Worsleya rayneri - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
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Worsleya rayneri - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) – uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Miguel d`Avila de Moraes 2009 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) – uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Aluno: Miguel d`Avila de Moraes Orientador: Dr. Gustavo Martinelli Dissertação apresentada ao Programa de Pós‐Graduação em Botânica, Escola Nacional de Botânica Tropical, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Botânica. Rio de Janeiro 2009 II Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) – uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Miguel d`Avila de Moraes Dissertação submetida ao corpo docente da Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio Janeiro – JBRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre. Aprovada por: Prof. Dr. Gustavo Martinelli (Orientador) ________________________________ Prof. Dra. Kátia Torres Ribeiro ________________________________ Prof. Dr. Haroldo Cavalcante de Lima ________________________________ Em __ /__ /__ Rio de Janeiro 2009 III IV AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Prof. Dr. Gustavo Martinelli, por me acolher no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sugerir o tema e compartilhar seu conhecimento sobre conservação através de discussões sobre a biologia e a ecologia de espécies ameaçadas em ambientes de montanhas tropicais. Seu empenho na obtenção de recursos e estabelecimento de parcerias tornou este projeto viável. Ao professores Dr. Sérgio Ricardo Sodré Cardoso, à Dr. Luciana Franco, Dr. Mônica Cardoso, Dr. Paulo Ferreira e à Dr. Adriana Hemerly, pela infra‐estrutura de laboratório cedida para a realização dos experimentos, e por me apresentarem um novo mundo de possibilidades através da utilização da biologia molecular. Ao. Prof. MSc. Ricardo Vergara do Instituto Militar de Engenharia, pela receptividade e ousadia em aceitar o desafio de participar de um projeto sobre conservação de espécies da flora ameaçadas de extinção. Ao Dr. Fábio Rubio Scarano, pela disposição em dar sugestões sobre o texto da dissertação. E ao Dr. Leandro Freitas, pela disposição em tirar dúvidas e ajudar na reflexão sobre o tema. Ao ecólogo MSc. Rick Lance Turner do USDA Forest Service, pela ajuda no mapeamento e na determinação de áreas potenciais de ocorrência para a espécie em questão. À FAPERJ, pelo apoio concedido sob a forma de bolsa de mestrado. Os recursos financeiros foram imprescindíveis para a execução do projeto. Ao Programa Espécies Ameaçadas da Fundação Biodiversitas, ao CEPF, ao Projeto Araras e à Associação Thalamus, por viabilizarem este projeto. À Escola Nacional de Botânica Tropical e ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, pela excelente infra‐estrutura e qualidade do corpo docente. Ao Eduardo Tavares e à Camila Mata, por me ajudarem com toda a parte prática de SIG e laboratório. Aos amigos MSc. Eduardo Saddi, MSc. Rafael Borges, MSc. Vitor Hugo, MSc. Marcos Gonzales, MSc. Claudia M. Vieira e Eduardo Fernandez, que dedicaram tempo à elaboração desta dissertação através de sugestões, críticas, revisões entre outros. A Letícia Rodrigues Melo, confidente, companheira e amiga. Aos amigos e familiares, Obrigado. V RESUMO O presente estudo se propõe a avaliar o status de conservação de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) e propor ações voltadas para a recuperação da espécie, de modo a subsidiar o estabelecimento de prioridades e a elaboração de protocolos de ações para a conservação de espécies ameaçadas. O primeiro capítulo aborda o uso da espacialidade para geração de dados quantitativos como ferramenta para a reavaliação do status de conservação de espécies ameaçadas de extinção e o desenvolvimento de estratégias para a conservação in‐situ. O segundo capítulo estabelece estratégias ex‐situ prioritárias para a conservação de W. rayneri com base em uma análise da estrutura genética dos remanescentes populacionais, inferida a partir do uso de marcadores dominantes ISSR. O terceiro capítulo reúne as principais informações geradas em um plano de recuperação para W. rayneri. Os resultados referentes à reavaliação do status de conservação de W. rayneri, indicados pelos valores de incidência de ameaças analisados são críticos e sugerem que mais de 50% dos remanescentes populacionais estão expostos a diferentes tipos de ameaça, afetando a persistência da espécie na natureza. O habitat ocupado por W. rayneri é altamente especifico (M=1,25; E=0,94) e está sujeito à pressão da ocupação urbana do entorno. As populações remanescentes de W. rayneri são geneticamente únicas e estão divergindo (FST= 0.367; p < 0,001), além de apresentarem alta diversidade entre indivíduos (67,8%). O declínio populacional da espécie parece se dever principalmente a efeitos antrópicos diretos e indiretos. Sugerimos, portanto, que a espécie seja considerada ameaçada, sob a categoria criticamente ameaçada (CR). A aplicação das ferramentas metodológicas usadas se mostrou extremamente útil para a quantificação de parâmetros que reflitam os requerimentos ecológicos da espécie, permitindo uma análise mais consistente do status de conservação de espécies. A adoção do sistema da IUCN (2001) continua sendo a melhor alternativa para a avaliação do status de conservação de nossas espécies ameaçadas, já que não são investidos esforços no desenvolvimento de um sistema nacional de categorização baseado em critérios adequados a realidade brasileira. Entretanto, o presente estudo pode ajudar a subsidiar a consolidação de uma estratégia de conservação voltada para a recuperação de espécies endêmicas, ameaçadas de extinção e ocorrentes nos campos de altitude do sudeste brasileiro, através da discussão sobre abordagens conceituais e sobre a viabilidade e aplicabilidade das metodologias adotadas. Palavras‐chave: espécies ameaçadas, Worsleya rayneri, conservação, inselbergs, campos de altitude. VI ABSTRACT The present work aims to reassess Worsleya rayneri`s (Amaryllidaceae) conservation status and to propose conservation actions objecting species recovery in support the establishment of priorities and the development of conservation protocols for endangered species. The first chapter deals with the use of spatiality for generating quantitative data as a tool for conducting conservation status reassessments of endangered and threatened species and the development of in‐situ conservation strategies. The spatial analysis allowed us to determine potential threat sources, facilitating the establishment of conservation goals and actions. The second chapter approaches the process of setting conservation priority areas for a determined species, based on the genetic structure of the population remnants, inferred from dominant molecular markers (ISSR). The third chapter gathers information generated by the previous chapters on a recovery plan for W. rayneri. Results regarding the conservation status reassessment indicated by the threat incidence scores are critical and suggest that more than 50% of remnants are exposed to different kinds of threats affecting persistence of species on nature. W. rayneri`s habitat is highly specific (M=1.25; E=0.94) and is subjected to pressure due to the urban occupation of the surroundings. Remnant populations of W. rayneri are genetically unique and are diverging (FST= 0.367; p < 0,001), besides the surprisingly high within population diversity (67.8%). Populations decline seem to be related to direct and indirect anthropogenic factors. Therefore, we suggest that the species be considered endangered, under the status of critically endangered (CE). The choice of methodological tools was adequate and showed to be useful on the quantification of ecological meaningful parameters for the species, allowing a more consistent analysis of species conservation status, even with limited scientific information availability. The use of IUCN (2001) categorization system still seems to be the best choice for species conservation status reassessments, since efforts invested on the development of a national categorization system based on criteria adequate to the brazilian reality are insufficient or absent. Nevertheless, the present study can help to support the consolidation of a conservation strategy focused on the recovery of endangered species endemic to high altitude grassland of Brazilian southeast, through debating about conceptual approaches and methods applicability. Key words: endangered species, Worsleya rayneri, conservation, inselbergs, high altitude grasslands. VII SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................V RESUMO ......................................................................................................................................VI ABSTRACT ...................................................................................................................................VII SUMÁRIO ...................................................................................................................................VIII INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................................... 1 Espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção ................................................................. 2 Worsleya rayneri – uma espécie de Amaryllidaceae ameaçada de extinção ......................... 10 Conservação da Biodiversidade em Montanhas..................................................................... 12 Diversidade Biológica dos Campos de Altitude ...................................................................... 15 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO ..................................................................................................... 19 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ...................................................................................................... 20 CAPÍTULO 1: Mapping spatial distribution of Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) remnants and threat analysis – a GIS based approach towards conservation of an endangered species. ....... 21 Introduction............................................................................................................................ 22 Materials and Methods .......................................................................................................... 25 Results .................................................................................................................................... 31 Worsleya`s conservation status..................................................Error! 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Discussion ............................................................................................................................... 33 References .............................................................................................................................. 37 CAPÍTULO 2: Genetic structure of Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) remnants detected by ISSR markers: setting conservation priorities for an endangered species.................................. 41 Introduction............................................................................................................................ 42 Materials and Methods .......................................................................................................... 44 Results .................................................................................................................................... 46 Discussion ............................................................................................................................... 50 Concluding remarks ................................................................................................................ 53 VIII References .............................................................................................................................. 53 CAPÍTULO 3 ‐ Worsleya rayneri (J.D.Hooker) Traub. & Moldenke ‐Plano de Recuperação para uma espécie da flora Brasileira ameaçada de extinção.............................................................. 58 Introdução .............................................................................................................................. 59 1. Status de Conservação.................................................................................................... 60 2. Descrição e Taxonomia ................................................................................................... 60 3. Habitat ............................................................................................................................ 61 4. Biologia e Ecologia .......................................................................................................... 64 5. Controle de Ameaças...................................................................................................... 68 6. Considerações socioeconômicas .................................................................................... 73 7. Benefícios para a biodiversidade .................................................................................... 74 8. Ações Prévias .................................................................................................................. 75 9. Capacidade de Recuperação de W. rayneri .................................................................... 77 10. Ações de Recuperação Propostas................................................................................... 77 11. Data de Revisão .............................................................................................................. 87 Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 87 CONCLUSÕES GERAIS.................................................................................................................. 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................... 95 IX INTRODUÇÃO GERAL Historicamente, no Brasil, a maior parte dos esforços de pesquisa voltados para a conservação de espécies ameaçadas é direcionada para a inclusão de espécies na lista oficial da flora brasileira ameaçada de extinção. Entretanto, muito pouco é feito com o intuito de controlar as ameaças incidentes sobre estas espécies de forma a aumentar suas chances de sobrevivência ao longo do tempo. É até aceitável que, em um país megadiverso como o Brasil, a comunidade científica esteja preocupada em conhecer as espécies e a dinâmica dos sistemas, antes de propor ações. No entanto, torna‐se necessário desenvolver metodologias para o gerenciamento da biodiversidade ameaçada de extinção, uma vez que o tempo de ação após a inclusão de um novo táxon em uma lista de espécies ameaçadas deve ser o menor possível. A construção de novas abordagens conceituais e metodológicas voltadas para a conservação de espécies de planta ameaçadas tornou‐se, nos últimos anos, uma questão de extrema necessidade e urgência. A capacidade de ação das instituições públicas e privadas, em países detentores de alta diversidade, voltadas para a conservação do meio‐ambiente depende da velocidade na geração e processamento das informações sobre as espécies, seus habitats e da adoção de protocolos que levem em conta o contexto sócio‐político, o elevado número de espécies tropicais e a necessidade do estabelecimento de metas objetivas de ação. A adoção de protocolos existentes, desenvolvidos para outras regiões pode acelerar o processo de tomada de decisões. Entretanto, pode representar um risco para a integridade de ambientes tropicais ou ser tecnicamente inviável, devido à limitação de recursos, mão de obra ou à dificuldade de acesso a novas metodologias de análise (Davis et al. 1986). Precisamos, portanto, consolidar mecanismos político‐administrativos que viabilizem a execução da política 1 nacional de conservação da biodiversidade existente, de modo a reduzir as taxas de extinção de espécies. Worsleya rayneri (J.D. Hooker) Traub & Moldenke (Amaryllidaceae) (Traub & Moldenke, 1949), comumente conhecida como “Imperatriz do Brasil” ou “Rabo‐de‐galo”, está, desde 1983, incluída na Lista Oficial Brasileira de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (IBDF, 1980; IBAMA, 1992; Martinelli, 1984). A espécie em questão integrava a lista de espécies ameaçadas da IUCN; entretanto, com a reformulação dos critérios para a inclusão de táxons, implementada em 1994, a espécie foi excluída devido à ausência de dados quantitativos que pudessem justificar sua inclusão. Além disso, a espécie não integra a lista de espécie protegidas pela Convenção Internacional de Comércio de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora (CITES). No entanto, a espécie está sujeita a comércio internacional. Sementes coletadas em Petrópolis, RJ são levadas para o exterior, cultivadas e vendidas em diversos países da Europa, movimentando um mercado ilegal de plantas raras e ameaçadas de extinção. Enquanto as populações naturais remanescentes sofrem efeitos diretos e indiretos da ação do homem nos vales e encostas do entorno. O presente estudo se propõe a reavaliar o status de conservação de W. rayneri e propor ações voltadas para a recuperação da espécie de modo a subsidiar o estabelecimento de prioridades e a elaboração de protocolos de ações para a recuperação de espécies ameaçadas. Espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção A perda de biodiversidade (Araújo, 1998) se tornou nos últimos anos uma questão central que mobiliza a comunidade científica e o governo de diversos países, principalmente aqueles situados em áreas tropicais com altos índices de riqueza e endemismos, considerados como hotspots de biodiversidade. Em 1940, durante a Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América, os governos de diversos países 2 americanos estabeleceram o compromisso de tomar medidas imediatas para a proteção de espécies da fauna e flora, através da criação de unidades de conservação ou mecanismos político‐administrativos que permitissem o controle das ameaças incidentes sobre a biodiversidade e do comércio de espécies legalmente protegidas (Artigo II e IX). Só em 1948, o Congresso Nacional Brasileiro aprovou os termos da convenção, que entraram em vigor em 1965 com a instituição do Código Florestal (Lei Nº 4.771, 15 de setembro de 1965). Historicamente, o artigo 14 deste documento prevê que o Poder Público federal ou estadual poderá proibir ou limitar o corte das espécies vegetais consideradas em via de extinção. Entretanto, quanto maior a riqueza de espécies da flora de uma região, mais difícil se torna identificar quais delas estão de fato ameaçadas de extinção, uma vez que a quantidade de informação científica disponível para cada uma tende a ser menor (Davis et al, 1986). Para a maior parte das regiões do planeta, as informações disponíveis sobre as espécies de flora são incompletas e baseadas em esforços de coleta limitados, e, portanto, não permitem uma avaliação substancial relativa às chances de sobrevivência das espécies (Shevock, 1996), dificultando o estabelecimento de critérios e categorias para a indicação de espécies ameaçadas, planos de ações ou mesmo a criação de políticas públicas baseadas em um panorama mais próximo da realidade, quanto à ameaça das espécies. Segundo Hartley e Kunin (2003), na ausência de análises detalhadas sobre a viabilidade populacional de espécies, os principais indicadores utilizados para a avaliação do risco de extinção de espécies são: a) taxa de declínio, b) grau de fragmentação populacional, e c) raridade. Porém, ainda assim, a quantificação destes indicadores nem sempre é uma tarefa trivial. Além do que, a maior parte das espécies vegetais sofre com a ocupação humana de áreas naturais, iniciando um processo de fragmentação da paisagem que muitas vezes, afeta o tamanho das populações naturais de espécies. 