2012 nº 11
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2012 nº 11
ISSN 0100-7203 2012 Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia Novembro nº 11 Novembro 2012 volume 34 volume 34 número 11 p. 485 - 530 Publicação mensal ISSN 0100-7203 Órgão Oficial de Divulgação Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Rev Bras Ginecol Obstet v. 34, n. 11, p. 485-530, novembro 2012 Publicação indexada na Base de Dados LILACS e SciELO. Disponível eletronicamente no SciELO www.scielo.br/rbgo nas versões português e inglês Indexada na Base de Dados Medline Acesso eletrônico através da Scopus: www.scopus.com/scopus/home.url Editor Científico Jurandyr Moreira de Andrade (Ribeirão Preto/SP) Editores Associados Eliana Martorano Amaral (Campinas/SP) Geraldo Duarte (Ribeirão Preto/SP) João Luiz Pinto e Silva (Campinas/SP) José Maria Soares Junior (São Paulo/SP) Marilza Vieira Cunha Rudge (Botucatu/SP) Rosiane Mattar (São Paulo/SP) Rossana Pulcinelli Vieira Francisco (São Paulo/SP) Sophie Françoise Mauricette Derchain (Campinas/SP) Editor Executivo Daniel Guimarães Tiezzi (Ribeirão Preto/SP) Conselho Editorial Antonio Alberto Nogueira (Ribeirão Preto/SP) Antonio Jorge Salomão (São Paulo/SP) Carlos Augusto Alencar Jr. (Fortaleza/CE) Eddie Fernando Candido Murta (Uberaba/MG) Edmund Chada Baracat (São Paulo/SP) Francisco Mauad Filho (Ribeirão Preto/SP) Geraldo Duarte (Ribeirão Preto/SP) Gutemberg Leão de Almeida Filho (Rio de Janeiro/RJ) Haroldo Capurro Alzola (Montevideo, Uruguay) Iracema de Mattos Paranhos Calderon (Botucatu/SP) Ivo Behle (Porto Alegre/RS) Jesus de Paula Carvalho (São Paulo/SP) Jon Oyvind Odland (Tromso, Norway) José Carlos Peraçoli (Botucatu/SP) José Geraldo Lopes Ramos (Porto Alegre/RS) José Guilherme Cecatti (Campinas/SP) José Meirelles Filho (Cuiabá/MT) Joseph A.Spinnato, II (Cincinnati, Ohio) Krikor Boyaciyan (São Paulo/SP) Luiz Carlos Zeferino (Campinas/SP) Luiz Gerk de Azevedo Quadros (São Paulo/SP) Luiz Henrique Gebrim (São Paulo/SP) Manoel J. B. Castello Girão (São Paulo/SP) Manuel de Jesus Simões (São Paulo/SP) Marair Gracio Ferreira Sartori (São Paulo/SP) Marcelo Zugaib (São Paulo/SP) Marcos Felipe Silva de Sá (Ribeirão Preto/SP) Maria de Lourdes Brizot (São Paulo/SP) Marilza Vieira Cunha Rudge (Botucatu/SP) Melania Maria Ramos de Amorim (Campina Grande/PB) Nilma Antas Neves (Salvador/BA) Paulo Traiman (Botucatu/SP) Ricardo Mello Marinho (Belo Horizonte/MG) Roseli Mieko Yamamoto Nomura (Santo André/SP) Ruffo de Freitas Júnior (Goiânia/GO) Rui Alberto Ferriani (Ribeirão Preto/SP) Sebastião Freitas de Medeiros (Cuiabá/MT) Selmo Geber (Belo Horizonte/MG) Sérgio Hofmeister de Almeida Martins Costa (Porto Alegre/RS) Sérgio Mancini Nicolau (São Paulo/SP) Técia Maria de Oliveira Maranhão (Natal/RN) Victor Hugo de Melo (Belo Horizonte/MG) Wagner José Gonçalves (São Paulo/SP) Wellington de Paula Martins (Ribeirão Preto/SP) SECRETÁRIA EXECUTIVA Rosane Aparecida Cunha Casula REVISORA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Maria Cristina Manduca Ferreira Órgão Oficial de Divulgação Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia RBGO – EDITORIA Av. Bandeirantes, 3900 – 8º andar – Campus Universitário 14049-900 – Ribeirão Preto/SP Fone (16) 3602-2803 – FAX (16) 3633-0946 Expediente REVISTA BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, ISSN 0100-7203, é uma publicação mensal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. A responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos é de inteira responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos, desde que mencionada a fonte. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Presidente Etelvino de Souza Trindade (DF) Diretora Administrativa Vera Lúcia Mota da Fonseca (RJ) Diretor Financeiro Francisco Eduardo Prota (SP) Diretor Científico Nilson Roberto de Melo (SP) Diretor de Defesa Profissional Hélcio Bertolozzi Soares (PR) Vice-presidente da região Norte Júlio Eduardo Gomes Pereira (AC) Vice-presidente da região Nordeste Olímpio Barbosa Moraes Filho (PE) Vice-presidente da região Centro-Oeste Paulo Roberto Dutra Leão (MT) Vice-presidente da região Sudeste Hugo Miyahira (RJ) Vice-presidente da região Sul Jorge Abi Saab Neto (SC) Assessora Especial de Diretoria Hitomi Miura Nakagava (DF) Presidência e Secretaria Executiva Avenida das Américas, 8445 – sala 711 Barra da Tijuca – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22793-081 Tel.: (21) 2487-6336 – Fax: (21) 2429-5133 www.febrasgo.org.br [email protected] [email protected] RBGO é uma revista mensal com entrega automática para os sócios da FEBRASGO. Remessa com devolução garantida em caso de erro postal. Assinaturas para pessoas jurídicas pelo fax (21) 2429-5133 TIRAGEM: 18.000 exemplares Os pedidos de separatas devem ser feitos pelo telefone: 0800 77 23023. As separatas reproduzirão fielmente o texto publicado, não podendo ser feitos acréscimos ou exclusões no mesmo. Produção Editorial ZEPPELINI EDITORIAL Rua Bela Cintra, 178 Cerqueira César – São Paulo – SP – 01415-000 PABX: (11) 2978-6686 www.zeppelini.com.br [email protected] Publicação mensal ISSN 0100-7203 Órgão Oficial de Divulgação Científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Rev Bras Ginecol Obstet v. 34, n. 11, p. 485-530, novembro 2012 Sumário Editorial 485 Teresa Cristina Barroso Vieira Eduardo de Souza Mary Uschiyama Nakamura Rosiane Mattar Sexualidade na gestação: os médicos brasileiros estão preparados para lidar com estas questões? Sexuality in pregnancy: are Brazilian physicians prepared to conduct these questions? Artigos Originais 488 Gláucia Virgínia de Queiroz Lins Guerra Alex Sandro Rolland de Souza Bruna Faria da Costa Flávia Renata Queiroz do Nascimento Mariana de Andrade Amaral Ana Caroline Paz Serafim 494 Raquel Santos Robalo Fernandes Ana Filipa Bernardino Simões Ana Cristina Neves Figueiredo Ana Rita Silva Ribeiro Francisca Maria Ferreira Aleixo Sílvia Margarida Duarte Teixeira Guerra Aragüés Njila Yakalage Barreira Amaral 499 Danielle Albuquerque Pires Rocha Josiane Montanho Mariño Cristina Maria Borborema do Santos Exame simples de urina no diagnóstico de infecção urinária em gestantes de alto risco Urine test to diagnose urinary tract infection in pregnant women at high risk Prognóstico obstétrico de pacientes portadoras de diabetes mellitus pré-gestacional Pregnancy outcomes in women with pre-existing diabetes Detecção de Citomegalovírus Humano e Herpesvírus Simples tipo 2 em amostras cervicais Detection of Human Cytomegalovirus and Herpes Simplex Virus type 2 in cervical sample 505 Fátima Faní Fitz Ana Paula Magalhães Resende Liliana Stüpp Thaís Fonseca Costa Marair Gracio Ferreira Sartori Manoel João Batista Castello Girão Rodrigo Aquino Castro 511 Caio Augusto Hartman Cássia Raquel Juliato Efeito da adição do biofeedback ao treinamento dos músculos do assoalho pélvico para tratamento da incontinência urinária de esforço Effect the adding of biofeedback to the training of the pelvic floor muscles to treatment of stress urinary incontinence Inclusão dos sintomas na discriminação entre tumores anexiais benignos e malignos Inclusion of symptoms in the discrimination between benign and malignant adnexal masses Luis Otávio Sarian Amilcar Barreta Maria Carolina Szymanski de Toledo Denise da Rocha Pitta Sophie Derchain 518 Juraci Almeida Cesar Gabriela Breitembach dos Santos Andrea Tomais Sutil Carolina Fischer Cunha Samuel de Carvalho Dumith 524 Luciana Azôr Dib Michele Gomes Da Broi Maria Cristina Picinato Medeiros de Araújo Roberta Cristina Giorgenon Rui Alberto Ferriani Paula Andrea de Albuquerque Sales Navarro Citopatológico de colo uterino entre gestantes no Sul do Brasil: um estudo transversal de base populacional Pap smears among pregnant women in Southern Brazil: a representative cross-sectional survey Análise invasiva e não invasiva do fuso meiótico de oócitos humanos obtidos de ciclos estimulados: dados preliminares Invasive and noninvasive analysis of the meiotic spindle of human oocytes obtained from stimulate cycles: preliminary results Agenda 530 Agenda Instruções aos Autores A Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Rev Bras Gincecol as respectivas publicações sobre o tema. Se houver interesse da revista, será enviado convite para apresentação do texto definitivo. Todos os autores devem ter publicações em periódicos regulares, indexados sobre o tema da revisão. O número de autores é limitado a quatro, dependendo do tipo de texto e da metodologia empregada. Devem ser descritos os métodos e procedimentos adotados para a obtenção do texto, que deve ter como base referências recentes, inclusive do ano em curso. Tratando-se de tema ainda sujeito a controvérsias, a revisão deve discutir as tendências e as linhas de investigação em curso. Apresentar, além do texto da revisão, resumo, abstract e conclusões. Ver a seção “Preparo do manuscrito” para informações quanto ao texto principal, página de rosto, resumo e abstract; Obstet., ISSN 0100 7203), publicação mensal de divulgação científica da Federação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é dirigida a obstetras, ginecologistas e profissionais de áreas afins, com o propósito de publicar contribuições originais sobre temas relevantes no campo da Ginecologia, Obstetrícia e áreas correlatas. É aberta a contribuições nacionais e internacionais. A revista aceita e publica trabalhos em português, inglês e espanhol. O material enviado para análise não pode ter sido submetido simultaneamente à publicação em outras revistas nem publicado anteriormente. Na seleção dos manuscritos para publicação, são avaliadas originalidade, relevância do tema e qualidade da metodologia utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pela revista. O material publicado passa a ser propriedade da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e da Febrasgo, só podendo ser reproduzido, total ou parcialmente, com a anuência dessas entidades. 5. Comentários Editoriais, solicitados pelo editor; 6. Resumos de Teses apresentadas e aprovadas nos últimos 12 meses, contados da data de envio do resumo. Devem conter, aproximadamente, 300 palavras e, para serem aceitos, devem seguir as normas da revista quanto à estruturação, à forma e ao conteúdo. Incluir título em português e inglês e, no mínimo, três palavras ou expressõeschave. Não há revisão do texto dos Resumos de Teses. No arquivo enviado, informar: nome completo do autor e do orientador; membros da banca; data de apresentação e a identificação do serviço ou departamento onde a tese foi desenvolvida e apresentada. Lembramos que a publicação do resumo não impede a posterior publicação do trabalho completo em qualquer periódico. Os manuscritos submetidos à revista são analisados por pareceristas e o sigilo sobre a autoria e a identidade dos revisores é garantido durante todo o processo de edição. Os pareceres dos revisores e as instruções do editor serão enviados para os autores para que eles tomem conhecimento das alterações a serem introduzidas. Os autores devem reenviar o texto com as modificações solicitadas assim que possível, devendo justificar, na carta de encaminhamento, se for o caso, o motivo do não atendimento de alguma sugestão para modificação. Não havendo retorno do trabalho após três meses, presume-se que os autores não têm mais interesse na publicação. Os autores podem solicitar em qualquer ponto do processo de análise e edição do texto a sustação do processo e a retirada do trabalho. Os conceitos e as declarações contidos nos artigos são de responsabilidade dos autores. A revista publica contribuições nas seguintes categorias: 1. Artigos Originais, trabalhos completos prospectivos, experimentais ou retrospectivos. Manuscritos contendo resultados de pesquisa clínica ou experimental original têm prioridade para publicação. 2. Relatos de Casos, de grande interesse e bem documentados, do ponto de vista clínico e laboratorial. Os autores deverão indicar na carta de encaminhamento os aspectos novos ou inesperados em 7. Cartas dos Leitores para o Editor, versando sobre matéria editorial ou não, mas com apresentação de informações relevantes ao leitor. As cartas podem ser resumidas pela editoria, mas com manutenção dos pontos principais. No caso de críticas a trabalhos publicados, a carta é enviada aos autores para que sua resposta possa ser publicada simultaneamente. Informações gerais 1. A revista não aceita material editorial com objetivos comerciais. 2. Conflito de interesses: devem ser mencionadas as situações que podem influenciar de forma inadequada o desenvolvimento ou as conclusões do trabalho. Entre essas situações, menciona-se a participação societária nas empresas produtoras das drogas ou dos equipamentos citados ou utilizados no trabalho, assim como em concorrentes da mesma. São também consideradas fontes de conflito os auxílios recebidos, as relações de subordinação no trabalho, as consultorias etc. 3. No texto, deve ser mencionada a submissão e a aprovação do estudo por um Comitê de Ética em Pesquisa reconhecido pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). 4. Artigo que trate de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração, na seção Métodos, de que os sujeitos do estudo assinaram o termo de consentimento livre e informado. Os autores relação aos casos já publicados. O texto das seções Introdução e Discussão deve ser baseado em revisão bibliográfica atualizada. O número de referências pode ser igual ao dos trabalhos completos. 3. Técnicas e Equipamentos, para apresentação de inovações em diagnóstico, técnicas cirúrgicas e tratamentos, desde que não sejam, clara ou veladamente, propaganda de drogas ou outros produtos. Valem para essa categoria todas as normas aplicadas para trabalhos completos. 4. Artigos de Revisão, incluindo avaliação crítica e sistematizada da literatura, meta-análises ou revisões sistemáticas. A seleção dos temas e o convite aos autores têm como base planejamento estabelecido pela editoria. Contribuições espontâneas podem ser aceitas. Nesse caso, devem ser enviados inicialmente um resumo ou roteiro do texto, a lista de autores e v devem informar, também, que a pesquisa foi conduzida de acordo com a Declaração de Helsinque revisada em 2008. 5. No caso de trabalhos envolvendo experimentação animal, os autores devem indicar na seção Métodos que foram seguidas as normas contidas no CIOMS (Council for International Organization of Medical Sciences) Ethical Code for Animal Experimentation (WHO Chronicle 1985; 39(2):51-6) e os preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA (www.cobea.org.br). 6. Todos os ensaios controlados aleatórios (randomized controlled trials) e clínicos (clinical trials) submetidos à publicação devem ter o registro em uma base de dados de ensaios clínicos. Essa é uma orientação da Plataforma Internacional para Registros de Ensaios Clínicos (ICTRP) da Organização Mundial da Saúde (OMS), e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE). As instruções para o registro estão disponíveis no endereço eletrônico do ICMJE (http://www.icmje.org/clin_trialup.htm) e o registro pode ser feito na base de dados de ensaios clínicos da National Library of Medicine, disponível em http://clinicaltrials.gov/ct/gui. Preparo dos manuscritos As normas que seguem foram baseadas no formato proposto pelo ICMJE e publicado no artigo “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, atualizado em Outubro de 2008 e disponível no endereço eletrônico: http://www.icmje.org/. Apresentação do texto 1. Os trabalhos devem ser digitados em espaço 2 em todas as seções, da página de rosto às referências bibliográficas, tabelas e legendas. Cada página deve conter aproximadamente 25 linhas em uma coluna. Usar preferencialmente o processador de texto Microsoft Word® e a fonte Times New Roman 12. Não dar destaque a trechos do texto: não sublinhar ou usar negrito. Numerar todas as páginas, iniciando pela de rosto. Não usar maiúsculas nos nomes próprios (a não ser a primeira letra) no texto ou nas referências bibliográficas. Não utilizar pontos nas siglas (DPP em vez de D.P.P.). Quando usar siglas ou abreviaturas, descrevê-las por extenso na primeira vez que mencionadas no texto. Iniciar cada seção em uma nova página: página de rosto; resumo e palavras ou expressões-chave; abstract e keywords; texto; agradecimentos; referências; tabelas individuais e legendas das figuras. 7. O número de autores de trabalhos completos e relatos de casos é limitado a sete. Trabalhos de autoria coletiva (institucionais) devem ter os responsáveis especificados. Trabalhos e estudos multicêntricos podem ter número de autores compatível com o número de centros (cada situação será avaliada pela editoria e pelos revisores). Os investigadores responsáveis pelos protocolos aplicados devem ser especificados. Todos os autores devem ter conhecimento do texto enviado para a revista. 2. 8. O conceito de coautoria é baseado na contribuição de cada um, para a concepção e planejamento do trabalho, análise e interpretação dos dados, para a redação ou revisão crítica do texto. A inclusão de nomes cuja contribuição não se enquadre nos critérios citados ou que tenham fornecido apenas suporte material não é justificável. Página de rosto 9. Os autores serão informados, por correspondência eletrônica, do recebimento dos trabalhos. Os trabalhos que estiverem de acordo com as Instruções aos Autores e se enquadram na política editorial da revista serão enviados para análise por revisores indicados pelo editor. Os originais em desacordo com os objetivos da revista ou com essas instruções são devolvidos aos autores para as adaptações necessárias antes da avaliação pelo Conselho Editorial ou recusados sem análise por revisores. 10. Junto dos arquivos originais, deve ser enviada uma carta de encaminhamento, na qual deve ficar explícita a concordância com as normas editoriais, com o processo de revisão e com a transferência de copyright para a revista. 11. Para manuscritos originais, não ultrapassar 25 páginas de texto digitado ou aproximadamente 30.000 caracteres. Limitar o número de tabelas e figuras ao necessário para apresentação dos resultados que são discutidos (como norma geral, limitar a cinco). Para manuscritos do tipo Relato de Caso, não ultrapassar 15 páginas de texto ou 18.000 caracteres (ver “Preparo do manuscrito”, “Resultados”). 12. O trabalho deve ser enviado pelo sistema de submissão online no portal SciELO. O endereço eletrônico de todos os autores deve ser fornecido. Desta forma, os coautores receberão informação sobre a submissão do vi trabalho e, assim, não será necessária a assinatura de todos na carta de encaminhamento. O endereço eletrônico para correspondência com a revista é [email protected]. O arquivo correspondente ao trabalho deve ser único e deve conter texto, referências, tabelas e figuras. Apresentar o título do trabalho em português e em inglês; nomes completos dos autores sem abreviaturas; endereços eletrônicos válidos de todos os autores (opcional, em substituição à carta de encaminhamento); nome da instituição onde o trabalho foi desenvolvido; afiliação institucional dos autores; informações sobre auxílios recebidos sob forma de bolsas de estudos, financiamento, fornecimento de drogas, reagentes ou equipamentos. Obrigatoriamente deve ser fornecido o endereço da instituição onde o trabalho foi desenvolvido, o qual é publicado na página inicial do trabalho. Devem ser indicados nome, endereço, telefone/fax e e-mail do autor para o qual a correspondência deve ser enviada. Essas informações pessoais são empregadas apenas para correspondência com a revista e somente são publicadas se houver pedido do(s) autor(es). Resumo O resumo do trabalho deve aparecer na segunda página. Para trabalhos completos, redigir um resumo estruturado, que deve ser dividido em seções identificadas: objetivo, métodos, resultados e conclusões. Deve ter aproximadamente 300 palavras. O resumo deve conter as informações relevantes, permitindo que o leitor tenha uma ideia geral do trabalho. Deve incluir descrição resumida de todos os métodos empregados e da análise estatística efetuada. Expor os resultados numéricos mais relevantes, e não apenas indicação de significância estatística. As conclusões devem ser baseadas nos resultados do trabalho e não da literatura. Evitar o uso de abreviações e símbolos. Não citar referências bibliográficas no resumo. Abaixo do texto do resumo indicar o número de registro e/ou identificação para os ensaios controlados aleatórios e ensaios clínicos (ver item 5 das “Informações Gerais”). Na mesma página do resumo, citar pelo menos três palavras ou expressões-chave que serão empregadas para compor o índice anual da revista. Devem ser baseadas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) publicado pela Bireme, que é uma tradução do Medical Subject Headings (MeSH) da National Library of Medicine e está disponível no endereço eletrônico: http://decs.bvs.br. O abstract deve ser versão fiel do texto do resumo estruturado (purpose, methods, results e conclusions). Deve ser também acompanhado da versão para o inglês das palavras ou expressões-chave (keywords). O resumo e o abstract dos Relatos de Casos e dos Artigos de Revisão e de Atualização não devem ser estruturados e são limitados a 150 palavras. Introdução Repetir, na primeira página da introdução, o título completo em português e inglês. Nessa seção, mostre a situação atual dos conhecimentos sobre o tópico em estudo, divergências e lacunas que possam eventualmente justificar o desenvolvimento do trabalho, mas sem revisão extensa da literatura. Para Relatos de Casos, apresentar um resumo dos casos já publicados, epidemiologia da condição relatada e uma justificativa para a apresentação como caso isolado. Expor claramente os objetivos do trabalho. Métodos Iniciar essa seção indicando o planejamento do trabalho: se prospectivo ou retrospectivo; ensaio clínico ou experimental; se a distribuição dos casos foi aleatória ou não etc. Descrever os critérios para seleção das pacientes ou Grupo Experimental, inclusive dos Controles. Identificar os equipamentos e reagentes empregados (fabricante, cidade e país). Se a metodologia aplicada já tiver sido empregada, indicar as referências, além da descrição resumida do método. Descrever também os métodos estatísticos empregados e as comparações para as quais cada teste foi empregado. Os trabalhos que apresentam como objetivo a avaliação da eficácia ou a tolerabilidade de tratamentos ou drogas devem, necessariamente, incluir Grupo Controle adequado. Para informações adicionais sobre o desenho de trabalhos desse tipo, consultar ICH Harmonized Tripartite Guideline - Choice of Control Group and Related Issues in Clinical Trials (http://www.hc-sc.gc.ca/hpfb-dgpsa/tpd-dpt/e10_e.html). Ver também itens 4 e 5 das “Informações Gerais”. Resultados Apresentar os resultados em sequência lógica, no texto, nas tabelas e nas figuras. Expor os resultados relevantes para o objetivo do trabalho e que são discutidos. Não repetir no texto dessa seção todos os dados das tabelas e figuras, mas descrever e enfatizar os mais importantes, sem interpretação dos mesmos (ver também “Tabelas”). Nos Relatos de Casos, as seções “Métodos” e “Resultados” são substituídas pela “Descrição do caso”, mantendo-se as demais. Discussão Devem ser realçadas as informações novas e originais obtidas na investigação. Não repetir dados e informações já mencionados nas seções “Introdução” e “Resultados”. Evitar citação de tabelas e figuras. Ressaltar a adequação dos métodos empregados na investigação. Comparar e relacionar suas observações com as de outros autores, comentando e explicando as diferenças. Explicar as implicações dos achados, suas limitações e fazer as recomendações decorrentes. Para Relatos de Casos, basear a discussão em ampla e atualizada revisão da literatura. As informações sobre os casos já publicados podem ser tabuladas e exibidas nessa seção para comparações. Agradecimentos Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja contribuição não justifica coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material. Referências Todos os autores e trabalhos citados no texto devem constar dessa seção e vice-versa. Numerar as referências bibliográficas por ordem de entrada no trabalho e usar esses números para as citações no texto. Evitar número excessivo de referências, selecionando as mais relevantes para cada afirmação e dando preferência para os trabalhos mais recentes. Não empregar citações de difícil acesso, como resumos de trabalhos apresentados em congressos, teses ou publicações de circulação restrita (não indexados). Não empregar referências do tipo “observações não publicadas” e “comunicação pessoal”. Artigos aceitos para publicação podem ser citados acompanhados da expressão: “aceito e aguardando publicação” ou “in press”, indicando-se periódico, volume e ano. Trabalhos aceitos por periódicos que estejam disponíveis online, mas sem indicação de fascículos e páginas, devem ser citados como “ahead of print”. Outras publicações dos autores (autocitação) devem ser empregadas apenas se houver necessidade clara e forem relacionadas ao tema. Nesse caso, incluir entre as referências bibliográficas apenas trabalhos originais publicados em periódicos regulares (não citar capítulos ou revisões). O número de referências bibliográficas deve ser aproximadamente 35. Os autores são responsáveis pela exatidão dos dados constantes das referências bibliográficas. Para todas as referências, citar os autores até o sexto. Se houver mais de seis autores, citar os seis primeiros, seguidos da expressão et al., conforme os seguintes modelos: Formato impresso • Artigos em revistas - Ceccarelli F, Barberi S, Pontesilli A, Zancla S, Ranieri E. Ovarian carcinoma presenting with axillary lymph node metastasis: a case report. Eur J Gynaecol Oncol. 2011;32(2):237-9. - Jiang Y, Brassard P, Severini A, Goleski V, Santos M, Leamon A, et al. Type-specific prevalence of Human Papillomavirus infection among women in the Northwest Territories, Canada. J Infect Public Health. 2011;4(5-6):219-27. • Artigos com título em inglês e texto em português ou outra língua Utilizar o titulo em inglês, entre colchetes e no final da referência, indicar a língua na qual o artigo foi publicado. - Prado DS, Santos DL. [Contraception in users of the public and private sectors of health]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2011;33(7)143-9. Portuguese. - Taketani Y, Mizuno M. [Application of anti-progesterone agents for contraception]. Rinsho Fujinka Sanka. 1988;42(11):997-1000. Japanese. • Livro - Baggish MS, Karram MM. Atlas of pelvic anatomy and gynecologic surgery. 