editorial - Primeira Linha
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editorial - Primeira Linha
UPG, meio século de luzes e sombras 3 Carlos Morais Lenine e a emancipaçom da mulher: umha revisom marxista e feminista 4 Helena Sabel Evoluçom da Economia Galega: fracasso do binómio “EspanhaCapitalismo” A dous meses sem resposta justa, 5-6 a luita do povo mexicano ascende 7 Óscar Peres Vidal Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org | @PrimeiraLinhaGZ Touradas, flamenco e corrupçom 8 José Miguel Ramos Cuba Jonathan Hernández Ano XIX | Nº 74 Terceira jeira | Outubro, novembro e dezembro de 2014 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista Galega Galiza e nós E D I TO R I A L C ada semana que se passa, o governo espanhol do PP fica mais parecido com o dumha ditadura encurralada. A camarilha encabeçada por Mariano Rajói, incapaz e sem vontade política de mudar as políticas económicas e sociais que provocam um empobrecimento e exclusom sociais cada vez mais estendidas, cercado pola corrupçom generalizada, aposta na adoçom desesperada de medidas autoritárias, por fortalecer ainda mais o mastodôntico aparelho repressivo. A aprovaçom da “Lei Mordaça”, os novos anúncios de reforma do Código Penal, a compra de sofisticado material repressivo, as operaçons e medidas constantes contra a liberdade de expressom na rede, as ameaças e intimidaçons contra toda manifestaçom democrática... som as principais decisons de um Conselho de Ministros que nada tem que invejar aos que Franco presidia. A crise do regime de 1978 continua a acelerar a sua descomposiçom, tornando cada dia mais complexa a sua recomposiçom ordenada. Mas o governo opta pola bunquerizaçom, por fechar-se nos muros da Moncloa e nas atalaias dos ministérios de Madrid, fazendo ouvindo surdos ao clamor popular que reclama profundas transformaçons e alteraçons do roteiro. Perante este delicado cenário, o poder económico do Ibex 35 resolve avançar numha dupla via. Obviamente, continua a apoiar o ilegítimo e submisso governo de Rajói, que aplica minuciosa e disciplinadamente os parámetros ultraliberais e centralistas que exigem os conselhos de administraçom; mas também vê com melhores olhos e menos receios cada dia a ambígua alternativa representada por Podemos. O fenómeno político e mediático encabeçado por Pablo Iglesias é umha funcional e excecional saída alternativa para evitar a descomposiçom do pós-franquismo. À medida que os inquéritos de intençom de voto aproximam o partido dirigido polos 5 magníficos da presidência do governo espanhol, a complutocracia que dirige o experimento populista vai permitindo conhecer o seu verdadeiro rosto. Podemos nom só pretende susbtituir e ocupar o espaço do PSOE como um dos alicerces do monopartidarismo bicéfalo, como está a agir já enquanto principal ferramenta que garante a unidade do Estado espanhol que reclama e exige a oligarquia. As reveladoras declaraçons dos seus principais líderes em relaçom ao processo independentista catalám nom som interpretáveis. Podemos é o principal aríete espanhol para impossibilitar que a maioritária vontade de construir um Estado soberano catalám atinja o seu objetivo. A brilhante retórica do partido construído nos tubos de ensaio da torre de marfim da Universidade Computense e de convencionais e alternativos programas de televisom, nom deixa de agir como um letal e certeiro hacker contra o direito a decidir do povo trabalhador catalám e contra a eventual luita nacional da Galiza e do resto de povos oprimidos polo Estado imperialista espanhol. No nosso caso, perante a fragilidade que carateriza na atual conjuntura histórica o projeto nacional galego, este fenómeno político/mediático está a minar as bases do movimento popular, questionando a especificidade e singularidade da nossa luita de classes, convertendo-se no principal agente espanholizador dos movimentos sociais e das luitas populares. da esquerda que pensa e age a partir e para a Galiza, estamos a favorecer que a Pátria de Rosalia e Reboiras caminhe irremediavelmente para a definitiva liquidaçom como sujeito nacional. Sem lugar a dúvidas, as responsabilidades som coletivas, embora umhas forças tenham do mais que outras. E referimo-nos a construir a ferramenta político-social que necessita a maioria social galega, dotada de um programa avançado e um modelo organizativo flexível. As municipais de 2015 teriam sido umha ocasiom excecional para implementar esta cenário. Tal como o desenvolvimento e consolidaçom de entidade Galiza pola Soberania (GpS), como iniciativa suprapartidária. Porém, uns optam por antepor os mesquinhos interesses imediatistas de siglas gastas e cada vez com menos prestígio, às necessidades da luita de libertaçom nacional, cada vez mais ameaçada polo que semelha avanço da espanholizaçom do País em todos os seus ámbitos. O Pólo patriótico rupturista que reclamavamos no anterior editorial do Abrente é umha necessidade ineludível. O mesmo que a construçom do partido comunista combatente, patriótico e revolucionário, única garantia de evitar que a luita de libertaçom nacional e social de género nom se desvie dos seus objetivos estratégicos e acabe dirigida polo oportunismo. Sem um influente e poderoso partido comunista nom é possível garantir a plena soberania dumha Galiza independente porque só o socialismo afiança e reforça a soberania e a independência nacional frente as ameaças permanentes do imperialismo. Crise nacional e de classe: a Galiza em construçom ou deconstruçom? N No entanto, o realmente grave e preocupante é a penetraçom do seu discurso entre setores socias e políticos do soberanismo galego, ingenuamente fascinados polo fulgurante ascenso eleitoral dumha sigla carente de qualquer consistência para agir como força revolucionária, ou no pior dos casos genuinamente transformadora. Perante o desenvolvimento deste fenómeno, a única resposta possível passa pola unidade das forças e organizaçons nacionalistas e indepen- dentistas com prática de esquerda rupturista. Sem a abertura de um processo criativo e imaginativo, guiado pola generosidade e o patriotismo, que promova a recomposiçom integral do campo da esquerda nacional, nom está assegurada a viabilidade do projeto político da Naçom Galega. Cada mês que se perde à hora de procurar espaços comuns de intervençom e luita, de favorecer e ensaiar a mestiçagem política das tradiçons e culturas que conformamos a constelaçom om é novo apontarmos nestas páginas para os riscos que o povo galego enfrenta frente à estratégia histórica de Espanha pola construçom da sua naçom, que passa pola liquidaçom das que se veem submetidas à sua administraçom. Já durante o século XIX, numerosos povos conseguírom quebrar a lógica dependente imposta, constituindo sucessivos novos estados ao longo desse século e do seguinte. Na atualidade, é o povo catalám aglutinado polo Principat, muito aquém dos históricos Països Cataláns, que afronta em condiçons mais favoráveis o desafio assimilacionista espanhol. Porém, está longe de ver garantida a sua própria autoconstruçom nacional, apesar de contar com umha importante maioria social independentista, inclusive um segmento da própria burguesia nacional. O povo basco, heroico resistente por todos os meios possíveis durante as últimas décadas, enfrenta especiais dificuldades derivadas da nova fase após o abandono da via armada da ETA, caindo a sua vanguarda política numha indefiniçom que precisa de resolver com urgência. No caso da Galiza, a ofensiva recentralizadora espanhola apanha-nos numha situaçom de crise generalizada do movimento sociopolítico que protagonizou durante o último meio século a regeneraçom das forças nacionais e populares. O papel cada vez mais secundário do BNG e do seu mundo coincide com o enfraquecimento das luitas sociais, se bem é devido a causas mais complexas derivadas do seu próprio papel du- EDITORIAL 2 ABRENTE rante os últimos quinze anos, atraiçoando o seu próprio e original perfil rupturista em favor da integraçom no regime espanhol. A essa realidade soma-se a incapacidade política da esquerda independentista para erguer umha alternativa nacional e de classe que tomasse o relevo para fazer avançar as forças da Galiza resistente. Neste cenário, o reformismo movimentista floresce no conjunto do Estado espanhol, sendo a Galiza um dos espaços em que isso é mais notório e útil para a causa da oligarquia defensora da referida e inconclusa construçom histórica de Espanha. A quebra da unidade do nacionalismo nucleado pola UPG originou primeiro umha formaçom intermédia, Anova, que ensaiou sem complexos umha aliança estável com o espanholismo “de esquerda”. O aumento fulgurante de AGE (Anova+IU) deu passagem ao surgimento de Podemos como referente desse movimentismo de aspiraçons renovadoras e propostas social-democratas que, pola primeira vez desde o PSOE de Felipe González, afirma e reivindica sem complexos a sua espanholidade. À espera do desempenho eleitoral do novo partido mediático, a deconstruçom do sujeito político galego continua e a esquerda independentista nom fica à margem. De facto, o nosso partido enfrentou nos últimos meses a sua própria crise, em parte relacionada com a situaçom descrita, mas sobretodo devedora das próprias carências do nosso processo de construçom do partido comunista para a Revoluçom Galega. A meio ano da realizaçom do nosso 6º Congresso, umha Conferência Nacional (a 5ª) serviu no passado dia 30 de novembro para pôr sobre a mesa, com total abertura, as importantes diferenças suscitadas por um setor significativo de militantes. O debate saldou-se com o abandono de um grupo de camaradas do sul da Galiza, os quais pugérom em questom princípios fundamentais da própria organizaçom comunista. A suposta flexibilizaçom da compartimentaçom, a reinterpretaçom do centralismo democrático e a confusom em torno da existência