos anos 1970, associado ao conceito de flexibilidade organizacional e, em contraste com o fordismo, a operacionalização de máquinas eletrônicas. 39 O pós-fordismo é, portanto, um modelo flexível de gestão organizacional, caracterizado pela “diferenciação integrada da organização da produção e do trabalho sob a trajetória de inovações tecnológicas em direção à democratização das relações sociais nos sitemasempresa”. (TENÓRIO, 2002a, p.163) 3.2.2- Desenvolvimento organizacional e seu impacto na racionalização da produção A maioria das organizações tem estrutura compartimentalizada, impedindo o contato interdepartamental e interfuncional, tornando-as ineficazes, já que a conjuntura atual requer rapidez de informação e realimentação por parte de suas estruturas. A organização tradicional é naturalmente substituída por relações orientadas por processos que requerem uma organização que estruture as interpendências transversais de suas atividades. São necessários clareza e equilíbrio dos dirigentes e tomadores de decisão quanto à escolha das técnicas e ferramentas destinadas a reestruturar as organizações. Segundo Martin (1996), muitas empresas vêm investindo grandes montantes em sua reestruturação organizacional. O grande problema das organizações tradicionais consiste no fato de que as suas “(...) estruturas gerenciais e os processos de trabalho foram desenhados há décadas, antes da tecnologia moderna”.(MARTIN, 1996, p.11) Esta mudança tecnológica e a sua inserção em um ambiente de competição globalizada tornam necessário o redesenho drástico das funções organizacionais exercidas pela maioria das pessoas, de modo a adequá-las à realidade do mercado, visando aumentar a competitividade e o valor organizacional de acordo com os preceitos da “era do software e das super-rodovias da informação”. Por basear-se nos valores e objetivos organizacionais, o redesenho das funções cria a necessidade de reformular as estruturas gerenciais ultrapassadas por meio da reinvenção dos seus processos, originando uma grande oportunidade de desenvolvimento de abordagens de mudança organizacional. 40 Dada a oportunidade de mercado e a necessidade existentes, a área empresarial acentuou seu interesse nos processos organizacionais e na sua importância para o desenvolvimento de uma organização inovadora e competitiva em ambientes turbulentos. Desta forma, em um curto espaço de tempo, proliferaram-se no mercado as metodologias, técnicas e ferramentas destinadas ao mapeamento, modelagem e redesenho de processos, tornando-se uma tarefa difícil a escolha de qual utilizar para cada programa ou projeto de mudança organizacional. Percebendo a velocidade de proliferação e a dificuldade de escolha, Kettinger (1997) resolveu realizar um estudo de levantamento, classificação e teste de metodologias, técnicas e ferramentas destinadas à realização de uma mudança organizacional através dos processos de negócios. Este estudo conseguiu agrupar cerca de 25 metodologias, 72 técnicas e um conjunto de 102 ferramentas que estão à disposição das organizações e dos consultores que desejarem trabalhar com processos. A escolha deste conjunto de técnicas e ferramentas adequadas à abordagem de mudança torna-se também de importância estratégica, pois pode comprometer a implantação, os resultados práticos e a própria sobrevivência organizacional. A mudança deve ser muito bem planejada e refletida. Mas as organizações são sistemas cognitivos e podem ser pensadas de forma sistemática, e não apenas inconscientemente. Guerreiro Ramos (1981) afirma que a maior parte da teoria das organizações é um subproduto do próprio processo organizacional. Uma teoria científica da organização deveria então fazer "a avaliação das organizações em termos da compreensão da conduta geralmente adequada a seres humanos" (RAMOS, 1981, p.50) para definir o caminho da mudança. Ele marca uma diferença entre comportamento e ação. Comportamento "é desprovido de conteúdo ético de validade geral" (... Já a ação ...) "é própria de um agente que delibera sobre coisas porque está consciente de suas finalidades intrínsecas" (RAMOS, 1981, p.51). 41 3.2.3- Tendência à flexibilização do mercado e conseqüente opção por gestão por processos O ponto principal de avaliação da predisposição à mudança para gestão por processos nesse trabalho é a tendência à flexibilização. Já dizia Taylor que a racionalização do trabalho do operário deve ser acompanhada de uma estruturação geral da empresa. E que a administração e a organização devem ser estudadas e tratadas cientificamente e não empiricamente (TENÓRIO, 2002b, p.58). As bases da administração científica de Taylor são as seguintes: • Estudo de tempos e movimentos e padrões de produção: a análise minuciosa do trabalho possibilita ter uma série ordenada de movimentos úteis, eliminando os inúteis. O estudo de tempos e movimentos permite a racionalização dos métodos de trabalho, fixação do tempo padrão e proporciona o estabelecimento de padrões de produção. • Supervisão funcional, que é a divisão do trabalho no nível dos superiores e gerentes. Para Taylor os funcionários deveriam ser acompanhados por supervisores especialistas e não centralizar a autoridade em um apenas um superior generalista. • Padronização de ferramentas e instrumentos para reduzir a variabilidade e diversidade do processo produtivo, buscando uma uniformidade de procedimentos e reduzindo custos. • Planejamento de cargos e tarefas (de cada cargo) especificando os métodos de cada tarefa e as relações com os demais cargos existentes. Esse planejamento caberia aos supervisores • Os administradores devem se concentrar apenas nos desvios dos processos, devendo as decisões mais freqüentes ser reduzidas às rotinas e delegadas aos executores. Logo, a globalização gera a necessidade de um modelo constantemente mutante, necessitando que se faça revisão de processos. Segundo Slack, o ambiente turbulento em 42 que a maioria das organizações faz negócios significa que a função produção está tendo que se ajustar continuamente às circunstâncias mutantes. A produção é vulnerável às incertezas ‘ambientais’ em termos de oferta e demanda. (SLACK, 1999, p.65) A mudança que torna necessário outro modelo é a crise do fordismo. Suas causas podem ser atribuídas à ação gerencial monológica imposta pelo modelo rígido de racionalização do trabalho, frente aos novos tempos de mudanças de comportamento econômico e social. (TENÓRIO, 2000b, p.66) O modelo flexível de gestão que se adequa às necessidades atuais é pós-fordista. Esse modelo caracteriza-se pela diferenciação integrada da organização da produção e do trabalho sob a trajetória de inovações tecnológicas em direção à democratização das relações sociais nos sistemas-empresa: se baseia na previsão de um mercado em crescimento que justifica o uso de equipamentos especializados a fim de obter economias de escala. As inovações tecnológicas têm transformado o conteúdo das tarefas e a estrutura profissional das empresas, de forma a questionar a organização clássica do trabalho, abrindo largos caminhos para a democratização das relações sociais. (TENÓRIO, 2000b, p.67) Castro apresenta quais devem ser as características desse novo modelo: (CASTRO ET ALII, 1996, p.259) • Esforço permanente para melhoria simultânea da qualidade, dos custos e dos serviços de entrega; • Manter-se próximo dos clientes para entender suas necessidades e ser capaz de se adaptar para satisfaze-las; • Busca de maior aproximação com os fornecedores; • Uso estratégico da tecnologia, visando obter vantagens competitivas; 43 • Uso de estruturas organizacionais mais horizontalizadas e menos compartimentalizadas; • Uso de políticas inovadoras de recursos humanos. Segundo Martin Boddy, “o sistema pos-fordista de produção se caracteriza, sobretudo, pela sua flexibilidade. (...). A flexibilidade se manifesta de várias formas: em termos tecnológicos; na organização da produção e das estruturas institucionais; no uso cada vez maior da subempreitada; na colaboração entre produtores complementares. À flexibilização na produção corresponde uma flexibilização nos mercados de trabalho, das qualificações e das práticas laborais” (BODDY, 1990, p.46) Com relação à flexibilização da produção, diferentemente do fordismo, caracterizado pela produção em massa por estar inserido em um contexto socioeconômico onde predominava a estabilidade e previsibilidade do ambiente, o novo modelo de produção baseia-se na flexibilidade dos produtos devido à fragmentação do mercado de bens, individualização dos modelos de consumo, maior exigência dos clientes e difusão de novas tecnologias flexíveis. (TENÓRIO, 2002b, p.69) Antes é necessário abrir-se um parêntese para esclarecer a diferença dos conceitos de mecanização e de autonomação: na mecanização o trabalho manual passa a ser feito pelas máquinas e na autonomação são transferidas às máquinas algumas funções mentais humanas. (Tenório, 2002b, p.73) Seguem algumas das novas tecnologias de apoio à flexibilidade: 44 “No apoio à gestão da produção surgem (...)equipamentos de base microeletrônica – máquinas-ferramenta de controle numérico (M-FCN), microcomputadores, robôs; a informática por meio de programas – CAD( computer assisted design), CAM (computer aided maufacturing), CIM (computer integrated integrated enterprise), manufacturing), MRP CIE (material (computer requiremente planning) ou o MRP II(manufacturing resource planning), Windows, etc. e as telecomunicações – redes locais, telefonia automática, fibra ótica, fax, telefonia celular, internet. A combinação das técnicas anteriormente citadas (...) com aquelas gerenciais :TQC (total quality control) e/ou TQM (total quality management), JIT (just in time), TOC (theory of constraints) e apoiadas por instrumentos de certificação, como por exemplo, o ISO (international Standardization Organization) , torna-se factível uma gestão da produção mais flexível e em temporeal” (TENÓRIO, 2000b, p.169) São também determinantes da flexibilidade a mudança no tipo de práticas laborais, divisão do trabalho e a especialização do trabalhador, que são premissas do modelo fordista/taylorista de organização racional do trabalho. No modelo pós-fordista a flexibilidade e a polivalência da mão de obra são suas principais características. (TENÓRIO, 2000, p.75) • Divisão maleável e integração de funções de concepção, controle e execução; • Divisão de tarefas de acordo com as circunstâncias e necessidades; • Integração de tarefas para criar um trabalho completo identificável, com resultados visíveis; • Privilégio ao trabalho em equipe, com forte incentivo para o indivíduo e/ou grupo programar, com independência, o seu trabalho e determinar os procedimentos relativos à execução de tarefas; 45 • Desenvolver nos empregados a capacidade de prever problemas e incentivar soluções criativas; • Realização de tarefas e funções em grupos de trabalho; • Mão de obra qualificada com características multifuncionais e com múltiplas habilidades; • Informações claras sobre os resultados obtidos no trabalho • Autocontrole. Seguem abaixo os pontos de interação trabalhador-fábrica que permitiriam ilustrar, em oposição às práticas fordistas, o paradigma pós-fordista: (Tenório, 2000a, p.186-187) • Empregados são tratados como pessoas e não como braços ou custo variável; • As tarefas individuais são substituídas por processos ou conjunto de tarefas; • A equipe, e não somente o indivíduo, é a unidade organizacional responsável pelo desempenho; • As responsabilidades das equipes incluem não só o fazer com qualidade, como também o planejar e aperfeiçoar o como fazer; • Os níveis hierárquicos são mínimos e as diferenças de status entre trabalhadores também são pequenas; • Os controles e coordenação horizontal tornam-se atribuições de cada um da equipe e o conhecimento, não mais o cargo determina a influencia de um indivíduo sobre os demais; • As expectativas de desempenho individual são elevadas e servem não para fixar padrões mínimos e sim objetivos flexíveis que enfatizam o aperfeiçoamento contínuo e o foco nas necessidades do cliente; • As políticas salariais rejeitam as velhas fórmulas de avaliação do cargo, preocupando-se mais com o desempenho da equipe, incorporando também a distribuição equânime dos benefícios do ganho, da participação acionária e da participação nos lucros; 46 • Há maior preocupação com a estabilidade no emprego, traduzida pela prioridade no aproveitamento do pessoal da casa liberado por movimentos de reengenharia, via treinamento e reciclagem; • Há incentivo á participação de todos, em comissões, grupos de trabalho ou seminários onde se discutem processos produtivos ou administrativos, políticas e praticas de pessoal, realacionamento com os sindicatos bem como nas iniciativas visando à solução conjunta de problemas e conflitos. A ação gerencial dialógica, ou comunicativa, para Tenório (2000) é uma combinação de competência técnica com participação dos trabalhadores nas decisões sobre o processo e os resultados do trabalho, o que produz a democratização das relações sociais nos sistemasempresa. Pode ser considerado como competência técnica a organização da produção e do trabalho; a participação dos trabalhadores nas decisões sobre o processo e os resultados do trabalho, são entendidos como a interação democrática entre duas ou mais pessoas. (TENÓRIO, 2000, p.78) Portanto, a efetivação do pós-fordismo somente estará caracterizada sob a égide de uma ação gerencial dialógica em que o trabalhador, como sujeito social, veja diminuída a distância entre o planejamento e a execução. (TENÓRIO, 2000, p.79) O pós-fordismo se destaca por ser um modelo de gestão flexível caracterizado pela produção de series restritas de produtos diferenciados, com elevada produtividade com custos e tempos de produção reduzidos, em que a organização da produção segue a trajetória das inovações tecnológicas estando as práticas laborais sob a égide de uma ação gerencial dialógica ou comunicativa. Um modelo compatível com a flexibilidade, representativo portanto do pós-fordismo, é o modelo de gestão por processos. 3.2.4- Reengenharia As atividades de implementação de um novo sistema de gestão tornam real o projeto de processo; a tecnologia da informação não só possibilita projetos melhores, como também os 47 transforma num comportamento de trabalho e em vantagens comerciais. (DAVENPORT, 1994, p.233) Algumas empresas vêm o domínio das ferramentas baseadas em tecnologia da informação para a modelagem e análise de processos como o fator primordial no sucesso da reengenharia de processos. Algumas empresas criam, geralmente, modelos muito sofisticados das maneiras pelas quais operam, mas fazem pouca, ou nenhuma, mudança empresarial. A tecnologia da informação é um veículo eficiente de implementação da reengenharia de processos, mas apenas quando conjugada com a abordagem, os habilitadores e outros fatores de implementação descritos nos capítulos anteriores. As cinco etapas principais na reengenharia de processos abaixo mostram dez atividadeschave, algumas implícitas e outras explícitas, nas quais a tecnologia da informação pode desempenhar um importante papel facilitador: (DAVENPORT, 1994, p.234) • Identificação e seleção de processos para reprojeto; • Identificação dos habilitadores para o novo projeto de processo; • Definição da estratégia empresarial e da visão do processo; • Compreensão da estrutura e do fluxo dos processos existentes; • Avaliação de desempenho do processo existente; • Projeto do novo processo; • Protótipo do novo processo; • Implementação e operacionalização do processo e dos sistemas associados; • Comunicação dos resultados progressivos do esforço; • Criação de compromissos com a solução a cada etapa. Davenport indica uma forma de identificação e seleção de processos. Para tanto, dois tipos de informação precisam ser coletados: informações sobre o desempenho e estrutura dos processos candidatos, e informações sobre a disposição da organização de apoiar a redefinição desses processos. Até agora, as oportunidades para que a tecnologia da informação ajudasse nessa coleta estiveram ligadas à automação, como nas descrições 48 gráficas dos fluxos de processos ou através da geração e processamento dos levantamentos organizacionais. (DAVENPORT, 1994, p.235) Também, é necessária a identificação dos habilitadores para o novo processo. Serviços especializados de software e consultoria podem ser empregados para se obter a chave do conhecimento que proporcionam um conhecimento baseado nos parâmetros da situação específica de uma empresa. Esses bancos de dados que são por vezes proprietários de uma estratégia específica ou de uma firma de consultoria de processos e se concentram mais na tecnologia da informação do que em outros habilitadores da mudança, oferecem duas vantagens: (DAVENPORT, 1994, p.236) • Podem proporcionar dados originais que não encontram correspondência fácil nos processos de pesquisa manual/ entrevista; • Proporcionam resultados substanciais rapidamente, permitindo que a equipe de reengenharia concentre seus recursos no preenchimento de lacunas e no aspecto criativo da capacitação pela tecnologia da informação – exame, avaliação, melhoria e aumento de resultados-chave nas sessões de brainstorming. Antes da reengenharia os sistemas de informação existentes numa empresa eram fonte importante de informações sobre a capacidade e o desempenho. Se a empresa fez um investimento bem sucedido na tecnologia do sistema de informações executivas, a tecnologia da informação provavelmente estará desempenhando papéis ao mesmo tempo informais e de desintermediação – levando a informação diretamente à gerencia sênior sem a demora e possível distorção inerentes à sua transmissão por subordinados. (DAVENPORT, 1994, p.237) Os sistemas de informações executivas são valiosos pois proporcionam à gerência um conhecimento contínuo do desempenho dos negócios e da sua dependência de fatores internos e de mercado. 49 Uma vez iniciado o esforço formal em direção à reengenharia de processos, a principal atividade de criação de uma visão passa a ser as sessões de brainstorming entre os participantes mais indicados. Há várias tecnologias emergentes para facilitar esse tipo de interação grupal. (DAVENPORT, 1994, p.238) Justifica-se, porém, uma outra advertência: A tecnologia deve ser introduzida judiciosamente no brainstorming. A tecnologia da informação pode servir como um processo valioso, ou uma ajuda de conteúdo nessas sessões, mas também pode funcionar, infelizmente, como um elemento de distração que dispensará os objetivos da sessão. O brainstorming funciona melhor quando as principais distrações são as novas idéias – e estas também precisam de regras para administrá-las. (DAVENPORT, 1994, p.239) A implantação de um novo sistema de gestão gera uma série de necessidades. As equipes de reengenharia de processos devem ter o cuidado de estabelecer primeiro os parâmetros do novo processo e em seguida pensar nos sistemas auxiliares da implementação do projeto. Se os dois objetivos puderem ser realizados conjuntamente com uma única ferramenta, tanto melhor. De qualquer modo, o trabalho de projeto do processo deve proporcionar uma sólida base para o trabalho de projeto de sistemas formais. (DAVENPORT, 1994, p.243) Ao se atingir o consenso quanto ao fluxo e atributos de alto nível de um projeto de processos, devem ser reunidos os materiais subsidiários • A visão da empresa/processo desenvolvida antes, juntamente com uma descrição de como o novo processo se relaciona com a organização física da empresa; • Descrição das exigências dos sistemas de informação (funcionalidade) determinadas pelo novo processo empresarial; • Um modelo de alto nível que retrate o fluxo e o uso de dados dentro e em torno do processo. O objetivo final de uma reengenharia de processos é proporcionar à empresa um novo processo que realize um ou mais objetivos revolucionários de desempenho. Não é projetar, 50 codificar e testar um sistema de informações. Os objetivos da reengenharia de processos empresariais se enquadram em três grupos, que geralmente se intercomunicam. Os objetivos estratégicos levam aos objetivos relacionados com processos, que levam a objetivos relacionados com sistemas de informações. Em suma, os objetivos dos sistemas de informações são apenas uma parte do desafio da reengenharia de processos. (DAVENPORT, 1994, p.252) É importante a aplicação de abordagens baseadas em sistemas de informação, como a engenharia da informação, tendo em mente todos esses objetivos, e reconhecer que as ferramentas e técnicas para a realização dos objetivos de processo são de uso distinto das que se empregam na realização dos objetivos de desenvolvimento de sistemas. Uma maneira de criar essa mentalidade é dar um impulso aos setores estratégico e de processos num projeto, e realizar a maior parte do trabalho de criação de visão antes de dar inicio a qualquer projeto ou desenvolvimento de sistemas da informação. (DAVENPORT, 1994, p.253) A substancial coincidência de terminologia entre as respectivas ferramentas e técnicas não deve ser equiparada à integração, que em certos casos é ilusória. Por exemplo, a “modelagem de processos” na engenharia da informação tradicional funciona bem em análises de sistemas de software, mas não realiza muitas das metas necessárias à modelagem de processos no projeto de processos. Da mesma forma (e nesse caso, com um grupo de objetivo único), a modelagem de processo é feita de maneira diferente, em apoio à modelagem das operações existentes, e não no novo projeto de processo, e as duas análises podem não se relacionar nunca, especificamente. A coordenação entre as atividades estratégicas, as de processo e as relacionadas a sistemas de informação é essencial. As exigências de aplicações e as estruturas de dados que surgem das atividades relacionadas com sistemas de informação devem ajustar-se bem aos processos correspondentes e, no âmbito de um projeto de implantação, a implementação do sistema deve ser estreitamente coordenada com a correspondente implementação do processo. 51 3.3- FORÇA DE TRABALHO NO ATUAL AMBIENTE INDUSTRIAL O trabalhador fordista é o artesão expropriado que foi obrigado a trabalhar nas fábricas executando apenas uma tarefa, perdendo assim o total controle do processo produtivo. Essa tendência vem mudando com a socialização do trabalhador no ambiente industrial. Essa mudança pode ser vista em termos do aumento da subjetividade por parte dos gerentes e consideração da subjetividade dos trabalhadores pelos gerentes. Isso indica um aumento da intersubjetividade dentro do ambiente organizacional. A origem desse termo, que vem tomando sentido amplo, e às vezes, impreciso, veio do filósofo Edmund Husserl (1859/1938), quando deu forma ao problema ignorado pelas teorias do conhecimento de Descartes e Kant: o problema da existência do outro. O outro não é somente o que eu vejo, mas também o que me vê, sendo por sua vez, fonte transcendental de um mundo a ele dado. Isso guiou Husserl a criar o conceito de Intersubjetividade (HUISMAN, 1996, pág.385). Traduzido para o mundo das organizações, significa que hoje há interação entre gerencia e trabalhadores, não apenas as relações definidas pela hierarquia, onde as ordens vinham das instâncias superiores e obedecidas pelo operacional. Hoje há maior comunicação e liberdade, portanto, maior complexidade diferente da subjetividade, onde os problemas subjetivos (individuais) aumentam. Com o aumento da subjetividade, aumenta a negociação, que fica portanto mais lenta, e aumenta a participação. Guerreiro Ramos faz uma reflexão sobre a origem do termo 'comportamento', que data de cerca de 1490 e significava conformidade a ordens exteriores. O autor observa que as pessoas hoje se comportam de acordo com persuasões organizadas, e "o indivíduo tornouse uma criatura que se comporta" (RAMOS, 1981, p.51). Nessa linha, a síndrome comportamentalista é uma deturpação da noção de conduta humana que tornou-se característica básica das sociedades contemporâneas, que são a "culminação de uma experiência histórica, a esta altura já velha de três séculos, que tenta criar um tipo nunca 52 visto de vida humana associada, ordenada e sancionada pelos processos auto-reguladores de mercado" (RAMOS, 1981, p.52). Nesse experimento o indivíduo teria ganho uma ilusória melhoria material e perdido em troca o senso pessoal de auto-orientação. Para Guerreiro Ramos, "a isenção do mercado de regulação política deu origem a um tipo de vida humana associada, ordenada apenas pela interação dos interesses individuais" (RAMOS, 1981, p.52). Assim, o autor rejeita a visão da teoria das organizações atual, por achar que esta toma por base padrões existentes nas organizações como se fossem padrões gerais. Para Guerreiro Ramos, só a deliberação dos membros da sociedade em busca de um padrão ético na vida associada é que pode ser a base para a vida social, e nunca os processos não regulados do mercado. Guerreiro Ramos prossegue analisando quatro fatores fundamentais na síndrome comportamentalista: • a fluidez da individualidade; • o perspectivismo; • o formalismo; e • o operacionalismo. A fluidez da individualidade se refere a uma síndrome psicológica da sociedade capitalista, que remete a Montaigne e sua visão da natureza humana como inconstante e em contínua transição. Para Guerreiro Ramos a fluidez da individualidade é devida à forma de representação como a sociedade capitalista se legitima. Outras sociedades, anteriores e / ou não-ocidentais, se basearam na noção de que havia uma ordem coerente no universo e que a natureza humana era parte dela. Já a sociedade moderna "não se reconhece como miniatura de um cosmos maior, mas como um contrato amplo entre seres humanos. Assim, a conduta humana se conforma a critérios utilitários que, a seu turno, estimulam a fluidez da individualidade" (RAMOS, 1981, p.54). 53 Guerreiro Ramos cita Hobbes para afirmar que, nessa sociedade, o bom e o mau são convenções, e a imparcialidade substitui a verdade. Assim, o bom cidadão obedece a prescrições externas, sendo incapaz de ação, apenas de comportamento, já que não delibera livremente. Haveria assim uma fé errônea, segundo o autor, na absoluta transitoriedade das coisas. Guerreiro Ramos cita Whitehead para explicar que não é concebível a mudança pela mudança, o fluxo do nada para o nada. A idéia de fluxo de Whitehead é de que o caráter da realidade é composto por organismos que permanecem através do fluxo das coisas. Assim, para mudar é preciso antes ser. Para Guerreiro Ramos, a origem dessa noção generalizada de transitoriedade está em parte na ciência a partir do século XVII, que vê o universo como partículas em movimento. Por outro lado, essa noção seria também fruto da "interiorização acrítica, pelo indivíduo, da auto-representação da sociedade moderna"(RAMOS, 1981, p.56). Isso levaria a uma busca pessoal da satisfação de uma sucessão de desejos, a qual seria vã e geraria uma forma de individualidade que acaba, segundo o autor, em narcisismo. O perspectivismo se refere à compreensão por parte do indivíduo de que sua conduta, e a dos outros, é afetada por uma perspectiva. Guerreiro Ramos remete à introdução das leis da perspectiva como um objeto de investigação científica formal, no século XV, para afirmar que "na esteira da revolução comercial e industrial, a perspectiva deveria tornar-se, cada vez mais, uma categoria sistemática de trabalho artístico, assim como uma característica da conduta humana em geral" (RAMOS, 1981, p.57). Guerreiro Ramos afirma que "o mercado é a força subjacente, geradora da visão perspectivista da vida humana associada" (RAMOS, 1981, p.58). Essa mesma visão teria influenciado a teoria política de Maquiavel, na qual a conduta humana é despojada de substância ética e a política é um cálculo de consequências habilmente a serviço de interesses. Para Guerreiro Ramos, Maquiavel é um dos primeiros pensadores a perceberem os padrões motivadores de uma sociedade centrada no mercado. 