Monografia completa: Carlos Roberto Colavolpe
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Monografia completa: Carlos Roberto Colavolpe
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A gênese do Basketball na Bahia: Primeiras aproximações. Carlos Roberto Colavolpe Salvador – Bahia 2002 2 CARLOS ROBERTO COLAVOLPE A gênese do Basketball na Bahia: Primeiras aproximações Monografia apresentada à Faculdade de Educação Da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Treinamento Desportivo. Orientador: Prof. Ms. Admilson Santos Salvador – Bahia 2002 3 Senhor! No silêncio deste dia que amanhece, Venho pedir-te a Paz, a sabedoria, a força. Quero hoje olhar o mundo com os olhos cheios de Amor, Quero ser paciente, compreensivo, prudente. Quero ver, além das aparências, Teus filhos como Tu mesmo os vês, e assim, Senhor, não ver senão o Bem em cada um deles, Fecha meus ouvidos a todo calúnia, guarda minha língua de toda maldade. Que só de bênçãos se encha a minha Alma. Que eu seja tão bom e tão alegre que todos aqueles que se Aproximem de mim sintam a Tua presença. Reveste-me de Tua beleza, Senhor, e que no decurso Deste dia eu Te revele a todos. (Oração de São Francisco) Esta monografia é dedicada a memória de todos os baluartes que introduziram e mantiveram o Basketball baiano durante este quase um século de existência. 4 Uma homenagem especial e o meu agradecimento às pessoas que contribuíram em mais este estágio de minha vida: a Celi Neuza Zülke Taffarel, pela sua especial orientação que aproximou este trabalho dos rigores da ciência e pelo seu exemplo de dedicação as causas nordestinas da Educação Física; a Admilson Santos, por incentivar e acreditar na realização deste trabalho; a Cláudia Souza Miranda, pela colaboração e estímulo nesta jornada; a Orlando José Hage de Santana, pelo incentivo e primeiras orientações; a Hélio José Bastos Carneiro de Campos, pela oportunidade da realização deste curso e por seu incentivo. a todos os mestres que compuseram, qualitativamente, o quadro de professores deste curso. a Deus por ter permitido a conclusão deste trabalho. O meu muito obrigado. 5 Sumário Lista de Siglas vi Resumo vii Ι - Introdução 01 ΙΙ - Desenvolvimento 1 - A História dos desportos 05 2 - A Origem do Basketball 13 2.1 - A História não contada de Naismith 18 2.2 - Outros dados de sua biografia 21 ΙΙΙ - A Evolução do Esporte 1. O Basketball no Brasil 1.1 - Os neologismos e o basketball 2. O Basketball na Bahia 2.1 - A península Itapagipana. 23 34 39 42 66 2.2 - A Criação da Associação de Veteranos e amigos do Basquetebol da Bahia - ABABAS Ιν - Conclusões 69 73 ν – Referências 1 – Bibliográficas 75 2 – Eletrônicas 78 νΙ – Anexos 1 – Mapa de entrevistas. 80 6 LISTAS DE SIGLAS: A.A.B. - Associação Atlética da Bahia A.C.M. - Associação Cristã de Moços A.F.C. - América Futebol Clube A.L.B. - Assembléia Legislativa da Bahia ABABAS - Associação de Veteranos e Amigos do Basquetebol da Bahia AJETS - Associação Juvenil da Escola Técnica do Salvador ARCA - Associação Recreativa Cultural Antártica B.E.C. - Botafogo Esporte Clube C.B.B. - Confederação Brasileira de Basketball C.B.T. - Clube Baiano de Tênis C.C.F.E. - Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe C.O.B. - Clube Olímpico de Basketball C.R.I. - Clube de Regatas Itapagipe C.R.I. - Clube de Regatas Itapagipe E.C.B. - Esporte Clube Bahia E.C.V. - Esporte Clube Vitória F.B.B. - Federação Bahiana de Basketball F.B.E.R.J. - Federação de Basketball do estado do Rio de Janeiro G.E.A. - Grêmio Esportivo e Atlético Rener ICEIA - Instituto Central de Educação Isaias Alves L.A.C. - Lux Atlético Clube MEC - Ministério de Educação e Cultura NBA - National Basketball Association UFBA - Universidade Federal da Bahia 7 RESUMO O presente estudo caracteriza-se como um estudo histórico. Objetivou levantar, sistematizar e analisar dados sobre a gênese do Basketball na Bahia, a partir das seguintes fontes de informação: Relato oral de pessoas entrevistadas, análise de documentos e registros de eventos, equipes, acontecimentos e dados disponíveis na Federação, Confederação e em sites da internet. O surgimento do Basketball na Bahia e seu percurso foram localizados no contexto do desenvolvimento histórico dos esportes e sua difusão no mundo. Neste percurso foi possível reconhecer que a invenção do jogo de Basketball moderno se deve de fato ao Prof. James Naismith, apesar de identificarmos, neste trabalho, a existência de jogos muito semelhantes, em seus objetivos, que foram praticados por diferentes civilizações e possivelmente tenham inspirado o Prof. Naismith na formulação desta modalidade esportiva. Por outro lado, identificamos que o contexto histórico vivido no final do século XVIII e inicio do século XIX, estão marcados pela proliferação dos esportes no mundo, propícios, portanto à criação deste novo jogo. Ainda foram identificados novos dados deste contexto. O primeiro destes se refere ao fato do prof. Naismith ter sido citado como aluno de uma disciplina dirigida pelo então diretor da escola de Springfield; em segundo lugar, ao fato deste professor ter passado vários meses pesquisando antes da elaboração deste novo jogo, contrário, portanto às formulações encontradas na bibliografia que leva ao entendimento que o jogo de basketball foi inventado da noite para o dia; Em terceiro lugar, e não menos importante por isso, encontramos fatos que contribuíram para uma rápida aceitação deste esporte em todo o mundo que destacam as contribuições das escolas da ACM, Associação Cristã de Moços e pelo grupo dos Harlem Globettroters. O primeiro pela formação e exportação de professores e o segundo por ter contribuído com a evolução técnica deste jogo e, ainda, por telo transformado em espetáculo, quebrando todos os recordes de assistência a jogos desportivos em recintos fechados. Com referência a historia baiana do basketball, concluímos que a partir das histórias de vida das pessoas aqui entrevistadas, foi possível recuperar muitas informações, mas estas não são suficientes, sendo necessário a ampliação dos 8 fatos. Baseado ainda nestas informações foi possível afirmar que a primeira subdivisão em categorias, por faixa etária, se deu através da primeira edição dos Jogos Estudantis da Secretaria Estadual de Educação Física, no ano de 1956. Estes jogos estudantis, posteriormente, viriam a se transformar nos Jogos das Olimpíadas da Primavera, a única competição estudantil mencionada por nossos entrevistados. Este fato justifica a maneira tardia do engajamento destes entrevistados na vida esportiva, constituindo-se em um fator limitante do período relatado destas entrevistas, que não atingiram as indicações da existência do basket baiano na década de vinte. A existência anterior do Basket baiano, nesta década, pode ser confirmada tanto pela edição dos Estatutos da FEDERAÇÃO BAHIANA DE BASKETBALL, onde se encontra o registro da existência da Liga Baiana de Bola ao Cesto, anterior à fundação desta Federação no ano de 1933; como também pela citação que revela a participação baiana na terceira edição do campeonato Brasileiro de Basketball no ano de 1928. Desta forma os relatos começam a partir do final dos anos 30 e início dos anos 40 deixando uma lacuna que mesmo a história de vida das pessoas mais idosas a terem vinculação com este esporte, aqui entrevistadas, não foram capazes de resgatar. O trabalho indicou ainda, possibilidades de continuação com a ampliação das fontes e a contextualização do fenômeno no processo civilizatório. 9 Ι – INTRODUCÃO Ao lecionarmos a disciplina Basquetebol I no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal da Bahia, UFBA, constatamos as dificuldades encontradas pelos alunos para dissertarem sabre o conteúdo histórico da origem e evolução desta modalidade, pois, os dados encontrados na literatura indicada, apresentam fragmentos da história, notadamente aos fatos referentes a sua origem americana, sendo que a vinda do Basquete para o Brasil é referente apenas ao seu ingresso nas cidades do Rio e São Paulo, e por um período restrito compreendendo o final do século XIX e a primeira metade do século XX, deixando a participação baiana fora deste contexto histórico, apesar dos fatos históricos apontarem para a existência desta modalidade nesta cidade no referido período. Além disto, a proposta de reunir dados e acontecimentos ligados ao conteúdo histórico da origem americana e da evolução do jogo de Basketball, nos EUA, no Brasil, e em particular, na cidade de Salvador, desperta o interesse pela fragmentação das informações contidas nesta bibliografia que não caracterizam a dimensão e a importância da inserção deste esporte no mundo, no Brasil e ainda pela total falta de registros, quer seja por parte dos gestores, professores, técnicos deste esporte ou mesmo por parte da mídia jornalística que publica apenas os principais resultados das participações oficiais dos clubes ou equipes representativas. A nível local na consulta feita à Federação Baiana de Basquetebol, (FBB) constatase só haver registros dos resultados de partidas oficiais dos últimos (5) cinco anos o 10 que é pouco representativo tendo em vista os 67 anos desta Federação esportiva, e mesmo a memória deste último qüinqüênio é desprovida de uma avaliação dos resultados obtidos, cuja identificação impessoal não qualifica seus personagens, as Instituições e os gestores responsáveis pela importação e manutenção deste esporte na capital baiana. A faltas de registros históricos além de não permitir análises sobre a origem dos acontecimentos ligados ao esporte na Bahia, compromete o legado histórico para as futuras gerações. Muitas perguntas deixam de ser respondidas quando não temos disponíveis informações preciosas que devem ser organizadas em bancos de dados. Entre as perguntas, por exemplo, que exigem dados históricos, podemos mencionar: Quais os primeiros promotores das primeiras competições em território brasileiro e baiano? Quais os atletas que compuseram estas equipes, e ainda, os gestores das instituições responsáveis pelo fomento deste esporte? Outra pergunta que exige dados históricos diz respeito à procedência de classe dos atletas para identificar a que elite pertencia tais atletas, se é de ordem econômica, social, cultural ou apenas de domínio de habilidades motoras, haja vista que os desportistas, em épocas passadas, eram normalmente praticantes de mais de uma modalidade esportiva, e as primeiras informações obtidas caminham na direção, de mostrar que os primeiros jogadores de basketball eram também atletas de remo, natação e, ou futebol de campo. Considerando que inexistem dados sistematizados que permitam responder estas e outras perguntas, estamos nos propondo no presente estudo monográfico de base a contribuir com a sistematização de informações sobre a origem do basketball na Bahia, fazendo-o a partir das seguintes fontes de dados: a) A história de vida das pessoas ligadas ao basketball na Bahia recuperadas através de relatos orais; b) Análises de documentos recolhidos junto a instituições e pessoas ligadas ao basketball e; c) Levantamento de informações em livros, jornais, revistas e na internet. Este levantamento de informações, organizadas, permitirá, pela primeira vez discutir e analisar a gênese do basketball no estado da Bahia. Para chegar aos dados referentes a gênese do basketball na Bahia, recorremos inicialmente a informações sobre a origem dos esportes no mundo. Em seguida tratamos da inclusão dos esportes na Educação Física e ainda, da reestruturação 11 dos Jogos Olímpicos como elementos que contribuíram com a propagação das modalidades esportivas. Neste contexto de difusão localizamos o basketball conforme o conhecemos na atualidade distinguindo os dados omitidos nos volumes que tratam desta história acrescentando, ainda, elementos que retratam a evolução histórica do basketball e sua difusão pelo mundo. Seguindo tal percurso chegamos ao Brasil onde reconhecemos a prática do basketball entrando pelo centro-sul do país, sua difusão pelos estados brasileiros incluindo a Bahia como parte deste contexto histórico. Mas este percurso encontrou dificuldades, sendo uma das primeiras o fato de não encontrarmos pessoas suficientemente idosas que estiveram diretamente ligadas ao basketball em sua origem neste estado. Optamos, então, por entrevistar as pessoas mais idosas estabelecidas nesta cidade identificadas como jogadores, técnicos de clubes variados e gestores do esporte baiano que participaram direta ou indiretamente deste processo histórico. Estas pessoas forneceram informações que permitiram reconhecer a importância de suas participações no fomento deste esporte, bem como, informações que passaram a constituir, através do presente estudo monográfico, dados históricos sobre o basketball na Bahia. OBJETIVOS: Geral: Levantar, sistematizar e analisar, a partir de depoimentos e dados documentais a gênese do basketball na Bahia contribuindo para a construção de conhecimentos históricos no campo da Educação Física. Específicos: 1. Analisar os depoimentos de professores, atletas e dirigentes que participaram do processo de introdução do basketball na Bahia ou participaram de seu desenvolvimento posterior. 2. Analisar e organizar dados coletados em documentos, livros, jornais, revistas e na internet que permitam reconstruir a gênese do basketball na Bahia. 12 QUESTÕES ORIENTADORAS Considerando que dados históricos, para serem recuperados e organizados, e com isto possibilitar a produção do conhecimento científico acerca da gênese do basketball, devem ter nexos com os primeiros fatos e acontecimentos, nos colocamos as seguintes questões orientadoras: 1. Quais são, na memória relatada pelas pessoas, os primeiros eventos e acontecimentos relacionados ao basketball que marcaram suas vidas? 2. Quais os primeiros registros históricos documentais que nos permitam recuperar a gênese do basketball na Bahia? A partir de tais perguntas estaremos levantando como hipótese de trabalho que é possível reconhecer a gênese do basketball na Bahia recuperando informações sobre as primeiras iniciativas para realizar eventos, treinar equipes, participar de competições organizar a modalidade nos clubes e na escola, bem como, a introdução na política pública especificamente no campo da Educação Física Esporte e Lazer. Tal hipótese de trabalho será tratada, em uma primeira aproximação, no presente estudo monográfico de base através da organização das fontes orais e documentais, analisadas pelos seus conteúdos históricos. Já reconhecendo, no entanto, que o aprofundamento dos estudos nos possibilitará perguntar: Como era, como é e como pode vir a ser o desenvolvimento do esporte, especificamente o Basketball na Bahia? Este é o desafio que nos impulsionara para estudos futuros, justificando-se assim o trabalho científico e sua relevância social. 13 ΙΙ- DESENVOLVIMENTO O que justificaria recuperar elementos ao longo da história sobre o basketball na Bahia se não fosse a relevância social do esporte. É inegável que um dos fenômenos sociais de alta relevância, tanto pelo seu caráter mobilizador, agregador, econômico e educativo, quanto também pelo seu caráter alienador. Portanto, par chegarmos a constituir um banco de dados que permita retraçar a gênese do basketball na Bahia, vamos partir da história dos esportes, sua difusão, para enfim, localizar a origem do Basketball no mundo no Brasil e especificamente na Bahia. 1 – A HISTÓRIA DOS ESPORTES E SUA DIFUSÃO NO MUNDO Muito se fala da contribuição do esporte na promoção social salientado pelos chavões repetitivos que pouco traduzem a sua real dimensão. O mais divulgado diz respeito ao retorno financeiro das atividades esportivas, propagadas com entusiasmo pela mídia sem, contudo, revelar os limites das pessoas atingidas por esta retribuição, notadamente para uma pequena parcela daqueles que conseguiram uma projeção participando dos grupos de elite do esporte nacional. Para a população em geral isto funciona como objetivo de vida, pois é visto como uma possibilidade de enriquecimento “fácil”, ou talvez como a única possibilidade de galgar uma posição social, e passa a ser perseguido por jovens de todas as idades que não visualizam outra perspectiva de sucesso, dado a sua realidade econômica 14 atual. Este vislumbre é também manifestado pela própria família envolvida também por essa propaganda irreal e perversa. O esporte, desde a sua origem na Grécia, de uma certa maneira, sempre esteve associado a esta possibilidade de ascensão social. Garrido (1996) descreve como Norbert Elias relacionava distintamente essas fases. Na Grécia Antiga os vencedores dos "jogos” eram glorificados pela vitória sobre os inimigos ou adversários. Recebiam uma coroa de ramos de oliveira, estátuas eram erguidas em sua homenagem em Olímpia (sede principal dos jogos na Grécia antiga) e em sua cidade, uma recepção triunfal lhes era ofertada (onde passava por uma brecha aberta na muralha da cidade) eram alimentados as custas da cidade, isentos de impostos, ganhavam escravos e pensões vitalícias, poemas em louvor ao feito, prêmios vultuosos em dinheiro e outros. Ressalta ainda, que as recompensas eram na verdade de ordem econômica, política e social. A demonstração de força física, de agilidade, coragem e de resistência nos grandes festivais, principalmente nos de Olímpia, levavam o atleta grego a adquirir uma posição social e política de destaque na sua cidade natal (Elias p. 208). Nessa perspectiva sua família e sua cidade natal ganhavam notoriedade e o vitorioso a oportunidade de tornar-se integrante da elite dirigente (ex: comandante do exército c outros). Para Elias essa posição social adquirida pelo atleta grego difere significativamente a que se verifica nas sociedades atuais (Garrido 1996: p. 573). Na atualidade o “senso comum” entende que a prática desportiva educa, promove o indivíduo socialmente, afasta das drogas entre outras coisas sem, contudo, ter nenhum dado de comprovação científica que fundamente estas afirmativas. Kuns (1994 pg. 119) vai frontalmente de encontro a estas afirmativas quando justifica: [...] o esporte ensinado nas escolas enquanto cópia irrefletida do esporte competição ou de rendimento, só pode fomentar vivências do sucesso para uma minoria e o fracasso ou vivência de insucesso para a grande maioria [...] Este fomento de vivências de insucesso ou fracasso, para crianças e jovens em um contexto escolar é, no mínimo, uma irresponsabilidade pedagógica por parte de um profissional formado para ser professor. 