universidade federal do espírito santo centro de ciências jurídicas e
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universidade federal do espírito santo centro de ciências jurídicas e
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO FABRÍCIA PAVESI HELMER HINGRIDY FASSARELLA CALIARI JUVENTUDE, POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS CULTURAIS LIGADOS À MÚSICA (FUNK, REGGAE, HIP HOP E ROCK) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE VITÓRIA 2006 FABRÍCIA PAVESI HELMER HINGRIDY FASSARELLA CALIARI JUVENTUDE, POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS CULTURAIS LIGADOS À MÚSICA (FUNK, REGGAE, HIP HOP E ROCK) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Serviço Social Orientadora: Profª Drª Vania Maria Manfroi VITÓRIA 2006 H478 j HELMER, Fabrícia Pavesi Juventude, políticas sociais e movimentos culturais ligados à música (funk, reggae, hip hop e rock) no município de vitória: uma análise das políticas públicas de juventude / Fabrícia Pavesi Helmer e Hingridy Fassarella Caliari -2006. 236f Orientadora: Profª Drª Vania Maria Manfroi Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Serviço Social. 1 - Política Social e Juventude. 2 - Juventude. 3 - O Município de Vitória. I - CALIARI, Hingridy Fassarella. II Universidade Federal do Espírito Santo. Departamento de Serviço Social. CDU 36 -053.6 FABRÍCIA PAVESI HELMER HINGRIDY FASSARELLA CALIARI JUVENTUDE, POLÍTICAS SOCIAIS E MOVIMENTOS CULTURAIS LIGADOS À MÚSICA (FUNK, REGGAE, HIP HOP E ROCK) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Serviço Social Aprovada em 12 de julho de 2006 COMISSÃO EXAMINADORA ___________________________________________ Profª. Drª. Vania Maria Manfroi Doutora em Serviço Social Universidade Federal do Espírito Santo Orientadora __________________________________________ Profª. Juliana Iglesias Melim Mestranda em Serviço Social Universidade Federal do Espírito Santo __________________________________________ Luiz Carlos Duarte Melo Gerente de Promoção Social da Juventude Prefeitura Municipal de Vitória VITÓRIA 2006 Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar. Bertold Brecht. AGRADECIMENTOS À Vânia por toda paciência, dedicação e compromisso no decorrer desses três anos de orientação. Por toda compreensão, apoio e força. Seremos sempre gratas. Você se tornou muito mais que uma professora para nós. Ao NEJUP, que desde de 2003 tem nos possibilitado uma melhor formação profissional e aos vários amigos e companheiros que construímos através desse núcleo. Foi pelo nosso interesse por juventude que surgiu o NEJUP e será através desse interesse que o NEJUP ficará pra sempre marcado nas nossas vidas. À galera da Rádio Universitária que nos acolheu com muito carinho e atenção. Aos entrevistados, aos jovens e aos gestores, que se colocaram à disposição e que contribuíram muito para o nosso trabalho. Somos gratas pela disponibilidade e confiança. Aos amigos de turma, que ao longo desses quatro anos convivemos, rimos, choramos, mas acima de tudo, aprendemos muito uns com os outros. Valeu turma! Agradecemos a banca por ter aceitado o nosso convite e a disponibilidade da Juliana e do Luiz. Fabrícia Pavesi Helmer Hingridy Fassarella Caliari AGRADECIMENTOS Primeiramente à minha mãe, Marlene, que compreendeu meus nervosismos, ausências e preocupações, pelo apoio incondicional e pela ajuda, da forma que podia, nesse processo. Ao meu irmão Fabiano, que por muitas vezes teve que se conter em suas brincadeiras de criança para que eu pudesse estudar. Desculpe-me pelas brigas. Ao meu namorado Rafael, por compreender minhas ausências e o escasso tempo que tínhamos para conviver. À Quita e ao Frajola por sempre estarem dispostos a me alegrar nos momentos mais difíceis. Ao Luiz Duarte pela aposta e incentivo tanto no TCC quanto no estágio; e aos companheiros da Juventude (PMV) pelos momentos felizes que vivemos naquela sala "agitada". À minha grande amiga Hingridy pelo companheirismo nos momentos tristes, felizes, de angústias, de desabafo, de descontração e de alegrias. Obrigada por estar comigo nesses quatro anos de vida acadêmica, repleto de noites de estudos, finais de semana... Sou muito grata pela sua amizade que continuará, acredito, mesmo após o término deste trabalho. A todos os outros amigos que toleraram minhas preocupações e que torciam pela concretização deste trabalho. Aos professores e aos supervisores de todos os estágios que realizei por terem contribuído para o meu crescimento intelectual e profissional. Enfim, a todos que estiveram presentes e que de alguma forma contribuíram nessa trajetória. Obrigada! Fabrícia Pavesi Helmer AGRADECIMENTOS À Deus por todo o conforto nas horas difíceis. Por todas as amizades que fiz, por esse caminho. Pelos sonhos que me possibilitou sonhar e pelas conquistas que tive. À minha mãe que com toda sua doçura me suportou no extremo do meu stress. Sempre com muito amor, acreditando em mim. Mãe essa conquista é mais sua do que minha. Muito obrigada pela força e por todo investimento que você faz em mim. Ao meu irmão por todas as vezes que deixou de jogar MU para que eu usasse o computador, pelas vezes que me ajudou a transcrever fitas e por ter aturado meu mau humor, valeu Hendricky, amo muito você. À minha amiga, Fabrícia, que caminha comigo desde o primeiro período. Sempre me dando apoio e suportando as minhas limitações. Fabrícia se tornou uma companheira de vida, uma amiga que partilhei bons momentos e que espero poder partilhar muitos mais. Aos jovens do projeto Vencendo Com os Jovens por toda experiência e conhecimento que trocamos. Às companheiras de trabalho da PMVV, Scheila, Rosane e Rachel, que me apoiaram e me deram força quando eu mais precisava, contribuindo para que eu me tornasse uma profissional ética. À todos os meus amigos que suportaram as minhas ausências e me apoiaram durante todo esse processo. Hingridy Fassarella Caliari RESUMO JUVENTUDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CULTURA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE Objetiva analisar a política de juventude de Vitória, de 2002 a 2006, ressaltando as diferenças, continuidades e rupturas nesse processo, enfatizando a cultura, mais especificamente, os movimentos musicais: hip hop, funk, reggae e rock. Realiza um estudo histórico das políticas sociais no Brasil, incluindo a política de juventude. Identifica os movimentos e grupos juvenis culturais ligados à música em Vitória e os projetos, programas e políticas existentes no município, para assim perceber como que os jovens inseridos nesses grupos avaliam a política de juventude do município. Para se ter uma dimensão de como se processou as ações para juventude em Vitória nós procuramos esboçar as concepções de juventude, de participação, os orçamentos destinados para juventude, entre outros aspectos relevantes na análise das ações destinada à juventude presentes na Prefeitura Municipal de Vitória desde 2002. Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo, em que foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas realizadas com os jovens envolvidos com movimentos culturais ligados à música, com gestores de política de juventude da Prefeitura Municipal de Vitória das gestões 2000/2004 e 2004/2008 e uma entrevista coletiva envolvendo os jovens. O presente trabalho constitui-se num prolongamento dos estudos desenvolvidos no Núcleo de Estudos das Juventudes e Protagonismo (NEJUP) do Departamento de Serviço Social. Podemos afirmar que houve um avanço nas políticas de juventude do município de Vitória na gestão 2004/2008 e que em Âmbito nacional também se processam discussões e ações relevantes. Palavras-chave: Juventude; Política Social; hip hop; funk; reggae; rock. LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Homicídios por motivos conhecidos (2005).........................................99 GRÁFICO 2 - Nº. de projetos para Juventude feitos pela GPSJ desenvolvidos intersetorialmente que envolvem cultura (2004/2008).............................................138 GRÁFICO 4 - Nº. de projetos para Juventude feitos pela GRJ desenvolvidos intersetorialmente que envolvem cultura (2004/2008).............................................138 GRÁFICO 5 - Nº. de projetos para Juventude feitos pela Subcoordenadoria de Valorização da Juventude que envolvem cultura (2000/2004)................................138 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Mortalidade por homicídio segundo sexo e idade no município de Vitória (2004) .............................................................................................................99 TABELA 2 - Condição de ocupação e freqüência escolar - Jovens de 15 a 24 anos (2000).......................................................................................................................100 TABELA 3 - Jovens de 15-24 anos no mercado de trabalho segundo atividade (2000).......................................................................................................................100 TABELA 4 - Escolaridade da População de Vitória (2000).....................................101 TABELA 5 - Nº. de jovens inseridos em movimentos culturais ligados à música...103 TABELA 6 - Orçamento destinado à realização dos projetos na GPSJ ................114 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 - Disco de vinil do filme Beat Street.....................................................69 Fotografia 2 - Disco de vinil da primeira coletânea..................................................70 Fotografia 3 - Disco de vinil do Thaíde DJ Hum .....................................................70 Fotografia 4 - Disco de vinil da coletânea de Tributo a Zumbi, de Preto para preto (ES) ..........................................................................................................................72 Fotografia 5 - Disco de vinil de James Brown ........................................................75 Fotografia 6 - Graffiti feito para o projeto Graffitaids..............................................113 Fotografia 7 - Apresentação de Mc's no projeto Graffitaids...................................113 Fotografia 8 - Apresentação de alguns dos elementos do hip hop: Break e Graffiti......................................................................................................................113 LISTA DE SIGLAS CLT - Consolidação das Leis do Trabalho. CRJ - Centro de Referência da Juventude DIEESE - Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos DJ - Disc Jockey DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente ES - Espírito Santo FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FMI - Fundo Monetário Internacional GPSJ - Gerência de Promoção Social da Juventude GPSJ - Gerência de Promoção Social da Juventude GRJ - Gerência de Relações com a Juventude IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LDB - Lei de Diretrizes e Bases LOAS - Lei orgânica da Assistência Social MC - Mestre de Cerimônia NEJUP - Núcleo de Estudos das Juventudes e Protagonismo ONU - Organização das Nações Unidas ONG - Organização Não Governamental OMS - Organização Mundial da Saúde POLIS - Instituto de estudos, formação e assessoria em políticas sociais PMV - Prefeitura Municipal de Vitória PNAD - A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNJ - Plano Nacional de Juventude PROJOVEM - Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária PROUNI - Projeto Universidade para Todos PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PT - Partido dos Trabalhadores SEADE - Sistema Estadual de Análise de Dados SEMAS - Secretaria Municipal de Assistência Social SEMC - Secretaria Municipal de Cultura SEMESP - Secretaria Municipal de Esportes SEMSU - Secretaria Municipal de Segurança Urbana SEMUS - Secretaria Municipal de Saúde SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESC - Serviço Social de Aprendizagem Comercial SESI - Serviço Social da Indústria UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS...................................................................................14 CAPÍTULO 1 - POLÍTICA SOCIAL E JUVENTUDE................................................20 1.1 - POLÍTICA SOCIAL...........................................................................................20 1.2 - POLÍTICA SOCIAL DE JUVENTUDE: UM RESGATE HISTÓRICO................29 CAPÍTULO 2 - JUVENTUDE....................................................................................49 2.1 - JUVENTUDE NA CONTEMPORANEIDADE....................................................49 2.2 - MANIFESTAÇÕES CULTURAIS CONTEMPORÂNEAS.................................61 2.2.1 - HIP HOP................................................................................................65 2.2.2 - FUNK.....................................................................................................74 2.2.3 - ROCK.....................................................................................................85 2.2.4 - REGGAE................................................................................................90 CAPÍTULO 3 - O MUNICÍPIO DE VITÓRIA..............................................................98 3.1 - VITÓRIA: CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E CULTURAL..............................98 3.2 - JUVENTUDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CULTURA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA...................................................................................................................103 3.2.1 - SUBCOORDENADORIA DE VALORIZAÇÃO DA JUVENTUDE (2000/2004)......................................................................................................103 3.2.2 - GERÊNCIA DE RELAÇÕES COM A JUVENTUDE.............................107 3.2.3 - GERÊNCIA DE PROMOÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE....................110 3.2.4 - PODER PÚBLICO: CONCEPÇÕES E DESAFIOS..............................116 3.2.5 - JUVENTUDE: CONCEPÇÕES E DESAFIOS......................................128 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................146 REFERÊNCIAS .......................................................................................................149 APÊNDICES............................................................................................................157 14 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O envolvimento com o tema ”juventude”, mediante inserção no Núcleo de Estudos das Juventudes e Protagonismo (NEJUP), fez-nos perceber a escassez de pesquisas aprofundadas voltadas para essa população na Grande Vitória. O NEJUP surgiu, no ano de 2003, com o intuito de estudar o tema “juventudes” e pesquisá-la, disponibilizando material para comunidade acadêmica e para população em geral. Dentro do núcleo existem subdivisões para pesquisar profundamente temas correlatos à juventude, como, por exemplo, o grupo do Sistema de Garantias de direitos, de Políticas Sociais de Juventudes, do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, Como o Jovem aparece na Mídia Escrita Capixaba, entre outros. Com a realização de entrevistas e pesquisas no âmbito do Sistema de Garantias de direitos1 e de políticas sociais de Juventudes2, feitas pelos subgrupos em que éramos inseridas, pudemos perceber concepções difusas de juventude, por parte dos profissionais das referidas áreas. Assim, sentimos necessidade de aprofundarmos as questões suscitadas nas duas pesquisas, analisando a relação entre a concepção de juventude, do ponto de vista dos gestores e dos jovens e a influência na formulação das políticas públicas. No decorrer do nosso trabalho de pesquisa dentro do NEJUP no subgrupo Sistema de Garantias, percebemos, também, o funcionamento de todo o Sistema de Garantias de Direitos criado a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990. Porém, com a pesquisa detectamos que o Sistema de Garantias de 1 Entre os trabalhos apresentados em congressos e dos artigos publicados do subgrupo Sistema de Garantias, estão: Juventude: entre a Doutrina da Situação Irregular e a Doutrina da Proteção Integral (Seminário de Práticas em Serviço social, Vitória, 2005), Juventude: entre a Doutrina da Situação Irregular e o ECA (Congresso Brasileiro de Sociologia, Belo Horizonte, 2005), A Concepção de Juventude dos Atores do Sistema de Garantias – Vitória e Vila Velha (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Fortaleza, 2005), entre outros. 2 Entre os trabalhos apresentados em congressos e dos artigos publicados do subgrupo Políticas Sociais, estão: Concepções de Juventudes e Políticas Públicas: Uma Análise no Contexto do Município de Vitória – ES (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Fortaleza, 2005), Juventude e Protagonismo em Vitória, ES ( Congresso Latino Americano de Sociologia, Porto Alegre, 2005), Concepções de Juventudes e Políticas Públicas: Uma Análise no contexto do Município de Vitória-ES (Seminário de Práticas em Serviço Social, Vitória, 2005), entre outros. direitos não atua de forma articulada, muitas vezes não reconhecendo o adolescente e o jovem como portadores desses direitos. De acordo com a pesquisa realizada pelo subgrupo de políticas públicas, estudamos as concepções de protagonismo e juventude dos gestores da Secretaria de Juventude do Município de Vitória, na gestão de 2000 a 2004. Naquele momento, tendo em vista o conhecimento do perfil dos jovens de Vitória, foi encomendada pelo município uma pesquisa qualitativa. Esta pesquisa concluiu que a juventude se identificava como “Rock’n Roll e beijo na boca”, que os jovens eram apáticos politicamente, sem perspectivas, que não se reconheciam como protagonistas na sociedade e se auto-identificavam como “jovem do morro” e “jovem do asfalto”, expressando as diferenças de classes3. Os trabalhos desenvolvidos pela secretaria se pautaram em ações pontuais objetivando a integração da “juventude do asfalto” e a “juventude do morro” através de shows e patrocínios aos grupos organizados, deixando claro que como diz Camacho4 (2003), quem pensa que juventude é problema faz suas ações chamando o jovem de problema. A política de Juventude do município Vitória, passada a gestão 2000/2004, assume uma nova fase, com concepções e ações diferenciadas. Na Grande Vitória há pouca pesquisa aprofundada sobre juventude e não existem produções que conjuguem os jovens inseridos em movimentos culturais com políticas públicas. Nesse sentido, este trabalho busca analisar esta temática. Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) foram constatadas pesquisas sobre juventude, uma delas é o da professora Luisa Mitiko Camacho que aborda a questão do jovem na educação5. As produções existentes tratam dos temas separadamente, não abrangendo o foco que se pretende atingir. 3 Fragmento retirado do texto: Juventude e Protagonismo em Vitória (ES), CALIARI, et al, apresentado no XXV Congresso Latino Americano de Sociologia (ALAS). 4 Conferência ministrada pela Profª Drª Luiza Mitiko Camacho, no 1º Seminário Temático realizado pelo NEJUP, em Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, intitulado: MOVIMENTO JUVENTUDE E EXPRESSÃO. 5 Essa pesquisa foi apresentada pela referida professora no Seminário organizado pelo NEJUP intitulado Movimento, Juventude e Expressão em 12 de agosto de 2003. Assim, tendo em vista que é constituído por lei que as crianças, os adolescentes e os jovens têm direitos a políticas sociais básicas, esse trabalho tem como eixo central a análise das políticas de juventude no município de Vitória sob a ótica dos jovens inseridos em movimentos culturais, fazendo uma articulação com a visão dos gestores. Este trabalho poderá contribuir na elaboração de políticas de juventude, já que conhecerá a sua demanda. A escolha pela análise dos movimentos culturais ligados à música, se deu ao fato de que os movimentos juvenis tomam a forma de uma rede de diferentes grupos, dispersos, fragmentados, imersos na vida diária. Eles são um laboratório no qual novos modelos, formas de relacionamentos, pontos de vista alternativos são testados e colocados em prática (MELUCCI, 1997). A cultura é um elemento de sociabilidade e resistência, além de congregar jovens de acordo com suas afinidades. Além disso, pudemos perceber que a maioria dos projetos desenvolvidos, tanto na gestão passada (2000/2004) como na atual (2004/2008), perpassam a ótica da cultura. Os estilos musicais escolhidos foram hip hop, funk, reggae e rock. Essa escolha foi feita mediante a constatação de que esses grupos congregam muitos jovens e, são também esses jovens, os que mais participam de atividades políticas e culturais do município. Esse trabalho tem relevância social por pesquisar a percepção dos jovens acerca das políticas de juventude de seu município, contribuindo para a população que possuir interesse na política de juventude do município de Vitória. É relevante também para os gestores de políticas públicas para juventude no que se refere à constatação de como estão sendo percebidos pelos próprios usuários as suas ações. Possui também relevância profissional, pois relaciona-se com o campo de atuação dos assistentes sociais, tornando-se importante compreender como as políticas públicas de juventude estão sendo percebidas pelos jovens. A relevância científica aparece por se tratar de um tema que relaciona três elementos: jovem, cultura e política pública que não foram pesquisados com esse enfoque. O objetivo geral deste trabalho é analisar as políticas públicas de juventude no município de Vitória no período de 2002 a 2006, contextualizando as mudanças e continuidades e a percepção dos jovens envolvidos nos grupos musicais. Para alcançar esse objetivo, identificamos os movimentos culturais ligados à música compostos por jovens no município de Vitória; identificamos os programas e políticas de juventude existentes no município de Vitória; pudemos perceber como os jovens inseridos nos movimentos culturais ligados à música em Vitória avaliam a política de juventude no município; analisamos como é percebido pelos jovens o acesso à política de juventude no município de Vitória; buscamos perceber como se dá a inserção dos jovens na elaboração, implementação e gestão das políticas de juventude do município de Vitória; e analisamos também a concepção de juventude dos gestores de políticas públicas de juventude do município de Vitória. Para compreender e correlacionar os movimentos culturais da juventude com as políticas de juventude geridas pelo município de Vitória, foi utilizada uma pesquisa de caráter exploratório. Com uma abordagem qualitativa que é entendida como um método em que se tem a pretensão de trabalhar com o significado atribuído pelos sujeitos aos fatos, práticas e fenômenos sociais, ou seja, o método qualitativo faz a observação de situações reais e cotidianas, buscando o significado da ação social segundo a visão dos sujeitos pesquisados (ASSIS; DESLANDES, 2002). O levantamento dos dados acerca da fundamentação teórica foi realizado utilizandose pesquisas bibliográficas que são compreendidas como um caminho que o pesquisador pode optar para procurar as respostas do problema de pesquisa (ANDRADE, 2001). Além da pesquisa documental, realizada via documentos da gestão 2000/2004 e 2004/2008, dos programas nacionais como o Plano Nacional de Juventude e o Estatuto da Criança e do Adolescente; da observação participante através do NEJUP e da participação das Conferências Estadual e Nacional de Juventude. Utilizamos entrevistas semi-estruturadas para a coleta de dados visando conhecer um pouco do universo que envolve os jovens inseridos em movimentos culturais, a sua percepção, a história do movimento e como se configura na contemporaneidade. Também utilizamos a entrevista semi-estruturada para conhecer qual a concepção de juventude e participação que os gestores e formuladores de políticas públicas para juventude possuem, assim como, quais os projetos e políticas públicas para juventude existem no município e como são formulados. Com as entrevistas também pudemos conhecer como está a relação do poder público com os movimentos culturais em geral, através dos 4 (quatro) gestores entrevistados. A percepção dos movimentos musicais de Vitória: do funk, do reggae, do hip hop e do rock, e de como os jovens envolvidos com esses movimentos pensam uma série de fatores que perpassam a questão da juventude foi conhecida através dos 4 (quatro) jovens entrevistados. Esse tipo de entrevista foi escolhido porque os roteiros são mais flexíveis e permitem que o informante tenha maior liberdade no decorrer do processo. Além das entrevistas individuais, foi utilizado, também, uma entrevista coletiva para que fossem coletados dados com relação à avaliação da juventude inserida em movimentos culturais a respeito das políticas de juventude do município de Vitória. Participaram da entrevista coletiva 3 (três) jovens. Para o registro dos dados das entrevistas foram utilizados gravadores e a transcrição foi realizada na medida em que elas foram acontecendo. As fitas transcritas foram eliminadas. Na análise dos dados utilizamos a técnica de Análise de Conteúdo que é entendida como Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção dessas mensagens (BARDIN, 1985, p.62). Em referência a procedimentos éticos utilizamos o termo de consentimento livre e esclarecido - Resolução196– (BRASIL, 1996) que consiste no entendimento do participante em relação a pesquisa, na sua concordância e no estabelecimento de um contrato após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos e o incômodo que possa acarretar (ARAÚJO, 2003). Foram utilizados para as entrevistas semi-estruturadas com os gestores, os formuladores e jovens (apêndice I) e para a entrevista coletiva com os jovens inseridos em grupos culturais (apêndice II). Foram utilizadas também declarações em que se legitima a concordância com a pesquisa (apêndice III). Assim, para dar consistência à nossa pesquisa, no capítulo 1 abordamos concepções teóricas de política social sob a ótica de diversos autores e como os acontecimentos históricos, econômicos e sociais rebatem nas políticas sociais de um modo geral. Destacamos, também, como foram se construindo as políticas sociais para juventude, quais foram os determinantes e como se configuram na atualidade essas políticas, incluindo o Plano Nacional de Juventude. Já no capítulo 2 enfocamos as diversas concepções de juventude de acordo com cada período histórico, verificando também as concepções de cada autor e de cada organização que pesquisa o tema. Além disso, buscamos expor também um panorama de algumas situações que envolvem a juventude brasileira. Num segundo tópico do capítulo abordamos a dimensão cultural da juventude, enfocando cada movimento estudado sendo o hip hop, o funk, o reggae e o rock abrangendo sua história e características, mesclando teoria com pesquisa empírica. Na tentativa de articulação dos dados empíricos com o referencial teórico, no capítulo 3, num primeiro momento realizamos uma análise do município de Vitória quanto à organização social, política e cultural relacionando à população jovem. Num segundo momento enfocamos as instâncias existentes para formulação de políticas públicas para juventude da gestão passada (2000/2004) e da atual (2004/2008) no que se refere ao objetivo, aos projetos desenvolvidos, ao orçamento dentre outras coisas. Analisamos, também, sob a ótica dos gestores aspectos relacionados à concepção de juventude, participação e demandas. Após essa constatação, analisamos a visão dos jovens quanto ao acesso e a participação nesses projetos e a análise geral desses atores quanto às políticas públicas para juventude no município de Vitória. Após isso, registramos nossas considerações finais acerca da pesquisa. CAPÍTULO 1 POLÍTICA SOCIAL E JUVENTUDE 1.1 - POLÍTICA SOCIAL Para compreender o debate atual que perpassa a política pública para juventude, torna-se necessário fazer uma análise dos diversos conceitos existentes de política pública enfocando a política social, entendendo-a no contexto brasileiro. Considerando a política pública como uma ação de responsabilidade do Estado destinada à população em geral, Pereira (1994) diz que o termo público associado à política, não é uma referência exclusiva ao Estado, como muitos pensam, mas sim à coisa pública, ou seja, de todos, sob a égide de uma mesma lei e apoio de uma comunidade de interesses. Portanto, embora as políticas públicas sejam reguladas e freqüentemente providas pelo Estado, elas também englobam preferências, escolhas e decisões privadas, podendo (e devendo) ser controladas pelos cidadãos. Política pública expressa, assim, a conversão de decisões privadas em decisões e ações públicas, que afetam a todos (PEREIRA, 1994, p.02). Embora o termo “público” da política pública não se refira estritamente ao Estado e sim à sociedade, é de dever daquele investir recursos para a implementação dessas políticas, cabendo à população reivindicar e participar da elaboração das mesmas. Assim, as políticas públicas podem ser classificadas como instrumentos que deveriam concretizar demandas que emergem da sociedade através dos conselhos de direitos, dos movimentos sociais de base ou mesmo dos partidos políticos, representando, portanto, a interação do Estado com a sociedade no sentido da construção de uma cidadania plena. Dessa forma, para que exista uma política pública como tal, faz-se necessário, segundo Bobbio, que uma situação determinada requeira solução por meio dos instrumentos de ação política, ou seja, da ação que tem como finalidade a formação de decisões coletivas que, uma vez tomadas, se convertam em vinculadoras de toda a coletividade. Analisando essa afirmação [...], qualquer situação que precise ser objeto de intervenção, mediante decisões vinculadoras para toda a sociedade, necessitará, por força, ser expressa como um problema político e, portanto, instalar-se na esfera pública como um conflito ou demanda que afeta, de certa forma, a convivência social, envolvendo atores sociais relevantes com capacidade de exercer pressão sobre a agenda governamental, dentro da institucionalidade vigente ou fora dela (ABAD, 2003, p. 15). Com efeito, a população tem o direito e o dever de participar da agenda pública, colocando suas demandas e cobrando soluções concretas de interesses públicos. Nesse sentido, Leon (2003) alega que as políticas públicas são dirigidas e focadas no intuito de solucionar problemas políticos, demandas de setores sociais com visibilidade pública e capacidade de pressão, podendo influir na instalação de suas demandas na agenda pública. Assim, a política pública é entendida de forma ampla e abriga em seu conceito várias subdivisões, dentre elas a política ambiental, a política econômica, a política agrícola e a política social. Sendo a última o foco do nosso estudo, nos deteremos apenas à discussão desta. Vieira (1992) analisa as várias vertentes da política social. No liberalismo a política social é entendida como a satisfação de certas necessidades não levadas em conta pelo mercado capitalista. Já o método funcionalista encara a política social como técnica destinada a adequar a realidade ao movimento natural da história. Opondose ao funcionalismo, o método materialista histórico e dialético analisa a política social como sendo parte da estratégia da classe dominante, ou seja, da burguesia. A política social é compreendida de diversas formas e analisada por vários autores, dentre eles Pereira (1994). A autora salienta que a política social refere-se à programa de ação que visa a "atender as necessidades sociais cuja resolução ultrapassa a iniciativa privada, individual e espontânea, e requer decisão coletiva regida e amparada por leis impessoais e objetivas, garantidoras de direitos” (PEREIRA, 1994, p.01). Para Mota (2006)6, política social é um mecanismo de intervenção e regulação do Estado que surge com o desenvolvimento do capitalismo monopolista. É determinada por um conjunto de necessidades econômicas, sociais e jurídicas originadas das condições sobre as quais se desenvolveram historicamente as relações entre capital e trabalho. Assim, as políticas sociais são expressões 6 Idéias retiradas do Seminário "Análise das políticas sociais no governo Lula" proferido por Ana Elizabete Mota em 24 de março de 2006, na Universidade Federal do Espírito Santo. concretas, de um lado, das lutas do trabalho pelo direito de existir e de sobreviver, e de outro lado, pela necessidade que têm as classes dominantes e o Estado de administrar as desigualdades que são inerentes ao desenvolvimento dessas sociedades. Outro conceito de política social é apresentado por Faleiros (1987). Para ele, esta é encarada como uma gestão da força de trabalho que articula as pressões e movimentos sociais dos operários com as formas de reprodução exigidas pela valorização do capital e pela manipulação da ordem social. Assim, segundo Faleiros (1987, p.55), “as medidas de política social só podem ser entendidas dentro do contexto capitalista e de acordo com o movimento histórico das transformações sociais dessas mesmas estruturas”. De acordo com o autor, para analisar as políticas sociais deve-se considerar o movimento do capital, que interfere na validação da força de trabalho como mercadoria e produtora da maisvalia. Faleiros (1987) aborda, portanto, a existência de um traço contraditório das políticas sociais implementadas pelo Estado. Segundo o autor, "quando o governo fala de prioridades sociais aparece como o defensor das camadas populares, ao mesmo tempo em que oculta a vinculação dessas medidas à estrutura econômica e à acumulação de capital” (FALEIROS, 1987, p. 57). Também para Leal (2004), as políticas sociais estão voltadas tanto para o controle e dominação, quanto para o atendimento de determinadas demandas dos setores subalternos das sociedades, reforçando o traço contraditório dessas políticas. Segundo a autora, ao brindar um conjunto de bens e serviços necessários para a sobrevivência dos subalternos, o Estado busca reforçar a sua capacidade de impor à sociedade, como um todo, os interesses políticos e sociais das classes hegemônicas. Ao mesmo tempo, os subalternos introduzem, no interior dos mesmos aparatos estatais, questões relevantes para os seus interesses (YAZBEK apud LEAL, 2004, p. 152). Bravo (2004) afirma que as políticas sociais, a partir de seu caráter contraditório, devem ser usadas pelas classes subalternas como garantia de condições sociais de vida dos trabalhadores e como uma forma de acumular forças para a conquista do poder por parte dos trabalhadores organizados. Vieira (1992) diz que a política social aparece no capitalismo construída por meio de mobilizações operárias, ocorridas ao longo das primeiras revoluções industriais, não tendo existido, portanto, política social desligada dos reclamos populares. Daí aparece a dicotomia entre como surgiu a política social e como está sendo manipulada. Já Abad (2003) complementa o conceito dizendo que as políticas sociais têm como encargo ideal a construção da cidadania social proporcionando condições para que haja uma igualdade de direitos. Sua finalidade é apoiar a expansão da cidadania retirando os obstáculos que impedem o seu pleno exercício. Elaine Behring (2000) diz que é importante considerar a política social como síntese de “múltiplas determinações”, superando os “reducionismos economicistas e politicistas”. A autora aborda a política social sob dois pontos de vista, o redistributivista e o marxista: El redistributivismo viene a luz com la apuesta em la política social como via de solución de la desigualdad, subdimensionando la naturaleza del modo de producción capitalista, com su indisoluble unidad entre producción y reproducción social, así como subvalorizando también la particularidad brasileña (...) Es interessante notar que la critica marxiana de la economía política, en la que existe uma unidad entre las esferas de producción e del consumo no es absorbida. Algunos abordajes crean la seguiente situación: recurren a categorias de la tradición marxista y al mismo tiempo trabajan bajo um enfoque distributijvista-keynesiano, constituyendo um verdadero ecleticismo (BEHRING, p. 170, 2000). Assim, a política social no capitalismo não se funda em uma verdadeira redistribuição de riqueza, atende ao mesmo tempo as necessidades do capital e do trabalho, tornando-se um importante terreno de lutas de classe nesse contexto de estagnação. Portanto, a política pública social é vista como uma ação que emerge do Estado e que vai além de qualquer projeto desenvolvido pela sociedade civil e pelo empresariado, sendo garantida por leis, constituída como direito e elaborada com a participação da população. Porém, as políticas sociais geridas no Brasil, em sua maioria, não permitem o exercício da cidadania no que tange à participação e não têm continuidade, constituindo-se em políticas de governo e não em políticas de Estado. Além disso, são medidas que geram resultados insatisfatórios devido, tanto a pouca seriedade em que são propostas quanto ao curto tempo de durabilidade. Assim, as políticas sociais se resumem a programas imediatistas e pontuais que, geralmente, não promovem uma concreta mudança da realidade. Essas características da política social brasileira podem ser observadas em outros momentos históricos. Pereira (2000), por exemplo, faz uma subdvisão da história em cinco períodos. Ela denomina “período laissefariano” aquele que compreende o momento histórico anterior a 1930, onde a ação do Estado mediante as necessidades básicas limitava-se a reparações emergenciais de problemas. As políticas sociais mais enfocadas eram relativas ao trabalho e à previdência. É nessa época que se tem a criação dos Departamentos Nacionais do Trabalho e da Saúde em 1923 e da Lei Eloy Chaves. O período seguinte ela conceitua como populista/desenvolvimentista. Num determinado momento, as políticas sociais operavam como estratégia de um governo populista, enfocando mais uma vez o trabalho. Verificou-se, dentre outras coisas, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; da Carteira do Trabalho; da nova legislação sobre acidentes de trabalho; do Serviço Social da Indústria (SESI); do Serviço Social de Aprendizagem Comercial (SESC); do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a uma proposta de realizar reformas de base reivindicadas pela sociedade. Com relação à política educacional para juventude não poderia ser diferente. Nesse momento histórico, o então presidente Getúlio Vargas, salientava a importância de qualificar os jovens operários para promover o crescimento da indústria nacional. De acordo com Vieira (1987), o governo investia também por meio do SENAI visando à qualificação desses jovens. Vargas também assumiu a educação como direito de cada indivíduo e dever do Estado, ao menos até o ensino médio (VIEIRA, 1987). Verifica-se então, uma ênfase dada à educação para o trabalho. Quanto ao ensino superior, para o mesmo autor, o referido governo salientou também sua importância, para isso criou a Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior e estabeleceu o Sistema Federal de Ensino Superior. Com isso, o governo visava à formação de cientistas capazes de elaborar novos conhecimentos que colaborariam para a emancipação econômica do país7. No período tido como “tecnocrático-militar” verificou-se uma supremacia do saber técnico sobre a participação popular. Os direitos civis e políticos estavam cerceados. A política social tornou-se uma mera extensão da política econômica. Tem-se a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), do Programa de Integração Social (PIS), entre outros. As políticas sociais ainda vinculavam-se a propósitos de manutenção do poder da elite. Somente depois alguns avanços civis e políticos foram notados com a campanha das “Diretas Já” e posteriormente, concretizados com a Constituição Federal de 1988. Segundo Carvalho (2004), os governos militares repetiram a tática do Estado Novo ampliarando os direitos sociais, ao mesmo tempo em que restringiam-se os direitos políticos. O autor diz ainda que, o autoritarismo brasileiro pós 1930 sempre procurou compensar a falta de liberdade política com o paternalismo social. Por fim, Pereira (2000) conceitua o último período de “neoliberal”, quando assiste-se a uma preocupação governamental apenas com a contenção do déficit público deteriorando, de todas as formas, o sistema de proteção social anteriormente criado. O período Neoliberal é caracterizado por corte nos gastos públicos com o social, privatizações de empresas, desmonte da proteção social e dos direitos que recentemente conquistamos na constituição de 1988. Os programas criados são assistencialistas e seletivos. O que se viu foi o agravamento do desemprego e da pobreza. 7 Embora o governo tenha dado ênfase ao ensino técnico e superior, deixou muito a desejar no que tange a alfabetização da zona rural. Segundo Vieira (1987) faltavam instalações escolares, professores habilitados, material didático e se for analisado que, nesse período, o país ainda era predominantemente agrário, afastava-se do ensino primário bem mais que metade da população em idade escolar devido às péssimas condições das estradas e ao transporte precário. Portanto, a maioria da população não conseguia atingir o ensino técnico ou superior (VIEIRA, 1987). Em países onde o Estado de Bem-estar, de acordo com Soares (2003), existiu de forma incompleta ou não existiu, como é o caso do Brasil, os impactos do neoliberalismo foram mais perversos. Há o desmonte de serviços conquistados e uma proliferação de um sistema de seguros privados, como é o caso da saúde e da educação. O acordo realizado entre o Estado, o empresariado e os sindicatos na chamada regulação Keynesiana da economia, possibilitou aos países em que foi desenvolvido, uma ampliação do Estado no campo das políticas públicas, implantando uma rede pública de serviços sociais como parte de uma estratégia para reverter as crises do capitalismo gerados no pós-guerra (IAMAMOTO, 2004). O bem-estar-social, segundo Faleiros (1987) ou Welfare State8, baseia-se nos postulados do Estado como sendo neutro, da sociedade sendo representada pelo consenso entre os homens e o Estado, visando a objetivos de justiça e igualdade feita para alguns bens primários. O padrão de desenvolvimento no mundo possibilitou os avanços e conquistas no que diz respeito ao bem-estar social. Mas isso é visto principalmente nos países conhecidos como desenvolvidos. Segundo Oliveira (1982), aqui no Brasil não é possível observar esses avanços, pois não vivenciamos um estado de bem-estar social e sim um "estado de mal-estar social". No período de hegemonia do bem-estar-social na Europa, Hayek e vários outros teóricos que compunham o pensamento liberal da época, em meados do século XX, argumentaram que o novo igualitarismo promovido pelo bem-estar social, destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência. Eles argumentavam que a desigualdade era um valor positivo e isto foi sustentado por mais de 20 anos na teoria liberal (ANDERSON, 1995). O neoliberalismo nasceu logo após a II Guerra Mundial e foi caracterizado como uma reação teórica e política contra o estado de bem-estar social. O texto de origem da teoria liberal é de 1944, formulado por Hayek e intitulado “Caminho da Servidão”. Este livro traduz uma forte corrente teórica que acreditava veementemente na 8 Resumidamente, o Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social se caracteriza pela garantia de Proteção Social, vista como direito e provida pelo Estado. liberdade de mercado, sendo qualquer limitação encarada como letal à liberdade econômica e política (ANDERSON, 1995). Em 1979 na Inglaterra foi eleito o primeiro governo de claro posicionamento neoliberal. Em 1980, Reagan assume a presidência dos Estados Unidos da América. Logo no início ele tratou de disseminar as idéias liberais pelo continente Americano. Em 1982, foi a vez da Alemanha, com o governo de Khol. Em 1983, a Dinamarca, que possuía um modelo de bem-estar escandinavo, rendeu-se aos encantos do neoliberalismo através do governo de direita de Schluter (ANDERSON, 1995). Portanto, enquanto em âmbito mundial se vivia uma superação do estado de bemestar social, no Brasil aprovávamos a Constituição Federal de 88 e iniciávamos a transição democrática. No período de transição para a democracia liberal, as políticas sociais tornaram-se centrais, como é percebido na Constituição de 1988. Para Pereira (2000), os conceitos de direitos sociais, seguridade social, universalização, equidade, descentralização político-administrativo, controle democrático, mínimos sociais, dentre outros, passaram, de fato, a constituir categoriaschave norteadoras da constituição de um novo padrão de política social a ser adotado no país. (PEREIRA, 2000, p. 152). Portanto, a Constituição Federal de 1988 prevê vários avanços sociais que não se encaixariam no ideário neoliberal, tais como: ampliação de direitos trabalhistas, reconhecimento do princípio da participação popular na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis e reconhecimento da assistência social como direito de cidadania (PEREIRA, 1996). Assim, segundo Bravo (2004), no âmbito da década de 80, com a implementação da nova Constituição Federal (1988), as políticas sociais foram incorporadas como responsabilidade do Estado de acordo com as reivindicações das classes trabalhadoras. Nesse período, a família é colocada como alvo dessas políticas, além de afirmar os direitos da população infanto-juvenil, que, na década de 90, com o Estatuto da Criança e do Adolescente ganham ainda mais respaldo. No pós 88, a história brasileira é pavimentada com a ideologia liberal que aporta no país na Era Collor, se consolida com Fernando Henrique Cardoso via Consenso de Washington, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), fazendo surgir privatização, desregulamentação do trabalho, abertura comercial, financiamento do grande capital e corte dos gastos sociais9. Na década de 90, pôde-se perceber o aprofundamento das desigualdades sociais e um grande empobrecimento das famílias brasileiras. Foram redefinidas as relações do Estado com o mercado e a sociedade civil. Assim, o Brasil passou a adotar os princípios neoliberais de privatização do Estado e redução dos gastos sociais (ALENCAR, 2004). O governo de Fernando Henrique Cardoso inicia a reforma da previdência, cria a comunidade solidária que vai de encontro à Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), incentiva a proliferação de programas sociais voluntários e Organizações Não Governamentais (ONG's), construindo uma cultura de que a questão social não era de responsabilidade somente do Estado mas também da sociedade civil 10. Novaes (2003) coloca que, no Brasil houve uma desresponsabilização do poder público em relação à questão social e que, muitas vezes, os problemas são transferidos para a responsabilidade individual. Para ela, [...] na última década, ocorreu uma privatização das políticas públicas por meio da idéia de focalizar um país que não universalizou quase nada [...]. Até agora foram feitas políticas minguadas, fragmentadas e de competição entre as esferas de governo (o município compete com o estado e o estado compete com a União). Não há sinergia nos programas sociais do governo federal (NOVAES, 2003, p. 133). Para os neoliberais, segundo Laurell (2002), o Estado só deve intervir para garantir um mínimo para aliviar a pobreza e produzir serviços que o privado não pode prover. Para a autora, essas políticas são de caráter assistencialista e com o intuito de evitar que se gerem direitos. Para se inserir nesses programas, deve-se comprovar sua condição de indigência. Dessa forma, essas políticas opõem-se à idéia da universalidade, igualdade e gratuidade dos serviços sociais. Nesse sentido, Bravo (2004) afirma que o processo de privatização rebate na seguridade social e nas políticas referentes à infância, juventude e família, através 9 Idéias retiradas do Seminário "Análise das políticas sociais no governo Lula" proferido por Ana Elizabete Mota em 24 de março de 2006, na Universidade Federal do Espírito Santo. 10 Idem. da mercantilização da saúde e da previdência. Vêem-se então programas focalizados e o repasse de ações que eram de responsabilidade do Estado para a sociedade civil, além da não consideração da assistência social como política pública. Nesse contexto é que surgem as políticas sociais de a Juventude. 1. 2- POLÍTICA SOCIAL DE JUVENTUDE: UM RESGATE HISTÓRICO Na Idade Média havia certa imprecisão nas definições de criança, adolescente e juventude. Nessa época, segundo Ariès (1973, p. 14), “subsistia a ambigüidade entre a infância e a adolescência, de um lado, e aquela categoria que se dava o nome de juventude, do outro”. Na França, no começo do século XIV, os jovens pobres não tinham acesso à escola e em decorrência disso não eram tidos como jovens, pois se misturavam aos adultos para trabalhar. A formulação das políticas até o século XVI, na França, segregava e excluía a população pobre e dificultava o acesso às decisões sobre seu destino. Segundo Ariès (1973), na França depois do século XVII, a educação passou a ser vista de outra forma. A escola deixou de ser reservada aos clérigos para se tornar o instrumento normal da iniciação social. Esse reconhecimento da educação como necessária, ultrapassou séculos e países chegando ao Brasil na Era Vargas, no século XX. No Brasil, essa movimentação culminou na educação sendo reconhecida como direito. Esse direito era resguardado pelo menos até o ensino médio, durante o governo Vargas. Nesse período, houve uma ênfase dada à educação para o trabalho, com investimentos no ensino superior e técnico devido ao processo de industrialização que se iniciava. Esses jovens eram preparados para servir como mão-de-obra nas indústrias (VIEIRA, 1987). No Brasil, durante o século XX, as políticas públicas não deram ênfase à juventude. Elas atendiam apenas à infância e a adolescência chegando apenas até os 18 anos. Portanto, existiam poucas políticas públicas para juventude, o que existiam eram ações para crianças e adolescentes que acabavam por favorecer uma parte da juventude. Essas políticas públicas para a população infanto-juvenil registradas no início do século XX até a década de 1990, tinham como base um conceito de criança/adolescente pobre como problema. Nesse sentido, as políticas públicas de atendimento ao segmento infanto-juvenil eram pautadas num sistema médicojurídico-assistencial, tendo por objetivos a prevenção e a repressão. As políticas desenvolvidas nesse momento tinham, ainda, um enfoque de que a infância e a juventude pobre eram perigosas e tinham de ser tratadas com ações de reabilitação e adaptação ao contexto de desenvolvimento que o país estava atravessando nesse período, para que com isso não viessem a atrapalhar o referido desenvolvimento e instaurar a “desordem”. A crença de que na infância e na juventude estava o "futuro da nação", fazia com que fosse necessário criar mecanismos de internação que isolassem a criança pobre da família com o intuito de mantê-la em um caminho que resguardasse a "ordem". Dessa forma, o Estado se sentia capaz de retirar as crianças das famílias pobres com o discurso de que iria salvá-las do perigo que a pobreza representava naquele momento. Assim, o Estado manteria as cidades em desenvolvimento "limpas" e teria a possibilidade de formar trabalhadores alienados (RIZZINI, 1997). Foi estabelecida uma aliança entre a Justiça e a Assistência no século XX que contribuiu para originar a ação tutelar do Estado, legitimada pela criação de uma instância regulatória da infância e da adolescência – o “Juízo de menores” - e por uma legislação especial – o “Código de menores (Código de Mello Mattos)” criado em 1927 (RIZZINI, 1997). Essa justiça de “menores” no Brasil tinha por alvo a infância e adolescência pobre que não vivia em uma família considerada habilitada a educá-la conforme os padrões de moralidade vigentes na época. Assim, os filhos dos pobres, que precisavam de intervenção judiciária devido a sua condição social, passaram a ser identificados como “menores”, passíveis de receberem medidas de internação (RIZZINI, 1997). Até os 18 anos, essa população que era encontrada na rua, era encaminhada às instituições de internação, não importando o contexto em que estava inserida. Já os maiores de 18 anos eram levados para os presídios e casas de detenção, mesmo sem terem cometido nenhum ato infracional (BRASIL, 1979). A partir desse instante, passou a haver uma diferenciação entre criança e jovem, até os 18 anos, e “menor”. A criança e o jovem, até os 18 anos, eram entendidos como aqueles mantidos sob os cuidados da família, sendo reservada a cidadania. Já o “menor” passou a significar aquele que era pobre, considerado potencialmente perigoso e mantido sob a tutela do Estado, objeto de leis, medidas filantrópicas, educativas, repressivas e programas assistenciais (RIZZINI, 1997). O Juízo de “menores” inaugurou uma política de internação em estabelecimentos criados ou reformados para atender à população específica dos “menores” material e moralmente abandonados11 (RIZZINI, 1997). O conceito de situação irregular do antigo código do menor apoiava a triagem e, portanto o poder sobre o menor apreendido na rua. Os motivos da apreensão eram os mais variados: ou porque se enquadravam na definição de situação irregular-abandono, maus tratos, uso de drogas e perambulação ou porque havia cometido infração. O critério de abandono era muitas vezes usado de modo amplo. Por ele, “menores” carentes que trabalhavam na rua para ajudar a família terminavam internados e afastados dela (ZALUAR, 1994, p.137). A Doutrina da Situação Irregular estava presente no Código de Mello Mattos (1927) e no Código de Menores (1979). Esses códigos serviam de instrumentos de controle social da infância e juventude, até os 18 anos, que eram sujeitas às omissões da família, da sociedade e do Estado em seus direitos básicos. Com esse estigma, a intenção era conter os “menores”, seja segregando-os, seja adestrando-os para o trabalho (MARTINS, 2004). Passou-se a pensar na utilidade desses sujeitos à nação como mão-de-obra para a indústria incipiente, para a 11 O abandono moral era ligado aos pobres e deveria ser combatido, pois a ele estavam associadas as conseqüências indesejáveis como a vadiagem, a mendicância e outros comportamentos viciosos que conduziriam à criminalidade e ao descontrole (RIZZINI, 1997). agricultura e para a formação de um Estado forte e nacional. Nesse contexto, foram criadas instituições visando à formação profissional dos internos como os patronatos agrícolas para a formação de trabalhadores rurais. Porém, essa nova modalidade de tratamento da população infanto-juvenil não abandonou totalmente as práticas anteriores. O que pode ser notado é que houve uma passagem da repressão à educação, para uma visão educativa e recuperativa, tendo como objetivos aproveitar a mão-de-obra para o desenvolvimento nacional (RIZZINI, 1995). É sob essa perspectiva que mais tarde, em meados do século XX, surgem os chamados SENAC e SENAI, que, associados aos cursos profissionalizantes, visavam à educação para o trabalho. O sistema “S”, como era chamado, capacitava mão-de-obra juvenil para trabalhar nas várias indústrias que surgiram neste momento. Essa era uma das poucas ações destinadas à juventude, senão a única, mas que na verdade carregou consigo o interesse dos governantes em desenvolver o país através das mãos fortes dos jovens. Já na década de 1980 começaram a se destacar movimentos de resistência a esses tratamentos destinados à população infanto-juvenil. Movimentos que visavam a alterar as tradições históricas na área da infância e da juventude e mudar as formas de atuação que eram exercidas pelas ações assistencialistas, coercitivas, correcionais e rígidas (MARTINS, 2004). Esses movimentos foram, em sua maioria, influenciados pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (até os 18 anos). Segundo Martins (2004), essa convenção foi discutida a partir de 1978, quando a Polônia apresentou às Nações Unidas a iniciativa de elaborar uma convenção sobre os direitos da criança e do adolescente, que se pretendia aprovar no ano seguinte, o Ano Internacional da Criança. A tarefa, entretanto, não era simples. Foram necessários vários anos de estudos e reuniões para que essa convenção fosse finalmente aprovada. E, embora ela tenha sido assinada em 1989, pode-se observar no Brasil os efeitos de seus dez anos de trabalho. A própria Assembléia Constituinte Brasileira incorpora, já em 1988, muito desse tratado (MARTINS, 2004, p. 198). Na Constituição Federal de 1988 já se pode perceber uma prioridade dada à criança e ao adolescente até os 18 anos. Nela começa-se a gestar uma política geracional mais democrática e isenta de estigmas, predominantes anteriormente. Isso pode ser verificado a partir do artigo 227, o qual determina que É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, art. 227). É a partir do artigo 227 da Constituição Federal de 88 que se cria, sob a lei Federal nº. 8.069 de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Nesse momento é observada uma mudança no foco de intervenção e de concepção das políticas públicas destinadas a crianças e adolescentes. Antes essas políticas geracionais eram baseadas na Doutrina da Situação Irregular, depois do ECA elas passaram a ser desenvolvidas a partir da Doutrina da Proteção Integral, considerando a população até os 18 anos, como portadora de direitos. O ECA, considerado um avanço no plano teórico, assegura direitos à população infanto-juvenil, antes inexistentes. Regulamenta, teoricamente, conquistas presentes na Constituição de 88 e vem promovendo morosamente, uma revolução nas áreas jurídica, social e política (LEAL 2004). Porém, mesmo considerado um avanço, o ECA não dá cobertura à juventude, pois trata apenas da faixa etária de 0 a 18 anos. Foi a partir da metade da década de 90 que o tema juventude começou a ganhar visibilidade no Brasil. No entanto, apesar do enfoque dado à geração juvenil, as ações desenvolvidas nesse período ainda tinham o jovem como problema, realizando somente programas voltados para o combate de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, programas anti-drogas, de reabilitação para jovens em conflito com a lei, entre outros (LEÃO, 2005). Essa ênfase dada à juventude, no final do século XX, diz respeito a uma série de fatores sócio-históricos que traduzem o contexto em que essa geração está inserida. Portanto, contextualizar o mundo contemporâneo se torna essencial para compreender a problemática que envolve a juventude brasileira. Nesse sentido, a contemporaneidade é configurada por uma crise social e política do capitalismo, pela reestruturação do processo produtivo levando ao desemprego estrutural. As novas tecnologias produtivas e de comunicação criam a desterritorialização constante. Há o descentramento dos Estados nacionais e a dependência crescente dos países periféricos aos países centrais. O mundo se transformou num cassino financeiro, hegemonizado pelo capital financeiro volátil12. Crescem também os movimentos da extrema direita no mundo e com isso o perigo de uma nova onda de intolerância política, étnica e racial, cujas conseqüências a história já nos mostrou (MANFROI, 2000). Um exemplo disso, são as agitações provocadas em São Paulo pelos “skinhead”, ou carecas, um grupo de jovens que se achava de raça superior e tentou propagar uma nova fase do nazismo no Brasil, pregando o combate a negros, judeus, homossexuais e nordestinos. Uma realidade inegável é a da globalização econômica, política e cultural. Sistemas de informação cada vez mais rápidos fazem transações econômicas de um país a outro em instantes. As redes mundiais de comunicação fazem com que o universo troque informações em minutos, quebrando a barreira das culturas (MANFROI, 2000). Isso tem uma ligação intrínseca a juventude, que está cada vez mais participante desses espaços virtuais, influenciando, até mesmo, nos relacionamentos e redes de amizade dessa nova geração. A automação, os novos processos produtivos levam ao desemprego estrutural, colocando-nos frente a uma nova questão social ou a mesma questão social, mas com intensificação de alguns fatores13. Segundo Ianni (1996, p. 11), o processo de globalização assinala a emergência da sociedade global, com uma totalidade abrangente, complexa e contraditória. Uma realidade ainda pouco conhecida, desafiando práticas e ideais, situações consolidadas e 12 13 CALIARI, et al, 2005. Anais do ALAS. Vários autores colaboram para a teorização do discurso da Questão Social. No fim do século XX e início do século XXI houve a intensificação de fatores relacionados ao cotidiano e aos problemas que envolvem a população. Diante desse quadro, alguns autores abordam a possibilidade de existência de uma nova Questão Social, com uma nova roupagem, outros autores dizem ainda que não existe uma nova Questão Social, o que existe é o agravamento e a intensificação de fatores que envolvem essa questão, que o fundamento dela continua sendo o mesmo, o capitalismo. Para Castel (1997) a nova questão social hoje parece ser o questionamento da função integradora do trabalho na sociedade”. Uma desmontagem desse sistema de proteção e garantias que foram vinculadas ao emprego e uma desestabilização na ordem do trabalho, que repercute como uma espécie de choques em diferentes setores da vida social para além do mundo do trabalho propriamente dito e que vem atuando como agente desagregador do tecido social. interpretações imaginação. sedimentadas, formas de pensamento e vôos da Com a globalização dos processos produtivos das relações políticas, a questão social também se globalizou. Houve alterações no mundo do trabalho: novas técnicas e automação, flexibilização e o aumento da produtividade e a necessidade cada vez de um número menor de trabalhadores. A questão social ressurge recolocando em novos patamares a exclusão social. Como afirma Fontes (1995, p. 29), a exclusão social contemporânea é diversa, tende a criar, internacionalmente, indivíduos inteiramente desnecessários ao universo da produção econômica. Para eles, aparentemente, não há mais possibilidade de integração ou reintegração no mundo do trabalho e da alta tecnologia. Neste sentido, os novos excluídos parecem ser descartáveis. Um elemento que se destaca é a questão da cidadania que se torna cada vez mais restrita a grupos, mesmo nos países centrais. Há uma exclusão maciça internacional, com populações inteiras sendo excluídas de toda e qualquer forma de cidadania, sendo excluídas inclusive do direito de mudar de país. Se a cultura circula, novas barreiras impeditivas (...) são erguidas (FONTES, 1995, p. 30) No que concerne à população jovem, pode-se observar pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)14, do censo 2000, que mais de 1/3 dos jovens brasileiros são analfabetos ou não têm escolarização adequada. Ou seja, sem escolarização os jovens são excluídos do processo decisório no país, ficando a cidadania, em segundo plano, enfraquecendo e desmobilizando a população juvenil. Esse é um fator muito contraditório, pois enquanto o mundo se globaliza, as juventudes locais não têm acesso nem a um livro, quanto mais a um computador. Um motivo pelo qual os índices de analfabetismo e escolarização precária estão altos é o fato dos jovens, devido ao seu contexto social, terem que entrar no mundo do trabalho mais cedo, seja como forma de contribuir no orçamento familiar, ou seja, sendo chefe de família. O IBGE mostra que 16.800.000 jovens trabalham e dentre estes só 6.200.000 estudam. Comprovando que a juventude brasileira está passando por um processo de educação para a subalternidade, assumindo os 14 Ver detalhes em www.ibge.com.br subempregos, pois não tiveram oportunidade de estudar e escolher a profissão de sua preferência, tendo, portanto, que "aceitar o que vier". O Instituto de estudos, formação e assessoria em políticas sociais (POLIS) realizou uma pesquisa, financiada pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), com jovens moradores das sete cidades paulistas que compõem o grande ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Mauá). Essa pesquisa aborda as dificuldades que essa população encontra para se inserir num mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Revela ainda, seus projetos de vida e as expectativas de políticas que propiciem seu desenvolvimento social e profissional (SOUTO, 2000). Nessa pesquisa, mediante os relatos dos jovens, é mostrada que a precarização do trabalho atinge a maioria dessa população. Grande parte deles trabalha sem carteira assinada e desfrutam de poucos benefícios. Essa flexibilização das leis trabalhistas atinge negativamente a auto-confiança desse jovem, que passa a uma posição de submissão frente ao trabalho. Verifica-se, dessa forma, um retrocesso no que se refere aos direitos trabalhistas conquistados (SOUTO, 2000). Esse fato pode ser associado à França, que vive, em 2006, uma forte manifestação da juventude que está vendo seus direitos trabalhistas serem extintos, na medida em que, o governo decreta que o empregador poderá demitir sem justa causa, num prazo de dois anos, jovens de até 26 anos que estiverem no programa primeiro emprego. Essa população passa a reivindicar seus direitos frente a um governo que insiste em negá-los. Os jovens alegam que esse decreto institui o fim das proteções trabalhistas já conquistadas. Segundo uma pesquisa nacional feita pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese)15 / Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) em 1998, metade do contingente de desempregados na mesma região era constituída de jovens de até 24 anos. 15 Ver detalhes em http://www.dieese.org.br/ e http://www.seade.gov.br/ Assim, neste processo o tema da exclusão social torna-se relevante. A principal conseqüência é o processo de precarização do trabalho. Segundo Castel (1997, p. 9), a exclusão social, afeta principalmente os trabalhadores, e dentre eles os pouco qualificados, mais do que os executivos, por exemplo, mas é preciso dizer que há também um desemprego para os quadros superiores, quer dizer, que ninguém escapa a essa reestabilização das situações de trabalho. Usando como exemplo a França, Castel (1997) levanta três tendências relativas ao trabalho, que assim classifica: desestabilização dos estáveis- “trabalhadores que ocupavam uma posição sólida na divisão do trabalho clássica e que se encontram ejetados dos circuitos produtivos"; instalação na precariedade- “alternâncias de períodos de atividades, de desemprego, de trabalho temporário, de ajuda social”; sobrantes- “pessoas que não têm lugar na sociedade, que não são integrados, e talvez não sejam integráveis..." (CASTEL, 1997, p. 11). Telles (1994) afirma que o Brasil é um país que ainda não conquistou patamares mínimos de direitos e isso “dramatiza a questão social”. A autora fala ainda da atual crise política do Estado. Para ela, esta é uma crise que se mistura com a desorganização e destruição de instituições e serviços públicos dos quais dependem grandemente as regularidades da vida social e que converge em uma corrosão do sentido mesmo de ordem pública, do que são expressão as evidências da deterioração de padrões societários, aí incluindo a violência de todos os dias...