De Trás-os-Montes a Chipre, da Andaluzia à Umbria ou à
Transcrição
De Trás-os-Montes a Chipre, da Andaluzia à Umbria ou à
tema de capacover theme De Trás-os-Montes a Chipre, da Andaluzia à Umbria ou à Croácia, não há mesa em que não estejam presentes pão, vinho e azeitonas. From the Trás-os-Montes region of Portugal, to Cyprus, from Andalucia to Umbria or Croatia, bread, wine and olives are ever present. A HISTÓRIA ANTIGA ESTÁ CHEIA DE referências às oliveiras, ao azeite como elemento simbólico e inspirador de fé e religião, como unguento de imperadores e reis, tempero de lautas mesas e conduto de magros repastos, combustível para os candelabros dos ricos e as candeias dos pobres. 058 Wine Passion . MarçoMarch 2007 Existem cerca de seiscentas variedades diferentes de azeitonas que, tal como ocorre com as castas das uvas, segundo o país ou mesmo a região, possuem sabores e qualidades distintas. Os principais países produtores possuem variedades locais que lhes conferem características distintas. Em Espanha, o maior produtor mundial de azeite, a Arbequina é muito usada na Catalunha dando azeites macios e elegantes com notas de amêndoa amarga e fruta verde; a Picual mais comum na Andaluzia dá um azeite encorpado, de aromas intensamente frutados e de um amargor controlado e agradável; a Hojiblanca muito usada na Denominação de Origem Protegida (DOP) de Baena dá azeites aveludados e com aromas subtis a fruta tropical. Em França as variedades mais emblemáticas são a Tanche que dá os famosos azeites da DOP de Nyons e a Picholine que dá azeites fortes e encorpados, quase adocicados. A Itália é o país que mais variedades de azeitonas tem, cerca de 450, as mais representativas são a Frantoio que por ser tardia dá azeites mais verdes e apimentados e a Moraiolo, azeitona temporã que dá um azeite macio e frutado; os azeites da Sicília, que estão agora na moda, são sobretudo feitos a partir das variedades Biancolilla e Cerasuola que lhes conferem grande complexidade aromática e paladares frutados e de ervas frescas. Na Grécia, o país com o maior consumo per-capita, a variedade mais utilizada e produtiva é a Koroneiki mas a mais conhecida é a Kalamata que é uma boa azeitona de mesa e dá azeites verdes e especiados com dominantes herbáceas no paladar. Em Portugal, as variedades principais são: a Galega, muito produtiva e que é normalmente apanhada madura, dando azeites frutados e suaves, a Cobrançosa de sabor amargo e picante, a Cordovil considerada “a mais fina das azeitonas” e muito usada nos azeites de Vila Flôr; a Verdeal é a mais picante, transmitindo uma cor caracteristicamente verde aos azeites, da Madural emanam aromas redondos e amendoados. Há também variedades menos comuns como a Negrinha, a Lentrisca ou a Maçanilha Algarvia. A qualidade e características do azeite mudam de ano para ano mas não existem «vintages» ou colheitas excepcionais tal como com o vinho, até porque o azeite não se guarda durante muito tempo. Assim sendo, há anos melhores do que outros em função da meteorologia. Os factores que influenciam a qualidade final de um azeite são as variedades de azeitona utlizadas, a localização geográfica e o solo, os métodos de cultivo e colheita, o grau de maturação do fruto quando é colhido, o método de extracção e como já foi dito, o clima. Quanto mais controlo se tiver sobre a optimização dos factores referidos melhor a qualidade do azeite. Assim, o preço elevado dos melhores azeites extra virgens explica-se pelo facto de as azeitonas serem apanhadas à mão e de que são necessários cinco quilos de azeitona para produzir um litro de bom azeite. O fruto das azeitonas colhidas por varejamento ou por métodos mecânicos acaba sempre por ficar «ferido» o que resulta na oxidação da polpa e num menor controlo sobre a acidez e as características organolépticas. No arco mediterrânico, Portugal incluído, a apanha faz-se entre Setembro e Dezembro, mas nalguns casos pode arrastar-se até Janeiro ou Fevereiro. O saboresflavours Essencial na dieta mediterrânica An essential ingredient of the Mediterranean diet TextoText | Fotografias Photos | TraduçãoTranslation André Magalhães tempo que medeia entre a apanha e o processamento no lagar é crucial para a qualidade do produto final, uma vez que o processo de fermentação dos frutos se