15 Do ponto de vista pedagógico da Educação Física a inserção do desporto competitivo, a nível escolar, só tem reforçado os princípios básicos da “sobrepujança” os quais permanecem inalterados apesar da sua evolução histórica. A de se ressaltar que a inserção dos desportos a nível escolar, segundo Elias (1985), se deu após... [...] o advento da revolução industrial, em meados do século XVIII, e a posterior introdução dos desportos como uma actividade extracurricular regular nas escolas públicas por Thomas Arnold (1830), proporcionaram um avanço que conduziu ao grande desenvolvimento do desporto durante a época vitoriana de Inglaterra. A coroar o renascimento do século XIX estava a restauração dos jogos Olímpicos em Atenas, no ano de 1896. Assim que o século XX surgiu, o interesse por todos os desportos de competição atingiu o cume e, apesar de duas guerras mundiais e de numerosas hostilidades menores, este interesse continua a aumentar (ELIAS, 1985, pág.193). Elias (1985) Identifica as qualidades de Thomas Arnold: Arnold era o diretor da Escola de Rugby, na Inglaterra, onde aplicava o esporte como instrumento de educação.Instruir, educar, mas, sobretudo treinar corpo e espírito, eis a missão do educador, na opinião de Arnold, educador, homem da igreja e esportista. O homem será livre e a criança deve ser também. Educar é ensiná-la a entender e a usar sua liberdade, ensinava no final do século XIX. E completava. A juventude tem necessidade de exercício físico. É contra a natureza obrigar o adolescente a ser puro cérebro. Estas discussões sobre o esporte e sua inserção na vida das pessoas e das instituições deixam clara a relevância desta atividade. Isto nos remete a considerar elementos da história dos esportes conforme o conhecemos na atualidade. Para melhor entender o processo de desenvolvimento dos esportes nas sociedades, importante se faz reconhecer a origem da palavra com a sua utilização num processo sócio cultural. Elias no livro “A busca da excitação” (1985), traz um estudo sobre a origem do termo sport, que por não encontrar tradução nos países que assimilavam as novas modalidades de origem inglesa, berço da maioria dos esportes hoje praticados, acabaram por incorporar o termo ao seu vocabulário, sendo que para os ingleses traduzia um tipo específico de passatempos, para os franceses uma palavra inglesa 16 formada do antigo termo francês “desport”, prazer, diversão; sem, contudo conseguir traduzir o fenômeno exportado de uma maneira mais ou menos idêntica para todo o mundo tais como o futebol, a corrida de cavalos, luta, box, tênis, caça a raposa, remo, críquete e atletismo. O termo sport acaba sendo incorporado como uma palavra estrangeira nos vários idiomas. No Brasil a palavra sport foi primeiramente incorporada, como pode ser verificado nos jornais do início do século XX, e depois aportuguesado passando ao termo esporte. Aqui ele foi também amplamente utilizado abrangendo os significados acima referidos. Nos dicionários brasileiros consta como uma palavra de origem inglesa assim expressada: “[Do inglês. Sport.]”. Substantivo masculino. 1. O conjunto dos exercícios físicos praticados com método, individualmente ou em equipes; desporte, desporto: 2. 2. Qualquer desses exercícios; desporte, desporto: 2. 3. Fig. Entretenimento, entretenimento; prazer: 2. Adj. 2 g. e 2 n. 4. Diz-se de roupa ou artigo de vestuário simples e confortável, não convencional ou formal: &. 5. P. ext. Diz-se de reuniões sociais em que se usa essa roupa. Vestuário. Camisa -- e carro --. Por esporte. Fig. 1. De maneira amadorística. Incorporou-se o termo e ampliou-se na verdade o seu significado. “Veja mais neologismos em capitulo a frente” Historiadores dos esportes apontam que as competições gregas apesar de apresentar muitas semelhanças com as modalidades atuais, se diferenciavam justamente pelo alto nível de violência empregada. Entendendo violência como excesso de força física, que poderia ferir ou até matar os seus oponentes pelos excessos permitidos pelas regras. Como exceção é sempre apontado o Atletismo cujas regras sempre destacaram as competições individuais excluindo-se o contato físico entre os oponentes. Os primeiros registros históricos de atletismo são os dos jogos Olímpicos gregos (800 a.C.)... proibidos pelo imperador Teodósio no ano de 349 d.C. A história do atletismo entre a 17 queda de Roma, no século V e, o século XIX, é bastante imprecisa. Na Idade Média, os festivais religiosos eram acompanhados por rudes jogos de bola entre cidades rivais ou corporações. Estes foram os percussores dos grandes espetáculos desportivos do século XX: soccer, basebol, tênis, futebol, etc. (Garrido 1996, p. 572). Na citação abaixo se entende melhor as razões da interrupção destes jogos. Os jogos, praticados pelos gregos desde 776 a.C., foram interrompidos em 393 d.C. por um decreto do imperador Teodósio. Convertido ao cristianismo, o imperador romano foi convencido pelo bispo de Milão, Ambrósio, a acabar com os traços de paganismo da civilização cristã ocidental, inclusive os 1 jogos. (veja , Olimpíadas, 200 -) Na tentativa de estabelecer um comparativo entre os jogos praticados na Grécia e os atuais, é possível identificar nos jogos de lutas da Antiguidade “O Pancrácio”, e relacioná-los com a luta livre de nossos dias (Elias, 1985: p. 201). No pancrácio os adversários lutavam com todas as partes do corpo, as mãos, os pés, os cotovelos, os joelhos, os pescoços e as cabeças; em Esparta usavam mesmo os pés. Os lutadores do pancrácio podiam arrancar os olhos uns aos outros... podiam, também, obstruir, agarrar os pés, narizes e orelhas, deslocar os dedos e braços e aplicar estrangulamentos. No caso de conseguirem derrubar o outro, podiam sentar-se sobre ele e bater-lhe na cabeça, cara e orelhas; também podiam darlhe pontapés e pisá-lo. Não é preciso dizer que os lutadores desta prova brutal eram atingidos por vezes pelos mais terríveis ferimentos e, não raro, morriam! O pancrácio dos jovens efebos era provavelmente o mais brutal de todos. Pausânias diz-nos que os lutadores lutavam com unhas e dentes, mordiam e rasgavam os olhos uns aos outros. Elias (1985) ressalta ainda que na perspectiva histórica, o esporte praticado na antiga Grécia se diferencia das atividades hoje praticadas justamente por suas regras e natureza recreativa, ou de lazer (passa tempo). GARRIDO 1996 sugere que as atividades físicas empreendidas na era Grega não eram propriamente esportes, mas, sobretudo “celebrações da excelência humana”. 1 Citação do site da revista Veja, que pode ser encontrado acessando a página: http://cfl.uol.com.br:8000/veja_olimpiadas/list_result_text.cfm 18 Nesta explicação os jogos com bola, praticada de acordo com os costumes vigentes, tinham grande influência pelo prazer que proporcionavam aos praticantes no período medieval. Estas práticas teriam contribuído para desenvolver solidariedade e espírito de equipe. Ao compararmos com a era grega verificamos que os jogos com a bola não despertaram o mesmo interesse naquele povo. No nosso entender, a rivalidade e individualidade na busca da excelência, uma característica entre as cidades e os homens gregos - muito possivelmente poderia ter servido de força motivadora para o não incremento desses jogos com bola (Garrido, 1996, p. 572). Relacionando os esportes praticados na antiguidade e idade média com os esportes atuais, cuja proliferação se dá principalmente na segunda metade do século XVIII e, acrescentando o fato de que outros autores tal como, Manoel José Gomes Tubino (1992) identificam os jogos Gregos como sendo “a primeira concepção de esporte organizado”. Compreendendo o esporte enquanto uma atividade física com fins “terapêuticos, pedagógicos, ritualista e militar” que caracterizaram os esportes desde a sua inserção na cultura Grega até este período compreendido entre os séculos XIX e XX. Este período fica marcado como o de real propagação das modalidades de regras comuns, que acabou por transformá-lo num fenômeno mundial cuja prática passou a ser associada num primeiro momento às atividades de lazer e em seguida pelo seu caráter competitivo fruto do momento de revolução industrial que se apresentava. Muitos tipos de desportos que hoje são praticados, de maneira mais ou menos idêntica, por todo o mundo tiveram origem em Inglaterra'. Daqui propagaram-se para outros países, principalmente, na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. O futebol, sob a forma que se tornou conhecida em Inglaterra por association football ou através da abreviatura popular de soccer, foi um deles (Elias N. 1985, p. 193). Voltando a história descrita por Elias (1985), no ano de 1830 o esporte surgiu como atividade extracurricular pelas proposições pedagógicas de Thomas Arnold, que viveu na Inglaterra de 1795 a 1842, cujas prerrogativas estabelecia regras escritas que aboliam ou tentavam controlar a violência nas competições, tornando o esporte, em longo prazo, mais civilizado que seus antecessores. Esta tese de Elias representa um desenvolvimento social e um controle dos meios de violência específicos dos Estados, Nações do 19 nosso tempo, com padrões específicos de autodomínio quanto a impulsos de violência. Assim, a moderação da força física - atos violentos nos esportes - deu-se em consonância à formação do estado parlamentar inglês no século XVIII, que ocorreu através da união dais classes sociais mais altas. O diálogo utilizado em detrimento da força física foi à solução para a pacificação necessária. Este equilíbrio de poder estabelecido através das regras possibilitou também refinamento das condutas e dos padrões sociais, o autocontrole sexual, agressão, emoções, aumento da importância da consciência individual como reguladora do comportamento. Os passatempos e jogos - atividade dessas classes sociais seguiram o mesmo sentido, transformando-se em esportes com competições regulamentadas e uma violência simbólica (GARRIDO, 1996, p 573). Tais prerrogativas determinaram uma significativa mudança na forma de se praticar as modalidades existentes e também, segundo os autores citados, facilitaram a exportação destas modalidades e o surgimento de outras como o basketball, no ano de 1891. Estas por sua vez, foram coroadas com a restauração dos Jogos Olímpicos que aconteceram em Atenas em 1896. Garrido descreve ainda como Elias completa este ciclo descrevendo que o interesse pelos desportos de competição se acentuou no século XX apesar das duas grandes guerras mundiais. [...] Desenvolveram-se controles externos (árbitros, espectadores, organizações e outros). Houve uma maior vigilância com punições por violações as regras. A organização das competições passou a ser a cargo de entidades dirigentes. As regras que se desenvolveram com o tempo ainda orientaram a configuração dos indivíduos e os padrões dinâmicos de acordo com o andamento do jogo (GARRIDO, 1996, p. 574). O site2 da revista VEJA Olimpíadas (CARDOSO 2000), abaixo relacionado, descreve a idéia da reestruturação dos jogos Olímpicos da antiga Grécia, defendida pelo Barão de Coubertin, Pierre de Freddy, encarregado pelo governo francês a elaborar um projeto de educação para as escolas francesas. O Barão viajou pelo mundo em busca de novas idéias... [...] inteirou-se das descobertas arqueológicas do alemão Ernst Curtius e das experiências pedagógicas do inglês Thomas Arnold. Curtius foi o responsável pelas escavações que, em 1852, fizeram ressurgir as ruínas do templo de Olímpia, a cidade sagrada onde os gregos realizaram seus jogos durante mais de dez séculos. Impressionado com a descoberta Curtius 2 Citação do site da revista Veja – http://cfl.uol.com.br:8000/veja_olimpiadas/list_result_text.cfm 20 deixou um escrito recomendando a retomada das Olimpíadas (CARDOSO, 2000) Desta forma, a segunda metade do século XIX caracterizou todo o processo de difusão dos esportes em todo o mundo, tanto pela exportação das modalidades inglesas como também pela re-introdução dos jogos Olímpicos modernos. Olimpíadas em Paris, dentro de seis anos, para pegar carona com a Feira Internacional, programada para celebrar a virada do século. Seus companheiros, ansiosos, marcaram-nas para dali a dois anos, em Atenas, uma deferência aos criadores do original que se pretendia copia (CARDOSO, 2002). É, portanto, neste contexto que também de desenrola o basketball. 21 2 - A ORIGEM DO BASKETBALL Em meio a toda esta difusão esportiva surge nos Estados Unidos da América o Basketball. Como poderá ser notada, com as mesmas perspectiva dos esportes importados neste século, cuja Tônica maior era a de se criar uma nova modalidade que atendesse as prerrogativas climáticas, mas que também atendesse o maior controle da violência nas atividades esportivas e isto pode ser reconhecido nas premissas estabelecidas pelo seu inventor: 1. Servir a um grande número de alunos. 2. Pudesse ser adaptado a qualquer espaço. 3. Fosse exercício completo e atraente. 4. Não muito violento. 5. Fácil de aprender. 6. Científico para lograr o interesse geral. O canadense James Naismith criou o basquetebol nos Estados Unidos, em Springfield, Massachusetts, no ano de 1891. Está aí um esporte que surgiu atendendo a um pedido do diretor do Instituto Técnico da Associação Cristã de Moços (International YMCA Training School) ao jovem James. Dr. Luther Halsey Gulick queria que Naismith criasse um esporte para atender a um problema da escola com o frio que fazia em Springfield, no inverno. Queria um esporte a ser disputado em recinto fechado e que movimentasse os alunos, para que estes saíssem da monotonia de só ter aulas de ginástica por muitos dias seguidos. Ele queria um jogo movimentado e emocionante. (DUARTE, 1996). Nos vários relatos históricos encontrados no livro do Prof. João Lotufo (195-), na Nova Enciclopédia Barsa (1998), Enciclopédia Britânica (1965), no Almanaque Abril (1999), na revista nº 1 de Basquete e Vôlei (1973), e nos Sites3 abaixo relacionados, percebe-se uma intencional republicação de fatos narrados, coincidentes e não 3 Os seguintes sites trazem a história da origem americana do basketball sem, contudo, apresentar fatos novos aos publicados: http://www: cbb.com.br ( Confederação Brasileira de Basketball) ; basquetenels.hpg.com.br/Esportes/5/interna.hpg1.html; terraavista.pt/FerNoronha/1423/histórico.htm; ilovebasquete.hpg.com.br/; educacaofisica.com.br/esportes/basquetebol.htm 22 contraditórios, como se poderia esperar de uma história vivida no final do século XIX e início do século XX. Estes autores descrevem os fatos relacionados à origem americana deste esporte e relatam como o Professor James Naismith, Canadense radicado nos estados Unidos, inventou o jogo de Basketball. Coincidentemente, descrevem como o referido Professor, busca uma solução para o problema apresentado pelo Diretor do Springfield College, da evasão às aulas de Educação Física e esportes dos alunos daquela escola, entediados com a impossibilidade da prática desportiva das modalidades existentes, no período do rigoroso inverno norte-americano. Naismith tinha em sua mente a proposta de invenção de um jogo motivador as atividades físicas. Lotufo (195-) e o site4 do Springfield College, relatam parte deste processo de criação, tentando relacionar a invenção deste jogo com as outras modalidades da época. Segundo estes relatos o jogo não poderia ser tão agressivo quanto o futebol americano, para evitar conflitos entre os alunos, e deveria ter um sentido coletivo. Outros autores relatam o depoimento do Prof. Naismith, que nas suas primeiras tentativas, para esta elaboração, se reportou a jogos de sua infância, particularmente ao jogo “Duck on a Rock”, Pedra no Pato, que consistia em jogar pedras num lago com o objetivo de fazer com que um pequeno pato de madeira atingisse a margem oposta. Relatam que Naismith buscava na verdade um objetivo de jogo que se diferenciasse daqueles existentes e a definição do arremesso manual lhe pareceu mais conveniente e atrativa. O que é necessário ressaltar que, nas várias tentativas feitas, o professor encontrou na participação dos alunos, o apoio necessário a sua criação. Isto é narrado pelo inventor quando ele admite que o nome Basketball foi sugerido por um dos seus alunos ao observar os dois cestos (da colheita de pêssegos) pendurados nos balcões do salão de atividades, além do fato das regras básicas do jogo terem sido aperfeiçoadas durante a realização dos primeiros jogos. Justamente esta interatividade e participação efetiva dos primeiros praticantes na construção do jogo, elaboração das primeiras regras, avanços estruturais, que levou este esporte à tão rapidamente se popularizar. 