Correspondências - Vieira da Silva
Transcrição
www.ddlx.pt Correspondências Vieira da Silva por Mário Cesariny 5 de Junho – 4 de Outubro 2008 No ano em que se comemora o centenário de nascimento de Maria Helena Vieira da Silva, a Fundação que a representa sugere visões e revisões da sua obra que resultam num desafio estimulante pelos diferentes olhares de pessoas que com ela tiveram relações profissionais ou afectivas. Há muito que a Fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva ansiava divulgar o trabalho discreto e silencioso, laborioso e criterioso que tem vindo a ser feito no Centro de Documentação, desde há cerca de dez anos, estudos, acondicionamento e arquivo de monografias, documentação dispersa e fotografias, bem como o riquíssimo espólio de correspondência entre várias personalidades e o casal Szenes. A vontade em publicar a correspondência trocada entre os dois artistas e Mário Cesariny impôs-se pelo interesse e a ternura que emanavam daquelas cartas longamente trocadas, que serão publicadas a propósito e no tempo desta exposição. A ideia de uma exposição que ligasse Mário Cesariny a Vieira da Silva surgiu naturalmente, como natural foi a junção da Fundação EDP – que patrocinou as mais recentes e importantes exposições retrospectivas da obra de Mário Cesariny, comissariadas por João Pinharanda – a este projecto, estendendo-se essa cumplicidade a Arpad Szenes, por não fazer sentido de outro modo. A esta teia de amizades depressa se associou a Fundação Cupertino de Miranda – Centro de Estudos do Surrealismo, de Vila Nova de Famalicão, onde se encontra depositado todo o espólio documental de Mário Cesariny, uma parte significativa da sua obra gráfica e toda a correspondência. Partindo de Vieira da Silva, Arpad Szenes ou O Castelo Surrealista – obra que Cesariny escreveu nos anos 60 e publicou em 1984, centrada na pintura de Arpad Szenes e Vieira da Silva dos anos 30 e 40 – a exposição pretende ser a visão de Mário Cesariny sobre a dupla Vieira-Arpad, através de “correspondências”. Além da vertente documental da investigação – muito pessoal – a que Mário Cesariny se dedicou, com mais ou menos intensidade, durante cerca de vinte anos, serão apresentadas obras referidas no Castelo Surrealista ou correspondências que marcaram a relação firmada pela amizade e pelas afinidades electivas. Finalmente, esta exposição não seria possível sem o apoio e o estímulo da editora Assírio & Alvim, em particular de Manuel Rosa, que além de ceder os direitos da obra de Mário Cesariny de Vasconcelos, se associa ao projecto desde a sua génese, assumindo a co-edição do catálogo da exposição com a Fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva e a edição do volume de correspondência. Guia de visita ao Castelo Surrealista O que, em vida, reuniu Cesariny a Vieira (e a Arpad) foi um sentimento poético ou necessidade vital a que parte da obra escrita e da obra pictórica de Cesariny deu expressão crítica e artística a que esta exposição pretende conferir sentido histórico e materializar através de obras plásticas e provas documentais. Estabelecer o guião desta exposição a partir da obra Vieira da Silva, Arpad Szenes ou O Castelo Surrealista é seguir a génese de um pensamento criador, o de Cesariny, sobre um duplo projecto criativo autónomo: o de Vieira e o de Arpad. O livro de Mário Cesariny não é uma obra subordinada nem em sobreposição às obras de cada um deles, mas uma obra de exaltação. Nasce de uma admiração que serve de alimento ao próprio crescimento autónomo da autoridade criativa de Cesariny. Não é, nem uma obra de história nem de crítica de arte; não é, nem uma obra literária nem memorialista – e, no entanto, cada um dos fragmentos do pensamento cesariniano associa, em sinápses inesperadas, níveis de todos esses discursos, alterando, a cada momento, o modo como devemos utilizá-los e assimilá-los. Durante mais de 20 anos o poeta (-artista) seguiu os trabalhos e a vida de Vieira (e Arpad) com vista a escrever sobre eles um estudo. Que através desse estudo pretendia conhecer a obra de ambos, conferindo-lhe um sentido interpretativo original, é evidente. Mas que através desse conhecimento pretendia também iluminar o sentido criativo da sua própria obra, como poeta e como pintor, resulta bem claro das conclusões a que chegou e dos pensamentos que desenvolveu: no livro em referência, em poemas dedicados, na correspondência trocada com os seus modelos/patronos, na pintura que foi produzindo e continuou a produzir para além da morte de cada um. Ao usar, como guia, este Castelo Surrealista estamos portanto a embarcar numa viagem não historicista nem crítica, mas poética, emotiva e afectiva. Como Cesariny, iremos delimitar no tempo essa viagem (décadas de 1930 a 40), tronco de vida e obra que mais perto colocou Vieira e Arpad do Surrealismo histórico. No entanto, a extensa e complexa relação do poeta com os pintores, leva-nos a atender aos primórdios dessa relação (cerca de 1952), a olhar para o momento da decisão de escrever o estudo (cerca de 1964), a seguir os episódios da sua génese e publicação (em 1984) e, finalmente, a esperar pelos momentos em que se despediu e fez o luto por ambos (respectivamente, depois de 1985, com a morte de Arpad e depois de 1992, com a morte de Vieira). Os comissários da Exposição João Pinharanda e Marina Bairrão Ruivo 1908-2008 | 100 anos O Museu estará aberto no dia 13 de Junho, data do centenário do nascimento de Maria Helena Vieira da Silva
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