Riscos clínicos: alergia ao látex

Referências
1. Walling, A. American Family Physician. Ago 1999; Vol. 6/No. 2. [Online]: http://www.aafp.org/afp/1999/0801/p616.html.
2. Katz J, Holzman R, Brown R, et al. Natural rubber latex allergy: consideration for anesthesiologists. Park Ridge, IL: American Society of Anesthesiologists, 2005: 1–30.
3. Potential for sensitization and possible allergic reaction to natural rubber latex gloves and other natural rubber products. Safety and Health Information Bulletin. SHIB 01-28-2008.
4. Flabbee J, et al. The economic costs of severe anaphylaxis in France: an inquiry carried out by the Allergy Vigilance Network. Allergy. 2008 Mar;63(3):360-5.
5. Blanco C, Carrillo T, Castillo R, et al. Latex allergy:clinical features and cross reactivity with fruits. Ann Allergy. Out 1994; 73:309-14.
6. Levy D, Mounedji N, Noirot C, Leynadier F. Allergic sensitization and clinical reactions to latex food, and pollen in adult patients. Clin Exp Allergy 2000;30:270-5.
7. Frankland AW. Food reactions in pollen and latex allergy patients (editorial). Clin Exp Allergy.1995;25:580-1.
8. Quirce S, Bombin C, Aleman A, and Sastre J. Allergy to latex, fruit and pollen. Allergy 2000;55:896-8.
9. McCormack B, Cameron M, Biel L. Latex sensitivity: An occupational health strategic plan. AAOHNJ. Abril 1995 ; 43(4): 190-6.
10. American College of Allergy, Asthma, and Immunology Position Statement. Latex allergy-an emerging health care problem. Annals Allergy Asthma Immunology Julho 1995;75(1):19-21.
11. Binkley HM, Schroyer T, Catalfano J. Latex allergies: a review of recognition, evaluation, management, prevention, education, and alternative product use. Journal of Athletic Training,
2003;38(2):133-140.
12. Elliot, BA. Latex allergy: the perspective from the surgical suite. J Allergy Clin Immunol 2002;110:S117-20.
13. Lebenbom-Mansour MH, Oesterle JR, Ownby DR, et al. The incidence of latex sensitivity in ambulatory surgical patients: a correlation of historical factors with positive serum immunoglobulin E levels.
Anesth Analg 1997;85:44-9.
14. CIA Fact Book. Central Intelligence Agency. [Online]: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/print/us.htm
15. Page EH, Esswein EJ. NIOSH health hazard evaluation report. HETA 98-0096-2737 Exempla St. Jospeh Hospital. Cincinnati, OH: National Institute of Occupational Safety and Health 1198:1-25.
16. Slater JE. Allergic reactions to natural rubber. Ann Allergy, Mar 1992;68(3):203-9
17. Gosgnach, M, et al. Pulmonary artery catheter balloon: an unusual cause of severe anaphylactic reaction. Anesthesiology: Julho 1995:Vol 83/Issue 1: 220-221.
18. Ueda N. Kitamura R, Wakamori T, Nakamura K, Konisha K. Anaphylactic reaction to latex during spinal anesthesia: a case report. Masui. Maio 2008; 57(5):637-9.
R E S U M O DO E S T U D O
médicos protegerem seus pacientes evitando o uso de produtos feitos inteiramente de látex.
Riscos clínicos: alergia ao látex
Paul A Gibilisco, MD, FACP, FACR
VISÃO GERAL
A alergia ao látex natural é uma preocupação crescente tanto para profissionais de saúde quanto para pacientes.1 O látex
é composto de diversas proteínas2 potencialmente irritantes e é usado em vários produtos de saúde, incluindo luvas e
cateteres.3 Estima-se que a sensibilidade à borracha natural afete 17%2 dos profissionais de saúde, mas a exposição
repetida pode aumentar esse quadro. Além disso, ocorre 1% de letalidade devido à reação anafilática sistêmica imediata
do tipo I4 , que pode causar choque e lesões permanentes ao pulmão. Some-se a isso os processos jurídicos e compensações
por lesões aos pacientes que aumentam o nível de risco dos profissionais de saúde e os forçam a reconhecer esses
problemas. O profissional de saúde deve ficar alerta quanto à alergia ao látex: qualquer paciente alérgico a frutas tropicais
(abacates, kiwis), bananas, castanhas e poinsétias (planta ornamental também conhecida como bico-de-papagaio),5-8
pode ter alergia grave ao látex. Além disso, um histórico de múltiplas cirurgias em pacientes pediátricos com espinha
bífida é um fator independente para a alergia à borracha natural.9,10 No entanto, o melhor recurso de proteção é a eliminação
do látex do ambiente clínico. Portanto, é preciso que se institua consultórios, salas de emergência e salas de cirurgia sem
látex.3
19. Phillips VL, Goodrich MA, Sullivan TJ. Health care worker disability due to latex allergy and asthma: a cost analysis. American Journal of Pulbic Health, 1999. 89: 1024-1028.
