A PAISAGEM DA COR Relação Cromática de Secundárias sobre a
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A PAISAGEM DA COR Relação Cromática de Secundárias sobre a
Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de Matiz Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Pintura. Yeda Lúcia Arouche Nunes Rio de Janeiro – 2013/2 Agradecimentos Meus agradecimentos à VIDA por conceder-me a oportunidade de aprendizado constante e pelo resgate, mesmo que tardio, de uma aspiração adormecida. A paisagem da cor OBJETIVO O objetivo desse trabalho é pesquisar a Relação Cromática das Secundárias, principalmente dos verdes e laranjas, agindo sobre a Dinâmica de Matiz, utilizando a paisagem como modelo. ....................................................................................... relações cromáticas verde e laranja, dinâmica de matiz. paisagem pequenos formatos “Não se trata de pintar a vida, trata-se de fazer viva a pintura.” (Cézanne) A Paisagem, a pintura Uma breve reflexão do que penso sobre o pintar. Pintar é uma atividade que transcorre sob um verdadeiro duelo entre o pensamento e a matéria. Enquanto isso... “Acontecimentos” influenciam, invariavelmente, as decisões, anulando qualquer formulação precedente. Com isso, é necessário uma relação constante entre o pintor e o quadro que continuamente pede soluções para numerosas relações. Vale, com isso, observar Paul Cézanne quando diz que a expressão do pintor se dá “por meio do desenho e da cor, suas sensações, suas percepções”. E continua... Pintores são “mais ou menos senhores” de seus modelos e de seus meios de expressão. Em seu fazer, eles devem “penetrar o que se tem diante de si e perseverar em se exprimir o mais logicamente possível”. A Paisagem, o tema “A natureza abunda de impressões colorísticas (...) tudo excita nosso pensamento e nosso reconhecimento.” (Paul Klee) O termo paisagem pode ser associa do “a visão de um lugar conhecido”, um pedaço de território que se vê. No ocidente surge forte a partir da laicização da Arte. Pelo Séc. XIII, a representação paisagística ganha fôlego na pintura flamenca pela influência protestante. Na França da Academia foi classificada como gênero menor, mas foi cantada ao ar livre à partir de Barbizon. A escolha da paisagem para dar suporte ao presente trabalho, veio pela ideia de explorar a riqueza cromática existente na natureza. A cor que está fartamente distribuída por toda parte aguça e torna-se um sedutor fundamento na tradução dos sentidos, emoções, impressões e expressões. Vale transcrever aqui uma anotação que sublinhei em um de meus cadernos de estudo no atelier de Pintura: “estudar pintura é conversar sobre a riqueza do visível”. E este trabalho buscará estudar o problema artístico com a consciência de que as leituras formais revelam a gênese da obra. A Paisagem, o formato Pintura de Gabinete Pequeno Formato “Pintura de gabinete” designa pequenas pinturas de cavalete feitas para serem vistas de perto. Invenção da Renascença, o uso do cavalete popularizou-se no século XVII, o grande século da pintura neerlandesa. Na Holanda surge o gosto por ocupar-se as paredes de residências com pinturas feitas sobre suportes de pequenos tamanhos: uma pintura de gênero, de interior. A expressão, considerada em sentido ampliado de "pintura de pequenas dimensões", pode ser aplicada a pinturas de qualquer época ou lugar, abrangendo retratos, naturezasmortas, paisagens, nus etc. VERMEER - GIRL WITH A FLUTE c. 1665-1670 - oil on panel (20 x 17.8 cm.) National Gallery, Washington D.C. A opção por desenvolver minhas pinturas em pequenos formatos, indo em sentido contrário ao gosto atual do mercado e da maioria dos pintores da nossa contemporaneidade se deve à um motivo academicamente importante: ao desejo de criar estranheza e debate de que tamanho não pode ser sinônimo de Pintura. A cor e a qualidade As teorias científicas da cor estão longe de atender as necessidades da paleta do pintor. Alguns pintores e pesquisadores apresentaram teorias mais afinadas com a Pintura: Runge, Itten, Goethe e Kandinsky, por exemplo. Dos elementos formais da pintura, a cor destaca-se. Ela possui qualidade, como define Paul Klee. Pode imprimir dimensões e formas como a linha, pesos visuais e luminosidades como o tom, e por seus atributos cromáticos revela ainda temperaturas e climas. O azul frio e o quente vermelho, quando representados na escala tonal, possuem quase o mesmo peso e as suas qualidades de temperatura desaparecem. Fonte da ilustração: Arte + Arte, http://www.marceloduprat.net A cor e a qualidade A cor funciona também sob um contexto de signos culturais e relativos ao tempo. Enquanto fenômeno fisiológico, está dependente das sensações perceptivas