A Gestão por Competências nas Administrações Públicas
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A Gestão por Competências nas Administrações Públicas
República Federativa do Brasil - União Europeia Projeto “Diálogos Setoriais” Governança do Setor Público Planejamento Estratégico da Força de trabalho da Administração Pública Federal A Gestão por Competências nas Administrações Públicas Europeias e os Sistemas de Informação que apoiam essa Gestão A experiência da França, da Bélgica e do Reino Unido Adérito Alain Sanches Consultor internacional Desenvolvimento Institucional e dos Recursos Humanos Versão definitiva Estudo realizado no âmbito do contrato de serviços estabelecido com a CESO CI (Lisboa) Brasília - Nice Junho de 2013 O Governo Federal deve continuar seus esforços para reforçar o papel das competências na gestão de pessoal por meio da criação de um quadro de competências para toda a administração que irá fornecer um quadro de referência comum para o recrutamento, gestão por desempenho e promoções. Brasil 2010 - Governo Federal Avaliação da Gestão de Recursos Humanos no Governo - Relatório da OCDE Aprender é como remar contra a corrente. Quando paramos de avançar começamos a recuar. Provérbio chinês O vento e as ondas estão sempre do lado dos melhores marinheiros. Edward Gibbon (1737–1794) Todos os homens têm talentos, mas não para todas as coisas. Victor Hugo (1802–1885) Prefácio Este estudo focaliza-se nas práticas de gestão por competências adotadas na França, na Bélgica e no Reino Unido, e nos sistemas informatizados que apoiam essa gestão. Vem completar os dois relatórios sobre as práticas de GRH nas administrações centrais dos países europeus preparados para o MP, em 2012 e 2013, no âmbito do Projeto Diálogos Setoriais UE-Brasil. Os três estudos destinam-se a contribuir para o esforço atualmente empreendido pelo MP para modernizar as práticas de GRH na Administração Federal, e que se prendem, em grande medida, com as análises e recomendações do estudo de referência da OCDE, de 2010, sobre a GRH no Governo Federal. O intuito deste trabalho era o de apresentar as informações essenciais relativas à experiência dos três países mencionados, nos temas previstos nos TDR, de maneira concisa. O tempo de preparação previsto nos TDR reflete essa preocupação. Doze dias de trabalho unicamente foram previstos para a sua realização (cerca de três vezes menos do que o tempo programado para os dois estudos anteriores). Entretanto, em matéria de estudos comparativos internacionais, é sempre bastante arriscado, e pode mesmo ser uma fonte de decisões insuficientemente fundamentadas (e de prejuízos institucionais), apresentar experiências em matéria de GRH sem a necessária contextualização, sem o indispensável aprofundamento. O que obriga, invariavelmente, a produzir textos mais consistentes, mais "trabalhados". Esse esforço de contextualização foi feito, em particular, na apresentação dos sistemas de competências dos dois países cujas administrações centrais apresentam maior afinidade com a Administração Federal Brasileira (a França e a Bélgica). O calendário muito apertado não permitiu desta vez dilatar, na prática, o tempo contratual. Mas os dias (e as noites) de trabalho tornaram-se, em consequência, bem mais longos (com uma média de mais de 16 horas de trabalho por dia!), para que o estudo pudesse ser realizado e entregue no prazo previsto, sem prejuízo da qualidade. Entretanto, a parte relativa ao Reino Unido teve que ser, nesse contexto, apresentada de maneira mais concisa. Apesar dos constrangimentos assinalados, que constituíram um verdadeiro desafio, tudo foi feito para que o texto guarde a fiabilidade esperada de um estudo desta natureza e continue a referir-se aos padrões, exigentes, que guiaram a preparação dos dois estudos anteriores. Adérito Alain Sanches Consultor Europeu Projeto Diálogos Setoriais Brasil-UE - Área Governança no Setor Público Ação sobre a Modernização do Sistema de Capacitação Junho de 2013 3 Agradecimentos A preparação deste estudo e dos dois estudos anteriores foi muito facilitada pelas informações amavelmente fornecidas por muitos responsáveis institucionais trabalhando para a Administração Pública Federal brasileira, para as Administrações Públicas centrais de vários países europeus, e para organizações internacionais. A todos um muito obrigado. Um agradecimento especial é aqui expresso às pessoas e instituições mencionadas a seguir. No Brasil (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão [MP], Casa Civil da Presidência da República) : Aos dirigentes e responsáveis institucionais do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP) e da Casa Civil da Presidência da República que amavelmente aceitaram contribuir com os seus preciosos esclarecimentos à realização desta missão: • à Senhora Eva Maria Cella Dal Chiavon, Secretária-Executiva do MP; • ao Senhor Guilherme Estrada Rodrigues, Secretário-Executivo Adjunto do MP; • ao Senhor Valter Correia da Silva, Chefe da Assessoria Especial para Modernização da Gestão, Gabinete da Ministra, MP; • ao Senhor Sérgio Eduardo Arbulu Mendonça, Secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público, MP; • à Senhora Ana Lúcia Amorim de Brito, Secretária de Gestão Pública, MP; • à Senhora Marilene Ferrari Lucas Alves Filha, Secretária Adjunta de Gestão Pública, MP; • à Senhora Catarina Batista da Silva Moreira, Secretária Adjunta de Gestão Pública, MP; • ao Senhor Rafael de Sousa Moreira, Coordenador-Geral de Política de Planos de Cargos, Carreiras e Estruturas Remuneratórias; • ao Senhor Aldino Graef, Assessor Especial da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais, na Casa Civil da Presidência da República. À equipe do Departamento de Desenvolvimento e de Desempenho Institucional, com a qual um diálogo muito instrutivo sobre as realidades institucionais brasileiras e a GRH na Administração Federal teve lugar, no decorrer da missão anterior, relativa à Ação "Gestão para Resultados", realizada no âmbito do mesmo Projeto "Diálogos Setoriais Brasil-União Europeia"; e mais especialmente : • ao Senhor Alexandre Kalil Pires, Diretor desse Departamento; • à Senhora Regina Luna Santos de Souza, Coordenadora-Geral de Gestão para Resultados; • ao Senhor Ethel Airton Capuano, Coordenador-Geral de Políticas de Desenvolvimento de Pessoas; • à Senhora Fernanda Santamaria de Godoy Corradi, Coordenadora; • à Senhora Alexandra Sartorio, Chefe de Serviço; • à Senhora Sheila Maria Reis Ribeiro; • à Senhora Luciana Santos Ferreira; • e ainda ao Senhor André Luiz Andrade Lago, do SERPRO. A toda a equipe "Assessoria Especial para Modernização da Gestão" da SEGEP, que trabalhou de perto na organização e no acompanhamento da missão sobre os sistemas de carreiras e o envelhecimento ativo; em particular: • à Senhora Maria da Penha Barbosa da Cruz, Coordenadora-Geral para o Planejamento e o Dimensionamento da Força de Trabalho; • ao Senhor Alexandre Mendonca Gonçalves, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Departamento de Planejamento das Estruturas e da Força de Trabalho (DPEFT); • à Senhora Yana de Faria, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (DPEFT); • à Senhora Adriana Phillips Ligiero, Gerente de Projetos, Assessoria Especial para Modernização da Gestão; • ao Senhor Marcelo Pacheco Bastos, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Assessoria Especial para Modernização da Gestão; • ao Senhor Felipe Bragança Itaborahy, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Assessoria Especial para Modernização da Gestão. Aos três consultores nacionais com os quais o diálogo em equipe foi igualmente muito proveitoso, permitindo apreender melhor diversos aspetos das realidades institucionais do Brasil: a Senhora Fernanda Marques (consultora para a presente missão); o Senhor Nelson Marconi (consultor para a missão anterior, relativa à modernização do sistema de carreiras); e o Senhor Ricardo Motta (consultor para a missão relativa à "Gestão para Resultados"). Na CE (Comissão Europeia) : • à Senhora Géraldine Dufort, Chefe da Unidade "Gestão da Carreira e do Desempenho" na Direção Geral dos Recursos Humanos e da Segurança da Comissão Europeia, pela longa entrevista concedida e pela documentação amavelmente comunicada; 4 • à Senhora Madalina Glicor, Policy Officer, na Unidade Diálogo Social e Relações com as Administrações Públicas (Social Dialogue, EUPAN & OECD), da Direção Geral dos Recursos Humanos e da Segurança da Comissão Europeia, que amavelmente ajudou a organizar a anterior visita de estudos em benefício da Delegação do MP; • à Senhora Marianne Marecalle, Assistente (Design and Development), da Escola Europeia de Administração em Bruxelas, pela documentação amavelmente comunicada. No IEAP (Instituto Europeu de Administração Pública) : • à Senhora Marga Pröhl, Diretora Geral do Instituto Europeu de Administração Pública (IEAP), pelo acolhimento extremamente amável da Delegação do MP aquando da visita de estudos de maio-junho de 2012, pela grande disponibilidade manifestada em relação às preocupações e desejos de informação da Delegação, e pelas facilidades consentidas, muito apreciadas, no IEAP em benefício da Delegação; • ao Senhor Patrick Staes, Diretor do Centro de Recursos do Common Assessment Framework (CAF) no IEAP, pela sua conferência esclarecedora sobre o CAF e pela documentação amavelmente fornecida; • ao Senhor Nick Thijs, Conferencista e Investigador na Unidade de Gestão Pública Europeia no IEAP, Especialista do Common Assessment Framework, igualmente pela sua conferência esclarecedora sobre o CAF e pela documentação cedida. Nas organizações internacionais solicitadas (OCDE-SIGMA, OIT-CIF) : • ao Senhor Júlio Nabais, Administrador Principal na OCDE/SIGMA, pela documentação amavelmente comunicada sobre a modernização das carreiras em Portugal; • ao Senhor Robin Poppe, Responsável do Departamento da Aprendizagem e da Comunicação no Centro Internacional de Formação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Turim, pelas informações amavelmente fornecidas sobre as estatísticas atuais relativas à frequentação dos cursos organizados pelo Centro da OIT de Turim; • ao Senhor Fernando Fonseca, Senior Programme Officer, Programa sobre o Diálogo Social, Direito Laboral e Administração do Trabalho do Centro Internacional de Formação da OIT, em Turim, pelas informações comunicadas e pela documentação amavelmente fornecida. Nas administrações nacionais contatadas : Na Bélgica : • ao Senhor Jack Hamande, Diretor Geral responsável da Organização e dos Recursos Humanos no Serviço Público Federal Personnel et Organisation (SPF-PO), no Governo Federal da Bélgica, pela entrevista amavelmente concedida à Delegação do MP (2012), pela exposição esclarecedora então feita e pela rica documentação fornecida sobre a estratégia e os métodos de GRH na Administração Federal Belga (AFB); • ao Senhor Jacques Druart, Conselheiro para a Coordenação Internacional no SPF-PO do Governo Federal da Bélgica, pela sua participação no amável atendimento da Delegação do MP e na exposição-discussão sobre os métodos de GRH da AFB. Na França : • ao Senhor Jean-François Verdier, Diretor Geral da Administração e da Função Pública francesa, que amavelmente pôs a documentação e as equipas relevantes da DGAFP à disposição para a recolha da informação necessária à preparação deste estudo; • à Senhora Géraldine Achard-Bayle, Adjointe Chef de Bureau RH4 (Expertise Internationale, Prospective et Analyse Comparative des Politiques RH), Sous-Direction de l'Animation des Politiques Interministérielles, na DGAFP, pela documentação amavelmente comunicada. Na Holanda : • ao Senhor Jaap Uijlenbroek, Diretor Geral para a Organização e a Gestão do Governo Central da Holanda (Ministério do Interior e das Relações Externas do Reino), pela entrevista dada e pela apresentação feita à Delegação do MP, e pelas preciosas informações fornecidas; • ao Senhor Edwin Kools, Senior Policy Coordinator, Secretário do Comité Interministerial para a Gestão Operacional no Governo Central da Holanda (Direção Geral para a Organização e a Gestão), pela sua participação na entrevista citada e pela documentação amavelmente comunicada; • ao Senhor E. R. H. Heijmans, Diretor de Programme (Program Manager) na Direção Geral para a Organização e a Gestão do Governo Central (Ministério do Interior e das Relações Externas do Reino) pela sua participação nessa mesma reunião e pelas informações comunicadas. Na CESO (em Lisboa) : • a toda a equipe da CESO apoiando esta ação, e em particular à minha interlocutora privilegiada para esta missão, Senhora Magda Rodrigues, pela seriedade, eficiência e eficácia do seu trabalho de coordenação e apoio administrativo e pela excelente qualidade, muito apreciada, do seu relacionamento profissional. 5 *** NB: Como é óbvio, nenhuma dessas pessoas tem qualquer responsabilidade no conteúdo do texto deste estudo. A responsabilidade pela qualidade das informações e análises aqui apresentadas, e em particular por qualquer erro que o texto deste estudo possa conter, pertence-me inteiramente. Plano geral do estudo • A Primeira Parte lembra as grandes datas na difusão da gestão por competências (na gestão das forças de trabalho em geral, e no seio das administrações públicas dos países da OCDE) e discute alguns conceitos fundamentais ligados a essa área. • A Segunda Parte descreve a situação na Administração Pública do Estado Francesa. • A Terceira Parte examina a situação na Administração Federal Belga. • A Quarta Parte analisa a situação na Administração Central do Reino Unido. 6 Índice Página Prefácio 3 Índice 7 Primeira Parte A importância tomada pela Gestão por Competências 12 Segunda Parte A França 32 Terceira Parte A Bélgica 71 Quarta Parte O Reino Unido 123 7 Abreviações e acrónimos ABD Dutch Senior Public Service [Algemene Bestuursdienst] (Holanda) AC Administração central AFB Administração Federal Belga AFE Administração francesa do Estado (empregando os SP da FPE) AP Administração Pública / Administrações Públicas APE Administração Pública do Estado (França) APF Administração Pública Federal (Brasil) APS Australian Public Service APSC Australian Public Service Commission APSVF Australian Public Service Values Framework CAF Common Assessment Framework (Estrutura Comum de Avaliação) CE Comissão Europeia Cesp Competências específicas CM Conselho de Ministros CPGE Code of Public Governance Excellence (Dinamarca) CS Civil Service (Reino Unido) CSC Civil Service College (Reino Unido) COPERNIC Nome dado à Reforma da Administração Federal belga, lançada em 1999-2004 DEDDI Departamento de Desenvolvimento e Desempenho Institucional (Governo Federal, SEGEP, Brasil) DGAFP Direction Générale de l’Administration et de la Fonction Publique, Direção Geral da Administração e do Emprego Público (Ministério das Finanças e do Emprego Público, França) DICME Dictionnaire Interministériel des Compétences des Métiers de l'État / Dicionário Interministerial das Competências das Profissões do Estado (França) DILA Direção da Informação Legal e Administrativa (França) EAE Espaço Administrativo Europeu ENA Escola Nacional de Administração (França) ENAP Escola Nacional de Administração Pública (em Brasília) EU /UE União Europeia EUPAN European Union Public Administration Network (Rede Europeia de Administração Pública) FC Famílias de competências FP Função Pública / Funções Públicas FPE Função Pública do Estado (França) FPH Função Pública Hospitalar (França) FPT Função Pública Territorial (França) FT Força de Trabalho / Forças de Trabalho GC Gestão por Competências / Gestão das Competências GF Gestão da Formação GPEC Gestão Provisional dos Empregos e das Competências GPEEC Gestão Provisional dos Efetivos, dos Empregos e das Competências (abreviação utilizada como sinônimo de GPEC, usada menos frequentemente do que esta última expressão, e que sublinha a inclusão, na GPEC, da dimensão “efetivos”) GPRH Gestão Provisional dos Recursos Humanos GRH / DRH Gestão dos Recursos Humanos / Desensvolvimento dos Recursos Humanos GSCD Government Standard Competency Dictionay (Coreia) HRCM Human Resource Capability Model (Austrália) IEAP Instituto Europeu de Administração Publica (Maastricht, Holanda) IFA Instituto de Formação da Administração Federal (Bélgica) 8 ILS Integrated Leadership System (Austrália) INSEE Instituto Nacional de Estatística e dos Estudos Econômicos (França) KLC Key Leadership Competencies (Canadá) LCM Leadership Competency Model (EUA) LEF Leadership Effectiveness Framework (EUA) LOLF Loi Organique relative aux Lois de Finances (Lei Orgânica relativa às Leis de Finanças, de Agosto 2001, França) MFP Ministério tulelando a Função Pública (França) M&A Monitoramento e Avaliação MP Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Governo Federal, Brasil) NA Nível de aprofundamento NCSCF New Civil Service Competency Framework (Reino Unido) NTIC Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação NPM New Public Management (Nova Gestão Pública) NU Nações Unidas OCDE / OECD Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico OGE Orçamento Geral do Estado PC Perfis de Competências PFR Prime de Fonctions et de Résultats (Bónus ou Prêmio de Funções e de Resultados, na França) PFRH Plataformas Regionais Interministeriais de Apoio à GRH (França) PGI Programas de Gestão integrados PIB Produto Interno Bruto PRDC Personnel Resources and Development Center (EUA - US OPM) PRP Performance-Related Pay (Remuneração ligada ao Desempenho) PSG Professional Skills for Government (Reino Unido) RC Referencial / Referenciais de Competências REC Referencial / Referenciais de Empregos e de Competências RGPP Révision Générale des Politiques Publiques (Revisão Geral das Políticas Públicas, na França) RH Recursos Humanos RIME Répertoire Interministériel des Métiers de l'État / Referencial Interministerial das Profissões do Estado (França) RMC Référentiels Ministériel de Compétences / Referenciais Ministeriais de Competências (França) RMM Répertoire Ministériel des Métiers / Referencial Ministerial de Profissões (França) R&D Referenciais e Dicionários (de Competências) SCS Senior Civil Service (Reino Unido, Dinamarca) SEGEP Secretaria de Gestão Pública (Governo Federal, Brasil) SELC Senior Executive Leadership Capability (Australia) SELOR Escritório de Recrutamento e de Seleção da Administração Federal Belga SG Sistema de Gestão SIGMA Support for Improvement in Governance and Management (Programa conjunto da OCDE e da UE, finaciado principalmente pela UE) SIRH Sistema de Informação dos Recursos Humanos SIPE Sistema Integrado de Planejamento Estratégico SMART Specific, Measurable, Attainable, Relevant and Timed (5 exigências de um objetivo bem definido, o qual deve ser claramente especificado, susceptível de ser avaliado, realista, pertinente e com data definida) SP Servidor Público / Servidores Públicos SPF Serviço Público Federal / Serviços Públicos Federais (substituem, na Bélgica, os antigos ministérios) SPF P&O Serviço Público Federal "Pessoal e Organização" (na Administração do Governo Federal Belga) TDR Termos de Referência 9 UE /EU União Europeia UNPAN United Nations Public Administration Network US OPM United States Office of Personnel Management 10 Principais relações do presente estudo com as componentes do Mapa Estratégico da SEGEP. Introdução A importância tomada pela Gestão por Competências A. A emergência da noção de competências na gestão das FT B. Por que razão a GC é tão importante para as organizações C. Arquitetura típica de um referencial de competências D. A difusão da Gestão por Competências nas AP dos países da UE A. A EMERGÊNCIA DA NOÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA GESTÃO DAS FT A noção de competências impôs-se progressivamente em psicologia e na gestão dos recursos humanos (e das forças de trabalho) a partir de meados dos anos 1970. O seu uso generalizou-se em muitas empresas do setor privado, em particular nos países anglo-saxões, nos anos 1980, e começou igualmente a ser promovido e adotado por várias administrações públicas, em países da OCDE, a partir do final dos anos 1990 e no decorrer do primeiro decênio deste século. A emergência do conceito de “competências” A apreciação das capacidades mentais das pessoas, que se exprimem na sua vida pessoal e na sua vida profissional, começou com a medida da inteligência. A primeira abordagem adotada na apreciação da inteligência privilegiou a avaliação da "inteligência geral". Mais tarde, a atenção dos investigadores centrou-se igualmente na apreciação de talentos particulares (aptidão para a aprendizagem de línguas, da matemática, da música, das ciências, dos desportos, etc.). 1. Da medida da inteligência à avaliação de competências individuais Para além da "inteligência geral" - a qual se exprime, em particular, pela facilidade geral de aprendizagem, pelas capacidades a estabelecer relações entre os diferentes conhecimentos possuídos, de entender e analisar situações e de resolver problemas, de descobrir e de inventar novas maneiras, mais adequadas, de agir, de pensar e de ver o mundo -, existem talentos particulares, que certas pessoas têm de modo mais desenvolvido do que outras. Esses talentos particulares resultam do desenvolvimento de "capacidades potenciais" (chamados por vezes "dons") que se exprimem e se manifestam, em regra geral, desde a infância, e variam de uma pessoa para outra1. Como acontece com as variações intraespecíficas na constituição física das pessoas, esses dons estão diversamente distribuídos e desenvolvidos entre os indivíduos. Cada pessoa tem a sua combinação própria de "dons", de "capacidades potenciais". Uma capacidade potencial (ou "dom") é uma aptidão ou facilidade particular para aprender algo. Por exemplo, uma aptidão para aprender línguas, para aprender matemática, para aprender a compor música, para inventar engenhos. A aprendizagem transforma as capacidades potenciais em capacidades reais, que representam competências específicas. Assim, graças à aprendizagem, uma pessoa com um dom para aprender línguas pode adquirir a capacidade de se exprimir em Todas as pessoas compartilham um fundo hereditário comum óbvio, que permite distinguir claramente a nossa espécie das espécies diferentes, mesmo as mais próximas (embora cerca de 98,8 % das sequências codificadoras de ADN do património genético dos homens e chimpanzés modernos sejam, segundo os especialistas de genética, idênticas, as duas espécies são claramente distintas). Esse património humano comum, que confere unidade à espécie, não impede que haja diferenças interindividuais claramente perceptíveis, no corpo e na mente. As pessoas pertencem a raças e etnias diferentes, com perfis biológicos específicos. E, em cada etnia, têm caraterísticas variáveis, que lhes conferem a sua individualidade (podem ser mais altas ou mais baixas, com tons de pele e cores de olhos e cabelos diferentes, com temperamentos e caraterísticas anatómicas e fisiológicas diferentes, com aptidões e tendências comportamentais distintas). 1 13 francês, em inglês, em árabe ou em vietnamita. Neste caso, uma capacidade potencial resulta na produção de quatro capacidades reais (o domínio de quatro línguas diferentes). Da mesma forma que a rega e os cuidados dos jardineiros permitem a uma semente, com o seu potencial biológico específico, de se transformar numa planta "adulta", plenamente desenvolvida, a formação inicial e a educação, que facilitam, aceleram e melhoram a qualidade e a fiabilidade das aprendizagens, ajudam as crianças e os adolescentes a desenvolverem, progressivamente, capacidades reais (competências) que enriquecem a sua personalidade, desenvolvem a sua capacidade de entendimento das situações da vida (inteligência geral), e as tornam aptas para realizar categorias específicas de tarefas. A formação de adultos e de pessoas seniores (em particular, a formação profissional) também lhes permite adquirirem novas competências e enriquecerem as que já possuem. A aquisição de novas competências valoriza as pessoas individualmente e, a nível coletivo, valoriza as forças de trabalho. A inteligência e a qualidade das intervenções das equipes que trabalham nas organizações (sejam elas do setor público, privado ou associativo) depende, em primeiro lugar, da estrutura de competências (gerais e específicas) das pessoas e das forças de trabalho que conduzem e realizam as ações em jogo. O quadro da página seguinte resume as grandes etapas do estudo da inteligência humana, que se desenvolveu sobretudo no decorrer do século passado. À noção de inteligência geral veio juntarse a ideia de "inteligências" (ou capacidades mentais) mais específicas, que se teriam desenvolvido, ao longo da história humana, em resposta a necessidades adaptativas da espécie (necessidades mais ou menos prementes, para os diferentes grupos humanos, em função dos contextos históricos, geográficos, económicos e socioculturais). Assim, as situações encontradas, a necessidade de sobrevivência, o desejo de entender melhor o mundo e de resolver problemas práticos da vida quotidiana teriam levado ao desenvolvimento, não só da capacidade mental geral de entendimento, mas igualmente à estimulação específica e à ampliação de capacidades mentais e comportamentais mais pontuais. Alguns autores utilizaram a analogia de uma mente humana concebida como um "canivete suíço", com talentos diversificados. 2. A contribuição de David Mc Clelland (1917-1998) Num artigo de 14 páginas publicado em janeiro de 1973 pela revista American Psychologist2, o psicólogo americano David McClelland, professor na Universidade Harvard, criticou o uso tradicional de testes de inteligência na previsão do sucesso profissional, e argumentou que seria mais judicioso e adequado substituir a medida da inteligência por uma avaliação das competências das pessoas. Ulteriormente, McClelland, que, para além de professor e investigador, foi também consultor em matéria de GRH para grandes organizações, juntamente com a sua equipe de colaboradores, 2 "Testing for Competence rather than for "Intelligence", American Psychologist, janeiro de 1973. 14 desenvolveu o conceito de competência3 e elaborou métodos para identificar e medir um núcleo de competências essenciais, úteis às organizações. Essas competências eram identificadas a partir de entrevistas que permitiam conhecer, de maneira concreta e empírica, o que distinguia, em termos de comportamentos e de capacidades, os excelentes profissionais dos profissionais apresentando um desempenho médio. Embora o trabalho de McClelland tenha sido ulteriormente criticado por alguns investigadores, deu um impulso importante ao movimento que se desenvolveu, a partir dos anos 1970, no sentido de promover a identificação e a classificação metódicas de competências profissionais pelos departamentos de RH das organizações. A generalização do uso de referenciais de competências A utilização de metodologias baseadas em competências foi popularizada nos anos 1980, em particular por um antigo colaborador de McClelland, R. Boyatzis (The Competent Manager, 1982). Nos anos 1980 e 1990, muitos outros investigadores (essencialmente, do mundo anglo-saxão) vieram contribuir para o debate sobre as competências e o desenvolvimento do movimento gerencial que promovia a sua utilização. Entretanto, as noções e as abordagens permaneceram, entre esses investigadores, pouco homogéneas. A própria definição do termo "competência" foi objeto de interpretações relativamente diversas. Em muitos casos, mesmo as competências mais comumente e mais frequentemente identificadas pelos diferentes autores de referenciais (as que se prendem com a organização, a motivação, a iniciativa, a liderança, a capacidade de análise e a comunicação), sobretudo nas suas definições mais "operativas", incorporando atitudes comportamentais), incluíam muitos aspetos que se relacionavam com contextos bastante específicos. O modelo McClelland/McBer : Seis grandes categorias de competências O modelo de competências desenvolvido por D. McClelland com a equipe de peritos trabalhando na sua firma de consultoria McBer (Hay-McBer) distinguia seis grupos principais de competências: 1. competências de realização (tais como a capacidade de iniciativa); 2. competências relacionadas à ajuda e à qualidade dos serviços (por exemplo, a capacidade de criar boas relações de entendimento interpessoal); 3. competências ligadas à influência social (por exemplo, a capacidade de criar novas relações); 4. competências de gestão e enquadramento (management); 5. competências cognitivas (tais como a capacidade de análise); 6. competências ligadas à organização eficaz do trabalho pessoal. Apesar dessa disparidade de interpretações, no final dos anos 1980 (o decênio durante o qual se difundiram as teorias influentes de H. Gardner e R. Sternberg sobre "inteligências múltiplas"), muitas grandes empresas (sobretudo nos Estados Unidos) tinham já desenvolvido referenciais de competências e estavam utilizando esses referenciais em diversos campos da GRH. Em 1988, Hirsh e Bevan realizaram uma análise de conteúdo de 100 referenciais de competências utilizados em 40 organizações. Puderam identificar três aspetos recorrentes nesses documentos: 3 O termo técnico de competência (com o significado de motivação para o desempenho) tinha sido introduzido por um artigo de R. W. White em 1959 (no momento em que P. Drucker difundia as suas primeiras ideias sobre a gestão por objetivos, e em que D. Kirkpatrick elaborava o seu modelo em quatro níveis sucessivos de avaliação dos resultados das ações de formação). 15 as competências listadas (a) estavam associadas a níveis de desempenho acima da média, (b) eram descritas em termos de comportamentos observáveis no trabalho, e (c) prendiam-se com o comportamento dos gestores no contexto da sua organização e do seu papel. Nos anos 1990, algumas administrações públicas (em primeiro lugar, as do mundo anglo-saxão) começaram a interessar-se igualmente pela utilização de referenciais de competências. 16 B. POR QUE RAZÃO A GC É TAO IMPORTANTE PARA AS ORGANIZAÇÕES O "saber-fazer" é um dos dez fatores principais que condicionam a qualidade do desempenho das FT 4 As "competências e conhecimentos" constituem um dos dez fatores essenciais, concorrentes, que, combinados e "multiplicados" entre si, condicionam e explicam o nível e a qualidade do desempenho das Forças de Trabalho. 1. Cinco desses fatores-chave intervêm a nível das pessoas, tomadas individualmente A nível dos agentes, considerados individualmente, cinco fatores são importantes na determinação da qualidade do seu desempenho. Esses fatores são os níveis: (a) de motivação (o querer bem fazer), (b) de competências (o saber bem fazer), (c) de organização do trabalho e da adequação dos recursos disponibilizados (o poder bem fazer), (d) de responsabilidade e probidade (o sentido das responsabilidades, o nível de integridade pessoal e de confiabilidade), (e) de competência do enquadramento gerencial de proximidade e de qualidade das relações, da comunicação e das interações profissionais com os colegas e parceiros de trabalho (a qualidade da coordenação gerencial e do relacionamento no meio social no trabalho, e o nível de estímulo assim recebido). 2. Cinco outros fatores, de efeitos complementares, intervêm a nível das equipas e FT, consideradas coletivamente À escala das equipes e das forças de trabalho coletivamente consideradas, e em particular no que toca às FT das administrações públicas, cinco outros fatores são igualmente determinantes. Para que se possa obter delas um bom desempenho, as forças de trabalho das administrações devem ser : (a) suficientes em termos de efetivos, em relação aos desafios encontrados, aos objetivos a atingir e às tarefas a executar; e ter, por outro lado, um dimensionamento condizente com os meios disponíveis e com as exigências, transversais e omnipresentes, de eficiência e de economia (rightsizing), (b) bem distribuídas, em relação a uma “grelha de distribuição” de referência combinando e cruzando, de maneira adequada, devidamente ponderada e equilibrada, (i) regiões, (ii) setores, (iii) tipos de instituições e (iv) níveis de responsabilidade, (c) adequadamente compostas, quer dizer ao mesmo tempo representativas da população administrada (respeitando os necessários equilíbrios e normas básicas de equidade em relação, em particular, ao género, à idade, à origem étnica e social, ...) e levando em conta os potenciais de evolução dos agentes, e a sua adequação aos postos ocupados, (d) animadas por um bom "moral" de equipe (mobilização coletiva na direção dos resultados a alcançar, espirito generalizado de solidariedade e de entreajuda, sentido compartilhado das responsabilidades, confiabilidade e integridade, individual e coletiva, adesão proativa aos valores fundamentais do serviço publico e das culturas institucionais de excelência tomadas como referência ou como guia, abertura ao conhecimento e a uma evolução pessoal e profissional permitindo a aquisição de novas competências, oferecendo novas oportunidades e lançando novos desafios), (e) bem dirigidas, mobilizadas e enquadradas, tanto no tocante à visão do objetivo final (valor agregado produzido) esperado em cada etapa, às tarefas a realizar e aos resultados concretos a alcançar, como no que diz respeito à gestão das pessoas e ao apoio dado às suas atividades e realizações profissionais. Esta última exigência tem, invariavelmente, um peso decisivo na qualidade do desempenho de uma FT. À cabeça das FT mais produtivas do mundo estão líderes e equipes de direção e enquadramento com alta capacidade e experiência, dispondo em geral de uma ampla margem de manobra e com uma visão clara, concertada e largamente compartilhada do que se pretende alcançar e da maneira como os resultados esperados poderão e deverão ser obtidos. 