4 Site do Springfield College, EUA, 2001. http//www.spfld.edu/homepage.nsf/SC 23 Esta participação efetiva nos leva a entender o fenômeno esportivo como parte integrante da cultura de um povo que contribuiu diretamente nesta invenção. Buscando encontrar a fonte de tais narrativas acessamos o site do Springfield College, onde se encontra o texto “Basketball was Born Here!5” numa versão muito mais rica em detalhes se comparadas às versões aqui relacionadas. Neste site se percebe claramente que a invenção deste jogo não se deu da noite para o dia, mas sim, após meses de trabalhos e estudos feitos pelo Dr. Naismith. O desafio que inspirou a invenção de basquetebol veio de Dr. Luther Halsey Gulick, Jr., o superintendente de educação física da International YMCA Training School (atualmente, Faculdade de Springfield). No verão de 1891, Gulick introduziu um novo curso de psicologia do jogo, e Naismith era um dos seus alunos. Em discussões de classe, Gulick expôs um assunto que estava pesando na sua mente: a necessidade de se criar um novo jogo em recinto fechado, que fosse interessante, fácil de aprender e de se jogar durante os dias escuros de inverno, iluminados artificialmente. (a tradução é nossa) (SPRINGFIELD COLEGGE, 2001). Como se sabe que o primeiro jogo só foi realizado pouco antes do período de festas Natalinas, temos seguramente um período de seis meses de elaboração que determinou a invenção deste Jogo. Além disso, o Professor Naismith aparece como aluno do Superintendente, Dr. Luther Halsey Gulick Jr., em um curso por ele ministrado, o que também é suprimido dos relatos até aqui pesquisados. Todos os autores acima citados se referem à origem americana do basketball, mas será que não existe contestação nesta afirmação? Embora se saiba que vários pesquisadores tenham descoberto alguns "ancestrais” do Basketball contemporâneo, não há nenhuma dúvida que a criação do Basketball como hoje é jogado, se deve a imaginação, criatividade, esforço e dedicação do Prof. Naismith (HISTÓRICO, 2001).6 Infelizmente o autor, não identificado, deste Site não traz as indicações referenciais de sua conclusão. Nas pesquisas aqui realizadas foram encontrados dois livros que tratam deste assunto o primeiro do Professor Gerardo Asin, 1969: p. 15; 5 6 Tradução: (O Basketball nasceu aqui!). Site da internet: http://www.terravista.pt/FerNoronha/1423/historico.htm 24 “Ha sido un historiador del baloncesto, E. A. Priok, quien parece haber descubierto que los inicios del baloncesto tienen sus orígene. entre los Incas del Perú. Esta forma primitiva de jugar ai baloncesto se Ilamaba “Pok FaPok” y se practicaba en un campo de piso duro que medía entre 30 y 60 metros de largo. El aro era un anillo de piedra que en algunos casos tenía un diámetro de un metro y estaba colgado perpendicularmente al terreno a una altura de cuatro metros. La finalidad era Ia misma que en el baloncesto moderno: introducir una pelota de caucho por el aro, pero ésta no podía ser tocada con Ias manos ni con los pies. Solamente era permitido usar los muslos, rodillas, codos y caderas, lo que no dejaba de tener cierta dificultad para lograr un tanto. No se tienen otras noticias de que este juego hubiera subsistido a través de Ias generaciones ni traspasado otras fronteras que Ias dei país de los Mayas; así, hasta fines del siglo XIX no se volvió a conocer un juego parecido y fue un doctor de origen canadiense quien en Estados Unidos invento, quizá por noticias Ilegadas a él de este juego Maya, el baloncesto. Este doctor, Ilamado James Naismith, ejerció en el colegio de Springfield, y aunque los estudiantes practicaban el fútbol americano y el atletismo, pensa crear un juego que se pudiese practicar tanto en verano como en invierno en local cerrado. Mr. James Naismith creó Ias primeras regias de juego y paulatinamente fue modificando los cestos y tableros hasta llegar ai principio de Ia cesta actual”. O segundo livro é o de Judith Crosher7 (1990, p. 28). O voleibol e o basquetebol originaram-se do antigo jogo americano tachtli. Não se sabe exatamente em que época os primeiros nativos começaram a transformar a borracha em bolas que saltam, mas esse jogo era praticado muito antes de os astecas chegarem ao México. Como todos os outros esse jogo com bola também tinha um significado religioso. A quadra de pedra era uma cópia do céu onde os deuses jogavam bola com as estrelas, segundo a crença deles. Só os nobres podiam participar, mas todos assistiam aos jogos e apostavam no seu time favorito. O objetivo do jogo era fazer com que a bola passasse por um anel de pedra do time adversário, que tinha apenas o diâmetro suficiente para sua passagem. Era tão difícil conseguir a passagem da bola por esse anel que um jogador que fazia um “gol” era homenageado com ricos presentes em jóias, roupas e outros bens do público presente. Entretanto, os espectadores normalmente conseguiam uma forma de se safar antes que do jogador aproximar-se para receber os presentes. A ilustração abaixo reproduzida no livro da Comp. Melhoramentos S.P. 1990 p. 29 demonstra como os dois jogos são semelhantes apesar das citações indicarem distintas civilizações. 7 traduzido por Aulyde Sores Rodrigues e publicado pela Comp. Melhoramentos S.P 25 26 Outros fatos foram omitidos da história relatada. O que chama a atenção são os que retratam a vida do Prof. Naismith. 2.1 - A HISTÓRIA NÃO CONTADA DE NAISMITH O site8 elaborado por Chimelis (2001) relata que a vida de Naismith não envolveu apenas o basketball. Naismith era um pastor presbiteriano um doutor, um pedagogo e também professor de Educação Física e acima de tudo um homem de um coração imenso. Foto de James Naismith Ron Chimelis é um sportswriter9 e colunista para Springfield Union-News and Sunday Republican, e descreve de um modo mais reflexivo sobre a invenção deste jogo comentando que a tarefa atribuída a Naismith, pelo diretor da Faculdade de Springfield, Luther H. Gulick. Este diretor acreditava, primeiramente, que não havia "nothing new under the sun” 10 cujo significado seria a da não existência de nenhum novo jogo a ser desenvolvido, provavelmente combinando aspectos diferentes de jogos pré-existentes. E relata como Naismith, aos poucos, foi se envolvendo e se entusiasmando com esse empreendimento. Para dar conta disso, primeiramente nomeou um grupo especialmente de estudantes obstinados, alguns, com mais idade do que ele, cuja tarefa era de acompanhar e testar as suas adaptações aos jogos infantis. Naismith tinha determinado duas semanas para trabalhar com o grupo, mas 8 9 Site da internet: http://www.hoophall.com/history/naismith_untold.htm, (escritor esportivo) (nada de novo a céu aberto) 10 27 que acabou presenciando o fracasso das suas primeiras experiências, pois a adaptação destes jogos não conseguiu motivar a participação daqueles alunos. Acredita-se, pelas informações obtidas na site do Springfield College11, que estas duas semanas acima referidas antecederam ao final do período de estudos que culminou com a apresentação do novo jogo. Ron Chimelis relata, ainda, que a obstinação de Naismith o levou a manter o grupo para presenciar um último esforço, baseado na curiosidade e na sua determinação de não falhar diante daqueles estudantes, que não poderiam prever a história que estava desenrolando no meio deles. Naismith reuniu o grupo no dia final das duas semanas explicou o novo jogo a partir das suas treze regras básicas, e realizou a partida que foi jogada com: uma bola de futebol, cestas de pêssego e nove jogadores para cada lado. O autor comenta ainda que o esporte sofreu várias modificações antes de ser realizado o primeiro jogo de apresentação. Mas que estas modificações não alteraram a essência do jogo que era o lançar a bola na cesta, considerada como sendo a primeira prova, o teste de tempo, que acabava por desvirtuar a essência da maioria dos outros jogos testados. Hoje, Naismith seria reconhecido universalmente como um gênio, um Bill Gates dos esportes. E com toda a probabilidade, a oportunidade existiria para ele se tornar um multimilionário(...) Eu não gosto de pensar mais Naismith nunca teve dois níqueis para tilintar juntos nas mãos diz Stuart Naismith de Binghamton, N.Y, um dos 14 netos do inventor (Chimelis, 2001) Em outro parágrafo, Chimelis, (2001) ressalta a nobreza e o seu desprendimento, relatando o fato de no final dos seus dias, a sua ética o ter impedido de aceitar a oferta de uma companhia de tabaco, feita após as Olimpíadas de 1936, em Berlim, onde o basket foi incluído pela primeira vez nesta Competição. “Esta companhia lhe ofereceu uma quantia que oscilou entre 75 e 500 mil dólares”. Mas Naismith era um homem à frente do seu tempo e com sua convicção que o tabaco era prejudicial às pessoas jovens ele recusou aquela fabulosa proposta. 11 Site da internet do Springfield College: http://www.spfldcol.edu/homepege.nsf/SC 28 Por outro lado, também não deu sorte para dinheiro. Começando a escrever um livro, não conseguiu publicá-lo por que Phog Allen (Técnico de Basketball contemporâneo de Naismith) também estava escrevendo sobre o mesmo tema, terminando por publicá-lo antes de Naismith o que condenou o seu livro pela duplicação do tema. Salienta Chimelis, que não foi tanto pelo dinheiro, mas este fato acabou transtornando a ele e a sua esposa, Maule. Mas se a invenção de Naismith não o conduzisse para ganhar, conduziu para enorme popularidade do basketball. Até mesmo nos anos finais do século XIX, com rede de comunicação muito primitiva pelos padrões de hoje, o crescimento do jogo era palpável, imediato e difundido(...)James Naismith tinha mudado a face de esporte, não tanto durante o século XIX, mas o século XX, e está agora claro, o século XXI. Tudo em um esforço para manter o controle dos estudantes. Relata ainda que no final do século XX produziu um interesse renovado nesta história, e que, até certo ponto, devolveu a Naismith uma consciência pública. Em 1995 foi publicado um livro que o classificou como o quarto entre os 100 americanos mais influentes no século esportivo, encantando partidários ardentes até mesmo o John Gosset que publicamente admitiu que Naismith ainda não adquiriu o crédito merecido. Eu estava em Binghamton com Stuart, o neto de Naismith, Gosset, gerente de operações da Fundação de Naismith, na cidade natal do inventor, Almonte, Ontario. Nós entramos em um Barnes e Nobre, e achou este livro(...)Eu comecei pelas páginas do fundo sem encontrar o seu nome e à medida que folheava as folhas me decepcionava cada vez mais por não ver James Naismith” Gosset disse. “Ele era mesmo americano reserva, mas havia os atletas, inovadores, pessoas de televisão, os comissários e assim sucessivamente (...)Continuando a leitura dos nomes, ele já a ponto de desistir, Gosset viu o nome de Naismith. - Ele era o quarto, disse Gosset(...)Isso me pasmou. (Chimelis, 2001). 29 2.2 - OUTROS DADOS DE SUA BIOGRAFIA FEITOS POR ESTE SITE: Ron Chimelis relata que Naismith ficou órfão aos nove anos de idade. Seus pais morreram doentes com diferença de poucas semanas. Naismith se formou na McGill University in Quebec, antes de entrar para a YMCA Training School in Springfield. Isto aconteceu apenas um ano antes que ele inventasse o Basketball, classificado como “uma fonte de exercícios entre as temporadas de futebol e baseball”. Naismith acompanhou muito serenamente a evolução do basketball e ressalta que foi uma evolução meteórica, “nunca visto algo semelhante”. Primeiramente por ser um jogo inventado por um só homem; segundo, porque muitos dos jogos hoje conhecidos evoluíram por décadas, gerações e até mesmo, séculos. Ele pode testemunhar o basketball como um esporte olímpico em 1936, 45 anos após ele escrever as suas primeiras 13 regras básicas e três anos antes que ele morresse com 78 anos de idade. Naismith tinha deixado Springfield em 1895, e recebeu o grau médico na Faculdade de Medicina em Denver, Colorado. Mas sua carreira de médico foi interrompida ao presenciar um acidente durante sua estada em Denver. Um menino quebrou o pescoço ao cair de um pônei. Impotente diante do fato selou o seu destino como professor, se instalando em Kansas em 1898. Muitas cidades americanas honraram o seu nome: em Springfield, em Almonte e em Lawrence, onde ele foi enterrado. Na Universidade de Kansas no seu 100º ano de basketball, em 1998, uma decisão para o honrá-lo foi tomada pelo diretor daquela Universidade, Bob Frederick. Substituir o nome do Phog All, primeiro treinador de Basket desta Universidade, pelo nome de Naismith pintado no centro da quadra do novo ginásio de esportes. James Naismith sempre acreditou na evolução desta modalidade. O profissionalismo esportivo e o envolvimento de empresas já faziam parte do vislumbramento deste inventor. Se ele estivesse vivo hoje, eu desejo saber o que ele pensaria no modo que o jogo às vezes é jogado”, disse Stuart Naismith (neto do inventor). Mas esses que o conheceram, inclusive a família e amigos, dizem Naismith não era um homem do passado, mas do futuro, um que não só aceitou as mudanças, mas acelerou este processo. 30 Naismith além de ter inventado o jogo de basketball foi também responsável pelo desenvolvimento do primeiro capacete de football americano. Também investiu seus estudos em treinamentos que desenvolvessem os atletas de uma maneira completa, reunindo num único treinamento aspectos físicos, intelectuais e espirituais. Mas não foi somente a história da vida de Naismith a ser tratada sem a importância que merece. Identifica-se nas fontes encontradas que a maioria dos autores omite fatos relevantes. 31 ΙΙΙ – A EVOLUÇÃO DO ESPORTE O primeiro destes diz respeito a um dos fatores que muito contribuíram para a difusão deste esporte no mundo, provavelmente por envolver um período de muito sofrimento, que relaciona a difusão desta modalidade através dos soldados americanos que participaram das duas grandes guerras mundiais. Os poucos relatos12 encontrados salientam a importância deste fato visto que os saldados americanos não apenas se divertiam ou se exercitavam jogando o basketball como também, ensinavam este esporte para as tropas aliadas sediadas em quartéis que abrigavam tropas de vários países. Este fato, apesar de não encontramos registros documentais, deve ser considerado por se saber da existência de bases americanas instaladas em praticamente todos os continentes, e ai também se inclui o Brasil e, em particular a Bahia. Além disso, reconhecemos que nesse período do pós-primeira Guerra é que se processam os primeiros passos de organizações deste esporte em todo o mundo. Como exemplo brasileiro podemos citar a fundação da primeira Federação Brasileira de Basketball em 25 de dezembro de 1933 na cidade do Rio de Janeiro, transformando-se em Confederação Brasileira de Basketball em 26/12/41. No âmbito mundial citaremos a inserção do Basketball nos Jogos Olímpicos que aconteceu na cidade de Berlim em 1936, ressaltando-se a homenagem atribuída ao Professor Naismith, mentor original deste esporte, fazendo o levantamento simbólico da bola ao alto desta primeira partida de basketball olímpico. 12 Relatos orais feitos pelo Professor Nelson Nascimento, Almirante Nelson, que tinha vínculos militares e esportivos. 32 É também neste início de século que surge nos EUA a primeira versão daquilo que seria o mais extraordinário grupo de basket de todos os tempos, além de ser apontado como um dos maiores incentivadores desta prática esportiva em todo o mundo: Os HARLEM GLOBTROTTERS. Este grupo revolucionou a maneira de jogar, transformando este esporte em um espetáculo, distinguindo-se dos demais por não ser apenas mais um competidor, apesar de Ter sido inicialmente montado com este fim. A história relatada no site oficial deste grupo dos Harlem Globetrotters, na página Time Line,13 não reflete, de maneira alguma, os problemas, o preconceito racial e as dificuldades enfrentadas pelos negros americanos na prática desta modalidade. Neste site encontramos os principais episódios da trajetória histórica desta equipe de Basketball idealizada por Abe Saperstein. Saperstein, que aos 24 anos de idade (1927) organiza e treina um novo time de basketball patrocinado pelos donos do mais famoso Salão de Baile de Chicago o Savoy cujo interesse maior era atrair a população apaixonada pelo Basket para dançar em sua casa noturna. Esta equipe passa a ser conhecida incorporando o nome deste salão “Savoy Big Five”. Formaram o núcleo do primeiro time de Globetrotters os seguintes jogadores: “Tommy Brookings, William Grant, Inman Jackson, Lester Johnson, José Lillard, Randolph Ramsey, Walter Wright, e William Watson. Jackson, Johnson, e Wright”. HARLEM GLOBTTROTRS, history 2001 13 Site da internet do Grupo americano dos Harlem Globettroters (2001): http://harlemglobetrotters.com, 33 Somente em 1930 o nome do time foi mudado, durante sua estada na cidade de Nova York, pela ênfase dada ao fato de toda a equipe ser composta por jogadores negros, passando a chamar-se “Harlem New York Globetrotters” de “Saperstein”. Conta o site que a fama desta equipe aumentava a cada nova excursão e os convites, para novas apresentações, não pararam de acontecer, conforme observamos no trecho abaixo retirado do site do grupo dos Harlem Globettroters: No milésimo jogo da carreira, os Globetrotters, em visita a cidade de Iron Mountain, Michigan, marcam o incrível escore de 152 a 2 o que faz aumentar ainda mais a sua reputação levando-os, cada vez mais distante da sua cidade natal, Chicago. Neste mesmo ano, ao disputar uma partida contra um oponente local, os Globetrotters após estarem ganhando a partida por 112 a 5 começam a fazer palhaçadas e a serem aplaudidos por isso. Saperstein gostou da repercussão que teve este episódio dando seu aval para que o time continuasse a fazer palhaçadas desde que, o escore o permitisse. A partir deste momento se registra a mudança do caráter competitivo desta equipe. Este fato passa a ser o divisor de águas da equipe dos Globetrotters que, entre outras coisas, mudou radicalmente a maneira de se jogar Basketball. Um claro exemplo desta nova maneira de jogar, esta representada pelo papel desempenhado pelo “Palhaço Prince”. No ano de 1939, este papel foi assumido pelo jogador “Inman Jackson”, criando, na verdade, uma nova posição no jogo a de “Pivô”, amplamente utilizada desde então. Mas esta equipe não deixa de ser em sua essência, competitiva e no ano seguinte, 1940 no seu 2000º jogo, marcam, novamente, o maior escore em partidas oficiais da época: 159 a 8. Voltando a Chicago a equipe aceita um convite para competir em um campeonato Profissional Mundial. Os Harlem Globetrotters chegam as finais deste campeonato por terem derrotado os seus algozes do último torneio profissional que participou e sagram-se Campeões mundiais na final realizada contra a equipe “George Halas” assinalado pelo site oficial como o mais importante e lembrado feito desta equipe. Como era de praxe, a equipe campeã faz jogos comemorativos contra os melhores jogadores universitários estrelas das Faculdades Americanas: College All-Stars Game, diante de uma platéia de 22.000 pessoas. 