(TELLES, 1994, p. 96). A autora aponta também os desafios da sociedade contemporânea: a sociedade brasileira vem se transformando rapidamente, criando espaços heterogêneos, complexos e diferenciados cruzando transversalmente a estrutura de classes, desfazendo identidades tradicionais e criando outras tantas, gerando uma pluralidade de interesses e demandas nem sempre convergentes, quando não conflitantes e excludentes (TELLES, 1994). A sociedade brasileira é muito desigual e heterogênea na distribuição dos bens e serviços, onde o Estado não consegue responder aos padrões mínimos de cidadania. Criaram-se novos espaços de conflitos onde se redefinem as relações entre o Estado, a sociedade e a economia por conta de transformações econômicas e sociais que escapam a mecanismos institucionais de regulação e ordenamento das relações sociais. Isso cria novos espaços de negociação (TELLES, 1994). As mudanças no mundo do trabalho e da tecnologia, em que a integração precária no mercado de trabalho se sobrepõem ao bloqueio de perspectivas de futuro e de perda de sentido de permanência à vida social, vêm construindo um novo padrão de exclusão social (TELLES, 1994). Segundo Hobsbawn (1992): o "curto século XX" (1914-1990) terminou, mas tudo o que podemos dizer do vigésimo primeiro é que terá que enfrentar pelo menos três problemas que estão piorando: o crescimento do alargamento da distância entre o mundo rico e o pobre(...); a ascensão do racismo e da xenofobia; e a crise ecológica do globo que afetará a todos. As formas de lidar com esses problemas ainda não são claras, mas a privatização e o mercado livre não se incluem neles (HOBSBAWN, 1992, p.104). [...] Um outro aspecto a ser enfatizado é a rede de relações entre movimentos diferenciados articulando a igualdade e a diferença, tomando como exemplo a presença do movimento feminista, os movimentos de igualdade racial, o movimento ecológico, os movimento culturais de afirmação de identidades, tal como o movimento hip hop, que cria afirmação de novas redes de sociabilidade e de afirmação de identidades e de denúncia social16. Nesse sentido, a juventude tem um envolvimento ímpar e a sua representatividade é constante dentro desses movimentos. É nesse contexto de globalização, de precarização das relações de trabalho, de exclusão social que se configura a sociedade contemporânea em que está inserida a juventude brasileira. Devido à participação, ao envolvimento da juventude em movimentos de contestação e das pressões exercidas sobre o Estado que na década de 1990, foi dada mais ênfase a essa população. É verificável, que antes da Constituição de 1988, o Brasil voltava sua política para os pagantes e os não-pagantes, divididos por grupos como: gestantes, idosos, pessoas com deficiência física ou portadores de cuidados especiais, crianças, entre outros. Os jovens, não se encaixando nesses grupos, situava-se numa categoria transitória – da infância para a idade adulta – cabendo a eles somente a garantia de 16 CALIARI, et al, 2005. Anais do ALAS. instrumentos para a potencialização da sua força de trabalho quando fosse adulto (COHN, 2004). Aliado a isso, está o fato de que historicamente e socialmente, a juventude tem sido considerada uma fase de vida marcada por certa instabilidade associada a determinados “problemas sociais” (SPOSITO; CARRANO, 2003). Assim, também é perceptível que as ações públicas voltaram-se mais para a adolescência e para aqueles que estão em processo de exclusão e privados de direitos (a faixa etária que é compreendida pelo ECA). Nesse sentido, Spósito e Carrano (2003) alertam que, se tomadas exclusivamente pela idade cronológica e pelos limites da maioridade legal, parte das políticas acaba por excluir um amplo conjunto de indivíduos que atingem a maioridade, mas permanecem no campo possível das ações, pois ainda efetivamente vivem a condição juvenil. De outra parte, no conjunto das imagens não se considera que, além dos segmentos em processo de exclusão, há uma inequívoca faixa de jovens pobres, filhos de trabalhadores rurais e urbanos, os denominados setores populares e segmentos oriundos de classes médias urbanas empobrecidas que fazem parte da ampla maioria juvenil da sociedade brasileira e que pode estar, ou não, no horizonte das ações públicas em decorrência de um modo peculiar de concebê-los como sujeitos de direitos (SPÓSITO; CARRANO, 2003, p.5) Exemplificando concretamente essa discussão, existem alguns projetos que são desenvolvidos pelo governo federal. São programas que estipulam uma determinada idade para ingressar e para serem desligados, porém a maioria desses jovens continua no campo possível dessas ações. Entre alguns programas federais estão: o Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária (Projovem) e o Consórcio da Juventude. Esses projetos, em sua maioria, são desenvolvidos a partir de Parcerias Público Privadas (PPP's). Isso restringe a execução desses programas, por vários motivos, entre eles a ineficiência no repasse das verbas de execução dos programas, a parceria com organizações de fundos religiosos, a incerteza de continuidade da parceria, entre outros fatores. O programa Agente Jovem é um programa do governo federal que cobre jovens de 15 a 18 anos, onde são trabalhados eixos de ética, cidadania, saúde, meio ambiente e cultura. Eles recebem uma bolsa de R$65,00 e realizam projetos de intervenção nas suas comunidades. Nesse programa, quando o jovem atinge os 18 anos, é automaticamente excluído17. O Projovem também é um programa do governo federal destinado à jovens de 18 a 24 anos que já cursaram pelo menos até a 4ª série do ensino fundamental e ainda não completaram a 8ª série. Esses jovens concluem o ensino fundamental em um ano e ainda recebem uma qualificação profissional. Cada jovem recebe uma bolsa de R$100,00 18. Além desses, existe ainda o Consórcio da Juventude que abrange os jovens de 16 a 24 anos. O projeto tem o objetivo de capacitar os jovens para o trabalho, através de vários cursos profissionalizantes, como corte e costura, produção de blocos para construção civil, serigrafia entre outros. Além do curso, o jovem tem a oportunidade de desenvolver um trabalho "voluntário" junto à comunidade, o que poderá gerar uma bolsa de R$150,00. Verificando esses programas nota-se que, alguns deles, além de serem focalizados e fragmentados, possuem como parâmetro principal a faixa etária, o que exclui uma grande parcela da juventude que não se enquadra nela, mas que continua no campo legal das ações. Complementando essa idéia, Cohn (2004) diz que, [...] falar em políticas públicas para juventude implica falar em políticas que garantam –se eficazes – o acesso a condições de vida e futuramente de trabalho dignas a um quinto da população brasileira, vale dizer, 34 milhões de jovens cidadãos (COHN, 2004, p. 168) Segundo Abramo (1997), essa tematização da juventude pela ótica do problema social é histórica. A juventude só passa a ser objeto de ação quando ameaça a continuidade social. Assim, surgem programas para o enfrentamento desses problemas sociais que afetam a juventude e passam a tomar os próprios jovens como problemas devendo intervir para salvá-los e reintegrá-los à sociedade. 17 Projeto Centro de Referência para Juventude. O projeto pertence à Gerência de Promoção Social da Juventude da Prefeitura Municipal de Vitória, elaborado em 2006 por Camila Lopes Taquetti, Fabrícia Pavesi Helmer, Luiz C. Duarte Melo, Michela Ventorim, Rogério Araújo e Fabíola Demonel. 18 Idem Além da concepção de juventude-problema, de faixa etária depois da adolescência, surge também a concepção de que a juventude é portadora de direitos. Assim, passaram a surgir iniciativas locais e nacionais como: secretarias, conselhos, assessorias e programas que têm como tarefa o desafio de desenvolver políticas que levem em conta as especificidades das juventudes brasileiras (FREITAS; PAPA, 2003). Sob esse enfoque, algumas prefeituras e governos estaduais têm tentado formular políticas específicas para esse segmento da população, envolvendo programas de formação profissional e de oferecimento de serviços especiais de saúde, cultura e lazer. Porém, a maioria desses programas trabalham apenas com aspectos relacionados a "situações de risco", e "desvantagem social". Os aspectos relacionados às práticas dos jovens com relação ao seu comportamento, cultura e lazer são pouco enfocados (ALMEIDA, 2000). Alguns diagnósticos, segundo Almeida (2000), mostram que as iniciativas existentes que enfocam trabalho, cultura, lazer e esporte são fragmentadas com defasada comunicação entre as esferas do governo, exprimindo o isolamento intersetorial. A emergência do poder local na consolidação das ações para juventude é concreta e assume um lugar de destaque. É um poderoso formulador e gestor, que conta até mesmo com pesquisas que se propõe a elaborar um perfil dos programas municipais. Uma dessas pesquisas demonstra que nessa instância não há preocupação com a formação dos profissionais que atuam nesses projetos prevalecendo ações sem acompanhamento e coordenação (LEÃO, 2005). Um exemplo dessas ações locais é a instituída em Santo André (SP). A cidade é conhecida pela variedade de grupos juvenis existentes. A partir de 1996, com a gestão do PT foi verificado o esforço que o governo estava empreendendo no que se refere ao desenvolvimento de projetos voltados para os jovens, por meio de vários setores, dentre eles as Secretarias de Cultura, Esporte e Lazer, de Educação e Formação Profissional e de Cidadania e Ação Social (ALMEIDA, 2000). Na área da cultura, esporte e lazer podem ser citados vários projetos e ações que foram elaboradas, como o Projeto Rock em Rua que disponibilizava toda estrutura para que as bandas pudessem se apresentar dentro de uma agenda criada, possibilitando a troca de experiências com outras bandas; o Parque da Juventude que passou a ser um espaço mais apropriado para o encontro de diferentes culturas juvenis do município; ações em torno do movimento hip hop; construção de uma pista para a prática do skate para os inúmeros skatistas da região; peças teatrais entre outras ações (ALMEIDA, 2000). No que se refere à escolarização e educação formal, no final dos anos 90, foram investidos recursos no setor educacional em nível municipal que combinavam ações na área da educação formal com projetos alternativos para a formação profissionalizante (ALMEIDA, 2000). Na área da cidadania e ação social implantou-se o Centro de Referência para Juventude (CRJ) que representa um espaço que favorece o acesso à informação, ao conhecimento com a perspectiva de articular formas de expressão e buscar soluções para as questões da juventude. São oferecidas oficinas de grafitagem, expressão corporal, pintura, interpretação poética, confecção de pipas, musicalização, palestras e seminários sobre diversos temas (ALMEIDA, 2000). O município de Santo André criou a Secretaria de Cidadania e Ação Social que se encarregava de desenvolver programas que rompessem com ações assistencialistas e individualistas. Criou-se também a Assessoria da Juventude para, dentre outras coisas, implementar ações voltadas ao segmento jovem e apoiar grupos juvenis organizados ou não, na cidade. (ALMEIDA, 2000). Assim, tanto no plano regional como local surgem organismos públicos destinados a articular ações no âmbito do poder executivo, visando à implantação de projetos de ação para os jovens. Para Spósito (2003), esse fato decorre de compromissos eleitorais de partidos que, através de sua militância juvenil, ou do movimento estudantil, colocaram em sua plataforma política demandas do segmento jovem que aspiravam por ações específicas destinadas a eles. Assim, segundo a autora, esses organismos assumem o caráter de assessorias e, em algumas situações, são criadas até mesmo secretarias de estado e coordenadorias. Nesse foco estão localizados também os Conselhos de Juventude, tanto municipais como estaduais, com formatos e funções diversas. No entanto, essas instituições não estão presentes, ainda, em todos os estados e municípios brasileiros. Ao analisar o motivo pelo qual se realizam ações, observa-se que essas representações normativas ainda apresentam a idéia de superação dos problemas vividos pelos jovens, sua situação de vulnerabilidade e, desse modo, estabelecem como meta o combate a esses problemas. Assim, Spósito e Carrano (2003, p. 28) admitem que parte significativa [...] da vontade política de construção das ações públicas decorre do reconhecimento dos problemas que afetam a juventude. Parte dessas concepções de certa forma pode passar a considerar que o próprio jovem se torna um problema para a sociedade e é sob essa ótica que o Poder Público deve tratá-lo. Portanto, é preciso ir além dessas doutrinas de segurança pública em que o jovem é visto como problema e as ações destinadas a eles se resumem a adaptá-los à lógica do sistema. Deve-se inscrever as políticas de juventude numa pauta ampliada de direitos públicos de caráter universalista, o que pressupõe os jovens como sujeitos portadores de autonomia, interlocutores ativos na formulação, execução e avaliação das políticas a eles destinadas. Até 2003, Spósito e Carrano (2003) identificaram 33 programas que incidem sobre a juventude no âmbito Federal. Segundo eles, há pouco acúmulo teórico em torno desta problemática, pois esses programas se destinam indistintamente a crianças, adolescentes e jovens. Não levam em conta que crianças, adolescentes e jovens possuem demandas diferentes. O governo Lula vem, em seu mandato, dando destaque à questão juvenil. A idéia da criação do Plano Nacional da Juventude surgiu juntamente com a instituição da Comissão Especial destinada a acompanhar e a estudar propostas de Políticas Públicas para a Juventude (CEJUVENT), criada por Ato da Presidência da Câmara dos Deputados, em 7 de abril de 2003, por solicitação de Parlamentares de diversos partidos19. Os Parlamentares, integrantes da Comissão Especial, ao longo do ano de 2003 e no 1º Semestre de 2004, ouviram, num total de 33 audiências públicas, especialistas, 19 Cartilha de apresentação do Plano nacional de Juventude gestores públicos e representantes da sociedade civil, no intuito de formular uma proposta, em que, estivesse representada realmente as demandas da juventude. Em 2003, alguns Parlamentares da Comissão viajaram à estudo para Espanha, França e Portugal no intuito de tomar conhecimento da legislação daqueles países e, principalmente, “da estrutura dos órgãos representativos da juventude como o Conselho da Juventude e o Instituto da Juventude da Espanha, o Instituto da Juventude da França e de Portugal".20 De 23 a 26 de setembro de 2003 foi realizado a comemoração da primeira semana ed juventude do país, 21 estados brasileiros participaram e deram novos encaminhamentos que foram incorporados a o relatório preliminar com várias sugestões para o Plano Nacional de Juventude. Este documento foi distribuído por todo o Brasil e no primeiro semestre de 2004 foram realizados encontros regionais em todas as capitais brasileiras. O objetivo era formular uma carta-documento que legitimaria e aprimoraria a proposta legislativa elaborada pela Comissão. O ano de 2004 foi determinante para a consolidação do debate sobre a realidade da juventude e para a identificação dos principais desafios. Além das contribuições mencionadas, no âmbito do Executivo, foi constituído o Grupo de Trabalho Interministerial da Juventude, composto por 19 ministérios e Secretarias: Casa Civil, Cultura, Defesa, Desenvolvimento Agrário, Educação, Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Esportes, Fazenda, Justiça, Meio Ambiente, Planejamento, Saúde, Turismo, Trabalho e Emprego, Direitos Humanos, Promoção da Igualdade, Racial, Políticas para Mulheres e Gabinete de Segurança Institucional21. Em 2004 foi criado um Projeto de Lei nº. 4530 que integra a idéia da criação do Plano Nacional da Juventude (PNJ). Esse plano tem por um de seus objetivos incorporar integralmente os jovens ao desenvolvimento do país, por meio de uma política nacional de juventude voltada aos aspectos humanos, sociais, culturais, educacionais, econômicos, desportivos, religiosos e familiares (BRASIL, PL nº. 4530/04). 20 Idem Ver mais detalhes em: http://www.planalto.gov.br/SecGeral/juventude/arquivos_projovem/politicajuventude.htm 21 O PNJ possui como temáticas juvenis a emancipação juvenil; o bem-estar juvenil; o desenvolvimento da cidadania e organização juvenil; o apoio à criatividade juvenil; a equidade de oportunidades para jovens em condições de exclusão. Possui ainda treze eixos, que são: o incentivo permanente à educação; a formação para o trabalho e garantia de emprego e renda; promover a saúde integral do jovem; incentivar o desporto, oportunizar o lazer e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado; a formação da cidadania; o protagonismo e organização juvenil; o estímulo à produção cultural e acesso aos bens da cultura; desenvolvimento tecnológico e comunicação; o jovem índio e o jovem afrodescendente; o jovem rural; o jovem portador de deficiência; o jovem homossexual; a jovem mulher. Cada eixo do PNJ foi discutido e avaliado em conferências realizadas em todo o Brasil, inclusive na Conferência Estadual da Juventude do Espírito Santo 22, que ocorreu em 11/03/2006, no Município de Vitória. Esta conferência tinha por objetivo avaliar o PNJ e elaborar propostas para serem discutidas e revisadas em âmbito nacional na Conferência Nacional de Juventude23 que foi realizada em 30 e 31/03/2006 em Brasília. Porém, o grande envolvimento da juventude partidária e estudantil nesses locais de incentivo à participação dos jovens, ocasionadas quase sempre por interesses próprios, faz parte dos direitos à articulação política. No entanto, acabam por intimidar jovens oriundos de outras instâncias a participar das decisões, interferindo, portanto nos espaços destinados ao protagonismo juvenil. Embora essa conferência do PNJ tenha dado ênfase, teoricamente, ao protagonismo juvenil, a juventude não participou da elaboração do PNJ. No entanto, não se pode minimizar a importância e a conquista que foi o PNJ para a categoria juvenil, concretizando direitos e reivindicações históricas. 22 Pudemos participar in locus dessas discussões, pois estivemos representando o NEJUP. Estivemos representando o NEJUP, em âmbito Nacional, o que nos possibilitou ver de perto as relações de poder que envolveram a avaliação do PNJ. 23 Além de se pensar a política pública para juventude de uma forma participativa e incentivadora do protagonismo juvenil, torna-se importante, também, articulá-la às demais políticas públicas. O PNJ foi uma das primeiras conquistas da juventude no governo do PT em âmbito nacional, seguida da Secretaria Nacional de Juventude (2005) e do Conselho Nacional de Juventude (2005). Foram Instituídos a partir da lei ordinária 11.129, de 30/06/2005, representando um ganho para a os jovens brasileiros24. A criação da Secretaria Nacional de Juventude tem o objetivo de consolidar um referencial institucional para o jovem no âmbito do Poder Executivo. Trata-se de uma estrutura específica que coordenará e articulará as ações do governo desenvolvidas nos Ministérios e Secretarias. A Secretaria Nacional da Juventude será vinculada à Presidência da República, no âmbito da Secretaria-Geral25. Com o intuito de institucionalizar formas de participação e diálogo permanentes, esta lei ordinária cria também o Conselho Nacional de Juventude, composto por representantes governamentais, organizações juvenis, organismos não- governamentais e personalidades reconhecidas pelo seu trabalho com jovens. Terá a finalidade de propor diretrizes para ações voltadas à promoção de políticas públicas para a juventude. O Conselho será um espaço importante de parceria entre poder público e sociedade, para avaliar experiências nacionais e internacionais e elaborar em conjunto, novas propostas de políticas públicas. Além disso, representa a implementação de um instrumento democrático capaz de atender melhor as demandas da juventude ainda poderá contribuir como apoio em âmbito estadual e municipal na discussão de assuntos correlatos26. Dessa forma, as políticas públicas de juventude, se não pensadas no marco das políticas sociais e articuladas às políticas econômicas, serão incapazes de superar a limitação de serem políticas de compensação social. Essas ações, que são ainda muito compensatórias, não abrangem a todo o segmento juvenil. Afinal, a discussão de juventude que necessita de política pública específica é muito recente no Brasil. 24 Ver mais detalhes em: www.ibict.br/inclusaosocial/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=121&Itemid=219 25 Ver mais detalhes em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2005/Exm/EM-024-MPOCCV-SGPR-MTE-MEC-MDS.htm 26 Idem. A América Latina, como um todo, possui ações e discussão de juventude mais avançada que o Brasil27. Assim, as políticas sociais não buscam, ainda, o resgate da cidadania, não promovendo reais mudanças, tornando-se algo imediatista e paliativo. Portanto, algumas ações ainda estão sendo implementadas não levando em conta a discussão das questões das políticas públicas de, para e com28 as juventudes e não respeitando a diversidade de direitos humanos dos jovens – sociais, civis, políticos e culturais. O que se tem feito são programas isolados, políticas setoriais de ação local no âmbito do Estado (CASTRO, 2004). Para tanto, as políticas sociais destinadas aos jovens devem considerar a diversidade da juventude. Existem jovens negros, homens, mulheres, portadores de deficiências, com diferenças econômicas e culturais. Assim, portanto, são demandas diferenciadas e é importante e essencial que a política pública reconheça essa diversidade e crie ações que levem esses aspectos em questão. Uma forma de atender aos anseios juvenis, seria estimular a participação dos jovens na elaboração das políticas públicas geracionais, assim a própria geração teria a oportunidade de mostrar seus interesses e de ser autor da sua história ou protagonista, como melhor couber. Essa discussão de participação na elaboração de políticas públicas é recente, ela tem início em meados do século XX, antes não havia participação popular incentivada pelo Estado (SOUZA, 2004). Segundo a autora, apesar de nesse período ter se incentivado a participação, ela tinha um caráter reacionário e não passava de uma estratégia governamental sem objetivo de mudança estrutural, assumindo uma direção desejável para os moldes capitalistas. 27 Isso foi percebido no Encontro Latino Americano de Sociologia, onde foram apresentadas experiências de vários países da América Latina, com relação à juventude. 28 A discussão da política de, para e com a juventude se refere ao modo como ela é criada. De juventudes refere-se às políticas públicas destinadas às juventudes, para juventudes são as políticas públicas construídas sem a participação da categoria, já o com as juventudes se refere a uma forma de participação e protagonismo juvenil na elaboração das políticas públicas. Já na década de 70, a participação popular passa adquirir grandes proporções, assumindo movimentos que tinham por objetivo a universalização dos direitos sociais, a ampliação do conceito de cidadania e a interferência da sociedade no aparelho estatal (SOUZA, 2004). O movimento estudantil, sempre presente nas agitações populares, dando a sua contribuição, faz ainda parte do cenário contemporâneo, apesar de ter assumido nova forma, explicada pelo direcionamento econômico e político adotado pelo país nas últimas décadas. CAPÍTULO 2 JUVENTUDE 2.1 - JUVENTUDE NA CONTEMPORANEIDADE Pensar a juventude apenas como faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos ou dos 15 aos 29 anos é restringir o amplo significado que a juventude tem. Precisa-se aprofundar a análise e a compreensão sobre significados, construções simbólicas e as relações sociais estabelecidas pelos jovens. Segundo Castro e Abramovay (2005, p.62) "a juventude é, ao mesmo tempo, um ciclo de vida com características próprias e parte de um momento histórico". Segundo Abramo (2005), a juventude é analisada tomando por base alguns conceitos. Um deles é pensar a juventude como período preparatório sendo, então, enfocada apenas como transição entre a infância e a idade adulta estabelecendo políticas que visem à preparação ao mundo adulto. Essa concepção é verificada nos anos 50, quando o jovem era preparado para tornar-se um adulto produtivo e comprometido com o progresso nacional, portanto as políticas sociais, nesse momento, giravam em torno da educação para o trabalho. Tudo isso articulado com o ideal desenvolvimentista do período. Numa segunda conceituação de juventude, esta é encarada como uma etapa problemática, onde o jovem aparece a partir dos problemas que ameaçam a ordem social e emergem questões relativas a comportamentos de risco e transgressão. São elaboradas políticas que buscam incidir na diminuição do envolvimento dos jovens com a violência (ABRAMO, 2005). Ligar o jovem à delinqüência também foi um fato comum nos anos 50, quando esse tema passou a ser visto para além de setores juvenis marginalizados. Os jovens de classe média também passaram a ser vistos como potencialmente delinqüentes (somente pela condição etária), pois mesmo possuindo alta renda e estando em condições de se ajustar ao mundo adulto, passaram também a manifestar dificuldades de se adequar as normas da sociedade. Dessa forma, havia uma interpretação de juventude como fase difícil e problemática, isso fazia com que as culturas juvenis fossem encaradas como antagônicas à sociedade adulta, como por exemplo, a “satanização” do rock’n’roll (ABRAMO, 1997). Nos anos 60, especialmente no pós-64, no Brasil, Abramo (1997) diz que, a juventude apareceu como ameaçadora da ordem social nos planos político, cultural e moral, por uma atitude de crítica à ordem estabelecida. A juventude era considerada como uma categoria portadora da possibilidade de transformação, o que para a sociedade se configurava no pânico da revolução. Esse medo significava tanto um desconforto com a idéia de mudança, quanto uma preocupação com o não enquadramento desses jovens, novamente, ao funcionamento “normal” da sociedade, devido à própria recusa deles em se adequar à referida situação. Assim, a juventude passou a ser tratada como um problema de segurança nacional. O controle político e ideológico visava combater a efervescência política daquele momento, já que a juventude vinha se manifestado através de vários movimentos e ganhando maior visibilidade no cenário das lutas brasileiras, com: o movimento estudantil e de oposição aos regimes autoritários, contra as tecnocracias e todas as formas de dominação; o movimento pacifista; o movimento hippie; os movimentos culturais que questionavam os padrões estabelecidos de comportamento (sexuais, morais, de consumo); entre outros (ABRAMO, 1997). Essa relação de perseguição e enfrentamento entre a juventude e o Estado se tornou mais aguda nos anos 70 (ABRAMO, 1997). Alguns fatos na História podem comprovar essa discussão. Um fato marcante foi o movimento de 1968, que aconteceu com mais ênfase na França, quando estudantes do país tomaram a Universidade Sorbone. No Brasil também foi possível presenciar manifestações como essas em 68 também e no final da ditadura. Weber (1999) analisa esse movimento, para ele o movimento começou anteriormente a 1968 na Califórnia e no Japão, disseminou-se pela Europa Ocidental, Oriental e por parte da América latina. Para ele, o maio de 1968 se desdobrou até 1977, não cobrindo apenas um ano e sim mais de uma década. Representou a rejeição de toda forma de poder baseada na força, e na coerção. No Brasil, o movimento lutava contra a absoluta ausência de liberdade política, social e cultural que eram características do regime militar. Foram movimentos importantes que demonstraram a força política contestadora dos estudantes e jovens. Assim, essa juventude que, de acordo com Abramo (1997), anos 60 era considerada como “rebelde”, foi reelaborada e assimilada de uma forma positiva. Assim, atualmente, temos a visão de que, nessa época, existiu uma geração idealista, generosa, criativa, que ousou sonhar e se comprometer com a mudança social. Dessa forma, criou-se, um modelo de jovem que tem o idealismo, a inovação e a utopia como características essenciais dessa categoria etária. Também nos anos 1980, a conceituação de juventude como ameaçadora da ordem social aparece, porém vem revestida de mais significados. Segundo Moreira (2005), a partir dessa década, o Estado passa a se preocupar também com os segmentos juvenis socialmente marginalizados, as chamadas “gangues”29 ou “galeras”30. Daí é que surge a ênfase na relação entre juventude/drogas e juventude/violência. A maioria das iniciativas desse período visava normatizar e disciplinar tais relações. Nesse momento, aquelas características essenciais da juventude, que aparecem depois da reelaboração dos anos 60, passam a não mais existir, dando lugar a uma juventude individualista, consumista, conservadora e indiferente aos assuntos públicos. Segundo pesquisa realizada por Abramo (1997) a juventude aparece em 1980 como depositária de medo e nega o seu papel como fonte de mudança. Como afirma Mische (1997), antes do golpe militar as universidades eram palco de movimentações e reivindicações juvenis e do próprio movimento estudantil, no entanto, nas décadas após o golpe, as universidades já não se constituíam como os centros da vida cultural e política juvenil. 29 “Nos EUA, as gangues possuem décadas de história e tem grande importância na organização da vida coletiva das cidades. Configuram-se como um elemento característico da divisão do espaço urbano, que historicamente tem suscitado conflitos violentos de caráter notadamente étnico [...] No Brasil, a palavra gangue tem sido utilizada genericamente para designar um grupo de jovens, um conjunto de companheiros e também uma organização juvenil ligada à delinqüência” (ABRAMOVAY et al, 1999). 30 Galera: “é definida como um grupo de amigos que se reúne para se divertir, para curtir, estando sempre prontos para proteger e defender uns aos outros” (Idem). Assim, a juventude dos anos 80, segundo Abramo (1997), vai aparecer para alguns como patológica e diferente da dos anos 60 e 70. É vista como incapaz de resistir ou oferecer alternativas às tendências inscritas no sistema social. O individualismo e a falta de idealismo passam a ser vistos como problemas para a possibilidade de mudança do sistema. Percebe-se então, segundo Abramo (1997), que a juventude enfocada nos anos 1960 e 1970 era de classe média, empenhados em propostas de mudança. Já a juventude, que é enfocada a partir dos anos 1980 é aquela pobre, que aparece nas ruas dividida entre o hedonismo e a violência. Dessa forma, são entendimentos diferentes, pois em um determinado momento aparecem jovens politizados e comprometidos com questões relativas aos problemas que envolvem a sociedade, portanto ameaçadores à “ordem” que o regime ditatorial tentava impor e, em outro momento, aparecem jovens envolvidos na criminalidade, vistos como ameaçadores da ”ordem” social. A juventude dos anos 90 toma visibilidade a partir de inúmeras figuras juvenis nas ruas, envolvidas em diversos tipos de ações individuais e coletivas (ABRAMO, 1997). Há também, segundo Abramo (2005), a conceituação do jovem como ator estratégico do desenvolvimento, quando eles são vistos como importantes para a formação de capital humano e social para enfrentar os problemas de exclusão social que ameaçam grandes contingentes de jovens. Isso explica alguns programas como o Agente Jovem já elencado anteriormente. Embora essa tematização da juventude como problema pareça estar enraizada na história brasileira, surge, segundo a autora, a concepção de que a juventude é sujeita de direitos e deixa de ser definida por sua incompletude ou desvios. Porém não se pode afirmar que essa tematização negativa de juventude ainda não seja usada. Ela comumente é associada a questões como drogas, violência e delinqüência. Os principais estigmas atribuídos à juventude estão associados à negação de direitos básicos como educação, cultura, esporte, lazer, participação política, trabalho, entre outros. Assim, para que seja eliminado esse estigma é preciso garantir efetivamente os direitos e incentivar a participação dessa juventude nas mais diversas instâncias. Nessa incursão, pode-se notar que muitas concepções podem ser ainda fixadas. Diferentes autores e projetos expõem suas teorias a respeito. A Organização das Nações Unidas (ONU) conceitua a juventude como a fase que vai dos 15 aos 24 anos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divide a juventude em dois períodos, o período da adolescência e o da Juventude. Para essa organização, a adolescência começa aos 15 anos porque consideram que, com essa idade a pessoa já terá alcançado um nível de escolaridade que lhe permitirá o acesso ao mercado de trabalho. Assim, consideram que a juventude começa aos 20 porque nessa idade começa-se uma nova fase da vida que se estende até os 24 anos (MARTINS, 2002). A Organização Mundial da Saúde (OMS) também circunscreve cronologicamente que a adolescência corresponde dos 10 aos 19 anos e a Juventude dos 15 aos 24 anos. Sob essa análise, a OMS desdobra esses conceitos identificando os adolescentes jovens como os que possuem de 15 a 19 anos e os adultos jovens dos 20 aos 24 anos (BRASIL, 2003). Essa tendência de compreensão de juventude como fase da vida se diversifica dependendo do país em que ela é conceituada: no Brasil, jovem é aquele que possui entre 15 e 29 anos, na Itália, jovem é aquele que tem até 28 anos e no Japão, a juventude chega até os 33 anos. Dessa forma, se quisermos pensar políticas públicas para juventude temos de saber que toda política ou ação voltada para juventude parte de uma concepção31. Portanto, pensar juventude somente como faixa etária é negar os vários aspectos que envolvem essa população. É então restringir um amplo significado, o que influencia até mesmo nas ações que envolvem a juventude, diminuindo a área de abrangência das políticas, dos programas e dos projetos. 31 Idéia transmitida por Luísa Mitiko Camacho no Seminário organizado pelo NEJUP intitulado Movimento, Juventude e Expressão em 12 de agosto de 2003. Para Groppo (2000), a juventude é conceituada como uma categoria social e algo mais que uma faixa etária. Tomando-a como uma categoria social, a juventude se torna uma representação sócio-cultural e uma situação social (GROPPO, 2000). Porém: Originada da cultura e da sociedade ocidental, capitalista, burguesa, liberal etc.do século XIX, a nossa concepção de juventude ainda é marcada por caracteres definidores e legitimadores cientificistas, baseados em uma noção evolucionista do ser humano e das coisas. Ou seja, uma concepção em que o ser humano é pensado como um indivíduo que, biológica, mental e socialmente, evolui da fase infantil a fase adulta, sendo a juventude uma fase intermediária. (GROPPO, 2000, p.271). Assim, a juventude não é conceituada apenas por limites etários, mas também por representações simbólicas e situações sociais, vividas com muita diversidade no cotidiano, devido à sua relação com outras situações sociais, às diferenças culturais, espaciais, étnicas e de gênero. Faz-se então necessário compreender a juventude em suas relações, nos espaços e contextos onde está inserida. Compreender também a partir das suas manifestações e modos de vida analisando suas potencialidades e contradições que a realidade impõe (GROPPO, 2000). O Projeto juventude32, do Instituto Cidadania, define a juventude como uma fase marcada por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de identidades. A condição juvenil, segundo esse projeto, não pode ser considerada apenas como preparação para a fase adulta, embora envolva processos fundamentais de formação. Os jovens, segundo o referido projeto, são sujeitos com necessidades, potencialidades e demandas singulares em relação a outros segmentos etários. Abramo e Venturi (2000) afirmam que existem duas idéias que costumam estar presentes em concepções modernas de juventude: a primeira consiste em considerá-la uma fase de passagem do período de dependência, que caracterizaria a infância e a posterior autonomia adulta e a segunda é a que atribui aos jovens uma 32 Programas de estudos, pesquisas, discussões e seminários que ocorreram em vários estados, promovidos pelo Instituto Cidadania, entre agosto de 2003 e maio de 2004. Esse projeto deu origem a 12 publicações, incluindo três livros: Juventude sociedade - trabalho educação, cultura e participação; Retratos da juventude brasileira – análise de uma pesquisa nacional e Trajetórias juvenis – narrativas de participação. predisposição natural para a rebeldia, como se fossem portadores de uma essência revolucionária. Segundo os autores, a concepção de juventude como passagem, parte do reconhecimento de que se trata de um período de transformações e, por isso, de definições de identidade. Sugere-se que tal momento de transição deva ser centrado na preparação para a vida futura, sobretudo via formação escolar, de modo a garantir uma adequada inserção na vida social, sob rígido controle dos adultos para que as buscas e inquietações não levem a “desvios”. Para Durston (apud STROPASOLAS, 2005), a fase da juventude é uma gradual transição até a completa inserção nos papéis adultos em todas as sociedades. Para ele, a juventude vai desde o término da puberdade até a constituição do casal e de um lar. Já Kehl (2004, p.90) afirma que o conceito de juventude na atualidade é bem elástico: dos 18 aos 40 anos, todos os adultos são jovens. Para ela, se pensada por esse enfoque, "a juventude é um estado de espírito, é um jeito de corpo, é um sinal de saúde e disposição, é um perfil consumidor, uma fatia do mercado, onde todos querem se incluir". Outras reflexões sobre juventude estão baseadas em definições do que é considerado “ser jovem”, sem problematizar o significado relativo à sua inserção em contextos sociais concretos. A sociologia funcionalista, por exemplo, analisa a juventude como um momento de transição no ciclo de vida da infância para a maturidade, que corresponde a um momento específico e dramático de socialização em que os indivíduos processam a sua integridade e se tornam membros da sociedade (ABRAMO, 1997). As concepções de juventude vistas, dessa forma, trabalham com uma categoria de juventude universal, homogênea e abstrata incorporando uma visão puramente de etapas evolutivas. Além disso, muitas análises sociais têm privilegiado uma tônica negativa acerca da juventude, analisando esta como desviante e associando isso, na maioria das vezes, à imagem de famílias ditas ‘desestruturadas’ (QUIROGA, 2001). Segundo Carneiro (apud STROPASOLAS, 2005, p.5), os jovens, geralmente, são classificados em "categorias intermediárias sem receber uma qualificação específica: são os 'estudantes', no caso dos de origem urbana, ou os 'filhos dos agricultores', no caso de origem rural". Dessa forma, segundo a autora, essa população fica esperando a maioridade para se tornar visível. Essas concepções, no entanto, são insuficientes para se fazer qualquer diagnóstico ou consideração sobre os jovens no Brasil de hoje, posto que a maioria deles não tem condições de se ver livre de obrigações e compromissos de ordem econômica e familiar, estando longe de ter sua vida centrada na vida escolar (ABRAMO; VENTURI, 2000). Assim, essa visão, quase sempre tem um foco moral, em que, a real preocupação está na coesão moral da sociedade e com a integridade moral do indivíduo. O jovem passa a ser visto como futuro membro dessa sociedade (ABRAMO, 1997). A juventude pode ser considerada também como uma idéia construída social e culturalmente e dependendo do contexto, chega-se a uma idéia de juventude diferente. Entra nessa definição a classe social, o local onde vive, se é zona rural ou urbana33. Há também uma diversidade de movimentos e grupos que evidenciam a dificuldade de se ter o conceito de população jovem de forma padronizada ou uniforme. Devido a isso se torna conveniente dizer “juventudes” e não “juventude”, uma vez que deve ser levada em conta a questão racial, de gênero e cultural34. Novaes (2002), assim como Camacho, diz que muitas vezes refere-se à juventude como se existisse um ciclo universal da vida, ou seja, como se em todas as sociedades as diversas etapas da vida fossem demarcadas da mesma maneira. Mesmo pertencentes à uma mesma época, os jovens diferem entre si. Entre os jovens brasileiros, há diferenças no que tange às classes sociais, relações de gênero, estilos de vida, locais de moradia, entre outras especificidades. Desse 33 Idéia transmitida por Luísa Mitiko Camacho no Seminário organizado pelo NEJUP intitulado Movimento, Juventude e Expressão em 12 de agosto de 2003. 34 Idem. modo, pensar a juventude no singular se torna algo vazio, é preciso considerar todos esses aspectos e afirmar a existência de Juventudes e não apenas juventude. A autora afirma ainda que, biologicamente, o jovem é aquele que está mais predisposto à vida, tem gosto por aventura, tem maior curiosidade pelo novo, tendo assim, uma propensão aos aspectos revolucionários. Porém, segundo ela, se pensarmos nos aspectos históricos e temporais podemos perceber que existem diversas juventudes que convivem num mesmo tempo e espaço social. Para Novaes (2003), falar de juventude na literatura e na história é falar de riscos, transgressões, aventuras, necessidade de adrenalina e violência. Nessa faixa etária, os limites são testados porque, segundo a autora, considera-se que os jovens, no que se refere ao biológico, estão mais longe da morte, porém é a geração que mais fala em morte. Torna-se, então, um paradoxo, pois amplia-se o tempo de "ser jovem" em relação às gerações anteriores mas também alarga-se o sentimento de vulnerabilidade frente à morte. Historicamente, é a partir da segunda metade da década de 1990 que o tema da juventude começou a ganhar projeção e complexidade no espaço público brasileiro. Nesse mesmo período, aumentava-se a proporção de jovens de 15 a 24 anos afetados pelo aprofundamento das desigualdades econômico-sociais, os quais eram identificados como problema. Esses fatores foram causados principalmente, pela crise econômica e social que o país e a América Latina enfrentaram nos anos de 1980 e 1990. Essa crise gerou o aumento da exclusão dos jovens brasileiros e a diminuição de oportunidades, que por sua vez, geraram o aumento do tráfico de entorpecentes e a exploração sexual infanto-juvenil (BRASIL, 2003). Apesar dessa concepção de problema, surge o reconhecimento de que a juventude é algo além da adolescência nos limites etários e nas questões que as caracterizam. Assim, as ações a ela dirigidas exigem outra lógica, para além das concebidas para crianças e adolescentes (FREITAS;PAPA, 2003). Segundo Abramo (2003, p. 220), a concepção de juventude na sociedade moderna é definida como um momento de preparação para um exercício futuro da cidadania, dada pela condição de adulto, quando as pessoas podem e devem assumir integralmente as funções sociais, inclusive as produtivas e reprodutivas, com todos os deveres e direitos implicados na participação social. Tal preparação deve ser realizada em espaços separados do mundo produtivo, do mundo adulto, da algavaria social, e esse espaço é, por excelência [...] a escola. Porém, a condição juvenil sofreu grandes transformações nas últimas décadas, o que torna inviável, considerar hoje a juventude apenas como uma etapa de preparação para vida adulta. Essa geração ganhou contornos diferentes. Não é mais definida exclusivamente pela condição estudantil, mas também pela inserção no mundo do trabalho, na vida afetiva/sexual, na produção cultural, na participação social, entre outros. Nesse sentido, os jovens passam a ter a necessidade de ocupar espaços além da escola. Segundo Abramo (2003, p.223), eles "tendem a ir para as ruas, para os espaços públicos, para se socializarem, buscar novas referências, expressar-se, para formatar suas identidades em confronto e interlocução com os outros". A juventude tem sido vista nos mais diversos meios como uma população propícia para simbolizar aspectos da contemporaneidade. Como experiência geracional, a juventude aparece como uma projeção da sociedade. Segundo Stropasolas (2005), o jovem passa a ser aquele sobre o qual a sociedade investe suas crenças, suas esperanças. Passa a ser um elemento de renovação, mas, ao mesmo tempo, pode representar uma ameaça. Diante dessas concepções, acreditamos que a juventude é um segmento que possui diferenças e singularidades. Dentro de uma discussão aprimorada por seminários realizados no NEJUP, pudemos perceber que se torna mais conveniente abordar “juventudes” e não “juventude”, já que devemos ressaltar as especificidades, o que depende do espaço, tempo, condições sociais, econômicas, políticas e culturais dos jovens. Dessa forma, a juventude é algo muito além da concepção de faixa etária. Os processos constitutivos da condição juvenil se fazem de modo diferenciado, segundo as desigualdades de classe, renda familiar, região do país, condição de moradia (rural ou urbana, no centro ou na periferia), de etnia e gênero. São diferenças que irão resultar em distintas formas de inserção, desenvolvimento e participação. As Juventudes, na contemporaneidade, estão lutando para serem consideradas como portadoras de direitos, com demandas diferenciadas. Portanto, as ações destinadas a essa geração devem ressaltar as necessidades que diferenciam o jovem da criança e do adolescente, como a sexualidade, o mercado de trabalho, a política, o envolvimento na comunidade, a cultura, o lazer. Todos esses eixos trazem aspectos novos e diferenciados, quando relacionados à juventude. Neste século, a população jovem tem crescido, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), dos 191 países membros da ONU, o Brasil é o 5º com maior percentagem de jovens na sua população, ficando atrás da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. Mais de 85% dos jovens do mundo vivem em países em desenvolvimento, sendo o Brasil o responsável por cerca de 50% da população jovem da América Latina e 80% do Cone Sul. Hoje, a população juvenil brasileira corresponde a 34 milhões de pessoas. Alguns dados estatísticos descrevem situações que perpassam atualmente essa expressiva parcela da população. Segundo o último Censo do IBGE em 2000, 50% dos jovens se declararam brancos e 48% negros e pardos. E de acordo com a UNFPA, cerca de 14,7% da população de 15 anos é analfabeta no Brasil (PROJETO JUVENTUDE, 2004). Quanto ao mercado de trabalho, segundo dados do IBGE, cerca de 3,7 milhões de jovens estavam sem trabalho em 2001, representando 47% do total de desempregados no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 mostrou que, dentre os jovens de 15 a 24 anos, 21% apenas estudam; 5% estudam e procuram emprego; 19% estudam e trabalham; 35% apenas trabalham; 6% não estudam e procuram emprego e 14% não estudam, não trabalham e nem procuram emprego. Ou seja, 45% dos jovens estudam, enquanto 65% estão no mercado de trabalho, sendo 54% ocupados e 11% procurando emprego. Além disso, dos jovens que trabalham, 78% são assalariados, porém 40,5% estão na situação de informalidade (PROJETO JUVENTUDE, 2004). Segundo o Projeto Juventude (2004), o desemprego é maior para os jovens negros, cerca de 23,8%, contra 16,4% para brancos, é maior também para jovens do sexo feminino (22,2%) do que para jovens do sexo masculino (14,5%). É superior também o índice de desemprego entre os jovens de famílias mais pobres (26,8%), cuja renda per capita é inferior a meio salário mínimo. Quanto à educação, entre os jovens de 20 a 24 anos, 75% já estão no mercado de trabalho e apenas 28% ainda estudam. Segundo o Projeto Juventude (2004), uma parte desses jovens sai da escola por terem concluído os graus considerados básicos da formação escolar, apenas 36,4% concluem o ensino médio e 3,6% chegam à universidade. Um outro indicador é a taxa de mortalidade da juventude e suas principais causas. Segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Brasil em 2002, a taxa de homicídios na população jovem foi de 54,5 para cada 100 mil habitantes. Na população masculina de 15 a 24 anos, as principais causas estão relacionadas à atividade laboral, a disparos de arma de fogo e a acidentes de trânsito. Na população feminina, as violências físicas e sexuais são os eventos mais freqüentes (BRASIL, 2003). Segundo Censo de 2000, cerca de 84% ou 28,4 milhões de jovens vivem em área urbana, sendo 31% ou 10,4 milhões em regiões metropolitanas. Apenas 16% vivem em áreas rurais, o que equivale a 5,5 milhões de jovens. Desse modo, é importante enfocar a população jovem em suas especificidades, respeitando suas formas de viver e interpretar o mundo, considerá-la no tempo e no espaço em que são inseridas essas juventudes. A juventude é singular com relação a outros momentos da vida e, ao mesmo tempo é diversificada internamente fazendo com que assuma contornos diferentes (PROJETO JUVENTUDE, 2004). Como pôde ser percebida, a juventude é uma população expressiva em números e em demandas por políticas públicas. É uma geração que convive com inúmeras dificuldades no que se refere às expressões da questão social. Necessitam de educação, saúde, trabalho, habitação, lazer, cultura e todas as políticas básicas que o sistema atual não provê, ou o faz com ineficiência. É um grande contingente que demanda por políticas direcionadas às áreas específicas. Assim aparecem as juventudes na contemporaneidade. Através de suas dificuldades, de suas organizações, mobilizações por melhorias vêm aparecer como demandatária de políticas públicas. 2.2 - MANIFESTAÇÕES CULTURAIS CONTEMPORÂNEAS A dimensão cultural da juventude na contemporaneidade se modificou, trazendo à cena novas manifestações culturais. A juventude vem assumindo novos movimentos e novas organizações, como o hip hop, o funk, entre outros, que expressam a denúncia social, a própria condição de vida e o dia-a-dia da juventude da periferia brasileira. No entanto, apesar desses dois gêneros terem origens ligadas à periferia, eles vão assumindo outros espaços juvenis. Assim como aborda Herschmann (apud GORCZEVSKI, p. 3, 2003), a chamada crise da modernidade e a mundialização levaram a população mundial a assistir, nas últimas décadas, ao que esse autor afirmou ser a “emergência de novos sujeitos sociais (de inúmeras culturas minoritárias) e a crescente presença das pluralidades”. Edgar Morin (apud GORCZEVSKI, 2003) afirmou que, a cultura adolescente juvenil é ambivalente: participa da cultura de massas que é a do conjunto da sociedade e ao mesmo tempo procura diferenciar-se. Para Glória Diógenes (apud GORCZEVSKI, p. 4, 2003), o investimento na diferença, aliado ao “ [...] desejo de impactar, de provocar contrastes, marcas definidoras de existência social, é o que parece mobilizar a juventude nos anos 90”. Assim, podemos observar que alguns fenômenos urbanos juvenis começaram a tomar a cena das grandes cidades brasileiras, principalmente a partir dos anos 90. No entanto, já existiam embriões desses fenômenos no final dos anos 80, especialmente em grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, quando os movimentos juvenis também causavam impactos. Portanto, assim como afirma Dayrell (1999), os jovens se reúnem em torno de diferentes expressões culturais como a música, a dança, o teatro, dentre outras, e tornam visíveis através do corpo, das roupas e de comportamentos próprios, as diferentes formas de se expressar e de se colocar diante do mundo. Um exemplo são os punks, que segundo Abromovay et al (1999), fazem parte de um universo juvenil, buscam estabelecer referências culturais mediante um estilo de contraposição ao sistema, através de manifestações situadas no campo do lazer, do consumo, da mídia e da criação cultural. Dayrell (1999, p.2) afirma ainda que “o mundo da cultura aparece como um espaço privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais no qual os jovens buscam demarcar uma identidade juvenil”. Assim também acontece com a música, como disse o jovem 01 [...] aqui no Brasil é que as pessoas encaram a música somente como um entretenimento, e na verdade não é essa a missão da música, a música é cultura [...]. Quando o entrevistado aborda a questão da música dizendo que ela é cultura, ele chama a atenção para o poder de identificação com o estilo que pode ser expressado, explorado e representado, através da música. Dessa forma, os gêneros musicais de preferência do jovem representam, quase que uma forma de expressar a identidade assumida pelo jovem. Assim, podemos citar o movimento Hip hop, como exemplo, que expressa rituais juvenis e se utiliza da música também como uma força de transformação e de identificação de estilo, no modo de falar e de se vestir. Assim, a música também se torna um elemento importante de socialização e ao mesmo tempo de lazer, que está presente em quase todos os espaços juvenis. Vitória, a capital do Espírito Santo (ES), tem uma grande diversidade de bandas juvenis. A juventude capixaba se destaca por sua produção musical. Existem jovens ligados ao movimento hip hop, ao funk, ao reggae, ao rock, entre outros. Assim como afirma o jovem 01. [...] o ES é um estado riquíssimo na cultura e poucas pessoas conhecem, [...] a imensidão cultural que existe aqui dentro, porque são várias expressões [...] O ES é um estado pequeno que tem muita diversidade cultural, você vê que a gente tem representante em todos os gêneros musicais com qualidade e com quantidade[...]. Segundo alguns jovens entrevistados participantes de movimentos culturais ligados à música, o termo música significa uma variedade de coisas. A música representa mais, assim, um prazer, um hobby, porque estamos há pouco tempo e a gente não encara, por enquanto, como uma profissão. Por enquanto, não sei no futuro, assim. Mas [...] a gente se dedica muito, está fazendo música própria, corre atrás de show, assim, ela representa mais essa parte do prazer, mas lógico, mesmo sendo prazer, a gente leva com muito esforço, se dedicando de verdade (jovem 05). Eu considero a música como vida interior, [...], algo que não tem como fugir, para mim, não tem como fugir. A música é essencial na minha vida, sempre foi, desde criança sempre tive o dom da música, por parte de pai e mãe. E agora eu estou estudando a música, me aprofundando mais e compreendo que é uma das maiores artes, uma das maiores expressões artísticas que o ser humano tem, e que através de uma música dá para se evoluir muito a mente e poder conquistar outros caminhos (Jovem 07). Na minha vida assim, desde os sete anos, desde que eu me entendo por gente, assim, sempre fez parte, desde a primeira nota do violão, até os primeiros acordes do teclado. O único trabalho que eu vejo que pode influenciar alguém, a realmente alguma coisa assim [...] Todo trabalho tem o seu valor, mas a música, cara, tipo assim, um cara pode ser um advogado e curtir música, um músico pode não curtir ser advogado. Pode influenciar mesmo. Acho que é isso aí para mim, cara. E ao mesmo tempo é o meu trabalho, onde eu coloco toda minha dedicação, meu conhecimento, onde eu estou sempre aprendendo (jovem 6). Segundo o Dayrell (1999), um outro aspecto a ser salientado é a dimensão da escolha do gênero musical a ser seguido. O autor realizou uma pesquisa em Belo Horizonte com três grupos diferentes, sendo eles: o Processo Hip hop, o “Máscara Negra” e o grupo “Raiz Negra”. Com a pesquisa, o autor constatou, inicialmente, que todos os jovens aderem ao estilo como consumidores do gênero musical. A passagem para a condição de produtores significou para todos um processo e envolvimento gradativo. Significa dizer, portanto, que a escolha e a adesão ao estilo musical são frutos de uma complexa trama na qual estão presentes os determinantes sociais, mas também a expressão da subjetividade. Nesse sentido, a música é a atividade que mais envolve e mobiliza os jovens, o autor afirma que Muitos deles deixam de ser simples fruidores e passam também a ser produtores, formando grupos musicais das mais diversas tendências, compondo, apresentando-se em festas e eventos, criando novas formas de mobilizar os recursos culturais da sociedade atual além da lógica estreita do mercado (DAYRELL, p.2, 1999). Entre os jovens, a música é o produto cultural mais consumido e, em torno dela, criam-se grupos musicais de estilos diversos, entre eles o funk, o hip hop, o reggae e o rock, que vão ganhar destaque neste trabalho. A escolha por esses quatro estilos musicais (hip hop, funk, reggae e rock) se deu pelo fato de serem ritmos mais característicos da juventude, cujas bandas possuem, em sua maioria, muitos jovens. Um outro fator está relacionado à mensagem que é transmitida pelas músicas. Os quatro estilos diferenciam-se, porém, geralmente, trazem uma mensagem que está relacionada ao cotidiano do país, do estado, do município. Suas letras acabam tendo um papel político, de denúncia, mesmo que fazendo isso de formas diferenciadas, assim como será falado especificamente em cada gênero. Apesar dessas várias representações juvenis ganharem destaque neste trabalho, cada um tem a sua peculiaridade, como, por exemplo, o rock, que é um estilo musical não muito contemporâneo, com origem nos anos 60, que, apesar de ser um símbolo antigo de rebeldia, embala o século XXI com muita força, unindo gerações e conciliando indústria cultural com produção alternativa. O reggae também é um estilo musical mais antigo, que começa a ganhar espaço no Brasil por volta da década de 1960. Enquanto, o funk e o hip hop, no Brasil, fazem parte da expressão contemporânea dos jovens da periferia. Porém, o elemento unificador é a origem desses ritmos. Segundo o jovem 01, toda base musical é africana. O rock, o hip hop, a música eletrônica, o reggae, o funk todos esses gêneros sofreram influências dos ritmos africanos. Dessa forma, esses movimentos culturais juvenis vêm, no espaço urbano, sendo rodeados pelas concepções e visões de mundo da grande mídia, que se encontra sempre por perto associando a juventude à criminalidade, à baderna, enfim, enfatizando a existência de uma juventude alienada e despolitizada. Assim, a mídia vem manifestando seu poder de agendar discursos, recebendo-os e disseminandoos, mas ao mesmo tempo, também produz seus próprios discursos, que, conseqüentemente, interferem no processo social e cultural da sociedade. Para melhor entendimento dos movimentos culturais, procuraremos descrevê-los enfocando sua trajetória e peculiaridades. Trataremos a seguir do Hip hop, do Funk, do Rock e do Reggae. 2.2.1 - HIP HOP Minha mão pequena bate no vidro do carro No braço se destacam as queimaduras de cigarro A chuva forte ensopa a camisa o short Qualquer dia a pneumonia me faz tossir até a morte Uma moeda, um passe me livra do inferno, Me faz chegar em casa e não apanhar de fio de ferro O meu playground não tem balança, escorregador Só mãe vadia perguntando quanto você ganhou Jogando na minha cara que tento me abortar Que tomou umas 5 injeções pra me tirar Quando eu era nenê tento me vender uma pa de vez Quase fui criado por um casal inglês Olho roxo, escoriação, porra, que foi que eu fiz? Pra em vez de tá brincando tá colecionando cicatriz Porque não pensou antes de abrir as pernas, Filho não nasce pra sofrer não pede pra vir pra Terra. Minha goma é suja, louça sem lavar, Seringa usada, camisinha em todo lugar Cabelo despenteado, bafo de aguardente ` É raro quando ela escova os dentes Várias armas dos outros muquiadas no teto Na pia mosquitos, baratas, disputam os restos Cenário ideal pra chocar a UNICEF, Habitat natural onde os assassinos crescem Eu não queria Playstation nem bicicleta, Só ouvir a palavra filho da boca dela Ouvir o grito da janela A comida tá pronta, Não ser espancado pra ficar no farol a noite toda Qualquer um ora pra Deus pra pedir que ele ajude A ter dinheiro,felicidade, saúde Eu oro pra pedir coragem e ódio em dobro Pra amarrar minha mãe na cama por querosene e meter fogo Outro dia a infância dominou meu coração, Gastei o dinheiro que eu ganhei com um album do Timão Queria ser criança normal que ninguém pune, Que pula amarelinha, joga bolinha de gude Cansei de só olhar o parquinho ali perto, Senti inveja dos moleque fazendo castelo Foda-se se eu vou morrer por isso, Obrigado meu Deus por um dia de Sorriso A noite as costas arderam no coro da cinta, Tacou minha cabeça no chão Batia, Batia, me fez engolir figurinha por figurinha Espetou meu corpo inteiro com uma faca de cozinha Olhei pro teto vi as armas num pacote, Subi na mesa catei logo a Glock Mãe, devia te matar mas não sou igual você, Invés de me sujar com seu sangue eu prefiro morrer.... (Facção Central) O hip hop é um movimento que se processa nas discussões permanentes entre seus integrantes, alimentada por informações recolhidas de todos os lugares, bem como por atitudes marcadas pela irreverência e, muitas vezes, pelas controvérsias que dela resultam. Criando alternativas e disseminando informações, destacando-as e recriando-as com as suas histórias de vida, produzem e, muitas vezes, reproduzem atitudes e artefatos, que traduzem o cotidiano (GORCZEVSKI, 2003). Em sua maioria, as letras das músicas expressam a realidade da periferia, que quase sempre é violenta, injusta e desigual. Faz uma denúncia do sistema e explora, de forma crítica, a realidade através da música, da dança e das artes plásticas. O hip hop possui uma forma peculiar de sociabilidade entre seus membros. O movimento se forma de acordo com o interesse e a afinidade dos jovens e se desenvolve conforme a vontade do grupo. Um movimento que tem sua origem nas periferias, representa o contexto social e expressa nas letras das músicas, nas danças e nas atividades plásticas, o descontentamento com o sistema e com a exclusão social. Apresentam uma crítica social elaborada e expressam o sentimento de pertencer à sociedade, de participar e reivindicar direitos. (ABRAMOVAY et al, 1999). O hip hop no Brasil, é uma expressão sócio-cultural formada por quatro elementos: o Break que representa o corpo através da dança; o graffiti que é a expressão da arte, o meio de comunicação; o MC que é o mestre de cerimônia que canta o rap e o DJ que desenvolve o som instrumental para o B. boy desenvolver o break, e para o MC. Segundo o jovem 04, os quatro elementos podem cair para o lado profissional. O DJ hoje se torna um sonoplasta para rádio, televisão. No break ele se torna um coreógrafo, um dançarino. O Rapper vocalista é um cantor, um letrista, aquelas coisas todas. O graffiteiro é a arte plástica, é ali que está exposta a idéia do cara, conforme os olhos vai tirar uma interpretação (Jovem 04). O Rap, cantado pelo MC, é um dos elementos do hip hop, segundo Dayrell (1999, p.12), possui uma origem ligada à música negra americana, que incorporou “a sonoridade africana, baseada no ritmo e na tradição oral”. Esse ritmo é herdeiro direto do soul. o rap surgiu, [...] como mais uma reação da tradição black. Ele surge junto a outras linguagens artísticas, como a das artes plásticas, a do graffiti, da dança – o break – e da discotecagem – o DJ. Juntas tornaram-se os pilares da cultura hip hop, fazendo da rua, o espaço privilegiado da expressão cultural dos jovens pobres. O rap, palavra formada pelas iniciais da expressão rhythm and poetry (ritmo e poesia), tem como fonte de produção e apropriação musical, sendo a música composta pela seleção e combinação de partes de faixas já gravadas, a fim de produzir uma nova música. ‘Mixando’ os mais variados estilos black music, o rap cria um som próprio pesado e arrastado, reduzido ao mínimo, no qual são utilizados apenas a bateria, scratch (giro do disco sob a agulha em sentido contrário) e voz. Mais tarde, essa técnica seria enriquecida com o surgimento do sampler. Desde então, o rap aparece como um gênero musical que articula a tradição ancestral africana com a moderna tecnologia, produzindo um discurso de denúncia da injustiça e da opressão a partir do seu enraizamento nos guetos negros urbanos (DAYRELL, p.12, 1999). De acordo com Abromovay et al (1999), o DJ é considerado o principal componente do grupo e, em geral, é um rapaz alto e forte. Os grupos de rappers tentam se profissionalizar na área da música, sendo que a maioria realiza shows e alguns deles chegam a gravar os seus próprios CDs. Segundo o MC Garcia, presente em seminário35 realizado pelo NEJUP em 2003, há uma controvérsia quanto à origem do rap. Embora seja de praxe associá-lo aos Estados Unidos, foi um jamaicano, Kool Herc, que iniciou com o rap. Ele foi para os Estados Unidos e começou a tocar nos chamados guetos norte-americanos, utilizando sua voz junto ao instrumental. Segundo o jovem 04, a raiz principal do hip hop começou nos anos 50 nas ruas de Kingliston, na Jamaica, onde o Kool Herc utilizava a parte instrumental das músicas da época e juntavam às palavras de ordem relacionadas à questão social, econômica e política da Jamaica. Na década de 60 existiam os sound systems, que eram uma espécie de trio elétrico, em que a população ouvia as músicas jamaicanas, rolando através dos toaster, que eram parecidos com os Mestres de cerimônias (MC’s) de hoje. As músicas, nesse período já alimentavam certa indignação e assumiam letras de denúncia social.36 No início da década de 1970, com o aprofundamento da crise econômica e política que assolava a ilha do Caribe, vários jamaicanos migraram para o continente norteamericano, com eles foi Kool Herc, responsável por, junto com Afrika Bambaataa, disseminar o novo estilo musical, o ritmo e a poesia (o rap), nos Estados Unidos da América e lá se formou o movimento hip hop37. O período que corresponde à raiz do hip hop coincide com a guerra do Vietnã. Nessa época haviam muitos protestos pois os soldados negros eram obrigados a irem para o Vietnã. Então aquela cultura de segregação norte-americana fazia com que o jovem negro fosse para os campos de batalha, e então eles começaram a fazer protestos, 35 Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, 1º Seminário promovido pelo NEJUP – Núcleo de Estudos sobre as Juventudes e Protagonismo, intitulado: MOVIMENTO JUVENTUDE E EXPRESSÃO. Debatedores presentes: Drª Luiza M. Camacho (Pedagogia), Sandro (Movimento Underground) e MC Garcia (Movimento Hip hop). 36 Ver mais detalhes em www.dancaderua.com.br/historia. 37 Idem imitando movimentos de soldados caindo mortos, na dança, e nessa mesma época também, o graffiti começou a sair da pichação e fazer uma arte criticando a questão da guerra, das pessoas que estavam morrendo no Vietnã e a letra começou a falar da guerra do Vietnã, do contraste, da divisão, então o hip hop começou daí. Então já tinha a formação do DJ que era o cara que ia tocar, então na hora que fosse dançar tinha o DJ, na hora que fosse graffitar tinha o DJ, na hora que fosse falar as palavras de ordem nas ruas (jovem 04). Algumas pessoas afirmam que o termo hip hop foi criado em meados de 1968 por Afrika Bambaataa. Ele teria se inspirado em dois movimentos cíclicos, ou seja, um deles estava na forma pela qual se transmitia a cultura dos guetos americanos, o outro estava justamente na forma de dançar popular na época, que era saltar (hop) movimentando os quadris (hip)38 O hip hop veio para o Brasil no estilo funk (funk music) com a banda “Sugarhill Gang”. Depois veio o Planet Rock por Afrika Bambaataa. Segundo o entrevistado, o filme Beat Street também foi um dos responsáveis pela disseminação do hip hop no Brasil. Fotografia 1 - Disco de vinil do filme Beat Street Fonte: Jovem 04 38 Ver mais detalhes em www.dancaderua.com.br/historia. Chegou um filme chamado Beat street, que era a onda do break, chegou a parte um e parte dois [...] então a juventude negra brasileira, ouvindo essas músicas quando ia aos bailes funks e chegando esses filmes, a assimilação é rápida. Esse mesmo filme passou em todos os cinemas do Brasil, de Manaus a Porto Alegre, tanto de Rio Branco a Natal, tanto do Espírito Santo a Brasília, Campo Grande, todas as capitais cercando o Brasil de um lado a outro. Então, de um mesmo local que antes tocava o estilo funk music, tocou essas músicas, passou esses filmes e obviamente passou a ter esses curiosos (jovem 04). Segundo o entrevistado, logo após surgiu Kurtis Blow com a música The breaks explorando a forma e dançar - o break. Assim, no Brasil, a difusão do hip hop remonta aos anos 1980, quando houve uma proliferação da chamada break dance, uma dança que foi um elemento importante para o crescimento do movimento no Brasil. Segundo o jovem 04, no Brasil, existem alguns pioneiros no hip hop como Nelson Triunfo. Ele e outros b. boys se reuniam para dançar break no metrô de São Bento, em São Paulo. Assim, que se teve início o hip hop no Brasil, na década de 80 (Jovem 04). Segundo jovem 04, o Brasil, depois dos EUA, é o país onde mais se produz e consome hip hop e é o único país do mundo que tem a raiz 100% do hip hop. Existem algumas coletâneas, fonogramas que registram esse histórico. Pepeu foi o primeiro a gravar um fonograma no Brasil. A primeira coletânea denominou-se hip hop e cultura de rua. Depois surgiu Thaíde Dj Hum e mais tarde o Racionais MC's. Fotografia 2 - Disco de vinil da primeira coletânea Fonte: Jovem 04 Fotografia 3 - Disco de vinil do Thaíde DJ Hum Fonte: Jovem 04 Aí o negócio estourou. Viram que não era só cantar, só dançar, não era só graffitar, tem um lado social, cultural, o lado de conversar que é o mais importante (jovem 04). Para Gorczevski (2003), o hip hop é uma cultura considerada emergente e vem se expressando através de uma rede quase subterrânea, dentro da qual se podem traçar múltiplos percursos. O mesmo autor diz ainda que, conquistar a visibilidade através do hip hop, para os jovens das periferias, tornou-se a possibilidade de não repetir os caminhos de seus pais, em sua maioria, operários remanescentes do período pós-industrial ou já desempregados, e/ou inseridos em atividades informais. No Brasil, o rap, vem se destacando na divulgação da cultura de rua. Em uma pesquisa apresentada por Gorczevski (2003), no Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, constatou-se que os jovens apresentam, como ponto de referência para as suas conexões com o hip hop, o surgimento do grupo “Racionais MC’s” no cenário nacional. Para Gorczevski (2003), os Racionais MC’s são considerados os radicais do Movimento Rap. Mano Brown, uma das referências dessa vertente do hip hop paulista, ganhou notoriedade com o seu grupo, que não aparece em determinadas emissoras de televisão e, mesmo assim, vende milhares de CDs. Existem autores, como Sérgio Martins (apud GORCZEVSKI, 2003), que afirmam que os rappers ignoram a grande mídia, assim, como ela procura mantê-los à distância, mas isso não provoca complicações, já que o rap não precisa da grande mídia para se afirmar como movimento e para disseminar o que produz. No Espírito Santo, o hip hop chegou em 1984. Os pioneiros no estado são Renegrado Jorge, Sagaz entre outros. Em 1997 foi gravada a coletânea de Tributo a Zumbi, de preto para preto. Enfocando mais o break, havia o Paulo Black e o Cyborg que também eram graffiteiros, assim como Sagaz e Eric Brow (Jovem 04). Fotografia 4 - Disco de vinil da coletânea de Tributo a Zumbi, de preto para preto (ES) Fonte: Jovem 04 Os pioneiros, segundo o jovem 04, são Suspeitos na Mira, Negritude Ativa, Renegrado Jorge e Observadores. Existem ainda o Mente Ativa, Resistente e o Garcia. Esses grupos, segundo o entrevistado são os que têm compromisso com o movimento hip hop. Eu vejo essa turma aí que têm compromisso com a cultura, eles sabem que eles tem uma responsabilidade, tem pessoas que ouvem muito o que eles fazem (jovem 04). Para o jovem 04, o Estado tem grupos que tem a preocupação com a qualidade do hip hop, de seguir o que o movimento determina. O ES é um dos estados que tem a melhor qualidade em hip hop, os discos produzidos no ES são um dos melhores do Brasil. A pouca condição que nós temos é a condição financeira. A questão de qualidade da letra, de levada, nós temos prêmios a nível Brasil [...], os caras são conhecidos pelo Brasil à fora, muito reconhecimento, nós temos mais fama fora do que aqui dentro do Estado (jovem 04). Para o jovem 04, a principal mensagem que o hip hop busca transmitir é a informação. Assim, o hip hop apresenta predominantemente um caráter de indignação acerca das transformações sociais, da questão social, da política e do abuso de autoridade, o que, de certa forma, não faz parte dos assuntos de interesse da grande mídia. Para MC Garcia39, o hip hop americano é, em sua maioria, diferente do brasileiro, pois é um gênero musical, que possui hoje, um caráter comercial e, algumas vezes, machista. Garcia recitou um verso que expõe bem esse estilo: “... o que você quer? Dólar, dólar? Grita, grita!”, “... cachorra, cachorra, dê-me aquilo e toma, toma...”