Edição 49 - Superpedido Tecmedd
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Edição 49 - Superpedido Tecmedd
A UNIÃO FAZ A FORÇA Autores do best-seller Casamento blindado, Renato e Cristiane Cardoso relembram em entrevista exclusiva os detalhes de suas histórias de sucesso - em casa e no trabalho Editorial Editorial Editorial Números promissores Facilitar o acesso aos livros no Brasil é um desafio antigo, e que, com o passar do tempo, torna-se cada vez mais urgente. A mais nova iniciativa para compensar esse atraso histórico saiu do papel no começo de 2014: o vale-cultura. Alguns meses depois do lançamento, o Governo Federal divulga os primeiros resultados do programa – e os números parecem auspiciosos, especialmente para as livrarias. Cerca de 715 mil trabalhadores foram cadastrados nos três primeiros meses para receber os vales mensais e cumulativos de R$ 50 para consumo de bens culturais – a título de comparação, o vale-alimentação teve uma adesão de 760 mil trabalhadores. Por uma demora na emissão dos cartões magnéticos pré-pagos, porém, apenas 215.600 trabalhadores efetivamente receberam a tarjeta. Assim, o consumo total do vale-cultura foi de R$ 13,7 milhões. E nada menos do que 88% desse total – R$ 12,1 milhões – foi destinado à compra de livros, jornais, revistas e itens de papelaria. Ou seja: as livrarias estão sendo um destino preferencial para esse já considerável montante de recursos – e que tende a crescer ainda mais ao longo dos meses. Assim, caro leitor-livreiro, se seu estabelecimento ainda não está cadastrado para receber o valecultura, não perca mais tempo. Entre na página do programa (www.cultura.gov.br/valecultura) e saiba o que é preciso fazer para se credenciar. A expectativa do Ministério da Cultura é a de que o benefício chegue aos bolsos de 42 milhões de trabalhadores brasileiros. Não dá para ficar fora dessa, certo? Celso de Campos Jr. Editor Ligue para a Superpedido São Paulo 11 3505-9788 pág. 4 Cartas Cumprimento a Superpedido pela entrevista com a Ana Paula Padrão. Apenas uma profissional respeitada e uma pessoa bem-resolvida como ela poderia se abrir tanto como ela fez em seu livro, e que vocês retrataram tão bem nas páginas na revista. Parabéns a todos. Janaína Nunes São Paulo-SP Inspiradora a história da menina Isadora Faber, do livro Diário de Classe. Todos nós deveríamos seguir seu exemplo e fazer algo a respeito das coisas erradas que presenciamos no dia-a-dia. Está ao nosso alcance, é só querer. Giovanni A. dos Santos São Paulo-SP A equipe da revista quer ouvi-lo, leitor-livreiro! Sugestões, críticas e idéias podem ser enviadas ao e-mail [email protected], ou remetidas para o endereço da redação. Mãos à obra! Índice 4 6 8 12 14 20 24 26 30 34 36 40 44 46 48 50 Editorial e Cartas Zoom Entrevista Moda Capa Fotografia Quadrinhos Papo de escritor Artigo Ficções livrescas Gastronomia Perfil Humor Finanças Top 100 Editoras Top 20 Livros Revista Superpedido Edição de Jul/Ago. de 2014 Ano X - Nº49 Essa revista é uma publicação da Superpedido Comercial S/A Rodovia Presidente Castelo Branco, 11.510 - Km 32,5 - Área B - Setor K3 Jardim Belval - Barueri - SP cep. 06421-400 tel. 11-3505-9788 site. www.superpedido.com.br e-mail. : [email protected] Distribuição gratuita. Venda proibida. É proibida a cópia e a reprodução total sem prévia autorização. Não nos responsabilizamos pelo preço de capa dos livros desta revista. São sugeridos pela editora e podem ser alterados sem prévio aviso. Superpedido Comercial S/A. Todos os direitos reservados. Edição Celso de Campos Jr. Produção e projeto gráfico Nathália Furlan Nesta edição colaboraram Isabela Freitas, J.A. Dias Lopes, Lia Rizzo, Priscilla Warner, Reinaldo Domingos e Reinaldo Polito Ilustrações Estúdio Canarinho pág. 5 Zoom Zoom Picture-Alliance / DPA / Divulgação Zoom Inspiração para um recomeço Dica de leitura para o novo treinador da Seleção Brasileira – e para todos aqueles que ainda enxergam o futebol como o jogo bonito: Béla Guttmann, uma lenda do futebol no século XX, de Detlev Claussen, lançamento da Estação Liberdade. A biografia do revolucionário treinador húngaro (1900-1981) pode ser considerada uma história mundial do futebol em uma só pessoa. Mestre na capacidade de enxergar as variantes técnicas, táticas e físicas do esporte, o inovador Guttmann extraiu o melhor de craques como Zizinho, Eusébio e Puskás, trabalhando no Honvéd, no Milan, no Peñarol, no Benfica e no São Paulo, clube em que ganhou o Campeonato Paulista em 1957. Muitos acreditam que sua presença no Brasil teria influenciado a preparação da Seleção Brasileira que venceu a primeira Copa do Mundo, em 1958, na Suécia. Uma excelente inspiração para um recomeço. A volta de Hercule Poirot Stephen King de cara nova Agatha Christie morreu em 1976 – mas Hercule Poirot, o famoso detetive criado pela dama do crime, ainda vive. Trinta e nove anos depois de protagonizar um romance pela última vez, Poirot voltará às livrarias em 8 de setembro, em Os crimes do monograma, obra escrita pela também britânica Sophie Hannah, escolhida pelos descendentes de Agatha para trazer de volta à cena o famoso bigodinho. No Brasil, a obra sairá pela Nova Fronteira – e os capítulos para tradução chegaram à moda antiga, pelo correio, a fim de evitar vazamentos ou surpresas indesejáveis. A editora colocará no mercado ainda dois boxes com clássicos de Agatha. Já a Globo Livros lançará novas traduções de obras de Agatha, entre elas Os cinco porquinhos e E não sobrou nenhum. Não, leitores-livreiros, o mestre do terror não fez plástica. São apenas seus livros, aqui no Brasil, que seguem ganhando novas edições na Suma de Letras – selo da editora Objetiva que é a casa da obra do mestre do terror. Mais de 30 livros já foram relançados, com novas capas; agora, chegou a vez do tão esperado It – A coisa, um dos maiores sucessos de Stephen King. Lançado originalmente em 1986, o livro ganha também uma nova tradução em português. Por sinal, rumores dão conta também que a Warner Bros realizará uma nova adaptação ao cinema de It – a primeira, realizada em 1990, é um cult nos dias de hoje. Antes disso, porém, os fãs poderão desfrutar de outros clássicos de King por aqui – a Suma de Letras promete, ainda para este ano, o lançamento de A dança da morte. Quem viver, verá. pág. 7 Entrevista Entrevista Entrevista Acerto de contas Neste bate-papo exclusivo, o escritor Paulo Cesar de Araújo comenta o lançamento de sua nova obra, O réu e o rei – minha história com Roberto Carlos, em detalhes, publicada pela Companhia das Letras. O réu e o rei é um acerto de contas com Roberto Carlos? Ou com você mesmo? Com ambos, mas antes de tudo O réu e o rei narra uma história incomum: a de um fã que escreveu a biografia do ídolo, mas o artista a rejeitou e pediu a proibição da obra e a prisão do autor. Se não tivesse acontecido comigo, eu, como historiador, gostaria de narrar esta história. Mas não é um livro para brigar. É um livro para esclarecer, lançar luz ao debate. Vivemos em um estado democrático de direito, com uma constituição que garante a liberdade de expressão. No entanto, biografias são proibidas no país. Como é possível isto? Meu livro ficará como testemunho de um tempo em que biógrafos foram cerceados no Brasil. O réu e o rei mostra como isso aconteceu: os detalhes, os meandros e as artimanhas de um violento processo contra um livro e um autor. Pode nos contar um pouco dos bastidores da confecção de O Réu e o rei? Quando surgiu a ideia, e quando o livro começou a ser efetivamente escrito? A ideia deste livro surgiu pouco tempo depois da proibição de Roberto Carlos em detalhes. Toda vez que eu participava de algum debate ou palestra, após relatar os bastidores do processo, alguém da platéia sempre me perguntava se eu não pensava em escrever um livro sobre o caso. Portanto, a ideia partiu do público e comecei a escrever este livro na estrada, entre uma bienal e outra, em hotéis, fazendo ali as primeiras anotações. Depois mergulhei na pesquisa sobre a repercussão do caso e outros fatos relacionados a Roberto Carlos. Foram, portanto, cerca de seis anos pesquisando e escrevendo até a publicação agora, em 2014. E só quis publicar o livro quando tivesse respondido todas as questões que considerava relevantes sobre o tema. Quando o livro estava quase pronto, no fim do ano passado, surgiu a polêmica com o Procure Saber, aquela acusação de Chico Buarque contra mim, e tive que incluir também este episódio no último capítulo. Quais as precauções que você adotou para evitar que a obra não sofresse nova ação judicial? E como foi a busca por uma editora que topasse publicá-lo, correndo o risco de novo processo? Quando procurei Luiz Schwarcz a minha primeira proposta era fazer um livro sobre MPB. Mas como já disse, nas palestras o publico continuava me pedindo para contar os bastidores do processo. Aí decidi sugerir ao Luiz o tema de O réu e o rei. Ele me deixou animado, achou que seria um livro necessário e aceitou publicálo mesmo sabendo dos riscos para a editora. O livro foi feito com todo o cuidado, sem nenhuma pressa. Todas as informações foram cuidadosamente checadas. O livro tem cerca de 700 notas, indicando todas as fontes, com exceção dos fatos que testemunhei. Houve também uma assessoria jurídica para não deixar nenhuma brecha e, além disso, optamos por não divulgar o livro antes do lançamento. Neste caso foi uma precaução a mais e necessária devido ao contexto, ao tema e ao personagem do livro. O advogado de Roberto Carlos, quando anunciou que o artista não faria nenhuma tentativa de tirar de circulação o livro O Réu e o rei, lembrou em nota que “Roberto Carlos em detalhes não foi censurado ou apreendido, mas saiu do mercado em face de um acordo judicial, irrevogável e definitivo, assinado espontaneamente pelo autor do livro, o editor e a Editora”. Oito anos depois, ter assinado esse acordo é algo que ainda atormenta você? Ou naquele momento não havia outra opção? Aquele foi talvez o pior momento da minha vida e isto está narrado em detalhes no capítulo 9 de O réu e o rei. Aliás, este foi o primeiro capítulo que escrevi. Quis começar com as lembranças mais dolorosas, quando vi um trabalho de quinze anos de pesquisa ser destruído numa reunião de cinco horas. Mas nada do que aconteceu me atormenta mais. Naquele encontro no fórum eu tentei sim, uma solução alternativa. Afinal, aquilo era uma audiência de conciliação. Propus fazer uma revisão do livro, tirando alguns trechos que Roberto Carlos reclamava no