9 - SINCTA
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REVISTA DA APCTA. VOL2#9. FEV08 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Ano novo, casa nova! TRM: A instabilidade aérea (2ª parte) NACIONAL: ELPAC NAV: Com Carlos Santos na NSO HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO: Antonov 225 INTERNACIONAL: National Air and Space Museum DESTINOS: New York: a cidade que nunca dorme Flight Level Revista da APCTA (Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo) fl[email protected] Presidente do SINCTA: Carlos Reis Presidente da APCTA: Paulo Encarnação Coordenação Editorial: Nuno Simões Colaboradores: Pedro Matos, Nuno Chambel, Andreia Lopes, Ana Cristina Lima Correspondentes: Delegações da APCTA Propriedade: APCTA (Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo) Distribuição: Gratuita aos Sócios Design gráfico: Filipe Preto Impressão: Arlindo Silva - Artes Gráficas, Lda Periodicidade: Trimestral Tiragem: 700 exemplares Lisboa, Feverero de 2008 EDITORIAL O ano de 2007 foi, do ponto de vista sindical e associativo, rico em desafios e exigência, mas também aquele em que foram concretizados objectivos há muito perseguidos pela classe e importantes para garantir, já hoje, as condições sociais e laborais do futuro. Com clareza de objectivos, estratégias adequadas e flexibilidade táctica suficiente, os Controladores de Tráfego Aéreo Portugueses souberam estar à altura dos desafios, demonstrando, a quem ainda não o tinha percebido, porque razão nos orgulhamos da nossa capacidade de intervenção, da nossa profissão e do elevado nível de produtividade que apresentamos, reconhecido como dos mais elevados da Europa. Porque é nesta visão da classe que entendemos ser possível encontrar as respostas para os próximos desafios, iniciámos o ano de 2008 com a realização de um seminário destinado a reflectir sobre várias questões estratégicas, todas elas de algum modo relacionadas com o enquadramento futuro do Céu Único Europeu. Matérias como a implementação dos Blocos Funcionais de Espaço Aéreo, a prestação dos serviços ATM nos aeroportos nacionais (actuais e futuros), o relacionamento operacional civil/militar, os sistemas ATS do futuro e a necessidade de parcerias internacionais estarão seguramente no centro de grande parte da atenção e da actividade do SINCTA/APCTA durante o ano que agora se inicia. Para que todas as razões acima enumeradas e que nos distinguem como classe profissional possam perdurar, estamos a adquirir mais competências e massa crítica suficiente para intervir cada vez com maior acutilância nos palcos onde se moldará o cenário futuro dos serviços ATM. Porque um sindicalismo e associativismo moderno se fazem com apego a valores e referências que são de sempre, mas também com capacidade de perceber a alteração de contextos e de encontrar soluções que, respeitando os primeiros, nos garantam um papel central no futuro da função ATM, quer a nível nacional, quer internacional. Carlos Reis Presidente do SINCTA SUMÁRIO 02 03 06 10 16 18 22 26 30 31 REDACÇÃO: Mais um ano de Flight Level NACIONAL: ELPAC - English Language Proficiency for Aeronautical Communication TRM: A instabilidade aérea e os limites humanos II NAV: Com Carlos Santos na NSO CISM: V Encontro CISM – Sono no Controle de Tráfego Aéreo HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO: Antonov 225 DESTINO: New York – a cidade que nunca dorme INTERNACIONAL: NASM - National Air and Space Museum, Washington VIAGENS COM LETRAS: Kapuscinski e Heródoto “Andanças comHeródoto BREVES: Encontro Nacional de Supervisores / FL além fronteiras / Apresentação SINCTA/APCTA aos ab-Initio’s / I Encontro de Tráfego Aéreo e Instrutores de Voo p.1 NOTA DA REDACÇÃO por Nuno Simões Mais um ano de Flight Level Um novo ano traz sempre promessas e desejos que esperamos ver concretizados ao longo dos 365 dias que agora chegam. Muitos desses desejos e promessas vêm adiados do ano que finda mas outros são apenas a vontade que temos de continuar com algo que nos trouxe grande satisfação. Com a Flight Level acontece o mesmo. No fundo continuamos com os mesmos desejos de quando começamos, fazer uma revista que fosse bem recebida pela classe e que nos desse satisfação e gozo nisso. p.2 Chegados a este ponto e depois de criada uma estrutura, uma rotina, é altura de fazer a FL crescer. Atingimos os dois anos e parece que ainda foi ontem que duvidávamos se seríamos capazes de levar este projecto avante. Nem sempre conseguimos realizar os nossos desejos, mas também não desistimos de os atingir. E é com essa vontade que começamos mais um ano. A FL vai mudar! Aos poucos novas rubricas vão ser criadas, outros conteúdos vão ser introduzidos e outros deverão desaparecer. É um novo ciclo que começa. Não vamos concerteza desvendar tudo aqui, mas os nossos leitores vão começar a notar algumas diferenças ao longo deste ano, a começar já neste numero. Por outro lado, queremos continuar a apelar aos vários orgãos que nos façam chegar os vossos artigos, principalmente os que vem do “Atlântico”. Continuamos a sentir falta de artigos de Santa Maria, por exemplo, mas também de Ponta Delgada ou da Horta, etc. Existem nestes orgãos uma nova geração de controladores a quem apelamos para nos fazerem chegar artigos que achem de interesse para a classe. Outro assunto que continuamos a chamar a atenção de todos os leitores é o nosso endereço de email. Este foi criado com o propósito de servir como ferramenta para uma melhor interacção com os leitores. Dessa forma poderiam enviar-nos as vossas sugestões, REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo as vossas críticas e os vossos artigos. Para este ano, já formulámos o desejo de receber mais “feedback” vosso do que o ano que passou. Outra alteração com que vamos ter de viver daqui para a frente é com a saída do Rodrigo Vaz que por motivos pessoais e profissionais deixa a redacção da FL. Ao longo destes dois anos muito contribuiu para o que é hoje a FL e ajudou com o seu “know-how” a concretizar este sonho, levar até vós uma revista arejada, com conteúdos de interesse e que fosse uma companhia nos momentos de lazer. A ele deixamos o nosso agradecimento por aquilo que nos trouxe e pelo experiência que connosco partilhou. A FL já está no “mercado” para suprir as necessidades da nossa redacção. Para este ano de 2008 desejamos sinceramente que a FL continue o seu caminho de crescimento. Que continue a ser companhia de lazer e de informação junto dos nossos leitores. Que seja também a imagem da nossa classe: moderna, actualizada e rigorosa. Da nossa parte tudo faremos para que possamos atingir estes objectivos e assim quem sabe para o ano estarmos aqui de novo a formular novos desejos e a planear novos projectos. Para terminar volto a lembrar o nosso email: fl[email protected], e façam o favor de o usar. Em nome da redacção, um óptimo ano de 2008 a todos os nossos leitores. . A redacção NACIONAL / ELPAC por Carlos Terenas e Luís Candeias ELPAC English Language Proficiency for Aeronautical Comunication Porquê demonstrar a proficiência na Língua Inglesa? Em 1998, em resposta a diversos acidentes e incidentes directamente relacionados com falhas nas comunicações em língua inglesa, a Assembleia da ICAO, com a resolução A3216,dirigiu a sua Comissão de Navegação Aérea à tomada de medidas urgentes para obrigar todos os Estados Contratantes a agirem no sentido de garantir que os serviços envolvidos em telecomunicações aeronáuticas, possuam a proficiência necessária para a condução e compreensão de telecomunicações radiotelefónicas em Inglês. Na sequência das novas disposições foi regulamentado no Anexo 1 da ICAO “Personnel Licensing” - emenda 164, que a proficiência na língua inglesa é considerada como standard operacional a partir de 5 de Março de 2008 e como tal, sujeita a demonstração para efeitos de validação da licença CTA, pilotos e detentores de uma licença de Radiotelefonia (R/T). Este processo surge em antecipação às novas disposições de licenciamento ATC no âmbito da Comunidade Europeia que irão entrar em vigor em 17 de Maio de 2010, através da Directiva 2006/23/CE de 5 de Abril de 2006 (Artigos 8º e 11º) que impõe esta mesma obrigatoriedade, neste caso particular, apenas aos Controladores de Tráfego Aéreo. Decidiu a NAV iniciar o processo de certificação de todos os CTA´s e operadores de R/T para que, a partir de Março todos continuem a possuir a sua licença válida. Este processo iniciou- se formalmente em Setembro de 2007, com a assinatura de um acordo com o EUROCONTROL para assistência no processo de demonstração da proficiência linguística. O ELPAC é o teste que vai permitir demonstrar uma capacidade que desde à muitos anos nos é reconhecida internacionalmente. Este teste permite revelar o grau de proficiência dos CTA, em Língua Inglesa, na prossecução da prestação dos serviços de tráfego aéreo, principalmente no âmbito das comunicações entre pilotos e controladores. O ELPAC foi desenhado para Controladores de Tráfego Aéreo operacionais e reflecte a variedade de tarefas que estes desenvolvem no âmbito da comunicação em controlo de tráfego aéreo. O foco deste teste assenta na proficiência da língua e não nos procedimentos operacionais. A APCTA e o SINCTA irão acompanhar muito de perto e intervir sempre que necessário, no sentido de acautelar os interesses dos seus associados no decurso deste processo. p.3 Que nível de Inglês é necessário para continuar a possuir licença válida? A ICAO determinou que o nível de Proficiência mínimo ( Nível 4 -Operacional) tem que garantir a capacidade de: • Comunicar efectivamente em voz só, (telefone/radiotelefone) e em situações de cara a cara; • Comunicar em assuntos comuns, concretos e de trabalho com correcção e clareza; • Utilizar correctamente estratégias de comunicação para a troca de mensagens , reconhecer e resolver desentendimentos (p./ex verificando, confirmando ou clarificando a informação) quer em contexto geral quer em contexto profissional; • Gerir com sucesso e relativa facilidade os desafios linguísticos inerentes a uma dificuldade ou situação inesperada que ocorra no contexto duma situação de rotina de serviço ou telecomunicação; e • Usar uma pronuncia ou sotaque que seja inteligível para a comunidade aeronáutica; Este nível é determinado na chamada “ICAO LPR Rating Scale” e na sua versão europeia a “ELPAC Rating Scale” . Estas escalas, muito similares, definem os níveis básicos de compreensão escrita e falada pela qual teremos de nos reger aquando da certificação de competências( Nível 3, 4 e 5). De notar que foi na base destas escalas que o teste ELPAC foi concebido e foi nelas que os princípios de certificação foram baseados. Facilmente poderemos perceber que o nível 4 é um nível acessível a todos os CTA´s portugueses: dia a dia e no contexto operacional atingimos normalmente esse nível. No entanto importa referir uma questão que provavelmente preocupará a todos: O que acontece a quem não atingir o nível 4? Evidentemente que, tal como no que respeita às inspecções médicas periódicas, quem não atingir o nível requerido verá a sua licença suspensa. No entanto, a ICAO reconhecendo a enorme dificuldade que os Estados membros estão