da secretaria-geral fôrom discutidos e rejeitados pola maioria da militáncia. Por trás dos termos concretos em que se manifestou esse conflito, ficou em evidência a escassa consistência e autonomia militante como causa de umha crise que expressou também umha evidente frustraçom pola falta de avanços quantitativos no horizonte estratégico do nosso movimento. É aí que se enxerga a relaçom profunda entre as crises periódicas da militáncia do nosso parti- Nº 74 Outubro, novembro e dezembro de 2014 do ou, mais amplamente, do nosso movimento, com a tendência histórica de deconstruçom da Galiza como sujeito político. A evidência de que a crise vai muito além das nossas fileiras, atigindo em cheio o conjunto da esquerda nacional, reafirma essa tese, com a qual nom pretendemos evitar a parte de responsabilidade que corresponde ao nosso partido como escola de militantes comprometidos com a desalienaçom coletiva através da praxe revolucionária. A crise que enfrentamos nestes meses, a maior da nossa história em termos quantitativos e qualitativos, deve servir para aprendermos do que durante anos temos feito mal e para erguermos um projeto comunista à altura das necessidades do nosso povo: mais forte, mais formado e (auto)crítico, com militantes autónomos capazes de o discutirem todo enquanto se batem pola nova sociedade que queremos construir. Para isso, nom chega com a arma do ativismo, da qual temos dados mostras abundantes em todos estes anos. É imprescindível também fortalecer a invencível arma da verdadeira autoconsciência, com base na formaçom e no combate a toda forma de fetichismo disfarçada de prática revolucionária, que tem minado e mina tantas organizaçons ditas comunistas. Algumhas das medidas que possibilitem iniciar o caminho da retificaçom estám aprovadas e com certeza irám ter continuidade no próximo 6º Congresso. Entre elas, umha renovada aposta a fundo na autoformaçom coletiva marxista, que logo será visível na prática do nosso partido, incluídas estas mesmas páginas da nossa publicaçom periódica, o Abrente. Da mesma forma, a nossa militáncia defenderá um novo impulso no conjunto do movimento de que nos sentimos parte, junto a outros companheiros e companheiras independentistas, feministas e de esquerda, no apoio de fórmulas progressivamente mais amplas, unitárias e abrangentes. A sucessom de crises que enfrentamos, a começar pola da decadente civilizaçom capitalista como até agora a conhecemos, continuando pola do sujeito nacional galego e culminando na do nosso próprio Movimento de Libertaçom Nacional supom um desafio sem precedentes na nossa história militante. A ele responderemos com mais militáncia, mais estudo, mais política e mais praxe revolucionária, sem esquecer que o comunismo nom é um ideal nem umha utopia absoluta, e sim um movimento real, umha utopia concreta que deve desenvolver-se diante dos nossos olhos pois, como afirmou Marx, “um passo do movimento real vale mais que mil programas”. 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Em toda a orientaçom, conteúdos e linha gráfica da exposiçom “A Naçom galega em pé”, instalada no Colégio Fonseca da USC da capital da Galiza, prevalece a fasquia nacionalista sobre a de classe. Embora incida no cardinal papel da UPG na constituiçom do sindicalismo galego, como das entidades sociais no ámbito cultural, estudantil, camponês, feminista, que desde finais dos anos sessenta foi tecendo a organizaçom fundada por pouco mais de meia dúzia de pessoas há agora meio século, numha reuniom nas redondezas de Compostela a 25 de julho de 1964. A UPG como “partido comunista patriótico” é um elemento mais, claramente subsidiário da cosmovisom nacionalista, que submete a luita de classes à nacional, seguindo a lógica doutrinal nacional-popular. Já temos refletido sobre o ecleticismo e a indifiniçom dos “Dez pontos fundacionais” no terreno nacional, que goram umha UPG independentista; já temos denunciado as carências congénitas do seu ADN político1 e o imenso dano provocado ao projeto de libertaçom nacional durante décadas pola criaçom dumha “complexada e acovardada doutrina nacional a meio caminho entre um autonomismo radical que defende sem paliativos o direito de autodeterminaçom, e umha irracional patologia anti-independentista”2. Porém, nesta ocasiom queremos abordar umha incógnita derivada das mudanças na sua linha política acordadas na Conferência Nacional que a UPG realiza em fevereiro de 2013. Salvando o período 1975-77, no qual sim mantivo umha linha discursiva independentista, os trinta anos posteriores caraterizárom-se –salvo a exceçom da sua rama juvenil na primeira metade dos oitenta-, por umha depuraçom integral desta tese e um ativo combate ao movimento independentista em base a delirantes desqualificaçons gratuitas e justificaçons absurdas de ligar a reclamaçom da independência nacional com “provocaçom” esquerdista e espanholista. Artigos, discursos e todo o tipo de textos de dirigentes e da própria UPG estám ao acesso público nas hemerotecas e na rede para confirmar a veracidade desta afirmaçom. Os acordos dessa Conferência Nacional facilitárom a viragem soberanista e anti-imperialista do BNG na XIV Assembleia Nacional do mês seguinte e a posterior abertura do que semelhava um novo clima de diálogo, respeito e entendimento entre as forças políticas e sociais da esquerda patriótica. Nem na altura, e menos ainda agora, podemos desconsiderar que a nova atmósfera a que se incorporava o nacionalismo maioritário emanava fundamentalmente de umha crise orgánica que se superpunha a outras prévias, e que por sua vez derivava da impossibilidade de cortar a grave hemorragia eleitoral iniciada em 2001, e que nom tocou fundo tal como se constatou há poucos meses e teimam em confirmar recentes inquéritos. Se bem é certo que nos quase dous últimos anos a UPG tem empregado e agitado mais a reclamaçom de independência no seu relato e interpretaçom da situaçom galega que no período que abrange o assassinato de Alameda de Compostela, 25 de julho de 1968 Reboiras e o ano 2013, a realidade é teimosa e constata as enormes limitaçons no ámbito retórico de um discurso que nom convence nem assume umha boa parte da sua militáncia e quadros. Já nom podemos coincidir com a leitura de allegro ma non troppo a que nos referiamos há mais de ano e meio3, pois a realidade verifica umha carência de firmeza à hora de defender e aplicar a linha independentista. À medida que a cisom beirista foi perdendo paulatinamente o vigor inicial por mor das contradiçons sobre a política de alianças com o espanholismo, polos abandonos individuais e as rupturas coletivas por tanta incoerência, pola competência letal de Podemos como produto mais atrativo que o projeto de AGE e, portanto, foi desaparecendo na direçom da UPG o pánico pola criaçom e desenvolvimento de Anova, a viragem independentista ficou reduzida aos discursos nos atos rituais e aos artigos de opiniom. Se nom se consolidou Galiza pola Soberania (GpS) como iniciativa suprapartidária e abrangente, fruto de um acordo político de meses de consensos, foi porque estava concebida como umha ferramenta conjuntural enquadrada no taticismo que carateriza umha corrente política tam versátil como oportunista, incapaz de superar e despreender-se das limitaçons congénitas. Há indícios suficientes para interpretar que a unidade de açom com a esquerda independentista implementada de forma esporádica durante o ano passado, que serviu para lavar a cara, para injetar credibilidade num projeto e nuns dirigentes desprestigiados, para maquilhar e superar umha década de políticas autonomistas e neoliberais que facilitárom a espanholizaçom da Pátria e desarmárom a capacidade de luita do povo trabalhador, é agora basicamente concebida como um aditivo subsidiário reduzido a processos eleitorais. Nom há ruptura de relaçons, mas tampouco há interesse real em mantê-las mais além do ámbito puramente diplomático. A ausência de vontade de chegar a um acordo em chave de país nas eleiçons europeias de maio, nas candidaturas municipais da vindoura primavera, ou recentemente na denúncia da Constituiçom espanhola 6 dezembro, constata que a UPG que presume de ser umha força que atinge a madurez do meio século de trajetória, nom aprendeu as liçons e os erros cometidos neste longo período. A pulsom pactista segue mui viva no seu interior. A cultura conciliadora marca os ritmos de umha força que, embora elabore um diagnóstico rigoroso e lúcido do presente, é incapaz de aplicar as medidas imprescindíveis para avançar estrategicamente, porque o taticismo hipoteca e freia qualquer passo dado na direçom correta. Esta carência de audácia e vontade real de superar o eleitoralismo nom se pode dissociar das causas que estám a levar o projeto nacional galego à sua derrota estratégica. A UPG nom se define com claridom frente à nova transiçom que setores do esgotado regime espanhol tentam promover para -igual que na década de setenta do século passado-, perpetuar o modelo vigorante do capitalismo espanhol, e salvar a agonizante arquitetura jurídico-política imposta no pós-franquismo, frente à desafetaçom generalizada de cada vez maiores setores populares. Contradiçons e disputas internas impossibilitam umha rotunda negativa do nacionalismo galego à reforma constitucional e ao novo pacto que reclama o gram capital para garantir a unidade indivísível de Espanha mediante leves concessons às burguesias basca e catalá e mudanças cosméticas que neutralizem o ascenso do malestar popular. A ambigüidade calculada continua a ser a receita do dia a dia para tentar recompor desesperadamente o BNG anterior à ruptura, e desta forma procurar paulatinamente atingir as quotas eleitorais de 1997. O fantasma do quintanismo segue ativo no nacionalismo e, portanto, a viragem independentista e de esquerda aprovada na Conferência Nacional continua