Jazz via Beirute, no trompete de Ibrahim Maalouf

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Jazz via Beirute, no trompete de Ibrahim Maalouf
0:03 • 3 SETEMBRO DE 2013
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Jazz via Beirute, no trompete de Ibrahim
Maalouf
O músico libanês fala da inspirada combinação de linguagens que mostra em Ouro Preto e em São
Paulo
27 de agosto de 2013 | 19h 14
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Roberto Nascimento ­ O Estado de S. Paulo
Como no blues, a alma do canto árabe se revela nas inflexões entre uma nota e outra – os
microtons, em termos técnicos, que sintetizam peso e triunfo existenciais quando
entregues a um Ray Charles ou a um hábil müezzin em seu chamado à prece. Essa
intersecção entre o Islã e o delta do Mississippi é o território dos improvisos de Ibrahim
Maalouf, trompetista libanês que se apresenta no festival MiMO, em Ouro Preto, na
sexta­feira, e em São Paulo, no Sesc Pompeia, neste fim de semana. Seu trompete é ave
rara, concebida com quatro válvulas – uma a mais que a norma – para possibilitar o
alcance dos poéticos gestos semitonais ouvidos em sua infância.
“É muito próximo do blues”, explica o
músico em entrevista ao Estado. “Há várias
pequenas diferenças, mas o blues do qual nós
falamos hoje chegou ao delta através da
África do Norte, que já era muçulmana.” Em
sua música, o idioma híbrido, de duas
linguagens historicamente relacionadas
ganha sofisticação pela técnica adquirida em
formação erudita.
O resultado é jazz filtrado por influências
que vão da sala de concerto à herança
musical de seu pai, ao fascínio adolescente
pelo hip­hop.
Eric Gaillard/Reuters
Trompete raro foi inventado pelo pai
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já neste mês
2007, Ibrahim vai do jazz contemporâneo a
uma world music diferenciada, em que
consegue alcançar além da fórmula ‘solo sobre um pano de fundo’, camuflando­se entre
arranjos, ditando uma dinâmica menos autocentrada e, ao mesmo tempo, extremamente
pessoal em seus solos.
“De modo geral, eu não acho que o trompete tem de ser o instrumento mais importante
na minha música. A definição de um instrumento é algo que facilita a construção de algo.
Isso não quer dizer, necessariamente, que esse instrumento é a coisa mais importante da
música. Sou como um diretor que atua no próprio filme, consciente do meu papel no
desenvolvimento da trama”, explica, sobre a criativa mescla de música árabe, hip­hop e
jazz que faz em seu primeiro disco, Diasporas, de 2007. Ao ouvir o disco, disponível em
sua página de Soundcloud, impressiona como Ibrahim foge da norma em sua combinação
de música tradicional com improvisos, de fato tomando uma posição de ‘diretor’ que
enxerga os arranjos por uma ótica de produtor, como se fosse, além de trompetista, um
beatmaker de hip­hop. A maioria dos músicos de jazz – não todos – coloca uma cítara e
um djembe e improvisa sobre a música. Eu vejo a world music mais como uma mescla de
sotaques. Eu falo francês com sotaque libanês. Quando toco jazz, que não é minha língua
materna musical, eu não escondo a tradição libanesa, e isso enriquece a música. Não faço
recorta e cola”, diz ainda.
Os estonteantes improvisos de Ibrahim Maalouf, sussurrados como Chet Baker, sofridos
como as melodias de DNA árabe, encontram arranjos mais formais em Wind, seu mais
recente disco, de 2012. Mesmo assim, o resultado é fora de série, conferindo ao seu
trompete uma originalidade raramente vista nos círculos jazzísticos da atualidade. “Meu
pai inventou esse trompete. O instrumento toca as escalas cromáticas e os quartos de
tons, como fazem os cantores árabes”, conta, emendando a incrível história de como
Nassim Maalouf, trompetista libanês famoso por sua adaptação do instrumento ao
idioma árabe, concebeu um trompete revolucionário e perdeu os direitos à patente por
tê­lo tocado na rádio nacional libanesa (o que concedeu a invenção ao domínio público).
Nascido em Beirute, em 1980, Ibrahim seguiu os passos do Nassim, aluno do célebre
trompetista Maurice André e parceiro da famosa cantora libanesa Fairuz, e formou­se no
Conservatório Nacional da Franca. Ouvia hip­hop na escola e ao consolidar a sua carreira
em salas de concerto, resolveu explorar suas raízes e enveredou pelo jazz
contemporâneo. Atualmente, toca ambas vidas musicais paralelamente.
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