2nd ed. Philadelphia: WB Saunders; 2006. vii • Capítulos de livro - Picciano MF. Pregnancy and lactation. In: Ziegler EE, Filer LJ, editors. Present knowledge in nutrition. Washington (DC): ILSI Press; 1996. p. 384-95. Formato eletrônico Apenas para informações estatísticas oficiais e citação de referências de periódicos não impressos. Para estatísticas oficiais, indicar a entidade responsável, o endereço eletrônico, o nome do arquivo ou entrada. Incluir o número de tela, data e hora do acesso. Termos como “serial”, “periódico”, “homepage” e “monography”, por exemplo, não são mais utilizados. Todos os documentos devem ser indicados apenas como [Internet]. Para documentos eletrônicos com o identificador DOI (Digital Object Identifier), este deve ser mencionado no final da referência, além das informações que seguem: - Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS [Internet]. Informações de Saúde. Estatísticas vitais. Mortalidade e nascidos vivos: nascidos vivos desde 1994. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2008. [citado 2007 Fev 7]. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def > Legendas Digitar as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações). Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo a cada figura, e na ordem em que foram citadas no trabalho. Abreviaturas e siglas Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto. Nas legendas das tabelas e figuras, devem ser acompanhadas de seu nome por extenso. As abreviaturas e as siglas não devem ser usadas no título dos artigos e nem no resumo. Empregar o seguinte endereço para correspondências não previstas nas instruções: Jurandyr Moreira de Andrade Editor Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – Editoria – Avenida Bandeirantes, 3.900, 8º andar – Campus Universitário – CEP 14049-900 – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (16) 3602-2803 – Fax: (16) 3633-0946 – E-mail: [email protected]. • Monografia na Internet ou livro eletrônico - Foley KM, Gelband H, editors. Improving palliative care for cancer [Internet]. Washington: National Academy Press; 2001 [cited 2002 Jul 9]. Available from: http://www.nap.edu/books/0309074029/html/. Tabelas Apresentar as tabelas em páginas separadas, com espaço duplo e preferencialmente fonte Arial 8. A numeração deve ser sequencial, em algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto. Todas as tabelas devem ter título e todas as colunas da tabela devem ser identificadas com um cabeçalho. A legenda deve conter informações que permitam ao leitor entender o conteúdo das tabelas e figuras, mesmo sem a leitura do texto do trabalho. As linhas horizontais devem ser simples e limitadas a duas no topo e uma no final da tabela. Não empregar linhas verticais. Não usar funções de criação de tabelas, comandos de justificação, tabulações decimais ou centralizadas. Utilizar comandos de tabulação (tab) e não o espaçador para separar as colunas e, para nova linha, a tecla enter. No rodapé da tabela, deve constar legenda para abreviaturas e testes estatísticos utilizados. Figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) As figuras devem ser apresentadas em páginas separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de aparecimento no texto. Todas as figuras devem ter qualidade gráfica adequada e apresentar título e legenda. Para evitar problemas que comprometam o padrão da revista, o processo de digitalização de imagens (scan) deve obedecer aos seguintes parâmetros: para gráficos ou esquemas, usar 300 dpi/bitmap para traço; para ilustrações e fotos (preto e branco), usar 300 dpi/RGB ou grayscale. Em todos os casos, os arquivos devem ter extensão .tif e/ou .jpg. Também são aceitos arquivos com extensão .xls (Excel), .eps, .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas). São aceitas, no máximo, cinco figuras. Se as figuras já tiverem sido publicadas, devem vir acompanhadas de autorização por escrito do autor/editor e constando a fonte na legenda da ilustração. viii Itens para a conferência para a submissão do manuscrito Antes de enviar o manuscrito, conferir se as Instruções aos Autores foram seguidas e verificar o atendimento dos itens listados a seguir: 1. carta de encaminhamento assinada por todos os autores (escaneada e anexada como documento suplementar ou enviada pelo correio) ou informação dos endereços eletrônicos válidos de todos os autores na página de rosto; 2. citação da aprovação do projeto do trabalho por Comissão de Ética em Pesquisa, assinatura do termo de consentimento livre e informado (na seção “Métodos”) e informação sobre o atendimento das exigências para pesquisa em animais; 3. número ou código do registro do estudo, se necessário, na página de rosto (item 5 das “Informações Gerais”); 4. conflito de interesses: informar se há ou não. Se houver, explicar sem omissão de informações relevantes; 5. página de rosto com todas as informações solicitadas; 6. resumo e abstract estruturados e compatíveis com o texto do trabalho; 7. três ou mais palavras-chave relacionadas ao texto e respectivas keywords baseadas no Decs; 8. verificar se todas as tabelas e figuras estão corretamente citadas no texto e numeradas, e se as legendas permitem o entendimento das mesmas; 9. referências bibliográficas: numeradas na ordem de aparecimento e corretamente digitadas. Verificar se todos os trabalhos citados estão na lista de referências e se todos os listados estão citados no texto. Teresa Cristina Barroso Vieira1 Eduardo de Souza2 Mary Uschiyama Nakamura2 Rosiane Mattar2 Sexualidade na gestação: os médicos brasileiros estão preparados para lidar com estas questões? Sexuality in pregnancy: are Brazilian physicians prepared to conduct these questions? Editorial Introdução A sexualidade é uma função biológica humana que não se atém à genitalidade e sim à corporalidade total. Segundo a Neuroendocrinologia, a função sexual é um fenômeno biopsicossocial complexo no qual estímulos internos e externos são modulados pelo sistema nervoso central e periférico, resultando em uma cascata de alterações bioquímicas, hormonais e circulatórias que culminam no resultado sexual físico e cognitivo1,2. É um fenômeno que envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociológicos3. Na atualidade, o comportamento sexual humano transcendeu o aspecto reprodutivo e passou a ser considerado parte integral da qualidade de vida4,5. Apesar de alguns avanços ao longo dos últimos séculos, o exercício da sexualidade ainda é cercado por tabus, preconceitos e crendices em muitas culturas modernas. O conceito de disfunções sexuais surgiu somente no século XX, após os primeiros estudos sobre a resposta sexual fisiológica humana. Em 1966, Masters e Johnson6 propuseram o modelo que descrevia a resposta sexual masculina e feminina como um processo linear didaticamente subdividido em quatro fases denominadas excitação, platô, orgasmo e resolução. Embora cada fase tenha características específicas distintas, não são unidades separadas, mas partes inseparáveis de um processo unitário, sequencial, contínuo e ordenado. Em 2001, Basson propôs um novo modelo específico para a resposta sexual feminina segundo o qual a resposta sexual das mulheres seria circular e dividida em cinco fases (neutralidade, excitação, desejo responsivo, satisfação e intimidade)7. Segundo esse novo modelo, o desejo não necessariamente desencadearia toda a resposta sexual feminina, mas a intimidade física do casal poderia ser a base para a motivação sexual8. Consequentemente, muitas mulheres que seriam classificadas como disfuncionais segundo o modelo antigo deixariam de sê-lo segundo esse novo modelo9. Sexualidade na gestação Se a resposta sexual feminina foi esquecida durante muitos séculos, o estudo dessa função durante o ciclo gravídico-puerperal recebeu ainda menos atenção. A gravidez é caracterizada por modificações bioquímicas, funcionais e anatômicas que se iniciam logo após a implantação Correspondência Teresa Barroso Vieira Rua Napoleão de Barros, 875 – Vila Clementino CEP: 04024-002 São Paulo (SP), Brasil Recebido 24/09/2012 Aceito com modificações 29/10/2012 Trabalho realizado no Departamento de Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. Departamento de Obstetrícia, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. 2 Departamento de Obstetrícia, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil 1 Vieira TCB, Souza E, Nakamura MU, Mattar R e que geralmente se acompanham de modificações emocionais. Todas essas alterações acabam por interferir no comportamento sexual da maioria das gestantes, em graus e formas diferentes10,11. A cópula é considerada segura durante a gravidez normal. Além de não causar danos, a relação sexual durante a gestação pode beneficiar o casal, pois tranquiliza a mulher e o parceiro, dissipa energias acumuladas e alivia a tensão e a ansiedade por meio da satisfação5,10,11. A maioria das mulheres mantém atividade sexual durante a gestação, porém com padrão diferente em relação ao período pré-gestacional. Com o avançar da gravidez, ocorre redução na frequência da atividade sexual, no desejo sexual e no intercurso vaginal12-15. No pós-parto, muitas mulheres continuam a relatar declínio no interesse, desejo ou libido sexual, porém 80% dos casais restabelecem relações sexuais até a 12ª semana após o parto14-16. As mudanças na função sexual observadas durante o ciclo gravídico-puerperal são atribuídas a alterações hormonais e/ ou metabólicas, à fadiga e a fatores psicogênicos. O assunto da função sexual na gravidez ainda é cercado por numerosos tabus movidos por ignorância e preconceitos culturais, pessoais ou religiosos. Talvez por todos esses motivos, dificuldades sexuais são bastante frequentes durante a gravidez, afetando entre 40 e 70% das mulheres em algumas culturas13,14,17,18. A maioria dos casais se preocupa com as modificações que ocorrem durante a gestação e com possíveis repercussões negativas da atividade sexual sobre o concepto e a gravidez; no entanto, por constrangimento ou medo, frequentemente relutam em fazer perguntas espontâneas sobre sexualidade, a não ser que um profissional de saúde aborde o assunto primeiro12,15,19,20. O médico está preparado para abordar questões de sexualidade na gestação? Dificuldades sexuais durante a gestação podem levar a estresse, ansiedade e problemas maritais que podem afetar negativamente a qualidade de vida do casal13,14,18,19. A falta de conhecimento de médicos e pacientes a respeito da sexualidade, assim como preconceitos, reforçam as inadequações sexuais durante o período gestacional. O pré-natal é uma excelente oportunidade para que o casal expresse seus medos, esclareça suas dúvidas, receba informações corretas e descubra novas abordagens sexuais que possibilitem a manutenção de sua intimidade física, satisfação emocional e qualidade de vida durante essa fase de suas vidas. Segundo diversos estudos, a maioria das gestantes deseja discutir com seu médico suas dúvidas e preocupações relacionadas às mudanças na sua sexualidade durante essa fase, mas nem sempre se sentem confortáveis em iniciar essa conversa espontaneamente. Por outro lado, muitos médicos também se sentem despreparados e pouco 486 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):485-7 à vontade para abordar esse tema com suas pacientes11. Essa conspiração silenciosa de a paciente “não contar” e de o médico “não perguntar” leva muitos casais a sofrimento desnecessário. Para que ocorra um diálogo produtivo entre o médico e o casal grávido, é necessário que o obstetra esteja disponível e sinta-se preparado e confortável para incentivar, ouvir e responder questões ligadas à sexualidade. Todavia, muitos médicos, embora interessados, sentem-se despreparados para esse tipo de atendimento em razão de deficiências na sua formação na área da sexualidade humana em geral e em particular na gestação. Apesar de as queixas sexuais espontâneas serem frequentes nos consultórios de todas as especialidades médicas, a maioria dos cursos de medicina não prepara adequadamente seus alunos para lidar com tais questões. De acordo com um estudo que analisou o currículo de 1.700 faculdades de Medicina em todo o mundo, apenas um número mínimo delas oferecia um programa multidisciplinar sobre sexualidade, e a duração média desse ensino era de 6 a 10 horas21. A residência médica é outro período em que seria possível complementar o escasso conhecimento teórico sobre o tema e treinar jovens médicos no atendimento de pacientes com queixas sexuais; porém, não existe normatização quanto ao conteúdo e a carga horária mínima de treinamento em sexualidade humana nas residências de Tocoginecologia, Psiquiatria ou Clínica Geral. Dessa forma, o jovem médico é lançado no mercado pouco preparado e inseguro para lidar com essas questões. Em estudo recente, avaliamos a atitude e a prática de 154 residentes de três programas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM) sobre questões de sexualidade na gestação22. Embora 70% dos participantes tenham declarado que perguntas sobre saúde sexual deveriam fazer parte da história de todas gestantes atendidas, menos de 20% dos residentes de Ginecologia e Obstetrícia rotineiramente faziam perguntas a esse respeito. Menos de um quarto dos participantes sentia-se completamente seguro para responder a perguntas de gestantes sobre sexualidade e 71% deles declararam não ter conhecimentos específicos sobre disfunções sexuais. Ainda, segundo os entrevistados, a falta de conhecimento e de tempo durante as consultas seriam os principais obstáculos para abordar questões sexuais com gestantes. Esta foi a primeira publicação que analisou a atitude e prática de residentes em relação a questões sexuais na gravidez. Outros estudos que avaliaram o conhecimento e preparo de diversos especialistas também evidenciam a falta de preparo de médicos que atuam em diferentes áreas e com vários anos de prática Sexualidade na gestação: os médicos brasileiros estão preparados para lidar com estas questões? ao lidarem com queixas sexuais em pacientes adultos de ambos os gêneros e em diferentes faixas etárias23,24. Não há quem negue a importância da sexualidade na qualidade de vida. No entanto, a dificuldade em abordar, perguntar e responder com naturalidade a questões relacionadas à sexualidade parece ser generalizada. Um médico bem preparado e seguro pode ser um importante agente educativo e terapêutico no atendimento de casais grávidos com queixas sexuais. Não obstante, esse tipo de profissional é raro em nosso meio, o que aponta para a necessidade de melhorar a qualidade da educação em saúde sexual oferecida aos alunos de Medicina e aos residentes. Conclusão Em razão de fatores biológicos, hormonais, psicológicos e culturais, dificuldades sexuais são bastante frequentes durante a gravidez e podem afetar negativamente a qualidade de vida de muitos casais. O pré-natal é uma excelente oportunidade para que os casais possam expor suas dúvidas, medos e queixas sexuais e obter os esclarecimentos e orientações necessários; porém, a maioria dos médicos está despreparada para lidar com questões de sexualidade durante o ciclo gravídico-puerperal. São, portanto, necessárias intervenções educativas para melhorar essa situação. Referências 1. Giuliano F, Pfaus J, Srilatha B, Hedlund P, Hisasue S, Marson L, et al. Experimental models for the study of female and male sexual function. J Sex Med. 2010;7(9):2970-95. 13.Aslan G, Aslan D, Kizilyar A, Ispahi C, Esen A. A prospective analysis of sexual functions during pregnancy. Int J Impot Res. 2005;17(2):154-7. 2. Wylie K, Rees M, Hackett G, Anderson R, Bouloux PM, Cust M, et al. 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J Sex Marital Ther. 2001;27(5):395-403. 8. Hayes RD. Circular and linear modeling of female sexual desire and arousal. J Sex Res. 2011;48(2-3):130-41. 9. Chung E, Brock GB. Sexual dysfunction in 2011: advances in epidemiology, pathophysiology and treatment. Nat Rev Urol. 2012;9(2):66-8. 10.Santana TGM. Sexualidade no ciclo grávidico puerperal. In: Bortoletti FF, Moron AF, Bortoletti Filho J NM, Santana RM, Mattar R, editors. Psicologia na prática obstétrica: abordagem interdisciplinar. São Paulo: Manole; 2007. p. 132-8. 11.Jones C, Chan C, Farine D. Sex in pregnancy. CMAJ. 2011;183(7):815-8. 12. Bartellas E, Crane JM, Daley M, Bennett KA, Hutchens D. Sexuality and sexual activity in pregnancy. BJOG. 2000;107(8):964-8. 16. Leeman LM, Rogers RG. Sex after childbirth: postpartum sexual function. Obstet Gynecol. 2012;119(3):647-55. 17. Fok WY, Chan LY, Yuen PM. Sexual behavior and activity in Chinese pregnant women. Acta Obstet Gynecol Scand. 2005;84(10):934-8. 18. Leite AP, Campos AA, Dias AR, Amed AM, De Souza E, Camano L. Prevalence of sexual dysfunction during pregnancy. Rev Assoc Med Bras. 2009;55(5):563-8. 19. Gokyildiz S, Beji NK. The effects of pregnancy on sexual life. J Sex Marital Ther. 2005;31(3):201-15. 20. Murtagh J. Female sexual function, dysfunction, and pregnancy: implications for practice. J Midwifery Womens Health. 2010;55(5):438-46. 21. Wagner G. Sexual medicine in the medical curriculum. Int J Androl. 2005;28(Suppl 2):7-8. 22. Vieira TC, de Souza E, Abdo CH, Torloni MR, Santana TG, Leite AP, et al. Brazilian residents’ attitude and practice toward sexual health issues in pregnant patients. J Sex Med. 2012;9(10):2516-24. 23. Abdo CHN, Oliveira Junior WM. O ginecologista brasileiro frente às queixas sexuais femininas: um estudo preliminar. RBM Rev Bras Med. 2002;59(3):179-86. 24.Abdulmohsen MF, Abdulrahman IS, Al-Khadra AH, Bahnassy AA, Taha SA, Kamal BA, et al. Physicians’ knowledge, attitude and practice towards erectile dysfunction in Saudi Arabia. East Mediterr Health J. 2004;10(4-5):648-54. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):485-7 487 Gláucia Virgínia de Queiroz Lins Guerra1 Alex Sandro Rolland de Souza2 Bruna Faria da Costa3 Flávia Renata Queiroz do Nascimento3 Mariana de Andrade Amaral3 Ana Caroline Paz Serafim4 Exame simples de urina no diagnóstico de infecção urinária em gestantes de alto risco Urine test to diagnose urinary tract infection in highh-risk pregant women Artigo Original Resumo Palavras-chave Urinálise Infecções urinárias/diagnóstico Bacteriúria Gravidez de alto risco Keywords Urinalysis Urinary tract infections/diagnosis Bacteriuria Pregnancy, high-risk OBJETIVO: Identificar a acurácia do exame simples de urina para diagnóstico de infecção urinária em gestantes de alto risco. MÉTODOS: Realizou-se um estudo transversal, prospectivo, em 164 gestantes admitidas na enfermaria de alto risco do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), no período de janeiro a junho de 2011. Foram excluídas as pacientes em uso de antibiótico nos últimos dez dias. Todas as pacientes foram submetidas aos exames de urina simples e urocultura no início de sua admissão. A concordância entre os resultados dos exames foi avaliada pelo índice Kappa (K), sendo, ainda, determinados a acurácia, sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo (VPP) e negativo (VPN). RESULTADOS: Utilizando como critério de diagnóstico apenas a presença de piócitos no exame simples de urina para sugerir bacteriúria, observou-se uma fraca concordância quando comparado à urocultura (K=0,16). A acurácia foi de 61%, com sensibilidade de 62,5% e especificidade de 60,6%. O VPP foi de 27,78% e o VPN, de 87%. CONCLUSÃO: Na presença de alteração do exame simples de urina não necessariamente está em curso uma infecção urinária, sendo necessária a realização da urocultura. Porém, quando o exame simples de urina for normal, a urocultura pode ser dispensada. Abstract PURPOSE: To identify the accuracy of urinalysis in the diagnosis of urinary tract infection in pregnant women at high risk. METHODS: a prospective, cross-sectional study was conducted on 164 pregnant women admitted to the high-risk the ward of the Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) during the period from January to June 2011. Patients who had been taking antibiotics in the last ten days were excluded. All patients were subjected to simple urine tests and urine culture at the beginning of their admission. The agreement between the results of the examinations was evaluated by Kappa indices (K), and accuracy, sensitivity, specificity, and positive (PPV) and negative (NPV) predictive values were also determined. RESULTS: When only the presence of pus cells in urinalysis was used as a diagnostic criterion suggesting bacteriuria, there was a poor agreement when compared to uroculture (K=0.16). Accuracy was 61%, sensitivity 62.5%, and specificity 60.6%. PPV was 27.78% and NPV was 87%. CONCLUSION: The presence of alteration of urinalysis does not necessarily indicate an ongoing urinary tract infection, with urine culture being necessary. However, when urinalysis data are normal, uroculture may be avoided. Correspondência Alex Sandro Rolland de Souza Rua dos Coelhos, 300 – Boa Vista CEP: 50070-550 Recife (PE), Brasil Recebido 03/08/2012 Aceito com modificações 12/09/2012 Centro de Atenção à Mulher do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP – Recife (PE), Brasil. 1 Setor de Gestação de Alto Risco do Centro de Atenção à Mulher, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP – Recife (PE), Brasil. 2 Setor de Medicina Fetal do Centro de Atenção à Mulher, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP – Recife (PE), Brasil. 3 Curso de Medicina, Faculdade Pernambucana de Saúde – FPS – Recife (PE), Brasil. 4 Programa de Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP – Recife (PE), Brasil. Fonte de financiamento: Bolsistas do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq e IMIP. Conflito de interesses: não há. Exame simples de urina no diagnóstico de infecção urinária em gestantes de alto risco Introdução A infecção urinária caracteriza-se pela presença de agentes infecciosos e invasão dos tecidos urinários, sendo classificada segundo sua localização em infecção urinária baixa e alta. A bacteriúria assintomática é definida como o isolamento de bactérias na urina em quantidade maior ou igual a 105 unidades formadoras de colônias por mililitros (UFC/mL), sem sinais ou sintomas locais ou sistêmicos de infecção1-3. Entre mulheres, gestantes ou não, sua prevalência é de 2 a 10%4, e encontra-se associada ao nível socioeconômico, história de infecção urinária recorrente, diabetes e anormalidades anatômicas do sistema urinário1. Durante a gravidez, há uma série de alterações fisiológicas no organismo materno que leva a maior predisposição à infecção urinária e suas complicações. A estase urinária secundária, a compressão do ureter pelo útero gravídico e o relaxamento da musculatura por ação da progesterona favorecem o surgimento de bacteriúria, sendo um fator de risco importante para o desenvolvimento de pielonefrite e suas complicações durante a gravidez. Nessas mulheres, quando a bacteriúria, assintomática ou sintomática, não é tratada ou inadequadamente tratada, evolui para pielonefrite em 30% dos casos1,4,5. Estudos sugerem, ainda, que a bacteriúria, assintomática ou sintomática, encontra-se fortemente associada a complicações maternas e fetais, como a rotura prematura de membranas, trabalho de parto prematuro, corioamnionite, baixo peso ao nascer, febre materna e infecção neonatal4,5. O exame mais utilizado para o diagnóstico de bacteriúria e infecção urinária é o exame simples de urina, também conhecido como sumário de urina e urinálise2,6. Este analisa a urina quanto à cor, densidade, aspecto, presença de leucócitos, bactérias, sangue, glicose, urobilinogênio, bilirrubina, nitrito e sedimentos urinários. Para esse diagnóstico provável, a literatura sugere que a presença de leucócitos, hemácias e nitrito são bons indicativos de bacteriúria ou infecção urinária. Entretanto, esses elementos são apenas sinais indiretos de inflamação, não sendo precisos para o diagnóstico definitivo de bacteriúria significativa. Para a confirmação de infecção urinária exige-se a cultura de urina, na qual o patógeno em crescimento é isolado e quantificado6. Apesar de a literatura sugerir que o exame simples de urina apresenta um alto valor preditivo negativo, ou seja, quando ausentes sinais sugestivos de infecção urinária, aproximadamente 90% das mulheres encontram-se sem bacteriúria, as sociedades médicas internacionais ainda recomendam a realização da cultura de urina de rotina no rastreamento pré-natal da infecção urinária2,6-8. Porém, diferentemente do exame simples de urina, que é de baixo custo, fácil acesso e realização, a urocultura não é disponibilizada de rotina na grande maioria dos serviços de pré-natal2. Assim, é importante haver estudos sobre a validação diagnóstica do exame simples de urina comparada à urocultura para reforçar o uso do melhor teste diagnóstico na rotina de pré-natal, visto que a bacteriúria, mesmo assintomática, quando não tratada de forma adequada poderá trazer grandes prejuízos para o binômio mãe e feto. Métodos Realizou-se um estudo analítico, prospectivo, do tipo transversal, envolvendo 164 gestantes admitidas na enfermaria de Gestação de Alto Risco do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), localizado em Recife, Pernambuco, Brasil, no período de janeiro a junho de 2011. Foram incluídas as gestantes internadas na enfermaria de gestação de alto risco por motivos diversos, independentemente de apresentarem queixas urinárias. As pacientes em uso de antibiótico e/ou que o utilizaram nos últimos dez dias foram excluídas. Todas as gestantes foram abordadas e esclarecidas quanto aos objetivos da pesquisa, sendo incluídas apenas após concordarem em participar e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo teve início apenas após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa em seres humanos do IMIP (CEP nº. 1.889-20, de outubro de 2010), sendo conduzida de acordo com a Declaração de Helsinque revisada em 2008. O cálculo do tamanho amostral foi realizado utilizando o software Statcalc do Epi-info versão 3.5.1, prevendo-se uma frequência de bacteriúria assintomática de 10%2, com precisão de 30% e intervalo de confiança de 80% Encontrou-se um número de 164 participantes; prevendo-se eventuais perdas, optou-se por incluir no estudo 180 gestantes. Assim, durante o estudo, foram candidatas à participação 211 gestantes, sendo 31 excluídas por uso de antibióticos no momento da admissão ou até 10 dias antes, e 16 foram perdidas por ausência de resultado de um dos exames após inclusão no estudo. Portanto, foram avaliadas 164 gestantes com idade entre 14 e 46 anos (27,9±7,5 anos) e idade gestacional variando entre 12 a 39 semanas (30,0±5,9 semanas) (Tabela 1). A mediana da paridade foi um, e a de número de abortos anteriores foi zero, com 41,5% de mulheres nulíparas. A maioria das gestantes era proveniente do Recife e região metropolitana (53,7%), sendo as demais do interior do Estado de Pernambuco e de outros Estados, 40,9 e 5,5%, respectivamente. Em relação ao estado civil, 73,7% tinham companheiro, 22,6% eram solteiras e 3,7% divorciadas. Os principais motivos da internação Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):488-93 489 Guerra GVQL, Souza ASR, Costa BF, Nascimento FRQ, Amaral MA, Serafim ACP foram síndrome hipertensiva, diabetes e trabalho de parto prematuro (Tabela 1). Para todas as participantes foram solicitados exames de urina simples, urocultura e aplicado um instrumento de coleta de dados no momento da admissão com as seguintes variáveis: idade, estado civil, procedência, paridade, idade gestacional, motivo da internação, presença de sinais e sintomas atuais de infecção urinária e resultado dos exames realizados. O exame simples da urina foi realizado utilizando o aparelho Uriscan Pró II (Coreia) do laboratório de urinálise do IMIP e a análise foi automatizada. Avaliou-se a presença de nitrito, piócitos, hemácias (cinco ou mais hemácias por campo) e células epiteliais. Para o diagnóstico de bacteriúria/infecção urinária considerou-se como critério a presença de mais que quatro piócitos por campo e/ou nitrito positivo3. A cultura de urina para isolamento e quantificação de microrganismos foi realizada no laboratório central de microbiologia do IMIP, conforme rotina estabelecida, segundo técnica de disco-difusão7. Considerou-se bacteriúria/infecção urinária quando a urocultura evidenciou mais que 105 bactérias por colônia3,7. A coleta da urina pela paciente foi realizada após instruções dadas pelos profissionais de saúde da enfermaria (técnicos de enfermagem ou enfermeiros). Colheu-se para o exame o jato intermediário da primeira urina do dia, após a realização de assepsia. O exame simples de urina e a urocultura foram realizados por profissionais do laboratório da instituição sem o conhecimento prévio do estudo ou da realização de ambos os exames. A sintomatologia referida pela paciente foi definida como a presença de qualquer um dos sinais e sintomas, como disúria (dor ou ardor durante a micção), alteração do odor da urina, polaciúria (aumento na frequência urinária), hematúria (presença de sangue), febre (temperatura axilar maior que 37,5ºC) e dor lombar. A analise estatística foi feita pelo programa Epi-Info versão 3.5.3 e Open-Epi versão 2.2. Para descrever as características da amostra foram utilizadas medidas de tendência central, dispersão e distribuição de frequências. Para validar o diagnóstico de bacteriúria/infecção urinária pelo exame simples de urina, foi determinada a acurácia (A), sensibilidade (S), especificidade (E), valor preditivo positivo (VPP) e negativo (VPN), razão de verossimilhança positiva e negativa e seus respectivos intervalos de confiança a 95% (IC95%). Utilizou-se ainda o índice de Kappa (K) para se determinar a concordância entre os exames simples de urina e a urocultura, sendo considerada concordância ruim quando igual a 0,00; fraca, de 0,01 a 0,20; sofrível de 0,21 a 0,40; regular de 0,41 a 0,60; boa de 0,61 a 0,80; ótima de 0,81 a 0,99; e perfeita quando igual a 1,008,9. 