. O MC Garcia40 diz ainda que o rap brasileiro traz letras que causam impacto aos ouvidos, sobre o contexto sócio-político do país, ele diz que o hip hop pode ser considerado uma ideologia para contribuir para melhorias no nível da distribuição de renda. Dessa forma, o rap é uma arma de reivindicação. O hip hop, segundo Dayrell (1999), procura ter um conteúdo poético, tende a refletir o lugar social concreto onde cada jovem se situa e a forma como elabora suas vivências, numa postura de denúncia das condições em que vive: a violência, as drogas, o crime, a falta de perspectivas. Mas também cantam a amizade, o espaço onde moram, o desejo de um ‘mundo perfeito’, a paz e o amor. Dessa forma, o jovem 02 diz haver um quinto elemento dentro do movimento hip hop. O quinto elemento que está chegando aí, poderia-se dizer que é o lado social do hip hop, além de tudo isso, o hip hop trabalha muito em prol do social, do bem comum, está sempre voltado para esse lado, através de suas músicas, danças, das pinturas, está surgindo o lado social. Tem a dança, o rap, a arte plástica, o DJ e o lado social agora (jovem 02). Além dos grupos citados pelo jovem 04, existem outros grupos de rap em Vitória, entre eles estão: Virtude Periférica, Som da Rua, entre outros41. Um exemplo de rap capixaba é o do grupo “Virtude Periférica”, o “Eu só Lamento”, composto por Piuí: 39 Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, 1º Seminário promovido pelo NEJUP – Núcleo de Estudos sobre as Juventudes e Protagonismo, intitulado: MOVIMENTO JUVENTUDE E EXPRESSÃO. Debatedores presentes: Drª Luiza M. Camacho (Pedagogia), Sandro (Movimento Underground) e MC Garcia (Movimento Hip hop). 40 Idem. 41 Projeto Rede Jovem da Gerência de Promoção Social da Juventude. Só lamento, moleque ao relento de onze zuado, sozinho, largado, esquecido, jogado na nóia, tramóia macabra, maconha e birita, doidão de larica no pó ou na zica, fumando a brita torrada na lata, na noite gelada, em meio a calada, frio da madrugada, moleque de rua boiando na vala, cantou pneu, a sirene acendeu, mas o medo venceu e ninguém viu nada, começa a vingança, inicia a matança, o diabo carrega, a droga faz regra na selva de pedra, transformando em merda quem era criança, e o ódio domina, é tempo de chacina e carnificina, cabeça vazia virando oficina, tão linda a criança se arma, se cansa, o exército do mal faz recrutamento. Em Vitória, existem vários graffiteiros como: Sagaz, Piuí e Fagundes. Alguns graffiteiros, rappers e B. boys42 participam de alguns encontros como o Graffitaids, além de organizarem e estarem presentes em alguns outros projetos como a Feira da Paz43 . Assim, o hip hop, segundo Gorczevski (2003), trata-se de uma cultura de rua que vem se desenvolvendo como um dispositivo que se movimenta, fazendo circular a informação, abrindo novas linhas de possibilidades, investindo na autonomia das comunidades e vem estabelecendo importantes alianças com setores da cultura e da política regional e nacional nesse frágil, desigual e violento tecido social. Os hip hoppers se vêem, portanto, segundo Dayrell (1999), como ‘porta-vozes’ da periferia. Alguns deles atribuem a “missão” de problematizar a realidade em que vivem, já que é um fator de identificação do estilo. Assim eles acreditam que podem contribuir para a formação de opinião da sociedade. 2.2.2 - FUNK A origem do funk é, segundo Dayrell (1999), a mesma do hip hop, ou seja, a música negra americana misturada à sonoridade africana. O autor diz ainda que o funk é herdeiro direto do soul que, serviu de trilha sonora para os movimentos civis americanos da década de 1960 e foi símbolo da consciência negra, porém perdeu as características revolucionárias com a sua massificação. O funk radicalizou o soul, empregando ritmos mais marcados e arranjos mais agressivos, mas o funk também sofreu um processo de comercialização, com a remoção de sua base cultural. 42 43 Aqueles que desenvolvem o Break. Dados retirados da experiência como estagiária da Gerência de Promoção Social da Juventude. Assim, segundo o jovem 02, o funk originou-se na década de 60 com James Brown. Fotografia 5 - Disco de vinil do James Brown Fonte: Jovem 04 O funk original veio de lá [...] a galera que trouxe de lá foi que começou a fazer uns sons parecidos com James Brown [...] Como vem lá da África, lá da Jamaica com África Bambaataa, que começou com hip hop, esses elementos de sons, começou a galera a ser influenciada, os negros levaram o som lá pro lado, lá pros Estados Unidos e começou a divulgar na Europa, veio o James Brown e começou a desenvolver o funk, aí pra cá, quem pegou essa referência foi Jorge Ben Jor, Cassiano, Tim Maia, que começou a fazer o funk, na década de 80 como já estava rolando aqueles "Miamis" de Steve Bee, o próprio África Bambaataa, já estava nos bailes funks do Rio, e não tinha esse funk ainda, esses batidões que tem hoje, o funk carioca que você vê (Jovem 02). No Brasil, de acordo com Dayrell (1999) a difusão do funk, remonta aos anos 1970, quando há uma efervescência dos chamados bailes black nas periferias dos grandes centros urbanos. Através da black music americana, principalmente do soul e do funk, milhares de jovens dançavam e se encontraram nos bailes de finais de semana, uma alternativa de lazer até então inexistente. Esses bailes tiveram início, segundo Guimarães (1998), no Canecão, Rio de Janeiro, reunindo dançarinos provenientes de diferentes bairros das várias áreas da cidade, no entanto, com a prioridade dada pelo Canecão à música popular brasileira, o Funk teve que procurar outro lugar, tendo portanto se disseminado na periferia, nas favelas, nos clubes do subúrbio. No Espírito Santo, o funk chegou a partir de meados da década de 80, através dos cariocas. Existiam os chamados "bailes charmes". Já haviam alguns DJs como DJ Nenenzão, DJ Tropeço, DJ Marroger. A partir da década de 90 já haviam os MCs Marcinho e Boreu, Ricardo e Teto, Jeffinho e Flavinho, Mickei Pacalolo. O primeiro MC capixaba foi o MC Flavinho, que já tocava em programas de funk como o Top Mix da rádio Litoral, enquanto só passavam os MCs do Rio como o MC Galo e Cidinho e Doca (Jovem 02). O funk desenvolveu-se, portanto, por jovens de uma mesma origem social: pobres e negros, na sua maioria. Ele continua apresentando algumas semelhanças, fiéis à sua origem, tendo como base as batidas, a utilização da aparelhagem eletrônica e a prática da apropriação musical. É importante ressaltar que o funk original é o funk de James Brown, do Tim Maia. Esse que está mais em evidência hoje é um derivado, é o funk carioca, o popular "pancadão". O funk na acepção antiga não é o que existe hoje. Eles se diferem quanto ao ritmo, quanto ao posicionamento ideológico. Sendo a primeira geração engajada no conceito de negritude e com o ritmo mais parecido com o soul music (Tim Maia, Sandra de Sá) e a segunda geração (Tati Quebra-Barraco, Bonde do Tigrão, etc) é mais solta e com valores ideológicos mais dispersos, quase sempre ligados ao posicionamentos da relação entre mulher e homem.44 O Funk possui algumas vertentes como: Miami Bass ou Batidão, Rap Melô, Montagem, Charm, Melody, Mid Back, Rasteiro e Proibidão. O jovem 04 fala sobre o funk comumente tocado na atualidade. Esse ritmo só é conhecido como funk no Rio de Janeiro e no ES, em São Paulo se você falar funk vão te jogar aquilo do passado, em Belo Horizonte é a mesma coisa, no Nordeste, no sul do país é a mesma coisa, no Rio de Janeiro eles já vão te jogar o pancadão. Então, nós capixabas, quando falamos funk falamos errado, estamos sendo questionados, sendo motivos de riso (Jovem 04). 44 Ver detalhes em http://www.buscamp3.com.br/texts_columns_readbr.asp?id=32&id_usr=4 De acordo com o jovem 04, esse ritmo - pancadão - teve como principal criador o DJ Malboro que fez algumas traduções de um disco chamado Funk Brasil mixado em 1990, compondo os chamados melôs. Segundo Guimarães (1998) os bailes foram se aproximando das áreas faveladas e sendo ligados e associados à violência. Isso pode ser relacionado ao enfoque que a mídia passou a dar. Os bailes funks e a juventude que os freqüentam vêm sendo estereotipados e criminalizados de forma sistemática e recorrente em discursos e ações públicas e no discurso das populações, que são formulados, em grande parte, através das concepções adotadas pela mídia. Isso resulta em projetos e, às vezes, em exigências de intensificação dos processos repressivos. Um exemplo disso foi o que ocorreu por volta de 2004, quando um representante do poder público, tentou proibir os bailes funks no Espírito Santo, por achar os bailes um local de proliferação de violência. No entanto, sua ação apesar de ter sido apoiada por grande parte da população não foi totalmente concretizada porque os jovens que freqüentam os bailes resistiram. O jovem 02 comentou sobre a questão referindo-se ao bailes que fecharam. Na época estavam fechando porque acharam droga, e estavam tendo umas mortes e já foram logo e fecharam. Só o que ficou foi o Náutico, o Rio Branco está querendo voltar, está correndo atrás... O rio Branco era o baile corredor. As mortes aconteciam, mas não era ali. Está tudo caminhando muito junto, o funk e o samba vem do gueto mesmo, música de preto, do morro, da favela, então aquilo ali convive tudo com o crime, com as drogas, dali é o porta voz deles, eles são o porta voz da favela, então eles também querem ter voz na sociedade, então as vezes que eles estão ali para se expressar é o mundo em volta deles que eles têm, das favelas e tal. Esses movimentos juvenis contemporâneos, de origem periférica, como o funk, são enxergados por parte da sociedade como violentos e ligados à marginalidade. Esse estigma se deve ao fato do funk ser um movimento que se origina de negros, pobres, moradores das periferias. Além disso, suas músicas que expressam a realidade deles, que muitas vezes é violenta. Porém, é importante destacar que sua origem reporta à periferia, mas na contemporaneidade, o ritmo tem atingido todas as regiões e classes sociais. Quanto à mensagem transmitida pelo funk é interessante trazer em cena que o funk original, aquele do início, segundo o jovem 02, falava das questões cotidianas, de violência, da realidade na favela, do dia-a-dia, do crime, das drogas. Hoje o que se tem é um estilo de funk (o pancadão) enfocando o lado do erotismo. Podemos dizer que, de acordo com Dayrell (1999), o funk é parte de determinado estilo de vida juvenil, uma forma de identificação que contribui para que esses jovens possam vivenciar e se afirmar como sujeitos. Uma pesquisa realizada pelo autor com a dupla Flavinho e Maninho, a dupla Marcos e Fred, e o grupo Os Cazuza, concluiu que, aderir ao funk, para esses jovens significa uma escolha, condicionada pela própria condição juvenil e o campo de possibilidades com os quais se deparam. Os fatores de inserção ao mundo do funk são parecidos com os do rap: a atração pelo ritmo e pela dança e a inexistência de maiores pré-requisitos para a produção musical. Segundo Abramovay et al (1999) a música funk (pancadão), diferentemente da música rap, em sua maioria não tem muito sentido em si mesma, cumprindo o seu papel efetivo como meio de animação nos bailes. Os temas abordados têm ligação com o universo das vivências juvenis, sendo comum abordarem as relações afetivas, a descrição de bailes e sua animação ou temas que dizem respeito a situações ocorridas na cidade, além da exaltação das diferentes galeras 45. Um exemplo de funk (funk melody) que é muito tocado nas rádios é “Glamourosa Rainha do Funk”, do MC Marcinho: “Glamourosa, rainha do funk Poderosa, olhar de diamante Nos envolve, nos facina, agita o salão 45 Galera é um termo resultado de um estudo francês, que designa por sua vez, um grupo de jovens amigos que se reúne para se divertir, estando sempre prontos para proteger e defender uns aos outros (ABRAMOVAY et al, 1999). Balança gostoso, requebrando até o chão Se quiser falar de amor, fale com o Marcinho Vou te lambuzar, te encher de carinho Em matéria de amor todos me conhecem bem Vou fazer tu vibrar no meu estilo vai-e-vêm Minha gatita doida vou te dar beijo na boca, Beijar teu corpo inteiro, te deixar muito louca Vêm, vêm dançar, impine o seu popozão Remexe gostoso e vai descendo até o chão Glamourosa, rainha do funk Poderosa, olhar de diamante Nos envolve, nos facina, agita o salão Balança gostoso requebrando até o chão Pretinha, moreninha, russa e loirinha Me deixa doidinho quando dança a tremidinha O funk do meu Rio se espalhou pelo Brasil Até quem não gostava quando ouviu não resistiu Mulheres saradas, lindas, deslumbrantes Corpo de sereia, olhar bem excitante Se tu não curte o funk pode vê tá de bobeira Bote uma beca esperta e se junte a massa funkeira Glamourosa, rainha do funk Poderosa, olhar de diamante Nos envolve, nos facina, agita o salão Balança gostoso requebrando até o chão” (MC Marcinho) Esse exemplo de funk já é o funk carioca. Porém, existem outros que estão ligados mais ao enfoque dado quando o funk surgiu, ou seja, músicas que retratavam mais a violência que era cometida nas periferias. Era um funk que tinha uma mensagem crítica a passar. Como exemplo, temos um trecho da música "rap do silva" composto por Bob Rum: Mas naquela triste esquina Um sujeito apareceu Com a cara amarrada Sua mão estava um breu Carregava um ferro Em uma de suas mãos Apertou o gatilho Sem dar qualquer explicação E o pobre do nosso amigo Que foi pro baile curtir Hoje com sua familia Ele não irá dormir (Bob Rum) Um dos primeiros raps que surgiram no Rio de Janeiro foi o Rap da felicidade que denunciava a violência nas favelas. Depois desses, começaram a repercutir pelo Brasil esse ritmo. Eu só quero é ser feliz Andar tranqüilamente na favela onde eu nasci, é E poder me orgulhar E ter a consciência Que o pobre tem o seu lugar . Minha cara autoridade, já não sei o que fazer Com tanta violência eu sinto medo de viver Pois moro na favela e sou muito desrespeitado A tristeza e a alegria aqui caminham lado a lado Eu faço uma oração para uma santa protetora Mas sou interrompido a tiros de metralhadora Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela O pobre é humilhado e esculachado na favela Já não agüento mais essa onda de violência Só peço à autoridade um pouco mais de competência Diversão hoje em dia não podemos nem pensar Pois até lá no baile eles vêm nos humilhar Ficar lá na praça, que era tudo tão normal Agora virou moda a violência no local Pessoas inocentes, que não têm nada a ver Estão perdendo hoje o seu direito de viver Nunca vi cartão postal em que se destaque uma favela Só vejo paisagem muito linda e muito bela Quem vai pro exterior da favela sente saudade O gringo vem aqui e não conhece a realidade Vai pra Zona Sul pra conhecer água de coco E pobre na favela, passando sufoco Trocaram a presidência, uma nova esperança Sofri na tempestade, agora eu quero a bonança O povo tem a força, só precisa descobrir Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui. (Cidinho e Doca) Pra se ouvir o funk e dançar, normalmente os jovens procuram um local que eles nomearam de “baile”. Na atualidade existem três tipos de bailes funk “baile de corredor”, “baile normal”, e “baile de comunidade”. Entre o “baile normal” e o “de corredor”, a diferença reside na articulação entre o binômio espaço e tempo para o confronto. No primeiro, ele é controlado e limitado mais severamente pelos organizadores. No segundo, como assinalou um DJ, “a briga é organizada”, isto é, o baile é dividido em territórios, para que as galeras se confrontem abertamente. Nos dois tipos de bailes existem também as áreas consideradas neutras (acesso a bares, por exemplo). Diferentemente das modalidades anteriores, no baile “de comunidade”, esses confrontos simplesmente não existem (CECCHETTO, p. 146, 1998). Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas46, as galeras funks cariocas se subdividem no que diz respeito aos bailes que freqüentam. Com essa pesquisa, chegou-se a uma conclusão pertinente: nos bailes de comunidade, aqueles realizados nas periferias, não acontecem confrontos entre galeras nem qualquer conflito interno. No ‘baile de comunidade’, são realizados concursos entre as galeras de ‘comandos amigos’, é o baile da ‘união’. Paradoxalmente, a segurança é proporcionada pelos grupos armados do tráfico que ocupam as comunidades pobres. Combinando a estrutura de torneios esportivos com algumas atividades das escolas de samba, os festivais incluem competições de várias naturezas: 'o melhor DJ’, ‘disputa de pênaltis’, ‘a rainha do baile’, ‘o melhor rap’, o melhor ‘grito’ ou striptease, entre outros”. As galeras vencedoras ficam conhecidas pelos desempenhos nos concursos, e um dos prêmios mais cobiçados coletivamente é ganhar um baile a ser realizado na comunidade vencedora. Já no caso do “baile de corredor” e do “baile normal”47, a relação é bem diferente. No “baile de corredor”, os confrontos são intermináveis, sem que se possa saber exatamente quem são os vencedores e os vencidos, numa luta vale-tudo. Nesse baile, os funkeiros dançam ao mesmo tempo em que lutam. Pode-se dizer, segundo Cecchetto (1998) que, o objetivo da galera no baile funk “de corredor” é a invasão do território rival. No “corredor”, os grupos rivais dirigem sua atenção uns para os outros e cuidam para que seu “pedaço” não seja invadido pelos “alemães48”. Mas, existem espaços neutros como os bares, onde não há problemas de invasão de território. Através das brigas e dos confrontos, os jovens representados nesses espaços pelas galeras, expressam valores culturais importantes, como honra masculina, solidariedade grupal e condutas morais. 46 Ver pesquisa completa em: CECCHETTO, F.R. Galeras funk cariocas: os bailes e a constituição do ethos guerreiro. IN: ZALUAR, A.; ALVITO, M. (org). Um século de favela. Fundação Getúlio Vargas: São Paulo, 1998. p. 145-165. 47 Idem. 48 Alemães referem-se aos que não são amigos daquele grupo. O ‘bonde’ é um termo utilizado pelos integrantes de galeras para designar a reunião ou aliança com galeras amigas. O rito de entrada do bonde no baile reafirma a importância da galera perante as outras. Somente depois de entoarem seus gritos, percorrendo seu território, é que começam a lutar. Um exemplo de grito de guerra é: “tropa de elite, osso duro de roer, favela é o bonde do mal (...), ah ah, uh uh, somos os capetas do Pilar, quem não correr, vamos quebrar” (CECCHETTO, p.151, 1998). Muitas vezes o objetivo passa a ser a destruição dos oponentes, inclusive por meio de armas de fogo, nas saídas dos bailes ou quando esses grupos se encontram em locais públicos como praias, praças, ruas, ônibus e shoppings da cidade. Um exintegrante de galera atualmente tentando a carreira de MC, revela na pesquisa realizada por Ceccheto (1998), que as mortes de funkeiros ocorrem pela disputa de poder, que ultrapassa os bailes, e resultam de vingança, ou seja, do circuito interminável da reciprocidade negativa: uma galera é considerada inimiga quando alguém é morto. Em Vitória, os locais em que acontecem os bailes são o Clube Náutico e o Ibiza. O Rio Branco e a quadra da Novo Império fecharam. Outra pesquisa49 realizada também com as galeras funk cariocas, tem o objetivo de estudar a imagem dos funkeiros na imprensa, não pretendendo afirmar que os funkeiros não são violentos, mas tentando repensar as falas e atitudes desses jovens por outra ótica, além daquela apresentada pela parte policial dos jornais. Herschmann (2000), diz que associar, quase que automaticamente os bailes funk à violência, diz respeito a uma proliferação de dados sobre crimes, na contemporaneidade, que a grande mídia propaga e tenta associar invariavelmente à violência, à pobreza e à criminalidade. Assim, Herschmann (2000), completa dizendo que a violência no Brasil representa uma certa exposição da insatisfação perante uma estrutura autoritária e clientelista que promove sistematicamente a exclusão social em um país, no qual o modelo político tradicional, através de um sistema jurídico clientelista, só é capaz de punir as 49 HERSCHMANN, M. As imagens das galeras funk na imprensa. In: PEREIRA, C.A.M.(org.) Linguagens da Violência. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000, pp 163-196. camadas menos favorecidas da população. Podemos, assim perceber a violência como uma forma de ”resposta” concreta da sociedade. Entre 1992 e 1993, segundo Herschmann (2000), quando houve uma onda de “arrastões” na cidade do Rio de Janeiro e isso significou uma “ameaça à ordem”, a prefeitura, começou a dar maior atenção à galera funk, criou-se até mesmo, um projeto intitulado “Riofunk” , que procurava promover o lazer e a vida cultural desse segmento social. No entanto, apesar desses acontecimentos terem gerado uma reação do poder público, esse não era o objetivo das galeras funk. Eles simplesmente estavam reproduzindo o ritual de embate que ocorre nos bailes. Eles não pretendiam causar pânico ou mesmo assaltar banhistas. Os funkeiros são regularmente igualados a criminosos. No entanto, eles são apenas um grupo de jovens que se reúne com o objetivo de realizar atividades ligadas ao lazer, como ir à praia, dançar, cantar, namorar, enfim. Embora, alguns membros desse segmento estejam, às vezes, cometendo pequenos delitos e alguns também participem de atos criminosos, isso não é um fato passível de generalizações. No entanto, a grande mídia, na medida em que abriu espaço para o funk (pancadão), logo o associou à criminalidade, igualando os funkeiros à criminosos. No que diz respeito aos artigos, uma pesquisa realizada com 125 artigos 50 sobre o funk, publicados nos jornais: O Globo, Jornal do Brasil, O Dia e Folha de São Paulo, mostra-nos que o funk praticamente não existia na mídia antes dos acontecimentos de 1992. No entanto, esses artigos estavam, na maioria das vezes, nas partes policiais dos jornais. Esse episódio pode ser dividido em duas etapas, no decorrer do verão de 1992/93, quando havia uma intrínseca relação entre funk e violência devido aos arrastões ocorridos no Rio e depois de 1996, quando o funk passou a ser visto como uma expressão cultural e assumir um segmento de mercado significativo. Assim, depois de 1996 o funk (pancadão) passou a invadir as rádios de todo o país. Saiu da periferia e tomou conta, inclusive, das boates dos grandes centros urbanos. A mídia se encarregou de disseminar um estilo de funk comercial, o pancadão, que canta a relação machista, a violência, as relações afetivas, o sexo, entre outros, possuindo várias vertentes em torno do ritmo. 50 Idem. Em Vitória, em virtude desse rumo que o funk tomou, o jovem 02 diz que aqui não existe movimento funk organizado. O ideal do movimento funk é através, pelo menos, da música você passar, aproveitar a oportunidade da mensagem, do espaço que você tem, de um canal de expressão, de passar uma mensagem pedagógica, ensinar alguma coisa, se você puder retratar alguma coisa, relembrar, tocar o jovem para que ele saiba que tem o poder de mudar o seu futuro, o seu destino, está na mão dele. Ele só precisa saber disso, porque às vezes ele não sabe disso, que ele tem esse poder [...] isso hoje em dia é difícil, a essência mesmo são poucos que partem para esse lado. Segundo o jovem 02, em escala nacional, existem alguns MCs. No Rio de Janeiro existem o Mr Catra, Cidinho e Doca, Duda, Galo. Em São Paulo conta-se com MC barriga e o MC Primo. Em Vitória existem o MC do Charme que é de São Pedro, o Chuck 22, o Jeffinho, o Popaye, o Segal. Mas mesmo tendo representantes do funk aqui no Estado, segundo ele, há uma maior valorização pelos MCs cariocas do que os capixabas. Para o jovem 02 dá para aliar o funk com o hip hop. Quando eu vou num baile eu sempre mesclo: hip hop e funk. Eu acho que é um paralelo, hip hop dá para passar mais mensagens, você canta mais rápido, fala mais coisas, explica outras coisas. Segundo o jovem 04, há algumas rádios que têm programas especializados de funk. Na antena 1, a programação dela é 80% funk, sábado à noite tem também o Tribuna Flash Back, é uma programação de qualidade, tanto é que foi votada a melhor época da música no mundo que foi os anos 70 e 80 que tocava o original funk. É tanto que os caras têm que lá buscar essas músicas para ressuscitar, para dar continuidade aos sucessos. É tanto que se você quer fazer hip hop ele é todo sampreado em cima do original funk, o dance, estão fazendo reedições 2006, 2005 tudo de 1984, 1982. Dessa forma, percebe-se que é importante diferenciar o funk original, que é aquele que transmite uma mensagem crítica, e o funk carioca, ou o pancadão, que é aquele que expõe mais a questão do erotismo. Sem esquecer também das outras variadas vertentes que circulam por esse ritmo. 2.2.3 – ROCK O rock é um movimento não muito recente, de meados do século XX, que vem arrastando milhões de jovens com sua música contagiante. O rock pressupõe troca, ou melhor, a integração da banda com o público, procurando estimulá-lo a sair da sua convencional passividade perante os fatos. Por isso, dançar é fundamental. Como diz Chacon (1982) “se não houver reação corpórea quente, não há rock”. Segundo Chacon (1982), o rock é antes de tudo, o som. A chamada “música de protesto” não é rock, pois dominado pela necessidade de passar uma mensagem política, ela coloca pra segundo plano o arranjo do som para se ater à letra. O autor dá o exemplo de “Prá não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, grande ênfase na letra e capaz de mover multidões, mas pobre na melodia e na harmonia. No entanto, há controvérsia. Nós que não somos profundos conhecedores de rock podemos citar inúmeras músicas que transmitem muito mais que uma boa “balada”, como por exemplo, “Sunday Bloody Sunday”, do U2, que aborda questões de conflitos religiosos que se passava em 1983 aproximadamente, existem, também, rocks brasileiros que causam impacto e referem-se a questões relevantes como “Que país é esse” do “Legião Urbana”, “Terras de Gigantes” ou “Somos quem podemos ser” do “Engenheiros do Hawai”, entre vários outros. Que País é Este Nas favelas, no Senado Sujeira pra todo lado Ninguém respeita a Constituicão Mas todos acreditam no futuro da nação Que país é este No Amazonas, no Araguaia iaia, na Baixada Fluminense Mato Grosso, nas Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz Na morte eu descanso mas o sangue anda solto Manchando os papéis, documentos fiéis Ao descanso do patrão Terceiro mundo se for Piada no exterior Mas o Brasil vai ficar rico Vamos faturar um milhão Quando vendermos todas as almas Dos nossos índios num leilão (Legião Urbana) No entanto, definir o rock é uma tarefa árdua, se num primeiro momento, como diz Chacon (1982) ele estava mais associado ao som, aos movimentos corpóreos, num segundo estágio ele exige uma explicação mais social. Talvez seja mais fácil conceituar o rock a partir do seu mercado consumidor. Majoritariamente, os consumidores do rock, como diz o autor, é o público que vai da primeira mesada ao primeiro salário. Hoje, fica difícil utilizar tal afirmação. As gerações se misturam ao falar de rock. Os pais e os filhos ouvem bandas como Rolling Stones, Scorpions, U2, entre outras. O rock deixa de ser aquele ritmo de protesto juvenil, para se tornar uma forma de lazer mais passiva, que congrega gerações. Portanto, o rock é considerado um dos ritmos mais agitados que se conhece nas sociedades modernas, ele foi buscar esse elemento libertador, físico, no rhythym and blues norte americano. Chacon (1982) diz que o rock se formou a partir de três campos musicais que eram suficientemente distintos para determinar público e estilos diversos são, a pop music, o rhythym and blues e a country and western music. Segundo ele, o rock aumentou a fluidez desses três campos recolhendo elementos e determinando um estilo próprio. A pop music representava a herança branca conservadora, que se glorificava pela vitória na II Guerra Mundial, apoiava-se no que sobrava das grandes bandas, que nada mais eram do que reprodutoras dos padrões adultos, como Frank Sinatra, Andy Williams e Matt Monro. O rhythym and blues é a vertente negra do rock, é nele que encontraremos quase que exclusivamente as origens do rock. Reprimidos pela sociedade, era através da música e da dança que a mão-de-obra negra se refugiava. Já a country and western music, é talvez o mais isolado dos três, é a versão branca do sofrimento dos camponeses. É um estilo pouco penetrado pela música negra e pelo pop, mas que tem um peso razoável no interior dos Estados Unidos da América. Possui uma característica popular de dor, resistência passiva e lamento, podendo atingir um tom mais critico e de protesto (CHACON, 1982). De acordo com Chacon (1982), embora o rock tenha origens nesses três ritmos foi no rhythym and blues que ele mais se inspirou. Foi da música negra que veio a raiz do rock . O autor diz que, Bill Haley acabou se tornando o pai do rock. No entanto Bill era gordo e velho e o rock precisava de uma energia jovem e sensual, assim surgiu Elvis Presley, que foi considerado o branco que cantava como um negro. Logo depois surgiram, a partir da década de 50, outros grandes nomes como: McCartney, Mick Jagger, Chuck Berry, entre outros. Assim o rock assumiu como base a música negra, porém isso não foi um fato causador mais inspirador das formas que aquele rock assumiria. O rock, então, em meados do século XX, começa a ganhar o mundo, se alastra pela Inglaterra nos nomes de Gerry and Pacmakers, Freddie and the Dreamers, Rony Storm and the Hurricanes, e muitos outros. Pouco tempo depois grandes bandas como os Beatles e os Rolling Stones, surgem no mercado do rock. The Beatles foi uma banda formada em Liverpool, Inglaterra, no final da década de 1950. Na primeira metade da década posterior, obtiveram notoriedade até hoje inédita para uma banda de rock, com o lançamento de uma série de compactos de sucesso, tais como Love me do (1962), She Loves You e I Want To Hold Your Hand (1963), entre outros. Os "garotos de Liverpool", como eram chamados John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, não apenas arrastaram multidões a seus shows, mas também influenciaram as vestimentas, os cortes de cabelo e a forma de ser dos jovens daquela geração. Foi esse sucesso estrondoso que inspirou a criação do termo beatlemania51. Os Rolling Stones estão entre as bandas mais antigas ainda em atividade. Ao lado dos Beatles, o Rolling Stones foi a banda mais importante da chamada Invasão 51 Ver mais deyalhes em: http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Beatles. Britânica ocorrida nos anos 60, que colocou diversos artistas ingleses nas paradas norte-americanas. Formado em 1962 por Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Bill Wyman e Charlie Watts, o grupo calcava sua sonoridade no blues, e surgia como uma opção mais “malvada” aos bem-comportados Beatles. Em mais de 40 anos de carreira, hits como "Satisfaction", "Start Me Up", "Sympathy for the Devil", "Jumping Jack Flash", "Miss You" e "Angie" fizeram dos Stones uma das mais conhecidas bandas do rock mundial52. Segundo Chacon (1982) o rock é muito mais que um estilo de música, ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. De acordo com o autor, o rock se define pelo seu público, que não sendo uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do rock a mesma polimorfia. Ele diz ainda que por ser o rock uma mercadoria, inscrita no modo de produção capitalista, setor ideológico ou de lazer se caracteriza, por isso, de acordo com a vontade do público que quer ouvi-lo. Sobre essa não uniformidade, o jovem 03 aborda a questão da mensagem a ser passada com a música. Segundo jovem 03, o rock não possui uma mensagem em comum entre seus inúmeros estilos. Assim, cada estilo tem seu protesto, sua mensagem, seu conteúdo, é muito diversificado. Tem bandas que falam sobre Deus, sobre religião, tem bandas que não falam nada, falam besteiras, mas tem muita banda de punk rock que protestam alguma coisa, fala sobre política, enfim, até o próprio relacionamento entre as pessoas, acho que cada banda, cada grupo, cada pessoa, tem o seu protesto de um jeito, fala sobre alguma situação (Jovem 03). Assim como o funk, o rock perdeu um pouco o sentido que tinha quando foi criado. O rock quando começou tinha umas letras protestando alguma coisa, acabou que foi tornando uma coisa um pouco diferente hoje, tem rock que você tem bandas aí que escrevem sobrem amor, acho que escrever sobre romance, essas coisas é muito fácil, então a pessoa escreve põe uma guitarra em cima, “ta lá, uma banda de rock”, tem sim rock pra dançar, o pessoal faz rock pra se divertir [...], não vejo como 52 Ver mais detalhes em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rolling_Stones problema, mas o rock em si não é só pra isso. Acho não, não é. Tem muito rock que não quer protestar, você pode ter o direito de não querer falar nada, não passar mensagem, simplesmente tocar (Jovem 03). Devido à mensagem que possuía, em meados do século XX, o Rock, era encarado com o “bicho papão”. As famílias conservadoras repeliam este estilo novo de música. Eram inconcebíveis as roupas, as gírias, o pensamento que o rock despertou nos seus ouvintes. O gênero era símbolo de rebeldia e representava o conflito de gerações. Vale lembrar que nessa época o jovem ainda não representava mercado consumidor, tendo, portanto, que ouvir os mesmos discos e ver os mesmos filmes que seus pais. Foi somente depois da II grande Guerra Mundial que surgiu o que hoje conhecemos por “cultura jovem”. O abismo que separa as gerações, pais e filhos, foi gradativamente desaparecendo. Hoje o rock já faz parte do universo juvenil assim como do “mundo adulto”53. Em uma entrevista de Lobão, dada à revista Bravo 54, ele diz que o rock foi capaz, até mesmo, de modificar o conceito de juventude, abrindo um novo espaço para as manifestações da geração. Em Vitória existem várias bandas de rock entre elas estão Spaço Restrito, Dublin, Xamã do Raul, Os pedrero, Dead Fish, Muqueca Di Rato, entre outras. Cinqüenta anos de rock e ele assume hoje vários estilos, os que tem ligação com a música erudita e os corais, foram classificados como rock-progressivo, mas existem ainda o Trash metal, o Heavy Metal, o New Metal, o Hard Core, o Punk Rock, Emotional Hardcore (EMO), Melódico Metal, Power Metal, Folk Metal, Viking Metal, Death Metal, Black Metal, Gore, Splatter, Doom Metal, Write Metal, Grunge, entre outros. Assim, explicando melhor essa diversidade de vertentes, o jovem 03, enumera os estilos mais comuns. 53 54 Revista Bravo, Fevereiro de 2006, Stones e U2 no Brasil, n° 102. Idem. Dentro do rock você tem o metal, que é o heavy metal e dentro do metal você tem o White metal, que é o metal cristão, que fala sobre religião, sobre Deus. Tem o trash metal, que é aquele metal mais “pedrera”, gritado, tem o metal gospel. Aí fora do metal tem o hard rock, tem punk rock, dentro dele tem o punk rock mais é “novayorkino” que é mais político, mais protestando alguma coisa, e tem o punk rock mais californiano, que tem mais melodia e fala mais sobre amor ou alguma outra coisa assim. Hoje tem muito esse lance do EMO, do hard core EMO, é o hard core só que falando mais de amor, falando sobre a menina que deixou o cara, o cara que sofre por amor, então tem muitos estilos dentro do rock. Segundo o jovem 03, os locais de apresentação das bandas estão bastante escassos também. Existia o Camburi Vídeo que era bastante freqüentado, o Praia Tênis Clube que já está fechando de novo. Em Vitória o que se tem são festivais em escolas, eventos no bar do Simpsom localizado no Centro e alguns shows, porém, de bandas nacionais e internacionais, não existindo, portanto, muito espaço para as bandas da capital. 2.2.4 - REGGAE O Reggae, assim como o Rock, não é um estilo musical muito recente. Como o hip hop, o reggae surgiu na ilha caribenha da Jamaica. Foi entre seus guetos que se propagou esse estilo musical. Seu surgimento está relacionado aos negros africanos, escravos, da colônia Inglesa Jamaica, que trouxeram ritmo e história para este novo estilo que estava pra nascer. Ele é derivado da música negra. No período em que a escravidão ainda existia, os negros foram trabalhar em diversos países, dentre eles a Jamaica, e com eles levaram as músicas que foram sofrendo mutações conforme a influência que sofriam de acordo com as especificidades dos países, da tecnologia, dos novos instrumentos (Jovem 01). O reggae tem uma relação muito grande com movimentos religiosos, filosóficos e políticos, como o rastafari55, que representam notáveis esforços humanos de construção e reconstrução da dignidade, do destino e da cultura de um povo. Nos anos 40, o mento, que é uma das formas musicais nativas da Jamaica, começa a sofrer influências da Rhythym’n blues norte americana, via rádio, surge então um ritmo mais pesado com metais, o Ska. Nos anos 50 e 60 ela vai evoluindo e sofrendo influência da Soul Music dos anos 60. Com a ascendência de instrumentos eletrônicos como a guitarra e o baixo e de uma nova realidade social e política de independência a partir de 1962, na Jamaica, foi se moldando o famoso reggae56. No final dos anos 60, uma outra geração de músicos passa a tentar novos jeitos de tocar o Ska e o Rock steady. Sempre atentos aos cânticos rastafari, que puxavam para o lado africano, enfatizando a repetição rítmica, ou assumidamente ligada ao movimento, com a pressão social em alta voltagem nas ruas, essa nova geração de músicos contribuiu para o surgimento do ritmo reggae (Jovem 01). O som é uma mistura de vários estilos e gêneros musicais como: a música folclórica jamaicana, os ritmos africanos levados pelos negros escravos, o Ska, o Calipso, o Mento, entre outros. O jovem 01 sintetiza o nascimento do ritmo, segundo ele: [...] na década de 60, assim, na Jamaica, os jamaicanos escutavam as músicas que vinham do sul dos Estados Unidos, que era o folk, o gospel e o Rhythym’n blues , que é um percussor do Blues e do Jazz, com muita voz, um coral de vozes, com contrabaixo [...] .Então as pessoas escutavam na rádio esses ritmos e misturavam com o que elas criavam ali, e assim criou o rock steady, que é o percussor do reggae, o mento, o ska e o reggae foi daí que surgiu. O rock steady é como se fosse uma música de baile, ela é mais lenta, tocada por muitos músicos, praticamente uma orquestra, tem sopro, piano, uma música muito complexa de se fazer, precisa de muita gente. O Ska é uma música um pouco mais rápida, [...] a guitarra que marca o 55 Rastafari é uma religião que, segundo jovem 01, é de origem Indonésia, que disseminava a existência de um Deus negro e pregava o consumo da maconha como forma de libertação e de pensamento. Ao longo dos tempos esses valores foram se perdendo. 56 Ver mais detalhes em: www.reggaevale.com.br/historiadoreggae.htm ritmo do ska e ela é bem ritmada, ela é um pouco mais rápida e dançante. O mento é uma música que é uma mistura das duas, uma música pra dançar agarradinho, e não era uma música lenta e as pessoas dançavam agarradinho. Alguns músicos mais velhos diziam que o nome reggae, antes denominado reggay, queria dizer “coisa de rua”, “sem importância” ou “íntima”. Na década de 1960, começaram a surgir grandes nomes do reggae como, Derloy Wilson, Bob Andy, Burning Espear, entre outros. O reggae chegou ao auge em 1970 com grande aceitação mundial, através de músicas como “No womam no Cry” e de cantores que ficaram na história como Bob Marley e Jimmy Cliff (Jovem 01). Para o jovem 01 a primeira pessoa que pronunciou a palavra reggae num palco foi Toots que tem um projeto até hoje que chama Toots and the Maytals. É um cara muito importante pra música jamaicana, foi um dos percussores do reggae, e é conhecido no mundo inteiro (jovem 01) Segundo o jovem 01, o maior expoente do reggae no mundo é Bob Marley que ultrapassou as fronteiras da Jamaica. Aos 16 anos ele já cantava mento e rock steady. Foi descoberto pelos produtores da época, de um estúdio lá da Jamaica e foi uma das grandes revelações do reggae, ele gravou na Jamaica e foi prá Inglaterra pra mixar e masterizar o álbum dele. Lá ele conheceu um tal de Cris Blackwell, que era um produtor musical da época, que realmente deu um caráter mais pop pra música dele [...] e fez realmente o trabalho dele ficar mais plausível pra galera que não conhecia o reggae, na época, então tinha que dá um caráter mais pop pra música do Bob, que era muito tosca [...] a música do Bob foi parar no ouvido de Eric Clapton que era um “blues man” muito famoso na época , uma das grandes revelações da música norte americana. [...] E chamou o Bob Marley pra fazer uma turnê com ele nos Estados Unidos. Essa turnê que lançou o Bob para o mundo, fez dele muito famoso. Da metade da turnê pra frente ele já fazia mais sucesso que o Eric Clapton. [...] ele começou a pegar fama pelas letras pelo contexto do rastafarianismo, da maconha, dessa coisa toda da ilegalidade, gerava notícia isso né? O cabelo rastafari, o visual diferenciado isso tudo foi chamando a atenção da mídia, e ele ficou muito famoso e explodiu pro mundo da música. Até hoje ele representa 60% do mercado fonográfico do reggae no mundo, é Bob Marley que vende, depois de muito tempo de morto (jovem 01). Bob era tido como um representante do povo negro, não só em relação à música, mas como uma filosofia também. Assim, segundo o jovem 01, são observados uma seqüência de acontecimentos mundiais do povo negro, como o black panters que era contra o apartheid57 e lutava pelos direitos dos negros. Esses acontecimentos foram surgindo após a abolição dos escravos. Depois do fim da abolição aquele povo negro teve chance de falar, mas ainda estava ali, o racismo estava presente de uma forma muito clara, e de alguma forma, a cultura foi uma forma de expressar isso, a música, o reggae, o hip hop, entendeu? então foi uma série de acontecimentos (jovem 01). No Brasil, a região que mais incorporou o estilo reggae foi o nordeste. No estado do Maranhão são comuns festas regadas ao som do reggae. Músicos como Gilberto Gil e Jorge Ben Jor foram influenciados pelo estilo musical jamaicano. O primeiro grande registro de reggae foi na voz de Gilberto Gil, acredito, né?[...] ele regravou “No womam no cry”. O Jimmy Cliff até hoje mora em Salvador, uma época do ano, ele reside aqui no Brasil. É um cara que também foi o primeiro grande expoente do reggae no Brasil, nem foi o Bob Marley, acredito, foi o Jimmy Cliff, ele fez uma música que participou de uma novela, há muito tempo atrás, isso na novela da globo (jovem 01). Várias bandas de rock gravaram reggae, como o “Paralamas do Sucesso” e “Titãs”. Em 1990, surgem inúmeras bandas brasileiras de reggae como: “Cidade Negra”, “Alma D’Jem”, “Tribo de Jah” e “Nativus”. Assim, o reggae foi se configurando no 57 “Apartheid ("vida separada") é uma palavra africânder adotada legalmente em 1948 na África do Sul, para designar um regime segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separadamente, de acordo com regras que os impediam de ser verdadeiros cidadãos. Este regime foi abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente em 1994 eleições livres foram realizadas” (ver mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid) país recebendo em cada região um tratamento diferenciado e possuindo características regionais. O reggae sempre esteve presente, sempre influenciou muito no Brasil, eu acho que o reggae tem uma coisa muito forte com as praias e pelo litoral imenso que nós temos aqui né? [...] O surfista e o reggae sempre se misturaram muito. Até pelo uso da maconha mesmo né? O surfista sempre gostou da droga. E o reggae, de certa forma, fez apologia, por falar de rastafarianismo. Prega que pode ser usado de uma forma religiosa, não é pra fumar maconha a toa, né? Tinha um contexto, mas isso foi desvirtuado e as pessoas entenderam que pregava o uso da maconha, mas na verdade não é isso (jovem 01). No Espírito Santo também há uma forte presença do reggae. Ele sempre esteve presente nos meios midiáticos. Desde 1993 [...] na rádio universitária, já existia um programa específico de reggae, que se chamava “reggae e companhia” [...]. Hoje nas rádios existem três programas de reggae: o “Beco”, o “Cidade do Reggae” e o “Brasil Jamaica” , são específicos de reggae, a gente tem 12 horas de reggae na programação das rádios do Espírito Santo. E a banda mais antiga de reggae que tem aqui, que toca até hoje é a banda “Salvação”, tem onze anos de carreira, ela é de Vila Velha (Jovem 01). O Estado conta outras bandas como: “Herança”, “Lion Jump”, “Soldado Imperial”, “Alma Rasta”, “Radio Experienzia”, “Kayana Roots”, “Guerreiros”, entre outras. A influência do reggae aqui, acho que foi do reggae mesmo, de ouvir os programas de rádio e conhecer um pouco mais o reggae, as pessoas se influenciaram e começaram a montar bandas de reggae e gostaram do gênero, porque o reggae aqui é muito puro, eu posso dizer assim, e é único, o reggae que a gente faz no Espírito Santo não tem em nenhum outro lugar do Brasil, não é parecido com o reggae do Cidade Negra [...]. É o reggae do Espírito Santo, é característico (Jovem 01). No Estado, o reggae recebe a contribuição do congo em suas músicas fazendo um ritmo único, não presenciado em nenhum outro estado brasileiro. O Casaca misturou com Congo, o Manimal também misturou com congo, é (...) o Guerreiros mistura com congo, com Jongo, com capoeira, ele mistura com as influências africanas que eles têm aqui, porque o Espírito Santo é um estado riquíssimo na cultura e poucas pessoas conhecem, assim, a imensidão cultural que existe aqui dentro, porque são várias expressões, são vários tipos de tambores, tem tambor de maracatu, de jongo, de congo, [...] e são diferentes, tem timbres diferentes, são maneiras de tocar diferentes, isso tudo se mistura no reggae daqui, com certeza, e forma a característica única.[...] O reggae do Espírito Santo, é um reggae que eu considero assim, acima da média, de muito boa qualidade, entendeu, até exportação mesmo (Jovem 01). Em Vitória, as bandas de reggae estão se reunindo e está se configurando o Movimento do Reggae Capixaba - MORC. É o reggae organizado. Segundo jovem 01, o poder público e as empresas privadas vão participar de forma a ajudar na logística, com o som, transporte, dinheiro, vai ser autônomo. Na verdade a gente complementa o papel do Estado, a gente chega onde o Estado não chega, nas comunidades carentes, através da cultura, que é um movimento muito legítimo. (Jovem 01) Eles estão projetando várias iniciativas. Tem uma série de projetos tem “o reggae na escola”, que é levar pras escolas públicas o reggae, tem “o reggae na praça”, que é fazer shows abertos de reggae nas comunidades carentes, fazer oficina de tambor, oficina de cabelo afro, oficina de artesanato, e aí vai, falar sobre cultura negra, sobre a história do reggae, contar um pouco de como surgiu, qual são os ideais, essa coisa toda né?(Jovem 01). O reggae possui temáticas relacionadas ao meio ambiente, a realidade e ao contexto social e também pode falar de amor. As letras das músicas de reggae retratam a situação social, cultural e ambiental. Um exemplo é a letra da música escrita por Elias Santos, da banda Lion Jump, denominada Falso poder: Cada dia que passa inventam uma coisa nova Tentam superar o poder de Deus Cada dia que passa novas tecnologias, a procura do poder Não vê que destrói a si mesmo e a natureza Destrói a natureza e a si mesmo Pense nos seus "mulequinhos" lá na escola, sem ter nada a ver com isso Eu não quero olhar pro céu, e ver a natureza ir embora Por você, a natureza ir embora, por você, por você Quanto mais eles constroem, mais eles destroem E ninguém percebe, ninguém quer saber Tecnologia quem não vai querer Eles com suas máquinas, ordens e poder, um falso poder A Babilônia é suja, a babilônia é suja. (Elias Santos) O reggae procura abordar, como verificado na música acima problemas que são relacionados ao sistema que se vive, enfocando mais a área ligada ao meio ambiente. O reggae sempre teve muito atrelado à ecologia, como eu falei, ele sempre andou junto com o pessoal do surf né? Preservação das praias, do meio ambiente [...] O nego ta brigando por petróleo e a próxima briga vai ser pelo o quê? Pela água, a água um dia vai acabar e as pessoas vão querer de alguma forma, ter essa água e o Brasil vai sofrer com isso, pode ter certeza, e o reggae já está falando isso, já está falando já tem um tempo, e assim como está falando nisso, está falando das praias, da poluição, que são coisas que muita gente passa batido né? (Jovem 01) Assim como no funk e no hip hop, o reggae faz uma denúncia da realidade social. Os integrantes das bandas, em sua maioria, vivem um contexto social bastante complexo e procuram retratá-lo em suas músicas. É um movimento muito legítimo, porque afinal de contas a maioria dos integrantes das bandas de reggae são da periferia, são pessoas pobres, [...] é média baixa a classe, né? a grande maioria, são pessoas que vivem aquela realidade que cantam né? E tão lá no dia-a-dia, convivem com a violência do morro, do tráfico de drogas, né? da discriminação, do racismo, então, eles sentem isso na pele realmente (Jovem 01). Além das temáticas que estão presentes nas músicas, o reggae possui outras características que demarcam o ritmo. Normalmente é representado pelas cores verde, amarelo, vermelho e preto. O verde representa a riqueza das matas, se eu não me engano, da Etiópia, o amarelo é a riqueza mineral né? O ouro que foi explorado e o pessoal rancou lá das terras lá da África, o preto é a cor da população e o vermelho é o sangue derramado nessa luta né? Contra a escravidão [...] essa coisa toda que a gente já sabe da história. Então, todo mundo que bate os olhos nessas cores juntas fala: “olha o reggae”, né? É um elemento muito forte e característico do reggae, isso está presente em tocas, em camisas, tem um elemento pra diferenciar também que é o cabelo rastafari, que também é um elemento da cultura afro, que ta associado ao reggae, que é uma coisa natural (Jovem 01). O reggae tem se expandido aqui no Estado. Atualmente existem cadastradas 25 bandas de reggae. Dessas 25 eu diria que, no mínimo, 15 tem uma qualidade pra tocar em qualquer rádio no Brasil, as outras não têm porque não são maduras o suficiente, ainda estão começando, são novos projetos, e vão ter daqui a um ano, dois anos, entendeu, se tiver continuidade o trabalho vai alcançar esse nível também (Jovem 01). Pode-se verificar que o reggae tem marcado presença em diversos meios. Procurando sempre levar uma mensagem que enfoque a realidade que se vive também. Enfatizam o meio ambiente, questões relacionadas a essa temática que acabam perpassando outras. Desse modo, a música e o reggae em si, acabam se transformando numa forma de se refletir a realidade. CAPÍTULO 3 O MUNICÍPIO DE VITÓRIA 3.1. VITÓRIA: CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E CULTURAL O município de Vitória é a capital do estado do Espírito Santo. Possui, atualmente, 313.312 habitantes distribuídos em 93 Km². Dessa população, 84.080 são jovens de 15-29 anos58. Vitória está em 1º lugar no ranking estadual com o maior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) que está em 0,856. Em sua organização urbana estão presentes ocupações irregulares nos morros, decorrentes de uma situação geral da urbanização iniciada na primeira metade do século XX devido à industrialização, quando o país e, especificamente, o estado deixa de ser exclusivamente agro-exportador e passa a contar com as indústrias também, fazendo com que existisse um fluxo migratório do campo para a cidade. A cidade, por sua vez, não comportava esse crescente número de pessoas, então a alternativa encontrada pela população foi recorrer às áreas mais altas. Vitória, como diversas cidades do país que possuem um contingente populacional expressivo, abriga alguns problemas, um deles é o crescente aumento da violência. Entre os jovens, segundo o Mapa da Violência III da Unesco (2002), as maiores causas das mortes são as externas, dentre eles os homicídios, com cerca de 70%. Esse mapa identificou Vitória como a segunda capital com o maior índice de homicídios em 2000. Segundo dados da Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SEMSU), o ano de 2004 registrou um dos maiores índices de mortes por homicídios no município de Vitória. Esse índice foi liderado por jovens de 15 a 24 anos, seguido pela faixa de 25 a 34 anos, sendo a maioria do sexo masculino, conforme tabela abaixo: 58 Dados do IBGE projeção para 2006. TABELA 1 Mortalidade por homicídio segundo sexo e idade no município de Vitória (2004) Faixa Etária < 1 Ano 1-4 Anos 5-14 Anos 15-24 Anos 25-34 Anos 35-44 Anos 45-54 Anos 55-64 Anos > 65 Anos Total Masculino 0 0 3 60 57 25 7 4 0 156 Feminino 0 0 2 7 2 2 0 0 0 13 Total 0 0 5 67 59 27 7 4 0 169 Fonte: SEMSU/DAI/VE-Sistema de Informações Sobre Mortalidade A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SEMSU) realizou uma pesquisa utilizando dados da Polícia Civil procurando detectar os índices de homicídios por causa conhecida, ficando da seguinte forma: GRÁFICO 1 Homicídios por motivos conhecidos (2005) 4% 4% 13% 49% 13% 17% Entorpecentes Vingança Ação Policial Discussão Passional Vias de fato Fonte: SEMSU- PMV Alguns dados também mostram como está a situação escolar dos jovens de Vitória relacionado ao trabalho: TABELA 2 Condição de ocupação e freqüência escolar - Jovens de 15 a 24 anos (2000) Não trabalha Trabalha Procura Trabalho Total Freqüenta escola 18.779 11.021 6.552 36.352 Não freqüenta escola 5.004 14.236 4.844 24.084 Total 23.783 25.257 11.396 60.436 Fonte: IBGE - Microdados censo 2000 Conforme a tabela acima, o desemprego também atinge aos jovens, tendo um índice bastante expressivo. Esses jovens que trabalham podem ser classificados de acordo com a atividade desenvolvida: TABELA 3 Jovens de 15-24 anos no mercado de trabalho segundo atividade (2000) Atividade Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal Pesca Indústrias extrativas Indústrias de transformação Produção e distribuição de eletricidade, gás e água Construção Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos Alojamento e alimentação Transporte, armazenagem e comunicações Intermediação financeira Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas Administração pública, defesa e seguridade social Educação Saúde e serviços sociais Outros serviços coletivos, sociais e pessoais Serviços domésticos Atividades mal especificadas Total Fonte: IBGE - Microdados censo 2000 Total de jovens 154 61 202 2.151 163 1.585 5.815 1.514 1.254 499 2.700 1.619 1.656 1.480 1.357 2.740 307 25.257 % 0,6 0,2 0,8 8,5 0,6 6,3 23,0 6,0 5,0 2,0 10,7 6,4 6,6 5,9 5,4 10,9 1,2 100 De uma maneira geral, a população de Vitória, incluindo os jovens, pode ser analisada conforme a escolaridade. Segundo dados do IBGE do censo de 2000, a população é assim estratificada: TABELA 4 Escolaridade da População de Vitória (2000) Faixa Etária Não sabe ler e escrever Sabe ler e escrever com menos de 4 anos de estudo Sabe ler e escrever com alfabetização de adultos Analfabetos e alfabetizados com menos de 4 anos de estudo Total da população de 15 anos e mais 15 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos 60 a 64 anos 65 anos e mais 204 575 - 779 17.640 456 1.556 - 2.013 42.496 1.630 3.630 11 5.271 70.150 3.191 5.192 43 8.427 64.690 853 1.239 22 2.114 8.036 2.753 3.787 55 6.596 18.108 9.087 15.979 131 25.200 221.030 Total Fonte: IBGE - Microdados censo 2000 Como se pode perceber, problemas como esses demandam por políticas públicas. Com relação à população jovem, o fato não é diferente. Essa juventude, em determinados períodos da história do país, esteve presente por meio de manifestações e protestos. Buscando demarcar sua identidade, seja através dos movimentos sociais ou culturais. Em Vitória, no mês de julho de 2005 ocorreu um importante movimento contra o aumento das passagens de ônibus. Estudantes da UFES e CEFETES lideraram o movimento contra o ilegal aumento da tarifa. Mesmo havendo uma lei que impedia o aumento do preço da passagem mais de uma vez em um só ano, a Ceturb estava fixa na idéia do aumento. Os estudantes reivindicaram, porém foram surpreendidos pela polícia que tentou coibir o movimento com diversos artifícios, como bombas de efeito moral e balas de borracha, que feriu um estudante e o deixou com graves ferimentos nas costas. O desfecho do movimento ocorreu mais tarde. Mas isso não se deu de forma rápida e pacífica, foi através de muita discussão com o governo que a Ceturb, conseguindo incentivos fiscais, a construção de novos terminais e da reforma dos terminais antigos, aceitou as reivindicações propostas pelos estudantes59. Porém, mesmo diante de tal jogo político, pode-se perceber que a juventude procurou se mobilizar para reivindicar seus direitos e de modo geral as manifestações atingiram o objetivo que era o não aumento das passagens. No âmbito cultural, a juventude também tem dado suas contribuições. Em Vitória, existem diversas bandas e grupos que se reúnem mediante afinidade pelo gênero, habilidade, como forma de socialização, contestação e protesto ou por divertimento. De acordo com a Gerência de Promoção Social da Juventude, existem bandas e grupos de variados gêneros musicais: funk, rock, reggae, forró, rap, pagode e percussão. Além do estilo musical podem ser encontrados jovens que desenvolvem atividades ligadas às artes plásticas (graffiti), a dança (break, dança de rua), artes circenses, entre outros. A tabela apresenta uma sistematização do número de jovens envolvidos em grupos culturais de funk, rap, reggae e rock'n roll que procuraram a Gerência de Promoção Social da Juventude: 59 A Ceturb aumentou a passagem intramunicipal de R$1,60 para R$1,70 e diminuiu a intermunicipal de R$1,80 para R$1,70, portanto a empresa só teve ganhos com a negociação feita com o governo e ainda conteve as manifestações juvenis. TABELA 5 Nº. de jovens inseridos em movimentos culturais ligados à música Estilo Musical Número de jovens identificados Funk 40 Rap 45 Reggae 40 Rock'n roll 10 Esses jovens se dividem pela cidade. Às vezes se torna difícil demarcar o bairro de origem de determinado grupo, pois seus integrantes nem sempre são do mesmo local/bairro. Mediante esse contexto é que abordaremos a visão desses grupos de jovens envolvidos com os movimentos culturais ligados à música e dos gestores que participaram da implementação dos espaços de discussão de política de juventude na prefeitura de Vitória. 3.2. JUVENTUDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CULTURA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA 3.2.1 SUBCOORDENADORIA DE VALORIZAÇÃO DA JUVENTUDE (2000/2004) No que se refere à política pública, a primeira ação articulada para Juventude em Vitória surgiu em 2002. Foi criada a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude60, sendo uma das primeiras iniciativas do país para atender à juventude. 60 O nome Subcoordenadoria de Valorização da Juventude foi substituído algumas vezes ao longo do texto por Secretaria, pois o gestor 01 alega que a Subcoordenadoria tinha status de Secretaria, fazendo despachos diretos com o prefeito. Já havia o projeto Agente Jovem do Governo Federal desde 1999, com inicialmente 100 jovens. Porém, esse projeto não foi incorporado pela Subcoordenadoria de Valorização da Juventude que era ligada diretamente ao gabinete, ficando a cargo da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS). A Subcoordenadoria fazia parte de um projeto político da gestão pública de Vitória de 2000/2004 que era liderado pelo PSDB. Essa iniciativa tinha o objetivo de estruturar uma política de juventude que integrasse as diversas ações que já eram realizadas para o público de 18 a 30 anos, e também para elaborar projetos que possibilitassem o acesso à educação, à justiça, à saúde, ao trabalho e à cidadania, encontrando na juventude suas demandas. O NEJUP realizou uma pesquisa onde foi detectado que o objetivo dessa Subcoordenadoria era de fazer ações para a juventude de acordo com a sua demanda. Para conhecer as demandas da juventude, foi encomendada pelo município uma pesquisa qualitativa que foi realizada pelo Instituto Futura. Essa pesquisa constatou que a juventude se encontrava distante das questões políticas e não se via como segmento organizado.61 A Subcoordenadoria teve como público alvo, segundo o gestor 01: A faixa etária de 18 a 30 anos. Por que de 18 a 30anos? [...] Primeiro, porque na Secretaria de Ação Social nossa eles têm trabalhos que eles fazem, inclusive com o agente Jovem, que é um programa do governo federal que trabalha com jovens até os 17 anos e 11 meses [...] você trabalha com jovem até 17 anos e 11 meses, aí com 17 anos e 11 meses você diz pra ele “ó até logo, tchau!”, quer dizer se ele estava na marginalidade e ele tinha ali como se integrar, aí quando chega aos 17 anos e 11 meses, ele fala “pô legal os cara adoçaram minha boca e agora me deixaram de novo”, e ele acaba voltando pra marginalidade. [...] Quer dizer a secretaria de juventude tem que pegar esse cara a partir de 17 anos e 11 meses, ou seja, 18 anos e tem que se bolar alguma coisa aí para ter uma continuidade. Bom, é, por conta disso. A gente resolveu pegar a partir dos dezoito anos, e por que até 30? Primeiro por aquela razão de que nos partidos políticos, os jovens até 30 anos ainda estão discutindo política de juventude, então espera-se que, se você quer pegar um 61 Idéia retirada do texto apresentado no XXV Congresso Latino Americano de Sociologia (ALAS) jovem com 18 anos e fazer com que ele vá se aprimorando, né. Você espera que ele chega aos 30 anos já conscientizado politicamente e, portanto, participando da vida política da cidade,[...] Essa Subcoordenadoria elaborou alguns projetos como: o Terra Jovem, a Comissão da Juventude, o Juventude em Debate, e o Juventude Acontece em Vitória 62. O Terra Jovem possuía como objetivo proporcionar, por intermédio da música, conhecimentos que possibilitasse à juventude - moradora das áreas do Projeto Terra - construir e exercitar sua cidadania, além de estimular a manifestação da sua criatividade artística. A Comissão da Juventude tinha o objetivo de ser um espaço em que os jovens apresentariam, discutiriam e votariam projetos de interesse da juventude da Cidade, a serem encaminhados às secretarias municipais. Teve caráter consultivo. O Juventude em Debate pretendia proporcionar ao jovem oportunidades de participar como agente transformador da realidade de Vitória colaborando nas ações da Prefeitura. Visava promover a discussão de temas atuais pertinentes às Políticas Públicas para Juventude, nas instituições de ensino das redes pública e privada do município. O Juventude Acontece em Vitória visava apoiar e divulgar atividades culturais, esportivas, políticas ou sociais, desenvolvidas pela ou para a juventude do município de Vitória, com o intuito de aproximar os jovens da Capital, a fim de entender seus gostos e demandas para melhor atendê-los. Existia também o Câmara Jovem, que tinha o objetivo de discutir com a juventude da capital sobre as suas demandas. Possuía caráter deliberativo. Este projeto foi um dos poucos que realmente chegou a ser instituído pela Subcoordenadoria, no entanto, ele não aparece como ação, pois segundo o gestor 01, esse projeto fracassou. No entanto, essas políticas, que em sua maioria não foram implantadas, não fazem parte do objetivo da Subcoordenadoria, o gestor 01 deixa isso muito claro. 62 Ver mais detalhes em: www.vitoria.es.gov.br/juventude/juv_historia.htm. O Luiz Paulo disse “olha nós vamos criar uma secretaria mas a finalidade não pode ser como a gente diz ‘fim’ ”, ela não foi criada prá fazer ações, ela foi criada pra buscar na juventude as demandas e pra levar pra juventude essas ações que são feitas na prefeitura como uma coisa integrada e única. Para se desenvolver o trabalho na Subcoordenadoria, o então prefeito destinou R$80.000,00 por ano para essa finalidade. Esse orçamento ficou aprovado conforme lei municipal através do Plano Plurianual até 2005 (PPA). O PPA é definido durante o primeiro ano de mandato de uma administração e começa a valer no ano seguinte e vigora até o primeiro ano do mandato do próximo prefeito eleito. Assim, é no PPA que se define os objetivos gerais da administração, abordando a realidade concreta do município, as metas de ação que vão aplicar esses objetivos à realidade, e as despesas que se pretende fazer para a concretização do plano63. Esse orçamento representava, naquele período, cerca de 0,0025% do orçamento total do município que era na base de R$342.000.000,00, segundo o gestor 01. Portanto, esse orçamento não representava quase nada dos gastos públicos com a juventude. O gestor 01 explica o que era feito com restrito orçamento. Primeiro a gente viu ao longo do tempo que não tem necessidade. Por exemplo, o ano passado desses 80 mil nós não usamos quase nada. Porque os eventos todos que a gente faz aqui, as ações que são desenvolvidas aqui são por exemplo: debates nas escolas, você não gasta dinheiro [...] o nosso papel acaba sendo muito de articulação mesmo e aí você não precisa gastar muito dinheiro. Nós gastamos com o Camburi Fest Gospel, vocês já viram? Acontece lá na praia de Camburi, então lá tem 30 mil jovens. Esse é um evento que já há três anos a secretaria patrocina, isso custa quanto? Uns 10 mil, vê que a gente quase não gasta. Esse fator do pouco orçamento não interferia no trabalho realizado pela equipe porque, segundo o gestor 01, a Subcoordenadoria desenvolvia atividades “meio”. Portanto, ela não realizava atividades diretamente com a população, sendo assim tinha período que o orçamento até sobrava. 63 Cartilha da Prefeitura Municipal de Vitória – Orçamento Participativo 2006 – Uma Prática Democrática. A Subcoordenadoria de Valorização da Juventude existiu entre os anos 2002 e 2004. Fazia parte da proposta política do PSDB que girava em torno da questão cultural e de lazer. 