Depoimento de Eliana Maria Carrijo Setti E
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Depoimento de Eliana Maria Carrijo Setti E
Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] Depoimento de Eliana Maria Carrijo Setti E- Eliana, bom dia, eu queria que você me falasse o seu nome completo, a sua data de nascimento e o local onde você nasceu. Eliana- Bom dia Carla, eu sou Eliana Maria Carrijo Setti, nasci em Uberlândia no dia 19 de outubro de 1950. E- Eliana, eu queria que você falasse um pouco da sua vida, da sua história, como eram seus pais, seus irmãos, a sua vida. Eliana- Bem, eu sou a filha caçula da família, eu sou a rapinha do tacho, como diz meu pai, e fui uma... tive uma infância muito feliz, aprendi no colo do papai e da mamãe, a amar a Deus, amar as pessoas, ser responsável, o sonho de papai e mamãe era ter as filhas, papai e mamãe tiveram seis filhas, só sobraram realmente quatro, e então o sonho deles era nos dá educação, então eu aprendi cedo a responsabilidade o compromisso com a vida e tive uma infância muito feliz no Colégio Tereza Valse, onde ele matriculou agente. Eu fui assim uma menina que gostava muito de teatro no Tereza Valse, gostava muito de participar, de participar de teatro, falar poesia, a minha vida de infância me remonta ao tempo da ... das Salesianas, e eu fui muito feliz, brincava no colégio, jogava ping-pong as tardes, de manhã agente estudava, e cresci nesse ambiente de felicidade, de alegria e de oração. Desde pequeninha ouvi falar de Dom Bosco, um homem que se fosse, tivesse no nosso tempo ele seria um grande empresário, e um homem de visão, um homem que colocava o Evangelho de um lado e a bola do outro na mão dos jovens e uma visão empresarial ao que hoje eu tenho, não na minha infância, então fui filha de Dom Bosco e Maria Mazarello, que era uma irmãzinha onde nasceu as irmãs salesianas, quis ir pro convento, mas, papai e mamãe disse, “você tá pronta para ir? Você gosta de short, gosta de nadar, andar de bicicleta” e eu chorei muito, e graças a Deus, meu pai e minha mãe me deu um tempo para pensar e refletir e vi que realmente eu não tinha vocação, minha vocação era ter filhos, então desde pequena, já a partir do momento que eu não pensei mais em uma vida religiosa eu pensei, sonhava com o príncipe encantado, eu tinha muita vontade de ter um príncipe encantado na minha vida, então era meu sonho, partiu ai então de ser amada e também amar, não adianta ser amada, então eu queria amar muito e ser muito amada, e ter filhos. Então a minha infância foi essa mistura de salesianas com uma família que rezava, uma família que gostava muito de esporte, papai e mamãe gostava muito de esporte, então agente começou assimilar toda essa educação familiar, gostando de gente, gostando de trabalho, gostando de esporte e assim eu fui crescendo aqui na cidade de Uberlândia e pensando já, saindo da minha infância, pensando já na juventude, comecei a participar de times de voleibol. Eu tinha, acho 10 para 11 anos, em Uberlândia, no UTC – Uberlândia Tênis Clube, me falaram que estavam inscrevendo crianças para jogar vôlei, adolescentes, então o professor Tales, que era o nosso professor de educação física no Colégio Tereza Valse, nos motivava muito ao esporte, e então eu fui procurar o UTC pra me inscrever no vôlei, e ai descobri um caminho realmente assim que me encantava, gostava muito de esporte, jogava muito vôlei, ai comecei a gostar também da natação, e comecei a enveredar Página 1 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] um cadinho de um esporte daqui, outro dali mas foquei muito tempo mais dentro do voleibol, e nós começamos a participar até de campeonatos, mais foi uma coisa que agora parte da juventude e vai parte do adulto, ((risos)). E- Eu queria que você falasse assim, na sua adolescência você praticou muito esporte, e ai isso influenciou na sua opção, na sua formação, como que foi na, depois na sua escola, na faculdade, como que foi isso? Eliana- Bem, saindo assim da adolescência né, no Colégio Tereza Valse, agente tinha, nos tempos de hoje, a oitava série, não tinha o segundo grau, nós tivemos que sair do Colégio Valse, em lágrimas, porque agente era apaixonada pela escola, pela educação, pelos professores, agente, eu tive uma infância assim, fui extremamente feliz naquele colégio, então eu tive que partir dele e fui para o Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, que era um colégio também voltado pra meninas, no meu tempo menino e menina não tinha num colégio de freira, então eu fui para o Colégio Nossa Senhora das Dores e já comecei a olhar um futuramente eu poderia ser professora, porque minhas irmãs mais velhas eram todas professoras, e agente acaba que se inspirando nos irmãos, na família, então eu fui fazer o Normal, no meu tempo nós chamava normalista, fazer o Normal, então eu fui pro colégio Nossa Senhora pra fazer o normal, e lá fiquei, fiz o vestibular, saindo, terminando o período do segundo grau, fiz vestibular pra Inglês e Português, gostava muito do Inglês, e fiz um ano, entrei na faculdade, continuando jogando voleibol, já participando no Colégio Nossa Senhora, fui para a faculdade de Anglo-Latina, se num me engano, e agente tinha esse desejo de falar inglês e meu sonho era ser professora de inglês, porque era inglês e português, então eu quero é ser professora de inglês, na época eu tinha muita facilidade com a língua e fiz um ano, quando eu soube que na cidade de Uberlândia viria, através da Universidade Federal, e viria a faculdade de educação física, como eu sempre gostei muito de esporte, tranquei a minha matrícula na faculdade de inglês/português, ... não me recordo quando foi, que ano que foi, mas enfim, fui para a faculdade de educação física, fui e fiquei lá, conclui a faculdade com muito prazer, gostava mesmo do esporte e me vi professora de educação física antes de terminar, quando nós tivemos uma oportunidade de fazer um curso do CASE em Goiânia, porque Minas Gerais não tinha faculdade de educação física até então, num tinha professores aqui em Uberlândia e o Estado pagaria professor para dar aula em Uberlândia desde que tivesse um curso preparatório, então nós fomos para Goiânia fazer um curso do CADES, foi um curso de quarenta e cinco dias, muito puxado e com o certificado eu comecei a dar aula de educação física, fazendo ainda na época, as aulas da faculdade de inglês/português, e então, eu vi que, quando eu soube que viria a faculdade, eu corri pra faculdade, tranquei minha matrícula e me formei professora de educação física. Fui assim uma professora plenamente feliz, inventava serviço pra mim, trabalhei no Colégio Tereza Valse, fui pra lá me apresentei como ex-aluna né, pedindo a oportunidade, o professor Tales também me convidou para entrar no lugar dele, ele me ofereceu todas as aulas, então conversei com as irmãs, comecei no Tereza Valse e fui muito feliz lá, eu fiz muitas, muitos grupos campeãs, muitas meninas campeãs, time de vôlei, de handebol, muitas taças, muitos troféus aquelas meninas conquistaram, eu nunca medi esforços pra chegar numa meta que eu queria, então eu queria Página 2 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] que aquelas meninas entrassem nas olimpíadas estudantis de Uberlândia pra ganhar troféu, não pra só participar, e eu trabalhava meus sábados e meus domingos quase os meus anos todos no Tereza Valse eu inventava serviço pra mim, eu punha aquelas meninas pra jogar, pra treinar, pra perder o medo de entrar num campeonato e no ano que eu sai que eu me casei em quatro de dezembro de 1976, naquele ano, eu sai assim, eu falo que Deus foi fantástico, todas as minhas alunas do Tereza Valse, meus grupos de vôlei e de handebol e nessa época também eu já estava dando aula no Estado, no José Inácio de Souza, escola estadual, lá eu trabalhava com os adultos, né, no noturno também diurno e também formei lá turma de vôlei e de handebol, foi meu ano de glória, 1976 eu sai com todos os times campeões, só um que pegou o segundo lugar, fechei com chave de ouro. E- Pois é, e ai, você fala o ano que você casou, mas no meio de tantas atividades, conta pra gente como que foi o encontro, o conhecer esse príncipe encantado. Eliana- ((risos)) Ai foi ótimo, por incrível que pareça eu conheci ele numa disputa aqui em Uberlândia, quando a Universidade Federal, tinha as olímpiadas, não a estudantil, mas a universitária, eu jogava voleibol pela faculdade de educação física, nadei pela educação física, fiz salto em altura, com esse tamanho ganhei o segundo lugar, e numa conversa com um amigo meu, José Wilson, eu estava na porta do DAGEMP, que era o diretório acadêmico da faculdade de engenharia, e quando eu fui lá conversar, “hah meu amigo, vamos vamos esse ano fazer assim uma aposta, quem é que vai ganhar o basquete, vai ser a educação física!” ele falou “Eliana, vai ser a engenharia!” eu falei “vamos apostar? uma caixinha de cerveja, pelo menos uma meia dúzia, heim”, todos dois pobres, meninos que estudavam e trabalhavam né, e agente não apostou grandes coisa, e ai estava ao lado dele um amigo, e ele me apresentou “esse é meu colega, é o Oswaldo, faz engenharia comigo, engenharia elétrica”, “oh como vai, tudo bem?” e ai no outro sábado eu fui pro DAGEMP, quando eu bati o olho longe, “ah o amigo do Zé Wilson, uai ele é bonitinho” e ele me viu e veio sorrindo pro meu lado e já me chamou pra dançar, meu coração começou a palpitar, a disparar e “nossa esse amigo do Zé Wilson é muito bonitinho”, ai conversamos a noite toda, brincamos, eu não esqueço de até alguns detalhes, que eu tava com um canudinho chupando, tomando guaraná, ai comecei a fazer pulseirinha pra colocar no meu braço, ai ele falou assim “ah, porque cê tá querendo mexer com isso ai, essa pulseira ai ...” e segurou na minha mão, nossa eu achei bom demais, ai ele me levou até em casa, ai eu soltei a mão dele, não era namorada não era nada, imagina que eu ia deixar ele