Parte 1 - Instituto Homem Pantaneiro
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Parte 1 - Instituto Homem Pantaneiro
Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Pantanal Sul Descobrindo o Paraíso Organizadores Angelo C. P. Rabelo Viviane F. Moreira Alessandra Bertassoni Camila Aoki Revisor Técnico Fabio Olmos 2 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 3 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista RPPN EEB / Pantanal Sul EDITORA 4 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 5 MEMBROS IHP Marta Fernandes - Coordenadora Financeira Jociara Aparecida da Silva - Assistente Financeiro Rafael Matsui Arakaki - Coordenador Administrativo Juliana Freitas de Avellar - Gerente Administrativa Marcelo H. Galharte - Assessor Jurídico Silvio Carlos de Andrade - Assessor de Imprensa INSTITUTO HOMEM PANTANEIRO Suzana Rozendo - Assessora de MKT e Comunicação Magadielly da Silva Moraes - Estagiária Cléia Fernandes Cabrera - Gerente Operacional Luiza Barros de Lacerda - Assistente Administrativo ficha técnica José Roberto dos Santos Júnior - Auxiliar Administrativo Marcelo Henrique Galharte - Assessor Jurídico Roselene Alzeman - Secretária Márcia R. Rolon Paula Pires - Relações Públicas Presidente René Machado - Arte e Criação Rubens de Souza Secretário Executivo DESCOBRINDO O PARAÍSO MEMBROS DO SETOR DE MEIO AMBIENTE - IHP ASPECTOS BIOLÓGICOS DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL ENGENHEIRO ELIEZER BATISTA – RPPN EEB /PANTANAL SUL Viviane F. Moreira – Bióloga e Gestora do Setor de Meio Ambiente do IHP Stephanie Leal – Geógrafa Especialista em Gestão e Educação Ambiental e técnica ambiental Nilson Lino Xavier Filho – Biólogo e técnico ambiental Fernanda Rabelo – Medica Veterinária, Mestranda em Biologia Animal e técnica Ambiental Organizadores Grasiela Porfírio - Mestre em Ecologia e Conservação Doutoranda em Biologia Aplicada, técnica Ambiental Angelo C. P. Rabelo Ramão Feitosa – ex-sargento da Polícia Militar Ambiental e piloteiro Viviane F. Moreira Sebastião Rolon - Colaborador geral Alessandra Bertassoni Sabrina Clink – graduanda em Ciências Biológicas e voluntária do IHP Camila Aoki Ângelo P.C. Rabelo –Conselheiro Neide de O. Rodrigues – Estagiaria Serviço Social Revisor Técnico Fernanda G. Sandim dos Santos - graduanda em Ciências Biológicas e voluntária do IHP Fabio Olmos André Wagner Amorim Brandão - Auxiliar Operacional da RPPN EEB Francianne Souza da Silva - Auxiliar Operacional da RPPN EEB Valdir Pereira do Nascimento - Assistente de Monitoramento 6 Descobrindo o Paraíso 2012 impresso no Brasil - Rio de Janeiro - RJ Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 7 Missão do Instituto Homem Pantaneiro Promover o Desenvolvimento Sustentável do Pantanal por meio de ações que conservem os capitais natural, social, cultural e histórico. 8 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 9 Sumário PARTE I Palavras Iniciais / MMX.....................................................................................XXX Apresentação IHP...............................................................................................XXX Agradecimentos / Organizadores.....................................................................XXX Prefácio / Fábio Olmos.......................................................................................XXX PARTE II Introdução e Área de Estudo..............................................................................XXX Criação da Coleção de material botânico..........................................................XXX abelhas.................................................................................................................XXX Aranhas (Araneae)..............................................................................................XXX Besouros..............................................................................................................XXX Borboletas...........................................................................................................XXX Formigas..............................................................................................................XXX Odonata..............................................................................................................XXX Percevejos............................................................................................................XXX Mamíferos...........................................................................................................XXX Vespas.................................................................................................................XXX Conclusões e ações futuras na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista.................................................................................XXX 10 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 11 Palavras Iniciais Guilherme Escalhão Diretor-Presidente da MMX - Mineração e Metálicos Uma viagem fascinante... Com grande satisfação, a MMX associou-se ao Instituto Homem Pantaneiro para viabilizar a edição deste livro que ora colocamos à disposição da comunidade do Mato Grosso do Sul e do Brasil. Aspectos Biológicos da RPPN Engenheiro Eliezer Batista é uma publicação que, temos certeza, contribuirá decisivamente para divulgar a região do Pantanal e, muito especialmente, para estimular o debate técnico-científico sobre esta região que apresenta um dos mais notáveis acervos de biodiversidade do Brasil e do mundo. É, igualmente, iniciativa que reafirma a filosofia da MMX de pautar suas atividades pelo mais absoluto compromisso com o desenvolvimento sustentável, que tem como uma de suas premissas fundamentais a preservação ambiental. Nossa crença, expressa no modelo de gestão que adotamos – a Gestão Integrada do Território – GIT – é a de que o êxito de um empreendimento empresarial só é alcançado se a região onde se desenvolve – o seu entorno - também evolui, progride e proporciona melhoria da qualidade de vida das comunidades e das pessoas. É um modelo participativo e democrático, que mobiliza e produz sinergia entre o Poder Público, empresas, organizações da sociedade civil, instituições de educação e lideranças regionais. O objetivo, sempre, é o de produzir soluções sustentáveis e apoiadas nas culturas locais para produzir desenvolvimento. Este é o modelo de gestão que norteia as atividades e as ações da MMX na Unidade Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde produzimos minério de ferro desde 2005. E também participamos de ações socioambientais de grande relevância, dentre as quais se destaca a criação, em 2008, da Reserva Particular de Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista. 12 Descobrindo o Paraíso Como se verá nas páginas deste livro, essa Reserva engloba 20 mil hectares à margem direita do Rio Paraguai, na Serra do Amolar. Com fauna e flora típicas do Pantanal Sul, este ecossistema é reconhecido como um dos mais bem cuidados de toda a região. Nele, preservados e protegidos, encontramos espécies raras de mamíferos e pássaros, incluindo animais ameaçados de extinção, como o tatu-canastra, a onça pintada e a ariranha. Este é o universo magnífico descrito nas páginas de “Aspectos Biológicos da RPPN Engenheiro Eliezer Batista”. Editado a partir de ampla e criteriosa pesquisa sobre a biodiversidade da reserva, este livro se torna em preciosa fonte de estudos para a comunidade científica brasileira. Adicionalmente, vem contribuir para complementar e enriquecer inúmeras outras atividades que a MMX desenvolve na região em parceria com o Instituto Homem Pantaneiro, sempre com foco predominantemente na educação e meio ambiente. No rol destes projetos, destacam-se a inclusão da RPPN Eliezer Batista no roteiro para atividades de campo dos cursos de pós-graduação em Ecologia e Conservação e em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, bem como o desenvolvimento de projetos científicos de educação ambiental e o Projeto Coleção Biológica, cujo objetivo é criar, para fins didáticos, um acervo relevante com materiais biológicos presentes na RPPN Eliezer Batista. Ao final, com muito prazer, convido o prezado leitor a nos acompanhar nesta bela e fascinante viagem pelas páginas desse livro. É imperdível, posso assegurar. Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 13 Apresentação Instituto Homem Pantaneiro Ao longo dos últimos 10 anos o Instituto Homem Pantaneiro – IHP tem buscado cumprir com muita dedicação a grande responsabilidade de ser o Gestor da Reserva Engenheiro Eliezer Batista, função esta delegada pela empresa MMX - Mineração e Metálicos S. A. que dentro de seus compromissos voluntários adquiriu esta importante área com objetivo de contribuir para conservação do bioma Pantanal. Durante este período de gestão, implementamos uma serie de ações a exemplo de elaborar o Plano de Manejo, estabelecer parcerias estratégicas com a comunidade cientifica e outras ONGs na região. Um dos pontos que nos chamou atenção foi a ausência de estudos científicos na região da Serra do Amolar, particularmente na área da reserva onde definimos nesta deficiência um das nossas principais metas. Implementar um amplo programa de investigação cientifica era fundamental para direcionar nossas ações de conservação. Em maio de 2010, o Instituto Homem Pantaneiro - IHP escreve o projeto “Programa Coleção Biológica Didática da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista – RPPN EEB”, o qual teve como objetivo a implantação de uma coleção na RPPN EEB que pudesse ser utilizada para fins didáticos. A meta inicial era de evidenciar o valor de biodiversidade de uma região do Pantanal ainda desconhecida. Outro objetivo foi de servir como um instrumento de educação ambiental para a população ribeirinha da região da Serra do Amolar, policiais militares ambientais, estudantes, bem como por pesquisadores e acadêmicos de graduação e pós-graduação interessados em atividades científicas. 14 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 15 Assim, foram identificados os especialistas para colocar o programa em prática e promover ações de conservação, geração de conhecimento sobre biodiversidade e implantar pesquisas científicas na região da Serra do Amolar, mais especificamente na RPPN EEB. Essa região configura como uma das áreas de prioridade e importância extremamente alta para a conservação segundo a classificação do Ministério do Meio Ambiente, porém com conhecimento considerado escasso. A elaboração deste livro é resultado da dedicação de vários profissionais envolvidos na execução do projeto, desde pesquisadores seniores, alunos de pós-graduação de mestrado e doutorado, e alunos de graduação, de diferentes instituições de pesquisa. Esse esforço resultará em um estímulo às informações já conhecidas para alguns grupos taxonômicos no Pantanal e a divulgação através do livro contribuirá para aumentaras medidas de conservação, que poderão ser melhores definidas, e as necessidades de investigação receberão uma outra relevância. Durante um ciclo completo característico do Pantanal, ou seja, um período de seca e cheia foi identificado, na RPPN EEB 42 espécies de abelhas, onde 6 delas constituíram um novo registro para o Estado de Mato Grosso do Sul. Registramos 82 espécies de aranhas durante o período de estiagem, e 77 durante a cheia, sendo que dentro desse total existe a possibilidade de confirmação de 10 novas espécies para a ciência. Entre os grupos em destaque podemos apontar as borboletas, com 62 espécies, onde 11 delas também representaram um novo registro para o MS, e 120 espécies de formigas, 2 delas com novo registro para o Estado. Os besouros somaram 420 espécies, seguidas pelas plantas com 140 espécies. Quanto ao grupo das vespas foram identificadas 50 espécies, os mamíferos corresponderam a 33 espécies e as libélulas 24 espécies. Os heteropteras somaram 71 espécies, sendo uma delas confirmada como nova para a ciência. Rhyparoclopius aokiae foi descrito homenageando uma das editoras dessa publicação pelo seu esforço em prol do conhecimento e conservação das espécies de invertebrados. O estudo detalhado da composição desse grupo na Serra do Amolar é uma das maiores contribuições dessa publicação para a ciência. O fato, que chama a atenção nos dados que esse livro traz, é que para a maior parte dos grupos estudados, esta é a primeira listagem para a região. A carência de estudos técnicos e científicos para a área reflete na recomendação do Ministério do Meio Ambiente: a necessidade de inventários sobre fauna e flora. Acreditando na máxima “Conhecer para preservar”, busca-se através deste documento aumentar o conhecimento biológico para o Pantanal Sul Matogrossense e poder auxiliar nas estratégias de conservação da diversidade biológica. Espero que esse livro estimule as iniciativas de pesquisas na RPPN EEB e nas demais áreas da Serra do Amolar, uma vez que a associação da riqueza de espécies e dos processos ecológicos entre a Planície Pantaneira e a Serra do Amolar faz desta uma região estratégica para a conservação do Pantanal, por formar um corredor biológico e geográfico potencialmente importante. O Instituto Homem Pantaneiro – IHP cumprimenta os pesquisadores pela dedicação na qualidade do presente trabalho e agradece a confiança de todos e reiteramos o respeito pela empresa MMX e o compromisso de assegurar total empenho nos esforços de conservação deste valioso patrimônio de nosso país. 16 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 17 Agradecimentos Organizadores A publicação deste livro só foi possível com o apoio e a colaboração de um grande número de pessoas e instituições. Agradecemos a todos que participaram das etapas de coleta de campo, triagem e preparação do material para a Coleção Biológica Didática da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista – RPPN EEB. Bem como à todos os autores dos capítulos que analisaram os dados, forneceram panoramas sobre os grupos e dedicaram o seu tempo à escrever sobre essa área com tanta carência em estudos. Nossos agradecimentos se estendem ainda a todos os pesquisadores e fotógrafos que gentilmente cederam imagens para esta publicação, que enriqueceram grandemente o conteúdo desta obra. Ainda, à todos os estagiários e voluntários do Instituto Homem Pantaneiro e das demais instituições que auxiliaram na compilação de informações. 18 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 19 Participantes desta publicação Viviane F. Moreira – Bióloga e Gestora do Setor de Meio Ambiente do IHP (Coordenação Geral e Organizadora do Livro). Possui mestrado em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal Mato Grosso do Sul – UFMS (2011) e graduação em Bacharelado em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2000). Especialização em Ecoturismo Latu sensu (2002). Atualmente é Gestora do Programa de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro – MS, e Gestora de Projetos de Desenvolvimento da Prefeitura Municipal de Corumbá - MS. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Gestão de áreas Protegidas e projetos na área de Conservação da natureza. Alessandra Bertassoni – Mestre em Ecologia e Conservação e Técnica Ambiental (Coordenação de campo e do grupo de Pegadas/Mamíferos e organizadora do livro). Possui mestrado em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal Mato Grosso do Sul - UFMS (2010) e graduação em Bacharelado em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR (2006). Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em mastozoologia, e em projetos de Conservação da Natureza. Atua principalmente nos seguintes temas: ecologia, conservação, etologia, tamanduá-bandeira, padrões motores, área de vida e educação ambiental. Participantes da Campanha I – Período de seca, julho de 2010. Da esquerda para direita – Wellinton, Rodney, Rondon, Sebastião Rolon, Nilson, Alessandra, Sabrina, Iraci, Valdilene, Camila, Feitosa, Stephanie, Mara. Superior – Viviane e Fernanda. Foto: Bolivar Porto Stephanie Leal – Geógrafa e técnica ambiental. Possui graduação em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2006).Especialista em Gestão e Educação Ambiental. Atualmente, técnica ambiental do Instituto homem Pantaneiro no setor de Meio Ambiente, principalmente, para o desenvolvimento e aprimoramento da geografia humana. Camila Aoki - Mestre e Doutoranda em Ecologia e Conservação (Coordenação do grupo de Artrópodes). Bióloga com mestrado em Ecologia e Conservação e doutoranda na mesma área na Universidade Federal de Participantes da Campanha II – Período de cheia, março de 2011. Da esquerda para direita – Iraci,Francianne, André, Márcio, Feitosa, Wellinton, Regiane Viviane, Fernanda, Grasiela,Fábio, Alessandra, Breno, Daiene, Oswaldo, Camila, Nilo e Sebastião. Foto: Daniel DeGrenville 20 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 21 Mato Grosso do Sul (UFMS), trabalha com interação planta-polinizador e desenvolve pesquisas na área de ecologia de insetos. Ramão Feitosa – Policial Militar Ambiental da Reserva e piloteiro (colaborador geral) Mara Cristina Teixeira Gamarra – Bióloga (Colaboradora do grupo de Artrópodes). Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2006). Tem experiência na área de ecologia e zoologia, atuando principalmente nos seguintes temas: macroinvertebrados e taxonomia de insetos (com ênfase na ordem Odonata). Sebastião Rolon - Colaborador geral Wellinton de Sá Arruda – Mestrando em Botânica (Coordenação do grupo de Botânica). Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2007). Tem experiência na área de zoologia (herpetofauna), com ênfase em taxonomia dos Grupos Recentes e na Botânica, com ênfase em fitossociologia. Atualmente é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal pela UFMS. Nilson Lino Xavier Filho – Biólogo e técnico ambiental (Colaborador do grupo de Pegadas). Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2008). Atualmente é técnico ambiental do Instituto Homem Pantaneiro – IHP. Tem experiência captura-marcaçao-recaptura de médios carnívoros, monitoramento de médios carnívoros através de radiotelemetria e armadilhamento fotográfico, análise de material biológico (sangue, fezes, ectoparasitas). Área de atuação educador ambiental e Ecologia de comunidades no Pantanal. Fernanda Rabelo – Veterinária e consultora externa (colaboradora geral). Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Católica Dom Bosco (2008). Mestranda em Biologia Animal UFMS. Atualmente é técnica ambiental do Instituto Homem Pantaneiro (OngCorumba/MS). Valdilene Garcia – Engenheira agrônoma e técnica ambiental (colaboradora geral) Bolivar Porto– Fotógrafo profissional Sabrina Clink – graduanda em Ciências Biológicas e voluntária do IHP (colaboradora geral). Esta cursando Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus Pantanal. Previsão de termino em 2014. Em 2010 atuou como voluntaria do Programa do Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro, uma ONG situada no município de Corumbá no estado de Mato Grosso do Sul e atualmente é estagiaria da citada instituição. Rodney Ribeiro Junior - graduando em Geografia e voluntário do IHP (colaboradora geral). Atualmente esta cursando Geografia Licenciatura, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. Previsão de conclusão do curso em 2011. Esta realizando treinamento voluntário no programa de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro (ONG), que situa-se na cidade de Corumbá-MS. Iraci Magalhães – Cozinheira e auxiliar de Serviços Gerais Grasiela Porfírio - Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro – IHP – Corumbá; Bióloga (2004), Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2009). Doutoranda em Biologia Aplicada, com o tema Ecologia, Biodiversidade e Gestão de ecossistemas pela Universidade de Aveiro, Portugal. Tem experiência na área de ecologia e conservação de médios e grandes carnívoros tropicais, além da gestão de RPPNs. Antônio Rondon da Silva – Policial Militar Ambiental (apoio operacional) Gudryan J. Barônio - Universidade Federal de Uberlândia, PPG Ecologia e Conservação de Recursos Naturais. Possui graduação em Ciências 22 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 23 Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2010). Atualmente é aluno do Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal de Uberlândia, e desenvolve o trabalho de dissertação com estudo de ecologia comportamental dos visitantes florais de Malpighiaceae e disponibilidade de recursos florais. Maria Rosângela Sigrist - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, PPG Biologia Vegetal. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (1989), mestrado (1992) e doutorado (2001) em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é assessora da Revista Brasileira de Botânica (2005-2008) e da Acta Botânica Brasilica (2003-2008) e professor associado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Botânica e Ecologia, com ênfase em Ecologia da polinização, atuando principalmente nos seguintes temas: fenologia reprodutiva, conservação de polinizadores, polinização por abelhas, polinização em Malpighiaceae, levantamento de fauna antófila e manejo de espécies invasoras nativas. Durante dois anos (2007-2009) foi coordenadora do Programa de PósGraduação em Biologia Vegetal/UFMS. Desde 2006 é líder do Grupo de Pesquisa/CNPq “Estudo Multidisciplinar da Flora de Mato Grosso do Sul”. nos seguintes temas: Anthophila (abelhas silvestres): Taxonomia, comportamento e ecologia (Biocenótica e biofaunística). Josué Raizer - Universidade Federal da Grande Dourados, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais. Licenciado em Ciências Biológicas (1996) e mestre em Ecologia (1997) pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, é doutor em ecologia (2004) pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados e esta credenciado nos programas de pós-graduação em ecologia e conservação (UFMS) e em Entomologia e Conservação da Biodiversidade (UFGD). Tem experiência na área de ecologia de comunidades, com interesse sobre variações espaciais na estrutura de comunidades animais, principalmente aquelas explicadas, em escala local, por variações na diversidade de habitats e, em escala regional, pelos componentes da paisagem. Por sua atuação no planejamento e delineamento amostral, participa de vários projetos de pesquisa, incluindo comunidades de mamíferos, aves, repteis, anfíbios e fungos, alem de populações de plantas invasoras de pastagem e comunidades arbóreas. Seu principal objeto de estudo corresponde ao conjunto de espécies de aranhas, em especial no Pantanal sul e Cerrado. Sebastião Laroca - Professor Sênior, Universidade Federal do Paraná. Possui graduação em Historia Natural pela Universidade Federal do Paraná (1969), mestrado em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do Paraná (1972) e doutorado PhD em Entomologia – The University Of Kansas (1983). Meteorologia IPE-Paraná (1966). Atualmente é consultor “ad hoc” – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de estudos e projetos, consultor “ad hoc” da Universidade Federal de Santa Catarina (Departamento de fitotecnia), especialista junto ao Ministério de Relações Exteriores (Brasil) e Professor sênior da Universidade Federal do Paraná. Pesquisador convidado para coorientar teses e monografias em cursos de graduação e pós-graduação na UFMS botânica, polinizadores e sustentabilidade (2007-2009). Tem experiência na área de Entomologia com ênfase em Ecologia (área que trabalha desde 1960), atuando principalmente Antonio D. Brescovit - Instituto Butantan, Laboratório de Artrópodes Peçonhentos. Possui graduação em licenciatura em Ciências – Habilitação em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1984), mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (1989) e doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (1995). Atualmente é pesquisador cientifico do Instituto Butantan, pesquisador associado da Universidade de São Paulo, - Acta Amazônica, - Papeis Avulsos de Zoologia (São Paulo), - Iheringia. Serie Zoologia, Revista Brasileira de Zoologia, - Revista Biociências (Taubaté), Nenhum – American Museum Of Natural History, - Studies On Neotropical Fauna and Environment, - Biota Neotropica (Ed. Portuguesa), - Revista Ibérica de Aracnología, - Zootaxa (Online) e – Biotemas. Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em Taxonomia dos Grupos Recentes, atuando principalmente nos seguintes temas: araneae, arachnida, taxonomia, inventario de aranhas. 24 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 25 André Marsola Giroti - Instituto Butantan, Laboratório de Artrópodes Peçonhentos. Tem experiência na área de Taxonomia e Sistemática de Araneae. Também atuou na área de Genética, com ênfase em Citogenética de Invertebrados, atuando principalmente na obtenção e estudo do numero e morfologia cromossômicos e sistema cromossômico de determinação sexual em araneae. Breno Leonel - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação. Biólogo com graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e mestrado em Ecologia e Conservação também na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), trabalha com ecologia de aranhas. Ana Carolina Vieira Pires - Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em ecologia vegetal, interação inseto-planta e recuperação de áreas degradadas. Daiene Louveira Hokama - Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) . Bióloga com graduação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, atualmente é mestranda em Ecologia e conservação também pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de Anuros. Iria Hiromi Ishii - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. Avenida Rio Branco, 1270, Bairro Universitário, 79304902, Corumbá-MS. Possui graduação em Ciências Biológicas pela universidade Federal de são Carlos (1980), mestrado em ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (1987) e doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (1998). Atualmente é professor Associado 2 da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de Ecossistemas. Atuando principalmente nos seguintes temas: dendrocronologia, INUNDAÇÔES, ANEIS DE CRESCIMENTO. Geraldo A. Damasceno-Júnior - Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Campo Grande. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1987), mestrado (1997) e doutorado (2005) em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em fitogeografia, florística e fitossociologia atuando principalmente nos seguintes temas: pantanal, florística, dispersão, florestas decíduas, florestas ripárias e rio Paraguai. Regiane C. V. Galharte - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Campo Grande. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Tem experiência na área de Zoologia , com ênfase em Herpetologia. Marcus V. S. Urquiza - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. Avenida Rio Branco, 1270, Bairro Universitário, 79304-902, Corumbá-MS. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2004) e mestrado em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2008). Atualmente é biólogo do departamento de ciências do ambiente da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Biologia Vegetal, com ênfase em ecologia de plantas vasculares, atuando principalmente nos seguintes temas: dendrocronologia, janela de mariaux, taxa de crescimento radial e fitossociologia de arvores. Ayr de Moura Bello - Laboratório de Biodiversidade Entomológica, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ (Colaborador externo). Possui graduação em Curso de Formação de Oficiais Aviadores – Força Aérea Brasileira (1963). Atua como autodidata em Taxonomia de Coleópteros desde 1985, na identificação de famílias de coleópteras para graduandos e pósgraduandos de universidades e outras instituições de pesquisa no Brasil. Responsável pela atualização taxonômica da Coleção de Coleópteros do Instituto Oswaldo Cruz e elaboração do respectivo catalogo de táxons. Atua como colaborador voluntario no laboratório de Biodiversidade Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz. 26 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 27 Letícia Vieira - Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal de São João Del Rei, Campus Dom Bosco. Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2002) e Mestre em Ecologia e Conservação pela mesma instituição (2004). Doutora em Entomologia pela Universidade Federal de Lavras (2008) com período de treinamento no American Museum of Natural History (bolsista CAPES-PDEE). Atualmente exerce o cargo de Prof. Adjunto na Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ). Desenvolve pesquisas em ecologia de comunidades de Coleóptera, conservação de Scarabaeidae e modelagem de distribuição de espécies. Já participou de projetos de pesquisa desenvolvidos no Pantanal, Cerrados, Caatinga e Mata Atlântica (especialmente nas restingas). Manoel Fernando Demétrio - Programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal da Grande Dourados; Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais- UFGD . Doutorando em Entomologia e Conservação da Biodiversidade pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Mestre em Entomologia e Conservação da Biodiversidade pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD. Possui graduação em Ciências Biológicas e realiza pesquisas na área de Biogeografia e Ecologia de formicidae. . Rogério Silvestre - Programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal da Grande Dourados; Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais- UFGD. Possui graduação em Biologia, mestrado em Entomologia pela Universidade de São Paulo (1995) e Doutorado em Entomologia pela Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia (200). Atualmente é professor Adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados, da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais. Responsável pelo laboratório de Ecologia de Hymenoptera (hecolab), do programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade. É curador da coleção cientifica de Hymenoptera do Mubio (Museu de Biodiversidade da UFGD). Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Biodiversidade e Biogeografia, atuando principal- 28 Descobrindo o Paraíso mente nos seguintes temas: Mirmecologia e Estrutura de Comunidades de Formigas, Abelhas e Vespas. Hélcio R. Gil-Santana - Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (1988) e Mestrado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998). Atualmente é colaborador voluntário do Laboratório de Díptera do Departamento de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz e doutorando em Entomologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Luiz A. A. Costa - Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Entomologia. Silvia Leitão Dutra - Programa de Pós Graduação em Ecologia e Evolução, Universidade Federal de Goiás. Doutora em ecologia e evolução pela Universidade Federal de Goiás (2011), mestrado em biologia animal pela Universidade de Brasília (2006), graduação em ciências biológicas bacharelado (2002) e licenciatura (2001) pela Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área didática e também de ecologia de insetos aquáticos (limnologia-comunidade bentônica), e também ecologia de Odonata adulto. Nelson Silva Pinto - Graduando em Ciências Biológicas, Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese da Universidade Federal de Goiás. Graduado em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás-UFG (2011). Foi estagiário no Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese (2008-2011) sob supervisão do Prof. Dr. Leandro Juen e Prof. Dr. Paulo De Marco Júnior. Interesse em Métodos Quantitativos em Ecologia, Taxonomia de adultos de Odonata (ênfase em Anisoptera), Biologia da Conservação e Ecologia comportamental (Modelagem de padrões com abordagem em teoria dos jogos). Experiência nos seguintes temas: Assimetria Flutuante, Taxonomia de adultos de Odonata (ênfase em Anisoptera), Ecologia comportamental com ênfase em teoria dos jogos, Ecologia Teórica, Diversidade Beta. Bolsista de Iniciação científica PIBIC-CNPq. Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 29 Paulo De Marco Jr - Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese, Departamento de Ecologia, Universidade Federal de Goiás. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1988), mestrado (1992) e doutorado (1999) em ecologia pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor Associado da Universidade Federal de Goiás, orientador nos cursos de mestrado e doutorado em Ecologia e Evolução (UFG), doutorado em Ciências Ambientais (UFG) e colaborador nos cursos de Pós-graduação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT). Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia Teórica, atuando principalmente nos seguintes temas: ecologia de comunidades, ecologia de populações, biologia da conservação e ecologia quantitativa. Tiago Henrique Auko - Programa de Pós Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal da Grande Dourados; Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais – UFGD. Formado em publicidade e Propaganda com ênfase em Marketing pela Universidade de Ribeirão Preto UNAERP (2003). Formado em Ciências Biológicas na Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD (2009). Mestrando do Programa de Pós-graduação de Entomologia e Conservação da Biodiversidade realizado na Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD. Bhrenno Maykon Trad - Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais, Universidade Federal da Grande Dourados; Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais – UFGD. Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas na UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados. Estagiário do HECOLAB – Laboratório de ecologia de Hymenoptera. Trabalhando na graduação com vespas esfecídeas. Rogério Silvestre - Programa de Pós Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal da Grande Dourados; Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais, Universidade Federal da Grande Dourados; Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais - UFGD. . Possui graduação em Biologia, mestrado em Entomologia pela Universidade de São 30 Descobrindo o Paraíso Paulo (1995) e doutorado em Entomologia pela Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia (2000). Atualmente é professor Adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados, da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais. Responsável pelo Laboratório de Ecologia de Hymenoptera (HECOLAB), do Programa de pós-graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade. É curador da Coleção Cientifica de Hymenoptera do Mubio (Museu de Biodiversidade da UFGD). Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Biodiversidade e Biogeografia, atuando principalmente nos seguintes temas: Mirmecologia e estrutura de Comunidades de Formigas, Abelhas e Vespas. Daniel De Granville - Biólogo formado pela Universidade de São Paulo (USP) com pós-graduação em Jornalismo Científico pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente vive na região de Bonito (MS), onde é sócio-proprietário da Photo in Natura, empresa especializada em serviços com temática ambiental. Atua como fotógrafo freelancer, organiza expedições customizadas para públicos de interesses especiais e ministra cursos nas áreas de fotografia de natureza, ecoturismo e observação de vida silvestre. Suas fotos já foram publicadas nos EUA, Alemanha, Espanha, Itália, Japão, Argentina, Uruguai e Malásia, entre outros. Bolivar Porto (www.bolivarporto.com) é fotógrafo, publicitário, web-designer. É formado em odontologia.Em mais de duas décadas de carreira na fotografia, atuou nas áreas de publicidade, natureza, turismo, dança e moda. Inúmeros trabalhos publicados nacional e internacionalmente. Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 31 Prefácio Fábio Olmos Ouvi falar sobre o Pantanal pela primeira vez no final da década de 1970 graças a Cibele, minha professora de História durante os antigos ginásio e colegial, que costumava visitar a região para pescar com o marido. Logicamente, as fotos destas viagens faziam grande sucesso entre os alunos em uma época em que o mundo era muito menor que na era da internet e do Discovery Channel. Foi por esta época que a mídia começou a divulgar as belezas naturais e a abundância de fauna da região e a guerra que era travada entre contrabandistas de animais e caçadores profissionais, os coureiros, e os policiais encarregados de combatê-los. Nesta época imaginávamos que espécies como araras-azuis e ariranhas desapareceriam para sempre, tal era a escala do tráfico. Três décadas depois a situação no Pantanal é muito melhor e vemos populações crescentes daquelas espécies, além dos antes perseguidos jacarés e outras que estavam na mira dos caçadores. Aquela guerra terminou e seus estragos começam a ser reparados. Este sucesso, no entanto, é um raro ponto positivo em um cenário menos otimista. Nossa espécie surgiu no que é hoje o leste da África há cerca de 200 mil anos. Neste período deixamos de ser apenas mais uma espécie única para nos tornarmos os verdadeiros mestres deste planeta. A civilização que construímos seria incompreensível para nossos ancestrais, assim como as fronteiras da Ciência, hoje capaz de observar a origem do Universo, dar os primeiros passos na construção de novas formas de vida e avançar no maior mistério, como a mente funciona. 32 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 33 Nosso progresso cobrou um preço elevado deste planeta. Nossos ancestrais iniciaram um processo de extinção em massa que ainda não cessou. A exploração direta, as alterações ambientais, a introdução de espécies exóticas e doenças e tantos outros impactos causados pelos nossos ancestrais nos negaram um mundo onde vagavam criaturas hoje míticas, de mamutes siberianos a araras caribenhas. Nossa ascensão não poupou nem mesmo nossos parentes mais próximos. Na mesma época em que nossos ancestrais criavam a primeira arte e começaram a se aventurar no mar, pelo menos outras quatro espécies de humanos dividiam a Terra conosco. Eles também foram vítimas de nosso sucesso. O preço de nosso sucesso é um mundo mais pobre. Em 1900 havia 1,65 bilhão de pessoas na Terra. Em 2011 atingimos a marca de 7 bilhões e as melhores estimativas sugerem que pelo menos outros dois bilhões se somarão à fraternidade humana até meados deste século. Ao mesmo tempo a disponibilidade de recursos como água e terras aráveis diminui enquanto o consumo aumenta. Vivemos tempos interessantes que eventualmente responderão o quão realistas são as previsões tanto de otimistas como de pessimistas. Independente do que aconteça, vivemos em um mundo cada vez menor onde uma crescente maré humana deixa cada vez menos espaço para as outras formas de vida que compartilham este planeta conosco. Entre 1975, quando eu estava na escola primária, e 2000, quando defendi meu doutorado, foram extintas 18 espécies de aves. Nesse mesmo período as florestas de regiões antes inacessíveis e quase míticas, como as ilhas de Bornéu e Sumatra, o norte de Mato Grosso, o sul do Pará, o sul da Bahia e partes da bacia do Congo foram em boa parte destruídas e transformadas em uma colcha de retalhos. Enquanto escrevo recebo a confirmação de que os rinocerontes do Vietnã e oeste da África, e os golfinhos do rio Yangtze se juntaram aos dinossauros, dodos e outras criaturas que nunca mais veremos, exceto como animações de computador. O ritmo de perdas durante uma pequena parte de uma vida humana é impressionante, assim como a facilidade com que não percebemos isso e nos acostumamos com o inaceitável se o processo é lento o suficiente. O Pantanal ainda é uma das grandes áreas selvagens da América do Sul e abriga as maiores populações de algumas espécies, como onças- pintadas, veados-campeiros e cervos. Espécies de peixes migradores em declínio no restante da bacia do Paraná-Paraguai graças às hidrelétricas ainda mantém populações robustas ali, apesar do impacto crescente da pesca. A explosão do agronegócio no Brasil, com a auto-atribuída missão do país se tornar o maior fornecedor de carne e grãos baratos para países que preferem destinar seus territórios e sua água para outros fins, está rapidamente consumindo o que foi território selvagem. O avanço da agropecuária moderna substituiu boa parte da vegetação natural das bacias que drenam para a planície pantaneira por pastagens e plantações. Uma pecuária mais intensiva está substituindo a tradicional, e pastagens plantadas ocupam áreas cada vez maiores das antigas cordilheiras e cerrados da Planície Pantaneira. Até 2004, 44% da Bacia do Alto Paraguai havia sido totalmente alterada pela agropecuária, o mesmo sendo verdadeiro para 17% da Planície Pantaneira. As projeções, na época, significavam a perda do Pantanal em menos de 50 anos. Bem menos que a expectativa de vida de um brasileiro médio. Esta mudança radical acontece sem que ao menos saibamos o que está sendo perdido. A lentidão do ritmo das pesquisas científicas, não apenas de inventários de biodiversidade, mas especialmente a bioprospecção por novas substâncias e processos metabólicos com aplicações comerciais contrasta com a agilidade e capacidade de mobilização do setor agrícola. É sábio sacrificar nossa herança natural para alimentar nossa epidemia de obesidade e para que chineses, iranianos e russos comam carne barata? A conservação dos espaços naturais que guardam um pouco do que nosso planeta foi antes do início da Era da Humanidade é uma das poucas estratégias que permitirão a existência de muitas formas de vida em paisagens cada vez mais ocupadas por monótonas pastagens e plantações. A Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) é um dos espaços que estão sendo reservados para a Natureza e seu estudo. Mais que isso, é um espaço onde a Natureza pode ser usada de forma que não é consumida ou destruída, mas sim degustada. 34 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 35 Afinal, o tamanho da economia baseada nos desejos imateriais do espírito humano, atrelada em atividades como esporte, religião e reality shows, mostra quão tolo é imaginar que o importante para nossa sociedade são meramente as necessidades do corpo. A gente não quer só comida. A Serra do Amolar, emergindo como uma ilha na Planície Pantaneira, abriga florestas secas, cerrados e campos muito diferentes daquelas da Planície e, como consequência, espécies animais distintas. As comunidades biológicas desta região, cheia de surpresas, apenas recentemente passaram a ser objeto de estudo por cientistas. Este livro mostra os resultados de expedições de inventário biológico feitas à RPPN – EEB nas estações seca e chuvosa, quando foram estudados tanto a flora local como diversos grupos de invertebrados, sempre ofuscados pela fauna vertebrada carismática, mas de maneira alguma menos importantes. Os resultados incluem não apenas importantes extensões de distribuição e novos registros para o Pantanal, mas também a descoberta de espécies totalmente novas para a Ciência. A RPPN – EEB, propriedade da MMX administrada pelo Instituto Homem Pantaneiro é parte de uma notável iniciativa de conservação baseada em áreas privadas no que é uma das porções mais importante do Pantanal. Região de extrema importância ambiental e rara beleza vizinha ao Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, um total de 272.952 ha da Serra são protegidos pela Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, que inclui quatro reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) da Fundação Ecotrópica, a RPPN-EEB, a Fazenda Santa Tereza e o Instituto Acaia. Esta iniciativa é parte da melhor esperança de que uma parcela exuberante e viável do Pantanal sobreviva a este momento crucial da história da Humanidade e possa, se tudo correr bem, ser legado àqueles que nos sucederão. Ela também mostra como o setor privado pode ser um ator positivo na conservação de um legado natural para o futuro quando os agentes governamentais aos quais se atribui esta função carecem de visão, recursos ou interesse. Benfeitores privados criaram instituições como o MASP ou o Smithsonian como presentes para a sociedade. Em tempos onde um reconhecimento cada vez maior da importância das questões ambientais se choca com as demandas de consumo cada vez maiores de nossa sociedade, é animador ver que o espírito daqueles benfeitores continua não apenas presente, mas também inclui a ações para a conservação da Natureza. Mais de um sábio, ao longo da História, notou que uma das medidas da civilização de uma sociedade ou de indivíduos é a forma como trata a Natureza. A iniciativa da MMX caminha no rumo certo. 36 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 37 Introdução e área de estudo Alessandra Bertassoni¹, Viviane Fonseca Moreira ¹, Stephanie Leal¹ & Grasiela Porfírio¹,² ¹ Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Ladeira Jose Bonifácio, 171, Porto Geral, Corumbá (MS), Brasil. CEP: 79.300-900 - e-mail: alebertassoni@hotmail. com, [email protected], stephanie@institutohomempantaneiro. org.br ² Departamento de Biologia e CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar. Laboratório de Vida Selvagem. 3810-193. Campus de Santiago. Universidade de Aveiro, Portugal. e-mail: [email protected] Pantanal O Pantanal é o maior complexo de áreas úmidas do mundo, uma grande planície de sedimentação, com cerca de 160.000 km². Está inserido em grande parte na região do centro-oeste brasileiro, abrangendo aproximadamente 140.000 km², na Bolívia com 15.000 km², e no Paraguai, com a menor área, 5.000 km² (Junk et al., 2006). O Pantanal ou planície pantaneira é parte integrante da bacia hidrográfica do Alto Paraguai (BAP), a qual possui uma área em território brasileiro de 361.666 km² (Silva & Abdon, 1998), setorizada em Planalto (64%) e Planície pantaneira (36%). Essas duas grandes unidades geomorfológicas da BAP são distintas em recursos naturais e comportamentos hidrológicos, contudo são interdependentes em seus processos ecológicos, uma vez que o Planalto acomoda as nascentes dos principais rios que alimentam a planície pantaneira. A planície aluvionar do Pantanal tem seus limites marcados por variados sistemas de elevações do planalto, como chapadas, serras e maciços (Magalhães, 1992). Por exemplo, a Chapada dos Guimarães, as Serras de Maracajú, Amolar e Bodoquena; e o Maciço do Urucum. A planície é recortada por vários rios, como o Cuiabá, Piquiri, Taquari, Paraguai e Aquidauana; todos pertencentes à BAP. Essa última condição faz com que o Pantanal seja considerado uma das maiores áreas úmidas contínuas do planeta (Pearson & Beletsky, 2005). Por esse conjunto de atributos, foi intitulado como Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira e Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera pela UNESCO (Unesco, 2010). Além disso, figura como uma das últimas 37 grandes áreas selvagens do planeta (Mittermeier et al., 2003) e possui três sítios Ramsar 38 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 39 reconhecidos: o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do SESC Pantanal e a RPPN Fazenda Rio Negro (Ramsar & MMA, 2010). A fitogeografia do Pantanal compreende um mosaico de paisagens, devido a uma ampla diversidade de condições ambientais. Ao leste, a principal influência é do bioma Cerrado, com ecótones de Floresta Atlântica. No extremo norte, predomina vegetação característica da Floresta Amazônica, bem como vegetação ecotonal entre os dois ecossistemas. Por fim, a oeste, surge a influência do Chaco. Nas áreas mais elevadas, podem ocorrer fragmentos de formações afins da Caatinga (MMA, 2006). As regiões fitoecológicas do Pantanal são compostas por florestas estacionais decíduas, florestas estacionais semidecíduas, savana (cerrado) e savana estépica (chaco). Também ocorrem áreas de ecótones entre as categorias e áreas de vegetação pioneira com influência fluvial (Silva & Abdon, 2006). O clima do Pantanal apresenta sazonalidade bem definida, com uma temperatura média de cerca de 25o C (Fernandes et al., 2010). A classificação climática, segundo Köppen, é do tipo Aw (savana), apresentando clima quente e úmido no verão, com estação chuvosa de outubro a abril e seca no inverno, de maio a setembro (Rohli & Vega, 2008), onde o clima é seco e as temperaturas são relativamente mais baixas. Frentes frias vindas do sul do país podem ocorrer ao longo do ano, provocando quedas bruscas de temperatura durante alguns dias. O período de chuvas concentra cerca de 70 a 80% da média pluviométrica anual. A precipitação média anual deste ecossistema é de cerca de 1.400 mm, variando entre 800 e 1.600 mm (ANA et al., 2005). As chuvas sazonais, juntamente com um solo predominantemente sedimentar e a baixa declividade do relevo pantaneiro, contribuem para o transbordamento dos rios e consequentemente para a inundação da planície. O regime de inundações apresenta variações periódicas anuais, as quais podem trazer alternância de períodos plurianuais secos e de cheias, ambos acima da média (Jesus, 2003; Junk et al., 2006). O pulso hídrico ou de inundação do Pantanal é o principal fenômeno determinante da produtividade dos ecossistemas locais e sua biodiversidade (Calheiros, 2003; Resende, 2008; Santos & Calil, 2010). A inundação é um fator determinante para a fertilidade da terra, a riqueza das comunidades de organismos aquáticos (base da cadeia alimentar deste ecossistema), e também para a economia regional. Esta última é baseada principalmente na pecuária, pesca profissional, pesca desportiva e no ecoturismo, o qual move vários setores econômicos (Harris et al., 2005; Padovani & Jongman, 2006; Resende, 2008). 