3.2.2 - GERÊNCIA DE RELAÇÕES COM A JUVENTUDE (2004/2008) Com o fim do mandato do PSDB, a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude foi extinta, surgindo em seu lugar, em 2005, no governo do PT a Gerência de Relações com a Juventude que faz parte da Secretaria de Coordenação Política (SECOP), e a Gerência de Promoção Social da Juventude. A Gerência de Relações com a Juventude (GRJ) é muito parecida com a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude da gestão 2000/2004, podendo até mesmo representar a continuidade da política exercida na gestão 2000/2004. Já que o papel da GRJ é articular políticas, então o gestor 03 nos mostra como está a situação do conselho de juventude no Município de Vitória. Nós estamos em fase de maturação. Temos que fazer algumas conversas porque temos que ver como vão funcionar os conselhos junto do congresso. Aí é um outro problema porque [...] eu não acho bacana você ter o congresso da juventude, o conselho municipal da juventude, a conferência municipal da juventude... O congresso da juventude decide o Orçamento Participativo64 (OP) da juventude e a conferência municipal da juventude vai decidir o que? A gente vai fazer conferência para discutir, para debater, para educar a juventude? Vocês estão entendendo? Ou essa conferência da juventude também vai decidir como vai ser gasto o dinheiro do OP? Você tem de tomar decisão. Não adianta você ter muitas esferas de discussão se não você perde a finalidade, as finalidades, as atribuições se misturam. Então 64 Orçamento participativo pode ser conceituado como força inicial de transformação social, uma instituição democrática e uma instituição de elaboração de políticas públicas (WAMPLER, B. Orçamento Participativo: uma explicação para as amplas variações nos resultados. In: ARVITZER, L e NAVARRO, Z (org). A inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, p.61-89, 2003). Em Vitória, a discussão do Orçamento Participativo segue alguns passos: assembléia de bairro e assembléias setoriais, seminários regionais de capacitação. Congresso da cidade e Conselho do Orçamento Participativo (Cartilha da Prefeitura Municipal de Vitória – Orçamento Participativo 2006 – Uma Prática Democrática) tem que tomar uma definição sobre isso. Então é o quê? Conferência, congresso, conselho65? Você vai ter que dar atribuição para cada um desses espaços. O que se pode perceber na fala do gestor 03 é que se torna importante discutir e entender qual seria o melhor espaço de participação, o que teria maior capacidade de atender as demandas da juventude e principalmente, qual se adequaria melhor as realidades do município de Vitória. A Gerência de Relações com a Juventude (GRS) também tem propostas de alguns projetos destinados à juventude, apesar de não ser uma atribuição específica dessa gerência, como afirmou o gestor 03 da PMV. Se você for pegar o organograma da Prefeitura, as atribuições com a nova reforma administrativa, essa gerência não tem essa finalidade. Nós fizemos, pelo fato de que, quando foi apresentado o OP da Juventude (Vitória é hoje, a única cidade do Brasil que separa 3% do orçamento de investimentos da administração para políticas públicas para Juventude). Nós só tínhamos, se não me engano, o orçamento na faixa de 146 milhões, 3% aí, vamos arredondar, vai para 4 milhões e alguma coisa, nós só tínhamos 600 e poucos mil onerados pra utilizar esse orçamento. Nós sentimos necessidade de trabalhar algumas idéias para utilizar esse recurso, se não ficaria muito feio pra cidade, né, a gente tem um recurso que não é utilizado. Então quer dizer, a gente criou projetos para utilizar esses recursos que estavam disponíveis. Então, por isso nós temos projetos para cidade, relacionados, obviamente, à juventude. O entrevistado enumerou alguns projetos que estavam desenvolvendo em interface com outras secretarias como o "No rock", o “Funk legal” entre outros. Da Gerência existem os projetos “rock na garagem” e o “cartão jovem”. [...] A idéia do rock na garagem é um espaço público que a prefeitura vai estabelecer para as bandas estarem sábados e domingos de 2 as 10. As bandas de garagem 65 Conselhos são espaços decisórios de partilha de poder entre atores governamentais e sociais coletivos. São espaços de discussão coletiva, explicitação de interesses e negociação. (TEIXEIRA, E.C. Conselhos de políticas públicas: efetivamente uma nova institucionalidade participativa?. In: CARVALHO, M.C.A.A; TEIXEIRA, A.C. (org). Conselhos Gestores de políticas públicas. São Paulo: Polis, 2000.) vão fazer seu cadastro e vão tocar para apresentar seu trabalho e, de certa forma, a gente vai criando um espaço para o jovem na cidade.[...] O cartão jovem [...] é uma remuneração mensal para um grupo de 1000 jovens durante um ano para ele utilizar em eventos esportivos e culturais (Gestor 03). Além desses projetos tem ainda o Câmara Jovem que é um projeto muito parecido com o desenvolvido pela Subcoordenadoria da gestão 2000/2004. A câmara jovem, espaço, provavelmente direcionado aos estudantes de escolas públicas. A gente entende que é uma idéia de consciência política, de deixar a gurizada participar, com simulações de eleições, projetos e propostas. Junto com a Secretaria Municipal de Cidadania estamos trabalhando a confecção de algumas cartilhas temáticas para serem distribuídas nas escolas sobre os diversos temas, são cartilhas por eixos temáticos, sendo direcionados para juventude (Gestor 03). Esses projetos: o "No rock", o “Funk legal”, o “rock na garagem” e o “cartão jovem” ainda não foram concretizados em decorrência da espera pela liberação dos recursos. O que a gente conseguiu fazer, que não depende de dinheiro, foi a Câmara técnica de políticas públicas para juventude do município. O que é, justamente, fazer uma integração entre todos os gestores de políticas públicas para juventude da administração. O momento que a gente vai conversar, discutir, encaminhar. Isso a gente conseguiu fazer. É importante porque você tem que assimilar que [...] juventude é um tema que faz interface com várias secretarias, então tem que ter transversalidade e tendo transversalidade, dá oportunidade dos outros participarem também das decisões, então a gente conseguiu caminhar muito bem. (Gestor 03). É importante ressaltar também que essa gerência não tem o objetivo de implementar projetos, como o gestor 03 afirmou acima. É uma gerência com funções “meio” e não “fim”, assim como a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude da gestão 2000/2004. 3.2.3 - GERÊNCIA DE PROMOÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE (2004/2008) Dentro SEMAS, foi criada a Gerência de Promoção Social da Juventude (GPSJ), no ano de 2005 juntamente com a GRJ (que fica dentro da SECOP) e faz parte do plano de governo do PT, proposto para a gestão 2004/2008. O público alvo da GPSJ, segundo o gestor 02, segue o Plano Nacional da Juventude [...] a gente está tentando seguir o Plano Nacional de Juventude (PNJ) de 15 a 29 anos. A gente tinha uma discussão de 15 a 24 anos, mas como o PNJ traz essa questão de 15 a 29 anos a gente está tentando não fugir a essa discussão, porque tudo daí pra frente, que vier de juventude vai ser de 15 a 29 anos. Então a gente não pode ficar fora do processo [...] Com relação ao orçamento destinado às políticas de juventude o gestor 02 diz ter sido uma vitória o aumento dos recursos. É uma grande conquista, a nossa maior conquista foi no orçamento, é como se a gente tivesses saído de um orçamento próprio de R$ 50 mil e fosse para R$500 mil. Então é uma conquista. Essa questão de fazer interlocução com a juventude, você abre muitas frentes, não tem jeito, aí você vai se legitimando e a juventude vai vindo e essa coisa vai acontecendo e você vai justificando, e todo mundo vai percebendo é como se fosse uma bola de neve [...] Essa verba vem pela ação social. Nós conseguimos até mais que os outros programas que tinham dotação específica. Mas isso tudo é uma conquista, não teve uma estratégia, foi a própria juventude vindo, ocupando esse espaço, marcando e fazendo uma pressão. Na GPSJ são desenvolvidos muitos projetos alguns de âmbito Federal, como o Agente Jovem que abrange jovens de 15 a 17 anos. Nesse ano de 2006 existem 600 Agentes Jovens. Mesmo sendo um projeto federal existem convênios com instituições da cidade para a disponibilização de material de consumo, espaço para realizar os grupos e pagamento de alguns instrutores e orientadores sociais. Essa gerência, de acordo com sua atribuição, também cria seus próprios programas. Um deles é o programa Odomodê que trabalha questões da igualdade racial, através de oficinas como a de percussão, de sexualidade, além de possuírem uma banda de percussão. Existe também o “Rede Jovem” que busca identificar e mobilizar os jovens em suas diversas atividades. Esse projeto é o responsável por identificar os segmentos e articulá-los. É o suporte para a implantação de um projeto futuro, o Centro de Referência da Juventude (CRJ). Seguindo o modelo de Santo André, a GPSJ está pretendendo implantar um CRJ em Vitória que dentre outras coisas, vai procurar ser um espaço que alie formação, convivência e mobilização social. Pretende respeitar e valorizar a diversidade das juventudes, sendo um espaço de expressão para os diversos coletivos juvenis, criando canais de participação e interlocução66. O projeto possui como objetivo geral ser um espaço privilegiado de práticas e representações onde os jovens poderão demarcar uma identidade juvenil e ser também um espaço de convivência, participação e formação. Para se alcançar esse objetivo, o CRJ pretende, dentre outras coisas, criar canais de participação e de interlocução com a juventude local; desenvolver ações de formação e capacitação profissional voltadas para inserção no mercado de trabalho e geração de renda e estimular o jovem a compreender melhor sua realidade social, criando possibilidades para que atue como sujeito na ressignificação desta realidade. O CRJ pretende trabalhar seguindo as linhas: educação e informação, comunicação e mídia, qualificação e inserção no mercado de trabalho, mobilização, informação e integração da Juventude, promoção da saúde, defesa de direitos, arte e cultura e ações de esporte e lazer. Segundo o gestor 02, todos esses projetos se desdobram. Cada projeto desse se desdobra muito, por exemplo, o Agente Jovem já tem quatro convênios de fortalecimento da arte, da cultura, convênio para que os jovens façam música, teatro, artes plásticas, por exemplo, a gente tenta se relacionar com 66 Projeto Centro de Referência para Juventude. O projeto pertence à Gerência de Juventude da Prefeitura Municipal de Vitória elaborado em março de 2006 por Camila Lopes Taquetti, Fabrícia Pavesi Helmer, Michela Ventorim, Luiz Carlos Duarte Melo e Rogério Araújo. segmentos da cidade, com hip hop, quarta reggae, agora a gente está tentando se aproximar. Então o Rede Jovem, também, faz uma série de interlocuções com a cidade [...]. Existem também projetos intersetoriais como o Cine Kbça desenvolvido pela GPSJJ/SEMAS e pela Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS) que visa levar um cineclube à juventude de Vitória que tem acesso limitado às grandes salas de cinema, além de estimular a reflexão e mobilizar os jovens para serem multiplicadores em suas comunidades. As sessões são realizadas em escolas públicas e são discutidos temas como sexualidade, igualdade racial, desigualdade social, violência urbana, criminalidade, entre outras temáticas 67 . A escolha pelos filmes se dá por meio de levantamentos ou por escolha própria dos monitores do Cine Kbça. Eles tentam levantar os filmes, eles vão às escolas e tentam levantar os filmes que os jovens querem, algumas vezes é legal é uma metodologia que eles perseguem. A outra proposta, eles mesmos propõem (Gestor 02). Um segundo projeto intersetorial é o “Graffitaids” desenvolvido pela Nação hip hop, pela GPSJ e pela coordenação Municipal de DST/Aids que promove discussões sobre prevenção de DST/Aids utilizando o graffiti como instrumento de expressão. O último Graffitaids ocorreu em dezembro de 2005, contou com diversas atividades: estandes da Associação Capixaba de Redução de Danos (ACARD), estandes com graffiti, apresentações musicais e artísticas, entre outros. 67 Idem. Fotografia 6 - Graffiti feito para o projeto Graffitaids Fonte: GPSJ Fotografia 7 - Apresentação de Mc's no projeto Graffitaids Fonte: GPSJ Fotografia 8 - Apresentação de alguns dos elementos do hip hop: Break e Graffiti Fonte: GPSJ Um terceiro projeto é o risco social em parceria com a SEMAS/SEMUS e Secretaria Municipal de Educação (SEME). É uma estratégia de Prevenção das DST/Aids, da violência e do Uso Indevido de Drogas entre Crianças, Adolescentes e Jovens. Esse projeto promove capacitações de multiplicadores para prevenção, encontros de sensibilização das lideranças comunitárias, entre outras ações para a juventude. Tem equipe multidisciplinar e trabalha com os princípios da intersetorialidade, parcerias, enfoque no sujeito/ator, protagonismo juvenil, participação democrática, respeito à diversidade e às diferenças, integração e descentralização das ações e inserção na realidade comunitária68. Por fim, existe também o comitê Vitória da Paz feito em parceria com a Secretaria de Segurança Urbana. Possui como objetivo proporcionar a criação de um movimento organizado com lideranças da comunidade, que, através de ações criativas e educativas, otimize seus próprios recursos, estabeleça parcerias, fortaleça sua capacidade de identificar problemas e direcionar respostas e afirme a cultura da paz e não-violência nos 8 bairros com maior índice de homicídios. Esses são alguns projetos dentre outros que existem com parceria entre as secretarias 69 . Para a realização desses projetos, a GPSJ conta com um orçamento que vem via Assistência Social. A estruturação dessas políticas se faz mediante esses orçamentos, conforme a tabela: TABELA 6 Orçamento destinado à realização dos projetos na GPSJ Projetos Orçamento (R$) Centro de Referência da Juventude 240 mil Núcleos Afros da Juventude (Odomodê) 80 mil Inclusão Social da Juventude (Agente Jovem, Cine Kbça, 500 mil Rede Jovem) 68 69 Idem Idem Além dos projetos e programas apresentado pela GPSJ, existem também outros projetos direcionados para juventude nas demais secretarias, que trabalham a intersetorialidade. O gestor 02 fala um pouco sobre a Secretaria de Cultura. [...] a cultura nesse ano já está começando a se aproximar da juventude no conjunto da cidade. A cultura no ano de 2005, ainda estava se apropriando disso, porque ela ficou muito presa em ver shows, eventos. Não tinha uma coisa mais vinculada às comunidades, de chegar a esses jovens lá na comunidade. E agora eu acho que ela já está se aproximando mais. Na Secretaria Municipal de Cultura (SEMC) também existem alguns projetos destinados à juventude, segundo o gestor 04, os projetos em que há, majoritariamente, jovens são: Orquestra Jovem e Festival de Música Jovem. A SEMC também desenvolve um projeto denominado Circuito Cultural que, mesmo não tendo como alvo único a juventude abrange uma grande parte dela. O Circuito Cultural promove cursos pra as comunidades de diferentes regiões administrativas. Um grande número de jovens procuram esses cursos. São cursos de produção e gestão cultural, oficina de vídeo, teatro, entre outros. Além das atividades desenvolvidas na Escola de Teatro e dança FAFI e de eventos que procuram integrar os grupos de pagode, funk, axé, hip hop, entre outros, que também acabam por englobar a juventude, apesar de não ser direcionado a esta. Tem um projeto chamado Circuito Cultural, onde tenta identificar os talentos da comunidade, tenta fazer uma reunião com a comunidade, ver o que a comunidade quer, depois ela tenta fazer um cadastro desses talentos, uma coisa importante, colocam eles para tocar, porque isso dá visibilidade. É projeto da secretaria de cultura, que eu acho bacana, 80% do público é a juventude (Gestor 02). Na Secretaria de Educação (SEME) há outros projetos como o Escola Aberta que promove ações nas áreas de educação, cultura, esporte e trabalho, visando transformar espaços públicos escolares em alternativas de aprendizagem, lazer e cidadania nos finais de semana; e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) que promove a escolarização de jovens e adultos. Há também o ProJovem que é um projeto federal mas é gerenciado pela SEME 70. Ele é destinado a jovens de 18 a 24 anos que ainda não completaram o ensino fundamental, tendo feito no mínimo até a 4ª série completa. Além de receberem escolarização, os jovens têm ainda uma profissionalização na área de metal mecânica, cultura, entre outras. O ProJovem possui mais de 700 jovens. Possui duas Estações Juventude: a primeira conta com núcleos nas Escolas Otacílio Lomba em Maruípe, Irmã Jacinta localizada no Romão e Adão Benezath em Goiabeiras; e a segunda tem seus núcleos no Sambão do Povo em Santo Antônio e na Escola Tancredo Neves, em São Pedro. Na Secretaria Municipal de Esportes (SEMESP) existe o projeto jogos comunitários que está levando esporte para a juventude nos bairros da periferia. Na Secretaria Municipal de Cidadania há o atendimento de vítimas de violência de gênero que compreende a faixa etária da juventude também. 3.2.4 - PODER PÚBLICO: CONCEPÇÕES E DESAFIOS Nas eleições de 2004, o Partido dos Trabalhadores (PT) passa a administrar o município de Vitória, ao passo que nacionalmente, o PT também está à frente do poder executivo com Luiz Inácio Lula da Silva. Em nível nacional foi devido a um conjunto de fatores sociais, políticos e econômicos que se começou a dar ênfase às políticas públicas direcionadas à população juvenil a partir da década de 90. Conforme elencado anteriormente, mediante um contexto de precarização do trabalho, globalização e exclusão social, a população jovem começou a participar de movimentos de contestação ao atual sistema imposto. Pode-se associar a esses fatores o aumento da violência entre os jovens, o que também influenciou esse processo. Portanto, pode-se verificar o início de uma atenção voltada à juventude. Assim, depois da existência de muitos anos de políticas públicas esparsas e não específicas para a juventude, em 2004, o tema juventude ganha destaque com o 70 Idem projeto de Lei Nº. 4530 para a criação do Plano Nacional da Juventude (PNJ). Discussões se processam acerca desse tema. Assim, gestam-se propostas do PT para a juventude relacionadas à educação, trabalho, saúde, desporto, cidadania, protagonismo e organização, produção cultural, desenvolvimento tecnológico, entre outros. Muitas discussões envolveram o projeto de lei. Em 2006 foram realizadas nos estados e em nível nacional, conferências para a avaliação do Projeto. Cada estado contou com a participação de um Deputado Federal. No caso do Espírito Santo a Deputada Rose de Freitas que teve a incumbência de organizar e mobilizar a juventude capixaba para as conferências71. Aconteceu uma conferência Estadual, mas não teve mobilização municipal. Foram eleitos delegados que representaram a juventude capixaba e suas aspirações em Brasília, para complementação do projeto de lei do Plano Nacional da Juventude. O gestor 02 diz um pouco de como foi a participação na elaboração do Plano Nacional de Juventude aqui no ES e ressalta a sua importância. Acho também que nos estados poderia ter uma mobilização maior, acho por exemplo, aqui no estado só tem uma deputada e ela não tem uma interlocução local. Isso pode ser uma característica do nosso estado, eu não tenho uma dimensão de como está se articulando nos outros estados, especificamente [...]. Aqui no estado eu acho que não houve um amplo debate, poucos segmentos tem noção dessa formatação do plano e tal, mas isso não inviabiliza não. Acho que, de qualquer forma, é um começo, é uma iniciativa importante inclusive. Porque, por exemplo, se o plano estabelece conselhos a nível federal, a nível estadual, a nível municipal [...], estabelece fundos, estabelece um estatuto, isso tudo tem uma repercussão depois, eu acho que a juventude pode mesmo entrando na participação atrasada ela pode decidir, pode ter espaço de decisão importante. O gestor 03 aborda a importância do Plano Nacional de Juventude também. 71 A conferência estadual ocorreu no CEFETES no dia 11 de março onde estivemos presentes e a conferência nacional que ocorreu nos dias 30 e 31 de março em Brasília onde Hingridy foi como delegada. [...] acho um avanço a secretaria nacional de juventude, o plano nacional da juventude (PNJ) que a gente discutiu em Brasília no final de março. Estão tocando pautas importantes, algumas inclusive que nós devemos copiar o que estão fazendo. O PNJ é um avanço, é um debate importante, não foi o que muitos esperavam, mas o debate foi feito. Isso é importante. O PNJ é considerado um avanço, pois traz questões relevantes de gênero, diferença racial, entre outros. No entanto, algumas críticas envolvem o contexto de precária articulação e de elaboração em que foi realizado o PNJ e a falta de envolvimentos dos Deputados Federais com tal projeto nos estados. Isso foi observado de um modo geral, em quase todos os estados representados, já que tivemos a oportunidade de estarmos presentes na conferência realizada em Brasília, em março de 2006. Nesse contexto de formulação de Políticas Públicas para Juventude, então, criou-se a Gerência de Promoção Social da Juventude (GPSJ), que é responsável pelo gerenciamento de programas federais destinados à juventude e construção de outras políticas sociais destinadas à mesma. Além da Gerência de Relações com a Juventude (GRJ) que fica encarregada da articulação e integração dos projetos na administração e que representa uma certa continuidade da Subcoordenadoria de Valorização da Juventude da gestão 2000/2004. Podem ser verificadas muitas diferenças entre a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude do governo PSDB e a Gerência de Relações com a Juventude (GRJ) e a Gerência de Promoção Social da Juventude (GPSJ) do PT. Essas diferenças se processam até mesmo pelas propostas dos partidos e pelas ações que foram engendradas. As ações da primeira enfocavam mais a questão do lazer e do conhecimento das demandas. Já a GPSJ, conseguiu demarcar seus projetos e áreas de atuação mais diversificadas, não enfocando apenas um ponto, mas tentando abranger ao máximo as demandas que a juventude apresentava. De acordo com o gestor 01 o objetivo da subcoordenadoria (gestão 2000/2004) era fixar a secretaria de juventude na cidade, pra que as pessoas possam entender que existe uma secretaria municipal para juventude, que é possível fazer políticas públicas para juventude [...] a idéia é que até o fim da gestão municipal a gente conseguisse fazer com que a secretaria de juventude fosse parte do processo já da cidade, e a gente entende que já conseguiu cumprir com esse papel. Sobre essa questão, o gestor 02 expõe um pouco sobre essa Secretaria de Juventude da Gestão 2000/2004. [...] ela não era uma secretaria institucionalmente instalada. Ela não tinha legalidade. Então quando veio a nova administração ela não estava no quadro da PMV. [...] Ela tinha algumas iniciativas de interlocução sim, talvez isso se perdeu no finalzinho, por questões políticas até que acabou perdendo um pouquinho, mais eles tiveram algumas iniciativas de manter uma interlocução, talvez um pouco assim, com um olhar muito mais de cooptação, talvez, isso fez uma diferenciação. A Subcoordenadoria de Valorização da Juventude foi substituída na gestão 2004/2008 por dois espaços responsáveis pelas políticas de juventude do município de Vitória: a GRJ e a GPSJ. Dentre esses dois espaços, o que mais parece com a política realizada na gestão anterior, representando aí um continuidade, é a GRJ. Isso pode ser observado quando o gestor 03 diz o objetivo da GRJ. A Gerência de Relações com a Juventude da Prefeitura Municipal de Vitória tem como prioridade fazer a interlocução com diversos setores da secretaria da esfera municipal, sobre o tema juventude e sobre os projetos e programas para juventude que a Prefeitura for implementar. Então, para não ser prolixo, nós somos aqueles que, teoricamente, fazem a integração dos projetos na administração. Tanto o gestor 01, quanto o gestor 03, dizem, respectivamente, que a Subcoordenadoria de Valorização da Juventude e a GRJ são espaços de política “meio”, ficando as ações, portanto, somente na articulação. No entanto, a gestão 2004/2008 teve a preocupação de criar um outro espaço capaz de formular e implementar política de juventude no município que é a GPSJ, que seria chamado de política “fim”. A GPSJ foi criada em 2005, tentando aí ser um canal de interlocução com essa juventude da capital. Porque o que que acontece, essa juventude não tinha muito essa interlocução com o poder público, o poder público automaticamente não tinha com a juventude. Então essa gerência, foi criada mais para tentar estabelecer esse canal e aí visualizar um pouco de quais seriam as demandas e formular algumas políticas para juventude (gestor 02). Mesmo apresentando algumas poucas semelhanças, a gestão 2000/2004 e a gestão 2004/2008, têm diferenças relevantes, em se tratando de política de juventude, como, por exemplo, a concepção de juventude que a equipe adota. Um fator que interfere na direção e na forma das ações é a concepção de juventude que os formuladores e gestores desses projetos têm. De acordo com Camacho (2003)72, "para pensar políticas públicas para juventude temos de saber que toda política ou ação voltada para juventude parte de uma concepção". O gestor 01, representante da Subcoordenadoria de Valorização da Juventude, aborda a concepção de juventude que permeou o trabalho deles e diz que foi através da pesquisa encomendada pelo Instituto Futura que ele chegou à presente conclusão: Eu vou te dar a definição que eles mesmos deram na pesquisa futura, que saiu como a frase que define a juventude de Vitória “eu quero rock’n roll e beijo na boca”. É isso, daí você pode tirar as conclusões que você quiser. A conclusão que eu tiro é o seguinte que, é o que eu falei no início, é uma juventude completamente perdida, apática, não sabe o que quer da vida, sem perspectiva de futuro, quanto mais “Vital” tiver na cidade melhor, quanto mais “rock” pra beija na boca tiver melhor [...] Juventude é a melhor fase da nossa vida, é a fase que você já não é mais criança, mas não é adulto. Que você ainda se apaixona, acredita no amor. Você fala ”vou encontrar a minha princesa encantada”, as mulheres “vou encontrar o meu príncipe encantado”, nós vamos casar, quero encontrar a pessoa que eu vou ficar o resto da minha vida. 72 Fala ministrada pela Profª Drª Luiza Mitiko Camacho, no 1º Seminário Temático realizado pelo NEJUP, em Vitória, 12 de Agosto de 2003. Local: Salão Rosa – UFES, intitulado: MOVIMENTO JUVENTUDE E EXPRESSÃO. A concepção adotada pela gestão 2000/2004 expressa as políticas realizadas no período, ela traduz o que a Subcoordenadoria achava relevante fazer naquele momento para a juventude da capital. Essa concepção de juventude parte do que Quiroga (2001) afirma ser uma concepção universal, homogênea e abstrata de juventude. Com relação à concepção de juventude apresentada pela gestão 2004/2008 é bem diferente da abordada pela gestão 2000/2004. Diferencia-se ainda entre a da equipe, respectivamente, do gestor 02 e do gestor 03. [...] juventude é um segmento social contextualizado no espaço, no tempo e deve ser considerado como sujeito de direitos [...] não existe uma juventude. A juventude tem uma diversidade, se caracteriza transversalmente por essa questão de raça, gênero, sexo, etnia [...] acaba tendo diversas juventudes no cenário [...] hoje a equipe, tem essa compreensão de que juventude é um sujeito de direitos, jovem não é problema, mas sim, é uma diversidade, ele tem umas características próprias, de se colocar, faz parte do processo. E aí eu acho que hoje a gente tem uma equipe muito legal de trabalho, isso faz uma diferença enorme no nosso departamento. (gestor 02). [...] juventude é uma faixa etária, não um estado de espírito, mas uma faixa que está em transição, com problemas dos mais diversos, sejam psicológicos, de inclusão na sociedade, na busca por emprego, da sua identificação social (gestor 03). O conceito de juventude abordado pelo gestor 02 tem relação com os conceitos apresentado por Spósito, Groppo, Camacho, entre outros autores que abordam a questão da pluralidade presente na juventude. Já o gestor 03 se aproxima do contexto expresso por Durston que qualifica a juventude pela faixa etária em que ela está inserida, significando uma transição para outro estado, que seria a vida adulta. Uma outra concepção que aparece é o do gestor 04. Juventude, é a faixa de idade entre 15 à 25 anos que traz consigo novas inovações sociais, Culturais e Políticas. Essa concepção também enfoca o que Quiroga (2001) diz ser a incorporação de uma visão puramente de etapas evolutivas. O gestor 01 após abordar a concepção de juventude, descreve as “políticas públicas” realizadas por eles. Para ficar melhor entendido vale voltar à concepção de política social adotada no capítulo 1, em que esta é entendida como uma ação que emerge do Estado e que vai além de qualquer projeto desenvolvido pela sociedade civil e pelo empresariado, sendo garantida por leis, constituída como direito e elaborada com a participação da população. O jovem vem até gente e diz “olha eu tenho esse projeto você nos apóia?” e agente dentro de uma política pré-estabelecida a gente apóia, claro que não é qualquer coisa. Tem cara que chega aqui e diz “nós temos um projeto aqui, nós queremos levar 30 estudantes para Curitiba, você banca o ônibus?”. Não isso não, a gente não entende isso como política pública [...] então, agora os caras do hip hop, ou os próprios evangélicos, que chegaram com uma demanda, eles são protagonistas. Eles querem fazer o Camburi Fest Gospel, eles chegam aqui com a demanda, a gente fala: ”poxa legal, isso é um política cultural para jovens e tal”, a gente ajuda (Gestor 01). Com esse relato é possível perceber que, o que a Subcoordenadoria realizava não era política pública em seu sentido concreto. Eram medidas esparsas e fragmentadas. Cada gestão faz referência à forma de participação que a própria gestão acredita, isso é observado quando o gestor 01 diz o motivo do fracasso do projeto Câmara Jovem. O “Câmara Jovem” faz parte dos poucos projetos que a Subcoordenadoria conseguiu implementar na sua gestão, como citado anteriormente. Ele era um projeto relevante, mas segundo o entrevistado, não deu certo devido à forma com que foi organizado. Ele era um projeto de caráter deliberativo em que a juventude tinha voz e isso, segundo o gestor 01, provocou confusões. Nós fizemos um projeto aqui chamado câmara jovem. Porque a idéia era essa, você ter representantes de todos os segmentos da juventude, de todas as regiões e tal [...] Foi um fracasso, um fiasco [...] Porque os caras como são líderes, os caras pô, agora eu estou lá, no conselho da juventude, no câmara jovem, não sei que, porque agora eu faço e aconteço, agora eu quero ser candidato a vereador, eu quero ser isso, quero ser aquilo, aí os caras começaram a quebrar pau entre eles [...]. Então não tem jeito, o que eu acho que pode ser feito é você ter um fórum, um conselho que seja consultivo e não deliberativo, quer dizer, é um conselho que, olha vamos nos reunir aqui as lideranças e o secretário diz “eu quero ouvir vocês”, mas quem toma a decisão sou eu, porque quem teve o mandato do prefeito sou eu, e quem tem o mandato do povo pra fazer alguma coisa é o prefeito. Então na democracia é isso, né, a população elegeu o Luiz Paulo pra durante quatro anos ele tomar conta dos rumos da cidade, e ele faz na medida do possível as discussões, mas ele sabe qual é o orçamento e ele sabe, ele tem as idéias dele do que ele acha que tem que ser feito em Vitória (Gestor 01). Essa forma com que o gestor 01 aborda a questão da participação está presente em outros trechos de sua fala. Não tem como. Bom, não tem como participar da construção [...] quem que eu poderia reunir pra discutir o que fazer? Até pode mais isso, sei lá, a gente ia ficar dois, três anos é parados aí pra discutir, discutindo, discutindo, porque esse negócio é complicado [...]. Não existe uma coisa assim, “atenção população está aberto o período de palpites para”, isso não acontece [...]. Eu também não posso, como agente público, sair dizendo "olha vocês aí, vamos fomentar, vocês agora serão protagonistas de uma ação assim, assim, assado”, e eles vão dizer “olha, estou feliz da vida, a prefeitura disse que eu sou protagonista”, entendeu. É a visão que eu tenho da coisa, eu não tenho como fomentar isso, eu tenho como respeitar. A concepção de participação se choca com a única demanda percebida pela gestão 2000/2004 como sendo legítima da juventude, que é o protagonismo. A única coisa que eu consigo sentir que eu poderia dizer é que existe, não seria uma demanda é uma necessidade talvez, de todo jovem independente do grupo que seja de ser protagonista, talvez o protagonismo seja a única coisa hoje que ligue essa juventude toda (Gestor 01). Porém, esse mesmo gestor, entende o protagonismo como sendo: [...] só um conceito. Não vejo como uma coisa que possa ser trabalhada. Eu diria o seguinte, que o protagonismo é uma coisa que deve ser respeitada, não trabalhar. Quer dizer, essa palavra protagonista vem do teatro. Você fala “quem são os protagonistas dessa peça?” Ou seja, quem são as pessoas que representam aquela peça, que desenvolvem aquela peça. Quando você fala que o jovem tem que ser protagonista das ações que são voltadas pra ele eu acho que isso é uma coisa, que nós como agentes públicos temos mais que respeitar do que fomentar. Contrastando com a gestão 2000/2004 que não achava possível a implementação de uma ação mais participativa, a gestão 2004/2008 tentou, desde o início, envolver a juventude. Como pode ser observado no levantamento feito para se conhecer a demanda da juventude. O gestor 02 explica como ele acha que deve ser um trabalho participativo com a juventude. A idéia é que você pode fazer uma interlocução, mas não tentando cooptar, tentando estimular, empoderar, buscando estimular a autonomia desses jovens, agora, com certeza você tem que trabalhar isso tudo ao mesmo tempo. Assim, nós ao mesmo tempo que tentamos criar canais de participação, empoderar esses jovens, nós também tentamos criar espaços de visibilidade para esses jovens [...].Eles não podem ser apenas usuários do serviço, eles têm que decidir (Gestor 02). Mesmo com esses projetos elencados, alguns jovens ainda não têm acesso a eles. Alguns não têm conhecimento dos projetos, o que pode ser justificado pelo fato de das políticas de Juventude não estarem completamente estruturadas no sentido da abrangência que se pretende atingir. Em experiência como estagiária da GPSJ, pode-se perceber que o corpo técnico das secretarias, da gestão 2004/2008, se interagem no interior de cada uma. Os projetos feitos intersetorialmente procuram estimular a interação no que se refere à coleta de dados, formulação do projeto e avaliação da ação. Isso pôde ser percebido também na fala do gestor 03, quando ele coloca a criação da câmara técnica, que são representantes de várias secretarias discutindo ações para juventude. [...] a câmara técnica que faz interfaces, foi criada para fazer o debate interno das políticas é composto de quase 40 pessoas. Então, acho que estamos caminhando bem, para caminharmos melhor é o desfeche do orçamento, a SEMAS tem 240 mil para terminar o Centro de Referência para Juventude, a gente com recurso para fazer o resto que foi proposto no OP da Juventude, a gente vai bem [...] Os recursos humanos das secretarias e gerências são diversificados. Na GPSJ, existem dois cargos comissionados; quatro efetivos sendo uma assistente social, uma coordenadora de ações do protagonismo juvenil, um coordenador do CRJ e uma assistente administrativa; dois contratados da área de psicologia; e nove estagiários sendo seis de serviço social, um de psicologia, um de economia e um de ciências sociais. Já na GRJ existem 2 cargos comissionados, sendo um de Gerente e o outro de Assessor de Capacitação e Desenvolvimento e três estagiários. Como verificado, a maior parte do corpo técnico possui contrato temporário (incluindo estagiários). Essa especificidade das relações de trabalho, às vezes prejudica a continuidade dos projetos, pois finalizando um contrato, um novo deve ser firmado para dar continuidade às ações. Essa descontinuidade pode ocasionar perda de foco, de articulação. Isso pode ser caracterizado nas políticas de governo, ou seja, aquelas que permanecem em uma administração pública, mas que, não são garantidas por lei, representando uma descontinuidade. Ao contrário das políticas de estado, em que independente do governo, ela tem legitimidade jurídica capaz de amparar sua continuidade. As políticas de Estado sustentam-se num consenso que ultrapassa os governos73, são as chamadas políticas públicas de ações afirmativas. As políticas de governo têm perpassado a realidade brasileira na maioria das gestões. Esse fato pode acontecer devido a vários fatores, dentre eles, às ideologias partidárias. 73 Cruz, C.H.B. A gestão estratégica do conhecimento. Folha de São Paulo - Tendências e Debates-8/5/2003. Na Subcoordenadoria de Valorização da Juventude (gestão 200/2004) existiam somente cargos comissionados, pois segundo o gestor 01, isso evitaria muita burocracia, o que explica também porque Subcoordenadoria e não Secretaria de Juventude. Quando foi feita a lei na câmara [...] pra você criar uma coordenadoria, você teria que fazer, a gente teria que ter um plano de cargos e salários, a gente teria que ter o remanejamento de funcionários efetivos da prefeitura, os concursados, pra atuar naquela coordenadoria ou secretaria, como prefeito não queria fazer isso, ele queria só ter cargos comissionados, que são onze cargos comissionados, ele falou “não, só quero ter cargo comissionado”, até pra gente ter uma agilidade maior, no trânsito, se quiser depois fundir isso com alguma coisa, fica um negócio mais fácil. Com relação ao levantamento das demandas da juventude cada gestão teve uma metodologia diferenciada. Na gestão 2000/2004, foi feita uma pesquisa pelo Instituto Futura, ele explica que foi difícil identificar a demanda da juventude de Vitória. Segundo o gestor 01, Não tem como te dizer “olha a demanda da juventude de Vitória é essa”, porque como eu te falei, a própria juventude de Vitória não se enxerga como um segmento da sociedade [...] Foi até difícil identificar nesses jovens que demandas específicas a gente teria neles, porque as demandas que eles colocaram eram demandas de qualquer cidadão, sei lá, é a questão do desemprego, querendo um transporte melhor, querendo segurança, querendo saúde. Isso não é uma coisa específica dos jovens, qualquer cidadão quer isso tudo. Já o gestor 02 da gestão 2004/2008 diz que as demandas foram tiradas do primeiro OP de juventude realizado na cidade. O OP da Juventude foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Planejamento que teve início em julho de 2005. Em 2005, a Prefeitura passou a disponibilizar 3% do orçamento para o segmento jovem, sendo o OP uma forma de se discutir como seria gasto esse dinheiro. Os jovens teriam contato com os instrumentos de planejamento como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) 74. Os entrevistados 2 e 3 dizem que o OP é discutido em Congressos da Juventude, onde é votado como vai ser utilizado o recurso e que secretaria vai ficar responsável por tal gerenciamento. Por exemplo, um programa que tem interface com a saúde. O recurso não vai para a saúde. A saúde vai executar esse recurso, só que a gente monta uma equipe com outros setores para encaminhar essa idéia. Essa é a metodologia (gestor 03). O orçamento da juventude identificou um pouco a demanda da juventude por formação profissional, por formação profissional mais consistente, eles querem formação não do tipo, rápida, alguma coisa que dê subsídio. [...] Acho que uma política também para os jovens de 15 a 24 anos não pode estar desagregada de forma alguma à forma profissional. Você tem que ter olhar da participação, da interlocução, eles não podem ser apenas usuários do serviço, eles têm que decidir, mas geralmente nunca está desagregada da formação profissional, a demanda de formação é muito grande [...] outra questão que apareceu muito em termos de demanda da juventude foi a ampliação de espaços de lazer, acesso a cultura, espaços culturais, como teatro, acho que isso foi o que mais compareceu como demanda da juventude [...] Até achei que não apareceu com tanta freqüência a questão da violência [...] talvez a violência esteja embutida neste processo, mas ela não apareceu, assim, claramente, isso foi uma questão que eu percebi (gestor 02). Uma questão importante, que representa a diferenciação entre as duas gestões é o orçamento destinado à juventude. A Prefeitura Municipal de Vitória, que tinha um orçamento de R$ 80.000, na gestão 2000/2004, segundo o gestor 1, passa a contar com um orçamento de R$ 500.000, na gestão 2004/2008, segundo o gestor 02. Assim, GPSJ possui um orçamento diferenciado, até mesmo porque possui muitos projetos em desenvolvimento por se tratar de uma Gerência de "política fim". Portanto, mediante essa análise, fica muito clara a diferenciação entre as visões dos quatro Gestores, tanto de concepções, quanto de trabalho desenvolvido. No entanto, 74 Ver mais em www.vitoria.es.gov.br. há uma semelhança entre a Subcoordenadoria da gestão 2000/2004 e a GRJ da gestão 2004/2008, no que tange ao enfoque dados nos projetos e nos objetivos a serem cumpridos. Dessa forma, pode-se dizer que surgiram dois espaços para se discutir política de juventude na PMV que é a GPSJ e a GRJ, porém apenas um espaço inovou no que se refere ao objetivo e a própria forma de atuação, se comparada à gestão anterior. Para melhor compreensão seguiremos tratando as visões da própria juventude da capital sobre política no município, cultura, demanda, entre outros aspectos. 3.2.5 - JUVENTUDE: CONCEPÇÕES E DESAFIOS Mediante entrevistas com os jovens inseridos em movimentos musicais pôde-se detectar alguns problemas gerais da juventude brasileira. Ricas foram as análises e experiências apresentadas pelos jovens, a qual tentaremos reproduzir aqui. Um dos problemas identificado por vários jovens foi a violência. Um dos entrevistados ao ser perguntado sobre os principais problemas da juventude hoje, identifica a violência. Ele analisa o tema da seguinte forma: Eu acho que a culpa disso é a elite, a elite intelectual, que são os empresários, os políticos, os donos de grandes empresas, donos de mídia, porque eles têm, assim, antes do Brasil ser república eles tinham todo o formato de como o Brasil deveria ser, que no caso era todo voltado para a Europa, o sistema brasileiro é todo voltado ao sistema europeu e inclusive a gente já foi Estados Unidos no Brasil. Eu acho que essa exclusão geral, tanto na educação, cultura, lazer, saúde, saneamento básico. Isso aí é o que mais dificulta a inclusão social dos jovens, Por exemplo, no meu bairro, eu vejo pessoas, crianças de doze anos matando, vendendo droga, querendo derrubar o dono da boca para tomar o lugar dele. Eu sento e converso com eles para entender o que eles sentem, por que eles estão com aquela energia negativa junto com eles. É muito simples, exclusão social de tudo, de tudo. Até de ter um pai, uma mãe. De acordar de manhã e tomar um café, de comer um pão. Eu acho que isso aí dificulta muito, você chegar num gueto como esse e falar "vamos fazer uma orquestra de tambores", ou então "vamos fazer um documentário da vida de vocês", é muito difícil, eles vão olhar, assim, e vão rir, rir, porque eles não têm essa concepção de cultura, não têm (Jovem 07). Outro jovem identifica na mesma perspectiva do jovem 07, que a sociedade brasileira é desigual e fruto do capitalismo. "Pô" tem muita gente passando fome, que não tem onde morar, "pô" tipo assim, é um país capitalista, beneficia poucos, é uma frase que todo mundo sabe, beneficia poucos e prejudica muitos. Uma criança morrer de fome num país rico, tipo assim, que tem condições de plantar, quantas e quantas vezes mais que o número de pessoas, é revoltante [...]. É difícil falar, também não pode se justificar totalmente o Estado. Realmente é muito difícil administrar. Só no Brasil são mais ou menos 180 milhões de pessoas, é muita gente, é muito difícil administrar. Mas tipo, lógico, tem corrupção? Tem. Tem como melhorar a administração? Tem, mas é algo difícil também, muito difícil (Jovem 05). Um jovem exemplifica a relação entre violência, juventude e drogas vivenciada na periferia de São Paulo: Eu passei um tempo em São Paulo, por exemplo, e quem comanda o morro são moleques de 16,17 anos, você não acredita. Pega as buchas assim... e coloca tudo em cima da cama, na frente da mãe, separa tudo, assim. Assim, tipo, você está fazendo um som e nego passa, trepado e tudo moleque, que comanda assim. Essa coisa da exclusão social, né cara, a diferença mesmo, "pô" vê um cara mais arrumadinho na rua assim, já fala "playboy", "playboy". Rola mesmo esse negócio assim (Jovem 06). Já na periferia de Vitória, o Jovem 07 relata um acontecimento que retrata como a questão das drogas e da violência está presente na realidade da periferia se tornando um fato comum entre eles. Teve um que me ofereceu cocaína, assim, de uns 16 anos, assim. Estava com um papelote que tinha ganhado de um traficante do bairro. E por eu não usar ele achou estranho: "pô" você não usa? Eu não aceitei, falei que não usava [...]. Aí teve um outro rapaz que perguntou se eu já tinha atirado em alguém. Aí se você nunca atirou em ninguém, ou não anda armado você é "um comédia", um otário. Para um bairro chegar a esse ponto, eu acho que há uma máquina muito grande por trás, maquinado para que eles continuem naquela vida, sustentando a vida desses que estão aqui manipulando eles (Jovem 07). Um outro jovem analisa que o contexto social baseado no consumismo acaba provocando a situação de violência, relação com a prática de delitos e com as drogas: Esse lance de querer ter... por valores nessa sociedade, eu acredito que deve ter uma coisa, assim, maior...Porque, "pô" é errado roubar, é fora da lei, todo mundo sabe, mas a vontade dele ter, por exemplo, um tênis , cordão de prata, é maior que isso, entendeu? Tanto é que ele vai lá e rouba. Tanto é que para ele ter dinheiro, ele sabe que vender droga, é "pô" assim, ilegal, tanto é que tem polícia atrás dele, mas como ele vai ter dinheiro para conseguir o que ele quer? Vender droga! {...] Se você vê um cara com um tênis de uma marca boa, o cara, tipo, uma pessoa pobre, não tem dinheiro nem para comer direito, aí vê o cara com um tênis, ali assim, ele sabe que ele não pode ter, é uma distância enorme para ele poder comprar, isso estimula, incita a violência. "Pô", eu queria ter, como eu vou ter, como? (Jovem 05). Outro jovem analisa a mídia como um responsável pelo consumismo presente na sociedade capitalista: Eu acho que a mídia interfere, no lance de se consumir também. Por exemplo, a mídia coloca produtos que a maioria dos brasileiros nunca vai ter condições. A maioria nunca tem condições de comprar o que a mídia expõe. Desde criança até os últimos dias da vida a mídia tem aquele produto para vender, mostrar para você, as vezes você nem precisa daquilo, mas a mídia está ali dizendo que você precisa. Eu acho que isso atrapalha muito. Essa mídia errada. Eu acho que mídia é um setor público para ser usado pra comunidade, a favor da comunidade [...]. Ela se tornou um objeto de manipulação, por exemplo, uma propaganda de um carro de 50 mil reais, na mídia, um tênis de 400, 500 reais. Pra quem será que eles estão mostrando isso? Num país que a toda hora está mostrando São Paulo, Rio de Janeiro explodindo, Espírito Santo explodindo, aí eles continuam mostrando esse espírito de consumismo, porque não faz uma propaganda positiva, algo positivo (Jovem 07). A fala abaixo representa um sentimento dos jovens perante a sociedade do consumo: A gente não é mais humano, nós somos consumidores (Jovem 07). Pode-se notar, então, que os jovens entrevistados apresentam uma análise crítica da realidade na qual estão inseridos, essa conclusão pode ser inferida pelos depoimentos acima, bem como os demais que expressam aqui sua experiência de vida. O jovem enfoca a importância do conhecimento da realidade social e como a mídia pode ser um espaço de manipulação, mas também um canal de informação sobre a realidade: Eu acho essencial isso, assim, "pô", você estudar e saber, tipo assim, interpretar o que está acontecendo no mundo para não ser manipulado, porque a mídia manipula mesmo, tipo assim, ela esconde a realidade, assim tem até uns programas interessantes que fogem a essa regra, por exemplo tem o da, esqueci o nome dela..., a Regina Casé, ela mostra a periferia, mostra as condições, que nem aquele MC Marcinho, mostra... tipo, como é um show dele, como ele organiza, como ele está divulgando. Isso é legal, está mostrando a periferia, mas fora isso, parece que está tudo bem, mas não está tudo bem (Jovem 05). Dois jovens analisam a relação entre a inserção na prática de venda de drogas e sua relação com a família, na medida em que essa se torna também para a família uma forma de remuneração, de aquisição de renda: Por isso que as mães não falam nada, porque é o sustento da casa (Jovem 06). É uma forma de sustentar a casa também, já que a renda delas é menor, assim, por ser mulher também, e por ser difícil conseguir um emprego que remunere bem (Jovem 05). Dentro da realidade social analisada pelos jovens, a família surge como um dos desafios cotidianos das relações sociais concretas: O que eu tenho visto na minha comunidade mesmo, a maior necessidade é de uma família concreta, que não tem uma família, o que mais falta na periferia é família. A maioria não tem pai, não tem mãe, ou não conheceu. A estrutura familiar antes de tudo, o que está mais faltando (Jovem 07). Assim, as configurações familiares contemporâneas são percebidas na sua negatividade expressando a necessidade de um outro pensar sobre as relações familiares. Existem outras questões que os jovens expõem como fatos que ocorrem no dia a dia da periferia e que acabam se tornando um problema. Eles relatam a questão da ação dos policiais e da situação da segurança pública. Dando exemplo de outros estados, o Jovem 05 coloca sua opinião: Eu acho que tipo assim, [...]. Por exemplo, no Rio de Janeiro, São Paulo, a polícia é muito bem treinada assim, mas muitas pessoas aderem ao crime... tipo assim, eles vão, sobem o morro, fazem uma operação lá, mataram três pessoas. Mas quantas pessoas estão querendo entrar no mudo do crime? Lá, mataram três no dia, mas tem muito mais. A pessoa, é fato, ganha mais dinheiro no mundo do crime, ganha mais, bem mais, se você procura um emprego normal, legal, entre as normas constitucionais,[...] vai ganhar um salário mínimo, no crime não, você vai ganhar R$1000,00, R$1500,00 dependendo do que você fizer.[...] A polícia, em muitas regiões é boa, mas tem muita gente querendo, tem muita gente no crime, é muito difícil controlar,[...] ser polícia é difícil porque,[...] eles têm famílias, eles temem por isso. Os bandidos não, se eles morrerem, é claro que um vai sentir falta do outro assim, mas são substituíveis, porque lá é uma pessoa a mais que está atirando. [...]. Praticamente todo dia tem que subir para fazer uma operação, já o bandido não, [...] eles falavam que ficavam felizes "nossa consegui", mataram um policial, é difícil, falar de segurança pública é difícil, "pô", você pega o exemplo de São Paulo, semana passada, domingo, dia das mães, foram praticamente todas as cadeias que se rebelaram. Como que pode isso? Que segurança é essa, cara? Tipo assim, eles estão presos e eles conseguiram se comunicar para todo mundo fazer uma rebelião em massa (Jovem 05). Especificamente de Vitória, os jovens colocam como os policiais agem. Ao contrário da função que seria trazer segurança para a população, muitas vezes, os policiais fazem exatamente o contrário, segundo os jovens. Eu acho que os policiais [...] não têm um treinamento adequado para poder enfrentar os bandidos, porque realmente os bandidos são muito bem treinados e eles, assim, não tem nada para perder, no mundo do crime [...] Eu acho que essa violência que eles transmitem fora, eles pegam dentro do quartel, seus superiores, passam para eles [...]. Eles também são vítimas, infelizmente eles são vítimas, porque a segurança nacional é falida. Porque num país onde se usa o próprio exército, que é para lutar contra força exterior, coloca o exército para lutar contra os próprios brasileiros, eu acho que isso é muito triste para segurança nacional. Em Vitória, eu já vi policiais recebendo dinheiro de morros de Vitória, de traficantes para poder não prender os caras [...] Assim, você ver, em plena luz do dia um policial negociando com bandido, na frente assim de qualquer um (Jovem 07). Você está em sua casa e do nada vem polícia e começa um tiroteio, por isso que eu falo, a segurança pública não é eficaz, é uma coisa muito difícil de se controlar também, aí, "pô", como a pessoa vai se sentir segura se está lá na casa dela, está assistindo jogo de futebol e ai “Tuf Tuf” começa a atirar, todo mundo abaixa, tem medo de sair para rua, porque tem bandido, isso é segurança para a periferia? [...] Tem gente que tem mais medo de policial do que de bandido (Jovem 05). Na periferia, a polícia pode ser o herói ou o bandido, policial na periferia é aquele que sempre está matando os bandidos e até vira candidato a político e tal, a política dele é acabar com os bandidos do bairro. [...] As pessoas tem medo, mas se eles forem para lá, tipo assim, para fazer uma varredura, eles viram heróis, candidatamse a deputado estadual ou federal e eles ganham. Só que infelizmente se eles forem chegar na periferia como anjinho, como santo, até os bandidos matam, a própria comunidade, até jogam pedra na viatura. [...] Eu acho que se tanto a população e a polícia não se respeitar, há esse desequilíbrio (Jovem 07). O Jovem 07 enfoca a questão relacionando com a política: Se o ministério da justiça investir mesmo em segurança pública, investir mesmo, [...] não investem, o que eles fazem é tornar a polícia mais violenta, isso é investir? Deixar a polícia mais violenta. Se entrar um partido de direita no ano que vem vocês vão ver o que é violência policial. Se entrar realmente um partido de extrema direita vai ser um novo golpe militar, vai botar a polícia mais armada, realmente perigosa, mais violenta, porque qual a culpa disso? O bandido. O bandido está descendo o morro, assaltando (Jovem 07). Um outro jovem faz um contraste entre a tradicional revista (o popular "baculejo") feita pelos policiais em Vitória e em São Paulo: Aqui em Vitória [...], até as vezes que eu tomei "uns baculejos" nas ruas é normal, procedimento da polícia. Todas às vezes, depende do seu verbo né cara, você vai falar com o cara normal. Mostra seus documentos, normal, eu nunca fui maltratado assim pela polícia. Mesmo com o cabelo enrolado, barba, tatuado. Mas fugindo de Vitória e indo lá para São Paulo, lá na favela, a população tinha medo da rota. Tipo, a rota subia o morro assim, nego ficava "bolado", porque a rota estava no morro. Se tivesse sem documento, por exemplo, você pode estar na esquina da sua casa. Diz a lenda que, nunca vi, eles esfregam até a cara no muro, se não for muito com sua cara. Então rola assim uma insegurança (Jovem 06). Essas questões estão presentes no dia a dia dos jovens, demarcando suas visões de mundo e mostrando a necessidade de se ter discussões e ações efetivas acerca do tema. Os jovens avaliam alguns projetos do governo federal realizado nos municípios. Um deles comenta a respeito do Agente Jovem. Para ele, o projeto é uma boa iniciativa. Eu acho que o governo tem que ter uma noção que, independente se mora na periferia, ou bairro nobre, tem que ver que aquele cidadão que paga imposto, que tem necessidades como cidadão, deveria ver se ele está ali realmente botando a educação para essas pessoas, independente da igualdade que cada um recebe, ele tem que ter uma noção de que são seres humanos que eles estão representando e que futuramente serão essas pessoas que estarão administrando o país. Se o governo não pensar dessa forma vai ficar difícil. Independente do setor (Jovem 07). O que esse jovem traz, nos remete ao que foi discutido no capítulo 1, quando expomos que as políticas públicas, em sua maioria, são focalizadas e rigidamente restritas a uma parcela da população, conforme a idade, a renda familiar também. O que se verifica é a exclusão, muitas vezes, de uma grande parcela da população que não se encaixa nos parâmetros, mas que dependem desses projetos. Pois assim como diz Spósito e Carrano (2003, p.05), "se tomadas exclusivamente pela idade cronológica [...], parte das políticas acabam por excluir um conjunto de indivíduos que [...] permanecem no campo possível das ações". Uma outra questão lembrada pelos jovens é a política de cotas. Entre os jovens, as opiniões são diversas. Acho que esse lance de cotas é um racismo. Eu sou a favor da cota, mas não da maneira que estão mostrando (Jovem 07). Eles colocam que o ensino é tão fraco, então para escola pública, mas ao negro não. Tem a mesma capacidade. Embora seja um povo que sofreu mesmo [...], foi escravizado, merece, merece, mas... (Jovem 06). Outro jovem expõe sua opinião do que deveria ser feito para funcionar a política de cotas. Eu acho que as cotas podem se dar de duas formas: ou por renda, ou por escola pública, por exemplo, uma coisa é mais ou menos parecida com a outra, mas tipo assim, por renda você tem como fraudar, pegar o dinheiro que você ganha, por exemplo, um profissional autônomo, dá para ele registrar que ele ganha menos e o filho dele vai ser beneficiado. É inegável, hoje, que o ensino público é inferior ao privado, então dar cotas é uma forma da pessoa escola pública conseguir entrar na universidade. O que eu percebi na prova desse ano da UFES que eu fiz, eu percebi que ela não é tão difícil [...]. Uma pessoa de escola pública dava para responder se fosse engajado politicamente, eu acho que o governo está olhando mais esse lado agora, não está deixando tudo para a gente, tanto é que se está discutindo isso. As cotas, tem muita gente contra, é óbvio, mas a maioria das pessoas que são contra não pertencem a parte beneficiada, porque vai dificultar para eles, mas como um estudante de escola pública vai entrar na universidade, por exemplo, no curso de engenharia? Medicina? É um curso muito difícil e se passar, e o ensino público do jeito que está [...], a pessoa que entra num curso desses é uma pessoa muito esforçada e tem alguém ajudando, tem uma pessoa na família que é o alicerce dela (Jovem 05). Um outro projeto é o ProUni (Programa Universidade pra Todos). Da mesma forma que a política de cotas, os jovens se dividem em contra ou a favor dessa política. Eu vejo isso como um avanço [...]. De facilitar a entrada de quem não tem condições de estar na faculdade privada, até mesmo tempo de estar aqui na UFES. É iniciativa imediata, eu acho. (Jovem 07) Eu não sei como funciona o ProUni [...] Se aproveitasse mais a universidade, por exemplo, criando mais prédios, aproveitando mais horários, os cursos que são só de manhã, criar a tarde e a noite, contratar mais professores, eu acho que daria mais resultado. Com o dinheiro que se investe você poderia dar oportunidades a mais alunos. Mas é uma coisa que está ajudando pessoas de baixa renda também, "pô" tenho amigos que conseguiram entrar na faculdade por esse modo. Por exemplo, medicina, que é um curso muito caro, acho que é 100%. Eu não sei quantos por centos direito assim. É um projeto bom, mas tem como fazer um outro melhor [...]. Por que, tipo, se pensar antes, dificilmente uma pessoa poderia entrar numa universidade, o pobre. Porque não teria condições de pagar, só se tivesse alguns programas, tem o FIES75 [...], tem programas que deixam você pagar depois que terminar o curso, só por meio disso. Mas fora isso, como você vai entrar sendo que a renda familiar é baixa, como você vai diminuí-la mais ainda. Tem que pagar, luz, telefone [...] tem que comprar comida, a despesa é alta, aumentar com faculdade, não tem só gasto com a mensalidade, tem que comprar livro, tem que se deslocar, comprar vale transporte. É uma forma imediata de solucionar, solucionar não, amenizar, há projetos melhores (Jovem 05). Outro projeto lembrado, que também é federal, é o Escola Aberta. Todos disseram conhecer e o jovem 06 ressalta a experiência que teve nesse projeto em outro estado: 75 Programa de Financiamento Estudantil Logo que surgiu esse projeto, nós estávamos em São Paulo, a gente pegou o trabalho. Começo foi lá em São Paulo mesmo, a gente colocou para funcionar lá e ia com a banda no sábado, a gente fazia todo sábado lá, ensinava os moleques a pintar, eu faço umas artes plásticas, mesmo não sendo formado em nada, faço umas doideiras, e ficávamos amarradões o dia todo na escola ensinando, tocando, jogando basquete. O Jovem 05 também relata uma experiência que teve nesse projeto realizado em Vitória: O Escola Aberta estimula o jovem a ir à escola no sábado e participar, por exemplo, a gente já fez um show nesse projeto, aí, "pô", dá bastante gente, assim, fica interagindo, chamaram várias bandas, que não são profissionais, mas que treinam e estão mostrando o trabalho deles. Fazendo uma correlação com as respostas que dizem respeito às demandas de juventude apresentada pelos gestores, podemos concluir que, na visão dos próprios jovens as demandas são similares às apresentadas pela gestão 2004/2008, A educação para qualquer um tem que está acima de tudo. Educação, mas educação mesmo. É a criança ter vontade de ir para escola estudar [...] (Jovem 07). Eu penso que muita cultura, teatro, praça, coisas assim, desse tipo, muita cultura mesmo. Não se vê mais dança, essas coisas assim. Acho que falta cultura para os jovens (Jovem 06). Falta cultura, falta, por exemplo, estar promovendo esportes, estar tipo, fazendo teatro, coisas assim (Jovem 05). Na fala dos jovens aparece a questão da educação, da cultura, do lazer, do esporte, mas quando nós falamos que existe no município um espaço para se elaborar políticas de juventude, desde de 2002, capaz de tentar suprir essas demandas, parte dos jovens disseram não conhecer. Um dado interessante é que os jovens entrevistados são envolvidos com movimentos musicais, sejam bandas, programas de rádio, entre outros. Ou seja, estão diretamente ligados a atividades culturais no município de Vitória e os projetos realizados tanto pela Subcoordenadoria de Valorização da Juventude quanto pela GPSJ e pela GRJ, em sua maioria, são projetos ligados à cultura: GRÁFICO 2 Nº de projetos para juventude feitos pela GPSJ ou intersetorialmente que envolvem cultura (2004/2008) GRÁFICO 3 Nº de projetos para Juventude feitos pela GRJ ou intersetorialmente que envolvem cultura (2004/2008) 20,0% 46,20% 53,80% 80,0% Cultura Outras temáticas Cultura Outras temáticas GRÁFICO 4 Nº de projetos para Juventude feitos pela Subcoordenadoria de Valorização da Juventude que envolvem cultura (2000/2004) 25,0% 75,0% Cultura Outras temáticas Fonte: Gráficos elaborados baseados nas entrevistas com os gestores De acordo com as entrevistas feitas com os jovens inseridos em movimentos culturais ligados à música, pode-se constatar que, dentre os sete entrevistados, três desconhecem esses espaços de formulação de políticas públicas para juventude no poder público. Mesmo sendo a cultura o enfoque mais dado aos projetos destinados às juventudes, na avaliação de alguns entrevistados precisa melhorar essa relação entre poder público e a cultura. Há muito descaso, a gente faz tudo mais pela música. [...] Não tem retorno financeiro, infelizmente não tem [...] Eu acho esse estado é muito rico, por estar posicionado perto do mar e perto de grandes metrópoles, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, regiões do Nordeste como Bahia também, acho que isso possibilita muito o setor cultural do nosso estado crescer através desses estados que estão próximos à gente. Eu acho que o que é mais satisfatório é você transmitir toda cultura do Brasil através do Espírito Santo, mostrar algo diferente, novo. E o Espírito Santo tem essa capacidade pra mostrar através da gente que está aqui lutando (Jovem 07). É um descaso pelo que a música pode proporcionar pra juventude, por exemplo, projetos de inclusão social, assim, são importantíssimos, estar estimulando o jovem a fazer uma coisa diferente. É um descaso você se identificar e não poder mostrar o seu trabalho, assim, várias vezes. É mais por prazer mesmo, não é nem assim, por benefício financeiro "ah, você é músico porque ganha muito dinheiro", não tem essa idéia aqui no estado, pela conjuntura. (Jovem 05). Eu vejo que é muito precário, entendeu, muito elitizado, muita panelinha, a cultura não chega aonde ela tem que chegar na verdade (Jovem 01). Olha, eu vejo poucos incentivos da prefeitura, mas não para, pros gêneros, pro rock, pro reggae, eu vejo alguns poucos eventos que abrangem todo mundo, às vezes eles fazem um show, sei lá, antigamente tinha muitos shows lá na praia de Camburi que ia banda de reggae, de rock, grupos de hip hop, mas não tinha nada específico pro rock, acho que o rock é meio mal visto ainda, acho que sim, principalmente o pessoal do hard core, do punk rock, o pessoal vê muito como, “ah são doidões, são arruaceiros, são anarquistas”, ah sei lá, tem muito preconceito ainda, tem uma visão meio, sei lá, deturpada ainda (Jovem 03). O jovem 03 complementa dizendo que há pouco espaço para as bandas de rock na capital no Espírito Santo. [...] pouquíssimas bandas têm um certo espaço pra mostrar o seu trabalho, principalmente em Vitória, porque não tem muito espaço pra show , né [...] Aqui em Vitória não tem, não tem apoio de ninguém. Quando tem show são amigos que se juntam e tiram dinheiro do próprio bolso pra organizar e, muitas vezes, tomam prejuízo e continuam fazendo show. Acho que o pouco que tem hoje é graças às pessoas que continuam investindo e querendo manter essa cena de rock, mas ainda é muito pouco, acho que deveria ter mais espaço, a prefeitura, não sei, talvez poderia incentivar mais, acho que seria legal, bacana. Alguns jovens colocam seus pontos de vista com relação ao trabalho realizado para juventude em Vitória. Pela quantidade de recursos que o país tem, eu acho que é uma iniciativa meio que, mesmo sendo fraca tem uma intenção boa. Eu acho ainda muito fraco, mas é uma iniciativa. Em geral, pela gravidade do problema é muito fraco. Porque, tipo assim, incluir essas crianças de comunidades carentes dentro do projeto é uma coisa, eles virão, mas fazer com que eles continuem num projeto que é o mais difícil. Segurar o jovem nesses projetos é uma problemática que deveria ser mais bem trabalhada (Jovem 07). Falta cultura, projetos melhores [...] já das bandas, eu acho que falta mesmo um apoio, assim, deveriam ser feito mais movimentos culturais [...] realmente um movimento capixaba, acho que tem muita coisa ainda [...] (Jovem 06). Eu avalio de forma positiva. Tem muita gente trabalhando, pra ver se conserta a exclusão social através da cultura, acredito que tem muitos projetos importantes. [...] (Jovem 07). Olha, é o seguinte, agora está tendo uma reunião, [...] na prefeitura, no Departamento de Juventude, [...] a galera está vendo isso aí, estão fazendo um Centro de Referência para Juventude (CRJ), [...] a galera senta lá, bola algumas leis em prol do jovem [...] Achei boa a idéia, mas a discussão está começando a surgir agora [...] Tem umas discussões boas, [...] debate estava bom, algumas coisas sobre público, universidade pública, do espaço de cotas, assim, eu fui lá para representar o funk, vamos ver o que vai ser daqui para frente agora, mas fora esse projeto do CRJ, o que tem assim na PMV faz alguns eventos [...]