20.Court of Appeals of Georgia, 28 de fev. de 2006. Dunwoody v. Daniels. Westlaw. 627 S.E. 2d 830
21. American Medical Society, Medical Liability Reform-Now! http://www.ama-assn.org/go/mlrnow; citing Physician’s Assn. of Am., PIAA Claim Trend Analysis: 2004 ed.
22.Rustad, M. “Neglecting the neglected: The impact of non-economic damage caps on meritorious nursing home lawsuits,” 14 Elder L.J. 331, 376-77 (2006)
TIPOS E ESTÁGIOS DA ALERGIA AO LÁTEX
A alergia ou hipersensibilidade ao látex ocorre quando o sistema imunológico do corpo reage às proteínas encontradas na
borracha natural. Uma reação sistêmica de tipo I é uma reação de hipersensibilidade imediata moderada pelo
desenvolvimento de anticorpos IgE para proteínas específicas do látex, causando um evento grave e potencialmente letal.
As condições de tipo I são caracterizadas por 5 estágios: 11
Stage 1 – Urticária local na área de contato
Stage 2 –Urticária generalizada com angioedema
Stage 3 –Urticária com asma, coceira nos olhos ou no
nariz e sintomas gastrointestinais
Stage 4 –Urticária, anafilaxia e choque
Stage 5 – Asma crônica e lesões pulmonares
permanentes
Estima-se que a sensibilidade à borracha
natural afete 17%2 dos profissionais de
saúde, mas a exposição repetida pode
aumentar esse quadro.
As reações ao látex de tipo IV são menos imediatas e graves. Essas reações de resposta demorada mediadas por células
T costumam ocorrer no período de 48 a 96 horas após a exposição e se limitam a vermelhidão e coceira na área de contato
e lesões de pele variadas no local de exposição.11 Exposições repetidas ao látex podem diminuir a tolerância e aumentar a
probabilidade de uma reação tipo I.12
PREVALÊNCIA E UBIQUIDADE DA ALERGIA À BORRACHA NATURAL
Um estudo recente sobre anticorpos IgE antilátex em doadores de sangue demonstrou que a prevalência da sensibilidade
ao látex pode chegar a 6-12% ou até 37 milhões de pessoas nos EUA. 13,14 Depois de sensibilizados, a maioria dos indivíduos
é assintomática e desconhece o status de seus anticorpos;13,15 portanto, os médicos não têm como saber se um paciente é
ou não alérgico ao látex. Os profissionais de saúde devem ficar atentos a produtos de látex, pois o histórico por si só é
inadequado para identificar todos os paciente em risco.16 Além disso, ocorrem pontos de entrada através de contato
dérmico (dermatite de contato irritante) e inalação (pó para luvas de látex).3
© 2012 ICU Medical Inc.