a encontrar no sentido de implementar este projecto, permitiu um prolongamento até Março de 2011. O INAC admitindo esta prorrogativa permite que os pilotos cumpram com esta recomendação até essa data, median- p.4 te condições especificas. Convém no entanto referir que antes desta data, e para os CTA, a Comissão Europeia, através da Directiva já referida, impõe esta obrigatoriedade até Maio de 2010. Assim, todos aqueles que, terminado o processo não consigam atingir o desejável nível 4, manterão todas as prorrogativas (ou seja nada lhes acontecerá em termos de licenciamento), mas terão evidentemente que ser sujeitos a uma acção de formação em língua inglesa (a definir e programar pela NAV), com vista a que, num teste posterior , o nível 4 seja atingido; o período mínimo recomendado de intervalo entre testes é de 3 meses. O ELPAC permitirá a certificação até ao nível 5, mas sublinhamos que é o nível 4, o nível mínimo exigível. As comunicações aeronáuticas têm um grau de especificidade elevado e como tal o teste escolhido para a avaliação da proficiência da língua inglesa, deverá reflectir o contexto aeronáutico e não qualquer outro tipo de contexto como os que são proporcionados por outros testes de proficiência . Um projecto em “fase de descolagem” ! Em Julho de 2007 o Conselho de Administração da NAV aprovou em definitivo a adesão ao projecto ELPAC. Em finais do mesmo mês foi assinado entre a NAV – Portugal e o EUROCONTROL um “Licensing Agreement” que compromete definitivamente a NAV – Portugal neste projecto. Sob proposta do TRALIS foi constituída e autorizada a constituição da seguinte equipa (doravante ELPAC Test Team da NAV – Portugal): REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo • Fernando César (TRALIS): Test Administrator • José Pessoa CTA (TRALIS): Marker e Examiner • Luis Candeias CTA (TRAATL): Marker e Examiner • Carlos Terenas CTA (CONLIS): Marker e Examiner • Iolanda Andrade (FORMA): professora de inglês – Marker e Examiner • Maria João Ramos (FORMA): professora de inglês – Marker e Examiner • Elvira Vitorino (exterior): professora de inglês – Marker e Examiner Em Novembro passado, todos os elementos da equipa, após 12 horas de formação e avaliação à distância, participaram no INSTILUX numa acção de formação com vista à acreditação como avaliadores e utilizadores do teste ELPAC. Já no decorrer do mês de Dezembro, a equipa foi acreditada pelo INAC, após provas rigorosas prestadas no INSTILUX, encontrando-se neste momento reunidas as condições para que durante este inicio do ano, o processo de certificação da proficiência em língua inglesa dos CTA e TICA detentores de licença de R/T da NAV – Portugal seja iniciado. O processo continuou com a realização em Janeiro de 2008 de vários Workshops de um dia cada, realizados em Lisboa, Porto, Faro, na Madeira e nos Açores. Simultaneamente esteve aberto um Help-Desk ELPAC, que pretendeu responder a todas as dúvidas que possam surgir. O processo de certificação individual da competência linguística começará em Fevereiro . A estrutura do Teste Como dissemos o ELPAC foi concebido para testar a proficiência da Língua Inglesa a 3 níveis operacionais – segundo a “Rating Scale” da ICAO e do ELPAC. O nível 3 (considerado insuficiente para o averbamento de proficiência na licença), o nível 4 (suficiente para averbamento e válido por um período não inferior a 3 anos) e o nível 5 (considerado nível superior e válido por um período não superior a 6 anos). O teste revela não só a fraseologia mas também a exteriorização do Inglês em situações de carácter comum. A proficiência da língua inglesa na sua componente de conhecimento geral é essencial na comunicação, porquanto não é possível desenvolver fraseologias standardizadas que possam abranger todas as situações possíveis. O ELPAC é um teste feito em computador e de forma interactiva; será realizado individualmente e em principio num só dia: a primeira parte “ on line”, durará cerca de 40 minutos e a parte dois “de interacção”, cerca de 35 minutos. O ELPAC providencia certamente um nível de segurança e confiança elevado bem como a confidencialidade e controlo dos dados ao nível local. Parte 1 – LISTENING COMPREHENSION Esta primeira parte (PAPER 1) permite demonstrar on-line, mas sempre num processo controlado localmente, a capacidade de entender comunicações entre pilotos e controladores e/ou controladores e controladores em situações de rotina e em situações anómalas ou de emergência. As gravações foram feitas a partir de comunicações “live” e variam entre mensagens -padrão curtas, comunicadas por pilotos, e outro tipo de comunicações em que o controlador tem que lidar com situações anómalas ou de emergência. Parte 2 - ORAL INTERACTION /ENTREVISTA INTERACTIVA Avalia a proficiência do controlador em língua inglesa, através de comunicações visuais e não-visuais em três tarefas distintas e que implicam: • A utilização de fraseologia ICAO standard • A exteriorização utilizando alternadamente fraseologia ICAO e Inglês Geral • A resposta adequada às mensagens dos pilotos • A resolução de “missunderstandings” / mal entendidos • O desenvolvimento do relacionamento piloto/controlador de forma efectiva • A negociação (Utilizando estratégias de comunicação), quando confrontado com situações pouco usuais • O relatar com detalhe uma situação pouco usual. • A exteriorização de forma desenvolta, das suas opiniões num contexto de aviação. Nestes duas partes é reproduzido um ambiente de trabalho tipo posição de controlo radar, nas suas diferentes vertentes (aeródromo/aproximação e área) e um diálogo simples sobre um assunto de carácter aeronáutico. Cada CTA desempenhará as funções de acordo com a sua área de actividade, sendo que aqueles que possuem mais do que uma qualificação ou averbamento terão que optar por efectuar a avaliação apenas numa das qualificações para que estão licenciados. Nota: Não existe nenhum teste que reproduza de forma aproximada o tipo de trabalho característico do Centro de Controlo Oceânico de Santa Maria e também não existe nenhum teste especificamente apropriado para o trabalho dos Operadores de Estação Aeronáutica de Santa Maria. Ambos vão ter de utilizar os testes disponíveis. p.5 TRM estudo publicado por Edith Seligmann-Silva A instabilidade aérea e os limites humanos (parte 2) Após a IFATCA e a ITF terem comunicado em conjunto, que um ano após o acidente da GOL no Amazonas, o Brasil ainda não oferece garantias de segurança no seu espaço aéreo, vale a pena perceber toda a complexidade do actual cenário. Publicamos hoje a segunda parte do estudo, que examina com detalhe toda a problemática dos “céus brasileiros” e as consequências de que têm sido “vitimas” os nossos colegas. p.6 2. 3 - A gestão desgastante e a gestão preventiva As recomendações dos que estudam a questão da segurança aérea são direcionados à importância para que se registrem e analisem todas as informações referentes a quaisquer incidentes, que quando estes ocorram os controladores possam sentir-se apoiados e seguros para reportar todos os detalhes sem temor de sofrer acusações. Os estudos existentes indicam que a situação entre nós é completamente diferente, o que prejudica a efetivação de relatórios e estudos detalhados – como os de outros países que realizam deste modo análise sistemática visando detectar problemas que possam ser prevenidos futuramente. O número de incidentes é considerado pelos especialistas como sendo um indicador importante para a segurança aérea: quanto maior o número de incidentes, maior a degradação do sistema. É essencial que a idéia de prevenção seja um dos princípios norteadores da gestão. A prevenção de acidentes, no caso, é inseparável da necessidade de livre comunicação. O estímulo para que as dificuldades operacionais sejam relatadas e avaliadas rotineiramente permite mudanças em prol da maior eficiência do sistema e, ao mesmo tempo da segurança. Tal seria o caminho para passar de uma REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo gestão desgastante a uma gestão preventiva. Caminho que foi seguido já por muitos países. 3- A perspectiva cultural e a questão ética: segurança como valor maior. A exacerbação da instabilidade aérea também representou uma ameaça aos valores centrais da coletividade de controladores. A responsabilidade em relação à segurança corresponde ao valor maior que norteia todo o trabalho do controlador de tráfego aéreo e confere o sentido mais virtuoso à sua profissão. Garantir e manter a segurança é o objetivo primordial e atingir esse objetivo através de seu desempenho cotidiano fornece alento para o esforço continuado, ao mesmo tempo que nutre o orgulho profissional do controlador. A segurança dos vôos (e das vidas) é missão assumida por cada controlador e por cada equipe. É, assim, também uma força central na construção dos vínculos que unem os integrantes desta categoria profissional. Estas constatações, realizadas em pesquisas sobre os controladores de tráfego aéreo, permitem entender o quanto estes podem se unir quando percebem que a segurança aérea está ameaçada. A decisão conjunta de desencadear uma operação padrão que garantisse a manutenção da segurança, no caso brasileiro, parece-nos uma clara evidência deste fenô- meno. Tratou-se de uma decisão que perturbou uma “normalidade” aparente do fluxo aéreo, que trouxe protestos, chegou a ser interpretada como “motim” já antes do dia 30 e desencadeou vários inquéritos, medidas disciplinares e represálias. A cultura de uma comunidade de profissionais está intimamente associada à identidade social dos mesmos, o que por sua vez diz respeito à maneira como os profissionais enxergam a si próprios (auto-imagem) e ao modo como são vistos pelo meio social (ambiente de trabalho e instituição) em que atuam e pela própria sociedade (imagem pública). As identidades individuais – assim como a estabilidade psíquica de cada um – possuem forte relação com essas instâncias. Nas atuais circunstâncias, é possível visualizar como foi ferida a imagem pública dos controladores enquanto categoria. Em primeiro lugar, porque houve pronunciamentos voltados para desqualificar os controladores e a operação-padrão que adotaram solidariamente, usando para isto o argumento de que apenas pretendem obter vantagens salariais e de que a medida tomada foi desnecessária “já que tudo estava funcionando” (aparentemente) antes de outubro. Já vimos que a reivindicação de salário que corresponda à capacitação e às imensas responsabilidades da profissão precisaria ser encarada sob o ângulo da qualidade de vida. Mas as declarações reiteradas de que a mobilização dos controladores havia sido acionada exclusivamente por interesses pecuniários foram o ataque a uma cultura e a uma identidade profissional centradas nos valores da segurança e da vida. Em segundo lugar, é preciso voltar a atenção para o fato de que a repetição exaustiva, pela mídia televisiva, das dramáticas cenas dos aeroportos congestionados era acompanhada em geral por acusações veladas ou explícitas aos controladores. Entretanto, na circulação destas acusações, dentro da desinformação geral que reinou nos aeroportos, não eram mencionadas as razões de segurança que motivaram a operação-padrão. Além de pressões hierárquicas, havia agora também o peso de um julgamento depreciativo, midiaticamente produzido, que dominava a opinião publica. A imagem dos controladores perante a população havia sido, assim, gravemente deformada, configurando um extenso dano moral a toda uma categoria profissional. As repercussões individuais, em tal situação, p.7 É essencial que a idéia de prevenção seja um dos princípios norteadores da gestão. A prevenção de acidentes, no caso, é inseparável da necessidade de livre comunicação. O estímulo para que as dificuldades operacionais sejam relatadas e avaliadas rotineiramente permite mudanças em prol da maior eficiência do sistema e, ao mesmo tempo da segurança. apresentam potenciais e graves riscos à saúde mental. É de supor que muitos processos de adoecimento estejam evoluindo silenciosamente. 