. O que eu participei da PMV foi esse do Graffitaids, assim, mas sem ganhar nada, tipo voluntário, divulgação. Mas só que eu acho assim, quando tem esses trabalhos, esses projetos das prefeituras, esses eventos, tinham que se buscar de alguma forma, a galera que está trabalhando ali, pelo menos ajuda de custo, alguma coisa, porque isso é incentivar o trabalho não remunerado e a gente não quer isso. Isso é incentivar de alguma forma, então o voluntariado (Jovem 02). Nesse momento, o jovem 02 toca em um assunto importante, que é a remuneração. Ele aborda que já trabalhou algumas vezes na PMV, em eventos, e que não foi remunerado. Portanto, pode-se discutir até aonde esses projetos vinculados à PMV querem ou pretendem realmente emancipar a juventude. Existe também uma relação estabelecida entre música como trabalho, que muitas vezes deixa de existir. Sendo a música encarada só como diversão, como lazer. Assim, os jovens afirmam que, apesar de ser também um lazer, a música perpassa e tem relação com a condição financeira, muitos músicos deixam sua carreira por não ter incentivo financeiro, não receberem por seu trabalho ou receberem muito mal por ele. Com relação a isso, o jovem 02, colabora mais uma vez dizendo como é complicado pra ele desenvolver trabalhos voluntários. [...] você vai trabalhar, chega um momento que você quer fazer as coisas você faz por prazer, por lazer, por hobby, vai cantar, se divertir, só que chega um tempo que você desgasta e perde noite de sono, vai para longe, fica cansado e já que está te fazendo isso, você tem que receber por isso, para você pagar suas contas. Então você vive disso, se você quer viver intensamente, agente tem que estudar, que com certeza é fundamental e trabalhar no que a gente gosta porque senão mais a frente a gente vai ser infeliz e não vai saber o porquê. Com relação à mídia as opiniões divergem, alguns grupos têm espaço na mídia capixaba outros não. O jovem 07 diz que o reggae tem contribuição e incentivo da mídia. [...] a mídia que tem aqui, não tem em outros estados. O meio de divulgação que tem aqui, a facilidade que se tem, não se vê em outros estados, não. Inclusive, em São Paulo tem que pagar pra rolar a música e aqui não tem isso. Inclusive tem várias pessoas que me perguntam se a gente paga para poder passar nossas músicas no rádio, como rola com freqüência. Isso aí é o que mais fortalece as bandas, saber que tem mídia para poder mostrar o trabalho. Já o funk capixaba, segundo o jovem 02, não tem apoio da mídia, das rádios. Segundo o entrevistado, o que é valorizado aqui é o funk carioca. [...] o cara do Rio vem e é digerido muito mais fácil, o cara faz o baile aí, esse que canta Bolete "quer bolete", vem aí faz três shows e vai embora aí com 60 mil. [...]. Esses caras do Rio não fazem esse sucesso no Rio, só aqui que fazem, eles vêm pra cá e estoura, "pô, lá em Vitória é que é a mina". Aqui a rádio não interessa, principalmente, o principal apoio que a gente poderia ter para ganhar alguma coisa era rádio que poderia ajudar, mas não [...]. Com relação ao apoio que os outros estados dão aos músicos locais, o jovem 04 diz sua opinião, frisando que muitos músicos capixabas acabam concorrendo e ganhando prêmios em outros estados. O apoio público é o seguinte, [...] a lei Chico Prego né, muitos nem sabe quem foi Chico Prego, mas a lei já prestigiou dois trabalhos capixabas, até dos Suspeitos na Mira para fazer uma nova tiragem também teve a Lei Rubem Braga, que até que enfim que eles aceitaram um trabalho de um grupo aqui. Vários trabalhos foram protocolados lá para conseguir verba. O jovem 01 também aborda a questão do incentivo, via leis, para cultura capixaba. A gente vê que nem a iniciativa privada nem a pública [...] não apóia muito eventos culturais, até porque não existe uma legislação que incentive o apoio da empresa privada. Por exemplo, no Rio de Janeiro, qualquer empresa que apóie um evento cultural tem desconto no ICMS, direto, entendeu. Então, poderiam ser criadas, ferramentas para que esse apoio cultural fosse muito mais amplo aqui no estado. Engraçado, o seguinte, o ES é um estado pequeno que tem muita diversidade cultural, você vê que a gente tem representante em todos os gêneros musicais e com qualidade e com quantidade. Em tom de ironia, o jovem 04, diz o que pensa a respeito do dinheiro que é gasto com cultura no estado. É melhor a gente promover Vital, cultura de outros estados no ES, pagar corrida de carro que gasta 2, 3 milhões por dois dias de corrida automobilística. Não sei pra quê. Custo altíssimo. Poderia fazer ginásio, centros culturais, com esse dinheiro todo. Quanto neguinho que ia largar a situação difícil, mas não, para quê né? Com relação à falta de apoio, o jovem 01 comenta, completando como está se dando a organização do reggae em Vitória. Não tivemos apoio do poder público. Na verdade a gente está se organizando, de forma efetiva e legítima pra gente correr atrás disso aí, não só do poder público, mas também de empresas privadas, porque o reggae sempre foi muito criminalizado né? Sempre foi visto como uma coisa meio suja né cara, porque até o visual rastafari incomoda as pessoas [...]. O jovem 01, continua, dizendo que já fez eventos importantes no Espírito Santo e que não recebia apoio governamental. Eu já fiz eventos, já levei pé-no-lixo, Manimal, Casaca, Java Roots, Comando Kaia, Salvação, e outras bandas, pro primeiro festival de música capixaba em São Mateus, chamado “Ilha Beach”, junto com Marcelinho que é um produtor local, lá de São Mateus. A gente fez esse festival, que misturou rock, reggae, música eletrônica, tudo no mesmo ambiente, sem apoio de ninguém. Quanto a isso alguns jovens propõem soluções. Segundo o jovem 06, o que deve ser feito para melhorar o quadro é: Misturar mesmo todas as culturas em todos os lugares, massificar a mensagem, o que é, o projeto é sobre o quê, vamos falar disso, seja de rock, seja teatro, seja poesia, seja o que for, massificar mesmo. Outro jovem usa um exemplo do que estão fazendo em outros estados e defende a idéia para ser implantado aqui. No Rio de Janeiro eles estão trabalhando muito em cima de levar para os morros, periferias o lance de produzir um curta metragem, a partir daí podem ampliar outras áreas, no setor cultural, pode ser um balet, uma dança afro, uma aula de história musical, curta metragem, acho que o ES pode começar a trabalhar em cima disso aí também. Para poder realmente tirar e dar motivo de sair daquele mundo que eles estão vivendo. Se não trabalhar em cima de vários fatores fica difícil. [...]. Incluir a criança na música clássica daria uma visão mais forte para o indivíduo, ela envolve um meio de estudo onde o aluno [...] vai ficar ali, voltado para aquilo ali, ou seja, a partir do momento que ele está se desenvolvendo com a música clássica, o pensamento, a conduta dele vai melhorar, porque se realmente ele se identificar com a música clássica, o projeto fizer com que ele se identifique, ele vai ficar porque ele sabe que se ele não se dedicar, não vai conseguir [...]. Eu vi isso em São Paulo, eles fizeram num acampamento dos sem-terra. Fizeram uma orquestra com pessoas que moram lá no interior, imagina com pessoas que moram aqui? [...]. Isso não é utópico é construir uma sociedade mais igualitária. Eu moro no gueto, por isso que estou falando isso, não é por que uma pessoa mora no gueto que ela não pode escutar música clássica (Jovem 07). Alguns jovens complementam, dizendo concretamente, o que acham que poderia contribuir com a cultura do município de Vitória. Eu penso num projeto na Praia de Camburi, por exemplo, com um palco montado ali permanente, um palco montado e sempre no final da tarde assim, uma banda ou outra estar lá fazendo um som, para atrair o pessoal de Vitória lá na Praia de Camburi que já está acabada, então a gente tem que fazer alguma coisa para levantar um pouquinho. Já seria um bom incentivo: um palco exclusivo para as bandas capixabas, um palco grande, por exemplo [...] (Jovem 06). Acho que incentivo aos músicos, quem está envolvido com a arte, poder sair só da música. Acho que falta esse incentivo também. Por exemplo, eu queria fazer uma faculdade de música, ou um curso de literatura, filosofia, filmagem, sei lá, alguma coisa assim que não seja só música [...]. As pessoas querem, mas não têm oportunidade, se alguém der acesso e essa oportunidade seria outra sociedade que estaríamos construindo. Isso não seria utopia. [...]. É aproximar, quem está em alto risco, aproximar para que elas tenham acesso, a questão maior é essa fazer com que elas tenham acesso (Jovem 07). Fazendo esses projetos mais específicos para trabalhar a juventude, por exemplo, seria mais fácil lidar assim. Se você trabalha envolvendo tudo, se você quer trabalhar a juventude, mas não só a juventude, mas, por exemplo, você quer trabalhar a juventude que quer ter futuro, quando se tornarem adultos vão estar representando uma parte da sociedade importante, tratar todas as pessoas com respeito e cuidar delas, de uma maneira específica quando se pode, por exemplo, estimulando a cultura, estudos [...]. (Jovem 05). [...] Da prefeitura estar estimulando shows na Praia de Camburi é uma idéia. Tentar complementar é fazendo uma faculdade de música [...] (Jovem 05). De acordo com os jovens faltam ações do poder público tentando incluir todas as culturas e resgatando e revitalizando a cultura local. Concordam que o estado conta com uma rica variedade de cultura e o que falta são incentivos por parte do poder público. De acordo com os jovens, as políticas devem buscar abranger a população jovem em sua amplitude. O que há, na opinião deles, são muitas políticas que não conseguiram, ainda, abarcar toda a juventude, apenas uma parcela. As falas dos jovens reforçam muito a importância da cultura e da música como forma de contribuição da sociabilidade, promover a cidadania frente a uma sociedade que exclui grande parte da população. A partir da análise das falas dos jovens, vê-se a necessidade de criar canais efetivos de comunicação, que é um processo lento, porém percebe-se que há, na atual gestão, um debate sobre o tema e que precisa ter os jovens como os verdadeiros protagonistas desse debate. O que se percebe, também é um redimensionamento claro nas ações de políticas voltadas à juventude no município, rompendo com a visão anterior de que não era possível promover a participação efetiva da juventude. O que nossa pesquisa mostra é que os jovens são capazes de ir muito além, inclusive propondo ações e soluções para problemas e demandas da geração. Percebe-se que há um canal de comunicação que pode ser potencializado pelo poder público e, que, na atual gestão, nesse sentido, estão sendo pensados, porém há a necessidade de definição desses canais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das experiências vividas e dos dados coletados no presente trabalho é possível concluir que, em se tratando da política de juventude em âmbito nacional, é inegável o seu avanço, mesmo às vezes não tendo como articular muito bem com os estados e municípios as ações a serem desenvolvidas. Mas essa questão faz parte de uma relação macro, desencadeada pela rápida descentralização das políticas desenvolvidas no Brasil, sem qualificação técnica e orçamentária capaz de tal atribuição. Essa situação resulta numa certa confusão entre as funções das três esferas de governos, não se tendo clareza do papel a ser desenvolvido por cada uma na elaboração de uma política. Esse avanço é observado na implementação do Plano Nacional de Juventude (2004), na conquista do Conselho Nacional de Juventude (2005) e da Secretaria Nacional de Juventude (2005), pois essas ações acabam por oferecer um apoio aos estados e municípios na implementação dos seus instrumentos democráticos. Já em se tratando do âmbito local, o município de Vitória teve um avanço em relação às políticas de juventude. A gestão anterior que não enxergava a participação da população como efetiva e legítima, e onde se tinha somente um espaço de articulação das ações existentes no município, com um orçamento de R$ 80.000, por ano. Já na atual gestão instaura-se como efetivo o orçamento de 3% para o OP da juventude, além de deliberar a participação efetiva dos jovens e de disponibilizar dois espaços de articulação de política de juventude: um com caráter de continuidade da gestão anterior, que seria mais de articulação das ações e outro com uma preocupação mais real de implementação de programas e projetos. Apesar de existir um avanço na política de juventude do município de Vitória, ela ainda não tem efetiva participação dos jovens, mesmo porque os próprios jovens ainda não sabem que existe um espaço pra se discutir política de juventude no município. São quatro anos de representação (em gestões diferentes) desse espaço e ainda não se tem uma participação significativa que represente realmente a vontade coletiva dos jovens moradores de Vitória. Um fator importante a ser apontado é a questão da interlocução das ações destinadas às juventudes com as demais áreas como educação, cultura, saúde, enfim, a visão da juventude como um todo. Na Prefeitura de Vitória pôde ser visto a preocupação com essa questão e até mesmo a tentativa de elaboração de projetos intersetoriais. Com relação às estratégias de participação e de elaboração das políticas no município, foi observada uma certa preocupação, por parte dos gestores, de superar a segmentação das políticas sociais focalizadas, como é o caso da juventude. Isso é visto quando há articulação com as demais secretarias e então a elaboração de projetos mais amplos, que envolvem a saúde, a educação, a cultura e o esporte. As ações das Gerências e da Subcoordenadoria de Valorização da Juventude, em sua maioria, são ligadas à área da cultura, ressaltando como a representatividade cultural é presente e importante no universo juvenil. No entanto, a demanda dos jovens entrevistados continua sendo a cultura, ou seja, os projetos desenvolvidos por esses espaços não estão ainda, abrangendo aos jovens como um todo. A juventude de Vitória tem um poder de organização muito grande. No decorrer das entrevistas foi possível perceber, que mesmo diante das dificuldades e da falta de apoio do poder público, muitas vezes, os jovens se organizam, fazem shows, projetos e acabam disseminando a cultura capixaba por conta própria. Assim, muitas vezes as ações se restringem aos programas federais executados pelo município ou por ações que englobam os grupos que são organizados e que têm acesso ao espaço de juventude do município, no caso da presente gestão seria a Gerência de Promoção Social da Juventude e a Gerência de Relações com a Juventude. Vimos na nossa pesquisa que, embora seja dada uma ênfase e uma visibilidade maior ao hip hop pelo conteúdo político de suas letras e pelas suas formas de organização, podemos dizer que todos os jovens aqui entrevistados e participantes de outros movimentos musicais expressam opiniões políticas e possuem, também, suas formas de organização. O hip hop, têm uma ligação mais intrínseca com política, com o social, enfim, participam mais nas questões municipais, isso é observado desde a gestão 2000/2004. REFERÊNCIAS ABAD, M. Crítica política das políticas de juventude. In: FREITAS, M. V de; PAPA, F. de C. (org) Políticas públicas: Juventude em Pauta. 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A colaboração com a pesquisa é voluntária, estando sempre resguardadas a privacidade e integridade social, moral física e psicológica. A entrevista terá o áudio gravado em fita para ser transcrito e transformado em documento a ser analisado pelo participante para verificar sua autenticidade. O participante terá acesso aos dados a qualquer momento e as fitas da entrevista serão destruídas ao final da pesquisa. É resguardado ao participante o direito de desistir da participação desta pesquisa a qualquer momento e caso isso ocorra as informações concedidas não serão utilizadas. Os resultados da pesquisa deverão ser publicizados para os estudantes, assistentes sociais e comunidade em geral. Na apresentação dos resultados, apenas serão identificados os (as) participantes que o permitirem através de declaração. Fabricia Pavesi Helmer Hingridy Fassarella Caliari Declaro que estou ciente dos objetivos desta pesquisa e em acordo com este termo, concordo em participar da mesma. Vitória, ______de _________de 2006 Fabrícia Pavesi Helmer: 3229-3352/8812-4679; e-mail: [email protected] Hingridy Fassarella Caliari: 3340-0768/92542711; e-mail: [email protected] Apêndice II TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE A pesquisa tem por objetivo analisar as políticas públicas de juventude no município de Vitória no período de 2002 a 2006, contextualizando as mudanças e continuidades e a percepção dos jovens envolvidos nos grupos musicais. A participação nesta pesquisa não proporcionará ao participante qualquer tipo de compensação ou remuneração. A colaboração com a pesquisa é voluntária, estando sempre resguardadas a privacidade e integridade social, moral física e psicológica. A entrevista coletiva será filmada e terá o áudio gravado em fita para ser transcrito e transformado em documento a ser analisado pelo participante para verificar sua autenticidade. Os resultados da pesquisa deverão ser publicizados para os estudantes, assistentes sociais e comunidade em geral. Declaro que estou ciente dos objetivos desta pesquisa e em acordo com este termo, concordo em participar da mesma. Nome Assinatura 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Vitória, ______de _________de 2006 Fabrícia Pavesi Helmer: 3229-3352/8812-4679; e-mail: [email protected] Hingridy Fassarella Caliari: 3340-0768/9254-2711; e-mail: [email protected] Apêndice III DECLARAÇÃO Eu ,portador do RG , estando ciente através de assinatura de consentimento livre e esclarecido, dos objetivos desta pesquisa, declaro que concordo com minha identificação na elaboração da mesma. Vitória, ______de _________de 2006 Fabrícia Pavesi Helmer: 3229-3352/8812-4679; e-mail: [email protected] Hingridy Fassarella Caliari: 3340-0768/92542711; e-mail: [email protected] APÊNDICE IV Roteiros de entrevistas Roteiro de Entrevista Para Gestores (1) 1. Qual a concepção de juventude para você? 2. Quais são as demandas da juventude em Vitória? 3. Como foi o processo para se detectar essas demandas? 4. Quais os programas e projetos da PMV na área de Juventude? 5. Qual é o orçamento destinado à juventude? 6. Como é a relação entre os técnicos? Como é feito o planejamento das ações e programas? 7. Os jovens participam do planejamento? Como? 8. Na sua opinião, qual é a maior dificuldade encontrada em termos de gestão das políticas públicas de juventude? 9. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município? 10. Que tipos de programas existem nessa área? 11. No município está havendo alguma movimentação para a criação do conselho de juventude? Roteiro de Entrevista Para Gestores (2) 12. Qual a concepção de juventude para você? 13. Quais são as demandas da juventude em Vitória? 14. Como foi o processo para se detectar essas demandas? 15. Quais os programas e projetos da PMV na área de Juventude? 16. Qual é o orçamento destinado à juventude? 17. Como é a relação entre os técnicos? Como é feito o planejamento das ações e programas? 18. Os jovens participam do planejamento? Como? 19. Na sua opinião, qual é a maior dificuldade encontrada em termos de gestão das políticas públicas de juventude? 20. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município? 21. Que tipos de programas existem nessa área? 22. No município está havendo alguma movimentação para a criação do conselho de juventude? 23. Como está sendo a articulação com o conselho e a secretaria Nacional de juventude? 24. O que você acha do Plano Nacional de Juventude? Roteiro de Entrevista para Gestores (3) 1. Qual a concepção de juventude para você? 2. Qual o perfil cultural da juventude de Vitória? 3. Quais tipos de grupos existem? 4. Os grupos são incorporados aos projetos? 5. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município? 6. Quais os projetos da secretaria para a juventude? Roteiro para entrevista coletiva 1- Qual a importância da música para você e para a sociedade? 2- Quais são os maiores problemas da juventude hoje? 3- Como são tratados os movimentos culturais no poder público? 4- Como avaliam a política social para juventude no município de Vitória. Roteiro de Entrevista (hip hop) 1. Como se formou o hip hop, o que surgiu primeiro entre os elementos? E onde? 2. Como foi aqui no Brasil? 3. E no Espírito santo? Como foi o surgimento? 4. Quais os grupos de hip hop que existem em Vitória? Quem foi o pioneiro? 5. O movimento hip hop possui alguma relação com a secretaria de cultura, ou poder público? 6. Como você avalia atualmente o movimento hip hop? 7. Qual a mensagem que o hip hop tenta transmitir? Roteiro de Entrevista (funk) 8. Como se formou o funk? 9. Como foi aqui no Brasil? 10. E no Espírito santo? Como foi o surgimento? 11. Quais os grupos de funk que existem em Vitória? Quem foi o pioneiro? 12. O movimento funk possui alguma relação com a secretaria de cultura, ou poder público? 13. Como você avalia atualmente o funk? 14. Qual a mensagem que o funk tenta transmitir? Roteiro de Entrevista (Rock) 15. Como se formou o Rock? 16. Como foi aqui no Brasil? 17. E no Espírito santo? Como foi o surgimento? 18. Quais os grupos de rock que existem em Vitória? 19. O movimento rock possui alguma relação com a secretaria de cultura, ou poder público? 20. Como você avalia atualmente o rock? 21. Qual a mensagem que o rock tenta transmitir? Roteiro de Entrevista (Reggae) 22. Como se formou o movimento reggae? 23. Como foi aqui no Brasil? 24. E no Espírito santo? 25. Você pode nos falar como é a relação de vocês do programa Beco do Reggae com o setor público? 26. Possuem também alguma relação com a secretaria de cultura? 27. Como você avalia atualmente o movimento reggae? 28. O poder público tem dado alguma contribuição favorável ao movimento reggae em geral? Qual a sua avaliação? APÊNDICE V ENTREVISTAS 15/07/2004 Gestor 01 Subcoordenadoria de Valorização da Juventude [...] atuo nesta área de juventude já desde 15 anos de idade. Eu estou com 34 então são quase vinte, são dezenove anos, eu sou de São Paulo e fui pra Brasília, lá em Brasília que eu tive uma atuação grande. Comecei a minha vida com política de juventude lá em Brasília, mas sempre no movimento estudantil, então eu fui presidente do DCE do CUB , faculdade de Brasília, aí a gente invadiu a tesouraria do CUB e tal, por causa de pagamento de mensalidade, de lei de mensalidade e tal teve muita discussão sobre isso, ainda tava se discutindo a LDB, aí eu fui expulso do CUB e fui convidado pra ir, quer dizer, fui convidado não, me fizeram ir pra UDF, que é uma outra faculdade que tinha lá, a gente negociou e tal aí eu consegui entrar lá, mas com o compromisso que eu não ia fazer movimento estudantil lá. Seis meses depois eu já era presidente do DCE então eu acabei e com isso o estudado da gente vai atrasando e tal. Nesse período logo depois deve a gestão política do impeachment do Collor e na gestão seguinte que foi o congresso de Goiânia, quando foi eleito Fernando Gusmão, eu fui eleito o vice presidente da região centro-oeste da UNE. Naquela época eu já via o seguinte: primeiro, toda vez que se discutia qualquer movimento político de juventude, só se falava de movimento estudantil, você não tinha política social de juventude, você tinha política estudantil. Então a gente começou a discutir isso naquela época. Pra mim foi um pouco difícil por que Brasília é uma cidade que tem características completamente diferentes, pelo Brasil a fora. Você não consegue ter muito essa relação de jovens que são carentes e têm um tipo de demanda e jovens que não estão excluídos e que têm acesso à universidade, à escola, enfim. Lá é muito distante. Então você acaba tendo envolvimento só no movimento estudantil mesmo. Aí vim pra cá, depois vim pra Vitória e resolvi terminar meus estudos. Fui pra FDV. Terminei lá a faculdade. Lá também eu fui presidente da secretaria do DCE, mas terminei os meus estudos. E conversando com o Luis Paulo (o nosso prefeito) a gente, já no começo do segundo mandato dele, a gente começou a discutir: “Luis Paulo como é que a gente faz, pra trabalhar com os jovens aqui da cidade, e tal, a gente vê lá como é a demanda”. Eu queria falar um negócio da minha época da UNE, que é o seguinte: eu percebia que, sempre que tinham as movimentações, Vitória, o Espírito Santo, nunca tava incluído nesse cenário. Tanto que os vices, tinham os vices regionais, no nordeste eram cinco diretores, e tinha uma diretoria que era Bahia e Espírito Santo e sempre o diretor era da Bahia, né, isso é histórico na UNE. Sempre o diretor era da Bahia e cuidava da Bahia e do Espírito Santo. Quer dizer o Espírito Santo era meio relegado ao segundo plano nesse processo. Então, eu conversei com o Luis Paulo e a gente chegou a conclusão que precisava dar uma movimentada nos jovens aqui do estado. Então a competência do Luis Paulo era aqui em Vitória, então vamos começar por Vitória, né. Aí ele me pediu pra fazer o primeiro estudo, levantasse o que tinha de juventude, quais eram as demandas e tal. Aí veio o nosso primeiro problema, quer dizer, tipo, nós contratamos o Instituto Futura, que fez uma pesquisa qualitativa, com os jovens da cidade, em três regiões, dividiu a cidade em classe alta, média e baixa. E aí o resultado dessa pesquisa era algo que foi algo mais ou menos esperado. Quer dizer, a juventude é completamente apática com relação às questões da política, as questões econômicas, em relação às instituições, né. E um negócio interessante, a juventude não se via mais como, ela não se vê mais como algo único na sociedade. Como uma categoria na sociedade, o próprio jovem não se reconhece mais como era na época da ditadura no Brasil, né. Em que os jovens né, existia a juventude brasileira, se reunia, fazia grandes congressos, ia pra rua, quer dizer essa coisa de ter acabado o inimigo comum que era a ditadura, de ter entrado a coisa da internet, que você tem acesso, que você fica em casa e tem acesso ao mundo inteiro, então acho que começou a desmobilizar. Aí então hoje a juventude não se vê hoje como um seguimento na sociedade. Então foi até difícil identificar nesses jovens que demandas específicas a gente teria neles. Por que as demandas que eles colocaram eram demandas de qualquer cidadão, sei lá, é a questão do desemprego, querendo um transporte melhor, querendo segurança, querendo saúde. Isso não é uma coisa específica dos jovens, qualquer cidadão quer isso tudo. Então de qualquer maneira, a gente chegou à conclusão que até por essa razão era melhor, era importante a gente criar um órgão na prefeitura que pudesse, é, primeiro dar uma articulada nas ações que já existem para juventude, aí vem aquilo que a gente tava comentando. Citando a área da saúde, por exemplo, na Secretaria de Saúde eles fazem trabalhos que dizem respeito à juventude. Por exemplo, questão da conscientização sobre gravidez na adolescência, é, a questão do DST AIDS, a questão do combate às drogas, isso tudo tem a ver com jovens, a Secretaria de Cultura, ela faz cultura também para os jovens, a Secretaria de Esportes ela trabalha muito com os jovens, só que cada um trabalha de um jeito e as ações não são articuladas para que o jovem diga olha nós temos ali uma, algo que é feito pra ra nós, por conta disso. O Luis Paulo disse “olha nós vamos criar uma secretaria mais a finalidade não pode ser como a gente diz “fim”, ela não foi criada pra fazer ações, ela foi criada pra buscar na juventude as demandas e pra levar pra juventude essas ações que são feitas na prefeitura como uma coisa integrada e única. Então ficou estabelecido que até o final da gestão de Luis Paulo, nossa missão seria fixar a secretaria de juventude na cidade, pra que as pessoas possam entender que existe uma secretaria municipal para juventude, que é possível fazer políticas públicas para juventude, para que isso tenha, que não seja uma coisa de um prefeito só, que chegou e falou: “Ó criei a secretaria de juventude” e que o próximo venha e diga “Ó eu não quero mais esse negócio”, a idéia é que até o fim da gestão municipal a gente conseguisse fazer com que a Secretaria de Juventude fosse parte do processo já da cidade, e a gente entende que já conseguiu cumprir com esse papel. No segundo mandato do Luis Paulo foi um pouco complexo, por que nós pegamos um pedaço do governo José Ignácio, com essa problemática toda que teve aí. Então, não houve muito repasse de recurso do governo de estado pra o governo municipal, então muita coisa que se pensava fazer, não pode se fazer por que não tinha dinheiro. Aí a questão da gente poder dá uma “avançada” um pouco mais aí na Secretaria de Juventude, também não pode acontecer. Mas a missão que nos foi dada até o final, a gente entende que já cumpriu. Hoje a Secretaria de Juventude, ela ta fixada na cidade, todos os candidatos a prefeito tem uma área de juventude, nos seus programas de governo, em todos, em todos não, mais vários candidatos a vereadores que eu conheço tão também nos seus panfletinhos falando de juventude. Quer dizer esse negocio é um loucura. 1. Adquiriu espaço? É adquiriu espaço, quer dizer agora precisa que né. A gente agora vai passar por um período, daqui até o final da eleição, que você, tem muita coisa que fica parada que a gente tem que ter expectativa de que o próximo prefeito mantenha o espaço da Secretaria de Juventude e que agora a gente possa dar um salto de qualidade. Pra quem vier já possa dar um salto de qualidade em cima disso que a gente fez. E um dos objetivos que também a gente propôs. Uma das metas que a gente propôs trabalhar, era de fazer a aproximação da chamada “juventude do asfalto” com a “juventude dos morros”. Por que existe esse distanciamento e a gente tem uma série de projetos, que a gente faz, tentando fazer essa integração. Mas a gente não conseguiu fazer isso, é um projeto mais demorado, mas a gente tem várias ações que conduzem pelo menos a isso. 2. O que é a juventude para secretaria? Vocês têm uma faixa etária pra trabalhar? A gente trabalha com a faixa etária de 18 a 30 anos. Por que de 18 a 30anos? Por que isso é um problema. A UNESCO, acho que trabalha, acho que com 16 a 24. A pastoral da juventude trabalha, também, acho que 16 a 24. Tem gente que trabalha, os partidos políticos trabalham de 16 a 30. Por que a gente estabeleceu de 18 a 30? Primeiro por que na Secretaria de Ação Social, nossa, eles têm trabalhos que eles fazem, inclusive com o agente Jovem, que é um programa do governo federal, que trabalha com jovens até os 17 anos e 11 meses. Então quer dizer, o jovem já tem um trabalho feito na Ação Social. Tem um problema que eu sempre discuto, você trabalha com o jovem até 17 anos e 11 meses, aí com 17 anos e 11 meses você diz pra ele “ó até logo, tchau”, quer dizer, se ele tava na marginalidade e ele tinha alí como se integrar, aí quando chega aos 17 anos e 11 meses, ele fala: “pô legal os cara adoçaram minha boca e agora me deixaram de novo”, e ele acaba voltando pra marginalidade. Então pra você ter uma seqüência nisso daí eu acho que a próxima gestão tem que fazer, tem que pegar e fazer, tem que ter umas continuidades nisso. Quer dizer a Secretaria de Juventude tem que pegar esse cara a partir de 17 anos e 11 meses, ou seja 18 anos e tem que se bolar alguma coisa aí para ter uma continuidade. Bom, e, por conta disso a gente resolveu pegar a partir dos dezoito anos, e por que até 30? Primeiro por aquela razão de que nos partidos políticos, os jovens até 30 anos ainda estão discutindo política de juventude. Então espera-se que, se você quer pegar um jovem com 18 anos e fazer com que ele vá se aprimorando, né, você espera que ele chegue aos 30 anos já conscientizado politicamente e portanto participando da vida política da cidade. Portanto discutindo essas coisas, portanto vai até 30 anos. E também por que você tem muito jovem de 28, 29 anos que tá terminando a faculdade, uma grande quantidade. Que ta terminando a faculdade está começando a entrar no mercado profissional, então pela mesma lógica de você pegar o cara até, você também não trabalhar com o cara até os 25 anos e depois diz “ó tchau”. Precisa ter uma certa continuidade, no processo, até o cara atingi a vida adulta começar a trabalhar, entrar no mercado de trabalho, que aí um outro problema sério pra se discutir é o tal do mercado de trabalho. Se fala, fala, mas tudo em tese, tudo na teoria, por que efetivamente não tem mais, por que o mercado de trabalho ta muito reduzido. 3. Você já falou como surgiu a demanda, agora eu queria que você ressaltasse como é o perfil da juventude de Vitória, hoje a partir do levantamento que vocês fizeram? Putz, eu vou te dar a definição que eles mesmos deram na pesquisa futura, que saiu como a frase que define a juventude de Vitória “eu quero rock’n roll e beijo na boca”. É isso daí, você pode tirar as conclusões que você quiser. A conclusão que eu tiro é o seguinte: que é o que eu falei no início, é uma juventude completamente perdida, apática, não sabe o que quer da vida, sem perspectiva de futuro, quanto mais “Vital” tiver na cidade melhor, quanto mais “rock” pra beija na boca tiver melhor, e ainda tem o problema aí que parece que na cidade de Vitória tem muito mais mulher do que homem então vocês vejam só o que é beijar na boca, coisinha boa. [...] Mas, então, é isso tem uma questão interessante, que é o seguinte. Bom aí, olha só o jovem dos morros, de classe baixa ele é muito mais consciente do que o jovem de classe média de classe mais alta. Claro que isso tudo tem a ver com a própria condição de vida dele. O cara quando tem menos recurso, depende de transporte coletivo, muitas das vezes, ele sai de casa pra procurar emprego e não tem dinheiro nem pra pagar o ônibus,né. O ônibus custa R$ 1 e pouco e ele não tem R$ 1 e pouco, tem que pedir emprestado pro vizinho. Fica devendo. Então, acaba que o jovem de classe baixa ele tem uma consciência muito maior que o jovem de classe alta, e aqui em Vitória isso fica muito nítido. Aqui a cidade é uma ilha, você tem morros no centro da ilha e em volta você tem classe média, classe média alta, isso que a gente chama “juventude do asfalto” e “juventude do morro”. E nesse caso essa característica da juventude de Vitória ela tem e é bem latente isso, você tem o “jovem do morro”, mais consciente do que - mais consciente não significa que ele é consciente ele é um pouco mais consciente, vamos dizer, socialmente falando, politicamente eu acho que não, mais socialmente, economicamente, falando que o cara é um pouco mais preocupado com o futuro - um pouco mais preocupado em estar discutindo com a prefeitura essas coisas, do que o “jovem do asfalto”. O “jovem do asfalto” é puro rock e beijo na boca, não quer saber, “ah vamos fazer um debate sobre política”, “ah Deus me livre, vou deixar de ir pra praia pra ficar discutindo política“. Já com os “morros” você consegue fazer isso melhor, você consegue mobilizar o pessoal, sentar, conversar, trocar idéia, pegar sugestões. 4. Vocês conseguem, a secretaria consegue identificar hoje quais são os problemas da juventude, dentro do município de Vitória? Quais são as necessidades mais presentes dentro do município? Olha, a única necessidade que eu vejo como, que eu poderia dizer, que chega pra gente como se fosse uma demanda da juventude, como um grupo social de dentro da sociedade, (se eu tiver falando besteira, vocês aí que são da área) A única demanda que eu vejo é essa necessidade de debater, aí vocês falaram de protagonismo né. Eu sinto que os jovens, eles têm, aqui em Vitória ele tem isso, ele tem essa vontade de ser protagonista, ele quer, ele até mesmo. Aí falando dessa juventude que a gente consegue chegar, organizar, discutir, eles topam discutir, eles têm uma série de idéias na cabeça, mas eles querem ser os protagonistas das ações, eles querem ser os atores principais. O jovem não quer que chega com nada, se chegar com qualquer coisa imposta ele não topa, aqui em Vitória isso é muito presente, né então, a gente tem que chegar. Sente alguma dificuldade quando a gente faz debates, agente vai conduzindo de uma maneira que as idéias surjam deles alí, entendeu, sintam que eles que estão produzindo aquilo, eles que estão dizendo como é que tem que ser feito. Claro que eu acho que tudo tem que ser mais ou menos. A gente fala que você não pode fazer “políticas públicas para juventude” nem “políticas públicas de juventude”, você tem que fazer “políticas públicas com a juventude”. Por que o jovem tem que ser protagonista ele tem que dizer a forma como ele quer, da forma que ele quer, mas ele tem que saber que tudo tem limites, tem responsabilidades, existe um orçamento, que existem regras, essas coisas, não pode ser só da cabeça dele. Então a gente fala muito assim fazer políticas públicas com a juventude. Agora tirando esse tipo de demanda, francamente, eu não consigo enxergar. Não tem como te dizer “olha a demanda da juventude de Vitória é essa”, por que como eu te falei a própria juventude de Vitória não se enxerga como um seguimento da sociedade. Então quer dizer, você tem demandas particulares, você tem por exemplo grupos, grupos de skatistas, eles têm as demandas deles, eles querem que o prefeito faça rampas de skates pra eles, pistas não sei aonde e tal. Você tem o pessoal, os graffiteiros, eles querem que a gente coloque, faça eventos mensais que eles possam graffitar um paredão qualquer e passam fazer lá o show deles de hip hop. O movimento de hip hop na comunidade envolve os graffiteiros, os DJ, os rapper. Entendeu? Então, você tem nichos né, muito específicos, e esses nichos têm demandas muito particulares, com desejos deles de realizar as coisas deles ali. Mas como juventude organizada isso não existe. A única coisa que eu consigo sentir que eu poderia dizer é que existe, não seria uma demanda é uma necessidade talvez, de todo jovem independente do grupo que seja de ser protagonista. Talvez o protagonismo seja a única coisa hoje que ligue essa juventude toda. Ou seja, quem quiser trabalhar com juventude não pode esquecer desse conceito de protagonista, de trabalhar dessa forma, respeitando o jovem como protagonista do assunto. Mais vai ter que seguimentar, você não consegue trabalhar com a juventude como um todo. E é difícil isso, por que você, difícil, por exemplo, falando de políticas públicas, é difícil você ter num órgão público recurso suficiente pra segmentar assim, entendeu? “Chama aê os caras do skate, agora chama os caras do funk, os caras do hip hop, agora chama o pessoal do esporte”, entendeu? E atender a demanda de todos é complicada, por outro lado você também não consegue juntar os caras, falar “olha vamos buscar o que seja comum a todos?”, tem eu acho que tem, mas eles não tem isso como demanda, é o que falo, emprego por exemplo. O primeiro emprego é uma discussão que diz respeito a todos os jovens. No entanto eu acho que isso, os grupos todos deviam se organizar pra discutir “olha é como é que é a questão”. Mas só que, o jovem, não ta muito preocupado lá com o futuro dele, ta até muito desesperançoso, até por tudo que ele vê aí, né, “eu vô ficar me preocupando”, então ele quer sabe, a fuga dele alí é fazer aula de skate dele, “que discutir emprego, primeiro emprego”, sabe? Acha que isso é um troço que tem que deixar lá pra frente. Uma pena, por que, se a gente conseguisse fazer com que todo mundo discutisse isso agora, né, a gente conseguiria ta preparando e si preparando, ta preparando o ambiente e nos preparando par um ambiente melhor. 5. No início você chegou a comentar, a gente queria saber se existe alguma lei que ampara a existência da secretaria? Sim, ela é criada dentro da estrutura organizacional da prefeitura, né. Quando começou o mandato do prefeito municipal foi feita a alteração no organograma. Todo prefeito cria ou acaba com secretarias e reformula. Então, existe a lei aprovada pela câmara de vereadores, mas só que essa é uma lei que ela pode ser, quer dizer o próximo prefeito pode chegar e dizer: “olha eu não quero mais Secretaria de Juventude e não quero mais Secretaria de Saúde”. Seria um absurdo não ter Secretaria de Saúde, mas ele pode fazer isso, qualquer Secretaria, ele pode fundir, ele pode dizer o agora eu quero fazer saúde e serviço social junto, sei lá. Ele acaba com a Secretaria de Saúde, com a Secretaria de Ação Social e cria uma secretaria só, com as duas coisas juntas. 6. Ele tem essas flexibilidade? Tem. Assim como acontece com os Ministérios antigamente. Você tinha os Ministérios da Fazenda e do Planejamento, se eu não me engano o Collor juntou tudo num Ministério só, que é o Ministério da Economia, que foi A Zélia Cardoso de Melo até que foi ministra. Aí depois eu não lembro se foi o Itamar ou o Fernando Henrique que desmembrou de novo, acho que foi Itamar, até que o Fernando Henrique foi Ministro da Fazenda. Mais ou menos isso, não lembro, mas então, isso é possível. Tem o amparo legal sim, ela é, na realidade, aqui na prefeitura você tem é, as chamadas Secretarias “meios”, o que que é uma Secretaria “fim”. Por exemplo a Secretaria de Saúde ela faz ações diretas pra população, a Secretaria de Planejamento não. A Secretaria de Planejamento é chamada “meio” e não “fim”. Quer dizer, ela não faz ações diretamente pra população, ela planeja coisas pras outras secretarias, né, como vai ser gasto o orçamento, e etc e tal. A nossa Secretaria é uma Secretaria “meio”. Aqui na prefeitura as Secretarias “meio” têm o nome de Coordenadorias, tem status de Secretaria, mas tem o nome de Coordenadoria, então você tem a Coordenadoria de Planejamento Estratégico, Coordenadoria de Comunicação, Coordenadoria de Governo, Coordenadoria de Juventude, entendeu? Com status de Secretaria. 7. A gente leu isso no site, se eu não me engano lá ta Subcoordenadoria? Ta Subcoordenadoria, por uma simples razão. Quando foi feita a lei na câmara você. Pra você criar uma coordenadoria você teria que fazer, a gente teria que ter um plano de cargos e salários, a gente teria que ter o remanejamento de funcionário efetivos da prefeitura, os concursados, pra atuar naquela Coordenadoria ou Secretaria. Como o prefeito não queria fazer isso, ele queria só ter cargos comissionados, que são onze cargos comissionados, ele falou: “não, só quero ter cargo comissionado”, até pra gente ter uma agilidade maior no transito, se quiser depois fundir isso com alguma coisa, fica um negócio mais fácil. Você não tem aquela obrigação de ter funcionário, então deu-se o nome de Subcoordenadoria, ligada a Coordenadoria de Governo, mas com status de Secretaria. Então quer dizer, o status de Coordenadoria seria a Secretaria “meio”. Então quer dizer os meus despachos são diretos com o prefeito. 8. Então não tem essa coisa da secretaria ser vinculada, ter uma hierarquia? Não, ela é só estruturalmente, mas o status dela é de Secretaria, então a gente tem despacho direto com o prefeito, nas reuniões do secretariado to sempre presente. 9. Quando você fala das verbas, que fica difícil atender a juventude tão segmentada, qual o orçamento da juventude, qual a porcentagem? É dentro do orçamento a gente tem, por ano, pra usar dentro do PPA R$80,000 poucos mil reais , eu não me lembro. 10. Mas isso é quantos por cento do montante geral dos recursos do município? Ah, é muito pouco, vamos fazer as contas rapidinho. O orçamento da prefeitura de Vitória, se eu não me engano, é R$ 352.000.000 ou R$ 342.000.000, agora eu não me lembro. Mas digamos que seja 350 milhões, 80 mil dá quantos por cento? Se fosse 10% seria 35 milhões, 1% seria 3 milhões e meio, 0,1% 350 mil, 0,001 seria 35 mil, 80 mil dá 0,002% do orçamento. Quer dizer não é nada, mas isso a gente. Primeiro a gente viu ao longo do tempo que não tem necessidade. Por exemplo: o ano passado desses 80 mil nós não usamos quase nada. Por que os eventos todos que a gente faz aqui, as ações que sãos desenvolvidas aqui são por exemplo: debates nas escolas, você não gasta dinheiro, por exemplo, quando a gente vai fazer evento com a juventude, por exemplo, alguma coisa do hip hop, é fizeram um evento lá em Andorinhas, eles mesmos já tinham conseguido patrocínio, pro palco, pro som, aí outras Secretarias entram fazendo outras ações também. Então quer dizer, o nosso papel acaba sendo muito de articulação mesmo e aí você não precisa gastar muito dinheiro. Nós gastamos com o Camburi fest Gospel, não se vocês já viram, acontece lá na praia de Camburi, então lá tem 30 mil jovens. Esse é um evento que já ha três anos a secretaria patrocina, isso custa quanto? Uns 10 mil, vê que a gente quase não gasta. 11. Então o que se faz com esse recurso? O orçamento é anual, então você tem é quando sobra recurso, na realidade não sobra por que, “puta”, pra eu explicar orçamento pra vocês. O dinheiro da prefeitura é um só, você não tem, ele não fica, uma conta pra cada Secretaria. Não é isso. O caixa é um só, né. Então você tem lá uma Secretaria que estava previsto gastar 110 mil, gastou 10 mil e sobrou 100, esses 100 mil você pode remanejar pra outra coisa. Então o prefeito ele vai definir de acordo com as prioridades dele, é. Teve um ano, por exemplo, que faltou recurso. Tinha mais coisas pra gente fazer e aí a Secretaria da Fazenda falou: “ó não deu por que o prefeito definiu prioridades, fez um remanejamento no orçamento e esse resto de recursos que vocês tinham foi remanejado pra outra coisa”. Claro que isso é aprovado sempre na câmara e então é um negócio legal, mas depende muito do prefeito, se o cara fala: “pô, tem 110 mil lá pra juventude, mas eu to achando que esse ano a prioridade é a juventude”, então aí a gente faz as estratégias de governo. 12. Então essa questão do orçamento, o PPA é até 2005, então vocês tem uma proposta orçamentária até 2005? É por que quem faz o orçamento do ano que vem é a atual gestão. Por que o orçamento tem que ser aprovado até outubro, novembro e o próximo prefeito só assume em janeiro. Quer dizer, essa gestão é que faz o orçamento pro ano que vem. O problema que o Lula falou quando ele assumiu, que ele tava pegando orçamento feito pelo governo Fernando Henrique, no primeiro ano, que ele só poderia a partir do segundo ano, que aí ele ia definir aonde ele ia investir o dinheiro essa coisa e tal. Claro que, quando o prefeito elege um sucessor é uma facilidade, por que daí, é uma equipe que já vem trabalhando com aquele orçamento que foi feito, já o sucessor, já vem sabendo que vai trabalhar com aquilo. Se entrar a oposição aí não, quer dizer o cara vai pegar o orçamento do prefeito que ele discorda, vai ter que passar um ano convivendo com aquilo, pra depois ele passar a fazer as prioridades dele, entendeu, aí eles vão fazer o PPA de 2005 até sei lá até 2009, entendeu. 13. Dentro do planejamento da secretaria, a população participa de quais vão ser as ações? Não, por que você não tem como fazer isso. Não tem como. Bom não tem como participar da construção. Por que se você vai, quem que eu poderia reunir pra discutir o que fazer? Até pode mais isso, sei lá, agente ia ficar dois, três anos é parados aí pra discutir, discutindo, discutindo, por que esse negócio é complicado. Eu acho o seguinte, como a nossa missão era até o final da gestão municipal a gente fixar. A gente tem um projeto aqui chamado “juventude em debate”, que a gente tem feito debates nas escolas, disso aí os alunos falam muito, por que agente faz nas comunidades também, a gente fez alí no morro São Benedito, fomos lá no meio do morro, lá numa igrejinha, que tinha lá, reunimos os jovens que tinha lá, foi um negócio interessante. Como a gente passou uma ficha de presença lá, que tinha, telefone, RG, CPF, 100% dos jovens perguntaram pra gente o que era RG, eles não sabiam. Tem gente alí que nunca viu vaso sanitário antes, só pra vocês terem uma idéia. Mora em Vitória e não sabe o que é um vaso sanitário. Quando o “Projeto Terra” fez as casa aqui no morro do (não lembrou nome), teve gente que quando entrou na casa, viu o vaso sanitário perguntou se era tanque de lavar roupa. Isso aqui em vitória, em pleno século XXI, agora você imagina como o Brasil tá. Mas bom, enfim, então assim eu não tenho. A gente estabeleceu até o fim da gestão municipal, a gente precisa fixar a Secretaria de Juventude e nessas discussões, com as escolas e as comunidades a gente tá tirando as demandas, nestes grupos e tal. Nós estamos tirando essas demandas, pra gente passar pra próxima gestão pra quem vier e falar: “olha você não precisa ficar aê discutindo com a juventude por que a gente já fez esse processo tá aqui o que a juventude espera”, então, a partir de agora você tem que dar um salto de verdade, você precisa começar a implantar algumas coisas. Por que aí. 14. Você disse que quando há esse debate vocês levantam demandas pra daí construir, pra atender... Só um minutinho, deixa eu explicar, a gente vai na comunidade com cuidado pra não criar expectativa. O prefeito sempre dá essa orientação. Pra você buscar demanda, pó, “ah eu vim aqui saber o que vocês querem”, “pô eu quero emprego amanha”, “mas eu não tenho”, “então pra que você veio perguntar?” Então, a gente tem sempre esse cuidado de tentar entender o que está acontecendo alí, sem criar muita expectativa, por que tem coisas que a gente não realiza. 15. Pra lidar com essa questão da expectativa, como é a questão da tomada de decisão? Olha, a gente vai fazer esse programa, atender essa demanda nesse momento? Longo prazo? curto prazo? como é a questão da tomada de decisão? Na verdade a gente não tira, a gente não extrai muita demanda concreta, muito objetiva, conversa, faz trabalhos, conversa com as lideranças, no caso das escolas, conversa antes com a diretora da escola, conversa com os professores. Então esses jovens, quando eles vão conhecer o trabalho da Secretaria, ouvir algumas coisas, eles já vão com uma expectativa diferente, eles sabem que a gente não está ali pra dizer que vamos fazer isso ou aquilo. Nós tivemos um projeto que infelizmente por questões de recurso não avançou, foi um projeto que a gente tava fazendo dentro do “Projeto Terra”, chamado “Terra Jovem”, que era de nós junto com a Subsecretaria de Trabalho e Geração de Renda e a Secretaria de Cultura. Era pegar os jovens dos morros, vários jovens, que iam se inscrever e tal, eles iam ter a parte lúdica que era fazer música, ou dança, ou capoeira, enfim, tinha algumas atividades lúdicas e eles iam é paralelamente a isso, pra fazer as atividades lúdicas eles seriam obrigados a freqüentar as aulas da SubGER - Geração e Renda - pra aprender algum ofício. Só que muito preocupado com essa questão de você criar expectativa e não consegui atender a demanda, nós sempre. Como é que a gente ia fazer, a gente ia dar treinamento de ofícios que o mercado tivesse precisando. Então o que que é? É ter uma parceria da prefeitura com a FINDES, com a SEOP, com a CAPES, “FINDES o que vocês precisam?”, “Nós estamos precisando de mão de obra de pedreiro’, por exemplo, ‘então ta bom, quantos pedreiros vocês se comprometem a contratar se a gente treinar?” “a gente se compromete a contratar 20 pedreiros”. Então ia ter 20 vagas pra pedreiro, entendeu? Quer dizer. Pra gente chegar a quantidades de vagas pra oferecer ia depender da demanda, justamente pra você não treinar o cara e dizer olha “eu te trinei, e o cara vai pro mercado e não encontra nada”, por que na segunda vez que você fizer isso, ele fala que não quer mais, ele vai dizer “não. Sai prá lá prefeito, já me treinou duas vezes e eu não consegui nada, vou perder tempo de novo, treinando o que?”. Então, esse projeto foi muito bem montado, foi pro BNDS, ele aprovou, só que foi justamente nessa transição do governo Fernando Henrique pro governo Lula. Quando o governo Lula assumiu eles seguraram os recursos, não só pro “Terra Jovem”, não, pra todo o “Projeto Terra” também. O “Projeto Terra” tá parado até hoje por que o BNDS não mandou novos recursos, por que ninguém sabe [...] 16. Existe comunicação entre os projetos federais, estaduais e municipais? Poderia falar também da relação entre as secretarias? Na realidade, mais ou menos. Outro dia eu fui convidado pra dar uma palestra sobre políticas para juventude lá em Curitiba. Eu fui lá falei e tal, os caras tomaram conhecimento. Por exemplo, teve agora uma discussão com o Congresso Nacional sobre políticas públicas pra juventude que o governo federal quer implantar e nós não fomos convidados, e não convidaram por conta disso, por diferença partidária, mesmo. Na minha opinião é besteira, por que, você não tá discutindo política partidária, você tá discutindo política prá juventude. Quer dizer a gente teve experiência aqui, quer dizer vamos discutir. 17. Quer dizer que em âmbito federal não existe política de juventude? Eles tão querendo montar, mas ainda não tem. E a nível estadual? A nível estadual também não tem. Tem também um ensaio que a Secretaria de Ação Social está fazendo, então a Secretária a Vera Nacif, está tentando aí fazer um trabalho, eles até me chamaram, eu tive uma reunião com eles e com o Instituto Perseu Abramo , lá de são Paulo. Ela veio aqui a gente bateu um papo, ela tem um trabalho muito legal nessa área, mas é um instituto não é um órgão público do governo federal , nem estadual, nem municipal, é uma ONG né. Então tem assim, não tem, tem coisas isoladas e eu não sei por que, por exemplo: quando o governo resolveu falar da intenção de fazer políticas públicas para juventude do governo federal, eles me chamaram aí eu fui lá pra Esplanada, cheguei na solenidade, mas na hora de discutir efetivamente. 18. E os projetos como o Agente Jovem que vem de cima pra baixo, como é a relação? Mas esse sempre vai ser o problema, que me parece que hoje tem uma discussão boa na tentativa de resolver isso. O governo federal, o cara fica lá no Ministério, lá em Brasília, pensando no Brasil, faz um projetinho modelo pra distribuir, esquecendo das particularidades regionais. Então eu acho que essas lógica tem que ser invertida, a gente tem que municipalizar mais, sabe? O país, por exemplo, essa questão do primeiro emprego, por que não deixar os municípios discutirem como é que podem resolver isso pra depois chegar a uma proposta para o governo federal? Vem o torço de cima pra baixo, resultado: não funciona direito. O SUS funciona, o Agente Jovem funciona, mas são programas que levam anos ai, os caras tem que ir ajustando, até o negócio começar a funcionar. Então, eu concordo com você tem que inverter essa lógica. O Cristóvão Buarque que foi ministro da educação, foi governador de Brasília, ele falava muito nisso , ele tem até um livro chamado “Revolução das Prioridades”. Precisa, aqui no Brasil, a gente precisa mudar essa lógica toda. Como é que você vai fazer uma política nacional de segurança? Quem sabe o que Vitória precisa é o prefeito daqui, ele tá acostumado no dia-a-dia discutir. Então, a gente precisa de tantos policiais, o plano de ação tem que ser esse, tem que ser aquele, tem que ter o apoio do governo federal, claro, por que o município não tem recurso suficiente pra fazer. Existe uma associação de prefeitos do país, até o Luis Paulo foi presidente dela, agora ele saiu, acabou o mandato dele que foi eleito no lugar dele foi o Marcelo Deda. Esses caras se reúnem, é a Frente Nacional de Prefeitos, eles se reúnem umas vez a cada três meses e fazem excelentes debates, né, trocam muitas informações. O governo podia aproveitar isso aí e falar: “Olha queríamos fazer o programa Primeiro Emprego aí, juntos”. Então pedi pra Frente Nacional de Prefeitos fazer essa discussão, cada prefeito vai pros grupos de jovens do seu município, discute isso. Não, os caras resolveram fazer um, tanto que não funcionou, a gente nem sabe quando que vem, pra quem vem. 19. Antes a gente tinha perguntado da elaboração, da implementação dos projetos, existe algum canal que a população em geral participa desses momentos da política? Das iniciativas da prefeitura de Vitória para com a juventude? Eu acho o seguinte, não, talvez. Por exemplo, o pessoal do hip hop, eles chegam até a gente, eles sabendo da existência da Secretaria, eles vem trazem os projetos deles, a gente senta discute, vê a viabilidade econômica disso, se agente não tem recurso, a gente vai atrás de alguma Secretaria que vá bancar, mas enfim, eles vem até a gente. Agora assim, não existe uma coisa assim, “atenção população está aberto o período de palpites para”, isso não acontece. 20. Uma coisa pra ficar mais específico, o conselho de juventude? Seria um exemplo de canal de participação. Nós temos essa experiência. Nós fizemos um projeto aqui chamado câmara jovem. Por que, a idéia era essa, você ter representantes de todos os segmentos da juventude, de todas as regiões e tal, discutindo como se fosse os vereadores, como se fosse o conselho e dali sair propostas e tal. Foi um fracasso um fiasco, por isso eu não faço questão de dizer. Isso vai ficar, registrado, eu quero que fique registrado nos anais aí, pra que ninguém cometa mais esse erro, por que virou um, uma guerra de lideranças, um negócio fora do comum. Por que? Por que os caras como são líderes, os caras pô: “agora eu to lá, no conselho da juventude, no câmara jovem, não sei que, por que agora eu faço e aconteço, agora eu quero ser candidato a vereador, eu quero ser isso, quero ser aquilo”, aí os caras começaram a quebrar pau entre eles. Que um apresentava uma idéia e ao invés de discutir e votar, um grupinho se reunia e dizia: “não por que fulano é candidato a vereador , pelo partido tal, nós não podemos aprovar esse projeto”, não sei o que, então, nem se discutia, nem se aprovava. Então foi um negócio [...] aí nós acabamos com o projeto. Isso é, isso não quer dizer que um conselho não possa funcionar, mas pelo menos no formato que gente fez não funcionou. Entendeu? 21. A experiência testada em Vitória não teve... É talvez pelo fato de ter sido líderes, e aí os caras com cabeça um pouco mais voltada pra política e tal, pode ter sido um erro, mas, eu pergunto o seguinte: se você não vai chamar um líder de um grupo você vai chamar quem? O que eu posso fazer é: “skatistas, quem é o representante de vocês?” E eles tem que dizer é o fulano, portanto, se eles disserem é o fulano aquele cara automaticamente é, aquele cara naturalmente ele é liderança ali daquele grupo, ele fala por eles. Então não tem jeito, o que eu acho que pode ser feito é você ter um fórum, um conselho que seja consultivo e não deliberativo. Quer dizer, é um conselho que, olha vamos nos reunir aqui as lideranças e o secretário diz: “eu quero ouvir vocês”, mas quem toma a decisão sou eu, por que quem teve o mandato do prefeito sou eu, e quem tem o mandato do povo pra fazer alguma coisa é o prefeito, né. Então na democracia é isso, né. A população elegeu o Luis Paulo pra durante quatro anos ele tomar conta dos rumos da cidade, e ele faz na medida do possível as discussões. Mas ele sabe qual é o orçamento e ele sabe, ele tem as idéias dele do que ele acha que tem que ser feito em Vitória. A população depois de quatro anos pode dizer: “olha, você não fez nada que nos agradasse”, e elegeu uma posição. Isso é democracia, ou a população fala: ”você foi um bom prefeito, fez muitas coisas que me agradou e eu quero botar você de novo”. Da mesma forma, o prefeito passa uma parte desse mandato pros seus secretários e o prefeito tem todo o direito de dizer: ”“olha secretário você não está fazendo as coisas que você deveria fazer, da maneira que eu acho que deveria fazer, ou pelo menos da maneira que nós combinamos e você vai ser trocado”. Ele vai tirar você e vai colocar outro. Então funciona um pouco assim. Mas eu acho que é legal você ter um conselho que você possa estar ouvindo. Provavelmente todas as Secretarias tem algum conselho, que discute e tal. Mas tem que ser consultivo, se for deliberativo, pelo menos nessa questão de juventude, é muita briga, achei que não foi uma experiência legal. 22. Você falou um pouco a respeito do protagonismo. Que a grande preocupação do jovem em Vitória é ser protagonista, dentro da secretaria existe preocupação em trabalhar com o protagonismo? existe alguma ação voltada pra esse propósito? Não, não por que esse negócio de protagonismo é só um conceito, né. Não vejo como uma coisa que possa ser trabalhada. Eu diria o seguinte, que o protagonismo é uma coisa que deve ser respeitada, não trabalhar. Quer dizer, essa palavra protagonista vem do teatro. Você fala: “quem são os protagonistas dessa peça?” ou seja, quem são as pessoas que representam aquela peça, que desenvolvem aquela peça. Quando você fala que o jovem tem que ser protagonista das ações que são voltadas pra ele, eu acho que isso é uma coisa, que nós como agentes públicos temos, mais que respeitar do que fomentar, eu não sei. Isso pra mim é um pouco confuso. Talvez vocês tenham até estudado isso e poderiam me ajudar. Mas, por que o seguinte, você pega esse grupo de hip hop, eles são um grupo de hip hop, automaticamente eles são os protagonistas ali do hip hop. O que nós enquanto agentes públicos podemos fazer? Quando eles chegam até a gente dizendo que querem fazer um evento de hip hop, que querem recurso, a gente tem que respeitar o protagonismo deles, ou seja, não quero dizer que “nós vamos dar dinheiro pra vocês fazerem o evento, mas você não pode cantar com aquela voz falando, você tem que cantar, cantando, você não pode fazer “nheque”, “nheque” com o disco, tem que deixar ele tocar” eu não poço fazer isso. Se eu estivesse fazendo isso eu não estaria respeitando o jovem como protagonista daquela ação. Agora eu também não posso como agente público sair dizendo ”olha vocês aí, vamos fomentar, vocês agora serão protagonistas de uma ação assim, assim, assado”, e eles vão dizer: “olha, estou feliz da vida, a prefeitura disse que eu sou protagonista”, entendeu. É a visão que eu tenho da coisa, eu não tenho como fomentar isso, eu tenho como respeitar. Juventude é a melhor fase da nossa vida, é a fase que você já não é mais criança, mas não é adulto. Que você ainda se apaixona, acredita no amor. Você fala ”vou encontrar a minha princesa encantada”, as mulheres “vou encontrar o meu príncipe encantado”, nós vamos casar, quero encontrar a pessoa que eu vou ficar o resto da minha vida [...]. 23. A gente tava falando da questão do protagonismo, então o jovem fica como receptor do programa? Ele fica em que faze de dentro da atitude da secretaria de juventude? O espaço do jovem é qual? Por que a política em si ela tem as suas fases, implementação, gestão, avaliação? Não, sim, “caramba”, mas olha, só eu acho que você não entendeu nada que eu falei ou eu falei tudo errado. (desligou o gravador). Se a gente fosse uma Secretaria “fim”, agente diria: “jovem estam aqui os projetos que nós temos pra você”, mas não, é o contrário. O jovem vem até gente e diz: “olha eu tenho esse projeto você nos apóia?”. A gente, dentro de uma política pré-estabelecida a gente apóia, claro que não é qualquer coisa. Tem cara que chega aqui e diz: “nós temos um projeto aqui, nós queremos levar 30 estudantes para Curitiba, você banca o ônibus?”, não isso não, a gente não entende isso como política pública. Se vocês estão pretendendo ir para algum congresso pedir patrocínio (risos) já sabe que aqui não é o caminho. Então, agora os caras do hip hop, ou os próprio evangélicos, que chegaram com uma demanda, eles são protagonistas, eles querem fazer o Camburi Fest Gospel, eles chegam aqui com a demanda, a gente fala: “Poxa legal, isso é um política cultural para jovens e tal”. A gente ajuda, se tiver dinheiro a gente coloca, se tiver viabilidade no nosso orçamento a gente dá dinheiro, se precisar pegar apoio de outras (desliga o gravador). 24. A questão da avaliação, como você poderia, enquanto secretário, estar avaliando essa política de atendimento de juventude no município? Como você avalia? Eu avalio que o objetivo que a gente queria foi atingido e agora precisa avançar. 25. Na verdade o principal objetivo de vocês era... Era implementar, construir e fixar isso na população. A gente diz que, tanto internamente a prefeitura, todos os órgãos hoje sabem que existe a secretaria de juventude, enxergam como importante ter, para ajudar a fazer as articulações, como a sociedade lá fora também, quer vê que existe um canal que pode discutir. Agora, tem muita coisa pra ser feita, pra ser pensada elaborada, pra ser pensada, mas que infelizmente já não vai ser comigo, então o próximo que vier agora. O próximo prefeito tem que ver quais são as pretensões do cara, a política do cara, a gente vai passar. Quer dizer o próximo Secretário de Juventude que vier a gente vai entregar tudo redondinho: “olha nós já fizemos essas e essas discussões, com esses e esses grupos, o que a gente tirou foi isso, as experiências que deram errado foram essas, tem o projeto ‘Terra Jovem’ que na hora que chegar o recurso vocês podem tocar”. Então o cara vai ter isso, eu acredito que depois da eleição o dinheiro venha e aí o cara já pode aproveitar [...] 12/04/2006 Gestor 02 Gerência da Juventude do município de Vitória. 1. Qual a concepção que você tem de juventude? O que você pensa ser juventude? Eu acho que juventude é um segmento social contextualizado no espaço, no tempo e deve ser considerado como sujeito de direitos. Acho que também não existe uma juventude. A juventude tem uma diversidade, se caracteriza transversalmente por essa questão de raça, gênero, sexo, etnia. Eu acho que você acaba tendo diversas juventudes no cenário. Acho que a juventude, bom é mais ou menos isso. 2. Quais são as demandas de juventude aqui no Município de Vitória? A demanda de juventude posso tirar mais ou menos pelo Orçamento Participativo (OP) da juventude que nós tivemos no ano passado, assim, tentando contextualizar a partir daí, falando de uma coisa solta eu não consigo. O orçamento da juventude identificou um pouco a demanda da juventude por formação profissional, por formação profissional mais consistente, eles querem formação não do tipo, rápida, alguma coisa que dê subsídio. Eles também tem muita preocupação com a perspectiva de futuro. Por que assim é difícil falar de juventude, a juventude que a gente mais atende aqui, esses segmentos. Mas acho que essa perspectiva de juventude ultrapassa todas as categorias, as classes sociais. Também percebemos um pouco, quando, a gente vê essa preocupação da juventude da periferia, por exemplo, que compareceu muito foi a questão de formação, mas por exemplo, demandas por curso de pré-vestibular, outra questão que aparece muito em termos de demanda da juventude foi muito a ampliação de espaços de laser, acesso a cultura, espaços culturais, como teatro, acho que isso foi o que mais compareceu como demanda da juventude. Então essa questão da formação, perspectiva de cultura, acesso a espaços de lazer, de teatro e eles estão muito preocupados com a qualidade da educação também. 3. Como foi que detectada essa demanda da juventude? Mas você falou que foi via OP? Foi, nós fizemos oito fóruns, no ano passado, 2005, exatamente querendo identificar qual a demanda da juventude e eles participaram e a gente perguntou e foi pontuando. Tentei falar pra vocês o que eu percebi com mais freqüência. Até achei que não apareceu com tanta freqüência a questão da violência, é uma coisa que eu percebi que a preocupação deles está muito na questão de falta de perspectiva, que a juventude hoje vê, a sociedade, eles não sabem muito o que vai ser o amanhã, então isso preocupa muito. Em termos de perspectiva profissional, por exemplo, talvez a violência esteja embutida neste processo, mas ela não apareceu, assim, claramente, isso foi uma questão que eu percebi. 4. E aqui na Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), quais são os programas e projetos destinados à juventude? È de dentro da Secretaria de Promoção Social. Essa gerencia foi criada em 2005, tentando aí ser um canal de interlocução com essa juventude da capital. Por que o que que acontece, essa juventude não tinha muito essa interlocução com o poder público, o poder público automaticamente não tinha com a juventude. Então essa gerência foi criada mais para tentar estabelecer esse canal e aí visualizar um pouco de quais seriam as demandas e formular algumas políticas para juventude. 