a aplicar-se contraditoriamente entre decisons espasmódicas que provocam que os princípios aprovados que gerárom tanta expetaçom nom dem superado o estado da interinidade e provisoriedade próprios do taticismo. A UPG aferra-se em impossibilitar as mudanças imprescindíveis no campo da esquerda patriótica que permitam a recomposiçom do conjunto do nacionalismo e do independentismo galego. Opta por perpetuar a toda custa um BNG que cada vez maiores seto- res sociais ativos nas luitas populares e presentes nos movimentos sociais identificam com umha sigla mais de um regime que há que transformar. Em vez de facilitar um processo aberto e horizontal de refundaçom integral da esquerda nacional que implique necessariamente a dissoluçom das organizaçons políticas de massas do nacionalismo e da esquerda independentista, e umha parcial restruturaçom das entidades setoriais, opta por marcar distáncias e evitar confluências, primando por tender pontes ao galeguismo entreguista. O tempo vai respondendo às múltiplas perguntas e dúvidas da militáncia galega. As sólidas desconfianças fundadas em décadas de desencontros nom se dissipárom, estám profundamente ativas entre aquelas e aqueles que temos historicamente defendido a confluência, umha ampla aliança em base a um programa avançado. Nos dias de hoje nom podemos responder com clareza às dúvidas e incógnitas que fazíamos coletivamente há perto de dous anos, mas sim temos mais certezas e factos constatáveis para o pessimismo objetivo, embora nom para o derrotismo. A reversibilidade das teses da Conferência Nacional é um facto presente, cada dia mais evidente nas decisons políticas de fundo que a UPG vai adotando ou facilitando por meio do BNG. Se bem é certo que neste último biénio umha nova geraçom militante do nacionalismo foi educada na cultura soberanista, que fôrom tecidas muitas cumplicidades entre as bases militantes, também nom é menos certo que boa parte dos quadros históricos, basicamente os que detenhem responsabilidades institucionais, mantenhem reticências e mesmo questionam a linha aprovada, provocando assim a impossibilidade de aplicaçom. Gostavamos de poder afirmar com satisfaçom que neste 50 aniversário que saudamos, a UPG deu por enterrada a patologia anti-independnetista praticada desde a segunda metade dos setenta. Mas a realidade impossibilita que podamos afirmá-lo, porque a UPG tem retrocedido à hora de aplicar a viragem. Mais tampouco desejamos que isso aconteça, porque para além das profundas diferenças táticas e estratégicas com a UPG -as quais provocárom em 1996 a conformaçom do novo co- munismo patriótico representado por Primeira Linha-, o fracasso das achegas plasmadas nos 10 pontos da reuniom da ponte da Rocha no verao de 1964 sobre as quais se edificou a doutrina e programa, facilitaria a derrota do projeto nacional galego na esfera política. Reconhecendo que o primeiro baluarte defensivo da Pátria está conformado assimetricamente polo nacionalismo e o independentismo, nom duvidamos que a queda do primeiro contingente -mais numeroso e com maior implantaçom social-, no sentido de renunciar novamente à contraditória linha soberanista acordada na Assembleia de Ámio, capitulando por um punhado de deputados em ilegítimas instituiçons alheias, teria conseqüências catastróficas. E se bem todo aparente que nom há motivos para umha renúncia, os factos constatárom que nengumha escola e corrente político-social, por muito vigor que transmitir, tem assegurada a sua irreversabilidade doutrinal. Do contrário, como entender que as cisons políticas independentistas que quebrárom com a UPG em 1976/77, 1986/87 e 2007 defendam e apliquem a unidade com o espanholismo que deu lugar a constituiçom de Anova e de AGE, incumprindo o princípio de auto-organizaçom? A solidez doutrinal de umha força política nom se garante nos textos e programas, salvo por umha coerente açom teórico-prática. O caso galego nom é umha exceçom. Muitas vezes, os que mais berram som os mais inofensivos. E os mais fanatizados na defesa dos princípios os primeiros em incumpri-los. A Revoluçom Galega exige grandes doses de generosidade para alterar e gorar o plano de aniquilaçom da Galiza a que Espanha nos conduz. A UPG tem o dever histórico de agir com responsabilidade patriótica. Esta seria a sua melhor contribuiçom neste 50 aniversário. 1 Carlos Morais, “Crise ou crises no nacionalismo galego”, Abrente 39 ( Janeiro-março 2006). 2 Carlos Morais, “Quadragésimo aniversário da UPG: olhar marxista às suas limitaçons congénitas”, Abrente 30 (Outubro-dezembro de 2003). 3Carlos Morais, “Dúvidas e incógnitas sem resposta sobre a unidade soberanista”, Abrente 69 ( Julho-setembro de 2013). ANÁLISE 4 ABRENTE Helena Sabel Membra da Mesa Nacional de BRIGA O camarada Lenine falou-me várias vezes sobre a questom feminina, à qual atribuía grande importância, umha vez que o movimento feminino era para ele parte integrante e, em certas ocasions, parte decisiva do movimento de massas. É desnecessário dizer que ele considerava a plena igualdade social da mulher como um princípio indiscutível do comunismo. Clara Zetkin (1924), Lembranças de Lenine1 A opressom de género nom tem um peso determinante na produçom teórica de Lenine, mas, se figermos umha revisom da obra do revolucionário russo, comprovaremos que nom se trata dumha questom por ele obviada. É consciente de como a dominaçom patriarcal fai com que a opressom acrescentada que sofrem as mulheres trabalhadoras provoque que certas problemáticas precisem de ser abordadas a partir da perspetiva de género. Desde o início da sua atividade revolucionária, Lenine fijo algum que outro esforço por se dirigir especificamente às mulheres trabalhadoras nas suas campanhas agitativas. Porém, a maior parte dos panfletos que repartia nas fábricas de Sam Petersburgo tinham como destinatário os trabalhadores, embora haja algumha exceçom2. Na produçom teórica iniciada durante a sua estadia em prisom em 1896-97, Lenine dedica numerosas reflexons às condiçons socioeconómicas das camponesas. Um dos seus objetos de estudo será a sobrecarga de trabalho que suponhem as tarefas relacionadas com os cuidados3. Além disso, insiste nos benefícios que suporia para estas mulheres a participaçom direta no processo produtivo em grandes indústrias fabris, pois reduziria a sua alienaçom, tornando-as mais independentes e, portanto, ajudando-as a romperem as cadeias do patriarcado4. Posteriormente, também analisará o processo de feminizaçom do setor agrícola nos países do centro capitalista e como esta feminizaçom está relacionada com as pequenas exploraçons, agrícolas, sendo estas, precisamente, as mais pobres. Nas suas reflexons sobre a precarizaçom das condiçons de vida das camponesas e da sua sobreexploraçom, retorna de novo à defesa da necessidade imperiosa de que as mulheres se incorporem ativamente ao tecido produtivo. Após a vitória da Revoluçom bolchevique, umha das maiores preocupaçons de Lenine é que, ainda que as mulheres e os homens sejam iguais ante a lei devido à reforma legislativa soviética, esta igualdade nom seja real a efeitos práticos. Daí que dedique notáveis esforços em impulsar a implicaçom ativa das mulheres na política e administraçom públicas, fazendo numerosos chamamentos às mulheres (tanto do partido como nom militantes) para que se unissem aos sovietes.5 Umha análise muito mais profunda que podemos elaborar aqui seria precisa para estudar a conceçom que da família e da sexualidade tinha Lenine. Som poucas as referências diretas que temos dele a este respeito e, as que conservamos, desprestigiam em certa medida os contributos dum revolucionário que tam lúcido foi à hora de analisar outros aspetos da teoria revolucionária. Por umha parte, temos o Lenine que analisa a família burguesa como a instituiçom que converte a mulher numha escrava. Na sua defesa do divórcio, denuncia a hipocrisia dos estados burgueses que o legalizam por invisibilizar a subjugaçom económica da mulher, que fai do divórcio na sociedade capitalista um trámite antidemocrático e fútil6. Também analisa com umha perspetiva de classe a despenalizaçom do aborto e a distribuiçom de propaganda sobre métodos anticoncecionais, diferenciando como a classe trabalhadora reivindica esses direitos em contraposiçom com a defesa covarde de certos setores da pequena-burguesia que desejam controlar a natalidade para que as “criança nom sofram” devido ao pioramento das condiçons de vida7. Lenine também denuncia a hipocrisia burguesa no tocante à prostituiçom, Nº 74 Outubro, novembro e dezembro de 2014 Lenine e a emancipaçom da mulher: umha revisom marxista e feminista nantes na vida do revolucionário ficam completamente ensombrecidas por este e relegadas a meras figuras de encarregadas do trabalho doméstico ou secretárias. Porém, é preciso insistir em que a sua companheira, Nadezhda Krupskaia, e irmás, Anna Elizarova e Maria Ulyanova, eram revolucionárias entregues que desempenhárom um papel fulcral na história da Revoluçom soviética. Nom só fôrom peças chave à hora de manter a organizaçom bolchevique durante os duros anos da emigraçom do Lenine, como também realizárom um labor encomiável na construçom do partido durante 1917, centrado-se particularmente nas mulheres e na juventude trabalhadora. Nom devemos esquecer que muita da bibliografia que manejamos sobre a Revoluçom de 17 se centra em personalidades: em Lenine como o líder, enquanto as perspetivas feministas estám centradas na figura de Alexandra Kollontai. É por isso que, por vezes, se fai necessário recordar que Lenine estivo exilado desde julho até a véspera da Revoluçom de Outubro e que Kollontai estava presa nessa altura. E mais ainda, fai-se necessário reivindicar que as mulheres cumprírom um papel determinante no sucesso da Revoluçom, e que devem deixar de ser vistas como umhas meras iniciadoras dumha