segurar em mim sem ser nada, me levou em casa, ah mas meu coração já me dizia, era aquele o homem da minha vida. E assim foi. No outro ... passou mais uma semana, tinha umas tais barraquinhas em Uberlândia, na Praça Tubal Vilela, estava assim as barraquinhas, eu falei “nossa será que eu vou ver o amigo do Zé Wilson, aquele Oswaldo Setti?” e eu fui pra Praça Tubal Vilela, vamos dizer, paquerar, porque moçada o que faz à noite? É achar um ... alguém pra você se encantar, pelo menos eu gostava muito de namorar, gostava, achava legal, gostoso, prazeroso, afinal de contas né? a vida da gente é feita de muitos amores, e então eu estava nas barraquinhas de um lado, quando eu vi, o amigo do Zé Wilson passando do lado de lá, claro né? Eu provoquei o encontro, ele vinha de um lado eu fui de frente até... “oi como vai? Tudo bom?” E ai começamos a conversar, ele falou assim Página 3 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] pra mim “o que que você vai fazer hoje?” eu “Uai, primeiro eu preciso encontrar a minha irmã”, eu sempre sai com as minhas irmãs e algumas amigas e eu não sei porque cargas d’água eu desencontrei com a Cleusa, minha irmã, eu fui “eu tô procurando a minha irmã, preciso encontra-la!”, ele falou “você quer que eu te ajude?” eu falei “ok, vamos!” e começamos a andar na Afonso Pena ((avenida)) pra lá e pra cá, até ele falou “olha, larga, esquece a sua irmã”, e ai ficamos batendo papo, saímos da praça e ficamos batendo papo e fomos até em casa, quando chegou na porta de casa ele falou assim “e então, eh ... quando agente vai se ver de novo?” eu falei assim “agora você sabe onde eu moro, se você quer me ver, aqui que eu moro”, ai já marcamos pro outro sábado, no outro sábado quando ele bate na porta de casa, nem mal abri ele juup entrou dentro da minha casa, ai ele entrou de vez na minha vida né? E fui muito apaixonada e sou apaixonada até hoje por ele, foi o presente do céu, rezei muito viu, pedi muito a Deus uma pessoa que me amasse e que eu amasse, e eu falo assim que realmente um presente, porque o amor, essa troca de amor é a coisa mais abençoada, entre amigos, entre filhos, entre marido e mulher é bom demais Carla, eu me sinto assim feliz, hoje tô com trinta e quatro anos de vida a dois eu, eu só posso agradecer Deus essa oportunidade de ter encontrado o meu príncipe ((risos)). E- Então como que foi o dia dessa celebração, o dia do casamento, como que vieram os filhos? Eliana- Hanhan, bom, quando agente marcou o dia do casamento, eh, primeiro antes de marcar o casamento, ele formou e foi embora de Uberlândia, ai eu fiquei assim, há uma insegurança quando esse namoro, né, há um distanciamento de quilômetros, ele foi pra Sorocaba, a cidade de onde ele nasceu, onde ele voltou pra trabalhar, ele arrumou um emprego pertinho de Sorocaba, então eu falei, “nossa e agora, vai ser assim, distância né?” e eram dois anos de namoro, tudo pode não dar certo, então agente começou a se encontrar a cada quinze em quinze dias, e um belo dia ele tava, me ligou muito feliz, que ele não iria me encontrar naquele próximo final de semana, eu falei “uai meu amor, porque?” ele falou “por que eu ... papai comprou um carro, tinha um comprado um carro pra mim, agente ... o carro tava muito velho, agora eu tô comprando um carro com meu próprio dinheiro” eu falei “que maravilha, que ótimo, então ocê não vem me ver só por causa do carro?” ele falou “é, eu tenho isso...” eu falei “há, quer dizer que o carro vale mais do que eu?” então eu comecei a apertar o Oswaldo daqui e dali, ai um belo dia eu falei “escuta, é ... tô vendo que a engenharia, o emprego, o carro, tá maior que eu, eu acho que eu valho mais que tudo isso!”, ai ele veio “o que que você quer?”, eu falei “uai, eu penso em casar, cê nem fala em noivado!”, ele falou assim, “então eu posso te pedir a mão em casamento?” e assim foi pelo telefone. Ai, no outro final de semana, de surpresa, ele já trouxe a aliança, sem saber se eu gostava daquela, se era grossa, se era fina, ai ele chamou papai e mamãe e falou “o, quero casar com a Eliana”, e fez assim o pedido oficial e nós fomos jantar, um jantarzinho bem gostoso e ali agente colocou a aliança, e naquele dia mesmo agente já quis marcar o casamento, acho que eu fiquei noiva seis meses, mais ou menos e ai nós marcamos quatro de dezembro de 1976 e nesse dia acho que meu pai pensou que eu não ia casar, porque, tava previsto do Oswaldo chegar entre onze horas e meio-dia, minha mãe fez uma comida, uma mesa maravilhosa esperando toda a Página 4 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] família do Oswaldo pra almoçar conosco, meio-dia, meio-dia e meio, uma hora, uma e meia, duas horas, duas e meia, e meu pai -- eu nunca vi meu pai preocupado com nada na vida, ele sempre foi um homem muito sereno – quando eu vi meu pai, debruçou na janela e começou a olhar pra um lado, pra outro, pra ver se o Oswaldo não vinha mais, eu falei “papai”, já chorando, “ai, papai será que o padre nos casa semana que vem?”, “e se o Oswaldo não chegar?”, ai eu vi que meu pai tava amarelando, ai quando deu três e quinze, o Oswaldo chega, eles perderam o horário e com a graça de Deus, foi assim tudo muito corrido pra a família dele, mas, ai, fomos pro nosso casamento, uma celebração muito linda, eu estava com todas as minhas alunas do Tereza Valsê, eh assim com toda presença, algumas freirinhas, as alunas ali, me recebendo amorosamente, e aliás elas tinham feito uma despedida no Tereza Valsê, que eu também não posso, esse ... esse momento eu não esqueço Carla, foi um momento de surpresa pra mim, elas reuniram todo o colégio e celebraram uma missa, eu não sabia, me chamaram que eu tinha que ir pra essa missa, era a missa de final de ano, o que que aconteceu nessa missa, toda a liturgia tinha o nome da Eliana, os cantos, quando eu percebi tudo aquilo, Meu Deus do céu, ai terminou a celebração foi o momento das poesias, as alunas e irmãs fizeram poesias de gratidão pelos meus sete anos de professora , de dedicação, me levaram presente, me passaram a palavra pra falar, sou muito falante, não tenho medo de público, mas aquela hora, não tinha, as lágrimas e a emoção foi muito forte e me marcou muito aquele momento de perceber que o ser humano é grato e agente não percebe, foi uma emoção muito grande que até hoje me emociona quando eu falo naquele momento de gratidão de carinho, sabe foi assim, todo, todo colocaram meu nome e eu não tinha percebido aquela intensidade de amor, então quando eu vi as irmãs, as meninas, as minhas jogadoras, no meu casamento eu fique assim extremamente feliz, então foi assim momentos de emoção, de alegria, meu príncipe encantado, ai que impacto no meu casamento, até hoje -- todo mundo sabe dessa história -- que eu não gostei da roupa do noivo, quando eu cheguei, que abriram a porta, que eu vi a roupa do noivo, meu Deus que paletó horroroso, era um paletó xadrez, marrom, com certeza usava na hora, na época, mas quando eu olhei, “não acredito, não acredito”, a única coisa que eu não gostei ((risos)), foi ver o Oswaldo com um paletó xadrez, o maior impacto, mas afinal, tava querendo é casar com aquele príncipe encantado da minha vida, né, mas esse paletó xadrez ficou na minha história, ô paletozinho feio. E ele trabalhava na Barber Greene, fiquei com muito medo de casar, assim, ir para, depois do casamento, nós íamos morar em Salto de Itú, que é uma cidade bem pequenininha, e que só, dentro da fábrica, que só tinha pó o dia inteiro nas casas, ele foi me levar pra conhecer, a casa que possivelmente nós ia morar, os engenheiros moravam nesta vila dentro da fábrica chamada Eucatex, quando eu olhei aquelas casa tudo coberta de pano por causa do pozinho da fábrica, eu entrei muda e sai calada, ele fez uma pergunta pra mim quinze dias antes do nosso casamento, ou vinte dias, alguma coisa assim, ele falou assim “e ai gostou?”, eu fiquei calada, ele falou “você não me respondeu!”, eu falei “cê quer que eu responda de verdade?”, “há, eu venho, porque onde cê estiver estarei eu, mas eu não gostaria de jeito nenhum de está morando aqui, mas se é este teu emprego, virei”, por felicidade minha, ..., acredito eu que também mais uma mão de Deus, né, ele começou buscar nos jornais de São Paulo, emprego, e ai ele viu uma oportunidade na Barber Greene, a Barber Greene ficava na cidade de Página 5 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] Guarulhos e ele fez teste lá e passou nesse teste e foi empregado, então quando nós casamos ele tinha uma semana só de emprego, eu falei “e agora, agente casa, não tem jeito né?”, mas a Barber Greene foi assim fantástica, agente chamava ela de Mother Greene, era uma mãe, e ela deu ao Oswaldo uma semana e nós ficamos, nós fomos pra Ubatuba, ((tossiu)) eu não conhecia ((tossiu)) -- desculpa -- a cidade de Ubatuba, linda, um mar maravilhoso, uma região maravilhosa do Brasil, umas praias fantásticas, então eu passei a lua de mel em Ubatuba, uma semana, e acredito eu, que até hoje, quando eu volto em Ubatuba eu recordo esse momento de lua de mel, porque eu não ia muito em praia e quando eu ia em praia, eu ia no Rio de Janeiro, quando agente era jovem, nós mineiros éramos apaixonados pelo Rio de Janeiro, aliás até hoje o Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa, então quando eu ia para as praias do Brasil, era no Rio, eu não conhecia praia em São Paulo, então eu fui para Ubatuba e lá nós curtimos a nossa lua de mel e lá nós ficamos quinze anos em Guarulhos e na cidade de Guarulhos eu me sentia um pouco sem nada pra fazer, recém casada, eh, sentia saudade de mamãe, chorava todo dia, - chorava, chorava “eu quero a minha mãe!”