54 O formalismo se refere à "observância das regras que substitui a preocupação pelos padrões éticos substantivos" (RAMOS, 1981, p.59), fundamentando-se na aparência e dissociando-se do bem comum. O sujeito do formalismo "não é uma individualidade consistente, mas uma criatura fluida, pronta a desempenhar papéis convenientes" (RAMOS, 1981, p.60). Guerreiro Ramos analisa autores como Adam Smith, Castiglione e Aristóteles para explicar que, nas sociedades modernas, "o homem não age, propriamente, mas comporta-se, isto é, ele é inclinado a conformar-se com as regras eventuais de aprovação social" (RAMOS, 1981, p.62). A legitimação da conduta humana, para Guerreiro Ramos, é o postulado básico da ciência do comportamento, focada nos seus processos e não na sua substância. O operacionalismo se refere à posição de que apenas as normas inerentes ao método de uma ciência natural de características matemáticas são adequadas para a validação e a verificação do conhecimento. Isso significa dizer que "apenas aquilo que pode ser fisicamente medido ou avaliado merece ser considerado como conhecimento" (RAMOS, 1981, p.63). Para Guerreiro Ramos, o operacionalismo é uma característica da síndrome comportamentalista, permeado de uma orientação controladora do mundo e de uma recusa de reconhecer às causas finais qualquer papel na explicação do mundo físico e social. Nessa linha, segundo Guerreiro Ramos, autores operacionalistas como Hobbes ainda têm muita influência na teoria das organizações e, por outro lado, há uma forte visão do mundo como um encadeamento de causas e consequências. Esse tipo de visão, segundo o autor, limita a criatividade e a liberdade de ação no mundo. Guerreiro Ramos conclui afirmando que os traços básicos da síndrome comportamentalista -a fluidez da individualidade, o perspectivismo, o formalismo e o operacionalismo -"são o credo não enunciado de instituições e organizações que funcionam na sociedade centrada no mercado" (RAMOS, 1981, p.67), e que a teoria administrativa existente , por estar ela mesma submissa a esses mesmos traços básicos, não poderá ajudar o ser humano a superar essa situação. 55 3.3.1- Racionalização e o modelo de participação A gestão participativa é mais um indicador de flexibilidade nas organizações. Há ainda hoje uma tendência a se enclausurar as relações industriais no local de trabalho. Isso não condiz com o momento dinâmico de globalização em que nos encontramos hoje. Os modelos de gestão organizacional mais recentes ( Escola sociotécnica e modelo japonês) mostram que há alguma abertura ao ambiente e a novos atores sociais, sinalizando visões mais compatíveis com visão local e pensamento global. (CARVALHO, 2001, p.38) “Locke, Kochan e Piore sustentam que são pontos fundamentais do conceito de Relações industriais, na atualidade, a interdisciplinaridade e a regionalização, considerando história e cultura dos locais em que se aplica.” Como alerta Carvalho, o sistema de negociações extrapolou o nível micro (local ou chão de fábrica) na busca de soluções ou alternativas às questões em debate. Os níveis de emprego, afetados pela dinâmica da automação, que desemprega, somente serão mantidos de a as negociações extrapolarem os ambientes locais, para níveis mais abrangentes, apontando para o conceito de relações de trabalho. (CARVALHO, 2001, p.39) O surgimento de um sistema de relações industriais autêntico precisa ser sustentado em negociações coletivas “O desenvolvimento das relações industriais no Brasil tem muitas nuances e características, de acordo com o segmento de negócio, além da região” (CARVALHO, 2001, p.41) Essa nova tendência das relações industriais só apresenta-se no Brasil a partir da década de 1980. As grandes organizações passam a formar profissionais com visão multidisciplinar, voltados ao acompanhamento das relações coletivas de trabalho de forma permanente, com um sistema contínuo de negociações. 56 “Registram-se avanços no sentido da construção conjunta de soluções. As partes envolvidas recuam, relativamente às posições iniciais e acabam por conseguir um termo de acordo. De igual maneira, somente nos últimos anos, verificam-se negociações com mais atores sociais, além de empregadores e empregados, aparecendo, com freqüência, organizações não-governamentais, prefeituras de cidades onde ocorrem as relações em causa e até outros níveis do governo, conforme a abrangência dos temas negociados.” (CARVALHO, 2001,p.42) Relações industriais, segundo Carvalho (2001) são uma rede de interações, a qual se dá o nome de Relações de Trabalho, onde estão presentes os seguintes atores sociais: Empresários, acionistas, consumidores, universidades, ambientalistas, comunidade e vizinhos, sindicatos, fornecedores, mercado informal, trabalhadores, governo, parceiros. Toda relação coletiva entre quaisquer atores sociais que gere ou venha a gerar impacto sobre determinado processo de produção, constitui elemento das relações de trabalho daquele processo. (CARVALHO, 2001, p.46) “Relações de Trabalho são o mecanismo de intervenção pelo qual os trabalhadores estabelecem, por negociação, com a organização detentora do processo de produção na qual trabalham, princípios de gestão da produção ou de gestão da organização.” (CARVALHO, 2001, p.49) Fazendo-se uma análise organizacional, duas áreas aparecem muito próximas: a Engenharia de produção, pelo processo de produzir em si, e a gerência de recursos humanos, segmento das escolas de administração de empresas, pelo trabalhador, agente e paciente das decisões sobre produção. Dessa forma não poderia deixar de se focar o tema da Análise Organizacional ou Teoria Geral das Organizações. A Engenharia de Produção e a TGO se 57 complementam. A primeira adequa a necessidade de produzir algum bem às necessidades ou interesses dos diversos atores envolvidos no processo; a outra estuda os fatores de impacto sobre os subsistemas relacionados á gestão das atividades que mantêm a produção. (CARVALHO, 2001, p.48) A educação é fator imprescindível ao desenvolvimento de talentos dos profissionais formuladores e condutores de estratégias dinâmicas de negócios, que se movimentam sobre estruturas flexíveis e sobre cultura globalizada, que lhe permitam atualizar os objetivos das próprias organizações (teleologia), no sentido de uma ação global com perspectiva local. (CARVALHO, 2001, p.49) Para Mintzberg (1995), as organizações funcionam segundo as variáveis estrutura, estratégia, cultura e poder: • Estrutura é a definição de autoridade, a organização formal. Por ela se estabelece o projeto organizacional, as intenções. É estático. Pode se caracterizar em estruturas chamadas burocráticas. A velocidade do processo de transformação das organizações e a complexidade da qual se revestem muitos negócios exigem estruturas flexíveis, com um mínimo de distância entre os níveis de direação e de produção. São as organizações horizontalizadas. • Estratégia é o fluxo das ações organizacionais, o conjunto de resultados a atingir ou atingidos. Uma estratégia global para uma empresa compõe-se de estratégias para seus diversos setores: financeiro, tecnologia, RH, meio ambiente, etc. • Cultura é a visão compartilhada do cotidiano organizacional. Identifica-se com a organização informal, pela qual se move e se define. É a face real da estrutura, a realidade organizacional, onde se trava o jogo do poder. É uma variável crítica quando as organizações estão em momento de mudança. • Poder é a capacidade de transformar a realidade, de influenciar, fazer acontecer. Estabelece-se pela posição na estrutura (papel), pelo conhecimento, pelo relacionamento ou pelo controle de recursos, notadamente os escassos. Negocia-se através do discurso. Quando a disseminação do poder ocorre na camada burocrática, fala-se de tecnocracia. 58 Ainda segundo Mintzberg (1995), as organizações definem suas estruturas em razão da complexidade de suas funções e de fatores situacionais. As organizações são sistemas de fluxos de informações e se conduzem pelo processo decisório. Cultura, segundo Carvalho (2001) é o conjunto de valores e crenças assumidas pelo grupo social que compões a organização. O comportamento e atitude dos trabalhadores de certa empresa identificarão a cultura daquela organização. A TGA adotou a problemática de cultura organizacional. Os behavioristas da Escola de Relações Humanas também consideram o fator cultural. Assim, a mudança preconizada pela corrente de Desenvolvimento Organizacional sempre se iniciava por levantamentos de indicadores da cultura. “Mais recentemente as normas de gestão da qualidade admitem a questão ao definirem a necessidade de um projeto educacional para os trabalhadores, no sentido do conhecimento do trabalho e dos chamados compromissos com a qualidade e o cliente. Isso nada mais é que um processo formador de cultura.” (CARVALHO, 2001, p.51) Cultura técnica para Valle, (1998) é “o ‘reservatório de saber’, partilhado intersubjetivamente pelos agentes técnicos de uma organização, ao qual remetem os enunciados técnicos, por ocasião de uma tomada de decisão.” Carvalho complementa: “É o conhecimento coletivo das matérias relativas às atividades de determinado grupo social que o habilita a enfrentar os debates que se apresentam, em condições de defender os próprios interesses. Pressupõe uma referência comum de linguagem, normas e valores para a orientação das negociações e decisões” (CARVALHO, 2001, p.52) Essa referencia é conseqüência da comunicação. Está impregnada da razão comunicativa de Habermas, que se encontra no cotidiano, expressa pelos indivíduos, que se encontra no 59 cotidiano, expressa pelos indivíduos através do diálogo. A linguagem é o pano de fundo a partir do qual os sujeitos se orientam em suas ações e decisões. VALLE(1998) Carvalho define o que vem a ser o Modelo participativo: “A cultura técnica é uma construção social, dependente dos paradigmas tecnológicos internacionais, das normas internas de cada organização ou grupo técnico e das características da sociedade na qual se encontra a empresa. Como construção social, a cultura técnica se estabelece por mecanismos de negociação permanente... A formação da cultura técnica está, portanto, intrinsecamente ligada à problemática do direito à informação.”(CARVALHO, 2001, p.55) O ponto central da questão das relações industriais é o sistema de decisão. Os modelos de RI ou Escolas de Racionalização do trabalho caracterizam-se na essência, pelo modo através do qual é decidida a produção. Nas organizações, sejam elas privadas ou públicas, a forma de decidir assume relevância porquanto está intimamente ligada à maior ou menor participação dos trabalhadores. (CARVALHO, 2001, p.56) “Tomada de decisão é o processo de escolha das ações voltadas à obtenção dos resultados planejados ou à correção dos mesmos, no conjunto das diretrizes de gestão das organizações. ... é o processo de escolha dos métodos de trabalho, em consonância com os objetivos e metas das organizações, sejam estes negociados ou não.” A tomada de decisão precisa de um grande número de variáveis para uma escolha. Quanto maior o número de variáveis tratadas, maior possibilidade de escolhas adequadas, mas também, maior complexidade de análise pelos agentes de decisão. 60 O nível de negociação dentro de uma organização é determinado pela participação: “Um sistema de relações de trabalho, dado o estágio ao qual se encontra certa organização, relativamente à participação dos trabalhadores (e outros atores sociais) nas decisões, desenvolver-se-á através de processos participativos ou negociados” (CARVALHO, 2001, p.57) Esquema de tomada de decisão, representando os níveis crescentes de participação dos trabalhadores nas decisões das organizações em paralelo à tendência de negociações coletivas, quanto mais participativos sejam os processos. Figura 1 – Processo de tomada de decisão No modelo determinado, a característica principal é a informação. Através de canais de comunicação formais e informais, a empresa transmite suas decisões aos empregados. As decisões são unilaterais, facilmente tomadas, mas sem garantia de efetividade. Nos modelos participativos, é a contribuição, Neste caso, além da informação, existe a oportunidade de os empregados manifestarem suas sugestões e opiniões, visando subsidiar a decisão gerencial. Quando há co-determinação o ponto chave é a negociação. Além de existirem os 61 dois níveis de intervenção anteriores, os empregados podem aqui intervir, também, na tomada de decisão. Tal intervenção pode ser total – exercida pela assembléia dos trabalhadores – ou representativa – exercida por associações ou sindicatos. Assim, entendem-se como participativos todos aqueles sistemas de decisão compreendidos entre o que, de forma elementar, deixou de ser exclusivo dos proprietários de determinado sistema produtivo, admitindo ouvir os trabalhadores individualmente, até que assentado em amplas negociações entre sindicatos patronais e de trabalhadores, e outros atores sociais, no limiar dos sistemas auto-geridos. Na auto-gestão, novamente, podem ser observados modelos determinados e participativos. (CARVALHO, 2001, p.59) Se escolha dentro da organização for feita somente pelos representantes dos empresários, ela será direcionada unicamente aos resultados. Se feita por métodos participativos ou negociados, será feita em relação aos interesses dos diversos atores envolvidos. Em síntese, o que identifica cada processo, na escala de participativo a co-determinado, são os graus maiores ou menores de liberdade de intervenção, pelos trabalhadores e outros atores sociais, nas decisões. O objetivo dos sistemas participativos de gestão, de um modo geral, é, exclusivamente, a ampliação dos resultados econômicos. Eles não contam com o envolvimento das lideranças trabalhadoras nem no acompanhamento, por isso têm sido observados com reserva pelos sindicatos. O método participativo é um falso estímulo à participação dos trabalhadores, seu objetivo final principal ainda é o lucro. (CARVALHO, 2001, p.61) “Processo participativo de gestão é todo aquele no qual a intervenção em determinados níveis da gestão organizacional é facultada aos trabalhadores, pela organização, segundo critérios e graus de liberdade por esta definidos.” (CARVALHO, 2001, p.62) Negociar é construir, conjuntamente, soluções de interesse comum. Em toda negociação questões econômicas assumem relevância. Cada relação define uma relação custo versus benefício, que deve ser tratada abertamente e decidida por acordo. 62 3.3.2- Gestão com subjetividade A Administração de Recursos Humanos diferencia-se de outros campos conexos por explicar e facilitar a influencia da gestão sobre os comportamentos das pessoas, a fim de resultar em um funcionamento eficaz e eficiente da organização. (VERGARA, 2001, p.34) A ARH tem por principio aumentar a produtividade e favorecer a busca pela vantagem competitiva da empresa. As expectativas são de que a supremacia desse tipo de abordagem fornecerá à empresa funcionários estáveis, satisfeitos, motivados e produtivos. “Pesquisas no campo da psicologia organizacional têm procurado mostrar, por exemplo, como os ‘sistemas de RH’ podem provocar e reforçar nas pessoas uma série de comportamentos, tais como; criatividade, inovação, orientação ao longo prazo, cooperação, confiança, capacidade de assumir riscos e tolerância com relação à ambigüidade.” (Vergara, apud Schuler, 1996; Jackson, 1987) A contribuição da consideração da subjetividade no estudo das pessoas nas organizações é a de tornar compreensível a experiência humana em sua fonte mais complexa, rica e profunda. No pensamento filosófico grego, subjetividade é aquilo que é fundamental ao ser humano e que permanece subjacente. Designa a interioridade da pessoa, a singularidade e a espontaneidade do eu, enfim, ela é tudo aquilo que constitui a individualidade humana e que sedimenta todo e qualquer conhecimento possível.” (VERGARA, 2001, p.42) Foucault (1980) recusa as categorias sociológicas usuais, tanto em suas questões quanto em seus conceitos. As razoes para essa recusa são que o desejo de Foucault de compreender mais completamente as relações de poder, isto é, como os mecanismos de poder afetam a vida diária. Sua obra critica visões em que o poder é tratado como uma mercadoria: “Poder não é algo que se adquire, se toma ou compartilha, algo que se detém ou de que se abre mão.” (Vergara, 2001, p.120 apud Foucault, 1980,p.52) Pelo contrario, o poder é relacional e torna-se aparente quando exercido. Devido a esse aspecto relacional, o poder não está associado a nenhuma instituição específica, mas a práticas, técnicas e procedimentos. 63 Foucault não reconhece a neutralidade do conhecimento. À palavra disciplina atribui, ao mesmo tempo, o significado de ramo de conhecimento e de um sistema de correção e controle. “O exercício do poder em si mesmo cria e faz emergir novos objetos do conhecimento e acumula novos corpos de informação (...) o exercício do poder perpetuamente cria conhecimento e, por outro lado, o conhecimento constantemente induz efeitos do poder (...) não é possível para o poder ser exercido sem conhecimento , é impossível ao conhecimento deixar de gerar poder” (Vergara, 2001, p.120 apud Foucault, 1980,p.52) 3.3.3- Agir comunicativo O sociólogo e filósofo, Jürgen Habermas, propõe uma teoria da comunicação como uma teoria crítica da sociedade, de modo que a ação comunicativa entre os interlocutores sociais é analisada segundo suas relações. A teoria crítica da sociedade funcionaria como uma teoria do comportamento, uma propedêutica, um conjunto de regras morais para a vida, que afirmam a infra-estrutura da linguagem humana, do conhecer, do agir e da cultura (HABERMAS, 1989, p. 39). No interior dessa teoria crítica, o conceito agir comunicativo corresponde às "ações orientadas para o entendimento mútuo", em que o ator social inicia o processo circular da comunicação e é produto dos processos de socialização que o formam, em vista da compreensão mútua e consensual. Paralelamente, o conceito agir estratégico compreende as práticas individualistas em certas condições sociais, ou a utilização política de uma força, ou as "ações orientadas pelo interesse para o sucesso". Habermas trabalha com o conceito "Diskurs" (Discurso) como uma forma de comunicação (Kommunikation) ou Rede (discurso, fala), que consiste na comunicação (fala ou discurso) destinada a fundamentar as pretensões de validade das afirmações e das normas nas quais 64 se baseia implicitamente o agir comunicativo (interação social) – que é outra forma de comunicação (fala ou discurso). O sociólogo e filósofo defende o aspecto intersubjetivo do discurso (relação dialogal), além do aspecto lógico-argumentativo (explanação e discussão para a fundamentação das pretensões de validez problematizadas). Há três contribuições à tese da consciência moral e do agir comunicativo, expressas por Habermas: • A Filosofia como Guardador de Lugar e como Intérprete: Para Habermas, mesmo quando a filosofia se dispensa dos papéis problemáticos de indicador de lugar e de juiz (perspectivas kantianas), ela pode e deve manter sua pretensão de razão (concordando com Kant) nas funções mais modestas de guardador de lugar dos saberes e como intérprete destes. • Ciências Sociais Reconstrutivas versus Ciências Sociais Compreensivas: modelo que explique claramente as relações entre reconstruções hipotéticas e explicações causais. Partindo da idéia de que as ciências sociais não devem abandonar a dimensão hermenêutica da pesquisa (papel de intérprete), Habermas distingue dois tipos de ciências sociais. As ciências sociais reconstrutivas correspondem àquelas que redistribuem o peso das construções normativas (judicativas, classificatórias) na história das ciências, com base em reconstruções hipotéticas para abordagens de maior sensibilidade hermenêutica – caso dos fundamentos da fenomenologia, da hermenêutica filosófica e da teoria crítica. • Notas Programáticas para a Fundamentação de uma Ética do Discurso:o objetivo é esclarecer o ponto de partida da ética do Discurso. Primeiramente, Habermas faz duas considerações acerca da ética do Discurso. A propósito da fenomenologia do fato moral: a validez deôntica (dos deveres ou ciência da moral) das normas e as pretensões de validez que erguemos com atos de fala ligados às normas (atos regulativos) constituem os fenômenos que uma ética filosófica tem que explicar. E as abordagens objetivistas e subjetivistas da ética: as posições filosóficas conhecidas, a saber, as teorias definidoras de gênero metafísico e as éticas 65 institucionalistas do valor, por um lado, e as teorias não-cognitivistas como o emotivismo e o decisionismo, por outro lado, não dão conta dos fenômenos que precisam de explicação – pois assimilam as proposições normativas ao modelo errôneo das valorações e das proposições descritivas ou da vida, imperativas e intencionais. Em conformidade com suas contribuições fundamentais, a tese de "Consciência Moral e Agir Comunicativo" abrange conceitos elementares, como: o princípio de universalização (U), uma regra de argumentação geral, a ética do Discurso e a teoria do desenvolvimento da consciência moral, formulada por Kohlberg. (BOAVENTURA, 1989) O princípio de universalização é introduzido como regra de argumentação para os Discursos práticos (filosofia e sociologia), pois esse princípio pode ser compreendido como uma reconstrução das intuições da vida cotidiana que sustentariam uma avaliação imparcial dos conflitos de ação morais (modelo "reflective equilibrium", de Rawls). Enquanto a regra de argumentação é fundamentada a partir dos pressupostos pragmáticos da argumentação em geral, juntamente com a explicitação do sentido das pretensões de validez normativas, ou seja, a validez universal do princípio de universalização ultrapassa a perspectiva de uma cultura determinada, baseando-se na comprovação pragmático-transcendental de pressupostos universais e necessários de argumentação. Esses argumentos sustentam apenas a circunstância de que não há nenhuma alternativa identificável para a "nossa" maneira de argumentar, de modo que a ética do Discurso também se apóia, como as ciências sociais reconstrutivas, exclusivamente em reconstruções hipotéticas, para as quais temos que buscar confirmações plausíveis, em concorrência como outras teorias das quais depende a sua confirmação indireta. E a teoria do desenvolvimento da consciência moral humana, formulada por Kohlberg, oferece esta confirmação indireta à teoria da ética do Discurso, de Habermas: o desenvolvimento da capacidade de julgar (moral) efetuaria-se da infância à idade adulta, passando pela adolescência, de acordo com um modelo invariante, que é um princípio de universalização, o ponto de referência normativo da via evolutiva do Discurso na argumentação humana – certo reducionismo a um fisiologismo ancorado em um padrão fixo, restritivo. Assim, qualquer comportamento diferente do padrão seria explicado, segundo Habermas, como uma ação motivada inconscientemente, não confessada pelo ator 66 social a si e aos demais, entre seu agir estratégico (individualista) e seu agir comunicativo (universalista). Esse efeito de auto-engano ou ato de defesa seria interpretado, então, como um distúrbio intrapsíquico da comunicação, distorcida de maneira sistemática em um plano interpessoal e intrapsíquico. É para uma tal comunicação distorcida que Habermas sugere uma discussão específica dentro da teoria da comunicação. (BOAVENTURA, 1989) De acordo com Habermas, a consciência moral (a racionalização universal dos modos de viver humanos) viabiliza a aplicação inteligente de discernimentos morais universais. Aplicação que se daria através do agir comunicativo, com a compreensão mútua e consensual entre os atores sociais. 3.4- A GESTÃO POR PROCESSOS E AS MODIFICAÇÕES DEVIDAS À CONJUNTURA ATUAL A Revolução Industrial gerou mudanças na estrutura do poder. Criou uma classe empresarial de tamanho e força nunca vistos, acabando até com a hegemonia da aristocracia rural. Até a política interna dos governos da Europa Ocidental passou a ser determinada pelo interesse industrial. Com o crescimento do proletário fabril, a atração de camponeses para as cidades e ascensão da burguesia industrial, progressivamente aliando-se à antiga elite, a sociedade polarizou-se em uma grande massa de assalariados explorados e um pequeno grupo de exploradores proprietários dos meios de produção. A tendência ao tamanho e à concentração era inegável. (Landes, 1969) A produção em massa e a urbanização exigiram maiores facilidades de distribuição, uma estrutura de crédito mais ampla, uma expansão do sistema educacional e a criação de novas funções para o governo. A produtividade possibilitou o aumento do padrão de vida, não de todos, criando a necessidade de indústrias voltadas para o prazer e lazer humanos. Proliferou-se assim uma série de prestadores de serviços e profissionais liberais, trabalhadores de colarinho branco, funcionários, engenheiros e servidores. O aumento da 67 produtividade fez com que o setor terciário crescesse mais rapidamente do que a própria indústria. (Landes, 1969) As mudanças tecnológicas da Revolução industrial causaram modificações nunca antes vistas: do lado empresarial houve uma redistribuição dos investimentos e nova visão do conceito de risco. Uma parcela cada vez maior do capital tinha que ser empregada em custos fixos de fabricação. “ A flexibilidade do antigo sistema tinha sido muito vantajosa para o empresário: em épocas de depressão, ele podia sustar a produção a um custo baixo, retomando o trabalho apenas quando e até o ponto em que a situação o tornasse recomendável. Agora passava a ser prisioneiro de seu investimento, situação que muitos dos tradicionais fabricantes-comerciantes consideram dificílima, ou até impossível de aceitar.” (LANDES, 1969,p. 51) Já o trabalhador teve mudado não apenas seu papel ocupacional, mas também seu estilo de vida. Com a completa separação dos meios de produção, ele transformou-se em “operador”, não executando mais do que uma função específica. ”Agora o trabalho tinha que ser feito numa fábrica, num ritmo estabelecido por incansáveis equipamentos inanimados, como parte de uma grande equipe que tinha que começar, interromper e parar ao mesmo tempo- todos sob a estrita vigilância dos supervisores, que impunham a assiduidade por meio de compulsão moral, regras pecuniárias e, vez por outra, ameaça física. A fábrica era um novo tipo de prisão, e o relógio, uma nova espécie de carcereiro.” (LANDES, 1969,p. 51) 68 Os modos de produção mais antigos, a oficina artesanal, possibilitavam o controle do processo de trabalho de cima para baixo, assim como na fábrica, porém, na oficina o empregador também é, em geral um trabalhador. Hoje o trabalhador tende mais à execução de diversas tarefas e há maior delegação de poder por parte do corpo gerencial. Aparentemente o exercício da chefia liga-se à competência.(Tragtenberg, 1989) A partir da idéia de que o mais competente deva ser promovido surge uma ética das relações hierárquicas. A empresa cultiva uma liturgia onde os signos são o vestuário, mobília e o subordinado vive na dependência do saber e do poder. Mesmo em empresas despidas de formalismo rígido, o subordinado mantém perante seus superiores um temor reverencial ambivalente, o medo funda-se na agressividade e na sedução, excluindo a neutralidade afetiva. Segundo Tragtenberg (1989), a grande empresa, estruturalmente, mantém as relações de produção capitalistas, procurando ao mesmo tempo manter sua relativa autonomia frente ao Estado e à sociedade civil. Cabe aos managers harmonizar os interesses dos técnicos dessas empresas, integrando-os aos dos acionistas e operários. Lloyd Warner, ideólogo do funcionalismo sociológico, defende que a corporação é reflexo de valores e atitudes que se desenvolveram inusitadamente, permitindo o salto da fase do barão assaltante para a empresa com responsabilidade social. Para alguns ideólogos conservadores, o futuro da corporação é estatizar-se; para outros ela terá que se manter como está se quiser manter sua hegemonia nos espaços econômicos e no mundo. Para Adolf Berle, o problema da empresa nos EUA não é o da iniciativa privada, mas sua sujeição aos novos ditadores da economia. Para milhares de operários e proprietários não existe a iniciativa individual, a atividade é grupal, tornando o indivíduo insignificante. Para ele, controle significa direcionamento da economia, provocando a separação entre controle e estrutura e propriedade e anulação do indivíduo no mundo da indústria. O problema maior é saber se na realidade a corporação funciona tendo em vista o interesse de seus acionistas. 