revolta essencialmente masculina. Ter presente toda esta bagagem, este contexto pessoal e sociopolítico, é imprescindível para avaliar as “mais de quarenta ocasions” (aplaude Krupskaia) em que Lenine fai umha mençom explícita à emancipaçom das mulheres (Kruspakaia, 1933: op. cit.). Para rematar, queremos recordar os factos e nom ficar só com as palavras. Queremos recordar que sob a liderança de Lenine se criou o Genotdel, o primeiro departamento feminino governamental do mundo. Que se aprovou o Código Civil de 1918, polo qual decretava a proteçom do Estado a maes e crianças, tornando gratuitos os cuidados nas maternidades. Legalizou-se o divórcio e fijo-se do casamento um ato civil, no qual as duas partes assumiam os mesmos direitos e deveres. Anulou-se a distinçom entre filh@s legítim@s e ilegítim@s. Aboliu-se a educaçom religiosa e as instituiçons confessionais fôrom convertidas em centros de serviços sociais. Há que recordar também que em 1920, pola primeira vez no mundo, se legalizou o aborto. O trabalho tornou-se obrigatório para homens e mulheres e criou-se umha rede de instituiçons de apoio à mulher, desde infantários, centros de dia, cantinas, lavandarias públicas, cozinhas coletivas, e um longo et cetera. O proletariado nunca poderá conquistar a plena liberdade até que conquiste a plena liberdade para as mulheres. Lenine, 1920 Cartaz de Adolph Strakhov, 8 de março. Dia Internacional da Mulher Trabalhadora (1920) definida por este como umha forma de opressom sobre a mulher com umha indissociável condiçom de classe. Critica com dureza as medidas com que a burguesia pretende erradicar a prostituiçom (religiom e opressom policial) ao mesmo tempo que evidencia a falsidade burguesa ao falar de erradicar umha mal que nom só é provocado por ela, mas que o sustenta, beneficiando-se da sua existência. Por outra parte, temos o Lenine absolutamente oposto ao amor livre. Censura, por exemplo, que umha das principais temáticas que as comunistas alemás tratam nos círculos de debate com as trabalhadoras seja a problemática sexual e o matrimónio. Também considera “perigoso” que seja a sexualidade umha questom chave entre as juventudes do partido (pois “pode facilmente levar a excessos sexuais, sobreestimulaçom da vida sexual e ao desperdício da saúde e vitalidade da gente nova”8). Algumhas das suas discussons que a este respeito tivo com Alexandra Kollontai chegárom-nos através de Clara Zetkin. Zetkin afirma que Lenine criticou o conceito de amor livre defendido pola feminista russa, definindo-o como “completamente antimarxista, e, acima de todo, anti-social” (Zetkin, op. cit.: 7). Outros trechos desta obra desenham a conceçom que Lenine tinha sobre a luita pola emancipaçom sexual, que descreve como umha ideologia que nasce “do desejo de justificar a própria vida sexual anormal ou excessiva do indivíduo ante a moralidade burguesa e reivindicar toleráncia consigo mesmo”9. Além de Zetkin e Kollontai, também Inessa Armand foi alvo das suas críticas, como se pode observar pola petiçom que lhe fai, em que lhe solicita que apague um parágrafo dum panfleto em que Armand tratava a luita das mulheres trabalhadoras polo amor livre por ser “umha questom burguesa, nom umha questom proletária”10. Embora Lenine criticasse com fereza o modelo de família burguês, chega a apresentar a procriaçom no seio dum casal monogámico como o contexto mais legítimo para a sexualidade. Situa, ainda, a “promiscuidade sexual” como um vício semelhante ao álcool, pois dumha maneira similar afeta a consciência de classe favorecendo a alienaçom. Nom podemos estudar a presença da mulher na obra de Lenine, sem analisar as influências femininas na vida deste, assim como a atividade política protagonizada polas mulheres da sua época. Evidentemente, nom podemos elaborar aqui essa contextualizaçom, mas sim queremos denunciar, ainda que de maneira superficial, o pouco espaço que às mulheres se outorga nos relatos biográficos de Lenine (veja-se Service, 1995; Volkogonov, 1994). Em muitas biografias, mulheres determi- 1 h t t p : // w w w. m a r x i s t s . o r g /p o r t u g u e s / zetkin/1920/mes/lenin.htm 2Concretamente, um panfleto dirigido aos trabalhadores e trabalhadoras da fábrica têxtil Tornton. Também nos consta, segundo relata Krupskaya (1933), a intençom de Lenine de redigir um panfleto durante o seu exílio em 1899 que levaria por título “As mulheres e a causa do proletariado”. Neste panfleto, animaria as mulheres a participarem do movimento revolucionário e defenderia como só a vitória da classe trabalhadora conquistaria a emancipaçom de género (prefácio escrito para a coleçom de artigos de Lenine intitulada Sobre a emancipaçom da mulher de 1934). 3 Para se referir ao trabalho reprodutivo, Lenine utiliza com freqüência o termo “escravas domésticas” (Lenine, V.I.U. (1913): “Um grande avanço tecnológico”. Pravda, 91, 1913, 21 de Abril). 4 Lenine, V. I .U. (1899): O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, capítulo VII “O desenvolvimento da grande maquinaria industrial”. 5 Lenine, V. I. U. (1920): “Às mulheres trabalhadoras”. Pravda, 40, 1920, 22 de fevereiro. 6 Lenine, V. I. U. (1916): “Caricatura do marxismo e do economicismo imperialista”. Zvezda, 1-2, 1924. 7 Lenine, V. I. U. (1913): “A classe trabalhadora e o neomaltusianismo”. Pravda, 137, 1913, 16 de Junho. 8 Zetkin, C. (1934): Lenin on the Woman Question, New York: International, p. 5. 9 Zetkin (op. cit.: 4). 10Carta para Inessa Armand, 17 de janeiro de 1915. ANÁLISE Nº 74 Outubro, novembro e dezembro de 2014 ABRENTE 5 Evoluçom da Economia Galega: fracasso do binómio “Espanha-Capitalismo” Óscar Peres Vidal Populaçom residente na Galiza (2003-2013) 2.810 miles 6,50% % Galiza/Espanha 2.740 5,80% 2.730 5,70% 2.720 5,60% Galiza 2003 2.751.094 2004 2.750.985 2005 2.762.198 2006 2.767.524 2007 2.772.533 2008 2.784.169 2009 2.796.089 2010 2.797.653 2011 2.795.422 2012 2.781.498 2012 - julho 2.765.747 2013 - janeiro 2.761.970 2013 - julho 2.753.960 Dados tirados do IGE* 2013.VII 5,90% 2013.I 2.750 2012 6,00% 2012.VII 2.760 2011 6,10% 2010 2.770 2009 6,20% 2007 2.780 2006 Ano(s) 6,40% 6,30% 2005 O último informe publicado polo Conselho Económico e Social da Galiza (CES) referente à situaçom económica e social no nosso país no ano 2013, oferece, em traços grossos, a descriçom dumha naçom que oferece sintomas preocupantes tanto de presente como de futuro. Umha sociedade envelhecida, na qual diminui a populaçom enquanto a economia permanece estancada ou em retrocesso. É umha sociedade em crise tanto do ponto de vista social como económico. Frente a essa Galiza idílica que nos querem vender os diferentes governos do Partido Popular, tanto na Moncloa como em Rajói, sob a ideia de que umha mentira contada bem freqüentemente se torna verdade, a realidade monstra o seu traço mais terrível e o que é mais dramático, sem quase sinais de recuperaçom. Ao invés, a exploraçom do trabalho e a degradaçom da vida da classe trabalhadora se agudiza nos últimos anos, como condiçons necessárias para o capital se recuperar da sua crise. Em multidom de ocasions, temos analisado a dramática situaçom da classe trabalhadora na Galiza, assim como as causas estruturais tanto do desemprego como do comportamento diferenciado do “mercado do trabalho” relativamente ao Estado espanhol, e como esta situaçom foi piorando nos últimos anos com a nova crise do sistema capitalista iniciada em finais de 2007. Se bem a crise tem sacudido praticamente as economias de todo o mundo e sobretodo a classe trabalhadora dos respectivos Estados, no caso de Galiza esta situaçom é muito mais marcada pola imposiçom “espanha – capitalismo”. Sob este binómio oculta-se precisamente um projeto político-económico, implementado há décadas, consistente em tornar inviável e economicamente dependente a nossa naçom. Só assim podemos explicar o ataque histórico aos nossos setores económicos e estratégicos e a transformaçom imposta na nossa economia desde finais do franquismo. Desde há décadas, os diferentes setores da nossa economia tenhem sido atacados e desmantelados por parte do Estado espanhol e da Uniom Europeia. Apesar de na maioria dos casos continuarmos a ser referentes, também é evidente que temos perdido peso especifico em relaçom a quando éramos potência mundial a nível pesqueiro, agro-pecuário e naval, para pôr alguns exemplos. Assim, a economia galega de finais dos anos setenta nom tem nada a ver com a atual. A distribuiçom da ocupaçom por setores da economia galega nos últimos quarenta anos demonstra esta transformaçom forçada e imposta polos diferentes governos. Populaçom Galiza 2003-2013 % Populaçom Galiza/Espanha 2.790 2004 Bertol Brecht Galiza 2.800 2003 “Nos países democráticos nom se revela o caráter de violência que tem a economia; nos países autoritários, ocorre o mesmo com o caráter económico da violência.” 2008 Membro do Comité Central de Primeira Linha Galiza / Espanha 6,44% 6,37% 6,26% 6,19% 6,13% 6,03% 5,98% 5,95% 5,92% 5,88% 5,91% 5,91% 5,91% % Populaçom 0-39 anos Galiza (2008-2013) 46,00% 44,79% 4500% 44,31% 43,72% 4400% 43,10% 42,45% 4300% 41,74% 4200% 4100% 4000% 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Populaçom 2008-2013: Distribuiçom por grupos de idade (Galiza) Ano(s) 00 - 14 anos 15 - 39 anos 40 - 64 anos > 65 anos Total Fonte: INE* e CES* 2008 314.539 932.576 934.192 602.862 2.784.169 2009 318.109 920.748 945.411 611.821 2.796.089 2010 321.363 901.863 954.719 619.708 2.797.653 2011 324.119 880.621 961.205 629.477 2.795.422 2012 326.611 854.160 964.848 635.879 2.781.498 2013 329.029 823.893 970.808 638.241 2.761.971 Ocupaçom Setores Económicos Galiza (Distribuiçom por percentagens. 1976. 