processo. Eu sabia que isto representava menos de 1% do conteúdo da obra. Propus também ceder os direitos autorais para que a obra continuasse circulando livremente. Porém, Roberto Carlos não aceitou porque quis proibir todos os capítulos, todas as páginas, todas as frases, tudo. Os representantes da editora não reforçaram minha proposta nem defenderam meu livro e sem o apoio deles ficou difícil tomar uma decisão mais radical, pois no contrato de edição estava escrito que eu seria “o único responsável pelas reclamações formuladas por terceiros em relação ao conteúdo da obra, assim como pelos danos e prejuízos que possa, comprovadamente sofrer a editora”. Quais marcas você acha que o embate judicial em torno de seu livro Roberto Carlos em detalhes deixou no mercado editorial brasileiro – e na própria história da liberdade de expressão no país? Num primeiro momento o caso Roberto Carlos em detalhes deixou as editoras ainda mais receosas de publicar biografias não autorizadas. A vigilância foi redobrada e vários projetos foram recusados ou adiados. Por outro lado, este caso tão absurdo chamou a atenção para a necessidade de mudanças na legislação, as tais brechas da lei que favorecem casos assim. Foi quando, em 2008, o deputado Antônio Palocci apresentou no Congresso um projeto de lei favorável a publicação de biografias não-autorizadas no Brasil. Ou seja, de “ O livro Roberto Carlos em detalhes ficará como testemunho de um tempo em que biógrafos foram cerceados no Brasil. O réu e o rei mostra como isso aconteceu: os detalhes, os meandros e as artimanhas de um violento processo contra um livro e um autor. pág. 9 ” precedente perigosíssimo, o caso Roberto Carlos em detalhes resultou em mobilização pela mudança da lei. Logo depois o Sindicato Nacional dos Editores de Livros também se mobilizou para entrar no STF contra a proibição de biografias. Com tudo isso Roberto Carlos em detalhes acabaria se tornando uma espécie de símbolo dessa luta por maior liberdade de expressão no Brasil. E em relação a sua vida pessoal e profissional? Como foi encarar, praticamente sozinho, as consequências desse ato arbitrário? Foi ruim porque ao invés de me concentrar em outro tema de pesquisa, no meu ofício de historiador, tive que me reunir com advogados, ler autos de processo e freqüentar sessões de tribunais. Além de todo desgaste emocional tive também prejuízo econômico, porque Roberto Carlos em detalhes foi abatido em pleno vôo. Meu livro estava na lista dos mais vendidos quando foi proibido. Mas apesar de tudo nunca me senti derrotado. A biografia foi escrita, publicada, reconhecida pela crítica e pelo público e até hoje recebo mensagens de leitores, alguns do exterior, que estão lendo a obra pela internet. Foi uma surpresa para você ver que artistas como Chico Buarque se juntaram ao grupo Procure Saber? E, em sua opinião, porque essa iniciativa degringolou em tão pouco tempo? pág. 10 Acho que isso foi uma surpresa para todo mundo. Ninguém podia imaginar que um dia artistas como Chico Buarque ou Caetano Veloso iriam se aliar a uma causa tão obscurantista. O que o Procure Saber fez foi abraçar a causa de Roberto Carlos: “A minha história é um patrimônio meu, só eu posso escrever minha história”. Se isto prevalecesse ninguém poderia mais escrever sobre personagens da história do Brasil. Imagine se o presidente Lula ou os herdeiros de Getúlio Vargas também reivindicassem que a história deles é patrimônio exclusivo e que ninguém poderia escrever sobre eles sem autorização? A proposta do Procure Saber degringolou porque teve o repúdio de todas as pessoas que amam a leitura e não toleram mais ver livros proibidos e apreendidos no Brasil. Era algo também incompatível com a história desses artistas, daí a reação da sociedade contra a proposta deles. Caso a lei das biografias seja aprovada, a biografia de Roberto Carlos pode voltar às livrarias? Ou o acordo assinado em 2006 impediria isso? O acordo foi firmado num determinado contexto, mas com a mudança da lei, vivenciaremos outro, quando o próprio Roberto Carlos já declarou ao Fantástico não se opor mais às biografias não autorizadas. Portanto, assim que a lei mudar, vou relatar tudo isso e reapresentar o livro, tentar adequá-lo à nova realidade jurídica do país. Caso contrário, Roberto Carlos em detalhes ficará como o último livro proibido no Brasil, uma aberração de uma lei já superada. Você nunca escondeu ser um fã de Roberto Carlos. Depois de todo o imbróglio vivido, como definiria hoje essa relação? Sou historiador, pesquisador de música brasileira, e Roberto Carlos é meu objeto de estudo. Não posso brigar nem ter mágoa do meu objeto de estudo. Foi ele quem brigou comigo e me processou – e isso é problema dele. Eu apenas me defendo. Mas não acho que a “ Foi Roberto Carlos quem brigou comigo e me processou – e isso é problema dele. Eu apenas me defendo. Mas não acho que a música “As curvas da estrada de Santos” ficou feia porque ele me levou aos tribunais. ” música “As curvas da estrada de Santos” ficou feia porque Roberto Carlos me levou aos tribunais. Lamento o que aconteceu, e lamento por mim e pelo próprio artista. A esta altura da carreira não era para ele ter este triste capítulo na sua história. Ressalte-se que eu nunca me identifiquei com as ideias ou postura de Roberto Carlos. Ele é supersticioso e eu tenho zero de superstição; ele é católico, eu sou agnóstico; ele não gosta de política, eu sempre participei dela; ele é Vasco, eu sou Flamengo. Ou seja, minha relação com Roberto se deu apenas através da música. No mais, sempre estivemos em campo opostos. Essa polêmica das biografias é apenas mais um exemplo disso. Mas continuo ouvindo, pesquisando e analisando a obra de Roberto Carlos. O meu arquivo RC está ativo e quando a biografia for relançada, chegará com informações atualizadas. E quais são seus próximos projetos, Paulo? No próximo livro farei uma síntese geral da história da moderna MPB a partir dos depoimentos de Tom Jobim, João Gilberto, Caetano, Tim Maia, Wilson Simonal e vários outros artistas. Ao longo de quinze anos de pesquisa entrevistei cerca de 200 personagens da música brasileira, cada um deles falando de sua obra e de sua história de vida. Parte desse material utilizei em meus primeiros livros, mas a maior parte continua ainda inédito. Há muitas revelações nessas entrevistas. Depois pretendo também fazer um livro sobre a história do futebol brasileiro, pois entrevistei jogadores de todas as Copas do Mundo desde 1930, como Domingos da Guia, Didi e Pelé. Por enquanto, são esses os dois projetos que penso desenvolver futuramente. pág. 11 Moda Moda Moda O fenômeno thássia Depois de conquistar uma multidão de fãs na internet, blogueira Thássia Naves leva suas dicas de estilo para as livrarias Thássia Naves era apenas uma jovem mineira cursando publicidade quando, em 2008, durante uma aula sobre Mídias Alternativas e Redes Sociais, ouviu de um professor a sugestão de criar um blog, meio de comunicação ainda relativamente novo, mas que tinha muito potencial para crescer. Sempre ligada ao assunto moda, conselheira preferida das amigas para dicas de estilo, ela chegou em casa naquela tarde e resolveu experimentar. Nascia então o Blog da Thássia, que, em cinco anos, se converteu de um simples hobby para um grande negócio – e alçou a autora ao posto de mais importante blogueira de moda brasileira. O sucesso no mundo virtual encorajou uma outra empreitada: Thássia reuniu em um livro as principais dicas sobre os diversos assuntos de que trata em seu blog. Lançado pela editora ArteEnsaio, o livro Look por Thássia Naves traz em sete capítulos suas recomendações de estilo e escolhas de moda, sugestões de dresscode para diferentes ocasiões, ideias de maquiagem e cabelo e também indicações de viagens, leitura e personalidades nas quais se inspirar. Tudo, claro, com foco no que há de mais em voga entre os “fashionistas” – e em uma edição caprichadíssima, em capa dura, ricamente ilustrada com fotos e ilustrações. O lançamento da obra mostra um pouco da força da blogueira. Tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, em eventos realizados em lojas de duas das marcas que a patrocinam, centenas de fãs se enfileiraram em busca de um exemplar autografado pela moça. E é assim por onde ela passa: seu blog é um dos mais acessados do país atualmente, com a audiência crescendo entre todas as idades e classes sociais. Vale lembrar que Thássia continua vivendo em Uberlândia, onde nasceu, e se destaca em um cenário bastante saturado e criticado, mesmo estando fora do pág. 13 eixo São Paulo/Rio de Janeiro. As razões para explicar o fenômeno que se tornou são várias, mas de acordo com a própria mineira, a principal delas é a sua dedicação. “Costumo explicar que o blog começou como um hobby, mas hoje ele é minha principal ferramenta de trabalho. Levo minha vida de blogueira a sério, pois tenho o compromisso de passar para as minhas leitoras apenas o melhor.” Quando criou o blog, sua audiência era restrita a familiares e amigos. “Hoje, falo com mulheres do Brasil inteiro e até de outros países”, conta. E o reconhecimento por seu trabalho não vem apenas dos fãs. No ano passado, Thássia foi apontada pela edição espanhola da revista Glamour como uma das 25 personalidades femininas mais influentes da moda internacional, em função de seus impressionantes números de audiência: são cerca de cinco milhões de pageviews/mês, mais de um milhão de seguidores no Instagram e aproximadamente 360 mil fãs em sua página no Facebook. Nesse ranking, ficou atrás apenas de Costanza Pascolato, a veterana e ícone maior da moda brasileira, que assina a contracapa de seu livro. Nas palavras de Costanza, Thássia se diferencia das demais blogueiras brasileiras “pela educação, a gentileza, o carisma de sua juventude e uma mineirice meio caçula, em versão contemporânea e meio global”. Já para Daniela Falcão, diretora de redação da Vogue Brasil e autora da apresentação do livro, a blogueira se destaca porque “trata a moda como um business, mas faz isso de uma maneira acessível, natural e sem esnobismos, o que explica o incrível sucesso do seu blog e também sua impressionante performance nas redes sociais.” A jornalista completa: “Thássia é um espelho da recém-descoberta paixão brasileira por moda. E por isso o que ela diz, pensa e veste encontra tantos ecos por aí.” Pés no chão Difícil crer que uma jovem de 25 anos, que ostenta um closet de 24 metros quadrados recheado das mais caras grifes nacionais e