A morte na visão de C. G. Jung, e a importância de
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A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS *Valéria Cristina Fidélis Em 26 de julho de 1875 nasce na suíça, Carl Gustav Jung, filho de Paul A. Jung (doutor em Teologia e Filosofia) e de Emilie Preiswerk (espiritualista e dons literários). Estudioso da mente tornou-se um pesquisador da medicina; em virtude de suas influências familiares, vivencia de visões premonitórias e sonho espiritual foi sendo guiado em sua vida e obra por seu lado espiritual, sendo que sua realidade mais autêntica foi à curiosidade científica sobre a alma e a transcendência. Desconfiado da fé dogmática de seu pai, viveu muitas crises e divergências a respeito, afastando-se da igreja por sentir: ausência de Deus e de vitalidade nas cerimônias; dizendo que esta não era um lugar de vida e sim de morte. Na adolescência sofre uma crise filosófica e passa a buscar leituras aprofundadas nos conteúdos religiosos e no campo da filosofia. Tornou-se um médico atuando como psiquiatra preocupado com os males do espírito; para ele afastar-se dessa natureza humana e espiritual, principalmente na meia idade, seria a origem das inúmeras neuroses. Contudo sua visão sobre religião difere do Cristianismo tradicional, sobretudo a questão do Mal e a concepção de Deus, que não considerava só bom e protetor, mas também tentador e destruidor. Não sendo compreendido apesar de considerar-se cristão, foi acusado pelo Cristianismo Dogmático de ser um outsider, sofrendo inúmeras perseguições. Em alguns desabafos dizia que na Idade Média teria sido queimado; embora não tenha conceituado Deus sua necessidade de compreendê-lo em experiências imediatas era vital. Como estudante de medicina leu tudo de significativo sobre _______________________________ *Psicóloga 173 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS espiritismo, e sobre os primeiros trabalhos de Freud (pai da psicanálise). Desenvolveu as primeiras teorias psicológicas fundamentadas no inconsciente e como psiquiatra começou na busca incessante pelo entendimento dos enigmas misteriosos da loucura; sua atração especial no início era o tratamento de psicóticos. Inicialmente foi seguidor de Freud, por discordância de idéias sobre a espiritualidade e a parapsicologia afasta-se por não querer desligar-se de seus verdadeiros objetivos. Sofreu imensamente com os afastamentos de amigos e conhecidos e passa-se por místico, experimentando uma dolorosa humilhação. Se tivesse reprimido seus objetivos, fatalmente seria vítima de um desequilíbrio mental, utilizou desta crise confrontando-se com seu inconsciente e obtendo experiência científica efetuada sobre si mesmo, esforçando-se por mostrar que os conteúdos psíquicos são reais de experiências coletivas, não apenas pessoais. Foram diversos anos elaborando e inscrevendo-se no quadro de sua obra científica, interessando-se por conteúdos marginalizados e desprezados pelo meio científico e recusando-se a concordar com a ideologia de massas e do progresso mecanicista, desconfiando de todas as teorias grandiosas e de toda busca filosófica por fundamentos em certezas universais. CONCEITUAÇÕES MAIS IMPORTANTES DO PAI DA TEORIA ANALÍTICA Jung não teve como finalidade a “cura” em si, mas o resgate das possibilidades criativas do indivíduo, levando a prática da psicoterapia para fora da psicopatologia, conferindo sentido e propósito aos sintomas psíquicos. Dentre suas contribuições teóricas, as mais importantes são: 1. Estrutura e dinâmica da psique consciente e inconsciente, bem como, o inconsciente se manifesta. Com o conceito básico de complexo; 2. Tipos Psicológicos (introvertido/extrovertido); 3. Estudo sobre a psicologia do desenvolvimento da personalidade, articulado no conceito de individuação; 4. Descrição aprofundada dos conceitos de Arquétipos, derivados da psique do inconsciente coletivo, entre eles: Self, a Anima, o Animus, o Ego etc. Concebeu o aparelho psíquico como um sistema energético dinâmico e esta energia geral designou de libido que