490 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):488-93 Resultados Quando se considerou o critério diagnóstico de bacteriúria/infecção urinária apenas pela presença de mais que quatro piócitos por campo, o exame de urina simples foi considerado sugestivo de infecção em 72 mulheres (43,9%), das quais 63 (87,5%) eram assintomáticas. Porém, considerando a presença de piócitos e nitritros a bacteriúria/infecção urinária foi sugestiva em apenas seis gestantes (3,6%), sendo três (50,0%) assintomáticas. Destaca-se que todas as gestantes com nitrito positivo apresentavam quatro ou mais piócitos por campo. Na urocultura, o exame foi positivo em 32 participantes (19,5%) e apenas 7 (21,9%) eram sintomáticas. O agente etiológico de maior frequência foi Escherichia coli, responsável por 28% das infecções, seguido de Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus coagulase negativa e Streptococcus beta hemolítico, com 18,7, 18,7 e 15,6%, respectivamente. A presença de um ou mais sintomas foi relatado por 22 gestantes (13,4%). Os sintomas mais frequentes foram disúria (n=11; 6,7%), polaciúria (n=9; 5,5%), hematúria Tabela 1. Características das gestantes de alto risco no Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira Características (n=164) Idade (anos) Média±DP Variação 27,9±7,5 14–46 Idade gestacional (semanas) Média±DP Variação 30,0±5,9 12–39 Paridade Mediana 1 Variação 0–11 Nulíparas n (%) 68 (41,5) Abortos Mediana 0 Variação 0–3 Procedência n (%) Recife e região metropolitana 88 (53,7) Interior de Pernambuco 67 (40,9) Outros estados 9 (5,5) Estado civil n (%) Com companheiro 121 (73,7) Solteira 37 (22,6) Divorciada 6 (3,7) Indicações de internamento n (%)* Síndrome hipertensiva 60 (36,6) Diabetes 52 (24,4) Trabalho de parto prematuro 32 (19,5) Rotura prematura das membranas 11 (6,7) Outros 70 (42,7) *Uma paciente pode apresentar mais de uma indicação de internamento. Exame simples de urina no diagnóstico de infecção urinária em gestantes de alto risco Tabela 2. Validação diagnóstica do exame de urina simples com a urocultura em gestantes de alto risco do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira Urocultura Positiva EU (P) EU (N+P) Negativa n % n % Alterada 20 27,8 52 72,2 Normal 12 13,0 80 87,0 Alterada 4 66,7 2 33,3 Negativo 28 17,7 130 82,3 S E VPP VPN A K Valor p* 62,5 60,6 27,8 86,9 60,9 0,16 0,02 12,5 98,5 66,7 82,3 81,7 0,16 0,003 *Teste do χ2. EU: exame de urina; P: piócitos presentes; N+P: nitritos e piócitos presentes; S: sensibilidade; E: especificidade; VPP: valor preditivo positivo; VPN: valor preditivo negativo; A: acurácia; K: índice Kappa. (n=8; 4,9%), dor lombar (n=7; 4,3%), febre (n=5; 3,0%) e odor forte (n=2; 1,2%). Quando o exame simples de urina foi sugestivo de infecção, utilizando como critério apenas a presença de piócitos, em 27,8% das pacientes a urocultura foi positiva. Quando o exame simples de urina foi normal, em 87,0% das vezes a urocultura foi negativa. Assim, observou-se um índice de Kappa de 0,16 (IC95% 0,03–0,3), com acurácia de 61,0% (IC95% 53,3–68,1), sensibilidade de 62,5% (IC95% 45,2–77,1), especificidade de 60,6% (IC95% 52,1–68,5), valor preditivo positivo 27,8% (IC95% 18,8–39,0), valor preditivo negativo de 87,0% (IC95% 78,6–92,4), razão de verossimilhança positiva de 1,6 (IC95% 1,4–1,7) e razão de verossimilhança negativa de 0,6 (IC95% 0,5–0,7) (Tabela 2). Quando se analisou a presença de piócitos associada à presença de nitrito o índice de Kappa foi de 0,16 (IC95% 0,05–0,3), com acurácia de 81,7% (IC95% 53,3–68,1), sensibilidade de 12,5% (IC95% 5,0–28,1), especificidade de 98,5% (IC95% 94,6–99,6), valor preditivo positivo 66,8% (IC95% 30,0–90,3), valor preditivo negativo de 82,3% (IC95% 75,6–87,4), razão de verossimilhança positiva de 8,2 (IC95% 0,1–678,7) e razão de verossimilhança negativa de 0,9 (IC95% 0,8–0,9) (Tabela 2). Discussão Em nossa pesquisa, analisamos a acurácia do exame de urina simples no diagnóstico de infecção urinária a partir de amostra representativa de gestantes atendidas em uma enfermaria de gestação de alto risco. As sociedades médicas americanas recomendam a realização de rotina da urocultura para o rastreio de bacteriúria assintomática durante a gestação10,11. O Ministério da Saúde do Brasil indica que a urocultura seja reservada quando o exame simples de urina sugira infecção do trato urinário ou quando o médico julgar necessário12. O American College of Obstetrics and Gynecology recomenda que a cultura de urina seja realizada na primeira consulta pré-natal e repetida no 3º trimestre de gravidez10, enquanto, a recomendação do U.S. Preventive Services Task Force é que a urocultura seja realizada entre a 12ª e 16ª semanas de gestação11. As dúvidas em relação ao exame de rastreamento de infecção urinária ou bacteriúria assintomática10-12 e a maior frequência dessas entidades clínicas em gestações de alto risco motivaram a realização dessa pesquisa nesse grupo de mulheres13,14. De forma semelhante a outros estudos nos quais se incluíram gestantes de alto risco15,16, as mulheres investigadas em nossa pesquisa eram jovens, apresentando média de idade de 27,9 anos, 41,4% delas eram primíparas e 27,4% declaravam antecedente de pelo menos um aborto. A maioria provinha do Recife e região metropolitana e viviam com companheiro. Síndromes hipertensivas, diabetes, trabalho de parto prematuro e rotura prematura das membranas foram os principais diagnósticos. Tais frequências estão de acordo com estudos realizados em enfermarias de gestação de alto risco15, da mesma forma que o principal diagnóstico na internação foi a hipertensão durante a gravidez, provavelmente porque as síndromes hipertensivas são bastante frequentes em nosso meio15,16. Diabetes, trabalho de parto prematuro e rotura prematura das membranas, além de serem importantes causas de internação pré-natal, também estão associadas à bacteriúria/infecção urinária sintomática ou não1. Estudos sugerem uma associação significativa de causa e efeito da bacteríuria/infecção e o parto prematuro e rotura prematura das membranas17,18. Por seu lado, o diabetes está associado à instalação de processos infecciosos, particularmente a bacteriúria/infecção urinária19. Em nosso estudo a cultura de urina foi positiva em 19,5% das pacientes. Resultados esses semelhantes à maioria dos estudos2,14,20. Da mesma forma, o agente etiológico mais frequente foi a Escherichia coli, quando comparado a outros estudos2,21,22. Porém a frequência de Escherichia coli foi aproximadamente 28%, menor que a encontrada em outros2,22. Pode-se atribuir a esse fato a diferença das populações incluídas nos estudos:.este em ambiente hospitalar, e os outros em ambiente ambulatorial. Além disso, vários estudos vêm descrevendo a mudança do perfil etiológico dessa infecção. Estudo realizado no Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):488-93 491 Guerra GVQL, Souza ASR, Costa BF, Nascimento FRQ, Amaral MA, Serafim ACP próprio IMIP descreveu um aumento na frequência de Klebsiela sp. em mulheres internadas não gestantes7. Tal fato também pode estar ocorrendo entre as gestantes. Em relação aos sinais e sintomas relativos à infecção urinária, referidos pelas gestantes, constatamos que apenas 21,9% das gestantes com urocultura positiva apresentaram algum tipo de sintomatologia. Porém, analisar sinais e sintomas de infecção do trato urinário (ITU) durante a gestação é por vezes difícil para o profissional de saúde assistente, já que muitos deles são habitualmente referidos pelas gestantes, não caracterizando ITU20. Um estudo observou que, das 232 mulheres incluídas, 46,5% relataram sintomas urinários, porém apenas 10 (4,3%) apresentaram crescimento bacteriano na cultura de urina. Assim, na maioria das mulheres os sintomas foram atribuídos a mudanças fisiológicas induzidas no sistema urinário durante a gravidez21. Em relação à maior frequência de infecção urinária sintomática em nosso estudo, podemos justificar pela amostra de gestantes de alto risco e devido à metodologia dos estudos ser diferente. De forma semelhante a outros autores, os sintomas mais referidos pelas pacientes foram a disúria e polaciúria21. Porém, a completa ausência de sintomas não descarta a presença de bacteriúria e, consequentemente, os riscos dela decorrentes21,23. Assim, destacamos a importância da realização do diagnóstico de bacteriúria/infecção urinária independente da presença ou ausência de sintomas durante a gravidez, desencorajando o início do tratamento apenas baseado na sintomatologia clínica. A bacteriúria assintomática pode evoluir para pielonefrite em 25 a 40% dos casos, se a paciente não for tratada13,23. Das 164 gestantes analisadas no presente estudo, a frequência de bacteriúria assintomática foi de 15,2%, estando acima da referida na literatura14,21,23. Isso pode ser explicado pela população do nosso estudo — mulheres internadas no setor de gestação de alto risco. Sabendo-se do risco aumentado para o desenvolvimento de ITU na gestação, da possibilidade de ocorrência de bacteriúria assintomática e das possíveis complicações maternas e perinatais, alguns pesquisadores apontam como inquestionável a necessidade de realização de urocultura, rotineiramente, no início da gestação10,11. Entretanto, a urocultura exige laboratórios e profissionais especializados, sendo sua realização difícil em alguns dos serviços de pré-natal do Brasil, particularmente nas regiões menos desenvolvidas e nas Unidades Básicas de Saúde. Um estudo realizado na Índia afirma que a urocultura pode ser solicitada apenas quando o exame simples de urina estiver alterado2, que está de acordo com o resultado encontrado em nossa população. Observamos que, quando o exame simples de urina foi normal (utilizando apenas o critério de piócitos), apenas em 13% a cultura de urina foi discordante — isto é, positiva — resultando em um valor preditivo negativo para o exame simples de urina de 86,9%. Porém, é importante destacar que, quando acrescentamos à presença de nitritos como critério diagnóstico, a especificidade do exame simples de urina aumenta de 62,5 para 98,5%, mantendo o valor preditivo negativo semelhante. Vários estudos encontraram resultados semelhantes ao nosso: alto valor preditivo negativo, uma boa especificidade, porém baixa sensibilidade, e baixo valor preditivo positivo2,14,20,24,25. Assim, após analisar o valor preditivo positivo e o valor preditivo negativo do exame simples de urina, concluiu-se que na presença de alteração do exame não necessariamente está em curso uma infecção urinária, sendo necessária a realização da urocultura. Quando o exame simples de urina for normal, o resultado dessa pesquisa indicou que em 87% das vezes a urocultura pode ser dispensada. Assim, nossos dados sugerem que em locais onde há impossibilidade de realização da urocultura, o exame simples de urina pode ser utilizado como rastreio de infecção urinária. Referências 1. Smaill FM, Vazquez JC. Antibiotics for asymptomatic bacteriuria in pregnancy. Cochrane Database Syst Rev. 2011;(1):CD000490. 2. Jayalakshmi J, Jayaram VS. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):488-93 493 Raquel Santos Robalo Fernandes1 Ana Filipa Bernardino Simões1 Ana Cristina Neves Figueiredo1 Ana Rita Silva Ribeiro2 Francisca Maria Ferreira Aleixo3 Sílvia Margarida Duarte Teixeira Guerra Aragüés3 Prognóstico obstétrico de pacientes portadoras de diabetes mellitus pré-gestacional Pregnancy outcomes in women with pre-existing diabetes Njila Yakalage Barreira Amaral3 Artigo Original Resumo Palavras-chave OBJETIVO: Avaliar as alterações epidemiológicas, de perfil clínico e de prognóstico obstétrico em pacientes portadoras de diabetes mellitus pré-gestacional. MÉTODOS: Estudo retrospetivo (coorte) de todas as gestações simples, com diagnóstico de diabetes prévio que foram seguidas num centro com apoio perinatal diferenciado entre 2004 e 2011 (n=194). Analisaram-se tendências relacionadas com dados demográficos e variáveis clínicas maternas, dados de indicadores de cuidados pre-concepcionais e durante a gravidez, e de controle metabólico. Dados do parto como a idade gestacional (IG) do parto, via do parto e peso do neonato foram variáveis também estudadas. RESULTADOS: A frequência global de diabetes prévia, durante o período estudado, foi de 4,4 por mil, não se verificando variações significativas durante o período de estudo. Os casos de diabetes tipo 2 permaneceram constantes. Em 67% dos casos o parto foi de termo (máximo de 80% em 2010–2011), registrou-se uma redução significativa dos partos por cesárea eletiva (p=0,03) e na incidência de neonatos considerados grandes para a IG (p=0,04) ao longo dos anos em estudo. Apesar dos bons resultados relacionados com o controle metabólico ao longo da vigilância da gravidez não foi registrada nenhuma melhora ao longo do tempo. Da mesma forma a proporção de gestantes diabéticas com avaliação pre-concepcional permaneceu pouco animadora. CONCLUSÕES: O seguimento de gestantes portadoras de diabetes mellitus em unidades multidisciplinares parece permitir um ajuste metabólico tão precoce quanto possível, de forma a conseguir melhorar o prognóstico obstétrico. A melhora nos cuidados pré-concepcionais continua sendo um desafio. Diabetes mellitus/metabolismo Diabetes gestacional/metabolismo Complicações na gravidez Resultado da gravidez Keywords Diabetes melittus/metabolism Diabetes, gestational/metabolism Pregnancy complications Pregnancy outcome Abstract PURPOSE: To describe trends in prevalence, indicators of care and pregnancy outcomes for women with pre-existing type I or type II diabetes. METHODS: Cohort study of all consecutive singleton pregnancies complicated by pre-existing type I or type II diabetes followed from 2004 to 2011 at a tertiary perinatal care centre (n=194). We collected data from the medical records and described trends in demographics, clinical history, indicators of care before or during pregnancy and glycaemic control. We also studied perinatal outcomes, including gestational age at delivery, mode of delivery, and birthweight. RESULTS: The overall incidence of pregestational diabetes was 4.4 per 1000, with no significant changes throughout the study period. The number of type 2 diabetes cases also remained constant. In 67% of cases delivery occurred after 37 weeks (maximum 80% in 2010–11). During this period there was a significant reduction in rates of elective caesarean section (p=0.03) and in the incidence of large infants for gestational age (p=0.04). Indicators of glycaemic control were favorable throughout pregnancy, with no significant trends detected during the study period. However, preconceptional care indicators were substandard, with no significant improvement. CONCLUSIONS: A multidisciplinary approach to diabetic management and obstetric practice contributed to adequate glycaemic control throughout pregnancy and to improved pregnancy outcomes. Preconceptional care remains a key challenge. Correspondência Raquel Robalo Serviço de Medicina Materno-Fetal Maternidade Dr. Alfredo da Costa Rua Viriato CEP: 1069-089 Lisboa, Portugal Recebido 20/06/2012 Aceito com modificações 15/10/2012 Trabalho realizado no Serviço de Medicina Materno-Fetal da Maternidade Dr. Alfredo da Costa – Lisboa, Portugal. Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Maternidade Dr. Alfredo da Costa – Lisboa, Portugal. 2 Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Hospital de Santarém, EPE (Santarém) – Portugal. 3 Maternidade Dr. Alfredo da Costa – Lisboa, Portugal. 1 Prognóstico obstétrico de pacientes portadoras de diabetes mellitus pré-gestacional Introdução A prevalência em mulheres em idade reprodutiva vem aumentando. Um estudo retrospetivo de 175.249 gestantes demonstrou que a frequência — que era de 0,8% em 1999 — aumentou para 1,8% em 20051. O diabetes preexistente à gravidez está associado aos piores resultados obstétricos e perinatais2,3. Com o intuito de melhorar o prognóstico obstétrico, a importância da avaliação pré-concepcional de mulheres com DM tipo 1 ou tipo 2 não deve ser negligenciada. O mau controle metabólico no período da organogênese associa-se a um aumento da taxa de aborto espontâneo e de malformações fetais4,5. Durante o tempo de gestação subsequente aumenta o risco de macrossomia e das suas comorbidades associadas. Também contribuem para os maus resultados obstétricos as complicações relacionadas com a doença, como a vasculopatia, o aumento do risco de parto pré-termo, restrição do crescimento fetal, doença hipertensiva da gravidez e morbimortalidade perinatal6. Estudos recentes, de base populacional, revelaram que nas últimas duas décadas, apesar do esforço de melhoras nos cuidados da população de gestantes diabéticas, estas continuaram apresentando os piores resultados obstétricos e perinatais, quando comparadas com gestantes não diabéticas, e que as taxas de mortalidade perinatal, malformações fetais e macrossomia não sofreram melhoras significativas7,8. Tendo como objetivo melhorar o prognóstico obstétrico de mulheres com diagnóstico de DM prévio à gravidez, é fundamental apostar na formação de equipes multidisciplinares com obstetras, endocrinologistas, nutricionistas e enfermeiros empenhados na otimização do controle metabólico da grávida diabética, com experiência na terapêutica hipoglicemiante adaptada às novas necessidades na gravidez, no incentivo constante do cumprimento da dieta e na promoção do exercício físico. A melhor interligação com os cuidados de saúde primários e associações de diabéticos tem como meta aumentar o número de gestações planejadas e, consequentemente, melhorar o controle metabólico dessas mulheres9. O objetivo deste estudo é avaliar as alterações epidemiológicas, de perfil clínico e de prognóstico obstétrico em pacientes portadoras de DM pré-gestacional na Região Central de Portugal. Métodos Foi efetuado um estudo retrospetivo, de coorte, que incluiu todas as gestações simples, com diagnóstico de diabetes prévio, com vigilância na Maternidade Dr. Alfredo da Costa, em Lisboa, entre 1º de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de 2011 (n=194). Definiu-se diabetes prévia como DM tipo 1 ou tipo 2, diagnosticada até pelo menos um ano antes da data prevista do parto. Foram excluídas gestantes que optaram pela interrupção voluntária da gravidez, em que o parto não ocorreu na nossa instituição e casos sem dados maternos ou perinatais completos. Com as consultas dos prontuários obtivemos dados da história clínica, indicadores de cuidados pré-natais e de controle metabólico na gestação, e informação relativa ao parto. Foram avaliadas variáveis como a idade materna, tipo de DM, paridade, raça e índice de massa corporal (IMC) materno. Foram analisados os dados de cuidados pré-concepcionais e gestacionais, destacando-se a realização de consulta pré-concepcional e a idade gestacional (IG), em semanas completas, na entrada da consulta (determinada por datação no 1º trimestre). O ganho ponderal durante a gestação foi definido como insuficiente, adequado ou excessivo de acordo com a IG do parto, e o IMC pré-gestacional de acordo com as guidelines do Institute of Medicine10. O controle metabólico foi avaliado na data de entrada no seguimento de CGD e pelo menos uma vez por trimestre através do valor de hemoglobina glicosilada (HbA1c), definindo-se como bom controle metabólico quando esse valor se encontrava abaixo de 6,5%11. Foram analisadas as variáveis do parto: IG, via de parto e peso do recém-nascido (RN). Considerou-se gravidez de termo quando IG foi superior a 37 semanas completas. Considerou-se aborto as situações de perda fetal antes da 24ª semana de gestação. A macrossomia fetal foi definida para um peso ao nascer superior a 4000 g. Os casos em que o peso ao nascimento era superior ao percentil 90 do peso para a idade gestacional e gênero12 foram definidos como recém-nascidos grandes para a idade gestacional (GIG). Na análise das diferentes tendências ao longo dos anos em estudo agrupou-se a amostra em quatro grupos, com igual período de tempo (2004–2005, 2006–2007, 2008–2009 e 2010–2011). Testou-se a associação entre a evolução temporal em grupos e os diferentes parâmetros em estudo por meio da análise de variância (one-way ANOVA) para variáveis contínuas com distribuição normal, e por meio do teste do χ2 (associação e tendência) para variáveis categoriais. A análise estatística foi realizada recorrendo-se ao programa SPSS, versão 16 para Windows, e o nível de significância adotado foi p<0,05. Pelas características da metodologia utilizada, a apreciação pelo Comitê de Etica Médica e a necessidade de obtenção de termo de consentimento livre e esclarecido foram dispensadas como prevê a legislação portuguesa. Resultados No estudo foram incluídas 194 gestantes com diagnóstico de DM tipo 1 ou tipo 2, seguidas na nossa instituição entre 2004 e 2011. Registrou-se o nascimento de 168 recém-nascidos (81%), 20 casos de aborto espontâneo (90% no primeiro Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):494-8 495 Fernandes RSR, Simões AFB, Figueiredo ACN, Ribeiro ARS, Aleixo FMF, Aragüés SMDTG, Amaral NYB trimestre) e 6 casos de interrupção médica da gravidez por opção do casal (um caso de síndrome malformativo e cinco casos de trissomia 21), todos antes da 24ª semana de gravidez, após deferimento da Comissão Técnica de Certificação e dentro do enquadramento legal em vigor em Portugal. Num universo de 44 593 partos a incidência de diabetes prévia, durante os 8 anos estudados, foi de 4.4‰. Cento e vinte e quatro gestantes (64%) tinham DM tipo 1 e 70 (36%) eram gestantes com DM tipo 2. O número de casos com diabetes tipo 2 permaneceu constante. Em relação à raça, 36% das gestantes com DM tipo 2 eram de raça não branca versus 11% das gestantes com DM tipo 1 (p<0,001). Outras características maternas e sua variação ao longo do período em estudo podem ser consultadas na Tabela 1. Ao longo dos anos houve uma redução da proporção de gravidez em diabéticas nulíparas desde 2006–2007. Constatou-se que a média de idade materna e a proporção de gestantes com idade superior a 35 anos, nos anos 2008–2009 foi significativamente mais elevada quando comparada com os anos restantes, dentro do período estudado (p=0,02). Apesar de não ter havido, observou-se, ao longo dos anos, uma diminuição dos casos de gestantes com excesso de peso ou obesas. Vários indicadores de cuidados pré-natais foram avaliados, como a existência de consulta pré-concepcional, o início da vigilância hospitalar até à décima semana de gestação ou a avaliação de controle metabólico no primeiro trimestre de gravidez. Apenas 15,5% do total dos casos havia tido uma consulta pré-concepcional. Em 64% dos casos a primeira consulta foi efetuada até a 10ª semana de gestação; em 77% foi possível obter uma avaliação do valor de HgA1c até a 12ª semana e em 95% dos casos foi feita a avaliação do fundo ocular no 1º trimestre. Essas variáveis mantiveram-se estáveis ao longo do período estudado. Entre os casos em que ocorreu perda fetal antes da 24ª semana verificou-se que o valor de HgA1C média no 1º trimestre foi superior, quando comparado com as gestantes que não tiveram perda fetal em igual período (8,7 versus 7,1; p=0,001). Verificou-se, também, que a proporção de casos cujo o valor de HgA1C foi superior a 6,5% foi significativamente mais elevada entre as gestantes que experimentaram perda fetal antes da 24ª semana, quando comparadas com as restantes (15% versus 2%; p=0,01). Indicadores de cuidados pré-natais (Tabela 2) e os dados do parto (Tabela 3) foram estudados após exclusão dos casos de perda gestacional antes da 24ª semana (n=168). Valores de bom controle metabólico (definido como valor de HgA1c inferior a 6,5%) foram mais prevalentes no segundo e terceiro trimestres de gravidez, não tendo sido registradas melhoras ao longo dos anos em estudo. Não foi registrada nenhuma alteração, com significância, nos dados relativos ao ganho ponderal das gestantes, ao longo dos anos de estudo. Porém, destacam-se os valores de ganho ponderal excessivo em 39% dos casos. Em 42 gestantes com valores de IMC prévio superior 25% o ganho Tabela 2. Indicadores de cuidados pré-natais nos casos de parto após as 24 semanas 2004– 2005 (n=46) 20062007 (n=40) 2008– 2009 (n=42) 2010– 2011 (n=40) Valor p 0,6 Indicadores de cuidados durante a gravidez Ecocardiograma fetal-18–22 semanas: n (%) 38 (82,6) 35 (87,5) 38 (90,5) 36 (90) Aumento ponderal insuficiente: n (%) 8 (17,8) 7 (18,4) 8 (19) 13 (32,5) Aumento ponderal adequado: n (%) 19 (42,2) 15 (39,5) 18 (42,9) 11 (27,5) Aumento ponderal excessivo: n (%) 18 (40) 16 (42,1) 16 (38,1) 16 (40) 0,6 Indicadores de controle metabólico* Tabela 1. Características maternas e variação dos parâmetros ao longo dos anos (2004– 2011) 18 (54,5) 12 (37,5) 9 (25) 13 (41,9) 0,09 2004– 2005 (n=47) 2006– 2007 (n=45) 2008– 2009 (n=55) 2010– 2011 (n=47) Valor p Hga1C <6,5% entre 13–27 semanas: n (%) 24 (70,6) 28 (75,7) 19 (52,8) 27 (67,5) 0,2 4,1 3,9 5 4,3 – Hga1C <6,5% após 27 semanas: n (%) 27 (64,3) 21 (63,6) 19 (57,6) 20 (54,1) 0,7 31 (6) 31 (6) 33 (6) 31 (6) 0,1 *Valores de proporção apenas se referem aos casos avaliados. Idade materna >35 A: n (%) 13 (27,7) 12 (26,7) 21 (38,2) 15 (31,9) 0,5 Tabela 3. Informações sobre a via de parto e peso dos recém-nascidos Etnia não branca: n (%) 7 (14,9) 10 (22,2) 11(20) 11 (23,4) 0,7 Nuliparidade: n (%) 24 (51,1) 31 (68,9) 32 (58,2) 26 (55,3) 0,3 Excesso de peso e obesidade: n (%) 23 (50) 23 (53,5) 27 (49,1) 17 (37,8) 0,4 Incidência (por 1000 partos) Idade materna média (±DP*) Diabetes tipo 2: n (%) 19 (40,4) *DP: desvio padrão. 