Monografia - Serviço Florestal Brasileiro
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Monografia - Serviço Florestal Brasileiro
CONCURSO DE MONOGRAFIAS: II PRÊMIO FLORESTAL BRASILEIRO EM ESTUDOS DE MERCADO FLORESTAL CATEGORIA PROFISIONAL DO SERVIÇO ECONOMIA E TÍTULO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A OFERTA DE MADEIRA SUSTENTÁVEL DE ORIGEM NATIVA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA (OUTUBRO 2014) 1 INDICE RESUMO LISTA DE SIGLAS LISTA DE ANEXOS 1.OBJETIVOS 2 METODOLOGIA 3. PORQUE MADEIRA? 4. CONTEXTO DA MADEIRA NATIVA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA 5. MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL E PRODUTIVIDADE INDUSTRIAL 6. A PRODUÇÃO E O MERCADO 7. OPORTUNIDADES 8. LICENCIAMENTO E MADEIRA ILEGAL 9. BUSCA DA SUSTENTABILIDADE 10. ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO SEGMENTO 11. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS 2 RESUMO Os principais objetivos da monografia foram: avaliar os desafios relacionados à oferta de madeira sustentável de origem nativa da Amazônia brasileira; indicar alternativas para superar esses desafios; apontar oportunidades existentes e iniciativas em andamento que possam impactar esse segmento. O estudo é do tipo exploratório, com busca de informações em diversas fontes e utilização de diferentes métodos: fontes bibliográficas, sites e conversas com atores chave do setor florestal. A idéia foi fazer uma pesquisa abrangente para identificar os principais fatores que impactam o segmento de madeira nativa. Uma limitação foi a escassez de dados sistematizados e de publicações sobre o tema. Na seção "Porque Madeira" são relatados os atributos positivos da madeira: entre eles absorção de CO2 pelas florestas e o fato de ser um material de construção renovável. Na seguinte, o contexto na exploração da madeira nativa na região. Em seguida, discutem-se a limitada adoção do manejo florestal sustentável e a baixa produtividade ao longo da cadeia produtiva. O bom manejo com impacto reduzido de exploração é exceção; a exploração continua concentrada em poucas espécies e a geração de resíduos na indústria é elevada. Nesse contexto negativo, apesar de sua pequena escala, se destaca o projeto PIMADS, voltado para melhor utilização dos recursos florestais na fabricação de pisos. Sugere-se a revisão de resoluções do Conama: a regionalização de alguns parâmetros do manejo florestal e aqueles do aproveitamento industrial da tora ajustados às diferentes espécies e usos. O mercado para madeira nativa tem caído ao longo dos últimos anos e as concessões florestais avançam em ritmo lento. A queda da demanda tem sido em 3 função da retração de mercados importadores, do aumento do preço de espécies nobres e da substituição da madeira nativa pela de reflorestamento e outros materiais. A demanda tem sido suprida em grande parte por madeira ilegal devido a fragilidade do licenciamento e a baixa fiscalização. A SEMA-PA e a SEMA-MT estão contratando recursos do Fundo Amazônia para fortalecer seus sistemas de licenciamento e monitorar os planos de manejo através do sensoriamento remoto. Resta saber se esses esforços serão bem sucedidos e suficientes para reverter esse quadro de ilegalidade. Não se vê ainda nenhuma iniciativa do IBAMA. A concorrência da madeira ilegal e não sustentável inviabiliza empresários sérios do setor, desestimula a entrada de novos e também os investimentos em pesquisa, tecnologia, produtividade e novos produtos. Existem oportunidades para a madeira nativa no mercado interno principalmente em usos não temporários e construções horizontais. No mercado externo as maiores oportunidades são em pisos , molduras e decks, que dispõe de um parque industrial relativamente moderno. Entretanto, é bom ter em mente que as pressões contra a madeira ilegal estão se intensificando principalmente na Europa e nos EUA. As principais contribuições da monografia para o SFB estão na organização e análise de informações de diferentes fontes sobre madeira nativa e na análise atual da madeira ilegal, considerando o impacto dessa sobre os concessionários das florestas públicas. SUSTENTABILIDADE DESAFIOS OPORTUNIDADES 4 LISTA DE SIGLAS ABIMCI Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AIMEX Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará ANPM Associação Nacional dos Produtores de Pisos de Madeira ATIBT Association Technique Internationale des Bois Tropicaux ATPF Autorização de Transporte de Produtos Florestais BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAR Cadastro Ambiental Rural CENAFLOR Centro Nacional de Apoio ao Manejo Florestal CERFLOR Programa Brasileiro de Certificação Florestal CIDE Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico CIPEM Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente DEGRAD Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia Brasileira DOF Documento de Origem Florestal EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EUTR European Union Timber Regulation FLEGT Forest Law Enforcement Government and Trade FLONA Floresta Nacional FLOTA Floresta Estadual FNBF Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal FNDF Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal 5 FSC Forest Stewardship Council HDF painel de fibra de alta densidade IBÁ Indústria Brasileira de Árvores IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços ICV Instituto Centro Vida IDEFLOR Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará IEB Instituto Internacional de Educação do Brasil IFC International Finance Corporation IFT Instituto Floresta Tropical IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPAM Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia IPI Imposto sobre Produtos Industrializados IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo ISA Instituto Sócio Ambiental ITTO International Tropical Timber Organization LGFP Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.284/06) LPF Laboratório de Produtos Florestais do SFB MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDF painel de fibras de média densidade MDP painel de partículas de média densidade 6 MMA Ministério do Meio Ambiente MPF Ministério Público Federal ONG Organização não Governamental PAMFLOR Programa de Apoio ao Manejo Florestal PIMADS Piso de Madeira Sustentável PMFS Plano de Manejo Florestal Sustentável PNF Programa Nacional de Florestas PRODES Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia RAA Rede de Amigos da Amazônia RESEX Reserva Extrativista SEMA-MT Secretaria Estadual de Meio Ambiente (MT) SEMA-PA Secretaria Estadual de Meio Ambiente (PA) SFB Serviço Florestal Brasileiro SIMLAM Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental SINDIMASP Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo SISFLORA Sistema de Cadastro, Comercialização e Transporte de Produtos Florestais SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente TAC Termo de Ajustamento de Conduta TNC The Nature Conservancy VPA Voluntary Partnership Agreements WWF World Wildlife Fund ZSEE Zoneamento Sócio Econômico e Ecológico 7 LISTA DE ANEXOS ANEXO 1: NOME CIENTÍFICO DE ESPÉCIES FLORESTAIS MENCIONADAS ANEXO 2: VARIAÇÃO DE RENDIMENTO ENTRE ESPÉCIES FLORESTAIS ANEXO 3: LISTA DOS CONCESSIONÁRIOS DE FLORESTAS PÚBLICAS NA AMAZÔNIA (ÁREAS FEDERAIS E DO ESTADO DO PARÁ) 8 OBJETIVOS Os principais objetivos da monografia foram: 1. Fazer uma avaliação das dificuldades e desafios relacionados à oferta de madeira nativa amazônica sustentável. 2. Indicar possíveis alternativas para superar esses desafios e oportunidades de negócios, em um cenário de desmatamento zero. 3. Revisar iniciativas em andamento que possam, de alguma forma, impactar o futuro do segmento de madeira nativa METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório, que buscou informações em diversas fontes e utilizou diferentes métodos. Estudos exploratórios são úteis para se conhecer alguns assuntos e objetos sobre os quais não há muitas informações sistematizadas. Foram realizadas algumas etapas, descritas a seguir: - Pesquisa bibliográfica e de dados em artigos, periódicos, livros, leis e sítios eletrônicos, em jornais como Valor Econômico e Folha de São Paulo e em boletins especializados como Painel Florestal. - Participação em reuniões e eventos setoriais. - Conversas com diversos atores do setor florestal sobre as principais questões: representantes de empresas, entidades e associações do setor florestal como IFT (Instituto Floresta Tropical) AIMEX (Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará), ANPM (Associação Nacional dos Produtores de Pisos 9 de Madeira) ,CIPEM (Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso) e IBÁ (Indústria Brasileira de Árvores) - Consultas a sites de organizações governamentais e não governamentais e entidades de pesquisa como: SFB (Serviço Florestal Brasileiro), ITTO (International Tropical Timber Organization) e IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) - Conversas com especialistas e consultores do setor florestal - Levantamento, entre 2010 e 2012, nas cidades de São Paulo (SP) e São Sebastião (SP), em depósitos de madeira e lojas, sobre produtos e espécies comercializadas. Estas atividades forneceram elementos para identificar os fatores mais relevantes que tem afetado o segmento de madeira nativa. As etapas seguintes consistiram em: - Análise e interpretação dos dados obtidos. -Consulta a sítios eletrônicos mais específicos como Pimads (Piso de Madeira Sustentável) e Fundo Amazônia para obtenção de informações adicionais e a especialistas para discussão dos dados e informações. - Redação da Monografia PORQUE MADEIRA? O Brasil possui a maior área de florestas tropicais do mundo. As florestas nativas brasileiras possuem uma riqueza e diversidade de espécies madeireiras pouco conhecida, mas bastante valorizada no mercado nacional e internacional. No entanto, as raízes de sua riqueza também são de sua fragilidade. As florestas