Boletim de Maio
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Boletim de Maio
Boletim do Centro Regional de Informação das Nações Unidas Bruxelas, Maio de 2008, N.º 34 Primeira reunião da Equipa Especial sobre Crise Alimentar Mundial incentivos à agricultura – tem como objectivo reduzir as consequências negativas desta crise para os que são mais afectados por ela. Estes elementos serão apresentados na Conferência de Alto Nível sobre Segurança Alimentar Mundial que terá lugar em Roma, de 3 a 5 de Junho, diz a mensagem. Os membros da Equipa Especial apelaram a todos os países para que velem por que as suas políticas, incluindo as exportações alimentares, não agravem o actual aumento dos preços e as suas consequências. Pediram também que os produtos alimentares fornecidos por motivos humanitários sejam distribuídos sem que encontrem entraves à sua entrega. UN PHOTO Se é certo que a subida em flecha dos preços dos produtos alimentares está ligada ao facto de a oferta ser insuficiente em relação à procura mundial, os motores desta crise são complexos e as consequências muito variadas, sublinhou o Secretário-Geral da ONU, que presidiu, a 12 de Maio, à primeira reunião da Equipa Especial de Alto Nível sobre a Crise Alimentar Presidida por Ban Ki-moon, a Equipa Especial é coordenada pelo Secretário-Geral Adjunto Mundial. para os Assuntos Humanitários e Coordenador A reunião de hoje centrou-se na elaboração de do Socorro de Emergência, John Holmes, com um plano global para fazer face aos desafios o apoio do Subsecretário-Geral David Nabarro. que a crise dos preços alimentares criou. A estratégia, que deve definir acções a curto e a longo prazo – tais como a ajuda alimentar, iniciativas relativas à protecção social e os Para mais informações (em inglês) que mais contribui para a estabilização em situações pós-conflito no mundo inteiro; quase 110 000 elementos servem em 20 operações de paz, um número que septuplicou desde 1999. E um facto que é com frequência esquecido é que a ONU não dispõe de uma força militar própria, dependendo das contribuições de quase 120 Estadosmembros, o número mais elevado de sempre. É inegável que nada do que acima foi dito pode justificar os actos de alguns que vieram ensombrar esta empresa crucial de grande envergadura que é a manutenção da paz da ONU. Neste número do Boletim, encontrará um artigo sobre a evolução das operações de manutenção da paz nas suas seis décadas de existência e alguns factos e números, bem como links para mais informações sobre o Para celebrar os 60 anos da manutema, em português e em inglês. tenção da paz, o UNRIC organizou uma nova edição de Cine-ONU, Ao reflectirmos sobre o efeito dos durante a qual foi exibido o filme The actos imperdoáveis de uns quantos Peacekeepers. O nosso convidado sobre os seres mais vulneráveis, não especial foi Bernard Miyet que, de devemos esquecer alguns factos: em 1997 a 2000, desempenhou o cargo geral, os soldados da paz são envia- de Secretário-Geral Adjunto para as dos para zonas devastadas pela guer- Operações de Manutenção da Paz. ra, para as quais ninguém mais quer ou pode ir; a ONU é a organização “Estou animado devido às conversações havidas com os dirigentes de Mianmar nos últimos dias. Concordaram em que era necessário agir urgentemente”, disse o Secretário-Geral, na conferência. “Espero e creio que qualquer hesitação que o Governo de Mianmar possa ter tido em relação a permitir que grupos de trabalhadores humanitários internacional actuem livremente nas zonas afectadas já se dissipou”. Um resumo emitido pelos co-presidentes da conferência – Ban Ki-moon e o Secretário-Geral da ASEAN, Surin Pitsuwan – informa que os participantes concordaram unanimemente em que é necessário “aumentar urgentemente e de uma forma muito significativa as actuais operações de socorro, para garantir o rápido acesso a todos aqueles que precisam desesperadamente de bens e serviços de emergência para sobreviver e assegurar a manutenção de um fluxo desses bens e serviços durante o tempo que for necessário, através dos dispositivos logísticos adequados e da aceleração da chegada e distribuição de bens vitais”. Para mais informações Problemas que vão desde a fome e a pobreza aos conflitos armados e desde a degradação ambiental ao terrorismo internacional constituem uma ameaça à segurança humana e mostram que é necessário conceber soluções integradas e, simultaneamente, centradas nas pessoas, disse o Presidente Srgjan Kerim no primeiro debate temático sobre a questão jamais realizado na Assembleia Geral. direito de viver sem medo e sem necessidades e de usufruir de igualdade de oportunidades no que se refere ao exercício de todos os seus direitos e ao pleno desenvolvimento do seu potencial humano". Na Cimeira Mundial de 2005 falou-se do conceito de segurança humana e afirmou-se que "todos os indivíduos e, em especial, as pessoas vulneráveis têm o Para mais informações (em inglês) Ver também comunicado de imprensa GA/10709) UN PHOTO Manutenção da Paz da ONU faz 60 anos Na abertura da Conferência Internacional para Anúncios de Contribuições, que se realizou a 25 de Maio, o Secretário-Geral, apelou a contribuições para ajudar as vítimas do ciclone Nargis, sublinhando que as operações de socorro durarão pelo menos seis meses. Segurança humana ameaçada por uma série de problemas, diz Presidente da Assembleia Geral Editorial - Afsane Bassir-Pour, Directora No momento em que a ONU celebra o 60º. aniversário da manutenção da paz, um novo relatório da organização “Save the Children”, que revela provas de abusos sexuais de crianças no Sul do Sudão, na Costa do Marfim e no Haiti por Capacetes Azul e membros de de grupos humanitários internacionais, é muito perturbador, mas a ideia de criar uma entidade de vigilância é uma iniciativa desejável. Mianmar: na Conferência de Doadores, Ban Ki-moon apela a aumento de contribuições O Presidente da Assembleia Geral afirmou que, dada a interligação que existe entre as inseguranças das pessoas, a comunidade internacional deve reforçar a sua cooperação. "Tal como nos mostra a crise alimentar, é necessária uma resposta bem coordenada e integrada por parte da comunidade internacional para fazer face à fase Falando no debate, a 22 de Maio, Srgjan de prevenção, bem como a todos os Kerim disse que era tempo de "adoptar factores que afectam o bem-estar das uma abordagem holística centrada nas pessoas". pessoas, na sua protecção e no seu empoderamento", uma abordagem em Srgjan Kerim apelou a uma "nova cultuque segurança não signifique apenas a ra das relações internacionais" alicerçada no princípio da segurança humana. segurança do Estado. Secretário-Geral Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Secretário-Geral apoia proibição de bombas de fragmentação Processo de descolonização ainda não está completo, diz Ban Ki-moon Embora a descolonização tenha sido um dos maiores êxitos das Nações Unidas, o facto de subsistirem ainda 16 territórios não autónomos significa que essa tarefa ainda não está completa, disse o Secretário-Geral Ban Kimoon. descolonização da ONU, quando esta organização mundial foi criada, em 1945. “Não há lugar para o colonialismo no mundo de hoje”, disse Ban Ki-moon no seu discurso, proferido por Freda Mackay, Chefe da Unidade de Descolonização do “Cabe à ONU, e a todos nós Departamento de Assuntos Polícomo membros da comunidade ticos. internacional, ajudar a conduzir este processo a uma conclusão Em 2008, a reunião de três dias bem sucedida”, disse, numa men- do Comité Especial para a Situasagem aquando da abertura do ção relativa à Aplicação da DeclaSeminário Regional do Pacífico ração sobre a Concessão da Indesobre Descolonização e da come- pendência aos Países e Povos moração da Semana da Solidarie- Coloniais, também conhecido dade com os Povos dos Territó- como Comité Especial dos 24 rios Não Autónomos. sobre Descolonização, concentrou-se na região do Pacífico. Setenta e dois territórios não autónomos constavam da lista de Novo complexo da ONU será “modelo de boa gestão ambiental” to entre as populações civis vítimas de conflito”. Segundo o Secretário-Geral, a criação deste instrumento jurídico acrescentaria um novo capítulo ao direito humanitário internacional. Milhares de milhão de bombas de fragmentação estão actualmente armazenadas em 70 países. Estas bombas foram também colocadas há perto de 30 anos no Laos, no Vietname, no Camboja e, mais recentemente, no Kosovo, no Afeganistão, no Iraque e, em 2006, no Essas bombas são pouco precisas Líbano. por natureza e, muitas vezes, funcionam mal, o que as torna particu- Segundo a UNICEF, 40% das vítimas larmente indiscriminadas e pouco de bombas de fragmentação são fiáveis, e representam um verdadei- crianças que são feridas ou mortas ro perigo para os civis, durante e muito depois do fim do conflito. depois de um conflito, diz Ban Kimoon, numa mensagem vídeo à A UNICEF lembra que, por exemConferência Diplomática sobre plo, no Kosovo, 67% das vítimas de Bombas de Fragmentação, que se bombas de fragmentação têm iniciou a 19 de Maio, em Dublim. menos de 19 anos. Estas bombas Segundo o Secretário-Geral, “se encontram-se nos pátios das escoabordarmos este problema de uma las e noutros locais onde as crianforma decisiva, poderemos reduzir ças gostam de brincar. o número de mortos e o sofrimenO Secretário-Geral pediu a criação de um instrumento jurídico que proíba a utilização e a produção de bombas de fragmentação, bem como o seu armazenamento e transferência. MENSAGENS DO SECRETÁRIO-GERAL Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de Maio) A 5 de Maio, de pás na mão e capacetes azuis na cabeça, membros da comunidade das Nações Unidas dirigidos pelo SecretárioGeral Ban Ki-moon lançaram a primeira pedra de um centro de conferências temporário na sede da ONU, assinalando o início de um projecto de remodelação do complexo histórico no valor de 1,9 mil milhões de dólares. dade das Nações Unidas e removendo materiais perigosos que foram utilizados na construção original. "Durante a execução desta obra, nunca perderemos de vista o objectivo original dos nossos fundadores quando construíram estes edifícios há quase 60 anos: promover um mundo mais seguro, mais pacífico e mais justo", disse o A construção do centro de confe- Secretário-Geral. rências temporário constitui a primeira fase do projecto, deno- O grande desafio da renovação, minado Plano-quadro de Equipa- disse o director do projecto, mento, um projecto de renovação Michael Adlerstein, consiste em que se destina a tornar o Secreta- respeitar a arquitectura original riado, construído há cinquenta dos edifícios, trazendo simultaneaanos, e os edifícios adjacentes mente o seu desempenho e segumais seguros, mais eficientes, mais rança para o século XXI. "Está a ser-nos dada uma oportunidade ecológicos e mais modernos. de transformar este complexo O Secretário-Geral prometeu num modelo de eficiência energétornar o complexo um "modelo tica e concepção sustentável", de boa gestão ambiental", reduzin- afirmou Ban Ki-moon. do o consumo de água e electrici- 2 Dia Internacional das Famílias (15 de Maio) Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação (17 de Maio) Dia Internacional da Diversidade Biológica (22 de Maio) Dia de África (25 de Maio) 60º Aniversário das Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas (29 de Maio) Assembleia Geral Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Presidente da Assembleia Geral mantém conversações com líderes israelitas e palestinianos Ao longo de todos os encontros, Srgjan Kerim frisou que a solução para o conflito israelo-palestiniano reside na existência de dois Estados que vivam lado a lado, em paz e segurança. Condenou ainda o terrorismo sob todas as suas formas e mostrou-se preocupado com a morSrgjan Kerim manteve conversações, te de civis no conflito. em Jerusalém, com o Presidente israelita Shimon Peres, com o Minis- Durante o seu périplo, Srgjan Kerim tro dos Negócios Estrangeiros, Tzipi sublinhou que a Assembleia tem Livni, e com membros do Knesset (o reafirmado repetidamente o seu Parlamento do país), incluindo o seu compromisso em relação à solução mais viável – a existência de dois Presidente, Dalia Itzik. Estados com fronteiras reconheciAcompanhado por um funcionário das. do Gabinete do Coordenador Especial das Nações Unidas para o Pro- “Contudo, a nossa missão ainda não cesso de Paz no Médio Oriente, foi cumprida”, disse, acrescentando manteve ainda conversações, em que, após mais de 60 anos, ainda não Ramallah, com o Presidente palesti- existe um “Estado palestiniano totalmente independente, seguro e viániano Mahmoud Abbas. vel”. O Presidente da Assembleia Geral, Srgjan Kerim, encontrou-se, a 13 de Maio, com líderes israelitas e palestinianos, nos últimos dias da sua visita oficial ao Médio Oriente, tendo sublinhado a necessidade de um amplo acordo de paz na região. Parcerias com o sector privado são vitais para a consecução dos ODM, segundo Srgjan Kerim É essencial estabelecer parcerias mais estreitas com o sector privado, a fim de se fazerem progressos na corrida com vista à consecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), disse o Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, num evento, denominado Business Call to Action e organizado conjuntamente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Reino Unido. Srgjan Kerim afirmou que as empresas deviam ser incentivadas a criar novos mercados no mundo em desenvolvimento, fornecendo produtos e serviços aos “mil milhões mais pobres” do mundo. "Hoje, é tempo de avançarmos para além das palavras", disse o Presidente da Assembleia aos participantes, entre os quais se incluíam os Presidentes do Ruanda e do Gana, bem como importantes líderes empresariais, representantes do sector privado, funcionários da ONU e membros de centros de reflexão. Srgjan Kerim sublinhou a necessidade de explorar novas oportunidades e desenvolver novas iniciativas susceptíveis de permitir que os conhecimentos especializados, investimento e tecnologia do sector privado comecem a ser utilizados para apoiar o crescimento nos países em desenvolvimento. Além disso, é tempo também de ir além da filantropia e de reforçar a actividade principal das organizações presentes, tendo em vista o apoio à consecução dos ODM e a obtenção de lucros, disse. Disse ainda que muitos líderes empresariais serão convidados a anunciar novas iniciativas e a defender ODM específicos durante uma reunião especial com Chefes de Estado, convocada conjuntamente pelo Presidente da Assembleia e o Secretário-Geral, a realizar nas Nações Unidas, em Nova Iorque, a 25 de Setembro. "A finalidade desta reunião é reafirmar o empenhamento dos Estadosmembros e do sistema das Nações Unidas na consecução incondicional dos ODM", afirmou Srgjan Kerim. "As parcerias com o sector privado fazem parte integrante deste processo". 3 Estados-Membros elegem 15 países para o Conselho de Direitos Humanos dos por seis países. Os vencedores foram o Japão, o Barém, a República da Coreia e o Paquistão, que obtiveram o maior número de votos, derrotando o Sri Lanca e Timor-Leste. UN PHOTO A 21 de Maio, após uma votação entre os Estados-membros das Nações Unidas realizada na Assembleia Geral, 15 países do mundo inteiro foram eleitos para o Conselho de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas. O seu mandato será de três anos e terá início no próximo mês. A Zâmbia, o Gana, o Burquina Faso e o Gabão foram seleccionados, por esta ordem, para preencher as quatro vagas africanas no Conselho de 47 membros. A competição mais cerrada foi a corrida às duas vagas da categoria Europa Ocidental e Outros Estados: França obteve 123 votos e o Reino Unido 120, vencendo a Espanha, que conseguiu recolher 119 votos. Alguns dos candidatos que venceram as votações de hoje deveriam retirar-se a 19 de Junho, altura em que expira o seu mandato actual. Foram eles o Gabão, o Gana, o Japão, o Paquistão, a República de Coreia, a Ucrânia, o Brasil, França e o Reino Unido. Os três lugares da região da América Latina e Caraíbas que O regimento do Conselho estiestavam por preencher foram pula que os mandatos dos seus para o Chile, o Brasil e a Argenmembros têm uma duração de tina. três anos, não sendo permitido um país concorrer a uma reeleiNa categoria da Europa Orienção depois de ter exercido dois tal, a Eslováquia e a Ucrânia mandatos consecutivos. Os 47 obtiveram os dois lugares dispomembros do CDH incluem 13 níveis, enquanto a Sérvia foi países de África, 13 da Ásia, 6 de derrotada. Europa Oriental, 8 de América Latina e Caraíbas, e 7 da Europa Os quatro lugares atribuídos aos Estados asiáticos foram disputa Ocidental e Outros Estados. Presidente da Assembleia Geral presta homenagem à Comissão de Direito Internacional O Presidente da Assembleia Geral prestou homenagem à Comissão de Direito Internacional, descrevendo-a como “uma prova viva da importância que a Assembleia Geral atribui ao desenvolvimento do direito internacional e à sua codificação”. do desejo, sentido pela comunidade internacional, de promover um melhor conhecimento do direito internacional num quadro multicultural e representativo a nível regional”, disse. Srgjan Kerim disse que os problemas mundiais que a humanidade enfrenta actualmente já não podem ser abordados no seio de uma sistema que coloca os interesses dos Estados acima de todos os outros e apelou a “um novo tipo de internacionalismo que situe o bem-estar das pessoas e das comunidades no seu centro”. Numa mensagem vídeo enviada à sessão comemorativa do 60º. aniversário da Comissão de Direito Internacional, que teve lugar em Genebra, a 19 de Maio, Srgjan Kerim disse que o trabalho meticuloso e exaustivo da Comissão ao longo dos últimos 60 anos serviu de base à adopção de muitas convenções multilaterais sob os auspícios das Nações “O desenvolvimento do direito Unidas. internacional para benefício directo das pessoas deveria ser a prio“A sua composição, que repre- ridade da actividade legislativa no senta os principais sistemas jurídi- século XXI”, sublinhou. cos do mundo, é uma expressão Conselho Económico e Social Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC ECOSOC traça grandes linhas de acção mundial eficaz e sustentada O mundo possui os conhecimentos e experiência necessários para combater a actual crise alimentar, mas precisa de mostrar vontade política e de reunir os recursos necessários para encontrar uma solução duradoura para milhões de pessoas que estão actualmente a sofrer, disse Léo Mérorès, Presidente do Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), a 20 de Maio, na abertura de uma reunião especial deste órgão sobre a crise alimentar mundial. Léo Mérorés, que apelou a que se retirassem ensinamentos dos debates entre os Estados-membros, peritos e organismos especializados da ONU. “É agora que é preciso agir”, insistiu, acrescentando que é preciso velar por que “as somas destinadas à ajuda alimentar de emergência que foram prometidas, num quadro bilateral ou através do sistema da ONU, sejam entregues sem demora”. Apelou ainda aos governos dos países doadores, empresas privadas, organizações filantrópicas e particulares, para que “redobrem os esforços para dar de comer àqueles que têm fome”. Pediu também aos países afectados que adoptem imediatamente medidas que visem a ajuda alimentar e programas prioritários a favor das mães e lactentes. “Deveria também ser atribuída a máxima importânLéo Mérorès disse que a crise está não só a ameaçar a saúde ou cia a dar aos agricultores os meios de fazer face às necessidades de sobrevivência de pessoas comuns mas também a pôr em perigo a esta- produção para a próxima campanha agrícola”. bilidade política e económica de muitos governos."O momento de agir é agora", afirmou, sublinhando a necessidade de medidas imediatas “Pedimos insistentemente