Nossa Serra, Nossa Terra: Identidade e Território Tradicional
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Nossa Serra, Nossa Terra: Identidade e Território Tradicional
Identidade e Território Tradicional Atikum e Pankará Identidade e Território Tradicional Atikum e Pankará Nossa Serra, Nossa Terra Ficha técnica Coordenação Caroline Leal Mendonça Conselho de Professoras Indígenas Atikum Organização da Educação Escolar Pankará Organizadoras Caroline Leal Mendonça Lara Erendira Andrade Luciete Lopes Pankará Edneuma Oliveira de Sá Atikum Textos Professores e lideranças dos povos Atikum e Pankará Carlos Fernando dos Santos Júnior Luis Lyra da Silva Bulcão Fotografias Caroline Leal Mendonça Eric Gomes Lara Erendira Andrade Luis Lyra da Silva Bulcão Renato Santana Revisão Edson Silva Sandro Lobo Renato Santana Parceria Comissão de Professores e Professoras Indígenas em Pernambuco – COPIPE Sumário Apresentacão 6 Umãs - A resistência e luta de nossos antepassados 16 Nossa linha do tempo 30 Identidade e território Atikum Umã 41 Nós somos os Pankará 47 Organizacao social Pankará 56 Nosso território sagrado 59 Vegetacão, clima e hidrografia Pankará 66 Economia Pankará 71 Principais problemas 76 Compartilhando o cotidiano de luta com os Atikum e Pankará 79 Quem eram os índios Umã? 80 Os mapas Pankará 102 O que dizem os registros Históricos 114 Nossa Serra, Nossa Terra E ste livro que chamamos Nossa Serra Nossa Terra: identidade e território tradicional Atikum e Pankará é resultado de um trabalho coletivo envolvendo professores, professoras, lideranças, anciãos e anciãs dos povos Atikum Umã e Pankará em parceria com pesquisadores, pesquisadoras e indigenistas que tem um grande interesse pela história desses povos e respeito aos seus processos de resistência e luta. O livro foi produzido durante as oficinas de cartografia social realizadas nos territórios da Serra Umã e da Serra do Arapuá, cujas atividades foram apoiadas pela Secretaria de Cultura – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco/FUNDARPE. 6 Foto: Oficina Atikum Nossa Serra, Nossa Terra 7 Foto: Oficina Atikum Nossa Serra, Nossa Terra 8 pag.6 - Da esq. para a dir: Seu Antônio Amanso (Serra do Jacaré), Dona Ana (Serra Umã), Pajé Pankará João Miguel (Aldeia Enjeitado), pag.7 - Da esq. para a dir: Pajé Pankará Manoelzinho Cacheado (Aldeia Lagoa), Pajé Pankará Pedro Limeira (Serra da Cacaria), Dona Senhora (Aldeia Enjeitado) e Dona Emília (Serra da Cacaria) Nossa Serra, Nossa Terra As oficinas envolveram várias comunidades e em cada encontro estudamos a história de ocupação territorial dos indígenas na região do São Francisco, desde o período da colonização até o modo de ocupação tradicional na atualidade e os correspondentes processos de territorialização pelos quais passaram os Atikum e os Pankará. Também discutimos os problemas enfrentados em relação ao direito territorial e educacional dos povos indígenas, produzimos debates, mapas, textos, realizamos o encontro dos anciãos da Serra do Arapuá com os anciãos da Serra Umã e refletimos sobre a importância da organização indígena para a garantia do direito a um território livre e autônomo. A ideia principal desse livro é apoiar o desenvolvimento do currículo intercultural das escolas indígenas, oferecendo subsídios para as professoras em sala de aula. Além disso, acreditamos que este livro é útil na disseminação de informações sobre os povos indígenas do sertão de Pernambuco. O Livro está organizado em três partes. A primeira 10 Da esq. para a dir: Dona Naninha Bezerra (Serra Umã) e Pajé Pankará Pedro Limeira Nossa Serra, Nossa Terra reúne os textos coletivos das professoras dos povos Atikum e Pankará e os mapas por elas elaborados junto com suas lideranças. Contam um pouco da sua história e como representam sua territorialidade no espaço em que vivem e que tem grande significado sagrado. A segunda parte trás os textos de pesquisadores/ as que se dedicam a compreender os modos de vida desses povos, suas histórias, suas geografias e suas territorialidades. Os textos foram produzidos com e a partir dos Atikum e dos Pankará. Não são textos sobre esses povos, mas dialogados com esses sujeitos históricos e seus processos político-pedagógicos. E, na terceira parte disponibilizamos a transcrição de documentos oficiais sobre esses povos que foram coletados no Arquivo Público do Estado de Pernambuco, no Memorial de Justiça de Pernambuco e no Museu do Índio/FUNAI no estado do Rio de Janeiro. Essa pesquisa documental foi realizada pelo pesquisador Carlos Fernando dos Santos Junior, autor de um dos textos que compõe este livro. Vários destes arquivos são documentos inéditos e revelam como os Atikum e Pankará foram expropriados 12 Dona Nininha (Serra Umã) e Pajé Pankará João Miguel (Serra do Arapuá) Nossa Serra, Nossa Terra do seu território tradicional e tiveram seus direito negados entre os séculos XIX e XX. Esperamos que esse livro possa despertar nos professores, professoras, alunos e alunas das escolas indígenas o interesse de aprofundar essas informações e ampliar as pesquisas sobre esse povos, produzindo informação a partir do ponto de vista dos indígenas. Desse modo, estarão contribuindo para a superação da colonização das informações equivocadas sobre os povos, libertando as mentes para outra visão histórica, uma perspectiva de quem vive cotidianamente seu processo de resistência étnica. Equipe de educadoras e educadores do projeto Organização da Educação Escolar Pankará Conselho de Professoras Indígenas Atikum Março de 2012. 14 Da esq. para a dir, – Dona Ana (Serra Umã), Dona Emília (Serra Cacaria) e Dona Senhora (Serra do Arapuá, Aldeia Enjeitado) Nossa Serra, Nossa Terra UMaS FOTO: DONA ANA A RESISTÊNCIA E LUTA DE NOSSOS ANTEPASSADOS 16 Nossa Serra, Nossa Terra Nossos antepassados são os índios Umãs. O povo Umã habita a região do Sertão do São Francisco há muitos anos, bem antes da chegada dos portugueses. O São Francisco é uma região caracterizada pela invasão das terras indígenas pelos colonizadores, pela ampla atuação de missões religiosas para “amansar” os índios e favorecer a dominação dos nossos antepassados e também pela expansão da pecuária, atividade econômica que justificou a presença dos colonizadores. Veio o branco colonizador, veio o gado e veio as fazendas que viraram vilas, depois cidades. Os donos do gado são os mesmos que se apossaram das terras dos Umãs e são os mesmos que viraram vereador, prefeito e dono de cartório de terras e desse modo foram controlando e dominando a nossa mãe terra. Mas os Umãs foram um povo muito guerreiro e que deu muito trabalho aos colonizadores. Os Umãs se juntaram com outros povos que também habitavam a região e lutaram para permanecerem vivos e junto do nosso território tradicional. Vejam no mapa que fizemos a presença dos Umãs nos séculos XVIII e XIX 17 CEARÁ TRIUNFO Cachorra Morta BAIXA VERDE SALGUEIRO Serra do Urubu Serra Grande II BELMONTE Conceição Olho D’agua da Gameleira MIRANDIBA Serra da Raposa Serra Umã Serra da Penha Serra das Flores Brejo do Gama Serra Grande RIO PAJEU CARNAUBEIRA Barra do Silva Serra Arapuá O CH A RI Cacaria RODELAS BAHIA FLORESTA RIO SÃO CO FRANCIS DO O Serra Negra Presença Umã Povoamento Presença Quilombola Hidrografia Comarca Limites NEM A RIO MO XOT Ó Flores Serras RIO IPA Serra Negra O VI NA ALAGOAS SERGIPE Elaboração: professoras e lideranças Atikum, (2012) Nossa Serra, Nossa Terra Segundo a pesquisa documental de historiadores que se interessam pela história indígena no Sertão do São Francisco, os Umãs foram citados nas fontes históricas estando várias vezes em aliança com os índios do Brejo dos Padres, os índios da Serra Negra e os índios de Cabrobó. Hoje, os conhecemos como os Pankararu, Pipipã e Kambiwá e os Truká. Dentre esses territórios frequentados pelos Umãs, importante destacar a Serra Negra. A Serra Negra foi um local importante de refúgio para os povos no período da colonização. Os Umãs se juntaram a vários outros povos e lá resistiram a várias investidas dos poderosos de Floresta e Tacaratu. Mas, foi no final do século XIX que nossos antepassados sofreram um forte golpe dos brancos que já mandavam em toda a região. Esses brancos, que estavam na Câmara de Vereadores de Floresta, desejam as nossas terras para arrendá-las, desenvolver mais a vila e transformala em cidade, produzir mais riqueza para os donos das fazendas que eram também donos de escravos. Para fazer o chamado “desenvolvimento” da região, os vereadores e prefeito de Floresta neste período se empenharam em exterminar 20 Nossa Serra, Nossa Terra os Umãs, conforme pode ser analisado dos documentos que estudamos do Arquivo Público Estadual de Pernambuco1 . Depois desse período difícil, em que nosso povo ficou disperso pelos sertões, habitando em outras terras indígenas, também teve os que ficaram morando aqui nas serras Umã e Arapuá, como se fossem só trabalhadores rurais. As famílias Umãs que conseguiram permanecer disfarçadas de agricultores foram responsáveis pelo nosso reaparecimento como povo indígena no início da década de 1940. A primeira metade do século XX foi muito importante para nós. Os índios da Serra Umã, liderados por Manoel Bezerra, Pedro Dama, Maria Antonia e vários outros, junto com os índios da Serra do Arapuá, liderados por Joaquim Amanso, Luiz Limeira, Horacio Rosa, Amélia Cacheado e vários outros, vão em busca do reconhecimento oficial junto ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Essas lideranças ficaram sabendo desse órgão do governo através dos parentes Pankararu e Tuxá. João Tomás Pankararu foi muito importante . 1 Os arquivos estudados e citados por nós estão nos anexos, no fim desse livro. 21 Nossa Serra, Nossa Terra para nosso povo e nos ajudou no nosso reconhecimento oficial. Contam os mais velhos que dançaram um toré bem forte para os funcionários do SPI que eram Tubal Viana, Raimundo Dantas Carneiro e Zé Brasileiro. Nesse toré tinham os caboclos de todo lado aqui da Serra Umã, Serra do Arapuá, Serra da Cacaria, Brejo do Gama. Quando viram nosso toré bem forte e a batida do maracá disseram: aqui tem índio! Desse dia em diante o governo brasileiro começou a dar assistência aos filhos de Umãs e passamos a nos identificar como povo Atikum Umã. Primeiro veio a construção do Posto Indígena em 1949. Vários índios trabalharam na construção do Posto. Também foram construídas uma casa de farinha e uma escola aqui na Serra Umã. O mais importante foi a suspensão do pagamento da renda aos fazendeiros e à prefeitura de Floresta. Como a Serra Umã passou a ser considerada território indígena, o SPI mediava os conflitos com os donos de terra que jogavam seu gado nas roças dos índios. Os mais velhos contam que 22 FOTO: POSTO INDÍGENA ATIKUM Nossa Serra, Nossa Terra mesmo com o chefe de Posto a vida era difícil, mas com o tempo a nossa autonomia sobre o território foi se estabelecendo. Nessa época o governo reconheceu como território Atikum os seguintes limites: Descriminações dos limites da Serra de Umã. Serra de Umã, com distenção e projeção para o lado do Norte aldeia de Tamburí digo brejo do Gama. Para o Norte ao mesmo ponto, olho d’água carnaubinha à Serra Tiuba à Barriguda. Ao lado do norte subindo pelo leito do riacho à ponta da Serra do Urubu da mesma, oeste ao poço da pedra à serra do Tomaz onde for de direito e razão. Ao lado do Sul, do Tomaz ao olho d’água Zacarias ao pé da serra cachoeira em seguida à lagoa do caminho onde se divide com a missão e à Fazenda Milagre daí segue ao olho d’água da Quixaba a mesma aldeia Tamburí ou brejo do Gama. 24 Isso significa dizer que a proposta inicial do nosso território era assim: Serra do Urubu Barriguda Aldeia Olho D’água do Padre PIN Atikum Poço da Pedra Serrinha da Penha Brejo do Gama Serra Umã Serra das Crioulas CARNAUBEIRA Cachoeira Zacarias Serra Grande Milagres Serra Arapuá Elaboração: professoras e lideranças Atikum, (2012) Nossa Serra, Nossa Terra Como pode ser observado desde tempo o governo excluiu os parentes da Serra do Arapuá que hoje são reconhecidos como Pankará. A exclusão dos Pankará da proposta inicial de regulamentação do território tradicional dos Umãs se deve principalmente ao fato do governo ter se recusado a enfrentar os donos de terra que já estavam instalados na Serra do Arapuá. Conforme mostra os documentos do SPI (em anexo), o órgão de proteção ao índio afirmava que não podia enfrentar “os poderosos” da região mais uma vez, pois ao enfrentá-los no caso da Serra tinha sido difícil para o governo. Isso significa dizer que no Século XX o governo brasileiro não quis enfrentar os colonizadores que estavam na Serra do Arapuá e isso fez com que nossos parentes Pankará ficassem sem a assistência e proteção do governo até o Século XXI. Apesar disso, nós Atikum e Pankará mantivemos nosso ritual juntos, nas chamadas “noites de fuga”. Eram quando os mais velhos se encontravam para dançar o Toré escondido dos fazendeiros. O Toré garantiu a nossa resistência como povo indígena. Além do toré, sempre nos encontramos na feira, 26 Nossa Serra, Nossa Terra no comércio e também na troca de serviços na roça. Algumas famílias da Serra do Arapuá vinham plantar roça na Serra Umã e algumas famílias da Serra Umã iam plantar roça na Serra do Arapuá. A família Amanso, por exemplo, até hoje mora uma parte na Serra Umã na Aldeia Jacaré e outra parte na Serra do Arapuá Aldeia Enjeitado. Desses encontros também ocorreram muitos casamentos e muitos filhos que são Pankará e Atikum. Mesmo reconhecidos pelo SPI, a homologação da nossa Terra Indígena só aconteceu em 1996, depois de muitas reuniões e pressões da Funai para diminuir o nosso território. A nossa Serra foi homologada com uma superfície de 16.290 hectares e hoje estamos em luta para retirar todos os não-índios de dentro do território e rever os limites dessa demarcação. 27 Hoje podemos representar o nosso mapa assim: Aldeia Angico dos Lúcio Aldeia Rodeador Aldeia Ipoeira Aldeia Massapê Aldeia Paus Brancos Aldeia Pedra Preta Aldeia Curtume Aldeia Olho D’água do Padre Escola Olho D’água Aldeia Mulungu Aldeia Mulungu Garrote Morto Aldeia Poço da Pedra Escola Estreito Aldeia Estreito ola Esc uirino xo Q Ane liano i m E Aldei Escola Emiliano Q Aldeia Lagoinha Aldeia Caxuá eia Ald Escola Caxuá II ira hoe Cac Aldeia Angico Aldeia Tupã Aldeia Pedra de Fogo Escola São José Escola Cachoeira II Aldeia Baixão Escola Santa Ana Escola Antônio Manoel Aldeia Riacho Grande os Escola Júlio José Aldeia Areia dos Pedros Aldeia Oiticica Escola João Lima Aldeia Jatobá Escola Monteiro Lobato Aldeia Samambaia Aldeia Jacaré Escola Antonio Dudu e ia Cachoeira I Aldeia Casa de Telma Aldeia Cercada Quirino o Serras Reforma Aldeia Feiras da cultura Escola Encontrão da COPIPE Construção Formação da COPIA Reforma das escolas Anexo Elaboração de carta denunciando as prefeituras Encontro para reivindicação da educação específica e diferenciada Elaboração: professoras e lideranças Atikum, (2012) Nossa Serra, Nossa Terra Outra maneira de entendermos a nossa história é através da linha do tempo que mostra todo o processo de resistência dos nossos antepassados ao longo dos tempos até os dias de hoje. Para sistematizar essa informação consultamos os documentos históricos que estão no final desse livro, nossos mais velhos e nossas vivências: 30 Nossa Serra, Nossa Terra 1694 1713 1746 1759 1801 Nossos antepassados Umãs andavam pelo Vale do São Francisco, fugindo dos colonizadores. Mais uma vez nossos antepassados fugiam dos brancos, desta vez buscando refúgio nas ribeiras do Pajeú. Nossos antepassados se encontravam em Alagoas entre os rios Ipanema e São Francisco. Nossos antepassados estavam habitando no estado de Sergipe e se refugiavam devido as perseguições existentes na época pelos colonizadores que invadiam cada vez mais o São Francisco. Já nesse decorrente ano os nossos ancestrais foram aldeados no Olho D´água da Gameleira, 31 Nossa Serra, Nossa Terra pelo Frei Vital de Frescarolo. Foram aldealdos 78 índios das nações Vouê e Umam. Atualmente damos o nome desse aldeamento de Olho D´água do Padre. 1819 1824 1838 Os nossos antepassados novamente se sentiram obrigados a fugir de nossas terras por causa dos conflitos entre os brancos do Riacho do Navio. No decorrer desse ano houve a dispersão de diversos grupos indígenas pelo sertão de Pernambuco. O nosso povo Umã se dirigiu para a região de Serra Negra, em busca de apoio dos nossos parentes que lá habitavam. A perseguição não passou: nosso povo como sempre resistente foi encontrado nas proximidades do Jardim no estado do Ceará. 32 Nossa Serra, Nossa Terra 1844 1850 1852 1860 a 1880 Depois de nossos antepassados se refugiarem em Jardim, no Ceará, finalmente eles se reencontraram próximo ao antigo aldeamento da Missão da Baixa Verde, hoje a cidade de Triunfo. Ano em que foi promulgada a Lei de Terras que permitiu o registro em cartório das terras, a legalização territorial, que na verdade não passava de roubo das terras indígenas. Assim, essas terras, que sempre pertenceram ao nosso povo, a partir dessa legalização passaram a ser dos colonizadores. Muitos dos nossos ancestrais da Serra Umã e vizinhanças eram considerados “índios bravos”, pois resistiam as perseguições e maus tratos impostos pelo homem branco. Segundo os relatos dos nossos anciãos e dos documentos que 33 Nossa Serra, Nossa Terra contam a história do nosso povo, os nossos guerreiros da época ocupavam as regiões do vale do Pajeú, Piancó e Piranha e se deslocaram também para lugares de difícil acesso como as chapadas da Serras de Umã, Arapuá e Serra Negra por causa da perseguição. 1883 1910 1940 Neste ano, o vigário de Floresta requereu as terras que na época pertenciam ao povo Umã. Vale salientar que essas terras não foram requeridas para os nossos antepassados e sim para a igreja católica. Surge o SPI (Serviço de Proteção ao índio). Este órgão do governo reconhece o nosso povo. O povo Atikum não era reconhecido com esse nome, e sim grupos Umãs aldeados, vindo posteriormente o nome Atikum. 34 Nossa Serra, Nossa Terra 1943 1946 1949 1967 Os nossos antepassados se apresentaram no SPI reivindicando o reconhecimento de nossas terras e de nossa identidade. Início do estudo dos povos existentes em situações de carência, pelo SPI, na possibilidade de construir um Posto Indígena para atender as demandas de interesse indígena. Reconhecimento como povo indígena e construção do Posto Indígena Atikum, o qual fica como referência de existência de um povo com direitos reivindicados. Surge um novo órgão que trata dos direitos dos povos indígenas FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Porém, este não foi suficiente na proteção ao índio, pois deixaram que acontecessem 35 Nossa Serra, Nossa Terra massacres para resolver questões importantes com a demarcação das terras. 1984 1988 1990 O nosso povo, descendentes dos Umãs, continuam sofrendo perseguições dos colonizadores na tentativa de retomar o nosso território. Com isso houve o assassinato do chefe do posto da Funai, Oduvaldo Mota e sua filha Kátia Mota. Ano da nova Constituição Federal. Nessa carta maior do país estão os direitos dos povos indígenas. Foi resultado de uma grande luta dos povos indígenas e das organizações indigenistas e significa um avanço para os povos indígenas do Brasil, principalmente os artigos 231 e 232. O nosso povo se reúne e elege o novo cacique: Abdon Leonardo da Silva. Abdon e seu irmão são 36 Nossa Serra, Nossa Terra assassinados no final de 1990. Com seu assassinato, várias famílias Atikum se dispersam e até hoje vivem em outros territórios indígenas ou em cidades. 1991 1993 1996 1998 O vice cacique Elzo Nélio da Silva assume o cacicado. Sai a delimitação do nosso território, através da portaria 314, assinada pelo Ministro da Justiça, mas ficamos aguardando a publicação em Diário Oficial. Sai o Decreto Presidencial de homologação e registro das terras Atikum no cartório de Imóvel de Mirandiba com uma superfície de 16.290 hectares. Aconteceu a publicação do Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Nele consta o calendário específico indígena do Povo Atikum. 37 Nossa Serra, Nossa Terra 1999 2000 2002 Na Aldeia Pé de Serra do povo Xukuru, com a participação dos Atikum e demais povos indígenas de Pernambuco, surge a COPIPE - Comissão de Professores Indígena de Pernambuco. É criada com objetivo de discutir o processo de educação escolar indígena e mobilizar os povos para lutar pelo direito a uma educação diferenciada, específica e intercultural. Aconteceu a 1ª Conferência de Educação Escolar Indígena em Pernambuco, onde houve a participação de professores Atikum. Depois de muita pressão e discussão, sai a aprovação do decreto que estadualiza as escolas Atikum. Quando nossas escolas deixam de ser municipais para serem estaduais, passamos a trabalhar o currículo específico e diferenciado. 38 Nossa Serra, Nossa Terra 2003 2008 2011 2012 Aos dias 03 de Julho, na Aldeia Olho D’água do Padre, reuniuram-se os professores e lideranças, com a participação do Centro de Cultura Luiz Freire/CCLF e um membro da organização da educação povo Xukuru, para o fortalecimento e ampliação do COPIA (Conselho de Professores Indígenas Atikum) Conquista de um curso de licenciatura específica e diferenciada na Universidade Federal de Pernambuco em Caruaru, no vestibular foram aprovados 11 professores indígenas Atikum. Aconteceu eleição para a escolha de um novo cacique: Clovis Manoel da Silva. Os professores e professoras Atikum concluem a faculdade de Licenciatura Intercultural na UFPE, depois de quatro anos de esforço e dedicação. 39 FOTO: Vista do topo da Serra Umã Identidade e Território Atikum UmA Nossa Serra, Nossa Terra O s anciãos do nosso povo, afirmam que a luta pela terra é algo que vem desde os nossos ancestrais e que embora julgados como índios aculturados ou remanescentes no início do século XX, nunca deixaram de lutar por aquilo que era os direitos do povo. Essa luta pela retomada do território tradicional e a forma de organizar o povo, herdamos dos antepassados que mesmo sem condições financeiras buscavam através das autoridades competentes o reconhecimento do nosso povo e assim também do nosso território. Porém, como mostramos no capítulo anterior, o nosso povo Atikum só foi reconhecido em 1949, pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio). 