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AESE Escola de Direcção e Negócios Publicação: quinzenal Director: J.L.Carvalho Cardoso Editor e Proprietário: AESE Impresso por: Cromaticamente Depósito legal: nº 21228/88 Preço: e 1 22º Ano CORREIO DA AESE Nº 520, 1-11-2009 A crise também atinge os funcionários públicos Os cortes na jornada de trabalho ou as férias forçadas sem remuneração têm vindo a converter-se na fórmula de compromisso para que as empresas possam reduzir gastos sem recorrer aos despedimentos em massa. Não parece que os funcionários públicos, normalmente preservados destas variações no estatuto laboral, possam permanecer a salvo de medidas que a crise já alargou ao sector público em várias partes do mundo. Nos Estados Unidos, Chicago suspendeu em meados de Agosto os serviços públicos durante um dia, prevendo uma poupança de 8,3 milhões de dólares. A paragem, que significou o encerramento por 24 horas das bibliotecas, dos serviços de recolha de lixo e de alguns centros de saúde, repetir-se-á pelo menos outros dois dias (27 de Novembro, dia seguinte à festa de Acção de Graças, e 24 de Dezembro, véspera de Natal), tendo em conta o défice de 300 milhões de dólares das finanças da cidade. «Cada dólar que pouparmos com estas medidas estará a ajudar a salvar postos de trabalho e, a longo prazo, a garantir os serviços aos habitantes de Chicago», assegurou Richard M. Daley, presidente da câmara da cidade, que aproveitou além disso para agradecer o «sacrifício» que por esta causa fazem os funcionários públicos. A Califórnia, por seu turno, que reconheceu um défice de 24 300 milhões de dólares, declarou em PANORAMA Julho a emergência orçamental e impôs o encerramento de três dias por mês para todos os escritórios públicos. Também o Michigan previu um plano de poupança de 22 milhões de dólares, deixando de pagar aos seus empregados seis das jornadas que trabalharam até finais de Setembro. Até 12 Estados acusam a crise que os obrigou a diminuir os gastos cortando nos serviços, pelo que Ron Snell, director dos serviços estaduais na Conferência Nacional de Assembleias Legislativas locais, admitiu que o encerramento temporário «se converteu numa prática comum para enfrentar a escassez deste ano». Já em Fevereiro, o Eurogrupo tinha aconselhado as empresas a disfarçar a queda da produção aplicando aos trabalhadores a redução da jornada de trabalho. Os ministros das Finanças europeus comprometeram-se então, a partir de uma proposta da Comissão Europeia, a incentivar as «soluções flexíveis» que mitigassem o impacte social da crise e dessem às empresas a possibilidade de poupar custos de despedimento e de contratação futura, preservando o capital humano. Joaquín Almunia, comissário dos Assuntos Económicos e Monetários, salientava naquela altura que tais soluções podiam ser conseguidas «através da combinação de diferentes instrumentos entre os acordados na negociação colectiva e a utilização de fórmulas como os Expedientes de Regulamentação de Emprego com suspensão de contrato». Nalguns países da Europa de Leste, a crise das finanças públicas atingiu em cheio os funcionários públicos. É o caso, por exemplo, da Roménia, que está submetida a uma severa recessão, com um recuo no seu PIB de, pelo menos, 8,5%. Os polícias romenos manifestaram-se diante da sede do ministério do Interior, denunciando que trabalham em condições de tal precariedade que têm até de adquirir os seus artigos de escritório, comprando-os com o seu salário de 250 euros por mês. A mesma coisa reclamam os médicos dos hospitais públicos. Mas o governo procura seguir o compromisso feito perante o FMI de reduzir em 1000 milhões de euros os gastos orçamentais para 2009, e outros 3000 milhões em 2010. Para este ajustamento, os funcionários públicos serão obrigados a passar dez dias de descanso não remunerado entre Setembro e Novembro. Segundo o ministro das Finanças romeno, Gheorghe Pogea, esta medida