4 Este texto reproduz uma informação que já foi apresentada no relatório sobre a Gestão de Carreiras nos países da UE. 1. A nova gestão dos recursos humanos Ascincoexigênciasfundamentaisaníveldosagentes* 1 Nívelde mo vação Nívelde competências Nívelde organização 1 Nívelde responsabilidade edeintegridade Qualidadedo enquadramento gerencial 1. A nova gestão dos recursos humanos Ascincoexigênciasfundamentaisaníveldasforçasdetrabalho** 2 Numericamente suficiente FT Bem distribuída 2 Adequadamente composta Com um bom moral Bem dirigida e enquadrada 19 A gestão de competências : Alguns conceitos importantes * (1/5) 1. Três níveis distintos de gestão. Do ponto de vista dos gestores de competências (e dos gestores da formação) que intervêm numa organização (e, em particular, num organismo ou instituição do setor público) que deve gerir forças de trabalho (FT), é interessante distinguir três níveis ou patamares de gestão. Esses níveis estão ligados e articulados entre eles de maneira hierárquica. • O nível mais elevado é o da pilotagem e da gestão institucional (GI). O responsável institucional (isso acontece, por exemplo, no caso de um ministério, de uma direção ministerial ou de um instituto autónomo) está preocupado, antes do mais, pelo resultado final obtido pelo organismo de que tem a responsabilidade; focaliza, por isso, a sua atenção sobre a produção do valor acrescido esperado no final de cada período de atividade (ano, semestre ou trimestre, por exemplo). Esse resultado representa a contribuição do organismo em questão ao dispositivo institucional, tomado no seu conjunto. • No nível imediatamente mais abaixo, e ao lado da gestão das atividades e processos em jogo, encontramos a gestão das forças de trabalho (FT) da organização; em outras palavras, a gestão dos seus recursos humanos (GRH). O responsável da GRH está preocupado com a valorização e a boa gestão das FT para que elas possam desempenhar bem as missões de que estão encarregadas, e contribuir assim à realização dos resultados institucionais (realização que constitui a preocupação central da organização). • Finalmente, uma das componentes da GRH, ao lado de outras componentes (como a gestão das remunerações ou da mobilidade profissional, por exemplo) é a gestão das competências (GC) dos agentes e das equipes que formam a FT. O principal meio ("ferramenta" de gestão) que permite ajustar os perfis de competências dos agentes e as estruturas de competências das equipes e das organizações é a formação. Assim, a GC e a gestão da formação (GF), intimamente ligadas, e que são por vezes, por isso, confundidas na prática, são componentes da GRH, a qual, por sua vez, está ao serviço da gestão institucional. • Em cada um desses três níveis podem distinguir-se uma gestão corrente e uma gestão provisional. GRH GI GC / GF * Esta nota de esclarecimento é extraída de um trabalho recente preparado no âmbito de uma missão SIGMA (OCDE-UE) de apoio ao sistema de gestão de competências e de formação do Ministério da Economia e das Finanças do Reino de Marrocos. O seu conteúdo está sob copyright da OCDE-SIGMA. A sua reprodução foi amavelmente autorizada por SIGMA. 20 A GC : Alguns conceitos importantes (2/5) GRH GC / GF GI 2. O lugar "natural" da gestão da formação nas instituições consumidoras de formação Nas instituições que gerem as suas FT e que são, por esse motivo, consumidoras de formação (é o caso de todas as organizações, porque todas elas fazem intervir forças de trabalho), o posicionamento natural da GC / GF é, portanto, no seio da GRH. A GC / GF está em relação estreita com todas as outras componentes-chave da GRH. Em particular : recrutamento e seleção; promoção, avanço e gestão das carreiras; mobilidade; gestão e avaliação do desempenho; gestão das posições estatutárias; fixação e gestão das remunerações. Entre as componentes da GRH, a GC / GF ocupa um lugar importante pelas suas numerosas repercussões, pelo volume das atividades em jogo e pelo montante dos recursos mobilizados. A tal ponto que se adota, com frequência, um modelo organizacional que distingue, no seio de uma Direção GRH, uma Subdireção da Formação. 3. Os ciclos anuais de gestão. A gestão provisional. • Quaisquer que sejam as modalidades ou os níveis de gestão considerados - a GI, a GRH ou a GC -, a duração habitual de um exercício de gestão é de um ano. Existe um ciclo anual de gestão, que passa por três grandes fases : (a) uma fase inicial de enquadramento, a qual comporta : uma definição das grandes orientações e prioridades do ano; um diagnóstico das principais necessidades a satisfazer e uma identificação dos resultados fundamentais a obter; um diagnóstico dos meios, constrangimentos (limitações) e forças contextuais a levar em conta; a produção de instrumentos de planificação, destinados a orientar, guiar e facilitar a ação (em relação aos objetivos a atingir, à organização a implementar, às alianças e parcerias a estabelecer e/ou a explorar); (b) uma fase de implementação, que deve permanecer constantemente atenta aos objetivos anuais a atingir, aos constrangimentos e meios em jogo, e às orientações de enquadramento escolhidas; mas também introduzir os necessários ajustamentos à ação decidida na fase inicial, de maneira a responder adequadamente às evoluções do contexto; as atividades de monitoramento e acompanhamento têm um papel determinante para o sucesso desta fase. (c) uma fase de avaliação, a qual incidirá sobre a qualidade dos resultados e dos dispositivos instituídos, e isso em relação às três fases do ciclo anual de gestão. 21 A GC : Alguns conceitos importantes (3/5) • A gestão anual é uma gestão "no presente". É sabido que uma pilotagem adequada das organizações não se pode limitar a utilizar exclusivamente esta modalidade de gestão. É indispensável, pelo contrário, explorando a visibilidade de que se pode dispor, poder igualmente antecipar e preparar de maneira lúcida evoluções, desenvolvimentos e adaptações que se produzem a mais longo prazo. • De modo a responder a essas necessidades, estratégias e planos de ação plurianuais são correntemente utilizados nas organizações que adotam boas práticas de gestão. Todos os governos e administrações o fazem igualmente. Essas estratégias e planos ajudam a instilar um sentido mais claro nas ações empreendidas, e a melhorar a extensão das repercussões, o impacto e a qualidade dessas ações. São indispensáveis para organizar inteligentemente a ação sobre horizontes temporais mais amplos. Esses horizontes são, frequentemente, de três ou cinco anos (estratégias e planos trienais, estratégias e planos quinquenais). Desta forma, completando a gestão anual, centrada sobre uma visão operacional ("a curto prazo"), uma gestão estratégica ou provisional (plurianual) alarga o campo de visão dos gestores e permite-lhes agir e abordar os problemas de maneira mais adaptada e mais "inteligente". • Esta exigência exprime-se a nível da GI, da GRH e da GC. Duas recomendações metodológicas importantes devem ser levadas em consideração : (a) a utilização de técnicas de planificação deslizante, para compensar a perda de visibilidade quando se alarga o horizonte temporal de gestão, e que permitem guardar, sobre um período fixo (em geral, de três anos), um campo de visão suficientemente esclarecedor; (b) a sincronização dos períodos levados em conta, nos diferentes níveis de gestão (GI, GRH, GC) ; essa sincronização é tão importante, em matéria de gestão, como a das diferentes partições, quando se interpreta uma obra musical; a ausência de sincronização torna a gestão confusa e contribui a tornar inoperantes as ações. 4. Instrumentos gerenciais : ferramentas-chave • As ferramentas de pilotagem dos gestores são constituídas, antes do mais, por estratégias e planos de ação, plurianuais e anuais. São as "partições" de que eles se servem para organizar de maneira coerente a sua ação e a conduzir a bom termo. • Em todas as organizações, as estratégias institucionais, em matéria de GRH e em matéria de formação devem ser "alinhadas" ("postas em coerência"). E isso, tanto no que diz respeito à gestão plurianual como no que toca à gestão operacional. 22 A GC : Alguns conceitos importantes (4/5) 5. Cinco escalas fundamentais (ou patamares) de intervenção. • A ação conduzida pelo Executivo (em outras palavras, pelas FT do Governo e da Administração) mobiliza no dia a dia um grande número de intervenções numa grande variedade de setores: educação, saúde, justiça, negócios estrangeiros, finanças, função pública, ministérios económicos e de infraestruturas, etc. Tomando como critério de análise e de classificação das intervenções assim realizadas por essas FT, não os setores nos quais elas são conduzidas, mas o seu "grau de agregação" (um critério que corresponde grosseiramente, pelo menos em primeira aproximação, ao "número de agentes" que participam na intervenção considerada), podem distinguir-se (numa perspectiva, desta vez, "transversal" ou intersetorial) cinco grandes níveis ou "escalas" de agregação das ações. Cada um desses níveis constitui um patamar de intervenção. A ação do Executivo pode assim ser decomposta, descendo-se em cada passo de um degrau, em ações subalternas, que podem ser designadas por "contribuições". Um esquema pertinente e esclarecedor a ter em mente para bem entender esta operação é o de um diagrama em espinha de peixe (semelhante a um diagrama clássico de Ishikawa). Esse tipo de representação permite, com efeito, pôr claramente em evidência diversos níveis, sucessivos, de decomposição de uma ação determinada. No caso de uma ação governamental, desenvolvendo o conjunto das decomposições ou desdobramentos sucessivos, chegar-se-ia a uma gigantesca arborescência hierárquica, na qual o termo mais agregado corresponderia à ação do governo no seu conjunto, e os termos situados mais em periferia corresponderiam às ações individuais realizadas pelos agentes do Executivo. • O quadro seguinte mostra as cinco escalas de agregação das intervenções no caso de uma ação governamental. Escalas de intervenção Tipo de ação Governo Ação governamental Ministério Ação ministerial Direção ministerial / Instituto / Agência tutelada Ação de uma Direção, ... Equipe Ação de uma equipe Servidor Público (Agente individual) Ação de um agente A cada escala corresponde um nível de ação (ou de intervenção). Em cada nível, várias instâncias de posição hierárquica equivalente intervêm em interação. As suas intervenções devem ser coordenadas pela instância competente ocupando uma posição hierárquica imediatamente superior, de modo a que esta última possa dispor, no momento oportuno e com a necessária qualidade, dos insumos (inputs) necessários para poder produzir e entregar, por sua vez, a sua própria contribuição (output) à ação que é desenhada e conduzida no nível imediatamente superior. 23 . Quadro extraído do relatório março de importantes 2013 sobre a Gestão A GC : Algunsde conceitos (5/5) de Carreiras : A situação atual da APF, relativamente a seis requisitos essenciais em matéria de planejamento estratégico 6. Articulações e montagens institucionais exitosas. • As políticas e estratégias de formação (e, mais geralmente, de gestão de competências), da mesma forma que as práticas e métodos de gestão utilizados e o quadro normativo instituído devem apresentar, em cada organização, não só um alto nível de pertinência, mas igualmente uma forte coerência, de maneira a evitar confusões e desperdícios). Essa coerência supõe uma articulação inteligente entre os diferentes patamares de gestão e, do mesmo modo, entre as três modalidades de gestão anteriormente mencionadas (GI, GRH, GC /GF). • O quadro seguinte ajuda a entender os tipos de "elos lógicos" que devem estabelecer-se entre os diferentes polos e unidades de gestão. As colunas relativas à gestão das FT (GRH, GC/GF) são postas em evidência. GC/GF : Uma dupla harmonização é necessária Escalas de intervenção Cinco escalas (patamares) de gestão GI GRH GC/GF A. de um órgão governamental (ministério,...) Ação de uma Direção ministerial, Instituto ... Ação de uma equipe Ação de um SP (agente da Administração) Ação governamental *** A Gestão das Competências (e da Formação) (GC/GF) deve respeitar duas exigências de harmonização : uma « horizontal » ; a outra, « vertical ». Harmonização « horizontal » : em cada nível ou patamar de intervenção, a GC/GF deve estar em coerência com a GRH, e esta deve estar, por sua vez, em coerência com a GI. Harmonização « vertical » : por outro lado, entre dois níveis sucessivos (e por conseguinte, no final das contas e por efeito de "arrastamento em cadeia", entre os cinco níveis de intervenção), a GC/GF (tal como a GRH, ou a GI) deve igualmente articular-se de maneira coerente e pertinente. Esta dupla harmonização das intervenções, necessária, é muito facilitada pelo emprego de dois poderosos meios de gestão, que oferecem, um e outro, para além disso, muitas outras vantagens interessantes : - A criação de redes de gestores (da formação, dos RH), formados à utilização das mesmas metodologias e do trabalho em equipe. - Uma planificação estratégica integrada, elaborada de maneira participativa (uma modalidade privilegiada de planificação estratégica integrada é constituída por um plano de desenvolvimento institucional, ou PDI). 24 Fatores Comentários Em cada um dos ministérios e organismos que fazem parte do sistema de GERH "posto em coerência" (APF) deve existir, ou estar sendo instituído, um sistema integrado de planejamento estratégico (SIPE) (das intervenções, da arquitetura organizacional interna). Esses sistemas devem adotar metodologias e baterias de indicadores harmonizados (baseadas num paradigma comum). Cada um dos ministérios e outros órgãos autônomos, gerindo FT próprias, que fazem parte da APF deve dispor de uma boa capacidade interna de gestão estratégica dos RH (GERH). Essa capacidade é, de um modo geral, atualmente inexistente ou claramente insuficiente (por razões que a história da APF permite entender). O órgão central de coordenação da GERH, agindo, de maneira transversal, a nível do governo (MP), deve dispor de uma boa capacidade de coordenação das intervenções das unidades ministeriais de GERH. A capacidade atual de coordenação e de apoio metodológico do MP necessita de ser significativamente reforçada. Isso deve ser feito no âmbito de um conjunto de medidas que tratam os diferentes pontos aqui listados. Um dispositivo gerencial de coordenação e concertação entre o órgão central de GERH (MP) e as unidades ministeriais e institucionais de gestão dos RH que fazem parte da APF deve ter sido instituído e funcionar normalmente, com reuniões de coordenação e concertação anuais. Não existe nenhum dispositivo equivalente às Conferências Anuais de Gestão Provisional dos RH (França) dadas como exemplo de boa prática. Isso contribui para impedir que haja uma gestão estratégica integrada das FT na APF. Dentro da trama de enquadramento estabelecida, através de um processo de concertação, pelo órgão central de GERH, cada ministério ou instituição do sistema "em rede" assim montado deve poder beneficiar de uma margem de autonomia suficiente para lhe permitir definir e utilizar um dispositivo de GERH adequado às suas necessidades. Autonomia sem competências e sem disciplina no respeito de normas de coordenação e de integração não pode dar bons resultados. Essa autonomia, entretanto, não deve exercerse de maneira a pôr em causa a coerência geral do sistema. Os gestores de RH que intervêm a nível do MP e das unidades de gestão nas administrações centrais dos ministérios e outros organismos da APF devem ter sido formados e treinados para agir de maneira concertada, no respeito das metodologias e processos de trabalho adotados. 