a todos os Estados-membros que dêem para satisfazer as necessidades humanitárias e de um aumento da pro- provas da vontade e da flexibilidade necessárias para criar um novo regime comercial que favoreça a segurança alimentar, encorajando a dução agrícola a longo prazo. produção alimentar e os investimentos agrícolas nos países em desen"Penso que a agricultura tem de voltar a ser uma das prioridades ful- volvimento”, diz Léo Mérorés para quem “é necessária uma vontade crais do desenvolvimento", disse. "Necessitamos de concentrar esfor- renovada de concluir urgentemente o ciclo de negociações de Doha”. ços com vista a minimizar as emissões de gases com efeito de estufa, a desflorestação e o aquecimento global, e, simultaneamente, encontrar O Presidente do ECOSOC assegurou que é indispensável uma acção a maneiras de promover o investimento na agricultura e maximizar a médio e a longo prazo e apelou aos doadores para que reanalisem a utilização da agrociência e da tecnologia, com o objectivo de reduzir distribuição sectorial da ajuda pública ao desenvolvimento e para que os custos de produção e aumentar substancialmente a produtividade desenvolvam esforços concertados para combater a crise em África. Pediu-lhes ainda que repensassem seriamente as suas políticas a favor de rendimento de cada hectare de terra arável". dos biocombustíveis, velando por que as medidas destinadas a promoUsando da palavra na mesma reunião, a Vice-Secretária-Geral Asha- ver este tipo de energia não ponham em perigo a segurança alimentar. Rose Migiro disse que a crise vai lançar 100 milhões de pessoas ou mais na pobreza profunda, para além dos 830 milhões que já se deba- Léo Mérorés disse que transmitiria esta declaração à Conferência de Alto Nível sobre Segurança Alimentar, que decorrerá na sede da FAO, tem com uma escassez aguda de alimentos essenciais. em Roma, de 3 a 5 de Junho, bem como aos Presidentes da Assem"Isto representa sete anos perdidos na luta mundial contra a pobreza e bleia Geral e do Conselho de Segurança e ao Secretário-Geral. a fome", disse a Vice-Secretária-Geral, acrescentando que os progressos realizados até à data em relação à consecução dos Objectivos de Esta reunião do ECOSOC foi a primeira de uma série de eventos Desenvolvimento do Milénio (ODM) poderão ser praticamente anula- importantes que visam combater a crise alimentar mundial, nomeadamente, a Conferência de Alto Nível em Roma, a sessão de fundo do dos. "Há por toda a parte famílias em situação extrema que estão a reduzir ECOSOC. Em Julho, e a Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral o seu consumo. As que comiam duas refeições, agora, apenas comem sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a 25 de Setemuma. Em muitos países, até as pessoas que têm emprego e recebem bro. um salário estão a comprar arroz à chávena e não em sacos. Esta miséria é degradante. Gera violência. Já o vimos na Ásia, em África, na Esta foi também a primeira reunião que o ECOSOC organizou para se exonerar das responsabilidades que lhe foram atribuídas pelo DocuAmérica Latina e nas Caraíbas”. mento Final da Cimeira Mundial de 2005, a saber, responder melhor e Frisando que grande parte do problema foi criado pelo homem, Asha- mais rapidamente aos desafios no domínio do desenvolvimento econóRose Migiro exortou os decisores políticos a examinarem cuidadosa- mico, ambiental e social, a nível internacional, e apoiar e completar os mente os numerosos casos, incluindo a utilização crescente de bio- esforços internacionais em matéria de emergências humanitárias. combustíveis, especialmente os que são produzidos à base de cereais. O Presidente da Assembleia Geral, Srgjan Kerim, também realçou a necessidade de um maior investimento na agricultura de modo a impulsionar a produção com vista a satisfazer a procura mundial. "Precisamos de utilizar os nossos melhores conhecimentos científicos, ferramentas e tecnologias para optimizar a eficiência e impulsionar a produção", disse. "Precisamos igualmente de adoptar políticas que promovam a propriedade das terras e dos recursos. As reformas da política comercial há muito que se fazem esperar. Precisamos de criar condições mais equitativas para os agricultores dos países em desenvolvimento poderem beneficiar de um aumento dos preços". A reunião terminou a 22 de Maio, com a emissão da declaração do Presidente do ECOSOC, na qual este traça as grandes linhas dos “principais elementos que constituem o fundamento de uma acção mundial eficaz e sustentada”. “Para fazer face a esta crise complexa, temos de agir todos em conjunto e com urgência”, declarou Statement of the President of ECOSOC on the occasion of the Special Meeting of the Council on the Global Food Crisis 4 Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Três perguntas a Jeffrey Sachs* (entrevista à UNRIC Magazine) bém contribuíram para a presente situação. UN PHOTO Os preços dos alimentos têm subido a um ritmo impressionante. O que provoca essas subidas de preços? A procura de alimentos excedeu a oferta mundial. O problema da oferta tem várias causas diferentes. Em primeiro lugar, a produtividade é muito baixa em África e em algumas regiões pobres. Em segundo, houve choques climáticos na Austrália e na Europa e em algumas outras regiões produtoras de cereais. Além disso, o desvio de alimentos e da produção de alimentos para os biocombustíveis e as reduzidas quantidades armazenadas de produtos alimentares tam- resolvida apenas pelos governos e grandes empresas ou as pessoas podem contribuir, Quando a procura mundial aumentou, não havia a nível individual, para a sua resolução? grandes reservas de cereais e isso significou que os preços subiram em flecha. As barreiras ao Penso que a muito curto prazo será um problecomércio impostas pelos países exportadores de ma cuja resolução passa por os programas dos produtos alimentares, a fim de manterem preços governos aumentarem a oferta de alimentos nos baixos a nível interno fizeram aumentar acentua- países pobres. Com o tempo, a maneira como damente os preços nos países importadores. vivemos e os nossos hábitos alimentares desemEssencialmente, o problema subjacente é que a penharão também um papel. Todos sabemos que procura de produtos alimentares aumentou são precisos 8 quilos de cereais para produzir um acentuadamente e a oferta alimentar, não. quilo de carne vermelha. Isto quer dizer que o facto de a nossa dieta assentar no consumo de O Secretário-Geral da ONU disse que a carne exerce uma grande pressão sobre o sistesubida dos preços dos alimentos ameaça a ma alimentar. realização do Objectivo de Desenvolvimento do Milénio que consiste em reduzir Julgo, por isso, que uma dieta mais saudável para a pobreza para metade até 2015. Concor- nós, que inclua menos carne vermelha e mais da? legumes e mais peixe e que exija apenas 3kg de alimentos para animais, poderia ser uma opção É evidente que sim. A medida mais importante é melhor para o planeta. Mas em relação a esta aumentar a produção de alimentos nas regiões crise imediata, penso que o que podemos fazer é pobres. A maioria destas regiões – e mais uma dizer aos nossos governos que não queremos vez destaco África – apresenta taxas de produ- que as nossas políticas descurem as necessidades ção de alimentos que equivalem a metade ou um de mil milhões de pessoas pobres que vivem com terço do que poderiam ser. O problema é que os fome; que queremos ver a Europa, os Estados agricultores são tão pobres que não dispõem de Unidos e outros governos ajudarem os agricultomeios para comprar boas sementes e fertilizantes res dos países pobres a aumentarem a oferta ou para recorrer à irrigação. Penso que, para alimentar, para que a crise não persista. superar esta crise, temos de ajudar a financiar a oferta de produtos agrícolas nos países pobres. Isto poderia fazer aumentar a produção, baixar * Director de The Earth Institute e Assessor Especial os preços e ajudar a resolver esta situação de do Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon. De 2002 a 2006, foi Director do UN Millennium Project e Assesemergência. sor Especial do Secretário-Geral da ONU Kofi Annan A crise dos preços alimentar pode ser para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. 30ª. Sessão do Comité de Informação Kiyo Akasaka pede apoio dos Estados-membros -- Oradores sublinham importância do multilinguismo Na abertura da 30ª. Sessão do Comité de Informação, o Secretário-Geral Adjunto para a Comunicação e a Informação Pública, Kiyo Akasaka, pediu a “participação activa dos Estados-membros” para ajudar o Departamento de Informação Pública (DPI) a superar os desafios que enfrenta, afirmando que, com essa cooperação, o Departamento “pode dar um contributo importante para um mundo melhor”. Kiyo Akasaka afirmou que os esforços do DPI são hoje “mais estratégicos e coerentes” e os seus produtos e serviços são comunicados “mais rápida e eficazmente”. Lembrou que, por ocasião do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a conferência anual DPI/ONG teria lugar em Barbuda, Tomasie Blair, sublinhou a Setembro, na sede da UNES- importância do reforço dos centros CO, em Paris. de informação, “uma fonte essencial de informação e um meio indispenFalou de diversas iniciativas do sável para reduzir o fosso digital Departamento: desde as cam- entre o mundo desenvolvido e o panhas (para a eliminação da mundo em desenvolvimento”. Pediu violência contra as mulheres e ainda que a difusão da informação da raparigas, para pôr fim à ONU fosse assegurada no maior pobreza e para celebrar o 60º número possível de línguas. aniversário da DUDH) aos 60 anos das operações de manutenção A importância do multilinguismo foi da paz da ONU, passando pelos também sublinhada pelo Represenesforços dos Centros de Informação tante do México, Claude Heller, que com vista a produzir material em 80 falou em nome do Grupo do Rio. línguas. Falando em nome do Grupo dos No debate geral, o Representante de Estados Árabes, o Representante da França, Jean-Maurice Rippert, que República Árabe Síria, Bashar Ja’afari, falou em nome da União Europeia expressou o desejo de que o sítio (UE), considerou que havia que Web da ONU em árabe seja melhomelhorar a eficácia do DPI, apesar rado. das restrições orçamentais e insistiu na importância do multilinguismo, Por sua vez, o Representante de “dimensão essencial do trabalho da Cabo Verde, António Monteiro ONU”. Elogiou todas as iniciativas Lima, apelou ao reforço do serviço do Centro Regional em Bruxelas em língua portuguesa da Rádio (UNRIC) para ajudar a Organização ONU, sublinhando que a rádio cona celebrar os 60 anos da DUDH. tinua a ser o meio de comunicação mais eficaz e acessível nos países em Em nome do Grupo dos 77 e da desenvolvimento, em particular nos China, o Representante de Antigua e países lusófonos. Afirmou que era 5 cada vez mais necessário abrir um centro de informação em Luanda, para responder às necessidades dos países africanos lusófonos, elogiando, no entanto, o trabalho do núcleo de Portugal no UNRIC no domínio da difusão de material informativo em português. No encerramento do debate geral, Kiyo Akasaka observou que, na sua maioria, as delegações se tinham declarado satisfeitas com a abordagem estratégica do DPI e com o desempenho dos centros de informação e respondeu a várias preocupações manifestadas. Relativamente à proposta de Cabo Verde e do Brasil sobre a abertura de um centro regional em Angola, o Secretário-Geral Adjunto reconheceu a importância de responder às necessidades específicas da comunidade lusófona de África, lembrando, porém, que compete à Assembleia Geral tomar tal decisão e aprovar os recursos necessários para o funcionamento do novo escritório. Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Entrevista à Comissária-Geral do Organismo de Obras Públicas e de Socorro aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA), Karen Koning AbuZayd, pelo porta-voz do UNRWA, Chris Gunness No 60.º aniversário do UNRWA actividades suplementares, pelo menos para dar às crianças qualquer coisa que as anime, qualquer coisa que lhes dê esperança, qualquer coisa que traga um pouco de alegria à sua vida. De um modo geral, os doadores têm apoiado muitas destas actividades de emergência, mas estamos a ter problemas idênticos aos de Gaza noutros sítios - mesmo na Jordânia, na Síria e no Líbano - para tentar manter um certo nível de qualidade, para tentar manter os níveis de excelência anteriores do UNRWA nos domínios da educação e da saúde. Agora temos escolas com dois turnos em toda a parte e os médicos vêem 100 doentes ou mais, todos os dias, e necessitamos nitidamente de mais fundos. Temos Naher el-Bared*, temos Gaza, temos o encerramento da Cisjordânia, temos o problema financeiro do UNRWA. Quais são, para si, os principais desafios que o UNRWA enfrenta? Bem, acabou de mencionar alguns deles. É evidente que um dos nossos grandes problemas é o facto de os refugiados serem refugiados há muito tempo. Os nossos trabalhadores são refugiados, os nossos funcionários são refugiados e prestamos serviços a 4,5 milhões de refugiados. Temos problemas de financiamento, porque os nossos programas aumentam todos os anos e temos mais emergências todos os anos ou porque as situações de emergência se mantêm. Estamos rodeados de dificuldades e obstáculos por todos os lados, que nos impedem de avançar e manter ou melhorar os nossos serviços. É Gaza que é constantemente tema das notícias. Qual é actualmente a gravidade da situação? O UNRWA já ali tem uma presença há oito anos. Na sua opinião, a situação alguma vez foi tão grave, tanto para o UNRWA como para a população de Gaza? Para a população de Gaza, a situação nunca foi tão grave porque agora não há nada: não há combustível, a electricidade é muito pouca, a água é muito pouca, a gestão do problema dos esgotos é insuficiente, etc. As pessoas são obrigadas a andar a pé e tanto podem chegar ao seu destino - a escola ou o emprego como não chegar. Há coisas básicas que faltam em todas as casas. As pessoas deixaram de levar uma vida que se pareça com algo de normal ou digno. Por isso, a situação para a população é muito grave. O UNRWA tem sido de certa maneira obrigado a aventurar-se mais, a correr mais riscos, para tentar dar às pessoas aquilo de que elas necessitam, especialmente aos refugiados, que representam dois terços da população de Gaza. O pessoal do UNRWA tem sido muito imaginativo e inovador, dando aulas de recuperação e organizando jogos de Verão e outras dos foram destruídos e depois não foram reconstruídos. Prometemos-lhes reconstruir e dissemos que poderiam voltar para Nahr elBared. Assim que tenhamos promessas de fundos, começaremos a remover os escombros do campo. Estamos neste momento a remover os escombros do nosso próprio complexo, que se situa junto ao campo de refugiados. Queremos que os refugiados vejam que vai haver reconstrução e progressos, porque neste momento estão a viver em condições muito provisórias. Por último, temos Anápolis**, temos a promessa de uma solução de dois Estados até 31 de Dezembro. Há, nitidamente, muito cinismo. Onde se enquadra o É Gaza que domina as notícias da actuali- UNRWA nesta tentativa de levar um dade. Mas, entretanto, o que se passa na pouco de paz e normalidade ao Médio Cisjordânia? Há seiscentas barreiras físi- Oriente? cas e, mesmo assim, realizam-se conferências sobre investimento e há toda a O UNRWA é uma das organizações que, a espécie de actividades a decorrer. Qual é meu ver, está a tentar manter a esperança em relação a essas promessas. Não sei se alguém a gravidade da situação na Cisjordânia? espera uma solução de dois Estados definitiva Depende da zona da Cisjordânia em que se até ao final do ano. Mas esperamos que haja está. Creio que há algumas bolsas onde não um quadro que permita as coisas avançarem existe pobreza e a conferência sobre investi- depois disso. O papel do UNRWA consiste em mento é um evento muito bem-vindo. Estamos aplicar um eventual acordo ou os resultados muito contentes por se ir realizar. Estamos das negociações de paz. O nosso papel consiscontentes pelo facto de tantos investidores te igualmente em assegurar que os refugiados terem vindo do mundo inteiro e parecerem não sejam esquecidos nestas negociações, que interessados em investir na Cisjordânia, porque figurem entre os temas – e sejam um dos prinesperamos que, um dia, esse mesmo interesse cipais temas – da ordem de trabalhos. Entrese estenda a Gaza. Um dia, os habitantes de tanto, vamos difundindo a nossa mensagem de Gaza e da Cisjordânia voltarão a estar reunidos paz, tolerância e resolução de litígios de modo e tudo aquilo que ajudar a melhorar a econo- a ajudar as pessoas a começarem a pensar em mia na Cisjordânia será positivo para todo o viver em paz com os seus vizinhos. território. A nossa dificuldade reside nesses 612 postos de controlo - agora já são mais, provavelmente - e em ver os colonatos expandirem-se, em ver o muro de separação crescer e os problemas enormes que o nosso pessoal tem em deslocar-se de um sítio para outro. Se nem nós, que somos pessoal das Nações Unidas, podemos circular facilmente, não me parece que haja muitas esperanças de uma melhoria NOTAS global da economia. * Nahr el-Bared, que se situa nos arredores de Tripoli, no Líbano, foi um dos primeiros campos para refugiados palestinianos criados em 1948. Posteriormente, as tendas dos primeiros 25 000 habitantes foram substituídas por casas de tijolo e cimento. No Verão de 2007, combates violentos entre o exército libanês e o grupo Fatah al-Islam reduziram a escombros Nahr el-Bared, o Campo do Rio Frio. Durante as hostilidades, a maior parte da população do campo, calculada em 31 000 Aquilo que esperamos quando apresentarmos pessoas, fugiu para campos e cidades das proximidades o projecto de reconstrução de Nahr el-Bared, à procura de segurança. Falemos da reconstrução de Nahr elBared. Disse que era o maior projecto da história do UNRWA. No fim de Junho vai realizar-se uma conferência de doadores. O que espera da conferência de doadores e o que se vai seguir? orçado em 279 milhões de dólares, é que haja promessas de fundos, que haja doadores do mundo ocidental e do mundo árabe que se mostrem interessados, de modo a podermos cumprir as nossas promessas - as nossas promessas e as do Governo libanês - aos refugiados de Nahr el-Bared. Garantimos-lhes que aquilo que aconteceu no passado não voltará a acontecer, ou seja, o que aconteceu quando houve o conflito em que os campos de refugia- 6 ** Anápolis: O Presidente Bush e a Secretária de Estado Condoleezza Rice organizaram uma conferência internacional em Anápolis (Maryland), em Novembro de 2007, destinada a apoiar os esforços do PrimeiroMinistro Olmert e do Presidente Abbas no sentido de realizar a visão de dois Estados democráticos, Israel e a Palestina, a viverem lado a lado em paz e segurança. Os dois dirigentes disseram esperar concluir um acordo até ao final de 2008, mas, até à data, as conversações não têm produzido grandes resultados. Paz e Segurança Internacionais Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Mais de 150 Estados comunicaram medidas tomadas para impedir que ADM caiam nas mãos de terroristas Conselho de Segurança reunido sobre questão da consolidação da paz após conflitos congelamento de bens, as proibições de viagens e o embargo à venda de armas. A 6 de Maio foi anunciado que, no final de Abril, mais de metade dos Estadosmembros das Nações Unidas já tinham apresentado ao Conselho de Segurança avaliações relativas às medidas tomadas para manter as armas nucleares, químicas e biológicas fora do alcance dos terroristas e traficantes do mercado negro. Mais de 150 países já cumpriram as suas responsabilidades em matéria de prestação de informação, disse ao Conselho o Embaixador Jorge Urbina, presidente do