flui em dois opostos. A resultante dialética entre o consciente e o inconsciente denominou de _______________________________ *Psicóloga 174 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS processo de individuação, juntamente com o processo do Self que constitui seu ponto de apoio teórico. Ao contrário das críticas acirradas que recebeu, colocou a psicologia no campo da ciência, sua obra é a expressão de uma abordagem empírica e experimental, deixa uma das maiores contribuições ao pensamento moderno através do estudo da física nuclear que é o reconhecimento da realidade da mente e a redescoberta da idéia da psique como um cosmo. Sua teoria é muito importante para o entendimento e leitura dos pressupostos da psicossomática que também é uma ciência contemporânea, separei alguns conceitos para que possamos realizar a leitura através da psicologia analítica: Inconsciente: na psique uma parte dos conteúdos reprimidos que já foram conscientes, sem energia psíquica suficiente para atingir a consciência. Inconsciente coletivo: camada do inconsciente pessoal, que já não tem origem em experiências ou aquisições pessoais e nunca foram conscientes, são inatos e hereditários. Amplificação: técnica para aprofundar e aumentar as imagens do inconsciente. Arquétipo: imagens e temas ou padrões universais presentes no tempo e lugar comum a humanidade, existem na psique como energia potencial na vida psicológica inconsciente. Complexos: conjunto de idéias, imagens, temas, capazes de nos afetar, muitas vezes reprimido e capaz de provocar distúrbios psicológicos. Anima e Animus: Personificação arquetípica da natureza feminina no inconsciente do homem e da natureza masculina no inconsciente da mulher. Coniunctio: Conjunção, casamento sagrado; integração com a ajuda da consciência de aspectos inconscientes da personalidade. Ego: sujeito da ação consciente, sendo o primeiro complexo a se formar, centro da consciência, estrutura-se com base no inconsciente. Self: centro organizador do aparelho psíquico abrange o consciente e o inconsciente como se fosse uma imagem de Deus em nós. Arquétipo da totalidade impossível de ser alcançada. Individuação: processo de realização do self; confronto entre o consciente e o inconsciente na busca de um ser individual em ação e em unidade singular. Função transcendente: aspecto da auto-regulação da Psique manifesta-se simbolicamente e é experimentada como uma nova atitude em face do si _______________________________ *Psicóloga 175 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS mesmo e da vida. Numinoso: o inexprimível, experiência imediata do divino, inspira temor reverencial fora do alcance racional. Sombra: sentimentos e comportamentos proibidos surgem na parte mais escura e negada de nós mesmos, não conscientes; reconhecê-la é um passo para o processo de individuação. Símbolo: imagem simbólica, expressão da situação psíquica, que inclui elementos tanto da consciência como do inconsciente, viabiliza e pode canalizar a energia psíquica inconsciente para a consciência se reconhecida e apreendida pelo Ego. Sincronicidade: Coincidência entre um evento da psique pessoal com uma situação objetiva do mundo exterior; conexão acausal. Mito: configura representações da consciência coletiva, ditas e reditas em cada geração. VISÃO DE JUNG SOBRE A MORTE Para Jung os sonhos que antecediam a morte tinham a função de elaboração e tomada de consciência do indivíduo em lidar com a morte ou com uma fase de difícil transição na vida; como um modo menos tenso de encarar a morte, a pessoa que estivesse atenta aos sonhos, ficaria preparada muitos anos antes para a morte. A vida ou a morte estabelecia o desenvolver-se ou o definhar-se; e só permanece vivo quem morre com a vida; esta visão só foi admitida após um enfarte cardíaco que quase o levará a morte em 19441, onde acamado teve vários sonhos e visões, que contribuíram para mais transformações em sua vida; admitindo que a morte seja desapego total. A vida seria um intervalo consciente numa existência transdimensional; um jogo que representa em