Proposta de Gestão Operacional para o Atendimento de Desastres
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Proposta de Gestão Operacional para o Atendimento de Desastres
SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE APERFEIÇOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES CURSO SUPERIOR DE POLÍCIA INTEGRADO – 2005 PROPOSTA DE GESTÃO OPERACIONAL PARA O ATENDIMENTO DE DESASTRES E CATÁSTROFES LOCAIS PELO CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR ESTADO DE SÃO PAULO Major PM Reginaldo Campos Repulho São Paulo 2005 DO SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE APERFEIÇOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES CURSO SUPERIOR DE POLÍCIA INTEGRADO– 2005 PROPOSTA DE GESTÃO OPERACIONAL PARA O ATENDIMENTO DE DESASTRES E CATÁSTROFES PELO BOMBEIROS POLÍCIA DA CORPO MILITAR DE DO ESTADO DE SÃO PAULO Major PM Reginaldo Campos Repulho Monografia de conclusão de curso, sob orientação do Cel Res PM Edson Gonçalves – Ex-Comandante do Corpo de Bombeiros Metropolitano da PMESP São Paulo 2005 Dedicatória A minha esposa, Carla, e a minhas filhas, Gabriella e Isabella, por estarem sempre presentes em todos os momentos da minha vida. A meus pais, por possibilitarem mais uma etapa no meu aperfeiçoamento. A meus irmãos e familiares, pelo amor, dedicação e incentivo nos momentos mais difíceis. Agradecimentos A Deus, por mais esta oportunidade de evolução. Ao Coronel PM Edson Gonçalves, meu Comandante e Orientador, pelas sábias palavras nos momentos de dúvida. Aos Oficiais, Praças e Funcionários Civis do Corpo e Bombeiros, pelo apoio na elaboração desta obra. Ao Comando do CAES, Instrutores, Professores e demais integrantes dessa digna casa de ensino, pelos conhecimentos que foram transmitidos. LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Mapa retratando o número acidentes naturais por região do globo . 29 Figura 02 - Mapa mostrando o número de pessoas mortas e feridas por região do globo Figura 03 - ......................................................................................................... 29 Mapa que demonstra a distribuição de ocorrências por tipo e por regiões do globo ................................................................................................. 30 Figura 04 2001 Atentado terrorista no World Trade Center em 11 de setembro de ......................................................................................................... 31 Figura 05 - Momento do colapso de uma das Torres Gêmeas........................... 31 Figura 06 - Cenário desesperador da região após o impacto do tsunami da Ásia . ......................................................................................................... 32 Figura 07 - Gráfico demonstrando o aumento do número de ocorrências ao longo dos anos ................................................................................................... 33 Figura 08 - Os 10 acidentes que mais causaram vítimas mortas no período de 2004/2005 ......................................................................................................... 33 Figura 09 - Os 10 acidentes que mais geraram perdas materiais no período de 2004/2005 ......................................................................................................... 34 Figura 10 - Representação esquemática das variações de magnitude/impactos ... ......................................................................................................... 61 Figura 11 - Ciclo do atendimento de emergências ............................................. 65 Figura 12 - Organograma SICOE ....................................................................... 87 Figura 13 - Reunião do efetivo da Força-Tarefa para emprego operacional ...... 89 Figura 14 - Dinâmica do desastre ....................................................................... 95 Figura 15 - Comparação de provisão e disponibilidade de recursos .................. 99 Figura 16 - Desastre gradual ............................................................................ 100 Figura 17 - Ciclo PDCA .................................................................................... 101 Figura 18 - Atendimento operacional do CB e vista do Centro de São Paulo .. 103 Figura 19 - Órgãos de apoio ao CB .................................................................. 104 Figura 20 - Queda do teto da igreja em Osasco ............................................... 110 Figura 21 - Queda de aeronave da TAM .......................................................... 113 Lista de Figuras 6 Figura 22 - Explosão do Shopping Osasco Plaza ............................................ 114 Figura 23 - Incêndio florestal ............................................................................ 117 Figura 24 - Enchente na Marginal do Tietê....................................................... 118 Figura 25 - CAMU – Mata fogo ......................................................................... 119 Figura 26 - CAMU - Enchente .......................................................................... 120 Figura 27 - Simulado em Favela na Zona Leste da Capital .............................. 122 Figura 28 - Simulado no Rodoanel Mário Covas - SP ...................................... 126 Figura 29 - Processo de Gestão de Risco ........................................................ 132 Figura 30 - Risco de deslizamentos ................................................................. 138 Figura 31 - Área sujeita a enchentes ................................................................ 139 Figura 32 - Matriz de avaliação qualitativa de riscos ........................................ 145 Figura 33 - Avaliação de risco .......................................................................... 146 Figura 34 - Tratamento dos riscos .................................................................... 147 Figura 35 - Local para abrigo provisório ........................................................... 156 Figura 36 - Modelo de mapa............................................................................. 164 Figura 37 - Modelo de mapa para estudos sobre enchentes............................ 165 Figura 38 - Mapa de ameaças múltiplas de SP ................................................ 168 Figura 39 - Região/I FEMA ............................................................................... 169 Figura 40 - Mapa de risco específico ................................................................ 170 Figura 41 - Mapa de enchente da região de Santo André ................................ 171 Figura 42 - Metodologia para elaboração de Mapas de Riscos........................ 175 Figura 43 - Detalhe do processo de elaboração de Mapas .............................. 177 Figura 44 - Integração entre os Planos Operacionalmente Ativos .................... 189 Figura 45 - Diagrama de Implementação do Plano de Emergências da Comunidade .................................................................................................... 194 Figura 46 - Processo de elaboração do Plano.................................................. 197 Figura 47 - Organização do GPEL ................................................................... 237 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Questão 1 – Localização do Posto. ................................................... 220 Gráfico 2 - Questão 2 – Tempo de Comando de Posto. ...................................... 220 Gráfico 3 - Questão 3 – Se exerce o cargo de Comandante do Posto com exclusividade.................................................................................................... 221 Gráfico 4 - Questão 4 – Se já empregou o SICOE na sua região. ...................... 222 Gráfico 5 - Questão 5 – Já necessitou de apoio de órgãos externos ao CB? ..... 222 Gráfico 6 - Questão 5 – B – Julga que pode melhorar o relacionamento com esses órgãos? ........................................................................................................... 224 Gráfico 7 - Questão 6 – Quanto à importância dada ao apoio dos órgãos externos ao CB em ocorrências? ..................................................................... 225 Gráfico 8 - Questão 7 – Sobre a facilidade da mobilização e disponibilizarão dos recursos para os atendimentos do CB. ............................................................ 225 Gráfico 9 - Questão 8 – Existência do Plano de Gerenciamento de Emergência Local. ....................................................................................................... 226 Gráfico 10 - Questão 9 – Existência do Mapa de Riscos e Recursos Locais..... 226 Gráfico 11 - Questão 10 – Se julga necessário receber a instrução específica para elaborar o planejamento de emergências e mapeamento dos riscos de sua área? ....................................................................................................... 227 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em 2004................. 41 Tabela 2 - Vítimas salvas pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo em 2004 Tabela 3 2004 ............................................................................................................. 41 Vítimas mortas em ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em ............................................................................................................. 42 Tabela 4 - Risco 1: Inundação de uma cidade “x” ............................................... 135 Tabela 5 - Risco 2: Acidente ferroviário com múltiplas vítimas na área do PB ... 136 Tabela 6 - Risco 3: Acidente de trânsito com vítima em determinada região ..... 136 Tabela 7 - Priorização dos Riscos ...................................................................... 136 LISTA DE QUADROS Quadro 1 impactos Exemplo da Tabela das Medidas qualitativas de conseqüências ou ....................................................................................................... 143 Quadro 2 - Exemplo de Tabela das Medidas qualitativas de probabilidade ..... 144 Quadro 3 - Exemplo da Tabela matriz de análise qualitativa de riscos – Nível de risco Quadro 4 - ....................................................................................................... 144 Diagrama de Implementação do Plano de Emergências da Comunidade (APELL) ...................................................................................... 193 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS NOME SIGNIFICADO AB AUTO-BOMBA ABGÁS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE GÁS ABIQUIM ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS QUÍMICAS AC AUTO-COMANDO APELL AWRENESS AND PREPARADNESS FOR EMERGENCY AT LOCAL LEVEL APP ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGO APR ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO AS AUTO-SALVAMENTO AT AUTO-TANQUE CAMU CAMINHÃO MULTI-USO CB CORPO DE BOMBEIROS CBM COMANDO DE BOMBEIROS METROPOLITANO CBO CURSO DE BOMBEIROS PARA OFICIAIS CBS CURSO DE BOMBEIROS PARA SARGENTOS CEDEC COORDENADORIA ESTADUAL DE DEFESA CIVIL CET COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO CETESB COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL CGE CENTRO DE GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS CIATOX CENTRO DE INFORMAÇÃO E ATENÇÃO TOXICOLÓGICA CODAR CODIFICAÇÃO DE DESASTRES, AMEAÇAS RISCOS COE COMANDO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS COMMDEC COORDENADORIA MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL CONSEG CONSELHO COMUNITÁRIO DE SEGURANÇA E Lista de Abreviaturas e Siglas 11 CORDEC COORDENADORIA REGIONAL DE DEFESA CIVIL CPFL COMPANHIA DE FORÇA E LUZ DC DEFESA CIVIL DER DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM DOP/CCB DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES DO COMANDO DO CORPO DE BOMBEIROS EPCRA EMERGENCY PLANNING AND COMMUNITY RIGHTLO-KNOW ACT FEMA FEDERAL EMERGENCY MANAGEMENT ASSOCIATION FFAA FORÇAS ARMADAS FT FORÇA TAREFA GATE GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS GB GRUPAMENTO DE BOMBEIROS GCM GUARDA CIVIL METROPOLITANA GLP GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO GPEL GRUPO DE PLANEJANTO DAS EMERGÊNCIAS LOCAIS GRPAe GRUPAMENTO DE RADIOPATRULHAMENTO AÉREO IC INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA IG INSTITUTO DE GEOLOGIA IML INSTITUTO MÉDICO-LEGAL IPT INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS IT INSTRUÇÃO TÉCNICA LOM LEI DE ORGANIZAÇÃO DO MUNICÍPIO MAM MAPA DE AMEAÇAS MÚLTIPLAS MP MINISTÉRIO PÚBLICO MRR MAPA DE RISCOS E RECURSOS NFPA NATIONAL FIRE PROTETION ASSOCIATION NOB NORMA OPERACIONAL DE BOMBEIROS NUDEC NÚCLEO DE DEFESA CIVIL OPM ORGANIZAÇÃO POLICIAL-MILITAR PAM PLANO DE AUXÍLIO MÚTUO PAP PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO-PADRÃO Lista de Abreviaturas e Siglas 12 PB POSTO DE BOMBEIROS PC POLÍCIA CIVIL PCDC PLANO DE CONTINGÊNCIA DE DEFESA CIVIL PEL PLANO DE EMERGÊNCIAS LOCAL PGEE PLANO DE GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS ESTADUAL PGEL PLANO DE GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS LOCAL PGER PLANO DE GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS REGIONAL PGES PLANO DE GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS SETORIAL PMESP POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO POP PROCEDIMENTO OPERACIONAL-PADRÃO PP PRODUTOS PERIGOSOS PPDC PLANO PREVENTIVO DE DEFESA CIVIL PPI PLANO PARTICULAR DE INTERVENÇÃO RINEM REDE INTEGRADA E EMERGÊNCIAS SABESP COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO SAMU SISTEMA DE ATENDIMENTO MÉDICO UNIFICADO SAS SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SGB SUB-GRUPAMENTO DE BOMBEIROS SICOE SISTEMA DE COMANDO DE OPERAÇÕES EMERGÊNCIAS SINDEC SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL UR UNIDADE DE RESGATE VO VIATURA OPERACIONAL EM SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................. 20 ABSTRACT.......................................................................................... 21 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 22 1 OS DESASTRES E AS CATÁSTROFES ....................................... 27 1.1 No Mundo .................................................................................. 28 1.2 No Brasil .................................................................................... 34 1.3 No Estado de São Paulo............................................................ 38 2 NOÇÕES GERAIS SOBRE DESASTRES ...................................... 43 2.1 Condicionantes Gerais da Política Nacional de Defesa Civil...... 43 2.2 Diretrizes Básicas do Governo................................................... 44 2.3 Conceituação de Desastres ....................................................... 46 2.4 Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC.............................. 51 2.5 Classificação dos Desastres ...................................................... 52 2.5.1 Quanto à intensidade ................................................................. 53 2.5.1.1 Desastres de nível I ................................................................. 53 2.5.1.2 Desastres de nível II ................................................................ 53 2.5.1.3 Desastres de nível III ............................................................... 54 2.5.1.4 Desastres de nível IV ............................................................... 54 2.5.2 Quanto à origem ........................................................................ 55 2.5.2.1 Desastres naturais ................................................................... 55 2.5.2.2 Desastres humanos ou antropogênicos ................................... 56 2.5.2.3 Desastres mistos ..................................................................... 57 2.5.3 Quanto à evolução..................................................................... 57 2.5.3.1 Desastres súbitos ou de evolução aguda................................. 57 2.5.3.2 Desastres de evolução crônica e gradual ................................ 58 Sumário 14 2.5.3.3 Desastres por somação de efeitos parciais .............................. 58 2.6 Conceito de Segurança Global .................................................. 59 2.7 Fases Gerais do Atendimento dos Desastres ............................ 62 2.7.1 Preventiva.................................................................................. 63 2.7.2 Socorro ...................................................................................... 63 2.7.3 Assistencial................................................................................ 64 2.7.4 Recuperativa ............................................................................. 64 3 O PAPEL DOS MUNICÍPIOS FRENTE ÀS EMERGÊNCIAS ......... 66 3.1 A Urbanização e as Emergências .............................................. 66 3.2 Organização dos Municípios ...................................................... 68 3.3 Instrumentos Legais .................................................................. 70 3.3.1 Lei Orgânica do Município (LOM) .............................................. 70 3.3.2 O Estatuto das Cidades ............................................................. 71 3.3.3 Plano Diretor Estratégico ........................................................... 73 3.4 Estrutura de Atendimento de Emergências Locais .................... 74 3.4.1 Recursos municipais .................................................................. 76 3.4.2 Participação de outros órgãos ................................................... 77 3.4.3 O papel da comunidade ............................................................. 79 3.4.4 O papel da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC)81 3.5 O Gerente de Cidades - A “Nova Profissão” .............................. 82 4 O CORPO DE BOMBEIROS NO ATENDIMENTO DAS EMERGÊNCIAS ........................................................................ 84 4.1 Aspectos Legais da Competência do Corpo de Bombeiros para o Atendimento a Desastres........................................................... 84 4.2 Estrutura Operacional de Atendimento Emergencial.................. 85 4.2.1 Em situação de normalidade operacional .................................. 85 4.2.2 Sistema de Comando de Operações em Emergências (SICOE) 86 4.2.3 Força-Tarefa .............................................................................. 88 Sumário 15 4.2.4 Procedimento Operacional-Padrão (POP) e Plano Particular de Intervenção (PPI) ....................................................................... 90 4.3 Principais Ações do Corpo de Bombeiros nas Emergências...... 91 4.3.1 Áreas de atuação operacional ................................................... 91 4.3.2 Estatísticas dos atendimentos operacionais .............................. 92 4.3.3 O ciclo do atendimento operacional do Corpo de Bombeiros..... 94 4.4 O Posto de Bombeiros nas Emergências .................................101 4.5 Demais Órgãos e Entidades Participantes do Atendimento Emergencial em Conjunto com o Corpo de Bombeiros.............104 4.6 Cenário Atual Sobre o Atendimento às Emergências no Estado de São Paulo ............................................................................106 4.6.1 São Paulo em números ............................................................106 4.6.2 Estudo de alguns casos reais de atendimentos de emergências .107 4.6.2.1 Desabamento de telhado de igreja em Osasco.......................108 4.6.2.2 Incêndio em indústria química.................................................110 4.6.2.3 Acidente aeronáutico com vítimas ..........................................112 4.6.2.4 Explosão no Shopping de Osasco ..........................................113 4.6.3 Estudo de algumas atividades planejadas e executadas pelo CB115 4.6.3.1 Operação Mata Fogo ..............................................................115 4.6.3.2 Operação Enchente ................................................................117 4.6.4 Estudo de alguns exercícios simulados integrados operacionais .120 4.6.4.1 Explosão e incêndio em favela................................................121 4.6.4.2 Acidente de trânsito com múltiplas vítimas envolvendo produtos perigosos ................................................................................125 4.6.5 Lições aprendidas.....................................................................127 5 INSTRUMENTOS PARA AUXILIAR A GESTÃO DE EMERGÊNCIAS .......................................................................129 5.1 Gestão de Riscos .....................................................................130 5.1.1 Delimitações das áreas de risco ...............................................133 Sumário 16 5.1.2 Estabelecimento dos contextos e critérios ................................133 5.1.2.1 Desenvolvimento de critérios de avaliação de riscos ..............134 5.1.3 Identificação dos riscos.............................................................137 5.1.4 Análise de risco ........................................................................140 5.1.4.1 Generalidades ........................................................................140 5.1.4.2 Conseqüências e probabilidades ............................................141 5.1.4.3 Tipos de análises ....................................................................142 5.1.5 Avaliação de riscos ...................................................................145 5.1.6 Tratamento dos riscos ..............................................................146 5.1.7 Monitoramento e análise crítica ................................................148 5.1.8 Comunicação e consulta...........................................................148 5.1.9 Ferramentas e técnicas para identificação dos riscos ...............149 5.2 Gestão de Recursos .................................................................151 5.2.1 Tipos de recursos .....................................................................153 5.2.1.1 Recursos materiais .................................................................153 5.2.1.2 Recursos humanos .................................................................154 5.2.1.3 Serviços e instalações ............................................................155 5.2.1.4 Procedimentos operacionais implantados ...............................156 5.2.2 Dimensionamento de recursos .................................................157 5.2.3 Aspectos relevantes na administração de recursos ..................159 5.3 Mapa de Riscos e Recursos .....................................................161 5.3.1 Construindo mapas...................................................................172 5.3.2 Formas de representações .......................................................177 5.4 Planejamento ............................................................................178 5.4.1 Generalidades ..........................................................................178 5.4.2 Conceito ...................................................................................181 5.4.3 Objetivos do planejamento .......................................................183 5.4.4 Responsável e participantes .....................................................185 5.4.5 Níveis do planejamento ............................................................185 Sumário 17 5.4.6 Áreas de atuação......................................................................186 5.4.7 Abrangência de planejamento ..................................................187 5.4.8 Inter-relação e subordinação ....................................................188 5.4.9 Características dos planos ........................................................190 5.4.10 Fases do processo de elaboração do plano .............................191 5.4.11 Estrutura formal do plano..........................................................198 5.4.11.1 Modelo sugerido por David Alexander ..................................199 5.4.11.2 Modelo sugerido por Serpa ..................................................201 5.4.11.3 Estrutura do modelo APELL .................................................202 5.4.11.4 Estrutura do modelo FEMA (Business & Industry) ................203 5.4.11.5 Plano de Atendimento de Emergência (PAE) – SC ..............204 5.4.11.6 Plano Geral de Mitigação do Estado da Califórnia – EUA ....204 5.4.11.7 Estrutura do Plano Particular de Intervenção .......................205 5.4.11.8 Estrutura do Plano de Auxílio Mútuo (PAM/ARAÇATUBA) ...206 5.4.11.9 Estrutura básica do plano de contingência ...........................207 5.4.11.10 Estrutura do Plano Comunitário Integrado – PCI/RINEM .....208 5.4.11.11 Estrutura do planejamento local de Massachusetts ..............210 5.4.11.12 Estrutura do Plano EPCRA (Emergency Planning and Community Right – to – Know Act) .........................................211 5.4.12 Conteúdo material do plano ......................................................211 5.4.13 Algumas variáveis que podem interferir no planejamento das emergências locais de bombeiros.............................................212 5.4.13.1 Infraestrutura da região ........................................................213 5.4.13.2 Aspectos legais ....................................................................213 5.4.13.3 Perfil da região .....................................................................213 5.4.13.4 Perfil da população...............................................................214 5.4.13.5 Capacidade de resposta da região frente a desastres..........214 5.4.13.6 Análise das vulnerabilidades ................................................214 5.4.13.7 Riscos existentes .................................................................215 Sumário 18 5.4.13.8 Recursos disponíveis ...........................................................215 5.4.13.9 Planos operacionais ativos ...................................................216 5.4.13.10 Demanda operacional e calendário de eventos ....................216 5.4.13.11 Potencial de resposta do Corpo de Bombeiros local ............217 5.4.14 Considerações gerais sobre o planejamento ............................217 6 AVALIAÇÃO DA PESQUISA ........................................................219 6.1 Questionário aos Comandantes dos Postos de Bombeiros ......220 6.2 Questionários Enviados aos Capitães ......................................228 7 PROPOSTAS DE MELHORIAS PARA O GERENCIAMENTO DE DESASTRES PELO CORPO DE BOMBEIROS LOCAL .........232 7.1 Generalidades ..........................................................................232 7.2 Implantação do GPEL - Critérios Gerais ...................................234 7.2.1 Conceito ...................................................................................234 7.2.2 Membros do GPEL ...................................................................234 7.2.3 Estrutura ...................................................................................236 7.2.4 Missões ....................................................................................238 7.2.5 Reuniões ..................................................................................238 7.2.6 Organização e administração ...................................................239 7.3 Avaliação Preliminar de Riscos (APR) – Critérios Gerais .........240 7.4 Mapas de Riscos e Recursos Locais - Critérios Gerais ............241 7.4.1 Generalidades ..........................................................................241 7.4.2 Etapas da elaboração ...............................................................242 7.4.3 Tipos de mapas ........................................................................243 7.4.4 Linhas gerais sobre elaboração dos mapas ..............................244 7.4.4.1 Origem das fontes...................................................................244 7.4.4.2 Investigação dos antecedentes e comparações estatísticas ...244 7.4.4.3 Elaboração do inventário dos riscos e recursos ......................245 7.4.4.4 Tipos de ameaças...................................................................245 7.4.4.5 Agentes perturbadores e delimitação de zonas de riscos .......246 Sumário 19 7.4.4.6 Indicação dos sistemas que podem ser afetados ....................247 7.4.4.7 Tipos de recursos ...................................................................247 7.4.5 Cartografia Básica ....................................................................248 7.4.5.1 Interpretação de escalas .........................................................248 7.4.5.2 Georefenciamento (GIS – Geographic Information System) ...249 7.4.5.3 Representações gráficas e simbologias ..................................250 7.4.5.4 Outros tipos de recursos que podem auxiliar na confecção dos mapas .....................................................................................251 7.4.6 Responsáveis pela elaboração dos mapas ...............................252 7.5 Plano de Gerenciamento de Emergências Local (PGEL) – Critérios Gerais .........................................................................253 7.5.1 Generalidades ..........................................................................253 7.5.2 Conceito ...................................................................................254 7.5.3 Objetivos do PGEL ...................................................................254 7.5.4 Características ..........................................................................255 7.5.5 Principais etapas de implantação do PGEL ..............................256 7.5.6 Estrutura do PGEL....................................................................257 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................262 REFERÊNCIAS ...................................................................................267 APÊNDICE A – ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO ..........................274 APÊNDICE B – FORMAS DE REPRESENTAÇÕES DE RISCOS......294 APÊNDICE C – GUIA DE ELABORAÇÃO PARA O PGEL ................314 APÊNDICE D – FLUXOGRAMA DOS PLANOS .................................327 APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO AOS CMT PB ................................329 APÊNDICE F – QUESTIONÁRIO AOS CAPITÃES DO CB................332 ANEXO A – CODAR ...........................................................................334 ANEXO B – SIMBOLOGIA DE DESASTRES .....................................340 RESUMO Proposta de Gestão Operacional para o Atendimento de Desastres e Catástrofes Locais pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, por meio de pesquisa bibliográfica e levantamento de campo, dentro do método hipotético-dedutivo, traz um delineamento da importância do papel exercido pelo Posto de Bombeiros como um dos primeiros órgãos a ser empregado oficialmente no contexto dos atendimentos de grandes emergências locais. Aborda a complexidade desses atendimentos e a necessidade de as Forças de Respostas Locais trabalharem de forma harmônica e perfeitamente integradas, pois só assim será possível o aumento do potencial operacional e a redução dos efeitos danosos de um desastre junto à comunidade. Pela complexidade e multi-institucionalidade exigida nessas situações, é imperiosa a realização de um planejamento preventivo integrado adequado, no qual deverá constar, além do estudo detalhado das vulnerabilidades da região, uma minuciosa avaliação e o adequado mapeamento dos seus riscos e recursos. Para tais atividades deverá ser constituído um grupo especial de trabalho (Grupo de Planejamento de Emergências Local – GPEL), formado por representantes dos principais órgãos de atuação nas emergências da região. Foram levantadas as principais dificuldades encontradas pelos Comandantes dos Postos de Bombeiros e, com a elaboração do Plano de Gerenciamento de Emergências Local (PGEL), conforme proposto, pretende-se otimizar significativamente o potencial operacional dos atendimentos do Corpo de Bombeiros em todo o Estado. Por fim, este trabalho visa subsidiar os encarregados pelo planejamento desses atendimentos, com o fornecimento de sugestões que compõem uma proposta estrutural para a elaboração do PGEL. ABSTRACT Proposal of Operational Management for the Attendance of Disasters and Local Catastrophes for the Body of Firemen of the Military Policy of the State of São Paulo, by means of bibliographical research and survey of field, inside of the hypotheticaldeductive method, brings a delineation of the importance of the paper exerted for the Rank of Firemen as one of the first agencies to be used officially in the context of the attendance of great local emergencies. It approaches the complexity of these attendance and the necessity of the Forces of perfectly integrated Local Answers to work of harmonic form and, therefore will be possible the increase of the operational potential and the reduction of the harmful effect of a together disaster to the community. For the complexity demanded in these situations, the accomplishment of an adjusted integrated preventive planning is imperious, in which it will have to consist, beyond the detailed study of the vulnerabilities of the region, a minute evaluation and the adjusted mapping of its risks and resources. For such activities a special group of work will have to be constituted (Group of Local Planning of Emergencies - GPEL), formed for representatives of the main agencies of performance in the emergencies of the region. The main difficulties found for the Commanders of the Ranks of Firemen had been raised and, with the elaboration of the Plan of Management of Emergências Local (PGEL), as considered, are intended to all optimize significantly the operational potential of the atendimentos of the Body of Firemen in the State. Finally, this work aims at to subsidize the people in charge for the planning of these atendimentos, with the supply of suggestions that compose a proposal structural for the elaboration of the PGEL. INTRODUÇÃO Milhares de acidentes ocorrem todos os dias pelo mundo, gerando incontáveis perdas humanas, patrimoniais e ambientais, criando sérios prejuízos e transtornos para o dia-a-dia das populações atingidas, bem como para os órgãos responsáveis pelo atendimento emergencial, especialmente os órgãos locais. Diversas são as causas de desastres e catástrofes que assolam impiedosamente o mundo, sendo mais constantes em uns do que em outros países, diversificando-se nas intensidades e nas conseqüências geradas, porém, invariavelmente, resultando situações bastante inconvenientes e indesejáveis para quem as enfrentam. O Brasil, um país de dimensões geográficas continentais e com sérias distorções sociais e de distribuição de recursos, infelizmente, não poderia ficar fora desse triste contexto, sendo alvo de diversos acidentes com repercussões ainda mais graves do que em outros lugares do mundo, principalmente por não dispor de criterioso e rigoroso planejamento preventivo adequado, tornando-se ainda mais vulnerável. São Paulo, a terceira maior cidade do mundo e com um invejável parque industrial, também, por diversas vezes, foi palco de grandes horrores, que resultaram tristes conseqüências. Exemplos disto são os trágicos números de vítimas alcançados quando da ocorrência do incêndio do edifício Andraus, em 1972; ou do edifício Joelma, em 1974; ou ainda das enchentes do Vale do Ribeira, em 1983; da queda do avião Fokker 100 da TAM, em 1996; do desabamento de parte do shopping de Osasco, em 1996; ou do deslizamento de Caraguatatuba e tantos outros mais. Introdução 23 O Estado de São Paulo possui 645 municípios, cada qual com suas características e peculiaridades específicas, porém todos sujeitos à possibilidade de incidência de ocorrências que envolvam algum tipo de emergência; portanto, fica bastante clara a necessidade de estarem preparados para enfrentarem situações adversas, que possam resultar em catástrofes ou desastres. O Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, normalmente, é o primeiro órgão oficial empregado no atendimento emergencial a desastres ou catástrofes junto à população, devendo estar, permanentemente, preparado para o atendimento de tais emergências de maneira eficiente. Além do Corpo de Bombeiros, vários outros órgãos e instituições integram, de forma decisiva, o sistema de atendimento a desastres e catástrofes no Estado de São Paulo, tais como órgãos públicos das esferas federal, estadual, municipal, Defesa Civil, entidades privadas, hospitais, grupos de voluntários, a própria comunidade local etc., sendo de suma importância que haja uma perfeita integração entre todos. Para um eficiente sistema de atendimento a desastres e catástrofes no Estado de São Paulo, principalmente pela complexidade envolvida, é notória a necessidade da elaboração de planos preventivos de emergências e planos especiais de operações, não podendo relegar a resolução de tais situações meramente aos sistemas normais de atendimentos que são empregados no dia-adia. O sucesso do atendimento às situações que envolvam tais emergências está diretamente ligado ao grau de preparo prévio da comunidade local, sendo mais bem-sucedida a comunidade que consegue antecipar os avisos dos eventos desastrosos previsíveis, adotando as medidas predefinidas para uma resposta Introdução 24 rápida e eficiente no seu enfrentamento, ou, ainda, aquela que conseguir, de alguma forma, criar condições de melhor gerenciamento de riscos e recursos para fazer frente às possíveis situações que possam atingir-lhes, dotando-se de maior grau geral de suportabilidade ou de melhor potencial de mobilização para defender-se de tais males. O Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo deve estar completamente integrado ao sistema de atendimento de emergências do Estado, principalmente em nível local (municipal), pois é aí que realmente haverá as principais conseqüências dos eventos danosos indesejáveis e onde se faz mais necessário e urgente o adequado preparo para atuar de forma rápida e eficaz, no sentido de propiciar a melhor resposta para o atendimento de tais catástrofes. O objetivo do presente trabalho foi demonstrar a necessidade do estudo detalhado do perfil e dos recursos da região, visando facilitar uma atuação operacional integrada entre os Postos de Bombeiros e as forças locais de emergência. Outro objetivo foi ressaltar a importância da elaboração e implementação de um planejamento preventivo conjunto para dar a resposta adequada às emergências enfrentadas. A problemática surgiu ao se verificar que não há, no Corpo de Bombeiros de São Paulo, um padrão de planejamento prévio para o atendimento das emergências de grande vulto, devidamente implantado para os Postos de Bombeiros, dificultando as ações de seus Comandantes, que, por vezes, realizam medidas isoladas e desarticuladas para suprirem suas demandas operacionais. A justificativa foi a premissa de que qualquer comandante operacional de bombeiros, independentemente do seu nível de atuação, deve conhecer detalhadamente o perfil da sua região e os recursos disponíveis para buscar o maior Introdução 25 entrosamento possível com outros órgãos de atendimentos emergenciais locais e a comunidade, proporcionando a melhor resposta operacional. Como hipótese para a melhoria das condições operacionais do atendimento a desastres e catástrofes pelo Corpo de Bombeiros, foi sugerida a implementação, para todos os Postos do Estado de São Paulo, de um adequado Planejamento Preventivo Integrado de Gerenciamento de Grandes Emergências Locais, observando-se, entre outros aspectos, um adequado mapeamento dos riscos locais, levantamento dos recursos disponíveis, bem com a sua mobilização, acionamento e emprego. A implantação desse sistema de gerenciamento de emergências locais, além de ser uma importante ferramenta para os Comandantes de Postos desempenharem suas missões com maior competência, possibilitará ao Comando do Corpo de Bombeiros obter uma visão sistêmica e estratégica desses atendimentos em todo Estado, pois os planos locais devem ser elaborados obedecendo a um mesmo critério, claro e objetivamente estabelecido, possibilitando um aproveitamento, com total sintonia, de todas as informações geradas em qualquer nível operacional. A pesquisa foi realizada com base no método hipotético-dedutivo, por meio de pesquisas bibliográficas em livros, trabalhos monográficos e outras publicações, nacionais e estrangeiras, pertinentes à área de estudo. Também foram realizadas pesquisas de campo e estudos de casos, observando-se ainda outros modelos de planos existentes, que foram comparados e, quando possível, adequados à realidade operacional local. Para que o trabalho tivesse exatidão nas suas propostas, concretizandose em uma obra real, viável e confiável, foram realizadas pesquisas junto a Introdução 26 profissionais da área de concentração do tema proposto, bem como aos Comandantes de Postos de Bombeiros de todo o Estado de São Paulo e de outros estados do Brasil, mediante elaboração de questionários ou entrevistas sobre assuntos de interesse. Foram consultados também modelos adotados por outros países, possibilitando comparações e adaptações necessárias e oportunas. Outra fonte indispensável foi, sem sombra de dúvidas, a rede mundial de computadores (internet), pois viabilizou e agilizou informações e contatos que enriqueceram enormemente esta obra. Capítulo 1 1 OS DESASTRES E AS CATÁSTROFES Os desastres e catástrofes têm assolado a humanidade desde os seus primórdios, causando sérios danos e prejuízos, quer à vida ou à saúde das pessoas, quer ao meio ambiente ou ao patrimônio. Pesquisadores paleontólogos comprovam a antiguidade do assunto quando trazem registros de desastres através das inscrições feitas pelos homens das cavernas. Na Bíblia Sagrada, também o assunto é referenciado em vários momentos, tal como a narrativa do grande dilúvio que destruiu a Terra. Primeiramente, os desastres tinham suas causas em fenômenos naturais, tais como os terremotos, enchentes, vulcões, furacões, maremotos, geadas, nevascas, chuvas fortes, vendavais, dentre outros. Com o progresso da sociedade e o aumento das populações, principalmente após a revolução industrial e o crescimento rápido e desordenado das cidades, aliaram-se, aos fenômenos naturais, as causas humanas como fontes geradoras de desastres, figurando-se, nesse sentido, as guerras, poluições, acidentes biológicos, derramamentos de produtos químicos, grandes acidentes nos meios de transportes e outros. Normalmente se afirma que os desastres e catástrofes não têm hora e nem lugar para ocorrer, afetando a todos indistintamente, contudo, é verossímil afirmar que, modernamente, existem meios de fazer algumas previsões desses eventos e que as conseqüências são imensamente mais graves nas comunidades menos preparadas para enfrentá-las. Far-se-á um breve panorama histórico de alguns dos principais desastres e catástrofes ocorridos no Mundo, no Brasil e no Estado de São Paulo. Os Desastres e as Catástrofes 28 1.1 No Mundo O panorama mundial de desastres é bastante variado e complexo, abrangendo uma gama muito grande de ocorrências de diversas naturezas e intensidades, ressaltando as enormes diferenças culturais, econômicas e sociais existentes entre as comunidades do planeta, ficando muito claro as diferenças quanto às vulnerabilidades de cada região e os reflexos causados pelos impactos sofridos. Pela sua complexidade, extensão territorial, distribuição populacional, características de clima, de relevo, das culturas e diferenças de todo tipo, o planeta está sujeito à ocorrência de inúmeros e variados acidentes, resultando, da mesma forma, conseqüências de proporções graves e desiguais. Para melhor ilustrar o cenário mundial, as figuras a seguir mostram a distribuição de ocorrências de acidentes causadas por fontes naturais no mundo (figura 1) e as mortes e perdas resultantes de tais acidentes (figura 2), pelas quais se pode notar que em alguns locais (principalmente na América do Norte), apesar da grande incidência de ocorrência de acidentes, as conseqüências são menos graves do que em outros locais que demonstram menores condições e preparação para enfrentar e suportar os efeitos de tais emergências, gerando com isso um maior número de vítimas mortas e perdas de uma forma geral. Os Desastres e as Catástrofes 29 Figura 01 - Mapa retratando o número acidentes naturais por região do globo Fonte: Université Catholiqué de Louvain Figura 02 - Mapa mostrando o número de pessoas mortas e feridas por região do globo Fonte: Université Catholiqué de Louvain Os Desastres e as Catástrofes 30 Figura 03 - Mapa que demonstra a distribuição de ocorrências por tipo e por regiões do globo Fonte: Université Catholiqué de Louvain Uma análise e estudo dos desastres e catástrofes sobre uma visão mundial, obrigatoriamente, leva a fazer referências às guerras e aos conflitos entre os homens, que tantas vítimas e perdas causam ao mundo, mas também deve-se lembrar das vítimas originadas pelas incisivas condições de miséria à que são submetidos alguns povos do planeta. Somente como ilustração do quadro mundial, pode-se citar alguns casos bastante recentes de ocorrências de desastres e catástrofes, tais como o atentado terrorista ocorrido nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, no World Trade Center, quando as torres gêmeas foram atingidas por dois aviões de grande porte, resultando em um cenário de extrema violência, pois, após os incêndios, as torres entraram em colapso, desabando e provocando aproximadamente 3000 mortos, incluindo 343 bombeiros e 23 policiais. Os Desastres e as Catástrofes 31 Figura 04 - Atentado terrorista no World Trade Center em 11 de setembro de 2001 Fonte: Folha on-line Figura 05 - Momento do colapso de uma das Torres Gêmeas Fonte: Folha on- line Outro grande evento que mobilizou todo o mundo foi o catastrófico tsunami ocorrido em 26 de dezembro de 2004, quando uma enorme onda atingiu o sul do Continente Asiático, provocando trágicas conseqüências a diversos países daquela região, resultando em incontáveis prejuízos econômicos e um número recorde de vítimas, atingindo aproximadamente 280 mil mortos1. Foi necessária a 1 http//www.folha.uol.com.br/folha/mundo. 