10 NúmerosPor10 euros
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10 NúmerosPor10 euros
79 editorial ficha técnica Chegámos a Dezembro, mês do Natal, das festas (e resoluções) de Ano Novo, e de balanços sobre os 12 meses que passaram. A nível cultural, a época é também de levantamento sobre o que de melhor nos reservou 2010. Aqui, na DIF, optámos por fugir às tradicionais listas de melhores do ano e trazemos na última edição do ano uma série de conteúdos frescos. Na música, nas artes, no consumo, tentamos estar, uma vez mais, à altura das vossas expectativas. Acreditamos que temos correspondido e por isso dedicamos neste editorial uma palavra especial aos nossos leitores e amigos: obrigado pelo apoio demonstrado em várias frentes, em particular no Facebook, onde atingimos recentemente a bonita marca de dez mil fãs. Continuem aí desse lado a ajudar‑nos a crescer. Nós por cá continuaremos a estar atentos ao que nos rodeia e prometemos entrar em 2011 com o pé direito, energias renovadas e redobradas, dispostos a enfrentar os desafios que nos esperam. Feliz Natal a todos, boas entradas no novo ano, e vemo‑nos em Fevereiro. Continuem a mandar‑nos mimo (e críticas, e sugestões, e insultos, se caso disso) para as nossas caixas de email e página Facebook. Nós agradecemos e retribuimos com o que fazemos melhor: a revista que tem em mãos neste momento. Até já.. Editor‑in‑chief Trevenen Morris‑Grantham [email protected] Design Gráfico & Direcção Criativa José Carlos Ruiz Martínez [email protected] Editora de Moda e Beleza Susana Jacobetty [email protected] Edição Filipa Penteado (Moda . Cinema) [email protected] Pedro Primo Figueiredo (Música . Cultura) [email protected] Célia Fialho (Música . Arte . Cultura) Colaboradores nesta edição André Santos, Catarina Sobral, Carolina de Almeida, Cláudia Guerreiro, Emanuel Amorim, João Bacelar, João Miguel Fernandes, João Moço, João Telmo Dias, José Reis, Laura Alves, Marta Brito, Nuno Moreira, Rafael Vieira, Ricco Godinho, Silvia Borges Silva, Telma Russo, Tiago Santos, Vanda Noronha, Vanessa Miranda. Parceiro Ilustração e arte Who Creative Talents Agency Redacção e Departamento Comercial Rua Santo António da Glória 81. 1250‑216 Lisboa Telefone: 21 32 25 727 ‑ Fax: 21 32 25 729 [email protected] www.difmag.com myspace.com/difmagazine Propriedade Publicards, Publicidade Lda. Distribuição Publicards [email protected] 79 C M Y CM MY CY CMY K Impressão BeProfit ‑ Av. das Robíneas 10, 2635‑545 Rio de Mouro Sogapal ‑ 2745‑578 Queluz de Baixo Registo ERC 125233 Número de Depósito Legal 185063/02 ISSN 1645‑5444 Copyright Publicards, Publicidade Lda. Tiragem média 21 000 exemplares Periodicidade Mensal Assinatura 10 € Fotografia capa João Bacelar Styling Susana Jacobetty Maquilhagem Inês Pais Surfista Pedro Lima Errata Na edição 77 da DIF a fotografia ao cineasta Vicente Alves do Ó não foi creditada. A autoria da mesma pertence a Patrícia Andrade. As nossas desculpas pelo lapso. índice 8. Moda The Believers Texto: Vanessa Miranda 10. Design Kobi Levi Texto: Carolina Almeida 12. Kukies 20. Capa Dura Texto: Carolina Almeida e Pedro Primo Figueiredo 22. Places Texto: Carolina Almeida 24. Retroculture Do sótão, com amor… Texto: Laura Alves 26. O que andamos a ouvir 27. Música Kanye West Agora a sério Texto: Emanuel Amorim 28. Música Editora Now Again O funk global de novo Texto: Tiago Santos 30. Música Daft Punk Um regresso espacial Texto: Pedro Primo Figueiredo Ilustração: Cláudia Guerreiro 32. Design Sam Baron Colors 79 – Collector Texto: João Miguel Fernandes e Pedro Primo Figueiredo 34. Cinema I’m Still Here A realidade nem sempre é o que parece Texto: João Moço 36. TEDxOporto Peter Joseph O senhor “Zeitgeist” chega em Março ao TEDxOporto Texto: Nuno Moreira Ilustração: Catarina Sobral 40. Eroteca Sexto Sentido O design da sensualidade Texto: Célia F. Ilustração: Mauro Carmelino 44. Moda Bread & Butter 2011 Quando Berlim rima com denim Texto: Laura Alves 48. Intervenção Urbana Luzinterruptus Texto: Rafael Vieira 50. Surface Gerard Rancinan Texto: João Telmo Dias 56. Moda Once Upon a Time... Fotografia: João Bacelar Realização: Susana Jacobetty 64. Moda Amor Electro Fotografia: João Bacelar Realização: Susana Jacobetty 72. Beleza Beautiful Days Fotografia: João Bacelar Realização: Susana Jacobetty 74. Shopping Fotografia: Telma Russo Realização: Ricco Godinho 78. Agenda Destaque, Música, Cinema, Exposições. Toaster - Colors 79 – Collector Este mês André Marques dos Santos vem de Coimbra, onde tirou Comunicação Social. Actualmente instalado em Lisboa, não passa meia hora sem trautear uma música, e já tem saudades do Verão. Actualmente, colabora com a New Optimism, a Fotografia DG e o blogue Tv/Cinema News. No fundo, apesar de ser um preguiçoso compulsivo, não consegue estar muito tempo parado. Bem‑disposto por natureza, acha o “Cinema Paraíso” o melhor filme dos que já viu, mas tem ainda muitos por ver. Este mês escreve na DIF sobre o conterrâneo The Legendary Tiger Man. Vanda Noronha faz, tipo, cenas. Formou‑se em Antropologia em Manchester, onde esteve oito longos anos. Fotografa agora muita coisa e muitos concertos (e Os Golpes, muitas vezes) em Lisboa e gosta muito de cá estar. É designer, programadora, manufacturadora de merchandise e uma das cabeças da Chifre. É criativa e fotógrafa oficial do Offbeatz Lisboa. Está muitas vezes na Bela em Alfama a tentar ter conversas de negócios com artistas embriagados. Vive para isto e tem sempre razão. Escreve nesta edição da DIF sobre os Capitão Fausto, que vão ser grandes, e tem imagens do Offbeatz umas páginas mais à frente. Mauro Carmelino, é um ilustrador representado pela WHO creative talents agency. Nasceu em 1989 em Lisboa. Frequentou a escola artística António Arroio e licenciou‑se posteriormente em design de comunicação. Grande consumidor de cultura visual, procura no seu trabalho a ligação entre o design e a ilustração, sempre em busca de um estilo próprio. Nesta edição da DIF ilustra o artigo Eroteca Sexto Sentido. Telma Russo tem 24 anos e é fotógrafa de moda e conceptual. Tirou o curso de Coordenação e Produção de Moda, onde teve o seu primeiro contacto com a fotografia. Mais tarde, realizou o curso Técnico de Fotografia e uma especialização em Fotografia de Moda na University of the Arts de Londres. Após isto começou a realizar alguns trabalhos como freelancer. Trabalhou como assistente de alguns fotógrafos tais como Mário Príncipe, Sérgio Santos, Milkman, Luís Eça e João Bacelar. Tem um blogue com alguns dos seus trabalhos (http:// photographyfashionmaniac.blogspot. com) e nesta edição da DIF fotografou as páginas de shopping e produto. Ricco Godinho nasceu em 1987. Reside em Lisboa, é licenciado em Design de Moda e frequenta actualmente o Mestrado em Design de Moda focado no “trans como fenómeno de moda”. Já trabalhou em vários eventos ligados ao mundo da moda, caso da ModaLisboe Estoril FashionArt Festival, e em empresas de comunicação, assim como em trabalhos de ilustração e design, nomeadamente para teatro e publicidade. Mas é no exercício do styling, shopping, produção e bastidores que se sente mais confortável. Actualmente estagia com Susana Jacobetty como assistente de styling. Nesta edição da DIF fez o styling para as páginas de shopping e produto. Catarina Sobral, 25 anos, é licenciada em Design pela Universidade de Aveiro e frequenta o Mestrado em Ilustração Artística da Universidade de Évora/ISEC. Tem trabalhado como designer de comunicação e mais regularmente como ilustradora, sobretudo nos campos editorial e infantil, mas também em animação. É representada pela Who – Creative Talents Agency, e nesta edição ilustrou o artigo sobre Peter Joseph. Cláudia Guerreiro nasceu em Lisboa em 1980. Formou‑se em escultura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e frequenta actualmente um mestrado em ilustração científica. Entre exposições de escultura e desenho, trabalhou em cinema de animação com alguns realizadores, dos quais destaca José Miguel Ribeiro. Além de escultora e ilustradora, é baixista de Linda Martini e guitarrista de ASNEIRA. Aproveita as horas mortas para ilustrar para a “migalhas – cultura à mesa” e fazer moldes de tartarugas no Museu Nacional de Historia Natural. Recomenda que espreitem o seu blogue (desenhopordesenho. blogspot.com) para melhor conhecerem o seu trabalho, que nesta DIF é representado por uma ilustração dos franceses Daft Punk. Marta Brito, desde 31 de Dezembro de 1988 a tentar partir parquímetros em Lisboa. Licenciou‑se em Filosofia e depois achou que o melhor mesmo era fazer o Mestrado em Ciências da Comunicação na área de Cinema e Televisão, que está neste momento a tentar concluir. Não gosta muito de ter opiniões sobre coisas, principalmente coisas de arte. Enquanto não está na biblioteca, ou sentada à secretária a fingir que escreve – ou escrevendo, mesmo – e pode ser vista num concerto ou outro, mas sempre com uma presença discreta e tímida. Na DIF deste mês escreve sobre a sexta edição do BES REVELAÇÃO, que está a decorrer em Serralves até 16 de Janeiro. dif 6 Sílvia Borges Silva nasceu em Lisboa em 1976. Comeu tulicreme em criança, usou allstars pretos, trocou muitas cassetes de música e inventou jornais com amigos, passou depressa pela adolescência, esteve na faculdade e chegou ao jornalismo com 22 anos. É uma nostálgica incurável, mas tem sempre saudades do que ainda não leu, viu e escutou. Este mês escreve na DIF sobre o novo disco de B Fachada. Rafael Vieira é arquitecto, formado e nascido em Coimbra. Foi embaixador CouchSurfing lisboeta durante 2008 para o qual coorganizou o evento Lisbon Invites You. Teve uma empresa de cenografia e de conceitos publicitários durante um ano instalada na LX Factory, os WATEB, com a qual fez dois anúncios televisivos (um dos quais Gente com Fibra para a PT) e montou o coração interactivo em fibra óptica no Largo Camões. Foi activista do Movimento Acorda Lisboa no qual chegou a presidente aquando da transformação em Associação Cultural. Já escreveu para o DN Jovem, Guia da Noite, HD, Take, Spotted by Locals e agora Le Cool Lisboa, do qual é editor. Este mês apresenta‑nos os Luzinterruptus. moda the Believers Texto: Vanessa Miranda Acreditar no Futuro. Numa época em que a palavra sustentabilidade nunca esteve tão em voga, vemos surgir uma série de respostas criativas face à crise que o nosso planeta vive em todos os sectores. Nos dias de hoje, já não é só a protecção da natureza, mas também a criação de uma classe consumidora com consciência e atenta que importa desenvolver. A noção de um projecto sustentável é maior do que as meras preocupações ecológicas, ela en‑ globa quatro requisitos obrigatórios: é ecologicamente correto, economicamente vi‑ ável, socialmente justo e culturalmente aceite. Estas condicionantes abragem agora quase todas as actividades económicas, nomeadamente a moda – actividade normal‑ mente adicta a tendências. O projecto The Believers (Cult of Craft), do estúdio espanhol La Fortuna – espe‑ cializado em moda e tendências vanguardistas – é um destes exemplos de sustenta‑ bilidade. Criado em 2009, pretende ser uma plataforma não‑lucrativa para ajudar os