34 Fazendo-se uma outra leitura, é possível imaginar a repercussão que teve o fato deste time ser reconhecido nacionalmente nesta homenagem nos anos 40. Muitos jogadores foram consagrados por fazerem parte desta Equipe outros por serem gênios na arte de jogar basketball ou ainda, por serem comediantes inspirados além de excelentes jogadores. O mais lembrado era o “Reece”, mais conhecido como Ganso, ele estabeleceria a maioria das rotinas de comédia, repetida pelo time em suas apresentações. Outro destaque, ainda no ano de 1942, apontado como sendo “first-ever Caucasian” foi primeiro caucasiano a ser contratado pelos Harlem Globetrotters: “Karstens, manipulador de bola soberbo de Dubuque, Iowa”. Em performance é destacado Bernie Price por ter marcado 3000 pontos em uma única temporada com 104 jogos, uma realização incrível num período em que os jogos tinham baixa pontuação. Outro jogador muito referido é o Boid Buie que apesar de só ter um braço deixa todos pasmados ao manter uma média de 18 pontos por jogo na temporada de 1945. Em 1946 o Harlem Globetrotters celebra seu 20ª ano fazendo o 3000º jogo da equipe na cidade de Vancouver, ainda colônia Britânica. É também destacada a primeira viagem marítima ao território americano do Havaí comemorando os feitos desta memorável equipe que se somam: “[...] 17 temporadas nas diversas competições, 20 anos, 3000 jogos, um campeonato mundial e um lucro percentual de 927% para a empresa iniciada por Abe Saperstein” o que respalda a sua fama internacional na descrição feita por Time LIFE Magazine features the team in the Dec. 2, 1946, apud HARLEM GLOBTTROTRS, history, Time Line, 2001. O que mais chama a atenção nesta história relatada é justamente o fato desta equipe ser acima de tudo, muito criativa, estabelecendo a cada nova jogada criada um repertório copiado pelos demais jogadores profissionais, não que estes quisessem ser também comediantes do basketball, mas sim, por visualizarem a importância e eficiência deste estilo de jogar. Esta eficiência pode ser sentida nos resultados promissores desta equipe frente aos grandes adversários como, por exemplo, na temporada de 1948, à vitória dos Globetrotters em cima dos campeões mundiais a equipe do Minneapolis Lakers pelo placar de 61 a 59 diante de uma multidão de 17.823 pessoas, marcando o começo 35 da carreira de Robert “Showboat “ .Showboat ficou famoso por ter se tornado mestre na progressão com a posse de bola, sendo apontado como um verdadeiro mágico na arte de esconder a bola em pleno ar fazendo-a reaparecer na conclusão de sua jogada. O visível e o invisível da cultura Africana. Outros fatos marcantes são citados neste site14 como em 1949, onde o jogador dos Globetrotters, Bobby Milton surpreende a multidão em Honolulu fazendo nove cestas de longa distância sucessivas “um verdadeiro tiroteio, jamais visto antes feito de tamanha coragem”. Neste mesmo ano derrotam novamente a equipe do Minneapolis Lakers, da NBA, que mantinha em sua equipe 6 dos 10 melhores jogadores do meio século de existência deste esporte. As vitórias sucessivas contra as principais equipes de todas as ligas e associações de equipes de Basketball fazem os Globetrotters serem apontados como a melhor equipe do mundo e no ano de 1950 acabam sendo convidados para fazerem a primeira excursão mundial, fazendo uma série de jogos contra uma seleção dos melhores universitários americanos, College All-Stars Game, terminando esta série com 11 vitórias e 7 derrotas. Em seqüência a NBA decide, pela primeira vez, contratar jogadores negros e o Globetrotter Clifton se torna o primeiro atleta negro a jogar na NBA. 14 Site da internet: http://www.harlemglobetrotters.com/history.html 36 HARLEM GLOBTTROTRS, history,Time Line, 2001. Ao fazer isto a NBA não está apenas abrindo suas portas, quebrando preconceitos, mas principalmente, internalizando o novo conceito de jogo estabelecido pelos jogadores negros dos Globetrotters: criativo, irreverente, audaz, assumindo que este novo conceito é capaz de transformar as competições em verdadeiros espetáculos o que perdura até os dias atuais. O site informa que o atleta Clifton jogou 8 temporadas na NBA participando de quase 600 jogos chegando ao ápice de sua carreira ao disputar o All-Star Game, Jogo dos principais jogadores da temporada na NBA. A primeira excursão internacional dos Globetrotters aumenta a fama deste time nestes países: Portugal, Suíça, Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Marrocos, e Argélia. Um dos jogos mais lembrados do grupo foi uma apresentação em Lisboa, à equipe portuguesa adversária não conseguia conter o riso frente às macaquices da equipe. Os Globetroters ficaram o tempo todo trocando bola no meio da quadra e divertindo os torcedores - vendiam cachorro quente e roubavam as bolsas das velhinhas. No último segundo, eles fizeram uma cesta e venceram por 2 a 0 - o único 2x0 da história do basquete (HARLEM GLOBTTROTRS, history,Time Line, 2001). 37 Mais esta equipe nunca deixou de ser competitiva e as façanhas e recordes vão se avolumando: Em 1951, ao completar o 25º aniversário o time joga o seu 4000º jogo da carreira registrando em 9 de abril o seu novo recorde de assistência com 31.648 pessoas em um único jogo. Mais uma vez vence a série do “College All-Stars Games” contra os melhores jogadores das Faculdades americanas, estabelecendo a marca de 216.370 espectadores nos 18 jogos da excursão. Os recordes se sucedem. Na sua primeira excursão na América do Sul em jogo realizado no Estádio Municipal do Rio de Janeiro, em 21 de agosto de 1951, 50.041 pessoas assistiram a sua apresentação. Jogando na Alemanha, por solicitação do Departamento de Estado dos Estados Unidos, foram 75.000 pessoas, marcando também a maior homenagem feita a um Globetrotter fora dos Estados Unidos, onde Jesse Owens, descendo de helicóptero no palco armado no Centro do Estádio de Berlim, é ovacionado por cerca de 15 minutos antes do jogo ser realizado. No ano de 1953, com o Filme (Go Man Go!), onde o ator Sidney Pottier representa o treinador assistente do time dos Globetrotters, é exibido em mais de 11.000 salas em todo o território americano (HARLEM GLOBTTROTRS, history, Time Line, 2001). Neste mesmo ano estabelece uma nova marca de público nos jogos, com 36.256 pessoas assistindo ao jogo realizado no Ginásio do Memorial Coliseum em Los Angeles. A quantidade de convites para jogos e apresentações leva Abe Saperstein a criar um segundo time e a dificuldade maior era conseguir uma equipe opositora que estivesse a altura das apresentações. Este ano marca também a primeira apresentação em rede de televisão, no programa de “Ed Sullivan Show”, cuja audiência disparou. Foi calculado que 77% de casas americanas estavam assistindo a este espetáculo noturno. A de se salientar as séries de vitórias consecutivas dos Globetrotters nos jogos do "World Series of Basketball”, jogando contra a seleção dos “The College All-Stars” Os melhores jogadores universitários dos EUA que seguem: 38 I -1950 – Série de 18 jogos com 11 vitórias e 8 derrotas e um total de 181.364 espectadores presentes aos jogos. II -1952 – Série de 16 jogos com 11 vitórias e 5 derrotas. Os 16-jogos atraíram uma freqüência global de 201.755. III - 1953 – Série de 21 jogos com 14 vitórias e 7 derrotas com uma freqüência global de 309.451 espectadores. IV - 1954 – Série de 21 jogos com 15 vitórias e 6 derrotas atraindo 277.393 pessoas. V - 1955 - Série de 24 jogos com 14 vitórias e 10 derrotas atraindo 269.450 pessoas. VI -1956 - Série de 21 jogos com 11 vitórias e 10 derrotas atraindo 203,615 pessoas. VII -1957 - Série de 19 jogos com 15 vitórias e 4 derrotas atraindo 149.978 pessoas. VIII -1958 - Série de 18 jogos com 13 vitórias e 5 derrotas atraindo 123.600 pessoas. IX - 1959 – Os jogos da série não foram disputados em função dos Jogos Panamericanos. X -1960 - Os jogos da série não foram disputados em função dos Jogos Olímpicos. Não foram feitos novos registros desta série e em 1962 ela foi encerrada com um total de 164 vitórias e 44 derrotas dos Globetrotters A popularidade de Globetrotters era tão grande que já em 1956 haviam quatro times separados, em excursão, jogando 7 dias por semana. Na ocasião só havia oito equipes na NBA realizando um total de 72 jogos por ano (HARLEM GLOBTTROTRS, history, Time Line, 2001) De fato, o Globetrotters estavam fazendo mais jogos a cada ano que toda a NBA. Em 15 de março de 1966, no 40º aniversário do time, a organização de Globetrotters lamenta a perda de “founder/owner” Abe Saperstein que morreu aos 63 anos de idade, 39 dos quais, de dedicação exclusiva a Equipe (HARLEM GLOBTTROTRS, history, Time Line, 2001). Encontramos ainda, outros feitos marcantes da história relatada pelo site dos Harlem Globettroters 1. Em 1967, John O'Neil, e George Gillett Jr. compram o Harlem Globetrotters da propriedade de Saperstein. 39 2. Em 1968 o time joga seu primeiro jogo no Harlem, Nova Iorque, 41 anos depois do debute do time em Hinckley, Illinois. 3. Em 1969 nas excursões pelo continente americano e Canadá passaram da marca de 2 milhões de espectadores na temporada. 4. Em 1970, Abe Saperstein foi introduzido no Corredor da fama do Basquetebol em Springfield, Massachusetts, cidade onde o esporte foi criado por Dr. James Naismith. No mesmo ano a Equipe completa o seu 10.000º jogo 5. Em 1973 é estabelecido o primeiro contrato com ABC-TELEVISION para transmissão em cadeia internacional dos jogos do Globetrotters pelo Mundo. 6. Em 1974 comemorando o seu 12.000º jogo, são agraciados, pelo então Presidente Americano Gerald Ford, com o título "America's Ambassadors of Goodwill” (Embaixadores Americanos da Amizade). 7. Em 1976 batem novamente o recorde de público em jogos realizados em recinto fechado, isto aconteceu em jogo realizado na cidade de Nova Orleãs onde 31.122 pessoas lotaram o Ginásio do Superdome. 8. Em 1979 o Premier Deng-Hsiao Ping da República da China em visita histórica aos EUA, inclui nos seus compromissos diplomáticos a assistência a um jogo dos Harlem Globetrotters. Este jogo foi transmitido via satélite para a República da China, sendo a assistência estimada em 900 milhões de espectadores. 9. Em 1982 tornam-se a primeira equipe esportiva a ser honrada com uma estrela no "Walk of Fame” Passeio da Fama de Hollywood. 10. Em 1993 Mannie Jackson se torna o primeiro jogador afro-americano a possuir uma organização de sports/entertainment ao adquirir o time os Globetrotters da Companhia de Radiodifusão Internacional. 11. Em 1994 a Columbia Pictures adquire a opção de direitos para a produção de filme de características dos Harlem Globetrotters, seus triunfos, sua luta na sociedade, a empresa dos Harlem e o contrato do Clifton. (primeiro jogador negro da NBA). 12. Em 1996, Celebrando o 70º aniversário, o Harlem Globetrotters se tornam a primeira equipe de basquetebol profissional na história a jogar numa África do Sul democrática, em jogo realizado gratuitamente. 13. Neste mesmo ano é registrado no Guinness Book Record for the vertical slam-dunk at a 11 feet, 8 inches, (O recorde do mais alto salto com enterrada 40 registrado a 3,8 metros de altura) pertencentes a Michael "Wild Thing" “Coisa Selvagem” jogador dos Globetrotters. 14. Em setembro 1997, o Harlem Globetrotters contratam o pivô Dut Mayer do Sudão, África, o jogador mais alto na história do Globetrotters com 7'6 " 1/2. Em outubro, Michael "Wild Thing" bate novo recorde enterrando a bola a uma altura de 11 pés e 11 polegadas em torneio de enterradas transmitido ao vivo pela BBC, Birmingham, Inglaterra . 15. Em 1998 os Harlem Globetrotters estabelecem a marca histórica de 20.000º jogo da carreira deles. 16. Em 1998 outra marca histórica é estabelecida com a ida desta equipe a Zagreb na Croácia completando o 115º país a ser visitado pelos Globetrotters. 17. Em 1999 os Globetrotters anunciam a formação de uma fundação de caridade, "Harlem Globetrotters International Foundation” Reconhecida em janeiro do ano seguinte como de utilidade pública por suas ações na área da saúde e na educação de jovens. 18. Em 2000, Michael "Wild Thing" (Coisa Selvagem) bate novo recorde enterrando a bola a uma altura de 12 pés em torneio de enterradas. 19. Em Dezembro de 2000, os Globetrotters anunciam que o time usará um remendo preto em suas camisetas em homenagem aos três grandes jogadores Globetrotters falecidos em 1999: Chamberlain, William e Clarence. 41 Podemos constatar, portanto, nos dados relacionados acima, que a história da evolução do basketball foi possível de ser reconhecida através dos relatos de vida de atletas, técnicos, organizadores, registrados tanto na memória das pessoas quanto em jornais, revistas e atualmente, em sites da internet. Esta história nos mostra a dedicação de homens e mulheres, de equipes e empresas para propagar no mundo inteiro a prática do basketball. 42 3.1 – O BASKETBALL NO BRASIL Segundo a ENCYCLOPÆDIA BRITÂNIC, (1965) o basket foi jogado fora dos EUA primeiramente no Canadá, em 1892; na França em 1893; em Londres, em 1894; e, no Brasil, segundo o site da Confederação Brasileira de Basquete15, também em 1894. O Site16 da Federação de Basketball do Estado do rio de |Janeiro, relata que aos poucos as regras foram sendo modificadas e o esporte difundido pelo mundo, sendo sua chegada ao Brasil descrita em três versões - uma delas diz que o basquetebol foi introduzido no Brasil em 1899, (SIC) (1894 pelo maior número de registros como veremos a seguir) pelo Mackenzie College, de São Paulo; outra revela que foi o professor Oscar Thompson, da Escola Normal de São Paulo, em 1906; e a terceira responsabiliza a Associação Cristã de Moços do Rio de Janeiro, onde o esporte deu seus primeiros passos, em 1912, sendo os jogos disputados regularmente na sede da Rua da Quitanda, 47, num grande salão com duas colunas ao centro. Na maioria das referências pesquisadas encontra-se, em comum, a chegada deste esporte primeiramente na cidade de São Paulo, assim narrado: Augusto Shaw, um norte-americano nascido na cidade de Clayville, região de Nova York, completou seus estudos na Universidade de Yale, onde em 1892 graduou-se como bacharel em artes e onde Shaw tomou contato pela primeira vez com o basquete (O BASQUETEBOL NO BRASIL, 2001). O site17 da Confederação Brasileira de Basketball relata que Augusto Shaw dois anos depois de graduar-se, recebeu um convite para lecionar no tradicional Mackenzie College, em São Paulo. Na bagagem, trouxe mais do que livros sobre história da arte. Havia também uma bola de basquete. A sua inserção através destas escolas caracteriza a forma elitizada em que este esporte se instalou na cidade de São Paulo, aja vista que o acesso à escola no final 15 16 17 Site da Confederação Brasileira de Basketball http:// www.cbb.com.br/conheçaoobasquete Site da internet: http://www.fberj.com.br Site da Confederação Brasileira de Basketball http:// www.cbb.com.br/conheçaoobasquete 43 do século XIX era muito restrito e os problemas encontrados para a sua popularização começam pelo fato dele, primeiramente, ter sido praticado pelas mulheres, alunas da Escola Normal de São Paulo, sofrendo, com isto, o forte preconceito machista que afastava os rapazes de sua prática. Estes preferiam se dedicar ao Futebol de Campo, coqueluche da época, que foi introduzido, praticamente, no mesmo período. [...] Aos poucos o persistente professor Shaw convenceu seus alunos que este jogo não era um jogo só de mulheres, conseguindo assim quebrar a resistência masculina, montando a primeira equipe do colégio Mackenzie (CONHEÇA O BASQUETEBOL, 2001). Relata ainda, o site da C.B.B. (2002) que a aceitação nacional deste novo esporte se deu principalmente pela participação dos Professores Oscar Thompson, na escola Nacional de São Paulo, e Henry J. Sims, diretor da Associação Cristã de Moços (ACM) do Rio de Janeiro. [...] O professor Henry, aproveitando a visita da seleção Chilena de Futebol ao América Futebol Clube (1912), conseguiu convencer os dirigentes do Clube da rua Campos Sales a introduzir o Basquetebol naquele