5. Na gestão passada teve uma secretaria não teve? Teve, mais ela automaticamente foi, ela não era uma secretaria institucionalmente instalada, ela não tinha legalidade, então quando veio a nova administração ela não estava no quadro da PMV. E assim, eu participei também da gestão passada e ela tinha algumas iniciativas de interlocução sim, talvez isso se perdeu no finalzinho, por questões políticas até que acabou perdendo um pouquinho mais eles tiveram algumas iniciativas de manter uma interlocução. Talvez um pouco assim, com uma olhar muito mais de cooptação, talvez , isso fez uma diferenciação. Por que a idéia é que você pode fazer uma interlocução, mas não tentando cooptar, tentando estimular, empoderar, buscando estimular a autonomia desses jovens, agora, com certeza você tem que trabalhar isso tudo ao mesmo tempo, assim, nós ao mesmo tempo que tentamos criar canais de participação, empoderar esses jovens, nós também tentam criar espaços de visibilidade para esses jovens, que os jovens da periferia se fortalecem muito com a questão da auto-estima deles, e criar canais de visibilidade e geração de renda é um caminho. Então eu acho que são três pontos fundamentais, eu acho: um é criar espaços de participação, outro é criar espaços de visibilidade e outro é criar espaços de geração de renda. Principalmente para esse público que não tem acesso a essa visibilidade. Você pega esses grupos populares que são grupos culturais, que dançam, cantam, fazem teatro, poesia, eles tão lá, invisíveis praticamente, só se tornam visíveis, quando estão no crime, ou então na marginalidade, ou pega numa arma, mas quando eles produzem essa questão cultural eles praticamente ficam no anonimato. Então, um dos espaços é esse, tem várias ações uma é dar visibilidade outra é criar espaços de participação através de fóruns, mesmo, igual ao OP, que tem essa missão e o outro é você tentar criar espaços de geração de renda. Por que por exemplo, quando esses grupos entram no cenário da cidade, nos eventos da cidade, esses grupos nunca entram, geralmente são os grupos mais famosos, quando vocês criam espaços para eles participarem eles ganham a renda deles. Então essa também é uma missão. Outra coisa de geração de renda é quando você trabalha com formação, faz uma política também de formação profissional que possa inserir esses jovens no mercado de trabalho. Acho que uma política também para os jovens de 15 à 24 anos não pode estar desagregada de forma alguma à forma profissional. Você tem que ter olhar da participação, da interlocução, eles não podem ser apenas usuários do serviço, eles tem que decidir, mas geralmente nunca está desagregada da formação profissional, a demanda de formação é muito grande, né? São muitos jovens de 15 a 29 anos que tem famílias, né? 6. Mas vocês tem programas Federais e Municipais, não tem? Quais são eles? Temos, em termos de programas a gente praticamente tem assim quatro grandes programas e projetos aí considerados. Tem o programa “Agente Jovem”, que são jovens de 15 à 17 anos. Temos o programa “Odomodê” que é um programa de inclusão da juventude afrodes-cendente, que aí pega de 15 a 29 anos, que é a perspectiva, a gente está tentando seguir o Plano Nacional de Juventude (PNJ) de 15 a 29 anos, A gente tinha uma discussão de 15 a 24 anos, mas como o PNJ traz essa questão de 15 à 29 anos a gente está tentando não fugir a essa discussão, por que tudo daí pra frente, que vier de juventude vai ser de 15 a 29 anos. Então a gente não pode ficar fora do processo e aí o que acontece [...] temos o “Cine Kbça’ que é um cineclube itinerante, que é uma grande estratégia de interlocução com a juventude local, interlocução e também de formação [...] o Cine Kbça é um cinema itinerante que utiliza essa questão dos filmes, principalmente filmes nacionais, e levanta debate com os jovens, é uma estratégia que deu muito certo [...] e temos agora o “Rede Jovem” que mais ou menos é um projeto que tenta identificar, se articular e mobilizar a juventude local. Por exemplo, se a gente está construindo um fórum, o “Rede Jovem”, que é o responsável por identificar esses segmentos e articular. O “Rede Jovem” é um grande suporte para implantação de um projeto que a gente está tendo agora, que é o “Centro de Referência de Juventude”. Então, por exemplo como é que o “Centro de Referencia” vai se implantado? Com certeza os jovens vão ter que ter uma decisão importante, uma participação importante no processo de formação desse “Centro de Referência”, quem vai articular aí é o “Rede Jovem”, como? É uma grande questão: vai fazer plenárias regionais? Vai chamar por segmentos? Chamar por segmentos evangélicos, skatistas, pode ser todos também, não só esses que eu estou falando, vamos chamar os segmentos dos projetos já estabelecidos? “Pró-jovem”, “Agente Jovem”, “Escola Aberta”, também é uma estratégia. A gente vai criar diversas estratégias para trazer esses jovens pra tentar contribuir e não só contribuir. A gente não tem ainda muita clareza ainda do modelo de gestão do “Centro de Referência”, a gente quer que a PMV tenha uma gestão direta, que ela execute. Ma como é que o jovem vai participar? Ele vai participar com a elaboração? Mas como é que ele faz o acompanhamento? Quer dizer, vai ter um conselho consultivo? Não sei. A formatação vai ter que ser construída aí. 7. Vocês tão pegando de exemplo algum centro que já foi construído no país? É, a gente vai lá fazer uma visita lá em Diadema, pra ver como que lá funciona. Diadema tem não só um “Centro de Referencia”, mas é um Município que onde teve uma redução muito grande da violência, então o “Centro e Referência”, com certeza, é parte de um conjunto todo da prefeitura, do Município também. A gente tem outras inspirações, por exemplo, eu acho que a Ação Educativa, o Observatório da Juventude, lá na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o Observatório do Jovem, lá na UFF(Universidade Federal Fluminense) é uma referência também, eu acho que tem algumas experiências que já trabalham, discutem um pouco dessa questão da juventude e a gente tem tentado trazer um pouco pra discutir. 8. Os projetos são basicamente esses então? É, são basicamente esses, mas cada projeto desse se desdobra muito, por exemplo, o “Agente Jovem” já tem quatro convênios de fortalecimento da arte, da cultura, convênio para que os jovens façam música, teatro, artes plásticas. Por exemplo, a gente tenta se relacionar com segmentos da cidade, com Hip Hop, quarta reagge, agora a gente esta tentando se aproximar. Então o “Rede Jovem”, também, faz uma série de interlocução com a cidade, por que se não assim, não dá pra ter uma dimensão do que a gente faz. È por que a gente não colocou no papel o que agente faz por que se fossemos colocar a gente ficaria assustadíssimo com o que a gente já fez até hoje de interlocução. Quando a gente começou, até o ano passado, esses fóruns de juventude, ainda foi muito inicial. A gente fez o fórum, uma experiência importante, mas não atingimos 1/3 dos segmentos juvenis que a gente tem contato hoje. Se o fórum fosse feito hoje ele teria uma outra característica, hoje a gente já conseguiu atingir um pouco desses segmentos, como? Qual a estratégia? Essa é uma grande questão. Estratégia de atingir a juventude é uma coisa complicada. Por que você cria espaços para a juventude chegar, cria-se canais, mas você tem que criar uma vinculação com eles também, isso é uma coisa cotidiana, você vai trazendo os jovens eles vão participando aos poucos, né? Não tem assim, você vai trazer todo o seguimento, você vai trazer tudo de vez, “ah, vamos fazer um fórum juntando todo mundo” . A questão é: de que lugar você está falando? (...) Por exemplo, vão fazer um fórum e trazer todos os segmentos, por que poder público, assim, não é representativo, quando é com a juventude aí é que ele não é mesmo. Por que a juventude se mobiliza independente do poder público e o poder público não tem essa credibilidade, essa legitimidade de chamar o jovem, assim, “vamos fazer um fórum com 1000 jovens e todos os segmentos?”, isso é uma fantasia. É uma demanda muito mais do poder público, de quem está propondo ou é uma incompreensão do lugar, de que lugar você está falando? Você tem que falar de um lugar que você tenha legitimidade e essa legitimidade ela é construída nessa relação com a juventude. Por exemplo, a gente tenta chegar, vamos chegar nos movimentos lá da Curva da Jurema? da periferia? então a gente monta os núcleos na periferia, vamos chegar no Agente Jovem? Chegar na classe social? O “Cine Kbça” é uma estratégia de você [...] na verdade é como se fosse uma construção e aos poucos essa juventude vai chegando e aí um dia você vai fazer um fórum com 1000 jovens [...] Então do lugar que você fala é muito importante. Por que se não você se perde, você pensa em 1000 jovens e não chega nem 10 e você acaba se frustrando, pensando que não deu conta, mas não é assim não. Por que, se você não tiver uma dimensão da onde você está falando. Se você não tiver uma interlocução, uma credibilidade, você não consegue falar, isso independe de ser a juventude ou não, quando é a juventude aí é que ela se movimenta independente do poder público mesmo. Você vê um campeonato de Skate organizado pelos jovens, dá 250 jovens, 300 jovens, que nem nunca apareceram aqui na PMV, e se a PMV aparece, ela até atrapalha o movimento. Então tem essas questões, né. 9. A gente queria saber também com relação ao orçamento que você falou, a juventude tem orçamento próprio, né, quanto que é? É uma grande conquista, a nossa maior conquista foi no orçamento. É como se a gente tivesse saído de um orçamento próprio de R$ 50 mil e fosse para R$500 mil. Então é uma conquista. Essa questão de fazer interlocução com a juventude, você abre muitas frentes, não tem jeito. Aí você vai se legitimando e a juventude vai vindo e essa coisa vai acontecendo e você vai justificando, e todo mundo vai percebendo é como se fosse uma bola de neve. O ano passado a gente fez um movimento que não foi muito grande, mas saímos de um orçamento que não tinha nada pra juventude praticamente, só tinha a verba federal, do “Agente Jovem” ,e a contra partida do Agente Jovem que a prefeitura é obrigada, então não conta né? isso era obrigação. Nós construímos um orçamento próprio de quase R$ 500 mil, pra trabalhar com esses projetos todos. 10. E era dotação própria? Essa verba vem pela ação social, nós conseguimos até mais que os outros programas que tinha dotação específica. Mas isso tudo é uma conquista, não teve uma estratégia, foi a própria juventude vindo, ocupando esse espaço, marcando e fazendo uma pressão. 11. Como é a relação dos técnicos com a juventude? E como é feito o planejamentos dos projetos que você citou? O nosso departamento não tem nenhuma parede. A primeira coisa era essa. E todos os jovens que quiserem chegar eles podem, é um espaço onde os jovens têm acesso. No início foi até difícil, pelas características de roupas, de comportamento, por que às vezes ele chega falando alto e então destoava um pouco do conjunto da Secretaria, mas depois eles tiveram que se acostumar com essa questão. E aí o jovem tem acesso, assim muitos técnicos assistentes sociais, psicólogos, ou mesmo do ensino médio, eles se assustavam um pouquinho. Primeiro por que o jovem tem acesso, entrava e sentava no computador, muitos técnicos até saíram, por que não foram se adaptando, não conseguiram perceber, é a relação de poder. Como é que aquele jovem chega, senta no computador, aquele jovem fala alto, boné pra lá pra cá, cabelo pra cima, muita gente ficou incomodado de mais, alguns profissionais pediram pra sair e alguns nós tivemos que conversar com eles. Mas, assim, hoje a equipe, tem essa compreensão de que juventude é um sujeito de direitos, jovem não é problema, mas sim, é uma diversidade, ele tem umas características próprias, de se colocar, faz parte do processo. E aí eu acho que hoje a gente tem uma equipe muito legal de trabalho, isso faz uma diferença enorme no nosso departamento. Desde os estagiários, eles se envolvem, não importa o dia, se é final de semana, se não é. Então eles se envolvem muito. Aí os jovens se identificam. Aí passa também por uma identificação do trabalho. Por exemplo, a gente tem uma grande dificuldade quando entra um profissional aqui, de serviço social então, aí é uma loucura ,rsrsrssr. 12. Por que? Por que, achar um profissional de serviço social que vai pra esse departamento é caso raríssimo. A gente fica pensando, por que aqui é totalmente diferente. Por que o jovem tem acesso ao espaço, os profissionais ficam desesperados, porque eles chegam e sentam no computador, são muitos jovens de vez, alguns falam alto, outros xingam. E outra coisa, a gente tenta trabalhar com essa diversidade, por exemplo, a gente traz os negros, os homossexuais, então, se você tiver um nível mais elevado de preconceito, você tem dificuldade, não tem jeito. São exatamente com esses jovens que a gente tem que trabalhar. O que eu sinto no nosso departamento tem duas características básicas que permeiam alí: uma é a questão do compromisso, nós não temos compromisso com horário, nós temos compromisso com a juventude, então qualquer pessoa que não tenha compromisso ela destoa, por que? Por que não tem paredes, ela não tem como se esconder. Outra coisa, a gente não tem muito nível de preconceito. Quer dizer, não é que nós não temos preconceito, mas nós tentamos, a todo tempo, desconstruir o preconceito racial, sexual, essa questão toda. Portanto, qualquer pessoa que tenha muito preconceito a nível sexual, racial, como não tem parede novamente, quando ela vai falar ela destoa do conjunto, aí ela aos poucos vai se excluindo. Então esse exercício de minimizar os preconceitos e de correr atrás do compromisso é uma coisa que não é falada, mas ela permeia o departamento. Aí, tem técnico que fica desesperado, por que a gente tenta problematizar o movimento funk, por que a gente acha expressivamente um movimento fortíssimo, que dá espaço aos jovens da periferia, que dá muito emprego a esses jovens, dá perspectiva, dá visibilidade. Quer dizer, olha os olhos. Imagina se o técnico que entrar ali achar o funk um movimento de negros que fala só sacanagem, ele vai ficar doido. Por que essa não é a discussão que a gente tem. Aí essa é uma discussão que eu acho que faz a diferença. Então não é qualquer profissional que chega ali e se depara, às vezes ele fica desesperado. A questão da droga a gente discuti, a gente não quer saber de preconceito não. 13. E como é feito o planejamento mesmo? Citando o exemplo do Cine Kbeça que você acabou de falar, o planejamento é feito com a juventude ou não? Olha só, aí é uma conquista né? Esse é um grande desafio, o desafio está aí. Bom, no Cine Kbeça eles tentam, mas não é fácil não. Eles tentam levantar os filmes, eles vão às escolas e tentam levantar os filmes que os jovens querem, algumas vezes é legal é uma metodologia que eles perseguem. A outra proposta, eles mesmos propõe. Então algumas vezes eles tentam levantar os filmes e outra vezes eles ditam os filmes. Só que o que você esta falando é a questão do protagonismo. É muito difícil o protagonismo, transformar o outro em protagonista não é uma coisa macro, é uma coisa micro, é nas micro relações. Por exemplo, no “Agente Jovem”, como é que o jovem participa? é uma coisa a perseguir. Como é que você cria o espaço para o jovem decidir nas cidades? Você estimula o jovem a participar dos conselhos? Conselho da criança e do Adolescente? Por exemplo, o agente jovem estava num espaço escuro, eles ficaram um mês falando, nossa que lugar horrível, então eu fiquei pensando, será que o jovem está usando o espaço ou a gente vai revitalizar esse espaço com o jovem? Então, isso que é a questão do protagonismo, se o espaço esta escuro, como você implica o jovem na resolução do problema? A discussão é, se você implica o jovem na decisão do problema? No processo? Não é no processo, é no planejamento do processo. É uma coisa difícil, mas a gente está tentando perseguir. É uma visão de mundo construtiva, né? Você tem que ter uma visão de mundo construtivista, vamos dizer, onde você possibilite ao outro se tornar sujeito, mas isso não é uma coisa mecânica, é uma filosofia de vida, em cada técnica, cada programa tem que fazer o exercício diário disso. Isso não é uma coisa que se fala só. Isso é um exercício cotidiano. Por mais que você tente ser construtivista, você não é construtivista aqui, isso é uma filosofia de vida. Portanto você enquanto profissional, enquanto programa, você tem que ter uma prática construtivista aqui, na sua casa e isso é muito difícil, no seu quotidiano. O protagonismo não é uma coisa que brota, não é uma coisa que sai do ar, é um exercício, você persegue ele. Você tenta criar canais, por exemplo, a Secretaria de Juventude, Subsecretaria, da gestão passada, criou uma estratégia linda, uma Câmara Técnica de Juventude, onde tinha diversos segmentos, que mais que esse canal de participação? Mas, tinha uma prática extremamente autoritária, então você pode trazer o cara na participação até na bolinha de gude, assim, não precisa ser uma coisa complicada, esse é um exercício que você persegue como uma filosofia de vida. Assim, então a gente tenta exercitar, e você precisa refletir sobre a prática, pra fazer isso. O que a gente está tentando fazer é o seguinte: olha só, um canal importante que a gente está tentando fazer é estabelecer uma metodologia que cada programa desse tem que ter um dia de grupo de estudo, isso é uma diretriz por que o que vai fazer chegar lá (...) como você falou o Cine Kbeça permite aos jovens participar do planejamento? Algumas vezes, mas pra se tornar uma filosofia desse programa os próprios profissionais tem que mergulhar no planejamento entre eles, tem que ter um dia de estudo. Esse dia que vai dar credibilidade, dar sustentação pra perceber, os jovens lá estão sendo mais tutelados? Ou eles estão sendo mais protagonistas? Por que isso é como se fosse uma coisa a perseguir não é uma coisa estabelecida. Então uma estratégia que a gente está adotando é que tenha um dia de estudo, pra reflexão da prática, aí uma das questões é essa que você está colocando, qual é a proposta teórico-metologica? Que tipo de sujeito eu quero formar com aquela ação? Um sujeito mais passivo? Um sujeito mais participativo? Ah eu quero mais participativo? Então como é que ta sendo a [...] A mesma coisa você pode pensar dos programas de família, qual é o programa de família onde as famílias decidem? Participam do processo de decisão? De planejamento? É mais ou menos isso, mas o que garante isso é o espaço de reflexão da prática, por que esse espaço de estudo e reflexão da prática é que vai garantir essa reflexão de um espaço mais participativo, uma metodologia mais participativa. 14. E quanto à gestão das políticas públicas, na sua opinião, qual a maior dificuldade encontrada? A especificamente, uma das dificuldade, em relação à juventude, é a compreensão social, é a representação social sobre a juventude, que é juventude enquanto problema, acho que é o jovem percebido, principalmente em comunidades periféricas, enquanto um bandido impotencial. Então em termos de implementação das políticas em nível macro, eu acho que é essa representação social da juventude. Essa representação social da juventude faz com que você acabe tutelando o jovem, ou tendo uma visão mais “policialesca” do jovem. Então o jovem, visto mais como um problema de ordem social, onde precisa de intervenção ou policial ou tutelada, isso faz com que você não crie uma compreensão que respeite esse jovem enquanto sujeito de direitos. Crie canais de fato legítimos. E aí quando você cria canal, você tenta cooptar o jovem, se não cria canal onde você só estimule a participação, onde você traga o jovem, para que ele seja de fato alguém que decida. Mas você ou quer cooptar ou você quer tutelar esse jovem, então essas representações sociais são um grande impedimento disso. Os espaços criados para juventude no poder público geralmente, não tem orçamento, quer dizer, as administrações acabam fingindo que estão fazendo. Ou são atreladas a prática política, atrelada a partidos, jovens que vem do movimento estudantil, que entra em determinado segmento, ou pra se projetar e já ser candidato ou pra fortalecer outro candidato, então essas instâncias burocráticas são sempre montadas nessa perspectiva de juventude, sem uma interlocução de fato com a juventude da cidade. Internamente aqui na prefeitura, o grande entrave, para a execução de políticas públicas, talvez, seja a morosidade do poder público em responder né. Hoje uma jovem falou assim “vem cá mais vocês definiram no OP apoiar o pré-vestibular popular né? Pois é, mais está muito devagar, sabe por que? Nós estamos no mês de abril, nós já montamos o pré-vestibular vamos começar terça-feira e vocês ainda não se mobilizaram” então eu acho que assim, a lentidão do poder público para responder as demandas é u ma grande questão, é um fato que impede a execução. 15. Com relação às ações destinadas a cultura como está a questão na PMV? Eu acho que a cultura nesse ano já está, começando a se aproximar da juventude no conjunto da cidade. A cultura no ano de 2005, ainda estava se apropriando disso, por que ela ficou muito presa em ver shows, eventos, não tinha uma coisa mais vinculada às comunidades, de chegar a esses jovens lá na comunidade. E agora eu acho que ela já está se aproximando mais. 16. E agora como ela está investindo mais? Agora, por exemplo, tem um projeto chamado “Circuito Cultural”, onde tenta identificar os talentos da comunidade, tenta fazer uma reunião com a comunidade, ver o que a comunidade quer, depois ela tenta fazer um cadastro desses talentos, uma coisa importante, colocam eles para tocar, por que isso dá visibilidade. É projeto da secretaria de cultura, que eu acho bacana, 80% do público é a juventude. 17. E quanto ao conselho de juventude, está havendo alguma movimentação para criação dele? Sim, a partir da discussão do PNJ, a gente já começou a pensar nessa discussão do conselho. Agora a gente quer seguir mais ou menos a formatação que a Secretaria Nacional está conduzindo. 18. O que você acha do PNJ? Acho que é o ponta-pé inicial, acho que é o início de uma caminhada. Assim, não podemos pensar que em nível muito macro, ele vai construir muito, que a participação seja tão efetiva. Por que exige muito recurso. Eu acho que eles tão fazendo até um exercício de trazer esses segmentos. Acho também que nos estados poderia ter uma mobilização maior, acho por exemplo, aqui no estado só tem uma deputada e ela não tem uma interlocução local. Isso pode ser uma característica do nosso estado, eu não tenho uma dimensão de como está se articulando nos outros estados, especificamente. Como é que isto esta acontecendo? Se está havendo mobilização? Especificamente aqui no estado eu acho que não houve um amplo debate, poucos segmentos tem noção dessa formatação do plano e tal, mas isso não viabiliza não. Acho que de qualquer forma é um começo, é uma iniciativa importante inclusive. Por que, por exemplo, se o plano estabelece conselhos a nível federal, a nível estadual, a nível municipal, já é uma grande [...] estabelece fundos, estabelece um estatuto, isso tudo tem uma repercussão depois, eu acho que a juventude pode, mesmo entrando na participação atrasada, ela pode decidir, pode ter espaço de decisão importante. Então apesar de ter sido feito de uma forma meio contraditória, sem um grau de participação elevado, mas ela ainda tem espaço para entrar aí no processo. 26/04/2006 Gestor 03 Secretaria de Coordenação Política 1. Qual a atribuição da Gerência de Relações com a Juventude? A Gerência de Relações com a Juventude, da Prefeitura Municipal de Vitória, tem como prioridade, fazer a interlocução com os diversos setores da secretaria de esfera municipal, sobre o tema juventude e sobre os projetos e programas para juventude que a Prefeitura for implementar. Então, para não ser prolixo, nós somos aqueles que, teoricamente, fazem a integração dos projetos na administração. 2. Vocês têm alguma relação com a Gerência de Juventude? Vocês trabalham junto? O "departamento de Juventude" é um espaço da "Secretaria de Ação Social". Tem diversas finalidades, entre elas, gerenciar os programas federais e a construção de alguns programas que dizem respeito as políticas públicas para Juventude. A diferença da gente para o departamento é que o departamento, acho que é mais um espaço da política “fim”, nós somos a política “meio”. Quem mais bate na questão dos programas, da administração, seria o "departamento de políticas de juventude", gerência agora né? da "Secretaria de Ação Social". Algumas coisas nós temos conversado juntos, avançamos em algumas e tal. O debate do Orçamento Participativo (OP) foi feito em parceria. Inclusive nós procuramos ajudar em algum espaço que foi deixado pelo vácuo de 240 mil reais do orçamento, sendo do Centro de Referência da Juventude (CRJ), estamos tentando trabalhar isso. Então... podemos dizer que existe parceria sim, no sentido de encaminhar as políticas para o município. 3. Mas vocês têm projetos também? Acabou que ficou uma coisa, meio que, não uma atribuição específica nossa fazer projeto. Não é. Se você for pegar o organograma da Prefeitura, as atribuições, com a nova reforma administrativa, essa gerência não tem essa finalidade. Nós fizemos, pelo fato de que, quando foi apresentado o OP da Juventude (Vitória é hoje, a única cidade do Brasil que separa 3% do orçamento de investimentos da administração para políticas públicas para Juventude), nós só tínhamos, se não me engano, o orçamento na faixa de 146 milhões, 3% aí, vamos arredondar, vai para 4 milhões e alguma coisa, nós só tínhamos 600 e poucos mil onerados pra utilizar esse orçamento. Nós sentimos necessidade de trabalhar algumas idéias para utilizar esse recurso, se não ficaria muito feito pra cidade, né, a gente tem um recurso que não é utilizado. Então quer dizer, a gente criou projetos para utilizar esses recursos que estavam disponíveis. Então, por isso, nós temos projetos para cidade, relacionados, obviamente, a juventude. 4. Vocês concretizaram algum projeto? O que é que acontece. Nós começamos a caminhar muitos projetos com algumas secretarias que faziam interface, que tinham afinidade com determinado projeto, por exemplo, nós fizemos um projeto chamado programa "No Rock". Que é um programa que iria fazer interface nas boates e tal, para gravidez na adolescência, DST/AIDS, violência juvenil, é uma coisa bem ampla e envolvia a Secretaria de Saúde e a de Cidadania. Então nós começamos a construir o programa, uma coisa de todo mundo, porque não nos interessa ter paternidade de idéias, nosso interesse é trabalhar pela cidade, pelo município, compromisso com a administração do prefeito João Coser. Nós queremos que ela dê certo, então, nós temos o problema pra implementação da disponibilização dos recursos do orçamento participativo, que nós não conseguimos ainda utilizar esses recursos. Foi feita uma mudança na equipe de planejamento. A Secretaria de Planejamento não existe mais, agora é Secretaria de Gestão Estratégica e a gente teve alguns problemas com a metodologia do orçamento participativo, tanto é que, inclusive a SEMAS (Departamento da Juventude) ficou sem os 240 mil reais para fazer o CRJ. Então a gente tem que resolver esse problema do Orçamento com a administração para tocar os projetos. Na verdade, o que a gente conseguiu fazer, que não depende de dinheiro, foi a Câmara técnica de políticas públicas para juventude do município. O que é, justamente, fazer uma integração entre todos os gestores de políticas públicas para juventude da administração, o momento que a gente vai conversar, discutir, encaminhar. Isso a gente conseguiu fazer. É importante porque você tem que assimilar que política pública para juventude,... juventude é um tema que faz interface com várias secretarias, então tem que ter transversalidade e tendo transversalidade, dá oportunidade dos outros participarem também das decisões, então a gente conseguiu caminhar muito bem. Outra coisa que a gente está, acredito agora que nesse próximo mês a gente conclui, é criar um espaço com outros setores da sociedade civil para discutir o tema de políticas públicas para juventude. Quais são esses setores: Secretarias do Estado relacionadas ao tema juventude, Polícia Militar, Federal, Ministério Público Federal, Estadual, Juizado de "menor", a gente quer trabalhar a concepção de juventude dessas pessoas. A gente acredita que existem conceitos ultrapassados e que precisam ser modificados. Por exemplo, o Juizado de "menores" ele tem uma visão equivocada de juventude. O próprio Ministério Público, o promotor, quando vai agir num caso de violência juvenil, a forma com que ele lida com esse problema é uma forma muito complexa, difícil de entender como gestor de política. A gente acha que tem o papel de estar mudando a concepção dessas pessoas e como fazer? Seria um fórum para gente discutir com esses setores políticas públicas para Juventude, a própria ação da Polícia Militar, que às vezes é uma ação exagerada, não tem a compreensão do problema que aquele jovem passa, para ele estar cometendo aquele tipo de atividade, e joga muito a questão pro lado da marginalidade, como se fosse uma pessoa a margem da sociedade, uma afronta a sociedade, mas não tem a concepção de que a sociedade é que criou condição para isso e aquilo. Tenta trabalhar isso para acabar, tenta trabalhar essa questão da violência policial, de jovens, que é muito eminente na cidade de Vitória. 5. Qual a sua concepção, sua visão de juventude? Minha visão de juventude parte do princípio de que juventude é uma faixa etária, não um estado de espírito, mas uma faixa que está em transição, com problemas dos mais diversos, sejam psicológicos, de inclusão na sociedade, na busca por emprego, da sua identificação social. Então partindo desse pressuposto, inclusive, o jovem acaba sendo um alvo do capitalismo, da estrutura capitalista pra consumo, essa problemática que o jovem [...] existe. A gente tem que entender que, diante dessa problemática, até de opressão que o jovem passa, a gente precisa perceber, para trabalhar com políticas públicas que, independentemente da gente achar similaridades dos problemas que a juventude vive, um deles é essa questão da transição da idade, é [...], outra coisa é que a gente tem várias juventudes, né? A gente tem de trabalhar com a concepção de que a juventude, ela não é única. Ela tem singularidades, tem coisa que são singulares também, a juventude do baile funk, que tem aquele espaço social, aquele gueto; a juventude da boate, que de certa forma tem um gueto; a juventude do hip hop já tem outro espaço. Então você tem que trabalhar a concepção, ela tem que trazer um pouco esse período de transição e também do espaço que a juventude se insere. Trazer que a juventude é um alvo dos meios de comunicação, consumismo, então você tem que construir todo um aparato para você, na hora de conceber as políticas públicas, estar entrando em cada um desses espaços. Não sei se eu fui muito claro. Mas eu penso que, enfim, não existe uma juventude única, existem diversas juventudes. Isso inclusive redobra o nosso trabalho, porque você tem que diferenciar políticas, nós estamos com a proposta do funk legal, um projeto muito legal, que é um projeto que além de trazer consciência sobre diversos temas com aqueles que freqüentam o baile funk, é também desmistificar o preconceito de quem freqüenta o baile funk sofre na sociedade, "que é o cara que não presta, só tem briga, sexo liberado", é um idéia que, de certa forma, não pode ser tratada assim. Se você for parar pensar, as boates que a classe média, que a gente freqüenta, também tem tantos problemas como tem o baile funk. Só que, como o baile funk é uma representação da sociedade, de um estrato social em condições de, talvez de marginalidade, uma condição desfavorável, ela é tratada dessa forma, de forma preconceituosa. 6. Quais são as demandas da Juventude? Como vocês fizeram? Na verdade antes, eu queria que você falasse um pouco com relação a esses projetos que você falou, que tem vários projetos que a gerência de vocês fazem e falou que está implementando mesmo só o da câmara técnica. E falou também que existem vários projetos, no caso esses projetos como foi a elaboração deles? vocês utilizaram participação? Como foi, como vocês trabalham a participação juvenil na gerência? A gente pode dizer que os projetos nasceram de duas formas. Essa gerência começou em 23 de março de 2005, o dia em que foi criada, não era gerência ainda, era assessoria de juventude, ligada ao gabinete do prefeito. Então, naquele momento, nosso papel era de representação institucional. Os representantes do gabinete do prefeito, isto fazia relações com grêmios estudantis, DCE, então era uma relação extremamente política das demandas que existem nessas instituições junto à administração municipal. E quando nós vimos a necessidade de passar além disso, e repito, isso surgiu quando no OP da juventude, nós fomos trabalhar experiências existentes no resto do país, o que cada um estava fazendo, o que estava dando certo, e vamos pesquisar. Ficamos basicamente duas semanas reclusos, fora da administração, lendo, assim, coisas ao extremo, a primeira semana mais de estudos, a segunda semana mais para tentar trabalhar, enfim, assim se deu essas coisas, a gente foi buscar referências, a gente não teve propósito de querer inventar a roda. Fomos ver como funciona para tentar adequar à nossa realidade. Num segundo momento, nós trabalhamos em cima das propostas que surgiram nos congressos de juventude. Foram realizados congressos em cada regional da cidade. A cidade é dividida em regional, nelas surgiram demandas que foram agrupadas, essas demandas a serem votadas no OP da juventude. Acontece que muitas dessas demandas eram superficiais, algumas inexeqüíveis, porque, não cabiam para a administração municipal fazer. Ou algumas muito direcionadas, "construção da quadra no meu bairro". Então a gente não podia trabalhar dessa forma. Pegamos algumas idéias e trabalhamos para estar buscando a construção de programas. 7.Mas como você pode dizer qual a demanda da juventude de Vitória? Você tem como tirar um perfil da demanda? Olha, não vou dizer para você a demanda, posso falar qual o nosso maior desafio. Nosso maior desafio é com a outra ilha de Vitória. O prefeito João Coser, durante a campanha eleitoral, discutia esse impasse que Vitória era duas ilhas, então, o objetivo nosso é construir políticas que diminuam essas diferenças, obviamente, a maioria dessas políticas são direcionadas a regiões de Grande Santo Antônio, Grande São Pedro. Esses espaços onde a gente tem maior risco social. Então as políticas estão mais focadas, o que não quer dizer que nós não temos políticas para toda cidade. Existem políticas para toda cidade, mas nós temos que trabalhar onde o problema é maior, até para diminuir essa dificuldade. O objetivo é acabar com as duas cidades, mas agente sabe que não vai poder fazer, então vamos diminuir um pouco esses índices negativos da outra Vitória. 8. Você já falou também do orçamento, né, que são 3%. Vai direto ou via Ação Social? A gente trabalha isso da seguinte forma, esse recurso, o projeto é discutido no congresso da juventude e votado lá, para ser utilizado esse recurso, uma vez que essa idéia foi votada e discutida, você identifica a secretaria afim. Por exemplo, um programa que tem interface com a saúde. O recurso não vai para a saúde. A saúde vai executar esse recurso, só que a gente monta uma equipe com outros setores para encaminhar essa idéia. Essa é a metodologia. 9. Então são 3% para a juventude como um todo? Não importando se o programa vai sair da gerência, da secretaria de saúde...? É preciso então fazer uma observação. São 3% para a juventude, mas é ela quem decide como esse recurso vai ser gasto, senão a gente pode ter a idéia do seguinte: "construção da quadra esportiva Grande Maruípe" atende a juventude? Atende, mas não saiu do OP da juventude. Entendeu? São duas coisas diferentes. A administração faz políticas para juventude independentemente dos recursos destinados só para o OP. Os 3% são só para o OP, são votados e é decidido seu gasto [...]. 10. E esse OP que teve agora, vocês conseguiram realizar? Fizemos. Nós estamos com problemas no orçamento. Já respondi [...]. Mas acredito que, até a primeira quinzena de junho nós já temos um start para caminhar as coisas, os projetos já estão basicamente prontos. A gente agora vai executar. Momento da execução e essa execução começa quando a Secretaria da Gestão Estratégica virar e falar: "olha está Ok. O recurso pode ser utilizado". Aí é a parte da execução. Você deve entender que, como estudantes de serviço social, para você fazer um projeto você tem de fazer alguns estudos, se referenciar e a gente aqui é fazer muita reunião. A gente aqui não tem, não faz idéia de que o projeto é da Gerência de Juventude. É do município de Vitória. Então a gente senta com a Saúde, com a SEMAS, para a gente construir junto os projetos e dividir tarefas. Então você tem um prazo de maturação para construir projeto também. A gente aqui, como gerência, foi instituída de fato em janeiro, as atribuições específicas como gerência e tal [...] O que falta mesmo é resolver a situação do orçamento mesmo e ir para a execução, do que precisa utilizar de recurso. 11. Você está vendo alguma movimentação para a criação do conselho municipal da juventude? Pois é. Qual é a questão do conselho municipal de juventude? A atribuição da criação dos conselhos, conferências, etc, é da gerência de relações com a Juventude. É nossa. Porém a gente está com problemas de concepção do que vem a ser o conselho municipal de juventude. A gente tem visto experiências em vários estados do Brasil. Qual é o nosso medo? A gente está buscando o melhor mecanismo para a construção do conselho para que seja um espaço que represente de fato a juventude do município. A gente não quer que seja uma instância político-partidária. Então a gente está tentando inventar a roda, a gente está vendo como incluir a maior parcela dos movimentos sociais para que isso não vire um espaço políticopartidário. As pessoas dos partidos políticos podem participar? Até devem, mas é o conselho que não pode se resumir a isso. Mas, a gente acredita que, a gente, vai caminhar para a construção do conselho sim. O que traz alguma dificuldade, porque você vai entender que a concepção do conselho de juventude, vai esbarrar em outro problema: a prefeitura de Vitória tem um organismo chamado Congresso de juventude para discutir o OP, então você vai ter que criar um mecanismo de como o conselho vai se relacionar com isso, quais serão as interferências entre um e o outro. Porque o conselho tem uma atribuição. Ele pode ter uma atribuição deliberativa desse orçamento, mas, isso vai ser uma decisão de governo. De repente tirar essa atribuição dos congressos e jogar para os conselhos, é uma decisão que não cabe a gente, é uma decisão do prefeito. A gente entende que o conselho deve existir sim e a gente vai caminhar para uma forma que o conselho seja uma representação bacana dos movimentos sociais. 12. Vocês estão trabalhando ainda com isso? Nós estamos em fase de maturação. Temos que fazer algumas conversas, porque, temos que ver como vai funcionar os conselhos junto do congresso. Aí é um outro problema, porque, [...] eu não acho bacana você ter o Congresso da Juventude, o Conselho Municipal da Juventude, a Conferência Municipal da Juventude... O Congresso da Juventude decide o OP da juventude e a Conferenciam Municipal da Juventude vai decidir o que? A gente vai fazer Conferência para discutir, para debater, para educar a juventude? Vocês estão entendendo? Ou essa Conferência da Juventude também vai decidir como vai ser gasto o dinheiro do OP? Você tem de tomar decisão, não adianta você ter muitas esferas de discussão se não você perde a finalidade, as finalidades, as atribuições se misturam. Então tem que tomar uma definição sobre isso. Então é o que, Conferência, Congresso, Conselho? Você vai ter que dar atribuição para cada um desses espaços. E obviamente se você cria esses espaços com pouca representatividade você vai criar para quê? Pra dizer que existe? Para dar uma satisfação para a sociedade? Você tem que criar um espaço que tenha condições para caminhar políticas. O congresso de juventude está dando conta disso, por enquanto. 13. Como está a relação de vocês com o Conselho Nacional e a Secretaria Nacional de Juventude? A nossa relação é até uma relação de amizade, porque nós conhecemos as pessoas que estão lá, já conhecíamos antes de serem secretários, o Beto Cury, antes de estarem na Secretaria Nacional de Juventude. É uma relação institucional de pegar informações, trocar dados. A Secretaria Nacional tem um problema, ela está ligada à Secretaria Geral da União. A Secretaria Nacional [...] aqui nós fazemos relação com os secretários. Imagine você que fazer integração de política com secretário já é difícil, porque, obviamente, os secretários querem mostrar seus serviços para a comunidade. Isso é bom? É mais acaba atrapalhando, porque os espaços, às vezes não se abrem como deveriam para a gente fazer transversalidade. Esse é o maior problema da gestão de políticas públicas no Brasil, é a transversalidade real, é você ver fluir, entendeu, você ver o entendimento dos secretários municipais, estaduais, ministros, que esse tema é de extrema relevância para a sociedade brasileira, não é? É uma faixa de desempregados, de 15-24 anos, os índices de violência, os jovens que estão morrendo cada vez mais cedo, a população carcerária, juvenil, na maioria negra, isso é um problema. Temos que fazer um momento de sensibilização ao extremo, desses cabeças, para que eles vejam, de fato, que a juventude deve ser tratada de modo especial, e ai você tem de buscar transversalidade, porque você fazendo isso, você ganha mais um aliado para você ter recurso para gestar política, porque não adianta você ter só programa, se você não tem recurso, você não toca. Eu acho que a secretaria nacional de juventude passa por esse problema. Imagine você que a relação deles são com ministros. Um deputado federal, que é da base do governo não consegue conversar com ministro. Imagine a dificuldade deles de conversar com ministros para tocar política. Então, o trabalho deles é dobradíssimo, que exige [...] Mas acho um avanço a Secretaria Nacional de Juventude, o Plano Nacional da Juventude (PNJ) que a gente discutiu em Brasília no final de março. Estão tocando pautas importantes, algumas inclusive que nós devemos copiar o que estão fazendo. O PNJ é um avanço, é um debate importante, não foi o que muitos esperavam, mas o debate foi feito. Isso é importante. 14. Só para fechar, assim [...] queria saber se além do funk legal que você citou, há algum projeto da gerência ligado à cultura? O que acontece, agente tem um controle de tudo o que todos estão fazendo na administração sobre juventude. Basicamente tudo. Eu estou falando aqui pela administração, quero deixar isso claro, né. Como representante institucional da administração no que se refere à juventude. A gente tem o entendimento de que, e eu conversava isso com um aluno de ciências sociais da UFES, que ação não precisa ser especificamente da gerência de relações da juventude. Ela pode ser da SEMCID (Secretaria Municipal de Cidadania), SEMC (Secretaria Municipal de Cultura), isso é política do governo e o prefeito João Coser tem muita sensibilidade para discutir o tema juventude. Acho que isso está claro, todas as secretarias, em sua maioria, têm programas voltados para a juventude. A gente tem os jogos comunitários, da secretaria de esportes, que está levando esporte para a juventude nos bairros numa forma legal, bacana. Tem muito mais. Talvez seria interessante, se tivéssemos condições de fazer, um relatório para encaminhar para vocês para não ter que estar falando tudo isso aqui. Você tem da SEMC, o circuito cultural, é um programa da secretaria, mas você de repente tem um programa que surgiu no OP da juventude, que é o cartão jovem, que é uma remuneração mensal para um grupo de 1000 jovens durante um ano para ele utilizar em eventos esportivos e culturais. Estamos discutindo agora a metodologia para ver como esse jovem não vai pegar esse dinheiro e vai gastar com outra coisa que não seja cultura ou esporte, mas é uma idéia. Tem também a idéia do rock na garagem que a prefeitura vai estabelecer um espaço público para as bandas estarem... sábados e domingos de 2 as 10, as bandas de garagem vão fazer seu cadastro e vão tocar para apresentar seu trabalho e, de certa forma, a gente vai criando um espaço para o jovem na cidade. A gente espera que, com a criação da Fábrica 747, nós estaremos lá junto, que é para dar a possibilidade de quem mexe com música , não tem espaço, estúdio, possa utilizar isso . 15. Esses são aqui da gerência? São da gerência. Tem o cartão jovem, rock na garagem, estúdio e tal, são coisas que nós estamos tocando aqui. Na segurança pública você tem a idéia do Comitê da Paz, que faz essa interface dessa discussão da violência juvenil de uma forma importante, tem o protagonismo estudantil na Secretaria Municipal de Educação que vai discutir a idéia dos grêmios junto com a gente, você tem propostas da Secretaria de Educação de criar pré vestibular e curso pré técnico, a SEMCID estabelece uma aço que atende vítimas de violência de gênero, da faixa etária da juventude também, trabalha a questão do amparo a pessoas que são discriminadas, os homossexuais. A Cultura também trabalha com a idéia da orquestra juvenil. Na SEMAS você tem programas para trabalhar o adolescente em conflito com a lei, estou dizendo políticas que a administração está realizando. O agente Jovem da SEMAS que é de recurso federal. A SEMAS também, parece que está fazendo o cine cabeça, enfim não vou tocar em muita coisa porque muita coisa vocês conversaram com o Luiz lá na SMAS. O festival social e cultural da juventude que vai ser realizado lá na UFES, estamos dependendo agora de um acerto com o reitor porque vamos precisar utilizar o espaço da universidade. Vamos ter oficinas, workshop, mesa de debate, grupo de trabalho, música, teatro, vai ser um movimento grande e algumas dessa idéias... Vai ter debate sobre juventude, cultura, vai ser uma coisa grandiosa para discutir juventude. Existem algumas experiências exitosas no Brasil, Pernambuco teve uma maravilhosa com 46 mil jovens, um negócio de outro mundo, nós não vamos conseguir isso, pelo menos agora, até mesmo por causa dos recursos, eles gastaram lá 800 mil reais, tiveram apoio da Petrobrás, Unicef, a hidrelétrica do Rio São Francisco, que é essa empresa estatal que apoiou eles. Mas agente espera fazer alguma coisa nesse molde. O que eles fizeram lá foi um sonho, a gente quer fazer igualzinho. Trazer as pessoas para discutir juventude, abrir espaço para o autonomismo, quem quiser criar um grupo temático que no programa não vai ter, vai criar. A gente vai discutir o Pré-fórum no festival para ver o que a sociedade quer, para todo mundo falar o que quer, o que acha, para gente contemplar ao máximo os segmentos sociais. Algumas das coisas essa gerência faz, e algumas coisas que estão previstas para serem executas assim que nós conseguimos criar os tramites do orçamento municipal. Essa gerência acompanha os projetos que estão sendo tocados na administração e deixa o prefeito informado do que esta acontecendo aqui. Essa gerência acompanha os índices relacionados à juventude com algumas instâncias como: DATASUS, IBGE, nos mantemos informados com relação a isso. Essa gerência vai construir dento da câmara de vereadores parceria com alguns vereadores. A frente parlamentar jovem, dentro da câmara, que a gente entende que o apoio dos vereadores é importante, como já existe da câmara federal, deputado federal [...], Reginaldo Lopes [...] e outros se não fossem o trabalho deles nós não estaríamos discutindo o PNJ no congresso. A gente pensa em criar um plano municipal e até de propor mais além, sair dessa gerência a proposta para criação do plano estadual de juventude. Algumas idéias que será: a câmara de políticas públicas de juventude diferente da câmara técnica. A câmara de políticas públicas, seria o espaço para discutir com o ministério publico, conforme tinha dito para vocês antes, de conscientização, discussão de concepção. A câmara jovem, espaço, provavelmente direcionado aos estudantes de escolas públicas. A gente entende que é uma idéia de consciência política, de deixar a gurizada participar, com simulações de eleições, projetos propostas. Junto com a SEMCID estamos trabalhando a confecção de algumas cartilhas temáticas para serem distribuídas nas escolas sobre os diversos temas, são cartilhas por eixos temáticos, sendo direcionados para juventude. 16. Existem prazos para elaborar esse projetos? Estamos esperando o orçamento sair para mandarmos para a gráfica fazer. Os grêmios livres nas escolas que a gente acredita que seja importante para os jovens de escolas municipais estarem montando os grêmios, como espaço de reivindicação, cidadania da juventude [...] isso já falei [...]. Existe uma idéia, que, se não me engano, é até a Gisele que está trabalhando, o projeto de criar os módulos juvenis, caso agente acabe com o congresso da juventude para uma outra etapa que seria a conferência. Se isso acontecer agente vai começar a fazer discussões, montar grupos de discussão nas regionais. Para se ter o máximo possível de protagonismo juvenil de possibilitar que a juventude construa e desenhe programas pra a cidade. Estaremos trabalhando junto com a SETGER (Secretaria de Trabalho e Geração de Renda) para montar algumas oficinas de empreendedorismo nas universidades públicas e privadas com o entendimento de que as pessoas saem das universidades sem saber o que fazer, diploma de baixo do braço... a gente acha importante. Parceria com o SEBRAE para formar empreendedores, trabalhar também com a economia solidária. É isso. Redução de danos, está sendo trabalhado com a Secretaria de Saúde. Ela tem muita coisa legal na área de juventude, em redução de danos, tem CPTT (Centro de Prevenção e Tratamento aos Toxicômanos) que trabalha com toxicômanos, parte de educação para as escolas da rede municipal. Eu posso dizer que a administração de Vitória tem muita ação na área da juventude. O município está sensível a isso, a câmara técnica que faz interfaces, foi criada para fazer o debate interno das políticas é composto de quase 40 pessoas, então acho que estamos caminhando bem, para caminharmos melhor é o desfeche do orçamento, a SEMAS tem 240 mil para terminar o CRJ, a gente com recurso para fazer o resto que foi proposto no OP da Juventude, a gente vai bem, se você for colocar ação para saúde, a administração tem ação para saúde, para cultura. Na juventude, esporte na juventude a administração tem também, mostra espaços para juventude praticar, mas fornece dinâmicas de interação para os jogos comunitários, cidadania a administração também tem programas para o jovem negro, homossexual, que da assistência, jovem mulher também, então eu não vejo em que a administração deixa de atingir espaço da juventude. Na violência nós estamos trabalhando, tem a SEMSU tem proposta de programas efetivos nesse sentido [...] a gente tem agora de aprimorar. Políticas públicas pra juventude de Vitória na prefeitura existem. Temos que aprimorar, mas agente está fazendo bastante coisa, minha avaliação. Não sei a de vocês. Espero que vocês saiam daqui acreditando que a prefeitura faz e realmente faz, coloco-me a disposição para fazer um apanhado, a gente pode está imprimindo para vocês o que cada secretaria tem feito e infelizmente, a prefeitura de Vitória não tem o papel de distribuição de renda, se tivesse a gente poderia com muito mais qualidade realizar os programas na cidade e diminuir muito as desigualdades, mas, nós não podemos fazer isso então, a gente faz aquilo que a administração local pode fazer. Tem o Projovem que é do governo federal [...] que a administração executa. Eu acho que é isso. 03/05/2006 Gestor 04 Secretaria de Cultura 1. Qual a concepção de juventude para você? Juventude, é a faixa de idade entre 15 à 25 anos que traz consigo novas inovações sociais, Culturais e Políticas. Juventude me traz em mente, força de atuação, força de vontade e ideais de mudar o mundo. 2. Qual o perfil cultural da juventude de Vitória? A Secretaria de Cultura não tem um perfil fixo de identidade da Juventude capixaba.Primeiro por que a identidade cultural dessa faixa etária é algo sempre em transformação, e até mesmo por que a juventude é muito diversificada.Entretanto, penso ser importante realizar o perfil sócio-cultural de Vitória 3. Quais tipos de grupos existem? Temos Jovens que participam de atividades culturais na Escola de Teatro e Dança FAFI, Grupos musicais que se apresentam em eventos da Secretaria (Pagode, Funk, Axé, Hip-Hop... dentre outros). Temos Jovens participando do Projeto “Circuito Cultural de Vitória” ( Desenvolvimento de atividades Multi-culturais voltadas para a formação, produção e a circulação. Promovendo a inclusão social por meio do fomento de expressões artísticas dos locais ). 4. Os grupos são incorporados aos projetos? Sim. Na escola de Teatro e Dança FAFI, as turmas são divididas por idade, logo temos turmas específicas para Juventude. No Projeto “Circuito Cultural de Vitória”, foi firmada interface entre Secretarias, e a Secretaria de Cultura e Secretaria de Ação Social, através da Promoção da Juventude, foram oportunizadas vagas para duas oficinas do circuito (Gestão e Produção Cultural e Produção de Vídeo Comunitário). Além das outras oficinas oferecidas diretamente para este público 5. Como a PMV investe na cultura destinada aos jovens do município? Dentro da Secretaria de Cultura, como já foi respondido anteriormente os investimentos são feitos dentro dos projetos e programas como um todo, claro que cada secretaria tem sua especificidade e programas voltados para a Juventude, o que sugerimos , você entrevistar as demais secretarias. Exemplo: Ação Social, Trabalho e Geração de Renda, Saúde, Esporte dentre outras. 6. Quais os projetos da secretaria para a juventude? Os Jovens são inseridos à todo momento em todas as ações da Secretaria de Cultura.Mas dentro do plano previsto pelo Prefeito para a Secretaria de Cultura está: Orquestra Jovem eo Festival de Música Jovem. 10/05/2005 Jovem 01 Reggae 1. Qual a história do reggae? Como ele surgiu no mundo? O reggae, ele deriva da música negra. Assim, toda base musical, na verdade ela é africana. Não tem como a gente falar de música, o rock, a música eletrônica, o hip hop, todos esses gêneros, eles surgiram na África. Na verdade as canções eram religiosas, né? Na África, o Nyabinghi, que era chamado, são as batidas do coração, é uma batida mais forte e uma mais lenta, ritmada como se fosse a pulsação do coração, isso aí eles acreditavam que atraía a deusa Naya. Nyabinghi é a batida da deusa Naya, no caso. Então era um cântico religioso que era um coro de voz e a batida do tambor. Isso deu origem a muitas, muitas coisas, porque os negros foram levados da África, como escravos pro resto do mundo para trabalhar como escravos na Europa, América do Norte, América do Sul e com eles foram a cultura, a música, e a música originou uma série de mutações porque ela sofreu a influência da cultura local, das novas tecnologias, né, de novos instrumentos, novos estúdios, isso estourou, surgiram esses ritmos todos que a gente vê hoje. E o reggae não foi diferente, os negros foram levados pra Jamaica, pra trabalhar de forma escrava na lavoura de açúcar. Porém, na Jamaica aconteceu uma coisa interessante, lá tinha muita mata e muito rio, muita corredeira e a mata muito fechada e acabava que os negros fugiam e se escondiam na mata e depois matavam os senhores feudais e as pessoas que eram proprietárias das terras, e expulsaram os brancos da Jamaica. Você vê até hoje que a Jamaica é predominantemente negra. E com isso a cultura se influenciou um pouco, mas não muito, então na década de 60, assim, na Jamaica os jamaicanos escutavam as músicas que vinham do sul dos Estados Unidos, que era o folk, o gospel e o rhythym and blues que é um percussor do Blues e do Jazz, com muita voz, um coral de vozes, com contrabaixo, fica falando e tal, piano e o folk é aquela música, percussora do sertanejo americano, vamos dizer assim, isso influenciou as pessoas, porque elas escutavam a rádio AM, né pegava na Jamaica, então as pessoas escutavam na rádio esses ritmos e misturavam com o que elas criavam ali, e assim criou o, rock steady, que é o percussor do reggae, o mento, o ska e o reggae foi daí que surgiu. O Rock steady é como se fosse uma música de baile, ela é mais lenta, tocada por muitos músicos, praticamente uma orquestra, tem sopro, piano, uma música muito complexa de se fazer, precisa de muita gente. O Ska é uma música um pouco mais rápida, ela tem uma marcação que dá tchec, tchec, tchec (...) a guitarra que marca o ritmo do ska e ela é bem ritmada, ela é um pouco mais rápida e dançante. O mento é uma música que é uma mistura das duas, uma música pra dançar agarradinho, é não era uma música lenta e as pessoas dançavam agarradinho. E o reggae surgiu, dizem, reza a lenda, que foi um verão muito quente, as pessoas tocando ska, e a batida ao invés de fica tchec, tchec, tchec, foi tcheeec, tcheeec, tcheeec, diminuiu o bit dela a freqüência dela, né a batida dela. Então criou-se o reggae. A palavra reggae, a primeira pessoa que pronunciou essa palavra no palco foi Toots, que tem um projeto até hoje que chama toots and the maytals. Ele é um grammy do ano retrasado, se eu não me engano, é o grammy americano de música. É um cara muito importante pra música jamaicana, foi um dos percussores do reggae, e é conhecido no mundo inteiro, já gravou com grandes nomes como Pato Panton, outro nomes que agora eu não me lembro. Ele foi a primeira pessoa que pronunciou a palavra reggae, realmente, no palco, e daí reggae deu origem a outros tipos de gêneros. O maior expoente do reggae no mundo é o Bob Marley. Foi a pessoa que realmente ultrapassou as fronteiras da Jamaica e expandiu pro resto do mundo. De que forma? Ele foi descoberto aos dezesseis anos, ele já cantava mento, ele cantava rock steady, no começo da carreira dele, ele tem até algumas músicas que são daí, “dancing shows” é um exemplo, tem outras também que representam essa fase inicial da carreira dele. Depois ele mudou um pouco e ele que foi o percussor do reggae né? Foi ele que fez parte do começo, não foi o primeiro, mas, fez parte do começo do reggae e foi o maior expoente. Ele era filho de um soldado inglês com uma jamaicana, então era um pai branco e uma mãe negra. Na sua adolescência ele foi trabalhar nos Estados Unidos e sofreu muita influência da música americana também. E quando ele voltou pra Jamaica ele trabalhou em uma indústria automotiva, sofreu um acidente e quase ficou cego, quase perdeu o dedo, não lembro direito o que foi, sei que isso desmotivou ele a trabalhar com esse negócio de indústria e voltar pra Jamaica. Quando ele voltou, pegou a finco a música, tomou como profissão e foi gravar. Foi descoberto pelos produtores da época, de um estúdio lá, da Jamaica, e foi uma das grandes revelações do reggae, ele foi gravou na Jamaica e foi pra Inglaterra pra mixar e masterizar o álbum dele. Lá ele conheceu um tal de Cris Blackwell, que era um produtor musical da época, que realmente deu um caráter mais pop pra música dele, botou uma guitarra, contratou uns outros músicos da Inglaterra pra gravarem com Bob e fez realmente o trabalho dele ficar mais plausível pra galera que não conhecia o reggae, na época, então tinha que dá um caráter mais pop pra música do Bob, que era muito tosca, era um reggae muito root, então tinha que ficar um pouco mais parecido com o rock, ele deu uma puxada mais pro folk, que eu falei. Ele caracterizou a música do Bob colocando outros elementos de outros gêneros, pra misturar pra galera entender um pouco mais o reggae. A música do Bob foi parar no ouvido de Eric Clapton que era um blues man muito famoso na época , uma das grandes revelações da música norte americana. Ele escutou e ficou doido com aquele negócio, contratempo, o reggae principalmente, a característica do reggae é o contratempo, muito percurssivo também, e com isso, ele conheceu a música do Bob e falou “não eu quero gravar” e gravou a música. E chamou o Bob Marley pra fazer uma turnê com ele nos estados unidos com ele. Essa turnê que lançou o Bob pro mundo, fez dele muito famoso. Da metade da turnê pra frente ele já fazia mais sucesso que o Eric Clapton, ele abria os shows né? Era turnê os dois juntos, ele começou a pegar fama pelas letras pelo contexto do rastafarianismo, da maconha, dessa coisa toda da ilegalidade, gerava notícia isso né? A gente que trabalha com jornalismo sabe que essas coisas geram notícias, o cabelo rastafari, o visual diferenciado isso tudo foi chamando a atenção da mídia, e ele ficou muito famoso e explodiu pro mundo da música, e até hoje ele representa 60% do mercado fonográfico do reggae no mundo é Bob Marley que vende, depois de muito tempo de morto né? 2. Teve influência do rastafari? A religião rastafari da Etiópia, né? Eles acreditam que existe um príncipe que é reencarnação de deus eles acreditam numa bíblia negra [...] que é uma bíblia que diz que deus era negro, diz que a ganja, que a maconha, é uma evolução espiritual, que quando você fuma você fica mais perto das entidades divinas. Tem uma série de outras coisas. Marcos Garve, na verdade, que foi o grande influenciador de Bob Marley nesse negócio de rastafarianismo. Ele era um negro ativo na Jamaica, pregava a religião, ele criou até uma companhia naval pra pegar todos os negros que foram levados por forma escrava, pra voltar pras origens pra África, e Bob Marley cantava isso nas músicas dele “Back to my roots”, de volta as minhas raízes, que ele pregava a volta dos negros pra Jamaica, o fortalecimento da comunidade negra, o respeito mundial com os negros, esse negócio da desigualdade social. Ele foi ativo na política do país dele, ele uniu as duas maiores forças rivais políticas da Jamaica, existia uma guerra civil na época, ele no palco fez os dois darem as mãos, tem várias passagens de Bob. Ele foi baleado, sofreu uma tentativa de assassinato, foi morar na Inglaterra durante um tempo, depois não conseguiu e voltou pra Jamaica. Então a história dele passa pela política, pela religião, não fica só no âmbito musical, ele era muito ativo, e a música dele era muito politizada, pra você ter uma idéia, dizem, que na Jamaica, no começo da carreira dele, ele tinha uma mensagem tão poderosa que às vezes ele tinha tantos fanáticos e seguidores, as pessoas gostavam tanto do Bob Marley, que chegavam na rádio com o vinil do Bob Marley e pediam pra tocar, se o cara falava: “não vou tocar isso aqui não”. Eles ameaçavam o cara, bater no cara, de quebrar o equipamento dele, se não tocasse a música do Bob, porque não tem esse negócio de não vai tocar, tem que tocar porque a música é do povo negro é aqui a nossa mensagem. Eles acreditavam fielmente que aquilo ali era o que todo mundo deveria escutar e entender que ali era a representatividade do povo negro. Então ele tem essa conotação essa força, que não é só musical, é filosófica, política, né? De ser um representante do povo negro, um orgulhoso da raça que ele era, entendeu? Então muito parecido também com James Brown , na época, “say laugh that black and proud”, fale alto sou preto e orgulhoso, tinha também, na América, surgiu também, um pouco depois, o black panters, que é o movimento negro também, que era ativista, que era contra o apartheid, que lutava pelos direitos dos negros. Isso tudo foi uma época, uma seqüência de acontecimentos mundiais do povo negro, depois do fim da abolição aquele povo negro teve chance de falar, mas ainda tava ali, o racismo estava presente de uma forma muito clara, e tive que de alguma forma, a cultura foi uma forma de expressar isso, a música, o reggae, o hip hop, entendeu? Então foi uma série de acontecimentos. 3. Como o reggae chegou aqui no Brasil? Bem, aqui no Brasil o primeiro grande registro de reggae foi na voz de Gilberto Gil, acredito, né? Que ele regravou “No womam no cry”. O Jimmy Cliff até hoje mora em salvador uma época do ano, ele reside aqui no Brasil. É um cara que também foi o primeiro grande expoente do reggae no Brasil, nem foi o Bob Marley, acredito, foi o Jimmy Cliff, ele fez uma música que participou de uma novela, há muito tempo atrás isso, na novela da globo. E o Gilberto Gil, né? Vale lembrar que várias bandas ditas de rock gravaram muitos reggaes no começo da carreira, Paralamas do Sucesso, Titãs, né? Eles beberam diretamente dessa fonte, “...marinheiro, marinheiro quem te ensinou a nadar?...”. Isso é um reggae, o “Beco” dos Paralamas do Sucesso, é um reggae “Marvim” do Titãs, aquela música “marvim agora é só você...”, isso tudo é reggae. Pois é e as pessoas nem sabiam que era reggae, elas curtiam como se fosse rock, até hoje, muitas pessoas entendem isso como rock. O reggae sempre esteve presente, sempre influenciou muito Brasil, eu acho que o reggae tem uma coisa muito forte com as praias, e pelo litoral imenso que nós temos aqui né? Tem o negócio dos surfistas, o surfista e o reggae sempre se misturaram muito. Até pelo uso da maconha mesmo né? O surfista sempre gostou da droga. E o reggae, de certa forma, fez apologia, por falar de rastafarianismo. Prega que pode ser usado de uma forma religiosa, não é pra fumar maconha a toa, né? Tinha um contexto, mas isso foi desvirtuado e as pessoas entenderam que pregava o uso da maconha, mas na verdade não é isso. Mas eu acredito que foi por aí. Que eu me lembre. Dizem que a primeira pessoa que fez um reggae nacional foi um tal de Fábio Matos lá em Brasília, há cinqüenta anos atrás ele compôs um reggae, só que eu não tenho essa música e nunca nem escutei ela, mas já ouvi falar nesse nome, como sendo a primeira pessoa que fez um reggae no Brasil. 4. Aqui no Espírito Santo? Como foi? Sofreu influência de algum movimento? Aqui no Espírito Santo, é curioso que, o reggae sempre teve uma representatividade muito grande nos meios midiáticos, nos meios de comunicação. Desde 1993, aqui na rádio universitária, já existia um programa específico de reggae, que se chamava “reggae e companhia”, e o apresentador era Castelo Filho, hoje o diretor da rádio, [...] até chegou a apresentar algumas vezes esse programa. Então são 13 anos que existe o reggae nas rádios do Espírito Santo, esse programa durou acho que uns dois anos, logo depois surgiu o “Brasil Jamaica”, que até hoje no ar, tem 10 anos de programa já, ele saiu da rádio universitária, foi pra rádio Cidade e aqui foi criado um outro programa chamado “Vitória Reggae”, apresentação do Serjão do Lordose pra leão e de Alexandre Lima do Manimal, que são duas pessoas que não trabalham com reggae diretamente na música, o Alexandre sim né? Ele está até gravando um CD de reggae com a “Rádio Experiência”, que é a banda dela, mas o Serjão, não, sempre fez rock e apresentava um programa de reggae e apresentou durante um ano mais ou menos o “Vitória Reggae” e logo depois surgiu o “Beco do Reggae” [...] na rádio Universitária também que já tem seis anos, lá na Cidade surgiu o “Cidadedade Reggae” e antes, junto com o “Vitória Reggae” surgiu também o “Transa Reggae”, na rádio transamérica que era apresentado pelo Eduardo “Bombril”. Então, pra você ver, hoje nas rádios existem três programas de reggae: “Beco”, o “Cidade do Reggae” e o “Brasil Jamaica” , são específicos de reggae, a gente tem 12 horas de reggae na programação das rádios do Espírito Santo. E a banda mais antiga de reggae que tem aqui, que toca até hoje é a banda “Salvação”, tem onze anos de carreira, ela é de Vila Velha. Tinha uma outra banda reggae, agora eu não vou lembrar o nome, que fez parte de uma coleção que se chamava ouriço, da boate Ouriço lá de Guarapari, é o Junior Boca que foi o baixista do Java Roots, tocava e cantava nessa banda de reggae, foi a segunda banda de reggae que teve aqui. A influência do reggae aqui, acho que foi do reggae mesmo, de ouvir os programas de rádio e conhecer um pouco mais o reggae, as pessoas se influenciaram e começaram a montar bandas de reggae e gostaram do gênero, porque o reggae aqui é muito puro, eu posso dizer assim, e é único, o reggae que a gente faz no Espírito Santo não tem em nenhum outro lugar do Brasil, não é parecido com o reggae do Cidade Negra, não é parecido com o reggae do [...] entendeu? É o reggae do Espírito Santo, é característico. 5. O reggae quando vai pras regiões ele assume um pouco da região não é? Instrumentos locais né? Isso aparece aqui também? Também. Ué? Aqui o Casaca misturou com Congo, o Manimal também misturou com congo, é (...) o Guerreiros mistura com congo, com Jongo, com capoeira, ele mistura com as influências africanas que eles tem aqui, porque o Espírito Santo é um estado riquíssimo na cultura e poucas pessoas conhecem, assim, a imensidão cultural que existe aqui dentro, porque são várias expressões, são vários tipos de tambores, tem tambor de maracatu, de jongo, de congo,de (...) e são diferentes, tem timbres diferentes, são maneiras de tocar diferentes, isso tudo se mistura no reggae daqui, com certeza, e forma a característica única. Porque no Espírito Santo são várias comunidades de quilombos que existem, então a influência negra é muito grande aqui, então até por isso o reggae daqui é muito roots, o reggae do ES, é um reggae que eu considero assim, acima da média, de muito boa qualidade, entendeu, até exportação mesmo. 