desencadeia rapidamente, especialmente se já estiverem bem maduros. AS FASES DO AZEITE A apanha faz-se tradicionalmente à mão e por varejamento dos frutos implantados nas partes mais altas das árvores que são recolhidos em grandes toldos estendidos sob as oliveiras. A mecanização trouxe métodos mais eficazes que passam pela vibração dos troncos e pela ripagem mecânica dos ramos das oliveiras. É de qualquer modo importante que as azeitonas sejam o menos «tocadas» possível de modo a não comprometer a qualidade final do azeite. Chegadas ao lagar as azeitonas são limpas de folhas e ramos, lavadas e esmagadas com os respectivos caroços que contêm antioxidantes essenciais para a conservação do azeite. A extracção obtém-se pela prensagem das massas obtidas que contêm água e azeite e têm que ser decantadas, habitualmente por centrifugação. O azeite deve seguidamente ser guardado em cubas de inox para evitar a oxidação. Antes de ser engarrafado, o azeite pode ser filtrado para ter uma aparência final mais atractiva, após o que deve ser guardado ao abrigo do calor e da luz. A PROVA DE AZEITE Na prova começa-se por procurar identificar as sensações aromáticas, primeiro com o nariz, aquecendo com a mão o copo de prova que pode ser um copo igual aos utilizados para as provas de vinho (INAO) ou um simples cálice, depois deve-se levar à boca a quantidade de azeite suficiente para cobrir todo o palato, deixando-o deslizar até à garganta e aspirando ar. Vão-se reconhecer: o frutado, se se tratar de um azeite com um frutado verde ou frutado maduro. O frutado representa o conjunto de aromas que originam no fruto da azeitona. A descrição do frutado e a presença de aromas fazem-se, tal como para o vinho, por alusão a outros frutos.O frutado verde releva do carácter «vegetal» que se encontra na erva fresca, na folha crua de alcachofra, na maçã verde…encontra-se normalmente em azeites feitos a partir de azeitonas colhidas no início da campanha e por isso algo verdes. O frutado maduro encontra-se em azeites elaborados a partir de azeitonas mais maduras e traduz-se em aromas de frutos secos, cascas de citrinos, banana, camomila, baunilha ou até frutos vermelhos. Há ainda o «frutado negro», um conceito algo gaulês que resulta de um procedimento em que as azeitonas são deixadas a fermentar em condições controladas antes da extracção. Actualmente apenas alguns produtores franceses, sobretudo da Córsega continuam a fazer azeite «fruité noir». A verdade é que deste processo resultam características organolépticas únicas: aromas de cogumelos, esteva, feno seco, cacau, alcachofra cozida ou até trufa. O amargo: o gosto que se encontra no café ou na endívia. Quase todas as variedades de azeitona dão azeites mais ou menos amargos no início da época de apanha, depois, o amargor vai decrescendo à medida que as azeitonas vão amadurecendo. Do mesmo modo, o azeite vai perdendo o amargo à medida que envelhece. O picante é a sensação de irritação que se assemelha à que resulta de especiarias como as pimentas ou algumas malaguetas. Tal como ocorre com o amargo, os azeites também perdem o picante à medida que envelhecem. O amargo e o picante resultam da presença de polifenóis que têm uma acção antioxidante e garantem a conservação do azeite A consistência em boca é a untuosidade ou viscosidade. Quanto mais amargo e picante mais fluído é o azeite. Os azeites maduros e adocicados são assim os mais consistentes e untuosos. Em Portugal existem sete DOP's que correspondem zonas produtoras de azeites com características bastante diferenciadas e relativamente bem definidas: Trás-os-Montes, Beira Alta, Beira Baixa, Ribatejo, Norte Alentejano, Alentejo Interior e Moura. Infelizmente, e apesar de os consumidores serem exigentes, não existe em Portugal o rigor de descrever e caracterizar os diferentes azeites, sendo muitos dos produtores e das entidades responsáveis pela certificação das respectivas DOP os primeiros a prevaricar, iludindo a responsabilidade de realmente qualificar os azeites, abusando, tal como aliás para outros produtos tradicionais, de termos tais que “sui generis” e “característico” que pouco querem dizer e em nada contribuem para elucidar e educar os consumidores ou para validar e padronizar os produtos. Cabe pois a todos nós manter a tradição ancestral de