inseminacao-capitulo-4 - Instituto de Estudos Pecuários
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Gado de Leite Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) Em Bovinos Leiteiros Erick Fonseca de Castilho C A P Í T U L O 4 4. Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros 4.1 Introdução A bovinocultura brasileira passa por uma fase de reconhecimento da importância do uso de tecnologias no setor produtivo. A perspectiva de retorno financeiro por meio da eficiência nos sistemas de produção pode ser intensificada com o uso de eficientes técnicas de manejo e biotecnologias aplicadas à reprodução animal. A adoção da estação de monta com uso de animais selecionados e a inseminação artificial são importantes ferramentas que auxiliam no melhoramento genético e no aumento da produtividade no setor (VISHWANATH, 2003). A pecuária de leite exige dos produtores máxima eficiência para garantia de retorno econômico. Um aspecto relevante a ser mensurado é o estabelecimento de índices reprodutivos que permitirão identificar claramente os pontos fortes e fracos do sistema e apontar as áreas que podem ser melhoradas (FARIA e CORSI, 1997). Usando os índices reprodutivos e produtivos como indicadores de desempenho do rebanho, é possível antecipar, calcular, organizar e melhorar os Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros eventos ligados à reprodução do rebanho (FERREIRA, 1991; FARIA e CORSI, 1997). Assim, elevados índices de produção, associados à alta eficiência reprodutiva, devem ser metas que norteiam os técnicos e criadores a alcançarem maior produtividade e satisfatório custo-benefício na atividade. Neste contexto, a otimização da mão de obra e a manutenção da eficiência reprodutiva são os principais fatores que contribuem para a melhoria do desempenho produtivo e da lucratividade dos rebanhos (VASCONCELOS e MENEGHETTI, 2006). As biotecnologias aplicadas à reprodução animal, como inseminação artificial, associadas a um manejo adequado do rebanho, têm sido implementadas por técnicos e produtores, visando aumentar a qualidade e a quantidade de bezerras genética e fenotipicamente superiores. Este capítulo tem seguintes objetivos: »» Descrever os principais hormônios comerciais utilizados nos protocolos de IATF disponíveis no mercado; »» Descrever os cuidados no armazenamento e manipulação dos hormônios destinados à IATF; »» Discutir sobre os principais aspectos relacionados à avaliação da eficiência reprodutiva do rebanho leiteiro; »» Simular a relação dos custos do emprego da IATF, das perdas produtivas e reprodutivas com os benefícios obtidos neste programa. 150 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros 4.2 Principais hormônios comerciais disponíveis no mercado As informações referentes aos produtos abaixo são baseados de acordo com a bula ou manuais informativos dos fabricantes. Para consulta (indicações, dosagem etc.), será disponibilizado para download as bulas e informativos dos produtos abaixo relacionados. 4.2.1 Progesterona Os dispositivos intravaginais disponíveis são impregnados com 1 grama de Progesterona Natural, utilizado em programas de sincronização do ciclo estral de fêmeas bovinas e bubalinas, para inseminação artificial ou transferência de embriões, bem como, no tratamento do distúrbios ovarianos. Dentre os produtos disponíveis no mercado, destacam-se: PRIMER® (Tecnopec); CIDR® (Pfizer), Sicrogest® (Ouro Fino) e DIB® (MSD). Todos os dispositivos apresentam 1 g de progesterona (em cada dispositivo) e podem ser reutilizados por 3 vezes (sendo o 3º uso, indicado somente para novilhas), exceto o CIDR® (Pfizer) que contém 1,9 g de progesterona (em cada dispositivo) e pode ser reutilizado por 4 vezes (sendo o 4º uso, indicado somente para novilhas). O portal do agroconhecimento 151 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros Figura 44: Primer® - Tecnopec. Figura 45: Sincrogest® - Ouro Fino. Figura 46: CIDR® - Pfizer. Figura 47: DIB® - MSD 152 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros São contra-indicados em vacas com anomalias vaginais (infecções, inflamações etc.). Nos animais debilitados por doenças, má alimentação ou estresse, pode não ocorrer o efeito desejado. Apesar de alguns fabricantes não indicarem na bula a sua reutilização, já se comprovou os dispositivos podem ser reutilizados sem comprometer a saúde dos animais e os resultados da IATF. Lembrando que os dispositivos devem ser limpos e desinfetados. Não há nenhuma restrição para consumo humano de leite ou carne, mas os dispositivos devem ser removidos antes do abate (21 dias antes). 4.2.1.1 Aplicação: »» Lavar o aplicador em solução antisséptica não-irritante; »» Colocar luvas descartáveis para a manipulação do dispositivo, evitando contato com possível absorção do hormônio pelas mãos; »» Colocar o dispositivo no aplicador de modo que as abas fiquem dobradas e somente as pontas destas se projetem na parte frontal do aplicador; »» Mergulhar a parte frontal do aplicador em lubrificante obstétrico veterinário; »» Erguer a cauda do animal e higienizar os lábios da vulva; »» Com a cauda do animal erguida, introduzir suavemente o aplicador O portal do agroconhecimento 153 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros na vagina, inclinando-o ligeiramente para cima através da vulva e, depois, para trás, sem forçar, na direção da parte anterior da vagina; »» Pressionar os apoios para dedos do aplicador e puxar firmemente o corpo deste na direção do cabo para retirá-lo; »» Com o dispositivo corretamente aplicado, com as abas abertas no interior da vagina, a ponta do dispositivo deve ser visível salientando-se da vulva. 