Informativo São Vicente - Província Brasileira da Congregação da

Transcrição

Informativo São Vicente - Província Brasileira da Congregação da
Informativo São Vicente
Boletim de circulação interna
DA PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO
y
Ano XLI - no. 273
Julho - agosto de 2008
Rua Cosme Velho, 241
22241-090 Rio de Janeiro - RJ
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Equipe responsável pelo Informativo
São Vicente
- Pe. Osmar Rufino Dâmaso
- Ir. Gentil José Soares da Silva
- Vinícius Augusto R. Teixeira
Correção e Revisão:
- Pe. Lauro Palú
Formatação e Impressão:
- Cristina Vellaco
- Equipe de Mecanografia
Colégio São Vicente de Paulo
SUMÁRIO
do
“A Igreja sempre venerou as
Divinas Escrituras, como também
o próprio Corpo do Senhor,
sobretudo na sagrada liturgia;
nunca deixou de tomar e
distribuir aos fiéis, tanto da mesa
da Palavra de Deus como do
Corpo de Cristo, o pão da vida.
Sempre considerou as Divinas
Escrituras
e
continua
a
considerá-las, juntamente com a
Sagrada Tradição, como regra
suprema da sua fé; elas, com
efeito, inspiradas como são por
Deus e escritas uma vez para
sempre, continuam a dar-nos
imutavelmente a Palavra do
próprio Deus e fazem ouvir a voz
do Espírito Santo através das
palavras dos profetas e dos
apóstolos. É preciso, pois, que,
do mesmo modo que a religião
cristã, também a pregação
eclesiástica seja alimentada e
dirigida pela Sagrada Escritura.
Com efeito, nos Livros Sagrados,
o Pai que está nos céus vem
amorosamente ao encontro dos
seus filhos para conversar com
eles; e é tão grande a força e
virtude da Palavra de Deus, que
fornece à Igreja o apoio vigoroso,
aos filhos da Igreja a solidez na
fé, e constitui alimento da alma,
fonte pura e perene da vida
espiritual (Dei Verbum, n. 21).
-135 -
SUMÁRIO
Editorial .........................................................................................................
Carta do Superior Geral ................................................................................
Palavra do Visitador. .....................................................................................
137
139
142
Artigos
Vida Eclesial I
Sinodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus......
Cardeal Carlo Maria Martini, S. J.
Vida Eclesial II
Declaração final do 3º Congresso Americano
Missionário (CAM3/Comla8)...............................
148
156
Espiritualidade
Uma Igreja em estado permanente de missão ................
Odinei de Paiva Magalhães, C. M.
160
Herança Vicentina
São Vicente de Paulo e a Bíblia........................
Pe. Eugênio J. Wisniewski, C. M.
164
Memória
Pe. Ildeu Pinto Coelho C. M...............................
Pe. Célio M. Dell”amore, C. M.
171
Testemunho
Paróquia – Missão de Nossa Senhora da
Esperança de Massingir.....................................
Pe. Sebastião Mendes Gonçalves, C. M.
Espaço do estudante
vicentino I
Espaço do estudante
Vicentino II
SAVV
174
Experiência missionária no mês de julho ...........
Odinei de Paiva Magalhães, C. M.
179
Os representantes da PBCM no ENEV – 2008.......
180
Apontamentos para a reflexão sobre
perspectivas, desafios e
construções................................
Marisa Aparecida Domingos
183
186
Notícias ........................................................................................................
Diletos leitores,
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O Informativo São Vicente chega mais uma vez às suas mãos com o desejo de continuar
sendo um meio pelo qual toda a Província, Coirmãos, colaboradores e leitores diversos, se
mantenham informados e formados segundo a espiritualidade que nos é própria, oriunda de nosso
Pai Fundador. Na vida e nos fatos da Província, queremos estar atentos e abertos aos apelos do
Senhor da Messe que nos chama e nos envia a ser discípulos e missionários.
Agosto e setembro são meses significativos para todos nós cristãos. Agosto a Igreja
dedica às Vocações. Vocação que na família, na vida laical, na vida consagrada, é
um chamado de Deus que num sentido abrangente destina-se a todo homem e a
toda mulher, chamado/a a responder a este mistério de amor de Deus de maneira
livre, mas com muita disposição, para exercerem o ministério que o nosso bom Deus
lhes confia. Um chamado para ser a ponte entre Deus e os homens e assim
continuar no mundo a missão do próprio Cristo. Em seguida, o mês de setembro é
dedicado à Palavra de Deus e sobre ela poderemos dizer com São Paulo: “Toda escritura é
inspirada e útil para ensinar, repreender, encaminhar e instruir na justiça. Com isso o homem de
Deus estará formado e capacitado para todo tipo de boas obras” (2Tm 3, 16-17). No seguimento
fiel da Palavra, acompanharemos o Apóstolo das Nações.
O Ano Paulino, iniciado no dia 28 de junho de 2008, nos possibilitará redescobrir o
Apóstolo das Nações, reler suas cartas dirigidas às primeiras comunidades cristãs, meditando em
sua vigorosa espiritualidade de fé, esperança e caridade, revitalizar a fé e o papel da igreja de
hoje à luz de seus ensinamentos, rezar e trabalhar pela unidade de todos os cristãos em uma
Igreja unida. Nos dizeres de Bento XVI, o Ano Paulino tem “a intenção de promover uma reflexão
cada vez mais aprofundada sobre a herança teológica e espiritual, deixada à
Igreja pelo Apóstolo das Nações, com a sua vasta e profunda obra de
evangelização”. Paulo afirma: “Anunciar a boa notícia não é para mim motivo de
orgulho, mas obrigação que me incumbe. Ai de mim se eu não a anunciar” (1Cor
9,16). Ele funda inúmeras Igrejas dirigindo-se a elas como evangelizador. Ele
define a Igreja de forma original no Novo Testamento como “Corpo de Cristo”
(1Cor. 12, 27; Ef 4, 12; 5, 30; Cl 1, 24). “Já que há um único pão, nós, embora
muitos, somos um só corpo” (1Cor 10,17). “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28). E,
neste contexto, nos sentimos convocados para a Missão, em sintonia com o CAM 3 e o COMLA 8
(2008), o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008), o
Ano Paulino (28/06/2008-29/06/2009), o 12º Inter-Eclesial das CEBs (2009), o Ano Catequético
Nacional (2009) e o Congresso Eucarístico Nacional (2010).
À luz do que evidenciamos acima iremos acompanhar em nossas páginas artigos edificantes,
que nos levam à reflexão pessoal e comunitária. Nesse sentido colocamos em destaque a palavra
do Cardeal Martíni, referente ao Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus. O Cardeal, com
toda autoridade de que se reveste, fala a respeito da importância do próximo Sínodo. Releva
alguns assuntos que não merecem retornar à discussão, pois já estão esclarecidos na Dei
Verbum. Aponta os assuntos que devem merecer maior atenção dos Padres Sinodais; entre esses
acena também à distinção entre leitura das Sagradas Escrituras e Catequese como educação da
fé e fala da dependência da catequese em relação à Bíblia. Indica ainda os desafios que
permanecem, no atual momento da Igreja, para tornar presente a Palavra de Deus na vida de
todos os cristãos. Em seguida, temos a Declaração Final do 3º Congresso Americano Missionário
(Cam3/Comla8), que nos aponta os caminhos da missão e do discipulado. Enriquece nosso
Informativo a reflexão do Pe. Eugênio Wisniewski, nos mostrando a relação original de São
Vicente com a palavra de Deus e apontando, a partir do encontro da CLAPVI em abril de 2007, no
Rio de Janeiro, convicções e pistas de ação. Outros artigos e notícias abrilhantam este nosso
veículo de comunicação.
Boa leitura a todos!
Ir. Gentil José Soares da Silva, C.M.
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Roma, 9 de junho de 2008
Caros Estudantes,
A graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham nossos corações
agora e sempre!
Quero agradecer-lhes pela mensagem que me enviaram faz algum tempo, anunciando o
próximo Encontro do ENEV, em que vão celebrar os 25 anos de sua existência. Em primeiro lugar,
25 anos me falam de constância, de firmeza e disposição para continuar sendo fiéis ao caminhar
do Senhor através da formação. É um momento adequado para felicitar os membros das
Províncias, especialmente os que, ano após ano, foram dando continuidade a este momento tão
importante como a formação dos Nossos.
Passo-lhes alguns pontos que espero que sejam significativos para a reflexão de vocês
durante o Encontro deste ano.
O primeiro e mais importante é um convite, de minha parte, a todos os estudantes
membros da Congregação da Missão das Províncias do Brasil para que se mantenham firmes em
seu amor pelos Empobrecidos. É muito importante que reflitamos sobre nossa relação com os
Pobres. Que nos diriam hoje os Pobres, que nos diriam com relação ao compromisso e à
profundidade da espiritualidade dos Estudantes vicentinos? Os Pobres são a presença de Deus
no meio de nós, desafiando-nos a estar presentes, não só para ajudá-los mas também para
caminhar junto com eles na realização de seus projetos para conseguir uma vida mais digna como
filhos e filhas de Deus. Indo além, é importante o que vocês vão experimentando com o sofrimento
dos Pobres, vivendo a partir da sua realidade. Esta proximidade, este caminhar e esta vivência da
dor dos Pobres é o que nos vai ajudar a entender melhor o Deus de Jesus Cristo que se revela no
rosto dos Pobres.
Segundo ponto sobre o qual me parece importante refletir é se os Pobres vêem vocês
como homens de Deus, como homens de oração. Precisamente a base de nossa espiritualidade e
de nossa vida de oração se estabelece quando refletimos nossa experiência de Deus a partir da
experiência de nossa relação com os Pobres. É muito importante consagrar o tempo necessário
para refletir; não basta agir sempre junto com os Pobres, é preciso apartar-se, “ir à montanha”
como Jesus fazia, ir a um lugar deserto para encontrar-nos face a face com o Deus que fala ao
fundo de nosso coração.
Um desafio grande que me parece importante que vocês, como estudantes das Províncias
do Brasil vão considerando: Novos projetos de evangelização realizados interprovincialmente e
com os mais abandonados, nos lugares mais pobres, nos rincões mais afastados desse grande
país que é o Brasil. A importância do desejo de realizar esses projetos de evangelização a partir
de uma experiência de equipe, com os diferentes membros das Províncias, com outros membros
da Família Vicentina e outros leigos que desejam entregar sua vida para o serviço e a
evangelização dos Pobres. Não basta o desejo de servir e evangelizar os Pobres por nós mesmos
individualmente; a experiência vicentina deve ser uma experiência e um esforço feito em
conjunto; por isso nossas Constituições falam da experiência de Comunidade para a Missão.
Nossa Missão se realiza melhor, mais autenticamente, quando a vamos realizando a partir da
experiência de comunidade.
É importante, durante todo o passar do tempo, não só da formação inicial, mas durante
toda a sua vida na Congregação da Missão, ir aprofundando sempre mais as relações entre
- 138 -
vocês, para que de verdade possam chegar a amar-se como São Vicente nos convida, como
amigos que se querem bem.
Outro ponto que penso seria bom ir considerando, sendo jovens e vivendo num mundo
onde se torna muito difícil comprometer-se com alguma coisa por toda a vida, é a reflexão
profunda sobre nosso voto de estabilidade. Quando alguém faz este voto, o está fazendo para
toda a vida, comprometendo-se com a Congregação e com os Pobres durante toda a sua vida.
Quero que reflitam seriamente sobre isto porque, neste momento, a Congregação, em geral e em
várias partes da América Latina, está passando por uma crise em que muitos dos Coirmãos
jovens se torna muito difícil manter-se firmes neste voto de estabilidade; depois de pouco tempo,
desejam abandonar a Congregação, entregando-se muitas vezes a outras realidades como a vida
diocesana.
Outro ponto de reflexão, sobre o qual não é preciso falar muito, porque há muito material,
mas que é de muita importância para a Congregação e para a Família Vicentina em geral neste
momento, é um maior conhecimento do que chamamos “Mudança de Estruturas”, com que vamos
comprometendo-nos com uma entrega maior aos Pobres e junto com eles, para ajudá-los a sair
das situações de opressão em que vivem. Os sistemas sociais em que vive o nosso mundo
continuam criando uma brecha cada vez maior entre os ricos e os pobres; há muitas coisas que
vão empobrecendo cada vez mais “os sem-terra”, “os sem-teto”, “os sem-trabalho”, os sem os
meios necessários para ter uma boa saúde e educação, e então nós, os seguidores de Jesus
Cristo que vivemos o carisma de São Vicente de Paulo, somos chamados a comprometer-nos
com os Pobres, custe o que custar e até à morte, se é isto o que exige um mundo mais justo para
com os Pobres.
Peço ao Senhor da Vida, Jesus ressuscitado, que encha seus corações de paz e coragem
para viverem o amor de Deus entre vocês, como irmãos em Comunidade, e com os Pobres,
nossos senhores e patrões. Deus os abençoe. Tenham um Encontro feliz. Felicitações pelos 25
anos do ENEV.
Irmão de vocês em São Vicente,
G. Gregory Gay, C. M.,
Superior Geral
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PALAVRA
Rio de Janeiro, 28 de agosto de 2008.
Caríssimo Coirmão,
“Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam
cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então Jesus
VISITADOR
disse a seus discípulos: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores
são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande
trabalhadores para a colheita’” (Mt 9, 36-38).
DO
É fascinante perceber nos textos evangélicos a profunda transformação por que passam
as pessoas que se encontram com Jesus, transformação que poderíamos chamar de conversão
ou, ainda, de “mudança de estruturas”.
O Papa Bento XVI nos lembra: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou
uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um
novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva.” 1 O encontro com o Senhor, quando
autêntico e verdadeiro, acontece na intimidade. É este o testemunho que nos oferecem os
discípulos de João que seguiram a Jesus (cf. Jo 1, 35-39). Surpreendidos por Jesus que “virou-se
para trás, e vendo que o seguiam, perguntou: ‘o que é que vocês estão procurando?”, eles
responderam: “Mestre, onde moras?” A resposta do Senhor foi um convite: “Venham, e vocês
verão”, e o desfecho da cena, um compromisso de vida e missão: “Então eles foram e viram onde
Jesus morava. E começaram a viver com ele naquele mesmo dia. Era mais ou menos quatro
horas da tarde.”
Com os olhos fixos em Jesus, continuamos nossa meditação do evangelho, com a atitude
de discípulo, e não será preciso muito tempo para descobrir que, para o seguidor de Jesus de
Nazaré, o ser missionário é exigência intrínseca do discipulado. É preciso dar testemunho. É
preciso convidar os outros para que participem desta alegria, dom do Espírito de Deus, que brota
do encontro com o Senhor.
Durante o mês de agosto, a Igreja no Brasil (desde 1981) nos convidou a refletir, a orar e a
trabalhar em prol das vocações. Todos nós temos consciência do muito que foi realizado. O
empenho de cada um de nós nesta missão vocacional não é opcional, mas conseqüência da
resposta ao chamado que Jesus nos dirigiu para colaborarmos no anúncio e realização da Boa
Notícia aos Pobres. Nenhuma atividade, nenhuma estratégia, por melhor que seja, produzirá os
frutos desejados, se não contar com o testemunho de alegria, convicção e realização pessoal de
quem já respondeu ao chamado: “Vem e segue-me” e pode repetir as palavras de Jesus: “o
Senhor me enviou para evangelizar os Pobres!” (Lc 4, 18).
O compromisso com o Serviço de Animação Vocacional (SAV) é inerente à decisão de
seguir Jesus Cristo e colaborar na construção do Reino de Deus. A Animação Vocacional deve
fazer parte do cotidiano de cada um de nós, dos ramos da Família Vicentina, de nossas
Comunidades, das pastorais e associações, dos grupos e movimentos.
O Planejamento do Serviço de Animação Vocacional Vicentina (SAVV) da PBCM afirma
que é preciso:
1. Criar e sustentar um clima de sensibilidade em toda a Província.
2. Reforçar as bases de um SAVV encarnado na realidade, partindo da visão da Igreja
como Povo de servidores.
3. Interessar progressivamente todas as nossas pastorais pela animação vocacional. A
evangelização dos Pobres incluirá sempre a perspectiva vocacional, dado que visamos
a continuidade da missão.
1
Bento XVI. Deus Caritas est, 1.
- 140 -
Com a finalidade de criar entre nós e em nossa Província uma “CULTURA VOCACIONAL”
exortamos todos os Coirmãos, as Casas e Obras da PBCM para realizarem de 21 a 28 de
setembro deste ano a SEMANA VOCACIONAL VICENTINA.