venerar o «oleum aureum» que já foi o 2oiro de Portuga”l e que continua a ser imprescindível nas nossas mesas (com rolhas invioláveis de plástico e tudo). • MarçoMarch 2007 . Wine Passion 059 tema de capacover theme _____________________________________ ANCIENT HISTORY IS FULL OF references to olive trees, to olive oil as a symbolic element inspiring of faith and religion, as an anointment for emperors and kings, a seasoning for splendid banquets and meager meals, fuel for the chandeliers of the rich and the lamps of the poor. There are about six hundred different varieties of olives, which, just as with grapes, carry distinct flavours and qualities according to the country or region in which they are produced. Each producing country has local varieties, which, in conjunction with the producing methods, generate olive oils with very distinctive characteristics. In Spain, the world's biggest producer, the Arbequina variety is used mainly in Catalonia to produce mild and elegant oils with hints of bitter almond and green fruit. The Picual variety, more common in Andalucia, gives olive oils full of body, with intense fruity aromas and a pleasant, controlled bitterness. The Hojiblanca, mostly used in the DOP of Baena produces velvety oils with subtle hints of tropical fruit. In France, the most remarkable varieties are the Tanche, source of the famous olive oils of Nyons and the Picholine, which bears oils that are intensely flavorful, almost sweet. Italy is the country which has the most varieties, nearly 450, the more representative being the Frantoio, with green and peppery oils and the Moraiolo which results in mild and fruity ones. Sicily is setting the trends by producing olive oils issued of local varieties such as the Biancolilla and the Cerasuola, with great aromatic complexity and a taste of fruit and fresh herbs. The Greeks are the world's greatest olive oil consumers, their most productive olive variety is the Koroneiki, but the best known is the Kalamata, used both to produce a green, spicy olive oil and to eat cured. In Portugal, the main varieties are: the Galega, with very high productivity 060 Wine Passion . MarçoMarch 2007 rates giving mild and fruity olive oils; the Cobrançosa which carries a bitter, spicy taste; the Cordovil, considered to be “the finest of all olive fruits”, very much used in the region of Vila Flor; the Verdeal variety is the spiciest, and it confers a characteristic green hue to the olive oils it's blended into; from the Madural variety one gets round, nutty aromas. There are also less known varieties such as the Negrinha, the Lentrisca or the Maçanilha of the Algarve. The quality and characteristics of olive oil change each year, but there are no “vintage” or outstanding years as is the case with wine, especially since olive oil can't be stored over long periods of time. Therefore quality varies from year to year according to the climate. The main factors which actually have an influence over the final product are the olive varieties used, the geographical location, the soil, cultivation and cropping methods, the maturity of the fruit at the time it's picked, the oil extraction method and as stated before, the climate. The more control there is over the afore stated factors, the better the quality of the olive oil. The high price to be paid for top quality extra virgin olive oils stems from the fact that olives are hand-picked and that more than five kilos of olives are required to produce one liter of a good olive oil. Olives that are picked via mechanical methods, always end up “bruised”, which results in the oxidation of the pulp and less control over acidity and organoleptical features. In the Mediterranean, Portugal included, olive picking is carried out between September and December, but in certain instances it goes on until January or February. The delay of time between the picking and the processing at the mill is crucial towards the quality of the final product, since the fruit starts fermenting very quickly, especially if they are ripe. THE STAGES OF OLIVE OIL MAKING The picking is done traditionally by hand, the olives hanging higher up in the trees being clobbered down with long poles. Mechanization has brought about more efficient methods such as machines that vibrate