designers que queiram desenvolver a sua carreira no âmbito do futuro sustentável da moda, do luxo e do artesanato. Partindo da forte convicção de que a sustentabilidade será um dos principais marcos do nosso futuro, e não uma mera tendência passageira, o projecto organiza exibições, desfiles e workshops, expondo estas jovens mentes cria‑ tivas ao olhar público e publicitando o seu trabalho, criando ainda um portfólio onde reúne os melhores trabalhos de cada artista, seja através de editoriais fotográficos, fil‑ mes ou publicações escritas. Imagens que aludem ao planeta Terra, maquilhagem ecológica e acessórios fei‑ tos a partir de restos de sedas, camurças ou desperdícios de livros antigos são alguns dos exemplos do que podemos encontrar no primeiro portfólio já publicado no site: www.lafortunastudio.com. Depois da primeira edição, durante o mês de Outubro de 2010, na Modo Parcours – a semana de moda oficial de Bruxelas – onde foi aclama‑ do pelas suas obras vanguardistas e pela sustentabilidade das suas criações, o projecto The Believers continua na procura de novos talentos que queiram deixar a sua marca no futuro do mundo. dif 8 design kobi Levi Texto: Carolina Almeida Até que ponto os sapatos podem re‑ flectir a realidade que nos rodeia? E ter uma história para contar ao primeiro olhar? A DIF perguntou a Kobi Levi, o designer que dá vida ao calçado com um toque de humor, e descobriu que pode haver uma vida muito divertida para além de um simples par de sapatos. “Estes sapatos artísticos são a minha abordagem humorística ao calçado”, ex‑ plica o designer israelita. Formado em Joalharia e Acessórios na Academia de Arte e Design de Bezalel, em Jerusalém, Levi especializou‑se na área do calça‑ do, tendo colaborado com a marca Skinsfootwear e trabalhado em Itália, na China e no Brasil no desenvolvimento de calçado industrial. Cada par de sapatos da linha artística de Kobi Levi, que pro‑ duz à mão no seu próprio atelier, assu‑ me‑se como uma espécie de escultura de autor que pode efectivamente ser calça‑ da. “Todos os modelos têm um conceito, que pode ser interpretado simplesmente como é apresentado ou com outros signi‑ ficados”, refere o designer à DIF. A inspiração surge‑lhe de todas as frentes, sobretudo de situações do quoti‑ diano, como o modelo “Chewing‑gum”, que ilustra um incidente comum. E o hu‑ mor está sempre lá, de uma forma ou de outra. “O humor é um excelente to‑ que em quase todos os aspectos da vida, senão todos mesmo”, conta. Produzidos em diversos materiais – pele, tecido, ma‑ deira, metal, plástico – todos os mo‑ delos são passíveis de serem usados, garante Levi. Apesar de não estarem a ser comercializadas, neste momento, estas cria‑ ções estão disponíveis por encomenda em http://kobilevidesign.blogspot.com. Mas é preciso ter um bom sentido de humor! dif 10 Chama‑se Tribute e é inspirada nos ia‑ tes italianos de madeira de mogno dos anos 1960, símbolo de estatuto do jetset daque‑ la época, desde St. Tropez a Portofino. Esta luxuosa vespa de edição limitada funciona como uma extensão urbana da mais sofisti‑ cada lancha e está pronta a espalhar requin‑ te e elegância pelas ruas da cidade, nas mãos de um coleccionador ou seguidor deste ob‑ jecto de culto. A exclusividade da Tribute está estampada em cada detalhe, como o refi‑ nado acabamento dos espelhos em mogno, da autoria da Digital Veneer, uma empre‑ sa especializada em materiais alternativos de alta qualidade e ambientalmente responsá‑ veis. Ou o banco em pele cosido à mão. Ou os elementos de design que recriam fiel‑ mente estes lendários barcos. Para finalizar, e como não podia deixar de ser, cada vespa Tribute é numerada com uma placa de pra‑ ta de edição limitada. Coleccionador ou não, quem agarrar o volante desta vespa vai sen‑ tir o peso de ter se apresentar com um es‑ tilo à altura. Nada melhor do que seguir fiel à marca também na roupa e escolher al‑ gum coordenado da linha Vespa by Adidas. Not only for Vespa addicts... kukies vespa Tribute: novo culto Texto: Carolina Almeida dif 12 kukies 12 lacoste Legends Texto: Carolina Almeida Texto: Carolina Almeida kukies o tamanho não Importa Em homenagem ao lendário pólo L.12.12, criação da lenda do ténis René Lacoste, a marca do crocodilo lança o pro‑ jecto Legends, onde convida 12 lendas do mundo da música, dos media, do design e do retalho a criarem a sua própria inter‑ pretação de uns ténis Lacoste a partir da herança da marca e o icónico pólo. O re‑ sultado é uma colecção de 12 ténis que perpetuam 12 visões contemporâneas de Jazzy B, Sébastien Tellier, Stones Throw, ato, Christiphe Lemaire, Tim Hamilton, Sneaker Freaker, i‑D, Shoes Master, Bodega, Colette e D‑Mop. Esta lendária dúzia de modelos, com preços entre 95 e 199 euros, está disponível nas lojas Cocktail Molotof, no Porto, e Akira, em Lisboa. kukies colecção puma Diego Texto: Célia F. Diego Maradona honra as barbas grisalhas e completa 50 anos de vida . A sua mar‑ ca de eleição, a Puma, celebra esta ocasião presenteando a lenda do futebol mundial com uma colecção com o seu nome. As chuteiras, ténis, t-shirt, bola, saco e casaco King Diego compõem uma colecção de essência vintage e retro que pretende home‑ nagear o ícone argentino e a sua época de glória, mantendo a originalidade e estilo que caracterizam a Puma. Está provado que 87% das mulheres desejam encontrar uns jeans que assen‑ tem melhor do que aqueles que já têm. Surpreendidos? A Levi’s estudou o corpo de 60 mil mulheres até criar uma solu‑ ção para esta grande percentagem de in‑ compreendidas e lançou a colecção Levi’s Curve ID. São três silhuetas diferentes e três distintos cortes onde se podem en‑ globar 80% das mulheres do mundo: Slight Curve, para quem tem curvas pou‑ co pronunciadas; Demi Curve, para aque‑ las com curvas ligeiramente destacadas; e Bold Curve, ideais para as silhuetas femi‑ ninas com mais curvas. Os modelos estão disponíveis em várias cores e prometem dar ao corpo feminino o que ele verdadei‑ ramente merece. Porque não é o tama‑ nho que interessa, mas sim a forma... dif 14 kukies feliz Amor novo Com o ano novo já a bater‑nos à porta, a Lavazza propõe um calendário para 2011 com o tema “Falling in love in Italy”, com imagens do fotógrafo americano Mark Seliger. Captando a sensuali‑ dade, a paixão e o roman‑ tismo de Itália, Mark Seliger junta‑se assim a uma lista já extensa de nomes importan‑ tes da fotografia que colabo‑ raram com a Lavazza, entre os quais David LaChapelle, Anne Leibovitz e Miles Aldrige. Este é o 19.º calen‑ dário do género que a mar‑ ca cria, tendo‑se já tornado um objecto de culto, tanto para coleccionadores como para amantes da fotografia por todo o mundo. LA kukies chivas by Lacroix d&g gold kukies A Dolce&Gabanna lan‑ çou Gold Editon, uma colec‑ ção de óculos de sol preciosa. Todos os modelos são feitos em metal chapeado a ouro de 18 quilates e são entre‑ gues com um porta‑óculos e um estojo de pele. Para ho‑ mem, o destaque vai para o modelo retro em cor havana, inspirado nos anos 1950; para mulher, os must have são os óculos em forma de olhos de gato, também eles de inspi‑ ração vintage. FP Inspirado no espírito de ca‑ valheirismo e essência artesanal que define a marca Chivas Regal, Christian Lacroix concebeu uma relíquia da coroa. Uma parce‑ ria renovada que dá à luz uma limitada edição do néctar esco‑ cês. Uma garrafa vestida com uma tapeçaria de jacquard bor‑ dado, aplicada através da técnica de metalização a laser desenvol‑ vida para a Chivas 12 Magnum. Uma caixa espelhada com for‑ ma de relicário protege o conte‑ údo dando o toque que a torna numa peça de colecção. CF dif 16 kukies kukies kukies vodafone 543 miss sixty we are the destroyers givenchy go wild Uma aliança entre o melhor da tecnologia e o puro design de moda dá origem ao mais recente modelo da Vodafone. A ironia, irreverência e sensua‑ lidade que caracterizam a marca Miss Sixty reflete‑se neste modelo dando‑lhe cor e estilo, e tornando‑o em algo mais do que um mero telefone. Este verdadeiro aces‑ sório de moda vem acompanhado de três capas únicas e personalizadas, auscultado‑ res originais e uma capa de couro que lhe afirma a elegância. CF Este Outono/Inverno, a Nike Sportswear lança o Destroyer Jacket, a sua versão de uma das grandes tendências das últimas es‑ tações: o blusão universitário, inspirado pela iconografia americana. A Nike Sportswear pegou numa peça clássica e moderni‑ zou‑a com a introdução de um zip frontal, substituindo o forro de tafetá por nylon e acrescentando uma dupla camada de lã im‑ permeável. O resultado final está disponível em várias cores e conjugações de materiais, para homem e senhora. FP Eis um bom presente de Natal para oferecer a Hannibal Lecter, se ele for fã de alta costura. A Givenchy propõe, na colec‑ ção masculina Primavera/Verão 2011, en‑ tre diversos acessórios, duas máscaras de cabedal em preto e em branco. As más‑ caras, desenhadas por Riccardo Tisci, tive‑ ram grande impacto na apresentação em Paris. Poderão não ser muito práticas para o dia a dia, mas podemos imaginar toda uma série de situações em que podem ser usadas. LA kukies batmobile, a réplica Holy Atencion! Esqueçam todas as lógicas de consumo/rendimento, espa‑ ço interior e facilidade de parqueamen‑ to. Chegou o carro do momento e para adquirir um basta só perder a cabeça e o bom senso e ter muito dinheiro. A réplica do Batmobile está aí e pode ser adquirida na Internet. É uma bomba da mecânica e vem repleto de “Batdetalhes” que trans‑ formarão uma mera ida ao supermercado numa fantasia de aventura e luta contra o crime. www.firebox.com. CF dif 18 capa dura 30 anos i‑D: 1980‑2010 & S oul covers Texto: Carolina Almeida capa dura funk Texto: Pedro Primo Figueiredo Joaquim Paulo “Funk & Soul Covers” é o segundo livro do jornalista e melómano Joaquim Paulo editado pela marcante Taschen, depois de uma primeira obra dedicada a capas de dis‑ cos jazz. As décadas de 1960 e 1970 são ponto de partida para uma viagem inigua‑ lável pela história da música negra. São para cima de 500 capas de discos com respectivas ficha técnica, entevistas e comentários que contextualizam cada um dos álbuns escolhidos por Joaquim Paulo. O soul e o funk são, desta vez, os géne‑ ros homenageados com um livro colossal que, alerta o autor, não pretende ser uma enciclopédia, antes um “ponto de partida para uma viagem de descoberta de mais e mais música”. Seja o que Joaquim Paulo quiser, “Funk & Soul Covers” não se livra de ser um objecto essencial. E não só para amantes de música negra – esta é uma obra triunfante também a nível estético, com centenas de capas de discos de vinil a encher o olho de qualquer pessoa. “Funk & Soul Covers” inclui ainda dez listas dos melhores álbuns do género em selecções feitas por, entre outros, Kalaf, dos Buraka Som Sistema, e famosos en‑ tusiastas como Quantic, Kon, Mys35 e Nicolas Godin. Entrevistas com David Ritz – autor norte‑americano de biografias de Ray Charles, Marvin Gaye e Aretha Franklin – e Larry Mizell, lendário produtor da Blue Note – são também destaque no novo li‑ vro de Joaquim Paulo, segunda aventura do português na Taschen. Esperemos que não fique por aqui. Atenção fashion lovers