69 Observa-se uma ampliação da área de poder do manager na área de distribuição dos lucros, apesar desse poder ser delegado. Tal é a separação entre propriedade e controle que é bem possível que os controladores funcionem contrariamente aos interesses da propriedade. A propriedade privada é autônoma, mas no plano interno o grupo controlador manda. “Como os diretores podem ser estimulados se os lucros ficam com os acionistas?”, questiona Berle. Verificase uma contradição ente o papel social da corporação e seu invólucro privado. Uma na diversidade, a corporação é conflitiva por ser o espaço de luta entre donos, que cederam a direção da empresa aos controladores, em troca de maior quinhão na distribuição dos lucros” (Tragtenberg, 1989, p.3). É inútil procurar nos parâmetros do liberalismo clássico explicação para o fenômeno da corporação moderna. Adam Smith atribui à impessoalidade gerencial a negligência e o desperdício, o que não ocorre na realidade, já que a reprodução ampliada do capital se dá por mediação de empresas gerenciadas. Como instrumento produtivo a propriedade privada esfacela-se na medida em que grupos detém o poder. Mas a propriedade privada está presente nas ações. Berle apresenta o conceito de empresa corporativa como alternativa ao de propriedade privada, entendida a empresa corporativa como a articulação de várias camadas de trabalhadores e consumidores através da ditadura da indústria. A liberdade na indústria moderna é substituída pelo princípio da unidade de comando. Segundo Berle, o lucro constitui a principal finalidade da corporação, e esta tende a aumentá-lo cada vez mais. Para Rathenau, a corporação, onde o maior poder cabe aos controladores, tende a servir à sociedade e não apenas a seus donos. Em suma: A corporação é a instituição hegemônica na sociedade industrial. À medida que e desenvolve, a grande corporação tende cada vez mais a ser propriedade de um grupo que age de conformidade com os critérios capitalistas 70 de racionalidade. Como resultado final temos uma sociedade de grandes corporações, cujo controle está em mãos de uma oligarquia fechada que se autopromove e se auto-reproduz. Para Drucker, o povo organizado na “sociedade sem classes” norte-americana constitui uma realidade; o capitalismo dissolve a classe proprietária e proletária, criando um povo-classe media. Isso é possível pela união e burocratas, técnicos e gerentes vinculados aos proprietários. Em síntese, Drucker caracteriza a sociedade industrial pela inexistência de luta de classes, posto existir apenas uma classe: o povo-classe média vinculado às grandes corporações. Pressente-se nisso a formação de uma ideologia neo-capitalista, cuja função é a legitimação do status-quo como o único possível e desejado. Existe luta entre trabalho e gerência: do ponto de vista gerencial o salário funda-se na eficiência produtiva, que é incompatível com o contrato coletivo de trabalho. Para o trabalhador o que vale é seu salário no final do mês, o salário como renda. Entretanto, o maior obstáculo à realização da idéia de empresa-comunidade é a participação operária nas decisões da empresa (Tragtenberg, 1989, p.13) 3.4.1- Neoliberalismo e globalização O século XX marca o início da era do conhecimento e da informação, caracterizada por um período de grandes transformações tecnológicas, sociais e econômicas, que impõe novos padrões de gestão às organizações públicas e privadas. Trata-se de um processo de reestruturação produtiva apoiado pelo desenvolvimento científico e tecnológico e na globalização de mercados. Neste contexto, parece há consenso entre estudiosos da teoria organizacional de que o sucesso de uma organização é, cada vez mais, influenciado por sua capacidade de implementar formas flexíveis de gestão que possam fazer face às mudanças do mundo contemporâneo. 71 Durante o período compreendido entre 1930 e 1945, o Estado forte desempenhou um papel altamente interveniente na economia. Contudo, ao administrar a conjunção de crises, transições e novas estratégias de desenvolvimento, demonstrou o esgotamento de sua capacidade de gestão, fazendo crescer a percepção de sua posição de atraso. Desta percepção surge o debate sobre a polaridade modernização e atraso, que aponta as discussões à perspectiva neoliberal. Do final da Segunda Guerra Mundial em 1945 até 1985 a discussão neoliberal ganhou contornos nacionalistas, consensada basicamente em torno do Estado-desenvolvimentista. O grande mote deste movimento é a repulsa contra a política intervencionista do Estado do Bem-estar Social. No Brasil, a partir da queda do regime militar em 1985, o neoliberalismo começa a deixar de ser uma discussão e passa, mesmo que de forma incipiente e confusa, a ser uma prática. “Este período está marcado pela configuração de uma coalizão de interesses bastante heterogênea e diferenciada internamente, expressão do amplo leque de forças políticas que liderou a transição do regime militar para o governo civil (...) Como é sabido, a transição brasileira, notabilizou-se por seu gradualismo e pela expressiva participação de setores ligados ao regime militar, ao lado das forças pertencentes aos quadros oposicionista, no processo de instauração de uma nova ordem. A tensão entre continuidade e mudança marcaria todo o longo percurso em direção à consolidação da democracia (...) O compromisso com a meta de conciliar crescimento econômico com combate à pobreza e à desigualdade social era hegemônico entre as principais forças políticas. Assim, a agenda política incluiria, entre suas prioridades, além da redução da inflação e da instauração da ordem democrática, o chamado resgate da dívida social (...) Se havia um amplo consenso quanto à necessidade de realizar as reformas políticas liberalizantes de modo a eliminar o legado autoritário, 72 por outro lado, não havia acordo, no interior do próprio governo, quanto ao esgotamento do antigo modelo de desenvolvimento, quer em seus aspectos econômicos, quer em seus suportes institucionais (...) A meta do desmonte do legado do passado só se tornaria prioritária com a ascensão de Fernando Collor à presidência, no limiar dos anos 1990” (DINIZ, 2000, p.77). A crise do Estado intervencionista e a hiperinflação ocorrida desde o início da década de 1980 fizeram os neoliberais elegeram o poder sindical e os movimentos operários como culpados da crise econômica a da alta inflação. Para eles, as pressões reinvidicatórias por melhores salários e condições de trabalho geraram uma universalização dos direitos sociais, abalando as bases de acumulação capitalista, fomentando a ascensão do movimento de flexibilização do trabalho. Soma-se a isto o surgimento da nova geração dos direitos humanos, quais sejam os chamados ‘direitos de solidariedade’ que, em conjunto com as ONGs, tendem a suprir as demandas sociais ocultadas pelo Estado neoliberal. Nesses anos de doutrinação ideológica pela flexibilização do trabalho o discurso fundamentador, mantendo sempre o mesmo objetivo, tem oscilado apenas quanto às desculpas, tais como ‘necessidade’ de flexibilizar a produção, particularmente em seus aspectos legais onde as leis são ‘velhas’ e ‘desatualizadas’, impedindo a competitividade numa economia globalizada. A retórica contra a legislação trabalhista nacional segue com idéias de que as leis oneram sobremaneira o empresariado, impedem a ampliação dos mercados de trabalho, geram desemprego, não estão adequadas à modernidade, atrasam ou até mesmo bloqueiam o desenvolvimento, agridem a liberdade do trabalhador, anulam os sindicatos, além de afastarem a livre negociação. A ênfase é sempre a diminuição do emprego e tem submersa a proposta de pleno emprego se o trabalho for gratuito, algo muito próximo do século XIX, daí porque ser chamado de neoliberalismo, todavia consegue ser mais cruel: está agravado pelo aumento populacional, o avanço tecnológico e as dificuldades econômicas, de transporte e habitacionais e os novos modelos de gestão. Uma análise que leve em consideração tais ponderações não reservará o qualitativo 73 ‘neoliberal’ tão-somente às políticas estatais que se conformarem integralmente com os princípios econômicos nacionais. Será considerada neoliberal toda ação estatal que contribua para o desmonte de políticas de incentivo à independência econômica nacional, de promoção do bem-estar social (welfare state), de instauração do pleno-emprego (keynesianismo) e de mediação dos conflitos socioeconômicos. Esse desmonte passa pela implementação de três políticas específicas: (1) política de privatização das atividades estatais; (2) política de desregulamentação, isto é, redução do Estado no terreno da economia e das relações do trabalho; e (3) política de abertura da economia ao capital internacional. A rigor, o neoliberalismo articula prática e ideologicamente os interesses dos grupos, classes e blocos de poder organizados em âmbito mundial, com ramificações, agências ou sucursais em âmbito regional e até mesmo local. Sob todos os aspectos, seja a proposta teórica ou ideológica, o neoliberalismo revela como se desenvolve a globalização – pelo alto, ou de cima para baixo. Sempre privilegia a propriedade privada, a grande corporação, o mercado livre, a tecnificação crescente e generalizada dos processos de trabalho e produção, a produtividade e a lucratividade. Os principais guardiões dos ideais e práticas neoliberais no mundo têm sido o FMI, Fundo Monetário Internacional, o BIRD, Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, e a OMC, Organização Mundial de Comércio. A experiência do liberalismo em países europeus tem reduzido os direitos sociais e aumentado o desemprego, com repercussão negativa nas condições de vida dos cidadãos. No Brasil, o neoliberalismo, com abertura quase que irrestrita das importações, tem se revelado um eficaz instrumento de geração de empregos no exterior e de desemprego interno. No atual governo brasileiro a receita do neoliberalismo é aplicada em sua íntegra: ao mesmo tempo em que prega a liberdade de mercado, a minimização do Estado, a livre iniciativa, pratica rígido intervencionismo na economia interna, contrai a emissão de moeda, baixa impostos sobre rendimentos altos, abre o mercado, cria alto nível de 74 desemprego, normatiza relações de trabalho, fixa juros e taxa de câmbio, controla preços de tarifas e atividades bancárias. A lógica do liberalismo, que se caracteriza por um extremado individualismo, é a do livre mercado, da acumulação, do lucro máximo, que reduz o homem e as relações sociais a valores econômicos. Um pragmatismo impiedoso impede sua humanização. Nele, a opulência de poucos se nutre da miséria de muitos. 3.4.2- Mudanças na transição do fordismo ao pós-fordismo A gestão por processos aproxima-se mais do paradigma pós-fordista do que do fordismo. Isso se dá por diversos fatores, entre eles por tratar-se de uma forma de flexibilização organizacional, em contraste com a rigidez organizacional do fordismo, pelo fato de fundamentar-se em processos-chave multi-funcionais, e não em tarefas, por ficar o trabalho em equipe, e não indivíduos. Além disso a gestão por processos apresenta hierarquia reduzida, ao invés de chefia numerosa e funcional, pela delegação de responsabilidades e pela tomada de decisões baseada no entendimento, e não na autoridade do cargo. A mudança do cenário econômico exige maneiras mais versáteis de execução das atividades, tornando necessário que a gestão tecno-burocrática dê lugar a um gerenciamento mais participativo. Isso significa a necessidade de uma flexibilização organizacional na forma de gestão. Porém, para que o modelo de gestão por processos se adeque totalmente às características pós-fordistas, é primordial que se alcance a valorização do trabalho como cidadão. (TENÓRIO, 2002a, p.163) Dessa forma, a flexibilização organizacional exige uma racionalidade comunicativa que promova o diálogo entre os agentes sociais do processo, ao invés da prática, predominante no fordismo, de agir instrumental. 75 Analisando-se a gestão por processos observa-se que essa forma de gestão se propõe a transformar o processo produtivo realizado de forma estanque, baseado no modelo tylorista-fordista, em um processo mais interligado e homogêneo socialmente. Essa transformação se dá através da circulação da informação, do privilégio ao trabalho em grupo e da delegação de autoridade para resolução de problemas. 3.4.3- Vantagens e empecilhos à implantação de gestão por processos Foram poucos os que se dedicaram a estudar os fatores críticos ao sucesso da implantação de gestão por processos. Buscou-se então fazer uma analogia com estudos de avaliação da implantação de Enterprise Resource Planning. NAH et al. (2000) buscaram analisar dez artigos (com data de publicação variando de 1992 ao ano 2000) que respondiam à pergunta: “Quais são os fatores-chave mais críticos para uma implementação de ERP de sucesso?”. Os principais fatores levantados se encontram a seguir: • Composição do time de trabalho; • Programa de gestão da mudança e cultura; • Apoio da alta direção; • Visão e plano de negócio; • Reengenharia de processos de negócio e customização; • Gestão de projetos; • Monitoração e avaliação de desempenho; • Comunicação efetiva; • Desenvolvimento de software, teste e resolução de problemas; • Defensor do projeto; • Sistemas legados apropriados. 76 A composição do time de trabalho, balanceando a parceria entre o vendedor da solução, consultores de projeto e os próprios membros da organização, segundo NAH et al. (2000) é o fator-chave principal para garantir o sucesso da implementação de um ERP. Uma boa coordenação e comunicação entre esses atores do processo se tornam fundamentais. Analogamente, como processos permeiam todas as áreas e departamentos de uma organização, faz-se necessário contar com representantes de todas estas áreas no time de implementação. Esta combinação aumenta a confiança do time de trabalho. Outro fator importante que deve ser levado em consideração é realizar um programa de Gestão da Mudança e cultura. Organizações com culturas voltadas para o compartilhamento de valores e objetivos e que são mais receptivas à mudança (principalmente aquelas organizações com cultura mais voltada para a inovação) têm mais chance de obter sucesso na implementação. Ainda, o treinamento dos usuários, educação contínua e suporte devem estar disponíveis e serem encorajados. Agentes de mudança devem ter papel estratégico na implantação, de forma a facilitar o processo de mudança e a comunicação, além de alinhar a cultura corporativa. 3.5- REPRESENTAÇÃO SOCIAL Esse tópico tem por objetivo definir representação social, para ajudar a conclusão desse trabalho. A análise dos processos psicossociais subjacentes à estereotipia remete necessariamente a fenômenos de categorização, os quais podem também ser objeto de análise enquanto elementos de representação social, até porque é possível conceber a representação como uma manifestação do processo de categorização. (BAPTISTA, 1996) Na verdade, uma abordagem às funções, estrutura e modos de formação dos estereótipos conduz-nos a algumas das mais importantes temáticas estudadas pela Psicologia Social, tais como a teoria da atribuição causal, a teoria implícita da personalidade, a formação de impressões, a identidade social, as relações entre grupos, a discriminação social, etc.,noções 77 estas que podem, num nível de abordagem mais integrativa e geral, ser compreendidas à luz dos princípios e da teoria das representações sociais. (BAPTISTA, 1996) Para Tajfel (...) a representação social é mais do que o estereótipo, mas este constitui uma parte importante da representação social (BAPTISTA, 1996, p.22). Afirma Vala (1986, p.7) que, para além das atitudes, a psicologia social cognitiva, ao estudar a identidade, os estereótipos, as teorias implícitas da personalidade e a atribuição causal, tem abordado de forma desligada fenômenos que o conceito de representação social engloba e cuja articulação permite. A teoria das representações sociais é, segundo Codol, (...) uma elaboração teórica de grande amplitude - ao inverso de quase todas as teorias da psicologia social, que podem ser qualificadas de locais, pelo fato de o seu domínio de explicação e o seu ponto de aplicação serem frequentemente bastante limitados (CODOL, 1993, p.483). O conceito de representação social foi proposto por Moscovici na década de 60 e refere-se a um conjunto de conceitos, proposições e explicações criados na vida quotidiana no decurso da comunicação interindividual. (MOSCOVICI, 1981, p.181) Demarcando-se do paradigma comportamentalista, Moscovici propõe a superação dos modelos que consideram as representações como meras variáveis mediadoras entre o estímulo e a resposta para as considerar como variáveis independentes, que estão na origem não só das respostas comportamentais mas também da forma como são percebidos os estímulos. (MOSCOVICI, 1984, p.62) Moscovici, que começou por analisar em França as representações de determinados grupos sociais relativamente à teoria psicanalítica, acaba por concluir que as representações sociais não se alimentam apenas das teorias científicas, mas também (...) dos grandes eixos culturais, das ideologias formalizadas, das experiências e das comunicações quotidianas. 78 Assim, as representações sociais não são a mera reprodução mental da realidade exterior ao sujeito (cognição social) , mas elas passam a impregnar a realidade adquirindo foros de consistência ontológica, orientando as cognições e comportamentos dos indivíduos. As representações são sociais, não pela sua extensão, mas porque emergem num dado contexto social; porque são elaboradas a partir de quadros de apreensão que fornecem os valores, as ideologias e os sistemas de categorização social partilhados pelos diferentes grupos sociais; porque se constituem e circulam através da comunicação social; e porque refletem as relações sociais ao mesmo tempo que contribuem para a sua produção (BAPTISTA, 1996, p.20). 3.5.1- Representação social e estereotipia Na verdade, uma vez constituída, a representação leva os indivíduos a criar uma realidade que valide as previsões e explicações implicitamente contidas nessas representações. Uma das características da estereotipia é precisamente a procura invariável da sua confirmação empírica, enviesando sistematicamente a realidade sobre a qual elabora o estereótipo, entendendo a realidade que a infirme como uma mistificação. (BAPTISTA, 1996) A constituir o conceito de representação social encontram-se ainda dois critérios: o quantitativo e o genético. Na verdade, toda a representação social é partilhada por um conjunto de indivíduos e é coletivamente produzida, como resultado da atividade cognitiva e simbólica de um grupo social. Ora, tal é também o caso do estereótipo, que constitui um conjunto de crenças, teorias e visões de um ou vários grupos sociais sobre o seu objeto de estereotipia. Do ponto de vista genético, os estereótipos surgem como representações partilhadas que refletem e têm origem em projetos, problemas e estratégias dos grupos sociais. (BAPTISTA, 1996) Tal como as representações sociais, os estereótipos têm como função formar e orientar, tanto a comunicação como os comportamentos. As representações sociais, quando surgem sob a forma de estereótipos sociais, são teorias sociais práticas, um saber prático, organizadores das relações simbólicas entre os actores sociais. 79 Assim, o estereótipo refere-se a percepções socialmente partilhadas de sujeitos pertencentes a grupos diferentes, as quais adquirem um caráter de rigidez e alto grau de generalização. Têm um ponto de aplicação normalmente estrito, uma forte componente afetiva e encontram-se com freqüência na base de atitudes de discriminação social. Já as representações sociais podem incluir todos estes elementos (inclusivamente a estereotipia social), mas, no caso de não incluírem claras categorizações de grupos sociais, podem não remeter para qualquer tipo de estereotipia social, não implicando, por isso, fenômenos de discriminação social (MOSCOVICI, 1984). Na realidade, têm sido múltiplas as investigações realizadas no âmbito das representações sociais (abordando temas como a doença mental, a violência, a justiça, o grupo e a amizade, o trabalho, o desemprego, os sistemas tecnológicos, os sistemas econômicos, etc.), que não remetem necessariamente para a estereotipia, até porque os objetos das representações sociais podem incluir grupos sociais, mas ultrapassam-nos para se referirem a uma enorme diversidade de objetos do pensamento social. Refira-se, no entanto, que a fluidez do conceito de representação social (característica que será eventualmente responsável pelo poder heurístico desta área de investigação), (Moscovici, 1984) permite incluir conceitos de médio alcance como por exemplo, atribuição, crença, atitude, esquema, opinião, etc. e, acrescentamos, estereótipo social, até porque se trata de um tipo específico de esquema ou atitude, fundado freqüentemente em crenças, origem de opiniões e atribuições, relativamente a determinados grupos sociais e que encontra a sua gênese em processos de categorização. Uma vez que os estereótipos se formam freqüentemente a partir de uma mistura distorcida de impressões inadequadas sobre os outros, percepções incompletas ou defeituosas, grandes generalizações que ignoram diferenças internas, importa compreender que processos sociocognitivos se encontram implicados na produção da estereotipia enquanto representação social. 80 3.5.2- Processos sociocognitivos das representações sociais De acordo com a teoria das representações sociais, são dois os principais processos responsáveis pela formulação deste tipo de pensamento social: a objetivação e a ancoragem. (Moscovici, 1984) No primeiro caso, a objetivação consiste no processo de formação de um todo coerente através da seleção e da descontextualização do objeto, seguindo-se um momento de esquematização estruturante que tem como objetivo constituir um esquema ou nó figurativo que permita organizar num padrão de relações estruturadas os principais elementos do objeto de representação. O processo de objetivação conclui-se com a naturalização dos padrões relacionais que passam a ser vistos, não apenas como reais e materialmente verdadeiros, mas também como categorias naturais, descritivas e portanto também explicativas e normativas, fazendo assim equivaler o conceito à realidade. Já no que respeita à ancoragem, que pode preceder ou seguir o processo de objetivação, ela pode servir, no primeiro caso para integrar as novas informações em categorias que o sujeito já possui, fruto de experiências anteriores, ou na segunda hipótese, atribuir sentido a acontecimentos, comportamentos, pessoas, grupos ou fatos sociais que assim exprimem e constituem as relações sociais. (Moscovici, 1984, p.318) A formação dos estereótipos sociais pode igualmente ser compreendida através dos processos descritos, se pensar tratar-se de representações sociais e atitudes rígidas, convencionais e categóricas com uma forte componente afetiva, tendendo a refletir as posições relativas num sistema generalizado de estratificação. Vejam-se os estudos realizados na área da estereotipia sexual, os quais permitem inferir a existência de processos de seleção e descontextualização, esquematização estruturada e naturalização, bem como de ancoragem, na forma como homens e mulheres se percebem e descrevem. 81 Por outro lado, poder-se-ia ser levado a pensar que o estereótipo seria apenas um tipo de esquema provocado por um enviesamento de informação incorretamente processada. Ora uma das características dos estereótipos enquanto produtos de interação social é, precisamente, a sua irracionalidade e em grande medida invulnerabilidade mesmo face à evidência de informação disponível correta. Esta característica de rigidez própria do estereótipo, não implica que ele comporte necessariamente uma percepção falsa da realidade. O que se pretende aqui sublinhar é que, quer se trate de categorizações apenas exageradas e simplificadoras da realidade, quer elas sejam errôneas e completamente falsas, os estereótipos adquirem um enorme grau de estabilidade no tempo e um alto nível de convencionalidade social, que os torna dificilmente alteráveis, mesmo quando os atores sociais que os detêm dispõem de ulteriores informações que invalidam o seu conteúdo. Assim, a irracionalidade do estereótipo não advém em primeiro lugar do seu conteúdo (que pode até não remeter para informações falsas, mas apenas deficientemente processadas), mas do seu caráter rígido e inflexível, mesmo face a eventuais evidências racionais que o contradigam. (BAPTISTA, 1996) Provas empíricas que confirmam que os estereótipos se podem manter inalteráveis durante décadas, apesar de múltiplas campanhas de sensibilização e informação e de evidentes alterações sociais, encontram-se na literatura relativa à estereotipia sexual e racial. Parece, portanto, legítimo concluir que a noção de estereotipia pode ser vista tanto à luz da noção de esquema, como sob a perspectiva da teoria das representações sociais. A diferença reside no fato de que, enquanto o conceito de esquema vê o conhecimento mais como resultado de um processamento de informação, onde interagem dados e teorias, o conceito de representação social acentua as dimensões do conhecimento que relevam da aplicação das teorias, esquecendo como e de que forma essas teorias são ativadas pelos dados. 3.5.3- Estereótipo, teoria da atribuição e representações sociais 82 A utilização do conceito de representação social é igualmente de assinalável valor heurístico para a compreensão do estereótipo, se tiver em conta o alcance social que a teoria da atribuição causal passa a possuir neste contexto teórico. Investigações realizadas no âmbito da teoria da atribuição causal, ao procurar esclarecer o processo de julgar as intenções e disposição dos indivíduos a partir das suas ações, detectaram a existência do que se pode designar o erro fundamental na atribuição. Tal erro consiste na freqüente tendência que os indivíduos apresentam em atribuir a causas internas a explicação dos seus próprios comportamentos e, sobretudo, dos comportamentos dos outros (disposições, traços de personalidade, atributos pessoais, etc.). Mesmo quando esta norma de internalidade não se verifica, os indivíduos que a preferem utilizar são socialmente mais valorizados do que aqueles que utilizam explicações externas ou de índole situacional. Esta tendência à psicologização para que a norma da internalidade aponta quando de processos inferenciais, permite melhor compreender o caráter rígido dos estereótipos, pois que estes remetem para traços, disposições de personalidade e atributos pessoais dos elementos do grupo estereotipado que são vistos como intrínsecos e internos aos indivíduos e não produto de contextos ou situações específicas. Efetivamente, se a estereotipia pudesse contemplar a explicação de fenômenos através da sua natureza socioestrutural, ela perderia grande parte da rigidez e conotação negativa e muita da sua eficácia enquanto base da discriminação social. Assim, e partindo do princípio que a categorização é ela própria socialmente regulada tem sido considerado que, no que respeita à função e produção dos estereótipos sociais, estes podem ser analisados como teorias implícitas da personalidade partilhadas pelos membros de um grupo social sobre outros grupos e sobre o seu próprio grupo. Por outro lado, para compreender o estereótipo enquanto modalidade de representação social será necessário ultrapassar este nível geral de análise que nos remete para metarepresentações sobre o conceito de homem, e ter em conta o conteúdo específico do 83 objeto concreto do estereótipo face ao qual se procuram produzir explicações causais. Só na articulação destes dois níveis (meta-representação da idéia de homem e representação específica do sujeito pertencente ao grupo estereotipado), será possível compreender a eficácia prática da estereotipia fundada em formas de explicação e argumentação do senso comum. 3.5.4- Multifuncionalidade das representações sociais e funcionalidade dos estereótipos Para entender a funcionalidade do estereótipo é necessário ainda entender a multifuncionalidade das representações sociais. De fato, estas apresentam funções de organização significante do real, explicando-o, função de comunicação, funções comportamentais e ainda de diferenciação social. Do ponto de vista da organização do real o estereótipo social é uma forma de categorização da realidade que possui uma forte coloração avaliativa e afetiva, freqüentemente negativa, mas que também pode surgir com conteúdo positivo. Quer enquanto negativos, quer enquanto positivos, os estereótipos têm como função reduzir a incerteza e organizar a realidade envolvente, tornando-se eles mesmos elementos reais constituintes desse mesmo meio, enquanto tendentes a produzir efeitos sociais auto-fundamentadores e reforçantes. Assim, enquanto elementos de comunicação os estereótipos são econômicos pois permitem processar rapidamente a informação social e, tal como qualquer outra representação social, transformar as avaliações em descrições e as descrições em explicações. (Moscovici, 1984) O estereótipo pode mesmo definir-se como uma espécie de esquema perceptivo associado a certas categorias de pessoas ou objetos, cristalizados em torno de uma palavra que os designa, intervindo automaticamente a representação e caracterização dos espécimes dessas categorias. (BAPTISTA, 1996) Desta forma, a própria linguagem sinaliza e transporta os estereótipos, influenciando decisivamente os processos de comunicação entre indivíduos e entre grupos. 