4.2.1.2 Recomendações para desinfecção e reutilização dos dispositivos intravaginais »» Retirar com cuidado, mas com firmeza, puxando o cordão saliente do dispositivo; »» Após a retirada da vaca, lavar rapidamente em água corrente para remover algum muco aderido; »» Não é recomendável uso de escovas nem de sabão ou detergente para limpeza dos dispositivos; »» Preparar uma solução de Kilol® na proporção de 1 parte para 250 partes de água limpa e mergulhar os dispositivos por 10 minutos. »» Deixar os dispositivos secarem naturalmente em local sombreado e limpo, cortar um segmento picotado da cauda, para saber que o dispositivo já foi usado e quantas vezes ainda pode ser reutilizado 154 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros futuramente; »» Armazenar os dispositivos em sua própria embalagem original ou em sacos plásticos opacos, não é necessário guardar em geladeiras, basta manter em local limpo e sombreado; »» Reutilizar os dispositivos dentro de seu prazo de validade original (2 anos da fabricação). Figura 48: Diagrama de fotos mostrando a sequência de preparação, aplicação e retirada do dispositivo intravaginal impregnado com progesterona. FONTE: TECNOPEC. O portal do agroconhecimento 155 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros 4.2.2 Estrógenos Os produtos com estrógeno diferem-se entre si pelo tipo deste hormônio em sua composição. Portanto, temos: benzoato de estradiol, cipionato de estradiol e valerato de estradiol. A solução que contém o benzoato de estradiol é oleosa e está presente no Sincrodiol® (Ouro Fino), Gonadiol® (MSD) e RIC-BE® (Tecnopec). Todos os produtos têm a mesma concentração (1 mg/mL). Ele é administrado por via intramuscular, geralmente em dois momentos: no dia da inserção do implante de progesterona (promeve a atresia folicular) e no dia da retirada ou 1 dia após a retirada do implante (estimula a liberação de LH). Figura 49 : Sincrodiol® - Ouro Fino. Figura 50: Gonadiol® - MSD Figura 51: RIC-BE® - Tecnopec. 156 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros O cipionato de estradiol também está diluído em uma solução oleosa e está presente no E.C.P.® (Pfizer). Também é administrado por via intramuscular e a sua concentração é de 2 mg/mL. Tem as mesmas indicações, porém com uma meia-vida superior ao benzoato de estradiol, como discutido no capítulo anterior. Figura 52 : Sincrodiol® - Ouro Fino. Figura 53: Gonadiol® - MSD, Enquanto que o valerato de estradiol está, principalmente, disponível em juntamente com um progestágeno (3 mg de Norgestomet). Este produto pode ser encontrado no Crestar® (MSD), um progestágeno auricular. É administrado por via intramuscular e a sua concentração é de 5 mg/2mL. A desvantagem do uso do valerato é a sua meia-vida, como já discutido no capítulo anterior. 4.2.3 Prostaglandinas Os produtos com prostaglandina diferem-se entre si pelo tipo deste hormônio em sua composição e a concentração. Portanto, temos: cloprostenol sódico e dinoprost trometamina. Ambos têm ação luteolítica e promotora da contração uterina. O portal do agroconhecimento 157 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros A solução que contém o cloprostenol sódico é aquosa e está presente no Ciosin® (MSD), Sincrosin® (Vallée), Sincrocio® (Ouro Fino) e Prolise® (Tecnopec). Todos os produtos citados são administrados por via intramuscular e apresentam a concentração de 25 mg/100 mL, exceto o Prolise® que tem somente 7,5 mg/100 mL. O dinoprost trometamina também está diluída em uma solução aquosa e está presente no Lutalyse® (Pfizer). Também é administrado por via intramuscular e te concentração de 5 mg/mL. Figura 54: Ciosin® - MSD Figura 55: Sincrosin® - Vallée Figura 56: Sincrocio® - Ouro Fino FIgura 57: Prolise® - Tecnopec 158 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Figura 58: Lutalyse® - Pfizer 4.2.4 GnRH Nestre grupo, os produtos também se diferenciam pelo tipo de análogo e a concentração. Os produtos análogos do GnRH são: gonadorelina, buserelina e lecirelina. Todos têm efeito simililar ao GnRH para a secreção de gonadotrofinas, com estímulo predominante da secreção de LH e secreção discreta de FSH. A gonadorelina está diluída em uma solução aquosa e está disponível no Cystorelin® (Merial; 0,05 mg/mL) e no Fertagyl® (MSD; 0,1 mg/mL). Ambos podem ser administrados por via intramuscular, exceto o Cystorelin® que também pode ser administrado por via endovenosa. A buserelina está diluída em meio aquoso e está presente no Sincroforte® (Ouro Fino) e no Conceptal® (MSD). Ambos apresentam a concentração de 0,004 mg/ mL e devem ser administrados preferencialmente pela via intramuscular. Também podem ser utilizadas as vias subcutânea e intravenosa. O portal do agroconhecimento 159 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros Figura 59: Cystorelin® - Merial Figura 60: Fertagyl® - MSD Figura 61: Sincroforte® - Ouro Fino Figura 62: Conceptal® - MSD Figura 63: Gestran Plus® - Tecnopec 160 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros A lecirelina está diluída em solução aquosa e está disponível no Gestran Plus® (Tecnopec; 1,25 mg/mL). É administrado por via intramuscular. 4.2.5 FSH Este hormônio é representado pelo Folltropin® (Bioniche; 20 mg/mL) e Pluset® (Hertape Calier; 50 UI/mL). O Folltropin® é um extrato de Hormônio Folículo Estimulante (± 85 % de FSH) altamente purificado de glândulas pituitárias suínas. Seu método de fabricação garante uma presença de LH desprezível (± 15%). O Pluset® também é derivado do extrato de pituitárias de suínos, porém dos 50 UI/ mL, 25 UI é de FSH e 25 UI de LH, não tendo a mesma pureza para o FSH quanto o Folltropin®. Ambos são administrador por via intramuscular. Figura 64: Folltropin® - Bioniche Figura 65: Pluset® - Hertape Calier 4.2.6 eCG e hCG O eCG é representado pelo Novormon® e Folligon® (1.000 UI e 5.000 UI), ambos da MSD. O Novormon® e o Folligon® 1.000 UI apresentam a mesma concentração (200 UI/mL), enquanto que o Folligon® 5.000 UI apresenta 500 UI/mL. Todos são administrados por via intramuscular. O portal do agroconhecimento 161 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros O hCG está presente no Lutropin® (Bioniche; 1,25 mg/mL) e é administrado por via intramuscular. Figura 66: Novormon® - MSD Figura 67: Folligon® 5.000 UI - MSD 4.3 Cuidados no armazenamento e manipulação de hormônios Como todo medicamento, os hormônios também precisam de cuidados especiais na sua manipulação e armazenamento (ver bula dos produtos). Seguem abaixo algumas dicas para se obter o efeito máximo desejado dos hormônios comerciais: a) Tomar os devidos cuidados na manipulação e aplicação dos hormônios. Dependendo do produto, mantê-los em local refrigerado, mesmo durante o manuseio no curral, ou mantidos em local seco ao abrigo de luz; b) Sempre que puder, antes da manipulação dos hormônios injetáveis, desinfete a tampa de látex do frasco com algodão e álcool iodado; c) Utilizar seringas pequenas (1 a 5 ml) e agulhas finas (40x12 ou 162 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros 30x8), para uma melhor manipulação, precisão da dosagem e evitar o refluxo. Usar somente uma agulha para retirar o produto do frasco, evitando contaminações; d) Recomenda-se para a reutilização do progestágeno, após sua retirada da vaca sincronizada, lavá-lo em água corrente, retirando todo o muco e colocando-o em solução (1: 250) de Kilol® por 10 minutos. Secar os dispositivos na sombra e guardá-los em sua própria embalagem, até nova utilização; e) O Folltropin® e Novormon® devem ser mantidos sob refrigeração. Após sua diluição apresenta validade de efeito por 5 e 7 dias, respectivamente. Quando for levado ao curral, colocá-lo em isopor com gelo, não o deixando exposto ao sol. Eventuais sobras (Folltropin®) devem ser fracionadas em pequenas doses em seringas de 3 mL e congeladas em freezer (-20 °C), no mesmo dia da diluição. ANTES DE USAR O PRODUTO, LER A BULA E SEGUIR AS INDICAÇÕES DE MANIPULAÇÃO E ARMAZENAMENTO DOS PRODUTOS. f) Utilizar produtos de qualidade e dentro do prazo de validade. 