13Out05 Os Desastres e as Catástrofes 32 mobilização de diversos organismos mundiais de atendimento aos desastres para que a situação não se resultasse ainda mais grave. Figura 06 - Cenário desesperador da região após o impacto do tsunami da Ásia Fonte: Folha on-line Os números mostram que os acidentes no mundo continuam a crescer (figura 07) e o grande desafio é estar preparado para superar os impactos dessas emergências, minimizando-os ao máximo, fomentando a adoção de medidas globais de conscientização desse tema. Os Desastres e as Catástrofes 33 Figura 07 - Gráfico demonstrando o aumento do número de ocorrências ao longo dos anos Fonte: Université Catholiqué de Louvain Figura 08 - Os 10 acidentes que mais causaram vítimas mortas no período de 2004/2005 Fonte: Université Catholiqué de Louvain Os Desastres e as Catástrofes 34 Figura 09 - Os 10 acidentes que mais geraram perdas materiais no período de 2004/2005 Fonte: Université Catholiqué de Louvain Por fim, para facilitar o entendimento do contexto da gravidade e da proporção dos acidentes no mundo, as figuras 08 e 09, mostram os dez principais desastres ocorridos em diversos países, analisando-se sobre o fator perdas humanas e pelos prejuízos materiais causados. 1.2 No Brasil O Brasil, devido ao seu tamanho geográfico, às condições climáticas e fisiográficas e ao grau de desenvolvimento, está sujeito, diariamente, a um número elevado de desastres e situações de emergências que provocam muitas mortes, feridos, incapacidades físicas, temporárias e definitivas, além de causar quantiosos danos a propriedades, bens e serviços, à produção agrícola, à pecuária e também, Os Desastres e as Catástrofes 35 de forma muito clara, causa profundos efeitos e conseqüências desastrosas ao meio ambiente. O país é um dos campeões mundiais em acidentes de trânsito e rodoviários, possuindo grande destaque em acidentes de trabalho, além de outros importantes desastres, como inundações, deslizamentos, incêndios, enxurradas, vendavais, chuvas de granizo, epidemias, pragas e desastres tecnológicos causados pelo homem. Vale a pena chamar a atenção para o fato de que o Brasil não apresenta, afortunadamente, grandes e graves desastres súbitos de evolução aguda, como terremotos, furacões, erupções vulcânicas, tsunamis e outros, mas, em contrapartida, o país sofre, de norte a sul e de leste a oeste, com inúmeros outros tipos de desastres súbitos, como os vendavais, chuvas de granizo, enxurradas e até tornados2. As enchentes e inundações acontecem em todo o país e têm quase sempre características e periodicidade diferentes em cada região. Na região norte, por exemplo, há as enchentes das áreas ribeirinhas do rio Amazonas, que chegam a alcançar vários quilômetros de distância desde a margem. Igualmente, as das bacias dos rios Madeira, Tapajós, Xingu, Negro e Tocantins. Na região nordeste, são inúmeros os rios que sofrem enchentes, destacando-se o rio São Francisco; o vale do rio Jaguaribe, no Ceará; o Parnaíba, no Piauí; e os rios de Contas e Paraguaçu, na Bahia. Todos os outros estados da região sofrem também inundações cíclicas, muito freqüentes, principalmente, nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Uma das enchentes mais importantes na região ocorreu em 1985, apresentando mais de um milhão de pessoas desabrigadas e 2 Indaiatuba e Santa Catarina. Os Desastres e as Catástrofes 36 danos incalculáveis à produção agrícola e à infra-estrutura de serviços essenciais. Em 1992, o rio São Francisco apresentou, também, uma enchente de vulto, afetando principalmente os Estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas. Na região sul, o Estado mais afetado é o de Santa Catarina. Em 1983, o rio Itajaiaçu sofreu uma enchente tão violenta, que chegou a subir 17 metros acima do nível normal. Nesse Estado, ocorrem também, freqüentemente, enchentes nos rios Uruguai, do Peixe e Tubarão. Os Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná também sofrem com as enchentes dos rios Paraná, Uruguai, Iguaçu, Jacuí, Taquari e Guaíba. É interessante destacar que na região Centro-oeste ocorre os dois fenômenos: enchentes (em todos os estados da região) e inundações (no pantanal) de evolução lenta e gradual, cobrindo uma imensa extensão territorial. É um fenômeno cíclico anual, que comanda o equilíbrio biológico da fauna, flora, água e do solo. Um dos rios de importância, causador de grandes enchentes é o Araguaia, afetando principalmente o Estado de Goiás. Na região sudeste, todos os estados são afetados por enchentes nos seguintes rios: Paraná, em Minas Gerais e São Paulo; o rio Tietê, em São Paulo; o Paraibuna, em Minas Gerais; o rio Doce, no Espírito Santo, e muitos outros, causando danos à população. Mas há que chamar a atenção para dois tipos de problemas bem caracterizados nesta região: as enxurradas, que alagam em minutos as cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro e outras, com mortos, pânico e tremendos danos econômicos, e também os grandes e sérios alagamentos dos municípios da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Há que ressaltar, portanto, que as enchentes, inundações, enxurradas e alagamentos afetam todos os estados, nas cinco regiões do país. Praticamente, Os Desastres e as Catástrofes 37 pouquíssimos municípios não são afetados. Não será necessário afirmar que as perdas econômicas, os danos materiais e às propriedades, bem como o sofrimento das populações atingidas alcançam um volume impossível de ser expresso em valores monetários. Muito comuns também, no país, são os desastres de evolução súbita, como os deslizamentos de terra, mais freqüentes nas cidades de Salvador, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis, acontecendo também em muitas outras cidades. Como se sabe, o Brasil apresentou, nas últimas décadas, um êxodo rural acentuado, provocando, assim, um crescimento urbano desordenado, impulsionado pelo processo de industrialização e de modernização. Essa tendência de urbanização rápida não permitiu aos poderes públicos locais estabelecerem o ordenamento da ocupação do solo urbano, gerando as enchentes, os deslizamentos de encostas, os desastres tecnológicos e as epidemias urbanas, que se traduzem em tragédias freqüentemente verificadas no País. Entre os exemplos de desastres de evolução crônica e gradual que afetam seriamente o Brasil, o mais importante é a seca da região nordeste e também em parte da região sul. A seca, as inundações e os deslizamentos constituem os desastres mais freqüentes e de maior importância no Brasil. Por fim, cumpre lembrar ainda, como acidentes de grandes repercussões no Brasil, os acidentes envolvendo materiais e substâncias perigosas, tais como o ocorrido no Estado de Goiás, envolvendo material radioativo (césio), onde houve várias vítimas; o acidente na Base de Alcântara, quando da explosão de um reator nuclear; inúmeros acidentes com transporte e manuseio desses produtos, dentre outros. Os Desastres e as Catástrofes 38 Resumindo, embora o Brasil não esteja sujeito à ocorrência de desastres naturais de grande repercussão, é afetado cotidianamente por numerosos outros tipos de desastres, cujas conseqüências, danos e perdas econômicas causam muitas dificuldades e sofrimentos à população. 1.3 No Estado de São Paulo O Estado de São Paulo, um dos maiores do mundo, com um parque industrial invejável, grande concentração populacional, centro de referência em desenvolvimento para o restante do país, como não poderia deixar de ser, possui inúmeros problemas e não raras vezes, torna-se palco de vários eventos indesejáveis, gerando graves conseqüências para os seus habitantes. Para ilustrar esse cenário, o Estado de São Paulo possui um histórico bastante farto de ocorrências que resultaram em desastres ou catástrofes que, por sua vez, necessitaram da efetiva participação dos órgãos de atendimento de emergências, incluindo o Corpo de Bombeiros. Eis , a seguir, algumas delas: 1972 – Incêndio no edifício Andraus, que resultou em 20 vítimas mortas e dezenas de feridos; 1974 – Incêndio de grandes proporções no edifício Joelma, resultando em mais de 200 vítimas mortas e muitas feridas; 1983 - Inundações do Vale do Ribeira, Rio Paraná e São Paulo, que atingiram 86 municípios, causando 32 mortos e mais de 65.500 desabrigados; 1984 - Incêndio de Vila Socó, em Cubatão, com 93 mortos e 1.500 desabrigados; Os Desastres e as Catástrofes 39 1985/1986 - Grande Estiagem que afetou 199 municípios, com o desenvolvimento de programas que atenderam mais de 316.000 pessoas; 1985/1986 - Fenômeno "Buraco de Cajamar", que atingiu 480 residências, desabrigando 2.400 pessoas; 1987 - Inundações em 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, que deixou 53 vítimas mortas e mais de 21.000 desabrigados; 1995 - Explosão de depósito clandestino de fogos de artifício no Bairro de Pirituba, em São Paulo, que provocou 15 mortes e deixou 24 pessoas feridas; 1996 - Desabamento de parte do Shopping de Osasco, com 42 mortos e 472 feridos; 1996 - Queda do avião Fokker 100 da TAM em São Paulo, com 98 vítimas mortas; Incêndio na favela Heliópolis, resultando 04 vítimas mortas e 27 feridos; 1997 - Enchentes no Vale do Ribeira, que deixaram 4 mortos e mais de 15.400 pessoas desabrigadas; 1998 - Novamente enchentes no Vale do Ribeira, com mais de 6.400 desabrigados; 1998 - Desabamento do teto da Igreja Universal do Reino de Deus, em Osasco, com 23 mortos e 539 feridos; 1998 - Acidente rodoviário do Município de Araras, onde o choque de caminhões de combustível com ônibus de romeiros deixou 54 vítimas mortas e 39 feridas; 2000 – Acidente ferroviário em Perus com 09 vítimas mortas e mais de 120 feridas; Os Desastres e as Catástrofes 40 2000 - Enchentes e escorregamentos de terra no Vale do Paraíba, que causaram 11 vítimas mortas e mais de 6.500 pessoas desabrigadas; 2001 – Incêndio de grandes proporções na Empresa Nestlé, resultando em grandes perdas patrimoniais e a morte de 2 bombeiros; 2004 - Desabamento de uma danceteria em Guarulhos, causando 6 vítimas mortas e mais de 100 feridos. Para complementar a visão geral sobre o cenário dos desastres ocorridos no Estado de São Paulo, seguem alguns dados obtidos junto ao Departamento de Operações do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, referentes ao ano de 2004. Os Desastres e as Catástrofes Tabela 1 - 41 Ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em 2004 OCORRÊNCIAS ATENDIDAS ATENDIMENTOS CAPITAL INCÊNDIO INTERIOR ESTADO 9.305 38.922 48.227 153 685 838 64.607 178.925 243.532 939 3.273 4.212 SALVAMENTO TERRESTRE 6.370 37.000 43.370 TRAB. AUX.COMUNIDADE 4.643 123.728 128.371 86.017 382.533 468.550 PRODUTOS PERIGOSOS RESGATE SALVAMENTO AQUÁTICO TOTAL Fonte: Anuário Estatístico do CB Tabela 2 - Vítimas salvas pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo em 2004 VÍTIMAS SALVAS ATENDIMENTOS CAPITAL INCÊNDIO INTERIOR ESTADO 208 296 504 50 106 156 58.035 159.668 217.703 SALVAMENTO AQUÁTICO 278 834 1.112 SALVAMENTO TERRESTRE 577 6.207 6.784 TRAB.AUX.COMUNIDADE 137 3.802 3.939 59.285 170.913 230.198 PRODUTOS PERIGOSOS RESGATE TOTAL Fonte: Anuário Estatístico do CB Os Desastres e as Catástrofes Tabela 3 - 42 Vítimas mortas em ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em 2004 VÍTIMAS MORTAS ATENDIMENTOS CAPITAL INCÊNDIO INTERIOR ESTADO 27 60 87 2 8 10 2.868 4.198 7.066 SALVAMENTO AQUÁTICO 87 638 725 SALVAMENTO TERRESTRE 71 280 351 5 178 183 3.060 5.362 8.422 PRODUTOS PERIGOSOS RESGATE TRAB.AUX.COMUNIDADE TOTAL Fonte: Anuário Estatístico do CB Como se pode constatar, o número de ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo é bastante elevado, valendo ressaltar ainda que o número total de ocorrências é bem maior, pois nestas ilustrações estão apenas as ocorrências em que houve a atuação do Corpo de Bombeiros. Capítulo 2 2 NOÇÕES GERAIS SOBRE DESASTRES 2.1 Condicionantes Gerais da Política Nacional de Defesa Civil A Política Nacional de Defesa Civil3 apresenta algumas condicionantes gerais de suma importância e que servem de parâmetros para qualquer trabalho que seja desenvolvido nesta área, sendo bastante oportuno, neste momento, a sua transcrição para que se possa dar a devida sustentabilidade a diversos estudos e ações sugeridos para atenuar o quadro tão crítico vivido pelo Brasil. “1 - Os estudos epidemiológicos demonstram que, no último século, os desastres naturais produziram danos muito superiores aos provocados pelas guerras”. 2 - Os desastres antropogênicos são cada vez mais intensos, em função de um desenvolvimento econômico e tecnológico pouco atento aos padrões de segurança da sociedade. 3 - Em numerosos distritos industriais, o desenvolvimento econômico imediatista e antientrópico provocou a deterioração ambiental e agravou as vulnerabilidades dos ecossistemas humanos, contribuindo para aumentar os níveis de insegurança aos desastres tecnológicos. 4 - A crise econômica que se desenvolveu no País, principalmente a partir da década de 70, gerou reflexos altamente negativos sobre o processo de desenvolvimento social e sobre a segurança das comunidades contra desastres, ao: deteriorar as condições de vida e o bem-estar social de importantes segmentos populacionais; intensificar as desigualdades e desequilíbrios inter e intraregionais; intensificar os movimentos migratórios internos, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades; intensificar o desenvolvimento de bolsões e cinturões de extrema pobreza, no entorno das cidades de médio e grande porte. 3 Política Nacional de Defesa Civil 2000. Noções Gerais Sobre Desastres 44 5. - O crescimento desordenado das cidades, a redução do estoque de terrenos em áreas seguras e sua conseqüente valorização provocam adensamentos dos estratos populacionais mais vulneráveis, em áreas de riscos mais intensos. 6 - O desemprego, a especulação, a fome e a desnutrição crônicas, as migrações descontroladas e a redução dos padrões de bem-estar social, ao implementarem o clima de incertezas, desesperanças e revolta, promovem desastres humanos relacionados com as convulsões sociais. 7 - O processo de regressão social, ao atingir o núcleo familiar, contribui para o crescimento da violência e do número de menores abandonados. 8 - Os estratos populacionais menos favorecidos e os países menos desenvolvidos, por apresentarem maiores vulnerabilidades culturais, econômicas e sociais, são atingidos com mais intensidade pelos desastres. 9 - Como conseqüência dos desastres, ocorre estagnação econômica, redução da receita dos impostos e aumento do custo de vida. 10 - Os desastres agravam as condições de vida da população, contribuem para aumentar a dívida social, intensificam as desigualdades regionais e as migrações internas, fazem crescer os bolsões e cinturões de extrema pobreza nos centros urbanos e afetam o desenvolvimento geral do País. 11 - As ações de resposta aos desastres e de reconstrução exigem quantiosos gastos e desviam recursos que poderiam ser alocados em programas de desenvolvimento. 12 - Num exame retrospectivo constata-se que, após muitas décadas de esforço, foram poucos os avanços alcançados na redução das vulnerabilidades da sociedade brasileira aos desastres, mesmo àqueles de natureza cíclica. 13 - Há uma importante interação entre: Desenvolvimento Sustentável Redução de Desastres Proteção Ambiental Bem-estar Social 14 - É imperioso que o processo de planejamento do desenvolvimento nacional contemple, de forma clara e permanente, a prevenção dos desastres”. 2.2 Diretrizes Básicas do Governo Outro elemento muito importante a ser analisado e levado em consideração para qualquer estudo da área de prevenção de desastres, é o conjunto das Diretrizes Básicas do Governo Federal4, que por sua vez deixa bastante claro quais as prioridades estabelecidas em nível federal e que devem nortear todos os trabalhos e esforços das outras esferas de governo, são elas: 4 MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL.Diretriz Básica do Governo Federal. Brasília, 2004. Noções Gerais Sobre Desastres 45 Diretriz nº 1: Atribuir a um único Sistema - o Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC – a responsabilidade pelo planejamento, articulação, coordenação e gestão das atividades de Defesa Civil, em todo o território nacional. Diretriz nº 2: Implementar a organização e o funcionamento de Comissões Municipais de Defesa Civil - COMDEC, em todo o território nacional, enfatizando a necessidade e a importância da resposta, articulada e oportuna, do órgão local. Diretriz nº 3: Apoiar estados e municípios na implementação de Planos Diretores de Defesa Civil, com a finalidade de garantir a redução de desastres, em seus territórios. Diretriz nº 4: Promover a ordenação do espaço urbano, objetivando diminuir a ocupação desordenada de áreas de riscos de desastres, com a finalidade de reduzir as vulnerabilidades das áreas urbanas aos escorregamentos, alagamentos e outros desastres. Diretriz nº 5: Estabelecer critérios relacionados com estudos e avaliação de riscos, com a finalidade de hierarquizar e direcionar o planejamento da redução de riscos de desastres para as áreas de maior vulnerabilidade do território nacional. Diretriz nº 6: Priorizar as ações relacionadas com a Prevenção de Desastres, através de atividades de avaliação e de redução de riscos de desastres. Diretriz nº 7: Implementar a interação entre os órgãos do governo e a comunidade, especialmente por intermédio das Coordenadorias Municipais de Defesa Civil COMDEC e dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil - NUDEC, com a finalidade de garantir uma resposta integrada de toda a sociedade. Diretriz nº 8: Implementar programas de mudança cultural e de treinamento de voluntários, objetivando o engajamento de comunidades participativas, informadas, preparadas e cônscias de seus direitos e deveres relativos à segurança comunitária contra desastres. Diretriz nº 9: Promover a integração da Política Nacional de Defesa Civil com as demais políticas nacionais, especialmente com as políticas nacionais de desenvolvimento social e econômico e com as políticas de proteção ambiental. Diretriz nº 10: Implementar o Sistema de Informações sobre Desastres no Brasil - SINDESB e promover estudos epidemiológicos, relacionando as características intrínsecas dos desastres com os danos humanos, materiais e ambientais e com os prejuízos econômicos e sociais conseqüentes. Diretriz nº 11: Buscar novas fontes de recursos financeiros para o Sistema Nacional de Defesa CMI - SINDEC, aprimorar os mecanismos existentes e implementar: - os recursos relacionados com o Fundo Especial para Calamidades Públicas FUNCAP; - projetos capazes de atrair apoio tecnológico e/ou financeiro das agências internacionais e/ou de cooperação bilateral. Diretriz nº 12: Noções Gerais Sobre Desastres 46 Implementar as atividades do Comitê Brasileiro do Decênio Internacional para Redução dos Desastres Naturais - CODERNAT - e o intercâmbio internacional, objetivando concertar convênios de cooperação bilateral e multilateral na área de redução de desastres, estabelecendo caráter de permanência, a fim de que as ações não se esgotem com o término do Decênio. Diretriz nº 13: Estimular estudos e pesquisas sobre desastres. Diretriz nº 14: Implementar projetos de desenvolvimento científico e tecnológico do interesse da Defesa Civil. Diretriz nº 15: Promover a inclusão de conteúdos relativos à redução de desastres, valorização da vida humana, primeiros socorros e reanimação cardiorrespiratória nos currículos escolares”. Essas Diretrizes Básicas do Governo contemplam medidas bastantes práticas e objetivas de vital importância para a solução de grandes e graves problemas brasileiros em todo o território nacional, sendo que todos os órgãos ligados direto ou indiretamente ao sistema da Defesa Civil devem promover ajustes e adequações necessárias para realmente colaborarem com a satisfação dos objetivos dessas diretrizes dentro do contexto de prevenções e desastre. 2.3 Conceituação de Desastres Para que se possam entender as medidas estudadas neste trabalho, torna-se necessária a padronização de alguns conceitos específicos, retirados do Glossário de Defesa Civil5 : 5 Secretaria Nacional de Defesa Civi. Glossário de Defesa Civil – Estudo de Riscos e Medicina de Desastres. Brasília 2002. Noções Gerais Sobre Desastres 47 Desastre Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais. A intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento adverso e a vulnerabilidade do sistema ou corpo receptor e é quantificado em função dos danos e dos prejuízos. A grandeza de um desastre é medida em termos de intensidade, enquanto que a grandeza do evento adverso que o provocou é medida em termos de magnitude. Calamidade Desgraça pública, flagelo, catástrofe, desgraça muito grande. Calamidade Pública Termo utilizado por leigos para significar desastre de muito grande intensidade (ou proporções). Literalmente significa desgraça pública ou desgraça pública ao quadrado. Estado de Calamidade Pública Reconhecimento legal pelo Poder Público de situação anormal, provocada por desastre, causando sérios danos à comunidade afetada, inclusive à incolumidade e à vida de seus integrantes. Emergência (Médico-Cirúrgica) Situação de um paciente cujos agravos à saúde exigem cuidados médicos imediatos por representar risco de vida. Urgência Noções Gerais Sobre Desastres 48 Situação de um paciente cujos agravos à saúde exigem cuidados médicos imediatos, podendo não estar em situação de risco iminente de vida. Situação de Emergência Reconhecimento legal pelo Poder Público de situação anormal provocada por desastres, causando danos suportáveis e superáveis pela comunidade afetada. Dano Medida que define a intensidade ou severidade da lesão resultante de um acidente ou evento adverso. Perda humana, material ou ambiental, física ou funcional, que pode resultar, caso seja perdido o controle sobre o risco. Intensidade das perdas humanas, materiais e ambientais induzidas às pessoas, comunidades, instituições, instalações, plantas industriais e/ou ecossistemas, como conseqüência de um desastre. Prejuízo Medida de perda relacionada com o valor econômico, social e patrimonial de um determinado bem, em circunstâncias de desastres. Danos Sérios Danos humanos, materiais e/ou ambientais muito importantes, intensos e significativos, muitas vezes de caráter irreversível ou de recuperação muito difícil. Em conseqüência destes danos muito intensos e graves, resultam prejuízos econômicos e sociais muito vultosos, os quais são muito dificilmente suportáveis e superáveis pelas comunidades afetadas. Noções Gerais Sobre Desastres 49 Nestas condições, os recursos humanos, institucionais, materiais e financeiros necessários para o restabelecimento da situação de normalidade são muito superiores às possibilidades locais, exigindo a intervenção coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC. Danos Suportáveis ou Superáveis Danos humanos, materiais e/ou ambientais menos importantes, intensos e significativos, normalmente de caráter reversível ou de recuperação menos difícil. Em conseqüência destes danos menos intensos e menos graves, resultam prejuízos econômicos e sociais menos vultosos e mais facilmente suportáveis e superáveis pelas comunidades afetadas. Nestas condições, os recursos humanos, institucionais, materiais e financeiros, necessários ao restabelecimento da situação de normalidade, mesmo quando superiores às possibilidades locais, podem ser facilmente reforçados com recursos estaduais e federais já disponíveis. Risco Medida de danos ou prejuízos potenciais expressa em termos de probabilidade estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das conseqüências previsíveis. Relação existente entre a probabilidade de que uma ameaça de evento adverso ou acidente determinado se concretize e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor e seus efeitos. Vulnerabilidade Condição intrínseca do corpo ou sistema receptor que, em interação com a magnitude do evento adverso, determina a intensidade dos danos prováveis. Noções Gerais Sobre Desastres 50 Relação existente entre a magnitude de uma ameaça, caso ela se concretize, e a intensidade dos danos resultante. Ameaça Estimativa de probabilidade de ocorrência e da magnitude de um evento adverso expressa em termos de probabilidade estatística de concretização (ou ocorrência) do evento potencial e da provável magnitude de sua manifestação. Segurança Estado de confiança, individual ou coletiva, baseado no conhecimento e no emprego de normas de proteção e na convicção de que os riscos de desastres foram reduzidos, em virtude de terem sido adotadas medidas minimizadoras. Senso de Percepção de Risco Impressão ou juízo intuitivo sobre a natureza e a grandeza de um risco determinado. Percepção sobre a importância ou gravidade de um risco determinado, com base no repertório de conhecimentos que os indivíduos acumularam durante seu desenvolvimento cultural e no juízo político e moral de sua significação. Defesa Civil Conjunto de ações preventivas, de socorro, assistencial e reconstrutivas destinadas a evitar ou minimizar desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social. A finalidade da defesa civil é garantir a segurança global da população, em circunstâncias de desastres naturais, antropogênicos e mistos. O objetivo da defesa civil é a redução dos desastres, que abrange os seguintes aspectos globais: Prevenção de desastres; Preparação para emergências e desastres; Noções Gerais Sobre Desastres 51 Resposta aos desastres; Reconstrução. 2 .4 Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC A União, ao entender que a garantia da segurança global da população, em circunstâncias de desastres, é dever do Estado, direito e responsabilidade da cidadania, instituiu o Sistema Nacional de Defesa Civil, sob a forma de uma estrutura matricial que articula os três níveis de governo, em interação com os órgãos setoriais e com a comunidade, e atribuiu-lhe a responsabilidade de: Planejar e promover a defesa permanente contra os desastres naturais, antropogênicos e mistos, de maior prevalência no país; Prevenir e minimizar danos, socorrer e assistir as populações afetadas e reabilitar e reconstruir os cenários deteriorados pelos desastres; e Atuar na iminência ou em situação de desastres. Instituiu, em nível federal, o Órgão Central do Sistema, com a atribuição de promover a articulação, coordenação e gerência técnica do SINDEC, em todo o território nacional. O SINDEC foi instituído com a seguinte estrutura: Órgão Superior: Conselho Nacional de Defesa Civil - CONDEC, constituído por representantes dos Ministérios e de Órgãos da Administração Pública Federal. Órgão Central: Secretaria de Defesa Civil - SEDEC, responsável pela articulação, coordenação e gerência técnica do Sistema; Noções Gerais Sobre Desastres 52 Órgãos Regionais: Coordenadorias Regionais de Defesa Civil CORDEC. Órgãos Estaduais e Municipais: Coordenações ou Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil - CEDEC, Coordenadoria de Defesa Civil do Distrito Federal e Coordenadorias Municipais de Defesa Civil - COMDEC; Órgãos Setoriais: Órgãos e instituições da Administração Pública Federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que integram o Sistema; Órgãos de Apoio: instituições públicas e privadas, não-governamentais (ONG), comunitárias e clubes de serviço e associações diversas que prestam ajuda aos órgãos integrantes do sistema, em circunstâncias de desastres. Os órgãos de apoio caracterizam a participação da cidadania. 2.5 Classificação dos Desastres6 Os desastres, para fins de estudos, podem ser classificados quanto a sua intensidade, evolução e origem, como descritos a seguir: 6 Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil.Manual para a Decretação de Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública. Volume I. Brasília. 2002. Noções Gerais Sobre Desastres 53 2.5.1 Quanto à intensidade 2.5.1.1 Desastres de nível I Os desastres de pequena intensidade ou acidentes são caracterizados quando os danos causados são pouco importantes e os prejuízos são poucos vultosos e, por estes motivos, são mais facilmente suportáveis e superáveis pelas comunidades afetadas. Nestas condições, a situação de normalidade é facilmente restabelecida com os recursos existentes e disponíveis na área (município) afetada e sem necessidade de grandes mobilizações. 2.5.1.2 Desastres de nível II Os desastres de intensidade média são caracterizados quando os danos causados são de alguma importância e os prejuízos, embora não sejam vultosos, são significativos. Apesar disto, estes desastres são suportáveis e superáveis por comunidades bem informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizáveis. Noções Gerais Sobre Desastres 54 Nestas condições, a situação de normalidade pode ser restabelecida com os recursos existentes e disponíveis na área (município), desde que sejam racionalmente mobilizados e judiciosamente utilizados. 2.5.1.3 Desastres de nível III Os desastres de grande intensidade são caracterizados quando os danos causados são importantes e os prejuízos são vultosos. Apesar disto, estes desastres são superáveis e suportáveis por comunidades bem informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizáveis. Nestas condições, a situação de normalidade pode ser restabelecida, desde que os recursos mobilizados na área (município) afetada sejam reforçados com o aporte de recursos estaduais e federais já disponíveis. 2.5.1.4 Desastres de nível IV Os desastres de muito grandes intensidade são caracterizados quando os danos causados são muito importantes e graves e os prejuízos são muito vultosos e consideráveis. Nestas condições, estes desastres não são superáveis e suportáveis pelas comunidades, mesmo que bem informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizáveis, a menos que recebam ajuda (substancial) de fora da área afetada. Noções Gerais Sobre Desastres 55 Nestas condições, o restabelecimento da situação de normalidade depende da mobilização e da ação coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil e, em alguns casos, de ajuda internacional. 2.5.2 Quanto à origem 2.5.2.1 Desastres naturais São aqueles provocados por fenômenos ou desequilíbrios da natureza. São produzidos por fenômenos de origem externa que atuam independentemente da ação humana. Esses desastres podem ser classificados em desastres naturais de origem sideral, provocados pelo impacto de corpos siderais ou meteoritos sobre a superfície da Terra; relacionados com a geodinâmica terrestre externa, ou seja, os provocados por fenômenos atmosféricos, como vendavais, inundações, secas e outros; relacionados com a geodinâmica terrestre interna, ou seja, os provocados por vulcanismo, tectonismo (terremotos) e pela erosão e intemperismo (escorregamentos de solos); relacionados com desequilíbrios na biocenose, como pragas animais e vegetais. Noções Gerais Sobre Desastres 56 2.5.2.2 Desastres humanos ou antropogênicos São aqueles provocados por ações ou omissões humanas. Relaciona-se com o próprio homem, enquanto agente e autor. Por isto são produzidos por fatores de origem interna. Normalmente, estes desastres são conseqüências de: ações desajustadas geradoras de desequilíbrios sócio-econômicos e políticos entre os homens; profundas e prejudiciais alterações de seu ambiente ecológico. Esses desastres podem ser classificados em desastres humanos de natureza: Tecnológica: conseqüências indesejáveis do desenvolvimento tecnológico e industrial, sem preocupações com a segurança contra sinistros. Também se relacionam com o intenso incremento demográfico das cidades, sem o correspondente desenvolvimento de uma infra-estrutura compatível de serviços básicos e essenciais, como desastres com meios de transporte, com produtos perigosos, incêndios e explosões; Social: conseqüências de desequilíbrios no inter-relacionamento humano e de um relacionamento desarmônico com os ecossistemas naturais e os modificados pelo homem, como fome e desnutrição; Biológica: conseqüências de deficiências nos órgãos promotores da saúde pública, muitas vezes agravadas pelo pauperismo subdesenvolvimento, como malária, cólera, SIDA/AIDS e outras. e pelo Noções Gerais Sobre Desastres 57 2.5.2.3 Desastres mistos São os que ocorrem quando ações e omissões humanas contribuem para intensificar, complicar e agravar fenômenos naturais. Caracterizam-se, também, quando fenômenos adversos de origem natural provocam desastres, por atuarem em ambientes alterados e degradados pelo homem. 2.5.3 Quanto à evolução 2.5.3.1 Desastres súbitos ou de evolução aguda Esses desastres caracterizam-se pela subtaneidade, pela velocidade com que o processo evolui e, normalmente, pela violência dos eventos adversos causadores dos mesmos. Podem ocorrer de forma inesperada e surpreendente ou ter características cíclicas ou sazonais, sendo facilmente previsíveis. No Brasil, os desastres de natureza cíclica e caráter sazonal são os de maior prevalência. Exemplos deslizamentos etc. de desastres súbitos são os terremotos, furacões, Noções Gerais Sobre Desastres 58 2.5.3.2 Desastres de evolução crônica e gradual Esses desastres ao contrário dos súbitos, caracterizam-se por serem insidiosos e por evoluírem através de etapas de agravamento progressivo. No Brasil, o desastre mais importante é a seca, apresenta essa característica de agravamento progressivo. Exemplos de desastres graduais são a seca do nordeste; as enchentes, quando são de forma lenta; os desmatamentos etc. 2.5.3.3 Desastres por somação de efeitos parciais Esses desastres se caracterizam pela somação de numerosos acidentes ou ocorrências semelhantes, cujos danos, quando somados ao término de um determinado período, definem um desastre muito importante. No Brasil, os estudos epidemiológicos demonstram que os acidentes por somação de efeitos parciais são os que provocam os maiores danos anuais. Dentre os desastres por somação de efeitos especiais destacam-se: acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, acidentes com crianças no ambiente domiciliar e peridomiciliar. Noções Gerais Sobre Desastres 59 2.6 Conceito de Segurança Global Embora a Sinistrologia seja uma ciência de evolução muito recente há bastante tempo os estudos epidemiológicos demonstram que, apesar do conceito de guerra total, da evolução da tecnologia armamentista e do imenso incremento dos arsenais bélicos, nestes dois últimos séculos, a somação dos danos e dos prejuízos causados por desastres naturais, humanos ou antropogênicos e mistos, ultrapassa de muito à dos provocados por todas as guerras. Desta forma, é inquestionável que a maior ameaça à sobrevivência e à incolumidade das pessoas é constituída pelos desastres. Enquanto os Estados Unidos da América, durante toda a guerra do Vietnã, perderam 57 mil homens, entre mortos e desaparecidos, no Brasil, a cada ano, 40 mil pessoas morrem em conseqüência de desastres de trânsito. No atual estágio de desenvolvimento tecnológico é perfeitamente possível reduzir, substancialmente, a intensidade dos desastres e aumentar o nível de segurança global da população, de todos os países do mundo, por um custo muito inferior ao da corrida armamentista, caso haja vontade política para a necessária mudança de enfoque. Em conseqüência destas constatações, está em pleno desenvolvimento o conceito de que a segurança global da população é dever dos Modernos Estados de Direito e também direito e responsabilidade da cidadania. O conceito de segurança global da população caracteriza a redução dos desastres como um importante objetivo nacional. Elegeu-se internacionalmente a Noções Gerais Sobre Desastres 60 ação reduzir, porque as ações "eliminar e erradicar desastres" definiram objetivos inatingíveis. Também, internacionalmente, definiu-se que a redução dos desastres abrange os seguintes aspectos globais: Prevenção de desastres; Preparação para emergências e desastres; Resposta aos desastres; e Reconstrução. O termo mitigación de desastres, traduzido em português para minimização de desastres, caracteriza a somação de ações de prevenção e de preparação para emergências e desastres. Também ficou claramente estabelecido, em nível internacional, que existem profundas relações interativas entre: O desenvolvimento sustentado e responsável; A proteção ambiental; A redução dos desastres; e O bem-estar social. Daí a necessidade de que o planejamento do desenvolvimento nacional contemple de forma estratégica e permanente, a redução dos desastres naturais, antropogênicos e mistos. A segurança global da população fundamenta-se no direito natural à vida, à saúde, à segurança, à propriedade e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, em todas as condições, especialmente em circunstâncias de desastres. Outra definição extremamente importante foi a caracterização de que a intensidade dos desastres depende muito mais do grau de vulnerabilidade dos Noções Gerais Sobre Desastres 61 cenários dos desastres e das comunidades afetadas do que da magnitude dos eventos adversos. Como prova disso, há relatos históricos de terremotos com magnitudes de 6.5 graus na escala Richter que provocaram as seguintes perdas humanas: 5 óbitos, na Califórnia7; 20 mil óbitos, no Cairo; 40 mil óbitos, na Armênia. Figura 10 - Representação esquemática das variações de magnitude/impactos ANÁLISE DE VULNERABILIDADES ALTA MAGNITUDE GRANDES IMPACTOS BAIXA MAGNITUDE PEQUENOS IMPACTOS Fonte: Principles Of Emergency Planing and Management, Alexander, David – Oxford 2002 É evidente que a diferença foi estabelecida em função da vulnerabilidade minimizada pela evolução da engenharia anti-sísmica e pelo nível de preparação das sociedades locais. 