84 2.4.4- Estereótipos, representações sociais e comportamento Do ponto de vista comportamental, a relação entre estereótipos e comportamento discriminatório nem sempre é automática, tal como tem vindo a sublinhar a investigação que diz genericamente respeito à relação entre atitudes e comportamentos, como aquela que mais especificamente se relaciona com a área da estereotipia. No entanto, se utilizar a distinção entre componentes situacionais (que são sobretudo produto de fatores situacionais com pouco impacto nas mediações cognitivo-avaliativas) e componentes representacionais (em cujo âmbito a relação entre aqueles elementos é inversa), poder-se-á afirmar que, nestes últimos, são fatores decisivos para a ação tanto as representações como as atitudes e/ou estereótipos sociais. Poder-se-ia ainda dizer com Codol que, a questão não é talvez tanto a de saber se o juízo social e o comportamento estão ligados, mas de saber se por um lado os juízos sociais, e por outro os comportamentos, podem ser interpretados como manifestação de uma mesma estrutura cognitiva subjacente. (CODOL, 1989,p.487) 3.5.6- Estereótipos, representações sociais e diferenciação social É no que respeita à função de diferenciação social das representações sociais que mais nitidamente se compreende o estereótipo enquanto modo de representação social, com uma dinâmica específica e significativa na vida social. De fato os estereótipos, que se situam ao nível avaliativo das relações intergrupais, formam-se a partir das relações comportamentais entre os grupos e têm fortes repercussões ao nível das representações mútuas. (BAPTISTA, 1996) As experiências já clássicas demonstraram que imagens estereotipadas reforçam e têm origem nos comportamentos hostis entre grupos, produzindo juízos e avaliações que favorecem o grupo dominante em detrimento de outro grupo. Tais conflitos resultam não 85 das características dos seus membros ou da organização interna dos grupos, mas da necessidade de criar uma identidade social (por referência ao grupo dominante) e correlativamente a diferenciação intergrupos. Tal processo começa por ser de categorização e diferenciação social e leva ao engendrar de representações sociais dos outros freqüentemente estereotipadas, sobretudo se os grupos se encontram em situações de competição. (BAPTISTA, 1996) Assim, a evolução do conflito entre os grupos é acompanhada por uma evolução nas imagens que cada grupo desenvolve de si próprio e do outro. Tais imagens desempenham três tipos de funções cognitivas: • Função seletiva que consiste numa percepção diferenciada dos elementos caracterizadores do outro grupo, avaliando esses elementos de forma negativa e de entre esses selecionando aqueles que são relevantes no contexto da relação intergrupal; • Função justificativa, revelando os conteúdos das representações, imagens estereotipadas que legitimam os comportamentos de hostilidade e discriminação social; • Função antecipatória que orienta o desenvolvimento das relações entre os grupos e que permite “prever” o comportamento do(s) grupo(s) e assim orientar a sua própria ação. 86 3- MODELO DE ADMINISTRAÇÃO NA CMB E ABNC A estrutura organizacional da Casa da Moeda do Brasil, inclusive do Departamento de Gráfica Geral, e na American Bank Note Company tem visível correlação com as funções gerenciais de Fayol. Nesse capítulo será feita uma análise dessas estruturas organizacionais e das tarefas executadas no chão de fábrica comparando-as com o sistema de administração científica de Taylor e com os princípios de Ford. 4.1- ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Nesse tópico será feita uma analogia entre as funções gerenciais de Fayol e as estruturas organizacionais do DEGER-CMB e da ABNC, tomando como referência os pontos mais importantes dessa teoria. 4.1.1- Ênfase na estrutura e na divisão por funções Segundo Fayol (1968), a empresa deve ser dividida em quantos níveis forem necessários para se obter o máximo proveito do indivíduo e da coletividade. Quanto mais complexa a organização, maior é a relação entre a função e o órgão responsável. À medida que a organização aumenta, aparecem novos órgãos destinados a substituir o órgão único, encarregado de um conjunto de funções. 4.1.2- Estruturas organizacionais da CMB (DEGER) e da ABNC Em 1986 a Casa da Moeda do Brasil assumiu sua estrutura organizacional atual, dividida funcionalmente em três diretorias abaixo da Presidência: Diretoria Administrativa, Diretoria de Produção e Diretoria Técnica. 87 Figura 2 – Estrutura organizacional da CMB PRESI – Presidência DIRAD – Diretoria Administrativa DESUP - Departamento de Suprimentos DECOM – Departamento Comercial DESEG – Departamento de Segurança DESIN – Departamento de Sistemas de Informática DEGRH – Departamento de Gestão de Recursos Humanos DEFIN – Departamento Financeiro DIPRO – Diretoria de Produção DEMOM – Departamento de Moedas e Medalhas DEMAT – Departamento de Matrizes DEGER –Departamento de Gráfica Geral DECED – Departamento de Cédulas DEMAN – Departamento de Manutenção 88 DITEC – Diretoria Técnica DEPGQ – Departamento de Gestão da Qualidade DETEC – Departamento Técnico Estrutura organizacional DEGER DEGER NAT DEGER DVCG NAA DEGER DVIM DVAO DVFC SEPG SEOF SEAT SEGC SEGR SECI SEAO SEBC SEPI SERO Figura 3 – Estrutura organizacional do DEGER DEGER – Departamento de gráfica geral NAT DEGER – Núcleo de apoio técnico – DEGER NAA DEGER – Núcleo de apoio administrativo DVCG – Divisão de atendimento ao cliente SEPG- Seção de planejamento, programação e controle da produção SEGR- Seção de atendimento ao cliente SEPI- Seção de planejamento, programação e controle de insumos DVIM – Divisão de impressão SEOF – Seção de offset SECI- Seção de calcografia SERO- Seção de rotogravura DVAO- Divisão de acabamento 89 SEAT- Seção de acabamento e tipografia SEAO – Seção de acabamento DVFC – Divisão de fabricação de cartões SEGC – Seção de galvanoplastia para cartões SEBC – Seção de acabamento de cartões A ABNC apresenta estrutura organizacional similar, baseada nas funções de cada departamento. 90 PRESIDÊN CIA VICE-PRES ADMIN FIN VICE-PRES CARTÕES GERENTE RH VICE-PRES GRÁFICA GERENTE BUREAU CHEFE DE RH GERENTE FINANC. COORDE NADOR RH GERENTE CONTÁBIL GERENTE DE TI GER SEGU RANÇA E SERVIÇOS CHEFE CONTABILI DADE COORDE NADOR TI CHEFE SEGURAN ÇA GERENTE SOROCAB A CHEFE IMPRES ELETRON GERENTE VENDAS GERENTE COMERCIA L GER IMPRES ELETRÔN CHEFE CNH SUL CHEFE ACABAMEN TO CHEFE CNH CHEFE BUREAUX CHEFE CNH SP CHEFE COMPRAS CHEFE PROD INDUTIVOS GERENTE BARUERI CHEFE PRODUÇÃ O CHEFE PREIMPRESS CHEFE PROD II GESTOR LOGISTICA CHEFE PREIMPRESS GESTOR LOGISTICA CHEFE LINHA QUIMICA SUPERVIS OR VENDAS CHEFE PRE-PAGO CHEFE COMPRAS CHEFE PROD INDUTIVOS CHEFE PCP CHEFE SISTEMAS CHEFE IMPRES ELETRON CHEFE IMPRES ELETRON II CHEFE IMPRES ELETRO III Figura 4 - Estrutura organizacional da ABNC 91 CHEFE OBRAS CHEFE ADM INDUSTR CHEFE PROD PLASTICOS GERENTE CAJU GERENTE CNH GERENTE CAJU GERENTE VENDAS GERENTE MKT, VEN E INTAGLIO CHEFE PRODUÇÃ O 4.1.3- Divisão do trabalho Analisando-se as estruturas organizacionais de ambas as empresas observa-se que, a divisão de tarefas é clara: as tarefas de execução encontram-se nos níveis mais baixos da estrutura (braços do organograma) enquanto os papéis de órgãos normativos e de planejamento encontram-se no topo, o que condiz com o modelo de gestão funcional. 4.1.4- Observância aos princípios da administração Dentre as definições adotadas por Fayol(1968), os princípios mais relacionadas à estrutura funcional são: os princípios da divisão do trabalho, hierarquia (e conseqüentemente autoridade) e responsabilidade são claramente observados entre os órgãos de ambas as empresas. A estabilidade da força de trabalho é fundamental, face o tempo de treinamento dispendido necessário para que um operador esteja apto a desempenhar sua função. A estabilidade se mostrará, portanto, mais essencial ainda à empresa que tentar adotar gestão por processos. O bom relacionamento entre a força de trabalho é essencial para a harmonização das atividades. Esse fator é importante passo para a formação de trabalhadores multifuncionais, preparados para a intercambialidade necessária à gestão por processos. 4.2- ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA Nesse tópico serão analisadas as estruturas organizacionais da CMB e da ABNC, correlacionando-as às funções gerenciais de Fayol, fazendo analogia com o sistema de Administração Científica da Taylor e com os princípios de Ford. 4.2.1- Conceitos básicos 92 Será feita uma analogia entre as tarefas executadas nas gráficas da CMB e da ABNC e o sistema de administração científica de Taylor, e os princípios de Ford, tomando por base os pontos mais importantes dessas teorias. Ambas operações compreendem cinco conceitos básicos: • Coordenação: organização e definição das ações de supervisão, controle e comando da operação. Essa tarefa é de atribuição dos chefes de departamento e departamentos administrativos; • Supervisão: observação das condições atuais e acompanhamento das ações de controle, comando e execução das operações. É tarefa dos chefes de divisão; • Controle: monitoração das grandezas ou do estado de equipamentos e adoção de medidas através de comandos. Tarefa dos chefes de divisão e de seção; • Comando: ordem para execução das operações. Realizada pelo chefes de seção; • Execução: realização de acionamentos locais. Essa tarefa é realizada pelo nível operacional. Essas tarefas fazem analogia imediata com as definições dadas por Fayol para as atribuições de coordenar, controlar e comandar. Esses conceitos também estão presentes nos princípios defendidos por Taylor. Para Taylor, o objetivo primordial de uma empresa deve ser a formação e aperfeiçoamento de sua força de trabalho de modo que as tarefas sejam efetuadas de forma mais eficiente, com produtividade mais elevada. Além dos treinamentos que a força de trabalho necessita fazer ao ingressar num emprego em uma gráfica, é papel dos departamentos de controle da qualidade oferecer constantemente cursos de aperfeiçoamento. Conforme aumenta a freqüência desses aperfeiçoamentos, mais especializada e multifuncional a força de trabalho vai se tornando. 93 4.2.2- A idéia de tarefas A tarefa para Taylor é o elemento mais importante da administração científica, pois especifica o que, como e em quanto tempo se fazer. A idéia de tarefa está intrinsicamente ligada ao papel desempenhado por cada operador. Eles são divididos, dentro de suas seções, de acordo com tarefas pré-determinadas, e executam sempre a mesma tarefa, repetitivamente. Na CMB, eventualmente há troca de funcionários entre departamentos, devido a oscilações na demanda. No entanto, a mudança é feita para outra tarefa tópica. Tanto na CMB, como na ABNC, todas as tarefas são detalhadas a partir de instruções de trabalho (CMB) e normas e instruções de operação (ABNC), cuidadosamente elaboradas com todos os detalhes da operação, engessando dessa forma o processo. Entre outros fatores, as normas contemplam o tempo estimado de cada tarefa. 4.2.3- Observância aos mecanismos do sistema Há mecanismos de supervisão e controle que fazem parte das proposições sobre instrumentos e materiais padronizados de Taylor. Esses mecanismos, baseados em sistemas são computacionais, são padronizados em termos funcionais e de interface com os operadores, gerando informações através de indicadores e relatórios. Na CMB há um ERP da Microsiga e da ABNC um software da MXM. Além disso, ainda existe na CMB e na ABNC uma série de controles, ainda em formato de formulários físicos, para mensuração de perdas, horas improdutivas, manutenção, setup de máquina, entre outros, afim de, seguindo os princípios de Ford, diminuir o tempo de produção e aumentar a produtividade por meio da especialização e da linha de montagem. 4.2.4- Cooperação entre direção e trabalhadores Taylor preconizava a divisão eqüitativa do trabalho e das responsabilidades entre operários e gerência. Uma forma de estimular a cooperação é dar à força de trabalho a liberdade de 94 interagir com o corpo gerencial, estimulando sugestões e troca de idéias. Ambas as empresas alegam estimular essa cooperação, porém mantém claramente os níveis hierárquicos em seus relacionamentos, mostrando que a idéia de “superioridade” do cargo ainda prevalece. 4.3- CONCLUSÃO Conclui-se que tanto a CMB quanto a ABNC são empresas organizadas em níveis hierárquicos, estruturadas de forma piramidal e baseada em divisão por funções. Há hierarquia funcional entre a gerência e a força de trabalho, bem definida. Em suas estruturas fica explícita a divisão entre os órgãos responsáveis por pensar e planejar daqueles que executam. Os princípios de administração estão claramente presentes nas estruturas organizacionais. Há também a idéia de tarefa, de Taylor, implantada e presente em todos os órgãos e dedica-se atenção ao treinamento e aprofundamento do conhecimento técnico específico. Os órgãos possuem normas e instruções de operação, formando o instrumental de trabalho a ser utilizado pelas equipes de trabalho, e a informação é controlada por sistemas computacionais. Pode-se concluir, portanto, que as funções gerenciais da teoria da administração de Fayol, os conceitos da administração científica de Taylor e os princípios de Ford, aplicam-se tanto na CMB como na ABNC. As exigências da economia globalizada, das mudanças tecnológicas e da conscientização por parte da sociedade de seus direitos faz-se entender necessária a adoção e um novo sistema de gestão, que será apresentado no próximo capítulo. 95 SISTEMA DE GESTÃO POR PROCESSOS 4- Nesse capítulo será apresentado o sistema de gestão através do qual pretende-se comparar as diferenças de aderência em empresas públicas e privadas: o sistema de gestão por processos. Serão descritos o processo de implantação desse sistema, os obstáculos encontrados e o que cada tipo de empresa oferece de facilidade à implantação desse sistema de gestão. 5.1- O MODELO DE GESTÃO POR PROCESSOS Na Casa da Moeda do Brasil, a hipótese de mudança para gestão por processos surgiu no final de 2004, dado o ambiente de mercado em que o departamento de gráfica geral estava inserido e suas metas de conquista de novos clientes e aumento da concorrência. Isso se deveu a então administração da CMB entender que o DEGER seria uma grande fonte de expansão de receitas desta empresa, contrariamente aos outros dois departamentos produtivos, diretamente ligados ao monopsônio do BACEN. Para tanto, seria necessário mudar não somente o modelo de gestão, mas a mentalidade da CMB, em busca de priorizar suas metas de produção. A American Bank Note Company alega não ter interesse em mudar seu modelo de gestão, funcional, para um modelo de gestão por processos, por acreditar que está bem adaptada às condições atuais de mercado. No entanto, a divisão de sua gestão da produção por unidades de negócio leva a crer que, mesmo inconscientemente, ela já esteja migrando para um modelo mais flexível. Segundo a análise de Porter (1997), a base da formulação estratégica está em como se comportar frente à concorrência. A concorrência, em um setor, é caracterizada por cinco forças básicas, relacionadas abaixo: • Ameaça de novos participantes; • Poder de negociação dos fornecedores; 96 • Poder de negociação dos compradores; • Ameaça de substitutos; • Intensidade da rivalidade com os concorrentes no setor. O mercado de gráfica de segurança no Rio de Janeiro/ Brasil não se defronta com muitos entrantes em potencial, estando dividido principalmente entre a Casa da Moeda do Brasil, a American Bank Note, Interprint e Thomas, Greg and Sons, sendo os dois primeiros os mais expressivos nesse mercado. Até hoje o faturamento da Gráfica Geral (CMB) tem sido de pouca expressão se comparado aos Departamentos de Cédulas e Moedas e Medalhas por aceitar encomendas de pequena tiragem para suprir o mercado estatal. Alguns produtos, além de muitas vezes não trazerem lucro – e algumas vezes, prejuízo – relacionado à sua produção, dada a urgência de seus pedidos acabam por vezes a obrigar a parada das linhas de produção para sua fabricação. O Departamento de Gráfica Geral possuía certificação na linha de cartões indutivos (telefônicos) baseada na norma NBR ISO 9002, versão 1994, porém esse certificado perdeu a validade quando a linha interrompeu suas atividades. O DEGER busca, assim como toda a CMB, a certificação ISO9001:2000, por determinação e capitaneamento do Departamento de Qualidade (DEPGQ), para possibilitar o estudo dos processos. Para tanto, será necessário que futuramente o corpo gerencial realize novos treinamentos na área de qualidade, gestão de recursos humanos e de administração e planejamento estratégico, para desenvolver novos conhecimentos e habilidades que se mostravam necessários para o contexto da época. A ABNC, por sua vez, já encontra-se certificada pelas normas ISO em todos os seus departamentos. 5.1.1- Premissas e etapas de implantação Para que a implantação de gestão por processos tenha sucesso, é necessário que se assumam uma série de premissas: • Motivação da força de trabalho a atuar de forma participativa e compromissada; 97 • Identificar pontos de sinergia entre a equipe, estimulando a criatividade e o senso de responsabilidade; • Obter o comprometimento da força de trabalho com o sistema de gestão a ser implantado através de confiança entre corpo gerencial e força de trabalho; • Formação de equipes compostas por pessoas com competências e experiências diversificadas, com visões diferentes; • Aumentar o grau de interrelacionamento entre os membros da equipe do processo. Foram destacadas as seguintes etapas necessárias à implantação do novo sistema de gestão: • Analisar, através do modelo de Porter se os departamentos possuem visão, missão e objetivos estratégicos e política da qualidade; • Ter as funções bem definidas, com sua identificação, classificação e descrição; • Definir o sistema de processos e seus conceitos e modelos, bem como sua documentação; • Definir papéis e responsabilidades para as funções e para o sistema de processos de negócios, considerando a estrutura organizacional matricial em cada uma das empresas; • Treinamento para a força de trabalho e para o corpo gerencial; • Definição do processo de avaliação e melhoria contínua de cada sistema e da forma permanente de documentação e divulgação dos resultados. 5.1.2- Sistema de funções Para conseguir cumprir as estratégias e políticas definidas pela direção das empresas de forma harmônica e sustentada, é necessário se determinar o planejamento, a organização, a coordenação e a monitoração dos recursos. As atividades de cada função serão definidas pelo corpo gerencial de cada departamento, levando em consideração sua missão, sua visão e valores. Será necessário separar as funções em macro funções: gerenciais e técnicas. As funções de responsabilidade do corpo gerencial estão relacionadas à gestão dos recursos humanos, financeiros e materiais, em conformidade com as atribuições de cada 98 departamento, permitindo o desenvolvimento de atividades relacionadas aos processos e às funções técnicas. Já as funções técnicas estão relacionadas à gestão e assuntos de caráter técnico, que são demandados pelo ambiente externo e podem impactar no desenvolvimento das atividades dos processos. Esses assuntos técnicos estão associados ao fornecimento de informações e aos procedimentos operacionais, podendo ser solicitados por clientes, fornecedores, órgãos superiores e outros da empresa. O próximo tópico apresentará como deve ser o sistema de processos do negócio, enfatizando a descrição dos conceitos básicos e do modelo do processo, sua identificação, classificação, descrição e documentação dos processos que comporão o sistema de gestão. 5.1.3- Sistema de processos Primeiro de tudo, é necessário que o corpo gerencial tenha um embasamento teórico sobre o que é o sistema de gestão do trabalho e da produção baseada em processos. Esse sistema deve ser baseado em processos e nos conceitos de qualidade da norma ISO. Em organizações de estrutura vertical, existe a propensão de cada órgão se aprofundar no gerenciamento de seus problemas, estabelecendo metas e objetivos próprios, priorizando seu desempenho individual, que acabam perdendo o foco da visão global do negócio da empresa, não se importando com o resultado final. Isso se deve à falta de embasamento teórico e de experiência para entender o real significado de processos. Para mudar essa conjuntura é necessário que se façam uma série de treinamentos para o corpo gerencial das empresas, para que seja possível se modelar os processos e definir a terminologia a ser adotada. Gestão por processos é um método de gestão empresarial que pretende incorporar de forma consciente e intencional as vantagens trazidas pela tecnologia da informação. Pretende assim romper com que está estabelecido na administração do trabalho e que é fruto das 99 experiências da revolução industrial. A linha de produção fabril, desde Smith até hoje, se baseia em uma forma de organização do trabalho que supõe a especialização no uso de determinadas máquinas / conhecimentos de forma sequenciada, ou seja, é necessário que uma dada tarefa especializada se realize para que outra lhe dê continuidade, até o produto final. A partir de um plano racional de "construção" de um dado produto, o mesmo é seccionado em partes, que são atribuídas a diferentes especialistas, cabendo à hierarquia, a integração das partes. Note-se que esta forma depende da "certeza", ou seja, tem que se saber com exatidão como é o produto e todas as suas possibilidades de ocorrência, de forma que todos os gestos de sua construção estejam previstos, e possam então ser desmembrados e posteriormente agregados no produto. Na identificação e seleção de processos são necessários ser coletados dois tipos de informação: informações sobre o desempenho e estrutura dos processos candidatos, e informações sobre a disposição da organização de apoiar a redefinição desses processos. Até agora, as oportunidades para que a tecnologia da informação ajudasse nessa coleta estiveram ligadas à automação, como nas descrições gráficas dos fluxos de processos ou através da geração e processamento dos levantamentos organizacionais. (SIMON, 1981, p.235) Há inúmeras fontes que oferecem o conhecimento relevante de um tipo ou de outro. Serviços especializados de software e consultoria podem ser empregados para se obter a chave do conhecimento que proporcionam, um conhecimento baseado nos parâmetros da situação específica de uma empresa. (SIMON, 1981, p.236) Esses bancos de dados que são por vezes proprietários de uma estratégia específica ou de uma firma de consultoria de processos e se concentram mais na tecnologia da informação do que em outros habilitadores da mudança, oferecem duas vantagens: • Podem proporcionar dados originais que não encontram correspondência fácil nos processos de pesquisa manual/ entrevista; 100 • Proporcionam resultados substanciais rapidamente, permitindo que a equipe de reengenharia concentre seus recursos no preenchimento de lacunas e no aspecto criativo da capacitação pela tecnologia da informação – exame, avaliação, melhoria e aumento de resultados-chave nas sessões de brainstorming. 5.1.3.1- Terminologia e modelo de processo Segundi Giannini (2003), a definição para processo é: “um processo é um conjunto de atividades, logicamente interrelacionadas, que a partir de insumos (bens, serviços ou informações), utiliza-se de recursos (humanos, financeiros e materiais) e efetua transformações, com o objetivo de obter um produto (bens, serviços ou informações), o qual tem por finalidade atender às necessidades (requisitos, expectativas ou preferências) explícitas ou implícitas de clientes”. (p.16) Uma representação dessa definição é o modelo IDEF-0 (International definition), apresentado na figura 5 a seguir: Controles do processo Entradas (matéria-prima, insumos) PROCESSO A0 Recursos materiais e humanos Figura 5: IDEF-0 101 Saídas desejadas e indesejadas Essa representação de processos traz à tona todos os elementos considerados importantes para o negócio de uma empresa: os fornecedores, os insumos, as transformações, os produtos finais e os clientes. O negócio de uma empresa pode ser formado da interligação de todos esses processos. Antes da reengenharia os sistemas de informação existentes numa empresa eram fonte importante de informações sobre a capacidade e o desempenho. Se a empresa fez um investimento bem sucedido na tecnologia do sistema de informações executivas, a tecnologia da informação provavelmente estará desempenhando papéis ao mesmo tempo informais e de desintermediação – levando a informação diretamente à gerencia sênior sem a demora e possível distorção inerentes à sua transmissão inerentes à sua transmissão por subordinados. (SIMON, 1981, p.237) Os sistemas de informações executivas são valiosos, pois proporcionam à gerência um conhecimento contínuo do desempenho dos negócios e da sua dependência de fatores internos e de mercado. Uma vez iniciado o esforço formal em direção à reengenharia de processos, a principal atividade de criação de uma visão passa a ser as sessões de brainstorming entre os participantes mais indicados. Há várias tecnologias emergentes para facilitar esse tipo de interação grupal. (SIMON, 1981, p.238) Justifica-se, porém, uma outra advertência de nossa parte. A tecnologia deve ser introduzida judiciosamente no brainstorming. A tecnologia da informação pode servir como um processo valioso, ou uma ajuda de conteúdo nessas sessões, mas também pode funcionar, infelizmente, como um elemento de distração que dispensará os objetivos da sessão. O brainstorming funciona melhor quando as principais distrações são as novas idéias – e estas também precisam de regras para administrá-las. (SIMON, 1981, p.239) 102 Necessidades para a implantação do projeto: As equipes de reengenharia de processos devem ter o cuidado de estabelecer primeiro os parâmetros do novo processo e em seguida pensar nos sistemas auxiliares da implementação do projeto. Se os dois objetivos puderem ser realizados conjuntamente com uma única ferramenta, tanto melhor. De qualquer modo, o trabalho de projeto do processo deve proporcionar uma sólida base para o trabalho de projeto de sistemas formais. (SIMON, 1981, p.243) 5.1.3.2- Definição de processos e produtos Gerenciamento por processos é uma metodologia que avalia continuamente o desempenho dos processos chave do negócio com a visão do cliente. Há um amplo envolvimento de todos os integrantes da organização, levando a uma maior satisfação no trabalho, que por sua vez gera um produto que atende melhor às necessidades do cliente. Antes de se implantar gestão por processos, a empresa precisa ter definidos alguns pontos chave: • Definir seus macro-processos; • Enunciar os principais produtos dos processos associados aos macro-processos Para concluir a etapa de definição do sistema de negócios, será apresentada no próximo tópico a forma de documentação adotada para cada processo. 5.1.3.3- Documentação do sistema por processos Para sedimentar a nova forma de gestão será necessário formular um padrão de documentação a ser empregado em todos os processos do sistema que dissemine o conhecimento por todos os membros da força de trabalho, otimizando o treinamento de novos funcionários e atendendo os requisitos para manutenção da certificação pelas normas ISO. 103 Cada processo deverá ter um documento de aplicação geral, que valerá para todos os órgãos do departamento e um documento de aplicação local, específico para cada órgão. O documento de aplicação geral servirá para dar uma visão global do processo, sem se ater ao detalhamento das tarefas que compõem cada atividade. A metodologia de formação desse documento pode variar de empresa para empresa, mas uma sugestão de composição envolve: descrição do macro processo, fluxograma das atividades, matriz de agentes dos processos, representação por unidades de negócio e seleção de indicadores. A descrição do macro-processo relaciona as atividades de cada processo envolvido, seja ele crítico ou não. Ela pode indicar que relatórios serão elaborados, os registros a serem utilizados e as responsabilidades pelos mesmos. A ferramenta fluxograma de atividades mostra, através de um fluxograma, como as atividades fluem e se inter-relacionam, descrevendo cada atividade e identificando o responsável por cada processo. Abaixo, um exemplo de processo produtivo da CMB expresso em forma de fluxograma. 