e fãs da míti‑ ca i‑D: este é um presente obrigatório na lista de Natal. Para celebrar os 30 anos da i‑D, a Taschen lança um livro com as ca‑ pas que fizeram história nas três décadas de existência de uma das maiores referên‑ cias no panorama das revistas internacio‑ nais de moda. São mais de 300 páginas repletas de momentos de bastidores e memórias das estrelas de capa, fotógrafos, stylists, editores, maquilhadores e cabelei‑ reiros que revelam o percurso da revista desde o nascimento do primeiro número, em Agosto de 1980, até aos dias de hoje. Editado pelo director criativo e funda‑ dor da i‑D, Terry Jones, o livro assume‑se como uma colectânea sobre a evolução da moda e da cultura pop nas últimas três décadas, partindo das figuras míticas que levaram o conceito de cool até às mas‑ sas. A i‑D tornou‑se uma rampa de lan‑ çamento de nomes com história, como os fotógrafos Nick Knight e Juergen Teller, artistas como Madonna, Sade e Björk, que se estrearam como protagonistas de capa na i‑D, as manequins Kate Moss, um dos maiores ícones da moda, que foi capa 11 vezes, e Naomi Campbell, que foi capa no arranque da sua carreira, em 1986. Esta colectânea de tesouros está disponível por menos de 30 euros. dif 20 SAGATEX, Lda. - 22.5089160 - [email protected] Rua do Norte, 60 – Bairro Alto – www.lojaportebonheur.com Texto: Carolina Almeida amuleto do Bairro places e inclui roupa, acessórios, artigos de deco‑ ração vintage, linha de barba de homem, ambientadores, entre outros artigos. Este é literalmente o “porte bonheur” (amule‑ to da sorte) para “quem procura originali‑ dade e diferenciação, aos que privilegiam o produto nacional e as tendências, que não são indiferentes ao espaço e à forma como são recebidos, que procuram uma explicação para cada um dos artigos e que gostam do contacto directo com os cria‑ dores...portugueses ou turistas”, enumera António Alves. Texto: Carolina Almeida tommy Hilfiger em lisboa places Meados de Novembro. Os olhos do mundo estão todos postos em Lisboa. A capital entra em alvoroço com cons‑ trangimentos no trânsito, ruas cortadas e eleva o alerta de segurança para o nível máximo. É a Cimeira da Nato que decorre. Mas Obama não foi o único famoso nor‑ te‑americano a pisar solo alfacinha nessa semana de Novembro. Enquanto o aero‑ porto da Portela se preparava para rece‑ ber 50 chefes de Estado e de Governo, aterra o Sr. Hilfiger. O criador da nor‑ te‑americana Tommy Hilfiger esteve de visita à capital por ocasião da celebração do 25.º aniversário da marca e da inaugu‑ ração da sua primeira loja em Lisboa, no Centro Comercial Colombo. Com cerca de 240 m2, o novo espaço disponibiliza, além das colecções sportswear, Hilfiger denim e acessórios, a Icon Collection, uma cap‑ sule collection que celebra os 25 anos da marca. A colecção inclui 25 peças clássicas inspiradas em alguns dos ícones do cria‑ dor, como James Dean e Grace Kelly. Na visita a Lisboa, Hilfiger passou ainda pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa, onde foi júri numa competição que a própria Tommy Hilfiger lançou em conjunto com a faculdade. Os alunos foram convidados a criar a sua interpretação da moda icónica americana, inspirada nos 25 anos do estilo Classic American Cool da marca. A Rua do Norte, no Bairro Alto, Lisboa, viu nascer em Outubro um novo espaço especialmente dedicado a designers e marcas portuguesas. Amélia Nunes, Antiga Barbearia de Bairro, El Dourado, Lua de Champagne, Nelma Nogueira, Paprika, Paula Estorninho, Portuscale e Sho são alguns dos nomes que podemos encontrar na Porte Bohneur. “Um dos nossos pontos de partida foi promover o mais possível produtos nacionais e é nesse sentido que queremos continuar”, explica à DIF António Alves, um dos responsá‑ veis da loja. Quem passa pela montra da Porte Bonheur dificilmente consegue não espreitar (e entrar!) no espaço. Uma espé‑ cie de jardim interior aguarda os olhares curiosos, rodeado por um papel de tons quentes, poltronas vintage e um pequeno boudoir. A oferta é exclusiva e diferenciada dif 22 21 Herança incorporada no tecido 1957: Dos relvados de Wimbledon às ruas urbanas do centro de Londres; uma nova tendência de moda emerge nos bares e clubes do ‘West End’ de Londres. A ideia é misturar o estilo arrumado e elegante com o estilo informal e relaxado. O aprumado pólo Fred Perry conjugado com calças de ganga e sapatilhas de sola de borracha. Assim nasce a primeira marca britânica KUKIES de sapatos ‘sport fashion’. retro culture do sótão, com Amor... Texto: Laura Alves Joana e Luís, os respigadores, vivem no Porto, onde participam regularmente no mercado Porto Belo, que acontece to‑ dos os sábados na Praça Carlos Alberto. A actividade de procurar e coleccionar me‑ mórias em forma de caixa de lápis de cor, mala, brinquedo ou jogo infantil já é anti‑ ga, e materializou‑se em blogue em 2009. Recuperando a primeira entrada, depara‑ mo‑nos com as lanternas que se torna‑ ram a imagem de marca dos respigadores: “Lanternas de bolso da Siul (Sociedade Industrial de Utilidades, Lda), extinta fábri‑ ca de fogões que em tempos laborou no Porto. Chamavam‑lhe “olho de boi”, expli‑ cou‑nos o sábio senhor Martins que as usa‑ va nos acampamentos na Madalena.” A ideia de Joana e Luís é simples e cheia de dedicação: recuperam objectos que outras pessoas menos sensíveis ao sau‑ dosismo deitaram fora ou que esqueceram em prateleiras e armários à mercê do pó e das teias de aranha. Os cadernos com capa de padrão escocês que se usavam na escola, o Jogo do Sabichão, uma emba‑ lagem de fita para máquina de escrever, um sabonete de pedra‑pomes da fábrica Confiança… Tudo isto faz parte do imagi‑ nário de milhares de adultos que em tem‑ po foram crianças e que cresceram com estas referências. Os respigadores sabem bem o valor sentimental destas memórias e passear pelo blogue é uma autêntica via‑ gem a tempos irrepetíveis. Não só pelas imagens dos objectos, mas pelas pequenas histórias e curiosidades que partilham. “Procuramos agulhas em palheiros e às vezes encontramo‑las. O que não cabe em casa vem aqui para o armazém”, explicam. Os “palheiros” são vários, em especial, fábri‑ cas que já não funcionam e cuja produção foi descontinuada. Dominós, figuras de desenhos animados como o Marco e a Heidi, garrafas de refrigerante, latas de pomada para calça‑ do… O inventário do “armazém” é grande e cresce todos os dias. “Nem tudo está à ven‑ da, mas para lá caminha.” Os curiosos, saudo‑ sistas e clientes podem obter orçamentos e outras informações por e‑mail, esclarecem. E se alguém perguntar pelos respigadores, mui‑ to provavelmente eles estão no sótão a abrir caixas e gavetas. A descobrir em http://orespigadorearespigadora.blogspot.com Respigar, no sentido literal e agrícola, significa recolher as espigas que ficaram por colher nas searas. Respigar, para os criadores do blogue “O Respigador e a Respigadora”, é procurar relíquias de outros tempos, pequenos objectos que fizeram parte da infância de várias gerações. Na Internet, a colecção vai crescendo e, em grande parte dos casos, está à venda. Cada gaveta esconde uma história, vem descobri-las em onitsukatiger.com dif 24 o que andamos a Ouvir Azevedo Silva é um artista do povo. Canta os problemas sociais e poli‑ ticos tal como Zeca Afonso. Porém, Azevedo Silva é um artista que ex‑ plora outros campos lá das suas influências. Com este “Carrossel”, Azevedo explora questões sociais de forma metafórica e por vezes di‑ recta, oscilando entre a progressi‑ vidade dos seus instrumentos e as vozes arrepiantes que entram por nós como um aviso, uma necessi‑ dade de reflexão. “Carrossel” é um apelo profundo aos princípios bási‑ cos do ser humano, à consciência politica e social, aos problemas in‑ ternos e às relações familiares. Com sete faixas magnificas, onde “Desassossego” sobressai como uma das músicas do ano, temos a hipó‑ tese de viajar pela melhor música cantada em português que se fez este ano. Este “Carrossel” é um ál‑ bum obrigatório para qualquer fã de música portuguesa. Depois de o ouvirmos temos um pouco mais de orgulho no nosso país. No verão andávamos nós a cantar “Joana Transmontana” e “Os discos do Sérgio Godinho”, já B Fachada estava no Poney Dourado a gra‑ var um disco novo. Baptizou‑o de “B Fachada é Pra Meninos” e diz que é infantil, para petizes e adolescen‑ tes, mas é só para baralhar. Nas dez canções há palavras como chu‑ cha e babygrow, expressões como “larga a sopa, joão” e “o espinafre é meu amigo”, que só enganam quem não conhece o subtexto de B Fachada. O álbum é o oposto do so‑ breproduzido “Há Festa na Moradia”. Os arranjos são mais simples, sem camadas de sons e instrumentos, e as melodias estão quase todas ao serviço das letras. É B Fachada a citar‑se a si próprio, com excep‑ ção do momento “Carlos Paião vs António Variações vs Barata Moura” na canção “Conselhos de Avô”, um hit para o Natal. B Fachada gravou pela primeira vez com uma ban‑ da e convidou Francisca Cortesão para um dueto em “Primeiro dia”, perfeito na sintonia vocal.A partir daí as canções amolecem e embalam, mas há uma pérola já quase no fim e que vale o disco todo. Chama‑se “Barrigão” e é cantado, em voz amanteigada, com Lula Pena. Os rapazes são bons, muito bons. O primeiro EP dos Capitão Fausto de‑ monstra uma surpreendente matu‑ ridade na confecção de pop rock, daquele que é giro e fica na cabe‑ ça e dá para dançar. Têm boas in‑ fluências e bom gosto, e quando (por experiência prévia de outras bandas de popezinho desinteres‑ sante) se está à espera que resva‑ lem para a banalidade, a música muda, entra uma guitarra, entra um baixo, entram umas excelentes teclas, entra qualquer coisa que os eleva ao bom, muito bom. Ao vivo são ainda melhores – os rapazes têm garra e sabem o que é dar um show daqueles que deixa tudo par‑ vo e que faz toda a gente chegar a casa e sacar o EP da Internet. Nem é preciso ilegalidades – está dis‑ ponível à borla em myspace.com/ capitaofausto. Na década de 1990 foram das mais gloriosas bandas pop do Reino Unido. Os Suede tinham tudo: sin‑ gles de excepção, álbuns coesos, imagem, atitude, fãs. Chegaram os anos zero e o culto foi‑se perden‑ do até chegar o desinspirado “A New Morning”, em 2002, antecipar de uma ruptura que se temeu de‑ finitiva. 