sua história um antes, um aqui agora (vida física/consciência) e um depois (um segundo nascimento). Já a Psique seria uma forma independente do Tempo e do Espaço e esta afirmação ele fez após a pesquisa sobre a sincronicidade; a resposta à vida humana não fica dentro das fronteiras da vida. A tristeza não voltavas-se para o morto, mas para os que tinham que suportar e elaborar o sofrimento da perda. O sentido da vida era a ampliação da consciência na busca do processo de individuação pessoal; e a morte só ocorreria quanto do 1 JUNG, C. G. - Memória Sonhos e Reflexões, PG. 259. _______________________________ *Psicóloga 176 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS atingimento da meta deste processo. Acreditava que o suicídio era uma tendência inconsciente, e achava criminoso impedi-lo, mas ajudar a resgatar a vida era imprescindível, não criou regras rígidas para esta análise. Jung em seus últimos dias teve um sonho que anunciava a conclusão de sua obra e a proximidade de sua morte, via uma grande pedra redonda colocada sobre um pedestal elevado, com a seguinte inscrição: “como sinal da tua totalidade e da tua unidade”. Em 6 de junho de 1961, com quase 86 anos morreu tranquilamente em sua casa. EXPERIÊNCIAS DE PESSOAS CONSIDERADAS CLINICAMENTE MORTAS Vários estudos foram feitos sobre o medo da morte através dos pressupostos teóricos de Jung; Rohn, (1979) estudou a sincronicidade do momento através de pessoas consideradas clinicamente morta, para ele o medo evidencia a perda de conexão do homem com seus poderes numinosos e compartilha através da vivência e estudo destas pessoas que sobreviveram, interessantes sentimentos e percepções da quase morte, trazendo relatos de sonhos que antecederam a morte. Este momento segundo os estudos, só podem ser comprovados através da experiência de alguém que está morrendo ou morreu e que nos afetam de uma forma ou de outra através dos arquétipos ou do inconsciente coletivo que são compartilhados após o evento. Dá exemplo de um jovem que morre em viagem de negócios e morre em um acidente de avião; após sua morte foi encontrada um carta em sua pasta no deserto Árabe com a descrição de um sonho onde o diabo o perseguia e dizia que em breve iria haver-se com ele. Em geral os sonhos apontam para o mistério da mudança numa outra dimensão. Em mais de 300 casos relatados as pessoas em profunda inconsciência e/ou em coma vivenciaram instantes de consciência onde percebem e tem a sensação de outro Eu continuar a existir; viam-se fora de seu próprio corpo e conseguiam olhar para si, sentindo e percebendo o corpo como outro corpo, sensação de difícil descrição havendo uma sensação de liberação, redenção ou elevação; após estes instantes apaga-se a capacidade de recordar os fatos, ficando a saudade do além, não se descobrindo nada sobre a própria realidade da morte, mas voltando-se com uma total transformação do modo de ser e existir. _______________________________ *Psicóloga 177 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS Algumas pessoas ao escutarem os médicos anunciarem sua morte percebiam um ruído desagradável e tinham a sensação de mover-se num túnel longo e escuro. O mundo material e corporal já não lhes impunha restrições e o movimento acontecia como a rapidez de um raio, chamando a esta percepção de corpo espiritual, pura consciência, ou ainda nuvem, vapor sem peso fora do tempo; superando os sentidos normais, a luz intensa e clara não era rara de se condensar num corpo nas descrições. Dependendo da crença havia o relato de ter sido ajudado por alguém a partir do além: um anjo, Cristo, entre outros; e/ou a visão da retrospectiva da vida. Experiências sentidas como algo leve, o regresso ao corpo/temporal era inconsciente (espécie de sucção), algo agressivo e difícil, pois não se queria voltar, há a impressão de absoluta realidade e objetividade, o medo e a dor cessam na alma e os sentimentos são positivos de libertação/liberdade, ausência de imagens negativas. Hampe, (1979) chamou esta dualidade de intensificação do consciente que se divide em duas