4. A questão da confiança como elo entre saúde e segurança: desafio a uma gestão participativa. Um outro aspecto precisa ainda ser destacado: a questão da confiança. Ela possui derivações relevantes tanto para a saúde mental quanto para a segurança aérea, constituindo ao mesmo tempo um elo entre ambas. No estudo da situação de trabalho dos controladores, torna-se crucial e imprescindível à estabilidade do sistema um clima organizacional no qual predominem tranqüilidade e confiança mútua. Confiança que deve reinar tanto entre os que atuam nas equipes como entre escalões hierárquicos, assim como entre os técnicos do sistema de controle e os pilotos. Em primeiro lugar, pelo que já foi dito: existência de confiança é essencial à tranqüilidade e minimiza as tensões do trabalho – tanto dos controladores quanto dos pilotos. Em segundo, porque a confiança é fundamental para que se harmonizem as ações individuais nos momentos de emergência, pane de equipamentos e outras perturbações do sistema. p.8 Este é um princípio conhecido pelos especialistas em segurança nos sistemas de tecnologia complexa e/ou avançada. Num clima de temor e desconfiança as comunicações costumam ser truncadas - perdem clareza e precisão. A qualidade e completude das comunicações é essencial tanto para o monitoramento das aeronaves quanto para que se identifiquem riscos e se trabalhe para restaurar condições de segurança. No momento atual, em que cresceu tremendamente a intimidação, sob a sombra de um inquérito militar em andamento e de explícitas e reiteradas ameaças de punição, tudo indica que a confiança entre superiores e subordinados desapareceu, ao mesmo tempo que, lamentavelmente, a confiança entre controladores e pilotos parece também estar sendo fragilizada, segundo recentes noticias e pronunciamentos. Resta apenas a confiança recíproca que subsiste entre os próprios controladores, apesar de que a mesma está sendo fortemente pressionada pela imposição de restrições ao livre diálogo e troca de idéias. Para maior agravamento dos riscos à segurança das operações, lamentavelmente O acima exposto conduz a uma reflexão e a uma pergunta que deixamos em aberto: Será REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo possível humanizar as relações inter-hierárquicas de modo a adequar o fluxo de comunicações e proteger a saúde,- mantendo-se os controladores dentro da esfera militar? 5- Formação – um desafio crucial A qualidade da formação profissional é um dos mais importantes suportes da confiança e da tranqüilidade, tanto no plano individual quanto no coletivo. A auto-confiança do controlador tem como alicerce uma formação que forneça os necessários conhecimentos e proporcione uma adequada prática supervisionada. O ideal é que existam oportunidades de atualização continuada e reciclagem periódica. Além da auto-confiança, a confiança na capacidade profissional dos companheiros é fundamental para o trabalho na equipe. No momento, estamos diante de uma situação que gera sérios e fundados temores em relação a que estejam sendo garantidas a completude e qualidade desta formação. O assunto foi alvo de uma investigação realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), conforme o teor da Notificação feita por esta instituição aos órgãos responsáveis pelo controle aéreo. Nesta Notificação, foi relatada a constatação de que pessoas não habilitadas estavam operando como assistentes de tráfego, trabalhando ao lado do Controlador Principal , nos consoles operacionais do controle. A questão da qualidade e duração da formação, além de indispensável à tranqüilidade e à segurança, coloca ainda imenso desafio e aparente impasse ao atendimento do imperativo atual de aumentar a curto prazo o contingente de controladores. Além do inicio de novos cursos, seria importante garantir duração e qualidade suficientes aos mesmos. Seria ainda desejável estimular a volta imediata ao sistema daqueles controladores que, por não suportarem mais a fadiga ou pela perda de esperança em melhora nas condições de trabalho, se afastaram da profissão nos últimos anos. O que se afigura mais recomendável do que convocar controladores militares já recolhidos à reserva após toda uma vida de trabalho desgastante. Para chamar de volta os que se afastaram antes de chegar à aposentadoria e também para atrair eventualmente controladores de outros países que além da capacitação comprovada, também dominassem o inglês e o português,- como chegou a ser proposto por algumas autoridades antes do dia 30- seria indispensável oferecer salários dignos e condições de trabalho mais saudáveis do que as atuais, além de uma gestão eficiente e democrática. 6- Encaminhamentos iniciados e interrompidos O encaminhamento a um diagnóstico da instabilidade aérea e o encontro de algumas soluções vinha se efetivando antes do dia 30. O conjunto de problemas que afeta as diferentes esferas institucionais que atuam no transporte aéreo foi objeto de muitas análises e interpretações. Mesmo que sob muita polêmica, foram identificadas carências e distorções no financiamento e na gestão do sistema, insuficiências e irracionalidade na infra-estrutura, conflitos de poder e de interesses, competição exacerbada entre as companhias aéreas. Ficou evidente que a competição entre as empresas aéreas gerou estímulos para que o número de passageiros tenha mais do que duplicado, juntamente com um rápido crescimento do número de vôos, sem que a infraestrutura – e o número de controladores – tivessem acompanhado essa expansão. Acrescentando que as companhias aéreas principais anunciam compras de mais de uma centena e meia de novos aviões. Para corresponder a esse aumento, a reforma que está aumentando as dimensões dos aeroportos encontra-se em andamento. A dimensão humana dos que trabalham no sistema, foi lembrada fugazmente em alguns momentos, porém tende agora a ser totalmente esquecida. Tornados verdadeiros bodes expiatórios, ameaçados e silenciados, os controladores chegaram a um ponto máximo da vulnerabilização de sua saúde. A desconfiança e a intimidação, ao mesmo tempo que desrespeitam e ferem a dignidade e a saúde mental, prejudicam ainda mais as perspectiva de que possam manter ativados seus potenciais mentais e o engajamento em prol da segurança aérea Sem dúvida, como já vimos, a adequação da remuneração também é um aspecto relevante, mas precisa vir acompanhado de outras mudanças para que o desgaste da saúde seja efetivamente minimizado, dentro de estrutura horária de trabalho adequada, com número suficiente de controladores e sob uma gestão mais propicia a uma sociabilidade saudável. O anúncio da interrupção de alguns dos encami- nhamentos já iniciados é, portanto, sobremaneira preocupante. CONCLUINDO: No âmbito do transporte aéreo foi desencadeada uma competitividade desenfreada. Em tal contexto dominado pelo economicismo, muitas vezes aparece como inócuo o apelo aos valores da vida – onde se insere a questão da saúde. Já houve determinações para restringir os vôos dos jets executivos, medida acertada, mas que não foi suficiente para neutralizar a enorme desproporção existente entre a estrutura do sistema e a escalada da demanda. Uma indagação não pode ser calada e emerge da constatação de que o incremento potencial dos danos à saúde do controladores resultou do fato de os mesmos terem sido colocados como bodes expiatórios de uma problemática de imensa complexidade. Como bem declarou um ex-controlador, em uma das expressivas mensagens de membros da categoria que podem ser encontradas na internet: investir em equipamentos desprezando aqueles que vão utilizá-los é o mesmo que modernizar hospitais sem preparar os médicos: não funciona. Um diagnóstico se impõe, agora que diferentes análises da instabilidade aérea convergem para um mesmo reconhecimento: os limites humanos e materiais do sistema estão sendo atingidos, no bojo de uma gestão desgastante. Em momentos agudos, já foram ultrapassados estes limites, e foi aí que ocorreram paralisações que evidenciaram ter-se chegado ao limite da própria possibilidade de operar. O perigo da persistência de tal situação não é apenas de ordem financeira e material. E, em termos humanos, não se limita aos desgastes de controladores, atingindo também pilotos e outros trabalhadores do sistema, ao mesmo tempo que fere a segurança das milhares de vidas humanas transportadas diariamente pelos aviões. . * Edith Seligmann-Silva é médica psiquiatra com especialização em Saúde Pública, professora aposentada da Faculdade de Medicina da USP. p.9 NAV por Nuno Simões fotografias de Alfredo Rocha p.10 REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo com Carlos Santos * na NSO Após pouco mais de um mês, em que se encerrou um ciclo com o fecho da “Velha Sala de Operações”, pedimos ao Carlos Santos, assessor TRALIS para a área de equipamentos, que nos ajudasse a compreender a complexidade por trás desta * “Nova Sala de Operações”. Comecemos então a nossa visita. FL- Para aqueles que não te conhecem, quem é o Carlos Santos? CS- Nasci em Algés no ano de 1956. A escola primaria foi por ali e depois andei no liceu de Oeiras, onde fiz o 7º ano (na altura não havia mais...). Antes do 25 de Abril colaborei no 1º Acto Clube de Teatro, onde muito se passava à revelia da politica vigente. Com o 25 de Abril fiquei isento do serviço militar. Dei aulas a adultos no âmbito dos planos de alfabetização enquanto fiquei “a marinar” até ingressar na Escola Superior de Belas Artes, curso de Arquitectura que frequentei até ao 4º ano. Nunca conclui pois os turnos, os filhos e a dedicação à actividade que desenvolvia na altura ligada ao Design e Arquitectura de interiores não me deixavam o tempo necessário. FL- Como foi o teu percurso profissional? CS- Foi durante o 1º ano de Arquitectura em Setembro de 1977 que comecei o AB-INITIO. Concluído com sucesso, iniciei a carreira como Assistente de Controlador. Na altura era assim que se iniciava a actividade profissional pois ainda não havia a carreira TICA. Foi como assistente que fui cumprir a S. Maria os, na altura, 9 meses obrigatórios de comissão. Tenebroso. O alojamento que nos davam eram os famigerados ICE BOXES, anexos do antigo hotel do aeroporto, enfim... Regressado a Lisboa fiz o curso de aeródromo, adquiri a qualificação e trabalhei perto de um ano na torre de Lisboa. Seguiu-se o