nativas demoram muito a se recompor e os solos são facilmente lixiviados na 10 ausência de cobertura florestal, que constantemente o alimenta de matéria orgânica em decomposição. A biodiversidade também é facilmente perdida, uma vez que o número de indivíduos de uma mesma espécie é reduzido. Assim, um dos maiores desafios para o país é aproveitar e desenvolver o seu potencial madeireiro de forma sustentável, em suas diversas dimensões: econômica, ambiental e social, de modo a propiciar o desenvolvimento econômico e social da população. As condições ambientais do país, sobretudo o clima quente e chuvoso e a topografia, facilitam, também, o crescimento das plantações florestais em tempo curto, em comparação a regiões temperadas. Portanto, o Brasil apresenta vantagens comparativas expressivas, em relação a outras nações produtoras de madeira. Dentre as principais vantagens estão: - grande extensão de florestas nativas - grande disponibilidade de terras para reflorestamento a preço acessível; - elevada produtividade das plantações florestais; - tecnologia florestal competitiva; As florestas absorvem e fixam dióxido de carbono (CO2), sendo importantes para o balanço de carbono na atmosfera e mitigação de mudanças climáticas globais. Adicionalmente, a madeira e o bambu são os únicos materiais de construção renováveis. Além disso, a madeira sólida: - É reutilizável e reciclável; - Apresenta baixo consumo de energia na extração e no processamento (muito menos, por exemplo, do que na produção de cimento, aço e alumínio, usados, frequentemente para os mesmos fins que a madeira); 11 - Resíduos gerados na extração e no processamento podem inclusive gerar excedente de energia; - Apresenta alto índice de resistência específica (boa relação entre peso e resistência mecânica); - É ótimo isolante térmico e acústico; - É muito fácil de ser trabalhada; - Tem uma cadeia produtiva intensiva em mão de obra e, portanto, geradora de empregos ao longo de toda cadeia e em diversas regiões do país; - Apresenta grande beleza e efeito decorativo, valorizando ambientes. No entanto está em curso, um processo acelerado de substituição da madeira de origem nativa por madeira de reflorestamento, plástico, alvenaria, aço, cerâmica, alumínio, gesso etc., CONTEXTO DA MADEIRA NATIVA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA A madeira continua sendo o recurso de maior valor econômico, em torno de 80% (IBGE, 2012), da Floresta Amazônica1, proveniente quase que exclusivamente de áreas privadas. No entanto, a sua exploração racional e sustentável, com a minimização dos impactos na extração, no processamento/beneficiamento, com utilização e destinação adequada de resíduos ainda não é uma prática usual. Ao longo de toda cadeia produtiva, há muito desperdício, com alta geração de resíduos, 1 Mais de 90% da madeira nativa utilizada para fins industriais no Brasil é de origem amazônica. (IBGE,2012) 12 pouco aproveitados, resultando em uma maior demanda por abertura de novas áreas. Apesar de todos os esforços, o grau de adoção do manejo florestal sustentável continua baixo. O IFT é um exemplo inspirador, um grande sucesso na capacitação e treinamento em manejo florestal, mas a incorporação de praticas sustentáveis ainda é bastante limitada. Tanto a degradação florestal, quanto o desmatamento, continuam em níveis elevados na Amazônia2, apesar da queda relevante nos seus índices, nos últimos anos. As ações do Cenaflor (Centro de Apoio ao Manejo Florestal), antes vinculado ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e agora ao SFB, tem sido insuficientes, segundo fontes do setor florestal. A diversidade na Floresta Amazônica é imensa; são aproximadamente 2.500 espécies de árvores que atingem tamanho comercial. Mas os estudos sobre as espécies e a introdução de novas espécies de madeira de origem nativa no mercado não têm sido prioritários na agenda das empresas e de entidades do setor florestal. Centros de pesquisa, como Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), e LPF 2 Dados do projeto DEGRAD apontam que as taxas da degradação florestal na Amazônia, nos anos 2011, 2012 e 2013, foram as menores desde o início do projeto (2007) e acompanham a tendência de queda do desmatamento, verificada pelo projeto PRODES após 2005. No entanto, o desmatamento no período (agosto 2012 julho 2013), o último dado disponível, subiu 29% em relação ao período imediatamente anterior, segundo o INPE. (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) 13 (Laboratório de Produtos Florestais), parte do SFB, têm dado atenção limitada ao assunto nos últimos anos. Foco maior de algumas iniciativas como programas de certificação florestal (FSC Forest Stewardship Council e Cerflor-Programa Brasileiro de Certificação Florestal) tem sido a madeira de reflorestamento. MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL E PRODUTIVIDADE INDUSTRIAL A “conscientização” per se da necessidade de praticar o manejo florestal sustentável não é suficiente; é preciso assumir o “compromisso” em praticá-lo. Ao Poder Público, cabe a responsabilidade de fazer cumprir a legislação vigente e remover os obstáculos que dificultam a implementação do manejo florestal sustentável. (INPA. Noções Básicas de Manejo Florestal - versão 2008, página 160) Apesar da diversidade de espécies de árvores na Amazônia, o mercado tem sido refratário à diversificação. Só há migração para espécies alternativas em função de escassez ou extinção das espécies referencia, como aconteceu na Mata Atlântica com o pau brasil (Cesalpinia echinata), o jacarandá da Bahia (Dalbergia nigra), a peroba rosa (Aspidosperma polyneuron) e o pinho do Paraná (Araucaria angustifolia) e com o mogno (Swietenia macrophylla) na Amazônia . O mesmo poderá acontecer com o ipê (Tabebuia), o cumaru (Dipteryx odorata) e o freijó (Cordia goeldiana) a se continuar os níveis de extração atuais. O cumaru é a espécie hiper demandada do momento. É importante se avaliar e se introduzir novas espécies no mercado, assim como divulgar aquelas pouco conhecidas, abordando suas características, 14 propriedades, desempenho e usos potenciais, de modo a diminuir a pressão sobre as espécies mais valorizadas. Levantamento realizado por este autor, entre 2010 e 2012, nas cidades de São Paulo (SP) e São Sebastião (SP), em depósitos de madeira e lojas que comercializam produtos de madeira, como pranchas, vigas, móveis, esquadrias, pisos e decks, revelou uma concentração elevada em determinadas espécies conforme abaixo. (Vide Anexo 1, Nome Científico das Espécies). No mercado analisado, estão disponíveis por volta de 35 espécies, mas existe uma concentração em certas espécies como garapa (para telhado), cumaru (para decks, pisos, móveis, etc.), freijó (para móveis) e tauari (para pisos, esquadrias e móveis). Para uso não temporário, as principais espécies utilizadas são: - estrutura de telhados: garapa, piquiá e eucalipto - vigas/pilares: ipê, cumaru, jatobá e eucalipto autoclavado - decks: ipê, cumaru, jatobá, itaúba e pinus autoclavado - pisos/assoalhos: ipê, cumaru, jatobá, sucupira, garapa, tauari, peroba do campo, peroba-rosa (demolição), muiracatiara e timborana - revestimento externo: cumaru - revestimento interno: peroba-rosa (demolição), eucalipto e teca - esquadrias: cedro, freijó, cumaru (uso externo), cedrorana, angelim-pedra, tauari, jequitibá e eucalipto - móveis: freijó, cedro, tauari, jequitibá, peroba-rosa (demolição) e cumaru (uso externo), eucalipto e teca Dados do sistema DOF (Documento de Origem Florestal), cuja gestão no estado de São Paulo é feita pela Secretaria do Meio Ambiente - SP, mostram para o estado de SP em 2012 (o IBAMA não disponibilizou ainda para a secretaria os dados de 2013) 15 um quadro de maior diversidade de espécies, já que abrangem também depósitos e lojas mais populares e madeira em usos temporários (escoramentos, andaimes, etc.). A comercialização de madeira processada de origem nativa da Amazônia, no estado de SP, ultrapassou 1,03 milhões m³ (madeira serrada em torno de 80%), sendo que oito espécies representam mais de 60%. Cupiúba e cambará, espécies menos nobres, lideram com 17% e 15% respectivamente. Em seguida aparecem espécies mais valorizadas com aplicação em uso durável, exceção da amescla: garapa (8%), cedrinho (6%), tauari (5%), cumaru (4%), jequitibá (3%) e amescla (3%). O levantamento realizado por este autor combinado com visitas a construções e obras também constatou que existe um desconhecimento no mercado quanto ao acabamento a ser dado à madeira em uso externo, que se revela no mau uso dos produtos. Isso aliado à baixa manutenção e, frequentemente, a técnicas construtivas inadequadas, tem resultado em deterioração das madeiras, exigindo sua troca ou reposição em ritmo mais rápido do que o necessário gerando muitas vezes insatisfações indevidas. Vernizes e stains à base de solvente predominam no mercado. Produtos à base água ainda são difíceis de encontrar e, normalmente, custam mais caro. A exceção é o Bona, um verniz sueco à base água, com ampla penetração de mercado, mas que é apenas para uso interno. Outros produtos, como óleos vegetais, ainda são pouco utilizados visto que são importados e bem mais caros. Estudos do Imazon sobre transparência do manejo florestal (MONTEIRO et al 2013 e 2014), relativos ao período 08/2011- 07/2012, relatam que a exploração florestal de boa qualidade foi de 4% e 11% respectivamente nos estados do Pará e de Mato Grosso, e a predatória foi de 34% no Pará e 51% no Mato Grosso. Enquanto que no 16 Pará em torno de 50% da área explorada foi avaliada em termos de qualidade, no Mato Grosso apenas áreas exploradas com autorização foram analisadas, a minoria. É importante destacar que a avaliação da qualidade do manejo ocorre após a verificação em campo das condições reais do manejo, que são então confrontadas com as informações do sensoriamento remoto. Relatório do SFB e Imazon, Atividade Madeireira na Amazônia Brasileira, (HUMMEL et al 2010) aponta