Não será preciso organizar novos e grandes eventos vocacionais, o que poderia continuar
numa perspectiva meramente circunstancial e não num verdadeiro empenho em “criar” uma
CULTURA VOCACIONAL. No entanto, também não se criará uma CULTURA VOCACIONAL se
não houver empenho e alegria de todos na concretização de atitudes e atividades.
Entre as inúmeras atitudes e atividades possíveis sugerimos:
a. Promover o conhecimento e a execução do Plano Provincial de Serviço de Animação
Vocacional Vicentina (cf. Proposta 35. Planejamento Provincial 2008-2010).
b. Acolher os adolescentes e jovens em nossas comunidades, pastorais, momentos de
oração, festividades, etc.
c. Comprometer-se com a defesa e fortalecimento dos laços familiares.
d. Rezar todos os dias, pessoal e comunitariamente, a oração “Esperança de Israel”.
e. Organizar e/ou fortalecer a Equipe do Serviço de Animação Vocacional em todas as
nossas casas e obras.
f. Organizar e/ou fortalecer os Grupos de Opção de Vida.
g. Realizar horas santas, vigílias e celebrações com ênfase na vocação vicentina.
h. E, acima de tudo, dar testemunho de sua alegria e realização pessoal na Vocação
Missionária Vicentina.
Caro Coirmão, contamos com sua indispensável colaboração e empenho neste nosso
projeto de criarmos em nossa querida Província a CULTURA VOCACIONAL.
Que Deus, Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e São Vicente de Paulo continuem a
derramar sobre todos nós abundantes bênçãos.
Fraternalmente,
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M.
Visitador Provincial
Pe. Weliton Martins Costa, C. M.
Coord. do SAVV Provincial
- 141 -
Rio de Janeiro, 8 de setembro de 2008
Estimado Coirmão,
Saúde, paz, alegria e muita disposição para o seguimento de Jesus Cristo Evangelizador
dos Pobres!
“As Assembléias da Congregação da Missão, que têm papel de proteger e promover a
espiritualidade e a vitalidade apostólica da mesma Congregação, são três: a Geral, a
Provincial e a Doméstica” (Constituições e Estatutos, 135).
Os períodos de preparação e realização das Assembléias e o tempo que se segue a elas
devem ser vivenciados como verdadeiros momentos kairológicos, isto é, momentos da presença
de Deus que vem ao nosso encontro e se revela a nós. Que possamos fazer deste tempo, que
nos é oferecido pela graça de Deus, um tempo de profunda espiritualidade, verdadeira formação
permanente e apaixonado exercício da co-responsabilidade na busca da fidelidade pessoal,
comunitária, provincial e congregacional à vocação e missão da pequena Companhia.
Com estas palavras, declaro aberto oficialmente o período de preparação para a 41ª
Assembléia Geral na Província Brasileira da Congregação da Missão.
Pe. G. Gregory Gay, Superior Geral da Congregação da Missão, através de circular de
14/04/2008, convocou a 41ª Assembléia Geral que será realizada de 28 de junho a 16 de julho de
2010, em Paris (França), à luz da celebração dos 350 anos da morte de São Vicente de Paulo.
Lema escolhido: “Fidelidade Criativa à Missão”.
Tema: (...) tendo em vista o Evangelho e sempre atenta aos sinais dos tempos (...) a
Congregação da Missão procurará abrir caminhos novos e empregar meios
adequados [às circunstâncias dos tempos e dos lugares] (...) de modo a permanecer
em estado de renovação contínua (cf. Const. 2).
O Visitador Provincial, com a aprovação do Conselho Provincial em reunião realizada no dia
24/06/2008, e após consulta aos indicados, constituiu a Comissão Preparatória da Assembléia
Provincial (CPAP-2009), com os seguintes membros: Pe. Paulo Eustáquio Venuto, Pe. Emanoel
Bedê Bertunes, Pe. Eduardo Raimundo dos Santos e Ir. Adriano Ferreira Silva. Esta Comissão já
realizou sua primeira reunião no dia 10/08/2008 na Sede Provincial.
Os encaminhamentos aprovados foram os seguintes:
1. Setembro-novembro/2008 - Leitura, reflexão pessoal e comunitária dos seguintes
documentos:
a. Documento Final da AG2004.
b. Os textos relacionados com a Formação Permanente (Vincentiana 51:3 – Maio junho/2007).
c. Carta do Superior Geral sobre Formação Permanente (18/02/2008).
O Superior ou Coordenador da Comunidade Local está recebendo uma cópia destes
documentos que deverão ser fotocopiados e entregues a cada um dos Coirmãos de sua
Comunidade Local.
2. Fevereiro/2009 - Todos os Coirmãos receberão o material para a realização das Assembléias
Domésticas que deverão ocorrer de março a maio de 2009. Cópia das atas da Assembléia
Doméstica deverá ser enviada à Sede Provincial até o dia 20/05/2009.
3. De 11 a 13 de junho/2009 – Reunião da Comissão Preparatória da Assembléia Provincial
para elaboração do Instrumento de Trabalho e outros encaminhamentos.
- 142 -
4. De 24 a 28 de agosto/2009 – Assembléia Provincial.
Peço a você, caríssimo Coirmão, e, de modo particular, a todos os Superiores e
Coordenadores de Casa, que se organizem para participar da melhor forma possível deste
importante período das Assembléias em nossa Congregação.
No início do mês de fevereiro/2009 enviarei outra circular com as orientações e o material
para realização das Assembléias Domésticas.
Conto com a oração e a colaboração de todos para o bom desenrolar desta programação
que, acredito, será um momento significativo para a animação de nossa caminhada pessoal e
comunitária, em vista do maior aprofundamento e da vivência de nossa identidade vicentina.
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M.
Visitador Provincial
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SÍNODO DOS BISPOS SOBRE A PALAVRA DE DEUS
O que evitar, o que não é importante e o que é preciso aprofundar 2
1. Introdução
Com a nomeação do relator geral do próximo Sínodo,
o card. Marc Oullet, arcebispo de Québec, e do secretário
especial, Dom Wilhem E. Egger, bispo de Bolzano-Bressanone, nossos olhares se concentram no grande acontecimento
eclesial. Todo Sinodo é importante para a Igreja, mesmo se
restringisse ao conhecimento recíproco dos bispos, que
aprendem a escutar e a confrontar suas linguagens, já
bastante diferentes entre eles.
Porém, os Sínodos se caracterizam de maneira
especial pela urgência, a oportunidade e a riqueza dos
temas tratados: daí a grande importância para toda a Igreja
da próxima reunião sinodal, que tratará do tema da Palavra de Deus.
Este Sínodo não se distingue somente pela grande relevância de seu argumento, mas
também porque já faz anos que muitos bispos e instituições o solicitam. Podemos esperar que,
com o aperfeiçoamento do regulamento que foi anunciado, a próxima assembléia constitua
realmente um momento significativo para todos os católicos e tenha repercussão, inclusive, fora
dos confins da catolicidade.
A próxima assembléia sinodal sucede o Sínodo sobre a Eucaristia (2006) recordando
assim o nexo entre as duas mesas às quais a antiga tradição da Igreja gostava de se referir 3 e
mencionadas na Dei Verbum no nº 21: “A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como
venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar
e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da Palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo”.
O tema conciliar que expressa a Dei Verbum foi brevemente recuperado pelo Sínodo
Extraordinário de 1985, cujo documento final trazia o título: “A Igreja, sob a Palavra de Deus,
celebra os mistérios de Cristo para a salvação do mundo”.
O próximo Sínodo possui, pois, em relação aos outros, uma característica especial: a de
recuperar um tema já tratado amplamente e com particular profundidade e paixão durante o último
Concílio, do qual surgiu aquela que talvez seja a mais harmoniosa constituição dogmática do
Vaticano II, a que trata “sobre a Divina Revelação”, expressa no documento de cujas primeiras
palavras derivou o seu nome: Dei Verbum. Será oportuno, pois, considerar antes de tudo esse
documento conciliar como ponto seguro de referência, mesmo que o Sínodo não costume tocar
temas doutrinais, o que compete mais propriamente a um Concílio. O que o Sínodo deve
promover é principalmente um discernimento pastoral sobre o que Deus exige de sua Igreja para
que ela possa percorrer hoje em dia itinerários autênticos de culto, de oração e de serviço.
Atendo-se a essa regra, se evitará o perigo de discussões prolixas e abstratas.
Será naturalmente o Espírito Santo que guiará os Padres sinodais em suas discussões e
deliberações. Aqui queremos tão somente apontar alguns desejos que surgem ao pensar no
2 Agradecemos imensamente ao Pe. Luiz Alves de Lima, SDB, por ter autorizado a reprodução de sua tradução deste
artigo em nosso Informativo. O texto foi publicado em: Revista de Catequese, São Paulo, ano 31, n. 122, abr./jun. 2008,
p. 77-79.
3 Cf. Imitação de Cristo, livro IV, cap. 11: “O Corpo de Cristo e a Sagrada Escritura são sumamente necessários à
alma dos fiéis”.
- 144 -
próximo Sínodo. Trata-se, em especial de:
a) algumas coisas a evitar
b) temas sobre os quais não valeria muito a pena discutir, com previsível perda de
tempo.
c) e, por ultimo, argumentos que importaria tratar com calma, reservando-lhes todo o
tempo disponível.
2. Algumas coisas que convém evitar
Antes de tudo, é preciso evitar ficar abaixo da lista feita pelas felizes fórmulas do Vaticano
II, nas quais o Concílio expressou o que a Igreja sente sobre a Divina Revelação e a Palavra de
Deus, tanto a contida na Escritura, como na Tradição.
Como exemplo de fórmulas felizes poderíamos citar a descrição da Revelação com as
seguintes palavras: “Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a
conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef. 1, 9)”: aí o acento é colocado não sobre cada uma das
verdades reveladas, mas sobre Deus que se revela, e que se revela doando-se (“para convidar e
admitir os homens à comunhão consigo” – DV 2) e se revela em Cristo, “mediador e plenitude de
toda a Revelação” (ibidem). Também resulta importante a descrição da fé no nº 5, onde se diz que
por ela a pessoa humana “entrega-se inteira e livremente a Deus”. No nº 8 define-se a Tradição
como uma realidade em virtude da qual “a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e
transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita”. Também são
importantes as afirmações dos nºs 10 e 21: “o magistério não está acima da palavra de Deus, mas
sim ao seu serviço” (nº 10) e, “por tanto, toda a pregação da Igreja, assim como a própria religião
cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura” (nº 21).
Trata-se apenas de alguns exemplos que deixam entrever a importância do que está em
jogo. Depois de um documento elaborado com grande esmero e com fórmulas felizes como a Dei
Verbum, é preciso que o Sínodo permaneça à altura dessa linguagem e viva, por conseguinte,
uma tensão espiritual profunda que permita dizer palavras nas quais ressoe a força do Espírito.
É preciso também estar atentos para que não se utilizem fórmulas que não signifiquem um
passo atrás com relação ao Concílio Vaticano II, como sucedeu, por exemplo, na tradução italiana
do Sínodo Extraordinário de 1985, que em seu original latino dizia: “Ecclesia sub Verbo Dei...: a
Igreja sob a Palavra de Deus” e que se traduziu como: “a Igreja na Palavra de Deus”.
3. Temas sobre os quais não parece necessário discutir muito
Será importante não perder o tempo precioso (as semanas do Sínodo passam depressa...)
retomando temas que o Vaticano II já tratou amplamente e nos quais não se prevê, por ora,
nenhuma novidade relevante.
Citarei dois exemplos: o primeiro é a relação entre Escritura e Tradição. Esse tema é
tratado no capítulo II da Dei Verbum, intitulado: “Transmissão da Revelação divina”. O texto do
capítulo está marcado pelas fortes tensões através das quais se chegou à sua redação definitiva.
Houve inclusive um momento, a votação do dia 20 de novembro de 1962, em que o Concílio
pareceu dividir-se praticamente em dois, e não faltou quem tenha duvidado da possibilidade de se
ir para frente. A situação foi salva pela intervenção pessoal do Papa João XXIII, que retirou o
esquema da discussão e o encomendou a uma nova comissão, presidida pelos cardeais Ottaviani
e Bea. Porém, deveria ainda passar muito tempo antes de sua aprovação definitiva, que teria
lugar na votação do dia 18 de outubro de 1965. Eu quis recordar brevemente esse episódio para
sublinhar o quanto seria pouco produtivo a repetição hoje daquelas discussões. O que se
alcançou com tanto esforço, e não sem algum acordo, não merece ser retomado hoje, sobretudo
diante das urgências mais práticas e pastorais.
Um segundo exemplo é o da discussão sobre o método histórico-crítico e, em termos mais
gerais, sobre os métodos interpretativos da Escritura – particularmente nas exegese dos
Evangelhos – dos quais fala a Dei Verbum no capítulo III (nºs 11-13) e no capítulo IV (nº 19). Este
tema era um dos mais candentes naqueles anos. Alguns pensavam que o método histórico crítico
- 145 -
não era compatível com a fé. As páginas da Dei Verbum recolhem as conclusões de um longo
processo, recordando as regras gerais para uma interpretação correta dos textos bíblicos,
mencionando expressamente os diversos gêneros literários presentes na Escritura.
Nesse ínterim foi publicado (1964) uma Instrução da Pontifícia Comissão Bíblica sobre a
historicidade dos Evangelhos que esclarece a especificidade de sua interpretação, mas prestando
atenção ao seu contexto concreto. Com o passar dos anos, a mesma Comissão publicou um
amplo documento sobre a Interpretação da Bíblia na Igreja (1993) que recapitula toda a questão
de maneira exaustiva. O Sínodo poderia, pois, contentar-se com sintetizar autorizadamente as
questões mais importantes que surgem deste documento, evitando entrar novamente em
discussões metodológicas.
4. Assuntos que precisam ser aprofundados
Por outro lado, será importante que o Sínodo, partindo sobretudo da secção pastoral da
Dei Verbum – ou seja, a partir do capítulo VI – examine o que fez durante estes anos e o que
ainda resta por fazer para responder às expectativas dos padres conciliares. Dessa maneira, o
Sínodo será como um grande exame de consciência de toda a Igreja sobre os frutos que ela
obtém das Escrituras sagradas.
Os Lineamenta orientam nessa direção, particularmente com as perguntas do capítulo II
(“A Palavra de Deus na vida da Igreja”) e do capítulo III (“A Palavra de Deus na missão da Igreja”).
No capítulo II estão descritas as diversas formas com as quais a Igreja se alimenta da
Palavra: na liturgia e na oração, na evangelização e na catequese, na teologia e na vida do crente.
Creio que todos esses campos são importantes e merecem a atenção dos padres sinodais. De
minha parte, vou me limitar em dizer algo sobre alguns deles, que dizem respeito à multidão dos
fiéis. Deve-se reconhecer que a maioria deles ainda não alcançou a familiaridade com a Escritura
que aspirava o Vaticano II. Basta recordar os resultados de uma pesquisa realizada entre os
italianos, segundo o qual aproximadamente 70% deles ainda nunca haviam lido os quatro
Evangelhos, e somente 15% haviam lido pelo menos uma vez na vida. Em contraste com isso, a
Dei Verbum recomendava “insistentemente a todos os fiéis, especialmente aos religiosos, a leitura
assídua das Escrituras, para que adquirissem a ciência suprema de Jesus Cristo (Fl 3, 8), «pois
desconhecer a Escritura é desconhecer a Cristo»” (nº 25). Estas últimas palavras de São
Jerônimo foram oportunamente recordadas pelo Papa Bento XVI num de seus ardentes e
recorrentes convites para ler e meditar as Sagradas Escrituras. O Concílio exortava, além disso, a
acompanhar a leitura da Escritura com a oração, para que pudesse estabelecer o diálogo entre
Deus e a pessoa humana. A respeito disso, recordava as palavras de Santo Ambrósio: “A Deus
falamos quando oramos, a Deus escutamos quando lemos suas palavras” 4.
Na experiência pastoral de mais de 22 anos de governo de uma grande diocese, com o
esforço que supõe reiterar em toda modalidade e ocasião a importância de aprender a rezar
partindo das Escrituras, me convenci de que semelhante insistência é tão importante como
produtiva. Quase se poderia dizer que as palavras do nº 25 da Dei Verbum constituem uma
espécie de meta e, em todos os casos, um momento importante do plano pastoral de cada bispo.