6. Quais as principais bandas daqui? De Vitória? Pô várias, de Vitória são várias. Guerreiros, Kayana Roots, Alma Rasta, é daqui de Vitória né? Eu não tenho certeza da onde são, porque tem muita banda espalhada, assim, Serra, Vila Velha, e com alguns componentes de Vila Velha, outros da Serra, outros de Vitória também, entendeu? Herança, Soldado Imperial, Lion Jump. 7. Com relação a apoio do poder público. Vocês já tiveram algum? Não tivemos apoio do poder público. Na verdade a gente está se organizando né? De forma efetiva e legítima pra gente correr atrás disso aí, não só do poder público, mas também de empresas privadas, porque o reggae sempre foi muito discriminalizado né? Sempre foi visto como uma coisa meio suja né cara, porque até o visual rastafari incomoda as pessoas né? O cabelo embolado né? E muitas pessoas ignoram, muitas vezes, e até desrespeitam né? Pô eu tenho um exemplo claro, [...] ele é negro, rastafari e estudou na faculdade comigo, quando a gente ia entrando no portão da faculdade, eu e ele conversando um do lado do outro, a gente passou pela guarita o vigia, depois que a gente andou uns cinco metros, ele começou a gritar:“ei você vai aonde?”, você vai aonde, no singular né? O [...] olhou pra trás eu olhei pra trás aí o [...] perguntou: "você ta falando comigo?”. “É você mesmo”. “Está doido rapaz eu estudo aqui”, “Espera aí rapaz, volta aqui”. Ou seja, pra mim ele nem pediu nada, porque eu sou branco não tenho cabelo rastafari nem nada, mas ele como é né? Então, e o mais engraçado era que o vigia era negro, então pra você ver, o racismo está presente até entre os negros né? Ele é tão difundido na nossa cultura de uma forma tão é, como é que a gente fala..., de uma forma tão disfarçada, é em forma de piada, em forma de frases feitas, como: “a coisa vai ficar preta”, “seu passado é negro”, então essas coisas todas assim, elas entram no nosso subconsciente que a gente nem percebe, às vezes, a gente faz sem perceber que está fazendo. 8. E nessa questão desse movimento que vocês estão organizando, o MORC, né? O poder público também não tem participação? Não, está participando de forma ... 9. Só da discussão né? De dentro assim, vai ter voz dentro do movimento? Não, o movimento é coisa à parte, é o reggae organizado, o poder público e as empresas privadas vão participar de forma a ajudar na logística, com o som, transporte, dinheiro, vai ser autônomo, uma OSCIP, que é, nada mais é que uma legislação mais atual da ONG, que é uma instituição privada com interesses públicos, né? Na verdade a gente complementa o papel do Estado, a gente chega onde o Estado não chega, nas comunidades carentes, através da cultura, que é um movimento muito legítimo, porque afinal de contas, a maioria dos integrantes das bandas de reggae são da periferia, são pessoas pobres, que não tem uma condição de vida [...] é média, baixa classe, né? A grande maioria, são pessoas que vivem aquela realidade que cantam né? E estão lá no dia a dia, convivem com a violência do morro, do tráfico de drogas, né? Da discriminação do racismo, então, eles sentem isso na pele realmente, então nada mais legítimo do que a gente fazer algo pelo reggae, por essas pessoas, e pela comunidade que essas pessoas estão inseridas. Então tem uma série de projetos, tem “o reggae na escola”, que é levar pras escolas públicas o reggae, tem “o reggae na praça”, que é fazer shows abertos de reggae nas comunidades carentes, fazer oficina de tambor, oficina de cabelo afro, oficina de artesanato, e aí vai, falar sobre cultura negra, sobre a historia do reggae, contar um pouco de como surgiu, qual são os ideais, essa coisa toda né? 10. O reggae como movimento, tem algum elemento como hip hop tem o grafite, o break, tem uma outra ramificação além da música? Tem um artesanato, alguma coisa assim? É isso tudo que eu falei existe, né? O reggae tem uma coisa muito característica que são as cores, né? O verde, o amarelo, o vermelho e o preto. O verde representa a riqueza das matas, se eu não me engano, da Etiópia, o amarelo é a riqueza mineral né? O ouro que foi explorado e o pessoal arrancou lá das terras lá da África , o preto é a cor da população e o vermelho é o sangue derramado nessa luta né? Contra a escravidão, o feudalismo, essa coisa toda que a gente já sabe da história. Então, todo mundo que bate os olhos nessas cores juntas fala: “olha o reggae”, né? É um elemento muito forte e característico do reggae, isso está presente em tocas, em camisas, tem um elemento pra diferenciar também, que é o cabelo rastafari, que também é um elemento da cultura afro, que está associado ao reggae, que é uma coisa natural, que as pessoas falam: “pô, como é que você faz esse cabelo?”. Ninguém faz o cabelo, o cabelo já é assim, se deixar crescer ele embola e fica daquele jeito, cabelo de quem é negro, que tem o cabelo crespo realmente, é muitas pessoas brancas hoje fazem né? Apropriam-se daquilo e embolam o cabelo com cera de abelha, uma série de coisas né, pra ficar embolado, mas quem é realmente negro, né? Afro descendente, se você deixar o cabelo crescer ele já embola naturalmente, né? E fora isso tem todo esse lance que eu falei que o reggae sempre teve muito atrelado à ecologia, como eu falei, ele sempre andou junto com o pessoal do surf né? Preservação das praias do meio ambiente, o Seu Jorge mesmo, que não é reggeiro, tem um reggae que fala, “tinha uma água”, que fala, que a gente vai viver uma outra guerra no futuro, que quando acabar a água nos países desenvolvidos eles vão buscar aonde? O Brasil é o país que tem o maior lençol de água potável do mundo, então, ele aborda isso na música dele, e é uma coisa muito prematura e muito real, que é uma verdade entendeu? O "nego" está brigando por petróleo e a próxima briga vai ser pelo o que? Pela água, a água um dia vai acabar e as pessoas vão querer de alguma forma, ter essa água e o Brasil vai sofrer com isso, pode ter certeza, e o reggae já ta falando isso, já ta falando já tem um tempo, e assim como está falando nisso, está falando das praias, da poluição, que são coisas que muita gente passa batido né? É porque, o que eu vejo aqui no Brasil é que as pessoas encaram a música somente como um entretenimento, e na verdade não é essa a missão da música, a música é cultura né? A gente não vê no Brasil, igual a gente vê na Europa, nos Estados Unidos, a platéia sentada calada, pra assistir um concerto de reggae de repente, não. Aqui no Brasil, é pra azarar as gatinhas, vai pelo “rock”, não vai pela música, e não deveria ser assim, deveria ser ao contrário, porque o reggae tem uma mensagem muito forte pra passar através da música e as pessoas deveriam escutar mais e entender o que está sendo cantado ali, não simplesmente curtir o verde, amarelo, preto, vermelho, a ganja, e as gatinhas, não é essa a moral da história, né? 11. E com relação à política de cultura daqui de Vitória, como é que você vê? Você acha que há apoio? Não, eu vejo que é muito precário, entendeu, muito elitizado, muita panelinha, a cultura não chega aonde ela tem que chegar na verdade. Igual eu te falei eu tenho seis anos de estrada, tem seis anos que eu faço evento, tem seis anos que faço a rádio universitária, tem seis anos que eu trabalho em prol da cultura e não é só do reggae não. Eu já fiz eventos já levei pé-nolixo, Manimal, Casaca, Java Roots, Comando Kaia, Salvação, e outras bandas, pro primeiro festival de música capixaba em São Mateus, chamado “Ilha Beach”, junto com Marcelinho que é um produtor local lá de São Mateus, a gente fez esse festival, que misturou rock, reggae, música eletrônica, tudo no mesmo ambiente, sem apoio de ninguém. Já trabalhei com outros eventos também, já fiz parte de um projeto do yahoo, precursor, onde tinha Lordose, Pé-dolixo, Manimal, Dead Fish e outras bandas mais, também sem apoio de ninguém, e trabalhei em várias outras situações de produção assim, dia D, e outras coisas mais, e eu via assim que o apoio era precário é a gente tem que brigar muito pra ganhar muito pouco, entendeu, e não deveria ser assim, igual eu te falei, eu não to aqui querendo que ninguém me sustente, eu já to a seis anos aqui fazendo isso, eu só quero um reconhecimento do meu trabalho. O que eu faço pela cultura, eu que falo pelo beco e pela minha produção. É porque eu já perdi muito dinheiro produzindo evento, porque o evento custava quarenta mil e eu não tinha nem um centavo de patrocínio de apoio de ninguém, nem pra pagar o som, nem pra pagar um transporte, nada, nada, nada, nada, pra ajudar na divulgação, nada, nada, nada. Nunca tive isso. 12. Você sozinho ou enquanto Beco do Reggae? Eu sozinho, enquanto beco do reggae, mas quem organiza os eventos sou eu mesmo, o [...], não trabalha muito nessa área de eventos não. A área de eventos quem faz sou eu mesmo. Eu tive um azar de, um ano no aniversário do Beco, choveu, tava marcado pra sexta feira eu tinha 2500 ingressos vendidos e eu tive que cancelar o show e tive que passar pro domingo, tinha três bandas de fora, e duas delas tiveram que viajar fazer show em outro lugar e voltar. Isso onerou minha produção mais 10.000 além dos gastos que eu já tinha me comprometido a fazer então, tomei um prejuízo de 20.000 nesse evento, em um evento. Porque não tinha o apoio de ninguém, não tem nenhum patrocínio. Já fiz eventos com patrocínio mas sempre muito pequeno e sempre o patrocínio era assim, cervejaria, é essas bebidas tipo “Ice Off” “Smirnoff Ice”, esses tipos de patrocínios, é coisa pequena, sempre cinco, seis mil de patrocínio. A gente vê que nem a iniciativa privada, nem a pública, não não apóia muito eventos culturais, até porque não existe uma legislação que incentive o apoio da empresa privada, por exemplo, no Rio de Janeiro, qualquer empresa que apóie um evento cultural tem desconto no ICMS, direto, entendeu. Então, poderia ser criado, ferramentas para que esse apoio cultural fosse muito mais amplo aqui no estado. Engraçado, o seguinte, o ES é um estado pequeno que tem muita diversidade cultural, você vê que a gente tem representante em todos os gêneros musicais e com qualidade e com quantidade. Eu falo pelo reggae, tem 25 bandas cadastradas de reggae aqui no ES, e dessas 25 eu diria que no mínimo 15 tem uma qualidade pra tocar em qualquer rádio no Brasil, as outras não têm porque não maduras o suficiente, ainda estão começando, são novos projetos, e vão ter daqui a um ano, dois anos, entendeu, se tiver continuidade o trabalho vão alcançar esse nível também. 07- 06- 06 Jovem 02 Funk 1. Eu gostaria que você falasse um pouquinho do funk, aonde ele surgiu? Como ele surgiu? Quem foram os primeiros representantes? O funk vem mais da época dá década de 60, por aí, com James Brow, por que na época mesmo [...]o funk original veio de lá [...] a galera que trouxe de lá foi que começou a fazer uns sons parecidos com James Brow, que tava, que vem [...] primeiramente, né? Como vem lá da África, lá da Jamaica com África Bambaataa, que começou com hip hop, então quando esses elementos de sons, começou a galera a ser influenciada. Quando os negros levaram o som lá pro lado, lá pros Estados Unidos e começou a divulgar na Europa, veio o James Brow e começou a desenvolver o funk, daí pra cá, quem pegou essa referência foi Jorge Ben, Cassiano, Tim Maia, que começou a fazer o funk, na década de 80 como já tava rolando aqueles Miamis de Steve Bee, o próprio África Bambaataa, já tava nos bailes funks do Rio, e não tinha esse funk ainda. Esse batidão que tem hoje, o funk carioca que você vê. Colibri que tá na moda agora, entre outros, num tinha. Aí começou a se desenvolver nas favelas mesmo, com os primeiros DJ: DJ Malboro, a equipe Furacão 2000, que foram os primeiros que faziam os bailes lá, Pop Rio, que isso rolava os “bailes charmes” os “bailes black” que rolava uns sons tipo hip hop, a galera dançava um break. Em 80 veio esse funk e que até hoje ele tá. Por que o seguinte, o funk, esse funk carioca, ele é originalmente brasileiro mesmo, ele surgiu. O funk original, mesmo é esse funk do James Brow, do Tim Maia, desses sons que a gente costuma ouvir, esse é um funk verdadeiro. Esse de agora é um derivado, é mais um “Miami”, na verdade, não é um funk mesmo, isso que a gente escuta aí na rádio, nesses programas de TV que está um inferno o tempo todo aí, é isso é mais um “Miami”. 2. Mas a origem é de onde mesmo? É da Jamaica? Não. Assim, você puxando as referências, assim, tem um pouco de cada, vem da Jamaica, vem mesmo, assim, dos guetos americanos. 3. E é parecido com o Hip Hop? É. Surge na mesma época, porque assim, puxando lá trás na época da escravidão, os negros eram reprimidos, não podiam fazer nada, nem cantar. Então, só que, com o tempo eles cantavam só hinos de louvor quando estavam trabalhando e nisso eles sempre se comunicavam com os cânticos e nisso os senhores viam que eles produziam mais, trabalhavam mais quando eles estavam cantando, daí foi que começaram a deixar eles cantarem. Foi quando mais para frente eles começaram a entrar nas igrejas, faziam vários cânticos, então tudo hoje, a música ela vem do negro, o rock, o jazz, o blues, o reggae, o hip hop, tudo começa a surgir nessa época. O hip hop, e junto com o funk vem o “Miami”, que é o mesmo que tocava já tocava nos bailes funk, mas não era hip hop, mas surgiu tudo mesmo na época. Por isso é que em alguns lugares o hip hop e o funk se combinam. Aqui até então, mais ou menos, ainda rola um pouco de preconceito, a galera não gosta muito do funk, tem um visual assim... próprio pelo que a mídia já criou com o funk, antigamente falava sobre violência, agora sobre erotismo, o sexo, essas coisas. Mas, ele vem mesmo dos Estados Unidos, mas quando formou James Brow estourou, foi, por ai, em 60... 4. E para cá veio mais ou menos em que década? Foi em 80, por aí né. Mais ou menos, não tenho certo, mais ou menos. Ele chega no Brasil, chegou no Rio e logo depois chega para cá. Tantos pioneiros ainda da galera aí que surgiu aqui no funk, hip hop, tem o Jorgão, Renegrado Jorge, tem até um programa aqui na UFES. 5. Eu queria que você falasse assim, das bandas, dos grupos de funk que tem aqui em Vitória que você conhece. De grupo de funk, assim no Estado eu conheço tem o Mc do Charme, que é de São Pedro, Resistência, tem o Jeffinho Faraó que é daqui de Vitória também, tem o Segal, Mc Segal, tem o Chuck 22, tem [...] os que lembro são esses, porque é o seguinte, aqui está difícil "pra caramba", aqui no estado para você fazer um som, gravar uma música, qualquer coisa envolvida para o lado da arte, é difícil o apoio e o incentivo. Então aqui, você vê o seguinte, aqui o funk é totalmente carioca, a referência é carioca, o que toca nas rádios aqui é tudo carioca, então o pessoal da rádio chega, coloca o que quer e estoura. Escolhe a música, estoura a música depois o cara faz o baile ai e ganha dinheiro. Então fica difícil, então desde o começo que é assim, ai a galera desanima, tinham muitos Mcs bons "pra caramba" em Vitória. Mas aí a galera desanimou, foi pra outro mundo, foi trabalhar, desiludiu, eu estou desde 97, mais ou menos, parei uns três anos ou quatro porque eu fui fazer a faculdade e voltei agora, então é difícil, a galera não tem muita motivação para fazer, pra chegar e tentar um apoio pra gravar um CD de funk, de repente até aquela Lei Rubem Braga. 6. Ai então você falou um pouquinho do Espírito Santo né, foi o Renegrado que participou do Hip Hop, e como começou o funk aqui no estado, quando ele veio, com quem ele veio? O pessoal mesmo quando surgiu [...] tinha os bailes charmes, essa época tinha o Dj Nenenzão, Dj Tropeço, quem mais nessa época [...] Dj Marroger, são os que já começam a fazer a discotecagem, a tocar. Inclusive os primeiros Mcs que eu lembro... tem o Marcinho e Boreu, tem Ricardo e Teto, são os primeiro Mcs que começaram a fazer um som aqui, não tem muito tempo não, aqui no estado mesmo foi na década de 90, [...] 95, 94 é foi na década de 90, no comecinho assim, que a galera começou a se interessar pelo funk, a gravar. Tinha até uns programas, tinha um baile da quadra da novo império, no canal 10, a bandeirantes - TV capixaba, tinha império do funk era um programa de TV que os Mcs capixabas iam lá e se apresentavam. Era uma febre igual hoje, vai e volta assim [...]. 7. Mas igual você falou de vários grupos [...] Mas a influência veio como assim, foi influência do Rio de Janeiro, ou a influência do Rio de Janeiro veio depois, o início assim, como foi? Desde o princípio, como eu falei, foi do Rio de Janeiro, vem, até hoje. 8. É esse funk erotizado? É, assim no começo não. No começo, quando o funk chegou, logo que ele começou a tocar nas favelas, nos baile e tal, ele falava mais da realidade da favela, do dia-a-dia, falava do crime, da violência, das drogas, enfim, então até na época, tinha o Didi, tinha o rap do Pirão, foi um dos primeiros que tocou "Ô, alô Pirão, alô, alô, boa" [...] 9. Era daqui? Era no Rio. Um dos primeiros raps que começaram a tocar nessa época ai foi esse, que falava da violência do baile. Então ele começou a explodir o funk, a estourar nas rádios, o rap da felicidade, os mais famosos começaram a estourar, ai, mais o lado da violência, cantavam o dia-a-dia, o que eles se espelhavam. A mídia “caiu de pau matando" porque o funk estava tomando a juventude, estavam usando drogas, falando de arma, ai passou esse tempo tal e voltou agora com outra cara, com mais o erotismo, ai a mídia está (enfocando mais esse lado...). Mas o erotismo sempre esteve presente, mas nunca foi tão destacado, antes era destacado na violência, hoje eles estão destacando o erotismo. O erotismo você tem no reggae, no forró, no axé, você quer mais que no Axé, o Vital que tem aí. O preconceito mesmo. A sociedade não sabe o que fazer com sua juventude e arruma alguma coisa para jogar a culpa. 10. Mas o que você acha que o funk quer passar com a música, você acha que tem uma mensagem? Qual é a mensagem? Com certeza. Aqui não tem um movimento funk em prol de alguma coisa social, mas o ideal do movimento funk é o seguinte, através pelo menos da música você passar, aproveitar a oportunidade da mensagem, do espaço que você tem de um canal de expressão, de passar uma mensagem pedagógica, ensinar alguma coisa, se você puder retratar alguma coisa, relembrar, tocar o jovem para que ele saiba que tem o poder de mudar o seu futuro, o seu destino, está na mão dele. Ele só precisa saber disso, porque às vezes ele não sabe disso, que ele tem esse poder. A mídia não sabe lidar com o jovem, a mídia faz uma propaganda de droga, não tem efeito porque ela não acerta o público alvo, o jovem. O jovem que usa droga ele não se vê na televisão, ele não sabe. Só fala dos malefícios da droga, mas não fala dos benefícios. A música é uma coisa gostosa que vem, dançante, o jovem gosta vai pro baile, se diverte e sem querer as mensagens vai assimilando de uma forma. 11. É a mensagem do dia-a-dia mesmo? É mais para esse lado, mas isso hoje em dia é difícil, a essência mesmo são poucos que partem para esse lado. 12. Mas aqui no ES tem algum de funk de essência assim? Olha, eu faço funk desde o princípio, falando sobre as realidades. Logo que eu comecei eu peguei experiência, a gente cria na verdade, vai pega uma referência aqui e ali e faz um arranjo diferente, juntando tudo. Então pegamos outros, eu escrevia mais assim de favela, de droga, contava história de uma amigo que, de repente morreu, mas com o tempo eu fui pegando mais o discurso político e social. Hoje minhas músicas são todas assim, políticosocial, fala sobre governo, porque que está faltando a merenda e eu quero meus direitos, quero oportunidades, quero meus direitos. O Jeffinho está vindo mais para esse lado agora, ele não era tanto para esse lado, está vindo mais agora. Tem o Uniel que está parado, mas tem umas músicas boas, uns discursos fortes, ele é de Santa Marta. Mas mesmo essa galera mesmo, os que estão na correria mesmo, é o Jeffinho e eu, tem o Chuck agora que aborda mais o lado de facção, de comando vermelho, terceiro comando, de crime mesmo, que é uma linha muito forte, que tem um público, apologia mesmo ao crime e as drogas, tem muito [...]. 13. Em âmbito nacional assim, tem alguns que você pode destacar do funk de origem mesmo? Tem, tem o Mr Catra, tem o próprio Cidinho e Doca, o Duda do antigo Uni Duda, tem o MC Galo - da Rocinha "ô Lelê, ô lalá, a rocinha pede a paz...". Já ouviu? Tem em São Paulo também, o hip hop é forte lá também, tem o MC Barriga que até pouco tempo [...], você já ouviu? você gosta de funk? Do Mc Barriga tem aquele "Õ mãe, capacidade de premonição" [...], Já ouviu? É de São Paulo esse. Tem o primo também "Diretoria tá de pé, é "nóis" mané, olha a revolta do moleque sofredor". Essa galera de São Paulo é boa para caramba, eles fazem música e os caras do Rio catam as músicas de São Paulo e lançam tudo aqui. Tem um pessoal tão fissurado, no Rio, que já sabe que a música é do cara de São Paulo. Porque ela chegou aqui, o Primo deixou o CD comigo e com Jeffinho, a gente passou pros caras da rádio e os caras tocaram. Mas depois no Rio veio a versão carioca copiada do cara e estourou no cara, quem estourou foi a do cara. 14. Porque o forte mesmo do funk é no Rio, né? É no rio. Tanto que o nome desse funk que a galera fala é funk carioca. A denominação que acharam para ele é funk carioca, porque não tem em nenhum lugar. 15. Por que, o funk carioca é o que, é o funk erotizado ou o funk do batidão? Não, o funk carioca é a batida, aquela batida não tem em nenhum lugar do mundo, ela foi criada aqui. O “Miami” ela saiu esse som, que não tem em lugar nenhum, é daqui. Tem agora a Bia que pegou os batidões do tamborzão e fez um funk mesmo, um amigo meu veio de Portugal e disse que lá está um inferno, uma febre, os caras tocarem pancadão nas boates. Porque é uma música eletrônica. 16. É mas aqui até que está também né? Tem sempre nas boates o funk também. Já está tocando. 17. É, mas sem ser esse estilo funk carioca assim, você conhece alguns outros grupos que tocam mais da origem norte-americana. Você citou no início Tim Maia, foram esses? O que puxou, o que vem mais para esse lado desse funk mesmo são esses caras já renomados mesmo, os pioneiros que trouxeram para cá é o Tim Maia, o Cassiano, o que faz um som mais para esse lado, com banda, fazendo um funk com banda tem o antigo Farofa Carioca, que tinha o seu Jorge [...] O Mr Catra também faz, às vezes, um vocal com banda, vai num baile, [...] fez um Show em Guarapari e fez um "funkão" com a banda, usou bateria, guitarra, baixo, porque a essência é a mesma, o eletrônico muda algumas coisas, então quando você joga para bateria, fica aquele "funkão" mesmo só que com acústico. 18. E os lugares que vocês se reúnem em Vitória? Lugares que vocês costumam tocar aqui em Vitória? Em Vitória tem o “clube Náutico Brasil”, tinha o “Rio Branco”, que por burocracia, papelada, violência e outras coisas, fechou, a “quadra da Novo Império” fechou, os existentes hoje são o “Clube Náutico”, o “Ibiza” ainda rola algumas festas de funk. Em Vitória só. Em Vila Velha tem o “Cobilândia Futebol Clube”, tem a “Next”, que é uma boate que no domingo é funk. Tem outra que está começando, de vez em quando tem lá, a estação verde, uma casa nova. Que eu me lembre são esses, que ainda têm hoje são esses. 19. Não sei se você respondeu, quem foi o grupo pioneiro do funk aqui, você consegue lembrar? Não lembro. Eu estava conversando esses dias com Jeffinho, a gente citou um monte de nome, que eu me lembro são esses. Mickei Pacalolo, Ricardo e Teto, o Jeffinho é logo do começo, eu quando curtia o funk, já ouvia o Jeffinho e Flavinho num baile. Era uma dupla Jeffinho e Flavinho. Eles começaram até com uma música de um escândalo de um pastor da igreja universal que roubou a galera, aí eles fizeram uma música falando disso, aí eu ainda ouvia, mas antes deles tem um ainda que eu não me lembro agora. Mc Klebinho, é de Vila Velha, Ilha da Jussara. Esses são os primeiro Klebinho e Mickei Pacalolo. São do começo mesmo, os primeiro que começaram a cantar funk, subir no palco, foi essa galera, esses dois aí, que eu me recordo. 20. Eu queria saber também, você chegou até falar no início assim, que vocês não tem muito apoio assim do poder público, como seria assim essa relação que você acha que tem do funk com o poder público?Tem apoio? Não tem apoio, se você ver, os bailes que tinham estão todos fechados. Os que eles conseguiram fechar, eles fecharam. Então, é o que eu falo, eu não sigo a um movimento, por exemplo, para mim, o movimento funk ele tem que ser em prol de algo, um bem comum para quem está ali, quem está seguindo ali, não só para eles, mas para a juventude principalmente, mas só que não tem essa articulação aqui, principalmente vindo do Rio essas referências então a galera só tem um, os caras do Rio são os famosos. Então no dia que fechou os bailes, o presidente da associação funkeira é o Edson Ricardo, seria até interessante você trocar uma idéia com ele, ele é um cara que está sempre [...] ele é de Vitória, vou ver se consigo o contato dele para você. Ele é o presidente da massa funkeira aqui, então ele é que corre atrás disso, ele é quem vai lá reclamar. Já fizeram protestos, pegaram trio elétrico, juntou a galera de funkeiro e de Mcs para ir cantando e fazer o protesto para reabrir os bailes. 21. Porque eu lembro, não sei se foi em 2003, 2004 que tinha um político querendo fechar os bailes funks daqui de Vitória, você lembra? Lembro, era um Juiz, ele quem fecha geralmente mesmo. Na época estavam fechando porque acharam droga, e estavam tendo umas mortes e já foram logo e fecharam. Só o que ficou foi o “Náutico”, o “Rio Branco” está querendo voltar, está correndo atrás [...] O rio Branco era o baile corredor, já ouviu falar? Lá não tinha como não ter. A galera ia pra lá mesmo. Mas ficava ali. As mortes aconteciam, mas não era ali. Está tudo caminhando muito junto, as músicas vem mesmo, o funk e o samba, vem do gueto mesmo, música de preto, do morro, da favela, então aquilo ali convive tudo com o crime, com as drogas, dali é o porta voz deles, eles são o porta voz da favela. Então eles também querem ter voz na sociedade, então as vezes que eles estão ali para se expressar é o mundo em volta deles que eles têm, das favelas e tal. Por isso que eu acho que a galera tem muito preconceito contra o funk, contra o favelado, que você vê na rua um funkeiro, a pessoa tem até um olhar diferente, de baderna. Mas o pior é que é verdade, às vezes quando tem um funk em determinados lugares, sai confusão, você está entendendo? Não sei por que. A gente foi tocar ali no ginásio da UFES, uma festa de plaboy, de pessoas de classe média alta, a galera no rock e rolou um funk lá, a galera incorporou, brigou foi feio pra caramba, a gente teve que acabar, a gente nem terminou de fazer e fomos embora. Foi aqui dentro da UFES, aqui dentro, porque a galera que vai ali para o “Náutico” você vê o pessoal funkeiro e vê muito plaboy, gente de classe média alta está invadindo. Você vai no “Náutico”, sexta feira vai ter aqui no “Ibiza”. Fiquei sabendo que no “Ibiza” está tendo muito corredor, muita briga. No “Náutico” é mais tranqüilo, tem gente bonita. O clima está assim agora, eles começam a aumentar os ingressos e a galera mesmo que é do morro fica mais privada de ir, eles estão, tipo, selecionando as pessoas, botando mais essas pessoas que tem dinheiro. Ai perde a origem. É, por exemplo, a gente foi fazer um show na “Convento”. Pra mim não é um baile funk, para mim foi uma festa que rolou, uma apresentação. A galera mesmo pega e faz tipo uma cópia do baile funk, o baile funk para mim é aquele é lá dentro da favela. A gente vai lá em Marcílio de Noronha toca,r lá e chega lá, é um negócio pequenininho, um cubículo, gente estranha mesmo, pode ter até bandido, foragido. A gente chega lá, maior respeito, sobe no palco canta a galera se amarra, canto um hip hop, faço free style, que a gente faz estilo livre, não vem do hip hop que é a rima na hora, a gente faz e improvisa na hora. E agora que a galera descobriu isso e começou a partir agora para esse lado. Os shows agora estão com duelo de rima na hora. Estão vindo uns caras do Rio para fazer duelo de rima na hora. Igual o duelo que teve de quatro Mcs. É vai ter esse final de semana, só que é o seguinte, o que a galera está ficando meio, assim, revoltada, é o seguinte, como sempre essa influência do Rio. A galera aqui dentro de Vitória tem muito rimador bom, muito melhor que esses caras ai e a galera está vendo agora se consegue articular alguma coisa, já está acontecendo alguns eventos de batalha, porque a gente começou as batalhas assim, no hip hop, eu e Jeffinho a gente sempre fazia rima, improvisava na hora, sem profissionalismo, brincando mesmo. Então quando a gente começou a fazer uns shows de hip hop a uns dois anos atrás, o Cristiano do beco do Reggae, ele se formou comigo, a gente fez trabalho junto, a gente vivia sempre junto, então como tinha mais acesso aqui na rádio, as produções, a gente começou a fazer um hip hop, ele começou a falar que a gente rimava e tal, o movimento aqui, a galera, não tinham muitas pessoas que rimavam. Teve um evento beneficente lá em Andorinhas, a gente foi lá, participou, o pessoal foi e desafiou a gente, e agente foi e se jogou na rima e tal, ai desse dia começou a ter batalha no “Balladas”, eu já fui campeão de um, da última batalha que teve no “Balladas”, na curva do Saldanha eu fui campeão de free style. Aí foi o seguinte, eu descobri, não é minha praia. Porque na batalha de free style, você chega, você tem 45 minutos para improvisar, fazer na hora, só que a galera chega e parte mais para o lado ofensivo, agredindo, as vezes falam coisas desagradáveis. Pô, passa do limite, os caras falam "fica só aqui em cima", mas não fica, o cara chega, fala da sua mulher, da sua mãe, e a galera lá de baixo na maior “vibe”, maior gritaria, êêê. Aí eu vi que isso não é para mim. Eu estou no projeto do Alexandre Lima, da banda Radio Experienzia, a gente praticou só rima mesmo, falar de coisas boas, a gente vai num lugar, a banda toca, ai eu entro e falo da galera curtindo, pra galera ver que está rimando na hora mesmo, fala de coisas boas, fala que está bancando o evento, fala de mim, fala de tudo mesmo, o que vir na hora. Isso agora, eu estou divulgando mais esse lado da rima mesmo, improviso, quando eu vou num bale eu sempre mesclo: hip hop e funk. Eu acho que é um paralelo, hip hop dá para passar mais mensagens, você canta mais rápido, fala mais coisas, explicar outras coisas. Tem uma música que eu canto um pouco mesmo da cultura negra, porque que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, essas coisas. Eu abordo mais esse lado, eu sou totalmente contra o racismo, o preconceito contra homossexual, cor, contra qualquer coisa. Totalmente contra. 22. É só você ou normalmente os Mcs tem essa relação com o hip hop? Está começando a ter agora. 23. Porque eles têm um pouco de preconceito devido ao funk erotizado... É, tem. O movimento hip hop tem. Ele esteve com agente, quando a gente chegou, [...] com preconceito. Quando ficou sabendo, de Andorinhas que a gente foi para rimar, a gente se lançou foi no Parque Moscoso, no Graffitaids, no primeiro Graffitaids, na semana contra a AIDS, a gente participou, foi um evento beneficente, então foi o seguinte, quando a gente se apresentou, a gente vem do funk, a gente nunca fez um show nem nada, a galera do hip hop se juntou, a gente foi e fez um show. Só que a galera se amarrou, a pessoa que estava lá e não era do movimento gostou do som e a galera ficou assim "pô, essa galera do funk chegou agora pegaram as bases do hip hop e mandaram “benzaço'". Pô, a galera pirou, mas por dentro eles não aceitaram, ficavam rindo, foi aí que eles desafiaram a gente para rimar. Pra humilhar agente na frente da galera: "Ah, vamos humilhar os ". Foi só que eles se deram mal, os que desafiaram né, eles perderam. A gente chegou, ganhou, foi aí que eles viram que não tinha né, alguns hoje a gente faz trabalhos juntos, o André que é do Irmandade SA, e a gente já se encontrou em batalhas, e hoje a gente faz trabalhos juntos, produz algumas músicas juntos, produzimos na casa do hip hop e funk também, ele já está, de tanto andar com a gente, comigo e Jeffinho. Ele está mais lá agora, está tendo uma certa mesclagem, está se juntando mais agora, mas tem alguns que são ainda, você está entendendo, resistente. Não aceitou ainda completamente a idéia não, de ta nos dois, ou sei lá, oo fica no funk ou fica no hip hop, ou se o free style, fica no funk, então como já me falaram. Falei não, vamos fazer os dois, eu me apresento, faço de hip hop e faço de funk, faço dos dois, se quiser contratar um [...] 24. Você já chegou a falar do Graffitaids que é um projeto da Prefeitura de Vitória, eu queria saber se vocês participam, porque quando eu falei do poder público você falou que não investe... É não tem. 25. Mas fora o Graffitaids, vocês já chegaram a participar de outros projetos da prefeitura? Vocês conhecem que tem um espaço de juventude na prefeitura? Olha, é o seguinte, agora está tendo uma reunião, hoje são sete né, amanhã oito, vai ter uma reunião na prefeitura, no Departamento de Juventude, que está tendo... tem até umas duas meninas lá do Serviço Social, também, não sei eu só fui lá uma vez. A galera está vendo isso aí, estão fazendo um Centro de Referência para Juventude (CRJ), bom isso aí já [...] a galera senta lá, bolar algumas leis em prol do jovem. 26. E vocês estão participando? Eu estou participando. Achei boa a idéia, mas a discussão está começando a surgir agora, porque na primeira reunião teve algumas abordagens principais, alguns temas para serem discutidos nas outras reuniões. A reunião era uma parte boa, só que tinham algumas pessoas que não tinham aparecido, foi dar uma recapitulada e o tempo é curto. Tem umas discussões boas, como a Pandora que é do movimento hip hop que estava lá e também uma outra menina do serviço social, as duas começaram a entrar em conflito. O debate estava bom, algumas coisas sobre público, universidade pública, do espaço de cotas, assim, eu fui lá para representar o funk, vamos ver o que vai ser daqui para frente agora, mas fora esse projeto do CRJ, o que tem assim na PMV faz alguns eventos, igual o Luiz que trabalha no Departamento da Juventude. O que eu participei da PMV foi esse do Graffitaids, assim, mas sem ganhar nada, tipo voluntário, divulgação. Mas só que eu acho assim, quando tem esses trabalhos, esses projetos da prefeituras, esses eventos, tinha que se buscar de alguma forma, a galera que está trabalhando ali, pelo menos ajuda de custo, alguma coisa, porque isso é incentivar o trabalho não remunerado e a gente não quer isso. Isso é incentivar de alguma forma, então de voluntariado e voluntário [...] não rola mais. Os primeiros a gente participou, assim, estava falando com Luiz, e ele "Olha, vai ter alguns eventos e a gente vai te chamar para cantar ", só que eu não tenho carteira de músico, não tirei, então pra fechar um cachê e tal teria que ter [...] Projeto mesmo da prefeitura que eu participei foi esse, o Graffitaids, teve outro no Parque Moscoso... 27. Mas você acha que depois que você começou a entrar no hip hop também, isso abriu as portas, você acha que é mais difícil o funk entrar no espaço público e ter essa interlocução com o espaço público, é mais complicado que o hip hop? É mais complicado um pouco porque ele é cercado de muito preconceito. 28. Você acha que tem mais preconceito pro lado do funk que pro hip hop? Com certeza, o hip hop não tem nem tanto porque gringo faz muito sucesso. Então através dali as pessoas as galera curtem o hip hop e as pessoas sabem que do hip hop, e começam a curtir alguns mesmo de essência como MV Bill, que é do Rio, Racionais, de São Paulo, agora o funk é muito queimado coitado, antigamente logo que eu conheci, falei: “vou parar de cantar”. Porque é o seguinte, vou cantar o cara que está me levando, que era o cara da rádio que nem convém citar o nome também, só pegava a grana e a gente nunca recebia. Então a gente fazia três, quatro, cinco shows por noite, na sexta, dois no sábado, um no domingo, era assim todo final de semana mas a gente nunca via o dinheiro, ai a gente começou a tocar na rádio, arrumamos um empresário, beleza, o empresário vai vender nosso show. Vendia mas também ficava com o dinheiro e aí desanima, foi ai que eu parei, dei uma parada e quando eu dei essa parada eu via o funk tão queimado que eu tinha até vergonha de falar que eu cantava funk. Eu tinha desistido disso. Porque dá motivação, você vai trabalhar, chega um momento que você quer fazer as coisas você faz por prazer, por lazer, por hobby, você vai cantar, se divertir, só que chega um tempo que você desgasta e perde noite de sono, vai para longe, fica cansado e já que está te fazendo isso você tem que receber por isso, para você pagar suas contas, então você vive disso, se você quer viver intensamente agente tem que estudar, que com certeza é fundamental e trabalhar no que a gente gosta por que senão, mais a frente, a gente vai ser infeliz e não vai saber o porquê. Quando encontrei o Jeffinho, quando a gente voltou, a gente conversava muito nos shows antigamente, época de 98, a gente não se batia. Então nessa época, 2000, que eu comecei a estudar, conhecer pessoas novas, alí também meu leque abriu, pessoas de vários lugares, de várias tribos, muita gente junta, muita gente com novas idéias, então eu fui passando a ter outra visão, visão que eu teria um dom, um talento de cantar e escrever,. Então foi aí que eu perdi o medo de ser um funkeiro, não falo que eu sou um funkeiro, sei lá, de repente apresentar. Não falo que sou funkeiro porque eu não escuto funk, eu curto funk quando eu vou ao baile, às vezes eu curto alguma coisa porque não tem como você fugir, onde você vai está rolando funk, se é o que está na moda, não sei se é o nome das pessoas, se é o músico, o que as pessoas gostam. Mas eu não vivo no baile, antigamente sim, eu era um funkeiro, porque para mim funkeiro é aquele bitolado, sem visão para nada, ele só curte o funk, se você mostrar para ele um jazz ele não sabe nem o que é, você pega uma banda de rock, o cara não sabe nem o que é, então você coloca para ele ouvir ele não vai nem gostar, eu, por exemplo, quando um professor me deu um CD com músicas variadas, caribenhas, mexicanas, então quando eu ouvi eu odiei, mas quando eu fui ouvindo, devagar e eu vi o seguinte, a gente tem que aprender a gostar das coisas, não é só assim, funkeiro mesmo abitolado ele não está disposto a isso, só curte o funk mesmo. Tem aquelas gírias dele "é nóis", "já é ", e fica tipo aquele gueto né, um gueto mais fechado que tem os mesmo, para mim esses são os , eu canto funk, mas estou no hip hop, estou lá na curva da Jurema, na quarta reggae com as bandas de reggae, faço participação também ao vivo na rima. 29. Mas você canta funk? Canto funk e hip hop, rap, né, porque hip hop é o movimento. 30. Essa participação da prefeitura você começou a sentir ela agora ou desde a antiga secretaria vocês já participavam de alguma forma, porque existia uma secretaria de juventude na gestão passada, você chegou a participar lá também? Não. 31. Mas você sabia que existia? Não, não sabia. A gente imagina que num estado tem que trabalhar todos os lados, a sociedade em si [...] Como agora estão buscando mesmo, ver o que está faltando, o que pode ser feito para ajudar em alguma coisa a juventude, porque está difícil. Mas o que eu conheço, no hip hop eu entrei agora, a uns dois anos, é recente, foi nessa minha migrada para o hip hop que eu conheci a prefeitura, conheci o Luiz, [...] então quando eu fui tocar ele estava sempre presente nesses eventos beneficentes, ele me viu e me convidou para participar, eu estou começando a participar, [...] pelo que eu sinto ela está tentando ajudar. 32. Sem ser da "secretaria de juventude", tem a secretaria de cultura, vocês vem tendo algum apoio deles? Não, eu não vejo. Para mim, os apoios que você tem mesmo é isso aí, conversa, mas não sai. O que ajuda mesmo é o dinheiro para liberar alguma coisa, mas não sai nada. Esse evento aí, semana toda, no parque Moscoso, Feira da Paz, semana da paz...Todos esses eventos, desde que começou eu participo, o primeiro graffitaids que teve eu participei, que foi a Pandora, o Sagaz, articularam junto com a prefeitura, não sei, eu participei, no segundo graffitaids eu participei, foi lá dentro do Parque Moscoso, na concha, teve o natal sem fome, foi em Andorinhas, a gente também fez. O que eu vejo é isso aí, esse que ia ter eu não sei, "mixou". Ia ter a galera, o hip hop, o funk, o reggae, rima na hora, dança, teatro. Não sei se era tudo voluntário porque o Sagaz falou que tinha uma grana que ia ser liberada, acho que foi isso, não soltaram o dinheiro. 33. Existe alguns outros elementos no funk igual existe no hip hop, igual quando a gente foi falar do reggae que tem alguns elementos como a cor do reggae, vermelho, preto, verde e amarelo, ele falou isso com a gente. É porque o reggae vem mais do rastafarismo, e essa coisa, mas o funk aqui não tem essa identificação, de uma bandeira, dando um exemplo, de um tipo de cor, ideal, tem isso que eu te falei, o princípio ativo do funk é o mesmo do hip hop, por isso, que eu estou juntando, em prol de alguma coisa boa, social, despertar o jovem para que ele tenha poder de mudar seu destino. O hip hop, tem quatro elementos: o graffiti, o break, o rap e o DJ/MC, e agora a galera está falando que o quinto elemento que está chegando aí, poderia-se dizer que é o lado social do hip hop, além de tudo isso, o hip hop trabalha muito em prol do social, do bem comum, está sempre voltado para esse lado, através de suas músicas, danças, das pinturas, está surgindo o lado social. Tem a dança, o rap, a arte plástica, o DJ e o lado social agora. O MV Bill, por exemplo, é um cara inteligentíssimo, cara representante da ONG, cara fundador da CUFA (Central Única das Favelas), tem o Marcelinho aqui também, você poderia entrevistar alguém também da CUFA, Marcelinho é da CUFA. É de Bela Aurora, Marcelinho é um cara gente boa, é um dos pioneiros. Do funk, não tem tanta informação, o funk em Vitória não tem uma história, tem história por lógica, dessa que eu te contei, que veio dessa época junto década de 90, os daqui começaram a fazer música, mas chegou antes aqui através dos cariocas, alguns ouvindo os cariocas começaram a cantar, ai não tiveram espaço, não tem mais um mercado, você não consegue mais se sustentar, você chega e coloca um som na rádio e não consegue chegar e lá e ficar tocando, na rádio é só "Jabá" mesmo, só quer lançar de quem elas têm interesse só. 34. E aquele senhor que você falou que é do movimento funk Edson Ricardo, vocês chegam a ter reuniões, ou não, está bem separado assim? Olha não sei se eles se reúnem, eu não sou integrado com a galera de movimento, no movimento hip hop eu participo, a minha ajuda está sendo essa, posso participar, pelo menos com minha presença física para conversar, debater, ou para fazer um show. Às vezes tiver que liberar um cachê de graça, beleza, minha participação é essa, mas eu não ando muito assim agarrado no movimento, porque ele ainda não se olhou para dentro, não vê os conflitos, os preconceitos, então não me enquadro nisso, então eu faço o meu trabalho, gosto muito de hip hop e de funk, faço meus shows, mas, independente disso, de estar convivendo. Pra falar a verdade, se o movimento funk vai para um lado, eu vou para o outro, está entendendo? Fecharam o baile, ai foram fazer uns protestos, chamaram os Mcs, aí foram chamar a gente o Jeffinho e eu para gente ir lá no trio elétrico cantar, fazer o protesto para voltar os bailes, pô dessa forma eu não vou não, se quiser vocês chamam a galera do Rio. Porque na hora de tocar, fazer sucesso são os caras do Rio, e o público também curte e idolatra os caras, são poucos que gostam do nosso trabalho. 35. Quais aos os programas de rádio que tem aqui de Vitória? Tinha o “Tropical jovem Mix”, que agora não é mais, mas tem ainda, camuflou, mudou o nome, e está em outro horário que era de 17h as 19h, e tinha o “litoral top mix”, acho que era isso, agora também eu acho que tem ainda. O funk deu uma parada, saiu das rádios, isso é antigo desde que começou mesmo o funk, tocava só o "Miame", música americana, ai teve uma época que parou, por causa de muita confusão saiu da rádio, ai agora, o Netinho, filho do Antário Neto, se formou comigo também, tinha muito amigo, a gente cresceu assim. Então devido influência dos amigos e agora está lá na rádio também, tem um respeito na rádio, ele voltou com o funk, agora parou devido a muita música de erotismo, sexo e muita gente ligando da cadeia, querendo passar “catuque” ao vivo, “catuque” é mandar abraço, recado. E os caras estavam mandando das cadeias. Paulo Hartung fez uma reunião com a Gazeta, Litoral, pessoal da rádio e pediu para eles tirarem os programas do ar, foi aí que tirou, só que deu uma camuflada. 36. Só que ainda tem programa de funk? Tem, mas mudou um pouco a cara 37. Nesses programas vocês aparecem? Não aparecem. Quando aparece é o Jeffinho e eu. Toca um, toca outro ou toca os dois. Os que têm mais respaldo, mais respeito assim pelos próprios que fazem a mídia aqui, tem respeito, sabe do nosso trabalho, mas fora isso não cara. Não interessa, o cara do Rio vem e é digerido muito mais fácil, o cara faz o baile aí, esse que canta Bolete "quer bolete", vem aí faz três shows e vai embora aí com 60 mil, uma vez num show só fez 30 mil, os cara não querem nem vir mais por cachê, vem por bilheteria. Lá no Rio, na época que tinha Gorila e Preto que cantava a dança do gorila, antigamente, logo que saiu aquele funk Brasil, tinha a dança da cabeça. Esses caras do Rio não fazem esse sucesso no Rio, só aqui que fazem, eles vêm pra cá e estoura, "pô, lá em Vitória é que é a mina". Aqui a rádio não interessa, principalmente, o principal apoio que a gente poderia ter para ganhar alguma coisa era rádio que poderia ajudar, mas não, você ver o seguinte, corrompe. O cara estudou comigo, e não segura mais essa onda, a rádio para mim tem que passar um pouco de cultura, informação para as pessoas, não só, entendeu, alienar as pessoas, você vai escutar uma rádio tropical, litoral, nada contra que escute, para pelo menos dê opção, tem opção de escolher outra rádio. Igual as pessoas falavam "Ah, o controle é democrático, é só você mudar de canal". Não é nada, só tem porcaria, os canais que oferecem para a gente: globo, SBT [...] só tem porcaria, o único que salva é a TV cultura, que ninguém assiste, a galera também não sabe curtir as coisas boas. 38. Tem as rádios jovens como transamérica que agora acabou mas, tem a jovem pan, a cidade, que não tem espaço para funk. Não tem, quando entra são os mais populares mesmo, ai quando vira febre mesmo entra. De alguma forma dão um jeito. Porque antigamente eu lembro que ainda até tocava, passava Claudinho e Bochecha e tal, mas hoje não passa mais, porque também, o público das cidades, a galera é mais segmentada, a galera é mais, fechada, eu creio assim, que essas rádios são as melhores assim, que nos é oferecido aqui. A tropical e litoral não dá né, axé o tempo inteiro, pagode, não passa nada de bom, só passa sobre novela, porque o rádio acompanha, vira trilha sonora da dona de casa, está em casa, ouvindo o rádio, até mais que a TV, porque a TV ela tem que está vendo, o rádio não, ela ouve as coisas, imagina, a pessoas fica o dia inteiro. Eu também não culpo as pessoas de ouvirem isso, porque não tem informação, a outra informação oferecida é da televisão, você vê um jornal as informações já saíram a muito tempo, a internet é o tempo todo, é informação o tempo inteiro, e a gente não consegue acompanhar as informações não. Ai a galera tem uma cabeça mais fechada assim, igual o funkeiro, só curte funk, por isso mesmo, não tem outras referências, não tem acesso a outras músicas, livros, teatro, revista, jornal, as informações estão ai, vem a televisão e fala. Uns 90% da população só tem informação através da televisão, por isso a galera é meio assim, fechado. Igual o mito da caverna, preso lá, sem saber o que existe no mundo. Igual Matrix, na matéria de filosofia a gente fez um trabalho analogia de Matrix com o mito da caverna. O Mc Flavinho saiu na primeira coletânea com o rap Ilha da Jussara daqui, do “Top Mix” que era da litoral, "Sou da Ilha da Jussara...". é verdade foi o primeiro capixaba foi o Flavinho, já tocava na rádio quando só passava funk do Rio, Mc Galo, Cidinho e Doca, o Flavinho era o único que tocava, o primeiro mesmo. O primeiro a fazer um rap, um funk capixaba, o primeiro Mc capixaba foi o Mc Flavinho. 12/06/2006 Jovem 03 Rock 1. A gente queria saber um pouco sobre como surgiu o Rock no mundo. No mundo, olha pelo pouco que eu conheço assim, que eu estudei, assim, e procurei saber, o rock começou em 1950 com Littler Richard, Chuck Berry, pessoal que foi muito influenciados pelo blues que na época o pessoal que começou a fazer rock era meio que criticado, era recriminado era o rock era mal visto , era como, era feito por pessoas rebeldes, marginais, então não tinha tanta importância e foi acabando dando grande importância nos tempos atuais. Assim, antigamente muita gente não dava tanto valor quanto o rock tem hoje. 2. Então começou nos EUA? Isso,começou nos Estados Unidos,em 1950, não sei ao certo se foi com Littler Richard ou Chuck Berry, cada um tem uma versão da história, mas eu ouvi falar muito sobre essas duas versões. 3. E aqui no Brasil, quando chegou? Com quem chegou? Não sei dizer, mas tem muitas histórias que dizem que já tinham muitas pessoas no Brasil, em 1950, fazendo rock, não tipo, 1950 e 1960, mas não tem nada que comprove , “ah começou com essa pessoa ou esse grupo”. 4. E aqui no Espírito Santo você sabe alguma coisa de quando começou? Não, também não. 5. Você sabe dizer o nome de algumas bandas que tem hoje aqui? Olha dentro do hard core eu conheço várias bandas, tem o “Muqueca Di Rato”, tem “Os Pedrero”, que é bem próximo do hard core, na verdade se misturam os estilos, de hard core, a punk rock, a EMO, na verdade o rock tem vários subgêneros. 6. Você tem como falar desses subgêneros? Tenho. Se você for generalizar você pode falar que tudo é rock. Mas dentro do rock você tem o metal, que é o heavy metal e dentro do metal você tem o White metal, que é metal cristão, que fala sobre religião, sobre Deus, tem o trash metal, que é aquele metal mais podrera, gritado, tam o metal gospel, que tem uma diferença pra esse White metal, que eu não sei. Aí fora do metal tem, hard rock, tem hard core, tem punk rock, dentro do punk rock tem o punk rock mais é “novayorkino” que é mais político, mais protestando alguma coisa, e tem o punk rock mais “californiano”, que tem mais melodia e fala mais sobre amor ou alguma outra coisa assim. Hoje, muito tem esse lance do EMO, do hard core EMO, que até meio polêmico falar sobre isso, muita gente gosta, esse subgênero é o hard core só que falando mais de amor, falando sobre a menina que deixou o cara, o cara que sofre por amor. Então tem muitos estilos dentro do rock que às vezes até confunde um com outro, fica meio confuso e tem muita coisa mesmo, não dá nem pra falar muito. 7. E você sabe quando começou a surgir esse monte de subgêneros? Olha, pra mim, o próprio metal tem várias diferenças, vários subgêneros, eu vejo isso tudo como metal. A partir de um certo tempo as pessoas foram diferenciando. Foi surgindo o new Metal com influencia do hip hop, rap, mas muita gente já me falou que existia isso, só que não tinha essa classificação, as pessoas com o tempo foram classificando como subgêneros diferentes. 8. E isso é daqui do Brasil ou vem dos Estado Unidos também? Vem dos Estado Unidos, a maioria das coisas vem dos Estados Unidos, o Rock os subgêneros, todos são de lá. Todas as bandas aqui são muito influenciadas por bandas de fora. 9. E aqui no Espírito Santo onde vocês costumam se reunir? Onde normalmente tem shows de rock? Hoje em dia não tem muito espaço pra rock no Espírito Santo. Antigamente existia o “Camburi Vídeo” em Jardim da Penha, que era muito freqüentado e por todos os estilos de rock, tinha show de metal, show de punk rock de tudo. Tinha o “Praia Tênis Clube” também, que de um tempo pra cá começou a trazer bandas, mas parece que ta fechando de novo. Hoje ainda tem o “Entre Amigos” lá em Vila Velha, que é um dos poucos lugares que restou assim, que tem banda se apresentando. Tem um pessoal lá do Centro também, é o pessoal do “Milícia”, não sei, acho que é um grupo religioso, eles se encontram sempre, eles moram num apartamento lá e parece que todos os finais de semana tem um show lá. Eles pegam bandas de White metal, metal cristão e fazem eventos lá, eu nunca fui assim, já passei em frente, fiquei sabendo que tava tendo um show , mas nunca entrei não. O pessoal de lá é bastante unido, assim, quando tem show vem gente de Vila Velha, de Cariacia, todo mundo pra lá, isso que eu acho legal no rock, assim, o público é muito fiel, eles vão atrás onde tem, eu acho bacana isso. 10. Aqui em Vitória então não tem mais lugares? Não tem, quando acontece é algum festival de escola, então não é um rock pago é um evento que geralmente as bandas que tocam são bandas de alunos da escola. Bandas contratadas pra tocar agora em Vitória só show muito grande, por exemplo, no “Álvares Cabral” que vem banda internacional, como veio “Sepultura”, “Angra”, agora em Vitória é muito raro, você tem o bar do “Simpson”, que às vezes rola show, mas é um bar pequeno, são shows pequenos, por que é um lugar pequeno, não cabe muita gente, então estrutura aqui no estado, principalmente aqui em Vitória não tem muito. 11. Você falou que vocês são unidos quando tem show o pessoal vem de fora, e vocês costumam se reunir? Tipo o hip hop e o reggae que fazem reuniões pra discutir coisas do gênero mesmo, da música, e vocês costumam se reunir assim? Olha, não dá forma como se reúne o pessoal do hip hop do reggae, por que eles estão muito mais ligados a movimentos culturais, e o rock já não tem tanto disso, acho que poderia ter. O que acontece são eventos que o pessoal organiza pra beneficiar alguma instituição, alguma ONG, alguma coisa assim, eu mesmo já organizei um show no “Camburi Clube”, que é um outro lugar que tinha show em Vitória, há muito tempo atrás em 2001, 2002, e agente arrecadou alimento não perecível pra dar pra ACACCI. Então eu acho que o pessoal do rock, o máximo que acontece aqui em Vitória é isso, é um show beneficente que o pessoal vai, participa, doa alimento e pra doar pra essas instituições. Mas acho que no hip hop e no rap o pessoal é muito mais unido com essa coisa de promove comunidade carente, ajuda o pessoal de lá, já no rock não tem tanto. 12. E com relação ao poder público, a Prefeitura aqui de Vitória, a Secretaria de Cultura, por exemplo, você vê algum incentivo com relação ao movimento de vocês? Ao gênero? Olha eu vejo poucos incentivos da prefeitura, mas não para, pros gêneros, pro rock, pro reggae, eu vejo alguns poucos eventos que abrangem todo mundo. Às vezes eles fazem um show, sei lá, antigamente tinha muitos shows lá na praia de Camburi que ia banda de reggae, de rock, grupos de hip hop, mas não tinha nada específico pro rock, acho que o rock é meio mal visto ainda, acho que sim, principalmente o pessoal do hard core, do punk rock, o pessoal vê muito como, “ah são doidões, são arruaceiros, são anarquistas”, ah sei lá, tem muito preconceito ainda, tem uma visão meio, sei lá, deturpada ainda. 13. E você sabia que existe aqui na prefeitura de Vitória um espaço para a juventude? Um departamento? Não, não sabia fiquei sabendo na conversa que a gente teve agora pouco. 14. O que o rock de um modo geral quer transmitir nas letras das músicas? Tudo, acho que tem bandas que falam sobre Deus, sobre religião, tem bandas que não falam nada, falam besteiras, no caso por exemplo dos “Mamonas Assassinas”, num chega a ser uma banda de rock, eles pegavam e tocavam um pouquinho de cada estilo, mas eles falavam coisas engraçadas, coisas cotidianas, né, um som bem humorado. Mas tem banda, tem muita banda de punk rock que protestam alguma coisa, sabe falando sobre política, enfim, até o próprio relacionamento entre as pessoas, acho que cada banda, cada grupo, cada pessoa, tem o seu protesto de um jeito, fala sobre alguma situação. 15. Então não tem assim um corrente que segue? Tipo o hip hop fala mais sobre o di-adia da periferia, o reggae fala mais da natureza, das praias então o rock fala mais de tudo mesmo, cada um segue o seu estilo, ainda mais por que tem vários subgrupos? Isso, o hip hop você não tem muitos subgêneros, você não tem um tipo de hip hop diferente do outro tipo, geralmente eles são bem poucos, eu não sei se tem, mais se tiver são poucos e bem próximos. Já o rock é muito separado, é muito enraizado, assim. Então cada um segue meio o seu estilo, o seu protesto, o seu conteúdo, a mensagem que quer passar. 16. Como você avalia o rock aqui em Vitória? As bandas que existem aqui? Eu acho que tem muita banda boa, mas às vezes essas bandas não tem espaço pra mostrar o trabalho, então acaba ficando meio oculto. Às vezes a pessoa não conhecia, a gente tem o exemplo aí do “Dead Fish”, que ta em São Paulo, agora. Eles assinaram com gravadora grande então tão se dando bem, assim, é exceção a regra, pouquíssimas bandas tem um certo espaço pra mostrar o seu trabalho, principalmente em Vitória, por que não tem muito espaço pra show , né. Você vê em São Paulo, além de São Paulo ser muito maior né. Mas mesmo assim tem lugares específicos pra shows, então o pessoal vai. Aqui em Vitória não tem, não tem apoio de ninguém quando tem show são amigos que se juntam e tiram dinheiro do próprio bolso pra organizar e muitas vezes tomam prejuízo e continuam fazendo show, acho que o pouco que tem hoje é graças às pessoas que continuam investindo e querendo manter essa cena de rock, mas ainda é muito pouco, acho que deveria ter mais espaço, a prefeitura, não sei, talvez poderia incentivar mais, acho que seria legal, bacana. 17. Ultimamente tá tendo, assim, uma explosão de bandas de rock, principalmente em São Paulo, como você avalia assim em âmbito nacional? É hoje em dia tem muita abanda nova surgindo, principalmente de rock, assim, você vê muita banda nova, ainda mais agora com Internet, hoje com Internet mais acessível pra todo mundo - ainda não é pra todo mundo mais tem muito mais gente com acesso à Internet - fica mais fácil, uma banda pode gravar o seu material em casa e botar lá na Internet, tem os sites especializados pra isso, então, com MSN a pessoa manda música de um que vai pra outro, então fica mais fácil pra banda divulgar e ser conhecida. Esse é um dos fatores que eu acho, na minha opinião, que ajuda bastante. E dentro do rock, do hard core, acho que isso é maior, por que é muito mais fácil montar uma banda de rock do que uma banda de reggae, por exemplo, por que no rock você pega uma guitarra, um baixo, uma bateria e um vocal, principalmente quando as bandas são desse hard core mais agressivo, “tosco” que é conhecido, que é gritado, então você pega uma pessoa pra gritar, uma pessoa que escreva e vai protestando, vai escrevendo as suas letras, vai cantando. Então é mais fácil de você montar uma banda assim, também por isso muita banda acaba, às vezes por ser tão fácil você montar uma banda e começar a tocar, pode juntar nós três aqui e montar uma banda, mas não dá certo e amanhã já acabou. Agora banda que, as bandas que eu admiro, são as bandas que começam com um propósito, e tão aí tocando, sempre mantendo o seu estilo. São bandas que não se vendem pra gravadoras, o que acontece muito. Não culpo também quem assina um contrato com gravadora pra ganhar o seu dinheiro de uma forma, por exemplo, o próprio “Casaca”, eles começaram com um estilo, o congo deles misturado com rock, todo mundo aqui no Espírito Santo começou a gostar, só que eles foram pra “Soni” e começaram a mudar o estilo, você vê o lance mais pop começando a entrar, acabando que “Casaca” hoje nem faz tanto show. Eu não culpo eles que assinaram esses contratos, por que “pô”, você que vive de música tem que sustentar sua família, ter seu dinheiro no final do mês. Então muita gente fica com aquela coisa, não vou ter grandes pretensões por que, eu comecei assim e quero terminar assim, acho que cada um tem seus motivos pra tomar suas decisões, eu particularmente não concordo, não vou falar que não faria, mas eu tenho a intenção de não fazer. 18. Vocês têm uma mensagem assim que o hard core tenta passar? A gente não passa uma mensagem específica. 19. O rock é só pra dançar mesmo? Por que tem um livro sobre o rock, em que o autor fala que, o rock não foi feito pra pensar nas letras foi feito pra dançar, o que você acha? Aí eu pensei, será que se um “roqueiro” ouvisse isso ele iria ficar satisfeito? De que o rock é feito só pra dançar? Como é pra você? Olha eu não concordo muito com essa visão não, até por que o rock começou, assim como hip hop, começou ele tinha uma letras protestando alguma coisa, acabou que foi tornando uma coisa um pouco diferente hoje. Tem rock que você, sei lá tem bandas aí que escrevem sobrem amor, acho que escrever sobre romance essas coisas é muito fácil, então a pessoa escreve põe uma guitarra em cima, “ta lá, uma banda de rock”, tem sim rock pra dançar, o pessoal faz rock pra se divertir, tem o próprio “Mamonas Assassinas”, não sei se é um bom exemplo de uma banda de rock, mais eles faziam, as letras eram engraçadas, era humor, então pode ter esse sentido, não vejo como problema, mas o rock em si não é só pra isso. Acho não, não é. Tem muito rock que não quer protestar, você pode ter o direito de não querer falar nada, não passar mensagem, simplesmente tocar, mais tem muitas bandas que, a formação os integrantes são ótimos músicos, mais eles não sabem compor alguma coisa então eles dão muito mais valor à melodia, aquela coisa da música e não pensam muito em colocar alguma letra pra protestar alguma coisa, não sei, é uma opção deles. Eu não acho errado. E não vejo o rock como só pra dançar, pode ser a visão do autor do livro mais eu não concordo. 11/06/06 Jovem 04 Hip Hop Sou produtor, faço voz, letrista, historiador e também faço parte da cultura hip hop em seus quatro elementos, desde sua criação e conhecimento dela aqui no país. O ES foi um dos estados em que o hip hop começou a se movimentar por igual, igual as outras unidades da federação. Quando o hip hop começou no Brasil ele começou em todos os estados ao mesmo tempo. O Espírito Santo tinha como representante eu, tinha na época Geraldo Cobra, tinha Paulo Black, era o cara que fazia break, tinha Cyborg juntamente com Sagaz que fazia o graffiti, eu comecei com letra e DJ e assim nós viemos seguindo desde 1985 para cá. 1. O hip hop tem quatro elementos, como o hip hop surgiu e qual dos quatro elementos surgiu primeiro, se surgiu primeiro, se teve isso? São os quatro elementos atuais hoje, mas o primórdio do hip hop, a raiz principal, ele começou nos anos 50 nas ruas de Kingliston, na Jamaica, tinha o Kool Herc e o Jaburu Mayer e o Kool Herc era o cidadão que tinha uma escada, ele subia na escada e o Jaburu ficava tocando, as vezes o jaburu subia, que jogava mais pesado e ficava falando a palavra de ordem, a questão social, econômica, política da Jamaica da época, desigualdade que existe até hoje no nosso país e acredito que na Jamaica também exista. Os caras começaram assim, a falar palavras de ordem, o que é certo, o que é errado, nós temos que lutar, que correr atrás, e enquanto isso um deles estava tocando e pegava aquela parte do instrumental da música, da música mais famosa da época, pegava só o instrumental, numa das oitavas, eles ficavam falando palavras de ordem, então quando acabava aquela oitava, ele soltava do outro disco, eram dois discos iguais, ficavam no mesmo amplificador, então acabava a parte da música, tum, soltava outra, voltava, quando acabava a outra, soltava e assim, em cima daquilo ali formava a palavra de ordem. Essa é a raiz. Aí depois, não sei o que aconteceu, por questões econômicas talvez, o Kool Herc foi por EUA e chegando lá ele conheceu o Fila Fresh, inclusive tem até o primeiro disco deles que eu mostrarei depois. Conheceu o Kool Herc, o Fila Fresh era do Brookling, e depois conheceu o do Queens que era o África Bambaataa. O Kool Herc, o África Bambaataa e tinha mais outro também, que esses três caras começaram a dividir os hip hop do Brooking, do Queens e no Bronks que era outro bairro Nova Yorquino onde existia uma grande comunidade negra e a cultura black music estava surgindo, o rock, finalizando a cultura do rock e já estava vindo o ... eles consumiam muito o blues do sul dos EUA e de Chicago, e começou a fazer as junções para fazer as bases, ai foi que começou a raiz do hip hop, ai na mesma época estava acontecendo a guerra do Vietnã, aonde havia muitos protestos, pois a maioria dos soldados americanos que foram para o Vietnã eram negros, porque naquela época eles eram obrigados a servirem ao exército. Então aquela cultura de segregação norte-americana fazia com que o jovem negro fosse para os campos de batalha, e então eles começaram a fazer protestos, imitando movimentos de soldados caindo mortos, na dança, e nessa mesma época também, o graffiti começou a sair da pichação e fazer uma arte criticando a questão da guerra, dos mortos que eram caras desses bairros que estavam morrendo no Vietnã e a letra começou a falar da guerra do Vietnã, do contraste, da divisão, então o hip hop começou dai. Então já tinha a formação do DJ que era o cara que ia tocar, então na hora que fosse dançar tinha o DJ, na hora que fosse graffitar tinha o DJ, na hora que fosse falar as palavras de ordem nas ruas desses bairros... Essa é a base original do hip hop, a base e discutida, criticada, e hoje em dia os caras falam, na época já se cantava o hip hop, como se cantava o hip hop...? 2. Você falou do contexto mundial, a gente queria saber como surgiu aqui no Brasil. Como veio para cá, quem trouxe...? Chegaram os quatro elementos juntos, o hip hop formado já, chegou o rap primeiro, você sabe? Olha no Brasil aconteceu o seguinte, essa ação comercial norte americana, você sabe que depois da África, o Brasil é o país que tem mais negros, entendeu, então, o comercial, a questão cultural norte americana, se bateu nos EUA, o próximo local é o Brasil, isso é de praxe. Porque, do mesmo jeito que nossa cultura negra está toda sendo puxada pelos EUA, atualmente o exemplo maior , o maior cantor de rap do momento que é o..., esqueci, ah, eu tenho o disco deles depois eu mostro para vocês, é do produtor brasileiro Sérgio Mendes, acho que é. Ele pegou um clássico do samba brasileiro e colocou com o hip hop norte americano cantando, e esse cara dos EUA é um cara que hoje está vendendo 50 milhões de cópias pelo mundo a fora. Então, quando eles começaram a fazer esse tipo de música lá, na época tocava o funk music no Brasil, então o hip hop veio no estilo funk com a banda Sugarhill Gang , essa mesma banda foi a primeira banda a tomar o primeiro processo por questão de plágio, porque na época tinha uma banda Chiq com os produtores Bernardo e Eduards Guinerorges que eles produziram aquela good times, uma música que estourou pelo mundo a fora e a base dessa música, o Sugarhill Gang pegou para pra fazer o melô do tagarela, foi o primeiro fonograma gravado pelo mundo a fora sobre o hip hop e de quinze minutos que tem a música, de dia e de noite é o nome da música, então essa música quando chegou ao Brasil, chamou a atenção para caramba, que estilo é esse, o que é aquilo e logo em seguida veio o Planet Rock, feito por África Bambaataa, me lembrei, Soul Sonic Force, que era um outro pessoal (...). Já estava tocando Sugarhill Gang, estava tocando também o Planet rock produzido pelo África Bambaataa. Ai depois chegou um filme chamado Beat street, que era a onda do break, chegou a parte um e parte dois, depois chegou o break dance, então a juventude negra brasileira, ouvindo essas músicas quando ia aos bailes funks e chegando esses filmes, a assimilação é rápida, então esse mesmo filme passou em todos os cinemas do Brasil, de Manaus a Porto Alegre, tanto de Rio Branco a Natal, tanto do Espírito Santo a Brasília, Campo Grande, todas as capitais cercando o Brasil de um lado a outro. Então, de um mesmo local que antes tocava o estilo funk music, tocou essas músicas, passou esses filmes e obviamente passou a ter esses curiosos, ai dali, logo me seguido veio o Kuts Brown cantando a música The Breaks, ele aproveitou a situação, já que não tem um estilo para se dançar, já que não se sabe o estilo dessa maneira de cantar, então vai ser o break, que é o quebra, a pessoas fazerem os movimentos pra lá e para cá e ai vai o som, ai assim que começou a se solidificar pelo país e é o que é hoje, depois dos EUA é o país que mais se produz e consome em hip hop e é o único país do mundo que tem a raiz 100% do hip hop, os EUA já tem, mas já está contaminada, aqui no país, graças a Deus ainda não contaminou ainda, igual ao funk porque é errado vocês chamarem o estilo de música carioca de funk, abrindo aspas aqui, passou a ser conhecido por causa de que, antes tocava koll the kender. Eu faço meus bee gees, aí só com os originais funk music - James Brown, George Clinton, eles são os reais do funk norte americano, tocavam no Brasil tinha o Jorge Ben, conhecido como Jorge Ben Jor, tinha o Carlos Café, tinha Hildo, o Cassiano, Tim Maia, grande percurssor dessa situação toda tocava essa galera toda junta, nos bailes, estilo funk, feito nos EUA. Depois do Blues, depois do Soul, veio o funk, nesses locais que tocavam o funk, os caras tiravam essas músicas norte americanas e as brasileiras desse estilo e começaram a tocar uma batida só de grave, e as letras vem falando de mulher, da noite que ele passou com a mulher, que a mulher era boa, que fazia, o que não fazia, transava bem, não transava bem, dava bem, só sacanagem, só estava pensando no carrão e na grana que ele ganhava. Então, temos um infeliz cidadão chamado Malboro, eu já cheguei a falar isso para ele, pode colocar na entrevista que não tem problema, porque, na minha opinião, o que ele fez para a juventude brasileira foi péssimo, para a questão bancária dele foi ótimo né, ele comecei com aquele negócio de melô da aranha, melô disso, melô daquilo traduzindo o que os norte americanos faziam em Miami, mais ali na parte do norte de Miami, Pampano, onde se gravava esses tipos de música e também passaram a ser proibidos em alguns estados norte americanos a execução delas, get loving crill, se vocês ouvirem verão que eles foram proibidos de cantar de certos estados. Então esse cara começou a produzir essa tradução aqui no país, obviamente quando você pega um povo que tem uma cultura limitada como a nossa, que a nossa educação é a TV que nos dá, partiu pra pornografia é fácil de assimilar, aí os caras assimilam, a garotada se assimilou. Então, quando os caras que estudavam música, os historiadores viram para onde esta situação estava indo, já começaram a pensar, daqui a uns dez anos você vai ver, vai ficar uma porcaria que esse tal de funk vai tomar conta, chamaram de funk porque era o original local onde se tocava funk e então vamos chamar isso de funk também, só é conhecido como funk no Rio de Janeiro e no ES, em São Paulo se você falar funk vão te jogar aquilo do passado, em Belo Horizonte é a mesma coisa, no Nordeste, no sul do país é a mesma coisa, no Rio de Janeiro eles já vão te jogar o Pancadão. Então, nós capixabas, quando falamos funk falamos errado, estamos sendo questionados, sendo motivos de riso. 3. Qual é a maneira? A maneira é falar o pancadão. 