--, sentia falta das alunas, das atividades, do meu esporte que eu praticava, eu me sentia muito ilhada, sozinha, num apartamento grande, no centro da cidade, -- os paulistas são muito fechados --, mas é um povo maravilhoso na hora que você os conhece, cê começa a penetrar na vida deles e eu sempre gostei de falar “oi” pra todo mundo, “bom dia”, “boa tarde”, abraçar todo mundo, sempre fui muito espontânea, e nisso, meu ser é assim. E eu falei “gente, nesse apartamento que agente mora, nunca vi nem minha vizinha, nem sei, num conheço nada, não vejo ninguém.” O prédio era, quase, acredito eu que era seminovo, um ano, dois anos de construção, tinha poucos moradores. Sozinha, recém-casada, sem emprego, sem nada e sem vizinho, nem pra falar um “bom dia”, ai eu falei “não, eu tenho que conhecer essa vizinha”. E um dia eu perguntei ao porteiro, “Quem mora ao meu lado?”, ele disse “É um casal, é um pessoal assim de mais idade, não velhos, mas de mais idade, é assim, assim” e eu falei “um dia, qual o horário mais ou menos que eles chegam?”, “Tal”, então eu vou descer, “cê me apresenta eles, cê me mostra quem é ?”, “sim”, e assim foi, um dia eu desci no horário previsto que eles subiam e ela entrou no elevador nem me cumprimentou, com a cara fechada, e eu disse assim pra ela “bom dia minha vizinha, tudo bem?” e ela balançou a cabeça e mais nada. Assim com aquela, singeleza, educada, balançou a cabeça, distancia nada de toques, nada de pegar na mão e nada de sorriso, eu falei “eu conquisto essa vizinha”, como boa mineira que eu fui lá eu fazer? Fui fazer pão de queijo. Fiz um pão de queijo assim bem gostoso, e levei ele bem quentinho e bati na porta, “oi vizinha, tudo bom Olga?”, “eu vim te trazer uma comida que o mineiro gosta muito, que em Minas Gerais agente sempre serve num cafezinho da manhã, num cafezinho da tarde, eu vim trazer um pãozinho de queijo”, ai eu conquistei a minha vizinha, ai começamos a conversar, fizemos boa amizade, ai ela abriu a porta de Garulhos para mim, ela me apresentou toda a família dela. É a família Francine, se não me engano, uma família -- até vamos dizer -- de posse dentro da cidade e eles tinham o habito de tomar o café da tarde, juntos, e eles começaram a me levar pra dentro dessa família então eu comecei a ter alguma relação com essa família, ai me senti acolhida, que eu estava me sentindo muito só, gosto muito de gente, então tava me sentido muito, muito só, em relação a uma cidade, embora muito feliz com o meu marido, mas eu precisava de mais gente em volta. E ai eu comecei a minha vida dentro da cidade de Página 6 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] Guarulhos, até que um dia eu mudei daquele apartamento, porque nós fomos pra Foz do Iguaçu, eh ... Oswaldo, quando ele entrou na Barber Greene, ele, quando ele fez o teste ele já sabia que depois de três meses, de Barber Greene, ele estaria indo pra trabalhar na usina de Itaipu que estava iniciando, na cidade de Foz de Iguaçu, e fomos lá, depois de uns quatro, cinco, seis meses de casado, demorou um pouquinho, nós fechamos o apartamento, porque eram só três meses, na cidade de Foz do Iguaçu, e fomos pra Foz do Iguaçu, ficamos por lá, Oswaldo ficou oito meses, eu fiquei, acho, Oswaldo ficou acho que sete meses, se não me engano, eu fiquei seis meses, porque eu engravidei lá e eu já vim com o meu primeiro filhotinho na barriga, Eduardo Augusto né, e quando eu sai de lá, nós chegamos em Guarulhos, nós tiramos as coisas do apartamento, fizemos uma economia, fomos guardando dinheiro, porque o trabalho do Oswaldo, eles davam casa, então agente morou num hotel, Hotel Salvatti, que foi muito gostoso morar lá dentro, conheci todo mundo, todos os cozinheiros, metre, as comida que eu comi na época da gravidez, eu não aguentava mais aquela comida, vamos dizer pratos a La Carte, eu falei “eu quero comer arroz, feijão, carne moída, batatinha, chuchu”, até coisa que eu não gostava eu tava com vontade de comer. E, um dia o metre falou “Eliana, porque a senhora não pede um prato, todo dia a senhora tem direito de pedir um prato especial, fique a vontade, e ai eu fui lá na cozinha, e o cozinheiro falou “fique a vontade, faça o pedido que a senhora quiser”, ai eu fui obrigada a comer um tal de fígado, né, mulher gravida, ai eu sobe que eles gostavam, eu comprava, por exemplo, eu tinha que comer 300 gramas, eu comprava um quilo e meio porque os cozinheiros também gostavam, então eu vivia, tive essa convivência no Hotel Salvatti, muito gostoso, até um dia que eu tava, “hum que vontade de comer aquela comida mais caseira ainda”, e eu tava na piscina do hotel, lá eu arrumei emprego vui, colégio das irmãs, ficar o dia inteiro dentro do hotel também não dá né gente, eu lia pilhas e pilhas, um tempo que eu lia muito, foi muito bom em termos de leitura, eu li muitos livros, mas chegou uma hora eu num guentei, então eu procurei saber o que que tinha a cidade, tinha um clube que agente podia usar, porque tinha convênio com a usina de Itaipu, então eu tinha um clube, eu jogava voleibol, joguei tênis, jogava tênis e descobri um colégio de freiras, perto do hotel Salvatti, e ai eu fui lá me apresentar pra ver se tinha aula de educação física, e as irmãs “nós não temos, nós temos préescola aqui que precisa”, eu falei “irmã, nunca trabalhei com pré-escola”, ela falou “não, mas você dá aula de educação física, vai dar certo”, e eu descobri um novo trabalho, trabalhei com essas irmãs, com as criança, aprendi a lidar com essa criança pequena, então foi um período assim que eu mesclei, diversão, trabalho, hotel e foi muito gostoso, agente fez bastante amizade, eram, tinham oito ou dez -- já não recordo mais -- de casais, recém casados, como nós, então agente se agrupou, onde ia um, iam todos. Agente ai comer em Argentina, agente ia comer, no, ali no Paraguai, porque Foz do Iguaçu faz fronteira, então eu aprendi tomar belos vinhos por lá, e assim agente viveu nesses trinta e quatro anos pra trás, inicio da nossa historia foi nessa Foz do Iguaçu, até que eu voltei pra essa Guarulhos, onde eu dei continuidade na minha vida, e lá eu economizei, porque o hotel era pago pela Barber Greene então agente foi economizando, quando voltamos, agente entrou num financiamento, na época era o BNH, era o sistema de habitação e nós começamos a pensar e compramos um sobrado, e nesse sobrado agente ficou alguns anos até que nós sonhamos, eh, ter a nossa casa própria, agente sonhava, Página 7 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] idealizamos uma casa e ficando em Guarulhos, um belo dia, uma vizinha, já deste lugar onde eu vivia, esqueci o nome dela, -- hoje ela tá no céu, já há alguns anos atrás soube que ela faleceu -- ela bateu na minha porta, ela se apresentou, eu não conhecia aquela vizinha, era de uma rua atrás, e ela veio convidar Oswaldo e Eliana pra fazer o encontro de casais com Cristo, ai ela me perguntou se eu era católica, de qual comunidade religiosa, eu falei “eu sou católica”, e ela falou assim “que tal você vir fazer o encontro de casais com Cristo?”, eu falei “olha, eu acho que não, muito difícil, eu sou sozinha aqui, eu já tenho filho”, -- já tinha tido o Eduardo Augusto – ai ela falou assim “então deixamos pra próxima vez”, ai na segunda vez essa vizinha chamou, insistiu e ai eu chamei mamãe e papai, mamãe saiu de Uberlândia foi pra Guarulhos, pra ficar com Eduardo Augusto. Nesse encontro de casais com Cristo, eu e o Oswaldo nos identificamos, eu acho que foi um encontro profundo que agente teve com Jesus Cristo, e eu conhecia Jesus toda vida, da minha vida, eu escutei falar no colo de papai, de mamãe, de colégio de freira, mas foi um encontro pessoal, eu descobri um Jesus Cristo assim presente na vida da família, na vida dos casais, na vida das crianças, me apaixonei, me encantei com Ele, com a proposta Dele, e vim de berço, mas era o momento da minha maturidade, já de adulta de uma fé mais amadurecida, e depois daquele encontro eu falei pro Oswaldo “eu vou tirar um tempo da minha vida pra ajudar nesta comunidade religiosa”, porque quando era menina eu tinha sido catequista porque eu quis, eu preparei primos pra fazer a primeira comunhão, sem saber de nada, se podia ou num podia, eu fiz isso. Então eu acho que aquela ..., a evangelização estava dentro do meu ser, eu falei “vou lá me apresentar pra ser catequista” e fui, bati na porta lá da igreja Santa Mena, me receberam assim com muita alegria, ainda mais que eu tinha acabado de fazer o encontro de casais, eu falei “olha eu estou aqui me colocando a disposição se vocês precisarem de uma catequista”, ela falou assim “pra criança ...”, eu falei “de jeito nenhum, se eu pegar a criança eu vou fazer assim ó tchum, eu tenho um menino de dois anos, já não tem tempo, me exige muito. Não quero!”, ela falou “que tal jovem?”, eu falei “opa, legal”. Jovem eu gosto, porque o jovem é sonhador e o jovem tem que ser revolucionário, ele tem que pensar na transformação do mundo e eu gosto disso. E comecei, eh, com um grupo de jovens e foi muito gostoso, foi prazeroso, e nesses anos de catequista na Santa Mena, eu fui conhecendo uma realidade do empobrecimento, da cidade São Paulo, o entorno dela, tem muitos pobres, mas eu não conhecia a realidade de Guarulhos, quando eu tive a primeira empregada, uma das primeiras empregadas que morava num lugar, num barranco muito grande onde lá embaixo era pura favela e com aquela menina batendo na minha porta, começou a trabalhar, eu falei “eu quero conhecer onde você vive”, -- São Paulo nunca me meteu medo --, tive várias pessoas que trabalharam comigo lá, nunca tive problema e quando ela falou que ela morava lá, comentado com as minhas amigas, que eu fiz um ano de teatro, com minhas amigas, onde os meus filhos estudavam, que era a Oca do Curumim, elas falaram “Eliana você não tem medo não?” eu falei “de jeito nenhum”, eu fui lá conhecer a aquela realidade dela, comecei a me tornar mais sensível por aquelas famílias empobrecidas, e como era minha empregada, falei “que direito eu tenho de ter geladeira, eu tenho carro, eu tenho isso e ela não tem nada”, ai eu comecei a ajudar essa minha empregada, eu quis, comprei uma geladeira, agente foi melhorando a vida dela, eu falei “tá na hora de você mudar