internacionais, que brigam (e pagam) por sua presença na primeira fila de alguns dos mais importantes desfiles das semanas de moda, consiga distanciamento para não se deslumbrar com a fama que conquistou. Mas Thássia garante manter os pés no chão e o perfeccionismo que a fez subir tantos degraus: “Ao me lembrar de minha trajetória, concluo que tudo aconteceu da melhor maneira possível por- que sou perfeccionista e muito apaixonada pelo meu ofício, além de acreditar que tudo que fazemos com carinho sempre dá certo, no momento certo.” “ A brasileira foi apontada pela edição espanhola da revista Glamour como uma das 25 personalidades femininas mais influentes da moda internacional, em função de seus impressionantes números de audiência: são cerca de cinco milhões de pageviews/ mês e mais de um milhão de seguidores no Instagram ” A blogueira, que conta com a participação da mãe e da irmã na equipe de cinco pessoas que a ajuda a gerenciar o blog, afirma estar o tempo todo atenta aos mínimos detalhes. “Faço questão de estar à frente de tudo e não delego a tarefa de postar conteúdo a ninguém: pesquiso, produzo meus looks, participo da escolha das locações para os ensaios fotográficos, edito as fotos que vão ao ar, escrevo os textos. Gosto realmente de me envolver em todas as etapas do Blog da Thássia. Afinal, ele leva meu nome.” A rotina não para por aí e inclui aparições em eventos nacionais e internacionais, o que demanda viagens constantes. No tempo entre uma coisa e outra, está sempre checando as novidades do mundo fashion, lendo os livros do segmento ou acompanhando a produção de lookbooks das marcas que gosta. Também considera parte de seu trabalho testar novidades da indústria de beleza e tudo que for tendência. Para Thassia, a publicação de seu livro é a consolidação de todo este trabalho. “É, sem dúvidas, um dos projetos mais importantes da minha vida.” E aqui até admite-se um pouquinho de deslumbramento: “Para falar bem a verdade, não caibo em mim de tanto orgulho de ter chegado até aqui.” Capa Capa Edu Moraes Capa pág. 15 Casamento sem crise Ensinamentos de Renato e Cristiane Cardoso sobre vida conjugal conquistam o público e fazem seus livros ultrapassarem a marca de dois milhões de cópias vendidas Em novembro de 2011, estreava na TV Record o programa The Love School – A Escola do Amor, com conselhos para ajudar homens e mulheres a alcançar ou manter um relacionamento feliz. Até então pouco conhecidos do grande público, seus carismáticos apresentadores, Renato e Cristiane Cardoso, rapidamente ganharam a simpatia dos telespectadores e se tornaram verdadeiros gurus matrimoniais. E, ainda que nem todos soubessem, eles tinham vasta experiência para isso. Casados desde 1991, Renato e Cristiane – que é filha de Edir Macedo, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus – viveram por 21 anos em três países diferentes, realizando trabalhos evangelizadores e envolvendo-se especialmente em acompanhamento e aconselhamento de casais, tema sobre o qual criaram cursos e palestras. Quando voltaram ao Brasil, em setembro de 2011, criaram uma atração sobre o tema, exibida inicialmente na IURD TV – mas a repercussão foi tanta que logo o programa passou para a Record. Em seguida, unindo os talentos de Renato, educador familiar e matrimonial certificado pelo National Marriage Centers de Nova York, e Cristiane, que já havia escrito os livros A mulher V e Melhor do que comprar sapatos, o casal decidiu colocar no papel sua experiência e seus ensinamentos – e assim, em 2012, nasceu Casamento blindado – o seu casamento à prova de divórcio. O sucesso foi absoluto: a obra está há 100 semanas nas listas dos livros mais vendidos do país, com quase dois milhões de cópias, e foi traduzida também para o inglês. No ano passado, Renato e Cristiane lançaram outro best-seller: 120 minutos para blindar seu casamento, obra com orientações rápidas e práticas para manter uma relação livre de perigos. Na entrevista a seguir, Renato e Cristiane contam os bastidores dessa história de sucesso. Atenção aos professores! Renato Cardoso Quando (e como) primeiro surgiu a ideia de vocês falarem sobre relacionamentos? A partir da reviravolta em nosso casamento em 2003, que contamos no livro Casamento blindado, nasceu o desejo de compartilhar as nossas experiências e aprendizados. A ignorância nos fez sofrer no amor. Agora que sabíamos melhor, não podíamos guardar isso conosco. Desde então nossos esforços foram se intensificando ao passo que recebíamos feedback positivo das pessoas que ajudávamos. Como foram os primeiros passos nessa área? Precisaram fazer alguma preparação para conduzir palestras, cursos e programas de TV? Quando fomos trabalhar em Houston, Texas, no final de 2007, ficamos espantados com os altos índices de divórcio lá. Era comum encontrar pessoas que já haviam casado duas ou três vezes, sem contar as que já haviam passado dos cinco casamentos. Deparamos com situações bizarras, tristes mesmo. Essas pessoas vinham até nós para aconselhamento, mas eram tantas, e os erros tão absurdos, que decidimos fazer algo a respeito. Daí desenvolvemos um curso e convidamos casais para participarem. Aproximadamente 20 casais assistiram o primeiro curso e o resultado foi muito positivo. Daí fomos desenvolvendo mais o material, eu fiz um curso de aconselhamento matrimonial e a coisa foi crescendo daí. Em que momento, e por que, vocês decidiram também colocar suas ideias sobre o assunto em livros? De que forma os livros podem completar as histórias que vocês trazem na televisão? O Curso Casamento Blindado tem sete aulas de uma hora e meia cada. É intensivo e muito prático. Porém, nem todos podem chegar aos locais onde damos o curso, apesar de ser a melhor ajuda que oferecemos. Por isso veio a ideia dos livros, para facilitar o acesso das pessoas pág. 16 Cristiane Cardoso Edu Moraes Como você desenvolveu o gosto pela escrita? É uma herança de sua mãe, Ester, também escritora? Eu sempre gostei de escrever, mas eu nunca imaginei que um dia seria uma escritora. Na minha família, inclusive, eu era quem escrevia cartas e mantinha diários. Nossa família passou por várias situações difíceis, e como eu era a filha mais velha, tinha que ser a mais forte, por isso, o diário... Achei uma maneira de desabafar sem deixar de ser forte para minha irmãzinha. ao que ensinamos. O bom da leitura é que a pessoa pode fazê-la no tempo dela, voltar e reler, comentar com o parceiro e aquilo serve como uma base muito boa para fazer a reeducação amorosa. Eu diria que não é o livro que completa o que apresentamos na TV, mas sim o que dá a base para o que as pessoas assistem nos programas. Tanto Casamento blindado quanto 120 minutos para blindar seu casamento tiveram excelente repercussão. Foi, de certa forma, uma surpresa para vocês testemunhar o poder do alcance dos livros em um país como o Brasil, onde o índice de leitura é relativamente baixo? Sim e não. De certa forma nós já esperávamos uma boa receptividade porque já tínhamos testado o material em nossos cursos, sempre com boa repercussão. Mas não fizemos projeções de vendas. Não imaginávamos que em dois anos chegaríamos a dois milhões de cópias só do Casamento blindado. A leitura tem melhorado no Brasil, e isso é muito positivo. O segmento evangélico muitas vezes sofre com uma série de preconceitos quando se fala em penetrar na chamada grande mídia. Porque você acredita que seus ensinamentos sobre vida conjugal encontraram tanto sucesso – ultrapassando, inclusive, essa barreira da religião? Casamento é algo universal, que transcende religiões, raças e culturas. Todo mundo nasce com a carência de ser amado e o desejo de amar. O problema é que nós não nascemos sabendo como fazer isso funcionar na prática. Por isso, quando falamos sobre a prática da vida a dois, estamos falando com todo mundo. Todos querem aprender como resolver esse quebra-cabeça. Antes de aparecer como escritora, você experimentou o sucesso como apresentadora. Esse era um de seus planos ou aconteceu por acaso? Como foi para você estar pela primeira vez diante do público geral de uma TV aberta? Na verdade eu já tinha escrito dois livros antes de apresentar um programa e gostava de poder ajudar as pessoas de uma forma mais invisível, mas tive que aprender a me adaptar com a TV. Não foi nada fácil, não conseguia me enxergar como apresentadora já que sempre fui muito tímida até então. A minha primeira vez na TV aberta foi extremamente difícil, não era eu ali. Por fora eu parecia estar super calma mas por dentro, só Deus sabe... Seu primeiro livro foi Melhor do que comprar sapatos – que ganhou uma nova versão recentemente. O que a levou a publicar suas ideias? E quais os complementos dessa nova versão? Esse livro foi compilado de artigos semanais que eu escrevia para a Folha Universal, e como eu sempre optei por escrever experiências próprias, estes logo ficaram tão populares que se tornaram um livro. As pessoas cortavam a página da minha coluna e faziam coleção, então quando o livro saiu, não demorou em virar um best-seller pela Unipro. Na época, eu trabalhava em Londres e escrevia em inglês, para depois traduzirem para o português – então isso acabava tirando um pouco da originalidade. Já nessa última versão, a linguagem está mais atualizada e mais eu. Como surgiu o conceito da Mulher V? E como foram os bastidores da produção desse livro que alcançou as listas de bestsellers e teve excelente repercussão na imprensa? Depois que lancei o primeiro livro, meu pai sempre me motivou a escrever mais. Em uma de nossas conversas, ele me pediu para escrever sobre os desafios da mulher de hoje. A ideia era ensiná-la a resgatar padrões que foram perdidos com o tempo, cuja falta tem afetado o seu valor próprio. Eu, que já tinha um blog nessa época, comecei a escrever sobre a Mulher Virtuosa de Provérbios 31, e os posts começaram a ser tão acessados que reconheci que realmente precisava ir mais profundo no assunto. Foi assim que nasceu o livro A mulher V. À medida que eu ia escrevendo o livro, Deus ia falando comigo, pág. 17 pág. 18 foi uma experiência incrível para mim – muitas vezes até me emocionei... parece que amadureci uns 10 anos durante a escrita! Como foi o processo de escrever o primeiro livro com o Renato, Casamento blindado? Dividiram as tarefas, fizeram a quatro mãos, enfim, podem relembrar como foi a produção dessa obra? Foi muito gostoso escrever o livro Casamento blindado e desenvolver na escrita o curso que já apresentávamos por alguns anos. Tiramos