42 Nossa Serra, Nossa Terra Em 1967 foi criada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) - órgão responsável para resolver questões importantes como a demarcação e homologação das terras indígenas - e após alguns conflitos por causa da falta de regularização do nosso território, a FUNAI, seguindo a orientação da recém promulgada Constituição Federal de 1988, artigos 231 e 232, e também pressionada pelos indígenas, acelerou o processo de demarcação da nossa terra, que aconteceu no dia 17 de agosto de 1993. A área foi delimitada através da Portaria 314, que anunciou a Terra Indígenas Atikum, localizada no município de Carnaubeira da Penha, estado de Pernambuco, com uma superfície de 16.290 hectares, 18 ares e 93 seteares e perímetro de 54.565.87 metros segundo oficio nº 193/ DAF de 02 de março de 1993. A terra teve demarcação homologada pelo decreto nº 5 de janeiro de 1996 e publicado no diário oficial da união em 08/01/1996. Foi matriculada na comarca de ministério sob o nº 1.099 livros, fls. 26, em 26/01/1996. A partir deste momento nós povo Atikum começamos a ter autonomia em relação ao usufruto da terra, mesmo sabendo que a nossa extensão territorial de ocupação histórica é de 43 Nossa Serra, Nossa Terra 35 mil hectares, sendo que apenas 16.290 foram demarcados e homologados. O nosso território atualmente está distribuido em 43 aldeias reconhecidas e oito em processo de ampliação e reconhecimento. Ritual e locais sagrados Ritual é como chamamos o momento que nos reunimos para praticar nossa fé e religião que é o Toré. Praticamos o Toré para festejar momentos de alegria, tristeza e união da comunidade. A nossa fé é a crença nos Encantados, através deles reverenciamos os nossos mortos e também fortalecemos as nossas lutas no dia-a-dia. No povo Atikum há vários locais que são considerados espaços sagrados nos quais fortalecemos a nossa existência enquanto povo indígena, buscando forças do PAI TUPÃ e dos Encantados de luz. Alguns desses espaços tem marcas nas pedras deixadas por nossos ancestrais, entre eles destacamos: Mata do Tambu Serrote do Monte Pedra das Abelhas 44 Nossa Serra, Nossa Terra Furna da Onça Pedra da Pinga Pedra do gentio Existem vários mitos relacionados a estes locais, contado pelos anciões da nossa comunidade. O balançar do maracá marca não só o ritmo, mas prepara para esses encontros. O índio ao som do maracá sentem sensações e arrepios. Seguidos da pisada do pé no Toré e compasso das batidas do coração. O Toré é dançando aos sábados e às quartas-feiras para fortalecimento espiritual e nos momento sociais do povo. Para nós povo Atikum, o Toré não é somente uma forma de expressão de nossa cultura, mas é um momento de alegria, festas, encontros com nossos irmãos e anciões do nosso povo. A nossa relação com a natureza é muito significativa, a terra é nossa mãe e essa relação é tão forte não é só pelo respeito e o contato que temos, mas por tudo que ela nos dá para nossa sobrevivência. E dela tiramos o nosso alimento, vivemos da agricultura que começa no processo do solo, plantio, colheita, sendo comum plantar: 45 Nossa Serra, Nossa Terra feijão de arranca e de corda, fava, milho, mandioca, andu, batata doce, abóbora, jerimum, caxi e varias fruteiras como: bananeira, goiabeira, pinheira, mangueira, cajueiros e melancias. O tipo de agricultura do povo envolve 85% da produção e armazenamentos para o consumo, o restante é vendido para atender outras necessidades das famílias. Mas, não somente de agricultura vivemos, alguns tem outros trabalhos como o artesanato e até os trabalhos assalariados como professoras, agentes de saúde, motoristas, etc. As nossas reivindicações atuais Hoje nossa principal luta é a desintrusão do nosso território que ainda está ocupado por não índios e a revisão e ampliação dos limites da terra indígena. Na delimitação da década de noventa, várias aldeias ficaram de fora e hoje estamos na luta para reconhecer o direito desses parentes, como os Atikum do Brejo do Gama. 46 Nossa Serra, Nossa Terra NÓS SOMOS OS PANKARá FOTO: Pa jé Pedro Limeira mostra como se tira a fibra do Caroá 47 Nossa Serra, Nossa Terra Nós, povo Pankará, habitamos o território tradicional Serra do Arapuá. Nossa Serra está localizada no município de Carnaubeira da Penha, sertão de Pernambuco. Fomos reconhecidos oficialmente em maio de 2003, embora desde 1940 estejamos lutamos pelo reconhecimento e pela demarcação de nossas terras. Entre os anos de 1940 até 2003 o governo brasileiro preferiu nos tornar invisíveis para não garantir os nossos direitos. No entanto, nosso povo é resistente! Vive lutando com força para permanecer a mais de um século no nosso território, cuidando e preservando a mãe natureza apesar da invasão dos colonizadores. Nossas lideranças lutam para que as coisas aconteçam da melhor forma possível e para o bem de todos os Pankará e demais comunidades oprimidas que vivem ao nosso lado, como nossos parentes quilombolas da Tiririca dos Crioulos que são nossos companheiros de luta, de história, de religião. Somos uma família, somos os moradores da Serra Sagrada do Arapuá. A população, identificada pelo nosso conselho de anciãos, até o momento é de aproximadamente 48 Nossa Serra, Nossa Terra 4.500 índios. Nossa terra não está regularizada, mas estamos lutando pela demarcação e homologação. No mês de setembro de 2009, iniciou o Grupo Técnico de estudo antropológico para a identificação e delimitação dos limites da Terra Indígena Pankará, instituído pela presidência da FUNAI através da Portaria Nº. 1014 de 04 de setembro de 2009, que foi concluído em setembro de 2010. Esse GT desenvolveu o trabalho em conjunto com todas as lideranças tradicionais e tribais das comunidades da Serra do Arapuá, como também dos seus rebordos, incluindo as lideranças das aldeias Massapê, São Gonçalo, Riacho do Olho D’água, Tiririca, Aratikum, Juazeiro e Panela D’água que fazem parte do nosso território tradicional. De 2004 até 2010 tínhamos organizadas e reconhecidas 48 aldeias, a partir de 2011, com a Identificação e Delimitação da Terra Indígena Pankará, passamos a nos organizar em 53 aldeias habitadas e representadas por lideranças escolhidas para participar das lutas do nosso povo, junto com as outras lideranças, com os pajés e cacique. 49 Nossa Serra, Nossa Terra Falar do povo Pankará é, ao mesmo tempo, falar da Serra do Arapuá, de um povo que mantém uma rica cultura, que vai desde a dança do Toré, à produção de artesanato, à agricultura tradicional, às ervas medicinais, às histórias antigas e aos rituais sagrados. Temos três aldeias tradicionais: Enjeitado, Lagoa e Cacaria. Apesar das muitas perseguições sofridas, nunca deixamos nossa tradição morrer, conservamos até hoje esses lugares sagrados como símbolo de nossa resistência. No território Pankará existem marcos históricos que consideramos bens do nosso patrimônio cultural: as pedras da Cuia (aldeia três voltas), Catolé (aldeia Mingú), Cumbe (aldeia do Cumbe), das abelhas (aldeia Enjeitado) e as três Irmãs (aldeia Enjeitado). Não esquecendo os cemitérios arqueológicos onde se encontram panelas com ossos e cachimbos, encontrados quando cavados em roças de mandioca nas aldeias da Cacaria, Enjeitado, Sossego, Lagoa, Matinha. 50 Mapa Sagrado Poço do Mato Saquinho Mingu de Baixo Três Voltas Mingu de Cima Brejinho Água Grande João Lopes Árvore Sagrada Mata Pedra e Lajeiro Reinado Salão Sitios Arqueológicos Cruzeiro Terreiro Gentio Cumbe Oiti Furna da Onça Boa Vista II Santo Antônio Vila Gameleira Tatajuba Riacho do Olho D’água Monte Alegre Matinha Bonfim Cangalha Riachão Solidão Baixa do Juá Lagoa Lagos Murici Mundo Novo Corrente Fundão Ana Rosa Estreito Casa Nova Jardim Enjeitado Sossego Cafundó Pitombeira Retiro Paus Fedorentos Boa Vista I Baixa Verde Tamburil Boqueirão Araticum Ladeira Gonzaga Boa Esperança Zimbuzeiro Pau D’água Olho D’água do Muniz São Bento CACARIA CACARIA Veneza Roçado Panela D’água Travessa de Pedra Elaboração: professoras e lideranças pankarÁ, (2010) Nossa Serra, Nossa Terra Antes algumas pessoas encontravam esses objetos e jogavam fora. Hoje não mais desenterramos, quando achados permanecem no mesmo lugar. Os potes eram utilizados pelos parentes antigos como urna funerária. Para nós são peças sagradas e os donos são os Encantos de Luz. Também consideramos como marcos históricos alguns terreiros, particularmente: Mestre Juazeiro da aldeia Lagoa, Caboclo Velho na Tatajuba, Mestre Dandãozinha no Imbuzeiro e no Enjeitado, Mestre Atikum que fica no agreste do Enjeitado, Mestre Alves, localizado na Serra do Riachão e Mestre Canário, na aldeia Gonzaga. Nosso povo é muito religioso, rico em pessoas que curam. Além dos pajés (homens da ciência e de grande sabedoria), temos também as benzedeiras, pessoas que auxiliam na cura dos enfermos; as parteiras, mulheres muito importantes para a vida do povo Pankará. Para nós Povo Pankará é na tradição onde tudo começa. Com nossos pajés e anciãos, pois entendemos que eles são nossas raízes, que fortalecem a nossa fé e nos dão força para levar adiante as tradições. Desde os antepassados, 53 FOTO: Terreiro na Aldeia Lagoa Nossa Serra, Nossa Terra até os dias atuais, vêm-se mantendo as crenças, como: pajelanças, benzedeiras, reinados (mestre Alves, Mané Maior, mestre Dondozinha, mestre Juazeiro, mestre Juaná), terreiros (Dona Caiporinha, Caboclo Velho, mestre Roque, Zé Pilintra) e principalmente o nosso Toré. Nele buscamos a força dos encantados para lutarmos e permanecermos na cultura. Nos rituais, os donos da ciência convocam os Encantos de Luz para ajudar na cura de enfermidades através de orações, com muita crença e fé. Os pajés buscam as curas nas ciências ocultas que é algo que vem dos encantados, das matas, reinados e da jurema de onde fortalecem suas experiências. Nos movimentos sempre incluímos os representantes religiosos/as, com eles/as nos tornamos muito mais fortes pela fé. Há também a medicina tradicional onde são utilizadas as plantas medicinais: ameixa, jatobá, pau darco, velame, quixabeira, alecrim, mentruz, jarrinha, alfavaca, melãozinho de cerca, aroeira, 55 Nossa Serra, Nossa Terra salsa, mandacaru, pau-ferro, marcela, umburana de cheiro, umburana de cambão, umbuzeiro, frecheira, mu sambe, catingueira, pião, babosa, cabeça de nego, turco. São plantas muito utilizadas pelo o povo Pankará, pois serve para curar diversos tipos de enfermidades como gripe, febre, dor de dente, dor abdominal, dor nos rins, congestão, tratamento de pele, coceira, pano branco e pano preto, picadas de insetos, dor de cabeça, gastrite, verme e outras. Organização Social Pankará Nossa organização social tem por base o Toré. Os mais velhos estão ligados à tradição, são eles que guardam a sabedoria da ciência Pankará. Temos também uma organização interna composta pela cacique, os quatro pajés, o conselho de anciãos, lideranças das aldeias, a OIEEIP (Organização Interna de Educação Escolar Indígena Pankará), o CISPAN (Conselho Indígena de Saúde do Povo Pankará), a Organização dos Jovens e Associações Comunitárias. As mulheres tem um perfil importante dentro do povo, sua participação no movimento indígena só tem contribuído para a melhoria do nosso 56 Nossa Serra, Nossa Terra povo, pois são mulheres guerreiras com diferentes representações. Organizamo-nos por aldeias, espalhadas por todo o território. As famílias estão umas próximas das outras, também por afinidade de parentesco. Ter parente próximo um do outro facilita a vida em comunidade, diminui a possibilidade de conflito e aumenta a solidariedade entre as pessoas. Pajé Pedro Limeira Pajé Pedro Leite Pajé Manoelzinho Cacheado 57 Pajé João Miguel Cacique Dorinha FOTO: alto da cacaria Nosso Território Sagrado Nossa Serra, Nossa Terra C ompreender como se apresenta geograficamente o território tradicional Pankará é entender toda relação estabelecida entre o ser humano, a Natureza e os Encantados, pois para os Pankará a terra vai além dos aspectos físicos, sociais e culturais. O território é um espaço que está relacionado ao universo religioso. E é neste espaço sagrado onde se constitui as relações familiares e sociais do povo, mas também conflitos, as mobilizações e lutas para demarcação da terra, a conquista da autonomia e a reafirmação da identidade étnica. Essa compreensão pode reafirmar a partir do que uma liderança tradicional afirmou: “Nosso território vai até onde os Encantados diz que vai! Mesmo quando o governo não atende nossas reivindicações, no que corresponde a totalidade 60 Nossa Serra, Nossa Terra de nossas terras, mas os Encantados de Luz nos diz no segredo, que nossas terras vão até aquele reinado (pedra) e passa por aquele riacho e termina naquela mata” (Pajé Pedro Limeira, 2004). A terra é tudo para os Pankará, é vida, é quem dá força. A terra para nós é a melhor mãe, nossa casa maior. O lugar onde nascemos e nos criamos tem uma importância muito grande, seja pela história, seja pela forma como por ela resistimos. A terra Pankará é rica e com muita fartura. A terra é também lugar onde depositamos nossa fé, fortalecemos nossa esperança e nossa sabedoria. O carinho e respeito para com os nossos bens naturais é algo que se encontra dentro de cada um Pankará. Desde pequenos, nossos pais e avós falam das riquezas que existem no território, que devemos defender a terra, proteger as nascentes e zelar por todas as formas de vida que existem sobre as nossas terras: riachos, árvores, animais, aves, plantas e maneiras de sobreviver, tudo isso forma um conjunto de bens de muita importância, são o patrimônio vivo do povo Pankará. As matas, o catolezeiro, o caroá, o cipó, as ervas medicinais, a mata fria, a pedra do catolé, o Alto das Tabas, a pedra de Manoel Maior, a pedra da 61 FOTO: Serra da cacaria Nossa Serra, Nossa Terra Cuia, a pedra do Cumbe, a pedra e reinado da Mestre Dondonzinha, o reinado do Mestre Alves, a pedra das abelhas, as pedras das Três Irmãs, a Casa de Pedra, Olho d’água do Pé da Serra, Grota do Brejinho, Riacho do Mingu, e todas as nascentes. Temos grandes belezas naturais em nosso território que são frequentados constantemente por pessoas de fora. O agreste do Enjeitado, a Mata Fria, localizada na aldeia Gonzaga, o Minadouro, situado na aldeia Boa Vista, a Grota Funda, localizada no Mingu de Baixo, o Poço da Toca na aldeia Mingu de Cima, cachoeira das Lages, situada entre aldeia Lages e aldeia Umbuzeiro. Em nossas terras ainda hoje encontramos uma grande diversidade de espécies de abelhas (brado, cupira, tataíra, italiana, breu, capuchú no chão e mosquito), por isso nossa Serra tem esse nome, Arapuá. Aves como: jacu, asa branca, juriti, lambú, curdiniz e azulão. Animais silvestres como: onça, raposa, guará, macaco, mico, gato do mato, veado e furão. Animais de caça: mocó, caititu, tatu, tamanduá, cambambá, teiú, preá, peba, caçaco. Porém, temos que manter um controle sobre essas 63 C A C P Saquinho C PS Mingu de Cima Brejinho C C Saco Jurube P Furna da Onça Santo Antonio P P P C Corrente S Tatajuba PS P Bonfim PS P Santa Rosa P Jardim P P Pedra do Moco Paus Fedorentos Pitombeira Ladeira Boqueirão Boa Esperança Cacaria Olho D’água do Muniz São Bento P PS P C C P PS Pau D’água S Cacaria A P PS P P Travessa de Pedra Do Pé da Serra C A P Cafundó P Mundo Novo Algodões Tambori C P P Lagoa Casa Nova Sossego Retiro S P Matina Umbuzeiro Gonzaga Enjeitado P CarapinaBoa Vista S Murici C Oiti Gameleira P Solidão Agua Grande P P C V P Poço do Mato P P C P Três Voltas P Mingu de Baixo P P eba João Lopes C Estradas Cumbi Vila Monte Alegre Cangalha Fundão C A Matas preservadas Veredas C Matas de caça Aldeias A Mata de Artesanato Lagoas P Agricultura - Solos Planos Brejo S Agricultura - Solos Serrote Olho D’água PS Agricultura - Solos Planos e Serrote Riachos Araticum Veneza Elaboração: professoras e lideranças Pankará, 2010. Nossa Serra, Nossa Terra caças para que não ocorra sua extinção no futuro próximo. Vegetação, clima e hidrografia Pankará O território Pankará é extenso e possui três áreas: as áreas baixas ou pés de serras, denominada pelo povo de Sertão; as subidas da serra, onde chamamos de Agreste e as Chapadas, que é a serra propriamente dita. Por se constituir em três regiões com características geográficas diferentes, a vegetação é muita variada, definida pelo clima e relevo nas áreas de maior altitude. No Sertão o solo é argiloso e em algumas partes com rochas e pedregulhos. A vegetação predominante é a caatinga, composta por variedades de plantas resistentes a seca. O sertão é uma região com pouca chuva e com escassez de água. O clima é típico do semi-árido. No Agreste o solo é roxo, próprio para o plantio de feijão de arranca e várias diversidades de fruteiras. A vegetação predominante é o catolezeiro e arbusto. O clima é ameno, com 66 Nossa Serra, Nossa Terra muito frio no período do inverno. Podemos perceber que esta região se apresenta como uma área de transição entre a chapada (região mais alta da serra) e o sertão. Isso pode ser percebido tanto nos aspectos climáticos, hidrográficos e na vegetação. Já na região da Chapada o solo é propício para plantação de mandioca e de fruteiras, até mesmo vegetação típica da mata atlântica. Também percebemos que existe a capacidade de produção de flores, pois encontramos espécies diversas, mesmo não sendo uma atividade desenvolvida pelos indígenas dessa região. O clima é frio mesmo no período de estiagem. A Terra Pankará está localizada geograficamente nas chapadas das serras e nas depressões fluviais associada a esta. A Serra do Arapuá e seus rebordos está recortada por pequenos riachos intermitentes que fazem parte da Bacia do Pajeú, que por sua vez, faz parte da Bacia da margem do leste do São Francisco. Esta Serra se constitui pelo prisma climático, num brejo de altitude. Isso significa dizer que é uma área muito rica em água e com reserva de Mata Atlântica. Os aspectos hidrográficos recebem influências 67 Nossa Serra, Nossa Terra climáticas de três ecossistemas que caracterizam a distribuição das águas no nosso território. Em todas as aldeias da Chapada possuem fontes de água, olho d’água, nascentes de grotas e caldeirões. Na região do Agreste há nascentes de grotas que percorrem todas as aldeias dessa região e também algumas aldeias do Sertão. No Sertão é onde se concentram os maiores problemas pela falta de água, por possuir poucas nascentes e apenas algumas das aldeias recebem água através do percurso das águas do agreste, vindas por meio de canaletas e em muitas situações dependendo de carros pipas. Dessa forma algumas aldeias passam por dificuldades pela falta de água, dependendo da distribuição, conservação ou preservação da água pelas comunidades das aldeias do Agreste e da Chapada. Nossas matas têm donos, os encantos de luz, eles trabalham pra gente de dia à noite, no inverno recebendo e armazenando as águas das chuvas, e no verão garantindo a distribuição nos olhos d’águas, (Neném, liderança Pankará). É nas regiões das Chapadas e Agreste onde se encontra as nascentes das grotas e olho d’água, mas também, percebemos que é justamente, onde precisa da preservação e proteção desse 69 FOTO: OlhO D’água no Gonzaga Nossa Serra, Nossa Terra bem natural. Percebemos que há mau uso e descuido com as nascentes, alguns índios fazem o desvio do percurso natural das grotas, fazem o desmatamento da mata ciliar, fazem uso de agrotóxico e das queimadas. Tudo isso são os fatores que provocam a escassez da água e são práticas que vem sendo utilizadas pelos índios que aprenderam com os colonizadores. Por isso na escola Pankará ensinamos a descolonizar! Economia Pankará Também é a especificidade geográfica do território Pankará que influencia as atividades econômicas e de produção, tanto na produção agrícola, quanto na pecuária. Na agricultura Pankará tudo que se planta dá! O sistema do trabalho com a terra é de rotação e quando é para plantar mandioca são utilizados no preparo da terra, curvas de nível. Na prática da plantação e colheita, procuramos nos orientar pela lua e pelos encantados. Na terra Pankará, temos o cultivo da mandioca e com ela fabricamos farinha, beiju, pão de catolé; a macaxeira, milho, fava, andu, feijão de corda, 71 Nossa Serra, Nossa Terra feijão de arranca, feijão fogo na serra, batata doce, jerimum, abóbora, cana de xita e outros. Na Agricultura a maior renda é a produção de mandioca e fruteiras, estas, em tempo de colheita proporcionam maior renda, principalmente aos moradores da região da chapada que é onde desenvolve mais a produção da farinha, do beiju, da goma, do pão de catolé e outros derivados da mandioca. Estes produtos são vendidos semanalmente nas feiras das cidades de Floresta, Belém do São Francisco, na cidade de Carnaubeira da Penha e no distrito de Barra do Silva. As frutas são de época, mas temos a banana que é permanente nas aldeias da região do agreste, que é o local que mais cultivam. Estas são vendidas constantemente nas cidades circunvizinhas e podemos citar a banana como uma importante fonte de renda para seus produtores. As frutas em Pankará são bastante comercializadas, pois além de serem cultivadas sem uso de agrotóxicos são de boa qualidade, entre elas destacamos a banana, o mamão, o abacate, a manga e principalmente a pinha e a castanha do caju que além de serem 72 Nossa Serra, Nossa Terra comercializadas na região são vendidas também na capital do estado. Há ainda na região do Sertão, mais precisamente na Aldeia Brejinho a plantação da cana, onde no mês de setembro são feita as moagens, tendo a produção da rapadura, do mel, do alfenim e outros derivados, que são consumidos na própria aldeia e vendido o excedente. A pecuária é de pequeno porte, os criadores criam caprinos, ovinos, bovinos, suínos, equinos, e aves como, galinha, peru, pato e guiné, que são utilizados na alimentação e para a comercialização nas cidades vizinhas. Os equinos são utilizados nos transportes para o deslocamento do povo, mercadorias, para carregar os legumes das roças e água das fontes distantes das casas. A produção econômica se baseia praticamente em bode para engordar e vender nos sábados e domingos ao próprio povo e na cidade de Carnaubeira da Penha. Já na criação de galinhas, os ovos são para ajudar na renda da família. Os suínos na época do caju são engordados com o bajo e é vendida a carne, na maioria das vezes, para a própria vizinhança. 73 Nossa Serra, Nossa Terra Há também no povo a produção (confecção do artesanato, estes são feitos pelos artesãos (detentores de saberes) e são fabricados com a matéria prima do próprio território, como a palha, o catolé e a copemba do catolezeiro; a palha da bananeira, o cipó, o caruá, o barro, a madeira, a cabaça. Dessa matéria prima também são fabricados e vendidos vários produtos como: farda, corda, cocar, aio (borná), arupemba, cestos e cestas, caçuá, cangalha, esteiras, chapéu, vassouras, abano, pilão, cachimbos, maracá, borduna. É importante lembrar que em tempos passados estes produtos eram vendidos toda semana nas feiras, nos dias atuais, os produtores só fazem para venderem nos encontros dos povos indígenas, quando acontecem no povo ou em outros povos, ou por encomendas, quando são solicitados. Existem ainda no povo alguns indígenas que são funcionários públicos, na área da saúde e educação, outros são aposentados e outros têm pequenos comércios alimentícios. É importante destacar que o clima, o relevo e a hidrografia determinam e influenciam na produção agrícola e no tipo de vegetação das 75 Nossa Serra, Nossa Terra regiões naturais Pankará, como também na relação existente entre a agricultura e pecuária. Pois nas regiões de agreste e chapadas os animais como caprinos, ovinos, são criados amarrados e as galinhas no cercado, e geralmente estão sempre fortes. Nestas regiões não costumamos cercar as plantações. Já na região do sertão os animais são criados soltos e as roças cercadas. Além de caprinos, ovinos e suínos, existe também a criação de gado, embora em pequena quantidade, quem mais tem, possui apenas umas dez cabeças. Percebe-se que na sua maioria muito mal cuidados, onde os criadores no período de seca têm que queimar mandacaru para sustentar o gado. Principais Problemas Os principais problemas enfrentados hoje no povo em relação a terra estão relacionados com a nossa recusa em continuar sendo oprimidos pelos fazendeiros que exigem o arrendamento da terra, os políticos do município que tentam interferir na nossa organização social, e alguns índios do próprio povo que são influenciados pelos nãoíndios e estão vendendo parte da terra. 