496 Hga1C <6,5% antes das 13 semanas: n (%) Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):494-8 17 (37,8) 17 (30,9) 17 (36,2) 0,7 2004– 2005 (n=46) 2006– 2007 (n=40) 2008– 2009 (n=42) 2010– 2011 (n=40) Valor p IG* parto >37 semanas 27 (58,7) 26 (65) 27 (64,3) 32 (80) 0,1 Cesárea eletiva 24 (52,2) 17 (42,5) 30 (71,4) 18 (45) 0,03 RN* peso >4000 g 7 (15,2) 10 (25) 8 (19) 3 (7,5) 0,1 RN GIG* 15 (32,6) 17 (43,6) 16 (38,1) 6 (15) 0,03 *IG: Idade gestacional; RN: Recém-nascido; GIG: Grandes para a idade gestacional. Prognóstico obstétrico de pacientes portadoras de diabetes mellitus pré-gestacional ponderal na gravidez foi excessivo. Pela grande dispersão de dados e pelo reduzido tamanho amostral, optou-se por não estudar a variação do ganho ponderal dentro de cada categoria de IMC pré-gestacional ao longo dos anos de estudo. Em 67% o parto foi de termo e, apesar de não ter significância estatística, observou-se um aumento progressivo dos partos de termo, tendo ocorrido em 80% dos casos em 2010–11. O parto por cesárea eletiva ocorreu em 53% (n=89), registrando-se uma redução significativa desse tipo de parto (p=0,03), ao longo dos anos de estudo. Dados totais relativos aos motivos para cesárea eletiva relacionados com as complicações do DM foram: 25 casos por suspeita de macrossomia; 5 casos por retinopatia grave contraindicando o parto vaginal; 5 casos por más condições de indução do trabalho de parto (ITP) no contexto de pré-eclâmpsia grave; e 12 casos por cesárea anterior sem condições de oferecimento de prova de trabalho. Observou-se uma tendência de redução na proporção de neonatos considerados grandes para o IG ao longo dos anos em estudo (p=0,039). Discussão no presente estudo foram apresentadas variações epidemiológicas, de perfil clínico e de resultados das gestações com diagnóstico de DM, seguidas em um único centro com apoio perinatal diferenciado de Portugal. Observou-se um aumento global na prevalência de diabetes preexistente à gravidez1,13,14. Esse aumento, para além de baseado no aumento da prevalência da doença em idades mais jovens15,16, reflete o aumento dos casos de DM tipo 2 demonstrado em estudos de base populacional, principalmente em países desenvolvidos8,13. Em nosso estudo, os resultados foram divergentes dessa realidade: globalmente, nenhuma tendência foi encontrada em relação ao número de gestantes com DM seguidas no nosso centro. No biênio 2010–2011 houve um decréscimo no número de casos referenciados em relação aos seguidos em igual período em 2008–2009, que coincidiu com a reorganização dos centros de referenciação de gestantes diabéticas na região central do país. Da mesma forma, em nosso estudo não se verificou nenhuma variação em relação à idade materna ou em relação à incidência dos casos de DM tipo2 ao longo dos anos. Todas essas variáveis permaneceram constantes ao longo do período de estudo. Em relação à raça das gestantes os dados apresentados também não confirmam os encontrados na literatura, que apontam o aumento dos casos de DM tipo 2 em mulheres de raça não branca17-19. Em nossa amostra, apesar do ligeiro aumento de casos em gestantes de raça não branca nos últimos anos de estudo em relação aos primeiros, a maioria dos casos corresponderam a gestantes de raça branca. Vários estudos apontam que o planejamento da gravidez em mulheres portadoras de DM tem um impacto significativo na redução de riscos materno-fetais4,9,20. Quando se avaliaram os cuidados pré-concepcionais oferecidos a essas mulheres, verificou-se que alguns parâmetros ficaram aquém do esperado, o fato de não se ter registrado nenhuma melhora na proporção de gestantes que tiveram consulta pré-concepcional foi desapontador. No entanto, a análise de resultados em relação aos cuidados de pré-natal precoces na gestação registraram progresso. A referenciação no primeiro trimestre da gestação e a consulta diferenciada e multidisciplinar, entre os anos de 2004 e 2009, registraram progressos muito significativos. Em igual período foi possível obter uma avaliação precoce do valor de HbA1c em proporção crescente nas gestantes seguidas. Na avaliação clínica dessas mulheres, é também fundamental a observação do fundo ocular previamente à gravidez ou de forma precoce em seu decurso; o período gestacional constitui uma janela de oportunidade de avaliação, seguimento e terapêutica das complicações microvasculares da doença21. Em nosso centro os resultados foram excelentes ao longo de todo o período de estudo. Outro fator importante para melhorar o prognóstico obstétrico de gestantes diabéticas é o controle do aumento de peso materno. A obesidade materna e o ganho de peso acima do recomendado estão associados aos piores resultados obstétricos22-24. Na avaliação do ganho ponderal das nossas gestantes, o qual foi aferido de acordo com o IMC prévio e ajustado à IG do parto, os resultados não demonstraram melhora ao longo dos anos de estudo. Em 39% do total de gestantes o ganho ponderal foi excessivo. Esse dado levou à reflexão de que apesar de ter sido oferecido acompanhamento nutricional específico, as gestantes não tiveram uma boa adesão às orientações da equipe. As complicações gestacionais/fetais classicamente associadas ao diabetes são as malformações congênitas, o aborto espontâneo e a macrossomia. A hiperglicemia é o deterninante mais importante desses riscos25-27. De acordo com a literatura, no presente estudo foram demonstrados valores de HgA1C média no 1º trimestre superiores nas gestantes que tiveram abortos espontâneos. Em contraste com essa realidade, nas gestantes que não tiveram perda gestacional antes da 24ª semana, os valores de controle metabólico foram globalmente muito promissores, apesar de não se ter demonstrado nenhuma variação ao longo do tempo. Grande proporção das gestantes atingiu baixos níveis de HgA1c no segundo trimestre e, apesar do aumento da resistência à insulina, próprio do terceiro trimestre, os resultados de bom controle metabólico mantiveram-se igualmente altos nesse trimestre. A avaliação da proporção de neonatos GIG, no presente estudo, revelou melhoras significativas, registrando-se uma redução da proporção desses neonatos ao longo do tempo de estudo. Da mesma forma e em igual periodo, observou-se uma redução significativa de parto por cesárea eletiva. Esses resultados levaram à reflexão de que o bom controle metabólico foi, com certeza, decisivo. No entanto, é importante lembrar que nesses tipos de gestações, é certo que muitos outros fatores implicam o pior prognóstico dessas gestantes quando comparadas com gestantes de baixo risco. Evers e Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):494-8 497 Fernandes RSR, Simões AFB, Figueiredo ACN, Ribeiro ARS, Aleixo FMF, Aragüés SMDTG, Amaral NYB colaboradores publicaram dois importantes estudos prospectivos que demonstraram que gestantes com DM tipo 1 têm pior prognóstico obstétrico, mesmo em condições de ótimo ou subótimo controle metabólico28,29. Apesar do exposto, continuamos acreditando que a avaliação pré-concepcional, a vigilância precoce e por equipe multidisciplinar, um bom controle metabólico antes e durante toda a gestação e a melhora no controle de aumento de peso inadequado por parte de gestantes portadoras de DM contribuem de forma decisiva para a melhora do prognóstico obstétrico dessas gestações de alto risco. Referências 1. Lawrence JM, Contreras R, Chen W, Sacks DA. 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Danielle Albuquerque Pires Rocha1 Josiane Montanho Mariño1 Cristina Maria Borborema do Santos2 Detecção de Citomegalovírus Humano e Herpesvírus Simples tipo 2 em amostras cervicais Detection of Human Cytomegalovirus and Herpes Simplex Virus type 2 in cervical sample Artigo Original Resumo Palavras-chave OBJETIVO: Testar a presença de DNA de Citomegalovírus Humano (HCMV) e Herpesvírus Simples tipo 2 (HSV-2) em amostras cervicais de mulheres atendidas em um serviço de atenção primária à saúde no município de Coari, Amazonas, Brasil. MÉTODOS: Participaram deste estudo 361 mulheres sexualmente ativas, variando entre 18 e 78 anos, atendidas em Unidades Básicas de Saúde para exame ginecológico de rotina. As amostras cervicais foram coletadas por meio de escova endocervical. A detecção dos vírus deu-se por meio de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) em tempo real. RESULTADOS: A média de idade das mulheres participantes foi de 36,4 anos (desvio-padrão (DP)=13,4). Foi encontrado DNA de HCMV em amostras cervicais de 30 mulheres (8,3%; IC95% 5,8–11,8) e de HSV-2 em 2 mulheres (0,6%; IC95% 0,1–2,2). Duas mulheres relataram ser portadoras do HIV, estando uma delas infectada com o HCMV. Não foram encontradas associações estatisticamente significativas entre a infecção pelos patógenos estudados e as variáveis socioeconômicas, clínicas e comportamentais. CONCLUSÕES: A prevalência de infecção pelo HCMV encontrada na amostra estudada chama a atenção para a necessidade do rastreio desse vírus na gestação e da vigilância nos pacientes imunocomprometidos. A baixa prevalência do HSV-2 deve-se provavelmente ao fato de a amostra cervical não ser adequada para este tipo de estudo por causa das características da biologia viral relacionadas à neurolatência. Infecções por citomegalovírus/diagnóstico Herpevírus humano 2 Reação em cadeia da polimerase em tempo real Técnicas de diagnóstico molecular Amazonas Brasil Keywords Cytomegalovirus infections/diagnosis Herpesvirus 2, human Real-time polymerase chain reaction Molecular diagnosis Amazonas Brazil Abstract PURPOSE: To detect the presence of Human Cytomegalovirus (HCMV) and Herpes Simplex Virus type 2 (HSV-2) DNA in cervical samples from women assisted in a primary health care clinic in the city of Coari, Amazonas, Brazil. METHODS: Participated in this study 361 sexually active women between 18 and 78 years. They were been assisted in a Basic Health Care Clinic for routine gynecological exam. The cervical samples were collected using endocervical brush. The viruses were detected using real-time Polymerase Chain Reaction (PCR) technique. RESULTS: Mean age was 36.4 years (standard deviation (SD)=13.4). HCMV DNA was found in cervical samples from 30 women (8.3%; IC95% 5.8–11.8) and HSV 2 DNA in 2 women (0.6%; IC95% 0.1–2.2). Two women related being HIV positive, one of them infected with HCMV. There were no statistically significant associations between infections by the pathogens studied and socioeconomic, clinical or behavioral variables. CONCLUSIONS: The prevalence of the HCMV infection found in the sample points to the need for screening of the virus during pregnancy and surveillance in immunocompromised patients. The low prevalence of HSV-2 found is probably due to the fact that cervical sampling is not appropriate for this type of study because of the characteristics of viral biology related to neurovirulence. Correspondência Danielle Albuquerque Pires Rocha Universidade Federal do Amazonas Estrada Coari-Mamiá, 305 – Espírito Santo CEP 69460-000 Coari (AM), Brasil Recebido 22/05/2012 Aceito com modificações 02/10/2012 Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM – Manaus (AM), Brasil. Instituto de Saúde e Biotecnologia, Universidade Federal do Amazonas – UFAM – Manaus (AM), Brasil. 2 Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Amazonas – UFAM – Manaus (AM), Brasil. Conflito de interesse: não há. 1 Rocha DAP, Mariño JM, Santos CMB Introdução Os herpesvírus formam um grupo de vírus de genoma grande, sendo alguns deles patogênicos em seres humanos. Todos os herpesvírus estudados apresentam uma marcante característica comum: o estabelecimento de um período de latência após uma fase de replicação lítica ativa. Durante o ciclo infeccioso, a maioria dos genes virais é expressa resultando em uma grande disseminação viral. Em contraste, a expressão gênica viral é largamente reprimida durante a fase de latência, e partículas virais não são formadas. Dentre os herpesvírus patogênicos em humanos, o Citomegalovírus Humano (HCMV) e o Herpesvírus Simples tipo 2 (HSV-2) são dois importantes vírus transmissíveis por via sexual1-4. O herpes genital pode ser causado pelos HSV-1 e HSV-2, porém a infecção pelo HSV-2 é mais comum, mais grave e mais propensa às recorrências. A transmissão sexual do HSV-2 depende de contato íntimo entre um indivíduo susceptível e um indivíduo excretando vírus ativamente. O vírus deve entrar em contato com as superfícies mucosas para que a infecção seja iniciada. Após a infecção, o vírus replica-se na região genital, perigenital ou anal, colonizando o gânglio sacral. A seguir, os vírus migram pelos axônios até os gânglios sensitivos regionais (neurovirulência), onde permanecem em latência, em uma forma não infecciosa, em equilíbrio com a célula hospedeira, porém, com reativação periódica e liberação do vírus infeccioso3,5,6. Uma grave consequência da infecção por HSV-2 é a transmissão para o feto ou recém-nascido. A infecção fetal intrauterina ocorre como consequência de infecções transplacentárias ou infecção ascendente e acontece em cerca de 10% dos casos. A forma mais comum de infecção, todavia, é o contato do recém-nascido, durante o parto, com secreções maternas infectadas, ocorrendo em 75 a 80% dos casos5,7,8. O outro importante herpesvírus que pode ser transmitido por via sexual (embora não exclusivamente) é o Citomegalovírus Humano (HCMV). O HCMV é um clássico agente de infecção oportunista, que pode causar severa doença na ausência de uma efetiva resposta imune, de forma que sua importância tem sido cada vez mais apercebida em razão dos recentes tratamentos imunossupressores (por exemplo, na quimioterapia do câncer e no transplante de órgãos), bem como por causa da epidemia de AIDS no mundo. O HCMV estabelece uma infecção latente com episódios de reativação durante os quais é excretado na saliva, urina, secreção cervical, esperma e leite 500 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):499-504 materno 9-12. A transmissão vertical do HCMV da mãe para o feto ou recém-nascido é comum e desempenha um papel importante na manutenção da infecção na população. Nesses casos, o HCMV pode ser transmitido de três formas: transplacentária, intraparto ou por meio do leite materno, e essa infecção pode ser causa de malformação congênita, atraso psicomotor e surdez 3,10,13,14. O objetivo deste trabalho foi determinar a frequência do HCMV e do HSV-2 em espécime cervical por meio de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) em tempo real e relacionar esses dados de infecção com características sociodemográficas, história clínica e informações a respeito do comportamento sexual de uma população feminina atendida em uma unidade primária da Estratégia Saúde da Família (ESF). Métodos Este é um estudo de corte transversal, desenvolvido no município de Coari, estado do Amazonas, Brasil, com mulheres atendidas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do referido município, assistidas pela Estratégia de Saúde da Família. Os critérios de inclusão foram: mulheres sexualmente ativas, acima de 18 anos, que apresentassem queixas clínicas ou não, quer estivessem grávidas ou não. Os critérios de exclusão foram: mulheres histerectomizadas e mulheres submetidas a tratamento recente (últimos três meses) para infecções genitais, quer por via sistêmica quer tópica. Foram incluídas 361 mulheres nesta pesquisa. Para o cálculo amostral, considerou-se a prevalência de 42% de doenças sexualmente transmissíveis (DST) em geral no Brasil15, com margem de erro de 5% e confiança de 95%. As mulheres foram registradas sequencialmente nesta pesquisa de acordo com demanda espontânea. Todas as participantes do estudo foram esclarecidas quanto à importância dele e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). As mulheres foram entrevistadas, respondendo a um questionário-padrão contendo perguntas estruturadas e não estruturadas sobre as principais informações clínicas, socioeconômicas e comportamentais. Todas as mulheres foram submetidas a consulta e exame físico, incluindo exame pélvico, pelo(a) enfermeiro(a) responsável por esse procedimento na UBS. As amostras foram coletadas com o auxílio de espéculo vaginal, utilizando-se escova endocervical (citobrush). Foram acondicionadas em microtubos de 1,5 mL contendo Detecção de Citomegalovírus Humano e Herpesvírus Simples tipo 2 em amostras cervicais 400 mL de tampão TRIS-EDTA (TRIS-HCl 10 mM e EDTA 1 mM pH 8,0), colocadas imediatamente no gelo e depois armazenadas em freezer a -20ºC no Instituto de Saúde e Biotecnologia da UFAM, em Coari, Amazonas; posteriormente, foram transportadas em gelo para o Laboratório de Diagnóstico Molecular da UFAM em Manaus, Amazonas, Brasil. Depois de descongeladas à temperatura ambiente, as amostras foram submetidas ao processo de extração de DNA. Acrescentou-se 400 μL de tampão proteolítico TPK (TE [TRIS HCl 50 mM + EDTA 50 mM pH=8,0], Tween 20% e Proteinase K 10 mg/mL) e incubou-se por 60 minutos a 56°C e por 10 minutos a 95˚C em banho seco. A seguir, o DNA foi extraído pelo método fenol/clorofórmio, precipitado com etanol absoluto e ressuspenso em 50 μL de água ultrapura (pH 7,6)16. A detecção do HSV-2 foi realizada por meio da PCR em tempo real, com um ensaio do tipo TaqMan. Foi utilizado o master mix TaqMan ® Environmental Master Mix 2.0 da Applied Biosystems. Os iniciadores e sondas utilizados foram descritos por Corey et al. (2005)17. Nesse sistema, os iniciadores HSV-F e HSV-R amplificam ambos os HSV-1 e HSV-2 com igual eficiência, e para discriminação entre os tipos foi usada a sonda específica para o HSV-2 marcada com FAM. A reação teve um volume final de 20 μL, que continha os seguintes reagentes: 0,5 μL de HSV-F 10 pmol, 0,5 μL de HSV-R 10 pmol, 0,5 μL de sonda 10 pmol, 10 μL de master mix (2X), 4 μL DNA e 4,5 μL de água. Para detecção do HCMV, foi utilizada também a PCR em tempo real. Para isso, foi utilizado um ensaio pronto do tipo presença/ausência da Applied Biosystems, o Taqman ® Gene Expression Assay Pa03453400_s1. Nesse ensaio, os iniciadores e a sonda já vêm misturados nas seguintes concentrações: iniciadores a 900 nM e a sonda a 250 nM, e o fluorófogo presente na sonda é o FAM. Também foi utilizado o master mix TaqMan Environmental Master Mix 2.0, da Applied Biosystems. A reação teve um volume final de 20 μL, que continha 10 μL de master mix 2X, 1 μL do Assay Pa 03453400_s1 (20X), 4 μL de DNA e 5 μL de água. As amostras foram distribuídas em placa apropriada para leitura óptica (MicroAmp Fast Optical 48-Well Reaction Plate) da Applied Biosystems. A placa foi levada ao aparelho de PCR em tempo real Step OneTM Real Time PCR Systems, da Applied Biosystems. As condições de termociclagem foram: 5 minutos a 95ºC e 40 ciclos de 95ºC por 15 segundos e 60ºC por 60 segundos. Ao final da reação, o resultado foi obtido a partir do programa Step OneTM Software v2.0. As amostras foram consideradas positivas se o Cycle Threshold (CT) foi até 37. Os dados foram inicialmente tabulados e geraram bancos de dados que foram analisados pelo software EpiInfo 3.5.3 para Windows (programa desenvolvido e distribuído gratuitamente pelo Center of Disease Control and Prevention (CDC)). Na análise das variáveis quantitativas, quando os dados apresentavam distribuição normal, foi calculada a média e o desvio-padrão (DP), e na rejeição da hipótese de normalidade, o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Na análise das variáveis categóricas, foram calculadas as frequências absolutas simples e relativas e, em alguns casos, o Intervalo de Confiança ao nível de 95%. Na análise dos dados categóricos, foi calculado o teste do qui-quadrado de Pearson, e na impossibilidade da aplicação do teste de Pearson foi aplicado o teste exato de Fisher. O nível de significância fixado na aplicação dos testes foi de 5%. Resultados Todas as amostras foram positivas na PCR para detecção do DNA genômico humano. Foi encontrado DNA de HCMV em 30 mulheres (8,3%; IC95% 5,8–11,8) e DNA de HSV-2 em 2 mulheres (0,6%; IC95% 0,1–2,2). No nosso estudo, encontramos mulheres jovens infectadas pelo HCMV. A média das idades das mulheres infectadas foi bem abaixo da média das mulheres não infectadas (32,3±14,0 e 36,8±13,3 anos, respectivamente), porém essa diferença não foi estatisticamente significante (p=0,078). Uma das mulheres infectadas relatou ser portadora do HIV. O grupo de mulheres solteiras/divorciadas/viúvas apresentou maior prevalência (9,8%) em relação às casadas/união estável (7,9%), e o grupo de mulheres que relatou ter tido mais de 10 parceiros sexuais ao longo da vida apresentou também maior prevalência (10,7%) em relação aos grupos que relataram 1 a 5 parceiros (8,5%) e entre 6 e 10 (6,1%). Foi encontrada prevalência maior entre as mulheres que afirmaram uso não frequente do preservativo com parceiros fixos (12,9%) em relação às que não usavam (8,3%), mas, em relação aos parceiros eventuais, foi maior a prevalência entre mulheres que relataram uso inconsistente do preservativo (14,3%) em relação às que disseram usar “sempre” (8,0%). Entretanto, não houve diferença significativa entre os grupos nas quatro situações citadas. Associações significativas entre a infecção pelo HCMV e outras variáveis estudadas também não foram encontradas (Tabela 1). Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):499-504 501 Rocha DAP, Mariño JM, Santos CMB Tabela 1 - Distribuição segundo a frequência da história clínica em relação ao resultado do Citomegalovírus Humano nas mulheres amostradas no município de Coari (AM) Citomegalovírus humano Variáveis (n=361) Positivo Negativo fi % fi % Total Escolaridade Valor p 0,3* Fundamental incompleto 11 6,9 148 93,1 159 Fundamental completo 19 9,4 183 90,6 202 Idade 0,07** Média±DP 32,3±14,0 36,8±13,3 Amplitude 18–70 18 –78 Estado civil 0,5* Solteira/Divorciada/Viúva 8 9,8 74 90,2 82 Casada/União estável 22 7,9 257 92,1 279 Número de parceiros na vida ***** 1a5 24 8,5 260 91,5 284 6 a 10 3 6,1 46 93,9 49 Acima de 10 3 10,7 25 89,3 28 Número de filhos 0,1**** Mediana 2,0 3,0 Amplitude 0–14 0–16 Uso de preservativo com parceiro fixo (n=328) 0,2* Nem sempre 22 8,3 243 91,7 265 Sempre 8 12,9 54 87,1 62 Uso de preservativo com parceiro eventual (n=33) 0,5*** Nem sempre 1 14,3 6 85,7 7 Sempre 2 8,0 23 92,0 25 Tem /Já teve DST 0,1*** Sim – – 20 100,0 20 Não 30 8,8 311 91,2 341 Parceiro com história de DST nos últimos 12 meses 0,4*** Sim 2 10,5 17 89,5 19 Não 28 8,2 314 91,8 342 Motivo da consulta 0,09* Consulta de rotina 20 10,7 167 89,3 187 Queixas clinicas 10 5,8 162 94,2 172 fi: frequência absoluta simples; DP: desvio–padrão; *Teste do χ2 de Pearson; **Teste t de Student; ***Teste exato de Fisher; ****Teste não paramétrico de Mann-Whitney; *****Não é possível aplicar a estatística de teste em razão das restrições do Discussão A associação entre o HSV-2, um patógeno que causa formação de úlceras, e a infecção pelo HIV tem aumentado o interesse sobre a epidemiologia do HSV-2. Já o crescente interesse pelo HCMV está relacionado principalmente à sua característica oportunística em pessoas imunodeprimidas, como pacientes com HIV, e as submetidas a tratamentos imunossupressores, como os transplantados, situação cada vez mais frequente12,18. 