O documento conciliar recordava a necessidade de iniciativas adequadas e de
instrumentos para o Povo de Deus. A respeito disso podemos afirmar que na Itália houve um
grande avanço durante os últimos decênios. Nos anos anteriores ao Concílio existiam
pouquíssimas ferramentas, e inclusive, era difícil encontrar um versão católica da Bíblia dos textos
originais. Hoje multiplicaram-se espetacularmente, a tal ponto que leva a alguns a hesitar sobre
qual escolher. Existem numerosas edições da Escritura, bons comentários de exegetas italianos,
glossários e dicionários atualizados, enciclopédias e atlas bíblicos bem elaborados, etc. Não há,
pois, justificativa para o fiel (e, com muito mais razão, para o sacerdote, o religioso e religiosa) não
se aproximar da Sagrada Escritura, alegando não haver instrumentos adequados.
Talvez se deva esclarecer ainda mais (e o Sínodo poderia fazê-lo oportunamente) a
distinção entre Catequese e leitura da Escritura. É obvio que uma catequese – isto é, um ensino
4 Santo AMBRÓSIO, De oficiis ministrorum, I, 20, 88.
- 146 -
ordenado e orgânico sobre a fé católica – não pode deixar de basear-se amplamente na Bíblia.
Porem, não elimina a necessidade de que todo fiel se aproxime pessoal e comunitariamente do
Livro Sagrado como tal, começando, por exemplo, pela leitura integral do Evangelho de Marcos ou
dos Atos dos Apóstolos. Não há comparação entre o vigor, a concretude, a interpelação pessoal
que podem surgir do texto bíblico lido diretamente e o que acontece quando esse texto fica
mediatizado por outras instâncias, sejam eles importantes e necessários. Naturalmente, é
necessário ajudar os fiéis a não lerem no texto aquilo que sugere sua subjetividade, mas partindo
da página bíblica tal como ela é, sem submetê-la a interesses preconcebidos.
Certamente não resulta fácil, numa comunidade cristã concreta, e especialmente numa
paróquia, conciliar as duas exigências de uma formação catequética adequada e de um contato
direto com os Livros Sagrados. Porém, são tão numerosas como variadas as experiências
realizadas a tal propósito nestes últimos anos, algumas delas muito bem realizadas e que
poderiam ser sugeridas no Sínodo, dando assim aos pastores modelos ou tipos de ações que
respondam às exigências acima recordadas.
Por isto é muito desejável que as perguntas que os Lineamenta propuseram ao final de
cada capítulo recebam grande atenção por parte dos pastores e dos responsáveis pela pastoral,
de tal modo que possam ser traduzidas em recomendações prementes do próprio Sínodo para
toda a Igreja. Sobre isto eu quisera acrescentar um desejo, tal vez um pouco utópico porém
sempre significativo, a ser submetido ao Sínodo: que em cada missa ferial se faça uma brevíssima
explicação (não superior a três minutos) dos textos bíblicos da liturgia. A experiência mostra que
em três minutos é possível transmitir uma mensagem que se prolongue por todo o dia. Contudo,
isso exige preparação esmerada; do contrário, ou se supera o tempo previsto ou se diz algo pouco
significativo: daí, eu me perguntar se tal augúrio é mesmo possível... Em todo caso, o que desejo
sugerir é que não se poupe nenhum esforço para que os fiéis possam ter acesso realmente a
toda a força e plenitude de significado dos textos sagrados.
Menos fácil resultará um exame do tema do capítulo III, ou seja, sobre a Palavra de Deus
na missão da Igreja. Aqui o panorama é mais amplo e complexo e se registram menos iniciativas
de êxito. Creio, contudo, que a chave está na educação bíblica do Povo de Deus, em sua
capacidade de orar partindo da Escritura. Se alcançarmos esta meta, resultarão mais fáceis e
espontâneas as iniciativas de evangelização – inclusive dos afastados e dos não cristãos –
mediante a ajuda dos Livros Sagrados.
O texto dos Lineamenta acentua além disto a dimensão ecumênica da escuta da Palavra e
sua utilidade também para o diálogo inter-religioso, particularmente com o povo judeu. A respeito
disto justamente se acentuam dois aspectos: a contribuição da exegese judaica – inclusive a
contemporânea, na compreensão da Bíblia, e a superação de toda forma possível de antisemitismo e antijudaísmo.
Com relação ao primeiro aspecto já havia se expressado muito claramente em 2001 o
documento da Pontifícia Comissão Bíblica intitulado O Povo Judeu e suas Sagradas Escrituras na
Bíblia Cristã. Nele se chegou a afirmar que “os cristãos podem e devem admitir que a leitura
judaica da Bíblia é uma leitura possível, que está em continuidade com as Sagradas Escrituras
judaicas da época do Segundo Templo e é análoga à leitura cristã, que se desenvolveu
paralelamente a ela”. Isso significa, entre outras coisas, que o conhecimento da exegese judaica
contemporânea pode ajudar o nosso estudo das Escrituras.
Mas também podemos encontrar aqui o segundo aspecto recordado antes: a superação de
toda forma de anti-semitismo. Com efeito, já reiterei em várias ocasiões que não basta evitar todo
sentimento anti-semita. Deve-se chegar a amar o povo judeu em todas as expressões de sua vida
e cultura: sua literatura, sua arte, seu folclore, sua religiosidade. Somente assim será possível
estabelecer relações que permitam não só superar desconfianças e preconceitos, mas colaborar
pelo bem comum de toda a humanidade.
Os Lineamenta recordam também a importância da Escritura no diálogo com as demais
religiões e como fermento das culturas modernas. Nesse campo ainda não está muito
desenvolvida a experiência, e será tarefa do Sínodo recolher e avaliar as tentativas realizadas até
- 147 -
hoje, a fim de indicar caminhos acessíveis e seguros para a comunidade cristã.
Não me resta senão concluir indicando o fruto que de todo esse trabalho podemos esperar
e que os Lineamenta assim sintetizam: “Desse modo, a Palavra que Jesus lançou como germe do
Reino, faz seu caminho na história dos homens e quando Jesus regressar na glória”
Cardeal Carlo Maria Martini, S.J.
O Cardeal Dom Carlo Maria Martini, jesuíta, é arcebispo emérito de Milão e biblista.
(Tradução do Pe. Luiz Alves de Lima, SDB)
Declaração Final do 3º Congresso Americano Missionário
(CAM3/Comla8)
A Igreja da América
se reuniu na cidade de
Quito nestes dias e
experimentou
um
Pentecostes junto a
Maria, Mãe de Jesus e
Mãe
nossa.
A
crescente consciência
missionária de nossas Igrejas locais nos motivou a contemplar o futuro e a presença de Deus, os dons
e carismas de nossos povos, a escutar suas necessidades, e esperanças e sua profunda experiência
de fé.
Na atitude de discípulos, temos observado os caminhos do Mestre, seu estilo de vida e entrega aos
Pobres para iluminar nossa conversão pessoal e comunitária. O discipulado implica revestir-se de
Cristo, ser suas testemunhas. Estamos prontos a anunciar o Evangelho, “esperança para toda pessoa
sedenta de Deus”, e juntos construir um mundo fraterno, justo e solidário, e ser colaboradores do
Espírito na construção do Reino.
A experiência de Pentecostes nos urge a dialogar com todos os povos com atitude profética, estar
abertos às mudanças, reconhecer “as sementes do Verbo” e compartilhar as tradições culturais e
religiosas dos povos. Por isso, uma comunidade discípula deve ser acolhedora, integradora e
solidária.
A Igreja, comunidade guiada pelo Espírito Santo, nos impulsiona a nos configurar com Cristo para
formar o homem novo, a viver em comunhão fraterna, a ser solidários com o próximo e a evangelizar
sem exclusão.
A Igreja, “lugar de encontro” com Jesus Cristo, convoca, envia as testemunhas do Ressuscitado e
forma novos discípulos em comunidades vivas, que testemunham o Reino de Deus. A missão aviva a
esperança de que outro mundo é possível, ainda que em situações difíceis; necessita de profetas e
peregrinos que denunciem as situações de pecado e as estruturas injustas e anunciem os valores da
vida plena realizada em Cristo.
- 148 -
À luz destas reflexões, os missionários da América, declaramos:
1. Missão Ad Gentes: A missão Ad Gentes é a “Missão para a humanidade” e se cumpre
simultaneamente em ser “Serviço à Igreja” e “Luz das nações”. A missão é serviço ao futuro da
humanidade! Por isso, como leigos, religiosos, sacerdotes e bispos da América, assumimos com
entusiasmo e co-responsabilidade eclesial a Missão Ad Gentes que implica uma conversão pessoal e
a mudança de estruturas pastorais para que o Evangelho chegue a todos os homens e mulheres
sedentos de Deus.
2. Missão, Família e Defesa da Vida: Urge uma opção forte pela formação e acompanhamento
das famílias cristãs para que sejam evangelizadoras e missionárias com sua vida, fidelidade e
comunhão. Comprometemo-nos a revitalizar a Pastoral Familiar e a apoiar experiências de famílias
missionárias Ad Gentes.
3. Missão e Globalização: Reconhecemos que o fenômeno da globalização acarreta
conseqüências positivas e negativas para a humanidade. Favorece a expressão plena da Igreja, que
não pertence a nenhuma cultura e é de todas. Assumimos uma nova maneira de ser Igreja que
alimenta sua vida desde a escuta da Palavra e da realidade, para ser sinal do Reino, a partir de cada
cultura e cada povo.
4. Missão, Exclusão e Migração: Assumimos que a migração e exclusão são um desafio de
primeira categoria, visível na situação de crianças, mulheres, homens e famílias que vivem violações
em seus direitos. A Igreja, com coragem, deve promover profeticamente a cultura da dignidade
humana.
5. Missão e Laicato: Impulsionados pelo Espírito Santo, os leigos e leigas de todos os povos,
etnias e culturas do continente americano, em comunhão com os bispos, sacerdotes, religiosas e
religiosos, assumimos o compromisso de uma formação integral: espiritual, pastoral e missionária, que
nos faça co-responsáveis da Grande Missão Continental e Ad Gentes.
6. Missão e Juventude: Os jovens, como presente e futuro da Igreja, assumimos o Projeto
Missionário Americano com as seguintes dimensões: Espiritualidade, para poder ver onde
caminhamos; responsabilidade, para assumir conseqüências e não interromper o caminho; e Mística,
que integre formação, projeto pessoal e compromisso.
7. Missão, Atividade e Dignidade Humana: Assumimos como Igreja o desafio de experimentar e
suscitar mudanças concretas e estruturais que promovam verdadeiramente a dignidade humana,
desde a formação missionária integral e permanente às novas organizações paroquiais em rede e à
abertura de novos espaços missionários.
8. Missão, Culturas e Povos: Como Igreja, valorizamos e respeitamos os povos indígenas e afrodescendentes do continente; assumimos a urgência de reconhecer seus espaços, expressões e
tradições para que tenham seu lugar na sociedade e na Igreja. Nosso espírito missionário se fortalece
em escutar, aprender e anunciar explicitamente a Cristo nas diversas culturas.
9. Missão e Ecologia: Anunciamos a Boa Nova para restaurar a ordem na natureza, em
comunhão com o que o mundo espera: renovar em todos os povos, culturas e corações o rosto da
humanidade mediante a conversão e a salvação, e desenvolver uma consciência crescente em sua
luta pela conservação do meio ambiente.
10. Missão e Meios de Comunicação Social: Com a força do Espírito Santo e à luz do mandato
de Jesus: “vão e anunciem o Evangelho”, queremos responder às novas situações históricas, sociais
e eclesiais, comunicando o amor de Deus e a Boa Nova do Reino como uma comunicação
testemunhal, coordenada e integrada na pastoral ordinária, para construir a unidade e a comunhão.
11. Missão, Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso: Contemplamos “as sementes do Verbo” em
cada povo, cultura, religião e crença: por ele, assumimos um diálogo, o encontro e a cooperação
ecumênica e inter-religiosa desde nossa própria identidade de discípulos missionários de Jesus Cristo.
12. Missão, Educação e Mundo Intelectual: Somos Igreja educadora e nos comprometemos a
criar, com os atores do âmbito educativo, espaços de formação e diálogo profético para ser
testemunhas da Boa Nova do Reino no mundo contemporâneo.
13. Espiritualidade Missionária: Queremos viver uma espiritualidade de discípulos missionários,
uma espiritualidade das bem-aventuranças, encarnada na vida: contemplativos, alegres,
- 149 -
comunicadores da experiência de Deus, pobres, humildes, itinerantes, capazes de buscar e escutar a
todos, com confiança no Espírito.
14. Missão e Fundamentalismo Religioso: Interpelados pelo Senhor da História, que nos chama
à unidade do Amor, recusamos toda atitude fundamentalista dentro e fora da Igreja Católica, e nos
abrimos ao pluralismo e ao diálogo que reúne as pessoas e os povos na construção da harmonia e da
paz.
15. Missão e presença da mulher: Seguindo os passos de Jesus Cristo, reconhecemos e
valorizamos a presença e participação ativa da mulher em todos os âmbitos sociais e eclesiais, e
propugnamos novas relações não hierarquizadas entre mulheres e homens como riqueza para a
humanidade e para a Igreja.
16. Missão, Ciência e Tecnologia: Queremos orientar a incidência da ciência e da tecnologia no
desenvolvimento da humanidade, a partir dos valores próprios do Evangelho, para que esteja a
serviço da Evangelização e da cultura da vida. Que a ciência e a tecnologia estejam ao alcance de
todos, possibilitando reais soluções à exclusão, à desigualdade, à injustiça, à fome e à morte.
17. Missão e Vida Religiosa: Os religiosos e religiosas, somos chamados a ser discípulos
missionários, com sólida espiritualidade trinitária da ação entre os mais pobres e diferentes; com um
coração não dividido e solidário, que ama a todos; encarnados em cada cultura de maneira
desprendida e despretensiosa; propondo, vivencial e profeticamente, os valores alternativos do Reino;
e abertos à Missão e ao envio Ad Gentes.
Missionários da América, hoje, ao concluir o CAM3/Comla8, Jesus nos envia a ser testemunhas,
até os últimos confins da terra, de tudo o que temos escutado, aprendido e anunciado. “Vão e façam
com que todos os povos sejam meus discípulos.... Eu estou com vocês todos os dias até o fim do
mundo” (Mt 28,20).
América com Cristo: escuta, aprende e anuncia!
São Francisco de Quito, 17 de agosto de 2008.
UMA IGREJA EM ESTADO PERMANENTE DE MISSÃO
O olhar missionário sobre a REALIDADE
“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem
discípulos, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos
ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até à
consumação dos séculos” (Mt 28,18-20).
Inspirado no evangelho de Mateus, os discípulos são
enviados por Jesus Cristo a todos os povos, com o intuito de
batizá-los e fazer com que eles se tornem discípulosmissionários. Pelo batismo, todos são chamados a participar de
- 150 -
uma nova comunidade, que se compromete a viver de acordo com o que Jesus viveu e ensinou:
praticar a justiça em favor dos pobres e marginalizados. Esta é a nossa missão!
Como os primeiros discípulos, somos enviados ao mundo inteiro, assim como Jesus foi
enviado pelo Pai. Através do batismo, tornamo-nos discípulos-missionários, pois a vocação
batismal nos leva a entrar na comunhão da Igreja, sobretudo no anúncio do Reino de Deus aos
povos. Somos “discípulos de Jesus Cristo e missionários enviados pela comunidade eclesial para
dar testemunho de amor, anunciar a chegada do Reino e assumir as tarefas prioritárias para o
bem comum e a dignificação do ser humano”5. Deste modo, devemos estar atentos aos sinais dos
tempos para interpretar o Evangelho a partir da realidade. Fazer isto em vista da missão é um
grande desafio, pois a realidade é o nosso ponto de partida. Nela nos formamos, somos
questionados e aprendemos, à luz da fé e da razão, a olhar, discernir e agir criticamente. A
realidade abre os nossos olhos para novos horizontes, situando-nos melhor dentro do contexto
missionário e impulsionando-nos a anunciar o Evangelho de Jesus Cristo a todos os povos. O que
nos leva a assumir tudo isso são as condições de vida dos milhões de abandonados, excluídos,
marginalizados e ignorados, que contradizem o projeto de Deus e nos alertam para um maior
compromisso em favor da cultura da vida na sociedade e na Igreja. O Reino de vida que Jesus
anunciou é incompatível com as situações desumanas presente em nossa realidade (cf. DA 358).
Ora, desejamos uma vida em plenitude para todos. O objetivo do nosso apostolado é
favorecer uma missão que leve à libertação integral a toda a humanidade. Essa transformação é
processual e ocorre nas relações entre as pessoas. Conforme o documento de Aparecida, “Deus
em Cristo não redime só a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os seres
humanos” (DA 359). Buscamos compreender melhor a dinâmica do nosso tempo através do olhar
missionário sobre a realidade, procurando descobrir os seus desafios e conhecer os rostos que
refletem a pobreza (cf. DA 65), para anunciar o Evangelho com toda a sua beleza e riqueza. O
desejo de “evangelizar a cultura, longe de abandonar a opção preferencial pelos pobres e pelo
compromisso com a realidade, nasce do amor apaixonado por Cristo, que acompanha o Povo de
Deus na missão de inculturar o Evangelho na história, ardente e infatigável em sua caridade
samaritana” (DA 491).