4.4 Avaliação da eficiência reprodutiva do rebanho leiteiro A competição na qual está inserida a bovinocultura brasileira exige desta uma melhor adequação ao mercado, em termos de preço e qualidade, assim como no uso da mão-de-obra e da terra. Isso se deve à expansão de algumas culturas como a da cana-de-açúcar, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, e à concorrência com outros países, que muitas vezes praticam preços baseados O portal do agroconhecimento 163 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros em custos artificiais decorrentes de subsídios. Em razão dos fatores citados, a adequação da atividade acaba se tornando de fundamental importância. Todos os elementos que determinam uma produção mais rentável, como o gerenciamento de todo o processo, o uso intensivo da área para a produção de forragem, a eficiência reprodutiva, a menor idade ao primeiro parto e a adequação do genótipo ao ambiente são pontos cruciais para o sucesso da atividade. A eficiência reprodutiva é o fator que, isoladamente, mais afeta a produtividade e a lucratividade de um rebanho. Entretanto, há muitos obstáculos para otimizá-la, pois ocorrem perdas reprodutivas desde a concepção (natural ou artificial) até o parto. Em bovinos, a mortalidade pré-natal, tanto embrionária como fetal, é uma das maiores causas de falhas reprodutivas, e a maioria dessas perdas acontece durante os primeiros 35 dias de gestação, que corresponde ao período embrionário e pode atingir 40% dos conceptos. Essas perdas irão afetar diretamente o sucesso da exploração causando forte impacto negativo sobre a rentabilidade da produção pecuária. Em um sistema em que a reprodução é ineficiente, ocorre aumento no descarte involuntário, diminuição da longevidade e do número de animais para reposição, menor progresso genético, maior gasto com inseminação e com medicamentos. Além disso, há redução na produção de leite, pois haverá aumento do intervalo entre lactações, assim como prolongamento do período seco da vaca e da proporção de vacas secas no rebanho. Portanto, é essencial manter um sistema de controle reprodutivo para identificar possíveis circunstâncias que estejam causando perdas e corrigi-las antes que as consequências sejam irremediáveis e os prejuízos, certos. O controle reprodutivo também permite otimizar a produção por meio do melhor aproveitamento de 164 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros recursos, como: instalações, capital investido em rebanho e infraestrutura, mãode-obra etc. Estudos demonstraram que 43,2 % dos descartes ocorridos em fazendas leiteiras foram involuntários, e metade desse total teve causas reprodutivas (Figura 68). Causas 43,2% do total de vacas eliminadas era descarte involuntário. Reprodução Mastite Ferimentos Problema de úbere Velhice Doenças Problemas pernas e pés Deslocamento de abomaso Corpo estranho rúmen 22,1% 7,8% 5,1% 1,8% 1,7% 1,6% 1,2% 1,2% 0,7% Decarte involuntário alto Reduz possibilidade de seleção Problemas de manejo Diminui eficiência Figura 68: Causas para descartes de animais em fazendas leiteiras. Fonte: FARIA (1970), adaptado de Michigan Dairy Herd Improvemente Records, 1976. O portal do agroconhecimento 165 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros 4.4.1. Monitoramento do rebanho O controle reprodutivo começa pela escrituração zootécnica baseada num eficiente sistema de identificação individual dos animais do plantel. O monitoramento da eficiência reprodutiva é realizado pelo acompanhamento do rebanho, pelo exame reprodutivo conduzido por médico veterinário e pela escrituração dos eventos reprodutivos e produtivos. Esses dados geram índices que propiciarão um diagnóstico dos pontos de estrangulamento passíveis de comprometer a produtividade do rebanho. A partir disso, é possível estabelecer estratégias e intervenções para aumentar a eficiência reprodutiva. Atualmente, há a disponibilidade de diversos programas informatizados para gerenciamento reprodutivo, que fornecem relatórios e cálculos precisos de vários índices. Contudo, ainda existem tecnologias de baixo custo que auxiliam muito o manejo diário dos animais, como o quadro reprodutivo (Figura 69). Essa ferramenta permite exposição clara e rápida da condição em que se encontram as vacas, estratificando-as em paridas e não-acasaladas, acasaladas, prenhes em lactação e secas. São diferenciadas por fichas de cores distintas, providas de ímã. Nessas identificações, faz-se a marcação do número do animal e das datas de parto e de acasalamento, de acordo com a situação reprodutiva de cada um deles. A cada dia é reposicionado o círculo interno com base na data. As marcações laterais ao círculo, em que as fichas são alocadas, indicam os períodos ideais que deveriam ocorrer eventos produtivos e reprodutivos, tais como, período de serviço, diagnóstico de gestação e data de secagem, objetivando o intervalo de partos de 12 meses. Com o posicionamento dos animais no quadro, é possível identificar vacas que estão atrasadas reprodutivamente, que secaram precocemente, ou seja, antes de 60 dias do parto e permite também visualizar a distribuição de partos durante o ano. 166 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Figura 69: Quadro de controle reprodutivo. Fonte: EMBRAPA (2010). 