Comité do Conselho de Segurança criado nos termos da Resolução 1540 (2004) para combater a proliferação de armas de destruição maciça (ADM) por actores não estatais, especialmente terroristas. Jorge Urbina convidou os Estados que ainda não apresentaram os seus relatórios a fazerem-no o mais brevemente possível. O presidente do Comité constituído em conformidade com a Resolução 1267 (1999), encarregado de verificar a aplicação de sanções contra a AlQaeda e os Talibãs, disse que o Comité mantivera discussões sobre as três medidas de aplicação de sanções: o O Embaixador Johan Verbeke da Bélgica disse, no debate público do Conselho, em que intervieram cerca de doze oradores, que o Comité também examinara a questão da utilização indevida da Internet para fins terroristas. "O Comité partilha das preocupações expressas relativamente ao facto de a Internet constituir um meio e um instrumento poderoso para a AlQaeda, os Talibãs e os seus associados", disse, acrescentando que a questão voltará a ser discutida futuramente. Entretanto, o presidente do Comité contra o Terrorismo (CTC) informou o Conselho sobre o novo organograma da Direcção Executiva do Comité contra o Terrorismo (CTED), que foi encarregada de acompanhar os esforços desenvolvidos pelos países para combater o flagelo mundial do terrorismo. "As modificações introduzidas na organização e métodos de trabalho da CTED irão melhorar a qualidade e consistência dos seus pareceres técnicos e reforçar o diálogo em curso entre a CTED e os Estados-membros", disse o Embaixador Neven Jurica da Croácia. "Irão também reforçar a cooperação da CTED com as organizações internacionais, regionais e sub-regionais pertinentes". O Conselho de Segurança realizou, a 20 de Maio, uma sessão pública sobre consolidação da paz, na presença de vários ministros, do SecretárioGeral e do seu Assessor Especial, Lakhdar Brahimi, bem como do Vice-Presidente do Banco Mundial. Interrogando-se sobre como é possível reforçar a resposta colectiva da ONU, o Secretário-Geral afirmou “Em primeiro lugar, temos de ser coerentes”. Ban Ki-moon sublinhou a importância da coordenação entre as autoridades nacionais, regionais e as Nações Unidas. Em segundo lugar, é indispensável dispor de capacidades suficientes. “Se a ONU deve dirigir estes esforços no terreno, é necessário que os meus Representantes Especiais tenham os poderes necessários. Precisam de identificar as prioridades estratégicas, elaborar os planos de reconstrução e de reabilitação, mobilizar os fundos e os recursos com os parceiros de desenvolvimento”. O Secretário-Geral propôs, depois, a criação de uma equipa de peritos civis. “As lições que pudemos retirar em muitos países, quer se trate da República Democrática do Congo (RDC), da Serra Leoa, de Timor-Leste, do Haiti, do Burundi ou da Libéria, demonstram que, para além das diferenças de contexto, sobressaem três prioridades comuns”, lembrou o Secretário-Geral, no seu As capacidades da Polícia das Nações Unidas, que são reais discurso de abertura. ainda que limitadas, são um “É necessário criar processos passo na direcção certa, afirpolíticos viáveis que possam mou, como demonstra o recenapoiar os acordos de paz e te lançamento de uma Equipa legitimar as autoridades nacio- de Reserva de Peritos em nais. Em seguida, é necessário Mediação. restabelecer a segurança e o Estado de direito, nomeada- A criação de um Gabinete do mente desenvolvendo e refor- Estado de direito e das instituiçando sectores da segurança e ções de segurança inserido no da justiça transparentes e efica- Departamento das Operações zes. Por fim, a população local de Manutenção de Paz (DPKO) deve poder beneficiar o mais reflecte igualmente o comprorapidamente possível de servi- misso da ONU com o respeito ços básicos, de modo a assegu- do Estado de direito, os direitos rar as condições de um desen- humanos e a reforma do sector de segurança. volvimento a longo prazo. Para mais informações Para mais informações Conselho de Segurança afirma papel importante das Nações Unidas no processo de reforma do sector da segurança dos Estados O Conselho de Segurança, que analisara pela primeira vez a questão da reforma do sector da segurança a 21 de Fevereiro de 2007, reconheceu, a 12 de Maio, o papel importante que a ONU desempenha no apoio aos esforços neste domínio e afirmou que essa solidariedade deve ser constante. Numa declaração lida pelo seu Presidente durante o mês de Maio, o Representante do Reino Unido, John Sawers, o Conselho insistiu também no facto de a reforma do sector da segurança ser um elemento essencial de qualquer acção de estabilização e de reconstrução após um conflito. direito e contribuir para o reforço global das actividades da Organização no domínio do Estado de direito e, num plano mais geral, nos da recuperação e do desenvolvimento. Para isso, considera que será preciso estabelecer uma coordenação com todos os organismos competentes das Nações Unidas. O Conselho disse estar consciente de que a reforma do sector da segurança é algo a realizar a longo prazo e reafirmou que se trata de um direito soberano e de uma responsabilidade primordial do país em questão definir a sua concepção e as suas prioridades nesta matéria. and development: the role of the United Nations in supporting security sector reform, evocou a rica experiência das Nações Unidas na matéria, na Guatemala, no Afeganistão e na República Democrática do Congo. O relatório contém uma série de recomendações que visam que a ONU elabore directivas técnicas e módulos de formação em matéria de reforma do sector da segurança, reforce as capacidades no terreno e as capacidades em termos de conhecimentos especializados, melhore a coordenação e a prestação da ajuda ao processo e crie na sua Sede uma unidade encarregada da reforma do sector da segurança. O Conselho sublinhou que o apoio da ONU à reforma do sector da segurança se deveria O Secretário-Geral Ban Ki-moon, que inscrever no quadro geral do Estado de apresentou o seu relatório Securing peace Comunicado de imprensa SC/9327 (em inglês) 7 Paz e Segurança Internacionais Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Somália: Conselho de Segurança apoia preparativos para nova Constituição O Conselho de Segurança manifestou o seu apoio à proposta do Secretário-Geral sobre a actualização da sua estratégia integrada para a Somália. Adoptando por unanimidade a resolução 1814 (2008), o Conselho de Segurança decidiu que, no quadro da promoção de uma solução global e duradoura para a Somália com vista a favorecer o processo político em curso, o Gabinete Político das Nações Unidas para a Somália (UNPOS) e e equipa de país da ONU deveriam aumentar o apoio às Instituições Federais de Transição, com o objectivo de elaborar uma constituição e de organizar um referendo constitucional e eleições livres e democráticas em 2009. “Considerando que a situação na Somália continua a ser uma ameaça para a paz e a segurança internacionais na região, o Conselho lembrou a sua intenção de tomar medidas em relação a quem tente Comissão de Consolidação da Paz das Nações Unidas discute assistência à Serra Leoa impedir ou bloquear um processo político pacífico ou ameace pela força as Instituições Federais de Transição ou a Missão da União Africana para a Somália (AMISOM)”. Representantes das Nações Unidas, de Estados-membros, organizações regionais, sector privado e sociedade civil reuniram-se, a 19 de Maio, em Nova Iorque para discutir como aumentar o nível de envolvimento internacional nos esforços da Serra Leoa para fazer a transição de anos de guerra civil para a estabilidade e prosperidade futuras. Também lembrou a sua intenção de reforçar a eficácia do embargo de armas imposto à Somália e de tomar medidas contra os que violem este embargo e os que os ajudem para esse efeito. A falta de coordenação entre os doadores e o pessoal qualificado e a debilidade das instituições foram identificadas como as principais causas da lentidão na aplicação do Quadro de Cooperação para a Consolidação da Paz no país, adoptado em Dezembro de 2007. Além disso, o Conselho de Segurança pediu aos Estados e organizações regionais que tomem medidas para proteger os navios que participam no transporte e na entrega da ajuda humanitária destinada à Somália e às actividades autorizadas pela ONU. O instrumento, denominado Quadro de Cooperação para a Consolidação da Paz, identifica cinco áreas prioritárias: reforma dos sectores da segurança e da justiça, emprego e empoderamento dos jovens, boa governação, desenvolvimento do sector Comunicado de imprensa SC/9331 (em inglês) “O nosso apoio individual e colectivo será fundamental para a continuação dos avanços impressionantes da Serra Leoa em direcção à paz, ao desenvolvimento e à prosperidade”, disse. No seu último relatório ao Conselho de Segurança, tornado público a 5 de Maio, o Secretário-Geral afirmou que a ONU deveria manter o seu compromisso em relação à Serra Leoa e propôs a criação de um Gabinete de Apoio Integrado para a Consolidação da Paz na Serra Leoa, que sucederia ao actual UNIOSIL, cujo mandato termina a 30 de Setembro. mento de Apoio às Missões, em Abril, foi elaborado um novo plano de envio que visa colocar no terreno 80% dos efectivos autorizados da UNAMID até ao final de 2008. duas décadas de conflito entre o Norte e o Sul do país. O impasse em relação à delimitação de Abyei tem sido um dos principais obstáculos à plena aplicação do Acordo de Paz Global, que pôs fim a mais de Usando da palavra na reunião, o Secretário-Geral Ban Ki-moon reiterou que a consolidação da paz eficaz se baseia em três princípios – apropriação nacional, responsabilidade mútua e compromisso sustentável. Sudão / Darfur: Secretário-Geral pede reforço da Operação Híbrida Preocupado com recomeço dos combates no Sudão, Ban Ki-moon exortou partes a respeitarem acordo de cessar-fogo de 18 de Maio A ONU teve de evacuar a maior parte do pessoal da cidade de Abyei, situada numa região rica em petróleo, devido aos combates entre forças do Governo e o Exército de Libertação do Povo Sudanês. Os confrontos, que começaram a 13 de Maio, conduziram à destruição da cidade de Abyei e provocaram a deslocação de cerca de 50 000 pessoas de Abyei e dos seus arredores. Apenas o Chefe da Missão das Nações Unidas no Sudão (UNMIS) e alguns membros do pessoal internacional permaneceram na cidade para desempenhar funções fundamentais. energético e reforço de capacidades. A 15 de Maio, as duas partes acordaram num cessar-fogo e em assumir as suas responsabilidades em matéria de manutenção da ordem pública nas suas respectivas zonas, numa reunião da Comissão Militar Conjunta, sob a presidência da UNMIS. “Estou profundamente contristado pelo facto de as partes continuarem a recorrer à violência e prolongarem, assim, o conflito no Darfur”, informou o Secretário-Geral, no seu relatório de Abril ao Conselho de Segurança, sobre a Operação Híbrida UA-ONU (UNAMID). “A presença reforçada da UNAMID é do interesse de todas as partes empenhadas em levar a estabilidade ao Darfur”, lembrou Ban Ki-moon no seu relatório, publicado a 13 de Maio. A 20 de Maio, o Secretário-Geral manifestou a sua profunda preocupação perante o recomeço dos combates, que ameaçam os progressos alcançados no domínio da aplicação do Acordo de Paz Global. Ban Ki-moon exortou as partes a respeitarem as disposições do acordo de cessar-fogo e sublinhou que não pode haver uma solução militar para os diferendos entre as partes relativamente a Abyei, lembrando-lhes o seu compromisso de encontrar uma solução política que respeite os direitos e necessidades das duas partes e da população da região de Abyei. Enquanto as condições de segurança se mantiveram extremamente instáveis, durante o período abrangido pelo relatório, diz o SecretárioGeral, “os preparativos para o envio de contingentes militares e de unidades de polícia para o Darfur continuaram a ser entravados por dificuldades logísticas consideráveis e pela insegurança”. Durante a visita ao país de uma missão do Departamento de Operações de Manutenção da Paz e do Departa- 8 Mas “alcançar esse objectivo levanta enormes dificuldades logísticas e implica um aumento importante dos efectivos da missão e do equipamento de acolhimento”, sublinha o Secretário-Geral, que lembra a necessidade crucial de obter uma ajuda directa dos países fornecedores de tropas, dos doadores e do Governo do Sudão. “A UNAMID continuou a esbarrar com entraves à sua liberdade de movimentos”, lamenta o SecretárioGeral que a Operação “não poderia substituir a vontade política”. Uma vez no terreno, a Missão “assumirá um grande diversidade de responsabilidades, a primeira das quais será a protecção das populações civis”. Contudo, “será só através de um diálogo político que as partes poderão alcançar uma solução viável, duradoura e global para crise”, insistiu Ban Ki-moon que mencionou os esforços dos Enviados Especiais por conseguir a cessação das hostilidades e pediu, uma vez mais, às partes que voltem a sentar-se à mesa das negociações. Para mais informações Paz e Segurança Internacionais Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Quarteto para Médio Oriente reafirma apoio a negociações de paz Secretário-Geral saúda eleição “histórica” de Presidente do Líbano “O Secretário-Geral está pronto a apoiar o povo libanês, conforme for necessário, e espera trabalhar em estreita cooperação com o Presidente e com o futuro Governo do Líbano com vista à realização desses objectivos”. Uns dias antes, Ban Ki-moon saudou o acordo alcançado em Doha, no Catar, entre líderes políticos libaneses, com vista a solucionar a prolongada crise política sobre a Presidência e a direcção do país. O Secretário-Geral das Nações Unidas felicitou, hoje, o povo libanês pela eleição do Presidente Michel Suleimane, que pôs termo ao impasse que se manteve desde O acordo foi alcançado depois Novembro do ano passado. terem deflagrado confrontos mortíentre milícias próNum comunicado emitido pela sua feros Porta-voz a 25 de Maio, Ban Ki- governamentais e milícias que se moon expressou a esperança de opõem ao Governo, na capital, que este “acontecimento histórico” Beirute, e noutras regiões. conduza à revitalização de todas as instituições constitucionais do Líba- A 22 de Maio, também o Conselho no e ao regresso do diálogo políti- de Segurança saudou o acordo alcançado esta semana para solucioco. nar a longa crise política no Líbano Desde Novembro de 2007, em que e apelou à sua aplicação integral. o cargo ficou vago, houve 18 tentativas falhadas de eleger o Presidente Segundo o comunicado, lido pelo Embaixador John Sawers, do Reino através de votação no Parlamento. Unido, país que detém a presidência Ban Ki-moon exortou as partes a do Conselho durante o mês de prosseguirem os esforços para Maio, o acordo “constitui um passo reforçar a soberania, a estabilidade fundamental para a resolução da e a independência política do país, actual crise, para o regresso ao em conformidade com o Acordo de funcionamento normal das instituiTaef de 1989 e com as resoluções ções democráticas libanesas e para do Conselho de Segurança relativas o total restabelecimento da unidade e da estabilidade do país”. à questão. A 2 de Maio, o Secretário-Geral Ban Ki-moon encontrou-se, em Londres, com os membros do Quarteto para o Médio Oriente, na presença do Enviado Especial Tony Blair, encorajando Israel e a Autoridade Palestiniana a prosseguirem as conversações. Europeia, manifestou a sua profunda preocupação perante a continuação do estabelecimento de colonatos e apelou a Israel para que detivesse as actividades de construção, incluindo o “crescimento natural” dos colonatos, e desmantelasse os postos avançados construídos desde Março de 2001. O Quarteto apelou à Autoridade Palestiniana para que cumpra os seus compromissos em matéria de luta contra o terrorismo e para que acelere as medidas tomadas para reformar o seu pessoal de segurança. A declaração proferida no final da reunião apela à prestação, sem entraves, da assistência humanitária a Gaza. O UNRWA (Gabinete de Obras Pública e de Socorro aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente) anunciou que o aumento dos preços gerou um novo défice de 117 milhões de dólares no seu O Quarteto para o Médio Oriente, orçamento geral. composto pelos Estados Unidos, a Federação Russa, a ONU e a União O Quarteto encorajou as partes “a fazerem todos os esforços possíveis para alcançar o objectivo comum de chegar a um acordo sobre a criação de um Estado palestiniano até ao final de 2008”, informou a Porta-voz Adjunta do Secretário-Geral, Marie Okabe. Conversações de paz indirectas entre Israel e Síria A 21 de Maio, o SecretárioGeral da ONU saudou a confirmação de discussões indirectas de paz entre a Síria e Israel sob a égide da Turquia. Nepal ainda enfrenta desafios muito consideráveis, sublinha Enviado da ONU terem tomado essa importante iniciativa e agradeceu à Turquia os seus esforços. As conversações visam alcançar um acordo de paz global conforBan Ki-moon felicitou o Presi- me foi definido na Conferência dente Assad da Síria e o Primei- de Madrid. Os partidos políticos do Nepal ro-Ministro de Israel Olmert por terão de chegar a um acordo sobre a formação de um novo governo e de redigir uma nova Constituição, para dar ao país uma oportunidade de conhecer uma estabilidade duradoura e o desenvolvimento económico, disse o Representante Especial do Secretário-Geral para o Nepal, Ian Martin, ao informar o Conselho de Segurança, a 22 de Maio, sobre a situação no país. Depois da reunião, disse aos jornalistas que o Nepal ainda enfrenta “desafios muito consideráveis” após as eleições para uma nova Assembleia Constituinte, realizadas no mês passado. O Enviado da ONU enumerou compromissos importantes que ainda não foram cumpridos: indemnização às vítimas do conflito, investigação dos desaparecimentos, a devolução de bens e o regressos dos deslocados aos seus lares. Embora a situação no domínio da segurança se tenha mantido calma no conjunto do país, nos últimos meses, é mais do que nunca necessário pôr fim ao clima de impunidade que reina no país, declarou o Representante Especial. Agora que a Missão das Nações Unidas no Nepal (UNMIN) vai reduzir progressivamente os seus efectivos, cabe ao novo Governo nepalês A Assembleia Constituinte celebrará a sua primeira sessão no dia 27, pedir à ONU o tipo de assistência de que precisa nesta fase de transimas Ian Martin afirmou que a redacção de uma nova Constituição será ção, disse Ian Martin. um grande desafio. Num comunicado emitido a 16 de Maio, o Secretário-Geral Ban KiO Representante Especial disse também que o processo de paz no moon sublinhara também que o país tem ainda um longo caminho a Nepal ainda não está completo, observando que ainda existem dois percorrer para completar o processo de paz. exércitos no país e que ainda não houve acordo sobre “aquilo que é referido no acordo de paz como a integração do exército maoísta e a Qualificando as eleições do mês passado de históricas, Ban Ki-moon democratização do exército do Nepal”. Acrescentou que outros parti- alertou para o facto de “as eleições serem apenas uma etapa importante dos políticos se recusam a integrar um governo chefiado pelos Maoístas, do processo de paz”. “O verdadeiro trabalho para fazer face às profunse não for posto termo aos ataques violentos da Liga de Jovens Comu- das dificuldades socioeconómicas da nação e à elaboração de uma Constituição que reflicta a vontade de toda a população só começa agora”. nistas Maoístas. 