curso de controlo de área convencional, após o que me qualifiquei no ACC de Lisboa. Era o tempo da “olhodrómica”, não podíamos fazer radar mas o antigo primário dava uma ajuda para poupar fraseologia. Depois veio o curso radar, qualificação (na altura em radar primário), transição para o NAV 1 (radar secundário) onde trabalhei até Fevereiro de 1999. FL- E depois, o que te levou a abraçar este lado da carreira ? CS- Fui convidado por alguns colegas que na altura iniciavam a sua actividade na gestão da empresa. Não me esqueço que estava sentado, ao fim do turno da manhã, no sector Madeira, na altura já com radar pois quando esse sector começou a ser controlado em Lisboa (anteriormente era-o na torre do P. Santo) era convencional. Foi como ir para um “emprego” novo. Sem dúvida que a experiencia adquirida foi e ainda é fundamental. FL- Consegues enumerar alguns dos projectos onde estiveste envolvido? CS- Na minha actividade como assessor operacional estive envolvido directamente, entre outras, nas seguintes actividades: • FPL/TWR interface (interface com o SOA) em substituição do COMFAX. • Implementação da mensagem ABI do protocolo OLDI com Madrid Sevilha e Canárias e distribuição automática de FPV’s pelas posições. Até esta altura eram impressas na SDV e distribuídas manualmente. • Implementação do LISATM em substituição do NAV 1 e aumento do numero de posições do ACC (VERAM e T3). O LISATM foi implementado com base no existente sistema TORRES que tinha sido desenvolvido para proporcionar controlo radar aos serviços das torres. Relativamente ao NAV 1, este não possuía as limitações deste, nomeadamente no que concerne o nº de TRACKS processados – 150 no NAV 1. Quando fossem mais podiam deixar de ser vistos... Também abriu as portas ao RVSM. • Implementação do RVSM na FIR de Lisboa. • Substituição do “radar de plástico” em Faro. • Implementação do STCA. p.11 “Em qualquer projecto estão sempre presentes os aspectos de segurança operacional, toda a regulamentação que tem de se cumprir, as leis da física que nos limitam e principalmente o nunca esquecer que se alguma coisa correr mal, cai primeiro em cima de quem está na posição.” • Implementação do OLDI, Sevilha/Madrid, Porto/Sta. Maria. • TWRATM. O LISATM nos vários serviços das torres entre outros, já com STCA. • ATLATM - Visualização radar em S. Maria. No âmbito internacional fui o motor da criação das mensagens OCM (Oceanic Clearence Message) e ROC (Request Oceanic Clearence) no protocolo OLDI do Eurocontrol. FL- Para a maior parte dos operacionais foste um dos rostos da NSO, consegues-nos fazer um pouco do historial por trás deste projecto? CS- O projecto da NSO tem mais de quatro anos. Pouco depois da implementação do LISATM concluiu-se que o espaço da agora VSO (Velha Sala de Operações) não suportava mais posições, para além do facto de as bancadas terem sido adaptadas do NAV 1, não oferecendo condições de isolamento térmico e sonoro. Era preciso construir um ACC com possibilidade de expansão de sectores de modo a fazer face ao constante aumento da procura, com melhores condições ergonómicas e ambientais e com melhor acomodação dos meios técnicos Partiu-se da dimensão de cada bancada, que já existia dum estudo para remodelar a VSO, acrescentou-se aos existentes mais três sectores apoio/executivo, negociou-se com p.12 a EITA as necessidades, verificou-se o espaço necessários às posições SUP e SDV decorrente dos equipamentos necessários, e quando se tentou arrumar tudo na sala que esteve anteriormente destinada à oceânica e posteriormente ao GETALIS, verificou-se que não cabia, pelo que se propôs a ligação ao pedaço da VSO que hoje é parte integrante da NSO. Os trabalhos de construção civil que conduziram a esta ligação chegaram a ser considerados como os possíveis indutores dum prazo alargado. O sistema devia ser o mesmo que existia na VSO. É, mas fomos confrontados à ultima da hora com degradação de algumas funcionalidades (por ex: rato...). FL- Durante este processo, és capaz de destacar um momento feliz e aqueles que te tiraram o sono? CS- Todo o processo inicial deu imenso “gozo”. A decisão de ir para uma nova sala e a sua concepção enquanto adaptação ao espaço existente. A concepção das várias bancadas ligada às funcionalidades e aos vários equipamentos, os primeiros protótipos. A avaliação do protótipo por largas dezenas de colegas. Ver a sala a funcionar na totalidade foi uma grande alegria. Pior foram as várias derrapagens, acomodá-las e “dar a cara” aos colegas. As constata- REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo ções de ultima hora – reóstatos da iluminação das bancadas, temperatura da sala, RATO, CFL, EID/RESERVAS – foram as que me “tiraram mais o sono”. Os dados já estavam lançados. FL- Para um “ex-operacional” qual é a pior pressão aquela que se passa na ”posição” ou estar responsável por um projecto desta envergadura? CS- Não se podem medir relativamente uma à outra. Na posição é “agora, já, imediatamente”. Não pode ficar para depois. Quem vem da operação trás esta maneira de estar para as novas actividades e não é fácil entender os “percursos tortuosos” que por vezes é preciso percorrer para se chegar a bom porto. Nos processos em que estive envolvido nunca “larguei a posição” embora tenha aprendido a percorrer os tais caminhos e a ter persistência e paciência para o fazer. Fotografia: Nuno Chambel Acredito que quanto mais os técnicos conheçam a perspectiva operacional, e mais os operacionais conheçam as limitações técnicas, melhor plataforma existe para alcançar objectivos reais, daqueles que se reflectem nas operações deixando de ser intenções ou projectos inexequíveis. Em qualquer projecto estão sempre presentes os aspectos de segurança operacional, toda a regulamentação que tem de se cumprir, as leis da física que nos limitam e principalmente o nunca esquecer que se alguma coisa correr mal, cai primeiro em cima de quem está na posição. Também a primeira impressão é a que conta mais, e foi feito um grande esforço no sentido de tudo estar o mais pronto possível de modo a se obter o mais elevado sucesso. Assim, a pressão também existe e nem sempre se pode deixar para depois. FL- Sempre que algo novo aparece ou que temos forçosamente de mudar surgem logo algumas críticas. Quais aquelas que já chegaram até ti? CS- Como diz a velha máxima é difícil satisfazer a Gregos e Troianos. Foram tantas as críticas desde a mesa do supervisor, ao chão que não estava em condições, aos óculos das portas que só se viam as pessoas baixinhas, etc. A mudança causa sempre impacto e a capacidade de o acomodar varia de pessoa para pessoa. O Tempo é um bom conselheiro. Vamos ver o que persiste e que não é resultado do impacto inicial. FL- São injustas ou sentes que algumas têm razão de ser? CS- É preciso não esquecermos que estamos à partida espartilhados por decisões de gestão e que qualquer passo tem custos. Para tudo o que envolveu horas de trabalho houve negociações, por vezes “ferozes”. Das indicações recolhidas, das reuniões de preparação tidas com a APCTA e com a participação de colegas de várias áreas, algumas concretizaram-se outras não. A sombra foi total – mesmo numero de CTA’s em sombra e em operação. Na “endurance” foram operados todos os sectores, em todas as posições iniciais da NSO, por todos os CTA’s. Tinha sido ideal fazer todos os sectores ao mesmo tempo mas não havia gente suficiente. O briefing inicial devia ter sido dado com mais tempo e certas matérias abordadas com maior profundidade. Houve quem esperasse mais mudanças, novas funcionalidades, novos equipamentos, mas desde o inicio do processo a palavra de ordem era: novidades nunca, simultaneamente com a transição! Houve no entanto algumas imprescindíveis, por exemplo: o controle de impressoras, o “ Operational Room Configurator” ou o funcionamento do menu de “Last Flight Level”. FL- Como reages quando alguns operacionais dizem que esta sala foi feita “ lá dentro”, sem ouvir os operacionais ? CS- Mais uma máxima: “cada cabeça sua sentença”... Isto aplica-se não só às posições de apoio. Há decisões que não podem ser tomadas por vontades ou opiniões maioritárias. A complexidade das matérias envolvidas é elevada e por vezes encontramo-nos numa posição em que não estamos na posse dos elementos que devem balizar a decisão. Não só é impossível transmitir esse conhecimento, como não é possível consultar todos. Quem se “chegou à frente” foi sempre ouvido e todas as boas ideias consideradas. p.13 Se houve aspecto cuja decisão foi difícil de tomar foi exactamente se as posições deviam ser duplas ou individuais. Foi uma decisão tomada no inicio do processo, há cerca de 4 anos, em que pesando todos os considerandos se optou pela versão que aparentemente deixou mais opções para futuros desenvolvimentos. Esperemos que no futuro isto seja verdade. Há que referir que este aspecto foi posto à consideração das muitas dezenas de colegas que avaliaram o protótipo (embora já de bancada individual) e que levou, devido às características da operação, a que as bancadas do APP sejam duplas. Um outro aspecto foi se os écrans deveriam ou não ser inclinados. Houve imensas críticas mas não se pode decidir sem ter a “imagem global”. Penso também que o senso comum deve imperar na maior parte das decisões. Por exemplo, quando os ergonomistas desenharam a posição do écran, partiram da “posição perfeita” de como um indivíduo deve estar sentado mas na prática ninguém se senta assim, logo optou-se por inclinar o écran, contra todos os estudos. FL- Que balanço fazes da NSO, qual o feedback que tens tido? p.14 CS- Apesar dos “rabos de palha” que ainda estão por resolver, (e alguns são críticos) , tem sido positivo. Bom, também se mudou duma sala com luminosidade deprimente, ruidosa e com 21 anos de odores e “cotão” para um espaço bastante mais amplo, com luz natural, silencioso. O acabamento, quer em termos de equipamento, quer das funcionalidades ATM é fundamental. A pressão está a ser mantida, para que todas as questões ainda por resolver, não sejam relegadas para prazos inaceitáveis ou caiam no esquecimento. Com o desligar da VSO, as posições serão equipadas na totalidade e será construída a parede divisória definitiva. Com todas as posições equipadas não será necessário recorrer ao VERAM ou ao UPPER em caso de falha duma posição. FL - Se pudesses mudar algo, o que seria? CS- Começava logo com as “posições gémeas” (apoio e executivo com os mesmos TRACKS em CTACT e XTACT). A meu ver tendo o apoio e o executivo a mesma imagem, já não havia necessidade do apoio estar em cima do executivo. Complementando isto com um sistema de voz tipo “Cockpit Like” seria o ideal. REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo A outra alteração seria pintar o tecto duma cor que reduzisse os reflexos. FL- A NSO ainda agora acabou de nascer. Podes-nos adiantar, o que podemos esperar em termos de desenvolvimentos técnicos num futuro próximo ? CS- Sem dúvida a estabilização do sistema nos vários aspectos conhecidos de todos. Parte desta estabilização espera-se com a nova versão do ODS que está para muito breve e que também vem resolver o problema do fecho dos menus de FL. A implementação do sistema