25 Os ministérios estão adotando sistemas de planejamento estratégico, mas não existem normas de orientação integradoras que permitam harmonizar as metodologias e as práticas, e orientá-las para que contribuam para facilitar uma ação concertada do Governo com vista à realização das suas políticas, e ao alcance dos objetivos estabelecidos por essas políticas. A falta de uma capacidade de gestão moderna dos RH nos diferentes ministérios e outras entidades integrantes da APF, e de uma verdadeira coordenação das instâncias gestoras dos RH nesses ministérios, faz com que a autonomia represente um risco alto de desordem e de dispersão. Não houve até ao presente uma formação comum às metodologias e aos instrumentos de GERH orientada para a instalação de um sistema integrado e coerente de planejamento estratégico das FT na APF. Isso aumenta o risco assinalado no ponto anterior. C. ARQUITETURA TÍPICA DE UM REFERENCIAL DE COMPETÊNCIAS A arquitetura fundamental dos referenciais e "modelos" de competências Na arquitetura típica de um referencial de competências completo, definido para uma dada FT (essa definição pode ser feita a diferentes "escalas": FT do Governo, FT de um ministério ou órgão autónomo dado, FT de uma Direção dada)5 podem distinguir-se : - na base, um núcleo de competências fundamentais (core competencies), ligadas aos valores fundamentais e à visão da organização, e que devem, em princípio, ser compartilhadas por todos os membros da FT da organização considerada (qualquer que seja a dimensão desta última); - a nível "intermédio", dois grandes grupos de famílias de competências : . as que estão diretamente ligadas à natureza das responsabilidades e missões dos servidores (pode assim identificar-se uma grande família que agrupa competências profissionais específicas, as quais podem estar ligadas, segundo a natureza das responsabilidades assumidas, a áreas técnicas, administrativas, comerciais, gerenciais, de comunicação, de conselho e formação); . as que, ao contrário, servem de apoio a essas atividades, e têm um caráter e um posicionamento mais "transversais" (por exemplo competências linguísticas, em informática, relacionais, relativas à organização eficiente e eficaz do trabalho, individual ou em equipe); - no topo, competências de liderança e de alta direção. A preparação de referenciais de competências Dão-se como ilustração, nas duas páginas seguintes, dois quadros: - o primeiro dentre eles descreve, de maneira sinótica, as etapas fundamentais do processo de construção de um REC (um processo que deve ser necessariamente, e a todos os níveis, altamente participativo); - o segundo ilustra alguns dos conceitos fundamentais utilizados na construção de REC e as relações que se estabelecem entre esses conceitos. Como já foi assinalado, deve haver um encaixe coerente entre os REC preparados em cada um desses níveis. De novo o modelo (extremamente útil e sempre esclarecedor, a explorar sem reservas) do diagrama de "orquestração hierárquica" em espinha de peixe (do tipo Ishikawa), e, do mesmo modo, a matriz de coordenação de referência (com finalidades e uma utilidade semelhantes) apresentada no final da nota da secção anterior, poderão servir de guia seguro. Assim, por exemplo, a definição das core competencies, necessariamente ligada às identidades institucionais, pode ser feita a diferentes níveis: comportar um tronco ou denominador comum de valores e normas comportamentais (definidas a um nível mais básico, e válidas para o conjunto da FT do Governo); esse tronco comum articular-se-á em seguida com grupos ou tipos de competências, mais especificamente definidos, válidos para cada um dos órgãos governamentais (e ligados à "personalidade" própria, à vocação e aos mandatos de cada um deles); e podem juntar-se em seguida, a esse conjunto assim enriquecido e já mais específico, as core competencies definidas a nível de cada Direção ministerial. As formações desenhadas para desenvolver essas competências fundamentais nas FT respetivas levarão em conta essa arquitetura gigogne, organizada à maneira de 'bonecas russas". 5 26 O processo de construção de um REC MODO DE CONSTRUÇÃO DE UM REFERENCIAL DE COMPETÊNCIAS (UM PROCESSO ALTAMENTE PARTICIPATIVO, EM 2 ETAPAS PRINCIPAIS E 4 PASSOS) B. CONSTRUÇÃO DAS ESCALAS DE AVALIAÇÃO A. ESTABELECIMENTO DA ARBORESCÊNCIA DE COMPETÊNCIAS 1. IDENTIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO DOS GRUPOS OU FAMÍLIAS DE COMPETÊNCIAS 2. IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO SINTÉTICA DE CADA COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 3. DESCRIÇÃO DETALHADA DE CADA COMPETÊNCIA ESPECÍFICA, BASEADA EM INDICADORES “POSITIVOS” E “NEGATIVOS” 4. DIFERENCIAÇÃO DOS NÍVEIS DE APROFUNDAMENTO RELATIVOS A CADA COMPETÊNCIA ESPECÍFICA CONCEITOS FUNDAMENTAIS UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO DE UM REFERENCIAL DE COMPETÊNCIAS (RC) 1. FAMÍLIAS DE COMPETÊNCIAS (FC) 2. COMPETÊNCIAS ESPECIFICAS (CESP) 3. NÍVEL DE APROFUNDAMENTO (NA) GRUPOS DE COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS APARENTADAS. COMBINAÇÕES DE CONHECIMENTOS, KNOW-HOW E GRAU DE APROPRIAÇÃO E DE DOMÍNIO PESSOAL DESSA COMPETÊNCIA ESPECÍFICA. (AS COMPETÊNCIAS SÃO REUNIDAS NUMA MESMA FAMÍLIA EM FUNÇÃO DE UM CRITÉRIO DADO, OU DE UM GRUPO DE CRITÉRIOS). EX.: APTIDÕES RELACIONAIS QUE PERMITEM REALIZAR COM SUCESSO UMA DETERMINADA TAREFA, OU UM GRUPO DE TAREFAS. EX.: EX.: • COMPETÊNCIAS LINGUÍSTICAS E CULTURAIS • DOMÍNIO DA LÍNGUA INGLESA NÍVEL C1 • COMPETÊNCIAS RELACIONAIS • DOMÍNIO DA LÍNGUA PORTUGUESA • COMPETÊNCIAS MANAGERIAIS • DOMÍNIO DA LÍNGUA FRANCESA NO COMMON EUROPEAN FRAMEWORK OF REFERENCE FOR LANGUAGES (CEFR). • COMPETÊNCIAS TÉCNICAS • ... • COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS NB : O CEFR UTILIZA, PARA A APRECIAÇÃO DO NÍVEL DE DOMÍNIO DAS LÍNGUAS, UMA ESCALA NORMALIZADA COM SEIS GRAUS (A1-2, B1-2, C1-2). O CEFR FOI CRIADO POR INICIATIVA DO CONSELHO DA EUROPA (1989-96). O SEU EMPREGO FOI PRECONIZADO, EM 2001, PELO CONSELHO DA UE. • COMPETÊNCIAS INSTRUMENTAIS • ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PESSOAL • COMPETÊNCIAS DE CONSELHO E FORMAÇÃO OBS.: EMBORA AS CLASSIFICAÇÕES UTILIZADAS SEJAM EM CADA FAMÍLIA DE COMPETÊNCIAS É POSSÍVEL GERALMENTE DIFERENTES, AS PRINCIPAIS CATEGORIAS DE COMPETÊNCIAS ENCONTRAM-SE COM FREQUÊNCIA, DE UM MODO OU DE OUTRO, NOS DIFERENTES SISTEMAS DE IDENTIFICAR E LISTAR UM CERTO NUMERO DE COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS. E, RELATIVAMENTE A CADA UMA DESSAS COMPETÊNCIAS, É POSSÍVEL APRECIAR O . 28 É FREQUENTE ENCONTRAR ESCALAS IDENTIFICANDO, RELATIVAMENTE A CADA CESP, 5 OU 6 NÍVEIS DE APROFUNDAMENTO. UM PROBLEMA METODOLÓGICO IMPORTANTE RELACIONA-SE COM A DIFERENCIAÇÃO . CLASSIFICAÇÃO. NÍVEL DE DOMÍNIO ATINGIDO. E A MEDIDA DESSES NÍVEIS. 29 D. A DIFUSÃO DA GC NAS AP DOS PAÍSES DA UE Lembremos brevemente, para referência cômoda e um melhor esclarecimento, algumas datas-chave na difusão do movimento preconizando formações baseadas em competências, para as FT em geral e nas administrações públicas. • Foi em 4 de janeiro de 1971 que, numa conferência pública dada no Educational Testing Service, em Princeton, D. McClelland apresentou pela primeira vez de maneira desenvolvida as suas ideias sobre a identificação e a gestão das competências nas FT, ideias que constituíram a substância do seu artigo seminal, frequentemente citado, de 1973. • Foi também em 1971 que apareceu nos Estados Unidos um primeiro movimento preconizando a utilização de um modelo de formação baseado em competências para professores primários. • No início dos anos 1980, o movimento estava já desabrochando. Muitas discussões sobre os conceitos em jogo animaram os debates entre os diferentes autores (entre outros: Folley, 1980; Blank, 1982; Boyatzis, 1982; Zemke, 1982; Marlowe e Weinberg, 1985). • Em 1982, W. E. Blank publicou um Handbook for Developing Competency-Based Training Programs, e no ano seguinte a American Society for Training Development (ASTD) produziu um estudo especializado e recomendações em matéria de formações baseadas em perfis de competências "Models for Excellence", 204 p.) • Quatro anos mais tarde, em 1987, o Civil Service College (CSC - Price Waterhouse) do Reino Unido desenvolveu um programa de formação baseado em competências para os 7 níveis mais elevados de SP. Todos os cursos do CSC visavam o desenvolvimento de competências fundamentais (core competencies). • Três anos depois, em 1990, o US Office of Personnel Management começou a preparar o primeiro modelo de competências destinado a ser utilizado, de modo transversal, em todo o Governo. Desse trabalho resultou, em 1992, o Leadership Effectiveness Framework (LEF). • A partir do início dos anos 1990, em fase com as novas preocupações e orientações de modernização das administrações, várias AP dos países da OCDE começaram a desenvolver referenciais adaptados de competências para as suas FT, começando, em geral, pelas camadas dessas FT com responsabilidades gerenciais (de direção e de enquadramento). Esse movimento tem vindo, desde então, a amplificar-se. • Os dois quadros cronológicos seguintes, que terminam esta parte do estudo, resumem algumas das datas importantes no desenvolvimento da utilização de RC pelas administrações públicas dos países da OCDE e da União Europeia (no período 1980-2013). As três primeiras colunas oferecem uma ampliação do que se passou, nessa área, no Reino Unido, na Bélgica e na França. QUADRO CRONOLÓGICO COMPARATIVO (1/2) Datas 1980 - 2000 Reino Unido • 1987 : Programa de formação por competências elaborado pelo CSC • 1993 : Primeiro referencial de competências para SP na AC • 1996 : Revisão do RC de 1993 e criação do SCS 2001 Bélgica • 1999 : Lançamento do plano da reforma COPERNIC, que introduziu o modelo de gestão por competências • 3a. versão do RC para os SP do SCS França • 2000 : O relatório Vallemont preconizou a utilização de uma modalidade de gestão estratégica dos RH, levando em conta as competências (GPEC), na Função pública do Estado (FPE) • Promulgação da LOLF • 80 % dos departamentos e agências do Governo tinham desenvolvido os seus RC, e os outros 20 % estavam desenvolvendo os seus • 1997 (Holanda) : Competências para o ABD aprovadas pelo CM - 1999 : White Paper recomendou o uso de RC na AC • 1999 (Coreia) : 1° RC (para OPS) • 1999 (Austrália) : APS Values - SELC • Coreia : GSCD • Informatização : Lançamento do projeto de um SIRH interministerial, conduzido pela DGAFP • Início da preparação do novo RC : Professional Skills for Government (PSG) 2004 2005 • 1992 (EUA) : 1° RC para o Governo (LEF) 1996-7: atualização do LEF - 1998 : LCM • Holanda : Uso do RC para o ABD (baseado em 7 competências fundamentais) 2002 2003 Outros países da OCDE e da UE • Implementação do PSG (obrigatório para todos os SP que fazem parte do SCS) • "Modelo de Competências 5+1" implantado • Informatização : começo dos trabalhos de definição de um núcleo comum de especificações funcionais e técnicas para todos os SIRH do sector público • Informatização : no concurso público lançado, o editor alemão SAP foi escolhido para a realização do núcleo comum de especificações (NC) • Austrália : Criação do ILS (Integrated Leadership System pela APSC, uma expansão do SELC) • Informatização : iniciativa Convergência, visando a compatibilização dos SIRH ministeriais com o NC (grupos de trabalho) • Canadá : Key Leadership Competencies (KLC Profile) para gestores e supervisores • Dinamarca : 1° RC para o SCS (CPGE) QUADRO CRONOLÓGICO COMPARATIVO (2/2) Datas Reino Unido Bélgica França • Implementação completa da LOLF 2006 • Conferências interministeriais de GPRH (experimentais) Outros países da OCDE e da UE • EUA : Revisão do Leadership Competency Model (incluindo o Executive Core Qualifications) • Primeira edição do RIME • Conferências interministeriais de GPRH (instituídas) 2007 • Austrália : Aplicação do ILS a todos os empregados do Serviço Público Australiano (APS) 2008 • Desenvolvimento, a nível federal, de uma cartografia (base de dados) incluindo todas as definições de funções da AFB. • Canadá : Key Leadership Competencies (KLC Profile) para SP sem responsabilidades gerenciais 2009 • Ajustamento do "Modelo de Competências 5+1". • Coreia : Simplificação do SCS Competency Model (6 competências, em vez de 9) • Segunda edição do RIME 2010 2011 - 2013 • Implementação completa do New Civil Service Competency Framework, que se aplica a todos os membros do CS (420,000 SP) • DICME (2011) • Terceira edição do RIME (2013) 32 • Estudo da OCDE : Managing Competencies in Government: State of the Art Practices and Issues at Stake for the Future Segunda Parte A França A. Introdução B. Como são identificadas e geridas as competências na Função Pública do Estado (FPE) C. O dispositivo de gestão : normas, práticas e ferramentas gerenciais D. Os sistemas de informação que apoiam a gestão de competências A. INTRODUÇÃO Como aconteceu com a Bélgica e com a Comissão Europeia, a França lançou no início deste século (2001) uma importante reforma que procurou modernizar de maneira estrutural, aprofundada, o funcionamento do Governo e da Administração pública. Iniciada pela promulgação, em agosto de 2001, da Lei de Orientação relativa às Leis de Finanças (LOLF), essa reforma foi orientada no sentido de introduzir, em todos os patamares de gestão, métodos e práticas gerenciais e comportamentos profissionais orientados claramente para a obtenção, controlada, de bons resultados6. A nova orientação de fundo : a tónica nos resultados A ideia central subjacente à reforma, e que a fundamenta e orienta, é a de fazer com que, a todos os níveis de gestão (começando, no topo, pelo aparelho governamental tomado no seu conjunto)7, as instâncias da Administração envolvidas se mobilizem - de maneira transparente, responsável e eficaz - para a obtenção de um conjunto de resultados previamente projetados. 1. Uma planificação estratégica com desdobramentos "em cascata" Assim, no topo da pirâmide, o Governo compromete-se, diante do Parlamento, a levar a cabo um certo número de missões, ligadas às políticas públicas por ele implementadas. Desde que a LOLF foi integralmente aplicada, em 2006, essas missões (desdobradas em programas, que são por sua vez "quebrados" em ações) são identificadas e apresentadas, de maneira transparente, no Orçamento anual do Estado. Em relação a cada um dos programas de intervenção é especificado um pequeno número de objetivos (em geral, um ou dois objetivos por programa); e, em relação a cada um desses objetivos, são escolhidos e mencionados um ou alguns indicadores. Esses grandes objetivos fixados para as políticas públicas do Governo, que estabelecem um amplo quadro fundamental de referência, são em seguida "desdobrados" por forma a fixar, de maneira precisa, as contribuições esperadas de cada setor, de cada direção, de cada equipe (e, no termo dessa vasta arborescência, de cada agente). Nesse sentido procurou generalizar-se a prática que consiste em estabelecer, nos diferentes patamares de gestão, acordos anuais sobre metas e níveis de desempenho esperados (target agreements). 6 A LOLF só foi plenamente implementada em 1 de janeiro de 2006. Entre agosto de 2001 (data da promulgação da lei) e janeiro de 2006, mais de 500 experiências piloto foram lançadas e monitoradas com atenção pela Administração. Durante esse mesmo período, o dispositivo constituído pelas instâncias governamentais responsáveis pela preparação e pela gestão do Orçamento do Estado (alteradas profundamente, uma e outra, pelo novo quadro normativo) foi também progressivamente revisto e ajustado. 