9 Paz e Segurança Internacionais Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Sessenta anos de manutenção da paz da ONU de manutenção da paz. Entre 1989 e 1994, o Conselho de Segurança autorizou a criação de 20 operações e o número de efectivos aumentou de 11 000 para 75 000. Algumas das missões foram destacadas para ajudar a aplicar acordos de paz que haviam posto termo a longos conflitos – em países como Angola, Moçambique, Namíbia, El Salvador, Guatemala e Camboja – e ajudar os países a estabilizar, reorganizarem-se, eleger novos governos e estabelecer instituições democráticas. A ONU celebra o sexagésimo aniversário das suas operações de manutenção da paz a 29 de Maio de 2008, Dia Internacional dos Soldados da Paz das Nações Unidas, prestando homenagem a todos os Capacetes Azuis que serviram nessas operações, desde 1948, e evocando os que morreram pela causa da paz, em 2007. O êxito geral destas missões criou expectativas que excediam a capacidade de actuação da ONU, especialmente em situações em que o Conselho de Segurança não autorizou mandatos vigorosos ou não forneceu os recursos adequados. Foram criadas missões onde as armas ainda não se tinham calado e não havia paz a manter, em zonas como a ex-Jugoslávia, a Somália e o Ruanda, e a reputação da manutenção da paz da ONU foi seriamente abalada. assentar as bases de uma paz duradoura. Os Capacetes Azuis levam a cabo uma grande diversidade de tarefas complexas, que vão desde ajudar a criar ou reforçar instituições sustentáveis de governação à vigilância do respeito pelos direitos humanos, passando pela reforma do sector da segurança e o desarmamento, desmobilização e reintegração de excombatentes. A natureza dos conflitos também mudou, com o tempo. A manutenção da paz, originalmente criada como meio de fazer face a conflitos entre Estados, tem sido cada vez mais confrontada com conflitos no interior dos Estados e guerras civis. Embora a componente militar continue a ser a espinha dorsal da maioria das operações, a manutenção da paz tem hoje muitos rostos: administradores e economistas, polícias, peritos jurídicos, funcionários responsáveis por questões de género, sapadores especializados em remoção de minas, observadores militares, especialistas em direitos humanos, especialistas em governação, trabalhadores humanitários e peritos no domínio da comunicação e informação. Os reveses de princípios e meados da década de 90 levaram o Conselho de Segurança a reduzir o número de novas missões, durante vários anos. A Organização iniciou, então, um processo de reflexão. Entretanto, as operações a longo prazo no Médio Oriente, na Ásia e em Chipre prosseguiram. Foram criadas missões na Bósnia e Herzegovina, no Haiti, na Guatemala e As mulheres assumiram também um papel cada vez mais importante na manutenção da paz da Hoje, mais de 100 000 elementos fardados e em Angola. ONU. Estão representadas com uma frequência civis servem em 20 operações de paz geridas pelo Departamento de Operações de Manuten- Com uma noção mais clara dos limites e do crescente nas componentes militar, policial e ção da Paz (DPKO). Desde 1948, foram criadas potencial da manutenção da paz, a partir de civil das operações. Em 2007, foi enviado para a 63 operações pelas Nações Unidas; só na última 1999, a ONU foi instada a levar a cabo tarefas Libéria o primeiro contingente exclusivamente década foram estabelecidas 17. Ao longo dos cada vez mais complexas. A Organização assu- feminino, uma Unidade de Polícia Constituída anos, milhares de elementos militares bem miu a administração dos territórios do Kosovo da Índia, com 125 efectivos. como dezenas de milhares de agentes da polícia e de Timor-Leste. Em ambas as situações a da ONU e civis, provenientes de mais de 120 ONU foi vista como a única organização que Na década de 50, os primeiros Capacetes Azuis gozava de credibilidade e imparcialidade reco- provinham, em geral, da Europa. Nos anos 90, a países, participaram em operações da ONU. nhecidas a nível mundial para realizar esse tra- situação alterou-se significativamente, em virtude de, após a Guerra Fria, os países desenvolviMais de 2400 soldados da paz da ONU oriun- balho. dos terem reduzido a sua contribuição e se dos de 118 países morreram pela causa da paz, ao serviço da bandeira da Organizações, nos Na década seguinte, o Conselho de Segurança terem mostrado relutantes em destacar tropas criou operações complexas e de grande enver- para operações comandadas pela ONU. Os últimos 60 anos. gadura em países africanos como a República maiores fornecedores de contingentes são, A Organização das Nações Unidas Encarregada Democrática do Congo, a Serra Leoa, a Libéria, actualmente, países do Sul da Ásia (Paquistão, da Vigilância das Tréguas (UNTSO) e o Grupo o Burundi, a Costa do Marfim, o Sudão (no Sul Bangladeche, Índia, Sri Lanca e Nepal) e de de Observadores Militares das Nações Unidas do país e no Darfur), Etiópia/Eritreia e Chade e África. Os países árabes e latino-americanos também contribuem com um número significatina Índia e no Paquistão (UNMOGIP) foram as República Centro-Africana. vo de tropas. Em 2006, os países europeus primeiras missões enviadas e mantêm-se ainda operacionais. A primeira operação armada foi a Os soldados da paz retomaram operações vitais voltaram a desempenhar um papel destacado na Primeira Força de Emergência das Nações Uni- de manutenção e de consolidação da paz no manutenção da paz da ONU no Líbano, quando a UNIFIL viu os seus efectivos aumentarem, na das (UNEF 1), constituída em 1956 para fazer Haiti e em Timor-Leste. sequência do conflito entre Israel e o Hezbolface à crise do Suez. A primeira missão em grande escala foi a Operação das Nações Uni- Com a criação das missões da ONU no Darfur, lah. no Chade e República Centro-Africana, no das no Congo (ONUC), lançada em 1960. segundo semestre de 2007, os efectivos passa- Vários países onde em tempos estiveram activas Nas décadas de 60 e 70, a ONU criou missões ram a rondar os 130 000, o número mais eleva- operações da ONU contribuem agora com contingentes: Bósnia e Herzegovina, Camboja, a curto pazo na Nova Guiné, Iémen e República do de sempre. Croácia, El Salvador, ex-República Jugoslava da Dominicana e iniciou missões a longo prazo em Macedónia, Guatemala, Nambía, Ruanda e Serra Chipre (UNFICYP) e no Médio Oriente (a Leoa. UNEF 2, a Força das Nações Unidas de Obser- Evolução da manutenção da paz vação da Separação e a Força Interina das Com o fim da Guerra Fria, o contexto estraté- Por outro lado, as actividades da polícia da Nações Unidas no Líbano). gico das operações de manutenção da paz ONU aumentaram em dimensão e alcance: o Em 1988, os Capacetes Azuis das Nações Uni- mudou extraordinariamente, levando a Organi- número de elementos da polícia da ONU destadas foram galardoados com o Prémio Nobel da zação a transformar as suas operações no ter- cados em todo o mundo eleva-se a 11 000 e reno, até aí missões tradicionais que realizavam deverá aumentar para 17 000, à medida que a Paz. tarefas estritamente militares, em operações sua presença no Darfur, no Chade e na RepúQuando a Guerra Fria terminou, registou-se multidimensionais concebidas para garantir a blica Centro-Africana for sendo reforçada. um rápido aumento do número de operações aplicação de acordos de paz globais e ajudar a (continua na página seguinte) A manutenção da paz da ONU iniciou-se em 1948, com o envio para o Médio Oriente de observadores militares desarmados das Nações Unidas com a missão de vigiar o Acordo de Armistício entre Israel e os países árabes vizinhos. 10 Paz e Segurança Internacionais Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Sessenta anos de manutenção da paz da ONU (continuação) mandatos claros, credíveis e viáveis e insistia em que o apoio da Sede à manutenção da paz deveria ser considerado uma actividade essenNa viragem do século, a ONU procedeu a uma cial das Nações Unidas. profunda análise dos desafios que a manutenção da paz enfrentou na década de 90 e à Na sequência do relatório, os Estadosintrodução de reformas. O Secretário-Geral membros da ONU e o Secretariado da Organomeou um Grupo sobre Operações de Paz nização fizeram importantes esforços em prol da ONU, composto por pessoas com expe- da reforma, nomeadamente através do Grupo riência em prevenções de conflito e em manu- de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e tenção e consolidação da paz, que foi encarre- Mudança, da Cimeira Mundial de 2005, da gado de avaliar as insuficiências do sistema e estratégia de reforma do Departamento de de formular recomendações concretas e rea- Operações de Manutenção da Paz (DPKO), listas. intitulada “Operações de Paz 2010” e, mais recentemente, da “Doutrina Capstone”, elaboO resultado, conhecido por Relatório Brahimi rada pelo DPKO para dar orientação estratégi– o Grupo era presidido por Lakhdar Brahimi ca e táctica aos Capacetes Azuis no terreno. – pedia um compromisso político renovado dos Estados-membros, mudanças institucionais O último capítulo da reforma da manutenção significativas e um maior apoio financeiro. O da paz desenrolou-se em 2007. Perante a cresGrupo afirmou claramente que, para serem cente procura de operações de paz cada vez eficazes, as forças das Nações Unidas têm de mais complexas, a ONU viu-se perante uma dispor dos recursos e meios necessários para situação de sobre-utilização dos seus recursos cumprir os seus mandatos. e de desafios cada vez maiores. A fim de reforçar a capacidade de gerir e apoiar as novas O relatório pedia mais pessoal e normas de operações de paz, a arquitectura da manutenintervenção e comportamento mais vigorosas. ção da paz foi reestruturada em 2007, aumenAfirmava que o Conselho de Segurança devia tando a apoio a novas actividades no DPKO, atribuir às operações de manutenção da paz Reforma da Manutenção da Paz criando um Departamento de Apoio às Missões, aumentando os recursos de ambos os departamentos e outras partes do Secretariado que tratam da manutenção da paz e criando novas capacidades bem como estruturas integradas, à altura da crescente complexidade das actividades. Foram ainda introduzidas reformas no domínio da Conduta e da Disciplina. Perante acusações de exploração e abuso sexuais cometidos por Capacetes Azuis, o Secretário-Geral adoptou uma política de tolerância zero em relação à violação do Regulamento das Nações Unidas, que inclui a proibição, imposta ao pessoal da ONU, de manter relações sexuais com menores de 18 anos e prostitutas. O antigo Representante Permanente da Jordânia, Príncipe Weid Ra’ad Zeid Al-Hussein, elaborou uma estratégia de grande alcance de modo a levar os países fornecedores de tropas, os Estadosmembros e o sistema da ONU a aderirem a uma nova arquitectura de Conduta e Disciplina. Em 2008, foi adoptada pela Assembleia Geral uma estratégia, ao nível do sistema da ONU, de assistência às vítimas de exploração e abuso sexuais por parte do pessoal da Organização. Manutenção da paz tornou-se actividade proeminente da ONU, afirma Secretário-Geral na sua mensagem MAIS INFORMAÇÕES Ficha de informação – Manutenção da Paz da ONU (em português) Principles and Guidelines: “Capstone Doctrine” United Nations Peacekeeping Operations (30 de Abril de 2008) United Nations Peacekeeping Missions – Selected Special Reports Lembrando que faz precisamente sessenta anos que o Conselho de Segurança criou a primeira missão de manutenção da paz, Ban Ki-moon diz que, entretanto, a manutenção da paz se tornou uma actividade proeminente da Organização. Evocando os mais de 110 000 homens e mulheres actualmente presentes em zonas de conflito de todo o mundo, procedentes de cerca de 120 países, “o que demonstra a confiança que as operações de paz das Nações Unidas suscitam”, o Secretário-Geral reconhece que a sua cultura e a sua experiência são diferentes, mas sublinha que estão todos unidos na determinação de promover a paz. “Alguns usam farda, mas muitos são civis e as suas actividades vão muito além da vigilância”. “Formam forças de polícia, desarmam ex-combatentes, apoiam a realização de eleições e ajudam a estabelecer as instituições do Estado. Constroem pontes, reparam escolas, socorrem as vítimas de cheias e protegem as mulheres contra actos de violência sexual. Defendem os direitos humanos e promovem a igualdade de género. Graças aos seus esforços, é possível prestar assistência humanitária para salvar vidas e o desenvolvimento económico pode começar”, declarou. 11 Evocou as suas visitas a missões de manutenção da paz em África, na Ásia, no Médio Oriente e nas Caraíbas, durante as quais viu refugiados que voltavam para os seus lares, crianças que regressavam à escola, cidadãos que se sentiam de novo seguros num Estado de direito. Viu sociedades inteiras recuperarem da devastação e recomeçarem uma vida normal, com a ajuda dos Capacetes Azuis. Ban Ki-moon reconhece a ONU não teria podido levar a cabo essa tarefa sem os seus parceiros das organizações regionais, referindo-se especificamente à União Africana e à União Europeia. Para o Secretário-Geral, este aniversário é um motivo de celebração mas também é o momento de recordar os colegas que tombaram no cumprimento do dever. “Durante estes 60 anos, mais de 2400 homens e mulheres morreram ao serviço da causa da paz. Só no último ano perdemos 87 membros desse corajoso pessoal”. “Hoje, comprometemo-nos de novo a nunca esquecer o seu sacrifício e a velar por que os Capacetes Azuis continuem a desempenhar o seu papel crucial durante tanto tempo quanto for necessário”, disse. Assuntos Humanitários Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC China: Secretário-Geral visita região devastada pelo terramoto e promete apoio da ONU Mianmar: Ban Ki-moon anuncia progressos, após encontro com Presidente Than Shwe os Refugiados (ACNUR) que já se encontravam em Mianmar, foram rapidamente mobilizados. A ONU ofereceu o apoio do Sistema ao Governo de Mianmar logo no dia 4 e formou uma equipa de avaliação e coordenação, que se disponibilizou a ajudar o Governo a responder às necessidades humanitárias. Após o encontro, havido no dia 23, com o Presidente de Mianmar, General Than Shwe, o Secretário-Geral Ban Ki-moon informou que a reunião fora positiva, acrescentando que o Presidente aceitara tomar medidas para abrir as portas a uma maior assistência internacional às vítimas do ciclone Nargis. “Aceitou a entrada de trabalhadores humanitários nas zonas afectadas, independentemente da sua nacionalidade”, disse, acrescentando que esse facto é uma demonstração de “flexibilidade sobre uma questão que constituiu, até agora, um obstáculo à prestação de uma assistência internacional coordenada e totalmente eficaz”. Contudo, a 12 de Maio, Ban Ki-moon afirmou, numa conferência de imprensa, que a resposta do Governo em face da grave crise humanitária era de “uma lentidão inaceitável” e manifestou a sua “imensa frustração” perante os entraves colocados à ajuda humanitária internacional. A reunião do Secretário-Geral com os membros da ASEAN, incluindo Mianmar, a 15 de Maio, foi marcada pelo acordo em relação à necessidade de deixar entrar mais trabalhadores humanitários. À saída o SecretárioGeral mostrou-se animado pelo facto de o “Governo de Mianmar ter dado provas de um certo grau de flexibilidade”. O Secretário-Geral Adjunto para os Assuntos Humanitários, John Holmes, deslocou-se a 19 de Maio, a Mianmar, tendo tido encontros com altos funcionários, incluindo o PrimeiroMinistro Thein Sein, e visitado três regiões afectadas pelo ciclone. John Holmes disse que, nas conversaões com o chefe do Governo defendeu que, paralelamente ao esforço de ajuda Na sequência do ciclone, os 81 mem- de emergência, é necessária uma recubros da Organização Mundial da Saúde peração urgente dos sectores agrícola e os 70 membros do pessoal do Alto e pesqueiro. Comissariado das Nações Unidas para A ONU estima que 2,4 milhões de pessoas tenham sido afectadas pelo ciclone Nargis, que atingiu o delta de Irrawaddy a 2 e 3 de Maio, e que mais de metade careçam de assistência urgente e prioritária. Segundo Ban Kimoon, 13 000 pessoas terão morrido ou continuam desaparecidas. ONU manifesta preocupação perante agravamento das condições de saúde dos refugiados palestinianos Apelando a um aumento de fundos para poder prosseguir as suas operações, o Organismo de Obras Públicas e de Socorro aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) expressou a sua preocupação quanto à deterioração das condições de saúde dos refugiados palestinianos, especialmente na Cisjordânia e em Gaza, num novo relatório divulgado a 20 de Maio. O aumento das taxas de pobreza e a falta de acesso a alimentos de boa qualidade representam uma ameaça para a saúde dos refugiados, disse, em Genebra, aos jornalistas Guido Sabatinelli, Director dos Serviços de Saúde do UNRWA. O UNRWA está a pedir um aumento de 30% do seu orçamento a fim de poder prestar o mesmo nível de serviços a 4 milhões de refuO UNRWA diz, no relatório, giados palestinianos na Jordâque muitas famílias de refu- nia, Síria, Líbano, Cisjordânia giados estão actualmente a e Gaza. gastar quase dois terços do Para mais informações seu rendimento em alimentação. No dia 24, o Secretário-Geral visitou uma das cidades da província de Sichuan mais duramente atingidas pelo recente tremor de terra, tendo prometido, uma vez mais, o apoio das Nações Unidas. Geral avistou-se com o Primeiro-Ministro, em Yingxiu, perto do epicentro do terramoto de 12 de Maio. “As catástrofes naturais podem abater-se sobre qualquer povo, qualquer país. O que é importante é a vontade determinada de as superar”, afirmou. “A ONU tomou as primeiras medidas para conceder os fundos necessários; enviámos pessoal de salvamento”. “O meu coração sente uma enorme tristeza pelo que aconteceu ao povo chinês. É uma grande tragédia natural”, disse Ban Ki-moon aos jornalistas, em Chengdu, capital de Sichuan, depois de ter estado Ban Ki-moon disse que, quando na cidade de Yingxiu. regressar a Nova Iorque, discu“Ao mesmo tempo, estou tirá com o Gabinete para a emocionado perante a forte Coordenação dos Assuntos liderança demonstrada pelos Humanitários (OCHA) e os dirigentes chineses, o Presiden- Estados-membros a assistência te Hu Jintao e o Primeiro- suplementar que a Organização Ministro Wen Jiabao, e por pode prestar. todas as pessoas que mostraram um grande espírito de Sublinhou também a importânauto-ajuda e cooperação”. cia de uma abordagem que vise simultaneamente o socorro a Durante a sua visita de quatro curto prazo e a reabilitação e a horas à China, o Secretário- recuperação a longo prazo. Coordenador do Socorro das Nações Unidas reserva 100 milhões de dólares do Fundo de Emergência para a crise alimentar O Coordenador da Socorro de Emergência das Nações Unidas decidiu destinar 100 milhões de dólares do Fundo Central de Resposta a Situações de Emergência (CERF) da Organização para enfrentar as consequências imediatas da crise alimentar originada pela rápida subida dos preços dos alimentos, a nível mundial. Desde o início do ano, o Fundo – gerido pelo Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas – já destinou cerca de 66 milhões de dólares a intervenções de organismos da ONU, no domínio da alimentação. O CERF foi aprovado pela Assembleia Geral em Dezembro de 2005 e foi criado para agilizar operações de ajuda de emergência, disponibilizar fundos rapidamente após uma catástrofe e financiar operações de emergência que sofram de subfinanciamento. John Holmes, que é também SecretárioGeral Adjunto para os Assuntos Humanitários, disse que esta verba será utilizada em actividades humanitárias nos sectores mais gravemente afectados, incluindo alimentação, agricultura, saúde, nutrição e logística. É evidente que o Fundo precisará de ser reconstituído, devido às necessidades surgi“Desde a sua criação, em 2006, o CERF das em consequência das situações de emermostrou ser um mecanismo de financiamen- gência relacionadas com a crise alimentar e to humanitário bem sucedido que garante a das múltiplas crises e catástrofes registadas entrega eficaz, rápida e previsível da ajuda”, em todo o mundo, disse a Porta-voz aos jornalistas. disse a Porta-voz das Nações Unidas. 