de redundância em todas as posições ou seja o ASD de acordo com a informação do plano de voo quando não há cobertura ou quando um TRACK radar desaparece. • Coordenação automática entre sectores com abolição das FPV. • OLDI com Casablanca/Canárias. Deixo duas mensagens, se não te importas. A primeira, é que é preciso fazer entender aos nossos colegas que não devemos ter menus e automatismos para 100% das funções se só utilizamos 98% delas, no nosso dia-a-dia. Os outros 2%, que exigem esforços de desenvolvimento incríveis e custos brutais, devem ser substituídos por procedimentos, tipo: “ se isto acontecer, fazer isto”. Poupar-se-ia certamente muito tempo, dinheiro e recursos humanos, necessários para outros desenvolvimentos. (Air Situation Display) ligado ao multiradar TRACKER PHOENIX, gravado, com ligação ao FDPS e com STCA ( Sistema FallBack). Outros aspectos dependem da prioridade que lhes é atribuída no conjunto dos desenvolvimentos necessários para todos os órgãos da NAV. Esta prioridade é definida no CCB (Change Control Board) organismo em que têm assento representantes das direcções operacionais DOPLIS e DOPATL, bem como da DSTI. Esta definição resulta no “Road Map ATM” que constitui um dos instrumentos de gestão da empresa. Posso no entanto referir alguns que sem duvida trarão mais valias em termos de facili- dade de operação e segurança: • Representação do “ next way point” nas FPV de modo a não termos que perguntar a todos o ponto a seguir a... • Activação do programa de criação de áreas associado ao “Área Management” de modo a ter todas as áreas no ODS conforme o período de activação e altitudes. Acabava-se com o RESERVAS e os GRAFICOS. • Afinação do STCA de modo a diminuir o numero de alertas espúrios. • “Flight Leg” e possibilidade de alteração dinâmica da rota do FPL. • FPL TRACK de modo a que em conjunto com os TRACKS radar sejam representados TRACKS FL- Por trás dum projecto como este existe certamente uma enorme equipa. Gostarias de destacar algum elemento? CS- Não desmerecendo ninguém da área operacional, nem o chefe de projecto Eng. Tolentino Martins, sem dúvida os técnicos da DSTI, DETPRO e DOPLIS que efectivamente construíram o sistema e puseram a sala a funcionar em todos os seus aspectos. Uma palavra também para a SOTÉCNICA que construiu as bancadas e fez muitas outras coisas. FL- Por fim, que mensagem gostarias de deixar aos nossos leitores ? CS- Deixo duas mensagens, se não te importas. A primeira, é que é preciso fazer entender aos nossos colegas que não devemos ter menus e automatismos para 100% das funções se só utilizamos 98% delas, no nosso dia-a-dia. Os outros 2%, que exigem esforços de desenvolvimento incríveis e custos brutais, devem ser substituídos por procedimentos, tipo: “ se isto acontecer, fazer isto”. Poupar-se-ia certamente muito tempo, dinheiro e recursos humanos, necessários para outros desenvolvimentos. A outra mensagem é que fui operacional 21 anos e quando fui para o “emprego novo”, foi impressionante a quantidade de coisas novas que descobri. A profissão de CTA é sem dúvida caracterizada pelo operacional mas não se esgota nessas funções. Para que tudo funcione, para que toda a informação chegue à linha da frente, para que tudo corra o melhor possível nas posições, há um vasto trabalho de retaguarda que só pode ser desempenhado por quem tenha formação e experiência como CTA. Espero que haja sempre pessoas com gosto e vontade em serem os “mecânicos da equipa”. . p.15 CISM por Ana Cristina Lima V Encontro CISM Sono e Fadiga importância do repouso em Controle de Tráfego Aéreo No passado mês de Novembro realizou-se o V Encontro Nacional de pares CISM. Este ano a cidade anfitriã foi Lisboa e, para além dos membros da equipa, estiveram também presentes, no terceiro dia de trabalhos, colegas alemães, dinamarqueses e da Força Aérea. O segundo dia do encontro foi dedicado a uma acção de formação sobre “Sono e Fadiga”, orientada pelo Dr. Walter Eggert, um especialista nesta matéria e CTA suíco aposentado. p.16 REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo O primeiro dia do Encontro, exclusivo à equipa, foi dedicado a acções de refrescamento e a partilha de experiências entre os pares. Permitiu ainda dar as boas vindas, e fazer a apresentação a todos, dos dois psicólogos que iniciaram em 2007 o seu apoio aos elementos da equipa dos Açores e Madeira. O acompanhamento do encontro por estes dois novos membros permitiu, através da partilha de experências e de diversos exercícios, dar-lhes a conhecer melhor a nossa realidade profissional, quer de uma ponto de vista técnico quer emocional. No segundo dia decorreu a acção de formação sobre “Sono e Fadiga”. Esta formação, do maior interesse para todos, trouxe importantes conhecimentos sobre a influência destes factores no nosso trabalho diário como CTAs, particularmente nos casos em que ocorrem incidentes críticos. Para além de dar a conhecer o processo do sono e suas principais características, um dos grandes alertas que ficou desta acção foi a importância do respeito pelo sono em profissões como a nossa, e quais as principais consequências da falta de repouso – nomeadamente: irritabilidade, falta de concentração, reacções mais lentas e redução da capacidade de memória; em suma, verifica-se uma diminuição global das capacidades físicas e mentais. Devemos portanto estar atentos aos sinais que o nosso corpo nos dá de fadiga e que, obviamente, variarão de pessoa para pessoa, mas que podem ir desde uma sensação de completa falta de energia a insónia! Por incrivel que pareça à primeira vista, a fadiga extrema pode alterar a nossa fisiologia de tal forma que nos impede de dormir. O sono é um processo vital para a estabilização da memória e integração dos nossos processos cerebrais – é o nosso reboot – e a qualidade do nosso sono é um bom indicador do nosso estado geral de saúde. Claro que poderemos pensar, como fazer uma boa higiene de sono quando trabalhamos por turnos? Como é lógico, esta não é a situação ideal mas um dos conselhos que nos foi transmitido foi, dentro do possível, dormir antes do turno da noite e fazer pequenas sestas (no máximo, uns vinte minutos) – novamente, dentro do possível – durante o turno. O objectivo destas pequenas sestas é dar algum descanso mental sem permitir que entremos em sono profundo, uma vez que aí seria mais difícil retomar o estado de vigília. Para afastar a sonolência durante a noite, todos teremos as nossas estatégias, mas algumas que poderão ser eficazes são o ar fresco, o aumento da luminosidade e o procurar alguma actividade que nos desperte a atenção. Como CISM não é só o que fazer após um incidente crítico, mas também sermos conscientes dos nossos níveis de stress e fadiga de modo a estarmos melhor preparados para lidar com as situações difíceis que se nos apresentam, esta acção de formação foi uma substancial mais valia para todos os participantes. O terceiro dia do Encontro teve a manhã reservada às apresentações dos convidados, o que permitiu a troca de experiências resultantes das diferentes realidades vividas, quer pelos colegas estrangeiros quer pelos da Força Aérea Portuguesa, e a discussão da forma de actuação dos seus programas CISM. Contamos ainda com uma apresentação do nosso colega Fernando Dutra, que nos falou da sua experiência de cinco anos como par CISM em Faro, bem como da aprendizagem feita pela equipa ao longo destes anos. O dia terminou com a avaliação do trabalho da equipa ao longo do ano e com o planeamento das actividades para 2008. E, por falar em avaliação, os parabéns à Dra. Isabel Cambraia e ao Coordenador Nacional por mais um Encontro excepcional e pela oportunidade de uma formação de extraordinária qualidade e relevância. Para mais informações sobre o programa consultem www.nav.pt/cism ou contactem qualquer um dos pares. . p.17 HISTÓRICOS DA AVIAÇÃO rubrica por Pedro Matos Antonov 225 Mriya p.18 REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Quando, na edição #7 da Flight Level, apareceu o artigo sobre o Hughes H-4, houve quem me perguntasse se não há nenhuma maneira de definir qual é o maior avião do Mundo. Bem, normalmente aceita-se que a característica determinante é o peso máximo à descolagem (Maximum Take-Off Weight - MTOW)…o que atribui esta distinção, desde há quase 20 anos, ao Antonov 225. Os estudos para a construção do An-225 começaram em 1985, em plena Guerra Fria, uma vez que a URSS precisava de uma aeronave de grande capacidade para apoiar o seu programa espacial, nomeadamente para transportar componentes de foguetões e (principalmente) o vaivém espacial Buran. Apesar de não ter sido concebido com objectivos militares, ao contrário do Antonov 124, seu “irmão” mais velho e do qual derivou, viria também a receber um nome de código da NATO – “Cossack”. No entanto, o nome atribuído pelos seus criadores foi “Mriya”, que é um pouco mais poético – pode traduzir-se como “sonho” ou “inspiração”. Como já se referiu, a base de desenvolvimento do An-225 foi o An-124. Partindo deste, os engenheiros da Antonov alongaram a fuselagem, aumentaram a envergadura das asas (basicamente, a asa do An-225 é a mesma do An-124 com o acrescento de uma nova “raiz”), colocando mais um reactor em cada uma, o trem de aterragem principal recebeu mais oito rodas (para um total de…28), e o estabilizador vertical passou a ser duplo, de forma a que a colocação de cargas sobre a fuselagem não prejudicasse o controlo do avião (o que certamente aconteceria se apenas existisse um estabilizador vertical). Por outro lado, foram retiradas as portas de carga traseiras existentes no An-124, fazendo-se a carga / descarga pelo “nariz” do avião. Este processo beneficia de um sistema incorporado no trem de nariz, que permite reduzir a altura ao solo da frente do An-225, de modo a facilitar a operação. p.19 Uma característica curiosa do An-225, destinada a facilitar a sua manobra no solo, consiste em nem todas as rodas do trem principal serem fixas. De facto, as 16 rodas posteriores deste são também orientáveis, em sintonia com as quatro rodas do trem de nariz. O resultado destas alterações foi uma máquina que ainda hoje ofusca completamente todos os outros aviões cargueiros…os números são impressionantes: 84 metros de comprimento, 88,4m de envergadura e 18,1m de altura, com um MTOW de 600 toneladas. Dentro da fuselagem, pode transportar até 250 toneladas de carga, num compartimento que mede 43 metros de comprimento por 6,4m de largura e 4,4m de altura – uma fuselagem do Boeing 737-800 caberia lá confortavelmente. Mas, se o objecto p.20 a transportar não couber no seu interior, pode viajar sobre a fuselagem do An-225 (onde foi concebido para carregar o Buran). Neste caso, o objecto em questão não pode exceder…200 toneladas de peso, 70 metros de comprimento e 10 metros de diâmetro. Tudo isto empurrado por seis turbofans ZMKB Progress Lotarev D-18, cada um com 229 kN de impulso. O primeiro voo do An-225 efectuou-se em 21 de Dezembro de 1988, e transportou pela primeira vez o Buran em 13 de Maio de 1989, que também o acompanhou na sua apresentação ao Ocidente, no Paris Air Show de Junho seguinte. Esta parelha foi, evidentemente, a maior atracção do evento. No