7 Secretaria Nacional de Defesa Civil. Segurança Global da população. Brasília, 2002. Noções Gerais Sobre Desastres 62 A partir da constatação de que os desastres podem e devem ser minimizados, cresce a importância da mudança cultural relacionada com o senso de percepção de risco. É importante ressaltar que sinistrólogos brasileiros contribuíram para a incorporação desses conceitos na doutrina internacional relacionada com os desastres. Há alguns anos atrás, os sinistrólogos ocupavam-se, quase que exclusivamente, dos desastres naturais de evolução aguda, como ciclones e terremotos, e valorizava de forma dominante a magnitude dos eventos adversos, em detrimento das vulnerabilidades dos cenários e das comunidades afetadas. Hoje, ficou bastante claro que os desastres afetam com maior intensidade as comunidades mais carentes e os países menos desenvolvidos e que desastres insidiosos, como a perda do solo agricultável, a desertificação, a seca e a desnutrição, produzem proporcionalmente muitos mais danos que os desastres agudos. 2.7 Fases Gerais do Atendimento dos Desastres8 Diferentemente de como alguns podem pensar, o atendimento das emergências de uma localidade é muito mais amplo do que o simples socorro das vítimas afetadas. O trabalho começa muito antes da ocorrência desses eventos, desenvolvendo-se em quatro fases, a saber: preventiva, socorro, assistencial e recuperativa. 8 MARCONDES, Clodomir Ramos. Defesa Civil. São Paulo: IMESP 2003. Noções Gerais Sobre Desastres 63 2.7.1 Preventiva Desenvolvida nos períodos de normalidade, consiste na elaboração de planos, exercícios simulados, organização da comunidade etc., visando ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do sistema de autodefesa, conforme os riscos de cada região ou município. 2.7.2 Socorro Os trabalhos desta fase são concentrados nos efeitos da ocorrência desastrosa por meio do emprego de profissionais da área de atendimento de emergência e da Defesa Civil. O objetivo fundamental é salvar vidas, reduzir o sofrimento e proteger bens. Para isto, deve-se pôr em prática os planos de emergência pre-estabelecidos. Nesta etapa é fundamental a coordenação de ações interinstitucionais previstas nos planos de emergência e contingência. Dessa forma, busca-se um maior grau de integração entre os organismos responsáveis de organização contra desastres. Noções Gerais Sobre Desastres 64 2.7.3 Assistencial Os trabalhos desta fase ocorrem concomitantemente, ou logo após, a ocorrência do desastre. Constitui-se, basicamente, no repasse de estoque estratégico necessário à sobrevivência da população vitimada. 2.7.4 Recuperativa Esta é a fase do reparo dos danos, objetivando a volta à normalidade da área atingida. Antigamente, estas fases eram representadas de forma linear, dando a idéia de que eram independentes, porém, hoje, mudou-se este enfoque e as fases são representadas em forma de um ciclo, indicando que as atividades de atendimento às catástrofes nunca terminam, ou seja, deve-se ter em conta, constantemente, a mentalidade prevencionista e usar as experiências obtidas em favor da melhoria dos atendimentos futuros, inclusive na fase recuperativa. Noções Gerais Sobre Desastres 65 ASSISTENCIAL PREVENTIVA SOCORRO RECUPERATIVA Figura 11 - Ciclo do atendimento de emergências Fonte: Defesa Civil- Marcondes, ob.cit. Capítulo 3 3 O PAPEL DOS MUNICÍPIOS FRENTE ÀS EMERGÊNCIAS 3.1 A Urbanização e as Emergências É clara e notória a influência da política urbanística adotada pelas cidades nos reflexos da segurança local das pessoas. Como se sabe, existem municípios que oferecem melhores condições de segurança do que outros, isto depende de como são tratados os vários aspectos técnicos envolvidos, que vão desde a definição do tipo e características das construções das edificações, do uso adequado do solo e subsolo, dos critérios adotados para a definição das zonas específicas de construções dentro da área do município, da definição das áreas de proteção e reservas especiais, das dinâmicas de controle e fiscalização da fluidez do tráfego, da impermeabilização do solo e drenagem fluvial da região, dos critérios adotados para a proteção ambiental etc. Legalmente, o município é o responsável por cuidar desses assuntos de interesse local da população e por tal motivo o seu papel no campo da prevenção e atendimento das emergências torna-se extremamente importante para a garantia do bem-estar social. Se forem adotadas medidas preventivas adequadas e devidamente planejadas para a construção e expansão da cidade, visando melhorar e organizar o O Papel do Município Frente às Emergências 67 convívio e permanência da população local, a ocorrência de eventos indesejáveis de conseqüências desastrosas poderão ser evitadas, ou pelo menos terem seus reflexos minimizados. É importante lembrar que a urbanização pode influenciar decisivamente sobre o desempenho operacional dos Órgãos de Emergência. No caso do Corpo de Bombeiros, pela dimensão de suas viaturas, são necessários vias de trânsito rápido e seguro, devendo o planejador da cidade observar tais detalhes para viabilizar os deslocamentos necessários para os atendimentos emergenciais. Outros aspectos também são importantes para o adequado desempenho do Corpo de Bombeiros, tais como: tipos de construções; equipamentos das edificações, critérios para estabelecer o zoneamento do município; critérios para uso e ocupação do solo, legislações municipais etc. Associada a uma adequada e eficiente política urbana, o município deve dispor também de uma estrutura mínima de serviços essenciais de boa qualidade, para tornar o ambiente de convivência entre as pessoas mais seguro e sadio. Dentre esses serviços, destacam-se o saneamento básico, o suprimento adequado de alimentos, fornecimento de água, rede de captação de esgoto, coleta de lixo, coordenação do tráfego local, saúde pública, educação, vigilância sanitária etc. Para que o município possa organizar-se e cumprir seu papel social, existem vários instrumentos legais que devem ser referenciados, tais como a Lei Orgânica do Município (LOM), o Estatuto das Cidades, o Plano Diretor Estratégico, entre outros. O Papel do Município Frente às Emergências 68 3.2 Organização dos Municípios O Estado Brasileiro, para melhor desenvolver suas atividades, organizase conforme previsto no artigo 18 da Constituição Federal de 1988, em três níveis políticos administrativos, quais sejam: a União, os Estados e os Municípios. A Constituição prevê, a cada uma dessas entidades, competências diferenciadas, cabendo aos municípios as medidas previstas no artigo 30 da Constituição Federal de 1988. Vale ressaltar que o município tem a finalidade de tratar de assuntos de interesse local, respeitando os limites impostos pelas legislações estaduais e federais. Como exemplos de competência do município, pode-se citar o uso e ocupação do solo; proteção do patrimônio histórico cultural; transporte coletivo; serviços públicos de interesse local, como saúde, educação, circulação viária etc. Com se sabe, o município é o ente de maior ligação concreta com os cidadãos, pois é no município que as pessoas residem, trabalham, divertem-se, enfim, desenvolvem todas as suas atividades cotidianamente, sendo, por conseqüência, onde às pessoas se deparam e, por vezes, se envolvem em acidentes que resultam em perdas humanas e patrimoniais. Por esse motivo, é o município o grande alvo de preocupações quando o assunto estudado é desastres e catástrofes, no intuito de se evitar ou, pelo menos, minimizar as conseqüências de um evento danoso. O Estado de São Paulo está dividido em 645 municípios, sendo que cada um possui características diferenciadas, apresentando riscos e recursos O Papel do Município Frente às Emergências 69 específicos, bem como maior ou menor grau de complexidade e de vulnerabilidade. De acordo com o perfil individualizado apresentado é dimensionada a estrutura necessária para o município manter em perfeito funcionamento as suas atividades do dia-a-dia e até para atuar quando da ocorrência de um possível evento catastrófico. Importante salientar que existem vários critérios para se classificar os municípios de acordo com o interesse ou estudo. Há a classificação pelo IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), porém, para o dimensionamento estrutural dos municípios, adotar-se-á a estratificação apresentada no artigo 29 da própria Constituição Federal de 1988, que classifica os municípios do menos populoso ao mais populoso, ficando como segue: População inferior a 10.000 habitantes; De 10.001 a 50.000; De 50.001 a 100.000; De 100.001 a 300.000; De 300.001 a 500.000; e População acima de 500.000 habitantes. Para melhor elucidação do cenário municipal frente ao atendimento das emergências locais, serão apresentamos a seguir alguns dados sobre a organização dos municípios. O Papel do Município Frente às Emergências 70 3.3 Instrumentos Legais Neste tópico serão abordados alguns documentos de capital importância, pois dão vida e qualidade aos municípios, devendo o Comandante de Bombeiros local saber de sua existência, características, bem como da importância de tais instrumentos na influência das melhorias das condições de segurança e prevenção de catástrofes nos municípios. São eles: 3.3.1 Lei Orgânica do Município (LOM) O documento básico e fundamental de criação do município é a Lei Orgânica do município (LOM), conforme previsto no artigo 29 da Constituição Federal de 1988. É por meio da LOM que se estabelece a estrutura e as regras básicas fundamentais para a constituição e funcionamento do município. Em outras palavras, pode-se dizer que é a “Constituição Municipal”. É através dela que há a descrição da organização dos poderes legislativo e executivo, criando ou possibilitando a criação de todos os entes necessários para a adequada condução e gerenciamento do município. Além de organizar os poderes, determina toda sua rotina de trabalho, estabelecendo princípios gerais de atuação dos membros da administração pública, ditando as diretrizes de conduta, missões, atribuições, responsabilidades, limites O Papel do Município Frente às Emergências 71 legais e até mesmo elencando as punições em casos de irregularidades cometidas pelos administradores ou legisladores municipais. Regula também as relações entre os munícipes e a administração pública, esclarecendo os limites de cada um e quais os serviços que devem ser prestados pelo município à população e aos contribuintes. Dispõe ainda sobre os recursos destinados ao município, mostrando a sua origem, bem como os critérios para o seu efetivo emprego. Prevê a gestão participativa de governo, em que deve garantir a participação da comunidade nas decisões mais importantes do município. Regula ainda assuntos de suma importância para a população, tais como habitação, saúde, lazer, transporte, meio ambiente, assistência social, direitos humanos etc. Contempla a figura de vários planos importantes, que vão funcionar como ferramentas para auxiliar na gestão pública, tais como o plano diretor, plano regional, plano de bairros, plano de fluidez de trânsito etc. 3.3.2 O Estatuto das Cidades A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 182 e 183, dita normas da política urbana municipal, sendo que tais artigos estão regulamentados pela Lei n 10.257/2001, o chamado “Estatuto das Cidades”. Pela sua importância na organização dos municípios, serão apresentados a seguir alguns aspectos de relevante interesse para este trabalho. O Papel do Município Frente às Emergências 72 O Estatuto das Cidades estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar social dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. O objetivo da política urbana é ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante uma série de diretrizes, dentre elas, de maneira resumida, destaca-se a adoção da gestão democrática, a cooperação entre os governos, o planejamento do desenvolvimento das cidades, a ordenação e controle do uso do solo, a proteção do meio ambiente, a expansão urbana compatível com os limites de sustentabilidade ambiental, social e econômica do município entre outras. No Estatuto das Cidades estão previstos alguns instrumentos para garantir a execução de uma adequada e eficiente política urbana, que por sua vez contribuirão para a redução dos desastres e suas conseqüências à população. Como instrumentos citados na referida lei, encontram-se vários institutos, porém, em especial, irão interessar nesse momento os relativos ao planejamento da cidade, tais como: planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microregiões, o planejamento municipal, estudo prévio de impacto ambiental e o planejamento do trânsito etc. Um documento que tem muita importância para o presente trabalho é o estudo do chamado Plano Diretor Estratégico, que deve ser elaborado por todos os municípios que possuem uma população acima de vinte mil habitantes. O Papel do Município Frente às Emergências 73 3.3.3 Plano Diretor Estratégico A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitando as diretrizes básicas previstas. O Plano Diretor, com previsão constitucional no artigo 182 da CF/88, é um instrumento básico de política de desenvolvimento e expansão urbana, sendo fruto do processo do planejamento municipal, devendo englobar o município em sua totalidade. É um documento obrigatório para os municípios com mais de vinte mil habitantes. O Plano Diretor deve abranger todas as áreas de atuação dos municípios, determinando quais os objetivos gerais do Plano, bem como suas diretrizes e ações estratégicas adotadas. Dentre as áreas de atuação, destacam-se como de relevante importância para esta pesquisa, as áreas de planejamento financeiro, social, urbanística, serviços sociais, estrutura formal do município, meio ambiente, fluidez e circulação de tráfego, recursos hídricos, segurança urbana etc. Vale lembrar ainda que o Plano Diretor deve contemplar os princípios de gestão participativa, ouvindo a comunidade e os diversos órgãos envolvidos em todas as esferas de atuação, incluindo, nesse particular, a participação do Corpo e Bombeiros, que, por sua vez, pode colaborar muito para garantir um planejamento seguro da cidade. O Papel do Município Frente às Emergências 74 Prevê ainda os vários níveis de planejamento, nacional, regional, municipal e dos bairros, ressaltando a possibilidade da formação de grupos de trabalhos para discutirem sobre as soluções de problemas específicos ou gerais, atinentes a qualquer área sob sua responsabilidade, sendo possível convidar, além da comunidade, empresas, órgãos e pessoas técnicas interessadas em trabalhar em prol da melhoria da qualidade de vida no município. Por fim, é de suma importância que o Corpo de Bombeiros local participe ativamente do processo de elaboração do Plano Diretor do município onde se localize, pois por meio de sugestões e assessoria técnica aos órgãos competentes e decisores, pode influenciar positivamente na redução dos desastres ou suas conseqüências junto à população. 3.4 Estrutura de Atendimento de Emergências Locais Como visto anteriormente, é no município que os desastres acontecem e, por vezes, a ajuda externa, via de regra, demora muito a chegar. Estudos nessa área mostram que os governos locais devem possuir um potencial de resposta para suportarem pelo menos 72 horas sem reforços ou ajuda externa. Portanto, torna-se extremamente necessária a preparação e orientação à população local, em relação aos procedimentos iniciais que devem ser adotados. Nesse sentido, torna-se igualmente importante o preparo e o treinamento dos recursos de atuação locais disponíveis na área do município, tópicos que serão abordados na seqüência. O Papel do Município Frente às Emergências 75 Como é citado na obra Major Incident Medical Management and Support9: “o município, com relação a demanda operacional e recursos disponíveis, deve estar equilibrado, ou seja, compensado”. Ressalta-se, aqui, que se entende por atendimento das emergências, o conjunto das atividades realizadas como um todo, abrangendo as quatro fases do ciclo de desastre, já estudadas em capítulo anterior, a saber: Preventiva, Socorro, Assistencial e Recuperativa. O Manual do Curso de Organização Local para Situações de Emergência de El Salvador, no item sobre preparação para atendimento de desastres, enfatiza a importância da resposta local, destacando três aspectos básicos, que são: Organização interistitucional e a definição das funções em nível nacional, regional e local; Planejamento e coordenação de atividades de acordo com os procedimentos pre-estabelecidos; e Simulados e simulações para comprovar a capacidade de resposta das instituições e comunidade para contribuir com seu aperfeiçoamento. De nada vale dispor de sofisticada tecnologia para predição de desastres se não forem resolvidos problemas básicos de organização dos serviços essenciais locais e adotadas medidas para redução das vulnerabilidades locais, considerando todos seus fatores, ou seja, fatores físicos, ambiental, econômico, social, político, organizacional, institucional, educacional e até mesmo cultural. 9 in The Practical Approach. ed. BMJ, 5.ed.,Inglaterra,2000. O Papel do Município Frente às Emergências 76 3.4.1 Recursos municipais Os municípios, como visto, têm perfis diferenciados, e para tanto irão dispor de recursos também diferenciados. Nesse momento serão elencados, de maneira genérica e em abstrato, alguns órgãos e serviços do município que poderão mostrar-se úteis em casos de atendimento de catástrofes locais e que deverão fazer parte de um planejamento prévio. No caso concreto de análise de um município específico, deverão ser relacionados todos os recursos que, de alguma forma, possam colaborar com o atendimento operacional de emergências. Com base em algumas ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo, simulados operacionais integrados realizados e bibliografia específica sobre o tema, pode-se elencar alguns dos recursos, normalmente, disponíveis no município: Defesa civil municipal (COMDEC), serviço de controle de trânsito, serviço de ambulância, alimentação, hospitais, prefeitura, serviço de assistência social, guarda municipal, grupos especializados de trabalhos, escolas, transportes, equipes de parque e jardins, limpeza, saneamento, centro de comunicações, centro de observações e climatologia, serviços técnicos contratados, serviço funerário, serviço de resgate, serviço de zoonose, serviço de fiscalização de uso e ocupação do solo, secretarias municipais, grandes empresas da área etc. O Papel do Município Frente às Emergências 77 3.4.2 Participação de outros órgãos Para o atendimento operacional das emergências de uma localidade, nem sempre os recursos inicialmente disponibilizados oficialmente pelo Município são completamente suficientes para resolver as situações apresentadas. Nesses momentos é que entram em cena as demais forças da região, sejam públicas ou privadas, para colaborarem positivamente no processo a fim de obter a melhor solução para cada emergência. A atuação na emergência é muito complexa, compreendendo a área da saúde, segurança, transporte, apoio técnico, comunicações, logística, entre outras. Por esse motivo também é bastante árido o tratamento das chamadas “parcerias” para o atendimento das emergências, uma vez que, via de regra, os recursos para os referidos atendimentos estão, de alguma forma, disponíveis na região afetada ou no seu entorno, bastando, portanto, a árdua tarefa de conseguir mobilizá-los adequada e oportunamente aos locais dos atendimentos. Para um perfeito emprego dos meios necessários, é imprescindível a realização antecipada dos mapeamentos de recursos disponíveis na região, bem como a adoção de um plano de acionamento e mobilização destes recursos. Para amenizar a situação, potencializando os esforços públicos, no Estado de São Paulo, foi aprovado o Decreto no 40.151/95, que regula a participação das secretarias estaduais em atendimentos conjuntos de defesa civil. Dada a complexidade e multidisciplinariedade das ações de defesa civil e dos atendimentos de emergências, como forma de facilitar esse trabalho e proporcionar o sincronismo operacional, existem várias formas de se classificar ou O Papel do Município Frente às Emergências 78 dividir em grupos os chamados “parceiros”. Para tal, é importante que se observe o perfil da área de atuação e qual tipo de colaboração poderá ser fornecido pelos órgãos. Nesse sentido, pode-se dividí-los em várias áreas, tais como órgãos ou instituições de segurança, trânsito, saúde, de pesquisa tecnológica, voluntários, defesa civil etc. Dentre os vários órgãos ou entidades que podem colaborar na atuação em emergências no município, pode-se citar: Policiamento Ostensivo, Corpo de Bombeiros, Policiamento de Trânsito, Policiamento Florestal, Policiamento Rodoviário, Policiamento de Choque, GATE, COE, GRPAe, Serviço de Saúde, ambulâncias, hospitais, médicos, companhia de água e esgotos, companhia de energia, companhia de telefone, abastecimento de alimentos, trânsito, concessionários de serviços públicos, Polícia Civil, Polícia Científica, Polícia Federal, Instituto Médico-Legal, companhia de transportes de cargas e pessoas, serviço ferroviário, metroviário, aeroviários, marítimo e fluvial, forças armadas, CETESB, universidades, centro de comunicação, centro de meteorologia, profissionais técnicos da área, empresas privadas com potencial de apoio, transportadores de produtos químicos, alimentação, maquinário, equipamentos, CNEN, IPEN, igreja, correios, mídia, CEDEC, SINDEC, Ministério Público, Poder Judiciário, companhia de fornecimento de gás, bombeiros voluntários, indústrias cadastradas, empresas ligadas ao PAM, secretarias de Estado; CONSEGs, associações amigos de bairro, clubes de serviços, junta comercial, federação das indústrias, sindicatos, SENAI, SENAC, escolas, Capitania dos Portos, Polícia Rodoviária Federal, Associação Brasileira de Transportes de Carga Líquidas (ABTLP), Polícia Ferroviária Federal, ABIQUIM, ABGAS, CIATOX ( Centro de Informação e Alerta de Toxidade), instituto de pesquisas etc. O Papel do Município Frente às Emergências 79 É essencial a participação desses órgãos na solução dos problemas locais, pois o interesse de evitar ou minimizar os efeitos dos desastres não deve ficar restrito apenas aos órgãos públicos, mas sim a todos os membros da comunidade que nela convivem e dela retiram seu sustento. 3.4.3 O papel da comunidade Sem sombra de dúvidas a comunidade exerce um papel de extrema importância na prevenção e atuação em emergências locais. Isto porque é a verdadeira personagem de qualquer tipo de desastres ou catástrofe e é ela que sofre todas as conseqüências indesejáveis resultantes desses eventos. Se exercer o seu papel de forma consciente e responsável dentro desse contexto, os resultados positivos serão potencialmente otimizados, evitando-se ou minimizando-se, significativamente, os resultados negativos. É na comunidade que as pessoas têm oportunidade de discutirem seus problemas em grupo e encontrar soluções conjuntas de forma democrática e com a efetiva participação de todos. Deve ter o direito e a obrigação de participar ativamente das medidas de proteção contra desastres e catástrofes adotadas na sua área, pois é ela que vai alimentar com os subsídios e suas necessidades os órgãos públicos encarregados de coordenarem as medidas de proteção civil. Também deve estar ciente dos perigos que a rodeiam, sabendo também como agir e comportar-se mediante o surgimento de emergências. Somente bem organizada e treinada poderá previnir-se e dar a melhor resposta aos desastres. O Papel do Município Frente às Emergências 80 Para se conseguir um resultado eficaz, é necessário unir as forças da comunidade através da estrutura oficial do Estado. De nada valeriam os esforços dos órgãos públicos e privados no sentido de mitigarem os possíveis danos de uma região, se a sua comunidade não estiver devidamente alertada, preparada e motivada para exercer a auto-ajuda. Como forma de ilustrar e dimensionar a importância do seu papel em um cenário de grandes desastres considere-se hipoteticamente, uma cidade com cem mil habitantes e um grupo de vinte pessoas que compõem a equipe de atendimento de emergências local. Caso venha a ocorrer um desastre extremamente grave nessa cidade em que apenas dois por cento da população seja atingida, ter-se-á duas mil pessoas afetadas. Se, em média, o Corpo de Bombeiros, em atendimento normal, dispende em torno de uma hora e meia para cada vítima atendida 10 (deslocamento, localização, primeiros socorros, estabilização, transporte e retorno ao local), chegase ao montante de trezentas horas para o completo atendimento da totalidade das vítimas geradas nesse evento. Levando-se em conta que em desastres com grande gravidade, as vítimas devem ser socorrida o mais breve possível a um hospital, pois assim a possibilidade de obter êxito no salvamento é muito maior; considerando-se como limite máximo de atendimento o período de quarenta e oito horas, pois, após esse prazo, seriam inviáveis as medidas eficazes de socorro, tem-se que, se utilizado ininterruptamente todo o efetivo da emergência local, por quarenta e oito horas (o que é humanamente impossível), seriam atendidas cerca de trezentas e vinte vítimas, ou seja, mil, seiscentas e oitenta vítimas deixariam de ser atendidas, o que é inaceitável e leva obrigatoriamente a conclusão de que é muito importante e 10 Levantamento feito tornando-se em média o tempo gasto pelas viaturas do Corpo de Bombeiros para cada ocorrência (a partir do acionamento até o seu regresso ao quartel). O Papel do Município Frente às Emergências 81 imprescindível a participação ativa de toda a comunidade e forças locais em casos de atendimentos de desastres. A comunidade, enfim, é o grande tesouro a ser protegido, mas também é uma importante e indispensável ferramenta para o seu próprio atendimento. 3.4.4 O papel da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC) Como visto, a gama dos atendimentos das emergências locais é muito ampla, sendo necessárias várias medidas no sentido de se prevenir ou minimizar os efeitos dos acidentes, sejam naturais, humanos ou mistos. No mesmo passo, foi visto que as cidades, normalmente, dispõem de grande quantidade de recursos que podem ser empregados para tais atendimentos, sendo o papel da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC), que é um órgão de atendimento de emergências local, o de promover todas as medidas necessárias para evitar ou atenuar o sofrimento da população local de forma extremamente ampla. A COMDEC é instituída mediante Decreto Municipal, devendo atender às peculiaridades de cada município, respeitando os seus limites, da melhor maneira possível. Dentre as várias e importantes missões da COMDEC, destaca-se, nesse momento, como relevante para esse estudo, a necessidade de elaborar uma correta e adequada avaliação dos riscos a que está sujeita a sua região, analisando as vulnerabilidades existentes, propondo e planejando, antecipadamente, as ações O Papel do Município Frente às Emergências 82 preventivas, emergenciais e recuperativas, objetivando proteger a população daquela região. Com este estudo em mãos, a COMDEC tem como missão, promover e articular planos preventivos de defesa civil, planos de contingências e outros, contando com a participação e articulação de todas as forças da comunidade local (público, privado, comunidade etc.) prevendo e solicitando, quando necessário, o apoio dos níveis superiores para suprir a sua deficiência operativa frente aos desastres. O papel da COMDEC é de suma importância para a sobrevivência e qualidade de vida da região, pois é ela o órgão responsável, acima de tudo, pela articulação e canalização dos recursos e esforços disponíveis, procurando atender à demanda e aos interesses coletivos, bem como garantir as condições de segurança e de auxílio aos cidadãos. Diante dessas premissas, é importante ressaltar que a comunidade local e o governo devem trabalhar em forma de cooperação, harmônica e complementarmente, visando ao atendimento do bem-estar social, dirigindo, permanentemente, seus esforços para a satisfação e proteção da comunidade. 3.5 O Gerente de Cidades - A “Nova Profissão” Há alguns anos, existe no Brasil, mais precisamente na Fundação Armando Álvares Penteado do (FAAP), em São Paulo, o curso de pós-graduação de Gerente de Cidades. Com um extenso currículo, o curso se propõe a formar profissionais para trabalhar na administração pública com maior grau de competência técnica. O Papel do Município Frente às Emergências 83 Conduzir um município não é uma tarefa tão simples; ao revés, é extremamente complexa. Pelo novo sistema eleitoral, qualquer brasileiro alfabetizado com mais de 21 anos e no gozo de seus direitos políticos pode se candidatar e conquistar o comando de uma cidade. Longe de qualquer preconceito, nem sempre o melhor candidato político seria o melhor, tecnicamente, para conduzir com coerência e competência os cidadãos. Segundo Mário Pascarelli Brilho, coordenador do curso, o perfil médio dos prefeitos brasileiros são de 80% político e 20% técnico, sendo que esta divisão propicia várias causas que desfavorecem os munícipes, que deveriam ser tratados como clientes e não apenas como contribuintes, aumentando as possibilidades de vulnerabilidade institucional da região. Com a adoção da figura técnica do Gerente de Cidades como assessor dos prefeitos, estes teriam mais suporte para as suas atribuições políticas. O Gerente da Cidade aprende a pensar na cidade e seu desenvolvimento com o menor número de problemas possível, tornando o convívio dos munícipes mais seguro e agradável. É bastante desejável que todos os municípios disponham de técnicos nessa área, assim como o Corpo de Bombeiros também se aprofunde nesse campo para conseguir melhores resultados operacionais, fundamentados em posturas preventivas de melhoria de segurança das cidades. Capítulo 4 4 O CORPO DE BOMBEIROS NO ATENDIMENTO DAS EMERGÊNCIAS 4.1 Aspectos Legais da Competência do Corpo de Bombeiros para o Atendimento a Desastres A Constituição da República, em seu artigo 144, § 5, determina ao Corpo de Bombeiros, além de outras atribuições definidas em lei, a execução de atividades de defesa civil. A Lei 616, de 17 de dezembro de 1974, que dispõe sobre a Organização Básica da Polícia Militar, confere ao Corpo de Bombeiros a realização de serviços de prevenção e de extinção de incêndios, simultaneamente com o de proteção e salvamento de vidas humanas e materiais no local de sinistros, bem como o de busca e salvamento, e prestação de socorros em casos de afogamentos, inundações, desabamentos, acidentes em geral, catástrofes e calamidades públicas. Por fim, ressalta-se ainda o Decreto Estadual n 40.151/95, que em seu artigo 12 e incisos prevê missões às Secretarias do Estado de São Paulo, no caso de atuações previstas como medidas de defesa civil, definindo as missões integradas de cada área do Governo Estadual. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 85 Da análise dos textos acima, observa-se que o Corpo de Bombeiros tem, sem sombra de dúvidas, competência para atuar na área de execução das atividades de defesa civil, sendo necessário, para isso, integrar-se ao Sistema Nacional de Defesa Civil implantado no Brasil. 4.2 Estrutura Operacional de Atendimento Emergencial 4.2.1 Em situação de normalidade operacional O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, apesar de estar presente fisicamente em apenas cento e dez municípios, está estruturado operacionalmente para dar atendimento aos seiscentos e quarenta e cinco municípios do Estado, durante as vinte e quatro horas do dia, ininterruptamente, atendendo aos chamados das emergências pelo telefone 193. Para atender à demanda gerada por quase quarenta milhões de habitantes, em aproximadamente duzentos e cinqüenta mil quilômetros quadrados de área, o Corpo de Bombeiros conta com aproximadamente dez mil homens, distribuídos em dezoito Unidades Operacionais, que dão o atendimento regionalizado em todo o Estado. Essa divisão regionalizada observa vários critérios para facilitar o perfeito atendimento operacional das emergências, respeitando limites geográficos e O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 86 políticos, sendo que para uma visão mais ampla e genérica podem-se considerar os seguintes grupos, com perfis bem definidos e diferenciados entre si: Capital do Estado, Região Metropolitana de São Paulo, Região do Interior e Região Litorânea. Cada uma das dezoito Unidades Operacionais (Grupamento de Bombeiros), atendendo aos critérios e às necessidades regionais, está subdividida em Subgrupamentos de Bombeiros (SGB) e estes, por sua vez, se dividem em Postos de Bombeiros (PB), somando atualmente 217 postos em todo o Estado, que são as Unidades de Base do atendimento operacional da Instituição, constituindo-se no primeiro contato da emergência no dia-a-dia do Corpo de Bombeiros com a comunidade. 4.2.2 Sistema de Comando de Operações em Emergências (SICOE)11 O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, após estudos realizados pelo então Tenente-Coronel Jair Paca de Lima, em sua monografia12, elaborada quando da realização do Curso Superior de Polícia em 1998, atualizou o Sistema de Comando de Operações em Emergências (SICOE). Esta filosofia de trabalho destina-se a otimizar e potencializar a resposta frente às emergências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em todo o Estado, 11 12 Diretriz DvODC-003/31/92, de 01 de dezembro 2002. LIMA, Jair Paca de. Sistema de Comando e Operações em emergência do Corpo de Bombeiros de São Paulo. PMESP, São Paulo . Monografia CSP-I 1998. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 87 principalmente em grandes ocorrências que envolvam um elevado número de agentes colaboradores. Tal sistema, por conta da multidisciplinariedade das ações operacionais do atendimento das emergências, visa coordenar e racionalizar todos os recursos disponíveis, dando completa organização no cenário dos desastres, bem como determinando toda estrutura operacional do atendimento, deixando claras e precisas às funções de cada órgão participante do sistema. O SICOE apresenta o quadro tático de operações conforme figura que segue: Figura 12 - Organograma SICOE Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros Vale lembrar aqui que a implementação do SICOE não gera, necessariamente, gastos adicionais ao sistema operacional do Corpo de Bombeiros ou aos seus participantes; ao contrário, resulta em melhoria das condições e economia nas aplicações dos recursos já existentes, não sendo obrigatório para o seu funcionamento nenhum tipo de viatura ou equipamento especial, pois, como foi O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 88 dito, trata-se de uma filosofia de trabalho que requer, antes de recursos, posturas e procedimentos adequados, dentro de uma estrutura organizacional, visando ao sincronismo das ações emergenciais para um melhor atendimento da população. Logicamente que, dentro de critérios, necessidades e disponibilidades, com intuito de melhorar ainda mais o aproveitamento do sistema operacional disponível, serão bem-vindos investimentos nas áreas de materiais operacionais, equipamentos, viaturas e comunicações, sem que isto seja fator inibidor da operacionalização do SICOE. 4.2.3 Força-Tarefa13 Outro grande aliado no atendimento operacional do Corpo de Bombeiros foi a implantação da Força-Tarefa, que começou a funcionar em 2002. Trata-se de mais uma inovação no Corpo de Bombeiros de São Paulo, com atuação e emprego mediante critérios previamente estabelecidos, em âmbito local, regional, estadual, federal e até mesmo internacional. A Força-Tarefa constitui-se de um grupo de bombeiros altamente capacitados, treinados e coordenados, que dispõe de um conjunto de equipamentos operacionais previamente definidos, facilmente e rapidamente mobilizáveis, para, dentro de prazos igualmente definidos, darem apoios e reforços aos grandes atendimentos das emergências das Unidades regionalizadas. 13 Criada pela Diretriz nº CCB-002/213/02, atualizada em 12 de maio de 2005. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 89 O efetivo empregado é uma fração da tropa de serviço nas prontidões dos Postos de Bombeiros do Comando de Bombeiros Metropolitano. Quando necessário, são acionados e rapidamente se deslocam ao ponto de encontro preestabelecido, onde se equipam e recebem orientações para o cumprimento da tarefa específica. Após completar o efetivo mínimo necessário para a missão, mediante autorização e devidamente comandados, deslocam-se para o apoio solicitado. Está previsto que este grupo deve ter uma autonomia operacional de, pelo menos, setenta e duas horas, ou seja, deve apoiar sem necessitar de nenhum recurso da região apoiada. Figura 13 - Reunião do efetivo da Força-Tarefa para emprego operacional Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros A Força-Tarefa também deve estar enquadrada na filosofia do SICOE. Ela opera de forma centralizada, estando sediada nas dependências do Comando de Bombeiros Metropolitano, na Zona Central da Cidade. Por tal motivo, um dos principais fatores que ainda causam sérias dificuldades no fornecimento dos apoios O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 90 é o transporte de materiais e deslocamento de tropas aos locais mais distantes da Capital. 4.2.4 Procedimento Operacional Padrão (POP)14 e Plano Particular de Intervenção (PPI)15 Como forma de prestar um serviço de qualidade à comunidade, o Corpo de Bombeiros implantou os chamados Procedimentos Operacionais Padrão (POP) e os Planos Particulares de Intervenção (PPI). Os POP nada mais são do que os procedimentos operacionais, previamente elaborados e treinados, que estabelecem condutas operacionais obrigatórias que devem ser adotadas por todas as guarnições de bombeiros quando do atendimento de ocorrências. Tais procedimentos são elaborados, por grupos selecionados e altamente técnicos, após exaustivos estudos e ensaios, sendo periodicamente revisados e atualizados. A adoção dos POP pelo Corpo de Bombeiros, visa, além de facilitar as condutas operacionais dos bombeiros, garantir a realização dos serviços dentro de um padrão com qualidade, evitando-se ainda a ocorrência de acidentes, pois todas as situações são previamente testadas e avaliadas. Os PPI são elaborados sempre que um local da área de competência da Unidade demonstre algum grau de complexidade no atendimento operacional, servindo para que os bombeiros conheçam efetivamente os locais de maior risco de 14 15 Diretriz CCB 001/323/98, de 03 julho de 1998. Diretriz DODC 002/323/97, de 12 de março de 1997. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 91 suas áreas, conhecendo também as suas condições adversas, propiciando um atendimento seguro e de qualidade. O responsável pela elaboração do PPI é o bombeiro local, pois é ele quem irá dar o primeiro atendimento para a região; logo, deve ter pleno conhecimento de todas as necessidades, riscos e recursos disponíveis para tal. Como locais passíveis da elaboração de PPI, dependendo da prioridade estabelecida pelo bombeiro local, podem-se relacionar os seguintes: parques industriais, grandes centros comerciais, favelas, pontos estratégicos de uma rodovia, empresas que envolvam algum tipo de risco à comunidade local etc. 4.3 Principais Ações do Corpo de Bombeiros nas Emergências 4.3.1 Áreas de atuação operacional O atendimento operacional do Corpo de Bombeiros é muito amplo, sendo acionado diuturnamente para um número muito grande e diversificado de atendimentos emergenciais. Para melhor tratar e entender o assunto, pode-se dividir este atendimento operacional em alguns grandes grupos de atividades. Legalmente e historicamente, o Corpo de Bombeiros, por meio de seu Departamento de Operações (Dop – CCB), adota a seguinte divisão operacional, englobando todas as O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 92 suas atividades: prevenção de incêndios; combate a incêndios; atividades de busca e salvamentos (envolvendo o salvamento terrestre, salvamento aquático e o salvamento em altura); atendimentos a emergências com produtos perigosos; resgate de acidentados e vistorias técnicas operacionais. Registram-se ainda outros campos de atuação do Corpo de Bombeiros, porém fora dos campos tradicionais de emergências, tais como: atendimentos sem emergências à comunidade; apoio a outros órgãos; atividades de manutenção de viaturas e equipamento; atividades de instrução, dentre outras. Estas divisões não têm a intenção de criar uma separação formal dos atendimentos, uma vez que essas atividades, freqüentemente, estão intimamente relacionadas. O principal objetivo desta divisão é dar uma visão geral e didática das áreas de atuação operacional das emergências atendidas pelo Corpo de Bombeiros no sentido de facilitar qualquer medida de planejamento. 