104 Processo de Produção de Selos Fiscais Monday, 3 de October de 2005 Selos de Bebida Alcoolica (Cinza; 4 estampas por folha Roland; 2 est/fl Giori; 2 est/fl Nebiolo. Cada estampa = 50 selos Tempos para 200.000 folhas = 40.000.000 selos Pedido SRF Comercial DEGER PCP Programação Há material disponível? MRP Não Cargamáquina Emissão de OP SEPI / Comercial Sim SEAL Armazém Setorial Contagem de folhas em branco Refile de papel fibra garantia 0:00min DEMAT : Chapas e delineamento do produto NAT 0:00min Impressão Offset 2 cores Contagem fls ofset Corte do papel ao meio Impressão Calcográfica 2 cores/2chapas Contagem manual Recontagem 0:00min 0:00min 0:00min 0:00min 0:00min 0:00min Contagem de recebimento de lotes Crítica de folhas impressas Numeração vareta Contagem de folhas Corte de estampas Crítica de estampas com numeração 0:00min 0:00min 0:00min 0:00min 0:00min 0:00min Contagem estampa impressa bebida Embalagem em maços termoencolhível 0:00min 0:00min Organização de lotes 0:00min Substituição de numeração 0:00min Embalagem em caixas 0:00min Montagem de caixas 0:00min Entrega ao cofre Page 1 Figura 6 – Fluxograma do processo produtivo de selos fiscais- CMB A matriz de agentes do processo indica, como o próprio nome diz, os agentes que atuam no processo: fornecedores e seus respectivos insumos, clientes e seus respectivos produtos. 105 A representação de atividades por unidades de negócio facilita a visualização do processo e todos os elementos envolvidos nele. Essa representação pode ser feita través de caixas IDEF-0. Finalmente, a seleção de indicadores define os indicadores específicos para cada processo, sendo que a análise da tendência desses indicadores serve como parâmetro para avaliação dos mesmos. Por sua vez, os indicadores de aplicação local detalham no nível de tarefas as atividades específicas inerentes a cada órgão de acordo com suas respectivas atribuições. Munidas de documentação geral e local, as empresas podem montar um manual para gestão por processos, incluindo normas e instruções de operação, procedimentos específicos de rotina e tarefas detalhadas. Com a definição da forma de documentação dos processos conclui-se a etapa de definição do sistema de processos do negócio. Para finalizar a implantação, basta planejar a etapa de operacionalização do novo sistema de gestão. 5.2- OPERACIONALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO NAS EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS Nesse tópico será avaliada a possibilidade de adoção de gestão por processos nas duas empresas estudadas: CMB (pública) e ABNC (privada). Para operacionalizar um novo sistema de gestão deve ser estabelecida uma forma de relacionamento entre os membros da organização, considerando a hierarquia e a estrutura organizacional da empresa, composta pelos processos de negócio. Esses relacionamentos obedecem ao organograma, assim a responsabilidade por cada função é do gerente de cada órgão. 106 A responsabilidade pelas funções técnicas podem ser delegadas pelos gerentes a qualquer membro da força de trabalho, que seja escolhido pelo corpo gerencial. O modelo de gestão adotado na Casa da Moeda do Brasil (DEGER) e na American Bank Note Company: As empresas optaram pela manutenção do modelo de estrutura matricial, porém, com ênfase na gestão por processos. Deveria ser preservada a interação entre funções e processos, para que se conseguisse utilizar eficientemente os recursos, delegar responsabilidades e eliminar atividades redundantes (comuns na empresa como um todo). (SIMON, 1981, p.99) Ambas têm organograma dividido por departamentos: (SIMON, 1981, p.45) “O problema genérico visado pela teoria formal é o seguinte: dado que uma organização possui determinado objetivo, é possível identificar as tarefas unitárias necessárias à realização desse compreendem auxiliares, objetivo. atividades atividades de Tais produtivas tarefas normalmente básicas, coordenação, atividades atividades de supervisão, etc. O problema consiste em agrupar essas atividades em funções individuais, agrupar essas funções em unidades administrativas, agrupar essas unidades em unidades maiores e, afinal, estabelecer departamentos de cúpula – promovendo todos os agrupamentos de modo a minimizar o custo total das atividades desempenhadas. No processo de organização, cada departamento é considerado um conjunto definido de tarefas a serem distribuídas entre os empregados, que as devem executar. Para entendera teoria formal, torna-se importante ter em mente que o complexo total de tarefas é considerado um dado apriorístico.” 107 A departamentalização nas empresas tem como problema a fixação de atribuições. Nas organizações de estrutura piramidal, como a CMB e a ABNC, cada tarefa deve compreender atividades relacionadas a apenas um departamento. “...se por motivo de economia de pessoal, uma tarefa tiver que ficar restrita a atividades que exijam apenas um número limitado de habilitações e processos (por exemplo, as habilitações e os processos inerentes aos serviços de escritório), segue-se que a divisão dessas tarefas implica subdividir tanto as divisões departamentais que já tenham sido feitas, quanto também os processos”. A melhor subdivisão das tarefas não é necessariamente a mais eficiente de modo geral. (SIMON, 1981, p.48) A fusão de várias atividades numa só tarefa tem maior restrição quando o número total de atividades for pequeno em relação ao campo de aplicação dos diferentes objetivos e processos, sendo então impossível conjugar várias tarefas em uma só. À vista da teoria de Administração Científica os membros da organização são vistos da seguinte forma: Tendência de mostrar o empregado como instrumento inerte, executor de tarefas que lhe são atribuídas; se vê no pessoal um dado, e não uma variável do sistema. Vê-se o conjunto de pessoas que funcionam na organização como condição preliminar e não como variável. (SIMON, 1981, p.54) 5.2.1- Cumprimento de premissas Na CMB não é raro encontrar comprometimento da força de trabalho com a gestão, porém não há confiança da força de trabalho em relação a seu corpo gerencial na maioria das seções. Isso se reflete inclusive no temor de alguns funcionários ao responder às perguntas, temendo possíveis represálias. Todo controle e coordenação ficam nas mãos dos supervisores, sendo delegadas ao corpo operacional apenas tarefas técnicas que não envolvem decisão. A própria gerência admite que, se há participação, esta é técnica e mínima. O grau de interrelacionamento entre os membros do mesmo nível é considerado bom, mas as equipes não são comprometidas com a gestão da empresa. Isso pode se dever 108 ao fato da baixa credulidade gerada pela falta de continuidade das práticas administrativas, pois é prática comum a constante mudança de ações gerenciais, causada pela intensa modificação dos ocupantes de seus cargos administrativos. Na concepção da ABNC, há estímulo à criatividade, iniciativa e sinergia, através de reuniões semanais promovidas com os supervisores e líderes, onde há troca de idéias. Esse contato constante do corpo gerencial com seus subordinados estreita os laços de confiança entre níveis hierárquicos. Isso conseqüentemente torna a força de trabalho mais compromissada. Eles alegam que os trabalhadores participam da gestão, contribuindo “diretamente” através de seus superiores na hierarquia. Em contraste, os trabalhadores afirmam que a coordenação de tarefas é de atribuição exclusiva de seus supervisores. A pesquisa mostrou que há equipes de trabalho e que o relacionamento entre os membros da força de trabalho é muito bom. Identificou-se pontos de sinergia entre a equipe, estimulando a criatividade e o senso de responsabilidade. 5.2.2- Aderência aos requisitos necessários à gestão por processos Nesse tópico será verificado o cumprimento das etapas necessárias à implantação do novo sistema de gestão: No que diz respeito à CMB, pode-se dizer que além de ter definidas suas funções principais, também já tem definidos seus processos, pois há pouco tempo foi realizado um trabalho de mapeamento e modelagem de processos, que resultou na elaboração de diversos documentos, destinados a todas as áreas de produção. Os papéis de cada membro nessas determinadas funções é definido nos procedimentos elaborados pelo Controle da Qualidade (DEPGQ) em conjunto com a própria força de trabalho. A melhoria dos processos é observada dia a dia, e são feitos ajustes pelo próprio corpo operacional. No entanto, as informações que constam nas áreas de engenharia de processos encontram-se muitas vezes defasadas, por falta de acompanhamento. 109 A ABNC tem um controle acurado de seus processos, pois a comunicação entre corpo gerencial e força de trabalho é grande. Isso é expresso pelos próprios trabalhadores, que indicam ter contato constante com seus superiores, inclusive de nível hierárquico bem mais elevado, a nível de diretoria. Há controle documental, por parte do departamento de qualidade, onde constam a descrição das funções e respectiva descrição de tarefas. Foi alegado que há constante treinamento da força de trabalho para melhoria de cada processo, sempre que necessário. A visão da empresa relatada pela ABNC é mais otimista no que se refere à aceitação e predisposição a mudanças no modelo de gestão. Por outro lado, as respostas da CMB parecem mais honestas com a realidade da empresa, deixando a dúvida se ela realmente encontra-se em situação desfavorável em relação à primeira. 5.3- MANUTENÇÃO E APRIMORAMENTO DOS SISTEMAS DE GESTÃO Cada empresa busca a melhora contínua da eficácia e eficiência do seu sistema de gestão por meio do uso da política da qualidade, objetivos estratégicos, resultado de auditorias, análise de indicadores, ações corretivas e preventivas e através da análise crítica do sistema pelo corpo gerencial. Na ABNC, a análise crítica é realizada periodicamente através de reuniões do corpo gerencial com os chefes de departamento, para assegurar a contínua adequação, eficiência e eficácia do sistema. Na CMB as reuniões são feitas sob demanda, sempre que há algum fato relevante. 5.3.1- Gestão da mudança Esse tópico avaliará como deve-se proceder numa mudança organizacional e que fatores constituem maior resistência às mudanças. 110 Há na literatura um vasto número de publicações que variam muito pouco em termos de argumentação e reforçam, erroneamente, as necessidades de se pensar em gerir mudanças como se todas as organizações fossem responder de forma similar a um estímulo do ambiente, o que parece pouco provável. Para mudar, é necessário que uma organização conheça a posição em que se encontra e, melhor ainda, conheça a nova posição para a qual pretende se deslocar como parte da sociedade, ou do sistema específico ao qual pertence, ou do mercado. Deve conseguir dispor elementos de forma diferente, alterando assim a configuração dos mesmos elementos dentro de uma organização sem alterar seu papel ou qualidade intrínseca. Isso implica o conhecimento de cada elemento estrutural e funcional, seu valor e potencial, presente e futuro, dentro de um processo de reorganização. Substituir um modelo de gestão por outro implica que a organização tome uma nova direção estratégica, com mudança eventual em sua missão, prioridades programáticas e uso de recursos, incluindo novas tecnologias. Modificar, transformar, tornar-se diferente do que era no que tange à própria cultura da organização ou a sua estrutura. No primeiro caso, refere-se à mudança de valores e práticas. BRESSAN (2001,p.64) define a mudança organizacional como: “Qualquer modificação (planejada ou não) nos componentes organizacionais, formais e informais mais relevantes (pessoas, estrutura, produtos, processos e cultura), que seja significativa, atinja a maioria dos membros da organização e tenha por objetivo a melhoria do desempenho organizacional em resposta às demandas internas e externas”. Kaufman (1971) afirma que a mudança organizacional não é invariavelmente boa ou ruim, progressista ou conservadora, benéfica ou prejudicial. Ela pode tomar qualquer das direções em qualquer situação dada. Mas ela é sempre confrontada com forças intensas que a colocam em xeque e que restringem agudamente a capacidade de as organizações reagirem a novas condições - algumas vezes com graves resultados. Os fatores dentro das 111 organizações que resistem à mudança são "os estabilizantes" - ou familiaridade com padrões existentes -, a "oposição à mudança" por parte de grupos dentro da organização, que podem ter motivações altruístas ou egoístas, e uma simples "incapacidade para a mudança". Este último ponto diz respeito ao fato de que as organizações desenvolvem "bloqueios mentais" que impedem a capacidade de mudar. A mudança amedronta, principalmente porque ameaça a estabilidade. Mas há diversos mecanismos para assegurar a estabilidade. A seleção de pessoal, o treinamento e o sistema de recompensas destinam-se a conduzir à estabilidade. Essa pesquisa demonstrou exatamente isso, quando verificou que, apesar de não ter a estabilidade garantida pelo emprego público, os funcionários da ABNC consideram que a empresa valoriza a estabilidade da força de trabalho na empresa. A mudança organizacional pode ameaçar grupos dentro das organizações, além de ameaçar àqueles que se beneficiam da atribuição atual de recompensas e recursos. O aspecto básico é que as organizações são conservadas por sua própria natureza. Até mesmo as organizações que tentam causar um impacto radical na sociedade demonstram esse conservadorismo. Há outros fatores que contribuem para a resistência à mudança. Kaufman (1971) denominaos "obstáculos sistêmicos" à mudança. Trata-se de obstáculos dentro do sistema global em que as organizações operam. Incluem fatores como os capitais imputados, ou investimentos no status quo; a acumulação de restrições oficiais ao comportamento, como as leis e regulamentos; restrições ao comportamento não-oficiais e não-planejadas, sob a forma de costumes informais; acordos interorganizacionais, tais como os contratos entre operários e administração. Outros obstáculos sistêmicos à mudança dizem respeito aos recursos. As organizações podem não ter capacidade financeira ou de pessoal para se empenharem em esforços no sentido da mudança, mesmo que seja identificada a necessidade de mudar. Apesar de todos esses obstáculos, é claro, as organizações efetivamente mudam. Todas as mudanças provocam sentimentos mais ou menos fortes. Algumas das necessidades mais fortes dos seres humanos são as necessidades de segurança e estabilidade, auto-estima, e manter uma imagem coerente do mundo. Entender e saber 112 como trabalhar para evitar e/ou neutralizar as resistências às mudanças, em seus diversos estágios, é um requisito imprescindível para atingir o sucesso da mesma. 5.3.2- Aderência na CMB e na ABNC A aderência à gestão por processos parece ser mais adequável à empresa privada. A mudança pode parecer difícil na empresa privada, mas ainda o é pior na empresa pública. O fator político constitui o pior entrave a qualquer mudança na organização, seja pela formação de grupos de influência dentro da própria empresa, seja por fatores políticos externos que dificultam a gestão. O próprio governo exerce papel perverso às empresas públicas. Politicamente, geralmente, quando se faz a crítica à política neoliberal no país se coloca que, ao privilegiar as empresas privadas em detrimento das públicas (e também ao incentivar investimento privado em instituições públicas), o Estado acaba abrindo mão do seu papel e colocando as empresas públicas em quase completo abandono, promovendo seu verdadeiro sucateamento e abrindo a concorrência de mercado colocando as empresas privadas em igualdade de condições tributárias e fiscais com as públicas. É desleal a concorrência da instituição pública com a privada, e esse desequilíbrio pode, a longo prazo, se transformar numa privatização generalizada das instituições públicas ocasionadas por omissão do Estado em sua gestão. 113 5- ANÁLISE DOS RESULTADOS De acordo com Tenório (2002a), para se alcançar uma gestão da produção pós-fordista é necessário que as variáveis progresso científico-técnico, globalização da economia e valorização da cidadania se integrem. Essas variáveis, juntamente com medidas da flexibilidade organizacional, diagnosticarão se as empresas públicas e privadas são capazes e têm as pré-condições para adotar o modelo de gestão por processos. A pesquisa desse trabalho buscou verificar se o quadro gerencial da CMB (DEGER) e da ABNC atuam de acordo com ações gerenciais estratégicas ou dialógicas a fim de averiguar se é possível a implantação de um novo modelo de gestão da produção e do trabalho, baseado numa estrutura matricial com ênfase na gestão por processos. Considerando-se a descrição da estrutura organizacional da CMB (DEGER) e da ABNC, apresentadas no capítulo 4, e o sistema de gestão que pretende-se avaliar, descrito no capítulo 5, aqui serão analisados os dados relativos aos elementos do pós-fordismo que constituíram as variáveis da pesquisa de acordo com a metodologia proposta no capítulo 2. A verificação dos resultados obtidos foi feita através de duas técnicas de pesquisa: análise de dados das pesquisas e entrevistas. 6.1- ANÁLISE DE DADOS Para a realização desta análise foram coletados dados dos questionários aplicados e, no caso da CMB, foram utilizadas também fontes secundárias como fichas de delineamento e relatórios de faturamento. Não foi possível incluir esses mesmos dados referentes a ABNC porque esta empresa está atualmente abrindo seu capital considerando, portanto, tais informações privilegiadas. A referência conceitual que orientou o desenvolvimento dessa pesquisa foi a flexibilização organizacional, analisada através de avaliação da atual gestão, das características da força 114 de trabalho e da contraposição de três conceitos: valorização da cidadania, progresso técnico e científico e globalização. A partir dessas três referências, a análise procurou verificar qual é a realidade gerencial das empresas estudadas, mostrando qual delas é mais flexível e, conseqüentemente, mais adaptável a gestão por processos. GESTÃO ATUAL A CMB, enquanto empresa publica de direito privado, pauta suas atividades em procedimentos formais, seja por meio de suas normativas internas, seja pela legislação a que está sujeita. No que diz respeito à certificação ISO, a CMB ainda está buscando sua completa certificação. Do ponto de vista da empresa, não há maiores dificuldades em traduzir os procedimentos funcionais em processos através das instruções de trabalho. A própria força de trabalho conhece as normas ISO e, a partir dos treinamentos nos requisitos da norma, passa a elaborar a documentação, inclusive de treinamento, consoantes ao padrão das ITRs que é estabelecido pelo departamento de Gestão da Qualidade. Já na ABNC, todos os departamentos encontram-se certificados. Ambas as empresas dizem que sua força de trabalho tem conhecimento da existência de suas instruções de trabalho, concordam e trabalham conforme as mesmas. Ao serem perguntados sobre a contribuição da força de trabalho para a gestão, a ABNC alega a existência de “cultura participativa”, mas ao mesmo tempo dizem ser essa participação “indireta”, pois é feita através de seus supervisores, enquanto que a CMB admite ser mínima a contribuição dos trabalhadores e que estes se atém apenas ao aspecto técnico, sendo passivos com relação à gestão. Apesar de todos os entrevistados do nível gerencial terem respondido que conheciam o que era gestão por processos e dizer que conheciam os macro-processos fundamentais de seu departamento, os funcionários da CMB tiveram maior desenvoltura ao responder, enquanto os funcionários da ABNC ativeram-se apenas a respostas objetivas (sim/não). Isso pode 115 significar que talvez não tenham sido completamente sinceros ao responder esse quesito. A seguir algumas das respostas dada por funcionários da CMB a estas perguntas: Sim. É uma forma de gestão que foca os processos de obtenção de produtos e serviços, independente da estrutura organizacional estabelecida pela organização. Em geral os processos passam por diversas áreas da organização para serem concluídos. Meus processos são: gestão do sistema da qualidade, auditorias da qualidade, controle de alguns processos produtivos e treinamentos voltados para qualidade. (Funcionário CMB) Sim. Processo é um conjunto de atividades que interrelacionadas transforma processo controle o insumos dos em recursos produtos. e Num das atividades proporciona a obtenção de resultados mais eficientes. Existem, na verdade três grandes processos que suportam as atividades de informática da CMB representadas por suas estruturas funcionais: 1) Desenvolvimento e Manutenção de Softwares, aplicações corporativas; 2) Infra-estrutura e rede incluem-se segurança e; 3) Automação, que envolve os aplicativos OFFICE, intranet e Internet. (Funcionário CMB) Em contraste, as respostas mais elaboradas dadas pelos funcionários da ABNC foram: Sim, é necessário definir variáveis, metas, custos enfim os principais resultados necessários a cada processo para que a organização alcance as suas metas principais e praticar a gestão destes. Sim (Funcionário ABNC) Sim. Sim. (Funcionário ABNC) 116 Com relação ao orçamento das empresas, há a seguinte diferença: na ABNC, cada divisão departamental possui seu orçamento, estipulado de acordo com o previsto anual para vendas e custos. Na CMB, existem dois orçamentos: um de investimento e outro de despesas. O orçamento de investimentos encontra-se ligado a um projeto e normalmente está voltado para os negócios. O orçamento de despesa comumente é direcionado ao atendimento de necessidades dos centros de custos, possuindo tratamentos internos, legais e contábeis diferenciados. Isso torna a CMB engessada no que diz respeito a seu investimento, sendo um limitador de sua flexibilização. Sobre as técnicas gerenciais argüidas na pesquisa, a maioria do corpo gerencial da ABNC declarou utilizar TQC, TQM e JIT, no entanto, alguns membros deixaram a resposta em branco, podendo indicar que não têm conhecimento de que são usadas, ou mesmo do que são. Os funcionários da CMB foram unânimes em afirmar que utilizam JIT. Isso faz levantar também a dúvida sobre o conceito de JIT que foi difundido dentro da empresa. É sabido que alguns departamentos utilizam a técnica de kanban, mas isso por si só não caracteriza JIT. VARIÁVEL PROGRESSO TÉCNICO E CIENTÍFICO A variável progresso técnico e científico é caracterizada pela utilização de equipamentos e programas, baseada na tecnologia de base microeletrônica e de novas formas de organizar o trabalho e a produção, fomentando os processos de flexibilidade organizacional, medida através da tecnologia para a produção e para a gestão. Em relação à capacidade tecnológica dos recursos, equipamentos e programas utilizados pelas duas empresas, foi observado através de entrevistas e de informações associadas à evolução dos recursos em termos de equipamentos, programas e sistemas computacionais e em relação à disponibilidade de dados, para a gestão. Quanto aos dados de recursos tecnológicos, equipamentos e programas computacionais, verificou-se que: 117 VARIÁVEL DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO Em relação aos equipamentos, a ABN fez mais investimentos ao longo do tempo do que a CMB. A ABNC fez investimentos contínuos e capacitou seus recursos humanos para o uso dessa tecnologia. Mesmo dispondo de modernas instalações e equipamentos industriais, a empresa está sempre buscando as mais novas tecnologias disponíveis no mercado internacional. Sempre com foco na qualidade e na segurança, a ABNC adquiriu máquinas de última geração para equipar sua unidade industrial e consolidar-se como uma gráfica de ponta, enquanto a CMB se restringe ao orçamento, que é majoritariamente ligado à demanda do BACEN, destinando poucos recursos a investimentos, principalmente no que se refere à gráfica geral. Um dos últimos investimentos da ABNC é o CTP – Computer To Plate, um conjunto de equipamentos de pré-impressão. O CTP é um sistema de gravação que envia eletronicamente os dados do computador diretamente para a chapa, eliminando o filme e várias etapas do fotolito convencional, ainda usado na CMB. A qualidade da gravação é maior, o setup nas impressoras é mais ágil o que, conseqüentemente, reduz a perda de papel, além da facilidade de recebimento de arquivos, pois o sistema é compatível com todas as mídias disponíveis e apresenta alta qualidade de reprodução de qualquer original com o Scanner EverSmart (com resolução de 3175 x 8200 dpi) e capacidade de reprodução em CopyDot. Sem falar na total integração de filmes (cores) pré-separados por fluxo digital. A CMB por sua vez, ainda utiliza máquinas gravadoras de chapas, com tecnologia a água, porém, usualmente utiliza uma de tecnologia ainda mais antiga, de gravação a álcool. A impressão nas máquinas Giori, Heidelberg, SRII, Speedmaster têm um custo de setup muito alto, além do grande desperdício de tinta, principalmente na impressão de talho doce. A ABNC investe em atualização tecnológica, com novos equipamentos, como a impressora Indigo e as máquinas Xeikon, que agilizaram a produção de documentos com dados 118 variáveis. O já mencionado CTP, com periféricos, hardwares e softwares como PowerMac, poderosos Pentiuns, processadores com arquitetura RISC, IBM RS6000, Adobe Publishing (para Macintosh e PC), PageMaker Plus, Photoshop, Ilustrator, Acrobat, FreeHand, CorelDraw e QuarkXPress, tem um sistema de provas em quatro impressoras distintas. O equipamento para gravação de chapas é o modelo TrendSetter, da CreoScitex, com workflow digital Brisque Impose e tecnologia térmica e operação em luz do dia. A impressora digital Indigo tem características offset, por apresentar altíssima resolução na impressão. Além de assegurar grande flexibilidade em relação à demanda de mercado: é possível alimentá-la com dados eletrônicos através de qualquer mídia e disponibilizar o produto final em 30 minutos. No processo convencional, utilizado pela CMB, é necessário fazer todas as montagens, desenvolver fotolitos, gerar filmes, gravar chapas e acertar a máquina impressora para então iniciar a produção. A ABNC é a primeira gráfica de segurança no Brasil a possuir o novo equipamento, uma TurboStream, 6 cores, com impressão de injeção de tinta e também a laser (eletro ink), que imprime frente e verso e aceita diferentes tipos e gramaturas de papel – de 90 a 340g. A ABNC investiu cerca de U$ 1,7 milhão na aquisição e instalação do CTP e da impressora, além do treinamento de funcionários. As empresas de gráfica de segurança precisam ter agilidade, pois necessitam atender a pedidos de emergência e baixas tiragens que os clientes possam vir a solicitar (muitas vezes para serem entregues no mesmo dia). A área de Impressão Eletrônica da ABNC dispõe de um total de 26 equipamentos, com as mais distintas tecnologias de impressão, além de maquinário moderno para as etapas de acabamento - ganhou três novas máquinas Xeikon 7000. A capacidade total do conjunto de equipamentos é de 12 mil folhas A3 por hora, o que representa a média de 24 mil folhas A4 por hora. Eles têm como principais vantagens a característica de alta produção, possibilitando a entrada de papel em sanfona ou bobina, com saída em bobina, sanfona ou folhas soltas; fusão a frio, que dá maior aderência em qualquer tipo de papel, impedindo 119 falhas de impressão; alta resolução e impressão duplex a partir da conexão de dois equipamentos na modalidade Twin. Além disso, é possível a produção de cheques, uma vez que dispõe de toner magnético. Foram investidos mais de US$ 1 milhão na aquisição desses novos equipamentos com dados variáveis da ABNC. Isso também mostra a disposição da empresa em manter a atualização tecnológica contínua da unidade de produção na área de impressão eletrônica. Globalização remete à idéia de integração e muita tecnologia. Graças à tecnologia de reconhecimento automático de impressão digital, considerado o método biométrico mais eficaz hoje no mundo, disponibilizada pela American Bank Note Company (ABNC), o Detran paranaense está garantindo maior confiabilidade ao processo de emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A utilização da impressão digital possibilita o controle mais apurado de todas as etapas do processo, que vai do cadastramento à emissão final da CNH. Em relação aos sistemas de informação, a CMB encontra-se na frente. Possui um sistema integrado de gestão ERP, enquanto a ABNC entende não ser necessária a aquisição de um software de ERP, utilizando há cerca de 8 anos um sistema interno da empresa MXM, desenvolvido para suas necessidades. A ABNC já teve uma experiência de implantação de ERP há 5 anos, mas não obteve sucesso. Apesar disso, grande parte do corpo gerencial identificou o ERP como uma importante ferramenta facilitadora do trânsito de informações dentro da empresa. O ERP é uma ferramenta de administração do negócio que, se aderente aos processos da empresa, por certo, facilitará, não somente o transito das informações, mas pode também melhorar a sua acuracidade, dentre outros benefícios que proporciona uma ferramenta desta natureza. (Funcionário ABNC) 120 Do contingente de cerca de 2000 colaboradores da CMB, em torno de 700 a 800 trabalham ligados a atividades que utilizam o recurso ERP, o que nos leva a considerar que, não obstante as dificuldades normais de implantação de um sistema desta natureza, a empresa tem condições de atingir a totalidade dos colaboradores. CARACTERÍSTICAS DA FORÇA DE TRABALHO A ABNC considera sua força de trabalho treinada para desempenhar diversas tarefas dentro do processo em que trabalham. Já a CMB admite que seus empregados estão preparados apenas para executar suas tarefas, estando, portanto, limitados. Alegam que apenas alguns trabalhadores são treinados ou interessam-se em executar diversas funções. Cabe avaliar se isso se dá ao fato da gestão ser pública, desestimulando-os a se interessar. Por outro lado, a resposta surpreende, dado que há muita intercambialidade de funcionários entre os diferentes departamentos, no que diz respeito à parte produtiva, quando há variações na demanda e conseqüente mudança na necessidade de mão-de-obra entre fábricas, sendo isso prática comum na empresa. A ABNC foi mais otimista na avaliação de sua força de trabalho, que foi definida como qualificada, multifuncional, criativa, autônoma, identificando-se trabalho em equipe e compartilhamento de tarefas. A CMB foi mais crítica ao apontar que as funções de concepção, controle e execução são bem separadas, que não há incentivo ao desenvolvimento de capacidades de prever problemas e incentivar soluções criativas, nem considera sua mão de obra com características multifuncionais e com múltiplas habilidades. Há exceções, dado que há casos sabidos de modificações no próprio processo produtivo sugerida por operadores, mas de modo geral, a informação dada pela CMB é verdadeira. Resta saber se há realmente na ABNC trabalhadores tão qualificados ou se não houve total sinceridade na respostas. 