procurará obter para a deprimida economia nacional uma redução do défice orçamental igual a 3% do PIB. O FMI autorizou Bucareste a afectar ao pagamento de salários dos empregados públicos uma parte do empréstimo de 20 000 milhões de dólares que o próprio FMI, a União Europeia e o Banco Mundial acordaram em Março com a Roménia. A coligação entre os liberais (PDL - Partido Democrata Liberal) do presidente Traian Basescu e os sociais-democratas (PSD), transformada num conflito interno que se agudizou com a proximidade das eleições (em finais do ano), tornou impossível a definição de uma linha política coerente, e manteve a situação de corrupção que caracteriza a administração romena. Na sua edição de 15 de Agosto, o Le Monde comentava que entretanto o presidente da câmara de Bucareste, Sorin Oprescu, com aspirações presidenciais no país, disponibilizou 700 000 euros para cobrir com ouro várias estátuas da capital. Mais recentemente, o PSD abandonou a coligação, para protestar contra a demissão de um dos seus ministros, e o governo subsequente, formado apenas pelo PDL, acabou por ser derrubado por uma moção de censura que foi aprovada pelo PNL (Partido Nacional Liberal), pela UDMR (União Democrática dos Magiares da Roménia) e pelo PSD. Traian Basescu nomeou um economista independente, Lucian Croitoru, que está em diligências para formar governo. Em Espanha, dez dias depois de a secretária de Organização do PSOE, Leire Pajín, ter declarado que «não estava sobre a mesa congelar o salário dos funcionários públicos nesta altura», o ministro do Fomento, José Blanco, pronunciou-se a favor de fixar «níveis de contenção» para o próximo ano nos salários dos trabalhadores do funcionalismo público, embora tenha assegurado que esta medida não significaria «uma perda do poder de compra». O Orçamento Geral do Estado para 2009 tinha previsto um aumento salarial de 2% para os mais de três milhões de funcionários públicos que existem em Espanha, uma percentagem que na realidade ultrapassaria os 3%, se se contassem os pagamentos extraordinários e outros complementos específicos. Correio da AESE Canadá: filhos de doador es doadores de gâmetas quer em querem saber origens No Canadá, uma mulher nascida por inseminação artificial apresentou uma acção judicial em nome de todos os filhos concebidos por doação anónima de gâmetas na Colúmbia Britânica, para garantir o direito a conhecer a identidade dos seus pais biológicos. Na sequência da acção judicial, o Supremo Tribunal dessa província canadiana proibiu que fosse feita a destruição dos expedientes até o caso ser resolvido. A acção judicial alega que a lei em vigor na província da Colúmbia Britânica discrimina as pessoas que foram concebidas graças às técnicas de reprodução assistida. Esta lei estabelece que as clínicas só têm a obrigação de conservar os dados sobre os doadores de gâmetas (seja de esperma ou de óvulo) durante um período de tempo de seis meses. Pelo contrário, no caso de crianças adoptadas, não existe qualquer prazo e dão-se mais facilidades para que conheçam aqueles que são os seus pais biológicos. Wendy Rowney, vice-presidente do Conselho de Adopção do Canadá, pensa que o argumento esgrimido pela demandante acerta no alvo. «Todos os seres humanos precisam de saber quem são e de onde vêm. Tanto faz que sejamos adoptados ou concebidos por intermédio de doação de gâmetas: todos nós temos direito a que essa informação seja conhecida.» Para Joseph Arvay, um dos advogados que prestou assessoria à demandante, o direito dos filhos a conhecer as suas origens genéticas é fundamental por várias razões. «O direito a conhecer aqueles que são os pais biológicos e qual é o seu historial médico pode ser vital para a saúde dos nossos clientes. Além disso, esta informação garante que ninguém se vai casar sem o saber com um dos seus irmãos. Mas a razão decisiva é que conhecer as próprias raízes é algo fundamental para a identidade de qualquer pessoa.» 