3 Diversos países desenvolveram abordagens metodológicas com o intuito de definir prioridades para a conservação de espécies ameaçadas, levando em consideração as limitações sociais e políticas impostas pelo contexto regional de cada país, assim como as limitações do conhecimento científico. Alguns esquemas conceituais consistem no estabelecimento de limites arbitrariamente definidos, a partir dos quais são mensurados escores para diferentes atributos, os quais somados indicam o grau de prioridade ou o status de conservação (e.g. Millsap et al, 1990; Lunney et al, 1996). Outros modelos usaram critérios exclusivamente qualitativos (e.g. U.S. Fish and WildLife Service, 1983), ou uma mistura de critérios qualitativos com critérios quantitativos (e.g. Master, 1991; The Nature Conservancy 1994). No Brasil, de uma maneira geral, a inclusão de espécies na Lista Nacional de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (Portaria IBAMA nº 37‐N, de 03 de Abril de 1992; MMA 2008) dependeu de indicações individuais ou do parecer de workshops realizados por pesquisadores botânicos. As decisões tomadas em relação à inclusão ou exclusão de espécies basearam‐se em um conhecimento fundamentado, na maior parte das vezes, em inferências feitas a partir da análise de uma mistura de critérios qualitativos e quantitativos, de acordo com a disponibilidade de dados acerca das espécies. Apesar de limitada, a abordagem adotada pelo Brasil acompanhou o método utilizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) que, no início dos anos 1970, adotou um grupo de critérios qualitativos para a classificação do status de conservação de espécies ameaçadas. De qualquer forma, a objetividade e a aplicabilidade de métodos baseados na análise de critérios qualitativos são limitadas e representam uma barreira para sua adoção em uma escala global, impedindo comparações e uma análise do grau de ameaça da flora, como um todo. Mace & Lande (1991) sugerem que a avaliação do status de conservação das espécies deve se basear em critérios quantitativos e definem que espécies criticamente ameaçadas são aquelas submetidas a um risco maior ou igual a 50% de probabilidade de extinção dentro de 4 cinco anos. Segundo Akçakaya (1992) a classificação de riscos envolve três parâmetros: tempo, probabilidade de declínio e magnitude do declínio. Portanto, o nível de ameaça de uma determinada espécie deve ser visto como uma combinação da magnitude do declínio iminente dentro de um determinado período de tempo e da probabilidade de este declínio ocorrer (Akçakaya, 2000). Avaliar o grau de ameaça é um dos principais objetivos dos critérios quantitativos estabelecidos por IUCN (1994) e revistos por IUCN (2001), os quais receberam grande aceitação internacional e se tornaram uma importante ferramenta para a conservação de espécies. Atualmente, estes critérios são utilizados nacionalmente e/ou regionalmente como princípios norteadores de diversos grupos de trabalhos, responsáveis pela elaboração das “listas vermelhas” locais (Davis et al, 1986; e.g Biodiversitas, 2008). Estas indicam quais espécies estão em risco de extinção, a partir de análises de critérios pré‐determinados por um sistema de categorização adotado. O estabelecimento de categorias de ameaça é um dos grandes passos conceituais, uma vez que implica definição de prioridades. Entretanto, nem sempre os países possuem mecanismos político‐administrativos eficientes capazes de direcionar recursos financeiros, tecnológicos e científicos para a execução de ações de conservação subsidiadas por análises quantitativas de critérios adotados pelas políticas nacionais de conservação. Nos Estados Unidos, em 1973 a conservação de espécies da flora recebeu grande incentivo com a aprovação do Endangered Species Act (1973). Entre outras decisões ele estabelece que, para cada espécie ameaçada ou em perigo no país, um plano de recuperação (e.g. NSW, 2002a; NSW, 2002b; NSW, 2004) deve ser desenvolvido e ser capaz de delinear a pesquisa e de justificar as ações de manejo necessárias para a recuperação desta (Schemske et al, 1994). Porém, os planos de recuperação devem ser vistos como uma importante ferramenta objetiva que atua no nível de espécies. A estrutura da biodiversidade é hierárquica 5 e a categoria taxonômica espécies é apenas um dos inúmeros níveis abstratos de organização (Wood & Gross, 2008). Segundo Araújo (1998) a fundamentação de políticas voltadas para conservação da biodiversidade não deve se restringir a uma análise superficial desta única categoria taxonômica. Ao focar os esforços de conservação apenas no nível de espécies, podemos estar negligenciando a análise de componentes estruturais e funcionais da biodiversidade (Wood & Gross, 2008). Norton (1998) descreve a mudança do foco de conservar espécies para a proteção de ecossistemas, expressa principalmente pela transição de uma legislação voltada para espécies ameaçadas para uma legislação voltada para a conservação de ecossistemas, processos ou mesmo populações. Entretanto, deve‐se refletir sobre as razões que fundamentam a necessidade de buscar estratégias de conservação de espécies ameaçadas. Se a proteção da maior quantidade possível de unidades evolutivas é o foco dos esforços, estabelecer prioridades para a conservação atende a uma demanda, principalmente, da comunidade científica. Por outro lado, se o foco for minimizar os potenciais efeitos negativos da perda de biodiversidade, o estabelecimento de prioridades depende da orientação da comunidade científica a respeito dos componentes da biodiversidade, além de considerações sobre a importância destes componentes para a sociedade como um todo. Assim, a adoção de uma abordagem metodológica depende da reflexão e do posicionamento da sociedade em relação aos pesos dos valores evolutivos e dos valores ecológicos na fundamentação da política nacional de conservação da biodiversidade. No Brasil, a elaboração desta política é atribuição do Ministério do Meio Ambiente (MMA), expressa na Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003. Em seu Art. 27, a lei estabelece que, é atribuição do Ministério do Meio Ambiente, “a política de preservação, conservação e utilização sustentável dos ecossistemas e biodiversidade e florestas”. A preocupação e a necessidade de ações voltadas à recuperação de espécies ameaçadas consta, também, nos 6 princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional de Biodiversidade, instituídos no Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002. Entretanto, a atual Constituição Brasileira, promulgada em 1988, já atribuía a conservação da biodiversidade ao Poder Público. Em seu Capítulo VI, Art. 225, determina como responsabilidade do Poder Público "proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade", constituindo‐se em um importante instrumento legal para a proteção das espécies que compõem a nossa biodiversidade. Na prática, o Art. 225, começou a ser melhor implementado por meio da Lei dos Crimes Ambientais, nº 9.605 de fevereiro de 1998, posteriormente regulamentada pelo Decreto nº 3.179, de setembro de 1999, que dispõe sobre as particularidades das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. A lei considera que as medidas aplicáveis às infrações cometidas contra as espécies são ampliadas no caso de estas serem consideradas ameaçadas de extinção. Entretanto, apesar de uma política favorável neste sentido, a legislação não define os critérios a serem utilizados e estabelece apenas uma categoria denominada ‘Ameaçada de Extinção’. Deixando provisoriamente de lado as barreiras metodológicas para a classificação de espécies vegetais como ameaçadas, nos resta discutir outra questão de extrema importância: como monitorar, fiscalizar e executar as ações previstas em um país de proporções como as do Brasil, rico em biomas, em tipos vegetacionais e em espécies, de modo a garantir a execução da política nacional de conservação da biodiversidade? A Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, decretada e sancionada pelo governo brasileiro, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) que, dentre outros objetivos, visa: a) contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais, b) proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional e c) contribuir 7 para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais, mediante o estabelecimento de unidades de conservação. O SNUC estabelece que todas as unidades de conservação devem ter um plano de manejo. Esta determinação evidencia claramente o posicionamento do governo brasileiro, que prioriza a preservação de áreas de interesse para a conservação, em contraponto, por exemplo, ao posicionamento adotado pelo governo americano que, além da obrigatoriedade de planos de manejo para as unidades de conservação, cobra a elaboração de planos de recuperação para as espécies ameaçadas, ou seja, consideradas prioritárias. A Instrução Normativa no6, de 23 de setembro de 2008, já determina a necessidade da elaboração de planos de recuperação para as espécies inclusas na categoria Ameaçadas de Extinção. Entretanto, ainda não estabelece um método. De qualquer forma, o SNUC é considerado um importante avanço em direção à conquista da conservação da biodiversidade brasileira. O estabelecimento de categorias de uso e a divisão de atribuições entre governos federal, estadual e municipal são passos que refletem a inclusão de uma visão moderna de conservação da biodiversidade que inclui critérios sócio‐culturais na seleção de áreas e estabelecimento de novas unidades de conservação. A política de gestão da biodiversidade deve estar presente de maneira transversal no governo em todas as esferas, como parte de uma estratégia integrada e, acima de tudo, alinhada com a de outros países, já que unidades biológicas não respeitam limites políticos estabelecidos arbitrariamente pelo homem. No âmbito internacional, duas convenções além da citada anteriormente, fornecem o arcabouço legal para a conservação de espécies ameaçadas e estabelecem princípios seguidos pelos países signatários, alinhando as políticas regionais e garantindo a soma dos esforços das partes: 1) Convenção de Washington sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) e 2) Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). 8 A CITES foi ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Lei nº 54/75 e promulgada pelo Decreto nº 76.623, de novembro de 1975, e estabelece proteção para um conjunto de plantas e animais, por meio da regulação e monitoramento de seu comércio internacional, particularmente aquelas ameaçadas de extinção. O conjunto de espécies é classificado, de acordo com o grau de ameaça de extinção, em uma das três categorias de controle. Esta é considerada uma ferramenta de controle efetiva para a importação e exportação de espécies da flora ameaçadas de extinção. Entretanto, mais uma vez, se não formos capazes de identificar quais espécies estão de fato em vias de extinção e adotar um sistema que, a partir de categorias de ameaça, determine prioridades de ações para a conservação, continuaremos a acompanhar um processo de rápida perda de biodiversidade, expresso principalmente através do aumento do número de espécies extintas e/ou ameaçadas. A CDB foi ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 2, de 8 de fevereiro de 1994, que define que os países devem “recuperar e restaurar ecossistemas degradados e promover a recuperação de espécies ameaçadas por meio da elaboração e da implementação de planos e outras estratégias de gestão”. No âmbito da CDB, o documento Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC), aprovado na Decisão VI/9 da Conferência das Partes (COP) – Países Signatários da CDB, em 19 de abril de 2002 em Haia, estabelece metas para a conservação da flora mundial através de uma estrutura inovadora para ações no nível global, regional, nacional e local. A partir de um consenso sobre os principais objetivos e um prazo de ação, são criadas metas orientadas para serem atingidas até 2010. Isso estimula a criação de mecanismos locais e nacionais de acompanhamento e monitoramento para garantir a obtenção dos resultados esperados a partir da implementação da GSPC e incentiva governos a incluir a gestão da biodiversidade em seus planejamentos de longo prazo. Para honrar estes compromissos, tanto no âmbito externo quanto interno, o Brasil dispõe de uma série de mecanismos legais voltados à conservação e proteção da 9 biodiversidade, com destaque para a elaboração de listas das espécies ameaçadas, monitoramento, planos de gestão e programas para recuperação de espécies ameaçadas (MMA). Entretanto, na prática, o alcance das políticas públicas voltadas para a conservação da biodiversidade é extremamente limitado, e ainda esbarra na ausência do Estado em vastas áreas extremamente ricas em biodiversidade e na falta de capacidade de gerir tamanha riqueza ao adotar padrões econômicos de desenvolvimento que não incorporam efetivamente a biodiversidade em seus programas. Com o intuito de expor algumas destas barreiras político‐administrativas ou limitações conceituais e metodológicas, discutiremos o caso da espécie vegetal Worsleya rayneri (J.D Hooker) Traub. & Moldenke. Esta análise permitirá a sugestão de novas abordagens que possam auxiliar o Poder Público na definição de políticas nacionais eficazes voltadas para a conservação de espécies da flora ameaçadas de extinção. Worsleya rayneri – uma espécie de Amaryllidaceae ameaçada de extinção Em 1863 a espécie foi descrita por Duchartre, com o nome de Amaryllis gigantea, com base em exemplares coletados por Binot, em 1860. Após diversas classificações, foi estabelecida como gênero monotípico, considerado um dos mais primitivos da família Amaryllidaceae, inicialmente como Worsleya procera (Duchartre) Traub. e mais tarde como W. rayneri (J.D. Hooker) Traub. & Moldenke. Mesmo após análises cladísticas de seqüências de DNA para 48 gêneros de Amaryllidaceae, Meerow et al (1999) teve dificuldades para posicionar Worsleya no clado americano da família. Suas características peculiares (e.g. grande quantidade de mucilagem, bulbo aéreo, número de espatas igual a quatro, desprovida de paraperigônio), associadas ao seu isolamento geográfico, sugerem ao táxon a constituição de uma linhagem evolutiva independente dentro de Amaryllidaceae (Traub. & Moldenke, 1949; Martinelli, 1984). 10 Após estudos científicos conduzidos pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) por Martinelli (1984), a espécie foi incluída na Lista Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção, sendo considerada criticamente ameaçada de extinção (MMA 1983). Segundo Martinelli (1996), W. rayneri é uma espécie endêmica restrita a uma região específica dos campos de altitude da Serra dos Órgãos e representa uma flora relictual, com distribuição mais ampla no passado, e com altas taxas de endemismo e riqueza de espécies ameaçadas. Entretanto, após 25 anos, a principal ação efetiva, voltada para a conservação desta e de outras espécies endêmicas restritas à região, foi a criação da APA Petrópolis, uma unidade de conservação federal de uso sustentável (SNUC). Enquanto isso, a região de ocorrência de W. rayneri, com seus vales, encostas e topos de morros continuam sofrendo com os efeitos da fragmentação da paisagem, incêndios, invasão por espécies exóticas, construção de condomínios, pastagem de animais, captação de água, ou outras formas de uso do solo que geram impactos diretos e indiretos sobre a biodiversidade local. Espécies com extensão de ocorrência e tamanho populacional restrito tais como W. rayneri, Prepusa connata, Glaziophiton mirabile, Tillandsia reclinata ou Pticairnia glaziovii continuam extremamente vulneráveis aos efeitos das ameaças incidentes. Em 2007, um único incêndio atingiu quatro populações de W. rayneri, o que representa c. 19 % de todos os remanescentes da espécie. Apesar de situadas em uma unidade de conservação federal de uso sustentável, esta e outras espécies ameaçadas da flora apresentam indícios de estarem em declínio. Além disso, a região de ocorrência de W. rayneri é considerada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como estratégica para a conservação da biodiversidade do bioma Mata Atlântica (MMA, 2000). Ela faz parte do Mosaico de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense e atua como elemento de ligação entre a Reserva Biológica do Tinguá, a Reserva Biológica de Araras e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, três 11 importantes unidades de conservação de proteção integral (CNRBMA, 2000) do corredor de preservação da Serra do Mar (Aguiar et al, 2005; Ayres, 2005). Conservação da Biodiversidade em Montanhas De uma maneira geral, ambientes de montanha são extremamente fragmentados e topograficamente diversos, e constituem um ambiente heterogêneo que comporta grande diversidade de espécies (Van der Werff & Consiglio, 2004). As montanhas ou áreas altas ocupam quase 25% da superfície da Terra e estão distribuídas por todos os continentes e zonas de latitude, inseridas nos principais tipos de bioma do mundo. Mais de 50% da população mundial depende direta ou indiretamente destes ambientes (GMBA, 2001). Entretanto, quando o desenvolvimento sócio‐econômico de uma região esbarra na proteção de áreas naturais, voltadas para a conservação da biodiversidade, são necessários estudos que indiquem os efeitos diretos e indiretos da ocupação da paisagem. A preocupação da comunidade científica com a conservação de ambientes de montanha é uma questão relativamente recente. Em 1992, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Rio‐92, consolidou a necessidade de proteger esses ambientes através do documento conhecido como Agenda 21 (UNCED, 1992): “Steep terrain and mountain climate in combination with severe land use pressure cause mountain ecosystems to rank among the most endangered landscapes in the World.” (Capítulo 13). Neste encontro, o texto original da CBD (CBD, 1992), que hoje conta com 158 assinaturas, foi disponibilizado aos países signatários. A partir desse encontro, muitas nações começaram a se articular para implementar programas locais de proteção às áreas altas e montanhas. No âmbito internacional a ONG Diversitas (Paris) institui 12 projetos para a conservação de ecossistemas críticos, sendo um deles voltado para ecossistemas de montanha. O Global Mountain Biodiversity Assessment 12 (GMBA) se tornou um programa pioneiro de pesquisa em montanha, com grande visibilidade na comunidade científica, desenvolvendo projetos com o intuito de explorar e explicar a riqueza biológica das montanhas do mundo. O programa foi lançado em 2000 durante a 1ª Conferência Internacional de Biodiversidade de Montanhas em Rigi/Kaltbad, Suiça. Neste mesmo evento, foi inaugurado o programa Global Observation Research Initiative in Alpine Environmnet (GLORIA) como resultado dos esforços conjuntos de diversos pesquisadores, coordenado pelo Instituto de Ecologia e Biologia da Conservação da Universidade de Viena e financiado pelo International Geosphere‐Biosphere Programme (IGBP). A abordagem multi‐summit (GLORIA, 2004), adotada pelo programa, evidencia uma nova tendência regida por investidas coordenadas e metas claramente definidas. Os esforços teóricos se voltam para o desenvolvimento de metodologias e sistemas de informações que permitam ações imediatas voltadas para a conservação. A importância global de ecossistemas de montanha se consolidou durante a Conferência das Partes (COP) VI – Países Signatários da CDB, em 19 de abril de 2002 em Haia, que considera as montanhas como ponto focal e estratégico para a conservação da biodiversidade (UNEP/CDB/AHTEG‐MB, 2003). O encontro instituiu o Mountain Work Programme (MWP), com o intuito de reduzir a perda local, regional e global da biodiversidade associada às montanhas. De uma maneira geral montanhas ocorrem em extensões, grau de isolamento e altitude variadas, permitindo testes de hipóteses experimentais sobre as conseqüências da fragmentação, endemismos restritos, tamanho mínimo de populações (Porembski & Barthlott, 2000), entre outras questões centrais sobre a biodiversidade. No Brasil, apenas em 2006, é instituído um grupo de trabalho ligado ao MMA, com o objetivo de definir a estrutura e as diretrizes de um comitê Nacional para conservação de ambientes de montanha. Em 2008 foi proposta a elaboração de um programa Nacional de 13 Conservação e Pesquisas em Ecossistemas de Montanhas (CONABIO, 2008). Esta movimentação acompanha um aumento da demanda por estudos que auxiliem na definição de objetivos, abordagens e metodologias para o estudo e conservação das montanhas brasileiras. No entanto, Martinelli (2003) já sugeria a criação de um programa voltado para a proteção da biodiversidade de montanhas. Em 1985, no Canadá, foi formado pelo Departamento de Botânica da Universidade de Guelph um grupo interdisciplinar de pesquisas voltado para o estudo da estrutura e função de ecossistemas de montanha. Larson et al (2000) consolidou os avanços conceituais obtidos por este grupo de pesquisa. Esta publicação passou a fundamentar diversos trabalhos científicos sobre o tema (e.g. Ribeiro, 2002; Saddi, 2008). De modo geral, os países pioneiros em estudos relacionados à conservação da biodiversidade associada às montanhas são aqueles onde a qualidade de vida da população humana local depende diretamente de recursos ou