40 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso As Ameaças à Planície Pantaneira • Alterações e perdas de habitat As alterações e supressões de habitat no Pantanal geralmente têm como causa principal o desmatamento e as queimadas para abertura de pastagens para o gado. Até o ano de 2004, a estimativa de perdas da vegetação original na planície pantaneira estava em cerca de 17,5%, o que corresponde a uma área aproximada de 25.750 km². Dessa percentagem, 11% estão no Pantanal do Estado de Mato Grosso do Sul e 6% no Mato Grosso (Harris et al., 2006). A remoção da vegetação, essencialmente nos planaltos adjacentes onde se situam as nascentes dos principais rios contribuintes ao Pantanal, é uma grande ameaça aos habitats. Ainda, a conversão de habitats naturais no planalto para lavoura, pastagem e extração mineral podem provocar processos erosivos intensos. Os sedimentos resultantes da erosão acabam sendo depositados na planície pantaneira, alterando os padrões do fluxo da água e os regimes hidrológicos locais. Um exemplo desse processo é o assoreamento do rio Taquari (Harris et al., 2005; Junk et al., 2006). O hábito de atear fogo é uma prática comum no Pantanal, assim como o uso de queimadas para a abertura de pastos para o gado. Contudo, é frequente a perda de controle do fogo, resultando em incêndios florestais, principalmente em épocas de estiagem (Harris et al., 2005). • Contaminação e poluição por efluentes inorgânicos devido à presença de indústrias pesadas Situam-se no Pantanal algumas indústrias pesadas que atuam no beneficiamento de grandes quantidades de matéria-prima para serem utilizadas na fabricação ou no funcionamento de outros bens, tais como fábricas de cimento, siderúrgicas, mineradoras e empresas de gás. Dentre 41 os impactos ambientais causados pelo segundo setor estão a poluição de corpos d’água, do ar, sonora, subsidência do terreno, degradação de áreas naturais e emissão de particulados. Em relação às empresas mineradoras, pode-se citar a ameaça pela contaminação das bacias hidrográficas por dejetos produzidos pelo processamento do minério de ferro, manganês e carbonato de cálcio (Harris et al., 2006; Alho, 2011). Ainda, como grande parte dos produtos minerais é transportada via rio Paraguai, há riscos de acidentes e naufrágios e, portanto, de poluição. Usinas hidrelétricas e a construção de barragens, tanto no Planato adjacente como na planície pantaneira, podem causar impactos ecológicos cumulativos (Girard, 2002). Usinas hidrelétricas estão planejadas ou em construção em grandes afluentes do alto rio Paraguai (Junk et al., 2006), a exemplo das usinas instaladas em Itiquira, Correntes e Casca na subbacia do rio Cuiabá, e da previsão de nove pequenas centrais hidrelétricas na bacia do Taquari (Lucianer, 2010). A hidrelétrica do Manso, perto de Cuiabá, é considerada de grande porte, e dentre os impactos cumulativos estão a interrupção da rota de migração de muitas espécies de peixes do Pantanal às suas áreas de desova, impactos sobre os ecossistemas terrestres adjacentes e alteração do regime de inundação do rio Cuiabá (Girard, 2002; Junk et al., 2006). alguns pesquisadores (Junk et al., 2006). Este status ocorre em razão das atividades de implementação e construção de melhorias de navegação das vias fluviais que, por sua vez, provocam alterações de canais e barrancos que englobam as margens dos corpos hídricos. Tais modificações podem interferir, em grande escala, na amplitude e periodicidade do pulso hídrico, de forma a promover mudanças nos padrões temporais e espaciais das comunidades biológicas e nos processos ecológicos (Allan & Johnson, 1997; Gottens et al., 1998; Mittermeier et al., 2003; Calheiros, 2003; Harris et al., 2005; Millennium Ecosystem Assessment, 2005; Harris et al., 2006; Junk et al., 2006; Zugaib, 2006; Alho, 2011). • Hidrovia Paraguai-Paraná Na década de 1980, um grande projeto de estruturação para a Hidrovia Paraguai-Paraná foi concebido (WWF, 2001; Zugaib, 2006). Porém, no ano de 2000, por pressão de ONGs conservacionistas e instituições de pesquisa, o governo brasileiro recuou na realização deste grande empreendimento (Junk et al., 2006). Contudo, empresas privadas continuaram a implementação de infra-estrutura para hidrovia (Junk et al., 2006; Zugaib, 2006), e atualmente a AHIPAR – Administração da Hidrovia do Paraguai do Ministério dos Transportes do Brasil tem a competência de acompanhar e executar as atividades de manutenção, estudos, obras, serviços e exploração dos rios e portos na bacia hidrográfica do rio Paraguai (AHIPAR, 2010). A Hidrovia é considerada uma das maiores ameaças para o Pantanal por • Exploração de estoques pesqueiros A exploração dos grandes estoques das espécies de peixe de valor comercial no Pantanal é uma ameaça significativa, uma vez que a pesca é uma das principais atividades econômicas, atrás somente da pecuária extensiva (Calheiros, 2003). A partir do ano 2000, a captura de peixes diminuiu, e dentre as hipóteses para explicar esse fato está a “diminuição das populações naturais em decorrência do uso” (Albuquerque & Catella, 2009). As espécies mais capturadas são o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), a cachara (Pseudoplatystoma reticulatum) e o pacu (Piaractus mesopotamicus), em decorrência de alcançarem os melhores preços para comercialização (Albuquerque & Catella, 2009). A comercialização de iscas vivas é uma realidade para o Pantanal, em função da demanda para a pesca desportiva e profissional. As iscas (tuvira, tuvirão, caranguejo, mussum, jejum, cascudo, entre outras) podem ser capturadas em qualquer época do ano e configuram-se como uma opção de renda alternativa para muitos pescadores e ribeirinhos. A maior preocupação em relação a essa atividade é o seu potencial para a introdução e disseminação de espécies exóticas, uma vez que o comércio das iscas é realizado da Bacia do Alto Paraguai para outras bacias hidrográficas (Catella et al., 2009). • Caça ilegal O comércio internacional de peles de jacarés-do-pantanal (Caiman yacare) e ariranhas (Pteronura brasiliensis) nas décadas de 1950 e 1960 42 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 43 foi uma das atividades mais lucrativas da região. As populações de jacarés entraram em declínio populacional e as ariranhas foram caçadas até quase desaparecerem (Tomas et al., 2000; Harris et al., 2005). Na década de 1980, e durante muitos anos decorrentes, a caça ilegal do jacaré-doPantanal era uma atividade comum, principalmente em áreas de rios, onde muitos espécimes foram mortos (Campos et al., 2005). A matança desses jacarés estava pautada na comercialização da pele e, secundariamente, para o consumo da carne. Alguns felinos, como a onça-pintada (Panthera onca) e a parda (Puma concolor), têm sido perseguidos por produtores rurais devido à predação ao gado (Harris et al., 2005; Junk et al., 2006; Azevedo & Murray, 2007). Entre 2010 e 2011, uma investigação da Polícia Federal descobriu um esquema de safáris de caça ilegal de diversas espécies de animais para turistas estrangeiros no Pantanal, com foco em onças pardas e pintadas. Segundo Junk e colaboradores (2006), a caça de subsistência também acontece em várias regiões do Pantanal, e dentre as espécies-alvo estão a paca (Agouti paca), veados (Mazama spp.) e tatu-galinha (Dasypus novemcinctus). Outra espécie com pressão de caça é o porco monteiro (Sus scrofa). Esse porco feral chegou ao Pantanal há cerca de dois séculos e estabeleceu grandes populações. As consequências desse estabelecimento na planície ainda são pouco compreendidas do ponto de vista ecológico. Contudo, o porco monteiro tem sido considerado uma espécie de franca preferência pelos pantaneiros, sendo o sistema de sua caça inserido na cultura regional (Desbiez et al., 2009). macropomum) são espécies invasoras no Pantanal (Harris et al., 2005; Soares et al., 2005; Junk et al., 2006). O acompanhamento quanto à dispersão e capacidade de colonização dos rios do Pantanal pelo mexilhão dourado está sendo monitorado pela Embrapa Pantanal. Essa espécie exótica é originária da China e foi transportada desde a Argentina via navegação pela Hidrovia Paraguai-Paraná (Oliveira et al., 2004). O tucunaré, peixe originário da bacia amazônica, é um predador voraz e sua introdução no Sudeste do Brasil resultou em extinções locais (Harris et al., 2005; Junk et al., 2006). A braquiária (Brachiaria subquadripara) e o capim-colonião (Panicum sp.) são as principais espécies forrageiras exóticas. Ambas as espécies vegetais são largamente cultivadas no Pantanal e formam densos aglomerados, podendo suprimir a flora local. Além disso, constituem uma biomassa perigosa quando ocorre o fogo (Pott, 2007). A Sub-região do Paraguai e Serra do Amolar • Introdução de espécies invasoras A introdução de espécies é considerada, em termos gerais, a segunda maior ameaça para a biodiversidade, ficando atrás somente da perda de habitat. Essa introdução aumenta os riscos de extinção das espécies locais, em função de predação, competição, destruição de habitats, entre outros. Contudo, alguns elementos, como a sensibilidade do ambiente e a capacidade de estabelecimento da espécie invasora, são relacionados a esses riscos (Soares et al., 2005). O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), o caramujo-gigante-africano (Achatina fulica), o tucunaré (Cichla sp.) e o tambaqui (Colossoma A extensa área que comporta o Pantanal brasileiro, estimada por Silva & Abdon (1998) em 138.183 km2, apresenta inúmeras variações, em nível florístico, edáfico, climático, topográfico e em aspectos que vão desde a quantidade de corpos d’água (drenagem) às formações circundantes. Vários estudos foram realizados com foco nas diferenciações da planície pantaneira, sendo que esta já foi dividida de seis a 17 sub-regiões. Neste livro consideramos a classificação de Silva & Abdon (1998), que divide o Pantanal em 11 sub-regiões: Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda, Nabileque, Porto Murtinho e Paraguai. A sub-região do Pantanal denominada Paraguai, em razão do rio, se localiza a oeste do Pantanal (Silva & Abdon, 1998), agrega área dos municípios de Poconé (MT), Corumbá e Ladário (MS), e é delimitada morfologicamente pela Serra do Amolar e pelo Maciço do Urucum (Junk et al., 2006). A área dessa sub-região compreende 8.147 km2, representando cerca de 6% do Pantanal brasileiro e fazendo fronteira com a Bolívia. A região encontra-se em uma das unidades de drenagem ecológica classi- 44 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 45 ficada pela The Nature Conservancy - TNC, no grupo ecológico Pantanal do rio Paraguai (Jesus, 2003; Higgins et al., 2005). A definição do porte da maioria dos cursos de água da região é de “grande porte” – de 1.000 a 2.000 km. O regime hidrológico da região tem como principal elemento o rio Paraguai, sendo considerada uma área de alta inundação, cujo período de cheia se estende de fevereiro a abril. Os corixos (cursos d’água menores, com volume e leito variáveis conforme a época do ano) e as baías (lagoas que podem ser permanentes ou temporárias) são de difícil distinção com as águas do rio, formando uma extensa área alagável. Nessa sub-região há a presença de grandes baías permanentemente alagadas, sendo elas a do Castelo, Vermelha, Mandioré, Gaíva e Uberaba (Jesus, 2003). A Serra do Amolar tem início a cerca de 180 km do município de Corumbá e prossegue nas cristas montanhosas orientadas no sentido sudeste - noroeste, por mais 40 km ao longo da fronteira com a Bolívia, até atingir a divisa com o Estado de Mato Grosso. As suas morrarias de origem PréCambriana funcionam como um controle geológico do escoamento das águas do Pantanal e desempenham um importante papel na intrincada rede ecológica que integra rios, planícies e comunidades bióticas (Collischonn et al., 2005). O seu ponto mais elevado é o Pico do Amolar, com aproximadamente 1.000 m de altitude. A característica peculiar desta região é a presença desta formação montanhosa relativamente isolada (Instituto Homem Pantaneiro, no prelo) associada com as influências do rio Paraguai. Os principais tipos vegetacionais encontrados nessa região são as savanas gramíneo lenhosa inundável e não-inundável, florestada e arborizada, floresta estacional semidecidual, além de áreas de transição com formações aluviais. Esses ambientes são altamente decíduos e na estiagem apresentam alta vulnerabilidade aos incêndios florestais. Ainda, pela proximidade geográfica com a Bolívia, a área também apresenta influência das formações da ecorregião do Bosque Seco Chiquitano (Vides-Almonacid et al., 2007; Pott & Pott, 2009). Segundo Pott et al. (1997), a flora da região ainda é pouco conhecida, em função de coletas escassas. Esta carência de estudos científicos sistematizados, em relação à caracterização da flora e da fauna, também foi verificada pelo Instituto Homem Pantaneiro (no prelo). Contudo, a associação da riqueza de espécies e dos processos ecológicos entre a planície pantaneira e a Serra do Amolar faz desta uma região estratégica para a conservação do Pantanal, por formar um corredor biológico e geográfico potencialmente importante (Fundação Ecotrópica, 2003). O Pantanal é uma área de grande significado para a conservação, devendo ser priorizada em programas regionais e merecendo especial atenção devido à sua vulnerabilidade aos principais vetores de impacto atuantes na região (Harris et al., 2006). 46 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso A Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista – RPPN EEB As planícies alagáveis estão entre os ecossistemas mais frágeis e ameaçados do mundo, pois estão sujeitas ao impacto causado pelas atividades antrópicas, tanto no solo adjacente da planície quanto nas águas que as compõem (Moore, 2006). Porém, apesar do conhecimento sobre a relevância do Pantanal e do seu entorno para a manutenção dos recursos hídricos, assim como para a conservação da biodiversidade regional, há poucas áreas que garantem sua proteção (Harris et al., 2006). Em todo esse contexto encontra-se a Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (EEB; figura 1 e 2). Figura 1 – Contexto geográfico da área da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. Fonte: Instituto Homem Pantaneiro, 2008. 