partes: havendo uma cisão do Eu com o Corpo, uma parte fica no corpo e a outra é ampliada e desprovida do corpo e independente do cérebro, chamou este processo de supra consciência, para o paciente: corpo espiritual ou corpo astral. A morte teria uma dimensão supra pessoal que nos libertaria de nossas limitações; Deus é o todo e o espírito é e faz parte desta unidade. Neste contexto não se descarta a falta de capacidade de observação pela deficiência corporal, falta de oxigênio, envenenamento e a insuficiência do fluxo sanguíneo; seria prematuro considerar a vivência como realidade, pelas fantasias exarcebadas ou desprendimento das dores; experiências estas também vivenciadas por alpinistas em grandes altitudes e com afogados. Jung após seu infarto passou por uma experiência parecida, e conferia a certeza de que o espírito permanece após a morte, o que consistia na mais profunda paz, beleza e plenitude, assemelhando-se a transcendência. Esta vivência pode ser considerada resultado de fantasias inconscientes ou técnica de desvelamento de emoções importantes; não deixa de ser uma forma de oferecer as pessoas que sofrem de falta de perspectiva de vida um fundamento capaz de torná-la suportável; pode ser validado com a existência de individualidades transcendentais. Através do conhecimento científico do Estado de Coma, Jung afirmava que mesmo em inconsciência profunda, a pessoa é capaz de _______________________________ *Psicóloga 178 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS acompanhar o que ocorre, as aparições ocorridas não é fora do comum. O cérebro aprende a pensar e o Sistema Nervoso Simpático é um estimulante físico em casos leves de desmaios; a consciência pode estar localizada nos chakras do Yoga Kundalini (vesícula, estômago, diafragma e no coração), os estudos sobre os sonhos esclarecem a relação entre o corpo e a psique. A doença é uma expressão da psique, e as células possuem consciência, constata-se que a perda da consciência costuma acontecer ao mesmo tempo em que alguma parte da psique alcança outra realidade; sendo paralelos os acontecimentos entre a psique e corpo da pessoa que está morrendo, o Corpo fica paralisado e apático e a Psique livre no espaço e no tempo fora do si mesmo. Seriam paralelos não causais, imbuídos de sentido entre corpo e psique, que abrem novas possibilidades de compreensão e nesta nasce à psicossomática. ARQUÉTIPOS: NATUREZA CRIATIVA E AUTÔNOMA NO INCONSCIENTE “... o medo profundo busca um recurso para a elaboração da proximidade da morte...” Jung, 1944 É relevante a conceituação teórica Jungiana e a sua visão sobre a morte, a sincronicidade dos eventos que ocorrem nas visões de morte pode ser traduzida pelo ato criativo acionado pela fatalidade da morte; neste sentido o ser humano através da espontaneidade busca suportar a dor da morte que está próxima ou renascer para a vida. Estes acontecimentos sincrônicos vão buscar no inconsciente coletivo os arquétipos de natureza humana generalizados de irracionalidade e de espontaneidade2. A psicóide pode atuar trazendo uma noção de arquétipo da existência no inconsciente coletivo, sendo esquecido e desprovido de consciência após o retorno à vida. Não raro se menciona a percepção de uma voz, porém, o que resta é a lembrança de um nome e nenhuma palavra ou conversação; fica sempre a insistente referência a transparência e à indescritível claridade de luz nas visões de morte, expressando o eterno, 2 Moreno, J. L. - Psicodrama. Editora Cultrix. São Paulo. SP: 1993. págs. 80 a 205 _______________________________ *Psicóloga 179 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS o encontro com a bondade e de ajuda. Tempo e espaço são relativos às coincidências de sentidos não causais andam de mãos dadas, os acontecimentos futuros sendo vivenciados como presente indica que em determinadas circunstâncias espaço e tempo seja reduzido á zero. O mundo da alma é igual à esfera intermediária da imaginação; embora a intensidade destes aspectos numinosos esteja presa ao mundo psíquico; os depoimentos ainda são subjetivos (sensações psicológicas); infelizmente não podemos chegar a nenhuma conclusão a respeito da existência de um mundo transcendente. O que o agonizante vê e aquilo que ele acredita, não pode de modo algum valer como prova para a objetividade ou para uma constatação absoluta dessa realidade; essas sensações são psicológicas, mas não são metafisicamente verdadeiras, permanecendo intacto o esclarecimento à cura da pessoa. Jung em sua obra traz vários estudos sobre a morte de caráter misterioso, onde há o limite de nosso conhecimento, que não conseguimos penetrar. Existem fatos que não se encaixam nas “leis”, e estes possuem uma conexão acausal. A VISÃO DA PSICOSSOMÁTCIA NO RESGATE DA ESPONTANEIDADE E NO ATINGIR OS OBJETIVOS: VIDA OU MORTE O processo de aquisição e enfrentamento da doença é entendido como a capacidade de lidar com a relação do stress; um processo psicofisiológico, que desencadeia respostas gerais e específicas; para entendermos o processo de adoecimento, precisamos entender a psique (mente) e a soma (corpo); e a capacidade de adaptação do organismo aos agentes nocivos a saúde. Mello, Filho e cols. (1992), definem Ego como o conjunto de elementos orgânicos e psicológicos que uma pessoa entende como integrantes de sua estrutura. No processo da mitose as células em constante mutação podem transformar-se ou estar vulnerável para a instalação das doenças que podem ser reconhecidas pelo organismo como parte integrante do Ego e permanecer em desenvolvimento ao invés de ser expelido normalmente; entender a doença como externa e evasiva pode ser considerado um mito, pois seu desenvolvimento tem origem e faz parte do Ego, que em seu desequilíbrio ocorrido pelo estressor emocional não permitiu que o organismo se adequasse as vicissitudes de sua realidade e não reconheceu a doença (vírus/bactérias/câncer,etc..) como tal e as integrou como parte do sistema biológico, representando a expressão de suas emoções. _______________________________ *Psicóloga 180 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS As emoções são percebidas através da comunicação e o seu conteúdo ideológico, o indivíduo buscará através de sua percepção e expressão solucionar o estado que foi criado, se o processo for bloqueado a solução ficará prejudicada e a emoção ficará contida, então será manifestada indiretamente e de forma simbólica; a doença é o sintoma de uma emoção contida que não teve solução. Transformar uma situação stressante ao organismo depende exclusivamente do indivíduo, e da sua forma em lidar com o estímulo estressor (Ballone, e outros 2007). Às alusões vivenciadas pelo doente através dos arquétipos coletivos sobre a morte pode possibilitar a ampliação da consciência; a pessoa mediante o vislumbra mento desta visão arquetípica e através de sua personalidade, sendo uma unidade do todo; através da consciência encontra-se com o Eu absoluto no UNO, tornando os acontecimentos sincrônicos de corpo, psique, tempo e espaço consciente, podendo através deste processo viabilizar as transformações de suas células e em conseqüência, a sua cura. Jung afirmava que a doença nos leva a fatos e que a psicoterapia ao bônus da doença que é o: conheça-te a ti mesmo. É preciso haver consciência da vulnerabilidade da doença que inconscientemente instalou-se em sua estrutura psicorgânica, o descobrimento das diversas doenças em seu início pode sinalizar o nível de consciência de um indivíduo, este processo não acontece em pessoas em coma. Através da psicologia analítica entendemos como fatores internos o inconsciente e o consciente, que pode ou não determinar a ação sobre o livre arbítrio do doente em querer viver ou morrer ou ainda transcender através da morte física, como salienta Jung em seus estudos sobre a morte, acreditando no processo de mutação para o desenvolvimento de um novo ser. A proposta é olhar o doente e não a doença, os sintomas são expressões das emoções e podem ser utilizados para interferir na ampliação do olhar do doente de maneira que este busque o desbloqueio de suas emoções e conseqüentemente a estagnação ou