76 Nossa Serra, Nossa Terra Podemos citar também, a transposição do Rio São Francisco, pois os mais velhos afirmam que as águas da Serra do Arapuá vem de veias de água do Rio São Francisco e esse é um problema que afeta os nosso parentes Truká, como também os Pankará de Itacuruba, além da ideia do governo federal de construção de uma Usina Nuclear no município de Itacuruba. A invasão das terras indígenas, a diminuição das águas e poluição das mesmas, a extinção de algumas espécies de animais e essa usina nuclear são grandes ameaças à sobrevivência do nosso povo. Ainda ressaltamos que estamos sendo afetados diretamente com o esgoto do nosso município, que desagua nos riachos do nosso território, prejudicando nossas aldeias e as pessoas que nelas vivem. Contudo, algumas ações devem ser desenvolvidas pelo próprio povo para se proteger, como fortalecer nossa organização social, fazer encontros internos, reuniões, debates, ouvir as reivindicações das comunidades. Estabelecer metas para o nosso Projeto de Futuro do Povo, como a demarcação e homologação da Terra Pankará, organização e a distribuição (partilha) 77 Nossa Serra, Nossa Terra dos espaços na terra Pankará para que todos os índios possam ter o direito de usufruírem da terra que tradicionalmente ocupam (para podermos construir casas de alvenaria, escolas, plantar roças e na produção não ter que dar renda para os posseiros). Ter assistência técnica para agricultura, pecuária e fruticultura, incentivo para continuarmos as práticas da agricultura familiar (plantio de mandioca, milho, feijão de: arranca, corda, vermelho, andu, fava...), aproveitamento e beneficiamento das frutas, energia elétrica em todas as casas e moradia para todos os indígenas do povo, incentivo na produção dos artesanatos e na comercialização, formação e assistência técnica para evitar a prática do desmatamento e do uso de agrotóxicos. 78 Nossa Serra, Nossa Terra Compartilhando o cotidiano de luta com os Atikum e Pankará 79 Nossa Serra, Nossa Terra Quem eram os Índios Uma? História, Territórios e Resistência nos Sertões de Pernambuco. Carlos Fernando dos Santos JúnioR1 1. Mestrando do Programa de Pós Graduação em História da UFPE e Professor da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. 80 Nossa Serra, Nossa Terra Pernambuco possui dois sertões, o do Pajeú e do São Francisco, suas geografias são compostas pelos os respectivos rios que lhes dão nome. Com serras e ilhas de grande potencial econômico pela abundância em água, vegetação, caças e clima úmido e agradável, propícias para a criação de gado e a agricultura, apesar das secas periódicas naquelas regiões. Muito antes dos colonizadores alcançarem o interior do Nordeste, diversas etnias ocupavam as serras e ilhas nos sertões do Pajéu e São Francisco. Nelas viveram os Bancararus, Tuxá, Rodelas e Tamaqueus nas margens do rio São Francisco, e os Oê, Chocós, Pipipães e Umãs no vale do rio Pajeú território que tem seus limites ao norte com o Ceará e Paraíba e ao sul com São Francisco, nas proximidades dos atuais municípios de Cabrobó e Tacaratu no Estado de Pernambuco (Anais Pernambucanos, Vol. 5: 165-171). Neste texto, destacaremos os registros históricos sobre o etnônimo Umã que habitou a Serra Negra, as ilhas do São Francisco, Serra do Umã e as missões do Olho D’água da Gameleira e 2 2. Os registros sobre os umãs datam desde o século XVII cujo etnônimo fora escritos de diferentes maneiras: Humaés, Humoi, Imaus, Imans, Uman, Umão, Humam, Omaris e etc. 81 Nossa Serra, Nossa Terra Baixa Verde (no vale do Pajeú) na província de Pernambuco, e os Cariris Novos no Ceará na primeira e segunda metade do século XIX . O grupo Umã é considerado o ancestral mítico e histórico pelos povos Pankararu (ARRUTI, 1995: 37 e 40), Atikum e Pankará. 3 A Serra Negra servia de refugio e moradia para os Umãs e os demais grupos indígenas que também viveram nas margens do rio São Francisco e suas ilhas, no vale do rio Pajeú e nas serras adjacentes a essas regiões. Em virtude da expansão das terras do gado e dos núcleos urbanos para o Sertão de Pernambuco, a Serra Negra, as ilhas do rio São Francisco , como as serras Umã, Arapuá e Serra Grande da Baixa Verde no vale do Pajéu foram cobiçadas pelos colonizadores o que provocou conflitos com os Umãs e os demais índios da região. Favorecendo as investidas (entenda-se ataques armados) dos moradores a Serra Negra, ataques dos índios as vilas e, consequentemente, uma maior dispersão dos mesmos pelo Sertão. 4 3. Estes e outros documentos históricos encontram-se disponíveis no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE) e no Memorial de Justiça de Pernambuco (MJPE), Recife-PE. 4. Para citar algumas ilhas do São Francisco que entre os séculos XVII ao XIX foram transformadas em missões e vilas de índios: Assunção, Santa Maria, Coripós, Cavalos e etc. 82 Nossa Serra, Nossa Terra No início do século XIX coube aos capuchinhos italianos, Frei Vital de Frescarolo e Frei Ângelo Maurício de Niza, aldear os índios Umã e Vouvê fundando a missão no Olho d’Água da Gameleira (1801) e a Missão da Baixa Verde cuja carta de sesmaria foi confirmada em 1812 concedendo meia légua de terra para a missão . Em 1802 Frei vital de Frescarolo “pacifica” os Chocó (ou Xocó) e os aldeiam na missão Olho d’Água da Gameleira junto com os Umã e Vouvê, um grupo considerado “gentio brabo” que vivia embrenhado nas cabeceiras do rio Piancó e travessias dos Cariris Novos. 5 6 7 8 No entanto, apesar das tentativas de pacificação e aldeamento promovidas pelos capuchinhos, conflitos entre moradores e índios persistiam de maneira duradoura. No ano de 1814 dois 5. Os Vouvê foram os Oê, também chamado de Guê Guê, cujo etnônimo foi escrito de maneiras diversas. 6. Corresponde hoje a aldeia do Olho d’ Água do Padre, na área indígena Atikum, na Serra do Umã. Quanto a data da fundação da missão não é precisa. Enquanto Grünewald (1993) aponta para o ano de 1801, Pereira da Costa (1987, Vol. 5: 165, 167 e 171) informa que essa missão foi fundada entre os anos de 1804 e 1806, ao mesmo tempo que foi fundada a missão da Baixa Verde do Pajeú. 7. Missão criada para aldear os Umã e Chocó (COSTA, 1987). Hoje, no antigo território dessa missão, foi fundado o Município de Triunfo. 8. MJPE Comarca de Flores Cx. 381 ROR 05-03-1814: CARTA. Registro da Carta de Sesmaria de meia légua de terra concedida aos Índios da nova Missão de Baixa Verde na Serra Grande, Termo da Vila de Flores. Fl. 50-51. 83 Nossa Serra, Nossa Terra moradores da Fazenda Grande na Comarca de Flores, o Capitão Joaquim Nunes de Magalhães e o Diretor da Aldeia da Gameleira Francisco Barbosa Nogueira encaminharam um requerimento ao Príncipe Regente Dom João para a abertura de três estradas para os Cariris Novos e extinguir os índios das três Nações Umã, Oê e Chocó . 9 10 11 Os conflitos se agravaram com a morte dos dois capuchinhos causando o abandono dos índios da missão da Baixa Verde e das outras fundadas pelos religiosos e a dispersão dos indígenas pelo Sertão. Situação a qual os criadores e fazendeiros tiraram proveito, ocupando as terras das ditas missões. Ao longo do século XIX, ataques aos índios foram 12 9. Localidade na qual seria fundada a Vila de Floresta pela Lei Provincial nº 153 de 31/03/1846 (GALVÃO,1908: 256). 10. Refere-se a Missão do Olho d’Água da Gameleira que no ano citado acima, além da presença de religiosos também tinha uma administração leiga por um Diretor que, possivelmente, seguia a política indigenista do Diretório Pombalino extinto em 1798. 11. MJPE, Comarca de Flores Cx. 381 ROR 08-06-1814: Requerimento. Requerimento do Capitão Mor Joaquim Nunes de Magalhães e Francisco Barbosa Nogueira sobre a abertura de três estradas para Cariris Novos (Ceará) e extinguir os índios das três Nações Umã, Oê e Chocó. Fl. 58-60. 12. Os dados reunidos não indicam o ano da morte de Frei Vital, mas a partir do ano de 1806 Frei Ângelo de Nisa o substitui na administração das missões. Sobre o falecimento do Frei Ângelo, Pereira da Costa (1988, Vol. 5: 162) informa que ele morreu no dia 09/02/1824 e como não possuía um sucessor a sua altura os índios abandonaram a missão e dispersaram pela região, em razão da perseguição que vinham sofrendo dos moradores de Floresta e ribeiras do rio São Francisco. 84 Nossa Serra, Nossa Terra mais periódicos - incentivados pelos moradores da vila de Floresta – direcionados a Serra Negra (ROSA: 1988), local reconhecido por abrigar índios , negros e rebeldes . Como ocorrido em 1823, quando os criadores de gado José Francisco da Silva e Cipriano Nunes da Silva expulsaram os Pipipã da Serra Negra, para construção de casas e currais. Esses dois pecuaristas fizeram grandes plantações e abriram estradas mantidas por gente armada para evitar “qualquer investida dos índios espoliados das suas terras” (COSTA, 1987, vol. 5: 167). 13 14 15 Na segunda metade do século XIX, a Serra Negra permanecia como refúgio para as populações indígenas afligidas pela seca, mas quando a fome apertava os indígenas se aproximavam das fazendas de gado em busca de alimento. Nesse 13. Se refugiavam nesta serra desde os índios não-aldeados, chamados de “índios brabos”, como também aqueles indígenas que já experimentaram a vida nos aldeamentos e perseguidos abandonaram as aldeias preferindo viver na Serra Negra e outras Serras na Região (Umã, Arapuá, Cacaria, Serra Grande, Periquito e etc.) e ilhas no rio São Francisco. 14. A informações sobre negros fugidos e a existência quilombos na Serra Negra (ROSA: 1988). 15.Policia Civil, PC 26 Flores. OFICIO 13/07/1849. A polícia de Floresta enfrenta um grupo de revoltosos liderados por Nogueira Paz e José Antônio que atacam a vila. Informa que o ex-delegado de Floresta José Rodrigues se juntou aos rebeldes, e formou um aldeamento prejudicial ao governo, na qual vivem os índios do termo de Flores e de outros termos. Fls. 14-15. Policia Civil, PC 26 Flores. OFICIO 24/09/1849. O delegado solicita auxilio da Guarda Nacional para ir a Floresta para perseguir os rebeldes José Rodrigues, Francisco Nogueira Paz e outros que se acham acastelados na Serra Negra, distante 8 léguas. 85 Nossa Serra, Nossa Terra contexto, os criadores de gado acusavam os índios de atacarem as fazendas e matarem o gado. Nos registros do século XIX esses índios eram chamados de “errantes”, para época, esse adjetivo significava índios que abandonaram as vilas e missões e voltaram para suas antigas moradias que lhe serviam de “esconderijo”. Naquele período, entendia-se as fugas, os roubos e as mortes causadas pelos índios como lembranças de uma a vida “selvagem” e o abandono do estilo de vida “civilizado e cristão” a ser seguido, de acordo com os valores morais no Brasil do século XIX. Entretanto, aqueles que redigiram essas acusações contra os índios não reconheciam ou negligenciavam outros motivos das fugas e os ataques dos índios. Por causa seca e da perseguição dos fazendeiros, os Umãs e outros grupos indígenas refugiavam-se na Serra Negra e abandonavam as vilas e missões. Muito antes da chegada dos portugueses ao Sertão, a Serra Negra já era utilizada como local tradicional de moradia pelos índios que viveram nas ribeiras dos rios Moxotó, São Francisco e Pajeú, principalmente nos períodos de seca e nas cheias do São Francisco. Pois a citada serra 86 Nossa Serra, Nossa Terra oferecia caça e água para o sustento dos índios, e por ser uma área de altitude elevada, de mata fechada e de difícil acesso, as populações indígenas estavam mais protegidas contra os ataques dos moradores e criadores de gado da vila de Floresta. Entretanto, devemos lembrar que pecuária do século XIX era extensiva na qual o gado era criado solto, e nas épocas da seca muitos criadores soltavam o gado aos pés das serras, para proporcionar alívio aos animais desgastados pela estiagem e falta d’água. Esta prática corriqueira ocorria na Serra Negra. Intencionalmente criadores de gado soltavam o gado próximo da serra, pois as reses facilitavam a ocupação do território, e disto decorriam os choques e ações violentas mutuas entre criadores e índios. Observemos que os Umãs e outras etnias estavam disputando com os criadores da vila de Floresta e das fazendas circunvizinhas o controle sobre os recursos naturais da Serra Negra, sendo mais específico, a água. Quando surgem novas informações de índios “errantes” que atacavam as vilas de Flores e Floresta, refugiando-se na 87 Nossa Serra, Nossa Terra Negra Serra , os moradores da vila de Floresta organizaram expedições militares para expulsar os índios e os capturados fossem aldeados em novas aldeias para receberem os benefícios da civilização . Em 1856 foram criadas novas aldeias no Brejo dos Padres para reunir os índios “errantes” na Serra negra . 16 17 18 Os índios mais perseguidos pelos moradores de Floresta foram os Umãs que viviam nas Serra Negra, vale do Pajeú e ilhas do São Francisco. Os Umãs foram acusados de atacarem a vila de Floresta . As expedições militares organizadas pelos moradores pretendiam por fim a “rebeldia” destes índios e a sua posterior reunião nas aldeias de Assunção, Brejo dos Padres e Santa Maria. A resistência indígena na Serra Negra chegou ao fim no ano de 1894, quando os moradores de 19 16. Diversos II 10 1853-1860. OFICIO, sem número, 25/08/1856. Sobre os índios errantes que vivem na Comarca de Pajeú das Flores e na Serra Negra. Fl. 87. 17. Diversos I 24 1856/1865. OFÍCIO, sem número, 26/08/1856. Sobre os índios errantes na comarca de Flores e mandando formar uma nova aldeia para que os índios possam receber os benefícios da civilização. Fl. 2. 18. Diversos II 10 1853-1860. OFICIO, sem número, 2/08/1856. informando da criação de novas aldeias do Brejo dos padres, para reunirem os índios errantes da Serra Negra. Fl. 89. 19. Diversos II, V. 19. (1861-1871), Comarca de Flores. OFÍCIO , sem número 30/03/1866. Ofício da Diretoria Geral dos Índios para o presidente da província de Pernambuco sobre os índios bravos da Tribo dos Imaus que atacam a comarca de Floresta, fl. 99. 88 Nossa Serra, Nossa Terra Floresta organizaram o último ataque, culminando com a expulsão dos índios do local e a captura dos sobreviventes (a maioria mulheres e crianças) entregues as famílias de Floresta (ROSA, 1988). Em 1866, o Diretor Geral dos Índios, o Barão de Guararapes, enviou um Oficio ao Presidente da Província de Pernambuco informando que os Umãs refugiaram-se na Aldeia do Brejo dos Padres desde 1863. A presença deles trazia prejuízos e terror aos demais índios, como relatado pelo Diretor-Parcial dessa Aldeia, José Rodrigues de Moraes, pedindo ao Barão providências e meios para que aqueles índios deixassem a vida de crimes . 20 Os fazendeiros atacaram a Aldeia do Brejo dos Padres, sob a alegação que índios rebeldes e aldeados da citada aldeia estavam furtando o gado, mas o verdadeiro motivo do ataque foi o interesse pelas terras do aldeamento que eram muito valorizadas na época. Diante das perseguições e violências, entre os anos de 1852 e 1853, o maioral dos índios da Aldeia do Brejo dos Padres, Manoel Barbosa Arcoverde, encaminhou um oficio para a Presidência da 20. APEJE, Diverso II 19 1861-1871. OFICIO, sem número, 30/03/1866. Sobre os “índios bravos” que atacam a Comarca de Floresta. Fl. 99. 89 Nossa Serra, Nossa Terra Província denunciando as prisões arbitrarias contra os índios, perpetradas pelo Diretor-Parcial da Aldeia (SILVA, 2006: 10). Já no ano de 1875 a Aldeia foi legalmente extinta pelo governo provincial. Porém em 1883 os índios protestavam contra o fim do seu aldeamento por meio de um abaixo-assinado denunciando que “pessoas estranhas” invadiram suas terras (SILVA, op. cit.: 11). Os fatos citados demonstram a apropriação dos índios da escrita, que pertencia aos colonizadores, como instrumento da afirmação de autonomia e reivindicação de seus direitos (SILVA, op. cit.: 9). Quanto aos índios aldeados na missão do Olho d’água da Gameleira havia dois locais ocupados pelos índios Umã durante a segunda metade do século XIX , o Sítio da Penha e a Serra Umã. Em 18 de janeiro de 1866 a Câmara de Floresta informava que há muitos anos o Rei de Portugal doou aos índios duas léguas terras no Sítio da Penha e Serra do Umã. No entanto, os índios 21 21. A missão do Olho D’água da Gameleira foi criada pelo Frei Vital de Frescarolo para aldear os Umãs e Vouve (Grünewald, 1993: 28 e COSTA, 1987, Vol. 5: 165, 167 e 171). No entanto, na segunda metade do século XIX, as cartas e ofícios encaminhados para a Presidência de Pernambuco acusavam os índios Umã como o “gentio bravo” responsável pelos ataques as fazendas na vila de Floresta. Esses índios se encontravam “dispersos” pelo Sertão, como era afirmado naquela época. Uma parte dos umãs vivia na Serra Negra e a outra estava distribuída entre as vilas de Assunção e Santa Maria, na Aldeia do Brejo dos Padres e no Sítio da Penha e Serra Umã. 90 Nossa Serra, Nossa Terra Umã “desapareceram” e as ditas terras passaram a ser ocupadas por pessoas sem o título de posse. Por esse motivo o Presidente da Câmara de Floresta, Manoel Ferraz de Souza, pedia ao Presidente da Província, João Santos da Cunha Paranaguá, que as terras localizadas nos sítios da Penha e Umã se tornem patrimônio da Câmara . 22 23 Outra explicação do “sumiço dos índios” foi dada pelo Juiz de Direito de Tacaratú, Marcos Correia da Câmara Tamarino. Ele explicou que as terras do Sítio da Penha foram doadas pelo Rei de Portugal aos índios Umãs. Porém esses índios abandonaram essa aldeia por receio de perseguição dos índios “brabos” pertencentes a mesma “Tribo”. Aqueles índios e seus descendentes viviam “errantes”, e tinham o desejo de retornar ao Sitio da Penha onde existia sua antiga aldeia, mas a mesma estava sendo cultivada por 22. De acordo com Grünewald (1993) os Freis Vital de Frescarolo e Ângelo Nisa ao fundarem uma missão edificavam uma capela sobre a interseção de Nossa Senhora da Penha. Mas pelo documento acima, indicava que havia dois sítios doados aos índios: um no local onde foi erguida a capela (Penha) e a outra na Serra do Umã. 23. APEJE, Câmara Municipais 54-Floresta 18-01-1866: OFICIO, Sem Número, 18/01/1866. A Câmara solicitava que as terras localizadas nos sítios da Penha e Umã se tornassem patrimônio da Câmara. Informa que nos sítios citados habitavam índios (aldeados). Fl. 374. Obs: O Doc. Informa que essas terras foram doadas pelo Rei de Portugal. 91 Nossa Serra, Nossa Terra intrusos que declararam não entregar as terras sem um litígio . 24 Devemos ter em mente que os índios umãs e as demais populações indígenas sofriam pressão de três forças. Uma de ordem natural, a seca e as cheias do rio São Francisco, que eles já estavam familiarizados e desenvolveram alternativas para contornar as dificuldades imposta pelo meio ambiente sertanejo. As outras duas forças foram de ordem econômica e política impostas desde a colonização: a política estatal de sedentarização e concentração dos povos indígenas nos aldeamentos e vilas, e a perseguição que os mesmos sofriam dos colonizadores e moradores das vilas e fazendas que almejavam escravizalos e ocupar os seus territórios tradicionais para desenvolver a criação de gado. Essas pressões somavam-se a tradição da migração, pois na cultura dos índios do Sertão no século XIX, eles possuíam diferentes espaços 24. Juizes de Direito 39 - Tacaratú, Of. Nº 169 01-03-1866: OFICIO Nº 169, 01-031866. A Câmara Municipal de Floresta informa que os índios da “Tribo Umans” doado pelo Rei de Portugal no Sitio da Penha. Porém esses índios abandonaram essa aldeia por receio de perseguição dos índios “brabos” pertencentes a “Tribo”. Aqueles índios e seus descendentes viviam errantes, e tinham o desejo de retornar ao Sitio da Penha onde existia sua antiga aldeia, porém a mesma estava sendo cultivada por intrusos que declararam não entregar as terras sem um litígio. Fl. 14. 92 Nossa Serra, Nossa Terra de moradia distribuídos pelo sertão nordestino as ilhas dos São Francisco e suas duas margens (baiana e pernambucana), as serras (Serra Negra, Serra Umã e Serra Grande da Baixa Verde) e nos Cariris-novos no Ceará - com uma maior mobilidade espacial o que dificultava as políticas estatais de fixa-los em um local predeterminado e também embaraçava tentativas de controle social. É necessário desconstruir a imagem que os registros históricos fazem dos índios chamados de “errantes”, uma palavra que sempre era associada com os adjetivos “bravos” e “selvagem” qualificando os indígenas como incapazes de inserir numa sociedade predominantemente agrária, elitista e escravocrata. No entanto, com uma leitura bem atenta nos registros sobre os índios de Pernambuco e do Nordeste no século XIX, os grupos preconceituosamente chamados de “errantes” e “brabos”, na verdade, já haviam habitado nas missões e vilas, e conheciam e tinham acesso aos recursos sociais e políticos dos não índios para exigir os direitos enquanto súditos da Coroa Imperial brasileira. Na medida que os índios eram coagidos a abandonar os seus locais tradicionais de moradia 93 Nossa Serra, Nossa Terra ou eram expulsos de suas aldeias e vilas pelos criadores, eles migravam para outras áreas conhecidas e onde a perseguição era menor. Mas nada disso os impedia de retornar as suas aldeias, vilas e territórios tradicionais, e reivindicar a devolução de suas terras. Para tanto, faziam uso tanto da força como dos códigos culturais e políticos dos brancos. Sobre o uso da força, os conflitos armados e violentos entre índios e criadores pelo controle das terras, dos bens (que incluía terras e gado) e dos rendimentos das vilas e aldeamentos. Simultaneamente, os índios utilizavam da escrita para redigir cartas, requerimentos e petições para denunciar os abusos que sofriam e exigir os seus direitos enquanto súditos e índios sobre a paternal proteção do Imperador e do Estado do Brasil. Muitos desses documentos eram redigidos, não pelos índios, mas por brancos moradores das vilas com os quais os indígenas mantiam boas relações. Este fato indica que os índios costuravam uma rede de alianças políticas com não índios, sejam eles brancos ou negros, para lutarem pelo reconhecimento de seus direitos. Em resposta, criadores de gado aliados com as autoridades públicas das vilas procuraram desqualificar os 94 Nossa Serra, Nossa Terra índios de sua identidade para negar o direito sobre as terras dos aldeamentos. O principal argumento forjado foi o desaparecimentos dos índios, pois eles estavam “confundidos com a massa da população”. Para exemplificar essa afirmação, no ano de 1877 28 índios Umãs vindos de um lugar chamado Cachorra Morta, na Comarca de Jardim no Ceará, retornam a vila de Floresta com petições exigindo a reintegração das terras na Serra do Umã ocupada pelos moradores da vila . Esses mesmos índios desejavam a devolução de suas terras ocupadas por fazendeiros e rendeiros, e ajuda pecuniária “proporcionando-lhes os necessários meios de subsistência durante a melindrosa crise que atravessam os altos Sertões, como lhe for possível, e já tratando da educação dos Índios menores, até que possam os Suplicantes ter, de seu próprio trabalho, os meios de vida necessários” . 