4. E tem alguém que toca o funk de origem, de raiz hoje? Tem, eu toco nos bailes, aqui na rádio, tem programas especializados. A antena 1, a programação dela é 80% funk, sábado a noite tem também o Tribuna Flash Back, é uma programação de qualidade, tanto é que foi votado a melhor época da música no mundo que foi os anos 70 e 80 que tocava o original funk. É tanto que os caras tem que lá buscar essas músicas para ressuscitar para dar continuidade aos sucessos. É tanto que se você quer fazer hip hop ele é todo sampreado em cima do original funk, o dance, ...estão fazendo reedições 2006, 2005 tudo de 1984, 1982. Essa é a história do funk, não é...alguns falam "aquilo é porcaria de um cara que não tem responsabilidade", porque essa cultura que vem, você pega um jovem que curte baile funk, que está na minha faixa de idade e paga esses caras que começaram a curtir esse pancadão de 10 anos para cá, nós temos nossa questão social... o que acontece no complexo do alemão, na Rocinha, na periferia, na parte baixa, e o que está acontecendo no ES e em outros estados que aderiram a isso aí. Vocês duas por exemplo, quantos anos vocês lutaram para ter o direito da mulher e hoje em dia o cara faz uma música chamando vocês de cachorra, rebolar o popozão, se tornaram um produto de consumo e está o pessoal nos bailes funk, sendo que a mulher é a mais agredida nesse tipo de letra e pela questão da desinformação ela apóia esse tipo de situação, e só um ser humano, só uma pessoa se deu bem nessa situação, pegar da geração dele em diante, tudo que estava em volta dele apodreceu, eu já falei isso. 5. Então o criador do pancadão foi o Malboro? Ele foi o principal criador, ele começou a fazer a tradução num disco chamado Funk Brasil, mixado em 1990, que vinha até uma música cantada por aquela mulher, uma "escraxada", até ia pousar para playboy agora, como é o nome dela, a "velhona", já foi apresentadora, fala palavrão pra caramba, Dercy Gonçalves, ridícula essa mulher, deveria se tocar, está certo que não tem idade para gente ter moral, ela fez o rap da aranha, "que sua cobra quer comer minha aranha", pensa bem, o que você espera, e assim vem, eu tenho esses discos guardados para gente ter fundamento, então é dali em diante. Aí dessa época tinha caras como Nelson Triunfo, como Times Dj que são os percussores, os primatas do hip hop no Brasil que começaram o Nelson Criusque que saiu do Nordeste do Brasil e foi para São Paulo, que sofreu preconceito por ser nordestino, pernambucano, aquele sotaque mesmo de nordestino, ficava essa briga toda, junto ele e outros breaks o Black Spring por exemplo, lá no metrô de São Bento criaram a primeira cril de break, os primeiros caras a dançar break no metrô de São Bento, ali começou a raiz, eu achei legal porque eu estava lá, eu vi os caras começarem, ai em algumas vezes a gente tinha que sair correndo porque a polícia chegava e descia a porrada, batia em todo mundo. 6. Era quando isso ? Década de 80. Lá os caras apanhavam por causa disso. Eram perseguidos e então eles saíram do metrô de São Bento (SP) e iam para... Ai eu me lembro que nós estávamos lá e a polícia chegou e deu um pau em todo mundo. Ai nós fomos para o Vale do Anhagabaú, perto do terminal dos correios. Vamos fazer nossa roda aqui, colocava a música e começava a dançar. A polícia chegava e tome cacete. Então a gente procurou um lugar para aquilo ali, então os moleques de rua estavam ali, os bandidos que estavam nas ruas por sobrevivência começou a ficar ali, então os caras confundiam, "pô os caras estão se juntando para fazer roubo", não cara, estavam tentando conversar com os caras, porque na América os caras se reuniam para falar em cima da base. Então o break foi o primeiro movimento do hip hop no Brasil 7. Em que década? Década de 80, começo da década de 80, 79... essa situação começou no Brasil e no mundo, depois é que começou essa situação. 8. Aí quem começou, assim, a fazer música aqui no Brasil? O primeiro cara a gravar um fonograma no Brasil, cantar, gravar, foi o Pepeu. Então, depois do Pepeu, tem uma coletânea que depois a gente pode mostrar, pela data vocês podem tirar uma idéia, veio o Pepeu, ai depois gravaram uma coletânea, a primeira é hip hop e cultura de rua, depois tem outra coletânea, aí vem o Thaíde lançando o primeiro trabalho, Thaíde Dj Hum. Aí, em meados dos anos 80, 86, 87, vem os Racionais, aí o negócio estourou. Viram que o negócio não era só cantar, só dançar, não era só graffitar, tem um lado social, cultural, o lado de conversar que é o mais importante. Agora, hoje em dia, se reconhece o hip hop como questão cultural com finalidade profissional, que todos os quatro elementos caem para o lado profissional. O DJ hoje se torna um sonoplasta, tanto para rádio, TV. O break ele se torna um coreógrafo, um dançarino. O Rapper vocalista é um cantor, um letrista, aquelas coisas todas. O graffiteiro é a arte plástica, é ali que está exposto a idéia do cara, tirar , conforme os olhos vai tirar uma interpretação. Então essa cultura cai para esse lado, no ES ainda há um preconceito muito grande com isso, ainda acha que é negócio de preto favelado que não tem nada o que fazer. No Brasil, até que agora os caras estão começando a engolir isso, mas agora nós começamos a ter um outro desafio que é não deixar o hip hop cair para porcaria, que os caras estão fazendo, tocando em boate, rebolar, fazendo hip core, noitada do hip hop, lual de hip hop onde os caras estão lá fumando, bebendo, cheirando, transando... 9. Como ele veio para o ES? Como eu falei. Bom eu já estava tocando aqui, então tinha um cara conhecido como Pulo Black, ele era pipoqueiro lá no cine de São Luiz, lá no Centro de Vitória, ai ficava eu e ele lá conversando, ai a gente comprava os discos escondido porque a gente ficava com vergonha, porque os caras falavam "que jeito doido dos caras cantarem, ninguém entende nada, nem dá para ouvir direito", a gente tinha medo, a maneira da levada eu gostava e ele gostava, aí quando chegava um disco, dois discos que a gravadora falava "ah, se você for comprar esse tem que comprar esse também, então empurrava para os donos de discoteca, como a discoteca do Golias que foi aparecer primeiro, então quando eu comprava ficava na minha e quando eu descobri que tinha um acara que também comprava que era esse Paulo Black e ele comprava e ficava com vergonha de mostrar e eu a mesma coisa, até que um dia ele me chamou e falou um cara que canta de uma maneira muito louca, muito maneira, e foi que a gente começou a ouvir aquelas coisas. Aí eu fui pra São Paulo, ver quando estava passando esses filmes aqui e daí nós fomos contaminando, dois, três, quatro, que foi indo e em uma época eu fiz uma base só instrumental, fiz uma letra e cantei, eu tinha um programa na rádio tropical na época, ai a galera gostou, o programa era de funk, original funk. 10. Em que ano foi isso? Isso foi em 84. 11. E como era o nome do programa? Tropical Jovem Mix. Eu tenho esse instrumental até hoje, Tem muita gente que tem essas músicas e eu não tenho, gravadas em lugar nenhum lá me casa. Um dia um cara me ligou e disse, "O meu irmão, eu tenho os negócios aqui que eu gostaria de vender, as suas primeiras músicas e suas primeiras coisas que foram gravadas". Ai eu falei "ah, meu irmão... rsrs". Você pega e eu gravo de novo e ele disse: "é mas você não tem mais o mesmo timbre de voz, a levada não é mais a mesma". Então a gente gravou isso aí e estamos mandando para os museus, colecionadores, porque a gente criou uma legião de colecionadores, e assim, fomos seguindo, reunião e em 1997 gravamos o zumbizão como é conhecido o apelido do nosso vinil, ai gravamos a coletânea de Tributo a Zumbi de preto para preto. 12. Foi o primeiro? Foi o primeiro. 13. Foi você e o Paulo Black? Não, aí já era eu e mais uma turma que veio, porque Paulo Black só estava preocupado em dançar, foi ele que segurou o break junto com Cyborg que era break e graffiteiro. Aí tinham três caras que tomavam conta do break e do graffiti que era o Cyborg, Paulo Black e Sagaz do Suspeitos na Mira. E o Brown estava vindo, estava entrando no nosso meio, o Eric Brown. Vocês já conversaram com ele? Não, só com Sagaz. Sagaz é primórdio, ele não gosta que chamam ele de jurássico. 14. Você podia falar para gente o nome dos grupos daqui de Vitória que você conhece. Vou citar os de hip hop mesmo, sem ser aqueles que estão ali por causa de moda, não. Negritude Ativa, Suspeitos na Mira, Observadores, Mente ativa, Garcia, ele é um cantor de rap, uma questão original rap são só esses daí, o resto, eu vejo assim, ah porque está legal, maneiro, mas na época que é pra lutar mesmo pro rap estar existindo ninguém apareceu. Se tivesse num momento de ser de forró, misturado com lambada e esfregar a bunda na parede, os caras estavam dentro também. São pessoas que assim que acabar essa onda do hip hop eles não vão mais existir. Então nosso medo é desses caras que tem poder de falar, de mudar e eles mudarem a coisa e fazer com que aconteceu com o rock que não é mais suas raízes, como aconteceu com o funk, que não é mais aquilo, quase acontece com o Jazz, só não aconteceu porque o Jazz ainda é muito pesado, ainda está muito enraizado, tem uns caras que faz mas não vira né, como aconteceu com o Blues, com o samba brasileiro. Tem umas pessoas que querem ganhar dinheiro, quer estar na fama, que vai "comer" mulher, sei lá, estraga tudo. Eu vejo essa turma aí que tem compromisso com a cultura, eles sabem que eles tem uma responsabilidade, tem pessoas que ouvem muito o que eles fazem, por exemplo, os Suspeitos na Mira, não tem só aquela garotada que ouve, encarcerados, pessoal do bairro deles não. Tem uma gurizada, jovens, todos. O Negritude ativa é a mesma coisa. Essa turma tem também o Resistente de São Pedro que tem um trabalho muito legal. São só esses que eu posso falar. 15. Esses foram os pioneiros? Pioneiros aqui em Vitória foram os Suspeitos na Miar, o Negritude Ativa, Eu e observadores. Começamos uma cultura hip hop no ES e graças a Deus ninguém morreu anda, está todo mundo na corrida. 16. Quando a gente fala de rap, hip hop assim a gente não fala só de gênero musical, a gente fala de um movimento, então como vocês se reúnem, como é a relação de um grupo para o outro? A relação entre um grupo e outro, todos nós temos um objetivo único que é a cultura hip hop, melhorar, discutir, e há um quebra pau do caramba entre a gente, não é fácil não. São caras de idéia, então quer dizer, se eu lançar uma idéia a minha idéia vai ser questionada, não vai ser aceita, então quando você tem pessoas que não ficam assim "Ah, vamos fazer isso"? "Ah, vamos embora!", então se tiver isso aí, as coisas não têm andamento. Há umas "tretas ferradas" entre nós, mas há um respeito, há uma discussão em cima do assunto. Na reunião de hip hop o que mais se ouve é palavrão. E briga, defende a idéia dele, briga com a idéia dele... a reunião de hip hop é muito mais político do que você estar fazendo votação de lei num congresso. 17. E quando são essas reuniões? Essa reunião as vezes acontece, quando é chamada, mês em mês, de dois em dois meses, ou as vezes os caras vem para a rádio e o pau quebra aqui. É sempre em local diferente? Depende da situação de passagem de cada um, um dia fomos ao terminal de Laranjeiras fazer uma reunião, "puta que pariu", o segurança pediu para a gente sair, então quer dizer, o ES, tirando meu trabalho, nós estamos tão preocupados com a qualidade em o hip hop seguir o que ele determina. O ES é um dos estados que tem a melhor qualidade em hip hop, os discos produzidos no ES são um dos melhores do Brasil. A pouca condição que nós temos é a condição financeira. A questão de qualidade da letra, de levada, nós temos prêmios a nível Brasil, esses quatro grupos que eu citei, os caras são conhecidos pelo Brasil a fora, muito reconhecimento, nós temos mais fama fora do que aqui dentro do Estado. Eu fiz um videoclipe que foi premiado na França, Espanha, passou na MTV, passa até hoje, aquela falação toda, aquela coisa toda. Os suspeitos na Mira, o último trabalho saiu agora, o trabalho dos caras é fantástico, o negritude ativa é aquele grupo que manda a real mesmo, na tora, luta contra as desigualdades sociais e raciais principalmente, que o que pega mesmo na a levada dos caras, pode falar "ah, isso não existe mais", então se não existe, então eu paro de cantar, então... 18. Qual a mensagem que o Hip hop passa, o que ele determina? Bem, claro se há críticas, tem que ter solução, a solução é a informação. A informação é a solução para tudo, não só para o negro, mas para nosso país principalmente, você que é branca, você não sabe da nossa história, mas nós sabemos da sua. Eu sei que o alemão veio para o Brasil e o italiano veio para o Brasil, eles tiveram terras, fizeram cotas de terra, foram bem recebidos e você sabe que nós fomos escravos e em 13 de maio, a princesa Isabel, boazinha que estava tomando conta do Brasil nos libertou. Mas, pô, meu filho está aprendendo isso na escola, mas quer dizer, a maior briga dentro do movimento é não deixar os meninos serem contaminados com essa história fajuta, tem que falar que veio um inglês, que falou com a princesa, "ó vamos ter uma reunião com os latifundiários e falar com eles para libertar a negrada toda porque nós estamos em época de revolução industrial e nós temos produtos de última qualidade para vender e o clero e a burguesia que são as classes dominantes no Brasil é pouco, os escravos são maiores, liberta os caras, dá salário para eles, monta um armazém dentro do lugar de vocês que você não vai gastar mais com capataz, com alimentação, com moradia, e deixa os caras pegar para viver". Hoje, o resultado são as favelas, como resultado disso temos os mendigos que você pode ver que 90% são negros, as crianças abandonadas do ventre livre também, isso são resultados, e os caras ainda lutam para que isso continue. Agora o negro está ali livre, ele não tem mais as correntes, só tem a questão social que barra ele de comprar, a mídia branca fica assim: comprar, compra, mas o negão compra a TV, mas não consegue comprar o que a TV manda, "ah, não tem não, vamos partir para o estilo sobrevivência", o maior come o menor, desde a época antes de Cristo, os gigantes dominavam os pequenos devido a força física, então o cara se arma e vai para a captura, pro dinheiro para comer, para comprar aquele carro bonito, tudo que vocês mandam eu comprar, se eu não tenho informação, vocês não vão me dar emprego, vocês me tiraram a maneira de aprender também, ai que está o hip hop explicando essas cosias, tudo que eu estou falando para você são coisas de letras, os caras do ES, é o hip hop que fala que a situação acontece por causa disso, já falava do funk um tempo atrás, sete, oito anos atrás que era só pra criticar aquela situação ali e está acontecendo o que está acontecendo hoje, é isso. 19. Como é a relação do hip hop com o poder público?tipo secretaria de cultura, vocês tem alguns apoio? Dependendo da política, de quem for se candidatar nós temos apoio, mas tem que apoiar eles, mas se for para apoiar esse tipo de coisa, só se for um que tenha compromisso social. Não, eu não estou nem falando de apoio de político, apoio público, secretarias... O apoio público é o seguinte, se você colocar hoje, tem projetos social, alei Chico Prego né, muitos nem sabe quem foi Chico Prego, mas a lei já prestigiou dois trabalhos capixabas, até dos Suspeitos na Mira para fazer uma nova tiragem também teve a Lei Rubem Braga, que até que enfim que eles aceitaram um trabalho de um grupo aqui. Vários trabalhos foram protocolados lá para conseguir verba e os caras não deixaram passar. 20. E com relação a PMV, a secretaria daqui mesmo, ou então a secretaria de juventude que a gente tem aqui, você conhece o trabalho deles? Conheço o trabalho deles sim, tanto que a secretaria eles devem muito ao hip hop porque nós fizemos bandeira para os caras, nós queríamos um espaço para colocar o hip hop nas escolas, nos CAJUNs, na parte assim, de manhã a criança estuda e de tarde ela vai aprender a cultura hip hop, até hoje esse projeto não saiu. Não tem cunho político, então não tem interesse pros caras, mas a gente está esperando a nova eleição com o pessoal, o hip hop é um pessoal que tem uma mente fotográfica, lembra de tudo, já vi pessoas subindo em palco falando "pô, você se lembra da eleição passada, o cara... não ele tem que lembrar" e todo mundo ouvindo... os caras têm uma mente muito boa para lembrar. Nós não fazemos parte daqueles brasileiros que esquecem não, estamos calmos, 2008 está chegando, certo, ai nos vamos lembrá-los, porque na hora que precisou, a gente falou por caras, o papel dos partidos de esquerda tem é o que nós pregamos, só que os caras entraram e então não tem... eles estão uns 90% um pé lá outro é cá e olhe lá. É melhor a gente promover Vital, cultura de outros estados no ES, pagar corrida de carro que gastar 2, 3 milhões por dois dias de corrida automobilística não sei para o quê, custo altíssimo, poderia fazer ginásio, centro culturais, com esse dinheiro todo, quanto neguinho que ia largar a situação difícil, mas não, para que? Né. 21. E aquele projeto Graffitaids? Eu ouvir falar, o graffitaids foge um pouco, é mesma coisa que pegar os alunos de artes da UFES e fazer isso, eles tem que conhecer o hip hop para depois fazer isso, ai ia ser show de bola, um formato da UFES conhecendo o hip hop, fazendo graffiti, fazendo arte, ai sim, é o que tem que acontecer. Se sair um cara daqui com o conhecimento na maneira de falar de levar, didática, quantas crianças vão pegar e deixar de partir para outro lado, porque na periferia a gentes só conhece um lado, vivo ou morto e salve-se quem puder, conhece? 20/05/2006 Jovem 05, 06, 07 Jovens inseridos em movimentos musicais 1- Então a gente podia começar assim, a primeira pergunta é sobre a música, o que é a música para vocês dentro do gênero que vocês atuam, né, no rock, no reggae. Como vocês definiriam o que é música, a importância dela. Jovem 05 - Bom, assim para mim, a música representa mais, assim, um prazer, um hobby, porque estamos há pouco tempo e a gente não encara, por enquanto, como uma profissão. Por enquanto, não sei no futuro, assim. Mas, é tipo, a gente se dedica muito, está fazendo música própria, corre atrás de show, assim, ela representa mais essa parte do prazer, mas lógico, mesmo sendo prazer, a gente leva com muito esforço, se dedicando de verdade. É uma pena que a gente não encontra muitas oportunidades de estar mostrando o nosso trabalho, mas a gente, sempre quando tem oportunidade, a gente está fazendo show. Pelo menos eu considero assim. Jovem 07 - Eu considero a música como vida interior, como eu estava falando para você, algo que não tem como fugir, para mim, não tem como fugir. A música é essencial na minha vida, sempre foi, desde criança, sempre tive o dom da música, por parte de pai e mãe. E agora eu estou estudando a música, me aprofundando mais e compreendo que é uma das maiores artes, uma das maiores expressões artísticas que o ser humano tem, e que através de uma música dá para se evoluir muito a mente e poder conquistar outros caminhos. Jovem 06 - É isso mesmo, eu penso que, na minha vida assim, desde os sete anos, desde que eu me entendo por gente, assim, sempre fez parte, desde a primeira nota do violão, até os primeiros acordes do teclado. O único trabalho que eu vejo que pode influenciar alguém, a realmente alguma coisa assim, sei lá, a música é um instrumento assim.. Todo trabalho tem o seu valor, mas a música, cara, tipo assim, um cara pode ser um advogado e curtir música, um músico pode não curtir ser advogado. Pode influenciar mesmo. Acho que é isso aí para mim, cara. E ao mesmo tempo é o meu trabalho, onde eu coloco toda minha dedicação, meu conhecimento, onde eu estou sempre aprendendo. 2- Como que vocês acham que os movimentos culturais, tipo, os ligados à música também, as bandas, são tratadas pelo poder público? Jovem 06 - O poder público. As bandas capixabas? Os movimentos culturais em geral. Pode falar das bandas. Jovem 06 - Dos movimentos culturais eu não posso dizer muito, agora já das bandas, eu acho que falta mesmo um apoio, assim, deveriam ser feito mais movimentos culturais, como bandas, realmente um movimento capixaba, acho que tem muita coisa ainda, não é só banda não. Jovem 07 - Acredito que, há muito descaso, a gente faz tudo mais pela música, envolvido com a música, com a arte no Espírito Santo. Porque não tem retorno financeiro, infelizmente não tem. Mas a gente tem oportunidade de estar mostrando o nosso trabalho e o que este estado proporciona para a gente assim, assim, em relação à cultura. Eu acho esse estado muito rico, por estar posicionado perto do mar e perto de grandes metrópoles, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, regiões do Nordeste como Bahia também, acho que isso possibilita muito o setor cultural do nosso estado crescer através desses estados que estão próximos a gente. Eu acho que o que é mais satisfatório é você transmitir toda cultura do Brasil através do Espírito Santo, mostrar algo diferente, novo. E o Espírito Santo tem essa capacidade pra mostrar através da gente que está aqui lutando. Jovem 05 - Eu concordo com você porque, na verdade, é um descaso pelo que a música pode proporcionar pra juventude, por exemplo, projetos de inclusão social, assim, são importantíssimos, estar estimulando o jovem a fazer uma coisa diferente, assim, "pô", estar tentando fugir das drogas, por exemplo. Acho que a Prefeitura Municipal mesmo tem projetos, por exemplo, em escolas nos sábados, até me esqueci o nome do projeto, que estimula... Projeto Escola Aberta, estimula o jovem a ir à escola no sábado e participar, por exemplo, a gente já fez um show nesse projeto, aí, "pô", dá bastante gente, assim, fica interagindo, chamaram várias bandas, que não são profissionais, mas que treinam e estão mostrando o trabalho deles. Esses projetos são geralmente voltados para pessoas de baixa renda. Achei interessante, mas é como ele falou, na verdade é um descaso você se identificar e não poder mostrar o seu trabalho, assim, várias vezes. É mais por prazer mesmo, não é nem assim, por benefício financeiro "ah, você é músico porque ganha muito dinheiro", "pô", não tem essa idéia aqui no estado, pela conjuntura. Eu acho muito interessante como ele falou da família dele, tem influência da família, o pai e a mãe são músicos, ai tipo assim, é mais por uma questão de prazer, falta muito ainda para crescer, conquistar essa parte de música, movimento cultural, eu acho que é uma parte que pode crescer bastante. 3- Como é a relação com a mídia, por exemplo, tem os que estão a bastante tempo e outros que estão começando agora, como é essa relação com a mídia local, por exemplo? Jovem 07 - Pelo que eu acho, a mídia que tem aqui, não tem em outros estados. O meio de divulgação que tem aqui, a facilidade que se tem, não se vê em outros estados não. Inclusive em São Paulo tem que pagar pra rolar a música e aqui não tem isso. Inclusive tem várias pessoas que me perguntam se a gente paga para poder passar nossas músicas no rádio, como rola com freqüência. Isso aí é o que mais fortalece as bandas, saber que tem mídia para poder mostrar o trabalho. Eu acho. Jovem 06 - A Litoral e Tropical, por exemplo, elas cobram, tem que pagar um jabá lá. Mas tem muita rádio que te ajuda, assim, que te fortalece. Vai muito da sua conversa também, do seu conteúdo. Assim, a televisão também. Se tivesse mesmo uma força por trás assim, ai seria melhor, bem melhor. 4- Qual o tipo de incentivo vocês acham que deveria dar, na área do movimento musical que vocês fazem, que tipo de incentivo? Jovem 06 - Acho eu um incentivo bacana. Por exemplo, eu penso num projeto na Praia de Camburi, por exemplo, com um palco montado ali permanente, um palco montado e sempre no final da tarde assim, uma banda ou outra estar lá fazendo um som, para atrair o pessoal de Vitória lá na Praia de Camburi que já está acabada, então a gente tem que fazer alguma coisa para levantar um pouquinho. Já seria um bom incentivo: um palco exclusivo para as bandas capixabas, um palco grande, por exemplo. Bacana, com som. Jovem 07 - Acho que incentivo aos músicos, quem está envolvido com a arte, poder sair só da música. Acho que falta esse incentivo também. Por exemplo, eu queria fazer uma faculdade de música, ou um curso de literatura, filosofia, filmagem, sei lá, alguma coisa assim que não seja só música. Fora a banda de reggae eu tenho um projeto que estou levando para a secretaria de cultura, que assim, visa fazer uma orquestra de tambor em locais de alto risco social, só que o acesso que eu estou querendo ter ao meio de cultura escrita, áudio, no Espírito Santo, folclore mesmo, eu não estou conseguindo, está muito difícil. Eu estou tendo que ir em um lugar ali e outro aqui, outro aqui, sabendo que tem um lugar específico para eu ter acesso, mas eu não tenho verba para poder copiar tudo que eu estou precisando, tanto em áudio, quanto em escrita, acho que isso prejudica muito a gente sair da música assim, não ficar só na música. Isso prejudica muito. Mas mesmo assim eu não penso em desistir não. Jovem 05 - Igual ele falou, da prefeitura estar estimulando shows na Praia de Camburi é uma idéia. Tentar complementar, é, fazendo uma faculdade de música, é, é legal, assim. Agora em mente eu não tenho nenhuma idéia, assim, interessante. Mas assim, achei o que eles disseram, assim, aplicável, não é tão difícil assim. Ajudaria bastante. 5- No geral, assim, quais seriam os maiores problemas da nossa juventude? Nós? Jovem 07 - "Pô", eu penso que, eu mora na periferia, no gueto, [...] o meu bairro era considerado o bairro mais violento do Brasil, ou seja, eu acho que a culpa disso é a elite, a elite intelectual, que são os empresários , os políticos, os donos de grandes empresas, donos de mídia, porque eles têm assim, antes do Brasil ser República eles tinham todo o formato de como o Brasil deveria ser, que no caso era todo voltado para a Europa, o sistema brasileiro é todo voltado ao sistema europeu e inclusive a gente já foi Estados Unidos no Brasil. Eu acho que essa exclusão geral, tanto na educação, cultura, lazer, saúde, saneamento básico, isso aí é o que mais dificulta a inclusão social dos jovens, Por exemplo, no meu bairro, eu vejo pessoas, crianças de doze anos matando, vendendo droga, querendo derrubar o dono da boca para tomar o lugar dele. Eu sento e converso com eles para entender o que eles sentem, o que eles estão com aquela energia negativa junto com eles, é muito simples, exclusão social de tudo, de tudo. Até de ter um pai, uma mãe, de acordar de manhã e tomar um café, de comer um pão. Eu acho que isso aí dificulta muito você chegar num gueto como esse e fala "vamos fazer uma orquestra de tambores", ou então "vamos fazer um documentário da vida de vocês", é muito difícil, eles vão olhar assim e vão rir, rir, porque eles não tem essa concepção de cultura, não tem. Jovem 06 - Eu passei um tempo em São Paulo, por exemplo, e quem comanda o morro são moleques de 16,17 anos, você não acredita. Pega as buchas assim... e coloca tudo em cima da cama, na frente da mãe, separa tudo assim. Assim, tipo, você está fazendo um som e nego passa, trepado e tudo moleque, que comanda assim. Essa coisa da exclusão social, né cara, a diferença mesmo, "pô" vê um cara mais arrumadinho na rua assim, já ... "playboy", "playboy".. Rola mesmo esse negócio assim. Eu acho assim.... Jovem 07 - É, por exemplo, eu estava no meu bairro andando assim com eles, porque eu estou querendo meter o projeto dentro dos bairros mais carentes, mesmo [...] Aí para tentar, assim, buscar eles, o projeto antes de estar pronto, já conquistar eles. Ai... na minha pesquisa, só que eles nem sabem que eu estava fazendo uma pesquisa com eles. Teve um que me ofereceu cocaína, assim, de uns 16 anos assim, estava com um papelote que tinha ganhado de um traficante do bairro. E por eu não usar ele achou estranho. "pô" você não usa, eu não aceitei, falei que não usava e ele "pô" você não usa. Ai teve um outro rapaz que perguntou se eu já tinha atirado me alguém. Ai se você nunca atirou em ninguém, ou não nada armado você é um comédia, um otário. Para um bairro chegar a esse ponto, eu acho que há uma máquina muito grande por trás, maquinado para que eles continuem naquela vida, sustentando a vida desses que estão aqui manipulando eles. Se não tivermos a visão da música para transformar, de mostrar para eles que existe uma mão por cima, manipulando eles. Jovem 06 - É abafado, É abafado, sempre vai se sobressair a música que fala abrobrinha. Se se sobressair a música que fala alguma coisa de verdade, as pessoas vão passar a ter consciência e passam a questionar. Jovem 05 - Aí tipo, elas vêm alguma pessoa mais arrumada assim, na rua e chama de playboy, por exemplo, eu acho que é inerente do ser humano, toda pessoa quer o que, se ver uma pessoa melhor que você, por exemplo, financeiramente, ela tem essa mentalidade, pessoa de baixa renda também. Você vai querer ter aquilo também. Se você vê um cara com um tênis de uma marca boa, o cara, tipo, uma pessoa pobre, não tem dinheiro nem para comer direito, ai, "pô", vê o cara com um tênis, ali assim, ela sabe que ela não pode ter, é uma distância enorme para ela poder comprar, isso estimula, incita a violência. "pô", eu queria ter, como eu vou ter, como? Esse lance de querer ter por valores nessa sociedade, eu acredito que deve ter uma coisa, assim, maior...Porque, "pô" é errado roubar, é fora da lei, todo mundo sabe, mas, "pô", a vontade dele ter, por exemplo, um tênis , cordão de prata, é maior que isso, entendeu? Tanto é que ele vai lá e rouba. Tanto é que para ele ter dinheiro, ele sabe que vender droga, é "pô" assim, ilegal, tanto é que tem polícia atrás dele, mas como ele vai ter dinheiro para conseguir o que ele quer? vender droga! Jovem 06 - Por isso que as mães não falam nada, porque é o sustento da casa. Jovem 05 - É uma forma de sustentar a casa também, já que a renda delas é menor, assim, por ser mulher também, e por ser difícil conseguir um emprego que remunere bem. 6- Assim, vocês citaram caso de São Paulo e Serra, e aqui em Vitória, assim, vocês acham que a demanda da juventude é a mesma, dessa concepção geral que vocês deram, como está em Vitória? Jovem 07 - Eu acho que a diferença é que aqui é capital, mas se for olhar pelo geral, assim, os jovens, crianças está a mesma coisa. Jovem 06 - Complicado cara, isso tem em todo lugar né cara. Não tem diferença. Jovem 07 - Periferia é periferia em todo lugar, em qualquer região. Jovem 06 - Do jeito que está, a falta de amor, vamos dizer assim, o desamor que rola mesmo, não se vê muita coisa na televisão incentivando, vê mendigo no lugar de mendigo e gente rica no lugar de gente rica, é assim que a gente vê, cara, sempre com os seus padrões separados, "saco" Jovem 07 - Eu acho que a mídia interfere, no lance de se consumir também. Por exemplo, a mídia coloca produtos que a maioria dos brasileiros nunca vão ter condições. A maioria nunca tem condições de comprar o que a mídia expõe. Desde criança até os últimos dias da vida a mídia tem a aquele produto para vender, mostrar para você, as vezes você nem precisa daquilo, mas a mídia está ali dizendo que você precisa. Eu acho que isso atrapalha muito, essa mídia errada. Eu acho que mídia é um setor público para ser usado pra comunidade, a favor da comunidade e não tem sido isso que a mídia vem mostrando a muito tempo. Ela se tornou um objeto de manipulação, por exemplo, uma propaganda de um carro de 50 mil reais, na mídia, "pô", um tênis de 400, 500 reais. Pra quem será que eles estão mostrando isso? Num país que a toda hora está mostrando São Paulo, Rio de Janeiro explodindo, Espírito Santo explodindo, aí eles continuam mostrando esse espírito de consumismo, porque não faz uma propaganda positiva, algo positivo. Jovem 06 - Precisa de uma propaganda de amor, muita mesmo, na televisão. Muita propaganda de conscientização para lembrar que você é humano, né "cara". Você não é uma máquina. Jovem 07 - A gente não é mais humano, nós somos consumidores. 7 - Então o problema geral assim, vocês acham que é a exclusão social? Vocês acham que existem problemas específicos da juventude ou acham que a juventude tem os mesmo problemas e não existiriam problemas específicos da juventude? A exclusão social seria um problema da juventude ou teriam alguma coisa que seria específico da juventude hoje, que a gente poderia dizer. O poder público poder pensar ações para juventude porque é uma coisa específica, algum problema que seja específico, porque exclusão social é um problema... Claro que atinge a juventude, mas existiria um específico, ou vocês acham tem alguma... Vocês até já falaram, mas como é que essa exclusão social incide sobre a juventude? Vocês já falaram: a violência... Então teria, assim, alguma coisa mais específica. Jovem 06 - Específico da juventude... Jovem 07 - Eu acredito que a educação para qualquer um tem que está acima de tudo. Educação mas educação mesmo. É criança ter vontade de ir para escola estudar, eu agradeço a Deus por ter tido isso desde criança, de gostar de estudar, até hoje gosto muito, acho que isso é uma coisa que dá pra colocar dentro de todo mundo. Jovem 05 - Eu posso estar errado, não tenho tanta experiência assim. Acho que, muita gente não leva o estudo tão a sério, depois quer assim, obter benefícios assim, se não leva os estudos tão a sério. Igual a música, você se dedica, praticamente diariamente, e a pessoa está lá, não estuda, só vai a escola, faz os exercícios e quer ser assim uma pessoa grande profissionalmente, da mesma forma que a música, se você quer ser um bom músico, você vai ter que estudar muito. Na periferia é a mesma coisa, em alguma coisa que puxa, a educação não é levada tão a sério. "Pô", a educação é essencial, é essencial. Mas como fazer a juventude dar mais atenção a esse lado, à educação. Talvez não seja a forma certa o que eles estão fazendo, o governo, mas tem que se ver esse lado também. A educação é essencial, é ai, tipo, que você vai pegar seus valores, formar sua opinião. Eu acho essencial isso, assim, "pô", você estudar e saber, tipo assim, interpretar o que está acontecendo no mundo para não ser manipulado porque a mídia manipula mesmo, tipo assim, ela esconde a realidade, assim tem até uns programas interessantes que fogem a essa regra, por exemplo, tem o da, esqueci o nome dela..., a Regina Casé, ela mostra a periferia, mostra as condições que nem aquele MC Marcinho, mostra como é um show dele, como ele organiza, como ele está divulgando. Isso é legal, está mostrando a periferia, mas fora isso, parece que está tudo bem, mas não está tudo bem, "pô" tem muita gente passando fome, que não tem onde morar, "pô" tipo assim, é um país capitalista, beneficia poucos, é uma frase que todo sabe, beneficia poucos e, tipo assim, prejudica muitos. Uma criança morrer de fome num país rico, tipo assim, que tem condições de plantar, quantas e quantas vezes mais que o número de pessoas, é revoltante. Tem até o que o Didi falou na televisão, porque eu assisto televisão, "pô" não tem nem como, por exemplo, a menina chegou para mãe dela e falou assim "Mãe, no seu tem pão?". "Pô" ela morreu, criança..."Pô", eu fico chocado, foi no Nordeste isso que ele contou. É difícil falar, também não pode se justificar totalmente o Estado. Realmente é muito difícil administrar. Só no Brasil são mais ou menos 180 milhões de pessoas, é muita gente, é muito difícil administrar. Mas tipo, lógico, tem corrupção? Tem. Tem como melhorar a administração? Tem, mas é algo difícil também, muito difícil. 8 - Mas assim, a gente falou dos problemas, que ficou um pouquinho difícil, de repente, quais as demandas da juventude, vocês acham? Jovem 07 - Não entendi a pergunta? Qual a demanda, o que vocês acham que a juventude está querendo? Sei lá, as necessidades da juventude hoje. Ao invés de falar de problema, falar as necessidades... Jovem 07 - O que eu tenho visto na minha comunidade mesmo, a maior necessidade é de uma família concreta, que não tem uma família, o que mais falta na periferia é família. A maioria não tem pai, não tem mãe, ou não conheceu, a estrutura familiar antes de tudo, o que está mais faltando. Jovem 06 - Eu penso que muita cultura, teatro, praça, coisas assim, desse tipo, muita cultura mesmo. Não se vê mais essas coisas assim, dança, essas coisas assim. Acho que falta cultura para os jovens. Jovem 05 - Eu acho assim, considerando essa juventude de baixa renda, "pô", com estrutura familiar..., falta cultura, falta, por exemplo, estar promovendo esportes, estar tipo, fazendo teatro, coisas assim. Mas eu acho difícil para eu falar porque eu não convivo tanto igual a eles, eu não tenho contato tão direto. Mas enquanto jovem. Você pode falar como você mesmo. Jovem 05 - Ah,... não sei, nunca pensei nisso, entendeu. Eu não estou com nenhuma idéia agora. 9 - Bom agente já falou da avaliação da política de cultura, o que vocês acharam, mas no geral, as políticas direcionadas a juventude, as políticas sociais, como vocês avaliam como isso é tratado aqui em Vitória? Todas as áreas. Jovem 07 - Eu avalio de forma positiva. Tem muita gente trabalhando, pra ver se conserte a exclusão social através da cultura, acredito que tem muitos projetos importantes, tenho certeza que daqui a uns 5, 10 anos, a secretaria da cultura, o ministério da cultura apoiando vai melhorar muita coisa. Você está vendo um comprometimento? Jovem 07 - Sim. 10 - Mas só na área da cultura, e como estão as políticas nas outras áreas? Jovem 07 - Por exemplo, as outras áreas? Educação, esporte... Jovem 07 - Educação, em geral é um problema extremamente sério, o fato de o Brasil ter trabalhado muito a educação, assim mesmo, lá pela segunda metade do século XX, porque até então o Brasil era um país extremamente rural, ainda vivemos, exportação. Então eu acho que esse lance da educação no Brasil foi muito tardia em comparação aos países que tem 2000 anos de cultura. Acho que vai demorar muito pra cultura, pra educação brasileira melhorar... Jovem 05 - A educação, pra ela realmente fazer efeito, os investimentos que o governo faz, realmente demora bastante, tento é que a grande discussão é essa: cota, assim de escola pública, ai todo mundo fala "vamos investir na educação pública para ficar no nível da privada", pode-se mexer, mas vai demorar, não é um negócio instantâneo. Tem que se fazer.... Jovem 07 - Acho que esse lance de cotas é um racismo. Jovem 06 - Principalmente para negros né. Jovem 07 - Eu sou a favor da cota, mas não da maneira que estão mostrando. Jovem 06 - Eles colocam que o ensino é tão fraco, então para escola pública, mas ao negro não. Tem a mesma capacidade. Embora seja um povo que sofreu mesmo, "pô", sofreu [...] mesmo, foi escravizado, merece, mercê, mas... Jovem 05 - Eu acho que as cotas podem se dar de duas formas: ou por renda, ou por escola pública, por exemplo, uma coisa é mais ou menos parecida com a outra, mas tipo assim, por renda você tem como fraudar, pegar o dinheiro que você ganha, por exemplo, um profissional autônomo, dá para ele registrar que ele ganha menos e o filho dele vai ser beneficiado. É inegável hoje que o ensino público é inferior ao privado, então dar cotas, é uma forma da pessoa escola pública conseguir entrar na universidade. O que eu percebi na prova desse ano da UFES que eu fiz, eu percebi que ela não é tão difícil. Por exemplo, as perguntas de geografia, 2ª fase, elas não foram tão difíceis dava para quem está acompanhando responder. Uma pessoa de escola pública dava para responder se fosse engajado politicamente, eu acho que o governo está olhando mais esse lado agora, não está deixando tudo para a gente, tanto é que se está discutindo isso. Tem muita gente contra, é óbvio, mas a maioria das pessoas que são contra pertencem a parte beneficiada, porque vai dificultar para eles, mas como um estudante de escola pública vai entrar, na universidade, por exemplo, no curso de engenharia? Medicina? É um curso muito difícil e se passar, e o ensino público do jeito que está, dificilmente, a pessoa que entra no curso desses é uma pessoa muito esforçada e tem alguém ajudando, tem uma pessoa na família que é o alicerce dela, "ó, você tem que continuar fazendo isso, tem exemplos assim que é possível alcançar, aí estimula a pessoa, por isso eu acho que tem que ter cotas, por enquanto tem, mas lógico, acho de 50% porque se não vai prejudicar, a pessoa de escola particular que passa em curso difícil, nossa tem que estudar muito, não é fácil passar me vestibular, tanto é que a maioria das pessoas não passam, de escola pública e privada também, as vezes, fazem um investimento gigantesco na pessoa e "pô", não passou. Outra questão, cota para negro eu não sou a favor também não, mas dando essa cota pra escola pública automaticamente você também está dando oportunidade para os negros porque a maioria da população negra é de baixa renda ai é que eles poderão entrar sem prejudicar o branco de classe pobre. Se você dá condição pro negro, o negro pobre pode entrar e o branco pobre de escola pública? Não vai conseguir entendeu, engloba isso tudo. Acho que até fugi um pouco do que estamos falando, mas pode continuar. 11- E o Prouni? Vocês conhecem? Jovem 06 - É o Pré Vestibular? É um governo incentivar a dar bolsas a alunos da rede particular Jovem 07 - Eu vejo isso como um avanço. Jovem 05 - Eu não sei como funciona o ProUni, ao sei se o governo tem que pagar, é o governo que paga para a faculdade então? É um gasto imenso, deve ser imenso! Tipo, se aproveitasse mais a universidade, por exemplo, criando mais prédios, aproveitando mais horários, os cursos que são só de manhã, criar a tarde e a noite, contrata mais professores, eu acho que daria mais resultado. Com o dinheiro que se investe você poderia dar oportunidades a mais alunos. Mas é uma coisa que está ajudando pessoas de baixa renda também, "pô" tenho amigos que conseguiram entrar na faculdade por esse modo. Por exemplo, medicina, que é um curso muito caro, acho que é 100% parece. Eu não sei quantos por centos direito assim. É um projeto bom, mas tem como fazer um outro melhor. 12-Vocês que falaram que é um avanço, em que sentido? Jovem 07 - De facilitar a entrada de quem não tem condições de estar na faculdade privada, até mesmo tempo de estar aqui na UFES. Jovem 06 - Por enquanto é bom, Jovem 07 - É iniciativa imediata, eu acho. Jovem 06 - já que a educação na escola pública não está "filé". Então vamos disfarçar fazendo isso, dando um "dichavo". Jovem 07 - Não olho como disfarce, eu olho como uma maneira imediata. Jovem 06 - Solução imediata. Jovem 07 - Não é o certo ainda, mas dá pra agüentar os trancos. Jovem 05 - Por que tipo, se pensar antes, dificilmente uma pessoa poderia entrar numa universidade, o pobre. Porque não teria condições de pagar, só se tivesse alguns programas, tem o FIES que eles falam, tem programas que deixam você pagar depois que terminar o curso, só por meio disso. Mas fora isso, como você vai entrar sendo que a renda familiar é baixa, como você vai diminuí-la mais ainda. Tem que pagar, luz, telefone, energia, não já falei, tem que comprar comida, "pô", a despesa é alta, aumentar com faculdade, "pô" não tem só gasto com a mensalidade, tem que comprar livro, tem que se deslocar, comprara vale transporte,. É uma forma imediata de solucionar, solucionar não, amenizar, há projetos melhores. (Primo do Jovem 05) - Eu acho que é importante, no caso se pegar desde o começo, assim, o ensino fundamental, o cara da escola pública, eu estudei em escola pública até o ensino fundamental, oitava série, morava em cidade do interior, eu nunca tive noção do que que era o vestibular, nunca um professor chegou para mim e falou, ate porque, na época só tria UFES ou particular, agora está tendo o FIES e ProUni. O governo além de pagar 100%, tem muitos alunos, que pegam, o governo paga os 100? Mas eles não têm condições nem de ir a faculdade, então o governa dá uma bolsa, auxilia para que o aluno conseguir se manter na faculdade. Eles deveriam tentar buscar, o s professores de escola pública incentivar mais os alunos a questão da faculdade, do ensino superior. Vai ser preciso, hoje em dia quem não tem o ensino superior hoje aqui já está bem para trás, deveria ser feito sim, acho o ProUni muito bom. Não tem incentivo assim (Primo do Jovem 05) - É não tem, acho uma coisa muito assim...Fica um negócio muito básico, meio complicado, eu acho. Ai explode aquela bomba, terceiro ano, o cara não tem nem noção do que é, acho que tem que explicar o projeto, acho isso importante. Jovem 05 - Um outro ponto importante, que tem aqui no estado é o Universidade para todos, o cursinho assim, acho também bastante legal, conheço várias pessoas aqui fazendo e algumas que passaram também. Eu falei várias que fizeram e algumas que passaram porque eu não falo que é, vai passar a grande parte, é uma minoria que passa, todos os cursinhos assim, independente de qualquer que seja, é legal, tem bastante gente que faz. Com ele você pode passar você tem oportunidade de passar e se você estudar tem como competir com quem está no seu nível, escola pública, então na verdade, não é melhor nem pior que eles, mas o que vai definir é o seu desempenho ao longo dos anos porque escola pública, acho que tem diferenças em algumas cidades de interior são mais fracas que as daqui de Vitória, mas tem como você entrar, não vai ser uma limitação, "pô" se você estudar, se dedicar, nem se você não conseguir em uma entrar, mas continuar praticando você vai conseguir fazer e melhor coisa é de graça, por isso eu acho que o Universidade para todos é um pré vestibular que tem como você passar no Vestibular e alguma coisa que é alcançável para estudantes de escola pública, alcançável não, é só é para gente de escola pública, mesmo aqueles que tiveram uma base boa. A base é formada ao longo dos anos, ela não, é em um ano, é aos poucos que você vai adquirindo conhecimentos. Igual na música, você está lá, você não quer do nada ser o melhor músico de todos, e um desenvolvimento, você vai se aperfeiçoando, estudando, praticando. 13- E nas outras, como vocês avaliam as outras políticas sociais, a educação que vocês falaram, a saúde, esporte? Vitória, assim, segurança pública? Jovem 06 - Polícia, guarda municipal....Eu acho que está melhorando, embora eu acho que tem alguns policiais, pessoas que abusam de seu poder, tem uns problemas, eu vejo com uma melhora assim... Jovem 07 - Eu acho que os policiais são, eles sofrem muito no Brasil, Espírito Santo, ele não tem um treinamento adequado para poder enfrentar os bandidos, porque realmente os bandidos são muito bem treinados e eles, assim, não tem nada para perder, no mundo do crime [...] eu acho que essa violência que eles transmitem fora, eles pegam dentro do quartel, seus superiores, passam para eles, eu acho que eles já saem lá de dentro como um Pit bull preso, três dias com fome, se soltar eles. Eles também são vítimas, infelizmente eles são vítimas, porque a segurança nacional....falida. Porque num país onde se usa o próprio exército que é para lutar contra força exterior, coloca o exército para lutar contra os próprios brasileiros, eu acho que isso é muito triste para segurança nacional. Em Vitória, eu espero que isso não seja mostrado para a segurança pública, porque eu já vi policiais recebendo dinheiro de morros de Vitória, de traficantes para poder não prender os caras, Jovem 06 - Corrupção né cara Jovem 07 - Infelizmente eu estava no lugar errado e na hora errada, estava trabalhando, passei, infelizmente eu vi, eu acho isso extremamente negativo para o nosso estado, para nossa capital. Assim, você ver, em plena luz do as um policial negociando com bandido, na frente assim de qualquer um. Jovem 06 - É muito ruim Jovem 07 - Mas eu acho que, eu acho não, eu tenho certeza, que a segurança do Estado, aqui de Vitória já foi extremamente mais violenta do que é hoje em dia, com o esquadrão da morte e tal. Jovem 05 - Eu acho que tipo assim, depende de que região se considera. Por exemplo, no Rio de Janeiro, São Paulo, a polícia é muito bem treinada assim, mas muitas pessoas aderem ao crime... tipo assim, eles vão, sobem o morro, faz uma operação lá, mataram três pessoas, mas quantas pessoas estão querendo entrar no mudo do crime, lá, mataram três no dia, mas tem muito mais. A pessoa, é fato, ganha mais dinheiro no mundo do crime, ganha mais, bem mais, se você procura um emprego normal, legal, entre as normas constitucionais, você vai lá, vai ganhar um salário mínimo, no crime não, você vai ganhar1000 reais, 1500 dependendo do que você fizer, depende muito, a polícia, em muitas regiões é boa, mas tem muita gente querendo, tem muita gente no crime, é muito difícil controlar, e igual você falou, ser polícia é difícil porque, a polícia, igual ele falou, eles têm famílias, eles temem por isso, os bandidos não, se eles morrerem, é claro que um vai sentir falta do outro assim, mas são substituíveis, porque lá é uma pessoa a mais que está atirando. Eu vi um documentário, até esqueci onde que vi, eu i na escola onde estudava, ai falando dos policiais, que fizeram uma operação e depois fizeram uma entrevista com eles, "depois que mata uma pessoa como você se sente"? "Bom eu me sinto normal, eu não vou ser hipócrita em dizer que me sinto mal, que não durmo a noite, para mim é uma coisa normal". Isso eles fazem todos os dias, praticamente todo dia tem que subir para fazer uma operação, já o bandido não, bandido ele falava que ficavam felizes "nossa consegui", mataram um policial, é difícil, falar de segurança pública é difícil, "pô", você pega o exemplo de São Paulo, semana passada, domingo, dia das mães, foram praticamente todas as cadeias que se rebelaram. Como que pode isso? Que segurança é essa, cara? Tipo assim, eles estão presos e eles conseguiram se comunicar para todo mundo fazer uma rebelião em massa, tipo assim, rebelião em massa, todo mundo no Estado de São Paulo, assim grande parte, como que pode? Que segurança e essa? Ai é complicado falar de segurança, é complicado, mas também tipo, é complicado administrar nossa cidade, é muito difícil não tem como falar, você está mexendo com gente, você não sabe o que a outra pessoa esta pensando, o que ela vai fazer, "pô", uma pessoa ela facilmente engana, posso falar uma coisa aqui e você acreditar, mas é verdade? Até que se prove o contrário é verdade e você vai acreditar, então é muito fácil manipular assim, tem gente que tem o dom mas, a mídia tem disso... É complicado mexer com sociedade, acho que a segurança está deixando, é outra área que deixa a desejar e é muito difícil de ser controlada, "pô" tem corrupção também, estamos mexendo com gente, "pô" policiais que recebem dinheiro para não poder...mostram reportagens de policiais que combinam com o bandido "ó tal dia você me entrega, por exemplo, 10 Kg de droga, para dizer que eu consegui pegar alguma coisa, " está sendo eficaz?Está sendo eficaz? Isso é ilegal, não pode cara. É fora da lei vender droga assim... Jovem 07 - Se o ministério da justiça investir mesmo em segurança pública, investir mesmo, Jovem 05 - Eles investem. Jovem 07 - Não, não investem, o que eles fazem é tornar a policia mais violenta, isso é investir? Deixar a policia mais violenta. Se entrar um partido de direita no ano que vem vocês vão ver o que é violência policial. Se entrar realmente um partido de extrema direita vai ser um novo golpe militar, vai botar a polícia mais armada, realmente perigosa, mais violenta, porque qual a culpa disso? O bandido. O bandido está descendo o morro, assaltando. Acho que poderia tirar um pouco esse enfoque, pensar um pouquinho a questão da polícia na periferia, porque estamos falando da relação bandido x polícia, mas a população da periferia, como é tratada pela polícia? Como é a vivência de vocês. você há falou de um situação específica, mas como é isso, eu não sei o que é uma operação de periferia se eu não morar lá. Tenho alunas que moram na periferia que quando a polícia faz uma operação o que ela tem que fazer é se esconder em baixo da cama, lugar onde seja seguro porque todos estão sofrendo a situação, poderíamos pensar um pouquinho como a população que vive na periferia sente essa relação com a polícia, já até se falou aqui que a polícia não é tão brutal. Poderia falar um pouco sobre isso. Jovem 06 - Aqui em Vitória eu penso que não é mesmo, até as vezes que eu tomei "uns baculejos" nas ruas é normal, procedimento da polícia. Todas às vezes, depende do seu verbo né cara, você vai falar com o cara normal né. Mostra seus documentos, normal, eu nunca fui maltratado assim pela polícia. Mesmo com o cabelo enrolado, barba, tatuado... Mas fugindo se Vitória e indo lá para São Paulo, lá na favela, a população tinha medo da rota. Tipo, a rota subia o morro assim, nego ficava "bolado", porque a rota estava no morro. Se tivesse sem documento por exemplo, você pode estar na esquina da sua casa. Diz a lenda que, nunca vi, eles esfregam até a cara no muro, se não for muito com sua cara. Então rola assim uma insegurança. Mas para mim, no meu caso todos os procedimentos policiais que me aconteceram assim, não maltrataram assim, foram tranqüilos. Também porque eu nunca dei motivo assim, vai muito da pessoa. Jovem 05 - É difícil falar desse processo porque a gente não convive com eles, mas imagina como é ruim porque você está em sua casa e do nada vem policia e começa um tiroteio, por isso que eu falo, a segurança pública não é eficaz, é uma coisa muito difícil de se controlar também, ai "pô" como a pessoa vai se sentir segura se está lá na casa dela, está assistindo jogo de futebol e ai Tuf Tuf começa a atirar todo mundo abaixa, tem medo de sair para rua porque tem bandido...isso é segurança para a periferia? Ali é onde mora bastante gente, é uma região onde tem bastante gente, não tem segurança. "pô", todo mundo tem medo de bandido, [...] mas tem gente tem mais medo de policial do que de bandido. Jovem 07 - Na periferia, a polícia pode ser o herói ou o bandido, policial na periferia é aquele que sempre está matando os bandidos e até vira candidato a político e tal, a política dele é acabar com os bandidos do bairro. Só que tem o policial bandido que é aquele que invade as casas sem mandato, sem prova, entra, por exemplo, minha avó foi agredida por um policial civil, ela tem 74 anos e pode explicar muito bem, entraram lá em cada sem mandato e agrediram ela, deram uma cotovelada nela, só que ela não tinha nada a ver com a confusão, entraram sem mandato. É isso que eu vejo, as pessoas têm medo, mas se eles forem para lá, tipo assim, para fazer uma varredura, eles viram heróis, candidatam-se a deputado estadual ou federal e eles ganham. Só que infelizmente se eles forem chegar na periferia como anjinho, como santo até os bandidos matam, a própria comunidade até jogam pedra na viatura. Quando eu era moleque tinham pessoas no meu bairro que quando passava a viatura eles jogavam pedra e saiam correndo. Eu acho que se tanto a população e a polícia não se respeitar, há esse desequilíbrio. 14- Só mais uma questão, acho que como a gente tem uma gerência de juventude, vocês poderiam falar um pouco. Jovem 07 - Um departamento de juventude voltado para...? 15 - Um departamento nas prefeituras, um setor de juventude.Um espaço que faça política. Para direcionar as políticas específicas para juventude Vocês conhecem? Existe em Vitória, Cariacica.... Serra está construindo agora. Jovem 07 - Qual é o daqui de Vitória. É o que está lá na prefeitura de Vitória? É. 16- Vocês conhecem? Jovem 07 - Conheço. 17- Qual a avaliação que vocês fazem? Jovem 06 - Eu não conheço. A minha visão pela quantidade de recursos que o país tem, eu acho que é uma iniciativa meio que, mesmo sendo fraca tem uma intenção boa. Eu acho ainda muito fraco, mas é uma iniciativa. Em geral, pela gravidade do problema é muito fraco. Porque, tipo assim, incluir essas crianças de comunidades carentes dentro do projeto é uma coisa, eles virão mas fazer com que eles continuem num projeto que é o mais difícil. Segurar o jovem nesses projetos é uma problemática que deveria ser mais bem trabalhada 18- De que forma? Jovem 07 - Elaborando projetos melhores 19- Isso justamente a gente queria saber qual a demanda da juventude, o que ela quer, aí pode-se fazer algo em cima disso. Jovem 06 - E você como jovem o que você quer? A gente queria saber de vocês. Jovem 06 - Falta cultura, o que você disse agora também, projetos melhores né cara. Jovem 07 - Mais elaborados. Jovem 05 - lá no museu capixaba do negro, eles dão aula de bateria. Jovem 07 - Aquilo ali é uma faixada, nem conta como centro cultural do Estado. Para mim, aquilo ali é uma palhaçada. No Rio de Janeiro eles estão trabalhando muito em ima de levar para os morros, periferias o lance de produzir um curta metragem, a partir daí podem ampliar outras áreas, no setor cultural, pode ser um balet, uma dança afro, uma aula de tória musical, curta metragem, acho que o ES pode começar a trabalhar em cima disso aí também. Para poder realmente tirar e dar motivo de sair daquele mundo que eles estão vivendo. Se não trabalhar em cima de vários fatores fica difícil. Por exemplo, eu trabalhei em cima do hip hop, graffit, mas e os que não querem se envolver com o hip hop? Jovem 06 - Misturar mesmo todas as culturas em todos os lugares, massificar a mensagem, o que é, o projeto é sobre o quê, vamos falar disso, seja de rock, seja teatro, seja poesia, seja o que for, massificar mesmo. Jovem 07 - Incluir a criança na música clássica daria uma visão mais forte para o indivíduo, ela envolve um meio de estudo onde o aluno, no caso que está estudando a música ele vai ficar ali, voltado para aquilo ali, ou seja a partir do momento que ele está se desenvolvendo com a música clássica, o pensamento, a conduta dele vai melhorar, porque se realmente ele se identificar com a música clássica, o projeto fizer com que ele se identifique, ele vai ficar porque ele sabe que se ele não se dedicar ele não vai conseguir. Jovem 06 - É difícil Jovem 07 -Não é não. Eu vi isso em São Paulo eles fizeram num acampamento dos sem-terra. Fizeram uma orquestra com pessoas que moram lá no interior, imagina com pessoas que moram aqui. Jovem 06 - Tem que ter apoio. Jovem 07 - Justamente isso que eu estou falando. Tem que rolar esse apoio. Eu acho a música clássica esta na vida de todo mundo, não tem como. Todo mundo cresce ouvindo música clássica me novela, filme... Jovem 06 - Desenho animado: Tom e Jerry... Jovem 07 - Então todo mundo gosta de música clássica, de um jeito ou de outro. Toda pessoa que ouve música clássica ela se dedica muito. Jovem 05 - Eu também acho que, quem vai fazer música clássica, vai ter muita gente, mas não vai englobar todo mundo... Jovem 07 - Por isso é que tem que ter vários segmentos, não só a música clássica, orquestra de congo, de jongo. Jovem 05 - Outra coisa, eu acho que é muito difícil fazer um projeto assim que englobe tudo porque o jovem, é aquela questão de você se habituar com aquela coisa. Você convive com a violência, a gente se habituou com aquilo, vai ser uma coisa normal para ele. Tipo assim, eu não bebo, nem cerveja, mas eu convivo com gente que bebe na minha idade, para eles é normal. Bom, você anda com um grupo de tipo assim onde todo mundo usa maconha, para esse grupo usar maconha é normal, tipo assim, ai eu acho que é... fazer um projeto que englobe tudo sendo que a realidade deles é outra, aqui você convive com a violência, você tem um amigo que faz tráfico e você vê que está ganhando dinheiro, ai todo mundo quer ir para o tráfico e ai acaba entrando. É difícil, fazendo isso, tem resultado, mas não tem como acabar. Jovem 07 - Como assim não tem como acabar Jovem 05 - É um poder muito forte, acabar com a violência. É utópico. Jovem 07 - Isso não é utópico é construir uma sociedade mais igualitária. Eu moro no gueto, por isso que estou falando isso, não é que uma pessoa mora no gueto que ela não pode escutar música clássica. Jovem 05 - Concordo... Jovem 07 - As pessoas querem, mas não tem oportunidade, se alguém der acesso e essa oportunidade seria outra sociedade que estaríamos construindo. Isso não seria utopia. Jovem 05 - Concordo, mas englobar todo mundo... Jovem 07 - Não é englobar todo mundo, É aproximar, quem está em alto risco, aproximar para que elas tenham acesso, a questão maior é essa fazer com que elas tenham acesso. Jovem 05 - Concordo, acho que se deve fazer isso. Jovem 06 - Eu penso que investimento tem que ocorrer na educação. Tipo a escola deveria entrar horário de sete horas da manhã e sair cinco horas da tarde, estudar tudo cara. Jovem 07 - Mas para isso acontecer tem que ter uma renda com relação ao setor público bem maior do que é investido. Jovem 06 - Está em cada esquina um com Sax outro com violão... Jovem 07 - Para uma criança ficar de 7 às 17 horas na escola tem que ter um investimento muito grande. Jovem 06 - Porque a parada não pode ser enjoativa, deve ser descontraída. Deve ter prazer de ficar na escola.Tem que ter um canto para descansar tem que ter tudo, cara. Jovem 05 - Percebe-se a diferença pela religião. Se uma sociedade é religiosa, dificilmente vai cometer crimes. A religiosidade de uma sociedade é importante por isso também. Mas aí acho que não cabe ao governo essa parte. Você percebe a diferença de cada religião. Tem gente que é tão ligado a religião que vai a igreja praticamente todos os dias, acha absurdo beber assim, sair, quanto mais fazer mal a uma pessoa tipo matar. Acho que toquei num exemplo assim que foge aos padrões... Jovem 07 - Você falou que religião não tem nada a ver com política? Jovem 05 - Não, eu falei que não cabe ao Estado está envolvendo a religiosidade da pessoa. Jovem 07 - E porque não? Se as pessoas se orgulham do convento da penha que foi construído aqui. Jovem 05 - A religiosidade é algo que meio privado, não é da sociedade. Jovem 07 - Mas tem vários pastores, padres que são políticos, porque que não pode... Mas acho que ele falou que não é que a política pode se envolver com a religião, não deve estimular a religião. Jovem 05 - Não cabe ao Estado. Você pode, lógico, ser representante da comunidade, não cabe ao estado porque ele vai ser imparcial primeiro, envolver a religiosidade. Assim, tem várias igrejas, não deve ser atribuição do Estado assim. Ele tem mais atribuições também. Mas acho que não cabe ao Estado. Jovem 07 - A religião é individual você quis dizer. Jovem 06 - Não vai levantar uma bandeira só, né cara. Tipo assim, vou levantar a bandeira da religião X. Acho que isso não é bacana, né cara. 20- Vocês têm mais algum comentário, porque nosso objetivo era pensar política social para juventude, se existe, se tem necessidade de existir. Vocês querem falar mais alguma coisa sobre isso, tudo o que vocês falaram foi extremamente rico, vocês trouxeram dimensões bastante importantes e a gente vai poder enriquecer bastante o trabalho das meninas. O que vocês acham sobre isso, pode ser nacional, local...Se vocês conhecerem algumas políticas se não, não há problema então. Vocês não conhecem nenhum projeto? Jovem 05 - Eu conheço alguns projetos assim, tem o escola aberta. Jovem 06 - Inclusive logo que surgiu esse projeto, nós estávamos em São Paulo, a gente pegou o trabalho, o começo foi lá em São Paulo mesmo, a gente colocou para funcionar lá e ia com a banda no sábado, a gente fazia todo sábado lá, ensinava os moleques a pintar, eu faço umas artes plásticas, mesmo não sendo formado em nada faço umas doideiras, e ficávamos amarradão o dia todo na escola ensinando, tocando, jogando basquete. Jovem 05 - Tem outro projeto que não é só da juventude aqui mesmo de Vitória, é o ação global, é um projeto que vai as comunidades carentes, olha, cuida um pouco da saúde, há dentistas lá, você olha de qual grupo sanguíneo você é, tem como você tirar carteira de identidade, trabalho. São projetos que não são só da juventude, é global. Assim tem o ProJovem Jovem 06 - O que é, eu não conheço. O projovem é para jovens de 18 a 24 anos que ainda não completaram o ensino fundamental de 5ª a 8ª série. 21- Vocês não conhecem? O Agente jovem.. Jovem 07 - Eu conheço mais essa parte do Agente Jovem. Aquelas crianças que estão mais em risco social. Bom incentivo, boa iniciativa. Só que eu acho que o governo tem que ter uma noção que, dependente se mora na periferia, ou bairro nobre, tem que ver que aquele cidadão que paga imposto, que tem necessidades como cidadão, deveria ver se ele está ali realmente botando a educação para essas pessoas, independente da igualdade que cada um recebe, ele tem que ter uma noção de que são seres humanos que eles estão representando e que futuramente serão essas pessoas que estarão administrando o país. Se o governo não pensar dessa forma vai ficar difícil. Independente do setor Jovem 05 - Fazendo esses projetos mais específicos para trabalhar a juventude, por exemplo, seria mais fácil lidar assim. Se você trabalha envolvendo tudo, se você quer trabalhar a juventude, mas não só a juventude, mas, por exemplo, você quer trabalhar a juventude que quer ter futuro, quando se tornarem adultos vão estar representando uma parte da sociedade importante, tratar todas as pessoas com respeito e cuidar delas, de uma maneira específica quando se pode, por exemplo, estimulando a cultura, estudos, "pô", esse projeto do ProUni, das cotas é uma forma de estimular você a estudar, se não fosse dessa forma como ela conseguiria, isso tudo envolve assim. Jovem 07 - Acho que em relação a educação, pode ser ate algo subjetivo o que eu vou falar agora, mas acho que a educação poderia ser voltado realmente para a educação. A pessoa ir para a escola para aprender. A maioria vai para a universidade só para pegar diploma, arranjar emprego, acho que não, a gente tem que adquirir primeiro o conhecimento e através do conhecimento adquirir o diploma. Tem que trabalhar muito esse lado, de buscar o conhecimento, para atingir outros caminhos. Eu já fiz pré vestibular, tenho amigos que são professores, a maioria, realmente está estudando para poder pegar o diploma, não estão nem ai para o conhecimento, de 10 apenas 4 realmente estão em busca do conhecimento e através dele estar em busca de outras coisas assim. A maioria só pensa em si mesmo, posso estar errado, mas é uma coisa subjetiva que eu falei.