7 No sistema político francês, o Governo deve prestar regularmente contas ao Parlamento. A regularidade das iniciativas e da ação do Governo e a qualidade da sua gestão são verificadas por "órgãos de controle" (em particular pelo Tribunal de Contas). O novo sistema (mais transparente e mais coerente) de estruturação e apresentação do Orçamento (organizado por missões, desdobradas em programas, eles próprios montados a partir de combinações de ações) torna mais fácil o controle da ação governamental pelo Parlamento e pelo Tribunal de Contas. 34 Essas metas negociadas são8 um dos elementos importantes levados em conta na avaliação do desempenho (dos agentes, das equipes, das diferentes unidades organizativas). 2. A modernização correlativa da gestão dos recursos humanos Nesse novo contexto, os métodos de gestão das forças de trabalho das três componentes da Administração francesa (Administração do Estado, Territorial, Hospitalar) foram revistos e reajustados. A partir de 2006 (o ano da primeira implementação integral da LOLF), uma perspectiva estratégica impôs-se, de maneira progressiva mas firme, na gestão dos RH. Uma nova tónica foi posta na gestão integrada dos RH, na gestão das competências, na simplificação do sistema de carreiras e na promoção da mobilidade (interna e externa), na avaliação do desempenho (dos agentes e das equipes), na introdução de componentes salariais ligadas à qualidade do desempenho. Essa inflexão de fundo na GRH é ilustrada, de modo claro, por diversas iniciativas que tiveram um amplo impacto. Entre elas: o lançamento, em 2006, das Conferências Anuais Interministeriais de Gestão Provisional dos Recursos Humanos, que introduziram uma gestão provisional dos recursos humanos concertada a nível de toda a Administração do Estado; o novo impulso dado, a partir de 2005-2006, à redução do número de carreiras na Função Pública do Estado (FPE), e a promulgação, em 2009, da nova lei sobre mobilidade e carreiras; o lançamento da "Escola de GRH" (rede interministerial dos atores da formação apoiando os gestores dos RH nos ministérios); a promulgação da nova lei sobre a modernização da Função Pública (2007); a implementação do acordo sobre a formação ao longo da vida, que transpôs para a função pública o direito individual à formação e introduziu o reconhecimento da experiência profissional (2007); a revisão (em 2007, e ulteriormente em 2010-2012) do sistema de avaliação do desempenho dos SP. A gestão das competências é uma das componentes importantes da nova GRH A nova gestão dos RH reorganiza-se, desta forma, para poder contribuir eficazmente à gestão estratégica, orientada para resultados, adotada nos diferentes patamares gerenciais : a nível do governo, dos ministérios, das direções e das equipes. As forças de trabalho são administradas numa ótica provisional e estratégica de maneira a reunirem e manterem níveis adequados de motivação (em outras palavras, o querer bem fazer), de competências (o saber fazer), de organização (o poder fazer), de consciência profissional (o sentido das responsabilidades e da ética), associados a um entendimento claro dos níveis de desempenho e comportamentos profissionais esperados. Centrada sobre a preservação e o desenvolvimento dos conhecimentos e do "saber fazer", a gestão das competências (intimamente associada à gestão da formação, que constitui um meio privilegiado de promoção das aprendizagens e de disseminação dos conhecimentos e do know how) traz uma contribuição importante à gestão estratégica dos RH. Juntamente com as definições de funções, os níveis de competência e a qualidade e o nível de responsabilidade dos comportamentos profissionais. 8 35 LIGAÇÕES CONCEITUAIS ENTRE A GR, A GD E A GC Uma relação de interação "hierárquica" RESULTADOS INSTITUCIONAIS GR Organização Motivação O desejo de bem fazer A possibilidade de bem fazer Q. do desempenho humano DESEMPENHO DA FT A capacidade de bem fazer, o "saber fazer" Q. dos processos produtivos Competências COMPETÊNCIAS DA FT Qualidade dos resultados Gestão para resultados (GR), gestão do desempenho (GD) e gestão de competências (GC) estão ligadas entre si por ume rede de elos lógicos do tipo "causa-efeito". Gráfico extraído do relatório Gestão para Resultados, já citado, publicado pelo Projeto Diálogos Setoriais UE-Brasil (2012). B. COMO SÃO IDENTIFICADAS E GERIDAS AS COMPETÊNCIAS NA FPE Três opções de fundo Três opções gerenciais, combinadas entre si, servem de guia e de balizas de enquadramento à organização da gestão de competências na Função pública francesa. 1. Uma gestão abrangente e integrada dos recursos humanos, que incorpora uma dimensão provisional • A gestão das competências realiza-se, não de uma maneira separada, mas no âmbito de uma visão gerencial dos RH mais abrangente, melhor "integrada". Esta última, que por sua vez se liga à gestão estratégica das instituições, leva em conta simultaneamente três parâmetros importantes das forças de trabalho, intimamente relacionados entre si: . os tipos de empregos existentes (recenseados e descritos a partir de um referencial de empregos); . os perfis de competências associados a esses tipos de empregos (estabelecidos a partir de um referencial de competências); . os efetivos em jogo. • Em relação a cada um desses três parâmetros são confrontadas (i) as situações desejáveis para que as missões e atividades das unidades institucionais consideradas posam ser levadas a cabo com bons níveis de desempenho e (ii) as situações reais (por exemplo, o número real de SP em cada tipo de emprego é comparado ao número desejável de SP nesses empregos). Essa confrontação sistemática permite pôr em evidência carências (gaps) ou excedentes, que serão levados em conta nas decisões de gestão tomadas. • A análise não se limita à situação no ano corrente. De um modo geral, toma-se um horizonte temporal, estável, de três anos, e procede-se a uma planificação deslizante (com atualizações anuais). Desta forma, a situação no ano corrente pode ser analisada numa perspectiva mais estratégica, que oferece igualmente visibilidade sobre o que acontecerá provavelmente nos dois anos seguintes (gestão provisional, realizada sobre um horizonte trienal que é atualizado todos os anos). Essa modalidade de gestão integrada tomou, na França, o nome de GPEEC (Gestão Provisional dos Efetivos, dos Empregos e das Competências)9. 2. Uma GPRH coordenada e descentralizada, que combina amplas margens de manobra deixadas aos setores e às regiões com um trabalho atento de coordenação e de apoio realizado a nível central • Na Função Pública do Estado (FPE), a GPRH é conduzida de maneira a deixar aos diferentes órgãos governamentais uma ampla margem de manobra. Cada órgão pode orientar, desta 9 Sobre a GPEEC (e os conceitos, conexos, de GPEC e de GPRH), e sobre as metodologias que ema põe em jogo, poderá consultar-se o relatório homólogo sobre Gestão de Carreiras preparado anteriormente para o Projeto Diálogos setoriais (entregue em março de 2013). forma, dentro do quadro de regras e princípios de base estabelecidos para o conjunto do aparelho governamental, a sua política de valorização e de desenvolvimento dos RH. • Essa autonomia exerce-se dentro de um campo que tem as suas regras próprias, que são estabelecidas e geridas pelo órgão central do Governo (órgão "reitor") que tem o mandato e a responsabilidade de administrar toda a Função pública. • Desta forma, é possível ao mesmo tempo "deixar as mãos livres" aos órgãos setoriais, para que possam agir sem entraves, e conservar o necessário controle sobre a distribuição dos meios e a conformidade e regularidade das práticas institucionais. Podem ao mesmo tempo ser estabelecidas e implementadas, de maneira concertada, políticas globais e políticas setoriais de desenvolvimento dos RH. 3. Uma GPRH que faz intervir instrumentos e práticas de gestão desenvolvidos e aperfeiçoados através de um trabalho coletivo coordenado e amplamente participativo • As práticas e os instrumentos utilizados na GPRH são desenvolvidos no âmbito de um diálogo institucional formalizado, que faz intervir redes de responsáveis institucionais e de gestores. • Isso acontece, em particular, no que diz respeito à preparação e à utilização harmonizada dos REC, que se constroem combinando e integrando contribuições a três níveis : a nível do órgão central reitor, das Direções dos RH dos ministérios setoriais e, mais além ainda na arborescência dos centros ou polos de gestão, das unidades de GRH mais periféricas, encarregues de administrar diretamente os SP que trabalham na organização. A distribuição das responsabilidades entre os diferentes atores Isso supõe que os papéis das diferentes instâncias em jogo sejam bem definidos e corretamente orquestrados. 1. O papel do órgão central de GRH (DGAFP) O órgão central de GRH (a DGAFP, Direção Geral da Administração e da Função Pública, um órgão sob tutela do Primeiro Ministro e que é "posto à disposição" do Ministro encarregado da Função Pública, o que lhe confere a autoridade institucional necessária para bem exercer as suas responsabilidades) pilota o dispositivo. A DGAFP coordena as iniciativas dos setores em matéria de GPRH; organiza, impulsa e apoia o trabalho em rede dos gestores; define, no âmbito de um diálogo ininterrupto com os setores e as organizações representativas dos SP, com a Direção do Orçamento, e com o Ministro da Função Pública, as grandes orientações estratégicas e as "regras do jogo"; e avalia as realizações. 2. O papel das Direções dos RH dos órgãos setoriais Os ministérios setoriais participam na GPRH conduzida coletivamente, por intermédio do dispositivo em rede instituído, e definem, implementam e avaliam, nos seus domínios respetivos, as políticas setoriais de valorização e desenvolvimento profissional das FT. 38 A ORQUESTRAÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DAS INSTÂNCIAS DE GRH DA FPE À CONSTRUÇÃO DOS REFERENCIAIS UTILIZADOS NA GPRH Ministério da Função Pública Ministérios Setoriais DGAFP Direções dos RH Empregos de referência Empregos-tipo no ministério RIME : RMM : Répertoire Interministériel des Métiers de l'État Repertório Interministerial das Profissões do Estado Répertoire Ministériel des Métiers Repertório Ministerial das Profissões Esse repertório geral, que já passou por três edições (em 2002, 2006 e 2013) inclui os empregos de referência (os "rizomas") a partir dos quais as Direções dos RH dos ministérios elaboram os seus referenciais, mais específicos (RMM). Esses repertórios, preparados nos diferentes ministérios, incluem normalmente os empregos-tipo e os empregos particulares. São construídos a partir das fichas de profissões (fiches métiers) e das fichas de postos e definições de funções preparadas pelos gestores de RH de proximidade. DICME : RMC : Dictionnaire Interministériel des Compétences des Métiers de l'État Dicionário Interministerial das Competências das Profissões do Estado Référentiels Ministériels de Compétences Referenciais Ministeriais de Competências Repertoria, em termos genéricos, as competências fundamentais ligadas aos empregos de referência listados no RIME. Os referenciais ministeriais que descrevem as competências associadas aos empregos-tipo ou aos empregos particulares também se baseiam no trabalho "local" realizado pelos gestores de proximidade. Ao mesmo tempo, guardam a coerência com o DICME, que é o fruto de uma colaboração estreita entre os gestores centrais (DGAFP) e os gestores ministeriais. Empregos específicos (ou particulares) • Associado a cada emprego específico, ou particular, há, para além da linha de crédito orçamental que cria esse emprego, um posto de trabalho determinado. • Esse posto é definido por um conteúdo próprio (as tarefas a realizar, os tipos de contribuições e de resultados esperados), por uma localização institucional precisa (o lugar e o contexto institucional nos quais o trabalho deverá ser feito), por um período de tempo definido (duração determinada ou indeterminada), e ainda por outros parâmetros (nível de remuneração, condições de trabalho, obrigações a respeitar, ligações funcionais, perfis de competências necessárias, etc.). • As fichas de postos e definições de funções dão indicações úteis sobre os principais parâmetros associados a um determinado posto de trabalho. • Essas fichas de postos e definições de funções são úteis em muitas áreas da GRH : recrutamentos, formação, avaliação do desempenho, decisões sobre promoções, organização do trabalho, remunerações, etc. Facilitam o trabalho dos gestores e contribuem para melhorar a qualidade da gestão. • Para a construção dessas fichas no âmbito de um espaço conceitual coerente e integrador são úteis referenciais de profissões e de competências. Uns e outros podem ser estabelecidos a diferentes níveis de especificidade. Box 2.1: A contribuição da instância central de GRH a nível do Governo (DGAFP) O processo seguido para construir um referencial abrangente e coerente de empregos e de competências na Administração francesa do Estado é um processo metódico, "em arborescência", combinando especificações sucessivas, concertadas, estabelecidas por instâncias que intervêm a três níveis diferentes (ou seja, em três patamares de gestão hierarquicamente diferenciados). Posicionada a nível central, a DGAFP é a primeira a intervir, preparando dois documentos de referência importantes : o RIME e o DICME. O Repertório Interministerial das Profissões do Estado (RIME) • O RIME é o documento de referência de base, preparado pela DGAFP, que descreve os grandes tipos fundamentais de empregos que se podem identificar, numa visão interministerial, na Função Pública do Estado. Esses tipos fundamentais de empregos, definidos de uma maneira muito genérica, são designados por empregos de referência. • Elaborada em finais de 2005 por 320 representantes dos ministérios e das organizações sindicais, sob a coordenação da DGAFP, a primeira edição do RIME foi publicada em 2006. A partir de uma análise do conjunto dos empregos do Estado (ocupando cerca de 2,5 milhões de SP e agentes da Administração), permitiu identificar e descrever mais de 230 empregos de referência, reagrupados em 23 "domínios funcionais". • Para levar em conta a evolução da situação e aperfeiçoar o documento existente, uma nova edição do RIME foi publicada em 2010. Nessa nova versão, o RIME descreve 261 empregos de referência, reagrupados em 26 domínios funcionais (esses domínios estão listados no quadro da página seguinte). O Dicionário de Competências associado ao RIME (DICME) • Para completar a informação dada pela edição do RIME de 2010, a DGAFP publicou, em Setembro de 2011, um Dicionário Interministerial das Competências das Profissões do Estado (DICME). Esse novo documento teve como principal objetivo pôr à disposição dos gestores dos RH um vocabulário comum, permitindo descrever as competências fundamentais associadas às diferentes "profissões do Estado" (os empregos de referência) identificados no RIME. • O DICME, cuja versão disponível no site da DGAFP compreende 220 páginas, repertoria 40 áreas de conhecimento relativas a atividades profissionais (p. ex.: "direito/regulamentação", "economia/finanças", "expressão oral", "relações internacionais", "recursos humanos"); 102 competências práticas ou operacionais (savoir-faire) (tais como: "conceber um projeto", "redigir um ato jurídico", "resolver um problema", "argumentar", "pilotar mudanças organizacionais"); e 21 competências comportamentais (savoir être) (entre elas: "capacidade de adaptação", "sentido das responsabilidades", "capacidade de escuta", "autonomia"). • As competências comportamentais são divididas em três subcategorias : "conceituais", as que estão ligadas à postura de uma pessoa na realização de uma tarefa (p. ex: "sentido da análise", "capacidade de síntese", "sentido da iniciativa"); relacionais, as que se prendem com o relacionamento com outrem na realização de uma tarefa (p. ex.: "sentido das relações humanas", "espírito de equipe", "discrição"); e "contextuais", as que se referem à capacidade de levar em conta uma situação ou um contexto, e de reagir adequadamente a esse contexto na realização de uma tarefa (entre elas: "domínio de si", "reatividade"). • As competências práticas e comportamentais são, em cada caso, definidas, de