2010 marcou o regresso a palcos, primeiro, e a discos, depois, embora em registo best of. Aqui fa‑ lamos de uma compilação dupla, com um primeiro cd com todos os singles da praxe e um segundo com uma visão mais pessoal, pon‑ tuado por temas menos conhecidos e lados b de singles. “The Best Of” não é para os fãs dos Suede, por‑ que esses já conhecem tudo isto de trás para a frente: é, todavia, uma belíssima porta para uma banda que nunca foi consensual mas que gerou amores muitas vezes maiores que a própria vida. E não é qual‑ quer banda que tem um vocalista como Brett Anderson. João Miguel Fernandes Estudante Música Kanye Azevedo Silva “Carrossel” Edição de autor 2010 West Sílvia Borges Silva Jornalista agora a sério B Fachada “B Fachada é Pra Meninos” Mbari 2010 Vanda Noronha Fotógrafa Depois das brincadeiras com o auto‑tune, Kanye West parece ter exclamado “agora a sério!” e fez “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”, o seu quinto disco de originais. Disco épico, mas não piroso. Disco genial. Capitão Fausto “Capitão Fausto” Edição de autor 2010 Pedro Primo Figueiredo Jornalista Texto: Emanuel Amorim Suede “The Best Of” Suedelimited/Farol 2010 dif 26 O que escrever quando já tudo foi es‑ crito sobre “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”? A crítica não lhe tem poupa‑ do elogios. Há quem diga que Kanye West é um dos génios musicais do sécu‑ lo XXI. Talvez o maior. Transforma em ouro tudo o que toca e tem sido capaz de criar modas – veja‑se a moda irritante do auto‑tune, da qual Kanye foi precur‑ sor, embora não tenha sido, de longe, o primeiro a usá‑lo. Sofre de verborreia. Tem atitudes polémicas, que geram discussões infini‑ tas no espaço público. Quando abre a boca, raramente as suas declarações pas‑ sam despercebidas. Mas, ao contrário de outros polemistas (alô Eminem), tem sa‑ bido renovar‑se e afirmar‑se, acima de tudo, pela qualidade do seu trabalho. É inegável que “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” é um passo arriscado porque não reclama uma linha de continui‑ dade com o seu antecessor (ainda bem). Tinha tudo para correr mal: é um disco megalómano e que quer ser épi‑ co. Os épicos são, muitas vezes, demons‑ trações de mau‑gosto, porque caem facilmente na parolice e da pirosice. Kanye soube fugir a isso. O bom gosto impera na produção, a escolha dos sam‑ ples para conseguir essa tal grandiosidade é acertada (King Crimson, por exemplo) e demonstrou, mais uma vez, ter controlo absoluto sobre aquilo que faz. Uma das características mais in‑ teressantes de “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” é a quantidade inusi‑ tada de convidados (mais de uma deze‑ na). Há‑os para todos os gostos e feitios. São eles que mais brilham em algumas das músicas: Raekwon em “Gorgeous”, Nicki Minaj em “Monster” e RZA em “So Appalled”. Tamanha quantidade não ofusca Kanye West, que não se esconde. A es‑ crita continua cheia de tiradas irónicas e sem medo de cair no ridículo. Essa é ou‑ tra das características de Kanye: não só não tem medo do ridículo, como anda tão próximo dele que acaba por subver‑ ter o sentido de ridículo. Em suma: Kanye West confirma, em “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”, que é um génio, mesmo que não falte quem conteste essa ideia. Kanye, quan‑ do fica longe do auto‑tune, faz sempre as coisas tão bem feitas, que dá vontade de o odiar. Foge à mera competência, isto é, os seus discos estão cheios de imperfeições e defeitos. O que só confirma a genialidade do seu criador. dif 27 Editora Now Again o funk global de novo Música Há festa no planeta e por todos os cantos do globo ecoam guitarras com wahwah, gritos de liberdade, baterias a cruzar a crueza do funk com as polirrítmias das mais diversas latitudes. Há sopros em guerra, tambores em diálogo, melodias tradicionais ao encontro do futuro na modernidade de um tempo onde a aventura estava presente. Esta é a paisagem onde se escondem as preciosidades que hoje descobrimos sedimentadas entre o psicadelismo, o funk e músicas dos mundos. Tantos mundos como os que cabem na arqueologia do funk desenterrada do silêncio pela editora Now Again. Texto: Tiago Santos Do passado, vêm ecos de um perío‑ do onde a música se abriu livremente a experiências e cruzamentos inesperados como até aí nunca se tinha visto. A par‑ tir de meados de 1960, com o espírito re‑ volucionário próprio da época associado a um novo sentimento de liberdade e, cla‑ ro, a um consumo generalizado de drogas como a cannabis e o LSD, a cultura pop tornou‑se num símbolo universal de uma geração que encontraria em 1968 o seu ponto de explosão em áreas tão diversas como a arte, a moda ou a política. Desse período dos finais de 1960 a meados de 1970, há estilhaços dessa contra‑cultura um pouco por todo lado, permitindo en‑ contrar ainda hoje de África à Índia uma produção musical aventureira e descom‑ plexada. È na descoberta dessas pérolas, na arqueologia desse puzzle psicadélico, que se lançou a editora Now Again, diri‑ gida pelo norte‑americano Egon, A&R e também director da Stones Throw. Recentemente levantada do chão foi a música da Zâmbia de meados de 1970. Com a colaboração directa de Rikki Ililonga, um pioneiro da cena agora conhe‑ cida como Zam Rock, a Now Again aca‑ ba de licenciar e editar a música dos grupos Witch e Amanaz. Aqui descobrimos como numa conturbada Lusaka, rodeada pe‑ los conflitos militares de Angola e países vizinhos, os seus músicos viajavam na fu‑ são das guitarras fuzz, com os ritmos de James Brown e o psicadelismo de Hendrix. Do próprio Rikki Ililonga, são as primei‑ ras gravações zambianas de rock psicadé‑ lico e pop com o grupo Musi‑O‑Tunya, agora compiladas em “Dark Sunrise” colec‑ tânea que reúne os singles 7” assim como os primeiros álbuns. Uma série de recentes re‑edições, que confirma as mais impro‑ váveis fantasias à volta do que será exacta‑ mente o Zam Rock. Uma música pesada como os tempos que se viviam, mas em fuga para onde quer que se sonhasse a vida tão brilhante como as estrelas no céu. Para os apaixonados do Afrobeat esta será a re‑ velação de uma outra África moderna e eléctrica que deve ser seguida da descober‑ ta do gupo Tirogo da Nigéria e do seu ál‑ bum “Float”, com a combustão do afro‑funk e rock psicadélico a caminho do disco no fi‑ nal da década de 1970. Para os outros, esta é uma viagem que pode marcar apenas o início de uma paixão pelos efeitos das cores do caleidoscópico funk global. Seu Jorge & Almaz é um exemplo recente dessa experiência alucinante do cruzamento do psicadelismo com a tra‑ dição na re‑invenção da pop dos últimos 50 anos, através da visão única de músicos brasileiros que só vacilam quando é sam‑ ba. Depois do exelente álbum de estreia, acabam de lançar novo máxi de remistu‑ ras para a sua versão de “The Model” dos Kraftwerk. Mas também as produções dos The Heliocentrics ou The Whitefield Brothers, atestam bem os efeitos de uma prolongada exposição à música mais via‑ jada, através de uma linguagem moderna capaz de criar hoje a utopia musical onde o único tempo que realmente importa, é aquele onde vive a música e que acen‑ tua as sub‑divisões do funk, do jazz e dos mais diversos ritmos afro de que se ali‑ menta o groove psicadélico de agora. dif 28 “Psych Funk Sa‑Re‑Ga” dos mes‑ mos reponsáveis pela compilação “Brazillian Guitar‑ Fuzz Bananas”, é por seu lado, mais um capítulo do ma‑ ravilhoso mundo da música indiana. A ementa soa irresistível e as mãos co‑ meçam a suar quando sabemos que se trata de uma visita guiada pelos arqui‑ vos de Bollywood ao encontro das suas mais exóticas fusões com o funk e o psi‑ cadelismo do ocidente. Há festa no planeta, apesar dos dias difíceis. Sobretudo quando nos depara‑ mos perante a capacidade humana de nos reinventarmos, ao longo do tempo, em todos os contextos e adversidades. Não importa contra o quê ou contra quem, há sempre alguém em qualquer canto do globo, que é capaz de sonhar mais alto. E neste caso, a cores. Recomendações: Witch – “Introduction” Rikki Ilolonga & Musi‑O‑Tunya – “Dark Sunrise” Tirogo – “Float” V.A – “Psych Funk Sa‑Re‑Ga Seminal Aesthetic Expressions of Psychadelic Funk Music 1970‑83” Whitefield Brothers – “Earthology” Seu Jorge & Almaz – “The Model 12” dif 29 Daft Punk um regresso espacial Música É um regresso, mas não é bem um regresso. É um novo disco dos Daft Punk, mas não é exactamente um novo disco dos Daft Punk. Confusos? É caso para tal. “Tron: Legacy” é o primeiro sinal de vida – em disco – da dupla francesa em cinco anos. É uma banda sonora para um filme de ficção científica da Disney e, não sendo brilhante, chega para devolver os Daft Punk ao mediatismo de onde, na verdade, nunca saíram verdadeiramente. Texto: Pedro Primo Figueiredo Ilustração: Cláudia Guerreiro Poucas são as bandas e produtores de música electrónica que não reconhe‑ cem nos Daft Punk uma das suas maio‑ res influências. Como tal, um novo disco da dupla formada por Thomas Bangalter e Guy‑Manuel de Homem‑Christo é e será sempre um momento ansiado. A banda sonora para “Tron: Legacy”, agora editada no mercado nacional, é um projecto peculiar, mas nem por isso a curiosidade é menor. Palavra à dupla, em entrevista à revista Dazed & Confused: “Este projecto é de longe a coisa mais de‑ safiante e complexa em que já estivemos envolvidos”. Um dos riscos maiores tomados em “Tron: Legacy” passa pelo domínio de elementos orquestrais sobre ambiên‑ cias electrónicas, o que poderá desiludir alguns adeptos mas poderá, por outro lado, angariar novos entusiastas para a causa. A banda sonora para o filme (que, dizem os Daft Punk, “alarga hori‑ zontes” da versão “Tron” original, data‑ da de 1982) não é totalmente um álbum novo, mas as pistas estão cá. Ainda na entrevista a dupla refere que acha a mú‑ sica electrónica da actualidade menos acitulante que noutros anos, e deixa no ar a ideia de que vão continuar a testar novos rumos musicais a breve trecho. “Ir em direcção a outras formas artísti‑ cas” foi o desafio para “Tron: Legacy” e o resultado final foi reconfortante o su‑ ficiente para antecipar novas aborda‑ gens semelhantes no futuro. A imagem e o sentido estético dos Daft Punk, por seu turno, continuam intocáveis. Os capacetes futuristas são já um clássico, os concertos são um bem raro mas valioso, e a quem nun‑ ca apanhou a máquina francesa ao vivo (e Portugal não tem sido presença regu‑ lar da dupla, para mal dos nosso peca‑ dos) recomenda‑se uma passagem por alguns momentos no YouTube, para além da escuta ao álbum ao vivo edi‑ tado em 2007. (E, já agora, passem os olhos pela ilustração aqui ao lado, tra‑ balho exclusivo para a DIF e que mere‑ ce, acreditamos, rasgados elogios.) “ Daft Punk Is Playing at My House”, cantavam, e bem, os LCD Soundsystem. Há poucas bandas como os Daft Punk. Saibamos preservá‑los, mesmo que menos pujantes e electróni‑ cos como noutros tempos. dif 30 Sam Baron colors – collector Design Nº79 Sam Baron é um designer francês que trabalha actualmente entre Portugal, França e Inglaterra. A sua ligação à Benetton levou‑o ao departamento de design e comunicação, ajudando a desenvolver a revista Colors. Este mês apresentamos aos leitores da DIF este designer que já ganhou inúmeros prémios internacionais. E há uma curiosidade extra: as edições da Colors e da DIF coincidem no mesmo número este mês – são 79 edições. Texto: João Miguel Fernandes e Pedro Primo Figueiredo Fundada em 1991 sob a direcção de Tibor Kalman, e com a premissa de que a “diversidade é positiva e todas as culturas têm igual valor”, a Colors faz parte da activi‑ dade editorial da Fabrica, centro de pesqui‑ sa em comunicação da Benetton. Com uma rede de colaboradores nos quatro cantos da Terra, a Colors, de edição trimestral, é vendi‑ da em 40 países e chega este mês ao número 79, precisamente o mesmo que o desta DIF. Mera curiosidade, mas fica o registo. Sam Baron, nascido em 1976, é o di‑ rector do Departamento de Design da Fabrica – o Centro Criativo da Benetton. Licenciou‑se em Design na École des Beaux Arts de Saint Etienne, e frequentou também uma pós‑graduação na área. Em 2003 e 