the tree trunks and other the comb the branches removing the fruit. It is in any instance very important that the olives are left as “unblemished” as possible so as not to compromise the quality of the olive oil. Arrived at the mill, olives are rid of leaves and twigs, washed and crushed with their pits, as these contain anti-oxidants that are essential to preserve the resulting olive oil. Extraction occurs from pressing the olive paste containing oil and water which then have to be decanted in order to be separated, this is nowadays achieved via centrifugation. The olive oil then has to be kept in inox vats to prevent it from oxidizing. Before bottling, olive oil can be filtered in order to gain a clearer more attractive appearance, after which it has to be stored away from light and heat. OLIVE OIL TASTING In tasting olive oil, one should first look for the aromatic sensations, first through the nostrils, warming the tasting glass with the hands. One should then pour into the mouth, enough olive oil to coat the palate and simultaneously draw air in. The first sensation to come forward is that of the fruitiness: weather it's a green or ripe fruit sensation. The description of fruitiness and the presence of aromas is done, just as with wine, by allusion to other fruits. A green fruit sensation relates to the «vegetal» features found in green grass, raw artichoke petals, green apples… it is usually found in olive oils made from olive picked early on in the season and therefore not ripe yet. The ripe fruit sensation is found in oils made from mature olives and translates into sensations that have to do with dried dates, citrus peels, banana, chamomile, vanilla or even red berries. And then there's the «black fruit», a somewhat French concept which results from a procedure in which olives are left to ferment under controlled conditions before extraction. Nowadays only a few French producers, especially in Corsica keep making «fruité noir» olive oil. The result of this procedure is olive oils with unique organoleptic characteristics: aromas of mushrooms, heath, dry grass, cocoa, boiled artichoke and even truffle. The bitterness: relates to the sensation that comes from sugarless coffee or endives. Most olive varieties give oils which more or less bitter at the beginning of the harvesting season. Bitterness decreases as olives grow ripe. Likewise, each olive oil loses bitterness as it grows old. The spiciness: is the sensation of irritation which resembles saboresflavours that of tasting pepper kernels or certain hot peppers. Just as with the bitterness, olive oils lose spiciness as they age. Bitterness and spiciness result from the presence of polyphenols which have an anti-oxidizing role and guarantee the stability of olive oils. The mouth feeling relates to the sensation of «mouth-fullness» or by opposition to that of fluidity. The bitterer and spicier the olive oil, the more fluid it is. Ripe sweet olive oils are therefore thicker and more mouth-filling. Portugal has seven DOP's, corresponding to regions producing olive oils of fairly differentiated and well defined characteristics: Trás-os-Montes, Beira Alta, Beira Baixa, Ribatejo, Norte Alentejano, Alentejo Interior and Moura. Unfortunately, and despite of the fact that consumers are becoming more and more demanding, the country hasn't joined in the strictness of describing and characterizing the different types of olive oils, the producers and authorities being the first to ignore their responsibility in educating consumers and setting standards products. It is therefore up to us to be the guardians of the tradition of honoring the «oleum aureum», ever essential at our tables. • “Ao Pestinha, um cão gourmet que gostava da sua Posta Mirandesa com um fiozinho de Azeite. Fiel amigo, foi ao longo de sete anos companheiro de aventuras gastronómicas. Será lembrado pelos borregos do Sudoeste Alentejano e pelas gansos das Landes francesas, companheiros das suas tropelias. “ _____________________________ “To Pestinha, a gourmet dog who liked his beef drizzled with a little olive oil. A faithful friend and a companion in seven years of gastronomical adventures. He'll be remembered by lambs in the Alentejo and the geese with whom he played in the south of France.” André Magalhães