47 Figura 2 – Área da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista situada na Serra do Amolar, município de Corumbá/MS. Foto: Haroldo Palo Jr. Uma RPPN é definida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), na Lei n° 9.985, como “uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica”. Nestas áreas somente são permitidas as atividades de pesquisa científica, visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais (SNUC, 2004). A RPPN EEB tem como atores principais de sua criação a empresa MMX Mineração e Metálicos S.A. e o Instituto Homem Pantaneiro (IHP). Essa união conciliou os objetivos do IHP com o comportamento empresarial proativo da MMX. O IHP é uma Organização Não-Governamental de Direito Privado, criada em 2002 e localizada no município de Corumbá, no Estado de Mato Grosso do Sul. A missão da instituição é atuar na promoção do desenvolvimento e da melhoria da qualidade ambiental no Pantanal, por meio de ações que promovam a educação, a cultura, o desenvolvimento social, a preservação e a conservação do patrimônio cultural e ambiental. A partir da parceria entre MMX e IHP, em 21 de julho de 2006, foram adquiridas as áreas das fazendas Novos Dourados e Morrinhos, que somam juntas 20.260,47 hectares. Após duas expedições de cunho científico, uma em novembro de 2006 e outra em maio de 2007, foram definidos os zoneamentos da RPPN e as prioridades para o Plano de Manejo. Em 24 de julho de 2008, através da Portaria nº 51 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, foi criada a RPPN EEB, com uma área de 12.608,79 hectares (Medeiros, 2008). A responsabilidade do 48 Descobrindo o Paraíso IHP para com a MMX, como gestor da área, é a de viabilizar técnica e operacionalmente a execução das atividades necessárias à implantação, consolidação e desenvolvimento da RPPN (Instituto Homem Pantaneiro, no prelo). A RPPN EEB (S 18°05’26”, O 57°28’29”) está localizada ao sul do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (Parna Pantanal), no Estado do Mato Grosso do Sul, a noroeste da cidade de Corumbá, e o seu limite oeste faz fronteira com a Bolívia. Dentro da área da RPPN há dois inselbergs, o Morro do Chané e o Morro do Campo, que apresentam uma altitude de cerca de 500 a 600 metros e as primeiras montanhas da Serra do Amolar: o Morro Comprido, o Morro Morrinhos, o Morro das Cabras e o Morro Novos Dourados. Dentre os limites geográficos, a RPPN EEB é margeada pelo rio Paraguai e pela Baía Mandioré. O rio Paraguai é o principal responsável pela drenagem do Pantanal e um importante elemento hídrico no pulso de inundação anual deste ecossistema (Fernandes et al., 2010). A Baía Mandioré é uma das grandes baías da planície pantaneira; suas águas circundam algumas das morrarias do Amolar e em toda a extensão faz fronteira com a Bolívia. A associação entre as áreas montanhosas e a planície de inundação forma um gradiente ecológico único, sendo a característica peculiar da RPPN EEB. Essa área ainda desempenha um papel de extrema importância para a manutenção dos estoques pesqueiros do Pantanal e como refúgio para a fauna em épocas de inundação intensa, em razão do seu relevo (Unesco, 2010). A área da RPPN EEB merece destaque também por apresentar uma fauna e flora de beleza exuberante e um cenário paisagístico raramente encontrado em outras áreas do mundo. A Coleção Biológica Didática RPPN EEB O manejo sustentado dos recursos naturais deve ser consolidado para o Pantanal, a sub-região do Paraguai, a Serra do Amolar e a RPPN EEB. Contudo, isso só será alcançado com base em estudos biológicos e ecológicos, os quais devem ter um olhar atento para as ameaças supracitadas. A identificação taxonômica é o primeiro passo. Sendo assim, cabe a máxima “Conhecer para conservar” (Pott & Pott, 1994). A necessidade de descobrir, descrever e catalogar a diversidade de espécies Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 49 do mundo, bem como analisar e sintetizar essas informações, é ainda algo que deve ser concretizado e materializado no século XXI. Foi nesta linha de pensamento que o IHP iniciou em abril de 2010 a montagem de uma coleção biológica didática na RPPN EEB. As coleções biológicas compreendem bancos de materiais, sejam eles vivos ou preservados, e os dados a eles associados, como a identificação, descrição e os estudos da biologia. Segundo Martins (1994), uma coleção é a reunião ordenada de espécimes mortos ou partes corporais, devidamente preservados; e ainda normalmente a essas coleções estão associados “produtos resultantes de atividades”, tais como ninhos, abrigos, excrementos, rastros, pegadas, entre outros. Esses materiais servem como ferramentas para estudos, testemunhos de biodiversidade e como apoio fundamentado para muitas áreas do conhecimento (Peixoto & Morim, 2003). Existem vários tipos de coleções biológicas, e uma delas é a didática. Uma coleção biológica didática tem como finalidade propagar conhecimento biológico e ecológico, sendo uma ferramenta indispensável ao ensino das ciências naturais, pois o aprendizado se dá de forma visual, facilitando a compreensão de parte do ambiente representado (IBAMA, 2007). Bem como proporciona, além da aproximação com o mundo natural, a observação, o registro e a interpretação da natureza. Em uma unidade de conservação de qualquer categoria, as coleções significam uma fonte importante de informação que pode ser acessada facilmente a posteriori. Dessa forma, é de grande valia ter uma coleção biológica com espécimes da RPPN EEB. O IHP, como gestor da área, teve como objetivo coletar, montar e administrar a Coleção Biológica Didática RPPN EEB, destinada à exposição, demonstração e propagação do conhecimento ambiental e biológico. Assim, o trabalho de coleta de materiais na RPPN EEB foi realizado em duas campanhas de 10 dias consecutivos, no período de 24 de julho a 04 de agosto de 2010, referente ao período de seca (Campanha I), e no período de 26 de março a 05 de abril de 2011, referente ao período de cheia (Campanha II). As campanhas estiveram sob a coordenação da bióloga Viviane Fonseca Moreira, gestora do Setor de Meio Ambiente do IHP. Os locais amostrados na RPPN EEB foram a estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), as trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”), bem como pontos da mata ciliar que margeia a RPPN (De S 18°05’35”, O 57°28’11” a S 18°09’35”, O 57°22’20”) . A estrada Mandioré é caracterizada pelos tipos vegetacionais savana florestada e floresta estacional semidecidual (figura 3); esses dois tipos também estão presentes na trilha Amolar, juntamente com savana gramíneo-lenhosa (figura 4); já a trilha Morrinhos é constituída por savana florestada e savana gramíneo-lenhosa (figura 5). A mata ciliar da região é composta por alguns gêneros vegetais comuns na área, como Ipomoea, Cissus, Bactris, Triplaris, Cobretum e Cecropia, bem como gramíneas influenciadas pelo pulso de inundação (figura 6). 50 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso Figura 3 – Estrada Mandioré localizada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, situada na Serra do Amolar, município de Corumbá/MS. Foto superior: início da Estrada Mandioré na época de estiagem (Valdilene Garcia); foto inferior: Final da Estrada Mandioré na época da cheia (Daniel De Granville / Photo in natura). 51 Figura 4 – Trilha Amolar localizada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, situada na Serra do Amolar, município de Corumbá/MS. Foto superior: visão da vegetação da trilha Amolar na época de estiagem (Alessandra Bertassoni); foto inferior: início da trilha Amolar na época da cheia (Grasiela Porfírio). Figura 5 – Trilha Morrinhos localizada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, situada na Serra do Amolar, município de Corumbá/MS. Foto superior: início da trilha Morrinhos na época de estiagem (Alessandra Bertassoni); Foto inferior: visão da vegetação da trilha Morrinhos na época da cheia (Daniel De Granville / Photo in natura). 52 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso 53 Figura 6 – Visão da mata ciliar que margeia a Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, situada na Serra do Amolar, município de Corumbá/MS. Foto: Daniel De Granville / Photo in natura. As atividades de coleta foram realizadas mediante autorização do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), através da licença para atividades científicas registradas sob o número 24006-1 / 2. As campanhas seguiram um Plano de Ação, onde foram discriminados os grupos de coleta divididos por Artrópodes, Mamíferos e Botânica, cada qual coordenado por um responsável. O primeiro grupo pela bióloga e ecóloga Camila Aoki, o segundo pela bióloga e ecóloga Alessandra Bertassoni e o terceiro pelo biólogo Wellinton de Sá Arruda. Ainda, em relação aos recursos humanos, foram envolvidas 28 pessoas nos trabalhos de campo, desde apoio logístico (cozinheira, colaboradores gerais, etc.) a auxiliares de campo e coordenadores de grupo. Um total de 37 profissionais especialistas (dentre eles doutores em Biologia Vegetal, Ecologia, Zoologia e Entomologia) de instituições de ensino superior e de pesquisa está envolvido na confecção dos 54 Descobrindo o Paraíso capítulos deste livro, incluindo a identificação do material biológico coletado. Essas instituições são a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Campus Campo Grande e Pantanal), Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal do Paraná, Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Butantan, Universidade Federal de São João Del Rei, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade de Aveiro. Todo o material coletado em campo foi devidamente triado, analisado e enviado para os especialistas devidos, para a realização de estudos taxonômicos e de identificação. Após essa etapa, os materiais foram acondicionados em caixas entomológicas, recipientes apropriados e material para armazenamento de exsicatas, para que pudessem ser depositados e expostos no acervo da Coleção Biológica Didática RPPN EEB e nas demais instituições participantes do projeto. O presente capítulo introduz a área na qual este livro desenvolveuse, levando ao leitor informações sobre o Pantanal, as peculiaridades da região do Paraguai e da Serra do Amolar e a caracterização dos locais de coleta dentro da RPPN EEB. O livro segue com as informações coletadas nas campanhas referentes aos períodos de seca e de cheia, para a realização da Coleção Biológica Didática RPPN EEB, com ocasional junção (devidamente mencionada) de dados sintetizados de coletas anteriores em períodos similares. Referências AHIPAR – Administração da Hidrovia do Paraguai / Ministério dos Transportes. 2010. Administração Ahipar. Disponível em: < http:// www.ahipar.gov.br/?s=administracao>. 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Avenida Rio Branco, 1270, Bairro Universitário, 79304-902, Corumbá-MS. e-mail: [email protected] & [email protected] ³ Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Campo Grande. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Cidade Universitária, 549, 79070-900, Campo Grande-MS. e-mail: [email protected] de estiagem (julho e agosto de 2010) e chuvoso (março e abril de 2011), foram realizadas caminhadas pelos principais acessos da RPPN EEB, em que foram coletados exemplares de 140 espécies botânicas. Destas, 49 espécies foram identificadas apenas a nível taxonômico de gênero. A área de estudo possui uma flora composta por espécies de Cerrado, de Floresta Estacional, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do Chaco, além de combinações de grupos que ocorrem em mais de uma destas províncias fitogeográficas. A partir da identificação do material coletado, foi possível evidenciar fortes relações entre a área da RPPN EEB e estas províncias fitogeográficas fronteiriças com o Pantanal com forte predominância de espécies de Cerrado e de Floresta Estacional. Ainda são necessárias novas coletas de material botânico a fim de que espécies que estavam apenas com caracteres vegetativos no período de estudo sejam coletadas. Introdução Para o estudo da botânica é primordial que o pesquisador ou estudante tenha conhecimento de práticas de coleta de material vegetal e montagem de exemplares de referência para sua identificação por comparação de caracteres morfológicos. Estes exemplares são as exsicatas que permanecem guardadas durante anos em herbários, servindo também de referência para futuros trabalhos em que haja a necessidade da identificação de alguma espécie. A Serra do Amolar e áreas de entorno estão localizadas na planície pantaneira no município de Corumbá – Mato Grosso do Sul. Devido à dificuldade de acesso à região, a elaboração de grandes estudos florísticos nesses locais ainda é escassa. A criação de uma coleção botânica de referência situada na Serra do Amolar possibilita que pesquisadores e estudantes tenham melhores condições para execução de seus estudos, devido à possível utilização como referência em suas identificações e como fiel depositária de exsicatas, evitando o extravio das mesmas durante seu transporte pelo rio Paraguai (principal acesso a estas áreas). Este estudo teve como finalidade abordar aspectos dinâmicos da flora e criar uma coleção de material botânico na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB). No período O Pantanal corresponde à maior planície sedimentar inundável do hemisfério ocidental, ocorrendo dentro do Brasil, nos estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), na Bolívia e no Paraguai. Foi formado no período quaternário e preenchido com depósitos aluviais dos rios da Bacia do Alto Paraguai. A vegetação pantaneira está diretamente relacionada com a baixa declividade do terreno, que, por apresentar dificuldade de escoamento das águas, dá à vegetação um aspecto de mosaico em sua distribuição. Existem grandes baías circundadas por campos inundáveis, manchas de áreas florestadas nas partes mais elevadas, além de florestas secas isoladas em morrarias residuais (Prance & Schaller, 1982). A flora do Pantanal se caracteriza por possuir espécies de ampla distribuição do Cerrado, do Chaco, da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica (Ratter et al., 1988; Dubs, 1994). Ocorrem vários tipos de fitofisionomias (cerrado sensu stricto, cerradão, floresta estacional, mata ciliar, campos inundáveis (na planície) e campos de altitude (nos morros residuais) e formações monodominantes (ver Pott & Pott, 2009). Em relação à flora, o Pantanal ainda carece de informações de cunho biogeográfico, principalmente em relação às morrarias residuais, que apresentam difícil acesso e localização remota, tornando-se, em alguns 64 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Resumo Descobrindo o Paraíso 65 casos, verdadeiras ilhas na planície pantaneira durante as inundações mais intensas. Conhecimentos básicos sobre coleta e manutenção de material botânico de espécies vegetais em herbários são de grande valor para pesquisadores e estudantes da taxonomia, biologia e ecologia vegetal, tendo em vista que estes materiais constituem o principal instrumento para a correta identificação das espécies (Fidalgo & Bononi, 1989). Conseguir identificar corretamente as espécies é o primeiro passo para o desenvolvimento e a aplicação eficazes de métodos de manejo dos recursos vegetais (Marchiori, 1995). Por meio do conhecimento da nomenclatura correta de uma espécie vegetal é possível encontrar informações relevantes a respeito de sua distribuição, biologia, ecologia, fenologia, fisiologia e potenciais de uso (Camargos et al., 1996). Dentro deste contexto, a identificação botânica torna-se um pressuposto para a aquisição de diferentes informações sobre espécies que possuem características individuais e diferem nas propriedades, em que espécies bem identificadas resultam em produtos homogêneos, seguros e com qualidade. Além disso, a identificação científica assegura o uso sustentável da floresta e promove o conhecimento sobre nossas espécies (Fidalgo & Bononi, 1989; Ferreira, 2006). Para que boas identificações taxonômicas possam ser realizadas, é necessário que o pesquisador ou estudante possa ter contato com as informações já existentes. Em relação à botânica, essas informações podem ser obtidas dentro dos herbários. Um herbário nada mais é do que uma coleção taxonômica que reúne, de forma ordenada, exemplares secos de vegetais ou parte destes (ramos com folhas, flores e/ou frutos), prensados e dessecados, devidamente preservados para estudos (Moreira et al., 2010). Ao mesmo tempo, consiste em um local de depósito de material testemunho que tenha sido coletado em projetos de pesquisa, tanto em nível acadêmico quanto em nível técnico. Seus principais objetivos são: dar suporte à comunicação internacional ligada à taxonomia, por meio da identificação e da classificação das plantas; contribuir com o reconhecimento da flora local, regional, nacional ou internacional; realizar intercâmbio científico, emprestando, doando ou permutando material; subsidiar os trabalhos de pesquisa; guardar exsicatas de trabalhos de pesquisas pregressas e fornecer material didático e científico para estudantes de graduação e de pós-graduação (Moreira et al., 2010). A Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) está localizada nos inselbergs da planície pantaneira que constituem a Serra do Amolar. Esta localidade do município de Corumbá-MS, junto à fronteira com a Bolívia, ainda é pouco estudada, devido à dificuldade de acesso. Na medida em que ocorre a criação de novas estruturas físicas (ex. alojamentos e trilhas) e intelectuais (ex. coleções botânicas e zoológicas) nas proximidades locais, ocorre também um maior investimento em pesquisa científica por parte dos estudiosos interessados em trabalhos pioneiros. Isso é acarretado pela facilitação do acesso ou da estada dos mesmos no local. O objetivo deste trabalho foi apresentar uma discussão a respeito da dinâmica da flora e montar uma coleção de exsicatas da RPPN EEB, para a criação de um pequeno herbário dentro da própria Reserva. 