duas semanas de “férias” de tudo. Fomos para um lugar bem afastado e ficamos ali escrevendo de manhã, de tarde e de noite. Eu optei mais por escrever pensando nas mulheres casadas, que como eu, passavam por certas dificuldades com suas emoções. Por isso, foquei mais em certos assuntos es- Sobre necessidades básicas Um trecho de Casamento blindado (Thomas Nelson Brasil) Somos programados por nossa natureza humana a ter certas necessidades supridas. E não há necessidades mais básicas do que comer, beber, vestir e ter moradia. Tire isso do ser humano e seu comportamento se torna como o de um animal. Isso pode ser observado quando grandes desastres naturais afetam uma cidade. De repente, as pessoas se veem sem alimentação, água, abrigo e segurança. Se não houver uma intervenção rápida dos serviços de emergência, entram em desespero e adotam um comportamento até agressivo pela sobrevivência. A procura pelo que comer e beber e por onde morar faz com que as pessoas ajam como se voltassem à época das cavernas. Quando suas necessidades básicas são afetadas, afloram as reações mais primitivas. Minutos antes de o desastre acontecer, a maioria estava preocupada com inutilidades, como se a barra da calça está curta demais, se a melhor cor para a parede do quarto é bege ou branco, se vai fazer um upgrade do celular etc. Depois que o horror acontece, ninguém se importa mais com isso. A única preocupação é salvar a própria vida. O que as pessoas antes viam como “necessidade” é reduzido do mais alto capricho para as coisas mais básicas, como água, pão e cobertor. Pessoas que nunca roubaram, agrediram ninguém nem violaram leis são capazes de fazê-lo. É o instinto natural do ser humano. E qual a melhor maneira de conter esse comportamento animalesco? Preenchendo novamente as necessidades básicas dessas pessoas. Há outra coisa muito importante que você tem que saber sobre isso: Não se discute sobre as necessidades básicas de uma pessoa. A única coisa a fazer é preenchê-las. Ninguém é culpado de ter fome. Ninguém é mau por querer dormir uma noite de sono. Ninguém pode ser acusado pecíficos, sempre adicionando minhas próprias experiências. Trabalhar com o Renato é o que eu sonhei desde que casamos! Sempre quis estar envolvida no trabalho dele e por um bom tempo, ele não me incluiu (como falamos no livro)... Então você pode imaginar a alegria de hoje poder fazer o que fazemos juntos... Ele me faz rir muito e nos divertimos fazendo um trabalho muito sério, o que já é um diferencial da nossa marca. O trabalho se torna bem mais gostoso e de muito proveito! Quais são os próximos projetos do casal? Há mais algum livro vindo por aí? Temos vários projetos na manga... Estamos escrevendo um livro para os solteiros, que temos certeza vai ajudar mais alguns milhões de pessoas. por querer um lugar para morar. Mau é quem pode suprir as necessidades de alguém mas não o faz. Agora, transporte esse fato para dentro do relacionamento. Homem e mulher também têm, por suas naturezas masculina e feminina, necessidades básicas que precisam ser preenchidas. Para que um casamento funcione, há certas coisas mínimas que devem existir. Tudo bem, o marido pode não ser tão romântico quanto um personagem de Robert Redford; a esposa pode não ser a mais perfeita dama de um conto de fadas, mas ambos têm que oferecer um ao outro pelo menos o essencial. As necessidades básicas do homem e da mulher são de extrema importância. Se elas não são supridas, seu marido ou sua esposa começará a agir irracionalmente. E não adiantará ficar criticando ou perguntando “por que ele é assim?” ou “por que ela age assim?” A melhor coisa que você pode fazer sobre as necessidades básicas de seu parceiro é supri-las. Sobre necessidades não se discute. Quando se tem fome, a única coisa útil de se fazer a respeito é comer. Quando adota um animalzinho de estimação, a primeira coisa que você faz, antes mesmo de leva-lo para casa, é descobrir o que come, bebe, gosta e não gosta. Você não discute com quem lhe deu o animal, nem tenta mandar o bichinho depois que o leva para casa. Se você quer um animalzinho feliz, e é mais inteligente que ele, apenas preenche as necessidades dele, por mais chatas que sejam. Para você ter um marido ou uma esposa feliz, descubra as necessidades básicas dele ou dela e supra-as – não discuta. pág. 19 Fotografia Fotografia Fotografia Tesouro revelado A incrível história da babá norte-americana que deixou um dos mais ricos acervos fotográficos dos últimos tempos Por Lia RiZZo Babá e fotógrafa compulsiva: isso é quase tudo o que se poderia afirmar, categoricamente, sobre a norteamericana Vivian Maier. Mas como é possível conferir em Vivian Maier: uma fotógrafa de rua, lançado no Brasil pela editora Autêntica, a história é bem menos ordinária do que parece. O livro apresenta, em suas 136 páginas, parte de um dos acervos fotográficos mais espetaculares dos últimos tempos, com registros principalmente das cidades de Nova York e Chicago ao longo das décadas de 1950 e 1960, descobertos – acidentalmente – apenas em 2007. Foi o americano John Maloof, corretor de imóveis e aspirante a historiador, quem arrematou por um lance de 400 dólares em uma pequena casa de leilões o lote de mais de 30 mil negativos e 1600 rolos de filmes até então nunca revelados. Na época, Maloof buscava material para a elaboração de um livro sobre o bairro onde vivia, em Chicago, para atrair maior interesse imobiliário à região. Ao chegar em casa e abrir o pacote, não encontrou as imagens em que estava interessado, então guardou a caixa por mais um ano. Quando finalmente resolveu resgatá-la, mesmo não sendo especialista em fotografia, percebeu estupefato a riqueza do que tinha em mãos. Eram fotos de gente e de vida, capturadas de forma absolutamente sensível e profissional. Ali, havia olhar em cada detalhe, atenção para a luz, timing impecável e a capacidade de disparar sem perder qualquer momento. E a única pista sobre pág. 21 a autora dos flashes, que em meio ao seu espólio também deixou uma série de autorretratos, era seu nome impresso em um envelope. “Maier não apenas era totalmente desconhecida no mundo da fotografia, como ninguém parecia sequer saber que ela tirava fotos”, escreveu Geoff Dyer, romancista inglês que assina o prefácio do livro. De posse do nome, mas sem encontrar qualquer referência em redes sociais ou sites de busca como o Google, John Maloof empreendeu dois esforços paralelos para saber mais sobre Vivian Maier. Primeiro criou um blog, no qual, além de tonar públicas as primeiras fotos da babá-fotógrafa, também debatia sobre o que fazer com o acervo. Paralelamente, no mundo “off line”, passou a buscar referências locais, até finalmente encontrar um obituário no Chicago Tribune informando o falecimento de Vivian Dorothea Maier, “francesa de origem e moradora de Chicago (...) uma segunda mãe para John, Lane e Matthew”. O vasto material já rendeu, além do livro de imagens de rua, outro volume, apenas de autorretratos. As fotos também viraram exposição na cidade e a história de Vivian pode ser conhecida em detalhes no documentário “Finding Vivian Maier”, para o qual o próprio John Maloof realizou cerca de 90 entrevistas. Um dos mistérios já esclarecidos: o espólio foi parar na mão de leiloeiros após Maier se aposentar e deixar de pagar o guarda-móveis onde havia escondido seu tesouro particular. pág. 22 pág. 23 Quadrinhos Quadrinhos Quadrinhos Para não esquecer A história da primeira bomba atômica chega aos quadrinhos em obra tão dramática quando esclarecedora pág. 25 Colocar em quadrinhos uma das passagens mais terríveis do século XX foi o complicado desafio encarado pelo norte-americano Jonathan Fetter-Vorm. Mas quem confere as 154 páginas do livro Trinity, lançado no Brasil pela Três Estrelas, percebe que o desenhista cumpriu sua missão, trazendo a jovens e adultos uma tão esclarecedora quanto dramática história das bombas atômicas – desde a descoberta da radioatividade, no final do século XIX, até as explosões em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, que deixaram mais de 200 mil pessoas mortas. O título do livro faz referência ao nome do primeiro teste de bomba atômica da história: em 16 de julho de 1945, sob sigilo absoluto, cientistas a serviço do exército dos Estados Unidos detonaram um artefato nuclear no deserto do Novo México. Com o sucesso do experimento Trinity, dois meses depois os norte-americanos provocavam a catástrofe nuclear no Japão – colocando fim à Segunda Guerra Mundial e provocando um debate político, moral e ético que ecoa até os dias de hoje. Muito além da tragédia, porém, Fetter-Vorm mostra ao leitor todos os passos dos avanços científicos e tecnológicos que permitiram ao homem dominar os núcleos atômicos – incluindo até mesmo, de forma didática, quadros que mostram como funciona a reação em cadeia que provoca a explosão. Hoje, governos de todo o mundo comprometem-se, ao menos oficialmente e na teoria, em se manter longe de experimentos nucleares que possam fazer renascer esta que é considerada a armas mais letal de todos os tempos. No excelente livro de Jonathan Fetter-Vorm, vemos muito bem o porquê. Papo Papo de escritor de escritor Papo de escritor pág. 26 Com os nervos à flor da pele Por ISABELA FREITAS Desde pequena sou uma leitora voraz. Não havia nada que não despertasse minha atenção. Livros para crianças, livros para adultos, livros sem faixa etária estabelecida. Ia de Harry Potter a Ramsés. De O diário da princesa a As brumas de Avalon. Fui uma criança feliz, posso assim dizer. Meu pai sempre foi alucinado por livros, e eu cresci em meio a eles. Ainda bem, imagine só, como seria viver em uma realidade onde a imaginação não tem vez? Sempre que a professora perguntava nos trabalhinhos de escolha, “o que você mais gosta de fazer?”, eu respondia: “‘ler, brincar e conversar’”. E é assim até hoje. Toda vez que entro na livraria sinto aquela compulsão maluca e acabo saindo com dois ou três livros de lá. É que são muitas histórias para se descobrir, muitos mundos para conhecer, e muitos personagens que me farão sonhar. Você me entende? Em 2011 tomei a decisão de criar um blog para expor meus pensamentos. Não que eu me considerasse uma escritora na época; isso ainda era um sonho. Eu era apenas uma menina com muitos pensamentos que precisavam ser expostos em algum lugar. Mesmo ainda não sendo uma escritora, eu precisava exprimir meus sentimentos em forma de palavras. E o que aconteceu foi magnífico: de repente, milhares de