4.3.2 Estatísticas dos atendimentos operacionais Neste tópico, o estudo das estatísticas operacionais não será abordado no seu sentido estrito, fornecendo dados numéricos, pois esses dados podem e devem ser facilmente obtidos junto ao anuário estatístico16 do Corpo de Bombeiros, editado anualmente pelo DOP-CCB. Será feita aqui uma abordagem mais ampla, mostrando a importância da análise dos dados estatísticos, transformando-os em ferramentas operacionais de extrema utilidade para o 16 O anuário estatístico é um documento oficial do Corpo de Bombeiros que traz informações de atendimento operacional que devem ser consultadas pelos Cmts de Postos para elaboração de seus planos. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 93 profissional de bombeiros, no sentido de dirigir o curso de suas ações para melhor gerenciar o atendimento das emergências. O enfoque dado nesse momento refere-se à importância do correto e adequado tratamento que deve ser dispensado aos dados estatísticos de cada área operacional, desde a sua coleta, triagem, estudos, tratamentos, armazenamento, emprego e até mesmo a ampla difusão e disponibilização dos dados para outros órgãos e comunidades. Os dados convenientemente estatísticos, aproveitados, depois deixando de de ser elaborados, apenas devem alguns ser quadros ornamentais fixos em paredes sem qualquer importância para o rumo da instituição. Os dados estatísticos referentes ao desempenho operacional de bombeiros devem ser entendidos como um valioso conjunto de informações que, associados ao cenário operacional em que está inserido, permitirão, principalmente aos Comandantes de postos, obter melhor atuação no desenvolvimento de suas missões, funcionando, verdadeiramente, como uma ferramenta de apoio ao seu comando de forma profissional e inteligente. Tal ferramenta deve ser uma eterna e importante aliada dos bombeiros, devendo para tanto ser elaborada com técnica adequada, fornecendo dados e informações úteis, ricos em conteúdos significativos, propiciando aos encarregados pelas decisões, em todos os níveis, condições para a melhor tomada de decisões para cada área. A dimensão desse assunto é tão ampla que, por meio de corretos e aprofundados estudos estatísticos, pode-se obter dados que irão ajudar a chegar ao melhor tipo de viatura para atender determinada região, melhor horário e conteúdo da instrução a ser ministrada, otimizar planos de afastamentos ou reforços dos O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 94 efetivos operacionais, planejar melhor a rotina diária da prontidão, saber qual o perfil operacional da área etc. Por fim, pode-se concluir que o correto emprego da estatística pode ser a linha divisória para o início de uma boa gestão das emergências, pois quem possui a informação de maneira oportuna, detém o poder e pode decidir com mais rapidez e acerto. 4.3.3 O ciclo do atendimento operacional do Corpo de Bombeiros O ciclo de atendimento de emergências leva em conta duas situações básicas, ou seja, situação de normalidade e de anormalidade. Na administração de desastres, porém, analisa-se e estuda-se, para fins práticos, de forma sistêmica, uma seqüência cíclica de etapas que se relacionam entre si, e que se agrupam, por sua vez, em três fases distintas: antes e depois do desastre, e durante sua ocorrência. A figura a seguir mostra uma representação gráfica da dinâmica de desastre e sua administração, onde são identificadas sete etapas, a saber: prevenção, mitigação, preparo, alerta, resposta, reabilitação e reconstrução. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 95 Figura 14 - Dinâmica do desastre Fonte: Araújo Desta seqüência se deriva que a administração de desastres corresponde ao esforço de prevenir a sua ocorrência, mitigar as perdas, preparar-se frente às conseqüências, alertar sua presença, responder à emergência e recuperarse de seus efeitos. O Corpo de Bombeiros, como órgão de atendimento de emergências, tem sua principal atuação na etapa de resposta aos desastres, e como estabelece a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC), está muito claro que esta etapa deve considerar as três fases da evolução dos desastres, ou seja, pré-impacto, impacto e pós-impacto (atenuação ou limitação dos danos). Para atuar de maneira competente e eficaz na fase de resposta, é essencial que o Corpo de Bombeiros se prepare antecipadamente para enfrentar tais emergências, não podendo abrir mão de um minucioso e estratégico planejamento preventivo. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 96 Como preparação para o desastre, entende-se o conjunto de ações desenvolvidas pela comunidade e pelas instituições governamentais e nãogovernamentais, para minimizar os seus efeitos, através da difusão de conhecimento científico e tecnológico e da formação e capacitação de recursos humanos para garantir a minimização de riscos e a otimização das ações de respostas e de reconstrução frente aos desastres. Tendo em vista a gravidade das situações e a precisão com que o Corpo de Bombeiros deve agir nas emergências para as quais é acionado, deve estar permanentemente preparado e apto para atender às possíveis emergências com eficiência. O trabalho do Corpo de Bombeiros, não é uma atividade simples. Não basta sair com as suas viaturas para o atendimento pura e simplesmente no momento do acionamento; ao contrário, requer um grande esforço prévio para que a resposta seja adequada e oportuna. A resposta do Corpo de Bombeiros não deve ser vista de maneira isolada, pois, dependendo da atuação de outros órgãos, de emergências ou não, será mais fácil ou mais difícil a atuação dos bombeiros no local e no momento do desastre. Por isso é que, para o Corpo de Bombeiros, o ciclo de atendimento dos desastres também começa muito antes da fase de impacto. É muito importante que haja uma articulação política entre os órgãos responsáveis pelo atendimento das emergências, pois só assim será possível conseguir adotar medidas que levem à redução da perda de vidas e propriedades, bem como evitar danos ao meio ambiente. No ciclo do atendimento de desastres o Corpo de Bombeiros deve agir na fase de pré-impacto com medidas de caráter preventivo, que devem conter os O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 97 seguintes aspectos: análise dos riscos e vulnerabilidades, que estima o tipo e a magnitude dos desastres que possam ocorrer; planejamento da resposta, que organiza a resposta a estes riscos, e que visa reduzir a vulnerabilidade; operacionalização, que transforma planos e decisões em ações de campo. Ainda antes do atendimento propriamente dito, devem ser tomadas as medidas necessárias para a elaboração de um eficiente e oportuno planejamento, que servirá mais tarde como grande fonte para as decisões. Por esse motivo é que os planos devem ser cuidadosamente estudados e amplamente discutidos, para reunir o maior rol de propostas possível das situações de atendimento, dentro dos cenários apresentados. Após todas as medidas de planejamento e preparação para o evento, o Corpo de Bombeiros deve estar apto a dar a efetiva e correspondente resposta aos possíveis desastres de sua área de atribuições. Durante a ocorrência de um desastre, ou seja, durante o impacto, várias são as preocupações que ainda afetam os serviços do Corpo de Bombeiros, pois após todas as medidas preparatórias, deve-se manter em estado de alerta para rapidamente atuar quando do seu acionamento. Para isso devem manter bombeiros, materiais, equipamentos e procedimentos em condições de empregabilidade dentro do que foi planejado e no menor espaço de tempo possível, uma vez que os bens por ele protegidos são bastante valiosos, e caso ocorra qualquer falha nesse atendimento, as conseqüências poderão ser de extrema gravidade e muitas vezes irreversíveis. Além da preocupação com o acionamento, deslocamento e chegada ao local, os bombeiros devem estar atentos à evolução do quadro do desastre, pois dependendo do tipo de sua evolução, aguda ou gradual, o quadro geral de O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 98 atendimento apresenta-se com características também desiguais, necessitando de providências específicas. O período de resposta aos desastres pode variar muito, de acordo com as características de cada emergência, durando alguns minutos ou chegando a levar dias, semanas ou meses. Porém, em grandes desastres que envolvam várias vítimas, quando se fazem necessários trabalhos de buscas e salvamentos de vidas, para que o Corpo de Bombeiros possa preservar o maior número de pessoas, o seu principal esforço operacional deve ser concentrado nas primeiras quarenta e oito horas após o impacto, período em que ocorre a maior probabilidade de encontrar e resgatar vítimas com vida. Após esse período, as buscas devem continuar, porém a possibilidade de se encontrar pessoas com vida diminui acentuadamente. Outro aspecto importante a ser notado no ciclo de atendimento de desastres pelo Corpo de Bombeiros é a demanda dos recursos necessários no decorrer do período desse atendimento e a dificuldade da disponibilização desses recursos no momento oportuno. No início do atendimento de grandes emergências de evolução aguda, ou seja, logo depois do impacto, por ser um tipo de emergência que apresenta menor possibilidade de previsibilidade de sua incidência, a demanda inicial é muito grande, porém os recursos disponibilizados para o local demoram a chegar, sendo que é um grande desafio para os órgãos de emergências a diminuição do “temporesposta” do efetivo atendimento. A figura que segue, apenas como ilustração e sem rigor matemático, mostra a relação entre a demanda e a necessidade de recursos em uma ocorrência de evolução aguda no decorrer do tempo, desde o início do atendimento até o período de quarenta e oito horas após. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 99 Figura 15 - Comparação de provisão e disponibilidade de recursos Fonte: Alexander O ponto de intersecção das duas curvas é o momento em que os meios disponíveis começam a atender a demanda operacional, sendo que é desejável que este ponto esteja o mais próximo do momento do início do desastre. Já em um desastre de evolução gradual, conforme figura a seguir, o comportamento das curvas de demanda e suprimentos tem outras características. Como a evolução é gradual, a necessidade de recursos também ocorre mais lentamente e a sua possibilidade de previsão é maior, logo é possível trabalhar com uma curva de disponibilização sempre acima da curva da demanda, ou seja, é possível em todo momento do atendimento ter recursos acima das necessidades do desastre. É possível prever quais os recursos serão necessários, alocando-os previamente e mantendo-os disponíveis para o atendimento, prevendo ainda uma certa margem de segurança para que não haja nenhum tipo de imprevisto neste aspecto. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 100 Figura 16 - Desastre gradual Fonte: Autor Várias são as medidas que o Corpo de Bombeiros pode adotar para reduzir o tempo de suprimento de recursos para os cenários das emergências, agudas ou crônicas, e uma delas é, sem dúvida, o planejamento preventivo local, em que deve constar, além do mapeamento de riscos, o levantamento dos recursos a serem empregados e sua efetiva mobilização e emprego tático e operacional. Por fim, para melhor racionalizar e otimizar os atendimentos, também é muito importante, no estudo do ciclo do atendimento operacional de emergências, o estudo do pós-impacto, quando o Corpo de Bombeiros deve relatar e fazer o estudo e comentários das emergências atendidas, procurando verificar o perfeito atendimento das condições do planejamento para aqueles eventos, bem como avaliar as necessidades de alterações e atualizações das condições planejadas. Seguindo a metodologia conhecida como PDCA (plan – planejar; do – fazer; check – checar; e action – agir corretivamente), podendo ainda colaborar com outros órgãos de emergência ou mesmo com o município, fornecendo informações e sugestões O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 101 para a adoção de medidas não-estruturais e também estruturais, quando estas forem oportunas. Figura 17 - Ciclo PDCA P D A C Fonte: Curso de gestão contemporânea pela qualidade da PMESP 4.4 O Posto de Bombeiros nas Emergências Quando da ocorrência de qualquer desastre na sociedade, um dos primeiros órgãos oficiais de emergências empregado para o atendimento é o Corpo de Bombeiros, e isto é feito, invariavelmente, pelas guarnições locais dos Postos de Bombeiros, que, como já foi dito, são considerados as bases operacionais de todos os atendimentos das emergências. Daí a importância da correta distribuição territorial destes postos pelo Estado e também do seu conveniente dimensionamento com os recursos adequados, disponibilizando o potencial operacional necessário para atender às demandas das suas áreas operacionais, visando diminuir o tempo-resposta, atuando O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 102 com eficiência e competência, dando a melhor solução para cada atendimento junto à comunidade. Para o perfeito dimensionamento do potencial de um Posto de Bombeiros, vários aspectos têm que ser criteriosamente pensados e avaliados; caso contrário, o aparelho de emergência não será seguro e confiável. Dentre os itens a serem considerados para a implantação, operação e manutenção de um Posto de Bombeiros, destaca-se alguns de suma importância, tais como: o dimensionamento da área a ser atendida, a sua localização dentro desta área, a quantidade mínima e os tipos de viaturas e materiais necessários para o atendimento operacional, a quantidade e capacitação dos recursos humanos disponibilizados (efetivo das equipes de trabalho), as características e condições físicas das instalações do posto, o estabelecimento de procedimentos operacionais planejados e um calendário de eventos para os atendimentos, sistema adequado de comunicações, entre outros. Entende-se por capacidade operacional do Posto de Bombeiros todo o seu potencial de resposta ao atendimento às emergências, incluindo os recursos disponíveis e disponibilizáveis para tais atendimentos, sejam internos ou externos ao Corpo de Bombeiros, necessitando ou não de planos de mobilização. A quantidade e os tipos de viaturas empregadas pelo posto, bem como os materiais e equipamentos (em operação, na reserva operacional, ou a serem mobilizáveis), além dos serviços de apoio, fazem parte desta avaliação do potencial. Os recursos humanos também devem ser levados em conta, avaliando se a quantidade e a capacitação dos bombeiros e dos colaboradores somam-se suficientes para a satisfação da demanda das emergências locais. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 103 A responsabilidade do Comandante de Posto de Bombeiros vai muito além do momento do atendimento propriamente dito da emergência, pois, como foi visto, o ciclo de atendimento de desastres abrange um período com pelo menos três fases, antes, durante e depois das emergências, e para cada uma dessas fases o Comandante do posto deve planejar as atividades necessárias ao cumprimento efetivo das suas missões. Figura 18 - Atendimento operacional do CB e vista do Centro de São Paulo Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros Baseado nestas figuras, como atividades recomendadas ao Comandante do Posto de Bombeiros local, deve se destacar o estudo do perfil de sua região, associando corretamente informações sobre o estudo das vulnerabilidades a que estão sujeitas as áreas críticas, bem como inventariar todos os recursos disponíveis para suprir as necessidades do atendimento operacional, pois estas informações lhe ajudarão a determinar, de maneira metodológica e racional, medidas preparatórias e operativas adequadas para o desempenho de suas missões e planejamento adequado. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 104 4.5 Demais Órgãos e Entidades Participantes do Atendimento Emergencial em Conjunto com o Corpo de Bombeiros Para um adequado atendimento das emergências locais, o Comandante do Posto de Bombeiros deverá analisar quais as forças amigas disponíveis e como elas poderão ajudar nas intervenções operacionais, pois, como foi visto, o Corpo de Bombeiros local, via de regra, não consegue, isoladamente dispor de todos os materiais, recursos e serviços para dar o total atendimento às suas necessidades, sendo primordial o estabelecimento de relações com outros órgãos e entidades no sentido de canalizar os esforços e recursos adicionais necessários ao completo atendimento da demanda das emergências. Figura 19 - Órgãos de apoio ao CB Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros Vários são os colaboradores operacionais do Corpo de Bombeiros que podem, de alguma forma, oferecer ajuda, dependendo da disponibilidade local e da O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 105 necessidade operacional, porém é muito importante, em qualquer planejamento, a participação dos concessionários de serviços públicos, serviços essenciais do município, serviços médicos, segurança, institutos tecnológicos, institutos de previsões meteorológicas, empresas privadas, organizações não-governamentais, representantes da comunidade, conselhos de segurança, clubes de serviços e outros. Para um perfeito e oportuno aproveitamento dos recursos desses colaboradores no emprego emergencial, é de vital importância que sejam estabelecidos planos preventivos e operacionais, em que, antecipadamente, sejam definidos como, onde e quando tais recursos de apoio serão empregados, definindose ainda sua forma de mobilização e emprego nos atendimentos reais. O histórico do atendimento operacional regional, bem como estudos fundamentados de prospecção de cenários de emergências locais, baseados na evolução do desenvolvimento e complexidade local, também poderão servir de parâmetros ou referências bastante razoáveis para se prever ou estabelecer, de forma qualitativa ou quantitativa, quais as necessidades do emprego de recursos de apoio, possibilitando ao planejador graduar a maior ou menor incidência de tais recursos, conseguindo com isso obter uma priorização mais adequada e eficiente. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 106 4.6 Cenário Atual Sobre o Atendimento às Emergências no Estado de São Paulo 4.6.1 São Paulo em números Para um adequado planejamento preventivo de emergências de uma região, é necessário que o Comandante de Bombeiros local possua algumas informações básicas para tal, dentre elas o perfil da região, com dados sobre a população, relevo, chuva, economia, transporte, educação, serviços públicos, religião etc. Para o enriquecimento da pesquisa do Comandante de Posto de Bombeiros, dentre outros, sugerem-se alguns sites da rede mundial de computadores que podem fornecer algumas informações úteis: www.ibge.gov.br/cidades; www.cidades.gov.br; www.cidadesdobrasil.com.br; www.maplink.com.br; www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br/sp; www.emsampa.com.br; www.nossosaopaulo.com.br; www.emplasa.sp.gov.br; O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 107 www.defesacivil.org.br; www.defesacivil.sp.gov.br www.redegoverno.gov.br; www.saopaulo.as.gov.br; http://mapas.ibge.gov.br: http://www.der.sp.gov.br/_malha_online.asp; www.cidadão.sp.gov.br; www.dieese.org.br; http://www.seade.gov.br; http://www.cnpm.embrapa.br; http://www.igc.sp.gov.br; http://www.cepam.sp.gov.br; etc. Cumpre ressaltar que os dados obtidos devem ser convertidos em informações que possam gerar ações afirmativas e positivas, no sentido de melhor preparar os Comandantes para o enfrentamento dos desastres. 4.6.2 Estudo de alguns casos reais de atendimentos de emergências Com o intuito de fornecer alguns subsídios práticos para o presente trabalho, neste capítulo, serão estudadas algumas ocorrências de vulto, atendidas pelo Corpo de Bombeiros, bem como alguns exercícios simulados integrados realizados entre os órgãos de emergências. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 108 São várias as ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros nos últimos anos, assim como diversas atividades foram realizadas e que poderiam ser analisadas neste momento, porém foram escolhidas apenas algumas delas para atender didaticamente os objetivos aqui perseguidos, conforme segue: 4.6.2.1 Desabamento de telhado de igreja em Osasco No dia 05 de setembro de 1998, por volta das 01h45, o 5º Grupamento de Bombeiros foi acionado para o atendimento de ocorrência de desabamento de telhado de igreja, com vítimas, em Osasco/SP. As primeiras viaturas que chegaram ao local, três minutos após o acontecimento, UR-144, VO-153, AS-199 e AB-286, comandadas pelo Subtenente PM Marcelo, Oficial de Área do 2º S/GB, tiveram, segundo ele, muitas dificuldades em acessar a edificação onde ocorreu a grande emergência, pois apresentavam duas frentes distintas, aliado ao fato de haver muitas pessoas feridas e em pânico e reinar um clima muito confuso e tenso. Desse acidente resultaram vinte e três vítimas mortas e quinhentas e trinta e nove feridas. A causa do acidente foi atribuída à falta de manutenção adequada do prédio, associada a uma sobrecarga com o peso de pessoas ali existentes. Para o atendimento da ocorrência pelo Corpo de Bombeiros, foram acionadas 17 viaturas, empregando um efetivo de 14 oficiais e 63 praças, perdurando cerca de aproximadamente 15 horas de atendimento emergencial. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 109 Apoios externos também foram alocados para o atendimento de emergência, tais como: Polícia Civil, Exército Brasileiro e a Defesa Civil do Município de Osasco. Foi estabelecido o Posto de Comando para o controle e organização da ocorrência por meio do SICOE. Segundo o relatório do então 1º Ten PM Carlos Augusto de C. Filho, o Corpo de Bombeiros chegou rapidamente ao local, “mas, no entanto alguns trabalhos não foram realizados devido à espera de recursos, tanto material, quanto humano, acredito que as OPM, destacadas não se encontram totalmente preparadas para atender ocorrências de grande vulto” (sic). Ainda no mesmo relatório, o Oficial sugere: “poderia ser criada uma comissão para discutir e elaborar um POP sobre grandes emergências ou gerenciamento de grandes emergências com a participação de vários segmentos da sociedade, tais como Secretaria da Saúde, Polícia Militar, Defesa Civil e outros” (sic). O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 110 Figura 20 - Queda do teto da igreja em Osasco Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros 4.6.2.2 Incêndio em indústria química No dia 13 de outubro de 1999, às13h55, com o talão 02042, o Corpo de Bombeiros foi acionado para ocorrência de fogo na indústria de tintas Brasilux, situada na Rua Ítalo Pereira nº 300, Centro, Matão – SP. Após cinco minutos do acionamento, chegaram às primeiras viaturas ao local da emergência. O tempo de extinção da ocorrência foi em torno de 6 horas. Foram empregados 12 viaturas do Corpo de Bombeiros, com um efetivo de 5 oficiais; 5 sargentos, 2 cabos e 4 soldados. Houve também o apoio de 16 bombeiros municipais. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 111 Outros órgãos apoiaram a emergência, tais como: CETESB, CPFL, CAEMA (AT), Usina Bonfim (AT 397), Transportadora Imperador Matonense (AT), Auto Posto Soma (AT), Empresa Citrovita (canhão de solo e esguichos), Marchesan Agro-Industrial Pastoril (03 AT), Usina Zanin (AT), Papa Entulho, Empresa Etreal (Pá carregadeira) e Policiamento de Área (Vtrs – I-13437; I-13470; I-13434 e I-13438). Na operação foram empregados muitos recursos materiais e humanos, internos e externos ao Corpo de Bombeiros, sendo consumido aproximadamente 700m³ de água. A área atingida foi de aproximadamente 2.500m², resultando em 02 vítimas leves. O local oferecia alto risco aos bombeiros, que tiveram muito trabalho para conseguir dominar a situação. No relatório elaborado pelo 1º Ten Giuliano Antonio da Silva, Cmt do PB de Matão, o Oficial afirma que: “todo o sistema de combate ao fogo foi efetuado graças ao apoio fornecido pelas empresas particulares da região, que emprestaram vários caminhões tanques, fornecendo o abastecimento adequado e contínuo até o final da ocorrência, e também colaborando com suas brigadas de incêndio que auxiliaram no combate, além do apoio dos bombeiros que se encontravam de folga e apareceram através do acionamento do plano de chamada” (sic). Diz ainda o mesmo Oficial em suas conclusões que: “verifica-se a grande importância de se possuir um plano de auxílio mútuo (PAM) junto com as empresas da região, e também a existência de um elo de ligação entre este e o Corpo de Bombeiros, pois em um momento como esse é de extrema importância o O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 112 trabalho em conjunto e o espírito de solidariedade, como foi constatado no nosso caso” (sic). 4.6.2.3 Acidente aeronáutico com vítimas Em 31 de outubro de 1996, às 08h28 o Corpo de Bombeiros foi acionado para o atendimento emergencial do aviso 85, sobre queda de aeronave com vítimas (Fokker 100 da TAM – Vôo 402) no bairro do Jabaquara, próximo ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Do acidente resultaram 98 mortes, sendo 89 passageiros, 06 tripulantes e 03 moradores dos imóveis sinistrados. Além da perda total da aeronave, 22 veículos foram danificados e mais 25 imóveis foram destruídos. Um total de 28 viaturas, 59 oficiais (dentre eles o autor desta monografia) e 103 praças trabalharam por mais de 40 horas no atendimento dessa emergência. Outros órgãos também apoiaram o Corpo de Bombeiros durante a emergência, tais como: Policiamento de Área; Trânsito; Choque; GRPAe; Força Aérea Brasileira; Polícia da Aeronáutica; Departamento de Aviação Civil; Defesa Civil; Prefeitura Municipal de São Paulo; Polícia Civil; CET; Sabesp; Eletropaulo; Telesp; IML; Empresa TAM; Associação Comercial; Hospitais; Resgate Civil; Contru; Exército da Salvação; Assistência Social da Prefeitura; Ambulâncias; Guarda Civil Metropolitana etc. Foi empregado o Sistema de Comando de Operações de Emergência (SICOE); porém, no início o Posto de Comando foi montado dentro da área quente O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 113 da ocorrência, causando sérios transtornos, principalmente com relação ao acesso das áreas, conforme é possível notar na figura a seguir: Figura 21 - Queda de aeronave da TAM Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros 4.6.2.4 Explosão no Shopping de Osasco Em 11 de junho de 1996, às 12h11, o Corpo de Bombeiros foi acionado para o atendimento emergencial de explosão ambiental com vítimas no interior do Osasco Shopping Plaza. As primeiras viaturas a chegarem no local, cerca de 3 minutos após o acionamento depararam-se com um imenso sinistro. Foram empregadas 69 viaturas, 58 oficiais (dentre eles o autor desta monografia) e cerca de 300 praças, que O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 114 trabalharam por mais de 150 horas nessa emergência. Da ocorrência, restaram 42 mortes e 472 feridos, atingindo cerca de 4.000 m² de área da edificação. Além do Corpo de Bombeiros, participaram da ocorrência vários órgãos, tais como: Policiamento de Área, Exército, Defesa Civil, Prefeitura de Osasco, Grupos de Voluntários, Ambulâncias, Hospitais e Associação de Osasco etc. A conclusão a que se chegou foi que havia vazamento de gás liquefeito de petróleo da central de gás e houve um centelhamento, ocorrendo a explosão da área. No relatório da ocorrência, o Oficial encarregado destacou como ponto forte o emprego do SICOE, porém ressalta a necessidade da existência de um plano de atendimento de emergência em grandes catástrofes. Figura 22 - Explosão do Shopping Osasco Plaza Fonte: Arquivo do Corpo de Bombeiros Como sugestão, o referido Oficial relatou: “poderia ser criada uma comissão para discussão e elaboração de um futuro POP para grandes emergências com inúmeras vítimas ou ainda, gerenciamento de grandes emergências; onde O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 115 poderiam participar diversos segmentos da sociedade, tais como Secretaria da Saúde, Polícia Militar, Defesa Civil e outras para um melhor acompanhamento em futuros sinistros” (sic). 4.6.3 Estudo de algumas atividades planejadas e executadas pelo CB Para o desempenho de suas missões, o Corpo de Bombeiros realiza alguns tipos de atividades com regularidade durante o ano, e criou, para isso, algumas operações tradicionais, tais como: Operação Verão, Operação Enchente, Mata Fogo, entre outras. 4.6.3.1 Operação Mata Fogo Analisando-se a operação Mata Fogo referente ao ano de 2004, especificamente, que abrangeu o período de junho a outubro, pode-se perceber que o número de atendimentos de incêndios dessa natureza, apesar de apresentar queda com relação ao ano de 2003, ainda é muito grande. Para a concretização da operação, desde 1993, foi editado um Decreto que estabelece quais os procedimentos e responsabilidades de cada órgão envolvido, a saber: Secretaria do Meio Ambiente, Secretaria da Segurança Pública e Casa Militar. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 116 Cada órgão tem suas funções específicas durante a operação, porém deve existir entre eles um clima perfeitamente harmônico e colaborativo para que se alcance o êxito desejado. Neste momento, é importante ressaltar que o plano prevê um período de prevenção, quando as unidades operacionais realizam palestras de prevenção e esclarecimento à sociedade e aos órgãos participantes locais de emergência; e outro período chamado de respostas aos incêndios, quando são realizados os atendimentos propriamente ditos. O plano geral de prevenção e combate a incêndios florestais realizado pelo Corpo de Bombeiros visa resguardar as áreas de proteção ambiental, promovendo a integração e articulação entre os órgãos públicos e privados para somar as forças, junto com a sociedade, aumentando o potencial de ação para a referida prevenção e o combate a esses incêndios. Apesar de ser uma operação realizada há muito tempo e com regularidade pelo Corpo de Bombeiros, ainda existem alguns pontos a serem melhorados, principalmente, como pode-se comprovar pela análise do relatório anual de 2004, referente à melhoria dos recursos humanos e materiais. Outro fato que mostra a necessidade de melhoria operacional, é que, mesmo com todo o planejamento previsto, algumas unidades sugerem a melhoria de contato com outros órgãos públicos e até mesmo com a própria Defesa Civil. Também verifica-se, no resumo das ações das unidades operacionais contidas no referido relatório, que, sem sombra de dúvidas, o Corpo de Bombeiros não terá condições de realizar tal missão isoladamente, dada a complexidade e dimensão da referida operação, sendo que para alcançar os objetivos, anteriormente previstos, será necessária uma articulação e composição entre os parceiros e a O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 117 própria sociedade, no sentido de, mediante prévio planejamento, somar esforços e potencializar as ações efetivamente direcionadas a este fim. Figura 23 - Incêndio florestal Fonte: O autor 4.6.3.2 Operação Enchente Outra grande preocupação do Corpo de Bombeiros de São Paulo é o período de 15 de dezembro a 31 de março, período em que entra em atividade a chamada “Operação Enchente”. Nesse período, ocorrem muitas chuvas, aumentando os índices pluviométricos, ocasionando vários tipos de ocorrências, tais como: enchentes, inundações, quedas de árvores, quedas de postes e fios elétricos, deslizamento de terra, soterramento, desabamento de estruturas, escorregamentos etc. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 118 Figura 24 - Enchente na Marginal do Tietê Fonte: Folha on-line No relatório nº CCB-005/213/05, sobre a Operação Enchente 2004/2005, foram abordados alguns tópicos que interessam para o desenvolvimento deste trabalho, no sentido de comprovar a necessidade da integração perfeitamente planejada e harmônica entre o Corpo de Bombeiros e os demais órgãos de emergências locais, bem como com a própria comunidade, tais como: a realização de reuniões, estudos prévios, treinamento e melhoramento da situação, em conjunto com a Coordenadoria Municipal da Defesa Civil (COMDEC), representante dos Institutos Geológico (IG), Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil. Foram realizadas campanhas educativas de prevenção e orientação para a sociedade, inclusive com o apoio dos meios de comunicação de massa, tais como mídia de rádio e televisão. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 119 Os meios empregados pelo Corpo de Bombeiros foram mantidos, diariamente, em condições de atendimento nos postos ou nas próprias viaturas operacionais, visando principalmente ao aspecto preventivo da atuação. Vários são os equipamentos necessários para o atendimento da demanda operacional, tais como barcos, cordas, flutuadores, apitos, moto-serras, material de sapa, material de iluminação etc. Papel especial desempenha o CAMU (caminhão multi-uso), uma nova viatura criada pelo Corpo de Bombeiro que procura otimizar e adequar o emprego de recursos nas emergências, pois uma única viatura, com pequenas alterações e troca do “Kit“ operacional, pode ser empregada para Operação Mata-fogo, Operação-Enchente e ainda como viatura de transporte de materiais para apoio em qualquer tipo de ocorrência. Figura 25 - CAMU – Mata fogo Fonte: Arquivo do 3º GB O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 120 Figura 26 - CAMU - Enchente Fonte: Arquivo do 3º GB 4.6.4 Estudo de alguns exercícios simulados integrados operacionais Como visto, os exercícios simulados são de grande valia para o aprimoramento técnico e aferição do sistema de atendimento de emergências do Estado, pois permite a reunião de diversas prestadoras de serviços nessa área, proporcionando treinamento para a realização de missões, além de conhecimento e integração com outros órgãos e pessoas. O Corpo de Bombeiros realiza essas atividades já há bastante tempo, com grande freqüência; porém, mais recentemente, intensificou ações que permitem, além do desempenho profissional individual da corporação, o desempenho da equipe de atendimento de emergência, envolvendo todos os O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 121 possíveis participantes ou colaboradores dentro dos cenários de atendimento operacional. Procura-se estabelecer cenários fictícios, porém altamente semelhantes às condições reais de operações enfrentadas no dia a dia das equipes. Serão abordados, na seqüência, alguns detalhes de dois grandes simulados realizados na Cidade de São Paulo, dos quais participaram um enorme número de pessoas e instituições. 4.6.4.1 Explosão e incêndio em favela Em 09 de novembro de 2002, às 09h00 foi realizado um exercício simulado integrado de explosão e incêndio com vítimas em favela, na Rua Pitangui, 82 na Zona Leste de São Paulo. O cenário foi totalmente construído pelos organizadores do exercício, simulando situações bastante próximas da realidade desse tipo de atendimento, ou seja, muito material combustível, botijões de gás, ruas estreitas, gambiarras elétricas etc. Para a realização do exercício, foi composto um grupo coordenador, integrado por representantes de todos os órgãos participantes. Foram realizadas algumas reuniões prévias que se prestaram, além do delineamento dos trabalhos, a proporcionar um primeiro contato entre as equipes de atendimento emergencial da região, que até então tinham muito pouco contato. O exercício envolveu mais de 30 viaturas e 100 bombeiros, além de pessoal da área médica, Policiamento Ostensivo, GATE, Grupamento Aéreo, Polícia O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 122 Civil, Polícia Técnico-Científica, Guarda Civil Metropolitana, CET, Prefeitura, Eletropaulo, Sabesp, Defesa Civil do Estado e do Município, hospitais da região, IML, SAMU, APH, Secretaria de Assistência local etc. Figura 27 - Simulado em Favela na Zona Leste da Capital Fonte: Arquivo do 3º GB Mais do que simplesmente o treinamento das equipes para atendimento de ocorrências dessa natureza, o exercício lançou um desafio, que era integrar permanentemente os componentes dessa rede de atendimento emergencial. O processo do planejamento do simulado enriqueceu os órgãos individualmente, melhorando-os operacionalmente, levando todo o conjunto a alcançar resultados melhores. O que chamou muito a atenção dos organizadores foi que, apesar de todos os participantes do exercício serem da área de atendimento de emergências (trânsito, segurança, saúde etc.) e da mesma região, os mesmos não se conheciam e não tinham a exata dimensão do papel de cada um dos colaboradores. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 123 Após o simulado, foi realizada uma reunião de avaliação, na qual várias pessoas, em seus depoimentos, consignados em ata de reunião, manifestaram suas opiniões e aprendizados do evento. Dentre várias observações destacam-se algumas: a importância do conhecimento e integração de todos os órgãos com o Sistema de Comando de Operações em Emergências (SICOE) empregado pelo Corpo de Bombeiros, pois facilitou a organização da ocorrência; Paulo Ricardo Viana – Chefe do Posto de atendimento do Hospital da Vila Maria, entre outras coisas, declarou que “o exercício serviu para organizar as equipes do hospital para o atendimento real”; Sandra Aparecida dos Santos Stahlhaver, da Subprefeitura da Mooca, afirmou que “por conta do simulado, estão tentando organizar uma equipe para permanecer no Serviço de Assistência Social de plantão aos fins de semana para emprego em casos de sinistros”, e “tentarão contato com o Exército para organizar algo com o apoio deles, e.....”(sic); dificuldade de comunicação e falta de integração entre os órgãos no momento do atendimento operacional, por falta de conhecimento do contexto geral e das missões de cada um. Várias sugestões foram propostas pelos órgãos participantes, tais como realizar reuniões periódicas; estreitar o relacionamento entre os órgãos, ajustando suas rotinas; melhorar a integração entre o pessoal de campo; aprimorar a comunicação em todos os seus momentos (antes, durante e depois da ocorrência); O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 124 implantar planos de chamadas; realizar outros simulados em outras áreas operacionais; criar um espaço para que os órgãos se conheçam melhor e possam apresentar seus serviços; integrar a rede de comunicação de emergência; realizar palestras técnicas e reuniões de avaliação após a ocorrência de sinistros reais; credenciar pessoas para acesso às ocorrências; capacitar o pessoal para atuar em diversos tipos de ocorrências de maneira conjunta; realizar constantemente simulados e, principalmente, reuniões para acerto de rotinas operacionais do dia a dia; realizar um seminário local de emergência; elaborar uma cartilha contendo missões de todos os participantes, fluxograma operacional, recursos materiais e humanos para o atendimento de emergências etc. Na conclusão do relatório foram mencionados os principais pontos a serem considerados: integração com os diversos órgãos que estão envolvidos em situações de emergência; conhecimento da potencialidade de cada órgão participante; oportunidade de cada órgão descobrir suas falhas; oportunidade de divulgação do SICOE; realização de um simpósio ou ciclo de palestras entre os órgãos; gerenciamento em conjunto com os órgãos de emergência dos riscos da área. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 125 4.6.4.2 Acidente de trânsito com múltiplas vítimas envolvendo produtos perigosos No dia 09 de novembro de 2003, foi realizado um exercício simulado integrado de acidente de trânsito com cinqüenta e quatro vítimas e vazamento de produtos químicos no Km 0 do Rodoanel Mário Covas em São Paulo. Foram empregadas 74 viaturas e 347 pessoas, abrangendo, além do Corpo de Bombeiros, várias outras organizações e a própria comunidade local. Dentre os participantes do evento, destacaram-se: Policiamento Ostensivo, Policiamento de Trânsito, Policiamento Ambiental, Policiamento de Choque, Grupamento Aéreo, Dersa, CET, CETESB, SAMU-192, SAMU-193, SABESP, COMDEC, Polícia Civil; Polícia Científica, (IML e IC), SAS Regional Jaguaré/Perus, Guarda Civil Metropolitana, Concessionária Auto Ban, Air Products, SOS Cotec, AES Eletropaulo, Conseg, Amil, hospitais da região, ambulâncias, helicópteros etc. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 126 Figura 28 - Simulado no Rodoanel Mário Covas - SP Fonte: Arquivo do 2º GB Os principais objetivos desse simulado foram proporcionar a avaliação e participação de cada uma das organizações envolvidas e propor ações e medidas, a fim de preparar todos os envolvidos em atendimento reais de emergência da região. O exercício transcorreu dentro dos padrões já estabelecidos pelo Corpo de Bombeiros, e após foi realizada uma reunião com todos os representantes dos órgãos participantes do evento para sugestões e considerações do grupo. As principais considerações obtidas durante a reunião de avaliação foram transcritas no relatório da operação, sendo destacados nesse documento o seguinte: integração entre as instituições; entrosamento das equipes e suas respectivas atribuições; pontos a melhorar: O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 127 comunicação; divulgação do evento; e melhoria das estruturas reais de atendimento. sugestões: realizar tais eventos com maior freqüência; promover atividades para dar continuidade aos trabalhos do grupo; propostas de melhoria para a rede de hospitais da área; e envolver o maior número de órgãos possíveis para esses treinamentos. 