1980, 1996 e 2013) 8% 18% 32% 41% 46% 8% 10% 18% 1976. IV trimestre 15% 26% 48% 7% 15% 70% 11% 17% 1980. IV trimestre 1996. I trimestre 2013. II trimestre A demografia no nosso país, sintoma da doença da nossa economia S em dúvida, umha conseqüência das diferentes políticas implementadas na Galiza é a perda continua de populaçom e o envelhecimento da mesma. Um estudo recentemente publicado polo INE e o IGE prognostica que a Galiza poderia perder mais de 205.000 pessoas nos vindouros 15 anos. Em julho de 2013 (segundo os dados tirados no relatório do Conselho Económico e Social publicado em julho de 2014) a populaçom da Galiza situava-se nas 2.753.960 pessoas, quer dizer, 8.010 residentes menos do que ao começo do ano, devido a um saldo negativo migratório (-1.963 pessoas) e a um crescimento vegetativo negativo. A perda de populaçom é umha constante nas últimas décadas, mas sem dúvida agravada desde o início da nova crise económica. Assim, no intervalo 2008-2013, a populaçom na Galiza desceu em mais de 30.000 pessoas, em contraposiçom com o conjunto do Estado, no qual aumentou em 450.000 pessoas. Todo isto fai com que a Galiza, além de perder populaçom, perda peso especifico em relaçom ao conjunto do Estado espanhol, como se pode ver no seguinte gráfico. Mas, além disto, existe um problema muito grave na sociedade galega, já que diminuiçom de populaçom anda a par e passo de um processo de envelhecimento que se incrementa em 6,5% no intervalo 2008-2013 e que concretamente na faixa de idade entre 15 e 39 anos diminui em mais de 13%. Muito indicativo é que no conjunto do Estado espanhol e dentro das Comunidades Autónomas CA, a Galiza ocupe os últimos postos quanto a menor peso da populaçom até os 39 anos e, ao contrário, seja a terceira (CA) com maior peso da populaçom com mais de 64 anos de idade; quer dizer, pouca juventude num país envelhecido, sintoma preocupante de cara ao futuro. Agricultura e pesca 1976. IV trimestre 1980. IV trimestre Indústria Construçom 1996. I trimestre Serviços 2013. II trimestre Fonte: INE e IGE * CES: Conselho Económico e Social. INE: Instituto Nacional de Estatística. IGE: Instituto Galego de Estatística. Além dos custos que implica para umha sociedade ter umha populaçom envelhecida, também demonstra, infelizmente, que nom existem setores nem políticas económicas na Galiza que permitam criar e manter emprego e, portanto, assentar a populaçom. Esta situaçom é muito mais marcada na zona rural, que leva décadas num processo de despovoamento. Temos que lembrar que, no ano 1980, mais de 40% da populaçom trabalhava em atividades relacionadas com a agricultura ou as pescas, enquanto em 2013 mal ultrapassavam os 8% as pessoas ocupadas nestes setores. A política de imposiçons de Espanha da Uniom Europeia de cara ao setor primário, ainda que também ao se- cundário ou industrial, tivo como conseqüência um crescimento da emigraçom e do despovoamento das zonas rurais. A transformaçom e destruiçom dos nossos setores económicos A transformaçom dos nossos setores económicos desde a década dos anos setenta, início da II restauraçom borbónica, e até a atualidade, oferece umha informaçom clarificadora sobre como se tem transformado a sociedade e a economia galega nos últimos quarenta anos. Nom devemos esquecer que esta evoluçom é fruto das diferentes políticas levadas a cabo por parte de Estado espa- nhol e da Uniom Europeia, seguindo o ditame das instituiçons económicas e financeiras internacionais, que contribuírom para o desmantelamento de setores fundamentais para a nossa economia. Assim como acontece com os sintomas de umha pessoa doente, a situaçom da demografia na Galiza é a expressom dumha doença crónica do ponto de vista económico e político. Analisando unicamente a composiçom dos diferentes setores económicos no ano 2013, segundo os dados recolhidos no informe do Conselho Económico e Social de Galiza para 2013, obtemos a seguinte radiografia: O setor primário, composto basicamente polos subsetores agro-pecuário, pesqueiro e silvicultura – madeira, representa concretamente 7,3% de emprego na Galiza (mais de 75.000 pessoas), duplicando a média estatal, se bem está a se perceber um retrocesso do mesmo e um abandono progressivo da atividade, o que tem como conseqüência umha reduçom do numero de indústrias agro-pecuárias ligada com a descida dos preços de produçom do leite (devemos lembrar que os preços do leite na Galiza som dos mais baixos do Estado espanhol, apesar de suporem 37,4% da quota total leiteira do Estado) ou umha diminuiçom dos rendimentos do setor pesqueiro, de mais de 6% no ano 2013, segundo os resultados obtidos nas lotas do País. No caso do setor industrial, com cerca de 15% (151.000 pessoas) da ocupaçom total, a situaçom nom e positiva. Assim, no ano 2013 a demanda de produtos petrolíferos na Galiza viu-se reduzido em 7,2% (4,5% no conjunto do Estado espanhol), o que reflete uma menor atividade económica e industrial, mais acusada no caso galego. Tam só o subsetor da automoçom mostra certos sinais de melhoria, com 2,7% de crescimento de emprego a respeito do anterior, se bem com umha muito marcada degradaçom das condiçons de trabalho para o pessoal empregado no setor. No entanto, sem dúvida, o subsetor numha situaçom mais delicada é o naval, apesar dos cantos de sereia de Feijó e do Partido Popular, anunciando carga de trabalho para os estaleiros galegos. A realidade mostra umha situaçom verdadeira dramática: no ano 2013, o conjunto do Estado o setor naval assinou um total de 28 contratos e nengum por parte de um estaleiro galego. No que di respeito à carga de trabalho pendente, também se viu reduzida, pois se no ano 2012 havia 13 contratos pendentes de conclusom, no ano 2013 reduzírom-se até os 6. Uns dados que som exemplo do que está acontecer na Galiza e que se pode extrapolar ao abandono noutros setores e a situaçom da comarca de Trasancos, onde nos deparamos com um setor naval destruído por decisons políticas e que tivo como conseqüências converter-se na comarca galega com maior desemprego, indo além dos 30%, e a que sofreu umha maior queda demográfica nas últimas décadas, com umha perda de quase 20% da populaçom desde a década de oitenta e até a atualidade na cidade de Ferrol. O setor da construçom, com quase 70.000 pessoas, continua com a descida no referente a ocupaçom desde o início da crise. Assim, no ano 2013, o setor viu reduzido o emprego em 12,7%, se bem a reduçom que experimentou o setor desde 2007 até 2013 foi de mais de 52%. Por último o setor serviços que ocupa no nosso país mais de 700.000 pessoas e aporta 65% do valor acrescentado bruto total da economia galega no ano 2013, por volta de sete pontos percentuais menos que a média estatal e que supom quase 33 mil milhons de euros. No ano 2013 houvo umha reduçom do número de ocupados no setor de perto de 14.000 pessoas menos com respeito ao ano anterior. Logicamente a menor actividade económica e os diferentes cortes aplicados polos governos tivérom efeito negativo para um setor que engloba atividades de comércio, sanitárias e serviços sociais, hotelaria, educaçom, segurança social e administraçons públicas Porém, o mais significativo é vermos como a inícios dos anos 80 a economia de Galiza estava assente fundamentalmente no setor primário, o que tinha conseqüências muito positivas para o nosso país, já que, além da própria ocupaçom laboral, permitia o assentamento da populaçom no rural, enquanto na atualidade se converteu numha economia baseada fundamentalmente no setor terciário, que supom praticamente 70% de ocupaçom laboral. A estrutura que apresentava a economia galega estava claramente diferenciada da economia espanhola naquela altura; assim, a finais da década dos setenta a ocupaçom laboral da maioria da populaçom estava no campo ou na pesca, supondo a indústria naval também um suporte importante na passa à página 6 ANÁLISE 6 ABRENTE Vem da página 5 economia e no emprego, junto às indústrias siderúrgica, conserveira e têxtil, entre outras. Estes setores supunham mais de 64% da ocupaçom total na Galiza, frente a menos de 48% dos mesmos no Estado espanhol. Precisamente os setores naval, pesqueiro ou agro-pecuário tenhem sido o alvo dos ataques à economia galega por parte de Estado espanhol e da Uniom Europeia desde os anos oitenta até hoje, padecendo políticas de submetimento da nossa economia, o que provocou um comportamento diferente do emprego na Galiza. O resultado destas políticas tenhem efeitos evidentes; assim, durante estes anos, a ocupaçom laboral no nosso país tem tido umha descida de cerca de 19%, sendo este dado do ano 2013 inferior ao que regista a existente no ano 1976. Umha percentagem contraditória, tendo em conta que no conjunto do Estado espanhol a ocupaçom laboral aumentou mais de 32% neste mesmo período, o que pom de relevo o resultado do desmantelamento industrial, pecuário, pesqueiro. A entrada do Estado espanhol na CEE converteu a Galiza na saca onde Espanha e a Uniom Europeia pudérom bater com força para favorecer interesses económicos tanto de poderes económicos e financeiros como doutras áreas com mais capacidade de tomada de decisons. Derivado desta situaçom e ligado à ausência de políticas de intervençom em chave nacional para o desenvolvimento socioeconómico da nossa naçom a diferentes níveis (industrial, florestal, ambiental, pesqueiro, agrário, energético…) desenha-se um futuro trágico para o nosso país: Carecemos de planos de atuaçom próprios nos diferentes setores que permitam, por um lado, estabelecer políticas pensadas por e para a Galiza, assim como administrar os nossos recursos e potencialidades, caminhando para umha economia sustentável e respeitosa com o nosso meio. O panorama agrava-se por umha degradaçom das condiçons de vida e trabalho derivada da crise económica e dos planos e cortes aplicados polo Estado espanhol. A situaçom do mercado do trabalho nom deixa de ser extremamente preocupante. Todo isto fai com que a classe trabalhadora galega e, concretamente, a mocidade nom poda