66 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso Metodologia Área de estudo O estudo foi realizado na RPPN EEB (S 18°05’26”; O 57°28’29”), localizada na Serra do Amolar, Corumbá-MS. De acordo com o sistema de classificação de Köppen, o clima do município de Corumbá é do tipo Aw, ou seja, tropical megatérmico (temperatura média do mês mais frio é superior a 18ºC), com inverno seco e verão chuvoso, com média anual de precipitação de 1.070 mm (Soriano, 1997). Foram utilizadas três áreas para as coletas de material botânico dentro da RPPN Engenheiro Eliezer Batista, com as seguintes denominações: Estrada Mandioré (S 18°05’42’’; O 57°28’53’’): Ao longo desta estrada é possível perceber a forte influência da inundação causada pelo extravasamento da baía Mandioré, no período de cheia. É possível encontrar espécies arbóreas tolerantes a inundação, como Vochysia divergens, regionalmente conhecido como cambará. Esta dinâmica também permite que sua flora sofra modificações morfológicas e 67 fisiológicas (ex.: queda de folhas) por um período mais curto durante a seca. A vegetação passa por transições entre manchas de floresta estacional decidual, floresta estacional semidecidual e campos nativos. Trilha Amolar (S 18°05’38’’; O 57°28’36’’): Esta área possui flora caracterizada por transição entre formações de floresta estacional semidecidual, cerradão e cerrado, conforme ocorre o aumento da altitude, que chega a 368 m no ponto mais elevado. Trilha Morrinhos (S 18°06’20’’; O 57°29’30’’): Está localizada em uma área de morro, com a altitude variando entre 90 e 411 m, onde ocorre transição entre floresta estacional decidual (mais abaixo) e campo de altitude (em áreas mais elevadas), conforme o aumento da altitude. Coleta de material botânico As coletas de material botânico foram realizadas em duas expedições de oito dias cada, nos meses de julho e agosto (estação seca) e de março a abril (estação chuvosa). Este estudo privilegiou as espécies da flora local Figura 1. Material botânico coletado na RPPN Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá-MS, com auxílio de tesoura de poda alta. Foto: Daniel De Granville/Photo in Natura. que se apresentaram férteis (flores, frutos, esporos ou sementes), tendo em vista a extrema importância para a identificação dos exemplares, sendo imprescindível para a confecção de exsicatas. Caminhadas foram realizadas nas trilhas e na estrada da RPPN em busca de espécies férteis da flora local. Quando novos exemplares eram avistados, o grupo de coletores adentrava nas formações vegetais para a realização dos procedimentos de coleta. Todo material coletado seguiu os padrões de coleta, montagem e preservação de acordo com os protocolos dos herbários (Fidalgo & Bononi, 1989). Plantas de hábito arbóreo tiveram o material fértil coletado com auxílio de tesoura de poda alta. Já os arbustos, ervas e lianas foram coletadas com tesoura de poda (Figura 1). Epífitas puderam ser coletadas com auxílio de uma espátula. Todo material de menor porte, tais como folhas, flores e pequenos frutos, foram prensados em jornais e prensas de campo (Figura 2). Amostras que não pudessem ser prensadas (ex.: frutos carnosos) foram armazenadas em sacos de papel de tamanhos apropriados. 68 Descobrindo o Paraíso Figura 2. Material botânico sendo prensado em jornal e prensas de campo na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá-MS. Foto: Bolivar Porto. Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 69 Montagem de exsicatas O material coletado foi levado ao Herbário COR, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal, para início dos procedimentos de montagem das exsicatas. Dentro das prensas de campo foram inseridos pedaços de papelão e placas de alumínio “sanfonadas”, com a finalidade de aumentar a eficiência da secagem das plantas devido ao aumento da temperatura, proporcionando melhor evaporação da umidade das amostras. Em seguida as prensas foram colocadas dentro de uma estufa para secagem dos exemplares. Após a secagem, as exsicatas foram confeccionadas em cartolina e papel pardo (Figuras 3 e 4). O registro das informações referentes a cada exemplar foi feito em fichas individuais para cada um e em um arquivo digital disponível no herbário da RPPN EEB. A identificação do material seguiu o sistema APG II, e foi realizada com utilização de literatura especializada (Lorenzi, 1992; Lorenzi, 2009; Pott & Pott, 1994) e comparações com exemplares pertencentes ao Herbário COR. Resultados De acordo com seu plano de manejo, a RPPN EEB apresenta catalogadas até o momento 287 espécies vegetais, incluindo desde plantas aquáticas, inclusive algas macroscópicas, até espécies herbáceas e arbóreas (Instituto Homem Pantaneiro et al., no prelo). Durante este estudo foram coletados exemplares de 140 espécies para a montagem de exsicatas. Deste total, 49 não puderam ser identificadas em nível de espécie, permanecendo determinadas a nível taxonômico de gênero (Tabela 1). Das 140 espécies coletadas, 28 (20,00%) foram encontradas férteis durante a expedição da estação seca e 122 (87,14%) espécies estavam férteis durante a expedição da estação chuvosa. Apenas 10 (7,14%) espécies foram encontradas férteis durante as duas expedições de campo, evidenciando a sazonalidade da fenologia da comunidade local. Os espécimes que ainda não foram identificados até nível de espécie serão analisados novamente a partir dos procedimentos de permuta entre herbários. Figura 3. Exsicata de Triplaris gardneriana Wedd. coletada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá-MS. Foto: Daniel De Granville/Photo in Natura. 70 Figura 4. Exsicatas em fase final de preparação na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá-MS. Foto: Daniel De Granville/Photo in Natura. Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 71 Tabela 1. Lista de exemplares da coleção de material botânico do herbário da Reserva Particular de Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá-MS. 72 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 73 Discussão Em uma revisão sobre aspectos dinâmicos e fitogeográficos do Pantanal, Pott & Pott (2009) agruparam as principais espécies arbóreas segundo suas floras de origem (Cerrado, Floresta Estacional, Chaco, Amazônica, Bacia do Paraguai-Paraná e Floresta Atlântica), acrescentando uma categoria para espécies de ampla distribuição (de ocorrência em vários biomas). Neste trabalho Pott & Pott (2009) puderam constatar que no Pantanal existe uma prevalência de táxons de grande amplitude ecológica, devido ao fato de a maioria das espécies lenhosas não ser exclusiva de uma única província biogeográfica. A flora encontrada no território pantaneiro recebe influências da flora amazônica a noroeste, de floresta atlântica ao sul e sudeste, na Serra da Bodoquena e arredores e nas cabeceiras dos rios Aquidauana e Miranda, da flora chaquenha a sudoeste, em argilas pesadas e alcalinas nas sub-regiões de Porto Murtinho, Nabileque e Miranda, e do Cerrado em solos arenosos distróficos com boa drenagem (Adámoli, 1986; Pott & Pott, 2009; Pott et al., 2011). Estas floras são determinadas diretamente pela sazonalidade marcante dos períodos de cheia e seca, pelas pequenas diferenças topográficas na planície, pelas grandes diferenças topográficas nos morros residuais de entorno, pela tolerância das espécies à inundação e pelas queimadas ocasionais (Pott et al., 1986; Pott & Pott, 2009; Ratter, 1988). De maneira geral a flora pantaneira é composta pelas espécies de ampla distribuição, contingentes de Cerrado, Floresta Estacional e por combinações de grupos que ocorrem em mais de uma província fitogeográfica – Chaco, Floresta Amazônica, Floresta Atlântica e Bacia do Paraná-Paraguai (Prance & Schaller, 1982; Pott & Pott, 2009). Na área de domínio pantaneiro, podemos encontrar grandes áreas ocupadas por muitas espécies neotropicais de gramíneas, ciperáceas e outras ervas (Pott & Adámoli, 1999) do grupo de ampla distribuição definido por Pott & Pott (2009), além de vegetação do Cerrado. Devido a este predomínio de savanas, o Pantanal por vezes é enquadrado como pertencente ao bioma Cerrado (Junk et al., 2006). Na RPPN EEB são encontradas: formações de mata ciliar, às margens do rio Paraguai, campos inundáveis, em torno da baía Mandioré, 74 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 75 formações de floresta estacional, conforme ocorre o aumento da altitude, e, nas partes mais elevadas, cerradão com transição para formações de cerrado senso stricto. Dentro do território da RPPN EEB não ocorre a transição de cerrado senso stricto para campos de altitude como em outras formações de planalto residual (ex.: Morraria do Urucum – altitude acima de 800 m). Entretanto, as mesmas ocorrem em morros muito próximos e interligados, como, por exemplo, em áreas estudadas por Prance & Schaller (1982). Segundo Jardim et al. (2003), muitas árvores caducifólias que ocorrem no Pantanal também ocorrem em um tipo de floresta seca denominado de Bosque Seco Chiquitano, ocorrente na Bolívia, que compartilha espécies com o Cerrado. Exemplos destas espécies compartilhadas são: bocaiuva Acrocomia aculeata, gonçalo Astronium fraxinifolium, cumbaru Dipteryx alata e açoita-cavalo Luehea paniculata, Anadenanthera colubrina e piúvas Tabebuia heptaphylla, T. impetiginosa e T. ochracea (Ratter et al., 1988; Prado & Gibbs, 1993; Jardim et al., 2003). A flora da RPPN EEB se assemelha visualmente ao Bosque Seco Chiquitano devido ao fato de possuir muitas espécies compartilhadas entre o Chaco e o Cerrado, além de outras espécies de Floresta Estacional que são fisicamente semelhantes às chaquenhas (principalmente devido à presença de espinhos). Nas morrarias da RPPNEEB e de entorno, o fogo ocasional (natural ou acidental) funciona como um importante e efetivo limitador da flora, ao ocasionar a mortalidade de espécies sem resistência às queimadas (p. ex. genipapo Genipa americana e cambará Vochysia divergens) e favorecer espécies resistentes a este efeito, como as de Cerrado (ex. lixeira Curatella americana), assim como registrado em outros estudos (Pott, 2000; Pott, 2003; Pott et al., 2006). Pott & Pott (2009) comentam a possibilidade de ocorrência do fogo natural no passado dos morros residuais da região pantaneira mesmo antes da presença do homem, mas, provavelmente com menor frequência. Mesmo com todo o cuidado dentro da RPPN EEB, no presente, queimadas naturais podem ocorrer devido ao acúmulo de biomassa seca e queda de raios em alguns períodos do ano, causando ainda influência na dinâmica populacional da vegetação da morraria. Os efeitos da inundação também são limitadores para algumas espécies da flora local e facilitadores para outras (p. ex. ingás Inga spp.), estabelecendo um limite entre as áreas de ocupação das espécies anfíbias e tolerantes a períodos de inundação mais ou menos longos (distribuídas próximo ao rio Paraguai e baía Mandioré) e as espécies de ambientes secos, isoladas nas áreas de altitude mais elevadas da morraria. Na tabela 2 podemos observar algumas espécies lenhosas, com seus domínios fitogeográficos característicos, segundo Pott & Pott (2009). Mesmo o presente estudo não tendo contemplado todas as espécies lenhosas da RPPN EEB, é possível visualizar um maior predomínio de espécies que ocorrem no Cerrado (10 espécies), em Floresta Estacional (10 espécies) e na Floresta Amazônica (6 espécies), e um menor predomínio de espécies oriundas do Chaco (2 espécies) e da Mata Atlântica (2 espécies). Tabela 2. Lista de domínios de ocorrência da flora da coleção de material botânico do herbário da Reserva Particular de Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá-MS. 76 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 77 A formação das morrarias sedimentares que compõem a Serra do Amolar é tão antiga quanto a formação dos Andes (Assine & Soares, 2004; Dourojeanni, 2006), nos levando a crer que o conjunto de espécies que compõem a flora da RPPN EEB vem se modelando ao longo das mudanças climáticas sofridas na região desde a formação da própria planície pantaneira, através dos processos de colonização, extinção e especiação. Estudos paleoclimáticos sugerem que há milhares de anos, após a formação dos Andes, o clima na região ocupada atualmente pelo Pantanal foi muito árido, favorecendo a expansão na região de flora da Caatinga e chaquenha. O predomínio de vegetação de Cerrado ocorreu, possivelmente, em um passado muito recente (em torno de 1500 anos atrás), com o estabelecimento de um clima mais úmido (Assine & Soares, 2004). Agradecimentos Considerações Finais O baixo número de exemplares encontrados férteis na primeira campanha (n = 28) deve-se ao período do estudo, realizado entre o final de julho e início de agosto de 2010, período de estiagem na região. Dessa forma nós nos deparamos com poucas espécies que ainda se apresentavam no final do período de floração e frutificação. Em contrapartida, na segunda campanha, que ocorreu do final de março ao início de abril de 2011, encontramos 122 espécies que já haviam iniciado ou estavam iniciando a floração em resposta ao início da estação chuvosa na região. Ao longo das expedições de campo, mais de 170 espécies foram encontradas com possibilidade de identificação devido a características vegetativas marcantes, que facilitam sua determinação com base nas experiências de campo do grupo de pesquisa. Entretanto, as mesmas não foram coletadas para a montagem de exsicatas, pois apenas exemplares férteis são utilizados para tal finalidade. Com a realização de novos estudos de caráter fitossociológicos e fenológicos, visando ao acompanhamento da flora, haverá a possibilidade de uma ampliação considerável para o acervo atual da coleção botânica, por possibilitar que todas espécies sejam observadas em seu período de fertilidade, tendo em vista que apenas 48,78% da flora descrita no Plano 78 de Manejo foram encontradas neste estudo. Os dois herbários mais próximos da RPPN EEB e proximidades (herbário COR da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e o herbário CPAP da Embrapa Pantanal) estão localizados a, aproximadamente, 5 horas de viagem pelo rio Paraguai em embarcações com velocidade de cerca de 40 km/h. A criação do herbário na RPPN EEB facilita a realização de trabalhos botânicos na região, pois abriga materiais que possibilitam a identificação de espécies da flora local e também dá uma nova alternativa para que pesquisadores e estudantes possam depositar exemplares pesquisados. De maneira geral, herbários necessitam de tempo e coletas sucessivas para que possam ser implementados, pelo acréscimo de novos exemplares, como centros de referência em pesquisa. Descobrindo o Paraíso Agradecemos a toda equipe do Instituto Homem Pantaneiro, pela ajuda nos trabalhos de campo e assistência durante a redação do capítulo de botânica, e à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Corumbá, por ceder o herbário durante a confecção das exsicatas. Referências Bibliográficas Adámoli, J. A. 1986. A dinâmica de inundações no Pantanal. In: Anais do I Simpósio sobre Recursos Naturais e Socioeconômicos do Pantanal. Corumbá, MS: CPAP Embrapa, p. 51-62. Assine, M. L.; Soares, P. C. 2004. Quaternary of the Pantanal, WestCentral Brazil. Quaternary International, v. 114, p. 23-34. Camargos, J. A. A.; Czarneski, C. M.; Meguerditchian, I. & Oliveira, D. 1996. Catálogo de árvores do Brasil. Brasília: IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis); Laboratório de Produtos Florestais, 887p. Dourojeanni, M. J. 2006. Construindo o futuro do Pantanal. Rio de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 304 p. Dubs, B. 1994. 