6 Mar y Ann Glendon Mary desafia a Notr e Notre Dame e Obama A prestigiada jurista renuncia a um galardão da Notre Dame para não avalizar a concessão do doutoramento honoris causa ao presidente Obama. O doutoramento honoris causa que a Universidade de Notre Dame concedeu a Barack Obama converteu-se num quebra-cabeças para esta universidade católica. Foi criticada por muitos católicos que consideram que não se deve dar honrarias a um político defensor do aborto e da investigação com células estaminais embrionárias. Outra personalidade convidada para a cerimónia, a professora Mary Ann Glendon, renunciou à distinção que lhe ia ser concedida, a Laetare Medal, para não avalizar a posição da universidade. A Notre Dame, a universidade católica mais importante dos EUA, decidiu convidar Barack Obama para pronunciar o discurso da cerimónia de graduação e concedeu-lhe um doutoramento honoris causa. O reitor, o Rev. John I. Jenkins, alegou que outros presidentes tinham sido também convidados anteriormente, e que o que se queria honrar em Barack Obama é a sua histórica eleição e o seu ambicioso programa social de luta contra a pobreza, a cobertura sanitária, a ruptura das barreiras de raça... Isso não implicava que estivessem de acordo com todas as suas posições, nomeadamente em relação à defesa da vida. Mas esta explicação não evitou que surgissem muitas críticas, tanto por parte de bispos, como de líderes católicos e simples fiéis. Não é em vão que uma das primeiras medidas tomadas por Obama foi o levantamento do veto ao financiamento federal para organizações que promovem o aborto no estrangeiro, medida que, segundo um inquérito da Gallup, só foi apoiada por 35% dos norte-americanos. E, pouco depois, autorizou também o financiamento federal de investigações com células estaminais embrionárias, que significa a destruição de embriões humanos e que, diversamente das células estaminais adultas, não deram provas ainda de curar nada. No mesmo acto estava previsto fazer a entrega da Laetare Medal da Notre Dame à célebre jurista Mary Ann Glendon, professora de Harvard, ex-embaixatriz dos EUA na Santa Sé durante a Administração Bush e presidente da Academia Pontifícia de Ciências Sociais. Glendon tinha recebido 7 já o doutoramento honoris causa pela Notre Dame em 1996. A Laetare Medal é um galardão de prestígio. Mas a cerimónia de graduação da Notre Dame sofreu outro choque: Mary Ann Glendon renunciou à Laetare Medal. Numa carta ao reitor da Notre Dame, John Jenkins, religioso da Congregação da Santa Cruz, explicava os seus motivos. Em primeiro lugar, recordava ao reitor que os bispos tinham pedido em 2004 às instituições católicas que «não concedessem honrarias aos que actuam sem respeitar os nossos princípios morais fundamentais» e que a tais pessoas «não deveriam ser concedidos prémios, honrarias ou plataformas que pudessem sugerir um apoio às suas acções». «Este pedido», anota Glendon, «que de modo algum implica um controlo ou interferência com a liberdade de uma instituição para convidar e debater com quem quiser, parece-me tão razoável que não percebo como uma universidade católica o pode não respeitar.» Esta observação, proveniente de uma professora que ensinou em universidades tão seculares como Harvard, não pode ser despachado invocando sem mais a liberdade académica. A segunda coisa que incomodou Mary Ann Glendon foi que, em directrizes escritas dadas pela universidade para que o seu conselho de patronos respondesse às críticas pela distinção oferecida a Obama, deu-se a entender que o discurso da jurista serviria como contrapeso para procurar um equilíbrio no acto académico. Glendon pensa que uma cerimónia de graduação deve ser um dia alegre para os alunos e as suas famílias. Por isso, diz, não é o lugar oportuno para abordar o grave problema que suscita a decisão da Notre Dame de «conceder honrarias a um destacado e inflexível opositor da posição da Igreja em