Para ser missionária, a Igreja deve desinstalar-se de seu comodismo e se converter em
um poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. Sobre ela deve acontecer, constantemente,
um novo Pentecostes que a livre do cansaço, da desilusão e da acomodação (cf. DA 362),
proporcionando aos seus membros força e motivação para renovar as estruturas eclesiais, em
vista de uma pastoral decididamente missionária (cf. DA 370). A Igreja deve fazer isso com o
intuito de defender, através do anúncio do evangelho, “os autênticos valores culturais de todos os
povos, especialmente dos oprimidos, indefesos e marginalizados, diante da força avassaladora
das estruturas de pecado manifestas na sociedade moderna” (DA 532).
A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e
do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus. Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à
vida que a Trindade comunica aos discípulos. O anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo tem destinação
universal. Sua caridade alcança todas as dimensões da existência humana, principalmente os
ambientes onde há convivência entre os diferentes povos. Segundo a Conferência de Aparecida,
somos “conscientes de que a missão evangelizadora não pode estar separada da solidariedade com
os pobres e sua promoção integral e, sabendo que existem comunidades eclesiais que carecem dos
meios necessários, é imperativo ajudá-las, imitando as primeiras comunidades cristãs, para que
verdadeiramente se sintam amadas” (DA 545).
Para que tudo isso possa se concretizar, devemos buscar, constantemente, uma autentica
renovação eclesial, a partir de uma permanente atitude de conversão pastoral (cf. DA 366); com uma
pastoral social estruturada, orgânica e integral (cf. DA 401), assumindo os novos rostos da pobreza, à
luz da opção pelos pobres (cf. DA 402). Devemos ver a realidade com os olhos de Deus, adquirir uma
espiritualidade contemplativa na ação e transformadora de realidades sofridas em Reino de vida.
Quem faz a experiência do seguimento de Jesus Cristo, modifica a realidade em que vive, pois busca,
na plena realização do amor de Deus, exercer a caridade de Cristo para com os mais pobres.
5 SUESS, Paulo. Dicionário de Aparecida: 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do documento de Aparecida.
São Paulo: Paulus, 2008. p. 35.
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Com a luz do Senhor Ressuscitado e com a força do Espírito Santo, a partir do que ouvimos
e do que nos foi ensinado, somos motivados a elaborar um discurso missionário que exija de nós
mudanças de atitudes, que nos leve a uma práxis mais missionária. Para isso, é necessário voltar o
olhar para o passado e perceber, ao longo da história da Igreja, quantas pessoas se fizeram
discípulos-missionários para que a Boa Nova chegasse até nós. Ser discípulo-missionário é acolher a
pessoa e a vida de Jesus. Que sejamos impelidos pelo Espírito Santo a cooperar na realização do
propósito de Deus que comunicou a salvação para o mundo inteiro. Ao pregar o Evangelho,
despertemos as pessoas para a vivência do batismo e a profissão da fé, para a libertação da
escravidão do erro e para assumirem a missão de Jesus Cristo no mundo inteiro. Que consigamos
sensibilizar os corações e as mentes de todas as pessoas que encontrarmos, orientando-os na
perspectiva do Reino de Deus.
Odinei de Paiva Magalhães, C. M.
Bibliografia:
1. CELAM. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e do Caribe. São Paulo: Paulus / Paulinas, 2007.
2. SUESS, Paulo. Dicionário de Aparecida. 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do
Documento de Aparecida. São Paulo: Paulus, 2008.
3. Anotações do curso de formação missionária para seminaristas, ocorrido entre os dias 13 e 23
de junho de 2008, no Centro Cultural Missionário (CCM), em Brasília (DF).
SÃO VICENTE DE PAULO E A BÍBLIA
Queremos neste breve texto refletir sobre a relação de Vicente com
a Palavra de Deus. Nosso intuito será demonstrar a originalidade de
Vicente de Paulo na leitura da Bíblia, neste ano paulino e quando a
Igreja estará celebrando, logo mais, o Sínodo cujo tema, será a
“Centralidade na Palavra de Deus na vida dos cristãos na
perspectiva do Vaticano II”, o qual afirma na DV 22: “É necessário
que os fiéis tenham um profundo acesso à Palavra de Deus”.
1. Fome da Palavra de Deus.
Olhando o índice dos textos bíblicos citados por Vicente em seus inscritos, logo se percebe o
contato profundo que ele teve com a Sagrada Escritura e como fez uma leitura evangélica da
sociedade de seu tempo. A Palavra de Deus aflorava espontaneamente em sua boca, e com
muita intensidade. Autores clássicos do vicentinismo, infelizmente, pouco valorizaram a relação de
Vicente com a Bíblia. O Pe. Coste dedica a este tema uma única referência dizendo: “Se
excetuamos as ocasiões freqüentes em que acudia à Sagrada Escritura, as citações são bastante
raras em seus discursos”. No entanto, Pe. Jacques Delarue em 1946 no seu estudo sobre o
Sacerdócio em São Vicente, já alertava para o contrário, dizendo que: “Vicente lê e medita
- 152 -
continuamente o Evangelho, o lê com mais realismo que Bérulle, o consulta para descobrir os
caminhos humanos e divinos pelos quais Jesus Cristo caminha em busca do homem para salválo.” Esta profundidade de Vicente com a Bíblia foi recentemente estudada pelos padres: André
Dodin, M. Vansteenkiste, F. Garnier, W. Dicharry, J. Gonthier, José C. Fonsatti, A. Orcajo e Carlos
Josaphat op.
2. São Vicente e sua familiaridade com a Bíblia.
Vicente, como o povo simples de sua época, teve seu primeiro contato com a Bíblia, através das
narrativas bíblicas comentadas no catecismo, nos sermões dominicais e no seu próprio lar. Na
teologia, a dogmática ocupava muita atenção tirando o espaço das Sagradas Escrituras. Pe.
Dodin no seu estudo sobre São Vicente e a Bíblia, conclui dizendo que: “Uma leitura crítica
manifesta que antes de 1617, quer dizer, antes de alcançar os 36 anos de idade, Vicente apenas
utilizava a Bíblia, o que nos permite suspeitar que a conhecia pouco”. Isto revela que o projeto de
Deus ainda não ocupava o primeiro lugar na sua vida e que a busca de promoção e preocupações
humanas muito individuais e fechadas fazia dele um prisioneiro como: “Uma mosca em teia de
aranha”, segundo uma expressão de Coste. Ainda voltava às costas aos Pobres.
No entanto, com o correr dos anos, Vicente fui sendo moldado e transformado pela Palavra.
Familiarizou-se com ela através da leitura dos salmos e de textos bíblicos inseridos por exemplo
no breviário. Também os comentários bíblicos dos Santos Padres marcaram muito a sua vocação.
A partilha da Palavra, que acontecia nas famosas repetições de oração, foi criando nele uma
assimilação afetiva e efetiva da Palavra de Deus. Na sua maturidade, certa vez disse, “uma só
Palavra é capaz de converter-nos: uma só basta, como somente uma bastou para Santo Antônio”
(XI, 38). E disse também: “não há uma só palavra nas Sagradas Escrituras de onde a gente não
possa tirar qualquer fruto, se é bem explicada e meditada” (XII, 135).
Ao exigir, nas Regras Comuns, aos padres, a leitura diária de um capítulo do Novo Testamento,
Vicente mostra, a partir de sua própria experiência, a fonte de onde bebeu e onde sedimentou a
sua opção pelos Pobres e a perseverança na vocação. Vicente, com as repetições de
oração, fazia uma leitura orante da Bíblia, partir do contexto da realidade da época. Com isso
trazia a Bíblia para o chão da vida e evitava uma leitura alienante. Essa experiência da palavra
libertadora Vicente teve com os galés, sendo para ele uma verdadeira experiência do êxodo:
“Quando vi aquela gente, Deus se sentiu compaixão dentro de mim. Deus vivo em mim se
compadeceu”. Uma outra citação na linha do eixo libertador do êxodo ressalta a sua ótica na
leitura bíblica: “O pobre povo está faminto da Palavra de Deus e deixam-no morrer de fome por
falta de socorro”.
3. Leitura da Palavra de Deus a partir dos Pobres.
Percebemos que Vicente estudou e meditou a Palavra de Deus como fonte de inspiração, fonte
de energia e de resistência para resgatar a vida dos Pobres, dentro das limitações próprias,
dentro do seu contexto histórico. Vicente tornou-se o profeta do século XVII, porque encarnou o
programa da missão de Jesus, de Lc 4,18, que veio resgatar a vida da humanidade,
especialmente a parcela desta humanidade que sempre esteve e está à margem da vida digna.
Vicente, só entendeu e vivenciou a Palavra de Deus, quando se fez um com milhares de
Pobres, como tantos outros, como D. Helder Câmara, Ir. Dorotty Stang, Ir. Lindava Justo de
Oliveira, Frederico Ozanan, Ir. Nicole, Pe. Alfredinho, testemunharam. Como os profetas e
profetizas de todos os tempos, Vicente bebeu de fontes inspiradoras como Ex 3,15; Is 58; At
2,42; Ap 21; Mt 25. Para Vicente, parafraseando D. Helder Câmara: “A denúncia da injustiça é
um capítulo absolutamente necessário do anúncio da Sagrada Escritura”[1]. É o que podemos
perceber na conferência sobre o pequeno método da pregação, onde Vicente parece tão atual
diante dos malefícios do neo-liberalismo: “Preciso gritar, diz ele, com todos os pulmões, contra
os lobos ou então nos resignar cantando cantos de aves lisonjeiras ...”.
4. Palavra de Deus sem enfeites.
- 153 -
Vicente lê os Evangelhos na perspectiva do carisma: Vontade do Pai e salvação dos Pobres.
Vicente não perde tempo com a roupagem do Evangelho, vai ao essencial sem se perder em
aspectos secundários. A radicalidade do Evangelho é para ele um compromisso de vida e não
uma espiritualidade bonita. Relembrando a pregação dos Apóstolos que era, com toda a
clareza, familiaridade e simplicidade, Vicente, na conferência sobre o pequeno método, afirma:
“Depois dos Apóstolos, todos os homens apostólicos que os seguiram praticaram esse mesmo
método, pregando familiarmente, sem ostentação de eloqüência que está cheia de vaidade”[2].
5. Textos bíblicos que predominaram em São Vicente.
Estes textos são como que a inspiração de vida de Vicente e seu carisma.
- Os Evangelhos
é com os olhos nos Evangelhos que S. Vicente reza, prega, aconselha e orienta seus filhos e
filhas e todos aqueles e aquelas que encontra em seu caminho. Os Evangelhos mais citados são
os sinóticos; nisto Vicente se aproxima mais da corrente latino-americana de teologia.
- Mateus
Cita mais Mateus por ser um Evangelho catequético e com ele visa formar e animar a vocação e
missão dos missionários e filhas da caridade através das máximas. Vicente se inspira mais no
sermão da montanha (Mt 5-7) sobretudo as bem-aventuranças. Também destaca o sermão da
missão (Mt 10) e as parábolas do reino (Mt 13).
- João
Vicente contempla o Cristo missionário enviado pelo Pai e identificado com o amor do Pai. Vicente
analisa no Evangelho de João a interioridade de Jesus em conformidade com o Pai.
- Lucas
Vicente opta por Lucas sobretudo pela sua insistência nos Pobres, na oração e desapego;
especialmente contempla Lc 4,18 – Jesus enviado para evangelizar os Pobres.
- Marcos
Cita menos, mostra os traços do retrato de Jesus, modelo para os missionários.
- Atos dos Apóstolos
Destaca o começo da comunidade apostólica. São Vicente se
inspira muito nos textos da formação e construção da comunidade
ideal. Atos 4,32 é um texto paradigmático para Vicente.
- Paulo
Para Vicente, Paulo tem um lugar privilegiado. Vê nele o missionário
dos pobres e excluídos. A mensagem paulina sempre se encontra
nas suas conferências: dá ênfase sobretudo na sua cristologia.
6. Palavra de Deus é uma pequenina luz: que clareia o caminho.
No Capítulo de 19 de janeiro de 1642, Vicente aconselha a leitura
diária de um capítulo do Novo Testamento: “Deus nos concede as
suas graças segundo as necessidades que delas temos. Deus é uma
fonte, da qual cada um tira água segundo as suas necessidades.
Uma pessoa que tem necessidade de seis cântaros de água, tira
seis; se necessita de três, três; um pássaro que só tem necessidade de uma gota, só tira uma gota;
o peregrino com a palma de sua mão tira para saciar a sua sede: dá-se o mesmo conosco em
relação a Deus. Devemos ter uma grande devoção e nos tornar fiéis à leitura do capítulo do Novo
Testamento, fazendo ao começar os seguintes atos: primeiro, de adoração, adorando a Palavra de
Deus e sua verdade; segundo, entrar nos sentimentos com que Nosso Senhor os pronunciou e
aceitar essas verdades; terceiro, resolver-se a praticar essas mesmas verdades. Por exemplo,
quando ler: ‘Bem-aventurados os pobres em Espírito’, resolver-me-ei e me darei a Deus para
praticar esse verdade em tal e tal ocasião. O mesmo quando ler: ‘Bem aventurado os mansos’, darme-ei a Deus para praticar a mansidão. É necessário, sobretudo, prevenir-se para não ser por
estudo, dizendo: ‘essa passagem me servirá para tal pregação; mas, lê-lo para nosso proveito
espiritual’. Não devemos desanimar, tendo lido várias vezes, durante um mês, dois meses, seis
meses, e não sermos por ela tocados. Acontecerá que em certa ocasião teremos uma pequena luz,
outro dia teremos outra maior, e outra ainda maior quando tivermos necessidades”[3].
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Na conferência de 7 de março de1659, Vicente contou sua própria experiência: “Faz vinte anos
que, ao ler essa passagem tirada do capítulo 58 do Profeta Isaias, sinto uma grande emoção, ainda
que com isso não me torne melhor”[4].
7. Caminhando pelas beiradas.
A leitura das Escrituras deve ser feita com muita fidelidade ao texto, com os pés firmes na realidade
e em comunidade, se de fato queremos escutar a Deus. Pois Ele é um Deus que continua se
manifestando para nós, não só através do escrito bíblico, mas através das pessoas e dos
acontecimentos de nosso tempo. Vicente de Paulo, como sabemos, soube fazer essa leitura orante
da Bíblia e da própria realidade de opressão do séc. XVII discernindo os fatos e situações que
faziam o povo se empobrecer e morrer de fome. A leitura da Bíblia fez com que Vicente percebesse
a presença viva de Deus e do seu sonho de vida e esperança, de justiça e paz. Sendo assim, foi
uma luz no caminho que indicava por onde ele devia andar. Vicente tinha clareza nos critérios para
ler a Bíblia, sempre defendendo a vida em todas as situações nas quais ela se encontrava
diminuída, como: nos doentes, nos galés, nos flagelados da guerra, nas crianças abandonadas, nos
idosos, nos doentes mentais, nos camponeses excluídos do sistema social e eclesiástico.
8. A Palavra de Deus e a missão do(a) vicentino (a).
Em abril de 2007, no Rio de Janeiro, tivemos um encontro da
CLAPVI sobre a Lectio Divina e Vicentina com a assessoria dos Pe.
Gabriel Naranjo cm e Pe. Carlos Josaphat op. Termino esta breve
reflexão resgatando algumas convicções e pistas de ações que
brotaram daquele encontro[5].
1. Atualmente, a Palavra de Deus ocupa um lugar central na vida da
Igreja. Seria imperdoável que a Família Vicentina não assumisse
esta centralidade em sua vida e experiência.
2. Reconhecimento do Pobre como lugar teológico, pois Cristo quis nascer, viver e morrer pobre.
Portanto, é urgente voltar à Palavra para assumir um maior compromisso com os Pobres.
3. A Palavra de Deus é único alimento e a única regra de toda a vida da Igreja. A nova
evangelização só terá força renovadora se se mantiver fiel à Palavra.
4. A Palavra de Deus, como projeto de vida gera nos processos formativos de leigos e consagrados
princípios, convicções, opções e compromissos claros.
5. Somos um povo com vocação bíblica: por isso a Bíblia pertence a todo o povo de Deus. A força
da Palavra convoca as comunidades e dinamiza a experiência comunitária.