entanto, a certificação do An-225 foi interrompida pelo colapso da União Soviética, REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo que levou ao cancelamento do seu programa espacial. O único avião terminado foi colocado “em descanso” na sua fábrica em Kiev, em 1994, enquanto um segundo exemplar em construção não chegou a ser terminado. Parecia ser o fim da (curta) vida do An-225, após apenas 347 voos. Já agora, por falar em Kiev: os aviões Antonov não são Russos, como muita gente pensa, mas sim Ucranianos. Mas, alguns anos depois, dentro da companhia de aviação “Antonov Airlines”, criada pela própria fábrica em 1989, especializada no transporte aéreo de grandes cargas, começouse a pensar que se poderia utilizar uma aeronave de (ainda) maior capacidade que os An-124 que já operava…aeronave essa que por acaso já existia e só precisava de alguns cuidados para voltar a voar. Assim, beneficiando de um investimento de cerca de 20 milhões de dólares, gastos essencialmente em melhoramentos nos motores e nos avionics, o An-225 voltou ao ar em 7 de Maio de 2001, tendo efectuado o seu primeiro voo comercial em 3 de Janeiro seguinte. Este partiu de Estugarda com destino a Thumrait (Oman), com um carregamento de 216.000 refeições destinadas aos militares Norte-Americanos estacionados na região. Peso deste carregamento? Umas singelas 187,5 toneladas…pouco mais de metade da sua capacidade máxima… mas o suficiente para envergonhar o “irmão” mais velho, que apenas consegue transportar umas ridículas 150 toneladas. Até à data, nenhum avião conseguia trans- Especificações Antonov 225 Comprimento 84 m Envergadura 88.4 m Altura 18.1 m Peso vazio 175 toneladas Carga Máxima 250 toneladas Peso máximo à descolagem: 600 toneladas Velocidade de cruzeiro: 800 km/h Tecto: 33,000 ft Alcance máximo 15,400 km Alcance com carga máxima 4,500 km portar este volume de carga. O An-225 tornouse assim numa importante ferramenta para quando é necessário um transporte rápido de carga a longa distância, como, por exemplo, em operações de socorro a calamidades…desde que exista uma pista suficientemente comprida por perto. De facto, este avião não foi concebido para operar em pistas curtas: com carga máxima, a sua corrida de descolagem pode chegar aos 3500 metros (e eu que pensava que pior que um certo quadrimotor Europeu não havia). Há rumores que o segundo exemplar do An225, que não chegou a ser terminado, talvez o venha a ser num futuro próximo, tanto pela procura comercial como pelo possível apoio ao rejuvenescido programa espacial Russo / Ucraniano, uma vez que se estuda novamente a construção de um veículo espacial, cuja fase inicial do voo poderia ser feita no dorso do An225. È possível que o reinado do An-225 venha a terminar dentro de alguns anos, se a Airbus avançar com uma versão maior do seu A380, cuja série de lançamento (-800) tem um peso máximo à descolagem de 560 toneladas. Portanto, não parece muito difícil, se o mercado o justificar, que um futura versão do A380 passe a ser o maior avião do Mundo, se nos basearmos no MTOW. No entanto, em termos de comprimento e envergadura, não parece provável que as dimensões do A225 sejam excedidas pelo A380 (o -800 mede 73m e 79.8m, respectivamente). . p.21 DESTINO texto e fotografias por Nuno Chambel NewYork A cidade que nunca dorme Na antiguidade, o mundo foi dominado pelo Império Romano, sendo a sua capital, Roma, a maior cidade da sua época. Hoje, os Estados Unidos são o Império Romano dos nossos dias, e Nova Iorque a Roma da actualidade. Nova Iorque é “A Cidade”. A maior dos Estados Unidos e uma das maiores do mundo. p.22 Pouca gente sabe é que Nova Iorque chegou mesmo a ser a capital da nação. Até a maior parte dos Nova-iorquinos não sabe. O primeiro congresso reuniu-se no Federal Hall, o nº26 de Wall Street, a 4 de Março de 1789, onde definiu o novo governo federal e nomeou George Washington como primeiro presidente americano. Ainda que temporariamente, o Federal Hall foi o primeiro Capitólio e consequentemente, Nova Iorque a primeira Capital. Mas a história de Nova-Iorque começou muito antes. Foi descoberta por Giovanni de Verrazzano, um Italiano ao serviço da Coroa Francesa, em 1524, sendo na altura já habitada por alguns milhares de nativos. Mas foram os Holandeses os primeiros Europeus a habitar a ilha, a que os nativos chamavam Manhattan, Ilha de colinas. Chamaram-lhe New Amsterdam. Segundo a crença popular, Peter Minuit, o primeiro governador da cidade, com- prou a ilha aos nativos em 1626 por cerca de 24 dólares de bugigangas. Não há provas disto, mas também não há de ter havido uma tomada violenta do território. Os Ingleses tomaram posse do território em 1664 e a cidade cresceu mais para norte, passando Wall Street, que era até aí o limite da cidade. No início do séc. XIX a cidade começou a expandir-se imenso, devido ao crescimento da sua economia. A promessa de emprego atraiu muitos imigrantes. Em 1790 a população de Nova Iorque era cerca de 33.000 pessoas. Em 1900 ultrapassava largamente os 3 milhões de habitantes. Desde 1835 que é a maior cidade dos Estados Unidos. Actualmente a sua população ultrapassa os 8 milhões de pessoas. A cidade não cresceu livremente. Em 1811 foi estabelecido um plano municipal que traçou a quadrícula de estradas e avenidas como conhecemos hoje. Acima da rua 14, todos os REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Sossuvlei “The Sphere” em Battery Park Brooklyn Bridge e Lower Manhattan lotes de terreno passaram a ser praticamente iguais. Isto regulamentou a venda de terrenos, e também o planeamento urbano da cidade. Contudo, o Central Park, só ficou definido em 1853 e por pressão popular. Nova-Iorque não é só Manhattan. Na realidade, esta é só uma das cinco zonas (boroughs). Brooklyn, Queens, Bronx, e Staten Island são os restantes. Desde muito cedo que a capital financeira do mundo se considera ser Nova-Iorque. Qualquer coisa de errado que se passe aqui tem grandes repercussões em todo o mundo. É uma fragilidade deste grande colosso. Os atentados do 11 de Setembro exploraram esta mesma fragilidade. As quase 3000 pessoas que morreram nesse dia, são a face humana e social. Os prejuízos financeiros são até hoje incalculáveis. A Cidade vive ainda com o fantasma das Torres Gémeas no horizonte. É impossível olhar para Nova-Iorque, seja de que ângulo for, sem dar por falta delas. Foram, desde 1972 a 2001 a imagem de marca da Cidade. Apesar de, do ponto de vista arquitectónico terem sido fracas, mas sóbrias, eram o símbolo de Manhattan. Sem nunca ter deixado de ser um edifício emblemático, nesse fatídico dia, o Empire State Building voltou a ser o mais alto da cidade. Vai sê-lo até 2012, altura em que será inaugurada a Freedom Tower. Esta vai ser mesmo mais alta do que eram as Torres Gémeas. Já está actualmente em construção mas não vai ocupar o espaço, que antes as Torres ocupavam. Para esta área está previsto um memorial ao antigo World Trade Center e a todos os que pereceram no dia 11 de Setembro de 2001. Um dos factores que preocupa o visitante em Nova-Iorque é a criminalidade. Até meados da década de 80 do séc. passado, esta atingia valores preocupantes. Durante a administração Dinkins da Câmara de Nova-Iorque foi iniciado, e continuado por Rudolf Giuliani, um plano que permitiu quase erradicar a criminalidade de Manhattan. Um dos vértices deste plano foi o aumento de efectivos das polícias. O plano foi, contudo, criticado por ter aumentado a criminalidade fora da ilha, em Bronx, Queens e Brooklyn. Actualmente não é verdade, e a insegurança nestas 3 zonas é pouco inferior a Manhattan. Há mesmo quem atribua a quebra no crime de rua à proliferação de cafés tipo Starbucks, onde as pessoas se sentam à montra, voltadas para a rua. São tantas as p.23 Washington Mews – MacDougall Alley Main Concourse no Grand Central Terminal Estátua da Liberdade Vista do Rockefeller Center lojas deste tipo que qualquer pessoa está permanente a ser observada, sendo isto dissuasor do potencial criminoso. Duma forma ou outra, o crime reduziu. Se perguntarmos hoje a qualquer habitante de Nova-Iorque quais são as zonas mais perigosas, a única resposta que temos é o Central Park à noite. De resto, e mesmo à noite, anda-se à vontade por qualquer lado, mesmo com sacos de compras nas mãos. A alimentação em Nova-Iorque não é cara. Claro que existem restaurantes que praticam preços incomportáveis para o comum dos mortais, mas a esmagadora maioria dos restaurantes praticam preços atraentes. Não existe comida tipicamente americana, mas os restaurantes de comida Soul são uma boa aproximação. A nós, faz lembrar comida Africana, o que até é verdade. Uma coisa a saber sobre a restauração em Nova-Iorque é que qualquer coisa é a melhor, a única, a original, a verdadeira... Portanto, e como nada disto é geralmente verdade, o ideal é experimentar. Há gastronomia de todo o lado do mundo. Do Vietname ao Japão. Da Austrália ao Egipto. Há de tudo e p.24 quase tudo é bom. Não esquecer Little Italy e Chinatown onde a proliferação de restaurantes permite uma escolha mais criteriosa. Cada bairro de Manhattan tem algo especial para oferecer. Resumidamente, de sul para norte: Downtown e Financial District (vulgarmente designado Wall Street) - Bom sitio para compras. Algumas lojas de preços baixos e muitos restaurantes de comida rápida de vários estilos. Fecham cedo. A visitar: Ground Zero, Wall Street, Battery Park, Brooklyn Bridge. Tribeca – Triangle Below Canal street Principalmente uma zona residencial. A maior parte dos armazéns existentes nesta REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo área foram convertidos em apartamentos LOFT. Algum comércio de luxo e alguns dos mais famosos restaurantes de Nova Iorque estão localizados neste bairro. A visitar: Restaurante Nobu, propriedade de Robert De Niro e segundo dizem o melhor sushi da cidade. Chinatown – É uma cidade dentro da cidade. Bom sitio para experimentar comida asiática autêntica. Cresce a um ritmo acelerado e já ocupa quase todo o Lower East Side. Ambiente de uma cidade asiática mas com táxis amarelos a percorrer as ruas... A visitar: Canal Street e os mercados de rua um pouco por todo o lado. Little Italy – Cada vez mais pequena devido ao crescimento de Chinatown. Boa comida italiana. É um bairro pequeno e visita-se rapidamente. SoHo, South of Houston Street (pronuncia-se Howston street) – Arquitectonicamente é conhecida pela zona do ferro fundido, que caracteriza esta zona da cidade. Zona óptima para compras onde existem algumas lojas fabulosas donde destaco o Dean and Deluca. Greenwich Village – Hoje em dia é uma zona residencial por excelência. Calma e acolhedora. Existem bastantes restaurantes e alguns bares sossegados, mas bastante procura- Dentro da Brooklyn Bridge Upper West Side dos. A visitar: Washington Square Park, os Mews e MacDougall Alley, toda a zona oeste da Village. Midtown – É a zona mais característica de Nova-Iorque. Onde a densidade de arranhacéus é maior. Todas as lojas das grandes marcas estão situadas aqui, especialmente na 5ª avenida e em Park Avenue. A visitar: Empire State Building, Chrysler Building, Grand Central Terminal, Times Square, Rockefeller Center e Radio