estabelecimento fomentando um jogo entre os visitantes Chilenos e a equipe da Associação Cristã de Moços, ACM, vestindo as camisas do América Futebol Clube Almanaque Abril Ed. Abril 1999 pg. 603. A ACM teve um papel muito importante na difusão deste esporte em todo o mundo através de suas escolas espalhadas por toda a Europa e América latina. A ACM do Rio de Janeiro participou do primeiro jogo internacional de basquetebol da América do Sul, em 1914, contra a ACM de Buenos Aires, em Montevidéu. Na oportunidade, as primeiras regras internacionais foram traduzidas e aperfeiçoadas. E, no ano seguinte, promoveu e venceu o primeiro campeonato oficial na América do Sul, do qual participaram o América Foot-Ball Club, Club Internacional de Regatas, Colégio Sylvio Leite, Club Gymnastico Portuguez e o Willegaignon Basket Ball Club (CONHEÇA O BASQUETEBOL, 2001). Abrimos um parêntese para ressaltar as distorções sobre a primeira competição e equipe formada no Brasil, a do Makenzie com o Prof. Shaw, como aparece na foto 44 enviada em 1896 ao Instituto Mackenzie nos Estados Unidos. Esta mostra o que seria a primeira equipe organizada no Brasil, justamente por Shaw. Os alunos desta foto estão identificados; Horácio Nogueira e Edgar de Barros (em cima), Pedro Saturnino, Augusto Marques Guerra, Theodoro Joyce, José Almeida e Mário Eppinghauss (em baixo). Primeira equipe de basquete no Brasil, formada por Augusto Shaw no Colégio Mackenzie (SP), em 1896. (C.B.B. Conheça o Basquete/Basquete no Brasil, 2002) Apesar de ser introduzido em São Paulo foi realmente no Rio de Janeiro que o basketball encontrou uma maior aceitação sendo realizado as primeiras partidas, torneios, encontros internacionais e até mesmo os primeiros campeonatos estaduais e nacionais além de terem sido traduzidas as primeiras regras. O site da Confederação Brasileira de Basketball - C.B.B. 18 , nos indica que a primeira competição organizada em território brasileiro acontece pela interferência da Liga Metropolitana de esportes atléticos, em 1916, sendo que o primeiro campeonato foi realizado em 1919. Em 1912, no ginásio da rua da Quitanda nº 47, no centro do Rio de Janeiro, aconteceram os primeiros torneios de basquete. Em 1913, quando da visita da seleção chilena de futebol a convite do América Futebol Clube, seus integrantes, membros da ACM de Santiago, passaram a freqüentar o ginásio da rua da Quitanda. Henry Sims convenceu os dirigentes do América a introduzir o basquete no clube da rua Campos Salles, no bairro da Tijuca. Para animálos, arranjou um jogo contra os chilenos oferecendo uma equipe 18 Site da Confederação Brasileira de Basketball pág. Conheça o Basquete: http://www.cbb.com.br/conheca_basquete/basquete_no_brasil_new.asp 45 da ACM, com o uniforme do América que triunfou pelo curioso escore de 5 a 4. O plano vingou e o América foi o primeiro clube carioca a adotar o basquete. CARDOSO (2000) 19 relata que as primeiras regras oficiais do jogo foram traduzidas em 1915 por uma comissão formada por Itagiba R Novaes, D.F. Moutinho, Eswaldo M. Rezende, Victor Augusto e Henry Sins, sendo publicada em 1916. “Regras do Basquetebol com táticas e Técnicas”, A. C. Jacobs, adaptado por Waldir Bocaardo, Edições Ouro Deve-se ao Técnico Americano Fred Brow muito do que o basketball brasileiro é no presente. Ele foi o responsável pela inclusão do Basketball no Fluminense Futebol Clube no ano de 1920. Sua atuação foi decisiva frente das equipes e seleções e na direção de cursos técnicos durante os anos que esteve à frente da Liga Carioca de Basquete, seus esforços culminaram com a criação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos no Rio de Janeiro. (Nova Enciclopédia Barsa, 1998, p 372). Em 1919 realizou-se o segundo campeonato no Brasil. O campeão da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres foi Club de Regatas do Flamengo. A partir do ano seguinte, o Fluminense contratou um instrutor formado pela Escola Superior de Educação Física de Chicago - Mr. Brown – responsável pela supremacia tricolor até 1927, preparando ainda a equipe carioca que conquistou o Campeonato Brasileiro de 1925 e a Seleção Brasileira campeã sul-americana em 1922, formada exclusivamente por jogadores cariocas.(HISTÓRIA, 2001)20. O site acima citado traz ainda, um interessante resumo das primeiras atividades que envolveram o basketball de São Paulo. Até 1922 apenas alguns entusiastas, principalmente da A.C.M. e da Associação Atlética de São Paulo, continuaram as práticas do basquetebol. Aos poucos, outros clubes, como o Clube A. Paulistano, o Antártica F.C., o Clube Espéria, o Palestra Itália iniciaram a prática do jogo, até que a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), que superintendia a prática de todos os esportes terrestres de São. Paulo organizou um campeonato disputado por todos aqueles clubes. Sendo as regras ainda desconhecidas, o esporte não conseguiu despertar muito interesse no público. No ano seguinte foi disputado um outro campeonato, sendo que este já suscitou maior interesse. Criou-se então uma entidade especializada, sendo fundada a Federação Paulista de Bola ao Cesto, a 29 de abril de 1925, na sede do Clube Espéria. 19 20 Site da revista Veja: http://cfl.uol.br/veja_olimpiadas/list_result_text.cfm Retirado do site da internet da Federação Paulista de Basketball: http://www.fpb.com.br/index.asp 46 Consultando ainda o site da Federação Paulista de Basketball encontra-se o resultado de todos os campeonatos realizados desde 1925, data da fundação desta entidade, até os dias atuais, O Clube Espéria foi o campeão dos dois primeiros anos 1926 e 1927. Nos anos de 1928 e 1929 sagrou-se campeã a Sociedade Esportiva Palmeiras. A organização do Basket nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo culminou com a fundação da Confederação Brasileira de Basketball assim narrada: Embora tenha sido criada em 25 de fevereiro de 1933, a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) teve sua sede atual inaugurada em 31 de outubro de 1962, fato este considerado como o 0 marco inicial para realização do 4 Campeonato Mundial, ganho pelo Brasil no ano seguinte. O destaque internacional só foi conseguido, anos mais tarde, em 1954 no Rio de Janeiro, quando o Brasil obteve o vice-campeonato mundial”. “A Seleção Brasileira de Basquetebol obteve nos 12 mundiais realizados até 1998, dois títulos (1959 e 1963), 2 vice-campeonatos (1954 e 1970), um terceiro lugar em 1978 e um quarto em 1986, conseguindo ainda 3 medalhas de bronze em Jogos Olímpicos (1948, 1960 e 1964)”. (História, 2001) O site da Confederação Brasileira de Basquetebol21 relata que a popularização deste esporte se deu de forma explosiva e que hoje já ultrapassa a marca dos 300 milhões de praticantes em 170 países. Já no site da Federação de Basketball do estado do Rio de Janeiro22 diz que: “Atualmente, o esporte é praticado por mais de 300 milhões de pessoas no mundo inteiro, nos mais de 208 países filiados a FIBA”. Toda esta expansão pelo Brasil e pelo mundo trouxe consigo aspectos da cultura americana que facilmente pode ser reconhecida nos jogadores, independente do local que ele seja. Isto pode ser visto nos uniformes, acessórios, gestos comemorativos ou de frustrações, como também podemos reconhecer pelas palavras inglesas freqüentemente usadas, aportuguesadas ou não, constituindo-se nos neologismos do basketball. 1.1 - OS NEOLOGISMOS E O BASKETBALL 21 22 Site da Confederação Brasileira de Basketball: www.cbb.com.br/conheça o basquete Site de Federação de Basketball do Estado do Rio de Janeiro: http://www.fberj.com.br/ 47 Muitos dos vocábulos utilizados no Basketball, ao longo de sua evolução histórica, são oriundos da língua inglesa ou oriunda das mudanças no sentido das palavras. Como primeiro exemplo apresenta-se o nome da disciplina nos cursos de graduação em Educação Física, “Basquetebol” (Sic). Não se utilizando, portanto, a tradução, Bola ao Cesto nem o nome original Basketball, cometendo este barbarismo à língua. Reconhecer a necessidade de incorporar ao nosso vocabulário palavras estrangeiras que não encontram tradução coerente ao enunciado é uma realidade. Outra coisa é se utilizar erroneamente de vocábulos aportuguesados para expressar movimentos do jogo ou mesmo para o entendimento de suas regras. Em muitos casos, a ignorância e a preguiça fazem a palavra estrangeira tomar o lugar da nacional. Adotamos sem resistência os termos da informática como e-mail, browser, download, bookmaker – e a ironia é que os americanos, quando oferecem seus programas (que nós chamamos de software) na Internet, fazem a tradução. A Netscape, por exemplo, adotou correio eletrônico, navegador, descarregar, marcador etc. No caso do Basketball não é diferente, pois, utilizamos muitos das expressões utilizadas nas transmissões televisivas tais como: Palavra em inglês Tradução Barbarismo Significado Jump Pular, saltar... Jampear Arremesso após salto Funball Bola alegre, divertida Escapulir, Ter ou gozada. dificuldade no domínio da bola. Air ball Bola aérea Recepção após salto Ponte aérea Field goal Cesta de Quadra Pass game Jogar e passar Turnovers Erro Erros cometidos que ocasionam a perda da posse equipe de bola da 48 Triple double Triplo, dobro Dois dígitos em três fundamentos (rebote, assistance e cesta). Assistance/ assist Ajuda, socorrer, Assistência auxílio. Proporcionar conversão a de uma cesta com um passe preciso Shot Arremessar Chute Outros termos adaptados da própria língua Ala Posição dos laterais na quadra, posição 3 no jogo de basketball. Armador Posição de centro de quadra, posição 1 no jogo de basketball. Pivot Posição 5 no jogo de basketball, Jogador mais alto da equipe, joga de costas para o garrafão ofensivo. Badeja Arremesso em progressão Bico Arremesso que finaliza tocando o aro Bola presa Bola segura por dois jogadores adversários simultaneamente Cestinha O jogador que mais faz pontos Chorar Bola que rodopia ou bate no aro repetidamente antes de entra na cesta Chuá Bola que entra na cesta sem tocar no aro Enterrada Empurrar a bola para dentro do aro com as mãos Gancho Arremesso com o braço em forma de gancho Garrafão Desenho na quadra que delimita a área restritiva próxima à cesta Infiltração Invadir conduzindo a bola para o garrafão Lance livre Arremesso após falta, livre de marcação. Mesário Componente do quadro de arbitragem que atua na mesa Rebote Recuperação de bola após arremesso Recuperação ou Recuperar a posse de bola antes que o adversário consiga roubada arremessá-la Tapinha Arremesso com as pontas dos dedos, próximos a cesta. 49 Tabela Anteparo colocado atrás do aro. Toco Interceptação da bola no ato de arremesso. Zona morta Zona lateral da quadra de jogo. Bola viva Bola em jogo, cronômetro acionado. Bola morta Bola que entra na cesta ou quando, o arbitro soa o apito interrompendo a partida por qualquer motivo, Ex. marcação de uma falta, violação etc. Bola ao alto Lançar a bola para o alto entre dois jogadores adversários no início ou reinicio do jogo ou para reposição da bola em jogo. Os fatos demonstram que o basketball foi introduzido e desenvolveu-se no Brasil a partir das influências americanas e, pela determinação e pertinência de atletas, dirigentes, professores que se empenharam na organização de entidades, de eventos e da introdução desta modalidade em vários âmbitos na sociedade. 50 3.2 – O BASKETBALL NA BAHIA Na cidade de Salvador não temos o registro oficial da inserção desta modalidade. As informações preliminares indicam apenas a data de criação da Federação Baiana de Basquetebol, fundada em 25 de março de 1933, pela organização das equipes praticantes que antecederam a este marco histórico. Na citação abaixo encontramos o primeiro registro de uma participação baiana em campeonato brasileiro que em muito antecede à fundação desta federação desportiva. Somente em 1927, o campeonato brasileiro teve outro participante, além do Rio de Janeiro e São Paulo, a Associação Fluminense de Esportes Aquáticos. No ano seguinte os mineiros e os baianos também participaram, sendo o esporte, aos poucos, difundido pelo Brasil, a ponto do presidente da CBD, Renato Pacheco, adotálo como desporto em 1930. No mesmo ano o presidente da Federação Paulista de Bola ao Cesto, Antônio Paolillo, instituiu o primeiro campeonato feminino, com as mesmas regras masculinas, sendo o tempo fracionado em 4 quartos de 10 minutos (LIMA, 2001). Pra recuperar a história do basquete na Bahia utilizamos um procedimento próprio das ciências sociais, especificamente da história, que é o resgate da história de vida. A partir da história de vida das pessoas eu procurei caracterizar o contexto em que estas histórias de vida se situaram, para traçar uma trajetória do basket no estado da Bahia. Entrevistamos, portanto seis pessoas que tinham em média de 70 anos de idade, todos do sexo masculino. Não foi possível localizar nenhuma jogadora de basketball que tivesse participado deste contexto histórico. Os relatos indicam que o primeiro contato com o basketball se deu em 67% dos casos na escola, onde o esporte era utilizado como recreio. Fica claro também que a inserção nesta prática desportiva se dava de maneira espontânea, pois todos os entrevistados afirmaram desta forma o seu engajamento ao desporto. Pudemos constatar, também que 67% dos entrevistados se inseriu na prática deste esporte na década de 40; apenas um dos seis entrevistados na década de 30; e outro na década de 50. Foi possível determinar que a escola teve um papel predominante na 51 inserção dos entrevistados no basketball, embora os relatos nos mostrem que apenas 33% dos entrevistados tiveram um aprendizado formal nas escolas. Em 67% dos casos não houve um trabalho de aprendizado esportivo, a grande maioria aprendeu participando dos BABAS23, demonstrando que estes eram a forma de treino mais utilizada. 50% dos entrevistados relataram que tiveram um professor que em um determinado período de suas vidas colocou a bola em suas mãos para lhe dar as primeiras noções deste esporte. O Sr. Ulisses Graça apresenta nos seus relatos três fases distintas da sua inserção no Basket que podem esclarecer melhor os números acima: Eu tinha uma irmã que jogava Basket numa cidade chamada Irara – Ba. Isso em 1938. Foi ai que eu vi basket, no colégio municipal de Irara[...] Quando eu vim para Salvador, estudar no ginásio, eu Estudei no Instituto Baiano de Ensino, que ficava no Campo da Pólvora. Nesta escola tinha dois campos de basketball, descobertos. Nessa escola tinha um camarada chamado Umberlindo, que jogava basket e vôlei, ele jogava também no Vitória, foi ai que eu realmente conheci o basket.[...] Quando eu voltei para o interior (Feira de Santana) fui estudar no Ginásio Santonópolis, foi ai que o Professor Joselito Falcão de Amorim me ensinou, me botou a bola na mão, mandava eu correr com a bola, batendo. Eu me lembro que a quadra do ginásio já era coberta e o piso de madeira, Joselito Amorim era Prof. De matemática do Santonópolis[...]. (Ulisses Graça, 76 anos). Desta forma, a maioria dos entrevistados (67%) só teve técnico ou professor de Basket no decorrer de suas carreiras esportivas. Somente 33%, coincidentemente os mais jovens dos entrevistados, afirmaram terem tido professores desde o seu início assim relatado: Eu comecei a jogar basquete com o prof. Almir de Almeida e Manuelito Lima. Almir de Almeida foi Seleção Brasileira, jogou no Vasco e no Flamengo, foi meu Professor; foi ele quem me ensinou a jogar Basket; quando ele saiu do Duque de Caxias para ir jogar no Rio de Janeiro, ele me colocou como monitor; eu treinava a turma de basket e Jorge Arruda treinava o time de Vôlei. (Joel Carvalho Fonseca, 67 anos). 23 Existe uma história relacionada à origem baiana da palavra “BABA”, cuja expressão resistiu ao tempo. Esta retrata a origem desta palavra identificada pela utilização, no início do século XX, de uma bola de futebol feita a partir das entranhas dos carneiros. A bexiga do carneiro era cheia e enrolada com suas tripas e barbantes de sisal. À medida que esta bola ia sendo chutada este material orgânico se decompunha deixando derramar uma gosma que recebeu o nome de BABA. 52 Eu conheci o Basket no ginásio Duque de Caxias, a primeira bola de basket foi uma bola de futebol. Joel, meu irmão mais velho, que já tinha uma equipe de futebol de campo, o Saturno; entusiasmado com o basket, achou que eu deveria me ensinar o basket, eu tinha por volta de 15 ou 16 anos, ele pegou essa bola e me levou pra quadra para me ensinar os primeiros movimentos do jogo. (Josonias Carvalho Fonseca, 65 anos). No depoimento dos dois ex-jogadores do Clube de Regatas Itapagipe – CRI, fica mais bem caracterizada a inexistência de orientadores de aprendizado: O Itapagipe não tinha técnico; quem mandava era Velho Antônio Moura Costa que era o dono do Time; quem respondia era a opinião de um e de outro; quem mais mandava era o Gilberto Moura Costa e o seu irmão, Nilton Moura Costa. Eu comecei a jogar Basquete em 1947, jogando os babas no CRI e no ginásio Dom Macedo Costa, Colégio particular do bairro de Roma, com o Prof. Brasil que ao final das aulas de Educação Física, fazia o BABA, dividia o grupo em dois times, um time com camisa e o outro só com um braço na manga da camisa, porque naquele tempo não se podia ficar sem camisa na escola. Hoje esse colégio acabou agora é Dom Florêncio Gomes (José Osvaldo de Araújo Filho, 69 anos). Eu comecei no Basket um pouco tarde, comecei aos 15 ou 16 anos, jogando no CRI, naquela época, na quadra de barro do clube, treinava Cel Luiz Artur, o índio, Gilberto Moura Costa, Jajau, esse pessoal; eu ficava ajudando, passando bola para eles, então eu despertei o interesse pelo basket, e ai eu comecei a treinar no Itapagipe (CRI), quando tinha a oportunidade de ter uma bola, porque naquela época não tinha esta facilidade de muitas bolas, tinha apenas uma pra 10 ou 20 jogadores, e olhe lá[...] (Severiano da Silva Oliveira, 68 anos). 