121 VARIÁVEL GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA Outro dos elementos do pós-fordismo, a globalização da economia, é a ampliação da participação das empresas no mercado mundial, conectando-se com diversos países estrategicamente. Assim as corporações tomam um papel de controle, em conjunto com o capital financeiro especulativo. A presença de uma empresa privada de capital estrangeiro como a ABNC representa bem o aumento do espaço geoeconômico das organizações. A variável globalização da economia pode ser avaliada através das principais concorrentes no setor de gráficas de segurança e da natureza de seu capital controlador. A verificação desses dados foi feita através de informações dadas pelo vice-presidente da ABNC, José Domingos Sidrim Bastos, e por fontes secundárias. Empresas Concorrentes Tipo de Controle Origem do capital Casa da Moeda do Brasil Estatal Nacional American Bank Note Company Privado Estrangeiro (EUA) Thomas De La Rue * Privado Estrangeiro (Reino Unido) Thomas, Greg & Sons Privado Estrangeiro (Reino Unido) Interprint Privado Estrangeiro (RU e Suécia) Quadro 1 – Principais empresas concorrentes no setor de gráficas de segurança no Brasil A Thomas De La Rue no Brasil foi fundada em 1953. De origem inglesa, atua em 31 países e divide suas atividades em impressos de seguranças e máquinas impressoras. A americana American Bank Note Company, atual líder do segmento no Brasil, chegou ao país em 1993, ano em que adquiriu a Thomas De La Rue. Além da ABNC e da Casa da Moeda, são também concorrentes expressivos desse mercado a Interprint, uma associação entre o grupo inglês REXAM e o grupo sueco A B Bonnier, que atua no Brasil desde 1959 e a Thomas, Greg & Sons, antes subsidiária da Thomas De La Rue, há mais de 40 anos no Brasil, entre outras. 122 Ambas as empresas consideram exercer esforço permanente para a melhoria simultânea da qualidade, dos custos e dos serviços de entrega e maior proximidade com seus clientes e fornecedores. No entanto, o relacionamento entre a ABNC e a CMB com seus respectivos clientes e fornecedores não pode ser comparado, visto que as condições que cercam a compra e venda em uma empresa pública são particulares. Analisando-se esses dados, observa-se que atualmente o setor onde atuam CMB e ABNC exerce suas atividades dentro do contexto de uma economia globalizada. VARIÁVEL VALORIZAÇÃO DA CIDADANIA Essa variável representa a democratização das relações sociais nas empresas e o posicionamento do trabalhador como sujeito no processo produtivo, participando da tomada de decisão. Para operacionalizar essa variável, foram analisados os seguintes aspectos: • Autonomia da força de trabalho na tomada de decisão; • Estímulo à iniciativa e criatividade; • Políticas de recursos humanos; • Sentimento de segurança (estabilidade) no emprego; • Liberdade de comunicação entre força de trabalho e administradores; • Liberdade e negociação entre força de trabalho e administradores. O elemento valorização da cidadania é a variável central da pesquisa. O papel da mão de obra na empresa diz muito sobre sua flexibilidade. O modo como a gerência interage com a força de trabalho indica se o comportamento desse corpo gerencial na organização é compatível com ações gerenciais dialógicas, indicando sua tendência ao pós-fordismo e, portanto, maior aplicabilidade à gestão por processos. Os itens relacionados a relacionamento interpessoal indicam se há conscientização da força de trabalho em relação à gestão organizacional. Já a gestão de recursos humanos é 123 importante para a análise a medida que indica se o mundo do trabalho (a empresa) interage com o mundo da vida (trabalhador). A verificação dos resultados que permitiu a análise dessa variável foi obtida na pesquisa realizada através da análise dos questionários e da avaliação feita pelos entrevistados. 6.2- ANÁLISE DE ENTREVISTAS Foram também efetuados três tipos de entrevistas abrangendo diferentes elementos da força de trabalho da CMB e da ABNC: de um lado a parte gerencial, chefes de divisão e de seção e de outro, operadores, além de uma entrevista aberta com um dos vice-presidentes da ABNC. A análise das entrevistas foi feita de forma qualitativa e interpretativa com a finalidade de complementar os dados obtidos nas outras fontes pesquisadas. A análise verificou se os depoimentos caracterizavam ou não ações gerenciais voltadas para meios e fins, ou seja, ações gerenciais monológicas, ou ações gerenciais voltadas para o entendimento, ou seja, ações gerenciais dialógicas. Segundo os questionários de ambos os níveis, gerencial e operacional, foram observadas as seguintes referências a ações dialógicas: • Liberdade de comunicação e interação entre membros da força de trabalho e do corpo gerencial; • Equidade entre a força de trabalho dados seus cargos e suas responsabilidades; • Estímulo, por parte da gerência, de iniciativa, criatividade, cooperação e sinergia; • Liberdade de negociação entre empregadores e empregados. Nota-se que há uma preocupação com a inclusão tecnológica na CMB, graças à intenção de se implantar programas de apoio à decisão como o ERP, já adquirido pela empresa, e o BSC. Por outro lado, é necessária uma mudança no sistema de gestão para se promover a evolução tecnológica dos recursos no DEGER. Haveria maior integração entre as divisões/ 124 seções, promovendo uma maior comunicação entre os operadores, o que demonstra um avanço da supervisão. A preocupação com o aprimoramento profissional e pessoal buscando uma cultura próativa indica para o quadro funcional a preocupação com maior intersubjetividade, característica das ações dialógicas. Mas a confirmação do agir dialógico só pode ocorrer após a análise dos dados do questionário e da entrevista da pesquisa. Os dados foram obtidos através de um questionário semi-estruturado, contendo questões objetivas e subjetivas, aplicados a 40 funcionários, sendo 20 da CMB e 20 da ABNC, que serviram como amostra para essa pesquisa. Foi elaborado um questionário para o nível operacional e outro para o nível gerencial, mantendo-se a identidade de cada respondente preservada, ambos atendo-se aos mesmos temas. Cada questionário foi avaliado em duas etapas: para cada pergunta, o respondente além de dar sua resposta dissertativa, completava com um índice de conformidade com o tema. Portanto, cada afirmação do questionário corresponde a um indicador que está associado a um dos temas abordados na avaliação da flexibilidade de cada empresa: 1. Características da empresa: 1.1- Autonomia • Autonomia na tomada de decisão • Delegação de poder 1.2- Políticas de incentivo • Estímulo à iniciativa e criatividade • Segurança devido à estabilidade no emprego • Políticas inovadoras de RH 1.3- Relacionamento entre níveis hierárquicos • Circulação da informação • Liberdade entre trabalhadores e administradores • Negociação entre empregadores e empregados 125 • Liberdade de comunicação 1.4- Gestão participativa • Contribuição dos trabalhadores para a gestão • Remuneração por desempenho 1.5- Busca de melhoria nos custos e no relacionamento com clientes e fornecedores • Orçamento por processos • Esforço para melhorar custos de entrega • Proximidade com fornecedores e clientes • Uso de tecnologias para vantagens competitivas • Políticas de gestão da qualidade 1.6- Horizontalização • Estrutura organizacional horizontal 1.7- Valorização da mão-de-obra • Valorização da mão-de-obra por parte da empresa 2- Características da força de trabalho 2.1- Capacitação para tomada de decisão • Capacidade de resolver problemas (microdecisões) 2.2- Multifuncionalidade • Execução de diversas tarefas • Divisão de funções e tarefas 2.3- Qualificação • Mão de obra qualificada (competências) 2.4- Trabalho em equipe • Cooperação, formação de equipes de trabalho Para permitir a análise, cada um desses indicadores foi operacionalizado de forma quantitativa. Através desse método, além de responder discursivamente para que fossem captados valores intangíveis associados ao objeto da pesquisa, o respondente também pode expressar seu grau de concordância ou discordância com a afirmação correspondente a cada indicador, fazendo uso de uma escala de valor de 1 a 5, conforme explicado no capítulo 2. 126 Os resultados então obtidos foram divididos pelos temas principais, onde foram feitas duas mensurações: uma contagem de itens conformes e não conformes de acordo com a escala apresentada e uma média dos valores dessa escala, para representar o grau de flexibilidade. Quanto mais próximo de 1, mais flexível, ocorrendo o contrário quanto mais próximo de 5 for o índice. A avaliação da flexibilidade foi feita considerando-se os itens dispostos acima. Para cada um deles foi feita uma contagem dos itens que constituíam cada fator de acordo com as respostas dadas na escala proposta, que foram divididos de acordo com a quantidade de respostas conformes e não-conformes. O índice e conformidade utilizado foi C ≤ 2. 127 Apuração dos resultados – verificação da flexibilidade das empresas analisadas ABNC – Setor privado Requisitos de flexibilidade Em relação à empresa CMB – Setor público Respostas Respostas Índice de NC P N T Índice de CONFORMIDADE P N T Índice de NC Índice de CONFORMIDADE Autonomia 5 (100) 6 14 20 20% 80% 6 49 55 55% 45% Políticas de incentivo Relacionamento entre os níveis hierárquicos Gestão participativa Busca de melhor custo e relacionamento com fornecedores e clientes Estrutura organizacional horizontal Valorização da mão de obra 2 (40) 0 20 20 50% 50% 7 33 40 40% 60% 8 (160) 7 0 7 4,375% 95,625% 14 26 40 25% 75% 5 (100) 4 35 39 39% 61% 24 71 95 95% 5% 9 (180) 4 5 9 5% 95% 7 45 52 28,8% 71,2% 2 (40) 1 19 20 50% 50% 8 20 28 70% 30% 3 (60) 8 15 23 3,83% 96,16% 22 20 42 70% 30% 34 (680) 30 108 138 20% 80% 88 264 352 44,11% 55,89% Tomada de decisão 1 (20) 0 0 0 0% 100% 0 20 20 100% 0% Multifuncionalidade 3 (60) 0 20 20 33% 67% 31 5 36 60% 40% Qualificação 3 (60) 2 28 30 50% 50% 20 36 56 93,3% 6,7% Trabalho em equipes 2 (40) 0 0 0 0% 100% 0 0 0 0% 100% 10 (200) 0 20 20 10% 90% 31 45 76 38% 62% 17,95% 82,05% 48,63% 51,37% Total Em relação à mão de obra So cial Itens avaliados (qtd) Total Resultado final 44 (880) Legenda: NC= não conformidade; P = parcialmente conforme; N = não conforme; T = to tal de não-conformidades. Fonte: ABNC e CMB, Questionários de Avaliação da Flexibilidade Organizacional. Figura 7 – Análise dos resultados 128 A ilustração dos dados é feita através de uma correlação de graus que justifica uma maior ou menor aproximação à flexibilidade organizacional: os valores mais baixos (1) indicam maior flexibilidade e os valores mais altos (5), configuram rigidez organizacional. Para as demais dimensões, esse tipo de descrição, sob uma escala e valor, serviu para representar o grau de percepção dos respondentes a respeito do objeto pesquisado. A seguir, para cada empresa, serão apresentados e analisados os resultados obtidos através dos questionários respondidos. Para efeito de análise dos dados, esses resultados estão escritos de forma agregada. O quadro 2 a seguir mostra a distribuição das respostas obtidas, de acordo com a média dos itens de flexibilidade avaliados. Quadro comparativo (média) Item Autonomia Políticas de incentivo Relacionamento entre os níveis hierárquicos Gestão participativa Busca de melhor custo e relacionamento com fornecedores/clientes Estrutura organizacional horizontal Valorização da mão de obra ABNC 2,08 3,275 1,4313 2,66 1,625 3,15 2,4 CMB 3,05 4,425 2,813 3,94 2,1438 3,1 3,0167 Tomada de decisão Multifuncionalidade Qualificação Trabalho em equipes 1,9 1,71125 2,95 1,8 2,15 2,75 3,5333 2 Quadro 2 – Quadro comparativo das médias da escala de flexibilidade Autonomia: os dados dessa dimensão apontam que a ABNC (média = 2,08) proporciona mais autonomia a seus funcionários no que diz respeito a tomada de decisões dentro de seu processo e à delegação de responsabilidades por parte dos superiores. A CMB obteve um resultado próximo à indiferente (média = 3,05). 129 Políticas de incentivo: Mais uma vez a ABNC teve um resultado mais próximo à flexibilidade (média = 3,275) do que a CMB (média = 4,425). Isso reflete que sua gerência promove estratégia organizacional mais apropriada à flexibilização, estimulando iniciativa, cooperação, criatividade e sinergia. Relacionamento entre os níveis hierárquicos: os resultados obtidos nessa dimensão indicam que a força de trabalho associa seu sistema de gestão a relações interpessoais positivas, principalmente na ABNC (média = 1,4313) em comparação à CMB (média = 2,813). Gestão participativa: a força de trabalho da ABNC demonstrou participar mais da gestão da produção: (média =2,66; média CMB= 3,94). Busca de melhor custo e relacionamento fornecedores/clientes: Nesse quesito a ABNC (média = 1,625) teve grau mais próximo da flexibilidade. Porém, o resultado não surpreende, visto que as relações da CMB (média = 2,1438) com seus clientes e fornecedores não se aplica ao mercado concorrencial na maioria de seus produtos. Estrutura organizacional horizontal: Praticamente com o mesmo resultado (média ABNC =3,15 e média CMB=3,1), ambas as empresas consideram-se com estrutura organizacional vertical, porém não consideram que os níveis hierárquicos sejam muito numerosos. Valorização da mão de obra: É da percepção tanto da força de trabalho quanto do corpo gerencial que, na ABNC há valorização da mão-de-obra, (média = 2,4) enquanto na CMB (média = 3,0167) o resultado fico aquém do ponto médio da escala de flexibilidade. Tomada de decisão: A força de trabalho tem autonomia para tomar microdecisões dentro do processo em que trabalha. Na ABNC essa flexibilidade é maior (média = 1,9) do que na CMB (média = 2,15). 130 Multifuncionalidade: Os trabalhadores na ABNC são capazes de executar diversas tarefas, possibilitando o intercâmbio entre postos de trabalho (média = 1,71125). Embora na CMB haja troca de funcionários entre departamentos, o índice de flexibilidade ficou abaixo do da ABNC (média = 2,75). Qualificação: A força de trabalho da ABNC aparece como mais bem qualificada (média = 2,95) do que a da CMB (média = 3,5333) Trabalho em equipe: As duas empresas tiveram resultados próximos, mas a ABNC obteve um índice maior (média = 1,8) que o da CMB (média = 2). 6.3- ANÁLISE GERAL DOS RESULTADOS Existe um misto em ambas as empresas. Alguns colaboradores são treinados para realizarem tarefas determinadas e repetitivas no decorrer do processo. Outros, entretanto, são treinados e capazes de executarem tarefas múltiplas, sugerindo, inclusive, alternativas de mudanças. Há liberdade, e na ABNC, apesar desta ser uma empresa formal e bastante hierarquizada, os colaboradores acessam de forma tranqüila os níveis hierárquicos superiores sendo recebidos de forma receptiva, inclusive pela Diretoria Executiva, mais que o declarado na CMB. As empresas entendem que haveria dificuldades através de gestão por processos, pois as organizações são orientadas para trabalharem por função. Para consolidar a gestão por processos existiria a necessidade de inversão da forma de gerenciar, em especial quando há a implantação de um sistema de gestão (como o ERP, Qualidade, Meio ambiente... etc.), onde notadamente existe a necessidade de colaboração de todos, mas, por ainda não entenderem, alguns gerentes não se julgam recurso do processo, mas da função que gerenciam. 131 A CMB alega reconhecer esse processo evolutivo como natural, pois com o avanço tecnológico (cada vez mais acentuado) fica cada vez mais difícil centralizar os conhecimentos em um único ponto, engessando a evolução. Alegam tratar naturalmente essas questões, tendo boa comunicação com a força de trabalho, procurando orientar, em especial os mais jovens a terem iniciativa, serem sempre pro-ativos, pois somente desta forma poderão sobreviver no atual mercado. Na ABNC existe a idéia de vantagem competitiva por não ter que enfrentar barreiras existentes na empresa pública, como: 1- Obrigação de participar de licitações. Isso limita a escolha de fornecedores, consequentemente, o processo decisório da empresa pública; 2- Burocracia. Na empresa privada não há esse custo financeiro e de desgaste; 3- (Des) Continuidade administrativa. A empresa privada tem muito mais liberdade em sua gestão. A empresa pública é obrigada a seguir uma série de regras.o que prejudica muito seu potencial concorrencial frente ao mercado. O modelo de gestão de ambas as empresas é funcional. A CMB tem a presidência e, abaixo dela, três diretorias: Administrativa, de Produção e Técnica (bem funcional). Já a ABNC é dividida em unidades auto-geridas (ao todo são 9 unidades de negócio) que funcionam como empresas independentes. A divisão das unidades de negócio é feita por produto.Cada gerente é responsável por sua unidade de negócio e o bônus é de cada fábrica, proporcional ao seu faturamento. Apenas três áreas são integradas: • Tesouraria (área financeira - contas a pagar e a receber-, controladoria) • Contabilidade • Jurídico A ABNC nunca cogitou mudar seu modelo de gestão, mas mesmo sem perceber, hoje mesmo já tem mais características tendendo a gestão por processos que a própria CMB. 132 Dados documentais Os dados das fichas de delineamento mostraram que o DEGER vem buscado a homogeneização de seus processos produtivos. Observando-se os documentos Ficha Preparatória para Delineamento e Relatório de Produto Final (Anexo C), nota-se a divisão de tarefas por recurso, ou seja, por etapa do processo produtivo. Apesar de o DEGER estar atualmente dividido em linhas de produtos, essas mesmas utilizam uma interseção de processos entre si, o que por si só, descaracteriza a idéia de linha de produção. Exemplo disso são as linhas de passaportes, carteiras nacionais de habilitação, carteiras de identificação e selos fiscais que utilizam os mesmos processo de impressão offset e impressão calcográfica, assim como uma série de outros produtos. Já existe dentro do departamento a idéia (e anseio) de gerenciar a produção por seus processos, já que a multiplicidade de produtos torna muito difícil, senão impraticável, o controle por produto. Isso ocorre desde o cadastro de materiais até a formação de preço do produto. Os dados dos relatórios de faturamento mostram que, de 2000 a 2005 a CMB praticamente dobrou seu faturamento anual (de R$150.000.000 para R$300.000.000). O pico foi em 2004, com faturamento de R$350.000.000,00, puxado principalmente pelo DECED. O DEGER manteve a tendência da CMB como um todo, porém, com uma tendência mais constante, de menos de 10%. Seu maior faturamento no período foi de R$78.416.402,75 em 2003, representando ¼ do faturamento da CMB esse ano. 1- CONCLUSÕES Neste capítulo serão apresentadas as considerações finais desta dissertação de tese, sintetizando os passos para elaboração do estudo e os resultados alcançados. As 133 considerações finais levam em conta, também, as delimitações da pesquisa realizada, validando os resultados finais. O tema Gestão por Processos ganhou bastante destaque ao longo dos anos por ser uma metodologia de trabalho capaz de lidar com questões clássicas da Engenharia de Produção como retrabalho, redução de custos industriais, diminuição do tempo das atividades, etc. A visão por processos pode ser o elemento alavancador de alinhamento estratégico da empresa. Nesta dissertação procurou-se, em um primeiro momento, levantar as diferenças entre as empresas pública e privada principalmente no que diz respeito a sua flexibilidade e subjetividade, através da análise das relações de trabalho, buscando concluir qual está mais preparada para adotar gestão por processos. Como objetivo central, buscou-se avaliar se a gestão pública é inferior à privada ou se essa idéia é apenas uma representação social advinda da ideologia neo-liberal. A formação de estereótipos é uma das formas mais comuns de representação social, que circulam através da comunicação social e impregnam a realidade, adquirindo consistência a ponto de guiar comportamento dos indivíduos. Durante anos convencionou-se no Brasil a acreditar que a gestão pública estava vinculada à imagem do funcionário publico preguiçoso que pendurava o casaco na cadeira e abandonava seu posto de trabalho. Uma vez que os estereótipos partem de generalizações, eles podem ser provocados por um enviesamento de informação incorretamente processada. O neoliberalismo privilegia a propriedade privada, a grande corporação, produtividade e lucratividade No Brasil ele vem pregando liberdade de mercado e individualismo reduzindo o homem e as relações sociais a valores meramente econômicos, apesar de manter o intervencionismo na economia. O individualismo é a forma como a sociedade socialista se legitima no mundo centrado mercado. A tendência às relações industriais relacionadas à flexibilidade e a subjetividade rompe com paradigma. 134 Os conceitos do sistema de administração científica de Taylor, os princípios de Ford e as funções gerenciais propostas por Fayol foram amplamente empregados ao longo do século XX para servirem como base para a estrutura organizacional da maioria das grandes empresas, constituindo-se em fator determinante do seu sucesso. Esse foi o caso das duas empresas estudadas: Casa da Moeda do Brasil e American Bank Note Company, que desde sua criação adotaram o modelo de Fayol e organizaram suas atividades segundo uma estrutura hierárquica verticalizada, com tarefas executadas segundo os princípios de Taylor e Ford, conforme foi mostrado anteriormente nessa dissertação. Porém, conforme os avanços tecnológicos propiciados pela ciência da informação e computação, apoiados pelos avanços dos meios de comunicação, que se tornaram cada vez mais presentes e determinantes para estabelecer e manter a competitividade das empresas, graças à ampliação da área geoeconômica de atuação das empresas e à globalização da economia, tornou-se preciso que se buscasse novas formas de gestão mais apropriadas ao negócio das empresas. Da mesma forma, devido à conscientização dos indivíduos no que diz respeito a seus direitos e deveres que, como trabalhadores, passaram a aspirar a uma maior democratização das relações sociais e dos processos decisórios nas empresas, também justificando a procura por novas formas de gestão mais flexíveis do que aquelas impostas pelo modelo taylorista-fordista. Dentro desse cenário surgiram diversos modelos de estrutura organizacional e de gestão do trabalho e da produção que buscam ao mesmo tempo se afastar da estrutura vertical e do paradigma fordista. Esse é o caso da gestão por processos, que propicia uma aproximação ao paradigma pós-fordista. Nessa dissertação foi empregado o conceito de pós-fordismo, definido como um modelo de gestão que se caracteriza pela “diferenciação integrada da organização da produção e do trabalho sob a trajetória de 135 inovações tecnológicas em direção à democratização das relações sociais nos sistemasempresa” (Tenório, 2002a, p.192) Esse conceito se baseia em três elementos tomados como variáveis: • Progresso científico-técnico, representado pelo uso de equipamentos e programas baseados no desenvolvimento da ciência e tecnologia de base microeletrônica e por novas formas de organização do trabalho e produção que fomentam os processos de flexibilidade organizacional; • Globalização da economia, representada pela ampliação do espaço geoeconômico das organizações a fim de se manterem no mercado e viabilizarem sua produtividade; • Valorização da cidadania, representada pela participação do indivíduo, através de um processo democrático interno à organização, nas decisões do seu destino social como trabalhador. Para essa pesquisa, a efetivação do pós-fordismo só seria concretizada caso além dos fatores acima citados, a atitude gerencial estivesse centrada nos pressupostos de Jürgen Habermas a respeito do paradigma da comunicação, ou como conceituado por Ferando Tenório, na ação gerencial dialógica. Chega-se, portanto, ao objetivo principal dessa pesquisa que é verificar qual dos dois tipos de empresa, a pública ou a privada, tem um número maior de fatores determinantes para uma melhor aderência a uma eventual mudança para gestão por processos, baseado em sua flexibilidade e subjetividade. Através dessa análise busca-se avaliar se é regra o fato da gestão pública ser pior que a privada, ou se isso não passa de uma representação social. Para responder a essa questão central da pesquisa, buscou-se responder às seguintes perguntas auxiliares: • Qual das duas empresas evoluiu mais em termos da evolução do relacionamento interpessoal e da democratização das relações sociais dentro da organização; 136 • Quais as diferenças entre as duas empresas no que diz respeito à flexibilidade de seus modelos de gestão. Respondendo a primeira pergunta, os resultados obtidos relacionados ao relacionamento interpessoal indicam que ambas as empresas consideram bom o relacionamento entre os membros da força de trabalho de mesmo nível hierárquico, reconhecendo as vantagens do trabalho em equipe e de se aperfeiçoar para tornarem-se intercambiáveis, embora esses fatores sejam mais expressivos na empresa privada. O relacionamento entre força de trabalho e sua gerência em sua respectiva linha hierárquica, no setor privado apresenta troca de informação rápida e objetiva, com liberdade de interação e comunicação, sendo considerado bom por ambos os níveis operacional e gerencial. Na empresa pública notou-se que, apesar do bom relacionamento dentro do nível operacional, a interação com os níveis hierárquicos superiores deixa a desejar. Essa é a opinião expressa também pelos dois níveis, operacional e gerencial. A tendência a gestão por processos está relacionada à melhora no relacionamento interpessoal, portanto, nesse aspecto a empresa privada encontra-se em posição superior à empresa pública, tornando-a mais aderente a gestão por processos. Dentro da configuração estipulada para os processos de negócios, a autonomia dada às equipes de se interrelacionarem sem o envolvimento necessário dos gerentes estimula o diálogo de membros do departamento que tinham pouca oportunidade de um contato mais próximo. Esse ponto também é responsável pela percepção da democratização das relações sociais internas aos departamentos. Também pode ser avaliada pela delegação de responsabilidades por parte dos gerentes para os demais membros da força de trabalho. Respondendo a segunda pergunta, as principais diferenças observadas pela força de trabalho foram a maior delegação de responsabilidades aos funcionários da empresa privada. A pesquisa revelou que essa autonomia é controlada, não os liberando de se reportar a seu superior imediato, porém, demonstra maior flexibilidade que a empresa 137 pública, onde os aspectos burocráticos ainda pesam muito. A hierarquia ainda pesa muito em ambas as empresas. Os funcionários de nível gerencial, por sua vez, alegam que enxergam como um processo natural a delegação de poderes a seus subordinados, considerando-os com poder decisório dentro do processo produtivo. Isso demonstra que tanto na empresa pública quanto na privada, há uma disparidade entre as visões da força de trabalho e da gerência, e que talvez a comunicação entre esses dois níveis hierárquicos não seja tão boa quanto foi alegado nas entrevistas. A pesquisa deixa clara mais uma diferença entre a gestão pública e a privada. Esta diferença diz respeito à mão-de-obra. Os resultados demonstraram que a força de trabalho na empresa privada é mais independente, criativa, capaz de resolver problemas e multifuncional. Sua remuneração por vezes é vinculada ao desempenho, contrariamente à da empresa pública, e os trabalhadores consideram seu trabalho estável, visto que a empresa busca manter sua força de trabalho, vantagem antes típica de um emprego público. A burocracia nos processos de promoção e os salários vinculados a políticas pode ter se mostrado um fator desestimulante ao empenho da força de trabalho, o que reflete em seu desempenho. Outros dois pontos relevantes a serem considerados para a adoção de gestão por processos dizem respeito à ampliação da adesão do corpo funcional à nova forma de organização do trabalho e da produção e a obtenção de uma forma de promover a participação da força de trabalho. A ABNC mostrou-se mais empenhada nesse quesito, mas pela avaliação das respostas dadas pelo nível operacional, concluiu-se que não há diferença relevante entre esta empresa e a CMB. Tendo respondido a essas perguntas básicas, faz-se necessário verificar se os resultados obtidos em cada uma das empresas possui as pré-condições necessárias ao pós-fordismo apontadas na pesquisa: progresso científico-técnico, globalização da economia e valorização da cidadania. 