serviços fornecidos por estes ambientes. A adoção de uma abordagem multidisciplinar que incentiva a relação entre ciências naturais e sociais é uma das primeiras iniciativas globais que colocam as montanhas como ponto estratégico para a conservação da biodiversidade. É o caso do governo da Índia que, devido à importância sociopolítica das montanhas locais, se posiciona no cenário internacional como pioneiro, ao estabelecer em 1988 o G.B. Plant Institute of Himalaian Environment and Development (GBIHED). O Instituto, ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Florestas da Índia, tem como objetivo central manter o equilíbrio entre as relações de sistemas socioculturais, ecológicos, econômicos e físicos, no intuito de garantir a sustentabilidade dos ecossistemas da região. Diversos trabalhos científicos (GBIHED, 1999) foram produzidos no âmbito do GBIHED, de modo a contribuir significativamente para o desenvolvimento das bases conceituais e metodológicas de estudos em montanha. Entretanto, a viabilização de ações de grande escala como as descritas depende, mais do que nunca, do estabelecimento de 14 parcerias público‐privadas e da integração de conhecimentos (Programa GEF – Catallana, Chile, 2005). Outro projeto de grande importância na consolidação das bases teóricas de estudos voltadas para áreas montanhosas foi o projeto Inselberg. Coordenado pelas universidades de Rodstock e Bonn, na Alemanha, e implementado em 1990, o projeto reuniu o maior número de informações sobre biodiversidade de montanhas tropicais por meio da condução de estudos em cerca de 600 montanhas no continente africano e em alguns países da América do Sul. O estabelecimento de parcerias com pesquisadores locais estimulou a participação de grupos científicos e instituições de pesquisas tropicais a desenvolver o tema em âmbito nacional. No Brasil, a partir do final dos anos 1990, foram desenvolvidos diversos estudos em montanhas (Porembsky et al, 1998; Martinelli, 1996; Safford & Martinelli, 2000, Safford, 1999a; Safford 1999b; Ribeiro, 2002; Caiafa 2005; Safford 2006; Mocochinsky 2006). A maior parte deles em áreas de Campos de Altitude do sudeste, devido principalmente à facilidade de acesso e às altas taxas de riqueza de espécies, endemismos e espécies ameaçadas de extinção (Martinelli, 1996). Porém, ainda não fomos capazes de delinear uma política de conservação que vá além da criação de unidades de conservação para esta importante formação vegetacional (Scarano, 2002; Martineli 2007) inserida no contexto do domínio da Mata Atlântica. Diversidade Biológica dos Campos de Altitude Segundo Safford (1999a) os campos de altitude (Ferri, 1980) são formações vegetacionais predominantemente campestres, restritas aos topos das montanhas da costa leste do Brasil. Apesar de a flora ser diversa e caracterizada por um alto grau de endemismo (Martinelli, 1996; Martinelli, 2007), a vegetação apresenta algumas similaridades florísticas 15 com outras formações vegetacionais de montanha, na cordilheira dos Andes e da América Central (Safford, 1999ª, 1999b; Safford, 2006; Segadas Viana 1965a, 1965b), expressa principalmente por casos de disjunção de espécies (Ribeiro 2002). A composição florística dos campos de altitude, apesar da ausência de dados quantitativos publicados, surpreende devido ao elevado número de espécies em relação à disponibilidade de habitats. Estudos anteriores (Brade, 1956; Martinelli, 1996, Ribeiro 2002) indicam que os campos de altitude do Parque Nacional do Itatiaia (RJ) abrigam c. 500 espécies e ocupam uma área menor que 50km2. Já Mocochinski (2006) listou a existência de 279 espécies pertencentes a 73 famílias botânicas para sete diferentes áreas de campos de altitude na serra do mar Paranaense. Caiafa e Silva (2005) apontam a existência de 81 espécies para uma área de apenas seis hectares na Serra do Brigadeiro (MG). A florística varia entre áreas, devido ao tamanho amostral e à influência de diferentes formações vegetacionais na riqueza de espécies, entretanto, Asteraceae, Poaceae, Cyperaceae, Melastomataceae e Ericaceae representam as famílias botânicas com maior número de espécies. Bromeliaceae, Orchidaceae, Veloziaceae e Eriocaulaceae além de abundantes são importantes elementos na estruturação da vegetação dos afloramentos rochosos inseridos nos campos de altitude. A alta riqueza de espécies e diversidade associadas a ambientes tropicais de montanha (Chaverri‐Polini, 1998; Safford, 1999a; Sarmiento, 2002; Martinelli, 2007) é normalmente atribuída a três principais fatores: 1) o efeito do histórico climático e geológico sobre a evolução de espécies; 2) a adaptação de espécies a fatores ambientais limitantes; 3) fluxo biológico com as áreas baixas adjacentes (Sarmiento 2002). Martinelli (1996) aponta a acumulação de relictos trazidos por diversas fases climáticas do Quaternário como forma de explicar as altas taxas de endemismo encontradas em campos de altitude do sudeste brasileiro. A compressão de zonas climáticas ao longo de gradientes altitudinais confere a biota de montanha o status de hotspot de riqueza biológica. Portanto, as altas taxas de 16 endemismos refletem a unicidade da flora atrelada ao histórico geológico e microclimatológico de cada vale, escarpa ou topo de montanha de acordo com o grau de isolamento entre fragmentos de habitat favoráveis. Os campos de altitude estão inseridos no bioma morfoclimático da Mata Atlântica, entretanto recebem forte influência florística de outros dois biomas: a) o Cerrado da região central em seus trechos junto a Serra da Mantiqueira, Serra do Caparaó e Serra do Brigadeiro; e b) os campos sulinos. A influência da primeira se consolida principalmente através do fluxo biológico com os campos rupestres, ricos em espécies xerófitas capazes de suportar condições limitantes específicas, e cujos extremos das serras se avizinham (Serra do Espinhaço). Apesar de semelhanças fisionômicas e ecológicas, a composição florística e a estrutura litológica dos campos rupestres diferem da dos campos de altitude (Caiafa e Silva, 2005). A segunda, através da migração de espécies predominantemente campestres oriundas dos campos sulinos (Mocochinski, 2006), o que pode explicar parte da riqueza de espécies em Asteraceae, Melastomataceae, Poaceae e Cyperaceae (Brade 1956; Freitas, 1999; Mocochinski 2006; Moraes et al não publicado). Brade (1956) propõe que os campos de altitude, assim, como os afloramentos rochosos dentro dele, oferecem, no tempo evolutivo, diversas oportunidades para a fixação e diferenciação de espécies de cerrado, de mata ou de regiões temperadas, devido principalmente à heterogeneidade espacial caracterizada pela presença de diferentes fito‐ fisionomias como brejos, bambuzais, encostas úmidas ou afloramentos rochosos. Por outro lado, Ribeiro (2002) sugere que sua vizinhança com a Mata Atlântica é uma chance de entrada de espécies e linhagens tropicais em um ambiente temperado. Entretanto, as espécies da flora dos campos de altitude parecem estar mais relacionadas às características geoclimáticas do que às variações do macroclima tropical (Rizzini, 1979). As 17 baixas temperaturas, elevada intensidade dos ventos, das radiações luminosas e UV, disponibilidade de água e nutrientes não incidem uniformemente sobre elementos da paisagem e constituem fatores determinantes no estabelecimento e persistência de espécies. Além disso, a grande heterogeneidade do relevo associada à instabilidade de condições pedológicas também são responsáveis pela formação de uma grande variedade de ambientes, favorecendo condições para o estabelecimento de altos valores de diversidade biológica (Mocochinski, 2006). Estudos científicos sobre a florística e a ecologia dos campos de altitude ainda são escassos e limitados a áreas com facilidade de acesso. A ausência de informações sobre este tipo vegetacional ainda impede a elaboração de uma política pública consistente voltada para a conservação deste ecossistema montanhoso. Além disso, a especificidade da flora implica um alto grau de vulnerabilidade a mudanças climáticas, sendo estas efeito indireto da ação do homem sobre paisagens naturais. Martinelli (2007) aponta como algumas das principais ameaças incidentes sobre os campos de altitude: a) a utilização de práticas agrícolas inadequadas em áreas adjacentes, o que proporciona erosão e instabilidade do solo; b) desmatamento de áreas tampão, facilitando a entrada de outros vetores de ameaça; c) baixa competitividade da flora local em relação aos invasores; d) a incidência de fogo; e) extração de espécies endêmicas e ameaçadas de alto valor ornamental; f) mineração; g) expansão urbana; e h) pastagens de animais em áreas de campos de altitude. 18 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO Objetivo Geral Avaliar o status de conservação de W. rayneri e propor ações voltadas para a recuperação da espécie de modo a subsidiar o estabelecimento de prioridades e a elaboração de protocolos de ações para a conservação de espécies ameaçadas. Objetivos Específicos 1. Conduzir uma reavaliação do status de conservação de Worsleya rayneri. 2. Descrever a estrutura genética das populações remanescentes da espécie e as principais ameaças às quais está exposta, a fim de sugerir áreas prioritárias para a conservação. 3. Propor ações e metas de conservação para a espécie. 4. Discutir a aplicabilidade dos resultados obtidos para W. rayneri na criação de protocolos nacionais de ações voltados para a conservação de espécies ameaçadas. 19 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS O primeiro capítulo aborda o uso da espacialidade para geração de dados quantitativos como ferramenta para a reavaliação do status de conservação de espécies ameaçadas de extinção e o desenvolvimento de estratégias para a conservação. A partir do mapeamento da distribuição real e comparações com a distribuição potencial de habitats favoráveis de Worsleya rayneri, analisadas sob o contexto da incidência de ameaças à persistência dos remanescentes populacionais, são extraídos dados necessários para estimativas quantitativas dos parâmetros estabelecidos por IUCN (1994). A análise espacial nos permite, ainda, determinar áreas consideradas fontes potencias de ameaça, facilitando o estabelecimento de estratégias para a conservação. A discussão aborda a aplicabilidade dos métodos adotados para a gestão de listas vermelhas (Davies et al, 1986) de espécies, a partir da qual são fundamentadas sugestões de metas e ações objetivas. O segundo capítulo estabelece áreas prioritárias para a conservação de W. rayneri com base em uma análise da estrutura genética dos remanescentes populacionais. A discussão, além de abordar a importância da análise da estrutura genética para a avaliação do status de conservação das espécies, mostra como este tipo de resultado pode ser usado para estabelecimento de diretrizes e protocolos de conservação in‐situ e ex‐situ. O terceiro capítulo consiste em um plano de recuperação para espécie vegetal W rayneri. É, portanto uma compilação dos principais resultados e observações consolidadas ao longo desta dissertação, onde são propostas dez ações objetivas voltadas para a conservação da espécie. 20 CAPÍTULO 1: Mapping spatial distribution of Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) remnants and threat analysis – a GIS based approach towards conservation of an endangered species. M.A. Moraes1,4, G. Martinelli1, R. Turner2, E. Tavares3 e R. Vergara3 1 – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 2 – USDA Forest Service. Alaska, USA. 3 – Instituto Militar de Engenharia 4 – Corresponding author: [email protected] Key words: Worsleya rayneri, endangered species, spatial distribution, high altitude grasslands, threat analysis. Abstract Efforts concerning in‐situ conservation of endangered species should focus on basic and simple approaches that could provide useful and generalizable data at an international scale and could be applied to series of endangered species in a short period of time. According to the literature, a common‐ground biomonitoring scheme has to consist of three main elements: recording the occurrence of a taxon in a target area, mapping their distribution in space, and assessing their conservation status. Comparisons between real and potential distribution can help to define the extent of damage to natural populations of threatened plant species and to quantify the effects of threats affecting persistence of remnants. The present study aims to help to develop a practical conservation approach setting guidelines based on the results obtained for Worsleya rayneri, a federally endangered plant species from southeast Brazil with restrict niche requirements. The occurrence of the studied 2 species is restricted to 21 sites that represent an area of occupancy of 60 km , all protected by the Brazilian national system of conservation units. The habitat suitability map generated by the ecological niche factor analyses (ENFA) conducted shows that potential habitat availability is not the factor limiting species distribution. The threat analyses indicate that real estate speculation, fire and buffering zone deforestation are causing major damage to remnants. Results regarding the conservation status, indicated by the threat incidence scores are critical and suggest that more than 50% of remnants are exposed to different kinds of threats affecting persistence of species on nature. The overall analyses of our results are alarming and indicate that population size is being reduced mainly due to the effects of direct anthropogenic factors. Protocol adopted provided excellent cost/benefit ratio, producing consistent information to support an in‐situ conservation plan. Nevertheless, its applicability to a series of species is restricted to groups with coinciding limited ranges of occurrence. 21 Introduction The analyses of endangered plant species` spatial distribution and threats are an important tool for conservation, generating valuable information regarding species potential distribution and niche requirements. Thus, identifying geographic priorities for conservation in a quantitative manner, and understanding how these priorities depend on the factors considered will help conservationists to allocate resources most efficiently in conserving biodiversity (Rikkets & Imhoff, 2003). Several ecological models are currently being applied to wildlife management issues, helping to produce the ecological knowledge needed to define conservation actions, policies, priority areas and strategies according to their consequences for biodiversity and in agreement with federal government conservation goals and the Global Strategies for Plant Conservation, established during the VI Convention of CBD Parties (COP VI, 2002). Meanwhile, practical approaches to monitoring biological diversity may vary considerably among countries and the accumulating data may not be generalizable at an international scale (Teder et al, 2007). Several conservation issues emerge from this matter. A federally endangered species, for example, not considered as such by the international community, may suffer anthropogenic pressure due to its commercial value in foreign countries. In this way, efforts concerning in‐situ conservation of endangered species might focus on basic and simple approaches that can provide useful and generalizable data. According to Teder et al (2007) a common‐ground biomonitoring scheme has to consist of three main elements: recording the occurrence of a taxon in a target area, mapping their distribution in space, and assessing their conservation status. Hartley and Kunin (2003) points that indicators such as rarity, rates of decline and population fragmentation are required to 22 access overall extinction risk, being attentive to the sensitivity of the concepts to different scales. Geographical Information System (GIS) based methods associated with remote sensing techniques can be very useful in determining precisely species distribution, assessing ecological impacts of different factors (e.g. fire, climate change, and inappropriate land use), estimating risk of alien invasions and developing endangered species management policies. Generally, these spatial explicit models are based on various hypotheses as to how environmental factors control the distribution of species and communities (Guisan and Zimmermann, 2000). The statistical relation between field observations and a set of environmental variables gives an important insight about key factors influencing spatial distribution and supports predictions regards potential distribution. Comparisons between real and potential distribution can help to define the extent of damage to natural populations of threatened plant species and to quantify the threats affecting persistence of remnants. When dealing with conservation of natural populations of threatened species, empirical evaluation models based on real field data cannot be expected to become available easily due to the lack of information on those species. In this way, Geographical Information Systems (GIS) can be used as a tool for producing the data needed for modeling on different time and spatial scales (Store and Jukimaki, 2003). Most of the times the ecological factors used on the models, believed to be the driving forces for species distribution and abundance, are generally sampled from digital maps and databases, since they are expensive and hard to be measured. Another important approach is the use of expert knowledge (Store and Jukimaki, 2003) in addition to the use of empirical information. Combining both sources may optimize the mechanistic profile of the model, allowing predictions based on real cause‐effect relationships (Levins, 1966). 