6. A Lectio Divina é um caminho privilegiado do encontro transformador com o Cristo e com os
irmãos.
7. Desde o carisma vicentino é possível uma leitura específica do Evangelho por seu caráter
determinável.
Por fim, algumas pistas de reflexão e ação apontadas no mesmo encontro:
1. Tomar consciência de nossa vocação bíblica, de onde provém nossa espiritualidade.
2. Como Família Vicentina entrar em contato com a Palavra de Deus lendo, entendendo,
interpretando-a desde a ótica vicentina.
3. Fazer uma leitura histórica da Palavra de Deus, colocando o texto dentro do seu contexto original,
de maneira que a Palavra tenha vida em nossa vida e não se converta em letra morta.
4. Pensar a formação desde a Palavra de Deus e para a Palavra de Deus.
5. Promover uma autêntica animação bíblica que fortaleça o protagonismo dos leigos e dinamize
todas as pastorais, especialmente a catequética, litúrgica e social.
“Ao iniciar a nova etapa que a Igreja Missionária da América Latina e do Caribe se dispõe a
empreender a partir desta V Conferência em Aparecida, é condição indispensável o conhecimento
profundo e vivencial da Palavra de Deus; por isso, é necessário educar o povo na leitura e na
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meditação da Palavra: que ela se converta em seu alimento para que, por experiência própria vejam
que as palavras de Jesus são espírito e vida” (DA 247). Afirmou o Papa Bento XVI no discurso
inaugural da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano: “É preciso fundamentar
nosso compromisso missionário e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus”.
Pe. Eugênio J. Wisniewski, C. M.
Prudentópolis, PR.
[1] CÃMARA, D. Helder, O Evangelho com Dom Hélder. 3ª Ed. Ed. Civilização Brasileira, 1993, pg
110.
[2] Conferencias a los misioneros. Vicente de Paulo, Editora CEME, Salamanca, pg 174.
[3] Op. Cit, p. 39.
[4] Op. Cit, p. 451.
[5] REVISTA CLAPVI, ANO XXXIII, N° 126, Gráfica González, Maracaibo – Venezuela. MAIOAGOSTO 2007 p. 466- 468.
Padre Ildeu Pinto Coelho, C.M.
*23-09-1927
+ 10-04-2003
Um dos Coirmãos mais prezados e admirados na Província,
no meu tempo, tanto no Caraça como em Petrópolis e nas Casas
onde trabalhou. Veio à luz em Rio Piracicaba-MG. Filho de José
Fernandes Coelho e Judith Barros Brandão. Figura delgada, frágil.
Extremamente tímido e desconfiado. De família bem católica, já era
coroinha no tempo de estudos no Grupo Escolar de sua cidade. O
pároco, Pe Levi, percebendo o seu jeito reservado e sabedor do
êxito que tinha nos estudos escolares, convidou-o para ir estudar
no célebre Colégio do Caraça, buscando descobrir sua vocação
sacerdotal. Era inteligente o jovem e superava seus companheiros
pela rápida aptidão em captar tudo o que era ensinado, quer na
escola ou na igreja. De pouca conversa, falava só quando
interrogado. Recatado, encolhido no seu mundo, com braços
cruzados no peito, dava a impressão de um São Luís Gonzaga para
aqueles tempos. Chegado ao Caraça, não teve maiores
dificuldades em relacionar-se, pois lá encontrou alguns
conterrâneos. Nas salas de aulas, mostrou logo o motivo de sua subida para a Serra. Na disciplina
e no aprendizado, era sério e bem compenetrado, incapaz de rir fora dos recreios. Modesto, não
expandia olhares curiosos. Ficava sempre bem atento e concentrado naquilo que estudava e
almejava saber. Revelou-se logo bom aluno. Perspicaz e inteligente, manifestou sua vontade de
ser padre e pertencer à Congregação da Missão de São Vicente de Paulo, pois na sua terra havia
a Conferência Vicentina. Assim, palmilhou os cinco anos do curso de Humanidades, com
excelentes notas e condecorado com várias medalhas de prêmios pela classificação nos estudos
e tinha bagagem suficiente para enfrentar o tempo de Noviciado, em Petrópolis-RJ, em l944. A
cidade das hortências era fria como a Serra do Caraça. Seguiu firme o seu itinerário na formação.
Ampliou espaço de conhecimentos na Filosofia e Teologia, estudadas naquele Seminário. Após
ter pronunciado os Santos Votos, demonstrou crescimento na piedade cada vez mais sólida, que
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o configurava com Cristo, Missionário do Pai, conforme o exemplo do Santo Fundador. Foi
ordenado sacerdote a 21 de outubro de 1951, pelo bispo lazarista, D. José Lázaro Neves, C. M.,
de Assis-SP. Nas férias de fim de ano, cantou Missa em seu torrão natal. Viveu com seus
familiares bom tempo de reencontro, após a longa ausência de oito anos nos estudos de
Petrópolis sem voltar ao lar, pois não havia licença para tais visitas à família. Quando cheguei ao
Caraça em 1945, era freqüente ouvir nos recreios dos grandes, histórias sobre o Ir. Ildeu, que já
estava em Petrópolis. Conheci dois irmãos dele: Darci e Sady, levados pelo pai para matricular
este lá no Caraça. Mas, morrendo de saudades, Sady chorava noite e dia até ser entregue de
novo ao pai, que o buscou na Serra. Só muito tempo depois nos encontramos na Casa do Trevo BH.
Pe. Ildeu teve como primeiro campo de trabalho o Seminário Provincial de Diamantina-MG,
onde foi professor nos dois estabelecimentos, Maior e Menor. Pelo brilho de sua inteligência e
pelos elogios tecidos, foi designado para se especializar em Roma. De regresso ao Brasil, foi
colocado no Seminário Maior de Mariana-MG. Era idolatrado pelos alunos e muito bem quisto pela
Comunidade de Padres e Irmãs de Caridade. Melhor professor ou conferencista não havia
naqueles rincões. Com clareza de idéias e doçura em ensinar até o mais difícil para os menos
abertos ao saber especulativo, tornava-se fácil e aprazível em aprender. Observador atento, lia no
semblante dos aprendizes o eixo do ensinado e assimilado. Gostava de boa prosa entre os
conhecidos e mais íntimos. Tinha sempre histórias e anedotas para contar e manter viva e atenta
a roda dos seus ouvintes. Era tímido e encolhido na presença de desconhecidos. Era, porém,
transbordante de alegria e irradiava felicidade junto de familiares, Coirmãos e alunos. Sabia
conquistar os interlocutores. Admiravam-se os seus alunos com a sagacidade ágil das respostas
às questões apresentadas, sem alterar o semblante nem fazer rodeios. Tinha um riso sarcástico
para perguntas ingênuas em pessoas já adultas. Percorreu várias outras colocações como
professor: Fortaleza-CE e Diamantina-MG. Foi reitor e professor no Seminário São José em AssisSP. Daí saiu para um trabalho missionário em Delfinópolis-MG, onde amargou terrível experiência
que muito o fez sofrer sem a rotina da vida comunitária. Retornou a Petrópolis-RJ, como Superior.
Depois veio para o Instituto São Vicente de Paulo (Trevo), em Belo Horizonte. Designado para ser
Mestre de Noviços, aceitou residir numa casa simples e sem conforto, compartilhada com o
proprietário, no bairro Nazaré. Ali, numa manhã, antes da primeira conferência, sofreu isquemia
cerebral. Levado às pressas para o Hospital, teve que passar por cirurgia no crânio. Voltou para a
Casa do Trevo, passando bons anos em recuperação da saúde, pois perdera parte da memória,
ficando bem debilitado. Sofreu depois um câncer no intestino. Passou quarenta dias no Hospital
Madre Teresa, num verdadeiro calvário de sofrimentos para ele e os Coirmãos que lhe deram todo
o carinho e atenção. Faleceu no dia 10 de abril de 2003. Sua Missa de corpo presente foi
presidida pelo Visitador, Pe. Eli Chaves dos Santos, que fora seu aluno, e celebrada por dezenas
de Padres, Coirmãos e diocesanos, beneficiados pelas luzes do seu saber e exemplo de virtudes.
Amigos, ex-alunos e admiradores deste homem de Deus encheram a capela e espaços ao lado
para lhe prestar homenagem. Foi sepultado no Cemitério do Bonfim, em campa da PBCM, onde
aguarda a voz do Anjo da Ressurreição para entrar na glória eterna pelo muito que fez, escondido
em Deus, pela Igreja, pela Província e por cada pessoa que dele se aproximou. Era homem
simples, mas de aguda perspicácia. Cheio de ditos xistosos para com os mais íntimos. Tinha
prosa cativante e gostosa. Ficou célebre e bem conhecida sua troca de sentido do verbo trazer e
tragar. Pe. Ildeu fumava muito. Pe. José Lima, coirmão, pedia-lhe sempre um cigarro. Em roda de
recreio, falava-se sobre os malefícios do fumar, sobretudo para quem tragava. Pe. José Lima,
ingênuo, disse que não corria risco, "pois não trago”. Pe Ildeu interveio logo, dizendo: “pois devia
‘trazer’”. Eis o homem de Deus cuja memória brilha na simplicidade rica de muitos dons.
Pe. Célio M. Dell’Amore, C. M.
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Entre os meses de maio e junho, tivemos a grata alegria de receber novamente a visita do nosso
coirmão, Pe. Sebastião Mendes Gonçalves, vivendo e trabalhando há 20 anos em Moçambique.
Pedimos que ele nos deixasse um testemunho escrito de sua fecunda experiência missionária entre
os mais pobres da paróquia de Massingir, o que ele fez com admirável prontidão. Quisemos unir dois
relatos numa mesma seção, na esperança de que poderão ampliar os nossos horizontes missionários,
despertando a nossa sensibilidade humana e eclesial, estreitando a nossa proximidade espiritual e
movendo o nosso discernimento apostólico na perspectiva da missão que não tem fronteiras.
PAROQUIA – MISSÃO DE NOSSA SENHORA
DA ESPERANÇA DE MASSINGIR
1. Relato de uma Visita Pastoral
Ao chegar a Massingir, em abril de 2006, acompanhando D. Lúcio Andrice Muhandula, em
visita pastoral, encontramos, na sede, uma capela em ruínas. A princípio, pensei em deixar tudo como
estava, pois já havia um projeto para uma igreja nova em outra área. Mas tivemos que reformar essa
capela, pois precisávamos dela para a Eucaristia diária. Com boa colaboração, a reforma foi rápida e
podemos ter o Sacrário...
Para a nova igreja, os cristãos foram convocados a providenciar a fabricação de blocos, depois
de receberem oitenta sacos de cimento. São, aproximadamente, 270m2 de construção, incluindo
sacristia, banheiro e secretaria.
Os trabalhos sofreram uma interrupção depois de feita a
cobertura, mas, graças ao empenho do Pe. Jesús, ViceVisitador, fizemos o piso e foram colocadas as portas e vidros
nas janelas. Resolvi fazer uma pintura geral em branco e cor
cinza nas colunas e rodapé. Assim a igreja ficou minimamente
pronta para receber a bênção por parte de nosso bispo
diocesano, D. Lúcio Andrice Muhandula. Isso aconteceu, no
encerramento da visita pastoral, a 2 de março de 2008. As
cerimônias ocorreram com a igreja cheia de fiéis e respeitando
todas as rubricas do Ritual Romano. Para isso, tive que
depender de turíbulo emprestado da Paróquia do Chókwè. A Comunidade de Chilembene emprestounos muitas túnicas para crianças. Nas recomendações de D. Lúcio, eu devia providenciar um
recipiente para queimar carvão em cima do altar. Ao passar por uma rua, vi uma pequena panela de
ferro que julguei jogada fora. Mandei colocá-la no carro. Mas algumas crianças que brincavam por ali
protestaram, pois aquilo fazia parte de seus brinquedos. Perguntei quanto queriam pela panela (I mali
muni?). Cinco meticais foi a resposta imediata. Paguei e ficaram contentes. E eu mais ainda... Ao
chegar à casa, consegui repor dois pés que faltavam à tal panelinha. Valeu a pena, pois abrilhantou a
cerimônia, com a coluna de fumaça do incenso que subiu aos céus. A panelinha será nosso turíbulo...
O altar, o sacrário e o ambão estão firmemente fixados com colunas de trilho dos caminhos de
ferro. Tudo foi revestido com bonitas toalhas brancas oferecidas por Dona Lídia. Um belo cálice e uma
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bonita túnica, conseguidos pelo Pe. Luciano, enriqueceram a festa. Vinte batismos constituíram o
ponto alto da celebração que terminou por volta do meio dia. Graças a uma doação, conseguida pela
Irmã Maria Lários, compramos noventa cadeiras que dão um inesperado conforto.
O piso da igreja ficou em cimento rústico, pois confiamos colocar depois uma boa cerâmica em
tijoleira. E a Providência divina já nos mandou o benfeitor, pois D. Lúcio se ofereceu para financiar
esse material que já foi adquirido.
Às 14 horas, teve lugar o almoço, à sombra de belos canhoeiros, onde foi montada a cozinha.
D. Lúcio está empenhado em conseguir uma ajuda para a pintura da igreja com tinta plástica.
Acha que conseguirá isso, por ocasião da próxima visita à Alemanha.
Continuo na minha residência de pau a pique, mas já preciso substituir, por blocos de cimento,
algumas paredes feitas com madeira muito frágil.
Luz e água ainda continuam como problemas, pois a
Administração Distrital diz que só talvez no final do ano é que
teremos ligação com a “Central elétrica de Lionde”.
A visita pastoral decorreu dentro de uma realidade
muito particular do Distrito de Massingir, onde está o Parque do
Limpopo, sofrendo o conflito “homem e animais selvagens”.
No primeiro dia da visita, a 26 de fevereiro, levei o Sr.
Bispo para visitar Macaringue, a Comunidade mais distante da
Missão. Às 9 horas, atravessamos de barco o Rio dos Elefantes e
caminhamos cerca de 1 Km. Na capela, ninguém nos esperava,
apesar de tudo ter sido programado. Esperamos por mais de uma hora para podermos dar início à
celebração. De uma lista de cerca de noventa nomes, ali não estava nem a terça parte. Pediram
desculpas ao Sr. Bispo, pois a maioria dos fieis estava a colher o milho das machambas, uma vez que
um bando de mais de oitenta elefantes iria devorar tudo. Já havia dois dias que aqueles paquidermes
andavam por aquelas bandas...
No dia 27, o bispo foi recebido na Comunidade de Cubo, um assentamento novo de
pescadores, junto à albufeira da barragem. Também aqui a participação não foi total, pois alguns fieis
tiveram que dar atenção a “falecimento”. Um batismo que estava previsto não se concretizou, pois a
catecúmena encontrava-se doente em Maputo.
À tarde desse dia, o Sr. Bispo teve um encontro com o conselho da Paróquia, na capela de
Tihovene. Não tivemos condições de oferecer hospedagem ao Sr. Bispo que regressou ao Machel,
com duas Irmãs que o acompanhavam.
No dia 28, a pequena Comunidade de Zulo acolheu bem o seu bispo e tivemos a satisfação de
celebrar três casamentos, após o batismo dessas pessoas, pois apenas uma já era cristã.
No dia 29, o Sr. Bispo visitou Mucatini. Não foi necessária minha presença, pois D Lúcio já a
conhecia e dispensou-me para que eu pudesse ultimar os preparativos para o dia 2 de março.
No dia 1º de março, estava previsto um encontro com os jovens da Missão. Esse encontro
sofreu atraso, devido a uma programação do Distrito, na abertura da Campanha do “Saneamento do
meio ambiente”.
Felizmente a visita à sede da Missão correu bem, como já referido.
2. Instrumentos da Providência
Percorrer a área da Missão de Massingir é o mesmo que deparar com um desafio à nossa
capacidade de Missionários Vicentinos. Se eu fosse contar com os meios e capacidades humanas, eu
diria que é uma tarefa impossível de ser realizada. Mas, felizmente, somos apenas instrumentos da
Divina Providência, de onde virá tudo o que for necessário para a concretização do projeto que Deus
tem para aquelas populações pobres. Mas, para mim, fica sempre a grande interrogação: Como devo
agir para ser, de fato, instrumento de Deus? Como levar o anúncio do Evangelho àquelas aldeias
mergulhadas na extrema pobreza? No primeiro domingo de setembro de 2007, cumpri um programa
de primeira visita à Comunidade cristã de Macaringue. A 75 km de Massingir, depois de passarmos
por Mucatine e Tshaque, estávamos às margens do Rio dos Elefantes. Macaringue fica do outro
lado, a 1 km da margem esquerda. Travessia de canoa, enquanto muita gente prefere passar a vau,
com a água pouco acima dos joelhos. Debaixo de uma árvore, aos poucos, se formou um bom grupo
de pessoas e pude estabelecer o primeiro contato com esses cristãos que tiveram a última Eucaristia
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em 1976. Portanto, há mais de trinta anos... Querem retomar a caminhada com a Igreja Católica.