12 Assuntos Humanitários Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC ACNUR transfere quase 10 000 centro-africanos para Sul do Chade Conferência do Golfo de Aden pede ajuda acrescida para os refugiados nos países de acolhimento intensificar a sua acção para responder sozinho a este desafio. “A comunidade internacional deve demonstrar uma maior solidariedade”, declarou. Segundo Radhouane Nouicer, Director do Gabinete do ACNUR no Médio Oriente e no Norte de África, a situação UNHCR humanitária dos refugiados e dos migrantes deteriora-se também devido às preocupações dos Terminou, a 20 de Maio, na capital ieme- paízes vizinhos com a segurança e a nita, a Conferência Regional sobre Pro- pirataria, bem como com o contrabando tecção dos Refugiados e Migração no e o tráfico de pessoas. Golfo de Aden. Esta conferência de dois dias foi convoNa sessão de abertura, os representan- cada para estabelecer um mecanismo tes do Alto Comissariado das Nações regional e um plano de acção para a Unidas para os Refugiados (ACNUR) protecção dos refugiados e da migração apelaram a uma ajuda acrescida da comu- mista na região do Golfo de Aden. Foi nidade internacional para atenuar o fardo co-organizada pelo ACNUR e um Grupo de Trabalho sobre Migração Mista para a suportado pelo Iémen. Somália. “Apelo a todos os países da região e a outros países que disponham de capaci- Um comité trabalhou nas recomendadades e recursos, para que apoiem ple- ções finais, que incluiriam, segundo os namente os esforços do Governo do documentos vistos pelo ACNUR, um Iémen que, durante mais de 15 anos, reforço dos controlos nas fronteiras acolheu com generosidade numerosos para assegurar a identificação e protecrefugiados somalis”, disse o Alto- ção dos refugiados; esforços para melhorar as condições que fazem aumentar os Comissário António Guterres. movimentos irregulares de pessoas; uma Considerando que o Governo iemenita redução das violações dos direitos humadeu provas do seu compromisso, res- nos das pessoas que atravessam o golfo pondendo às necessidades das pessoas vindas do Corno de África. presentes em movimentos migratórios, António Guterres preveniu que o Para mais informações (em inglês) Governo não poderia continuar a Iraque: operações do ACNUR ameaçadas por falta de fundos chegou ao Sul do Chade entre Janeiro e Março. Fugia da violência no Norte da RCA, segundo a porta-voz do ACNUR, Jennifer Pagonis. Numa tentativa de se antecipar à estação das chuvas, que se inicia em meados de Junho, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), começou a transferir cerca de 10 000 recém-chegados da República Centro-Africana (RCA) para um novo campo no Originalmente, o ACNUR tencionara enviar os novos refugiaSul do Chade. dos para um dos três campos O ACNUR começou a transferir perto de Goré, mas anterioros refugiados, na sua maioria mente um outro grupo de refuagricultores, no dia 23, de um giados recusara-se a ir para lá, centro de trânsito, a 25 quilóme- invocando tensões interétnicas. tros da fronteira entre o Chade Perante isso, o ACNUR conse a RCA, para Moula, situado a truiu o novo campo em Moula. 150 quilómetros da mesma No campo de Moula, cada família fronteira. receberá uma parcela de 2,5 Foram já transportados 1662 hectares. Mais tarde, a FAO centro-africanos e o ACNUR distribuirá sementes e utensílios espera organizar um comboio de para a agricultura e o PAM forrações alimentares. 15 camiões de dois em dois dias, necerá os centroaté as estradas se tornarem Actualmente, africanos vivem em tendas, mas intransitáveis. em breve começarão a construir Esta última onda de refugiados as suas casas. Somália: ACNUR presta auxílio a 40 000 deslocados perto de Mogadíscio habitantes de Mogadíscio vivem nesta zona, em condições precárias e num emaranhado de cerca de 200 povoamentos com excesso de população. Se não forem recebidos fundos suplementares dos doadores, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) terá de reduzir, ou mesmo anular, em breve, alguns programas de ajuda que abrangem centenas de milhares de refugiados iraquianos. “Sem essa contribuição, a crise humanitária que enfrentamos desde há dois anos poderia agravarse”, preveniu o Alto-Comissário para os Refugiados, António Guterres, num comunicado publicado a 9 de Maio. Em Janeiro passado, o ACNUR lançou um apelo de 261 milhões de dólares, a fim de prestar ajuda aos cerca de 4,7 milhões de iraquianos desenraizados, mas até à data do comunicado apenas recebera 134 milhões de dólares, uma soma insuficiente para manter os programas de ajuda directa. As pessoas vulneráveis a quem essa ajuda se destina vivem no Iraque, como deslocados internos, e nos países vizinhos – Síria, Jordânia, Irão, Egipto, Líbano e Turquia. “Muitos deles comunicaram que as suas aldeias haviam sido queimadas e pilhadas e algumas pessoas tinham sido mortas”, disse, acrescentando que grupos mais reduzidos de centro-africanos continuam a atravessar a fronteira com o Chade. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) completou uma distribuição de ajuda a cerca de 40 000 deslocados internos em mais de 50 campos situados a oeste de Mogadíscio. “A ajuda foi concedida aos deslocados que vivem ao longo de uma faixa de 30 quilómetros de estrada que liga Mogadíscio à cidade de Afgooye, a oeste da capital somali”, declarou a porta- voz do ACNUR, Jennifer Pagonis, a 16 de Maio. Cerca de 300 000 antigos 13 cia inferior a 30 quilómetros. Cada família recebeu material indispensável para os deslocados como tela plástica, utensílios de cozinha, três cobertores e seis colchões. A tela plástica é muito procurada pois a estação das chuvas começou esta semana e obrigou numerosas famílias a amontoarem-se em pequenos abrigos onde não existe espaço suficiente para se deitarem e dormir. Os deslocados que deverão beneficiar desta distribuição de artigos essenciais, realizada em parceria com uma ONG somali, são as famílias mais vulneráveis, nomeadamente aquelas que fugiram recentemente da capital somali, bem como algumas das famílias mais pobres que foram identi- Mais de 42 000 civis fugiram ficadas com a ajuda de anciões da capital somali, onde a instabilidade se faz sentir, e de organismos parceiros. desde o mês de Março de Devido aos numerosos postos 2008, devido a uma nova onda de controlo instalados ao de violência entre os rebeldes longo da estrada, pelas milí- e as tropas da Instituição cias e pelos soldados que Federal de Transição apoiada extorquem dinheiro em troca pelos etíopes. No total, cerca de uma passagem segura, de 800 000 pessoas deixaram foram necessários dois dias Mogadíscio, desde que a viopara levar a ajuda de Mogadís- lência tomou conta da cidade, cio até Afgooye – uma distân- em Fevereiro de 2007. Direito Humanos Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Solução de crise alimentar passa pela eliminação de desigualdades Execuções extrajudiciais prosseguem no Afeganistão O Relator das Nações Unidas sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias, Philip Alston, criticou o elevado número de violações de direitos humanos nesse domínio, no Afeganistão, por parte de forças rebeldes e da polícia. O facto de existir um conflito armado não significa que se possam tolerar essas mortes, disse Philip Alston, ao apresentar as conclusões da sua visita ao país. transparência e de atribuição de responsabilidades. Quanto aos ataques da polícia, disse que estas forças gozam de impunidade e que a sua actuação se reflecte na legitimidade do Governo. “A polícia é o rosto do Governo. Se serve e protege a população, o Governo terá legitimidade. Se praticar a extorsão, intimidar e matar, o Governo não terá legitimidade”. Philip Alston salientou que os Taliban são responsáveis pelo maior número de execuções sumárias e cometem regularmente actos suicidas e assassínios selectivos. “Há que pressioná-los para que desistam dessas matanças desenfreadas e brutais”, acrescentou. Recomendou conversações directas com os Taliban para deixar bem O Relator afirmou que, mais claro que as violações de humanos terão do que as estatísticas, aquilo direitos que o preocupa é a falta de consequências a longo prazo. Numa conferência de imprensa dada em Cabul, a 15 de Maio, acrescentou que, apesar dos esforços para respeitar os direitos humanos, as operações das forças militares internacionais causaram a morte a 200 civis, desde o início deste ano. África do Sul: ONU manifesta preocupação perante actos de violência xenófoba “Estamos profundamente preocupados com a amplitude destes ataques xenófobos que visam os estrangeiros na província de Gauteng”, referiu Sanda Kimbimbi, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), referindo que muitos refugiados procuraram abrigo na África Segundo um comunicado do Sul para escapar à persetransmitido pelo Gabinete guição de que eram vítimas do Coordenador Residente no seu próprio país. temporário na África do Sul, a 21 de Maio, os organismos Os organismos da ONU da ONU lamentam sobretu- estão muito preocupados do o facto de a grande com a perspectiva de uma da violência, maioria das vítimas serem escalada imigrantes, refugiados ou nomeadamente contra os requerentes de asilo, respei- mais vulneráveis, incluindo tadores da lei, que procu- mulheres e crianças assim ram dar uma vida melhor às como as famílias desempregadas. suas famílias. Os organismos da ONU presentes na África do Sul estão muito preocupados com a continuação dos actos de violência xenófoba de que são vítimas, desde há vários dias, os estrangeiros que habitam a província de Gauteng assim como noutras regiões da África do Sul. profundas de tal discriminação – por exemplo, exclusão do acesso às terras, aos recursos de produção e a um trabalho digno, disse. Se não forem adoptadas medidas abrangentes deste tipo, poderá dar-se um "efeito de dominó" susceptível de afectar outros direitos, nomeadamente o direito à saúde ou à educação, advertiu Louise Arbour. FAO Para superar a actual crise alimentar mundial e os problemas dos direitos dos grupos marginalizados, é necessário adoptar uma ampla abordagem, disse, a 22 de Maio, em Genebra, Louise Arbour, AltaComissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos. que uma abordagem baseada nos direitos também tomará em consideração as opiniões de grupos marginalizados, bem como das instituições de direitos humanos e de organizações da sociedade civil, entre outras. "As obrigações dos Estados no que se refere ao direito à alimentação e a viver sem fome também implicam a adopção de estratégias nacionais destinadas a garantir a segurança alimentar de todas as pessoas", lembrou. A actual emergência alimentar, observou a AltaComissária, foi desencadeada pela confluência de vários factores, nomeadamente, desequilíbrios da oferta e da procura, práticas comerciais desleais e as distorções causadas por incentivos e subsídios. No seu discurso, Olivier De Schutter, Relator Especial sobre o direito à alimentação, realçou que a crise não deve ser vista como uma crise puramente humanitária ou de natureza macroeconómica, mas sim como uma crise centrada no direito à alimentação. Embora, a curto prazo, seja necessário responder à crise com apoio humanitário, qualquer plano a médio e longo prazo tem de se centrar nos direitos humanos, disse Louise Arbour, ao falar numa sessão extraordinária do Conselho de Direitos "No entanto, em termos das Humanos dedicada à crise suas características essenalimentar. ciais e dos seus efeitos, a crise resume-se à falta de "Uma óptica deste tipo ajuda acesso a alimentos suficiena analisar e comparar os tes", disse a Alta-Comissária diversos impactos da crise ao Conselho, acrescentando nas pessoas", observou. que esse acesso é um direito "Ajuda a esclarecer os dese- protegido pelo direito interquilíbrios que existem numa nacional. sociedade e que são susceptíveis de desencadear ou É não só necessário estudar exacerbar a crise alimentar". o impacto da crise nas pessoas marginalizadas, como Louise Arbour acrescentou também eliminar as causas Compete a cada país formular os seus planos relativamente ao direito à alimentação, disse. "Ao mesmo tempo, a comunidade internacional tem de assegurar que seja criado um ambiente favorável, de modo a permitir que as estratégias nacionais floresçam, e devem prestar assistência financeira e técnica quando for necessário". Produção de biocombustível é uma "via criminosa" que conduz à crise alimentar mundial, diz perito da ONU Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) enveredaram por uma "via criminosa", estando a contribuir para a explosão dos preços mundiais dos alimentos, devido à utilização de culturas alimentares para a produção de biocombustíveis, afirma o Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação. Ao falar, a 28 de Abril, numa conferência de imprensa realizada em Genebra, Jean Ziegler disse que as políticas de combustíveis adoptadas pelos Estados Unidos e a UE eram uma das causas principais da actual crise alimentar 14 mundial. Ziegler acrescentou que, no ano passado, os Estados Unidos utilizaram um terço da sua colheita de milho para produzir biocombustíveis, enquanto a UE está a pensar em satisfazer 10% da sua procura de gasolina com biocombustíveis. O Relator Especial pediu uma moratória de cinco anos para a produção de biocombustíveis. Jean Ziegler disse, também, que a especulação nos mercados internacionais é responsável por 30% do aumento dos preços alimentares. Afirmou que empresas como a Cargill, que controla um quarto de toda a produção de cereais, têm um enorme poder sobre o mercado, acrescentando que há fundos de investimento especulativos (hedge funds) que também estão a obter lucros enormes nos mercados de matérias-primas e apelou à introdução de regulamentos financeiros destinados a impedir tal especulação. O Relator Especial advertiu que os tumultos causados pela crise alimentar se irão agravar e que se irá registar um aumento "horrendo" do número de mortes causadas pela fome, antes de as reformas poderem produzir efeito. Direitos Humanos Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC ONU celebra entrada em vigor da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência procurar eliminar as desigualdades evidentes que as pessoas com deficiência conhecem na sua vida. Temos de combater a discriminação e o preconceito. Temos de gerar um desenvolvimento que seja verdadeiramente para todos”. UN PHOTO Numa mensagem à mesma reunião, o Presidente da Assembleia Geral, Sergjan Kerim, disse que a comunidade internacional ignorou os direitos das pessoas com deficiência durante demasiado tempo. “A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência é um indicador do nosso grau de civilização. Os direitos, as oportunidades de que as pessoas com deficiência podem gozar são um reflexo directo da nossa humanidade comum”, disse Srgjan Kerim, na sua mensagem, lida, na sua ausência, pelo Presidente em exercício Hjalmar W. Hannesson, Representante Permanente da Islândia. O acto comemorativo foi organizado pelo Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos. Reuniu muitos dos funcionários dos governos bem como membros da comunidade de pessoas com deficiência e do sistema da ONU que participaram nas negociações do tratado e prestou homenagem aos esforços Na sua intervenção, Ban Ki-moon pediu “medidas concretas para trans- firmes e dedicados, desenvolvidos a nível mundial, para que os direitos formar a visão da Convenção em vitórias reais no terreno”. “Temos de das pessoas com deficiência sejam garantidos e protegidos. O Secretário-Geral Ban Ki-moon saudou a entrada em vigor da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência como “uma nova aurora na luta pelo bem-estar das pessoas com deficiência”, durante a comemoração que teve lugar na sala da Assembleia Geral, a 12 de Maio. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência O que vai acontecer, agora que a Convenção entrou em vigor? Um país que ratifique a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência aceita estar juridicamente vinculado à obrigação de tratar as pessoas com deficiência como sujeitos de direito, com direitos bem definidos, tal como qualquer outra pessoa. Os países que a ratificaram terão de adaptar a sua legislação nacional às normas internacionais estabelecidas no tratado. Até à data, 25 países ratificaram a Convenção e mais de 120 assinaram-na, manifestando a sua intenção de a vir a ratificar. A Convenção e o seu Protocolo Facultativo entraram em vigor a 3 de Maio de 2008. Na primeira Conferência dos Estados Partes, os países que ratificaram a Convenção elegerão os peritos independentes que formarão o Comité dos Direitos das Pessoas com Deficiência, ao qual os Estados apresentarão relatórios periódicos sobre os progressos alcançados em matéria de aplicação da Convenção. Os Estados Partes deverão designar um Ponto Focal no seio do Governo e criar um mecanismo nacional para promover a aplicação da Convenção. O Protocolo Facultativo à Convenção permite que particulares ou grupos dos países que ratificaram o Protocolo apresentem uma petição ao Comité, uma vez esgotados todos os procedimentos de recurso nacionais. direito de votar, bem como os obstáculos sociais e educativo geral, prestando-lhes o apoio necessário, económicos, como a discriminação no emprego e um quando for preciso; nível de vida insuficiente. Assegurar a igualdade de acesso à formação profissioSobre a questão fundamental da acessibilidade, a nal, à educação para adultos e à educação permanenConvenção pede aos países que identifiquem e elimi- te; nem obstáculos e barreiras à acessibilidade nos domínios da “informação, comunicação e outros serviços, Prestar os cuidados de saúde e os serviços médicos incluindo os serviços electrónicos e os serviços de específicos necessários devido às deficiências; emergência”. Há que assegurar também o acesso a “edifícios, estradas, transportes e outras instalações Proteger o direito ao trabalho e proibir a discriminacobertas e ao ar livre, incluindo escolas, habitação, ção no emprego; serviços de saúde e locais de trabalho”. Os países devem elaborar normas mínimas de acessibilidade às Promover o emprego, o trabalho independente e o instituições e serviços públicos e velar por que as empreendedorismo das pessoas com deficiência; instituições e serviços privados oferecidos ao público Assegurar um nível de vída e uma protecção social tomem em consideração a acessibilidade. adequados, incluindo a habitação social, uma assistênOs países que ratificaram a Convenção são cia que responda às necessidades ligadas à deficiência e ajuda financeira, se a pessoa com deficiência for obrigados a: pobre; Velar por que seja reconhecida a igualdade perante a lei, incluindo o direito a possuir e herdar bens, a Garantir a participação na vida pública e política, na controlar os seus assuntos financeiros e a ter acesso vida cultural, nos lazeres, nas distracções e no desporto. a empréstimos, crédito e hipotecas; Introduzir leis e medidas administrativas que garantam a protecção contra a exploração, a violência e os Certas medidas a adoptar para aplicar a Convenção terão custos. Contudo, a Convenção apela à maus tratos; “realização progressiva” da maior parte das suas Favorecer a recuperação e a reabilitação da pessoa disposições, em função dos recursos de cada país. vítima de maus tratos e apresentar o culpado à justi“Na realidade, é benéfico no plano económico permiça; tir que as pessoas com deficiência realizem plenamenPromover a mobilidade pessoal, facilitando o acesso a te o seu potencial”, declarou Akiko Ito, Chefe do Secretariado das Nações Unidas para a Convenção dispositivos de apoio à mobilidade; sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Assegurar, na medida do possível, a adaptação dos “Quando não encontram obstáculos no seu caminho, locais, como escolas e locais de trabalho, isto é, as pessoas com deficiência são empregados, empresáefectuar as alterações e ajustamentos que permitam a rios, consumidores e contribuintes como quaisquer inclusão das pessoas com deficiência; outras”. Assegurar o respeito pelo direito das pessoas com A sociedade está a privar-se de uma grande reserva deficiência a terem uma vida autónoma e não serem de talentos. As pessoas com deficiência podem dar um contributo muito variado em termos de conheciobrigadas a residir em locais específicos; mentos especializados, de competências e de talenA Convenção aborda o conjunto das diversas barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam, Assegurar o seu direito a casar e constituir família; tos. Os estudos mostram que o seu rendimento no trabalho é tão bom - se não mesmo melhor – como Integrar os alunos com deficiência no sistema nomeadamente a discriminação, como a negação do Uma Convenção global 15 Desenvolvimento Económico e Social Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC O mundo poderá estar à beira de uma grave recessão económica, segundo relatório da ONU O agravamento da crise do crédito nos países ricos desencadeada pelo colapso do sector da habitação, a diminuição do valor do dólar, os desequilíbrios mundiais persistentes e o aumento acentuado dos preços do petróleo e dos produtos de base representam graves ameaças para o crescimento económico em todo o mundo, diz um relatório divulgado a 15 de Maio por economistas das Nações Unidas. direcção à consecução dos Objectivos de relatório pede um pacote de estímulos económicos coordenado internacionalmente, destinaDesenvolvimento do Milénio. do a apoiar os esforços americanos e centrado O relatório lançado pelo Departamento de na expansão da procura interna nos países com Assuntos Sociais e Económicos (DESA) e inti- excedentes de poupança – especialmente na tulado World Economic Situation and Prospects Europa, no Golfo Pérsico e no Leste Asiático. 