23 The type of variables used on the model is directly related to the extent of the analyses, the quality and type of information available and to the goals of the modeling effort, influencing the degree of reality, precision and generality (Levins 1966) of the model. Usually, predictive vegetation models developed for mountainous terrain at relatively high spatial resolution or for species with restricted range distribution are based partially or completely on topographic factors (e.g. slope, aspect, altitude) (Brzeziecki et al. 1993; Brown, 1994; Guisan et al. 1998), while predictive large scale models rely basically on biophysical parameters, since topography has low predictive power on such coarse resolution (Lenihan and Neilson, 1993; Neilson 1995). Accordingly to Austin et al (1984), Austin (1985) and Austin and Smith (1989) ecological gradients can be divided in three categories: resource, direct and indirect gradients. The first one addresses matter and energy consumption. Direct gradients are environmental parameters that have physiological relevance for the studied species. Indirect gradients are variables that have no direct relevance for species performance, but usually replace a combination of different resources and direct gradients in a simple way showing a good correlation with observed species patterns (Guisan and Zimmermann, 2000). Nevertheless, population dynamics are a function not only of ecological processes but also genetic and demographic ones. Accordingly to Lynch and Gabriel (1990) and Lynch and Lande (1993) demographic criteria are probably far better indicators of the biological status of rare species than is information on the magnitude and distribution of genetic variation, whose connection to population viability has been theoretically but not empirically demonstrated. Scarano (2002) states that functional ecology of plants communities is often not a part of conservation initiatives, which are mostly based on numerical diversity, levels of community endemism and rates of habitat destruction. But that might reflect a method limitation since ecological relations are hard to quantify (Store and Jukimaki, 2003). Despite controversies 24 regard best approaches for establishing conservation strategies, different tools can be used complementarily. For endangered species all information available should be used. Especially for rare species that suffer double jeopardy due to low local population size and restricted ranges (Lawton 1993, Johnson 1998, Hartley & Kunin 2003). The degree of vulnerability imposes urgency and efficiency in generating useful data for conservationists and policy makers. Often, the lack of consistent information and time to obtain them represents a barrier to avoid endangered plant species` extinction. The aim of this study is to produce a set of valuable and consistent information about a federally endangered, rare species from the high altitude grasslands of southeast Brazil, using a practical methodology that could be implemented for series of species in a short period of time. This approach would help to extend the time window for defining appropriate in‐situ conservation strategies and taking actions. The main goal of the present work was to map Worsleya rayneri J.D. Hooker (Traub. & Moldenke) (Traub & Moldenke, 1949) Amaryllidaceae remnants populations and threat sources, using a GIS based method to quantify the necessary parameters for an updated assessment of Worsleya`s conservation status. This approach is important to help to develop a protocol for dealing with impoverishment of biodiverse countries, and locally important to include the species on the IUCN list of threatened species. Materials and Methods Study species Worsleya rayneri is an endangered species, narrow endemic to high altitude environements of the southeast of Brazil. This rupicolous herb is heliophilic and by clonal growth form vegetation islands on steep slopes of granite rock mountain formations, above 25 1,000 m a.s.l.. The plant is considered a paleo‐endemism (Martinelli, 1984), a representative of a rich flora that had a wider distribution on the past and is composed by various federally endangered species. Remnant populations of W. rayneri are suffering anthropogenic pressure as an effect of human occupation of the surroundings. Martinelli (1984) suggests a potential distribution for the species, but real distribution remained unknown until the present study. The ecological interactions that may influence W. rayneri distribution are also unknown. Study Area W. rayneri`s remnant populations occurrence is restricted to Petrópolis municipality, located north of Rio de Janeiro state, southeast Brazil, considered a biodiversity hotspot for conservation (Myers et al. 2000). The area is considered a part of Serra dos Órgãos and is federally protected by the APA Petrópolis, a conservation unit categorized as a sustainable use unit by the Brazilian National System of Conservation Units (Portuguese, SNUC). The site is in the centre of the Mosaico de Unidades de Conservação Norte Fluminense, a federal effort supported by various NGO`s and private companies to protect the Atlantic Rain Forest by the establishment of a conservation corridor composed by different conservation units. A mountainous terrain with scattered granite inselbergs having dramatic slopes, molded by the water, characterizes the topography. The high altitude grasslands, restricted to altitudes above 1,500 m. a.s.l and mountain tops are surrounded by dense Atlantic Forests that constitute a buffering zone that plays an important role on the maintenance of microclimatic conditions that support inselbergs vegetation communities and it`s ecological interactions (Martinelli, 1996). The region is seasonally swiped by massive fires started by local community or land owners, as the result of inappropriate land use. Araras district, core area of Worsleya`s distribution, is one of the most valuable regions of Serra dos Órgãos. In this way, real estate 26 speculation represents a serious threat for persistence of high altitude grasslands communities, due to deforestation of the natural buffering zones, water capture and the establishment of huge condos on the upper valleys. The climate is classified as tropical humid with two marked seasons. The dry season occurs from April to September, when temperatures can reach as low as ‐6o C at the higher areas at night. Rainfall varies from 1,500 mm to 2,600 mm each year. The wet season occurs from late November to March, when rain is abundant (MMA/IBAMA, 2007). Methods In order to determine the main ecological factors influencing Worsleya rayneri`s remnant populations persistence a basic conceptual model was built (Fig. 1). The relations expressed by this model are based on expert knowledge (Store and Jukimaki, 2003) and helped select which eco‐geographical variables would be used on the final statistical model, besides its use on establishing potential occurrence sites that narrowed our search range on field considerably. Based on previous information regarding Worsleya`s distribution (Martinelli, 1984; Martinelli 1996) and geographical information obtained from digital databases of Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), all potential sites for species occurrence were inferred, adding a total of 40 sites distributed along a sector of Serra dos Órgãos. Each site is represented by a granite inselberg reaching more than 1,000 m a.s.l.. All sites were visited and scanned for Worsleya`s occurrence with the use of binoculars lenses. The geographical coordinates of remnant populations were registered with the use of a GPS device. All information was plotted on an ARC GIS 9.1 environment. CBERS images were used to minimize bias effect due to field approximations. This technique was used to guarantee that the actual distribution of the species was registered avoiding wrong estimates of population parameters. 27 We estimated species density using 100 plots of 10m2. The information gathered was used to produce an updated digital distribution map for Worsleya`s remnant populations, which allowed us to estimate the species` extent of occurrence and population size. Fig. 1 – Basic conceptual model representing species` main ecological interactions. The Ecological Niche Factor Analyses (ENFA) conducted by the software BIOMAPPER 4.1 (Hirzel et al. 2002b) was used to generate a habitat suitability map that represents the potential distribution of suitable habitat for the species at the study site. This method was chosen due to its viability using presence only data sets (Hirzel et al, 2006; Hirzel et al. 2002a; Hirzel et al. 2001; Anderson et al, 2003). When working with endangered species the use of false absence data could give biased information regarding species` distribution and its history. A sample of 100 spots inside the polygons of occurrence were randomly selected and used as presence data set input. Another sample was generated and used after the analyses as a validation set. That technique was possible due to the species` clumped distribution caused by 28 clonal growth. All data was extracted from a 400 km2 area and numerically modeled by 10 GIS raster maps of 20 x 20 cells, representing 10 eco‐geographical variables, and formatted with the use of ARC GIS 9.1, IDRISI 2.0 and BIOMAPPER 4.1 (Hirzel et al. 2002b). These predictors are topographical, ecological or related to human activities, and were derived from a GIS database. The eco‐geographical variables (EGVs) selected after the analyses of the conceptual model were altitude, slope inclination, sun incidence, proximity to forested areas, proximity to high altitude grasslands, distance from urban areas, distance from perturbed areas and access (Fig.2). These EGVs indirectly represent microclimatic variation and threat incidence effect. Boolean variables were transformed into continuous ones by contextual distance analyses or by contextual circular analysis. The parameters used on this process were arbitrarily determined according to the specialist knowledge about EGV influence over the studied species. Each EGV used was formatted as a GIS layer where each grid unit had a score value attributed to it. All layers were superposed and compared with the occurrence information generated on the beginning of the analyses and the global distribution of variables. The software produced a potential distribution map that was tested with another set of occurrence data generated by random selections inside sites polygons of occurrence. The two resulting uncorrelated factors: marginality and specialization, generated during ENFA have important ecological meanings with implications for conservation (Hirzel, 1998). All the results were then compared in order to determine the extent of the damage caused by diverse threats directly and indirectly related to urbanization and inappropriate land use. There were considered ten different threats on the analyses: invasive exotic species, grazing, fire, access, real estate speculation, extractivism, mining, buffering zone deforestation, and recreational activities, indentified on field as incident threats. They were ranked in order to determine main sources and establish priorities regarding resources allocation and 29 conservation actions. The remnant populations were also ranked by an updated assessment of the conservation status and classified as critically exposed (CE), exposed (E), vulnerable (V) and preserved (P). a) altitude b) sun incidence c) slope inclination d) proximity e) proximity to high altitude grassland to forested areas f) access g) distance from perturbed areas h) distance urban areas Fig. 2 – Ecogeographic variables used on the model (EGVs). Warm colors represent high intensity of EGV. 30 Results Worsleya rayneri`s distribution is restricted to 21 fragmented occurrence sites along an extent of occurrence of 120 km2 (Fig. 3). The actual area of occupancy of remnant populations adds 60 km2. Based on population density estimates (M= 2.14; DP= 1.33) population size is 119,940 individuals (Tab. 1). The individuals display a clumped distribution forming vegetation islands over the granite slopes. The islands are dominated by Worsleya rayneri but composed by different plant families as Orchidaceae, Bromeliaceae, Veloziaceae, Gentianaceae and others. The surroundings are covered by a mat forming species as the Cyperaceae Trilepsis lhotzkiana, or mosses like Sphagnum sp. which traps water and humidity working as a favorable site for seed germination (Scarano, 2002; Poremsky et al, 1998). The populations are located on high altitude grassland vegetation between the open summit areas and the steep granite slopes. The ENFA conducted by Biommaper 4.1 software indicates a highly specific niche requirement for the species, spread through all the proposed conservation area. The habitat suitability map for W. rayneri (Fig. 4) shows that potential habitat availability is not the factor limiting species distribution. As expected, the suitable areas display a clumped distribution, restricted to the granite inselbergs covered by high altitude grasslands. The range of variation in the index values inside those areas was 0.40 – 0.85. According to the map, the inselbergs located at the northwest and at the southeast are the most suitable for W. rayneri. Nevertheless, the actual occurrence is restricted to the northwest region of the map. Also, the most suitable and the most clumped high index were located there. 31 Tab. 1 – Occurrence sites and remnant population status. Conservation Status Site Area 2 Size (km ) (ind.) Pop 1 Morro do Cuca 4.33 8,660 Critically Exposed Buffering zone deforestation Pop 2 Pedra Azul 1.1 2,200 Critically Exposed Fire Pop 3 Boi Coroado 8.78 17,560 Vulnerable Invasive species Pop 4 Pedra do Catito 5.22 10,440 Vulnerable Invasive species Pop 5 Pico das Almas 1.24 2,480 Vulnerable Invasive species Pop 6 Pico Maria Comprida 2.92 5,840 Exposed Fire Pop 7 João Grande 2.97 5,940 Exposed Fire Pop 8 Irmã Menor 1.06 2,120 Exposed Real Estate Speculation Pop 9 Main Threat Morro do Milho 1.18 2,360 Critically Exposed Fire Pop 10 Alto das Perobas 1.89 3,780 Critically Exposed Fire Pop 11 Morro do Pé da Serra 1.69 3,380 Critically Exposed Fire Pop 12 Morro do Capim Roxo 1.79 3,580 Exposed Fire Pop 13 Pirâmide 5.78 11,560 Exposed Real Estate Speculation Pop 14 Pedra do Oratório 5.68 11,360 Critically Exposed Invasive Species Pop 15 Morro da Pedreira 0.6 1,200 Critically Exposed Fire Pop 16 Pedra da Mombaça 1.18 2,360 Critically Exposed Invasive Species Pop 17 Pedra do Bozano 4.01 8,020 Exposed Buffering zone deforestation Pop 18 Boca da Rebio 2.96 5,920 Exposed Invasive Species Pop 19 Pedra do Retiro 3 6,000 Critically Exposed Fire Pop 20 Crista da Quinta do Lago 1.87 3,740 Exposed Invasive Species Pop 21 Ponta do Complicado 0.72 1,440 Exposed Invasive Species A spatial comparison between the real distribution and the potential distribution, illustrated by the habitat suitability map, indicates that current distribution is shorter than it could possibly be, once there are inselbergs inside the core area of current distribution without registered occurrence of the species. Most of them have history of massive fire incidents, according with data provided by the Instituto Estadual de Florestas (IEF‐ personal communication). Another interesting result is that 100 percent of the occurrence sites are located inside suitable areas, all of them, protected by the Brazilian National System of Conservation Units under the status of sustainable use unit. 32 Fig. 3 – Conservation area, remnant populations and land use. The threat analyses conducted indicated that real estate speculation, fire and buffering zone deforestation are causing major damage to remnants populations. Results regarding the conservation status of remnants populations, indicated by the threat incidence scores are alarming. Only 19 % (4 sites) of remnants can be considered well preserved. While 23.8 % (5 sites) were considered vulnerable, 23.8 % considered exposed and 33.3 % (7 sites) considered critically exposed. More than 50% of remnants are exposed to different kinds of threats affecting persistence of species on nature. Discussion Mapping W. rayneri spatial distribution and threat sources using a GIS environment helped to produce the information needed to conduct a consistent conservation reassessment, generating data in regard of the species extent of occurrence, area of occupancy, isolation patterns, landscape heterogeneity and land use. The information generated by the ecological modeling effort was used to search for possible trends on population dynamics by 33 investigating hypothetical future and past scenario of dispersal. Nevertheless results obtained from ecological models remains highly speculative, due to biased premises assumptions regarding species preferences and algorithms` limitations, and therefore, must be critically analyzed. Generally, extrapolations extracted from spatial analyses have to be carefully used on the conservation decision‐making process, in order to avoid subjectivity of specialist knowledge. However the combination of both GIS techniques and ecological modeling results provided valuable information about the effects of threats over population persistence and, therefore, supported the establishment of conservation goals for W. rayneri. All conservation actions proposed by this work are based on the results obtained by the threat assessment conducted. Therefore they rely on the assumption that the first step towards in‐situ conservation is to neutralize main threats incidence, avoiding negative effects over endangered species or vulnerable plant communities. General inappropriate land use can cause serious direct and indirect influence over landscape dynamics, altering the degree of connectivity between favorable patches of habitat. Proposal of direct managing actions were avoided due to the species high degree of vulnerability. The lack of information regarding population dynamics and reproductive biology represents a barrier for evaluation of possible consequences related to the implementation of managing actions that may jeopardize species persistence. The main conservation challenge of highly diverse countries relies on being able to trigger the conservation process of endangered species while assessing the conservation status of others. Managing threatened biodiversity demands knowledge, trained personnel and financial resources and therefore must be part of a conservation plan with objective goals and a pre defined methodology (Millsap et al. 1990), supported by previous studies on the subject. 34 The applicability of the protocol used to a series of endangered species is still limited. Species must be grouped according to distribution patterns, once the spatial scale will affect the variables and algorithms choices on the modeling effort. After that, the list must be ranked in order to prioritize species with restricted range of occurrence. Most of the times, they are more vulnerable and subjected to urgency. Endemics must be treated independently, in order to account specific niche requirements on the analysis, avoiding by that wrong assumptions about species conservation status. Worsleya rayneri remnant populations are suffering direct and indirect effects of urbanization and inappropriate land use. The species meets criteria B and C of IUCN protocol (IUCN, 2001; IUCN 1994), therefore may be included on the official IUCN list of threatened plant species, under the status of critically endangered (CE). Fig. 3 – Habitat Suitability Map generated by BIOMAPPER software. Warm colors represent suitable areas. 35 According to our results the population is subjected to a suspected size reduction (Criteria A) of 25% over each five years, especially due to the effects of massive fires, incidents during the dry season. The historical fire incidence data provided by IEF supports this assumption and is alarming. Anthropogenic occupation of surroundings and limited resources for invigilation make fire incidence a constant threat of unpredicted consequences for persistence of threatened species from high altitude grasslands. The open areas of grasslands and inselbergs vegetation act as a corridor facilitating the passage of fire throughout the mountain ranges. The strong winds on the upper areas guarantee fire propagation between sites, making fire events extremely hard to control fire events or it’s effects too difficult to mitigate. Despite the fact that there are no predictions regarding fire incidence over mountain tops on the area, a casual increase in that index would have dramatic effects over Worsleya`s population, constituting an important degree of vulnerability and uncertainty for species persistence. Regarding the geographic range (Criteria B), species show restricted extent of occurrence and area of occupancy. Occurrence is distributed along Serra da Maria Comprida, Serra de Santa Catarina, Pedra do Retiro and Crista do Lago, local names for this sector of Serra dos Órgãos. The extent of occurrence adds up to 120 km2, but is severely fragmented due to species` restricted niche requirements. Another important issue that must be addressed is the continuing decline of the extent of occurrence. There are two populations that are under critical threat of extinction. They were withdrawn from analyses in order to estimate extent of occurrence in case of local extinction of those populations. The total of 95 km2 obtained would place Worsleya rayneri under critically endangered (CE) status, accordingly to IUCN protocol. In this way, despite its actual extent of occurrence we suggest that the species must be included under IUCN CE status. Considering only area of occupancy (60 km2), the species would be included under endangered (E) status. But again, this position 36 would not account for short‐term effects of declining populations. Field observations show that the species has good resistance and resilience to fire incidence, nevertheless this kind of disturbance has serious effects, increasing mortality rates. In this way, a significantly reduction on area of occupancy is expected for the next 10 years. The number of mature individuals (Criteria C) was estimated but does not reflect the actual number of individuals contributing with seeds for next generations. Results obtained for species floral phenology (M.A. Moraes unpublished) indicates that only 2% of each subpopulation reaches fructification stage and contributes with seeds for species persistence. The low reproductive success seems to be attributed to a possible absence of specific pollinators. Low outcrossing levels can result on inbreeding depression, with serious consequences for reproductive success (Brook et al. 2002; Bürger 1999). But further conclusions regarding reproductive success must be funded by studies of the species reproductive biology and genetic structure. Nevertheless, our results are enough to support our position to consider the species under the status of CE. References Anderson, R. P., Lew, D. and Peterson, A.T. (2003) Evaluating predictive models of species` distributions: criteria for selecting optimal models. Ecol. Mod. 162: 211‐232. Austin, M.P.; Cunningham, R.B., Fleming, P.M. 