Quando lhes falei de um encontro no Machel do Conselho Regional, disse-lhes que seria bom que
alguém deles pudesse participar. O Animador se prontificou e, de fato, participou. Ficou programada a
próxima visita e Eucaristia para o primeiro domingo de dezembro.
Ao final do encontro, prometi ajudá-los na construção de uma capela. No dia 26 de setembro,
pude dar andamento a esse trabalho, com a ajuda de dois jovens. Na véspera, colocamos no carro
todo o material necessário, para podermos sair bem cedo. Desta vez, tomaríamos outra estrada, já
pela margem esquerda do Rio dos Elefantes. Portanto, entramos na área do Parque do Limpopo,
com a devida autorização, depois de aguardarmos mais de meia hora, pois a entrada só é permitida
após as seis horas. Chegamos a Macaringue somente às nove horas. Dos elefantes só vimos os
vestígios, mas muito abundantes. Trabalhamos até às 14h30, mas não conseguimos pregar as
chapas de zinco. Espero que encontrem alguém que complete o serviço... No regresso, pedi que
anotassem num caderno os nomes das diversas aldeias por onde passamos... São nove povoações,
no percurso de 80 km: Maconguele, Chipondze, Munhamane, Cundzi, Macunhane, Madingane,
Chibalane, Maçaneta, Mavodze. Uma pobreza gritante! Têm a água do rio, mas as machambas não
estão cultivadas por falta de chuva. Quando semeiam, nem sempre colhem, pois os elefantes se
antecipam. Algumas aldeias serão transferidas para fora do parque, enquanto outras, como
Macaringue, estarão protegidas por uma vedação.
Os trabalhos de construção da igreja de Massingir estão parados, pois falta-nos o dinheiro
necessário para o pavimento, para a pintura e vidros das janelas. Enquanto isso, vou tentando
levantar algumas capelas de pau a pique e chapas de zinco nas
pequenas Comunidades que temos visitado. Reformamos a capela de Tihovene e já levantamos a
estrutura principal das capelas de Cubo, Banga, Zulo, Mucatine e Macaringue. Nessas Comunidades,
encontramos dificuldade em organizar a catequese devido à falta de catequistas capacitados. Espero
que a Providência divina se manifeste, suscitando a vocação do leigo e ao nos instruir na maneira de
cultivar essas vocações. As equipes missionárias terão que se desdobrar na solução desse trabalho
fundamental. Certamente, a Missão Popular nos ajudará no
discernimento dos meios mais aptos para dinamizarmos a
evangelização.
Residência do padre Sebastião
Pe. Sebastião Mendes Gonçalves, C. M.
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Experiência missionária no mês de julho
“Não há melhor modo de assegurar nossa felicidade eterna do
que viver e morrer no serviço dos Pobres, nos braços da
Providência e numa verdadeira renúncia a nós mesmos para
seguir Jesus Cristo”
(SV III, 359).
Sob o olhar de Deus, iluminados pela Virgem Maria, nós, estudantes de teologia da PBCM, Héber F.
de Faria, Odinei P. Magalhães e Vanderlei A. dos Reis, como de costume, fizemos, no mês de julho
deste ano, uma rica experiência missionária na Paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, em
Riacho Fundo II (DF). Nessa ocasião, tivemos a oportunidade de visitar as comunidades, participar
das celebrações eucarísticas, e de algumas pastorais e movimentos atuantes na paróquia, dos
conselhos de pastoral comunitários e paroquial. Nesta oportunidade, realizamos, também, algumas
visitas, principalmente aos amigos, que fizemos nas Santas Missões Populares da Família
Vicentina, realizadas em janeiro de 2007.
Viver a vida comunitária é uma arte que, a cada dia, apresenta os seus desafios. Mas a convivência
fraterna nos enriquece e nos estimula a abraçarmos a vida missionária com amor, disposição e
ânimo em prol de um frutuoso trabalho com os mais pobres, oprimidos, marginalizados e
abandonados. Em Riacho Fundo II, o diálogo, a oração, a partilha e a troca de experiências nos
proporcionaram grandes momentos e bons ensinamentos, pois os frutos que colhemos desta
experiência nos fazem felizes e realizados na missão.
Aproveitando a oportunidade de relatar a nossa experiência, agradecemos aos coirmãos que
animam a missão local que, pela bondade e colhimento, nos concederam a graça de fazer tão rica
experiência. O nosso muito obrigado se realizará através das nossas sinceras e insistentes
orações.
Odinei de Paiva Magalhães, C. M.
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Os representantes da PBCM no ENEV-2008
XXV Encontro Nacional de Estudantes Vicentinos
De 20 a 26 de julho de 2008, realizou-se em Belém (PA) o XXV Encontro Nacional de
Estudantes Vicentinos (ENEV). Eram ao todo 16 participantes. Representaram a Província do Rio
de Janeiro (PBCM): Gilberto Leandro Silva (1º ano de filosofia), Marcelo Ferreira Silva (2º ano de
filosofia) e Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira (3º ano de teologia).
O evento se desenvolveu em torno de dois grandes eixos inspiradores, sintetizados na
temática central: “ENEV – 25 anos: a formação na Congregação da Missão frente aos desafios
eclesiais da América Latina”. O primeiro eixo consistiu na celebração jubilar desta iniciativa de
articulação dos estudantes das três Províncias do Brasil, celebração aprofundada na memória do
caminho percorrido, entre avanços e retrocessos, ao longo desses 25 anos. Quem nos possibilitou
um clarividente resgate histórico foi o Pe. Evaldo Carvalho dos Santos, C. M., da Província de
Fortaleza. O segundo eixo constituiu-se numa iluminadora reflexão sobre os desafios que se
apresentam à formação dos nossos no contexto latino-americano. Contamos, então, com a
magistral assessoria do Pe. Raimundo Possidônio Carreira da Mata (Pe. Cid), da Arquidiocese de
Belém, renomado professor de História da Igreja. Constatamos que, nos últimos tempos, a
realidade vem se tornando cada vez mais complexa. Por um lado, vemos reações muito tímidas e
inseguras; por outro, encontramos reações audaciosas e promissoras. Há uma esperança para o
nosso futuro! No contexto social, emergem com firmeza novos movimentos, consistentes e
amadurecidos, que sabem tecer articulações em todo o continente. Surgem também novos
sujeitos sociais, marcando presença e assumindo posições: a mulher, o indígena, o negro, o semterra, o povo da rua, o migrante, etc. Aos poucos, esses atores vão abrindo caminhos para a
afirmação de sua dignidade e a construção de sua cidadania, deixando marcas significativas e
interpeladoras de sua atuação consciente e organizada. Também no contexto eclesial, o leigo, a
mulher, o jovem vão abrindo clareiras por trás de densas nuvens, na animação das comunidades,
na teologia e nos espaços de decisão, embora ainda tenham um longo caminho a percorrer. O
panorama sócio-eclesial apresenta-se, portanto, mais plural. Articular toda essa gama de
realidades em torno de um projeto de renovação eclesial tornou-se um desafio ainda mais amplo.
A história continua mostrando que precisa dos seus ciclos para fermentar a realidade com novos
valores e paradigmas, deixando que eles se desdobrem em frutos que serão colhidos a seu
tempo.
A densidade das oportunas reflexões que foram tecidas era contrabalanceada pelos
amistosos momentos de lazer, pela belíssima noite cultural, com uma exuberante demonstração
de comidas, ritmos e danças típicas, e pelos enriquecedores passeios turísticos que nos
permitiram conhecer Belém, o “portal do paraíso”, singular por suas cores, cheiros e sabores,
encantadora pela hospitalidade do seu povo, pela prodigalidade de sua natureza e pela
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miscigenação cultural e racial que caracteriza sua gente, seu artesanato, seu folclore e suas
manifestações de fé, como, por exemplo, o indescritível Círio de Nazaré, reunindo, a cada ano, 2
milhões de pessoas para uma das maiores festas marianas do mundo. Não nos esqueceremos
também da gratificante experiência missionária que fizemos, visitando os enfermos e as pessoas
mais pobres de uma das comunidades da Paróquia em que trabalham nossos Coirmãos.
Muito agradecemos aos estudantes da Província de Fortaleza pelo titânico empenho em
garantir a infra-estrutura necessária ao Encontro e pela admirável gentileza em receber-nos de
maneira tão calorosa. Ficam as palavras do nosso Superior Geral, Pe. Gregory Gay, na
mensagem que dirigiu aos Estudantes do Brasil: “Que o Senhor da Vida, Jesus Ressuscitado,
encha seus corações de paz e coragem para viverem o amor de Deus entre si, como irmãos em
Comunidade, e com os pobres, nossos amos e senhores”. É o que sinceramente desejamos. A
Província de Curitiba será a sede do próximo ENEV, em 2009, cujo tema servirá de preparação
para a Assembléia Geral de 2010: “A Congregação da Missão em estado de renovação contínua:
mudanças de estruturas e revisão dos estatutos”.
Os representantes da PBCM no ENEV-2008
SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL: APONTAMENTOS PARA A REFLEXÃO SOBRE PERSPECTIVAS,
DESAFIOS E CONSTRUÇÕES.
“O ferro se aguça com o ferro, e o homem se aguça com a presença
do seu próximo” (Pr 27, 17).
Escrevi este texto em um momento especial para o Serviço
de Animação Vocacional Vicentina (SAVV) da PBCM: após o
primeiro estágio vocacional do ano de 2008, ocorrido no início do
mês dedicado às vocações na Igreja Católica. O SAVV, ao ajudar o
jovem a discernir sua vocação, auxilia na estruturação de sua
identidade pessoal, favorecendo a elaboração de um projeto de vida.
Agimos não no intuito de conduzir ou guiar, e sim de ajudá-los a
retirarem os véus que cobrem as possibilidades de olhar e de saber
sobre si próprio e sobre o mundo ao mesmo tempo e a situarem-se
diante de um enfoque integral, a partir do qual podem alcançar um
fazer sendo.
A temática da vocação religiosa vem rendendo, tanto no meio
religioso quanto na própria sociedade, novas e acaloradas discussões, embora carregue consigo
sentidos distorcidos. As transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas nas últimas
décadas, marcadas por movimentos contraditórios e heterogêneos, colocam novos e graves
questionamentos em todo o mundo e operacionam mudanças acentuadas no lugar e no papel do
jovem na sociedade. Este, em meio a incertezas, oscilações, vivências, desenvolvimento
tecnológico e oportunidades, busca se afirmar. Sem dúvida, temos muito que repensar e discutir
acerca das perspectivas e desafios do processo de animação vocacional, frente à atualidade.
O contexto que vem se delineando exige que o SAVV se conscientize da nova realidade.
Assim, alguns aspectos devem ser compreendidos, considerados e analisados com a finalidade
de se alcançar a eficácia no SAVV, entre eles, o papel da equipe de animação vocacional, que
precisa estar ciente da postura ética que deve assumir e a real finalidade do SAVV, que não deve
ser apenas informar sobre a vida religiosa, e sim trabalhar o autoconhecimento e a questão do
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discernimento vocacional em si. O processo de animação vocacional busca atuar como mediador,
ajudando o jovem a se posicionar melhor como cristão e cidadão inserido em um contexto social,
econômico, cultural e espiritual, oferecendo, conseqüentemente, subsídios para que ele faça a
escolha de forma mais coerente, responsável e consciente.
A dinâmica de trabalho do SAVV é marcada pelo acompanhamento sistemático e dinâmico
de cada vocacionado, levando-os a perceber suas identificações, características e singularidades,
onde o autoconhecimento adquire o status de algo que se constrói na relação com o outro e não
algo que se dá a partir de uma reflexão isolada, descolada da realidade social. Buscamos
conscientizá-los de que esse processo é mais do que um momento para a “descoberta” da
vocação, pois, trata-se de um período em que emergem conflitos, estereótipos e preconceitos que
são trabalhados para a sua superação, minimizando, assim, as fantasias a respeito da vida
religiosa. Guimarães Rosa nos ensina que mais importante que tudo isso e mais bonito é que
pessoas não são acabadas, sempre iguais, podem afinar ou desafinar porque ainda não foram
terminadas; fator da singularidade de cada ser em construção e de todo seu aporte existencial.
Todo o trabalho busca compreender mais concretamente como cada jovem se apresenta
no momento da opção vocacional, mostrando-lhe que tem todo um histórico de vida a ser
considerado. Temos a clareza de que esse não determina em absoluto a vocação, apenas indica
caminhos, visto que a vocação não nasce e mostra-se ao acaso, mas é construída subjetiva e
historicamente. E que, cada um em sua trajetória, pode ter vivenciado interesses e aptidões e
esse é o momento de se posicionar frente a eles, pois para escolher é preciso saber. Saber de si
mesmo e do mundo no qual cada um ingressa numa história familiar e é designado participar, da
qual deverá emergir para constituir a sua própria história, não apenas como protagonista, mas
autor; não autor único, mas co-autor na oportunidade de amar, conhecer e trabalhar. Ser com
outros.
Parafraseando Freud, “a prova inequívoca do desenvolvimento ótimo da personalidade
vem dada pela capacidade de amar e trabalhar de forma efetiva”. Sabemos que nenhuma
conquista humana traz a marca da garantia absoluta e de indefectibilidade. Apesar de todos os
desafios que cercam a opção vocacional, cabe a nós, equipe do SAVV, promover troca de
experiências, orientação espiritual, reflexão pessoal e conjunta sobre o tema, abordar
conhecimentos para que possamos compreender e viabilizar o processo de discernimento
vocacional, construindo condições de tomada de decisão futura favorável a todos, respeitando a
diversidade humana e visando à concretização de objetivos.
Trabalhar a questão da vocação religiosa numa sociedade conflitante e conflitiva nos incita
a buscar compreender e enfrentar a questão em sua dimensão estrutural e não apenas em suas
manifestações conjunturais. Assim, antes de procurar individualizar autores e culpados pelos
caminhos e descaminhos das vocações, antes mesmo de demarcar os preconceitos e
estereótipos que as legitimam, é preciso compreender a estrutura do campo relacional e
discursivo que torna possível as hierarquias discriminatórias e as classificações rígidas dos
estereótipos. Buscar nos entrelugares, entre os enunciados e os processos de enunciação, nos
interstícios entre os vocacionados e o modo de manifestarem sua vocação, as potencialidades de
ampliação e constituição de novos saberes e suas possíveis aplicações.
Dar conta destas questões pode ser uma maneira nova de agente se ver, ver os outros e
ver a vocação religiosa, de criar e fortalecer diariamente nossa eterna crença no significado da
fugaz jornada humana, de aprender a conviver com as diferenças, com as mudanças, com o que
está além das imagens; uma maneira de apostar no outro. De trilhar um caminho que é sem
imagem, porque “caminhante, não há caminho, o caminho se faz com o caminhar” (MORIN,
2000).
Marisa Aparecida Domingos,
Psicóloga e Mestra em Educação
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Celebração Sertaneja
Por ocasião do Dia do Lavrador e da Lavradora,
comemorado a cada 25 de julho, costumamos celebrar a
Missa Sertaneja em nossas Comunidades, junto ao Povo de
Deus. Neste ano de 2008, celebramos em solidariedade aos
Lavradores e Lavradoras na paróquia do Pai Misericordioso
(Paulo VI), dia 26 de julho, com a presença de significativa
representação de praticamente todas as 10 Comunidades de
Fé que compõem a paróquia. Portanto, a Missa Sertaneja foi
um momento alto na caminhada paroquial, coordenada
principalmente pelos membros do Grupo Fé e Política da mesma paróquia. Esta Celebração em
solidariedade aos lavradores aconteceu na Comunidade São José Operário.
Nesta mesma perspectiva, foi celebrada a Missa
Sertaneja na igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora de
Fátima (Contagem), no dia 27 de julho, com presença
maciça de representantes das 5 Comunidades de Fé que
compõem a paróquia. Depois da animada celebração,
tivemos barraquinhas e uma bonita quadrilha na porta da
igreja, coordenada pela SSVP.
Vivam os Trabalhadores Rurais de nosso país!!!
Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, C. M.