2008 prevê que o crescimento económico mundial venha a registar uma diminuição acen- Para combater a inflação dos preços alimentatuada, baixando para 1,8% este ano e situando- res, os economistas recomendam o melhorase em 2,1% , no ano seguinte, em comparação mento da oferta e da produtividade através do investimento em técnicas de irrigação, infracom 3,8% ,em 2007. estruturas, melhoramento das sementes e dos O relatório diz que muito depende da evolu- fertilizantes, e investigação e desenvolvimento ção da situação nos Estados Unidos, que conti- agrícolas. Isto também ajudará a reforçar as nuam a ser o motor da economia mundial e economias rurais, onde se concentra a maior onde a crise do mercado da habitação e as parte da pobreza extrema do mundo. fragilidades da situação financeira e de crédito O relatório diz que, para além de se procurar desencadearam o abrandamento mundial. eliminar os condicionamentos da oferta de Na pior das hipóteses, a economia mundial produtos essenciais, tais como alimentos, e estagnará, se as recentes medidas financeiras estimular a procura mundial, também são adoptadas nos Estados Unidos não consegui- necessárias reformas profundas ao nível dos rem inverter o rumo da economia e os preços mecanismos de regulamentação e supervisão da habitação continuarem a diminuir, paralela- financeira internacionais, se o mundo quiser evitar novos problemas. mente à contracção acentuada do crédito. Os economistas acrescentam que a crise alimentar mundial que começa a fazer-se sentir constitui não só uma grave questão humanitária mas também uma ameaça para a estabilidade política e social em alguns países em desenvolvimento, podendo inverter o avanço em A fim de impulsionar a economia mundial, o UIT: avanços em direcção à conectividade do continente africano A sessão especial sobre a conectividade em África, intitulada “De Kigali para o futuro”, debruçou-se sobre os progressos realizados desde a cimeira “Ligar a África” que teve lugar, em Outubro último, na capital do Ruanda. Mais de mil representantes de governos, da indústria, dos bancos de desenvolvimento e das organizações internacionais, vindos de 54 países, encontraram-se em Kigali, no Ruanda, para mobilizar os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários para alargar o acesso às infraestruturas TIC a todo o continente. Em Outubro, foram recebidas promessas de investimento superiores a 55 mil milhões de dólares com o fim de atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). “As tecnologias da informação e das telecomunicações têm um papel crucial na concretização destes objectivos, por exemplo através do ensino em linha e dos serviços de saúde em linha”, afirmou Hamadoun Touré, Secretário-Geral da UIT, antes de lembrar que é “o investimento, e não a cari- dade, que é a chave do desenvolvimento de África”. A associação GSM anunciou que o número de ligações portáteis em África passou de 70 a 282 milhões, nos últimos 12 meses, enquanto os operadores procuram alcançar o objectivo, anunciado em Outubro último, de investir de modo a cobrir 90% da população. Foram igualmente registados progressos no estabelecimento de Centros de Excelência, de bolsas de ensino e de centros de formação em Internet nos países de língua espanhola e portuguesa. Sami Al Basheer Al Morshid, Director do Gabinete para o Desenvolvimento das Telecomunicações da UIT, mencionou também o recente lançamento do Manual Village Phone Direct, publicado em seis línguas em cooperação com a Fundação Grameen e cujo objectivo é auxiliar os parceiros locais a executarem os seus próprios projectos de telefone comunitário nas aldeias. Organismo da ONU para TIC concentra-se em quatro áreas principais do, centros comunitários e TIC para as escolas, disse Craig Barrett, que é também Presidente da Intel. Deve concentrar-se "naquilo que é mais importante para alcançar a conectividade; nos conteúdos locais, que podem criar enormes oportunidades económicas a nível local; e na educação das pessoas, para que saibam utilizar a tecnologia – e existem actualmente programas de educação maravilhosos que estão a ser utilizados por O principal organismo das Nações milhões de professores". Unidas responsável por disseminar Zukang, Secretário-Geral os benefícios das tecnologias da Sha informação deve concentrar-se nas Adjunto para os Assuntos Econóquatro áreas que mais preocupam micos e Sociais, disse ser necessáas pessoas no mundo inteiro, disse, rio que esta defina com mais precia 18 de Maio, Craig Barrett, Presi- são o âmbito da sua actividade. "A dente da Aliança Mundial das Aliança encontra-se num ponto de Nações Unidas para as Tecnologias viragem", afirmou. "Já tem uma da Informação e Comunicação imagem – já é um nome conhecido. Tem reconhecimento, uma (TIC) e para o Desenvolvimento. plataforma e redes", disse Sha Falando na terceira reunião anual Zakung aos cerca de 150 particida Aliança Mundial, em Kuala Lum- pantes do Conselho Estratégico da pur, Craig Barrett disse que as Aliança. "Já lançou iniciativas e pessoas estão sobretudo interessa- parcerias que começam a produzir das em obter software e hardware, resultados. Agora, é importante na conectividade, nos conteúdos que concentre o seu trabalho num locais e em formação no domínio menor número de actividades com mais impacto". das TIC. A Aliança Mundial "deve concentrar-se em programas que incidam no acesso", tais como parcerias entre os sectores público e priva16 Para mais informações Desenvolvimento Económico e Social Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Crise alimentar, alterações climáticas e gripe são as principais ameaças à saúde Cardiopatias e acidentes vasculares cerebrais matam mais do que doenças infecciosas compilados nos 193 Estadosmembros da OMS que abrangem a mortalidade de crianças e adultos, a prevalência de factores de risco, o recurso aos cuidados de saúde, a disponibilidade de pessoal de saúde e o financiamento destes cuidados. Segundo um novo relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças não transmissíveis e as doenças crónicas como as cardiopatias e os acidentes vasculares cerebrais passaram a ocupar o lugar das doenças infecciosas como principais causas de morte. As principais doenças infecciosas (diarreia, VIH/SIDA, malária e tuberculose) perderão importância como causas de morte a nível mundial, nos próximos 20 anos. O relatório World Health Statistics 2008 baseia-se em dados “Tendemos a associar as doenças infecciosas, como o VIH/ SIDA, a turberculose ou a malária, aos países em desenvolvimento, mas são cada vez mais numerosos os países onde as principais causas de morte são as doenças não transmissíveis”, disse o Dr. Ties Boerma, Director do Departamento de Dados e Estatísticas do OMS. A crise alimentar, as alterações climáticas e a pandemia da gripe são as principais ameaças à saúde humana, segundo a OMS. “Estes três fenómenos cruciais, estas ameaças evidentes à segurança internacional, têm a capacidade potencial de anular muitos dos progressos conseguidos a duras penas em matéria de saúde pública”, disse a Directora-Geral da OMS, Margaret Chan, hoje, em Genebra. Em relação às alterações climáticas referiu que deveriam provocar novas secas, cheias e tempestadas tropicais, as quais exigiriam uma ajuda humanitária acrescida. Uma terceira crise, a pandemia da gripe, ameaça também o futuro da humanidade. “A ameaça não diminuiu e cometeríamos um erro se abrandássemos a vigilância e os esforços Usando da palavra na abertura da para lhe fazer face”, afirmou a Dra. 61ª. Sessão da Assembleia Mundial Margaret Chan. da Saúde, a Dra. Margaret Chan disse que se estima que 3,5 milhões Para mais informações de mortes por ano sejam causadas Dia Mundial contra o Trabalho Infantil 12 de Junho de 2008* as Nações Unidas e a comunidade internacional mais alargada fixaram metas que visam garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino primário e que se promova a igualdade de género na educação. Estes objectivos não podem ser concretizados se não forem eliminados os factores responsáveis pelo trabalho infantil e que impedem as famílias de enviar os seus filhos para a escola. Para mais informações Regras de Nova Iorque podem contribuir para a luta contra o VIH-SIDA Vários países estão a dar passos significativos para combater o problema do VIH/SIDA no local de trabalho e as novas regras podem ajudar na luta contra este flagelo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Numa declaração divulgada a 14 de Maio, a OIT disse que a promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com o VIH/SIDA no local de trabalho iria contribuir para o acesso universal a medidas de prevenção do VIH, bem como para o tratamento e a assistência médica. Um novo relatório da Organização, intitulado HIV/AIDS and the World of Work, conclui que mais de 70 Estados-membros da OIT adoptaram, ou estão em vias de adoptar, uma lei geral sobre o VIH/SIDA, enquanto 30 países aplicam já ou tencionam aplicar de regras específicas relativas ao local de trabalho. Simultaneamente, a OIT diz que o VIH está a ter um efeito devastador no mundo do trabalho. A maioria dos mais de 33 milhões de pessoas que vivem com o VIH em todo o mundo está ainda a trabalhar. Para mais informações por subnutrição e que as famílias pobres gastem em média entre 50 e 75% do seu rendimento em alimentação. O Dia Mundial contra o Trabalho Infantil comemora-se todos os anos a 12 de Junho, e tem como objectivo a conjugação de esforços do movimento global para eliminar o trabalho infantil. Este ano, o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil será assinalado em todo o mundo com actividades destinadas a sensibilizar a sociedade para a Educação enquanto resposta certa contra o trabalho infantil. A OIT estima que o trabalho infantil afecte cerca de 165 milhões de crianças entre os 5 e os 14 anos. Muitas destas crianças cumprem longos horários de trabalho, frequentemente em condições perigosas. O trabalho infantil está intimamente associado à pobreza. Muitas famílias pobres não dispõem de condições para pagar as propinas escolares ou outros custos associados. A família pode depender do contributo de uma criança trabalhadora para o seu orçamento familiar, colocando, por isso, a educação em segundo plano. Além disso, quando uma família tem de escolher entre mandar um rapaz ou uma rapariga para a escola, normalmente a rapariga é preterida. Nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), 17 O direito à educação assume uma posição central no âmbito dos direitos humanos, sendo essencial ao exercício de outros direitos humanos e ao desenvolvimento. A educação permite que crianças e jovens social e economicamente excluídos ultrapassem o limiar de pobreza. Há uma maior probabilidade de que as crianças escolarizadas, quando se tornam adultas, mandem os seus próprios filhos para a escola. A educação das raparigas teve um impacto social particularmente positivo, reduzindo as taxas de natalidade e melhorando a saúde materno-infantil. O investimento na educação é também uma boa decisão do ponto de vista económico. Um estudo recente da OIT revelou que a erradicação do trabalho infantil e a sua substituição por um sistema educativo global traria maiores benefícios económicos, além de benefícios sociais. Em termos globais, os benefícios excedem os custos a um rácio superior de 6 para 1. Para mais informação sobre o Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, visite o site da OIT www.ilo.org/ipec * Colaboração do Escritório da OIT em Lisboa Desenvolvimento Sustentável Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Comissão de Desenvolvimento Sustentável termina com apelo a mais investimento na investigação Numa altura em que a comunidade internacional enfrenta a pior crise alimentar dos últimos 30 anos, a 16ª. Sessão da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, que decorreu de 5 a 16 de Maio, em Nova Iorque, reflectiu sobre as políticas mais indicadas para superar o desafio que consiste em alcançar a segurança alimentar e energética, sem prejudicar o ambiente. Este novo ciclo de dois anos, inicia-se num contexto internacional dominado pelo aumento acentuado dos preços dos produtos de base, as perturbações provocadas pelas alterações climáticas, a redução dos recursos energéticos e as preocupações crescentes com a capacidade de alimentar os 6,5 mil milhões de habitantes do planeta. A Comissão de Desenvolvimento Sustentável concluiu a sua sessão anual a 16 de Maio, realçando a necessidade de aumentar o investimento na investigação e desenvolvimento de tecnologias e infra-estruturas agrícolas inovadoras e sustentáveis nos países pobres. Para concluir duas semanas de conversações em Nova Iorque, a Comissão examinou os obstáculos e barreiras que têm impedido o desenvolvimento sustentável nos domínios da agricultura, utilização dos solos, desenvolvimento rural, seca, desertificação e em África. Os países irão agora dar seguimento a estas questões, apresentando recomendações na reunião do próximo ano. A sessão serviu também de ponto de partida para as próximas conversações internacionais sobre a crise alimentar mundial: no âmbito do Conselho Económico e Social (ECOSOC) – de que a CDS é um organismo subsidiário – entre 20 e 22 de Maio, em Nova Iorque, bem como no âmbito da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, em princípios de Junho. Num discurso proferido no início do segmento de alto nível, que decorreu de 14 a 16 de Maio, o Secretário-Geral Ban Ki-moon disse que "após vinte e cinco anos de incúria relativa, a agricultura figura novamente entre as prioridades internacionais, infelizmente, com uma intensidade incontornável", e acrescentou: "O aparecimento da actual crise alimentar veio realçar a fragilidade do nosso êxito no que se refere a alimentar a população crescente do mundo com as tecnologias da primeira revolução verde e os subsequentes melhoramentos agrícolas". O Secretário-Geral frisou que a agricultura necessita de ser revitalizada, afirmando: "É necessário trabalharmos juntos para desenvolver uma nova geração de tecnologias e métodos agrícolas susceptíveis de desencadear uma nova revolução verde, uma revolução que permita aumentos sustentáveis da produção, com danos mínimos para o ambiente, e que contribua para os objectivos do desenvolvimento sustentável". Observando que o stress hídrico se irá agravar num futuro próximo, Ban Ki-moon apelou a uma melhor conservação e utilização da água e a um aumento do investimento com o objectivo de inverter o processo de desertificação. estradas e de acesso aos mercados nas zonas rurais. Falando no segmento de alto nível, em nome de Portugal, o Secretário de Estado da Agricultura e das Pescas, Luís Medeiros Vieira, disse que o Governo do seu país adoptou uma abordagem inovadora para fazer face às consequências da seca. Tal abordagem assenta na gestão dos riscos e no lançamento de intervenções necessárias para reduzir a vulnerabilidade das populações. Em matéria de desenvolvimento sustentável, lembrou que a Iniciativa europeia LEADER+5 levou Portugal a adoptar uma abordagem integrada. Terminou a sua intervenção chamando a atenção para o facto de a crise alimentar mundial demonstrar que apenas uma ínfima parte da produção agrícola mundial é comercializada nos mercados mundiais. A crise é, pois, uma oportunidade para intensificar a produção ao nível nacional, o que constitui, a seu ver, a única maneira de atenuar a volatilidade dos preços nos mercados mundiais. A sessão da CDS contou com a participação de quase 60 ministros, bem como 680 representantes de 126 organizações não governamentais. Este ano houve uma participação muito maior de representantes da sociedade civil: mulheres, agricultores, cientistas, empresários, crianças e jovens, autoridades locais, trabalhadores e sindicatos, e povos indígenas. Os participantes elegeram Gerda Verburg, Ministra da Agricultura, da Natureza e da Qualidade dos Alimentos dos Países Baixos, para o cargo de presidente da CDS, sendo esta a primeira vez que este organismo subsidiário do ECOSOC irá ser presidido por uma mulher. O Secretário-Geral Adjunto para os Assuntos Económicos e Sociais, Sha Zukang, disse o seguinte: "É imprescindível encararmos a escalada dos preços alimentares como uma emergência. Temos de tomar medidas rápidas e bem orientadas no Comissão de Desenvolvimento Sustentável sentido de prestar assistência alimentar de emergência às pessoas que dela necessitam". Para mais informações sobre a 16ª. Sessão No entanto, acrescentou que da CDS (em inglês) não era suficiente gerir a http://www.un.org/esa/sustdev/csd/review.htm crise. "Temos de garantir que isto não volte a acontecer". Muitos países manifestaram preocupação pelo facto de serem vários os factores que contribuíram para a actual situação, nomeadamente, as alterações climáticas, as políticas comerciais injustas, a má gestão dos solos, a produção de biocombustível e a falta de 18 Declaração do Presidente - Partes I e II (em inglês) http://www.un.org/esa/sustdev/csd/csd16/documents/ chairs_summary.pdf Sessões anteriores da CDS (em inglês) http://www.un.org/esa/sustdev/csd/csd_past.htm Desenvolvimento Sustentável Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Aves migratórias ameaçadas por mudanças ambientais Campanha dos mil milhões de árvores pretende atingir número sete vezes superior ao inicialmente previsto "As aves migratórias são das criaturas mais extraordinárias do planeta e, em muitos países, a observação de aves é uma actividade de lazer e turismo economicamente importante", disse Achim Steiner, Director Executivo do PNUA. "Mas as aves migratórias são mais do que isso. A sua dependência de habitats e ecossistemas saudáveis significa que são importantes indicadores que permitem determinar se a comunidade internacional está