33% dos entrevistados apresentaram como justificativa o fato de não haver muitas bolas disponíveis, estas eram manualmente improvisadas, enroladas com cordão. As bolas costuradas em couro eram raras e o relato acima aponta para a existência de apenas uma bola para cada grupo de treinados. Nestas entrevistas aparecem também aquilo que seria a primeira versão das Olimpíadas Baianas da Primavera nos relatos de Joel e Josonias Fonseca: 53 No duque de Caxias não tinha equipe era só aula de ed física. Só se formou equipe para a disputa dos jogos da SEF que depois viraram as olimpíadas da primavera (Joel C. Fonseca, 67 anos). O Duque de Caxias participou daquele torneio da SEF que depois virou as Olimpíadas da Primavera e com este grupo nos fomos Bicampeões do torneio da SEF – Secretaria de Educação Física (Josonias C. Fonseca, 65 anos). Outro fator coincidente nas falas é em relação às quadras de jogo. Todos relatam que iniciaram em quadras abertas, sem cobertura, mas apenas a do CRI o piso era em barro batido, assemelhando-se as quadra de saibro do tênis. Relata o José Osvaldo que a quadra de cimento do CRI só foi inaugurada em 1952. Constata-se também a presença sempre marcante de uma pessoa dedicada ao incentivo e a prática deste esporte, apontados como Baluartes do basquete Baiano, que não eram em verdade técnicos das equipes, mas os seus incentivadores. José Osvaldo Araújo Filho (O Zeca Pernão) e o Severiano relatam a importância destes personagens no cotidiano desportivo dos clubes e ressaltam como foi importante para o basket a presença sempre marcante do Antonio Moura Costa apontada por estes como baluarte do basketball do CRI e afirmam que sem a sua presença o basket itapagipano não seria tão glorioso. Todos os entrevistados são unânimes em afirmar que o Basketball Baiano só existe porque contou sempre com vários Baluartes, homens que fizeram do esporte o seu objetivo de vida. Ulisses Graça e João Alfredo relatam que na Associação Atlética da Bahia o grande incentivador era o Francisco Iamaghata. Iamaghata foi jogador, técnico e dirigente do Basket baiano assim relatado pelos entrevistados: O Chico Iamaghata. Ele foi o primeiro técnico Brasileiro a utilizar a figura de oito como tática de jogo de basket. O nome dele era Francisco Iamaghata mais era conhecido como Chico. Foi um dos motivos que me levaram ao basket foi a paixão que o Chico demonstrava pelo esporte. Nos convivíamos muito na Associação Atlética e ele sempre se queixava da falta de organização do basket e ele acabou me levando a ser seu secretário na AAB, o que acabou mudando o rumo da minha vida. Uma das dádivas que Deus me deu foi o esporte (João A. S. Quadros, 75 anos). O grande baluarte da AAB foi o Chico Iamaghata. Ele introduziu aqui o oito de três e o oito de cinco, agente botava nove pontos de frente e ai era só segurar a bola pro adversário não pegar. Naquele tempo não tinha esse negócio de limite de tempo. Era botar frente e garantir 54 o resultado, Chico era altamente técnico abnegado e teimoso[...] (Ulisses Graça, 76 anos). Severino Oliveira e José Osvaldo Araújo, além de apontarem Antonio Moura Costa como o principal Baluarte do Clube de Regatas Itapagipe, acrescentam os principais resultados desta equipes de Basket que conquistaram a maioria dos títulos esportivos do período compreendido entre os anos 50 e 70 identificados neste trabalho, esclarecendo aos leitores que este período não foi pré-determinado, mas refere-se ao período competitivo dos praticantes entrevistados do basketball baiano. Estes entrevistados ainda citaram os expoentes, baluartes de outros clubes do Basketball baiano: Na Associação teve João Alfredo, Carlos Coquejo, No Baiano Fernando Nova, no Periperi era o Castelo Branco, No Montese era o Joel Carvalho Fonseca da família de Josué e Dolinha, No Fluminense o responsável era a família Flack, eles treinavam no Instituo Normal (ICEIA), tinha, Arlindo Flack, era o Pai, Edson, Guilherme e Paulinho Flack. Quem fundou a equipe do Montese foi o Natividade; o Montese treinava naquelas quadras que tinham ali no Bairro da Liberdade. Outro time daquele tempo era o AJETS que tinha a frente o Professor Coelho (Severino da S. Oliveira, 68 anos). O Basquetebol Baiano teve vários Baluartes, se não fossem eles, tinha acabado (João Alfredo Soares Quadros,76 anos). Na AAB e na Federação de Basquete; Dr. Fernando Nova do CBT; Antonio Soares pelo Bahia; Genival Freitas do Clube dos Oficiais da Polícia Militar (José Osvaldo Araújo Filho, 69 anos). Todos declararam que o amadorismo da atividade fazia deste esporte um dependente destes abnegados, cujos nomes estavam sempre vinculados aos clubes de suas preferências ou aos Clubes por eles inventados, como foram os casos dos do Montesi, Fluminense do Barbalho e o Saturno fazendo com que sua reconhecida dedicação extrapola-se, em muitos casos, o período de suas existências físicas. Em todos os relatos aparece sempre o nome de um abnegado responsável associado ao nome do clube, identificado pelos entrevistados como sedo os verdadeiros Baluartes do Basketball baiano. Em síntese dos nomes citados, temos o seguinte quadro: 55 AGRAMIAÇÕES BALUARTES Clube de Regatas Itapagipe Antonio Moraes Moura Costa e seus filhos Renato, Euvaldo, Guilherme e Nilton. Associação Atlética da Bahia Francisco Iamaghata, João Alfredo Quadros, Carlos Coquejo e Epaminondas Leal. Montesi José Natividade e Joel C. Fonseca Fluminense do Barbalho Arlindo Flack e seus filhos; Aldo, Guilherme, Edson e Paulo. Federação Baihana de Basketball O primeiro Presidente Dr. Adalício Nogueira, Barbosa Romeu, Cel. Genival Freitas e João Alfredo Soares Quadros. Esporte Clube Bahia Carlos Soares Clube Baiano de Tênis Fernando Nova e Epaminondas Leal Clube dos Oficias da Polícia Militar Cel Genival Freitas Um outro nome que não pode deixar de ser lembrado é o do Prof. Nelson Nascimento, Almirante Nelson (nome de guerra na Marinha). Nome respeitado nacionalmente como um dos melhores preparadores de atletas iniciantes e responsável pela inserção de vários jogadores no cenário esportivo nacional. Ele trabalhou na formação de atletas em escolas públicas e particulares e em vários clubes (Hebraica, Associação Atlética da Bahia entre outros), foi árbitro nacional e técnico responsável por inúmeros selecionados baianos, em várias categorias. Destaque especial dado ao nível de envolvimento demonstrado por esse professor que dedicava integralmente seu tempo a esta modalidade esportiva, direcionando sua atividade profissional, Prof. de Educação Física, exclusivamente ao Basketball. Muitos outros abnegados surgiram no decorrer desta história, todos com um único objetivo: o de promover o basketball. Nos dias atuais não é diferente e essa história se perpetua e a tabela acima poderia ser completada com os abnegados que ainda hoje, através de seus próprios esforços, conseguem manter este esporte vivo e atuante. Desta forma não se poderia deixar de citar nome das pessoas que garantiram esta manutenção tais como: Hernani Santos, Carmilton Rabelo de Oliveira, Alexandre Ávila, Francisco Ávila, Álvaro Gonçalves entre outros. 56 Joel Fonseca, nosso informante, faz menção ao Prof. Hernani Santos ao reconhecer a dedicação sempre demonstrada nas equipe que dirigiu e relembra o fato de ter sido o responsável pela sua iniciação no basketball: Eu coloquei a bola nas mãos dele. Foi nossa família (meus pais) que o acolheu quando ele chegou de Casa Nova. Nosso time no Colégio Duque de Caxias nos anos de 55 e 56 era Dolinha, Raimundinho, Arnaldo, Messias e Heron. Hernani era banco[...] (Joel Fonseca, 67 anos). Professor Hernani Santos dirige atualmente as equipes de basket do Esporte Clube Bahia continuando desta forma, a contribuir para a preservação desta modalidade esportiva. Dentre tantos abnegados se têm à obrigação de destacar em especial um dos entrevistados, o Prof. João Alfredo Quadros. Estatístico de profissão, técnico desportivo e dirigente do basket baiano. Conta, em sua entrevista, que foi Presidente da FEDERAÇÃO BAHIANA DE BASKETBALL durante 25 anos, sem conseguir determinar este período relata as suas principais realizações frente a FBB. E tenho muita coisa a contar porque muita gente esquece que este basket na Bahia teve todos os eventos possíveis que uma Federação poderia ter, Campeonatos regionais, campeonatos municipais, campeonatos Brasileiros, tanto masculinos como femininos, diversos campeonatos Brasileiros não só em Salvador mais também em Feira de Santana, Ilhéus, Vitória da Conquista, no masculino e no feminino.Realizamos também, intercâmbio com a Universidade Gama Filho[...] Relata ainda que suas contribuições para com o basketball não se resumiram às suas ações junto a FBB, mas em todos cargos que ocupou durante o período que esteve à frente da FBB assim relatado: Neste tempo eu trabalhava no INPS, eu era estatístico, mais por causa deste meu envolvimento com a FBB que eu fiquei conhecido na Bahia, e fui convidado para ser Chefe do Departamento de Educação Física da Secretaria de Educação do Estado, na Gestão do Governador Lomanto Junior, de 1963 a 1967 e ainda fiquei mais cinco meses com o Governador Luiz Viana, fui também treinador de Basket e Vôlei no Colégio Militar da Bahia, passei 16 anos de minha vida a convite do saudoso Francisco Cabral, diretor do Colégio Militar, que foi também chefe da Segurança aqui no estado da Bahia. 57 Na Universidade, na UFBA, eu trabalhei 37 anos de muita luta, e eu sei muito bem disso, porque lutei com unhas e dentes para que fizéssemos Escola de Educação Física, lutei com unhas e dentes para que tivéssemos o lazer do universitário, fizemos de tudo, mais infelizmente, quando o Magnífico Reitor, que Deus o tenha, Luiz Macedo Costa, ele me disse: Para que os universitários queriam esportes? Imagine como eu fiquei doente, eu fanático por esportes, ele me diz um negócio destes! E ele acabou abolindo tudo que nós tínhamos feito e nós entendemos que estudante não tinha direito a lazer na universidade. Neste trecho entende-se a dificuldade encontrada para se desenvolver o esporte amador junto às instituições de ensino, apesar disso a Bahia foi palco de vários campeonatos universitários, patrocinados pela FUBE - Federação Universitária Baiana de Esportes e ainda pela Superintendência Estudantil da UFBA, principalmente na gestão do Prof. João Alfredo que ressalta o Reitorado do Prof. Lafaiete Ponde na UFBA: Com o Dr. Lafaiete Pondé foi que conseguimos, eu e o arquiteto Virgílio A. Sena, investir numa base para esporte universitário da Bahia. Foi por nossa iniciativa que certa feita em encontro casual nos Jogos Universitários do Rio Grande do Sul, com o Chefe do Departamento de Educação Física e Desporto do Ministério de Educação MEC, Érico Tinoco, que de uma conversa informal, nos conseguimos despertar nele o interesse pelo nosso pleito e acabou saindo os recursos para as instalações esportivas tanto do Colégio Militar quanto da UFBA. Conseguimos convence-lo que eram espaços distintos e ambos precisavam deste tipo de construção. E por interferência do Reitor, Lafaiete Pondé fomos a Brasília, na companhia de Virgílio e Francisco Cabral. Chegamos em Brasília e lá encontramos o Érico Tinoco. Resultado foi que conseguimos a liberação da verba para construir nosso parque esportivo. Aquele parque na UFBA deveria ter piscina, pista de atletismo, campo de futebol, ginásio de esportes”, deveria ser completo. Mais infelizmente ficou pela metade. Muitos Clubes tiveram equipes de Basketball na Bahia, vários destes já extintos. Todos estes Clubes em caráter amador, normalmente sustentados por alguns poucos abnegados deste esporte. O que surpreende é o número de Clubes que já participaram do cenário do Basketball Baiano citados nestas entrevistas: 58 1. A.A.B. - Associação Atlética da Bahia. 2. AJETS – Associação Juvenil da Escola Técnica do Salvador 3. C.B.T. - Clube Baiano de Tênis 4. Clube dos Oficiais da Polícia Militar 5. C.R.I. - Clube de Regatas Itapagipe 6. Fluminense do Barbalho 7. Montesi 8. Natal 9. Periperi (só consta ter participado de apenas um único Campeonato Baiano no ano de 1966) Através da recuperação dos dados obtidos na publicação do primeiro Estatuto da Federação Bahiana de Basketball (Baiana com H que por tradição, se mantêm até os nossos dias) encontramos outros Clubes, ainda mais antigos, por isso mesmo não citados pelos entrevistados. Consta neste Estatuto que os Clubes abaixo relacionados fizeram parte da Associação de Bahiana de Bola ao Cesto que passou a ser a Federação Bahiana de Basketball em 25 de março de 1933, são eles: 10. Esporte Clube Vitória 11. Baskete Clube Rio Vermelho 12. Clubes de Regatas São Salvador 59 1º Estatuto da Federação Baihana de Basketball - 1933 E como filiados aparecem os Clubes, já citados da Associação Atlética da Bahia, Clube Baiano de Tênis e Clube de Regatas Itapagipe, mas ainda estão relacionados: 13. Clube Olímpico de Basketball 60 14. Botafogo Esporte Clube 15. Lux Atlético Clube Aparecem nos anos 60: 16. Clube Hebraica 17. GEA – Grêmio Esportivo e atlético Rener 18. O Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe vem substituir o antigo GEA levando todo o seu grupo. Todos os entrevistados começaram a sua prática desportiva com idade entre os 13 e os 16 anos, mas 33% afirmam terem tido o seu primeiro contato com o basquete no final dos anos 30, como é o caso do Sr. Ulisses Graça cujo primeiro contato se deu em 1937 na cidade de Irara (interior baiano) no Colégio Municipal daquela cidade, e do Maranhense, Sr. João Alfredo, que no ano de sua chegada a Salvador, 1942, e já se intitulava militante de Basket e Vôlei. Os demais começaram suas atividades no basket no final dos anos 40 e no início dos anos 50. Outro fator marcante é a versatilidade dos atletas amadores entrevistados, todos, sem exceção, praticaram mais de uma modalidade esportiva. O sr João Alfredo S. Quadros, apontado aqui como um dos baluartes do Basket baiano, e que desde de cedo já se comportava como um fomentador das atividades esportivas, narra, com suas palavras, a sua “entrância” no esporte baiano: Eu era militante de Voleibol e Basquete e em 1942 fui para o Sofia Costa Pinto (Colégio Estadual) lá me causou surpresa por que não tinha nada de esportes e como eu era fanático por vôlei e basquete, principalmente por voleibol, eu pedi permissão ao Prof. Bernardo Galvão, ele era chamado de bedel por que ele tomava conta de todo mundo, eu pedi a sua permissão para colocar uma rede. No Sofia tinha três prédios entre os dois últimos tinham duas arvores afastadas a uma distância quase regulamentar de uma rede de vôlei. Eu jogava também futebol na praia e a bola era daquelas enroladas de cordão e pedi a um pescador que me fizesse uma rede com aquelas dimensões e ai eu pedi ao Prof. Tenório, que era o Diretor do Colégio Sofia, que agente fizesse uma quadra de vôlei e de basquete (João Alfredo Quadros, 75 anos). O José Osvaldo Araújo Filho, Zeca Pernão com é conhecido, relata também a suas qualidades esportivas variadas: 61 Naquela época tomo mundo, aqui nesta foto do nosso time de Basket, jogava Futebol, Remava e jogava Basquete, eu mesmo jogava os três. Eu ainda fui atleta de Atletismo; no Atletismo fui vice-campeão em competição realizada pela Marinha. Naquele tempo era assim nós saíamos de uma coisa e ia treinar outra, saia do Remo ia pro Basquete, saia do Basquete e ia pro futebol de praia. No Itapagipe nós praticávamos tudo. Joguei futebol na segunda divisão do Itapagipe. Eu jogava de goleiro. Olhe eu aqui nesta foto do time de futebol! (reconhecendo os jogadores na foto) Eu, Pedro Paulo, Severo, e este outro aqui era o técnico, Sagu, ele foi técnico do Guarani. Este outro aqui foi o pai de Ronaldo Passos, que foi goleiro do Bahia (José Osvaldo de Araújo Filho, 69 anos. O Severino da Silva Oliveira, O Severo, foi ainda mais longe nos seus desempenhos esportivos: Minha vida desportiva é meio complicada, eu pratiquei muitos esportes ao mesmo tempo, joguei basket, vôlei, eu remei, eu pratiquei caça submarina, mas minha paixão era o Basquete e a caça submarina. Eu fui decacampeão de Basquete, fui tricampeão de voleibol, tenho várias outras medalhas de Remo de Natação, basket e vôlei. Ulisses Graça, Além dos esportes coletivos ainda praticava, Capoeira, judô, Jiu-jitsu e luta romana e narra uma das suas páginas mais saudosas: Eu tenho um caso muito interessante para lhe contar. Quando eu fiz vestibular para a Universidade de Ciências econômicas no ano de 1950, o curso na Universidade Federal da Bahia era noturno, só tinha gente de mais idade, eu era o cara mais novo, então houve o torneio de calouros, e a escola armou um time que era eu e mais outros tantos alunos, Basketball, Voleibol e no Futebol. No futebol era eu e mais outros jogadores, mais esses eram bons; Resultado ganhamos os torneios de Basquete, Vôlei e Futebol; Como nesse tempo esta escola nunca tinha competido quanto mais ganho alguma coisa, Machadinho* o Diretor da escola, fez uma festa e reuniu Professores e alunos para fazer uma entrega simbólica de medalhas. Iniciou a cerimônia chamando o capitão da equipe de Basketball para receber as medalhas, apertou minha mão, Machadinho era uma figura sensacional, ele falou assim para mim, “é você é alto mesmo!”, e me entregou uma pasta. Convidou em seguida o capitão da equipe de Voleibol, fui eu de novo, eu me levantei e ele exclamou, “é você dá também para voleibol”. Depois ele convidou o capitão da equipe de Futebol, eu me levantei e quando ele me viu de novo ele exclamou, “se você for tão bom aluno quanto desportista”. Ai todo mundo deu risada. Ele era uma figura fenomena. (Ulisses Graça, 76 anos)24. 