M1-1252P Rev. 01
Uma lista parcial de produtos que podem conter látex inclui:
>> Luvas de exame e cirúrgicas
>> Tubos intravenosos
>> Seringas
>> Cateteres de monitoração (CAP)
>> Portas de injeção
>> Torniquetes
>> Cateteres urinários
>> Capas e bainhas de agulhas
>> Estetoscópios
>> Vias respiratórias orais e nasais
>> Drenos de feridas
>> Braçadeiras de PA
>> Tubos endotraqueais
>> Máscaras de anestesia
>> Manguitos de enema3
17
IMPACTO CLÍNICO DA HIPERSENSIBILIDADE AO LÁTEX
Meses ou até anos de exposição sem sintomas podem preceder a ocorrência de sintomas clínicos de uma reação ao látex
de tipo I. Sérias consequências podem ocorrer no ambiente clínico, como a relatada no caso a seguir:
Um cateter de artéria pulmonar foi usado em um paciente de 63 anos submetido a uma resseção cirúrgica de um aneurisma
aórtico abdominal de 11mm. Após a inserção de cateteres na artéria radial e artéria pulmonar e antes da indução de
anestesia, o anestesista observou que o paciente sofreu uma diminuição acentuada da pressão arterial sistólica de 120
para 70 mmHg. A cirurgia foi adiada para o dia seguinte, a despeito do risco de ruptura do aneurisma, para que se
identificasse a causa dessa evidente reação alérgica sistêmica. No segundo dia, o cateter de AP foi inserido, e o paciente
reclamou imediatamente de dispneia, o SaO2 diminuiu de 93% para 79%, e auscultação pulmonar revelou espasmo
bronquial. Foi realizada uma intubação traqueal, o paciente foi tratado com fenilefrina e epinefrina, e cristaloides foram
utilizados para expansão de volume a fim de restaurar o status hemodinâmico. Esse paciente não tinha relatado nenhum
histórico de sensibilidade ao látex. 17 Este e outros relatos de casos sugerem que a alergia ao látex deve ser considerada
em qualquer caso suspeito que apresente esses sintomas durante cirurgia. 18
ALERGIA AO LÁTEX: CUSTO POTENCIAL PARA O HOSPITAL E O MÉDICO
Os custos da alergia ao látex ocorrem em três áreas: 1) defesa em processos judiciais, 2) sentença com indenização quando
um paciente é lesionado por exposição ao látex, 3) para compensar profissionais de saúde que desenvolveram
hipersensibilidade ao látex por exposição repetida a produtos de látex no trabalho.
Em 1999, Phillips et al. relatou um estudo que comparava ambientes sem látex com a situação da época em três instituições
de saúde na Geórgia, EUA.19 Essas instituições incluíam
um hospital de atendimento terciário, um hospital local
e uma clínica de atendimento ambulatorial. O custo do
profissional com incapacidade total devido à
Médicos, enfermeiros e hospitais podem
ser responsabilizados financeiramente
por lesões sofridas por um paciente
devido à exposição e reação ao látex.
hipersensibilidade ao látex em decorrência de
exposição repetida ao produto foi calculado como
sendo de US$ 109.000, quando o trabalhador era
considerado totalmente incapacitado e recebia dois
terços da média dos ganhos semanais por 400 semanas. O custo do trabalhador classificado como parcialmente
incapacitado foi calculado como sendo de US$ 62.000, quando o profissional recebia um salário substituto equivalente a
dois terços da média dos ganhos semanais por 350 semanas.19 Em uma população em que 17% dos profissionais de saúde
têm algum grau de sensibilidade ao látex, a compensação por perda de salário pode representar um risco financeiro
substancial para os hospitais.
Médicos, enfermeiros e hospitais podem ser responsabilizados financeiramente por lesões sofridas por um paciente
devido à exposição e reação ao látex. No caso Dunwoody versus Daniels, no qual o Emory Hospital inseriu um cateter de
látex em um paciente gerando uma reação subsequente ao produto, o Tribunal de Apelação da Geórgia considerou que “o
Emory violou o padrão de atendimento ao usar um cateter de látex.”20 Em 2005, a Associação Médica Americana relatou
que, embora os médicos vençam em juízo em 83% dos casos (de negligência médica) contra eles, o custo médio para
obter o veredito favorável é de aproximadamente US$ 94.000.21 Além disso, a multa média concedida por júri por
responsabilidade médica em processos desse tipo aumentou em 2004 para US$ 439.000.21 De acordo com um estudo
envolvendo 186 vereditos favoráveis aos queixosos na Califórnia, Flórida e Texas, os jurados concederam multas no valor
médio nesses casos de US$ 22,6 milhões, cada.22
CONCLUSÃO
Nas últimas décadas, a maior atenção clínica aos riscos associados ao uso de produtos de látex resultou em salas sem
látex nos hospitais.3 Esse esforço não é uma solução adequada e não eliminará o problema até que os produtos de látex
sejam totalmente removidos do ambiente clínico. A implementação de ambientes clínicos totalmente livres de látex pode
não ser possível até que o impacto financeiro sobre as partes responsáveis seja reduzido. O potencial para banir produtos
de látex conta com a crescente conscientização global dos perigos das alergias ao látex. Enquanto isso, cabe a todos os