138 Em relação à variável progresso científico-técnico, a pesquisa apontou o emprego constante e intensivo de recursos tecnológicos na American Bank Note, enquanto que na Casa da Moeda esse tipo de investimento é mais difícil de ser alcançado, visto que a empresa limita-se ao orçamento anual e a lei de licitações, encontrando-se, portanto, em posição desfavorável em relação a das empresas privadas nesse quesito. Com relação à globalização da economia, a análise dos questionários foi conclusiva sobre o fato de que ambas empresas privadas e estatais encontram-se num ambiente em que podem atuar de forma competitiva. Finalmente, em relação à valorização da cidadania, o estudo aponta que a prática de procedimentos gerenciais dialógicos, nos quais o trabalhador é encarado como sujeito no processo de produção, participante em processos democráticos de tomada de decisão é muito mais presente na ABNC. Sua estrutura e seus mecanismos possibilitam que as relações sociais se pautem na participação do indivíduo, através de um processo democrático interno à organização, nas decisões do seu destino social como trabalhador, enquanto que na CMB a força de trabalho sente-se limitada por seus superiores em nível hierárquico. Essa variável é a mais importante das três na avaliação da transição de uma prática fordista, baseada em ações gerenciais monológicas ou estratégicas, para práticas pós-fordistas, baseadas em ações sociais dialógicas. Dado que há valorização da cidadania, as empresas encontram-se em um ambiente de economia globalizada e com forte dependência da evolução tecnológica dos recursos necessários à organização do trabalho e da produção, pode-se afirmar que o sistema de gestão por processos constitui uma perspectiva de gestão pós-fordista, e que ambas empresas públicas e privadas têm condições de migrar para essa forma de gestão no setor de gráfica de segurança. No entanto, comprovou-se ser a empresa privada mais receptiva a essa mudança, por ter alcançado índices de flexibilidade maiores que a empresa pública. 139 Uma empresa orientada a processos requer uma organização que estruture as interdependências transversais das atividades do processo. A partir do exposto nesse estudo de caso, pode-se perceber a viabilidade e aderência do emprego da lógica de processos em organizações funcionais. Percebe-se que os problemas da CMB não se restringem estritamente às especificidades da gestão pública. A visão turva que acarretava equívocos dessa natureza decorre tipicamente de uma visão estritamente funcional das organizações. Os probas da CMB deverão ser solucionados mas problemas referentes às interfaces são identificados pela abordagem por processos tanto na empresa pública quanto na privada. A condução desses problemas cabe à sensibilidade política de cada empresa, pois envolve relações de poder e aspectos ligados à cultura das organizações e no a natureza do seu capital. Conclui-se que a gestão privada apresenta fatores mais aproximados à evolução das teorias organizacionais que a empresa pública. Porém, os resultados apresentados pela CMB não demonstram expressiva diferença, apontando que esta também seria capaz de migrar para o sistema de gestão por processos. Torna-se então falsa a representação social de que a gestão pública é necessariamente pior que a privada. Dadas as restrições apresentadas, os empecilhos à flexibilização indicam se deverem mais ao tamanho da empresa do que à propriedade do seu capital. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 140 ARAGÃO, Alexandre. Agências reguladoras e a evolução do Direito Administrativo Econômico. Editora companhia forense, Rio de Janeiro, 2003. BAUER, Ruben. Gestão da mudança: caos e complexidade nas organizações. Rio de Janeiro, Atlas, 1999. BODDY, Martin. Reestruturação industrial, pós-fordismo e novos espaços industriais: uma crítica. São Paulo: Nobel/Iuperj, 1990. BAPTISTA, Maria Manoel. Estereotipia e representação social – uma abordagem psico-sociológica. Lisboa: Dicionário do Imobiliário, 1996. BOAVENTURA, BRESSAN, C., Uma contribuição à compreensão do fenômeno de mudança organizacional a partir da percepção gerencial. Brasília ,Dissertação de M.Sc. Instituto de Psicologia – UnB. 2001. BURLTON, Roger T. Business process management – profiting from process. Sams publishing, Indianapolis, Indiana, 2001. 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O questionário é composto de perguntas em aberto e, para cada afirmação, o respondente deverá também expressar seu grau de concordância, de acordo com a escala abaixo: • 1 – o entrevistado concorda totalmente e intensamente com a afirmação; • 2 – o entrevistado concorda fracamente com a afirmação; • 3 – o entrevistado é indiferente (tanto concorda quanto discorda da afirmação) ou entende que não há correlação entre o tema e o objeto da pesquisa; • 4 – o entrevistado discorda fracamente da afirmação; • 5 – O entrevistado discorda totalmente e intensamente da afirmação. Desta forma, apesar das perguntas serem feitas sempre no sentido positivo, o respondente pode expressar sua opinião em sentido oposto ao dado pelo tema. O respondente também pode deixar em branco a afirmação, caso desconheça o assunto tema a afirmação ou não queira expressar sua opinião. O anonimato de cada respondente será preservado. QUESTIONÁRIO NÍVEL OPERACIONAL (Aplicado nas divisões e nas seções da ABNC e CMB) Qual a sua opinião, tanto do ponto de vista pessoal quanto do de seus colegas, sobre os seguintes aspectos (as opiniões são sigilosas, para assegurar a liberdade ao responder as questões): 147 1- Órgão em que trabalhou a maior parte do tempo a partir de janeiro de 2004: (seção, divisão e departamento). 2- Tempo de trabalho na ABNC: ) menos de 1 ano ) de 1 a 5 anos ) mais de 5 anos 3- Qual foi a sua função no seu departamento na maior parte do tempo em que trabalhou na ABNC? Nas questões abaixo, responda de acordo com a seguinte escala: 0- Concordo fortemente 0- Concordo fracamente 0- Indiferente 0- Discordo fracamente 0- Discordo fortemente 3- A força de trabalho participa da gestão da empresa? (1 a 5) 3- O relacionamento da força de trabalho com seus superiores é bom? (1 a 5) 3- O relacionamento entre os membros da força de trabalho é bom? (1 a 5) 3- Os gerentes delegam responsabilidades à força de trabalho? (1 a 5) 3- Há liberdade na interação entre gerentes e a força de trabalho? (1 a 5) 3- A força de trabalho tem autonomia para tomar decisões dentro do processo em que trabalham? (1 a 5) 3- Você usa computador em suas tarefas diárias? (1 a 5) 3- Você utiliza o sistema de informática da empresa? (1 a 5) 3- Quais são, na sua opinião, as principais vantagens verificadas com a implantação do atual sistema de informática? (1 a 5) 3- Você indicaria alguma falha na a implantação do sistema? (1 a 5) 3- Na sua empresa os empregados são reconhecidos por seus talentos individuais ou apenas como força de trabalho num sentido geral? (1 a 5) 148 3- As tarefas individuais são substituídas por processos ou conjunto de tarefas? Ou seja, você sabe executar apenas a sua tarefa ou pode substituir seus colegas em tarefas diferentes? (1 a 5) 3- Quem é responsável pelo desempenho da tarefa: o indivíduo ou a equipe? (1 a 5) 3- As equipes se preocupam em executar suas tarefas com qualidade apenas ou também planejar e aperfeiçoar o como fazer? (1 a 5) 3- Os níveis hierárquicos são muitos ou poucos? (1 a 5) 3- As diferenças de status entre trabalhadores são pequenas ou grandes? (1 a 5) 3- O controle e a coordenação são atribuições de quem: do supervisor ou de cada membro da equipe? (1 a 5) 3- O que determina a influencia de um individuo sobre os demais: seu conhecimento, ou seu cargo? (1 a 5) 3- Os salários são estabelecidos de acordo com o cargo ou com o desempenho da equipe? A distribuição dos benefícios do ganho, da participação acionária e da participação nos lucros é igual para todos os trabalhadores? (1 a 5) 3- A empresa se preocupa com a estabilidade dos funcionários no emprego ou há mudança constante de funcionários? (1 a 5) 3- Há incentivo á participação de todos, em comissões, grupos de trabalho ou seminários onde se discutem processos produtivos ou administrativos, políticas e praticas de pessoal, relacionamento com os sindicatos bem como nas iniciativas visando à solução conjunta de problemas e conflitos? (1 a 5) QUESTIONÁRIO NÍVEL GERENCIAL (Aplicado aos gerentes/ chefes de divisão e seção da ABNC e CMB) 0- Nome completo: 0- Posto de trabalho: 149 0- Órgão em que trabalha: 0- Tempo no cargo: 0- A gestão da sua empresa é apoiada por instrumentos de certificação, como por exemplo, a norma ISO (International Standardization Organization)? Nas questões abaixo, responda de acordo com a seguinte escala: 0- Concordo fortemente 0- Concordo fracamente 0- Indiferente 0- Discordo fracamente 0- Discordo fortemente 0- Se a empresa está certificada segundo as normas ISO: Segundo seu conhecimento, os funcionários: (responda SIM ou NÃO) • Têm conhecimento de suas referentes Instruções de Trabalho (ITRs)? • Trabalham conforme as ITRs? • Concordam com as ITRs? • Sabem usar computador? • Sabem usar o sistema da empresa? • Usam o sistema da empresa? • Conhecem as normas ISO? 0- Como você acredita que seja a circulação de informação dentro da empresa (do nível operacional ao gerencial)? 0- Há liberdade de interação entre as pessoas do nível operacional e do nível gerencial? 0- A gerência promove uma estratégia organizacional apropriada estimulando iniciativa, criatividade, cooperação e sinergia? 0- A flexibilização dos processos produtivos naturalmente traz autonomia aos operadores, dando-lhes mais “poder”. Como você acha que a gerência age/se sente com relação a essa “divisão” do seu poder? 0- Hoje na sua empresa ocorrem negociações de qualquer tipo entre empregadores e empregados? 0- Os empregados contribuem para a gestão da produção? E da organização? (ou são passivos?) 0- Você ouviu falar em gestão por processos? Segundo seu conhecimento, o que é? 150 0- Você sabe quais são os macro-processos fundamentais do seu departamento? 0- Os objetivos de sua empresa estão mais voltados aos departamentos ou aos processos/produtos? 0- A remuneração em seu departamento é feita de acordo com o desempenho ou é fixa de acordo com o cargo? 0- Você considera que os funcionários do nível operacional são treinados apenas para desempenhar pequenas tarefas ou sabem executar diversas tarefas dentro do processo em que trabalham? 0- Você tem conhecimento se o orçamento da sua empresa é voltado para os produtos/processos ou se é baseado pela divisão departamental? 0- Você tem conhecimento do que é o sistema integrado de gestão, ERP? Caso positivo, você reconhece no ERP uma ferramenta facilitadora do trânsito de informações dentro de uma empresa? 0- Considera seus trabalhadores flexíveis e polivalentes? 0( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Usa quais desses equipamentos de apoio de base eletrônica e telecomunicações? )Windows )redes locais )telefonia automática )fibra ótica )fax )telefonia celular )internet )CAD( computer assisted design) )CAM (computer aided maufacturing) )CIM (computer integrated manufacturing) )CIE (computer integrated enterprise) )MRP (material requiremente planning) )MRP II(manufacturing resource planning) 0- Utiliza alguma dessas técnicas gerenciais? ( ( ( ( )TQC (total quality control) )TQM (total quality management) )JIT (just in time) )TOC (theory of constraints) 0- Considera que os funcionários do nível operacional possuem: (sim ou não) • Divisão maleável e integração das funções de concepção, controle e execução; 151 • • • • • • • • Divisão de tarefas de acordo com as circunstâncias e necessidades; Integração de tarefas para criar um trabalho completo identificável, com resultados visíveis; Dão privilégio ao trabalho em equipe, com forte incentivo para o indivíduo e/ou grupo programar, com independência, o seu trabalho e determinar os procedimentos relativos à execução de tarefas; É desenvolvida nos empregados a capacidade de prever problemas e incentivar soluções criativas; Tarefas e funções realizadas em grupos de trabalho; Mão de obra qualificada, com características multifuncionais e com múltiplas habilidades; Informações claras sobre os resultados obtidos no trabalho Autocontrole. 0- Há em sua empresa esforço permanente para melhoria simultânea da qualidade, dos custos e dos serviços de entrega? 0- Sua empresa busca manter-se próxima de seus clientes para entender suas necessidades e ser capaz de se adaptar para satisfazê-las? 0- Sua empresa busca maior aproximação com os fornecedores? 0- Sua empresa faz uso estratégico da tecnologia, visando obter vantagens competitivas? 0- A estrutura organizacional da sua empresa é mais vertical ou horizontal? É muito ou pouco compartimentalizada? 0- Há em sua empresa políticas inovadoras de recursos humanos? 0- Na sua empresa os empregados são tratados como talentos individuais e não como braços ou custo variável? APÊNDICE B – Entrevista da pesquisa José Domingos Sidrim Bastos. Vice-presidente de Gráfica da American Bank Note Company. 152 Trabalha há 27 anos na ABNC; foi funcionário da CMB por 5 anos. 1- Sobre as principais diferenças entre a Casa da Moeda do Brasil e a American Bank Note: “Principais barreiras que enfrenta a empresa pública: 1- Lei 8666 (Lei de licitações): qualquer compra da CMB tem q seguir essa lei. Qualquer fuga a essa lei a CMB tem q responder um procedimento processual. O lado ruim é que limita a escolha de fornecedores. Por outro lado ela inibe as falcatruas. É uma forma de dar mais transparência ao processo. O lado ruim é que influencia o processo de decisão da empresa pública. 2- Burocracia: O governo exige das empresas públicas uma série de informações e dados, para dar conta do dinheiro público, do contribuinte: auditoria interna e externa, relatórios, tribunal de contas,etc. Cerca de 200 funcionários da CMB trabalham apenas para fornecer esses dados, dedicados somente a gerar essas informações. Isso não existe na empresa privada, não há esse custo. 3- (Des) Continuidade administrativa: em 12 anos a ABN teve apenas 1 presidente (Sidney Levy), enquanto a CMB já teve os seguintes presidentes: Danilo Lobo, Raul de Oliveira, Tarcisio Caldas, Fernando Malburg, Manoel Severino, Barbosa. Uma média de 2 anos por presidente. Permanência no cargo (me) ABNC CMB Presidente 12 anos 2 anos Diretores 22 anos 6 , 8 meses A idade média da diretoria na CMB é muito mais baixa. São cargos de confiança que variam de acordo com o governo. 153 A empresa privada pode fazer o que quiser, desde q seja dentro da lei, sem roubar, caixa dois, etc. Compra o que quiser, pode comprar mais barato sempre que quiser ou escolher quem é tecnicamente melhor e escolher o melhor, mesmo que tenha que pagar mais caro por isso. A empresa pública tem algumas obrigações: licitar, etc. É obrigada a comprar pelo menos preço ou como realmente a 8666 é muito restritiva, se faz uma especificação que é praticamente impossível de se seguir, forçando a contratação de determinado fornecedor ou excluindo outros. Três etapas do processo licitatório: 1- Abertura de processo administrativo – edital; 2- Proposta técnica; 3- Proposta de preço. Numa empresa privada isso não importa. Se faz a qualificação técnica ou não, habilita-se por amostras, testes, analisa-se o produto, habilita ou nao. Não há necessidade de proposta técnica por escrito. O que conta mais é preço. A empresa pública é obrigada a seguir as regras da licitação. É totalmente diferente.” 2- Tem alguma crítica/observação a fazer em relação à direção da CMB, comparada à da ABNC? “Todos os presidentes que passaram por lá são a mesma coisa. Manoel Severino teve boa aceitação pelo operacional, apesar dos escândalos de corrupção, Marcos Valério, etc. Dos 4 diretores da ABNC hoje, três são ex-CMB, por 5 anos no mínimo. Sidrin de 1974 a 1979; Sidney de 1976 a 1981, Jose Roberto de 1979 a 1983. Naquela época a empresa tinha mais de 3000 funcionários e eles nem se conheciam. A CMB não promove aproximação entre os funcionários, há muita divisão em “grupos” de influência, muita política. Isso acaba influenciando a direção da empresa.” 154 3- Quais são os maiores concorrentes no setor de gráfica de segurança? “Grandes concorrentes no setor de gráfica de segurança hoje: CMB, ABN, Interprint, Thomas, Greg and Sons. Em junho de 1993 a ABN comprou uma de suas concorrentes, a Thomas de la rue.” 4- O senhor enxerga a CMB como sua maior concorrente? “Apesar de estarem no mesmo ramo/setor, ao contrário do que se imagina, a linha de negócios da ABNC é completamente diferente da CMB. Eu nem considero a CMB como minha maior concorrente. A CMB não está concorrendo mais no setor de cartões, que é metade do faturamento da ABN (cartões indutivos, magnéticos, de celular, com chip, etc.). A CMB tem uma linha, apenas de cartões indutivos, que está parada há anos. A ABN presta serviços e produtos a bancos, não são apenas serviços de gráfica de segurança, responsáveis por 30% do faturamento da empresa. Apenas 20% da empresa concorre em alguns produtos com a CMB atualmente. Efetivamente concorreram com a CMB apenas em 1% do seu faturamento, logo não os considero concorrentes, pois estão atuando em mercados diferentes. No fundo as estratégias empresariais são diferentes, e os produtos comuns não tem faturamento expressivo. (dados de 2005) A CMB deveria buscar mercado no segmento de meio de pagamento. O dia que a CMB tiver um presidente interessado em expandir a receita, a gráfica geral vai fechar. O DEGER não dá dinheiro e produzir produtos gráficos não é o objetivo da CMB! A CMB utiliza 110mil m2 de área construída, que é o dinheiro que nós contribuintes pagamos. Quanto custa a manutenção daquele parque industrial? Se a CMB fizer seus 4 produtos principais (cédulas, moedas, selos fiscais e passaportes), ao invés de utilizar 100 mil m2, ela utilizará 20 mil (30 no máximo). O espaço ocupado no DECED por exemplo, já está reduzido à metade: isso porque eles utilizam máquinas velhas. O dia que usarem máquinas modernas, o espaço se reduzirá mais ainda, em 1/3. Em 20 mil m2 se aloca o DECED e o DEMOM. Não se pode ter um terreno de 550 mil m2 para só isso! É uma maluquice. Com uma área de 50 mil m2 a CMB não precisaria ficar em santa Cruz. Poderia 155 muito bem ir para um local mais próximo ao BACEN, poderia ficar perfeitamente num terreno do BACEN de 40 mil m2 que fica no cais do porto. Fariam a nova CMB, muito menor, mais moderna, bonita, muito mais enxuta, ao invés de 1940 funcionários teria 800 ou 600, acabaria o sentido de existir o escritório da 7 de setembro. O problema seria a quantidade de demissões que isso causaria. Mas o custo por cédula seria absurdamente menor. A CMB não tem estímulo à redução do custo por cédula. 10% do que é gasto é ganho a título de modernização tecnológica. Esse sistema incentiva o custo a ser maior. Quanto mais se gasta, mais se ganha. O dólar e o euro têm mais itens de segurança que o real e custam mais barato. Quando a CMB tenta exportar, ela cobra um preço mais barato do que consegue produzir (não é competitiva no mercado de cédulas) senão não consegue exportar. Mesmo que a CMB exportasse, para manter tamanha área construída e corpo de funcionários, não daria vazão. O modelo ao qual a CMB se submete é perverso. Não se resolve mudando o presidente. O modelo é irracional.” 5 – A ABNC não tem interesse então em concorrer no mercado de cédulas? “A ABN começou fazendo cédulas para o governo americano. Depois começou a exportar para vários países, inclusive o Brasil. A CMB tem 300 anos (é a segunda empresa mais antiga do Brasil, apenas Correios é mais antiga), mas começou a fazer cédulas em 1970. O BACEN foi, em 2005, responsável por 75% do faturamento da CMB, o DEGER 25%. Faturamento da CMB em 2005 foi R$360 milhões (o da ABN foi 390 milhões). A vantagem da ABN já é grande no setor em que atua. Como não poderia concorrer no mercado interno de cédulas, não vale a pena, ao menos por enquanto, investir em cédulas para exportação. Hoje a CMB tem 1940 funcionários. A ABNC tem 600 funcionários no Rio, 1000 em SP e 1000 no resto do Brasil. (bem mais que a CMB)” 6- Qual é o modelo de gestão na ABNC? 156 “O modelo de gestão é funcional. A CMB tem a presidência e, abaixo dela, três diretorias: Administrativa, de Produção e Técnica (bem funcional). Já a ABN é dividida em unidades auto-geridas (ao todo são 9 unidades de negócio) que funcionam como empresas independentes. Cada unidade tem um PNL – contabilidade (vendas brutas, impostos diretos, vendas liquidas, custos variáveis, gastos gerais de fabricação, custos indiretos, custo fixo, despesas comerciais: propaganda, comissão para representante (earn before tax, interest, depreciation and amortization) , um tipo de lucro bruto, antes da depreciação e amortização. Descontando-se depreciação e amortização, tem-se o Lucro operacional , que descontado das despesas corporativas dá o LUCRO da empresa. A divisão das unidades de negócio é feita por produto.Cada gerente é responsável por sua unidade de negócio. E o bônus é de cada fábrica, proporcional ao seu faturamento. Só não são responsáveis por três coisas: • Tesouraria (área financeira - contas a pagar e a receber- e controladoria) • Contabilidade • Jurídico” 7- Está nos planos da empresa mudar seu modelo de gestão para um mais flexível, por exemplo, gestão por processos? “A ABN nunca cogitou mudar seu modelo de gestão.” 8- A ABNC faz uso de sistema ERP? “Não tem, nem pensam em ter nenhum sistema ERP. Tem um sistema da MXM, desenvolvido por essa empresa de informática, há 8 ou 9 anos. Há 5 anos tentou implantar um ERP indiano, mas não deu certo. Levaram 1 ano e meio e gastaram 2 milhões de reais e abandonaram. Não funcionou. O sistema atual lhes atende muito bem, é totalmente voltado ao negócio deles.” 9- A ABNC é certificada pela norma ISO? 157 “A ABN é certificada pela ISO desde 1996, todas as 9 unidades de negócio da empresa. Primeiro: cartão indutivo, depois a gráfica. Eu coordeno três unidades de negócio: • PSD (Print storage and distribution) – Gráfica de São Paulo que atende bancos e seguradoras. A gráfica gere seu almoxarifado e coordenas as entregas; • Intaglio (produtos de segurança) – Concorre diretamente com a CMB • Sistemas de identificação (Identidade, CNH) – A ABN tem 75% desse mercado e a CMB apenas 3%. A CMB é muito pequena para concorrer com a ABN, ela não investe em tecnologia. A CMB tinha o DETRAN-RJ porque lhe foi cedido, não se submeteu a licitação. Atualmente, até identidades são ABN. CNH: Brasil todo, menos ES e AC (CMB) Na CMB são apenas 2 pessoas que cuidam de CNH e 2 de RG. Eles sabem o básico, mas não tem tecnologia para competir com a ABN. A ABN nem concorre em determinados mercados para deixar um nicho para a CMB. É bom para a ABN, que investiu 8 milhões de reais em software, servidor, câmeras, laptops. Já a CMB, em toda história do CNH, não deve ter investido 1 milhão. A CMB nem participou da ultima licitação. É bom competir com a CMB, é uma empresa grande, reconhecida, tem nome, logo é bom competir com ela, quer que ela continue produzindo. De algumas licitações a CMB nem está participando mais.” 10- Como é a circulação de informação dentro da empresa? “As unidades de negócio facilitam a comunicação, aproximam o gerente do operacional (achatamento do organograma). O universo de cada UN é pequeno. É como se fossem nove empresas, cada uma com seu gerente comercial e gerente de operações, supervisores, cada um com 150 funcionários em média.” 158 APÊNDICE C – Dados da Casa da Moeda do Brasil A Casa da Moeda do Brasil é uma empresa totalmente estatal. Seus três séculos de existência têm início em 1694, quando foi estabelecida no Brasil Colônia pelos governantes portugueses para fabricar moedas com o ouro proveniente das minerações. Naquela época a 159 extração de ouro era muito expressiva no Brasil, e o crescimento do comércio começava a causar um caos monetário devido à falta de um suprimento local de moedas. Um ano após a fundação, a cunhagem das primeiras moedas genuinamente brasileiras foi iniciada na cidade de Salvador, primeira sede da CMB, permitindo assim que fossem progressivamente substituídas as diversas moedas estrangeiras que aqui circulavam. Desde então, através da produção de moedas e, posteriormente, também de cédulas e outros produtos fiduciários e de segurança, a história da CMB vem se tornando parte da própria História do Brasil. Apenas a título de exemplo, observe-se que o Brasil foi o terceiro país do mundo (precedido apenas pela Inglaterra e pela Suíça) a emitir um selo postal, produzido em 1843 utilizando técnicas "intaglio". Esse selo, o famoso "Olho de Boi", é seguramente parte de nossa história, bem como é parte da história da filatelia mundial. Após alguns anos de atividade no nordeste do Brasil, foi a CMB transferida para o Rio de Janeiro, então capital da República, operando inicialmente em instalaçães provisórias e, mais tarde, em amplo e adequado prédio construído na Praça da República, inaugurado em 1868 (hoje pertencente ao Arquivo Nacional). Essa planta foi modernizada no período de 1964 a 1969, com o específico propósito de assegurar a nosso país a auto suficiência na produção de seu meio circulante. Em 1969, para surpresa dos especialistas internacionais, essa meta foi alcançada: cinco diferentes denominações de cédulas brasileiras foram simultaneamente lançadas, estritamente de acordo com o planejamento governamental elaborado em 1967. O crescimento da economia brasileira durante anos subseqüentes veio a requerer a expansão da capacidade de produção da empresa. Um novo complexo industrial, que hoje representa um dos maiores do gênero no mundo, foi especificamente projetado, construído e inaugurado em 1983 em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Essas modernas instalações ocupam cerca de 110.000 metros quadrados de área construída, em uma área de terreno de cerca de 500.000 metros quadrados, dedicando-se à produção de moedas, cédulas e documentos de segurança como selos postais, selos fiscais, passaportes, títulos do governo, bilhetes magnetizados para transportes públicos, cartões telefônicos, documentos 160 de identidade, licenças para conduzir veículos e muitos outros. Sendo uma das mais antigas instituições públicas brasileiras, a CMB orgulha-se de ter conquistado ao longo de seus mais de três séculos o respeito de seus clientes e da sociedade brasileira, confiavelmente suprindo produtos de segurança de alta qualidade, compatíveis com os mais exigentes padrões internacionais. RELATÓRIO DE GESTÃO 1- FINALIDADES ESSENCIAIS DA EMPRESA O Artigo 2o da Lei no 5.895, de 19 de junho de 1973, abaixo transcrito, define a razão de ser da Casa da Moeda do Brasil. " Art. 2o - A Casa da Moeda do Brasil terá por finalidade, em caráter de exclusividade, a fabricação de papel-moeda e moeda metálica e a impressão de selos postais e fiscais federais e títulos da dívida pública federal. Parágrafo Único - Sem prejuízo do disposto neste artigo a Casa da Moeda do Brasil poderá exercer outras atividades compatíveis com suas atividades industriais". Como empresa, além das atribuições legais supra mencionadas, a Casa da Moeda do Brasil tem a responsabilidade de manter-se com as receitas produzidas em sua atividade industrial. Para assegurar equilíbrio adequado, e seguindo decisão do Conselho de Administração, a CMB busca manter um nível suficiente de atividade na produção de produtos não monopolizados, com vistas a preservar a estabilidade operacional, reduzindo os efeitos das variações freqüentes, e na maioria das vezes imprevistas, de demanda por seus produtos monopolizados. 