disso aqui, num é um lugar legal”, ela disse “Eliana, já penso nisso há muitos anos, eu tô Página 8 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] pensando em sair daqui”, eu falei “pensa mesmo”, e ela saiu, ela foi para uma outra casinha, simples, humilde e agente ajudou. Porque quando eu falo agente é porque eu já estava com os grupos de casais, ai eu comecei a envolver os casais nessa cooperação dessa menina e mais outro, mais outro, até que um dia uma amiga, de grupo de casais, grupos de oração, me ligou “Eliana, aconteceu o maior desastre, a maior desgraça aqui atrás da minha casa, falei “fala Rosa, o que é que aconteceu?”, “um gás explodiu, tem gente, tem morte, tá a maior confusão”, eu falei “tô indo”, e puff, desliguei o telefone e corri. Quando eu cheguei lá a Rosa me levou na vizinha dela, gente chorando, e eu simplesmente -- eu acho que coisa que Deus nos permite fazer e nos prepara pra isso -- quando eu vi eu catei a mulher e os filhos e levei tudo pra minha casa, porque ali num tinha, não era ambiente mais pra ficar, num tinha onde ficar, eles tava rolando um gás e alguém acendeu o interruptor, ligou a luz, tupp, explodiu aquele dois por dois que eles morava, foi pros ares, morreu menino, o marido foi queimado todo, tinha ido pra São Paulo, ficou assim muito e muitos meses em São Paulo, extremamente queimado, onde eles colocavam até aros pro lençol não tocar no corpo dele, jogavam por cima, e eu fiquei com essa família na minha casa três meses, mãe e quatro filhos e eu envolvi os casais do nosso grupo, falei “gente tá na hora da gente fazer alguma coisa de fato pra essa família”, então agente revezava grupos de mulheres que davam banho nela, porque ela se queimou muito, as crianças que foram lá pra casa, com a graça de Deus, nenhuma queimou. Teve morte de primo, mas os filhos, dessa senhora, que eu me esqueci o nome dela agora, ele, os filhos não se queimaram, mas ela se queimou, que nós começamos a cuidar dessa mulher e ficamos três meses com ela lá em casa, ai eu falei “gente essa mulher, já vai ,o marido vai sair do hospital daqui a um mês, quatro meses, ou cinco, tá previsto e onde eles vão?” ai eu virei pra Rosa, “Rosa, será que eles não tem um terreno na cidade de Guarulhos não?”, “Pra que Eliana?”, “Pra gente construir uma casa!”, ela falou “Você é louca?”, eu falei “Não, louca não, nós somos capazes”, e a Rosa foi atrás e descobriu que eles tinham um terreno, eu falei “pronto, nós vamos fazer essa casa”, com um mês e meio a casa tava em pé. Eu ligava para todos os grupos, nesta, nós fizemos um mutirão todo sábado e domingo de um mês e meio, tinha ali pedreiro, tinha médico, tinha dentista, que o nosso grupo era assim heterogêneo, tinha médico, tinha engenheiro, como o Oswaldo, tinha dentista, tinha pedreiro, um chamando o outro, tinha cento e treze homens, ai eu ligava “ó, fulano esse final de semana é seu não pode...”, eu mantinha contato com todos eles e falava pras mulheres “tal hora eu tô passando, você me faz um frango, outro faz o feijão, outro faz isso” e eu pegava uma Caravan, enchia de comida e sentava com homens debaixo de uma grande arvore que tinha ao lado da casa e foi assim, com um mês e meio essa casa tava em pé, eu olhei pra casa “e agora? Não tem uma cadeira pra essa família sentar”, e ai nós fomos, eu falei “Jesus e agora como é que faz?”, e a Ludmila que era de um grupo de casal, o marido dela era dentista e ela tinha perdido a mãe há cinco anos e a casa fechada, num sabia, os irmãos não sabia o que fazer e ela vendo, ela junto, ela nunca nos contou nada disso nos grupos de oração, ela vendo que eu falei “gente do céu agora nós vamos fazer uma outra peleja, construímos a casa, vamos agora nós vamos pedir, um dá uma cadeira, o outro dá a mesa, vamos tentar colocar os móveis, que a mulher perdeu tudo”, não tinha nada né. Morava uma família num dois por dois numa beliche, seis pessoas dormindo em uma beliche de solteiro, não tinha cama de casal, era cama, um fogãozinho, um Página 9 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] tanque do lado de fora mais nada, ((tossiu)) ela falou “uai Eliana vou falar com meus irmãos, se eles doam alguma coisa da casa da mamãe que tá fechada”, ai a resposta é que era pra levar tudo, nós levamos tudo, tiramos os móveis, geladeira, cama, tudo nós deixamos a casa totalmente mobiliada, e ai nós demos um banho de loja nela, eu falei “agora você vai receber seu marido bonita”, nós maquiamos a mulher, colocamos umas roupinhas novas pra ela, enfim, deixamos aquela família, com a graça de Deus, na desgraça eles tiveram uma grande graça, uma casa, um zelo, um cuidado e ai continua a nossa vida, nossa lida em São Paulo, eu também quis trabalhar, eu abri uma fábrica de pão de queijo, pão de queijo mineiro, e comecei a vender em São Paulo, todos os lugares me compravam muito bem eu tinha três pessoas que amassavam no braço, tinha duas pessoas que vendiam na rua ele pronto e eu ia nas pequenas empresas, fui uma vez no Carrefour, ele falou que eu teria que ter nota fiscal, teria que fazer um teste e se fosse aprovado poderia entrar no mercado, né, no supermercado deles e ai quando eu fui pra São Paulo, eh::, uma -- não sei se era Consolação – um barzinho de esquina, eles amaram, eles começaram a me pedir tonelada, eu falei “não dou conta”, ai eu resolvi, depois de um ano com tudo isso, eu tive que fazer uma , eu tive, eu fiz uma reflexão, ou eu amplio ou eu fecho, ai eu engravidei, soprei a velinha de um ano e encerrei a fábrica de pão de queijo, mas lá eu vendi roupa, lá eu vendi joia, no tempo que se vendia muita joia, e assim foi a nossa vida lá, joguei voleibol, participei de grandes campeonatos paulista de sêniores, de senhoras, conheci grandes jogadoras de voleibol, joguei muito tempo, era um time maravilhoso, era gostoso era prazeroso e os filhos foram crescendo, crescendo a história foi continuando ... E- Quantos filhos vocês tem? Eliana- Nós temos três filhos, o Eduardo Augusto que nasceu em 1978, depois o Tiago em 1980 e a Marcela em 1982, então nós tivemos os três meninos por lá e os meninos, o Oswaldo viajando demais -- Oswaldo quando entrou na Barber Greene, ele entrou para uma atividade numa determinada função -- e com o passar dos anos, sete ou oito anos, se eu não me engano, o Moses, eu nunca esqueço, o Moses falou “o Oswaldo tem pique pra vendedor”, ele descobriu que o Oswaldo era realmente, tinha alma de vendedor, e um dia ele nos chamou para comer em São Paulo, num restaurante muito gostoso e lá ele fez o convite pro Oswaldo, assumir a gerencia geral da exportação, porque a Barber Greene, na época, sessenta por cento eh:: dos produtos vendidos dela era mais pra fora do Brasil, na América Latina, do que próprio Brasil, ai o Oswaldo ficou oito anos na área de exportação e ele parecia um ..., eu falo que ele era barata de avião, ele vivia mais nos ares lá dentro do que na terra, as vezes ele ficava uma semana pra fora, uma semana aqui, voltava e um dia ele percebeu que os filhos estavam crescendo e ele não estava tendo mais essa convivência familiar e ai ele falou, “bem, vamo embora daqui?”, “eu vou, pra onde cê for, até pra debaixo da ponte eu vou, pronde cê quer ir?”, “vamos voltar pra sua cidade, vamos pra Uberlândia?” eu falei “vamo embora, que que cê pretende fazer lá amor?”, “há, eu vou abrir um material de construção” eu falei “cê é louco? Ai eu não vou, pensa primeiro”, “porque amor?”, falei “cê não tem experiência, cê vai ficar em mão de quem, de funcionário que entende, ou de alguma pessoa que cê vai contratar, Página 10 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] eu acho que o administrador ele tem que entender profundamente do que faz, cê é engenheiro, pensa alguma coisa na tua área na cidade de Uberlândia”. Ai, eu me lembro direitinho que o Oswaldo na época tava muito apaixonado com informática, ele falou “já sei o que que eu vou fazer”, e nisso um amigo nosso, que ele era de Uberaba, nós nos conhecemos lá, a Regina e o Wiliam, nós nos conhecemos lá e ele chamou o Oswaldo pra abrir uma casa de material de construção, me chamaram para uma reunião, eu falei “eu vou mas não subo, porque eu não vou concordar com a opinião de vocês, e eu não quero ser , vamos dizer, uma pessoa negativa, que vai dizer pra vocês que não vai dar certo. Se vocês dois querem, cês são adultos, você engenheiro e você dentista, pensem, mas não vou”, “Eliana, cê não vai na reunião?”, eu falei “não, porque eu acho que cada um tem uma especialização e eu acredito que vai ser difícil pra vocês, penso eu”. Não fui na reunião, fiquei com a Regina embaixo, batendo bapo, tomando café, com criança, conversando, meus filhos já tavam grande, Marcela com 9 anos e Eduardo Augusto com 14, 13 pra 14, e ai foi só aquela reunião, ai eles conversaram, conversaram, até um dia o Wiliam “tô indo embora pra Uberlândia”, falei “Jura, nós também, o que você vai fazer?”, “vou abrir um consultório”, ele se especializou dentro da odontologia, ele fez outras especializações e ele vinha pra abrir um consultório em Uberlândia outro em Catalão que é pertinho de Uberlândia e o Oswaldo veio pra abrir uma empresa chamada Compusoft, uma pequena porta chamada Compusoft e essa Compusoft existe até hoje. Nós abrimos a Compusoft em outubro de 91 e em 29 de janeiro de 1992 nós viemos com menino, com cachorro, com tudo, pra Uberlândia, de mala e cuia, como diz o mineiro, de mala e cuia, nós viemos pra Uberlândia para experimentar esse mercado, né, viemos assim corajosamente, arriscando tudo dar certo ou não dar certo, ele cansado de viajar, para ... viajava demais, né, fazia muito a América Latina e então ele comentou comigo “bem, vamos pensar agora, os meninos estão grandes, vamos trabalhar comigo?”, eu falei “uai, vou, vamos embora” e ai eu comecei a trabalhar com o Oswaldo administrando a Compusoft, com muito pouco conhecimento, posso dizer nenhum, nunca trabalhei na área administrativa e comecei