4.6.5 Lições aprendidas Diante do exposto, fica patente que o Corpo de Bombeiros enfrenta situações de emergências de grande perigo, estando em jogo valores extremamente importantes: a vida, o meio ambiente e o patrimônio. Também ficou comprovado que o Corpo de Bombeiros, apesar de exercer um papel muito importante nos atendimentos de emergência, não atua e não pode atuar de forma isolada no atendimento operacional. É necessária a sua integração com outros órgãos de emergência e com a própria comunidade para o êxito da missão. Pode-se concluir também que as ações devem ser tomadas o mais rápido possível, visando minimizar os efeitos danosos dos desastres e para isso se faz necessário um mútuo conhecimento prévio das potencialidades e das fragilidades dos órgãos que compõem o sistema de atendimento de emergências locais. O Corpo de Bombeiros no Atendimento de Emergências 128 Outro fator importante de se observar é que quando há um preparo ou planejamento prévio para as emergências, os resultados são mais satisfatórios. A realização de planos conjuntos de emergências entre os órgãos podem facilitar os seus desempenhos operacionais durante os atendimentos reais. Da avaliação dos relatórios dos simulados e ocorrências citadas, podese perceber que, apesar de muitas vezes existir um entrosamento entre os órgãos de emergência, ocorrem algumas falhas, pois não existem definições claras de responsabilidades e procedimentos individuais nos momentos dos atendimentos, e tal integração pode ser substancialmente melhorada. Percebe-se também que, quando há um planejamento e treinamento, ocorre um ganho técnico-operacional individual por parte dos parceiros das emergências, pois cada um, sabendo de suas missões, procura melhorar o seu desempenho, planejando-se internamente e adequando-se quanto à capacitação profissional, provimento de recursos e implantações de procedimentos de rotinas operacionais adequados para satisfazer às necessidades do grupo e da sociedade. Vários órgãos integrantes do sistema sentiram a falta da criação de um comitê ou grupo permanente de emergência, que teria a função específica de tratar de detalhes para o aperfeiçoamento das ações de respostas conjuntas para grandes emergências locais. Neste contexto, é possível a cada órgão individualmente e ao grupo, como um Sistema de Resposta a Emergência Local, traçar uma visão de futuro, possibilitando a ajuda e o crescimento mútuo entre eles, tendo como objetivo a preparação constante para o atendimento emergencial, com eficiência e eficácia, da sua região. Capítulo 5 5 INSTRUMENTOS PARA AUXILIAR A GESTÃO DE EMERGÊNCIAS Neste início de milênio, houve um crescente número de emergências pelo mundo todo. São emergências de todas as naturezas, com proporções e conseqüências bastante variadas, sendo seu gerenciamento e controle cada vez mais complexo. Apesar do crescente número das emergências e catástrofes pelo mundo, há uma evolução significativa na área de prevenção de desastres, incluindo não só novas tecnologias, mas também novos procedimentos e técnicas no trato deste assunto. Neste capítulo, serão sugeridas algumas das ferramentas mais importantes para serem empregadas pelos bombeiros quando do exercício da função de Gerente de Desastres Locais. Não existe uma ferramenta milagrosa capaz de solucionar todos os possíveis problemas. Caberá aos profissionais a arte de combiná-las, criando novas abordagens e possibilidades. A existência de diversos programas de computador 17, com recursos gráficos e estatísticos, podem auxiliar muito no trabalho dos gerentes de emergências. O avanço tecnológico na ciência do gerenciamento tem colaborado e facilitado em muito a vida dos profissionais de emergência no trato da análise de informações, possibilitando, com extrema rapidez, grande multiplicidade de 17 O sistema IDRISI é bastante utilizado por alguns órgãos públicos e é de fácil utilização (www.IDRISI.com.br). Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 130 informações e cada vez mais precisas. Por outro lado, a falta de recursos, como microcomputadores ou programas, não é, na maioria dos casos, desculpa para deixar de fazer o que deve ser feito. Na realidade, o êxito nas missões depende muito mais das pessoas comprometidas do que de qualquer outro fator. A seguir serão apresentados alguns instrumentos que poderão ser empregados no gerenciamento de catástrofes e desastres pelos Comandantes de Bombeiros locais, lembrando que outras, não elencadas neste momento, também poderão ser empregadas para colaborarem no cumprimento das missões, desde que atendam às políticas de gestão das emergências previamente definidas pelo Comando. 5.1 Gestão de Riscos É o termo que se aplica ao método lógico e sistemático utilizado para estabelecer os contextos dos riscos, identificar, analisar, avaliar, tratar, monitorar e comunicar os riscos associados a quaisquer atividades, funções ou processos, de maneira que possibilite às organizações minimizar perdas e maximizar oportunidades. A gestão de riscos serve, na mesma proporção, para identificar oportunidades e evitar ou reduzir perdas. A gestão de riscos é uma proposta para analisar os desastres e desenhar programas e projetos de prevenção, mitigação e manejo de desastres (o qual compreende ações de preparação, atenção da emergência, reabilitação e reconstrução). Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 131 As medidas de mitigação vão atuar na tentativa de minimizar as vulnerabilidades locais, que por sua vez incluem os campos sociais, políticos, organizacionais, ecológicos. ideológicos, culturais, institucionais, econômicos, físicos e Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 132 Figura 29 - Processo de Gestão de Risco Estabelecimento dos contextos Contexto estratégico Contexto organizacional Contexto da gestão de riscos Desenvolver critérios Definir a estrutura Identificação de riscos O que pode acontecer? Como pode acontecer? Determinar a Determinar as probabilidade conseqüência s Estimar o nível de risco Avaliação de riscos Comparar os riscos com critérios Estabelecer prioridades para riscos Aceitar os Análise e riscos? Avaliação os Sim Reduzir as conseqü ências de Riscos Não .Tratamento de riscos Identificar as opções de tratamento Avaliar as opções de tratamento Selecionar as opções de tratamento Preparar os planos de tratamento Implementar os planos Fonte: Gestão de Riscos – AS/NZS-A360-2003 Monitoramento e análise crítica Comunicação e consulta Análise de riscos Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 133 5.1.1 Delimitações das áreas de risco O primeiro passo a ser adotado é a perfeita delimitação das áreas de estudo para a gestão de riscos. Duas dimensões assumem especial importância nesse aspecto, quais sejam as dimensões espacial e temporal. Quando se estuda qualquer evento que possa gerar um desastre ou catástrofe, além de sua magnitude e intensidade, é muito importante observar a evolução desse evento, percebendo a sua progressão no tempo e no espaço. Por isso, o primeiro passo nesse estudo consiste em definir a área geográfica de estudo, bem como o período em que se pretende aplicar tais conceitos. 5.1.2 Estabelecimento dos contextos e critérios Os detalhes do processo de gestão de riscos são apresentados na figura anterior. Todo esse processo ocorre dentro da estrutura dos contextos estratégico, organizacional e da gestão de riscos da organização. Tais contextos devem ser estabelecidos, a fim de definir os parâmetros básicos nos quais serão gerenciados os riscos e fornecer orientações para a tomada de decisões em estudos mais detalhados, estabelecendo seu escopo. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 134 5.1.2.1 Desenvolvimento de critérios de avaliação de riscos As decisões concernentes à aceitabilidade e tratamento dos riscos podem ser baseadas em critérios operacionais, técnicos, financeiros, legais, sociais, humanitários, entre outros. Tais critérios geralmente dependem da política interna, dos objetivos e das metas da organização, bem como dos interesses das partes envolvidas. Os critérios podem ser afetados por percepções internas e externas e por requisitos legais. É importante determinar os critérios apropriados logo no início. Embora os critérios sejam desenvolvidos inicialmente como parte do estabelecimento do contexto da gestão de riscos, é possível desenvolvê-los e aperfeiçoá-los à medida que determinados riscos forem sendo identificados e as técnicas de análise forem sendo escolhidas, ou seja, os critérios devem corresponder aos tipos de riscos e à maneira como os seus níveis são definidos. Alguns parâmetros que podem ser levados em consideração para o dimensionamento de um desastre são: número de vítimas (todas as pessoas atingidas de alguma forma pelo desastre); número de vítimas mortas; área atingida em Km²; prejuízos ambientais; prejuízos materiais; prejuízos sociais; intensidades e duração do desastre etc. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 135 A FEMA (Federal Emergency Management Agency) adota um modelo de gradação das emergências que inclui quatro critérios de avaliação e medidas dos riscos, conforme abaixo: história; vulnerabilidade; ameaça máxima; probabilidade. Na aplicação prática de avaliação de um risco, todos estes critérios são classificados em três níveis, baixo, médio e alto, e recebem um valor numérico (escore) de um, cinco e dez pontos respectivamente. Também, os quatro critérios diferenciam-se em níveis de importância e são atribuídos pesos para cada um deles, sendo o fator multiplicado como segue: história x 2; vulnerabilidade x 5; ameaça máxima x 10; probabilidade x 7. Após a avaliação composta desses dados, chega-se a um valor numérico de cada risco, compondo-se uma relação única de priorização. Exemplo: Tabela 4 - Risco 1: Inundação de uma cidade “x” Critério Nível de avaliação Escore e peso Total História Alta 10 x 2 20 Vulnerabilidade Média 5x5 25 Ameaça máxima Alta 10 x 10 100 Probabilidade Média 5x7 35 TOTAL 180 Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências Tabela 5 - 136 Risco 2: Acidente ferroviário com múltiplas vítimas na área do PB Critério Nível de avaliação Escore e peso Total História Pequeno 1x2 2 Vulnerabilidade Pequeno 1x5 5 Ameaça máxima Pequeno 1 x 10 10 Probabilidade Média 5x7 35 TOTAL Tabela 6 - 52 Risco 3: Acidente de trânsito com vítima em determinada região Critério Nível de avaliação Escore e peso Total História Alta 10 x 2 20 Vulnerabilidade Média 5x5 25 Ameaça máxima Pequena 1 x 10 10 Probabilidade Alta 10 x 7 70 TOTAL 125 Após a análise de todos os riscos prováveis em uma região, é feita a sua priorização, estabelecendo-se uma classificação em ordem de gravidade, criando-se um “rancking” dos riscos para auxiliar nas medidas de decisões e tratamento dos mesmos: Tabela 7 - Priorização dos Riscos Nº de riscos Descrição Pontuação 1 Inundação na área da cidade “x” 180 2 Acidente de trânsito com mais de 10 vítimas 125 3 Acidente ferroviário com múltiplas vítimas 52 Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 137 Outro parâmetro a ser observado é o critério estabelecido pelo Corpo de Bombeiros como ocorrências de vulto e de destaque, conforme previsto nas Normas Gerais de Ação de Sala de Situação e Imprensa do CB, implantada pela NGA nº CCB-001/102/01, que são: mais de cinco vítimas envolvidas;. mais de duas vítimas mortas; envolvendo instituições públicas; envolvendo instituições financeiras; acidentes aeronáuticos, ferroviários, metroviários ou náuticos; ocorrências sazonais e repercussão (deslizamentos, enchentes, balão, fogo em mata etc); mais de 10 viaturas do CB envolvidas; envolvimento de dignitários ou personalidades; e outros que por sua natureza produzem repercussão política, institucional e na mídia (ocorrências de impacto social). 5.1.3 Identificação dos riscos É fundamental realizar uma identificação abrangente, utilizando um processo sistemático bem-estruturado, pois todo risco potencial não identificado nessa etapa será excluído de análises posteriores. A identificação deve incluir todos os riscos, estejam ou não sobre o controle da organização. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 138 Um dos objetivos desta fase é gerar uma lista abrangente de eventos que possam vir a gerar desastres ou catástrofes que mereçam a intervenção do Corpo de Bombeiros. Após a elaboração dessa lista, devem-se considerar suas causas e as possíveis conseqüências, determinando nesse ponto como e porque podem vir a ocorrer tais eventos. Figura 30 - Risco de deslizamentos Fonte: Defesa Civil/SP Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 139 Figura 31 - Área sujeita a enchentes Fonte: Defesa Civil/SP A descrição dos riscos, compreendendo a natureza e a sua identificação, deve ser realizada com base em detalhada informação sobre: característica do desastre, descrevendo os elementos que o compõem; forma como é esperada a manifestação do desastre; tempo de impacto (durante quanto tempo se espera que perdurem os efeitos do desastre); extensão do impacto (área de probabilidade onde o desastre, provavelmente, exercerá suas conseqüências, devendo ser comparado com o mapa de riscos e o mapa de vulnerabilidades); maneabilidade do desastre (considerar as formas pelas quais o desastre poderá ser administrado); descrição da comunidade e o seu meio ambiente, contendo elementos do contexto; Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 140 descrição dos efeitos (esclarecer quais os efeitos podem ser gerados pelo desastre); e priorização dos riscos (especificar os riscos em ordem de prioridade para fins de planejamento). É muito importante, além do fator de risco, identificar quais são as áreas de impacto, lembrando que, por vezes, um único evento pode gerar conseqüências em diversas áreas, principalmente em relação a pessoas, comunidades, meio ambiente, serviços essenciais, patrimônios etc. 5.1.4 Análise de risco 5.1.4.1 Generalidades O risco é uma função do produto da probabilidade da ocorrência de um evento pela magnitude. Pode ser expresso conforme segue: R = F (P x M) Onde: R = risco F = função P = probabilidade de ocorrência Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 141 M = magnitude Ou ainda: RISCO = FREQÜÊNCIA x CONSEQÜÊNCIAS 5.1.4.2 Conseqüências e probabilidades A magnitude de um evento, caso este ocorra, e a sua probabilidade e conseqüências a ele associadas, são avaliadas no contexto dos controles existentes. As conseqüências e a probabilidade são combinadas com o intuito de produzir um nível de risco, podendo ser determinadas por meio de análises e cálculos estatísticos. Caso não haja dados anteriores disponíveis, podem ser feitas estimativas subjetivas que reflitam o grau de expectativa de um indivíduo ou grupo quanto à ocorrência de um determinado evento ou resultado. A fim de evitar o viés subjetivo, convém que as melhores fontes de informação e técnicas disponíveis sejam utilizadas ao analisar conseqüências e probabilidades. As fontes de informação podem incluir: registros anteriores; experiências pertinentes; prática e experiência dos diversos setores de atividades; publicações pertinentes; pesquisas; bancos de dados de diversos órgãos; experimentos e protótipos; Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 142 modelos operacionais; opinião de especialistas e peritos etc. 5.1.4.3 Tipos de análises A análise de riscos pode ser conduzida com vários graus de refinamento, dependendo das informações e dos dados disponíveis. As análises podem ser qualitativas, semiquantitativas e quantitativas, ou uma combinação das mesmas, dependendo das circunstâncias. Classificando-se as análises em ordem crescente de complexidade e custos, tem-se as qualitativas, as semiquantitativas e as quantitativas. Na prática, geralmente utiliza-se a análise qualitativa em primeiro lugar, a fim de se obter uma indicação geral do nível de risco. Posteriormente, pode ser necessário realizar análises quantitativas mais específicas. Para fins de estudo, deste trabalho adotar-se-á a análise qualitativa, que será detalhada a seguir 5.1.4.3.1 Análise qualitativa A análise qualitativa utiliza palavras ou escalas explicativas para descrever a magnitude das conseqüências potenciais e a probabilidade subjetiva de essas conseqüências ocorrerem. Essas escalas podem ser adaptadas ou ajustadas de acordo com as circunstâncias, podendo-se utilizar descrições diferentes para riscos diferentes. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 143 A análise qualitativa pode ser utilizada: como uma atividade de prospecção inicial para a identificação dos riscos que requerem uma análise mais detalhada; quando o nível de risco não justifica o tempo e os esforços necessários para uma análise mais completa; ou quando os dados numéricos são insuficientes para uma análise quantitativa. Quadro 1 - Exemplo da Tabela das Medidas qualitativas de conseqüências ou impactos Nível Descritor Exemplo de descrição 1 Insignificante 2 Menor Tratamento com primeiros socorros, vazamento interno imediatamente contido, média perda financeira 3 Moderada Tratamento médico necessário, vazamento interno contido com auxílio externo, alta perda financeira. 4 Maior Graves lesões, perda da capacidade de produção, vazamento externo sem efeitos danosos, grande perda financeira. 5 Catastrófica Morte, vazamento tóxico externo, com efeito, danoso, enorme perda financeira. Sem lesões, pequenas perda financeira. Fonte: Gestão de Riscos – AS/NZS-A360-2003 Nota – As medidas utilizadas devem refletir as necessidades e a natureza da organização e da atividade em estudo. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 144 Quadro 2 - Exemplo de Tabela das Medidas qualitativas de probabilidade Nível Descritor Exemplo de descrição A Quase certo B Provável Provavelmente ocorrerá na maioria das vezes C Possível Deverá ocorrer alguma vez D Improvável Poderá ocorrer alguma vez E Raro Espera-se que ocorra na maioria das vezes Poderá ocorrer excepcionais somente em circunstâncias Fonte: Gestão de Riscos – AS/NZS-A360-2003 Nota – Essas tabelas devem ser adaptadas para atender às necessidades de uma determinada organização. Quadro 3 - Exemplo da Tabela matriz de análise qualitativa de riscos – Nível de risco Probabilidade Insignificante Menor Moderada Maior Catastrófica A (quase certo) A A E E E B (provável) M A A E E C (possível) B M A E E D (improvável) B B M A E E (raro) B B M A A Fonte: Gestão de Riscos – AS/NZS-A360-2003 Nota – O número de categorias deve refletir as necessidades do estudo Outro exemplo de matriz para avaliação qualitativa dos riscos identificados é apresentado no manual de Planejamento de Emergência18. 18 ARAÚJO, Sérgio Baptista de. Manual de Planejamento de Emergências. Rio de Janeiro, 1999. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 145 Figura 32 - Matriz de avaliação qualitativa de riscos Fonte: Araújo/2000 5.1.5 Avaliação de riscos Compara os níveis estimados de risco com critérios pre-estabelecidos. Isso torna possível a classificação dos riscos, a fim de identificar as prioridades da gestão. Se os níveis de riscos estabelecidos forem baixos, os riscos poderão cair em Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 146 uma categoria aceitável, o que poderá tornar desnecessário o tratamento dos mesmos; caso contrário, os riscos deveriam ser tratados. Figura 33 - Avaliação de risco Avaliação do Risco Com que O que pode ser Com que freqüência errado conseqüências Fonte: Araújo 5.1.6 Tratamento dos riscos Esta fase envolve a identificação das diversas opções de tratamento, a análise e a avaliação, bem como a preparação e implementação de planos de tratamento de riscos. Nessa etapa, determina-se o que, onde, quem, quando e como serão adotadas as linhas para realização de planejamento contra os desastres. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 147 Figura 34 - Tratamento dos riscos Risco avaliado e classificado Risco aceitável ? Sim Aceitar Não Identificação das opções Comunicação e consulta tratamento Reduzir a Reduzir as Transferir total probabilidade conseqüências ou parcialmente Evitar Monitoramento e análise crítica de Considerar os custos e benefícios factíveis Análise e avaliação Recomendar as estratégias de tratamento das opções de tratamento Selecionar a estratégia de tratamento Preparação dos planos Preparar os planos de tratamento de tratamento Implementação dos planos tratamento Reduzir a probabilidade Transferir total ou parcialmente Parte retida Risco aceitável? Evitar Parte transferida Sim Não Fonte: AS/NZS 4360/ 2003 Reter Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 148 5.1.7 Monitoramento e análise crítica Os riscos e a eficácia das medidas de controle precisam ser monitorados constantemente, a fim de assegurar que circunstâncias variáveis não alterem as prioridades de risco, pois são poucos que permanecem estáticos. A análise crítica contínua é essencial para assegurar que o plano de gestão permaneça sempre pertinente. Fatores que afetam a probabilidade e as conseqüências de um resultado podem mudar, assim como os fatores que afetam a adequação ou custo das várias opções de tratamento. Por isso, é necessário repetir regularmente o ciclo de gestão de riscos. A análise crítica é parte integrante do plano de tratamento da gestão de riscos. 5.1.8 Comunicação e consulta A comunicação e a consulta são importantes aspectos a serem considerados em cada etapa do processo de gestão de riscos. É importante desenvolver um plano de comunicação com as partes envolvidas internas e externas, logo no primeiro estágio do processo. Convém que esse plano aborde questões relacionadas aos riscos em si e ao processo para gerenciá-los. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 149 A comunicação e a consulta envolvem um diálogo entre as partes envolvidas, tendo como foco a consulta e não somente a comunicação de via única por parte de quem toma as decisões para outras partes envolvidas. Uma comunicação interna e externa eficaz é importante para assegurar que os responsáveis pela implementação da gestão de riscos compreendam as bases sobre as quais as decisões são tomadas, e porque determinadas ações são necessárias. A percepção do risco pode variar em função de diferentes hipóteses, conceitos e necessidades, e de questões e interesses das partes envolvidas, por estarem relacionadas ao risco ou aos assuntos em discussão. As partes envolvidas tendem a julgar a aceitabilidade de um risco baseadas em sua própria percepção. Uma vez que as partes envolvidas podem ter um impacto significativo nas decisões tomadas, é importante que sua percepção do risco, bem como sua percepção dos benefícios, sejam identificadas e documentadas. 5.1.9 Ferramentas e técnicas para identificação dos riscos São várias as ferramentas que podem ser empregadas para auxiliar no processo de identificação dos riscos. A seguir estão listadas algumas delas, sendo que o administrador poderá empregá-las da forma que melhor atender a suas necessidades: análise histórica de acidentes: consiste no levantamento de acidentes ocorridos na área em questão, normalmente realizado por meio de consulta a bancos de dados ou referências bibliográficas. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 150 Dessa análise poderão ser extraídos os seguintes dados: tipologia e causa de acidentes, magnitudes das conseqüências e freqüência das ocorrências dos acidentes, época ou período dos acidentes, áreas de reflexos, recursos empregados, tempo de duração etc. entrevistas com especialistas; avaliação por meio de questionário; fluxograma – representação gráfica destinada ao registro das diversas etapas que constituem um determinado processo, facilitando sua visualização e análise; brainstorming – destina-se à geração de idéias/sugestões criativas que rompam os limites/paradigmas dos membros da equipe e permitam avanços significativos na busca de soluções; diagrama de causa–efeito – estrutura gráfica que permite a organização dos dados, possibilitando a identificação das possíveis causas de um determinado problema, ou efeito; coleta de dados – conjunto de técnicas que, com o emprego de uma “folha de verificação” apropriada, permite a obtenção dos dados necessários a um tratamento estatístico específico; gráficos – são destinados à síntese e apresentação dos dados, permitindo que sejam mais facilmente interpretados; análise de pareto – permite a visualização dos diversos elementos de um problema e o estabelecimento de prioridades, por exemplo, quanto à escolha daquela solucionada; que deverá ser primeiramente, Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 151 análise preliminar de risco ou perigo (APR) - é uma das técnicas mais utilizadas no Brasil para identificação de perigos. Teve sua origem no programa de segurança militar do Departamento de Defesa do Estados Unidos e até hoje faz parte dele. Os resultados da APR devem ser registrados numa planilha específica, que deve conter os perigos identificados, suas causas, seus efeitos, categorias de perigo e recomendações para a solução e o gerenciamento dos riscos identificados. 5.2 Gestão de Recursos Um dos fatores de relevante significado para o sucesso da gestão do atendimento de desastres e catástrofes é, sem sombra de dúvidas, a gestão dos recursos para este atendimento. Todo o planejamento das ações de atendimento de emergências deve ser baseado em recursos realmente disponíveis e não em capacidades ou potencialidades de recursos inexistentes ou simplesmente desejáveis. Os recursos devem ser administrados de tal forma que possam ser empregados na sua melhor condição possível para cada atendimento específico. Para isso, é essencial a adoção de algumas medidas para garantir essa performace ideal e satisfatória dentro do processo de atendimento operacional de desastres e catástrofes. Em grande parte das ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros os recursos necessários estão presentes, quer junto aos órgãos públicos, quer junto às Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 152 organizações não-governamentais, quer ainda junto à própria comunidade afetada, bastando apenas à tarefa de mobilizá-los para os locais necessários nos momentos oportunos. Parece simples tal tarefa, mas com certeza não é uma missão das mais tranqüilas alocá-los sem que haja previamente um exaustivo trabalho no sentido de dimensionar e prever a possibilidade de emprego desses recursos no atendimento operacional, que por sua vez não tem hora certa e nem lugar para ocorrer, dificultando ainda mais as ações e aumentando a improvisação. Por tal condição, é muito importante o papel do Comandante de Bombeiros local, que terá por missão articular todas as forças disponíveis ou a serem disponibilizadas em sua região, conseguindo potencializar o atendimento operacional de seu posto, prestando um serviço com maior eficiência e qualidade para a comunidade. Os recursos a serem obtidos devem ser objetivamente listados, fundando-se na expectativa razoável da demanda dos atendimentos operacionais, ou seja, não adianta dispender tempo e esforços para disponibilizar recursos inviáveis ou sem interesse operacional real. Vale dizer ainda que tal tarefa tem uma característica extremamente dinâmica, pois na medida em que há mudanças na demanda operacional, na estrutura de atendimento, nos recursos disponíveis, na verba ou investimentos empregados, no nível tecnológico atingido, dentre outras, também haverá mudanças nos recursos a serem disponibilizados. Esses recursos podem ser classificados em grandes grupos, podendo ser internos ou externos ao Corpo de Bombeiros, devendo atender todos os campos Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 153 de atuações operacionais, ou seja, ocorrências de incêndios, salvamento, resgate, emergências com produtos perigosos e de apoio. 5.2.1 Tipos de recursos Os recursos são de diversas naturezas, sendo que de acordo com o emprego dado aos mesmos pelo Corpo de Bombeiros, pode-se dividi-los em alguns grandes grupos, tais como: recursos materiais, humanos, serviços, instalações e procedimentos. 5.2.1.1 Recursos materiais Dentre esses recursos, pode-se incluir materiais operacionais como viaturas, materiais de combate ao fogo, de salvamento, de resgate (kits operacionais) de administração de emergência, materiais de comunicação, equipamento de proteção individual etc. Didaticamente, no Corpo de Bombeiros existe uma divisão de materiais nos seguintes grupos: material de combate a incêndios, podendo ser direto ou indireto; material de salvamento, incluindo serviços aquáticos, terrestres e em alturas; material de resgate, abrangendo todo material de assistência às vítimas; Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 154 material de comunicações e iluminação; material de proteção individual e coletiva; e material automóvel comum e especializado. Materiais de apoio operacional também podem ser incluídos nesse grupo, tais como, alimentação, água, equipamentos de apoio, material técnico, sinalização, computadores etc. 5.2.1.2 Recursos humanos Os recursos humanos que podem ser empregados nos atendimentos operacionais também compõem um imenso grupo, podendo ser citados além do efetivo do Corpo de Bombeiros, os membros de diversos órgãos públicos e privados, tais como: policiais militares, funcionários do Município e do Estado, de empresas especializadas, de centros emergenciais, de hospitais, de grupos de voluntários, de organizações não-governamentais, de militares das Forças Armadas, da Polícia Federal, de universidades, da comunidade, da Defesa Civil, enfim, qualquer pessoa ou grupo de pessoas que tenham capacidade de atuar conjuntamente com o Corpo de Bombeiros em atividades que visam proteger a vida, o meio ambiente e o patrimônio. Todo o efetivo passível de emprego operacional deve, antecipadamente, estar preparado, ainda que minimamente, para integrar-se ao grupo de atuação, sabendo exatamente como, quando e onde deve atuar no momento da resposta aos desastres ou catástrofes; caso contrário, a experiência tem mostrado que as Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 155 pessoas sem orientação e preparo adequado em locais de emergências criam mais problemas que soluções. 5.2.1.3 Serviços e instalações Outro tipo de recurso muito importante para o Corpo de Bombeiros na solução das emergências operacionais são os prestadores de serviços públicos ou privados, bem como algumas entidades ou pessoas detentoras de instalações que podem em casos de emergências ser empregado como um importante apoio operacional. Nesse rol de serviços, pode-se incluir serviço de saúde, de trânsito, de transporte, de segurança, de ambulâncias, de meteorologistas, de mídia, de perícia, de fornecimento de água, de fornecimento de energia, vigilância sanitária, fiscalização de prefeitura, assistências sociais, defesas civil etc. Como instalações, podem-se citar, ginásios de esportes, escolas, dentre outros. Vale lembrar ainda os recursos naturais, principalmente no tocante a recursos hídricos, que podem ser empregados nos combates aos incêndios. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 156 Figura 35 - Local para abrigo provisório Fonte: Defesa Civil/SP 5.2.1.4 Procedimentos operacionais implantados Pode-se entender como recursos operacionais os diversos procedimentos implantados que acabam, de alguma forma, colaborando com a melhoria do atendimento operacional das emergências, tais como: os Planos de Auxílio Mútuo, os Planos Particulares de Intervenção, os Planos de Contingências, as rotinas operacionais padronizadas de emergência públicas ou privadas etc. Esses procedimentos são bastante valiosos quando bem empregados, pois o objetivo é racionalizar e otimizar as condições de atendimentos locais, procurando evitar ou minimizar as conseqüências dos desastres, facilitando com isso a atuação do Corpo de Bombeiros. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 157 Pela importância de tais procedimentos, torna-se necessário e oportuno que o Comando de Bombeiros local elabore uma matriz de avaliação 19 desses procedimentos em sua área, apoiando-os, pois isso vai possibilitar atuar como orientador para contribuir na melhoria dos resultados desses planos, otimizando e aproveitando estruturas já montadas, gerando uma maximização do potencial operacional do Posto de Bombeiros com menor esforço. 5.2.2 Dimensionamento de recursos Como foi visto, na própria região ou no entorno da área afetada por um desastre é possível, via de regra, obter grande parte dos recursos necessários ao atendimento da emergência. É muito importante que o Comandante de Bombeiros local conheça os riscos e o perfil da sua área, para poder dimensionar a sua real demanda operacional e com isso providenciar os recursos necessários ao adequado atendimento e satisfação da comunidade. É extremamente trabalhosa a operacionalização de recursos externos ao Corpo de Bombeiros, por isso é essencial que o Comandante local saiba exatamente quais os recursos adicionais e complementares ao seu patrimônio que deve buscar na sociedade para dar conta do atendimento dos desastres e catástrofes de sua região; caso contrário, irá dispender tempo e esforços para obtenção de recursos desnecessários ao cumprimento de suas missões, faltando-lhe tempo para outras medidas mais essenciais. 19 Baseado na matriz de avaliação de planos previstos pelo APELL onde são avaliados os componentes básicos e suas funções. Neste caso irá avaliar os planos de interesse para o Corpo de Bombeiros. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 158 Vários materiais empregados rotineiramente nas emergências estão sob a responsabilidade do próprio bombeiro local. Esses materiais encontram-se distribuídos, segundo a sua natureza e emprego, nas viaturas especializadas, formando um padrão mínimo que compõe cada Unidade Operacional móvel do Corpo de Bombeiros. São as viaturas operacionais, tais como: Auto-Bomba; AutoSalvamento; Unidade de Resgate, Produtos Perigosos etc. Todos os Postos de Bombeiros possuem um espaço físico em suas instalações destinado à guarda de materiais operacionais, chamado de Reserva Operacional. É muito importante o perfeito dimensionamento dessa reserva, pois deve conter o maior número possível de equipamentos para o atendimento da demanda operacional local. O Comandante do Posto deve estar muito atento quanto a dotação e a funcionalidade desta reserva operacional, pois grande parte do seu sucesso operacional vai depender disso. De acordo com a necessidade operacional, o Comandante do Posto de Bombeiros, deverá se planejar para dispor de todo o equipamento a ser empregado no momento adequado, para isso poderá deixar preparados vários “Kits” operacionais que permanecerão na reserva operacional, sendo facilmente mobilizáveis aos locais de emprego nos casos de grandes desastres. Para o adequado dimensionamento dos recursos necessários, é muito importante fazer um cuidadoso levantamento dos riscos e da demanda operacional. Após essa fase, para melhor controlar e empregar tais recursos, se faz necessária a elaboração de um detalhado e minucioso inventário operacional, onde deverão constar todos os detalhes sobre os recursos disponíveis, suas características, localização, responsável, forma de acionamento, mobilização e emprego. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 159 Segundo prevê a NFPA – 162020, para o êxito nas operações não só de combate a incêndios, mas para qualquer outra emergência, os recursos devem ser previamente planejados e rapidamente mobilizados para o seu emprego; caso contrário, perderá a oportunidade temporal e operacional. 5.2.3 Aspectos relevantes na administração de recursos Algumas considerações são muito importantes para a administração de recursos, principalmente quando os recursos gerenciados são para o atendimento de emergências que visam proteger a vida, o meio ambiente e o patrimônio das pessoas, durante as 24h do dia, nos sete dias da semana. Esses recursos têm que ser disponibilizados de maneira confiável e com extrema presteza, uma vez que cada minuto perdido em uma grande emergência pode gerar prejuízos incalculáveis e irreversíveis. Nesse particular, torna-se fundamental a adoção de um planejamento de mobilização de recursos. Conforme ensina o Ten Cel Arlindo21 em seu trabalho monográfico: “O planejamento de mobilização obedece às seguintes etapas: definição dos recursos materiais e humanos necessários; Iientificação dos órgãos e entidades (públicas e privadas) que dispõe desses recursos; 20 21 NFPA-1620 – National Fire Protetion Association – Recommanded Practic Ser Pri – Incident Planing - 1988 Santos Junior, Arlindo Faustino dos – Sistema de Mobilização de Recursos para Atendimento a Desastres Urbanos, PMESP, São Paulo – Monografia CSP-1996. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 160 seleção dos órgãos e entidades melhor vocacionados para atuarem nas operações de respostas aos desastres; articulação e coordenação com esses órgãos e entidades para definição de suas atribuições; e cadastramento e organização de banco de dados e de mapas temáticos sobre a disponibilidade de recursos e a localização destes.” (sic). Além da acessibilidade e operacionalidade, aliada à facilidade de mobilização e emprego, ainda segundo a NFPA – 1620, é muito importante o aspecto de manutenção e testes periódicos dos equipamentos, serviços e sistemas disponíveis para o emprego operacional. Ressalta-se ainda que os empregos desses recursos devem ser reavaliados e reprogramados sempre que for necessário, devendo ser este um processo flexível e dinâmico, atendendo às mudanças operacionais ocorridas. No mesmo sentido, está previsto também na NFPA 160022, que devem ser reavaliados nos casos de mudanças da estrutura dos planos, identificação de novos riscos, mudanças nas estruturas do fornecimento de recursos, após os testes ou exercícios, após atendimento a desastres (quando necessário), quando houver melhoria ou mudança de investimentos, quando houver eliminação de riscos etc. Por fim, convém lembrar que este processo de levantamento e estudos do emprego dos recursos na atividade operacional deve ser realizado pelo Comandante de Bombeiros local em conjunto com a comunidade e com os órgãos componentes do sistema de resposta às emergências locais, pois, além da obtenção e disponibilização de tais recursos com mais facilidades, estes processos 22 NFPA 1600 Programa de continuidade dos negócios e gerenciamento de emergências. USA,1998. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 161 proporcionam a oportunidade para a equipe melhor se conhecer e trabalhar harmoniosamente, possibilitando a todos um real conhecimento do perfil e potencial de sua região. 5.3 Mapa de Riscos e Recursos Após a realização da análise de riscos e de recursos de determinada região, convém transpor alguns dados e informações obtidos em um instrumento prático de consulta operacional, facilitando a sua visualização e emprego. Este documento é o Mapa de Riscos e Recursos. A visualização por meio de mapas mostra-se bastante útil para esse fim, pois consegue reunir uma grande quantidade de informações em apenas um documento, permitindo a comparação e conjugação dessas informações. O glossário da Defesa Civil23 do Ministério da Integração Social traz o conceito de mapa de risco: “mapa topográfico, de escala variável, no qual se gravam sinalizações sobre riscos específicos, definindo níveis de probabilidade da ocorrência e de intensidades de danos previstos”. O mesmo documento ainda conceitua mapa de recursos: “mapa onde se assinalam os recursos físicos e humanos utilizáveis em caso de desastres”. 23 Ministério da Integração Social. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Glossário de Defesa Civil – Estudo de Riscos e medicina de Desastres, Brasília - 2002. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 162 No Curso de Organização Local para Situações de Emergências de El Salvador24, considera-se que o mapa de riscos e recursos é um instrumento particularmente útil para todos os programas de participações comunitárias que visam à melhoria das condições de vida de uma comunidade e não somente para os órgãos de emergências. O mapa de riscos e recursos, na verdade, é uma representação gráfica da avaliação de riscos realizada em uma região. Como é destacado no Curso Salvadorenho é muito importante que o maior número de pessoas participe do processo de elaboração do referido mapa, pois, em sendo assim, as pessoas e órgãos sentem-se ativas na proposta de soluções de problemas locais, propondo-se a oferecer mais ajuda quando necessário. No referido Curso também é dito que tais trabalhos devem ser conduzidos por pessoas capacitadas para isso, tais como agrônomos; bombeiros, equipe de saneamento básico etc. Recomenda-se ainda a implantação de um comitê de órgãos de emergências para desenvolver este trabalho, mas é muito importante a participação de outras pessoas da área técnica e da comunidade. As vantagens de se elaborar um mapa de riscos e recursos são muitas, podendo, neste momento, ser elencadas algumas: propiciar a localização rápida dos recursos disponíveis para o atendimento de emergência; levantamento dos riscos e dos locais vulneráveis da região; 24 Comitê de Emergência Nacional El Salvador. Curso de Organização Local para situação de emergência, s/d. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 163 melhorar o relacionamento entre os órgãos de atendimento de emergência locais; comparar em um único documento informações que estavam dispersas, formando novas idéias e gerando novas informações importantes na área de emergências; permitir a divulgação mais clara e precisa de informações a vários órgãos, de emergências ou não, permitindo a orientação para suas ações; facilitar a participação da própria comunidade no sentido de assinalar os riscos que mais a incomodam; fornecer dados importantes para que se avalie, e caso necessário, elabore um plano de emergências; serve ainda como alerta para os organismos de emergências elaborem seus procedimentos operacionais de rotina e emergência; propiciar uma antecipação em eventos desastrosos, permitindo mais economia e menos sofrimento à comunidade; o Corpo de Bombeiros pode lançar mão desse instrumento para antecipar os eventos, dimensionando os riscos específicos, prevendo as suas missões e planejando-se por meio de melhoria de equipamentos, instrução e outros reforços necessários; permitir aos administradores das Cidades melhor gerenciamento dos recursos, pois possibilita uma visão mais ampla das ameaças da região etc. Enfim, são enormes as vantagens na realização desse importante documento, não só aos órgãos que o elaboram, mas para a sociedade como um Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 164 todo. Porém, é de suma importância ter priorizado o que se pretende proteger para a sua confecção. No caso do Corpo de Bombeiros, devem ser observados, principalmente, os impactos diretamente ligados à possibilidade de riscos que afetam a população, a vida e o meio ambiente. Também a proteção do patrimônio é muito importante, pois, dependendo das perdas geradas, pode levar uma região a ruína. As condições de vulnerabilidade da região também devem ser levadas em conta com extremo rigor, pois, mais importante que a intensidade de um desastre, é o grau de vulnerabilidade da região. Quanto mais vulnerável maiores serão os estragos causados e as perdas geradas. Figura 36 - Modelo de mapa Fonte: www.idrisi.com Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 165 Figura 37 - Modelo de mapa para estudos sobre enchentes Fonte: www.idrisi.com O mapa de riscos e recursos, aliado a uma adequada avaliação preliminar de riscos e vulnerabilidades, pode fornecer ao administrador ou aos responsáveis pelo atendimento de emergências local um detalhado perfil da sua região, bem como uma perfeita noção sobre o potencial de respostas para suportar as ocorrências de desastres. Para isso apresentam-se alguns itens que devem ser considerados pelo grupo responsável da elaboração dos referidos mapas. A relação que segue não esgota todos os itens necessários para elaboração dos mapas, podendo ser incluídos outros, de acordo com a necessidade para tornar este instrumento o mais útil possível. São eles: perfil da área (extensão, tipo de região, ocupação, economia, relevo, clima, hidrologia, tipos de construções, tipos de vias urbanas e rurais, distância do município mais próximo, existência de pontos vulneráveis, existência de túneis, pontes etc.); Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 166 serviços públicos e essenciais disponíveis e suas condições (saúde, energia, água, esgoto, alimentos, trânsito, meio ambiente etc.); serviços de emergências que atuem na área (Polícia, Bombeiro, Defesa Civil, Ambulâncias etc.), bem como suas características operacionais; perfil da população (quantidades, faixa etária, condição social, religião, escolaridade, sexo, principais atividades profissionais, hábitos, costumes etc.); riscos especiais e pontos vulneráveis (setor de produtos químicos, indústrias, oleodutos, refinarias, aeroportos, ferrovias, áreas náuticas, metrô, locais de reunião de público, encostas, serras, áreas de favelas, áreas de deslizamentos, eventos esportivos ou grandes shows, locais de enchentes etc.); riscos comuns (tipo de ocorrências mais comuns, localização, vítimas, horário, dia da semana, época do ano etc.). recursos de emergências e suas características operacionais e de emprego (Comitê de Emergências Locais, Bombeiros, COMDEC, Polícia, Empresas, apoio de pessoal, apoio técnico, apoio de material, apoio de serviço etc.); procedimentos operacionais, quer sejam padrões ou não (plano de defesa civil, plano de contingência, plano de emergência, outros planos, POP, PPI etc.); perfil operacional das possíveis ocorrências (tipos, causas, freqüência, época do ano, necessidade de apoio etc.) e suas conseqüências possíveis; Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 167 etc. A sistematização inicial destas informações é importantíssima e representa o primeiro e definitivo passo para o sucesso do empreendimento. Recomenda-se a uniformização dos diversos órgãos através da distribuição de mapas de igual escala a cada um deles, que plotará ou iluminará os dados de que dispuser. Assim, é necessária uma padronização de indicativos e legendas, 25 para que os mapas possam ser integrados, formando uma única ferramenta. Os mapas podem ser realizados com o apoio de programas de computador, o que facilita muito a visualização dos resultados; caso não seja possível, não deverá ser um fato inibidor que inviabilize a construção desses mapas. Na elaboração de mapas podem ser dados dois enfoques, ou seja, o mapa pode ser genérico ou específico. O genérico dá uma visão mais abrangente e mais sistêmica; já o específico possui uma precisão geográfica maior. O mapa genérico deve mostrar uma tendência em determinada região, pois ele abrange uma área mais ampla. O específico determina o endereço certo e definido da emergência. É muito importante que os dois mapas (genérico e específico) trabalhem em harmonia, pois eles devem se complementar em termos de fornecimento de informações. Como o próprio nome já diz, o mapa específico reúne um conjunto de informações mais detalhadas da região, e até para que se facilite sua análise e visualização, deve ser feito um mapa para cada tema escolhido podendo, logicamente, cruzar informações com outros mapas para novas conclusões e propostas. 25 Proposta de Legenda adotada pelo Sistema Nacional de Defesa Civil Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 168 Em São Paulo, existe o mapa de ameaças múltiplas (MAM) estadual e o municipal. A figura mostra o (MAM) do Estado de São Paulo. Figura 38 - Mapa de ameaças múltiplas de SP Região com alta probabilidade de ocorrência de processos naturais e tecnológicos Região com média probabilidade de ocorrência de processos naturais e tecnológicos Região com baixa probabilidade de ocorrência de processos naturais e tecnológicos Fonte: Defesa Civil/SP A figura a seguir apresenta o exemplo de um mapa genérico dos Estados Unidos da América e mostra a tendência de ocorrências de acidentes naturais por Região da FEMA. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 169 Figura 39 - Região/I FEMA Fonte: FEMA - USA - 1998 Como se pode ver, as informações são mais genéricas, dando apenas uma tendência da região. Já na figura que segue, está representado um mapa local de riscos, no qual se pode perceber um alto grau de detalhamento, pois é com ele que realmente se vai dar o atendimento à população. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 170 Figura 40 - Mapa de risco específico Fonte: INFODEM Um bom exemplo disto é o mapa de riscos múltiplos implantado pelo Município de Santo André, no qual constam vários mapas temáticos e de recursos que têm por finalidade facilitar a visualização dos riscos potenciais e iminentes, propiciando uma orientação das ações a serem adotadas por todos os órgãos envolvidos no atendimento de emergências. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 171 Figura 41 - Mapa de enchente da região de Santo André ÁREAS SUJEITAS A ENCHENTES – LOCALIZAÇÃO DE PISCINÕES RISCOS: Prejuízos físicos – Prejuízos morais – Prejuízos materiais – Afogamentos - Contaminações Áreas sujeitas a Principais inundação Vias 01 – Vila Sá 02 – Vila Metarlúgica 03 – Santa Therezinha 04 – Palmares 05 – Sacadura Cabral 06 – Valparaíso – Vila Floresta 07 – Homero Thon 08 – Vila Guarani 09 – Vila Pires 10 – Maurício de Medeiros 11 – Paruqu Represa Billingsw 12 – Parque Rio Grande 13 – jardim Eugênio de Lima 14 – Campo Grande Piscinão A – Av. Dos Estados B – Av. Pres. Costa e Silva C – Av. Itamarati D – Av. Prestes Maia E – Av. Perimetral F – Av. Pereira Barreto G – Av. Giovanni D. Pinelli H –Av. Cap. Mário Toledo de Camargo I –Estrada do Pedroso J –SP 31 – Rod. Indio Tibiriçá K SP 122 –Estrada de Paranapiacaba L – Linha Férrea M – Av. Do Oratório I – Vila América II – Bom Pastor III – Príncipe de Gales IV – Santa Terezinha OBRAS E SERVIÇOS EXECUTADOS PARA DIMINUIR RISCOS DE ENCHENTES - Saneamento Integrado do núcleo Sacadura Cabral - Remoção de famílias em área de risco (224 famílias reassentadas e 183 remanejadas: Total 407 famílias) - Obras contra enchentes na Região Central - Obras de canalização e duplicação da Avenida Industrial - Obras da galeria e canalização da Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo - Reservatório de Detenção e Microdrenagem da Vila América - Drenagem da Rua Eduardo Ramos - Obras de combate a enchentes no Bairro Casa Branca - Obras de combate a enchentes na Vila Pires - Drenagem da Rua Camilo Castelo Branco – Sacadura Cabral - Drenagem da Rua Alemanha – Bairro Camilópolis Fonte: Defesa Civil - Semasa Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 172 Esses mapas, para o Corpo de Bombeiros, tem o objetivo de propiciar um estudo e dimensionamento prévio dos riscos e recursos de uma determinada região. Permite ao Comandante Local obter melhores condições para que possa se programar ao adequado atendimento dos desastres e catástrofes de sua região. Além de aumentar a eficiência e diminuir o tempo-resposta de atendimento, a elaboração desses mapas permite ao Bombeiro Local a possibilidade de, dentre outras medidas, avaliar as vulnerabilidades da região, identificar as novas necessidades, economizar e racionalizar meios e esforços a serem empregados, visualizar os riscos potenciais da região, elaborar planejamento específico, alertar os organismos de emergência, estabelecer normas de procedimento internos, sugerir procedimento externos para alguns de seus parceiros operacionais, constatar e divulgar situações de riscos com antecedência. É importante ressaltar que, caso ainda não exista esta ferramenta disponível ao Comandante do Posto de Bombeiros, a sua elaboração deve ser iniciada quanto antes, sendo que periodicamente se faz necessária uma reavaliação para sua atualização. 5.3.1 Construindo mapas Esse instrumento, apesar de propiciar grandes facilidades ao gerente de emergências, para que seja confiável e útil, deve seguir algumas regras para sua construção, pois se assim não for, poderá induzir os seus usuários a erros de leitura e, por conseqüência, levar à tomada de decisões equivocadas. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 173 Na construção dessa ferramenta, deve-se observar algumas noções básicas sobre cartografia. A escolha da escala correta e adequada a ser utilizada é muito importante, pois, dependendo do que se deseja mostrar, deve ser empregado maior ou menor detalhamento. Quanto maior a escala empregada, menos detalhes são visualizados, ou seja, a visão torna-se mais genérica e ampla, servindo para demonstrar tendências de uma área. Quanto menor a escala, mais detalhes são visualizados, perdendo-se a dimensão global da área, porém mostrando detalhes específicos dos riscos e recursos, permitindo o seu adequado tratamento. Além da escala adequada, o mapa deve dar destaque a aspectos importantes, tais como o relevo, a vegetação e a hidrografia da região, além de todo o detalhamento viário e principais construções públicas ou privadas da região. Os mapas podem ser empregados para representar riscos, recursos e as vulnerabilidades de uma região, devendo localizar perfeitamente esses detalhes nos desenhos, sendo para isso necessário o emprego de técnicas de georeferenciamento, atribuindo-se coordenadas únicas para cada ponto do mapa, particularizando e padronizado as formas de localização. Para uma adequada integração dos mapas de diversas regiões ou dos Postos de Bombeiros, é necessário empregar um padrão único de georeferenciamento, pois assim será possível o compartilhamento de tais informações, facilitando o trabalho quando da necessidade de realização de operações conjuntas ou de apoio. Para melhor aproveitamento dos dados lançados nestes mapas, se faz necessária uma perfeita padronização, pois assim, além de facilitar a leitura operacional das informações e permitir a troca desses dados, possibilitará a edição Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 174 de um Atlas de Bombeiros, no qual será possível ter visões específicas por regiões e assuntos, além de panoramas gerais sobre tendências operacionais. O emprego da tecnologia se faz bastante útil na medida em que existem “softwares” especializados em desenvolvimento de mapas que podem, de maneira mais clara e limpa mostrar os dados necessários, conjugando e comparando informações na mesma tela e com extrema rapidez e precisão, facilitando a tomada de decisões dos administradores. Mantendo-se uma base de dados ou uma planta baixa da região, pode-se, por meio de sobreposição de máscaras de dados, obter informações importantes e oportunas para avaliação das medidas de prevenção de desastres. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 175 Figura 42 - Metodologia para elaboração de Mapas de Riscos Fonte Alexander, David. Para a elaboração de um mapa de riscos e recursos, é necessário seguir alguns passos básicos: definir exatamente a área e a escala a ser empregada para o trabalho de mapeamento. Dividir a área em quadrantes ou células com área reduzida para melhor definição do estudo; após, deve-se listar todos os riscos possíveis de serem efetivamente concretizados. Para isso, uma boa técnica é definir a quantidade de eventos em um período razoável de Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 176 tempo, definindo, assim, qual a freqüência de tais eventos de uma maneira global, colocando-os em ordem crescente; verificar quais as variáveis e lançá-las no mapa. Por exemplo, áreas atingidas por enchentes, áreas de risco de vazamentos de produtos perigosos, incêndio florestais etc.; calcular os índices de incidência das ocorrências dos riscos, tais como deslizamentos, enchentes, acidentes etc. ; construir as matrizes digitais, estudando célula a célula, determinando os valores da ocorrência por quantidade e a natureza em cada uma delas; na seqüência, é calculado o valor de cada matriz, para, ao final, ser elaborado o contorno do perímetro das áreas e seus riscos na base do mapa. Para melhor visualização, a figura mostra o processo adotado. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 177 Figura 43 - Detalhe do processo de elaboração de Mapas Fonte Alexander, David 5.3.2 Formas de representações Os riscos e recursos podem ser representados de diversas outras formas, dependendo do objetivo a ser alcançado. Como elementos auxiliares, podese elencar, dentre outros, os seguintes recursos: mapas temáticos, gráficos, croquis, figuras, fotos aéreas, imagens geradas por satélites, esquemas operacionais, mapas meteorológicos, quadros estatísticos, tabelas, relações, listas, “check list”, fluxogramas, mapas de relevo, mapa de hidrologia, matrizes etc. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 178 Apesar das diversas formas de representação dos dados, especial atenção deve se dada ao emprego de legendas, pois se trata basicamente da “linguagem” usada para traduzir todas as informações contidas neste tão importante documento. Caso o “idioma” não seja adequado, a conversação ou o compartilhamento dos dados ficarão prejudicados. Nesse sentido, é de bom senso empregar uma legenda única e que siga padrões claros e oficialmente adotados pelo Brasil. É importante lembrar a realização de medidas que visem à atualização constante das informações para que sempre possam atender adequadamente às necessidades de maneira oportuna. 5.4 Planejamento 5.4.1 Generalidades É um fato comprovado que as organizações que não têm planos de emergência e recuperação de desastres enfrentam riscos maiores, por perdas financeiras, operacionais e de imagem pública, do que aqueles que os têm. O mesmo ocorre com as empresas e organizações cujos planos estão obsoletos ou foram mal-elaborados. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 179 Todas as atividades realizadas por pessoas, empresas, governos etc., devem ser adequadamente planejadas para evitar situações indesejáveis e imprevistas, o que por sua vez pode levá-os a tomar atitudes que nem sempre serão as mais adequadas para solucionar aquelas situações de emergências. O cidadão que ao tirar férias com a família, antes de sair de casa, fecha o registro de água, fecha a saída do botijão de gás, tranca bem as portas e janelas, informa ao vizinho amigo onde estará e deixa alguns números de telefones para casos de irregularidades quanto à casa, sem dúvida toma algumas medidas preventivas. Pessoas que não desenvolvem os hábitos prevencionistas, como neste exemplo, correm riscos de terem que tomar ações corretivas, ou remediarem o que já aconteceu. Normalmente, medidas de planejamento preventivo são menos dispendiosas do que medidas corretivas. Por exemplo, ao fazer um longo trajeto de uma localidade a outra, empregando um veículo automotor, várias são as medidas preventivas e de planejamento que devem ser observadas, tais como: suprimento de combustível, manutenção do veículo, alimentação dos passageiros e até mesmo a existência de um pneu sobressalente, que poderão causar sérios transtornos se não tiverem disponíveis no momento da necessidade do seu emprego. Assim como as pessoas e as empresas devem considerar as medidas preventivas e de planejamento, com muito mais propriedade devem fazê-los os órgão públicos que atuam em emergências, como é o caso do Corpo de Bombeiros, que tem como importante missão a proteção da vida, do meio ambiente e da propriedade das pessoas. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 180 Implanta-se nesse momento o grande dilema sobre prevenir ou remediar. O que se espera dos órgãos públicos responsáveis é um comportamento profissional, ou seja, completamente livre de imprevistos. O que não quer dizer que não se deva usar, quando necessária, a criatividade, porém de forma técnica e organizada e não de forma empírica e improvisada. Três pontos são fundamentais para o planejamento de emergências: reconhecer que realmente ocorrem; que nem sempre se pode prevê-las, e que todas são importantes, já que tem o potencial de converter-se em desastres se não forem administradas de maneira eficiente. Assim acontece nos casos de incêndios, derramamento tóxico, ameaças de bombas, conflito e outros. Atualmente, a necessidade de elaboração de Planos de Emergências, em função do considerável aumento de riscos tecnológicos se torna uma necessidade real e cada vez mais constante. Os acidentes ocorridos inicialmente em indústrias nucleares e os outros desastres tecnológicos ocorridos principalmente a partir da década de 70, entre os quais se pode citar o vazamento de Dioxina, em SEVESO (1976); vazamento de Isocianato de Metila (mic) em BHOPAL, na INDIA (1984) e o incêndio e descarga de águas contaminadas no Rio RENO (1984); levaram a comunidade internacional a estabelecer os seguintes protocolos, que visavam à segurança das comunidades ao redor das instalações industriais: Diretriz de SEVESO, Plano APELL e o E P C R A (Emergency Planning And Community Right – to – Know Act – 1986). Ainda hoje, entretanto, a falta de uma metodologia pre-estabelecida, em termos gerais, faz com que não haja um padrão específico desse tipo de planejamento, porém alguns elementos são considerados fundamentais para elaboração de um plano e serão abordados neste trabalho monográfico. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 181 Convém lembrar que os erros mais comuns cometidos por planejadores, além de não adequarem a linguagem do plano para seus usuários são: não atualizar os planos periodicamente; não praticá-los adequadamente; não capacitar os empregados sobre o conteúdo dos mesmos; e não divulgar os planos para quem vai executá-los, deixando-os sob poder da gerência, guardados a sete chaves. É bastante comum algumas instituições ou organizações possuírem um detalhado planejamento, porém quando do enfrentamento de uma situação de crise, por não tê-lo implantado e divulgado adequadamente, não sabem como agir. Por fim, é oportuno salientar que não é o objetivo deste trabalho estabelecer uma regra rígida para a elaboração de Planos de Gerenciamento de Emergência Local, mas fornecer um material que poderá servir como um guia para os Comandantes de Postos de Bombeiros construírem seus próprios planos, atendendo às necessidades locais, tornando-os bastante personalizados mas mantendo uma mesma linha metodológica. 5.4.2 Conceito Emergência, na verdade, é qualquer evento que não tenha sido planejado e que possa gerar uma conseqüência não desejável. Esta conseqüência pode ser mais ou menos grave, podendo causar ferimentos ou mesmo a morte de pessoas comuns ou profissionais da área de emergência. Numerosos eventos podem ser considerados como emergências, tais como incêndio, acidentes com produtos perigosos, enchentes e inundações, vulcões, chuvas fortes, tornados, explosões, terremotos, acidentes radiológicos, Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 182 queda de aeronaves, distúrbios civis, acidentes ferroviários, acidentes de trânsito e rodoviários etc. A maior ou menor gravidade de um evento indesejável está ligado diretamente ao grau de vulnerabilidade da região afetada, o que demonstra o preparo ou sua falta por parte da comunidade e do sistema de atendimento de emergências locais. Um plano de emergência pode ser definido como a sistematização de um conjunto de normas e regras de procedimentos, destinados a minimizar os efeitos dos desastres previsíveis que venham a ocorrer em determinadas áreas sob determinadas condições, possibilitando ao planejador gerir de forma otimizada e transparente o emprego dos recursos necessários, bem como a total participação do pessoal técnico especializado para operá-los. Mais especificamente, é necessário entender o significado de Plano de Bombeiros para gerenciamento de emergências nos atendimentos de desastres locais. Desmembrando as partes do termo aqui empregado, para o adequado entendimento da matéria em questão, pode-se dizer que se trata de uma sistematização prévia de normas, regras, condutas e procedimentos para que o Corpo de Bombeiros, no âmbito da área de um posto, possa administrar de forma adequada os recursos de toda ordem, material, pessoal, serviço ou procedimento, no sentido de oferecer, em menor tempo possível, a melhor resposta para as emergências em que tenha que atuar, estando preparado para defender, de maneira incontinenti, a comunidade local, principalmente com vistas à proteção de vidas, do meio ambiente e do patrimônio. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 183 5.4.3 Objetivos do planejamento As razões da elaboração de um plano de emergência podem ser consideradas, conforme enfoca Araújo26, as seguintes: identificações objetivas de riscos; estabelecimento de cenários de acidente para os riscos identificados; definição de princípios, normas e regras de atuação geral em face dos cenários possíveis; organização sistemática dos meios de socorro, prevendo as missões que competem a cada um dos integrantes; oportunidade de desencadear ações destinadas a minimizar as conseqüências do sinistro; evitar confusões, erros, atropelos e a duplicação de atuações; previsão e organização antecipada da evacuação e intervenção; e otimização dos procedimentos sob forma de rotina, as quais poderão ser testadas, através de exercícios de simulações. Acrescenta-se ainda ao que foi dito, como objetivo da elaboração de um plano, a possibilidade de que as forças de resposta às emergências de determinada região possam melhor se conhecer e conjugar seus esforços, proporcionando uma economia e eficiência de emprego de recursos, resultando em um atendimento com mais qualidade à comunidade. Outro aspecto importante nesse processo de elaboração do plano, além do aprendizado técnico e profissional, é a possibilidade do perfeito conhecimento da área de atuação pelos responsáveis do atendimento às emergências locais e o seu entrosamento com todos os outros órgãos participantes deste atendimento. Enfim, o planejamento fornece, antecipadamente, aos órgãos de emergências, uma estrutura com todos os detalhes necessários ao atendimento, 26 ob.cit. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 184 observando a complexidade da situação para uma resposta adequada que possa garantir a proteção da vida, do meio ambiente e do patrimônio. O processo do planejamento preventivo de emergências, quando visto de uma maneira global, abrangendo toda a sua plenitude e realizado em alinhamento com a metodologia adequada, caminhando por todos os seus passos construtivos de forma correta e participativa, tem um papel de extrema importância para todos os profissionais que atendem ou colaboram com o atendimento das ocorrências de emergências locais. Durante o processo de elaboração do plano, os responsáveis deverão conversar entre si sobre suas experiências profissionais, no sentido de promoverem um adequado e eficiente estudo de suas áreas para debaterem e ao final proporem as melhores soluções para atuação do grupo. Nesse sentido é que comporta gigantesco significado, pois, com os conhecimentos adquiridos, os profissionais da área poderão promover as adequações necessárias nos seus setores para suprir as demandas operacionais exigidas, propiciando uma perfeita integração nos atendimentos. Em especial para o Corpo de Bombeiros local, o Comandante poderá extrair e reunir informações sobre o perfil da área, necessidades operacionais, vulnerabilidade, riscos a que está sujeita aquela região, recursos disponíveis etc. Munido dessas informações, o Comandante do Posto de Bombeiros, poderá com facilidade, delinear o perfil do Bombeiro local de acordo com as necessidades, podendo proceder às alterações que entender oportunas, tais como definir tipo de viatura adequada para o seu posto, propor alteração de seu efetivo operacional, alterar a forma e o conteúdo da instrução da tropa, adquirir ou prever Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 185 equipamentos operacionais, definir novos procedimentos para locais específicos, elaborar planos particulares de intervenção nos pontos mais críticos etc. Enfim, pelo simples fato de participar ativamente do processo de planejar a sua região, o Comandante local aumentará muito o seu nível e desempenho profissional, o que só por esse ganho já justificaria o esforço dedicado. 5.4.4 Responsável e participantes A elaboração do Plano de Gerenciamento de Emergências Local (PGEL) não é uma tarefa singular, trata-se de uma atividade de caráter multidisciplinar, sendo necessária a integração de representantes de vários órgãos de emergências para sua construção. O coordenador desse trabalho, por ser um planejamento de grande interesse do Corpo de Bombeiros, deverá ser o Comandante do Posto de Bombeiros da região estudada, porém ele deve, como medida preliminar, promover a formação de um grupo de planejamento de emergências, que por sua vez irá, de forma integrada e harmônica, elaborar o planejamento local. 5.4.5 Níveis do planejamento O planejamento pode ser elaborado em nível estratégico, tático e operacional. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 186 O planejamento estratégico traça os rumos das instituições, definindo os seus valores, cultura, organização e políticas adotadas. Já o planejamento tático é aquele para dar apoio e estrutura adequada para a realização das atividades em questão. Por fim, o planejamento operacional é aquele realizado pelos órgãos ou pessoas que realmente, dentro de uma estrutura e de acordo com a política maior estabelecida, vão desempenhar as funções da ponta de linha, ou seja, as medidas e ações práticas do atendimento das emergências locais propriamente ditas. 5.4.6 Áreas de atuação Os Planos de Gerenciamento de Emergências Locais devem ser elaborados para atender a área de um determinado Posto de Bombeiros, limitandose aos casos de desastres e catástrofes, segundo os critérios adotados pelo Corpo de Bombeiros, conforme já abordados em capítulos anteriores. Deverão ser realizados estudos mais detalhados nas áreas dos Postos de Bombeiros e, caso necessário, os Comandantes locais poderão subdividí-las em regiões que podem reunir vários municípios, criando um consórcio operacional entre eles. Ainda no contexto do atendimento operacional, pela complexidade de alguns municípios ou regiões, serão necessários planejamentos específicos para atender as necessidades locais. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 187 5.4.7 Abrangência de planejamento Quanto a sua abrangência, o plano pode ser geral ou específico. O plano geral dita a política de atuação, estabelecendo normas mais amplas, dando as linhas gerais de ações. Já os planos específicos preocupam-se com a pormenorização das missões, estabelecendo ações específicas para cada situação. Os planos específicos devem estar em perfeita harmonia com os planos gerais. Para mostrar as possibilidades e o grau de detalhamento dos planos, apresenta-se a seqüência decrescente, partindo do geral ao extremamente específico: internacional; nacional; regional; estadual; sub-regional; municipal; bairro; quarteirão; edificação/local específico; grupo, famílias; e individual. No Corpo de Bombeiros, os graus de detalhamento e abrangência dos planos podem seguir a sua estrutura formal, ou seja: Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 188 nível estadual – Corpo de Bombeiros/Departamento de Operações do CCB; nível regional – Grupamento de Bombeiros; nível setorial – Subgrupamento de Bombeiros; e níveis local – Postos de Bombeiros. 5.4.8 Inter-relação e subordinação Ao realizar o inventário operacional, no tocante aos recursos disponíveis, um dos assuntos a ser abordado, de extrema importância, é o estudo dos procedimentos operacionais existentes, sendo incluídos neste particular a existência de planos de emergências de qualquer natureza, dimensão e amplitude, desde que seja comprovada a sua eficiência dentro dos seus propósitos ou que melhore, de alguma forma, em qualquer proporção, as condições de segurança da região. Para isso, é interessante que se elabore uma planilha-padrão de avaliação da eficiência e aplicabilidade do emprego operacional dos planos inventariados na região. Uma vez detectados alguns planos que atendam aos requisitos acima, é de suma importância que trabalhem alinhados com o Plano de Gerenciamento de Emergências Local, devendo constar como recursos disponíveis para potencializar o sistema de prevenção e atendimento às grandes emergências. Dentre vários planos que podem fazer parte deste rol, com certeza destam-se os seguintes: Plano Particular de Intervenção (PPI); Plano de Intervenção Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 189 de Incêndios (prevista na IT-16 do Decreto 46.076/01), Plano de Auxílio Mútuo (PAM); Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC); o Plano APELL; Planos de Contingências (PC); Plano Comunitário Integrado (PCI da RINEM); Planos Operacionais Regionais; Planejamentos do tipo operação-enchente; mata fogo e operação-verão; Planos de Emergências para Hospitais; Planos Municipais, Planos Diretores Estratégicos Municipais; Planos Diretores Municipais de Trânsito; Planos de Atendimentos de Emergências de Empresas Privadas; Planos de outros Órgãos de Emergências etc. A figura que segue dá uma idéia da integração que deve existir entre os planos de atendimento de emergências para que haja uma perfeita harmonia e entrosamento operacional, bem como uma hierarquização e especificação dos planos no cenário geral e entre si. Figura 44 - Integração entre os Planos Operacionalmente Ativos PAM hospital REDE DE APELL SAÚDE hospital APELL Aeroporto hospital APELL Plano de desastre municipal Outras Cidades Plano Planos Planos Planos Regionais Estaduais Nacionais PPI Industria l Fonte Alexander, David Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 190 5.4.9 Características dos planos Conforme ensina SERPA27, de um modo geral, um plano de emergência deve possuir as seguintes características: “Deve possibilitar que os possíveis danos restrinjam-se a uma determinada área permanente dimensionada, evitando que os impactos extrapolem os limites de segurança pre-estabelecidos; Deve contemplar todas as ações necessárias para evitar que situações internas ou externas às instalações envolvidas no acidente contribuam para seu agravamento; Deve ser um instrumento prático, que propiciará respostas rápidas e eficazes em situações de emergências; Deve ser o mais sucinto possível, contemplando, de forma clara e objetiva, as atribuições e responsabilidades dos envolvidos”. Corroborando e complementando o que foi dito, as características do plano de emergência, conforme previsto na Norma Operacional de Bombeiros (NOB) 31 – Desastres e Catástrofes, o Plano de Emergência deve possuir as seguintes características: “Deve ser um instrumento prático, que propicie respostas rápidas e eficazes em situações de emergência. Deve ser os mais sucinto possível, contemplando, de forma clara e objetiva, as atribuições e responsabilidades dos envolvidos; Deve, obrigatoriamente, ser escrito para materializar as ações necessárias, podendo ser consultado e avaliado periodicamente; Deve contemplar todas as ações necessárias para evitar que situações internas ou externas, envolvidas no acidente, contribuam para seu agravamento; Deve possibilitar a fácil integração com outros planos no mesmo nível operacional ou em níveis operacionais distintos; Deve ser flexível o suficiente para se adaptar à dinâmica real do atendimento e suas variáveis operacionais, bem como características de evolução dos sinistros; Deve ser um instrumento que permita a participação de todos os envolvidos num possível atendimento operacional de emergência, sendo aberto a sugestões para sua elaboração e revisão; e Deve ser dinâmico, possibilitando sua atualização de forma simples, sempre que se fizer necessário, tendo em vista nova ótica operacional adotada, alterações de riscos locais, alterações de recursos disponíveis, 27 SERPA, R. Planos de Emergências. São Paulo: Cetesb, v.2, 1997. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 191 inovações tecnológicas ou outras hipóteses que assim o requeira para mantê-lo eficiente”. Por fim, o Ten Cel PM ARLINDO AUSTINO DOS SANTOS JUNIOR, em sua monografia do CSP/96-SP, “Sistema de Mobilização de Recursos para Atendimento a Desastres Urbanos”, ressalta seis boas razões para a existência de um plano escrito para a mobilização de recursos no Corpo de Bombeiros, e que, guardadas as devidas proporções, pode também trazer tal regra para o planejamento de emergência. São elas: “Diminuição no tempo para a chegada do reforço ao local da emergência; Evitar desperdício de homens e equipamentos; Dar suporte e facilitar o trabalho do Comandante das Operações; Possibilitar o envio de reforços a longa distância; Possibilitar o controle do apoio enviado ao local da emergência; e Evitar o aparecimento de “homem show”, ou seja, aquele que tem toda a operação em sua cabeça e sem ele nada funciona”. 5.4.10 Fases do processo de elaboração do plano O planejamento deve começar muito antes do acontecimento do desastre ou da catástrofe, servindo para evitar que tal situação ocorra ou caso, não seja possível, pelo menos, minimizar os efeitos. Por esse motivo, é que se afirma que o processo de planejamento é um processo que tem início, porém não tem fim. Começa antes da ocorrência, é operado durante o acontecimento do desastre, e após o mesmo é realizada a avaliação dos resultados para melhoria do ciclo operacional de atendimento. Antes do início do planejamento existem algumas medidas que são chamadas de preliminares, ou seja, é necessário que os participantes estejam Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 192 convictos da necessidade do plano para iniciar os trabalhos. Deve ser cultivada uma conscientização e senso de responsabilidade pelos encarregados. O próximo passo é a motivação das pessoas que irão participar do processo de elaboração do plano, sendo que as mesmas deverão inteirar-se de todas as informações necessárias para participar de primeira reunião, quando será decidido sobre a participação ou não do processo. A partir da decisão de realmente iniciar o processo de elaborar um plano, a primeira medida concreta é formar o grupo, o time, o comitê ou como se queiram denominá-lo. Esse grupo deve estar altamente motivado, pois são essas pessoas que vão tomar várias decisões importantes para suas organizações e para comunidade. Em seguida, passam a proceder a uma minuciosa avaliação de riscos e de vulnerabilidades, para em seguida desenvolver o plano, e por fim, implantá-lo. Já se levando em conta o programa de implantação do programa APELL (Alerta e Preparação de Comunidades para Emergências Locais – Awareness and Preparadness for Emergencies at local Level) pode-se observar, pelo diagrama, as suas dez etapas de elaboração: Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências Quadro 4 - Diagrama de Implementação do Plano de Emergências da Comunidade (APELL) DIAGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO DO APELL (Programa em 10 etapas) IDENTIFICAR PARTICIPANTES E ESTABELECER COMUNICAÇÃO AVALIAR OS RISCOS REVER OS PLANOS EXISTENTES E IDENTIFICAR PONTOS FALHOS IDENTIFICAÇÃO DE FUNÇÕES COMBINAR TAREFAS E RECURSOS INCORPORAR PLANOS INDIVIDUAIS AO PLANO INTEGRADO E CONCILIAR PREPARAR PLANO FINAL E OBTER APROVAÇÃO TREINAMENTO TESTE REVISÃO E ATUALIZAÇÃO ORIENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO AO PÚBLICO Fonte: Manual APELL 193 Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 194 Figura 45 - Diagrama de Implementação do Plano de Emergências da Comunidade INDÚSTRIA PROCESSO APELL AUTORIDADES LOCAIS COMUNIDADE Fonte: www.uneptie.org/apell David Alexander28, divide os ingredientes básicos dos planos de emergências em cinco tópicos, a saber: contexto, cenário, necessidade da emergência, recursos disponíveis e utilização dos recursos. No contexto, há o enquadramento legal e a figura dos participantes, ou seja, fica atrelado à legalidade, que dá sustentação às decisões do plano; e aos participantes, que passam a formar o grupo de trabalho. Já no cenário, se dá ênfase ao estudo, à análise, à avaliação dos perigos, às vulnerabilidades, aos riscos e aos impactos causados. A necessidade da emergência aborda as áreas de atuação do plano, quais sejam: salvamento, resgate, cuidados médicos, segurança pública, alimentação, abrigo, prevenção e limitação de danos. 28 ALEXANDER, David. Principles of Emergency Planning and Management. Oxford University Press, First Edicion. Massachusetts, 2002. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 195 Contempla-se, no aspecto de recursos disponíveis, a estrutura básica dos recursos e as competências ou responsabilidades, tais como mão-de-obra pessoal, equipamento de diversas espécies, veículos, instalações e construções. Por fim, sobre a utilização dos recursos, propriamente dito, ele menciona o emprego dos recursos para a solução dos problemas ocorridos no cenário. Fala ainda sobre a disseminação do plano, bem como o teste, previsão e uso do mesmo. SERPA29, estabelece como pré-requisito para elaboração do plano um estudo detalhado como análise de riscos, ou seja, coloca a análise de riscos como um pressuposto da elaboração do plano de Emergência. Após vem a fase de elaboração, na qual o plano é propriamente escrito e desenhado, sendo que para que o plano tenha êxito e atenda a seus objetivos, deve ser devidamente divulgado internamente à instituição, além de ser integrado com outros planos locais e regionais, junto a outras entidades que certamente deverão atuar conjuntamente na resposta aos acidentes. A implantação do plano, além da devida divulgação, está associada ao suprimento dos recursos, humanos e materiais, necessários e compatíveis com o porte das possíveis ocorrências a serem atendidas. Da mesma forma, faz parte da implantação do plano a implementação e manutenção de um programa de treinamento, em diferentes níveis de dificuldades, contemplando treinamentos teóricos, treinamentos individuais, exercícios de campo e operações simuladas coordenadas. Passada a etapa de implantação, o plano de emergência deve ser permanentemente atualizado e periodicamente revisado, de acordo com a 29 SERPA, ob.cit. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 196 experiência adquirida ao longo do tempo, tanto em atendimentos reais, como nos treinamentos realizados. A manutenção do plano deve contemplar as seguintes atividades: sistema de atualizações de informações, registro dos atendimentos realizados, reavaliação periódica de procedimentos, reposição e renovação de recursos. A figura a seguir mostra o detalhamento das etapas do plano de emergência por Araújo30. 30 ARAÚJO,ob.cit. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 197 Figura 46 - Processo de elaboração do Plano MAPAS DA ÁREA DE ORGANIZAÇÃO DE DIGNÓSTICO RISCOS UMA COMISSÃO DE PARTICIPATIVO E VULNERABILIDADES E EMERGÊNCIAS PRIORIDADES RECURSOS IDENTIFICAÇÃO DOS ELABORAÇÃO DE UM RISCOS PLANO LOCAL POSSÍVEIS SOLUÇÕES ATIVIDADES EM RELAÇÃO COM AS DIVERSAS FASES INFORMAÇÃO ATUALIZAÇÃO DO PLANO - CONTEÚDO - COLETA COORDENAÇÃO COM - MEIOS O PLANO - DIFUSÃO RELACIONAL MUNICIPAL PAMPA APELL CAPACITAÇÃO - EXTINÇÃO DE INCÊNDIO SIMULADOS - PRIMEIROS SOCORROS - Fonte: Araújo EXERCÍCIOS DE EVACUAÇÃO Guzman e Neves31 enfocam a organização de um planejamento dividido em cinco fases: de planejamento, em que há o preparo prévio antes da escrita do plano; administrativa, na qual se desenvolvem as políticas e estratégias para o 31 GUZMAN, A. V., NEVES, JTC. Manual de Planejamento de Emergências: Como desenvolver e redigir um plano de emergência. Rio Grande da Serra, 2000. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 198 plano; de ativação, em que se organizam as equipes de trabalho e designam-se as responsabilidades; programa de manutenção, no qual se mantêm o plano funcionando, sendo testado periodicamente; e a quinta parte, que são os anexos. Por fim, há o “Emergency Management Guide For Business e Industry”32, que elenca as providências, passo a passo, para a elaboração de um plano de resposta para emergências em empresas de qualquer dimensão, inclusive para órgãos públicos. Segundo o constante no referido documento, os passos são, de maneira resumida, os seguintes: estabelecimento da equipe de planejamento; análise de recursos, riscos e vulnerabilidades de local; elaboração ou desenvolvimento do plano propriamente dito; e implementação do Plano. 5.4.11 Estrutura formal do plano Entende-se por estrutura formal as partes essenciais da constituição do plano de emergência, e também aqui não se pretende listar todos os tópicos possíveis de inclusão nos planos, mas, sim, fornecer subsídios aos Comandantes dos Postos de Bombeiros, no sentido de facilitar-lhes o trabalho de reunir alguns dados que parecem ser bastante razoáveis de serem agregados aos seus planos de gerenciamento de emergência local. 32 Editado e publicado pela Federal Emergency Management Agency (FEMA). Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 199 5.4.11.1 Modelo sugerido por David Alexander33 David Alexander, na mesma obra já citada, sugere a seguinte estrutura: A – Prefácio: jurisdição, autoridades participantes, autoridades encarregadas e o período de vigência do plano; B – Introdução: declaração tática do planejamento do desastre pelo chefe da emergência, autoridade legislativa responsável pelo projeto do plano e pelos seus passos e conteúdos, finalidade geral e específicas do plano, condições sob as quais o plano é empregado e enquadramento do planejamento local; C – Perigos Locais: natureza dos riscos locais, perfil da área, suas características, recursos e perigos, descrição histórica dos impactos; D – Vulnerabilidade e Análise de Riscos da População Local, Meio Ambiente, Atividades Econômicas, Sistema Social e Cultural: avaliação das probabilidades de desastres na comunidade, análise de riscos (perigo, vulnerabilidade, exposição) riscos de cenários de desastres locais e estratégia de gerenciamento de riscos; E – Responsabilidade legal e jurisdicional para gerenciamento de emergências: inclui atenção, evacuação, busca e resgate, cuidados com saúde e saneamento; F – Introdução ao gerenciamento de recursos de emergência: pessoal, equipamentos, suprimentos, comunicações etc.; G – Estrutura do sistema de comando de emergência local: quadro de organização das atividades, hierarquias, organização dos relacionamentos, 33 ALEXANDER, ob. cit. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 200 estrutura de coordenação e comando, acordos de socorros mútuos (PAM), ligação com outros postos ou jurisdição, relacionamento com outros níveis de governo, agências particulares de emergência; H – Plano geral para todos os riscos ou plano para ocorrências específicas: regras, relacionamentos e tarefas, operação do sistema de alerta (tipos de alarme, como serão distribuídas as obrigações ao receber os alarmes), preparação para os pré-impactos (relacionamento entre as causas dos desastres e a preparação necessária, responsabilidade dos diferentes agentes, determinar os locais de grande risco), procedimento de evacuação de emergência (condições em que se deve autorizar a evacuação, metas e destinos a serem seguidos, levantar necessidades especiais, doentes, idosos etc.), centro de operações de emergência e centro de comando de incidentes, localização, equipamentos, operações e estadomaior, comunicação, busca e salvamento (responsabilidades, equipamentos locais nas zonas de trabalho), ordem pública, informação pública (gerenciamento da mídia de massa), serviço médico e de necrotério, restauração dos serviços básicos; I – Planos de setores específicos: aeroportos, hospitais, instituições de seguro, arquivos, turismo, reatores nucleares etc.; J – Organização para teste, disseminação e a atualização do plano: distribuição e publicidade do plano, exercícios de campo e de evacuação, padronização ou procedimentos automáticos para atualizar o plano; Apêndices: tabela de dados, mapas, fotografias, lista de nomes, endereços e contatos de telefones de todos os agentes relevantes, ou chefes de setores ou cabeças-de-chave, descrição de detalhes e estratégias. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 201 5.4.11.2 Modelo sugerido por Serpa Para SERPA34, de um modo geral, um plano de emergência para um bom atendimento a acidente ambientais, causados por produtos perigosos, deve conter a seguinte estrutura: A – Introdução; B – Característica das instalações e atividades; C – Objetivo; D – Área de abrangência; E – Estrutura Organizacional; F – Acionamento; G – Procedimento de controle; Avaliação; Isolamento e evacuação; Combate a incêndios; Controle de vazamento; Reparos de emergências; Ações de emergências. H – Anexos. Formulário de registro de ocorrência; Lista de acionamento; Recursos materiais; Fichas de informações sobre substâncias químicas. 34 SERPA, ob. cit. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 202 5.4.11.3 Estrutura do modelo APELL35 Outra fonte extremamente rica para o planejador obter subsídios para compor formalmente os planos de emergências, é o plano APELL, que em seu anexo “2” traz os componentes típicos de um Plano de Atendimento Emergencial em Unidades Industriais, quais sejam, resumidamente, os seguintes: A – Organização emergencial; B – Avaliação de riscos; C – Avaliação de riscos nas áreas; D – Procedimento de notificação e sistema de comunicação; E – Equipamentos de emergência e outras facilidades; F – Procedimento para retorno à operação normal; G – Treinamento e testes; H – Organização/procedimentos para testes periódicos de emergência; I – Atualização do plano; J – Procedimento no atendimento a emergência; e K – Manuais de operações detalhados. Apesar de o plano APELL ser direcionado para emergência em indústrias e às comunidades locais no seu entorno que, por algum motivo, estão sujeitas a algum risco, sua estrutura, com pequenas alterações, pode ser muito bem aproveitada para a elaboração de um plano de gerenciamento de emergência local para órgãos públicos de emergência. 35 ABIQUIM. Associação Brasileira da Indústria Química e de Produtos Derivados. Manual APELL. Alerta e Preparação de Comunidades para Emergências Locais. São Paulo: Abiquim,1990. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 203 5.4.11.4 Estrutura do modelo FEMA (Business & Industry)36 Segundo este modelo, o plano deve incluir os seguintes componentes básicos: A – Resumo das principais ações, com o objetivo do plano, a política de gerenciamento de emergência, as autoridades e suas responsabilidades, os tipos de emergências que podem ocorrer, onde podem ocorrer tais emergências etc. ; B – Elementos do gerenciamento de Emergências, tais como: direção e controle, comunicações, segurança da vida, proteção da propriedade, socorro à comunidade, reconstrução, administração e logística. C – Procedimento de respostas para emergências, determinando ações necessárias para realizar análise de situação, proteção das pessoas, de equipamentos etc. Prevê ainda procedimento para acionamento dos bombeiros etc.; D – Documentos de suporte, incluindo lista com nomes e telefones de pessoas que estão envolvidas nas emergências, mapas de riscos e recursos da área etc. Da mesma forma do anterior este plano é destinado ao comércio e indústria, porém sua estrutura pode muito bem ser aproveitada para o uso de órgãos de emergência, com pequenas adaptações; 36 FEMA, ob.cit. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 204 5.4.11.5 Plano de Atendimento de Emergência (PAE)37 – SC É um plano adaptado pela Defesa Civil do Estado de Santa Catarina, no qual se estabelece procedimento legal e organizacional para operações em resposta a desastres ou emergência naquele Estado. Tendo a seguinte estrutura: A – Histórico; B – Conceito; C – Finalidade; D – Situações e suposições; E – Legislações; F – Órgãos envolvidos; G – Atribuições gerais; H – Atribuições específicas; I – Prescrições diversas; J – Anexos. 5.4.11.6 Plano Geral de Mitigação do Estado da Califórnia – EUA38 É um plano extremamente detalhado que contém todo o programa de redução das vulnerabilidades e melhoria da resposta aos desastres e catástrofes para o Estado Americano da Califórnia. 37 SANTA CATARINA. Grupos Integrados de Ações Coordenadas - GRAC. Disponível em <http://www.defesacivil.sc.gov.br/plano.htm>. Acesso em 17maio2005. 38 STATE CALIFORNIA. Multi-hazard Mitigation Plan. The Governo’s Office of Emergency Services. Disponível em: <http://www.oes.ca.gov>. Acesso em 12maio2005. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 205 Este plano está dividido em cinco grandes partes e cada uma está subdividida em vários capítulos, como, resumidamente, segue: A – Introdução, que trata dos objetivos do plano, do processo do planejamento, da coordenação entre as agências e departamentos, da interligação com outros planos já existentes, do envolvimento público e da aceitação ou adoção do plano pelo Estado. B – Avaliação dos riscos, que trata minuciosamente dos principais riscos que o Estado enfrenta, tais como: terremotos, enchentes, grandes incêndios e outros riscos. C – Estratégia de mitigação, que aborda medidas estaduais e ajuda ou colaboração de outras fontes. D – Preparação para mitigação e o plano local inclui educação e preparação, coordenação do plano local para mitigação, monitoramento, avaliação, atualização do plano, estimativa do potencial de perdas etc.; E – Apêndices, onde consta o glossário, bibliografia, lista de siglas, relação do “WEB Sites” úteis etc. 5.4.11.7 Estrutura do Plano Particular de Intervenção O Plano Particular de Intervenção (PPI) é um documento elaborado pelo Corpo de Bombeiros local, juntamente com representantes das empresas e locais de risco de sua região para enfrentar as emergências naqueles locais. A estrutura do Plano Particular de Intervenção adota um padrão, conforme previsto em normas do Corpo de Bombeiros, obedecendo ao seguinte: Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 206 A - Finalidade; B – Definição do cenário; C – Definições gerais; D – Princípios preventivos; E – Meios a serem utilizados; F – Acionamento; e G – Procedimento operacional. 5.4.11.8 Estrutura do Plano de Auxílio Mútuo (PAM/ARAÇATUBA)39 Plano que estabelece a soma de esforços de pessoal, equipamentos e materiais, envolvendo órgãos governamentais, não-governamentais e a comunidade para enfrentar, com sucesso, situações de emergências. A sua estrutura básica segue o roteiro abaixo: A – Finalidade; B – Situação; C – Organização; D – Objetivo; E – Articulação; F – Mecanismo de ação operacional; G – Mecanismo de ação administrativa; H – Recursos para o atendimento de emergências; 39 ARAÇATUBA. Coordenadoria Regional de Defesa Civil – REDEC/I-9. Proposta para Implantação do Plano de Auxílio Mútuo – PAM na Região de Araçatuba. Araçatuba, 1999. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 207 I – Termo de compromisso; J – Disposição geral; L – Anexos: L – 1 – Termo de Adesão do PAM; L – 2 – Recursos Específicos; L – 3 – Formulário para acionar o PAM; L – 4 – Formulário “Status dos Recursos Materiais”; L – 5 – Formulário “Recursos Materiais”; L – 6 – Formulário “Avaliação Procedimentos Internos”; L – 7 – Formulário “Padrão de Comunicação via Rádio”; L – 8 – Formulário “Participação em Treinamentos”; L – 9 – Equipe de Intervenção; L – 10 – Equipe de Salvamento; L – 11 – Lista de empresas. 5.4.11.9 Estrutura básica do plano de contingência É um planejamento realizado para controlar e minimizar os efeitos previsíveis de um desastre específico. O planejamento se inicia com um estudo de situação, que deve considerar a seguinte estrutura formal: A – Avaliação de ameaça de desastre; B – Avaliação da vulnerabilidade do desastre; C – Avaliação do risco; Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 208 D – Previsão dos danos; E – Avaliação dos meios disponíveis; F – Estudo da variável tempo; G – Estabelecimento da hipótese do planejamento; H – Estabelecimento da necessidade dos recursos; I – Levantamento, comparação e definição da melhor linha; J – Definição das missões gerais e específicas das participações. 5.4.11.10 Estrutura do Plano Comunitário Integrado – PCI/RINEM40 É um plano de emergência que foi criado em São José dos Campos, em 1991, do qual participam várias empresas, conjuntamente com as Coordenadorias Municipais de Defesa Civil de São José dos Campos e Jacareí, além de diversos órgãos públicos, incluindo o 11º Grupamento de Bombeiros, do Vale do Paraíba. A iniciativa, que se demonstrou bastante útil e acertada, é um ótimo exemplo de organização e desempenho operacional. Sua estrutura é fundamentada nos seguintes tópicos: A – Objetivo; B – Acordo de cooperação técnica com recursos materiais e humanos para o controle dos efeitos em emergências; C – Política de coordenação e atendimento emergencial; D – Plano de comunicação para situações emergenciais; E – Recursos mínimos disponibilizados; Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 209 F – Recursos materiais adicionais; G – Banco de dados de recursos materiais e humanos; H – Ressarcimentos de equipamentos e materiais disponibilizados para auxílio; I – Viaturas para produtos perigosos do 11º GB; J – Planos locais de emergências; K – Planos particulares de intervenção; L – Ponto para recepção de auxílio externo; M – Acesso ao local da emergência; N – Abandono de residências e comunidades – pontos de encontro seguros; O – Emergências externas com produtos perigosos; P – Suporte à entidades e órgãos públicos; Q – Emergências médicas de grande porte; R – Divulgação de informações à comunidade e outras empresas; S – Treinamentos periódicos; T – Exercícios simulados; U – Relatórios de emergências; V – Resíduos gerados nas emergências; X – Responsabilidades civil e criminal; Y – Anexos. 40 RINEM. Rede Integrada de Emergência do Vale do Paraíba do Sul. Estatuto e Plano Comunitário Integrado. São Paulo, 1996. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 210 5.4.11.11 Estrutura do planejamento local de Massachusetts41 É um plano que está em vigor desde 1986 e serve para pautar os procedimentos do Comitê de Planejamento Local: ”Local Emergency Planning Committee” (LEPC). Sua estrutura, resumidamente, atende ao seguinte roteiro: A – Introdução; B – Sumário; C – Programas Federais (leis e ordens); D – Programas Estaduais (leis e ordens); E – Programa Local; F – Comitê de Planejamento de Emergência Local (Sigla original – LEPC); G – Sistema de comando de operações; H – Proteção de população; I – Operações de perigo; J – Terrorismo; L – Treinamento; M – Restauração e reconstrução; N – Guias para uso dos materiais; O – Considerações legais; P – Lista de endereços, telefones, fax etc.; R – Definições. 41 MASSACHUSETTS. Local Emergency Planning Committee HandBook. Massachusetts, 2001. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 211 5.4.11.12 Estrutura do Plano EPCRA 42(Emergency Planning and Community Right – to – Know Act) É um programa implantado nos EUA desde 1986, que possui basicamente dois grandes objetivos, quais sejam: incentivar e melhorar o planejamento da resposta local para acidentes químicos e prover de informações, sobre esses perigos, o governo local e a comunidade. Sua estrutura emprega os seguintes tópicos: A – Parte 1 – Introdução para o planejamento de emergência e para o esclarecimento da sociedade e governo locais sobre os perigos a que estão expostos; B – Parte 2 – Principais grupos que poderão ser afetados pelas emergências e pelos planos; e C – Parte 3 – Responsabilidades dos grupos. 5.4.12 Conteúdo material do plano Como conteúdo material de um plano, pode-se entender toda informação com significado, gerada durante o processo de sua elaboração, pois os elaboradores do plano aprendem e geram muito mais conhecimentos além daqueles simplesmente registrados nos termos formais dos planos. 42 EPCRA. Emergency Planning and Community Right <http://www.ehso.com/EPCRA_Guide.htm>. Acesso em 17maio2005. to Know Act. Disponivel em: Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 212 Para citar alguns exemplos de áreas no campo do conteúdo material tem-se: estudo de riscos e vulnerabilidades, meteorologia e hidrologia, informações, comunicações, alertas e alarmes, busca e salvamento, transporte e logística, primeiros socorros e atendimento pré-hospitalares, abrigos e acampamentos, atendimento médico-hospitalar, saúde pública e saneamento, avaliação de danos, serviços essenciais, segurança e ordem pública, manejo de mortos, combate a incêndios etc. Toda e qualquer decisão, procedimento operacional, procedimento administrativo ou medida que envolva qualquer ação de caráter operativo, também estão ligados ao conteúdo material. Para que se possa ter um resumo do que deva ser considerado como conteúdo material do plano, a FEMA (Federal Emergency Management Agency) elenca, além das funções principais de atendimento de emergências, as funções materiais do planejamento, tais como: transporte, comunicações, obras públicas e serviços de engenharia, apoio ao combate ao fogo, informações e planejamento, atendimento de massa, medidas de saúde, busca e resgate, materiais perigosos, alimentação e emergências públicas. 5.4.13 Algumas variáveis que podem interferir no planejamento das emergências locais de bombeiros Muitos fatores podem interferir, positiva ou negativamente, no processo de elaboração do planejamento local de bombeiros. Serão abordados alguns tópicos considerados mais significativos. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 213 5.4.13.1 Infraestrutura da região É de suma importância conhecer os dados sobre os principais serviços disponíveis: educação, cultura, transporte, energia, sistema de abastecimento etc. 5.4.13.2 Aspectos legais Também é importante ao Comandante de Bombeiros local ter noções sobre a legalidade das suas missões e ações, bem como conhecer as bases legais da sua região e município entendendo os limites e alcances, sabendo como se orientar para obter melhores resultados em favor do atendimento operacional. 5.4.13.3 Perfil da região Conhecer o perfil da região no tocante às principais características físicas, quer regionais, quer voltadas às tradições do local, quer pelas características climáticas ou do relevo, ou outra especificação, podem colaborar na tomada de decisões. A capacidade financeira do município também merece especial atenção. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 214 5.4.13.4 Perfil da população Saber a quantidade, proporção de faixas etárias, sexo, escolaridade, religião, nível social, entre outros, também são relevantes e podem facilitar muito as decisões a serem tomadas, nos casos de prevenção e atendimentos das emergências. 5.4.13.5 Capacidade de resposta da região frente a desastres Saber se a região é articulada, operacionalmente responsável, consciente dos seus problemas, se há um preparo prévio, capacidade de mobilização e outros, são dados muito importantes para fazer parte de qualquer planejamento local. 5.4.13.6 Análise das vulnerabilidades É indispensável a análise dos cenários e suas características vulneráveis, residindo neste ponto grande parte do sucesso das operações de proteção da sociedade, sendo que o Comandante local do Corpo de Bombeiros deve ter sua atenção voltada permanentemente para esse aspecto, pois a dinâmica Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 215 de segurança é muito grande e qualquer descuido ou prevaricação nesse sentido pode representar conseqüências muito desastrosas, gerando perdas irreversíveis. 5.4.13.7 Riscos existentes Esse fator revela-se de suma importância para qualquer fase do atendimento de emergências, porém é na fase do planejamento que o conhecimento detalhado de todos os riscos e suas conseqüências se faz mais marcante, pois é fundamentado nesse conhecimento e identificação que o Comandante local irá conduzir suas ações em defesa da sociedade. É muito importante para qualquer Comandante de Bombeiros local conhecer completamente sua área de atuação, pois só assim poderá decidir da melhor maneira possível para o adequado atendimento das emergências que surgirem, minimizando as conseqüências e prejuízos locais. 5.4.13.8 Recursos disponíveis Como já foi dito, é um outro fator muito importante, pois pode efetivamente e visivelmente melhorar as condições do atendimento operacional para o Corpo de Bombeiros, porém, como ficou comprovada na pesquisa realizada, por meio dos questionários desta monografia, junto aos Comandantes de Postos de Bombeiros, essa tarefa não é nada fácil, uma vez que nem sempre o recurso está Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências prontamente disponível, cabendo ao Comandante 216 local, permanentemente, empenhar-se nessas conquistas e mantê-las sempre atualizadas. 5.4.13.9 Planos operacionais ativos É conveniente que o Comandante local realize um inventário em toda sua região e imediações, visando identificar e avaliar os planos operacionais existentes que possam, de alguma forma, gerar qualquer tipo de reflexo em sua área operacional. Deve buscar não apenas os planos municipais, mas também os de níveis mais elevados, como os planos regionais, estaduais, federais e até mesmo particulares que podem interferir, ajudando ou dificultando nos trabalhos locais. Para melhor organizar essa pesquisa, é interessante que se adote uma matriz de avaliação de planos para medir se esses documentos realmente estão atendendo suas funções operativas ou se precisam de alguns ajustes para efetivamente entrarem em vigor. 5.4.13.10 Demanda operacional e calendário de eventos O estudo da demanda operacional é muito usado pelos Comandantes de Bombeiros locais, porém é importante ressaltar a figura do calendário de eventos, que permite a realização de medidas de planejamento em conjunto e com antecedência, evitando surpresas indesejáveis, potencializando os atendimentos. Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 217 5.4.13.11 Potencial de resposta do Corpo de Bombeiros local Este talvez seja o aspecto mais importante da análise do Comandante de Bombeiros local, pois se o potencial de resposta operacional atender às necessidades da demanda, a equação está econômica e tecnicamente equilibrada; caso isto não ocorra, é necessário que o Comandante local procure adequar-se o mais breve possível ao seu contexto operacional, pois, caso não consiga, corre um grande risco de se defrontar com situações que não estará preparado para suportar, e poderá gerar reflexos extremamente graves, uma vez que sua missão é a proteção da vida, do meio ambiente e do patrimônio. O potencial operacional de um Posto de Bombeiros, não deve se restringir exclusivamente às suas fronteiras, sendo entendido como potencial de resposta de atendimento local, tudo aquilo que o Comandante local conseguir captar, reunir, disponibilizar e articular para o atendimento da comunidade. Uma das missões do Corpo de Bombeiros é procurar estes reforços junto à comunidade sempre que necessário, e tanto maior é o potencial operacional de um Posto de Bombeiros, quanto maior for o seu envolvimento e articulação com a comunidade. 5.4.14 Considerações gerais sobre o planejamento Para finalizar este capítulo sobre o planejamento, é necessário que o planejador local tenha consciência do seu importante papel, pois caso algum item Instrumentos para Auxiliar a Gestão de Emergências 218 importante fique fora das avaliações, o trabalho estará incompleto e poderá provocar conseqüências extremamente sérias. Por tal motivo, é metodologicamente correta a criação do Grupo de Planejamento de Emergências Local (GPEL) para, mediante agenda própria, estabelecer suas metas e ações. Deve-se considerar também o aspecto legal e os planos já existentes que podem causar reflexos positivos ou negativos nas ações do Corpo de Bombeiros. O Sistema de Comando de Operações em Emergências adotado pelo Corpo de Bombeiros é o SICOE, devendo, obrigatoriamente, ser contemplado nos Planos Locais como medida operacional a ser executada. Os planos operacionais no Corpo de Bombeiros devem seguir uma hierarquia funcional, de acordo com o nível de operações, sendo sua base o Plano de Gerenciamento de Emergências Local (PGEL), conforme proposto no fluxograma de emprego dos planos, previsto no apêndice “D”. Para a avaliação de riscos das áreas locais, os planos deverão contemplar a elaboração de Análise Preliminar de Riscos ou Perigo (APP/APR), conforme apêndice “A“. Outro aspecto relevante para a elaboração dos planos locais é a realização do inventário operacional, no qual devem ser analisados, entre outros itens, todos os planos operativos de sua região, incluindo os POP, PPI, PAM etc. Os planos devem atender seus objetivos gerais e específicos, sendo elaborados de forma democrática e participativa, propiciando a sua perfeita compreensão por todos os participantes, devendo ainda primar pela simplicidade e eficácia operacional. Capítulo 6 6 AVALIAÇÃO DA PESQUISA Com a finalidade de coletar informações para subsidiar o presente trabalho, foi realizada esta pesquisa junto aos oficiais do Corpo de Bombeiros. Para tanto, foram elaborados dois tipos de questionários, conforme modelos constantes nos apêndices “E” e “F”, sendo que o primeiro foi encaminhado a todos os Comandantes de Postos de Bombeiros e o segundo aos Oficiais Capitães operacionais. Foi escolhido como público-alvo a figura do Comandante do Posto de Bombeiros, pois, operacionalmente, é ele o primeiro contato com o atendimento do público, sendo o responsável pela articulação operacional local, bem como pelo gerenciamento dos recursos para tal. Já os capitães foram escolhidos por reunirem grande experiência profissional ao longo dos seus anos de serviço, bem como pela sua destacada função operacional no atendimento de desastres e catástrofes. Foram enviados questionários a todos os Comandantes dos Postos de Bombeiros do Estado, e retornaram, respondidos, 81 e para os capitães foram enviados 52 questionários sendo respondidos 21 deles. Seguem os resultados das pesquisas. Avaliação da Pesquisa 220 6.1 Questionário aos Comandantes dos Postos de Bombeiros Gráfico 1 - Questão 1 – Localização do Posto. 10% 21% CBM - Capital 45% 24% CBM - Região Metropolitana Interior Litoral Gráfico 2 - Questão 2 – Tempo de Comando de Posto. 3,5 3 PERÍODO EM ANOS 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Capital Nesta Região Metropolitana questão, procurou-se Interior verificar Litoral o tempo médio que os Comandantes dos Postos permanecem no exercício da função, sendo que os resultados variam de 01 mês até o máximo de 11 anos no comando do mesmo posto. Alguns casos isolados de longo período de comando em um único posto Avaliação da Pesquisa 221 podem gerar um desvio dos resultados. Porém apesar dessa consideração, pode-se perceber que realmente o interior tem uma estabilidade maior de permanência do oficial no mesmo local. Um período mais longo no comando do seu Posto, via de regra, permite ao profissional bombeiro conhecer e interagir melhor com os problemas de sua área, conseguindo obter melhor articulação operacional. Gráfico 3 - Questão 3 – Se exerce o cargo de Comandante do Posto com exclusividade. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% NÃO 30% RARAMENTE 20% FRENQUENTEMENTE 10% SIM 0% 1 2 3 4 Esta questão procurou verificar as condições de dedicação do Comandante do Posto às atividades pertinentes a suas funções. Nota-se que mais de 56% dos Comandantes não exercem com exclusividade as funções de Comandante de um único Posto de Bombeiros, sendo que apenas 27% o fazem com exclusividade. Tal situação não colabora com o total comprometimento do Comandante na solução dos problemas locais. Avaliação da Pesquisa Gráfico 4 CAPITAL 222 Questão 4 – Se já empregou o SICOE na sua região. REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 8% 20 % 92 % 38 % 62 % 100 % 80 % SIM NÃO Pelas respostas obtidas, nota-se que, em média, 67% dos avaliados já empregaram a sistemática do SICOE, muito embora perceba-se, ainda, que alguns Comandantes confundem o emprego do Sistema de Comando de Operações em Emergências com o simples uso da viatura tipo Comando de Operações (CO). Gráfico 5 CAPITAL Questão 5 – Já necessitou de apoio de órgãos externos ao CB? REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 6% 7% 27% 67% 7% 17 % 16% 33 % 17 % 77% 33 % SEMPRE REGULARMENTE RARAMENTE 16 % 19 % 58 % NUNCA Avaliação da Pesquisa Pela análise 223 desta questão, pode-se verificar que para aproximadamente 62% dos entrevistados, regularmente são necessários apoios dos recursos externos ao CB para o atendimento operacional. Nota-se, também, que aproximadamente 22% disseram que o apoio é sempre necessário. Somando-se estes dois índices, chega-se ao total de que 84% dos Comandantes necessitam empregar os recursos externos ao Corpo de Bombeiros nos seus atendimentos operacionais; logo, é muito importante que haja um relacionamento e planejamento prévio para a otimização destes recursos. Questão 5 – A - Cite alguns órgãos que podem colaborar com o Corpo de Bombeiros. Dentre os órgãos que foram citados, pode-se destacar com maior incidência os seguintes: Polícia Militar; Polícia Civil; IML; Marinha; Exército; Aeronáutica; Polícia Federal; Metrô; GRPAe; Brigada de Incêndio; Prefeituras; Subprefeituras; Cetesb; Hospitais; Sistema de Saúde; Defesa Civil; Engenheiros da Prefeitura; CET; SeTran; Trânsito; DER; CPFL; Companhia de Energia; Guarda Portuária; Empresas privadas; Sabesp; Codesp; Rodoviária Federal; Concessionárias Públicas; Sindicatos; Guardas Civis Municipais; SAMU 192; Polícia Técnica (IC); Usinas; Serviços de ambulâncias; Rodoviária Estadual; Ambiental; PAM; CONTRU; Comgás etc. Cada região, por conta de suas características locais, obtém apoio mais acentuado de determinados órgãos ou empresas, sendo que em todos os questionários foi citado algum tipo de entidade, mesmo aqueles que disseram não necessitar de apoio. Avaliação da Pesquisa Gráfico 6 - 224 Questão 5 – B – Julga que pode melhorar o relacionamento com esses órgãos? CAPITAL REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 7% 93 % 100 % 100 % SIM 100 % NÀO Nesta questão, pode-se observar que quase a totalidade das respostas caminha no sentido de afirmar que, independentemente do grau de entrosamento existente entre as partes envolvidas no atendimento de emergência local é possível melhorar de alguma forma, o cenário atual. Neste aspecto, percebe-se a intenção e predisposição dos Comandantes de Postos em realmente querer melhorar estes relacionamentos com os outros órgãos e com a comunidade. Avaliação da Pesquisa Gráfico 7 - 225 Questão 6 – Quanto à importância dada ao apoio dos órgãos externos ao CB em ocorrências? CAPITAL REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 0% 15 % 24 % 20% 85 % 100 % 76 % POUCO IMPORTANTE SEM IMPORTANCIA 80% MUITO IMPORTANTE IMPORTANTE Outro dado da suma importância levantado aqui nesta questão é que praticamente 100% dos Comandantes dos Postos concordam que é necessário o apoio dos órgãos externos para a realização de suas missões no atendimento operacional. Gráfico 8 - Questão 7 – Sobre a facilidade da mobilização e disponibilizarão dos recursos para os atendimentos do CB. CAPITAL REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 15 % 15 % 27% 13% 9% 50 % 70 % MUITO DIFÍCIL 50 % 34% 33% 60% DIFÍCIL 24% FÁCIL EXTREMAMENTE FÁCIL Avaliação da Pesquisa Gráfico 9 - 226 Questão 8 – Existência do Plano de Gerenciamento de Emergência Local. CAPITAL REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 0% 8% 8% 13 % 27 % 17 % 33 % 60 % 84 % 22 % 50 % SIM NÃO 13 % 65 % EM ELABORAÇÃO Gráfico 10 - Questão 9 – Existência do Mapa de Riscos e Recursos Locais. CAPITAL REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 8% 46 % 7% 46 % SIM 16 % 20% 16 % 68 % 73% NÃO 28 % 34 % 38 % EM ELABORAÇÃO Analisando-se a questão de número 7, pode-se concluir que a maioria absoluta dos entrevistados acha difícil a mobilização e disponibilizarão dos recursos (por volta de 51%), sendo que mais 15% julga muito difícil a realização de tal tarefa. É interessante observar a conjugação da resposta dessa questão com as duas seguintes (8 e 9), pois percebe-se, pela análise dos questionários, que Avaliação da Pesquisa 227 alguns postos que dizem possuir algum tipo de planejamento ou um levantamento de riscos e recursos mostraram maiores facilidades em mobilizar recursos para o atendimento operacional, o que vem reafirmar a necessidade de medidas preparatórias para aumentar a eficiência. Ainda que os postos não possuam um planejamento ou levantamento de riscos ideal, é notório que tais medidas colaboram para a melhoria e agilização do atendimento operacional nas grandes emergências. Gráfico 11 - Questão 10 – Se julga necessário receber a instrução específica para elaborar o planejamento de emergências e mapeamento dos riscos de sua área? CAPITAL REGIÃO LITORAL INTERIOR METROPOLITANA 23 % 17 % 23 % 17 % 54 % CURSO 66 % ESTÁGIO 50 % 33 % 17 % DOCUMENTO 32 % 51 % 17 % NÃO JÁ SABE Nesta questão, observa-se a carência dos Comandantes de Postos sobre informações técnicas de como elaborar planejamento, avaliação de riscos e mapeamentos, pois praticamente 100% deles admitem a necessidade de receber informações sobre o assunto, seja por meio de cursos (46%), estágios (27%) ou mesmo por documentos oficiais do Corpo de Bombeiros (32%). É importante ressaltar que, analisando-se os currículos dos cursos de capacitação do Corpo de Bombeiros, principalmente o CBO (Curso de Bombeiros Avaliação da Pesquisa 228 para Oficiais) e CBS (Curso de Bombeiros para Sargentos), observa-se que são destinadas menos de duas horas-aula para abordar o tema sobre Planejamento de Emergências na área de Defesa Civil, o que com certeza, não é suficiente para habilitar o profissional a realizar tais tarefas. 6.2 Questionários Enviados aos Capitães Questão 1 - Sobre o preparo das Unidades Operacionais para o atendimento das ocorrências de sua região. As respostas a esta questão foram quase que na sua totalidade afirmativas, no sentido de que o Corpo de Bombeiros não está totalmente preparado para atender todas as emergências possíveis. Porém, não só no Brasil, mas outros países, como Estados Unidos, França, Portugal, entre outros, também mostraram dificuldades em atender certos tipos de ocorrências, evidenciando a necessidade de maior integração entre os órgãos de emergências, inclusive no âmbito internacional, quando necessário. O principal ponto abordado foi a necessidade da constante preocupação em atingir a situação ideal de atendimento; apesar de ser quase impossível, deve ser o objetivo de todos. Questão 2 – Quais as principais dificuldades encontradas nos atendimentos de emergências. Também nesta questão houve uma concentração de alguns itens com mais freqüência, sendo eles os seguintes: deficiência de efetivo, de materiais, de equipamentos e de comunicações. Avaliação da Pesquisa 229 Outros aspectos foram levantados, tais como a dificuldade de coordenação operacional, o tempo-resposta para o atendimento operacional, a falta de preparo adequado do efetivo operacional, a inexistência de um sistema de coleta de dados durante o atendimento de ocorrências, entre outros. Questão 3 – Sugestões para minimizar estas dificuldades. A sugestão inicial é do aumento do efetivo e aquisições de materiais novos para o atendimento operacional, porém como isso não é muito provável que ocorra, a sugestão dada é no sentido de que o Corpo de Bombeiros deva empregar maior criatividade com relação aos recursos e especializar melhor os efetivos existentes, aumentando o seu potencial operacional. Outra alternativa bastante citada é a melhoria do relacionamento de Corpo de Bombeiros com outros órgãos de emergência para realizar o emprego integrado de meios e recursos (materiais e humanos). A criação de Forças-Tarefas regionalizadas, no sentido de prover as unidades do interior de maiores recursos materiais e humanos, diminuindo o temporesposta do reforço e aumentando o seu potencial operacional, figura também como uma das importantes sugestões. Foi abordado também o treinamento integrado, como forma de sanar a deficiência de recursos, pois pode otimizar as forças existentes, principalmente, programando-se a expansão dos Planos de Auxílio Mútuos (PAM) e os Planos Integrados. A elaboração de curso de gerenciamento de desastres poderia auxiliar na capacitação do efetivo disponível, melhorando a qualidade dos serviços. Questão 4 – Como é o relacionamento do CB com os outros órgãos de emergências e se é possível melhorá-lo? Avaliação da Pesquisa 230 Grande tendência das respostas foi no sentido de julgar que o relacionamento entre os bombeiros e os órgãos de emergências é bom, porém pode melhorar. A melhoria pode ser concretizada de várias formas, tais como: melhorias de contatos pessoais; realização de eventos integrados; troca de informações sobre suas missões; criação de procedimentos operacionais conjuntos; realização de palestras entre os integrantes dos órgãos de emergências, divulgando a filosofia do SICOE; realização de simulados integrados; reuniões de planejamentos operacionais; realização de protocolos de intenções entre os órgãos; melhorar as condições de planejamento; evitar concorrências e disputas pelas missões; definir claramente as responsabilidades de cada órgão etc. Questão 5 – O Corpo de Bombeiros tem uma boa aceitação por parte do público, porém é possível melhorar tal situação? Nesta questão, apesar de todos concordarem com a confortável situação de aceitabilidade do Corpo de Bombeiros pelo público, todos afirmaram que pode haver melhorias se forem criados indicadores específicos de qualidade e desempenho para que se possa realmente levantar quais as dificuldades encontradas e propor soluções adequadas. Uma importante sugestão colhida para otimizar tal situação foi a de propiciar uma melhor valorização do profissional bombeiro, pois assim realmente haverá o seu compromisso com o cumprimento adequado das missões. Outro aspecto lembrado foi a necessidade de se valorizar as Unidades Operacionais, pois são elas que prestam os serviços para as comunidades e normalmente não se sentem adequadamente prestigiadas. Questão 6 – Qual deve ser a visão de futuro do Corpo de Bombeiros com foco no atendimento de catástrofes? Avaliação da Pesquisa 231 Vários aspectos foram relacionados nesse item, porém pode-se destacar, em várias respostas, os seguintes termos: especialização, integração, profissionalismo, atendimento rápido, eficaz e com qualidade, organização e capacitação, uniformidade de comportamento, instrução, reequipamento do CB, complementação de efetivo, melhoria na comunicação, relacionamento, lideranças etc. Capítulo 7 7 PROPOSTAS DE MELHORIAS PARA O GERENCIAMENTO DE DESASTRES PELO CORPO DE BOMBEIROS LOCAL 7.1 Generalidades Como foi visto em capítulos anteriores, o Estado de São Paulo está sujeito a uma série de ameaças que pode, a qualquer momento, transformar-se em graves desastres. Quanto maior o despreparo ou a vulnerabilidade local, maior e mais graves serão as conseqüências para a comunidade. Os órgãos de atendimento de emergências, e em especial o Corpo de Bombeiros, deverão estar sempre atentos e preparados para dar a melhor resposta aos possíveis eventos desastrosos que podem ocorrer em suas áreas. Os órgãos locais de emergência devem estar aptos a dar os primeiros atendimentos com os seus próprios recursos, pois o apoio externo à localidade, via de regra, demora muito a chegar. Para otimizar esses atendimentos, é primordial que haja um perfeito entrosamento entre todos os órgãos locais de atendimento de emergência e até mesmo com a própria comunidade, visando conhecer todos os perigos e ameaças Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 233 que possam surgir, bem como quais os recursos necessários e os disponíveis, devendo saber a sua exata localização e forma de acionamento operacional. O Corpo de Bombeiros, via de regra, é um dos primeiros órgãos oficiais de emergência a atuar no momento do início da ocorrência de grandes desastres ou acidentes locais, e para isso deve dispor de recursos mínimos e procedimentos adequados para o início do efetivo atendimento e acionamento dos meios complementares. Para os atendimentos de rotina, as medidas são previsíveis e mais facilmente ajustáveis; já para os casos fora da normalidade, quando vários órgãos serão chamados a intervir conjuntamente, sem sombra de dúvidas, torna-se necessário um instrumento mais preciso e adequado que irá ditar as responsabilidades e procedimentos de cada um dos órgãos envolvidos nas emergências. Nesse sentido, como forma de melhorar a qualidade do atendimento de desastres pelo Corpo de Bombeiros, é proposta a adoção do Plano de Gerenciamento de Emergência Local (PGEL) e da Análise Preliminar de Riscos (APR), com a elaboração de Mapas de Riscos e Recursos Locais, para todos os Postos do Estado. Para a elaboração desses valiosos instrumentos de gestão de emergências, é imprescindível a constituição, preliminarmente, do Grupo de Planejamento de Emergências Local (GPEL), formado por representantes dos principais órgãos de emergências locais, tendo o caráter de um grupo harmônico e permanente. Para melhor esclarecer as propostas apresentadas, a seguir, serão detalhados os seus principais itens. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 234 7.2 Implantação do GPEL - Critérios Gerais 7.2.1 Conceito O GPEL é um grupo multidisciplinar, de caráter permanente, formado por representantes dos principais órgãos e entidades que atuam conjuntamente com o Corpo de Bombeiros, destinado a proporcionar melhorias no gerenciamento do atendimento de desastres e emergências locais, possibilitando integração e otimização dos recursos locais, e potencializando as condições da região, preparando-a para a melhor resposta a esses atendimentos. 7.2.2 Membros do GPEL É muito importante a escolha adequada dos membros que irão compor o GPEL, pois este grupo será responsável pelo planejamento e preparo das condições locais do primeiro atendimento. Deve ser efetuado um inventário dos principais órgãos de atendimento de emergências local, procurando incluir todos os segmentos importantes como membros permanentes do Grupo, dentre eles: Bombeiros, Polícia Militar, Serviço de Saúde, Serviço de Transportes, Serviços de Ambulâncias, Cetesb, Serviços de Fornecimento de Águas, Serviço de Fornecimento de Energia Elétrica, Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 235 Grupos de Comunidades, Defesa Civil, Trânsito, Principais Empresas, Órgãos Públicos de diferentes níveis, Mídia, Representante do Poder Legislativo etc. É de vital importância que, na escolha dos membros dos segmentos para comporem o GPEL, sejam observadas as suas características individuais, pois são necessários alguns requisitos importantes que, caso não sejam atendidos, poderão inviabilizar ou prejudicar o desempenho do grupo: saber e querer trabalhar em equipe; ter consciência de sua importância para o sucesso do grupo e dos atendimentos emergenciais; conhecer em profundidade as suas missões gerais e específicas; possuir capacidade e autoridade para tomar decisões básicas para as medidas necessárias; estar disponível e predisposto a colaborar com o grupo; cumprir os compromissos agendados; trabalhar cooperativamente, no sentido de ser participativo, porém com respeito e harmonia entre os integrantes; e etc. Além dos membros permanentes do GPEL, de acordo com as necessidades, poderão ser convidadas outras pessoas para comporem o grupo de forma temporária ou eventual, tais como técnicos especializados, professores, profissionais específicos etc. A quantidade de membros a integrar o GPEL pode ser variada de um local para outro, respeitando as necessidades e disponibilidades regionais, sendo certo que devem participar o maior número possível de entidades e órgãos, pois assim serão obtidos maior comprometimento e fortalecimento do grupo. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 236 7.2.3 Estrutura Dentre os membros permanentes do GPEL, deverão ser eleitos ou definidos um Coordenador-geral, um Vice-coordenador e um Secretário, que deverão dar o suporte administrativo para o funcionamento do grupo, definindo agenda para reuniões periódicas, mantendo arquivos de documentos, programando agendas de serviços, visitas, palestras etc. O líder do Grupo, dentre outras características, deve apresentar: elevado grau de respeitabilidade com relação aos demais integrantes do grupo; experiência em liderança em trabalhos de grupos; habilidade de comunicação e administração; grande responsabilidade no trato das questões de planejamento, prevenção e atendimento de situações de emergências; disponibilidade de tempo e recursos mínimos; espírito de cooperatividade para com os demais membros do grupo; deve ser dinâmico e prestativo; procurar ser criativo na solução de problemas; deve estar realmente comprometido com sua missão; deve ser organizado; e etc. Caso seja possível e viável, é desejável que o GPEL seja subdividido em sub-grupos para melhor gerenciar as suas missões, tais como: SGPEL – Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 237 Incêndio, SGPEL Resgate, SGPEL PP, SGPEL Salvamentos e SGPEL Apoio operacional. O Comandante do Posto de Bombeiros, por razões óbvias, deve exercer as funções de Coordenador de grupo. Segue uma proposta de organograma que pode ser adotado na estrutura do GPEL: Figura 47 - Organização do GPEL ORGANIZAÇÃO DO GPEL ÁREAS DE ATUAÇÃO COMUNICAÇÕES ADMINISTRAÇÃO LOGÍSTICA OPERACIONAL PLANEJAMENTO SGPEL INCÊNDIOS CORPO DE BOMBEIROS CORPO DE BOMBEIROS PREFEITURA PREFEITURA SABESP ELETROPAULO SABESP APOIO PRIVADO ELETROPAULO BRIGADAS APOIO PRIVADO OUTROS SGPEL REGASTES COORDENADOR GERAL SECRETARIA GERAL ESCRITÓRIO DE EMERGÊNCIAS SUB COORDENADOR GERAL SGPEL SALVAMENTO CORPO DE BOMBEIROS CORPO DE BOMBEIROS SAMU - 193 SAMU-–192 193 SAMU HOSPITAIS SAMU – 192 AMBULÂNCIAS HOSPITAIS SOCORRO AEROMÉDICO AMBULÂNCIAS OUTROS CORPO DE BOMBEIROS CORPO DE BOMBEIROS PREFEITURA PREFEITURA FFAA INDÚSTRIAS FFAA SERVIÇOS DE APOIO INDÚSTRIAS EMPRESAS PRIVADAS SERVIÇOS DE APOIO OUTROS BRIGADAS SOCORRO AEROMÉDICO EMPRESAS PRIVADAS OUTROS OUTROS OUTROS SGPEL PRODUTOS PERIGOSOS CORPO DE BOMBEIROS CORPO DE BOMBEIROS CETESB CETESB ABIQUIM POLICIA AMBIENTAL ABIQUIM POLICIA RODOVIÁRIA POLÍCIA AMBIENTAL VIGILÂNCIA SANITÁRIA POLÍCIA RODOVIÁRIA CENTRO DE INTOXICAÇÃO VIGILÂNCIA GATE ABGAS SANITÁRIA CONGAS CENTRO DE OUTROS INTOXICAÇÃO GATE ABGAS CONGAS OUTROS Fonte: o autor SGPEL APOIO/GERAL CORPO DE BOMBEIROS CORPO DE BOMBEIROS POLÍCIA MILITAR POLÍCIA CIVIL MILITAR POLÍCIA TRÂNSITO POLÍCIA CIVIL IML TRÂNSITO IC IML IPT PREFEITURA IC ORGÃOS PÚBLICOS IPT MÍDIA PREFEITURA COMUNIDADE DEFESA ÓRGÃOSCIVIL PÚBLICOS ORGÃOS TÉCNICOS MÍDIA ORGÃOS DE APOIO COMUNIDADE EMPRESAS PRIVADAS INDÚSTRIAS DEFESA CIVIL PAM ÓRGÃOS TÉCNICOS POLÍCIA FEDERAL ÓRGÃOS DE APOIO RODOVIÁRIA UNIVERSIDADES EMPRESAS PRIVADAS OUTROS INDÚSTRIAS PAM POLÍCIA FEDERAL RODOVIÁRIA UNIVERSIDADES OUTROS Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 238 7.2.4 Missões O GPEL deve discutir e atuar sobre assuntos relativos às melhorias das condições de segurança local, visando reduzir as vulnerabilidades da região e potencializar as condições de resposta para o atendimento operacional. Dentre as várias missões que lhe são pertinentes, especificamente ao GPEL, figuram a realização de Análise Preliminar de Riscos (APR) e a elaboração de mapas de riscos e recursos, além, logicamente, de elaboração, teste, implantação, aprovação, emprego e manutenção do PGEL. Cada um dos membros integrantes do GPEL tem ainda suas atribuições específicas dentro de sua área de competências, devendo colaborar com o fornecimento dos dados e informações necessárias ao trabalho final do grupo, bem como exercer o papel de ligação com seu órgão ou instituição, facilitando os trabalhos do grupo no planejamento e atendimento de emergências. 7.2.5 Reuniões O GPEL deverá reunir-se periodicamente para tratar dos assuntos de sua competência, pelo menos uma vez por bimestre, ou sempre que for necessário (treinamentos, após ocorrências graves, para alterar algo urgente, avaliar procedimentos etc). Após cada reunião deverá ser elaborada a respectiva ata, ficando registradas todas as decisões importantes tomadas pelo grupo. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 239 É certo também que anualmente será realizada em reunião específica para avaliação do PGEL, propondo as adequações necessárias para atualizá-lo. 7.2.6 Organização e administração O GPEL deve possuir um local físico adequado para funcionar como sua sede: uma sala ou um local onde possa dispor de um mínimo de condições para funcionar como um “Escritório de Emergência”. Deve possuir uma sala de reuniões, um arquivo, uma linha ou ramal telefônico, um endereço eletrônico, um fax e um secretário para receber telefones, anotar recados, elaborar mapas e lista de controles, acionar pessoas, passar e receber fax etc. Deve possuir condições de armazenar dados e documentos importantes para que possa fornecer subsídios ao grupo quando necessário, bem como os demais controles sobre os indicadores operacionais adotados. Se possível, manter um banco de dados sobre as principais informações operacionais, sendo capaz de funcionar com um escritório de emergência e apoio operacional, conseguindo acionar pessoas e auxiliar na mobilização de recursos, além de ajudar no que for preciso durante o desenvolvimento de uma emergência. A sede do GPEL poderá ser em qualquer lugar que permita tal desempenho, sendo possível, até mesmo, ser instalado em uma sala no próprio Posto de Bombeiros ou dependências de um dos órgãos participantes do Grupo. O Secretário poderá ser qualquer pessoa (civil ou militar) que possa atender aos requisitos acima. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 240 Para melhor funcionamento e agilidade no atendimento operacional, poderá ser adotada uma escala de permanência funcional no escritório do GPEL, podendo ser empregada qualquer pessoa (civil ou militar), desde que receba instruções e treinamento para o exercício das funções necessárias. As orientações aqui emitidas são sugestões que poderão ser alteradas e melhoradas, de acordo com as necessidades, criatividade e disponibilidade locais. Por fim, o GPEL e seus detalhes de funcionamento deverão ser regulados em documentos próprios, ou seja, um regulamento, estatuto, ou qualquer outra forma que possa dar mais segurança e credibilidade aos serviços realizados, sendo discriminadas as funções e responsabilidades de cada participante do grupo, procurando perpetuar tal iniciativa. 7.3 Avaliação Preliminar de Riscos (APR) – Critérios Gerais Após a constituição do GPEL, é necessária a elaboração da Avaliação Preliminar de Riscos (APR) como medida que irá dar o suporte para a realização do Plano de Gerenciamento de Emergência Local (PGEL). Na verdade, a Análise Preliminar de Riscos faz parte do PGEL, porém, por questão meramente didática, para melhor compreensão do seu conteúdo, será estudado isoladamente do plano. Todo o detalhamento da realização da APR consta no apêndice A, basta seguir as orientações ali contidas para que se obtenha os resultados desejados. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 241 É oportuno lembrar que esta fase é de vital importância para o êxito do planejamento, pois caso não seja adequado o levantamento e análise dos riscos, o planejamento, com certeza, não irá atender às necessidades operacionais, levando o planejador a incorrer em erros graves. Por isso é muito importante que tal medida seja realizada, não por uma única pessoa, mas sim por todo o GPEL efetivamente, quando serão aproveitadas todas as visões e experiências dos órgãos de emergências locais. É necessária a realização de uma pesquisa junto aos órgãos públicos e privados da região e, principalmente, junto à Defesa Civil local, no sentido de localizar e aproveitar estudos já realizados anteriormente sobre os riscos e recursos da região, pois tal medida poderá agilizar em muito os trabalhos do GPEL. 7.4 Mapas de Riscos e Recursos Locais - Critérios Gerais 7.4.1 Generalidades Como visto no capítulo 5, o mapa de riscos e recursos é uma importante ferramenta que deve ser empregada por todos os Postos de Bombeiros do Estado, no sentido de auxiliar o seu Comandante na tomada de decisões e planejamento local, visando otimizar o seu potencial de respostas frente aos desastres, proporcionando uma minimização dos efeitos danosos causados à comunidade. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 242 Este documento faz parte de um contexto de gerenciamento de emergências, sendo antecedido por um minucioso trabalho de avaliação dos riscos e ameaças. 7.4.2 Etapas da elaboração A elaboração do referido mapa deve obedecer às seguintes etapas básicas: reunião do Grupo de Planejamento de Emergências Local (GPEL) para definir estratégicas; definição clara da área a ser estudada e sua divisão em setores para facilitar o estudo; organização de visitas aos locais de riscos e reuniões comunitárias para esclarecer detalhes de cada um dos setores; estudos detalhados das ameaças e vulnerabilidades locais, identificando todas situações possíveis de ocorrer, sua freqüência e conseqüências, sendo devidamente anotadas nos mapas das zonas visitadas; identificação dos recursos com que se poderão contar para o apoio no atendimento operacional, lançando-os em mapas próprios; convite à comunidade e outros órgãos locais para auxiliarem no fornecimento de dados e informações que deverão constar no mapeamento dos riscos e recursos; Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 243 reunião e compilação de todos os dados e informações obtidas, no sentido do propiciar uma forma prática e rápida para facilitar a consulta e o seu emprego técnico-operacional; disponibilizar os mapas para consultas dos diversos órgãos e a própria comunidade; e fornecimento de dados para a elaboração do futuro planejamento de emergência. 7.4.3 Tipos de mapas Os mapas de riscos e recursos classificam-se em gerais e específicos, sendo que nos Postos de Bombeiros deverão ser elaborados os dois tipos, pois possuem funções diferenciadas. O primeiro deve mostrar a tendência ou o perfil operacional da área do posto, sendo sua representação mais genérica. O segundo deve detalhar as informações sobre as tendências, registrar os riscos e recursos com maior precisão e detalhamento das informações. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 244 7.4.4 Linhas gerais sobre elaboração dos mapas 7.4.4.1 Origem das fontes É conveniente efetuar uma investigação sobre as possíveis fontes de informações que poderão ser empregadas no processo da elaboração dos mapas. Pode-se e devem ser aproveitadas informações já preparadas, vindas de órgãos municipais, estaduais, federais e até mesmo de entidades privadas e da própria comunidade local. Neste caso, é importante investigar a confiabilidade, credibilidade e atualidade das informações obtidas, para que não leve o grupo a cometer erros de avaliação. 7.4.4.2 Investigação dos antecedentes e comparações estatísticas Neste ponto, sugere-se recorrer a universidades, órgãos institucionais, federais e locais para efetuar um estudo dos antecedentes históricos da região, a fim de se elaborar um diagnóstico e comparar com a estatística operacional para obter um cenário prospectivo da região, e com isso melhorar as condições para dar a melhor resposta às emergências. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 245 7.4.4.3 Elaboração do inventário dos riscos e recursos Após a elaboração da Análise Preliminar de Riscos, será redigida uma lista contendo os riscos prioritários, que, por sua vez, deverão ser lançados nos respectivos mapas. O mesmo deve ser realizado com os recursos disponibilizados, pois assim poderá ser decidido qual rumo a ser adotado para o tratamento de cada um dos riscos avaliados. O inventário de riscos e recursos, servirá como complemento dos mapas, sendo ele um documento em que serão detalhadas todas as informações significativas dos riscos (freqüência, abrangência, incidência, possíveis danos etc.) e dos recursos (localização, responsável, mobilização; capacidades etc.). 7.4.4.4 Tipos de ameaças As ameaças que serão lançadas nos mapas de riscos poderão ser divididas, quanto a sua origem, em naturais ou humanas, sendo que os mecanismos para sua identificação, entre outros, podem ser: registros históricos; entrevistas; reuniões; estudos técnicos; e trabalhos de campo. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 246 7.4.4.5 Agentes perturbadores e delimitação de zonas de riscos Uma vez delimitada a área e elaborada a planta-base para os mapas gerais e específicos de uma região, o próximo passo é anotar os fenômenos destrutivos, empregando símbolos para os primeiros e delimitado a região específica para os segundos. Os fenômenos devem ser divididos em grupos para obter melhor representação gráfica, podendo ser empregadas várias plantas, resultando nos mapas temáticos, conforme modelos constantes no apêndice B Dependendo da complexidade de informações gerada e o que se pretende demonstrar, poderá ser necessário o emprego de uma planta para cada risco estudado. A combinação e a sobreposição de diversos mapas também é de vital importância para a produção de informações, podendo-se relacionar ameaças e vulnerabilidades com os recursos disponíveis ou ainda o tipo de população local. Os mapas devem ser interpretados de forma dinâmica e com a máxima amplitude possível, pois, por exemplo, um hospital, que em determinado momento representa um excelente órgão de apoio às emergências, pode, em outro momento, por conta de estar localizado em uma região baixa e sujeita a enchentes, e ainda, como agravante, ter por vizinho uma indústria química que manipula produto de natureza tóxica ao ser humano, passar da condição de órgão de apoio para um ponto vulnerável que poderá gerar sérios acidentes, caso não seja tratado adequadamente. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 247 7.4.4.6 Indicação dos sistemas que podem ser afetados Também, para este estudo, é muito importante que se destaque quais os serviços essenciais e sistemas que podem ser afetados nos casos de ocorrências de desastres, tais como sistema de transporte, alimentação, fornecimento de energia ou água etc. Esse dado é muito importante, pois reflete mais diretamente nas ações de emergências, reduzindo o potencial de resposta local. 7.4.4.7 Tipos de recursos Os recursos a serem anotados nos mapas devem atender ao princípio da utilidade operacional, podendo ser dividindo nos seguintes grupos: material (fixos e móveis), pessoal (mão-de-obra e técnicas), serviços (médicos, comunicações, água, energia, transporte, segurança pública, serviços técnicos, ambulâncias etc.) e procedimentos especiais (PAM, PPI, POP etc.). Devem ser descartadas informações, nitidamente, sem interesse operacional. Além da indicação do tipo, quantidade e localização dos recursos, é imprescindível que se assinale também o responsável pelo recurso, quais são as condições de disponibilização, forma de acionamento e mobilização para os locais de emergências. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 248 7.4.5 Cartografia Básica Para o uso de mapas de riscos e de recursos de forma adequada e eficiente é necessário conhecer alguns elementos importantes. São eles: 7.4.5.1 Interpretação de escalas Escalas são medidas espaciais que quantificam o tamanho dos elementos gráficos em determinadas proporções aos locais. Para a representação gráfica dos elementos locais, não é possível fazer o desenho na sua dimensão natural, sendo para isso realizada a redução proporcional de todos os elementos, pois assim será mantida a relação espacial entre eles. Existem dois tipos de escalas normalmente encontradas em representações de mapas. Uma delas é a numérica, que é dada pela proporção entre dois números (Ex: 1:100; 1:1.000; 1:10.000 etc.). A representação “1/x” significa que 1 medida no mapa equivale a X de medida no local, ou seja, quando se fala em escala 1:100, significar dizer que o mapa está, proporcionalmente, 100 vezes menor que o local original. Outro tipo de escala é a escala gráfica: no corpo do mapa há um pequeno gráfico que dá a proporção entre os desenhos. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 249 7.4.5.2 Georefenciamento (GIS – Geographic Information System) Para a localização de qualquer ponto do planeta no plano terrestre, pode ser usado o sistema de georefenciamento que nada mais é do que determinar o endereço exato de um dado ponto, usando o cruzamento dos eixos de longitude e latitude da terra e suas coordenadas específicas. Dessa forma, cada ponto ou região tem um endereço único dentro do globo terrestre. Isso torna possível que os registros de várias informações possam ser vinculados a sua posição geográfica, fornecendo dados visuais muito importantes para a análise epidemiológica dos desastres e dos meios para sua gestão. Com tal técnica é bastante simples criar uma planta básica ou mapa da região estudada e, sobrepondo-se a ela máscaras com outras informações georefenciadas adequadas, permitir o estudo comparado, o que irá gerar novas informações. É possível lançar em uma planta, por exemplo, os principais acidentes ocorridos em determinada área, conjugando-se com os recursos disponíveis para os atendimentos, promovendo os ajustes necessários para obter maior eficácia e otimização desses recursos. Tal trabalho torna-se muito mais fácil quando são disponibilizados equipamentos de informática, porém, caso não seja possível, pode-se fazê-lo manualmente, utilizando-se a sobreposição de materiais transparentes e mapas com informações básicas. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 250 Todos os recursos de uma região podem ser georefenciados e com isso será possível conseguir o seu controle e mobilização mais rapidamente para o emprego operacional. Qualquer informação pode ser relacionada com seu endereço espacial, bastando apenas dispor de um equipamento chamado GPS (“Global Position Sistem”), que permite, com uma simples operação, registrar a localização pretendida, associando-a à informação desejada (estoque, local crítico, ponto importante, limite de área etc.). 7.4.5.3 Representações gráficas e simbologias Uma representação por meio de mapas deve ser empregada por apresentar uma grande utilidade e praticidade operacional, devendo para tal reunir alguns elementos importantes e de forma padronizada para facilitar a sua elaboração, leitura e integração com outros mapas e informações. Um mapa deve conter várias informações e elementos, tais como os limites geográficos ou do conteúdo temático que trata, a escala em que foi confeccionado, o título principal e a fonte dos dados apresentados. Deverá ainda possuir uma legenda esclarecendo os sinais, símbolos e cores empregadas, bem como outras informações que possam facilitar o seu entendimento. A simbologia a ser empregada deve ser bastante simples e de fácil compreensão, tornando-se uma linguagem homogênea entre os usuários dos recursos, tal como exemplificado no anexo B. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 251 Para facilitar a elaboração e integração dos mapas, deve ser adotado um mecanismo homogêneo de construção e uma simbologia única para todos os níveis de mapas, pois assim será possível o compartilhamento das informações em qualquer situação, inclusive por outros órgãos. Apesar da padronização das representações, se for necessária a criação de novas simbologias para as situações até então não previstas, é perfeitamente possível, tomando-se o cuidado de torná-las bastante precisas e inconfundíveis. 7.4.5.4 Outros tipos de recursos que podem auxiliar na confecção dos mapas Outros materiais devem ser empregados para auxiliar na elaboração dos mapas, tais como: cartas topográficas (para indicar relevo); fotografias aéreas e por satélites (podem retratar a evolução do crescimento urbano; desmatamento de uma região; as conseqüências de um desastre; estudo do detalhes de uma região ou parque industrial etc.); mapas rodoviários (mostram as rodovias que podem ser usadas como acesso às rotas de fuga); mapas urbanos das cidades (onde constam todas as ruas, praças, locais de aglomeração urbanas, principais bairros, vias de trânsitos, sedes dos órgãos públicos, estações metroviárias, ferroviárias e aeroportos etc.); croquis de grandes operações (nos quais podem ser detalhados a realização de eventos ou operações especiais.); mapas temáticos da região; quadros estatísticos (podem conter informações operacionais importantes, tais como quantidade de ocorrências, período do ano em que ocorreram, horários do dia, dia da semana, locais de maior incidência etc.); mapeamento de linhas de distribuição Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 252 de energia elétrica; mapas de ferrovias; mapas de rios e lagos; mapeamento de galerias subterrâneas; mapeamento de gasodutos e oleodutos; mapas de distribuição populacional; mapas de áreas de proteção ambiental; mapas de distribuição de empresas ou indústrias de alto risco; mapa-força operacional mínimo etc. No apêndice B são apresentados alguns modelos de recursos utilizados para facilitar a coleta de dados para a elaboração dos mapas. 7.4.6 Responsáveis pela elaboração dos mapas Este instrumento operacional, assim como a APR e o PGEL, deve ser elaborado pelo Grupo de Planejamento de Emergência Local, mediante um processo de compartilhamento e integração de informações e missões. O mapa de riscos e recursos deve ser elaborado após a realização de minuciosa análise dos riscos e recursos locais. Para a confecção do mapa, é aconselhável que o GPEL convide várias pessoas e órgãos para colaborem nas tarefas, pois assim tal instrumento se tornará mais rico em conteúdo de informações e com mais detalhes locais. Podem ser chamados técnicos especializados, tais como: geólogos, meteorologistas, representantes de universidades, moradores, empresas, órgãos públicos etc. O mais importante é que o mapa seja o mais completo possível, pois é por meio dele, conjugado com a avaliação dos riscos, que será elaborado o planejamento das ações de emergências. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 253 7.5 Plano de Gerenciamento de Emergências Local (PGEL) – Critérios Gerais 7.5.1 Generalidades Como já foi visto, para o atendimento, de forma eficiente, das situações de emergências que fogem à normalidade, há a necessidade constante da realização de estudos prévios das condições de previsibilidade e impactos dos eventos, associados às vulnerabilidades locais, bem como sobre o dimensionamento do potencial de resposta dos órgãos de emergências. A tarefa é realmente muito complexa e de grande responsabilidade, porém pode ser atenuada quando há um Plano de Gerenciamento de Emergências Local Integrado, devidamente preparado, elaborado e implementado na região. Para isso, seguem algumas orientações importantes para a elaboração dos referidos Planos, sendo que outros dados e procedimentos poderão ser anexados aos mesmos, de acordo com as necessidades e disponibilidades locais, pois este trabalho não tem por objetivo restringir ou limitar qualquer iniciativa ou medidas preventivas, mas, sim, servir apenas como um referencial para os Comandantes dos Postos de Bombeiros do Estado de São Paulo. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 254 7.5.2 Conceito O Plano de Gerenciamento de Emergências Local para os Postos de Bombeiros é um instrumento de gerenciamento integrado para o planejamento e atendimento a desastres e ou catástrofes ocorridas em nível local, resultante da conjugação de minuciosa Análise de Riscos e Recursos locais, associada ao estudo das condições de vulnerabilidades da região e o potencial de resposta dos órgãos de emergências e da comunidade, visando sistematizar normas e regras de procedimentos, destinados a minimizar os efeitos danosos desses eventos. 7.5.3 Objetivos do PGEL O PGEL contempla dois objetivos.Os específicos e os gerais. Os específicos são muito claros, pois visam estudar determinada área no sentido de avaliar riscos e ameaças específicas, identificando as necessidades locais, procurando criar condições para satisfazer tais necessidades com o emprego e dimensionamento dos recursos adequados, dando as respostas precisas, protegendo a comunidade, a vida das pessoas, o meio ambiente e o patrimônio. Os objetivos gerais da elaboração dos Planos visam propiciar às suas regiões a possibilidade de melhorar a integração dos órgãos e entidades de atendimento de emergências locais, fazendo com que os serviços sejam disponibilizados à comunidade com melhor qualidade e eficiência. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 255 Outro grande objetivo do processo de elaboração do PGEL é o aperfeiçoamento e evolução profissional individual e, por conseqüência, dos órgãos de emergências locais, pois, por conta do seu mecanismo, todos os envolvidos aprendem muito com a troca de informações e experiências, principalmente quando o clima entre as pessoas é de honestidade e sinceridade. 7.5.4 Características O Plano deve reunir várias características para que possa desempenhar o seu importante papel como instrumento de auxílio para gestão de desastres locais, tais como: deve ser escrito; prático; dinâmico; claro e objetivo; conter as missões dos participantes; prever os possíveis cenários acidentais; ser flexível; estar aberto a sugestões; permitir atualização constante; permitir integração com outros planos e procedimentos existentes; e etc. Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 256 7.5.5 Principais etapas de implantação do PGEL Como já foi visto nos capítulos anteriores, várias são as etapas necessárias para a correta implantação do PGEL, sendo que, de maneira resumida, são as seguintes: constituir o Grupo de Planejamento de Emergências Local (GPEL); reunir o Grupo para discutir, definir e divulgar a política de trabalho a ser adotada; proceder à minuciosa avaliação de riscos, recursos e vulnerabilidades locais; identificar os recursos necessários para o atendimento das emergências; definir responsabilidades gerais e específicas dos participantes do atendimento das emergências; realizar inventários de planos e procedimentos operacionalmente ativos e de interesse, incorporando-os ao processo; elaborar os mapas e listas de riscos e recursos da região; elaborar o PGEL, propriamente dito, observando-se os critérios já definidos; submeter o PGEL à aprovação do GPEL e seus segmentos; testar o PGEL; treinar e exercitar as etapas operacionais de PGEL (individualmente, em grupos e geral); divulgar os Planos com as medidas e procedimentos adotados a todos os envolvidos e a comunidade local; Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 257 implantar o PGEL; e revisar e atualizar o PGEL. 7.5.6 Estrutura do PGEL Os planos devem atender às necessidades locais de cada região, e para isso é imperativo que sejam confeccionados sob medida, de maneira personalizada, porém uma estrutura básica deve servir de roteiro aos seus elaboradores. A seguir apresenta-se uma proposta de itens que poderão compor a estrutura básica do PGEL, sem, contudo limitá-lo a este rol: A. Introdução; B. Finalidade; C. Situação; D. Objetivos (gerais e específicos) E. Definições básicas F. Delimitação de área ou região de abrangência; G. Estrutura organizacional; H. Formação do Grupo de Planejamento das Emergências participantes; I. Previsões legais, regulamentares e procedimentais; J. Identificação e avaliação preliminar dos riscos; K. Recursos para o atendimento das emergências; L. Mapeamento de riscos e recursos; e Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 258 M. Missões e atribuições dos órgãos e entidades participantes (gerais e específicas); N. Sistema de intervenção operacional geral Sistema de alerta e alarme; Acionamento do sistema operacional; Coordenação e responsabilidade operacional – SICOE; Procedimentos Operacionais Padrão (POP); Sistema de comunicação operacional integrado; Coordenação de esforços operacionais e mobilização de recursos; Regras de acesso ao atendimento operacional (posto de comando; pre-estacionamento; itinerários; fluxo de trânsito interno; etc.); Apoios externos de outras regiões e Força-Tarefa; Procedimentos de rotina operacional; Procedimentos e medidas de segurança; Planos de evacuação local, setorial, regional ou geral; Outros. O. Atuação operacional para os riscos, os locais e os eventos específicos. Devem ser listadas as providências e responsabilidades de todos os órgãos, antes, durante e depois, para cada caso específico. Deverão ser elaborados os PPI para os casos que forem necessários. É importante que se faça a conjugação dos itens que seguem: Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros 259 Riscos específicos: observar os principais riscos levantados na Análise Preliminar de Riscos, tais como enchentes, deslizamentos, incêndios, acidentes com elevado número de vítimas, ocorrências com produtos perigosos, explosões, acidentes rodoviários, acidentes aeronáuticos, acidentes ferroviários etc. Locais específicos: observar as características e vulnerabilidades da região, tais como a existência e as condições de favelas, hospitais, locais com grande depressão topográfica, encostas, serras, lagos, rios, praias, mar, indústrias de produtos perigosos, locais de reunião de grande público, escolas, hotéis, prédios elevados, rodovias de alto risco, pontes, túneis, região de alta densidade demográfica, depósitos, usinas, refinarias, torres e linhas de transmissão de energia, oleodutos, gasodutos, galerias subterrâneas etc. Eventos específicos: observar o calendário operacional estabelecido na região onde devem ser registrados todos os eventos, sejam permanentes ou temporários, tais como feiras, congressos, rodeios, competições esportivas, operaçãoverão, operação-enchente, operação-mata fogo, eventos públicos, comícios etc. P. Política de comunicações (interna, externa e com a mídia); Q. Metodologia empregada para a elaboração, aprovação, teste, implantação, emprego, avaliação e adequação do plano; R. Agenda operacional e administrativa; Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros S. Capacitação, treinamento e aperfeiçoamento dos 260 recursos humanos; T. Exercícios simulados integrados; U. Disposições gerais; V. Anexos: Mapas detalhados da região; Mapas de riscos (gerais e específicos); Mapas de recursos; Inventário de riscos e recursos; Quadro de distribuição de tarefas; Modelos de relatórios; Fluxogramas; Modelo de APR; Modelos de gráficos; Modelos de quadros estatísticos; Relações de materiais, equipamentos e efetivos (mapa força operacional mínimo); Regulamento do GPEL; Listas de nomes com telefones e e-mails das pessoas-chaves do sistema; Lista de sites de interesse para pesquisas e consultas; Plano de acionamento operacional; Plano de atuação em emergências; Normas do SICOE; Relação e folha de rosto dos POP e PAP em vigor; Propostas de Melhorias Para o gerenciamento de Desastres Pelo Corpo de Bombeiros Lista e resumos do PPI e outros planos em vigor; etc. 261 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os desastres não são causadores apenas de grande número de mortes e feridos, mas também de enorme perturbação social, danos às estruturas locais, danos e paralisações de órgãos e serviços essenciais. Prejudica significativamente o comércio, a indústria, a saúde pública, a agricultura, o meio ambiente e muito mais, causando sérios prejuízos à comunidade em geral. Os efeitos adversos dos desastres são inversamente proporcionais ao grau de preparo da população e dos órgãos responsáveis pelos atendimentos emergenciais; pois, quanto maior a preparação, maior a chance de minimizar tais efeitos. No Sistema Nacional de Defesa Civil, os municípios e os órgãos locais de emergências exercem papéis de fundamental importância no atendimento aos desastres. É necessário que todas as partes envolvidas no Sistema de Atendimento de Emergências estejam devidamente preparadas de forma eficiente e perfeitamente integradas para dar a melhor resposta no menor tempo possível, poupando a comunidade local de sofrimentos desnecessários. Como pôde ser constatado nos estudos de casos apresentados nesta pesquisa, ainda existem pontos a melhorar, pois alguns órgãos de emergências não estão devidamente integrados, tendo dificuldades de identificar exatamente quando e como atuar nos diversos cenários operacionais de desastres da região. Em várias situações, constatou-se que muitos dos representantes dos órgãos de emergências de atuação local não se conheciam pessoalmente, o que torna ainda mais difícil a tão necessária integração operacional. Proposta da Monografia 263 Esta situação pode gerar disputas dentro do cenário operacional, causando diversos conflitos e duplicidades de tarefas entre as forças de combate aos desastres ou uma inércia operacional negativa, ambas as situações enfraquecem o sistema de atendimento local. Dada a complexidade e multi-institucionalidade encontradas nos atendimentos aos desastres, torna-se imprescindível a adoção de medidas preventivas conjugadas, visando à minimização dos riscos e o fortalecimento do potencial de resposta dos órgãos locais e da própria comunidade. Apesar de a quase totalidade dos Comandantes de Postos de Bombeiros concordarem que é importante e necessária, para a obtenção de melhores resultados operacionais, a realização de trabalhos com o apoio de recursos externos, a maioria não possui um plano adequado e atualizado de gerenciamento de emergências local ou um mapeamento de riscos de sua área, e consideram difícil a mobilização de recursos para o atendimento aos desastres. Já aqueles que possuem algum tipo de levantamento dos riscos e recursos ou estudos específicos nessa área, encontram maior facilidade nessas mobilizações, o que vem a corroborar a hipótese da necessidade de um planejamento preventivo integrado. Para a viabilização das ações conjuntas, de modo a atender, convenientemente, aos desastres locais, torna-se primordial a realização de estudos prévios, os quais deverão possuir minuciosa avaliação dos riscos e dos recursos locais, seguindo-se do devido planejamento. Neste contexto, o Corpo de Bombeiros exerce um importante papel nas ações de resposta aos desastres, sendo um dos primeiros órgãos a ser empregado após o acionamento do Sistema de Atendimentos às Emergências. Proposta da Monografia 264 Maior responsabilidade ainda, como foi visto, recai sobre o Posto de Bombeiros, que é o órgão encarregado de dar a primeira resposta em âmbito local, devendo estar preparado para atuar e interagir com todas as forças regionais. No presente trabalho, após os estudos realizados, foi sugerida a adoção das seguintes medidas, como forma de atender às necessidades dos Postos de Bombeiros locais no tocante à gestão dos atendimentos de desastres: 1. criação de um Grupo de Planejamento de Emergências Local (GPEL) e seus subgrupos, de acordo com as necessidades e disponibilidades locais, obedecendo aos critérios sugeridos neste trabalho; 2. adoção e adequação da metodologia de Análise Preliminar de Riscos (APR) para todos os Postos de Bombeiros, conforme padrão detalhado anteriormente; 3. implantação do Mapa de Riscos e Recursos locais em todos os Postos de Bombeiros, a serem utilizados como ferramentas de apoio operacional para o adequado planejamento; e 4. implantação do Plano de Gerenciamento de Emergências Local (PGEL), conforme critérios propostos, para todos os Postos de Bombeiros do Estado. Por fim, ressalta-se que, durante a realização desta pesquisa, outros assuntos de relevante importância emergiram e merecem pesquisa futura, tais como: 1. critérios e parâmetros para a adoção de um banco de dados compartilhado entre os órgãos de emergências para consulta rápida e eficiente sobre as informações de interesses comuns; Proposta da Monografia 265 2. inserção de matérias ou temas nos cursos já existentes (principalmente CBO e CBS), para preparar os bombeiros em funções de gerência (oficiais e sargentos) a elaborarem avaliação e tratamento de riscos, bem como técnica de planejamento preventivo para o atendimento às emergências; 3. implementação definitiva da filosofia de “Bombeiro Comunitário”, no sentido de reunir todas as forças de emergências na busca das soluções locais; 4. criação de critérios claros para a elaboração e emprego de um Atlas de Bombeiro, no qual deverá conter vários mapas temáticos e informações, que servirá de importante ferramenta de apoio na execução do planejamento pelos Comandantes nos seus diversos níveis operacionais; 5. critérios para a extensão dos serviços prestados pela Força-Tarefa do Corpo de Bombeiros, criando outras unidades regionalizadas no Estado de São Paulo, no sentido de dotar as regiões mais distantes da Capital dos recursos necessários para atuação operacional com menor tempo resposta; 6. elaboração de um Procedimento Administrativo Padrão (PAP) para o planejamento e execução de exercícios simulados integrados locais de atendimentos de grandes emergências, em suas diversas áreas (incêndios, salvamentos, resgates, produtos perigosos e outros); 7. criação de um Fórum Permanente de Debates Sobre Emergências, por meio de um portal eletrônico disponibilizado no site oficial do Corpo de Proposta da Monografia 266 Bombeiros, visando facilitar e incentivar as formas de comunicação entre os órgãos de emergências e destes com outros órgãos da comunidade; 8. criação de uma Comissão Geral de Estudos Sobre Desastres, envolvendo os Grandes Comandos e altas gerências dos órgãos e entidades envolvidas nos atendimentos emergenciais de Bombeiros. Tal Comissão auxiliará os trabalhos dos GPEL, bem como deverá analisar e aprovar os PGEL. Implementando-se tais medidas, com certeza, a atual situação dos Sistemas de Atendimento de Emergências Local será, significativamente, melhorada e com isso o Corpo de Bombeiros poderá prestar um serviço ainda melhor do que já vem fazendo junto à comunidade. REFERÊNCIAS ABIQUIM. Associação Brasileira da Indústria Química e de Produtos Derivados. Manual APELL. Alerta e Preparação de Comunidades para Emergências Locais. São Paulo: Abiquim, 1990. ALEXANDER, David. Principles of Emergency Planning and Management. Oxford University Press, First Edition. Massachusetts, 2002. ARAÇATUBA. Coordenadoria Regional de Defesa Civil – REDEC/I-9. Proposta para Implantação de Plano de Auxílio Mútuo – PAM na Região de Araçatuba. REDEC/I-9. Araçatuba, 1999. ARAÚJO, Sérgio Baptista. Manual de Planejamento de Emergências. MPE 01/99. Secretaria de Estado de Defesa Civil. 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