4.4.1.1 Exames reprodutivos Os exames reprodutivos permitem selecionar animais aptos à reprodução. Os machos destinados para acasalamento são avaliados por meio de exame andrológico para atestar sua capacidade potencial de fertilização. A importância do reprodutor para a fertilidade é muito expressiva, uma vez que contribui com metade do material genético para sua descendência e, portanto, nele pode ser aplicado um diferencial de seleção maior que nas fêmeas. O portal do agroconhecimento 167 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros O exame ginecológico permite selecionar as vacas e novilhas aptas para a reprodução e identificar doenças que interferem na ovulação e na concepção, infecções no sistema reprodutivo, bem como é aplicado para o diagnóstico de gestação. O rebanho deve ser avaliado por médico veterinário capacitado, em intervalos regulares (preferencialmente a cada 15 dias). A identificação e o tratamento precoce de transtornos reprodutivos aumentam a eficiência reprodutiva. 4.4.1.2 Exames sanitários Deve-se avaliar a saúde geral do rebanho, assim como as doenças reprodutivas específicas que podem efetivamente comprometer a gestação, tais como leptospirose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarréia bovina a vírus (BVD), neosporose e brucelose. Para esta última, devem-se realizar exames anuais de identificação de animais reagentes. Todas as ocorrências de aborto devem ser investigadas para se identificar a causa. É fundamenal a colheita e o envio de material para isolamento do agente causal (o diagnóstico é mais preciso quando é realizado no feto recém abortado). Estratégias de controle com o uso de programas de vacinação devem ser instituídas sob a supervisão de um médico veterinário. 4.4.1.3 Avaliação da condição corporal A avaliação da condição corporal é uma importante ferramenta para monitorar o estado nutricional dos animais. A estimação da condição corporal deverá ser realizada frequentemente e com especial atenção no momento do parto, no pico da lactação e na secagem. Vacas paridas em condição corporal ruim (magras) produzem bezerros mais leves e, em geral, com maior mortalidade no período 168 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros de aleitamento, e isso compromete o pico da lactação. Além disso, o período para recuperação da vaca é maior e ocorre atraso significativo para o aparecimento do primeiro cio pós-parto. 4.4.2 Fatores que contribuem para o sucesso reprodutivo Os fenômenos reprodutivos de interesse na fisiologia da vaca são a manifestação do estro com ocorrência da ovulação, concepção e manutenção da prenhez. Nesse sentido, diversos fatores podem comprometer a eficiência reprodutiva, como: o protocolo de inseminação, a qualidade dos oócitos (gametas femininos), o ambiente uterino, o reconhecimento materno da prenhez, a condição corporal, a produção de leite, as doenças, os ingredientes da dieta e o touro. Além disso, deve ser dada atenção não somente ao manejo geral como também ao manejo alimentar e ambiental dispensado ao rebanho. Para tanto, os pontos fundamentais que envolvem o sucesso reprodutivo compreendem: evitar partos prematuros e distocias; tratar precocemente as endometrites e as doenças do pós-parto; antecipar o retorno ao estro e identificá-lo corretamente; inseminar em tempo certo, monitorar a eficiência do inseminador e realizar o diagnóstico precoce de gestação. 4.4.2.1 Fertilização e perdas de prenhez As perdas de gestação em vacas de leite, desde a fertilização até o parto, podem atingir 60%. No entanto, as taxas de fertilização são altas em bovinos, ao redor de 95%, sugerindo que as perdas ocorrem principalmente após a fertilização. Não obstante, vários estudos têm demonstrado que a fertilização pode ser comprometida pelo aumento na ordem de parição, em vacas de alta produção de leite e por fatores ambientais, como o estresse térmico. A mortalidade embrionária tem O portal do agroconhecimento 169 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros sido responsabilizada pela maioria das perdas reprodutivas em rebanhos inseminados. Como mencionado, essas perdas ocorrem principalmente nos primeiros dias após a inseminação artificial. A morte embrionária influencia fortemente a taxa de concepção. 4.4.2.2 Manejo alimentar Para atingir índices reprodutivos satisfatórios, é necessário prover nutrição adequada aos animais. A fêmea também deverá ser suprida em todas as suas necessidades, já que a atividade cíclica ovariana ocorrerá apenas em vacas com balanço energético positivo, ou seja, nos animais que ingerirem alimentos que forneçam mais energia que o necessário para a sua manutenção e produção de leite. 4.4.2.3 Manejo ambiental O conforto animal interfere não só na produção de leite, como também na reprodução. Alguns aspectos, como acesso às áreas sombreadas, bebedouros e abrigos contribuem efetivamente para o controle do estresse térmico, o que favorece a concepção e a manutenção da gestação. Em animais sob efeitos estressantes ambientais, climáticos ou sociais, ocorre a diminuição da manifestação do comportamento estral e da ovulação. 4.4.3 Índices reprodutivos Os índices reprodutivos são utilizados como ferramentas para gerenciamento de um rebanho. São obtidos a partir de informações colhidas dos exames reprodu- 170 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros tivos e do registro das datas dos eventos ocorridos durante a vida do animal, como: nascimento, estros (ocorrência de cios), acasalamentos, partos e abortos. Os índices permitem controle efetivo do rebanho, fornecendo informações para a tomada de decisão na condução de atividades, como a seleção de genótipos de interesse para a atividade produtiva e o descarte de animais de menor potencial produtivo. A avaliação da eficiência reprodutiva é complexa e deve envolver vários eventos durante a vida do animal, como: idade à puberdade, idade ao primeiro parto, gestação, o intervalo de partos, taxas de aborto e de concepção e número de doses de sêmen por concepção, os quais devem ser analisados em conjunto e não isoladamente. Os rebanhos requerem visitas técnicas a intervalos mensais ou quinzenais para avaliar o desempenho e reconhecer com rapidez determinadas tendências. Isso permite ao técnico recomendar com agilidade alterações de manejo e ambientais. A seguir são descritos e conceituados os índices de monitoramento da eficiência reprodutiva. 