a ajudalo, comecei a fazer compras pra Compusoft, entendia nada de informática, quando ele me falou que eu tinha que comprar hardware, eu falei “que que é hardware?”, eu aprendi com os vendedores, eu falava “moço eu preciso comprar um negocio, que que é isso?”, e fui aprendendo, e aprendi Carla com a vida, entre lágrimas e também vitórias, eu aprendi meus vinte anos de Compusoft a administrar a empresa e agente nessa caminhada de Uberlândia, quando eu cheguei em janeiro, fevereiro, eu fui procurar a Catedral pra inscrever meus filhos na catequese, por que eu queria dar um caminho para meus filhos, uma religião que eu acreditava que poderia fazer bem a eles. Só o futuro a Deus pertence, mas nós, como queremos que o nosso filho aprende judô, inglês, português, quantos idiomas, que seja culto, que faça intercâmbio internacional, que domine ... porque eu não ia trabalhar na espiritualidade de meus filhos, se meu filho precisa ir no dentista, que não gosta, agente os levava, porque que eu não ia fazer isso para os meus filhos no campo espiritual que muito me fez bem, muito. Eh, eu procurei então a ..., lá na travessa Cristo Rei pra inscrever e quem me atendeu foi uma religiosa que fazia faculdade comigo, Inglês e Português, ela falou “oi Eliana, você sumiu de Uberlândia”, eu falei “quinze anos irmã, eu fiquei em São Paulo, na cidade de Guarulhos”, “que que você fez lá minha filha?”, eu falei “olha eu fiz encontro de casais, eu e Página 11 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] Oswaldo demos palestra pra noivos durante muitos anos, administração do lar, na questão financeira, questão de empregabilidade”, “quê mais?”, eu falei “eu fui catequista de jovens”, “e de criança?”, eu falei “não, eu trabalhei só com jovens de Crisma”, “Há tá bom”, inscreveu meus filhos e uma semana depois ela falou, ela me ligou “Eliana tenho aqui uma turma te esperando”, “o que irmã?”, “tenho um grupo de jovens do Crisma” e eu assim naquela hora eu agradeci a Deus, porque quando Oswaldo e eu saímos de Guarulhos agente tinha um envolvimento muito grande com essa comunidade religiosa, nós éramos coordenadores de sete grupos, porque o pároco, João Miasi, um italiano inteligentíssimo, tradutor literato mesmo de italiano/português, ele nos deu uma região onde nós morávamos de sete grupos pra agente encontrar os sete grupos de casais, então agente tinha assim uma profundidade já dentro de uma comunidade, coordenando vários grupos, eu falei “gente do céu ...”, falei com Deus “Senhor da vida, eu vou pra Uberlândia, uma cidade festeira, uma cidade alegre, possivelmente eu tenho medo de romper a minha relação com você, cuida de mim, me amarra de correntes, porque é muito fácil escapar de Você, Você é um Deus que não cobra nada, que tá sempre nos dando o livre arbítrio, e eu tenho certeza que eu vou voltar pro esporte em Uberlândia, que eu vou voltar pra o seio da minha família, eu tenho muito medo Senhor de eu perder essa, esse elo profundo de ligação onde hoje eu estou vivendo contigo, eu e o Oswaldo, não só eu sozinha, que eu sempre na minha vida, sempre quis estar com o Oswaldo em tudo, em tudo”, ai fiquei com esse grupo de jovens, eu e o Oswaldo ia à missa com meus filhos. Quando chegou em dezembro, daquele ano de 1992, eu percebia já na cidade um empobrecimento no entorno da cidade, na sua periferia, coisa que eu não tinha visto antes, há quinze anos atrás, quando eu morava em São Paulo não havia aquele empobrecimento na cidade, quando eu voltei pra Uberlândia, quinze anos depois, eu percebi uma periferia que não tinha e aquilo eu fui vendo analisando, e dezembro de 1992 eu estava com esse grupo de jovens preparando pro Crisma, se eles queriam seguir Jesus Cristo, o que que Jesus dizia, e ai os jovens, cada um na sua expressão, “uai, ele manda agente amar e conhecer o outro”, eu falei assim “é vontade de Deus esta diferença social na cidade de Uberlândia? Porque na cidade de Uberlândia tão famosa pela sua prosperidade, pela sua beleza, é próprio de Deus querer essa diferença social?”, os jovens falou “é claro que não”, eu falei “então o que que agente poderia fazer pra essa questão? Porque Jesus tem uma frase fantástica, ele fala “Eu vim pra que todos tenham vida e abundancia”, como nós seguidores do cristianismo não vamos lutar por uma vida, tem ausência de vida nessa cidade”, e ai eu provoquei estes jovens a pensar em conhecer uma realidade sofrida dessa diferença social. Ai eu falei “vamos conhecer a creche, vamos pro orfanato, vamos no asilo dos velhos”, e uma menina falou “vamos pra periferia”, eu falei “ótimo, vamos para a periferia”, ai dezembro de 1992, nós viemos, fomos – tô falando viemos porque nós estamos nessa região do Dom Almir – nós fomos para o Dom Almir, eu falei “gente cês não vão pra um safari humano, vocês vão ler a realidade de Uberlândia”, viemos e na volta esses jovens voltaram muito impressionados do que viram, porque eram meninos assim de uma classe média alta, onde os pais tinham, vamos dizer, economicamente falando, tinham um nível bem superior dessa realidade de empobrecimento, filhos de médicos, nós tínhamos filhos de dentistas, de advogados e eles voltaram e falei “e ai o que viram? Dá pra ficar indiferente com a realidade pela qual vocês perceberam na cidade?” Página 12 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] e esses jovens falou “uai, agente podia fazer uma campanha”, e cada um foi cantando, “há eu vi gente com fome, eu destampei panela não vi nada, agente podia fazer a campanha de comida”, eu falei “ótimo, mas não transforma a realidade, mas é necessário”, “eu vi gente sem agasalho, vamos fazer uma campanha de agasalho Eliana?”, eu falei “muito bom, é ótimo, mas não transforma, é muito pontual”, ai uma menina falou “que tal agente mexer com moradia?”, eu falei “gostei, porque moradia?”, ela falou “porque agente percebeu que muitas famílias do Dom Almir estavam indo pra uma nova região em Uberlândia chamada Seringueiras”, onde o Prefeito da época loteou uma região pra 1.200 famílias desta periferia de Uberlândia comprar os lotes e mudar pra lá, “Eliana e a casa dá dignidade para a família”, eu falei “perfeito, e você jovem aqui de 15, 16 e 17 anos, vocês tem poder aquisitivo pra agente pensar em moradia?”, “Não!”, “quem tem?”, “pai e mãe”, “então vamos fazer uma reunião com os pais”, então 17 de março, daquele dezembro, já marquei com os jovens, 17 de março de 1993 não pode faltar um pai, esse é seu gesto concreto solidário por esta humanidade sofrida que você viu, por esse grupo de famílias destituído da dignidade de filho de Deus, e foi muito interessante, eu levei pros pais as pesquisa que os filhos viram, deixei pros pais analisar o que os filhos viram dessa diferença social o que que eles poderiam contribuir para que esses filhos deles pudessem fazer de fato algo naquilo que eles viram, e os pais começaram, um “há agente poderia pensar em por água”, porque onde eles foram não tem nada, porque eles tiraram a lona daqui e levou a lona pra um barraco, pegou a barraca aqui e foi pro espaço que ele comprou onde estava pagando com um carnêzinho pra Prefeitura, em cinco anos ele era dono do terreno, mas não tinha dinheiro pra construir, ai um palpite daqui outro dali, ai uma mãezinha levantou a mão e falou “e porque que agente não faz um carnê entre nós pais pra agente depois pensar nessa questão da moradia”, que os jovens em comunhão, numa decisão em conjunto, todos queriam já a moradia, e eu falei “ótimo gente, eu não tenho dinheiro pra mandar fazer carnezinho”, eu não esqueço da, de uma mãe chamada Cristiane, a Cristiane Gomide, era dona da Tipografia Gomide, ela e o pai, falou “eu dou, eu posso doar mil carnês”, e ai nasceu o trabalho, nós começamos com esses mil carnezinhos, primeiro dentro da Catedral, sensibilizando essa comunidade que participava dentro da Catedral Santa Terezinha, para que não ficasse só com aqueles pais do Crisma, do meu grupo, nós fomos ampliando e nós fizemos questão que saísse das portas da Catedral, ai nós começamos a espalhar os carnês entre amigos e ai quando agente percebeu muitas pessoas de diversos credos religiosos e até sem credo religioso nenhum definido, mas tinha a essência de Deus que é o amor ao próximo estavam com o carnezinho na mão, então eu fiquei com esse grupo de jovens durante muito tempo visitando essa família e dentro da Catedral eu comecei a chamar os adultos pra fazer parte desse trabalho social que nós intitulamos de Pastoral da Moradia, o primeiro agente a vir foi o meu marido Oswaldo Setti, em todos os momentos da minha vida Oswaldo sempre esteve presente, então ele começou a caminhar comigo e os jovens, então veio a Lúcia Attie, mãe do Felipe Attie que você conhece, que hoje está com Deus, foi a Maria Angélica, Maria Angélica, também foi a primeira adulta, segunda mulher adulta que começou, eramos quatro visitando o bairro com os jovens, e ai começaram a ampliar o número de adultos e esse grupo de jovens ficou comigo mesmo depois do Crisma, eu tive seis jovens que foi fiel a uma proposta que eu os desafiei “agora vocês conheceram a Página 13 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] realidade do Seringueiras, vocês viram que tem famílias diversas periferias de Uberlândia, o que que agente poderia fazer?”, “há Eliana, agente poderia realmente mexer na moradia” e esses jovens falou “mas agente...”, eu falei “vocês viram muitas crianças no bairro, que tal vocês jovens começar a levar pra essas crianças um pouquinho do Cristo, de Jesus, sem nenhuma bandeira na mão, nem judaísmo, nem catolicismo, nem espiritismo, sem nenhuma bandeira de igreja, levar a essência de Deus, o amor?” e esses jovens foram Carla, seis jovens de quinze em quinze dias foram fieis a essa proposta, entre elas Marcela, a nossa filha caçula, um dia eu olhei pra aqueles meninos, vinham de lama de chuva, vinham de pó da cabeça aos pés, levam o violão, Mariana tocava muito bem, elas iam