pessoas começaram a se identificar com o que eu escrevia, e isso me fazia querer ser cada vez melhor. Escrevia sobre momentos da minha vida, e, em meio a tudo, tentava enquadrar um pouco da vida de cada leitor. Ganhei a confiança que não tinha antes. Se quando mais nova morria de vergonha do que escrevia em meus diários, agora eu queria gritar aos quatro cantos do mundo os meus problemas. Dediquei-me de corpo e alma ao que sempre fui apaixonada: escrever. E escrevi sem parar. O sonho de todo escritor é ser lido. E ali, no meu espacinho na internet, pude ser lida. E também fazer amigos distantes, me sentir amada nos momentos tristes. Lembro-me que sempre que algum leitor falava “Você deveria escrever um livro!”, eu pensava: “É meu sonho”. Mas sabe aqueles sonhos que não temos certeza se irão acontecer? Dar a volta ao mundo em um trailer, ajudar todos os animais abandonados do mundo, escrever um livro. pág. 27 pág. 28 Para nós, perfeccionistas, escrever é um processo árduo. Achava perfeito aquilo que escrevia em um dia, apenas para apagar tudo no dia seguinte. Escrevia, apagava, escrevia, apagava. Esses eram os meus. Mal sabia eu que a sorte iria sorrir pra mim e colocar um pouquinho de otimismo no meu coração. começar do zero, um novo livro. Isabela, a autora, resolveu escrever sobre Isabela, a personagem. Uma menina que não sabe muito sobre relacionamentos, mas que dá a cara a tapa. E durante meses ela foi meu alter ego e melhor amiga. Gostava de escrever durante a madrugada, tendo o silêncio como companhia para meus pensamentos. Quando precisava escrever durante o dia, colocava um fone de ouvido e escutava Kina Grannis. Senti-me sozinha ao terminar de escrever. Passei a imaginar a continuação do livro. Queria viver mais um pouquinho dentro do livro que escrevi. Mas precisava voltar à vida real, e nela eu era apenas uma garota de 23 anos publicando seu primeiro livro e com os nervos à flor da pele. Não adiantava fugir da realidade. Era 4 de dezembro, faltando apenas quatro dias para o meu aniversário. Como boa sagitariana, estava ansiosíssima. Não conseguia pensar em mais nada. Abri minha caixa de e-mails, despretensiosa, e vi um e-mail com o assunto “Editora Intrínseca - Projeto de Livro’”. De imediato não abri. Calma, explico. É que eu já havia recebido muitos outros e-mails como esse, me convidando a escrever um livro. Neles diziam “Pague X e publique seu livro”. As inseguranças voltaram com força: e se ninguém gostasse do que escrevi? E se meus leitores me abandonarem? Nunca me senti tão sozinha como no mês que antecedeu o lançamento do livro. Deixei o e-mail de molho ali por algumas horas, e depois a curiosidade falou mais alto. Abri. A seguinte mensagem piscava: “Gostaríamos de conversar com você sobre o projeto de um livro. Você tem interesse?”’ Meu estômago embrulhou todinho. Como algo tão bom podia estar acontecendo na minha vida? Trocamos alguns e-mails e marcamos uma reunião para a semana seguinte. Foi como arrancar um esparadrapo aos poucos. Quando recebi o primeiro elogio, meu coração esquentou. No segundo, o sorriso se abriu. No terceiro, quarto, quinto? Tive vontade de chorar. E, quando vi mais de 200 pessoas no meu primeiro coquetel de lançamento, não soube o que sentir. Eu só quero escrever mais. Para sempre. A vida inteira. Na reunião meu trabalho foi elogiado e ganhei uma chance para provar ser capaz de escrever um livro. Tive que reunir meus melhores 20 textos e enviar para aprovação. Foi difícil esperar tanto tempo pela resposta final. Fiquei insegura pensando: “e se eles não gostassem de mim? E se desistissem do meu livro?”. Foram 12 dias de espera, e a resposta positiva finalmente chegou. Na época disse a todos conhecidos e amigos: ainda não caiu a ficha. E hoje, mesmo com o livro lançado, a ficha ainda não caiu. O processo para escrever foi dificílimo. Escrever não é simplesmente despejar seus pensamentos no papel – ou na tela em branco de um editor de textos. Para nós, perfeccionistas, é um processo árduo. Achava perfeito aquilo que escrevia em um dia, apenas para apagar tudo no dia seguinte. Escrevia, apagava, escrevia, apagava. Inicialmente publicaríamos um livro de contos e crônicas, no mesmo estilo dos textos que escrevo no blog. Com o livro quase pronto, resolvi jogar tudo pro alto e O medo dominava e eu não sabia o que viria pela frente. Queria mudar o livro todo, queria mudar cada palavra ali escrita, queria pedir ao leitor que me perdoasse. Isabela Freitas tem 23 anos e sempre foi apaixonada por livros e pela escrita. Em 2011, começou seu blog isabelafreitas.com.br, que já soma mais de 60 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu. Não se apega, não, publicado pela Intrínseca, é seu primeiro livro. pág. 29 Artigo Artigo Artigo Do pânico à paz: meu caminho na meditação Por PRISCILLA WARNER De acordo com o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 12% da população brasileira sofre com algum tipo de transtorno de ansiedade. Essa estatística representa, na prática, cerca de 24 milhões de brasileiros – que, silenciosamente ou não, travam batalhas diárias com a síndrome do pânico, a fobia social, o transtorno obsessivo compulsivo, entre outros. A ansiedade está perto de todos nós – e, para mostrar um exemplo de como encará-la, publicamos a seguir um artigo exclusivo da escritora norte-americana Priscilla Warner, autora de Respirar, meditar, inspirar (Editora Valentina). Doenças mentais eram algo que minha família conhecia muito bem. Meu pai havia sido diagnosticado como um maníaco depressivo, seu irmão entrou e saiu de sanatórios durante toda a vida, minha prima xará se tornou uma sem-teto esquizofrênica. Quando eu tinha quinze anos de idade, sofri meu primeiro – e terrível – ataque de pânico, enquanto trabalhava como garçonete em uma movimentada cafeteria. Pensei que estivesse tendo um ataque cardíaco. Em um minuto estava servindo as mesas, e então, de repente, senti como se não pudesse respirar. Meu coração começou a acelerar, meus pulmões convulsionaram, eu sentia frio e calor, tremendo da cabeça aos pés, e minha garganta começou a fechar. Pensei que eu fosse uma aberração. A palavra “ataque de pânico” não era usada naquela época. Era um termo que as garotas da minha idade nem sequer haviam ouvido – assim como ansiedade. Eu estava morrendo? Não tinha certeza. Eu estava ficando louca? Era possível. Eu achava que doenças mentais eram contagiosas. Voltei correndo para casa e um médico da família foi chamado. Ele me diagnosticou como “um pouco nervosa” e prescreveu Librium, o calmante mais receitado para as donas-de-casa americanas com o dobro de minha idade nos anos 1960. Então quando o médico me disse que eram meus nervos que haviam me feito sentir tão mal, eu pensei que meu sistema nervoso central estava com defeito. Com muita frequência, pelos próximos quarenta anos, sofri centenas de ataques de pânico – na escola, no trabalho em diversas agências de publicidade, sozinha, em teatros lotados, dentro de ônibus e metrôs e nas férias na praia. pág. 31 Eu aprendi a esconder minha condição constrangedora até de meus melhores amigos. Carregava um frasco de vodca comigo – não para me embebedar, mas para acalmar a lancinante ansiedade que corria em minhas veias quando eu sentia um ataque de pânico chegando. Um terapeuta me prescreveu medicamentos anti-ansiedade, e eu os tomei regularmente durante todos esses anos, exceto quando eu estava grávida. nova descoberta nos estudos sobre o cérebro humano. Antes, pensava-se que cérebros mais velhos não podiam ser reprogramados para funcionar de formas diferentes. Mas pesquisas de agora mostravam que pessoas de qualquer idade podem mudar a forma com a qual seu cérebro opera. Os cientistas estavam estudando os cérebros de monges tibetanos como Yongey Mingyur Rinpoche para determinar como a meditação ajudava a alcançar isso. Por fora, eu estava funcionando bem, como uma profissional produtiva no mundo da publicidade, uma esposa amorosa com um marido compreensivo, e como a mãe de dois belos filhos. Meu pai morreu quando tinha sessenta anos, e meus ataques de pânico aumentaram. E eles se tornaram ainda mais regulares depois dos atentados de 11 de setembro, em 2001 – meu marido trabalhava não muito longe do World Trade Center. Eu vivia em uma cidade que parecia estar sitiada, e esse era um sentimento que eu conhecia muito bem – sempre senti como se meu corpo estivesse em estado de sítio. Eu queria o cérebro de um monge, e tudo que vinha com ele – como paz, tranquilidade e felicidade. Então decidi escrever um livro sobre meus esforços para mudar e reprogramar meu cérebro instável. Escrevi um projeto e o vendi ao editor que publicou nosso primeiro livro. Pesquisei diferentes professores de meditação e procurei, da melhor forma possível, criar minha própria experiência de cura holística. A vida estava se tornando mais complicada. Conheci duas mulheres que sofriam com as questões religiosas que foram colocadas na pauta da cultura norte-americana depois do 11 de setembro, e escrevemos um livro detalhando nossa intensa relação e nossas conversas honestas, explorando as perspectivas do judaísmo, do cristianismo e do islã. O livro se tornou um best-seller nos Estados Unidos, e viajamos o país para dialogar com milhares de pessoas em igrejas, sinagogas e mesquitas. Aparecemos em diversos programas de rádio e televisão, e fizemos palestras em livrarias e salas de aula também. Minha ansiedade voltou a aumentar durante as viagens pelo país, que eu confesso que não gostava de fazer. Também precisava me apresentar publicamente para estranhos, o que aumentava meu nível de estresse. Eu me achava meio uma fraude quando dizia para as pessoas sobre meus desenvolvimentos nas áreas de espiritualidade e religião. Por dentro, eu me sentia psicologicamente muito menos forte. Estava em pedaços e sozinha, com meus ataques de pânico me assombrando por onde eu fosse. Não tinha ideia de que seis milhões de americanos também estavam sofrendo de ataques de pânico, de que 40 milhões estavam lutando contra transtornos de ansiedade de diversos tipos. Mas uma pessoa em particular, um jovem monge tibetano chamado Yongey Mingyur Rinpoche, chamou minha atenção. Eu havia lido sobre ele em revistas. Ele havia sofrido ataques de pânico quando criança e os curou por meio de práticas de meditação. Neurocientistas estavam usando o termo plasticidade cerebral para descrever uma Eu me inscrevi em um retiro de cinco dias com Yongey Mingyur Rinpoche. Ao lado de cem outros