4.4.3.1 Idade à puberdade e ao primeiro parto A puberdade é caracterizada pela primeira ovulação fértil da fêmea. Esse índice possui importância econômica, pois a partir desse momento o animal apresenta potencial para se reproduzir. A idade à puberdade pode ser influenciada por: raça, manejo e alimentação na fase de crescimento. Animais que apresentam desenvolvimento deficiente expressam o estro e ovulam mais tardiamente. Outro ponto importante é o fato de os animais de raças zebuínas atingirem a puberdade 4 a 6 meses mais tarde O portal do agroconhecimento 171 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros que os de raças taurinas. Neste caso, o uso de raças especializadas é importante para a produção leiteira, pois possibilita que as novilhas entrem em reprodução ao redor de 15 meses de idade, proporcionando o primeiro parto aos 24 meses de idade. A idade ao primeiro parto deve ser considerada um critério de seleção, pois está relacionada à idade à puberdade; quanto mais precoce ocorrer, mais cedo a fêmea tornar-se-á produtiva, possibilitando maior número de gestações durante sua vida útil. Isso refletirá em maior produção acumulada de leite e geração de bezerras, que poderão ser utilizados como animais de reposição ou excedentes para a venda. 4.4.3.2 Intervalo de partos O intervalo de partos é o período entre dois partos consecutivos e pode medir a eficiência reprodutiva individual e a do rebanho. Para alcançar a máxima produção de leite por dia de vida da vaca, ela deve parir em intervalos regulares de 12 a 14 meses. Intervalos de partos mais longos causam comprometimento econômico, já que a próxima parição será retardada, e atrasará a geração de um novo bezerro e de uma nova lactação. Quando a concepção é tardia, ocorrerá um prolongamento da lactação, contudo, isso não compensará na produção total, pois a maior produção de leite ocorre nos primeiros meses após o parto. Além disso, limita a intensidade de seleção, uma vez que o prolongamento do intervalo diminui o número de bezerros desmamados e aumenta o intervalo de gerações. Na Tabela 17 está representada a importância do intervalo de partos dentro do rebanho. Quando o intervalo for de 12 meses nas vacas com persistência da lactação de 10 meses, haverá 83 % de vacas do rebanho em produção. Nos rebanhos com vacas de menor eficiência reprodutiva, refletida num intervalo de partos de 18 meses, apenas 55 % das vacas estarão em lactação. 172 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Tabela 17: Porcentagem de vacas em lactação de acordo com a duração da lactação e do intervalo de partos. Intervalo de partos (meses) Duração da lactação (meses) 12 14 16 18 % de vacas em lactação 10 83 71 62 55 9 75 64 56 50 8 66 57 50 44 8 66 57 50 44 Fonte: FARIA (1970). O intervalo de partos é um bom parâmetro para avaliação da reprodução de um rebanho, já que é reflexo de outros índices, como o período de serviço, as taxas de detecção de estro e de concepção. Na Tabela 18 foram simulados os efeitos do aumento do intervalo de partos sobre alguns índices zootécnicos e produtivos, mantendo-se a mesma condição de pico de lactação de 20 kg de leite, 90% de persistência de lactação e vida útil de 6 anos. Na Tabela 19, verifica-se que vacas de mesmo potencial leiteiro (ex. 4.500 kg/ lactação) mantidas em produção pelo mesmo período (ex. 6 anos) terão produtividade distinta se a eficiência reprodutiva for diferente. Assim, aquela vaca com intervalo de partos de 12 meses irá produzir 27.000 kg em sua vida útil, valor muito superior, atingindo 50% a mais do que a vaca com intervalo de partos de 18 meses. Consequentemente, a produção de leite por dia de vida útil também será maior na vaca de intervalo menor, com reflexo direto na lucratividade da atividade. O portal do agroconhecimento 173 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros Tabela 18: Diferenças quanto ao intervalo de partos (IP) no resultado zootécnico e econômico da atividade leiteira. Itens 12 15 18 24 Duração da lactação (meses) 10 13 16 22 Produção de leite na vida útil (kg) 25.080 23.180 21.080 17.700 Produção por lactação (kg) 4.180 4.830 5.270 5.900 Média de produção na lactação (kg/dia) 13,7 12,2 10,8 8,8 Produção por dia de IP (kg/dia) 11,4 10,6 9,6 8,1 Nº. de crias 6 4,8 4 3 Diferença em kg de leite comparando-se com a vaca eficiente (IP de 12 meses), em 6 anos ----- 1.900 4.000 7.380 Diferença em kg de leite comparando-se com a vaca eficiente, por ano ----- 317 667 1.230 Preço estimado do litro de leite (R$ / l) 0,40 0,40 0,40 0,40 Diferença em R$ para a vaca eficiente por ano ----- 126,00 266,00 492,00 Diferença em nº. de crias / vaca em 6 anos ----- 1,2 2 3 Fonte: CAMARGO (2000). 174 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Tabela 19: Perda de leite por reprodução. IP´12 meses IP 18 meses Produção/Lactação 4.500 kg 4.500 kg (15 kg/dia) Vida útil 6 anos 6 anos (2.190 dias) Partos 6 4 Produção vida útil 27.000 kg 18.000 kg Kg/vida útil 12,2 8,2 (contribuição efetiva) Perda diária 4 kg por vaca Rebanho de 100 vacas 146.600 kg por ano Perda anual 20 crias Kg/dia vida útil Kg/dia de IP 18000 / 2.190 dias = 8,2 kg Kg por vaca do rebanho = Produção / Total de vacas do rebanho Fonte: Perda diária de leite devida ao aumento do intervalo de partos. FARIA (2007). Na Tabela 20, estimação similar foi feita para aferir o impacto da eficiência reprodutiva na produção leite por dia de intervalo de partos. Assim, considerando vacas com potencial produtivo de 5.000 kg de leite/lactação, verifica-se que aquela com intervalo de 12 meses terá produção de 13,7 kg e outra de mesmo potencial, porém com intervalo de partos de 18 meses, produzirá 9,2 kg de leite por dia de intervalo de partos. O portal do agroconhecimento 175 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros Tabela 20: Produção diária de leite (em kg), de acordo com o intervalo de partos (em meses) e o nível de produção de leite por lactação. Intervalo de partos (meses) Kg de leite / Lactação 12 14 16 18 kg de leite por dia de intervalo de partos 9.000 24,6 21,2 18,5 16,5 7.000 19,2 16,5 14,4 12,8 6.000 13,7 11,8 10,3 9,2 3.000 8,2 7,0 6,1 5,5 2.000 5,5 4,7 4,2 3,7 Fonte: FARIA (1972). 4.4.3.3 Período voluntário de espera É o período compreendido entre o parto e o momento pré-determinado para os animais retornarem à reprodução e deve se situar de 45 a 50 dias. É importante que os animais restabeleçam o ciclo estral o mais rápido possível. A primeira inseminação/monta após o parto pode ser comprometida por: observação ineficiente do estro, balanço energético negativo, retenção de placenta, endometrites e anestro. A primeira ovulação após o parto ocorre ao redor de 25 dias, contudo, a primeira detecção de estro ocorre posteriormente. Vacas que exibem estro antes dos primeiros 30 dias após o parto requerem menos serviços por concepção em comparação às vacas que não manifestaram os sinais de cio durante esse período. 