que em 2009, o Pará representou 47% do volume de madeira nativa extraída na Amazônia para fins industriais e o Mato Grosso 28%. Outro estudo do Imazon, Fatos Florestais da Amazônia 2005 ( LENTINI et al 2005), relata que em 2004, 71% da madeira processada em serrarias, laminadoras ou fábricas de compensado na Amazônia era proveniente de áreas de terceiros, ou seja, apenas 29% da madeira vinha de áreas próprias ou arrendadas. Essa informação não foi atualizada, mas é relevante, visto que a tendência é que em áreas próprias ou arrendadas a qualidade do manejo seja melhor, devido à necessidade de conservação da área para exploração futura. Segundo Marcus Vinicius , do SFB, em apresentação no Fórum ATIBT (Association Technique Internationale des Bois Tropicaux), dados preliminares indicam que a exploração de baixo impacto na Amazônia brasileira apresenta índice médio de conversão da árvore para a tora comercial de cerca de 38%, ou seja há uma geração de resíduos de 30 m³/ha em floresta manejada na intensidade de 18 m³/ha. (ALVES, 2007) Na Amazônia como um todo esse número é bem pior já que o que predomina é uma exploração de médio a alto impacto. A resolução 406 do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) de 02/02/2009 estipula, para os planos de manejo de toda Amazônia que utilizam máquinas para arraste de toras, uma produtividade de 0,86 m³/ano, sendo que o ciclo de corte 17 inicial é de no mínimo 25 anos e no máximo 35 anos (30 m³ no período). Esse padrão único não faz muito sentido, considerando o tamanho e a heterogeneidade da região amazônica assim como a variabilidade das espécies. O mais adequado seria a regionalização das normas de manejo. A título de exemplo, podemos mencionar estudo desenvolvido recentemente por quatro pesquisadores, sendo dois da Embrapa Florestas-Paraná, em áreas de manejo na região de Sinop (MT), que mostra que com exploração de impacto reduzido, um ciclo de corte inicial de 25 anos, com 30 m³ de extração no ciclo, seria adequado, considerando a regeneração nessas áreas. Esse estudo foi objeto de artigo publicado em fevereiro de 2014, no Open Journal of Forestry (BRAZ et al 2014) A resolução 411 do Conama de 06/05/2009, estipula os rendimentos de conversão de produtos ou subprodutos florestais por meio do processamento industrial, ou seja o CRV - coeficiente de rendimento volumétrico, na transformação da tora, torete ou resíduo em madeira serrada (45%), laminada (45 ou 55%) ou carvão (variável). Mais uma vez, esse padrão único não faz sentido, considerando os fatores levantados na própria resolução, como espécie florestal, qualidade da matéria prima, tipo de processamento industrial, nível de tecnologia da indústria, tipo e qualidade do produto final e a realização de aproveitamento comercial. Seria útil e adequada a construção de uma base de dados por espécie e uso, utilizando-se informações coletadas das empresas processadoras. Ambas as resoluções do Conama preveem a possibilidade de apresentação de estudo técnico para alterar o padrão adotado, mas, na prática, isso tem se mostrado um caminho burocrático pouco explorado pelas empresas. 18 Marcus Vinicius, em sua apresentação de 2007, já havia chamado atenção sobre a variação de rendimento industrial de espécies utilizadas em serraria, indo de 61,63%, no caso do louro canela, até 41,49% na timborana (Vide Anexo 2). Isso sem considerar a variação de rendimento em função da qualidade da tora, que também é expressivo. Na Amazônia, em 2009, o rendimento médio no processamento de toras para madeira serrada, laminada, beneficiada e compensado ficou em 41% .(HUMMEL et al 2010) As observações de Marcus Vinicius de 2007 continuam válidas para descrever as serrarias, laminadoras e fábricas de compensado (processamento primário) da Amazônia: "O parque industrial madeireiro na Amazônia, via de regra, é antigo e, na maioria das vezes, obsoleto e de baixa produtividade". "O uso de técnicas e tecnologias inadequadas e defasadas impede a competitividade e acentua a geração de resíduos".(ALVES, 2007) No processamento secundário da madeira nativa, principalmente na fabricação de pisos e decks, houve, no início da década de 2000, investimentos relevantes na aquisição de equipamentos modernos e sofisticados, como secadores, lixadeiras, plainas moldureiras, envernizadoras e fornos UV, nos estados do Pará, Paraná e São Paulo e, em menor escala, em Rondônia e Mato Grosso. Estudo coordenado pela ANPM (2011) a partir de entrevistas e visitas junto a diversos fabricantes de pisos de madeira, em várias regiões do Brasil, uma estimativa segura para representação do setor, segundo eles, efetuou uma análise de setor brasileiro de pisos de madeira, sem a inclusão dos pisos laminados (MDF, HDF e MDP), feitos com madeira reconstituída de reflorestamento. 19 O que se percebe nesse estudo é que, mesmo na fabricação de pisos de madeira, a geração de resíduos é elevada: 30,8% das empresas têm um aproveitamento na produção superior a 61% , mas o mesmo percentual de empresas tem um aproveitamento inferior a 51%. Os principais fatores na geração de resíduos são o aplainamento das peças serradas e a retirada de defeitos. Nesse caso, os resíduos têm um destino mais adequado do que no processamento primário (vide a seguir Produção e Mercado): apenas 14% são descartados. A análise também mostra uma produção de pisos concentrada em poucas espécies florestais: jatobá, ipê e cumaru representam 68% da utilização. É verdade que o mercado tende a demandar espécies que tenham alta disponibilidade, mas com certeza não é esse o caso do ipê na floresta. O estudo indica que uma alternativa para esta situação pode ser o grupamento de espécies conforme classes de utilização. O fato é que existem algumas empresas com baixa geração de resíduos, seja porque são mais eficientes na produção, ou porque desenvolvem produtos que aproveitam as sobras de outras linhas de produção. Normalmente, também são essas empresas as que introduzem novas espécies no mercado. A ANPM está executando, com apoio financeiro da ITTO e colaboração de diversas instituições entre elas a Embrapa e o SFB (LPF), o projeto PIMADS, que visa contribuir para uma melhor conservação e utilização dos recursos florestais, no contexto da fabricação de pisos de madeira maciços e engenheirados. Entre os principais resultados quantitativos esperados estão: aumentar a eficiência da exploração em ao menos 5% (floresta e indústria), caracterização física e mecânica de pelo menos 12 espécies de madeira menos conhecidas, número de espécies de madeira utilizadas para produção de pisos aumentado em pelo menos 10%, redução 20 de resíduos em ao menos 15%, aumento do uso de resíduos para novos produtos em ao menos 15%. Além disso, prevê a realização de cursos de secagem, controle de qualidade, manejo de resíduos e instalação e manutenção de pisos de madeira e normas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelecidas para madeira serrada e pisos de madeira maciça. Os resultados obtidos, até meados de 2013, incluem a caracterização tecnológica das espécies selecionadas3 , a realização de ensaios relacionados à secagem e medições de umidade e a oficialização de onze normas técnicas junto à ABNT sendo nove de madeira serrada e duas de piso de madeira. As ações desenvolvidas pelo SFB, de apoio à capacitação em manejo florestal, tem ocorrido através do Cenaflor e do FNDF (Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal) e, de modo geral, tem como público alvo comunidades, associações, cooperativas e assentamentos rurais, que são carentes na atividade. Considerando ainda a importância que esses têm na oferta de madeira nativa da Amazônia; no Pará representariam 1/3 da oferta, segundo o IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil), faz todo sentido esse esforço. No entanto, o manejo empresarial, com peso preponderante na oferta, também precisa ser apoiado. Informações obtidas junto ao SFB revelam, porém, algumas limitações preocupantes: o orçamento do Cenaflor para 2014 é de apenas R$392 mil e os contratos assinados com o FNDF destinados a manejo florestal na Amazônia e na 3 angelim da mata, angelim vermelho, castanha sapucaia, cedrinho, cupiúba, itaúba amarela, jarana amarela, mandioqueira escamosa, maparajuba, pequiá, sucupira preta, tachi preto, tanibuca e timborana. 21 Caatinga, em quatro anos (2010-2014), somam somente R$4 milhões, com execução de R$740 mil até 31/12/2013. A PRODUÇÃO E O MERCADO Diante da exaustão das florestas naturais na Bahia, no Espírito Santo, no Sul e no Sudeste e da abertura de estradas na região Norte, desde a década de 1970 o mercado tem se voltado para a Amazônia brasileira para se abastecer de madeira nativa. A produção de madeira em tora para fins industriais na Amazônia brasileira caiu de 28,3 milhões, em 1998, para 24,5 milhões de m³ em 2004, sendo 14 milhões autorizados (2/3 manejo e 1/3 desmatamento) e 10,5 milhões obtidos de forma ilegal. Em 2004, havia 3.132 madeireiras na região e o rendimento médio de processamento foi de 42,4%. (LENTINI et al, 2005) A produção de madeira em tora na Amazônia brasileira, em 2009, atingiu 14,2 milhões de m³ com 2.227 empresas em atividade e um rendimento médio de processamento de 41%. Os resíduos gerados (59%) tiveram o seguinte destino: 19% como carvão vegetal para ferro gusa, 18% para forno de olarias, 14% para cogeração de energia (processamento da madeira e estufas de secagem) e 49% para queima ou aproveitamento de baixo valor. Essa madeira foi direcionada para exportação (21%), estado de São Paulo (17%) e outros estados (62%). (HUMMEL et al 2010) Estudo do SFB de 2013, Florestas do Brasil em Resumo 2013, apontou uma extração autorizada pelos órgãos ambientais de 12,9 milhões m³ de madeira em tora 22 em 2011, com um rendimento médio de processamento de 46,1%, resultando em 5,9 milhões m³ de madeira serrada/laminada/compensada/beneficiada. Apesar de não haver uma diferença significativa no rendimento médio em relação