25 26 25. Colônias Diversas - DI 14-08-1877: OFICIO nº 630, 14/08/1877. Sobre as petições dos índios de Floresta, da reintegração das terras doadas por moradores a muitos anos num lugar chamado Serra dos Umã. Tais terras estavam sendo ocupadas pelos descendentes dos doadores que alegavam que os índios não habitavam naquelas terras a muitos anos. Fl. 279 e Colônias Diversas -DI 24-091877: OFICIO sem número, 24/09/1877. Sobre os Índios do Ceará que migraram para a Comarca de Floresta,em virtude de uma suposta aldeia que lhes pertenciam na dita Comarca. Fl. 282. 26. APEJE Colônias Diversas – Diretoria de Índios (1872-1879), Requerimento, 14/08/1877. Anexo 1, fl. 280. 95 Nossa Serra, Nossa Terra Sobre o caso, o Barão de Buíque respondeu ao Presidente da Província, Manoel Clementino da Cunha, do seu parecer baseado em informações do Juiz de Direito de Floresta, que: naquella terra nunca houve aldeiamento e sim um principio de povoação formada por descendentes de Umans; que os individuos qual se apresentaram ultimamente são de raça indígena, mas cruzados; que o aldeiamento não pode ser alli restabelecendo por não haver Terras, porque se teve extinguindo os aldeiamentos, visto delles nenhuma utilidade se tem [...], finalmente porque se aquelles individuos quiserem domiciliar no lugar, não faltará quem lhes dê terras para cultivarem27 Segundo Moreira Neto (2005) parte dos Umãs, entorno de 28 pessoas, migraram da Missão da Baixa Verde para a comarca de Jardim (Ceará) e foram para o lugar chamado Cachorra Morta em terras de Manuel José de Souza. No entanto, o citado autor confundiu os Umãs com os Chocós, e a possível razão da migração para a Província do Ceará seria a perseguição que sofriam pelos moradores de Floresta. A história dos índios Umã está presente no imaginário dos Atikum e dos índios Pankará. Pois 27. APEJE Colônias Diversas – Diretoria de Índios (1872-1879) Oficio nº 630, 14/08/1877, Fl. 279. 96 Nossa Serra, Nossa Terra eles consideram aos índios Umã da Serra Negra os seus antepassados históricos de onde provem os seus ancestrais míticos que trouxeram o ritual, dos quais descendem as principais famílias indígenas dos dois povos. Todavia, não podemos pensar que a Serra Negra era o único refúgio para esses índios, as demais serras e ilhas nos sertões de Pernambuco também estavam ocupadas não apenas pelos Umãs, mas por outras etnias que compartilhavam os mesmos territórios e a mesma luta contra os não índios que almejavam tomar suas terras. 97 Nossa Serra, Nossa Terra BIBLIOGRAFIA ARRUTI, José Maurício Paiva Andion. MORTE E VIDA DO NORDESTE INDIGENA: a emergência étnica como fenômeno histórico regional. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8, n.15, 1995,p. 57-94. Fl. 55. COSTA, F. A. Pereira da. Anais Pernambucanos. 1701-1739. Recife: Arquivo Público Estadual, 1987. V. 5 e 7. FERRAZ, Carlos Antonio de Souza. Floresta do Navio. Capítulos da história sertaneja. Recife: CEHM/FIAM, 1992. GALVÃO, Sebastião Vasconcelos. Dicionário Chorographico, Histórico e Pitoresco de Pernambuco. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 1908. Fundação Joaquim Nabuco - Biblioteca Central Blanche Knopf. GRÜNEWALD, Rodrigo de Azeredo. Etnogênese e ‘regime de índio’ na Serra do Umã. In: OLIVEIRA, João Pacheco de. (Org.). A viagem de volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. 2ª ed. Rio de Janeiro: Contra 98 Nossa Serra, Nossa Terra Capa livraria, 2004. Pp. 139-174. _______________. Regime de índios e faccionismo: os Atikum da Serra do Umã. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 1993. (Dissertação de Mestrado em Antropologia Social) RELATÓRIO SOBRE OS ALDEAMENTOS DE ÍNDIOS NA PROVINCIA DE PERNAMBUCO. Publicado no Diário de Pernambuco em 4 de abril de 1873. In: DE MELO, José Antonio Gonçalves. O Diário de Pernambuco e a História Social do Nordeste (1840-1889) Vol. 1. Recife: Diário de Pernambuco, 1825-1975. MENDONÇA, Carolina Leal. ÍNDIOS DA SERRA DO ARAPUÁ: Identidade, território e conflito no sertão de Pernambuco. Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Departamento de PósGraduação em Antropologia. Recife: UFPE, 2003. 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Os mapas são uma forma de representar a terra no papel, assim como a escrita é uma forma de representar a fala no papel. Existem muitos tipos de mapas e muitas formas de se fazer mapas. Os índios Pankará, para lutar pelo reconhecimento de suas terras, já fizeram diversos mapas de seu território. O território é como se chamam as terras que um povo usa, conhece e depende delas para a sobrevivência de seus parentes. É somente a partir de um mapa que se registra uma propriedade territorial no Brasil. Para se fazer estes tipos de mapas é preciso um tipo de trabalho muito específico, que por muito tempo só era conhecido pelas classes dominantes. Muitos povos não conseguiam provar para o Estado a propriedade de suas terras com um mapa oficialmente elaborado. Recentemente, a partir de muitos projetos e parcerias com ONGs, com o próprio Estado e com outros tipos de instituições, estão se espalhando as técnicas de se fazer mapas. Com isto, os povos indígenas estão tendo a oportunidade de fazer seus próprios mapas e reivindicar para o Governo 103 Nossa Serra, Nossa Terra os direitos sobre as terras que ocupam tradicionalmente. Os mapas dos povos tradicionais são construídos por meio de oficinas. Nestas oficinas, se unem caçadores, agricultores, anciãos, professores, pajés e todo tipo de gente que faz parte da comunidade, junto com técnicos e pesquisadores cartógrafos, ambientalistas e antropólogos, que conhecem a forma oficial de se fazer mapas. Neste momento, os pesquisadores e técnicos ensinam à comunidade como se faz um mapa e a comunidade ensina para os técnicos e pesquisadores como eles usam suas terras e onde elas estão localizadas. Há dois conceitos essenciais para se fazer um mapa. O primeiro é a escala e o segundo é a legenda. A escala é uma coisa que não é fácil de entender na primeira vez que se estuda como se faz um mapa. Porém, após várias oficinas e após fazer vários mapas, a escala se torna uma coisa óbvia e conhecida por todos. A legenda é outra coisa essencial, mas é mais fácil de entender. A escala é a relação entre a dimensão da terra que está sendo mapeada e o tamanho do desenho 104 Nossa Serra, Nossa Terra que está sendo feito para representar certa distância. Esta relação é representada de forma matemática como, por exemplo, 1:50.000. Isto significa que em um mapa de escala 1:50.000, um centímetro desenhado no papel representa 50.000 centímetros de distância de um ponto para outro na terra mapeada. Os mapas podem ser desenhados em várias escalas. Quanto maior a escala, maior o detalhe do mapeamento, porém menor é a área mapeada. Podemos perceber o conceito de escala usando uma máquina fotográfica com zoom. Quando damos muito zoom em uma foto, podemos tirar a foto só do olho de uma pessoa e o olho fica bem grande na foto. Quando diminuímos o zoom, o olho fica pequeno, mas é possível ver o rosto todo da pessoa. O mesmo acontece com o mapa. Se quisermos mapear em uma cartolina somente o roçado de uma família, ele será desenhado bem grande e poderemos diferenciar onde está plantado com milho, onde está plantado mandioca, onde está plantado feijão, etc. Se diminuirmos a escala e formos desenhar todos os roçados de uma comunidade na mesma cartolina, a roça de cada família vai ser desenhada bem pequenina e talvez não seja possível desenhar onde foi plantado cada coisa nesse mapa. Porém, 105 Nossa Serra, Nossa Terra neste segundo mapa, podemos ver onde fica a roça de todos, ou seja, tem menos detalhe, mas maior abrangência. A legenda é a forma gráfica como se representam as informações nos mapas. Assim como um texto é uma combinação de letras para comunicar algo em forma de palavras, um mapa é uma combinação de símbolos para comunicar onde estão localizados lugares ou coisas em forma de desenhos, pontos, linhas e polígonos. Os Pankará já fizeram muitos mapas e continuam fazendo. Os primeiros mapas do território Pankará, que as lideranças se lembram, foram feitos com a ajuda do Centro de Cultura Luiz Freire e com o CIMI. Nestes mapas, foram desenhados a mão livre as aldeias, casas, terreiros, reinados, os caminhos e as estradas. Este mapa é muito importante, pois foi a partir dele que se começou a pensar em quais seriam os limites para a demarcação da Terra Indígena Pankará da Serra do Arapuá. Depois que os Pankará começaram a desenhar seus mapas, muitos outros mapas foram realizados por meio de oficinas, da feira de cultura, 106 Nossa Serra, Nossa Terra reuniões, etc. Outros mapas muito importantes foram elaborados por lideranças, jovens, velhos, pajés, caçadores, agricultores, artesãos, etc. O mapas foram desenhados diretamente pelos próprios índios Pankará. O primeiro, na página 105, totalmente a mão livre, representando a forma como os índios percebem seu espaço. No segundo mapa (pág.108), os conhecimentos dos índios sobre o espaço foram desenhados em cima de uma imagem de satélite do território Pankará, configurando um mapa de conhecimento misto. Outros tipos de mapas foram produzidos junto com os Pankará. Nos mapas técnicos, as informações que se desejam mostrar são representadas em acordo com o que se chama de projeção cartográfica. A projeção cartográfica é uma forma matemática de se representar o espaço da terra no papel, a partir de coordenadas de latitude e longitude. Como resultado, podemos ver o mapa (pág.111) que une o conhecimento dos pajés sobre os lugares sagrados na Serra do Arapuá e o conhecimento técnico de se fazer mapas, representando estes lugares em forma de um 108 Nossa Serra, Nossa Terra mapa cartesiano em projeção cartográfica. Os mapas não servem somente para se registrar uma propriedade. Eles podem servir também como ferramentas de planejamento de um território, para localizar os recursos naturais e pensar na melhor forma de usar e preservar estes recursos. Podem ajudar a identificar as áreas degradadas, planejar a recuperação destas áreas e ajudar a construir ou melhorar as ações de proteção dos territórios. Podem servir para o fortalecimento cultural de um povo, valorizando os conhecimentos tradicionais sobre a terra e a natureza, fortalecendo o diálogo entre as aldeias. Os mapas podem servir também para colaborar com a formação dos professores indígenas e para mostrar para o resto do mundo que um povo conhece, usa e precisa de suas terras. Sendo o mapa uma forma de comunicação em relação ao uso do espaço e da terra, é muito importante o envolvimento dos jovens neste processo, pois são eles que vão usar a terra no futuro, assim como seus filhos, netos e assim por diante. Os jovens Pankará estão estudando e podem também se apropriar das técnicas de se fazer mapas técnicos. Os conhecimentos sobre esta forma de se fazer mapas estão se 109 Nossa Serra, Nossa Terra 110 Nossa Serra, Nossa Terra 111 Nossa Serra, Nossa Terra disseminando rapidamente e os programas de computador facilitam este aprendizado. O envolvimento dos mais velhos é também muito importante para não se perder o conhecimento que eles têm das histórias e do significado de cada espaço, de cada pedaço de terra que foi usado, protegido, ou habitado pelos seus parentes. 112 Nossa Serra, Nossa Terra 113 Nossa Serra, Nossa Terra O que dizem os registros históricos Transcrições dos documentos manuscritos depositados nos Acervos do APEJE/PE, MJPE/PE e Museu do Índio - MI/RJ OFICINA: PATRIMÔNIO HISTÓRICO TÉCNICAS E METODOLOGIAS NA PESQUISA DOCUMENTAL ACERCA DA HISTÓRIA INDÍGENA EM PERNAMBUCO. RESPONSAVEIS: CAROLINE LEAL - ANTROPÓLOGA/COORDENADORA E CARLOS FERNANDO DOS SANTOS – HISTORIADOR 114 Nossa Serra, Nossa Terra MEMORIAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBUCO – MJPE 1. MJPE, Comarca de Flores Cx. 381 Registro de Ordens Régias (ROR). Requerimento do Capitão Pedro José Delgado para o Desembargador Antonio José Pereira Barroso de Miranda Leite, Corregedor da Comarca do Sertão. Vila de Flores para o Rio de Janeiro em 15/06/1813. Assunto: Requerimento sobre o ataque do gentio bravo (Pipipãs) as fazendas de gado. Fl. 43-46. Data da Consulta: 19-01-2010. [Folha 43] 1 Registro do Requerimento do Capitão Pedro José Del- 2 gado, Portaria, ou despacho no mesmo do Corregedor 3 desta nova Comarca do Sertão, o Dezembargador Antonio 4 José Pereira Barrozo de Miranda Leite, Sobre 5 o gentio bravo existente nesta Comarca, [..] 6 [...] o de fera natural dos Senhores de Fazendas de 7 gado, e o como estes Se poderão defender do dito gentio. 8 = Requerimento=/ 9 A Vossa Senhoria, em cujo braço Se acha depositado o 10 alto poder do mais pio, e mais Augusto dos Soberanoz; 11 a Vossa Senhoria, em Cuja alma Só impera a integrida- 12 de, e a Sabedoria: Recorre Pedro José Delgado acto- 115 Nossa Serra, Nossa Terra 13 al Juiz de Orfaos desta Villa; e com o accatamento de- 14 vido passa já a deduzir a Rezão de seo recurso. Sendo 15 o Supplicante Senhor, e possuidor da Fazenda de Criar gadoz 16 denominada Bom-Jardim no termo do julgado de Taca- 17 ratú desta Comarca, e na qual consiste quaze todo 18 o seo Patrimonio, e de Sua Familia, vê-se nas criticas 19 Circunstancias de dezamparar a mesma Fazenda, e Re- 20 duzir-se ao Lastimôzo estado de indigencia, ou de per- 21 der a vida, ou quando menos ha[?] devêr-se Criminozo [Folha 44] 22 Criminozo de morte, e seos [...].Como: Há um [...] 23 [...] Certões daquelle Continente huã Nação de Gentio 24 bravo, denominada Pipipam, a qual, a maneira dos Arabes 25 viviam vagabundos, fazendo Roubos, assacinos, e tão deshu- 26 manoz, que são Realmente Antropofagos. Estes 27 deshumanoz pois, tem por muitas vezes invadido a Fa- 28 zenda do Supplicante, desfolando os seos gados, a comtudo os 29 seos Escravos, e vaqueiros que se poren em fuga para 30 salvarem as vidaz, e finalmente â pouco matarão, na 31 mesma Fazenda , dois Escravos do Supplicante, como se vê do do- 32 cumento junto. O Supplicante conhese que por todos os di- 33 reitos está obrigado a Repellir de mão armada a âquelles 34 barbaroz, es ajusta defeza de sua pessoa; (por que mui- 35 tas vezes vai a mesma Fazenda) de seus Benz, e de sua Fa- 116 Nossa Serra, Nossa Terra 36 milia; Cujos direitoscontemplou Burlamaqui Elemens 37 du dedroit natural. Parta Segunda Chap. Sete, como 38 meio mais adquado de suster a Sociedade, e a pás. – “ 30 [...] – dia este grande Autor –“ Ou “[...] ... 31 [citação em Francês] 32 [citação em Francês] 33 [citação em Francês] 34 [citação em francês]. Apezar do Direito que asiste ao 35 Supplicante, athé mesmo pela letra da Ordem [?] livro quinto 36 titulo trinta, e Sinco impresso [...] – Porem, vê-se o Supplicante 37 cohibido a se puder vallêr delle: primeiro porque: 38 acontecendo, no conflito da defeza, algua morte 39 naquelles bárbaros, está a o Supplente a fim [...] 40 nas Circunstancías de Serem pronunciados com culpa 41 athe mostrarem a necessaria defeza: segundo por- 42 que: não tem força bastantes para a repulsa: Nes- 43 repulsa. Nestas tristes circunstancias pois recorre os sup- 44 plicantes a Vossa Senhoria, ( a quem Reconhesa hum Poten- 45 te Delegado do Soberano, para o de oprimir) implo- 46 rando se queira dignar [...] Ordenar, que qualquer Capi- 47 tão Mor, Commandante, ou outra qualquer Auctori- 48 dade Constituida, preste auxilio ao Supplicantete todaz 49 as vezes, que, em sua necessária defeza, dos seos [...] 50 los, e bens, lhe seja necessário repelir aos mesmoz bar- 51 baros:, e que os Juizes territoriais não prosedão a devassa 52 por qualquer fato que acontessa contra os mesmos bar- 53 baros, por ser em direito de guerra, na qual estão os 117 Nossa Serra, Nossa Terra 54 mesmoz continuamente com todos os habitantes do Paiz, 55 e por esta graça= Receberá Mercê= despacho= A necessida- 56 de extrema faz cessar a despozição da Lei, como decreta 57 a Ordenação livro quinto, titulo sento, e sete, parágrafo 58 déz, o que he fundado no principio jurídico quão necessi- 59 tas [citação em francês] 60 [citação em Francês] 61 [citação em francês]. Vendo-se 62 pois o Suppplicante na extrema necessidade de defender a sua 63 vida, e do seus Escravos da Fazenda, vem-se a vereficar ne- 64 lle a legal disposição da Referida Lei; comtanto porém 65 que pratique a[...], qual vem 66 asser : não procurar matar, más fim defender a pro- 67 pria vida, e dos seos Escravoz; e não usar de maior Violen- 68 cia, que a necessária para sua defenssa, e dos Seos Escra- 69 voz; que não attenda antes de ser acommetido pelos 70 Barbaroz Indios aggressores; que Se defenda no mesmo 71 acto do acommetimento, e não depois de passado al- 72 gum espasso de tempo; e que Com probabelidade creia [Folha 45] 73 Comprobabelidade Creia será ferido mortamente todos 74 ou morto elle, ou seos Escravos, senão Repellir a a força em 75 tudo. Nesta escabrozas circunstancia hé que se entenda 76 a legal excepçaõ, posta na Ordem de Já referido livro quinto, ti- 77 tulo trinta e sinco, inprincipio, dos princípios do Direito natural 118 Nossa Serra, Nossa Terra 78 indiciados por Burlamaq, [...]. Na 79 prezença dos mesmos Principios, estando sempre [...] 80 [...] tutela pode impunimente o Supplicante Repellir 81 a força dos Barbaros Indios inimigos da Sociedade, cujos men- 82 bros reconhesendo a Soberania, e as Leis, e concorrendo para 83 estabilidade de huã, e outras, e Com a Pronta prestação 84 faz indispensáveis impozições do Estado tem Direito a Re- 85 querer do mesmo a Segurança das Suas Pessôas, e bens; e 86 hé por isso mesmo que o Supplicante para a defeza de suá 87 Pessôa, e dos Seus Escravos da Fazenda, pode com im- 88 punidade, observados em todo o Cazo as predictas cir- 89 cunstancias inculpatos [?] tutelas[?], defender-se dos referidos 90 Indios Barbaros aggressores, athé o ponto de os deixar sem 91 vida, se por outro modo não puder defender a suá, e dos seos 92 Escravos da Fazenda: para este fim poderá convocar os 93 officiais de justiça, requerer auxilio aos Capitaés Mores 94 Ordenanças, que lho não devem negar; ficando Certos 95 os Juizes das Devassas, que éstas, em taés circunstancias, vere- 96 ficando o moderan inculpatos[?] tutelas[?], não devem proceder 97 as ulteriora, e sim previo mandato do Ouvidor Corregi- 98 dor, Presidente da Comarca, e Superior de todas as Jus- 99 tiças na mesmas, para o que se lhe Remêterão as referidas 100 devassas, no Cazo de Se proceder a ellaz, em tais circunsta- 101 cias; para isto ter o seo devido e feito mando, que esta de 102 treminação, com o Requerimento do Supplicante, e attestação do 103 Reverendo Vigario da Fazenda grande, Sejão Registados 119 Nossa Serra, Nossa Terra 104 nos livros de Correição, e da Camera, dando-se-me a mim 105 dando-se-me amim hua Certidão de tudo, para opor na pré- 106 zença do Excellentissimo senhor General, primeiro, Reprezenta- 107 nte, e Regio, e Loco Tenente nesta Capitania, Villa de Flores 108 trez de Maio de mil Oito Centos, e treza = Antonio Jozé 109 Pereira Barrozo de Miranda Leite = Requerimento = Diz 110 Pedro Jozé Delgado da Treguesia da Fazenda grande, que para 111 [o] bem de seo Direito lhe He presizo que o Reverendo parocho da 112 dita Freguesia lhe atteste se encommendou dois Escravos 113 do Supplicante de nome Thomás, e Francisco, Sepultados 114 no Simiterio que há na Fazenda de Santo Amaro, mortos 115 por asscino[assassinato] pelo gentio bravo, denominado, Pipipam, tudo 116 em termos que faça Fé, porttanto = Pede ao Muito Reve- 117 rendo Senhor Vigário da Vara da dita Freguezia Seja as- 118 sim o mandar = E receberá Mercê= despacho= Atteste= 119 Pereira =Attestação= Serafim de Souza Pereira Presbi- 120 tero Secular Paracho actoal da Fregueszia do Bom 121 Jesus da Fazenda grande inella Vigario da Vara, Juis dos 122 Cazamentos, Justeficações, e Residuos pelo Illustrissimo 123 Cabido e de Episcopal He vacante= Attesto que no dia quin- 124 ze do mês de Setembro do prezente anno, na Fazenda San- 125 to Amaro desta Freguezia encommendei os cadavarez já Se- 126 pultados no Semiterio que há na dita Fazenda, de 127 Thomáz Pardo de idade de trinta annoz, e de Francisco 128 do Gentio de Guiné, de idade de sesenta, e oito annos, Es- 120 Nossa Serra, Nossa Terra 129 cravos do Capitão Pedro José Delgado, mortos pôr a- 130 ssino pelo gentio, denominado, Pipipam, o que tudo He 131 verdade, e o afirmo em fé de Parocho Freguezia desta Fa- 132 zenda grande vinte de Setembro de Mil Oito Centos, 133 e dez = Serafim de Souza Pereira= Vigario da Fazen- 134 da grande = India, e Mina = O Doutor Antonio José 135 Pereira Barrozo de Miranda Leite, Cavalleiro Pro- 136 ffeço na Ordem de Christpto, do Dezembargo de Sua Al- [Folha 46] 137 de Sua Alteza Real O Principe Regente [...] 138 Nosso Senhor, Seo Dezembargador da Caza de su- 139 plicação, Ouvidor Geral, e Corregidor, e Provedor desta 140 nova Comarca do Certão de Pernambuco, e nela Juiz 143 das justificações da India, e Mina tudo pelo mesmo 144 Senhor que Deos Guarde Vossa Senhoria. Faço Saber que me com- 145 tou por Fé do Escrivão de meo Cargo, que esta escreveo 146 ser a letra, e Signal da âttestação [...], [...] do 147 Reverendo Vigário da Freguezia da Fazenda grande, Se- 148 rafim de Souza Pereira, o que hei por justificado 149 Verdadeiro, Flores treze de maio de Mil oito Centos 150 e treze = José Maria de Albuquerque e Mello, Es- 151 crivão da Correição o escrevi = Antonio José Pereira Bar- 152 rozo de Miranda Leite = Verba do Sello = Pagou qua- 153 renta Reiz do Sello Regio, Villa de Flores quinze de 121 Nossa Serra, Nossa Terra 154 Junho de mil Oito Centos, e treze = Denis = Veras = o 155 Escrivão do Sello Lopes = E mais senão Continha em dito 156 Requerimento, despacho, e documento junto a este, a verba do Sello 157 que pagou o mesmo, que eu Escrivão da Camara abaixo asig- 158 nado, a qui bem, [...] Copias do próprio, que me foi apre- 159 zentando, e que outra vês tomei a entregar a pessôa, que do 160 seo Recebimento abaixo asignou, e com elle este Regis- 161 to Conferir, e [...] na forma do estillo: Nesta /Villa 162 de Flores aos quinze dias do mês de Junho do Corrente anno 163 do mil oito Centos, e treze, José Fernando Lopez 164 Escrivão actoal da Camera que o escrevi, e aSignei em 165 fé. E Atesto de Verdade 166 [...] 167 Pedro José de Goes[?]. Jozé Fernandes Lopez. 2.MJPE, Comarca de Flores Cx. 381 Registro de Ordens Régias (ROR). Requerimento do Escrivão da Câmara da Vila de Flores, José Fernandes Lopez, para o Príncipe Regente, Dom João. Vila de Flores para o Rio de Janeiro em 08/06/1814. Assunto: Requerimento do Capitão Mor Joaquim Nunes de Magalhães e Francisco Barbosa Nogueira sobre a abertura de três estradas para Cariris Novos (Ceará) e extinção dos índios das três Nações Umã, Oê e Chocó. Fl. 58-60. Data da Consulta: 19/01/2010. 122 Nossa Serra, Nossa Terra [Folha 58] 1 Registro de hum Requerimento do capitão 2 Môr Joaquim Nunes de Magalhães, 3 e Francisco Barboza Nogueira, sobre a âber- 4 tura de tres Estradaz deste Termo para Ca- 5 riris novos, e extinguir-se os Indios das Trez 6 Naçoens Umam oHê, e Chocó como se declara. 