176 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Entretanto, acasalamentos muito precoces (< 50 dias) podem requerer maior número de serviços por concepção. 4.4.3.4 Período de serviço O período de serviço é o tempo decorrido entre o parto e a concepção. Para atingir o intervalo de partos ideal, o período de serviço deve ser o menor possível, e, para alcançar esse objetivo, a detecção de estro deverá ter início por volta de 30 dias após o parto. Um dos principais fatores limitantes da adoção da inseminação artificial em bovinos – não só no Brasil, mas também em países desenvolvidos – é a deficiente detecção do estro. Como resultado, os rebanhos nos quais se adota a inseminação artificial podem apresentar comprometimento direto na eficiência reprodutiva como um todo. As fêmeas zebuínas, que representam aproximadamente 80% das matrizes nos rebanhos brasileiros, apresentam a duração do estro mais curta que as de raças taurinas. Assim, 30,7% dos estros são iniciados e terminados durante a noite, reduzindo ainda mais a identificação acurada da manifestação estral. Para maior eficiência na identificação do estro, deve haver comprometimento de tempo para sua execução. A detecção do estro pode ser feita pelo uso de métodos auxiliares, como equipamentos eletrônicos, podômetros ou sensores de pressão. Contudo, a observação humana é imprescindível. Normalmente, a detecção do estro ocorre em apenas 50% dos animais que efetivamente estão ciclando. Além disso, muitas vezes ocorre a observação errônea, que leva à realização de inseminação artificial em animais que não estão em cio ou até mesmo que já conceberam, o que pode causar a perda da gestação. A detecção do estro pode ser dificultada pela inabilidade e pelo desconhecimento técnico da pessoa responsável pela identificação, pelo período curto de obser- O portal do agroconhecimento 177 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros vação, pelo piso inadequado para os animais manifestarem os sintomas do cio, pelo estresse térmico e pela alta incidência de afecções no casco. Os fatores que podem prolongar o período de serviço são a alta produção de leite; os partos prematuros e as distocias; a retenção de placenta e as endometrites; a deficiência na detecção de estro e no procedimento de inseminação; o anestro pós-parto prolongado, causado principalmente por disfunções ovarianas ou má nutrição e manejo ambiental deficiente. O atraso no reinício da atividade ovariana após o parto está associado à baixa ingestão de matéria seca, à perda de condição corporal no pós-parto ou à exigência energética para a alta produção de leite. O intervalo médio entre o parto e a concepção é de 85 a 115 dias. Quanto mais cedo ocorrer a concepção, maior será o número de crias e maior será a produção de leite por dia de intervalo de partos e durante a vida produtiva do animal. Quando esse período ultrapassa os 100 dias, cada dia a mais representa gastos na ordem de US$ 2,50 a 6,00, dependendo dos custos de produção, do leite e da produtividade do animal. 4.4.3.5 Taxa de prenhez A taxa de prenhez é obtida pela divisão entre o número de animais prenhes e o número de animais que foram expostos à reprodução, em determinado período. TAXA DE PRENHEZ = Nº DE VACAS PRENHES Nº DE VACAS EXPOSTAS (Prenhes e vazias) A prenhez pode ser avaliada também a partir da taxa com que as vacas concebem em cada período de 21 dias (ciclo estral), por meio da multiplicação da taxa de detecção de estro pela taxa de concepção. Consta da Tabela 4.4 a simulação da taxa de prenhez em função de várias combinações entre a taxa de detecção do 178 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros estro e a taxa de concepção. Tabela 21: Taxa de prenhez em função da taxa de detecção de estro e da taxa de concepção. Taxas (%) Detecção de estro Concepção Prenhez 30 30 9 50 30 15 30 50 15 50 50 25 70 50 35 70 60 42 80 60 48 Fonte: CARVALHO (1998). O índice almejado é de 35% de taxa de prenhez o que significa que, após submetidas à reprodução, a cada ciclo estral, 35% das vacas devem conceber (RADOSTITS et al., 1994). Os fatores que podem interferir nessa taxa são aqueles relacionados à qualidade do sêmen, seja na monta natural ou na inseminação artificial, à técnica de inseminação artificial propriamente dita, à eficiência de detecção de estro, ao anestro e às perdas da gestação. Dessa forma, é recomendado usar touros aprovados no exame andrológico ou sêmen de centrais idôneas, estabelecer eficiente esquema de observação do estro e de acasalamentos e manter manejo nutricional, sanitário e ambiental adequados. O portal do agroconhecimento 179 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros 4.4.3.6 Taxa de concepção A taxa de concepção é obtida pela divisão do número de vacas que conceberam (prenhes), pelo número total de inseminações realizadas, em determinado período. Também pode ser calculado por ciclo. TAXA DE CONCEPÇÃO = Nº DE VACAS PRENHES TOTAL DE INSEMINAÇÕES REALIZADAS Não devem ser consideradas para o cálculo apenas as inseminações de vacas que conceberam, pois a interpretação do índice ficará comprometida, já que vacas repetidoras de cio podem afetar negativamente essa taxa. O ideal é a obtenção de mais de 50% de eficiência na concepção (RADOSTITS et al., 1994). Esse índice pode ser comprometido pela qualidade do sêmen, pela mortalidade embrionária e fetal, pelo balanço energético negativo, pelas afecções uterinas e ovarianas e pela técnica de inseminação artificial. Outro ponto importante a ser considerado é a eficiência na observação do estro, pois caso o cio seja detectado tardiamente ocorrerá erro na hora de realização da inseminação artificial, o que poderá comprometer a concepção. Ficou demonstrado também que o aumento na produtividade de leite ocorrido nas últimas décadas causou diminuição na taxa de concepção, que afetou bastante os dias em aberto. Em geral, esse índice é menor no verão e apresenta pequeno aumento no outono e no inverno. A mortalidade embrionária causada pelo estresse térmico está envolvida nesse evento. Uma prática interessante na avaliação da eficiência reprodutiva é quantificar a taxa de concepção num período de 12 meses, considerando-se inclusive os animais que foram descartados nesse período. 