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Worsleya rayneri is a narrow endemic species, restricted to high altitude grasslands of southeast Brazil and occurs exclusively in rocky outcrops. Tropical inselberg plant communities of this region are known for high rates of endemism and threatened species richness. All W. rayneri remnant populations are protected by the Brazilian conservation units system. However, inselberg plant communities are constantly exposed to diverse threats affecting species persistence on nature. This work aimed to test the hypothesis that most of the genetic variation of the species is expressed among populations, and to generate basic information in order to establish ex‐ situ conservation priorities. We employed population genetic analyses and utilized dominant intersimple sequence repeat (ISSR) markers. The ten primers used generated 90 polymorphic bands. The technique demonstrated the presence of a unique ISSR profile for each individual sampled. Analysis of molecular variance indicated that 34.61% (FST=0.346) of the genetic variation was expressed among populations, whilst 65.39% was expressed within population (p < 0.01). Estimates of Shannon`s Diversity Index provided similar results. Our initial hypothesis was rejected by the analysis. High rates of within population genetic variability were unexpected due to the small population size of remnants, species` clonal habit and apparently low sexual reproduction success. These results are valuable for the establishment of ex‐situ priorities for species` conservation. 41 Introduction The distribution of genetic variation within and among remnant population of threatened species is of great relevance for defining conservation priorities and actions. Considered by many authors as representing the evolutionary potential of species (e.g. Ellstrand & Elam, 1993; Frankham, 2005), genetic variation reflects the influence of demographic and evolutionary processes along the history of determined taxon (Gonzales‐ Astorga & Castillo‐Campos, 2004). Generally, geographical distribution and genetic structuring of populations and species are influenced not only by contemporary forces, such as gene flow, genetic drift and natural selection, but also by historical parameters, such as climatic shifts that influence range expansion, contraction and fragmentation, refugial isolation, and (re)colonization (Krauss et al, 2006). This is particularly important in plant species with restricted range of occurrence (Gitzendanner and Soltis, 2000) and small population sizes exposed to these forces or events (Barrett and Kohn 1991; Frankham, 1995). Therefore, it is a general agreement that genetic variation of small isolated populations is expected to be lower in comparison to that of larger populations (e.g. Tansley & Brown 2000). Despite the fact that evolutionary processes have already been substantially altered through the unprecedented changes to biodiversity and ecosystem dynamics as a result of large growing human population activities (Mace and Purvis, 2008), conserving genetic diversity is a way of guaranteeing that future environmental fluctuations influenced by anthropogenic actions will not extinguish species capability to persist on nature (Ellstrand and Elan, 1993). Many times, species extinction rates mask the magnitude of biodiversity depletion due to underestimation of loss of local population of wild species and its effects on gene flow between remnants. Other times the extinction of ecological interactions that supports species persistence may lead to long term inbreeding depression, with serious consequences for 42 conservation of threatened species. Indistinguishably, in a fast changing world we must be capable of setting conservation priorities based on consistent quantitative information, and the genetic structure of wild remnants of threatened species may be a good indicator. Several molecular markers have been used for determining the genetic structure of endangered plant species. Intersimple sequence repeat (ISSR) dominant markers are recommended by many researchers (e.g. Deshpande et al. 2001) as they are found to be highly sensitive, reproducible and cost‐effective (Yang et al. 1996; Nagoka & Ogihara 1997), and are reported to have advantages over other markers such as RAPD and RFLP (Salimath et al. 1995; Parsons et al. 1997). Accordingly to Wolfe et al. (1998), they have potential for revealing patterns among populations of a single species by detecting very low levels of genetic diversity. Worsleya rayneri is an endemic Brazilian Amaryllidaceae, restricted to high altitude grasslands of the state of Rio de Janeiro. Martinelli (1984) describes the species as an epibiotic endemism, representing a relict flora composed by high rates of endemism and threatened species` richness, widely distributed in the past. After cladistic analysis of 48 Amaryllidaceae genera, Meerow et al. (1999) suggested that Worsleya composes a primitive independent lineage inside the American clade of the family, mainly due to its peculiar characteristics and geographic isolated distribution pattern. All the occurrence sites of the species are federally protected by the Brazilian national system of conservation units. Whilst, the species suffers with constant incidence of threats as inappropriate land use, deforestation of buffering zones, fire incidence, extractivism, urban expansion and others (Martinelli, 2007; Martinelli, 1996). The main purpose of the present work was to test the hypothesis that most of the genetic variation registered for W. rayneri is expressed on higher hierarchical levels of diversity partitioning and not within populations. The information generated by the ISSR markers and 43 genetic analyses is intended to provide useful information applicable on developing conservation strategies and helping to support the decision making process as a way of ensuring that evolutionary considerations become incorporated within endangered species recovery plans (Ashley et al 2003). Materials and Methods Study Sites and Sampling Sampling was carried out on 7 of the 21 occurrence sites (c. 30%), within W. rayneri`s area of occupancy. Each site is located on a different mountain of the region. These ancient granite rock outcrops or inselbergs represent a classical example for terrestrial islands within a ‘matrix’ of tropical rainforest, harboring a highly specialized fauna and flora (Barbará et al. 2008). Sampling was conducted on a straight horizontal line, perpendicular to the slope, accompanying the altitude line. Accessions of W. rayneri were obtained respecting a 10 meters distance between individuals. At least 15 samples were obtained in each site. The sampling lines were all between 1300 m/a.s.l. and 1800m/a.s.l., avoiding the boundaries of altitude scores distribution. DNA isolation Leaf tissue collected on the field was kept in paper tea bags and maintained inside a plastic bag containing blue silica gel with humidity indicator to retain moisture. The tissue was ground to a fine powder using a Retsch MM301. DNA was extracted using the CTAB method of Doyle & Doyle (1987). All DNA samples were adjusted to a 12 ng/ µL concentration. ISSR Primers and Analysis A set of 20 primers was procured on the Molecular Biology Laboratory of Research Institute of Rio de Janeiro Botanic Garden (JBRJ). They were used for screening a few 44 accessions. There were selected 10 primers that generated clear band patterns with the sample group as follows: 811, 834, 835, 836, 840, 842, 844, 848, 880 and 881. Amplification of DNA was performed in 10 mM Tris‐HCl (pH 8.5), 50 mM KCl, 1.5 mM MgCl2, 0,01% gelatin, 14,65 µL Milliq H2O, 10 µM dNTPs, 10 µM primer and 5 U/µL Taq DNA polymerase in a 20 µL reaction using Gene Amp PCR System 9700 from PE Applied Biosystems for 42 cycles. We used an ISSR touchdown program (adapted from), which varies 0,5oC on the annealing temperature between each cycle. The first 30 cycles were proceeded with an initial denaturation at 94oC for 5 min, followed by cycles comprising 30 s denaturation at 94oC, 45 s annealing at 54oC and 2 min extension at 72oC. The remaining 12 cycles were proceeded along 30 s denaturation at 94oC, 45 s annealing at 48oC and 2 min extension at 72oC and a 5 min extensions at the end of 42 cycles. Amplification products were eletrophoresed on 2% agarose gel using 0,5x TAE buffer, pH 8.0 and visualized with phenol bromide staining. Data Analysis Amplification products were scored manually and each band was considered an independent locus, transformed into binary character matrices (1 for presence, 0 for absence). The software PopGene was utilized to generate dendograms using cluster analysis based on the unweighted pair group method with arithmetic mean (UPGMA). The stability of the clusters was tested by 10,000 bootstraps re‐samplings using the software. To identify possible clones on genetic assessments sampled the software PopGene (Yeh & Boyle, 1997) was also employed by generating a Dice similarity coefficient between all pairs of individuals. This index was chosen due to the higher weight attributed to the presence of a polymorphic band in both individuals. Dice coefficient is given by the equation Sij = 2a/2a + b + c, where a is the number of bands present in both individuals, b is the number of bands 45 present only in individual i and c is the number of bands present only in individual j. The individuals plants with Sij = 1 were considered clones. In order to estimate genetic variance components and partitioning of the variation among populations and within populations it was used the Analysis of Molecular Variance (AMOVA) (Excoffier et al. 1992) conducted by Arlequin 3.1 (Schneider et al. 2000). Variance components were inferred from metric distances among ISSR amplified fragments, estimated by E – n [1 – 2nxy/2n], where nxy is the number of bands shared by the individuals x and y, and n is the total number of polymorphic markers (Huff et al. 1993). Significance level for variance component estimates were calculated by non‐parametric permutation procedures, determining the probability of obtaining a more extreme variance component than the value observed by chance alone (1,000 permutations). In order to corroborate results obtained by Arlequin 3.1 analysis, we also submitted ISSR fragments to AFLP Surv analysis (Vekemans, 2002). The significance test of AFLP Surv results were calculated by 1,000 permutations. An additional measure of genetic variation partitioning was obtained by the Shannon`s Diversity Index (Lewontin, 1972): H = ― ∑ Pi log2 Pi, where Pi is the frequency of a ISSR band. The index was calculated for each locus (H0). The average Shannon`s index for each population (Hpop) was obtained by averaging H0 for all loci within population. The average of all markers within a species, regardless of the population was designated Hsp. The diversity component expressed by the among population level was calculated by (Hsp ‐ Hpop)/ Hsp. Results Forty three of the original 113 individuals failed to amplify with at least one pair of primers and therefore were excluded from the analysis. In the 67 remaining individuals sampled, the ten primers used for amplification generated 166 unambiguous, scorable fragments. Out of a total of 166 bands scored, 128 (77.1%) were usable but only 90 (54.2%) were polymorphic. Absolute and relative values of polymorphic loci estimated for each 46 population are described on Tab. 1. Each individual presented a unique ISSR profile, indicating that no clones were sampled. Analysis of molecular variance (Tab. 1) showed that most of the genetic variation is expressed within populations among individuals (65.39%) and not among populations (34.61%), as expected (p < 0.001). The Fixation Index (FST) of 0.3461 suggests that not only remnants are genetically different, but populations are diverging. Despite small bias, AFLP Surv analysis corroborated the results obtained by the software Arlequin 3.1. The FST obtained by Lynch & Milligan (1994) method, proceeded by AFLP Surv, was 0.22 (p < 0.001). Either way, most of genetic variation is expressed within populations. Estimates of Shannon Information diversity index per loci were grouped per populations and are displayed in Fig. 1. Kruskal‐Wallis test results indicate that diversity indexes (H0) obtained for each population are significantly different (p < 0.0001). This quantitative evaluation indicates that Morro do Cuca is the most diverse, followed by Alto das Perobas, Contraforte da Maria Comprida, Pé da Serra and Morro do Milho inselbergs. However, differences may be attributed to differences in collecting effort (Fig. 2). A comparison among populations accounting percentage of polymorphic loci per populations indicates that Morro do Cuca`s remnant population is the most diverse, followed by Pé da Serra and Contraforte da Maria Comprida. But again, Pé da Serra high diversity rates may be attributed to differences in collecting effort. Nei's original measures of genetic identity and distance are listed on Tab. 2, but may be better visualized on the dendograms of Fig. 3. Results obtained by distance of pairwise differences using population`s FST (Arlequim software) are slightly different (Fig. 4). Nevertheless, both trees did not group populations accordingly to geographical distribution (Fig. 5). 47 Tab.1: AMOVA results for W. rayneri`s ISSR amplifications. Source of Variation d.f. Sum of Squares Variance Components Variation Among populations 4 632.217 10.78831 Va 34.61% Within populations 62 1263.709 20.38240 Vb 65.39% Total 66 1895.925 31.17071 Fixation Index - FST:0.3461 Fig. 1. Box plot with Shannon`s diversity Index by loci (H0) per population. Dots represent max and min values; lines represent the median; crosses represent the mean value. Fig.2: Collecting effort for assessing genetic diversity (polymorphic loci) of W. rayneri. 48 Tab. 2: Nei's original measures of genetic identity (above diagonal) and genetic distance (below diagonal), estimated by Popgene software ((MM= Morro do Milho; AP= Alto das Perobas; CMC= Contraforte da Maria Comprida; MC= Morro do Cuca; PS= Pé da Serra). MC CMC OS AP MM MC *** 0.8259 0.8008 0.8277 0.7516 CMC 0.1913 *** 0.8517 0.861 0.8513 PS 0.2221 0.1605 *** 0.8775 0.8284 AP 0.1891 0.1496 0.1306 *** 0.8535 MM 0.2855 0.161 0.1882 0.1584 *** Fig. 3. Unrooted similarity tree using distance of pairwise differences (FST) generated by Arlequim software (MM= Morro do Milho; AP= Alto das Perobas; CMC= Contraforte da Maria Comprida; MC= Morro do Cuca; PS= Pé da Serra). 49 Fig. 4. Dendrogram based on Nei's (1978) genetic distance using UPGMA method modified from neighbor procedure of PHYLIP Version 3.5, generated by Popgene software (AP=Alto das Perobas; MC=Morro do Cuca; PS=Pé da Serra; CMC=Contraforte da Maria Comprida; MM=Morro do Milho). Discussion The initial hypothesis that most of the variation would be expressed among populations was rejected by our analyses. Surprisingly, we obtained a high rate of within population variation. These results were completely unexpected due to the small population size of remnants, species clonal habit and apparently low sexual reproduction success. Moreover, endemic species tend to show lower genetic variation within populations and higher divergence among populations (Gomes et al. 2004). Nevertheless, previous studies conducted using RAPD markers reported similar patterns for clonal plants (Fischer et al. 2000; Cavallari, et al. 2006). Sarthou et al. (2001) suggests that high rates of genetic diversity registered within populations of Pitcairnia geyskesii (Bromeliaceae) appears as a consequence of the association of genet longevity induced by clonal replication and recruitment of new genets produced by sexual reproduction. Sampling design can also have influenced the high within population diversity estimated. The populations are located on steep rocky slopes, constantly under the influence of gravity. In this way, vegetative and reproductive propagules are normally dispersed upward or downward and hardly sideward. Considering that sampling was conducted on a straight horizontal line, perpendicular to the slope, accompanying the altitude line, the absence of 50 clones is acceptable. Probably, a vertical sampling design would generate a completely different local genetic structure, but further research is needed to prove this hypothesis. The population dynamics of many clonal plants is often dominated by birth and death of ramets produced by vegetative reproduction, whereas the recruitment of new seedlings of sexual origin are rare or sporadic, restricted to “narrow windows of opportunity” during events of favorable conditions (Jelinski and Cheliak, 1992). Accordingly to Bengtsson (2003), a small number of sexual individuals per generation are sufficient to make an apparently asexual population highly genotypically variable. In this way, asexuality would act as an effective “memory” of its early genetic history, maintaining the genetic structure of a determined species for long periods of time. Moreover, asexually structured populations are less subjected to the effects of genetic drift, contributing for the maintenance of a local genetic diversity (Ayres and Ryan, 199; Fischer et al. 2000). In spite of the geographic proximity among occurrence sites, the high FST (0,357) obtained indicate that populations are isolated and diverging from each other. The absence of a biotic vector (field observations) capable of guaranteeing the genetic flow among populations can explain this pattern. Hamrick and Godt (1989) suggest that outcrossing species usually have between 10 and 20% of total variance expressed among populations. Similar results were obtained by other studies (Cavallari et al. 2006; Bekessy et al. 2002). Accordingly to Nybom (2004) diverse studies indicates that FST values between 0.30 and 0.40 (0.05 > p > 0.01) are normally registered for species with mixed breeding system or selfing, presenting attached or gravity seed dispersal. Nevertheless, it is important to highlight that despite our expectations W. rayneri remnants are not subjected to an inbreeding process, which could represent a reduced evolutionary potential for the species, affecting long term persistence. The high genetic 51 variation registered within populations is more likely to occur on sexually active populations. As we did not register the presence of floral visitors on field, species should present an effective reproductive mechanism to prevent selfing and the process of genetic impoverishment of populations throughout evolutionary time. Hence, the genetic variation and structure observed in this study probably still reflects historical variation (Angelone et al. 2007), and time elapsed has been too short to leave detectable footprints in genetic diversity structure (Hoebee et al. 2006). But, further studies regarding species reproductive biology are needed in order to elucidate such questions. Our results are in agreement with other few available genetic studies of inselberg species, and indicate that inselbergs indeed behave like islands in terms of their effects on patterns of variability and gene flow in flowering plants (Barbará et al. 2009; Barbará et al. 2008; Barbará et al. 2007; Sarthou et al. 2001). These outcrops are ecologically separated from the surrounding rainforest by steep gradients in irradiation, temperature, moisture and nutrient availability (Porembsky and Barthlott, 2000). Therefore, isolation among populations is severe generating a genetic structure pattern disconnected from their geographical distribution. The low rates of sexual reproductive success expressed by seed production (M.A. Moraes in preparation) and seedlings recruitment (field observation) may represent a challenge for ex‐situ conservation strategies. Nevertheless, W. rayneri seeds presented high germination rates on laboratory (M.A. Moraes in preparation). Since any chance of gene flow among genets seem to be indispensable in order to preserve the estimated genetic structure, the inclusion and maintenance of the studied species on seed banks might have negative effects over natural populations along followed generations. One possible alternative is to base germplasm banks on live tissue conservation, thru in vitro micro propagation (Sarasan et al. 2006), once leaf tissue extraction does not seem to harm or affect individual survival. 