cantando nesse ônibus na maior alegria pra ir pra periferia chamada Seringueira, só tinha barraco de lona, quando eu olhei pra aqueles jovens, eu falei “Meu Deus do céu, agente precisa criar um espaço pra esses jovens continuar, porque muita chuva muito sol eles podem desistir” e eu comecei a sonhar construir uma sede, um Centro Comunitário, já que eles eram fieis, eles faziam um lanchinho levava pras crianças ai eu chamei Panayotes, na época, que já eram um adulto participante, construtor em Uberlândia, falei “Panayotes fica muito caro agente fazer umas três salas de um Centro Comunitário para que as meninas possam dividir as crianças e ter um espaço coberto?”, “uai Eliana, acho que uns sete mil Reais daria, cê tem esse dinheiro?”, falei “não!”, “cê quer fazer?”, falei “quero!”, ele falou “cê tá disposta?”, “sim, cê pode fazer a planta pra nós?”, “é claro que eu faço!” e começamos assim vamos fazer, vamos fazer e ai o que é que nos ajudou, Festa Junina, fiz bingo, fiz festa junina, fiz jantares e em 1998 agente terminou esse primeiro centro comunitário de 150m², foi uma grande vitória, foi uma grande vitória, porque os agentes desta pastoral social Pastoral da Moradia, eles ficaram assim, foram fieis naquilo que eles mesmo descobriram que era muito bom fazer, o bem pro outro, então o grupo ficou consolidado. E começamos então a utilizar esse espaço, o Lions Clube, a Carmélia foi a nossa primeira voluntária pra desenvolvimento local das mulheres, capacitando essas mulheres pra aprender trabalhos manuais, costura, bordado, e ai veio o Lions que ensinou bordado, e depois veio a Zilda, a Zilda queria fundar o primeiro Clube de Mães daquela região, veio a Zilda, a Gomide, e levou um grupo de mulheres de Uberlândia que iam semanalmente, toda quartafeira, e aquela comunidade foi crescendo, e a moradia? Desde o momento que agente começou agente focou na moradia, então eu fiz um proposito, Pastoral da Moradia, agente -eu nunca tive uma visão que o ser humano deveria ganhar alguma coisa por ganhar e devia conquistar, principalmente quando adulto -- e eu fiz uma proposta para estes agentes, e agente possibilitar a construção de moradia, desde que a família tivesse envolvimento, então minha proposta foi, nós com essas festas, com Festa Junina, agente ai guardando o dinheiro para ajudar na moradia, e a família poderia pagar 20% no ato da compra do material de construção e nós pagaríamos 80 e ela seria a construtora, e então foi, a história no início foi bem assim, quando nós chegamos, alguns dias depois, um tal de Antônio, que nós conhecemos muito bem, José Antônio, Dedé, quando viu agente lá dentro distribuindo alimento, pesquisando o bairro, ele chegou muito nervoso, muito bravo “escuta nós não queremos vocês aqui não”, nós não fomos bem aceitos por ele, “agente quer emprego, agente não quer comida”, falei “parabéns, maravilha, porém a gente tem isso pra oferecer, nós queremos trazer aqui cursos de capacitação e alimentos é o que agente consegue oferecer, você conhece o seu bairro, cê Página 14 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] conhece a sua realidade, você já pesquisou o seu bairro, nós estamos aqui pesquisando o seu bairro há muito tempo, você conhece os seus vizinhos?”, “não”, falei “depois que você conhecer o seu vizinho cê me informa se eu devo continuar ou não trazendo alimentos, agente para, agente não veio aqui pra incomodar, muito pelo contrário” e aquele Dedé, na semana seguinte -- eu ia toda semana -- ele chegou pra mim e “olha, tiro o chapéu pra você, na minha casa, na frente da minha casa tem uma família passando fome e eu não sabia, eu tirei o meu alimento e levei pra lá”, e assim nós continuamos, ali ficamos sete anos, naquele bairro ajudando na questão alimentar daquelas famílias empobrecidas, desenvolvendo a capacitação profissional, trabalhando desde o início nunca tive uma visão de trabalhar só com mulher e nem só com a criança, agente trazia a mãe e acolhia os filhos, nós tínhamos um grupo que dava atendimento, a Lúcia, do Doutor Melicégenes, que começou a desenvolver a parte de reforço escolar, então nós começamos enquanto a mamãe tá aqui, filhinho tá aqui. Depois de sete anos eu olhei pra trás, a história de sete anos falei “puxa vida, sete anos agente conseguiu ajudar duzentas famílias com moradia, umas casas inteiras, partes de casas, banheiro, cozinha, melhoria de casa, nós ajudamos duzentas famílias, tá na hora da gente ir embora, mas eu quero muito mais dinheiro”, porque os carnezinhos e as festas eram bem limitados, com mais recurso na mão agente podia ampliar as nossas ações, chamei os agentes, falei “eu quero fundar uma ONG, quero fundar um trabalho onde agente tem onde captar recursos para ampliar as nossas ações” e os agentes aprovaram, ali então nós já estávamos com um grupo bem fiel, permanente, assíduo nas reuniões, nas propostas, nas visitas, no apoio das construções, o Dedé foi o primeiro voluntário do bairro em prol do próprio bairro, porque ele é mestre de obras, ele começou, ele a visitar as famílias, marcar o terreno, orientar como construir a sua casa, e então eu busquei, sabe aquela mãezinha que falou “vamos fazer um carnê”, aquela mãe é Fátima Paiva, ela era vereadora na época, tava no ultimo ano de vereança, e eu fui atrás dela “Fátima eu quero fundar uma ONG, como posso fazer, cê faz um projeto de lei?”, ela falou “é claro Eliana”, ela fez um projeto de lei, ela falou “eu só quero que você me traz todo o histórico, a relação de todas as famílias, das casas, as crianças que participam no reforço escolar, que recebem o alimento” e levei uma relação, a conta de banco, tudo, que nós tínhamos até então em parceria com a Catedral, ai ela falou “isso aqui vai passar unanime, porque vocês tem um trabalho real de fato” e ai nós entramos com um nome Ação Moradia, continuamos com o mesmo olhar, com o mesmo foco, então nasceu em dezembro, novembro de 2000, nós tínhamos já então a utilidade pública municipal e aquilo nos possibilitou a sonhar, sonhar bem mais alto, foi assim uma vitória que nós conseguimos ter aquela utilidade pública, porque nós poderíamos ter chance de reivindicar recursos no município, foi uma festa, foi uma alegria, foi uma comemoração entre todos os agentes, ai eu chamei os agentes de novo “vamo embora, do Seringueira!”, “você é louca?”, falei “vamo embora, vamos começar algo novo, zero, estaca zero!”, “começar tudo de novo Eliana?”, falei “claro, nós estamos deixando os agentes com reforço escola, com os cursos de capacitação -nós, eu ajudei, auxiliei na associação de mulheres, elas se organizaram, fizeram uma associação no bairro -- nós estamos assim com um grupo sete anos, vamos embora, vamos começar da estaca zero, só não sei pra onde vamos”, eu precisava de um sinal de Deus, eu queria que Deus me desse um sinal. Em janeiro de 2001 foi empossado em Uberlândia um Página 15 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] prefeito que era considerado assim, um prefeito da esquerda, um prefeito com uma visão social muito grande chamado Zaire Resende, quando ele foi empossado no dia primeiro de janeiro eu recebi do pároco da Catedral uma ligação, “Eliana, eu preciso da Pastoral da Moradia, porque houve uma ocupação, uma invasão de terra tem umas quase seiscentas famílias tudo na lona naquela região”, pra mim foi um toque do céu, era pra lá que agente tinha que ir e onde que era? Dom Almir, aquela periferia onde eu fui conhecer a realidade da cidade, voltei pro Dom Almir e pra este Dom Almir nós estamos até hoje, ai do ano de 2000 pra cá, meu Deus quanta maravilha que Deus nos permitiu colher, quantos resultados, quantas plantações de ações nós fizemos com apoio de muita gente, ai no 2001 nós continuamos visitando as famílias e alguém do Zaire me ligou, acho da ... o pessoal da ... não sei se é da Ação Social, acredito que seja, falou “Eliana, neste bairro nós vamos destinar 300 cestas básicas, como agente sabe que vocês já estão ai, cê quer nos mandar algum cadastro?”, falei “com certeza!”, e eles só iriam doar cesta básica pra família que já morava no município no mínimo três anos, não seria uma pessoa recém chegada e que já tinha também passado por um processo eleitoral, alguma coisa assim, que já tinha, né, fincado os pés na cidade e ai o grupo de nós, os agentes, começamos todo sábado e domingo a pesquisar este bairro e nós abrimos uma porta lá na Imaculada Conceição, a igreja, pra receber essa comunidade, nós estávamos fazendo o cadastramento, nós cadastramos 603 famílias pra mandar pra prefeitura e ai eles escolheram as 300 e deste cadastro vimos José Lélis, que desde o Seringueira preocupado com a questão alimentar, pela segurança alimentar dessas famílias empobrecidas, falei “Vilma e agora? Nós estamos aqui com 40 famílias muito, mais extremamente em grau de risco social, pobre com muita fome, mais miserável, não é pobre não, é miserável, como que você e o Zé Lélis poderia ajudar, nós temos umas quarenta aqui em estado assim absurdo de doença, de miséria...”, “Eliana separa quarenta!”, ela continuou com sessenta cestas básicas lá no Seringueira e veio ajudar aqui com quarenta. Então nós começamos 2001, 2002 até que um dia eu recebi, assim uma das maiores doações que nós recebemos, quase todas elas, a maioria veio por uma ligação, eu falo “o céu se comunicando conosco”, uma diretora do Colégio Nossa Senhora -- é um colégio que na época e ainda continua sendo muito importante na área de educação, é um colégio, posso dizer assim, de meninos ricos -- essa diretora me ligou, falou “Eliana, aqui no colégio há uma freira, ela ... eu tô com uma coordenadora pedagógica desesperada, não sabe o que fazer com um dinheiro que o marido vai ter na mão, que vai se tornar o presidente do Rotary e tá desesperado que eles vai empossar e ele não tem proposta de onde encaminhar esse recurso e é muito bom, cê tem só a pastoral da moradia?”, eu falei “não irmã, nós temos uma ONG, Ação