24 Ulisses Identifica o Prof. Alexandre Machado, então Diretor da Escola de Economia da UFBA. 62 Os irmãos Joel e Josonias Fonseca praticaram futebol de campo e o Basketball, sendo que o josonias chegou a jogar pela equipe de futebol Aspirante do Fluminense de Feira de Santana. Todos os relatos retratam fatos ocorridos no período compreendido entre 1937 e 1960. Com o objetivo de relacionar as histórias de vida das pessoas entrevistadas com os fatos marcantes que retratam a vida cotidiana na cidade de Salvador é que buscamos no livro “Bahia de Todos os Fatos” de autoria da Assembléia Legislativa do Estado da Bahia – ALB. Identificar o cenário político, social e cultural desta cidade no referido período. Desta forma o ano de 1937, marca o início dos contatos dos nossos entrevistados com o basket baiano, traz consigo, um cenário político nacional de muita agitação e radicalização, tendo o então presidente da República, Getulio Vargas, instalado o regime ditatorial em 10 de novembro deste ano. Gétúlio Vargas oficializa o Estado Novo, levando o país novamente a um regime de exceção, de repressão política e supressão do sistema representativo, de suspensão das garantias e direitos individuais, das liberdades públicas e do direito ao voto. A centralização do poder atinge seu clímax quando, em comemorações públicas realizadas em todas as capitais, são queimadas as bandeiras estaduais. O governo baiano entra na nova ordem, após a comunicação, pelo governo federal, da substituição do estado de guerra pelo estado de emergência, eufemismo para justificar a prática de atos arbitrários e a suspensão das liberdades democráticas. Assembléia Legislativa da Bahia - ALB, 1999: p. 157. No cenário esportivo está registrado, neste mesmo livro acima citado, o Esporte Clube Galícia como campeão baiano de futebol no ano de 1937 e ressalta a gloriosa campanha e vitória final sobre o Ipiranga, time popular da Bahia. Idem: p.158 e 162. Neste mesmo ano encontra-se também o registro do lançamento da pedra fundamental para a construção do Hospital das Clínicas da Bahia, unidade vinculada à Universidade Federal da Bahia. Idem: p. 157. Outro fato marcante está relacionado com a morte e degola de Lampião e Maria Bonita no ano de 1938, está assim descrito: 63 Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, é morto na Fazenda Angico, no estado de Sergipe, juntamente com Maria Bonita e mais nove cangaceiros. As cabeças do Rei do Cangaço e de sua companheira são encaminhadas ao Instituto Médico Legal da Bahia, a pretexto de realização de estudos. Ali permaneceriam por longo período (quase 30 anos) em exposição ao público. A trágica morte do maior de todos os líderes do cangaço, que se auto-intitulava “Governador do Sertão, sinalizam fim de uma era nos sertões do Nordeste Brasileiro.(idem: p.158). No campo esportivo faz-se necessário registrar que os jornais daquela época não divulgavam os resultados dos esportes de quadra, amadores como eram conhecidos, limitando-se a fazer os registros do Futebol de Campo, cujas notas já ocupavam a metade de uma página dos jornais aqui pesquisados, ou seja: Diário de Notícias dos anos 20 aos anos 30 e Jornal À Tarde, anos 40 e 50. Questionando um dos entrevistados, sobre a introdução do basketball no interior da Bahia na década de 30, o Sr. Joel Fonseca atribuiu ao Colégio Americano dirigido pela Prof. Kate White a responsabilidade pela introdução desta modalidade nas escolas das cidades baianas de Lençóis e Jaguaquara, cujo ensino era referência no interior baiano. No cenário mundial esta registrada que em 1939, Adolf Hitler invade a Polônia, numa ação que resultaria na deflagração da segunda grande guerra mundial que marcaram o início dos anos 40 como um período de dificuldades para a população baiana, com a escassez de comida, o racionamento de combustíveis, as manifestações antinazistas, a perseguição a todos os acusados de propagar a ideologia fascista e o levante estudantil baiano que oficializou a luta contra o nazifascismo, assim descrito: Os estudantes baianos oficializam a sua luta contra o nazifacismo, instalando na Faculdade de Direito, em sessão solene presidida por Aluísio de Carvalho Filho e da qual participaram autoridades civis, militares e diplomáticas, a Comissão Central Estudantil péla Defesa Nacional e Pró Aliados. A idéia fixa de que a Alemanha invadirá o Brasil, - começando pela Bahia – domina a sociedade. A partir da organização estudantil, a vida de Salvador é diariamente sacudida por: passeatas, comícios, manifestações de toda ordem, tudo temperado com muito civismo e emoção. (Idem: p. 177). Outro registro se refere à definição do local de construção do novo estádio a ser construído pelo estado. Chamando a atenção para a aprovação, em 1940, pelo 64 interventor Landulfo Alves, dos estudos efetuados que determinaram a Fonte Nova como local apropriado para esta construção. (ALB. 1999 p.171). O ano de 1943 marca o período do black-out preventivo a um possível bombardeio alemão relatado no mesmo livro da ALB pág. 181 como uma medida que trás muitos contratempos para os baianos e ressalta que o rigor das medidas deixa a costa brasileira totalmente às escuras. Em 1944 as mulheres baianas se mobilizam em apoio às Forças Expedicionárias Brasileiras e é destacado que as professorandas da Escola Normal (hoje ICEIA) se ofereceram como voluntárias para dar assistência aos brasileiros no front de guerra. Idem: p. 183 Neste mesmo ano o esporte baiano se cobre de luto com a morte de Anísio Silva, que introduziu o futebol na Bahia. Idem: p. 186. Em 1945 Getúlio Vargas é deposto marcando uma nova fase no Brasil com as eleições para presidente e para o Congresso Nacional Constituinte. Idem: p. 190. O ano de 1946, por sua vez, foi marcado por vários acontecimentos que mudariam a vida cotidiana dos Baianos e o principal deles é o da promulgação da nova Constituição Brasileira e, ainda, neste mesmo ano registra-se a Fundação da Universidade Federal da Bahia assim descrita: É criada em 8 de abril a Universidade Federal da Bahia, através do Decreto-lei nº 9155. Sua instalação se dá a 2 de julho, sendo seu primeiro reitor o professor Edgard Santos, então diretor da Faculdade de Medicina.(Idem: p. 192). Pode-se acrescentar as dificuldades vividas com os poderosos focos de tuberculose e doença de Chagas que assola a Bahia e as ações do Prof. Adriano Pondé na defesa de sua tese “A cardiopatia chagásica em Salvador”. Idem: p. 194. Ainda neste mesmo ano o transporte urbano de Salvador é considerado, pela imprensa nacional, como o melhor do país e a Academia de Letras da Bahia defendem, nacionalmente, a denominação de Língua Brasileira para o idioma português falado no Brasil. Em 19 de janeiro de 1947 são realizadas em Salvador as eleições para o governo do Estado sendo eleito Otávio Mangabeira da UDN. Na mesma data são também escolhidos os representantes do povo no Parlamento estadual que elaborariam também a nova constituição do Estado, promulgada neste mesmo ano. 65 Este ano está também assinalado por terem sido importados da Suécia os primeiros refrigeradores Eletrolux, com alimentação a querosene. (Idem: p. 195,196). No ano de 1948 encontram-se vários registros importantes que merecem ser assinalados a começar pela nova lei orgânica do município de Salvador e ainda a Lei nº 72 que autoriza a construção do Teatro Castro Alves, atos sancionados pelo então Governador Otávio Mangabeira. Ainda neste ano é criado pelo Reitor Edgar Santos o Hospital-escola da Ufba, o Hospital das Clínicas como é conhecido. Idem: p. 199, 200. Retomando a vida esportiva dos entrevistados destacamos alguns acontecimentos marcantes na suas vivências esportivas. Um dos fatos narrados pela maioria destes se refere ao Campeonato Brasileiro de Basketball realizado em Salvador no ano de 1949, “cercado de muito improviso”, relata o Zeca Pernão, afirmando que “não havia instalações para a realização de um evento deste porte”. Por esse motivo a FBB, com o apoio do Governo do Estado foi construída uma quadra e arquibancadas de madeira para que os jogos fossem realizados. Este aparato foi localizado, segundo os informantes, em área onde hoje se situa o estacionamento inferior do complexo esportivo da Fonte Nova, com acesso pelo Dique do Tororó. O Estádio só foi inaugurado em 1951 com o nome de Estádio da Bahia. Posteriormente foi denominado Estádio Otávio Mangabeira e popularizado como Estádio da Fonte Nova. (Idem: p. 212). Relata Osvaldo (Zeca Pernão) que após o Campeonato Brasileiro de Basketball todo o aparato de madeira construído naquela área pegou fogo e que só depois é que foi inaugurado este que é, ainda, o único Ginásio de Esportes do poder público estadual na cidade de Salvador, o Ginásio Antonio Balbino. No parágrafo anterior percebe-se como a história de vida das pessoas entrevistadas se relacionam com os fatos registrados no livro “Baia de Todos os Fatos” comprovando-os e completando-os. Temos ainda, outros fatos marcantes a partir dos anos 50; Um período de consolidação das eleições diretas para os principais cargos políticos nacionais; o retorno de Getúlio Vargas à presidência da república registrando o surpreendente resultado das apurações onde Vargas, candidato do Partido Trabalhista Brasileiro, obtém a soma dos votos dos outros dois concorrentes. (Idem, p. 208). 66 A Bahia elegia para governador o médico e político de Vitória da Conquista Régis Pacheco e nesse mesmo ano é nomeado para o cargo de Ministro da Educação o Baiano Pedro Calmon ainda no governo Dutra. (Idem, p. 208). No cenário esportivo todo o país chora a derrota do selecionado brasileiro na inauguração do estádio do Maracanã onde a seleção foi derrotada pelo Uruguai por 2 X 1 na final da copa do mundo. (Idem, p. 209). Em 1951, Ernesto Simões, é mais um baiano a ser nomeado para Ministro da Educação pelo presidente eleito Getúlio Vargas. Em 1952 é inaugurado o transporte rodoviário entre o Rio de Janeiro e a Bahia. O percurso será coberto em três dias e meio. (Idem, p. 217). 1954 a Bahia é liberada da sua condição de base militar e lhe é restituída à autonomia político-administrativa pelo Presidente Getúlio Vargas que viria a suicidar-se neste mesmo ano frente as fortes pressões golpistas que exigiam a sua renúncia. Café Filho assume interinamente a Presidência do Brasil. (idem, p. 219. Este momento conturbado da política nacional foi assim descrito: Em clima de grande tensão, realizam-se em 3 de outubro de 1955 as eleições presidenciais no país, sob a garantia das tropas do Exército. Juscelino Kubitsschek sai vencedor do pleito...”. “A UDN a princípio tenta sem sucesso anular na justiça as eleições, alegando corrupção eleitoral e a ilegalidade dos votos dados pelos comunistas – evidentemente impossível de se distinguir dos demais num sistema de votação secreta. (Idem, p. 223). Nossos informantes relatam que as dificuldades de obterem notícias dos fatos políticos, nacionais e mundiais, aqui retratados, os mantiam desatualizados a respeito do assunto e sempre retornavam aos assuntos esportivos de seu interesse. Desta forma, a vinda dos Harlem Globetroters à Bahia foi tratada como um importante acontecimento, não somente pelos entrevistados, constando também como justificativa no processo da Assembléia Legislativa do Estado para a concessão do Título de Cidadão Baiano ao Sr. João Alfredo Soares Quadros, então Presidente da Federação Bahiana de Basketball (FBB). O Sr. João Alfredo, de posse do processo original de concessão deste título, apresenta o texto da justificativa onde se encontram várias realizações deste singular presidente, entre elas a vinda dos Globetroters nos anos de 58, 66 e 71, 67 além da realização dos Jogos Luso-brasileiros em 63 e 69 e ressaltam os 25 anos à frente da presidência da FBB. Outro relato sobre as exibições dos Globetroters é o do Sr. Severino que registra a sua participação em dois dos três jogos contra esta equipe. A primeira na cidade de Feira de Santana e a segunda, em Salvador. Eu joguei duas vezes contra os Globetrotters uma delas lá em Feira de Santana. Lá em Feira as brincadeiras faziam parte do jogo, mas nós não podíamos brincar com eles; e eu fui fazer graça na barbicha de um deles e acabei levando uma trancada, fui revidar o tranco e acabei fora do jogo. Faziam de você o que queriam mais não admitiam que você brincasse com eles; Eu participei dos jogos no Antonio Balbino e em Feira de Santana, Zeca Pernão foi quem jogou contra eles na Fonte nova, num tablado de madeira montado para este jogo. (Severiano S. Oliveira, 68 anos). O Zeca Pernão e o Severiano, ávidos por enriquecer a história relatada apresentaram vários recortes de jornais das décadas de 50 e 60 e ainda muitas fotos das equipes do Itapagipe de Futebol, Vôlei e Basket, e com uma memória invejável, identificam a maioria dos jogadores postados nestas fotos. 68 Identificados da esquerda para a direita: Cid Guimarães Ferreira, Cel. Santana, Euvaldo Moura Costa, Cleones, Nilton Moura Costa, Renato Moura Costa, Nelson Nascimento Em baixo: Fernando Seixas, Severiano da S. Oliveira e José Moura Costa. Um destes recortes do jornal Estado da Bahia de 16 de agosto de 1958 trata da ida para o Rio de Janeiro de um dos expoentes técnicos do basketball nacional o então atleta, com 17 anos de idade, Luis Carlos Gomes Rebelo – Mical. O Mical depois de uma longa e brilhante carreira como atleta continuou a dedicar-se ao basketball na função de técnico e ainda hoje exerce esta função em equipes paulistas. 69 Outro assunto tratado por quase todos os entrevistados diz respeito aos resultados das participações das equipes nas competições oficiais da FBB. Os mais entusiasmados nestes relatos foram os ex-jogadores do Itapagipe, Severo e Zeca 70 Pernão, ressaltando as dez conquistas consecutivas do Clube de Regatas Itapagipe e mostram com orgulho os recortes de jornal que comprovam o Decacampeonato. Segundo estes recortes na década de 1950 o CRI ganhou, seguidamente, todos os campeonatos Baianos e nos anos 60 conquistou, alternadamente, outros 6 campeonatos. A partir destas entrevistas é possível se resgatar a maioria destes resultados ano a ano: ANO CAMPEÃO VICE-CAMPEÃO 1950 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1951 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1952 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1953 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1954 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1955 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1956 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1957 Clube de Regatas Itapagipe Fluminense do Barbalho 1958 Clube de Regatas Itapagipe Montesi 1959 Clube de Regatas Itapagipe Montesi 1960 Clube de Regatas Itapagipe Montesi 1961 Montesi Clube de Regatas Itapagipe. 