52 Either way, in‐situ conservation strategies must be prioritized. And to maintain population viability we must be able to preserve all functional aspects of the system that guarantee species survival on each site. For that reason the conservation of W. rayneri`s unique habitat is indispensable. The lack of structural and functional studies conducted for high altitude grasslands represent a barrier for the development of consistent conservation policies. Concluding remarks Assuming that ISSR variation assessed is representative of species genetic structure, ex‐situ strategies proposed for W. rayneri must avoid extraction of individuals from natural populations. Despite the differences of genetic diversity registered for each population all remnants must be preserved in order to maintain species genetic structure. Further studies regarding germplasm banks viability (MA Moraes in preparation) and species reproductive biology are still needed in order to define the most appropriate ex‐situ conservation strategies for W. rayneri. Nevertheless, the use of molecular markers in order to describe species genetic structure provided valuable information, allowing a consistent conservation strategy design for W. rayneri. Results obtained by the present work were unexpected and have serious implications for species conservation, highlighting the importance of genetic structure analysis on establishing conservation strategies. References Angelone S., Hilfiker K., Holderegger, R., Bergamini A. and Hoebee, E. (2007) Regional population dynamics define the local genetic structure in Sorbus torminalis. Mol. Ecol. 16: 1291‐1301. 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Bot. 129: 157. 57 CAPÍTULO 3 ‐ Worsleya rayneri (J.D.Hooker) Traub. & Moldenke ‐ Plano de Recuperação para uma espécie da flora Brasileira ameaçada de extinção. 58 Introdução No âmbito da Convenção de Diversidade Biológica (CDB), o documento Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC), aprovado na Decisão VI/9 da Conferência das Partes (COP) – Países Signatários da CDB, em 19 de abril de 2002 em Haia, estabelece metas para a conservação da flora mundial através de uma estrutura inovadora para ações no nível global, regional, nacional e local. O Brasil é um dos países signatários e, portanto, possui compromissos estabelecidos, expressos sob a forma de metas orientadas para serem atingidas até 2010. Entretanto, ainda não fomos capazes de consolidar uma listagem de flora nacional, muito menos avaliar o status de conservação destas espécies vegetais. A inclusão de um espécie vegetal em uma lista vermelha (Davis et al. 1986) deve ser considerada apenas o primeiro passo em direção à sua conservação. Esta etapa deve estar atrelada à adoção de um sistema de categorização baseado em critérios pré‐determinados que atendam os requisitos biológicos da espécie, mas também à realidade sócio‐política da região. No entanto, considerar uma espécie como ameaçada de extinção não garante a ela maiores chances de sobrevivência na natureza. A elaboração de planos de recuperação para espécies ameaçadas se faz, portanto, imprescindível. Este deve ser composto por uma análise das informações existentes sobre a biologia e ecologia da espécie, assim como sobre o contexto sócio‐político, além de ações propostas com o intuito de minimizar os efeitos negativos da incidência de ameaças ou aumentar as chances de sobrevivência da espécie. Dessa forma, o presente documento pode ser adotado como um modelo básico a ser utilizado para outras espécies vegetais, e serve como contribuição às autoridades e agências para a conservação. O objetivo principal deste plano de recuperação é propor ações que aumentem as chances de sobrevivência de W. rayneri na natureza. 59 1. Status de Conservação Worsleya rayneri está, desde 1983, incluída na Lista Oficial Brasileira de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (IBDF, 1980; IBAMA, 1992; Martinelli, 1984; MMA 2008) sob a categoria Criticamente em Perigo (CR). A espécie também constava da lista de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN), até 1994. Porém, com a reformulação dos critérios de inclusão de espécies implementada em 1994 e revista em 1999, a espécie foi retirada da lista da IUCN, devido à ausência de dados quantitativos que justificassem sua inclusão. O presente estudo reavaliou o status de conservação da espécie com base em dados quantitativos e considerou a espécie como Criticamente Ameaçada, de acordo com os critérios estabelecidos por IUCN. 2. Descrição e Taxonomia 2.1 Geral Worsleya rayneri (J.D. Hooker) Traub & Moldenke (Amaryllidaceae) (Traub & Moldenke, 1949), comumente conhecida como “Imperatriz do Brasil” ou “Rabo‐de‐galo”, é uma espécie endêmica restrita a uma região específica dos campos de altitude da Serra dos Órgãos e representa uma flora relictual, amplamente distribuída no passado, com altas taxas de endemismo e riqueza de espécies ameaçadas (Martinelli, 1996). A espécie é rupícula, heliófila e através de crescimento clonal, forma ilhas de vegetação que se estabelecem nas encostas verticais rochosas de formações graníticas do município de Petrópolis, RJ. 2.2 Descrição Taxonômica Segundo Martinelli (1984), a espécie caracteriza‐se pela presença de bulbo alongado com revestimento escamoso de coloração castanho claro, podendo atingir até 1,5 m de 60 comprimento. Sua base, logo acima das raízes, possui de 13 a 15 cm de diâmetro, afilando‐se em direção ao ápice. Deste, partem folhas sub‐carnosas de coloração verde e extremidades vinosas, todas voltadas para o mesmo lado, acompanhando a declividade das encostas, e atingindo até 1 m de comprimento. O pedúnculo é carnoso e achatado, podendo atingir quase 60 cm de comprimento, e contém quatro espatas. A inflorescência é do tipo umbela e pode comportar de 4 a 14 flores zigomorfas, vistosas, de coloração lilás. O fruto é capsular contendo três valvas com sementes planas, subarredondadas e nigriscentes. A espécie apresenta crescimento clonal por brotamento, formando ilhas de vegetação sobre rocha. 2.3 Classificação Taxonômica Em 1863 a espécie foi descrita por Duchartre, com o nome de Amaryllis gigantea, com base em exemplares coletados por Binot, em 1860. Após diversas classificações, foi estabelecida como gênero monotípico, considerado um dos mais primitivos da família Amaryllidaceae, inicialmente como Worsleya procera (Duchartre) Traub. e mais tarde como W. rayneri. Mesmo após análises cladísticas de seqüências de DNA para 48 gêneros de Amaryllidaceae, Meerow et al (1999) teve dificuldades para posicionar Worsleya neste grupo taxonômico. Suas características peculiares (e.g. grande quantidade de mucilagem; bulbo aéreo; número de espatas igual a quatro; desprovida de paraperigônio), associadas ao seu isolamento geográfico, sugerem ao táxon a constituição de uma linhagem evolutiva independente dentro de Amaryllidaceae (Traub. & Moldenke, 1949; Martinelli, 1984). 3. Habitat 3.1 Topografia, Solo e Microhabitat A região de ocorrência da espécie W. rayneri se restringe às Escarpas Serranas do sudeste Brasileiro (Serra do Mar), unidade morfoestrutural do cinturão Orogênico do Atlântico, que se 61 estende de Santa Catarina até o norte da Bahia, apresentando importantes feições geotectônicas, constituído de um conjunto diversificado de rochas graníticas e gnassíticas, submetidas a diversos eventos orogenéticos ao longo do Pré‐Cambriano (Almeida et al., 1976, Heilbron et al., 1995). A Serra do Mar compreende um conjunto de escarpas montanhosas festonadas em direção oeste‐sudoeste a leste‐nordeste do estado, resultantes do soerguimento e basculamento de blocos. Essas escarpas apresentam desnivelamentos extremamente elevados, com vertentes muito íngremes e rochosas. Suas configurações morfológicas são diversificadas, variando conforme a ação dos processos tectônicos e erosivos. Dentro da Unidade Morfoescultural das Escarpas Serranas, a Unidade Geomorfológica escarpas das Serras do Couto e dos Órgãos são as únicas abrangidas pela extensão de ocorrência da espécie. Essa unidade geomorfológica consiste numa muralha montanhosa, uma barreira orográfica abrupta, que, em determinados locais, é coberta apenas por solos muito rasos, pouco consolidados (Tab. 1), nos quais a vegetação é dominada por campos de altitude, em alturas de até 2.000 m/s.n.m.. A região oriental dessa unidade é mais elevada, comportando altitudes de 1.400 a 2.000m. Essa unidade possui sua cobertura florestal bastante preservada, especialmente pelas unidades de conservação nela existentes. No entanto, ocorrem movimentos de massa nas escarpas, mesmo florestadas, o que representa uma evolução geomorfológica natural dessa unidade de relevo. As populações de W. rayneri ocorrem nas testas destas formações graníticas, logo abaixo da vegetação aberta do cume. O ambiente é caracterizado pela alta exposição à luz do sol, constante fluxo de água e minerais provenientes da vegetação adjacente através de escoamento superficial pelas encostas íngremes, temperaturas extremas, exposição a fortes ventos. 62 3.2 Vegetação A ocorrência de Worsleya rayneri é restrita aos campos de altitude, formação vegetacional marginal integrante do complexo Atlântico costeiro (Scarano, 2002; Martinelli, 1996, 2007; Safford & Martinelli, 1998). Segundo Safford (1999a), os campos de altitude (Ferri, 1980) são formações vegetacionais predominantemente campestres, restritas aos topos das montanhas do sudeste brasileiro e se estende de Santa Catarina até o sul do estado do Espírito Santo. Apesar de a flora ser diversa e caracterizada por um alto grau de endemismo (Martinelli, 2007), a vegetação apresenta similaridades florísticas com outras formações vegetacionais de montanha, na cordilheira dos Andes e da América Central (Safford, 1999b;), expressas principalmente por casos de disjunção de espécies (Ribeiro 2002). A composição florística dos campos de altitude, apesar da escassez de dados quantitativos publicados, surpreende devido ao elevado número de espécies em relação à disponibilidade de habitats. A florística varia entre áreas, devido à influência de diferentes formações vegetacionais na riqueza de espécies, porém Asteraceae, Poaceae, Cyperaceae, Melastomataceae e Ericaceae representam as famílias botânicas com maior número de espécies. Bromeliaceae, Orchidaceae, Veloziaceae e Eriocualaceae são importantes elementos na estruturação da vegetação dos afloramentos rochosos inseridos nos campos de altitude. 3.3 Clima O planalto de serras do Leste‐Sudeste se caracteriza por serras acidentadas e com picos acima de 2000 metros. As elevadas altitudes proporcionam uma redução das temperaturas médias, amenizando o clima tropical úmido, característico do Estado do Rio de Janeiro. Segundo os estudos de Zoneamento Ambiental da APA Petrópolis (Ecotema, 2003), verifica‐se que, especificamente sobre a Serra do Mar, o clima tropical de altitude é predominante. O 63 relevo, extremamente acidentado, com a ocorrência de grandes desvios de altitude, funciona como um paredão orográfico às massas do litoral fluminense. Dessa forma, massas de ar quente‐úmidas são bloqueadas, concentradas e obrigadas a ascender a grandes altitudes, muitas vezes maiores do que 2000 m./s.n.m.. Sendo assim, o clima da APA é caracterizado por uma transição entre os climas quentes das latitudes baixas e o mesotérmico do tipo temperado das latitudes médias. Nessa situação, o contato das massas de ar litorâneas com o ar frio da região alto‐serrana desencadeia chuvas e tempestades, constantes sobre a Serra do Mar. Essas chuvas no período dos meses de verão são muito concentradas e implicam, muitas vezes, em situações de calamidade pública na região de Petrópolis. De acordo com Köppen (1900) o clima da região é do tipo Cwb, correspondente ao clima mesotérmico com chuvas de verão e verões brandos, ou também definido como tropical de altitude com verões frescos e chuvas típicas da estação, sendo que nos pontos mais altos a estação seca é pouco pronunciada. 4. Biologia e Ecologia 4.1 Biologia Reprodutiva A floração de W. rayneri ocorre durante o término da época chuvosa (verão), que se estende de janeiro a março. Apesar da ausência de estudos específicos sobre a biologia reprodutiva da espécie, os estudos conduzidos sobre a espécie viabilizaram uma série de observações de campo que permitem uma caracterização geral de aspectos reprodutivos de W. rayneri. O pico de floração ocorre durante o mês de fevereiro, entretanto, foram observadas variações ao longo dos anos de estudo que parecem relacionadas ao volume de chuvas dos meses anteriores. A floração das populações ocorre de forma sincrônica. A emissão das 64 inflorescências começa em meados de janeiro. Já a abertura das primeiras flores se dá na última semana de janeiro. A espécie apresenta uma estratégia de floração descrita por Gentry (1974) como ‘steady state’, na qual a inflorescência vai emitindo botões florais e se mantendo permanentemente em estado reprodutivo durante quase todo o período de floração. Cada inflorescência possui de 4 a 14 flores, mas dificilmente encontramos em campo mais de 7 flores abertas simultaneamente. Cada flor parece durar de 48 a 72 horas, entretanto a viabilidade das anteras e estigma apresenta duração menor. Após 10 horas de observação, em diferentes horários do dia e da noite, não registramos a visita de nenhum polinizador. Martinelli (1984) também não foi capaz de registrar a presença de polinizadores para a espécie, o que nos leva à suspeita de que o polinizador possa já estar extinto. Entretanto, serão necessários estudos específicos para conclusões mais consistentes. Apesar da ausência de visitantes florais que pudessem ser classificados como polinizadores, pequenos insetos generalistas visitam a flor, na sua maioria em busca dos grãos de pólen. Estes, quando viáveis, apresentam coloração amarelo intensa e forte odor. O período de frutificação ocorre de abril a outubro, sendo a abertura e dispersão das sementes concentradas nos dois últimos meses (setembro e outubro). A dispersão das sementes parece se dever principalmente ao efeito dos fortes ventos sobre as infrutescências. Entretanto, na maioria das vezes, as sementes não alcançam grandes distâncias, caindo e se estabelecendo bem próximas à planta mãe. As sementes que caem fora das ilhas de vegetação são posteriormente levadas pelo fluxo vertical de água e se depositam em ilhas de vegetação mais abaixo na encosta rochosa. O estabelecimento e germinação das sementes parecem depender da presença de outras espécies de planta presentes nas ilhas de vegetação, constituindo sítios favoráveis para a germinação. 65 A taxa de predação de frutos (4%), apesar de baixa, parece influenciar o sucesso reprodutivo da espécie, uma vez que é duas vezes maior do que a taxa efetiva de frutos que atingem a fase de dispersão das sementes (2%) (MA Moraes, em preparação). A predação de flores, por sua vez, parece ser uma ameaça para o sucesso reprodutivo da espécie e está vinculada à invasão e estabelecimento de colônias de formigas nas comunidades vegetais das encostas rochosas, devido principalmente a destruição das buffering zones do entorno. 4.2 Estrutura Genética A análise de variação molecular (tab. 1) conduzida por Moraes (em preparação) indica que a maior parte da variação genética (65,39%) da espécie, se expressa dentro das populações entre indivíduos e não entre populações (34,61%), como esperado (p < 0.001). O alto índice de fixação (FST=0.3461) obtido pela análise indica que, além de serem geneticamente diferentes, as populações estão divergindo. Dessa forma, qualquer estratégia de conservação ex‐situ proposta para a recuperação da espécie deve evitar a retirada de indivíduos das populações naturais. Apesar das diferenças genéticas entre as populações, todos os remanescentes populacionais devem ser preservados, de modo a manter a estrutura genética atual da espécie. 4.3 Tamanho populacional Atualmente, 21 remanescentes populacionais de W. rayneri são conhecidos e estão distribuídos por três regiões locais da serra dos Órgãos: Serra da Maria Comprida, Serra de Santa Catarina e Serra da Estrela. Estas populações juntas possuem 119.940 indivíduos (Tab.2), distribuídos por uma área de ocupação de 60 km, e somam uma extensão de ocorrência de 340 km2 (Fig. 2). 66 Durante o ano de 2008, um grande incêndio atingiu a região montanhosa do município de Petrópolis afetando cinco (23,8%) remanescentes populacionais. Ainda não foi possível quantificar a real taxa de mortalidade nestas localidades, entretanto, a extinção local destas populações implicaria em uma significativa redução da área de ocupação, assim como da extensão de ocorrência da espécie, configurando um processo de declínio populacional. Apesar do elevado número de indivíduos estimados, apenas 2% (c. 24.000) destes, parecem contribuir com sementes paras as gerações seguintes. Tab. 1 – Occurrence sites and remnant population status. Site Area 2 Size (km ) (ind.) Main Threat Pop 1 Morro do Cuca 4.33 8,660 Critically Exposed Innapropriate landuse Pop 2 Pedra Azul 1.1 2,200 Critically Exposed Fire Pop 3 Boi Coroado 8.78 17,560 Vulnerable Real Estate Speculation Pop 4 Pedra do Catito 5.22 10,440 Vulnerable Real Estate Speculation Pop 5 Pico das Almas 1.24 2,480 Vulnerable Real Estate Speculation Pop 6 Pico Maria Comprida 2.92 5,840 Exposed Fire Pop 7 João Grande 2.97 5,940 Exposed Fire Pop 8 Irmã Menor 1.06 2,120 Exposed Invasive Species Pop 9 Morro do Milho 1.18 2,360 Critically Exposed Fire Pop 10 Alto das Perobas 1.89 3,780 Critically Exposed Fire Pop 11 Morro do Pé da Serra 1.69 3,380 Critically Exposed Invasive Species Pop 12 Morro do Capim Roxo 1.79 3,580 Exposed Real Estate Speculation Pop 13 Pirâmide 5.78 11,560 Exposed Invasive Species Pop 14 Pedra do Oratório 5.68 11,360 Critically Exposed Innapropriate landuse Pop 15 Morro da Pedreira 0.6 1,200 Critically Exposed Fire Pop 16 Pedra da Mombaça 1.18 2,360 Critically Exposed Invasive Species Pop 17 Pedra do Bozano 4.01 8,020 Exposed Invasive Species Pop 18 Boca da Rebio 2.96 5,920 Exposed Invasive Species Pop 19 Pedra do Retiro 3 6,000 Critically Exposed Invasive Species Pop 20 Crista da Quinta do Lago 1.87 3,740 Exposed Invasive Species Pop 21 Ponta do Complicado 0.72 1,440 Exposed Invasive Species 67 Conservation Status Fig. 2 – Conservation area, remnant populations and land use. 5. Controle de Ameaças 5.1 Ameaças W. rayneri é uma espécie rara, caracterizada por pequenas populações, em habitats muito específicos, distribuídos por uma extensão de ocorrência altamente restrita (MA Moraes, não publicado; Martinelli, 1984). Comparações entre os mapas de distribuição conhecida e mapas de distribuição potencial de habitats favoráveis para ocorrência da espécie sugerem que W. rayneri sofreu redução da sua área de ocupação, evidenciando um processo de declínio populacional, provavelmente devido à ocupação urbana e agrícola da região. Entretanto, a ausência de dados históricos dificulta a quantificação deste processo. Além disso, sabemos muito pouco sobre a biologia da espécie para sugerir de que forma as populações responderão à incidência de incêndios ou de outras ameaças. De qualquer forma, é imprescindível que possamos identificar as ameaças conhecidas e as potenciais causas de declínio populacional e, se possível, mitigá‐las. 68 5.2 Invasões Biológicas Aproximadamente 70% das populações naturais de W. rayneri estão sujeitas a algum processo de invasão biológica de espécies exóticas que ameaça a sobrevivência local da espécie. Portanto é importante que sejamos capazes de identificar estas espécies invasoras e propor ações para o seu manejo, aumentando as chances de sobrevivência de W. rayneri. A invasão por capim gordura (Melinis minutiflora) é uma ameaça significativa para W. rayneri, problema já apontado por Martinelli (1996). Alguns locais de ocorrência atingiram níveis de infestação alarmantes, com implicações para a sobrevivência de W. rayneri, outros ainda permanecem livres da incidência desta invasora. Melinis minutiflora cresce sobre as espécies vegetais nativas competindo ativamente por luz. Além disso, suas raízes captam grande parte da água disponível no solo, tornando o ambiente mais seco. Para muitas espécies de afloramentos rochosos, altas taxas de incidência de radiação solar são imprescindíveis para a manutenção de processos fisiológicos que garantem a sobrevivência dos indivíduos. Associadas a uma diminuição da disponibilidade de água no solo, tais coberturas podem representar uma ameaça significativa para muitas espécies, inclusive para W. rayneri. Portanto, em locais onde o nível de infestação é alto, percebemos a diminuição do número de espécies associadas às ilhas de vegetação formadas por W. rayneri. Devido ao metabolismo de Melinis minutiflora, a espécie é altamente combustível. Dessa forma, indiretamente, a infestação por esta espécie invasora torna as populações naturais de W. rayneri ainda mais vulneráveis à incidência de incêndios. Muitas vezes, moitas de capim gordura funcionam como elemento de ligação entre diferentes remanescentes populacionais de W. rayneri em caso de incêndios, dificultando o controle pelas agências ambientais responsáveis. 69 5.3 Estocasticidade do ambiente W. rayneri é uma espécie rara e sua distribuição altamente restrita, sendo a maior distância entre suas populações de 8 km. Dessa forma, eventos estocásticos como a introdução de uma doença ou praga nas populações ou um processo de mudança local do clima podem representar uma ameaça significativa para a sobrevivência da espécie. Um destes eventos pode mesmo causar a extinção local de populações ou até a extinção completa da espécie. 