aspirar a trabalhar na nossa terra, sendo a imigraçom umha triste realidade para o nosso país. Também as mulheres sofrem muito mais o resultado destas Nº 74 Outubro, novembro e dezembro de 2014 Evoluçom da Economia Galega: fracasso do binómio “Espanha-Capitalismo” Lares com algum grau de dificuldade para chegar a fim de mês 2008-2013* Percentagem (%) - Fonte INE e IGE Comunidades 2008 2009 2010 2011 Autónomas Aragom 41,10 32,70 38,50 32,10 Balears 53,70 57,90 60,10 55,50 Navarra 37,40 37,70 35,80 34,40 Bascongadas 41,70 43,40 39,30 39,20 Galiza 59,60 60,50 59,40 59,20 Cantábria 61,20 46,40 56,10 49,00 C. Valenciana 60,50 60,80 59,60 55,50 Múrcia 67,30 75,00 76,70 69,40 Estremadura 64,40 64,70 66,30 54,40 Canárias 78,30 72,70 72,00 65,80 Castela e Leom 51,60 52,90 51,20 46,40 Madrid 56,60 53,00 54,50 58,30 Andaluzia 69,80 68,70 71,40 67,30 Catalunya 61,40 61,60 58,20 54,00 A Rioja 53,60 50,20 46,40 46,30 Astúries 43,10 47,90 43,40 38,20 Castela A Mancha 65,90 57,80 55,50 41,60 Total 59,90 59,00 58,80 55,30 * Os dados correspondentes a 2013 som provisórios políticas em setores como a indústria, a agricultura e a pesca, nos quais o aumento do desemprego é muito maior no seu caso. Assim, desde que se iniciou a crise a finais do ano 2007, o peso das pessoas assalariadas como contributo para o PIB desceu em cerca de 4%, enquanto o custo laboral regista umha queda importante, muito mais acusado que no conjunto do Estado, e o comportamento do desemprego é bem pior no caso da Galiza. De facto, o custo laboral por trabalhador/a e mês na Galiza situa-se 2,4% acima do ano anterior (face a 0,2% em Espanha), mas ainda assim situa-se em 11,20% abaixo da média espanhola. Converte-se a Galiza na terceira Comunidade Autónoma com custo laboral mais reduzido. Ligado com isto e como exemplo de degradaçom das condiçons laborais, o aumento salarial médio na Galiza situava-se, no ano 2013, segundo recolhia o informe do CES, em 0,57%: a 2012 2013 51,10 41,50 41,70 39,20 61,50 50,90 64,40 75,70 56,30 76,00 46,90 63,20 70,20 61,90 58,20 45,10 60,10 60,90 58,00 67,80 46,90 50,40 71,40 70,80 69,50 77,00 71,40 72,90 55,50 60,40 73,50 62,80 54,60 43,00 63,30 64,90 CES para o ano 2013 e tirados do INE. A Galiza ocupa a quinta posiçom entre as Comunidades Autónomas em que entre 2008 e 2013 mais aumentárom as dificuldades para chegar ao fim do mês e, concretamente, dentro dessas cinco, é a única que supera umha percentagem de 70% de populaçom com dificuldades para chegar a fim de mês. Conclusons Diferença 2008-2013 evidente que a transformaçom, por meio da imposiçom, da nossa economia durante os últimos quarenta anos, passando de umha sociedade assente fundamentalmente no setor primário (pesca, agro-pecuário, florestal...), com peso importante do setor industrial, a outra baseada no setor terciário tem sido prejudicial para o nosso país. Junto a isto, a aplicaçom de políticas neoliberais supujo umha deterioraçom das condiçons de vida e trabalho mais do que evidentes para a classe trabalhadora e, portanto, para a maioria da populaçom. Daí que podamos afirmar que a evoluçom da economia galega nos últimos anos expressa o fracasso do binómio “Espanha – capitalismo” para a Galiza. Ao longo das últimas décadas, ficou demonstrado que a política neoliberal e centralista por parte do Estado espanhol, juntamente com a Uniom Europeia, estám a levar a nossa naçom à ruína económica e social, cultural e lingüística. As políticas económicas implementadas desde meados do século passado, e aceleradas após a II Restauraçom Bourbónica, atacárom diretamente os setores em que a Galiza era umha potência a nível mundial. A ausência de políticas ativas para o setor primário, ao nom contar com planos económicos e sociais de atuaçom próprios, desenhados por e para nosso país, junto com o abandono e a deterioraçom do setor agro-pecuário e pesqueiro provocou também o abandono do nosso meio rural o que tivo conseqüências nefastas, já que, devido às peculiaridades da nossa naçom, estas atividades permitiam vertebrar o nosso país. A situaçom de urgência nacional em todos os ámbitos provoca que a rutura com Espanha e com o capital se converta numha necessidade inadiável para o povo galego e para a classe trabalhadora, numha tarefa obrigatória à qual dedicar todos os nossos esfoços como comunistas galegos. E para isso como sempre, a luita é o único caminho. É 41% 26% 25% 21% 20% 16% 15% 14% 11% -7% 8% 7% 5% 2% 2% 0% -4% 8% percentagem mais baixa desde que se tem registo no Conselho Económico de Relaçons Laborais. Som esses alguns exemplos da situaçom do mercado do trabalho no ano 2013, mas poderíamos acrescentar muito mais, como: a maior destruiçom de emprego que no Estado espanhol; a diminuiçom de quotizantes à Segurança Social; o aumento das horas trabalhadas e, ao invés, a diminuiçom salarial; a destruiçom dos setores públicos; o aumento da temporalidade; a dramática situaçom da juventude e das mulheres, com taxas de desemprego realmente alarmantes; ou mesmo o aumento de impostos e bens de consumo, com maior repercussom para a classe trabalhadora se comparado com as grandes fortunas, a banco ou o patronato... O custo que está ter a crise para a classe trabalhadora fica perfeitamente refletido noutra série de dados publicados no último relatório do LIVROS Vários Autores En defensa d’Afrodita, contra la cultura de la monogàmia Països Catalans, Tigre de paper | edicions, 2013, 250 páginas O projeto editorial de literatura crítica em língua catalá, Tigre de Paper, oferece-nos neste livro um conjunto de textos que analisam de distintas vertentes e posicionamentos ideológicos a monogamia como construçom cultural, convergindo num único ponto: a crítica radical do padrom de relaçons sexo-afetivas imposto na nossa sociedade atual e a necessidade de superá-lo. Com diversos formatos, estilos, enfoques metodológicos e mesmo desigual interesse e qualidade, recolhem-se análises marxistas da natureza económica, histórica, social e cultural da monogamia, mas também estám amplamente representados posicionamentos anarquistas e mesmo ideias próprias da esquerda pós-moderna. Desde a conceptualizaçom teórica da cultura da monogamia até ferramentas práticas para a combater no dia a dia, diversas autoras, na sua maioria ativistas sociais, fam aqui a sua particular achega a um debate muitas vezes difícil de tratar e longe de ser considerado de urgente abordagem na maioria das organizaçons da esquerda revolucionária. En defensa d’Afrodita, contra la cultura de la monogàmia permite introduzir-nos a um primeiro nível na necessária análise e questionamento do controlo do fenómeno psíquico social do amor por parte da burguesia em funçom dos seus interesses de classe. Além disso, é de ressaltar que esteja escrita em positivo, numha tentativa de dotar-nos de ferramentas para a construçom dumha nova moral sexual afastada da ideologia burguesa baseada na propriedade privada. Eva Cortinhas Tiago Peres Breve história do reintegracionismo Galiza, Através Editora, 2014, 165 páginas Vários Autores ¿Para qué sirve El Capital? Un balance contemporáneo de la principal obra de Karl Marx Caracas, Editorial Trinchera, 2014, 191 páginas O livro é umha antologia das intervençons realizadas no Segundo Encontro Internacional de “Escuela de Cuadros”, projeto comunicativo para a formaçom revolucionária marxista surgido na Venezuela. Um encontro decorrido em 2013 com o objetivo de analisar a vigência d’O Capital e que contou com a participaçom de inteletuais e militantes como o cubano Rubén Zardoya, o argentino Néstor Kohan, o basco Iñaki Gil de San Vicente, o venezuelano Vladimir Acosta ou o espanhol Carlos Fernández Liria. Recolhem-se, assim, as intervençons apresentadas nas três jornadas de debate sob as epígrafes Ordem/Ênfase n’O Capital, Método de Marx/Dialética e Horizonte Histórico/Vigência d’O Capital. Destarte, no primeiro bloco abordam-se questons como ‘qual poderia ser a melhor maneira de abordar o estudo da principal obra de Marx’, nomeadamente no caso de um primeiro achegamento à mesma (que se recomenda seja coletivo), considerando o seu caráter de obra que demonstra a historicidade do capitalismo e que convoca à luita para atingir a sua superaçom. No segundo bloco, com intervençons de Néstor Kohan, Carlos Fernández e Rubén Zardoya, produz-se um debate acerca da validez da dialética como ferramenta de estudo do capitalismo e do seu emprego por Marx n’O Capital, com opinions que vam da sua defesa ao seu rejeitamento total, passando pola análise da sua deformaçom metafísica no “marxismo oficial” soviético. Finalmente, o encontro fechou-se com a reivindicaçom da validez básica d’O Capital para compreendermos a natureza do capitalismo, para além das suas fases e evoluçons após a época de Marx, entendendo-o como umha obra aberta que cumpre desenvolver e nunca como um livro meramente científico, mas destinado a fortalecer a luita revolucionária comunista. Todo o evento está disponível na rede, no canal de Youtube de “Escuela de Cuadros”. Anjo Torres Cortiço WEB Tiago Peres, veterano ativista pola língua em Ourense e licenciado em História, aborda neste trabalho a primeira tentativa de sistematizaçom histórica de um movimento socialmente transversal que parte de minorias ilustradas do século XVIII, atravessa os séculos XIX, XX e chega até os nossos dias. O percurso é feito de maneira rigorosa polo autor, que inclui grande número de dados e informaçons relevantes e pouco conhecidas sobre a importáncia da orientaçom reintegracionista no movimento defensor da cultura e da língua da Galiza. Para além de expor os termos em que o debate sobre a questom se deu de maneira peculiar nas diferentes etapas, organizaçons e autores, o trabalho de Tiago Peres reflete como se verificou, nas últimas décadas, um importante trabalho de socializaçom das ideias defensoras da unidade