502 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):499-504 χ2 . Considera-se que mais de 70% das infecções por HSV-2 não sejam conhecidas. Portanto, estudos epidemiológicos são importantes para o entendimento do padrão de distribuição da infecção dentro das populações18,19. O método diagnóstico mais usado nos estudos epidemiológicos é a sorologia. Estudos mais antigos usavam a combinação do ELISA (para detectar anticorpo anti-HSV) e Western blot (para discriminar entre HSV-1 e HSV-2)5,20,21, enquanto só mais recentemente os testes de ELISA discriminaram entre anticorpos anti-HSV-1 e anti-HSV-218,19,22. Nos estudos Detecção de Citomegalovírus Humano e Herpesvírus Simples tipo 2 em amostras cervicais brasileiros, as soroprevalências para o HSV-2 tanto por ELISA quanto pela combinação de ELISA com Western blot em mulheres (gestantes, HIV-positivas, estudantes universitárias, etc.) variam entre 7,3 e 50,7%5,18-22. Em nosso estudo, encontramos DNA do HSV-2 em apenas duas mulheres utilizando raspado cervical como amostra. A detecção viral nesse tipo de amostra para fim de estudo epidemiológico é limitada, uma vez que o HSV-2 apresenta latência no gânglio sacral (neurolatência) e não está presente nos tecidos epiteliais e conjuntivos a não ser nas fases de reativações5,6. Outras utilidades podem ser citadas para a detecção do vírus em amostra cervical, por exemplo, avaliar se uma parturiente previamente diagnosticada como portadora da infecção está em fase de reativação assintomática. Nesse caso, seria indicado um parto cesariano para evitar a ocorrência de herpes neonatal decorrente de contaminação no canal do parto. Outra importante utilidade desse teste é a avaliação da presença de DNA viral em úlceras genitais a fim de determinar a etiologia diante de outras doenças formadoras de úlceras5,23,24. Provavelmente, as duas mulheres positivas para HSV-2 neste estudo desconheciam ser portadoras do vírus, pois nenhuma delas relatou história prévia dessa infecção, sugerindo-se que estavam em fase de reativação assintomática. Outros estudos como os de Corey et al.17 e Dinc et al.23, comparando a sorologia com a detecção do HSV-2 por técnica molecular em amostras cervicais e/ou úlceras, são necessários para que se possa ter mais segurança em relação à aplicabilidade desse ensaio. O HCMV é transmitido pelo contato direto com fluidos corporais de pessoas excretando o vírus. Uma diferença marcante em relação ao HSV-2 é que, após a aquisição inicial, o HCMV é excretado em altos títulos na urina, saliva, lágrima, sêmen e secreções cervicais por meses ou anos, ao passo que o HSV-2 é excretado apenas localmente e em um curto intervalo de tempo, tanto durante a infecção inicial quanto nas reativações3,10. Essa característica da biologia viral faz do tipo de amostra analisada nesta pesquisa, amostra cervical colhida com citobrush, portanto contendo tanto fluido quanto células cervicais, uma amostra mais adequada para detecção do HCMV em relação à detecção do HSV-2. Foram encontradas 30 mulheres com a presença do HCMV na secreção cervical. A detecção desse vírus em fluidos corporais teria uma indicação muito importante relacionada ao diagnóstico de infecção congênita ou perinatal em urina de recém-nascidos, proporcionando a intervenção com recursos terapêuticos que podem minimizar a gravidade dos casos e, no caso das infecções congênitas, possibilitando diminuir a intensidade das sequelas25. A detecção na secreção cervical diagnosticaria a mulher excretando ativamente o vírus, porém não discriminaria entre infecção primária e reativação, o que poderia ser feito em um acompanhamento de soroconversão durante a gestação26. No entanto, o rastreamento dessa infecção durante a gravidez é discutido há vários anos, sem consenso estabelecido13. Das cinco mulheres que estavam grávidas em nosso estudo, uma delas apresentou-se positiva para a infecção pelo HCMV. Entre as mulheres grávidas, a infecção por esse vírus é frequentemente uma séria ameaça ao feto. Perda auditiva e severo dano neurológico são as principais manifestações da infecção congênita, e menos frequentemente ocorre morte fetal ou neonatal. Essa mulher pode estar em infecção primária ou em reativação da infecção e tanto uma como outra situação são quase sempre assintomáticas e favorecem a disseminação viral horizontal e vertical10,27. Uma vez que essa paciente está excretando o vírus ativamente, transmissão congênita ou perinatal pode ocorrer. As infecções assintomáticas são predominantes na população, e em nossa amostra não foi diferente. Todas as 30 mulheres infectadas pelo HCMV desconheciam a sua infecção, pois nenhuma delas relatou história prévia. A despeito da alta prevalência mundial, as infecções pelo HCMV são geralmente assintomáticas na população, exceto em recém-nascidos de mães infectadas e em pacientes imunodeprimidos, como citado, nos quais o HCMV afeta muitos órgãos12. Eliminar ou reduzir a morbidade associada com a infecção pelo HCMV durante a gravidez seria o foco do rastreamento sorológico durante essa fase. Neste estudo, duas mulheres disseram-se conhecedoras da sua condição de soropositividade para o HIV, e uma delas apresentou infecção pelo HCMV. A infecção pelo HCMV é muito preocupante em pessoas com quadros de imunodeficiência, pois este é um vírus oportunista, que causa severos quadros de pneumonite, lesões gastrointestinais, hepatite, retinite, pancreatite, miocardite e, às vezes, encefalite, além de maior propensão a outras infecções oportunistas fúngicas e bacterianas11,12. Nesses pacientes, somente a detecção com PCR não necessariamente correlaciona-se com doença ativa, porque os vírus que se encontram em estado latente também podem ser amplificados. A PCR em tempo real, portanto, também tem sido utilizada para detecção e quantificação de carga viral. Um ensaio quantitativo de infecção pelo HCMV é uma ferramenta importante, pois a análise da carga viral no sangue é um importante fator preditivo de infecção e aparecimento de doenças em pacientes HIV-positivos28,29. Assim, este estudo chama a atenção para a prevalência encontrada de HCMV em amostra cervical de mulheres em exame ginecológico de rotina. Tal prevalência serve de alerta para o não relaxamento da solicitação da sorologia para esse vírus durante a gestação e para a verificação mais detalhada da condição de portador em pacientes imunodeprimidos. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):499-504 503 Rocha DAP, Mariño JM, Santos CMB Referências 1. Subak-Sharpe JH, Dargan DJ. HSV molecular biology: general aspects of herpes simplex virus molecular biology. Virus Genes. 1998;16(3):239-51. 17.Corey L, Huang ML, Selke S, Wald A. Differentiation of herpes simplex virus types 1 and 2 in clinical samples by a real-time taqman PCR assay. J Med Virol. 2005;76(3):350-5. 2. 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Fátima Faní Fitz1 Ana Paula Magalhães Resende1 Liliana Stüpp1 Thaís Fonseca Costa1 Marair Gracio Ferreira Sartori1 Manoel João Batista Castello Girão1 Rodrigo Aquino Castro1 Efeito da adição do biofeedback ao treinamento dos músculos do assoalho pélvico para tratamento da incontinência urinária de esforço Effect the adding of biofeedback to the training of the pelvic floor muscles to treatment of stress urinary incontinence Artigo Original Resumo Palavras-chave Terapia por exercícios Contração muscular/fisiologia Retroalimentação fisiológica/fisiologia Incontinência urinária por estresse/ reabilitação Diafragma da pelve Keywords Exercise therapy Muscle contraction/physiology Feedback, physiological/physiology Urinary incontinence, stress/rehabilitation Pelvic floor OBJETIVO: Verificar o efeito da adição do biofeedback (BF) ao treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) para o tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE). MÉTODOS: Estudo piloto prospectivo, randomizado e controlado, com mulheres com IUE sem deficiência esfincteriana detectada ao estudo urodinâmico e que realizavam a correta contração dos MAP. Foram excluídas mulheres com doenças neuromusculares e com prolapso genital graus III e IV. Foram randomizadas 40 mulheres em Grupo Controle e Grupo BF. O protocolo de TMAP com equipamento de BF foi constituído de três séries de dez contrações lentas (tônicas), com tempo de manutenção de seis a oito segundos em cada contração, seguido de um período de repouso de mesmo valor. Após cada contração sustentada, eram realizadas de três a quatro contrações rápidas (fásicas) em decúbito dorsal e ortostatismo, duas vezes na semana, totalizando 12 sessões. Avaliou-se o efeito da adição do BF ao TMAP na qualidade de vida pelo King’s Health Questionnaire (KHQ), nos sintomas urinários pelo diário miccional e na função dos músculos do assoalho pélvico (MAP) pela palpação digital. A avaliação foi realizada inicialmente e após as 12 sessões de tratamento. O resultado foi descrito em médias e desvios padrão. Para análise de homogeneidade e verificação das diferenças entre os grupos utilizou-se o teste de Mann-Whitney, e para diferenças entre os momentos de observação, o teste de Wilcoxon, com nível de significância de 0,05. RESULTADOS: Diminuição significativa nos escores dos domínios avaliados pelo KHQ na comparação entre os grupos, exceto para o domínio saúde geral (Grupo BF 32,8±26,9 versus Grupo Controle 48,4±29,5; p≤0,13). Em concordância, observou-se melhora da função dos MAP após o tratamento no grupo BF, na power (4,3±0,8; p=0,001), endurance (6,0±2,2; p<0,001) e fast (9,3±1,9; p=0,001). Quando comparados os grupos, o Grupo BF destacou-se positivamente em relação ao power (Grupo BF 4,3±0,8 versus Grupo Controle 2,5±0,9; p<0,001), endurance (Grupo BF 6,0±2,2 versus Grupo Controle 2,7±1,9; p<0,001) e fast (Grupo BF 9,3±1,9 versus Grupo Controle 4,6±3,2; p<0,001). Redução da frequência urinária noturna (1,2±1,2 versus 0,7±0,9; p=0,02) e da perda de urina nos esforços (1,5±1,4 versus 0,6±0,8; p=0,001) foi observada no Grupo BF. CONCLUSÃO: A adição do BF ao TMAP para o tratamento da IUE, aplicado de acordo com o protocolo descrito, contribui para melhora da função dos MAP, redução dos sintomas urinários e melhora da qualidade de vida. Abstract PURPOSE: To investigate the effect of adding biofeedback (BF) to the training of pelvic floor muscles (PFMT) for the treatment of stress urinary incontinence (SUI). METHODS: A prospective pilot study, randomized and controlled with women with SUI without sphincter deficiency, detected by urodynamic study and who performed the correct PFM contraction. Women with neuromuscular disorders and grade III and IV genital prolapse were excluded. Forty women were randomized into a Control Group and BF Group. The PFMT protocol with BF equipment consisted of three sets of ten slow contractions (tonic), with a holding time of six to eight seconds at each contraction followed by a rest period of equal duration. After each sustained contraction, they performed three to four fast contractions (phasic) in the supine and standing position twice a week, for a total of 12 sessions. We evaluated the effect of adding BF to PFMT on quality of life using King’s Health Questionnaire (KHQ) regarding urinary symptoms based on a voiding diary and regarding Correspondência Fátima Faní Fitz Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Rua Borges Lagoa 783, conjunto 31, 3° andar CEP: 04038-031 São Paulo (SP), Brasil Recebido 24/07/2012 Aceito com modificações 12/09/2012 Trabalho realizado na Seção de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal, Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. 1 Seção de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal, Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. Fitz FF, Resende APM, Stüpp L, Costa TF, Sartori MGF, Girão MJBC, Castro RA the function of pelvic floor muscles by digital palpation. The evaluation was performed initially and after 12 treatment sessions. Data are reported as mean and standard deviation. The Mann-Whitney test was used for the analysis of homogeneity and to determine differences between groups, and the Wilcoxon test was used to determine possible differences between the times of observation, with the level of significance set at 0.05. RESULTS: A significant decrease in the scores of the domains assessed by the KHQ was observed in the comparison between groups, except for the general health domain (BF Group: 32.8±26.9 versus Control Group: 48.4±29.5, p≤0.13). Accordingly, there was improvement in PFM function after treatment in the BF Group, regarding power (4.3±0.8, p= 0.001), endurance (6.0±2.2, p<0.001) and fast (9.3±1.9, p=0.001). When comparing the groups, the BF Group showed a positive result regarding power (BF Group 4.3±0.8 versus Control Group 2.5±0.9, p<0.001), endurance (6.0±2.2 BF Group versus Control Group 2.7±1.9, p<0.001) and fast (BF Group 9.3±1.9 versus Control Group 4.6 ± 3.2, p<0.001). Reduction of nocturnal urinary frequency (1.2±1.2 versus 0.7±0.9, p=0.02) and of effort urine loss (1.5±1.4 versus 0.6±0.8, p=0.001) was observed in the BF Group. CONCLUSION: The addition of BF to the PFMT for the treatment of SUI, applied according to the protocol described, improved PFM function, reduced urinary symptoms, and improved of the quality of life. Introdução Incontinência urinária é definida como a perda involuntária de urina. Dentre os sintomas mais comuns encontra-se a incontinência urinária de esforço (IUE), que consiste na perda involuntária de urina durante a tosse, espirro ou atividades esportivas1. A prevalência dos sintomas da IUE de qualquer intensidade é de aproximadamente 80% em mulheres entre 25 e 60 anos de idade2. Muitas dessas mulheres têm vida social e profissional ativa e, dessa forma, essa condição implica grande impacto na qualidade de vida, o que reduz a participação em atividades sociais e interfere no bem-estar psicossocial. Por esses fatores, o tratamento da IUE torna-se primordial3-5. A International Continence Society (ICS) reconhece os exercícios para fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico (MAP) como padrão-ouro ao tratamento da IUE6, com eficácia demonstrada em uma revisão sistemática7. Esses exercícios podem ser feitos por meio de contrações isoladas ou associadas ao biofeedback (BF), considerado um adjuvante ao treinamento. Essa técnica promove a facilitação do aprendizado da correta contração muscular, bem como é auxiliar na motivação do esforço da paciente durante o treinamento6,8. No entanto, aproximadamente 30% das mulheres não conseguem realizar a contração isolada dos MAP, mesmo após instruções verbais e escritas9. Com isso, acredita-se que os prováveis benefícios do uso do BF relacionam-se à aquisição da correta contração dos MAP, o que facilita a resposta fisiológica específica, e, por ser um motivador, pode melhorar a adesão da paciente aos programas de tratamento, uma vez que os efeitos desse tratamento são parcialmente dependentes da adesão10,11. Assim, o presente estudo tem por objetivo verificar o efeito da adição do BF ao treinamento dos MAP para o tratamento da IUE. Métodos Trata-se de estudo piloto prospectivo, randomizado e controlado, realizado no período de março de 2009 a julho 506 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):505-10 de 2010. Esse estudo foi desenvolvido no Ambulatório de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM. Obteve-se aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP – CEP nº 1966/09. Todas as participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, redigido conforme a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foram incluídas mulheres com história clínica de IUE sem deficiência esfincteriana, detectada pelo estudo urodinâmico e com capacidade de realizar a correta contração dos MAP. Os critérios de exclusão foram doenças neuromusculares, prolapso genital correspondente aos graus III e IV de acordo com a classificação da ICS1 e o uso de terapia hormonal. Inicialmente, foram realizados os procedimentos médicos de rotina (anamnese, exame físico geral, exame ginecológico e estudo urodinâmico). Em seguida, realizou-se o processo de avaliação fisioterapêutica para o recrutamento. Ao atenderem aos critérios de inclusão e exclusão, e aceitarem a participar deste estudo, deu-se início à randomização, com divisão em dois grupos. Para randomização, utilizou-se tábua de números randômicos gerados por computador12. Dessa forma, os sujeitos foram divididos em: Grupo Controle — neste, as pacientes não sofreram nenhuma intervenção médica ou fisioterapêutica; e Grupo BF — no qual as pacientes realizaram 12 sessões de treinamento dos MAP com BF. Ao término deste estudo, foram encaminhadas para tratamento as pacientes referentes ao Grupo Controle. As participantes de ambos os grupos foram desencorajadas a utilizar outras formas de tratamento durante o período da realização do estudo. Para as mulheres do Grupo BF, utilizou-se o protocolo de treinamento dos MAP, descrito previamente13. Essas mulheres foram incentivadas a realizar três séries de dez contrações lentas (fibras tônicas), com tempo de manutenção de seis a oito segundos em cada contração, seguido de um período de repouso de mesmo valor. Após cada contração sustentada, realizaram de três a quatro contrações rápidas (fibras fásicas) nas posições de decúbito dorsal e ortostática. As sessões ocorreram consecutivamente duas vezes na semana — o que totalizam 12 sessões. O Efeito da adição do biofeedback ao treinamento dos músculos do assoalho pélvico para tratamento da incontinência urinária de esforço tempo de duração de cada sessão foi de 30 a 40 minutos. Para o treinamento dos MAP, utilizou-se o equipamento de biofeedback, modelo Neurodyn Evolution®, da marca Ibramed. Uma sonda com balão inflável foi introduzida no canal vaginal, a fim de mensurar a pressão da contração muscular. O equipamento foi conectado ao computador, fornecendo feedback visual da contração dos MAP por meio de gráficos, em tempo real. Como parte das medidas de desfecho, mensurou-se a função dos MAP por meio de palpação bidigital. Considerou-se avaliação da função muscular o registro das seguintes variáveis: power (P), com a graduação da escala de Oxford; endurance muscular (E), correspondente à manutenção da contração muscular em segundos; e fast (F), determinado pelo número de contrações de fibras musculares rápidas. Referida avaliação foi adaptada do método PERFECT14, amplamente utilizado na literatura. Previamente à avaliação, todas as pacientes do grupo BF receberam orientações a respeito da localização e função dos MAP, e de como contraí-los adequadamente15,16, o mais forte e isoladamente possível, sem a ativação de outras musculaturas, como os glúteos, abdominais e adutores. Os procedimentos de avaliação foram explicados detalhadamente. Avaliou-se o número de perdas urinárias pela utilização de um diário miccional simplificado, no qual a paciente anotou, pelo período de sete dias, as frequências urinárias diurna e noturna, além do número de perdas urinárias. Para a análise do impacto da IUE na qualidade de vida, utilizou-se o King˙s Health Questionnaire (KHQ), validado no Brasil17. O KHQ é um questionário composto por 30 perguntas, arranjadas em nove domínios: percepção da saúde, impacto da incontinência, limitações nos desempenhos das tarefas, limitação física, limitação social, relacionamento pessoal, emoções, sono/energia e medidas de gravidade. Para todas as respostas são atribuídos valores numéricos, somados e avaliados isoladamente pelos domínios. O KHQ é pontuado em cada um de seus domínios, não havendo, portanto, escore geral. Os escores variam de 0 a 100, sendo que quanto maior a pontuação obtida, pior é a qualidade de vida relacionada àquele domínio17. O questionário foi originalmente padronizado para ser autoadministrado, porém, a aplicação foi feita em forma de entrevista e as perguntas foram verbalizadas ipsis litteris pelo avaliador. Foram realizadas em ambos os grupos duas avaliações, previamente ao início do tratamento e ao término do período experimental do estudo. Os dados foram descritos em médias e desvios padrão. Foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences), em sua versão 20.0, para a obtenção dos resultados. Para análise de homogeneidade e para verificar diferenças entre os grupos, utilizou-se o teste de Mann-Whitney. Para verificarmos possíveis diferenças entre os momentos de observação, utilizou-se o teste de Wilcoxon. Adotou-se o nível de significância de 0,05. Resultados Inicialmente, foram avaliadas 40 mulheres no estudo. Dessas, 37 atenderam aos critérios e foram randomizadas em Grupo Controle (n=19) e Grupo BF (n=18). No Grupo Controle, três mulheres desistiram do tratamento: duas devido à mudança de trabalho e a terceira porque optou por realizar tratamento cirúrgico. Já no Grupo BF, duas pacientes desistiram do tratamento: uma por mudança de trabalho e outra por problemas de saúde. Ao final foram analisadas 32 pacientes, sendo 16 no Grupo BF e 16 no Grupo Controle. Os grupos foram homogêneos no que se refere à idade, índice de massa corpórea, gestação, número de partos vaginais e estado hormonal (Tabela 1). A aderência das pacientes durante o período de tratamento no grupo de intervenção foi correspondente a 100%. Ao efetuar a comparação entre os grupos, observou-se diminuição significativa nos escores dos domínios avaliados pelo Kings Health Questionnaire (KHQ), exceto para o domínio saúde geral (Tabela 2). Tabela 1. Perfil epidemiológico das pacientes incluídas: critérios para comparação com Grupo Controle (homogeneidade entre os grupos) Variáveis Grupo Biofeedback Grupo Controle Valor p 58,1(±9,3) 58,3(±8,9) 0,80 Gestação 4,0(±2,8) 3,7(±2,4) 0,77 Parto 3,2(±2,6) 3,1(±2,5) 0,83 Menopausa 48,5(±4,1) 45,8(±7,1) 0,48 IMC 29,4(±6,4) 31,0(±6,7) 0,52 Idade IMC: índice de massa corpórea; Dados apresentados como média±desvio padrão. Valor p≤0,05 obtido pelo teste de Mann-Whitney. Tabela 2. Comparação entre os grupos quanto aos escores da qualidade de vida após o tratamento, segundo os domínios do Kings Health Questionnaire Variáveis Grupo Biofeedback Grupo Controle Valor p Saúde geral 32,8(±26,9) 48,4(±29,5) 0,13 Impacto da incontinência 25,0(±28,5) 64,5(±30,9) 0,001 Limitações nas atividades diárias 15,6(±28,8) 28,1(±21,7) 0,04 Limitações físicas 20,8(±30,7) 40,6(±22,7) 0,02 Limitações sociais 5,5(±10,7) 20,8(±18,0) 0,001 Relações pessoais 1,3(±4,8) 30,5(±36,1) 0,001 16,6(±25,0) 39,5(±25,6) 0,01 7,2(±21,9) 19,7(±26,6) 0,02 26,5(±24,7) 52,0(±15,9) 0,001 Emoções Sono/Disposição Medidas de gravidade Dados apresentados como média±desvio padrão. O valor p≤0,05 indica diferença estatística significante obtida pelo teste de Mann-Whitney. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):505-10 507 Fitz FF, Resende APM, Stüpp L, Costa TF, Sartori MGF, Girão MJBC, Castro RA Tabela 3. Avaliação dos sintomas urinários, por meio do diário miccional de sete dias, antes e após o tratamento no Grupo Biofeedback Antes do tratamento Após o tratamento Frequência urinária diurna 7,2(±2,0) 7,2(±1,7) 0,6 Frequência urinária noturna 1,2(±1,2) 0,7(±0,9) 0,02 Perda de urina aos esforços 1,5(±1,4) 0,6(±0,8) 0,001 Variáveis Valor p Dados apresentados como média±desvio padrão. O valor p≤0,05 indica diferença estatística significante obtida pelo teste de Wilcoxon. Em concordância, observou-se melhora da função dos MAP antes e após o tratamento para o Grupo BF. Os seguintes resultados foram observados: power (2,5±1,1 versus 4,3±0,8; p=0,001), endurance (2,9±1,6 versus 6,0±2,2; p<0,001) e fast (5,1±3,1 versus 9,3±1,9; p=0,001). Quando comparados os grupos, o Grupo BF destacou-se positivamente em comparação ao Grupo Controle: power (Grupo BF 4,3±0,8 versus Grupo Controle 2,5±0,9; p<0,001); endurance (Grupo BF 6,0±2,2 versus Grupo Controle 2,7±1,9; p<0,001) e fast (grupo BF 9,3±1,9 versus Grupo Controle 4,6±3,2; p<0,001). Na avaliação dos sintomas urinários, por meio do diário miccional, observou-se redução da frequência urinária noturna e da perda urinária aos esforços no Grupo BF (Tabela 3). Discussão O treinamento dos músculos do assoalho pélvico tem sido recomendado para o tratamento das disfunções do assoalho pélvico, com nível de evidência “A” para o tratamento da incontinência urinária18. Contudo, a adição do BF nos programas de reabilitação do assoalho pélvico é controversa. Uma meta-análise de 1999 buscou verificar se esse efeito adicional do BF sobre o tratamento da IUE foi avaliado, e concluiu que esse recurso é efetivo no fortalecimento dos MAP, principalmente por apresentar altas taxas de cura19. Por outro lado, relata-se que os diversos tipos de medidas de desfecho e as diferentes formas de aplicação da intervenção caracterizam evidente falta de padronização metodológica, o que dificulta a busca por evidências8. No presente estudo, analisou-se o efeito da adição do BF ao treinamento dos MAP para tratar a IUE. Os resultados mostram que a adição do BF ao treinamento dos MAP a curto prazo pode ser benéfico no alívio dos sintomas de mulheres com IUE. Esses resultados corroboram com diversos estudos publicados na literatura20-24. O sucesso da reeducação dos MAP, com ou sem o BF, pode ser explicado pelo aumento da ação reflexa das fibras musculares rápidas e pelo aumento da capacidade de ativação desses músculos. Para o desenvolvimento da força muscular é necessário um recrutamento mais efetivo 508 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):505-10 das unidades motoras25. A capacidade de efetuar a correta contração dos MAP é primordial para a realização do treinamento muscular, e o BF tem sido sugerido como uma técnica contribuidora para aquisição dessa habilidade23,6,11, bem como para a melhora do controle desses músculos26. Neste estudo, realizou-se a avaliação da função muscular do assoalho pélvico por meio da palpação bidigital, técnica validada e amplamente utilizada na literatura14,27,28. Previamente ao tratamento, observou-se uma função débil dos MAP de acordo com a escala de Oxford. Devida escala determina a função muscular adequada como grau cinco. No presente estudo, o tempo de tratamento foi a curto prazo e, ao final, observou-se força muscular de graduação satisfatória. Em concordância, estudos relatam melhora da função dos MAP nas duas semanas iniciais de tratamento25,29. Quando comparados ambos os grupos em relação à função muscular, encontrou-se diferença positiva para o grupo de intervenção. Esse fato reforça que a reabilitação dos MAP com BF é mais eficaz que o não tratamento em mulheres com IUE. Em concordância com esses resultados, observou-se melhora da qualidade de vida, avaliada pelo questionário KHQ, para o Grupo BF. Apenas no domínio referente à percepção da saúde geral, não se encontrou alteração. Recente estudo corrobora com estes achados. Para os autores, isto se deve ao fato de esse domínio avaliar uma variedade de aspectos da saúde, o que pode não estar relacionado especificamente com a incontinência urinária30. A melhora da função dos músculos do assoalho pélvico e da qualidade de vida somou-se à otimização da incontinência urinária. Observamos no Grupo BF a redução da frequência urinária noturna e do número de perdas urinárias, ambos os sintomas avaliados pelo diário miccional. Este tem sido considerado uma ferramenta importante na mensuração objetiva da perda urinária, com boa correlação com o relato da paciente a respeito de seus sintomas31. Outro fator a ser considerado nos programas de exercícios é a adesão correspondente ao tratamento. Neste estudo, o índice foi de 100%, o que corrobora com os resultados positivos encontrados nos desfechos clínicos avaliados. A aceitabilidade ao tratamento é de extrema importância, visto que adesão e efeito caminham para a mesma direção, como o demonstrado em diversos estudos32-34. A eficácia dos exercícios terapêuticos só pode ser estabelecida quando os pacientes aderem ao regime de exercícios35. Essa aderência é mais bem verificada quando os pacientes não percebem barreiras, são amplamente instruídos e recebem um feedback positivo10. Como mencionado anteriormente, o BF é utilizado como uma técnica que fornece motivação aos pacientes para realizar os exercícios de treinamento Efeito da adição do biofeedback ao treinamento dos músculos do assoalho pélvico para tratamento da incontinência urinária de esforço dos MAP, funcionando como reforço positivo da correta contração dos MAP21. Pode-se concluir que a adição do BF ao TMAP para o tratamento da incontinência urinária de esforço, aplicado de acordo com o protocolo descrito, é capaz de contribuir para a melhora da função dos MAP, bem como para a redução dos sintomas urinários e para a melhora da qualidade de vida. Referências 1. Haylen BT, de Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Int Urogynecol J. 2010;21(1):5-26. 