estudantes, hospedados em um antigo monastério, aprendi como meditar, e ele me aconselhou a olhar para mim como um cavalo e um cavaleiro. “Seu corpo é o cavalo”, ele disse. “Precisa de exercício, ioga, sono e nutrição correta. Seu cérebro é o cavaleiro, e o que ele necessita é de meditação.” Eu buscava uma forma de curar meu corpo exausto e mente ansiosa. Queria reaproximá-los, pacificamente. Então me comprometi a meditar todos os dias, e em poucas semanas comecei a ver resultados. Meu marido percebeu que minha impaciência havia desaparecido quase por completo. Amigos me disseram que meu rosto parecia mais relaxado, e eu mais calma. Eu não reagia a experiências frustrantes com aquela intempestividade de antes. Estudei budismo com professores renomados. Um deles “Seu corpo é o cavalo”, me disse o monge Rinpoche. “Precisa de exercício, ioga, sono e nutrição correta. Seu cérebro é o cavaleiro, e o que ele necessita é de meditação.” me ensinou uma técnica chamada metta, ou meditação do amor fraterno. Um neurocientista analisou meu cérebro enquanto eu começava com essa prática – e depois, pág. 32 novamente, oito anos mais tarde. Ele confirmou o que eu já sabia: os exames mostraram um aumento do fluxo sanguíneo para certas partes de meu cérebro, o que ilustrava um poderoso efeito de treinamento. De acordo com esse neurocientista, meditação é como musculação para o cérebro, e eu me sentia como uma halterofilista. Passei a sentir uma felicidade que nunca poderia imaginar. Meus ataques de pânico diminuíram e se tornaram cada vez mais espaçados. Fui diminuindo paulatinamente minha dose de medicamentos anti-ansiedade, até que passei a tomá-la ocasionalmente. Minha vida, é bom que se diga, não se tornou um conto de fadas perfeito. Meu sofrimento e o sofrimento das pessoas que eu amava continuaram. Acontecimentos difíceis da vida apareceram. Mas eu comecei a viver sabendo que todos os momentos passam. Os bons e os maus momentos não me afundam ou determinam minha felicidade. O que me mantém com os pés no chão agora é a percepção de que não estou sozinha em meu sofrimento, e de que há várias maneiras para se curar, e tantas boas pessoas com vontade de ajudar a apagar o estigma da doença mental. Graças a essa ajuda e meu comprometimento com a reprogramação de meu cérebro antes problemático, agora sinto uma confiança na força de meu corpo e em sua habilidade de prosperar. Desenvolvi uma série de técnicas que funcionam para mim – um kit interno de ferramentas que posso usar quando preciso, esteja eu onde estiver. Eu medito diariamente. Tenho cuidado com minha dieta, evitando álcool, açúcar e cafeína. Tento me exercitar regularmente. Penso sempre nos princípios budistas que guiam os professores que eu tanto respeito. É ótimo saber que meu livro teve eco em tantos leitores. Por décadas, eu pensava que eu era a única que sofria tanto com a ansiedade. Agora eu escuto histórias de leitores de todo o mundo que também sentiam que ninguém compreendia seu sofrimento. Eles encontraram esperança nos meus textos, e eu encontrei um propósito em contar minha história. Escrevi o livro que gostaria de ter lido quando eu era uma adolescente assustada. A primeira pessoa que me contatou depois que eu apareci na televisão, no dia que meu livro foi publicado, foi uma adolescente que sofria de ansiedade terrível. Era como se meu ciclo se fechasse. Os leitores sempre pedem meu conselho sobre como viver em paz enquanto o mundo em sua volta parece mais ansioso do que nunca. A tecnologia trouxe muitas distra- ções para nossa vida. Mas eu sempre digo que estamos no ponto de escolha. Se seu trabalho é estressante, você pode pegar cinco ou dez minutos a cada dia para fazer uma caminhada, ou fechar uma porta e meditar. Você ganhará confiança em sua habilidade de construir um santuário interno, onde você pode se afastar das pessoas e dos acontecimentos que os estressam e recarregar suas energias. Você não precisa de incenso ou de um quarto decorado para treinar técnicas que irão acalmar sua mente e proporcionar uma melhor perspectiva das coisas. O que você precisa é simplesmente seguir sua respiração. A ideia é não apenas afastar cada pensamento assustador para fora de sua mente, mas entender que os pensamentos vêm e vão. Há muitas meditações guiadas que você pode usar, em CDs ou baixando pela internet, com as quais você pode desenvolver sua própria prática de meditação. Tenho uma página no meu website com links para as algumas delas. A meditação perfeita não existe. Como em toda outra experiência na vida, alguns períodos de meditação são maravilhosos e curadores; outros são estressantes e não muito satisfatórios. O mais importante é aprender que você pode seguir sozinho, e não se julgar. Com o passar do tempo, você desenvolverá uma confiança em sua habilidade de perceber seus pensamentos indo e vindo, mas não os deixando ditar suas ações. A ideia que tinha a respeito de mim mesma era a de que eu era uma pessoa aterrorizada, cujo corpo e mente funcionavam muito mal. Agora sei que esse conceito era apenas isso – um conceito. Uma ideia à qual eu me agarrava como uma forma de me identificar. Agora, brinco com os amigos, sou um monge em uma minivan. Vivo com uma paz interna que nunca pensei que poderia alcançar. Eu ando por aí com um sorriso. E finalmente, aos sessenta anos de idade, aprendi a respirar. Priscilla Warner formou-se na Universidade da Pensilvânia, trabalhou muitos anos em publicidade como diretora de arte, em Boston e em Nova York. Aprendeu a meditar e, finalmente, pode dizer que encontrou o caminho que a levou do pânico à paz. Seu livro Respirar, meditar, inspirar foi publicado no Brasil pela Editora Valentina. Visite PriscillaWarnerBooks.com para mais informações sobre sua vida e suas obras. pág. 33 FicçõesFicções livrescas livrescas Ficções livrescas Livro de cabeceira Por REINALDO POLITO Duas e meia da manhã. A madrugada estava tão quieta que dava para ouvir o barulho do silêncio, quebrado apenas pelo tic-tac preguiçoso do relógio que ficava na sala de jantar. Gabriel já havia experimentado todos os lados da cama. Deitou de bruços, virou do lado esquerdo, ajeitou-se do lado direito e nada de dormir. Chegou até a pôr o travesseiro do lado contrário da cama, tentando pegar no sono com os pés voltados para a cabeceira. Acendeu a luz do banheiro para quebrar um pouco a escuridão. Ligou a televisão. Desligou. Foi até a cozinha tomar um copo de leite quente. Sua avó sempre dizia que com a barriga quentinha pegava logo no sono. Dessa vez a teoria da nona não funcionou. Por que será que não conseguia dormir? Levantara cedo, é verdade, mas não fora dormir tão tarde assim. Depois, cinco, seis horas de sono sempre foram suficientes. Acordava aceso, pronto para o trabalho. Se fosse para passear ou viajar levantava mais pronto ainda. Quando se deitou estava calmo. Não havia brigado com Zulmira, sua namorada. Ao contrário, nos últimos dias o relacionamento estava maravilhoso. Ela toda gentil, sempre dizendo que o amava muito. Até desconfiou. Zulmira era carinhosa, mas não era muito de fazer declarações amorosas. Ah, não podia ser. Perder o sono por causa das declarações de amor da Zulmira era coisa de maluco. Era sim, coisa de maluco. pág. 35 Como não conseguia dormir e tinha bastante tempo para pensar, recordou tudo o que aconteceu no dia anterior, desde o momento que saiu da cama. Nada anormal. A única novidade que chamara a atenção foram os três telefonemas seguidos da Zulmira, todos sem motivo, apenas para dizer que estava apaixonada e com muita saudade. Não que Gabriel não tivesse gostado. Ficou feliz em se sentir querido e amado pela namorada. Chegado a recordações familiares dessa vez se lembrou do avô Antonio, sábio, inteligente, esperto que nem ele só. Ele se vangloriava de nunca ter sido passado para trás, e não perdia chance de dar aulas ao neto. Uma de suas favoritas era: quando a esmola é muita o santo desconfia. Se alguém cumprimentasse Seu Antonio com mais sorriso que o de costume, ele logo resmungava: esse tá querendo alguma coisa. E o pior da história é que ele sempre acertava. Era acabar de resmungar que vinha o pedido de empréstimo de dinheiro ou do calhambeque, pelo qual tinha tanto xodó. Por isso, Gabriel aprendeu desde cedo a ser desconfiado. Zulmira queria alguma coisa, ele sabia. Só não conseguia imaginar o que ela poderia pedir. Bem, fosse por esse ou outro motivo o certo é que o sono não vinha. Fez tudo de novo. Rolou para os mesmos lados da cama, acendeu e apagou as luzes, tomou mais meio copo de leite e nada. Foi para a reunião marcada para oito e meia com uma olheira de fazer dó. Aí deu sono. Enquanto o vice-presidente falava com aquela voz morna, monocórdia, Gabriel sentiu a cabeça pesando e os olhos fechando. Seu amigo Carlos teve de acordá-lo duas vezes com o cotovelo. Na terceira foi com um beliscão na perna: Se manca aí Gabriel, o cara já percebeu que você está cochilando. Ligou a televisão, pediu uma pizza, tomou uma taça de vinho para dar mais sono ainda e mergulhou debaixo dos lençóis que ainda estavam desarrumados. Pôs o braço direito entre as pernas e a mão esquerda na cabeça, sua posição preferida para dormir. Assim que se acomodou percebeu que seria mais uma noite infernal. Começou tudo de novo. Virou, revirou, levantou, acendeu, apagou, mais um gole de leite, agora com um pouco de conhaque para apagar de vez, e nada. Só podia ser influência da Zulmira. Naquele dia ligou mais quatro vezes, sempre para dizer que estava apaixonada. Como não encontrava jeito de pegar no sono, abriu o livro que estava sobre a cabeceira. Já nem se lembrava mais da história, fazia uns dois meses que começara a ler, mas por um motivo ou por outro deixou o livro de lado. Leu a última página que estava marcada para recordar e se lembrou depressa do enredo. Era a história de uma moça que estava traindo o namorado com seu melhor amigo. Para disfarçar ou por algum tipo de remorso, ligava o tempo todo para ele fazendo declarações de amor. Naquela parte da história o namorado já desconfiara de que algo estranho estava se passando com a namorada. Sua leitura foi interrompida pelo toque do telefone. Era Zulmira. Sabia que era tarde, mas queria desejar boa noite e dizer mais uma vez que o amava. Trocaram beijos pelo telefone. Gabriel ainda sem sono voltou à leitura. Era um momento muito interessante. Nesse trecho a namorada ligava para o namorado. Naquela hora precisava se certificar de que ele estava mesmo em casa. Terminada a reunião foi até a sala do vice-presidente para contar uma mentira. Disse que a tia passara mal à noite e precisou levá-la até o hospital. Foi trabalhar direto, sem dormir. Por isso, estava com a cabeça pesada. O vice-presidente ouviu, não falou nada, como se dissesse – na próxima não perdoo. Não via a hora de encerrar o expediente, voltar para casa e pegar uma cama. Queria tirar o atraso. Sentia tanto sono que nem teve coragem de dirigir, pegou um táxi e deixou o carro no estacionamento. Cochilou no caminho até ser acordado pelo taxista. Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, professor, escritor e palestrante. www.polito.com.br Gastronomia Gastronomia pág. 36 Gastronomia bonito e solteiro No livro O país das bananas, publicado pela Companhia Editora Nacional, o jornalista J.A. Dias Lopes revela as origens de alguns dos principais pratos da culinária brasileira, trazendo sempre uma receita ao final de cada capítulo. Confira aqui a história do brigadeiro – e, ao final, aproveite a receita para preparar essa delícia! Quem encontrar uma receita de brigadeiro no caderno de cozinha da avó, antigamente conhecido por negrinho, observará que o docinho mais amado do Brasil levava ingredientes de marcas determinadas: Leite Moça, chocolate “dos padres” e manteiga. Isso aconteceu entre o final da década de 20 e início da década de 30, quando ele foi inventado, até a de 50. Além disso, as prescrições da receita sugerem que o brigadeiro foi criado em São Paulo. O primeiro ingrediente era o Leite Moça da Nestlé. Suas latinhas começaram a chegar aqui a partir de 1980, importadas da Suíça, sede da multinacional, com o nome de Milkmaid, que ninguém conseguia pronunciar direito. Em 1921, a Nestlé montou sua primeira fábrica no país, na cidade paulista de Araras. Ali começou a produzir o Leite Moça, adotando a designação criada espontaneamente pelo povo. A indicação de “chocolate dos padres” se referia a outro produto do Estado. Era fabricado pela Gardano, fundada em São Paulo no mesmo ano de 1921. Tratava-se de um chocolate em pó de alta qualidade. Na embalagem, havia um detalhe da tela do pintor toscano Alessandro Sani (1870-1950), retratando dois sorridentes monges católicos. Por isso, os consumidores batizaram o produto de “chocolate dos padres”. Coincidentemente, a multinacional suíça acabou comprando a Gardano em 1957. Mas os monges permaneceram na embalagem do atual Chocolate em Pó Solúvel Nestlé, com a pintura de Sani transformada em desenho. Quanto à manteiga das receitas das vovós, não havia indicação da marca. No início, o hoje versátil Leite Moça tinha o mercado concentrado em São Paulo e o consumo restrito. Misturado com água, servia de substituto para o leite fresco, cujo abastecimento se revelava irregular, especialmente no inverno ou quando certas doenças atingiam as vacas. Entretanto, poucos o usavam na cozinha, ou melhor, na doçaria. O Brasil não havia descoberto verdadeiramente o produto nem se transformado no maior mercado mundial de leite condensado, como agora acontece. Mas, paradoxalmente, foi naquela época que alguém teve a idéia de misturar o Leite Moça com o chocolate em pó – e a marca escolhida, como mostram as receitas das vovós, foi a Gardano, a dos “padres”. Alguém duvida que a pág. 37 pág. 38 invenção tenha ocorrido em São Paulo? Na falta de outra designação, chamaram-no de negrinho, pela cor escura do doce e do chocolate granulado que o envolve, lembrando uma carapinha. Entre os gaúchos, até hoje continua a ter o nome antigo. O negrinho foi promovido a brigadeiro em 1945, quando o militar e político brasileiro Eduardo Gomes (18961981) disputou com Eurico Gaspar Dutra a Presidência da República, sendo derrotado nas urnas. Brigadeiro da Aeronáutica, ele ajudou a escrever um capítulo marcante da História do Brasil. Foi um dos líderes do tenentismo, movimento político protagonizado por jovens das Forças Armadas. No dia 5 de julho de 1922, um grupo formado por 3 oficiais, 15 praças e um civil que aderiu no trajeto saiu do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e enfrentou a tropa governamental fortemente armada. O combate durou 30 minutos. Eduardo Gomes recebeu um tiro de fuzil e caiu ferido. Recuperado, fez carreira brilhante na Aeronáutica. Fundou o Correio Aéreo Nacional e transformou-se em patrono da Força Aérea Brasileira. Em 1950, voltou a disputar a Presidência da República, perdendo novamente a eleição, daquela vez para Getúlio Vargas. “Vote no Brigadeiro, que é bonito e solteiro”, dizia seu slogan eleitoral, que aliás não lhe rendeu os votos necessários. Em compensação, fascinou as mulheres. Dutra era homem feio e Getúlio, baixinho e barrigudo, nunca foi padrão de beleza. Três versões explicam por que Eduardo Gomes deu nome ao docinho. A primeira diz que mulheres do Rio de Janeiro, engajadas em sua campanha, faziam negrinhos, que vendiam com o nome de brigadeiro, em benefício do fundo de campanha. A outra afirma que a carioca Heloísa Nabuco, pertencente a tradicional família carioca, quis homenagear Eduardo Gomes batizando o docinho que inventara com a patente militar do amigo e frequentador de sua casa. A terceira versão, além de grosseira, é a mais duvidosa. Foi espalhada por seus adversários políticos. O tiro desferido em Eduardo Gomes na rebelião do Forte de Copacabana teria atingido os seus testículos. Ora, o docinho que o evoca não utiliza ovos. Portanto, o nome brigadeiro teria sentido cruel. Brigadeiro de limão siciliano Receita da pâtissiere Juliana Motter, de São Paulo. Rende 30 unidades. INGREDIENTES Massa - 2 colheres (sopa) de raspas de chocolate branco - 1 lata de leite condensado - 1 colher (sopa) de manteiga sem sal - Raspas de 2 limões sicilianos - Manteiga para untar Cobertura - 200 gramas de raspas de chocolate branco PREPARO Retire as raspas dos limões com um descascador de frutas cítricas, sem usar a pele branca, que amarga. Com um ralador manual, faça raspas de chocolate branco – para a massa (2 colheres) e para a cobertura dos brigadeiros (200 gramas). Em uma panela, coloque o leite condensado, 2 colheres de raspas de chocolate branco, a manteiga e leve ao fogo brando, mexendo sempre, até desgrudar do fundo da panela (aproximadamente 10 minutos). Apague o fogo, junte as raspas de limão e misture bem para liberar o óleo essencial da casca (que é o que vai aromatizar os brigadeiros). Transfira para um recipiente de louça untado com manteiga. Quando esfriar, unte as mãos com manteiga e faça bolinhas de 3 centímetros de diâmetro. Cubra os brigadeiros artisticamente, com raspas de chocolate branco (200 gramas) que sobraram. Sirva-os em forminhas de papel. Dica: em época de calor, os brigadeiros se tornam mais refrescantes quando gelados. pág. 39 pág. 40 Perfil Perfil Perfil Gênio indomável Autor de A lógica do Cisne Negro e Antifrágil, o ensaísta Nassim Nicholas Taleb tornou-se um dos principais pensadores do mundo moderno “Imploro a jornalistas e membros da mídia que evitem escrever para mim; eles devem entrar em contato com meus editores se for preciso. Também não estou disponível para documentários, artigos de jornal ou entrevistas além daquelas em lançamentos. Eu escrevo apenas livros e trabalhos acadêmicos: não quero ter uma vida pública ou vida intelectual pública fora dos eventos obrigatórios de lançamento.” Este aviso nada amigável está na página de contato do site do escritor e ensaísta Nassim Nicholas Taleb – e quem não conhece seu trabalho pode pensar que este libanês radicado nos Estados Unidos é um tremendo mal-humorado. Na verdade, a mensagem pouco delicada faz parte do estilo do autor, tão cáustico quanto genial. Taleb, de 53 anos, vem sendo considerado um dos principais pensadores do mundo moderno; na definição da revista GQ, “a voz mais profética de todas, alguém que é capaz de transformar a visão que temos da estrutura do mundo apenas com a força, originalidade e veracidade de suas ideias”. Seus estudos discorrem, de acordo com suas próprias palavras, sobre “o que fazer em um mundo que não compreendemos”. Em 2006, depois de duas décadas trabalhando em operações financeiras, decidiu seguir na carreira acadêmica (é hoje professor de Engenharia de Risco no Instituto Politécnico da New York University) e publicar seus escritos. Assim surgiram os bestsellers Iludidos pelo acaso e A lógica do Cisne Negro, que tratam de temas como sorte, incerteza, probabilidade e conhecimento. Agora, chega às livrarias brasileiras o livro Antifrágil (editora Best Business), cujo subtítulo resume o fio condutor dessa obra: “Coisas que se beneficiam com o caos” – aliás, não apenas que se beneficiam Somente os autodidatas são livres Um trecho de Antifrágil (Best Business) Certa vez, perguntaram ao biólogo e intelectual E.O. Wilson qual era o maior obstáculo para o desenvolvimento das crianças; sua resposta foi a mãecoruja. Argumenta que se costuma reprimir a biofilia natural das crianças, seu amor pelos seres vivos. Mas o problema é mais amplo; as mães-corujas tentam eliminar a tentativa e erro, a antifragilidade, da vida dos filhos, afastá-los do ecológico e transformá-los em nerds que funcionam sob mapas preexistentes da realidade (compatíveis com a mãe-coruja). São bons alunos, mas são nerds – ou seja, são como computadores, exceto por serem mais lentos. Além disso, ficaram totalmente inaptos para lidar com a ambiguidade. Por eu ter sido uma criança que passou por uma guerra civil, não acredito na aprendizagem estruturada – na verdade, acredito que o indivíduo pode ser um intelectual sem ser nerd, desde que possua uma biblioteca particular em vez de uma sala de aula, e passe o tempo como um flanador sem rumo (porém racional), beneficiandose do que a aleatoriedade é capaz de lhe dar, dentro e fora da biblioteca. Desde que tenhamos o tipo adequado de rigor, precisamos da aleatoriedade, da confusão, das aventuras, da incerteza, da autodescoberta, de episódios quase traumáticos, tudo isso que faz a vida valer a pena, em comparação com a vida estruturada, falsa e ineficaz de um diretor-executivo do caos, mas precisam dele para sobreviver. São 658 páginas nas quais o leitor mergulha no universo das surpreendentes ideias de Nassim Nicholas Taleb, em um passeio guiado pela escrita espirituosa e irônica do autor – que pode ser conferida a seguir, com um trecho do livro. Antes disso, para mais uma demonstração do estilo do escritor, fiquemos com aquela que ele já escreveu ser sua receita para um dia perfeito: 1) Sorria para um estranho; 2) Surpreenda alguém dizendo