lingüística galego-portuguesa. As organizaçons e entidades que convertêrom as ideias reintegracionistas numha prática social coerente a partir dos anos 80 protagonizam a parte final da obra, com destaque para o independentismo de esquerda e para o movimento de centros sociais iniciado há quase duas décadas em diversas localidades do País. Estamos, nom há dúvida, diante de um importante contributo para o (auto)conhecimento, a reflexom e o debate de um movimento imprescindível para a reformulaçom pendente da política cultural e lingüística galega. Um desses que nos permitem afirmar, com algum orgulho, que “a nossa história fazemo-la nós”. Maurício Castro Centro de Documentación de los Movimientos Armados www.cedema.org Num continente com umha história contemporánea fortemente marcada polas luitas armadas desenvolvidas por grande número de organizaçons populares um pouco por todos os países ex-colonias de ámbito hispano e lusófono, o Cedema constitui um espaço comum para a abordagem e análise do fenómeno político-militar de raiz popular. Criado em 2005, o Cedema oferece umha visom histórica e atual das diferentes expressons armadas latino-americanas, ordenadas por país e por organizaçom, em constante atualizaçom, já que em vários casos se trata de processos em desenvolvimento no presente. Sem fins lucrativos nem ligaçons partidárias, o Cedema tenciona nom só investigar a matéria, como também alentar “o seu estudo multi/interdisciplinaria para dar a conhecer os trabalhos que surgirem ao respeito, através de umha atualizaçom quotidiana do seu sítio eletrónico na rede de redes.”. INTERNACIONAL Nº 74 Outubro, novembro e dezembro de 2014 ABRENTE 7 A dous meses sem resposta justa, a luita do povo mexicano ascende Jonathan Hernández Membro do Buró Político do Partido Comunista do México (PCM) P assárom quase dous meses daquele abominável crime que abalou toda a naçom mexicana e a muitos lugares do mundo: A matança de 6 pessoas e o desaparecimento forçado de 43 normalistas da escola normal rural Isidro Burgos de Ayotzinapa, Guerrero. Durante estes dias temos visto que o oportunismo e a social-democracia jogam um papel muito importante na lógica da violência, fortalecendo a ultra-direita e a conformaçom de grupos paramilitares. O Estado de Guerrero tem-se caraterizado por exercer umha violência exacerbada contra a sua populaçom, sendo que é aí que atualmente se registam os maiores índices de desigualdade social, além de ser o terceiro estado mais pobre do México, por trás de Chiapas e Oaxaca, e sendo o município mais pobre do país e com o menor índice de desenvolvimento humano. Os governos da suposta esquerda no México caraterizárom-se por protagonizarem várias das repressons mais violentas nos últimos anos, somando aos seus crimes, assassinatos, torturas, desaparecidos, vexames de todo o tipo e violaçom de direitos humanos. E o caso do governo PRDista de Guerrero, onde o hoje ex-governador Ángel Heladio Aguirre Rivero, nas eleiçons de 2011, se armou por completo do oportunismo que carateriza a política institucionalizada no México, sendo pré-candidato polo Partido Revolucionário Institucional (PRI) e posteriormente recusado por dito partido. Ao dia seguinte, renuncia ao PRI e posteriormente é apresentado como candidato do PRD à governaçom de Guerrero, dando origem a umha aliança entre os três partidos da suposta esquerda, o Partido da Revoluçom Democrática (PRD), o Partido do Trabalho (PT) bem como a Partido Convergência, aliança que foi nomeada Diálogo pola Reconstruçom do México. Aplaudírom e apoiárom a candidatura do ex-priista Ángel Aguirre, sem esquecer que recebeu grande apoio e impulso do líder de MORENA Andrés Manuel López Obrador. Desde que o ex-governador Ángel Aguirre Rivero assumiu este cargo em abril de 2012, os assassinatos contra indivíduos, organizaçons revolucionárias, líderes sociais... fôrom umha constante em Guerrero, registando-se diversos homicídios múltiplos, salientando que esse governo assassino foi assinalado e condenado polas organizaçons revolucionárias, que há contas pendentes e que tanto Ángel Aguirre como o governo federal do presidente Enrique Peña Nieto som os causantes dos massacres no Estado, já que ambos servem e representam os interesses dos grupos burgueses e de oligarcas na entidade e o território mexicano. Durante as últimas décadas desatou-se um maior ódio para a populaçom de Guerrero por parte do Estado com um índice de violência de tipo bárbaro, como a chacina de 17 camponeses em Águas Brancas, no município de Coyuca de Benítez, a 28 de junho de 1995, a maos da conhecida entom como Polícia Motorizada e Judicial do Estado; a matança do Charco, no fim de junho de 1998, em que o Exército atacou umha escola e morrêrom 11 pessoas; em janeiro de 2004, um comando armado, que se identificou como polícia estatal, assaltou o penal no município de Iguala e assassinou cinco presidiários; entre abril e maio fôrom encontradas 16 osamentas em fossas clandestinas no assentamento Ernesto Pineda Vega; a 12 de dezembro de 2011 dous estudantes da normal rural de Ayotzinapa fôrom assassinados por polícias federais numha manifestaçom sobre a autoestrada do sol; já durante o gerenciamento do PRIista-PRDista Aguirre, continuárom a acontecer assassinatos contra a populaçom; em setembro de 2012, seis pessoas fôrom assassinadas, com novamente o Exército a protagonizar um confronto no município de Tecpan de Galeana, na regiom da Costa Grande; nesse mesmo mês, 11 pessoas mais fôrom assassinadas noutro tiroteio quando um grupo se enfrentou a soldados no município de Tepecoacuilco; a 5 de agosto de 2013, foi encontrado o corpo do dirigente do Partido Comunista de México (PCM) na regiom de Guerrero, Raymundo Velázquez, quem foi assassinado junto a mais dous integrantes do PCM de Guerrero, Samuel Vargas Ramírez e Miguel Solano, cujos corpos fôrom encontrados com impactos de bala e marcas de tortura nas margens do rio de Coyuca de Benítez, sendo responsabilizados o governo local de Guerrero e o governo Federal; em dezembro 58 14 5 foi o número inicial de desaparecid@s deles aparecêrom com vida a 30 de setembro Loma de Coyote Huitzuco Metlapa som as fossas comuns Cocula clandestinas encontradas Tianquiperto de Iguala, entre os zolco meses de outubro e dezembro Lixeira Depois do seqüestro... A Polícia detém o alunado que viajava de autocarro Tepecoacuico de Trujano Santa Teresa Municipal de Cocula Río San Juan Coacoyula de Álvarez Depois entrega @s estudantes a pessoas inculadas a Guerreros Unidos, por ordem do presidente da Cámara de Iguala La Vente Xochipala Chichihualco Zumpango del Río Apango Atliaca Tixtla de Guerrero Chilpancigo de Los Bravo 5 km de 2013, oito pessoas fôrom assassinadas por um grupo armado no povoado Mextitlán, município de Teloloapan; em janeiro de 2014, nove pessoas morrêrom num confronto que se deu no centro penitenciário de Guerrero. O A idade da maioria dos desaparecidos situa-se entre os 18 e os 21 anos Número de homicídios, seqüestros e extorsons acontecidas no México entre janeiro e setembro de 2014 Extorsons 4.988 Huiziltepec A seguir, fraturam os restos calcinados e metem-nos em sacos de lixo pretos O crime de Iguala 18-21 Homicídios 14.219 Río Balsas Na lixeira, som executados e os seus restos calcinados com gasolina e gasóleo Deitam ao longo do rio San Juan umha parte dos restos Zona onde agentes da Polícia de Iguala e Cocula entregárom o alunado a membros do cartel Guerreros Unidos alunos normalistas continuam sem aparecer Mezcala Levam os seqüestrados à lixeira municipal de Cocula, num camiom de carga O fogo é mantido vivo durante 14 horas, desde a meia-noite até as 2 da tarde de 27 de setembro 43 Iguala de La Independencia Tonalapa de Río tam repudiado facto do passado 26 de setembro do ano em curso, no município de Iguala, Estado de Guerrero, é um acontecimento que conseguiu mobilizar grande parte da populaçom mexicana e do mundo, um crime perpetrado e que hoje quer ser silenciado polo governo mexicano. Isto conseguiu pôr na mira esse impune e criminoso governo por um lado e, por outro lado, dá-se um avanço na organizaçom, mobilizaçom e luita do povo mexicano, que vai em ascenso. Esses brutais acontecimentos acontecêrom em vários momentos de 26 e 27 de setembro passado, sendo assassinados integrantes da normal rural de Ayotzinapa e civis, com disparos realizados por pessoas fardadas de polícias municipais e outros vestidos de civis. Julio César Fuentes Mondragón, estudante normalista, foi torturado, tirárom-lhe os olhos e esfolárom-lhe o rosto; 20 pessoas mais ficárom feridas, outro jovem em conseqüência dos disparos encontra-se em estado vegetativo; aconteceu um desaparecimento forçado de pessoas, a grande maioria normalistas, dos quais ao menos 20, fôrom subidas a carrinhas da polícia municipal. No sábado 4 de outubro, encontrárom-se fossas clandestinas com corpos calcinados e sinais de tortura, segundo médicos especialistas. O procurador de Guerrero, Iñaki Blanco, afirmou que eram os corpos dos estudantes; no entanto, quase dous meses mais tarde, nom há provas concretas sobre tal declaraçom e, ao invés, fôrom encontradas mais de 50 fossas clan- Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos Petaquillas Mochitlán Mazatlán Seqüestros 1.529 80.000 som os assassinatos cometidos entre 2006 e setembro de 2014 22.000 é a estimaçom do número de desaparecid@s que se registam desde 2006 até setembro de 2014 destinas nas redondezas e estados próximos de Guerrero, além das encontradas noutras muitas partes do território nacional. A escola normal para mestres de Ayotzinapa localizada no município de Iguala historicamente caraterizou-se por empreender a construçom de espaços de organizaçom e luita, nom há que esquecer que polas sala de aulas desta escola passaram os colegas revolucionários Genaro Vázquez Rojas e Lucio Cabañas