1 Illustrissimo Senhor= Diz o Capitão Môr Joaquim Nunes 2 de Magalhães, e Francisco Barboza Nogueira, Director 3 dos Indios Aldiados na Gameleira, e que foi dos da Baixa 4 verde, os quais huns, e outros se achão Rebeliados, e Redu- 5 zidos ás suas Barbaridades, Commettendo os maiores Rou- 6 bos, e insultos dos Seos Costumes, Comgravissimo prejui- 7 zo, não Só aos Povos, como á Fazenda Real; e por que 8 se tem exgotado os termos da Participação, e Nessecidade 9 com estes Omenz brutos, Selvagens. Sucede serem 10 Prezos na Baixa verde Serta purção [?], por desatogo daz 11 impias intencoenz do falecido Commandante Cipri- 12 ano Gomes de Sá, e por isso não há mais esperanças de 13 Tomarem, ainda com forças, as ditas Aldeias; e Porque as 14 asperezas das Brenhaz, ignorância das Agoas, tudo defi- 15 culta as tropas, chamadas Bandeiras, apoderem pro- 16 curar a estes Barbaros nos Seos esconderijos, por isso nun- 17 ca tiverão fim, e nem terão, sem Embargos de nunca 18 faltarem as providencias, e Ordenz, que para isso tem 123 Nossa Serra, Nossa Terra 19 expedido o Illustrissimo e Excelentissimo senhor General e Seos Prede 20 [s]seçores:Temos Supplicantes acordado nas milhores Medidaz; 21 e para com felicidade Se extinguir de todo a existen- 22 cia destes Barbaros, deve-se Romperem-se, e destruírem- 23 se os ditos esconderijos com tres estradas, que estão já duas 24 duas principiadas, e huã aberta, porem Sem Culti- 25 vação, por haver logo hum [...] de fogo que [...] 26 [...], feitas por deligencia do Supplicante Director, por 27 não dar Execução a ellaz o falescido Commandante, que 28 por Reprezentação do Supplicante Director, veio Ordem do 29 Illustrissimo e Exceletissimo Senhor, e Illustrissimos Senhores do Governo para o dito 30 Commandante se fazer abrir: Estas trez Estra- 31 daz, Illustrissimo Senhor Dezembargador, Corregidor, e ouvidor Geral 32 não Só utiliza adesvaneser[?] aos Indios dos Seos esconderi- 33 jos, e a fassilidade de Serem prezos, ou fazellos Rende- 34 rem-se, Como mesma utilidade publica para o Com- 35 mercio desta Comarca para os Cariris novos Comarca 36 do Siará, para onde sempre [...] desta Com- 37 marca Viverez, visto haver muita diferença de atalho, 38 e suavidade muito Comoda ao mesmo Comercio 39 publico, que athé Se esperancia puder navegar 40 Carros para os Cariris novoz. Nestes termos Recorrem 41 os Supplicantes a Vossa Senhoria, Como Ministro 42 Regio de Sua Alteza Real, o Augusto Principe 124 Nossa Serra, Nossa Terra 43 Regente Nosso Senhor, para prover a Seos Vas 44 saloz nestas, e com outras Cauzaz da Suas necessidades, 45 para que achando junto, Se digne mandar para que com 46 maior Cuidado Se proceda na abertura da Sobreditas 47 Estradaz, concorrendo todos os Povoz no que for mister, vis- 48 to Ser necessário acompanhar, aos Serventuarios das 49 Estradaz, tropaz para Se defenderm dos incontros, que 50 infelizmente hão de dar os Indios, pois defendem 51 fortemente as tais estradas; Como tambem Se com- 52 tinuarem as diligencias contra os ditos Indios, afim [Folha 59] 53 afim de Se concluir, e fazer Secção tantos 54 inssultos, que padesem os proprietários de [...] 55 de Semilhantes Brutos Ferozes, e dos Venenoz, portanto 56 pede a Vossa Senhoria Illustrissimo Senhor Dezembargador, Ouvi- 57 dor Geral, e Corrigidor desta Comarca do Sertão, atendendo 58 ao Reprezentado, e achando justo, queira mandar com a Re- 59 tissima Justiça que Costuma = E receberá Mercé = Joaquim 60 Nunes de magalhaens = Francisco Barboza Nogueira = 61 Despacho = Respondão os Officiais da Camera Servindo 62 cada Estradas São [...], não So para a Coquista dos 63 Indios, mas tambem para a Commonicação dos povoz 64 desta Villa, e Comarca com os dos cariris, Comarca do 65 Ciara, a Commercio de huns, e outros. Flores Sete de Junho 125 Nossa Serra, Nossa Terra 66 de mil oito Centos, e quatorze = Barrozo = Informação da 67 Camera = Illlustrissimo Senhor Dezembargador, Ouvidor Ge- 68 ral, e Corregidor desta Comarca = Em vista do Res- 69 peitavel despacho Rectro de Vossa Senhoria, Responde- 70 nos; Que hé muito justo o que Reprezentão os Supplicantes 71 na abertura das tres Estradas, para assim Se facili- 72 tar a conquista dos Indios Barbaros das Trez Nações U- 73 mam, ohé e Chocó, e tambem para facilitar o Commer- 74 cio dos Povos desta Comarca por da do Ciará grande, que 75 todos estes povos Fazem Suas Negociações de Viveres da pri- 76 meira necessidade, quando hâ falta nesta Comarca: 77 Elevarão as ditas Estradas Principiar, a Saber, a Primeira 78 da Serra do Umam deste termo, athé Sahir no Engenho 79 da Coitézeira, termo de Carriris Novoz: A Sigunda de- 80 verá Principiar na Fazenda da Inveja [?] deste termo a 81 deste termo a Sahir na fazenda do [...], Cariris no- 82 vos: [...] de Vará principiar na Fazenda de Be- 83 llem deste Termo, athé Sahir na Fazenda de Cana 84 brava termo de Cariris novos: Hé o que podemos infor- 85 mar a Vossa Senhoria que mandará o que for servido, Villa 86 de Flores em Camara de Oito de Junho de mil oito 87 Centos, e quatorze = Illustrissimo Senhor Dezembarga- 88 dor Antonio José Pereira Barrozo de Miranda Leite = 89 Pedro José Delgado = Theodoro Siro de Sousa = Manoel 90 de Sousa Ferrás = José de Medeiros Silva = Despaxo = 91 Visto que pela Reposta dos Officiais da Camara São 92 uties as tres Estradas indicadas, mando que o Capitam 126 Nossa Serra, Nossa Terra 93 Môr, com o Capitam Barboza avizem para Estrada Luis 94 Rodriguez da Cruz, para a Segunda o Capitão José 95 Pereira da Silva, e para a terceira o Carllos José de Ser- 96 queira, para Cada hum delles Sijão os Directores da 97 âbertura das mesmas Estradaz, Obrigando os Povos a 98 Concorrer para a abertura das mesmaz, Athé que final- 99 mente Se ponhão Prontas, não Só para Se pode- 100 rem Communicar os Povoz desta Comarca com os da 101 do Ciará; más tambem para Se poderem conquis- 102 tar os Indios das tres Nacçoenz mencionadas; o que 103 Se deve Praticar com a brevidade pocivel; para 104 o que o dito Capitão Môr Será o Principal In- 105 tendente, e Director das mesmas Estradas, e com- 106 quista dos Indios: Este Com o Requerimento, e Res- 107 posta será logo Regist[r]ado pelo Escrivão da Ca- 108 mera nos Livros da mesma, e me entregará huã Cer- 109 tidão de tudo. Flores oito de Junho de mil oito Cen- 110 tos, e quatorze = Barrozo = Verba do Sello = Pagou [Folha.60] 111 Pagou Sento, e vinte Reis do Sello Regio Villa 112 de Flores Oito de Junho de 1814 de Junho de mil 113 Oito Centos, e quatorze = Delegado = varas = o Es- 114 crivão do Sello = Lopez = E Mais Senão Continha 115 nem declarava, e era outro fim Contesido, escripto, e de- 116 clarado em dito Requerimento, Despachos, Resposta da 127 Nossa Serra, Nossa Terra 117 Camera, e Verba do Sello Regio que eu José Fernan- 118 des Lopez Escrivão da Camera, e mais anexos bem 119 e facilmente aqui Regist[r]ei do Proprio Requeri- 120 mento, que me foi aprezentado, e que outravês tor- 121 nei a entregar a pessoa que do são Recibimento abai- 122 xo asignou, ao qual em tudo, e por tudo me Reporto 123 pois este Respeito fica na verdade sem Cousa que duvida 124 faça Conferindo, e Consertado commigo próprio Escrivão 125 , e Com o official de Justiça e Consto abaixo Comigo 126 aSignado na forma do [...] Villa de Flores Oito de 127 junho do Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesúz 128 Chrispto de mil Oito Centos, e quatorze José Fer- 129 nades Lopez Escrivão da Camera que o escrevi, e asig- 130 nei em Fé. Atesto de Verdade 131 [...]Comigo proprio Escrivam da Camera 132 Jozé Fernandes 3.MJPE, Comarca de Flores Cx. 381 Registro de Ordens Régias (ROR). Carta do escrivão da Câmara da Vila de Flores, José Fernandes Lopes, para o Governador e Capitão General da Capitania de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro.Vila de Flores para o Recife em 05/03/1814. Assunto: Registro da Carta de Sesmaria de meia légua de terra concedida aos Índios da nova Missão de Baixa Verde na Serra Grande, Termo da Vila de Flores. Fl. 50-51. Data da Consulta: 19/01/2010. 128 Nossa Serra, Nossa Terra [Folha 50] 1 Registro da Carta de Data de Sismaria de 2 mia legoa de terras quadrada, Consedi- 3 da aos Indios da nova Missão da Baixa 4 verde, na Serra grande deste termo. 1 Caetano Pinto de Miranda Montenegro do 2 Conselho do Principe Regente Nosso Senhor, e do da 3 Fazenda, Commendador da Ordem de Chrispto, Go- 4 vernador, e Capitão General da Capitania de Pernam- 5 buco Vossa Senhoria Faço Saber aos que esta Carta de Data 6 de Sismaria Virem, que Requerendo-me Frei Angelo 7 Frei Angello Mauricio de Niza por parte dos Indios 8 Aldiados na nova Missão de Nossa Senhora das Dores 9 da Baixa verde na Serra grande da Ribeira do Pajeû 10 lhes mandasse demarcar a terra que o Directorio, e Reaés 11 ordens determinão lhes Sejão dadaz, e conformando-me 12 com o parecer do Doutor Dezembargador Ouvidor Geral e 13 Corrigidor da Comarca do Certão, dado em officio de trinta 14 de Julho de mil oito Centos, e onze, e com a Resposta do Dou- 15 tor Procurador da Corôa, e Fazenda desta Capitania 16 de seis de Agosto do Corrente anno: Hei por bem conse- 17 der aos ditos Indios, em nome do Principe Regente Nos- 18 so Senhor, meia legoa de terra quadrada, em observn- 19 cia do Alvará, com força de Lei, de vinte, e tres de Novem- 20 bro de mil Sete Centos, a qual mesmo Ministro fará 129 Nossa Serra, Nossa Terra 21 demarcar na forma do Citado Alvará, devendo compre- 22 hender o local em que está Situada a dita Missão, 23 de que não pagará Fôro algum, como determina a Lei de 24 Sete de Junho de mil Sete Centos, e Sincoenta, e Sinco, 25 a qual Sismaria Pessuirão, e gozarão esses ditos Indi- 26 os, e Seos dessendentes como suá que fica sendo de 27 hoje para todo Sempre, com todos os Mattos, Campos, 28 Rios, Agoas, Hestradaz, Logradouroz, e mais uteis, que 29 nella Se comprehenderem, sendo obrigados a dar ao 30 Conselho Caminhoz livres para pontes, fontes, e pe- 31 dreiraz, e Requererem, dentro de tres annoz conformação, po- 32 voalla, e cultivala, na conformidade, da Ordem Re- 33 gia de Vinte de Outubro de mil Sete Centos, e Sincoen- 34 ta, e tres, e Alvará de Vinte, e Cinco de Janeiro de mil oi- 35 to Centos, e nove: Pelo que Ordeno aos Ministros 36 da Fazenda, e Justiça, em ais Pessôas a quem tocar [Folha 51] 37 a quem tocar cumprão, e facão cumprir, e por dar 38 esta carta de Datta d’Sesmaria como nella se [...], 39 fazendo dar aos mencionados Indios Posse Real, effeti- 40 va, e actoal na Forma Costumada, de baixo [...] 41 [...], referidas, e das mais da Ordenação, título das Sismari- 42 as : Emfirnnezado que digo emfirmezado referido lhes 43 mandar Passar a Prezente por mim aSignada, e Sel- 44 lada com sinete das Minhas Armas, a qual Se Regis- 130 Nossa Serra, Nossa Terra 45 tará na secretaria deste Governo, em ais partes a que 46 tocar: Manoel Freire Maris Official Maior da Se- 47 cretaria o fes em Reciffe de Pernambuco aos oito de 48 Outubro de mil, e oito Centos, e doze. Jozé Carllos Naiscimento [?] 49 da Silva Ferras Secretario do Governo a fes escrever = Ca- 50 etano Pinto de Miranda Montenegro = Estava o Si- 51 nete das Suas Armas = Carta de Datta de Sismaria pe- 52 la qual Vossa Excelencia há por bem conseder aos Indios 53 Aldeiados na nova Missão de nossa Senhora das Dorez 54 da Baixa verde na Serra grande na Ribeira do Pajeû, meia 55 legoa de terra quadrada, devendo Comprehender o Local 56 em que está Cituada a dita Missão, de que não pagarão 57 fóro algum = Para Vossa Excelencia ver = Por despacho do 58 Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor General de Sinco de 59 Outubro de mil Oito Centos, e doze = Registada a [Registro] 60 Folhas Setenta do Livro Sêgundo de Registo de Sismarias que 61 Serve nesta Secretaria de Pernambuco. Reciffe em Oito 62 de Outubro de mil Oito Centos, e doze = Jozé Carllos Ma- 63 rimho[?] da Silva Fernão [?] = Pagou Oitenta Reis, Reciffe 64 dezesete de Outubro de mil Oito Centos, e doze = Ferreira = 65 Ferreira = Castro = Cumpra se, e Registise Villa de Flores 66 em Camera de Sinco de março de mil oito Centos, e qua- 67 torze annoz = Delegado = Ramos = Campos = Silva = E 68 não se continha mais couza alguã, e era outro Sim Com- 69 thindo escripto, e declarando em dita Carta de Datta de Sis- 70 maria, Registo, Verba do Sello Regio, e Cumpra se do 131 Nossa Serra, Nossa Terra 71 Sennado da Camara desta Villa, que eu Jozé Fernandes 72 Lopes Escrivão do Crime, e Civil, Camera, Orfaõus, Ci- 73 zas a meias Cizas, do Sello Regio dos Papeis, da Decima, e da 74 Provedoria Commissaria dos Ausentes, e Captivos, Tabellião 75 publico do Judicial e Nottas nesta Villa de Flores, No ter- 76 mo Comarca do Sertão, e Capitania de Pernambuco tudo por 77 Sua Alteza Real O Principe Regente Nosso Senhor 78 que Deos Guarde Vossa [...] bem, e Fielmente aqui Registi 79 da Propria Ur[i]ginal que me foi aprezentada, a qual/ 78 depois entregues a Pessôa, que do Seo Recebimento abai- 79 xo aSignou, e a Ella em tudo, e por tudo me Reporto, e ,com Ella este Regist[r]o conferi, e Commigo Proprio com- 80 81 sertei, e com o official de Justiça abaixo ao Conserto Com 82 migo assignado, e fica na verdade este Regist[r]o Sem Couza 83 que duvida faça, por mim Escripto, e aSignado. Nes- 84 ta Sobre dita Villa de Florez aos Sinco diaz do mês de Mar- 85 ço do Corrente Anno do Nascimento de Nosso Senhor Je- 86 zús Chrispto de mil Oito Centos, e quatorze annos Jozé 87 Fernandes Lopez, Escrivão que o escrevi, e aSignei em fé 88 [...] de Verdade. 89 Jozé Fernandes Lopez 4.MJPE, Comarca de Flores Cx. 381 Registro de Ordens Régias (ROR). Oficio do Juiz Ordinário, José Gomes de Souza Mariano, para o Governo da Província de Pernambuco. Vila de Flores para Recife em 04/07/1821. Assunto: Ofício do Juiz Ordinário José Gomes de Souza Mariano, sobre a missão de Baixa Verde. Fl. 211-212. Data da 132 Nossa Serra, Nossa Terra Consulta: 20/01/2010. [Folha 211] 1 Regist[r]o de Hum officio que fez o Juiz Or- 2 dinario Prendente Jose Gomes de Souza 3 Mariano e ao Reverendo vigário João de Santa 4 Anna Roxa, igualmente [...] ao Cappitam mor 5 desta Villa Joaquim Nunes de Magalhaes e ao Vi- 6 gario da nação de Baixa verde Frey An- 7 gelo Mauricio de Niza para Se axarem 8 nesta Villa. Como abaixo se declara. 1 Em observância ao Officio do 2 Illustrissimo Senhor Doutor Dezembargador, e Corregedor da 3 Comarca da data de 29 de Maio próximo 4 passado em Consequencia do que lhe foi 5 dirigido do Governo desta Provincia em 6 data de 7 de Março do Corrente anno há de 7 este Senado jurar a Constituição da Mo- 8 narchia; [...] o juramento com 9 aSistencia de toudas as pessoas de quais 10 quer Classes e Officios do Districto desta 11 villa para o que tem de ser [...] o dia 12 15 do Corrente, para isso Convido a Vossa Senhoria 13 para o dito fim ordenando [...] 14 [...] a[o]s Seos Subditos e Subalternos 133 Nossa Serra, Nossa Terra 15 para que se axam a prestarem Seme- 16 lhante Juramento na forma do De- 17 creto de Sua Magestade Fidedigna [?] de 7 de Março do Corrente 18 anno que nos foi transmetido por Copia [Folha 212] 19 Copia Deus Guarde a Vossa Senhoria Villa de 20 Flores 3 de Julho de 1821 O Juiz 21 Ordinario Prendente = José Gomes de 22 Souza Mariano = Reverendissimo Senhor Vigario 23 Geral João De Santa Rocha pelo [...] 24 forma ao Cappitam Mor desta Villa e ao Vi- 25 gario da Meção de Baixa verde Frey Na- 26 gello Mauricio de Niza, sendo os Officios 27 de ambas da mesma naturesa, e feito toudas 28 no mesmo dia de que dou fé. E mais Senão 29 Conheciha nos destes officios mães de que 30 aque Se axa Lançado, e esta Conforme 31 o Original. Flores. Em 4 de Julho de 1821. 32 Em testemunho de Verdade 33 O Escrivam da Comarca 34 João Baptista da Costa Ca[r]valho. 134 Nossa Serra, Nossa Terra ARQUIVO PÚBLICO ESTADUAL JORDÃO EMERECIANO – APEJE 5. Coleção Policia Civil, PC 26 Flores. Oficio do Delegado do Termo de Flores, Manoel Pereira da Silva, para o Chefe da Polícia Civil da Província de Pernambuco, Martiniano Figueira. Da Delegacia do Termo da Vila de Flores para o Recife em 13/07/1849. Assunto: A polícia de Floresta enfrenta um grupo de revoltosos liderados por Nogueira Paz e José Antônio que atacavam a vila. Informa que o ex-delegado de Floresta José Rodrigues se juntou aos rebeldes, e formou um aldeamento prejudicial ao governo, na qual viviam os índios do termo de Flores e de outros termos. Fls. 14-15. Data da Consulta: 24/03/2010. [Folha 14] 1 Não posso deixar de levar ao conhecimento de Vossa Senhoria que sobre 2 sermos já mui hostil a tolerância, ou antes fraqueza, e relaxa- 3 mento da Polícia da Floresta, pela certeza que tenho de a- 4 charem alli homiziados Nogueira Pas, José Antonio, e mui- 5 tos outros revoltosos como já participei a Vossa Senhoria, a meses que 6 sob os auspcios, e boa Fé de Frei Henrique, Messionário 135 Nossa Serra, Nossa Terra 7 Capuchinho, que veio messionar nesta Comarca, está 8 o rebelde Jozé Rodrigues ex-Delegado daquele Termo, for- 9 mando livre aldeamento inteiramente prejudicial ao 10 Governo, e a População, pos que tendo o mesmo José Rois, 11 offerecido, e [em] prestado terras para esse aldeamento tem feito 12 convocar todos os Indios não só daquele termo, como deste, 13 e de outros, aggregando-lhe debaixo do mesmo pretexto 14 avultado mesmo de criminosos, a ponto de já outras 15 actualmente para mais de cem pessoas d’armas, de 16 quem hé o mesmo José Rodrigues, Chefe, sob a denomina- 17 ção de Director de Indios, segundo mi informão pes- 18 soas fidedignas daquele Termo, que me tém representado 19 para que proponha ao Governo a anniquilação de 20 tal aldia, não só pelo mal que um rebelde pode 21 cauzar aos interesses públicos dispondo da gente tão 22 má, e tão errada para o crime, como pelos furtos, e rou- 23 bos a que se tém entregado que não hé possível se poder 24 criar, e nem mesmo morar nos arrabaldes de tal aldea- 25 mento. 26 Tenho certeza que o Reverendo Frei Henrique pretende o- 27 bter do governo alguns recursos pecuniarios para / [verso] 28 melhor[?] poder fazer o que pretende o fassinora José 29 Rodrigues, mas estando Vossa Senhoria já informado do caráter vio- 30 lento, e sanguinário deste rebelde, e relatando os males 31 que se deixara praticar[?] pode produzir na actualidade 136 Nossa Serra, Nossa Terra 32 para todo o exforço perante o mesmo Governo, não só para 33 [...] [...] tais reações, como [...] [...] quem se- 34 da força na pretendida aldeã, esse ajuntamento de ladrões 35 e assassinos, dispostos a perpetrar toda a sorte de cri- 36 mes [...] [...] [...] que a minha aos bom interesses, e aos de seu 37 [...] Director, que outra couza não tem em 38 vista senão satisfazer os desregrados apetites dessa 39 gente, a custa dos bens alheios, pelo interesse de 40 manejalos a seu bel prazer para [...] ainda mais 41 criminosos; cumprindo-me a [...] que esses fur- 42 tos, e roubos só tem refletido sobre os Amigos do 43 Governo, por outro se pode com exactidão ava- 44 liar as sinistras intenções dos rebeldes, e o [...] [...] 45 [...] em que estão de [...] aos [...] da lega- 46 lidade todo o danno possível em suas fazendas, 47 alem de ameassarem diariamente as suas pessoas com 48 o punhal, e bacamarte, de que fazem publica [...] 49 [...], e uso no Termo, e dentro da propria Vila 50 de Floresta, a vista face do Delegado, que para 51 [... a mesma fraqueza com que se acha 52 prestado a tal respeito, deixa de participa-lo a Vossa Senhoria 53 chegando o atrevimento dos rebeldes aponto de [..] 54 [...] contra mim [...] [...] [...] [...] [Folha 15] 55 [...] [...] alli entrado nem força, em tempo na revol- 137 Nossa Serra, Nossa Terra 56 ta, e a fraqueza do Delegado aponto de [...] não 57 sei se para prender contra mim. 58 Deus Guarde a 59 Vossa Senhoria. Delegacia de Policia do Termo de Flores13 60 de Julho de 1849. 6. Coleção Policia Civil, PC 26 Flores. Oficio do Delegado do Termo de Flores, Manoel Pereira da Silva, para o Presidente da Província, Honório Hernesto Carneiro Leão. Da Delegacia da Comarca de Flores na Fazenda Pipipam para o Recife em 24/09/1849. Assunto: O Delegado solicitou auxilio da Guarda Nacional para ir a Floresta para perseguir os rebeldes José Rodrigues, Francisco Nogueira Paz e outros que se achavam acastelados na Serra Negra, distante 8 léguas. Fls. 111-112. Data da Consulta: 24/03/2010. [Folha 111] Ilustrissimo Excellentissimo Senhor 1 Apresso-me em participar a Vossa Excelencia que tendo eu marchado 2 da Villa de Flores no dia 17 do corrente [...] força do Corpo de Polí- 3 cia, e com a Guarda Nacional que [...] o commando do 138 Nossa Serra, Nossa Terra 4 Capitão José Gonçalves da Silva, para ir a Floresta e Tacaratú 5 como por Vossa Excelencia me foi ordenado, e já tendo atravesado 22 legoas, 6 e aqui chegado, fui informado que os rebeldes José Rodrigues 7 de Moraes, Francisco Barbosa Nogueira paz, Joaquim de Sou- 8 za Ferraes, José Antonio Pereira, e outros, se achavãoacastella- 9 dos na Serra Negra distante d’este lugar 8 legoas; em conse- 10 quencia do que [...] para a Serra tomando em hum só 11 dia todo o espasso que me separava da dita Serra, fasendo com 12 que o digno Commandante da Força [...] em combate 13 logo que lá chegaçe; visto nesse lugar não poder haver 14 demora pela falta absoluta d’agua naquellas paragens; 15 porem iguinorando eu a força Numerica do inimigo, que ago- 16 ra calculo-a para mais de dusentos rebeldes e grande Nº. De 17 Indios; e ignorando igualmente as fortes posições que elles o- 18 cupavão que julgo pelas suas localidades [...], to- 19 mei a diliberação de voltar para aqui, depois que vi que 20 todo os esforços empregados pelo bravo Commandante se- 21 us valentes Officiais e mais digna força que tantos prodi- 22 gios de valer praticarão no combate que tirou das trez horas 23 da tarde as 9 da noite, erão infructiferas, e em pura perda 24 da mesma força que morta de [...] e de istrema sede, 25 nada mais podia obrar. Assim pois achoume aqui 26 com toda força bastante estropiada, e hoje mesmo regresso 27 para a Villa de Flores; não só para reunir novas forças/ [verso] 28 como adequirir munição para Municiar; visto que dos nove 29 mil cartuxos que [danificado] informado ao Commandante as 139 Nossa Serra, Nossa Terra 30 Força apenas restão mil dusentos e sincoenta, que estão dis- 31 tante [danificado] pela a mesma força para a nossa volta a Villa 32 de Flores. Senão fosse a boa direção do [...] Capitão Com- 33 mandante que tudo providenciou no [...] da acção a cora- 34 gem da digna Officialidade que esta assima de todo [...] 35 e as providentes medidas tomadas pelo Capitão Martim 36 Pereira, que serve de Mantende a todo força que muito de- 37 vidamente defendeu a retaguarda que havia sido atacada, 38 de certo muitas desgraças [...] de lamentar, e não se- 39 [...] escreveria a perda em dois soldados, sendo hum da Guarda 40 Nacional e outro de Policia; um dito gravemente ferido, 3 41 ditos dito [...], e nove contidos, no [...] dos quaes al- 42 guns Guardas nacionais, e 29 Guardas ditos estraviados; 43 assim como 2 cavallos mortos; um gravimente ferido, e 2 es- 44 traviados, cujos animaes forão oferecidos por ordem mi- 45 nha para condução da munição, e dos Officiaes, e 46 que seos donos exigem pagamento na importancia 47 total de Dusentos mil reis. Cumpre-me entre- 48 tanto reclamar de Vossa Excelencia o auxilio de mais cin(co) 49 praças de força regular, vinte mil cartuxos de o dar- 50 mes 13-15- e 17, com armas e autorizações pa- 51 ra chamar para o serviço mais cem Guardas 52 Nacionais alem das cencoentas; afim de eu poder 53 por em serco os rebeldes e bater-los pelas as 3 es- 54 tradas que vão dar na Serra. O Capitão e Com- 140 Nossa Serra, Nossa Terra [Folha 112] 55 mandante reclama ( e eu julgo muito nessesario) hu- 56 ma peça de montanha; uma ambulancia; e hum fa- 57 cultativo; para o curativo aos que tenhão de sofrer feri- 58 mentos. 