maneira concisa e "aberta". A apresentação (genérica) das áreas de conhecimento é, por sua vez, apoiada por uma listagem de subtemas conexos (assim, por exemplo, à área de conhecimento intitulada "compras e mercados públicos" são associados 15 subtemas conexos, tais como : "economia das compras", "técnicas de compras", "técnicas de contratualização", "regras financeiras dos mercados públicos"). • Por forma a facilitar e harmonizar a utilização do RIME pelos ministérios setoriais (nas suas tarefas de recenseamento e descrição dos empregos-tipo e de preparação das fichas correspondentes), o DICME propõe a utilização de uma escala (grille) normalizada, em quatro graus, que permite uma avaliação do nível de apropriação das diferentes competências e é aplicável a todas elas (Noções-Aplicação-Domínio-Perícia). Os 26 "domínios funcionais" identificados na segunda edição do RIME (2010) 26 DOMÍNIOS FUNCIONAIS 1 Elaboração e pilotagem das políticas públicas 2 Estudos e avaliação das políticas públicas - Prospetiva 3 Diplomacia 4 Segurança 5 Defesa 6 Informação (relativa à segurança nacional) [Renseignement] 7 Justiça 8 Controle 9 Educação e formação ao longo da vida 10 Ensino superior e investigação 11 Apoio ao desenvolvimento 12 Saúde - Coesão social 13 Segurança e qualidade sanitária da alimentação 14 Laboratórios 15 Serviços aos usuários (da Administração) 16 Território e desenvolvimento sustentado 17 Construção - Infraestruturas 18 Cultura e património 19 Finanças públicas 20 Assuntos gerais 21 Gestão orçamental e financeira 22 Assuntos jurídicos 23 Logística 24 Recursos Humanos 25 Sistemas e redes de informação e de comunicação 26 Comunicação 41 Box 2.2: As contribuições dos ministérios setoriais e das instâncias de GRH de proximidade A partir dos "rizomas" apresentados pelo RIME (os 261 empregos de referência, na edição de 2010), as Direções dos RH dos diferentes ministérios elaboram os seus próprios referenciais, mais específicos, desenvolvendo assim, nas suas respetivas áreas, a arborescência do referencial comum, tanto no que diz respeito aos empregos como no que toca às competências. Num ministério dado, definem-se, assim, empregos-tipo (válidos para o ministério no seu conjunto). Mais próximo da periferia, a nível das unidades de gestão dos RH de proximidade, são perfilados empregos específicos, relacionados com a ocupação de postos de trabalho determinados. Uma articulação hierárquica permite ligar os empregos de referência (definidos a nível interministerial) aos empregos-tipo (definidos nos ministérios), e estes últimos aos empregos específicos (definidos nos diferentes serviços ministeriais). Os REC ministeriais • Os Referenciais de Emprego e de Competências ministeriais são mais ou menos desenvolvidos, em função dos efetivos em jogo e do grau de diversidade das ocupações profissionais. O ministério que, na França, dispõe dos efetivos mais numerosos é, como geralmente acontece na maioria dos países, o Ministério da Educação Nacional (MEN). No início de 2011, os efetivos físicos do MEN (877 107 agentes) e do Ministério do Ensino Superior e da Pesquisa (MESR) (113 369) totalizavam quase um milhão de servidores. • Em novembro de 2011, o MEN e o MESR publicaram conjuntamente, e puseram disponível em linha, um referencial comum de empregos e de competências (o REME). O REME inventaria e descreve 105 empregostipo que estão reagrupados em 13 famílias profissionais. • Os mesmos dois ministérios publicaram também, na mesma data, um dicionário de competências associado ao REME. Esse dicionário recenseia 339 competências, das quais 174 correspondem a conhecimentos, 142 a competências operacionais e 23 a competências comportamentais. • Da mesma forma, muitos outros ministérios (Defesa, Interior, Agricultura, Cultura e Comunicação, Ecologia, Trabalho e Emprego, Saúde, ...), isoladamente ou em associação, bem como outras instituições do setor público (por exemplo, a Biblioteca Nacional de França) prepararam os seus REC, definindo os seus empregostipo e estabelecendo as fichas correspondentes. Estas últimas especificam, em geral, relativamente a cada emprego-tipo, as missões fundamentais, as atividades principais e as competências necessárias*. As fichas de postos • Na extremidade desse processo em arborescência aparecem, definidas a partir dos empregos-tipo, as fichas de postos (utilizadas, em particular, para os recrutamentos). • Preparadas pelas unidades de GRH ligadas administrativamente aos serviços nos quais trabalham os agentes, as fichas de postos contêm indicações mais específicas do que as fichas relativas aos empregos-tipo. Por via de regra, essas indicações incluem, em particular, o posicionamento institucional e administrativo (nomeadamente o relacionamento com outros postos de trabalho), bem como a localização geográfica. Indicam também, de modo mais detalhado do que as fichas relativas aos empregos-tipo, as missões, as atividades e as competências requeridas para um bom desempenho no posto em questão. ___________ * Encontram-se por vezes os intitulados "definição" ou "finalidade" em vez de "missões", e "atribuições" em lugar de "atividades". 42 Como são elaborados e atualizados os REC A preparação dos Referenciais de Empregos e de Competências é um processo que implica um trabalho coletivo coordenado, em rede, envolvendo muitas equipes de responsáveis institucionais e pessoas recurso, que se realiza metodicamente, por etapas, e no qual cada ator tem um papel bem definido. 1. Como foi realizada a atualização do RIME (2009-2010) A preparação do primeiro RIME (2006) mobilizou, como já foi assinalado, cerca de 320 responsáveis ministeriais e das organizações sindicais, trabalhando de maneira concertada, sob a coordenação da DGAFP. A necessidade de uma primeira atualização do RIME fez-se sentir três anos mais tarde. O trabalho de atualização foi pilotado pela DGAFP, em colaboração estreita com os Diretores dos Recursos Humanos dos diferentes ministérios. Esse trabalho levou um pouco mais de um ano. Realizado entre maio de 2009 e julho de 2010, passou por quatro fases principais : (1) um balanço e um diagnóstico iniciais, realizados junto dos Diretores dos Recursos Humanos ministeriais, e destinados a extrair as lições das operações de desdobramento do RIME a nível ministerial e, mais geralmente, da utilização do referencial nos setores, e a recolher os pedidos de modificação das fichas descrevendo os empregos; (2) a concepção e a implementação de uma metodologia de atualização, com a instalação de um comité de leitura interministerial e de grupos de trabalho interministeriais, organizados por domínios funcionais; o trabalho de coordenação, a nível operacional, foi repartido entre os ministérios; cada um desses grupos de trabalho foi pilotado por um ministério de referência ao qual se associaram os ministérios interessados nos trabalhos do grupo; (3) a formulação, pelos grupos de trabalho, de propostas de modificações relativas aos diferentes domínios funcionais e às fichas descritivas dos empregos de referência, e o, estudo e a finalização das propostas pelo comité de leitura; (4) a revisão e a estabilização final das fichas de referência pela DGAFP. Um novo RIME em preparação (2013) As duas outras funções públicas francesas (a FP Territorial e a FP Hospitalar) conceberam referenciais de empregos e competências baseados em "fileiras profissionais", e não em "domínios funcionais" (como os que estão listados no quadro anteriormente apresentado). Em outras palavras, nessas duas componentes da Administração francesa, a abordagem adotada é "transversal" (intersetorial, por profissões e famílias de profissões), e não "vertical" (setorial, por campos ou áreas de intervenção). As carreiras dos SP são geridas em função dessa escolha, abrindo-se, assim, mais amplamente à intersetorialidade. A intenção atual da DGAFP é de construir igualmente os referenciais de empregos para a FP do Estado com base em "fileiras" (ou famílias ) profissionais. Entre outras vantagens importantes para a GRH, essa arquitetura por famílias profissionais permite, como se pode depreender do exposto, uma melhor gestão das carreiras, uma maior transparência em relação ao que se passa nos diferentes setores em matéria de condições de emprego de SP com perfis de 43 competências similares, e portanto uma maior coerência e uma maior equidade. Permite alargar e enriquecer as perspectivas de carreiras dos SP, graças a uma maior mobilidade, não só intraministerial, mas também interministerial, e mesmo entre as funções públicas. E, para os ministérios (e, da mesma forma, para as três componentes da Função pública), traz também mais amplas possibilidades de redesenharem e ajustarem os perfis das suas forças de trabalho. Tendo a decisão sido tomada de preparar, em 2013, um RIME concebido em coerência com esse novo formato e essas novas opções de classificação, a atualização do RIME realizada em 2010 foi, deliberadamente, uma revisão a minima, limitada às modificações que pareceram mais urgentes. 2. Como foi elaborado o REME do MEN e do MESR Um bom exemplo do método utilizado a nível dos ministérios, para a preparação dos REC ministeriais, é dado pelo trabalho coletivo, em rede, realizado para a confecção do REME (referencial comum dos dois ministérios do Ensino, o MEN e o MESR). (a) As fichas relativas aos empregos-tipo foram preparadas por grupos de trabalho (com 5 a 8 participantes) compostos (i) por agentes exercendo o emprego-tipo descrito, (ii) por responsáveis (quadros e atores) dos RH competentes na área, (iii) por representantes de associações profissionais e/ou responsáveis institucionais (gerentes) conhecendo bem o emprego-tipo em questão, e (iv) por peritos designados por organizações representativas do pessoal; (b) Esses agentes e responsáveis operavam a nível da Administração central, dos serviços desconcentrados e dos estabelecimentos dependendo dos dois ministérios; (c) Um comité de acompanhamento, formado por chefes de serviço, subdiretores, secretários gerais de academias (MEN) e de universidades (MESR) permitiu manter uma visão de conjunto, orquestrar as diferentes contribuições e validar as fichas preparadas. (d) Nesse processo foi levada em conta a necessidade de uma boa articulação do REME com o RIME, e igualmente com outros referencias de empregos-tipo conexos, em particular os dois seguintes: REFERENS (Referencial de Empregos-tipo da Pesquisa e do Ensino Superior), BIBLIOFIL (Referencial Específico do MEN para a Fileira Bibliotecas). O interesse dos REC para a GPRH 1. A utilidade das fichas de postos e definições de funções, a nível operativo Como no caso de uma repartição dos papéis numa orquestra sinfónica (o papel dos diferentes músicos, do chefe de orquestra, do pessoal de apoio logístico, administrativo e comercial, ...), ou num desses grandes paquetes contemporâneos concebidos para transportar vários milhares de passageiros (com uma tripulação de várias centenas de agentes em serviço), é importante que cada pessoa que ocupa um posto de trabalho na organização tenha uma ideia clara das suas missões, das suas atribuições e atividades correntes, e do perfil de competências necessário para que ela possa, nesse posto, desempenhar bem as suas funções. E, para que a entidade organizativa funcione bem e possa realizar as suas missões, é necessário, naturalmente, tanto a nível administrativo como a nível gerencial e operativo, coordenar e orquestrar adequadamente, de maneira inteligente, esses papéis. 44 • As fichas de definições de funções relativas aos postos de trabalho (job descriptions), quando são bem concebidas (de maneira sintética e aberta, evolutiva, permitindo uma especificação clara e adaptável, pelos responsáveis que serão igualmente avaliadores, dos standards de bom desempenho, e bem "compatibilizadas" e ajustadas entre elas) são excelentes instrumentos de GRH, utilizáveis em múltiplas circunstâncias (tanto pelos chefes de equipe e gerentes operativos como pelos gestores administrativos dos RH)10. As definições de funções são úteis, em particular, para ajudar a tomar decisões operativas ligadas ao desempenho das missões e à repartição das responsabilidades nas equipes (em relação com os serviços a produzir e a entregar do lado front office, e portanto com o valor acrescido gerado). São úteis também (do lado back office, aonde se administram os recursos, e em particular os RH) para facilitar (i) os recrutamentos, (ii) as decisões sobre mobilidade, progressão nas carreiras, ajustamentos desejáveis dos perfis de competências (ajudando, assim, a identificar as formações julgadas oportunas), (iii) a construção de escalas de remuneração coerentes, transparentes, de uso simples e equitativas, (iv) a avaliação do desempenho, (v) as previsões relativas à composição e à gestão das forças de trabalho. 2. A gestão das forças de trabalho a nível intermédio e estratégico A GRH não se limita à que é realizada a nível das (em geral, numerosas) unidades de gestão de proximidade. Deve ser realizada também nos outros patamares de gestão, de maneira mais "sintética" e mais "agregada", quando se sobe do nível operacional para o nível estratégico. As unidades de GRH situadas a nível mais elevado, na hierarquia dos centros de gestão, estabelecem as normas de harmonização e de coordenação para os seus respetivos patamares. É esse modelo simples "em arborescência hierárquica" que é utilizado na GPRH da AFE. Por esse motivo, as fichas de definições de funções (fichas relativas a postos de trabalho) devem ser reagrupadas, organizadas e classificadas, para que se possam assim identificar, a nível dos ministérios, os "empregos-tipos" anteriormente descritos. E, em seguida, o exame dos diferentes empregos-tipos deve por sua vez permitir identificar os "empregos de referência", definidos a um nível ainda mais genérico e mais transversal. 3. Uma gestão integrada dos RH e das FT nas diferentes unidades gerenciais Em todos esses níveis de gestão, a gestão das competências e da formação está intimamente ligada à gestão, mais abrangente, dos RH, através da GPRH (interdependência "horizontal", que se exprime a nível do que se passa, em matéria de gestão, no mesmo patamar gerencial). Por outro lado, a gestão operacional dos RH está subordinada à gestão estratégica das FT, que fixa as regras e parâmetros a respeitar (neste caso, a interdependência em jogo é "vertical", na medida em que estabelece ligações entre patamares diferentes). Em cada patamar, a GC/GF está ligada à GPRH 10 Há, entretanto, precauções a tomar. A crítica, lúcida, de Peter Drucker em relação às definições de funções mal concebidas (Managing for the Future, 1992, cap. 18: "On Ending Work Rules and Job Descriptions") é perfeitamente justificada. A definição de funções corretamente realizada requer um trabalho inteligente e atento. Senão, os riscos podem ser grandes de gerar ineficiência e desordem organizacional. Há que lembrar igualmente que as job descriptions são, na realidade, job prescriptions (não têm um caráter descritivo, descrevendo o que os agentes fazem habitualmente, mas prescritivo, especificando o que eles devem normalmente fazer, nos seus postos de trabalho). 45 Escalas de intervenção Cinco escalas (patamares) de gestão GI GRH GC/GF Ação governamental A. de um órgão governamental (ministério,...) Ação de uma Direção ministerial, Instituto ... Ação de uma equipe Ação de um SP (agente da Administração) C. O DISPOSITIVO DE GESTÃO: NORMAS, PRÁTICAS E FERRAMENTAS GERENCIAIS Normas e práticas gerenciais A nível central, e apesar da importância dos efetivos administrados (cerca de 2,3 milhões de SP), a GPRH na FPE funciona bem. Isso é devido a uma diferenciação clara dos papéis das instâncias em jogo, à qualidade do trabalho realizado pela DGAFP, à existência de boas capacidades de GRH nos setores, a um trabalho em rede concertado, no âmbito de um diálogo institucional mantido "vivo", e ao envolvimento das organizações sindicais representativas dos SP. • De entre as práticas gerenciais que merecem, no âmbito deste estudo, uma menção particular destaca-se a organização de conferências anuais de GPRH, que reúnem responsáveis da DGAFP, da Direção do Orçamento e das Direções dos RH dos ministérios setoriais. É através dessas conferências que se realiza a gestão harmonizada, estratégica, dos RH da FPE. • A "Escola da GRH", uma "escola virtual" que permite desenvolver e manter atualizadas, em referência às melhores práticas conhecidas, as competências dos gestores de GRH, constitui outra iniciativa que demonstrou amplamente o seu interesse e a sua utilidade. • A DGAFP produz uma documentação de apoio importante e de grande qualidade (balanços anuais, guias metodológicos, documentos de informação, ferramentas para os gestores, etc.). Ferramentas de gestão Nas páginas que seguem mostram-se algumas das ferramentas de gestão que a DGAFP e os ministérios setoriais utilizam para realizarem, de maneira concertada, a GPRH. 46 Estrutura de uma ficha de emprego de referência (modelo) (1/2) 1. Uma ficha descrevendo um emprego de referência contém uma indicação do título do emprego e do domínio funcional a que pertence, uma definição sintética do emprego, que explica, em particular, a sua razão de ser, um enunciado sumário das atividades principais, e um resumo, apresentado de maneira genérica e sintética, das competências e dos conhecimentos associados a esse emprego. 