a 2009, os rendimentos por estado apresentam variações significativas pouco explicáveis4. Enquanto que os rendimentos do Pará e Rondônia subiram respectivamente de 38,6% e 41,6% para 54,6% e 59,5%, o de Mato Grosso despencou de 44,8% para 28,9%. Ainda segundo o Resumo 2013 do SFB, a madeira do desmatamento autorizado tem um peso elevado na oferta de madeira nativa, representando 51% das autorizações para transporte do sistema DOF no período de 2007 a 2010 (em 2004 era 33% conforme já mencionado) e o manejo florestal (49%). Mais de 90% do desmatamento autorizado está relacionado ao uso alternativo do solo (pecuária e agricultura). É desejável maiores informações e análise sobre essa situação assim como dados sobre o volume e o destino da madeira suprimida na construção de hidrelétricas na Amazônia. Segundo o IBGE, a Amazônia produziu, em 2012, 13,6 milhões de m³ de madeira em tora para fins industriais. O Estudo Setorial 2013 elaborado pela empresa STCP (2013) registra uma queda ainda maior na oferta de madeira de origem nativa 5. Mostra que, entre 2000 e 2012, a produção de madeira serrada atingiu um pico em 2007, com 14.920 mil m³, e chegou ao seu valor mais baixo em 2012, com 5.997 mil m³. No caso do 4 Enquanto que os dados apontados por HUMMEL et al 2010 foram baseados em pesquisa de campo, as informações agora mencionadas (Resumo de 2013) foram obtidas a partir do sistema DOF. 5 A denominação nesse estudo é madeira tropical, a mesma utilizada pelo ITTO. 23 compensado, a redução é ainda mais significativa, alcançando um pico em 2004, com 1.380 mil m³, mas apenas 483 mil m³ em 2012, também o menor valor da série. Os números6 apresentados para pisos também indicam queda na produção e na exportação, mas menos expressiva: a produção e as exportações atingiram os valores máximos em 2006, com respectivamente 19.393 mil m² produzidos e 14.425 mil m² exportados (74% do total), chegando em 2012 aos mínimos, com 9.900 mil m² produzidos e 5.100 mil m² exportados. Inúmeras empresas representativas fecharam, estão fechando ou funcionando parcialmente, como pode ser verificado no Quadro 1. Essa situação pode ser atribuída principalmente a quatro fatores: redução na oferta de toras e a dificuldade de se obter madeira de origem confiável, concorrência da madeira ilegal ou falsa legal e a crise internacional de 2008. Quadro 1. EMPRESAS RELEVANTES DE MADEIRA NATIVA QUE ENCERRARAM SUAS ATIVIDADES PRODUTIVAS NOS ÚLTIMOS 10 ANOS. EMPRESA MERCADO DE PRODUTO PAIS ATUAÇÃO Eidai do Brasil Eldorado Externo e interno (Saint Externo Gobain) Gethal DE ORIGEM compensado Japão componentes para França móveis/portas/escadas Externo e interno manejo florestal EUA FSC/madeira serrada/compensado 6 Os números se referem a pisos de madeira maciça ou engenheirados e não aos pisos laminados que são painéis de madeira reconstituída. 24 Madenorte Externo e interno madeira Brasil serrada/compensado Madescan Externo e interno madeira Brasil serrada/compensado/piso MG Araguaia Externo e interno madeira Brasil serrada/piso/deck Nordisk Timber Externo piso/deck e componentes Dinamarca Brasil Precious Wood Externo manejo Pará florestal Suíça FSC/madeira serrada/deck Promap Externo e interno; madeira Brasil serrada/dormente/deck Robco Externo madeira serrada/piso EUA Vitória Régia Externo e interno piso/deck Brasil WTex externo piso Brasil Fonte: Levantamento do autor (empresas localizadas na Amazônia) Além dessas, que encerraram suas atividades, há uma série de empresas que estão funcionando apenas parcialmente. Quadro 2. EMPRESAS DO SETOR MADEIREIRO FUNCIONANDO PARCIALMENTE Brascomp: tem área florestal própria; parou a fabricação de compensados e está comercializando apenas toras; Brasil Cikel: tem área florestal própria FSC; parou a fabricação de madeira serrada/compensados/lâminas/pisos e decks e está comercializando apenas toras; Brasil Emapa: mercado interno; madeira serrada; Brasil 25 Expama: externo/interno; piso/deck; Brasil. Juruá: tem área florestal própria com certificação FSC; diminuiu substancialmente a fabricação de madeira serrada/pisos/decks e aumentou a venda de toras; Brasil Pampa: externo; pisos/decks/componentes; Brasil Algime Florestal Estância Alecrim Madesa (Indústria Madeireira de Santarém) Mainardi Pisos Xapuri São Domingos Fonte: Levantamento do autor(empresas localizadas na Amazônia) A ANPM, que reúne as principais empresas de piso desse segmento no Brasil, que já teve 25 fabricantes de pisos como associados, tem agora apenas 8. Relatório técnico do SFB e IPAM, Florestas Nativas de Produção do Brasil ( 2011) estima uma demanda futura de 21 milhões m³/tora em relação à madeira de origem nativa, para uma produção atual de 15 milhões m³, sendo 10,5 milhões autorizados e 4,5 milhões obtidos de forma ilegal. Ainda segundo o estudo acima, a contribuição das Florestas Nacionais (Flonas) para atender essa demanda poderia ser de até 4,4 milhões m³/ano, em uma área total efetiva de 6 milhões de ha. A contribuição de Florestas Estaduais (Flotas) poderia ser de até 1,95 milhões m³, em uma área 2,66 milhões de ha, e a de Reservas Extrativistas (Resex) de até 850 mil m³, em uma área de 2,32 milhões de ha. A maior participação poderia vir de glebas públicas federais ainda não destinadas, com uma produção de até 7,05 milhões m³, em áreas que somariam 9,62 milhões de ha. Por último, com a participação em declínio, a produção em áreas privadas e 26 assentamentos rurais, que tem apresentado tendência de redução, que se mantida, levaria, em 20 anos, essa produção para apenas 5 milhões m³. O objetivo do relatório do SFB e Ipam (2011) foi chamar atenção para a importância estratégica das florestas públicas ainda não destinadas pelos governos federal e estaduais para o abastecimento do mercado florestal, visto que, na Amazônia brasileira, 75% das florestas são públicas. O Programa Nacional de Florestas (PNF) foi criado em abril de 2000 e tinha como uma das suas metas, para o período 2004-2007, agregar 15 milhões de ha de florestas naturais em produção sustentável. Essa meta, no entanto, foi abandonada. Em 2006, foi aprovada a lei de Gestão de Florestas Públicas (LGFP) e criado o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), com previsão inicial de concessão de 13 milhões de ha até 2016. O valor concedido até agosto de 2014 chega a 513 mil ha, o que, segundo premissas do SFB (ciclo de corte de 30 anos e 18 m³/ha de rendimento), resulta em uma produção de 308 mil m³/ano de madeira em tora. O programa de concessão florestal no estado do Pará, conduzido pelo Ideflor (Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará), criado em 2007, apresentou resultados expressivos por dois anos consecutivos: 2011 e 2012, com áreas concedidas respectivamente de 150.957 ha (Glebas Mamuru-Arapiuns) e de 326.184 ha (Flota Paru), totalizando 477.141 ha, similar ao número do SFB. Previsão feita em setembro de 2013 era chegar, em 2014, a 688 mil ha concedidos, com a produção de 453 mil m³ de madeira em tora e em 2015 essa produção chegaria 532 mil m³. No entanto, em 2013 e 2014, nenhum contrato foi assinado. Está em processo de licitação desde 2013 uma segunda área (108 mil ha) na Flota Paru. 27 Com as concessões florestais caminhando em um ritmo mais lento do que o planejado, é difícil fazer uma previsão a partir de quando haverá oferta significativa da madeira oriunda de florestas públicas no mercado.(Vide lista dos concessionários no Anexo 3) O IFC foi contratado pelo SFB como consultor líder para desenvolver um modelo de concessão para Flona de Itaituba no Pará, baseado nas melhores práticas nacionais e internacionais. O serviço de consultoria vai ser realizado em duas fases. A primeira inclui o inventário florestal, o plano de manejo, levantamento de custos operacionais do concessionário, modelo de precificação e levantamento de itens chave. A segunda vai consistir da preparação dos documentos da licitação, do contrato, do marketing e da assistência durante todo o processo até o fechamento final. O BNDESPar, há quatro anos atrás, se tornou sócio de um concessionário de floresta pública. A idéia, na época, era apoiar também outros concessionários via capital e eventualmente via dívida, mas isso acabou não acontecendo e agora o foco do BNDES parece ser mais a viabilização de novos editais de concessão, como a da Flona de Itaituba. O reflorestamento, em áreas degradadas da Amazônia, se apresenta como uma alternativa relevante para suprir o mercado mas apenas em uma perspectiva de longo prazo. Existem algumas plantações em regime de consórcio (várias espécies nativas juntas) mas ainda estão em uma fase inicial e talvez ainda experimental. O paricá, em regime de monocultura, é a única espécie nativa sendo plantada em escala realmente comercial mas tem uma aplicação restrita a compensados e como matéria prima de MDF. As espécies exóticas mais plantadas na Amazônia em escala comercial são o eucalipto e a teca. A primeira está mais direcionada para produção de celulose: A 28 Suzano Papel e Celulose comprou a Vale Florestar, que tem 45 mil ha de plantações de eucalipto em áreas arrendadas no Pará e a Jari Celulose tem uma área própria de 113 mil ha (52 mil plantados e o restante para futuros plantios) para abastecer sua fábrica em Almeirim no Pará. Existe ainda a empresa japonesa Amcel, que explora no Amapá, uma área de 130 mil ha, para produção de cavacos para o mercado externo. Em relação a teca estima-se uma área plantada de 70 mil ha no MT. A Floresteca, que seria a maior produtora privada de teca do mundo, dispõe em terras próprias e em parceria, de uma área plantada de 43 mil ha, sendo 53% no MT e 47% no PA. A análise da redução do mercado para madeira nativa nos últimos anos é complexa e não conclusiva. No lado da oferta, a burocracia na aprovação dos planos de manejo e dos planos de operação anual (POA) tem sido um limitador. No Mato Grosso, por exemplo, há disponibilidade de áreas regularizadas para manejo mas o interesse continua baixo. No