59 Deos Guarde a Vossa Excelencia por muitos annos 60 Delegacia da Comarca de Flores na Fasenda Pi- 61 pipam 24 de Septembro de 1849. 7. Coleção Diversos I 24 1856/1865. Ofício da Presidência da Província de Pernambuco para a Diretoria Geral dos Índios. Província de Pernambuco em 26/08/1856. Assunto: Sobre os “índios errantes” na Comarca de Flores e mandando formar uma nova aldeia “para que os índios pudessem receber os benefícios da civilização”. Fl. 2. [Folha 2] 1 “Ao Diretor geral dos Índios. 2 Illustrissimo Senhor tomaando em consideração o 3 que Vossa Senhoria me passou em seu ofício de 25 do 4 corrente, relativamente aos grupos de índios, que 5 existem errantes, na Serra Negra da Comarca 6 de Flores, recomendando-lhe que me pro- 7 ponha os lugares mais próprios para 141 Nossa Serra, Nossa Terra 8 formarem-se novas aldeias, onde aqueles 9 índios possam receber os benefícios da 10 Civilização; cumprindo também que 11 Vossa Senhoria me apresente o orçamento das rou- 12 pas e outros objetos forem precisos 13 para os referidos índios, e me declara se 14 haverá alguns inconvenientes em determinar al- 15 guns deles para o serviço da marinha de 16 guerra.” 8. Coleção Diversos II 1853-1860. Carta Diretor Geral dos Índios, José Pedro Veloso da Silva, para o Delegado do Termo de Boa Vista. De Recife para a vila de Boa Vista em 01/04/1853. Assunto: Os índios da Aldeia de Assunção fugiram para o Sertão para viverem com “tribo selvagem” que habitava a Serra Negra. Fl. 17. Informando conforme Vossa Excelência ordena em despacho de 1“ 8 do 2 mês expirante, relativamente a Aldeia de Assunção passo a- 3 firmar a Vossa Excelência, que diversas queixas dos Indios me Obrigam 4 a solicitar de pessoas consideráveis daquele Sertão informa- 5 ções? sofrião ditos Indios, as opressões de que se 6 queixavam, fui informado que eles sofrem quanto acabo a 142 Nossa Serra, Nossa Terra 7 representar a Vossa Excelência o Delegado, vendo eu, sendo levado 8 tal ponto de desespero, que grande Nº tem fugido da Aldeia 9 e tem se reunido a tribo selvagem, que habita a Serra 10 Negra, resolvi dirigir-me a aquela Aldeia para o esclarecimento com 11 informações, que me habilitarem a propor ao governo as 12 providencias que convenha tomar, porem acuso modo que 13 tenho sofrido em minha saúde, o trabalho da Demarca- 14 ções da Aldeias de Escada, em que me tenho ocupado, e findos 15 a sua que tem tornado intransitáveis as Estradas do 16 Sertão, em uma distância de 160 léguas, não p[er]- 17 mite que para agora eu empreenda essa viagem 18 enquanto subsistem esses empreendimentos me pareceu com 19 que fosse nomeado um Diretor interino, que [se]- 20 já capaz de destruir a tantos abusos, e opressões, e se 21 Vossa Excelência assim o entender a pessoa que muita habilidade 22 conheça para desempenhar essa missão [. . .]”. 9. Coleção Diversos II 10 1853-1860. Oficio do Diretor Geral dos Índios, José Pedro Veloso da Silva, paro o Presidente da Província de Pernambuco, José Bento da Cunha e Figueiredo. De Lage para o Recife em 18/02/1855. Assunto: Os índios da Aldeia de Santa Maria, na Comarca de Boa Vista, estavam sendo expulsos de suas terras pelos 143 Nossa Serra, Nossa Terra fazendeiros, e isto os levou a se unirem aos “selvagens” da Serra Negra causando furto e ataques ao gado da região. Fl. 69. [folha 69] 119 “[. . .]Poucos Índios restam nesta Aldeia, porque os fa- 120 zendeiros vizinhos se tem apossado das Ilhas, e 121 perseguido os Índios, as quais se tem incorporado 122 as ordas dos selvagens, que habitavam a Serra Negra, 123 fácil seria reorganizar esta Aldeia, e mesmo outros 124 muitos selvagens, sendo para este ponto manda- 125 do um Missionário, com meios para os manter, ti-/ [fl. 70] 126 que possam colher as lavouras que para esse fim plan- 127 tarem. O terreno desta Aldeia pode valer 1:500 ? reis. 128 Estes Índios selvagens da Serra Negra, furtam gado 129 para se alimentarem, e os Criadores os perseguem co- 130 mo a lobos. Em meus Relatórios tenho requisitado mei- 131 os para os aldeiar. As Aldeias existentes montadas conve- 132 nientemente, e dirigidas com um regulamento semelhante 133 ao das colônias militares, podia fornecer efetivamente 134 2000 trabalhadores para a agricultura que já come- 135 ça a sentir falta de braços, e a senão darem Ordens 136 para aviventar a demarcação das Aldeias,especial- 137 mente as de Barreiros, e da Escada, que estam absorvidos pe- 138 la ambição sem limites dos heróis confinantes; se com- 139 serva uma luta perniciosa entre os Índios e os he- 144 Nossa Serra, Nossa Terra 140 róis; e bom será que não seja preciso punir algum di- 141 satino cometido pelos Índios, que todos os dias so- 142 frem novos esbulhos, e se queixam, sem que esteja na 143 atribuição da Diretoria o remédio, que é a viven- 144 tação da demarcação e reivindicação do terreno u- 145 surpado”. 10. Coleção Diversos II 10 1853-1860. Oficio do Diretor Geral dos Índios, José Pedro Veloso da Silva, para o Presidente da Província de Pernambuco, José Bento da Cunha e Figueiredo. De Lage para o Recife em 30/03/1855. Assunto: Sobre um grupo de índios que habitavam a Serra Negra. O Diretor Geral solicitou o envio de um missionário e de recursos para os índios aldeados e os que viviam naquela Serra. Fl. 74. [folha 74] 2 “[. . .] para a Vista do 3 oficio que a Vossa Excelência dirigio o Delegado de Tacaratu, propor- 4 nha o que julgar conveniente para serem dadas, as pro- 5 vidências, que exige o dito Delegado: Respondeu co- 6 mo me cumpre a tal respeito digo, que as medidas 7 de que me lembro são as que tenho, constantemente mencio- 8 nado em meus relatórios quando trato dos infelizes In- 145 Nossa Serra, Nossa Terra 9 dios que habitam a Serra Negra, para se que ca- 10 pacidade para os catequizar, autorizando-me Vossa Excelência 11 dos rendimentos das autras Aldeias, fornecer ao Mis- 12 sionário uma diária para vestuário e sustento de cada 13 Índio no Primeiro ano de seu aldeiamento; o que me for 14 constatar por um mapa mensal, para eu dar conta a 15 Vossa excelência: Nomeado o Missionário, se parecer a 16 Vossa excelência [co-] 17 viniente, eu irei com ele a Serra Negra estabelecer 18 a nova Aldeia, no lugar que arrendarmos ser ma[is] 19 conviniente; devem ? em principio servir de ? 20 da reunião, a Aldeia do Brejo dos Padres, de on- 21 tem desertado muitos Índios para a Serra, sempre que 22 são perseguidos pelas Autoridades. 22 É exato, que os Índios que vagam 23 errantes na Serra Negra, Obrigados pela fome 24 em furtar gado no Sertão baixo; e também é 25 [ex]ato, que os criadores se reúnem e fazem montan[?] 26 na Serra, e os ? gardião como a lobos, e q[ue] 27 felizmente ainda se não tem repetido semelhante b[ar]- 28 ridade na Administração de Vossa Excelência. Os Índios 29 desta província Excelentíssimo Senhor, organizados com ? 30 regulamento de Colonos, podem fornecer sem ? 31 contingente de Socorro, a falta de braços, de que 32 já se ressente a nossa agricultura em pressa, muito 33 nada se consigurá os ter de ser nomeado para cada 34 Aldeia, um Capelão, ativo, prudente, e de gênio 146 Nossa Serra, Nossa Terra 35 criador, ao qual se pague um subsídio em pro- 36 porção das dezenas de Índios que ele apresen- 37 tar nas revistas das Aldeias, e tais capelães 38 devem ser obrigados a dar aos novos Índios, a ins- 39 trução primária e serem autorizados a funcionar 40 como? de almas dos Índios; . . .”. 11. Coleção Diversos II 10 1853-1860. Oficio do Diretor Geral dos Índios, José Pedro Veloso da Silva, para o Presidente da Província de Pernambuco, Sérgio Teixeira de Macedo. Em Recife em 25/08/1856. Assunto: Sobre os “índios errantes” que viviam na Comarca de Pajeú das Flores e na Serra Negra. Fl. 87 [folha 87] 9 “[. . .]na Comarca de Pajeú das Flores exis- 10 tem alguns grupos de Índios, que vagão errantes na Ser[ra]/ 11 Negra, os que furtam furtivamente gado. . . 13 Serra, eles atiram como a lobos . . . 18 ? Índios a Aldeia do Brejo desta 19 ser levado um Missionário para Catequizá-los, esses Índios 20 apenas reunidos a ?, sem roupa e ali- 21 metos, até que eles possam ganhar, com que obterem 22 ? para fazer ? uma resposta que 23 não existia . . .”. 147 Nossa Serra, Nossa Terra 12. Coleção Diversos II 10 1853-1860. Oficio do Diretor Geral dos Índios, José Pedro Veloso da Silva, para o Presidente da Província de Pernambuco, Sérgio Teixeira de Macedo. Recife em 29/08/1856. Assunto: informando da criação de novas aldeias do Brejo dos Padres, para reunirem os “índios errantes” da Serra Negra. Fl. 89. [folha 89] 1 “Tenho perante o Ofício de Vossa Excelência? em 26 do mês 2 que rege, com que me ordena informe os lugares que me 3 parecem mais próprios, para se formarem as Aldeia 4 dos Índios errantes da Serra Negra: tendo a honra 5 de informar a Vossa Excelência, que me parece mais facil, e conve- 6 niente reunir esses infelizes a Aldeia do Brejo dos 7 Padres, para serem ali domesticados, e quando o número dos 8 Reunidos exigir a situação de uma nova Aldeia, 9 existem diferentes pontos naquela Comarca, onde pode ser 10 ela situada, parecendo-me para preterível, a Antiga 11 Aldeia de Baixa Verde, que foi a muitos anos 12 abandonada pelos Índios, e supondo que sendo o 13 ? da Reunião, em uma Aldeia habitada por 14 outros Índios, ela sustentará com mais facilidade. 15 A despesa que devem fazer os reunidos, 148 Nossa Serra, Nossa Terra 16 para vestuário, e alimentos pode regular a 400$ diários 17 por cada indivíduo, pelo tempo de um ano, em cujo tem- 18 po servem as lavouras para ele plantar as xegar com so- 19 bra para esse fornecimento. Parece-me que não 20 pode ter lugar serem destinados alguns desses Índios, para servir 21 na marinha de guerra, antes desta efetuadas toda Réu- 22 nião, aliás a notícia de se dar a alguém esse destinos, os fará Re- 23 unir do Missionário. 24 Cumpre para informar 25 a Vossa Excelência que existe uma Aldeia Ribeira na Ilha de 26 Assunção do Rio de São Francisco, cujos Índios habituados des- 27 de a infância a navegar em canoas naquela Ilha, tem toda apti- 28 dão para o serviço da marinha pode essa Aldeia fornecer ? 29 ?, um contingente dos menos laboriosos, para servirem na 30 marinha de guerra”. 13. Coleção Diversos II 10 1853-1860. Oficio do Diretor Geral dos Índios, José Pedro Veloso da Silva, para o Presidente da Província de Pernambuco, Joaquim Peres Machado Portela. De Lage para o Recife em 08/08/1857. Assunto: Sobre os “índios selvagens” da Serra Negra que furtavam os gados dos criadores do Sertão do São Francisco e da reunião desses índios na Aldeia do Brejo dos Padres. Fl. 103. 149 Nossa Serra, Nossa Terra [Folha 103] 1 “Depois que entrei em exercício da Diretoria geral dos Índios 2 fui informado que grupos de Índios Selvagens vagam 3 da serra Serra Negra, até o Rio São Francisco, os quais para na, 4 ?, furtaram gados aos criadores daquele Sertão, 5 e que estes se reunião armados, e fariam montarias, sobre 6 a serra, e atiravam neles como a lobos, consegui fosse 7 proibido esse costume bárbaro, que admirei praticarem 8 no século 19; quando se destinam captar para engajamento de costu- 9 mês Europeus, manter-se colonos Robustos aclimatados, sem 10 tão por diante, tem os moradores pedido providências para não 12 continuarem os índios a furtar gados, não cabendo tais, pro- 13 vidências? atribuições, pedi ao governo? 14 veração, para fazer reunir a Aldeia do Brejo dos Padres, aqueles 15 Índios, para onde com toda a tranqüilidade podem ser atraídos para 16 falarem a mesma língua; e para supri-los com uma 17 diária, para se alimentarem, ao menos por 9 meses, no tempo no 18 que podem começar a colher as lavouras que plantarem 19 apresentei o Major José Reis de Morais, como o ho- 20 mem daquele sertão mais habilitado para Diretor 21 dessa Aldeia, para atrair os Índios, porque os tratando 22 com caridade, tem ganho a confiança deles, não teve até 23 hoje deserção alguma; novamente vieram alguns criadores 150 Nossa Serra, Nossa Terra ped[ido]24 me providências, para isso Rogo a Vossa Excelência deliberar a todo 25 respeito”. 14. Coleção Diverso II 19 1861-1871. Oficio da Diretoria Geral de Índios para a Presidência da Província de Pernambuco. Da Comarca de Flores para o Recife em 30/03/1866. Assunto: Sobre os “índios bravos da Tribo dos Imaus” (Umãs) que atacavam a Comarca de Floresta. Fl. 99. [Folha 99] Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor Visto o Officio do Juiz de Direito de Tacaratú do 1º de março, e o da Câmara Municipal de Floresta de 18 de Janeiro. 1 Cumprindo o respeitável despacho de Vossa Excelência 2 de dacta de 27 do corrente [sic] as informações 3 dadas pelo Juiz de direito ou Cammara de 4 Tacaratu, no officio juncto da Cammara 5 Municipal de Floresta. Sendo a 6 dizes a Vossa Excelencia o seguinte – O 7 Director Parcial [sic] Aldeia do Brejo dos 8 Padres, José Rodrigues de Moraes o já trosse 9 o maior conhecimento [sic] ao anno de 1863 151 Nossa Serra, Nossa Terra 10 o aparecimento de uns Indios bravos da 11 Tribo Imaus [Umãs] – pedindo-me providencias, e 12 meios para os fazer deichar a vida de [sic] 13 [sic] no qual só Davão prejuízo, e trazião 14 terror aos Individuos que por ali moravam: 15 levei nesta ocorrência ao conhecimento do Gover- 16 no que [ sic] providencia deu a [sic] 17 acto hoge. São estas as informações que 18 posso das a Vossa Excelencia em comprimento o seu respeite- 19 vel dispacho. Diretor Geral 20 dos Indios 30 de Março de 1866. Ilustrissimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Manoel ClemenTino Carneiro da Cunha. [sic] Vice Presidente da Provincia. Barão dos Guararapes Director Geral dos Índios 15. Coleção Câmara Municipais 54-Floresta. Oficio do Presidente da Câmara Municipal de Floresta, Manoel Ferraz de Souza, para o Presidente da Província de Pernambuco, João Santos da Cunha Paranaguá. Da Vila de Floresta para o Recife em 18/01/1866. Assunto: A Câmara solicitou que as terras localizadas nos sítios da Penha e Umã se tornassem patrimônio da Câmara. 152 Nossa Serra, Nossa Terra Informando que nos sítios citados habitavam índios (aldeados). Fl. 374. Data da Consulta: 30-11-2009. Obs: O Oficio foi encaminhado ao Juiz de Direito da Comarca de Tacaratú em 30-01-1866, pela Presidência da Província de Pernambuco. O Documento também Informava que essas terras foram doadas pelo Rei de Portugal. [Folha. 374] 1 Illustrissimo e Excelentissimo Senhor. 2 Remete esta Camara que a mui- 3 tos annos foi doado por El Rei de Por- 4 tugal duas leguas de Terra pouco 5 mais o menos no Sitio da Penha 6 e Serra do Uman aos antigos Indi- 7 os estão aldeados, e tendo desapare- 8 cido completamentes tais poçcuido- 9 res passou a ocupar estes terrenos pes- 10 soas que sem titulo algum [...] 11 [...] prazer: He nesta Circuns- 12 tancia que entendeo esta Camara 13 o de se communicar a Vossa Excelencia; e pedir 14 prontamentes que levado ao conhe- 15 cimento da a Assemblea Provinci- 16 al esta com sêda chamar esta Ca- 17 mara açi essas Terras para seu 153 Nossa Serra, Nossa Terra 18 patrimonio. 19 Deus Guarde a Vossa Excelencia. Paço 20 da Camara Municipal da Villa 21 de Floresta 18 de Janeiro de 1866. 22 Illustrissimo Excelentissimo Senhor Conselheiro 23 João Lustosa da Cunha Paranaguá 24 Dignissimo Presidente da Província 25 Manoel Ferraz de Souza. 26 Presidente. 16. Coleção Juizes de Direito 39 - Tacaratú. Oficio Nº 169 do Juiz de Direito de Tacaratú, Marcos Correia da Câmara Tamarino, para o Presidente da Província de Pernambuco, João Lustoza da Cunha Paranaguá. Da Vila de Tacaratú para o Recife em 01-03-1866. Assunto: A Câmara Municipal de Floresta informava que as terras dos índios da “Tribo Umans” doadas pelo Rei de Portugal no Sitio da Penha. Porém esses índios “abandonaram” a aldeia por receio de perseguições dos índios “brabos” pertencentes a “Tribo”. Aqueles índios e seus descendentes viviam “errantes”, e tinham o desejo de retornar ao Sitio da Penha onde existia sua antiga aldeia, porém a mesma estava sendo cultivada por intrusos que declararam não entregar as terras sem um litígio. Fl. 14. Data da Consulta: 07-12-2009. Obs: A cópia deste Ofício foi encaminhada para o Diretor Geral 154 Nossa Serra, Nossa Terra dos Índios de Pernambuco em 27 de Março de 1866. No entanto não foi localizado a cópia deste Ofício nos documentos relativos a Diretoria de índios. [Folha. 14] 1 Nº 169 2 Juizo de Direito da Comarca de tacaratú 3 1º de Março de 1866. 1 Informe ao Senhor Director Geral 2 dos Indios. Palácio do Governo 3 de Pernambuco 27 de Março de 1866. 4 Manuel Clementino 1 Illustrissimo Excelentissimo Senhor. 2 Cumprindo o respeitável despacho de Vossa 3 Excelencia no Offício junto da Camara do Muni- 4 cipio de Floresta de data de 18 de Janeiro ul- 5 timo, informo a Vossa Excelencia , depois de ter ouvi- 6 do a alguém habilitado para dar-me alguns 7 esclarecimentos, que huma Tribu de Indi- 8 os denominados Imans (Umãs), estiverão Aldeia- 9 dos em epochas remotas no Sitio da 10 Penha, Terras doadas pelo Rei de Por- 11 tugal aos Mesmos, mais sendo perseguidos 12 alguns Indios bravios pertencentes a essa 155 Nossa Serra, Nossa Terra 13 Tribu (não sei por que motivos,) aquelles 14 que estavão aldeiados e domesticados 15 abandonarão o referido Sitio com receio 16 de perseguições, e vivem errantes alguns 17 d’esses Indios e seos descendentes, cons- 18 tando-me que na Fazenda [...] 19 da Comarca de Cabrobó ahi appare- 20 cem, e mostrando desejos de virem ocu- 21 par sua propriedade, que está sem- 22 do cultivada por intrusos, que declarão não 23 entregar as terras aos Indios sem hum litígio. 24 Hé o quanto se me offerece dizer a Vossa Excelência 25 em cumprimento do respeitável despacho. 26 Deos Guarde a Vossa Excelencia. 27 Illustrissimo Excelentissimo Senhor Conselheiro 28 João Lustoza da Cunha Paranaguá. 29 Dignissimo Presidente desta Província. 30 O juiz de Direito 31 Marcos Correia da Camara Tamarindo. 17.Coleção FUNDO SSP Floresta 142. Carta do Delegado de Polícia de Floresta, Francisco de Barros do Nascimento, para Chefe de Polícia de Pernambuco, Eduardo Pindaiba de Mattos. Da vila de Floresta para o Recife em 07/02/1866. Assunto: O Delegado de Floresta solicitou o envio de praças para guardar da casa que servia de cadeia. Também solicitou 156 Nossa Serra, Nossa Terra a criação dos distritos de Caissara e Penha para melhor perseguir os grupos de criminosos que atacam a Vila, e também pediu a nomeação dos Subdelegados e Suplentes designados para os novos distritos. Fls. 03-04. Data da Consulta: 26/01/2010. [Folha 03] 1 Illustrissimo Senhor 2 Tendo em dacta de 11 de Dezembro do anno proximo passado 3 Derigido-me por um officio ao Excelentissimo Senhor Presi- 4 dente da Provincia, pedindo-lhe um destaca- 5 mento de vinte prassas, para guarda da Ca- 6 sa que serve de Cadeia desta Villa; a servis- 7 so da policia da mesma Villa e não se dignou 8 satisfazer athe o presente a minha exigência 9 por tanto rogo a Vossa Senhoria se digne lembrar ao Excelentíssimo 10 Senhor Presidente que neste termo não há Ca- 11 deia e nem destacamento sendo a causa 12 da fuga dos 5 prêsos que já em outro officio 13 [...] a Vossa Senhoria e ao Excelentissimo Presidente. 14 Aproveito esta ocazião para levar ao 15 conhecimento de Vossa Senhoria a nessicidade de dês-/ 16 te Termo devidido em 3 Districtos por que 17 Illustrissimo Senhor a grande extensão deste Termo 18 [...] as Authoridades puliciais, e cum- 157 Nossa Serra, Nossa Terra 19 prão seos deveres na Captura dos Criminosos 20 que Causão este Termo pela maior parte 21 de seos comtôrnos sem o menor receio da pu- 22 licia por se considerarem impersegui- 23 vêis pela destancias em que [...] das 24 Authoridades puliciais este o Delegado, Sub- 25 delegado e juiz Municipal por que de Inspe- 26 ctorio elles não fasem conta porque a mai- 27 or parte delles são seos parentes e [...] e por 28 estes princípios não os perseguem por tanto 29 dividindo [...] o Termo em 3 Distritos de 30 Subdelegados será mais activa a policia 31 A divisão deverá ser feita da forma seguinte 32 Destricto da Caissara na Ribeira do Navio 33 servindo-lhe de lemites a fazenda do Navio 34 em desnivel [?] pela Ribeira assima com 35 seus afluentes a limitar com os Termos de Flores 36 e Pesqueira e para o lado do Sul compriendi[das] 37 as fazendas Serra Grande Canôa e Juazeiro 38 na Ribeira do Riacho dos Mandantes su- 39 bindo pela dita Ribeira com seos aflu- 40 entes a dividir com o Termo de Tacaratú. 41 Distrito da Penha Comprienderá a 42 Serra de Uman a do Irapua o Quarteirão 43 de Entre Serra a Fazenda da Panella d’ 44 Aguá e a Fazenda da Pedra Vermelha 45 no Riacho do/capim Grôsso imcluzive 158 Nossa Serra, Nossa Terra 46 o Sitio do Mathias subindo pela Ribei- 47 ra com seos afluentes a dividio com o Ter- 48 mo de Cabrobó, sendo o 1º Distrito da 49 Villa 2º o da Caissara 3º o da Penha 50 onde existe uma pequena Capella 51 Cabessa de uma Aldeia de Indios que 52 não existem; junto achará Vossa Senhoria a lista 53 das pessoas, que deveram ser nomeados Subde- 54 legados e Suplentes. 55 Deos Guarde a Vossa Senhoria 56 muitos annos Villa da Floresta 7 de Fevereiro de 57 1866. 58 Illustrissimo Senhor Doutor Chefe de Policia 59 Eduardo Pindaiba de Mattos. 60 Francisco de Barros do Nascimento. 61 Delegado de Policia [Folha. 04] 1 Em 2 de Março re- 2 metteo-se copia a Vossa Excellencia 1 Lista dos Subdelegados e Suplentes do 2º e 3º/ 2 Distrito do Termo da Floresta. 3 2º Destrito da Caissara 4 Subdelegado 5 Antonio Serafim de Souza Ferraz 159 Nossa Serra, Nossa Terra 6 1º Suplente Jose Alexandre Gomes de Sá e Silva/ 7 2º Francisco Henriques Barreto Mari- 8 hano 9 3º Pedro Gomes de Menezes 10 4º Leonel Bezerra Dunga 11 5º Marcos Rodrigues [...] Cruz 12 6º Manuel de Souza Cuêlho 13 3º Destrito da Penha 14 Subdelegado 15 Manoel Salvador da Crus 16 1º Suplente Benedictho Alves de Cardozo. 17 2º Dionizio Lopes de Barros 18 3º Luis Rodriques da Crus 19 4º Manoel Jacinto de Sá 20 5º David Gomes Correia Pindaíba 21 6º Antonio Lopes Denis 22 O Delegado de Policia 23 Francisco de Barros do Nascimento. 18. Coleção Colônias Diversas -DI. Oficio nº 630 do Barão de Buique, Diretor Geral dos Índios de Pernambuco, para o Manoel Clementino Carneiro da Cunha, Presidente da Província de Pernambuco. Da Diretoria Geral dos Índios de Pernambuco para a Presidência das Província de Pernambuco em 14/08/1877. Assunto: Sobre as petições dos índios de Floresta, da 160 Nossa Serra, Nossa Terra reintegração das terras doadas por moradores há muitos anos num lugar chamado Serra dos Umã. Tais terras estavam sendo ocupadas pelos descendentes dos doadores que alegavam que os índios não habitavam naquelas terras a muitos anos. Fl. 279. Obs.: os índios que reivindicavam aquelas terras (da Serra) há muitos anos, tinham emigrado para a Província do Ceará, porém a seca naquela Província forçou os índios a voltarem para o antigo aldeamento em Floresta. O grupo de índios que solicitou a posse das terras era por volta de 28 indivíduos. Anexos: um parecer e dois requerimentos. [Folha 279] (Oficio) 1 Passo as mãos de Vossa Excelencia os inclusos papeis para 2 Vossa Excelencia, a vista do (a)conthecido d’elles, dive-me o que 3 me cumpre fazer; visto como, é a primeira vês 4 que ouço tratar n’esse antigo Aldeamento. 