47 Estrutura de uma ficha de emprego de referência (modelo) (2/2) 2. Para além disso, duas outras categorias de informações são inseridas na ficha : as condições particulares de exercício do emprego e as tendências de evolução do emprego (estas últimas informações resultam de uma breve análise prospetiva, estabelecida em relação a um horizonte temporal de referência, normalizado, de 3 anos). 48 Ficha relativa a um emprego de referência (exemplo) (1/2) Exemplo de ficha descrevendo um emprego de referência no REC no RIME (2010): Subprefeito. Os conteúdos das diferentes secções previstas no modelo são ajustados ao caso particular dos subprefeitos. A definição sintética do emprego indica as missões normais dos subprefeitos, e a secção seguinte lista as principais atividades realizadas pelos subprefeitos. Na secção sobre as competências pode ler-se: escutar e negociar em contextos sócio-profissionais variados; analisar e sintetizar; decidir num sistema complexo. ... 49 Ficha relativa a um emprego de referência (exemplo) (2/2) Exemplo de ficha descrevendo um emprego de referência no REC no RIME (2010): Subprefeito. Os conteúdos das diferentes secções previstas no modelo são ajustados ao caso particular dos subprefeitos. As "condições particulares de exercício", por exemplo, indicam : disponibilidade, comprometimento pessoal, obrigação de residência e mobilidade sobre todo o território. 50 Estrutura de uma ficha de emprego-tipo (exemplo) Exemplo de ficha descrevendo um emprego-tipo no REC do Ministério da Agricultura (2013): Diretor Departamental Interministerial. O corpo da ficha contém informações condensadas sobre as missões, as atividades principais, as competências operacionais e os conhecimentos, as condições de exercício e as tendências evolutivas do emprego. No cabeçalho, junto ao intitulado do emprego-tipo, há as indicações que permitem estabelecer as relações com o RIME 2010 : a menção do emprego de referência e do domínio funcional. 51 Ficha relativa a um posto de trabalho (exemplo de um modelo ministerial) Exemplo de modelo para a redação de uma ficha relativa a um posto de trabalho (Ministério da Defesa). Os conteúdos das diferentes secções (incluindo as que descrevem as competências e os conhecimentos) são, naturalmente, mais detalhadas e específicas do que nos casos precedentes. 52 53 DOCUMENTOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO PRODUZIDOS PELA DGAFP PARA AJUDAR A DESENVOLVER A CAPACIDADE DE GPRH NOS MINISTÉRIOS • Para além da sua ação normal de coordenação, a DGAFP põe regularmente à disposição das Direções e unidades de gestão dos RH dos ministérios um grande número de documentos, ferramentas de gestão e informações úteis. • Entre esses apoios, que também servem para informar a população em geral, contam-se dois importantes documentos de referência : o RIME, Repertório Interministerial da Profissões do Estado, e o DICME, Dicionário Interministerial das Competências das Profissões do Estado (documentos apresentados na página anterior). • A ilustração acima mostra, a título de exemplo, quatro outros documentos concebidos para facilitar a GPRH nos ministérios, e melhorar a sua qualidade. • Uma informação abrangente sobre as atividades da DGAFP (e, mais genericamente, do ministério com a tutela da FP), em língua francesa, pode ser obtida pela consulta do site : http://www.fonction-publique.gouv.fr/ • Sobre as ferramentas de gestão (GPRH), em particular, consultar o site : http://www.fonction-publique.gouv.fr/publications/outils-grh-0 . 54 D. OS SISTEMAS COMPETÊNCIAS DE INFORMAÇÃO QUE APOIAM A GESTÃO DE A escolha livre dos SIRH pelos diferentes ministérios Contrariamente ao que sucede atualmente no Brasil, a GRH é, nos países da UE (e da OCDE), relativamente desconcentrada e descentralizada. De maneira deliberada, uma ampla liberdade de escolha é deixada às unidades de GRH dos diferentes departamentos governamentais (ministérios), para que possam organizar da melhor forma a gestão e a mobilização das suas FT. 1. Antes de 2006, a GRH estava, na França, muito centralizada O gráfico da página seguinte apresenta, com base num indicador sintético concebido pela OCDE (levando em conta o grau de autonomia nas decisões em matéria de GRH), o nível de descentralização da GRH nos países da OCDE, no Brasil, na Rússia e na Ucrânia em 2010. Esse nível é medido por um índice que evolui num intervalo de 0 a 1. Em média, nos países da OCDE, o valor desse índice era, nessa data, de cerca de 0,65, enquanto que, no Brasil - de todos os países examinados, o país aonde a GRH permanecia mais centralizada - se situava abaixo de 0,40. Pode observar-se que o valor desse índice de descentralização para a FPE francesa, em 2010, era superior à média observada nos países da OCDE. Entretanto, a situação era bem diferente antes de 2006. O gráfico que vem a seguir apresenta a situação em 2005. É interessante notar que, nessa data (anterior ao lançamento da GPRH na FPE francesa, que 11 ocorreu em 2006-2007) , o índice de descentralização da GRH na FPE (ligeiramente superior a 0,30) era, ao contrário, um dos mais baixos nos países da OCDE, e inferior ao valor do índice registrado no Brasil em 2010. Isso mostra como, numa administração central que gere uma das FT mais importantes da Europa (e do mundo), com mais de 2,2 milhões de SP, mas que dispõe de uma capacidade de organização e de gestão relativamente robusta, se pôde operar, num período relativamente curto, uma mudança radical, e implantar um dispositivo operante de GPRH. 2. A distribuição das responsabilidades de gestão • As "regras do jogo" organizativas, já evocadas anteriormente, são simples. O órgão central de GRH (a DGAFP) cria as balizas normativas necessárias de enquadramento e de harmonização, por forma a garantir a equidade, a eficiência e a coerência do sistema (a nível do governo), e tem um importante papel de apoio e de dinamização das redes inter-setoriais de GPRH. • As Direções dos RH setoriais participam nas conferências anuais de GPRH, nas quais apresentam os seus planos anuais de GPRH, que serão discutidos e harmonizados. Participam igualmente na preparação, concertada, das ferramentas de GPRH. Dentro do espaço de manobra que lhes é atribuído, definem e implementam as suas políticas de GRH. A LOLF foi completamente implementada em 1 de janeiro de 2006. As Conferências interministeriais de GPRH, introduzidas a título experimental em 2006, foram institucionalizadas (tornadas obrigatórias) a partir de 2007. 11 55 Nível de delegação da GRH consentido aos ministérios setoriais pelas administrações centrais dos governos dos países da OCDE (2010). Fonte: OCDE (Government at a Glance 2011, p. 127, gráfico 31.1). Nível de delegação da GRH consentido aos ministérios setoriais pelas administrações centrais dos governos dos países da OCDE (2005). 57 Fonte: OCDE (Government at a Glance 2009, p. 77, gráfico 13.1). O sistema de recrutamentos nas administrações centrais dos países da OCDE (em 2005) • Outro índice de GRH utilizado pela OCDE permite comparar o grau de abertura dos sistemas de recrutamento adotados nos diferentes países. Esse índice varia entre 0 (sistema baseado em carreiras) e 1 (sistema baseado em postos ou empregos). • O gráfico apresentado acima permite ver a posição extrema da França, relativamente aos outros países da OCDE, em 2005. Vem em apoio da informação fornecida pelo gráfico da página anterior. Fonte : OCDE (2009), « Systèmes de recrutement des administrations centrales », dans Panorama des administrations publiques 2009, Éditions OCDE. http://dx.doi.org/10.1787/9789264061675-18-fr 58 A DGAFP TEM UM PAPEL DE PILOTAGEM E DE APOIO SÃO OS SETORES QUE DEFINEM E IMPLEMENTAM AS SUAS POLITICAS INTERNAS DE GRH • A DGAFP, instância central de GRH, tem a responsabilidade de pilotar e coordenar as iniciativas e ações dos ministérios setoriais, em matéria de GRH. • Entretanto, são os setores que definem e implementam as suas políticas internas de GRH, de acordo com as suas exigências e necessidades próprias. • A informação de gestão essencial, relativa à GPRH, é compartilhada no âmbito das conferências anuais e reuniões de rede que permitem conduzir ume GPRH coletiva, coordenada. • As etapas do ciclo da GPRH, e a indicação das principais informações de gestão a processar no decorrer dessas etapas, são apresentadas no final desta parte (sobre a situação na França). 59 3. A organização dos SIRH na AFE No contexto descrito (de gestão descentralizada), os sistemas de processamento da informação de GRH são escolhidos, em função das suas necessidades específicas, pelos ministérios setoriais. Os tamanhos das FT destes últimos são muito variáveis (indo de alguns milhares, ou mesmo, por vezes, de algumas centenas, em ministérios com FT limitadas, a cerca de um milhão de SP, no MEN). As composições e os perfis dessas FT, bem como os modos internos de gestão, também diferem. Entretanto, a partir de 2002, no contexto da implementação da GPEC e da LOLF, o governo incitou os ministérios a instalarem os seus próprios SIRH, e lançou um projeto, pilotado pela DGAFP, para o desenvolvimento de um SIRH interministerial. Em 2006, a LOLF impôs objetivos e constrangimentos importantes em matéria de eficiência e de economia na gestão pública. Desde essa data, cerca de 30 entidades (órgãos) do setor público, incluindo 12 ministérios, desenvolveram internamente a implementação de plataformas de gestão dos RH (SIRH). OS SIRH NOS MINISTÉRIOS (2010) Ministérios Sistema de gestão escolhido 1 Educação 2 Agricultura 3 Defesa 4 Justiça 5 Interior 6 Finanças 7 Negócios Estrangeiros 8 Saúde, Juventude e Desportos 9 Ensino Superior e Pesquisa 10 Trabalho adotaram o sistema 11 Ecologia Oracle Peoplesoft 12 Cultura Sistema próprio, específico SAP Seis ministérios adotaram o sistema HR Access Dois ministérios 60 A SITUAÇÃO DOS SIRH MINISTERIAIS EM 2010 A ESCOLHA DAS PLATAFORMAS DE GESTÃO DOS RH PERTENCE AOS SETORES • Os sistemas de processamento da informação em matéria de GRH (SIRH) são escolhidos livremente pelos setores, de maneira a que se adaptem bem às suas necessidades específicas. • Um esforço de compatibilização dos SIRH escolhidos pelos diferentes ministérios, conduzido pela DGAFP, vem sendo empreendido desde 2002. • O primeiro grande passo dessa integração interministerial da informação relativa à GRH é constituído pela unificação do sistema de pagamento das remunerações (um projeto de grande envergadura realizado por etapas, que se aplica ao pagamento das remunerações de mais de 3 milhões de funcionários, e cuja implementação completa está prevista em 2016). A ilustração acima é extraída de : 01 Iinformatique (14/01/2010) : "L'État unifie la gestion de la paie de ses agentes). 61 4. A orientação das escolhas Salvo casos particulares (Educação, Agricultura), a preferência dos ministérios vai para a adoção de Programas Integrados de Gestão (PGI), polivalentes (assegurando a gestão das diferentes funções GRH) e parametráveis (ajustáveis às necessidades específicas das instituições). Como acontece com as organizações do setor privado, os desenvolvimentos específicos são considerados onerosos e de implementação demorada. Três produtos de tipo PGI - HR Access, SAP e Oracle Peoplesoft - dominam o mercado. Em 2009, os três editores que conceberam esses produtos detinham, segundo as informações que circulavam em 2010, 88 % do mercado dos SIRH na administração central francesa. Entretanto, o facto de que os ministérios da Educação e da Agricultura tenham optado pela realização de plataformas de gestão específicas faz com que cerca de um milhão de SP não sejam geridos com o apoio desses programas. OS EFETIVOS DAS FT DOS MINISTÉRIOS (2010) Ministérios Efetivos 1 Educação 916 909 2 Defesa 292 651 3 Interior, Ultramar e Coletividades Territoriais 284 915 4 Economia e Finanças 161 837 5 Justiça e Liberdades 75 535 6 Ecologia, Energia, Desenvolvimento Durável e Mar 74 723 7 Alimentação, Agricultura e Pesca 31 213 8 Ministérios sociais 24 388 9 Cultura e Comunicação 11 386 10 Serviços do Primeiro Ministro 9 910 11 Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus 3 644 12 Imigração, Integração, Identidade Nacional Total 600 1 887 711 Fonte : DGAFP, Relatório anual sobre a situação da Função Pública 2012, 572 p., p. 98 (quadro ajustado). 62 4. O processo de integração: um trabalho paciente, realizado por etapas • Decidido em 2002, após a promulgação da LOLF, o processo de integração dos SIRH revelou-se laborioso a pôr em prática. Põe em jogo recursos humanos e financeiros consideráveis, e envolve prazos de implementação que se estendem por vários anos. • Em 2003 começou um trabalho interministerial de definição de um núcleo comum de especificações funcionais e técnicas, válido para todos os SIRH do setor público. Esse núcleo comum de especificações foi concebido para assegurar a coerência entre os SIRH ministeriais e a interoperabilidade entre esses sistemas, facilitar a consolidação nacional das informações e concorrer para economias de escala. • Em 2004 realizou-se um concurso público para a escolha do editor de SIRH que seria encarregue da realização desse núcleo comum (preparação do "rizoma" comum a partir do qual se desenvolveriam os SIRH ministeriais). Esse concurso foi ganho pelo editor SAP. A primeira versão do produto foi entregue à Administração no ano seguinte. • Em 2004 foi lançada igualmente a realização de um Infocentro FP (Função Pública), destinado a facilitar a tomada de decisões pela DGAFP em relação às três componentes da Função pública. • O trabalho interministerial começado em 2003 terminou em 2005. Logo em seguida, a partir de novembro de 2005 (pouco antes da implementação integral da LOLF), foi lançada a iniciativa "Convergência", destinada a acompanhar e apoiar o conjunto dos ministérios na compatibilização dos seus SIRH com as especificações do núcleo comum. Grupos de trabalho ministeriais foram mobilizados para participar nessa tarefa. • Ainda em 2005, uma colaboração foi estabelecida entre a Administração e os editores de PGI HRAccess e Peoplesoft, que ajustaram os seus produtos e obtiveram a certificação de conformidade (labellisation) dos seus SIRH, em relação ao núcleo comum. • O produto informático chamado familiarmente de "núcleo comum" foi entregue, na sua versão finalizada, em 2006. • Em 2006 foi lançada a iniciativa de modernizar o sistema de gestão dos pagamentos das remunerações dos agentes do Estado (de maneira a assegurar uma maior uniformidade e coerência nesse sistema e a realizar economias de escala). No ano seguinte (2007) foi criado, nesse sentido, um órgão especializado: o Operador Nacional de Pagamentos, ONP). • Em 2008 foi aberto o concurso público para a realização da componente SIRH destinada a servir de plataforma para a gestão das remunerações. Dois consórcios estavam em competição : Accenture-LogicaHR-Access e IBM-Steria-SAP. A competição durou cerca de um ano e mobilizou numerosos consultores (uma centena por grupo). O investimento do Estado nessa plataforma única de gestão ultrapassa os 200 milhões de Euros. O vencedor do concurso, anunciado em julho de 2009, foi o consórcio AccentureLogica-HR-Access. 