lado da demanda, a burocracia do sistema DOF, a eventual associação da madeira nativa com degradação florestal e ilegalidade e a oferta limitada de produtos inovadores tem levado compradores para a madeira de reflorestamento e outros materiais. OPORTUNIDADES O Brasil poderia se posicionar melhor no mercado internacional de madeiras tropicais, com produtos de alto valor agregado, não só por dispor da maior área de florestas tropicais do mundo, mas também pelo fato de sua participação de mercado ser baixa. No entanto, empresas e centros de pesquisa precisam investir em um maior conhecimento das madeiras nativas brasileiras, seus usos mais adequados e 29 atualizar a comparação com as asiáticas e africanas, que são suas principais concorrentes no mercado internacional. O Brasil ainda tem como explorar suas florestas nativas em moldes mais viáveis ecológica e economicamente, do que seus concorrentes o fizeram, sobretudo numa perspectiva de desmatamento evitado e de recuperação de áreas florestais degradadas. Na Amazônia são muitas espécies, com pouquíssima concentração espacial. Já nas florestas tropicais da Ásia, existe uma menor heterogeneidade e uma menor variabilidade entre as propriedades das espécies, possibilitando mais facilmente um grupamento das espécies. Madeiras da Amazônia são apreciadas no Brasil, na Europa, na América do Norte e no Japão. Produtos brasileiros, como madeira serrada, madeira aplainada, lâminas, compensado, pisos, molduras, decks e móveis são conhecidos no exterior e o Brasil dispõe de um parque industrial relativamente moderno para fabricação de pisos, molduras e decks. A competição com a China parece ser um dos maiores desafios. A China, dentre os membros do ITTO, que representam 90% do comércio global de madeira tropical, é o maior importador de toras de madeira tropical, com mais de 50% do volume. A China é, também, o maior importador de madeira serrada tropical, com uma participação ao redor de 40% do mercado. Na sua grande maioria, essas importações de toras provêm de países com baixo controle da origem e legalidade. Além disso, produtos de madeira processados na China, quando exportados, recebem benefícios fiscais. Patrick Saman, conhecedor do mercado externo para madeiras tropicais brasileiras, faz uma análise dos fatores que têm levado a uma perda de faturamento do segmento de madeira tropical brasileira, desde 2004: recessão em diversos 30 mercados internacionais importantes, principalmente a partir de 2008; instabilidade cambial; aumento espetacular de preço dos produtos e concorrência de outros materiais. Segundo ele talvez, o fator mais significativo seja o aumento de preços. O preço em dólar do deck de ipê, por exemplo, subiu 245% de 2004 a 2012 e o de maçaranduba ainda mais, 260%. Conclui, afirmando que o Brasil está perdendo mercado para África e países do leste europeu. A maior parte do aumento de preços está provavelmente relacionada a uma menor disponibilidade de algumas espécies mais demandadas, como ipê e cumaru, e em menor grau a valorização do real frente ao euro e ao dólar. Segundo um exportador de pisos, o mercado europeu permanece fraco e o dos EUA está se recuperando mas as madeiras brasileiras continuam com dificuldades por causa do preço mais elevado e mudanças nas preferências do consumidor. Pisos, molduras, decks e móveis de jardim são provavelmente os produtos que têm o maior potencial no mercado externo, mas a tendência é que enfrentem concorrência forte e crescente de outros países e materiais. Além disso, há carência no desenvolvimento de novos produtos, com absorção de tecnologias modernas e inovadoras. Por exemplo, as madeiras tropicais poderiam ser utilizadas como alternativa à madeira de reflorestamento, no sistema construtivo Wood Frame e nas vigas de Laminado Colado. Também a técnica Finger Joint poderia ser utilizada nos produtos de madeira tropical no Brasil. É interessante o caso da Construtora Ita, tradicional e reputada empresa de projetos, fabricação e montagem de estruturas de madeira, que após 30 anos, optou há aproximadamente quatro anos pela substituição total das espécies nativas pelo eucalipto por uma questão de logística e de flexibilidade. O fato é que a empresa 31 substituiu peças inteiras de madeira, que dependiam do tamanho da tora pelo laminado colado que permite a fabricação de peças mais compridas e largas. Segundo Geraldo Zenid, ex diretor do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) é necessário, no caso da madeira serrada, se trabalhar em uma classificação de qualidade. No mercado interno, por exemplo, não existe uma definição do que seja madeira de primeira. Por outro lado seria desejável uma maior compatibilização de medidas e de classificação com o mercado externo. No caso do mercado interno, o maior potencial de mercado para a madeira nativa ou tropical está em usos duráveis, como vigamento aparente, telhados, esquadrias, brises, portas externas, escadas, pisos, decks, molduras, lambris, forros, divisórias, revestimentos e móveis, em oposição a usos temporários como formas, andaimes, escoramento e caixotaria, aonde as espécies utilizadas como o cambará e a amescla, são cada vez menos competitivas em relação ao pinus e eucalipto, principalmente fora da Amazônia. É importante ressaltar que a madeira nativa tem sido muito utilizada em construções horizontais, sobretudo residências, projetadas as vezes pelos mais conceituados escritórios de arquitetura do pais e também na fabricação de pisos e decks e mobiliário artesanal..No entanto a ênfase do mercado tem sido em qualidade do produto e em custos e não na origem da madeira. Outro tipo de oportunidade, pouco explorada pelas empresas na região, é o aproveitamento dos resíduos do processamento da madeira como fonte de energia elétrica e não apenas para aquecer as estufas. Concrem, Ebata, Pampa, Rosa e Tramontina no Pará e Precious Woods no Amazonas são algumas notáveis exceções. É uma alternativa a ser incentivada, considerando a geração local de empregos, assim como a redução nos custos de distribuição e transmissão de 32 energia elétrica. Os resíduos podem ser utilizados também na fabricação de briquetes, casos da Pampa e Tradelink. LICENCIAMENTO E MADEIRA ILEGAL De modo geral, os órgãos estaduais de meio ambiente, na Amazônia, têm recursos limitados, apresentando deficiências estruturais relevantes. Se, por um lado, são burocráticos no licenciamento ambiental, por outro, são pouco críticos na análise e liberação dos planos de manejo florestal e apresentam baixa capacidade de fiscalização da extração e do transporte de madeira nativa. Apesar de iniciativas e esforços louváveis, como a criação do DOF pelo IBAMA e da guia florestal eletrônica no MT e no PA, em substituição a ATPF (Autorização de Transporte de Produtos Florestais), esses órgãos não têm conseguido assegurar a legalidade da madeira consumida, muito menos a sustentabilidade da sua extração. As irregularidades e as fraudes têm ocorrido pela vulnerabilidade e falta de integração dos sistemas de licenciamento e controle (DOF/SIMLAM-Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental e Sisflora-Sistema de Cadastro, Comercialização e Transporte de Produtos Florestais) e a baixa capacidade de fiscalização. Tem havido elevada inserção no sistema de créditos fictícios: aprovação de PMFS (Plano de Manejo Florestal Sustentável) frios, simulação de operações interestaduais, aproveitamento de índices de conversão artificiais, inserções clandestinas, etc. As principais fraudes e irregularidades encontradas são: Localização do Plano de Manejo é falsa: madeira é retirada de áreas não autorizadas. Com o georeferenciamento isso não deveria acontecer. 33 Censo florestal é declaratório: há troca de espécies favorecendo as mais valorizadas e o rendimento da floresta é aumentado O Sistema aceita informações inconsistentes, como logísticas e tempo inviáveis (não existem filtros) O rendimento fixo de 45% na conversão de tora para madeira serrada permite, por exemplo, a venda de resíduos como madeira. Relatórios recentes do Imazon (MONTEIRO et al 2013 e 2014), sobre transparência do manejo florestal no Pará e no Mato Grosso, registram o que tem ocorrido na exploração. PARÁ - No período (agosto 2011-julho 2012) se detectou um total de 157.239 ha de florestas exploradas, sendo que 122.337 ha (78%) não haviam sido autorizados pela SEMA–PA, sendo portanto ilegal. Essa exploração não autorizada ocorreu preponderantemente (67%) em áreas privadas (sem regularização fundiária?), terras devolutas ou sob disputa (grilagem?). Por outro lado, a área de exploração detectada pelo Imazon é pelo menos 28% maior do que a autorizada pela SEMA. MATO GROSSO - No período (agosto 2011-julho 2012) se detectou um total de 197.748 ha de florestas exploradas, sendo que 106.663 (54%) não haviam sido autorizados pela SEMA-MT. Essa exploração ilegal ocorreu quase que exclusivamente (96,4%) em áreas privadas (sem regularização fundiária?), terras devolutas, ou sob disputa (grilagem?). Desde junho de 2014, o Instituto Centro Vida (ICV) assumiu a continuidade do mapeamento independente do desmatamento da exploração ilegal em Mato Grosso, previamente realizado pelo Imazon. Nesse processo, o ICV envolveu a SEMA-MT, o CIPEM, o Ministério Público Estadual e a Universidade Federal do Mato Grosso. O objetivo é validar posteriormente essas análises com essas entidades. 