2004 foi convidado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de França para representar o país no evento Tokyo Designers Block, con‑ quistando aí um prémio para melhor insta‑ lação com a exposição “Rendez‑Vous”. Na área do design ganhou ainda vários prémios, entre os quais o Grand prix de la Création la Ville de Paris 2007 e o Award Elle Decor France ‘Art de la Table’ 2009. Actualmente, o seu trabalho foca‑se essen‑ cialmente no departamento de design da Fábrica, que dirige desde 2006. O número 79 da Colors – ‘Collector’ –, tem como destaque maior uma entrevista ao fotógrafo e coleccionador inglês Martin Parr. Esta edição da revista, comemorativa do seu 20º aniversário, é dedicada aos coleccionado‑ res,“aqueles que recolhem, organizam e cata‑ logam a mesma tipologia de objectos”. E não falamos só de colecções ditas comuns: há des‑ taque a uma senhora norte‑americana de 61 anos que guarda etiquetas aplicadas em bana‑ nas. Por exemplo. Ou um senhor alemão que guarda 600 torradeiras velhas. A Colors é vendida em quiosques, li‑ vrarias e na Internet em quatro edições bi‑ lingues, nenhuma das quais contemplando o português. É uma boa compra e um bom documento que comprova a visão avança‑ da de Sam Baron, um designer que impor‑ ta conhecer. dif 32 I’a m Still Here realidade nem sempre é o que parece Cinema Há sensivelmente dois anos Joaquin Phoenix anunciou que iria deixar a carreira cinematográfica para se dedicar a tempo inteiro ao rap. Poucos foram os que não acreditaram na suposta loucura de mais uma celebridade. “I’m Still Here”, realizado por Casey Affleck, retrata este período em que o actor conseguiu manipular meio mundo. Texto: João Moço dif 34 Estamos a 11 de Fevereiro de 2009 e Joaquin Phoenix aparece no “Late Show” de David Letterman visivelmente pertur‑ bado. Não só o aspecto físico se tinha al‑ terado, destacando‑se a farta barba e os óculos de sol que apenas se mantinham intactos com fita‑cola, como todo o dis‑ curso do actor norte‑americano era o de alguém que estava à beira da loucura. Ali estava um exemplo da desintegração das celebridades vista em tempo real. Nesta altura Joaquin Phoenix já tinha referido mais que uma vez que dava por terminada a sua carreira como estrela de Hollywood e que se preparava para revelar ao mun‑ do a sua faceta como rapper. No entanto, foi no programa de David Letterman que esta ideia ganhou mediatismo e um pou‑ co por todo o lado a imprensa anunciou durante semanas que Phoenix teria, pro‑ vavelmente, enlouquecido. Todavia nada disto foi real. O resul‑ tado final chegou agora aos cinemas sob o nome “I’m Still Here”, documentário que nem nos revela a verdade dos factos nem acaba por ser um documentário ficcio‑ nal. No final de contas podemos‑lhe cha‑ mar um mockumentary. Isto porque tudo o que Casey Affleck filmou durante mais de um ano foi propositadamente encena‑ do e muitos poucos foram aqueles que sa‑ biam que todos estes acontecimentos não passavam de uma performance. “É o desempenho da carreira dele”, re‑ feriu o cineasta e actor Casey Affleck ao jornal norte‑americano New York Times. E provavelmente não estará longe da ver‑ dade. Durante quase dois anos Joaquin Phoenix transformou o seu dia‑a‑dia num “estúdio” de cinema, encarnou uma personagem com um carácter problemá‑ tico e conturbado e manipulou a impren‑ sa e o público. No fundo, “I’m Still Here” acaba por ser um retrato algo assustador de uma cultura obcecada pelas celebridades, que explora e problematiza habilmen‑ te, e com uma certa dose de subversão, a noção do que é ou não é real. Basta per‑ ceber a maioria das vezes em que vemos celebridades inseridas nos denomina‑ dos reality shows, tudo acaba por ser so‑ mente uma farsa, onde cada um veste a pele de um personagem que lhe serve determinados propósitos. Mas a obses‑ são do espectador com o mundo das ce‑ lebridades e com uma alegada “vida real” (os reality shows continuam a ser um fenómeno de massas há vários anos um pouco por todo o mundo) torna‑o mui‑ tas vezes cego. E com “I’m Still Here” Joaquin Phoenix e Casey Affleck mos‑ tram como eles próprios, dois nomes incontornáveis da indústria cinemato‑ gráfica norte‑americana da actualidade, são capazes de “produzir” essa cegueira. Quem não desconfiava que Phoenix teria mesmo entrado num caminho em direcção à decadência, só ficou a saber dos verdadeiros objectivos deste actor pouco depois do filme ser apresenta‑ do no Festival de Cinema de Veneza. E em “I’m Still Here” esta suposta de‑ cadência é exposta constantemente, seja pelos momentos em que se vê Joaquin Phoenix a contratar prostitutas e a cheirar cocaína, aos recorrentes desa‑ catos com um assistente pessoal, pas‑ sando por uma actuação momentânea numa discoteca em que se vê envolvido num momento de pancadaria com um dos presentes na plateia. Este foi também um momento per‑ feito para este filme. Primeiro porque todo este projecto começou apenas três anos depois de Joaquin Phonix receber uma nomeação para um Oscar graças ao seu desempenho em “Walk the Line”, de James Mangold. Por outro lado esta é também uma fase em que o es‑ tilo mockumentary está cada vez mais em voga, especialmente na televisão norte‑americana, graças a séries como “O Escritório” ou “Uma Família Muito Moderna” (que recentemente foi distin‑ guida como a Melhor Série de Comédia nos Emmy Awards). Dado o contexto não só de merca‑ do, mas principalmente social, “I’m Still Here” é um dos títulos cinematográficos mais incontornáveis deste ano, ao reflectir como poucos até onde é que cada um ma‑ nipula a realidade e, no final, se deixa le‑ var neste jogo onde a verdade dos factos nunca é plenamente apurada. Peter Joseph o senhor “Zeitgeist” chega em Março ao TEDxOporto TEDxOporto dif 36 No dia 21 de Março de 2011 a Casa da Música, no Porto, irá receber as mundialmente conhecidas palestras do TED – cujas iniciais representam Technology, Entertainment e Design. TED é uma organização sem fins lucrativos dedicada à divulgação de ideias que fazem a diferença nos mais diversos quadrantes. A iniciativa arrancou há 25 anos na Califórnia, EUA, e tem recebido desde então grandes pensadores e empreendedores de todo o mundo – caso de Bill Gates, Al Gore, Isabell Allende, James Cameron, Gordon Brown, entre muitos outros. As ideias apresentadas em Março na Casa da Música têm como tema “Being Blue” – que engloba a Terra, o céu, o mar, a criatividade, as emoções, o Porto – que vai servir de mote para a partilha das experiências e paixões de alguns dos oradores já confirmados: caso de Peter Joseph, o mundialmente conhecido criador dos polémicos filmes “Zeitgeist: The Movie”, e “Zeitgeist: Addendum”. O próximo filme, “Zeitgeist: Moving Forward” irá ser emitido em mais de 60 países a partir de 15 de Janeiro de 2011 e tem como foco central o desenvolvimento de uma nova economia global e sistema social a que o autor se refere como “resource‑based economy.” Texto: Nuno Moreira Ilustração: Catarina Sobral / Who dif 37 Falámos com o produtor, guionista e realizador para descobrir mais sobre o movimento “Zeitgeist” e antecipar a sua apresentação no Porto. Diz‑nos quem é Peter Joseph, o ho‑ mem por detrás dos documentários “Zeitgeist”. Peter Joseph (PJ) – Nasci na Carolina do Norte nos Estados Unidos, de uma família de classe média, filho de um homem dos correios e uma funcio‑ nária pública. Os meus interesses criati‑ vos começaram pela música, onde tentei seguir uma carreira como percussionis‑ ta e músico. Mudei‑me inicialmente para Nova Iorque para fazer o conservatório, mas acabei por desistir por incapacidade de pagar as propinas. Actualmente o meu trabalho foca‑se em usar os media social‑ mente relevantes, utilizando a compo‑ sição, edição e pós‑produção de forma a tentar influenciar a sociedade de uma ma‑ neira produtiva, e fora isso vou coorde‑ nando o movimento “Zeitgeist”. Como surgiu o projecto “Zeitgeist”? Qual foi a força motora para quereres partilhar estes tópicos mundialmente e de livre acesso pela Internet? PJ – O “Zeitgeist” original não era na realidade um filme, mas antes uma per‑ formance multimédia que consistia de música gravada, instrumentos tocados ao vivo e projecção de vídeos. O evento ocor‑ reu durante um período de seis noites em Nova Iorque e depois sem nenhum interesse profissional e de produção foi “largado” na Internet de forma arbitrá‑ ria. Nunca foi pensado como um filme ou um documentário no sentido tradi‑ cional – foi desenhado como algo cria‑ tivo, provocador e de expressão artística. Contudo, uma vez online, um fluxo enor‑ me e imprevisível de interesse começou a gerar‑se e em seis meses mais de 50 mi‑ lhões de pessoas já tinham visto o vídeo no Google. Actualmente mais de 100 mi‑ lhões já viram o “Zeitgeist” e por isso tor‑ nou‑se por si só um filme. A força motora para espalhar esta informação livremen‑ te pela Internet é simplesmente para au‑ mentar consciência social. A Internet é a nova agenda mundial. É através desta in‑ formação que se pode mudar a sociedade de raiz para que as pessoas possam com‑ preender que aquilo que pensam ser ver‑ dade é na realidade um enorme esquema que gira em torno dos poderes e interes‑ ses de determinadas organizações. Quais são os objectivos do movimento “Zeitgeist”? PJ – O objectivo é o de começar a transitar para uma nova sociedade que será baseada economicamente nos recur‑ sos disponíveis. Uma sociedade baseada nos recursos existentes utiliza esses mes‑ mos recursos ao invés de os comercializar. Todos os bens e serviços estão disponíveis sem ser necessário o uso da moeda, cré‑ dito ou outro tipo de débito e servidão. O objectivo de um tipo de sociedade des‑ te género é libertar as pessoas das repeti‑ ções mundanas e arbitrárias e dos papéis fixos que não têm qualquer relevância para o desenvolvimento social. Encorajar as pessoas para o auto‑preenchimento, consciência social, educação e criatividade como oposição à superficialidade de uma vida centrada em noções de rique‑ za. O mais importante é criar uma socie‑ dade que é verdadeiramente sustentável e que trabalha em conjunto para o melhor de todos. A terra é abundante de recur‑ sos, contudo os nossos hábitos velhos de racionalizar estes recursos através de con‑ trolo monetário já não são relevantes, são até contra‑produtivos à nossa sobre‑ vivência. O sistema monetário foi cria‑ do há centenas de anos durante períodos de grande escassez, o propósito era distri‑ buir bens e serviços com base em contri‑ buições laborais. Isto já não faz parte da nossa realidade actual. Estamos num ca‑ minho de auto‑destruição como espécie. As taxas de depressão e ansiedade au‑ mentam e existe uma perpetuação da es‑ cassez mundial tanto num ponto de vista pessoal como do próprio meio ambiente. O problema reside na raiz do nosso siste‑ ma político e legislativo e temos de mudar o tecido da nossa realidade social se que‑ remos sobreviver. Encontramo‑nos num ponto de vira‑ gem para a Humanidade, é evidente tan‑ to num nível espiritual como económico – é possível ver isso ao assistirmos às notí‑ cias na televisão ou jornais. Na tua opinião, quais são as mudan‑ ças mais urgentes que necessitamos tomar? PJ – A necessidade de mudança é to‑ tal. Existe pouca esperança em qualquer activismo tradicional, estrutura legal, refor‑ ma económica ou rotação política. Estas noções pré‑estabelecidas de funcionalidade social são intrinsecamente problemáticas e limitadas no seu próprio enquadramento e referencial. Os limites de debate em socie‑ dade estão circunscritos de forma a man‑ ter invisível o questionamento das próprias fundações base em que vivemos. Por isso, poderia fazer sugestões de implementa‑ ção de medidas de energia renováveis, re‑ forma dos métodos de utilização da moeda ou da nossa aproximação à produção e dis‑ tribuição de bens e serviços, mas nada dis‑ to iria adiantar alguma coisa. É necessário primeiro mudar a nossa forma de viver e de lidar com o capitalismo que nos é apresen‑ tado como algo pré‑suposto à nossa exis‑ tência. É preciso reavaliar tudo o que nos foi ensinado. O que podemos esperar da tua confe‑ rência no TEDxOporto? Dá‑nos al‑ guns motivos para te irmos ouvir ao vivo em Março. PJ – Irei continuar a discutir as ne‑ cessidades fundamentais de transição para um novo sistema social e o porquê desse sistema ser empiricamente impor‑ tante para a sobrevivência humana. Mais informação sobre o TEDxOporto em: www.tedxoporto.com dif 38 dif 39 Sexto Sentido o design da sensualidade Design Uma porta discreta com ar moderno. Do outro lado, uma loja acolhedora, confortável, cheia de estilo e glamour. Um ambiente intimista, tranquilo, e uma decoração que subtilmente pronuncia de que se trata o assunto. Um mundo cheio de erotismo e oportunidades para explorar a sensualidade e a sexualidade, onde prazer e design partilham a mesma casa. Texto: Célia F. Ilustração: Mauro Carmelino / Who Nada de paredes brancas cobertas de posters e embalagens com fotos de estre‑ las porno. Nada de peitos de silicone, sexo explícito ou dildos por toda a parte. Nada de essência pornográfica nem vulgaridade. Aqui, o erotismo é o rei, e este gosta de mis‑ tério, jogo, sabores, cores e gourmet. A arte de amar impõe requintes e aqui há inven‑ tos para estimular todos os sentidos. Batons, cremes, pós e óleos com sabores. lingerie co‑ mestível, perfumes afrodisíacos e jogos ima‑ ginativos diferentes dos que normalmente se encontram. Objectos de masturbação mas‑ culina e feminina e uma panóplia de pro‑ dutos em que os olhos são os primeiros a comer. Uma cabine/provador decorada com requinte e uma música ambiente escolhida a dedo e extremamente adequada ao lugar. A Eroteca Sexto Sentido, em Lisboa, introduz no nosso país um conceito novo e, embora explore o mesmo objecto que uma sex shop, é antes um lugar onde se re‑ úne uma série de objectos eróticos, uma loja do erotismo onde também se desenvolvem workshops sobre artes associadas ao pra‑ zer. Massagem sensual, cozinha afrodisíaca, feng shui do amor, escrita erótica, fotogra‑ fia bourdoir, tarot do amor e strip tease são os workshops mais habituais na luxuriosa agenda. São todos dados por profissionais qualificados, num ambiente aberto, prefe‑ rencialmente com poucos elementos, para que cada pessoa possa usufruir ao máximo. A entrada é permitida a casais ou a seres sin‑ gulares. Todos são bem‑vindos e só se pede que deixem a vergonha à porta. dif 41 Outra novidade são os chás de mulhe‑ res. Reuniões informais em que se podem partilhar experiências, contar truques, des‑ cobrir novas técnicas e sobretudo criar um lugar sem pudores onde a sexualidade é o tema de conversa e é abordada com a máxi‑ ma naturalidade e sem tabus, no feminino e com o jogo completamente aberto. Todos os objectos expostos na Sexto Sentido foram pensados para o conforto e desfrute do corpo e dos olhos. Conquistam primeiro a visão, depois o tacto e depois... fica um capítulo para cada um escrever na sua bolha privada. Peças que atraem pela be‑ leza das formas, das cores e dos materiais. Peças de requinte, criativas e sensuais, só possíveis de conseguir tendo o design como aliado. A lingerie de autores como Nichole de Carle e de marcas como a Maison Close são bons exemplos disso. Design de moda original em autênticas peças de arte que fi‑ cam bem no corpo e que falam por si, pois cada peça transmite uma mensagem que se expressa sem recurso a uma única palavra. Detalhes, minúcia e até humor, num jogo de sedução em que vale tudo, sobretudo sur‑ preender pela inovação. Mais do que objectos eróticos, todas as peças são pura expressão de uma arte. Nenhuma é merecedora de ser escondida na gaveta e podem até ser exibidas como ar‑ tigos decorativos. Destacamos as obras de Fraulein Kink e as suas algemas e trela feitas à mão, forradas a plumas e que, uma vez re‑ tiradas as correntes metálicas de aros maci‑ ços, se transformam em acessórios de moda extremamente elegantes, o “8eme ciel” da au‑ toria da designer Matali Crasset, o “Georgia”, criado por Andrea Knecht, que é um dos melhores exemplos de design inteligente, pondo a ergonomia ao serviço da sensuali‑ dade, e o trabalho de Shiri Zinn, mestre da luxúria, que ganhou vários prémios inter‑ nacionais e apresenta as suas colecções em eventos como a London Fashion Week, ou em clubes privados como o sediado na pent‑ house da Louis Vuitton em Tóquio. As suas peças são as favoritas de vedetas como Angelina Jolie e Kate Moss e já atingiram o estatuto de must have fashion accessory. Recentemente criou uma linha de vibrado‑ res polidos à mão com penas naturais, co‑ sidas manualmente. Chamam‑se “Red” e “Black Minx” e completam uma colecção de requinte de que fazem parte os strap‑on e os dildos a condizer. Para além destes trabalhos de autor, a Eroteca disponibiliza produtos de marcas como a Jimmy Jane e a inevitável Fun Factory, com as suas cores arrojadas e formas divertidas. Objectos para apimentar a vida sexual, sair da rotina, melhorar perfor‑ mances, descobrir novos jogos de prazer ou simplesmente contornar os efeitos da idade. Moda, design e sexo, num novo concei‑ to de loja que explora e põe o design ao ser‑ viço do prazer numa exposição muito além do óbvio. Um lugar que em nada se asseme‑ lha a uma sex shop, mas sim a um museu moderno, pois aqui o acto de amar é tido como uma arte. A eroteca fica situada no Parque das Nações, Edifício Mar do Oriente, na Alameda dos Oceanos. dif 43 Texto: Laura Alves Aquele que um dia foi um simples assis‑ tente de vendas cresceu influenciado pelos Rolling Stones, David Bowie e The Who. Gosta de estar em família, de uma boa gar‑ rafa de vinho e ama o denim ao ponto de sonhar com uma universidade dedicada ao ensino deste material. A DIF foi falar com o Karl‑Heinz Müller, presidente do Bread & Butter (B&B), sobre o presente, passa‑ do e futuro de um projecto que criou quan‑ do tinha uma loja de roupa – a 14 oz. – em Colónia, na Alemanha.“Sendo um retalhis‑ ta, apercebi‑me que as marcas que oferecia na minha loja estavam a precisar de plata‑ formas de encomenda adequadas”, recorda. Desde essa altura, muita coisa mudou, e o B&B teve várias localizações. Começou por acontecer em Colónia, tendo mudado para Berlim e passou também por Barcelona, até assentar de vez em Berlim. Moda Bread & Butter 2011 quando Berlim rima com denim Uma das mais importantes feiras de street e urbanwear do mundo – a Bread & Butter – teve o seu início há dez anos pela mão de Karl‑Heinz Müller, um apaixonado convicto do denim. A próxima edição decorre em Berlim, de 19 a 21 de Janeiro, no histórico aeroporto de Berlim‑Tempelhof. dif 45 “Não tenho sangue azul nas minhas veias mas sim índigo” Dez anos após o primeiro B&B, que balanço faz deste evento? O B&B nasceu para oferecer às mar‑ cas mais relevantes uma plataforma onde poderiam apresentar‑se no seu próprio ambiente. A primeira mostra para marcas seleccionadas teve lugar pela primeira vez em Julho de 2001 em Colónia. Nessa altu‑ ra, recebemos 50 marcas e cinco mil visi‑ tantes e, hoje, o B&B é a mais importante feira no segmento de street e urbanware. Sempre acreditei no conceito, mas é ób‑ vio que, há dez anos, nunca teria imagina‑ do que o B&B seria o que é hoje. Quando pensa no que o B&B significa para as empresas, marcas e designers actualmente, que direcção pretende se‑ guir no futuro? Temos bastante sucesso com o que estamos a fazer e como o estamos a fazer. O tamanho não é importante para nós, queremos manter padrões de qualidade elevados e, na verdade, recusamos muitas marcas. Independentemente do nosso pro‑ cesso de selecção, estamos limitados no que toca ao próprio espaço disponível no aero‑ porto de Berlim‑Tempelhof. Os nossos ar‑ quitectos encontraram algumas soluções criativas usando o espaço aberto do aero‑ porto e não apenas os hangares. Iremos focar‑nos mais na qualidade e vamos cres‑ cer com cautela. Também queremos criar uma plataforma internacional para roupa de criança cujo conceito já anunciámos – B&B Youngstars – e que irá decorrer entre 15 e 17 de Julho de 2011. A feira alternou entre Barcelona e Berlim e decorre novamente em Berlim em Janeiro. Podemos esperar novas lo‑ calizações no futuro? Já considerou Portugal? Conheço Lisboa bastante bem, é de facto uma cidade fantástica. No entanto, B&B é um evento único e só vemos um B&B no mundo – e gostaríamos de re‑ ceber o mundo todo num B&B. Iremos esforçar‑nos de forma a atraírmos cada vez mais visitantes de outros continentes. A nossa casa é Berlim e é onde iremos fi‑ car nos próximos dez anos. A cidade tem um grande potencial para se tornar um dos locais sensação a nível internacio‑ nal para a indústria da moda. É certo que Berlim não irá ser uma segunda Milão, Paris ou Nova Iorque – uma vez que es‑ tas cidades se destacam noutros segmen‑ tos da moda – mas Berlim destaca‑se pela abordagem criativa, pela mistura da moda progressiva e contemporânea. O segmen‑ to do street e do urbanware é aquele com que trabalhamos no Bread & Butter. Somos berlinenses. Que novidades podemos esperar da próxima edição? Para a edição de Inverno, a instalação temporária irá novamente manter os par‑ ticipantes e visitantes abrigados das frias temperaturas do exterior na Denim Base Area – um conceito arquitectónico único que foi introduzido com sucesso na edi‑ ção anterior. A tradicional festa de aber‑ tura do B&B terá lugar na noite anterior à feira. O tema do “B&B Sin Saloon” será os anos 20 de Berlim, e os convidados po‑ derão apreciar música e performances da‑ quela época, jogar poker e black jack e ainda assistir a espectaculares combates de boxe num ringue. Inspiração e de negócio: qual destas ver‑ tentes é mais importante para o B&B? Ambas! Sem inspiração, o negócio não é possível e vice‑versa. Temos de tra‑ balhar em ambos os terrenos. Precisamos de inspiração das melhores marcas de urbanware do mundo, isso movimenta o nosso negócio. Sem inspiração, estas mar‑ cas não iriam querer ou não precisariam de uma feira como o B&B. E elas têm uma nova cultura completamente úni‑ ca no segmento do urbanware devido ao B&B, atingindo os segmentos de preço mais elevado. É um luxo secreto e “cool” que não fica atrás do design internacional de marcas como Gucci e Prada. De onde vem o seu fascínio pelo de‑ nim? E porque é uma parte tão impor‑ tante do B&B? O denim é o coração do B&B e está em todo o lado: cultura, futuro, design, música, inspiração. Não há