transcrição da entrevista em português.
Transcrição
transcrição da entrevista em português.
Entrevista com José Sergio Gabrielli de Azevedo, presidente da Petrobras "O Brasil não tem interesse em entrar na OPEP" Andy Robinson Davos Apesar da crise, tudo parece estar indo muito bem para a Petrobras e para o Brasil. Isso é verdade? Descobrimos grandes campos petrolíferos na região offshore de Santos. Eles contêm entre 10 bilhões e 16 bilhões de barris de petróleo recuperável, e é provável que essa seja apenas uma pequena parte do total. Porque sabemos que há muito mais que isso. Já estamos produzindo 30 mil barris por dia. Aumentaremos essa produção para 120 mil até o final do ano. Em 2013, produziremos 219 mil, enquanto em 2020, 1,8 milhões de barris por dia. Temos um programa enorme de investimentos, US$ 174,4 bilhões nos próximos cinco anos. Captamos recursos no valor de US$ 40 bilhões. Somos a empresa mais experiente do mundo em exploração offshore. E o Brasil, em termos gerais? O Brasil tem enormes possibilidades energéticas. Prevemos que a economia registrará um crescimento de 4% até 2020. 51% do consumo de combustíveis correspondem a etanol, enquanto 85% da energia elétrica são originados por hidrelétricas, portanto, a longo prazo, podemos satisfazer toda a nossa demanda com etanol. Cem por cento dos automóveis no Brasil - fabricamos mais de três milhões de unidades por ano - são "flex fuel", isso é, rodam com gasolina ou 100% álcool. E a Petrobras atua tanto no setor de petróleo, como no de biocombustíveis. Até que ponto a Petrobras depende da economia brasileira? No total, 85% de nossas vendas são nacionais. Produzimos dois milhões de barris por dia no Brasil, e refinamos dois milhões. O crescimento atual da economia brasileira vem do mercado interno graças à redução da desigualdade da renda. E isto está gerando demanda por diferentes produtos, entre eles o nosso. Por exemplo, os programas estatais de combate à pobreza nos beneficiam. Um deles tem como objetivo levar eletricidade às famílias mais pobres, o que envolve ampliar a rede elétrica de forma a alcançar mais dois milhões de famílias, ou 11 milhões de pessoas. E isto cria uma demanda de um milhão de refrigeradores, televisores e outros aparelhos, o que, por sua vez, gera mais demanda energética. A verdade é que vão tão bem que não é de se estranhar que nos perguntemos se interessa à empresa expandir mediante aquisições, como comprar a Repsol, por exemplo? Nossa estratégia baseia-se em crescimento orgânico. Porque temos resultados muito bons em exploração e uma boa carteira de desenvolvimento. Já sabemos fazê-lo assim. Fazemos aquisições de maneira oportuna. Se nos agradam, fazemos; se não, então não. E quais são os critérios de seleção para essas oportunidades? O preço, com certeza. E também se a empresa tem relação com nossa estratégia. Se podemos obter sinergias com nosso sistema de produção. Se esse for o caso, então consideramos a possibilidade. Alguns economistas dizem que o Brasil sofre do mal holandês, excessivamente dependente das exportações de matérias primas como o petróleo, que tendem a supervalorizar a divisa. É correto dizer isso? No Brasil, temos uma cadeia de suprimento bastante diversificada e, além disso, muita demanda interna. A valorização do real origina-se mais no mercado de capitais. Não tem relação com a conta corrente, mas com investimentos diretos. Há muito petróleo no Brasil, portanto, a Petrobras é muito importante. Somos o principal exportador do Brasil. Pagamos 12% dos impostos arrecadados no país. O Brasil tem um superávit comercial com petróleo de cerca de US$ 2,9 bilhões. Mas não somos tão importantes como o petróleo da Venezuela, por exemplo. E damos preferência a empresas de tecnologia brasileira como fornecedoras, em parte para minimizar o risco do mal holandês que mencionou. Por exemplo? Os campos estão localizados em águas muito profundas, de 2 mil metros, e isso exige diferentes tipos de tecnologia. A camada de sal é muito espessa, outros 2 mil metros. Precisaremos de mais 30 sondas para águas profundas. E queremos que elas sejam construídas no Brasil. Ou seja, já nesses casos adjudicaremos o contrato, sempre que for para uma empresa brasileira. Precisamos de 146 embarcações de suprimento. Milhares de quilômetros de oleodutos. Cinco mil compressores. Vamos comprar muito. E por isso podemos exigir que seja fabricado no Brasil. Isso quer dizer que no modelo brasileiro, a Petrobras, como empresa estatal, apoia a indústria nacional, e há ainda o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) no Brasil...? O BNDES tem um enorme programa para o financiamento de investimentos. É maior do que o Banco Mundial. Isso é uma chave para a construção de empresas potentes que possam competir em escala global. Por exemplo, na Petrobras captamos recursos no valor de US$ 40 bilhões. E o BNDES aportou a maior parte disso. Mas a Petrobras pode captar fundos nos mercados. Por que ela precisa do BNDES? Porque o BNDES não é um banco de investimentos, mas sim um banco de desenvolvimento. Ele toma decisões estratégicas. Ele tem uma ideia de longo prazo do que significa vantagem competitiva. E é a ferramenta do governo para o pacote de estímulos no Brasil. Além do BNDES, quem mais contribuiu com a captação de recursos US$ 40 bilhões? O BNDES aportou US$ 13 bilhões e conseguimos US$ 10 bilhões junto ao Banco de Desenvolvimento da China e outros US$ 6,5 bilhões nos mercados de capital. A relação com a China está cada vez mais importante. Sim, temos um acordo estratégico com a Sinopec. Eles estão construindo um oleoduto importante. E temos um contrato comercial através do qual vendemos a eles 200 mil barris por dia de petróleo. A China é nossa maior parceira comercial. E dadas as expectativas de crescimento da China, seria lógico pensar que isso continuará assim. Produzimos matérias primas e produtos básicos de que a China precisa. Somos complementares. Temos produtos como ferro e alimentos de que os chineses necessitam. E petróleo também. É possível que aumentemos as exportações para a China. Investimos muito em eficiência. Estamos acrescentando 1,3 milhão de barris por dia ao 1,9 milhão que já refinamos. Isso iremos exportar. O Brasil entrará na OPEP? Não queremos exportar petróleo bruto, mas sim petróleo refinado. Portanto, não temos muito interesse em entrar na OPEP. Quais são suas previsões para o preço do petróleo em 2010? Estarão num intervalo de US$ 60 a US$ 80 por barril. Esse não é o melhor para nós. A Petrobras otimiza sua estratégia com o barril valendo entre US$ 45 e US$ 65