Barrientos, desde entom tanto o governo federal e o estatal quiseram submeter a sangue e fogo a organizaçom estudantil desta escola e sua vinculaçom com outras normais rurais e outros espaços educativos. Apesar disso a organizaçom estudantil das ainda existentes normais rurais para mestres continuam desenvolvendo métodos organizativos e baixo a lógica do terrorismo de Estado som umha ameaça para o próprio Estado, já que os estudantes geram simpatia com a populaçom e exigem ao mesmo tempo melhores condiçons de estudo, sociais e de emprego. Há que entender que nom se trata de umha simples execuçom criminosa orquestrada pola polícia municipal. Estamos a falar de umha organizaçom de narco-paramilitares, já que existe umha relaçom entre governo, polícia e crime organizado, um facto este muito alarmante, observando-se que existe umha colombianizaçom dos métodos e formas repressivas no modo de operar do Estado mexicano. Nom podemos esquecer que durante mais de um ano o general colombiano Oscar Naranjo Trujillo (conhecido por seus crimes contra a insurgência colombiana, contra a organizaçom urbano-popular, estudantil, sindical, camponesa, indígena e contra a populaçom colombiana de modo geral e a sua relaçom com os principais cárteles de narcotráfico e diversos grupos paramilitares, sem esquecer que é corresponsável do massacre de Sucumbíos, Equador, onde morrêrom ao menos 25 pessoas, entre combatentes e civis, entre eles, 4 estudantes mexicanos comunistas) foi assessor em matéria de segurança nacional e com isso trouxo aparente tranquilidade do crime organizado. O caso deste crime perpetrado no município de Iguala, Guerrero o passado 26 de setembro nom é um caso isolado, somando-se aos já vários crimes em que o Estado mexicano opera contra a populaçom com suas diferentes forças repressoras, execuçons de maneira extra judicial em várias partes do México, desaparecimentos forçados, criminalizaçom, perseguiçom e encarceramento dos dirigentes sociais. Salienta ainda o ênfase na perseguiçom de dirigentes comunistas, o que fai parte do plano estratégico dos governos para seguir mantendo a qualquer preço a salvaguarda dos interesses burgueses e monopólicos a quem representam a partir do parlamento e dos seus cómodos escritórios. Hoje podemos observar com maior clareza aquele prognóstico de K. Marx, quando afirmou que chegaria o momento em que os governantes e políticos legislariam unicamente a favor dos interesses privados. Incremento da luita popular no México A s contradiçons da crise capitalista em território nacional mexicano manifestam-se abertamente na quotidianidade com maior número de protestos a diário, incremento do conteúdo político nas palavras de ordem e nas mobilizaçons, maior descontentamento generalizado na populaçom mexicana, no incremento das forças repressivas e no seu método de repressom. Parece fácil prognosticar, com base nas condiçons objetivas de violência por um lado e de marginalizaçom das camadas médias e da classe trabalhadora de modo geral, por outro, um próximo aumento da repressom. O incremento da organizaçom popular obriga a construir de maneira imediata a unidade do proletariado e dos setores populares, pois só desta maneira poderá existir umha contraofensiva real aos brutais atos que se levam a cabo contra a populaçom mexicana e contra os luitadores sociais. Hoje em dia podemos observar que os abomináveis factos acontecidos contra os normalistas desatárom umha grande onda de organizaçom, de manifestaçom, de repúdio contra o governo mexicano, conseguírom mobilizar milhons de pessoas arredor do mundo. Nom é, pois, umha situaçom casual nem isolada, as mobilizaçons tam numerosas que se verificárom. Cada dia, vê-se aumentar a luita do povo mexicano, já nom só no setor estudantil. Ao longo destes sofridos dias, começárom a se somar organizaçons camponesas, políticas, sociais, culturais, criando-se novas formas organizativas, novas organizaçons, que somam os descontentamentos gerados por várias décadas de crimes e de impunidade. Se no seu momento tinham sido silenciadas, hoje a populaçom mexicana começa a sair à luz, a perder o medo, com muitos setores dispostos a ir mais longe, a se mobilizar e fazer suas as formas de luita. Nom podemos perder o norte e pensar que este momento é o da revoluçom socialista, mas a tarefa dos revolucionários e comunistas sim é construir e avançar com a luita generalizada do povo mexicano. Por outro lado, desde aquele fatídico dia 26 de setembro, a polícia e as forças repressivas primeiro oferecêrom um espaço onde a organizaçom revolucionária, estudantil e popular começárom a conquistar espaços organizativos, abrindo-se um espaço político que logo se soubo aproveitar, mas as últimas declaraçons tanto do presidente e dos secretários da Marinha e do Exército afirmárom que abrirám um período de repressom profunda para restabelecer a ordem, a paz e garantir o estado de direito. Isso nom é mais que a agudizaçom das contradiçons dentro do capitalismo no México, já que os burgueses vírom afetados os seus interesses em milhons de pesos os seus lucros roubados aos trabalhadores e por isso pedírom mao de ferro ao governo mexicano. Isso nom é mais que a comprovaçom de que o governo unicamente tem a prioridade de salvaguardar os interesses da classe que representa, a burguesia agonizante que se nega e se aferrará com todo para manter seu estilo de vida, apesar do sofrimento e miséria dos milhons de trabalhadores, pobres e marginalizados do México; há um sentimento de insubordinaçom e de rebeldia que se tenhem que orientar para a luita popular, esta é a tarefa imediata. Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista Galega Edita: Primeira Linha. Redaçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 Conselho de Redaçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correçom lingüística: Galizaemgalego Diagramaçom: ocumodeseño. Imprime: Sacauntos Cooperativa Gráfica. Encerramento da ediçom: 22 de dezembro de 2014 Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Web: www.primeiralinha.org / Correio eletrónico: [email protected] / Twitter: @PrimeiraLinhaGZ Tiragem: 3.000 exemplares Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997 Touradas, flamenco e corrupçom José Miguel Ramos Cuba. Militante de Primeira Linha Contracapa Insurgente “E spanha é umha cousa que com o tempo encolhe” é umha brilhante definiçom de um marxista basco sobre a fenomenologia desse projeto nacional indecifrável se nom fosse pola opressom que hoje exerce sobre nós. Sinceramente, eu que sempre adorei esta definiçom mudava-a um chisco para algo assim como “Espanha é onde todo encolhe exceto a corrupçom”. Nom há nengumha estrutura do Estado que se encontre limpa do vírus da corrupçom, pois ele nom é no Estado espanhol umha anomalia pontual e sim a caraterística esencial do normal funcionamento do sistema. Umha estrutura social regulada polo dinheiro negro, os contratos falsos, os conseguidores de concursos públicos e a submissom. E também é paradoxal que a salvaçom a todo isto semelhe vir de um ámbito, o universitário, em que todo isto acontece com a mais absoluta normalidade. Sim, o mundo universitário em que se cria Podemos é a expressom máxima do funcionamento feudal paradigmático da corruptela. Temos que concluir que o sistema político espanhol nom é democrático, pois é incapaz de regenerar-se, ao padecer cada umha das suas partes a mesma dinámica clientelar. Espanha é umha particular roda de favores que limitam a livre determinaçom encadeando-se à propriedade. Porque se nom fosse assim, cada rede corrupta seria destapada e higienizada pola capacidade democrática das massas populares e nom polo exercicio profissional dumha casta tam antidemocrática como a judicatura. Como nos vamos fiar do zelo profissional em contra da corrupçom, quando os e as magistradas som as únicas pessoas que só respondem ante elas próprias? A corrupçom e o clientelismo som tam parte de Espanha que é impossível romper com elas mantendo umha mesma identi- dade política com o opressor. Nom se trata de um défice do que avergonhar-se, mas do eixo básico de reproduçom desse cortelho identitário que se constrói a sul dos Pireneus. Por pura dignidade, devemos rejeitar partilhar qualquer tipo de identidade com esses canalhas malnascidos que vivem a conta da chantagem e do suor alheio. Hoje a corrupçom é tam símbolo espanhol como o flamenco ou as touradas, e exerce-se dentro do mesmo sistema simbólico. Dá absolutamente igual onde nascesse a casta canalha da corrupçom, seja aquem ou A corrupçom e o clientelismo som tam parte de Espanha que é impossível romper com elas mantendo umha mesma identidade política com o opressor além Mançanal; fai parte voluntariamente do único sistema político que lhe garante a viabilidae política do seu malviver. FICHA DE SOLICITUDE nome e apelidos endereço localidade código postal correio electrónico telefone publicaçom solicitada Recebe as publicaçons da Abrente Editora na tua morada preenchendo o formulário e enviando-o co justificante de pagamento da publicaçom ou publicaçons escolhidas à rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Número de conta para o ingresso 2091 0387 423000009169 de Caixa Galiza-Compostela. Ao preço da publicaçom há que acrescentar 5 e por gastos de envio. Necessitamos ter o direito a decidir livremente “cavalgar até enterrá-los no mar” e isso só será possível a partir do rompimento com todo laço simbólico que nos ate a eles. Só poderemos escolher livremente se escolhermos a partir de um espaço diferente ao deles. Controlam os mecanismos de representaçom, de contrataçom, de subvençom e de decisom, fagamos como mínimo que nom sejam capazes de controlar o nosso espaço de decisom e de imaginaçom. Queremos mudar todo, menos eles, que queremos destruí-los.
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