ninguém em toda a indústria da moda que não traba‑ lhe com o denim. Eu próprio amo imenso o denim; provavelmente não tenho san‑ gue azul nas minhas veias mas sim índigo. O segmento do urbanware não seria pos‑ sível sem o denim. É a peça de vestuário mais importante da indústria têxtil e esta‑ rá sempre presente até ao fim dos dias. Já pensou em escrever um “guia espiri‑ tual” destinado aos jovens que estão a começar nesta área? Gosto muito do meu trabalho e da minha empresa. Mas a dada altura, no futuro, claro que irei retirar‑me. Um pe‑ queno sonho que tenho é criar uma universidade do denim com os meus com‑ panheiros da indústria como François Girbaud, Goldschmied, Pierre Morisset, Jos van Tilburg, Adriano e muitos outros da minha geração, que acredito que se irão reformar na mesma altura que eu. O ob‑ jectivo é partilhar a nossa experiência e co‑ nhecimento às novas gerações. Claro que, nesse caso, teremos de escrever um livro – muitos livros – como referências de traba‑ lho. Voltamos a falar daqui a 20 anos... Mais informações em www.breadandbutter.com dif 47 Caminhar ao acaso pelas ruas de Madrid a horas tardias e dar de vista com uma instalação dos Luzinterruptus é tão um delicioso acaso como de uma probabilidade ínfima, pois pende excessivamente mais para que se encontrem ruas madrilenas obscuras e vazias do que as iluminadas pelas instalações deste colectivo madrileno. Intervenção Urbana Luzinterruptus Texto: Rafael Vieira Fotografia: Gustavo Sanabria Os seus três elementos vêm das disci‑ plinas da iluminação, da arte e da fotogra‑ fia e fazem arte urbana – segundo as suas próprias palavras – utilizando a luz como matéria prima e a noite como tela. A ex‑ pressão latina que tomaram como nome justifica e surgiu do carácter efémero das suas peças, pois estas desaparecem sem‑ pre rapidamente quando colocadas nas ruas, interrompendo assim a luz que de‑ las emanava. Começaram a ir para a rua a meio de 2008 e foi no Natal desse ano que Madrid acordou com a sua primeira instalação, “Red”. Desde então contam‑se para cima de meia centena de peças e uma dezena de projectos mais ambiciosos, em reali‑ zações sempre nocturnas que vivem cada vez mais de matérias que vão encontrando na rua, abandonadas; reciclando o “que la calle nos brinda” em peças efémeras lumi‑ nosas de arte pública que cumprem aqui‑ lo que pretendem: dialogar com o espaço urbano através da luz e da arte, iluminar áreas urbanas obscuras e assim recupe‑ rá‑las para usufruto dos seus cidadãos e obter o prolongamento do espaço interior sobre a rua pelo conforto proporcionado por uma iluminação cuidada. Realizam aquilo a que chamam uma cruzada urba‑ na pela luz, saindo uma vez por semana numa necessária – e imprescindível – in‑ cursão pelas ruas. A luz pontifica no trabalho de Dan Flavin, de Turrell, nas instalações públi‑ cas de Osman Akan e nas projecções de Holzer e em muitos outros artistas saídos das minimal e light art; vive na preocupa‑ ção ecléctica de Peter Gasper, o light de‑ signer de Brasília e propaga‑se o seu efeito encantatório pelas ruas de Lyon na Fête des Lumières, nos festivais dedicados à luz de Milão, de Berlim e no Skyway de Toruń. Mesmo Lisboa teve o Luzboa – bienal que infelizmente se ficou por duas edições. O que é interessante e original nos Luzinterruptus é a espontaneidade, a clandestinidade da sua obra (pois man‑ têm‑se sempre no anonimato não revelan‑ do a identidade nem permitindo captura de imagens) e a proximidade com o pú‑ blico por trabalharem na (e a) rua – a sua definição como street artists é concreta, recebendo o mesmo tipo de perseguição de que sofrem os restantes artistas urba‑ nos, com quem aliás colaboram amiúde. Neste momento internacionalizam‑se e depois de passarem por Kiev, por Lyon, por Nova Iorque e por Ljubljana, insta‑ laram‑se no Victoria & Albert Museum em Londres. Lisboa talvez esteja em vis‑ ta, mas tal questão fica sem respos‑ ta certa num trajecto artístico que não é planeado. ‘Seres Empaquetados en Luz / Beings Packaged in Light’; Instalação dos Luzinterruptus, 29 de Outubro no jardim interior do Victoria & Albert Museum, incluído no programa de arte contemporâneo Winter Light Commissions. www.luzinterruptus.com dif 48 Gerard Rancinan Surface Se Daguerre não tivesse acordado. Se Daguerre não se tivesse espreguiçado, bocejado e levantado da cama no dia seguinte à experiência com a chapa revestida com iodeto de prata vaporizada com mercúrio, e tivesse, simplesmente, sofrido de uma taquicardia ventricular, vulgo morte súbita, talvez ainda hoje tivéssemos de andar a interpretar graficamente o Mundo através de representações unidimensionais, sem perspectiva, numa abordagem cubista, nas paredes da rua, nas divisórias das casas e nos muros e muralhas por essa Humanidade fora. Mas os ponteiros do relógio arrastaram‑se num vórtice. E o daguerreótipo passou a ser polaróide. E a polaróide passou a ser digital. E a pixelização milimétrica obscena derramou‑se sobre o universo das imagens. E a partir daí, a fotografia nunca mais voltou a ser a mesma. Texto: João Telmo Dias dif 50 Gerard Rancinan nasceu em Bordéus, França, a 18 de Fevereiro de 1953 e ence‑ tou a carreira como fotógrafo jornalís‑ tico para a agência de notícias Sygma, onde teve a oportunidade de viajar por todo o globo terrestre e por mundos a ha‑ ver. Neste périplo jornalístico, Rancinan é confrontado com inúmeras catástrofes naturais, guerras civis e étnicas, hecatom‑ bes, motins e tumultos que o conduzem a estados de incerteza e questionamento do Mundo. Rancinan vê as coisas de frente e chama‑as pelo nome. Testemunhos que deixarão, posterior e indelevelmente, ves‑ tígios inexoráveis na matriz do seu traba‑ lho e constituirão o mote para a criação de inúmeros quadros e situações estéticas, que desafiam o público e geram estados de interrogação, ambivalência e provoca‑ ção. Após trabalhar durante anos como fotojornalista, Rancinan envereda pelo trilho independente, numa ânsia decisi‑ va por uma expressão pessoal e artística, através de uma criação visual constante‑ mente reinventada. A segunda parte do caminho come‑ ça quando é convidado para fotografar campanhas de marketing e comunicação para eventos e marcas internacionais, que o coloca sob uma chancela de alta fasquia. Fotografa retratos de artistas, atletas, homens de fé e de poder, num ro‑ dopio de cunho iconoclasta que não dei‑ xa ninguém indiferente, expondo o seu trabalho em colecções de arte contempo‑ rânea, museus internacionais e galerias de renome. O seu olhar contemporâneo e aguçado, dotado de um engenho técni‑ co notável, fazem com que amealhe in‑ contáveis prémios, quatro dos quais para a prestigiante World Press, tornando‑se num dos melhores fotógrafos franceses da actualidade, nomeado Chevalier des Arts et des Lettres. dif 51 dif 52 dif 53 Este ano, o Museu do Louvre, em Paris, acolhe trabalhos seus na exposição “METAMORPHOSES”, desde o co‑ meço de Dezembro, e o Palais de Tokyo, igualmente em Paris, convida‑o para rees‑ crever a História da Arte, também duran‑ te o mês de Dezembro. Corpos espojados, cores fortes, uma lascívia permanente. Marilyn Monroe, Marina Abromovic, Monica Belucci e o Papa. Retratos contundentes, um impres‑ sionismo pós‑modernista e subversão de temas delicados. Campanhas publicitá‑ rias polémicas. É este o léxico estético de Gerard Rancinan. Sangue, vísceras, pei‑ xes e cabeças de porcos a voar. Colocar o Mundo em perspectiva e na guilho‑ tina, através de uma objectiva crítica e lancinante e de uma gramática apurada. Rancinan pega no bisturi e abre fendas irreparáveis no nosso imaginário. E nós, sem pudor e ensanguentados, prossegui‑ mos o caminho. Com o vapor do mercú‑ rio, os píxeis e o iodeto de prata. Todos juntos numa fotografia de passe. www.rancinan.com Gerard Rancinan é representado pela Opera Gallery Paris, NY dif 54 dif 55 ONCE UPON A TIME IN THE WEST COAST Fotografia: João Bacelar Realização Susana Jacobetty assistida por Ricco Godinho Maquilhagem: Inês Pais com produtos Dior (www.unicorneoazul.blogspot.com) Surfista: Pedro Lima Agradecimentos William Faure e Gustavo Froufe calças de ganga PEPE JEANS e casaco de malha FLY LONDON dif 56 camisola de malha e calças em xadrez TOMMY HILFIGER casaco de malha LEVIS e calças em xadrez TOMMY HILFIGER Marisa: Tank top e calças INSIGHT, colete e botas PATRIZIA PEPE, colar MARIA JOAO SOPA casaco e calças LEE, Camisa Diesel casaco LEVIS, camisola e calças LEE calças LEVIS, camisola LACOSTE e casaco ERMENEGILDO ZEGNA Calças DIESEL dif 64 Marisa: Vestido MALENE BIRGER casaco DIESEL, T‑shirt e calças INSIGHT, Botas FLY LONDON fato de banho DIESEL, Casaco BY MALENE BIRGER, colar LA PRINCESA Y LA LECHUGA top e calças INSIGHT, colete e botas PATRIZIA PEPE, colar LA PRINCESA Y LA LECHUGA casaco, camisa, calças e ténis DIESEL Marisa: fato de banho DIESEL, casaco BY MALENE BIRGER, sandálias VIVIENNE WESTWOOD para Melissa, colar LA PRINCESA Y LA LECHUGA Rui: gorro, casaco, t‑shirt, calças e ténis da produção Ricardo: calças e casaco DIESEL, t‑shirt e camisa INSIGHT, lenço LEE, botas FLY LONDON Tiago: casaco, camisa, calças e lenço DIESEL Marisa: fato de banho INSIGHT, botas VICINI, Colar LA PRINCESA Y LA LECHUGA Tiago: t‑shirt, casaco vintage e botas da produção, calças e cinto INSIGHT Ricardo: casaco, t‑shirt e calças DIESEL, ténis MUNICH Rui: Casaco DIESEL, T‑shirt LEE, calças e ténis da produção Beautiful Days 1 2 9 4 5 12 10 11 Fotografia João Bacelar Produção Susana Jacobetty Cerâmicas Anna Westerlung para CRAFTCLUB LX Factory www.craftclub.com.pt 3 6 7 15 8 13 1. creme L’or de Vie Dior cuidado de excepção 2. J’adore L’or Dior essência de perfume 3. Acqua di Gioia Giorgio Armani 4. Jean Paul Gaultier Madame eau de parfum 5. Dior Homme Sport eau de toilette 6. Jean Paul Gaultier “Classique” X Collection 7. Miss Dior Chérie eau de toilette 8. Trésor Lancôme eau de parfum 9. Hypnotic Poison elixir Dior 10. Play for her Givenchy eau de parfum 11. Kenzo eau de toilette pour femme 12. Armani Code Giorgio Armani eau de toilette pour homme 13. Eau Sauvage extréme Christian Dior 14. Pó compacto YSL paleta metálica 15. Victor & Rolf Flowerbomb eau de parfum dif 72 14 dif 74 8 Modelos Maria João Rocha e António Vaz Produção Ricco Godinho Fotografia Telma Russo 1 11 Shopping 7 14 17 15 4 18 6 3 13 16 12 5 10 2 9 1 Botas CAT, meias verdes e collants laranja CALZEDONIA 2 Botas creme e rosa claro UGG AUSTRALIA, meias curtas roxas e meias compridas bordô CALZEDONIA 3 Mochila CAT 4 Ténis K-SWISS e meias CALZEDONIA 5 Botas PALLADIUM e meias CALZEDONIA 6 Botas PALLADIUM e collants tijolo CALZEDONIA 7 Botas CAT e meias bordô CALZEDONIA 8 Mala FRED PERRY 9 Botas MERRELL 10 Ténis CAT e meias xadrês CALZEDONIA 11 Stivaletti 2ME e meia de cano alto com fita de cetim CALZEDONIA 12 Botas UGG AUSTRALIA e caneleiras (da produção) 13 Stivaletti 2ME e meias de malha CALZEDONIA 14 Botas UGG AUSTRALIA e meias cano alto CALZEDONIA 15 Ténis K-SWISS e meias CALZEDONIA 16 Mala BENETTON 17 Mala CAT 18 Ténis PUMA e meias (da produção) dif 77 15 14 11 4 5 6 12 3 1 8 10 17 14 15 16 17 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 2 7 16 13 9 Ténis NIKE e collants padrão cobra