Celebração do XX IMA
Entre os dias 28 e 31 de julho de 2008, na cidade de
Aparecida (SP), aos pés da Negra Mariama, aconteceu o XX
Encontro de Padres, Bispos e Diáconos Negros do Brasil (XX
IMA – Instituto Mariama), com o tema: Negra Mariama chama
para celebrar XX anos do IMA, e o Lema: Solidariedade e
Compromisso. As reflexões iniciaram com a temática: “Ecos
da Conferência de Aparecida para Presbíteros Negros”.
Marcaram presença neste memorável Encontro 40
integrantes, dentre eles 5 bispos negros. Esta foi uma presença
marcante em nossos eventos, que acontecem a cada ano, em
diferentes estados, desde o ano de 1988.
Representando a PBCM, participou integralmente deste
Encontro o Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado. Em seguida, Pe. Luiz
Roberto representou a PBCM, juntamente com o Pe. Marcus
Alexandre, na ordenação Presbiteral do Diácono Marco Aurélio, da
Província de Curitiba, no Santuário São Vicente de Paulo, em Moinho
Velho, São Paulo, no dia 2 de agosto de 2008.
No final do XX IMA, os integrantes do encontro elaboraram
uma Carta-Mensagem para divulgar a riqueza desta reflexão a outros
quilombolas, que ainda não despertaram para nos acompanhar. Eis a mensagem:
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Carta do XX Encontro do IMA
Reunidos no Santuário Nacional de Aparecida, casa da Negra Mariama, nós, bispos,
padres e diáconos negros, vivemos momentos de partilha da vida, alegria e solidariedade
ministerial, muito comum na tradição afro-brasileira. O tema: Negra Mariama chama para
celebrar os vinte anos do IMA e o lema: Solidariedade e compromisso nortearam as reflexões
do XX Encontro.
Refletindo sobre os Ecos da Conferência de Aparecida para os Presbíteros Negros,
estamos em comunhão com toda a Igreja no compromisso com a evangelização, sob o critério de
que começa a partir de Jesus. Na caminhada de discípulos-missionários, lembremos que as
respostas aos desafios da Igreja passam pela intenção de ajudar as pessoas a ter um encontro
pessoal com Jesus. Neste encontro, considerar a história, a vida humana e a realidade são
princípios relevantes, especialmente no que diz respeito à comunidade negra, ainda marcada pela
pobreza e exclusão.
Tivemos a graça de participar de um retiro. A experiência do retiro trouxe para nós a
convicção de que a criação merece do ser humano o louvor e o compromisso com o cuidado do
que é fruto do amor de Deus. O cuidado diz da superação do pecado que é a desordem da
criação. O louvor a Deus abarca toda a criação, é também a característica fundante da liturgia e
da oração do presbítero negro, pois é aí que nos reconhecemos como Igreja. O presbítero negro é
convidado a ser o servidor da humanidade, a fazer a experiência da verdadeira fraternidade e a
contemplar a obra salvadora de Deus. Neste propósito, vive a plenitude da tradição afro. A
vocação do padre negro é compromisso de fé, é fidelidade à caminhada dos negros e negras que
habitam este chão.
Manifestamos nossa preocupação com a formação presbiteral, sobretudo a promoção
vocacional e a orientação nos seminários e casas de formação que ainda não contemplam o
grande contingente de jovens negros que poderiam ingressar nos seminários para o processo de
discernimento da vocação ao ministério presbiteral.
Renovamos os nossos votos de compromisso com a Igreja que, iluminada pelo Documento
de Aparecida e pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, busca viver o compromisso de
discípula missionária de Jesus Cristo. Como bispos, padres e diáconos negros nos alegramos e
louvamos a Deus por este caminhar que aprofunda o compromisso com o Reino de Deus.
O próximo Encontro (XXI IMA) acontecerá entre os dias 6 e 8 de julho de 2009, na cidade
de São Luís do Maranhão (MA), ocasião em que estará acontecendo também, logo após este
encontro, o CONENC (Congresso de Entidades Negras Católicas), entre os dias 8 e 11 de julho. A
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proposta é que os integrantes do XXI IMA marquem presença neste encontro do CONENC.
Portanto, esta data do XXI IMA é estratégica. Preparemos nossas agendas para estes eventos.
Mãe Negra Aparecida, nas lutas de cada dia, protege a nossa vida!!!
Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, C. M.
Retiro Espiritual
“O mundo dos Pobres é o lugar teológico da vida cristã inserida”. Essa foi a temática que
refletimos no início deste semestre, nos dias 8, 9 e 10 de agosto, no Retiro Espiritual da
comunidade do Seminário São Justino de Jacobis.
Ir. Heloísa Helena, F. C., foi quem brilhantemente nos
assessorou, impulsionando-nos a rezar, a refletir sobre a situação dos
Pobres, a partir da sua realidade concreta. “São eles, os Pobres, que
provocam as possíveis respostas em nós”, enfocou nossa assessora.
A Fazenda do Engenho foi o cenário ideal para este rico e
imprescindível momento da nossa caminhada. Seguimos revigorados
nesse itinerário, com muita disposição para seguir Jesus como
discípulos-missionários. É Ele o nosso modelo, o nosso guia, o Dom
Supremo do amor efetivo, afetivo e glorificante!
Héber Faria, C. M.
Família Vicentina em Missão
A Família Vicentina regional de Belo Horizonte realizou no mês de
julho a primeira Missão Vicentina na Sociedade de São Vicente de Paulo.
Houve um tempo de planejamento, formação e espiritualidade para os
missionários.
Foram mais de 2 anos de articulação para que acontecesse a Missão
Vicentina na cidade de Caratinga em Minas Gerais. Todos os conselhos
centrais, conselhos particulares, algumas conferências, confrades e
consócias afastados(as) e idosos(as) receberam com muito carinho os
missionários.
O objetivo da Missão Vicentina foi resgatar o amor pela espiritualidade e carisma da nossa
querida Sociedade de São Vicente de Paulo. Para isso, contamos com o apoio e a experiência de
missionários dos diversos ramos da Família Vicentina regional de Belo Horizonte. Eles passaram
por alguns momentos de formação, aperfeiçoamento da metodologia, espiritualidade e partilha do
perfil do confrade e da consócia vicentino (a).
Foi um tempo de graça para todo o povo de Deus que pôde receber os missionários no dia
12 do mês de julho com uma fervorosa Celebração Eucarística de envio na Igreja do Senhor Bom
Jesus em Caratinga-MG, celebração presidida pelo Pe. Raimundo João e concelebrada pelo
Pároco local e também ajudada pelos seminaristas da Congregação, José Nunes, Paulo Dantas e
Marcelo Santos.
No desenvolvimento da Missão foi possível experimentar o amor de um povo sedento da
Palavra de Deus. Houve muita partilha, grande alegria e diversos desafios e, entre eles, a
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distância muito grande dos conselhos e conferências, o que dificultou a participação de muitos
confrades e consócias - dificuldade de formação através da ECAFO e outros cursos - necessidade
de mais assistência por parte da Igreja local e de unidade entre conferências, conselhos
particulares e centrais.
A Missão aponta para um momento novo na Sociedade de São Vicente de Paulo, quando
suscita linhas de ação que possam levá-la a ser mais comprometida com o seu próprio carisma e
espiritualidade e acima de tudo com a causa dos Pobres, e assim:
1- Melhorar a comunicação entre as unidades vicentinas que formam o Conselho
Metropolitano de Caratinga.
2- Elaborar material didático de linguagem acessível para o confrade e a consócia
vicentino(a).
3- Promover um seminário sobre Mudanças de Estruturas na região.
4- Elaborar um projeto em conjunto com a Província Brasileira da Congregação da Missão
com o objetivo de conseguir uma equipe ou um assistente espiritual (Lazarista) para o Conselho
Metropolitano de Caratinga.
Avaliamos a Missão como positiva e eficaz por seus diversos indicadores apresentados na
avaliação dos missionários com a diretoria do Conselho Metropolitano e com representantes das
outras obras vicentinas presentes.
A celebração Eucarística de encerramento da Missão culminou com o IV Vincentivar
(avivamento da espiritualidade e do carisma vicentino). Este evento é promovido pelo Conselho
Metropolitano da SSVP de Caratinga de 2 em 2 anos e desta vez, contou com a participação de
2.800 vicentinos.
Deixamos aqui nossos agradecimentos a Deus, à Virgem Maria e aos missionários que
trabalharam com muito zelo para o bom êxito da Missão.
José Nunes
2º ano propedêutico
Formação Missionária para Seminaristas
“‘Os rostos sofredores dos pobres são rostos sofredores de Cristo’.
Eles desafiam o núcleo do trabalho da Igreja, da pastoral e de nossas
atitudes cristãs. Tudo que tenha relação com o Cristo tem relação com o
Pobre e tudo que está relacionado com o Pobre clama por Cristo” (DA
393).
À luz da Conferência de
Aparecida, aconteceu,
entre os dias 13 e 23 de julho do
ano corrente, no Centro
Cultural
Missionário
(CCM),
Brasília (DF), o III
Encontro
de
Formação
Missionária
para
Seminaristas.
Entre os 39 seminaristas de
diversas regiões do
Brasil que participaram do curso,
destaca-se a presença
dos estudantes de teologia da
PBCM: Héber F. de
Faria, Odinei P. Magalhães e
Vanderlei A. dos Reis.
Todos os participantes buscavam,
com
suas próprias
motivações e sua consciência missionária, aprofundar a teologia da missão em seus diversos
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aspectos, dispostos a incentivar, animar e dinamizar a dimensão missionária nas casas de
formação e nas pastorais em que atuam.
Imbuídos do espírito missionário, os assessores convidados para o encontro partilharam
suas experiências e desenvolveram conosco os seguintes temas: Elementos da Teologia
Missionária; Caminhada Missionária na Igreja; Espiritualidade Missionária; Caminhada Social na
sua dimensão missionária, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), do Conselho
Indigenista Missionário (CIMI) e da Pastoral Afro-Brasileira; e, por fim, a realidade da Igreja na
Amazônia, seus desafios e conquistas.
Além dos estudos, não podemos esquecer de relatar as experiências
pastorais em diversas paróquias da Arquidiocese de Brasília, as orações e
celebrações eucarísticas, os momentos de convivência e uma belíssima
noite cultural onde os participantes apresentaram músicas e alguns pratos
típicos da culinária de suas regiões.
“Do seminário para o mundo!” Este era o sentimento externado pelos
missionários que estiveram presentes no encontro: os assessores, alguns
padres a serviço da CNBB e missionários leigos que atuaram em áreas
missionárias exigentes, de difícil acesso e com poucos agentes de pastoral.
Todos nos motivaram para a missão, principalmente para o trabalho de
evangelização além das nossas fronteiras, levando a Boa Nova a todos os
povos.
Voltados para as exigências atuais da evangelização no mundo,
procuremos olhar os ensinamentos de Jesus Cristo, fonte e ápice da nossa
vida, luz do mundo e caminho para a MISSÃO.
Odinei de Paiva Magalhães, C.M.
Ordenação Presbiteral do Diácono Pedro Dias de Lima, C.M.
O Presbítero, sendo, na comunidade cristã, um irmão entre os irmãos,
é, pela graça de Deus e à semelhança de Cristo, pastor do rebanho. Por
isso, é chamado a cuidar de todo o povo de Deus com zelo apostólico e
profético. E ainda mais, como missionário vicentino, é chamado a dedicar
sua vida à evangelização dos Pobres, enquanto opção radical e exclusiva
que advém de sua consagração pelos votos. Por isso, juntamente com toda
a Igreja, a Congregação da Missão se alegra em oferecer ao mundo mais um
ministro ordenado no grau do presbiterato.
A ordenação do Pe. Pedro Dias de Lima foi precedida por um belo
tríduo
vocacional
que
ajudou
a situar toda a comunidade
paroquial de Malhada (BA),
lugar
onde nasceu o ordinando e onde reside sua
família, no importante acontecimento que estava
por vir.
As três noites que precederam o dia da
ordenação foram de muita reflexão e oração
acerca
da importância da vocação batismal, enquanto
compromisso do cristão com a comunidade e, de
modo
especial, sobre o ministério ordenado, enquanto
desdobramento da vocação cristã. Todas estas
celebrações contaram com um bom número de participantes.
No dia 19 de julho, às 18 horas, celebramos com alegria a missa da ordenação. A
celebração, presidida por Dom Riccardo Guerrino Brusati, bispo da diocese de Caetité,
transcorreu num clima de muita simplicidade e alegria. Esta contou com um número significativo
- 169 -
de Coirmãos e com uma multidão de fiéis que, lotando a praça da matriz, sob a abóbada celeste,
elevou a Deus suas orações e louvores pelo Padre Pedro.
Após a ordenação, a festa continuou com o jantar oferecido a
todos os que se encontravam na celebração. No dia seguinte à
cerimônia, pela manhã, Pe. Pedro celebrou sua Primeira Missa na igreja
matriz de Malhada. À noite, foi à Carinhanha (BA) e lá, na igreja matriz de
São José, celebrou sua segunda missa.
Nós, Coirmãos da PBCM e todo o povo de Deus, parabenizamos
o Pe. Pedro por este importante passo dado na esteira do seguimento de
Jesus. Rogamos ao Senhor da Messe e Pastor do Rebanho que fecunde
seu ministério presbiteral e que sua vida seja uma constante oferta de si
mesmo a Deus e aos irmãos, de modo especial a todos aqueles que são
relegados aos últimos lugares na sociedade.
Ir. Luís Carlos do Vale Fundão, C. M.
Temos um novo Diácono: Deoclides
É com muita alegria que venho atender ao pedido de um pequeno artigo sobre a
ordenação de Deoclides. Faço-o em três partes:
1º Momento – “Samuel, Samuel” (1Sm 1, 4) – Seguindo o chamado de Javé a Samuel, a
Paróquia, através de seu pároco Pe. Manoel Bonfim da Conceição, convida e convoca seus filhos,
pela oração e pela colaboração, para se unirem para um grande momento:
a ordenação diaconal do Irmão Deoclides. A resposta foi imediata. Não
mediram esforços para preparar a estrutura que exige o evento.
O tríduo aconteceu a partir dos seguintes temas: 1º dia: Deus
prepara uma terra; 2º dia: Deus prepara
uma família; 3º dia: O Chamado.
Se, por um lado, os paroquianos
respondem afirmativamente ao apelo para
preparar pela primeira vez uma ordenação,
por outro lado não se pode deixar de
mencionar os amigos e irmãos na fé (de
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Contagem, Carinhanha, Serra do
Ramalho, Campina Verde, Malhada, Feira da Mata, Francisco
Badaró e os fiéis de Brasília) que deixaram suas casas, atividades
e famílias (Mc 10, 29) para participarem desse momento de graça.
2º Momento – “Os Doze convocaram uma assembléia plenária dos discípulos e disseram:
“Não convém que nós descuidemos a Palavra de Deus por causa do serviço das mesas.
Procurai, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, repletos do Espírito e de
sabedoria.” – At 6, 2-3.
A celebração da ordenação de Deoclides foi um tempo forte de
Deus. O sim e o amém de todos assinalaram a profundidade espiritual
do evento. Agradecemos pelos esforços de todos. Não se pode deixar
de agradecer, de modo especial, a nossos irmãos vicentinos que
estiveram presentes: Padres. Agnaldo, Emanuel, Valmir, Francisco,
Pedro, Tadeu, Marcos, Raimundo, Irmãos Afonso, Milton, Gentil,
Adriano, e seminaristas Heber, Odinei, Mirandir, Fernando.
3º Momento – “Senhor, darei graças de todo o meu coração recitarei todas as tuas
maravilhas” – Sl 9, 2. – Após a celebração houve um saboroso jantar. Tempo de congraçamento
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entre os amigos. Como é bom os grandes amigos celebrarem suas vidas e seus encontros em
tempos de graça.
Para o novo Diácono nossas bênçãos e nossas orações para que viva um tempo de graça e de
santidade.
Pe. Alex Sandro Reis, C.M.
Romeiros de Deus no Coração do Mundo
Romarias são manifestações religiosas que contagiam milhares de pessoas. Elas se
caracterizam por ser um espaço privilegiado em que fé e vida se unem profundamente e onde o
clamor do povo se faz ouvir. “Elas são realizadas de diversas formas e em espaços diferentes”.
Foi em mais um espaço diferente que, no dia 17 de agosto deste ano, contando com cerca de
dois mil romeiros vindos de toda Minas Gerais, nos encontramos no distrito de Cachoeira Escura,
município de Belo Oriente, no querido e saudoso Vale do Aço, para celebrarmos a 12ª Romaria das
Águas e da Terra.
Entre os ilustres romeiros, ouvia-se a voz profética de Dom Tomás Balduino, bispo emérito de
Goiás e conselheiro permanente da CPT.