34 A extração em áreas não autorizadas remete à desordem fundiária na Amazônia e ao baixo esforço que tem sido feito para enfrentá-la. Há iniciativas em andamento no Pará e no Mato Grosso para fortalecer os sistemas de licenciamento e controle. (Vide a seguir Busca da Sustentabilidade). Sistemas de monitoramento e rastreamento são utilizados, há muito tempo, pela certificação florestal independente, com ótimos resultados no que se refere à sustentabilidade . O IBAMA não tem se posicionado sobre a efetividade do DOF, mas a exigência, a partir de agosto 2014, da certificação digital no acesso e transações do sistema DOF é um primeiro passo. O novo Código Florestal (Lei 12.651, alterada pela Lei 12.727 - artigo 35, ambas de 2012) prevê o estabelecimento de um sistema nacional de controle da origem da madeira e de outros produtos florestais, que integre os dados dos diferentes estados, a ser coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo órgão federal competente do SISNAMA(Sistema Nacional de Meio Ambiente), o IBAMA. No estado do Pará, está se discutindo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministério Público Federal e a SEMA, com compromisso do IBAMA e envolvimento do setor privado. A previsão inicial era de que o TAC fosse assinado no final do ano passado e agora a expectativa é que seja assinado até novembro de 2014. O TAC diz respeito à regularização, implementação e aperfeiçoamento de mecanismos de controle e fiscalização ambiental da cadeia produtiva da madeira no Pará. Prevê, por exemplo, a necessidade da SEMA de implementar mecanismos de rastreabilidade do produto florestal desde a sua origem; que a aprovação do plano de manejo esteja condicionada à contratação de instituição idônea para atuar como verificadora independente; a integração entre o DOF e o SISFLORA no Pará; e o reconhecimento e ativação do PAMFLOR (Programa de Apoio ao Manejo Florestal). 35 Seria bastante razoável que as condições de manejo exigidas e fiscalizadas pelo Ideflor, na concessão de florestas públicas estaduais, fossem as mesmas que a Sema - PA exige na aprovação, liberação e fiscalização dos planos de manejo privados. Na prática, são dois mundos à parte. Estudo7 desenvolvido pelo CIPEM, com apoio do IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), faz uma análise interessante do processo de licenciamento no MT. Lá, para aprovar um plano de manejo florestal, é preciso ter a LAU (Licença Ambiental Única) que depende do GEO (georeferenciamento) que, por sua vez, depende do CAR (Cadastro Ambiental Rural). Mais de 70% dos entrevistados relataram que a obtenção dessas aprovações é extremamente difícil. Os processos têm sido lentos, às vezes levam anos, o que acarreta custos e posterga receitas. O grau de dificuldade para obtenção das licenças para a operação de processamento industrial é mais baixo do que para a exploração florestal. De qualquer modo, 46% dos entrevistados mencionaram extrema dificuldade na obtenção da LP (Licença Prévia), da LI (Licença de Instalação) e da LO (Licença de Operação), que, em média, tem levado nove meses para a obtenção. A percepção generalizada entre as empresas de madeira nativa é que a morosidade na aprovação dos planos de manejo e a burocracia no licenciamento ambiental não são algo novo, vêm da época que eram atividades realizadas apenas pelo IBAMA.O impacto negativo sobre a operação das empresas é relevante. Os recursos do Fundo Amazônia, que são administrados pelo BNDES, podem ser utilizados nas seguintes atividades: 7 prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento Diagnóstico do setor de Base Florestal no Estado do MT 36 promoção da conservação e uso sustentável das florestas controle, monitoramento e fiscalização ambiental (por exemplo, por órgãos estaduais de meio ambiente e pelo IBAMA) Uma avaliação do Fundo Amazônia foi apresentada em um seminário realizado em setembro de 2013, na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (Universidade de São Paulo), com a presença do BNDES. Entre os principais itens destacados comunicação/integração entre apareceram: excesso os projetos, falta de de burocracia, falta de apoio para despesas operacionais, não existência de prazo para enquadramento, longo prazo de aprovação dos projetos, e os projetos não aprovados serem devolvidos sem parecer técnico. Contudo, diante da quantidade de projetos aprovados, que somam 58, da abrangência geográfica e da relevância dos mesmos é de se esperar um impacto muito positivo, em médio prazo, em práticas mais sustentáveis na região (vide www.fundoamazonia.gov.br) O estado do Pará tem sido um dos mais atuantes, com três projetos já aprovados pelo Fundo Amazônia. O primeiro, no valor de R$16.830.280,00, 100% desembolsado, tem como objetivo prevenir, combater e monitorar os incêndios florestais e as queimadas não autorizadas no estado, por meio de capacitação e aquisição de ativos fixos. O segundo, no valor de R$15.923.230,00, 74% desembolsado, tem como beneficiário a SEMA e está voltado para o aprimoramento do processo de emissão do CAR, descentralização administrativa, capacitação do corpo técnico e aquisição de infraestrutura operacional (veículos, tecnologia da informação, sala de monitoramento capaz de acompanhar empreendimentos licenciados através do sensoriamento remoto, etc.). O terceiro, projeto Municípios 37 Verdes, aprovado no final de 2013, no valor de R$82.378.560,00 está ainda em fase de contratação. Já tem a adesão de 100 municípios de um total de 144 e tem como principais objetivos: a implementação em larga escala do CAR e o fortalecimento da gestão ambiental municipal. Outro objetivo relevante será produção de uma base digital georeferenciada e mapeamento do uso do solo e da cobertura florestal de aproximadamente 50% do estado. Os estados do MT e Rondônia também receberam recursos do Fundo para projetos de prevenção, combate e monitoramento de incêndios florestais e queimadas. O valor de apoio em Rondônia é R$15.040.500,00, 29% desembolsado e em MT é de R$12.625.000,00, 66% desembolsado. O Fundo Amazônia aprovou, também, no final do ano passado, um projeto no valor de R$35.015.970,00 para o estado do MT. Está voltado à intensificação da fiscalização e ao fortalecimento do licenciamento ambiental com a digitalização do sistema, descentralização da gestão ambiental e consolidação das unidades de conservação, com ações em georeferenciamento, demarcação e aprimoramento da gestão. Já Rondônia contratou, em março de 2014, um projeto no valor de R$32.659.602,00, sem desembolso ainda, que visa principalmente a consolidação do CAR, a proteção das unidades de conservação e a atualização do zoneamento sócio econômico e ecológico (ZSEE). O Instituto Floresta Tropical (IFT) desenvolveu projeto direcionado à expansão da prática de manejo florestal, com foco na capacitação técnica, sensibilização dos atores chave e na pesquisa aplicada com manutenção dos experimentos em andamento e estabelecimento de novos. O valor contratado foi de R$7.449 mil, 38 sendo que 90% já foi desembolsado. No momento, o IFT prepara um novo projeto para submeter ao Fundo Amazônia. As pressões internacionais contra a madeira ilegal estão se consolidando e caminhando para se tornar irreversíveis. A União Européia, por exemplo, começou o processo em 1998, sendo que, em 2005, regulamentou o FLEGT (Forest Law Enforcement Government and Trade), com o objetivo de controlar e facilitar a entrada, na Comunidade Européia, de madeira e produtos de madeira de países que assinassem acordos voluntários com ela (VPA - Voluntary Partnership Agreements). Esses acordos preveem uma série de compromissos, obrigações e ações de ambas as partes para combater a madeira ilegal. Seis países já assinaram e os acordos estão em fase de implementação: Gana, Camarões, República do Congo, Indonésia, Libéria e República Centro Africana. Indonésia e Gana devem começar em breve a comercialização de madeira com a licença FLEGT. Há acordos em negociação com Gabão, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Malásia, Vietnam, Laos, Tailândia, Guiana e Honduras. Surpreendente que o único país da América do Sul seja Guianas. Em 2010, a União Européia regulamentou o EUTR (European Union Timber Regulation), que proíbe a entrada na comunidade européia de madeira ou de produtos de madeira ilegais e exige que os comerciantes tenham registro de seus fornecedores e clientes e exerçam "diligência" na obtenção de informações, na avaliação e na mitigação de riscos de madeira ilegal em suas cadeias de fornecimento. Notícia veiculada pelo Greenpeace, em junho de 2014, relata que a cadeia de materiais de construção, Jewson, do grupo Saint Gobain, vai retirar temporariamente toda a madeira de origem amazônica de suas mais de 600 lojas, após denúncia do Greenpeace envolvendo dois de seus fornecedores brasileiros de madeira. A 39 empresa vai auditar sua cadeia de fornecimento para conhecer a origem de suas compras. Órgão do governo britânico, responsável pela execução da EUTR, iniciou investigações sobre a Jewson em relação a essa denúncia. O Greenpeace ainda relata que a Espanha classificou a madeira da Amazônia brasileira de alto risco e que a Itália aprovou, também, legislação para implementar a EUTR. No entanto, o site da EUTR informa que a implementação ainda está em andamento, tanto na Espanha como na Itália e na França, que são tradicionais importadores de madeira tropical brasileira. Na Alemanha, Holanda e Reino Unido, por exemplo, as medidas já estão em vigor. O Lacey Act é uma lei em vigor nos EUA, que, a partir de emendas em 2008, proíbe todo o comércio de plantas e produtos vegetais, inclusive papel, móveis e madeira de fontes ilegais, provenientes de qualquer estado americano, bem como de outros países. Empresas e indivíduos que atuam no mercado dos EUA devem fazer tudo que estiver ao seu alcance para verificar se o produto que estão comercializando é legal, de acordo com as leis do país ou do estado de origem. Na prática, acaba sendo necessário um processo de "diligência", que implica, entre outras coisas, em conhecer a sua cadeia de fornecimento, visitar os seus fornecedores e obter informações sobre a origem do produto e sua rastreabilidade. A concorrência da madeira sem rastreabilidade, ilegal e não sustentável inviabiliza empresários sérios do setor, assim como desestimula a entrada de novos e também os investimentos em ciência e tecnologia. Isso explica, também, porque o interesse pelas concessões florestais não é maior. Um empresário do segmento relatou que, em média, o custo da