CALZEDONIA Ténis Munich e collants CALZEDONIA Converse All Star e collants CALZEDONIA. Ténis REPLAY e meias bordô CALZEDONIA. Botas CAT e meias padrão camuflado CALZEDOIA Botas CAT e meias de dois tons cinza CALZEDONIA Botas CAT e meias em xadrez CALZEDONIA BOTAS CAT e meias roxas CALZEDONIA Mala preta GOLA Mala PUMA Sabrinas ADIDAS by STELLA McCartney meias lilás CALZEDONIA. Mala CAT Botins com tachas GOLA e collants pretos com brilhantes CALZEDONIA. Botas GOLA e collants laranja CALZEDONIA. Botins K_SWISS e collants azuis CALZEDONIA. Tenis REPLAY e collants cinza CALZEDONIA. Mala GOLA. agenda destaque Offbeatz Lisboa Lisboa, todas as quartas‑feiras no Musicbox Texto: Pedro Primo Figueiredo O Cais do Sodré é, por estes dias, um dos grandes sítios da noite lisboeta. Isto já não é novidade para ninguém. Ele é o Viking (melhor bar de sempre, melhor “streep‑tease” de sempre?), o sempre pre‑ sente Copenhagen, a novidade Roterdão, o clássico Jamaica, o vanguardista Europa. E, claro, o Musicbox, cada vez mais uma sala de concertos de renome mas, ainda e sempre, um bar que convida à conversa, ao diálogo, à reflexão. Não por acaso, o pro‑ jecto Offbeatz, agora na sua segunda vida, mudou‑se para lá depois de uma primei‑ ra temporada no Frágil, em pleno Bairro Alto. Mas vamos por partes. Para quem não conhece, o Offbeatz é, citando os seus fundadores, “um movimento urbano e criativo de apoio, divulgação e discussão de tudo o que de mais excitante e inova‑ dor se faz no panorama musical e parte integrante do LABZ, o novo projecto da Subfilmes Creative Network”. Mais do que um festival, o Offbeatz “pretende‑se uma autêntica revolução urbana de ideias, pro‑ jectos e pessoas na área musical, de modo a tornar‑se parte indissociável e constan‑ te da vida criativa, cultural e artística das cidades nele envolvidas”. Isto é: todas as 4ª feiras, no Musicbox, e sempre com en‑ trada livre, o projecto convida dois gru‑ pos para pequenas actuações e apresenta dois telediscos da “nova geração” musical portuguesa, com presença de músicos e realizadores para apresentação do mes‑ mo. No intervalo das apresentações das bandas e telediscos, o público partilha as suas opiniões, interroga artistas, questiona opções estéticas, etc.. No primeiro mês da nova versão do Offbeatz, o vídeo vence‑ dor foi “The Beasts”, dos Youthless, com realização de Bruno Ferreira. Telediscos de Linda Martini, David Fonseca, Os Golpes, Rita Redshoes e Balla, entre outros, foram ultrapassados na votação final, escolha de um júri que integra, a jeito de exemplo, os músicos B Fachada, Rodrigo Leão Jónatas Pires (Os Pontos Negros) e Samuel Úria, os radialistas Nuno Calado, Henrique Amaro e Pedro Moreira Dias, e os jornalis‑ tas Mário Lopes (Público), Miguel Somsem e o autor destas linhas, representante da DIF, parceira do evento. O Offbeatz anda por aí, o Cais do Sodré está melhor que nunca – aparte a nova contratação das noites do Viking, menos entusiasmante que a sua antecessora – e sair à noite à quarta‑feira é, cada vez mais, um acto co‑ mum. Vemo‑nos no Musicbox? agenda dif 78 música Joanna Newsom Casa da Música, Porto – 24 de Janeiro Teatro Aveirense, Aveiro – 25 de Janeiro Centro Cultural de Belém, Lisboa – 26 de Janeiro Texto: José Reis Poucas são as “meninas‑senhoras do seu nariz” que conseguem aliar o talento para a música e uma beleza ímpar, de forma a dei‑ xar‑nos colados na fotografia da contracapa (sempre que ela lá está) e esquecendo a capa, o nome ou a música do trabalho pelo qual pa‑ gámos quase 20 euros (“tanto?”). Dos tem‑ pos mais ou menos recentes, Karen Elson é uma delas – e maldito sejas, Jack White; não podias ter apenas jeito para a música e não pescares nada do que é o amor?; as géme‑ as Deheza são outro bom exemplo – hey, Joanna Newsom Benjamin Curtis, bela jogada, deixar os Secret Machines e formar os The Phenomenal Handclap Band sem qualquer homem por perto... Mas nenhuma consegue chegar aos calcanhares de Joanna Newsom (opinião sujeita a refutações). Quer pelo ar angelical, quer pela voz doce, quer pelo aspecto frágil – e temos que invejar mais um tipo, desta vez Andy Samberg, comediante. Estávamos em 2004, “The Milk‑Eyed Mender” dava a co‑ nhecer uma (até então) promessa. Seguiu‑se “Ys”, em 2006, uma música mais madura, uma voz mais modelada. Já este ano, che‑ gou mais uma pérola: “Have One on Me”. Depois de uma passagem em 2007 pelo nos‑ so país, regressa em Janeiro para três con‑ certos a não perder. E nunca como agora as letras de Marco Paulo fizeram tanto sentido: “Oh Joana/ Pensar que estivemos tão perto/ Dos sonhos agora desperto/ Só não quero ouvir o sim que dirás // Oh Joana/ Recordo agora os momentos/ Passaram nos meus pensamentos/ Mas longe de mim sei que fi‑ carás (...)” Com muita pena minha, confesso. música The Legendary Tiger Man Coliseu do Porto – 21 de Janeiro Coliseu dos Recreios – 22 de Janeiro Texto: André Marques dos Santos As discussões sobre Deus ter cria‑ do primeiro o homem ou a mulher vêm de há muito tempo e, por muito que não se chegue a conclusão algu‑ ma, propagar‑se‑ão pela eternidade. A verdade é que um não vive sem o ou‑ tro. Vejamos o caso do nosso homem tigre que, para o seu último trabalho se rodeou de várias (e talentosas) se‑ nhoras do mundo da música, para fa‑ zer um álbum que haveria de dar cartas na contagem dos discos mais vendidos do país nos últimos tempos – feito que, nos dias de hoje, só alguns se po‑ dem gabar de conseguir. Muitos con‑ certos depois, e com a crítica do seu lado, Paulo Furtado, aka The Legendary Tiger Man, leva “Femina” aos Coliseus, a 21 de Janeiro no Porto, e a 22 em The Legendary Tiger Man Lisboa. Mas não será só a sua última aventura a ser vítima dos majestosos holofotes das grandes salas do país: há já a promessa de uma viagem pelo per‑ curso do músico, com possibilidade de paragem em pontos remotos como os Tedio Boys e os Wraygunn (de quem teremos novidades em breve). Os con‑ vidados serão, a seu tempo anunciados, mas já está confirmado que os Dead Combo, que em 2006 participaram no álbum “Masquerade”, também subirão ao palco. Depois da digressão do disco de duetos por todo o país (que ago‑ ra se estendeu a outros territórios eu‑ ropeus), uma promessa está já no ar: o homem tigre fará aquilo que puder para que quem entre nos coliseus, te‑ nha uma noite lendária. agenda dif 80 exposições BES Revelação Miguel Ferrão. Proposta para um acordo Museu da Fundação de Serralves, Porto, até 16 de Janeiro Texto: Marta Brito Foto: Miguel Ferrão Aproveitar um fim-de-semana soalhei‑ ro para ir aos jardins da Fundação Serralves (no Porto) passear é sempre boa ideia mas, quando se pode aproveitar para ir ver a expo‑ sição colectiva dos vencedores da sexta edição do BES Revelação, torna‑se um programa rela‑ tivamente obrigatório. Mónica Baptista, Miguel Ferrão, Eduardo Guerra e Carlos Azeredo Baptista nasceram todos durante a década de 1980 – são, como se costuma dizer, jovens ar‑ tistas. Apesar de ser no questionamento da fo‑ tografia que convergem os quatro trabalhos, nenhum deles se torna redundante. As abor‑ dagens e os materiais são muito diferentes e, por isso, oferecem‑nos maneiras de pensar e de usar um mesmo tema – desde a execução de um filme animado a partir de centenas de rolos fotográficos, ao entrosamento do vídeo, da serigrafia e do texto num mesmo projec‑ to, passando por um novo tipo de escultura onde o som e a palavra são fundamentais, até à própria fotografia enquanto comentário ao que aconteceu às utopias políticas e sociais do pós‑II Guerra Mundial. A produção jovem tem muita força e até meio de Janeiro tem espa‑ ço no Museu de Serralves. É muito importante que se valorize esse espaço usando e abusando dele porque é uma das raras oportunidade que temos de nos encontrarmos com o trabalho de quatro artistas que nos comunicam novas maneiras de ver através da manipulação de di‑ ferentes técnicas. Sergei Loznitsa Comissariado: Margarida Mendes Produção: Fundação de Serralves cinema Retrospectiva Sergei Loznitsa Culturgest, Pequeno Auditório, Lisboa, de 13 a 16 de Janeiro Texto: Pedro Primo Figueiredo Entre 13 e 16 de Janeiro, o Pequeno Auditório da Culturgest recebe um ciclo de cinema dedicado a Sergei Loznitsa, que dará a conhecer a obra do cineasta numa retrospectiva “completa e inédita” em Portugal, diz a organização. A mostra, pro‑ gramada pela Zero em Comportamento, será acompanhada pelo realizador, que estará em Lisboa para apresentar as ses‑ sões. Um pouco de contexto: Nascido na Bielorússia quando esta ainda fazia par‑ te da União Soviética, Sergei Loznitsa foi desde cedo encorajado pelos pais, ambos matemáticos, a ocupar‑se de estudos téc‑ nicos. Seguiu‑os até 1991, na área da ci‑ bernética e da inteligência artificial, mas a fotografia – uma velha amiga de infância – e os livros de filosofia e arte pelos quais sempre cultivou o fascínio, conduziram‑no nesse ano ao Instituto de Cinema (VGIK) em Moscovo, onde frequentou o estúdio de Nana Dzhordzhadze. Os seus dois pri‑ meiros filmes – “Today We Are Going to Build a House” (1996) e “Life, Autumn” (1998) – foram co‑realizados com Marat Magambetov. À prolífica lista de docu‑ mentários em nome individual que se se‑ guiram até 2008, juntou‑se, este ano, a ficção “My Joy”. Os seus filmes “evocam uma Rússia de poemas e histórias, sonha‑ dora e idealista, mas também fria e agres‑ te, nem sempre em condições de pôr em prática princípios mais nobres”, sublinha a Zero em Comportamento. Os bilhetes para cada filme do ciclo têm o preço úni‑ co de 3,5 euros. agenda dif 81 Recebe a dif em tua casa Soares ra s e u q r a M gora na a sua espe A caférestaurantebar 79 s estao marca s e r o h l e as m happyhouraté20h Nome* Endereço* Telefone www.marquessoares.pt E‑mail ProfissãoIdade rua do alecrim lisboa tel ○ 35 ○ 213 146910/04/23 158 20100423_motor_anuncio_dif_207x134mm_af.ai 16:10 PORTO | Rua das Carmelitas, 130 - Telef. 222 042 200/54 f. 223 323 512 Rua de Santa Catarina, 21 e 39 - Tele AVEIRO | Av. Dr. Lourenco Peixinho, 55 a 57 - Telef. 234 348 000 * campos obrigatórios para a recepção da dif em tua casa Endereço: Publicards Publicidade, lda. Rua St. António da Glória, 81. 1250‑080 Lisboa Recorta ou fotocopia este formulário e envia‑o para Publicards Publicidade lda. junto com um cheque no valor de 10 euros ou realiza transferência para o NIB.: 0038 0051 0090 4658 7719 6, enviando comprovativo para o e.mail: [email protected] (custos de envio por dez números) e receberás a dif em tua casa. 10 números por 10 euros guia de compras C Adidas. T. 21 042 44 00. www.adidas.com/pt. Adidas Eyewear. T. 21 319 31 30. Aforest Design. T. 96 689 29 65. American Vintage. T. 21 347 08 30. Ana Salazar. T. 21 347 22 89. Alexandra Moura. [email protected]. A outra face da lua. T. 21 886 34 30. Ao Quadrado. T. 21 385 04 85. Ben Sherman – Lusogoza. T. 22 618 25 68. Big Punch. T. 21 342 65 50. Billabong – Despomar. T. 26 186 09 00. By Malene Birger. T. 21 394 40 20. Calzedonia. T. 21 837 65 76. Carhartt. T. 21 342 65 50. Cat, K‑Swiss, Keds, Merrell, Palladium, UGG – Bedivar. T. 21 938 37 00. Christian Dior. www.dior.com. Converse – Proged. 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