algo inesperadamente agradável; 3) Dê atenção genuína a um idoso; 4) Convide alguém que não tem muitos amigos para um café; 5) Humilhe publicamente um economista ou crie profunda ansiedade em um professor de Harvard. Que tal? desimportante, com uma agenda predefinida e um despertador. Até mesmo seu lazer é submetido a um relógio: squash das 16 às 17 horas, já que sua vida é espremida entre compromissos. É como se a missão da modernidade fosse extrair toda a variabilidade e a aleatoriedade da vida até a última gota – com o resultado irônico de tornar o mundo muito mais imprevisível, como se as deusas do acaso quisessem ter a última palavra. Somente os autodidatas são livres. E não apenas em questões acadêmicas – quem desmercantiliza desturistifica sua vida. Os esportes tentam embalar a aleatoriedade em uma caixa, como aquelas que são vendidas no corredor seis, ao lado das latas de atum – uma forma de alienação. Se quisermos entender quão insípidos são os atuais argumentos modernos (e entender nossas prioridades existenciais), basta considerar a diferença entre os leões selvagens e os criados em cativeiro. Os leões criados em cativeiro vivem mais tempo; são tecnicamente mais substanciais e têm estabilidade no emprego garantida para o resto da vida, se forem esses os critérios nos quais estejamos interessados... pág. 42 Humor Humor Humor Autoajuda... ...só que não Grumpy Cat, o gato azedo que tem 6 milhões de fãs na internet, chega às livrarias brasileiras destilando todo seu divertido mau humor A fama na internet é algo passageiro, certo? Não para o bichano mais mal-humorado do planeta. Desde que surgiu na rede pela primeira vez, em setembro de 2012, com sua cara feia e suas mensagens negativas, o Grumpy Cat, gato azedo na tradução em português, é um fenômeno que não para de crescer. Nesses dois anos de sucesso, o felino, para seu azar, tornou-se um queridinho do público das redes sociais ao redor do planeta. Sua página no Facebook contabiliza nada menos do que 6 milhões de fãs – o dobro, por exemplo, do número de curtidas recebidas pela Xuxa. Seu segredo? Azedume, muito azedume, como podemos ver no livro que chega ao Brasil pela editora BelasLetras: Grumpy Cat – um livro azedo. Recheado de “dicas e atividades para você ficar de mal com o mundo”, os destaques da obra são as imagens do famoso felino em suas poses enfadonhas, com os indefectíveis lamentos e resmungos: “Todo novo começo termina”; “Você só vive uma vez – e já é demais”; “O problema não sou eu – é você”. pág. 45 No conteúdo também estão uma breve história do Grumpy Cat (incluindo todos os sonhos que ele já arruinou) e bons motivos para odiar cachorros (e pessoas). O leitor também poderá praticar seu mau humor em jogos criados especialmente para todos se sentirem frustrado. Na vida real, o gato azedo, na verdade, é uma gatinha, chamada Tardar Sauce (molho tártaro) – e, de acordo com sua dona, a norte-americana Tabatha Bundesen, trata-se de um bichano muito amigável e carinhoso, ao contrário do que suas caretas podem indicar. E, se ele ainda está por sorrir, o sucesso do mascote já vem fazendo Tabatha gargalhar – há uma extensa lista de produtos licenciados que trazem a marca do gato, incluindo camisetas, bichinhos de pelúcia e até uma linha de cafés premium, batizada Grumpuccino – “terrivelmente boa”, de acordo com a propaganda. No final de 2013, o animal tornou-se também felinopropaganda da marca de ração para gatos Purina, da Nestlé, nos Estados Unidos, e, de acordo com boatos, consta ainda que chegará a Hollywood neste ano. “Que droga”, teria afirmado Grumpy Cat. pág. 46 Finanças Finanças Finanças Educação financeira: um tema para toda a família Por REINALDO DOMINGOS Diante de um cenário de consumismo desenfreado, população endividada ou frustrada por não conseguir realizar seus sonhos, inserir a educação financeira na vida de crianças e jovens tornou-se um dos principais desafios de pais e escolas. Os pais têm papel fundamental no significado que os filhos atribuem ao dinheiro – e a forma como as famílias lidam com seus recursos financeiros pode influenciar a maneira como a criança irá administrar seus bens no futuro. Muitos pais que não receberam orientação dessa natureza, além de também precisarem de uma “reeducação”, encontram dificuldade de transmitir esse tipo de conhecimento. Mas, agora, estão ganhando aliados na tarefa de educar os filhos financeiramente. É cada vez maior a preocupação do mercado em tornar a população apta para tomar decisões de consumo de forma consciente e responsável. O mercado livreiro se destaca nesse contexto, com um número cada vez maior de obras sobre o tema. Essas servem tanto para os adultos se reeducarem sobre como lidam com o dinheiro, como também para material de apoio para a inserção das crianças no tema de forma adequada. Há também, voltado ao mercado livreiro, uma nova demanda que vem das escolas, que cada vez mais adotam o tema, solicitando livros didáticos e paradidáticos sobre o tema. Isso porque se cobra das escolas a formação de alunos-cidadãos, autônomos, com visão crítica, capazes de idealizar e realizar projetos individuais e coletivos, assimilando, desde cedo, a importância do equilíbrio financeiro para o bem-estar individual e social. Isso significa que esse tema não é um modismo, e sim um novo desafio global, já que as economias têm sofrido rápidas mudanças e, em especial, em um país como o Brasil, que, nos últimos anos, passou por uma reconfiguração da distribuição de suas classes sociais. Hoje, o país tem uma importante parcela da população com maior poder de compra, porém endividada. Um dos caminhos para famílias e escolas educarem financeiramente seus filhos e alunos é se basearem nos pilares da Metodologia DSOP de Educação Financeira – Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar. Isso se traduz em estimular as crianças e os jovens a identificarem seus sonhos de curto, médio e longo prazos; ensinálos a investigar quanto custam os seus sonhos e, junto com os pais – que devem saber a equação entre seu orçamento e gastos – calcular quanto seria necessário reservar por semana, mês ou ano, seja da semanada ou mesada ou do orçamento família, para que o sonho possa ser realizado. É uma característica dos jovens e das crianças serem muito observadores e cedo começarem a perceber que o dinheiro tem uma força. A percepção deste entendimento ocorre, normalmente, por volta dos três anos. Frequentemente, eles veem os adultos entregarem dinheiro, cartões, cheques em vários locais em troca de mercadorias. Ou seja, observam que troca-se dinheiro por coisas que se quer ter. Ao mesmo tempo, crianças e jovens estão expostos às mensagens publicitárias que estimulam o desejo de ter. São duas forças importan- tes que movimentam a sociedade e, portanto, precisam ser bem compreendidas. O antídoto para os possíveis efeitos nocivos do estímulo ao consumo é incentivar a leitura de obras de educação financeira e manter todos envolvidos nas decisões familiares sobre os gastos, colocando os sonhos em primeiro lugar. Temos de mostrar que nada é mágico – porém tudo é possível, desde que o dinheiro seja usado com foco e sabedoria. Também é preciso mostrar às crianças e aos jovens que acordos não significam negação, mas sim negociação. Eles perceberão que é possível ter, mas nem sempre no momento em que se quer. Essa prática também ajuda a aliviar o sentimento de culpa de muitos pais, porque, nesse exercício, eles também aprendem a se reeducar financeiramente e deixam de ver o dinheiro – ou o poder de compra – como uma válvula de escape para suprir lacunas em outros aspectos da vida. Reinaldo Domingos é educador financeiro, presidente do Grupo DSOP e autor do best-seller Terapia Financeira e do livro Papo Empreendedor (ambos pela Editora DSOP). TOP 100 EDITORAS DISTRIBUÍDAS pág. 48 Nesta página, listamos, por ordem alfabética, as 100 editoras que registraram, nos meses de maio e junho de 2014, o maior volume de vendas e negócios com a Superpedido. Agradecemos a parceria de todos. ALAÚDE ARQUEIRO ARTE ENSAIO ARTMED ÁTICA AUTÊNTICA BB EDITORA BELAs-LETRAs BLU EDITORA BOITEMPO BRINQUE BOOK CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS CASA DA PALAVRA CENGAGE LEARNING CIRANDA CULTURAL CLIO COMPANHIA DAS LETRAS CORTEZ EDITORA DCL DVS EDGARD BLUCHER EDIOURO PASSATEMPO EDIOURO PUBLICAÇÃO EDIPRO EDITORA DO BRASIL ELSEVIER FEB FTD FUNDAMENTO GEN GENTE GERAÇÃO EDITORIAL GIRASSOL NOVO GLOBAL GLOBO GMT SEXTANTE GRYPHUS HQM INTEGRARE EDITORA INTRINSECA IRMAOS VITALE ITATIAIA JOHN WILEY & SONS INC JORGE ZAHAR LAFONTE LEYA LUMEN EDITORIAL M BOOKS MADRAS MANOLE MARTIN CLARET MARTINS MATRIX MCGRAW HILL COMPANIES MELHORAMENTOS MODERNA MUNDO CRISTÃO NACIONAL NOBEL NOVA FRONTEIRA NOVO CONCEITO NOVO SÉCULO OBJETIVA ORIGINAL OXFORD UNIVERSITY PRESS PANDORGA PANINI PAPALEGUAS PAPIRUS - EDITORA PAULUS PEARSON EDUCATION PERSPECTIVA PETIT PHORTE EDITORA PLANETA DO BRASIL POSITIVO PUBLIBOOK PUBLIFOLHA PULP IDEIAS E CONTEUDO RECORD RIDEEL ROCCO RUBIO SAIDA DE EMERGENCIA SARAIVA SCIPIONE SENAC SPRINGER VERLAG PUBLISHING SUMMUS EDITORIAL TAYLOR & FRANCIS BOOKS LTD THOMAS NELSON TODOLIVRO TOPBOOKS UNIVERSO DOS LIVROS VALE DAS LETRAS VALENTINA VERGARA & RIBA EDITORAS SA VIDA E CONSCIENCIA VOZES EDITORA WMF Para conhecer a lista completa de editoras distribuídas, ligue para a central de vendas ou acesse o portal. pág. 49 TOP 20 LIVROS MAIS VENDIDOS pág. 50 Confira na lista a seguir os livros mais vendidos na Superpedido nos meses de maio e junho de 2014. Para não perder oportunidades, mantenha o estoque de sua livraria sempre abastecido com estas obras. CULPA É DAS ESTRELAS, A ISBN: 9788580572261 R$ 29,90 CULPA É DAS ESTRELAS, A ISBN: 9788580575019 R$ 29,90 QUEM É VOCÊ, ALASCA? ISBN: 9788578273422 R$ 29,90 ANSIEDADE ISBN: 9788502218482 R$ 14,90 DEIXE A NEVE CAIR ISBN: 9788579801754 R$ 29,50 CONVERGENTE - UMA ESCOLHA VAI TE DEFINIR ISBN: 9788579801860 R$ 39,50 DIVERGENTE - UMA ESCOLHA PODE TE TRANSFORMAR ISBN: 9788579801310 R$ 39,50 ESCOLHA, A VOL. 3 ISBN: 9788565765374 R$ 29,90 15 MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, A ISBN: 9788580574517 R$ 39,90 INSURGENTE - UMA ESCOLHA PODE TE DESTRUIR ISBN: 9788579801556 R$ 39,50 20 19 PAIS INTELIGENTES FORMAM SUCESSORES, NÃO HERDEIROS ISBN: 9788502224049 R$ 14,90 DIÁRIO DE UM BANANA MARE DE AZAR VOL. 8 ISBN: 9788576836902 R$ 34,90 10 14 18 17 16 CIDADES DE PAPEL ISBN: 9788580573749 R$ 29,90 PEQUENO PRÍNCIPE, O 48 ED. 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