2. Hannestad YS, Rortveit G, Sandvik H, Hunskaar S. A communitybased epidemiological survey of female urinary incontinence: the Norwegian EPICONT Study. Epidemiology of Incontinence in the County of Nord-Trøndelag. J Clin Epidemiol. 2000;53(11):1150-7. 3. Holroyd-Leduc JM, Straus SE. Management of urinary incontinence in women: scientific review. JAMA. 2004;291(8):986-95. 4. 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Caio Augusto Hartman1 Cássia Raquel Juliato1 Luis Otávio Sarian1 Amilcar Barreta1 Maria Carolina Szymanski de Toledo1 Denise da Rocha Pitta2 Sophie Derchain1 Inclusão dos sintomas na discriminação entre tumores anexiais benignos e malignos Inclusion of symptoms in the discrimination between benign and malignant adnexal masses Artigo Original Resumo Palavras-chave Neoplasias ovarianas/diagnóstico Sintomas Keywords Ovarian neoplasms/diagnosis Symptoms OBJETIVO: Avaliar a associação entre sintomas clínicos e malignidade em mulheres com tumores anexiais, submetidas à cirurgia. MÉTODOS: Estudo de corte transversal com coleta prospectiva, no qual foram incluídas 105 mulheres, atendidas em um hospital de ensino do Estado de São Paulo de novembro de 2009 a março de 2011, devido ao tumor anexial e à indicação de laparotomia/laparoscopia. Todas foram submetidas a uma entrevista estruturada sobre a ocorrência de 18 sintomas associados ao câncer de ovário. A entrevista incluiu gravidade, frequência e duração dos sintomas nos 12 meses prévios à primeira consulta. Também foram avaliados os níveis de CA125 e a classificação ultrassonográfica. Foi calculada para cada sintoma a razão de prevalência com intervalo de confiança de 95%. O padrão-ouro foi o resultado do exame anatomopatológico das peças cirúrgicas. RESULTADOS: Das 105 mulheres incluídas, 75 (71,4%) apresentaram tumores benignos e 30 (28,6%), malignos. Em mulheres com tumores malignos, os sintomas foram mais frequentes, dentre eles: inchaço abdominal (70%), aumento do volume abdominal (67%), dor pélvica (60%), irregularidade menstrual (60%), empachamento (53%), dor abdominal (50%), dor nas costas (50%) e saciedade precoce (50%). As mulheres com tumores benignos apresentaram essencialmente dor pélvica (61%), irregularidade menstrual (61%) e inchaço abdominal (47%). Os sintomas significativamente associados com malignidade foram: sensação de inchaço abdominal (RP=2,0; IC95% 1,01–3,94), aumento objetivo do volume abdominal (RP=2,16; IC95% 1,12–4,16), dor nas costas (RP=1,97; IC95% 1,09–3,55), empachamento (RP=2,25; IC95% 1,25–4,07), saciedade precoce (RP=2,06; IC95% 1,14–3,70), massa abdominal (RP=1,83; IC95% 1,01–3,30), dificuldade para deglutir (RP=1,98; IC95% 1,10–3,56) e sangramento pós-menopausa (RP=2,91; IC95% 1,55–5,44). A presença de dor pélvica, constipação, dispareunia, fadiga, dor abdominal, náusea e/ou vômito, irregularidade menstrual, perda de peso, diarreia e sinusorragia foram semelhantes nos dois grupos. CONCLUSÕES: Em mulheres com tumores anexiais com indicação cirúrgica, a avaliação pré-operatória dos sintomas pode auxiliar na predição da malignidade. Abstract PURPOSE: To assess the association between clinical symptoms and the diagnosis of malignancy in women with adnexal tumors who underwent surgery. METHODS: Cross-sectional study, in which 105 women with adnexal tumors and indication for laparotomy/laparoscopy were included. All women were treated at a teaching hospital in the state of São Paulo between November 2009 and March 2011. All patients underwent a structured interview about the occurrence of 18 symptoms associated with ovarian cancer. The interview included the severity, frequency, and duration of these symptoms in the 12 months prior to the first medical consultation. The CA125 levels and the ultrasound classification of the tumors were also evaluated. We calculated for each symptom the prevalence ratio with 95% confidence intervals. The golden-standard was the result of the pathological examination of the surgical specimens. RESULTS: Of the 105 women included, 75 (71.4%) had benign tumors and 30 (28.6%) had malignant ones. In women with malignant tumors, the most frequent symptoms were: abdominal bloating (70%), increased abdominal size (67%), pelvic pain (60%), menstrual irregularity (60%), swelling (53%), abdominal pain (50%), backache (50%), and early repletion (50%). Women with benign tumors showed essentially pelvic pain (61%), menstrual irregularities (61%), and Correspondência Cássia Raquel Juliato Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas Rua Alexander Fleming, 101 – Cidade Universitária “Zeferino Vaz” – Barão Geraldo Caixa Postal 6111 CEP: 13083-970 Campinas (SP), Brasil Recebido 15/08/2012 Aceito com modificações 17/09/2012 Trabalho realizado no Hospital da Mulher Professor Doutor José Aristodemo Pinotti, Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil. 1 Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil. 2 Hospital da Mulher Professor Doutor José Aristodemo Pinotti, Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil. Conflito de interesses: não há. Hartman CA, Juliato CR, Sarian LO, Barreta A, Toledo MCS, Pitta DR, Derchain S abdominal swelling (47%). Symptoms significantly associated with malignancy were: bloating (PR=2.0; 95%CI 1.01–3.94), increased abdominal size (PR=2.16; 95%CI 1.12–4.16), backache (RP=1.97; 95%CI 1.09–3.55), swelling (PR=2.25; 95%CI 1.25–4.07), early repletion (RP=2.06; 95%CI 1.14–3.70), abdominal mass (PR=1.83; 95%CI 1.01–3.30), eating difficulties (PR=1.98; 95%CI 1.10–3.56), and postmenopausal bleeding (PR=2.91; 95%CI 1.55–5.44). The presence of pelvic pain, constipation, dyspareunia, fatigue, abdominal pain, nausea or vomiting, menstrual irregularity, weight loss, diarrhea, and bleeding after intercourse was similar in both groups. CONCLUSIONS: In women with adnexal tumors including indication of surgical treatment, the preoperative evaluation of symptoms may help predicting malignancy. Introdução Anualmente, cerca de 255.000 casos novos de câncer de ovário são diagnosticados no mundo, o que o coloca na sétima posição entre as neoplasias malignas mais detectadas nas mulheres. Sua letalidade, no entanto, é proporcionalmente a mais alta dentre os cânceres ginecológicos, causando aproximadamente 140.000 mortes, por ano1. A incidência do câncer de ovário é mais elevada nos países industrializados, embora naqueles em desenvolvimento esteja concentrado o maior número de casos (96.700 versus 107.500). Na América Latina, a incidência de 8/100.000 mulheres aproxima-se daquela dos países desenvolvidos, que é de 10/100.000 mulheres. Estimam-se 6.190 casos novos de câncer do ovário para o Brasil em 2012, com um risco estimado de 6 a cada 100.000. Sem considerar os tumores da pele não melanoma, este é o sétimo tipo mais incidente na maioria das regiões, com um risco estimado de: 8/100.000 mulheres no Sul, 7/100.000 no Sudeste, 6/100.000 no Centro-Oeste e 4/100.000 no Nordeste, enquanto, na região Norte (2/100.000), é o oitavo mais frequente2. Devido à dificuldade de diagnóstico pré-operatório de malignidade, uma em cada dez mulheres será submetida à cirurgia por um tumor anexial durante sua vida. Entre elas, em apenas 17% haverá um tumor anexial maligno3. Atualmente, o padrão-ouro para diferenciação entre tumores anexiais benignos e malignos é a determinação do tipo histológico no exame microscópico em parafina. A ultrassonografia e a dosagem sérica dos CA125 possuem alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico pré-operatório de tumores possivelmente neoplásicos4,5. Entretanto, os sintomas que poderiam auxiliar na seleção de mulheres com maior risco de malignidade têm sido pouco valorizados. Devido à posição anatômica do ovário, solto e profundo na pelve, supunha-se que o aumento de seu volume não causaria sintomas nas fases iniciais, ou seja, antes que atingisse um grande volume ou houvesse focos de disseminação. Entretanto, o conceito do ‘matador silencioso’ tem sido contestado e, ao que parece, deveria ser descartado6, pois mulheres com câncer de ovário, em qualquer estádio, apresentam sintomas, até mesmo 36 meses antes do diagnóstico7,8. Esses sintomas são geralmente subestimados 512 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):511-7 pelas mulheres e por seus médicos, por serem inespecíficos e presentes em muitas outras condições benignas. No entanto, ao se examinar uma paciente com mais de 50 anos, especialmente na pós-menopausa, que se queixe repetidamente de constante distensão abdominal, mudanças nos hábitos intestinais ou urinários, dor abdominal ou pélvica ou aumento da circunferência abdominal para a qual seja afastada condição aguda, deve-se considerar câncer de ovário entre os diagnósticos diferenciais. É importante entender que tais sintomas são vagos e ainda não foram totalmente compreendidos. Alguns grupos de pesquisadores estão atualmente conduzindo estudos que visam estabelecer quais seriam os sintomas específicos do câncer ovariano inicial e qual seria a melhor estratégia para diminuir atrasos no diagnóstico. Até que se demonstre o contrário, a triagem de pacientes sintomáticas parece ser a maneira mais promissora de se detectar o câncer de ovário, enquanto a doença tenha um volume menor e de mais fácil controle terapêutico6,8-10. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a associação entre os sintomas clínicos e a malignidade em mulheres brasileiras com tumores anexiais, que foram submetidas à cirurgia. Métodos Este foi um estudo prospectivo, tipo corte transversal, realizado no Hospital da Mulher Professor Doutor José Aristodemo Pinotti, Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre novembro de 2009 a março de 2011. Foram convidadas para participar do estudo 210 mulheres encaminhadas ao Ambulatório de Oncologia Pélvica-Ovário do CAISM pela presença de tumoração anexial, que foi previamente identificada em exame clínico e/ou de imagem, com indicação de cirurgia para diagnóstico e/ou tratamento. Das 210 mulheres selecionadas, foram excluídas 105: 32 por não comparecerem para realizar o exame de ultrassonografia do protocolo de pesquisa; 28 por não apresentarem tumor anexial detectável ao exame realizado no CAISM; 22 por não apresentarem indicação cirúrgica; 13 por perda de seguimento após exame inicial; 5 por óbito antes da cirurgia; 2 por apresentarem tumores não ginecológicos; Inclusão dos sintomas na discriminação entre tumores anexiais benignos e malignos e 3 por apresentarem diagnóstico histopatológico prévio (cirurgia ou biópsia realizada em outra instituição). Dados clínicos e entrevista Após entrevista inicial e esclarecimentos quanto aos métodos e quanto à intenção da pesquisa, as mulheres incluídas no estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp (processo 1092/2009). Após admissão na pesquisa, as pacientes foram submetidas a uma entrevista estruturada sobre a ocorrência de 18 sintomas associados ao câncer de ovário nos 12 meses prévios à consulta. Foram avaliadas a presença e a intensidade de: dor pélvica, sensação de inchaço abdominal, aumento objetivo do volume abdominal, constipação, dispareunia, fadiga, dor abdominal, náusea e/ou vômito, irregularidade menstrual, dor nas costas, empachamento, saciedade precoce, perda de peso, massa abdominal, dificuldade para deglutir, diarreia, sinusorragia e sangramento pós-menopausa. Para cada sintoma, avaliou-se: a severidade, categorizada em sem sintoma (0), mínima (1) à severa (5); a frequência, por número de dias no mês, <1, 1–2, 3–6, 7–12, 13–19, >20 dias; e duração, por número de meses dos últimos 12 meses anteriores à entrevista, <1, 1–2, 3–4, 5–6, 7–9, 10–12, >12 meses11. Também foram avaliados: idade em anos a contar da data de nascimento referida pela paciente; índice de massa corpórea (IMC), calculado como relação da medida do peso com a medida da altura elevada ao quadrado; raça; uso atual ou anterior de contraceptivo hormonal; e estado menstrual (classificado em menarca ou menopausa). Classificação ultrassonográfica Foi utilizada a classificação ultrassonográfica baseada nos critérios de Timmerman et al.12 para agrupar as lesões anexiais em ultrassonograficamente malignas ou benignas. Os cinco critérios malignos, denominados ‘M’, incluíram: tumor sólido irregular (M1); presença de ascite (M2); presença de pelo menos quatro projeções papilíferas (M3); tumor irregular multilocular sólido com medida maior ou igual a 100 mm (M4) e alto fluxo ao Doppler – índice de cor 4 (M5). Os outros cinco critérios benignos, denominados ‘B’, incluíram: cisto unilocular (B1); presença de componentes sólidos menores que 7 mm de diâmetro (B2); presença de sombra acústica (B3); tumor multiloculado com parede lisa medindo menos de 100 mm em seu maior diâmetro (B4) e ausência de fluxo ao Doppler – índice de cor 1 (B5). Na presença de um ou mais critérios M e na ausência dos critérios B, a tumoração é classificada como maligna. Quando um ou mais critérios B estão presentes e na ausência de critérios M, a tumoração é classificada como benigna. Quando ambos os critérios B e M estão presentes ou quando nenhum deles está presente, a massa é considerada como não classificável. Nestes casos, a tumoração foi classificada como subjetivamente benigna ou maligna por um examinador experiente. Dosagem do CA125 A análise deste marcador foi realizada por quimioluminescência de fase sólida, em sistema automatizado, utilizando-se o teste OM-MA (Siemens Medical Solutions Diagnostics, Tarrytown, EUA), de acordo com as instruções, os reagentes e os equipamentos fornecidos pelo fabricante. Os valores foram expressos em unidades por mililitro (U/mL). Os valores de CA125 foram posteriormente dicotomizados em positivo para neoplasia ou negativo, conforme ponto de corte determinado por curva ROC em tal população (37,4 U/mL). Cirurgia e análise patológica As cirurgias para diagnóstico e/ou tratamento foram realizadas no CAISM, e as técnicas e procedimentos cirúrgicos foram escolhidos e procedidos conforme indicação médica. A média do tempo entre o exame ultrassonográfico e a cirurgia foi de 64,3 dias, variando de menos de 24 horas nos casos de procedimentos de emergência até o máximo de 112 dias. O padrão-ouro foi o diagnóstico histopatológico das peças cirúrgicas, realizados no Departamento de Anatomia Patológica da FCM da Unicamp, seguindo as normas da classificação internacional dos tumores ovarianos da Organização Mundial da Saúde (OMS)13. Para efeitos de análise estatística, os tumores tipo borderline foram classificados como malignos. Análise estatística Os dados foram digitados em uma planilha do Microsoft Excel (Microsoft Corporation, Redmond, WA, USA) e analisados com o software R Environment for statistical computing14. Foram comparadas as características clínicas dos grupos histologicamente classificados como benigno e maligno, usando o teste do χ2 para variáveis categóricas e o de Kruskal-Wallis para as contínuas. Para calcular a proporção de tumores corretamente classificados pela ultrassonografia em benignos ou malignos, comparou-se o tipo histológico do tumor com a classificação ultrassonográfica. Foi criada uma curva do tipo Receiver Operator Characteristics (ROC) para determinar o ponto com a melhor sensibilidade e a melhor especificidade do CA125 na diferenciação dos tumores histologicamente benignos dos malignos. Os níveis de CA125 foram categorizados em negativos (<37,4 U/mL) ou positivos para neoplasia (≥37,4 U/mL). Calculou-se a razão de prevalência (RP) com seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95% para os sintomas presentes nas mulheres com tumores benignos e malignos. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):511-7 513 Hartman CA, Juliato CR, Sarian LO, Barreta A, Toledo MCS, Pitta DR, Derchain S Resultados Entre as 75 mulheres com tumores benignos, os mais frequentes foram os teratomas presentes em 21 delas (28%), seguido pelo fibroma em 15 (20%) e cistoadenomas mucinosos ou serosos em 13 (17%). Um total de 13 mulheres (17%) apresentou endometriomas. Entre os 30 tumores malignos, a linhagem histológica epitelial foi a mais frequente com 16 (53,3%) carcinomas (Tabela 1). Quanto ao estádio clínico patológico, 17 (57%) encontravam-se no I, 3 (10%) no II, 7 (23%) no III e 4 (13%) no IV (dados não apresentados em tabelas). A média de idade das 75 mulheres com tumores benignos incluídas neste estudo foi de 46,8 anos (±15,0) e das 30 com malignos, 54,2 (±15,1, p=0,02). A proporção de pacientes na pós-menopausa no grupo dos tumores benignos foi de 38%, sendo mais elevada no grupo dos tumores malignos (53%; p=0,33). O IMC, a raça e o uso de contraceptivos hormonais fizeram distribuição similar entre os grupos. Os níveis de CA125 foram significativamente mais elevados em mulheres com tumores malignos (p<0,001). Observou-se que entre as mulheres com tumores malignos a ultrassonografia classificou adequadamente 25 das 30 (83,3%) e entre os benignos, 64 de 75 (85,3%), como observado na Tabela 2. Em mulheres com tumores malignos, os sintomas foram mais frequentes e entre eles destacam-se inchaço abdominal (70%), aumento do volume abdominal (67%), dor pélvica (60%), irregularidade menstrual (60%), empachamento (53%), dor abdominal (50%), dor nas costas (50%) e saciedade precoce (50%). As mulheres com os benignos apresentaram essencialmente dor pélvica (61%), irregularidade menstrual (61%) e sensação de inchaço abdominal (47%). Os sintomas significativamente associados com malignidade foram: inchaço abdominal (RP=2,0; IC95% 1,01–3,94); aumento objetivo do volume abdominal (RP=2,1; IC95% 1,12–4,16); dor nas costas (RP=1,9; IC95% 1,09–3,55); empachamento (RP=2,2; IC95% 1,25–4,07); saciedade precoce (RP=2,0; IC95% 1,14–3,70); massa abdominal (RP=1,8; IC95% 1,01–3,30); dificuldade para deglutir (RP=1,9; IC95% 1,10–3,5) e sangramento pós-menopausa (RP=2,9; IC95% 1,55–5,44). A frequência de dor pélvica, constipação, dispareunia, fadiga, dor abdominal, náusea e/ou vômito, irregularidade menstrual, perda de peso, diarreia e sinusorragia foram semelhantes em ambos os grupos (Tabela 3). Discussão Entre as 105 mulheres com tumores anexiais avaliadas neste estudo, observou-se que os sintomas foram mais frequentes naquelas com tumores malignos, sendo que todas aquelas com tumores malignos referiram algum tipo de sintoma. Pessoas do sexo feminino com câncer de ovário frequentemente têm múltiplos sintomas, sendo que, em geral, muitos não são ginecológicos. Entrevistando 1.725 mulheres com câncer de ovário dos Estados Unidos e Canadá, Goff et al.15 observaram que 95% das mulheres referiam ter tido algum sintoma de três a seis meses antes de procurarem um médico. Segundo os autores, o estádio da doença não se relacionou com a prevalência dos sintomas. Nesse estudo, os sintomas mais comuns foram: aumento do volume (77%), gastrintestinal (70%), dor (58%), perda de peso (50%), urinários (34%) e pélvicos (26%)15. É importante reiterar que tanto as mulheres quanto os médicos não valorizam tais sintomas, o que contribui para o atraso no diagnóstico. Os médicos frequentemente diagnosticam as mulheres com síndrome do colo irritável, estresse, gastrite ou depressão, meses antes de detectar o câncer de ovário8. A subvalorização dos sintomas pelas mulheres e pelos médicos provavelmente é parcialmente Tabela 1. Distribuição das 105 mulheres segundo o diagnóstico histológico Doença benigna n % Doença maligna n % Teratoma 21 28 Adenocarcinoma seroso 9 30 Fibroma 15 20 Adenocarcinoma endometrioide 5 17 Cistoadenoma mucinoso 8 11 Adenocarcinoma mucinoso 2 7 Cistoadenoma seroso 5 7 Tumor de células da granulosa 5 17 Tumor de Brenner 2 <3 Tumor do saco vitelínico 1 <4 Cistoadenofibroma 2 <3 Carcinossarcoma 1 <4 Fibrotecoma 1 <1 Tumores ovarianos mistos 1 <4 13 17 Borderline seroso 2 7 Edema ovariano maciço 2 <3 Borderline mucinoso 2 7 Gestação tubária 2 <3 Metástase 2 7 Hidrossalpinge 2 <3 Cistos funcionais 2 Endometrioma Total 514 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):511-7 <3 75 30 Inclusão dos sintomas na discriminação entre tumores anexiais benignos e malignos Tabela 2. Distribuição das 105 mulheres segundo as características clínicas e o diagnóstico histológico Características clínicas Benigno n Média de idade (DP) Maligno % n 46,8±15 % 54,2±15,1 0,02 Estado menopausal 0,3 Pré-menopausa 38 51 11 37 Pós-menopausa 28 38 16 53 8 11 3 10 Histerectomia Ignorado 1 0 Raça 1,0000 Branca 54 78 22 82 Negra/Parda 14 20 5 18 Ignorada 7 3 Índice de massa corpórea (kg/m2) <18,5 0,9 2 3 0 0 Entre 18,5 e 24,9 25 33 11 37 Entre 25 e 29,9 24 32 8 27 Entre 30 e 34,9 19 25 8 27 5 7 3 10 Sim 18 31 7 30 Não 40 69 16 70 Ignorado 17 ≥35 Valor p Contraceptivo hormonal atual ou anterior 0,9 7 CA125 U/mL Média (DP) 27,5±61,5 336,8±629,9 <0,001** Negativo (<37,4) 65 88,0 9 31,0 Positivo (≥37,4) 9 12,0 20 69,0 Ignorado 1 <0,001 1 Classificação ultrassonográfica Benigno 64 85,3 5 16,7 Maligno 11 14,7 25 83,3 Total 75 100 30 <0,001 100 *p: nível de significância; **Kruskal-Wallis; DP: desvio padrão. responsável pelos diagnósticos em estádios mais avançados. O rastreamento do câncer de ovário não é recomendado para mulheres assintomáticas sem história familiar de câncer de mama ou ovário ou sem mutação dos genes BRCA1 e BRCA2. Entretanto, recentemente, o American College of Obstetrics and Gynecology recomenda que sejam oferecidos exame pélvico, dosagem sérica de CA125 e ultrassonografia transvaginal para mulheres com sintomas compatíveis com câncer de ovário16. Na presente casuística, mais da metade das mulheres com câncer foi diagnosticada em estádio I. Porém, elas foram encaminhadas por achado acidental de tumor anexial pela ultrassonografia, e não pelos seus sintomas. A média de idade das pacientes com tumores malignos foi superior àquela das mulheres com tumores benignos, assim como a proporção de mulheres na pós-menopausa, dados que são confirmados pela literatura17. Segundo estatísticas americanas, 80% dos diagnósticos do câncer de ovário são realizados em mulheres com mais de 45 anos, com idade média de 6318. Neste estudo, seguiu-se a classificação ultrassonográfica proposta por Timmerman et al.12, que preconiza a utilização de critérios bem definidos, os quais permitam criar regras simples e facilmente reprodutíveis em unidades de ultrassonografia. Seguindo essas regras simples, mais de 80% dos tumores benignos e malignos foram corretamente diagnosticados. Já o CA125 esteve aumentado em menos de 70% das mulheres com neoplasia maligna de ovário. Embora tal marcador seja útil para avaliação prognóstica de pacientes com carcinoma, submetidas à quimioterapia, seu papel na diferenciação das massas anexiais entre tumores benignos e malignos é amplamente questionado4. Atualmente, tem-se tentado associar determinados sintomas relacionados ao câncer de ovário com os níveis de CA125 e outros marcadores na predição de malignidade. Andersen et al.9, num estudo prospectivo comparando 74 mulheres com câncer de ovário e 137 saudáveis, concluíram que o CA125 isoladamente teve uma sensibilidade de 81,1% para detecção de neoplasia maligna e, quando Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):511-7 515 Hartman CA, Juliato CR, Sarian LO, Barreta A, Toledo MCS, Pitta DR, Derchain S Tabela 3. Distribuição das 105 mulheres com câncer comparadas com aquelas com tumores benignos segundo os sintomas Diagnóstico histológico Benigno (n=75) Maligno (n=30) n (%) n (%) Dor pélvica 45 (61) Inchaço abdominal 35 (47) Aumento do volume abdominal Sintomas RP* IC95%* 18 (60) 0,98 0,53–1,81 21 (70) 2,00 1,01–3,94 30 (40) 20 (67) 2,16 1,12–4,16 Constipação 28 (38) 11 (37) 0,96 0,52–1,81 Dispareunia 27 (41) 8 (38) 0,90 0,42–1,93 Fadiga 27 (36) 12 (41) 1,16 0,62–2,16 Dor abdominal 24 (32) 15 (50) 1,67 0,92–3,02 Náusea e/ou vômito 22 (30) 12 (40) 1,37 0,75–2,51 Irregularidade menstrual 22 (61) 6 (60) 0,96 0,32–2,95 Dor nas costas 20 (27) 15 (50) 1,97 1,09–3,55 Empachamento 19 (26) 16 (53) 2,25 1,25–4,07 Saciedade precoce 19 (26) 15 (50) 2,06 1,14–3,70 Perda de peso 14 (19) 4 (13) 0,74 0,29–1,85 Massa abdominal 14 (19) 11 (37) 1,83 1,01–3,30 Dificuldade para deglutir 11 (15) 10 (33) 1,98 1,10–3,56 Diarreia 6 (8) 4 (13) 1,43 0,63–3,27 Sinusorragia 6 (9) 2 (9) 1,00 0,28–3,53 Sangramento pós-menopausa 3 (8) 8 (42) 2,91 1,55–5,44 *RP: razão de prevalência; IC95%: intervalo de confiança de 95%. associado a um índice de sintoma, houve um aumento para 91,9%. Goff et al.11 caracterizaram os sintomas relevantes como aqueles que aparecem mais de 12 vezes por mês há menos de um ano. A mulher com tumor anexial é frequentemente um grande desafio para o ginecologista. Tumores anexiais benignos podem ser tratados com segurança por cistectomia, ooforectomia ou anexectomia, sem outras intervenções, mas tumores malignos demandam uma abordagem muito mais complexa19. Segundo a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), o carcinoma restrito ao ovário deve ser tratado e estadiado adequadamente20. Nos casos de carcinoma avançado, faz-se necessária a citorredução. Quando comparados os resultados do tratamento provido por ginecologistas gerais frente àquele realizado por ginecologistas especializados em tratar câncer ginecológico, concluiu-se que tanto o estadiamento quanto a citorredução mostram-se mais adequados quando a cirurgia é realizada por especialistas em câncer ginecológico, com um aumento de até oito meses na sobrevida global21. Em conclusão, embora os sintomas não sejam específicos de malignidade em mulheres com tumores anexiais, sua investigação sistematizada e cuidadosa pode auxiliar o ginecologista a discriminar mulheres de maior risco de câncer de ovário. Muitos estudos referentes a sintomas associados ao câncer de ovário têm sido divulgados na ultima década, e atualmente já não se pode considerar o mesmo como uma doença assintomática9-11,15. Os médicos, em geral, e as mulheres devem estar atentos a tais sintomas de forma a evitar atrasos no diagnóstico. Referências 1. Jemal A, Bray F, Center MM, Ferlay J, Ward E, Forman D. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):511-7 517 Juraci Almeida Cesar1 Gabriela Breitembach dos Santos2 Andrea Tomais Sutil2 Carolina Fischer Cunha2 Samuel de Carvalho Dumith1 Citopatológico de colo uterino entre gestantes no Sul do Brasil: um estudo transversal de base populacional Pap smears among pregnant women in Southern Brazil: a representative cross-sectional survey Artigo Original Resumo Palavras-chave Gestantes Esfregaço vaginal Fatores de risco Neoplasias do colo do útero Citodiagnóstico Programas de rastreamento Cobertura de serviços de saúde Keywords Pregnant women Vaginal smears Risk factors Uterine cervical neoplasms Cytodiagnosis Mass screening Health services coverage OBJETIVO: Determinar a prevalência e identificar fatores associados ao não rastreamento voluntário para citopatológico (CP) de colo uterino entre puérperas em Rio Grande (RS). MÉTODOS: Entrevistadores previamente treinados aplicaram questionário padronizado, ainda na maternidade, em busca de informações sobre características demográficas da gestante, nível socioeconômico da família e tipo de assistência recebida durante o pré-natal para todas aquelas residentes nesse município que tiveram filhos entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2010. Foram utilizados o teste do χ2 para comparar proporções e a regressão de Poisson com ajuste robusto da variância na análise multivariável. RESULTADOS: Dentre as 2.288 entrevistadas, 33% não se submeteram ao CP de colo uterino. Destas, dois terços disseram desconhecer a necessidade de realizá-lo, 18% não fizeram este exame por medo ou vergonha e as demais por outras razões. Após ajuste para diversos fatores de confusão, as maiores razões de prevalência (RP) para não buscar por CP ocorreram entre aquelas de menor idade (RP=1,5; IC95% 1,25–1,80) e escolaridade (RP=1,5; IC95% 1,12–2,12), que viviam sem companheiro (RP=1,4; IC95% 1,24–1,62), fumantes (RP=1,2; IC95% 1,07–1,39), que não planejaram a gravidez (RP=1,3; IC95% 1,21–1,61), que completaram menos de seis consultas durante pré-natal (RP=1,4; IC95% 1,32–1,69) e usuárias de contraceptivo oral (RP=1,2; IC95% 1,04–1,38). CONCLUSÕES: Quanto maior o risco para câncer de colo uterino, menor a probabilidade de a gestante se submeter ao CP de colo uterino. Isso, certamente, tem contribuído para o aumento da morbimortalidade por esta doença nesta localidade. Abstract PURPOSE: To determine the prevalence and risk factors associated with failure of voluntary screening for cervical cancer during the gestational period in Rio Grande, Rio Grande do Sul State, Southern Brazil. METHODS: Previously trained interviewers applied a standardized questionnaire in the maternity to all mothers from this municipality who had delivered from January 1st to December 31st 2010 to obtain information about the demographic characteristics of the pregnant women, family socioeconomic status, and prenatal care received. The χ2 test was used to compare proportions and Poisson regression with robust adjustment of variance was used in the multivariate analysis. RESULTS: Among the 2,288 respondents, 33% were not submitted to the Pap smear during pregnancy. Two thirds of these women stated that they were not aware of the need to perform it, 18% were not screened out of fear or shame, and the rest for other reasons. After adjustment, the highest prevalence ratios (PR) for noncompliance with the Pap smear occurred among young women (PR=1.5; 95%CI 1.25–1.80), with lower educational level (PR=1.5; 95%CI 1.12–2.12), who were living without a partner (PR=1.4; 95%CI 1.24–1.62), smokers (PR=1.2; 95%CI 1.07–1.39), who did not plan the current pregnancy (PR=1.3; 95%CI 1,21–1.61), who had attended less than six medical visits during the prenatal period (PR=1.4; 95%CI 1.32–1.69) and among users of oral contraceptives (PR=1.2; 95%CI 1.04–1.38). CONCLUSIONS: The higher the risk for uterine cervical cancer, the less likely a pregnant woman is to undergo a Pap smear. This definitely contributed to the increased morbidity and mortality from this disease in this setting. Correspondência Juraci Almeida Cesar Rua General Osório, s/nº, 4º Andar – Campus Saúde Área Acadêmica Prof. Newton Azevedo CEP: 96201-900 Rio Grande (RS), Brasil Recebido 11/06/2012 Aceito com modificações 27/09/2012 Trabalho realizado na Divisão de População & Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande (RS), Brasil. 1 Divisão de População & Saúde da Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande (RS), Brasil. 2 Curso de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande (RS), Brasil. Citopatológico de colo uterino entre gestantes no Sul do Brasil: um estudo transversal de base populacional Introdução O câncer de colo uterino é a segunda neoplasia mais comum entre mulheres no Brasil. Estima-se, para 2012, a ocorrência de 17,5 mil casos. Isso representa cerca de 10% de todos os tipos de cânceres no sexo feminino e uma taxa de incidência de 18 casos para cada 100 mil mulheres1. Essa neoplasia tem bom prognóstico, desde que diagnosticada e tratada precocemente1,2. A detecção dessa doença faz parte das ações de prevenção secundária, cuja principal estratégia é o rastreamento entre mulheres sexualmente ativas por meio do exame citopatológico (CP) do colo uterino3. Dentre os fatores associados à ocorrência de câncer de colo uterino já definidos destacam-se: início precoce de atividade sexual; idade mais avançada; baixo nível socioeconômico; múltiplos parceiros; tabagismo; e, principalmente, infecção por papilomavírus humano (HPV)1,4-9. A avaliação do câncer de colo uterino em grupos populacionais, como por exemplo, de gestantes, permite identificar o perfil daquelas submetidas (ou não) a esse tipo de exame, independentemente de tê-lo feito no sistema público ou no sistema privado. Esta informação é fundamental para estimar a cobertura e o foco dos programas em andamento, definir metas a ser alcançadas e, ao fazê-lo, priorizar aquelas com maior risco4,10, permitindo um planejamento mais realístico das necessidades em saúde, potencializando o impacto das ações a ser desenvolvidas e otimizando o uso de recursos em saúde10. Considerando a ocorrência quase universal (99,5%) de parto hospitalar no município de Rio Grande (RS), a facilidade em identificar e abordar gestantes nas maternidades, a importância desse grupo populacional na utilização de serviços de saúde e na determinação da carga de doenças na população, é que se decidiu pela realização do presente estudo, o qual teve por objetivo medir a prevalência e identificar fatores associados a não submissão ao exame citopatológico de colo uterino entre gestantes residentes em Rio Grande. Métodos Foram incluídas neste estudo todas as puérperas cujo filho nasceu com peso igual ou superior a 500 gramas ou pelo menos 20 semanas de idade gestacional nas maternidades da Santa Casa de Misericórdia de Rio Grande e no Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande (HU–FURG), Rio Grande do Sul entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2010. Além disso, essas mães deveriam residir no município de Rio Grande. Especificamente no caso do desfecho avaliado neste artigo, a gestante deveria ter, ainda, feito pelo menos uma consulta de pré-natal. O delineamento utilizado foi do tipo transversal11, com as puérperas sendo entrevistadas na maternidade nas primeiras 24 horas após o parto. Todas as informações foram coletadas por meio de questionário único pré-codificado com a quase totalidade das perguntas fechadas. Esse questionário foi aplicado por entrevistadoras previamente treinadas nas maternidades desses hospitais, em geral, em até 24 horas após o parto, e foi dividido em blocos com perguntas sobre caraterísticas demográficas (idade, estado civil, cor da pele e situação conjugal), reprodutivas maternas (número de gestações, de filhos tidos vivos e mortos, ocorrência prévia de abortamento, de prematuridade e de filho com baixo peso ao nascer, planejamento da gravidez atual e uso prévio de método contraceptivo) e comportamentais maternas (consumo de álcool, tabaco, chimarrão e atividade física). Em relação à assistência recebida durante a gestação e o parto, as seguintes variáveis foram investigadas: idade gestacional por ocasião do inicio do pré-natal, número de consultas realizadas, tipo e quantidade de exames laboratoriais efetivados, exames clínicos a que foram submetidas essas gestantes, recebimento de vacina antitetânica, suplementação com sulfato ferroso e vitaminas, profissional que fez o parto e ocorrência de doenças e hospitalizações ao longo do período gestacional. Além dessas características, foram obtidas informações sobre nível socioeconômico (escolaridade da gestante e do companheiro, renda e valor recebido de aposentadoria para cada um dos moradores do domicílio no mês anterior à entrevista). Três entrevistadoras graduadas em Ciências Sociais foram contratadas para realizar essas entrevistas. O treinamento dessas entrevistadoras consistiu de leitura do questionário e do manual de instruções e aplicação do questionário em estudo piloto na primeira quinzena de dezembro de 2009. Durante o período de coleta de dados, essas entrevistadoras realizaram rodízio mensal nas duas maternidades. O questionário era aplicado somente após concordância da mãe e assinatura do termo de consentimento. O desfecho foi constituído pela não submissão no período gestacional ao CP de colo uterino segundo relato da gestante. Aquelas submetidas ao CP há menos de cinco anos foram consideradas como tendo realizado o exame. Apesar de um grande número de variáveis terem sido investigadas, somente as incluídas no modelo hierárquico previamente definido e que mostraram associação com valor p de até 0,20 foram levadas às análises bruta e ajustada. Como variáveis independentes incluíram-se no modelo: idade em anos completos, cor da pele autorreferida, se viviam com companheiro e escolaridade materna em anos completos, renda familiar, tabagismo da gestante nos seis meses anteriores à gestação, ocorrência prévia de aborto, planejamento da gravidez, número de consultas de pré-natal realizadas, uso de anticoncepcional oral e ocorrência de hospitalização no período gestacional. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):518-23 519 Cesar JA, Santos GB, Sutil AT, Cunha CF, Dumith SC Os questionários aplicados foram codificados pelas próprias entrevistadoras ao final de cada dia de trabalho e entregues na sede do projeto onde eram revisados, digitados e analisados em blocos de, no máximo, 100 questionários quanto à presença de valores inesperados. Nesse caso, o questionário físico foi buscado e eventuais distorções foram corrigidas. Persistindo a dúvida, a puérpera foi contactada por telefone ou através de visita domiciliar. Em seguida, foram colocados rótulos e realizada categorização de variáveis, bem como criadas variáveis derivadas. Essa entrada de dados foi feita por meio do programa Epidata 3.112, enquanto a análise dos dados foi conduzida no programa Stata 11.013. A análise dos dados baseou-se em modelo hierárquico previamente definido com três níveis de determinação causal14. No primeiro deles, incluiu-se as variáveis idade, cor da pele, se vive com companheiro, escolaridade da gestante e renda familiar; no segundo nível, as variáveis tabagismo, ocorrência de aborto prévio e planejamento da gravidez. Por fim, no terceiro nível, foram incluídas frequência a seis ou mais consultas de pré-natal, uso de anticoncepcional oral e ocorrência de hospitalização durante a gravidez atual. O nível de significância estatístico empregado foi de 95% para testes bicaudais15. Para a obtenção das prevalências conforme a categoria das variáveis utilizou-se o teste do χ2 de Pearson para proporções, enquanto a medida de efeito — no caso a razão de prevalência, porque a ocorrência do desfecho em questão era superior a 10% —, foi obtida por meio da regressão de Poisson com ajuste para variância robusta15. O protocolo de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde (CEPAS) da Universidade Federal do Rio Grande. Garantiu-se ainda, à mãe, confidencialidade dos dados coletados, participação voluntária e possibilidade de deixar o estudo quando desejasse, sem necessidade de justificativa. Resultados Em 2010, houve 2.464 partos cujas mães residiam no município de Rio Grande. Dessas, 2.395 (97,2%) foram entrevistadas. O denominador deste estudo foi constituído por 2.288 gestantes, ou seja, somente por aquelas que compareceram a pelo menos uma consulta de pré-natal. A média de idade foi 25,9 anos, variando de 11 a 47 anos, enquanto a mediana de renda familiar foi de R$ 1.000,00. Das gestantes, 19% eram adolescentes (<20 anos), 68% de cor de pele branca, 83% viviam com companheiro, 6% completaram ensino superior, 26% haviam fumado pelo menos um cigarro por dia nos seis meses anteriores à gestação, 44% eram primigestas, 14% já tinham sofrido pelo menos um aborto (espontâneo ou provocado), 36% afirmaram ter planejado a gravidez, 80% haviam realizado seis ou mais consultas de pré-natal, 84% relataram uso 520 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):518-23 de contraceptivo oral antes de engravidar e 11% foram hospitalizadas durante a gestação. Dentre as 2.288 mulheres que frequentaram pré-natal, 33% (IC95% 30,8–34,6) não foram submetidas ao CP de colo uterino, mas deveriam tê-lo feito. Os principais motivos para sua não efetivação foram: desconhecimento da necessidade de realizá-lo (66%), sentir medo ou vergonha (18%), falta de oportunidade para ir ao serviço de saúde (6%) ou de material ou de profissional para realizá-lo (10%). A Tabela 1 mostra que a prevalência de não coleta de CP conforme a categoria das variáveis do modelo variou de 19% para puérperas com 12 anos ou mais de estudo a 52% entre para aquelas que tiveram menos de 6 consultas no pré-natal. Essa mesma tabela mostra que, após ajuste para diversos fatores de confusão, mantiveram-se significativamente associadas ao desfecho as seguintes variáveis: idade, viver com companheiro, escolaridade, renda familiar, tabagismo nos seis meses anteriores à gravidez, planejamento da gravidez, número de consultas de pré-natal realizadas e hospitalização durante o período gestacional. Discussão Um terço das puérperas riograndinas cujos filhos nasceram em 2010 não se submeteram ao CP de colo uterino. A maior probabilidade de não coleta desse exame ocorreu entre aquelas de menor idade, que não viviam com companheiro, que tinham menor escolaridade e renda familiar, que fumaram nos seis meses anteriores à gestação, que referiram ocorrência de aborto em algum momento no passado, que não planejaram a gravidez, que concluíram menos de seis consultas durante o pré-natal, que usaram anteriormente contraceptivo oral e que foram hospitalizadas durante a gestação. Excetuando-se idade, todas as demais variáveis revelam que as puérperas com maior risco de adoecer e morrer por câncer de colo uterino foram as que mostraram maior probabilidade de não se submeterem ao CP de colo uterino durante a gestação. A taxa de não efetivação do CP em estudos de base populacional varia de 15 a 45% em diferentes localidades6,16-20. No entanto, vale destacar que as pesquisas citadas incluem mulheres em diferentes faixas etárias, o que dificulta a comparabilidade dos resultados. De qualquer forma, essa taxa vem diminuindo nos últimos anos, ao mesmo tempo em que a proporção daquelas que concluem o exame em demasia praticamente não se modifica16,20,21. Isso sugere que, apesar de a cobertura para CP estar aumentando, o foco segue inadequado10,21. Em geral, quem mais precisa menos faz CP e, quando o faz, é com atraso, o que gera importantes implicações para o tratamento e para o prognóstico da doença5,6,21. Esta situação parece ainda ocorrer no município de Rio Grande. Entre 1994 e 2004, a taxa de mulheres em idade Citopatológico de colo uterino entre gestantes no Sul do Brasil: um estudo transversal de base populacional Tabela 1. Distribuição das parturientes que não se submeteram ao exame citopatológico de colo uterino conforme categoria da variável incluída no modelo e resultados das análises bruta e ajustada Nível I II III Análise (RP e IC95%) Não se submeteram ao exame CP de colo uterino Bruta Ajustada Idade (anos) 30 ou mais 20–29 Até 19 (%) 24,5 32,3 46,7 p<0,001 1,00 1,32 (1,13–1,55) 1,91 (1,61–2,26) p<0,001# 1,00 1,24 (1,06–1,46) 1,50 (1,25–1,80) Cor da pele Branca Parda Preta 30,5 37,2 38,1 p=0,004 1,00 1,22 (1,06–1,40) 1,25 (1,04–1,51) p=0,160† 1,00 1,12 (0,98–1,28) 1,14 (0,95–1,36) Vive com companheiro Sim Não 29,9 48,4 p<0,001 1,00 1,62 (1,45–1,84) p<0,001 1,00 1,42 (1,24–1,62) Escolaridade (anos) 12 ou mais 9–11 5–8 0–4 19,4 28,4 40,6 39,9 p<0,001 1,00 1,46 (1,11–2,92) 2,09 (1,60–2,73) 2,05 (1,50–2,81) p=0,01# 1,00 1,22 (0,93–1,61) 1,49 (1,12–1,98) 1,54 (1,12–2,12) Renda familiar (quintis) 5 (maior) 4 3 2 1 (menor) 23,3 25,6 31,8 36,6 45,0 p<0,001 1,00 1,10 (0,87–1,38) 1,36 (1,09–1,70) 1,57 (1,27–1,94) 1,93 (1,58–2,35) p<0,001# 1,001,42 (1,14–1,76) 0,95 (0,76–1,20) 1,10 (0,87–1,38) 1,19 (0,95–1,49) Tabagismo nos seis meses anteriores à gestação Não Sim 29,5 46,1 p<0,001 1,00 1,43 (1,26–1,61) p=0,002 1,00 1,22 (1,07–1,39) Paridade 0 1 2 3 ou + 31,8 34,5 30,7 35,9 p=0,30 1,00 1,08 (0,91–1,27) 0,97 (0,82–1,13) 1,13 (0,97–1,32) p=0,11# 1,00 1,25 (1,04–1,50) 1,04 (0,88–1,23) 1,12 (0,92–1,37) Ocorrência prévia de aborto Sim Não 28,4 33,4 p=0,08 1,00 1,17 (0,97–1,42) p=0,10 1,00 1,17 (0,97–1,42) Gravidez planejada Sim Não 36,0 64,0 p<0,001 1,00 1,64 (1,43–1,89) p<0,001 1,00 1,39 (1,21–1,61) Realizou pelo menos seis consultas de pré-natal Sim Não 27,8 52,4 p<0,001 1,00 1,89 (1,68–2,12) p<0,001 1,00 1,49 (1,32–1,69) Uso de contraceptivo oral Sim Não 30,5 44,8 p<0,001 1,00 1,47 (1,28–1,68) p=0,010 1,00 1,20 (1,04–1,38) Hospitalização durante o período gestacional Sim Não 27,1 33,3 p=0,08 1,00 1,20 (0,97–1,48) p=0,04 1,00 1,24 (1,01–1,52) Total (n=2395) 32,7 Variável CP: exame citopatológico; RP: Razão de Prevalência; #Teste de Wald para tendência linear; †Teste de Wald para heterogeneidade. fértil não submetidas à CP foi reduzida de 575 para 42%22. No entanto, foram exatamente as mulheres com maiores risco para câncer de colo uterino que apresentaram maior probabilidade de não efetivação do exame. Em 2010, 33% das gestantes deveriam ter sido submetidas ao exame, mas não foram. Essa diminuição observada ao longo dos anos para esse município pode ter sido decorrente da expansão da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A implantação da ESF em Rio Grande foi iniciada em 2002 com duas equipes. Atualmente possui 24 equipes cobrindo cerca de 30% da população total, o que corresponde a cerca de metade da população mais pobre, exatamente onde se encontra a maioria das mulheres com maior risco e que muito frequentemente não se submetem ao citopatológico de colo uterino. Mulheres de menor idade, em geral adolescentes, tradicionalmente são as que menos aderem a esse tipo de exame5,6,9,21. As principais razões são desconhecimento da sua necessidade, vergonha ou medo, constrangimento, dificuldade de comunicação, Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):518-23 521 Cesar JA, Santos GB, Sutil AT, Cunha CF, Dumith SC desconforto, ausência de problemas ginecológicos, dificuldade de acesso e discriminação social e racial4,16,17,23,24. Em geral, são essas mesmas mulheres que vivem sem companheiro, fator de risco amplamente conhecido para câncer de colo uterino16-18,20,22. Mulheres com pouca escolaridade e pertencentes a famílias de baixa renda tradicionalmente se submetem a esse exame com muito menos frequência que as demais5,6,9,16-21. Em 1995, a razão de prevalências (RP) a não adesão ao CP entre mulheres com até quatro anos de escolaridade e renda familiar de até dois salários-mínimos foram, respectivamente, de 1,29 e 1,3 (1,12–1,51) em comparação àquelas com nove anos ou mais de escolaridade e renda familiar mensal superior a cinco salários-mínimos5. Essas RP são inferiores às observadas neste estudo, sugerindo que a probabilidade de não efetivação do CP entre gestantes é maior do que aquela observada para mulheres em idade fértil. Riscos semelhantes para renda e escolaridade foram observados em outras localidades6,9,18,21..Maior nível de escolaridade e melhor renda facilitam o acesso aos serviços de saúde, com consequente aumento da cobertura e redução no risco de desenvolvimento de câncer de colo uterino16. O tabagismo tem sido identificado como um fator associado ao atraso ou a não efetivação de CP em vários estudos9,18,21. É bem provável que entre tabagistas isso seja decorrente de comportamento de risco característico dessas mulheres que, além de não buscarem por esse cuidado junto aos serviços de saúde, também estão expostas a outras situações que implicam maior risco à sua saúde16. Não se encontrou um único estudo de base populacional cuja análise tenha sido ajustada para fatores de confundimento, em que o não planejamento da gravidez tenha se mostrado associado de forma significativa a não se submeterem ao CP. Este achado necessita de avaliação em outros estudos, a fim de verificar sua consistência. Maior número de consultas de pré-natal favorece o contato com o serviço de saúde e, consequentemente, facilita a adesão ao CP de forma oportunista17,24. Por essa razão, a frequência de consultas aparece diretamente associada, e de forma significativa, à maior cobertura para este tipo de exame entre essas mulheres. Mulheres hospitalizadas durante a gestação mostraram RP maior para não se submeterem ao CP em relação às demais. A internação hospitalar, apesar de ser um evento esporádico, em geral, decorre de doença já instalada, o que favorece a investigação e aumenta a probabilidade de receber cuidados preventivos, sugerindo que o rastreamento do câncer de colo uterino ocorra de maneira oportunista9,17,25. Por fim, o não uso de contraceptivo oral no período imediatamente anterior à gravidez foi identificado neste estudo como fator de risco a não adesão de CP durante o período gestacional. Mulheres que se preocupam em prevenir a gravidez ou que decidem assumir essa condição 522 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):518-23 em momento julgado por elas como mais apropriado estão certamente mais preocupadas com seu estado físico, e isso faz com que procurem por outros cuidados, sobretudo aqueles que possibilitam a identificação precoce de enfermidades que mais comumente afetam sua saúde como, por exemplo, o câncer de colo uterino16,25. O rastreamento do câncer cérvico-uterino depende, acima de tudo, do estabelecimento de políticas públicas que visem à redução da vulnerabilidade individual e social a que estão potencialmente expostas as mulheres, sobretudo as mais pobres16. É certo que intervenções com a vacina contra o HPV, o principal causador deste tipo de câncer, terão enorme impacto sobre a morbimortalidade por esta doença, mas isto está ainda longe de acontecer, sobretudo em países não ricos e populosos como o Brasil1,26. A situação observada para o município de Rio Grande é preocupante, muito mais pela desorganização (de gestores e usuárias) do que pela quantidade de serviço oferecido. Nesse município, apesar de oito em cada dez gestantes irem a não menos que seis consultas de pré-natal ao longo de nove meses, três em cada dez delas chegam ao momento do parto sem estar com o CP atualizado. É inaceitável que em um município com extensa rede de serviço de saúde — cerca de três quartos da população vive a menos de 1 km de algum serviço publico de saúde —, 1 em cada 20 gestantes não complete uma única consulta durante todo o pré-natal. Não custa também lembrar que Rio Grande está localizado em uma das regiões mais desenvolvidas do país. Isto carece de modificação, e uma das formas seria incentivar a busca ativa nos domicílios pelos agentes comunitários de saúde, sobretudo daquelas gestantes que não realizam uma consulta de pré-natal. Em relação àquelas que vão às consultas de pré-natal, os profissionais de saúde deveriam esclarecer, incentivar e oferecer este exame. Por fim, ao interpretar os resultados aqui apresentados há que se considerar a possibilidade de a entrevistada ter dificuldade em diferenciar exame ginecológico de CP. Há, também, a possibilidade de a entrevistada responder positivamente, ou seja, dizer que foi submetida ao CP em virtude de ser este o comportamento esperado de todas elas. Apesar dessas limitações, o cenário não seria melhor que o apresentado e, além disso, a quase totalidade dos estudos que trata deste assunto o faz desta maneira, ou seja, a partir de informação prestada pela entrevistada. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelas Bolsas de Iniciação Científica para Gabriela Breitembach dos Santos e Andreia Tomais Sutil; e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) pela Bolsa de Iniciação Científica para Carolina Fischer Cunha. Citopatológico de colo uterino entre gestantes no Sul do Brasil: um estudo transversal de base populacional Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2011. 14. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):518-23 523 Luciana Azôr Dib1 Michele Gomes Da Broi1 Maria Cristina Picinato Medeiros de Araújo2 Roberta Cristina Giorgenon2 Rui Alberto Ferriani3,4 Paula Andrea de Albuquerque Sales Navarro3,4 Análise invasiva e não invasiva do fuso meiótico de oócitos humanos obtidos de ciclos estimulados: dados preliminares Invasive and noninvasive analysis of the meiotic spindle of human oocytes obtained from stimulate cycles: preliminary results Xxxxxxxxx Resumo Palavras-chave Oócito humano Fuso Microscopia de polarização Microscopia confocal Meiose Fertilização in vitro Keywords Human oocyte Spindle Microscopy, polarization Microscopy, confocal Meiosis Fertilization in vitro OBJETIVOS: Avaliar a concordância entre as técnicas de microscopia de polarização e microscopia confocal na avaliação do fuso meiótico de oócitos humanos maturados in vivo. MÉTODOS: Estudo prospectivo que avaliou oócitos com o primeiro corpúsculo polar extruído obtidos de mulheres inférteis submetidas à estimulação ovariana para realização de injeção intracitoplasmática de espermatozoide. Os oócitos com o primeiro corpúsculo polar extruído foram avaliados por meio da microscopia de polarização e, imediatamente após, foram fixados e corados para avaliação dos microtúbulos e cromatina pela microscopia confocal de alto desempenho. Foram comparadas as técnicas de microscopia de polarização e confocal, de acordo com a visualização ou não do fuso meiótico pela microscopia de polarização e a presença ou não de anomalias meióticas à análise pela microscopia confocal. Foram calculados os intervalos de confiança, o índice de Kappa e a concordância entre as metodologias, considerando a análise da microscopia de imunofluorescência como padrão-ouro para avaliação de normalidade do fuso e distribuição cromossômica oocitária. RESULTADOS: Observou-se que 72,7% dos oócitos em metáfase II com fuso celular não visível à polarização apresentaram anormalidades meióticas à análise confocal e que 55,6% dos oócitos em metáfase II com fuso celular visível à polarização apresentaram-se como oócitos anormais à análise confocal. Somente 44,4% dos oócitos com fuso celular visível à polarização apresentaram-se como normais à análise confocal. A concordância entre os métodos foi de 51,1% (Kappa: 0,11; IC95% -0,0958–0,319). CONCLUSÕES: A baixa concordância entre a microscopia de polarização e a confocal na avaliação do fuso meiótico oocitário sugere que a visualização do fuso meiótico de oócitos humanos em metáfase II pela microscopia de polarização tem limitado o valor preditivo de normalidade meiótica oocitária. Abstract PURPOSE: To evaluate the concordance between polarization microscopy and confocal microscopy techniques in the evaluation of the meiotic spindle of human oocytes matured in vivo. METHODS: Prospective study that evaluated oocytes with the first polar extruded body obtained from infertile women who had undergone ovarian stimulation for intracytoplasmic sperm injection. The oocytes with the first polar extruded body were evaluated by polarization microscopy and were then immediately fixed and stained for microtubule and chromatin evaluation by high-performance confocal microscopy. We determined the correlation of polarization microscopy with confocal microscopy in the detection of meiotic oocyte anomalies, and we also evaluated the percentage of oocytes with a visible and non-visible cell spindle by polarization microscopy and with meiotic normality and abnormalities by confocal microscopy. Confidence intervals, Kappa’s index and concordance between the methodologies were calculated, considering immunofluorescence microscopy analysis as the golden-standard for evaluating normal spindle and oocyte chromosome distribution. RESULTS: We observed that 72.7% of metaphase II oocytes with a nonvisible meiotic spindle by polarization microscopy showed no meiotic abnormalities by confocal analysis and 55.6% of metaphase II oocytes with a visible meiotic spindle by polarization microscopy were found to be abnormal oocytes by the confocal analysis. Only 44.4% of oocytes with a visible meiotic spindle by polarization microscopy were found to be normal by confocal analysis. Concordance Correspondência Paula Andrea de Albuquerque Salles Navarro Setor de Reprodução Humana, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Avenida Bandeirantes, 3.900 – Monte Alegre CEP: 14049-900 Ribeirão Preto (SP), Brasil Recebido 20/06/2012 Aceito com modificações 25/09/2012 Trabalho realizado no Setor de Reprodução Humana, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 1 Programa de Pós-graduação do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Laboratório de Reprodução Assistida do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 3 Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 4 Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Hormônios e Saúde da Mulher, Brasil. Conflito de interesses: não há. Análise invasiva e não invasiva do fuso meiótico de oócitos humanos obtidos de ciclos estimulados: dados preliminares between the methods was 51.1% (Kappa: 0.11; 95%CI -0.0958–0.319). CONCLUSIONS: The low correlation between polarization microscopy and confocal microscopy in the assessment of oocyte meiotic spindle suggests that visualization of the meiotic spindle of human oocytes at metaphase II by polarization microscopy is not a good indicator of oocyte meiotic normality. Introdução A qualidade oocitária depende da adequada aquisição de maturação citoplasmática e nuclear, sendo a última dependente da presença de um fuso celular normal. O fuso celular oocitário é uma estrutura extremamente sensível à ação de diversos fatores, tais como o envelhecimento, as mudanças térmicas, o suporte insuficiente de oxigênio durante o tempo de cultura, a manipulação oocitária, entre outros1-4. Alterações ao fuso meiótico podem gerar alteração no complemento cromossômico, induzindo um estado de aneuploidia por não disjunção, junção desbalanceada ou disjunção prematura das cromátides e perda de cromossomos, o que compromete o desenvolvimento embrionário5-8. O fuso meiótico pode ser visualizado por meio da microscopia confocal (MC) de elevado desempenho, que oferece informações detalhadas das estruturas microtubulares e dos cromossomos, sendo considerada a metodologia de padrão-ouro para avaliação desta estrutura celular9-11. Entretanto, esta metodologia requer a fixação dos oócitos, o que inviabiliza sua utilização subsequente nos procedimentos de reprodução assistida (RA). Considerando a relevância de se avaliar as qualidades oocitária e embrionária com a finalidade de se aperfeiçoar os resultados dos procedimentos de RA, cada vez mais têm sido estudadas e empregadas metodologias com esta finalidade. Atualmente, um dos métodos não invasivos mais estudados é a microscopia de polarização (MP)12-14, que permite a análise de estruturas birrefringentes, como o fuso celular oocitário e a zona pelúcida sem a necessidade de fixação do oócito, não comprometendo os resultados de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)12,13,15,16. Discute-se a aplicabilidade clínica da MP como preditora da qualidade oocitária e dos resultados da ICSI em humanos12,13,15,16, pois a mesma potencialmente permitiria a avaliação do estágio de maturação nuclear oocitário17 e a visualização ou não desta estrutura celular. Todavia, apesar de alguns estudos sugerirem que a visualização do fuso meiótico pela MP possa ser utilizada como preditora indireta dos resultados da ICSI14,18-23, não há consenso na literatura sobre sua aplicabilidade clínica24. Estudos experimentais, utilizando camundongos, evidenciaram adequada capacidade preditora desta metodologia para identificação de anomalias meióticas oocitárias25,26. Todavia, o fuso celular humano apresenta especificidades próprias, sendo necessários estudos para comparar a acurácia desta metodologia para a predição de normalidade do fuso e distribuição cromossômica. Devido à dificuldade em se conseguir oócitos humanos maturados in vivo que sejam doados para a pesquisa, não há, até o presente, estudos comparativos da concordância entre as técnicas de MP e MC na detecção de anomalias meióticas oocitárias. Existe apenas um estudo10 comparando essas duas técnicas, no qual foram analisados parâmetros quantitativos do fuso celular pela MP, comparando-os com a análise da morfologia do fuso meiótico e da distribuição cromossômica pela MC. Além de ter avaliado apenas um dos dois sistemas disponíveis comercialmente, este estudo não apresentou dados relativos à avaliação de parâmetros quantitativos do fuso (visualização ou não da estrutura) pela MP e sua acurácia na predição das anormalidades meióticas oocitárias, permanecendo esta lacuna no conhecimento. Devido à importância de serem identificadas metodologias não invasivas capazes de predizer a qualidade oocitária em procedimentos de RA e a escassez de dados na literatura sobre a capacidade da MP de identificação de anomalias meióticas em oócitos humanos, foi proposta a realização do presente estudo. Objetivou-se comparar a concordância entre as técnicas MP e MC na avaliação do fuso meiótico de oócitos humanos maturados in vivo, avaliando a percentagem de oócitos com fuso celular visível e não visível à MP com normalidade e anormalidade meióticas à MC. Métodos Foi realizado um estudo prospectivo de junho de 2009 a maio de 2011, no Setor de Reprodução Humana do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Pesquisa. Todos os casais submetidos à indução da ovulação para a realização de ICSI, que preencheram os critérios de inclusão e manifestaram o desejo de participar do projeto, assinaram o termo de consentimento após esclarecimentos sobre o estudo. Ao longo dos 24 meses de duração do estudo, 23 pacientes preencheram os critérios de inclusão e manifestaram o desejo de participar, mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Foram incluídas pacientes inférteis com idade menor ou igual a 38 anos, que apresentaram mais de sete oócitos maduros captados após estimulação ovariana com gonadotrofinas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):524-9 525 Dib LA, Broi MG, Araújo MCPM, Giorgenon RC, Ferriani RA, Navarro PAAS O bloqueio hipofisário foi iniciado utilizando agonista do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRHa) dez dias antes da realização da ultrassonografia transvaginal basal (protocolo longo), por meio da administração de acetato de Leuprolide (Lupron®, Abott, Brasil). As pacientes receberam 100 a 300 UI por dia de FSH recombinante – FSHr (Gonal-F®, Serono, Brasil; Puregon®, Organon, Brasil), nos primeiros seis dias da indução. Quando pelo menos dois folículos atingiram 18 mm de diâmetro médio administrou-se gonadotrofina coriônica humana (hCG) recombinante (Ovidrel®, Serono, Brasil). A captação dos oócitos foi realizada entre 34 a 36 horas após a administração do hCG recombinante. Todo o material aspirado durante a captação dos oócitos foi analisado para a identificação e o isolamento dos complexos oócito-cumulus. Após a conclusão do desnudamento oocitário, realizou-se a identificação do grau de maturidade dos oócitos, sob visualização ao microscópio de luz. Os oócitos imaturos (em estágio de vesícula germinativa ou metáfase I) foram descartados, já os maduros (caracterizados morfologicamente pela presença de um corpúsculo polar – CP extruído) foram incubados por mais uma hora (após o desnudamento oocitário) para, então, serem avaliados pelo OCTAX ICSI GuardTM System (Medical Technology Vertriebs-GmbH, Altdorf, Alemanha). Sete oócitos maduros foram injetados (submetidos à ICSI) seguindo a rotina assistencial do serviço, e os demais foram doados para o presente estudo. Visualização do fuso meiótico por meio da microscopia de polarização Os fusos celulares dos oócitos com extrusão do primeiro CP foram avaliados usando um microscópio invertido, equipado com uma câmera de vídeo e com o hardware do MP, o qual consiste de cristais elétricos e de um controlador eletro-óptico (OCTAX ICSI GuardTM System, Medical Technology Vertriebs-GmbH, Altdorf, Alemanha). Os grupos de cristais elétricos são controlados pelo computador por meio do software OCTAX EyeWareTM (Universal Imaging Corp., Boston, MA, EUA). Utilizou-se um número máximo de sete oócitos em cada placa, sendo o tempo necessário para analisar o fuso celular pela MP e realizar a ICSI inferior ou igual a sete minutos. Para controlar os vieses metodológicos relativos a não visualização do fuso secundária à realização do desnudamento celular e ao envelhecimento oocitário, padronizou-se que o desnudamento fosse realizado de duas a três horas após a captação oocitária e, após o mesmo, os oócitos eram recolocados nas placas de cultivo previamente equilibradas na incubadora, por mais uma hora, para somente depois serem submetidos ao imageamento e à ICSI. Os oócitos com primeiro CP foram analisados pela MP e caracterizados quanto ao estágio de maturação nuclear 526 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):524-9 (telófase I ou metáfase II) e presença ou não de fuso celular visível. Foram considerados em telófase I, os oócitos que apresentavam fuso celular alongado, perpendicular à membrana oocitária, estendendo-se até o primeiro CP. Os fusos celulares em metáfase II foram caracterizados pela presença de fibras birrefringentes distribuídas radialmente, com a forma de barril e orientadas paralelamente à membrana cortical (Figura 1A). Como os cromossomos são minimamente birrefringentes, não são adequadamente analisáveis por meio desta metodologia. Microscopia de imunofluorescência para visualização do fuso meiótico e distribuição cromossômica Os oócitos maduros doados para a pesquisa foram fixados e corados para microscopia de fluorescência, conforme previamente descrito17,18,27. Para maior acurácia das análises, os oócitos em metáfase II foram subdivididos em analisáveis, quando se apresentavam em visão lateral ou sagital, possibilitando uma avaliação global do fuso meiótico; e não analisáveis, quando se apresentavam em visão polar, impossibilitando a avaliação global do fuso, apenas da disposição cromossômica28,29. Na avaliação por imunofluorescência, o fuso meiótico foi considerado normal quando apresentava a forma de barril e estava disposto em posição centrípeta em relação ao CP (Figura 1B). Os cromossomos apresentavam distribuição normal quando estavam reunidos na placa metafásica e bem alinhados no equador do fuso celular oocitário (Figura 1B). Eram considerados anormais quando se encontravam dispersos, desalinhados ou fragmentados, ou quando havia cromatina feminina aglomerada com microtúbulos interfásicos. Os oócitos em metáfase II foram considerados normais quando apresentavam um fuso meiótico em forma de barril, com cromossomos alinhados na placa metafásica e um CP (Figura 1B); e anormais, quando apresentavam fuso e/ou configuração cromossômica alterados. O fuso celular foi considerado em telófase I quando estava alongado, perpendicular à membrana plasmática oocitária e com cromossomos distribuídos na sua porção terminal. Análise estatística Inicialmente, realizou-se uma descrição da amostra, sendo as variáveis qualitativas apresentadas como frequências absolutas e relativas. Para comparação dos métodos de avaliação do fuso meiótico oocitário (MP e MC), considerando a análise pela MC como padrão-ouro, utilizou-se o teste de concordância de Kappa: <0,0, ruim; 0,21–0,40, sofrível; 0,41–0,60, regular; 0,61–0,80, boa; 0,81–0,99, ótima e >1,00, perfeita. Foram também apresentados os intervalos de confiança de 95% (IC95%) para cada variável analisada: oócitos sem fuso celular visível à MP e com normalidade Análise invasiva e não invasiva do fuso meiótico de oócitos humanos obtidos de ciclos estimulados: dados preliminares A B Figura 1. Oócitos humanos com extrusão do primeiro corpúsculo polar, avaliados pela microscopia de polarização e/ou confocal de alto desempenho. (A) Fuso celular em metáfase II avaliado pela microscopia de polarização; (B) fuso celular em metáfase II, apresentando-se normal em forma de barril e com cromossomos alinhados na placa metafásica segundo análise pela microscopia confocal de alto desempenho. A cor verde representa os microtúbulos formando o fuso celular e a azul, cromossomos. Escala = 10 µm. meiótica pela análise pela MC; com fuso celular visível à MP e com normalidade meiótica pela análise pela MC; sem fuso celular visível à MC e com anormalidade meiótica pela análise pela MC; e com fuso celular visível à MC e com anormalidade meiótica pela análise pela MC. Resultados Foram analisados 73 oócitos frescos, oriundos de 23 pacientes. A análise pela MP evidenciou três oócitos em telófase I (4,3%) e 70 em metáfase II (95,7%), sendo 54 com o fuso celular visível (77,1%) e 16 sem (22,9%). A análise com MC evidenciou seis oócitos em telófase I (8,2%) e 67 em metáfase II (91,8%). Dos 67 oócitos em metáfase II, 47 foram fixados em visão sagital (70,1%), sendo considerados analisáveis no presente estudo, 4 apresentaram fuso celular não visível (6%) e 16 foram fixados em visão polar (23,9%), sendo considerados não analisáveis. Todos os oócitos que estavam em telófase I foram fixados em visão sagital e apresentaram análise confocal normal. Dos 47 oócitos em metáfase II analisáveis, 28 apresentaram fuso e distribuição cromossômica anormais (59,6%) e 19 apresentaram normalidade meiótica (40,4%). Dos 16 oócitos com fuso celular não visível à polarização, dois deles também apresentaram fuso negativo à análise confocal, três estavam em visão polar, dois em telófase I e nove em visão sagital. Dos 54 oócitos com fuso celular visível à polarização, dois oócitos apresentaram fuso negativo à análise confocal, 13 estavam em visão polar, um estava em telófase I e 38 em visão sagital. Observou-se que 72,7% (8/11) dos oócitos em metáfase II com fuso celular não visível à polarização apresentaram anormalidades meióticas à análise confocal (IC 46,4–99,1) e 55,6% (20/36) dos oócitos em metáfase II com fuso celular visível à polarização apresentaram-se como oócitos anormais à análise confocal (IC 39,3–71,8). Somente 27,3% (3/11) dos oócitos em metáfase II com fuso celular não visível à polarização apresentaram normalidades meióticas à análise confocal (IC 0,01–53,6). Dos oócitos em metáfase II com fuso celular visível à polarização, 44,4% (16/36) apresentaram-se como oócitos normais à análise confocal (IC 28,2–60,7). A concordância entre os métodos foi de apenas 51,1% (Kappa: 0,11; IC95% -0,0958–0,319). Para esta análise foram descartados os oócitos em telófase I (n=6), aqueles com fuso negativo à imunofluorescência (n=4) e que foram fixados em visão polar (n=16), como observado na Tabela 1. Tabela 1. Comparação entre as técnicas de microscopia de polarização e confocal em relação à visualização ou não do fuso meiótico de oócitos humanos maturados in vivo à microscopia de polarização e presença ou não de anomalias meióticas à microscopia confocal Microscopia confocal Microscopia de polarização Fuso não visível Anormal n % IC95% Normal n % IC95% Total 8 72,7 46,4–99,1 3 27,3 0,01–53,6 11 Fuso visível 20 55,6 39,3–71,8 16 44,4 28,2–60,7 36 Total 28 19 47 Anormalidade meiótica: presença de anomalias do fuso meiótico e/ou da distribuição cromossômica; normalidade meiótica: presença de um fuso celular normal em forma de barril, com os cromossomos distribuídos na placa metafásica. Concordância entre os métodos: 51,1%. Kappa: 0,11 (IC95% -0,096–0,319). Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):524-9 527 Dib LA, Broi MG, Araújo MCPM, Giorgenon RC, Ferriani RA, Navarro PAAS Discussão Com a crescente demanda de pacientes inférteis à procura de serviços de reprodução humana, cada vez mais aumenta o interesse na aplicabilidade e segurança dos métodos não invasivos para avaliação da qualidade oocitária, importante determinante da qualidade embrionária, visando aumentar a segurança e a eficiência dos procedimentos de RA. Um dos principais métodos não invasivos destinados à avaliação da qualidade oocitária por meio da análise do fuso celular é a MP, que possibilita a visualização de estruturas birrefringentes em células vivas, sem a necessidade de fixação ou coloração, permitindo a utilização dos oócitos analisados por esta metodologia nos procedimentos de RA13,15,18,25,30,31. A análise oocitária por esta metodologia poderia ser útil na triagem de possíveis anormalidades, não só do fuso celular, como, indiretamente, do alinhamento cromossômico, uma vez que, na grande maioria das vezes, estas duas alterações estão associadas26,32. Alguns estudos13,23 evidenciaram aumento significativo na taxa de fertilização, de clivagem e de embriões de boa qualidade no terceiro dia de desenvolvimento de oócitos com fuso celular visível, quando comparados àqueles sem fuso celular visível à polarização23. Isso sugere que a visualização do fuso meiótico oocitário poderia ser um bom preditor de fertilização pós-ICSI18-22,33 e da qualidade embrionária14,18-23. Entretanto, alguns estudos na literatura não confirmaram essa correlação, tornando questionável sua utilização rotineira para a seleção oocitária19,31,33. Como até o presente não havia estudos avaliando a concordância entre esta metodologia não invasiva e a MC na predição de anomalias meióticas oocitárias em humanos, o presente estudo foi realizado. No presente estudo, observou-se que 72,7% dos oócitos com fuso celular não visível à polarização apresentaram anormalidades meióticas à análise confocal, sugerindo que isso está relacionado a maior probabilidade de anormalidade meiótica oocitária, como previamente sugerido por alguns estudos. Todavia, 55,6% dos oócitos com fuso celular visível à polarização apresentaram-se como oócitos anormais à análise confocal e somente 44,4% dos oócitos com fuso celular visível à polarização apresentaram-se com fuso e distribuição normal à análise confocal. A concordância entre os métodos foi de apenas 51,1%, evidenciando que a visualização do fuso celular à MP não é uma boa preditora de normalidade meiótica oocitária, tornando questionável a aplicabilidade desta metodologia na predição não invasiva da 528 Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):524-9 qualidade oocitária. Estes achados são concordantes com os apresentados por Coticchio et al.10, os quais, ao analisarem oócitos maturados in vivo (frescos e após descongelamento) pelo Polscope, o outro sistema de polarização disponibilizado comercialmente, evidenciaram não haver consistência entre a análise pela metodologia não invasiva e a confocal, sugerindo que esta metodologia apresentou limitado valor preditivo do grau de normalidade do fuso meiótico oocitário. Todavia, no mesmo estudo10, as variáveis analisadas para a comparação das técnicas foram distintas das do presente estudo. Foram comparados os valores de birrefringência do fuso pela análise ao Polscope entre quatro diferentes configurações de microtúbulos (análise de parâmetros quantitativos e não qualitativos) e distribuição cromossômica, definidas pela análise confocal, além das medidas do eixo longitudinal do fuso avaliadas pelas duas metodologias. Vale a pena ressaltar que a utilização da MP na prática clínica prevê a necessidade de aquisição do equipamento e de softwares, a utilização de placas com fundo de vidro, cujo custo é significativamente maior que o das placas de plástico habitualmente utilizadas para a realização da ICSI, além do treinamento e gasto adicional de tempo pelos embriologistas, o que, aliado à baixa concordância entre esta técnica e a MC na identificação das anormalidades meióticas em oócitos humanos, evidenciada no presente estudo, faz questionar se a utilização desta metodologia na rotina das clínicas de RA é realmente custo-efetiva, o que precisa ser mais bem definido por estudos com maiores casuísticas e metodologias pertinentes. Pode-se concluir que a visualização do fuso da MP não é uma boa preditora na detecção de normalidade meiótica oocitária quando comparada à MC de elevado desempenho. A pequena porcentagem de oócitos com fuso visível à polarização e normais à análise confocal torna questionável a utilidade desta metodologia como ferramenta para a seleção não invasiva oocitária para os procedimentos de RA. Agradecimentos Aos funcionários do Laboratório de Reprodução Assistida do Hospital das Clínicas, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (2008/58197-6) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (474858/2009-0). Análise invasiva e não invasiva do fuso meiótico de oócitos humanos obtidos de ciclos estimulados: dados preliminares Referências 1. Hu Y, Betzendahl I, Cortvrindt R, Smitz J, Eichenlaub-Ritter U. Effects of low O2 and ageing on spindles and chromosomes in mouse oocytes from pre-antral follicle culture. Hum Reprod. 2001;16(4):737-48. 2. Eichenlaub-Ritter U, Shen Y, Tinneberg HR. 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Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(11):524-9 529 2013 ABRIL de 11 a 13 de abril de 2013 XXXVII Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro Local: Centro de Convenções Sul América Informações: Tel.: (21) 2285-0892 / 2265-1525 [email protected] de 19 a 20 de abril de 2013 XVII Congresso Sul - Rio- Grandense de Ginecologia e Obstetrícia – SOGIRGS Centro de Eventos do Hotel Serrano – Gramado/RS Plenarium Organização de Congressos Fones: (51) 3311-8969 / 3311-9456 / 3311-2578 [email protected] www.plenariumcongressos.com.br de 24 a 26 de abril de 2013 46º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do DF e 7º Congresso Internacional de Ginecologia e Obstetrícia do DF Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães – Brasília-DF Informações: Secretaria Executiva da SGOB Tel.: (61) 3245-3681 / 3245-4530 / 9622-1215 [email protected] / [email protected] www.sgob.com.br 530 MAIO de 1º a 04 de maio de 2013 VI Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia / 37º Encontro Mineiro de Ginecologistas e Obstetras Local: Minascentro – Belo Horizonte/MG Realização: SOGIMIG Organização: (31) 3291-9899 – Consult Eventos http://cmgo2013.com.br Pratici cidaadde, cida e comodi d daad ade e ttrranqu anquilid anquilidad anquilida uilid iilid ili liida iddad daadde pa da para vooccê e pa para sua sua pacie pa pac ppaci acien iieen ente.1-5-5 1 aplicação que vale eses de por 3 me contrace epção.1 C M Y CM MY CY CMY Anticoncepcional injetável trim mestral de ação prolongada.1 K 99% de eficácia com apenas 4 aplicações apl ao ano.1 Pode ser utilizado por mulheres que estão amamentando.1 Disponível Disponíve Dis isponível isponív ponível onível el na nas n ass apres apresentações: sentaçõ ações: ões:1,1,6 Depo®-Provera® 150 mg/mL Depo®-Provera® 150 mg/mL Contracepção trimestral.1 Contracepção trimestral.1 ampola: Disponível na farmácia popular 7 seringa preenchida: Depo®-Provera® 50 mg/mL: Tratamento da endometriose e reposição progestogênica.6 Pratici cidaadde, cida e comodi d daad ade e ttrranqu anquilid anquilidad anquilida uilid iilid ili liida iddad daadde pa da para vooccê e pa para sua sua pacie pa pac ppaci acien iieen ente.1-5-5 1 aplicação que vale eses de por 3 me contrace epção.1 C M Y CM MY CY CMY Anticoncepcional injetável trim mestral de ação prolongada.1 K 99% de eficácia com apenas 4 aplicações apl ao ano.1 Pode ser utilizado por mulheres que estão amamentando.1 Disponível Disponíve Dis isponível isponív ponível onível el na nas n ass apres apresentações: sentaçõ ações: ões:1,1,6 Depo®-Provera® 150 mg/mL Depo®-Provera® 150 mg/mL Contracepção trimestral.1 Contracepção trimestral.1 ampola: Disponível na farmácia popular 7 seringa preenchida: Depo®-Provera® 50 mg/mL: Tratamento da endometriose e reposição progestogênica.6 ISSN 0100-7203 2012 Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia Novembro nº 11 Novembro 2012 volume 34 volume 34 número 11 p. 485 - 530
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