verdadeiramente a tentar corrigir o declínio e erosão do património natural do Ao assinalar o Dia Mundial das planeta". Aves Migratórias, este ano subordinado ao tema "Aves Embora as razões da diminuição Migratórias – Embaixadoras da do número de aves migratórias Biodiversidade", o PNUA disse sejam complexas e digam respeique a diminuição do seu número to especificamente a determinase está a registar relativamente a das espécies, o declínio global é muitas espécies em todos os um reflexo do problema ambienprincipais corredores de migra- tal mais geral associado à perda ção que as aves utilizam para mundial de habitats e biodiversipercorrer milhares de quilóme- dade. tros entre os locais de nidificação Para mais informações e aqueles onde passam o Inverno. O número de aves migratórias – considerado um dos melhores indicadores do estado da biodiversidade mundial – está a diminuir significativamente, devido às mudanças ambientais, advertiu o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). Participantes em reunião apoiada pela ONU concordam em trabalhar no sentido de definir normas sobre biossegurança Mais de 2000 participantes num encontro de uma semana sobre biossegurança concordaram em trabalhar no sentido de estabelecer normas vinculativas em matéria de responsabilidade civil e indemnização por eventuais danos causados pelos movimentos transfronteiriços de organismos geneticamente modificados (OGM), disse o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). Os participantes na quarta reunião das Partes no Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança realizada em Bona, na Alemanha, que se diz ter sido a maior reunião de sempre sobre o assunto, chegaram a um acordo sobre um calendário e um quadro para realização de negociações sobre normas e procedimentos. O conteúdo do instrumento juridicamente vinculativo em matéria de responsabilidade civil e indemnização por danos causados por OGM, também denominados organismos vivos modificados (OVM), será discutido na próxima reunião das partes no Protocolo, que é um acordo adicional à Convenção sobre Diversidade Biológica. Essa reunião está marcada para Outubro de 2010 e terá lugar em Nagoya, no Japão. Ahmed Djoghlaf, Secretário Executivo da Convenção, saudou o acordo dizendo que se tratava de "uma excelente notícia para a família da biodiversidade". cola e Florestal (ICRAF), em 2006, para responder à ameaça do aquecimento global. Uma campanha dirigida às populações locais destinada a plantar árvores em todo o globo vai aumentar o seu objectivo para 7 mil milhões de árvores, anunciou a ONU, a 13 de Maio. Foi igualmente anunciado que, em 18 meses, a campanha, que conta com o apoio da Professora Wangaria Maathai, Prémio Nobel da Paz e fundadora do Green Belt Movement, uma ONG com sede no Quénia, e do Príncipe Alberto II do Mónaco, conseguiu que fossem plantados dois mil milhões de árvores, o dobro do seu objectivo inicial. O Director Executivo do PNUA, Achim Steiner, disse o seguinte: "Tendo ultrapassado todas as metas estabelecidas para a campanha, vamos agora lançar um apelo aos indivíduos, comunidades, empresas e indústria, organizações da sociedade civil e governos para levarem esta iniciativa ainda mais longe, de modo a atingir um nível mais elevado até à conferência sobre as alterações climáticas, que terá lugar em Copenhaga em finais de 2009". Em termos de distribuição geográfica, África encontra-se em primeiro lugar na campanha, com mais de metade de todas as árvores plantadas. Foram os governos regionais e nacionais que organizaram plantações do maior número de árvores: a Etiópia está em primeiro lugar com 700 milhões de árvores, seguindo-se a Turquia (400 milhões), o México (250 milhões) e A campanha foi lançada pelo Pro- o Quénia (100 milhões). grama das Nações Unidas para o Para mais informações Ambiente (PNUA) e pelo Centro Internacional de Investigação Agrí- Conversações sobre Alterações Climáticas começam a 2 de Junho em Bona A próxima série de negociações mundiais sobre alterações climáticas patrocinadas pelas Nações Unidas deverá ter início em Bona, na Alemanha, a 2 de Junho de 2008. Um dos principais temas das Conversações sobre Alterações Climáticas – Bona, 2008 será um acordo internacional reforçado e eficaz sobre alterações climáticas, que deverá ser concluído em Copenhaga, no próximo ano. A reunião, que se prolongará por duas semanas, deverá contar com a presença de cerca de 2000 pessoas, entre as quais se incluem representantes dos governos, empresas e indústria, organizações ambientais e instituições de investigação. Tratase de uma participação recorde em sessões anuais da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (CQNUAC), realizadas em Bona. climáticas, conforme acordado em Bali, em 2007. Neste contexto, serão realizados workshops sobre as questões da adaptação, financiamento e transferência de tecnologia. Por outro lado, as conversações sobre os novos compromissos a assumir pelas Partes no Protocolo de Quioto incluirão uma análise das possíveis ferramentas de que os países industrializados dispõem para os ajudar a alcançar futuras reduções das emissões. Além disso, as conversações de Bona darão continuidade ao trabalho em curso sobre tecnologia, adaptação e redução das emissões causadas pela desflorestação e sobre o reforço de capacidades nos países em desenvolvimento. "É urgentemente necessário fazermos progressos em Bona, já que temos pouco mais de um ano para apresentar um conjunto de projectos tendo em vista a celebração de Por um lado, as Conversações um acordo ratificável em Copenhasobre Alterações Climáticas de ga", disse Yvo de Boer, Secretário Bona levarão por diante o novo Executivo da CQNUAC. processo de negociação sobre Para mais informações medidas internacionais reforçadas destinadas a combater as alterações 19 Opinião Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC UM OLHAR SOBRE A ONU * Como a segurança humana poderia refundar a comunidade internacional “A coisa mais importante que temos que fazer agora é segurança” Ramos Horta, Presidente de Timor Leste, 20 de Maio Ramos Horta, recuperado do atentado que em Fevereiro deste ano fez tremer as fundações de um ainda frágil Timor Leste e que fez emergir os costumeiros vaticinadores do falhanço do estado, reconhece que o mais importante para os timorenses é, agora, a segurança. Uma segurança que passa por uma reforma do sector de segurança que estabeleça uma política nacional de segurança, livre dos perversos alinhamentos ideológicopartidários dos tempos mais recentes, em que polícia e forças armadas saibam qual é a sua função e quando é que cada um faz o quê. Uma reforma que preencha as lacunas legislativas e a falta de pesos e contrapesos de uma cultura democrática em formação. Mas também uma agenda de segurança humana que garanta que os timorenses vivem em maior liberdade, ao abrigo da necessidade, sem medo e em dignidade. Uma agenda não securitária, não centrada exclusivamente na segurança do estado e das suas fronteiras privilegiando os meios militares e análogos para a sua prossecução, mas sim uma agenda de segurança humana, multidimensional que trate das várias formas de insegurança que afectam as pessoas: insegurança alimentar, insegurança face ao emprego, violação de direitos humanos, injustiça, degradação ambiental. Um novo conceito de segurança centrada nos indivíduos e nas suas necessidades e não nos estados e nas suas agendas securitárias, na segurança do povo e não na segurança das fronteiras. Esta abordagem não é nova mas é inovadora. Embora o PNUD trabalhe este conceito desde 1994 (o Relatório de Desenvolvimento Humano desse ano tem o sugestivo título de Novas Dimensões da Segurança Humana) enunciando como principais desafios da segurança humana a segurança económica, a segurança alimentar, a segurança na saúde, no ambiente, segurança pessoal, comunitária e política, o desenvolvimento de um quadro conceptual e operacional de referência é um processo em curso. produzida dentro das Nações Unidas. Assim, pela primeira vez a Assembleia foi palco de um debate sobre este quadro de referência em formação. O Presidente da Assembleia Geral (Srgjan Kerim) destacou que era chegado o momento para uma abordagem holística centrada nas pessoas, na sua protecção e empoderamento; uma abordagem que vá para além da percepção da segurança como a segurança do estado; naquilo que podemos classificar uma mudança de paradigma nas relações internacionais que tenha como elemento fundador o prinSem descurar a literatura em franco cresci- cípio da segurança humana. mento sobre a matéria, destacamos dois momentos decisivos: a Cimeira Mundial de Há presente nestas novas abordagens mais 2005 e a reunião que no dia 22 de Maio a do que uma mudança de paradigma, há verAssembleia Geral realizou para discutir o dadeiramente uma revolução paradigmática: assunto. Foi a primeira reunião temática da do estado para o indivíduo, da segurança Assembleia Geral das Nações Unidas para militar para a segurança humana, da reacção discutir este conceito. para a responsabilidade de proteger. Afinal é disso que se trata: daquilo que, nós, os A Assembleia Geral trabalhou sobre o con- povos, organizados em estados, em organiceito de segurança humana endossado pela zações internacionais em movimentos de Cimeira de 2005 em que se reafirma que sociedade civil consigamos fazer para garantodos os indivíduos, em particular as pes- tir a segurança humana de todos. soas mais vulneráveis, têm direito a viver sem medo e ao abrigo da necessidade, com E isso que está em questão em Timor Leste. oportunidades iguais para usufruírem de Que nas celebrações do sexto aniversário todos os seus direitos e para desenvolve- da sua restauração da independência, num rem plenamente o seu potencial humano. processo tutelado pelas Nações Unidas, os Para viverem em maior liberdade como é timorenses identifiquem a segurança como a referido no Preâmbulo da Carta das Nações sua preocupação cimeira é um bom sinal. Unidas e no relatório do ex-Secretário Geral Kofi Annan, Em Maior Liberdade, segurança, direitos humanos e desenvolvimento para Mónica Ferro todos – provavelmente a mais importante Docente do Instituto Superior de Ciências peça doutrinária e de reflexão alguma vez Sociais e Políticas Novos sítios Web * Os artigos publicados nesta secção expressam exclusivamente os pontos de vista da autora, não devendo ser interpretados como reflectindo a posição da ONU. International Year of Languages 2008 http://www.un.org/events/iyl/index.shtml HIV/AIDS and the Millennium Development Goals (A/62/780) http://www.un.org/Docs/journal/asp/ws.asp?m=A/62/780 UN Reform – updated website http://www.un.org/reform/ The World Bank’s Commitment to HIV/AIDS in Africa: Our Agenda for Action, 2007-2011 http://siteresources.worldbank.org/INTAFRREGTOPHIVAIDS/Resources/ WB_HIV-AIDS-AFA_2007-2011_Advance_Copy.pdf Prohibiting Cluster Munitions: Our Chance to Protect Civilians (UNDP) http://www.undp.org/cpr/documents/ UNDP_clusterMunitions_2008.pdf UN Peacekeeping website – new design http://www.un.org/Depts/dpko/dpko/ Children’s Perspectives on Economic Adversity: A Review of the Literature (UNICEF) http://www.unicef-irc.org/publications/pdf/idp_2008_01.pdf Global food prices (World Bank) http://econ.worldbank.org/external/default/main?pagePK=64165259&piPK=64165421 &theSitePK=469372&menuPK=64166093&entityID=000158349_20080416103709 Development and Globalization (UNCTAD) http://www.unctad.org/Templates/Download.asp? docid=9736&lang=1&intItemID=2068 High-Level Task Force on the Global Food Security Crisis http://www.un.org/issues/food/taskforce/ OHCHR Activities Report 2007 http://www.ohchr.org/Documents/Press/OHCHR_Report_07_Full.pdf Pode encontrar estas e muitas outras informações úteis no Audiovisual Library of International Law http://www.un.org/law/AVLpilotproject/ Boletim da Biblioteca do UNRIC 20 Opinião Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC O AMBIENTE EM PERSPECTIVA* 10 anos da Convenção de Aarhus: um contributo inestimável para o Desenvolvimento Sustentável No próximo dia 25 de Junho celebram-se os dez anos da Convenção de Aarhus. Os seus três pilares fundamentais são: o acesso à informação, o direito à participação dos cidadãos nos processos de tomada de decisão e o acesso à justiça no domínio do ambiente. Assinada em 1998 inicialmente por 36 países, incluindo Portugal, entrou em vigor em 30 de Outubro de 2001. Mas o que tem a Convenção de Aarhus a ver com o Desenvolvimento Sustentável? O conceito de Desenvolvimento Sustentável foi consagrado em 1987 no Relatório Brundtland (“O Nosso Futuro Comum”) pela Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas e definido como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Mas foi a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD), mais conhecida pela Cimeira da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, que o colocou definitivamente na agenda política mundial. A Conferência do Rio, para além de reafirmar o conceito de Desenvolvimento Sustentável, lançou alguns documentos “estruturantes” para uma abordagem sustentável do desenvolvimento, designadamente a Agenda 21, que realça a promoção da participação pública e do envolvimento das ONG nos processos de decisão, e a Declaração do Rio, ambos importantes compromissos políticos orientadores das acções subsequentes levadas a cabo quer a nível internacional quer a nível das políticas domésticas. de Desenvolvimento Sustentável pelos Estados é uma consequência da aplicação do Princípio 10 da Declaração do Rio que salienta que “A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e actividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar em processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a consciencialização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos.” Em Portugal o Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), criado em 1997 na sequência da Sessão Especial da Assembleia-Geral das Nações Unidas comemorativa dos cinco anos da CNUAD (conhecida por Rio+5), é um órgão nacional independente com funções consultivas, que reflecte as diferentes sensibilidades das várias forças sociais, culturais e económicas na procura de consensos alargados relativamente às políticas de ambiente e de desenvolvimento sustentável. Na sua composição encontram-se amplamente representadas organizações não governamentais do ambiente e do desenvolvimento. muito para além do espaço europeu. É o próprio Kofi Annan que a descreve como a mais ambiciosa iniciativa em democracia ambiental alguma vez empreendida no seio das Nações Unidas, acrescentando que, ainda que de âmbito regional, o significado da Convenção de Aarhus é global pois representa, de longe, a melhor concretização do Principio 10 da Declaração do Rio, que sublinha a necessidade de os cidadãos participarem em assuntos e acederem à informação sobre ambiente detida pelas autoridades públicas. Nesta matéria o grande desafio actual da União Europeia passa por uma maior aproximação das instituições ao cidadão. Conforme refere o CNADS os cidadãos sentem que, com demasiada frequência, tudo se decide “nas suas costas” e desejam que se exerça um maior controlo democrático sobre as instituições. Só uma democracia efectivamente participada conduzirá a uma “governação responsável” assente nos princípios da Declaração de Laeken. E os cidadãos só serão os actores das políticas e, consequentemente, só contribuirão para um desenvolvimento sustentável, se participarem conscientemente e forem envolvidos no processo de decisão. Independentemente dos numerosos contributos que permitiram reconhecer a importância da participação pública nos processos de decisão no Carlos Costa âmbito do desenvolvimento sustentável, há que GEOTA – Grupo de Estudos do Ordenamento do considerar a Convenção de Aarhus como um Território e Ambiente No concreto, a criação dos Conselhos Nacionais marco incontornável cujos efeitos se projectam 1. in http://www.lead.org.br/article/view/1823/1/247 2. in http://www.unece.org/env/pp/ 3.CNADS (2003), Reflexão sobre o Acesso à Informação, a Participação Pública nos Processos de Tomada de Decisão e o Acesso à Justiça, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 4. in http://europa.eu/scadplus/glossary/laeken_declaration_pt.htm * Esta coluna é da responsabilidade do GEOTA. Os artigos nela publicados expressam exclusivamente os pontos de vista do autor, não devendo ser interpretados como reflectindo a posição da ONU ONU acolhe “Arte, Atitudes e Ambiente”, uma exposição de sete artistas para inspirar o respeito pelo planeta “Arte, Atitudes e Ambiente” é o título de uma exposição que abriu Estes artistas, cujo trabalho chama a atenção para a necessidade de a 8 de Maio, na Sede da ONU, em Nova Iorque. preservar o ambiente, participaram no sexto seminário da série “Desaprender a tolerância” que decorreu, no mesmo dia, na Sede Segundo o seu curador, Randy Jayne, a da ONU. Juntaram-se a peritos da Convenexposição “visa demonstrar ao público ção das Nações Unidas sobre a Diversidade que o recurso à arte para evocar a ligação Biológica, do Programa das Nações Unidas emocional entre a humanidade e o planeta para o Ambiente (PNUA) e da Invernergy, pode sensibilizar para as questões do LLC. ambiente e inspirar respeito pelo planeta”. A exposição inclui obras de sete artistas A exposição, que estará aberta até 1 de de horizontes tão diversos como NoorJunho, é organizada pelo Departamento de Al-Bastaaki, do Barém, El Anatsui, do Informação Pública das Nações Unidas com Gana, Subhankar Banerjee, da Índia, o Museu Mundial de História Natural e o Catherine Chalmers, dos Estados Unidos, PNUA, no quadro da sua iniciativa comum Ichi Ikeda, do Japão, Cecilia Paredes, do “A Arte e o Ambiente”. Perú, et Philippe Pastor, do Mónaco. 