Moradia” e naquela conversa eu já marquei a primeira reunião com aquela coordenadora, com aquela jovem e ai depois agente descobriu que no grupo dela, dos rotarianos, tinha um gerente da Barber -- não desculpe, da Barber não – da Monsanto aqui em Uberlândia, era o Edson Gonçalves, e o Edson é que tinha possibilidade de encaminhar pra Monsanto Found, nos Estados Unidos, um projeto e ele foi com agente lá no Seringueira, visitou tudo que nós tínhamos construído, as casas, o Centro Comunitário, viu a nossa capacidade de ação, conversou muito comigo, conversou muito com o Oswaldo, até um dia ele falou “olha, monte um projeto”, nós encaminhamos pra ele o projeto, eles fizeram a tradução, mandou pros Estados Unidos e ai nós recebemos U$106.000 pra construir a sede da Página 16 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] Ação Moradia, na época correspondeu a R$330.000,00, e ai veio a Monsanto, que alegria, é o primeiro projeto, 2003 nós fizemos um projeto, mandamos pra Monsanto, pra vê se agente ... mandamos dois projetos, “Caminhando e Cantando, Seguindo a Canção”, voltado pra criança e adolescente e outro pra moradia, que eram casas ecoló... “Tijolos Ecológicos, Casa com Dignidade” e este projeto de casa com dignidade a Monsanto olhou e viu que poderia ser um projeto sustentável, que poderia ser um projeto ... E- Monsanto ou BrazilFoundation? Eliana- Não, Monsanto não, BrazilFoundation, a Monsanto ele deu recurso pra agente construir o centro, a sede da Ação Moradia, no ano 2003 a BrazilFoundation é que dos dois projetos ela premiou o “Casa com Dignidade”, a fábrica de tijolos ecológicos, quando nós recebemos a notícia que nós tínhamos o primeiro prêmio, que estava realmente confirmada aquela premiação, agente pulou que nem criança de alegria, alguém acreditava em nós, alguém além de nós, acreditava que esse projeto poderia se multiplicar e transformar a realidade de muitas famílias que viviam em barracos, então quando chegaram os primeiros R$25.000,00 eu falei “Nossa é dinheiro demais, que maravilha”, ai agente descobriu ao fazer moradia que R$25.000,00 é um pouquinho, mas serviu pra alavancar os nossos sonhos. Ai nós tivemos o apoio da ONG Moradia e Cidadania que nos doou a primeira prensa, ai o recurso da Monsan..., da BrazilFoundation -- desculpa -- o BrazilFoundation, nós começamos a comprar todo o material para produzir o tijolo, porque agente não tinha, na época, dinheiro pra comprar sequer um pouquinho de cimento, a terra que não era fácil de encontrar próximo aqui do setor Morumbi, então tudo isso a BrazilFoundation foi nos ajudando e agente começou a acreditar que aquela fábrica poderia trazer resultados, tanto foi que essa fábrica é que possibilitou agente construir toda a nossa sede com 60.000 tijolos ecológicos produzidos manualmente, na mão e esta fábrica foi crescendo, foi prosperando e dela já saíram, né, muitas construções ao ponto de 2006 agente captou um recurso no Ministério das Cidades pra agente construir cinquenta casas, em forma de mutirão, na cidade de Uberlândia, mas só que nós teríamos que ter dinheiro, eu falei “e agora a Ação Moradia não tem, os pobres muito menos” eu fui bater na porta da Prefeitura de Uberlândia, fiquei lá três dias com o doutor Oscar Virgílio, eu falei que ele ficou namorando agente pra ter certeza que valeria a pena, que valeria a pena o risco né, de doar cinquenta lotes e eu me recordo muito bem, depois de três dias eu falei assim “Dr. Oscar Virgílio, o senhor nos conhece, pelo jeito que o senhor fala”, ele falou “minha filha eu já tive carnezinho de vocês”, eu falei “ai, que maravilha”, ele falou assim “agente, nós estamos prontos pra ajudar vocês, porém eu preciso de uma ajuda sua, nós estamos com uma ocupação, uma invasão num setor que não pode ter de jeito nenhum, é um lugar improprio, proibido, a senhora me ajudaria lá, a senhora iria falar com o povo?”, falei “claro”, “a senhora não tem medo?”, eu falei “de jeito nenhum, pode marcar que eu tô indo”, “então vamos fazer o seguinte, vou apresentar a senhora ao prefeito”, me levou dentro, passando por dentro, me apresentou ao prefeito da época, o Odelmo Leão, falou “essa aqui que vai nos ajudar Odelmo, nós vamos marcar com o juiz, agora saindo daqui e aqueles lotes lá tá tudo certinho”, ele falou “pode contar”, então ao sair dali eu fui no juiz, quando eu Página 17 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] cheguei no juiz ele já me conhecia, aquele juiz fazia parte da Catedral e também tinha carnezinho nosso, ele falou “não, eu conheço vocês, só que a senhora não vai ter o problema de ir mais lá, as famílias saíram todas ontem”, falei “ai que alivio!”, e voltei pra prefeitura, o doutor Oscar falou assim “Eliana, escolhe”, falei “doutor eu escolher? Um lugar pras famílias pobres ficar, eu posso errar, o senhor não quer me indicar? O senhor conhece a cidade melhor que eu, em termos de loteamento”, ai ele indicou um local pertinho do Seringueiras, que é o Campo Alegre, “Campo Alegre”, ele falou “pode escolher”, ali ele abriu falou “esse aqui é bom, esse aqui é bom”, e junto com ele nós escolhemos os cinquenta lotes lá no Campo Alegre, e então levamos a nossa fábrica de tijolo ecológico pra lá, onde nós possibilitamos às famílias, em mutirão, construir as suas cinquenta casas com os tijolos ecológicos, na época era manual, as mulheres é que eram fieis à construção, eram elas que estavam junto o tempo inteiro, posso dizer que foi um mutirão muito mais de mulher, pouquíssimos homens. Então agente tem assim, um ... a certeza absoluta que a mulher é uma empreendedora, ela é mãe, ela preocupa com a família, os homens que agente teve a oportunidade de conhecer não eram muito compromissados com a família dele, era a mãe, então eu vi mulheres ali em final de semana, quanto sábado e quanto domingo, tanto eu como o Oswaldo, toda a equipe da Ação Moradia estávamos ali acompanhando todo o assentamento de tijolo por tijolo, e ai a nossa sede ficou pronta, nós continuamos com outros sonhos, outros projetos, ai começamos a encaminhar projetos daqui, projetos dali e ficamos com o apoio da Prefeitura, nós já tivemos mais recursos, começamos a receber recursos além da criança, que 2001 foi o primeiro R$4.000,00 que veio de subvenção e agente foi recebendo cada vez um pouco mais, até que eles começaram a aportar recurso para os cursos de capacitação profissional, quando agente começou a ter o cabeleireiro, começamos a ter manicure, toda a parte de artesanato e um determinado ano agente mandou de novo pra BrazilFoundation uma proposta, agente já tinha crescido, agente já tinha replicado a nossa fábrica pra Lua Nova, em Sorocaba, e também para o Espirito Santo, em Vitória, replicado essa fabrica de tijolo ecológico, então nós queríamos mais apoio da BrazilFoundation, porque eles apostaram muito em nós, nos deram treinamento, nos deram cursos de gestão, de capacitação, de marketing então eu não esqueço, e nunca vou esquecer na minha vida e não vou deixar a instituição esquecer jamais o nome e as pessoas que apostaram em nós que foi a BrazilFoundation, eles acreditaram Carla, se não tivesse alguém que acreditasse no teu sonho era possível de você não ser capaz de fazer, porque quando se fala em moradia, se fala em muitos Reais, se fala em milhões e a BrazilFoundation mais uma vez apoiou o nosso projeto de sistematização, aportou recursos, então agente criou a sistematização, sistematizamos a fábrica de tijolos ecológicos para que agente pudesse replicar com um manual para aquele que fosse construir a sua fábrica ele saberia inicio, meio e fim, como se faz uma fábrica produzir tijolos. Então agente sabe que esse projeto de moradia é possível em qualquer lugar do planeta, porque o tijolo ecológico é ... é terra, um pouquinho de cimento, um pouco de água se faz um belo tijolo, e com uma ... ele é tão firme que faz teste nele e vai comprovando que com os anos ele torna-se quase uma pedra, ele é muito resistente então agente nunca teve medo de construir nenhuma moradia com esses tijolos. Então a moradia sempre foi a menina dos nossos olhos, mas agente vê o ato da gente trabalhar com a família é um leque muito grande, não dá pra agente ficar só com Página 18 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] moradia a família precisa de todo um aparato, um conhecimento, um acolhimento, ajudar a essa família a amar a sua família, mães que precisavam aprender a amar seus filhos e não viver em pancadaria, mães que precisam de formação pra também ajudar na formação de seus filhos, precisávamos ampliar os conhecimentos dessas crianças, que as nossas escolas, infelizmente a educação no Brasil não está, vamos dizer assim, nota dez, então nós devemos ampliar os conhecimentos, ampliar conhecimentos que escola não tinha como oferecer, então nós começamos trabalhar com esse leque família, onde a mãe vinha para o curso e seu filho estava junto. Eu me lembro direitinho quando nós começamos num ... num espaço muito pequeno, quando agente alugou, vinha a mãe, os filhos, aquele barulho, aquela coisa difícil, falei “meu Deus do céu, nós precisamos trabalhar com essas crianças separada”, porque menino quando vê mãe só chora, então eu comecei a buscar na ... naquele, naquela região do Dom Almir o espaço pra levar os filhos e batizei aquele projeto de Criança Feliz, enquanto mamãe tava no curso de capacitação as crianças estavam sedo acolhidas e os maiorzinhos, que nós batizamos com o nome de Formação Infantil, era aquele que vinha para a nossa instituição no segundo período da vida dele, é o período contrário a escola, se ele vinha de manhã ele estudava à tarde e vice-versa e assim foi, agente foi crescendo, agente foi percebendo que agente aprendeu muito com essas famílias pobres, é um povo de esperança, é um povo que acredita que ele ai sair deste empobrecimento e agente aprendeu com eles, nós nos enriquecemos muito, nós aprendemos à ampliar nossas ações, os nossos