63 • Em 2011 realizaram-se as primeiras conexões entre os SIRH de alguns ministérios pilotos e a plataforma de gestão das remunerações implementada a nível do ONP. O trabalho é amplo e exigente. Há milhares de regras a integrar no dispositivo final. • A implementação desse novo sistema integrado de gestão das remunerações, que deverá administrar as remunerações de mais de 3 milhões de agentes, está-se fazendo por etapas. Deverá ficar terminada em 2016. 5. O desenvolvimento de módulos de processamento relativos à GPEEC Umas das razões que recomendaram o desenvolvimento, em prioridade, da gestão das remunerações e a criação do ONP foi - para além de todas as outras vantagens importantes que resultam dessa integração o desejo de libertar os gestores dos RH (nos diferentes patamares gerenciais) das tarefas rotineiras e "cronófagas" ligadas a essa gestão. E isso, no intuito de lhes permitir concentrarem a sua atenção sobre a gestão estratégica das FT, a GPRH. Também nesse campo (GPRH) se procuram desenvolver módulos de processamento que facilitem a gestão das operações. Os editores de PGI têm procurado responder aos cadernos de encargos estabelecidos pelos gestores, desenvolvendo módulos apropriados. Entretanto, a nível central (da DGAFP) não existe atualmente nenhuma componente de SIRH orientada para esse processamento. A concatenação dos processos põe em jogo, segundo os atores que neles intervêm, ações complementares mas diferenciadas. As contribuições a nível central (por exemplo, a preparação de repertórios de empregos de referência, e de fichas genéricas de competências associadas a esses empregos) não se prestam a análises de "gaps", as quais se justificam bem, em contrapartida, a nível das FT setoriais (aí, tomam todo o seu sentido). É a nível dos setores (e, mais geralmente, dos órgãos governamentais autónomos) que têm sido selecionados, adaptados e parametrados os sistemas informatizados de GPRH. Atualmente (neste mês de junho de 2013), a DGAFP está procurando fazer um recenseamento das ferramentas de GPRH utilizadas nos diferentes ministérios, a fim de identificar e fazer conhecer boas práticas nessa área. Esse recenseamento incluirá os sistemas de processamento de dados utilizados para a GRH, e que podem comportar 12 módulos especializados de gestão das competências e da formação . Embora elaboradas e processadas por sistemas de gestão da informação internos, as informações de gestão essenciais são comunicadas à DGAFP (e, mais geralmente à rede de responsáveis das unidades setoriais da GRH) no âmbito da GPRH conduzida coletivamente. A natureza da informação compartilhada (em particular no que toca à escolha dos indicadores GRHGC/GF utilizados para o monitoramento da qualidade dos processos, e igualmente nas avaliações e balanços anuais) tem muito que ver com as diferentes etapas da metodologia adotada para realizar, de maneira coordenada, a GPRH. Essa metodologia, que foi oportunamente sistematizada e difundida pela DGAFP, é apresentada na secção seguinte. 12 Por amabilidade do Diretor Geral da Administração e da Função Pública francesa, Senhor Jean-François Verdier, e da Senhora Géraldine Achard-Bayle (DGAFP), essas informações ser-me-ão comunicadas quando estiverem disponíveis. 64 A GPRH e as informações cruciais de gestão 13 • A gestão provisional dos empregos e das competências (GPEC), que pôs a tónica na dimensão "planejamento", foi inicialmente adotada e promovida nas Direções dos RH de algumas grandes empresas. Nos anos 1980, juntamente com a gestão da adequação dos efetivos (na altura, pouco integrada), afirmou-se sobretudo uma preocupação de antecipação na gestão dos tipos de empregos. • Nos anos 1990, em relação com o que foi exposto na parte de Introdução, essa preocupação estendeuse à gestão das competências. As duas preocupações fundiram-se numa só. Assim se foram construindo e aperfeiçoando, a partir desse período, as primeiras versões da GPEC. • À GPEC veio logicamente juntar-se, de maneira integrada, a gestão provisional (antecipadora) dos efetivos. A designação do novo tipo de gestão foi modificada para levar em conta essa extensão e essa integração. Assim nasceu a gestão provisional dos efetivos, dos empregos e das competências (GPEEC). • Os métodos e as práticas evoluíram rapidamente com a acumulação e a diversificação das experiências. A legislação também evoluiu, acabando por dar um valor jurídico às novas práticas de gestão. Assim, para as empresas com mais de 300 trabalhadores, a Lei de Programação sobre a Coesão Social de 18 de janeiro de 2005 instituiu a obrigação de uma negociação trienal sobre a GPEC. • As práticas de GPEC/GPEEC também se desenvolveram, paralelamente, no setor público. Alguns ministérios utilizaram métodos de gestão provisional dos RH desde os anos 1990. Entretanto, só no decênio 2000-2010, como o mostra a cronologia apresentada na Introdução, a GPEEC se desenvolveu plenamente nas unidades de GRH das três FP. A utilização da GPEEC na GRH da FPE foi preconizada e facilitada pelo Relatório Vallemont de 2000, que é tido ainda hoje como um documento de referência. • A adoção de métodos padronizados, harmonizados, de GPEEC, completada por um dispositivo de coordenação interministerial que instituiu, em particular, Conferências Anuais de Gestão Provisional dos Recursos Humanos, estendeu-se a todos os ministérios e tornou-se obrigatória, por decisão governamental, a partir de 2007 (depois de uma fase de experimentação, realizada com a participação de sete ministérios voluntários, em 2006). • Da integração da GPEEC com a gestão estatutária (gestão das carreiras) resultou a nova Gestão Provisional dos Recursos Humanos (GPRH). É essa modalidade de gestão integrada e antecipadora, instituindo e desenvolvendo uma perspectiva estratégica, que é hoje adotada, a todos os níveis gerenciais, nas três componentes da FP francesa. A gestão das competências e da formação é realizada, de maneira integrada, nesse contexto. • São os Diretores dos RH centrais dos diferentes ministérios que definem, para os seus respetivos ministérios, as políticas de gestão e desenvolvimento dos RH. Essas políticas são estabelecidas a partir de uma metodologia comum de GPRH, baseada em quatro etapas fundamentais. • Essas etapas são brevemente apresentadas no esquema de síntese e nos quatro quadros inseridos nas páginas que seguem. 13 Esta secção do relatório retoma, em grande parte, as informações já expostas no relatório anterior sobre a Gestão das Carreiras. 65 • Uma análise das ações e passos em jogo, descritos nesses quadros, permite identificar os tipos de informações gerenciais importantes para a GPRH. O texto dos quadros que descrevem as diferentes etapas da GPRH e as ações a conduzir em cada uma dessas etapas é uma tradução (por vezes ligeiramente adaptada, quando isso pareceu necessário) das partes relevantes do guia metodológico preparado pela DGAFP. O texto completo do guia (em língua francesa) pode ser descarregado a partir do link : http://www.fonction-publique.gouv.fr/files/files/publications/coll_ressources_humaines/Gprh_guide_methodo.pdf A GPRH • Cada uma das quatro etapas da GPRH se desdobra em passos (ações). O guia metodológico preparado pela DGAFP, que constitui uma ferramenta útil para o planejamento estratégico da FT, preconiza, como passos 14 essenciais a minima, as ações seguintes : 14 As referências à RGPP, nos quadros relativos às etapas II e IV, forram atualizadas (o novo governo francês pôs, em 2012, um termo à RGPP, substituindo-a pela Modernização da Ação Pública). 66 ETAPA I ETAPA II RECURSOS DISPONÍVEIS META ESTRATÉGICA ETAPA III DIAGNÓSTICO DAS DISTÂNCIAS ETAPA IV PLANO DE AÇÃO RH Quatro grandes etapas da GPRH • O método de base (ajustável a cada organização) preconizado pela DGAFP para a implementação da GPRH comporta quatro etapas essenciais. • A primeira etapa visa identificar os recursos disponíveis a médio prazo, a partir da informação relevante disponível. Com base no recenseamento dos RH existentes, são realizadas simulações para saber o que se passará com os RH (qual a situação observada) no horizonte temporal fixado. Esta primeira etapa é "técnica" e mobiliza os serviços estatísticos. • A segunda etapa tem por objetivo de determinar da maneira mais precisa possível a meta estratégica. Trata-se de determinar as necessidades de RH da organização, a partir da análise das suas missões e das suas condições de exercício. Esta etapa é fundamentalmente "estratégica". O Diretor dos RH deve traduzir em termos de política de desenvolvimento dos RH as orientações fixadas pelo poder político. • A terceira etapa é a da determinação das diferenças (distâncias) entre o que é desejável e o que é disponível sem ações particulares que venham alterar a situação. É a etapa que precede a tomada de decisão, e deve ser compartilhada com as organizações sindicais. • A quarta etapa é a que permite ao Diretor dos RH definir o plano de ações RH. Esta etapa deve igualmente ser estabelecida em concertação com as organizações sindicais. 67 ETAPA I Identificar os recursos disponíveis Ação Descrição Comentários 1 • Estabelecer a "fotografia" dos RH existentes, tanto no plano quantitativo (efetivos) como no plano qualitativo. • Se não houver a possibilidade de utilizar sistemas elaborados de ajuda à decisão permitindo uma análise multidimensional (domínio funcional, emprego de referência, emprego-tipo, competências e qualificações, categorias, corpos, graus), o recenseamento dos RH existentes far-se-á unicamente em linguagem estatutária (categorias / corpos / graus). 1 bis • Estabelecer a carta da repartição geográfica dos RH existentes. • Esta informação sobre a repartição geográfica é muito importante para se poder caracterizar a ação do Estado e o seu impacto sobre a gestão dos agentes. É desejável retomar, completando-o, o quadro de dados da ação n° 1. 2 • Realizar uma projeção das saídas, levando em conta todos os motivos (aposentadoria, demissões, concursos, destacamentos em saída, situações de disponibilidade). • Para esta ação também, se não houver a possibilidade de utilizar sistemas elaborados de ajuda à decisão permitindo uma análise multicritérios, essa estimativa será realizada em linguagem estatutária, tomando como base as saídas por todos os motivos indicados e uma taxa de promoções nula (= 0). 3 • Estabelecer uma previsão dos fluxos de entrada. • Só deverão tomar-se em consideração os fluxos de entrada "impostos", sobre os quais o Diretor de RH não tem margem de manobra. 4 • Consolidação da situação dos RH disponíveis na data futura escolhida. • Esta consolidação corresponde à "deriva natural", independentemente dos movimentos de pessoal realizados por iniciativa da administração (recrutamentos e promoções). • Repartição geográfica dos RH disponíveis na data futura escolhida. • Esta repartição geográfica deve ser apresentada como um complemento ao balanço sobre a situação dos recursos disponíveis estabelecido na ação n° 4. 4 bis 68 ETAPA II Definir a situação-alvo (ou meta) estratégica Ação Descrição Comentários 1 • Recolher as orientações políticas (missões), organizacionais e orçamentais do ministério. • Os documentos fundamentais nos quais se exprime a política do governo (tais como a RGPP, ou as políticas e grandes programas de Reforma do Estado e de modernização da FP), bem como o orçamento plurianual, fornecem normalmente indicações precisas sobre essas orientações. 2 • Recolher, dos empregadores de pessoal, as suas necessidades quantitativas e qualitativas em RH. • Utilizando uma ficha padronizada preparada para servir de ferramenta da GPRH a nível operacional, os empregadores devem, depois de realizarem um diagnóstico interno, indicar ao seu Diretor de RH as suas necessidades em matéria de RH. 3 • Levar em conta as obrigações que se prendem com as políticas gerais de RH (diversidade, paridade, handicap, etc.). • Esta ação inscreve-se nas funções de regulação do Diretor de RH (também para facilitar essa função existe uma ficha padronizada). 4 • Identificar as necessidades em termos de empregos, levando em conta as informações recolhidas através das ações prévias n° 1, 2 e 3. • O Diretor de RH identifica as necessidades (usando a nomenclatura de profissões dos referenciais oficialmente estabelecidos), necessidades que não correspondem, entretanto, à soma das que foram expressas pelos empregadores. O papel regulador do Diretor dos RH obriga-o a levar em conta as orientações políticas, as limitações e constrangimentos financeiros, e as obrigações legais. 5 • Traduzir a identificação das necessidades de empregos em linguagem estatutária (categorias / corpos / graus). • Esta etapa é muito importante. Permite passar de uma linguagem empregos-competências a uma linguagem de gestão estatutária. 5 bis • Estabelecer a repartição geográfica das necessidades de empregos. • É importante levar em conta nesta ação as eventuais reorganizações de redes (como ocorreu no caso da RGPP) na definição da situação-alvo. 6 • Avaliar a sustentabilidade orçamental dos cenários de identificação das necessidades, • Compete ao Diretor dos RH, a partir de uma análise dos custos médios por grau, avaliar a sustentabilidade da situação-alvo que ele prepara para validação, e corrigir eventualmente o seu cenário. Diferentes cenários podem ser testados. 7 • Validar a situação-alvo estratégica ("meta"). • A fim de simplificar o plano GPRH, é recomendado validar unicamente uma situação-alvo (ou "meta"). 69 ETAPA III Identificar as distâncias entre o existente e o desejável Ação Descrição Comentários 1 • Estabelecer quantitativamente e qualitativamente o balanço entre as necessidades futuras e os recursos disponíveis, no horizonte temporal escolhido. • Sob a forma de um quadro evidenciando as diferenças, expressas em linguagem estatutária. 2 • Extrair as grandes tendências : quantitativas (efetivos insuficientes ou excedentários, relativamente a diferentes profissões) e qualitativas (ligadas às mutações nos empregos, ...). • Esta ação permite por em evidência os grandes desafios e os esforços a realizar em matéria de ajustamento da estrutura de competências. 3 • Precisar o número de agentes afetados por uma mobilidade geográfica, e estabelecer a ventilação desses agentes em linguagem estatutária (categorias / corpos / graus). • Esta questão será tratada no plano de ações RH em função da importância do número de agentes afetados pela necessidade de mobilidade. 4 • Concertação com os parceiros sociais (sindicatos de SP, ...). • É importante que o diagnóstico seja compartilhado. 70 ETAPA IV Estabelecer o plano de ações RH Ação Descrição Comentários 1 • Diálogo social. • Todas as medidas devem ser tomadas a fim de garantir a qualidade do diálogo social na etapa de implementação do plano de ações. 2 • Organização dos serviços. • Agir sobre a organização dos serviços é um meio eficaz de adaptação dos RH às necessidades. No caso da RGPP, por exemplo, considerou-se a reorganização das redes e das administrações centrais, ou ainda a criação de agências. 3 • Mobilidade interna. • A mobilidade é um fator de ajustamento que convém utilizar adequadamente, privilegiando a mobilidade escolhida, no âmbito de percursos profissionais enriquecedores. 4 • Formação. • Num sistema de carreira, a formação é um elemento de adaptação permanente das competências dos agentes aos empregos ocupados, ou a ocupar. 5 • Remuneração. • A variável "remuneração" pode ser utilizada para reconhecer os esforços ligados à mobilidade, à qualidade do desempenho, ou às dificuldades particulares que apresentam alguns empregos. 6 • Promoção. • A promoção é uma ferramenta RH de reconhecimento da qualidade do desempenho e das competências dos agentes. 7 • Condições de trabalho. • As condições de trabalho influenciam fortemente a atratividade de um ministério e/ou de certos empregos. 8 • Recrutamento. • O recrutamento deve constituir a última variável de ajustamento do plano de ações.. 9 • Concertação e validação do plano de ações. • Esta fase é muito importante para garantir uma implementação adequada do plano de ações. 71 Terceira Parte A Bélgica A. Introdução B. Como são identificadas e geridas as competências na Administração federal belga C. O dispositivo de gestão : normas, práticas e ferramentas gerenciais D. Os sistemas de informação que apoiam a gestão de competências 72