City, Museu de arte moderna(MoMA). Upper West Side – É um bairro muito agradável. Uma zona residencial que tem actividade a qualquer hora do dia ou da noite. Tem alguns restaurantes abertos até tarde, o que não é vulgar em Nova-Iorque. A visitar: Museu de História Natural, Dakota Building, Zabar’s, Riverside Park e Metro Diner. Upper East Side – É mais selecto que o West Side e de arquitectura mais cuidada. É contudo uma zona essencialmente residencial. A visitar: Guggenheim, metropolitan museum of art, Bloomingdale’s, Harlem – Outrora um bairro problemático, hoje está revitalizado e apesar da população ser quase exclusivamente negra, é um local agradável com um comércio muito variado. A visitar: Morningside Park e Universidade de Columbia. Vista do Rockefeller Center Quando ir: Em qualquer altura. Não esquecer que o Inverno é rigoroso e com temperaturas muito baixas e no Verão a cidade é quente e seca. As melhores alturas são a Primavera e o Outono. Como Ir: Edifício Flatiron Este artigo é apenas uma visão pessoal de Nova-Iorque. Cada pessoa vê A Cidade à sua maneira. Todos temos os nossos interesses pessoais e isso condiciona as nossas escolhas quanto aos locais a visitar. Nova-Iorque é demasiado grande para se conhecer em poucos dias. Se calhar, é demasiado grande para se conhecer de todo. No entanto, é um destino imperdível. É uma cidade estranhamente familiar. Talvez por ser retratada vezes sem conta no cinema. A fusão de culturas faz com que qualquer pessoa não se sinta um estranho na Cidade. Sem dúvida um destino a repetir... . A TAP voa diariamente para Newark. Em alguns dias com dois voos. A Continental têm dois voos diários também. A USAir voa diariamente para Filadélfia. Manhattan fica a 40 minutos de Newark de comboio e Filadélfia a duas horas e meia. Em ambos os casos chega-se a Pensilvania Station via AmTrak. De Newark é possível apanhar o AirTrain no terminal e depois o comboio PATH até Manhattan. O táxi não é mais rápido e é bastante mais caro. Em Newark existe um serviço de shuttle de mini-bus para toda Manhattan, a preços convidativos. Essencial: Um bom guia da cidade. Sou fã da Lonely Planet, mas existem outros. O meio de transporte principal em Nova-Iorque é o metro. Cada viagem custa $2 e os cartões MetroCard podem ser comprados ou carregados nas máquinas automáticas. Para quem fica alguns dias o ideal é o bilhete semanal a $24. Qualquer um destes bilhetes serve tanto para o Metro como para os autocarros. Essencial pedir um mapa do metro em formato grande. Disponível em qualquer bilheteira da rede metro. p.25 INTERNACIONAL texto de Pedro Matos fotografias de Nuno Chambel NASM Quais são os locais em Washington que não dispensam uma visita ? Além dos óbvios – Casa Branca, Capitólio, Mall, Monumento a Washington, Lincoln Memorial...nenhum entusiasta da aviação deixaria de passar no Steven F. Udvar-Hazy Center. p.26 Para quem se interroga sobre que atracção será esta, a resposta é muito simples: tratase de um museu, pertencente ao National Air and Space Museum (NASM) da Smithsonian Institution, onde está exposta uma grande parte da sua colecção de artefactos relacionados com a aviação e com o espaço. Situa-se junto do Aeroporto Washington / Dulles, e recebeu o nome do magnata da aviação, fundador da ILFC (International Lease Finance Corporation, uma das maiores empresas de leasing de aeronaves) e um dos grandes beneméritos do museu, para o qual contribuiu com um donativo de 60 milhões de dólares. O Steven F. Udvar-Hazy Center divide-se basicamente em duas salas: o gigantesco Boeing Aviation Hangar, ligado à aviação, e o James S. McDonnell Space Hangar, sala mais pequena dedicada à exploração espacial. E se alguém quiser espreitar o tráfego aéreo em Dulles, pode subir à Donald D. Engen Observation Tower (convém levar binóculos), na qual também se procura explicar como funciona o Controlo de Tráfego Aéreo. Bom, mas o que é que existe neste museu que o torna tão especial ? Para facilitar a leitura, vamos tratar separadamente das duas alas do museu. REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo National Air and Space Museum James S. McDonnell Space Hangar Baptizado com o nome de um pioneiro da indústria aeroespacial, cuja companhia, além de aviões, colaborou na fabricação das naves espaciais Mercury e Gemini, esta ala do museu expõe centenas de objectos representativos da história da exploração espacial, organizada em torno de quarto temas – foguetes e mísseis, voo espacial humano, satélites e ciência espacial. A peça central é o Enterprise, protótipo do Space Shuttle, e à sua volta podemos encontrar artefactos de todas as dimensões, desde os 20 metros de altura de um míssil Redstone, até à minúscula “Anita”, uma aranha estudada a bordo de um laboratório em órbita. James S. McDonnell Space Hangar p.27 Boeing Aviation Hangar - Concorde Modelo do TAP - B707 No total, estão mais de 500 artefactos em exposição nesta sala. Note-se que só foi possível reunir esta colecção única devido a um acordo entre a NASA e a Smithsonian Institution, que dá a esta a possibilidade de adquirir equipamentos de que a primeira já não necessita. Mas a referida colecção não se resume apenas ao programa espacial dos EUA, uma vez que nela também constam peças doadas ou emprestadas por governos estrangeiros. Sem querermos ser exaustivos, é impossível não destacar (entre muitos outros): uma secção do foguete “Saturn V”, um dos motores principais do Space Shuttle, uma “Manned Maneuvering Unit” (este é o nome técnico do equipamento que permite aos astronautas moverem-se no espaço, sem ligação à nave-mãe), o anel de flutuação da cápsula lunar Apollo 11 (a primeira missão tripulada a pisar a Lua), o protótipo do Mars Pathfinder (a nave espacial que levou a Marte o primeiro veículo robotizado autónomo), um andróide construído na década de 60, utilizado para testes de fatos espaciais e um dos “Mobile Quarantine Facility”, alojamento de quarentena dos astronautas após voltarem da Lua. p.28 REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo Quanto às aeronaves, é possível observar uma colecção fabulosa, tanto em qualidade como quantidade (mais de uma centena), alguns deles peças únicas. No entanto, não é difícil destacar alguns modelos, como o Boeing 367/80 (mais conhecido por “Dash 80”, protótipo do Boeing 707), o Lockheed SR-71 Blackbird Blackbird Boeing 367/80 (Dash 80) Boeing Aviation Hangar Neste hangar está exposta uma parte da colecção de aeronaves do NASM (nomeadamente – mas não só - as demasiado grandes para o edifício do museu no Mall), bem como uma série de artefactos relacionados com a aviação, como motores, hélices, instrumentos de voo, medalhas, modelos de aeronaves (en- tre eles, o da nave-mãe do filme “Encontros Imediatos do 3º Grau” e um Boeing 707 da TAP !), fatos de voo, etc, etc… Quanto às aeronaves, é possível observar uma colecção fabulosa, tanto em qualidade como quantidade (mais de uma centena), alguns deles peças únicas. No entanto, não é difícil destacar alguns modelos, como o Boeing 367/80 (mais conhecido por “Dash 80”, protótipo do Boeing 707), o Lockheed SR-71 Blackbird (apesar de já não estar em serviço, continua a ser o avião mais rápido de sempre), o Boeing B-29 Superfortress “Enola Gay”, o Boeing 307 Stratoliner (o primeiro avião comercial pressurizado), o BAC-Aérospatiale Concorde (nas cores da Air France), o Scaled Composites M311, mais conhecido por Virgin Atlantic Global Flyer (aeronave detentora dos recordes da mais rápida circumnavegação terrestre sem escalas nem reabastecimento, do voo mais longo sem escalas nem reabastecimento, e do voo mais longo em circuito fechado) e o MacCready Gossamer Albatross (a primeira – e única, cremos – aeronave a cruzar o Canal da Mancha movida a força muscular). Para quem quiser saber mais sobre este museu, aconselhamos a consulta da página www.nasm.si.edu/museum/udvarhazy p.29 VIAGENS COM LETRAS texto e fotografias de Carlos Terenas Kapuscinski e Heródoto ou de como de viagens também se faz a literatura Heródoto foi um historiador e viajante grego, continuador de Hecateu de Mileto, nascido no sec.V aC (485420 aC) em Halicarnasso, hoje Bodrum na Turquia. Ryszard Kapuscinski nasceu em 1932 na cidade polaca de Pinsk, situada hoje na Bielorrússia. Licenciado em História, a partir dos anos 50 foi jornalista correspondente na Ásia e na África. Faleceu em 2007. A nossa proposta de reflexão e leitura tem por base a referência primeira da chamada “literatura de viagens” designação nada pacífica para um género literário muito particular. Esta referência tem um nome, Heródoto, o historiador grego que conseguiu reunir num mesmo texto, história, viagens e literatura. “Histórias” de Heródoto é antes de mais a grande reportagem de uma vida de observações e de viagem. Heródoto foi também considerado o pai da História ao ter sido o primeiro a registar e gravar o conhecimento do passado enquanto explicação para o presente observado. Durante quase toda a sua vida, num perpétuo viajar, Heródoto tudo anotou e registou. Essas notas, de extrema importância histórica e antropológica, foram registadas sempre no interesse de um futuro possível público. Começa assim o primeiro volume de “Histórias” “Esta é a exposição das investigações de Heródoto de Halicarnasso, para que os feitos dos homens não se desvaneçam com o tempo, nem fiquem sem renome as grandes e maravilhosas empresas, realizadas quer pelos Helenos quer pelos Bárbaros; e sobretudo por que entraram em guerra uns com os outros. » Kapuscinski, Ryszard: “Andanças com Heródoto” www.campo-letras.pt 2007 Heródoto: ”Histórias”, volume 1-9,Colecção Clássicos Gregos e Latinos www.edicoes70.pt 1997-2002 Kapuscinski relata de uma maneira clara e muito feliz, todos os acontecimentos que testemunhou enquanto jornalista correspondente em África e na Ásia durante a segunda metade do sec.XX, época de grandes modificações sociais e políticas que iriam moldar e condicionar o mundo transformando-o naquilo que é hoje. As associações dos acontecimentos que marcaram a História recente com o percurso de viagem de Heródoto no mundo conhecido da antiguidade, fazem do relato de Kapuscinski um guia perfeito para quem se aventura “ em viajar, conhecer e compreender”.Estes relatos cruzados de lugares, acontecimentos e tempos transformam-se num verdadeiro hino à viagem enquanto acto multiplicador das referências culturais numa busca constante de (o) um conhecimento que nos engrandece e amadurece. Viajar é ouvir e ver, transpor e passar a fronteira física e psicológica. Para isso tentamos sempre nos abstrair do nosso sistema de crenças que por vezes nos cega. “ ..Queria só atravessar a fronteira algures, não importava onde, porque o que contava não era um objectivo final, nem um fim, nem um destino, mas sim o acto místico e transcendental de atravessar a fronteira.” Kapuscinski e radicalmente diferente da nossa aldeia global contemporânea. Os dilemas e as dificuldades de compreensão perante novos mundo e novas realidades, novos povos, culturas e acontecimentos foram os mesmos para Heródoto e Kapuscinski e são definitivamente os nossos, enquanto viajantes e empreendedores de uma compreensão possível e difícil para o