sonhos começou a se multiplicar com os sonhos deles porque desde o inicio da história agente permaneceu com um grupo de pesquisa, pra conhecer a realidade de um povo empobrecido cê tem que botar os pés onde ele coloca os pés, então agente sempre teve um carro chefe, que era visitar as famílias pra saber onde viviam, qual a sua necessidade, o que eles mais precisavam então agente foi descobrindo e ai agente foi, à medida da nossa capacidade financeira e de voluntário, que foram maravilhosos, mas chegou uma hora que esta comunidade precisava de ser atendida todos os dias, ai nós começamos a contratar os primeiros funcionários, ai nós começamos a investir na contratação de pessoas que tinham realmente especializações, nós criamos o setor psicossocial, porque quem sou eu pra falar com mães que chegavam em desespero porque o marido estava mexendo com droga, os filhos de 12, 14 anos já estava entrando, elas vinham em desespero e eu me sentia muito pequena pra atender aquela demanda, ai então eu na época fui até a Prefeitura onde eu pedi um aumento de recursos pra agente criar o setor psicossocial pra uma psicóloga, pra ter uma assistente social pra nos ajudar nesta acolhimento dessa família, porque nessa pesquisa de campo agente foi descobrindo as grandes necessidades desse povo e fomos trazendo este povo pra Ação Moradia e a medida que eles iam solicitando “agente quer um curso de cabeleireiro”, “agente quer um curso de informática”, “agente quer um curso de capacitação pra empregabilidade” e agente começou a sonhar a, vamos dizer, de ir de encontro com essa necessidade desse povo, nós começamos a batalhar e encaminhar vários projetos, pra vários lugares do Brasil pra agente poder dar continuidade num, vamos dizer, no desenvolvimento dessa comunidade aqui no entorno da nossa sede, que são oito, oito bairros, mais ou menos a média de 30, 31 mil pessoas e nós continuamos sonhando e até hoje agente sonha que é possível sonhar e realizar. Página 19 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] E- E como você vê Eliana o futuro da Ação Moradia, nesses sonhos? Eliana- Bom, eu acredito que essa comunidade vai empreender bons negócios, por que chegou um ano que agente viu que foi no capacitando grupos e grupos de mulheres, principalmente mulher, nós já tivemos de homens, alguns cursos voltados pra homens, mas quem mais ficava eram as mulheres, curso de pedreiro por exemplo 90% eram mulheres, todos os cursos agente foi percebendo que eles foram acumulando diplomas, mas quando eles iam para o mercado de trabalho continuavam com as mesmas dificuldades, o mercado, vamos dizer, onde um pais economicamente tava vivendo em crise, a competição é acirrada, então agente vi que a família tentava, com aquele curso de capacitação, um emprego, e não conseguia, então eu comecei a sonhar em transformar algumas áreas dentro da Ação Morada em espaço pra que essa comunidade aqui dentro conseguisse o seu próprio recurso, trabalho e renda dentro da instituição, porque eles não teriam condição nenhuma financeira de empreender algum negócio se ele não tinha recurso para iniciar o seu empreendimento. Então eu me lembro, em outubro de 2008, eu chamei 18 mulheres que tinham já há algum tempo feito o curso de capacitação profissional na área de cozinha e buffet, e levei a elas a possibilidade delas vir pra cá e começar a produzir toda a questão de alimentos aqui dentro, porque nós tínhamos uma estrutura de cozinha que ela jamais teria como ter na casa, e o primeiro grupo, o primeiro empreendimento comunitário solidário, a nossa primeira unidade produtiva foi realmente lá da Escola Cozinha e Buffet, das 18 mulheres, eu me lembro que na segunda reunião 9 vieram, na terceira reunião 6 vieram e aquelas 6 ficaram ali e agente viu que as que ficaram tinham o desejo mesmo de adquirir a sua própria renda e agente foi tendo essa visão de que todos aqueles cursos de capacitação nós poderíamos levar para empreendedorismo, pra que a comunidade pudesse empreender o seu negócio e, aqui dentro com toda a parte técnica, seu saber técnica e agente cooperando em todos os sentidos, alimentar dela, do filho dela, nós poderia empreender o negócio aqui, porque é muito difícil mexer com fábrica de tijolo ecológico, ter uma estrutura em casa, no seu quintal, de uma fábrica, artesanato com tantas, vamos dizer, necessidades de máquinas de costuras, e bordados e linhas e compras, de tecidos, enfim, cabeleireiro, meu Deus do céu, um salão de cabeleireiro gasta-se muita energia, produtos de beleza muitos caros. Então nós começamos a possibilitar, um sonho meu, em termos de futuro é ver essa família rompendo com a pobreza através do trabalho e renda, eu vejo que esta comunidade hoje é muito consciente, que ela pode conquistar o teu espaço, porque hoje ela está empoderada de conhecimento, com conhecimento ela rompe com a pobreza. E também sonho que as nossas crianças sejam cidadãos felizes, homens e mulheres conscientes pra governar a cidade, pra governar esse país, com essas crianças jamais, acredito eu, vão ser os últimos da fila num grau de pobreza, aqui eles estão sendo trabalhados pra não entrar na fila dos empobrecidos onde ele não tem conhecimento, por isso que ele fica na fila da pobreza, que o conhecimento que vai fazer com que ele galgue conhecimento, galgue oportunidade, vamos dizer assim, com os que ... conhecimento adquirido ele não vai ser aquele empobrecido miserável, ele pode ser pobre, mas um pobre com casa, com um carrinho na porta, ... com ... com estudo, com muitas sabe, ... nossa ... , nós estamos abrindo um leque de horizontes pra criança desde a parte de arte, de culturas diversas, com esporte, com Página 20 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] informática, esse conhecimento digital que é a era dessas crianças então eu vejo que essas crianças hoje são educadas, agente sai por ai fazendo apresentações de dança, de maratonas de corrida, me encanta o comportamento dessas crianças, eles conseguem realmente cumprir normas, sem briga, sem atropelo, mais já passamos por várias coisas, com briga, com briga de mãe, com briga de meninos, até hoje acontece, acontece, mas agente já viu que a comunidade cresceu muito Carla, então eu acredito que o futuro dessa comunidade é que eles mesmo serão os administradores. O meu sonho é que daqui uns anos, no meu envelhecimento, é que agente possa incluí-los realmente no Conselho Diretor, que eles sejam os protagonistas, que já são, desta continuidade, porque eu vejo que nós estamos com vários funcionários dentro da nossa ONG, contratados, a maioria hoje não é pessoas que vem de outro bairro, é do entorno, nós estamos com um grupo muito grande aqui e quando agente criou, eu criei no ano de 2006, se eu não me engano, um Conselho de Desenvolvimento Interno, o CDI, eu queria que essa comunidade reivindicasse, apontasse rumos, que essa comunidade mostrasse pra nós o que era bom e o que não era bom, o que era necessário, o que era útil, fizesse uma discussão das necessidades dele dentro da instituição que nos apontasse rumo, crescemos muito com o CDI, mas esse CDI ainda não chegou onde precisa chegar, essa comunidade ainda, infelizmente, é dependente das nossas ações, se agente faz uma proposta eles vem, todos mergulham junto, mas ainda não nasceu deles nenhuma proposta de alguma ação, eu vejo que eles já estão, é permeando os nossos pensamentos, já estão, acredito eu, abertos a grandes diálogos e eu já tive a oportunidade de sentar com eles eu falo “gente vocês são os conselheiros, gestores da Ação Moradia, reais”, porque o Conselho Gestor, pelo qual hoje eu participo, já fui presidente, hoje eu sou apenas primeira secretária do Conselho Diretor, falei “nós gestores, do Conselho Gestor, é o que menos sabemos da realidade de vocês, são vocês primeiro, os principais gestores aqui da Ação Moradia, vocês tem que mostrar o rumo, vocês tem que mostrar o que cês precisam”, e eu aposto Carla que o futuro aqui vai ter grandes, mais grandes parcelas de contribuição dessa comunidade, porque eles aprenderam que sem eles a Ação Moradia não faz nada. E- Eliana como foi participar dessa entrevista? Eliana- É foi voltar num tempo muito gostoso, olhar pra trás e ver que Deus nos permitiu construir uma história de vida, pra muitas pessoas, acredito eu, que essa ONG fez diferença, na minha vida é um marco profundo, muito profundo, eu falo que nós, agentes da Ação Moradia, somos privilegiados de poder colaborar com mudanças reais de vida. Então quando eu falo da Ação Moradia, eu falo de uma história de amor, de uma história de transformação, me sinto muito feliz, sempre muito pequena, eu olho a história e sempre me achei muito pequena pra tudo isso, mais ninguém faz nada sem ninguém, um grupo de gente, pessoas maravilhosas apotaram em nós, governo apostaram em nós, Monsanto apostou em nós, BrazilFoundation apostou em nós, gente agente não esquece esses nomes. Obrigada a todos vocês financiadores que apostaram em nós, os nossos colaboradores, muito obrigada. Só Deus, esse criador, pode pagar a intensidade desse amor de vocês por uma causa humanitária, obrigada vocês que estão aqui comigo. Obrigada BrazilFoundation num esqueço vocês nunca! Página 21 de 22 Ação Moradia CNPJ nº 04.172.671/0001-90 Rua Canoas, 181 - Morumbi Uberlândia/MG. CEP. 38407-291 Fone/ Fax (034) 3226-6558 [email protected] E- Bom, a Ação Moradia, agente gostaria de lhe agradecer muito, por você compartilhar essa história com agente, apesar de que agente tem muito mais a agradecer, porque se não fosse a força, a perseverança, a ideia, o sonho de pessoas como você isso aqui não existiria, né, então agente agradece muito, muito, muito, a sua disponibilidade, seu tempo, sua doação pra Ação Moradia e pra esse projeto. Eliana- Eu que agradeço e eu não tenho mais nada a dizer, mas quero deixar uma frase que sempre falei, sonhar e realizar é possível! ((se emocionou)) E- Muito obrigada! Página 22 de 22