21 Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC O CANTO DA RÁDIO ONU * América Latina precisa de mais velocidade, diz Fernando Henrique Cardoso O presidente Fernando Henrique Cardoso participou das comemorações de 60 anos da Comissão Econômica para América Latina e Caribe, Cepal, marcados no fim de abril. Ele próprio um ex-pesquisador da Cepal nos anos 1970, FHC diz que de lá para cá, muitas coisas melhoraram no continente, mas que para se desenvolver como deve, a região precisa de mais velocidade. O expresidente concedeu a seguinte entrevista à chefe da Rádio ONU, Mônica Villela Grayley. que foram na década passada. RO: Então na sua opinão nós estamos no caminho certo, é só uma questão de algumas década para atingirmos o que devemos em nível de educação? FHC: Se houver velocidade, depende da velocidade das transformações e nós mudarmos alguma coisa, não o suficientemente. Ainda por exemplo na área da justiça, do acesso à justiça e da crença na democracia, de que a lei que vale e que os contratos vão valer e que as pessoas estão garantidas pela lei na questão das drogas e segurança pública e tudo isso ainda conta. Não se pode dizer que o caminho seja assegurado e de um caminho para um futuro que nos permita ultrapassar ou pelo menos igualar as taxas de crescimento à dos países emergente que mais crescem. O caminho pode estar certo Rádio ONU: Qual é a mensagem mas a velocidade ainda não é suficiente e ainda falta tirar muito enque o senhor vai levar para ceri- tulho do caminho. mônia de comemoração dos 60 RO: A minha última pergunta é sobre a crise dos alimentos e tamanos da Cepal bém a preocupação de alguns especialistas com a produção do etaFernando Henrique Cardoso: Minha mensagem é muito simples, nol principalmente o etanol de milho. Eles dizem que a produção do é continuar a ser a Cepal que iluminou o caminho da América Latina etanol pode ameaçar ou vai ameaçar a segurança alimentar. Na sua nos anos 50, 60, 70 e agora está retomando uma posição de lideran- opinião, a crise dos alimentos pode atingir o Brasil? E segundo, o ça. A América Latina está desafiada diante da globalização e há uma etanol realmente é nocivo desta maneira? nova estratégia de desenvolvimento e ninguém melhor do que a Cepal, que tem não só as informações com uma tradição políticas e FHC: O etanol produzido a partir do milho é preocupante porque de uma posição de autonomia e independência da região para ajudar ele realmente compete com a produção de soja que é a base de os países na definição de um caminho que permita uma integração alimentação do cadeia produtiva de frango, boi etc e então afeta, já ao mercado internacional mas que seja beneficiosa também ao cres- está afetando. O etanol produzido da cana não, porque a cana não é um produto de alimentação direto e também não está havendo cimento dos mercados internos e para as populações de cada país. expansão direta no Brasil que ponha em risco a produção alimentar. RO: Quando se fala em desenvolvimento, analistas dizem que a Mas a produção do etanol do milho sim. Eu acredito que isso terá e região deveria crescer pelo menos 6% ao ano para um futuro me- já está tendo um efeito negativo. Acho portanto que existe uma lhor, o que não está acontecendo. Na sua opinião, qual é o maior preocupação correta a respeito da questão do o que vai acontecer com o preço dos alimentos. Claro que a economia mundial, a longo impasse para este crescimento ainda um pouco tímido? e a médio prazos, vai ter que se ajustar. O preço sobe agora e vai FHC: Em primeiro lugar, a nossa taxa de poupança é baixa se com- aumentar a produção, mas leva muito tempo. Então nos próximos parada com a Ásia, por exemplo. A Ásia cresce muito, mas tem uma anos a pressão que existe é a pressão que vai preocupar bastante. poupança de 25% , 30 e 40% como na China. A da nossa região é Agora no caso de alguns países como é o caso do Brasil, do ponto geralmente abaixo de 20% , então é difícil crescer sem poupança. de vista energético, nós temos uma vantagem a nossa matriz é pratiPara crescer sem poupança é preciso ter capital externo, para com- camente hidroelétrica e limpa. Segundo, nós temos petróleo e terpensar e o capital externo, é uma fração sempre, e não corresponde ceiro temos o etanol da cana que reduz a poluição e não põe a perinunca à massa de poupança que é possível gerar internamente. Do go a produção alimentícia. Claro que mesmo no Brasil é preciso ter ponto de vista econômico, esse é o ponto, esse é o maior entrave. zoneamento, mesmo que não ponha em risco a produção alimentíMas há outros. Se comparado com regiões como a Ásia, o nível cia, você precisa evitar que ela se estenda para o lado do Pantanal educacional cresceu muito rapidamente. Melhorou muito o nível do Mato Grosso por uma questão de preservação do meio ambientécnico da população e tudo mais. Mas nós, nessa matéria, ainda te. É preciso impedir que haja qualquer tentativa de plantar cana estamos acanhados. Há esforços no Chile, no México, no Brasil e na acima do paralelo 17 e até lá a cana será propriamente plantada e Argentina, no Uruguai. Mas mesmo assim, na média, nós ainda esta- mais acima não é e teremo que desenvolver novas tecnologias e aí mos atrasados e como eu disse respondendo a sua pergunta anteri- sim pode colocar em risco a produção de alimentos. Enfim, o proor, nós temos que ter uma nova estratégia para o desenvolvimento, blema existe e é real. de crescimento e esta nova estratégia tem que incorporar a nossa capacidade de inovação e de produzir produtos novos e nos ade- RO: A crise dos alimentos não chega ao Brasil, então, na sua opiquar com rapidez às mudanças que ocorrem no mundo. E tudo isso não?. requer uma educação que capacite mais as pessoas para as condições atuais. Eu acho que se você somar a falta de uma poupança FHC: Em termos de preços já chegou. Nós estamos com problemais enérgica, e a ainda não suficiente difusão do sistema educacio- mas com o arroz, com trigo, que a Argentina proibiu a exportação. nal no seio da população da América Latina, isso explica porque nós Em termos de preço sim, agora em termos de preço de quantidade ainda estamos, em comparação com esse povos, atrasados. Mas é disponível não. Mas a questão no Brasil não é a quantidade de alipreciso reconhecer que houve um salto grande que nos últimos mento disponível, é o preço. A população melhorou ultimamente anos com o desenvolvimento do comércio internacional, a América porque melhorou a renda, mas se o preço sobe muito ele corrói Latina soube também se preparar melhor e conseguimos reduzir a esta melhoria de renda, então chega sim. pobreza em vários países e estamos conseguindo taxas de crescimento que ainda não são o ideal mas já são melhores do * Colaboração da Rádio ONU 22 Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC Embaixadores da Cultura das Nações Unidas apelam à Educação para Todos Prémio de Promoção da Paz Félix HouphouëtBoigny atribuído a Martti Ahtisaari O grupo é constitutído por: Mehriban Aliyeva; Patrick Baudry; Pierre Bergé; Xeique Modibo Diarra; Miguel Angel Estrella; Vigdís Finnbogadóttir; Princesa Firyal da Jordânia; Ivry Gitlis; Christine Hakim; Jean Michel Jarre; Jean Malaurie; Princesa Lalla Meryem de Marrocos; UteHenriette Ohoven; Lady Cristina Owen-Jones; Kim Phuc Phan Thi; Susana Rinaldi; Madanjeet Singh; A 25 de Maio, um grupo de celebri- Zurab Tsereteli; Marianna Vardinodades e Embaixadores da Organiza- yannis. ção das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) Na sua declaração, os Embaixadores apelou, na sua reunião anual realizadisseram ainda que o respeito pela da na sede do organismo em Paris, a diversidade cultural e pelas línguas é maiores esforços com vista a assegufundamental para o desenvolvimento rar a “Educação para Todos”. social e para a paz, acrescentando que deveria prestar-se uma atenção “Apesar de a educação ser um direirenovada ao ambiente. “Este é o to humano fundamental, milhões de momento para enfrentar com detercrianças e de adultos em todo o minação o desafio que representa mundo ainda são privados do acesso um planeta sobre-explorado e para à educação básica e à tecnologia”, adoptar medidas que o preservem disseram a Princesa Firyal da Jordâpara as gerações vindouras”, dissenia e o músico francês Jean Michel Jarre, em nome dos 19 Embaixado- ram. res da Boa Vontade presentes na reunião. Para mais informações O Prémio de Promoção da Paz Félix Houphouët-Boigny foi concedido a Martti Ahtisaari, Presidente da Finlândia entre 1994 e 2000 e fundador da organização não governamental Crisis Management Initiative. O antigo Secretário de Estado norte-americano e Prémio Nobel da Paz Henry Kissinger, presidente do júri internacional que atribui este Prémio, afirmou que o laureado fora escolhido “por ter dedicado a sua vida inteira à causa da paz no mundo”. muçulmanos iraquianos sunitas e xiitas, com vista a facilitar o recomeço do diálogo entre as duas comunidades. Martti Ahtisaari realizou inúmeras missões de paz ao serviço das Nações Unidas, nomeadamente na Namíbia e nos Balcãs. No quadro da Crisis Management Initiative, organizou, durante uma semana, em Setembro de 2007, em Helsínquia, conferências entre os grupos O júri internacional que atribui este Prémio é constituído por personalidades eminentes tais como Mário Soares, antigo Presidente de Portugal, ou ainda o argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prémio Nobel da Paz. Através da Crisis Management Initiative, facilitou também o processo de paz entre a Indonésia e os rebeldes separatistas de Aceh. O processo terminou a 15 de Agosto de 2005 com a assinatura de um tratado de paz entre o Governo indonésio e o Gerakan Aceh Merdeka (GAM, Movimento para um Aceh Livre), pondo Numa mensagem pessoal dirigida a fim ao conflito nesta província. Martti Ahtisaari, o Director-Geral da UNESCO, Koïchiro Matsuura, Em 2000, supervisionou o processo regozijou-se com o reconhecimen- de desarmamento do Exército to que a atribuição do Prémio Republicano Irlandês (IRA) na Irlanrepresenta e felicitou-o calorosa- da do Norte, a pedido do Governo mente. britânico. A ONU e a UE (http://www.europa-eu-un.org/) EU Presidency Statement - UN 6th Committee: Agenda item 5(e) - Whether there is a governance or regulatory gap, and if so, how it should be addressed (30 de Abril) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7848_en.htm EU Presidency Statement - UN Security Council: Open debate on Small Arms and Light Weapons (SALW) (30 de Abril) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7844_en.htm UN Commission on Sustainable Development: Side Event on Organic Farming at UN on May 6th (1 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7845_en.htm EU Presidency Statement - United Nations 5th Committee: Item 140. Administrative & budgetary aspects of financing UNPKOs (5 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7860_en.htm EU Presidency Statement - UN 5th Committee: Item 125. Financial & Board of Auditors reports (8 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7883_en.htm EU Presidency Statement - UN 5th Committee: Item 140. Administrative and budgetary aspects of financing UNPKOs: Cross-cutting (8 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7882_en.htm European Union Statement - UN General Assembly: Financing for Development (19 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7892_en.htm "Economic Partnership Agreements: Drivers of Development" - Side event at the United Nations (19 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7887_en.htm EU Presidency Statement - United Nations Security Council: Debate on the situation in Bosnia and Herzegovina (19 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7884_en.htm European Community Statement - United Nations Economic and Social Council: Special meeting on the global food crisis (20 de Maio) http://europa-eu-un.org/articles/en/article_7886_en.htm 23 Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC protegemos as nossas costas são factores determinantes das consequências destruidoras de qualquer catástrofe. Precisamos urgentemente de nos preparar melhor para as catástrofes provocadas pelos fenómenos meteorológicos extremos e de melhorar a nossa resposta a estes. A ONU deverá encontrar meios de apoiar as comunidades mais vulneráveis, aos níveis regional e local, e de as ajudar a adaptarem-se às Prosseguimos neste número a divulgação de mais dois casos. A exemplo repercussões das condições meteorológicas extremas e a outros efeidos anteriores, também estes foram publicados em Portugal pelo jornal tos das alterações climáticas. Semanário. 3. Fenómenos meteorológicos extremos fazem parte de uma “nova tendência normal” O ano passado foi um ano terrível no que se refere a catástrofes naturais. Infelizmente – e com consequências demasiado trágicas para milhões de pessoas – 2007 representou uma “nova tendência normal”, um novo paradigma de perturbações meteorológicas extremas. Perante esta manifestação demasiado evidente das alterações climáticas, temos de adaptar rapidamente a forma como nos preparamos para os perigos da natureza e como lhes respondemos. O caso As violentas tempestades que varreram a Ásia e as Caraíbas, as secas devastadoras em África, os fogos florestais no Sudoeste dos Estados Unidos, as impressionantes cheias na Ásia e em grandes áreas de África, a lista mundial das catástrofes em 2007 lê-se como uma guião banal de um filme de terror de Hollywood. Mas o pesadelo foi bem real para as dezenas de milhões de pessoas que foram vítimas desses fenómenos. A litania dos fenómenos meteorológicos extremos do ano passado poderia ser apenas um prenúncio do que está para vir. Em 2007, a ONU lançou um número sem precedente de apelos de emergência a fundos destinados a catástrofes naturais repentinas: 15, ou seja, mais cinco do que no ano anterior, em que já fora estabelecido um recorde. Com excepção de uma delas, todas se deveram a condições meteorológicas extremas. Os recentes relatórios do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) citam investigação segundo a qual o impacto das actividades humanas nesta evolução já aumentou os riscos de certas perturbações extremas. Afirma que um aumento das temperaturas de 2 graus centígrados acima das médias do período 1990-2000 aumentaria os riscos de numerosos fenómenos extremos, incluindo cheias, secas, vagas de calor e incêndios. Prevê-se que se abatam sobre algumas regiões fortes precipitações – em 2008, a África Austral já sofreu graves cheias. O impacto das catástrofes naturais não se limita ao número de vítimas e aos prejuízos materiais. Mais centenas de milhões de pessoas poderiam vir a precisar de ajuda humanitária nos próximos anos, devido às consequências devastadoras das alterações climáticas não só para as reservas alimentares e hídricas e a saúde pública mas também para os fluxos migratórios e, o que não é menos importante, para a estabilidade política, na sequência da intensificação da competição pelo acesso aos recursos. O IPCC sustenta que as migrações e os movimentos de população são uma fonte especialmente importante de potenciais conflitos. A migração, habitualmente temporária e frequentemente de zonas rurais para zonas urbanas, é uma resposta comum a catástrofes como as cheias e as fomes. Em numerosos países africanos, onde se prevê que a produção agrícola e o acesso aos alimentos estejam seriamente ameaçados, as alterações climáticas poderiam ter um efeito negativo suplementar na segurança alimentar e exacerbar a malnutrição. Texto integral ** ****** ** 4. O sofrimento das raparigas-soldado Ainda que hoje se conheça melhor a situação difícil das crianças implicadas em conflitos armados no mundo inteiro, a das raparigas continua a ser ignorada. São, com frequência, vítimas de violência e exploração sexuais, recrutadas por grupos rebeldes como combatentes e “escravas sexuais” e, muitas vezes, quando são libertadas, o estigma da violação e da sua associação com as milícias subsiste. O caso A maneira como Eva, com apenas 13 anos, pega no seu bebé de quatro meses, mostra bem o peso do seu sofrimento. Foi sequestrada a caminho da escola, violada, submetida à nudez forçada e utilizada como escrava sexual por um grupo armado dissidente do Leste do Congo, durante mais de dois anos. Rejeitada por várias comunidades, errou de aldeia em aldeia até encontrar refúgio no Hospital de Panzi, em Bukavu, na República Democrática do Congo (RDC). “Não vemos as raparigas durante as nossas intervenções porque muitas delas não se querem apresentar, para não serem identificadas como concubinas ou para evitar que os filhos sejam apontados como «bebés rebeldes»”, diz Radhika Coormarazwamy, Representante Especial do Secretário-Geral para as Crianças em Conflitos Armados. É frequente as comunidades estigmatizarem e ostracizarem as raparigas devido à sua associação com os grupos rebeldes e ao opróbrio de terem sido violadas. Mas, ironicamente, mesmo que a associação entre os perpetradores e as vítimas tenha começado pelo sequestro, a violação e a violência, após alguns anos podem formar-se “células familiares” que incluem os filhos nascidos da violação. Muitas vezes, os grupos rebeldes recusam-se categoricamente a libertar as raparigas, mesmo depois de se terem comprometido a libertar as crianças. A reintegração é geralmente considerada como a etapa final do desarmamento e da desmobilização dos grupos armados. Para as crianças-soldado pode ser um processo complexo e difícil, que exige acompanhamento psicológico, vigilância e outros tipos de cuidados que ultrapassem a ajuda financeira e educativa. No caso das raparigas, muitas das quais se tornaram mães, refazer a vida exige apoio a longo prazo. Recuperar a confiança emocional e reconciliar-se com a família e a comunidade é tão importante como aceder à educação e obter um meio de subsistência. Uma abordagem assente na comunidade oferece as melhores hipóteses de êxito. Deve ser esse o objectivo da Se é certo que as catástrofes não podem ser evitadas, é também um comunidade internacional, que deverá simultaneamente velar por que facto que se pode fazer muito para reduzir os ricos e a nossa vulnerabi- aqueles que escravizaram crianças-soldado não fiquem impunes. lidade, por meio de uma melhoria notória das políticas de redução de riscos bem como dos esforços de preparação e de resposta a catástroTexto integral fes. As nossas acções – ou a nossa inacção crónica – têm uma influência decisiva na dimensão dos prejuízos causados pelos caprichos da natureza. A maneira como construímos as nossas casas e escolas, como concebemos as nossas pontes, como edificamos as nossas cidades e como 24 Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC PUBLICAÇÕES Report of the Executive Board of the World Food Programme on its First and Second Regular Sessions and Annual Session of 2007 International Water Security: Domestic Threats and Opportunities Código de Venda: 08.III.A.8 ISBN-13: 9789280811506 Publicado em Maio 2008 Disponível em Inglês Código de Venda: EE0308 ISBN-13: 9789218801326 Publicado em Maio 2008 Disponível em Inglês Resolutions and Decisions Adopted by the General Assembly during its Sixty-second Session: Volume I - Resolutions Innovation for Sustainable Development: Local Case Studies from Africa Código de Venda: E62GR1 ISBN-13: 9789218200396 Publicado em Maio 2008 Disponível em Inglês Código de Venda: 08.II.A.3 ISBN-13: 9789211045789 Publicado em Maio 2008 Disponível em Inglês Transnational Corporations Código de Venda: ETN162SUBSC ISBN-13: 9789211127454 Publicado em Maio 2008 Disponível em Inglês Report of the Disarmament Commission for 2008 Código de Venda: EGA981 ISBN-13: 9789218200402 Publicado em Maio 2008 Disponível em Inglês Poderá encontrar estas e outras publicações na página na internet do Serviço de Publicações das Nações Unidas: https://unp.un.org/ Dia Mundial do Ambiente 5 de Junho ONU e FIFA unem-se em prol da realização dos ODM FICHA TÉCNICA A decisão foi tomada numa reunião que teve lugar na sede da FIFA em Zurique, entre o Presidente desta organização, Joseph S. Blatter, e o Assessor Especial do Secretário-Geral da ONU para o Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz, Wilfried Lemke, que foi dirigente do clube de futebol alemão Werder Bremen, durante 18 anos. CALENDÁRIO Numa altura em que se aproxima o Campeonato do Mundo da FIFA (2010) e o prazo para a realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (2015), a ONU e a FIFA acordaram em estreitar a sua colaboração para reforçar o papel do desporto na promoção da paz. Nos últimos anos, muito tem sido conseguido utilizando o futebol, o desporto mais popular do mundo, bem como outros desportos em áreas como a saúde, os direitos das crianças, a educação e a luta contra o racismo, disse Wilfried Lemke. “Estes esforços ilustram o importante papel que o desporto pode ter na realização dos ODM”, acrescentou, elogiando a iniciativa da FIFA Football for Hope, que visa promover os ODM Directora do Centro: Afsané Bassir-Pour Responsável pela publicação: Ana Mafalda Tello Redacção : Maria João Duarte Tiago Castro Freire Concepção gráfica: Sónia Fialho Dia Mundial de Luta contra a Desertificação e a Seca 17 de Junho Dia Mundial dos Refugiados 20 de Junho Dia Internacional de Luta contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas 26 de Junho Dia Internacional de Apoio ás Vitimas da Tortura 26 de Junho PORTUGUESES E A ONU AVISO AOS LEITORES Por motivos alheios à nossa vontade, o número de Maio do Boletim não inclui esta secção. Poderão encontrá-la de novo nestas páginas no próximo mês. Tel.: + 32 2 788 84 84 Rue de la loi /Wetstraat 155 Fax: + 32 2 788 84 85 Résidence Palace Bloc C2, 7ème et 8ème 1040 Bruxelles Sítio na internet: www.unric.org Belgique E-mail: [email protected] 25
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