individuais. A cor está longe de possuir uma definição universal. Na Pintura a cor possui uma qualidade peculiar por sua capacidade de desprender-se da forma, misturar-se e criar propriedades plástico-abstratas. A cor e a qualidade O quadro “The Clearing” de Cézanne perde grande parte das qualidades de profundidade e temperatura e clima, em função de sua reprodução em escala de cinzas. Fonte da Ilustração Paul Cezanne - The complete works http://www.paul-cezanne.org Ainda a cor... Um dos esquemas sobre a cor mais afinados com a pintura vem do Balão Cromático de Paul Klee: Trata-se de uma representação tridimencional que organiza as cores do círculo cromático, apontando como estão relacionadas as questões das dinâmicas de matiz,iluminação e saturação. Ainda a cor... Sobre a dupla de secundárias verde e laranja e seus movimentos harmônicos pela Dimânica de Matiz. Ambas as cores possuem em comum o AMARELO, nosso ponto de partida. Ainda a cor... O básico do entendimento sobre a cor, origem de todo desdobramento: Harmonia de verdes e laranjas Uma certeza O primeiro aprendizado do estudante de Pintura é saber olhar procurando “ouvir” o que “falam” as obras dos mestres, além de conhecer o que eles disseram sobre o ofício. Toda uma teoria necessária é formulada por eles. “Para mim o ato de pintar é sempre mais importante do que a coisa pintada.” (Braque) “... tive a ocasião de aprofundar a questão da cor. No ano passado quase que só pintei flores, para habituar-me a usar o rosa, o verde, (...), o azul, o violeta, o amarelo, o laranja, um belo vermelho. Este verão; enquanto pintava paisagens (...), vi mais cores que antes” (Van Gogh) “É preciso tomar uma decisão, e é isto o que espero fazer e provavelmente será por intermédio da cor” (Van Gogh) “O desenho e a cor não são mais distintos, pintando desenha-se; mais a cor se harmoniza, mais o desenho se precisa (…). Realizada a cor em sua riqueza, atinge a forma sua plenitude” (Cézanne) “(...) exatidão na relação dos matizes cromáticos. Se estão corretamente justapostos, e estão todos ali, o quadro se modela por si só” (Cézanne) Análise 1 Tomei Cézanne como guia, pois ele versa intensamente sobre meu tema plástico: verdes e laranjas. Aqui verdes e laranjas em meio ao terra-desiena que nada mais é que a mistura dessas duas complementares. As cores parecem surgir desse siena. Análise 1 Estudo da paleta e desdobramentos de cor Gouache sobre papel Análise 1 Estudo da paleta e desdobramentos de cor Óleo sobre tela Análise 2 Em "A Bend In The Road", imagino que Cézanne tenha lançado cinzas-azulados escuros para desenhar, sobre um fundo claro – muito provavelmente branco. Determinados esses escuros, a estrutura, ele passa a distribuir: amarelos com azuis para seguir em direção aos verdes; amarelos com vermelhos encontrando os laranjas; e, azuis com vermelhos para violetas Análise 2 Análise 2 Análise 2 As cores complementares são dinâmicas e nesse quadro elas estão em toda a parte. Cézanne cria um ponto de estabilidade, para descanso do olhar, com um vermelho junto à azuis. Análise 2 Análise 3 Ideia Plástica Estudos iniciais Se durante muito tempo a paisagem não foi contemplada em minha produção, ela acontece à partir da necessidade de lidar com a cor de forma mais larga. Além disso, o dinamismo das formas e das linhas que é possível perceber na natureza, passaram a despertar minha atenção. Estudos iniciais Estudos iniciais Estudos iniciais Estudos iniciais Estudos iniciais Estudos iniciais Produção Aspectos gerais: Regência de amarelos; Paisagens em pequenos formatos; Relação de verdes e laranjas; frios e quentes Dinâmica de matiz; Nenhum compromisso com fidelidade à referências, transitando entre o real e o imaginário, buscando a “conversa” com o quadro; Pintura desdobrada por camadas sobre camadas. Produção 1 Produção 2 Produção 3 e 4 Produção 4, 6 e 7 Produção 8, 9 e 10 Produção 11e 12 Produção 13, 14, 15 e 16 Produção 17e 18 Conclusão Os dezoito quadros da série foram desenvolvidos sob a ideia plástica de “brincar” com os verdes e laranjas. Tomar cenas de vegetação sem qualquer complexidade humana, abstrair elementos e cores locais ou muitas vezes fazer nascer a paisagem da imaginação, sem estudos que predefinissem a cena. Deixar fluir ou fazer saltar da pintura tais cores tomou o caminho do escuro de onde se acentua pontos de alguma forma iluminados. A paleta situou-se mais abaixo do círculo central do Balão cromático. Sentiu-se falta do branco mais acentuado, usado não só para dessaturar a cor, mas para iluminá-la. Conclusão Com isso, posteriormente, foram feitos mais dois quadros com o objetivo de alcançar-se cenas iluminadas como um todo, sem perder as possibilidades plásticas até então alcançadas. Conclusão