eliminação da doença. A vivência do doente com os arquétipos coletivos sobre a morte possibilita o desenvolvimento do processo alquímico (transformação das células); e conseqüentemente pode restabelecê-lo, o irromper com o material coletivo que possui um significado extraordinário para o processo de cura. Jung acreditava que o Self precisa de uma consciência para entender o Ego, alma e o espírito, e é nela que se tem toda a possibilidade de cura e a possibilidade de atrair outras coisas e a agir no mundo provocando mudanças em si mesmo. E isto é resultante de forças da própria consciência, se está fragilizada, possibilita a abertura para entrar em um padrão simplificado. _______________________________ *Psicóloga 181 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS Sendo assim, é preciso estar conectado com o todo, e este todo é intra e extra psíquico, onde é preciso começar com o micro e aí, você avança para o macro. Muito embora para manter-se vivo ou curar-se é preciso ter um propósito de vida, vontade que contra o destino e as expectativas; viver seria alcançar o maior nível de desenvolvimento espiritual e de conscientização. CONCLUSÃO As doenças remetem as pessoas a refletirem sobre a vida ou morte, seus paradigmas, sua rotina comum entre outras variáveis; quando o processo de transformação ocorre, o self consegue atuar de maneira que o ego recue para dar espaço para o melhor caminho como objetivo, o aspecto sombrio da doença desaparece, parte da sombra se faz luz, ampliando a consciência, fortalecendo e possibilitando sua relação com o self. Esta reflexão através da leitura psicossomática nos ensina a interpretar através da consciência simbólica das doenças o processo da individuação. De maneira singular o lidar com a realidade pode ser para alguns o auto-engano; para outros um alívio entendendo que a morte pode ser o melhor objetivo no momento, ou ainda de forma consciente preparar-se para ela, pois apesar das variações interpessoais quanto à avaliação da situação stressante, existem aspectos de diagnósticos concretos que podem determinar o prognóstico. Se aceitarmos que cada um de nós é potencialmente um transformador de experiência, os aspectos positivos provocadas no processo do adoecimento, talvez seja uma possibilidade das mais singulares e concretas que temos para refletir e entrar em contato com o nosso inconsciente e poder sugerir mesmo que tardio uma conceituação do que venha ser a saúde humana; resignificar ou não uma doença nos remete a reflexão da aceitação enquanto homens e de nossa finitude; trazendo de forma realista e violenta a nossa impotência em controlar a vida ou a própria morte. _______________________________ *Psicóloga 182 A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALEXANDER, Franz–Medicina psicossomática: seus princípios e aplicações. Trad. Fischmann Célia Beatriz. Porto Alegre: Artes Médicas,1989 ANIELA, Jaffé, Rohn Liliane Frey; Franz, Marie Louise Von Franz. A morte a luz da psicologia. São Paulo. SP: Editora Cultrix, 1980 DAHLKE, Rudiger. A doença como linguagem da alma: Os sintomas como oportunidade de desenvolvimento. Trad. Pigantari, Dante. São Paulo: SP. Cultrix, 2005. JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo - 5 a. Ed. Tradução, Maria Luiza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Petrópolis. RJ: Editora Vozes, 2007 MELLO, Filho de Julio e cols. Psicossomática Hoje.Porto Alegre: RS. Artes Médicas,1992 MORENO, Jacob Levi. Psicodrama. Editora Cultrix. São Paulo. SP: 1993. págs. 80 a 205 RAMALHO,Cybele M. Aproximações entre JUNG e MORENO.São Paulo.SP:Agora, 2002 ESCUDEIRO, Aroldo (Org.) Tanatologia: Conceitos, Relatos, Reflexões. Fortaleza: LC Gráfica e Editora, 2008 ANIELA, Jaffé, (Org.). JUNG, C. G. Memória Sonhos e Reflexões. Nova Fronteira. São Paulo. SP: 2000: PG. 259. BALLONE, Geraldo José; ORTOLANI, Ida Vani; NETO, Eurico Pereira. Da emoção à lesão: Um guia da Medicina Psicossomática. 2ª. Edição. Barueri, SP: Manole,2.007 _______________________________ *Psicóloga 183
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