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Barônio3, Maria Rosângela Sigrist4 & Sebastião Laroca5 1 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, PPG Ecologia e Conservação. e-mail: aokicamila@ yahoo.com.br / 2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Graduação em Ciências Biológicas. e-mail: [email protected] / 3 Universidade Federal de Uberlândia, PPG Ecologia e Conservação de Recursos Naturais. e-mail: [email protected] / 4 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, PPG Biologia Vegetal. e-mail: [email protected] / 5 Professor Sênior, Universidade Federal do Paraná. e-mail: [email protected] Resumo As abelhas constituem um dos principais grupos de polinizadores das plantas e, portanto, prestam serviço ecológico relevante para a dinâmica das interações presentes nas comunidades bióticas, incluindo os ecossistemas agroflorestais. Apesar desta importância ecológica e econômica, pois influenciam decisivamente a produção agrícola e florestal, são escassos os estudos sobre estes insetos no Mato Grosso do Sul (MS) e, em especial, no Pantanal. Neste levantamento realizado na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB), registramos 42 espécies de abelhas, distribuídas em 25 gêneros, 14 tribos e quatro famílias. Apidae foi a família mais rica, com 29 espécies, das quais 13 são representantes da tribo Meliponini, conhecidas como abelhas sem ferrão. Foram amostrados muitos gêneros com poucas espécies e poucos gêneros com muitas espécies, semelhante ao encontrado em áreas de Cerrado. Entre as espécies registradas, poucas são comuns aos levantamentos realizados no Estado. Entretanto, a maior parte das espécies foi registrada em levantamentos realizados no Cerrado. Seis espécies figuram como novos registros para o MS: Ceratina morrensis, Coelioxys otomita, Hopliphora velutina, Larocanthidium nigritulum, Trigona chanchamayoensis e Thygater analis. Apis mellifera foi a espécie mais abundante (50% do total de abelhas coletadas), e entre as nativas houve destaque para Scaptotrigona jujuyensis, Scaura timida, Trigona chanchamayoensis e T. recursa. Foram amostradas 50 espécies vegetais em floração, sendo que 26 receberam 84 Descobrindo o Paraíso visitas de abelhas. A maioria possui hábito herbáceo, subarbustivo ou arbustivo e as flores são principalmente pequenas (até 20 mm), abertas, nectaríferas, de cores claras e enquadradas na síndrome de melitofilia. Elevado percentual de abelhas atuou como potencial polinizador (78,1%) e coletou principalmente néctar (87%) durante as visitas. A publicação deste trabalho contribui para o conhecimento da fauna de abelhas do Pantanal, e evidencia a necessidade de levantamentos abrangentes, em longo prazo e nas diferentes estações, visando entender o efeito da sazonalidade na diversidade de abelhas nas diferentes formações vegetais do Pantanal.A planície aluvionar do Pantanal tem seus limites marcados por variados sistemas de elevações do planalto, como chapadas, serras e maciços (Magalhães, 1992). Por exemplo, a Chapada dos Guimarães, as Serras de Maracajú, Amolar e Bodoquena; e o Maciço do Urucum. A planície é recortada por vários rios, como o Cuiabá, Piquiri, Taquari, Paraguai e Aquidauana; todos pertencentes à BAP. Essa última condição faz com que o Pantanal seja considerado uma das maiores áreas úmidas contínuas do planeta (Pearson & Beletsky, 2005). Por esse conjunto de atributos, foi intitulado como Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira e Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera pela UNESCO (Unesco, 2010). Além disso, figura como uma das últimas 37 grandes áreas selvagens do planeta (Mittermeier et al., 2003) e possui três sítios Ramsar Introdução As abelhas (Apoidea) são consideradas o grupo mais diverso dentre os Hymenoptera (Neff & Simpson, 1993). O número exato de espécies ainda é incerto, mas de acordo com Michener (2000) existem cerca de 30.000 espécies de abelhas no mundo. Dentre os insetos, são consideradas os principais polinizadores em diferentes ecossistemas tropicais e temperados (Roubik, 1979; Arroyo et al.,1985). Portanto, são elementos fundamentais para a manutenção da integridade destes ecossistemas, uma vez que a polinização constitui serviço ecológico e econômico de grande relevância. Por esta razão, o serviço ambiental realizado pelos polinizadores, com destaque para abelhas nativas, foi considerado, desde 2000, como Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 85 tema transversal na biodiversidade agrícola pela Convenção da Diversidade Biológica e motivou a aprovação da Iniciativa Internacional dos Polinizadores como programa estratégico para a conservação e uso sustentado de polinizadores (Imperatriz-Fonseca et al., 2007). No Brasil, a Iniciativa Brasileira de Polinizadores foi legalmente instituída em 2005, e um dos resultados foi a publicação da Bibliografia Brasileira de Polinização e Polinizadores (MMA, 2006), que traz levantamento detalhado da produção científica nacional sobre o tema. Segundo este trabalho, o Pantanal aparece como o bioma com o menor número de estudos realizados. Apesar disso, poucos esforços foram realizados até o momento para compreender a diversidade de polinizadores neste bioma. Por isso, a composição da fauna de abelhas nativas da região permanece pouco conhecida. No Estado de Mato Grosso do Sul (MS) apenas dois trabalhos foram realizados com a comunidade de abelhas visitante de flores em vegetação de cerrado (Aoki & Sigrist, 2006; Vieira et al., 2008). Para a região do Pantanal, apenas um estudo sobre a flora apícola foi realizado por Pott & Pott (1986). No Pantanal, levantamentos biológicos são importantes para subsidiar programas de manejo e conservação, pois o bioma teve mais de 40% dos habitats de florestas e savanas alterados pela pecuária, muitas vezes com a introdução de espécies de gramíneas exóticas (Harris et al., 2005). No atual ritmo de degradação, é possível que muitas espécies de abelhas entrem em processo de extinção nos próximos anos, sem ao menos terem sido registradas na região. Neste contexto, este trabalho traz uma listagem preliminar de espécies de abelhas e da flora visitada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB), Serra do Amolar, Corumbá/MS. Metodologia O estudo foi realizado na RPPN EEB, localizada a noroeste do município de Corumbá (18° 5’25”S e 57°28’27”O), a cerca de 180 km a montante da sede do município, entre o Rio Paraguai e a Baía Mandioré/MS. O clima é do tipo Aw, quente e úmido (Köppen, 1948), com duas estações bem definidas: uma chuvosa, de novembro a março, e outra seca, de abril 86 Descobrindo o Paraíso a outubro. No período de 1973 a 2003, a precipitação e temperatura médias anuais foram de 1070 mm e 25,1ºC, respectivamente (Fava et al., 2011). O registro das abelhas foi realizado na estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), nas trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”), na sede da RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”) e na margem do Rio Paraguai (S 18°05’06”, O 57°28’38”). Os locais de coleta de cada espécie são apresentados nos resultados, mas não será realizada comparação entre eles, uma vez que o esforço amostral não foi padronizado, dependendo da extensão e acessibilidade dos pontos. A vegetação que margeia a estrada Mandioré é constituída por savana florestada e floresta estacional semidecidual, tipos de vegetação presentes também na trilha Amolar, juntamente com savana gramíneo-lenhosa. A trilha Morrinhos apresenta savana gramíneo-lenhosa e savana florestada. No entorno da sede da Unidade de Conservação são registradas principalmente espécies vegetais ruderais. As coletas foram realizadas em três períodos: de 19 a 24 de maio de 2007 (2ª expedição do Plano de Manejo), 27 de julho a 02 de agosto de 2010 e 28 de março a 04 de abril de 2011, totalizando 21 dias de amostragem. As abelhas foram coletadas com auxílio de rede entomológica (Figura 1a) em espécies vegetais em floração, observadas durante 10 minutos cada planta, entre 7h e 17h. A amostragem foi realizada em plantas com ramos acessíveis, que permitissem observação do comportamento dos visitantes. Abelhas coletadas por outras metodologias (e.g. armadilhas de queda, armadilhas de borboleta e redes de varredura) também foram incluídas neste trabalho, e coletas em caixas de meliponicultura foram realizadas na região (Figura 1b). Figura 1a. Coleta de abelhas com utilização de rede entomológica. Daniel De Granville/Photo in Natura Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 87 quando, ao coletar o recurso floral, não apresentou tal comportamento. Para determinação do esforço amostral, utilizamos curvas de acumulação de espécies pela aleatorização (com 1000 iterações) de diferentes tamanhos de amostras (número de indivíduos), usando o programa EcoSim 7 (Gotelli & Entsminger, 2001). Resultados e discussão Abelhas As flores das espécies vegetais observadas foram classificadas em oito tipos morfológicos (modificado de Faegri & Van der Pijl, 1979): (1) inconspícua (< 4 mm); (2) prato; (3) campanulada/funil; (4) tubo; (5) goela; (6) estandarte; (7) pincel; (8) câmara. Quanto ao tamanho, as flores foram categorizadas em pequena (< 10 mm), média (> 10 ≤ 20 mm), grande (> 20 ≤ 30 mm) e muito grande (> 30 mm) (Machado & Lopes, 2004). De acordo com a cor principal, oito categorias de cores foram registradas: branca, esverdeada (incluindo bege e creme), amarela, alaranjada, rosa, violeta/lilás (incluindo azul) e vermelha. Estas características foram utilizadas para inferir as síndromes de polinização (cf. Faegri & Van der Pijl, 1979), incluindo “diversos pequenos insetos” (d.p.i.) (Bawa et al., 1985). A determinação da atuação das abelhas nas flores (polinização ou pilhagem) foi realizada através de observação do comportamento de visita às flores e do recurso floral coletado (néctar e/ou pólen). O visitante foi considerado potencial polinizador quando, durante a visita, contatou anteras (recebeu pólen no corpo) e estigma(s) (depositou pólen), e pilhador Na RPPN EEB, foram coletadas 282 abelhas, distribuídas em 42 espécies, 25 gêneros, 14 tribos e quatro famílias (Tabela 1). O número de espécies está bem abaixo do registrado por Aoki & Sigrist (2006 – 113 spp.), mas é superior ao registrado por Vieira et al. (2008 – 34 spp.), ambos estudos desenvolvidos em áreas de Cerrado no MS. O esforço amostral representado pela curva de acumulação de espécies indica que a riqueza de abelhas está sub-amostrada na RPPN EEB, uma vez que a curva permaneceu abaixo da assíntota (Figura 2). Isto indica que, com a continuidade dos estudos, certamente novas espécies poderão ser adicionadas à listagem. Entretanto, é esperado que esta riqueza seja menor que a encontrada em áreas de Cerrado, o que é um padrão para a região do Pantanal, principalmente devido à instabilidade climática e de recursos, os quais são flutuantes, sazonais e imprevisíveis (Brown Jr., 1984). Em relação ao número de indivíduos coletados por família, verificou-se que Apidae foi a mais abundante (88%), seguida de Megachilidae (6%), Halictidae (5%) e Colletidae (1%). O maior número de gêneros foi observado em Apidae (68%), seguido de Megachilidae (20%), Halictidae (8%) e Colletidae (4%). O padrão de riqueza de espécies foi semelhante, com Apidae (67%) como a mais rica, acompanhada por Megachilidae (16%), Halictidae (12%) e Colletidae (5%) (Figura 3). Apidae, como a família mais rica em espécies, foi registrada em diversos estudos no bioma Cerrado (e.g. Laroca & Almeida, 1994; Silveira & Campos, 1995; Antonini & Martins, 2003; Aoki & Sigrist, 2006). A porcentagem de espécies registradas neste estudo para Apidae e Megachilidae assemelha-se à relatada para áreas de savana tropical, segundo a revisão de Pinheiro-Machado et al. (2002), com 63,1 e 18,2%, respectivamente. 88 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Figura 1b. Coleta em caixas de meliponicultura. Foto: Bolivar Porto. Descobrindo o Paraíso 89 Entretanto, o percentual de Colletidae (5%) foi superior ao registrado no referido estudo (1,2%) e o percentual de Halictidae (12%) está bem abaixo do registrado para savanas tropicais (20,2%), mas assemelha-se ao registrado por Anacleto & Marchini (2005) em Cerrado de São Paulo (13,72%). Andrenidae não foi registrada neste levantamento, esta é uma família relativamente pequena e pouco representada nos neotrópicos (Corlett, 2004). Meliponini foi a tribo mais rica e uma das mais abundantes (Tabela 1, Figura 4), provavelmente porque as abelhas sem ferrão são altamente diversificadas na região Neotropical, mais de 300 espécies são encontradas nas Américas (Velthuis, 1997). Na RPPN EEB, também se destacaram as tribos: Augochlorini (5 spp., 11,6%), Megachilini, Centridini e Xylocopini (4 spp., 9,3% cada). Meliponini figura como a quinta tribo mais rica em espécies para savanas tropicais brasileiras em revisão feita por PinheiroMachado et al. (2002), na qual Augochlorini, Centridini e Megachilini são as três mais ricas. No presente estudo, Xylocopini foi mais representativa que na revisão de Pinheiro-Machado et al. (2002). Apis mellifera foi responsável pela elevada abundância de Apini, 50% de todos os indivíduos registrados (Tabela 1, figura 4). A dominância da abelha melífera ou europa, como é popularmente conhecida, pode ser reflexo da criação desta espécie por ribeirinhos da região para a produção de mel. Para a região do Pantanal, há registro de cerca de 30 a 40 apicultores com aproximadamente 1.500 colmeias (Ebeling, 2002). Além disso, esta espécie foi a mais versátil quanto aos tipos florais utilizados e foi observada visitando flores ao longo de todo o dia, diferindo nestes aspectos da maioria das espécies nativas. Fig. 3. Contribuição relativa (em percentual) de gêneros, espécies e indivíduos de quatro famílias de Apoidea amostradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. Metodologia. Foto: Bolivar Porto Figura 2. Curva de acumulação de espécies, representando o esforço amostral para as abelhas registradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. As barras indicam o intervalo de confiança de 95% para a média das estimativas do número de espécies obtido por rarefação. 90 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 91 Legenda: (Am) Trilha Amolar, (Ma) Estrada Mandioré, (Mo) Estrada Morrinhos, (Mr) Margem do Rio Paraguai, (Mel) coleta em caixas de meliponicultura. * Espécies coletadas apenas na Campanha de reconhecimento (2ª expedição do Plano de Manejo). Tabela 1. Espécies de abelhas registradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS, com suas respectivas abundâncias e campanhas de registro. Figura 4. Riqueza de espécies e abundância de 14 Tribos de Apoidea amostradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. 