5.4 Manejo inadequado Considerando a falta de conhecimento sobre a biologia e ecologia da espécie, o manejo apropriado de W. rayneri e suas ameaças é um desafio. Muitas vezes a falta de informações específicas sobre os processos ecológicos e antrópicos que influenciam a sobrevivência da espécie pode levar à implementação de ações de manejo inadequadas, que podem potencialmente diminuir as chances de sobrevivência de W. rayneri. Portanto, possíveis ameaças decorrentes destes processos são descritas abaixo. Alta incidência de incêndios De acordo com dados fornecidos pelo Instituto Estadual de Florestas e com o plano de Manejo da APA Petrópolis, a maioria dos incêndios na região se inicia devido à implementação de práticas de manejo do solo inadequadas. Muitas vezes, proprietários locais utilizam‐se do fogo para a limpeza de terrenos para a plantação de culturas, para o estabelecimento de pastagens ou para a construção de condomínios. Com a destruição dos cinturões de mata que circundam os inselbergues graníticos da região, o fogo facilmente atinge a vegetação aberta dos afloramentos rochosos, desencadeando um processo de difícil controle. Os ventos fortes das regiões mais altas, associados à vegetação altamente combustível, devido à predominância 70 do metabolismo C3 e à dificuldade de acesso às áreas, representam uma séria ameaça à persistência dessas populações naturais. Este cenário é agravado ainda pela cobertura de cianobactérias encontrada nas encostas rochosas destes afloramentos, extremamente combustível, que garante a conexão de focos de incêndio entre ilhas de vegetação sobre a rocha. Dessa forma, quando o fogo atinge as áreas abertas, ele passa de uma montanha para outra, causando grande estrago nas comunidades vegetais sobre rocha. Uso como pastagens Não existem evidências conclusivas que mostrem que o uso das áreas de ocorrência de W. rayneri como pastagens de animais, domésticos ou nativos, tenha um impacto significativo sobre as populações naturais da espécie. Entretanto, além do visível pisoteio foram encontrados indícios de que a espécie é palatável para herbívoros (formigas). Martinelli (comunicação pessoal) relata que o miolo do caule da espécie é comido por cabritos nas épocas secas, e por uma espécie de lagarta. De qualquer forma, a presença de cavalos e cabritos utilizando a área como pastagem parece ter grande impacto sobre a estrutura das ilhas de vegetação sobre rocha, afetando indiretamente a sobrevivência local da espécie. Portanto, o monitoramento das populações naturais e estudos de demografia precisam ser conduzidos com o intuito de quantificar os reais efeitos destes processos sobre as populações. Devemos adotar, no entanto, medidas precatórias imediatas, coibindo o acesso de animais domésticos a estas populações, evitando assim, qualquer efeito negativo que possa ameaçar a persistência da espécie na natureza. 71 5.5 Desenvolvimento regional O desenvolvimento urbano da região e a implementação/expansão de empreendimentos rurais/residenciais são considerados uma séria ameaça para W. rayneri. A região é ocupada tanto por empreendimentos de baixa renda quanto por empreendimentos de alta renda. A limpeza de terrenos destinados à expansão urbana ou ocupação humana em áreas imediatamente adjacentes aos inselbergues pode constituir o caminho de entrada de diversas ameaças às populações naturais de W. rayneri. A destruição da chamada buffering zone atua como um cinturão protetor isolando as comunidades vegetais dos afloramentos rochosos de sistemas antropizados. Apesar de não existirem estudos comprovando o efeito positivo de buffering zones sobre a sobrevivência de espécies, o papel da floresta Atlântica na manutenção das condições microclimáticas nas encostas rochosas de afloramentos rochosos está bem documentado na literatura (Larson, 2000; Porembsky et al. 1998; Safford, 1996). Além disso, os cinturões remanescentes de floresta atuam como uma barreira física, evitando a entrada de vetores que possam representar ameaças para as espécies destas comunidades vegetais sobre rocha. Assim, o desenvolvimento destas áreas pode representar ameaças para as populações de W. rayneri. Experiências anteriores com outras espécies indicam que estes processos de ocupação expõem as espécies a potenciais ameaças como: • Introdução de espécies vegetais exóticas invasoras cultivadas em jardins. • Introdução de espécies animais como caramujos ou insetos de jardim ou outros invertebrados que podem atuar como vetores de patógenos. • Alterações no escoamento superficial de água através das encostas rochosas devido à implantação de sistemas de captação de água. 72 • Ressecamento microclimático devido à retirada da buffering zone, promovendo a substituição de espécies. • Potencial desequilíbrio das comunidades naturais, proporcionando um aumento nas taxas de herbivoria. Estes fatores, além de potencialmente afetarem a sobrevivência dos indivíduos e a persistência das populações, podem ter efeitos indiretos sobre processos populacionais, influenciando também a capacidade de a espécie resistir a distúrbios naturais ou antrópicos. 6. Considerações socioeconômicas Quaisquer implicações negativas do ponto de vista social ou econômico, resultantes de possíveis ações para a conservação de W. rayneri, são desconhecidas ou insignificantes até o presente momento. 6.1 Considerações econômicas As populações naturais de W. rayneri ocorrem em encostas rochosas íngremes com solos rasos e impróprias para o manejo, já consideradas pela legislação brasileira como áreas de proteção permanente (APP) devido à altitude e inclinação das encostas. Além disso, boa parte das áreas está dentro dos limites da Zona de vida Silvestre da APA Petrópolis, o que inviabiliza legalmente qualquer forma de uso. Os proprietários de terra do entorno, por sua vez, têm a obrigação legal de proteger parte da vegetação natural de suas propriedades através do estabelecimento de reservas legais dentro de seus domínios. O planejamento do design das reservas legais dentro das propriedades deve priorizar a formação de um cinturão protetor de mata que possa isolar estes inselbergs das áreas de uso intensivo ou extensivos destas 73 propriedades. Portanto, a proteção dos remanescentes populacionais de W. rayneri não afeta em nada a produtividade destas propriedades 6.2 Considerações sociais A implementação deste plano de recuperação pode trazer benefícios sociais para a comunidade local, como conhecimento público e um maior entendimento dos problemas relacionados a extinção de espécies, principais ameaças e benefícios associados à manutenção da biodiversidade e ecossistemas equilibrados. Além disso, proprietários de terra que se envolverem na execução deste plano poderão desenvolver um sentimento de participação nestas ações e orgulho em fazer parte da conservação de uma espécie ameaçada de extinção para gerações atuais e futuras, promovendo indiretamente a integração da comunidade local. 7. Benefícios para a biodiversidade A conservação de W. rayneri e seu habitat natural vai beneficiar também outras plantas e animais e proteger as comunidades naturais dos afloramentos rochosos desta região. Este tipo vegetacional é conhecido por altas taxas de endemismos e riqueza de espécies ameaçadas. Diversas espécies vegetais ameaçadas de extinção como Prepusa connata, Tilandsia reclinata, Tilandsia grazielle, Glaziophiton mirable entre outras, ocorrem nestas áreas, muitas vezes em associação com W. rayneri. Assim, a proteção destas espécies vai contribuir para a conservação da biodiversidade associada aos campos de altitude do sudeste brasileiro. Além disso, W. rayneri é considerada como um dos representantes mais primitivos dentro do clado americano das Amaryllidaceaes, representando uma linhagem evolutiva independente dentro desta família botânica. Portanto, a proteção deste gênero 74 monoespecífico é estratégica para o entendimento da evolução das monocotiledôneas no continente americano, sendo de grande importância para a taxonomia. 8. Ações Prévias 8.1 Pesquisas Científicas Os primeiros estudos sobre a biologia e ecologia de W. rayneri, foram conduzidos no início da década de 80 por G. Martinelli, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Com o patrocínio do WWF, o projeto tinha como foco realizar um levantamento florístico dos campos de altitude do sudeste brasileiro. No campo, Martinelli se deparou com diversas espécies, atualmente consideradas como ameaçadas de extinção. Em 1984, Martinelli publica o primeiro trabalho sobre a espécie, sugerindo uma potencial distribuição para espécie. Com base na análise de critérios qualitativos e o conhecimento de sete populações naturais da espécie, Martinelli sugere a inclusão da espécie na Lista Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de extinção. Alguns anos depois, Oliveira & Pereira (1986) publicam os resultados de testes de germinação conduzidos no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com sementes de W. rayneri. Os resultados indicam que a espécie apresenta alta taxa de germinação, apesar da alta taxa de mortalidade das plântulas. Martineli (1996) sugere as principais ameaças incidentes sobre a espécie. O presente estudo se propôs a reavaliar o status de conservação da espécie, com base em critérios quantitativos e gerar um plano de recuperação para a espécie. Foram levantadas informações sobre a distribuição espacial da espécie e potencial de habitats favoráveis para a ocorrência da mesma, sobre a estrutura genética da espécie e sobre a biologia reprodutiva. 75 Entretanto, mais estudos são necessários para consolidar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia de W. rayneri. 8.2 Cultivo Ao longo dos últimos anos foram conduzidas duas tentativas de cultivo da espécie no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Na primeira, foram trazidos três indivíduos provenientes da população do morro do Cuca. Os indivíduos foram cultivados no orquidário da instituição. Entretanto, morreram após alguns meses. Na segunda tentativa os indivíduos trazidos ficaram sob os cuidados do bromeliário da instituição. A tentativa não obteve êxito, os indivíduos também morreram em alguns meses (Martinelli, comunicação pessoal). Apesar das tentativas sem sucesso do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a planta é cultivada em sítios, fazendas e casas do município de Petrópolis, no alto da serra. Apesar de ser contra a lei, diversas propriedades possuem coleções grandes da espécie em cultivo. No exterior, a espécie é cultivada e comercializada. No entanto, na maioria das vezes, o cultivo se dá em ambientes controlados que reproduzem os requerimentos ambientais da espécie. O alto custo associado ao cultivo desta espécie reforça a necessidade de conservarmos as populações naturais de W. rayneri. Portanto, toda e qualquer ação de conservação in‐situ deve ser considerada prioritária. O estabelecimento de coleções ex‐situ deve ser basear na micro‐ propagação de tecidos in‐vitro e no estabelecimento de bancos de sementes, já que estas estratégias parecem mais apropriadas e menos caras do que o estabelecimento de uma coleção viva da espécie. 8.3 Proteção Os estudos conduzidos por Martinelli no início da década de 1980, sobre a vegetação dos campos de altitude da será dos Órgãos levaram ao estabelecimento de uma unidade de 76 conservação de uso sustentável (APA Petrópolis) na região de ocorrência de W. rayneri e outras espécies ameaçadas de extinção. O plano de manejo da unidade considera os afloramentos rochosos como zona de vida silvestre, onde está vetado qualquer tipo de uso dos recursos naturais. Esta medida certamente contribui para evitar efeitos diretos sobre as populações de W. rayneri. Entretanto, a espécie vem sofrendo, ao longo dos anos, com os efeitos indiretos da ocupação humana. 9. Capacidade de Recuperação de W. rayneri Apesar da ausência de estudos sobre a capacidade de resistência e resiliência da espécie, dentre as espécies das comunidades vegetais ocorrentes sobre afloramentos rochosos, W. rayneri parece ser umas das mais resistentes e resilientes, devido às suas características biológicas. A grande quantidade de mucilagem e o bulbo alongado parecem ser extremamente importantes, por exemplo, na resistência a incêndios ou na resistência a períodos mais secos. Outra importante característica da espécie que influi na sua boa capacidade de recuperação é seu hábito clonal. Através de brotamento, os indivíduos geram novos indivíduos restabelecendo o tamanho populacional após a incidência de algum fator que leve ao declínio populacional local. 10. Ações de Recuperação Propostas 10.1 Ação 1 – Proteção das áreas de ocorrência Apesar das áreas de ocorrência de W. rayneri estarem hoje, legalmente protegidas, o manejo e uso inadequado da terra nas propriedades do entorno e o extrativismo representam sérias ameaças contra a persistência das populações naturais da espécie. Portanto, a implementação de medidas e ações de conservação que garantam a proteção de longo prazo é de extrema importância, assegurando, assim, a integridade das populações naturais no futuro. 77 Em primeiro lugar, todos os inselbergs onde a ocorrência de W. rayneri tenha sido registrada, devem ser completamente cercados, de modo a evitar a incidência de vetores de ameaça como a entrada de animais domésticos em busca de pastagens, pessoas em busca da prática de atividade outdoor, ou coletores de plantas ornamentais. O processo de cercamento deve ser precedido por estudos que apontem o método mais apropriado para fazê‐lo, minimizando os efeitos das cercas sobre a movimentação da fauna nativa entre as áreas. Além disso, devem ser estabelecidos acordos legais entre o IBAMA e os proprietários do entorno, de modo a formalizar um compromisso de responsabilidade em participar ativamente da conservação da espécie, através da implementação de medidas de segurança que possam minimizar a incidência de ameaças sobre os remanescentes populacionais próximos às propriedades. Qualquer negociação futura das propriedades deverá respeitar o compromisso estabelecido pelo presente proprietário, de forma, a garantir a proteção destas áreas no futuro. Outra importante medida é transformar a zona de vida silvestre da APA Petrópolis numa unidade de conservação mais restritiva, que preveja a proteção integral das áreas. Esta seria uma importante medida, já que daria arcabouço legal para ações mais efetivas de combate a incidência de ameaças. Resultado esperado: • 100% dos remanescentes populacionais integralmente cercados e devidamente sinalizados. • O estabelecimento de medidas legais de proteção e segurança de longo prazo, garantindo a preservação futura da espécie e seu habitat. • Transformação da Zona de Vida Silvestre da APA Petrópolis em uma unidade de conservação de proteção integral. 78 Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 1 ano /Monitoramento: 1 ano Obs: O prazo de 1 ano diz respeito ao cercamento das localidades e à proposição do acordo aos proprietários e início das negociações. 10.2 Ação 2 – Recuperação das zonas tampão O processo de restauração ecológica leva tempo e seus resultados não são percebidos em curto prazo. Entretanto, a persistência das populações naturais de W. rayneri depende da manutenção dos requerimentos ambientais mínimos e condições microclimáticas adequadas indispensáveis para a sobrevivência da espécie. As áreas adjacentes de floresta Atlântica desempenham importante papel na manutenção das variações naturais de temperatura e umidade encontradas nas comunidades vegetais das encostas de afloramentos rochosos do sudeste brasileiro (Larson, 2000; Porembsky, 1998; Safford, 1996). Além disso, diversos estudos sugerem o papel das zonas tampão como cinturões protetores naturais que minimizam a incidência de ameaças antrópicas e promovem algum tipo de conectividade entre as áreas. Por estas e outras razões, 80% de todas as áreas de ocorrência devem estar circundadas por uma zona tampão de no mínimo 100 metros de largura, a partir das encostas de pedra. Para tanto, deve ser feita uma avaliação em cada remanescente populacional, no intuito de avaliar quais áreas necessitam de um processo de restauração ecológica destes cinturões protetores. As áreas escolhidas para a implantação destas zonas tampão devem atender a três principais critérios de prioridade: a) proximidade à localização da população; b) estrutura genética da população; c) ligação com outros cinturões protetores. A ligação entre a vegetação do cume, da encosta e da base do inselberg deve ser mantida funcional (Larson, 2000). 79 As áreas adjacentes aos remanescentes populacionais são, na maioria das localidades, ocupadas por condomínios residenciais ou favelas, o que representa uma barreira para alcançar os objetivos deste plano. Entretanto, todas as propriedades privadas situadas dentro de unidades de conservação devem manter uma reserva legal de pelo menos 30% de vegetação nativa dentro de suas propriedades (SNUC/IBAMA 1992). Portanto, as agências ambientais devem atuar advertindo, orientando e supervisionando a comunidade local na execução da lei, de modo a implementar um design de reserva legal que otimize o estabelecimento de um cinturão protetor. Resultado esperado: • 80 % dos locais de ocorrência devem possuir um cinturão protetor de pelo menos 100 m de largura a partir das encostas rochosas, de modo a garantir a manutenção das condições microclimáticas adequadas para W. rayneri. • Otimização dos desenhos de reserva legais em propriedades do entorno das áreas de ocorrência da espécie. Prazo: Planejamento: 1 ano/ Execução: 5 anos /Monitoramento: 3 anos 10.3 Ação 3 – Controle de ameaças Com o intuito de avaliar a efetividade das ações implementadas no que diz respeito à incidência de ameaças sobre as populações naturais de W. rayneri, um sistema de controle e monitoramento de ameaças deve ser desenvolvido e implementado. A partir deste, devem ser estabelecidos indicadores que permitam o acompanhamento periódico das populações. A partir de metas estabelecidas para as ações será possível avaliar a eficácia das mesmas, permitindo ajustes no plano de execução, evitando assim o investimento de recursos em ações 80 de conservação ineficazes. Os dados gerados por este sistema podem ser usados para outras espécies ameaçadas, desenvolvendo uma cultura de prevenção de ameaças, ao invés de mitigação de efeitos negativos. Resultado esperado: • Indicadores e medidas que permitam avaliar a eficácia de ações voltadas para o controle da incidência de ameaças sobre as populações naturais de W. rayneri. Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 6 meses /Monitoramento: anual 10.4 Ação 4 – Monitoramento populacional Com o intuito de determinar se as populações naturais de W. rayneri estão em declínio, permanecem estáveis ou aumentando, um programa de monitoramento populacional deve ser desenvolvido e implementado. Os dados coletados no início da implementação do programa servirão para comparações após monitoramento anual dos indicadores escolhidos. Resultado esperado: • Protocolo padrão de coleta de dados que permita a identificação ao longo do tempo de tendências de mortalidade e recrutamento, além de medidas iniciais, que irão guiar os esforços de manejo ao longo dos anos. Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 6 meses /Monitoramento: anual 10.5 Ação 5 – Manejo de espécies exóticas invasoras A incidência de diferentes ameaças sobre as populações naturais de W. rayneri geram um desequilíbrio das relações ecológicas locais, facilitando a entrada de espécies exóticas 81 invasoras. A presença destas espécies representa, por si só, uma séria ameaça para a persistência de espécies nativas. Muitas das espécies vegetais sobre afloramentos rochosos são heliófilas, ou seja, dependem de altas taxas de incidência de radiação solar. A espécie invasora mais comum nas áreas de ocorrência de W. rayneri é o capim gordura (Melinis minutiflora) que normalmente forma tapetes de vegetação que crescem sobre outras plantas, competindo por luz. Assim, o controle destas invasões, apesar de representarem um desafio, pode reduzir significativamente a pressão competitiva sobre as populações naturais da espécie. Além disso, a invasão de espécies como o capim gordura gera mudanças ambientais como o ressecamento das ilhas de vegetação, tornando a vegetação mais suscetível ao fogo. Apesar de diversos estudos sobre o manejo de espécies exóticas invasoras, serão necessários estudos específicos para avaliar as contingencialidades do contexto local, de modo a minimizar efeitos negativos do capim gordura e outras invasoras sobre W. rayneri e outras espécies nativas. O aumento da incidência de formigueiros dentro das áreas de ocorrência de W. rayneri também representa uma ameaça significativa que afeta diretamente o sucesso reprodutivo da espécie. Portanto, é muito importante que durante os meses de dezembro e Janeiro seja feita a retirada manual destes formigueiros, evitando assim a predação de flores e inflorescências da espécie. Resultado esperado: • Diminuição da pressão competitiva sobre W. rayneri e outras espécies ocorrentes em afloramentos rochosos. • Aumento do sucesso reprodutivo da espécie. Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 2 anos/ Monitoramento: anual 82 10.6 Ação 6 – Pesquisas ecológicas Estudos sobre a biologia e ecologia da espécie W. rayneri são escassos. Portanto, a realização de pesquisas específicas, particularmente sobre ecologia de populações e biologia reprodutiva, é de extrema importância para fundamentação de ações para a conservação da espécie. Áreas específicas de estudos necessárias para o conhecimento dos requerimentos ambientais da espécie incluem: • Fenologia da floração, sistemas sexuais, polinizadores e produção de sementes. • Viabilidade de sementes, viabilidade da implementação de um banco de sementes. • Germinação de sementes, requerimentos para a germinação e sobrevivência de plântulas. • Taxas de longevidade, mortalidade e recrutamento. • Requerimentos de habitat. Além destas pesquisas, devem ser conduzidos estudos experimentais sobre o efeito do fogo e outras perturbações físicas como pisoteio por animais domésticos. Os órgão ambientais da administração federal, estadual e municipal, responsáveis devem incentivar instituições de pesquisa reconhecidas nacionalmente a conduzir estudos que possam auxiliar no levantamento de informações ecológicas sobre a espécie, através da abertura de editais, fornecendo financiamento para determinados projetos. Resultado esperado: • Determinar a dinâmica populacional da espécie • Determinar a biologia reprodutiva da espécie • Determinar a taxa de germinação das sementes em campo e em laboratório. 83 Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 5 anos /Monitoramento: anual 10.7 Ação 7 – Pesquisas genéticas Os estudos genéticos conduzidos para a espécie foram realizados a partir da utilização de marcadores dominantes, que trazem poucas informações relacionadas ao parentesco dos perfis genéticos amostrados. Estudos mais específicos são necessários para elucidar de que forma os padrões de estruturação genética das populações se mantêm ao longo do tempo. Resultado esperado: • Determinar a relação de parentesco entre populações distintas, de modo a entender o processo de dispersão da espécie e ocupação da paisagem. • Determinar as áreas prioritárias para a conservação da espécie. Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 2 anos /Monitoramento: 5 em 5 anos 10.8 Ação 8 – Envolvimento da Comunidade Muitos proprietários locais exploram o valor ornamental da espécie através da manutenção de coleções vivas em suas propriedades. A planta é muito usada no paisagismo local, principalmente por ser uma espécie rara, endêmica da região. Os proprietários contratam moradores locais para escalar as montanhas e coletar indivíduos para cultivo. Apesar de constituir um crime federal inafiançável, já que a espécie integra a lista oficial brasileira de espécies ameaçadas de extinção, a prática é comum na região. Por essa razão, um programa educativo deve ser desenvolvido e implementado no intuito de aumentar o conhecimento público local sobre a diversidade de campos de altitude e afloramentos rochosos e a respeito da importância de conservar áreas mega diversas como as 84 encontradas na região. É importante ressaltar a responsabilidade local em conservar as espécies endêmicas locais ameaçadas de extinção, de modo a promover maior envolvimento da comunidade em questões conservacionistas. As ONGs locais podem desempenhar um importante papel, integrando a comunidade às políticas ambientais públicas, estabelecendo um canal de comunicação aberto entre atores locais como proprietários, moradores ou empresas privadas e o governo. Resultado esperado: • Programa educativo voltado para o desenvolvimento do conhecimento público sobre a importância da conservação da diversidade local, de modo a gerar maior envolvimento da comunidade com a implementação de ações de conservação e o monitoramento das áreas de ocorrência desta espécie. Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 2 anos /Monitoramento: 5 em 5 anos 10.9 Ação 9 – Estabelecimento de coleções ex‐situ W. rayneri ocorre em pequenas populações isoladas, ameaçada de extinção devido à pressão antrópica e sujeita à estocasticidade ambiental. É, portanto, importante, estabelecermos uma coleção ex‐situ viável e representativa, como uma garantia contra possíveis perdas de diversidade (genes, indivíduos ou populações) na natureza. Estudos relacionados à viabilidade do estabelecimento de um banco de sementes já estão em andamento e devem gerar resultados dentro de 6 meses. A espécie já esta armazenada no banco de DNA do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, representada por amostras provenientes de 10 populações distintas. Entretanto, devemos pesquisar a viabilidade do estabelecimento de bancos de tecido através de micro‐propagação in‐vitro, já que o cultivo de indivíduos vivos não parece ser uma opção viável. 85 Resultado esperado: • Banco de germoplasma ex‐situ estabelecido que possa fornecer material futuras reintroduções ou estudos, caso a espécie se torne extinta localmente ou na natureza. Prazo: Planejamento: 1 ano/ Execução: 5 anos /Monitoramento: anual 10.10 Ação 10 – Coordenação do Plano de Recuperação A coordenação efetiva deste plano é essencial para garantir que sua implementação seja eficiente em termos de tempo e custo. Tal coordenação envolverá o estabelecimento de parcerias entre intuições de pesquisa e agências de monitoramento ambiental, evitando que a implementação das ações propostas para W. rayneri represente ameaças para a sobrevivência de outras espécies ameaçadas ocorrentes na região. A coordenação deverá também se empenhar no estabelecimento de parcerias e acordos entre proprietários de terra ou moradores locais, agências ambientais, ONGs e instituições de pesquisa, no intuito de rever o plano e acompanhar sua implementação de modo a garantir os interesses da comunidade como um todo. Resultado esperado: • Implementação e coordenação do plano de recuperação de maneira eficiente, de modo que se torne possível atingir os objetivos propostos. Prazo: Planejamento: 6 meses/ Execução: 5 anos /Monitoramento: anual 86 11. Data de Revisão Este Plano de Recuperação e o status de conservação de W. rayneri devem ser revisados dentro de cinco anos a partir da data de publicação do mesmo. Para a avaliação da efetividade do plano deverá ser convocada uma audiência pública que envolva a comunidade local e agências do governo, de modo a garantir uma análise sob diferentes pontos de vista. Referências Bibliográficas Almeida, F.F.M. 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The American Plant Life Society. Stanford, California. 88 CONCLUSÕES GERAIS Após a quantificação e avaliação de indicadores, de acordo com o protocolo estabelecido por IUCN (2001), a espécie vegetal W. rayneri foi considerada ameaçada de extinção sob a categoria Criticamente Ameaçada (CR). De acordo com nossos resultados a espécie está sujeita a uma redução do tamanho populacional de mais de 25% nos próximos cinco anos, principalmente devido aos efeitos de incêndios, comuns durante a época seca (Junho a Setembro). Além disso, a análise da distribuição geográfica da espécie indica um padrão altamente fragmentado, com baixa área de ocupação e extensão de ocorrência restrita, sujeitos a um processo de declínio populacional. A disponibilidade de habitats favoráveis está limitada aos inselbergs da região, que estão sujeitos a pressão da ocupação humana de seu entorno. Efeitos diretos e indiretos desta ocupação representam ameaças para a persistência das populações naturais de W. rayneri e devem, portanto, serem controlados. Apesar da reavaliação do status de conservação da espécie ter sido feita exclusivamente com base em critérios quantitativos, nossas conclusões se assemelham as de Martinelli (1984) que avaliou o status da espécie unicamente com base em critérios qualitativos. Apesar do intenso debate na literatura (Soberon & Mendellín, 2007; de Grammont & Cuarón, 2006; Grigera & Rau, 2000; Cofré & Marquet, 1999; Mace & Lande, 1991) sobre a utilidade destes critérios, e do caráter fundamentalmente normativo do processo de especificação das condições para considerarmos uma espécie como ameaçada de extinção, até que ponto uma determinada espécie atende as condições estabelecidas é uma determinação puramente científica (Vucetich et al. 2006) e na maioria das vezes irá esbarrar na subjetividade da opinião do especialista. Até mesmo a aplicação dos critérios estabelecidos por IUCN (2001) depende da interpretação de expressões como: “parte significativa de sua extensão de ocorrência”, ou “tipicamente”. Este papel cabe única e exclusivamente ao 89 pesquisador, que a partir do conhecimento adquirido sobre a biologia e ecologia da espécie em questão, vai avaliar aplicação destas expressões e conceitos. De qualquer modo, critérios qualitativos podem ser úteis para a avaliação do status de conservação de espécies vegetais. Entretanto, sua utilidade é limitada, como veremos adiante, e está atrelada à utilidade das listas vermelhas de espécies ameaçadas. As listas vermelhas de espécies ameaçadas se tornaram uma importante ferramenta com aplicações para a Biologia da Conservação (Colyvan et al. 1999). Porém, a elaboração destas listas pode, muitas vezes, atender a objetivos distintos como sugerir taxa sob risco de extinção, atrair a atenção para fatores causadores de ameaças, subsidiar programas de conservação, orientar áreas prioritárias para a conservação, limitar o desenvolvimento urbano e a exploração indiscriminada de recursos naturais ou ainda servir de parâmetro para uma avaliação do status de conservação da biodiversidade (Possingham et al. 2002; Collar, 1996; Mace & Lande 1991; Colyvan et al. 1999), e portanto, demandar sistemas de avaliação diferentes (Soberon & Mendellín, 2007). Dessa forma, para muitos países a adoção de um sistema prático, adequado à realidade socioeconômica; à infraestrutura científica; e à complexidade biológica, é mais útil do que a adoção de um sistema de difícil implementação (Soberon & Mendellín, 2007) que dependa de uma alta capacidade de gerar e processar informações. O sistema de categorização proposto por IUCN (2001) foi adotado em diversos países (de Grammont & Cuarón, 2006). Entretanto, vêm recebendo muitas críticas, já que sua aplicação depende do levantamento de extensivas informações biológicas e ecológicas (Reca et al. 1994; Cofré & Marquet 1999; Grigera & Rau 2000). Principalmente em países em desenvolvimento, onde está concentrada a maior parte da diversidade biológica do planeta e a disponibilidade de informações para muitas espécies é insuficiente ou não existe (Myers et al. 2000). Assim, diversos autores (e.g. Ceballos & Navarro, 1991; Reca et al. 1994; Cofré & 90 Marquet, 1999), vêm propondo a adoção de sistemas de categorização alternativos, baseados principalmente em informações biológicas disponíveis associadas a vulnerabilidade das espécies e a incidência de distúrbios antrópicos. De uma maneira geral, sistemas de categorização devem ser amparados pela adoção de critérios específicos, nos quais se basearão as categorias de ameaça e o status de conservação das espécies (de Grammont & Cuarón, 2006). Idealisticamente, as categorias devem se basear em análises quantitativas e indicar a probabilidade de uma espécie se tornar extinta dentro de um período de tempo determinado (Munton 1987, Fitter & Fitter 1987, Mace and Lance 1991, Mace and Stuart, 1994). Quando as categorias de risco não incluem definições ou são estruturadas com base em elementos subjetivos, a avaliação conduzida por pessoas diferentes pode levar a interpretações distintas em relação ao risco de extinção. De acordo com Munton (1987), muitos sistemas confundem categorias de ameaça com: a) fatores que colocam as espécies em risco (e.g. superexploração); b) parâmetros que podem ser usados para quantificar o risco (e.g. raridade); ou ainda c) falta de informações disponíveis para a espécie (e.g. indeterminado.). Em outros casos, critérios adotados para a avaliação do status de conservação de uma espécie, devem, na verdade, ser usados para a definição de prioridades de conservação para a espécie em questão. Dessa forma, uma avaliação sobre a utilidade dos indicadores adotados pelo presente trabalho nas diferentes etapas do processo de conservação de uma espécie ameaçada de extinção (avaliação do status de conservação, planejamento e proposição de ações, proteção e monitoramento e recuperação) se faz necessária. No estudo de caso conduzido para W. rayneri, a avaliação do status de conservação da espécie se baseou principalmente em análises de sistemas de informações geográficas (SIG), com dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta 91 ferramenta se mostrou extremamente útil para a geração de indicadores quantitativos que atendem as especificações dos critérios propostos por IUCN (2001). A utilização de imagens de satélite ajudou a minimizar desvios amostrais que pudessem influenciar os resultados das análises, já que é de extrema importância estar atento ao nível de incerteza associado às metodologias adotadas (Akçacaya et al. 2000; Regan et al. 2000; Regan and Colyvan, 2000). A definição de prioridades e estratégias de conservação para espécie se baseou principalmente nas análises biológicas de parâmetros intrínsecos à espécie. A análise da estrutura genética das populações de W. rayneri nos forneceu informações imprescindíveis para a definição de uma estratégia de conservação ex‐situ apropriada, além de nos ajudar a entender qual a melhor abordagem para otimizar a conservação in‐situ das populações naturais, dada a falta de fiscalização e a disponibilidade limitada de recursos financeiros. A condução de experimentos de viabilidade e germinação de sementes em laboratório, além de experimentos sobre a biologia reprodutiva da espécie, indicaram a viabilidade da adoção e implementação de estratégias de conservação específicas, auxiliando na determinação das ações mais adequadas para o caso de W. rayneri. O acompanhamento dos indicadores descritos acima, ao longo do tempo futuro, ajudará no monitoramento do status de W. rayneri. Além disso, uma criteriosa análise quantitativa de ameaças incidentes sobre as populações pode representar uma importante ferramenta de monitoramento, já que expressa indiretamente o nível de pressão antrópica sobre a espécie. No caso de W. rayneri, critérios qualitativos se mostraram úteis para a avaliação do status de conservação da espécie, enquanto critérios quantitativos se mostraram úteis para estabelecimento de prioridades, metas e indicadores que possam ser objeto de comparações entre espécies ou avaliações em diferentes momentos no tempo. Afinal, o processo de avaliação do status de conservação de espécies difere do processo de estabelecimento de prioridades para a conservação (Murton, 1987). O primeiro se limita a estimativas acerca dos 92 riscos de extinção da espécie. Já o segundo, além de considerar este aspecto (Lamoreux et al 2003), leva em conta também fatores como efetividade das ações propostas (Balmford et al. 1996), considerações econômicas, sociais e políticas (Ehrlich & Ehrlich 1992), além de singularidades taxonômicas da espécie ou grau de endemismo (de Grammont & Cuarón, 2006). O estabelecimento de prioridades é, portanto, uma tarefa política diretamente ligada à opinião pública que determina a alocação de recursos financeiros para a conservação, ao invés de uma atribuição da comunidade científica (Czech et al. 1998). Porém, apesar da definição de prioridades refletir valores sociais, ainda assim, pode fazer parte de uma estrutura de planejamento consistente e objetiva, desde que obedeça a metas claramente estabelecidas (e.g. Vane‐Wright et al. 1991; Margules & Pressey 2000).De qualquer forma, tanto o processo de avaliação do status de conservação de espécies, quanto o processo de estabelecimento de prioridades para a conservação são imprescindíveis para a elaboração de um plano de recuperação para espécies. Em muitos países, como Estados Unidos (ESA, 1973), Australia (Woinarski & Fisher, 1999) ou Canadá (SARA 2002; revisado em VanderZwaag & Hutchings 2005), quando uma espécie é considerada ameaçada de extinção, automaticamente passa a ser responsabilidade do governo subsidiar ações que garantam sua proteção e recuperação. De acordo com Male & Bean (2005), proteção é o primeiro passo do processo de recuperação de uma espécie e pode por si só reverter processos de declínio populacional, minimizando a incidência de ameaças antrópicas. Entretanto, ainda existe bastante confusão conceitual na aplicação destes termos. O plano de recuperação determina a viabilidade biológica da reversão de um provável processo de extinção enquanto um plano de ação detalha aspectos socioeconômicos da relação custo‐benefício da implementação das estratégias propostas (Mooers et al. 2007). No Brasil, historicamente, a lista vermelha de espécie da flora sempre esteve muito mais ligada ao amparo de uma legislação criada para atender a compromissos internacionais 93 estabelecidos em âmbito das convenções e acordos multilaterais do que a uma demanda interna nacional de proteção da biodiversidade. Antes da revisão da lista de espécies da flora ameaçada de extinção concluída em 2008, as espécies ameaçadas eram divididas em categorias que expressavam o risco de extinção. Entretanto, não havia distinção legal entre as categorias que implicassem em ações ou estratégias de conservação diferenciadas. Portanto, essa abordagem vai contra o conceito de categorias de ameaça, que necessariamente, como vimos anteriormente, está atrelada ao estabelecimento de prioridades. A lista atual (MMA 2008) considera apenas duas categorias: a) ameaçadas (Anexo I); b) dados deficientes (Anexo II). As espécies contidas no Anexo I são aquelas com alto risco de desaparecimento da natureza em futuro próximo. Já as contidas no Anexo II são aquelas cujas informações (distribuição geográfica, ameaças/impactos e usos, entre outras) são ainda deficientes. Ambas as definições são vagas e contém conceitos subjetivos como ‘alto risco’ ou ‘futuro próximo’. Além disso, estas categorias não refletem o grau de ameaça das espécies. Apenas amparam uma legislação que prevê a proteção de espécies ameaçadas e orientam a alocação dos recursos para a conservação. Assim, a prioridade para as espécies do Anexo I é a elaboração de planos de ação com vista à sua futura retirada da lista, enquanto a prioridade para as do Anexo II é o desenvolvimento de estudos que possam subsidiar a definição do real status de conservação de tais espécies. Como podemos perceber, existe grande confusão sobre definições conceituais, abordagens prioritárias e estratégias para a conservação. A falta de estratégia para a conservação da biodiversidade brasileira ameaçada de extinção foi evidenciada por de Grammont & Cuarón (2006) onde o sistema de categorização até então adotado pelo governo brasileiro foi considerado entre os cinco mais inadequados dentre 25 sistemas adotados por 20 países do continente americano. A atualização da lista de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção (MMA 2008) não traz avanços significativos no que diz respeito a uma 94 política consistente para a conservação da biodiversidade. A adoção do sistema da IUCN (2001) continua sendo a melhor alternativa para a avaliação do status de conservação de nossas espécies ameaçadas, já que ainda não são investidos esforços no desenvolvimento de uma estratégia nacional de conservação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, A. C. (2005) Os corredores Central e da Serra do Mar na Mata Atlântica brasileira. Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. (E. R. Lamas, Trans.) São Paulo: IDM composições e arte. Akçakaya, H.R., Ferson, S., Burgman, M.A., Keith, D.A., Mace, G.M. & Todd, C.R. (2000) Making consistent IUCN classifications under uncertainty. Conserv. Biol. , 14 (4), pp. 1001‐1013. Akçakaya, H. R. (1992) Population viability analysis and risk assessment. in D.R. McCullogh and R.H. Barret, editors. 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