1962 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1963 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1964 Montesi Clube de Regatas Itapagipe 1965 Montesi Clube de Regatas Itapagipe 1966 Clube de Regatas Itapagipe Esporte Clube Periperi 1967 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1968 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1969 Clube Hebraica Sem informação 1970 Clube de Regatas Itapagipe Clube Baiano de Tênis 1971 Clube Baiano de Tênis Associação Atlética da Bahia 1972 Associação Atlética da Bahia Sem informação 1973 Clube Fantoches da Euterpe Sem informação 1974 Clube Fantoches da Euterpe Sem informação 1975 Clube Fantoches da Euterpe Sem informação 1976 Associação Atlética da Bahia Sem informação 71 1977 Associação Atlética da Bahia Sem informação 1978 ARCA – Associação Recreativa Cultural Sem informação Antártica 1979 Esporte Clube Vitória Associação Atlética da Bahia 1980 Associação Atlética da Bahia Sem informação 1981 Associação Atlética da Bahia Sem informação 1982 Sem informação 1983 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1984 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1985 Clube de Regatas Itapagipe Sem informação 1986 Esporte Clube Bahia Feira Tênis Clube 1987 Esporte Clube Bahia Feira Tênis Clube 1988 Esporte Clube Bahia Feira Tênis Clube Não foram citados os resultados mais recentes dos campeonatos baianos. O Zeca Pernão apresenta a foto da equipe Itapagipana de 1950 identificando todos na foto e informa que esta foto foi tirada na quadra de barro do CRI 72 Na seqüência o nº 11 Nilson, O velho Moura ao lado dele ( Antonio Moraes Moura Costa), o nº 7 Luiz Carlos Rebelo (Mical), de roupa o Amílcar de Carvalho, o nº 12 era eu (José Osvaldo Araújo de Oliveira Filho, nosso entrevistado), o nº 10 Nilton Mores Moura Costa, o nº 3 era o Vavá (Euvaldo Moura Costa), o nº 5 era o José Hamilton Lages Soares e o nº 4 Jorge Gomes Rebelo A quebra da invencibilidade do CRI pelo Montesi em 1961 é tida como um marco na história desta agremiação e ressaltada com muita emoção pelos oradores: Primeiro nos quebramos a seqüência de sete vicecampeonatos do Fluminense, e em 1961 nos ganhamos a final do CRI quebrando a seqüência do Deca do CRI e fomos pela primeira vez Campeões de Baianos de Basketball. (Josonias Carvalho Fonseca, 65 anos). Mostrando a foto da equipe identifica a maioria dos jogadores. O nosso time era Eu (Dolinha) Josué, Arnaldo, Messias, Hernani, ceguinho, esse não lembro o nome, parece que era Rafael, Candinho, Dr. Candinho era médico. O time do CRI era um timaço, Raizinho, Isaias, Pedro Paulo, Finado Heracto; ai apareceu um time de Bairro que ferraram eles. (Josonias Carvalho Fonseca, 65 anos). Josonias perguntado sobre a origem desta equipe Montesi relata um pouco da história desta equipe: Em 1956 um colega, José Curi, me convidou para jogar no Montesi, eu disse que time é esse, e ele respondeu que era um 73 time lá do bairro do tororó, eu acabei indo jogar neste time que treinava lá na quadra da Marinha[...] O Montesi não tinha sede nem quadra, Natividade é quem pegava o material botava num táxi e levava para o jogo, depois do jogo era ele que recolhia o material e levava para lavar, era também por sua interferência que nos conseguíamos a quadra da Marinha para treinar. Do mesmo jeito que meu irmão Joel fazia com o time de futebol do Saturno. Quando nos fomos para o Montesi meu irmão Joel acabou se juntando a nós. Natividade já era um apaixonado pelo esporte meu irmão também, juntando esses dois o Montesi começou a crescer[...] Mais rico ainda é o relato da origem do nome desta equipe: Natividade na procura por ajuda financeira para o seu time conseguiu da Casa Montesi, uma casa de armamentos que ficava ali no Largo de Roma, o material para o time e por causa disso ele colocou o nome do time de Montesi. O nome desta casa de armas, de propriedade de um coronel do exército, foi uma homenagem feita por seu proprietário à Batalha de Montesi, acontecida numa cidade Italiana com este nome, onde houve uma celebre batalha com a participação e vitória de tropas brasileiras na 2ª grande guerra mundial. (Josonias Carvalho Fonseca, 65 anos). Como vimos anteriormente muitas equipes participaram das competições incrementadas pela FBB a que mais se destaca neste período é a do CRI, não só pelos resultados obtidos mais principalmente por ter participado praticamente de todas as competições, torneios, jogos amistosos promocionais, além de preencher com um grande número de jogadores os selecionados Baianos. As equipes sempre presentes nos relatos foram abaixo listadas em ordem pelo número de suas participações: CRI – Clube de Regatas Itapagipe AAB – Associação Atlética da Bahia CBT – Clube Baiano de Tênis Fluminense do Barbalho e Montesi 3.1 - A PENÍNSULA ITAPAGIPANA. Um dos primeiros clubes a inserirem o Basketball entre as suas modalidades desportivas foi o Clube de Regatas Itapagipe. Situado na península Itapagipana 74 (ponto mais afastado da entrada da Baía de Todos os Santos) tem por característica ter sido, no princípio do século, área de casas de veraneio, justamente por ser um local aprazível e afastado do centro comercial da cidade do Salvador. Sem ainda ser possível determinar o período desta inserção, nas primeiras entrevistas feitas com os ex-atletas mais antigos deste clube, identifica-se nos relatos, características de um forte bairrismo existente nos moradores daquela região. É possível perceber que qualquer participação desportiva do C.R.I. era acompanhada por toda a comunidade Itapagipana que desenvolveu, ao longo dos anos, um sentimento comunitário muito forte em torno das atividades do único Clube Desportivo daquela península. Apesar de ser um Clube criado a partir da prática desportiva do Remo, incorporou ao longo dos anos outras atividades desportivas da moda e no princípio do século XX, o Futebol e o Basketball se apresentavam como as novidades desportivas, sendo prontamente incorporadas às atividades deste Clube. Os seus primeiros adeptos do Basketball neste clube foram os atletas do Remo, em sua grande maioria, ídolos nesta comunidade, o que serviu de incentivo à prática dos mais jovens, desenvolvendo neste ambiente um pólo de formação de atletas nas novas modalidades. Infelizmente as sucessivas reformas feitas neste clube não preservaram o seu acervo histórico deixando uma lacuna muito grande entre este início retratado e os relatos destes nossos entrevistados, que acabam sempre retomando a história nos anos 50, sem sombra de dúvidas os mais marcantes de suas vidas esportivas. Um destes relatos trazem consigo um fato muito curioso, a participação de uma equipe baiana nos Jogos Abertos do Interior Paulista no ano de 1959, onde grande parte do time Itapagipano foi convidada a reforçar a equipe da cidade de Itabuna Bahia que iria participar daquele certame. Além da foto da equipe Itabunense, os nossos entrevistados, Severo e Zeca Pernão, apresentam também recortes de jornais que elogiam a participação da equipe baiana e ainda um suplemento esportivo, O NEWS SELLER – Suplemento esportivo dos Jogos Abertos de Santo André – editado em 23 de outubro de 1959, que além da foto da equipe, traz um elogioso texto de agradecimento e reconhecimento da participação Baiana. 75 No ano seguinte esta mesma equipe foi novamente convidada a participar dos Jogos Abertos do Interior Paulista que foram realizados na cidade de Campinas assim relatado pelo Severo: Fomos reforçar o time da cidade de Itabuna que participava dos Jogos Abertos do Interior Paulista: foram os seguintes jogadores: (Identificando os jogadores na foto acima da equipe Itabunense) Plínio, Severo, Porção, Deputado Wilde Lima, Zé Hamilton Lages Soares, Vavá (Euvaldo Moura Costa), Pinheiro, esse eu não sei, nem esse, depois vem o Wiliam, Lavine, Pedro Paulo, também não lembro e Ferrugem; nos Jogos Abertos de Santo André; lá nos tiramos o 6º lugar; depois nos fomos aos Jogos Abertos na cidade de Campinas; mas, em Campinas não conseguimos uma boa colocação; somente o time de Itabuna participava destes jogos.(Severiano da Silva Oliveira, 68 anos). 76 3.2 – A CRIAÇÃO DA ABABAS – ASSOCIAÇÃO DE VETERANOS E AMIGOS DO BASQUETEBOL DA BAHIA A criação da Ababas aparece nas entrevistas como fato marcante da história do basketball baiano onde 67% dos entrevistados declararam ter voltado a praticar o basket a partir da criação desta entidade, apesar destes nunca terem abandonado completamente esta prática, pois todos, com maior ou menor intensidade, sempre estiveram presentes aos babas dos velhos, como eram conhecidos, os encontros recreativos com jogos desta modalidade que aconteciam no CRI e na AAB. Relata o Sr. Ulisses Graça, sócio fundador e um dos Presidentes da ABABAS, que o “1º Encontro de Veteranos de Basquetebol do Brasil” realizado em 1985, na cidade de Fortaleza – CE, precedeu a criação da Ababas. A participação da Bahia neste Encontro aconteceu pela iniciativa destes participantes dos Babas dos “Velhos” e encontra-se assim registrada na página 6 do Jornal nº 1, ano 1 da Associação de Veteranos e Amigos do Basquetebol da Bahia (primeiro nome desta Associação) No I Encontro de Veteranos do Basquetebol do Brasil, em 85, na cidade de Fortaleza, a Bahia participou com uma grande equipe, numericamente falando. A falta de determinação e a indisciplina resultaram numa campanha desastrosa. Terminou em 3º lugar. Jornal da Ababas 1995, pág. 6 A ABABAS foi criada no ano seguinte para fazer frente à organização nacional que se apresentava, pois várias associações estavam sendo criadas buscando uma melhor organização seguindo-se o exemplo bem sucedido da Associação de Veteranos de Minas Gerais assim descrito na página 5 deste mesmo jornal acima citado: 77 O surgimento da Ababas teve sua inspiração na Associação de Veteranos de Basquete de Minas Gerais, que já existia e era muito organizada, o que tem sido um elogiável padrão em todas as outras associações criadas em estados como o Ceará, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco e ainda a associação das cidades de Santos e Niterói. Jornal da Ababas 1995, pág. 5. Dilton Cardoso em texto desse jornal explica as razões da fundação dessa associação: O amor pelo basquete foi o principal motivo que levou economistas, arquitetos, advogados, professores, engenheiros, comerciantes – todos ex-jogadores de clubes como Associação Atlética, Bahia, Itapagipe, Montese, Baiano de Tênis, a arranjar tempo para se unirem em uma associação a fim de organizar partidas. Jornal da Ababas 1995, pág. 5. Em outro trecho ressalta a data de fundação e a importância social desta associação: O importante é a amizade A Associação de Veteranos e Amigos do Basquetebol da Bahia (Ababas) foi fundada em 21 de maio de 1986, por ex-jogadores desse esporte que não queriam parar de praticar essa salutar atividade. A Ababas foi criada com o objetivo de congregar todos os esportistas (praticantes ou simpatizantes do basquete) desenvolvendo, difundindo e estimulando a atividade. A idéia é proporcionar a amizade e o relacionamento sadio entre os basquetebolistas e seus familiares... 78 Jornal da Ababas 1995, pág. 5. A primeira conquista nacional esta também registrada neste jornal: No ano seguinte, (1986) em Belo Horizonte quase a Bahia não iria ao II Encontro. Mas uma reduzida equipe, com muita determinação e humildade, chegou lá e foi a grande surpresa. Para espanto até da diminuta delegação baiana, a Bahia ganhou o título de forma espetacular. Integraram a equipe heróica: Robertinho, Cleobaldo, Astor, Rosalvo (Índio), Ivan, Joãozinho, Bacelar, Pedro Paulo, Ulisses e o técnico Hernani Santos. Jornal da Ababas 1995, pág. 6. Destacando os principais resultados da Ababas em campeonatos nacionais de Veteranos de Basketball: Em 87 (São Paulo) a ABABAS foi com a “corda” toda e chegou em 2º lugar. Em 88 (Salvador) e 89 (Rio) o grupo voltou a experimentar a glória, sagrando-se tri-campeão brasileiro. Em 90 (Santos) veio o tetracampeonato Sênior e 3º lugar no Master; Em 91 (Natal), foi vice-campeão sênior e 3º lugar no máster; 92 (Curitiba), 2º no sênior e 3º no máster; 93 (Recife), 6º no sênior e 3º no máster; em 94 (Fortaleza), deixou de ser campeã porque foi garfada; 4º no máster. Jornal da Ababas 1995, pág. 6. Informa o Sr. Ulisses Graça que o último resultado positivo desta associação aconteceu na cidade de Belo Horizonte no ano de 1995, onde a delegação baiana obteve o primeiro título na categoria Máster, maiores de 40 anos. Assim como na história do basketball americano se fez com o empenho das pessoas, atletas, professores, técnicos, dirigentes, que organizaram equipes e 79 difundiram o esporte no mundo, no Brasil e em especial na Bahia temos uma história a recuperar. Parte das informações aqui sistematizadas já nos permitem retraçar esta gênese. Mas, o esforço acadêmico ainda não está concluído. Este é uma primeira aproximação, as fontes e os dados. 80 Ιν -CONCLUSÕES O presente estudo objetivou contribuir para a construção de conhecimentos históricos no campo da Educação Física, especificamente, relacionadas ao basketball. Identificamos, ao longo da história, os principais feitos que permitem organizar e sistematizar dados referentes à gênese dos esportes e particularmente do basketball no mundo. Pessoas e suas iniciativas, suas histórias pessoais, relatos orais, registros fotográficos e documentais nos permitiram apresentar um pouco da história da introdução e desenvolvimento do Basketball na Bahia. Dos dados que organizamos, que por si só já materializaram os objetivos delimitados para o presente estudo, podemos concluir ainda: a) Apesar de reconhecermos que a invenção do jogo de Basketball moderno se deve de fato ao Prof. James Naismith, identifica-se nesse trabalho a existência de jogos muito semelhantes, em seus objetivos, que foram praticados por diferentes civilizações e possivelmente tenham inspirado o Prof. Naismith na formulação desta modalidade esportiva. Por outro lado, o momento vivido naquele século trazia consigo todo o entusiasmo da proliferação dos esportes em todo o mundo, propício, portanto à criação deste novo jogo. 81 b) A pesquisa revelou dados novos a esse contexto histórico. O primeiro destes é o fato do Prof. Naismith aparecer como aluno do Superintendente, Dr. Luther Halsey Gulick Jr, diretor da escola de Springfield, em um curso no verão de 1891, contradizendo os autores que citam o Naismith apenas como professor incumbido de uma tarefa administrativa; em segundo lugar o fato deste prof. ter passado vários meses pesquisando antes da elaboração deste novo jogo. O que também é suprimido dos relatos pesquisados que deixam a entender que este jogo foi criado da noite para o dia. c) Muitos fatores contribuíram para uma rápida aceitação desta nova modalidade em todo o mundo e neste trabalho foram marcantes as difusões realizadas pela ACM – ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS e pelo grupo dos HARLEM GLOBETTROTERS. O primeiro, pela formação e exportação de professores; e o segundo, por ter contribuído com a evolução técnica deste jogo e, ainda, com a transformação deste em espetáculos, quebrando, ao longo de sua história, os recordes mundiais de assistência a jogos desportivos em recinto fechado. d) Reconhecemos neste trabalho as influências da importação desta modalidade tanto pelos seus aspectos lingüísticos, caracterizados através dos neologismos criados a partir dos termos técnicos, regras e outras palavras simplesmente aportuguesadas, como também, pelos aspectos culturais determinados por gestos, vestimentas, maneiras de agir e de falar, assimilados pelos novos praticantes. e) Concluímos ainda que as histórias de vida das pessoas aqui entrevistadas são importantes para organizar informações e dados históricos, mas não são suficientes para retratar os primórdios da história baiana do basketball, ficou evidente, através dos registros feitos, que esta história teve início, pelo menos, 10 anos antes de nossos entrevistados terem começado as suas vidas esportivas, pois apesar destas pessoas terem nascidos entre 1925 e 1936, a sua vinculação ao Basket só se deu, em 33% dos casos, a partir do início dos anos 40, ou seja, quando os mesmos tinham entre 15 e 16 anos de idade. Este atraso, embora não tenha sido informado, se deve ao fato do basketball baiano ainda não ser subdividido em categorias. Isto é, se restringia a uma única categoria (principal), categoria adulta como é reconhecida por nossos informantes. Estes apontam ainda para a existência de um segundo quadro em alguns clubes, também de categoria adulta 82 intitulada equipe “B”, ou seja, duas equipes de um mesmo clube participando de uma única competição. Com base nestas informações é possível afirmar que a primeira subdivisão em categorias se deu pela edição dos jogos estudantis da Secretaria Estadual de Educação Física no ano de 1956, ou seja, os jogos da SEF que posteriormente viriam a se transformar nas Olimpíadas da Primavera. Isto pode ser confirmado analisando-se os depoimentos de 67% dos entrevistados onde Osvaldo e Severiano afirmam, categoricamente, que nos anos 50 não havia esta divisão em categorias e sim o que eles chamaram de primeiro e segundo quadros de cada clube participante. Por outro lado o Joel e o Josonias informaram que no ano de 1956 aconteceu a primeira edição dos Jogos da SEF que limitava a participação aos alunos menores de 18 anos, tendo o Colégio Estadual Duque de Caxias ganho duas de suas primeiras edições o que confirma a tese de que foi a iniciativa dos dirigentes escolares que proporcionaram a primeira subdivisão de categorias no Basketball Baiano. Apesar de termos a indicação, pelos vários fatos citados25, da existência do Basketball baiano já na década de vinte, este fatos não puderam ser confirmados, pois as informações estão limitadas ao final dos anos 30 e início dos anos 40 e na grande maioria, 67% dos casos, na década de 50 deixando uma lacuna que mesmo a história de vida das pessoas mais idosas que tiveram vinculação com este esporte, aqui entrevistadas, não foram capazes de resgatar. Outras lacunas podem ser identificadas a primeira delas no período compreendido entre 1972 e 1980 e a segunda em período mais recente, pós ABABAS (Associação de veteranos e amigos do Basquetebol da Bahia), 1985, pois estes não aparecem nas informações prestadas pelos entrevistados presumindo-se a desvinculação destes com o esporte competitivo dos clubes federados. A organização, sistematização e divulgação destes dados históricos podem despertar novas investigações o interesse pelo tema, com críticas que possam 25 A existência da Liga Baiana de Bola ao Cesto, anterior a fundação da FBB, em 1933, e, ao fato da Bahia ter participado no ano de 1928, da terceira edição do Campeonato Brasileiro de Basketball. 83 enriquecer o presente trabalho que terá continuidade buscando ampliar seus objetivos, suas fontes e com isto seus resultados. 84 REFERÊNCIAS: 1 – BIBLIOGRÁFICAS: Almanaque Abril. Ed. Abril – São Paulo, 1996. ASIN, Gerardo. Mini Basket. 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Basketball was Born Here, Springfield, USA: [s.n, 2001]. 89 ANEXO I MAPA DE ENTREVISTAS Entrevistado Idad e Começou a jogar S E X o Ano de inserção 1º contato Iniciação 1ª Competição 76 13 anos M anos Aprendizado 15 iniciação João Alfredo 75 15 Aprend. M Soares anos Quadros Severiano 68 15 Aprend. M da Silva anos Oliveira José 69 15 Aprend. M Osvaldo anos Araújo Filho 1938 Escola municipal Escola Ginásio Santanópolis 1941 Escola Estadual AAB 1948 CRI Colégio Sofia Costa Pinto Clube Ulisses Graça 1947 Josonias Carvalho Fonseca 65 15 aprend. M 1951 Joel Carvalho Fonseca 67 16 aprend. anos M 1949 Clube de Regatas Itapagipe CRI/ESCO Clube/ Clube de LA Colégio Dom Regatas Macedo Itapagipe Costa Duque de Escola com D. de Caxias Caxias o irmão mais jogos da velho SEF anterior aos J.Primavera Duque de Escola Duque de Caxias Caxias