92 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 93 (Moure et al., 2008); - Hopliphora velutina: com distribuição na Argentina (Chaco) e no Brasil, nos Estados de Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (Moure & Melo, 2008); - Larocanthidium nigritulum: ocorrência na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Brasil, no Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia (Camargo & Pedro, 2008b); - Trigona chanchamayoensis: distribuição no noroeste do Brasil, Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia (Camargo & Pedro, 2008a); - Thygater analis: no Brasil, esta espécie tem registro na Amazônia, Paraná e São Paulo (Urban et al. 2008). Dentre as espécies nativas, Scaura timida (13 indivíduos), Scaptotrigona jujuyensis (12 ind.), Trigona recursa (12 ind.) e Trigona chanchamayoensis (11 ind.) foram as mais abundantes. Todas pertencem à tribo Trigonini e são abelhas eussociais, vivem em colônias constituídas por muitas operárias, que chegam a centenas ou milhares, de acordo com a espécie. Dos 25 gêneros registrados, metade contribuiu com uma espécie e os demais com duas (Ceratina, Coelioxys, Euglossa, Megachile, Melipona, Scaptotrigona, Scaura, Xylocopa), três (Augochloropsis), quatro (Centris) ou cinco espécies (Trigona). Muitos gêneros com poucas espécies e poucos gêneros com muitas espécies amostradas parecem ser tendência para áreas de Cerrado (Silveira & Campos, 1995). Das espécies registradas, apenas 13 (30,2%) e quatro (9,3%) são comuns a levantamentos realizados no MS por Aoki & Sigrist (2006) e Vieira et al., (2008), respectivamente. Entretanto, a maioria das espécies registradas é comum para áreas de Cerrado, tendo sido registradas em outros estudos neste bioma (e.g. Silveira & Campos, 1995; Carvalho & Bego, 1996; Santos et al., 2004; Anacleto & Marchini, 2005; Andena et al., 2005; Araújo et al., 2006). São novos registros para o Mato Grosso do Sul: - Ceratina morrensis: com registro para o Paraguai (Moure, 2008); - Coelioxys otomita: no Brasil, esta espécie tem registro na Bahia e Paraná Plantas 94 Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista Descobrindo o Paraíso As abelhas foram amostradas em 50 espécies vegetais pertencentes a 19 famílias e 41 gêneros (Tabela 2). Fabaceae (Leguminosae) foi a família mais rica (17 spp., 34%), seguida de Asteraceae, Malvaceae (com 6 spp. cada) e Rubiaceae (4 spp.). Convolvulaceae e Passifloraceae contribuíram com duas espécies cada, as demais famílias (13) apresentaram apenas uma espécie. No Pantanal Pott et al. (2011), relatam Fabaceae como a família mais representativa em número de espécies, seguida por Malvaceae, Asteraceae, Rubiaceae e Convolvulaceae. Considerando o hábito, as espécies vegetais amostradas foram predominantemente herbáceas (20 spp., 40%), subarbustivas (11 spp., 22%) e arbustos (10 spp., 20%). As trepadeiras, com representantes da família Asteraceae, Convolvulaceae, Fabaceae, Sapindaceae e Vitaceae, totalizaram sete espécies (14%). Apenas duas espécies arbóreas foram observadas com flor e apresentaram ramos acessíveis para a coleta de abelhas: Inga vera e Myrcia fallax. Na RPPN EEB, foram registrados quatro tipos de síndromes de polinização: melitofilia (polinização por abelhas, 34 spp., 68%), d.p.i. (por diversos pequenos insetos, 13 spp., 26%), ornitofilia (por beija-flores, 2 spp., 4%) e quiropterofilia (por morcegos, 1 sp., 2%). Para melitofilia, o percentual é próximo do registrado por Silberbauer-Gottsberger & Gotts 95 berger (1988, 65%), mas superior ao registrado em outras áreas de cerrado (e.g. 32% em Oliveira & Gibbs, 2000, 46,1% em Aoki & Sigrist, 2006, 49,6% em Barbosa & Sazima, 2008). De modo geral, as abelhas formam o principal grupo de polinizadores nos ecossistemas tropicais. No Brasil, 40 a 90% das árvores nativas, dependendo da região, são polinizadas por abelhas (Kerr et al., 1996). Algumas famílias de plantas, como Malpighiaceae (Figura 5a) e alguns grupos de Fabaceae (Caesalpinoideae, Papilonoideae) (Figuras 5b, 5c), apresentam flores polinizadas exclusivamente por abelhas (Carvalho & Bego, 1995; Buchmann, 1983). Tabela 2. Espécies vegetais nas quais foi realizado levantamento de abelhas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. Síndrome: d.p.i.= diversos pequenos insetos; Recurso: N= néctar, P= pólen, O= óleo, R= resina. Tipo floral e diâmetro entre parênteses referem-se à unidade floral (inflorescência). 96 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 97 Figura 5. Unidades de polinização de (a) Banisteriopsis sp. (tipo floral: aberto, recurso: óleo), (b) Senna splendida (aberto, pólen), (c) Canavalia mattogrossensis (goela, néctar), (d) Dalechampia caperonioides (goela, resina), (e) Centratherum punctatum (tubo, néctar), (g) Ipomoea rubens (campanulada, néctar), (g) Mimosa xanthocentra (pincel, pólen+néctar), (h) Cissus spinosa (inconspícua, néctar). Fotos: Camila Aoki. a b c e g A ausência do registro de outras síndromes, como cantarofilia (polinização por besouros), psicofilia (por borboletas) e miiofilia (por moscas), provavelmente é reflexo da insuficiência amostral e ao fato de que espécies polinizadas por pequenas moscas e borboletas estão incluídas no sistema de polinização d.p.i.. Considerando que as formações vegetais do Pantanal estão sujeitas a forte sazonalidade climática, é possível que espécies cantarófilas, cujas estruturas florais são mais restritivas e vinculadas a algumas famílias botânicas (e.g. Anonaceae, Araceae, Arecaceae), floresçam em períodos específicos do ano e por esta razão não tenham sido amostradas. Sete tipos florais foram registrados na área de estudo: prato (18 spp.), estandarte (8 spp.), tubo (6 spp.), campanulada (4 spp.), pincel (4 spp.), inconspícuo e goela (2 spp. cada) (Tabela 2, Figuras 5, 6). O tipo floral é característica importante, pois dependendo da morfologia floral o acesso dos visitantes aos recursos florais pode ser mais ou menos restritivo (Barbosa & Sazima, 2008). Flores do tipo prato (taça ou disco) são abertas e os recursos florais ficam mais acessíveis aos visitantes. d f h Figura 6. Frequência dos tipos florais de espécies vegetais amostradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. 98 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 99 Os principais tipos de recursos florais utilizados por animais que visitam flores são: néctar, pólen, óleo, fragrâncias, gomas, partes florais e resinas (Barbosa & Sazima, 2008). Esses recursos são básicos para a manutenção da fauna antófila. A maioria das unidades de polinização amostradas na RPPN EEB produz néctar como principal recurso aos visitantes (41 spp.); 12 espécies produziram pólen, uma disponibilizou resina (Dalechampia caperonioides) (Figura 5D) e Banisteriopsis sp., óleo (Figura 5A). Nos ecossistemas tropicais, geralmente é elevado o percentual de flores nectaríferas, uma vez que esse recurso é procurado pela maioria dos visitantes florais e, portanto, está presente em unidades de polinização da maioria das síndromes (exceto cantarófilas e melitófilas que produzem pólen e/ou óleo). Flores nectaríferas são visitadas por animais que normalmente não “aproveitam” pólen diretamente, mas obtêm esse recurso secundariamente enquanto, por exemplo, realizam a limpeza do corpo (Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger, 1988). A coloração floral é atributo importante da morfologia e biologia floral, pois funciona no processo de estimulação visual para determinados grupos de polinizadores (Barbosa & Sazima, 2008). Na área de estudo, as unidades florais apresentaram sete categorias de cores, sendo mais frequentes flores de cor amarela (15 spp.), branca (10 spp.) e lilás/violeta (11 spp.), e menos comuns rosa, vermelha, esverdeada e laranja (Tabela 2, Figura 7). Segundo Kevan (1983), flores de cores claras, em geral, são polinizadas por visitantes não especializados (generalistas). Figura 7. Frequência das cores nas unidades florais de espécies vegetais amostradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. 100 Descobrindo o Paraíso O tamanho das flores também é uma característica restritiva aos visitantes, pois é necessário que haja compatibilidade entre o tamanho do visitante (comprimento do corpo, bico, língua, etc.) e a dimensão da unidade de polinização para que ocorram visitas legítimas, ou seja, contato com os órgãos sexuais da flor. Na RPPN EEB, quase 80% das espécies apresentam flores de diâmetro pequeno (27 spp.) ou médio (12 spp.), com até 20mm. O mesmo ocorreu com o comprimento da unidade de polinização: 90% das flores são pequenas (31 spp.) a médias (14 spp.) (Tabela 2). Interação abelha-planta Trinta e duas espécies de abelhas foram registradas nas flores de 26 espécies vegetais na RPPN EEB (Tabela 3). Apis mellifera foi a abelha que visitou maior número de espécies, ou seja, 14, das quais seis foram visitadas exclusivamente pela abelha europa (Borreria cf. verticillata, Centrosema brasilianum, Commelina erecta, Eichhornia crassipes, Mimosa polycarpa, Polygonum acuminatum) (Tabela 3, Figura 8). Dentre as espécies nativas, as que visitaram maior número de espécies vegetais (3 spp.) foram Trigona chanchamayoensis, Ceratina morrensis, Augochloropsis sp. 3 e Larocanthidium nigritulum (Tabela 3). Dezessete espécies de abelhas visitaram apenas uma espécie vegetal, entre elas, Centris xanthocnemis, Hopliphora velutina, Melipona rufiventris, Scaptotrigona jujuyensis e Tetrapedia imitatrix (Tabela 3). Hyptis suaveolens e Melochia pyramidata foram as espécies vegetais que receberam maior número de visitantes (7 spp.), seguidas por Bidens gardneri e Mimosa xanthocentra (5 spp. cada), com exceção de B. gardneri, todas são melitófilas. Doze espécies vegetais receberam visitas de apenas uma espécie de abelha durante as observações. Contudo, os resultados encontrados neste estudo não podem ser considerados conclusivos quanto à utilização generalista ou especialista das espécies vegetais, devido ao curto período de coleta. A maioria das espécies (78,1%) atuou principalmente como potencial polinizador das espécies vegetais visitadas. Entretanto, Apis mellifera, Augochlora mülleri, Augochloropsis sparsilis, Ceratina morrensis, Melipona rufiventris, Scaptotrigona jujuyensis e Trigona fulviventris atu Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 101 aram principalmente como pilhadoras de recurso floral (Tabela 3). O fato de Apis mellifera ter visitado maior número de espécies e ter atuado principalmente como pilhadora de recurso pode ter impacto negativo tanto para as abelhas nativas (pela competição por recursos) como para as plantas, que podem ter sua polinização comprometida. Estudos sobre as interações entre essas espécies (nativas e exótica) devem ser desenvolvidos, de modo a permitir conservação e controle destes organismos (Laroca & Orth, 2002). Néctar foi principal recurso coletado pelas abelhas, embora onze espécies tenham coletado pólen e néctar nas flores visitadas. Augochloropsis sp. 2, Euglossa aff. townsendi, Eulaema nigrita, Ptiloglossa aff. willinki, Tetrapedia imitatrix e Xylocopa barbata foram registradas coletando somente pólen (Tabela 3). Foram registradas espécies de abelhas coletoras de óleo (e.g. representantes de Centris, Tetrapedia e Paratetrapedia), contudo estas não foram observadas coletando este recurso. Também não foram registradas espécies coletando resina. A maioria das espécies (78,1%) atuou principalmente como potencial polinizador das espécies vegetais visitadas. Entretanto, Apis mellifera, Augochlora mülleri, Augochloropsis sparsilis, Ceratina morrensis, Melipona rufiventris, Scaptotrigona jujuyensis e Trigona fulviventris atuaram principalmente como pilhadoras de recurso floral (Tabela 3). O fato de Apis mellifera ter visitado maior número de espécies e ter atuado principalmente como pilhadora de recurso pode ter impacto negativo tanto para as abelhas nativas (pela competição por recursos) como para as plantas, que podem ter sua polinização comprometida. Estudos sobre as interações entre essas espécies (nativas e exótica) devem ser desenvolvidos, de modo a permitir conservação e controle destes organismos (Laroca & Orth, 2002). Néctar foi principal recurso coletado pelas abelhas, embora onze espécies tenham coletado pólen e néctar nas flores visitadas. Augochloropsis sp. 2, Euglossa aff. townsendi, Eulaema nigrita, Ptiloglossa aff. willinki, Tetrapedia imitatrix e Xylocopa barbata foram registradas coletando somente pólen (Tabela 3). Foram registradas espécies de abelhas coletoras de óleo (e.g. representantes de Centris, Tetrapedia e Paratetrapedia), contudo estas não foram observadas coletando este recurso. Também não foram registradas espécies coletando resina. Tabela 3. Abelhas amostradas em f lores de espécies vegetais na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS, atuação na polinização e recursos f lorais coletados. Figura 8. Apis mellifera em flores de Polygonum acuminatum (Polygonaceae). Foto: Camila Aoki. 102 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 103 Meliponicultura Considerações finais No Brasil, a meliponicultura foi desenvolvida inicialmente pelos índios e, ao longo dos anos, vem sendo praticada por pequenos e médios produtores, assim como por produtores de base familiar (Nogueira-Neto, 1997; Silva & Lajes, 2001; Venturieri et al., 2003). A meliponicultura é atividade de baixo impacto ambiental e que produz alimento com bom nível nutricional (Souza et al., 2004). Embora as espécies de Meliponini produzam menor quantidade de mel que a exótica Apis mellifera, o mel destas abelhas sem ferrão tem maior valor de mercado. A implantação da atividade de cultivo de abelhas nativas na Serra do Amolar vem sendo incentivada pelo Instituto Homem Pantaneiro em parceria com a Fundação O Boticário de Proteção a Natureza. Nas caixas de meliponicultura da região (Figura 9a), foram amostradas três espécies: o manduri (Melipona orbignyi, Figura 10b), a trubuna ou mandaguari (Scaptotrigona jujuyensis, Figura 10c) e a jataí ou jatí (Tetragonisca angustula, Figura 10d). São abelhas facilmente adaptáveis e mansas, e como não apresentam ferrão, seu manejo dispensa uso de equipamentos de proteção e possibilita o emprego de mão de obra familiar. Nesta publicação, apresentamos a primeira listagem de abelhas para o Pantanal, os recursos florais disponíveis e utilizados e a atuação das abelhas na polinização das espécies vegetais amostradas. Certamente não corresponde à listagem completa, sendo necessária a realização de levantamentos abrangentes, em longo prazo e em diferentes estações hídricas, visando entender o efeito da sazonalidade na diversidade de abelhas. Esta necessidade é particularmente urgente no Mato Grosso do Sul, onde há carência deste tipo de estudo e mais ainda para o bioma Pantanal, que é formado por mosaico de comunidades (Complexo do Pantanal) de hidrófilas (submersas e flutuantes), heliófilas, higrófilas, mesófilas e até mesmo xerófilas. Este mosaico proporciona a ocorrência de grande número de nichos ecológicos de condições diversas, nos quais proliferam variados tipos de vegetação, como campos, cerrados, cerradões, florestas estacionais e Chaco (ver Felfili et al., 2005). Apesar dessa diversidade na vegetação, é o bioma brasileiro menos conhecido, tomando como base o número de inventários e levantamentos recentemente publicados (Lewinsohn & Prado, 2003). Agradecimentos a b Agradecemos ao Instituto Homem Pantaneiro pela iniciativa e logística; a Vali J. Pott e Wellinton Arruda pelo auxílio na identificação do material botânico. Referências Figura 9. Caixas de meliponicultura na região do Amolar (a) com ninhos de manduri Melipona orbignyi (b), mandaguari Scaptotrigona jujuyensis (c) e jataí Tetragonisca angustula (d). Fotos Bolivar Porto (a, b) e Camila Aoki (c, d). Anacleto, D.A. & Marchini L.C. 2005. Análise faunística de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) coletadas no cerrado do Estado de São Paulo. Acta Scientiarum. Biological. Sciences, 27(3): 277-284. Andena, S.R., Bego L.R & Mechi M.R. 2005. A comunidade de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) de uma área de cerrado (Corumbataí, SP) e suas visitas às flores. Revista Brasileira de Zoociências, 7(1): 55-91. Antonini, Y. & Martins R.P. 2003. The flowering-visiting bees at the Ecological Station of the Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brazil. Neotropical Entomology, 32: 565-575. Aoki, C. & Sigrist, M.R. 2006. 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