2 - EXECUÇÃO DOS PROGRAMAS DE GOVERNO E DE TRABALHO 161 A Casa da Moeda do Brasil é responsável pela execução do Programa "Produção de Moeda e Documentos de Segurança" vinculado ao Plano Plurianual 2000 / 2003 do Governo Federal. Esse Programa tem o objetivo de atender ao mercado de Moedas e de Documentos de Segurança, garantindo o abastecimento do Meio Circulante Nacional, por Cédulas e Moedas; de Selos Fiscais e Postais; e outras necessidades de clientes do setor público ou prestadores de serviços públicos. Apresentamos, a seguir, os resultados obtidos por cada Ação desse Programa, com o comparativo entre o previsto e o realizado. 2.1- AÇÕES RELACIONADAS À PRODUÇÃO Apresentamos a seguir, nas Tabelas 1 e 2, a situação das Ações do Programa da CMB, no Plano Plurianual 2000 / 2003, relacionadas às linhas de produção da Empresa, com o comparativo das quantidades e faturamentos, previstos e realizados, no exercício de 2001. Tabela 1- Demonstrativo da Quantidade Faturada 2001 – 2000 (em mil)l CLIENTE PRODUTO UN QUANTIDADE VAR. QUANTIDADE VAR. QUANTIDADE PREVISTA REALIZADA REALIZADA % 162 % 2001 - (1) DE 2001 - (2) DE (3) 2000 - (3) (1) PARA PARA (2) (2) BACEN CÉDULAS DIVERSOS DOCUMENTOS UN 1.600.000,0 (5,1) 1.518.300,0 40,5 1.080.800,0 UN 15.000,0 (35,1) 9.734,5 6,4 9.146,4 DE SEGURANÇA DIVERSOS BACEN MOEDAS UN 698.327,0 0,0 698.062,0 376,0 146.656,0 DRF SELOS FISCAIS UN 6.479.550,0 0,9 6.534.880,0 (5,5) 6.896.330,0 Selo de Cigarro UN 5.400.000,0 0,2 5.411.880,0 (5,8) 5.724.720,0 Selo de Bebida / UN 1.078.850,0 4,0 1.122.300,0 1,9 1.100.850,0 700,0 0,0 700,0 - 70.760,0 Aguardente / Uísque Selo Fonográfico e UN das Obras Audiovisuais ECT SELOS POSTAIS EST 14.506,0 (13,2) 12.592,6 (2,0) 12.846,0 Selos Ordinários EST 8.950,0 (23,7) 6.833,2 (21,3) 8.290,0 Selos EST 5.556,0 3,7 5.759,4 26,4 4.556,0 UN 737.612,0 (11,3) 654.050,0 (48,3) 969.686,0 UN 10.925,0 (36,5) 6.933,5 (208,3) 21.375,0 Comemorativos DIVERSOS BILHETES MAGNETIZADOS DIVERSOS CARTÕES INDUTIVOS 163 DIVERSOS CADERNETAS UN 600,0 10,0 660,0 (21,2) 800,0 DIVERSOS DOCUMENTOS UN 86.160,7 (11,5) 76.291,7 226,3 33.715,1 DE SEGURANÇA DIVERSOS Notas: A Coluna "Quantidade Prevista" refere-se ao 2º Orçamento CMB aprovado, pela Diretoria Executiva da Empresa,em 13/08/2001. Tabela 2 - Demonstrativo do Faturamento 2001 – 2000 (em R$ mil) CLIENTE PRODUTO FATURAMENTO VAR. FATURAMENTO VAR. FATURAMENTO BRUTO % BRUTO % PREVISTO DE REALIZADO DE (3) REALIZADO 2001 - (1) (1) 2001 - (2) PARA 2000 - (3) PARA BRUTO (2) (2) BACEN CÉDULAS DIVERSOS DOCUMENTOS 92.166,46 (8,0) 84.805,47 20,9 70.125,04 1.217,74 (26,3) 897,75 17,2 765,82 93.384,20 (8,2) 85.703,22 20,9 70.890,86 DE SEGURANÇA DIVERSOS SUB-TOTAL DECED 164 BACEN MOEDAS 49.509,32 0,0 49.517,69 95,8 25.291,10 3.792,99 (41,2) 2.230,90 (40,6) 3.757,96 53.302,31 ( 2,9) 51.748,59 78,1 29.049,06 SELOS FISCAIS 30.255,25 0,7 30.467,76 (13,6) 35.268,00 Selo de Cigarro 15.791,57 12,5 17.769,17 16,2 15.291,52 (12,3) 12.643,77 (11,8) 14.337,60 0,0 54,82 - 5.638,88 DIVERSOS DIVERSOS DEMOM SUB-TOTAL DEMOM DRF Selo de Bebida / 14.408,86 Aguardente / Uísque Selo Fonográfico e 54,82 das Obras Audiovisuais ECT SELOS POSTAIS 5.002,90 (12,0) 4.402,07 9,8 4.008,06 Selos Ordinários 2.502,92 (24,5) 1.888,98 (7,1) 2.033,83 Selos 2.499,98 0,5 2.513,09 27,3 1.974,23 9.325,28 (5,7) 8.790,30 (23,3) 11.467,76 2.014,99 (35,9) 1.292,35 ( 78,5) 6.006,16 DIVERSOS CADERNETAS 2.364,00 17,7 2.781,42 ( 9,9) 3.088,00 DIVERSOS DOCUMENTOS 8.805,36 (42,5) 5.063,72 7,4 4.714,54 Comemorativos DIVERSOS BILHETES MAGNETIZADOS DIVERSOS CARTÕES INDUTIVOS 165 DE SEGURANÇA DIVERSOS SUB-TOTAL 57.767,78 ( 8,6) 52.797,62 (18,2) 64.552,52 204.454,29 ( 6,9) 190.249,43 15,7 164.492,44 DEGER TOTAL GERAL Nota: A Coluna "Faturamento Previsto" refere-se ao 2º Orçamento CMB aprovado, pela Diretoria Executiva da Empresa, em 13/08/2001. 2.1.1- Departamento de Cédulas O Departamento de Cédulas obteve, no ano de 2001, um faturamento de R$85,703 milhões, referente às linhas de produção de Cédulas e de Notas Fiscais, apresentando uma variação positiva de 20,9% em relação ao exercício anterior. A quantidade de Cédulas inicialmente prevista pelo Banco Central do Brasil, de 1,6 bilhão de unidades, não se concretizou em função de pequena redução orçamentária imposta ao Banco Central do Brasil, sendo atingido no final do exercício o quantitativo de 1,518 bilhão de unidades. As perdas na linha de Cédulas sofreram um aumento de 85,9%, em relação ao ano de 2000, motivado basicamente pela produção de Cédula em polímero, atingindo o índice de 10.715 PPM (Partes Por Milhão). Parte da capacidade ociosa dos equipamentos disponíveis no Departamento foi aplicada na impressão de Notas Fiscais de segurança (Convênio ICMS n0s 58/95, de 28/06/95, 131/95, de 11/12/95, e 55/96, de 31/05/96), apresentando esta linha de produção um acréscimo das vendas, em relação à 2000, de 6,4%. O DECED, em novembro de 2001, participou da XV Pacific Rim Banknote Prinnter´s Conference, realizada na Tailândia, onde apresentou trabalho de recuperação de Tinta Intaglio com a utilização de Sistema de Pré-limpeza Modificado. 166 2.1.2- Departamento de Moedas e Medalhas O Departamento de Moedas e Medalhas realizou, no ano de 2001, um faturamento de R$51,748 milhões, apresentando uma variação positiva de 78,1% em relação ao exercício anterior. O Programa de Produção de Moedas para o BACEN foi totalmente atendido, superando ao de 2000 em 376,0%. Esta demanda contribuiu para atenuar as necessidades do meio circulante, face aos problemas de troco apresentados nos diversos segmentos do mercado. A Fábrica de Eletrorrevestimento de Discos, que vinha sendo prejudicada pela baixa demanda de Moedas nos anos anteriores, pode, no exercício de 2001, sedimentar os conhecimentos dos técnicos e operadores quanto ao processo produtivo, de vez que este foi praticado de forma contínua, o que não vinha ocorrendo desde sua implantação em 1998, com tecnologia canadense. O Programa de Moedas Comemorativas dos 500 Anos de Descobrimento do Brasil, ficou prejudicado, pois, aliado ao fato do tempo decorrido da data do evento, não foi possível a implantação de loja virtual, através da qual pretendíamos intensificar as vendas. Desta forma, de um faturamento previsto de R$ 2,902 milhões, realizou-se apenas R$ 1,045 milhão, ou seja, cerca de 36,0%. 2.1.3- Departamento de Gráfica Geral A Gráfica Geral gerou, no ano de 2001, um faturamento de R$ 52,797 milhões, apresentando um decréscimo de 18,2% em relação ao ano de 2000. São merecedores de registro os seguintes fatos ocorridos no exercício de 2001: • Selos Fiscais: No último quadrimestre do ano houve alteração nos modelos e nas matérias-primas de todos os Selos de Controle de Bebidas e de Cigarros, da Secretaria da Receita Federal, com o objetivo de aumentar a segurança gráfica dos mesmos e minimizar as falsificações. 167 • Selos Postais: Implementação de várias inovações gráficas nos produtos, e houve a necessidade da CMB se ajustar aos novos patamares de demanda, com a revisão de alguns aspectos de sua capacidade produtiva, o que permitirá para o exercício de 2002 o atendimento das necessidades do cliente com o aumento adicional previsto. • Bilhetes Magnetizados: Não houve a confirmação da demanda prevista de bilhetes para São Paulo e Rio de Janeiro. No primeiro caso a falta de investimentos em bloqueios eletrônicos nos ônibus, previstos para o município de São Paulo, levou a mudança de estratégia pelo novo governo, que substituiu o produto por vales de papel até que sejam implementados os cartões magnéticos "sem contato". No segundo caso pelo interesse do cliente de implantação de novas funções nos bilhetes (visuais para marketing, de controle na pista para segurança contra falsificação e com cartolina e tinta magnética mais lisas, permitindo redução dos custos de manutenção), tecnologia essa diferente da existente na CMB, o que foi suprido por fabricante argentino. • Cartões Indutivos: Venda a menor de cartões devido à decisão das Operadoras e do Centro de Tecnologia, responsável pela patente, de alterar as funções do produto agregando mais valor, isto é, mais resistência ao uso e maior segurança através da codificação do fabricante, da operadora e da tiragem. A CMB está estudando as novas condições de mercado e de investimentos necessários para se capacitar para fabricação do produto com as novas características exigidas. • Documentos de Identificação: Foi implantado no segundo semestre de 2001, em conjunto com o DETRAN-RJ, o centro de personalização de Documentos de Identidade Civil com moderna tecnologia digital, possibilitando a entrega de produto ao usuário, em curto período de tempo, com excelente qualidade visual e de segurança contra falsificação. No final do ano, foi celebrado outro importante contrato para fabricação de Carteiras e Cartões de base plástica, além de um banco de dados nacional para consulta, da OAB, prevendo-se para 2002 o recadastramento e a troca dos documentos de todos os profissionais da área. 168 2.2 - AÇÕES RELACIONADAS A INVESTIMENTOS No Programa da CMB "Produção de Moeda e Documentos de Segurança", do Plano Plurianual 2000 / 2003, são apresentadas duas Ações, "Manutenção da Infra-estrutura Operacional" e "Modernização do Parque Industrial", relacionadas aos investimentos da Empresa. Conforme demonstrado na Tabela 3, a seguir, a Casa da Moeda realizou R$ 7,667 milhões, valor este 71,6% aquém da verba de R$ 27 milhões, prevista no Plano de Dispêndios Globais – PDG. Esse baixo índice deveu-se, principalmente, à necessidade de equilíbrio orçamentário da Empresa e a problemas nos processos licitatórios, bem como a retardamentos havidos em projetos técnicos. Por oportuno, registre-se que desde o lançamento do Plano Real a CMB investiu um total de cerca de R$ 112,8 milhões, com seus próprios recursos, o que representa uma média anual de R$ 14,1 milhões. A manutenção dessa média, todavia, mostra-se progressivamente mais difícil, em anos recentes, tendo em vista que em algumas linhas onde investimentos foram realizados, as demandas pelos produtos ficaram aquém das previsões que nortearam os investimentos, o que retarda os respectivos retornos financeiros. Neste caso situam-se as linhas de eletrorrevestimentos para Moedas, de acabamento de Cadernetas (Passaporte), e a de produção de Cartões Indutivos. Tabela 3 - Demonstrativo dos Investimentos (em R$ mil) AÇÃO VALOR PREVISTO 2001 VAR. - DE % VALOR VAR. % VALOR (1) REALIZADO DE PARA (2) (1) Manutenção - 2001 PARA (3) REALIZADO - (2) (2) (3) da 14.574,57 (85,3) 2.147,36 118,2 983,89 do 12.425,43 (55,6) 5.519,26 148,4 2.222,25 Infra-estrutura Operacional Modernização 169 2000 Parque Industrial TOTAL 27.000,00 (71,6) 7.666,62 139,1 3.206,14 2.3- PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO A Casa da Moeda do Brasil, através do Departamento de Tecnologia, busca continuamente identificar tecnologias disponíveis e consagradas, inclusive em outros setores industriais, que tenham aplicação nos processos e produtos da Empresa, com objetivo de torná-la mais competitiva. Destacamos a seguir os principais projetos que tiveram andamento, no ano de 2001, com objetivo de melhorar os produtos e processos da Empresa. 2.3.1- Desenvolvimento de Novos Processos • Estudo de novo processo de proteção anti-bactericida em Cédulas; • Avaliação laboratorial da resistência à corrosão e abrasão das Moedas eletrorrevestidas fabricadas na CMB; • Estudos de materiais alternativos para fabricação de Moedas de R$ 0,50 e R$ 1,00; • Estudos sobre cunhagem de aço inox colorido para produção de Moedas e Medalhas Especiais; • Implantação do Sistema de personalização de Documentos para o DETRAN-RJ; • Estudo para fabricação de produtos gráficos em bases plásticas, com início da implantação do sistema de personalização de Documentos da OAB; • Estudo para implantação da linha de personalização de Cartão com Chip. 2.3.2- Desenvolvimento de Novos Elementos de Segurança Gráficas e Materiais • Estudo de diferentes tipos de papel "Longa Vida" para impressão de Cédulas. 170 2.3.3- Meio Ambiente • Contratação do Sistema de Captação de Águas do Lençol Freático da CMB, para utilização na torre de resfriamento, com implantação prevista no 1º semestre de 2002, visando diminuir o custo d’água da Empresa; • Otimização do tratamento dos efluentes gerados, na fabricação do Cartão Indutivo, de Cédulas e da Gráfica Geral, com realização de testes de bancada e industrial; • Apresentação de trabalhos técnicos sobre tratamento / reciclagem de efluentes e resíduos, no Congresso da ABM e na USP. 2.4- PROGRAMA DE MEIO AMBIENTE A preservação do meio ambiente tem sido objetivo permanente da Empresa, que implantou, no ano de 2001, diversas ações para controlar e minimizar os impactos ambientais causados pelos processos de produção. Destacamos a seguir as principais realizações do exercício. • Elaboração do Projeto de Meio Ambiente, com divulgação da Política do Meio Ambiente; • Realização de Auditoria Ambiental, para atendimento à DZ-056 da FEEMA; • Monitoramento de Efluentes Industriais e Sanitários Tratados, em atendimento ao Programa PROCON – Água da FEEMA; • Início de operação do processo de aeração por ar difuso nas lagoas para tratamento biológico do esgoto sanitário da CMB; • Contratação de empresa para prestação de serviços de Destinação e Disposição Final dos resíduos Borra de Tinta e Lodo Galvânico, num total de 1.800 toneladas; 171 • Contratação de empresa para prestação de serviços de Engenharia de Análise do Solo, Subsolo e Lençol Subterrâneo (freático) da área onde estocou-se cerca de 10 mil toneladas do resíduo Borra de Tinta. Grande parte dos esforços gerenciais desse setor no exercício de 2001 foi dedicada às negociações com a FEEMA e, com o Ministério Público em busca de concretização de um Termo de Ajuste de Conduta, mediante o qual a CMB terá um prazo de três anos para o definitivo equacionamento de seus problemas ambientais. A execução desse programa exigirá desembolsos prioritários de aproximadamente R$ 5 milhões, e a assinatura do Termo está prevista para o 1º trimestre de 2002. 2.5- PROGRAMA DE GESTÃO DA QUALIDADE O ano de 2001 foi marcado por acontecimentos significativos para os Sistemas de Gestão da Qualidade da CMB. A Certificação da Linha de Cartões Indutivos expirou em Dezembro de 2000, tendo em vista o fato de não ter havido produção por longo período, incluindo aquele relativo à auditoria de re-certificação (final de 2000 e início de 2001). Outro fato importante é a transição dos requisitos da versão 1994 para os da versão 2000 das Normas ISO 9000, que ampliam significativamente a abrangência dos Sistemas de Gestão, incluindo a necessidade de um sistema de indicadores para monitoramento dos processos do Sistema de Gestão, o monitoramento da satisfação dos clientes e melhorias contínuas, fortalecendo a visão de negócio para a organização, o que, na versão anterior, restringia-se essencialmente em garantir a qualidade de produtos e serviços. Para melhor se preparar e qualificar para a transição, foram efetuados treinamentos para os Gerentes e principais técnicos da CMB. Ainda para reforçar a cultura de gestão, alguns colaboradores da CMB foram encorajados a participar do Ciclo de 2001 do Prêmio Qualidade Rio e do Prêmio Nacional da Qualidade. O objetivo é formá-la para autoavaliação da gestão da CMB, atividade essa que deverá ser adotada a partir de 2002 como parte integrante das atividades de análise crítica do Sistema de Gestão da Qualidade. Encontra-se em elaboração uma proposta para a implantação de um Sistema de Medição do Desempenho Global, tendo como referência os requisitos da NBR ISO 9000-2000 e do Prêmio Nacional da Qualidade. 172 A implantação dos Sistemas de Gestão em outras linhas de produto da CMB está em andamento, particularmente da Linha de Fabricação de Moedas e Medalhas. Outras linhas também vêm sendo trabalhadas com atividades de autocontrole da qualidade (Bilhetes Magnetizados, Passaportes, Selos Comemorativos, Selos Ordinários) e atividades de documentação com vistas à implantação de um Sistema de Gestão. 2.6- PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUTO E DESENVOLVIMENTO DE MATRIZES Dentre as ações realizadas, no ano de 2001, destacamos as seguintes: 2.6.1- Quanto à Engenharia do Produto, ao Design e Originais • Desenvolvimento dos projetos das Cédulas de R$ 2,00 e R$ 20,00, sendo esta última com aplicação de banda holográfica; • Desenvolvimento do projeto do Selo da ECT (bobininhas); • Desenvolvimento do projeto de Selos de Controle Fiscais para SRF em calcografia; • Desenvolvimento dos projetos de Carteira e Cartão da OAB; • Desenvolvimento do projeto do Passaporte da Bolívia. 2.6.2- Quanto ao Desenvolvimento e Alternativas em novos Produtos • Desenvolvimento de imagem latente a partir do resultado de máquina do DECED, com obtenção de melhora considerável do resultado na Cédula de R$ 2,00; • Garantia do registro coincidente nas matrizes offset da Cédula de R$ 2,00; • Desenvolvimento, em conjunto com o DEGER, do 1º Selo Comemorativo "Ano da Serpente", com aplicação Hot Stamping em relevo; • Matrizes de Selo Comemorativo com lineatura de 400 linhas/polegada, com obtenção de excelente qualidade na produção; 173 • Desenvolvimento de produção gráfica na pré-impressão, visando minimizar os problemas encontrados na impressão dos Selos de Rotogravura; • Desenvolvimento do elemento gráfico para aplicação de tinta metamérica no bilhete da FIFA. 2.6.3- Quanto a Investimentos no Departamento • Aquisição de um Sistema Informatizado para Gravação de Matrizes para Moedas e Medalhas, agregando recursos necessários e compatíveis a nível de competitividade no mercado internacional e assegurando a repetibilidade dos produtos; • Aquisição de duas novas Estações de Trabalho Gráfico de última geração, possibilitando a redução do tempo no atendimento a clientes diversos; • Aquisição de um Sistema de Processamento de Imagens Digitais, viabilizando o recebimento de mídias magnéticas dos nossos clientes, que refletiu no aumento da velocidade e capacidade de processamento das imagens, além de reduzir grande parte do trabalho com fotografia convencional; • Aquisição de um Sistema Galvânico para produção de Matrizes Gráficas, no mesmo padrão de qualidade praticado pela KBA-GIORI no centro tecnológico da Suiça, assegurando uma uniformidade na eletrodeposição das matrizes com menor tempo de retífica e consumo de insumos, com produtividade na fabricação de chapas calcográficas, refletindo diretamente nos processos de impressão de Cédulas e Gráfica Geral. 3 - INDICADORES DE GESTÃO QUE PERMITAM AFERIR A EFICIÊNCIA, EFICÁCIA E ECONOMICIDADE DA AÇÃO ADMINISTRATIVA, LEVANDO-SE EM CONTA OS RESULTADOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS ALCANÇADOS PELA EMPRESA 3.1 - INDICADORES OPERACIONAIS Apresentamos, a seguir, os indicadores operacionais das principais linhas de produção. 174 Tabela 4 - Indicadores - Departamento de Cédulas - 2001 – 2000 EXERCÍCIO ITENS 2001 VAR % 2000 DE 2000 PARA 2001 QUANTIDADE FATURADA 1.518.300.000 1.080.800.000 40,5 9.146.440 6,4 70.125.042,54 20,9 765.820,40 17,2 295.378,59 27,3 83,1 14,2 5.763,00 85,9 240 (5,3) CÉDULAS NACIONAIS QUANTIDADE FATURADA NOTAS 9.734.525 FISCAIS FATURAMENTO CÉDULAS 84.805.470,61 NACIONAIS (R$) FATURAMENTO NOTAS FISCAIS 897.748,46 (R$) FATURAMENTO POR EMPREGADO 375.891,31 (R$) ATENDIMENTO AO PROGRAMA 94,9 INICIAL PREVISTO (%) PERDAS POR MILHÃO (PPM) 10.714,69 NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS EM 228 31/12 HORAS EXTRAS (%) 4,01 1,02 293,1 NÚMERO DE ACIDENTES 21 14 50,0 196 (5,4) NÚMERO DE PARTICIPAÇÕES EM 186 CURSOS 175 Tabela 5 - Indicadores - Departamento de Moedas e Medalhas - 2001 – 2000 EXERCÍCIO ITENS 2001 VAR % 2000 DE 2000 PARA 2001 QUANTIDADE FATURADA DE MOEDAS 698.062.000 146.656.000 376,0 FATURAMENTO DEMOM (R$) 51.748.590,58 29.049.060,00 78,1 FATURAMENTO POR EMPREGADO (R$) 396.027,41 221.748,55 78,14 18,0 455,5 ATENDIMENTO AO PROGRAMA INICIAL 100,0 PREVISTO (%) PERDAS (%) 0,01 0,03 (66,7) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS EM 31/12 131 131 0,0 HORAS EXTRAS (%) 0,66 0,20 230,0 NÚMERO DE ACIDENTES 26 8 225,0 EM 55 37 48,6 ( NÚMERO 10 15 (33,3) VISITA DE CLIENTES À CMB 10 30 (66,7) NÚMERO DE PARTICIPAÇÕES CURSOS VISITA A CLIENTES ESTIMADO) Tabela 6 - Indicadores - Departamento de Gráfica Geral - 2001 – 2000 EXERCÍCIO 176 VAR % ITENS 2001 2000 DE 2000 PARA 2001 FATURAMENTO (R$) 52.797.624,07 64.552.515,56 (18,2) FATURAMENTO POR EMPREGADO (R$) 125.112,85 161.785,75 (22,7) (*) - ATENDIMENTO AO PROGRAMA INICIAL (*) PREVISTO (%) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS EM 31/12 422 399 5,8 HORAS EXTRAS (%) 3,18 1,64 93,9 NÚMERO DE ACIDENTES 10 27 (63,0) 30 263,3 NÚMERO DE PARTICIPAÇÕES EM 109 CURSOS Nota: (*) Vide Tabela 1, pág. 4, em função da variedade de produtos. Tabela 7- Índice de Perdas 2001 - 2000 ÍNDICE SELOS SELO DE DE AGUARDENTE COMEMORA ORD. PERDAS CIGARRO SELOS TIVOS SELO CARTAO PASSAPOR BILHETES INDUTIVO TE MAGNETIZADOS 7,9 18,0 AUTO ADESIVO 2001 % 3,9 5,2 23,3 14,9 177 15,4 2000 % 2,5 VAR % 56,0 2,9 23,0 25,5 7,2 21,0 15,8 79,3 1,3 (41,6) 9,7 (26,7) 13,9 DE 2000 -2001 3.2- INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS A Casa da Moeda do Brasil, alcançou no exercício de 2001, um Faturamento Líquido superior ao exercício de 2000 em 20,8%. Esse crescimento ocorreu pelo aumento das vendas de Cédulas e Moedas. Já a Gráfica Geral, apresentou queda no faturamento, ficando aquém do planejado, e comparando-se com o exercício de 2000, a Receita Líquida apresentou a seguinte configuração: RECEITA RECEITA LÍQUIDA LÍQUIDA VAR.% DEPARTAMENTOS 2001 2000 DECED 82.556.090 68.229.496 21,0 DEMOM 49.541.768 27.195.583 82,2 DEGER 40.869.495 48.045.726 (14,9) Outros 405.561 0 0,0 TOTAL 173.372.914 143.470.805 20,8 2002/2001 Assim, a CMB encerrou o exercício de 2001, registrando aumento de 15,7% no Faturamento Bruto, como a seguir analisado. ANÁLISE PATRIMONIAL 178 Com variação negativa no período do Patrimônio Bruto de 0,39% e variação positiva do Patrimônio Líquido de 1,75% respectivamente, refletem os principais aspectos a seguir analisados: . Ativo Circulante Correspondendo a 49,68% do Ativo Total, apresentou decréscimo de 0,10%, estando assim configurado: - Disponível Representando 25,04% do Ativo Circulante, apresentou decréscimo nominal de 0,36%. - Valores a Receber a Curto Prazo Configurando 46,42% do Ativo Circulante, apresentou um crescimento nominal de 7,74%. - Estoques Correspondendo a 28,43% do Ativo Circulante apresentou, ao final do exercício, decréscimo nominal de 10,63%. . Realizável a Longo Prazo Representando 5,77% do Ativo Total, com um crescimento nominal de 155,02%. . Ativo Permanente Representando 44,55% do Ativo Total, apresentou decréscimo nominal de 7,94%. . Passivo Circulante Correspondendo a 9,40% do Passivo Total, apresentou um decréscimo nominal de 15,48%. - Fornecedores Correspondendo 34,83% do Passivo Circulante, apresentou decréscimo nominal de 9,36%. - Empréstimos e Financiamentos no País Correspondendo a 1,67% do Passivo Circulante, apresentou um decréscimo nominal de 80,45%. - Provisão para Férias e Encargos s/Férias Correspondendo a 16,48% do Passivo Circulante, com um crescimento nominal de 7,55%. 179 . Passivo Exigível a Longo Prazo Representando 15,30% do Passivo Total, apresenta um crescimento nominal de 0,25%. . Patrimônio Líquido Correspondendo a 75,29% do Patrimônio Total, apresenta a seguinte composição: ITENS 2001 VALOR Pat. Líquido Cap. Social Res. Capital % VALOR Acum. 2001/2000 % VALOR % 169.253.628 100,00 166.342.223 100,00 2.911.405 1,75 143.992.708 85,08 143.992.708 86,56 - 0,00 7.322.448 4,40 - 0,00 20,88 (16.799.574) (48,36) 4,33 7.322.448 Res. Lucro 17.938.472 10,60 34.738.045 Lucro/Prej. VARIAÇÃO 2000 4.261.405 2,52 (19.710.978) (11,85) 23.972.383 121,62 ANÁLISE FINANCEIRA NÃO OPERACIONAL O Capital Circulante Líquido, da ordem de R$ 90.535 mil, com variação nominal favorável de 4,33%. Indicadores Liquidez Imediata Liquidez Seca VAR.% 2001 2000 1999 1998 1997 1,32 1,12 0,45 0,43 1,04 17,86 3,77 3,05 1,99 2,98 2,03 23,61 180 2001/2000 Liquidez 5,28 4,47 2,72 4,78 2,93 18,12 Liquidez Geral 2,24 1,97 2,45 2,77 2,47 13,71 Endividamento 0,25 0,26 0,20 0,18 0,20 (3,85) Imb.Cap.Próp. 0,59 0,65 0,65 0,61 0,55 (9,23) Corrente Liquidez Imediata Demonstra que a Empresa dispõe de R$ 1,32 para a cobertura instantânea de cada R$ 1,00 em dívida vencível em até 360 dias. Liquidez Seca Mostra que a Empresa possui em disponibilidades e créditos a receber, R$ 3,77 para a cobertura de cada R$ 1,00 com obrigações até 360 dias. Liquidez Corrente A empresa possui R$ 5,28 para cada R$ 1,00 de dívida a curto prazo. Liquidez Geral Somando-se os ativos circulante mais realizável a longo prazo e comparando-se com os passivos de mesmo período, verifica-se que a Empresa detém R$ 2,24 para cada R$ 1,00 de obrigação. Endividamento A queda de 3,85% no grau de endividamento da empresa, demonstra que o Ativo Total foi 75% financiado com recursos próprios e 25% financiado com recursos de terceiros. Imobilização do Capital Próprio O grau de imobilização do Capital Próprio demonstra que 33% dos recursos próprios da Empresa encontram-se investidos no Ativo Permanente, conquanto 67% encontram-se aplicados em transações correntes de Curto e Longo Prazo. 181 ANÁLISE FINANCEIRA OPERACIONAL Tabela 8 - Demonstrativo das Vendas Líquidas – (R$ - Mil) VAR.% ITEM 2001 2000 1999 1998 1997 2001/2000 Receita Líquida das Vendas 173.373 143.471 147.968 137.456 149.808 20,84 A Receita Líquida das Vendas de Produtos e Serviços, cresceu em R$29,9 milhões (20,84%). Por outro lado, o Custo dos Produtos e Serviços Vendidos cresceu em R$33,7 milhões (43,39%), por conseguinte, houve queda no Lucro Bruto Operacional de R$3,8 milhões (5,75%). O Lucro Líquido Operacional foi de R$5,7 milhões, comparado ao prejuízo de R$19,7 milhões do exercício anterior, representa uma variação favorável de 129,13%. Neste contexto, observamos os seguintes reflexos nos principais Indicadores de Lucratividade / Retorno: VAR.% INDICADORES 2001 2000 1999 1998 1997 Mark Up 55,74 84,81 92,52 80,44 30,35 (34,27) Margem Bruta 35,79 45,89 48,06 44,58 23,29 (22,01) Margem Oper. 3,31 (13,72) 12,49 9,98 5,64 124,11 Margem Líquida 2,46 (13,74) 10,46 7,87 4,77 117,89 Tx.Ret.S/Inv.Total 2,73 (8,99) 8,27 7,03 4,06 130,35 (10,58) 11,57 8,71 5,28 134,78 Tx.Ret.S/Inv.T.Próp. 3,68 182 2001/2000 4 - MEDIDAS IMPLEMENTADAS COM VISTAS AO SANEAMENTO DE EVENTUAIS DISFUNÇÕES ESTRUTURAIS QUE PREJUDICARAM OU INVIABILIZARAM O ALCANCE DOS OBJETIVOS COLIMADOS 4.1- PESSOAL Foi elaborado o Programa de Gestão de Desempenho por Resultados – PGDR, com vistas à adoção experimental no exercício de 2001, de um novo modelo de gestão de pessoas. Esse novo modelo de gestão buscará criar oportunidades de desenvolvimento e valorização de idéias, além de resgatar o processo de avaliação de desempenho. Se bem sucedido, o PGDR contribuirá para subsidiar a seleção para acesso na carreira e alocação para funções de chefia, e permitirá identificar áreas e pontos carentes de melhoria da qualidade e produtividade do trabalho. 4.2- ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Identificada como ponto fraco da Empresa, com foco nas atividades comerciais e de qualidade, a estrutura organizacional da Empresa precisa ser atualizada para responder a novas demandas da sociedade, não só no aprimoramento do relacionamento com os clientes, através de áreas já existentes para atendimento aos mesmos, como também na formalização de consultas, junto aos usuários finais de seus produtos, como preciosa fonte de informações para a promoção de melhorias, quer nos produtos, como nos serviços prestados. Estará inserido no Plano Funcional da CMB, exercício de 2002, trabalho para a revisão da estrutura organizacional, de forma a adequá-la às novas demandas da sociedade. 4.3- SISTEMA DE CUSTOS A necessidade da Casa da Moeda do Brasil, em decorrência de política governamental, utilizar o Sistema Integrado de Administração Financeira – SIAFI, na elaboração de seu orçamento e na contabilização de suas contas, fez com que a Empresa abandonasse os sistemas anteriormente utilizados, para contabilização e apuração dos custos. Por ser o SIAFI um sistema voltado, basicamente, para as administrações diretas, sua aplicação na CMB, por ter características distintas daquelas, pois é uma fábrica, fez com que o detalhamento dos custos de alguns produtos fique inviável, usando-se, nestes casos, o 183