madeira serrada com certificação florestal, no Brasil, sai R$900,00/m³, enquanto que em uma 40 empresa informal, que trabalha com madeira ilegal, ele fica em R$450,00/m³, ou seja a metade. Uma das ações estratégicas, vislumbradas pelo SFB, (estudo Mapeamento da Carga Tributária, 2013), para melhorar a competitividade da madeira legal de manejo florestal/certificada frente às demais, é uma política de desoneração tributária que, combinada a outras ações, como acesso preferencial a mercados, agilidade no processo de licenciamento e crédito, contribuiria para o uso mais sustentável dos recursos da Amazônia. Segundo esse estudo, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) é o tributo que mais onera a cadeia produtiva, exceto nas exportações, seguido, em termos de maior ônus, pelo PIS/COFINS, exceto nas exportações e no caso de cooperativas. Na realidade atual, a situação é bem diferente, como mencionado abaixo: No estado de SP, o ICMS para comercialização de madeira é de 18%, enquanto que o de produtos concorrentes, como aço, alumínio, cimento, cerâmica, fibrocimento e plástico é de 12%. Existe um pleito, junto ao governo do estado, de equiparação das alíquotas no patamar de 12%. Quanto ao IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), também não existe isonomia entre produtos concorrentes, ou seja, enquanto que a alíquota para os pisos laminados, elaborados com painéis de madeira reconstituída de reflorestamento, é 0%, para os pisos de madeira maciça é de 10%. O caso do álcool, em relação à gasolina, guarda alguma semelhança com a situação acima. Apesar do álcool ser um combustível renovável, mais ecológico do que a gasolina, o setor sucroalcooleiro não tem tido sucesso em convencer o governo em reestabecer a CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre a 41 gasolina. Essa contribuição seria necessária para melhorar a competitividade do álcool, mas o governo não quer mais um elemento de pressão sobre a inflação. A certificação florestal independente pode ser um instrumento para promover o cumprimento da lei no setor florestal e também atenuar a carga de fiscalização dos órgãos ambientais. BUSCA DA SUSTENTABILIDADE Ao longo dos últimos anos, surgiram várias iniciativas para trazer sustentabilidade ao segmento de madeira nativa, mas a maioria não chegou aos resultados esperados. Em julho de 2008, foi assinado um Pacto pela Valorização da Floresta e Fim do Desmatamento na Amazônia, por diversas ONGs: Amigos da Terra, CI (Conservation International), Greenpeace, ICV, Imazon, Ipam, Isa (Instituto Sócio Ambiental), TNC (The Nature Conservancy) e WWF (World Wildlife Fund). No mesmo mês e ano, em Belém, com previsão de monitoramento pelo Imazon, foi assinado o Pacto pela Madeira Legal e Sustentável pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), pelo Governo do Estado do Pará, empresas associadas à Aimex e algumas empresas com certificação FSC. O setor florestal se preocuparia com a origem da madeira, que deveria ser, no mínimo, de fontes legais, mas iria caminhando para a sustentabilidade; e o setor público se preocuparia em agilizar a regularização ambiental de fornecedores de tora e as concessões florestais e em elaborar instruções técnicas, como normas e procedimentos para padronizar a fiscalização. Pode se dizer que o avanço foi mínimo. 42 Em outubro de 2008, foi firmado, em São Paulo, o estado que mais consome madeira nativa, o Pacto Madeira, dentro da iniciativa Conexões Sustentáveis SPAmazônia com a proposta de produção e consumo de produtos florestais certificados ou em vias de certificação. Assinaram o documento: Amigos da Terra, Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), Imazon, empresas com áreas certificadas FSC, revendas com certificação FSC e a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (ASBEA), entre outros. Nenhuma empresa produtora ou consumidora de madeira tropical não certificada se juntou à iniciativa. Segundo o Instituto Ethos, que exercia a secretaria executiva do pacto, este é um projeto já concluído. Em março de 2009, foi assinado o Protocolo Madeira é Legal, em São Paulo, uma iniciativa do governo do estado de SP, da prefeitura de São Paulo, de empresas e entidades do setor madeireiro e da construção civil e de algumas organizações não governamentais. O objetivo foi promover o uso da madeira de origem legal na construção civil no estado de SP de forma responsável. No Pará, foi criado, pelo governo estadual, em novembro de 2009, o PAMFLOR, com o objetivo de promover e apoiar o manejo florestal, de melhorar o padrão tecnológico da indústria de base florestal, assim como ampliar a transparência e agilidade dos processos no âmbito da SEMA. Visava implementar sensoriamento remoto, com verificação independente das práticas florestais em campo, realizada por instituições não governamentais de reconhecida capacidade técnica. A filosofia era de que quanto melhor fosse o plano de manejo, mais rápido ele seria aprovado. Estava esquecido, mas agora existe um esforço do MPF para que ele seja colocado em pratica. 43 Ao final de 2010, o governo do Pará/Sema, planejava colocar em consulta pública projeto de se instalar chips nos caminhões para se rastrear o transporte de madeira no Pará, ao longo da cadeia produtiva, da floresta até o beneficiamento final. Não houve continuidade, também. A Sema pretende implantar, na próxima safra, a partir de maio 2015, o SISFLORA 2, objetivando o maior controle no combate à degradação ambiental e a legalidade no processo de comercialização. Na primeira etapa, o foco é o aperfeiçoamento do sistema de georeferenciamento dos planos de manejo e a utilização de chips nas árvores e toras, que poderão então ser rastreadas. Numa segunda etapa, seria implementado um sistema de controle da cadeia produtiva a partir da tora, ou seja, na cadeia de custódia. No Mato Grosso, o CIPEM e a SEMA assinaram termo de cooperação, no final de julho 2014, que prevê o monitoramento dos planos de manejo, por meio de sensoriamento remoto pela SEMA. Prevê, também, troca de informações entre elas com a SEMA, se comprometendo a elaborar relatórios sobre as áreas monitoradas. Segundo o CIPEM, é uma oportunidade de demonstrar que conseguiram separar bons empresários daqueles com algum desvio de conduta. Pactos e acordos do setor florestal na Amazônia são difíceis de monitorar e controlar devido à pulverização do setor, ao contrário da soja e da pecuária. A grande maioria das empresas é pequena. Não existem empresas de grande porte, como Bunge, Cargill, ADM, Dreyfus e AMaggi ou JBS, Marfrig e Minerva que, além de serem grandes exportadores, funcionam como fortes concentradores. O foco de um pacto deveria ser nos maiores consumidores de madeira tropical, ou empresas referencia, com capacidade de influenciar fornecedores, concorrentes e consumidores. O que deve ser ressaltado, no entanto, é que qualquer acordo ou pacto, por melhor que seja, tem, na sua implementação, o seu calcanhar de Aquiles. 44 ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO SEGMENTO O segmento de plantações florestais é constituído por um número reduzido de empresas que, de modo geral, estão profissionalizadas, bem estruturadas e organizadas, atualmente, em uma entidade fortíssima, que quatro: ABIPA, ABIPLAR, ABRAF e BRACELPA. consolidou outras A associação resultante, IBÁ, surgiu com o objetivo de melhorar, de forma contínua, a competitividade das empresas e dos produtos originários de plantações florestais (basicamente eucalipto e pinus) e tem a expectativa de dobrar a área de plantações florestais, no Brasil, até 2020. Abrange empresas de áreas como papel e celulose (Klabin, International Paper, MWV Rigesa, Fibria, Suzano e Kimberly-Clark), painéis e pisos laminados (Duratex, Arauco e Berneck), florestas energéticas (Arcelor Mittal, Gerdau e Vallourec), compensado (Guararapes, Sudati e Floraplac), madeira sólida (Amata e Floresteca) e reflorestamento (Ramires). Outra mudança em andamento, há muito tempo desejada por essas empresas, é a migração do segmento das plantações florestais para a alçada do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento), o que vai se refletir numa ênfase maior para a produção. Já está em curso, inclusive, a elaboração do Programa Nacional de Florestas Plantadas, com previsão de que seja transferido do MMA para o MAPA até o fim do ano. A expectativa é de um relacionamento mais estreito com o governo e de uma maior agilidade na tomada de decisões. Ao contrário, o segmento de madeira nativa é extremamente pulverizado, não muito organizado, nem muito unido. No Pará, a UNIFLOR, União das Entidades Florestais do Estado do Pará, que, na teoria, representa os sindicatos regionais, está inativa. A Aimex, com 34 associados, que, de acordo com informações do seu site, respondem 45 por 80% da exportação de serrados e laminados do Pará, representa de certa forma os maiores e mais sofisticados produtores do estado, mas não o segmento como um todo, visto que no Pará há mais de mil empresas, entre serrarias, fábricas de compensado e laminadoras. No Mato Grosso, o CIPEM é a união de oito sindicatos de base florestal, os quais estão presentes em todas as regiões produtoras do estado, tendo, portanto, uma representatividade mais elevada. O CIPEM é, também, o coordenador do Fórum Nacional de Atividades de Base Florestal (FNBF), agente que reúne diversas associações e sindicatos do setor de madeira sólida/nativa e que agora está sendo fortalecido para ser um representante nacional do segmento de florestas nativas. Além do CIPEM, fazem parte do Fórum, ABIMCI (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), AIMEX, ANPM, SINDIMASP (Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo) e outros cinco sindicatos/associações. Mais adesões devem ocorrer. O Fórum está assumindo um papel importante na Mesa Redonda da Madeira Tropical, que tem como objetivo viabilizar o mercado de madeira tropical sustentável, promovendo a governança do segmento e influenciando a agenda governamental. É um projeto promovido pela Rede de Amigos da Amazônia (RAA), que está vinculada ao Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com WWF e Traffic. A expectativa é que, a partir da Mesa Redonda, poderia se chegar a um pacto setorial, baseado em premissas como origem sustentável, preço justo, transparência e inclusão social. O maior desafio será conseguir escala, atraindo produtores relevantes. 