5 Pelo que Colligio da Petição a mim dirigida, aquillo 6 foi terreno doado por particulares, mas que pela au- 7 sencia dos Índios, os descendentes dos doadores se apossarão 8 do mesmo terreno, e não o querem ceder mais; prin- 9 cipalmente tendo desapparecido os documentos da doa- 10 ção. Vossa Excelencia deliberará como julgar de acerto. 11 Será acto de caridade soccorrer esses miseráveis com 12 alguns viveres, e mesmo roupa. Ora, chegados da 161 Nossa Serra, Nossa Terra 13 pouco, já accossados da fome; faça Vossa Excelencia idéia em 14 que estado de penúria não se achão estes legítimos 15 Brasileiros?! Vossa Excelencia exigirá do Juiz de Direito 16 d’aquella Comarca informações a respeito. [Folha. 279] (PARECER) 25 Diversos individuos, dizendo-se 26 descendentes dos Umans, dirigiram-se ao Senhor Di- 27 rector Geral dos Índios declarando-lhe que preten- 28 diam ocupar de novo as terras que lhes tinham 29 sido dadas na terras dos Umans e pedindo a no- 30 meação de um chefe, cujo nome indicaram. 31 Submetto aquelle Director esse 32 facto ao conhecimento do antecessor de Sua Excelencia, foi a in- 33 formar ao Juiz de Direito de respectiva Comarca o qual decla- 34 rou: que naquella terra nunca houve aldeia- 35 mento e sim um principio de povoação formada 36 por descendentes de Umans; que os individuos qual 37 se apresentaram ultimamente são de raça indígena, 38 mas cruzados; que o aldeiamento não pode ser 39 alli restabelecendo por não haver Terras, porque 40 se teve extinguindo os aldeiamentos, visto 41 delles nenhuma utilidade se tem [...], final- 42 mente porque se aquelles individuos quiserem 43 domiciliar no lugar, não faltará quem 162 Nossa Serra, Nossa Terra 44 lhes dê terras para cultivarem. 45 A Acção é de parecer que 46 se responda em termos desta informação, 47 porem Sua Excelencia resoslverá como entender mas 48 acertado. 19. Coleção Colônias Diversas -DI. Requerimento de Manoel Rosio Eggideio Josué para o Barão de Buique, Diretor Geral dos Índios de Pernambuco. Sem data. Assunto: Petição dos Índios Umãs. Fl 280. Obs.: Anexo 1 do Oficio n 360 de 14/08/1877. [Folha. 280] 1 Illustrissimo Senhor Director Geral das Aldeias 2 d’esta Provincia de Pernambuco. 3 Dizem os Indios Antonio Pedro, Alexandre 4 Francisco, José Leite, José Zeferino, Antonio 5 Romão, Antonio José, Manoel, José, Ignez, 6 Maria, Rosa, Senhorinha, Maria Izabel, 7 Alexandra, Maria Custodia e outro de me- 8 nor idade, em numero de vinte oito, por seus 9 pais os acima mencionados, que tendo os 10 supplicantes residido por longos annos no lugar 11 denominados Serra d’Uman do termo de Flo- 163 Nossa Serra, Nossa Terra 12 resta onde teveram por seu Director o Capi- 13 tão Luiz Rodrigues da Cruz e onde lhes 14 fôra dado pelos respectivos proprietários u- 15 ma certa porção de terreno para a agri- 16 cultura e residência dos Supplicantes bem como 17 uma Capellinha que erigia o mesmo Di- 18 rector, succedeu que tempos depois se retira- 19 ram os Supplicantes da Serra d’Uman para o 20 lugar denominado – Caxorra-morta – na Pro- 21 vincia do Ceará d’onde ultimamente volta- 22 ram com o propósito de continuar a viverem 23 e trabalhar no sobredito lugar – Serra d’Umans. 24 E como quem que não possam os 25 Supplicantes estar sob sua própria direcção já 26 por falta de recursos pecuniários devido aos 27 rigores da seca na Provincia do Ceará on- 28 de os Supplicantes sacrificaram seus últimos exforços 29 para regressarem no termo de Floresta, e já 30 por falta de terrenos em que possam tra- 31 balhar e viver com suas famílias, visto como 32 aquelle que outrora lhes fosse cedida se a- 33 cha, hoje, occupado pelos próprios donos e 34 rendeiros, vêem pedir a Vossa Senhoria digne-se de 35 nomear o Cidadão Eustaquio Lopes de 36 Barros Director parcial dos Supplicantes, 37 proprietário abastado, morador no termo de 38 Floresta que se encarrega de auxiliar os 164 Nossa Serra, Nossa Terra 39 Supplicantes e suas famílias n’aquelle lugar – 40 Serra d’Uman -, já proporcionando-lhes os 41 necessários meios de subsistência durante 42 a milindrosa cryse que atravessão os altos 43 Sertões, como lhe for possível, e já tratando 44 da educação dos Índios menores, até que 45 possam os Supplicantes ter, de seu próprio 46 trabalho, os meios de vida necessários. 47 Isto posto, juntando os Supplicantes o docu- 48 mento junto. 49 Pesso a Vossa Senhoria deferimento 50 Espero Receber Merce 51 A rogo dos Supplicantes por não saberem ler nem 52 escrever = Manoel Rósio Eggideo Josué. 20. Colônias Diversas -DI. Requerimento de Manoel Rosio Eggieio Josué para o Presidente e vereadores da Câmara Municipal de Floresta. Sem Data. Assunto: Petição dos índios Umãs. Fl 281. Obs.: Anexo 2 do Oficio n 360 de 14/08/1877 [Folha 281] Resposta da Câmara Municipal de Floresta: 1 Esta Câmara athesta, por ouvir dizer geralmente que, os Indios 165 Nossa Serra, Nossa Terra d’2 Uman forão aldeiados na Povoação da Penha e que annos depois abandona- 3 rão aldeia e retirarão alguns para a Provincia da Parahiba, e consta 4 serem os Supplicantes descendentes dos antigos daquella aldeia. Paço da Ca_ 5 mara Municipal da Villa de Floresta 9 de Julho de 1877. 6 Eu [..] Gomes 7 Novais [...] 8 moraes 9 Francisco 10 Soares de Sá 11 Presidente 12 [...] Menezes 13 Barros. 14 José de Araujo 15 Leal 16 Nascimento 1 IIustrissimos Senhores Presidente e Vereadores da Ca- 2 mara Municipal de Floresta. 3 Dizem os Indios Antonio Pedro, Alexan- 4 dre, Francisco, José Leite, José Zeferino, A- 5 tonio Romão, Antonio José, Manoel, José, Ig- 6 nez, Maria, Rosa, Senhorinha, Maria Iza- 7 bel, Alexandra, Maria Custodia e outros de 166 Nossa Serra, Nossa Terra 8 menor idade em numero de vinte e oito, por 9 Seus pais os acima mencionados, que tendo 10 os Supplicantes de requerer o seu direito perante 11 o Illustrissimo Senhor Director Geral das Aldeias d’es- 12 ta Provincia, vêem pedir a Vossas Senhorias dignem-se 13 de informar o seguinte: 14 1º se, em annos passado não estiveram os 15 Supplicantes e outros aldeiados no lugar denominado 16 - Serra d’Uman d’este Município, onde pre- 17 sentemente se acham. 18 2º se, o Director dos Supplicantes, d’então, Capitão 19 Luiz Rodrigues da Cruz erigiu ou não uma Capelli- 20 nha que destinou aos Supplicantes. 21 3º se, os proprietarios d’alli fizeram ou não 22 algumas Sessões de terrenos aos Supplicantes pa- 23 ra agricultura e residencia d’estes, onde esti- 24 veram por longos tempos, ate que resolveram 25 se retirar para o lugar – Caxorra-morta 26 na Provincia do Ceará d’onde utimamente 27 voltaram .– para o que (interrompeu a redação do requerimento e concluiu) 28 Pesso 29 Pesso a Vossas Senhorias deferimento 30 Espero Receber Merce 31 A rogo dos Supplicantes por não saberem ler 32 nem escrever. 33 Manoel Rosio Eggideo Josué. 167 Nossa Serra, Nossa Terra 21. Coleção Colônias Diversas - DI. Oficio do Diretor Geral dos Índios de Pernambuco, Barão de Buíque, para o Presidente da Província de Pernambuco, Manoel Clementino Carneiro da Cunha. Da Diretoria Geral dos Índios de Pernambuco para a Presidência da Província de Pernambuco, em 24/09/1877. Assunto: Sobre os Índios do Ceará que migraram para a Comarca de Floresta,em virtude de uma suposta aldeia que lhes pertenciam na dita Comarca. Fl. 282. [Folha 282] 1 Não Consta nesta Directoria, que tinham sido recebidos 2 Indios emigrantes nas Aldeias sob a minha direcção. 3 Um ou outra, vindo da Provincia da Bahia, muitos pelas 4 Aldeias d’Assunpção, e Santa Maria; mas não que 5 fação residência. A única emigração, que de próximo 6 apparece, é a de que já comuniquei a Vossa Excelencia; Indios, 7 que em época bastante remota emigrarão para a Provin- 8 cia do Ceará; e que a secca os fes voltar, para um antigo 9 Aldeamento, na Comarca de Floresta, e da qual nunca 10 ouvi falar, senão agora. Dizem estes mesmos Indios, que 11 um Missionário que por alli appareceo, encarregado da Cattequese 12 dos Indios Bravios, e que ainda hoje existemn’aquellas para- 13 gens, edificou uma Capelinha, e alli foi reunindo os Índios 168 Nossa Serra, Nossa Terra 14 que hia domesticando. Conseguio formar um pequeno Al- 15 deiamaneto, em terras. Retirando-se aquelle Religioso 16 deixou aquillo entregue, já não se sabe aquém. Entretanto 17 os Indios bravos ficarão intrigados com aquelles que se tinhão 18 sujeitado a domesticidade. Houveraõ conflitos entre elles; 19 e virão-se, os domésticos, forçados a emigarar para o Ceará,d’on- 20 de regressarão agora, e buscarão o local que lhes foi destinado 21 pelo mencionado Religioso; encontrando a capelinha ainda em 22 pé. E o que Tinha a Informar, lembrando a Carta, que prom- 23 metti a Vossa Excelencia, que dizia alguma cousa a respeito. 24 Deus Guarde a Vossa Excelencia. 22. Coleção FUNDO SSP Floresta 142. Carta de Francisco de Barros do Nascimento, 1º Suplente da Delegacia de Policia da Vila de Floresta, para Luiz Antonio Fernandes Pinheiro, Chefe de Polícia da Província de Pernambuco. Da Vila de Floresta para o Recife em 21/07/1870. Assunto: O Delegado solicitou a criação do Distrito da Penha, no qual existia uma Antiga Aldeia doada pelos moradores de Floresta aos índios Umans. Fls. 125-126. Data da Consulta: 29/01/2010. Obs.: Em anexo a lista dos cidadãos aptos para os cargos de subdelegados e suplentes do Distrito da Penha. Fl. 126. 169 Nossa Serra, Nossa Terra [Folha 125] 1 Illustrissimo Senhor 2 Conhecendo a utilidade da criação dum 3 terceiro desctricto de Subdelegado nesta fre- 4 guezia de Fazenda Grande, termo de Floresta, 5 tomou esta Delegacia por um dos sêos primei- 6 ros trabalhos propor a Vossa Senhoria o mencionado distri- 7 cto com a denominação de districto da Penha, 8 lugar esse bastante habitado por sér terraz 9 d’agicultura, é uma antiga aldeia duada 10 aos Indios Umáns, que nunca por elles foi 11 cultivada, cuja cabessa do dito districto dista 12 desta Villa doze leguaz, e d’alí a extremida 13 de do mesmo districto a dividir com o termo 14 de Salgueiro são ainda de oito a dez legoaz, 15 contendo o referido destricto oito quarteirõez que 16 são os seguintes = Penha (Cabessa do Distrito) = Ser- 17 ra do Umám = Ôlho dá Agua do Padre = Barra do 18 Silva = Sant-Anna = Serra do Arapuá = Entre 19 as Serraz = e Mingú = tendo principio sua di- 20 vizão com o districto desta Villa na ribeira 21 d’Entre az Serraz, onde divide o quarteirão dês- 22 te nome com o do Posso da Pedra = rumo di- 23 reito ao Sud’oéste ao riacho do Capim-grôsso, 24 no lugar Citio do Mathiaz, onde divide com 25 o quarteirão de Capim-grosso, seguindo o 170 Nossa Serra, Nossa Terra 26 mensionado rumo a mesma direção até in- 27 contrar az aguaz do rio São Francisco onde 28 divide com o termo de Cabrobó, subindo pelo 29 mencionado riacho do Capim-grosso até 30 onde dividem az aguaz com o termo de Ca- 31 brobó, incluzive o quarteirão da Serra do 32 Arapuá e o Citio do Mathiaz = para o na[s]- 33 cente e nordéste dividindo com a freguezia de 34 de Serra Talhada e termo de Villa Bella 35 = e para o norte e noroeste, dividindo com 36 a freguezia e termo de Salgueiro. Concêda- 37 m Vossa Senhoria a este acompanhe a relação daz 38 pessoaz do supra citado districto que julgo há- 39 bilitadas para occuparem cargos puliciaeiz, 40 afím de que Vossa Senhoria se digne propô-los ao Excelentissimo Senhor 41 Prezindente da Provincia, com o que muitos sir- 42 vissos prestará Vossa Senhoria a este termo. 43 Deus Guarde a Vossa Senhoria 44 Delegacia de Pulicia do Termo da Floresta 45 21 de Julho de 1870. 46 Illustrissimo Senhor Doutor 47 Luiz Antonio Fernandez Pinheiro 48 Dignissimo Chefe de Pulicia desta Pro- 49 vincia de Pernambuco. 50 1º Supplente em exercício 51 Francisco de Barros do Nascimento 171 Nossa Serra, Nossa Terra [Folha 126] 1 Relação dos nomez dos Cidadãos aptos 2 para os Cargos de subdelegado e Supplentes 3 do 3º Districto da Penha da Freguesia 4 de Fazenda Grande, Termo da Floresta, 5 Comarca de Tacaratú da Provincia de 6 Pernambuco, propôstos pelo 1º Supplente [...] 7 Delegado em exercício deste Termo da 8 Floresta do Illustrissimo Senhor Doutro Chefe 9 de Pulicia da Provincia, como abaixo 10 se-vê seos nomez. 11 Para Subdelegado 12 OCappitam Antonio Gonçalvez Torrez e Silva. 13 Para Supplentes 14 4º [nº rasurado] Major Antonio Alvez da Luz 15 2º Alferez Cyprianno Gomez de Sá 16 3º José Victorino da Silva Barros 17 1º [nº rasurado] Tenente João Gonçalvez Torrez e Silva 18 5º Francisco Gomez de Sá. 19 6º Francisco Victorino da Silva Barroz 20 Delegacia de Pulicia do Termo de Floresta 21 21 de Julho de 1870 22 O 1º Supplente en exercício 23 Francisco de Barros do Nascimento. 172 Nossa Serra, Nossa Terra MUSEU DO ÍNDIO/MI - Rio de Janeiro 23. Inspetorias Regionais, IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152. Relatório do Inspetor Especial do SPI, Tubal Fialho Viana, para o Chefe da IR4. Recife 21/06/1946. Assunto: Instalação de um posto na Serra do Umã. Fotograma 1068-1069. Data da Consulta: 09/04/2010 [Fotograma 1068] 1 Desincumbindo-se da honrosa missão que me foi cometida de 2 verificar, in-loco, se a Serra Uman, no município de Floresta dês- 3 te Estado, está sob ocupação e domínio dos remanescentes dos índios 4 da tribo Aticuns, venho apresentar-vos os resultados do que me foi 5 dado observar naquela região. 6 A Serra Uman é o Oasis do município de Floresta e quiça li- 7 mitrofes, se encontra habitada por mais de 1.800 descendentes dos 8 índios Aticuns, que embora já mesclados com civilizados, conservam 9 os costumes e festas religiosas com todos rituais de seus primitivos. 10 São ordeiros, afáveis, trabalhadores e ainda não corrompidos pelo al- 173 Nossa Serra, Nossa Terra 11 cool. 12 A Serra Uman está situada a noroeste do município de Flores- 13 ta, quase na junção dos municípios de Jatinan, Salgueiro e Manisso- 14 bal; sua terra roxa de primeira qualidade, se presta admiravelmente 15 para todas as culturas, inclusive para formação de pastos artificiais; 16 tem uma lagoa com água perene e, segundo informações dos índios, não há 17 ali flagelo da Seca. 18 Queixam-se os índios, com fundamento, da perseguição que vêm 19 sofrendo por parte da Prefeitura local, que os obriga ao pagamento 20 de arrendamento e sem nenhum respeito pelo que pagam, permite o muni- 21 cipio. Contra arrecadação de novas rendas, que criadores visinhos sol- 22 tem seu gado nas terras arrendadas aos índios, destruindo assim, to- 23 da lavoura que os mesmos com sacrifício fazem para manutenção de sua 24 prole. È verdadeiramente revoltante a falta de humanidade com que 25 tratam os índios – únicos e legítimos donos da serra – as autoridades 174 Nossa Serra, Nossa Terra 26 municipais: Para os índios não existem direitos e sim obrigações, são 27 tratados como verdadeiro renegados. 28 Após seis dias de permanência na Serra Uman, verificando as 29 terras ocupadas pelos caboclos, calculada em oito (8) léguas quadradas 30 me dirigi ao Sr. Prefeito daquele município para um entendimento amis- 31 toso, e fui pelo mesmo, recebido com desdém e evidente má vontade. 32 Abordando o assunto, o Prefeito, homem ignorante e retrógado, 34 deixou claramente transparecer sua reação contra aquela pobre gente, 35 dizendo mesmo não conhecer nenhum índio no Estado de Pernambuco e nem 36 tão pouco, delegado, inspetor, fiscal ou qualquer autoridade de Servi- 37 ço de Proteção aos índios. 38 Passada esta carga de grosserias, procurei com calma e força 39 de argumentos convencer o tal Prefeito da indébita apropriação das 40 terras da Serra em apreço e abusiva cobrança que o município vem 41 fazendo, visto aquela gleba pertencer incontestavelmente aos índios 42 desde o descobrimento do Brasil e por eles habitada ainda 175 Nossa Serra, Nossa Terra hoje, se bem 43 que perseguidos e espoliados. 44 não existindo, portanto nenhuma vontade daquela autoridade 45 em convencer-se dos argumentos por mim apresentados, lamentei que 46 na época presente em que o mundo procura formas e soluções para tor- 47 nar menos áspera a vida dos homens, esteja á frente de um município 48 um cidadão despido do mais rudimentar principio de direito e sem a 49 menor noção de fraternidade humana. [Fotograma 1069] 50 Estando, todavia, com acima disse, em poder dos índios, as 51 terras da Serra Uman, propondo que ali seja fundado, sem demora, um 52 Posto Indígena para por fim á aflitiva situação daqueles infelizes Pa- 53 tricios, antes que, desenganados da proteção do poder público, se tor- 54 nem cangaceiros e mal feitores. 55 Com a instalação do Posto, será reconhecido o direito de – 56 propriedade, cessada a cobrança e o pagamento de arrendamentos e inpe- 57 dida a solta de gado dentro das lavouras, visto não se apoiar a Pre- 176 Nossa Serra, Nossa Terra 58 feitura em nenhum ato legal para chamar a si a posse das terras daque- 59 la serra habitada exclusivamente pelos descendentes dos índios Aticuns. 60 Isto posto, esperam os índios Aticuns, da Serra Uman, que a 61 providencia acima se torne efetiva dentre em breve dias. 24. Inspetorias Regionais.,IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152. Oficio Nº 4 do Chefe da IR 4, Raimundo Dantas Carneiro, para o Diretor do SPI, Doutor Manoel Dias da Cruz. Do Recife para o Rio de Janeiro em 04/02/1949. Assunto: Os proprietários das terras limítrofes da Serra do Umã, invadiram a Serra que pertencia aos índios. Os proprietários articularam um plano de invasão da Serra, avançando suas linhas além dos limites divisórios. Fotograma 1070. Data da Consulta: 07/04/2010 [Fotograma 1070] 1 ..., os proprietário das ter- 2 ras limítrofes da Serra de Umã, no município de Floresta neste Esta- 3 do, cuja Serra é habitada pelos índios Aticuns e muito invejada por 4 ser considerada “Oasis” daquela região e, agora, após nossa Inter- 177 Nossa Serra, Nossa Terra 5 venção, passou para o domínio dos índios, que antigamente ali habita- 6 vam contra pagamento de foros à Prefeitura local, indignados com o fa- 7 to, estão articulando plano de invasão da Serra, avançando suas linhas 8 alem dos limites divisórios. 9 para sustar tal invasão, solicito com muito interesse que 10 essa Diretoria me faculte poderes para fazer algumas modificações quan- 11 to à distribuição de pessoal assalariado, sem aumento de despesas, a- 12 fim de instalar na dita Serra um Posto de Assistencia, que esbarre a 13 furia dos insaciáveis vizinhos, garantindo aos índios a tranqüilidade 14 que vem gozando, graças a nossa intervenção a favor dos mesmos. 25. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152. Telegrama do Chefe da IR 4 para o Conselho Diretor do SPI. Do Recife para o Rio de Janeiro em 21/11/1949. Assunto: Cópia do Telegrama de Luis Antonio dos Santos pedindo para ser levada a efeito a verificação da existência de índios na Serra da Cacaria do Município de Floresta. Fotograma 1071. Data da Consulta: 07/04/2010. 178 Nossa Serra, Nossa Terra [Fotograma 1071] “Comunicado” do Chefe da Inspetoria Regional 4 do SPI ao Diretor do Órgão. Processo Diretoria 4000/49 Processo I.R.4 852/49 Assunto: Cópia de um telegrama de Luiz Antonio dos Santos dirigido ao Conselho do S.P.I. pedindo para ser levado a efeito verificação sobre a existência de índios na Serra da Cacaria, do município de Floresta, neste Estado. Sr. Diretor Encaminhando à vossas mãos, a informação prestada pelo Auxiliar de Sertão deste Serviço, Manoel Olímpio de Novais, tenho a esclarecer-vos que julgo ter sido muito imaginosa a dita informação, porquanto nunca soubemos da existencia de um aldeiamento constituído de cerca de 300 indigenas na – Serra da Cacaria. Esta suposição, vem do fato do Inspetor Sampaio, me ter declarado quando do seu regresso dos trabalhos da fundação do Posto Estácio Coimbra na Serra Umã, que existiam remanescentes indígenas esparsos pelas Serras de Arapuá e Cacaria, situadas nas adjacências da Serra Umã, cujos remanescentes foram lhe solicitar sua interferência no sentido de lhes ser assegurado o 179 Nossa Serra, Nossa Terra direito de permanecerem nas terras que ocupavam sem nenhuma obrigação com a fazenda municipal de Floresta que rege as terras onde estão situadas as aludidas Serras. Em vista de existir na chapada da Serra Umã, grande área de terras desocupadas, e sendo consideradas tão produtivas quanto as outras, o Inspetor Sampaio lhes aconselhara a transferir suas residências para Serra Umã, visto não ser possível pleitear com a administração do município de Floresta tais concessões, atendendo já ter sido liberada de qualquer interferência municipal as terras da Serra Umã, cuja reivindicação muito nos custou. Considerando, ainda, que os nossos limitados recursos não permitem se pensar na instalação de Posto para atender pequeno número de remanescentes indígenas, que sejam os mesmos, caso queiram, transferidos para Serra Umã, onde recentemente foi fundado o Posto Governador Estácio Coimbra. A consideração superior. I.R.4 em Recife, 21 de novembro de 1949 Chefe da I.R. 4 26. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152,. Carta do índio Luiz Antonio dos Santos (Luiz Limeira) ao Encarregado do Posto Indígena da Serra Umã. Da Serra da Cacaria para o Posto Indígena Serra Umã em 28/11/149. 180 Nossa Serra, Nossa Terra Assunto: Carta Manuscrita do índio Luiz Antonio dos Santos (Luiz Limeira) ao Encarregado do Posto Indígena da Serra Umã. Fotograma 0002. Data da Consulta: 07/04/2010. S. Cacaria 28 de Novembro de 1949 Ilmº e Exmº Snr. Encarregado do Posto do Ministério da agricultura de Serra Umã. Ads. Vou por meio desta declará a VSª que eu fui a Rudelas e conferenciei com o chefe do pos-to de lá e elle me disse que eu pudia está com fé que aqui só faltava era vim o despaixo de entrega, e elle me disse que eu vinhesse aqui com os Índio e e dessece ao senhor que tumas-se as providencia com as novidades contra os Índios que elle tem todas autorização mais fica longe para elle vim em todas a necessidade que for precizo e quem fica regendo aqui é o Senhor. pois eu cheguei de lá ontem dia 27 e era para hoje eu ajuntar os Índio para noz ir dar uma visita ao Senhor mais hoje eu recebi uma Intimação do Delegado de Pulicia para eu me achar em Floresta até quartafeira, e eu vendo que não pudia fazer as duas viagem mando este portador pedindo que o Snr. me mande um oficio para eu levar para o Delegado, que o Snr. Manoel Cavalcante Novais de Rudelas so não deu logo porque não sabia desta Intimação urgente, e mesma ele me disse que o Senhor era quem mandava porque era do mesmo estado e do mesmo município e eu quero que o Snr. faça tudo por mim para os homens conhecerem o que 181 Nossa Serra, Nossa Terra é serviço de proteção aos Índio que eles estão pensando que não tem valor e nem prestijo, sem mais do seu Crº e Obiº Atº Índio. Luiz Antonio dos Santos 27. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 184. Oficio Nº 56 do Chefe Substituto da IR4, Francisco Sampaio, para o Auxiliar do Sertão do SPI, José Brasileiro da Silva. Do Recife para a Serra do Umã/Floresta em 05/12/1949. Assunto: Sobre a impossibilidade de transferir a administração das Serras da Cacaria, Arapuá e Catolé para Serra do Umã. Pois as referidas serras estavam na jurisdição dos municípios de Floresta e Manissobal. Fotograma 581. Data da Consulta: 08/04/2010. [Fotograma 581] 5 Tomado conhecimento do assunto, aprovo os termos 6 da nossa resposta e, declaro-vos que não podemos interfirir 7 na jurisdição das Serras da “Cacaría”, “Grande”, “Arapuá” e 8 do “Catolé”, em face de serem administradas pelos municípios 9 de Floresta e Manissobal, de terem também nas suas áreas 10 moradores civilizados que procuraram defender os seus direitos. 11 Diante disto esta Inspetoria vai proceder buscas 12 pelo Arquivo Público e outras repartições Estaduais, afim de 182 Nossa Serra, Nossa Terra 13 verificar se existem atos do Governo, reservado as áreas das 14 aludidas Serras, para usofruto dos Indios que ainda hoje vi- 15 vem espalhados por elas. 28. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 184. Telegrama de Manuel Bezerra para o Diretor do SPI. Da Serra do Umã para o Rio de janeiro em 11/01/1950. Assunto: Telegrama de Manuel Bezerra pedindo ordenado para tratamento de saúde e providencias sobre a posse da Serra da Cacaria. Fotograma 13. Data da Consulta: 12/04/2010. Obs.: Telegrama anexo a Carta do Chefe Substituto da IR 4, Francisco Sampaio, para o Diretor do SPI. Do Recife para o Rio de Janeiro em 21/01/1950. Fotogramas 11-12. [fotograma 13] CONSELHO NACIONAL DE PRETEÇÃO AOS INDIOS TELEGRAMA General Cândido Rondon RIO DF AGRINDIOS AV. GRAÇA ARANHA, 81 2 88 BOM NOME PE 24-50-9º-11h. 1 Os índios Cacaria pedem a mim para informar que Serra é dos índios 183 Nossa Serra, Nossa Terra 2 desde menino alcancei eles morando (ponto) Peço Vossa Senhoria ordi 3 nado fim criar 6 filhos menores pois me acho doente enfermidade na 4 perna não posso trabalhar Manoel Bezerra CACER Aticum Serra Uman. CT CACER ATICUM SERRA UMAN. 29. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 184. Telegrama de Luiz Antonio dos Santos para o Diretor do SPI. Da Serra da Cacaria para o Rio de Janeiro em 11/01/1950. Assunto: Telegrama de Luiz Antonio dos Santos solicitando providencias sobre a posse da Serra da cacaria. Fotograma 14. Data da Consulta: 12/04/2010. Obs.: telegrama anexo a Carta do Chefe Substituto da IR 4, Francisco Sampaio, para o Diretor do SPI. Do Recife para o Rio de Janeiro em 21/01/1950. Fotogramas 11-12. [fotograma 14] CONSELHO NACIONAL DE PRETEÇÃO AOS INDIOS TELEGRAMA General Cândido Rondon 184 Nossa Serra, Nossa Terra RIO DF AGRINDIOS AV. GRAÇA ARANHA, 81 2 90 BOM NOME PE 23-40-9-1040. 1 Receberá fiscal que veio (virgula) e sai dele me tomaram roça mandioca e 2 fruteiras peço Vossa Senhoria mandar retomar o fiscal achou que é terra 3 de índio os homens dizem que eu saio correndo ou nos pés dos ou- 4 tros, Luiz Antonio dos Santos Indio Serra Cacarea. CT CACARIA. 30. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 184. Carta do Chefe Substituto da IR 4, Francisco Sampaio, para o Diretor do SPI. Do Recife para o Rio de Janeiro em 21/01/1950. Assunto: Telegramas de Manuel Bezerra e Luiz Antônio dos Santos, pedindo emprego, digo, ordenado para tratamento de saúde e providencias sobre a posse da Serra da cacaria. Fotograma 11-12. Data da Consulta: 12/04/2010. Obs.: no cabeçalho da Carta constam os processos nº 185/50 e nº 65/50 IR4. Anexos: Telegramas dos índios Manuel Bezerra (fotograma 13) e 185 Nossa Serra, Nossa Terra Luiz Antonio dos Santos (fotograma 14). [fotograma 11] 1 Os telegramas que o ofício Nº 8, do Conselho Nacional 2 de Proteção aos Indios, copia, procedem de Bom Nome e Tratam 3 dois assuntos. O primeiro, é sobre o direito de propriedade da 4 Serra Cacaria e segundo, é o pedido de ordenado do caboclo ma- 5 nuel Bezerra, alegando se achar doente. 6 A respeito do primeiro assunto, isto é, da Serra Caca- 7 rea, pertencer ou não a supostos índios ali moradores, esta ins- 8 petoria já teve a oportunidade de se manifestar quando informou o pro- 9 cesso N. 4000/49, e 852/49 IR4. 10 Trata-se de uma Serra vizinha à Umã, onde somente a- 11 gora aparecem índio e consequentemente reclamações. 12 Esse fenômeno do surgimento de índios ou remanescentes 13 nos sertões deste estado, decorre do fato da nossa ação reivindica- 14 dora na tomada das terras da Serra Umã, Ilha de Assunção, Mirande- 15 la e Massacará e, também assistência social que vimos procuran- 16 do dispensar nos que, de fato, conservam os traços étnicos de raça 186 Nossa Serra, Nossa Terra 17 miseravelmente injustiçada. 18 A verdade porém, é que na maioria dos casos, trata-se 19 de gente camponesa que, desiludidas de esperar pela ajuda [ilegível] 20 [ilegível] competentes do poder público, manifestou-se disendo ser selvi- 21 cola ou ao menos remanescentes de alguma tribo para assim conseguir 22 o auxilio moral e [elegível] do SPI. 23 Aceitando mesmo a hipótese de tratar-se de gente da 24 mesma família dos Aticum, esta Inspetoria [ilegível] pode fazer sem- 25 do, propor que ela venha para a Serra Umã, onde já existe um 26 posto indígena, devidamente instalado. 31. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 184. Ofício Nº 97 do Conselho do SPI para o Chefe da IR4, Raimundo Dantas Carneiro. Do Rio de Janeiro para o Recife em 22/02/1950. Assunto: Cópia do telegrama da família indígena Ipacorá, procedente de Bom Nome, queixando-se de perseguições que vinha sofrendo por parte do Delegado de Polícia de Floresta. Fotograma 15-16. Data da Consulta: 12/04/2010. Obs.: no cabeçalho do Ofício constam os processos da Diretoria 914/50 e da IR 4 205/50. 187 Nossa Serra, Nossa Terra [fotograma 15] Senhor Chefe 1 Nesta Inspetoria não tem conhecimento da exis- 2 tencia de nenhum grupo de índios, em Bom Nome ou em sua adja- 3 cencia. 4 A copia do telegrama anexa passado pela fami- 5 lia Ipacorá, não determina o local exato, em que a mesma se 6 encontra. Alem disto, queixa-se a dita famlia, de persegui- 7 ções que vem sofrendo por parte do Delegado de Policia de Flo- 8 resta, que não tem interferencia em Bom Nome, que pertença ao 9 municipio de Manissobal. 10 Entre as inúmeras queixas que temos recebido 11 de locais em que sabemos existir pequenos grupos de indios, 12 nunca apareceu o nome dos Ipacorá, subscritores do telegrama 13 em apreço. [fotograma 16] 14 Depois que a nossa ação, penetrou no afastado 15 sertão deste Estado, surgem constantemente reclamações e pedi- 16 dos de assistência de presupostos indios, que desamparados e 17 desiludidos dos poderes públicos, procuram em vista da mise- 188 Nossa Serra, Nossa Terra 18 ria que sofrem, a protetora bandeira do S.P.I. 19 A meu ver, penso tratar-se de gente pobre e so- 20 fredora, que vive como agregada de fazendeirossem nenhuma ga- 21 rantia de muitas obrigações, mas, apesar disto, não consta do 22 nosso programa de trabalho, a solução do problema social, qu 23 afeta quase todo o interior brasileiro. 25 Não temos recursos e nem podemos atender os 26 varios pedidos de reivindicação de terras, que chegam a esta 27 Inspetoria, de indios esparsos pelo sertão deste Estado. 28 Já instalamos um Posto em Serra Umã, e nele 29 poderá ser localizado todos os legítimos remanescentes indige-/ 30 nas, espalhados pelos municípios de Floresta e limítrofes. 31 Salvo melhor juízo, não vejo nenhuma forma, 32 que nos permita solucionar a situação dos agricultores, que 33 dizem ser indios. 34 Sendo o que me ocorre informar a respeito, subs- 35 crito o assunto ao vosso esclarecido julgamento. 36 Sampaio [assinatura] [Resposta do Chefe di IR4, Raimundo Dantas Carneiro] 37 Nada tenho que acrescentar à esclarecida infor- 38 mação do Inspetor Francisco Sampaio, porquanto tudo o que afir- 39 ma tem o cunho da verdade. 189 Nossa Serra, Nossa Terra 40 Nada podemos fazer em beneficio dos pseudo-indios 41 que constantemente imploram o nosso auxilio, salvo melhor juízo. 42 Restitua-se, pois, o processo, à Diretoria. 43 Recife, 7-3-(19)50 – (a) Raimundo Dantas Carneiro. 44 Chefe da I.R. 4 32. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 379. Relatório de William D. Hohenthal Jr. para o Diretor do SPI, José da Gama Malcher. Da Califórnia/EUA para o Rio de Janeiro em 14/07/1952. Assunto: Relatório de viagem do antropólogo William D. Hohenthal Jr, contendo observações relativas aos grupos indígenas sob a jurisdição da 4ª Inspetoria Regional (IR). Fotogramas 814-817. Data da Consulta: 07/04/2010. Obs.: O Relatório foi redigido no Departamento de Antropologia de Berkeley/California da Universidade da California/EUA. Foram transcritos os fotogramas 814-817 referentes aos índios Pacarais/ Floresta. [Fotograma 814] Pacarais: 190 Nossa Serra, Nossa Terra Parágrafo 1: “Deixando Rodelas, atravessei o Rio São Francisco por canôa e noutro lado arranjei um Cavallo para a jornada de 12 legoas a Serra da Cacaria, onde moram remanescentes duma tribu chamada Pacará, ou Pacarais (Plural). Pela cortesia do Agente, Sr. Manoel/ Novais, um índio Tushá foi mandado ao Pé a este grupo chamar individuos para Rodelas que ou pudesse interrogar-los. Essa conversacão me convenceu que devia ir a Serra da Cacaria sem falta.” Parágrafo 2: “Existiam como 225 homens, mulheres e crianças (31 famílias biológicas) da tribu Pacará, cujos, cujos membros vivem esparramados em duas serras, da Cacaría e do Arapuá. Não há posto indígena e os índios são muito perseguidos pelos Neo-brasileiros do Riacho do Navio (‘navieiros”) e da cidade de Floresta, antigo centro do Cangaceirismo. Os perseguidores principais dos índios são os seguintes: [Fotograma 815] Agenor Leite, Américo Leite: irmãos, moram no Riacho do navio. Antonio Gersino: protetor da família Leite, Floresta. José Marques: irmãos, moram em Floresta.” 191 Nossa Serra, Nossa Terra Parágrafo 3: “Instigado por essa gente malvada, ultrajes e violências foram cometidas contra os indios pelos seguintes moradores, pistoleiros da mesma, todos morando na Serra da Cacaria: Antonio Paulina, Augusto Paulina, Américo Paulina: irmãos, parentes da família Leite, e moram no Sitio Esperança. João de Augusto: filho de Augusto João “Nêca”: genro de Augusto José “Jilôca”: relação ignorada Parágrafo 4: “Os índios perseguidos que consentiram servir como testemunhas contra os homens acima referidos são os seguintes: Luiz Antonio dos Santos, e esposa Luiza Emiliano Lopes de Barro Asilóm Gomes da Silva Joaquim Amanso Aticúm, Domingo Amanso Aticúm: irmãos Rufino Leandro da Silva Manoel João Nascimento, José Rosa Nascimento, Delfonso João Nascimento: irmãos” Parágrafo 5: “O índio Pacará que sofreu mais que todos os outros foi Luiz Antonio dos Santos e família. Este homem, com que estive hospedado, trabalha um terreno de extensão ignorada, talvez 2030 hect.2 . Ele tem que pagar 10% da safra a um tal José de ‘Cis’ 192 Nossa Serra, Nossa Terra (Assis?) da família dos Leite; essa família quer que João de ‘Cis’ jogue fora o índio Luiz Antonio, mas até minha visita este não havia agido. A família Leite já obrigou Luiz Antonio abandonar dois sítios com casas, bens, arvores frutíferas, e até confiscarem a colheita. No ano passado (1951) a família Leite mandou a polícia de Floresta para jogar Luiz Antonio e família fora do sítio; ele não estava la no momento, e a policia (com a justificação não sei) derrubou a casa de taipa, deixando seus filhos menores e a esposa, que estava no sexto mês de gravidez, sem abrigo e sem comida, pois confiscaram essa e também 300 cuias de farinha de mandioca. Eu vi as ruínas da casa.” Parágrafo 6: “Qual foi a razão para essa ultraje? Os Leite dizem que são donos de todos estes sítios agora ocupados por índios na Serra da Cacaria, porem, segundo fui informado, eles verdadeiramente não tem títulos de legais de posse às terras, mas, gozando proteção pólitica em Floresta, podem assim bancar manda-chuvas. Se alguém tem direito a um sitio, na falta de titulos de posse, deve ser o homem que ocupa, derruba, e queima o mato; e que lavra. Assim fizeram os índios, e assim sempre bem feito, por gerações inumeradas, mas são homens rudes, analfabetos, ignorantes da lei da sua grande pátria que guarante seus direitos, e são humildes demais; resultando que gente sem escrúpulos e com força dos amigos políticos podem agir como querem, pois os índios tem de protestar ou resistir.” 193 Nossa Serra, Nossa Terra [Fotograma 816] Parágrafo 7: “Nessa zona do interior do Nordeste, pelos menos, parece que não há justiça brasileira para os pobres; essa é um privilégio só para os ricos e granfinos. O que me desgosta é o seguinte: estes Neo-brasileiros que dizem ser “donos” das terras disputadas, permitem os índios fazer todo o trabalho inicial de lavrar e melhorar um sitio. Construindo casas, plantando arvores frutíferas, etc.; e depois, quando o sitio esta em boas condições o negam perante o índio, e dizem: ‘Agora, é nosso! Saia dahi, ou lhe matamos!’ E o indio sai, para começar de novo o seu trabalho penoso e triste.” Parágrafo 8: “A razão que os Neo-brasileiros perseguem tanto Luiz Antonio/ é porque este é um dos lideres mais importantes dos índios Pacará/e que resiste mais as tentativas dos Neo-brasileiros de escravizar os caboclos. Também, Luiz Antonio tem papel importante na /vida religiosa e cerimonial da tribu, e os Neobrasileiros desejam/acima de tudo que estes caboclos assim esqueçam todas as suas tradições e costumes, que os caboclos assim esqueçam que são índios, pois os latifundiários tem grande medo que o governo federal, através do SPI, talvez va estabelecer um posto la, ou pelo menos guarantir aos índios seus direitos as terras ocupadas por eles por centenares de anos. Essa é a razão que os moradores, agindo sob ordens dos seus patrões, querem 194 Nossa Serra, Nossa Terra proibir de qualquer maneira que os índios dansem seu ‘toré’ ou celebrem a cerimônia de jurema; etc., para que possam dizer que ‘não há índios na Serra da Cacaría.” Parágrafo 9: “Não tenho a mínima dúvida que, depois da minha partida, os patrões começaram perseguir os Pacará mais forte que nunca, pois durante minha visita chegaram uma duzia ou mais de NeoBrasileiros uma noite ao terreiro de baile indígena, querendo romper as festividades e terrorizar os caboclos. Mostrei firmeza e mandei eles embora, mas receio que os coitados de índios foram prejudicados pela minha presença, porem naquela noite não havia outro procedimento de minha parte, pois os dois elementos estavam prontos para uma briga danada. Fiz um relatório verbal deste episódio ao Agente do Posto “Aticum”, que prometeu abrigo ao índio Luiz Antonio e outros (que me acompanharam ao posto) se algo acontecia. Fiz um relatório escrito ao chefe da IR 4ª IR quando voltei ao Recife. Acho que uma investigação pelo SPI dos acontecimentos na Serra da Cacaría sería uma coisa excelente e será no interesse da justiça.” VIII HUAMUÉS: Parágrafo 10: “Da Serra da Cacaria fui a Cavallo para a Serra de Arapuá, uma légua distante, onde moram outros índios Pacará, e dahi viajei até 195 Nossa Serra, Nossa Terra a Serra dos Umã, quatro léguas distantes, em cima da qual existe o PIN “Aticum”. Parágrafo 11: “O recenciamento de 1952, feito pelo agente, Sr. José Brasileiro da Silva, registrou 1.028 homens, mulheres,e criança da tribu denominada “Aticum” pela 4ª IR, e que outros chamam ‘Umãs’, mas cujo nome, segundo os próprios índios, é Huamué. Acho que este nome talvez é correto, pois no ultimo século um botanista inglez, George Gardner, visitou essa tribu bravamente, notando que o nome Era ‘Huamois’. Não tenho duvida que estes representam descedentes da histórica tribu chamada ‘Umães’ reunidos com outros índios em [Fotograma 817] 1803 no Olho d’Agua da Gameleira por Frei Vital de Frescarolo. Significante o que ao pé da serra ainda existe uma velha igreja com cemeterio, conhecida como Olho d’Agua da Missão, Missão da Gameleira, ou Boqueirão da Gameleira.” Parágrafo 13: “Francamente, acho foi um grande erro colocar o posto na localidade atual. Minhas razões são as seguintes: a Serra do Umã não tem água permanente, e talvez nunca teve, pois nessa serra cacos e outros objetos arqueológicos são escassos; isto para mim indica que aboriginalmente os índios não moravam la, senão de 196 Nossa Serra, Nossa Terra vez em quando, porem prefiriram morar a pé da serra onde tem água todo o ano; sabemos que historicamente os índios não moravam na serra própria, mas nas faldas e ao pé dessa. Noutro lado, as Serras de Arapuá e da Cacaría, não muito distante, umas 4 leguas, sempre tem agua corrente mesmo durante a estação mais seca do ano; parece que no tempo pré-contacto (antes dos brancos) os índios moravam la mais ou menos permanentemente, pois o solo é coberto de cacos e outros artifatos indígenas arqueológicos, a este respeito devo chamar atenção ao fato que uma das serras tem o apelido ‘da Cacaría’, de cacos, tão numerosos que são estes.” Parágrafo 14: “Agora, é tarde demais, sem gastar muito dinheiro pelo SPI, de começar de novo mudar o novo posto para lugar mais favorável. É uma grande pena que as investigações iniciadas pelo SPI para escolher um sítio deste posto não tomarem em consideração a evidencia arqueologica que mostrou nitidamente a diferença entre um lugar bom (Serras da Cacaría e Arapuá, que são juntas) e um lugar ruim (Serra dos Umã). Mesmo que este fator não foi considerado, o investigador devia ter examinado possíveis sítios para um futuro posto indígena durante a epoca seca, assim podendo satisfazer-se se tiver agua ou não durante todo o ano.” Parágrafo 15: “Quando estive no Posto ‘Aticum’, chegaram la uns indivíduos de uma outra tribu chamada Baishóta: essa se compõe de mais 197 Nossa Serra, Nossa Terra ou menos 180 pessoas, que moram na Serra do Catolé, perto da cidade Maniçobal. Meus informantes me disseram que os costumes e indumentária cerimonial são muito parecidos aos dos Huamaé; quanto a língua, ninguem a fala mais. Dizem que são muito perseguidos pelos Neo-brasileiros de Maniçobal. O chefe da tribu é um tal de Pedro Nunes.” 33. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152. Informação do Antropólogo David Hohenthal a Raimundo Dantas Carneiro em 24/04/1952. Assunto: Sobre a perseguição dos moradores de Floresta e Riacho do Navio ao índio Luiz Antônio dos Santos (Luiz Limeira) morador da Serra da Cacaria. O índio teve a sua casa derrubada e a produção de mandioca roubada. A violência foi cometida pela polícia de Floresta. Fotogramas 1085-86. Data da Consulta: 09/02/2010. Informação para Sr. Dr. Raimundo Na serra da Cacaría o descendente mais perseguido pelos “civilizados” de Floresta e Riacho do Navio é Luiz Antonio dos Santos (apelido = Luiz Limeira). Êste é o “enfreteiro” dos índios morando n’esta serra e odiado pelos “civilizados” porque êle organiza os demais índios nas suas cerimonias religiosas e nas suas danças. A casa d’êste homem foi derribada, a farinha de mandioca 198 Nossa Serra, Nossa Terra preparada por êle (300 cuias) roubado à força, e a esposa que foi grávida então (1951), desamparada. A violência foi cometida pela polícia de Floresta à instigação dos “civilizados” que pretendem ser donos da serra. Não obstante que êstes não possuiam títulos aos terrenos, êles obrigam os descendentes dos índios pagar renda a pulso. Os descendentes desta serra e da serra de Arapuá são muito humildes e covardes, aceitando insultos e roubalheira sem de reagir, porque tem medo. Não adianta mesmo para êles protestar porque o juiz de direito, delegado e promotor em Floresta são ligados aos falsos donos das terras em (trecho riscado) questão. (vira) Os intrigados mais salientes são os seguintes “civilizados”: Floresta - Agenor + Américo Leite (irmãos) Antônio Gersino (o pistoleiro dos de cima) “donos” José Marques Jovino Marques (irmão de José) Sítio Esperança (Sª da Cacaria) Antonio Paulino Augusto Paulino (irmão) “Moradores” João de Augusto (filho de Augusto) João Neca (genro de Augusto) José Jilóca Américo Paulino (irmão de Augusto) 199 Nossa Serra, Nossa Terra Quando estive lá, êstes últimos queriam intimidar os índios modo que não falassem comigo, e impatar o toré. Eu fui obrigado mandar êste gente embora. Índios que me disseram ser prontos para dar testemunha são os seguintes: Luiz Antonio dos Santos (e esposa, Luiza) Emiliano Lopes de Barro Rufino Leandro da Silva Manoel José Nascimento José Rosa Nascimento (irmão) Asilon Gomes da Silva Joaquim Amanso Aticum Domingo Amanso Aticum Delfonso João do Nascimento” 34. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152. Memorando do Agente do SPI, Agenor da Silva Guedes, para o Chefe da 4ª IR do SPI, Dr. Raimundo Dantas Carneiro. Do Posto Indígena Aticum para o Recife em 10/09/1953. Assunto: Resposta ao Memorando Circular Nº 216. Fotograma 1053. Data da Consulta: 08/04/2010. [Fotograma 1053] 1 Respondendo vosso Memorando Circular, n.216, esclare 200 Nossa Serra, Nossa Terra 2 ço-vos que não sou portador de tais conhecimentos, de vez não co 3 nheço a Lei que mutivou a doação de terras para os índios, os quais 4 desde muito tempo vêem ocupando como terras devolutas. 5 Segundo dados colhidos entre os índios, estou bem infor 6 mado de que as terras que eles tinham como dono, não é somente as que 7 atualmente ocupam, razão porque anexo acompanha uma relação dos antigos 8 limites. 9 Depois da criação do Posto, eles ficam ocupando o planal 10 to da Serra não tenho nem direito as encostas da mesma. 11 Os atuais limites são estes; A partir do Caldeirão do 12 Gato, vae para as Areias, Oiticica, Olha dágua do padre, Estreito, Olho 13 Dáguinha, Mulungú, Poço da Pedra e Pedra de Fogo. 14 A dita Serra tem forma irregular, tendo o comprimento 15 de 5 léguas e largura é variada. Nesta parte apenas trabalhão 8 civili 16 zados, porem não residem. 35. Inspetorias Regionais. IR 4 Nordeste. Microfilme Nº 152. Ofício Nº 47 do Chefe da Inspetoria Regional 4 do SPI, Raimundo Dantas Carneiro, ao Agente do Posto Indígena Aticum. Do Recife para o Posto Indígena Atikum em 02/05/1958. 201 Nossa Serra, Nossa Terra Assunto: sobre a possibilidade de incorporação no futuro as terras da Serra da Cacaria ao Posto. Fotograma 1061. Oficio do Chefe da Inspetoria Regional 4 do SPI Raimundo Dantas Carneiro ao agente do Posto Indígena Aticum. Of. 47 IR 4 2 de maio de 1958 Chefe da 4ª. Inspetoria Regional do S.P.I. Agente do Posto Indígena Aticum – Floresta – Pe Sr. Agente: Estiveram aqui os índios Luis Limeira e Manuel Cirilo de Sousa, da Serra da Cacaria, que vieram dar queixa a esta chefia de uma ameaça de invasão em suas terras. De futuro as terras daquela Serra poderão ser incorporadas às da Serra do Umã e nestas condições os índios nela residentes, passariam a pertencer ao posto Aticum. Assim sendo, podeis desde já os considerar na vossa jurisdição, tomando providencias para que não se concretize a invasão daquela propriedade indígena, por parte dos civilizados ambiciosos. Espero, portanto, que sabereis agir, com prudência e acerto, afim de que não sejam criados casos que dificultem ainda mais a 202 Nossa Serra, Nossa Terra situação daqueles índios. Cordiais saudações ___________________________________ Raimundo Dantas Carneiro Chefe da I.R. 4 203