mundo actual, plural e tão diferente. Mas antes de mais teremos de lutar com a nossa letárgica inércia. “…conhecer o mundo implica um esforço desgastante e uma dedicação completa. A maioria das pessoas desenvolve em si capacidades contrárias, nomeadamente a capacidade de olhar sem ver, ou ouvir sem prestar atenção.” O livro de Kapuscinski é mais do que um guia de viagem ou um livro de História; é um livro que nos estimula a questionar, orientando-nos na extraordinária aventura do conhecimento ou seja, da vida. Heródoto foi o primeiro a registar o passado, facto que hoje nos parece desnecessário perante a avalanche de informação e registos existentes actualmente. Mas enquanto os registos se encadeiam numa panóplia de suportes nunca antes vista na história humana, a memória colectiva dilui-se perante tanta informação e a memória individual desvanece-se pela velocidade de tanta informação. Ile de Gorée, Dakar Senegal “O negro é belo” “Do cais de Dacar até à ilha de Goreia o barco não demora nem meia hora. Da popa vimos como a cidade, que durante algum tempo estava a abanar nas ondas mexidas pela hélice do barco, se torna cada vez mais pequena, até se transformar numa linha de pedra que se estende ao longo do horizonte. Naquele momento o barco volta-se de popa para a ilha, e com o barulho do motor ouve-se a massa de ferro raspar o betão do cais.” in: “Andanças com Heródoto”, p. 197 e 202 p.30 À partida o mundo da antiguidade de Heródoto poderá parecer muito distante e diferente do munmodernoPortuguesa que despertava durante asdeviagens de REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 do Associação dos Controladores Tráfego Aéreo A TAP - Air Portugal voa diariamente para Dakar BREVES 1. II Encontro Nacional de Supervisores e Chefes de Sala Por Vítor Tomás Quatro anos após o “I Encontro de Supervisores e Chefes de Sala” de onde saíram algumas conclusões que infelizmente por uma ou outra razão, a NAV ainda não criou as condições para a sua implementação ou promoveu o seu estudo e desenvolvimento junto das respectivas Direcções, entendeu a APCTA que era altura de realizar o II Encontro, estabelecendo junto da NAV uma parceria para a organização deste evento, o que veio a acontecer. Tal como foi noticiado no “site” e em “newsletter” foram convidados todos os CTA´s Supervisores e Chefes de Sala dos Órgãos no Continente, Madeira e Açores tendo sido deixado à consideração das respectivas Chefias, a dispensa do maior número possível de cada órgão tendo em vista o enriquecimento das participações e de diferentes pontos de vista, em assuntos de relevante interesse para a NAV. Pelo reconhecimento dessa importância não podemos deixar de salientar a presença do CONLIS e do seu Adjunto durante todo o Encontro. Foram recebidos para ser apresentados, onze documentos, relativos a: Formação, Responsabilidades dos Supervisores e Chefes de Sala, Documentação, Rotinas e Procedimentos, Uniformização de critérios e Relacionamento hierárquico; tendo também sido recebidos dois documentos que por serem de carácter mais sindical foram agendados para ser apresentados no final, como documentos não vinculativos das conclusões. Existiu elevada sintonia entre todos os participantes na escolha da Formação para Supervisores, como a área em que é necessário investir cada vez mais e de forma proporcional às exigências e responsabilidades que hoje são pedidas a estes profissionais. Talvez seja necessária uma séria reflexão de todos, para perceber porque se chegou a esta situação de grande necessidade. Poderá haver tendência a considerar a Supervisão uma etapa de final de carreira de CTA, ou talvez exista a ingénua tentação de considerar aquela função menos operacional? Nada mais errado. Já em 2003 este problema tinha sido discutido e o agora responsável pelo SEGNA apresentou uma proposta curricular para cursos de Supervisor CTA, detalhando nomeadamente, o programa, duração, disciplinas e meios a utilizar. Esta proposta, corrigida das actuais necessidades poderá, ou mesmo deverá, servir como ponto de partida para o que por todos foi reiterado neste II Encontro, como uma urgente necessidade; um Curso de Formação de Supervisores. Ainda neste âmbito, concluiu-se ser necessário disponibilizar um curso FMP para todos os Supervisores dos órgãos onde esta área tem repercussões, curso esse que já existe e foi frequentado, somente por alguns Chefes de Sala. Outra área necessitada de intervenção é a Documentação. Porque todos os documentos precisam de actualização permanente, resultou também deste Encontro que os Supervisores e Chefes de Sala deverão entre si e em cada órgão, nomear um entre os seus pares para se encarregar não só da coordenação de todos os manuais , mas também da componente OJT dos Supervisores . Deverá também ser criado um “Manual de Supervisão” para cada órgão com as suas especificidades. Nele deverão constar, procedimentos, rotinas, contingências, etc, enfim, tudo o que o Supervisor necessita a nível documental para dar o devido encaminhamento quando se depare com uma situação anómala. Este manual pode vir a ser, por acréscimo, um excelente suporte na formação dos Supervisores recém-nomeados. Outra área referida por todos e consensual na sua importância, tem a ver com a relação hierárquica. - Por um lado com as Chefias superiores, com quem é absolutamente necessário haver reuniões periódicas para haver perfeita sintonia, uma vez que todas as iniciativas do Chefe de Órgão têm imediata repercussão na Sala ou na Torre de Controlo correspondente, devendo essas reuniões servir para avaliar da sensibilidade do impacto nas medidas a tomar pela Chefia e para a necessária coordenação das mesmas. - Por outro lado com os restantes elementos do Turno de trabalho, onde uma boa interacção é fundamental para o normal desenvolvimento das rotinas, permite fácil enquadramento dos novos CTA’s, que é um factor muito importante em órgãos em que existe permanente rotatividade de pessoas motivado pelo processo de transferências, sendo de igual importância o papel do Supervisor como regulador no aspecto comportamental, agindo de forma eficaz perante atitudes desenquadradas e indesejadas no local de trabalho. Outra área sensível e com inevitáveis consequências também na relação hierárquica, é a uniformização de critérios. Mais que recomendável, é mesmo necessária e a todos os níveis. Não faz sentido a Chefia de um determinado órgão encarar a realização dos encontros de Formação, Supervisão ou mesmo do CISM de maneira diferente da Chefia de outro órgão, em que por exemplo, uns dispensam os participantes e outros recusam a sua disponibilidade, ou agirem de forma diferenciada quando um CTA solicita uma folga de compensação de feriado ou de monitoria. Também não é desejável que nos diversos turnos de trabalho no mesmo órgão se pratiquem variadas interpretações sobre como é feita a distribuição e rotação dos elementos do turno, ou qual a hora mais conveniente para almoçar ou jantar quando um CTA realiza um determinado período de trabalho, ou ainda a atitude de cada um perante a posição de trabalho e o que fazer perante atitudes consideradas menos profissionais. Caberá aos Supervisores de cada órgão, reunirem periodicamente com a Chefia respectiva e ajustar todas estas regras e .procedimentos Em conclusão pode afirmar-se que o sucesso deste II Encontro de Supervisores e Chefes de Sala, se ficou a dever sobretudo ao elevado espírito de participação e desejo de encontrar forma de melhorar as condições e o ambiente do local de trabalho e dos turnos, tendo sido a enorme convergência de ideias e objectivos, a “chave” para facilmente encontrar as conclusões a que todos chegaram. Sem duvida que a partir de agora teremos todos que nos empenhar com responsabilidade no contributo que nos é devido para junto com a Empresa conseguirmos que as conclusões deste Encontro alcancem os objectivos desejado, preferencialmente a curto prazo. Mãos à obra e Boa Sorte! p.31 BREVES 2. A Flight Level além fronteiras ... Aqui fica um testemunho da primeira internacionalização da FL com um grande obrigado aos colegas que tornaram isso possível. “Caros amigos da NAV portuguesa e amigo Christoph, Estou enviando, em anexo, as fotos de nossa visita a TWR/APP Palmas quando na ocasião deixamos como lembrança do apoio e da solidariedade dos CTA’s portugueses a revista Flight Level. Ficaríamos honrados se as mesmas fossem publicadas na próxima edição como referência da abrangência da revista. Um grande abraço Wellington Rodrigues Presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo 3. Apresentação SINCTA/APCTA aos “Ab-initio’s” No passado dia 22 de Outubro, realizou-se na sede do SINCTA / APCTA uma apresentação de boas vindas aos recém formados controladores do ATC FI-002. Para além das burocracias processuais correntes, destacaram-se o almoço conjunto com as direcções e uma apresentação da história e contemporaneidade da existência sindical. Registou-se para a posteridade este momento, de importante significado para todos os envolvidos, mas mais em especial para (de baixo para cima e da esquerda para a direita na foto, e respectiva colocação): Nuno Moreira (Porto Santo), Luísa Galvão (Funchal), Ana Rita Adão (Porto Santo), Viviana Durão (Funchal), Catarina Carvalho (Flores), David Barroso (Cascais), João Santos (Flores), Rita Costa (Santa Maria), Mafalda Fernandes (Santa Maria), Pedro Parreira (Porto Santo), Pedro Marcelino (Santa Maria) e Maria Malveiro (Santa Maria) Congratulando-se pelos êxitos pessoais, o SINCTA e a APCTA desejam a todos as maiores felicidades e sucessos no seu desempenho profissional e na sindicância da classe. 4. I Encontro de Tráfego Aéreo e Instrutores de Voo de Cascais O aeródromo de Cascais teve, nos últimos cinco anos, um crescimento de cerca de 55% no número movimentos anuais. Tendo em conta este aumento e o facto de que a maioria do tráfego a operar em Cascais é de instrução, no dia 26 de Outubro realizou-se o primeiro Encontro entre CTA e instrutores de voo do Aeródromo de Cascais. Este encontro teve como objectivo principal permitir um debate informal de questões operacionais e procedimentos locais que levassem a melhorar e optimizar os serviços de tráfego aéreo. De entre os assuntos a debate salientam-se a criação de um procedimento RCF; a criação de uma Comissão em Cascais com elementos do Aeródromo, CTA e operadores; as restrições inerentes ao uso da pista 17 e as restrições aplicáveis ao tráfego de instrução por Lisboa e Cascais. Estiveram presentes os CTA da torre de Cascais e instrutores das escolas de aviação, GestAir, Leávia, Helibravo, OMNI e AeroClube de Portugal. A iniciativa foi muito bem acolhida pelos participantes e ficou a promessa para a sua continuidade. Para a próxima edição contamos estender o convite aos elementos do Aeródromo, aos CTA da Aproximação de Lisboa e Torre de Sintra. Fica o nosso agradecimento pelo patrocínio da APCTA e apoio do GABCIM p.32 REVISTA DA APCTA. VOL2#8. NOV07 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo HUMOR EM BANDA por Leonor Ferreira REVISTA DA APCTA. VOL2#9. FEV08 Associação Portuguesa dos Controladores de Tráfego Aéreo
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