46 A questão da imagem do segmento de madeira nativa é complexa e está ainda associada à degradação florestal na Amazônia e à madeira de origem ilegal e não sustentável. Nem publicidade e nem assessoria de imprensa resolvem no momento. O pacto setorial, almejado pela Mesa Redonda, se bem sucedido, pode ser um marco importante. A extração de madeira das espécies nativas nas florestas privadas não tem sido priorizada pelo governo federal, que aposta suas fichas nas concessões florestais, mesmo assim de forma ainda tímida. O governo, no entanto, precisa promover a regularização fundiária e reconhecer a importância das florestas privadas no atendimento ao mercado. O SFB deveria ser fortalecido com aumento do seu escopo, passando a atuar como principal entidade de interlocução junto ao setor produtivo, que reclama não haver um canal adequado de diálogo com o governo. Em complemento às atividades do FNDF, o SFB poderia utilizar recursos do Fundo Amazônia, para apoiar pesquisa e desenvolvimento tecnológico em manejo florestal também. Outras áreas de apoio seriam: atualização tecnológica da indústria, desenvolvimento de novas espécies florestais como no projeto PIMADS, desenvolvimento de novos produtos e diminuição de desperdícios. Poderia também em parceria com o ITTO elaborar estudos sobre os mercados para madeira tropical. CONCLUSÃO A conservação da Floresta Amazônica passa por uma melhor gestão das áreas protegidas, por uma destinação rápida e adequada de terras públicas federais e estaduais ainda sem definição de uso, pela regularização fundiária e pela exploração sustentável dos recursos naturais. No caso da madeira nativa é urgente viabilizar a adoção do manejo florestal sustentável e incentivar e apoiar aumentos de produtividade ao longo da cadeia 47 produtiva. O problema é de natureza econômica: a conta não fecha. Em um horizonte de longo prazo, que pressupõe que a área irá permanecer como floresta em ciclos sucessivos de corte, o manejo florestal sustentável é a melhor alternativa. Agora se a perspectiva for apenas de resultados imediatos, a escolha provável é o corte não planejado e seletivo, levando à degradação florestal com tendência que ocorra a supressão da floresta ao longo do tempo. O grande desafio é atrair os empreendedores e os investidores para uma lógica de longo prazo, o que tornaria viáveis investimentos em pesquisa, desenvolvimento tecnológico, produtividade e novos produtos. A fragilidade do licenciamento e a baixa fiscalização, no entanto, têm favorecido enormemente a oferta de madeira informal e ilegal, que está inviabilizando iniciativas sérias e sustentáveis do segmento, que tem uma perspectiva de longo prazo. Existe um esforço em andamento para melhorar os sistemas de licenciamento no Mato Grosso e no Pará com recursos do Fundo Amazônia. A Sema-PA investe em uma sala de monitoramento que irá permitir verificar a distancia os empreendimentos licenciados e está desenvolvendo o Sisflora 2 com novas especificações que prometem corrigir falhas do sistema atual. A Sema-MT pretende fortalecer o licenciamento ambiental e intensificar a fiscalização e assinou recentemente um termo de cooperação com o CIPEM para troca de informações e monitoramento dos planos de manejo via sensoriamento remoto. Ainda é cedo para avaliar se esses esforços vão ser bem sucedidos. Não se vê ainda nenhuma iniciativa do IBAMA, que é o integrador, coordenador e fiscalizador do sistema DOF. As florestas no seu crescimento sequestram carbono. A madeira e o bambu são os únicos materiais de construção renováveis e a madeira em usos não temporários fixa carbono. Mesmo com todos os seus atributos positivos a madeira não goza de nenhum incentivo. A demanda por madeira nativa tem caído nos últimos anos em função da retração nos principais mercados importadores, do aumento de preços em algumas espécies, mas também de um processo acelerado de substituição pela madeira de reflorestamento e por outros materiais. Isso contribuiu para o fechamento e encolhimento de inúmeras empresas representativas Esse processo de substituição está ocorrendo por diversas razões; as que parecem mais relevantes são mencionadas a seguir: 48 - A Floresta Amazônica é imensa, o que muitas vezes gera uma sensação de abundância, de que é só explorar o que está lá sem grandes preocupações ou seja o pensamento é que não há necessidade de modernização, de investimentos em tecnologia e em novos produtos. O segmento da madeira de reflorestamento e outros setores concorrentes tem buscado muito mais a inovação e ganhos de produtividade, o que se reflete no lançamento contínuo de novos produtos e preços competitivos. - O segmento de madeira nativa precisa de mais união e organização. Tem faltado articulação no relacionamento com os governos e com os outros públicos de atuação para discussão e encaminhamento de agendas. - Tem havido progressos, mas o segmento não conseguiu desvincular ainda sua imagem da ilegalidade e da degradação florestal na Amazônia. Na dúvida, o consumidor acaba preferindo produtos de madeira de reflorestamento e outros materiais, muito menos ecológicos. - O sistema de licenciamento para a extração, produção e comercialização de madeira nativa apesar de vulnerável é complexo e burocrático. É muito mais fácil para a indústria fabricar outros produtos e para os comerciantes comprar e vender outros materiais. O futuro do segmento depende muito do governo que precisa fortalecer e modernizar o sistema de licenciamento e fiscalizar e que precisa também acelerar a oferta de madeira via concessões florestais. Na pratica, o fortalecimento do licenciamento e a fiscalização efetiva é que vão tornar a competição mais justa no mercado, aumentando bastante o interesse pelas concessões florestais. Em um cenário ideal, os empreendedores (empresas, associações, cooperativas, etc.) podem melhorar a rentabilidade da operação adotando a exploração de impacto reduzido, aumentando o número de espécies exploradas, agregando valor econômico a espécies não tradicionais, investindo em equipamentos e técnicas que possibilitem uma menor geração e um melhor aproveitamento dos resíduos e desenvolvendo produtos inovadores e de alto valor agregado. 49 ANEXO 1: NOME CIENTÍFICO DE ESPÉCIES FLORESTAIS MENCIONADAS Nome popular Nome científico Amescla Trattinnickia burserifolia Angelim da mata Hymenolobium excelsum Angelim pedra Hymenolobium petraeum Angelim vermelho Dinizia excelsa Cambará Qualea spp Castanha sapucaia Lecythis usitata Cedrinho Erisma uncinatum Cedro Cedrela spp. Cedrorana Cedrelinga Cateniformis Cumaru Dipteryx odorata Cupiúba Goupia glabra Eucalipto Eucalyptus spp Freijó Cordia goeldiana Garapa Apuleia leiocarpa Ipê Tabebuia serratifolia Itaúba Mezilaurus itauba Jacarandá da Bahia Dalbergia nigra Jarana amarela Lecythis poiteaui Jatobá Hymenaea courbaril Jequitibá Allantona lineata Louro canela Ocotea Neesiana Maçaranduba Manilkara spp Mandioqueira escamosa Qualea paraensis 50 Maparajuba Manilkara bidentada Muiracatiara Astronium lecointei Paricá Schizolobium parahyba Pau brasil Cesalpinia echinata Peroba rosa Aspidosperma polyneuron Piquiá Caryocar villosum Pinho do Paraná Araucaria angustifolia Pinus Pinus spp Sucupira Bowdichia spp Tachi preto Tachigali myrmecophyla Tanibuca folha pequena Buchenavia parvifolia Tauari Couratari guianensis Teca Tectona grandis Timborana Piptadenia suaveolens ou gonoacantha 51 ANEXO 2: VARIAÇÃO DE RENDIMENTO ENTRE ESPÉCIES FLORESTAIS Cenário Amazônico Rendimento (%) 70,00 60,00 50,00 40,00 63,59 61,63 59,52 58,82 57,14 53,48 53,19 51,28 50,25 49,26 48,78 48,31 46,95 44,64 44,25 44,25 43,67 43,29 41,49 35,46 Variação de rendimento entre espécies usadas em serraria 30,00 Sumaúma Louro-canela Louro- vermelho Mandioqueira-branca Mandioqueira-preta Angelim-vermelho Piquiá Maçaranduba Mandioqueira Louro-tamaquaré Cupiúba Currupixá Quajara Jatobá 20,00 Angelim-pedra Ipê 10,00 Piquiarana 0,00 Tauari Timborana Amarelo Espécie Cenário Amazônico Rendimento (%) Variação do rendimento entre espécies usadas em laminação 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 59,52 57,14 56,18 39,22 Currupixá Caju Umbiruçu Copaíba 33,45 Faveira Espécie 52 ANEXO 3: LISTA DOS CONCESSIONÁRIOS DE FLORESTAS PÚBLICAS NA AMAZÔNIA (ÁREAS FEDERAIS E DO ESTADO DO PARÁ) EMPRESA CONCEDENTE ÁREA BRASAD' OC TIMBER COM. DE MADEIRAS SFB 194.012 HA MADEFLONA INDL. MADEIREIRA SFB 104.951 HA CEMAL COM. ECOLÓGICO DE MADEIRAS IDEFLOR 99.869 HA MADEIREIRA SEGREDO IDEFLOR 90.115 HA AMAZONIA FLORESTAL IDEFLOR 85.418 HA SEMASA IND. COM. E EXPORT. DE MADEIRAS IDEFLOR 69.610 HA RRX MINERAÇÃO E SERVIÇOS IDEFLOR 66.591 HA SAMISE IND. COM E EXPLORAÇÃO SFB 59.500 HA EBATA PRODUTOS FLORESTAIS SFB 56.961 HA AMATA SFB LN GUERRA IND. E COM. DE MADEIRAS SAKURA IND. E COM. DE MADEIRAS RONDOBEL IND. E COM. DE MADEIRAS GOLF IND. E COM. DE MADEIRAS TOTAL IDEFLOR SFB IDEFLOR SFB 46.184 HA 45.721 HA 32.998 HA 19.818 HA 18.794 HA 990.542 HA Fonte: SFB e Ideflor (2014) 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves, Marcus Vinicius da Silva - A Indústria Madeireira no Brasil (apresentação no Fórum ATIBT, Belém 2007) Braz E., Mattos P., Oliveira M. e Basso R. - Strategies for Achieving Sustainable Logging Rate in the Brazilian Amazon Forest (2014) - Open Journal of Forestry, 4, 100-105 Caldas, Mauro da Silva - Concessão Florestal: Cenário Atual, Inovações e Aspectos Práticos (apresentação no Fórum de Debates da Feira Florestal da Amazônia, Belém 2013) Hummel A.C., Alves M. 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