questões que têm a ver com princípios fundamentais de justiça». Por último, a jurista menciona que, perante notícias de que outras escolas católicas poderiam também não ligar às directrizes episcopais, «preocupa-me», diz, «que o exemplo da Notre Dame possa constituir um infeliz exemplo expansivo». Por tudo isso, Mary Ann Glendon renunciou à Laetare Medal e a participar na cerimónia de graduação. A Casa Branca lamentou a decisão de Mary Ann Glendon, mas disse que o presidente iria manter o seu compromisso de fazer um discurso «respeitador e inclusivo» na cerimónia de graduação. Obama sentiu-se honrado por «contar com o apoio de pessoas de todas as crenças religiosas», embora sem esperar que todos concordem com ele em tudo, pois Correio da AESE «o espírito de debate e de são desacordo em temas importantes faz parte daquilo que este país aprecia». -vida, que criticaram as posições do presidente favoráveis ao aborto, tendo sido expulsas do local pela Barack Obama pronunciou o seu discurso na universidade de Notre Dame de South Bend (no Estado da Indiana), tendo esse discurso sido interrompido e vaiado por pessoas com posições pró- polícia. O presidente norte-americano recebeu o doutoramento honoris causa concedido pela Notre Quem Quer Ser Milionário Slumdog Millionaire Realizador: Danny Boyle Actores: Dev Patel; Freida Pinto Música: A. R. Rahman Duração: 120 min. Ano: 2008 Um filme em que ninguém apostava. Custou 15 milhões de dólares e rendeu até agora mais de 300 milhões. Nenhuma distribuidora queria comercializá-lo inicialmente. Mas foi o grande vencedor dos óscares como num conto de fadas, imitando de algum modo o «sonho» retratado no seu argumento… Com esta obra pode-se dizer que a «globalização» chegou também ao cinema: a produção é americana, os actores são indianos e o realizador e o guionista são ingleses. Mas o segredo do sucesso não foi de cariz económico: foi antes um retrato fiel da natureza humana, independentemente da raça, da religião ou da idade. Há narrativas universais e esta é uma delas, congregando a adesão do público, pois todos apreciam uma boa história... Um rapaz pobre conquista o concurso Quem Quer Ser Milionário, um programa televisivo globalizado mediaticamente». Pensam que fez batota. Interrogado pela polícia, ficamos a saber como é que ele conhecera cada resposta. A sua vida é mostrada cruamente e podemos identificar-nos com ele. Associação de Estudos Superiores de Empresa l Dame, tendo esta cerimónia decorrido no passado mês de Maio. O que sobressai é a motivação. Ela guia e dirige cada acção do herói. Ele pretendia conquistar o amor da sua vida e fazê-la feliz! Não pretendia enriquecer ou ter fama. A sua realização pessoal ia para além de si mesmo. Pelo contrário, um dos antagonistas, que por sinal era seu irmão, procurava satisfazer-se a si próprio, acumulando bens materiais e servindo-se dos outros para seu bel-prazer. Acabará por se dar conta da falta de sentido de uma vida assim vivida, redimindo-se do mal que fizera. O happy end final é paradoxal e interpela o espectador: o «destino» constrói-se no jogo da liberdade e da responsabilidade de cada decisão pessoal. Por um lado, há uma alusão ao que «estava escrito», mas também constatamos que a única vez que o rapaz recebera uma resposta escrita ao que não sabia, ela estava errada. Ele só não se engana porque decidiu - depois de reflectir - escolher a outra hipótese. É que o «fado» não se cumpre sem a nossa participação… nós é que o concretizamos com as opções que tomamos. Tópicos de análise: 1. A motivação por conseguir algo interior é superior ao esforço por alcançar bens materiais. 2. Enfrentar as contrariedades da vida fortalecem o carácter. 3. Lutar por convicções de um modo coerente e persistente anima os outros a juntarem-se a esse objectivo. 4. Conhecer claramente o que se pretende alcançar ajuda a manter o rumo bem orientado. 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