180 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros 4.4.3.7 Número médio de serviços por concepção Esse índice é obtidos pela divisão do número de acasalamentos pelo número de animais que conceberam. SERVIÇOS POR CONCEPÇÃO = Nº DE ACASALAMENTO Nº DE ANIMAIS QUE CONCEBERAM Como esse índice está inversamente relacionado à taxa de concepção, as condições que interferem nesse parâmetro são semelhantes. 4.4.3.8 Taxa de serviço A taxa de serviço é obtida pelo número de vacas servidas (que apresentaram estro e foram inseminadas) dividido pelo total de vacas submetidas à reprodução, em determinado período. TAXA DE SERVIÇO = Nº DE VACAS SERVIDAS Nº DE VACAS SUBMETIDAS À REPRODUÇÃO Esse índice é influenciado pela eficiência de detecção de estro e pelo anestro. A taxa de serviço deve ser avaliada considerando-se todos os animais e deve ser dividida em taxa de serviço à segunda inseminação ou mais e taxa de serviço à primeira inseminação. A eficiência reprodutiva é avaliada no nível do rebanho. Ao se realizar médias em propriedades pequenas, o cálculo mensal de alguns parâmetros pode significar a contabilização de poucos animais, o que compromete a confiabilidade do monitoramento. Nesses casos, é interessante utilizar um período maior de avaliação.Os parâmetros ideais relativos a esses índices de eficiência reprodutiva descritos na Tabela 22. O portal do agroconhecimento 181 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros Tabela 22: Parâmetros de fertilidade desejados para fêmeas leiteiras de raças especializadas de origem europeia. Parâmetro Objetivo Idade da novilha ao primeiro acasalamento 13 a 15 meses Idade ao primeiro parto 22 a 24 meses Taxa de detecção de estro >70 % Taxa de prenhez >35 % Intervalo do parto ao 1º estro < 45 dias % de vacas acasaladas com mais de 100 dias de lactação < 20 % % de vacas diagnosticadas que efetivamente estavam prenhes > 70 % % de vacas não acasaladas com mais de 90 dias pós-parto <3% % de vacas com mais de 140 dias pós-parto não-prenhes <3% % de vacas com mais de 4 acasalamentos não-prenhes <5% Intervalo de partos 12 a 13 meses Intervalo parto/concepção 85 a 115 dias Intervalo médio do parto ao 1º serviço 60 a 70 dias Taxa de concepção ao 1º serviço em novilhas 60 a 70 % Taxa de concepção ao 1º serviço em vacas em lactação 35 a 40 % Serviços por concepção 1,7 a 2,2 Descartes (animais em reprodução/ano) <8% Número médio de lactações por animal >3 Taxa de aborto (anual) <5% Fonte: Adaptado de RADOSTITS et al. (1994). 182 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Os parâmetros para avaliação da eficiência reprodutiva devem ser analisados de forma global, ou seja, no rebanho todo, e de forma estratificada, de acordo com o número de lactações. Dessa forma, haverá dados para constatar se o problema encontra-se nos animais jovens ou de mais idade. Essa prática possibilita identificar os fatores que podem causar a baixa eficiência, como nos programas de alimentação de novilhas para reposição, o peso e a idade ao parto ou a nutrição de fêmeas que pariram pela primeira vez (primíparas), caso o problema esteja concentrado em animais de primeira lactação. Para se obter a máxima lucratividade na bovinocultura leiteira, a eficiência reprodutiva deve ser considerada, pois representa um importante fator de sucesso na exploração comercial. Para tanto, o acompanhamento reprodutivo da fêmea e do macho, assim como a observação dos fatores capazes de comprometer a produção e a reprodução devem ser objeto de especial atenção por parte do produtor. Nesse sentido, a intensificação dos sistemas de produção, caracterizada pela elevada lotação e pelo alto nível de produção, submete os animais a condições estressantes que tendem a diminuir a eficiência reprodutiva. Dessa forma, exige-se um gerenciamento eficaz de todo o processo produtivo para se obter rentabilidade no negócio. O monitoramento do rebanho só faz sentido caso sejam analisados os resultados para identificação dos pontos de estrangulamento e haja a proposição e a implementação de ações para correção dos mesmos. 4.5 Cálculo dos custos do programa de IATF e seu retorno econômico. Com todas as variáveis discutidas que estão inseridas no contexto da IATF em rebanhos leiteiros, bem como todos os benefícios que esta biotécnica oferece, O portal do agroconhecimento 183 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros resta-nos discutir os valores gastos para a implementação do programa e seu retorno econômico, principalmente em uma propriedade com problemas reprodutivos e produtivos Geralmente, 1 sessão de protocolo de IATF (com dispositivo intravaginal) por animal custa em torno de R$ 16,00 a 26,00, em média, podendo oscilar para mais ou para menos. A seguir, será mostrada a situação produtiva e reprodutiva da Fazenda Rico Caipira (Vila Velha/ES), em janeiro de 2006, bem como os resultados após a adoção da IATF no manejo reprodutivo desta propriedade leiteira. A Fazenda Rico Caipira e uma propriedade produtora de leite à pasto com o uso de animais mestiços (Girolando). O sistema de pastejo é do tipo rotacionado e os animais recebem suplementação planejada (concentrado, silagem de milho e suplemento mineral) de acordo com a produção de leite. Lembrando que a propriedade utiliza a IA convencional e monta natural controlada (repasse). Na Tabela está sumariado algumas informações produtivas e reprodutivas desta propriedade antes da adoção da IATF. Tabela 23: Situação produtiva e reprodutiva da Fazenda Rico Caipira (Vila Velha/ES) antes da adoção da IATF, em janeiro de 2006. Variáveis Situação inicial (antes da IATF) Meta Nº de animais em lactação 55 55 Média de produção de leite (kg)/animal/dia 17,4 17,4 Duração média (dias) da lactação/animal 295 295 Produção média total (kg)/animal/lactação 5.133 5.133 Intervalo de partos (dias) 485 395 Nº de inseminações/concepção 3,7 2 Preço do leite (R$) 0,80 0,80 184 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Projeção do benefício na melhoria da eficiência reprodutiva »» 485 (IP antes) - 395 (meta) = 90 dias »» 90 dias x 55 animais em lactação = 4.950 dias »» 4.950 dias / 395 (IP almejado) = 12,53 »» Ganha-se 12,53 intervalos de partos 12,53 lactações x 5.133 litros de leite = 64.316,49 litros de leite 64,316,49 x R$ 0,80 (preços do leite) = R$ 51,453,19 12,53 partos (6 bezerras) R$ 51.453,19 + R$ 3,600,00 = R$ 55,053,19 (lucro adicional) 4.5.1 Implantação do programa de IATF na Fazenda