O início da caminhada foi ao lado do portão de entrada da empresa CENIBRA, produtora de
celulose e acusada de poluir a água, o ar e envenenar o solo da região com sua monocultura de
eucalipto. Ali fizemos ecoar o choro deste povo, unindo-o ao dos “rios, dos riachos, da Cachoeira
Escura e das nascentes da bacia do Rio Doce”, juntamente com os “lamentos dos lavradores semterra, posseiros, indígenas, atingidos pelas barragens, mineração e por monoculturas do eucalipto...”
Recordamos que o sentido mais profundo da Romaria das Águas e da Terra consiste no
encontro do divino com o humano, Trata-se de uma manifestação que constrói a unidade da Igreja,
reconhecendo como sagradas as lutas e as conquistas do povo.
Os mais de 6 quilômetros percorridos pelos romeiros romperam o ciclo vicioso do atual
sistema. A Palavra de Deus e a vida do povo pobre foram nossa inspirações, uma forma profética de
denunciar o sistema despótico que quer enquadrar os trabalhadores do campo em seus esquemas.
Mesmo com o calor, o sol quente e o cansaço, buscamos, à luz da fé, a transformação da
sociedade, a construção do Reino de Deus.
Proclamamos, com indignação e com esperança, o tema de nossa romaria: “TERRA E
ÁGUA, CLAMOR DE VIDA”. E com o lema, gritávamos: “LUTAR PELA TERRA E PELA ÁGUA É
PRESERVAR A VIDA”.
Assim, tentamos conscientizar a todos sobre o valor da água, essencial para a
sobrevivência de toda espécie humana e da natureza, e alertamos para a sanha capitalista que
quer torná-la mais uma mercadoria. Os romeiros afirmaram em carta que “é possível, necessário e
urgente acabar com todo tipo de concentração, de monocultura, de privatização da terra e da
água. A justiça do povo do campo só se fará com a reforma agrária e agrícola. Um outro mundo é
possível e necessário, pois somos romeiros de Deus no coração do mundo!
Amém, Axé, Awere, Aleluia, Uai!
Edney Almeida Costa, C. M.
Superior Geral
Circulares do Pe. Gregory Gay, superior geral:
- Dia 18/07/2008 circular a todos os membros da Família Vicentina, em preparação para o dia de
oração por ocasião da festa de São Vicente de Paulo. Não deixe de ler e meditar esta
belíssima mensagem em que o Pe. Gregory nos convida a fazer a leitura da realidade à luz da
fé.
- Dia 30/07/2008 circular a todos os membros da Congregação da Missão, com o anúncio dos
cinco projetos que ganharam o Prêmio Missão 2008, entre eles o Projeto de Formação e
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Animação Bíblico-Pastoral-Social na ilha de Superagüi e nas ilhas vizinhas, apresentado
pela Província de Curitiba.
Cúria Geral
Pe. Cláudio Santangelo, secretário geral da Congregação da Missão, comunicou no dia
25/07/2008 que estão definitivamente cancelados os seguintes endereços eletrônicos para comunicação com a Cúria Geral: [email protected] e [email protected]
O único endereço para comunicação com a Cúria Geral é [email protected]
Assembléia Provincial - 2009
A Comissão Preparatória para a Assembléia Provincial (CPAP) realizou sua primeira
reunião no dia 10 de agosto na Sede Provincial. Após tomar conhecimento do material enviado
pela Comissão Preparatória para a Assembléia Geral (CPAG-2010), confirmou os seguintes
encaminhamentos:
1. Segundo Semestre de 2008: leitura, reflexão pessoal e comunitária do Documento Final da
AG-2004, dos textos relacionados com a Formação Permanente e da carta do Superior Geral
sobre Formação Permanente (18/02/2008). Este material será enviado aos Superiores e
Coordenadores de Casa no início de Setembro/2008.
2. Início de fevereiro/2009: as Comunidades Locais receberão o material para a realização das
Assembléias Domésticas (de março a maio de 2009).
3. Enviar as Atas das Assembléias Domésticas à CPAP até 20/05/2009.
4. Do dia 11 a 13 de junho/2009: reunião da CPAP para elaboração do “Instrumento de
Trabalho” da Assembléia Provincial.
5. Do dia 24 a 28 de agosto/2009: Assembléia Provincial em preparação para a Assembléia
Geral/2010.
Voluntários da PBCM Recebem Homenagem no Rio de Janeiro
Por iniciativa do vereador Roberto Monteiro, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro
entregou Moções em homenagem aos Voluntários da Província Brasileira da Congregação da
Missão. A solenidade aconteceu no dia 18 de agosto de 2008, às 18h30 min., no Salão Nobre
Antônio Carlos Carvalho, Palácio Pedro Ernesto, Cinelândia – Rio de Janeiro.
Parabéns a todos os Voluntários da PBCM. Vocês merecem esta justa homenagem pelo
importante serviço que realizam nos nossos projetos sociais.
Semana Vocacional Vicentina
Caríssimo Coirmão da PBCM, não se esqueça de que, na semana de 21 a 28 de setembro
deste ano, deverá ser realizada a Semana Vocacional Vicentina em todas as obras da PBCM.
Ajude sua Comunidade Local na organização e realização dos eventos.
Algumas sugestões: conhecer melhor o Plano do Serviço de Animação Vocacional da
Província; rezar diariamente em comunidade a o-ração “Esperança de Israel”; realizar encontros de
Despertar Vocacional com os adolescentes e Jovens, jornadas vocacionais, horas santas e celebrações vocacionais; organizar ou fortalecer as Equipes Paroquiais e/ou Comunitárias do Serviço de
Animação Vocacional; organizar Grupos de Opção de Vida (GOV) com jovens vocacionados e, outras
atividades segundo a sua criatividade e de acordo com a realidade da comunidade onde reside e
trabalha.
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Conselho Provincial Ampliando
Nos dias 19 e 20 de agosto, na Fazenda do Engenho, aconteceu reunião do Conselho Pro-vincial
Ampliado com a participação dos Coir-mãos Incorporados da Comissão de Formação e de outros
Coirmãos para tratar de assuntos ligados ao processo de formação dos nossos. Em especial foram
tratados os seguintes assuntos: dimensão humano-afetiva-sexual, novas tecnologias e consumismo,
orientação e orientador espiritual, ética e falta de ética na transmissão de informações internas na
PBCM, em especial quando Coirmãos de uma Comunidade passam por outra Comunidade (verdade,
justiça, caridade, senso crítico, discrição e fofoca).
Oportunamente o Visitador Provincial enviará circular comunicando o conteúdo das reflexões e
propostas de encaminhamentos para diversas instâncias: Pessoal, Comunidade Local e Provincial,
Equipes e Comissões.
Encontro dos Coirmãos Jovens
Aconteceu, nos dias de 5 a 7 de agosto, em Caraguatatuba (SP), o encontro dos coirmãos
jovens da PBCM. O tema “Mudança de Estruturas” contou com a assessoria da professora Valéria S.
Baptista, cientista social e professora do Colégio São Vicente, e do Pe. Agnaldo Aparecido de Paula.
Além dos estudos, de partilhas de experiências e da elaboração de propostas para a concretização da
Campanha Mudança de Estruturas o encontro proporcionou aos participantes momentos de
espiritualidade, de fraternidade e de lazer. Infelizmente apenas 11 dos 26 Coirmãos convidados
estiveram presentes. O próximo encontro será em 2010 e a articulação está a cargo dos Coirmãos Pe.
Emanoel Bedê Bertunes e Pe. Pedro Dias de Lima.
Notícias das Casas da Província
Casa Dom Viçoso
Após o mês de julho, tempo atípico para os componentes da casa, pela ausência dos nossos seminaristas vizinhos, chega agosto, mês vocacional. Foram bem enfocadas as quatro
semanas. 1ª marcada pelo dia do Padre e dos ministros ordenados. 2ª pelo festivo dia dos Pais e
semana da Família. 3ª dedicada aos consagrados Irmãos e Irmãs, no dinamismo de seu carisma. 4ª
dos Leigos Catequistas. Tudo isso foi bem enfocado e celebrado nas celebrações eucarísticas.
Contamos com a alegre visita do Pe. Provincial, que viveu conosco três dias descontraídos. Graças
a Deus todos os coirmãos vão bem no limiar das longas vidas. Recebemos visitas de vários
passantes: Pe. Luís Veras, em rápido tratamento. Pe. Wander Ferreira, de férias. Pe. Paulo José,
indo para encontro (SP) como representante da Diocese de Araçuaí. Também Pe. Ézio Lima e
Nilson Grossi para revisão de saúde enriqueceram a casa com suas presenças mais alongadas.
Ir. Edmar fez uns bons reparos e conseguiu comprar um novo fogão para substituir o antigo,
já com desperdicio de gás. Assim vamos correndo contra o tempo que não pára, mas nos deixa
bem felizes pelos bons resultados na recuperação de todos na já combalida saúde.
Também a Associação da Medalha Milagrosa fez sua presença mais vital com a ajuda do Ir.
Vinícius Augusto na animação. A novena perpétua conta nas segundas feiras com bom número de
participantes e, às quintas feiras, a missa com os seminaristas e os padres da Formação traz uma
nota festiva e alegre para todos nós. Eis o que vivemos.
Pe. Célio M. Dell’Amore, CM
27-08-2008
Casas de Formação – Belo Horizonte
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Com os corações cheios de alegria e es- perança os membros das Comunidades do Instituto São Vicente de Paulo e do Teologado São Justino de Jacobis reiniciaram as atividades com
uma Celebração Eucarística no dia 7 de agosto.
Durante a homilia foi destacada a riqueza de experiências vivenciadas pelos membros das
duas Comunidades durante o mês de julho. Vale à pena apontar estas experiências como
verdadeiros sinais do Reino. Acompanhe a bela ladainha: o Curso de Missiologia para
seminaristas (Brasília-DF), o Estágio Missionário (Riacho Fundo II – DF), a Escola de Formadores
(ISTA-BH-MG), o Curso de Animadores Vocacionais (CRB-BH-MG), o ENEV (Belém-PA), o Curso
de Liderança Servi-dora (Paris-FR), a Missão da Família Vicentina (Caratinga-MG), a Ordenação
Presbiteral do Diác. Pedro (Malhada-BA), o Encontro de Padres Negros, o Estágio Vocacional
(SAVV-Trevo-BH) e o merecido descanso junto aos familiares.
Jubileu em Contagem
No dia 31 de agosto, na Paróquia Nossa Senhora de
Fátima, em Contagem (MG), ocorreu solene Celebração
Eucarística em ação de graças pelos 25 anos de presença
missionária dos “Lazaristas” (Congregação da Missão) nesta
Paró-quia. A celebração presidida por Dom Walmor Oliveira de
Azevedo contou com a presença de vários padres e
seminaristas da PBCM, muitos membros de diversos ramos da
Família Vicentina e grande número de fiéis da Paróquia
jubilada e de outras paróquias.
Após a celebração foi oferecido alegre e farto café
da manhã a todos que participaram da Santa Missa (foto).
Família Vicentina
AEALAC: Diretoria 2008/2010
No dia 31/05/2008, em Assembléia Geral, foi eleita a nova diretoria da AEALAC que foi assim
constituída:
Presidente: Mariano Pereira Lopes
Vice-Presid.: Antônio Ferreira Borges Neto
1º Secretário: Alberto Augusto Reis Viana
2ª Secretária: Lúcia Helena Teixeira Braga
1º Tesoureiro: Walter dos Reis Vieira
2º Tesoureiro: João Bosco Miranda.
Sociedade de São Vicente de Paulo
O presidente internacional da SSVP, cfd. José Ramón Díaz Torremocha, editou mais uma
Carta-Circular, datada de 30/06/2008, deixando três temas à reflexão para todos os confrades e
consócias no mundo, baseado no Evangelho de São João 19,30 “Quando Jesus bebeu o vinagre,
disse: tudo está cumprido. E inclinando a cabeça, entregou o espírito”. 1) Que queres de mim Senhor?
2) Abertos e em defesa dos valores cristãos. 3) A Mudança de Estruturas.
A carta-Circular está à disposição de toda a Família Vicentina no site: www.ssvpglobal.org
FV – Regional de Belo Horizonte
Pe. Manuel Ginete, delegado do Superior Geral para a Família Vicentina, enviou mensagem
ao Pe. Raimundo João da Silva, com cópia ao visitador da PBCM, agradecendo e elogiando a
atuação da Família Vicentina na região de Belo Horizonte. Assim se expressou Pe. Ginete “Vê-se
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claramente como a FV ali está bem compro-metida. Muito me alegro. Rogo a Deus que abençoe
sempre seus esforços para e com os Pobres do Brasil”.
MISEVI – Brasil
Pe. Gregory Gay, superior geral da Con-gregação da Missão e das Filhas da Caridade e
Diretor Geral da Associação “Missionário Secu-lares Vicentinos” (MISEVI) aprovou os Estatutos
Nacionais de MISEVI do Brasil para cumprir o estabelecido no Cânon 304. A atual presidente nacional
do MISEVI é Rosa Momesso, professora do Colégio São Vicente de Paulo (RJ) e os assessores são
Pe. Alexandre Nahass Franco, C.M, e Ir. Rizomar B. Figueiredo, FC.
OUTRAS NOTÍCIAS
CRB-Nacional tem nova Sede Nacional
A partir de 29/05/2008 a Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB, tem sua Sede
Nacional no seguinte endereço:
SDS, Bloco H nº 26 – 5º Andar, Sala 507
Edifício Venâncio II
70393-900 Brasília – DF
Fone: (61) 3226-5540 / Fax: (61) 3225-3409
www.crbnacional.org.br
[email protected]
Razões que definiram a transferência da Sede: maior comunhão com organismos da Igreja,
busca por novas parcerias, centralidade geográfica e cultural.
No dia 28 de agosto, no Rio de Janeiro foi celebrada a Ação de Graças pelos 54 anos de
missão na “Cidade Maravilhosa” e envio das Equipes de Coordenação Nacional para a nova Sede
Nacional em Brasília.
Novas Formas de Inserção
A Rede “Um Grito Pela Vida”, em con-tinuidade da reflexão e formação sobre o Tráfico de
Seres Humanos (TSH), inicialmente assumido pela Organização Internacional para as Migrações
(OIM) e a União Internacional dos Superiores (UISG), esteve reunida nos dias 15-17 de maio de
2008, na casa de Encontros das Irmãs Cabrini em São Paulo. A assessoria do encontro esteve a
cargo de membros do Escritório de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos do
Es-tado de São Paulo. Na segunda parte do encontro ocorreu a socialização de atividades e
iniciativas realizadas até o momento pelas integrantes da rede e construiu-se o plano para 20082009.
O encontro foi um marco na confirmação das “Novas formas de inserção” e na defesa da
vida dos povos e, ao mesmo tempo, uma denúncia da nova forma de escravidão – o tráfico de
Seres Humanos, principalmente das mulheres e crianças.
Trabalhar pela erradicação do TSH faz parte da estratégia “d” da Prioridade 1 do Plano
Global de Ação da CRB-Nacional, Triênio 2007-2010, “Reafirmar o compromisso da VRC no
serviço à vida, diante das grandes questões sociais e ambientais; e fortalecer a inserção nos
meios populares e em novos espaços de solidariedade e cidadania.”
2º Congresso Missionário Nacional
Em preparação para o CAM3COMLA8 (Quito/Equador) aconteceu em Aparecida (SP) o 2º
Congresso Missionário Nacional. Da reflexão, nasceu o seguinte compromisso:
A Vida Religiosa, participante do 2º Congresso Missionário Nacional compromete-se
com:
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1.
2.
3.
A radicalidade no seguimento de Jesus Cris-to e seu projeto, assumindo um rosto pobre e
inserindo-se no meio dos Pobres.
A Igreja que busca converter-se em casa e escola de comunhão, favorecendo relações
inclusivas e participativas.
A itinerância que fortalece a presença e o testemunho profético em situações sóciogeográficas “onde Cristo ainda não é reco- nhecido como Deus e Senhor”.
AGENDA DO PROVINCIAL EM SETEMBRO
Visita do Provincial às seguintes Casas:
De 1º a 4 – Teologado S. Justino de Jacobis, BH.
De 15 a 17 – Brasília (DF)
De 18 a 21 – Riacho Fundo II (DF)
De 23 a 26 – Carinhanha (BA)
De 27 a 30 – Serra do Ramalho (BA)
Jubilados em Setembro
Dia 22 - Pe. Ézio Rodrigues de Lima
90 anos de idade
Dia 26 - Pe. Sebastião Agatão Dias
60 anos de ordenação
Dia 28 - Pe. Célio M. Dell’Amore
- Pe. Antônio Gomes Pereira
- Pe. Wilson Belloni
50 anos de ordenação
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