Rico Caipira (Vila Velha/ES), em janeiro de 2006. Observa-se na situação abaixo (Tabela 4.8) que os índices reprodutivos e produtivos não estão favoráveis ao produtor. Tendo em vista estes problemas, foi realizado um programa de manejo reprodutivo intensivo e efetivo na propriedade, por meio da reciclagem dos funcionários e exame ginecológicos periódicos (a cada 15 dias). Nos exames ginecológicos, avaliaram-se todas as fêmeas disponíveis para reprodução (vazias): novilhas e vacas cíclicas e/ou acíclicas; e vacas recém-paridas. A partir do diagnóstico do exame ginecológico, eram indicados tratamentos hormonais de acordo com o status de saúde reprodutiva (presença O portal do agroconhecimento 185 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros ou ausência de folículos, corpos lúteos, cistos etc.). Estes tratamentos hormonais consistiam desde a administração de Cloprostenol sódico na presença de corpo lúteo até a indução de atividade ovariana com protocolos de IATF. Tabela 24: Valores médios de eficiência reprodutiva antes e após o uso da IATF na Fazenda Rico Caipira (Vila Velha/ES), no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2011. Índices Situação antes da IATF (2006) Após o uso da IATF (2007) Após o uso da IATF (2011) Meta Nº de vacas em reprodução 55 72 110 120 Período de serviço (dias) 205 151 114,7 85 % de vacas gestantes até 90 dias 20,2 60,3 80 > 85 Intervalo de partos (dias) 485 431 394,7 365 Nº de inseminações/concepção 3,7 2,8 1,9 2 Produção de leite (kg)/ animal/dia 17,4 18,3 19,4 19,6 Duração da lactação (dias)/ animal 295 296 300 305 Produção (kg)/animal/ lactação 5.133 5.421 5848 6000 Preço do leite (R$) 0,80 0,80 0,80 0,80 A relação custo/benefício tornou-se positiva, visto que ao longo dos anos, a partir do uso da IATF (janeiro de 2006 a dezembro de 2011), o produtor teve um lucro adicional de R$ 117.708,54 durante os 6 anos de programa direcionado. Portanto, o lucro adicional foi de R$ 19.618,09 ao ano e de R$ 1.634,84 ao mês. Este lucro adicional pode ser interpretado como o que o produtor deixou de gastar ao mês. 186 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Relação Custo/Benefício »» Custos com os protocolos: 126 protocolos da IATF x R$ 19,20/protocolo = R$ 2.419,20 »» Benefícios: Redução do IP: 485 - 394,7 = 90,3 dias 90,3 dias x 110 animais = 9.933 / 394,7 de IP atual = 25,16 25,16 x 5848 (litros/lact) x 0,80 (R$/litro de leite) = R$ 117.708,54 4.6 Considerações finais Todo sistema de produção leva em consideração seus aspectos de custo e benefícios para a manutenção da viabilidade do negócio. Na IATF não é diferente. Cada etapa discutida neste curso levou em considerações fatores que podem interferir nos resultados finais do programa. Cabe ao técnico ou produtor em diminuir essas variáveis para o sucesso da atividade. Nada adianta de se utilizar o melhor protocolo se as exigências básicas de implantação do programa não foram atendidas na sua totalidade. A IATF é uma biotécnica, que quando bem empregada em todo o seu contexto, proporciona resultados fantásticos ao sistema de produção de leite. Se pudéssemos ter a facilidade de mostrar ao produtor que um bom manejo sanitário, nutricional e reprodutivo traria resultados consistentes ao seu negócio em poucos meses, a eficiência reprodutiva e produtiva de nosso país seria significativamente superior. Portanto, a adoção correta de tecnologias a baixo custo devem ser O portal do agroconhecimento 187 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros intensificadas a campo, no intuito de resgatar, para muitos, a qualidade de vida e a satisfação de se produzir com qualidade. Material Complementar .pdf SINCROSIN. Sincronizador de cio e agente luteolítico. capitulo-4-arquivo-1.pdf SINCROCIO. Ouro Fino Saúde Animal Ltda. capitulo-4-arquivo-2.pdf SINCRODIOL. Ouro Fino Saúde Animal Ltda. capitulo-4-arquivo-3.pdf SINCROFORTE. Ouro Fino Saúde Animal Ltda. capitulo-4-arquivo-4.pdf SINCROGEST. Ouro Fino Saúde Animal Ltda. capitulo-4-arquivo-5.pdf Dispositivo intravaginal para controle do cio em bovinos. capitulo-4-arquivo-6.pdf E.C.P. (Cipionato de Estradiol). capitulo-4-arquivo-7.pdf 188 IEPEC Capítulo 4 Relação custo/benefício da IATF em rebanhos leiteiros Vacas holandesas de alta produção. capitulo-4-arquivo-8.pdf Uso de gonadotrofina folículo estimulante para o auxílio do crescimento folicular final em vacas em anestro na IATF: FOLLTROPIN. capitulo-4-arquivo-9.pdf Use of lecirelin in dairy cows to improve the conception rate at first insemination. capitulo-4-arquivo-10.pdf Administração intramuscular em vacas, éguas e porcas. capitulo-4-arquivo-11.pdf Dê um PLU$$$$$ em sua IATF. capitulo-4-arquivo-12.pdf Primer, Manual técnico Brasil. capitulo-4-arquivo-13.pdf Prolise, Manual técnico Brasil. capitulo-4-arquivo-14.pdf Cálculo de Custo da IATF X Monta Natural. capitulo-4-arquivo-15.pdf Planilha de Custos x Benefícios da IATF. capitulo-4-arquivo-16.pdf O portal do agroconhecimento 189 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em Bovinos Leiteiros Currículo do Professor-autor Erick Fonseca de Castilho Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da Amazônia (2005), Mestre em Reprodução Animal pela Universidade Federal de Viçosa-UFV (2008), Doutor em Reprodução Animal pela UFV (2012), membro efetivo do GERA (Grupo de Estudos em Reprodução Animal – LBA/DVT/UFV) realizando atividades como palestras, treinamentos, produção científica e consultoria em Biotecnologia da Reprodução de ruminantes domésticos. Atualmente, presta consultoria em gestão pecuária, produção animal, Biotecnologia da Reprodução, Andrologia, Ginecologia, Obstetrícia e Ultrassonografia Reprodutiva de bovinos em várias propriedades do Espírito Santo. 190 IEPEC O Instituto de Estudos Pecuários é um portal que busca difundir o agroconhecimento, realizando cursos e palestras tanto presenciais quanto online. Mas este não é nosso único foco. Com o objetivo principal de levar conhecimento à comunidade do agronegócio, disponibilizamos conteúdos gratuitos, como notícias, artigos, entrevistas entre outras informações e ferramentas para o setor. Através dos cursos on-line, o IEPEC oferece a oportunidade de atualização constante aos participantes, fazendo com que atualizem e adquiram novos conhecimentos sem ter que gastar com deslocamento ou interromper suas atividades profissionais. w w w. i e p e c . c o m
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